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SUMÁRIO

Módulo I - Introdução à Qualidade do Ar e Legislação Aplicada


Aula 01 - Poluição Atmosférica 4
1.1 Atmosfera 5
1.1.1 Composição da atmosfera 5
1.1.2 Estrutura da Atmosfera 5
1.1.3 Definição de Poluição Atmosférica 7
1.1.4 Grandes Episódios de Poluição Atmosférica 7
1.2 Poluentes Atmosféricos 8
1.2.1 Fontes de Emissão 8
1.2.2 Classificação dos poluentes conforme sua emissão 8
1.2.3 Classificação dos poluentes atmosféricos conforme estado físico 9
1.2.4 Categorias de Fontes de Emissão 9
1.2.5 Principais Poluentes Atmosféricos 9
1.3 Impactos da poluição atmosférica à saúde humana, 13
ao meio ambiente e à economia
1.3.1 O custo da poluição do ar 14
1.3.2 Valores Guia e Padrões da Qualidade do Ar 16
1.4 Poluição do ar e mudanças climáticas 17
1.4.1 Poluentes Climáticos de Vida Curta 17
1.4.2 Acordos, Protocolos e Convenções Internacionais sobre o clima global 18
1.4.3 Estratégias Nacionais e efeitos sobre o clima global 19
Referências Bibliográficas 21

Aula 02 - Emissões e Qualidade do Ar 22


2.1 Fatores que influenciam a Qualidade do Ar 23
2.1.1 Topografia e planejamento territorial urbano 24
2.1.2 Meteorologia 24
2.1.2.1 Diferença entre tempo meteorológico e clima 26
2.1.2.2 Clima e poluição do ar 26
2.1.3 Variáveis e perfis meteorológicos 27
2.1.4 Fontes de Dados Meteorológicos 28
2.1.5 Critérios para a medição dos parâmetros meteorológicos 29
2.2 Prevenção e controle das emissões de poluentes atmosféricos 30
2.2.1 Ações de prevenção da poluição 31
2.2.2 Ações de controle por fonte específica (fixas e móveis) 32
2.2.3 Licenciamento, fiscalização e controle das fontes de emissão 35
Referências Bibliográficas 38
Aula 03 - Monitoramento da Qualidade do Ar 39
3.1 Histórico do Monitoramento da Qualidade do Ar no Brasil 40
3.2 Conceito e objetivos do monitoramento da qualidade do ar 41
3.2.1 Métodos de Monitoramento 42
3.3 Impactos da Degradação da Qualidade do Ar 45
3.3.1 Panorama do monitoramento no Brasil 46
3.4 Ciclo da gestão da qualidade do ar 47
3.5 Estudo de caso de monitoramento contínuo de poluentes e seus impactos 48
Referências Bibliográficas 52

Aula 04 - Competências e Legislação Relacionadas à Qualidade do Ar no Brasil 53


4.1 Competências relacionadas à gestão da qualidade do ar no Brasil 54
4.1.1 Papel da sociedade civil e academia 55
4.2 Arcabouço jurídico referente à qualidade do ar no Brasi 56
4.2.1 Histórico 56
4.2.2 Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar 57
4.2.3 Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 57
4.2.4 Proconve e Promot 57
4.2.5 Inspeção Veicular Ambiental 59
4.3 Padrões de Qualidade do Ar - Resolução nº 491/2018 60
Referências Bibliográficas 65
MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA

AULA 01
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

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Gestão da Qualidade do ar

1.1 ATMOSFERA

A atmosfera é uma camada de ar formada por uma mistura de gases com espessura de 800
km que envolve completamente o planeta Terra e representa essencialmente uma mistura de
nitrogênio e oxigênio. A atmosfera controla as condições de temperatura da superfície da Terra
por meio de (i) absorção da radiação ultravioleta solar e (ii) manutenção das propriedades de
“estufa”.

A atmosfera é dividida comumente em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera,


termosfera - também conhecida como ionosfera - e exosfera (SENAI, 2014).

1.1.1 COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA

A atmosfera terrestre é composta basicamente de uma mistura de gases, sendo 78% de


Nitrogênio, 21% de Oxigênio e 1% de Argônio. Além desses, são encontrados traços de neônio
(Ne), hélio (He), criptônio (Cr), xenônio (Xe), hidrogênio (H2), metano (CH4), ozônio (O3) e dióxido
de nitrogênio (NO2).

1.1.2 ESTRUTURA DA ATMOSFERA

A atmosfera é dividida em cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e


exosfera, apresentadas na figura 1. Seguem as principais características de cada uma dessas
camadas.
TROPOSFERA
10 a 12 km de altitude acima da superfície (varia a espessura conforme latitude e época do
ano);
O ar atmosférico encontra-se na sua maioria (90%) nessa camada;
Temperatura diminui com o aumento da altitude;
Onde ocorrem os fenômenos climáticos da Terra (chuvas, geadas, ventos, neves, furacões
entre outros).

ESTRATOSFERA
Camada mais espessa de ozônio que protege a Terra das radiações ultravioleta do sol;
Temperatura se eleva com o aumento da altitude.
MESOSFERA
Forte decréscimo da temperatura (temperaturas mais baixas da atmosfera);
Ausência da absorção da radiação eletromagnética, ou por falta de espécies químicas que
absorvem radiação, ou porque a radiação foi absorvida na termosfera.
TERMOSFERA OU IONOSFERA
Temperatura volta a crescer em função da altitude;
Importante para as telecomunicações.
EXOSFERA
Camada superior da atmosfera, fica a mais ou menos 900 km acima da Terra;
Ar muito rarefeito e as moléculas de gás se transformam em íons.

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Gestão da Qualidade do ar

C A M A DA S DA AT M O S F E R A
DA TERRA

N AV E E M Ó R B I TA
TERRESTRE
E S PAÇO

EXOSFERA
+1000°C
650 KM

TERMOSFERA
-95°C
80 KM
RAIOS CÓSMICOS

NUVENS
LUMINESCENTES
MESOSFERA
-90°C
50 KM

Camada de Ozônio E S T R AT O S F E R A
Máxima concetração -55ºC
da camada de Ozônio
20 a 30 KM

TROPOSFERA
11 KM
Figura 1: Camadas da atmofera
Fonte:adaptado de Senai, 2014

SUPERFÍCIE
TERRESTRE
20°C

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Gestão da Qualidade do ar

1.1.3 DEFINIÇÃO DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Qualquer forma de matéria em quantidade, concentração, tempo ou outras características,


que tornem ou possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde, inconveniente ao bem-estar
público, danoso aos materiais, à fauna e flora, ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da
propriedade ou às atividades normais da comunidade (CONAMA, 2018).

1.1.4 GRANDES EPISÓDIOS DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Bélgica, no vale do Rio Meuse, 1930


No início do século 20, a região compreendida entre as cidades de Huy e Liége era famo-
sa pelo seu grande parque industrial. Em dezembro de 1930, com condições meteorológi-
cas desfavoráveis associadas à grande quantidade de gases lançados na atmosfera pelas
indústrias, uma espessa névoa cobriu essa zona industrial e a população foi acometida por
sintomas como tosse, dores no peito, dificuldade em respirar, irritação na mucosa nasal e
olhos. Ao final de cinco dias, cerca de 60 pessoas haviam morrido - a maioria idosos ou com
doenças cardíacas ou pulmonares - e centenas de outras pessoas ficaram enfermas, como
decorrência da combinação de vários poluentes gasosos associados à alta umidade relativa
do ar. Foram formadas substâncias altamente tóxicas, como por exemplo o ácido sulfúrico
(ALMEIDA, s.d.).
Donora, Pensilvânia, Estados Unidos, 1948
Um severo episódio de poluição atmosférica ocorreu em Donora, na Pensilvânia, no perí-
odo de 25 a 31 de outubro de 1948, devido às emissões de SO2, material particulado e CO,
provenientes de fontes próximas à cidade. O episódio foi agravado por condições meteoro-
lógicas adversas e causou a morte de 20 pessoas.
Smog em Londres, 1952
Um grave evento de poluição do ar afetou a capital britânica no início de dezembro de
1952. Condições meteorológicas adversas combinadas com as emissões geradas pelas in-
dústrias e pelos aquecedores domiciliares, que usavam carvão como combustível, forma-
ram uma espessa camada de poluentes sobre a cidade. Foi possível verificar relação entre
o aumento da concentração desses poluentes e o número de óbitos registrados. Relatórios
médicos do governo nas semanas seguintes ao episódio estimaram que 4.000 pessoas
morreram como resultado direto da poluição e mais de 100.000 ficaram doentes pelos
efeitos da poluição no trato respiratório.
Esses episódios foram denominados “big three”, e todos coincidiram com condi-
ções meteorológicas conhecidas como inversão térmica. Normalmente, as massas
de ar quente, localizadas próximo da superfície da terra, sobem; e o ar mais frio, prove-
niente das camadas mais altas da atmosfera, desce, criando uma circulação natural
que dispersa os poluentes atmosféricos. O fenômeno de inversão térmica ocorre quan-
do o ar, nas camadas mais baixas da atmosfera, torna-se mais frio do que o ar sobre
elas. A ineficiente circulação natural do ar prejudica a dispersão, o que mantém os po-
luentes atmosféricos próximos ao solo, causando aumento significativo das concentra-
ções e, consequentemente, episódios críticos de qualidade do ar. (STERN, et al., 1984).
Cubatão, 1980
No Brasil, em 1980, as indústrias localizadas em Cubatão (SP) lançavam no ar toneladas
de partículas e gases tóxicos por dia na Vila Parisi, área residencial de baixa renda próxima a
indústrias de petróleo, de fertilizantes e de metais. Crianças nasciam com graves malformações
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Gestão da Qualidade do ar

nos membros e no sistema nervoso e pelo menos 37 já nasceram mortas devido a problemas
como a anencefalia - falta de cérebro. Apontada pela ONU como a cidade “mais poluída
do mundo”, Cubatão ficou conhecida mundialmente como “Vale da Morte”. Além do ar, as
indústrias também contaminavam a água e o solo da região, trazendo chuvas ácidas e
deslizamentos na Serra do Mar (COSTA, 2017).

1.2 POLUENTES ATMOSFÉRICOS

1.2.1 FONTES DE EMISSÃO

Existem dois tipos de fontes de emissões de poluentes para a atmosfera:


Emissões naturais
Spray marinho, erupções vulcânicas, processos biológicos etc. Um vulcão em erupção emite
material particulado e gases, como por exemplo: SO2 , CO2 e metano, que podem impactar
o meio ambiente mesmo a distâncias consideráveis da fonte vulcânica. Esses poluentes
podem permanecer na atmosfera durante longos períodos. A figura 2 mostra o Monte Saint
Helens (Washington, USA), durante erupção em 1980.
Figura 2: Monte Saint Helens (Washington, USA), durante erupção em 1980.

Fonte: STERN, 1984

Emissões antropogênicas
São provenientes de atividades humanas, como indústrias, transporte e geração de energia.

1.2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES CONFORME


SUA EMISSÃO
Emissões primárias
Poluentes emitidos diretamente pelas fontes para a atmosfera: SO2; NO2 etc.
Emissões primárias
Poluentes formados na atmosfera a partir da emissão de seus precursores: O3,
aldeídos, H2SO4 etc.
Os poluentes reagem física e quimicamente na atmosfera, convertendo-se, às vezes, em
outras formas ainda mais danosas, como, por exemplo, o ozônio - um composto formado na
atmosfera a partir de hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio (NOx) e luz solar.
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Gestão da Qualidade do ar

A análise das emissões procedentes de várias fontes proporciona informações sobre o tipo e
a quantidade de poluentes primários emitidos por essas fontes, geralmente em termos de es-
pécie química e de seu estado físico.

1.2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS POLUENTES ATMOSFÉRICOS


CONFORME ESTADO FÍSICO
Gases e vapores
CO (monóxido de carbono), CO2 (dióxido de carbono), SO2 (dióxido de enxofre), NO2
(dióxido de nitrogênio) H2O(v) (água em forma de vapor); e
Gases e vapores
Poeiras, fumos e névoas.

1.2.4 CATEGORIAS DE FONTES DE EMISSÃO

Fontes Pontuais
Também conhecidas como fontes fixas ou estacionárias – incluem refinarias, indústrias quí-
micas, indústrias metalúrgicas, dentre outras. Os poluentes são emitidos por chaminés, vents
(dutos de ventilação de processo) e flares (tochas que queimam correntes gasosas industriais
em situação de emergência, como queda de energia).
Fontes móveis - não se encontram fixas em um local. Referem-se aos meios de transporte,
sendo:
Fontes móveis rodoviárias – são as emissões devido à queima de combustíveis por veículos
que circulam nas ruas e rodovias, por exemplo: carros, motos e caminhões;

Fontes móveis não rodoviárias – são os outros meios de transporte, com exceção de veícu-
los que trafegam em rodovias. Incluem aviões, barcos, locomotivas etc.
Fontes de emissões fugitivas
São as emissões atmosféricas resultantes de vazamentos em tubulações e equipamentos,
tais como: suspiros de tanques de estocagem de produtos químicos; emissões em gaxetas,
bombas, válvulas e flanges; e pontos de tomada de amostra nas indústrias.
Fontes volumes
São fontes tridimensionais de emissão. Essencialmente são fontes áreas com a terceira
dimensão (altura). Exemplo de fontes volumes: tanques de estocagem de produtos líquidos
e esteiras transportadoras (STERN, et al., 1984).

1.2.5 PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS

Existem milhares de compostos químicos considerados poluentes atmosféricos, porém não


é possível medir nem estudar todos eles. Desta forma e baseados em estudos científicos de
toxicidade, os órgãos reguladores internacionais regulamentaram apenas alguns poluentes
atmosféricos. Entre eles, destacam-se:

Monóxido de carbono (CO): combustão incompleta;


Dióxido de enxofre (SO2): queima de combustível contendo enxofre (S);

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Gestão da Qualidade do ar

Dióxido de nitrogênio (NO2): processos de combustão;


Ozônio troposférico (O3);
Materiais particulados; e
Chumbo (Pb).
A medição sistemática da qualidade do ar é, portanto, restrita a alguns poluentes, definidos
em razão de sua importância e dos recursos disponíveis para seu acompanhamento (CETESB,
s.d.).

A interação entre as fontes de poluição e a atmosfera vai definir o nível de qualidade do ar, que
determina, por sua vez, o surgimento de efeitos adversos da poluição do ar sobre os receptores,
que podem ser o homem, os animais, as plantas e os materiais (CETESB, s.d.).

A seguir são fornecidas mais informações sobre os poluentes atmosféricos de maior relevância:

Ozônio (O3)
Composto por três átomos de oxigênio, o ozônio (O3) é um dos poluentes atmosféricos que
causam mais danos à saúde humana. Por isso, sua presença no ar ambiente é atualmente uma
das maiores preocupações quando se trata da qualidade do ar, principalmente nos grandes
centros urbanos e suas proximidades, uma vez que são os veículos e as indústrias que emitem
seus precursores - Compostos Orgânicos Voláteis e Óxidos de Nitrogênio.
O ozônio é um gás reativo e oxidante, presente tanto na estratosfera quanto na troposfera.
A figura 3 apresenta essa distribuição nas duas camadas. O ozônio é um componente natural
na estratosfera e funciona como uma barreira para os raios ultravioleta. Porém, próximo da
superfície, onde é produzido através de vários mecanismos, ele é muito prejudicial à saúde e ao
meio ambiente. É um poluente de difícil controle, devido à complexidade de sua formação. A
troposfera possui apenas 10% do ozônio total da atmosfera. É na estratosfera que são encontradas
as altas concentrações de O3 (NEVES, 2010).
Figura 3: Concentrações e Efeitos do Ozônio em diferentes altitudes

35

30

25
Altitude (Quilômetros)

O3 na Estratosfera filtra
90%dos raios UV

20

O3 na Tropopausa é um gás
de efeito estufa
15

10

O3 na superfície afeta a saúde


humana e ecossistema

0 5 10 15 20 25

Fonte: Fonte: Slanina, Sjaak 2003 apud Neves, 2009. Representação MMA.
10
Gestão da Qualidade do ar

Material Particulado (MP)


O material particulado é composto de uma mistura de partículas sólidas, inclusive metais e
gotículas líquidas encontradas no ar. Algumas partículas, como poeira, sujeira, fuligem ou fumaça,
são grandes ou escuras o suficiente para serem vistas a olho nu. Outras são tão pequenas que
só podem ser detectadas com um microscópio eletrônico (EPA, s.d.).

