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SUMÁRIO

Módulo IV - INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA QUALIDADE DO AR


Aula 15 - Modelagem da dispersão de poluentes atmosféricos 4
15.1 Conceito 5
15.2 Objetivos da modelagem 5
15.3 Tipos de Modelos 6
15.4 Incertezas dos modelos 11
15.5 Montagem de cenários de modelagem 11
15.6 Interpretação dos resultados da modelagem 12
Referências Bibliográficas 15

Aula 16 - Inventário de emissões atmosféricas 16


16.1 Conceito e objetivos do inventário de emissões atmosféricas 17
16.2 Legislação e regulações nacionais e internacionais 19
16.3 Metodologias para cálculo de inventários 19
16.4 Técnicas de identificação de fontes de emissão 20
16.4.1 Estimativa de emissões de fontes fixas 20
16.5 Identificação das Fontes de Emissões Prioritárias 22
16.5.1 Inventário de fontes fixas 22
16.5.2 Inventário de fontes móveis 24
16.6 Conteúdo dos Inventários de Emissões 25
16.6.1 Introdução 25
16.6.2 Escopo 26
16.6.3 Metodologia 26
16.6.4 Demonstrativo dos resultados do inventário 27
16.6.5 Análise e apresentação dos resultados do inventário 27
16.6.6 Conclusões e recomendações 27
16.7 Exemplos de inventários de emissões atmosféricas 27
16.7.1 Inventários no Brasil 27
16.7.2 Inventário de Emissões dos Estados Unidos 31
16.7.3 Inventário elaborado para avaliar a evolução das concentrações
32
de ozônio na troposfera
Referências Bibliográficas 34
Aula 17 - Plano de controle de emissões atmosféricas 35
17.1 Conceito e Objetivo 36
17.2 Conteúdo Mínimo 36
17.3 Estrutura básica do Plano de Controle de Emissões Atmosféricas 37
17.3.1 Diagnóstico da situação atual de qualidade do ar 37
17.3.2 Diretrizes e ações de controle de emissões atmosféricas 39
17.3.3 Verificação 42
Referências Bibliográficas 44

Aula 18 - Relatório de Avaliação da Qualidade do Ar 45


18.1 Relatório de Avaliação da Qualidade do Ar - Conceito e Objetivo 46
18.2 Resolução Conama n° 491/2018 46
18.2.1 Conteúdo Mínimo dos Relatórios de Qualidade do Ar 47
18.3 Panorama nacional sobre a elaboração e publicação dos relatórios 48
de monitoramento da qualidade do ar
18.4 Modelos de Relatórios de Avaliação da Qualidade do Ar 49
18.4.1 Modelo da Cetesb 49
18.4.2 Modelo do Polo Petroquímico de Camaçari / Cetrel 52
MÓDULO IV – INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

AULA 15
MODELAGEM DA DISPERSÃO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS

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Gestão da Qualidade do ar

15.1 CONCEITO

Os modelos de dispersão são ferramentas matemáticas muito usadas atualmente nas diversas
fases da implantação de empreendimentos que apresentam impactos na atmosfera.

Modelos de dispersão atmosférica utilizam as informações sobre as fontes de emissões de


poluentes, as condições meteorológicas e a topografia, dentre outros dados, para calcular como
os poluentes se movem na atmosfera, e, a partir da concentração final destes poluentes em
pontos específicos no nível do solo, a pluma de contaminantes é gerada. A figura 64 demonstra
um exemplo de modelagem de dispersão. As diferentes cores da pluma representam as
diferentes concentrações de poluentes.
Figura 64: Pluma de contaminantes gerada no entorno de uma fábrica.

Fonte: Lakes Environmental

15.2 OBJETIVOS DA MODELAGEM

São inúmeros os objetivos da modelagem. Dentre os principais, citam-se:


• Simular a concentração dos poluentes no ar;

• Projetar redes de monitoramento do ar;

• Efetuar os estudos de EIA/RIMA e de avaliação de atendimento aos padrões


da Resolução Conama nº 491/2018;

• Calcular a altura das chaminés mais adequadas

• Avaliar alternativas de combustíveis usados, antes da sua troca, para


compreender se as concentrações ambientais serão menores;

• Avaliar a dispersão de contaminantes oriundos de uma explosão ou descarga


acidental (requer modelos específicos);

• Avaliar mudanças nos processos industriais e seus impactos na qualidade do


ar;

• Avaliar a localização do empreendimento em relação aos receptores;

• Determinar medidas de controle (caso os resultados calculados pelo modelo


nas áreas urbanas ultrapassem os padrões da Resolução Conama nº 491/2018);

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Gestão da Qualidade do ar

• Otimizar investimentos em equipamentos de controle, avaliando os vários


cenários de redução da emissão de poluentes retidos pelos métodos de
controle, reduzindo gastos e avaliando aqueles que são mais adequados a
cada caso.

Não é possível monitorar o ar em todos os locais, pois isso implicaria em custos muito elevados.
Com isso, os dados gerados quando há baixa representatividade de amostradores podem
ser insuficientes para a formulação de estratégias e o planejamento de ações de controle
da poluição. Portanto, as estimativas e modelagens permitem avaliar, de forma barata e com
razoável precisão, a qualidade do ar em áreas onde não existe monitoramento.

15.3 TIPOS DE MODELOS


Os modelos matemáticos para dispersão atmosférica são desenvolvidos na forma de
algoritmos, para estimar a concentração de poluentes a partir de informações de terreno
(topografia e uso do solo), parâmetros meteorológicos e características da fonte de emissão.
Esses modelos diferem entre si, de acordo com os conceitos físicos utilizados em sua concepção
e, consequentemente, de acordo com sua finalidade. A escolha do modelo está associada à
complexidade dos processos envolvidos na situação de estudo, ao tamanho da área avaliada,
devendo-se considerar, ainda, a habilidade em modelar de forma mais realística esse conjunto
de processos.

Os modelos mais usados são os elaborados pela US EPA, bem como por outros órgãos
ambientais reconhecidos internacionalmente. Esses órgãos se dedicam a melhorar seus
modelos ao longo dos anos, disponibilizando as novas versões periodicamente.

Atualmente, existem vários modelos que simulam a pluma de dispersão de poluentes. Cada
um possui diferentes características e requer diferentes dados de entrada.

Saiba Mais
Alguns modelos são disponibilizados ao público sem nenhum custo por agências
governamentais, como a US EPA, que desenvolve modelos confiáveis desde a
década de 70. Porém, eles são disponibilizados na linguagem FORTRAN - FÓRMULA
TRANSLATION - e não possuem interface gráfica, tornando-os mais difíceis de
serem utilizados. Por esse motivo, vários modelos são vendidos comercialmente por
companhias privadas, em formato mais fácil de usar, que cobram apenas pelo uso
da interface gráfica do usuário (Graphical User Interface - GUI, abreviação em inglês).

A US EPA29 disponibiliza em seu site, para download, o modelo AERMOD e outros


modelos, bem como seus respectivos guias.

Alguns modelos simulam também as transformações físicas e químicas e os


processos de remoção do poluente da atmosfera (modelos numéricos). Porém,
os modelos mais usados atualmente não consideram esses processos (modelos
gaussianos).

2⁹ https://www.epa.gov/scram/air-quality-dispersion-modeling-preferred-and-recommended-models#aermod
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Gestão da Qualidade do ar

Na grande maioria dos processos de licenciamento ambiental no Brasil, são usados apenas
os modelos gaussianos, pois seriam necessários muito mais dados e maior capacidade
computacional para utilização dos modelos numéricos. Na prática, um bom modelo deve
ser capaz de “rodar” em um laptop e fornecer bons resultados. A correlação entre os valores
calculados pelos modelos e as medidas em campo estão cada vez melhores. Porém, os
modelos nunca serão capazes de representar a realidade em sua totalidade, pois as interações
na atmosfera são muito complexas.

Existem basicamente dois tipos de modelo que são mais frequentemente usados nos
processos de licenciamento:

Os modelos Gaussianos
São de fácil aplicação, requerem menos dados e baixa capacidade de processamento - um
laptop é suficiente. O modelo Gaussiano é baseado em uma fórmula simples que descreve um
campo de concentrações tridimensional gerado por uma fonte pontual elevada (uma chaminé),
sob a influência das condições meteorológicas. As condições de emissão dos poluentes nas
chaminés são consideradas contínuas e constantes - o que não é verdade -, pois as reações
químicas na atmosfera alteram as concentrações dos poluentes, mas esses modelos não
consideram as reações químicas. Outra limitação é a resolução em situações de topografia
complexa, ou em situação de calmaria (velocidade do vento < 0,5 m/s) (ARYA, 1999). Nenhum
modelo considera o vento com baixa velocidade de forma realística e, portanto, despreza o
cenário mais crítico para muitos tipos de fontes de emissões, como as fugitivas, por exemplo. Por
isso, é recomendado ajustar todos os valores <0,5 m/s do arquivo meteorológico para 0,5 m/s,
nos modelos de estado estacionário (steady-state) (NZMFE, 2004). O domínio da modelagem
desses modelos é de, no máximo, 50 por 50 Km.

Os modelos Numéricos
São bem mais complexos, consideram as reações químicas entre os poluentes, mas requerem
cluster (conjunto) de computadores para seu processamento e são usados para modelar Ozônio,
por exemplo. São de mesoescala, ou seja, permitem modelar uma cidade inteira, ou áreas de
até centenas de quilômetros. São geralmente usados por organizações especializadas, como
universidades ou institutos de pesquisa do clima, que possuem os equipamentos e técnicos
requeridos para processar o modelo. Os inventários de emissões para os modelos de mesoescala
são muito mais complexos e requerem conhecimento sobre fontes de emissões biogênicas,
antropogênicas, informações sobre as concentrações de background já existentes na região da
modelagem, dentre outros (NEVES, 2009).

Os principais modelos usados atualmente são:

I - AERMOD (da US EPA)


Está em uso desde 2006 e estabelece a intensidade da dispersão a partir do comportamento
da estabilidade (ou turbulência) atmosférica. As três características de estabilidade presentes na
atmosfera são representadas na modelagem através do parâmetro denominado comprimento
de Monin Obhukov (L).

A formulação da pluma Gaussiana pode ser derivada da equação de advecção-difusão em


situações idealizadas, com hipótese de turbulência homogênea e estacionária, fluxo de emissão
constante, contaminante quimicamente estável e topografia constante. A Equação 3-1 descreve
a dispersão gaussiana:

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Gestão da Qualidade do ar

Q y2 (z - H)2 (z - H)2
C (x,y,z) = exp[ ] {exp [- (2o)2 ] +exp[- (2o)2 ]}
(2πoyozU) 2o2y Z Z

Onde:
C = concentração esperada do contaminante na coordenada (x, y, z), em g/m³.
Q = taxa de emissão do poluente avaliado (g/s).
U = velocidade média do vento na direção do escoamento (x) e medida no
topo da chaminé (m/s).
oy, oz = coeficiente de dispersão na Vertical e na Horizontal (a pluma se abre
nesses eixos). Esses coeficientes dependem da estrutura turbulenta da atmosfera.
y = distância do receptor, coordenada horizontal (crosswind).
z = altura dos receptores. No solo: z=0 ou z=2m.
x não aparece, porém faz parte da equação dos sigmas (desvio padrão).
H = altura efetiva de lançamento (m).

Esse modelo de dispersão é de domínio público e recomendado para uso em aplicações


regulatórias nas situações em que a análise da dispersão de poluentes está concentrada nas
proximidades das fontes de emissão. É tipicamente utilizado nos processos de licenciamento
para estimar a concentração de poluentes em receptores específicos ao nível do solo nos
arredores de fontes de emissão.

Apesar de possuir diversas limitações físicas, principalmente para estudos em regiões


extensas, tem a vantagem de obter as concentrações de poluentes mais facilmente e exigir
uma quantidade menor de dados meteorológicos. Esses são os modelos de dispersão mais
comuns e utilizados, principalmente, em países em desenvolvimento como o Brasil, onde
as informações meteorológicas e o acesso a elas ainda são limitados (MORAES, 2004 apud
TADANO, 2012).

O AERMOD é um modelo Gaussiano, ou seja, o modelo assume que a pluma de uma


determinada fonte de emissão se dispersa nas direções lateral, horizontal e vertical com um
perfil Gaussiano. As máximas concentrações ocorrem no centro da pluma, decaindo nas três
direções cartesianas x, y e z com comportamento Gaussiano. A figura 65 apresenta a evolução
de uma pluma gaussiana desde o ponto de emissão até instantes posteriores à emissão. A figura
66 mostra a pluma de dispersão de uma fonte pontual e os parâmetros usados na equação
Gaussiana

Figura 65: Vista superior de uma pluma Gaussiana

Concentrção

Font Concentrção
Instantânea

Média

Direção instantânea do vento

Fonte: Lisboa, 2007


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Gestão da Qualidade do ar

Figura 66: Vista superior de uma pluma Gaussiana

Fonte: Lisboa, 2007

O modelo AERMOD é recomendado para uso em aplicações regulatórias quando a análise da


dispersão de poluentes está concentrada nas proximidades das fontes de emissão. Esse cenário
é denominado, em inglês, como situação near field, no qual os receptores estão localizados em
um raio de até 50 km das fontes de emissão (US EPA, 2003 apud FELIX, 2015).

