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5 de julho de 2022
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E-mail: rodney@mat.ufmg.br; homepage: http://www.mat.ufmg.br/∼rodney.
Sumário
Capa i
Sumário iv
1 Séries de Fourier 14
1.1 Produto Interno no Espaço de Funções L2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.1.1 Produto Interno em RN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.1.2 O Espaço de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1.3 Produto Interno no Espaço de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.4 Coeficientes em uma Base Ortogonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2 Relações de Ortogonalidade de Seno e Cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 Cálculo dos Coeficientes da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4 Periodicidade das Funções Seno e Cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.5.1 Funções Contı́nuas por Partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.5.2 O Teorema de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.6 Séries de Fourier de Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.6.1 Funções Pares e Ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.6.2 Extensões Periódicas Pares e Ímpares de Funções Definidas em Intervalos . . . . . . . 37
1.7 Velocidade de Convergência da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.8 Diferenciação Termo a Termo da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.9 Integração Termo a Termo da Série de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
i
SUMÁRIO
ii
SUMÁRIO
iii
SUMÁRIO
iv
Capı́tulo 0
Considere uma barra uniforme de comprimento L, feita de material homogêneo condutor de calor. Por
barra uniforme entendemos que a sua seção transversal é sempre igual a uma determinada figura geométrica
plana e portanto tem área constante, que denotaremos por A. A barra pode ser imaginada como sendo
formada através da translação desta figura na direção perpendicular ao seu plano, em outras palavras, um
cilindro reto cuja base pode ser qualquer figura geométrica: um disco produz um cilindro circular reto (um
tubo), uma elipse produz um cilindro elı́ptico reto, um triângulo dá origem a um prisma reto, um retângulo
origina um paralelepı́pedo reto (uma barra retangular) e assim por diante.
Suponha que a superfı́cie lateral da barra esteja isolada termicamente, de modo a não permitir
transferências de calor através dela da barra para o ambiente. Transferências de calor, se é que ocorrem,
podem ocorrer apenas através das extremidades da barra.
1
0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
Se ϕ(x, t) < 0, o calor está fluindo para a esquerda. A quantidade total de calor que entra na fatia por
unidade de tempo é dada pela diferença entre a quantidade de calor que entra pela seção transversal em x
e a quantidade de calor que sai pela seção transversal em x + ∆x, isto é,
É claro que calor pode sair da fatia pela seção transversal em x (se ϕ(x, t) < 0), assim como calor pode
entrar na fatia pela seção transversal em x + ∆x (se ϕ(x + ∆x, t) < 0); se a diferença acima for negativa,
então o resultado final é que calor sai da fatia.
Esta quantidade de calor total que entra ou sai da fatia por instante de tempo pode ser calculada em
função das temperaturas nas seções transversais que delimitam a fatia através da Lei de Condução do Calor
de Fourier (esta lei foi empiricamente observada por Fourier no inı́cio do século XIX):
Lei de Condução do Calor de Fourier. Sejam P1 e P2 duas placas de um mesmo material e de mesma
área igual a A, mantidas a temperaturas constantes T1 e T2 , respectivamente. Se elas forem colocadas
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0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
paralelamente a uma distância d uma da outra, haverá transferência de calor da placa mais quente
para a placa mais fria e a taxa de transferência de calor (ou seja, a quantidade de calor transferida de
uma placa para a outra por unidade de tempo, medida em Joules/s) é dada por
|T2 − T1 |
Φ = kA ,
d
onde k é uma constante especı́fica do material do meio entre as placas, chamada condutividade
térmica do material.
Vamos assumir que inicialmente todos os pontos de uma seção transversal da barra possuem a mesma
temperatura; a temperatura poderá variar apenas de uma seção transversal para outra. Denotemos
onde o ponto x é um ponto qualquer da seção transversal da barra localizada na posição x, já que todas os
pontos de uma seção transversal possuem a mesma temperatura. As seções transversais da barra, localizadas
em x e x + ∆x, farão o papel das duas placas P1 e P2 na Lei de Fourier. Denote as temperaturas nestas
seções no instante de tempo t por T1 = u(x, t) e T2 = u(x + ∆x, t). Então, pela Lei de Fourier, o fluxo de
calor no instante de tempo t na direção positiva do eixo x que passa pela seção transversal localizada em x
é dado por
u(x + ∆x, t) − u(x, t)
ϕ(x, t) = − lim k ,
∆x→0 ∆x
(lembre-se que o fluxo de calor é definido por unidade de área), ou seja,
Assim, quando a temperatura cresce com x, ux é positivo, mas o calor flui para a esquerda (da maior
temperatura para a menor temperatura), portanto ϕ é negativo; se a temperatura decresce com x, ux é
negativo e o calor flui para a direita, portanto ϕ é positivo.
Agora, ao invés de uma fatia fina da barra, fixe uma fatia qualquer da barra entre as posições arbitrárias
x = a e x = b. Vamos calcular a quantidade total de calor Q que entra nesta fatia (ou sai desta fatia, se
obtivermos um valor negativo) no perı́odo de tempo que vai de t0 até t1 , ou seja,
Q é a diferença entre o calor que entra na seção transversal que ocupa a posição x = a e o calor que sai pela
seção transversal que ocupa a posição x = b durante o perı́odo de tempo considerado:
Z t1 Z t1
Q= ϕ(a, t)A dt − ϕ(b, t)A dt
t0 t0
Zt1
= kA[ux (b, t) − ux (a, t)] dt.
t0
3
0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
Logo, como k é constante (pois assumimos que a barra é feita de um único material homogêneo), temos
Z t1 Z b
Q = kA uxx (x, t) dxdt. (1)
t0 a
Por outro lado, também é observado experimentalmente que a quantidade de calor absorvida por uma
substância em um perı́odo de tempo é diretamente proporcional à massa desta substância e à variação média
de sua temperatura durante o intervalo de tempo considerado:
Q = cm∆u.
sendo m a massa deste fatia e c o calor especı́fico do material que constitui a barra. Escrevendo m = ρA(b−a),
onde ρ é a densidade da barra, e trocando a ordem dos limites de integração, obtemos
Z t1 Z b
Q = cρA ut (x, t) dxdt. (2)
t0 a
Igualando as duas expressões obtidas em (1) e (2), obtemos a equação do calor em sua forma integral:
Z t1 Z b Z t1 Z b
cρ ut (x, t) dxdt = k uxx (x, t) dxdt.
t0 a t0 a
Como a, b, t0 , t1 são arbitrários, os integrandos devem ser iguais, e daı́ obtemos a equação do calor na sua
forma diferencial
ut = Kuxx ,
onde a constante K = k/cρ é chamada a difusividade térmica do material. Esta equação é chamada
a equação do calor e representa a lei de variação da temperatura u(x, t) de uma barra uniforme com
superfı́cie lateral termicamente isolada.
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0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
Observe que ela diz simplesmente que a taxa de variação temporal da temperatura em um ponto da
barra em um certo instante de tempo é diretamente proporcional à concavidade (derivada segunda espacial)
da função temperatura naquele ponto, naquele instante de tempo. Isso será explorado em maior detalhe no
Capı́tulo 2.
A equação do calor descreve implicitamente (explicitamente ela é uma equação para a temperatura) como
o calor se espalha ou se difunde com o passar do tempo, um processo fı́sico conhecido como difusão. Outras
quantidades fı́sicas também se difundem seguindo esta mesma equação diferencial parcial (em situações
unidimensionais), como por exemplo a concentração de substâncias quı́micas em um fluido contido em um
tubo, e por este motivo a equação do calor também é chamada mais geralmente de equação de difusão.
Observação: A forma diferencial da equação do calor também pode ser obtida mais diretamente. De fato,
diferenciando a lei de Fourier
ϕ(x, t) = −kux (x, t)
em relação a x obtemos
ϕx = −kuxx . (3)
Por outro lado, vimos acima que
Z t1 Z b Z t1
Q=− [ϕ(b, t) − ϕ(a, t)]A dt = cρA ut (x, t) dt dx.
t0 a t0
Agora, ao invés de usar a lei de Fourier na integral do lado esquerdo como fizemos acima para obter (1),
usamos o Teorema Fundamental do Cálculo para escrevê-la na forma
Z t1 Z "Z #
t1 b
[ϕ(b, t) − ϕ(a, t)]A dt = ϕx (x, t) dx A dt.
t0 t0 a
Logo,
Z b Z t1 Z b Z t1
− ϕx (x, t) dt dx = cρ ut (x, t) dt dx.
a t0 a t0
Como a, b, t0 , t1 são arbitrários, os integrandos devem ser iguais e portanto obtemos a equação
ϕx = −cρut . (4)
Igualando as expressões (3) e (4) para ϕx , obtemos novamente a equação do calor. No entanto, é sempre
preferı́vel obter a formulação integral, como fizemos anteriormente, e a partir dela obter a formulação dife-
rencial. A formulação integral tem a vantagem de valer mesmo em situações em que u não é diferenciável,
ou mesmo descontı́nua, desde que o grau de descontinuidade de u ainda permita integrar u, o que em geral
ocorre.
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0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
de modo que
Z t1 Z b
Q=A [k(x)ux (x, t)]x dxdt.
t0 a
Do mesmo modo, pode ocorrer que o calor especı́fico do material que constitui a barra varie com x, assim
como a sua densidade (o que certamente ocorrerá na situação dada como exemplo). Logo,
Z t1 Z b
Q=A c(x)ρ(x)ut (x, t) dxdt
t0 a
Portanto, nesta situação, a equação do calor que descreve a variação da temperatura da barra com o tempo
é
c(x)ρ(x)ut = [k(x)ux ]x ,
q(x, t) = quantidade de calor gerada por unidade de volume, por unidade de tempo.
À quantidade total de calor Q que entra na fatia [a, b] no perı́odo de [t0 , t1 ] devido ao fenômeno de condução
do calor, deve ser somada a quantidade de calor gerada internamente na fatia durante este perı́odo, antes de
igualar à expressão obtida em (2). Isso nada mais é que a lei de conservação do calor, um caso particular da
lei de conservação da energia. Pela definição de q(x, t), este calor gerado internamente é dado por
Z t1 Z b
q(x, t)A dxdt.
t0 a
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0.1. MODELAGEM FÍSICA E MATEMÁTICA DO PROBLEMA
u(x, t) = C
ou afim
u(x, t) = Ax + B,
onde A, B, C são quaisquer constantes reais, satisfaz a equação do calor. Um problema fisico real, no caso
obter a distribuição de temperaturas em uma barra, deve ter uma solução única. Portanto, é necessário
impor restrições adicionais sobre o problema, de forma a obter um problema bem determinado que possua
uma solução única para a equação do calor.
Intuitivamente, parece óbvio que a distribuição de temperaturas na barra ao longo do tempo depende da
distribuição inicial de temperaturas, chamada a condição inicial do problema:
u(x, 0) = f (x).
Esta é a única condição inicial necessária. Matematicamente, esta necessidade ocorre pelo fato da equação
diferencial parcial do calor possuir uma derivada parcial em relação ao tempo de primeira ordem; como no
caso de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem, é necessário saber apenas uma condição inicial,
o valor da função no instante inicial, para se conhecer a solução única da equação.
Mas, além disso, a distribuição de temperaturas na barra ao longo do tempo deve também depender
do que se passa nas extremidades da barra, que podem não estar isoladas termicamente e portanto podem
permitir a entrada de calor do ambiente ou saı́da de calor para o ambiente, influenciando a distribuição de
temperaturas da barra com o passar do tempo. As condições nas extremidades da barra são chamadas as
condições de fronteira. Matematicamente, isso se deve ao fato da equação diferencial parcial do calor
depender também da variável x. Podemos imaginar vários tipos de condições de fronteira para o problema
da barra:
u(0, t) = T1 ,
u(L, t) = T2 .
2. Temperaturas nas extremidades variando com o tempo de acordo com funções conhecidas:
u(0, t) = g1 (t),
u(L, t) = g2 (t).
3. Extremidades isoladas termicamente (ou seja, o fluxo de calor através das extremidades é nulo e a
barra está completamente isolada termicamente):
ux (0, t) = ux (L, t) = 0.
4. Fluxo de calor através das extremidades variando com o tempo de acordo com funções conhecidas:
ux (0, t) = h1 (t),
ux (L, t) = h2 (t).
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0.2. SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
Com uma condição inicial e qualquer uma destas condições de fronteira o problema matemático está bem
posto, admitindo uma única solução, conforme veremos em detalhes no Capı́tulo 2. Uma condição do tipo
1 ou 2, em que são dados valores para a solução da equação diferencial parcial na fronteira, é chamada uma
condição de Dirichlet. Uma condição do tipo 3 ou 4, em que são dados valores para a derivada da solução
da equação diferencial parcial na fronteira em relação à variável espacial, é chamada uma condição de
Neumann. Uma condição mista, envolvendo tanto o valor da solução como o de sua derivada espacial na
fronteira, exemplificada pela condição do tipo 5, é chamada uma condição de Robin.
Observação: O fato da equação do calor ter uma derivada parcial em relação à variável x de segunda ordem
não tem nada a ver com o fato de precisarmos de duas condições de fronteira. Este fato é simplesmente uma
conseqüência da fronteira de um segmento ser formada por dois pontos (no caso, a fronteira do segmento [0, L]
é formada pelos pontos 0 e L). Na verdade, essencialmente temos apenas uma condição de fronteira; o que
ocorre é que, no caso de um segmento, a fronteira é desconexa e esta condição de fronteira é mais facilmente
expressa por duas equações. Este conceito ficará mais claro quando estudarmos equações diferenciais parciais
em regiões do plano e do espaço. □
Exemplo. Uma condição de fronteira de grande interesse prático ocorre quando a barra está em contato
com um fluido em movimento, como ar ou água. Como exemplo desta situação, imagine uma barra quente
em contato com ar mais frio em movimento. Calor deixa a barra, aquecendo o ar, que leva o calor embora,
sendo substituido por ar mais frio, no conhecido processo de convecção. Experimentos mostram que o fluxo
do calor que deixa a barra é proporcional à diferença de temperatura entre a barra e a temperatura exterior:
8
0.2. SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
Tentaremos resolver este problema pelo chamado método de separação de variáveis, como Fourier tentou
em 1803. No método de separação de variáveis, supomos que a solução u(x, t) do problema pode ser escrita
como o produto de duas funções de uma variável, uma dependendo apenas de x e a outra dependendo apenas
de t:
u(x, t) = F (x)G(t). (6)
Esta é apenas uma suposição, que pode ou não ser correta. Na verdade, veremos que em geral esta suposição
está errada, mas mesmo assim ela nos ajudará a encontrar a solução correta para o problema. A vantagem
de fazer esta suposição é que ela simplifica consideravelmente o problema, transformando um problema de
resolver uma equação diferencial parcial, que não sabemos como, em um problema de resolver uma equação
diferencial ordinária, que já aprendemos antes. De fato, substituindo (6) na equação do calor, obtemos
donde
F ′′ (x) 1 G′ (t)
= .
F (x) K G(t)
Note que o lado esquerdo desta equação depende apenas de x, enquanto que o lado direito depende apenas
de t. Isso só pode ser possı́vel se na verdade ambos os lados forem independentes de x e t, isto é,
F ′′ (x) 1 G′ (t)
=σ e =σ
F (x) K G(t)
onde σ ∈ R é uma constante. Portanto o problema se reduz a resolver duas equações diferenciais ordinárias:
para t > 0.
Vamos resolver primeiro (7). Fazemos isso, apesar dela ser uma equação mais complexa que (8), porque
as condições de fronteira de (5) implicam que F satisfaz as condições
u(0, t) = F (0)G(t) = 0
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0.2. SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
u(L, t) = F (L)G(t) = 0
implica que
F (L) = 0.
A condição (9) restringe as soluções de (7), o que ultimamente limitará os valores possı́veis de σ. Um
problema com uma equação diferencial ordinária em um intervalo e condições na fronteira do intervalo
F ′′ (x) = σF (x)
se 0 < x < L,
(10)
F (0) = F (L) = 0
é chamado um problema de Sturm-Liouville. Em princı́pio, há três soluções possı́veis para este problema,
dependendo do sinal de σ:
Logo, a condição (9) implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o sistema
(
c1 + c2 = 0
√ √ .
c1 e σL + c2 e− σL = 0
Mas a única solução deste sistema é c1 = c2 = 0, o que levaria a F ≡ 0 e portanto u ≡ 0, solução que
não nos interessa.
2. σ = 0 : A solução geral de (7) neste caso é da forma
F (x) = c1 x + c2 .
Como não queremos c2 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N pode ser um
inteiro positivo qualquer.
10
0.2. SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
Portanto, para cada valor de n uma solução não nula para o problema de Sturm-Liouville (10) é da forma
nπ
Fn (x) = sen x,
L
n2 π 2
σ = −λ2n = − . (11)
L2
A equação (8) é imediatamente resolvida através de uma integração simples. A solução de (8) é da forma
G(t) = ceσKt ,
onde c ∈ R é uma constante real. Como os valores de σ para os quais o problema (5) tem soluções não nulas
são os dados por (11), segue que para cada valor de σ temos uma solução relevante de (8) dada por (a menos
da constante)
n2 π 2
Gn (t) = e− L2
Kt
. (12)
n2 π 2 K nπx
un (x, t) = e− L2
t
sen
L
que é uma solução para a equação diferencial parcial do problema (5) satisfazendo às suas condições de
fronteira.
Por outro lado, precisamos de uma solução que também satisfaça à condição inicial u(x, 0) = f (x). Logo,
as soluções que encontramos só funcionam se a função f (x) tem uma forma muito particular, ou seja, se
f (x) for um múltiplo escalar da função seno. Por exemplo,
π
se f (x) = 3 sen x, então (5) tem solução u(x, t) = 3u1 ;
L
5π
se f (x) = 17 sen x, então (5) tem solução u(x, t) = 17u5 .
L
É óbvio que isso raramente ocorre.
Na verdade, porém, ainda podemos obter soluções para o problema (5) a partir destas soluções se f (x)
for apenas uma combinação linear de senos. Por exemplo,
π 9π
se f (x) = 3 sen x + 25 sen x, então (5) tem solução u(x, t) = 3u1 + 25u9 ;
L L
2π 2 22π √ 901π 2 √
se f (x) = 4 sen x − sen x + 5 sen x, então (5) tem solução u(x, t) = 4u2 − u22 + 5u901 .
L 3 L L 3
Isso é verdade porque a equação do calor é uma equação linear, o que significa que combinações lineares
de soluções da equação diferencial são também soluções da equação diferencial e, além disso, as condições
de fronteira de (5) são homogêneas, logo combinações lineares de soluções que satisfazem as condições
de fronteira continuam satisfazendo as condições de fronteira (isso pode ser imediatamente verificado e é
deixado para o leitor se convencer). Assim, qualquer expressão da forma (isto é, qualquer combinação linear
de soluções)
N
X
u(x, t) = cn un (x, t)
n=1
11
0.2. SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
N
X nπx
f (x) = cn sen ,
n=1
L
segue que
N
X n2 π 2 K nπx
u(x, t) = cn e− L2
t
sen (13)
n=1
L
para certos coeficientes bem determinados cn , o que atualmente chamamos a série de Fourier de f , então o
candidato para solução do problema de valor inicial e de condição de fronteira (5) seria a função
∞
X n2 π 2 K nπx
u(x, t) = cn e− L2
t
sen . (14)
n=1
L
1. Será que toda função f (x) realmente pode ser escrita como uma série de Fourier?
2. Se a resposta à pergunta anterior for negativa, quais são as funções que possuem séries de Fourier?
Será que elas formam uma classe suficientemente grande para abranger todas ou uma quantidade
significativa das funções que surgem nos problemas práticos?
3. Mesmo que f (x) possa ser representada por uma série de Fourier, será que a série definida acima para
u(x, t) converge para uma função diferenciável em t e duas vezes diferenciável em x que é a solução de
(5)?
Estas perguntas mostram a necessidade de se desenvolver uma teoria para as séries de Fourier. Faremos isso
no próximo capı́tulo.
Observação: Note que nem o candidato à solução (14), e nem mesmo a solução (13), são produtos de duas
funções de uma variável, uma dependendo apenas de x e outra dependendo apenas de t (elas são na realidade
somas de produtos de funções de uma variável, soma finita em um caso, soma infinita no outro). Portanto a
suposição inicial da qual partimos no método de separação de variáveis é errada para a maioria das condições
iniciais, a não ser que elas sejam múltiplos de sen(nπx/L). Mas, usando a linearidade da equação do calor,
pudemos usar as soluções obtidas através do método de separação de variáveis e a partir delas construir a
solução para o problema geral. Este é um método frequentemente usado em ciência: simplificar um problema
complexo através de uma suposição simplificante que em geral não é válida, mas, a partir da solução para o
problema simplificado, encontrar a solução correta para o problema complicado.
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0.3. EXERCÍCIOS
0.3 Exercı́cios
1. Mostre que a equação do calor é linear, isto é, se u1 (x, t) e u2 (x, t) são soluções da equação diferencial
parcial ut = Kuxx , então au1 (x, t) + bu2 (x, t) também é, quaisquer que sejam a, b ∈ R. Além disso, se
elas satisfazem as condições de fronteira homogêneas u(0, t) = u(L, t) = 0, então au1 (x, t) + bu2 (x, t)
também satisfaz.
2. Mostre que a equação mais geral do calor, c(x)ρ(x)ut = [K(x)ux ]x + q(x, t), também é uma equação
linear.
3. Proceda como fizemos no texto e encontre um candidato à solução para o seguinte problema de valor
inicial com condição de fronteira de Neumann homogênea:
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
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Capı́tulo 1
Séries de Fourier
Neste capı́tulo, vamos examinar o real significado da série de Fourier e, munidos deste conhecimento, calcular
facilmente os coeficientes da série de Fourier.
Apesar de no capı́tulo anterior ter sido suficiente escrever uma função como uma série infinita de senos,
isso se deveu ao fato de termos no preocupados exclusivamente em resolver o problema da equação do calor
com condição de fronteira de Dirichlet homogênea. Para outras condições de fronteira será necessário escrever
séries infinitas de cossenos, e até mesmo de senos e cossenos misturados. Assim, consideraremos uma situação
bem mais geral: escrever uma função f : R → R na forma
∞
a0 X nπx nπx
f (x) = + an cos + bn sen ,
2 n=1
L L
ou seja, tal que a série no lado direito seja convergente e convirja para a função f em todo ponto x ∈ R. O
lado direito da expressão acima é chamado a série de Fourier de f . Observe que o coeficiente a0 /2 se refere
ao termo cos (nπx/L) no caso em que n = 0, pois cos 0 = 1; já sen 0 = 0 e o termo sen (nπx/L) para n = 0
não desempenha nenhum papel. Além disso, o motivo de termos escrito a0 /2 ao invés de simplesmente a0
se deve ao fato que queremos obter a mesma fórmula para todos os coeficientes an , isto é, que seja válida
também no caso n = 0.
14
1.1. PRODUTO INTERNO NO ESPAÇO DE FUNÇÕES L2
15
1.1. PRODUTO INTERNO NO ESPAÇO DE FUNÇÕES L2
dim RN = N,
a dimensão de F (R; R) é infinita. Para ter uma idéia intuitiva disso, considere o subespaço vetorial das
funções polinomiais ( )
XN
P (R; R) = f (x) = n
an x : a0 , . . . , aN ∈ R e N ∈ N .
n=0
certamente não pode ser uma base para P (R; R), pois qualquer combinação linear destas funções monomiais
será uma função polinomial de grau no máximo k, logo não pode gerar as funções polinomiais de grau maior
que k. Este argumento serve para qualquer conjunto finito de polinomiais. Uma base para P (R; R) precisa
conter todas as funções monomiais
B = {fn (x) = xn : n ∈ N} ,
pois toda função polinomial é uma combinação linear finita de funções monomiais em B. Como B é clara-
mente LI, segue que ele é uma base para P (R; R). Assim, como B contém infinitos elementos, concluı́mos
que
dim P (R; R) = ∞.
Se isso vale para o subespaço P (R; R) ⊂ F (R; R), intuitivamente isso deve valer também para F (R; R), e
pode-se provar rigorosamente que isso é verdade.
Encontramos uma base para P (R; R) e seria natural procurar uma base para F (R; R). Embora seja
possı́vel provar matematicamente que F (R; R) possui uma base, parece impossı́vel na prática obtê-la e
felizmente não precisamos dela. Basta usar uma noção de base mais fraca: ao invés de procurar uma base
infinita para F (R; R) tal que toda função real se escreva como uma combinação linear finita de elementos
desta base (que é a definição de base em Álgebra Linear), procuramos uma base
B = {fn (x) : n ∈ N}
tal que toda função se escreve como uma combinação linear infinita, isto é, uma séria infinita, de elementos
de B:
∞
X
f (x) = an fn (x) .
n=0
Este tipo de base é chamada uma base de Schauder. Encontraremos uma base de Schauder para o
espaço de funções. Mais que isso, introduziremos uma noção de produto escalar no espaço de funções que
nos permitirá obter uma base ortogonal, de modo que obter os coeficientes da série (que fazem o papel de
coordenadas da função em relação a esta base) será fácil, da mesma forma que é fácil obter as coordenadas
de um vetor em relação a uma base ortogonal de RN .
16
1.1. PRODUTO INTERNO NO ESPAÇO DE FUNÇÕES L2
v : {1, 2, . . . N } −→ R,
pois
v (i) = v i ,
Em outras palavras a notação de ı́ndice v i é apenas uma notação mais conveniente do que a notação funcional
usual v (i). Portanto, RN é o espaço de funções
RN = F ({1, 2, . . . N } ; R) .
v : {1, 2, 3, 4} −→ R
com
v (1) = v1 = 5,
v (2) = v2 = −3,
v (3) = v3 = −2,
v (4) = v4 = 7.
v, w : {1, 2, . . . N } −→ R,
Seria portanto natural definirmos o produto escalar de duas funções reais f, g ∈ F (R; R)
f, g : [a, b] −→ R
Mas uma soma infinita sobre o contı́nuo R é uma integral e a integral imprópria
Z +∞
f ·g = f (x)g(x) dx
−∞
17
1.1. PRODUTO INTERNO NO ESPAÇO DE FUNÇÕES L2
onde [a, b] é o intervalo de interesse para um problema particular em que estivermos trabalhando.
Este subespaço é chamado o espaço das funções quadrado-integráveis no intervalo [a, b]:
( )
Z b
2 2
L ([a, b]) = f : [a, b] −→ R : u (x) dx < ∞
a
2AB ⩽ A2 + B 2 ,
2
pois 0 ⩽ (A − B) = A2 − 2AB + B 2 ; segue que se f, g ∈ L2 ([a, b]) então
b b b
1 1
Z Z Z
2
f (x)g(x) dx ⩽ f (x) dx + g 2 (x) dx < ∞
a 2 a 2 a
e chamaremos o produto escalar de produto interno, que é um nome mais usado (mesmo em álgebra linear
de dimensão finita).
de modo que
2
⟨f, f ⟩ = ∥f ∥ .
por analogia também definimos o ângulo entre duas funções em f, g ∈ L2 ([a, b]) por
⟨f, g⟩
∡(f, g) = arccos ,
∥f ∥ ∥g∥
18
1.2. RELAÇÕES DE ORTOGONALIDADE DE SENO E COSSENO
mesmo que não possamos enxergar (não conseguimos enxergar espaços de dimensão infinita; na verdade não
conseguimos enxergar nem RN para N ⩾ 4). Segue que duas funções f, g ∈ L2 ([a, b]) são ortogonais se e
somente se
Z b
⟨f, g⟩ = f (x)g(x) dx = 0.
a
⟨f, fn ⟩
an = 2
∥fn ∥
19
1.2. RELAÇÕES DE ORTOGONALIDADE DE SENO E COSSENO
isto é,
L
nπx mπx
Z
cos sen dx = 0 para todos n, m;
−L L L
Z L 2L se n = m = 0,
nπx mπx
cos cos dx = L se n = m,
−L L L
0 se n ̸= m;
Z L
nπx mπx L se n = m,
sen sen dx =
−L L L 0 se n ̸= m.
Prova. Estas relações podem ser obtidas através de integração direta e uso das identidades trigonométricas.
Faremos apenas o caso dos senos e deixamos os outros casos como exercı́cios. Se n ̸= m, escrevemos
Z L
1 L
Z
nπx mπx (n − m)πx (n + m)πx
sen sen dx = cos − cos dx
−L L L 2 −L L L
L
11 1 (n − m)πx 1 (n + m)πx
= sen − sen
2π n−m L n+m L
−L
= 0.
Se n = m, escrevemos
Z L Z L
1 L
Z
nπx mπx nπx 2 2nπx
sen sen dx = sen dx = 1 − cos dx
−L L L −L L 2 −L L
L
1 L 2nπx
= x− sen
2 2nπ L −L
= L.
Note que no caso dos cossenos quando n = m = 0 temos
Z L
1 dx = 2L.
−L
■
Pode-se provar (a demonstração está muito acima do nı́vel deste curso) que
n nπx nπx o
B = sen , cos
L L n∈N
é uma base de Schauder ortogonal para L2 ([−L, L]); o fato dela ser uma base ortogonal para o espaço de
funções quer dizer que não existem outras funções que são ortogonais a todas as funções de B, de modo que
todas as direções do espaço de funções estão em B. Note que
2
∥1∥ = ⟨1, 1⟩ = 2L,
nπx
2 D
nπx nπx E
= cos , cos = L,
L L L
cos
nπx
2
D nπx nπx E
= sen , sen = L,
L L L
sen
20
1.3. CÁLCULO DOS COEFICIENTES DA SÉRIE DE FOURIER
é uma base de Schauder ortogonal para L2 ([−L, L]). O fato dela ser uma base ortogonal para o espaço de
funções quer dizer que não existem outras funções que são ortogonais a todas as funções de B, de modo que
todas as direções do espaço de funções estão em B. Ela é ortonormal se L = 1, pois
nπx
2
D nπx nπx E
= cos , cos = L = 1,
L L L
cos
nπx
2
D nπx nπx E
= sen , sen = L = 1.
L L L
sen
A ortogonalidade de B foi provada na seção anterior, mas a demonstração de que toda função quadrado
integrável se escreve como uma série de elementos de B está muito acima do nı́vel deste curso, sendo vista
em um curso de Análise Funcional.
De qualquer forma, é um fato que toda função f ∈ L2 ([−L, L]) se escreve como uma série de Fourier
∞
a0 X nπx nπx
f (x) = + an cos + bn sen .