A poluição por partículas inclui:

Partículas Totais em Suspensão: compreende as partículas cujo diâmetro aerodinâmico é


menor ou igual a 50 µm. Elas não conseguem penetrar no nosso sistema respiratório.
MP10: partículas inaláveis, com diâmetro menor que 10 micrômetros; e
MP2,5 : partículas inaláveis finas, com diâmetro menor que 2,5 micrômetros.
As partículas inaláveis (MP10 e MP2,5) conseguem penetrar no nosso sistema respiratório,
causando sérios impactos à nossa saúde, principalmente as partículas menores, pois
conseguem alcançar as regiões mais internas do pulmão, como os alvéolos. Quanto menor
o tamanho da partícula, maior a probabilidade de causar danos à saúde, devido à maior
facilidade em penetrar o organismo pelas vias aéreas, podendo chegar até a corrente
sanguínea. A figura 4 apresenta os impactos dos poluentes nas diferentes regiões do pulmão.

Figura 4: Penetração das partículas de diferentes diâmetros no


sistema respiratório.

Partículas Inaláveis MP10


(até a laringe)
Partículas Respiráveis MP1
(até alvéolos pulmonares)

Partículas Ultrafinas MP0,1


(até alvéolos circulatórios)

Partículas Torácicas MP2.5


(além da laringe)

Fonte: Brito et al (2018) adaptado de Guarieiro et al (2011). Representação MMA.

Essas partículas existem em muitos tamanhos e formas e podem ser compostas por centenas
de substâncias químicas diferentes. Por isso causam sérios impactos à nossa saúde (EPA, s.d.).
Algumas são emitidas diretamente de uma fonte de emissão, tais como: canteiros de obras,
estradas não pavimentadas, chaminés ou queimadas. A maioria das partículas se forma na
atmosfera como resultado de reações complexas a partir de compostos químicos, como
dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que são poluentes emitidos por usinas termoelétricas,
indústrias e automóveis (EPA, s.d.).

Monóxido de Carbono (CO)


O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor e inodoro que pode ser prejudicial quando
inalado em grandes quantidades. É formado por um átomo de carbono e um de oxigênio,
sendo liberado durante a queima de combustíveis contendo carbono. As maiores fontes de CO
11
Gestão da Qualidade do ar

são os carros, caminhões e outros veículos ou máquinas que queimam combustíveis (EPA, s.d.).

Respirar o ar com uma alta concentração de CO reduz a quantidade de oxigênio que pode ser
transportado na corrente sanguínea para órgãos essenciais como o coração e o cérebro (EPA,
s.d.). A exposição à altas concentrações de CO pode causar tontura, confusão, inconsciência e
até morte (EPA, s.d.). Com o avanço das tecnologias de controle das emissões veiculares, os
níveis de CO reduziram-se muito, principalmente nos grandes centros urbanos.

Monóxido de Carbono (CO)


Composto por um átomo de enxofre e dois de oxigênio, o dióxido de enxofre é liberado
para a atmosfera por fontes naturais, como por exemplo, erupções vulcânicas e por fontes
antropogênicas, principalmente as relacionadas com atividades industriais que processam
combustíveis contendo enxofre, como termelétricas, fabricação de fertilizantes, fundição de
alumínio e aço, produção de ácido sulfúrico e papel (CETESB, 2012).

O SO2 também está presente na emissão veicular como resultado da queima de combustíveis
fósseis que possuem enxofre em sua composição. Da mesma forma que o CO, a concentração
ambiental do SO2 vem decrescendo em razão do maior controle das emissões e da redução no
teor de enxofre nos combustíveis (CETESB, 2012).

O SO2 presente na atmosfera pode levar à formação de chuva ácida e é precursora dos sulfatos,
um dos principais componentes das partículas inaláveis (MP10). Os sulfatos incorporados aos
aerossóis são associados à acidificação de corpos d’água, redução da visibilidade, corrosão de
edificações, monumentos, estruturas metálicas e condutores elétricos (CETESB, 2012).

A exposição de curto prazo ao SO2 pode prejudicar o sistema respiratório e dificultar a respiração.
Pessoas com asma, principalmente crianças, são mais sensíveis a esses efeitos (CETESB, 2012).

Dióxido de Nitrogênio (NO2)

O dióxido de nitrogênio faz parte de um grupo de gases altamente reativos conhecidos como
óxidos de nitrogênio (NOx). Outros óxidos de nitrogênio incluem ácido nitroso e ácido nítrico. O
NO2 é usado como o indicador para o grupo maior de óxidos de nitrogênio (EPA, s.d.).

O NO2 se forma a partir da combustão de combustíveis em carros, caminhões, ônibus, usinas


termoelétricas e equipamentos off-road devido à queima de combustível. O NO2 possui um
átomo de nitrogênio e dois de oxigênio. Mesmo o gás natural, que é um combustível mais limpo,
emite grandes quantidades de NO2 na queima, por isso é necessário controlar essas emissões
usando queimadores “Low NOx”, dentre outros sistemas de controle disponíveis.

Exposições a concentrações elevadas de NO2 podem contribuir para o desenvolvimento de


asma e, potencialmente, aumentar a suscetibilidade a infecções respiratórias. Exposições por
curtos períodos também podem agravar doenças respiratórias,particularmente asma, levando
a sintomas, tais como: tosse, respiração ofegante ou dificuldade respiratória (EPA, s.d.).

O NO2 pode, ainda, reagir com outros compostos no ar, por meio de reações fotoquímicas,
formando o ozônio troposférico. Ambos também são prejudiciais quando inalados devido aos
seus efeitos no sistema respiratório (EPA, s.d.).

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Gestão da Qualidade do ar

Fumaça (FMC)
A fumaça está associada ao material particulado suspenso na atmosfera proveniente dos
processos de combustão. O método de determinação da fumaça é baseado na medida de
refletância da luz que incide na poeira (coletada em um filtro). Esse parâmetro está diretamente
relacionado ao teor de fuligem na atmosfera (CETESB, s.d.).
Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
São gases e vapores resultantes da queima incompleta e evaporação de combustíveis e de
outros produtos orgânicos, sendo emitidos pelos veículos, pelas indústrias, pelos processos de
estocagem e transferência de combustível etc. Muitos desses compostos participam ativamente
das reações de formação do ozônio troposférico.

Dentre os compostos orgânicos voláteis presentes na atmosfera urbana estão os compostos


aromáticos monocíclicos, em particular: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos. Os COVs,
além de causarem efeitos adversos à saúde, também participam de reações fotoquímicas para
formação do ozônio (CETESB, s.d.).

Peroxiacetilnitrato (PAN)
É uma ameaça não só para a saúde humana, mas também para a vegetação em muitas
cidades do mundo. Foi identificado pela primeira vez na bacia aérea de Los Angeles, em 1940,
onde ocorrem com frequência os episódios meteorológicos de estagnação das massas de ar. A
poluição fotoquímica, como é denominada a produção de O3 e de outros oxidantes, é originada
a partir das emissões de óxidos de nitrogênio e de hidrocarbonetos lançados na atmosfera
pelos veículos e pelas indústrias (NEVES, 2010).
Chumbo
No passado, os veículos eram os principais contribuintes de emissões de chumbo para o
ar, devido sua adição como antidetonante na gasolina. Em 1989, o Brasil começou a retirar
o chumbo de sua gasolina automotiva, eliminando totalmente essa prática em 1992. Essa
conquista deu-se graças à substituição do chumbo pelo etanol anidro como aditivo à gasolina.
Como consequência, a concentração de chumbo na atmosfera das áreas urbanas diminuiu
significativamente. Atualmente, o chumbo é encontrado em maior concentração em locais
específicos, como próximo a fundições de chumbo e indústrias de fabricação de baterias
chumbo-ácido (CETESB, s.d.).

1.3 IMPACTOS DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA À SAÚDE HUMANA,


AO MEIO AMBIENTE E À ECONOMIA

O impacto adverso da poluição na saúde humana é o principal motivo para seu controle. A
população em geral, principalmente a que vive nas zonas urbanas, sofre com os efeitos da
poluição, mas, certamente, alguns subgrupos são mais sensíveis a esses impactos:

Crianças muito novas, nas quais os sistemas respiratórios e circulatórios ainda estão em
formação
Pessoas idosas, nas quais esses sistemas não funcionam mais de forma eficiente; e
Pessoas que têm doenças como asma, enfisema e doenças cardíacas

Esses subgrupos mais sensíveis aos poluentes, em contato com a poluição, apresentam res-
postas mais nocivas do que a população em geral. A poluição do ar afeta principalmente o
sistema respiratório, circulatório e olfativo.

13
Gestão da Qualidade do ar

Os poluentes afetam vários constituintes do sistema respiratório. As áreas mais sensíveis


vão desde as membranas mucosas até os pulmões. Os gases solúveis como o dióxido de
enxofre (SO2) podem se dissolver nas mucosas e passar através das paredes dos alvéolos para
a corrente sanguínea.

Além dos problemas respiratórios causados pela exposição aos poluentes, outras áreas do
corpo humano são afetadas, como os olhos, que são sensíveis a oxidantes como o peroxiace-
tilnitrato (PAN), por exemplo. Porém, qualquer agente químico presente no ar exerce efeitos
potencialmente danosos sobre as funções pulmonares e sobre todo o organismo.

Quanto maior a concentração ou o tempo de exposição aos poluentes, maior será a pro-
babilidade de causar danos à saúde. Outros efeitos da poluição atmosférica mais difíceis de
mensurar são aqueles gerados no sistema imunológico, neurológico e reprodutivo.

O sistema respiratório é dividido basicamente em três regiões, que são afetadas pela expo-
sição aos poluentes
Nasal (composta do nariz, boca e garganta);
Traqueobrônquica (composta da traqueia, brônquios e saco alveolar); e
Pulmonar (terminação dos brônquios e saco alveolar). A traqueia se ramifica nos brônquios
direito e esquerdo.

Figura 05: Diferentes impactos dos poluentes no corpo humano devido à sua solubilidade

Local da ação Solubilidade Composto


NH 3
Olhos
HCI
Laringe Alta HCHO
Vias Respiratórias S 2 Cl 2
CH 2 =CH-CHO

S O2
Brônquios Cl 2
Média Br 2
Bronquíolos RCOCI
R(NCO) 2

Bronquíolos O3 O 2
Álveolos NO 2
pulmonares Baixa
COCl 2
Capilares CDO

Fonte: Cetesb, 2017

1.3.1 O CUSTO DA POLUÇÃO DO AR

O Banco Mundial lançou em 2016 a publicação: “O Custo da Poluição do Ar”, na qual estimou
os custos econômicos da mortalidade prematura devido à poluição do ar, buscando motivar os
governos a reduzirem a poluição. Como principais conclusões, o estudo estimou que:

Em 2013, a exposição à poluição do ar ambiente e doméstico custou à economia mundial


cerca de 5,11 trilhões de dólares em perdas de bem-estar. Em termos de magnetude,
14
Gestão da Qualidade do ar

as perdas de bem-estar no Sul da Ásia, no Leste Asiático e no Pacífico foram equivalentes a


7,4% e 7,5% do produto interno bruto (PIB) regional, respectivamente.

Na extremidade inferior, as perdas ainda eram iguais a 2,2% do PIB no Oriente Médio e no
Norte da África. A poluição do ar doméstico devido ao uso de carvão para cozinhar foi a
maior causa de perdas no Sul da Ásia e na África Subsaariana.

Em todas as outras regiões, as perdas foram causadas em grande parte pela poluição do
ar ambiente por partículas finas (MP2,5). As perdas de renda do trabalho, embora fossem
esperadas menores do que as perdas de bem-estar, foram substanciais em regiões com
populações mais jovens. A renda perdida para os países do Sul da Ásia totalizou mais de 66
bilhões de dólares em 2013, o equivalente a quase 1% do PIB. Globalmente, as perdas de
renda do trabalho totalizaram 225 bilhões de dólares em 2013.

Crianças e as pessoas mais velhas continuam particularmente vulneráveis: em 2013, cerca


de 5% das mortes de crianças menores de 5 anos e 10% das mortes de adultos com mais
de 50 anos foram atribuídas à poluição do ar, em comparação com menos de 1% entre os
adultos jovens. Esse padrão de mortalidade por idade permaneceu inalterado desde 1990
(WORLD BANK, 2016).

Por outro lado, nos Estados Unidos, entre os anos de 1970 e 2018 as emissões combinadas
de seis poluentes (PM2,5 e PM10; SO2; NOx, COV, CO e Pb) caíram 74%. Enquanto isso, no mesmo
período, a economia dos Estados Unidos continuou a crescer, como apresenta o gráfico 1 - o
Produto Interno Bruto aumentou 300% e a população aumentou 100%. O consumo de energia
aumentou e a distância que os veículos percorreram (em milhas) também aumentou cerca de
200%. Entretanto, o aumento verificado nas emissões atmosféricas foi cerca de 20%, o que sig-
nifica que, aplicando as tecnologias corretas, é possível desenvolver a economia e manter as
emissões sob controle. Porém, se não forem considerados os métodos de controle de poluen-
tes nem as leis ambientais, as consequências são muito graves, como apresentado no item 1.1.3,
quando grandes episódios de poluição aconteceram, causando milhares de mortes, devasta-
ção ambiental, impactos na saúde e na economia (EPA, 2019).

Gráfico 01: Comparação entre o aumento da população e do consumo e a queda


das emissões atmosféricas entre 1970 e 2018 nos Estados Unidos
300%
Produto Interno Bruto
(PIB)
MUDANÇA PERCENTUAL

Veículos milhas
percorridas
200%

População
100%
Consumo de
Energia

0% Emissão de CO2

Emissões Agregadas
(seis poluentes comuns)
-100%

1970 2000 2010 2018


Fonte: EPA, 2019.
15
Gestão da Qualidade do ar

1.3.2 VALORES GUIA E PADRÕES DE QUALIDADE DO AR

Os Valores Guia não são padrões, nem critérios legais; seu objetivo é oferecer orientação na redução
dos impactos da poluição do ar na saúde, com base na avaliação de especialistas e nas evidências
científicas atuais. Devem ser aplicados em todas as regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS) e
apoiar uma ampla gama de opções de políticas para a gestão da qualidade do ar. O conhecimento das
propriedades perigosas dos poluentes e a indicação do risco relacionado à sua exposição resumidos
nas diretrizes fornecem uma contribuição científica essencial para o desenvolvimento de estratégias de
gestão da qualidade do ar (OMS, 2006).

Os Valores Guia são baseados em extensas evidências científicas sobre a poluição do ar e suas con-
sequências para a saúde. Embora essas informações tenham lacunas e incertezas, oferecem uma base
sólida para as diretrizes. Algumas conclusões gerais da pesquisa precisam ser enfatizadas em relação
às diretrizes. Entre elas, as evidências para ozônio e MP que mostram riscos à saúde em concentrações
atualmente encontradas em muitas cidades de países desenvolvidos. Os estudos epidemiológicos tam-
bém indicam que as diretrizes podem não fornecer proteção total à população, uma vez que não foram
identificados limites abaixo dos quais os efeitos adversos não ocorrem (OMS, 2006).

Em 2021, a OMS atualizou os valores guia para as concentrações máximas recomendadas para os
principais poluentes atmosféricos, indicando os valores que trariam maior proteção à saúde humana.

No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu novas diretrizes para os pa-
drões de qualidade do ar com a publicação da Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018, a qual
fixou limites mais restritivos e incluiu outros compostos na lista de poluentes regulados. Seguindo essa
Resolução, o Conama delega aos órgãos ambientais estaduais e distrital a elaboração, em até 3 anos a
partir da sua entrada em vigor, de um Plano Regional de Controle de Emissões Atmosféricas. Com base
nesse plano e também nos Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar elaborados pelos órgãos estadu-
ais e distritais, serão adotadas as novas fases dos Padrões de Qualidade do Ar Intermediários (PI-1, PI-2,
PI-3) e, na sequência, de forma conclusiva, será adotado o padrão de qualidade do ar final (PF).

O quadro 1 apresenta o Padrão Final para os parâmetros regulamentados na Resolução Conama nº


491/2018.
Quadro 1: Valores Guia da OMS para os Poluentes Atmosféricos
VALOR GUIA OMS (2005)
POLUENTE ATMOSFÉRICO PERÍODO EM µg/ m3
*A OMS não apresenta valores guia para esses poluentes.