O AERMOD pode ser aplicado para áreas rurais e urbanas; em terrenos simples e complexos;
emissões de superfície ou elevadas; e múltiplas fontes (pontuais, área e fontes volumes). Esse
modelo calcula a concentração de poluentes ao nível do solo a partir de dados sobre a topografia
do domínio modelado, meteorologia representativa da área de estudo - referente ao período
mínimo de um ano -, e inventário de emissões de poluentes das fontes de interesse para cada
estudo, de acordo com seu respectivo objetivo.

Desta forma, pode-se avaliar o comportamento da dispersão de poluentes pela emissão


oriunda de diversos tipos de fontes como, por exemplo, as emissões industriais de fontes
pontuais (chaminés e caldeiras), ou fontes áreas, no caso de emissões por fontes extensas,
como pilhas de minérios e áreas de mineração.

Esse modelo é composto por dois pré-processadores e um modelo de dispersão.

O AERMET (AERMOD Meteorological Pre-processor) é um pré-processador que, a partir


de dados meteorológicos de superfície e altitude e características de superfície (e.g. albedo,
rugosidade e razão de Bowen), calcula diversos parâmetros da Camada Limite Planetária.
Esses dados são posteriormente alimentados ao modelo de dispersão. Deve-se atentar para
a qualidade dos dados meteorológicos usados nos estudos e ter um meteorologista com
experiência no processamento do AERMET; caso contrário, os erros podem ser grandes (FELIX,
2015).

No Brasil, muitas regiões, principalmente as pequenas cidades, não possuem torres


meteorológicas. Para esses casos, existem modelos matemáticos, como o MM5 (Mesoscale
Model 5) ou WRF (Weather Research and Forecasting Model) que, a partir de dados medidos na
mesoescala, calculam os dados para a microescala. Mas esses dados devem ser usados com
a aprovação prévia do órgão ambiental, pois nem sempre são bem aceitos. Os dados medidos
são sempre a primeira opção (FELIX, 2015).

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Gestão da Qualidade do ar

a aprovação prévia do órgão ambiental, pois nem sempre são bem aceitos. Os dados medidos
são sempre a primeira opção (FELIX, 2015).

O AERMAP (AERMOD Terrain Pre-processor) caracteriza o terreno e o incorpora na grade de


receptores para o módulo de dispersão, a partir de informações digitais de terreno em arquivos
DEM, disponibilizados pela US Geological Survey, para todas as regiões do mundo. Esses
arquivos de elevação são produzidos pela NASA, com resolução de 90 metros e disponibilizados
gratuitamente na internet no endereço eletrônico: www.webgis.com/html.

II - CALPUFF View - Long Range Transport Puff Air Dispersion Model CALPUFF View
O California Puff Model (CALPUFF) também é um modelo Gaussiano, de estado não
estacionário, adequado para a mesoescala (de dezenas de metros até centenas de quilômetros),
e que considera as reações químicas na atmosfera, visibilidade e cenários com campos de vento
complexos, tais como terrenos complexos (situações que não são bem atendidas pelo AERMOD)
e áreas situadas na costa, ou seja, considera o transporte de poluentes sobre a superfície do
mar ou de outros corpos hídricos. O CALPUFF estima as concentrações devido a emissões de
curta duração (puffs).

Uma parte integrante do CALPUFF é o CALMET, um modelo meteorológico que inclui um


gerador de valores de vento para diagnóstico. O CALPUFF simula os efeitos das variações das
condições meteorológicas no transporte de poluentes, suas transformações e remoção da
atmosfera.

A US EPA possui diretrizes para a utilização de modelos de qualidade do ar. Dessa forma,
o CALPUFF foi adotado como o mais indicado para avaliação de transporte de poluentes de
longo alcance e seus impactos (EPA, 2005 apud SOARES e RAMALDES, 2012).

O uso do CALPUFF é apropriado para as seguintes situações (OSHAN et al. 2006


apud SOARES e RAMALDES, 2012):
• Impactos próximos ao solo em fluxos complexos ou situações de dispersão
de terreno complexo, condições de inversão, recirculação, estagnação e
fumigação, transporte sobre corpos hídricos, regiões costeiras e condições de
ventos calmos com baixa velocidade;

• Transporte de longo alcance (alguns poluentes são transportados entre os


países, ou através de grandes distâncias);

• Modelagem de poluentes críticos para elaboração de Planos Estaduais de


Implementação;

• Formação de poluentes secundários; e

• Fontes áreas e fontes de linha, tais como queimadas de florestas e instalações


de redutores de alumínio.

Os modelos avançados, como o CALLPUFF, lidam com fenômenos atmosféricos de alta


complexidade, assim como o transporte de poluentes em terrenos acidentados e com formação
de vales, sendo bem aplicados em cenários onde a poluição afeta regiões de 50 a 200 km de
distância da fonte emissora. Esses modelos incorporam informações meteorológicas variadas
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Gestão da Qualidade do ar

no tempo e espacialmente, o que acarreta a necessidade de uma significativa base de dados


para que seja realizada uma boa modelagem. Por esse motivo, não são muito usados nos
processos de licenciamento; só quando se torna necessário.

III - Modelo receptor


Modelos de receptor são procedimentos matemáticos ou estatísticos para identificar e
quantificar as fontes de emissão de poluentes atmosféricos em um local receptor. Ao contrário
dos modelos fotoquímicos e de dispersão de qualidade do ar, os modelos de receptores não
usam emissões de poluentes, dados meteorológicos e mecanismos de transformação química
para estimar a contribuição das fontes para as concentrações dos receptores, conforme se
observa no Estudo de Dispersão Atmosférica (EDA) (QualityAmb, s/d).

Os modelos de receptor usam as características químicas e físicas dos gases e das partículas
medidas na fonte emissora e no receptor para identificar a presença e quantificar as contribuições
da fonte para as concentrações do receptor. Esses modelos são, portanto, um complemento
natural de outros modelos de qualidade do ar e são usados como parte dos Planos de
Implementação Estaduais para identificar as fontes que contribuem para os problemas de
qualidade do ar.

A US EPA desenvolveu os modelos Chemical Mass Balance (CMB) e Unmix, bem como o
método Positive Matrix Factorization (PMF) para uso na gestão da qualidade do ar. O CMB
distribui totalmente as concentrações do receptor para tipos de fonte quimicamente distintos,
dependendo do banco de dados do perfil de fonte, enquanto o Unmix e o PMF geram perfis de
fonte internamente a partir dos dados ambientais30.

VI - STEM - Sulfur Transport and Deposition Model


Existem atualmente sofisticados modelos matemático-numéricos que calculam as
concentrações ambientais de O3 a partir dos dados de emissões atmosféricas de seus
precursores e dos dados meteorológicos de determinadas regiões.

O modelo Sulfur Transport and Deposition Model - STEM - foi desenvolvido há mais de 20
anos pelo Center for Global and Regional Environmental Research (CGRER) da Universidade
de Iowa, nos Estados Unidos. O STEM foi criado originalmente para estudar as reações
químicas secundárias que ocorrem com o enxofre na atmosfera, mas a nova versão é usada,
principalmente, para estudar outros poluentes gasosos e material particulado na atmosfera.

É um modelo Euleriano Tridimensional de terceira geração, que foi desenvolvido para fornecer
uma base teórica para investigar a relação entre as emissões, seu transporte na atmosfera,
transformações químicas, processos de remoção e a distribuição resultante de poluentes
atmosféricos e seu perfil de deposição.

O STEM é um programa que requer o preparo de uma série de ”inputs” antes de seu
processamento. Os campos meteorológicos são obtidos através do processamento do
MM5 ou outro modelo meteorológico de mesoescala. Os campos meteorológicos precisam
ser atualizados e pré-processados para cada intervalo de tempo para o qual o modelo será
processado.

Como se pode observar, é um modelo complexo que deve ser usado em situações específicas,
como simular a dispersão de ozônio na mesoescala. Requer um cluster de computadores para
seu processamento (NEVES, 2009).

30 Cf. https://www.epa.gov/scram/air-pollutant-receptor-modeling
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Gestão da Qualidade do ar

15.4 INCERTEZAS DOS MODELOS

Apesar das diversas incertezas envolvidas na modelagem computacional, que dependem


também da qualidade dos dados de alimentação do modelo, existem muitas razões para a sua
utilização como estratégia de controle da qualidade do ar, desde a escala urbana ou local até a
escala regional e global.

Os resultados das simulações com os modelos contribuem para o prognóstico da qualidade


do ar, sendo o único método disponível para esta avaliação na fase anterior à instalação dos
empreendimentos com potencial impacto ambiental.

Os modelos podem calcular a influência das alterações das emissões e condições


meteorológicas sobre a dispersão dos poluentes; prever potenciais episódios de poluição;
auxiliar no projeto de uma rede de monitoramento ambiental, dentre outros objetivos.

Foram usados os dados de topografia?

II Foram incluídas as fontes veiculares?

Na verificação do resultado das modelagens,


sempre devem ser solicitados os arquivos
fonte de cálculo para possibilitar verificar a
qualidade dos dados de entrada e as
condições da modelagem, tais como:

III Qual a origem dos dados meteorológicos?


Eles foram processados por um meteorologista?

IV

Quais as fontes de emissões que


foram modeladas?

15.5 MONTAGEM DE CENÁRIOS DE MODELAGEM

A etapa de montagem, pré-processamento, definição de parâmetros e similares, é uma etapa


comum a todos os tipos de modelo. Evidentemente, o tipo de pré-processamento a ser feito
depende do modelo adotado. Algumas sugestões de cenários são apresentadas a seguir.

O primeiro cenário de modelagem deve incluir todas as fontes de emissão do projeto, operando
12
Gestão da Qualidade do ar

com suas taxas máximas de emissão propostas e considerando todo o domínio da modelagem.

O segundo cenário de modelagem será semelhante ao imediatamente anterior, mas com


todos os projetos operando nas taxas de emissão propostas.

Outro cenário refere-se a simular a dispersão atmosférica da(s) maior(es) fonte(s) de emissões,
com o objetivo de priorizar seu controle, caso o impacto das maiores fontes seja muito grande.

Tome nota
Pode-se montar ainda vários cenários, tais como: localização das fontes, alturas
das chaminés, uso de equipamento de controle, com o objetivo de avaliar todas
as alternativas que tragam menos impactos ao meio ambiente. Esse é um dos
principais benefícios do modelo.

A experiência prática mostra que, na fase de licenciamento, o layout das fábricas que as
empresas apresentam nunca é o definitivo. As fontes de emissões, os prédios e as vias internas
sempre mudam de local. As emissões também podem variar e deverão ser modificadas e
alimentadas ao modelo à medida que o empreendedor defina melhor o projeto.

15.6 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA MODELAGEM

O principal objetivo dos estudos de dispersão atmosférica é, em geral, determinar a relevância


dos efeitos dos poluentes lançados pelas fontes de emissão no meio ambiente e na saúde.

Os resultados devem, portanto, ser relatados de forma eficaz e concisa, de uma maneira
adequada para que possam ser compreendidos por outras pessoas, mesmo que não tenham
experiência para interpretar o output dos modelos. Existem dois elementos para isso:

Relatar os resultados da modelagem de


uma maneira fácil de entender; e

Avaliar as implicações dos resultados


em termos dos efeitos potenciais das
concentrações calculadas no nível do
solo na saúde das pessoas e no meio
ambiente, também de uma maneira fácil
de entender.

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Gestão da Qualidade do ar

De acordo com NZMFE (2004), os principais fatores envolvidos na apresentação


dos resultados e, consequentemente, na interpretação da modelagem são:
• Apresentar os resultados sob a forma de gráficos de fácil compreensão,
elaborando mapas dos contornos contendo as concentrações dos poluentes
para os intervalos de tempo requeridos pela legislação, e os limites legais,
para avaliar se houve ultrapassagem dos mesmos e em quais locais;

• Incluir sempre informações sobre os dados de alimentação do modelo. Estes


ficam registrados também nos arquivos de processamento dos modelos, que
devem ser solicitados pelos órgãos ambientais a quem executou a modelagem;

• Discutir com clareza a precisão dos resultados da modelagem. Existem três


fontes de erros e incertezas nos modelos: dados de entrada imprecisos; uso
inadequado do modelo; e mal desempenho do modelo. Esses aspectos são
cruciais na interpretação dos resultados calculados.

• Demonstrar que os inputs do modelo são tão corretos quanto possível;


declarar que o modelo tem limitações; e incluir as informações disponíveis
sobre concentrações de poluentes medidos no domínio da modelagem que
validem os resultados calculados;

• Indicar os fatores que são mais significativos na determinação das concentrações


máximas de cada poluente no nível do solo;

• Identificar os receptores mais impactados e aqueles mais sensíveis, tais como


escolas e hospitais; avaliar as concentrações nesses locais em comparação
com os limites legais. Caso necessário, indicar as modificações necessárias
para reduzir as emissões. Os limites legais não podem ser ultrapassados fora
dos muros da(s) empresa(s).

A interpretação dos resultados é uma das fases mais importantes da modelagem, quando se
deve ter em mente os objetivos do estudo, a região de domínio e as áreas urbanas da modelagem,
e a legislação referente à qualidade do ar do local. Deve-se ter os resultados calculados para
cada poluente avaliado, de preferência na forma de gráficos e tabelas.

Observa-se que se deve processar cada um dos poluentes separadamente, comparar as


concentrações nas áreas urbanas, ou seja, fora do muro das fábricas, com as concentrações
ambientais estabelecidas pela Resolução Conama nº 491/2018. Essa resolução não se aplica
às concentrações na área interna das fábricas.