2 n=1
L L
nπx
Das relações de ortogonalidade (lembrando que a função identicamente 1 corresponde a cos para n = 0)
L
segue que se n ̸= 0 * +
nπx
f, cos
L 1D nπx E
an =
= f, cos
nπx
2
L L
L
cos
e * +
mπx
f (x), sen
L 1D mπx E
bn = = f (x), sen .
nπx
2 L L
L
sen
No caso n = 0 temos
a0 ⟨f, 1⟩ 1
= 2 = 2L ⟨f, 1⟩
2 ∥1∥
de modo que temos também
1
a0 =
⟨f, 1⟩ .
L
Escrevendo mais explicitamente, obtivemos os coeficientes de Fourier
L
1 nπx
Z
an = f (x) cos dx.
L −L L
21
1.3. CÁLCULO DOS COEFICIENTES DA SÉRIE DE FOURIER
e
L
1 nπx
Z
bn = f (x) sen dx.
L −L L
Por isso escolhemos escrever a0 /2 ao invés de a0 , para obter a mesma fórmula para todos os coeficientes an ;
o problema foi causado pelo fato de que
nπx
2
=L
L
cos
1.2 Exemplo. Admitindo que existe uma série de Fourier que convirja para a função f periódica de perı́odo
2L abaixo, calcule os seus coeficientes.
−x se − L ⩽ x ⩽ 0,
f (x) =
x se 0 ⩽ x < L,
Solução: Temos
" Z #
L 0 Z L
1 L2 L2
1 1
Z
a0 = f (x) dx = − x dx + x dx = + = L.
L −L L −L 0 L 2 2
Os outros coeficientes podem ser calculados através de integração por partes. Temos
1 L nπx
Z
an = f (x) cos dx
L −L L
" Z #
0 Z L
1 nπx nπx
= − x cos dx + x cos dx
L −L L 0 L
" 0 Z 0 ! L Z L !#
1 L nπx L nπx L nπx L nπx
= − x sen + sen dx + x sen − sen dx
L nπ L −L nπ −L L nπ L 0 nπ 0 L
" 0 L #
1 L2 nπx L2 nπx
= − 2 2 cos + 2 2 cos
L n π L −L n π L 0
L2 L2 L2 L2
1
= − 2 2 + 2 2 cos nπ + 2 2 cos nπ − 2 2
L n π n π n π n π
2L
= (cos nπ − 1)
n2 π 2
0 se n é par,
= 4L
− se n é ı́mpar.
n2 π 2
22
1.3. CÁLCULO DOS COEFICIENTES DA SÉRIE DE FOURIER
e
L
1 nπx
Z
bn = f (x) sen dx
L −L L
" Z #
0 Z L
1 nπx nπx
= − x sen dx + x sen dx
L −L L 0 L
" 0 Z 0 ! L Z L !#
1 L nπx L nπx L nπx L nπx
= x cos − cos dx + − x cos + cos dx
L nπ L −L nπ −L L nπ L 0 nπ 0 L
" 0 L #
1 L2 L2 nπx L2 L2 nπx
= cos nπ − 2 2 sen − cos nπ + 2 2 sen
L nπ n π L −L nπ n π L 0
= 0.
Portanto,
∞
L 4L X 1 (2n − 1)πx
f (x) = − 2 2
cos .
2 π n=1 (2n − 1) L
Observe que a série do lado direito é convergente em todo ponto x, já que os coeficientes diminuem na razão
de
1
,
(2n − 1)2
cos (2n − 1)πx ⩽ 1
L
e a série
∞
X 1
n=1
n2
é sabidamente convergente.
Veja na Figura 1.3 a seguir os gráficos das somas parciais da série de Fourier de f desde n = 1 até n = k
para k = 1, 2, 3, 4, 5 e 10. Observe como a convergência é bastante rápida. Para k = 10 a soma parcial da
série de Fourier de f é virtualmente indistinguivel de f dentro da resolução utilizada.
k=1 k=2
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
23
1.4. PERIODICIDADE DAS FUNÇÕES SENO E COSSENO
k=3 k=4
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
k=5 k = 10
2 2
1.8 1.8
1.6 1.6
1.4 1.4
1.2 1.2
1 1
0.8 0.8
0.6 0.6
0.4 0.4
0.2 0.2
0 0
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5
Por outro lado, a convergência é mais lenta nas quinas, isto é, nos pontos onde f não é diferenciável. Para
ver isso melhor, considere a quina x = L = π, de modo que
∞
π 4X 1
π= − cos(2n − 1)π
2 π n=1 (2n − 1)2
ou
∞
π2 X 1 1 1 1
= 2
=1+ + + + ...
8 n=1
(2n − 1) 9 25 49
Enquanto que π = 3.1415926536 é uma aproximação para π com 10 casas decimais, temos:
v
u k
u X 1 3.141274327 se k = 1000,
t8 = 3.141589470 se k = 100000,
(2n − 1)2
3.141592335 se k = 1000000.
n=1
24
1.4. PERIODICIDADE DAS FUNÇÕES SENO E COSSENO
f (x + T ) = f (x)
Por exemplo,
f (x + 3T ) = f ((x + 2T ) + T )
= f (x + 2T )
= f ((x + T ) + T )
= f (x + T )
= f (x).
1.4 Definição. O menor perı́odo positivo de uma função periódica f é chamado o perı́odo fundamental
de f .
Em geral, o perı́odo fundamental de uma função periódica é chamado simplesmente de o perı́odo da função.
1.5 Exemplo. As funções seno e cosseno são periódicas e ambas têm perı́odo 2π. □
1.6 Exemplo. Funções constantes são funções periódicas que não possuem perı́odo fundamental, pois qual-
quer número real não nulo é um perı́odo para a função constante, logo não existe um menor perı́odo positivo.
Pelo mesmo motivo, a função
1 se x é racional,
f (x) =
0 se x é irracional,
é uma função periódica que não possui perı́odo fundamental, pois todo número racional não nulo é um
perı́odo para f . Mas observe que números irracionais não são perı́odos para f . □
1.7 Exemplo. A função
f (x) = x − [x],
onde [x] é a função piso, isto é, [x] é maior inteiro menor que ou igual a x, é periódica de perı́odo 1. □
1.5
0.5
−0.5
−1
−3 −2 −1 0 1 2 3
25
1.4. PERIODICIDADE DAS FUNÇÕES SENO E COSSENO
1.8 Exemplo. Podemos encontrar uma infinidade de exemplos de funções periódicas, simplesmente definindo
uma função em um intervalo de comprimento T e declarando que ela é periódica de perı́odo T , desta forma
estendendo ela para a reta toda. Mais formalmente, suponha que a função f esteja inicialmente definida no
intervalo I de comprimento T . Dado x ∈ R, x ∈/ I, para calcular o valor da extensão periódica de f no ponto
x, determine um inteiro k tal que x + kT ∈ I (k é positivo se x está localizado à esquerda do intervalo I e
negativo se x está à direita de I) e defina
f (x) = f (x + kT ).
Desta forma, definimos uma função f na reta toda que é automaticamente periódica de perı́odo T . Por
exemplo, podemos definir uma função g por
−x se − L ⩽ x < 0,
g(x) =
x se 0 ⩽ x < L,
3
2
1
0
−1
−6 −4 −2 0 2 4 6
Figura 1.2. Gráfico de g para L = 2.
1.9 Exemplo. Para que a definição desta extensão periódica seja consistente, observe que o intervalo I deve
ser fechado em um extremo e aberto no outro ou, se o intervalo I for fechado nos dois extremos, a função deve
ter os mesmos valores nestes extremos. Apesar deste exemplo parecer meio artificial, na realidade ele vai ser
o mais útil nas nossas aplicações para resolver problemas de equações diferenciais parciais com condição de
fronteira. □
Com relação aos perı́odos das funções que constituem a série de Fourier, vale o seguinte fato:
nπx nπx 2L
1.10 Proposição. As funções sen e cos têm perı́odo fundamental igual a .
L L n
Prova. Este resultado segue do seguinte resultado geral: para qualquer valor α ∈ R, α ̸= 0,
2π
sen αx e cos αx têm perı́odo fundamental igual a .
α
Isso é determinado através do argumento a seguir. Queremos encontrar o menor valor positivo de T para o
qual vale
sen α(x + T ) = sen αx para todo x ∈ R,
ou seja,
sen αx cos αT + cos αx sen αT = sen αx para todo x ∈ R. (1.1)
Para determinar αT , o que consequentemente determinará T , basta obter os valores
sen αT,
cos αT,
26
1.5. TEOREMA DE FOURIER
pois um ângulo fica completamente determinado quando se conhece os valores de seu seno e de seu cosseno,
a menos de múltiplos de 2π. Para isso, observamos que a equação (1.1) é válida para qualquer valor de x.
Em particular, substituindo o valor x = 0 obtemos, já que sen 0 = 0 e cos 0 = 1,
sen αT = 0,
π
donde concluı́mos que αT deve ser um múltiplo de π. Agora, substituindo o valor x = obtemos, já que
2α
π π
sen = 1 e cos = 0,
2 2
cos αT = 1.
Logo, αT é necessariamente um múltiplo de 2π. Como queremos o menor valor positivo de T , segue que
αT = 2π
e, portanto,
2π
T = .
α
A mesma conclusão vale para a função cos αx, já que a função cosseno nada mais é que a função seno defasada
π/2. ■
Como consequência importante deste resultado para nossos objetivos, segue que
nπx nπx
1.11 Corolário. As funções sen e cos têm um perı́odo em comum, igual a 2L.
L L
Prova. Como qualquer múltiplo inteiro do perı́odo fundamental é um perı́odo, segue do resultado anterior
2L nπx nπx
que n · = 2L é um perı́odo comum para sen e cos . ■
n L L
y y
1.0 1.0
0.5 0.5
0.0 0.0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
x x
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
sin(x) cos(x)
sin(2*x) cos(2*x)
sin(3*x) cos(3*x)
27
1.5. TEOREMA DE FOURIER
A próxima questão é saber para que pontos x esta série converge e se nestes pontos ela converge para o valor
f (x).
é contı́nua por partes em qualquer intervalo fechado da reta. Seus pontos de descontinuidade são os pontos
com valores inteiros e os limites laterais nestes pontos são −1 e 1. □
28
1.5. TEOREMA DE FOURIER
y
1.0
0.5
−3 −2 −1 1 2 3
−0.5 x
−1.0
Figura 1.5
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−0.5 −0.4 −0.3 −0.2 −0.1 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
−0.2 x
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Figura 1.6
não é contı́nua por partes no intervalo [−1, 1], pois não existe o limite lateral à esquerda em x = 0. □
29
1.5. TEOREMA DE FOURIER
y
16
14
12
10
−0.5 −0.4 −0.3 −0.2 −0.1 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
x
Figura 1.7
onde
L
1 nπx
Z
an = f (x) cos dx, n = 0, 1, 2, . . . ,
L −L L
Z L
1 nπx
bn = f (x) sen dx, n = 1, 2, . . . ,
L −L L
f (x+) + f (x−)
converge para f (x) se f é contı́nua em x e para a média dos limites laterais se f é descontı́nua
2
em x.
Observe que se f é contı́nua em x, então a média dos limites laterais de f em x é exatamente igual a f (x); o
teorema poderia ter sido enunciado em uma forma mais compacta simplesmente afirmando que se f satisfaz
as condições do enunciado, então a série de Fourier de f converge sempre para a média dos limites laterais
f (x+) + f (x−)
.
2
1.17 Exemplo. Defina
x2 sen 1
se x ̸= 0,
f (x) = x
0 se x = 0.
30
1.5. TEOREMA DE FOURIER
2x sen 1 − cos 1
se x ̸= 0,
′
f (x) = x x
0 se x = 0.
y
0.05
0.04
0.03
0.02
0.01
−0.03
−0.04
−0.05
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−0.6
−0.8
−1.0
31
1.5. TEOREMA DE FOURIER
y
1.0
0.5
−3 −2 −1 0 1 2 3
x
Figura 1.9: L = 1.
Vamos calcular a série de Fourier de f . Temos
1 L
Z Z L
a0 = f (x) dx = dx = L,
L −L 0
1 L nπx
Z
an = f (x) cos dx
L −L L
Z L
nπx
= cos dx
0 L
L nπx L
= sen
nπ L 0
=0
e
1 L nπx
Z
bn = f (x) sen dx
L −L L
Z L
nπx
= sen dx
0 L
L nπx L
=− cos
nπ L 0
L
= (1 − cos nπ)
nπ
0 se n é par,
(
= 2L .
se n é ı́mpar.
nπ
32
1.5. TEOREMA DE FOURIER
Portanto,
∞
L 2L X 1 (2n − 1)πx
f (x) = + sen .
2 π n=1 2n − 1 L
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
Figura 1.10: Gráfico das somas parciais desde n = 1 até n = k para k = 1, 2, 3, 4, 5 (L = π).
y
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
Para os valores de descontinuidade (x = kL, k ∈ Z), os senos se anulam e a série de Fourier de f tem valor
igual a L/2, exatamente a média dos limites laterais nestes pontos. Nos demais pontos, a série de Fourier
converge para f , mas com uma convergência lenta, já que os seus coeficientes são da ordem de 1/(2n − 1).
1.19 Exemplo (Onda triangular). Defina g : R −→ R por
−x se − L ⩽ x < 0,
g(x) =
x se 0 ⩽ x < L,
e g periódica de perı́odo 2L. Observe que g é contı́nua e diferenciável por partes (isto é, g ′ é contı́nua por
partes), logo a série de Fourier de g converge para g em todo ponto. A série de Fourier de g foi calculada no
Exemplo 1.2. □
33
1.6. SÉRIES DE FOURIER DE FUNÇÕES PARES E ÍMPARES
f (−x) = f (x)
e ı́mpar se
f (−x) = −f (x).
□
nπx 2
1.21 Exemplo. a) As funções constantes, |x|, x2 , x4 , x2n e cos para qualquer n ∈ N, ex , são funções
L
pares.
nπx
b) As funções x, x3 , x2n+1 e sen para qualquer n ∈ N, são funções ı́mpares.
L
x 2
c) As funções e , x + x + 1 não são nem pares, nem ı́mpares. □
1.22 Proposição (Propriedades Elementares das Funções Pares e Ímpares). (i) A soma de duas funções
pares é uma função par; a soma de duas funções ı́mpares é uma função ı́mpar.
(ii) A soma de uma função par e uma função ı́mpar não é par, nem ı́mpar (a não ser que uma delas seja
a função nula).
(iii) O produto de duas funções pares é uma função par; o produto de duas funções ı́mpares é uma função
par.
(iv) O produto de uma função par e uma funções ı́mpar é uma função ı́mpar.
Prova: A verificação destas propriedades é muito fácil: por exemplo, se f e g são ı́mpares, então
Z L Z L
f (x) dx = 2 f (x) dx.
−L 0
2) Seja f : R −→ R uma função ı́mpar, integrável em qualquer intervalo limitado. Então, para todo
L ∈ R vale
Z L
f (x) dx = 0.
−L
Prova: Temos Z L Z 0 Z L
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
34
1.6. SÉRIES DE FOURIER DE FUNÇÕES PARES E ÍMPARES
■
Como conseqüência destas duas proposições, obtemos que a série de Fourier para uma função par é uma
série de cossenos, enquanto que a série de Fourier para uma função ı́mpar é uma série de senos:
1.24 Proposição (Séries de Fourier de Funções Pares e Ímpares). 1) Seja f : R −→ R uma função
par que satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. Então,
L
2 nπx
Z
an = f (x) cos dx,
L 0 L
bn = 0,
logo
∞
a0 X nπx
f (x) = + an cos .
2 n=1
L
2) Seja f : R −→ R uma função ı́mpar que satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. Então,
an = 0,
2 L nπx
Z
bn = f (x) sen dx,
L 0 L
logo
∞
X nπx
f (x) = bn sen .
n=1
L
1.25 Exemplo (Onda em dente de serra). Considere a função f (x) = x, se −L < x < L, f (−L) =
f (L) = 0, periódica de perı́odo 2L.
35
1.6. SÉRIES DE FOURIER DE FUNÇÕES PARES E ÍMPARES
y
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
−3 −2 −1 1 2 3
−0.2 x
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Figura 1.12
y
3
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
−1
−2
−3
Figura 1.13: Gráfico das somas parciais desde n = 1 até n = k para k = 1, 2, 3, 4, 5 (L = π).
36
1.6. SÉRIES DE FOURIER DE FUNÇÕES PARES E ÍMPARES
y
3
−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5
x
−1
−2
−3
100
80
60
40
20
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
x
−20
37
1.6. SÉRIES DE FOURIER DE FUNÇÕES PARES E ÍMPARES
y
100
80
60
40
20
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−20 x
−40
−60
−80
−100
Por outro lado, se tomarmos a extensão periódica ı́mpar de f (redefinindo f (L) = 0), obteremos a função
f (x) = x se − L < x < L,
f (x) = f (x + 2L), f (−L) = f (L) = 0,
que é a onda em dente de serra, cuja série de Fourier é a série de senos calculada acima:
∞
2L X (−1)n+1 nπx
f (x) = sen .
π n=1 n L
1
Os coeficientes de Fourier da série de cossenos de f decrescem na ordem de 2 , enquanto que os coeficientes
n
1
de Fourier da série de senos de f decrescem na ordem de . Portanto, a convergência da expansão em
n
cossenos de f é muito mais rápida do que a convergência da expansão em senos de f . Isso se deve ao fato
de que a extensão de f a uma função par é uma função contı́nua na reta toda, enquanto que a extensão de
f a uma função ı́mpar é uma função que possui descontinuidades nos pontos da forma x = 2kL, k ∈ Z. Em
geral, como veremos na seção a seguir, quanto maior a regularidade de f , mais rápida é a convergência da
sua série de Fourier. □
38
1.7. VELOCIDADE DE CONVERGÊNCIA DA SÉRIE DE FOURIER
Definindo a constante
L
1
Z
M0 = |f (x)| dx,
L −L
segue que
|an | , |bn | ⩽ M0
para todo n. Como a função é apenas integrável, tudo o que conseguimos obter é que os coeficientes de
Fourier são limitados. A série de Fourier pode nem mesmo convergir.
Suponha adicionalmente que
Passo 2. f é contı́nua e sua derivada f ′ é absolutamente integrável em [−L, L].
Desta vez podemos integrar por partes para obter
L
1 nπx
Z
an = f (x) cos dx
L −L L
Z L
1 nπx L 1 nπx
= f (x) sen − f ′ (x) sen dx
nπ L −L nπ −L L
Z L
1 nπx
=− f ′ (x) sen dx.
nπ −L L
39
1.7. VELOCIDADE DE CONVERGÊNCIA DA SÉRIE DE FOURIER
e
L
1 nπx
Z
bn = f (x) sen dx
L −L L
Z L
1 nπx L 1 nπx
=− f (x) cos + f ′ (x) cos dx
nπ L −L nπ −L L
Z L
1 1 nπx
=− (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f ′ (x) cos dx
nπ nπ −L L
Z L
1 nπx
= f ′ (x) cos dx.
nπ −L L
|a′n | , |b′n | ⩽ M
f1 ,
Lf
Portanto, se M1 = M1 , segue que
π
M1
|an | , |bn | ⩽
n
para todo n ̸= 0. Desta vez, com as hipóteses adicionais sobre f (f mais regular, mais suave), obtivemos
que os coeficientes de Fourier convergem para P zero quando n tende a infinito. Isso ainda não assegura que a
série de Fourier converge, é claro (a série 1/n diverge).
Suponha adicionalmente que
Passo 3. f e f ′ são contı́nuas e a derivada segunda f ′′ é absolutamente integrável em [−L, L].
Usando o Passo 2 acima, temos
L ′′
a′n = − b ,
nπ n
L ′′
b′n = a ,
nπ n
40
1.7. VELOCIDADE DE CONVERGÊNCIA DA SÉRIE DE FOURIER
donde
L ′
an = − b
nπ n
L L ′′
=− an
nπ nπ
L
= − 2 2 a′′n ,
n π
e
L ′
bn = a
nπ n
L L
= − b′′n
nπ nπ
L ′′
= − 2 2 bn .
n π
Do Passo 1 temos
|a′′n | , |b′′n | ⩽ M
f2
L2 f
Portanto, se M2 = M2 , segue que
π2
M2
|an | , |bn | ⩽
n2
para todo n ̸= 0. Nestas condições, sem usar o Teorema de Fourier concluı́mos pelo teste da comparação
∞ 1
P
que a série de Fourier converge, pois a série 2
é convergente. Isso ainda não permite concluir que a
n=1 n
série de Fourier converge para f . Além disso, a velocidade de convergência é relativamente rápida, de ordem
quadrática.
Procedendo por indução, vemos que quanto mais regular ou suave f for, mais rapidamente os coeficientes
de Fourier convergem para zero e, consequentemente, maior será a velocidade de convergência da série de
Fourier.
Os cálculos acima mostram também que é possı́vel calcular os coeficientes de Fourier das derivadas de
uma função a partir dos coeficientes de Fourier da própria função.
Todos estes resultados são resumidos no teorema a seguir:
1.27 Teorema (Estimativa dos Coeficientes de Fourier). Seja f : R −→ R uma função periódica
de perı́odo 2L, k vezes diferenciável, tal que f, f ′ , f ′′ , ..., f (k−1) são contı́nuas em R e f (k) é absolutamente
integrável em [−L, L]. Então, existe uma constante Mk > 0 tal que
Mk
|an | , |bn | ⩽
nk
para todo n ̸= 0.
41
1.7. VELOCIDADE DE CONVERGÊNCIA DA SÉRIE DE FOURIER
(j) (j)
Prova: Mais explicitamente, podemos provar usando o argumento acima que se an , bn denotam os coefi-
cientes de Fourier de f (j) , temos para 2 ⩽ j ⩽ k
nπ nπ
a′n = bn b′n = − an
L L
n2 π 2 n2 π 2
a′′n = − an b′′n = − bn
L2 L2
n3 π 3 n3 π 3
a′′′
n =− bn , b′′′
n = an ,
L3 L3
(4) n4 π 4 (4) n4 π 4
an = an , bn = bn ,
L4 L4
.. ..
. .
ou seja,
nj π j
σj j an se n é par,
(j) L
an =
j j
σ n π
bn se n é ı́mpar,
j
Lj
e
nj π j
σj+1 j bn se n é par,
(j) L
bn =
σ nj π j
an se n é ı́mpar,
j+1
Lj
onde
1 se j = 0 mod 4 ou j = 1 mod 4,
σj =
−1 se j = 2 mod 4 ou j = 3 mod 4.
Resumimos a discussão acima para a conveniência do leitor: primeiro obtemos
Z L
1 nπx L 1 L ′ nπx L
Z
an = − f ′ (x) sen dx = − f (x) sen dx = − b′n ,
nπ −L L nπ L −L L nπ
Z L Z L
1 nπx L 1 nπx L ′
bn = f ′ (x) cos dx = f ′ (x) cos dx = a .
nπ −L L nπ L −L L nπ n
donde
nπ nπ
a′n = bn e b′n = − an .
L L
O resultado geral segue por indução:
nπ ′ nπ nπ n2 π 2
a′′n = bn = − an = − 2 an ,
L L L L
nπ nπ nπ n2 π 2
b′′n = − a′n = − bn = − 2 bn ,
L L L L
n2 π 2 n3 π 3
nπ ′′ nπ
a′′′
n = bn = − 2 bn = − 3 bn ,
L L L L
2 2
nπ nπ n π n3 π 3
b′′′
n = − a′′n = − − 2 an = an ,
L L L L3
42
1.8. DIFERENCIAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
nπ n3 π 3 n4 π 4
nπ ′′′
a(4)
n = b n = 3
an = an ,
L L L L4
3 3
nπ ′′′ nπ n π n4 π 4
b(4)
n = − an = − − 3 bn = bn ,
L L L L4
n4 π 4 n5 π 5
nπ (4) nπ
a(5)
n = b = b n = bn ,
L n L L4 L5
nπ n4 π 4 n5 π 5
nπ (4)
b(5)
n =− a =− an = − bn ,
L n L L4 L5
e assim por diante.
A constante Mk é dada por
!
L
Lk 1
Z
(k)
Mk = k f (x) dx .
π L −L
Então a série de Fourier de f ′ é a série obtida derivando termo a termo a série de Fourier de f :
∞
X nπ nπx nπ nπx
f ′ (x) = − an sen + bn cos .
n=1
L L L L
Prova: Pelo Teorema de Fourier, sabemos que f ′ possui uma série de Fourier que converge para f ′ nos
pontos de continuidade de f ′ e para a média dos limites laterais de f ′ nos pontos de descontinuidade:
∞
A0 X nπx nπx
f ′ (x) = + An cos + Bn sen .
2 n=1
L L
43
1.8. DIFERENCIAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
Temos
L
1 1
Z
A0 = f ′ (x) dx = (f (L) − f (−L)) = 0
L −L L
porque f tem perı́odo 2L, logo f (L) = f (−L). Assumindo, para simplificar a demonstração, que f ′ é
contı́nua, podemos integrar por partes para obter os outros coeficientes:
L
1 nπx
Z
An = f ′ (x) cos
dx
L−L L
" Z L #
1 L nπx L L nπx
= f (x) cos + f (x) sen dx
L nπ L −L nπ −L L
" #
L 1 1 L nπx
Z
= (f (L) cos nπ − f (−L) cos(−nπ)) + f (x) sen dx
nπ L L −L L
L
= bn .
nπ
L
1 nπx
Z
Bn = f ′ (x) sen
dx
L
−L L
" Z L #
1 L nπx L L nπx
= f (x) sen − f (x) cos dx
L nπ L −L nπ −L L
" Z #
L 1 L nπx
=− f (x) cos dx
nπ L −L L
L
=− an .
nπ
■
1.29 Exemplo. Se f é descontı́nua, então a conclusão deste teorema falha: mesmo que f possua uma série
de Fourier que converge para f em seus pontos de continuidade, não podemos derivar a série de Fourier de
f termo a termo para encontrar a série de Fourier de f ′ . Por exemplo, se f : R −→ R é a onda em dente de
serra, isto é, a função periódica de perı́odo 2L definida no intervalo fechado [−L, L] por
x se − L < x < L,
f (x) =
0 se x = L, −L,
como vimos anteriormente. Como f ′ satisfaz também as hipóteses do Teorema de Fourier, sabemos que f ′
também possui uma série de Fourier que converge para f ′ nos pontos de continuidade e para a média dos
limites laterais nos pontos de descontinuidade. No entanto, como f não é contı́nua, ocorre que esta série de
Fourier não pode ser obtida através da derivação termo a termo da série de Fourier de f . De fato, a derivada
termo a termo da série de Fourier de f
∞
X nπx
2 (−1)n+1 cos
n=1
L
44
1.9. INTEGRAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
não é nem mesmo uma série convergente em nenhum ponto, divergindo tanto nos pontos de descontinuidade
como em pontos de continuidade de f . Por exemplo, no ponto x = 0, a série é
∞
X
2 (−1)n+1 = 2(1 − 1 + 1 − 1 + ...)
n=1
que oscila entre os valores −2 e 0. Em geral, a série diverge em qualquer ponto porque
lim cos nx ̸= 0
n→∞
para todo x ∈ R. Para provar isso, suponha por absurdo que lim cos nx = 0 para algum x. Isso implica
n→∞
2
2 2
evidentemente que lim cos nx = 0 também, pois lim cos nx = lim cos nx . Também segue que
n→∞ n→∞ n→∞
lim cos 2nx = 0, pois {cos 2nx} é uma subseqüência de {cos nx}. Mas então, tomando o limite quando
n→∞
n → ∞ em ambos os lados da identidade trigonométrica
1 + cos 2nx
cos2 nx = ,
2
obteremos o absurdo 0 = 1/2. Isso prova que lim cos nx ̸= 0 para todo x ∈ R e portanto a série diverge em
n→∞
todos os pontos. Podemos calcular a série de Fourier de f ′ diretamente a partir da definição de f ′ : temos
que f ′ (x) = 1 se −L < x < L, f ′ não está definida nos pontos múltiplos de L (mas podemos redefinir nestes
pontos como valendo 1) e é periódica de perı́odo 2L, logo seus coeficientes de Fourier (note que f ′ é par) são
2L 2L
1 1
Z Z
a0 = f (x) dx = dx = 2,
L 0 L 0
2L
1 nπx
Z
an = cos dx = 0,
L 0 L
bn = 0,
45
1.9. INTEGRAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
1.30 Proposição. Seja f : R −→ R uma função periódica de perı́odo T . Então, para qualquer a ∈ R vale
Z T Z a+T
f (x) dx = f (x) dx.
0 a
basta provar que F é constante. Para isso, mostraremos que F ′ ≡ 0. De fato, escrevendo
Z 0 Z a+T
F (a) = f (x) dx + f (x) dx
a 0
Z a Z a+T
=− f (x) dx + f (x) dx
0 0
F ′ (a) = −f (a) + f (a + T ) = 0.
■
Em outras palavras, este resultado diz que a integral de uma função periódica de perı́odo T tem o mesmo
valor em qualquer intervalo de comprimento T .
1.31 Teorema (Integração Termo a Termo da Série de Fourier). () Seja f : R −→ R uma função periódica
de perı́odo 2L, tal que f é contı́nua por partes. Então, mesmo se a série de Fourier de f
∞
a0 X nπx nπx
+ an cos + bn sen
2 n=1
L L
para todo t ∈ R.
Prova: Defina Z th
a0 i
F (t) = f (x) − dx.
0 2
Observe que F satisfaz as hipóteses do Teorema de Fourier. De fato, F é periódica de perı́odo 2L, pois
t+2L
a0 i
Z h
F (t + 2L) = f (x) −
dx
0 2
Z th Z t+2L h
a0 i a0 i
= f (x) − dx + f (x) − dx
0 2 t 2
Z t+2L h
a0 i
= F (t) + f (x) − dx
t 2
46
1.9. INTEGRAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
e
t+2L t+2L t+2L
a0 i a0
Z h Z Z
f (x) − dx = f (x) dx − dx
t 2 t 2 t
!
t+2L
1 1 L
Z Z
= f (x) dx − f (x) dx 2L
t 2 L −L
Z L Z L
= f (x) dx − f (x) dx = 0.
−L −L
Além disso, F é contı́nua na reta toda, pois é a integral de uma função contı́nua por partes, e F ′ = f é
contı́nua por partes, por hipótese. Portanto, F possui uma série de Fourier que converge para F em todo
ponto:
∞
A0 X nπt nπt
F (t) = + An cos + Bn sen .