24 horas 50
Material Particulado - MP 10
Anual 20
24 horas 25
Material Particulado - MP 2,5
Anual 10
24 horas 20
Dióxido de Enxofre – SO2
Anual -
1 hora 200
Dióxido de Nitrogênio - NO2
Anual 40
Ozônio – O3 8 horas 100
24 horas 50
Fumaça*
Anual 20
Monóxido de Carbono – CO 8 horas 9 ppm
24 horas 240
Partículas Totais em Suspensão PTS*
Anual 80
Chumbo – Pb* Anual 0,5

Fonte: CONAMA, 2018; OMS, 2006


16
Gestão da Qualidade do ar

1.4 POLUIÇÃO DO AR E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

1.4.1 POLUENTES CLIMÁTICOS DE VIDA CURTA

Os poluentes climáticos de vida curta são forças climáticas poderosas que permanecem
na atmosfera por um período muito mais curto do que o dióxido de carbono (CO2), mas seu
potencial para aquecer a atmosfera pode ser muito maior. Certos poluentes climáticos de vida
curta também são poluentes atmosféricos perigosos, com efeitos prejudiciais para as pessoas,
os ecossistemas e a produtividade agrícola.

Dos poluentes climáticos de curta duração, carbono negro, metano, ozônio troposférico e hi-
drofluorocarbonos são os contribuintes mais importantes para o efeito estufa global causado
pelo homem depois do dióxido de carbono. Eles são responsáveis por até 45% do aquecimento
global atual. Se nenhuma ação para reduzir as emissões desses poluentes for tomada nas pró-
ximas décadas, é esperado que eles sejam responsáveis por até metade do aquecimento da
atmosfera causado pela atividade humana.

Segundo a Direção Geral do Ambiente da União Europeia, as reduções contínuas na poluição


do ar e nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) são essenciais, pois ambos representam
sérias ameaças à saúde das pessoas e ao meio ambiente. A gestão da qualidade do ar, alinhada
com políticas climáticas eficientes, podem fornecer benefícios mútuos, tanto na mitigação dos
efeitos adversos das mudanças climáticas como na redução da poluição do ar.

De acordo com os pesquisadores, políticas de combate à poluição do ar local proporcionarão


maiores benefícios, inclusive para a mitigação das mudanças climáticas. Os esforços de médio
prazo para controlar a poluição do ar proporcionarão benefícios adicionais às estratégias de
longo prazo que objetivam conter as mudanças climáticas (CCAC, s.d.).
Carbono Negro
O carbono negro (fuligem) é um poderoso componente de material particulado resultante da
combustão incompleta de combustíveis fósseis, madeira e outros combustíveis. A combustão
completa transformaria todo o carbono do combustível em dióxido de carbono (CO2), mas a
combustão nunca é completa e o dióxido de carbono, monóxido de carbono, compostos orgâ-
nicos voláteis, carbono orgânico e partículas de carbono negro são todos formados no proces-
so. A mistura complexa de partículas resultantes da combustão incompleta é frequentemente
denominada de fuligem.

O carbono negro é um poluente climático de curta duração, com uma vida útil de apenas
alguns dias a semanas, após a liberação na atmosfera. Durante esse curto período, o carbono
negro pode ter impactos diretos e indiretos significativos no clima, regiões glaciais, agricultura
e saúde humana (CCAC, s.d.).
Metano (CH4)
O metano é um poderoso gás de efeito estufa emitido por atividades humanas, como vaza-
mento de sistemas de gás natural e criação de gado, bem como por fontes naturais como pân-
tanos. Tem uma influência direta no clima.

O metano é um poluente climático de curta duração com um tempo de residência na atmosfera


de cerca de 12 anos. Embora sua vida útil na atmosfera seja muito mais curta do que o dióxido de
carbono (CO2), é muito mais eficiente na captura de radiação. Por unidade de massa, o impacto
do metano nas mudanças climáticas ao longo de 20 anos é 84 vezes maior do que o CO2; em
um período de 100 anos, é 28 vezes maior (CCAC, s.d.).
17
Gestão da Qualidade do ar

Hidrofluorcarbonos (HFCs)
Hidrofluorcarbonos (HFCs) é um grupo de produtos químicos industriais usados principalmente
para resfriamento e refrigeração. Os HFCs foram desenvolvidos para substituir as substâncias
destruidoras da camada de ozônio estratosférica que estão atualmente sendo eliminadas de
acordo com o Protocolo de Montreal. Muitos HFCs são gases de efeito estufa muito poderosos
e um número substancial deles são poluentes climáticos de curta duração com uma vida útil
de 15 a 29 anos na atmosfera. Embora os HFCs representem atualmente cerca de 1% do total de
gases de efeito estufa, seu impacto no aquecimento global pode ser de centenas a milhares de
vezes maior do que o dióxido de carbono por unidade de massa (CCAC, s.d.).

Ozônio Troposférico
O ozônio troposférico é um poluente climático de curta duração com uma vida atmosférica de
horas a semanas. Não existem fontes de emissões diretas de O3 - trata-se de um gás secundário
formado pela reação da luz solar com hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio, que é emitido
por veículos, usinas de combustível fóssil e outras fontes artificiais (CCAC, s.d.). Poluentes cli-
máticos de vida curta como o ozônio troposférico e o carbono negro são perigosos poluentes
atmosféricos responsáveis por mortes prematuras, por doenças cardíacas e pulmonares, der-
rames, ataques cardíacos, doenças crônicas e respiratórias, como bronquite, asma agravada
e outros sintomas cardiorrespiratórios. A redução dos poluentes climáticos de curta duração
evitará milhões de mortes prematuras a cada ano devido à poluição do ar (OMS, 2015).

1.4.2 ACORDOS, PROTOCOLOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS


SOBRE O CLIMA GLOBAL

As negociações internacionais sobre mudança do clima têm como marco inicial a criação da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês),
em 1992, que deu início às reuniões da Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês). A COP
congrega anualmente os países-parte em conferências mundiais para tomar decisões coletivas
e consensuais sobre temas relacionados à mudança do clima (ADAPTACLIMA, s.d.).

O primeiro grande acordo das COPs foi criado em 1997 e entrou em vigor em 2005: o Protoco-
lo de Quioto, tratado que definiu metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE)
para países desenvolvidos. Durante o primeiro período de compromisso, entre 2008-2012, 37
países se comprometeram a reduzir 5% das suas emissões em relação a 1990. No segundo pe-
ríodo de compromisso, as Partes se comprometeram a reduzir, de 2013 a 2020, as emissões em
pelo menos 18% dos níveis de 1990. O Brasil ratificou o documento em 2002 (ADAPTACLIMA,
s.d.).

Na 21ª reunião da Conferência das Partes (COP 21), em 2015, foi aprovado um novo acordo
global, o Acordo de Paris, que contempla metas de redução de emissões de GEE para todos os
países, desenvolvidos e em desenvolvimento, definidas nacionalmente conforme as priorida-
des e possibilidades de cada um. Além disso, foi determinado um objetivo global para aumen-
tar a capacidade de adaptação, fortalecer a resiliência e reduzir as vulnerabilidades à mudança
do clima (ADAPTACLIMA, s.d.).

Nesse histórico das negociações sobre clima, o foco sempre foi mitigação das emissões de
GEE e o papel da adaptação era muito pequeno. Porém, a partir dos anos 2000, a adaptação
ganha cada vez mais espaço nos debates e decisões tomadas nas Conferências (ADAPTACLI-
MA, s.d.).

18
Gestão da Qualidade do ar

Um grande marco ocorreu em 2010, com a adoção pelos países do Quadro de Adaptação
de Cancun (Cancun Adaptation Framework - CAF, em inglês) na COP16. Nos acordos, as Partes
afirmam que ações em adaptação devem ter o mesmo grau de prioridade que as de mitiga-
ção. No que tange à implementação de ações em adaptação, o CAF propõe um processo para
possibilitar que países menos desenvolvidos formulem e implementem Planos Nacionais de
Adaptação, além de um programa de trabalho que considere abordagens para lidar com per-
das e danos associados aos impactos da mudança do clima em países em desenvolvimento, os
quais estão particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança do clima (UNFCCC,
2011 apud ADAPTACLIMA, s.d.).

1.4.3 ESTRATÉGIAS NACIONAIS E EFEITOS SOBRE


O CLIMA GLOBAL

No Brasil, entre os marcos em nível nacional do combate e adaptação aos impactos associa-
dos à mudança do clima, cita-se como principal a Política Nacional sobre Mudança do Clima
(PNMC), instituída em 2009. O órgão responsável por sua implementação é o Comitê Intermi-
nisterial sobre Mudança do Clima (CIM). A partir da legislação, o Ministério do Meio Ambiente
(MMA) lidera a definição de estratégias e propõe políticas relacionadas ao monitoramento e à
implementação dos planos setoriais de mitigação e adaptação contidos na PNMC (ADAPTACLI-
MA, s.d.).

O principal instrumento para levar adiante ações de adaptação é o Plano Nacional de Adapta-
ção à Mudança do Clima (PNA), instituído em 2016. O PNA foi elaborado pelo governo federal
em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais, e tem como objeti-
vo promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima e realizar a gestão do
risco associada a esse fenômeno (ADAPTACLIMA, s.d.).

A importância da implementação do PNA foi reforçada na Contribuição Nacionalmente Deter-


minada (Nationally Determined Contributions - NDC, sigla em inglês) declarada pelo Brasil no
contexto internacional do Acordo de Paris. A NDC brasileira é um compromisso assumido pelo
país que entrou em vigor em 2016 e que prevê metas de mitigação e ações em adaptação. A
meta de redução de emissões de gases de efeito estufa é de 37% até 2025 e há o indicativo
de redução de 43% até 2030, ambas comparadas aos níveis de 2005. O documento descreve
como fundamental a realização de ações na agenda de adaptação, coloca a dimensão social
(proteção às populações vulneráveis) no cerne da estratégia de adaptação brasileira, e afirma
que “o PNA fornecerá as bases para que o Brasil reforce sua capacidade de adaptação, de
avaliação de riscos climáticos e de gestão de vulnerabilidades nos níveis nacional, estadual e
municipal” (República Federativa do Brasil, 2015 apud ADAPTACLIMA, s.d.).

Segundo informações do Atlas Global do Carbono (2019) o Brasil é o décimo terceiro país do
mundo que mais contribui para o aquecimento global. A maior parte dos gases de efeito estufa
emitidos no Brasil tem relação com desmatamento para pastagens e plantações. No setor elé-
trico, a falta de chuva obriga o governo a ligar as térmicas, aumentando a poluição, e a situação
seria pior, se não fosse a queima de biomassa, como o bagaço de cana, e o crescimento na
geração de energia eólica e solar.

19
Gestão da Qualidade do ar

O Ministério do Meio Ambiente criou o Sistema Nacional de Gestão da Qualidade do Ar - Monitor


Ar e o Programa Nacional Ar Puro. O MonitorAr integra, consolida e disponibiliza dados atualizados
gerados pelas estações de monitoramento da qualidade do ar localizadas nas Unidades Fede-
rativas.

Também nesse sentido, o MMA elaborou um Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação
da Qualidade do Ar. Publicado em 2020, o Guia está entre as medidas complementares toma-
das pelo Ministério do Meio Ambiente para trabalhar com entes públicos e setor privado pelo
ar limpo nas cidades, levando sustentabilidade, mais saúde e, consequentemente, melhoria da
qualidade de vida a todos os brasileiros.

20
Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRITO, G. F. S.; SODRÉ, F. F.; ALMEIDA, F. V. O Impacto do Material Particulado na Qualidade do Ar. Revista Virtual
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CETESB. Poluição do Ar: Gerenciamento e Controle de Fontes, 2017. Disponível em: <https://cetesb.sp.gov.br/
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CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, 2018. Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018. Ministério
do Meio Ambiente.

COSTA, Camilla. Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta na poluição. BBC News,
2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39204054>. Acesso em: 10 abr 2021.

EPA. Página da internet - Criteria Air Pollutants, s.d. Disponível em:<https://www.epa.gov/criteria-air-pollutants>.


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NEVES, N. M. S. Formação e Dispersão de Ozônio na Região do Recôncavo Baiano, 2010. Tese de Doutorado
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OMS – Organização Mundial da Saúde. Reducing global health risks through mitigation of short-lived climate
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SENAI, 2014. Departamento Regional da Bahia. Série Meio Ambiente. Gestão de Emissões Atmosféricas. ISBN 978-
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STERN, A.C. et al. Fundamentals of Air Pollution. Segunda edição, Orlando, Flórida: Academic Press, 1984.

WORLD BANK AND INSTITUTE FOR HEALTH METRICS AND EVALUATION. The Cost of Air Pollution:
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en/781521473177013155/pdf/108141-REVISED-Cost-of-PollutionWebCORRECTEDfile.pdf>. Acesso em: 10 abr
2021. 21
MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA

AULA 02
EMISSÕES E QUALIDADE DO AR

22
Gestão da Qualidade do ar

2.1 FATORES QUE INFLUENCIAM A QUALIDADE DO AR

A qualidade do ar é diretamente influenciada pela distribuição e intensidade das emissões de poluentes


atmosféricos, pela topografia, pela ocupação do solo e pelas condições meteorológicas da região, que
podem ser favoráveis ou não à dispersão dos poluentes.

A magnitude do impacto na qualidade do ar em determinada região depende das condições


atmosféricas responsáveis pelo transporte, transformação e dispersão dos poluentes emitidos, bem
como pelas possíveis ocorrências de situações críticas de poluição do ar causadas, principalmente,
pelas fontes de emissões industriais e veiculares.

Tome nota
O objetivo da gestão da qualidade do ar é controlar a poluição atmosférica,
de forma a garantir o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada
e ambientalmente sustentável. Essa gestão deve incluir o controle das fontes,
especialmente em situações meteorológicas de dispersão desfavoráveis, como, por
exemplo, a inversão térmica, ou ainda a desconcentração das fontes para reduzir as
emissões e os impactos destes poluentes. Para tanto, é necessário adotar ações
de monitoramento, prevenção e redução das emissões de poluentes. O produto
da interação desse complexo conjunto de fatores é que irá assegurar a qualidade
ambiental de uma determinada região (MMA, 2019).

Conforme Gomes (2010), a meteorologia determina o que acontece com os gases emitidos na
atmosfera desde o momento em que estes são emitidos até quando são detectados em qualquer outro
lugar. Segundo a FEAM (2016) apud Raia e Reis (2006), o relevo é um fator determinante na qualidade
do ar de uma região. O relevo ondulado, formado por áreas de serra, como ocorre em Minas Gerais,
pode impactar de forma direta a dinâmica de alguns fenômenos climáticos, tais como a distribuição das
chuvas, variação da temperatura, velocidade e direção dos ventos, entre outros (RIBEIRO et al, 2019).

É recomendável observar não só a influência da topografia e meteorologia locais, mas também as


características e a disposição das edificações para definir o melhor posicionamento de uma estação
de monitoramento do ar. Nas áreas industriais a posição e dimensões dos prédios e a localização das
chaminés devem ser avaliadas para evitar a ocorrência de “building downwash”, quando a turbulência
aerodinâmica (fenômenos que acompanham todo movimento relativo entre um corpo e o ar que o
envolve), provocada pelos edifícios próximos às chaminés, força a rápida mistura dos poluentes em
direção ao solo, aumentando aí as concentrações, como mostra a figura 6:
Figura 6: Downwash causado pelo prédio próximo da chaminé

Fonte: Lakes Environmental


23
Gestão da Qualidade do ar

2.1.1 TOPOGRAFIA E PLANEJAMENTO


TERRITORIAL URBANO

A gestão de fontes estacionárias de poluição atmosférica engloba aspectos bastante amplos,


que vão desde o planejamento para estabelecimento da localização geográfica de comunidades,
núcleos industriais e sistemas viários, até ações diretas sobre as fontes de emissão.

Por meio do zoneamento e do licenciamento ambiental o poder público pode evitar a instalação
de fontes de poluição específicas em determinado local, bem como definir as medidas de
controle para cada fonte poluidora, como a aplicação de limites de emissão e a exigência da
melhor tecnologia disponível.

Saiba Mais
O planejamento territorial urbano baseia-se no princípio do afastamento geográfico
entre fontes de emissão e núcleos populacionais (receptores). Contudo, a proteção
da população não é o único alvo da gestão atmosférica. Muitos outros fatores devem
ser considerados na localização de um empreendimento potencialmente poluidor,
como, por exemplo: a existência de reservas naturais, áreas agrícolas e mananciais
nas proximidades; o tipo de poluente; a vazão; as características da geografia e dos
ventos predominantes; e as condições de dispersão dos poluentes. Essa análise
deve ser feita previamente pelos empreendedores e depois avaliada pelos órgãos
ambientais competentes. Uma ferramenta importante é o estabelecimento de leis
de zoneamento urbano, visando nortear o crescimento de municípios de forma
ordenada, impedindo a proximidade entre fontes emissoras e os núcleos residenciais
(FERNANDES, 2011)

2.1.2 METEOROLOGIA

Meteorologia é a ciência que estuda a atmosfera e seus fenômenos associados. Entre os


vários campos de estudo, podem ser mencionados a meteorologia sinótica, física e dinâmica; a
meteorologia aplicada à aeronáutica e marinha; a micrometeorologia e a previsão numérica. Um
importante setor da meteorologia é o estudo e a previsão da evolução dos sistemas atmosféricos
que definem o tempo e o clima de cada região.