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Gestão da Qualidade do ar

Importante
Para validar os resultados calculados pelos modelos é importante comparar as
concentrações calculadas com as concentrações medidas para a qualidade do
ar na região de domínio da modelagem, quando disponíveis, pois os modelos são
conservadores e, dessa forma, pode-se ter uma correlação entre os valores reais
medidos e calculados. Além disso, os modelos matemáticos meteorológicos não
descrevem bem a atmosfera na situação de ventos calmos (< 0,5 m/s) e podem
existir falhas nos inventários de emissões e nos dados meteorológicos. Portanto, é
bom ter conhecimento das concentrações reais quando se realiza a modelagem.

O output dos modelos de dispersão consiste em valores de concentração ou valores de


deposição. As concentrações previstas são expressas em microgramas por metro cúbico (µg/
m3) de ar, enquanto as taxas de deposição devem ser expressas em quilogramas por metro
quadrado (kg/m2). As concentrações de gases também podem ser expressas como a razão
entre o volume da substância e o volume de ar. Nesse caso, as concentrações são expressas
em partes por milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb).

A concentração de uma substância varia a cada segundo. Para uso prático, as concentrações
são expressas como médias em períodos de tempo especificados pela legislação. Um cuidado
que deve ser tomado antes de processar cada poluente é alimentar os períodos de tempo
especificados na Resolução Conama nº 491/2018 para cada um deles.

As concentrações previstas no nível do solo podem ser altas devido a condições meteorológicas
extremas, raras e transitórias e podem ser consideradas outliers. Portanto, valores horários acima
do percentil 99,9 para cada receptor em cada ano podem ser desconsiderados. Por exemplo, as
oito maiores concentrações médias previstas de 1 hora para cada receptor em cada ano devem
ser desconsideradas. Para todos os períodos de média super-horária (períodos de média maiores
que uma hora), as oito maiores concentrações horárias previstas que foram desconsideradas
para o período médio de 1 hora devem ser incluídas no cálculo do valor do percentil 99,9. Por
exemplo, a média de 8 horas removeria a média das 8 horas principais, média das 24 horas não
removeria a média das 24 horas principais31.

31 Cf. https://www.alberta.ca/assets/documents/aep-air-quality-model-guideline-2020-draft.pdf
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Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTA Environment and Parks, Government of Alberta. Draft Air Quality Model Guideline. Alberta, 2020.
Disponível em: <https://www.alberta.ca/assets/documents/aep-air-quality-model-guideline-2020-draft.pdf>
Acesso em: 30 maio 2021.

ARYA, S.P. Air Pollution Meteorology and Dispersion. Oxford University Press. New York, 1999. Disponível em:
<http://www.sciepub.com/reference/231720> Acesso em: 30 maio 2021.

FELIX, V. C. Influência da resolução da topografia na modelagem da dispersão de poluentes do modelo AERMOD.


Monografia apresentada no Curso de Especialização em Análise de Risco Ambiental da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Niterói, 2015.

KAWANO, M. Desenvolvimento, Validação e Aplicação de um Modelo Matemático para Dispersão de Poluentes


Atmosféricos, 2003. Dissertação de mestrado USFC. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/
handle/123456789/86052/193468.pdf. Acesso em: 29 set. 2021.

LISBOA, H. M. Controle da Poluição Atmosférica: Capítulo VIII Meteorologia e Dispersão Atmosférica.


Montreal, 2007. Disponível em: http://repositorio.asces.edu.br/bitstream/123456789/418/11/Cap%208%20
Meteorologia%20e%20dispers%c3%a3o%20atmosf%c3%a9rica.pdf. Acesso em: 29 set. 2021.

NEVES, N. M. S. Formação e Dispersão de Ozônio na Região do Recôncavo Baiano, 2010. Tese de Doutorado
UFBA. Disponível em: < https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11753> Acesso em: 30 maio 2021.

NEW ZEALAND MINISTRY FOR THE ENVIRONMENT (NZMFE). Good Practice Guide for Atmospheric Dispersion
Modelling, 2004. Disponível em: < http://tools.envirolink.govt.nz/assets/Uploads/Good-Practice-Guide-MFE-
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QUALITYAMB. Estudos de Dispersão Atmosférica (Eda), S/d. Disponível em: <https://qualityamb.com.br/


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SOARES, L. A. e RAMALDES, L. N. Estudo Comparativo dos Modelos de Dispersão Atmosférica - Calpuff e Aermod
- Através da Análise da Qualidade do Ar na Região Metropolitana da Grande Vitória. 2012. Disponível em: < https://
engenhariaambiental.ufes.br/sites/ambiental.ufes.br/files/field/anexo/estudo_comparativo_dos_modelos_
de_dispersao_atmosferica_-_calpuff_e_aermod_-_atraves_da_analise_da_qualidade_do_ar_na_regiao_m.pdf>.
Acesso em: 30 maio 2021.

TADANO, Y. S. Simulação da dispersão dos poluentes atmosféricos para aplicação em análise de impacto.
Campinas, SP: [s.n.], 2012. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/265147/1/
Tadano_YaradeSouza_D.pdf>. Acesso em: 30 maio 2021.

16
MÓDULO IV – INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

AULA 16
INVENTÁRIO DE EMISSÕES ATMOSFÉRICAS

17
Gestão da Qualidade do ar

16.1 CONCEITO E OBJETIVOS DO INVENTÁRIO DE


EMISSÕES ATMOSFÉRICAS

Um inventário de emissões atmosféricas consiste na compilação da quantidade de poluentes


emitidos pelas fontes existentes em uma determinada unidade industrial ou região, e em um
intervalo de tempo determinado que, em geral, é de um ano. Os inventários de emissões de
poluentes atmosféricos são instrumentos estratégicos de gestão ambiental, que permitem
orientar medidas mais eficientes de intervenção.

Um inventário de fontes deve seguir uma metodologia aceita pela comunidade acadêmica
/ científica e pelos órgãos responsáveis pela fiscalização e controle das emissões. Assim,
um inventário de fontes deve ser: completo (todas as fontes para cada poluente em análise);
comparável (para outros anos e com outros inventários); consistente (homogeneidade no
tratamento); e transparente (deve permitir a verificação) (FEST, 2019).

A elaboração dos inventários de poluentes atmosféricos é ponto de partida de quaisquer


programas voltados à melhoria da qualidade do ar, pois estes instrumentos têm o objetivo de:

Identificar os principais poluentes emitidos em uma área de interesse;

Identificar e hierarquizar as diferentes fontes de emissões e as emissões totais lançadas na


atmosfera;

Avaliar os efeitos das medidas de controle sobre as taxas de emissão;

Estimar, com auxílio de modelagem, os efeitos das emissões atmosféricas na qualidade do ar;

Identificar medidas potenciais de redução;

Estabelecer tendências de emissão ao longo do tempo, com atualizações periódicas do


inventário de emissões; e

Estabelecer uma base para programas / estratégias de controle de perdas (FEST, 2019).

Para a indústria, os inventários são muito importantes e exigidos pelos órgãos ambientais
desde a fase de licenciamento. Estes devem ser atualizados periodicamente - em geral, a cada
dois anos e servem para:

Conhecer suas emissões;

Conhecer suas deficiências no controle das emissões;

Conhecer suas boas práticas;

Tomar decisões sobre mudanças no processo, equipamentos de controle, substituição de


combustíveis, visando reduzir suas emissões; e

Fornecer dados para estimar a qualidade do ar por meio da modelagem.

18
Gestão da Qualidade do ar

Os inventários de emissões são essenciais para o levantamento de dados de entrada para os


modelos matemáticos que estimam a qualidade do ar e devem incluir:

Tipos de fontes;

Tipos de poluentes;

Taxas de emissão;

Localização das fontes;

Altura das chaminés e de outros pontos de emissão, como pilhas de minérios, e tanques de
estocagem; e

Projeções futuras de emissões.

Quanto mais atuais e precisas as informações, mais confiáveis serão os resultados obtidos.
Deve-se sempre registrar as fontes de informações dos dados e, em geral, são os engenheiros
de processo que os fornecem para a elaboração dos inventários.

Além disso, o inventário de emissões atmosféricas deve ser suficientemente minucioso


e detalhado, capaz de representar onde, como, quanto e quando os diversos poluentes
atmosféricos são emitidos pelas fontes emissoras significativas na área de interesse (IEMA, 2011).

O inventário de emissões atmosféricas é realizado com a intenção de descrever, da maneira


mais acurada possível, a realidade das fontes emissoras. Assim sendo, as informações contidas
nos inventários podem ser utilizadas para: aplicação de modelos de dispersão atmosférica na
avaliação das áreas mais suscetíveis à alteração da qualidade do ar; subsidiar a sistemática
de implantação, revisão ou manutenção de uma rede de monitoramento da qualidade do ar,
incluindo o seu dimensionamento e rateio de custo entre as empresas com maior potencial
de contribuição de emissões; e contribuir na elaboração de estudos de diversas áreas do
conhecimento, como os relacionados à saúde pública (IEMA, 2019).
Conhecer o empreendimento / área urbana para a
qual será elaborado o inventário;

Levantar os dados sobre processos / combustíveis /


frota de veículos existentes;

II

Elaborar os Protocolos de Cálculos (em planilhas


Há algumas etapas para elaborar um eletrônicas, contendo os fatores de emissão, tempo de
III
inventário de emissões operação, matéria-prima / consumo de combustível)
para cada processo;

IV

Elaborar resultados / relatório; e

Realizar gestão.

19
Gestão da Qualidade do ar

16.2 LEGISLAÇÃO E REGULAÇÕES NACIONAIS E


INTERNACIONAIS

O Relatório Anual de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos


Ambientais (RAPP) é uma ferramenta instituída como obrigação acessória à Taxa de Controle
e Fiscalização Ambiental (TCFA), pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81, art.
17-C, § 1º). O RAPP tem como função a obtenção de dados e informações para colaborar com
procedimentos de fiscalização e controle ambiental.

Os empreendimentos que possuem fontes fixas (chaminés, conforme definido pelas


Resoluções Conama nº 382/2006 e nº 436/2011, que estabelecem os limites máximos de
emissão de poluentes atmosféricos para estas fontes) e com emissão destes 4 poluentes:
material particulado (MP), monóxido de carbono (CO), óxidos de enxofre (SOx) e óxidos de
nitrogênio (NOx), devem informar no módulo “Emissões de Poluentes Atmosféricos” do RAPP as
seguintes informações:

Quantidade Emitida
Informar a quantidade total do poluente emitido em tonelada/ano (t/ano), consolidada
de acordo com as metodologias utilizadas para monitoramento das emissões atmosféricas,
definidas pelo processo de licenciamento ambiental; e,

Metodologia utilizada
Indicar como foram obtidos os dados: se por medição, cálculo ou estimativa.

Medição: ocorre quando os dados sobre as emissões de um estabelecimento são extraídos


dos resultados do acompanhamento direto dos processos produtivos específicos, com
base em medições efetivas, contínuas ou periódicas;

Cálculo: as emissões são baseadas em cálculos que usam dados relativos à atividade
(como volume de combustível utilizado, taxa de produção), fatores de emissão ou balanço
de massa;

Estimativas: os dados sobre as emissões baseiam-se em estimativas não normalizadas


(ausência de metodologias reconhecidas), por meio de conjecturas ou hipóteses
formuladas por peritos técnicos.

16.3 METODOLOGIAS PARA CÁLCULO DE


INVENTÁRIOS

Existem duas metodologias de cálculo dos inventários, quanto ao seu nível de detalhamento:
Bottom Up e Top Down.
Inventários Bottom Up
São mais complexos e com custo mais elevado para implantação. Utilizam dados mais
detalhados, como:
Uso de valores desagregados;

Consumo de combustíveis por:


• Tipo de combustíveis;
20
Gestão da Qualidade do ar

• tipo de equipamento;

Emissões por balanço de massa;

Uso de “fatores próprios”.


Os inventários Bottom Up são os mais indicados, pois permitem a gestão das emissões, com
a definição de metas e a comparação entre inventários, caso utilizem a mesma metodologia.
Além disso, este tipo de inventário auxilia na tomada de decisões e na verificação da eficiência
do processo.

Inventários Top Down


São inventários mais simples e de baixo custo de implantação. Utilizam dados gerais, como:
Consumo de combustíveis;

Produção total;

Fatores default.

Porém, por serem menos precisos, não são o modelo ideal para utilização na gestão das
emissões e, dificilmente, poderão ser usados em comparação com outros inventários. De forma
geral, os inventários Top Down são normalmente usados apenas como uma abordagem inicial,
quando não se tem a opção de elaborar um inventário Bottom Up.

16.4 TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO DE FONTES


DE EMISSÃO
16.4.1 ESTIMATIVA DE EMISSÕES DE FONTES
FIXAS E MÓVEIS
O monitoramento contínuo das emissões nas fontes é, em princípio, o procedimento preferencial
para estimar as emissões atmosféricas. Não sendo possível o monitoramento contínuo, três
procedimentos podem ser utilizados:

Medições periódicas nas fontes de emissão;

Balanço de massa; e

Uso de fatores de emissão.

Medição na fonte de emissão


Os dados são mais precisos do que aqueles obtidos por meio de fatores de emissão e balanço
de massa e refletem as taxas de emissão e condições existentes durante a sua realização.
Porém, sua execução demanda investimentos consideráveis.
Balanço de massa
Deve ser baseado no nível de produção e na composição e quantidade dos materiais utilizados.
Só pode ser feito quando se conhece a quantidade de um insumo que entra no processo, a
quantidade que sai do processo (emissões, resíduos líquidos e sólidos), e a quantidade que se
incorpora ao produto final, como apresenta a Figura 67.
21
Gestão da Qualidade do ar

A limpeza de peças com solventes e a pintura industrial são exemplos de operações onde se
aplica Balanço de Massa.
Figura 67 : Balanço de Massa

Emissões

Produtos
Insumos

Resíduos
Elaboração MMA

Fatores de emissão
A Agência Ambiental Americana (US EPA) possui a publicação AP-42 - Compilation of Air
Pollutant Emissions Factors (US EPA, 2018) com a compilação de fatores de emissão atmosférica
para uma grande parte dos processos industriais, que inclui as fontes fixas e também as fontes
móveis (veículos).