2 n=1
L L
Calculando os coeficientes da série de Fourier de F , através de integração por partes obtemos
1 L nπt
Z
An = F (t) cos dt
L −L L
" L Z L #
1 L nπt L ′ nπt
= F (t) sen − F (t) sen dt
L nπ L −L nπ −L L
"Z #
L
1 a0 nπx
=− f (t) − sen dt
nπ −L 2 L
" #
1 a0 L nπx
Z
=− Lbn − sen dt
nπ 2 −L L
L
=− bn ,
nπ
L
1 nπt
Z
Bn = F (t) sen dt
L −L L
" L Z L #
1 L nπt L ′ nπt
= − F (t) cos + F (t) cos dt
L nπ L −L nπ −L L
"Z #
L
1 a0 nπx
= f (t) − cos dt
nπ −L 2 L
" #
1 a0 L nπx
Z
= Lan − cos dt
nπ 2 −L L
L
= an .
nπ
Falta calcular A0 . Para isso, notamos que da definição de F segue que F (0) = 0, logo
∞ ∞
A0 X L X bn
=− An = .
2 n=1
π n=1 n
Assim,
Z th ∞
a0 i L X bn
f (x) − dx = ,
0 2 π n=1 n
47
1.9. INTEGRAÇÃO TERMO A TERMO DA SÉRIE DE FOURIER
donde
t t ∞ ∞
a0 L X bn LX bn nπt an nπt
Z Z
f (x) dx = dx + + − cos + sen
0 0 2 π n=1 n π n=1 n L n L
∞
a0 L X an nπt bn nπt
= t+ sen − cos −1 .
2 π n=1 n L n L
48
Capı́tulo 2
49
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
onde os coeficientes cn são escolhidos de tal forma que podemos escrever a distribuição inicial de temperaturas
f na série de senos
∞
X nπx
f (x) = cn sen .
n=1
L
Pelo Teorema de Fourier, será sempre possı́vel escrever f desta forma se f e sua derivada f ′ forem contı́nuas
por partes; neste caso os coeficientes cn são exatamente os coeficientes de Fourier da extensão periódica
ı́mpar de f :
2 L nπx
Z
cn = f (x) sen dx.
L 0 L
É necessário provar que o nosso candidato à solução u definido em (2.2) é de fato uma solução para o
problema de Dirichlet (2.1). Para isso precisamos definir mais precisamente o conceito de solução. Talvez
surpreendentemente, a definição deste conceito depende fortemente do tipo de aplicação que se tem em
mente, ou seja, do tipo de resposta que se espera do modelo matemático. Por exemplo, a função
f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L e t = 0,
u(x, t) = 0 se x = 0, L e t > 0,
1000 se 0 < x < L e t > 0,
satisfaz todas as condições do problema (2.1), mas em princı́pio não parece ser uma solução fisicamente
aceitável, pois os valores da função no interior da faixa retangular não tem qualquer relação com os valores
na fronteira. Em geral, esperamos que a distribuição de temperaturas na barra varie de maneira contı́nua com
o tempo, a partir da distribuição de temperaturas inicial, e que em qualquer instante de tempo considerado a
distribuição de temperaturas ao longo da barra também seja contı́nua e em particular que não haja um salto
descontı́nuo na temperatura da barra em seus extremos. Estas considerações levariam à seguinte definição
de solução para o problema (2.1):
50
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
51
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
2.3 Teorema. Seja f : [0, L] → R uma função contı́nua por partes tal que f ′ também é contı́nua por partes.
Então
∞
X n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e− L2 Kt sen
n=1
L
com
L
2 nπx
Z
cn = f (x) sen dx
L 0 L
A série numérica do lado direito converge, por exemplo pelo teste da raiz:
1/n
π 2 Kt π 2 Kt0
− L2 0 n2
lim e = lim e− L2 n = 0.
n→∞ n→∞
Segue do teste-M de Weierstrass que a série do lado esquerdo converge uniformemente em {(x, t) : 0 ⩽ x ⩽ L
e t ⩾ t0 } e portanto u(x, t) é contı́nua aı́. Mas t0 é arbitrário, logo concluı́mos que u(x, t) é contı́nua em R.
b
Aplicando novamente o teste-M de Weierstrass, concluı́mos que as séries obtidas diferenciando a série de
u(x, t) termo a termo, uma vez em relação a t e duas vezes em relação a x, são uniformemente convergentes,
de modo que podemos escrever
∞
π 2 X 2 − n2 π2 2 Kt nπx
ut (x, t) = − K n cn e L sen ,
L2 n=1 L
∞
π 2 X 2 − n2 π2 2 Kt nπx
uxx (x, t) = − 2 n cn e L sen ,
L n=1 L
52
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
ℓ1 = {x1 } × [t1 , t2 ],
ℓ2 = {x2 } × [t1 , t2 ],
ℓ3 = [x1 , x2 ] × {t1 }.
Então existe um ponto (x0 , t0 ) ∈ R ∪ ℓ4 tal que u(x0 , t0 ) = maxR u. Defina a função
M −m
v(x, t) = u(x, t) + (x − x0 )2 ,
4L2
53
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
54
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
min u = max u = 0,
R R
e
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
u(x, 0) = f2 (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
u(0, t) = g2 (t) se t ⩾ 0,
u(L, t) = h2 (t) se t ⩾ 0,
55
2.1. CONDIÇÃO DE DIRICHLET HOMOGÊNEA
π2 2
Definindo α = 2 K, notando que e−n αt ⩽ e−nαt = (e−αt )n com e−αt < 1 para t > 0 e lembrando que
L
∞ r
rn =
P
para |r| < 1, concluı́mos que
n=1 1−r
e−αt
|u(x, t)| ⩽ M ,
1 − e−αt
de modo que
lim u(x, t) = 0.
t→∞
Isso era esperado: já que as extremidades da barra não estão termicamente isoladas, a temperatura em
todos os pontos da barra deve decair até atingir a mesma temperatura que as suas extremidades, com o
calor escapando da barra através delas. Na verdade, a desigualdade acima mostra que a temperatura decai
rapidamente, com decaimento exponencial da ordem de e−αt .
1.0
1.0
0.8
0.8
0.6
z 0.6
0.4 z
0.4
0.2
0.2
0.0 3
0
1 2
2 x
0.0
3 1 0 1 2 3 4 5
4 x
t 0
t
5
Figura 2.1. Solução u(x, t) = e−t sen x para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = sen x.
56
2.2. CONDIÇÃO DE DIRICHLET NÃO-HOMOGÊNEA: SOLUÇÃO DE ESTADO ESTACIONÁRIO
0.3
0.2
0.1
0.0
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 3.0
x
Para este problema, o princı́pio de superposição de soluções não funciona, pois apesar da equação do calor ser
linear, as condições de contorno não são homogêneas. Vamos obter a solução através de algumas considerações
fı́sicas.
É de se esperar que, após decorrido um tempo suficientemente longo, devido ao fato do calor se propagar
rapidamente os efeitos da distribuição inicial de temperaturas na barra se dissiparão e será atingida uma
distribuição de temperaturas permanente v(x), ou seja, independente do tempo t e da condição inicial. Como
v deve obedecer à equação do calor, mas vt ≡ 0, segue que v é uma solução do problema
v ′′ (x) = 0
se 0 < x < L,
v(0) = T1 , v(L) = T2 ,
v é chamada a solução de estado estacionário. Da equação de v obtemos que v(x) = ax+b; os valores das
constantes a, b são obtidos através das condições de contorno, de modo que a solução de estado estacionário
é
T2 − T1
v(x) = x + T1 .
L
57
2.2. CONDIÇÃO DE DIRICHLET NÃO-HOMOGÊNEA: SOLUÇÃO DE ESTADO ESTACIONÁRIO
T2
T1
0 L
A distribuição de temperatura w(x, t) é chamada transiente, porque ela desaparece à medida que o tempo
passa, ou seja, torna-se arbitrariamente pequena até o ponto de se tornar completamente irrelevante, perma-
necendo apenas a solução de estado estacionário. Como w(x, t) = u(x, t) − v(x), segue que w(x, t) satisfaz o
problema de Dirichlet homogêneo
wt = Kwxx se 0 < x < L e t > 0,
w(0, t) = w(L, t) =
0 se t ⩾ 0,
T2 − T1
w(x, 0) = f (x) − x + T1 se 0 ⩽ x ⩽ L,
L
2 L
Z
T2 − T1 nπx
cn = f (x) − x + T1 sen dx.
L 0 L L
58
2.3. CONDIÇÃO DE NEUMANN HOMOGÊNEA
Como vimos no final da seção anterior, de fato w(x, t) → 0 quando t → ∞. Portanto, a solução do problema
(2.3) é a soma da solução de estado estacionário e a solução transiente:
∞
T2 − T1 X n2 π 2 nπx
u(x, t) = x + T1 + cn e− L2 Kt sen .
L n=1
L
z 4
0
0
3
1
2 2
3
t 1
4 x
5 0
Vamos resolver este problema pelo método de separação de variáveis. Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t),
obtemos o problema de Sturm-Liouville
F ′′ (x) − σF (x) = 0
se 0 < x < L,
F ′ (0) = F ′ (L) = 0,
(a única coisa que mudou aqui foi a condição de contorno desta equação diferencial ordinária) e
G′ (t) − σKG(t) = 0.
59
2.3. CONDIÇÃO DE NEUMANN HOMOGÊNEA
de modo que √ √ √ √
F ′ (x) = c1 σe σx + c2 σe− σx .
A condição de fronteira F ′ (0) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema √ √
c1 σ + c2 σ = 0 √
√ √σL √ .
c1 σe + c2 σe− σL = 0
cuja única solução é c1 = c2 = 0, mas F (x) ≡ 0 não nos interessa.
2. σ = 0: A solução geral do problema de Sturm-Liouville é da forma
F (x) = c1 x + c2 ,
de modo que
F ′ (x) = c1 .
A condição de fronteira F ′ (0) = F ′ (L) = 0 implica c1 = 0, mas desta vez podemos ter c2 ̸= 0 e portanto
uma solução aceitável é a função constante
F (x) ≡ c0 .
√
3. σ < 0: Denotando λ = −σ, a solução geral do problema de Sturm-Liouville é da forma
de modo que
F ′ (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição de fronteira F ′ (0) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema
c2 λ = 0
.
−c1 λ sen λL = 0
Logo c2 = 0 e como não queremos c1 = 0, devemos ter sen λL = 0, o que implica λL = nπ, onde n ∈ N
pode ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada valor de n, uma solução para o problema
de Sturm-Liouville é a função
nπx
Fn (x) = cos ,
L
n2 π 2
σ = −λ2n = − .
L2
60
2.4. CONDIÇÃO DE ROBIN HOMOGÊNEA
L
2 nπx
Z
cn = f (x) cos dx.
L 0 L
2.0
2.0
1.5
1.5
z 1.0
z 1.0
0.5
0.5
0.0
0.0 3 3 5
0
1 2 2 4
2 3
3 1 1 2
x x 1 t
t 4
5 0 0 0
Figura 2.5. Solução u(x, t) = 1 + e−t cos x para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = 1 + cos x.
De forma semelhante à da primeira seção deste capı́tulo, é possı́vel provar que esta é de fato a única
solução de (2.4), e que (2.4) é um problema bem-posto no sentido de Hadamard.
Resolveremos este problema também pelo método de separação de variáveis. Escrevendo u(x, t) =
F (x)G(t), obtemos o problema de Sturm-Liouville
F ′′ (x) − σF (x) = 0
se 0 < x < L,
F (0) = F ′ (L) = 0,
e
G′ (t) − σKG(t) = 0.
Para resolver o problema de Sturm-Liouville, como de costume analizamos o sinal de σ:
61
2.4. CONDIÇÃO DE ROBIN HOMOGÊNEA
de modo que √ √ √ √
F ′ (x) = c1 σe σx + c2 σe− σx .
A condição de fronteira F (0) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema
c1 + c2√= 0
√ √ √ .
c1 σe σL + c2 σe− σL = 0
cuja única solução é c1 = c2 = 0, o que não nos interessa.
2. σ = 0: A solução geral do problema de Sturm-Liouville é da forma
F (x) = c1 x + c2 ,
de modo que
F ′ (x) = c1 .
A condição de fronteira F (0) = F ′ (L) = 0 implica c1 = c2 = 0, e novamente isto não é interessante.
√
3. σ < 0: Denotando λ = −σ, a solução geral do problema de Sturm-Liouville é da forma
de modo que
F ′ (x) = −c1 λ sen λx + c2 λ cos λx.
A condição de fronteira F (0) = F ′ (L) = 0 implica que as constantes reais c1 , c2 devem satisfazer o
sistema
c1 = 0
.
c2 λ cos λL = 0
(2n − 1)π
Como não queremos c2 = 0, devemos ter cos λL = 0, o que implica λL = , onde n ∈ N pode
2
ser um inteiro positivo qualquer. Portanto, para cada valor de n, uma solução para o problema de
Sturm-Liouville é a função
(2n − 1)π
Fn (x) = sen x,
2L
(2n − 1)2 π 2
σ = −λ2n = − .
4L2
Portanto, um candidato à solução do problema com condições de fronteira mistas (2.5) será a função
∞
X (2n−1)2 π 2 (2n − 1)πx
u(x, t) = c2n−1 e− 4L2
Kt
sen
n=1
2L
2n − 1
o que não é imediatamente claro, pois não é um inteiro. No entanto, podemos imaginar que 2L está
2
fazendo o papel de L na série de Fourier, de modo que o que temos que obter é uma extensão periódica ı́mpar
62
2.4. CONDIÇÃO DE ROBIN HOMOGÊNEA
de perı́odo 4L de f . Ainda assim, sobra o problema de que aparecem apenas os termos de coeficiente ı́mpar
nesta série de senos de f . Precisamos determinar uma extensão ı́mpar de f de tal modo que os coeficientes
de Fourier de f correspondentes aos inteiros pares sejam iguais a zero. Observe que basta determinar o
comportamento da extensão no intervalo [0, 2L], já que o comportamento dela em [2L, 4L] fica determinado
pelo fato da extensão ser ı́mpar.
Para entender o comportamento da extensão de f em [0, 2L], examinamos os gráficos das funções
(2n − 1)πx
sen no intervalo [0, 2L], para tentar descobrir o que elas tem em comum, ou seja identificar
2L
o padrão comum entre elas.
observe que ao extendermos f no intervalo [L, 2L], o fizemos de tal modo que o gráfico de fe é simétrico em
relação à reta x = L (veja a figura a seguir).
63
2.4. CONDIÇÃO DE ROBIN HOMOGÊNEA
Vamos verificar se isso é suficiente para que esta extensão de f tenha a propriedade desejada, ou seja,
uma série de Fourier em que só aparecem os coeficientes ı́mpares dos senos. A inspeção visual ajudou
a encontrar o padrão, mas ela não prova o fato, pois poderia existir um outro padrão que escapou aos
nossos olhos responsável pela propriedade, enquanto que o padrão que identificamos poderia ser apenas uma
coincidência, uma correlação sem maiores consequências. Os coeficientes de Fourier desta extensão de f são
64
2.4. CONDIÇÃO DE ROBIN HOMOGÊNEA
dados por
an = 0,
Z 2L
2 nπx 1 L nπx 1 2L nπx
Z Z
bn = fe(x) sen dx = f (x) sen dx + f (2L − x) sen dx
2L 0 2L L 0 2L L L 2L
1 L nπx 1 0 nπ(2L − t)
Z Z
= f (x) sen dx − f (t) sen dt
L 0 2L L L 2L
Z L Z L
1 nπx 1 nπt
= f (x) sen dx + f (t) cos nπ sen − dt
L 0 2L L 0 2L
1 L nπx 1 L nπt
Z Z
= f (x) sen dx + f (t)(−1)n+1 sen dt
L 0 2L L 0 2L
0 Z se n é par,
L
= 2 nπx
f (x) sen dx se n é ı́mpar.
L 0 2L
Isso prova que obtemos o resultado que querı́amos. Com argumentos semelhantes aos utilizados anterior-
mente, pode-se provar que de fato a função
∞
X (2n−1)2 π 2 (2n − 1)πx
u(x, t) = c2n−1 e− 4L2
Kt
sen
n=1
2L
com
L
2 (2n − 1)πx
Z
c2n−1 = f (x) sen dx
L 0 2L
é a única solução do problema de Robin homogêneo, e que ele é um problema bem-posto no sentido de
Hadamard.
1.0
0.8
0.6
z
0.4
0.2
0.0
0 3
2
4 2
6 1
8
t 10 0 x
t x x
Figura 2.7. Solução u(x, t) = e− 4 sen para L = π, K = 1 e condição inicial f (x) = sen .
2 2
65
2.5. EQUAÇÃO DO CALOR NÃO-HOMOGÊNEA
A estratégia mais simples para resolver este tipo de problema é primeiro encontrar a solução de estado
estacionário e depois encontrar a solução transiente; a soma delas será a solução do problema. No entanto,
dependendo das condições de fronteira do problema, pode ser que uma solução de estado estacionário não
exista. Por exemplo, em um problema com geração interna de calor em que as extremidades da barra
também estão isoladas termicamente, como o calor não tem para onde escapar, a temperatura na barra deve
aumentar constantemente sem limites (até a barra derreter e deixar de ser barra) e nunca será atingida uma
situação de equilı́brio.
2.8 Exemplo. Considere o seguinte problema de condução de calor em uma barra uniforme, homogênea,
cuja superfı́cie lateral é isolada termicamente:
ut = uxx + sen x se 0 < x < π e t > 0,
u(0, t) = 1 se t ⩾ 0,
u x (π, t) = 2 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = 1 + sen x se 0 ⩽ x ⩽ π.
Observe que uma das extremidades da barra é mantida a uma temperatura constante, enquanto que a outra
extremidade tem uma taxa de fluxo de calor constante (condição de fronteira de Robin). Além disso, vemos
que calor é gerado internamente na barra (a função seno é positiva no intervalo (0, π)), dependendo do ponto
da barra, mas independente do tempo.
Vamos encontrar primeiro a solução de estado estacionário v(x). Embora, à primeira vista, fisicamente
talvez não seja tão claro que ela exista nestas condições, se pudermos encontrá-la matematicamente isso por
si só será prova suficiente da sua existência. Como v deve obedecer à equação do calor, mas vt ≡ 0, segue
que v satisfaz à equação 0 = v ′′ (x) + sen x, logo v é uma solução do problema
′′
v (x) = − sen x se 0 < x < L,
v(0) = 1, (2.6)
′
v (π) = 2.
66
2.5. EQUAÇÃO DO CALOR NÃO-HOMOGÊNEA
Fisicamente, não deve haver uma temperatura de estado estacionário. Matematicamente, se supusermos que
existe uma solução de estado estacionário v(x) independente do tempo e tentarmos resolver o correspondente
problema para v ′′
v (x) = a se 0 < x < L,
v ′ (0) = v ′ (L) = 0
onde a = −q/K, obteremos por integração simples
v ′ (x) = ax + c1 ,
donde
a 2
v(x) =x + c1 x + c2 .
2
A condição de fronteira v (0) = 0 permite concluir que c1 = 0, mas então a condição de fronteira v ′ (L) = 0
′
implica que a = 0, uma contradição (pois q ̸= 0); além disso, observe que a constante c2 permanece
indeterminada. Este problema pode ser resolvido pelo método de variação dos parâmetros, como veremos
na próxima subseção. □
67
2.5. EQUAÇÃO DO CALOR NÃO-HOMOGÊNEA
A motivação do método de variação dos parâmetros é a seguinte. Se tivéssemos q = 0 (isto é, equação do
calor homogênea), então a solução do problema seria
∞
X n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn e − L2
Kt
sen .
n=1
L
∞
X n2 π 2 nπx
u(x, t) = cn (t) e− L2
Kt
sen
n=1
L
onde os parâmetros constantes cn são substituı́dos pelos parâmetros variáveis cn (t), que devem ser deter-
minados. Observe que esta solução já satisfaz as condições de fronteira. Precisamos escolher os coeficientes
cn (t) de tal forma que u (x, t) satisfaça a equação do calor não-homogênea e a condição inicial; esta última
obviamente será satisfeita se tivermos
L
2 nπx
Z
cn (0) = f (x) sen dx. (2.7)
L 0 L
Temos
∞
n2 π 2
X n2 π 2 2 2
− nLπ nπx
ut (x, t) = c′n (t) e− L2 Kt − 2
Kcn (t) e 2 Kt
sen ,
n=1
L L
∞ 2 2
X 2 2
− nLπ
2 Kt
n π nπx
uxx (x, t) = cn (t) e − 2 K sen .
n=1
L L
Se para cada t > 0 fixado a função q (x, t) é representada por sua série de Fourier de senos
∞
X nπx
q (x, t) = qn (t) sen ,
n=1
L
segue que
∞ ∞
n2 π 2 n2 π 2
X
′
2 2
− nLπ
2 Kt
nπx X 2 2
− nLπ
2 Kt
nπx
cn (t) − 2
Kcn (t) e sen = − 2 Kcn (t) e + qn (t) sen .
n=1
L L n=1
L L
68
2.5. EQUAÇÃO DO CALOR NÃO-HOMOGÊNEA
Igualando os termos da série (pois a série de Fourier de uma função definida na reta toda é única), obtemos
para cada n ∈ N a equação diferencial ordinária
n2 π 2 n2 π 2
2 2 2 2
′ − nLπ
2 Kt − nLπ
2 Kt
cn (t) − Kcn (t) e = − Kcn (t) e + qn (t)
L2 L2
ou
n2 π 2
Kt
c′n (t) = qn (t) e L2 ,
sujeita à condição inicial (2.7). A solução para este problema de valor inicial é obtida através de uma simples
integração:
Z t
n2 π 2
cn (t) = cn (0) + qn (s) e L2 Ks ds.
0
∞ h
X Rt n2 π 2
i n2 π2 nπx
u(x, t) = cn (0) + 0 qn (s) e L2 Ks ds e− L2 Kt sen .
n=1
L
Este método também funciona quando consideramos condições de Neumann ou de Robin homogêneas.
2.10 Exemplo. Como exemplo, vamos usar o método de variação de parâmetros para resolver o problema
de Neumann do Exemplo 2.9. Escrevemos
∞
c0 (t) X n2 π 2 nπx
u(x, t) = + cn (t) e− L2 Kt cos .
2 n=1
L
Como
q0 = q,
qn = 0 para todo n > 1,
segue que
c0 (0)
c0 (t) = qt + ,
2
cn (t) = cn (0) para todo n > 1,
logo
∞
c0 X n2 π 2 nπx
u(x, t) = qt + + cn e− L2 Kt cos ,
2 n=1
L
onde cn são os coeficientes da série de Fourier de f . Note que quando t → ∞ a solução se comporta como
c0
v (x, t) = qt + .
2
Neste sentido, podemos chamar v (x, t) de solução de estado estacionário. Observe como a temperatura
aumenta a uma taxa constante à medida que o tempo passa tornando-se arbitrariamente grande, como
esperávamos. □
69
2.5. EQUAÇÃO DO CALOR NÃO-HOMOGÊNEA
onde a1 , b1 , a2 , b2 ∈ R são constantes não-negativas tais que a1 , b1 não são simultaneamente nulas, a2 , b2 não
são simultaneamente nulas e (La1 + b1 ) a2 + a1 b2 ̸= 0 (esta última condição exclui problemas de Neumann).
Embora não faça sentido obter uma solução de estado estacionário, já que o problema todo é dependente
do tempo, ainda assim podemos considerar escrever
Em outras palavras, como no problema geral a equação é não-homogênea e as condições de fronteira também
são não-homogêneas, dividimos o problema em dois problemas mais simples: no problema (2.8) a equação é
homogênea e as condições de fronteira são não-homogêneas; no problema (2.9) a equação é não-homogênea
mas as condições de fronteira são homogêneas. A solução do problema (2.8) é ainda uma função linear em
x, mas desta vez os coeficientes lineares dependem de t:
Os coeficientes A (t) e B (t) são determinados pelas condições de fronteira. Resolvendo o sistema resultante
a1 B (t) − b1 A (t) = g (t)
,
a2 [A (t) L + B (t)] + b2 A (t) = h (t)
obtemos
a1 h (t) − a2 g (t) b1 h (t) + (La2 + b2 ) g (t)
v (x, t) = x+ .
(La1 + b1 ) a2 + a1 b2 (La1 + b1 ) a2 + a1 b2
70
2.6. ALGUNS PROBLEMAS ESPECÍFICOS DE CONDUÇÃO DO CALOR
Para resolver este problema, primeiro procuramos a solução de estado estacionário, já que as condições
nos extremos não são homogêneas. A solução de estado estacionário v = v(x) deve satisfazer o problema
′′
v (x) = 0 se 0 < x < L,
v(0) = T1 ,
′
v (L) + hv(L) = hT2 .
ou seja,
h(T2 − T1 )
v(x) = x + T1 .
1 + hL
Definindo w(x, t) = u(x, t) − v(x), segue que a solução transiente w(x, t) satisfaz o problema homogêneo
wt = Kwxx se 0 < x < L e t > 0,
w(0, t) = 0 se t ⩾ 0,
wx (L, t) + hw(L, t) = 0
se t ⩾ 0,
w(x, 0) = g(x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
onde g(x) = f (x) − v(x). Usando o método de separação de variáveis, escrevendo w(x, t) = F (x)G(t),
concluı́mos que F e G devem satisfazer o problema de Sturm-Liouville
′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
F (0) = 0,
′
F (L) + hF (L) = 0,
e
G′ (t) − σKG(t) = 0.
71
2.6. ALGUNS PROBLEMAS ESPECÍFICOS DE CONDUÇÃO DO CALOR
∞
X λ2
n
w(x, t) = cn e− L2 Kt sen λn x,
n=1
assumindo que toda função razoável g pode ser escrita como uma série de Fourier generalizada
∞
X λn
g(x) = cn sen x.
n=1
L
Os valores de λn podem ser obtidos através de métodos numéricos (eles certamente não são uma constante
vezes n, como no caso da série de Fourier). A resolução completa deste problema pede portanto uma teoria
de séries de Fourier generalizadas, o que não faremos neste curso (para ver o desenvolvimento desta teoria,
uma boa referência é [5]).
72
2.6. ALGUNS PROBLEMAS ESPECÍFICOS DE CONDUÇÃO DO CALOR
A partir daı́, o correspondentes problema com a equação do calor não-homogênea seria resolvido usando
o método de variação de parâmetros como fizemos na seção anterior. Para ver se é realmente possı́vel
fazer isso, como observado antes terı́amos que nos aprofundar mais no estudo da teoria de problemas de
Sturm-Liouville.
onde x é o comprimento de arco ao longo do fio. Observe que as condições de fronteira são uma conseqüência
da hipótese de que o contato entre as duas extremidades do fio é perfeito do ponto de vista térmico. Este é
evidentemente um problema de condições de fronteira mistas. Estas não são exatamente prescritas, mas são
condições de fronteira periódicas, já que podemos imaginar o problema definido para todo x (não apenas para
x entre −L e L), com o ponto x sendo fisicamente igual ao ponto x + 2L, logo tendo a mesma temperatura.
Resolvendo este problema pelo método de separação de variáveis, chegamos ao problema de Sturm-
Liouville periódico
′′
F (x) − σF (x) = 0 se − L < x < L,
F (−L) = F (L),
′
F (−L) = F ′ (L).
A única solução periódica para este problema, além da solução constante F0 (x) = c (correspondente à σ = 0),
é
F (x) = c1 cos λx + c2 sen λx.
√
onde, como de costume, λ = −σ. Usando a primeira condição de fronteira, obtemos
donde
2c2 sen(λL) = 0.
73
2.7. EXERCÍCIOS
donde
2λc1 sen(λL) = 0.
Se sen(λL) ̸= 0, então c1 = c2 = 0. Portanto, teremos uma solução não identicamente nula somente se
sen(λL) = 0,
nπ n2 π 2
o que corresponde a λ = . Logo, σ = − 2 e
L L
nπx nπx
Fn (x) = an cos + bn sen ,
L L
n2 π 2
Gn (t) = e− L2
Kt
.
Assim, a solução do problema é
∞ ∞
a0 X n2 π 2 nπx X − n2 π2 2 Kt nπx
u(x, t) = + an e− L2 Kt cos + bn e L sen ,
2 n=1
L n=1
L
onde an e bn são os coeficientes da série de Fourier da extensão periódica de f de perı́odo 2L. Este é um
exemplo de uma solução que envolve ambos senos e cossenos.
2.7 Exercı́cios
Exercı́cio 2.1. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
ut = uxx se 0 < x < 1 e t > 0,
(a) u(0, t) = 0, u(1, t) = 100 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = 100x (1 − x) se 0 ⩽ x ⩽ 1.
ut = uxx se 0 < x < 10 e t > 0,
u(0, t) = 0, u(10, t) = 100 se t ⩽ 0,
(b)
0 se 0 ⩽ x < 5,
u(x, 0) =
100 se 5 < x ⩽ 10.
ut = uxx se 0 < x < π e t > 0,
(c) ux (0, t) = u(π, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = x se 0 ⩽ x ⩽ π.
Exercı́cio 2.2. Usando algum software matemático (Scilab, Maple, Matlab, etc.) ou algum pacote gráfico
(OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do problema anterior e veja como a
solução evolui com o tempo.
74
2.7. EXERCÍCIOS
ut = Kuxx + q,
onde q é uma função contı́nua tal que q ⩾ 0. (Sugestão: considere a função u(x, t) = (1 − e−t ) sen x.)
Exercı́cio 2.5. Mostre que o problema de Neumann
ut = Kuxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = 0 se t ⩾ 0,
ux (L, t) = ε se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
onde ε é uma constante positiva, não possui uma solução limitada em [0, L] × [0, +∞) (em outras
palavras, este problema não possui uma solução de estado estacionário).
