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Departamento de Matemática
Cálculo III
Nuno Correia
2019/2020
ii
Índice
1 Análise Complexa 1
1.1 Funções Complexas de Variável Complexa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Limites e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Funções Holomorfas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.1 Funções Harmónicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3.2 Primitivas de Funções Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4 Integração de Funções Complexas ao Longo de Curvas . . . . . . . . . . . . 21
1.4.1 Fórmula Integral de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.5 Funções Analı́ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.6 Série de Laurent e Singularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.7 Resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.7.1 Teorema dos Resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.8 Integrais Impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.8.1 Integrais Impróprios de Funções Racionais . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.8.2 Integrais Impróprios de Funções Trigonométricas . . . . . . . . . . . 46
1.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
iii
iv ÍNDICE
Índice 244
Capı́tulo 1
Análise Complexa
Começamos por recordar algumas propriedades dos números complexos, antes de introdu-
zir a análise complexa propriamente dita.
z = a + ib , com a, b ∈ R e i2 = −1
a + ib
ib
1
2 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
no plano. Assim, podemos representar qualquer número complexo nas suas coordenadas
polares.
√
Dado z = a + ib ∈ C definimos o módulo de z como |z| = a2 + b2 ∈ R que representa
a distância do ponto (a, b) à origem. Definimos o argumento de z como o ângulo θ ∈ [0, 2π[
formado pelo semi-eixo positivo das abcissas e pelo segmento que une a origem ao ponto
(a, b), que indicamos por arg z.
z = a + ib
ib
|z|
z = a + ib = |z| cos arg z + i|z| sen arg z = |z| (cos arg z + i sen arg z) .
z + w = a + c + i(b + d)
z · w = ac − bd + i(ad + bc)
√ √
Exemplo 1.1. Sejam z = 2 + i 2 e w = 3i, então
√ √
z+w = 2+i 3+ 2
√ √
z · w = −3 2 + 3i 2
1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 3
a) |z|2 = zz g) z = z
b) |z| > 0
h) z + w = z + w
c) |z| = 0 se e só se z = 0
i) z · w = z · w
d) |z · w| = |z| · |w|
z+z
j) Re z =
e) |z + w| 6 |z| + |w| 2
z−z
f ) |z + w| > ||z| − |w|| k) Im z =
2i
Nota 1.3. Enquanto que nos números reais, R, tı́nhamos uma relação de ordem, o mesmo
não acontece em C, isto é, não faz sentido escrever z > w ou z < w. No entanto, faz todo
o sentido as desigualdades |z| > |w| ou |z| < |w|.
Função Exponencial
assim pretendemos que aconteça o mesmo nos números complexos; para cada θ ∈ R
definimos a função exponencial para os números complexos imaginários puros como
+∞
iθ
X (iθ)n
e = ,
n!
n=0
de onde concluı́mos
1 1 1 1 1
eiθ = 1 + iθ + (iθ)2 + (iθ)3 + (iθ)4 + (iθ)5 + (iθ)6 + . . . =
2! 3! 4! 5! 6!
θ2 θ4 θ6 θ3 θ5
= 1− + − + ... + i θ − + + ... =
2! 4! 6! 3! 5!
+∞ +∞
X (−1)n θ2n X (−1)n θ2n+1
= +i
(2n)! (2n + 1)!
n=0 n=0
= cos θ + i sen θ,
a Fórmula de Euler .
Mais geralmente, para cada z = x + iy ∈ C definimos a função exponencial por
i) ez 6= 0 iii) ez+w = ez ew
Nota 1.9. Da última propriedade podemos concluir que a função exponencial complexa
não é injectiva em C, como podemos verificar na Figura 1.3.
0
ez = ez
U0 z = x + iy
√
wn = z ⇔ τ n einα = ρ eiθ ⇔ τ = n
ρ ∧ nα = θ + 2kπ , para algum k ∈ Z .
√ θ + 2kπ
zk = n
ρ eiα onde α = , com k = 0, 1, . . . , n − 1.
n
√
Nota 1.13. As raı́zes zk dividem a circunferência de raio n ρ centrada na origem em n
partes iguais.