Mesmo mantidas as emissões, a qualidade do ar pode mudar em razão das condições


meteorológicas que determinam uma maior ou menor diluição dos poluentes. É por isso que a
qualidade do ar piora com relação aos parâmetros monóxido de carbono, material particulado
e dióxido de enxofre durante os meses de inverno, quando as condições meteorológicas são
mais desfavoráveis à dispersão dos poluentes. Já o ozônio apresenta maiores concentrações
na primavera e verão, por ser um poluente secundário que depende, dentre outros fatores, da
intensidade de luz solar para ser formado (CETESB, 2020).

A dispersão atmosférica de poluentes é função de um conjunto de parâmetros meteorológicos


que atuam simultaneamente no sentido de aumentar ou reduzir os níveis de poluição em uma
determinada região.
24
Gestão da Qualidade do ar

Os principais processos atmosféricos que determinam o potencial de dispersão estão


associados a certas condições meteorológicas a partir da ação dos sistemas de larga escala
como os anticiclones, as baixas pressões e os sistemas frontais. Cada sistema tem uma atuação
maior ou menor sobre os continentes e oceanos, dependendo da época do ano, onde o seu
deslocamento sazonal atua concentrando ou dispersando os níveis de poluição, sobretudo
nas regiões industrializadas, cujo potencial emissor de poluentes para a atmosfera é mais
significativo.

A poluição do ar está diretamente relacionada ao comportamento diário das


condições meteorológicas de uma determinada região urbana ou industrial, que
são monitoradas através de diversos parâmetros meteorológicos, tais como:
• Pressão atmosférica

• Estabilidade atmosférica

• Direção e velocidade do vento

• Temperatura ambiente

• Radiação solar

• Umidade relativa do ar

• Precipitação pluviométrica ou chuva

• Perfil térmico da temperatura, dentre outros.

Em uma escala local, o vento e a estabilidade atmosférica são os principais fatores que afetam
o transporte e dispersão dos poluentes. A atmosfera está sempre em movimento, e o movimento
do ar, tanto horizontal (o vento) quanto vertical (como a mistura vertical), está extremamente
relacionado com a dispersão dos poluentes; a partir de sua fonte de emissão, o vento dilui os
poluentes e também os dispersa rapidamente, como mostra a figura 7:
Figura 7: Transporte e Transformação das emissões na Atmosfera

Reações químicas
na atmosfera

Óxidos de enxofre e nitrogênio,


provenientes de fábricas e
escapamentos de veículos,
“entram” na atmosfera H, SO2 e HNO3 “caem”
como chuva ácida

Gases e ácidos Gases ácidos danificam


deterioram edifícios. as árvores
Ácidos presentes no ar
e na chuva prejudicam
as pessoas

Lagos são envenenados,


matando plantas e
animais aquáticos

Plantas absorvem
Solo se torna ácido substâncias venenosas

Fonte: Adaptado de LOPES (2016)


25
Gestão da Qualidade do ar

2.1.2.1 DIFERENÇA ENTRE TEMPO METEOROLÓGICO E CLIMA

Na meteorologia, os conceitos de clima e tempo meteorológico têm significado diferentes.

Clima
Constitui o estado médio e o comportamento estatístico da variabilidade dos parâmetros do
tempo (temperatura, chuva, vento etc.) de uma localidade em um período suficientemente
grande. O período recomendado é de 30 anos, denominado “Normal Climatológica”.
Tempo meteorológico
Conjunto de condições atmosféricas e fenômenos meteorológicos que afetam a biosfera e a
superfície terrestre em um dado momento e local (horas, dia, dias). Temperatura, chuva, vento,
umidade, nevoeiro, nebulosidade etc., formam o conjunto de parâmetros do tempo.

2.1.2.2 CLIMA E POLUIÇÃO DO AR

Os fenômenos meteorológicos que afetam a superfície ocorrem, basicamente, na troposfera


– camada da atmosfera que se estende da superfície até cerca de 11 km de altitude. A
temperatura na troposfera decresce, em média, com a altitude, a uma taxa de 10ºC/km, no
processo adiabático seco e cerca de 6,5ºC/km, no processo adiabático úmido. Essa variação
de temperatura é denominada gradiente adiabático (seco/úmido). E nas outras camadas a
temperatura varia bastante, como mostra a figura 8:
Figura 8: Perfil térmico da atmosfera

26
Gestão da Qualidade do ar

2.1.3 VARIÁVEIS E PERFIS METEOROLÓGICOS

Variáveis meteorológicas de superfície são os parâmetros apresentados a seguir:


Direção e velocidade do vento
Vento é o ar em movimento, que se desloca das regiões de alta pressão para as regiões de
baixa pressão. A direção do vento, que é a orientação do vetor do vento na horizontal, é medida
em graus e é definida como a direção de onde sopra o vento. Por exemplo, o vento Sul sopra da
direção Sul. A velocidade do vento corresponde à sua intensidade, medida em metros/segundo
pelo anemômetro. A direção do vento determina a direção do transporte das plumas emitidas
pelas fontes de poluentes. Quanto maior for a velocidade do vento, mais rapidamente ocorre a
mistura das plumas com o ar ambiente.
Pressão Atmosférica
A atmosfera terrestre é constituída por uma mistura de vários gases que exercem sobre a
superfície uma determinada força por unidade de área. Denomina-se pressão do ar atmosférico
ou pressão atmosférica (PA) ao peso exercido por uma coluna de ar, com secção reta e de área
unitária, que se encontra acima do observador, em um dado instante e local.

Para essa circunstância, a pressão depende basicamente da altitude do local, porque, à


medida que aumenta a altitude, o ar se torna mais rarefeito, isto é, menos denso e, portanto,
a PA será cada vez menor (ALMEIDA, 2016). Existe uma relação direta entre a circulação do ar
(e dos poluentes) e o estabelecimento de um gradiente de pressão atmosférica: quando uma
região da Terra aquece, a pressão atmosférica nessa região diminui e o ar eleva-se. Isso cria
uma diferença na pressão atmosférica, fazendo com que o ar no entorno, mais frio, se desloque
da área de maior pressão para a área de menor pressão (João Paulo et al, 2016).
Estabilidade atmosférica
A estabilidade atmosférica afeta o movimento vertical do ar. A convecção e turbulência
aumentam quando o ar é instável e são inibidas quando o ar é estável. A estabilidade influencia a
taxa com a qual os poluentes são misturados no ar limpo. Uma parcela de poluentes atmosféricos
emitida quando o ar está instável é mais bem misturada com o ar limpo do que quando há
estabilidade. A estabilidade inibe o transporte dos poluentes no ar (Theo Gabriel).
Temperatura ambiente
A temperatura do ar é um dos efeitos mais importantes da radiação solar. O aquecimento da
atmosfera próxima à superfície terrestre ocorre principalmente por transporte de calor, a partir
do aquecimento da superfície pelos raios solares (Sentelhas e Angelocci, 2012). A temperatura
do gás saindo da chaminé e sua relação com a temperatura do ar ambiente é mais importante
do que as características de altura da chaminé para a sua dispersão, pois é a diferença entre
essas duas temperaturas que determina a densidade da pluma, que por sua vez afeta a elevação
da pluma.
Radiação Solar
Radiação solar se refere à energia eletromagnética do espectro solar (comprimento de onda
de 0.10 a 4.0 µm) (EPA, 2000). Quanto maior a radiação solar maior a instabilidade atmosférica
e, consequentemente, a dispersão de poluentes é ampliada.

Umidade relativa do ar
É a quantidade de água presente no ar em relação ao seu ponto de saturação. Assim, quando
a umidade relativa do ar é de 60%, significa que o ar está com 60% da sua capacidade máxima
de água. A umidade do ar participa ativamente das reações químicas na atmosfera.

27
Gestão da Qualidade do ar

Precipitação pluviométrica ou chuva


As variáveis referentes ao ar superior são: perfiladores verticais de temperatura e vento,
radiossonda e SODAR (Sonic Detection And Ranging). Os parâmetros meteorológicos variam
com a altura e seu conhecimento ajuda a explicar os fenômenos que ocorrem nas camadas
próximas ao solo, como as inversões térmicas, por exemplo.

A figura 9 apresenta, a título de exemplo, o perfil horário vertical de temperatura, direção e


velocidade horizontal do vento da cidade de Paulínia (SP), que foram medidas entre as 03:00
horas do dia 16/agosto/2016 até a 00:00 hora do dia 17/agosto/2016.
Figura 09: Perfil horário vertical de temperatura, direção e velocidade horizontal do vento

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Fonte: CETESB / SODAR

Na figura 9, as áreas coloridas mostram a estrutura vertical de temperatura em graus Celsius


(°C), onde as temperaturas aumentam das cores mais frias (roxo) para as cores mais quentes
(vermelho). Pode-se observar que as temperaturas são menores nas camadas mais elevadas da
atmosfera. A escala de temperatura é apresentada no canto superior direito. As setas indicam,
para cada nível de altitude medido, a direção de onde o vento horizontal está soprando (por
exemplo, a seta indicando para baixo, mostra que o vento é proveniente de norte e a seta
indicando para cima, o vento é proveniente de sul) e o tamanho das setas indica a magnitude
da velocidade do vento horizontal, em m/s. A referência da magnitude do vento é mostrada no
canto inferior direito da figura (10 m/s) (CETESB, SODAR).

2.1.4 FONTES DE DADOS METEOROLÓGICOS

No Brasil, nem sempre é fácil obter os dados meteorológicos, pois as pequenas cidades
raramente possuem dados. As capitais são mais cobertas pelas estações meteorológicas,
principalmente do Inmet. Apresenta-se a seguir, algumas fontes de dados disponíveis:
28
Gestão da Qualidade do ar

• Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet: www.inmet.gov.br

• Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br

• Força Aérea Brasileira: www.redemet.aer.mil.br

• Infraero: www.infraero.gov.br

• Instituto Agronômico de Campinas – IAC: www.iac.sp.gov.br

• Daesp: www.daesp.sp.gov.br

• Cetesb: https://cetesb.sp.gov.br/ar/qualar/

Importante
Importante observar que, antes de utilizar os dados, eles devem ser avaliados por
um meteorologista para verificar se existem falhas e para verificar a qualidade dos
dados, inclusive a localização da torre meteorológica.

2.1.5 CRITÉRIOS PARA A MEDIÇÃO DOS PARÂMETROS


METEOROLÓGICOS

Para a confiabilidade dos dados meteorológicos é fundamental selecionar corretamente


o local onde serão instalados os equipamentos. Além disso, é recomendável utilizar
equipamentos certificados e que tenham um programa de manutenção preventiva e corretiva.
E, caso os sensores meteorológicos estejam com defeito ou quebrados, é necessário fazer sua
manutenção ou reposição.

A Organização Meteorológica Mundial estabelece alguns critérios, padrões e recomendações


para instalação de estações meteorológicas e leitura dos instrumentos. Esses procedimentos
são adotados de maneira oficial no mundo inteiro, possibilitando uma conformidade nos dados
meteorológicos observados em qualquer parte do planeta. A seguir são apresentados esses
critérios:
Localização da torre meteorológica

29
Gestão da Qualidade do ar

Figura 10: Critérios para localização da torre meteorológica

Fonte: Adaptado de Organização Mundial de Meteorologia

A figura 10 apresenta os critérios para localização das torres meteorológicas. Observa-se


que a torre deve estar situada em uma área plana, sem árvores altas ou outros prédios e a
uma distância igual a dez (10) vezes a altura da torre. A presença desses obstáculos reduz a
velocidade do vento devido ao seu atrito com as árvores e prédios, causando distorções nos
resultados. Um meteorologista deve sempre orientar essa localização, pois existem muitas torres
mal localizadas no Brasil e em outros países, o que tira a confiabilidade dos dados, causando
erros nos resultados da modelagem.

Critérios para medição de parâmetros meteorológicos de superfície


A US EPA recomenda critérios para instalação dos sensores meteorológicos de superfície, que
são apresentados no quadro 2.
Quadro 2: Critérios para medição de parâmetros meteorológicos de superfície

Variáveis Distância do Alta em relação Recomendação para


Observações
meteorológicas obstáculo ao solo cobertura do solo

Vento
10x a altura posicionamento padrão aberto, é de 10m
Direção/ 10 metros grama ou cascalho
do obstáculo acima do solo
Velocidade

1,5x distante a superfície não pode ser de concreto ou


terra natural, grama
Temperatura do mastro 1,25 a 2 metros asfáltica. Reflexão deste tipo de superfície
curta, sem irrigação
(torre) afeta as medições

sensor deve estar livre de obstáculos e de


Radiação solar 2 metros 2 a 10 metros sem requisitos
sombreamentos

o local deve ser uniforme, com


Pressão Atmosférica 1 metro 1 a 10 metros sem requisitos temperatura constante, protegido do sol e
de aquecimento

2x a 4x a altura vegetação natural superfície de concreto ou asfáltica pode


Precipitação 30 cm, mínimo
do obstáculo ou cascalho permitir o respingo de água para o pluviômetro

Fonte: Adaptado de US EPA, 2000

2.2 PREVENÇÃO E CONTROLE DAS EMISSÕES DE


POLUENTES ATMOSFÉRICOS

A gestão da qualidade do ar tem como objetivo controlar a poluição atmosférica para garantir
o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada e ambientalmente sustentável.
30
Gestão da Qualidade do ar

Para tanto, é necessário adotar ações de monitoramento, prevenção, combate e redução das
emissões de poluentes.

Exemplo
As emissões contribuem para as concentrações locais de poluentes, que ocorrem
quando esses se acumulam em quantidades significativas em locais específicos,
por exemplo, perto de estradas movimentadas, instalações industriais ou grandes
operações agrícolas intensivas. A exposição a altas concentrações de poluentes
resulta diretamente em impactos adversos, que são cumulativos, sendo necessário
focar esforços na redução da exposição (DEFRA, 2018).

Existem dois métodos para garantir a qualidade do ar, quais sejam: (i) adoção de métodos de
prevenção da poluição; e (ii) adoção de tecnologias de controle que removem os poluentes
das fontes fixas e móveis.

2.2.1 AÇÕES DE PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO

A prevenção da poluição inclui todas as práticas que reduzem, eliminem ou previnem a


poluição na fonte, sendo denominada também como redução na fonte. E isso é muito mais
interessante do que a reciclagem, ou tratamento e disposição final dos resíduos (EPA), pois,
em geral, a prevenção possui melhor custo-benefício do que a aplicação de tecnologias de
tratamento “fim de tubo” (end of pipe). Porém, em alguns casos, os métodos de controle são a
única solução viável, como nas fábricas mais antigas, por exemplo (Cheremisinoff, 2002).

Nos Estados Unidos, o Congresso aprovou a lei Pollution Prevention (P2) Act em 1990; desde
então, foram identificadas inúmeras possibilidades para as indústrias reduzirem ou prevenirem,
significativamente, a poluição na fonte por meio de mudanças nos seus processos produtivos, na
operação e no uso de matérias primas. E essas mudanças oferecem às indústrias uma economia
significativa no uso de menor quantidade de matérias primas, no controle da poluição, além de
proteger o meio ambiente e reduzir os riscos referentes à saúde e segurança dos trabalhadores.

A prevenção da poluição inclui uma série de medidas, que se iniciam no projeto das
indústrias e equipamentos, tais como:

• Utilização da melhor tecnologia disponível aprovada pelas agências reguladoras


para atender aos padrões de produção de um processo específico, com a
redução da poluição;

• Uso de matéria prima de melhor qualidade;

• Otimização dos processos de operação, de manutenção, de housekeeping, e


outras práticas de gerenciamento;

• Melhorias no processo de combustão;

31
Gestão da Qualidade do ar

• Controle dos produtos de combustão incompleta, com o uso adequado da


taxa de injeção do ar; e

• Uso de combustíveis mais limpos, que reduzem as emissões de partículas.