Exercı́cio 2.6. (Equação do Calor em uma Barra com Convecção na Superfı́cie Lateral) Assuma que uma
barra uniforme homogênea é isolada termicamente apenas em suas extremidades e que ela perde calor
através de sua superfı́cie lateral a uma taxa por unidade de comprimento diretamente proporcional
à diferença u (x, t) − T , onde T é a temperatura do meio ambiente ao redor da barra. Mostre que a
equação de propagação do calor agora é
ut = Kuxx − h (u − T ) ,
onde h é uma constante positiva. Resolva o problema (de Neumann) associado, usando a função
v = eht (u − T )
75
2.7. EXERCÍCIOS
Exercı́cio 2.9. Resolva os seguintes problemas de valor inicial e de fronteira. Encontre a solução de estado
estacionário, se existir.
ut = Kuxx + a se 0 < x < L e t > 0,
(a) u(0, t) = b, u(L, t) = c se t ⩾ 0, onde a, b, c ∈ R.
u(x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut = Kuxx + Ce−px
se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0, onde p, C são constantes positivas.
u(x, 0) = f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
Exercı́cio 2.10. Encontre o valor constante de q e o menor valor da constante M para os quais o problema
ut = Kuxx + q se 0 < x < 1 e t > 0,
ux (0, t) = 1, ux (1, t) = 3 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = x (1 − 2x) + M se 0 ⩽ x ⩽ 1,
u (x, 0) ⩽ v (x, 0)
76
Capı́tulo 3
77
3.1. A EQUAÇÃO DA ONDA DE PRIMEIRA ORDEM
ou destruı́da dentro do volume de controle por uma fonte interna ou externa.. A lei de conservação para
a substância pode então ser formulada de maneira simples na seguinte forma:
Vamos agora obter uma formulação matemática para cada termo que aparece na expressão acima.
A quantidade total da substância dentro do volume de controle no instante de tempo t é
Z b
Quantidade total da substância
= u(x, t)A dx.
dentro do volume de controle a
Definimos o fluxo ϕ(x, t) da substância no tempo t como sendo a quantidade da substância fluindo através
da seção transversal em x no tempo t por unidade de área, por unidade de tempo. Assim as dimensões de
ϕ são [ϕ] = quantidade da substância / (área × tempo). Por convenção, ϕ será positivo se a substância
estiver se movendo na direção positiva do eixo x, e negativo se ela estiver se movendo na direção negativa
do eixo x. Portanto, no tempo t, a quantidade lı́quida de substância permanecendo no volume de controle
será a diferença entre a quantidade da substância entrando em x = a e a quantidade da substância saindo
em x = b:
Taxa de transferência lı́quida da substância
= ϕ(a, t)A − ϕ(b, t)A.
para dentro do volume de controle
A taxa de criação ou destruição da substância, que chamaremos de termo fonte e denotaremos por
f (x, t, u), tem dimensões [f ] = quantidade da substância / (volume × tempo), tendo sinal positivo se a
substância é criada dentro do volume de controle e negativa se a substância for destruı́da dentro do volume
de controle. Observe que ela pode depender da própria quantidade da substância disponı́vel, medida pela
densidade u. A taxa de criação ou destruição da substância dentro do volume de controle é então dada por
Z b
Taxa de criação da substância
= f (x, t, u)A dx.
dentro do volume de controle a
Assim, após cancelar o termo comum A, a lei de conservação pode ser matematicamente escrita na forma
b b
d
Z Z
u(x, t) dx = ϕ(a, t) − ϕ(b, t) + f (x, t, u) dx.
dt a a
Esta é a lei de conservação na forma integral, valendo mesmo se u, ϕ ou f não forem funções diferenciáveis
(o que pode ocorrer em certos fenômenos fı́sicos, como por exemplo naqueles que envolvem ondas de choque
ou outros tipos de descontinuidade). Se estas funções forem continuamente diferenciáveis, podemos derivar
sob o sinal de integração na primeira integral
d b
Z Z b
u(x, t) dx = ut (x, t) dx
dt a a
78
3.1. A EQUAÇÃO DA ONDA DE PRIMEIRA ORDEM
3.12 Exemplo. (Equação do Calor) No caso da equação do calor, a relação constitutiva é a lei de Fourier:
et + ϕx = 0.
cρut − kuxx = 0,
ut = Kuxx .
□
3.13 Exemplo. (Equação da Difusão) Não apenas na difusão do calor, mas em muitos outros processos
fı́sicos observa-se que a substância flui a uma taxa diretamente proporcional ao gradiente de densidade,
de regiões de maior densidade para regiões de menor densidade. Esta relação geral é chamada de lei
de Fick :
ϕ(x, t) = −Dux (x, t), (3.1)
onde D é a constante de difusão. Se o termo fonte é independente de u, obtemos de maneira análoga
à equação do calor a equação da difusão
ut = Duxx . (3.2)
O nome difusão vem do fato de que a substância difunde-se para regiões adjacentes por causa de
gradientes (i.e., diferenças) de concentração, e não porque é transportada pela corrente (i.e., não
através de convecção). Por este motivo, o termo Duxx é chamado de termo difusivo.
Além do calor, exemplos de outras substâncias que se comportam assim são substâncias quı́micas
dissolvidas em algum fluido (neste caso, u representa a concentração quı́mica) e até mesmo populações
de insetos. Além de ser confirmada através de observações empı́ricas, a lei de Fick que governa estes
e vários outros fenômenos fı́sicos e biológicos pode ser justificada teoricamente através de argumentos
baseados em modelos probabilı́sticos e caminhos aleatórios. □
79
3.1. A EQUAÇÃO DA ONDA DE PRIMEIRA ORDEM
ρt + (ρc)x = 0.
ut + cux = 0,
onde (x, t) ∈ R × R e c é a velocidade escalar do fluido: convencionamos c > 0 se o fluido está movendo-se
para a direita e c < 0 se o fluido está movendo-se para a esquerda. Esta é uma equação diferencial parcial
de primeira ordem linear e é a equação diferencial parcial mais simples.
Uma solução para esta equação é uma função u : R × R −→ R de classe C 1 . Voltando ao modelo
fı́sico, onde u representa a densidade de massa, fica claro qual deve ser o aspecto geral da solução desta
equação. Dada uma distribuição de massa u(x, t0 ) em um certo instante de tempo t0 , a distribuição de
densidade de massa u(x, t1 ) no instante de tempo posterior t1 será exatamente a distribuição de densidade
de massa anterior deslocada espacialmente pela distância percorrida pelo fluido no intervalo de tempo ∆t =
t1 − t0 . Dado que o fluido se move com velocidade constante c, esta distância é c∆t. Portanto, devemos
ter u(x, t1 ) = u(x − c(t1 − t0 ), t0 ). A distribuição de densidade u(x, t) é transportada horizontalmente pelo
movimento do fluido, daı́ o nome equação do transporte ou equação da advecção. Esta expectativa intuitiva
é demonstrada rigorosamente no teorema a seguir. Nele vemos que a equação do transporte linear com
coeficientes constantes possui uma solução geral, o que não é usual para equações diferenciais parciais,
mesmo lineares. Esta solução geral permite resolver o problema de existência e unicidade para o problema
de valor inicial da equação do transporte.
ut + cux = 0 em R × R
80
3.1. A EQUAÇÃO DA ONDA DE PRIMEIRA ORDEM
é
u(x, t) = f (x − ct)
u(x, t) = f (x − ct)
Isso significa que v é uma função constante. Defina uma função diferenciável f : R −→ R por
Segue que
f (x − ct) = u(x − ct, 0) = v(x,t) (−t) = v(x,t) (0) = u(x, t).
■
Na demonstração do Teorema 3.16, vimos que v é uma função constante. Em particular, isso implica que
para cada ponto fixado (x0 , t0 ), u é constante ao longo da reta que passa por (x0 , t0 ) e tem inclinação c (esta
é precisamente a reta s 7→ (x0 + cs, t0 + s), ou s 7→ (x0 , t0 ) + s(c, 1)); estas são as retas
x − ct = constante.
Portanto, se soubermos o valor de u em qualquer ponto desta reta, saberemos o valor de u em todos os
pontos da reta. Expressamos este fato através de uma analogia fı́sica, dizendo que a informação sobre o
valor de u em um ponto da reta é transmitida para todos os pontos da reta; se o parâmetro t é interpretado
81
3.2. MODELO MATEMÁTICO DA CORDA VIBRANTE
como representando o tempo decorrido, então podemos dizer que a informação é transmitida com velocidade
c. Esta reta é chamada uma reta caracterı́stica do problema.
Podemos também enxergar a solução como o gráfico de f (a onda) movendo-se com velocidade c para a
direita, se c > 0, ou para a esquerda, se c < 0.
Observe que faz sentido atribuir ao problema de valor inicial
ut + cux = 0 se x ∈ R e t ∈ R,
u(x, 0) = f (x) se x ∈ R,
uma solução mesmo se a condição inicial f não for de classe C 1 . Isto é claro se f for diferenciável, mas mesmo
se f é apenas contı́nua, ainda assim u(x, t) = f (x − ct) deve ser a solução do problema (imagine f como
representando a concentração inicial de uma substância quı́mica em um fluido, incapaz de se difundir neste
fluido: esta concentração inicial, mesmo que apenas contı́nua, é deslocada, para a direita ou para a esquerda,
com o movimento do fluido). Na verdade, isto faz sentido mesmo se f for descontı́nua (as descontinuidades
são igualmente transportadas pelo movimento do fluido). Neste caso, dizemos que u(x, t) = f (x − ct) é uma
solução fraca para o problema; quando u(x, t) é de classe C 1 , o que ocorre se e somente se f for de classe
C 1 , u é chamada uma solução clássica.
82
3.2. MODELO MATEMÁTICO DA CORDA VIBRANTE
T(x2,t)
T(x1,t)
Como não há movimento da corda na direção do eixo x, isso significa que a resultante das componentes
horizontais das tensões atuando em cada pedaço da corda é nula. Portanto, se T (x1 , t) e T (x2 , t) são as
tensões atuando nos pontos x1 e x2 e θ(x1 , t) e θ(x2 , t) são os ângulos destas forças com relação à horizontal
(o eixo x), no instante de tempo t, segue que
para todos x1 , x2 . Portanto, a componente horizontal da tensão é constante ao longo da corda, independente
do ponto x, embora ela possa depender do tempo t. Vamos denotar a componente horizontal da tensão por
τ (t):
τ (t) := T (x, t) cos θ(x, t).
θ(x, t)
T (x, t)senθ(x, t)
T(x,t)
Para calcular a resultante vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 ,
observamos primeiro que a força vertical atuando em um elemento infinitesimal da corda compreendido entre
83
3.2. MODELO MATEMÁTICO DA CORDA VIBRANTE
T (x + ∆x, t) sen θ(x + ∆x, t) − T (x, t) sen θ(x, t) = τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] .
Usando o fato de que tan θ(x, t) é a inclinação da reta tangente ao gráfico de u(x, t) no instante de tempo t,
ou seja, a derivada ux (x, t) da função u com relação a x, obtemos
τ (t) [tan θ(x + ∆x, t) − tan θ(x, t)] = τ (t) [ux (x + ∆x, t) − ux (x, t)] = τ (t)uxx (x, t)∆x
onde, pelo Teorema do Valor Médio, x é algum ponto compreendido entre x e x + ∆x. Portanto, a resultante
vertical da tensão atuando no pedaço da corda compreendido entre x1 e x2 é dada por
Z x2
resultante vertical = τ (t) uxx (x, t) dx. (3.5)
x1
Isso significa que em cada ponto x da corda, a força devida à tensão atuando nele no instante de tempo t
é dada por τ (t)uxx (x, t), o produto da tensão horizontal naquele ponto pela curvatura da corda no ponto.
Intuitivamente isso faz sentido, pois a tensão atuando na corda é principalmente uma força horizontal e
quanto maior é a curvatura em um ponto na corda, maior deve ser a tensão naquele ponto. Imagine uma
corda presa nas suas extremidades. Ao tentarmos flexioná-la, ela oferece resistência exatamente por estar
presa (as extremidades presas “puxam” a corda em suas direções), e quanto mais puxarmos a corda em um
determinado ponto, o que significa que estamos cada vez aumentando mais a curvatura da corda naquele
ponto, maior é a tensão na corda, isto é, a sua resistência a ser assim flexionada.
Além das forças de tensão (forças internas à corda), a corda pode também estar sujeitas a forças externas,
tais como a força da gravidade e a resistência ao movimento da corda imposta pelo meio onde ela está situada
(forças de atrito ou fricção), mas assumiremos que a contribuição destas forças é negligı́vel (por exemplo, a
corda é feita de um material muito leve e o meio não oferece resistência significativa). Em outras palavras,
estamos assumindo que as vibrações são livres.
Por outro lado, se utt (x, t) é a aceleração em um ponto x da corda no instante de tempo t (representada
apenas pelo seu componente vertical, já que o seu componente horizontal é nulo) e se a densidade linear da
corda no ponto x é ρ(x), segue da segunda lei de Newton que em cada elemento infinitesimal da corda a
força atuando nele é dm utt (x, t) = ρ(x)dx utt (x, t), de modo que
Z x2
resultante vertical = ρ(x)utt (x, t) dx. (3.6)
x1
Igualando (3.5) a (3.6), usando o fato de que x1 e x2 são arbitrários, e denotando c2 = c2 (x, t) = τ (t)/ρ(x),
obtemos a equação da onda:
utt = c2 uxx .
Fisicamente, ela significa que a aceleração em cada ponto da corda é proporcional à curvatura da corda
naquele ponto. Pontos com concavidade para cima (isto é, uxx > 0) tendem a ser acelerados para cima
(utt > 0), enquanto que pontos com concavidade para baixo (uxx < 0) tendem a ser acelerados para baixo
(utt < 0); é claro que deve-se levar em conta também a velocidade e a direção em que a corda está-se movendo
no momento.
Quando a corda é homogênea, a densidade é constante: ρ(x) ≡ ρ. Se as vibrações são pequenas, de
modo que θ(x, t) ∼ 0 e consequentemente cos θ(x, t) ∼ 1, a força de tensão não varia com o tempo: τ (t) ≡ τ .
Quando estas duas condições são obedecidas, segue que o parâmetro c é uma constante. Observe que o
parâmetro c tem dimensão de velocidade, e o significado fı́sico disso será explicado mais tarde.
84
3.2. MODELO MATEMÁTICO DA CORDA VIBRANTE
onde as condições iniciais f e g são funções contı́nuas. Este é o caso de uma corda de violão, em que a corda
é deslocada e depois solta para começar a sua vibração (f ̸= 0 e g ≡ 0) ou da corda de um piano, em que a
corda em repouso é percurtida por um golpe de martelo (f ≡ 0 e g ̸= 0).
Podemos também considerar o problema da corda com extremidades livres, em que as extremidades
da corda são presas a trilhos colocados perpendicularmente à corda, no plano de vibração, obtendo um
problema de Neumann:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
ux (0, t) = ux (L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x)
se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
Podemos ainda considerar condições de fronteira mistas (uma extremidade fixa, uma extremidade livre)
ou um problema em que as extremidades da corda se movem transversalmente de acordo com uma lei
conhecida, obtendo um problema de Robin:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = a(t) se t ⩾ 0,
u(L, t) = b(t) se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut (x, 0) = g(x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
3.1 Definição. Dizemos que uma função u : R → R é uma solução do problema da corda vibrante,
se u é contı́nua em R={(x, t) ∈ R2 : 0 ⩽ x ⩽ L e t ⩾ 0}, u ∈ C 2 (R) e u satisfaz todas as condições
iniciais e de fronteira.
85
3.3. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
F (x, t)
utt = c2 uxx + .
ρ
Por exemplo, se a única força externa que atua na corda é a força gravitacional, então F (x, t) = −ρ(x)g e
portanto
utt = c2 uxx − g.
2. Vibrações amortecidas: Se a corda estiver imersa em um fluido que opõe uma resistência ao movimento
da corda, e esta força for proporcional à velocidade da corda, temos
Se o atrito depender do quadrado da velocidade da corda, então teremos uma equação não-linear:
onde
f (0) = f (L) = f ′′ (0) = f ′′ (L) = g(0) = g(L) = 0
e c é uma constante.
Escrevendo u(x, t) = F (x)G(t), obtemos o problema de Sturm-Liouville
′′
F (x) − σF (x) = 0 se 0 < x < L,
F (0) = F (L) = 0,
86
3.3. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
e
G′′ (t) − σc2 G(t) = 0.
O problema de Sturm-Liouville é o mesmo obtido durante o estudo do problema de Dirichlet homogêneo
para a equação do calor. Suas autofunções são
nπx
Fn (x) = sen ,
L
c2 n 2 π 2
G′′ (t) + G(t) = 0,
L2
cuja solução geral é
cnπt cnπt
Gn (t) = cn cos + dn sen .
L L
Portanto, as soluções fundamentais da equação da onda que satisfazem às condições de fronteira são as
funções
nπx cnπt cnπt
un (x, t) = sen cn cos + dn sen .
L L L
∞
X nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen cn cos + dn sen .
n=1
L L L
Os seus coeficientes an , bn são determinados através das condições iniciais. Como u(x, 0) = f (x), temos
∞
X nπx
f (x) = cn sen ,
n=1
L
L
2 nπx
Z
cn = f (x) sen dx.
L 0 L
87
3.3. SOLUÇÃO PELO MÉTODO DE SEPARAÇÃO DE VARIÁVEIS E SÉRIES DE FOURIER
cnπ
e dn são portanto os coeficientes da série de Fourier em senos de g:
L
L
2 nπx
Z
dn = g(x) sen dx.
cnπ 0 L
Mais uma vez, é possı́vel provar rigorosamente que este candidato é de fato a única solução para o problema
de Dirichlet homogêneo da equação da onda sob hipóteses razoáveis:
3.2 Teorema. Sejam f, g : [0, L] → R funções tais que f é de classe C 2 e g é de classe C 1 , satisfazendo
Então
∞
X nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen cn cos + dn sen
n=1
L L L
com
2 L nπx
Z
cn = f (x) sen dx,
L Z0 L
L
2 nπx
dn = cnπ g(x) sen dx,
0 L
Observe que em cada instante de tempo t a forma da corda é uma senoidal, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Por exemplo,
√
u(x, 0) = sen√x, u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) = 0,
√
u(x, π/2) = 0, √ u(x, 7π/4) = 22 sen x
u(x, 3π/4) = − 22 sen x, u(x, 2π) = sen x.
u(x, π) = − sen x,
88
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
u
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
x
−0.2
−0.4
−0.6
−0.8
−1.0
Este exemplo ilustra de forma clara a diferença da equação do calor para a equação da onda. Na equação
da onda, o termo dependente de t também é uma função periódica, de modo que a corda vibra. Na equação
do calor, diferentemente, o termo dependente de t é um decaimento exponencial em t: o calor se propaga (e
se dissipa) rapidamente.
Aqui também a forma da corda é uma senoidal em cada instante de tempo t, cuja amplitude varia de
maneira periódica. Apenas o intervalo de tempo é deslocado de uma constante, porque a corda começa
do repouso: √
u(x, 0) = 0, √ u(x, 5π/4) = − 22 sen x,
u(x, π/4) = 22 sen x, u(x, 3π/2) = sen√x,
u(x, π/2) = sen
√
x, u(x, 7π/4) = − 22 sen x
2
u(x, 3π/4) = 2 sen x, u(x, 2π) = 0.
u(x, π) = 0,
□
89
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
Em geral, a existência de uma solução geral é tı́pico das equações diferenciais ordinárias e excepcional em se
tratando de equações diferenciais parciais. Vamos agora ver que a equação da onda é uma equação diferencial
parcial atı́pica, no sentido de que ela possui uma solução geral.
Denote os operadores derivadas parciais por
∂ ∂2
∂t = , ∂tt = 2 ,
∂t ∂t
∂ ∂2
∂x = , ∂xx = ,
∂x ∂x2
de modo que a equação da onda utt = c2 uxx pode ser reescrita na forma
∂tt − c2 ∂xx u = 0.
Isso se fatora em
(∂t + c∂x ) (∂t − c∂x ) u = 0.
Segue que se u é solução da equação da onda de primeira ordem
(∂t − c∂x ) u = 0,
isto é,
ut − cux = 0,
então u é automaticamente também uma solução da equação da onda de segunda ordem, e portanto funções
da forma
u(x, t) = F (x + ct)
para alguma função arbitrária F são soluções da equação da onda de segunda ordem.
Da mesma forma, como os operadores comutam,
(∂t − c∂x ) (∂t + c∂x ) u = 0,
se u é solução da equação da onda de primeira ordem
(∂t + c∂x ) u = 0,
isto é,
ut + cux = 0,
então u é automaticamente também uma solução da equação da onda de segunda ordem, e portanto funções
da forma
u(x, t) = G(x − ct)
para alguma função arbitrária G são soluções da equação da onda de segunda ordem.
Como a equação da onda é linear, segue que a soma destas soluções
u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct)
também é uma solução para a equação da onda de segunda ordem. De fato, todas as soluções desta equação
em esta forma. Veremos primeiro o caso em que o domı́nio é R:
3.5 Teorema. (Solução de D’Alembert, 1747) Suponha que u é uma função de classe C 2 que satisfaz a
equação da onda
utt = c2 uxx
onde c é uma constante. Então existem funções F, G : R → R de classe C 2 tais que
90
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
Prova: Se u é da forma u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct), para algumas funções F, G de classe C 2 , então u é
uma solução de classe C 2 da equação da onda porque
ux = F ′ (x + ct) + G′ (x − ct),
uxx = F ′′ (x + ct) + G′′ (x − ct),
ut = cF ′ (x + ct) − cG′ (x − ct),
utt = c2 F ′′ (x + ct) + c2 G′′ (x − ct) = c2 uxx .
Reciprocamente, para provar que toda solução da onda tem esta forma, vamos primeiro introduzir novas
variáveis
r = x + ct,
s = x − ct,
ux = vr rx + vs sx = vr + vs ,
uxx = (ux )x = (vr + vs )x = vrr rx + vrs sx + vsr rx + vss sx = vrr + 2vrs + vss ,
ut = vr rt + vs st = c(vr − vs ),
utt = (ut )t = c(vr − vs )t = c[vrr rt + vrs st − vsr rt − vss st ] = c2 (vrr − 2vrs + vss ).
Aqui usamos o fato de que v é de classe C 2 para garantir que vrs = vsr .
Como utt = c2 uxx , segue que
e, portanto,
vrs = 0.
É fácil resolver esta equação por integração simples. Por exemplo, (vr )s = 0 implica que vr é constante em
relação a s, isto é, vr é uma função apenas de r:
vr (r, s) = f (r);
91
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
com F e G de classe C 2 . ■
A expressão F (x + ct) é chamada uma onda viajante movendo-se para a esquerda com velocidade c, porque
o gráfico de F (x + ct) é o gráfico de F (x) deslocado ct unidades para a esquerda. Analogamente, G(x − ct) é
uma onda viajante movendo-se para a direita com velocidade ct. A solução da equação da onda é portanto
a soma de duas ondas viajantes, movendo-se com a mesma velocidade mas em sentidos opostos.
u u u
x x x
u u u
x x x
u u u
x x x
92
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
x+ct
1 1
Z
u(x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + g(s) ds
2 2c x−ct
Observe que as funções F e G não podem ser determinadas de maneira única, porque se k é uma constante
arbitrária, então F + k e G − k levam à mesma solução para o problema.
Das condições iniciais do problema, obtemos o sistema
F (x) + G(x) = f (x)
c [F ′ (x) − G′ (x)] = g(x)
para todo x ∈ R. Integrando a última expressão, escolhendo a constante de integração como sendo 0 (pois
basta encontrar uma solução), obtemos o sistema
F (x) + G(x) = f (x)
1 x
Z
F (x) − G(x) = g(s) ds
c 0
Portanto,
u = uxx se x ∈ R e t > 0,
tt
−x2
u(x, 0) = e se x ∈ R,
ut (x, 0) = 1
se x ∈ R,
1 + x2
93
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
é
Z x+t
1 −(x+t)2 −(x−t)2 1
u(x, t) = e +e + 2
ds
2 x−t 1 + s
1 h −(x+t)2 2
i
= e + e−(x−t) + arctan (x + t) − arctan (x − t) .
2
□
pode ser facilmente escrita na forma de D’Alembert. De fato, usando as identidades trigonométricas, temos
nπx cnπt 1 nπ(x + ct) nπ(x − ct)
sen cos = sen + sen ,
L L 2 L L
nπx cnπt 1 nπ(x − ct) nπ(x + ct)
sen sen = cos − cos ,
L L 2 L L
de modo que
∞ ∞
X nπx cnπt X nπx cnπt
u(x, t) = cn sen cos + dn sen sen
n=1
L L n=1
L L
∞ ∞
1X nπ(x + ct) nπ(x − ct) 1X nπ(x − ct) nπ(x + ct)
= cn sen + sen + dn cos − cos
2 n=1 L L 2 n=1 L L
∞ ∞
1X nπ(x + ct) nπ(x + ct) 1X nπ(x − ct) nπ(x − ct)
= cn sen − dn cos + cn sen + dn cos .
2 n=1 L L 2 n=1 L L
Assim, definindo
∞
1 Xh nπr nπr i
F (r) = cn sen − dn cos ,
2 n=1 L L
∞
1 Xh nπs nπs i
G(s) = cn sen + dn cos ,
2 n=1 L L
temos u(x, t) = F (x + ct) + G(x − ct). F e G também podem ser determinadas de maneira direta em função
das condições iniciais, como fizemos para a solução da equação da onda para a corda infinita:
3.8 Teorema. Sejam f, g : [0, L] → R funções tais que f é de classe C 2 e g é de classe C 1 , satisfazendo
94
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
Então
x+ct
1 1
Z
u(x, t) = [fe(x + ct) + fe(x − ct)] + ge(s) ds, (3.8)
2 2c x−ct
onde fe, ge são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, é a única
solução para o problema de Dirichlet homogêneo da equação da onda, contı́nua em R b e de classe C 2
em R.
∞ ∞
1X nπ(x − ct) 1 X nπ(x + ct)
= dn cos − dn cos .
2 n=1 L 2 n=1 L
Portanto,
x+ct ∞ ∞
1 1X nπ(x − ct) 1 X nπ(x + ct)
Z
ge(s) ds = dn cos − dn cos . (3.11)
2c x−ct 2 n=1 L 2 n=1 L
95
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
Prova alternativa: É possı́vel obter (3.8) sem usar séries de Fourier. Além disso, a unicidade da solução é
obtida de maneira mais simples. Sejam F, G : R → R de classe C 2 tais que
Como vimos antes, as funções F e G não podem ser determinadas de maneira única porque se k é uma
constante arbitrária, então F + k e G − k levam à mesma solução para o problema. Mas por este mesmo
motivo, não há perda de generalidade se impusermos a condição
F (0) = 0.
Além disso, o problema envolve apenas os valores de x e t tais que 0 ⩽ x ⩽ L e t ⩾ 0, logo apenas os
valores de F em [0, +∞) e de G em (−∞, L] são relevantes para a solução. Estes valores serão unicamente
determinados pelas condições iniciais e de fronteira.
Das condições iniciais do problema, obtemos
se 0 ⩽ x ⩽ L. Como f (0) = F (0) = 0, segue que G(0) = 0. Integrando a última expressão, obtemos
1 x
Z
F (x) − G(x) = g(s) ds
c 0
se 0 ⩽ x ⩽ L. Concluı́mos que
Z x
1 1
F (x) = f (x) + g(s) ds,
2 2c 0
Z x
1 1
G(x) = f (x) − g(s) ds
2 2c 0
para x ∈ [0, L]. Para encontrar os valores de F e G além deste intervalo, usamos as condições de fronteira.
De u(0, t) = 0 para todo t ⩾ 0, obtemos F (ct) + G(−ct) = 0 para todo t ⩾ 0, isto é,
e de u(L, t) = 0 para todo t ⩾ 0, obtemos F (L + ct) + G(L − ct) = 0 para todo t ⩾ 0, isto é,
(Em outras palavras, G em [−L, 0] é a extensão ı́mpar da restrição de F ao intervalo [0, L].) Agora, se fe, ge
são as extensões periódicas ı́mpares de f, g, respectivamente, com perı́odo 2L, então para x ⩽ 0 temos
fe(x) = −f (−x),
Z −x Z −x Z x
g(s) ds = − ge(−s) ds = ge(s) ds,
0 0 0
de modo que
x
1e 1
Z
G(x) = f (x) − ge(s) ds para todo − L ⩽ x ⩽ L.
2 2c 0
96
3.4. A SOLUÇÃO DE D’ALEMBERT
ou, tomando x = −y + L,
G(y) = G(y − 2L) para todo y ⩽ L,
o que significa que G é a restrição a (−∞, L] de uma função periódica de perı́odo 2L. Segue então de (3.12)
que o gráfico de F em [0, +∞) é obtido do gráfico de G em (−∞, 0] por simetria com respeito à origem, de
modo que F é a restrição a [0, +∞) de uma função periódica de perı́odo 2L. Portanto,
1e 1 x
Z
F (x) = f (x) + ge(s) ds para todo x ⩾ 0,
2 2c Z 0 (3.14)
x
1 1
G(x) = fe(x) − ge(s) ds para todo x ⩽ L.
2 2c 0
Para que F e G sejam de classe C 2 , precisamos que f seja de classe C 2 e que g seja de classe C 1 . Além
disso, como fe é ı́mpar, derivando fe(x) = −fe(−x) duas vezes produz fe′′ (x) = −fe′′ (−x) para todo x; em
particular, fe′′ (0) = −fe′′ (0), o que implica fe′′ (0) = 0, e fe′′ (L) = −fe′′ (−L) = −fe′′ (L) (porque fe tem perı́odo
2L), logo fe′′ (L) = 0 também.
Como F e G foram determinadas de maneira única nos intervalos [0, +∞) e (−∞, L], respectivamente,
segue que a única solução para o problema é
Z x+ct
1 1
u(x, t) = [fe(x + ct) + fe(x − ct)] + ge(s) ds.
2 2c x−ct
É fácil verificar a partir desta expressão que a solução depende continuamente dos valores iniciais, pois
se u1 e u2 são soluções correspondentes aos valores iniciais f1 , g1 e f2 , g2 , respectivamente, então
1 x+ct
Z
1 e
|u1 (x, t) − u2 (x, t)| ⩽ f1 (x + ct) + f1 (x − ct) − f2 (x + ct) − f2 (x − ct) + [ge1 (s) − ge2 (s)] ds
e e e
2 2c x−ct
Z x+ct
1 1 1
⩽ fe1 (x + ct) − fe2 (x + ct) + fe1 (x − ct) − fe2 (x − ct) + max |ge1 − ge2 | ds,
2 2 2c [x−ct,x+ct] x−ct
Como
f1 (x + ct) − fe2 (x + ct) ⩽ max |f1 − f2 | ,
e
[0,L]
f1 (x − ct) − fe2 (x − ct) ⩽ max |f1 − f2 | ,
e
[0,L]
97
3.5. HARMÔNICOS
3.5 Harmônicos
A solução de D’Alembert é simples, se comparada com a solução usando séries de Fourier (solução dada por
Bernoulli), mas ela tem um inconveniente sério: é muito difı́cil enxergar as vibrações através dela, pois a
periodicidade da solução com respeito à variável t não é visı́vel, a não ser nos casos mais simples.