O AP-42 foi estabelecido em 1972 como a principal compilação das informações de fatores
de emissão da EPA. A quinta edição do AP-42 foi publicada em janeiro de 1995. Desde então, a
EPA publica suplementos e atualizações nos quinze capítulos disponíveis no Volume I - Ponto
Estacionário e Fontes de Área. Estes fatores são usados como referência em vários países,
incluindo o Brasil.

Tome nota
Os fatores de emissão mais recentes estão disponíveis no site:
https://www.epa.gov/air-emissions-factors-and-quantification/ap-42-
compilation-air-emissions-factors.

Porém, é sempre preferível a utilização de fatores desenvolvidos especificamente para um


determinado equipamento do que os fatores de emissão do AP-42, ressaltando-se que os
fatores de emissão utilizados devem ser aprovados pelos órgãos ambientais.

Um fator de emissão estabelece uma relação simples entre a quantidade de poluente emitida
e um parâmetro conhecido do processo como, por exemplo, o consumo de combustível. Estes
fatores são expressos como: massa do poluente, dividido por unidade de massa, volume,
distância, ou duração da atividade que emite os poluentes (ex.: kg de partículas emitidas por
tonelada de carvão queimado ou t/ano).
22
Gestão da Qualidade do ar

Os fatores são valores médios, obtidos a partir de dados com níveis variáveis de precisão. A
estimativa das emissões de uma planta com base nesses fatores deve ser, sempre que possível,
confirmada por meio de medições.

Para calcular a taxa de emissão. é necessario usar a equação:

( (
Onde:

ER E = Taxa de Emissão [massa do poluente/tempo];


E = A x FE x 1- A = Taxa de Atividade;
100 FE = Fator de Emissão [massa do poluente/ taxa de
unidade de atividade]
ER = Eficiêcia geral de redução de emissões [%].

Estes fatores de emissões são classificados pela US EPA com relação à


confiabilidade em:
A = Excelente: fator de emissão desenvolvido a partir de medições nas fontes em
muitas indústrias diferentes;

B = Acima da média: fator de emissão desenvolvido a partir de dados medidos, em


um número moderado de instalações;

C = Médio: fator de emissão desenvolvido a partir de dados de teste de um número


razoável de instalações. Não está claro se as instalações testadas representam
uma amostra aleatória da indústria;

D = Abaixo da média: fator de emissão desenvolvido a partir de um pequeno


número de fontes;

E = Pobre: fator de emissão desenvolvido a partir de dados de teste de um número


muito reduzido de instalações.

23
Gestão da Qualidade do ar

16.5 IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES DE EMISSÕES


PRIORITÁRIAS

Legislação
A Resolução Conama nº 01/86, que estabelece as diretrizes para o licenciamento
ambiental no país, determina, em seu artigo 2º, quais setores dependem de
elaboração de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de
Impacto Ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual
competente e do Ibama. São atividades modificadoras do meio ambiente e com
potenciais impactos ao meio ambiente, tais como:

I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II - Ferrovias;

III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32,


de 18.11.66;

V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos


sanitários;

VI --Linhas
VII Obras de transmissão
hidráulicas parade energia elétrica,
exploração acimahídricos,
de recursos de 230KV; tais como: barragem
para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de
canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura
de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques;

VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;

X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;

Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária,


acima de 10MW;

XII - Complexo e unidades industriais e agroindustriais (petroquímicos, siderúrgicos,


cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo em recursos hídricos);

XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100


hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou
de importância do ponto de vista ambiental;

24
Gestão da Qualidade do ar

XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha ou em áreas consideradas de relevante


interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes;

XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez
toneladas por dia.

Para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental, no item referente ao meio físico, é necessário
avaliar se os empreendimentos possuem fontes de emissões atmosféricas, tanto na fase de
implantação quanto na operação e, caso sejam identificadas essas fontes, é necessário elaborar
o inventário de emissões atmosféricas para ambas as fases do projeto.

25
Gestão da Qualidade do ar

16.5.1 INVENTÁRIO DE FONTES FIXAS

Consumo de combustíveis fósseis (tipo, composição


e volume consumido/ano) por cada equipamento,
como caldeira, turbina, forno etc.;

Localização georreferenciada das


fontes pontuais;
II

Para calcular as emissões de fontes


fixas é necessário obter os dados III Altura e diâmetro das chaminés;
referentes a:

IV

Vazão, temperatura e velocidade dos


gases na saída das chaminés
V

Emissão de poluentes em toneladas/ano - caso tenham


sido medidos, obter os relatórios de monitoramento de
chaminés ou calcular utilizando os fatores de emissões do
AP-42, ou de outras fontes de informações devidamente
documentadas e aceitas pelos órgãos ambientais.

16.5.2 INVENTÁRIO DE FONTES MÓVEIS

As fontes móveis são representadas, principalmente, pelos veículos e máquinas móveis, e


devem ser incluídas em todos os inventários de emissões, principalmente nos inventários das
zonas urbanas e de áreas de mineração, que em geral possuem frotas de veículos de grande
porte.

Para calcular as emissões veiculares são necessários os dados referentes a: características da


frota, tais como: ano, modelo e categoria veicular; aspectos como tamanho, peso, potência e
tecnologia do motor do veículo (injeção eletrônica de combustível ou através de carburadores),
pois interferem na quantidade de poluentes emitida. Em geral, veículos novos são menos
poluidores, em função das tecnologias mais avançadas e equipamentos de redução de
poluentes mais eficientes (conversor catalítico ou catalisador).

A tecnologia de alimentação do motor por injeção eletrônica de combustível evita seu


desperdício, contribuindo para a redução das emissões. Com o uso do veículo, o desgaste de
peças e componentes afeta as características de eficiência do motor, provocando índices mais
elevados de emissão.

O tipo e composição do combustível utilizado define a qualidade da queima da mistura ar-


combustível (A/C) dentro do motor, influenciando diretamente na formação dos poluentes
emitidos (ARIOTTI, 2010).

A publicação AP-42 possui os fatores de emissões para essas fontes, tanto para a queima de
combustível, como para a emissão de material particulado das vias de tráfego das fontes móveis.
26
Gestão da Qualidade do ar

Os principais dados requeridos para cálculo das emissões de fontes móveis


(veículos) são:
• Tipo de via (verificar se a via é pavimentada ou não pavimentada);

• Extensão da via (km);

• Número de veículos que trafegam em cada via;

• Velocidade média dos veículos (km/h);

• Quantidade de veículos por dia que circulam pela via;

• Peso médio dos veículos que circulam pela via (carregados e vazios);

• Massa de sedimentos finos sobre a via;

• Tempo total de operação na via;

• Número de dias com ocorrência de chuva no período inventariado.

Existem os fatores de emissões de partículas por ressuspensão e exaustão de freios e pneus


na via, que devem ser usados para cálculo desta contribuição. Esses fatores estão nos capítulos
13.2.1 do AP-42 (Paved Roads33) e 13.2.2 do AP-42 (Unpaved Roads34).

Para a emissão de gases e partículas oriundos da queima de combustíveis pelas fontes móveis,
a Cetesb também publica fatores de emissão, expressos em gramas de poluentes por distância
percorrida³⁵.

16.6 CONTEÚDO DOS INVENTÁRIOS DE EMISSÕES

Os inventários de emissões atmosféricas devem apresentar, pelo menos, as seguintes


informações.

16.6.1 INTRODUÇÃO

Deve ser realizada a apresentação geral do documento; a contextualização e a motivação do


desenvolvimento do inventário; as legislações aplicáveis, o histórico da realização de inventários
na região de abrangência; os objetivos gerais e específicos do inventário; e os fatos relevantes
relacionados com a sua elaboração. Devem ser apresentados a equipe de coordenação da
elaboração do inventário e todos os atores que participaram, com as respectivas atribuições e
responsabilidades. Por fim, apresentar resumidamente os principais resultados alcançados.

33 https://www.epa.gov/sites/production/files/202010/documents/13.2.1_paved_roads.pdf
34 https://www.epa.gov/sites/production/files/2020-10/documents/13.2.2_unpaved_roads.pdf
35 https://cetesb.sp.gov.br/veicular/relatorios-e-publicacoes/
27
Gestão da Qualidade do ar

16.6.2 ESCOPO

Devem ser apresentados o ano base do inventário, os tipos de fontes e os setores que foram
inventariados.

Apresentar a descrição da abrangência espacial (caracterização da área inventariada, limites


geográficos, população etc.) e a abrangência temporal do inventário (ano-base, meses de coleta
de dados). Detalhar a área inventariada por meio de mapas georreferenciados e de outras
informações importantes.

Descrever como foi programada a seleção dos poluentes atmosféricos inventariados. Devem
ser inventariados, minimamente, todos os poluentes estabelecidos na Resolução Conama nº
491/18, além de outros poluentes relevantes emitidos.

16.6.3 METODOLOGIA

Apresentar a metodologia utilizada na elaboração do inventário, descrevendo os processos


utilizados para a seleção das fontes emissoras (os empreendimentos e atividades de interesse
com potencial de emissões atmosféricas); para a obtenção e coleta dos dados de entrada e
das informações utilizadas no inventário; para a seleção da metodologia para a estimativa das
emissões de poluentes atmosféricos; e para a quantificação das taxas de emissões de poluentes.
Apresentar as possíveis etapas que compreenderam a elaboração do inventário.
Sumário dos dados de emissão
Os dados de emissão devem ser apresentados numa planilha, incluindo os poluentes e as fontes
de emissão, na forma de uma tabela resumo com os poluentes inventariados e suas cargas totais
lançadas na atmosfera no período inventariado.
Procedimentos utilizados para coleta de dados
Apresentar descrição sobre as metodologias de coleta de dados de entrada que foram adotadas.
Reportar se houve visita técnica aos locais das emissões; e se houve estudo do processo por meio
de fluxogramas ou outras formas de coleta (relacionar por cada grupo de fontes: indústria, minera-
ção, construção civil etc.). Reportar, ainda, quem coordenou os trabalhos de coleta de dados.

Fontes dos dados utilizados no inventário


Apresentar quem forneceu os dados utilizados; como e quando foram coletados os dados. Do-
cumentar o fornecimento dos dados, pois pode ser necessário comprovar suas fontes em algumas
ocasiões.
Métodos utilizados para cálculo da estimativa das emissões
O cálculo de inventários requer grande organização dos dados e dos cálculos. Apresentar a descri-
ção sobre a proposta metodológica para a classificação dos grupos de fontes; e para a seleção dos
empreendimentos e atividades de interesse. O relatório deve conter uma descrição do(s) empre-
endimento(s) inventariado(s), incluindo as matérias primas, as tecnologias adotadas, e os produtos
fabricados.

Para as estimativas das emissões provenientes de processos industriais devem ser apresentadas
as diversas abordagens metodológicas adotadas por cada grupo de fontes (utilização de dados de
monitoramento contínuo, monitoramento por amostragem, aplicação e fatores de emissão, adoção
de analogia com outras fontes emissoras etc.). Junto à apresentação das metodologias adotadas,
apresentar, em anexo, a memória de cálculo da quantificação e da estimativa das emissões.
28
Gestão da Qualidade do ar

16.6.4 DEMONSTRATIVO DOS RESULTADOS


DO INVENTÁRIO
Reportar os resultados do inventário. Separar os resultados por cada tipo de emissão:
emissões industriais, emissões de fontes móveis, emissões urbanas, e outras fontes, conforme
a classificação no planejamento.

16.6.5 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS


RESULTADOS DO INVENTÁRIO
Detalhar o inventário para cada planta ou operação industrial, informando a metodologia de
cálculo para cada uma delas e suas emissões. Comparar as emissões identificadas com os
limites de emissão regulamentares.

16.6.6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES


Apresentar quais são os poluentes emitidos em maior carga e quais são as fontes inventaria-
das que causam maior impacto ao meio ambiente. Ressaltar as fontes que ultrapassaram os
limites regulamentares.

A partir das conclusões encontradas, apresentar as recomendações para o controle das fontes
de emissões prioritárias.

16.6.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Citar todas as fontes de referência utilizadas no documento, principalmente as relacionadas
aos fatores de emissões utilizados.