π
Exemplo 1.14. As raı́zes cúbicas de 8i = 8 ei 2 , isto é, as soluções da equação w3 = 8i são
dadas por (ver Figura 1.4)
√ π
π π √
8 ei 6 = 2 cos + i sen
3
z0 = = 3+i
6 6
√ √
3 i 5π 5π 5π
z1 = 8 e 6 = 2 cos + i sen =− 3+i
6 6
√
3 3π
i 2 3π 3π
z2 = 8 e = 2 cos + i sen = −2i
2 2
z1 z0
z2
√
Exemplo 1.15. Vamos encontrar as soluções da equação z 4 +1 = 0 ⇔ z 4 = −1 ⇔ z = 4
−1.
Como −1 = eiπ , as raı́zes são (ver Figura 1.5)
√ √
√
4 π π π 2 2
z0 = 1 e = cos + i sen =
4 +i
4 4 2 √ 2 √
√
4 3π 3π 3π 2 2
z1 = 1 e 4 = cos + i sen =− +i
4 4 √2 √2
√
4 5π 5π 5π 2 2
z2 = 1 e 4 = cos + i sen =− −i
4 4 √2 √2
√
4 7π 7π 7π 2 2
z3 = 1 e 4 = cos + i sen =− −i
4 4 2 2
z1 z0
z2 z3
Funções Trigonométricas
Da Fórmula de Euler temos eix = cos x + i sen x e e−ix = cos x − i sen x para todo o x ∈ R,
então
eix + e−ix eix − e−ix
cos x = e sen x = .
2 2i
Assim, mais geralmente, podemos definir as funções complexas cosseno e seno para um
número complexo z ∈ C por
Observação 1.16. Ao contrário das funções cosseno e seno reais, as funções cosseno e
seno complexas não são limitadas.
sen z cos z 1 1
tg z = cotg z = sec z = cosec z = .
cos z sen z cos z sen z
ez + e−z ez − e−z
cosh z = senh z = .
2 2
e
eix − e−ix cos x + i sen x − cos(−x) − i sen(−x)
sen z = = = sen x
2 2i
são as funções trigonométricas reais.
Função Logaritmo
Tal como nas funções reais de variável real, pretendemos uma função logaritmo complexa
que seja a função inversa da função exponencial complexa, isto é, que eln z = z e ln (ez ) = z.
Mas, a função exponencial complexa não é injectiva e, por isso, não admite função
inversa. De facto, temos o seguinte resultado.
com k ∈ Z.
1.1. FUNÇÕES COMPLEXAS DE VARIÁVEL COMPLEXA 9
temos
√
5π
Log(1 − i 3) = ln 2 + i + 2kπ : k∈Z .
3
Proposição 1.22. Para quaisquer z1 , z2 ∈ C \{0} temos que
isto é, para qualquer w ∈ Log(z1 z2 ) existem w1 ∈ Log(z1 ) e w2 ∈ Log(z2 ) tais que w =
w1 + w2 .
Definição 1.23. A aplicação que a cada z ∈ C \{0} associa o conjunto Log z designa-se
por função logaritmo complexo.
10 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
Claro que estamos a cometer um certo abuso de linguagem, pois a função logaritmo
não é uma “verdadeira função”, uma vez que a cada z ∈ C \{0} estamos a associar um
subconjunto de C. Diz-se por isso que a função logaritmo é uma função multivalente.
Definimos a verdadeira função logaritmo complexo da seguinte forma.
é uma bijeção sobre C∗ (ver Figura 1.3). Assim, admite função inversa, a que chamamos
função logaritmo complexo e é denotada por logθ0 : C∗ → Uθ0 . Temos
Dizemos que cada uma das funções logθ0 , com θ0 ∈ R, é um ramo da função logaritmo.
O ramo correspondente a θ0 = 0 é designado por ramo principal da função logaritmo e
denotamos log0 = log : C∗ → U0 .
z = |z| ei arg z
C∗
2πi
0 0
Nota 1.25. Dado z = x ∈ R+ temos que logθ0 z = ln |x|+i arg x = ln x é a função logaritmo
real.
Exemplo 1.27. Vamos calcular o valor de diferentes ramos da função logaritmo nos pontos
π π
i = ei 2 e −i = e−i 2 .