A vantagem da solução em série de Fourier é que as vibrações da corda são facilmente discernı́veis. Con-
sidere a solução para o problema da corda livremente vibrante em pequenas amplitudes, com extremidades
fixadas, que obtivemos anteriormente:
∞
X nπx cnπt cnπt
u(x, t) = sen cn cos + dn sen .
n=1
L L L
Esta é a chamada solução de Bernoulli e é imediatamente passı́vel de interpretações fı́sicas. Para cada n,
as vibrações individuais (isto é, soluções da equação da onda sob as mesmas condições de fronteira (i.e.,
extremidades fixas), mas sem especificar a condição inicial)
nπx cnπt
un (x, t) = αn sen sen + θn
L L
98
3.6. ENERGIA DA CORDA
são chamados harmônicos. A vibração da corda é a superposição destes infinitos harmônicos. Se considerar-
mos apenas o harmônico un cada ponto da corda se moveria com as seguintes caracterı́sticas:
nπx
amplitude αn sen ,
L
fase θn ,
perı́odo 2L
cn ,
cn
frequência 2L .
Em particular, a frequência em todos pontos da corda para cada harmônico é a mesma, e aumenta linearmente
com n. A frequência do primeiro harmônico, chamado o harmônico fundamental, é a chamada a frequência
fundamental da corda:
c 1 τ
r
ω1 = = .
2L 2L ρ
Note ainda que para cada harmônico existem pontos da corda que não se movem (os zeros da função sen nπx L );
estes são chamados pontos nodais.
O ouvido humano é capaz de distinguir poucos harmônicos. Isso se deve não só pelo fato da frequência dos
harmônicos aumentar linearmente com o ı́ndice n, como também porque a amplitude e, consequentemente,
a energia destes harmônicos decrescer com n. Para ver isso, vamos calcular a energia de cada harmônico.
τ L 2
Z
U (t) = u (x, t) dx,
2 Z0 x
ρ L 2
K (t) = u (x, t) dx.
2 0 t
A segunda é clara. Para ver como foi obtida a primeira, observe que o trabalho da força de tensão vertical
na direção transversal em um ponto x da corda é dado por
de modo que o trabalho total realizado pela força de tensão na corda desde o instante 0 até o instante t0 é
Z t0 Z L
T =τ uxx (x, t)ut dxdt.
0 0
99
3.6. ENERGIA DA CORDA
se as extremidades da corda estão fixadas de modo que ut (0, t) = ut (L, t) = 0, ou se as condições de fronteira
são tais que ux (0, t) = ux (L, t) = 0. Logo,
Z t0 Z L !
1 d
T= −τ 2
ux (x, t) dx dt
0 2 dt 0
τ L 2 τ L 2
Z Z
= ux (x, 0) dx − u (x, t0 ) dx,
2 0 2 0 x
o que mostra que o trabalho da tensão para levar a corda da configuração inicial para a configuração final
depende apenas destas duas e portanto independe das configurações intermediárias, o que nos permite definir
esta expressão como uma energia potencial.
Portanto, a energia total da corda é
Na verdade, como a corda vibrante nesta situação é um sistema conservativo (não há forças dissipadoras de
energia e o sistema é isolado de influências externas ou estas são desprezı́veis), a energia total da corda é
constante e igual à sua energia no instante 0 (este fato é rigorosamente demonstrado no Teorema 3.10) ou
seja,
τ L 2 ρ L 2
Z Z
E (t) = E (0) = ux (x, 0) dx + u (x, 0) dx.
2 0 2 0 t
Se u (x, 0) = f (x) e ut (x, 0) = g (x), segue que a energia total da corda pode ser expressa em função das
condições iniciais como
τ L ′ ρ L
Z Z
2
E= [f (x)] dx + [g(x)]2 dx.
2 0 2 0
1 L 1 L
Z Z
2
En = Un + Kn = τ [(un )x ] dx + ρ(x)[(un )t ]2 dx
2 0 2 0
τ αn2 n2 π 2 L ρ αn2 c2 n2 π 2 L
2 nπx cnπt 2 nπx cnπt
Z Z
2 2
= cos sen + θ n dx + sen cos + θ n dx
2 L2 0 L L 2 L2 0 L L
Z L Z L
τ αn2 n2 π 2 ρ αn2 c2 n2 π 2
2 cnπt 2 nπx 2 cnπt nπx
= sen + θ n cos dx + cos + θ n sen2 dx
2 L2 L 0 L 2 L 2 L 0 L
τ αn2 n2 π 2 L ρ αn2 c2 n2 π 2
2 cnπt 2 cnπt L
= sen + θ n + cos + θ n
2 L2 L 2 2 L2 L 2
2 2 2
α n π cnπt cnπt
= n τ sen2 + θn + ρc2 cos2 + θn .
4L L L
Como c2 = τ /ρ, segue que
αn2 ρc2 n2 π 2
En = = M π 2 αn2 ωn2 ,
4L
cn
onde M = Lρ é a massa total da corda, αn é a amplitude máxima do harmônico e ωn = a frequência do
2L
harmônico. Desta expressão, não parece óbvio que a energia de cada harmônico decresce, mas a observação
seguinte prova que isso tem que acontecer.
100
3.6. ENERGIA DA CORDA
A energia total da corda é soma das energias dos harmônicos. De fato, para uma função arbitrária h que
satisfaz as hipóteses do teorema de Fourier vale a identidade de Parseval
L ∞
1 a20 X 2
Z
2
[h (x)] dx = + an + b2n
L −L 4 n=1
onde an , bn são os coeficientes de Fourier de h. Como vimos antes, se u (x, 0) = f (x) e ut (x, 0) = g (x), os
coeficientes cn e dn são tais que
∞
X nπx
f (x) = cn sen ,
n=1
L
∞
X cnπ nπx
g(x) = dn sen ,
n=1
L L
de modo que
∞
X nπ nπx
f ′ (x) = cn cos ,
n=1
L L
e a identidade de Parseval implica portanto que
L L ∞ ∞
τ ρ n2 π 2 2 c2 n2 π 2 2
Z Z X X
′ 2
E= [f (x)] dx + [g(x)]2 dx = ρc2 L cn + ρL dn
2 0 2 0 n=1
L2 n=1
L2
∞
X ∞
X ∞
X
= M π2 ωn2 c2n + d2n = M π 2 αn2 ωn2 =
En .
n=1 n=1 n=1
3.9 Exemplo. No caso da corda dedilhada (por exemplo, a corda de um violão), o movimento da corda é
descrito pelo problema
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut (x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L,
onde
hx
se 0 ⩽ x ⩽ a,
f (x) = a
L−x
h
se a ⩽ x ⩽ L.
L−a
(Supõe-se que o músico dedilha a corda em um ponto distante a da extremidade 0 a uma altura h.) Os
harmônicos deste problema são encontrados diretamente encontrando a série de Fourier de f (já que
dn = 0, pois não há velocidade inicial, o músico simplesmente solta a corda):
L2
2h nπa nπx cnπt
un (x, t) = sen sen cos .
a(L − a) n2 π 2 L L L
A vibração total da corda é a superposição destes harmônicos. Observe que, dependendo do ponto
a, alguns harmônicos podem estar ausentes (correspondentes a sen nπa L = 0); estes são os chamados
harmônicos mudos. Por exemplo, se a = L/2, todos os harmônicos pares são mudos. Em geral, se o
101
3.7. UNICIDADE DE SOLUÇÃO PARA A EQUAÇÃO DA ONDA
ponto a for um ponto nodal do n-ésimo harmônico, este será mudo. O primeiro harmônico (que não
possui pontos nodais) nunca é mudo.
A altura do som é medida pela frequência, e em geral ela é dada pelo harmônico fundamental
1 τ
r
ω1 = .
2L ρ
Assim, quanto menor o comprimento da corda, maior é a frequência, recurso utilizado nos instrumentos
musicais e pelos músicos. Além disso, a frequência depende da tensão, daı́ a necessidade de se afinar
os instrumentos musicais, pois com o passar do tempo a tensão em suas cordas varia.A intensidade
depende da energia, já o timbre é uma qualidade que depende da forma global de u(x, t) e portanto
permite distinguir entre instrumentos diferentes.
u
u
u
x
x
x
u
u u x
x
u
u x
u x
x
3.10 Teorema. (Princı́pio de Conservação da Energia) Suponha que u(x, t) seja uma solução para a equação
da onda
utt = c2 uxx
102
3.7. UNICIDADE DE SOLUÇÃO PARA A EQUAÇÃO DA ONDA
onde c2 = τ /ρ e
ux (0, t) = ux (L, t) = 0
ou
ut (0, t) = ut (L, t) = 0.
Se a energia da solução u no instante t é definida por
L L
τ ρ
Z Z
E(t) = u2x (x, t) dx + u2t (x, t) dx,
2 0 2 0
Prova: Temos
" Z #
d τ L 2 ρ L 2
Z
′
E (t) = u (x, t) dx + u (x, t) dx
dt 2 0 x 2 0 t
Z L Z L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + ρ ut (x, t)utt (x, t) dx
0 0
"Z #
L Z L
=τ ux (x, t)uxt (x, t) dx + ut (x, t)uxx (x, t) dx .
0 0
Prova: Suponha que u1 e u2 sejam duas soluções do problema acima. Então u = u1 − u2 é solução do
problema
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = ut (x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L.
É claro que a energia inicial é E(0) = 0. Logo, pelo princı́pio de conservação da energia,
L L
τ ρ
Z Z
E(t) = u2x (x, t) dx + u2t (x, t) dx = 0
2 0 2 0
para todo t. Segue que ux (x, t) = ut (x, t) = 0, portanto u é constante. Mas u(0, t) = 0, logo esta constante
é a constante nula, isto é, u ≡ 0 e portanto u1 = u2 . ■
103
3.8. EXERCÍCIOS
3.8 Exercı́cios
Exercı́cio 3.1. Use o método de separação de variáveis para resolver os seguintes problemas de valor ini-
cial e de fronteira (em alguns problemas, pode ser necessário encontrar antes a solução de “estado
estacionário”).
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(a) ux (0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(b) u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
2
utt = c uxx se 0 < x < L e t > 0,
(c) u(0, t) = A, u(L, t) = B se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
(d) u(0, t) = A + Bt, u(L, t) = C + Dt se t ⩾ 0,
u(x, 0) = f (x) , ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L.
(i) (Corda percurtida por um martelo plano) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
2
utt = c uxx
se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0, v se |x − a| ⩽ δ,
com g(x) =
u(x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
104
3.8. EXERCÍCIOS
(j) (Corda percurtida por um martelo convexo) Para 0 < a < L e δ > 0 pequeno:
utt = c2 uxx se 0 < x < L e t > 0,
π (x − a)
(
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0, v cos se |x − a| ⩽ δ,
com g(x) = 2δ
u(x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L, 0 se |x − a| > δ.
ut (x, 0) = g (x) se 0 ⩽ x ⩽ L,
Exercı́cio 3.2. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), plote os gráficos de algumas das soluções do exercı́cio
anterior e veja como a solução evolui com o tempo.
Exercı́cio 3.3. (Princı́pio de Duhâmel) Mostre que a solução do problema de Dirichlet para a equação da
onda não-homogênea com condições iniciais homogêneas
utt = c2 uxx + q(x, t) se 0 < x < L e t > 0,
u(0, t) = u(L, t) = 0 se t ⩾ 0,
u(x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut (x, 0) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L,
é dada por Z t
u(x, t) = u(x, t; s) ds,
0
onde u (x, t, s) é a solução do problema de Dirichlet para a equação da onda homogênea
2
utt (x, t; s) = c uxx (x, t; s)
se 0 ⩽ x ⩽ L e t > s,
u(0, t; s) = u(L, t; s) = 0 se t ⩾ s,
u(x, s; s) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ L,
ut (x, s; s) = q(x, s) se 0 ⩽ x ⩽ L.
Exercı́cio 3.5. Usando algum software matemático (Scilab, Mupad, Maple, Matlab, Mathematica, etc.) ou
algum pacote gráfico (OpenGL, Java2D, etc.), crie uma animação para ver como as funções F e G se
sobrepõe para criar a solução u para o problema de Dirichlet da equação da onda em um intervalo
[0, L]. Escolha vários pares de funções F e G que satisfaçam as condições do Teorema 3.5.
Exercı́cio 3.6. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
utt = c2 uxx − g
é
g
u (x, t) = x (x − 1) + F (x + ct) + G(x − ct),
2c2
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 .
Exercı́cio 3.7. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Neumann homogêneo para a equação da
onda.
Exercı́cio 3.8. Encontre a solução de D’Alembert do problema de Robin homogêneo para a equação da
onda com condições de fronteira u(0, t) = 0, ux (L, t) = 0.
105
3.9. APÊNDICE: CORDA SUSPENSA
Exercı́cio 3.9. Mostre que a solução geral para a equação da onda não-homogênea
é
1
Z
u (x, t) = F (x + ct) + G(x − ct) + q (r, s) drds,
2c T
onde F e G são funções arbitrárias de classe C 2 e T é o triângulo de vértices (x − ct, 0), (x + ct, 0) e
(x, t).
Se as oscilações são pequenas, temos que c é uma constante e a solução independente do tempo é
g 2
v(x) = (x − Lx).
2
Isso não corresponde à situação observada na realidade, em que a forma de uma corda suspensa é uma
catenária (isto é, o gráfico de uma função do tipo cosseno hiperbólico). Isso mostra os limites do nosso
modelo fı́sico. O seu maior limite é neste caso é que o cabo suspenso está sujeito a grandes oscilações. Para
obter a equação diferencial correta que modela uma corda ou cabo suspenso, é necessário ter um modelo
fı́sico mais acurado que permita grandes oscilações.
Observe a situação mostrada na figura abaixo:
H P
106
3.9. APÊNDICE: CORDA SUSPENSA
Nela consideramos a porção do cabo suspenso entre os dois pontos marcados na figura, onde um dos
pontos é o ponto mais baixo do cabo e o outro ponto está situado à sua direita. Denote por H a força da
tensão horizontal atuando no ponto mais baixo da curva e por T a tensão atuando no ponto à direita. Se
entre estes dois pontos o comprimento do cabo for s e a sua densidade linear for ρ, de modo que o seu peso
é P = mg = (ρs)g, e a tensão T faz um ângulo θ com a horizontal, do equilı́brio das forças resultantes segue
que:
T cos θ = H,
T sen θ = gρs.
Daı́,
gρ
v ′ (x) = tan θ =
s.
H
Denotando a constante a = gρ/H, e derivando esta expressão uma segunda vez, obtemos
Por outro lado, como s = s(x) nada mais é que a função comprimento de arco, temos
p
s′ (x) = 1 + [v ′ (x)]2 .
bem diferente da equação anterior v ′′ (x) = a. Note que esta é uma equação diferencial não-linear. A solução
geral desta equação diferencial ordinária de segunda ordem é
x
v(x) = a cosh + c1 + c2 .
a
107
Capı́tulo 4
Neste capı́tulo iniciamos o estudo das equações da onda e do calor em dimensões 2 e 3. Isso nos levará
naturalmente ao estudo da equação de Laplace no próximo capı́tulo. Aqui nos restringiremos a domı́nios
retangulares.
onde, para cada y ∈ [0, b], os coeficientes de Fourier são dados por
1 a nπx
Z
an (y) = f (x, y) cos dx para n ⩾ 0,
a −a a
1 a nπx
Z
bn (y) = f (x, y) sen dx para n ⩾ 1.
a −a a
Em seguida, suponha que cada um dos coeficientes an , bn : [0, b] → R, que na verdade são funções de y, tenha
regularidade suficiente, de modo que se estendermos cada um deles a uma função periódica de perı́odo 2b,
podemos escrever
∞
an0 X mπy mπy
an (y) = + anm cos + bnm sen para n ⩾ 0,
2 m=1
b b
∞
cn0 X mπy mπy
bn (y) = + cnm cos + dnm sen para n ⩾ 1,
2 m=1
b b
onde
108
4.1. SÉRIES DE FOURIER DUPLAS
b
1 mπy
Z
anm = an (y) cos dy para m ⩾ 0,
b −b b
Z b
1 mπy
bnm = an (y) sen dy para m ⩾ 1,
b −b b
e
b
1 mπy
Z
cnm = bn (y) cos dy para m ⩾ 0,
b −b L
Z b
1 mπy
dnm = bn (y) sen dy para m ⩾ 1.
b −b L
Em outras palavras,
∞
" #
1 a00 X mπy mπy
f (x, y) = + a0m cos + b0m sen
2 2 m=1
b b
∞ ∞
" #
X an0 X mπy mπy nπx
+ + anm cos + bnm sen cos
n=1
2 m=1
b b a
∞ ∞
" #
X cn0 X mπy mπy nπx
+ + cnm cos + dnm sen sen ,
n=1
2 m=1
b b a
de modo que
∞ ∞
a00 1 X nπx nπx 1 X mπy mπy
f (x, y) = + an0 cos + cn0 sen + a0m cos + b0m sen
4 2 n=1 a a 2 m=1 b b
∞
X nπx mπy nπx mπy nπx mπy nπx mπy
+ anm cos cos + bnm cos sen + cnm sen cos + dnm sen sen
n,m=1
a b a b a b a b
onde
1 a b nπx mπy
Z Z
anm = f (x, y) cos cos dxdy para n, m ⩾ 0,
ab −a −b a b
Z aZ b
1 nπx mπy
bnm = f (x, y) cos sen dxdy para n ⩾ 0, m ⩾ 1,
ab −a −b a b
Z aZ b (4.1)
1 nπx mπy
cnm = f (x, y) sen cos dxdy para n ⩾ 1, m ⩾ 0,
ab −a −b a b
Z aZ b
1 nπx mπy
dnm = f (x, y) sen sen dxdy para n, m ⩾ 1.
ab −a −b a b
O teorema a seguir dá as condições que f precisa satisfazer para que a série definida acima seja convergente
e convirja para f :
4.1 Teorema Seja f : R2 −→ R uma função de classe C 1 , periódica de perı́odo 2a na variável x e periódica
de perı́odo 2b na variável y e tal que existe a derivada parcial mista fxy em cada ponto. Então a série
de Fourier de f definida acima converge uniformemente para f .
De maneira completamente análoga é possı́vel definir séries de Fourier triplas e vale um teorema seme-
lhante para elas.
109
4.1. SÉRIES DE FOURIER DUPLAS
"Z # Z " Z b #
a b
1 mπy nπx 1 a mπy nπx
Z
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 2 f (x, y) cos dy cos dx
ab −a −b b a ab −a 0 b a
2 b
Z Z a
2 b
Z Z a
nπx mπy nπx mπy
= f (x, y) cos dx cos dy = 2 f (x, y) cos dx cos dy
ab 0 −a a b ab 0 0 a b
4 a b nπx mπy
Z Z
= f (x, y) cos cos dxdy,
ab 0 0 a b
Z "Z b #
1 a mπy nπx
bnm = f (x, y) sen dy cos dx = 0,
ab −a −b b a
1 b
Z Z a
nπx mπy
cnm = f (x, y) sen dx cos dy = 0,
ab −b −a a b
1 b
Z Z a
nπx mπy
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 0.
ab −b −a a b
f é ı́mpar com relação a ambas as variáveis x e y, isto é,
f (x, y) = −f (−x, y) ,
f (x, y) = −f (x, −y) .
Então,
"Z #
a b
1 mπy nπx
Z
anm = f (x, y) cos cos dxdy = 0,
ab −a −b b a
1 b
Z Z a
1 nπx mπy
bnm = = f (x, y) cos dx sen dy = 0,
ab ab −b −a a b
Z "Z b #
1 a mπy nπx
cnm = f (x, y) cos dy sen dx = 0,
ab −a −b b a
"Z #
a b
1 b
Z Z a
1 nπx mπy nπx mπy
Z
dnm = f (x, y) sen dx sen dy = 2 f (x, y) sen dx sen dy
ab −a −b a b ab −b 0 a b
Z "Z b # Z " Z b #
2 a mπy nπx 2 a mπy nπx
= f (x, y) sen dy sen dx = 2 f (x, y) sen dy sen dx
ab 0 −b b a ab 0 0 b a
4 a b nπx mπy
Z Z
= f (x, y) sen sen dxdy.
ab 0 0 a b
110
4.2. LEI DE CONSERVAÇÃO NO ESPAÇO TRIDIMENSIONAL
É claro que outras situações são possı́veis, por exemplo f par em uma variável e ı́mpar na outra. Em cada
caso, o cálculo dos coeficientes de Fourier pode ser simplificado usando os argumentos acima. Propriedades
semelhantes também podem ser usadas para simplificar o cálculo dos coeficientes de Fourier de séries de
Fourier triplas.
Aqui dv denota o elemento de volume dx dy dz. Em 3 dimensões, o fluxo pode ser em qualquer direção, logo
ele é uma grandeza vetorial que denotaremos por ϕ(x, t). Se η(x) denota o vetor unitário normal apontando
para fora da região V , a taxa de transferência lı́quida da substância para fora do volume de controle através
de sua fronteira ∂V é dada por
Z
Taxa de transferência lı́quida da substância
= ϕ(x, t) · η(x) ds,
para fora do volume de controle ∂V
onde ds denota o elemento de área da superfı́cie do volume de controle. A lei de conservação é, portanto,
d
Z Z Z
u(x, t) dv = − ϕ(x, t) · η(x) ds + f (x, t, u) dv.
dt V ∂V V
Se u, ϕ e f forem todas de classe C 1 (assim como a fronteira do volume de controle), podemos derivar sob
o sinal de integração e usar o Teorema da Divergência
Z Z
ϕ(x, t) · η(x) ds = div ϕ(x, t) dv,
∂V V
111
4.2. LEI DE CONSERVAÇÃO NO ESPAÇO TRIDIMENSIONAL
para obter a lei de conservação em forma diferencial (o volume de controle foi escolhido arbitrariamente):
De fato, para materiais isotrópicos (isto é, materiais em que não existem direções preferenciais) verifica-
se experimentalmente que o calor flui de pontos quentes para pontos frios na direção em que a diferença
de temperatura é a maior. O fluxo de calor é proporcional à taxa de variação da temperatura nesta
direção, com a constante de proporcionalidade k sendo a condutividade térmica do meio. Como
sabemos, a direção onde uma função cresce mais rápido é exatamente aquela dada pelo vetor gradiente
da função, e o módulo do gradiente fornece a magnitude da taxa de variação da função nesta direção.
O sinal negativo ocorre, como no caso unidimensional, porque o vetor gradiente aponta na direção de
crescimento da temperatura, enquanto que o fluxo do calor se dá na direção oposta (da temperatura
maior para a temperatura menor). O fluxo do calor em uma região bi ou tridimensional pode ser
facilmente visualizado quando se lembra que o gradiente de uma função é perpendicular às superfı́cies
de nı́vel da função. No caso em que a função é a temperatura, as superfı́cies de nı́vel são chamadas
superfı́cies isotérmicas ou, simplesmente, isotermas. Assim, o calor flui das isotermas mais quentes
para as isotermas mais frias, e em cada ponto da isoterma perpendicularmente à isoterma. Em outras
palavras, as linhas de corrente do fluxo de calor correspondem às linhas de fluxo do campo gradiente
da temperatura.
Sem a presença de termo fonte, a lei de conservação na forma diferencial é
et + div ϕ = 0.
onde e(x, t) = cρu(x, t) é a densidade de energia térmica. Substituindo a relação constitutiva obtemos
cρut − k div (∇u) = 0.
Denotamos por ∆u o laplaciano de u definido por
∂2u ∂2u ∂2u
∆u = div ∇u = + 2 + 2.
∂x2 ∂y ∂z
Definimos a difusividade térmica K = k/cρ como no caso unidimensional. Concluı́mos que a equação
do calor em dimensões 2 e 3 é dada por
ut = K∆u.
112
4.3. A EQUAÇÃO DO CALOR EM DOMÍNIOS RETANGULARES
ut = K(uxx + uyy )
ou
ut = K∆u,
∆u = uxx + uyy .
Para que o problema da condução do calor em uma placa bidimensional Ω ⊂ R2 possua uma solução única,
é necessário dar a condição inicial e a condição de fronteira, como no caso unidimensional. Por exemplo,
podemos ter um problema de Dirichlet homogêneo:
ut = k∆u se (x, y) ∈ Ω e t > 0,
u(x, y, t) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω e t ⩾ 0,
u(x, y, 0) = f (x, y) se (x, y) ∈ Ω,
Também podemos ter problemas não-homogêneos ou com condição de Robin (condições de Dirichlet em
porções da fronteira ∂Ω e condições de Neumann em outras porções da fronteira).
De agora em diante assumiremos que Ω é um retângulo R = (0, a) × (0, b) (chapa retangular). No caso
em que Ω é um retângulo, a condição inicial se escreve como
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 ⩽ x ⩽ a e 0 ⩽ y ⩽ b,
113
4.3. A EQUAÇÃO DO CALOR EM DOMÍNIOS RETANGULARES
Desta vez, usando o método de separação de variáveis, vamos tentar encontrar uma solução para o problema
que seja o produto de três funções de uma variável:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
ut = F (x)G(y)H ′ (t),
uxx = F ′′ (x)G(y)H(t),
uyy = F (x)G′′ (y)H(t).
Como o lado esquerdo desta equação é uma função somente de t e o lado direito é uma função apenas de
x, y, segue que ambos os lados são constantes:
donde
F ′′ (x) G′′ (y)
=− + σ = ρ.
F (x) G(y)
Pelo método de separação de variáveis, chegamos portanto às seguintes equações diferenciais ordinárias:
F ′′ (x) − ρF (x) = 0,
G′′ (y) + (ρ − σ)G(y) = 0,
H ′ (t) − σKH(t) = 0.
114
4.3. A EQUAÇÃO DO CALOR EM DOMÍNIOS RETANGULARES
a menos que u seja a solução identicamente nula (porque as soluções das equações diferenciais ordinárias
de F , G e H não produzem nenhuma solução que se anula em conjuntos diferentes de pontos isolados).
Obtemos, portanto, os problemas de Sturm-Liouville
′′ ′′
F (x) − ρF (x) = 0, G (y) − (σ − ρ)G(y) = 0,
e
F (0) = F (a) = 0, G(0) = G(b) = 0,
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para ρ = − ,
a a2
e
mπy m2 π 2
Gm (y) = sen para σ − ρ = − .
b b2
Segue que
m2 π 2 n2 π 2 m2 π 2 n2 m2
σ =ρ− = − − = −π 2 +
b2 a2 b2 a2 b2
e o problema em t é
n2 m2
′ 2
H (t) − Kπ + H(t) = 0,
a2 b2
cujas solução geral é
n2 2
−π 2 +m Kt
Hnm (t) = Anm e a2 b2 .
A solução do problema de calor da chapa com margens mantidas à temperatura zero é, portanto,
∞
n2 2
nπx mπy
−π 2 +m Kt
X
u(x, y, t) = Anm e a2 b2 sen sen , (4.3)
n,m=1
a b
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y:
∞
X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
ou seja,
Z aZ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.4)
ab 0 0 a b
Escrevendo
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t)
115
4.3. A EQUAÇÃO DO CALOR EM DOMÍNIOS RETANGULARES
o que é equivalente a escrever (redefinindo os coeficientes, de forma a obter uma mesma fórmula integral
para todos os coeficientes)
∞ ∞
A00 1X 2 n2 nπx 1 X 2 m2 mπy
u(x, y, t) = + An0 e−π a2 Kt cos + A0m e−π a2 Kt cos
4 2 n=1 a 2 m=1 b
∞
n2 2
nπx mπy
−π 2 +m Kt
X
+ Anm e a2 b2 cos cos ,
n,m=1
a b
116
4.4. A EQUAÇÃO DA ONDA EM DOMÍNIOS RETANGULARES
onde os coeficientes Anm são os coeficientes da série de Fourier dupla da extensão de f a uma função periódica
par de perı́odo 2a na variável x e a uma função periódica par de perı́odo 2b na variável y:
∞ ∞ ∞
A00 1X nπx 1 X mπy X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = + An0 cos + A0m cos + Anm cos cos ,
4 2 n=1 a 2 m=1 b n,m=1
a b
ou seja,
Z aZ b
4 nπx mπy
Anm = f (x, y) cos cos dxdy, n, m ⩾ 0. (4.7)
ab 0 0 a b
utt = c2 ∆u.
u(x, y, 0) = f (x, y) se 0 ⩽ x ⩽ a e 0 ⩽ y ⩽ b,
ut (x, y, 0) = g(x, y) se 0 ⩽ x ⩽ a e 0 ⩽ y ⩽ b.
117
4.4. A EQUAÇÃO DA ONDA EM DOMÍNIOS RETANGULARES
Pelo método de separação das variáveis, tentamos encontrar uma solução da forma:
u(x, y, t) = F (x)G(y)H(t).
Temos
F ′′ (x) − ρF (x) = 0,
G′′ (y) + (ρ − σ)G(y) = 0,
H ′′ (t) − σc2 H(t) = 0.
onde os coeficientes Anm , Bnm são determinados como sendo os coeficientes das séries de Fourier duplas das
funções apropriadas. Temos
∞
X nπx mπy
f (x, y) = u(x, y, 0) = Anm sen sen ,
n,m=1
a b
de modo que, estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x e a uma função
periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
4 a b nπx mπy
Z Z
Anm = f (x, y) sen sen dxdy. (4.12)
ab 0 0 a b
Do mesmo modo, derivando a série de u com relação a t termo a termo, temos
∞
X nπx mπy
ut (x, y, t) = λnm sen sen (−Anm sen λnm t + Bnm cos λnm t)
n,m=1
a b
e, portanto,
∞
X nπx mπy
g(x, y) = ut (x, y, 0) = λnm Bnm sen sen ,
n,m=1
a b
logo, procedendo de modo análogo estendendo f a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2a na variável x
e a uma função periódica ı́mpar de perı́odo 2b na variável y, obtemos
Z aZ b
4 nπx mπy
Bnm = g(x, y) sen sen dxdy. (4.13)
abλnm 0 0 a b
119
4.4. A EQUAÇÃO DA ONDA EM DOMÍNIOS RETANGULARES
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
1.0
1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0
1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4
0.4
y 0.2 x y x
0.2 0.2
0.2
0.0 0.0
0.0 0.0
120
4.4. A EQUAÇÃO DA ONDA EM DOMÍNIOS RETANGULARES
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
1.0 1.0
0.5 0.5
z 0.0 z 0.0
−0.5 −0.5
−1.0 −1.0
1.0 1.0 1.0 1.0
0.8 0.8 0.8 0.8
0.6 0.6 0.6 0.6
0.4 0.4 0.4 0.4
y x y x
0.2 0.2 0.2 0.2
0.0 0.0 0.0 0.0
Figura 4.1. Gráficos de u12 , u21 , u22 , u13 , u23 , u32 , u31 , u33 .