16.7 EXEMPLOS DE INVENTÁRIOS DE EMISSÕES


ATMOSFÉRICAS
16.7.1 INVENTÁRIOS NO BRASIL
No Brasil, poucos estados já inventariaram suas fontes potenciais de emissão de poluentes
atmosféricos. Alguns fizeram para fontes fixas e veiculares e outros somente para um tipo de
fonte. Entre os trabalhos disponíveis na internet, verificou-se que os Estados do Paraná, Rio
de Janeiro e São Paulo, a Região da Grande Vitória - ES, assim como os municípios de Campo
Grande - MS, Belo Horizonte - MG, Betim - MG e Contagem - MG desenvolveram inventários de
fontes fixas.
Quadro 19: Síntese da situação da elaboração dos inventários de emissões no Brasil

UF Região Ano Tipos de fonte IAT


Região Metropolitana de
BA Salvador (BA)
2008 (ano-base 2006) Fixas e Móveis Lyra

Região Metropolitana de
CE Fortaleza (CE)
2018 (ano-base 2010,2015) Móveis Plicarpo et al

Região Metropolitana da IEMA-ES,


ES 2011 (ano-base 2010) Fixas e Móveis
ECOSOFT
Grande Vitória (ES)
Região Metropolitana da
ES 2016 (ano-base 2010) Móveis Araújo 2016
Grande Vitória (ES)
29
Região Metropolitana da IEMA-ES,
ES Grande Vitória (ES)
2019 (ano-base 2015) Fixas e Móveis
ECOSOFT
ES ECOSOFT
Grande Vitória (ES)
Gestão da Qualidade Região
do arMetropolitana da
ES 2016 (ano-base 2010) Móveis Araújo 2016
Grande Vitória (ES)
Região Metropolitana da IEMA-ES,
ES Grande Vitória (ES)
2019 (ano-base 2015) Fixas e Móveis
ECOSOFT
Mesorregiões Leste, Centro
GO e Sul do Estado (GO) 2015 (ano-base 2015) Fixas Silva-Neto et al

Prefeitura Municipal
MS Campo Grande (MS) 2016 (ano-base 2010) Fixas e Móveis de Campo Grande

Belo Horizonte, Betim e


MG Contagem (MG)
2003 (ano-base 2002) Fixas e Móveis FEAM

PR Estado do Paraná (PR) 2003 (ano-base 2002) Fixas e Móveis FEAM

Região Metropolitana do
RJ Rio de Janeiro (RJ) 2004 (ano-base 2001) Fixas e Móveis INEA

Região Metropolitana do
RJ Rio de Janeiro (RJ) 2005 (ano-base 2001) Fixas Pires

RJ Estado do Rio de Janeiro (RJ) 2011 (ano-base 2010) Móveis COPPETEC

Região Metropolitana do
RJ Rio de Janeiro (RJ) 2016 (ano-base 2013) Móveis INEA

Região Metropolitana de
RS Porto Alegre (RS) 2008 (ano-base 2004) Móveis Teixeita et al

RS Pelotas (RS) 2010 (ano-base 2009) Móveis FEPAM

RS Estado do Rio Grande do Sul (RS) 2016 (ano-base 2012) Móveis Silva et al

SP Campinas (SP) 2011 (ano-base 2009) Móveis Ueda e Tomaz

SP Estado de São Paulo (SP) 2011 - 2017 Móveis Catesb

SP Estado de São Paulo (SP) 2011 - 2017 Fixas Catesb

Reprodução MMA

Os inventários precisam ser atualizados periodicamente para revisão de dados e acompanhamen-


to das metas de redução. Esses instrumentos possibilitam mostrar séries históricas e projeções de
emissões em variados recortes, além de evidenciar lacunas de informações que podem originar
iniciativas para obtenção de dados cada vez mais confiáveis e fidedignos.

A seguir, são apresentados mais detalhes dos inventários da Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP), da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e da Região da Grande Vitória (RGV).
Região Metropolitana de São Paulo
A Cetesb atualiza frequentemente o inventário de emissões da RMSP. O gráfico 14 indica as
emissões relativas por tipo de fonte, referentes ao ano de 2019.

30
Gestão da Qualidade do ar

Gráfico 14: Inventário de Emissões da Região Metropolitana de São Paulo


100%
3,5% 7,0%
10,5%
19,1% 25,0%
80% 16,0% 37,5%
5,0% 37,0%
8,4%
60%
3,6% 1,2% 25,0% 84,4%

10,0%
43% 1,8%
40%
72,4%
51,0%
61,5%

20% 32,0%
0,1%
17,7% 11,2%
0%
6,2% 5,0% 4,3%
CO HC NOx MP10 MP2,5 SOx

Veículos Leves Veículos Pesados Motocicletas

Processos Industrial Ressuspensão Aerossol Secundário

Base de Combustível Veículos Totais Combustão de Biomassa

Fonte: CETESB, 2020.

Região Metropolitana do Rio de Janeiro


As emissões totais, em toneladas/ano, lançadas pelas fontes móveis e fixas da RMRJ em 2003
são apresentadas no gráfico 15.
Gráfico 15: Taxas de emissão por tipo de fonte da RMRJ
Taxa de emissão por tipo de fonte da RMRJ
300%

300%
Taxa de emissão de poluentes (t/ano)x1000

250%

200%

150%

100%

50%

0%

SO2 NOx CO HC MP10

Fonte: Adaptado de FEEMA, 2004a apud Oliveira, 2008.

De forma semelhante ao que ocorre na RMSP, na RMRJ os veículos respondem pela maior carga
de CO, NOx e HC lançadas na atmosfera. A maior carga de SO2 é lançada pelas fontes fixas.

Região da Grande Vitória - ES


As taxas de emissão por categoria de fontes na RGV – ano base 2015, em kg/h, são apresentadas
na tabela 1.

31
Gestão da Qualidade do ar

Tabela 1: Taxas de emissão de poluentes por fonte – Região da Grande Vitória

Taxa de Emissão [kg/h]


Categoria/ Setor
MP MP10 MP2,5 NOx SO2 CO COV
Aterro 22,59 6,34 1,77 4,82 0,41 4,14 6,52
Emissões Industriais e Outras Atividades

Construção Civil 96,13 31,24 3,42 n.a n.a n.a n.a


Estoque e Comercialização e
n.a n.a n.a n.a n.a n.a 210,82
Combustíveis

Indústria Alimentícia 16,33 11,20 10,34 17,61 2,91 25,56 0,71

Indústria de Produtos Minerais 143,75 84,66 43,77 65,84 24,71 192,67 21,44

Indústria de Produtos Químicos 8,34 6,21 3,75 16,10 3,73 8,88 62,67

Indústria Mínero-Siderúrgica 886,96 566,88 368,94 4.141,08 3.971,03 19.826,93 323,01

Logística 72,35 52,91 44,24 364,07 180,83 182,83 30,12

Outros 58,68 45,97 39,36 990,31 315,14 245,53 34,02

Residenciais e Comerciaisª 1,03 1,03 1,03 18,95 0,32 10,50 850,16


Emissões
Urbanas

Emissões Veicularesb 55,94 43,05 32,49 1.020,78 28,14 1282,80 595,62

Ressuspensão de partículasb 6.744,70 1.294,65 313,22 n.a n.a n.a n.a

Total 8.106,80 2.144,14 862,33 6.639,56 4.527,22 21.779,84 2.135,09

Nota:
MP - Material particulado MP 10 - Material particulado <10 µm MP2.5 Material particulado <2,5 µm
NOX - Óxidos de nitrogênio SO₂ - Dióxido de enxofre CO - Monóxido de carbono

COV - Compostos orgânicos voláteis n.a - não aplicável


I - As emissões residenciais e comerciais são distribuídas para toda área de abrangência da RGV, cerca de 25.971
hectares
II - As emissões veiculares e de ressuspensão de partículas ocorrem ao logo de toda extensão das vias de tráfego
da RGV, onde estas possuem uma extensão total de, aproximadamente, 4.877 km de vias.
Fonte: IEMA, 2019.
Observa-se que para o material particulado MP10 a maior taxa de emissão é devida à ressuspensão nas
vias de tráfego (60,4% das emissões). Para os gases NOx, SO2 e CO as maiores taxas são ocasionadas
pelo setor da Indústria Minero-Siderúrgica (62,4%, 87,7% e 91%, respectivamente).
Inventários Corporativos
Grandes empresas, tais como a Petrobras, a Vale e empresas do Polo Industrial de Camaçari, também
elaboram periodicamente inventários de emissões. A título de exemplo apresenta-se a seguir informações
sobre o inventário da Petrobras publicado em 2020:

O inventário de emissões da Petrobras é gerido pelo sistema corporativo denominado SIGEA®) - Sistema de
Gestão de Emissões Atmosféricas, que compila, armazena, calcula e serve como banco de dados de todas as
informações relevantes de poluentes emitidos para a atmosfera da empresa. Todas as unidades da Petrobras
no Brasil e nos outros países fazem parte deste sistema.

O inventário é publicado desde 2002 e verificado por terceira parte anualmente. Inclui: óxidos de enxofre
(SOx), óxidos de nitrogênio (NOx), material particulado (MP), monóxido de carbono (CO), compostos orgâni-
cos voláteis (COVs) e hidrocarbonetos totais (HCT). O SIGEA® processa informações mensais de mais de 17
mil fontes cadastradas (PETROBRAS, 2020). O gráfico 16 apresenta as emissões de poluentes referentes ao
período de 2016 a 2020.
32
Gestão da Qualidade do ar

Gráfico 16: Inventário de Emissões de Poluentes Regulamentados pela Petrobras no período


de 2016 a 2020 (em toneladas/ano)
350000%

300000%

250000%

200000%

150000%

100000%

50000%

0%

NOx CO MP SOx COV

Fonte: PETROBRAS, 2020

As emissões de poluentes regulados apresentam variações decorrentes de condições opera-


cionais e de melhoria contínua do processo de inventário e quantificação destes poluentes. Tais
variações por melhoria da quantificação podem ser observadas principalmente nas emissões de
compostos orgânicos voláteis. Para as emissões de óxidos de enxofre e de monóxido de carbono,
destacam-se as reduções observadas em 2020 atreladas, principalmente, a melhorias operacio-
nais nas refinarias.

Já a redução de óxidos de nitrogênio é aderente aos menores níveis de despacho termelétrico nos
últimos anos. Com relação ao material particulado, não são verificadas alterações significativas no
período, com leve tendência de redução desde 2018 associada à saída das atividades de produção
de fertilizantes do portfólio.

Tome nota
No período de 2018 a 2020, apesar do aumento da produção, observa-se a redução
do volume total de hidrocarbonetos não aproveitados, que está relacionada às ações
voltadas para melhoria de eficiência operacional e redução de queima em tocha,
bem como a melhorias contínuas de inventário, caracterização e quantificação de
perdas de hidrocarbonetos. Cabe destacar a redução de gás queimado em tocha em
2020 no refino (queda de 28% em relação a 2019) e na Exploração & Produção (20%
a menos que em 2019). No geral, em 2020, registrou-se uma média de queima de
5,7 milhões de metros cúbicos por dia de gás em tocha nas atividades, 23% abaixo
do valor de 2019. Registrou-se também uma redução relevante de hidrocarbonetos
dissipados na atmosfera (PETROBRAS, 2020).

16.7.2 INVENTÁRIOS DE EMISSÃO DOS


ESTADOS UNIDOS

O Inventário Nacional de Emissões (NEI36, da sigla em inglês para o National Emissions Inventory) dos
Estados Unidos é uma estimativa abrangente e detalhada das emissões atmosféricas dos poluentes
regulamentados, de seus precursores e dos poluentes atmosféricos prioritários das fontes de emissão.
33
Gestão da Qualidade do ar

Saiba Mais
O NEI é divulgado a cada três anos com base, principalmente, em dados fornecidos
pelos órgãos ambientais estaduais, locais e tribais para as fontes localizadas em
suas jurisdições e complementados por dados desenvolvidos pela US EPA. O NEI
é construído usando o Sistema de Inventário de Emissões (EIS, da sigla em inglês
para Emissions Inventory System) primeiramente para coletar os dados dos órgãos
ambientais estaduais e, em seguida, combinar esses dados com outras fontes de
dados.

O inventário inclui as fontes pontuais, fontes móveis e fontes móveis não rodoviárias que usam
combustíveis fósseis, tais como: aviões, locomotivas e navios; equipamentos usados na construção
civil e para cortar grama em parques e jardins. São consideradas também as emissões oriundas de
queimadas para fins agrícolas e também queimadas em matas e florestas que compõem o Inventá-
rio Nacional de Emissões de Queimadas (National Fire Emissions Inventory - NFEI).

16.7.3 INVENTÁRIOS ELABORADO PARA AVALIAR A


EVOLUÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE OZÔNIO NA
TROPOSFERA

Em 2005 foi elaborado um inventário internacional para avaliar o aumento das concentrações de
ozônio no mundo no período de 1890 e 1990, por meio de modelo matemático (LAMARQUE et al,
2005).
As emissões de todas as substâncias químicas foram baseadas no banco de dados EDGAR-HYDE
1.4. Os totais anuais globais (fontes antropogênicas e naturais) desse estudo são apresentados no
quadro 20 (LAMARQUE et al, 2005).
Quadro 20: Evolução das emissões mundiais totais (antrópicas e biogênicas)
de alguns compostos na atmosfera (Tg/ano)

Fonte: Adaptado de LAMARQUE et al, 2005.

36 https://www.epa.gov/air-emissions-inventories/national-emissions-inventory-nei
34
Gestão da Qualidade do ar

Essas emissões são baseadas nas atividades que, historicamente, ocorreram no mundo, e foram
calculadas para cada período de 10 anos, desde 1890. No quadro 19 pode-se observar que as
emissões de NO tiveram um aumento quase exponencial, passando de 15,3 Teragramas37 de NO/
ano, em 1890, para aproximadamente 74 Teragramas de NO/ano, em 1990 (LAMARQUE et al, 2005).
Esse aumento é oriundo, principalmente, das emissões antrópicas diretas, como, por exemplo, in-
dústrias metalúrgicas e têxteis, além das emissões originadas do uso de fertilizantes no solo e da
queima de biomassa.

Tome nota
As emissões de NO do solo levaram em consideração o uso crescente de fertilizantes.
Com relação às emissões de aviões, considerou-se que no período entre 1890 e 1930
elas eram zero; em 1940 equivaliam a 10% das emissões de 1990; e a partir de 1950
atribuiu-se um percentual de aumento dessas emissões de 20% ao ano, até 1990.