π
1) Para i = ei 2 , temos: se θ0 ∈ − 3π π π
2 , 2 , então 0 6 2 − θ0 < 2π e
logθ0 (i) = ln |i| + i arg e−iθ0 i + θ0
π
= ln 1 + i arg ei( 2 −θ0 ) + θ0
π π
=i − θ0 + θ0 = i ;
2 2
π 5π π
se θ0 ∈ 2 , 2 , então −2π 6 2 − θ0 < 0 e
logθ0 (i) = ln |i| + i arg e−iθ0 i + θ0
π
= ln 1 + i arg ei( 2 −θ0 ) + θ0
π 5π
=i − θ0 + 2π + θ0 = i .
2 2
π
2) Do mesmo modo, para o ponto −i = e−i 2 , temos: se θ0 ∈ − 5π π
2 , − 2 , então
logθ0 (−i) = −i π2 ; se θ0 ∈ − π2 , 3π 3π
2 , então logθ0 (−i) = i 2 .
Observação 1.30. Depois de termos definidas algumas funções complexas poderia ser
útil fazer a representação das mesmas. No entanto, tal não é possı́vel de uma forma
fácil e clara; identificando o plano complexo C com R2 uma função complexa de variável
complexa teria representação gráfica em R4 , mesmo assim, podemos fazer a representação
da parte real e da parte imaginária separadamente. Contudo, no que faremos mais adiante
podemos pensar numa função complexa de variável complexa como um campo vectorial
em R2 .
12 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
y v
f
ε
w0
z f (z)
δ
z0
x u
Nota 1.32. Devemos ter algum cuidado na definição do limite anterior, pois se identificar-
mos C com R2 a função f é uma função de R2 para R2 , ou seja, temos um limite de uma
função com várias variáveis, e esse assunto é delicado sempre que existem indeterminações
(ver Cálculo II). No entanto, veremos mais adiante como contornar este problema quando
tratarmos da questão da diferenciabilidade.
Proposição 1.35. Uma função complexa de variável complexa f (z) = u(x, y) + iv(x, y)
é contı́nua se as funções u e v forem funções contı́nuas enquanto funções de R2 em R2 .
1.3. FUNÇÕES HOLOMORFAS 13
Exemplo 1.36. A função log : C∗ → U não é contı́nua sobre o semi-eixo real positivo.
De facto, dado x0 ∈ R+ , se z se aproxima de x0 pelo primeiro quadrante então log z
converge para ln x0 , se z se aproxima de x0 pelo quarto quadrante então log z converge
para ln x0 + 2π, ou seja
lim log z = ln x0
z→x0
e lim log z = ln x0 + 2π,
z→x0
y>0 y<0
logo não existe limite e a função log z não é contı́nua nos pontos z = x0 ∈ R+ , com x0 > 0.
No entanto, fora do semi-eixo θ = θ0 , isto é, para todos os pontos do conjunto aberto
n o
Cθ0 = z = ρ eiθ : ρ > 0, θ 6= θ0 + 2kπ com n ∈ Z ,
Nota 1.38. Recordamos o referido na Nota 1.32, pelo que o cálculo da derivada por de-
finição é algo delicado.
de onde concluı́mos que lim f (z) = f (z0 ), ou seja, f é uma função contı́nua em z0 .
z→z0
Exemplo 1.43. Como vimos no Exemplo 1.36 a função log : C∗ → U não é contı́nua sobre
o semi-eixo real positivo, logo a função log não é holomorfa sobre o semi-eixo real positivo.
Mais geralmente, a função logθ0 : C∗ → Uθ0 não é holomorfa sobre o semi-eixo θ = θ0 .
Definição 1.45. Dizemos que Ω é um conjunto conexo se não puder ser escrito como a
união disjunta de conjuntos abertos não vazios.
Teorema 1.48. Se f é uma função holomorfa num conjunto aberto conexo Ω e f 0 (z) = 0
para todo o z ∈ Ω, então f é uma função constante em Ω.
e para x = a temos
Exemplo 1.50. Considere a função f (z) = |z|2 . Como f (z) = x2 + y 2 , temos que u(x, y) =
x2 + y 2 e v(x, y) = 0. Assim
∂u ∂u ∂v ∂v
= 2x = 2y =0 =0
∂x ∂y ∂x ∂y
Observação 1.51. A implicação contrária não é verdadeira, mas está muito perto, no
sentido em que apenas é precisa uma condição adicional, como mostra o seguinte teorema.