2.2.2 AÇÕES DE CONTROLE POR FONTE


ESPECÍFICA (FIXAS E MÓVEIS)

São diversos os instrumentos utilizados para gestão ambiental dentre os quais cita-se: os
padrões de qualidade ambiental, os limites de emissão/lançamento, o zoneamento ambiental, o
licenciamento ambiental, os programas de controle, as penalidades disciplinares, os inventários
das fontes de poluição e os relatórios de qualidade ambiental.

Os programas federais de controle da poluição do ar por veículos e por motocicletas - Proconve


e Promot -, respectivamente, têm sido responsáveis por levar os fabricantes a adotar tecnologias
progressivamente mais avançadas para atender aos limites de emissão de poluentes cada
vez mais restritivos. Entretanto, mesmo com limites de emissão mais restritivos e a renovação
natural da frota, a redução da carga de poluentes devido ao avanço tecnológico é influenciada
por outros fatores, como o aumento da frota, as condições de manutenção dos veículos, o tipo
de combustível e os congestionamentos.

Desta forma, a redução dos níveis de poluição do ar não deve se basear, exclusivamente, em
medidas tecnológicas para a redução das emissões dos veículos isoladamente, mas numa ação
integrada dos diversos setores da sociedade.

Importante
O controle de emissões consiste em procedimentos destinados à redução ou à prevenção
da liberação de poluentes para a atmosfera e implantação de equipamentos de controle
de poluição do ar, que são dispositivos que reduzem as emissões atmosféricas. Existe um
número muito grande de equipamentos de controle da poluição do ar, mas a seleção do
equipamento mais adequado deve ser realizada por especialistas, pois os equipamentos
requerem investimento e custo de operação consideráveis.

Existem equipamentos de controle para gases e para partículas; e para fontes fixas e móveis. O
quadro 3 apresenta alguns equipamentos usados nas indústrias para controle de fontes fixas:

32
Gestão da Qualidade do ar

Quadro 3: Processos de Controle de Emissões de Fontes Fixas


Processos de Controle das
Emissões Atmosféricas Poluente Controlado Funcionamento do Processo

Os filtros de mangas são feitos de recida poroso ou feltro através do


qual os gases são forçados a passar para que as partículas sejam
Filtro de mangas MP removidas. A utilização de um filtro de mangas requer a seleção de um
material de filtração adequado às caracteristicas dos gases residuais e
à temperatura máxima de operação.

Os compostos gasosos são dissolvidos em um líquido adequado


(água ou solução alcalina). Pode-se efetuar a remoção simultânea de
compostos sólidos e gasosos. A jusante do lavador, os gases
Lavador de Gases liberados são saturados com água e é necessária uma separação das
MP e SOx gotículas antes de descarregar os gases no ambiente. O efluente
(Scrubber) líquido resultante tem de ser tratado por um processo de tratamen-
to de águas residuais e a matéria insolúvel é recolhida por sedimen-
tação ou filtração.
O Lavador tipo Venturi é concebido para utilizar a energia a partir do
fluxo de entrada de gás para atomizar o líquido a ser usado para
Lavador de gases tipo Venturi MP e SOx absorver e abater os poluentes. Um lavador tipo Venturi consiste em
três seções: uma seção convergente, uma seção de garganta, e uma
secção divergente.

Pré-aquecimento do ar de O ar de combustão passa por um pré-aquecimento por meio de


NOx
combustão trocadores de calor antes de ser inserido na câmara de combustão.

Queimadores de combustíveis das chaminés e caldeiras, específi-


Queimadores LowNOx NOx cos para reduzir a emissão de NOx.

Os precipitadores eletrostáticos funcionam de modo que as partícu-


Precipitador Eletrostático MP las são carregadas e separadas por influência de um campo elétrico.
(ESP) Podem funcionar numa gama variada de condições.

Reinjeção dos gases do forno na chama, para reduzir o teor de


oxigénio e, consequentemente, a temperatura da chama. Utilização
Recirculação dos gases NOx de queimadores especiais que utilizam a recirculação interna dos
de combustão gases de combustão para arrefecer a base das chamas e reduzir o
teor de oxigénio na parte mais quente destas.

Redução do NOx para nitrogênio em um leito catalítico, por meio de


reação com amoníaco (regra geral, solução aquosa, a uma tempera-
Redução catalítica seletiva NOx tura ótima de operação entre 300ºC e 450ºC).
(SCR) Podem ser aplicadas uma ou duas camadas de leito catalítico a fim
de se obter uma redução maior de NOx.

Redução de NOx para nitrogênio, por meio de uma reação com


Redução não catalítica seletiva NOx amônia ou ureia a alta temperatura.
(SNCR) Para otimizar a reação, a temperatura deve ser mantida entre 900°C
a 1050°C.

Filtragem de carbono é um método de filtragem que utiliza um leito


de carvão ativado para remover os contaminantes e impurezas,
utilizando absorção química.
Torre de carvão ativado HCT (COVs) O carvão ativado funciona por meio de um processo chamado de
adsorção, em que as moléculas poluentes no líquido a ser tratado
fiquem presas no interior da estrutura dos poros do substrato de
carbono.

Fonte: Cetesb, 2017

As figuras 11 e 12 apresentam alguns dos equipamentos indicados no quadro 3, utilizados nos


processos de controle da poluição. Esses são alguns exemplos de equipamentos de controle.
Cada um deles possui uma eficiência de retenção dos poluentes. Esses equipamentos devem
ter manutenção preventiva; e as emissões antes e após o controle devem ser medidas pelo
menos duas vezes ao ano, para comprovar seu bom funcionamento.
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Figura 12: Lavador de Gases (Scrubber)
Figura 11: Filtro de Mangas

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Fonte: Cetesb, 2017

Fonte: Cetesb, 2017

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33
Gestão da Qualidade do ar

Dentre os métodos de controle relacionados às fontes móveis, incluem-se:

• Implementar a inspeção veicular;

• Fiscalizar a fumaça de veículos a diesel;

• Promover a renovação de frota do transporte coletivo;

• Limitar áreas de trânsito veicular;

• Limitar a velocidade dos veículos;

• Manter a limpeza das ruas;

• Promover a melhoria da manutenção dos veículos a diesel;

• Mitigar os congestionamentos;

• Incentivar a adoção de práticas de gestão ambiental em organizações que


possuam frotas de veículos;

• Promover a renovação e reciclagem de veículos;

• Promover a melhoria da eficiência energética veicular;

• Promover medidas de intervenção urbana e no setor de transporte;

• Avaliar a gestão da demanda e da oferta de transporte coletivo;

• Implantar e/ou ampliar a malha urbana de ciclovias e integração intermodal;

• Promover o uso de combustíveis alternativos;

• Planejar o uso do solo e adoção de técnicas modernas e sistemas inteligentes


para o gerenciamento da fluidez e segurança do trânsito; e

• Incentivar alternativas para o transporte coletivo.

Um dos métodos de controle de partículas causadas pelo deslocamento de fontes móveis é a


aspersão, ainda bastante usada no Brasil. Nos países que não dispõem de muita água, são usados
polímeros para esse controle. A figura 13 apresenta aspersão usada nas vias internas de uma mina.

34
Gestão da Qualidade do ar

Figura 13: Aspersão de vias não pavimentadas

Foto: Neuza Neves, 2016.

O processo de controle das fontes de emissões se inicia muito antes de sua operação, e ocorre
na fase de planejamento dos empreendimentos, como fábricas ou rodovias; e também no
seu licenciamento ambiental, procedimento pelo qual o órgão ambiental competente analisa
a proposta apresentada para o empreendimento e a legitima, considerando as disposições
legais e regulamentares aplicáveis e sua interdependência com o meio ambiente, emitindo a
respectiva licença.

Dentre os objetivos do licenciamenti incluem-se:

1
Avaliar tecnicamente a viabilidade de empreendimentos com potencial poluidor;

2 Inserir as questões ambientais no contexto do projeto durante as suas fases de


planejamento, implatação, operação e desativação do empreendimento;

3
Identificar e caracterizar os impactos ambientais; e

4 Implementar medidas de controle, mitigadoras, potencializadoras


ou compensatórias

O escopo básico do licenciamento é estabelecido pela Resolução Conama no 001/1986, nos


roteiros detalhados dos fatores ambientais definidos pelos órgãos ambientais estaduais e no
Termo de Referência aprovado pelo órgão ambiental estadual (Plano de Trabalho).
35
Gestão da Qualidade do ar

O processo é extenso e detalhado, para cada impacto ambiental. Para avaliar os impactos na
atmosfera é preciso elaborar o estudo de clima, de topografia, a modelagem matemática (desde
o inventário de emissões), medir as concentrações dos poluentes de background, visando não
permitir o aumento das concentrações e selecionar os equipamentos de controle que serão
instalados.

Dentro do licenciamento ambiental, o Estudo de Dispersão Atmosférica é uma ferramenta


fundamental para antecipar e prevenir os efeitos negativos da implantação e operação de um
empreendimento ou atividade, sendo que seu uso é requerido para o licenciamento de novas
fontes e ampliação de fontes existentes. A seleção de equipamentos de controle é feita também
com o auxílio da modelagem, um dos pontos fortes do estudo.

Os empreendedores devem aplicar as legislações federal, estadual e municipal pertinentes


que estabelecem os limites de emissões.

Tome nota
Tanto a Resolução Conama nº 382/2006 como a Resolução nº 436/2011 atrelaram
o uso dos limites de emissão à manutenção ou restauração da qualidade do ar,
fazendo explícita menção à necessidade de que sejam associados à capacidade de
suporte do meio. Essas resoluções explicitam que “O órgão ambiental licenciador
poderá, mediante decisão fundamentada, determinar limites de emissão mais
restritivos que os aqui estabelecidos em áreas onde, a seu critério, o gerenciamento
da qualidade do ar assim o exigir” (IEMA, 2012).

No que diz respeito ao estabelecimento dos limites das emissões industriais, há a importante
participação dos órgãos estaduais de meio ambiente na edição de regulamentações, tendo
em vista seu papel preponderante no licenciamento e na fiscalização dessas atividades e o
conhecimento empírico que detêm da realidade de seus territórios. Além disso, participam
ativamente das discussões os representantes da indústria brasileira, dos governos municipais e
da sociedade civil, propiciando resoluções baseadas na realidade do país e com a colaboração
de todos os setores.

O Ibama também possui importante papel no licenciamento ambiental, devendo alguns


empreendimentos serem licenciados por este órgão, tais como:
Áreas nas fronteiras do Brasil;

Mar Territorial ou Plataforma Continental;

Terras indígenas;

Domínio da União;

Localizado em dois ou mais Estados;

Impacto direto ultrapassa um Estado ou limites territoriais do País;

Relacionado com material radioativo;


36
Gestão da Qualidade do ar

Utilização de energia nuclear e

Empreendimentos militares.

Saiba Mais
O Ibama possui também o Guia de Emissões de Poluentes Atmosféricos para
preenchimento do Cadastro Técnico Federal – CTF, que deve ser preenchido pelos
estabelecimentos que emitiram poluentes atmosféricos por meio de uma chaminé
e que exerceram pelo menos uma das atividades listadas no Anexo, no período de 1
de janeiro a 31 de dezembro do ano ao qual o relatório se refere (Instrução Normativa
Ibama 06/2014, disponível em:
https://servicos.ibama.gov.br/phocadownload/manual/guiageral_rapp_2014_v2.pdf)

37
Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ar. Brasília, DF, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-de-conteudo/mma-guia-tecnico-
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38
MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA

AULA 03
MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR

39
Gestão da Qualidade do ar

3.1 HISTÓRICO DO MONITORAMENTO DA


QUALIDADE DO AR NO BRASIL

O marco inicial da regulamentação da poluição do ar no Brasil, de abrangência nacional,


ocorreu com a Portaria do então Ministério do Interior n° 0231, de 27/4/76, que estabeleceu
padrões de qualidade do ar para partículas totais em suspensão, dióxido de enxofre, monóxido
de carbono e oxidantes fotoquímicos, bem como os respectivos métodos de referência para
realizar o monitoramento.

Este primeiro fundamento legal fortaleceu as ações de monitoramento já existentes no Rio de


Janeiro e em São Paulo, e estimulou a criação destas ações em outros centros urbano-industriais,
propiciando, desta forma, o desenvolvimento dos primeiros planos e programas estaduais de
monitoramento e controle da poluição do ar, que mais tarde inspirariam as regulamentações do
governo federal.

Com base nas disposições da Lei n. 6.938 de 1981, o Conama revisou a Portaria n. 0231,
acrescentando os poluentes fumaça, partículas inaláveis e dióxido de nitrogênio. Foram
estabelecidos também padrões primários e secundários para a exposição de curto e longo
prazo para cada um dos poluentes, assim como seus métodos de referência.

No Rio de Janeiro, segundo divulgado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEA), o
monitoramento ocorre desde 1967, ano em que foram instaladas as primeiras estações manuais
de amostragem de material particulado total (INEA, 2017).

O monitoramento da qualidade do ar no Estado de São Paulo teve início em 1972, com a


instalação de 14 estações manuais para medição diária dos níveis de dióxido de enxofre (SO2)
e fumaça preta na Região Metropolitana de São Paulo. Em 1981, foi dado um salto qualitativo,
com o início do monitoramento automático e a instalação de novas estações, para a avaliação
de SO2, material particulado inalável (MP10), ozônio (O3), óxidos de nitrogênio (NO, NO2 e NOx),
monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos não metânicos (NMHC), além dos parâmetros
meteorológicos, como direção e velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar
(CETESB, 2021).

Na década de 80, a meteorologia evoluiu, sendo aprovados os primeiros modelos matemáticos,


que simulavam a dispersão dos poluentes atmosféricos. Além disso, os métodos de amostragem
e análise de poluentes foram aperfeiçoados e o monitoramento, tanto das fontes de emissão,
quanto da qualidade do ar, foram disseminados pelo Brasil e pelo mundo, dada a enorme
variedade de equipamentos de medição desenvolvidos para tal.

Em 1989 foi criado o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (Pronar), pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da Resolução Conama nº 05 de 15 de junho de
1989. O estabelecimento do programa ocorreu devido à percepção do acelerado crescimento
urbano e industrial brasileiro e da frota de veículos automotores; do progressivo aumento da
poluição atmosférica, principalmente nas regiões metropolitanas; dos seus reflexos negativos
sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente; das perspectivas de continuidade destas
condições e, da necessidade de se estabelecer estratégias para o controle, preservação e
recuperação da qualidade do ar, válidas para todo o território nacional.

Novas redes foram criadas entre o fim da década de 80 e a década de 90, como a Rede de
Monitoramento da Qualidade do Ar do Polo Industrial de Camaçari (Bahia), financiada pelas
empresas do Polo; da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler
(Fepam), no Rio Grande do Sul, dentre outras.
40
Gestão da Qualidade do ar

Tome nota
O primeiro dispositivo legal decorrente do Pronar foi a Resolução Conama nº 03,
de 28 de junho de 1990, que estabelecia os padrões nacionais de qualidade do ar.
Esta resolução foi substituída em 2018 pela Resolução Conama nº 491, na qual o Art.
8o estabelece a elaboração do Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da
Qualidade do Ar, com o objetivo de uniformizar o monitoramento da qualidade do
ar no Brasil. O referido guia foi elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA)
em conjunto com os órgãos ambientais estaduais e distrital, e apresenta todos os
requisitos para instalação de uma rede de monitoramento da qualidade do ar.

3.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO MONITORAMENTO


DA QUALIDADE DO AR

O monitoramento da qualidade do ar é extremamente relevante, pois gera dados sobre


a condição da qualidade do ar atual, constrói o histórico de dados e é a base para guiar o
gerenciamento e avaliar a efetividade dos programas estabelecidos para gestão da qualidade
do ar. Fazer monitoramento de emissões é avaliar e observar, continuamente, as variações da
quantidade de determinado poluente que está sendo lançado na atmosfera, provenientes de
fontes fixas e móveis. Com base nos resultados do monitoramento, podem ser tomadas decisões
para melhorar a qualidade do ar e alertar a população sobre os riscos à saúde.

Além do monitoramento, ressalta-se a transparência da informação, no que se refere aos


resultados do monitoramento, pois é fundamental dar visibilidade aos problemas de poluição
atmosférica e permitir que os diversos setores da sociedade os conheçam e se mobilizem pela
melhoria da qualidade do ar (VORMITTAG et al, 2014).

O monitoramento é um importante pilar da gestão da qualidade do ar, tornando possível


a verificação do grau de exposição da população aos vários poluentes, além de propiciar o
acompanhamento de tendências de médio e longo prazo para orientar a tomada de decisão e
verificar a eficácia dos programas de controle e a necessidade de aprimoramentos (MMA, 2019).