O estudo demonstrou, através da modelagem usando esses dados, que houve um aumento de
30% nas concentrações de ozônio presentes na troposfera no período compreendido entre 1890 e
1990, ou seja, entre o fim do século 19 e o fim do século 20. Portanto, é possível calcular um inventá-
rio referente a um período anterior ao atual, reconstituindo as emissões para o período de interesse.

37 Teragrama (Tg) = 1.000.000 de toneladas


35
Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIOTTI, Paula. Método para aprimorar a estimativa de emissões veiculares em áreas urbanas através de
modelagem híbrida em redes, 2010. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/publicacoes/319_Paula%20
Ariotti.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2021.

CETESB. Relatório de Qualidade do Ar de São Paulo – 2019. Publicado em 2020. Disponível em https://cetesb.
sp.gov.br/ar/publicacoes-relatorios/. Acesso em: 15 jul. 2021.

FEST - FUNDAÇÃO ESPÍRITO SANTENSE DE TECNOLOGIA. Avaliação Técnica da Metodologia e dos Resultados
Apresentados pela Empresa Ecosoft (rtc190018) para Atualização do Inventário de Emissões Atmosféricas da
Região da Grande Vitória Ano Base – 2015. Publicado em 2019. Disponível em: https://iema.es.gov.br/Media/
iema/CQAI/INVENTÁRIO/UFES_Análise%20técnica%20FEST%20Inventário%20de%20Emissões%20RGV%20
2015%20versão%20final.pdf. Acesso em: 15 jul. 2021.

IEMA. Inventário de Emissões Atmosféricas da Região da Grande Vitória, 2011. Publicado em 2012. Disponível
em: https://iema.es.gov.br/Media/iema/CQAI/Documentos/Inventario_2010.zip. Acesso em: 15 jul. 2021.

IEMA. Inventário de Emissões Atmosféricas da Região da Grande Vitória Ano Base – 2015. Publicado em 2019.
Disponível em: https://iema.es.gov.br/qualidadedoar/inventariodefontes/2015. Acesso em: 15 jul. 2021.

LAMARQUE, J.F.; HESS, P. E; EMMONS, L. Tropospheric ozone evolution between 1890 and 1990. Journal of
Geophysical Research, Vol. 110, D08304, 2005

OLIVEIRA, Vinicius de. A qualidade do ar na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: a saúde pública como
elo central de articulação e suas implicações na gestão integrada saúde e ambiente. Rio de Janeiro: s.n., 2008.
Disponível em: <https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4340/2/ve_Vinicius_Oliveira_ENSP_2008.pdf>.

PETROBRAS. Relatório de Sustentabilidade, 2020. Disponível em: https://sustentabilidade.petrobras.com.br/


src/assets/pdf/Relatorio-Sustentabilidade.pdf. Acesso em: 15 mar. 2021.

SANTOS, Fábio Soares dos. Diagnóstico das emissões atmosféricas em Minas Gerais: um estudo para as
fontes fixas e veiculares. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia.
Belo Horizonte, 2018.

US EPA. AP-42 - Compilation of Air Pollutant Emissions Factors, 2018. Disponível em: https://www.epa.gov/air-
emissions-factors-and-quantification/ap-42-compilation-air-emissions-factors. Acesso em: 10 jan. 2021.

36
MÓDULO IV – INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

AULA 17
PLANO DE CONTROLE DE EMISSÕES ATMOSFÉRICAS 

37
Gestão da Qualidade do ar

17.1 CONCEITO E OBJETIVO

O Plano de Controle de Emissões Atmosféricas é um documento propositivo, com políticas,


diretrizes, ações e instrumentos destinados à orientação da seleção das medidas de controle e
mitigação mais eficazes, de acordo com o cenário real da poluição do ar, que tem como objetivo
a melhoria da gestão da qualidade do ar.

Legislação
De acordo com o inciso VI do artigo 2º da Resolução Conama nº 491/2018, o Plano
de Controle de Emissões Atmosféricas é o documento contendo a abrangência
geográfica e regiões a serem priorizadas; a identificação das principais fontes de
emissão e respectivos poluentes atmosféricos; as diretrizes e ações, com respectivos
objetivos, metas e prazos de implementação, visando o controle da poluição do ar
no território estadual ou distrital, observando os Padrões de Qualidade definidos e as
estratégias estabelecidas no Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar –
Pronar.

Conforme a Resolução Conama nº 491/2018, art. 5º, os órgãos ambientais estaduais e


distrital deverão elaborar, em até 3 anos (dezembro/2021), a partir da entrada em vigor
da resolução, um Plano de Controle de Emissões Atmosféricas.

17.2 CONTEÚDO MÍNIMO

O parágrafo 2º do artigo 5º da Resolução Conama nº 491/2018 determina que o


Plano de Controle de Emissões Atmosféricas deve conter, no mínimo:

Informações quanto à abrangência geográfica e regiões a serem priorizadas - Deve


ser informada a região de abrangência do plano e as áreas prioritárias de atuação,
com base nas informações e dados disponíveis nas Unidades Federativas.

Identificação das principais fontes de emissão e respectivos poluentes


atmosféricos - O Plano de Controle de Emissões Atmosféricas busca identificar
as fontes de emissões atmosféricas que possam impactar negativamente o meio
ambiente e a saúde da população e atuar sobre elas, selecionando as medidas
de controle e mitigação mais eficazes. Ele deve abranger tanto as fontes móveis
(veículos) quanto as emissões de fontes fixas ou estacionárias.

Diretrizes e ações, com respectivos objetivos, metas e prazos de implementação - A


elaboração de um plano de controle de emissões atmosféricas requer a definição de
diretrizes e ações, com seus respectivos objetivos, metas e prazos de implementação
a serem aplicados visando à melhoria da qualidade do ar e ao atendimento dos
padrões de qualidade do ar estabelecidos.

38
Gestão da Qualidade do ar

17.3 ESTRUTURA BÁSICA DE PLANO DE CONTROLE


DE EMISSÕES ATMOSFÉRICAS

Para o desenvolvimento do Plano de Controle de Emissões Atmosféricas apresenta-


se na sequência uma proposta de estrutura, dividida em 3 etapas, e os conteúdos
recomendados que deverão ser detalhados pelos elaboradores. O fluxograma básico
de elaboração do plano, apresentado na figura 68, demonstra as 3 etapas propostas
e seus conteúdos, sendo: Etapa 1: Diagnóstico; Etapa 2: Ações de Redução; e Etapa 3:
Verificação.

Figura 68: Fluxograma básico de elaboração do Plano de Controle de Emissões Atmosféricas

Diagnóstico
• Definição da área de abrangência;
• Identificação de fontes prioritárias.
• Identificação de áreas prioritárias;
• Identificação de poluentes prioritários.

Ações de Redução
• Definição das ações de redução;
• Estabelecimento de metas de redução,
• Estabelecimento de estratégia de
aplicação do plano.

Verificação
• Monitoramento da qualidade do ar,
• Inventários de emissão;
• Relatórios periódicos;
• Revisão do Plano de Controle.

Fonte: Elaboração MMA

17.3.1 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DE


QUALIDADE DO AR

É necessário conhecer a realidade local com a identificação das fontes de emissão


que contribuem para a poluição, com o mapeamento das áreas mais impactadas, com a
identificação dos poluentes mais importantes, assim como a identificação das condições
meteorológicas locais, para embasar a construção do plano de controle de emissões.
Essas informações possibilitarão a elaboração de um documento propositivo, com
políticas, diretrizes, ações e instrumentos destinados à melhoria da gestão da qualidade
do ar, orientando a escolha das medidas de controle e mitigação mais eficazes, de acordo
com o cenário real. Para tanto, é necessário proceder a:

39
Gestão da Qualidade do ar

Definição da abrangência geográfica


Deve ser informada a região de abrangência do plano, com base nas informações e dados dispo-
níveis nas Unidades Federativas.

Identificação das regiões prioritárias


O impacto da poluição depende de o quanto é emitido; quão prejudicial são os poluentes emitidos;
e como esses interagem com outras substâncias no ar. Também depende do local de emissão e de
quão sensível é a população ou o ambiente exposto. O risco é maior para indivíduos vulneráveis e
habitats sensíveis (DEFRA, 2018).

As emissões contribuem para as concentrações locais de poluentes, que ocorrem quando esses
se acumulam em quantidades significativas em locais específicos como, por exemplo, perto de
estradas movimentadas, instalações industriais ou grandes operações agrícolas intensivas. A ex-
posição a altas concentrações de poluentes resulta diretamente em impactos adversos, que são
cumulativos, sendo necessário focar esforços na redução da exposição (DEFRA, 2018).

Com isso, num cenário de altas concentrações de poluentes em diferentes localidades, a defini-
ção das áreas prioritárias para ação deve levar em conta a maior densidade populacional e a exis-
tência de pessoas mais vulneráveis, tais como quando há hospitais ou escolas nos arredores dessas
localidades.

Para a identificação de áreas prioritárias podem ser utilizadas as seguintes ferramentas: Inventário
de fontes; Monitoramento da qualidade do ar; e Modelagem da dispersão atmosférica.

Identificação das principais fontes de emissão e respectivos poluentes atmosféricos


O Plano de Controle de Emissões Atmosféricas deve abranger tanto as fontes móveis quanto as
emissões de fontes fixas ou estacionárias. Como não é possível medir as emissões de todos os
exemplos individuais dessas fontes ou, a curto prazo, de todos os diferentes tipos de fontes, na
prática as emissões atmosféricas são estimadas com base em medições feitas em amostras sele-
cionadas ou representativas das principais fontes e tipos de fontes.

São várias as ferramentas disponíveis para a identificação de fontes prioritárias, tais como: Inventá-
rio de emissões atmosféricas; Modelagem da dispersão de poluentes; Mapeamento local; e Levan-
tamento de dados indiretos.

Identificação dos poluentes atmosféricos prioritários


Os principais poluentes componentes dos inventários de emissão são os utilizados como indica-
dores da qualidade do ar definidos na Resolução Conama nº 491/2018: monóxido de carbono (CO),
dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3) e materiais particulados (MP10 e
MP2,5). Além disso, os Compostos Orgânicos Voláteis (COV) devem ser incluídos no inventário por ser
um dos poluentes precursores para a formação de Ozônio.

Devem ser priorizados para adoção de medidas de controle os poluentes que excedam ou mais
se aproximam da concentração estabelecida no respectivo padrão de qualidade do ar para cada
área prioritária. Essa definição deve levar em conta também a origem geográfica do poluente - se é
local ou não local; o setor responsável pela poluição - por exemplo, veicular ou industrial; o subsetor
responsável, como o tipo de veículo ou o tipo de indústria; e a atividade que gerou a emissão, como
desgaste dos pneus em superfície de estradas, emissões de escape etc.

Esta investigação pode auxiliar no direcionamento de ações para que os resultados gerados sejam
mais efetivos.

40
Gestão da Qualidade do ar

Para a identificação de poluentes prioritários podem ser utilizadas as seguintes ferramentas: In-
ventário de fontes; Monitoramento e a Modelagem da dispersão atmosférica.

17.3.2 DIRETRIZES E AÇÕES DE CONTROLE DE


EMISSÕES ATMOSFÉRICAS

A) Definição das diretrizes e ações de redução


Visando maior eficiência nas ações de controle, deve-se buscar agir prioritariamente nas
principais fontes emissoras e locais com maior concentração de poluentes identificados
previamente. Desta forma, podem ser inseridas ações e metas de redução nos planos
de ação, como por exemplo, nas seguintes categorias:
Fontes industriais prioritárias;

Obras civis;

Frota veicular;

Queimadas; e

Áreas não degradadas.

Nenhuma estratégia mudará a situação de forma imediata. Frequentemente, uma


introdução em fases é aconselhável. Isso pode ser feito por meio da implementação
passo a passo da estratégia completa ou a introdução inicial da estratégia completa
em uma determinada área e replicá-la em outras áreas, com base nas experiências
de implementação na primeira área. A estratégia deve ser bem programada e ter um
cronograma claro para as diferentes fases de implementação (UNEP, 2005).

I - Fontes industriais prioritárias


Fontes estacionárias ou fixas de emissões atmosféricas são aquelas que lançam
poluentes na atmosfera por um ponto específico, fixo, como uma chaminé ou duto de
processo, por exemplo. As fontes fixas em geral fazem parte do inventário de fontes dos
processos produtivos industriais e dos processos de geração de energia, como é o caso
das termelétricas.

Devem ser incluídos meios para serem verificadas as quantidades de poluentes


emitidos pelas fontes fixas poluidoras, podendo o Estado desenvolver ações claras e
objetivas para a redução da quantidade de poluentes emitidos.

O controle das fontes fixas pode ser feito por meio de medidas que promovam a
redução dos poluentes em suas fontes: uso de matérias-primas e insumos com menor
impacto ambiental, uso de tecnologias de produção mais limpas (reúso, reutilização
e reciclagem), melhoria na eficiência dos processos industriais, mudanças na matriz
energética (uso de combustíveis mais limpos) e adoção de sistemas de tratamento das
emissões antes do seu lançamento à atmosfera (MMA, 2009).

A implementação de medidas de controle para fontes fixas pode ser feita por meio
de Termo de Compromissos Ambientais (TCA), Termo de Ajuste de Conduta (TAC), na
renovação da licença ambiental ou em atualização das condicionantes ambientais.
41
Gestão da Qualidade do ar

Além disso, a implementação de controle nas fontes fixas visando a minimizar as


emissões de poluentes atmosféricos deve ser focada na adoção das melhores práticas
e tecnologias disponíveis (Best Available Techniques – BAT).