∂u ∂v
f 0 (z) = (x, y) + i (x, y).
∂x ∂x
Exemplo 1.53. Consideremos a função f (z) = ez , a qual pode ser escrita como
∂u ∂v ∂u ∂v
= ex cos y = ex cos y = − ex sen y = ex sen y
∂x ∂y ∂y ∂x
∂u ∂v
f 0 (z) = +i = ex cos y + i ex sen y = ex (cos y + i sen y) = ez .
∂x ∂x
Exemplo 1.54. Do exemplo anterior e das definições da função cosseno e seno, temos que
ambas são holomorfas em C e
d d
(cos z) = − sen z e (sen z) = cos z.
dz dz
d α d ln z α d α ln z α eα ln z αz α
(z ) = e = e = = = αz α−1 .
dz dz dz z z
Exemplo 1.56. Consideremos a função f (z) = ez , a qual pode ser escrita como
∂u ∂v ∂u ∂v
= ex cos y = − ex cos y = − ex sen y = − ex sen y
∂x ∂y ∂y ∂x
1.3. FUNÇÕES HOLOMORFAS 17
Usando coordenadas polares o Teorema 1.52 pode ser escrito da seguinte forma.
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂v
= + = cos θ − sen θ
∂ρ ∂x ∂ρ ∂y ∂ρ ∂x ∂x
∂v ∂v ∂u
e de forma análoga temos = cos θ + sen θ.
∂ρ ∂x ∂x
Aplicando novamente as equações de Cauhy-Riemann (1.1) e a regra da cadeia temos
∂v ∂v ∂x ∂v ∂y ∂v ∂u 1 ∂v ∂v ∂u
= + = − ρ sen θ + ρ cos θ ⇒ =− sen θ + cos θ,
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂θ ∂x ∂x ρ ∂θ ∂x ∂x
1 ∂u ∂u ∂v
e obtemos a primeira igualdade. De forma análoga − = sen θ + cos θ, e temos
ρ ∂θ ∂x ∂x
a segunda igualdade.
18 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
∂u ∂v
Multiplicando +i por e−iθ = cos θ − i sen θ temos
∂ρ ∂ρ
∂u ∂v ∂v ∂u
(cos θ − i sen θ) cos θ − sen θ + i cos θ + sen θ
∂x ∂x ∂x ∂x
∂u ∂v ∂v ∂u
= cos2 θ − cos θ sen θ + i cos2 θ + i cos θ sen θ
∂x ∂x ∂x ∂x
∂u ∂v ∂v ∂u
−i cos θ sen θ + i sen2 θ + cos θ sen θ + sen2 θ
∂x ∂x ∂x ∂x
∂u ∂v
= +i = f 0 (z),
∂x ∂x
Exemplo 1.58. Consideremos a função f (z) = logθ0 (z) a qual é contı́nua para todo o
z ∈ Cθ0 , e tendo em conta a Proposição 1.42 a função f apenas pode ser holomorfa em
Cθ0 .
Podemos escrever f em coordenadas polares na forma f (z) = ln ρ + iθ, com ρ ∈ R+ e
θ ∈]θ0 , θ0 + 2π[. A parte real u e a parte imaginária v da função f são dadas por
u(ρ, θ) = ln ρ, e v(ρ, θ) = θ,
∂u 1 1 ∂v ∂v 1 ∂u
= = e =0=− ,
∂ρ ρ ρ ∂θ ∂ρ ρ ∂θ
Nota 1.61. Na prova anterior usámos um resultado que iremos provar mais tarde, o qual
garante que a parte real e parte imaginária de uma função holomorfa admitem derivadas
parciais de qualquer ordem.
Podemos tentar encontrar uma função v tal que f = u + iv seja uma função holomorfa.
Ora, se f é holomorfa, as funções u e v respeitam as equações de Cauchy-Riemann,
assim
∂v ∂u
= = −6xy
∂y ∂x
de onde concluı́mos que v(x, y) = −3xy 2 + g(x), a qual tem de verificar
∂v ∂u
−3y 2 + g 0 (x) = =− = −3y 2 + 3x2
∂x ∂y
e assim temos que ter g 0 (x) = 3x2 ⇒ g(x) = x3 + K. Ou seja, v(x, y) = −3xy 2 + x3 + K
e temos que
f (z) = y 3 − 3x2 y + i −3xy 2 + x3 + K
Observação 1.63. A outra implicação do Teorema 1.60 não é verdadeira; por exemplo,
as funções u(x, y) = x2 − y 2 e v(x, y) = 0 são harmónicas, no entanto, a função f (z) =
u(x, y) + iv(x, y) não é holomorfa em C.