121
Capı́tulo 5
A Equação de Laplace
∆u = 0.
Esta é chamada a equação de Laplace (ou equação de Laplace homogênea). Como não há dependência
com o tempo, problemas envolvendo a equação de Laplace não possuem condições iniciais, mas apenas uma
condição de fronteira, que pode ser uma condição de Dirichlet
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = f (x, y) se (x, y) ∈ ∂Ω,
122
5.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE
então
u = u1 + u2 + u3 + u4 .
Para obter a solução geral do problema de Dirichlet, basta portanto resolver cada um dos quatro problemas
acima. A tı́tulo de exemplo, vamos resolver o segundo explicitamente:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 0, u(x, b) = f2 (x) se 0 ⩽ x ⩽ a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 ⩽ y ⩽ b.
Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
segue que F ′′ (x)G(y) + F (x)G′′ (y) = 0 e portanto
Logo,
F ′′ (x) − σF (x) = 0,
F (0) = F (a) = 0,
123
5.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE
e
G′′ (y) + σG(y) = 0,
G(0) = 0.
As autofunções do primeiro problema são
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para σn = − .
a a2
A solução geral do segundo problema (de valor inicial) é conveniente escrever na forma
nπy nπy
G(y) = c1 cosh + c2 senh
a a
porque a condição G(0) = 0 implica que c1 = 0. Assim, as soluções obtidas através de separação de variáveis
são os produtos
nπx nπy
sen senh .
a a
A solução u2 do segundo problema será a função
∞
X nπx nπy
u2 (x, y) = bn sen senh ,
n=1
a a
onde a
2 nπx
Z
bn = f2 (x) sen dx,
nπb 0 a
a senh
a
pois
∞
X nπb nπx
f2 (x) = u2 (x, b) = bn senh sen .
n=1
a a
nπb
É mais conveniente, para efeitos de memorização, incorporar a constante senh na solução, escrevendo-a
a
na forma
nπy
nπx senh a
X∞
u2 (x, y) = bn sen
a nπb
n=1 senh
a
de modo que
2
Ra nπx
bn = a 0
f2 (x) sen dx
a
124
5.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE
nπ(b − y)
nπx senh
∞
X
a Ra nπx
u1 (x, y) = an sen , an = a2 0 f1 (x) sen dx,
a nπb a
n=1 senh
a
nπ(a − x)
∞ senh nπy nπy
b Rb
X
u3 (x, y) = cn nπa sen , cn = 2b 0 g1 (y) sen dy,
n=1 senh b b
b
nπx
∞ senh nπy nπy
b 2 b
X R
u4 (x, y) = dn nπa sen b , dn = b 0 g2 (y) sen b dy.
n=1 senh
b
nπ(b − y) nπy
nπx senh nπx senh a
∞ ∞
a
X X
u(x, y) = an sen + bn sen
a nπb a nπb
n=1 senh n=1 senh
a a
nπ(a − x) nπx
nπy senh nπy senh b
∞ ∞
b
X X
+ cn sen nπa + dn sen ,
n=1
b senh n=1
b senh nπa
b b
Prova: Sejam
M = max u e m = max u
Ω ∂Ω
e suponha por absurdo que m < M . Então existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ Ω − ∂Ω tal que u(x0 , y0 ) = M . Defina
a função
M −m
v(x, y) = u(x, y) + [(x − x0 )2 + (y − y0 )2 ],
4d2
onde d = diam Ω. Se (x, y) ∈ ∂Ω, temos
M −m 2 3 M
v(x, y) ⩽ m + 2
d = m+ < M,
4d 4 4
e como u(x0 , y0 ) = v(x0 , y0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de Ω − ∂Ω,
digamos em (x, y). Mas, como (x, y) é um ponto de máximo para v, devemos ter
∆v(x, y) ⩽ 0,
125
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
enquanto que, pela definição de v e pelo fato de u satisfazer a equação de Laplace, para todo (x, y) temos
M −m M −m
∆v(x, y) = ∆u(x, y) + = > 0,
4d2 4d2
uma contradição. Isso mostra que u atinge o seu máximo em ∂Ω. Para provar que o mı́nimo de u também é
atingido em ∂Ω, basta observar que −u também satisfaz a equação de Laplace e que min u = − max(−u). ■
∆u = f (x, y) se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = g(x, y) se (x, y) ∈ ∂Ω,
Prova: Se u1 e u2 são duas soluções para o problema de Poisson acima, então u = u1 − u2 é uma solução
para o problema de Laplace com condição de fronteira homogênea
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω.
max u = max u = 0,
Ω ∂Ω
min u = min u = 0,
Ω ∂Ω
126
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
enquanto que a mudança de coordenadas de coordenadas cartesianas retangulares para coordenadas polares
é dada por
p
r = x2 + y 2 ,
y
θ = arctan .
x
ux = ur rx + uθ θx ,
segue que
uxx = [ur rx + uθ θx ]x
= (ur )x rx + ur rxx + (uθ )x θx + uθ θxx
= (urr rx + urθ θx ) rx + ur rxx + (uθr rx + uθθ θx ) θx + uθ θxx
= urr rx2 + urθ θx rx + ur rxx + urθ rx θx + uθθ θx2 + uθ θxx ,
Portanto,
uxx + uyy = urr (rx2 + ry2 ) + uθθ (θx2 + θy2 ) + 2urθ (rx θx + ry θy )
+ ur (rxx + ryy ) + uθ (θxx + θyy ),
2 2
∆u(r, θ) = ∥∇r∥ urr + ∥∇θ∥ uθθ + 2 (∇r · ∇θ) urθ + (∆r) ur + (∆θ) uθ .
2 2
Vamos calcular os termos ∥∇r∥ , ∥∇θ∥ , ∇r · ∇θ, ∆r, ∆θ.
Diferenciando
r 2 = x2 + y 2
implicitamente com relação a x, obtemos
2rrx = 2x,
127
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
logo
x
rx = .
r
Daı́,
x2
r − xrx r− 2 2 2
rxx = = r = r −x = y .
r2 r2 r3 r3
Similarmente,
y x2
ry = e ryy = .
r r3
Por outro lado, diferenciando
y
θ = arctan
x
com relação a x, obtemos
1 y y y
θx = y 2 − 2 = − 2 = − 2,
x x + y2 r
1+
x
e com relação a y obtemos
1 1 x x
θy = y 2 = 2 2
= 2.
x x +y r
1+
x
Diferenciando as expressões obtidas acima uma segunda vez com relação a x e y, respectivamente, encontra-
mos
y (2rrx ) 2xy
θxx = 4
= 4
r r
e
−x (2rrx ) 2xy
θyy = =− 4 .
r4 r
Reunimos estas informações na seguinte tabela para facilitar a consulta:
x y
rx = ry =
r r
y2 x2
rxx = ryy =
r3 r3
y x
θx = − 2 θy = 2
r r
2xy 2xy
θxx = 4 θyy = − 4
r r
Daı́ temos
x2 + y 2 r2
rx2 + ry2 = 2
= 2 =1
r r
e
y 2 + x2 r2 1
rxx + ryy = 3
= 3
= .
r r r
logo
2
∥∇r∥ = rx2 + ry2 = 1,
1
∆r = rxx + ryy = .
r
128
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
2 1
∥∇θ∥ = θx2 + θy2 = ,
r2
∆θ = θxx + θyy = 0,
∇r · ∇θ = rx θx + ry θy = 0.
1 1
∆u(r, θ) = urr + ur + 2 uθθ .
r r
O significado geométrico das relações obtidas acima para os gradientes e laplacianos das funções r e θ é o
seguinte. As curvas de nı́vel da função distância r são cı́rculos centrados na origem, enquanto que as curvas
de nı́vel para a função ângulo θ são semiretas saindo da origem (veja figura a seguir). Estas semiretas saindo
da origem interceptam os cı́rculos centrados na origem sempre perpendicularmente. Como o gradiente de
uma função é sempre ortogonal às curvas de nı́vel da função, segue imediatamente que
∇r · ∇θ = 0.
Por outro lado o valor da função distância quando se passa de uma curva de nı́vel para outra na direção do
campo gradiente r é exatamente a diferença entre os raios, isto é, a distância dr entre os dois cı́rculos de
raios r e r + dr. Lembre-se que a norma do gradiente de uma função arbitrária f mede o quanto a função
aumenta quando passamos de uma curva de nı́vel para a próxima na direção do gradiente, ou seja, df /ds
com a distância ds medida na direção do vetor gradiente. No nosso caso temos
df dr
∥∇r∥ = = = 1.
ds dr
Já no caso da função ângulo temos
df dθ 1
∥∇θ∥ = = = .
ds rdθ r
129
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
∆r = div (∇r) ,
∆θ = div (∇θ) .
As linhas do campo gradiente ∇r se afastam à medida que r aumenta em uma razão inversamente propor-
cional a r, logo
1
∆r = .
r
Mais precisamente, tome um volume de controle no formato de um trapézio circular como os desenhados
na figura (qualquer um delimitado por duas retas sucessivas e dois cı́rculos sucessivos; fica mais fácil de
enxergar tomando um trapézio do primeiro quadrante; veja figuras a seguir). O fluxo do campo neste
volume de controle é dado apenas pela diferença do fluxo que entra e sai perpendicularmente através dos
dois lados curvos do trapézio (que são arcos de cı́rculo), pois o campo gradiente é paralelo aos lados retos do
trapézio, logo não entra ou sai do volume de controle através deles. O número de linhas do campo gradiente
∇r que entra através do arco circular mais próximo à origem do trapézio é igual ao número de linhas que
sai do arco circular mais distante da origem do trapézio, mas o comprimento deste último arco é maior que
o do primeiro. Mas para trapézio circulares de mesmo tamanho pequena, a diferença entre os fluxos vai
diminuindo em uma razão inversamente proporcional à distância r do trapézio circular à origem, pois os
comprimentos dos lados curvos diminuem nesta razão.
Já as linhas do campo gradiente ∇θ entram e saiem perpendicularmente do trapézio circular através dos
lados retos, enquanto que o campo gradiente é tangente aos lados curvos, logo o fluxo nestes últimos é zero.
O número de linhas que entram pelo lado direito é igual ao número de linhas que saem pelo lado esquerdo;
como os comprimentos dos dois lados retos do trapézio circular são iguais, segue que o fluxo total é nulo e
portanto
∆θ = 0.
130
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
urr + 1 ur + 1 uθθ = 0
se 0 < r < R e 0 < θ < 2π,
r r2
u(R, θ) = f (θ) se 0 ⩽ θ ⩽ 2π,
onde f é uma função contı́nua que satisfaz f (0) = f (2π). Resolver este problema nestas coordenadas significa
encontrar uma função u(r, θ) contı́nua em D e de classe C 2 em (0, R) × (0, 2π) tal que u(r, 0) = u(r, 2π) para
todo 0 < r < R.
Escrevendo
u(r, θ) = F (r)G(θ),
131
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
obtemos
1 1
F ′′ (r)G(θ) + F ′ (r)G(θ) + 2 F (r)G′′ (θ) = 0,
r r
donde
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (θ)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(θ)
Do fato de G(θ) satisfazer a equação diferencial ordinária
Como a solução u é contı́nua, devemos ter F (r) limitada próximo a r = 0, o que implica que c2 = 0. Portanto,
as soluções de F admissı́veis para este problema são
Fn (r) = rn para n ⩾ 0.
a0
u0 (r, θ) = ,
2
un (r, θ) = rn [an cos nθ + bn sen nθ] para n ⩾ 1.
A solução do problema é
∞
a0 X rn
u(r, θ) = + [an cos nθ + bn sen nθ],
2 n=1
Rn
onde an , bn são os coeficientes de Fourier de f (lembre-se que f está definida no intervalo [0, 2π], satisfaz
f (0) = f (2π) e é natural supor que ela é perı́ódica de perı́odo 2π)
2π
1
Z
an = f (θ) cos nθ dθ, n ⩾ 0,
π 0
2π
1
Z
bn = f (θ) sen nθ dθ, n ⩾ 1.
π 0
132
5.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE NO DISCO
onde
100 se 0 < θ < π,
f (θ) =
0 se π < θ < 2π.
Temos π
100
Z
100 se n = 0,
an = cos nθ dθ =
π 0 0 se n ⩾ 1,
e
0 se n é par,
(
π
100 100
Z
bn = sen nθ dθ = (1 − cos nπ) = 200 .
π 0 nπ se n é ı́mpar.
nπ
Logo, a solução é
∞
200 X 1
u(r, θ) = 50 + r2n−1 sen(2n − 1)θ.
π n=1 2n − 1
Esta solução pode ser escrita em forma fechada com o auxı́lio da identidade
∞
X sen nθ r sen θ
rn = arctan .
n=1
n 1 − r cos θ
De fato, usando a identidade cos nπ sen nθ = sen n(θ − π) e reescrevendo a solução anterior, obtemos
∞
100 X 1 − cos nπ n
u(r, θ) = 50 + r sen nθ
π n=1 n
∞ ∞
100 X n sen nθ 100 X n sen n(θ − π)
= 50 + r − r
π n=1 n π n=1 n
100 r sen θ 100 r sen(θ − π)
= 50 + arctan − arctan
π 1 − r cos θ π 1 − r cos(θ − π)
de modo que
100 r sen θ r sen θ
u(r, θ) = 50 + arctan + arctan .
π 1 − r cos θ 1 + r cos θ
133
5.3. A EQUAÇÃO DE HELMHOLTZ: AUTOVALORES E AUTOFUNÇÕES DO LAPLACIANO
Em particular torna-se fácil determinar as isotermas (isto é, curvas de temperatura constante) desta
solução. Igualando o lado direito a um valor T , temos
y y π(T − 50)
arctan + arctan = .
1−x 1+x 100
Aplicando tan a ambos os lados desta equação e usando a identidade trigonométrica
tan a + tan b
tan(a + b) = ,
1 − tan a tan b
obtemos y y
+ 1+x
1−x πT π πT
= tan − = − cot ,
1− y y 100 2 100
1−x 1+x
donde
2y πT
= − cot ,
1 − x2 − y 2 100
ou
x2 + y 2 − 1 πT
= tan .
2y 100
Portanto, a isoterma correspondente à temperatura T é o cı́rculo
2
2 πT πT πT
x + y − tan = 1 + tan2 = sec2 ,
100 100 100
πT πT
centrado em 0, tan e de raio sec . Em particular, os centros destes arcos isotermais estão
100 100
centrados no eixo y. Por exemplo, T = 100 corresponde ao semicı́rculo superior, T = 50 corresponde
ao segmento do eixo x e T = 0 corresponde ao semicı́rculo inferior; os outros arcos isotermais ocupam
posições intermediárias, deformando-se continuamente de uma destas posições para a outra. □
Se o domı́nio Ω é suficientemente regular, pode-se provar que existe um número infinito de autovalores,
todos eles positivos (daı́ o sinal negativo na frente do laplaciano). Além disso, eles são discretos, podendo
ser enumerados em uma sequência
λ1 < λ2 ⩽ λ3 ⩽ . . .
com
λn → ∞.
134
5.3. A EQUAÇÃO DE HELMHOLTZ: AUTOVALORES E AUTOFUNÇÕES DO LAPLACIANO
A importância de se obter os autovalores e os autovetores do laplaciano é que eles permitem resolver facilmente
a equação de Poisson em Ω, como veremos na próxima seção, e também os problemas da equação do calor e
da onda em Ω.
Nesta seção obteremos os autovalores e as correspondentes autofunções do laplaciano no retângulo. Antes
disso, observe que o correspondente problema de autovalor para o laplaciano no intervalo [0, L] é o problema
de Sturm-Liouville
−u′′ = λu
se 0 < x < L,
u (0) = u (L) = 0,
cujos autovalores (como vimos na Introdução) são
n2 π 2
λn =
L2
e cujas correspondentes autofunções são
nπx
un (x) = sen
.
L
Considere agora o problema de autovalor no retângulo:
−uxx − uyy = λu se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 ⩽ y ⩽ b.
Vamos obter os autovalores e autofunções do laplaciano pelo método de separação de variáveis e séries de
Fourier. Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
segue que
−F ′′ (x)G(y) − F (x)G′′ (y) = λF (x)G(y)
e portanto
F ′′ (x) G′′ (y)
− − = λ,
F (x) G(y)
donde
F ′′ (x) G′′ (y)
− =λ+ =σ
F (x) G(y)
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre as equações diferenciais ordinárias acima:
G(0) = G(b) = 0.
A solução do primeiro problema é
n2 π 2 nπx
σn = com Fn (x) = sen ,
a2 a
135
5.4. A EQUAÇÃO DE POISSON: O MÉTODO DE EXPANSÃO EM AUTOFUNÇÕES
n2 m2
2
λnm = π +
a2 b2
nπx mπy
unm (x, y) = sen sen .
a b
Da mesma forma, pode-se obter os autovalores e autofunções do laplaciano com condição de Neumann e
de Robin. Observe que 0 sempre é um autovalor para o problema de Neumann, pois as funções constantes
são sempre soluções.
A solução deste problema pode ser escrita como a soma das soluções de dois problemas
u = u1 + u2
que já sabemos resolver, e u2 é a solução da equação de Poisson com condição de Dirichlet homogênea
uxx + uyy = f (x, y) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = 0 se 0 ⩽ x ⩽ a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 ⩽ y ⩽ b.
136
5.4. A EQUAÇÃO DE POISSON: O MÉTODO DE EXPANSÃO EM AUTOFUNÇÕES
De fato, tentamos escrever a solução como uma série das autofunções do laplaciano com condição de
Dirichlet
∞
X nπx mπy
u (x, y) = anm sen sen ,
n,m=1
a b
onde os coeficientes anm devem ser determinados. Substituindo esta expressão na equação de Poisson, temos
que
∞ 2
m2
X
2 n nπx mπy
− anm π 2
+ 2 sen sen = f (x, y) .
n,m=1
a b a b
Z aZ b
4 nπx mπy
anm = − f (x, y) sen sen dxdy.
n2 m2
0 0 a b
abπ 2 + 2
a2 b
137
Capı́tulo 6
com f (x, y) = g(x, y) = 0 se (x, y) ∈ ∂D. Em coordenadas polares, este problema se torna
2 1 1
u = c urr + ur + 2 uθθ se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt
r r
u(R, θ, t) = 0 se 0 ⩽ θ ⩽ 2π e t ⩾ 0,
u(r, θ, 0) = f (r, θ) se 0 ⩽ r ⩽ R e 0 ⩽ θ ⩽ 2π,
ut (r, θ, 0) = g(r, θ) se 0 ⩽ r ⩽ R e 0 ⩽ θ ⩽ 2π,
com f (R, θ) = g(R, θ) = 0 para todo 0 ⩽ θ ⩽ 2π. Se restringirmos nossa atenção aos casos em que a posição
inicial f e a velocidade inicial g são funções radialmente simétricas f (r, θ) = f (r) e g(r, θ) = g(r) (ou seja, a
posição e velocidade iniciais de um ponto da membrana dependem apenas da distância dele ao centro e não
do ângulo polar θ), a simetria da situação implica que a solução u também deverá ser radialmente simétrica,
isto é, u(r, θ, t) = u(r, t) (a posição de um ponto da membrana em qualquer instante de tempo não dependará
do ângulo θ). Então o problema se simplifica consideravelmente:
2 1
u = c u + u se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt rr r
r
u(R, t) = 0 se t ⩾ 0, (6.1)
u(r, 0) = f (r) se 0 ⩽ r ⩽ R,
ut (r, 0) = g(r) se 0 ⩽ r ⩽ R,
138
6.2. FUNÇÕES DE BESSEL
Então
′′ ′′ 2 1 ′
F (r)G (t) = c F (r)G(t) + F (r)G(t) ,
r
donde
1 G′′ (t) F ′′ (r) 1 F ′ (r)
2
= + = −λ2 .
c G(t) F (r) r F (r)
Aqui, decidimos que a constante de separação de variáveis é negativa porque esperamos obter soluções de G
periódicas, pois as vibrações de uma membrana que não está sujeita a forças externas ou dissipativas devem
ser periódicas no tempo. Isso nos leva às seguintes equações diferenciais ordinárias:
rF ′′ (r) + F ′ (r) + λ2 rF (r) = 0
se 0 < r < R,
(6.2)
F (R) = 0,
e
G′′ (t) + c2 λ2 G(t) = 0.
A primeira equação é conhecida como a equação de Bessel (de ordem 0) e parâmetro λ. Ela não possui
soluções em forma fechada. No entanto, ela aparece tão freqüentemente nas aplicações que as suas soluções
receberam um nome especial: as funções de Bessel.
Observação: Poderı́amos em princı́pio também ter λ = 0, pois funções constantes também são periódicas
com perı́odo 2π, e neste caso terı́amos uma equação de Euler. No entanto, a solução geral para esta equação
de Euler seria F (r) = c1 + c2 log r e a condição F (R) = 0 implicaria que F ≡ 0.
139
6.2. FUNÇÕES DE BESSEL
que é a série
∞
X
[c(c−1)+c−p2 ]a0 +[(1+c)(1+c−1)+(1+c)−p2 ]a1 x1+c + [(n + c)(n + c − 1) + (n + c) − p2 ]an + an−2 xn+c = 0,
n=2
ou seja,
∞
X
(c2 − p2 )a0 + [(1 + c)2 − p2 ]a1 x1+c + [(n + c)2 − p2 ]an + an−2 xn+c = 0.
n=2
ou seja,
1
a2 = − a0 ,
22 (1
+ p)
1 1
a4 = − 2 a2 = 4 a0 ,
2 2(2 + p) 2 2(1 + p)(2 + p)
1 1
a6 = − 2 a4 = − 6 a0 ,
2 3(3 + p) 2 3!(1 + p)(2 + p)(3 + p)
(−1)k
a2k = a0 . (6.8)
22k k!(1 + p)(2 + p) · · · (k + p)
Usando a função gama Γ(x) (se você não conhece esta função, veja o apêndice no final desta seção) podemos
simplificar a notação. Utilizando a propriedade Γ(x + 1) = xΓ(x), segue que
Γ(1 + p)[(1 + p)(2 + p) · · · (k + p)] = Γ(2 + p)[(2 + p) · · · (k + p)] = Γ(3 + p)[(4 + p) · · · (k + p)] = . . .
= Γ(k + p + 1),
logo
Γ(k + p + 1)
(1 + p)(2 + p) · · · (k + p) = . (6.9)
Γ(1 + p)
140
6.2. FUNÇÕES DE BESSEL
Escolhendo
1
a0 = , (6.10)
2p Γ(1 + p)
temos que a primeira solução da equação de Bessel pode ser escrita na forma
∞
X (−1)k x 2k+p
y(x) = . (6.11)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
As funções
∞
X (−1)k x 2k+p
Jp (x) = (6.12)
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
são chamadas funções de Bessel de ordem p de primeiro tipo. Se p é um inteiro não-negativo, temos
simplesmente
∞
X (−1)k x 2k+p
Jp (x) = .
k!(k + p)! 2
k=0
Para obter a solução geral para a equação de Bessel, precisamos obter uma segunda solução linearmente
independente de Jp (pois a equação de Bessel é uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem).
Para isso, quando p não é um inteiro, basta fazer a segunda escolha possı́vel para c, ou seja, c = −p. Neste
caso obtemos
∞
X (−1)k x 2k−p
J−p (x) = . (6.13)
k!Γ(k − p + 1) 2
k=0
Observe que, embora esta definição faça sentido se p é um inteiro negativo (mesmo que Jp e J−p não sejam
linearmente independentes neste caso) se p é um inteiro positivo então Γ(k − p + 1) não está definido para
k = 0, . . . , p − 1. Para ter uma definição para J−p mesmo quando p é um inteiro negativo, costuma-se definir
141
6.2. FUNÇÕES DE BESSEL
As funções Yp são chamadas funções de Bessel de ordem p do segundo tipo e são também soluções
para a equação de Bessel, linearmente independente de Jp quando p é um inteiro.
Com isso, obtemos a solução geral para a equação de Bessel:
se p não é um inteiro. Se p é um inteiro, então a solução geral para a equação de Bessel de ordem p é
Γ(n + 1) = nΓ(n) = n(n − 1)Γ(n − 2) = n(n − 1)(n − 2)Γ(n − 3) = . . . = n(n − 1)(n − 2) . . . 3 · 2 · Γ(1) = n!
Assim, a função gama pode ser vista como uma extensão da função fatorial, que é definida apenas para
números naturais, a uma função definida para todos os números reais positivos. Por este motivo, ela é às
vezes chamada de função fatorial generalizada.
É possı́vel também defini-la para números reais negativos que não sejam inteiros negativos (isto é, para
x < 0, exceto para x = 0, −1, −2, ...). De fato, basta aplicar a propriedade
1
Γ(x) = Γ(x + 1)
x
sucessivamente. Como os limites laterais desta função em inteiros negativos são infinitos, não faz sentido
defini-la nestes números.
142
6.3. SÉRIES DE BESSEL E A SOLUÇÃO DA MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE
Diferentemente da função seno, não há uma fórmula para os zeros das funções de Bessel; estes devem ser
determinados por métodos numéricos.
Consideramos as funções de Bessel escaladas
α x
p,n
Jp .
R
São válidas as seguintes relações de ortogonalidade para as funções de Bessel (não serão provadas):
Z R
αp,n x αp,m x R2 2
J (αp,n ) se n = m,
Jp Jp x dx = 2 p+1
0 R R 0 se n ̸= m.
α x
p,n
Dizemos que as funções Jp são ortogonais no intervalo [0, R] com respeito ao peso x.
R
Esta série é chamada asérie de Bessel de ordem p de f . Para encontrar os coeficientes an , multiplicamos
αp,m x
ambos os lados por Jp x e integramos termo a termo no intervalo (0, R). Devido às relações de
R
ortogonalidade que vimos na seção anterior, segue que
Z R α x ∞ Z R Z R
p,m
X αp,n x αp,m x αp,m x
f (x)Jp x dx = an Jp Jp x dx = am Jp2 x dx
0 R n=1 0 R R 0 R
R2 Jp+1
2
(αp,m )
= am .
2
Portanto,
R
2 α
p,n x
Z
an = 2 (α f (x)Jp x dx. (6.19)
R2 Jp+1 p,n ) 0 R
143
6.3. SÉRIES DE BESSEL E A SOLUÇÃO DA MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE
6.3 Teorema. Se f : [0, R] → R é uma função contı́nua por partes tal que sua derivada também é contı́nua
por partes, então f tem uma série de Bessel de ordem p no intervalo (0, R). No intervalo (0, R), a
f (x+) + f (x−)
série converge para f (x) se f é contı́nua em x, e para nos pontos de descontinuidade
2
de f .
onde
∞
X (−1)k x 2k
J0 (x) =
(k!)2 2
k=0
e
Jq (x) cos qπ − J−q (x)
Y0 = lim .
q→0 sen qπ
No entanto, a função Y0 não é limitada perto de 0 e esperamos que as soluções da membrana vibrante sejam
contı́nuas e, portanto, limitadas. Assim, devemos ter c2 = 0. Segue que
donde
R
2 α
0,n r
Z
cn = f (r)J0 r dr, (6.26)
R2 J12 (α0,n ) 0 R
144
6.4. A MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE: VIBRAÇÕES GERAIS
e
∞
X α0,n c α0,n
g(r) = ut (r, 0) = dn J0 r ,
n=1
R R
donde
R
2c α
0,n r
Z
dn = g(r)J0 r dr. (6.27)
Rα0,n J12 (α0,n ) 0 R
com f (R, θ) = g(R, θ) = 0 para todo 0 ⩽ θ ⩽ 2π. Pelo método de separação de variáveis, tentamos escrever
u(r, t) = F (r)G(θ)H(t),
de modo que
′′ ′′ 2 1 ′ 1 ′′
F (r)G(θ)H (t) = c F (r)G(θ)H(t) + F (r)G(θ)H(t) + 2 F (r)G (θ)H(t) ,
r r
e daı́
1 H ′′ (t) F ′′ (r) 1 F ′ (r) 1 G′′ (θ)
2
= + + 2 = −λ2 .
c H(t) F (r) r F (r) r G(θ)
Mais uma vez, tomamos a constante de separação de variáveis negativa porque esperamos obter soluções
periódicas no tempo. Obtemos, então,
H ′′ (t) + c2 λ2 G(t) = 0 (6.28)
e
F ′′ (r) 1 F ′ (r) 1 G′′ (θ)
+ = −λ2 − 2 ,
F (r) r F (r) r G(θ)
donde
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (θ)
r2 +r + λ2 r2 = − = µ2 ,
F (r) F (r) G(θ)
onde, mais uma vez, escolhemos o sinal da constante de separação de variáveis de acordo com a nossa
expectativa que G(θ) é periódica de perı́odo 2π. Portanto, usando as condições de fronteira, obtemos as
equações diferenciais ′′
G (θ) + µ2 G(θ) = 0 se 0 < θ < 2π,
G(0) = G(2π),
donde concluı́mos que µ = m e as sua solução geral é
para n = 0, 1, 2, . . ., e
145
6.4. A MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE: VIBRAÇÕES GERAIS
Esta última é uma equação de Bessel na forma paramétrica. Fazendo a mudança de variáveis y(r) = F (r/λ),
como no caso radial, concluı́mos que as suas soluções são da forma
F (r) = Jn (λr), n = 0, 1, 2, . . .
(pois as soluções Yn são ilimitadas e podem ser descartadas através de argumentos fı́sicos). Como F (R) = 0,
segue que λR = αn,m é um zero da função de Bessel Jn , logo
αn,m
λ= .