Importante
Para a adoção das melhores práticas e tecnologias disponíveis, podem ser utilizadas
as seguintes referências: Documento Referência da Comissão Europeia das Melhores
Técnicas Disponíveis³⁸ (Best Available Techniques – BAT Reference Document); Guia
de Melhor Tecnologia Disponível39 (Cetesb).

II - Obras civis
Obras civis podem contribuir com emissões relevantes para o ar, sendo desejável o
estabelecimento de ações e normas que visem aumentar o controle dessas emissões,
principalmente se essas ocorrerem em centros urbanos, onde há grande circulação de pessoas.

A produção de um edifício envolve uma grande variedade de atividades que são potenciais
fontes de emissão de poluentes, especialmente o material particulado: demolições;
movimentação de terra; serviços preliminares; e serviços de construção. Dentro desses grupos
há conjuntos de atividades que são comuns a todos eles e que possuem características
particulares de emissão: transporte, armazenagem; remoção de materiais e resíduos; veículos e
equipamentos de produção e transporte (REZENDE e CARDOSO, 2008).

O MP pode ser constituído por diversas matérias-primas e de diferentes granulometrias, tais


como: areia, cimento, cal, gesso, argamassas, madeira, cerâmica, granito, entre outras, que
são lançadas durante o desenvolvimento das mais variadas atividades dentro do canteiro,
tais como: fabricação de argamassa, jateamento de argamassa, corte de madeira, cerâmica
e granito, aplicação de gesso, varrição a seco, lixamento de superfícies, escavações e outras
atividades, as quais são geradoras de diversos tipos de poeiras que se propagam na vizinhança
da construção (LIPFERT, 1994; SEINFELD e PANDIS, 2006 apud SANTOS, 2018).

Entre as ações preventivas e de controle, pode-se citar a diminuição do volume de escavação


nas obras. Em vez de construir subsolos para garagem, pode-se projetar edifícios com
estacionamento localizado acima do nível do solo, por exemplo. Isso evita a necessidade de
movimentação de terra e a dispersão de poeira no ar. Além disso, a lavagem dos pneus dos
caminhões na saída da obra, evitando que lama e terra sejam espalhadas pela rua e, ao secar,
circulem na atmosfera. Outra medida é proteger os locais de armazenamento de materiais
e resíduos em pó, evitando que sejam carregados pelas chuvas ou espalhados pelo vento.
Executar serviços de demolição com barreiras físicas, tais como redes de proteção; isolando o
local; ou aspergindo água de reúso também são providências que evitam a dispersão de poeira
na atmosfera40.

A implementação de medidas de controle para fontes de emissão em obras civis pode ser
definida por meio de normas de referência definidas autorizadas pelos órgãos de controle.
Além disso, essas normas devem ser focadas na adoção das melhores práticas e tecnologias
disponíveis (Best Available Techniques – BAT).

38 Cf. European Integrated Pollution Prevention and Control Bureau (EIPPCB) - https://eippcb.jrc.ec.europa.eu/reference
39 Cf. Cetesb - https://cetesb.sp.gov.br/ar/plano-de-reducao-de-emissao-de-fontes-estacionarias-prefe/guia-de-
melhor-tecnologia-pratica-disponivel/
40 Poluição na construção civil pode ser evitada com medidas de baixo custo. Disponível em: https://governo-sp.
jusbrasil.com.br/noticias/155929/poluicao-na-construcao-civil-pode-ser-evitada-com-medidas-de-baixo-custo
Acesso em 16 de abril de 2021.
42
Gestão da Qualidade do ar

Importante
Para a adoção das melhores práticas e tecnologias disponíveis aplicadas a obras
civis públicas e privadas, podem ser utilizadas as seguintes referências: Melhores
tecnologias disponíveis aplicadas a obras civis públicas e privadas; Best Practices for
the Reduction of Air Emissions From Construction and Demolition Activities (Cheminfo/
Environment- Canada41); The control of dust and emissions from construction and
demolition - Best Practice Guidance (Greater London Authority42).

III - Frota veicular


Existem várias estratégias disponíveis para reduzir as emissões provenientes de fontes
móveis, que vão desde a aplicação de novas tecnologias a iniciativas operacionais e
técnicas. Essas estratégias podem ser implementadas isoladamente ou em conjunto
para melhorar a qualidade do ar.

As estratégias tecnológicas podem incluir a modernização dos motores existentes com


equipamentos de controle de emissões mais modernos, a renovação da frota veicular,
o uso de combustíveis mais limpos e adoção de motores e equipamentos com maior
eficiência energética.

Ações que visam promover o incentivo ao desenvolvimento tecnológico dos fabricantes


automotivos na adequação a combustíveis mais limpos e a redução de emissões são
discutidas e regulamentadas no âmbito do Programa de Controle de Poluição do Ar por
Veículos Automotores (PROCONVE) e do Programa de Controle da Poluição do Ar por
Motociclos e Veículos Similares (PROMOT).

O Proconve tem como principal meta a redução da contaminação atmosférica das


fontes móveis, tais como veículos automotores, por meio da fixação dos limites máximos
de emissão, induzindo o desenvolvimento tecnológico dos fabricantes e estabelecendo
exigências tecnológicas para veículos cuja comprovação é feita a partir de ensaios
padronizados. A certificação de protótipo/projeto e o acompanhamento estatístico em
veículos de produção também fazem parte da estratégia de controle (Ibama, 2011).

Já as estratégias operacionais envolvem o estabelecimento de programas antimarcha


lenta, esforços de mitigação de congestionamentos e alterações no trânsito, como a
redução de velocidade.

Para a adoção das melhores práticas e tecnologias disponíveis aplicadas às frotas


veiculares podem ser implementados vários programas e projetos que visem a redução
de emissão veicular, como: programas de renovação de frota para o transporte coletivo
e particular; implantação de Bus Rapid Transit (BRT); destinação de áreas de trânsito
veicular não permitido; incentivos à utilização de carros elétricos; e limpeza das ruas.

4 1 Best Practices for the Reduction of Air Emissions From Construction and Demolition Activities. Cheminfo/Environment
Canada. Disponível em: http://www.bv.transports.gouv.qc.ca/mono/1173259.pdf. Acesso em: 16 abr 2021.
The control of dust and emissions from construction and demolition - Best Practice Guidance. Greater
4 2 London Authority. Disponível em: https://www.rbkc.gov.uk/idoxWAM/doc/Other-1543502.pdf?extension=.
pdf&id=1543502&location=Volume2&contentType=application/pdf&pageCount=1
43
Gestão da Qualidade do ar

IV - Queimadas e incêndios florestais


Outra importante fonte de poluição atmosférica são as atividades agrossilvopastoris, que
lançam para a atmosfera diversos tipos de poluentes associados a queimadas e incêndios
florestais; e associados à movimentação do solo e à pulverização de fertilizantes e agrotóxicos.
Dentre essas fontes, as queimadas destacam-se como uma prática a ser prevenida e controlada,
dada a sua recorrência e ampla utilização no manejo e limpeza do solo nas propriedades
agrícolas (MMA, 2009).

Além disso, as queimas feitas a céu aberto podem influenciar a qualidade do ar das cidades
devido à emissão de partículas e gases tóxicos, sendo desejável a definição de ações para coibir
esse tipo de prática. Ressalta-se que a legislação vigente no Brasil determina que são proibidas,
dentre outras formas de destinação final, a queima a céu aberto ou em recipientes, instalações
e equipamentos não licenciados para essa finalidade, de resíduos sólidos ou rejeitos. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) abre uma exceção na situação em que for decretada, por
exemplo, uma emergência sanitária, onde há uma possibilidade de realização dessa queima
de resíduos a céu aberto, desde que autorizada e acompanhada pelos órgãos competentes
do Sisnama, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e, quando couber, do Sistema
Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária (Suasa).

Para a adoção das melhores práticas e tecnologias disponíveis aplicadas a queimadas e


incêndios florestais podem ser utilizados programas e projetos de sucesso na área como o
Prevfogo, do Ibama, e outros programas de restrição de queimadas de cana-de-açúcar ou
outros produtos.
V - Áreas não degradadas
Áreas não degradadas podem ser definidas como aquelas em que há baixo ou nenhum impacto
de poluição causada por ações antrópicas. Nessas áreas é importante manter as condições mais
próximas ao natural. Para a identificação das áreas não degradadas é importante a elaboração
e utilização da ferramenta sobre definição de bacia aérea.

O licenciamento de novos empreendimentos em locais os quais a bacia aérea é definida e o


nível de poluição é conhecida deve ser feito em conjunto e novos empreendimentos devem
respeitar os valores verificados pela rede de monitoramento, mesmo que estes estejam abaixo
da legislação vigente, para não permitir a degradação da qualidade do ar da área.b0

B) Estabelecimento de metas de redução


As metas de redução devem ser estabelecidas buscando reduzir as emissões de poluentes
atmosféricos, bem como as concentrações desses poluentes na região de abrangência do
plano, considerando-se as condições identificadas na fase de diagnóstico e os padrões de
qualidade do ar como referencial.

C) Estabelecimento de estratégia de aplicação do plano


No plano deve ser definida estratégia para sua execução, considerando todos os fatores
prioritários levantados e buscando obter a melhor relação entre ações e ganhos ambientais.
A definição da estratégia é importante devido à dificuldade em agir sobre todas as fontes e
poluentes simultaneamente.

17.3.3 VERIFICAÇÃO

O monitoramento da qualidade do ar, os inventários de emissões, os relatórios periódicos de


acompanhamento do plano e a revisão do Plano de Controle são instrumentos que permitem o
diagnóstico e avaliação prospectiva da qualidade do ar. As informações obtidas a partir desses
instrumentos fornecem subsídios essenciais ao agente público e à sociedade em geral para:
44
Gestão da Qualidade do ar

Definir prioridades e ações de controle das fontes emissoras e avaliar a necessidade do


aperfeiçoamento das ações.

Utilizar instrumentos de controle preventivo das fontes de poluição, podendo-se citar


como exemplos o zoneamento e o licenciamento ambiental, por meio dos quais o poder
público pode evitar a instalação de fontes de poluição específicas em determinado local,
bem como definir as medidas de controle (como a aplicação de limites de emissão e a
exigência da melhor tecnologia disponível) para cada fonte poluidora.

Monitoramento da qualidade do ar
O monitoramento contínuo da qualidade do ar possibilita o levantamento de informações
sobre a concentração de poluentes no território, sendo assim possível verificar se as ações
previstas nos planos estão sendo efetivas e se há necessidade de ajustes em sua execução. Os
dados obtidos no monitoramento devem ser transformados em relatórios e indicadores para
avaliação da evolução da qualidade do ar local.

Inventários de Emissão
Os inventários de emissão são instrumentos estratégicos de gestão ambiental que estimam
as emissões por fontes de poluição especificadas, numa dada área geográfica e em um
dado período de tempo, permitindo, assim, orientar medidas mais eficientes de intervenção.
A elaboração desses instrumentos é ponto de partida para o sucesso da implantação ou
reorientação de quaisquer programas voltados ao melhoramento da qualidade do ar, uma vez
que se presta a identificar e hierarquizar as diferentes fontes contribuintes e as emissões totais;
identificar os principais poluentes emitidos em uma área de interesse; avaliar os efeitos das
medidas de controle sobre as taxas de emissão; estimar, com auxílio de modelagem, os efeitos
das emissões atmosféricas na qualidade do ar; identificar medidas potenciais de redução; e
determinar tendências de emissões futuras.

Relatórios de Acompanhamento do Plano


A execução do plano deve ser avaliada continuamente, por meio de relatório. O relatório
de acompanhamento do Plano de Controle de Emissões Atmosféricas, indicando eventuais
necessidades de reavaliação, deverá ser encaminhado, a cada 3 anos, pelos órgãos ambientais
estaduais e distrital ao Ministério do Meio Ambiente. Este documento deverá conter, minimamente,
os dados de monitoramento, a evolução da qualidade do ar e o resumo executivo.

Revisão do Plano de Controle


Com base nas informações obtidas nos inventários e no monitoramento, o plano de controle
deverá ser periodicamente revisto pelo órgão responsável, com base nos seguintes critérios:

Comparação entre os resultados esperados e aqueles obtidos, especialmente no que


se refere às emissões inicialmente previstas e aquelas efetivamente obtidas por meio da
implementação do Plano;

Avaliação de novas alternativas de controle de poluição;

Projeções referentes à evolução das fontes e suas emissões; e

Levantamento de novas ações de gestão e controle de emissão de poluentes.

45
Gestão da Qualidade do ar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Compromisso pela Qualidade do Ar e Saúde Ambiental, Brasília, 2009.
Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/images/arquivo/80060/Compromisso%20pela%20Qualidade%20
do%20Ar%20e%20Saude%20Ambiental.pdf Acesso em 28 maio 2021

DEFRA, Department of Environment, Food and Rural Affairs. Clean Air Strategy – 2018. Londres, Inglaterra, 2018.
Disponível em: https://consult.defra.gov.uk/environmental-quality/clean-air-strategy-consultation/supporting_
documents/Clean%20Air%20Strategy%202018%20Consultation.pdf. Acesso em 28 maio 2021.

IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Programa de controle
da poluição do ar por veículos automotores - Proconve/Promot/Ibama, 3 ed. — Brasília: Ibama/Diqua, 2011.
Disponível em: http://ibama.gov.br/phocadownload/veiculosautomotores/manual%20proconve%20promot_
portugues.pdf. Acesso em 28 maio 2021.

RESENDE, F., CARDOSO, F. F. Poluição atmosférica por emissão de material particulado: avaliação e controle nos
canteiros de obras de edifícios. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de
Construção Civil. São Paulo – SP, 2008.

SANTOS, I, M. Exposição a material particulado em um canteiro de obra da construção civil e sua associação com
marcadores inflamatórios sanguíneos. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Ambiental, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2018.

UNEP, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Urban Air Quality Management Toolbook, 2005.
Disponível em: https://wedocs.unep.org/bitstream/handle/20.500.11822/8728/Urban_quality_management_
toolbook.pdf?sequence=3&amp%3BisAllowed= Acesso em 28 maio 2021

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MÓDULO IV – INSTRUMENTOS PARA A GESTÃO DA QUALIDADE DO AR

AULA 18
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AR

47
Gestão da Qualidade do ar

18.1 RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AR -


CONCEITO E OBJETIVO

O Relatório de Avaliação da Qualidade do Ar é um documento que apresenta um diagnóstico


amplo e um acompanhamento da evolução da qualidade do ar na região de estudo, onde está
implantada a rede de monitoramento da qualidade do ar.

Os dados gerados e validados durante o ano (janeiro a dezembro) devem ser


consolidados nesse relatório, que deve incluir também:

• Comparações com os limites legais;

• Desconformidades;

• Evolução do comportamento dos poluentes;

• Análise sinótica dos fatores de Mesoescala;

• Análise detalhada dos fatores de Microescala;

• Tendências históricas dos indicadores de qualidade do ar; e

• Descrição da rede de monitoramento, dentre outros.

Um Relatório Anual de Avaliação da Qualidade do Ar desempenha um papel fundamental


para o balizamento e a adoção de ações de controle de políticas públicas visando a melhoria
do meio ambiente, identificando vulnerabilidades e áreas prioritárias de atuação.

Os relatórios anuais de avaliação da qualidade do ar devem possuir um resumo executivo, onde


devem ser contemplados os principais resultados do relatório, em linguagem compreensível,
possibilitando acesso fácil às informações mais relevantes.

18.2 RESOLUÇÃO CONAMA N° 491/2018

A Resolução Conama n° 491/2018 estabelece, no seu art. 6º, a obrigatoriedade aos órgãos
ambientais estaduais e distrital de elaborarem relatórios de qualidade do ar.

Legislação
Art. 6º Os órgãos ambientais estaduais e distrital elaborarão o Relatório de
Avaliação da Qualidade do Ar anualmente, garantindo sua publicidade.

Parágrafo único. O relatório de que trata o caput deve conter os dados de


monitoramento e a evolução da qualidade do ar, conforme conteúdo mínimo
estabelecido no Anexo II, e resumo executivo, de forma objetiva e didática, com
informações redigidas em linguagem acessível.

48
Gestão da Qualidade do ar

Os referidos relatórios devem conter os dados de monitoramento e a evolução da qualidade


do ar, sendo definido no Anexo II da resolução o conteúdo mínimo a ser atendido.

18.2.1 CONTEÚDO MÍNIMO DOS RELATÓRIOS DE


QUALIDADE DO AR

1. Descrição das características da região do Estado ou do Distrito Federal (o que couber):

Condições meteorológicas;

Uso e ocupação do solo;

Outras características consideradas relevantes.

2. Descrição da rede de monitoramento

3. Poluentes atmosféricos monitorados

4. Redes de monitoramento

Rede automática

Rede manual

6. Metodologia de monitoramento

7. Metodologia de tratamento dos dados

8. Representatividade de dados

Rede automática

Rede manual

9. Representatividade espacial das estações

10. Descrição das fontes de poluição do ar

11. Considerações gerais sobre estimativas de emissão de fontes móveis e fontes estacionárias

12. Apresentação dos resultados quanto aos poluentes

13. Medidas de gestão implementadas

14. Referências legais e bibliográficas.

49
Gestão da Qualidade do ar

Alguns pontos importantes que devem ser inseridos nos relatórios de Avaliação
da Qualidade do Ar estão relacionados abaixo:

• Apresentação dos valores médios mensais por parâmetro;

• Apresentação dos valores máximos medidos e as ultrapassagens do padrão


por parâmetro, relacionados com a direção e velocidade do vento;

• Descrição e localização das estações integrantes da rede de monitoramento;

• Apresentação do Índice de Qualidade do Ar (IQAr);

• Apresentação do índice de ventilação anual;

• Apresentação da distribuição de frequência para cada parâmetro;

• Identificação e apresentação das inversões térmicas.

Todos esses dados devem ser apresentados de forma gráfica com uma descrição técnica
para cada item.

18.3 PANORAMA NACIONAL SOBRE A ELABORAÇÃO E PUBLICAÇÃO


DOS RELATÓRIOS DE MONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR

Dentre as Unidades Federativas que realizam monitoramento da qualidade do ar, somente


seis estados (SP, RJ, ES, DF, RS e GO) elaboraram relatórios recentes. Os estados do Paraná e de
Minas Gerais elaboraram relatórios de qualidade do ar da Região Metropolitana de Curitiba e da
Região Metropolitana de Belo Horizonte, nos anos de 2001 e 2013, respectivamente. Não foram
localizados relatórios dos demais estados que realizam o monitoramento (BA, CE, MS e PE).

De acordo com os dados apresentados nas análises realizadas nos Relatórios de Qualidade do
Ar dos Estados de SP, RJ, ES, DF, RS e GO, constatou-se uma tendência de melhoria da qualidade
do ar, assim como a presença de alguns problemas localizados em regiões industrializadas e,
especificamente em relação ao ozônio, nas zonas urbanas.

Dentre os problemas identificados, destacam-se:


• as redes de monitoramento estaduais são heterogêneas: algumas monitoram somente
poucos poluentes enquanto outras monitoram todos aqueles elencados na Resolução
Conama nº 491/2018 ou até mais poluentes, como os compostos orgânicos voláteis e
metais;

• o conjunto de informações levantadas não permite avaliar se todas as redes de


monitoramento geram dados suficientes para um diagnóstico adequado sobre a
qualidade do ar local;

• o quadro de descontinuidade da operação, a baixa cobertura, as falhas nas redes de


monitoramento e a ausência de monitoramento de todos os poluentes regulados revelam
a existência de problemas estruturais em várias das redes de monitoramento estaduais.

50
Gestão da Qualidade do ar

Os relatórios avaliados demonstram que o monitoramento no Brasil ainda é incipiente, pois


somente seis estados divulgam relatórios de qualidade do ar atualizados, sendo que cada um
disponibiliza seus dados em formato próprio, sem nenhuma padronização, o que dificulta a
avaliação e comparação entre os resultados.

Apesar de uma tendência de melhora observada na qualidade do ar nas regiões consideradas,


as informações levantadas demonstram a necessidade de aprimoramento na gestão da
qualidade do ar em todos os níveis federativos, de modo a alcançar concentrações de poluentes
que causem menos risco à saúde da população.

18.4 MODELOS DE RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO DA


QUALIDADE DO AR

A seguir são apresentados os tópicos que foram desenvolvidos pela Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (Cetesb) quando da elaboração do relatório de avaliação da Qualidade do
ar no Estado de São Paulo – 2020, e pela Empresa de Proteção Ambiental do Polo Petroquímico
de Camaçari (Cetrel) ao elaborar o relatório da Rede de Monitoramento do Polo Petroquímico de
Camaçari. Foram escolhidas essas duas redes de monitoramento como exemplos em função
de uma ter sido implantada na década de 70 (Cetesb) e a outra na década de 90 (Cetrel) e
ambas contarem com elaboração de relatórios anuais de consolidação dos dados gerados.

18.4.1 MODELO DA CETESB


Ao observar o Relatório da Qualidade do Ar do estado de São Paulo – Ano 2020, constata-
se que a Cetesb desenvolveu os seguintes tópicos para consolidar os dados gerados pela sua
rede:
Resumo Executivo
VISÃO GERAL DO ESTADO
Condições Meteorológicas
Poluentes Atmosféricos

a) Material Particulado
• Partículas Inaláveis
• Partículas Inaláveis Finas
• Fumaça
• Partículas Totais em Suspensão
b) Gases
• Ozônio
• Dióxido de Nitrogênio
• Monóxido de Carbono
• Dióxido de Enxofre
Considerações Gerais
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
Cubatão
Polo Cerâmico de Santa Gertrudes

51
Gestão da Qualidade do ar

1 • Introdução
2 • Parâmetros, Padrões e Índices
2.1 Parâmetros de Qualidade do Ar
2.2 Padrões de Qualidade do Ar
2.3 Índice de Qualidade do Ar
3 • Redes de Monitoramento
3.1 Tipos de Rede e Parâmetros Monitorados
3.1.1 Rede Automática
3.1.2 Rede Manual
3.1.3 Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar no Estado de São Paul
3.2 Metodologia de Monitoramento
3.3 Metodologia de Tratamento dos Dados
3.3.1 Representatividade de Dados
3.3.1.1 Rede Automática
3.3.1.2 Rede Manual
3.3.2 Representatividade espacial das estações
3.3.3 Observações sobre o monitoramento
4 • Fontes de Poluição do Ar no Estado de São Paulo
4.1 Considerações gerais sobre estimativas de emissão de fontes móveis e
fontes estacionárias
4.2 Fontes de Poluição do Ar no Estado de São Paulo
4.3 Fontes de Poluição do Ar na RMSP
5 • Qualidade do ar no Estado de São Paulo
5.1 Aspectos Gerais da Meteorologia no Estado de São Paulo
5.1.1 Aspectos Climáticos no Estado de São Paulo
5.1.2 Aspectos Meteorológicos no Estado de São Paulo em 2020
5.1.3 Aspectos Meteorológicos na poluição do ar no Estado de São Paulo
5.1.3.1 Condições Meteorológicas para Dispersão de Poluentes - 2020
5.1.3.2 Condições Meteorológicas para Formação de Ozônio - 2020
5.2 Resultados do Monitoramento da Qualidade do Ar
5.2.1 Resultados – Material Particulado
5.2.1.1 Partículas Inaláveis - MP10
5.2.1.2 Partículas Inaláveis Finas – MP2,5
5.2.1.3 Fumaça - FMC
5.2.1.4 Partículas Totais em Suspensão - PTS
5.2.2 Resultados – Ozônio – O3
5.2.3 Resultados – Dióxido de Nitrogênio – NO2
5.2.4 Resultados – Monóxido de Carbono – CO
5.2.5 Resultados – Dióxido de Enxofre – SO2
5.2.6 Outros Poluentes
5.2.6.1 Enxofre Reduzido Total - ERT
5.2.6.2 Aldeídos
5.2.6.3 Benzeno e Tolueno
5.2.7 Estudos Especiais
5.2.7.1 Estudos do Compostos Orgânicos Voláteis (COV) na atmosfera do
município de Paulínia-SP
5.2.7.2 Evolução das concentrações de Carbono Orgânico e Carbono Elementar
no MP2,5 na atmosfera de São Paulo (Cerqueira César)

52
Gestão da Qualidade do ar

6 • Medidas de Gestão das Fontes de Poluição Atmosférica


6.1 Fontes Estacionárias
6.2 Fontes Móveis

Referências
O relatório de Avaliação da Qualidade do Ar de São Paulo é disponibilizado
na internet por meio do link: https://cetesb.sp.gov.br/ar/wp-content/uploads/
sites/28/2021/05/Relatorio-de-Qualidade-do-Ar-no-Estado-de-Sao-Paulo-2020.pdf

18.4.2 MODELO DO POLO PETROQUÍMICO DE


CAMAÇARI / CETREL

Quanto ao Relatório de Avaliação da Qualidade do Ar da Rede de monitoramento da Polo


Petroquímico de Camaçari, elaborado pela Cetrel, observa-se o desenvolvimento dos seguintes
tópicos:

1. Sumário Executivo
1.1. Meteorologia e dispersão dos poluentes atmosféricos

2. Introdução

3. Padrões de Circulação Atmosférica Regional


3.1. O papel das condições meteorológicas
3.2. Caracterização do Relevo
3.3. Caracterização Climática
3.4. Fatores de Controle de Grande Escala
3.5. Fatores de Controle de Mesoescala
3.6. Fatores de Controle de Microescala

4. Análise Meteorológica de Microescala (por estações)


4.1. Pressão
4.2. Temperatura
4.3. Umidade Relativa
4.4. Radiação Solar
4.5. Precipitação
4.6. Velocidade do Vento
4.7. Direção do Vento
4.8. Estabilidade Atmosférica

5. Análise dos Resultados dos Parâmetros Monitorados (por estação)


5. 1. Dióxido de Enxofre
5. 2. Monóxido de Carbono
5. 3. Dióxido de Nitrogênio
5. 4. Ozônio
5. 5. Material Particulado Inalável
5. 6. Compostos Reduzidos de Enxofre
5. 7. Amônia
53
Gestão da Qualidade do ar

5. 8. Hidrocarbonetos não Metânicos


5. 9. Compostos Orgânicos Voláteis
5. 10. Especiação de Metais em filtros de particulado

6. Considerações Finais
7. Recomendações

8. Referências Bibliográficas

9. Anexos

Importante
O relatório de avaliação da qualidade do ar da rede do Polo Petroquímico de
Camaçari, por ser elaborado por uma empresa particular, é disponibilizado por meio
de solicitação direta à empresa Cetrel.

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