De acordo com o Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar (MMA,


2019), são dois os objetivos básicos de uma rede de monitoramento da qualidade do ar:

Objetivo I
Verificar o grau de exposição da população aos poluentes atmosféricos, considerando critérios
de saúde pública

Objetivo II
Acompanhar tendências de médio e longo prazo para verificar a eficácia dos programas de
controle, avaliando a necessidade de aprimoramentos.

Para atingir esses objetivos, várias estratégias podem ser adotadas, tais como:

41
Gestão da Qualidade do ar

Alocar instrumentos com o objetivo de determinar as concentrações mais altas de poluen-


tes esperadas para a área de estudo, com a premissa de que o restante da população dessa
área estará exposta a um ar com qualidade melhor do que a verificada no local de maior
concentração;

Verificar as características da área durante o planejamento, tais como reclamações da po-


pulação, tamanho da frota de veículos e estimativas de emissões de fontes fixas;

Determinar as concentrações representativas das áreas de maior densidade populacional,


como forma de conhecer a qualidade do ar que a maior parte da população respira;

Determinar os níveis gerais de concentração de poluentes na região, a chamada concen-


tração de fundo ou, em inglês, background concentration.

Além destes, as redes de monitoramento podem incorporar outros objetivos e estratégias, de


acordo com necessidades específicas, visando aprimorar o conhecimento da situação local.

Exemplo
Essas necessidades podem incluir, por exemplo, o levantamento de dados e
informações sobre os fatores que influenciam na qualidade do ar, assim como os
impactos da concentração de poluentes em populações vulneráveis, os efeitos na
fauna, na vegetação, nos cultivos e nos materiais, entre outras variáveis relevantes.

3.2.1 MÉTODOS DE MONITORAMENTO

Existem vários métodos disponíveis para o monitoramento; sua seleção depende de muitos
fatores, desde o objetivo do monitoramento, da capacidade de investir em sua aquisição e
manutenção, até do modelo de gestão, que pode ter diferentes formatos, envolvendo os órgãos
ambientais diretamente ou por meio do apoio financeiro do setor industrial, como ocorre no
Polo Industrial de Camaçari, onde as empresas são responsáveis pela rede de monitoramento
da qualidade do ar situada em seu entorno.

Os principais métodos de monitoramento são:

Amostradores Passivos
Dispositivos, em geral, na forma de tubos ou discos, que absorvem ou adsorvem poluentes
específicos através de uma reação química. Após certo tempo de exposição (de poucas horas
a um mês), a amostra é analisada em laboratório. Essa metodologia pode ser aplicada a uma
grande variedade de poluentes como NH3, BTX (benzeno, tolueno e xileno), SO2, NOX, O3, HF,
HCl, aldeídos e compostos orgânicos voláteis.

42
Gestão da Qualidade do ar

Figura 14: Amostradores passivos.

Foto: Maxxam.

Os três amostradores passivos apresentados na Figura 14, instalados dentro de um abrigo para
protegê-los da chuva, são baseados em difusão molecular, segundo a Lei de Fick. Cada um
deles serve para medir um poluente específico, e consiste em um corpo cilíndrico de polietileno,
fechado no fundo para evitar transporte convectivo, que produz erros nas concentrações do
gás amostrado. A figura 15 mostra os dispositivos instalados em campo.
Figura 15: Amostradores passivos em campos.

Foto: Maxxam.

Suas principais vantagens são seu baixo custo, a existência de amostradores para uma vasta
gama de poluentes, e o fato de não necessitarem de energia elétrica. Porém não possuem
resolução temporal, ou seja, não fornecem dados para curtos períodos de exposição em tempo
real.

Biomonitores
O biomonitoramento serve para avaliar o impacto dos poluentes no ambiente, e complementa
as informações obtidas sobre a qualidade do ar. Fundamenta-se na capacidade que todo ser
vivo tem de responder às alterações impostas pelo ambiente.

Os biomonitores são organismos ou um conjunto de organismos que reagem às variações


ambientais por meio de alterações em suas funções vitais ou composição química, podendo
ser utilizados para a avaliação da extensão das mudanças em seu ambiente (Arndt e Schweizer,
1991).

43
Gestão da Qualidade do ar

Os biomonitores são geralmente plantas sensíveis à concentração de determinados poluentes,


que podem apresentar mudanças em sua coloração natural quando submetidas a diferentes
concentrações. Como exemplo, a figura 16 apresenta uma folha de tabaco submetida a altas
concentrações de ozônio. Sua resposta típica são as manchas brancas na folha, que são contadas
para avaliar o impacto do poluente. Tabaco é um excelente bioindicador para ozônio.

Figura 16: Folha de tabaco submetida a altas concentrações de ozônio

Foto: Neuza Neves

A bioindicação ou biomonitoramento é a única estratégia que permite a avaliação do efeito


de poluentes nos sistemas biológicos, mas não exclui a necessidade de realização de análises
físico-químicas.
A figura 17 apresenta a exposição dos bioindicadores em campo.
Figura 17: Exposição dos bioindicadores em campo

Foto: Alessandra Argolo Carvalho.

Métodos ativos ou manuais


Diferenciam-se dos anteriores por requererem energia elétrica, necessária para bombear a
amostra através de um meio de coleta, físico ou químico. Além disso, o tempo de amostragem
é menor, variando de 24h a alguns dias. Poluentes gasosos usualmente reagem pela passagem
da amostra em uma solução reagente, que é recolhida e analisada em laboratório através
de técnicas como cromatografia gasosa ou espectrometria de massa. Essa técnica tem sido
empregada para amostragem de SO2; NO2; amônia e H2S, porém são muito sujeitos a erros. A
figura 18 apresenta um monitor manual, que pode medir os poluentes mencionados.
44
Gestão da Qualidade do ar

Figura 18: Monitor manual

Fonte: Energética

Métodos automáticos ou contínuos


São instrumentos que se baseiam nas propriedades físico-químicas dos poluentes (Ver
Módulo III). A amostra é analisada em tempo real através de métodos óptico-eletrônicos como
absorção de ultravioleta ou infravermelho, fluorescência, quimiluminescência etc. Além da
análise imediata, esses monitores se diferenciam pela confiabilidade, acurácia, alto custo e por
requererem alto padrão de manutenção, operação e controle de qualidade de procedimentos.
A figura 19 apresenta um monitor automático de partículas.

Figura 19: Monitor automático e contínuo para partículas PM10

Fonte: Enveea

3.3 IMPACTOS DA DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE


DO AR

A preocupação em monitorar a presença de poluentes no ar justifica-se pelos danos causados


à saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 92% da população mundial vive em
locais onde os níveis de qualidade do ar excedem os limites estabelecidos pela organização e
três milhões de mortes por ano estão relacionadas à exposição à poluição do ar em ambientes
45
Gestão da Qualidade do ar

externos, sendo que 90% delas ocorrem em países de baixa e média renda.

Saiba Mais
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
estima-se que cerca de 6 a 9 milhões de mortes prematuras ocorrerão por ano até
2060 em decorrência da poluição do ar.

E de acordo com a OMS, apenas na Europa, a poluição atmosférica é responsável


por um custo de 1,6 trilhão de dólares por ano em mortes e doenças, o que é
equivalente a quase um décimo do produto interno bruto da região (ONU, 2015).

Os números apresentados demonstram a importância do controle da qualidade


do ar, que se inicia com o monitoramento, e dimensiona os impactos sociais e
econômicos.

3.3.1 PANORAMA DO MONITORAMENTO NO BRASIL

O monitoramento da qualidade do ar no Brasil ainda é incipiente. Das 27 Unidades Federativas,


apenas 12 (Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) realizam algum
tipo de monitoramento e com grande variação da quantidade de estações em operação e dos
poluentes monitorados.

A distribuição das estações de monitoramento da qualidade do ar no país é apresentada na


figura 20, de forma agregada e de forma regionalizada, a partir das informações obtidas junto
aos órgãos gestores de cada Unidade Federativa.
Figura 20: Distribuição das estações de monitoramento no Brasil e por região geográfica

Região Sudeste Região Centro Oeste


RR
AP
MG

MT
AM PA
MA CE ES DF
RN

PB
GO
PI
PE
AL RJ
AC TO MS
RO SE SP
BA
MT

DF
GO
Região Nordeste Região Sul
MG

MS ES
PR
MA CE
SP RN
RJ
PB
PR PI PE SC
AL
SC SE
RS
Legenda BH
Legenda
RS

Estação de monitoramento
Estação de m
Limite estadual
Limite estadu

Elaboração MMA
46
Gestão da Qualidade do ar

A representação especializada das estações de monitoramento permite constatar que há


uma alta concentração na Região Sudeste, onde há uma maior concentração populacional e
industrial. No Nordeste, três estados dispõem de estações de monitoramento (BA, CE e PE), assim
como na região Centro-Oeste (DF, GO e MS). Na região Sul, dois estados fazem monitoramento
(PR e RS), enquanto na região Norte nenhum estado dispõe de estação de monitoramento da
qualidade do ar. Com o levantamento realizado pelo MMA em 2019, foi possível identificar 347
estações de monitoramento, distribuídas em 121 municípios.

Comparando-se com os Estados Unidos, onde os dados sobre a qualidade do ar são


disponibilizados aos cidadãos desde a década de 80 pela Agência de Proteção Ambiental
(EPA, em inglês, Environmental Protection Agency), em 2014 o país contava com cerca de 5.000
estações de monitoramento ativas. E na Europa, a Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA,
em inglês, European Environment Agency) é o órgão ambiental que representa a União Europeia
(UE), desde 1994. No ano de 2013 estavam mantidas 7.500 estações de monitoramento da
qualidade do ar (VORMITTAG, 2014).

Diante destes dados, ao estabelecer paralelo com políticas praticadas em outros países,
verifica-se que no Brasil, o número de estações de monitoramento da qualidade do ar ainda é
muito pequeno (SILVA e VIEIRA, 2017).

3.4 CICLO DA GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

A poluição do ar é um fenômeno dinâmico e complexo que apresenta, em geral, grandes


variações no espaço e no tempo.

Estas variações devem-se principalmente às condições meteorológicas que dispersam os


poluentes, e que são, por sua vez, extremamente variáveis e influenciadas por outros fatores,
como por exemplo, a topografia. Outra causa desta variação espaço-temporal é a variação na
taxa de emissão dos diversos poluentes. Finalmente, as inúmeras transformações pelas quais
os poluentes passam, seja sua reação com outros poluentes ou com a umidade ambiente,
sedimentação, ou deposição, tornam este fenômeno ainda mais complexo.

A gestão da qualidade do ar é, portanto, complexa, e envolve diagnóstico, planejamento e


gerenciamento, em um ciclo que sempre se repete, pois, como mencionado anteriormente, a
poluição do ar é um fenômeno dinâmico. As mudanças ocorrem devido à instalação de novas
fontes, substituição de combustíveis, à situação econômica do Brasil e do mundo, que reduz ou
aumenta a produção industrial, dentre outros.

A gestão ambiental no Brasil teve seu início com o estabelecimento de legislações que
evoluíram, passo a passo, dentro da realidade de cada época. Portanto, desde o licenciamento
dos empreendimentos, conforme estabelece a Resolução Conama n. 1/1986, deve ser feita a
gestão da qualidade do ar, sempre reavaliando o ciclo de sua gestão em busca da melhoria
contínua. A figura 21 apresenta o ciclo da poluição do ar.
Figura 21: Ciclo da poluição do ar
Representação MMA

Poluentes Diluição

Fonte de Emissão Atmosfera Receptores

Reações Químicas

47
Gestão da Qualidade do ar

O ciclo da gestão da qualidade do ar deve atuar em todas estas fases, e sempre voltando às
fontes de emissões, causa principal da poluição do ar. Os inventários de emissões devem ser
sempre revistos, bem como a aplicação dos modelos matemáticos.

Exemplo
Como exemplo, no Polo Petroquímico de Camaçari, o inventário é revisado a cada
dois anos para avaliar as mudanças que ocorrem na região, como a instalação de
novas indústrias (novas fontes de emissões) ou fechamento de outras, a substituição
de combustíveis, a instalação de equipamentos de controle, entre outros. A
modelagem também é realizada a cada dois anos, para avaliar a localização das
estações de monitoramento do ar, algumas delas, inclusive, já foram realocadas em
função deste ciclo de gestão.

A concentração de um poluente no ar é o resultado final de processos complexos, sujeitos a


vários fatores, que compreendem não só a emissão pelas fontes como, também, suas interações
físicas (diluição) e químicas (reações) na atmosfera. A caracterização climatológica da região
de estudo é fundamental, uma vez que a interação entre as fontes de poluição e as condições
atmosféricas é que define a qualidade do ar regional. O ciclo de gestão da qualidade do ar
se inicia e se retroalimenta com o monitoramento da qualidade do ar, uma vez que essa é a
grande ferramenta de avaliação das estratégias adotadas durante todo o processo de gestão.

3.5 ESTUDO DE CASO DE MONITORAMENTO CONTÍNUO DE


POLUENTES E SEUS IMPACTOS

Como exemplos de sucesso internacional podem ser citados o caso da Airparif1 na França e o
caso de redução de emissões veiculares em Londres.

A Airparif é uma organização sem fins lucrativos credenciada pelo Ministério do Meio Ambiente
francês para monitorar e avaliar continuamente a qualidade do ar na região de Paris. Seus
objetivos principais são:

Monitorar a qualidade do ar;

Prever episódios de poluição;

Avaliar o impacto das medidas de redução de emissões; e

Informar as autoridades e os cidadãos (diariamente durante uma ocorrência).

Em Londres diversas medidas foram tomadas pelo governo local para reduzir as emissões e
concentrações de poluentes atmosféricos devido à utilização de veículos, entre essas medidas
pode-se destacar:

Taxa de congestionamento – a taxa de congestionamento é uma taxa diária de 15 libras,


aplicável caso se dirija dentro da zona de taxa de congestionamento;

48
Gestão da Qualidade do ar

Zona de Baixa Emissão (LEZ, na sigla em inglês) – essa zona foi implantada para encorajar
os veículos pesados ​​a diesel, mais poluentes, que dirigem em Londres, a se tornarem mais
limpos.

Zona de emissão ultrabaixa (ULEZ, na sigla em inglês) – nessa zona são permitidos somen-
te veículos com baixas emissões, auxiliando na redução das emissões veiculares na parte
central de Londres.

Como já mencionado, a importância do monitoramento é enorme, pois é por meio deste que
são registradas as tendências e a evolução das concentrações, demonstrando a necessidade
de controle da poluição.

Como exemplo nacional destaca-se o caso de monitoramento contínuo e o impacto


da qualidade do ar do Município de Cubatão/SP, que já foi reconhecido como o lugar mais
poluído do mundo, quando eram lançadas cerca de 1.000 toneladas de poluentes por dia no
ar, especialmente partículas e SO2 (BBC, 2017), e hoje, graças à adoção de medidas corretivas
e preventivas, como a proibição de instalar novas fontes de poluentes ou aumentar a produção
industrial, reduziram muito as concentrações de poluentes no ar, como apresentam os gráficos
2 a 4 a seguir.
Figura 22: Indústria situada em Cubatão

Fonte: Protottipo, 2012.

“Tirar o Brasil do atraso”, este era o projeto a ser realizado pelo governo Juscelino Kubitschek
a partir de 1956 em Cubatão, localizado na Região Metropolitana da Baixada Santista, próximo
à Serra do Mar. Surgiram, então, muitas indústrias, responsáveis por transformações no ramo
petroquímico, siderúrgico e de fertilizantes, que começaram a interferir, direta e indiretamente,
na cidade, sem se preocupar com o meio ambiente e com a saúde da população. Desde então,
a fonte de renda de Cubatão é o Polo industrial.

Essa despreocupação com o entorno rendeu à cidade o cognome de “Vale da Morte”,


principalmente a partir do início da década de 80, quando muitas crianças começaram a nascer
anencefálicas em Cubatão. A cidade vivia um caos quando, em 1983, a Companhia Ambiental
do Estado de São Paulo (Cetesb) começou a promover ações a fim de recuperar a qualidade de
vida na região.

Entre as décadas de 80 e 90 as concentrações de poluentes caíram muito, graças aos Planos


de Controle já consolidados, e as ações previstas no Plano de Redução das Emissões de Fontes
Estacionárias (PREFE) (CHENG, 2015).
49
Gestão da Qualidade do ar

A qualidade do ar em Cubatão é determinada principalmente pelas fontes industriais.