Exemplo 1.70. O caminho dado por γ(t) = z1 + t (z2 − z1 ), com t ∈ [0, 1], parametriza o
segmento de recta que começa em z1 e termina em z2 . (ver Figura 1.9)
z2
z1
Exemplo 1.71. O caminho dado por γ(t) = z0 + R eit , com t ∈ [0, 2π], parametriza a
circunferência de centro z0 e raio R, no sentido positivo. (ver Figura 1.10)
R
z0
1 3
ou seja, o integral não depende do caminho, desde que descrevam exactamente a mesma
curva, começando e terminando no mesmo ponto.
1.4. INTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES COMPLEXAS AO LONGO DE CURVAS 23
1
Exemplo 1.75. Consideremos f (z) = e Γ a circunferência de raio R, centro em z0 ,
z − z0
percorrida uma vez no sentido positivo. Podemos parametrizar Γ por
1
e assim f (γ(t)) = e γ 0 (t) = Ri eit e temos
R eit
Z Z 2π Z 2π
0 1
f (z) dz = f (γ(t)) γ (t) dt = Ri eit dt = 2πi.
Γ 0 0 R eit
Exemplo 1.77. Consideremos f (z) = −iz e Γ a curva formada pelos segmentos Γ1 (de 0
para 1 + i) e Γ2 (de 1 + i para i). Primeiro observemos que
Z Z Z
f= f+ f.
Γ Γ1 Γ2
1 1
Exemplo 1.82. A função f (z) = é contı́nua excepto na origem e F (z) = − é holomorfa
z2 z
em C \{0}. Então
Z
1 1
f (z) dz = F (z2 ) − F (z1 ) = − ,
Γ z 2 z1
para qualquer caminho que comece em z1 e termine em z2 , que não passe na origem nem
duas vezes no mesmo ponto.
Exemplo 1.84. O caminho dado por γ(t) = z0 + R eit , com t ∈ [0, 2π] parametriza uma
curva fechada simples.
Corolário 1.85. Nas condições do Teorema 1.78, se Γ é uma curva fechada, então
Z
f (z) dz = 0.
Γ
Corolário 1.86. Seja Γ uma curva seccionalmente regular e denotamos por −Γ a mesma
curva mas percorrida em sentido contrário. Nas condições do Teorema 1.78 temos
Z Z
f (z) dz = − f (z) dz.
−Γ Γ
Z
b = Γ ∪ −Γ é uma curva fechada, pelo Corolário 1.85, temos
Prova: A curva Γ f (z) dz =
Γ
b
0.
Z Z Z
Por outro lado, pelo Lema 1.76, temos f (z) dz = f (z) dz + f (z) dz e o resul-
Γ
b Γ −Γ
tado segue.
homotópicas em Ω, então
Z Z
f (z) dz = f (z) dz.
Γ Γ
b
onde z0 ∈ int Γ.
Observação 1.94. Não podemos aplicar os resultados anteriores à SubSecção 1.4.1 uma
f (z)
vez que a função que estamos a integrar não é holomorfa em z0 ∈ int Γ ⊂ Ω.
z − z0
z2
Z
dz = 0.
Γ z−3
Aqui não aplicamos a Fórmula Integral de Cauchy, uma vez que o ponto z0 = 3 ∈
/ int Γ.
e−z
Z
πi πi
π π
dz = 2πif = 2πi e− 2 = 2πi cos − + i sen − = 2π
Γ z − πi2
2 2 2
e
Z Z
z 1 z 1
= = 2πif (−1) = −πi.
Γ 2z + 2 2 Γ z − (−1) 2
1
R= p
n
;
lim |cn |
1 1
R= = = 3.
lim 13
q
n 1
lim 3n
DR (z0 ) = {z ∈ C : |z − z0 | < R} .
para k ∈ N0 e z ∈ DR (z0 ) ⊂ Ω.
Observação 1.103. Como a série de Taylor é única, as séries (1.3) e (1.4) coincidem, isto
f (n) (z0 )
é, cn = para todo o n ∈ N0 .
n!