R
Assim, as soluções da equação de Bessel acima são
α
n,m r
Fnm = Jn (6.31)
R
para n = 0, 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . ., e as soluções de H são
αn,m ct αn,m ct
Hnm (t) = Anm cos + Bnm sen (6.32)
R R
para n = 0, 1, 2, . . . , m = 1, 2, . . . A solução geral é, portanto,
α r
n,m αn,m ct αn,m ct
unm (r, θ, t) = Jn (an cos nθ + bn sen nθ) Anm cos + Bnm sen , (6.33)
R R R
cuja solução é
∞ X
∞ α
n,m r αn,m ct
X
u1 (r, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos , (6.35)
n=0 m=1
R R
146
6.4. A MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE: VIBRAÇÕES GERAIS
Para obter os coeficientes, fixamos r de modo que fr (θ) = f (r, θ) é uma função apenas da variável θ,
escrevemos
∞ ∞ ∞
!
α r X α r
0,m n,m
X X
fr (θ) = a0m J0 + anm Jn cos nθ
m=1
R n=1 m=1
R
∞ ∞
!
α r
n,m
X X
+ bnm Jn sen nθ.
n=1 m=1
R
Definindo
∞ α
0,m r
X
a0 (r) = 2 a0m J0 ,
m=1
R
∞ α
n,m r
X
an (r) = anm Jn ,
m=1
R
∞ α
n,m r
X
bn (r) = bnm Jn ,
m=1
R
segue que
R
1 α
0,m r
Z
a0m = 2 2 a0 (r)J0 r dr,
R J1 (α0,m ) 0 R
R
2 α
n,m r
Z
anm = 2 2 an (r)Jn r dr,
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
R
2 α
n,m r
Z
bnm = 2 2 bn (r)Jn r dr.
R Jn+1 (αn,m ) 0 R
temos que 2a0 (r), an (r) e bn (r) são os coeficientes de Fourier da função fr (θ), logo
2π
1
Z
a0 (r) = f (r, θ) dθ,
π 0
2π
1
Z
an (r) = f (r, θ) cos nθ dθ,
π 0
2π
1
Z
bn (r) = f (r, θ) sen nθ dθ.
π 0
Portanto,
R 2π
1 α
0,m r
Z Z
a0m = 2 2 f (r, θ)J0 r dθdr,
πR J1 (α0,m ) 0 0 R
R Z 2π
2 α
n,m r
Z
anm = 2 f (r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.36)
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
R 2π
2 α
n,m r
Z Z
bnm = 2 f (r, θ) sen nθJn r dθdr,
πR2 Jn+1 (αn,m ) 0 0 R
147
6.4. A MEMBRANA CIRCULAR VIBRANTE: VIBRAÇÕES GERAIS
para m = 1, 2, . . .
O segundo problema é
2 1 1
u = c urr + ur + 2 uθθ se 0 < r < R, 0 < θ < 2π e t > 0,
tt
r r
u(R, θ, t) = 0 se 0 ⩽ θ ⩽ 2π e t ⩾ 0,
u(r, θ, 0) = 0 se 0 ⩽ r ⩽ R e 0 ⩽ θ ⩽ 2π,
ut (r, θ, 0) = g(r, θ) se 0 ⩽ r ⩽ R e 0 ⩽ θ ⩽ 2π,
cuja solução é
∞ X
∞ α
n,m r αn,m ct
X
u2 (r, θ, t) = Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen , (6.37)
n=0 m=1
R R
devido à condição inicial u(r, θ, 0) = 0. Usando um argumento similar ao usado no primeiro caso, obtemos
R 2π
1 α
0,m r
Z Z
c0m = g(r, θ)J0 r dθdr,
πcα0,m RJ12 (α0,m ) 0 0 R
R 2π
2 α
n,m r
Z Z
cnm = 2 g(r, θ) cos nθJn r dθdr, (6.38)
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
R 2π
2 α
n,m r
Z Z
dnm = 2 g(r, θ) sen nθJn r dθdr,
πcαn,m RJn+1 (αn,m ) 0 0 R
para m = 1, 2, . . .
Portanto a solução do problema geral é u = u1 + u2 , ou seja,
∞ X
∞ α
n,m r αn,m ct
X
u(R, θ, t) = Jn (anm cos nθ + bnm sen nθ) cos
n=0 m=1
R R
∞ X
∞ α
n,m r αn,m ct
X
+ Jn (cnm cos nθ + dnm sen nθ) sen ,
n=0 m=1
R R
148
Capı́tulo 7
Neste capı́tulo desenvolveremos a teoria da equação de Laplace tridimensional em domı́nios simétricos tais
como o cilindro e a bola. Não desenvolveremos a teoria para domı́nios cúbicos tais como paralelepı́pedos,
pois esta é uma extensão trivial da teoria para domı́nios retangulares: ao invés de séries de Fourier duplas e
seus coeficientes expressos como integrais duplas, basta considerar séries de Fourier triplas cujos coeficientes
são integrais triplas.
e p
2 2
r = x + yy ,
θ = arctan , (7.2)
x
z = z.
149
7.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UM CILINDRO
radialmente simétricas. Em particular, não existe dependência da variável θ: ou seja, u = u(r, z). Considere
um cilindro com raio da base R e altura H. Este problema é modelado pela seguinte equação diferencial
parcial e pelas seguintes condições de fronteira:
1
urr + ur + uzz = 0
se 0 < r < R e 0 < z < h,
r
u(r, 0) = u(R, z) = 0 se 0 ⩽ r ⩽ R e 0 ⩽ z ⩽ h,
u(r, H) = f (r) se 0 ⩽ r ⩽ R.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos
1
F ′′ (r)G(z) + F ′ (r)G(z) + F (r)G′′ (z) = 0.
r
Dividindo a equação por F (r)G(z), segue que
Levando em conta que F deve ser limitada na origem, as autofunções do primeira problema são
α
0,n
Fn (r) = J0 r ,
R
150
7.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UM CILINDRO
α0,n
com λ = . Levando em conta que G(0) = 0, as autofunções do segundo problema são (aqui é mais
R
conveniente escrever a solução geral da equação diferencial ordinária de G na forma G(z) = c1 cosh λz +
c2 senh λz) α
0,n
Gn (z) = senh z .
R
Assim, a solução do problema é
∞ α α
0,n 0,n
X
u(r, z) = an J0 r senh z . (7.4)
n=1
R R
Como
∞ h α i α
0,n 0,n
X
f (r) = u(r, H) = an senh H J0 r ,
n=1
R R
segue que
R
2 α
0,n r
Z
an = α f (r)J0 r dr. (7.5)
R2 senh
0,n
H J12 (α0,n ) 0 R
R
Para ver que Ip é a solução da equação de Bessel modificada de ordem p note que
Jp (ix)
Ip (x) = , (7.9)
ip
√
onde i = −1. De fato,
∞ 2k+p ∞
(−1)k (−1)k i2k
X ix X x 2k+p
Jp (ix) = = ip
k!Γ(k + p + 1) 2 k!Γ(k + p + 1) 2
k=0 k=0
∞ k 2 k ∞
p
X (−1) (i ) x 2k+p
p
X (−1)k (−1)k x 2k+p
=i =i
k!Γ(k + p + 1) 2 k!Γ(k + p + 1) 2
k=0 k=0
∞
X 1 x 2k+p
= ip = ip Ip (x).
k!Γ(k + p + 1) 2
k=0
Assim,
1
x2 Ip′′ (x) + xIp′ (x) − (x2 + p2 )Ip (x) = x2 i2 Jp′′ (ix) + xiJp′ (x) − (x2 + p2 )Jp (ix)
ip
1
(ix)2 Jp′′ (ix) + ixJp′ (x) − (−(ix)2 + p2 )Jp (ix)
= p
i
1
z 2 Jp′′ (z) + zJp′ (z) + (z 2 − p2 )Jp (z)
= p
i
= 0,
151
7.1. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UM CILINDRO
quando p é um inteiro. A solução geral para a equação de Bessel modificada de ordem p é então
A função de Bessel modificada I0 é estritamente crescente para x > 0, logo não pode satisfazer I0 (R) = 0,
enquanto que as funções de Bessel modificadas próximas à origem são ilimitadas.
Escrevendo
u(r, z) = F (r)G(z),
obtemos como antes
F ′′ (r) F ′ (r) G′′ (z)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(z)
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre G:
152
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
nπ
e conseqüentemente a equação de Bessel modificada de ordem 0 e parâmetro :
H
n2 π 2 2
r2 F ′′ (r) + rF ′ (r) + r F (r) = 0.
H2
Como a função de Bessel modificada do segundo tipo é ilimitada na origem, a solução geral desta equação
pertinente ao nosso problema é nπr
Fn (z) = I0 .
H
Assim, a solução do problema é
∞ nπr
X nπz
u(r, z) = bn I0 sen . (7.13)
n=1
H H
Como
∞
X nπR α0,n
f (z) = u(R, z) = bn I0 J0 r ,
n=1
H R
segue que
H
2 nπz
Z
bn = nπR
f (z) sen dz. (7.14)
H I0 H 0 H
uρ = ur rρ + uθ θρ + uϕ ϕρ = ur rρ + uθ θρ ,
pois ϕ não depende de ρ (ρ está definida em termos das variáveis r, θ apenas) e portanto ϕρ = 0. Diferenciando
ρ
θ = arctan , obtemos
z
1 1 z r cos θ cos θ
θρ = ρ 2 = 2 = 2 = .
z z + ρ2 r cos2 θ + r2 sen2 θ r
1+
z
Diferenciando ρ = r sen θ implicitamente com relação à ρ, temos
donde
1 − cos2 θ
rρ = = sen θ.
sen θ
Logo,
cos θ
uρ = sen θur + uθ
r
e
1 1 cos θ 1 cot θ
uρ = sen θur + uθ = ur + 2 uθ
ρ r sen θ r r r
Concluı́mos que o Laplaciano em coordenadas esféricas é dado por
2 1
∆u(r, θ, ϕ) = urr + ur + 2 uθθ + cot θ uθ + csc2 θuϕϕ .
(7.20)
r r
onde −1 < x < 1. Vamos obter as suas soluções usando o método de séries de potências, escrevemos
∞
X
y(x) = am xm
m=0
154
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
donde
∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
am m(m − 1)xm−2 − am m(m − 1)xm − 2 am mxm + σ am xm = 0.
m=2 m=2 m=1 m=0
porque os termos adicionados aos dois somatórios intermediários são todos nulos e reindexando o primeiro
somatório. Segue que
∞
X
[(m + 2)(m + 1)am+2 + (−m(m − 1) − 2m + σ) am ] xm = 0.
m=0
Logo,
(m + 2)(m + 1)am+2 − (m(m + 1) − σ) am = 0,
donde obtemos a relação recursiva
m(m + 1) − σ
am+2 = am . (7.21)
(m + 2)(m + 1)
As duas soluções linearmente independentes da equação de Legendre são obtidas escolhendo a0 = 0, a1 = 1
e a0 = 1, a1 = 0. No primeiro caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos ı́mpares, enquanto que
no segundo caso obtemos uma série consistindo apenas dos termos pares. Assim, estas duas soluções podem
ser respectivamente escritas nas formas
∞
X 2(k + 1)(2k + 1) − σ
y1 (x) = x2k+1 (7.22)
2(k + 1)(2k + 3)
k=0
e
∞
X 2k(2k + 1) − σ 2k
y2 (x) = x . (7.23)
2(k + 1)(2k + 1)
k=0
m(m + 1) − n(n + 1)
am+2 = am ,
(m + 2)(m + 1)
ou
(n − m)(n + m + 1)
am+2 = − am . (7.25)
(m + 2)(m + 1)
155
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
Daı́ obtemos
n(n + 1)
a2 = − a0 ,
2
(n − 2)n(n + 1)(n + 3)
a4 = a0 ,
4·3·2
(n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5)
a6 = − a0 ,
6·5·4·3·2
..
.
e
(n − 1)(n + 2)
a3 = − a1 ,
3·2
(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)
a5 = a1 ,
5·4·3·2
(n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6)
a7 = a1 ,
7·6·5·4·3·2
..
.
onde
n(n + 1) 2 (n − 2)n(n + 1)(n + 3) 4 (n − 4)(n − 2)n(n + 1)(n + 3)(n + 5) 6
y1 (x) = 1 − x + x − x + ...
2 4! 6!
e
(n − 1)(n + 2) 3 (n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4) 5 (n − 5)(n − 3)(n − 1)(n + 2)(n + 4)(n + 6) 7
y2 (x) = x− x + x − x +. . .
3! 5! 7!
Se n é par, então a série y1 é na verdade o polinômio
(2n)!
an = . (7.26)
2n (n!)2
156
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
Os outros coeficientes são então determinados por uma relação recursiva reversa. Temos
(m + 2)(m + 1)
am = − am+2 ,
(n − m)(n + m + 1)
ou (trocando m por m − 2)
m(m − 1)
am−2 = − am . (7.27)
(n − m + 2)(n + m − 1)
Assim,
e, em geral,
(2n − 2m)!
an−2m = (−1)m . (7.28)
2n m!(n − m)!(n − 2m)!
n n−1
Tomando M = , se n é par, e M = , se n é ı́mpar, o n-ésimo polinômio de Legendre é
2 2
M
1 X (2n − 2m)!
Pn (x) = (−1)m xn−2m . (7.29)
2n m=0 m!(n − m)!(n − 2m)!
P0 (x) = 1,
P1 (x) = x,
1
P2 (x) = (3x2 − 1),
2
1
P3 (x) = (5x3 − 3x),
2
1
P4 (x) = (35x4 − 30x2 + 3),
8
1
P5 (x) = (63x5 − 70x3 + 15x),
8
1
P6 (x) = (231x6 − 315x4 + 105x2 − 5),
16
1
P7 (x) = (429x7 − 693x5 + 315x3 − 35x).
16
0 se n ̸= m,
Z 1 (
Pn (x)Pm (x) dx = 2 (7.30)
−1 se n = m.
2n + 1
Usando esta propriedade, é possı́vel provar que toda função razoavelmente regular possui uma série de
Legendre:
157
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
7.1 Teorema. Se f é uma função contı́nua por partes cuja derivada é contı́nua por partes no intervalo
[−1, 1], então f tem uma expansão em série de Legendre
∞
X
f (x) = An Pn (x)
n=0
com
1
2n + 1
Z
An = f (x)Pn (x) dx.
2 −1
Além disso, a série de Legendre de f em x converge para f (x) se f é contı́nua em x e para a média
f (x+) + f (x−)
dos limites laterais , caso contrário.
2
u(r, θ) = F (r)G(θ).
F ′′ (r) F ′ (r)
′′
G′ (θ)
G (θ)
r + =− + cot θ = σ.
F (r) F (r) G(θ) G(θ)
s = cos θ.
158
7.2. A EQUAÇÃO DE LAPLACE EM UMA BOLA
Portanto,
cos θ
G′′ (θ) + cot θG′ (θ) + σG(θ) = (1 − s2 )G′′ (s) − sG′ (s) + [− sen θG′ (s)] + σG(s)
sen θ
= (1 − s2 )G′′ (s) − sG′ (s) − sG′ (s) + σG(s)
= (1 − s2 )G′′ (s) − 2sG′ (s) + σG(s),
σ = n(n + 1) (7.31)
Fn (r) = rn . (7.33)
Portanto,
un (r, θ) = rn Pn (cos θ).
Levando em consideração a condição de fronteira, obtemos
∞
X r n
u(r, θ) = An Pn (cos θ) (7.34)
n=0
R
com π
2n + 1
Z
An = f (θ)Pn (cos θ) sen θ dθ. (7.35)
2 0
Para obter esta expressão para os coeficientes An , multiplique a série de u(R, θ) = f (θ) por Pm (cos θ) sen θ,
integre termo a termo e use a substituição x = cos θ nas integrais resultantes sob o somatório. Isso produz
Z π ∞
X Z π
f (θ)Pm (cos θ) sen θ dθ = An Pn (cos θ)Pm (cos θ) sen θ dθ
0 n=0 0
X∞ Z −1
= An − Pn (x)Pm (x) dx
n=0 1
2m + 1
= Am .
2
159
Capı́tulo 8
Transformada de Fourier
∞
a0 X nπx nπx
f (x) = + an cos + bn sen (8.1)
2 n=1
L L
L
1 nπt
Z
an = f (t) cos dt, n ⩾ 0,
L −L L
L
(8.2)
1 nπt
Z
bn = f (t) sen dt, n ⩾ 1.
L −L L
Portanto, quando f é periódica, podemos fazer uma decomposição espectral (decomposição em frequências)
de f : podemos substituir f por duas funções dando as amplitudes das frequências discretas
nπ
ωn = ,
L
uma para a parte par de f (cossenos) e uma para a parte ı́mpar de f (senos), a cada frequência ωn correspon-
dendo uma amplitude an no primeiro caso e uma amplitude bn no segundo. Estas duas funções amplitude
podem ser representadas por dois gráficos (amplitude em função da frequência). As duas decomposições
espectrais caracterizam f completamente, isto é, podemos recuperar f a partir delas, substituindo as am-
plitudes correspondentes na série de Fourier (o valor de f nos pontos de descontinuidade é irrelevante, em
geral não tendo significado real; se quisermos, podemos atribuir a média dos limites laterais como o valor
nos pontos de descontinuidade). Esta decomposição espectral (também chamada a assinatura espectral de
f ) tem uma gama enorme de aplicações em ciência e tecnologia. O gráfico a seguir ilustra a decomposição
espectral da parte par de uma função periódica hipotética (são mostradas as amplitudes das primeiras 16
frequências; lembre-se que an → 0 quando n → ∞).
160
8.1. A INTEGRAL DE FOURIER
De fato, a utilidade da decomposição espectral é tanta que gostarı́amos de poder fazer isso para todas
as funções, mesmo aquelas que não são periódicas. Mas, infelizmente, se f não é uma função periódica,
então ela não pode ser representada por uma série de Fourier, como vimos no Capı́tulo 1. Não há qualquer
esperança de representar uma função não periódica por gráficos das amplitudes das frequências discretas ωn ,
já que ao substitui-los na série de Fourier obterı́amos uma função periódica. A generalização óbvia deste
conceito seria tentar obter uma decomposição espectral contı́nua para uma função não periódica f . Isso passa
primeiramente pela possibilidade de representar f por uma integral de Fourier, ao invés de uma série de
Fourier. Veremos logo a seguir que isso sempre é possı́vel se f for pelo menos continuamente diferenciável por
partes (que também é uma condição necessária que as funções periódicas precisam satisfazer para poderem
ser representadas por séries de Fourier) e, além disso, satisfizer a condição
Z ∞
|f (x)| dx < ∞,
−∞
ou seja, se f for absolutamente integrável. Esta não é uma restrição, pois as funções que aparecem na prática
são em geral absolutamente integráveis e existem vários motivos para isso. Às vezes simplesmente a função
f existe apenas em um intervalo de tempo finito, tal como um sinal eletrônico real, podendo ser estendida
como zero fora deste intervalo. Muitas vezes f representa uma variável fı́sica que não pode somar a um valor
infinito, tal como a densidade de energia (temperatura) em uma barra infinita, que quando integrada ao
longo da barra representa a energia térmica total desta e portanto não pode assumir um valor infinito. Em
fı́sica quântica, f (x) pode representar a probabilidade de se encontrar uma partı́cula em uma determinada
posição x, e a integral de f dá a probabilidade total de encontrar a partı́cular no espaço todo, que deve ser
exatamente 1. No mundo real, singularidades infinitas são raras, tendo-se em geral cuidado para evitá-las
nos modelos fı́sicos (mas elas de fato aparecem teoricamente na teoria da relatividade geral).
A idéia para obter a integral de Fourier é a seguinte: considere f apenas no intervalo fechado [−L, L]
(isto é, trunque f em [−L, L]) e estenda ela periodicamente fora deste intervalo com perı́odo 2L. Então, no
intervalo [−L, L], f tem a representação em série de Fourier usual dada em (8.1) com os coeficientes dados
em (8.2). Fazendo L → ∞, como por hipótese f é integrável em R, segue necessariamente que
L
1
Z
a0 = f (t) dt → 0 (8.3)
L −L
161
8.1. A INTEGRAL DE FOURIER
pois
Z L Z ∞
lim f (t) dt = f (x) dx (8.4)
L→∞ −L −∞
e
1
lim
= 0.
L→∞ L
Além disso, como a integrabilidade de f também implica que a integral de f em R pode ser aproximada
pela integral de f no intervalo [−L, L] (isso é o significado do limite 8.4), desde que L seja suficientemente
grande. Assim, definindo
1 ∞
Z
A(ω) = f (t) cos ωt dt, ω ⩾ 0,
π −∞
(8.5)
1 ∞
Z
B(ω) = f (t) sen ωt dt, ω ⩾ 0,
π −∞
Fazendo L → ∞, o que corresponde a fazer a norma da partição ∆ω → 0, esta soma de Riemann deve
convergir para a integral de Fourier de f :
Z ∞
f (x) = (A(ω) cos xω + B(ω) sen xω) dω. (8.6)
0
que converge para f (x) nos pontos de continuidade de f e para a média dos limites laterais nos pontos de
descontinuidade de f .
Portanto, enquanto que uma função periódica pode ser decomposta em uma soma infinita discreta de
senóides (isto é, uma superposição infinita de ondas) com frequências discretas ωn = nπ/L e amplitudes an
(para os cossenos) e bn (para os senos), uma função não periódica pode ser escrita como uma soma contı́nua
(integral) de senóides com frequências ω no contı́nuo [0, ∞) com amplitudes A(ω) (para os cossenos) e B(ω)
(para os senos). Enquanto que séries de Fourier são usadas para analisar sinais periódicos, a análise de sinais
não periódicos pode ser feita através da integral de Fourier.
162
8.1. A INTEGRAL DE FOURIER
é obviamente absolutamente integrável, pois ela só não é nula um intervalo finito. Para obter a sua repre-
sentação integral de Fourier calculamos
1 ∞ 1 1 2
Z Z
A(0) = f (t) dt = dt = ,
π −∞ π −1 π
1
1 ∞ 1 1 sen ωt 2 sen ω
Z Z
A(ω) = f (t) cos ωt dt = cos ωt dt = = ,
π −∞ π −1 πω −1 π ω
1
1 ∞ 1 1 cos ωt
Z Z
B(ω) = f (t) sen ωt dt = sen ωt dt = = 0.
π −∞ π −1 πω −1
Observe que lim A(ω) = A(0) (ou seja, obtivemos neste caso a função A(ω) contı́nua) e a função B é a
ω→0
função identicamente nula, o que era de se esperar, porque f é uma função par. Logo
2 ∞ sen ω
Z
f (x) = cos xω dω.
π 0 ω
□
Como vemos no exemplo acima, quando uma função é par ou ı́mpar, sua integral de Fourier é mais
simples, da mesma forma e pelo mesmo motivo que a série de Fourier de uma função periódica par ou ı́mpar
é mais simples. Temos:
Se f é par, então
∞
2
Z
A(ω) = f (t) cos ωt dt, ω ⩾ 0,
π 0
B(ω) ≡ 0,
163
8.1. A INTEGRAL DE FOURIER
Se f é ı́mpar, então
A(ω) ≡ 0,
2 ∞
Z
B(ω) = f (t) sen ωt dt
π 0
e a integral de Fourier de f é dada simplesmente por
Z ∞
f (x) = B(ω) sen xω dω. (8.8)
0
8.1.1 Exercı́cios
1. Encontre a representação integral de Fourier das funções dadas (em todos os casos, a > 0).
1 se 0 < x < 1, x se 0 < x < a,
a) f (x) = h) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
x2
1 se − a < x < a, se 0 < x < a,
b) f (x) = i) f (x) =
0 caso contrário. 0 caso contrário.
−1 se − 1 < x < 0,
1 − |x| se − 1 < x < 1,
c) f (x) = 1 se 0 < x < 1, j) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
0 se − 1 < x < 1,
1 − x2
se − 1 < x < 1,
d) f (x) = 1 se 1 < |x| < 2, k) f (x) =
0 caso contrário.
0 caso contrário.
x se − 1 < x < 1,
e) f (x) = l) f (x) = e−|x| .
0 caso contrário.
( π π
cos x se − <x< , 2
f ) f (x) = 2 2 m) f (x) = e−x .
0 caso contrário.
x se 0 < x < 1,
sen x se 0 < x < π,
g) f (x) = n) f (x) = 2−x se 1 < x < 2,
0 caso contrário.
0 caso contrário.
(c) Use a identidade trigonométrica sen2 ω + cos2 ω = 1 e o item anterior para obter
Z ∞
sen4 ω π
2
dω = .
0 ω 4
1
(Sugestão: sen2 ω = sen4 ω + sen2 ω cos2 ω = sen4 ω + 4 sen2 2ω.)
3. Usando a representação integral de Fourier, prove que as seguintes integrais impróprias têm os valores
especificados abaixo.
Z ∞
cos xω + w sen xω 0 se x < 0,
a) dω = π/2 se x = 0,
1 + ω2
0 πe−x se x > 0.
∞
1 − cos πω
Z
π/2 se 0 < x < π,
b) sen xω dω =
0 ω 0 se x > π.
∞
cos xω π
Z
c) dω = e−x se x > 0.
0 1 + ω2 2
πw π π
Z ∞ cos cos xω cos x se |x| < ,
d) 2 dω = 2 2
2 π
0 1−ω 0 se |x| > .
2
( π
∞
sen πω sen xω
Z
sen x se 0 ⩽ x ⩽ π,
e) dω = 2
0 1 − ω2 0 se x > π.
∞
ω 3 sen xω π
Z
f) 4
dω = e−x cos x se x > 0.
0 ω +4 2
165
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
onde no último passo fizemos a mudança de variável −ω. Portanto, a forma complexa da integral de
Fourier é
1 ∞ ∞
Z Z
f (x) = f (t)eiω(x−t) dtdω. (8.9)
2π −∞ −∞
Por sua vez, a forma complexa da integral de Fourier pode ser escrita como
Z ∞ Z ∞
1 1
f (x) = √ √ f (t)e−iωt dt eiωx dω.
2π −∞ 2π −∞
Observe que apesar da função f ser uma função definida na reta (isto é, uma função de uma variável real)
tomando valores reais, em geral a função fb é uma função definida na reta tomando valores complexos. De
fato, a função fb pode ser escrita mais explicitamente, usando a fórmula de Euler, na forma
Z ∞ ∞
1
Z
fb(ω) = √ f (t) cos ωt dt − i f (t) sen ωt dt . (8.11)
2π −∞ −∞
A parte complexa de fb será nula e portanto fb será uma função real se e somente se a integral
Z ∞
f (t) sen ωt = 0.
−∞
Isso ocorrerá se e somente se a função f for par. Portanto, no estudo da transformada de Fourier é inevitável
o aparecimento de funções de R em C, já que a maioria das funções não são pares. Diremos que uma função
de R em C é absolutamente integrável se as suas partes real e imaginária (que são funções de de R em R)
forem absolutamente integráveis. O espaço de tais funções será denotado por L1 (R, C). Na notação acima,
temos que
Z ∞
1
f (x) = √ fb(ω)eiωx dω. (8.12)
2π −∞
166
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Isso nos leva à seguinte definição. Definimos a transformada de Fourier de f , como sendo a função F
que associa a cada função absolutamente integrável f : R → R a função fb : R → C definida pela expressão
(8.10); a sua inversa, chamada a transformada de Fourier inversa, é a função F−1 que associa a cada
função fb : R → C que pertença ao conjunto imagem de F a função absolutamente integrável f : R → R
definida pela expressão (8.12). Assim, se f é contı́nua,
F−1 (F(f )) = f. (8.13)
Isso é uma conseqüência imediata das definições acima:
Z ∞ Z ∞ Z ∞
1 1 1
F (F(f ))(x) = √
−1
F(f )(ω)e dω = √
iωx
√ f (t)e −iωt
dt eiωx dω
2π −∞ 2π −∞ 2π −∞
1 ∞ ∞
Z Z
= f (t)eiω(x−t) dtdω = f (x).
2π −∞ −∞
O significado da transformada de Fourier será visto na próxima subseção.
De (8.11) segue que
r Z ∞
1 ∞
π 1
Z
fb(ω) = f (t) cos ωt dt − i f (t) sen ωt dt ,
2 π −∞ π −∞
ou seja,
r
π
fb(ω) = [A(ω) − iB(ω)] . (8.14)
2
Isso permite calcular as funções A(ω) e B(ω) que aparecem na integral de Fourier diretamente para funções
cuja transformada de Fourier é conhecida.
8.3 Exemplo. A transformada de Fourier de uma função absolutamente integrável, apesar de ser uma
função contı́nua, não é em geral uma função absolutamente integrável. O contra-exemplo clássico é a
função pulso
1 se |x| ⩽ 1,
f (x) =
0 se |x| > 1.
De fato, calculando a transformada de Fourier de f , obtemos
Z ∞ Z 1
1 −iωt 1 1 1
f (ω) = √
b f (t)e dt = √ e−iωt dt = − √ e−iωt −1
2π −∞ 2π −1 2πiω
1 1
e−iω − eiω = − √
= −√ (cos ω − i sen ω − cos ω − i sen ω)
2πiω 2πiω
2i sen ω 2 sen ω
= √ = √ .
2πiω 2πω
Segue que a transformada de Fourier de f é a função
r
2 sen ω
f (ω) =
b ,
π ω
que não é uma função absolutamente integrável, como pode ser verificado. Observe porém que a
descontinuidade da função pulso foi suavizada pela sua transformada de Fourier, já que fb é uma
função contı́nua. Com efeito,
Z ∞ Z 1 r
1 −iω0 1 2 2
f (0) = √
b f (t)e dt = √ dx = √ =
2π −∞ 2π −1 2π π
e portanto lim fb(ω) = fb(0). Isso não foi um acidente e é sempre verdade.
ω→0
167
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
8.4 Teorema. Se f : R → R é uma função absolutamente integrável, então sua transformada de Fourier
fb : R → C é uma função contı́nua e limitada. Se, além disso, fb for absolutamente integrável, então f
é contı́nua.
A transformada de Fourier da função pulso no Exemplo 2 é uma função real porque ela é uma função
par. Em geral, a transformada de Fourier de uma função real é uma função complexa, como no próximo
exemplo.
Temos
∞ ∞ ∞
1 1 1
Z Z Z
fb(ω) = √ f (t)e−iωt dt = √ e−t−iωt dt = √ e−(1+iω)t dt
2π−∞ 2π 0 2π 0
1 ∞
= −√ e−(1+iω)t .
2π(1 + iω) 0
Como e−iωt = 1, segue que
lim e−(1+iω)t = lim e−t e−iωt = lim e−t = 0,
t→∞ x→∞ t→∞
logo
1 1 − iω
fb(ω) = √ =√ .