Atualmente as altas concentrações de PM10 são medidas em Cubatão, quase exclusivamente,
na área industrial, medidas pela estação Cubatão – Vila Parisi, onde o padrão anual de 40 µg/
m3 ainda é ultrapassado. As concentrações na área urbana (estação Cubatão - Vale do Mogi)
caíram muito, e atendem ao padrão anual desde 2016, como pode-se observar nos gráficos 2
a 4, e são semelhantes às concentrações medidas em alguns bairros da Região Metropolitana
de São Paulo.
Gráfico2: Evolução das concentrações médias anuais de PM10 na Baixada Santista
120

100

80
MP10(µg/m3)

60

40

20

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Cubatão - Centro (A) Cubatão - Vale Mogi (A) Cubatão - Vale Parisi (A)

Santos (A) Santos - Praia da Praia (A) Santos - Vincente de Carvalho (A)
Fonte: Cetesb, 2020

O Gráfico 2 apresenta a evolução das concentrações médias anuais de MP10 para as estações
da Baixada Santista, inclusive Cubatão - Vila Parisi e Cubatão - Vale do Mogi, para o período de
2010 a 2019, observa-se uma tendência de queda significativa das concentrações para este
poluente nas duas estações de Cubatão e também nas demais estações. Somente na estação
Cubatão – Vila Parisi, o padrão anual de 40 µg/m3 ainda é ultrapassado.

Nos últimos três anos, as concentrações médias anuais destas duas estações mantiveram-
se praticamente estáveis. A queda ocorrida nos anos anteriores, bem como a manutenção nos
últimos pode estar relacionada às condições meteorológicas mais favoráveis observadas na
região, bem como à manutenção da paralisação parcial de alguns processos industriais de
empresas locais.

Na área central de Cubatão, como apresenta o Gráfico 3, no ano de 2019, em 95,6% do ano
a qualidade do ar foi Boa para PM10. Este percentual tem se mantido nesta faixa nos últimos 5
anos.

50
Gestão da Qualidade do ar

Gráfico 3: Distribuição Percentual de Partículas Inaláveis (PM10) em Cubatão - Centro

0,3%
3,8% 2,8% 1,1%
100%
10% 4,4%

75%

50% 90% 95,9% 97,2% 98,9% 95,6%

25%

0%
2015 2016 2017 2018 2019

Boa Moderada Ruim

Fonte: Cetesb, 2020

Na área industrial, conforme demonstrado no Gráfico 4, a situação é diferente, apesar da


melhora em relação aos anos de 2015 e 2016, em 2019, a qualidade do ar para Partículas
Inaláveis (MP10) foi Boa em apenas 40% do tempo.

Gráfico 4: Distribuição Percentual de Partículas Inaláveis (PM10) em Cubatão - Vila Parisi

1,1%
100% 3,3% 3,5% 4,4%
12,6% 11,1%
15,6% 17,1% 16,5%
17,7%
75% 24,7%
42,5% 38,2% 39,1%
50% 41,2%
44,8%
25%
38,6% 41,2% 40%
30%
16,7%
0%
2015 2016 2017 2018 2019

Boa Moderada Ruim Muito Ruim Ruim

Fonte: Cetesb, 2020

51
Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARNDT, U e SCHWEIZER, B. The use of bioindicators for environmental monitoring in tropical and subtropical
countries. In: Ellenberg H, Arndt V, Bretthauer R, Ruthsatz B, Stenbing L (eds), Biological monitoring - signals from
the environment, pp.199-260. 1991.

BBC, BBC News Brasil. Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta na poluição,
2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39204054.

CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Qualidade do ar – Histórico. São Paulo, SP, 2021.
Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/ar/#:~:text=O%20monitoramento%20da%20qualidade%20do,SO2)%20
e%20fuma%C3%A7a%20preta.

CHENG, M. S. C. Desafios da gestão da qualidade do ar: dinâmicas e padrões de qualidado do ar no Município de


Cubatão e entorno. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo (USP), 2015. Disponível em: https://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6139/tde-30082016-160115/publico/MonicaSilveiraECostaCheng.pdf.

INEA, Instituto Estadual do Ambiente. Plano de Ação do Banco de Projetos Ambientais. Rio de Janeiro,
RJ, 2017. Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/wp-content/uploads/2020/08/Projeto.INEA_.01.17-
Manuten%C3%A7%C3%A3o-da-rede-semiautom%C3%A1tica-de-monitoramento-da-qualidade-do-ar.pdf

MMA, Ministério do Meio Ambiente. Guia Técnico para o Monitoramento e Avaliação da Qualidade do Ar. Brasília,
DF, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-de-conteudo/mma-guia-tecnico-qualidade-
do-ar-pdf

ONU, Organização das Nações Unidas. Poluição do ar custa US$ 1,6 trilhão por ano aos países da Europa, 2015.
Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2015/04/1510161-poluicao-do-ar-custa-us-16-trilhao-por-ano-aos-
paises-da-europa

PROTOTTIPO. Cubatão: do vale da morte ao vale da vida, 2012. Disponível em: https://protottipo.wordpress.
com/2012/12/16/cubatao-do-vale-da-morte-ao-vale-da-vida/

SILVA, A.F. e VIEIRA, C.A. Aspectos da poluição atmosférica: Uma reflexão sobre a qualidade do ar nas cidades
brasileiras, 2017.

VORMITTAG, E. M. et al. Monitoramento da qualidade do ar no Brasil. São Paulo: Instituto Saúde e Sustentabilidade,

52
MÓDULO I - INTRODUÇÃO À QUALIDADE DO AR E LEGISLAÇÃO APLICADA

AULA 04
COMPETÊNCIAS E LEGISLAÇÃO RELACIONADAS À
QUALIDADE DO AR NO BRASIL

53
Gestão da Qualidade do ar

4.1 COMPETÊNCIAS RELACIONADAS À GESTÃO


DA QUALIDADE DO AR NO BRASIL

É da competência da União o estabelecimento dos padrões nacionais da qualidade do ar, que


são considerados como parâmetros mínimos a serem atendidos em todo o país, de acordo com
a competência normativa constitucional concorrente sobre o meio ambiente (inciso VI do art.
24, CRFB/88).

Os estados e o Distrito Federal têm o poder de estabelecer os seus próprios padrões de


qualidade do ar, desde que mais restritivos do que os nacionais. No nível federal, compete ao
CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), a
definição e revisão dos padrões de qualidade do ar.

O papel do Ministério do Meio Ambiente nesse processo se configura na formulação de


políticas públicas e na coordenação de ações para produção de informações aplicáveis na
gestão da qualidade do ar.

O quadro 4 sistematiza as competências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios no que se refere à gestão da qualidade do ar.
Quadro 4: Competências em Relação à Gestão da Qualidade do Ar

Entes Fedetativos Órgãos Atuação

Órgão central, com a função de planejar, supervisionar e controlar as ações referentes à qualidade do ar em
União MMA âmbito nacional;

Consolidar as informações disponibilizadas pelos órgãos ambientais estaduais e distrital referentes ao Plano de
Controle de Emissões Atmosféricas e Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar;

Elaborar, em conjunto com os órgãos ambientais estaduais e distrital, guia técnico para fins de monitoramento
da qualidade do ar;

Elaborar relatório anual de acompanhamento e apresentá-lo na última reunião ordinária do Conama do ano;

Divulgar, em sua página da internet, dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da


qualidade do ar.

Órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente;


CONAMA
Definir e revisar os padrões de qualidade do ar.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é autarquia federal,
IBAMA vinculada ao Ministério do Meio Ambiente;

Exercer o poder de polícia ambiental federal e executar ações de meio ambiente referentes às atribuições
federais de licenciamento ambiental, controle da qualidade ambiental, autorização de uso dos recursos naturais
e fiscalização, monitoramento e controle ambiental;

Entidade responsável pelo gerenciamento do Pronar e pelo apoio na formulação dos programas de controle,
avaliação e inventário que o instrumentalizam.

Promover a adequada gestão da qualidade do ar em seu território;


Estado Órgãos Seccionais:
entidades estaduais Promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabele-
responsáveis pela cimento de padrões de qualidade do ar;
execução ambiental
nos estados, ou seja, Proceder o licenciamento ambiental com observância à LC nº 140/2011;
as secretarias
estaduais de Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais;
meio ambiente e as
instituições criadas Divulgar os dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da qualidade do ar;
para defesa ambiental
Executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, a Política Nacional do Meio Ambiente e demais políticas nacionais
relacionadas à proteção ambiental;

Formular, executar e fazer cumprir, em âmbito estadual, os padrões de qualidade do ar;

Promover, no âmbito estadual, a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pú-
blica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental;

Articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio às Políticas Nacional e Estadual de Meio Ambien-
te;

Promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à qualidade do ar, divulgando os resultados


obtidos;

Formular, com a colaboração dos órgãos municipais, os Planos de Controle de Emissões Atmosféricas;
Estabelecer critérios aplicáveis ao licenciamento ambiental observando, no mínimo, os padrões de qualidade do
ar nacional constantes na Resolução CONAMA nº 491/2018;
54
Gestão da Qualidade do ar

Elaborar e divulgar, anualmente, com a colaboração dos órgãos municipais competentes, o Relatório de Avalia-
ção da Qualidade do Ar;

Prestar informações à União para a consolidação das informações disponibilizadas;

Elaborar, com base nos níveis de atenção, de alerta e de emergência, um Plano para Episódios Críticos de Polui-
ção do Ar;

Divulgar, em sua página da internet, dados de monitoramento e informações relacionados à gestão da qualidade
do ar e o Índice de Qualidade do Ar;

Promover adequado gerenciamento da gestão da qualidade do ar em seu território;

Promover adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabeleci-
mento de padrões de qualidade do ar;

Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Legislar sobre assuntos de interesse local observando, no mínimo, os padrões nacionais aplicáveis ao gerencia-
Municípios Órgãos locais ou mento da qualidade do ar;
entidades municipais
Suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber, quanto ao controle de emissões de poluentes;

Promover o adequado gerenciamento da gestão da qualidade do ar em seu território;

Promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de emissões para o estabele-
cimento de padrões de qualidade do ar;

Proceder o licenciamento ambiental com observância à LC nº 140/2011;

Garantir a uniformidade da política ambiental para todo o país, respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

Reprodução MMA

4.1.1 PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL E ACADEMIA

A busca pela redução da poluição do ar em uma cidade ou região pode levar anos ou mesmo
décadas, como ocorre em Cubatão (SP). É um desafio multidisciplinar, que envolve áreas
diferentes como saúde pública, mobilidade urbana, planejamento urbano, além da comunicação,
legislação e análises de dados, entre outras.

Cada cidade ou região apresenta realidade específica sendo um grande desafio encontrar
soluções particulares para cada local. Melhorar a qualidade do ar requer uma ação integrada
entre diversos setores, como por exemplo, academia, institutos de pesquisa, setores público e
privado, além da participação da sociedade civil.

Tome nota
O acesso a dados confiáveis, atualizados e compreensíveis é um desafio
significativo, especialmente nos níveis municipal e estadual em relação à qualidade
do ar e às fontes de emissões.

A sociedade civil atua na identificação de falhas nas políticas de qualidade do ar, enquanto a
academia e institutos de pesquisa buscam conhecer e divulgar a real dimensão do problema,
além de apontar as soluções.

Se a multidisciplinaridade pode ser considerada um fator que dificulta a busca da redução da


poluição do ar, ela também pode ser apontada como um ponto positivo quanto à oportunidade
de criação de soluções para o problema, uma vez que seja superado o desafio da integração e
articulação dos diversos grupos envolvidos com a questão ambiental.

55
Gestão da Qualidade do ar

4.2 ARCABOUÇO JURÍDICO REFERENTE À QUALIDADE


DO AR NO BRASIL
4.2.1 HISTÓRICO

A preocupação em proteger a saúde pública dos efeitos causados pela poluição do ar é antiga
no país. Existe desde 1941, quando a lei de Contravenções Penais – Decreto no 3.688 -, em seu
artigo 38, já considerava uma violação “provocar abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou
gás, que possa ofender ou molestar alguém”.

Legislação
Foi com publicação da Portaria nº 231, de 1976, do Ministério do Interior, que a
legislação sobre a poluição do ar começou a ser implementada no território nacional,
remetendo aos estados a responsabilidade de monitorar os poluentes para os quais
foram estabelecidos padrões: partículas totais em suspensão, dióxido de enxofre,
monóxido de carbono e oxidantes fotoquímicos, bem como os respectivos métodos
de referência para realizar o monitoramento.

A proteção da qualidade do ar no país encontra respaldo legal tanto na Constituição


Federal de 1988 quanto na legislação ordinária, tendo como corolário a Lei nº
6.938/1981 que delimita os objetivos, princípios e instrumentos da Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA).

Para alcançar seus objetivos, além de prever regras gerais sobre conservação e preservação
da biodiversidade e controle de outras formas de poluição (hídrica e do solo), a PNMA traz
as diretrizes gerais de suporte, direto ou indireto, àquelas que devem compor as principais
medidas de gestão da qualidade do ar, tais como: monitoramento, padrões de qualidade do
ar, zoneamento ambiental, recuperação de áreas degradadas, controle de fontes de emissão,
desenvolvimento tecnológico-científico e informação ambiental.

A PNMA também criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que deu origem à
estrutura institucional sob a qual se dá o ordenamento da atuação dos órgãos ambientais da
União, dos Estados e dos Municípios, e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), ao
qual foi atribuído competências consultivas e normativas.

As disposições da PNMA têm sido continuamente normatizadas por meio de Resoluções do


Conama, das quais destacam-se como marcos para o controle da poluição do ar:
A Resolução nº 05/1989, que institui o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar
(Pronar);

As Resoluções nº 382/2006 e nº 436/2011, que estabelecem os limites máximos de


emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas;

Os Programas de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - Proconve (auto-


móveis, caminhões, ônibus e máquinas rodoviárias e agrícolas) e por motociclos e veículos
similares - Promot, que têm como objetivo reduzir e controlar a contaminação atmosférica

56
Gestão da Qualidade do ar

e a emissão de ruído por fontes móveis (veículos automotores), fixando prazos, limites má-
ximos de emissão e estabelecendo exigências tecnológicas para veículos automotores, na-
cionais e importados;

A Resolução nº 491/2018, que revogou a Resolução nº 03/1990 e os itens 2.2.1 e 2.3 da


Resolução Conama nº 05/1989, e que dispõe sobre padrões de qualidade do ar.

Os itens seguintes fornecem mais informações sobre esses marcos para o controle da poluição
do ar.

4.2.2 PROGAMA NACIONAL DE CONTROLE DA


POLUIÇÃO DO AR

A principal estratégia do Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (Pronar) é limitar,


a nível nacional, as emissões por tipologia de fontes e poluentes prioritários. Na Resolução
Conama nº 05/1989 (que trata do Pronar) os limites de emissão ganharam destaque por terem
sido colocados como principal instrumento de controle da poluição atmosférica. Tais limites são
regulados e detalhados pelas Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011, que tratam,
respectivamente, dos limites aplicados às fontes novas e às fontes já existentes até 2007.

As estratégias definidas no Pronar são as seguintes: estabelecimento de limites máximos de


emissão; adoção de padrões nacionais de qualidade do ar; monitoramento da qualidade do ar;
gerenciamento do licenciamento de fontes de poluição do ar; inventário nacional de fontes e
poluentes do ar; gestões políticas; desenvolvimento nacional na área de poluição do ar; e ações
de curto, médio e longo prazo.

4.2.3 RESOLUÇÕES CONAMA Nº 382/2006 E


Nº 436/2011

As Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 determinam ao órgão ambiental


licenciador o atendimento a critérios mínimos para o estabelecimento dos limites de emissão
para várias tipologias de fontes e poluentes. Anteriormente, vigorava, no nível federal, apenas
a Resolução Conama nº 08/1990, restrita ao estabelecimento de limites de emissão para
processos de combustão interna.

As Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011 atrelaram o uso dos limites de emissão


à manutenção ou restauração da qualidade do ar, fazendo explícita menção à necessidade de
que sejam associados à capacidade de suporte do meio. Por esse motivo, essas resoluções
explicitam que “o órgão ambiental licenciador poderá, mediante decisão fundamentada,
determinar limites de emissão mais restritivos que os estabelecidos na resolução em áreas
onde, a seu critério, o gerenciamento da qualidade do ar assim o exigir”.

4.2.4 PROCONVE E PROMOT

O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) e o Programa


de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) foram criados pelo
57
Gestão da Qualidade do ar

Conama por meio das Resoluções nº 18/1986 e nº 297/2002, respectivamente, que


estabeleceram diretrizes, prazos e padrões legais de emissão para as diferentes categorias de
veículos automotores (fontes móveis de emissões atmosférica), nacionais e importados, com
o objetivo de contribuir para o atendimento aos padrões de qualidade do ar instituídos pelo
Pronar.