Como caso particular da série de Taylor, em que z0 = 0, temos a série de MacLaurin:
1
Exemplo 1.108. A função f (z) = é analı́tica em C \{1} e
1−z
+∞
1 X
= zn para todo o z ∈ {z ∈ C : |z| < 1} .
1−z
n=0
Destes exemplos bem conhecidos podemos deduzir a série de MacLaurin para outras
funções.
30 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
+∞ n +∞ n+2
X z X z
Exemplo 1.109. A função f (z) = z 2 ez é analı́tica em C e z 2 ez = z2 =
n! n!
n=0 n=0
para todo o z ∈ C.
1
Exemplo 1.110. Consideremos a função f (z) = que tem domı́nio C \{1}. Para
z−1
z0 ∈ C \{1} podemos escrever
1 1 1
f (z) = =
z − z0 − (1 − z0 ) z0 − 1 1 − z−z
1−z0
0
+∞ +∞
1 X z − z0 n X (z − z0 )n
= = − .
z0 − 1
n=0
1 − z0 (1 − z0 )n+1
n=0
O próximo teorema fornece uma forma fácil de perceber se a série de Taylor e a série
de MacLaurin existem, isto é, de saber se a função é analı́tica.
Com a fórmula integral de Cauchy para as derivadas podemos agora calcular outros
integrais.
Seja f uma função holomorfa em CR1 ,R2 (z0 ), então para todo o z ∈ CR1 ,R2 (z0 ) temos
+∞ +∞
X X bn
f (z) = an (z − z0 )n + , (1.7)
(z − z0 )n
n=0 n=1
onde
Z Z
1 f (z) 1 f (z)
an = dz e bn = dz
2πi Γ (z − z0 )n+1 2πi Γ (z − z0 )−n+1
e Γ é uma curva em CR1 ,R2 (z0 ) seccionalmente regular fechada simples percorrida no
sentido positivo e z0 ∈ int Γ.
Observação 1.114. Na coroa CR1 ,R2 (z0 ) do teorema 1.113, o raio R1 pode ser 0 e o raio
R2 pode ser +∞.
Nota 1.115. Como podemos observar, os coeficientes an e bn não são nada fáceis de calcular,
até porque não sabemos qual a curva Γ a escolher de modo a efectuar menos cálculos.
Assim, em geral, o que se faz é tomar uma série de Taylor ou de MacLaurin conhecida e
tentar deduzir a série de Laurent, uma vez que a série de Laurent é única.
1
Exemplo 1.116. A função f (z) = e z é holomorfa em C \{0}. Considerando a função ez a
qual é analı́tica em C e que por isso tem série de MacLaurin que converge para ez em C,
+∞ 1 n +∞
1 X
z
X 1
temos que e z = = para z 6= 0, ou seja, temos a série de Laurent em
n! n!z n
n=0 n=0
torno do ponto z0 = 0 para a função f na coroa C0,+∞ (0).
1 1 1
Exemplo 1.117. A função f (z) = = − é analı́tica em C \{1, 2},
(z − 1)(z − 2) z−2 z−1
assim:
f é analı́tica no disco D1 (0) e por isso, temos a série de Taylor em torno do ponto
z0 = 0. Como
+∞X zn +∞
1 1 1 1 X z n z
=− = − = − para < 1 ⇒ |z| < 2
2 1 − z2
z−2 2 2 2n+1 2
n=0 n=0
32 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
e
+∞
1 1 X
− = = zn para |z| < 1
z−1 1−z
n=0
e então
+∞ +∞ +∞
X zn X
n
X
−n−1
n
f (z) = − + z = 1 − 2 z
2n+1
n=0 n=0 n=0
X zn +∞
1
=− para |z| < 2
z−2 2n+1
n=0
e
+∞ +∞
! n
1 1 1X 1 X 1 1
− 1 =− =− para < 1 ⇒ |z| > 1
z 1− z
z z z n+1 z
n=0 n=0
e então
+∞ +∞
X zn X 1
f (z) = − n+1
− n+1
2 z
n=0 n=0
1 2
que
+∞
!