2π(1 + iω) 2π(1 + ω 2 )
□
168
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
definindo
a0
α0 = , (8.16)
2
e, para n > 0,
an − ibn
αn = ,
2
(8.17)
an + ibn
α−n = .
2
Com estas definições, segue que a soma dos dois termos com a mesma frequência em módulo que aparecem
na forma complexa para a série de Fourier é
nπ (−n)π
nπx nπx nπx nπx
αn ei L x + α−n ei L x = αn cos + i sen + α−n cos − i sen
L L L L
nπx nπx
= (αn + α−n ) cos + i (αn − α−n ) sen
L L
nπx nπx
= an cos + bn sen ,
L L
portanto a forma complexa produz o mesmo resultado que a forma real. Em particular, a forma complexa
da série de Fourier, apesar dos coeficientes αn serem complexos, produz uma função real.
Substituindo as expressões para an e bn , obtemos para qualquer n ∈ Z
Z L Z L !
1 nπt nπt
αn = f (t) cos dt − i f (t) sen dt ,
2L −L L −L L
que podemos escrever, mais uma vez usando a fórmula de Euler, na forma compacta
Z L !
1 −i nπ t
αn = f (t)e L dt . (8.18)
2L −L
Pela fórmula (8.15), compreendemos que o coeficiente αn corresponde à amplitude complexa da componente
de frequência nπ
L ; a principal diferença com relação à série de Fourier real é que as componentes são ondas
complexas e as frequências podem ser positivas e negativas.
Para obter a transformada de Fourier, procedemos agora de maneira análoga a que usamos para obter a
integral de Fourier. Se f é absolutamente integrável, definimos para qualquer ω ∈ R a função
1 ∞
Z
α (ω) = f (t)e−iωt dt. (8.19)
2π −∞
Assim como os coeficientes complexos αn da forma complexa da série de Fourier para uma função real
periódica, a função α (ω) pode ser complexa, como vimos no Exemplo 8.5.
Restrinja f ao intervalo fechado [−L, L] e estenda ela periodicamente fora deste intervalo. Então, no
intervalo [−L, L], f tem a representação em série de Fourier na forma complexa (8.15) com os coeficientes
complexos dados por (8.18). Fazendo L → ∞, como a função f é integrável em R, segue que necessariamente
α0 → 0. Além disso, a integrabilidade de f também implica que a integral de f em R pode ser aproximada
pela integral de f no intervalo [−L, L], desde que L seja suficientemente grande. Assim, temos que os
coeficientes αn podem ser aproximados por
1 ∞ π nπ
Z
nπ
αn ≈ f (t)e−i L t dt = α .
2L −∞ L L
169
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Logo,
∞ h
X nπ i nπ x i π
f (x) ≈ α e L .
n=−∞
L L
Mas, se denotarmos ωn = nπ/L e ∆ω = π/L, o que equivale a fazer uma partição da reta R = (−∞, ∞) em
subintervalos de comprimento ∆ω, reconhecemos uma soma de Riemann:
∞
nπ
X
α(ωn )ei L x ∆ω.
f (x) ≈
n=1
Fazendo L → ∞, o que corresponde a fazer a norma da partição ∆ω → 0, esta soma de Riemann converge
para Z ∞
f (x) = α(ω)eiωt dω. (8.20)
−∞
Definindo ∞
√ 1
Z
fb(ω) = 2πα(ω) = √ f (t)e−iωt dt,
2π −∞
segue que
∞
1
Z
f (x) = √ fb(ω)eiωt dω,
2π −∞
dando fórmulas convenientes de lembrar para a transformada de Fourier e sua inversa.
Observe que a transformada de Fourier de uma função √ f dá exatamente a decomposição contı́nua em
frequências complexas de f . A menos de um fator 1/ 2π, fb(ω) é exatamente a amplitude complexa da
frequência ω. Diferentemente da integral de Fourier, que é uma generalização
√ direta da série de Fourier real,
a transformada de Fourier é uma generalização direta (a menos do fator 1/ 2π) da forma complexa da série
de Fourier.
170
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Multiplicando ambos os lados por −i obtemos a primeira fórmula. As outras fórmulas seguem da
aplicação iterada da primeira. ■
Propriedade 4 (Transformada de Fourier de uma Translação). Se f : R → C é uma função absolu-
tamente integrável, então
F(f (x − a))(ω) = e−iωa F(f (x))(ω).
Reciprocamente,
F(eiax f (x))(ω) = F(f (x))(ω − a).
Prova. Mudando variáveis, temos
∞ ∞
1 1
Z Z
F(f (x − a))(ω) = √ f (t − a)e−iωt
dt = √ f (t)e−iω(t+a) dt
2π −∞ 2π −∞
Z ∞
= e−iωa f (t)e−iωt dt = e−iωa F(f (t)).
−∞
171
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Podemos assegurar que ela está bem definida (isto é, a integral imprópria que a define converge para todo
x), se as funções f e g, além de serem absolutamente integráveis, são também quadrado-integráveis, isto é,
seus quadrados também são absolutamente integráveis:
Z ∞ Z ∞
2 2
|f (t)| dt, |g(t)| dt < ∞.
−∞ −∞
172
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Resumimos as propriedades da transformada de Fourier obtidas acima na seguinte tabela, enquanto que
no final desta seção é dada uma tabela contendo as transformadas de Fourier de algumas funções que surgem
frequentemente em aplicações.
173
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Aplicando a transformada de Fourier a ambos os lados desta equação, obtemos (usando as Propriedades
1, 2 e 3)
iω fb(ω) + aifb′ (ω) = 0
ou
ω
fb′ (ω) + fb(ω) = 0.
a
Resolvendo esta equação através de uma integração simples, obtemos
ω 2
fb(ω) = Ce− 2a
ω
para alguma constante C. [Em uma notação mais usual, a equação diferencial é y ′ + y = 0, donde
a
ω y′ ω 2
y ′ = − y ou = − ; integrando ambos os lados desta equação obtemos log y = − ω2a + C e daı́
a y a
o resultado acima.] A constante C pode ser determinada através da integral imprópria relembrada
acima:
Z ∞ Z ∞ r Z ∞
1 1 − at2
2 1 2 2 1
C = f (0) = √
b f (t) dt = √ e dt = √ e−s ds = √ .
2π −∞ 2π −∞ 2π a −∞ a
■
x2
A função gaussiana e− 2 não é a única função cuja transformada de Fourier é ela própria.
Como ela não é absolutamente integrável, sua transformada de Fourier não é uma função, mas uma distri-
buição (função generalizada) dada em termos da função delta de Dirac. Afirmamos que
r
1 π
b (ω) = √
u + δ (ω) . (8.24)
2πiω 2
Para provar isso, notamos primeiro que
Z ∞
1 1 1 1 ixω
F −1
√ (x) = e dω (definição de F− 1)
2π iω 2πi −∞ ω
Z 0 Z ∞
1 1 ixω 1 ixω
= e dω + e dω
2πi −∞ ω 0 ω
Z ∞ Z ∞
1 1 −ixω 1 ixω
= − e dω + e dω (mudança de variável ω → −ω)
2πi 0 ω 0 ω
Z ∞ ixω −ixω
1 e −e
= dω
2πi 0 ω
1 ∞ sen xω
Z
= dω (fórmula de Euler)
π ω
0
1
se x > 0,
= 2
1
−
se x < 0.
2
Para obter a última equação usamos o Exemplo 8.2: lá obtivemos que
Z ∞
sen ω π
dω = .
0 ω 2
Fazendo a mudança de variável, η = xω se x > 0 temos
Z ∞ Z ∞ Z ∞
sen xω sen η dη sen η 1
dω = η x = dη = ,
0 ω 0 0 η 2
x
175
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
Note que a transformada de Laplace está definida para funções constantes, já que a integrabilidade de f não
é exigida para ela estar definida, diferentemente da transformada de Fourier. Além disso, vale
Daı́, se Z x
g (x) = f (t) dt,
0
Não podemos usar a propriedade da transformada de Fourier da derivada para provar uma propriedade
análoga para a transformada de Fourier de integral de uma função f , porque a integral de f não precisa ser
absolutamente integrável mesmo que f seja. Um exemplo é a função
1
f (x) = ,
1 + x2
cuja integral
x
1
Z
g (x) = dt = arctan x
0 1 + t2
não é absolutamente integrável.
Na verdade, mesmo que g seja absolutamente integrável aquela propriedade não vale. Na demonstração
dela, o termo de integração na fronteira que surge na integração por partes, isto é, nos limites em −∞ e +∞
não desaparece. Para calcular corretamente o termo temos que recorrer à função delta de Dirac.
Já que f é absolutamente integrável, desta vez vamos definir
Z x
g (x) = f (t) dt.
−∞
177
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
i(e−ibω − e−iaω )
1 se a < x < b,
2. √
0 caso contrário. 2πω
(
|x| r sen2 aω
1− se |x| < a, , a > 0. 2 2
3. a 2
0 se |x| > a, π aω 2
r
x se |x| < a, 2 aω cos(aω) − sen(aω)
4. , a > 0. i
0 se |x| > a, π ω2
r
sen x se |x| < π, 2 sen(πω)
5. i
0 se |x| > π, π ω2 − 1
sen(ax) se |x| < b, −i sen[(ω − a)b] sen[(ω + a)b]
6. , a, b > 0. √ +
0 se |x| > b, 2π ω−a ω+a
cos(ax) se |x| < b, 1 sen[(ω − a)b] sen[(ω + a)b]
7. , a, b > 0. √ +
0 se |x| > b, 2π ω−a ω+a
r −a|ω|
1 πe
8. , a > 0.
x2 + a2 2 a
r
2 a |ω|
9. , a > 0. e− a
π 1 + a2 x2
2 ax |ω|
4 sen 2
(
10. √ , a > 0. 1− se |ω| < a,
a
2π ax2 0 se |ω| > a.
r
2 a
11. e−a|x| , a > 0.
π a2 + ω 2
e−ax
se x > 0, 1 1
12. , a > 0. √
0 se x < 0, 2π a + iω
0 se x > 0, 1 1
13. , a > 0. √
eax se x < 0, 2π a − iω
n −a|x| Γ(n + 1) 1 1
14. |x| e , a > 0, n > 0. √ +
2π (a − iω)n+1 (a + iω)n+1
a 2 1 ω2
15. e− 2 x , a > 0. √ e− 2a
a
178
8.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER
8.2.9 Exercı́cios
1. Calcule a transformada de Fourier das funções a seguir (em todos os casos, a > 0).
1 se |x| < a, x se |x| < 1,
a) f (x) = g) f (x) =
0 se |x| > a. 0 caso contrário.
x2
se |x| < 1,
b) f (x) = e−|x| . h) f (x) =
0 caso contrário.
e−|x|
se |x| < 1, 1 − |x| se |x| < 1,
c) f (x) = i) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 caso contrário.
ex 1 − x2
se x < 0, se |x| < 1,
d) f (x) = j) f (x) =
0 se x > 0. 0 caso contrário.
( x
sen x se |x| < π, 1− se |x| < a,
e) f (x) = k) f (x) = a
0 caso contrário. 0 se |x| > a.
( π
cos x se |x| < ,
f ) f (x) = 2
0 caso contrário.
F2 (f )(x) = f (−x).
(c) Conclua que f é uma função par se e somente se F2 (f ) = f ; f é uma função ı́mpar se e somente
se F2 (f ) = −f .
(d) Mostre que para qualquer função f temos F4 (f ) = f .
4. Use o exercı́cio anterior e transformadas de Fourier de funções conhecidas para calcular as transforma-
das de Fourier das seguintes funções:
cos x sen 2x
a) f (x) = x2 . b) f (x) = |x| .
e e
cos x + cos 2x sen x + cos 2x
c) f (x) = . d) f (x) = .
x2 + 1 x2 + 4
cos x se |x| < 1, sen x se |x| < 1,
e) f (x) = f ) f (x) =
0 se |x| > 1. 0 se |x| > 1.
179
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
5. Use uma transformada de Fourier conhecida e as propriedades operacionais para calcular a transfor-
mada de Fourier das funções a seguir.
x2
x se |x| ⩽ 1,
a) f (x) = f ) f (x) = .
0 se |x| > 1. (1 + x2 )2
2 2
b) f (x) = xe−x . g) f (x) = (1 − x2 )e−x .
xe−x
se x > 0, 1 2
d) f (x) = i) f (x) = xe− 2 (x−1) .
0 se x < 0.
x
e) f (x) = 2. j) f (x) = (1 − x)e−|x−1|
(1 + x2 )
u
cx (ω, t) = iωb
u(ω, t),
2
u
dxx (ω, t) = (iω) ub(ω, t) = −ω 2 u
b(ω, t),
ou seja, derivadas espaciais são transformadas em expressões que envolvem apenas a função u b(ω, t) multi-
plicada por um monômio em ω. Por outro lado, derivando dentro do sinal de integração com relação a t,
temos que
Z ∞ Z ∞
1 d 1
ubt (ω, t) = √ ut (x, t)e−iωx dx = √ u(x, t)e−iωx dx = u
bt (ω, t),
2π −∞ dt 2π −∞
o que significa que a derivada temporal é preservada pela transformada de Fourier. Assim, vemos que quando
aplicamos a transformada de Fourier a uma equação diferencial parcial em duas variáveis, as derivadas
parciais espaciais desaparecem e apenas as derivadas temporais permanecem. Em outras palavras, aplicando
a transformada de Fourier transformamos a equação diferencial parcial em uma equação diferencial ordinária
em t. Esta observação é a essência do método da transformada de Fourier para resolver equações diferenciais
parciais. Em resumo, o método funciona da seguinte maneira:
Passo 1: Obtenha a transformada de Fourier de todas as equações envolvidas (i.e., a equação diferencial
parcial e a condição inicial).
Passo 2: Resolva a equação diferencial ordinária, obtendo a solução ub(ω, t).
Passo 3: Aplique a transformada de Fourier inversa a u b(ω, t) para obter u(ω, t).
À tı́tulo de exemplo, vamos aplicar este método às equações do calor e da onda.
180
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
Assumimos que a função f é contı́nua, limitada e absolutamente integrável. A última condição garante que
a energia térmica total da barra é finita, mesmo a barra sendo infinita (lembre-se que temperatura é uma
medida de densidade térmica). Aplicando a transformada de Fourier a este problema, obtemos a equação
diferencial ordinária em t
bt (ω, t) = −kω 2 u
u b(ω, t)
u
b(ω, 0) = fb(ω).
A solução geral desta equação é
2
b(ω, t) = C(ω)e−kω t .
u
Para obter o valor de C(ω), usamos a condição inicial:
fb(ω) = u
b(ω, 0) = C(ω).
Portanto,
2
b(ω, t) = fb(ω)e−kω t .
u (8.28)
Tomando transformadas de Fourier inversas de ambos os lados da equação, obtemos
Z ∞
1 2
u(x, t) = √ fb(ω)eixω−kω t dω.
2π −∞
Esta solução não é conveniente para as aplicações práticas, já que o integrando é complexo, enquanto que
a solução para o problema de Cauchy é real. Além disso, o integrando envolve a transformada de Fourier
da condição inicial, ao invés dela própria, o que dificulta a análise de como a solução depende desta última
(já que, como vimos nos exemplos, a transformada de Fourier de uma função é muito diferente da função
original). Usando a propriedade da transformada de Fourier com relação a uma convolução, podemos obter
uma solução real e em termos da condição inicial f (x). De fato, voltando à equação que dá a solução u
b(ω, t),
observamos que a segunda função do lado direito é uma gaussiana em ω que, conforme vimos anteriormente,
a menos de uma constante é a transformada de Fourier dela própria. Mais precisamente,
a 2 1 ω2
F(e− 2 x ) = √ e− 2a .
a
Daı́, se r
1 − x2
g(x) = e 4kt ,
2kt
então 2
gb(ω) = e−kω t .
[Tome a = 1/(2kt).] Logo, podemos escrever
u
b(ω, t) = fb(ω)b
g (ω).
Lembrando agora que a transformada√de Fourier de uma convolução é o produto das transformadas de
Fourier das funções multiplicadas por 2π, ou seja
1
g (ω) = √ f[
fb(ω)b ∗ g(ω),
2π
181
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
segue que
1
b(ω, t) = √ f[
u ∗ g(ω).
2π
Portanto, aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos
1
u(x, t) = √ (f ∗ g)(x)
2π
ou Z ∞
1 (x−s)2
u(x, t) = √ f (s)e− 4kt ds. (8.29)
2 πkt −∞
Esta é a solução da equação do calor em uma barra infinita, e além disso a única solução do problema, se
entendermos por solução uma função contı́nua, limitada em t ⩾ 0 e absolutamente integrável (existem outras
soluções, mas elas não são limitadas, e do ponto de vista fı́sico esperamos que a solução do problema seja
uma distribuição de temperaturas limitada).
para todo t ⩾ 0. □
Assumimos que as funções f, g são contı́nuas, limitadas e absolutamente integráveis. Aplicando a transfor-
mada de Fourier a este problema, obtemos a equação diferencial ordinária em t
btt (ω, t) = −c2 ω 2 u
u b(ω, t)
u
b(ω, 0) = fb(ω),
u
bt (ω, 0) = gb(ω).
182
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
u
b(ω, t) = a(ω) cos cωt + b(ω) sen cωt.
fb(ω) = u
b(ω, 0) = A(ω),
gb(ω) = u
bt (ω, 0) = cωB(ω).
Portanto,
gb(ω)
u
b(ω, t) = fb(ω) cos cωt +
sen cωt. (8.31)
cω
Aplicando a transformada de Fourier inversa, obtemos a solução do problema:
Z ∞
1 gb(ω)
u(x, t) = √ fb(ω) cos cωt + sen cωt eiωx dω. (8.32)
2π −∞ cω
Para obter uma solução real, usamos a tabela da transformada de Fourier e suas propriedades. Como
e icωt
+ e−icωt 1 h icωt b i
fb(ω) cos cωt = fb(ω) = e f (ω) + e−icωt fb(ω) ,
2 2
pela propriedade da transformada de Fourier de uma translação temos
1
F−1 fb(ω) cos cωt = [f (x + ct) + f (x − ct)] . (8.33)
2
Por outro lado, pelo item (1) da tabela de transformadas de Fourier temos
r
sen cωt π
gb(ω) = gb(ω)b
h(ω),
ω 2
onde
1 se |x| < ct,
h (x) =
0 se |x| > ct,
de modo que
1 ∞
r
gb(ω) 1 1 π
Z
F −1
sen cωt = √ (g ∗ h)(x) = g (s) h (x − s) ds
cω c 2π 2 2c −∞
Z x+ct
1
= g (s) ds. (8.34)
2c x−ct
Portanto
x+ct
1 1
Z
u (x, t) = [f (x + ct) + f (x − ct)] + g (s) ds. (8.35)
2 2c x−ct
183
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
1
Solução: Denotando f (x) = , segue que
1 + x2
r
π −|ω|
u
b(ω, t) = fb(ω) cos ωt = e cos ωt.
2
Logo,
Como a condição de fronteira está expressa em termos da variável x, faremos a transformada de Fourier em
relação à variável x, ou seja, consideraremos
Z ∞
1
ub(ω, y) = F(u(x, y)) = √ u(x, y)e−iωx dx. (8.36)
2π −∞
Aplicando a transformada de Fourier à equação de Laplace, obtemos
2
F (uxx + uyy ) = F (uxx ) + F (uyy ) = (iω) u
b(ω, y) + u
byy (ω, y)
= −ω 2 u
b(ω, y) + u
byy (ω, y),
byy (ω, y) = ω 2 u
u b(ω, y) se − ∞ < x < ∞ e y > 0,
u
b(ω, 0) = fb(ω) se − ∞ < x < ∞.
a(ω) = 0 se ω > 0,
b(ω) = 0 se ω < 0.
184
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
Portanto,
1 1
100x 1 100x 1
Z Z
u(x, y) = 2 ds =
h i ds
π 2
−1 x + (y − s) π y−s 2
−1 x2 1+ x
1 s=1
100 1
100 y − s
Z
= 2 ds = −
x arctan
πx−1 1 +
y−s πx x s=−1
x
100 y+1 y−1
= arctan − arctan
π x x
100 1+y 1−y
= arctan + arctan .
π x x
185
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
1+y 1−y πT
arctan + arctan = .
x x 100
Aplicando tan a ambos os lados desta equação e usando a identidade trigonométrica
tan a + tan b
tan(a + b) = ,
1 − tan a tan b
obtemos
1+y 1−y
+ πT
x x = tan ,
1+y 1−y 100
1−
x x
donde
2x πT
= tan ,
x2 2
+y −1 100
ou
x2 + y 2 − 1 πT
= cot .
2x 100
Portanto, a isoterma correspondente à temperatura T é o arco contido no semiplano direito do cı́rculo
2
πT πT πT
x − cot + y 2 = 1 + cot2 = csc2 ,
100 100 100
πT πT
centrado em cot
, 0 e de raio csc . Em particular, os centros destes arcos isotermais estão
100 100
centrados no eixo x. Quando T = 50, a isoterma está no cı́rculo de centro na origem e raio 1. □
8.3.4 Exercı́cios
1. Resolva a equação do calor ou da onda dada. Em todos os casos, assuma −∞ < x < ∞ e t > 0.
u = uxx utt = uxx (
tt
π
1
cos x se |x| ⩽ ,
a) u(x, 0) = b) u(x, 0) = 2
4 + x2 0 caso contrário,
ut (x, 0) = 0.
ut (x, 0) = 0.
1
ut = uxx se − ∞ < x < ∞ e t > 0, ut = 100 u
xx
c) 2 d) 100 se |x| ⩽ 1,
u(x, 0) = e−x se − ∞ < x < ∞. u(x, 0) = .
0 se |x| > 1.
utt = uxx r u = uxx
t
2 sen x |x|
(
e) u(x, 0) = f) 1− se |x| ⩽ 2, .
π x u(x, 0) =
2
0 se |x| > 2.
ut (x, 0) = 0.
186
8.3. O MÉTODO DA TRANSFORMADA DE FOURIER
1
ut = 100 u
xx
ut = 14 uxx
100 se − 2 < x < 0,
g) 20 se |x| ⩽ 1, h)
u(x, 0) = u(x, 0) = 50 se 0 < x < 1,
0 se |x| > 1.
0 caso contrário.
ut = uxx
(
ut = uxx
i) 100 j)
u(x, 0) = . u(x, 0) = e−|x| .
1 + x2
2. Usando o método da transformada de Fourier, resolva o problema de valor inicial dado. Em todos os
casos, assuma −∞ < x < ∞ e t > 0.
uxt = uxxr
utt = uxxxx
a) π −|x| b)
u(x, 0) = e u(x, 0) = f (x).
2
3ut + ux = 0 aut + bux = 0
c) d)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x).
ut = t2 ux
ut + tux = 0
e) f)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = 3 cos x.
ut + a(t)ux = 0 ut + (sen t)ux = 0
g) h)
u(x, 0) = f (x), u(x, 0) = sen x.
ut = ux ut = tuxx
i) j)
u(x, 0) = f (x). u(x, 0) = f (x),
ut = e−t uxx
ut = a(t)uxx
k) , a(t) > 0. l)
u(x, 0) = f (x), u(x, 0) = 100,
utt = uxxt
ut = tuxxxx
m) n) u(x, 0) = f (x),
u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x).
utt − 4uxxt + 3uxxxx = 0
o) u(x, 0) = f (x),
ut (x, 0) = g(x).
3. Resolva o problema do calor com convecção na barra infinita (isto é, existe troca de calor da barra com
o meio ambiente):
ut = c2 uxx + kux
se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se − ∞ < x < ∞.
4. Resolva o problema da vibração da corda infinita com amortecimento (b > 0):
utt = c2 uxx − 2but se − ∞ < x < ∞ e t > 0,
u(x, 0) = f (x) se − ∞ < x < ∞,
ut (x, 0) = g(x) se − ∞ < x < ∞.
187
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
Esta propriedade leva à seguinte definição de um produto escalar para vetores complexos. Dados vetores
complexos v = (v1 , . . . , vn ) , w = (w1 , . . . , wn ) ∈ Cn , o seu produto interno hermitiano é o número
complexo ⟨v, w⟩ definido por
Xn
⟨v, w⟩ = vi wi .
i=1
188
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
zw = (z1 + z2 i) (w1 + w2 i)
= (z1 w1 − z2 w2 ) + (z1 w2 + z2 w1 ) i
de modo que
zw = (z1 w1 − z2 w2 ) − (z1 w2 + z2 w1 ) i
= (z1 − z2 i) (w1 − w2 i)
= zw.
Lembrando que
∞
1
Z
g (t) = F −1
g) = √
(b gb(ω)eiωt dω,
2π −∞
temos
Z +∞
⟨f, g⟩ = f (t) g (t) dt
−∞
Z +∞ ∞
1
Z
= √
f (t) gb(ω)eiωt dω dt
−∞ 2π −∞
Z +∞ ∞
1
Z
=√ f (t) gb(ω)eiωt dωdt
2π −∞ −∞
Z +∞ Z ∞
1
=√ f (t) gb(ω)eiωt dωdt
2π −∞ −∞
Z ∞ Z +∞
1
=√ f (t) gb(ω)e−iωt dωdt
2π −∞ −∞
Z ∞ Z +∞
1
= gb(ω) √ f (t) e−iωt dt dω
−∞ 2π −∞
Z ∞
= gb(ω)fb(ω) dω
−∞
Z ∞
= fb(ω)b
g (ω) dω
−∞
D E
= fb, gb .
■
O Teorema de Parseval nos diz que a transformada de Fourier é um operador unitário, isto é, uma trans-
formação que preserva o produto interno.
189
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
Prova. Pois D E
2
2
∥f ∥ = ⟨f, f ⟩ = fb, fb =
fb
.
O fator no denominador é um fator de normalização, isto é, para assegurar que a incerteza de uma função
em torno de um ponto independe da escala: funções que diferem apenas por um fator multiplicativo (em
outras palavras, f e αf , onde α é uma constante qualquer), terão a mesma incerteza. Assim, para uma
função normalizada f , isto é, satisfazendo
Z +∞
2
|f (x)| dx = 1,
−∞
Observe que quanto mais concentrada está a função f em torno do ponto a, menor é a incerteza. Por
exemplo, se f é a função pulso normalizada
1/ (2ε) se |x| ⩽ ε,
f (x) =
0 se |x| > ε,
de modo que
∆f (0) → 0 quando ε → 0,
isto é, a incerteza da função pulso em torno da origem diminui quanto mais o pulso é concentrado na origem.
No limite, a função pulso tende para a função delta de Dirac, cuja incerteza é zero.
Mais geralmente, se a função f não está concentrada em torno do ponto a, isto é, assume valores não
2 2
nulos longe de a em pontos xi então o produto (x − a) |f (x)| vai ser grande em um intervalo em torno de
xi , contribuindo para uma integral total não nula. Ou seja, há uma incerteza sobre o valor de f no ponto
a. Em Mecânica Quântica, o valor de f corresponde à medida de uma variável fı́sica, por exemplo posição:
2
|f (x)| poderia ser a densidade de probabilidade de se encontrar uma partı́cula em um certo intervalo da
reta e neste caso ∆f (a) daria a incerteza de se encontrar esta partı́cula na posição a; se a função f estiver
concentrada em a, então menor é a incerteza de se encontrar a partı́cula em a.
O princı́pio da incerteza mostra que quanto menor é a incerteza de f em a, maior é a incerteza da
sua transformada de Fourier fb em b para quaisquer a, b ∈ R, e vice-versa. Em outras palavras, quanto mais
concentrada f é em torno de algum ponto, mais difusa fb é; f e fb não podem ser ambas localizadas. Isto é
ilustrado pelo Exemplo 8.3: a transformada de Fourier da função pulso é a função sen ω/ω, que é uma onda
dispersa ao longo da reta.
190
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
donde
Z +∞ Z +∞ h i
2
|f (x)| dx = − x f (x) f ′ (x) + f (x)f ′ (x) dx
−∞ −∞
Z+∞ h i
= −2 x Re f (x) f ′ (x) dx
−∞
Z +∞ h i
= −2 Re xf (x) f ′ (x) dx.
−∞
191
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
Portanto, Z +∞ Z +∞
2 2
|f (x)| dx ⩽ 4∆f (0) |f ′ (x)| dx. (8.45)
−∞ −∞
Mas, pelo teorema de Plancherel e pela propriedade da transformada de Fourier da derivada,
Z +∞ Z +∞
2 2
|f ′ (x)| dx = |F (f ′ ) (ω)| dω
−∞ −∞
Z+∞
2
= |iωF (f ) (ω)| dω
−∞
Z+∞ 2
= ω 2 fb(ω) dω
−∞
Z +∞
b 2
= ∆fb(0) f (ω) dω
−∞
Z +∞
2
= ∆fb(0) |f (x)| dx.
−∞
Daı́,
R +∞ 2 R +∞ 2 −ibx 2
−∞
x2 |g (x)| dx −∞
x e f (x + a) dx
∆g (0) = R +∞ 2
= R +∞ 2
−∞
|g (x)| dx −∞
|f (x)| dx
R +∞ 2 2 R +∞ 2 2
−∞
x |f (x + a)| dx −∞
(x − a) |f (x)| dx
= R +∞ 2
= R +∞ 2
−∞
|f (x)| dx −∞
|f (x)| dx
= ∆f (a) .
= ∆fb(b) .
192
8.4. OS TEOREMAS DE PARSEVAL E PLANCHEREL
1 ⩽ 4∆g (0) ∆b
g (0) = 4∆f (a) ∆fb(b) ,
193
Referências Bibliográficas
[1] ASMAR, Nakhlé, Partial Differential Equations and Boundary Value Problems, Prentice Hall, New
Jersey, 2000.
[2] BOYCE, William E. e DI PRIMA, Richard, Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores
de Contorno, 7a. Ed., LTC, Rio de Janeiro, 2002.
[3] EDWARDS, C. H. e PENNEY, D. E., Equações Diferenciais Elementares com Problemas de Contorno,
3a. Ed., Prentice-Hall do Brasil, Rio de Janeiro, 1995.
[4] FIGUEIREDO, Djairo Guedes de, Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais, Projeto Eucli-
des, IMPA, Rio de Janeiro, 1987.
[5] GONZÁLEZ-VELASCO, Enrique A., Fourier Analysis and Boundary Value Problems, Academic Press,
San Diego, 1995.
[6] HABERMAN, R., Elementary Applied Partial Differential Equations, with Fourier Series and Boundary
Value Problems, Prentice Hall, New Jersey, 1998.
194