O vertiginoso crescimento do segmento das motocicletas e veículos similares nos últimos


anos no país e seu perfil de utilização, especialmente no segmento econômico de prestação de
serviços de entregas em regiões urbanas, tornou necessário o estabelecimento de um programa
específico para o controle das emissões dessa categoria de veículo automotor, devido aos seus
elevados fatores de emissão, quando comparados aos automóveis novos (MMA, 2013).

Nas grandes metrópoles a preocupação com a poluição das motocicletas é ainda maior.
Estima-se que, enquanto um carro percorre em média 30 quilômetros por dia, as motos de
entrega percorrem até 180 quilômetros, poluindo tanto quanto 120 automóveis (MMA, 2013).

Alguns dos principais resultados alcançados pelos programas Proconve/Promot são:

Modernização do parque industrial automotivo brasileiro;

Adoção, atualização e desenvolvimento de novas tecnologias;

Melhoria da qualidade dos combustíveis automotivos;

Diversificação do parque industrial; e

Redução, na fonte, da emissão de poluentes (IBAMA, 2017).

Para atingir o objetivo de reduzir os níveis de emissão de poluentes pelos diferentes veículos
comercializados no mercado brasileiro foram estabelecidos padrões de emissão, basicamente
para:
Veículos leves (L), que incluíam automóveis de passageiros e veículos leves comerciais, e

Veículos pesados (P), que incluíam caminhões e ônibus.

Tais padrões foram se tornando mais restritivos ao longo dos anos, agrupados nas denominadas
“fases do Proconve”. As fases foram introduzidas em intervalos de tempo irregulares, tanto
aquelas que estabeleciam as emissões dos veículos leves como as dos veículos pesados.

Exemplo
Para atender os limites de emissão em consonância com a evolução das fases de
controle estabelecidas pelo Proconve, os veículos incorporaram uma série de itens
tecnológicos, como por exemplo, a substituição do uso do carburador, dispositivo
utilizado para a formação da mistura carburante (ar e combustível) nos veículos
leves equipados com motores do ciclo Otto.

58
Gestão da Qualidade do ar

Em meados da década de 1990, para atender as fases L2 e L3 do Proconve, o carburador foi


substituído pela injeção eletrônica, que proporciona uma dosagem mais precisa do volume de
combustível disponibilizado na câmara de combustão do motor e em conjunto com a ignição
eletrônica, um controle maior da queima da mistura e redução significativa das emissões. Esse
controle permite o uso do catalisador, equipamento de tratamento dos gases da exaustão de
alta eficiência que reduz de forma significativa a emissão dos veículos.

Tecnologia similar foi adotada nos veículos pesados somente em meados dos anos 2000
(injeção de diesel com controle eletrônico) e, em 2012, adotou-se de forma generalizada o
catalisador nessa categoria, com a utilização da tecnologia SCR (Selective Catalyst Reduction),
responsável pela redução do principal poluente dos veículos diesel, o NOx.

O Conama publicou em 2018 as Resoluções nº 490 e nº 492, que trazem as novas fases
do Proconve L7 e P8, que entrarão em vigor a partir de 2022. A nova fase L7 trará redução
significativa dos vapores de combustíveis que são emitidos para a atmosfera, enquanto a fase
P8 deve reduzir significativamente a emissão dos óxidos de nitrogênio. Essas duas ações se
complementam e devem contribuir para a redução da formação dos compostos de oxidação
na atmosfera dos grandes centros urbanos, sobretudo do ozônio.

A nova fase L8 vigorará a partir de 2025 e traz uma mudança metodológica para aprovação
nos processos de licenciamento, que deixará de ser por modelo de veículo e passará a ser
pela média corporativa, exigindo que os veículos comercializados de uma empresa apresentem
uma média de emissão que atenda limites progressivamente mais restritivos. Assim, se induz à
produção de veículos de emissão zero (como os veículos elétricos), que compensem a produção
de veículos que sejam mais emissores.¹

Saiba Mais
Nos links a seguir podem ser acessadas as Informações Técnicas que detalham o escopo
dessas resoluções, bem como as justificativas e estimativas do ganho ambiental a ser
alcançado com a sua implementação.

IT 10-18-ETH_ET – Análise proposta P8 aprovada no CONAMA

IT 11-18-ETH_ET – Análise proposta L7 e L8 aprovada no CONAMA

4.2.5 INSPEÇÃO VEICULAR AMBIENTAL

A inspeção veicular ambiental é um dos programas de instrumentalização do Pronar. Este


instrumento é voltado para a redução das emissões veiculares, e está previsto no artigo 104
da Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro:

59
Gestão da Qualidade do ar

Legislação
“Art. 104. Os veículos em circulação terão suas condições de segurança, de controle
de emissão de gases poluentes e de ruído avaliadas mediante inspeção, que será
obrigatória, na forma e periodicidade estabelecidas pelo CONTRAN para os itens de
segurança e pelo Conama para emissão de gases poluentes e ruído”.

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) é o coordenador do Sistema Nacional


de Trânsito e órgão máximo normativo e consultivo, tendo por finalidade estabelecer
as normas regulamentares do Código de Trânsito Brasileiro e as diretrizes da Política
Nacional de Trânsito. O Ministério do Meio Ambiente integra o Contran, conforme lhe
confere a Lei nº 9.503/1997, Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 10, VI.

O Conama estabeleceu os critérios para a inspeção de emissão de poluentes por veículos na


Resolução nº 418/2009, dispondo que os órgãos ambientais estaduais e do Distrito Federal
devem elaborar Planos de Controle de Poluição Veicular (PCPV).

A inspeção ambiental de veículos consiste na avaliação periódica, compulsória e vinculada


ao licenciamento, realizada por profissionais especializados em instalações exclusivas, com
equipamentos e sistemas especiais para a inspeção. Nessas instalações são verificados o
estado de conservação, o funcionamento correto e as emissões de gases e fumaça dos veículos
(CETESB, 2017).

O programa pressupõe que o veículo que sofre manutenção e é inspecionado periodicamente


tende a manter as emissões em níveis próximos aos especificados, ainda que se considere a
deterioração natural dos componentes e o consequente aumento das emissões. O resultado
esperado com a inspeção ambiental veicular é a redução da carga de poluentes lançada na
atmosfera, correspondente àquela parcela gerada pela falta de manutenção dos veículos.
Outro benefício é a manutenção de um perfil de emissões da frota conhecido e, portanto, mais
suscetível à gestão por outros instrumentos, tais como a introdução de padrões mais restritivos,
políticas com vistas à redução da média etária e à limitação da circulação em áreas específicas
(CETESB, 2017).

A inspeção ambiental é obrigatória em dezenas de países, com resultados estimados de


redução das emissões na faixa entre 5% e 30% para hidrocarbonetos e monóxido de carbono e
acima de 10% para NOx, conforme a sofisticação do programa (CETESB, 2017).

Em 2019, uma pesquisa foi realizada pelo MMA demonstrando que 20 das 27 unidades da
federação (74%) possuíam seus PCPV atualizados: Acre, Amazonas, Ceará, Distrito Federal,
Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo,
Sergipe e Tocantins.

4.3 PADRÕES DE QUALIDADE DO AR - RESOLUÇÃO Nº 491/2018

A Resolução Conama nº 491/2018, que dispõe sobre padrões de qualidade do ar, revogou a
Resolução nº 03/1990. De acordo com essa resolução, o padrão de qualidade do ar é um dos
60
Gestão da Qualidade do ar

instrumentos de gestão da qualidade do ar, determinado como valor de concentração de um


poluente específico na atmosfera, associado a um intervalo de tempo de exposição, para que
o meio ambiente e a saúde da população sejam preservados em relação aos riscos de danos
causados pela poluição atmosférica.

Tome nota
Segundo a OMS, os padrões de qualidade do ar variam de acordo com a abordagem
adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade técnica, considerações econômicas
e vários outros fatores políticos e sociais que, por sua vez, dependem, dentre outras
coisas, do nível de desenvolvimento e da capacidade nacional de gerenciar a
qualidade do ar (OMS, 2006).

As diretrizes recomendadas pela OMS levam em conta essa heterogeneidade e, em particular,


reconhecem que, ao formularem políticas de qualidade do ar, os governos devem considerar
cuidadosamente suas circunstâncias locais antes de adotarem os valores propostos como
padrões nacionais (OMS, 2006).

Devido a claras evidências dos danos que a poluição do ar inflige à saúde humana, a OMS
publicou em setembro de 2021 novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar (AQG, na sigla em
inglês). Novos valores-guia para partículas (PM2,5 e PM10), ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido
de enxofre e monóxido de carbono recomendados foram ainda mais baixos que os anteriores.

O progresso de melhoria da qualidade do ar pode ser gradual, marcado pelo cumprimento


de metas provisórias, considerando como indicador crítico a melhoria das condições de saúde
das populações. O objetivo final na implementação das diretrizes deve vislumbrar melhoria nos
índices de qualidade do ar (OMS, 2019).

Segundo a Resolução Conama nº 491/2018 os padrões nacionais de qualidade do ar são


divididos em duas categorias:
Padrões de qualidade do ar intermediários - PI: padrões estabelecidos como valores tem-
porários a serem cumpridos em etapas; e

Padrão de qualidade do ar final - PF: valores guia definidos pela OMS em 2005
A Resolução traz ainda, em seu artigo 4º, a aplicação dos padrões de qualidade do ar ora
estabelecidos:

Legislação
“Art. 4º Os Padrões de Qualidade do Ar definidos nesta Resolução serão adotados
sequencialmente, em quatro etapas.

§ 1º A primeira etapa, que entra em vigor a partir da publicação desta Resolução,


compreende os Padrões de Qualidade do Ar Intermediários PI-1.

§ 2º Para os poluentes Monóxido de Carbono - CO, Partículas Totais em Suspensão


- PTS e Chumbo - Pb será adotado o padrão de qualidade do ar final, a partir da
publicação desta resolução.
61
Gestão da Qualidade do ar

§ 3º Os Padrões de Qualidade do Ar Intermediários e Final - PI-2, PI-3 e PF serão


adotados, cada um, de forma subsequente, levando em consideração os Planos de
Controle de Emissões Atmosféricas e os Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar,
elaborados pelos órgãos estaduais e distrital de meio ambiente, conforme os artigos
5º e 6º, respectivamente.

§ 4º Caso não seja possível a migração para o padrão subsequente, prevalece o


padrão já adotado.

§ 5º Caberá ao órgão ambiental competente o estabelecimento de critérios


aplicáveis ao licenciamento ambiental, observando o padrão de qualidade do ar
adotado localmente.”

Os parâmetros regulamentados pela legislação ambiental são: partículas totais em suspensão


(PTS), fumaça, partículas inaláveis (MP10 e MP2,5), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono
(CO), ozônio (O3), dióxido de nitrogênio (NO2) e chumbo (Pb).

A Resolução Conama nº 491/2018 instituiu o compromisso de redução gradativa dos padrões


de qualidade do ar amparada em critérios técnicos, alinhado com a Organização Mundial da
Saúde, adotando uma estratégia de implementação em quatro etapas, sendo três padrões
intermediários e um padrão final.

O quadro 5 apresenta os padrões de qualidade do ar nacionais estabelecidos na Resolução


Conama nº 491/2018.

Quadro 5: Padrões de Qualidade do Ar, Conforme Resolução CONAMA Nº 491/2018.

Período de PI - 1 PI - 2 PI - 3 PF
Poluente Atmosférico
Referência µg/m³ — µg/m³ — µg/m³ — µg/m³ — Ppm

24 horas 120 100 75 50 -


Material Particulado - MP10
Anual1 40 35 30 20 -

24 horas 60 50 37 25 -
Material Particulado - MP2,5
Anual1 20 17 15 10 -

24 horas 125 50 30 20 -
Dióxido de Enxofre - MP 2
Anual1 40 30 20 - -

1 hora2 260 240 220 200 -


Dióxido de Nitrogênio - NO 2
Anual1 60 50 45 40 -

Ozônio - O3 8 horas3 140 130 120 100 -

24 horas 120 100 75 50 -


Fumaça
Anual1 40 35 30 20 -

Monóxido de carbono - CO 8 horas3 - - - - 9

62
24 horas - - - 240 -
Partículas Totais em
Fumaça
Gestão da Qualidade do ar
Anual1 40 35 30 20 -

Monóxido de carbono - CO 8 horas3 - - - - 9

24 horas - - - 240 -
Partículas Totais em
Suspensão - PTS
Anual4 - - - 80 -

Chumbo - Pb5 Anual1 - - - 0,5 -

I - Média aritmética anual

II - Média horária

III - Máxima média móvel no dia

IV - Média geométrica anual

V - Medido nas partículas totais em suspensão

Fonte: Resolução Conama nº 491/2018

Adicionalmente, a Resolução Conama nº 491/2018 prevê que os Padrões de Qualidade do


Ar Intermediários e Final serão adotados, cada um, de forma subsequente e que o Ministério
do Meio Ambiente deve consolidar as informações disponibilizadas pelos órgãos ambientais
estaduais e distrital referentes ao Plano de Controle de Emissões Atmosféricas e Relatórios de
Avaliação da Qualidade do Ar e apresentá-las ao Conama até o final do quinto ano da publicação
da Resolução, de forma a subsidiar a discussão sobre a adoção dos padrões de qualidade do
ar subsequentes.

Os Planos de Controle de Emissões Atmosféricas a serem elaborados pelos órgãos


ambientais estaduais e distrital, em até 3 anos a partir da entrada em vigor da resolução, devem
considerar os Padrões de Qualidade e conter, minimamente: (i) a abrangência geográfica e
regiões a serem priorizadas; (ii) a identificação das principais fontes de emissão e respectivos
poluentes atmosféricos; e (iii) as diretrizes e ações com respectivos objetivos, metas e prazos
de implementação.

Acrescenta-se ainda que, a cada 3 anos, os órgãos ambientais estaduais e distrital devem
elaborar relatório de acompanhamento do plano, indicando eventuais necessidades de
reavaliação e garantindo a sua publicidade.

A Resolução Conama nº 491/2018 fixa também os critérios para episódios agudos de poluição
do ar, como apresenta o quadro 6. Ressalte-se que a declaração dos estados de “Atenção”,
“Alerta” e “Emergência” requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de
condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes.

Quadro 6: Níveis de atenção, alerta e emergência para os poluentes e suas concentrações

Poluentes e concentrações

Meterial Particulado
SO CO O NO
µg/m³ MP10   MP2,5   PPM PPM PPM
Nivel (média de 24h) µg/m³ µg/m³ µg/m³
µg/m³ µg/m³ (média móvel de 8h) (média móvel de 8h) (média móvel de 8h)
(média de 24h) (média de 24h)

Atenção 800 250 125 15 200 1.130


Alerta 1.600 420 210 30 400 2.260
Emergência 2.100 500 250 40 600 3.000

Fonte: Resolução Conama nº 491/2018


63
Gestão da Qualidade do ar

SO₂ = dióxido de enxofre; MP10 = material particulado com diâmetro aerodinâmico equiva-
lente de corte 10μm;

MP 25 = material particulado com diâmetro aerodinâmico equivalente de corte de 2,5 μm;


CO = monóxido de carbono;

O₂ = Ozônio; NO₂ = dióxido de nitrogênio µm/m3; ppm = partes por milhão.

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Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Lei Nº 9.503, de 23 de Setembro de 1997.

CETESB (São Paulo). PCPV: Plano de Controle de Poluição Veicular 2017- 2019; Elaboração Antônio de Castro
Bruni [et al.]. - - São Paulo: CETESB, 2017. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/veicular/wp-content/uploads/
sites/6/2018/01/PCPV-2017-2019.pdf. Acesso em: 20 set. 2019.

CONAMA. Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018. Dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Brasília, DF,
2018.

IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Programa de Controle da
Poluição do Ar por Veículos Automotores. Distrito Federal, 2017. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/
emissoes/veiculos-automotores/programa-de-controle-de-emissoes-veiculares-proconve>. Acesso em: 20 set.
2019.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Promot: Programa de controle da poluição do ar por motociclos e veículos
similares, 2013. Disponível em: < https://antigo.mma.gov.br/estruturas/163/_arquivos/promot_163.pdf >. Acesso
em 20 set. 2019.

OMS. Organização Mundial da Saúde (WHO). ONU. Air Quality Guidelines Global Update 2005. 2006. Disponível em:
<http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0005/78638/E90038.pdf?ua=1>. Acesso em 17 de setembro
de 2019.

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