1 1 X 1
− 1 =− para |z| > 1
z 1− z
z n+1
n=0
e
+∞ +∞
! n
2n
1 1 1X 2 X 2
2 = = para < 1 ⇒ |z| > 2
z 1− z
z z z n+1 z
n=0 n=0
e então
+∞ +∞ +∞
X 2n X 1 X 1
f (z) = − = (2n − 1) n+1
z n+1 z n+1 z
n=0 n=0 n=0
f é holomorfa na coroa C0,1 (1) e por isso, temos a série de Laurent em torno do
34 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
ponto z0 = 1. Como
+∞
1 1 1 X
= =− = −(z − 1)n para |z − 1| < 1
z−2 z−1−1 1 − (z − 1)
n=0
1 2
f é holomorfa na coroa C1,+∞ (1) e por isso, temos a série de Laurent em torno do
ponto z0 = 1. Como
+∞ n X+∞
1 1 1 1 1 X 1 1
= = 1 = = ,
z−2 z−1−1 z − 1 1 − z−1 z−1 z−1 (z − 1)n+1
n=0 n=0
1
para < 1 ⇔ |z − 1| > 1 e então
z − 1
+∞ +∞
X 1 1 X 1
f (z) = n+1
− =
(z − 1) z−1 (z − 1)n
n=0 n=2
f é holomorfa na coroa C0,1 (2) e por isso, temos a série de Laurent em torno do
ponto z0 = 2. Como
+∞
1 1 1 X
= = = (−1)n (z − 2)n para |z − 2| < 1
z−1 z−2+1 1 − (−(z − 2))
n=0
1.6. SÉRIE DE LAURENT E SINGULARIDADES 35
1 2
+∞
1 X
f (z) = − (−1)n (z − 2)n
z−2
n=0
1 2 3
f é holomorfa na coroa C1,+∞ (2) e por isso, temos a série de Laurent em torno do
ponto z0 = 2. Como
+∞ n +∞
1 1 1 1 1 X −1 X (−1)n
= = −1 = = ,
z−1 z−2+1 z − 2 1 − z−2 z−2 z−2 (z − 2)n+1
n=0 n=0
36 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
1
para
< 1 ⇔ |z − 2| > 1 e então
z − 2
X (−1)n+∞ X (−1)n+1 +∞
1
f (z) = − =
z−2 (z − 2)n+1 (z − 2)n
n=0 n=2
1 2 3
1
Exemplo 1.119. A função f (z) = é holomorfa em C∗ = C+∞ (0), ou seja, z0 = 0 é uma
z
singularidade isolada.
z+1
Exemplo 1.120. A função f (z) = é holomorfa em C \{0, ±i}, ou seja, z0 = 0,
z 2 (z 2
+ 1)
z0 = i e z0 = −i são singularidades isoladas.
sen z
Exemplo 1.122. A função f (z) = tem uma singularidade isolada em z0 = 0, no
z
entanto, como
+∞ +∞
1 X (−1)n 2n+1 X (−1)n 2n
f (z) = z = z
z (2n + 1)! (2n + 1)!
n=0 n=0
a singularidade é removı́vel.
1
Exemplo 1.123. A função f (z) = e z tem uma singularidade isolada em z0 = 0, no entanto,
como
+∞
X 1 −n
f (z) = z
n!
n=0
um pólo de ordem 1.
sen z
Exemplo 1.126. Como lim = 0, z0 = 0 é uma singularidade isolada removı́vel da
z→0 z
sen z
função f (z) = .
z
Exemplo 1.129. Consideremos a função q(z) = z(ez −1), logo q(0) = 0. Como q 0 (z) =
ez −1 + z ez temos q 0 (0) = 0. Mas q 00 (z) = 2 ez +z ez e logo q 00 (0) = 2 6= 0. Assim, z0 = 0
é um zero de ordem 2 da função q(z).
g(z)
Proposição 1.130. Seja z0 ∈ Ω uma singularidade isolada da função f (z) = , onde
h(z)
g e h são funções analı́ticas para algum disco DR (z0 ). Se z0 é um zero de ordem k da
função g e um zero de ordem m da função h, com k < m, então z0 é um pólo de ordem
m − k da função f .
sen z
Exemplo 1.131. Consideremos a função f (z) = que tem uma singularidade iso-
z(ez −1)
lada no ponto z0 = 0. A função g(z) = sen z tem um zero de ordem 1 no ponto z0 , uma
vez que g(0) = 0, mas g 0 (z) = cos z e logo g 0 (0) = 1 6= 0 A função h(z) = z(ez −1), tem
um zero de ordem 2 no ponto z0 . Assim, a função f (z) tem um pólo de ordem m − k = 1
no ponto z0 .
1.7 Resı́duos
e−z
Exemplo 1.133. O ponto z0 = 1 é uma singularidade isolada da função f (z) = .
(z − 1)2
Como
+∞ +∞
−z −(z−1)−1 −1 −(z−1) 1 X (−(z − 1))n 1 X (−1)n
e =e =e e = = (z − 1)n ,
e n! e n!
n=0 n=0
1.7. RESÍDUOS 39
1
e portanto, Res (f (z), 1) = − de onde concluı́mos que
e
Z
2πi
f (z) dz = −
Γ e
para qualquer curva Γ seccionalmente regular fechada simples percorrida no sentido posi-
tivo em torno de z0 = 1.
+∞
X g (n) (3)
f (z) = an (z − 3)n−2 onde an = ,
n!
n=0
g 0 (3)
Res (f (z), 3) = a1 = = 2 e2×3 = 2 e6 .
1!
cos(2z)
Exemplo 1.136. A função f (z) = tem singularidades no ponto z0 = i e no ponto
z2 + 1
z0 = −i.
cos(2z)
Como a função g(z) = é analı́tica no disco D2 (i), tem série de Taylor em torno
z+i
de z0 = i, então para todo o z ∈ D2 (i) temos
+∞
X g (n) (i)
g(z) = an (z − i)n onde an = .
n!
n=0
+∞ +∞
1 1 X X g (n) (i)
f (z) = g(z) = an (z − i)n = an (z − i)n−1 onde an = ,
z−i z−i n!
n=0 n=0
g(i) cos(2i)
Res (f (z), i) = a0 = = .
0! 2i
cos(2z)
Como a função g(z) = é analı́tica no disco D2 (−i), tem série de Taylor em
z−i
torno de z0 = −i, então para todo o z ∈ D2 (−i) temos
+∞
X g (n) (−i)
g(z) = an (z + i)n onde an = .
n!
n=0
+∞ +∞
1 1 X X g (n) (−i)
f (z) = g(z) = an (z + i)n = an (z + i)n−1 onde an = ,
z+i z+i n!
n=0 n=0
Para determinar o resı́duo de uma singularidade essencial temos de fazer o processo que
vimos anteriormente, ou seja, determinar a respectiva série de Laurent de f em torno dessa
singularidade.
ez −1
Exemplo 1.138. A função f (z) = tem uma singularidade isolada em z0 = 0. Mas
z
ez −1
lim = 1 < ∞,
z→0 z
1 dk−1 k
Res (f (z), z0 ) = lim (z − z 0 ) f (z) .
(k − 1)! z→z0 dz k−1
z 2 − 2z + 3
Exemplo 1.140. A função f (z) = tem uma singularidade isolada em z0 = 2.
z−2
Seja g(z) = z 2 − 2z + 3, como g(2) = 3 6= 0 temos que z0 = 2 é um zero de ordem 0 de g.
Seja h(z) = z − 2, como h(2) = 0 e h0 (2) = 1 6= 0 temos que z0 = 2 é um zero de ordem 1
de h. Assim, z0 = 2 é um pólo de ordem 1 de f e então
senh z
Exemplo 1.141. A função f (z) = tem uma singularidade isolada em z0 = 0. Seja
z4
g(z) = senh z, como g(0) = 0 e g 0 (0) = 1 temos que z0 = 0 é um zero de ordem 1 de g.
42 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
Seja h(z) = z 4 , como h(0) = h0 (0) = h00 (0) = h000 (0) = 0 e h(4) (0) = 24 temos que z0 = 0 é
um zero de ordem 4 de h. Assim, z0 = 0 é um pólo de ordem 4 de f e então
1 d3 1 d3 1
Res (f (z), 0) = lim 3 z 4 f (z) = lim 3 (senh z) = lim − cosh z
3! z→0 dz 6 z→0 dz 6 z→0
1 1
= − cosh 0 = − .
6 6
Se é certo que nos exemplos anteriores poderı́amos usar o método visto anteriormente
para as singularidades essenciais, o de escrever as funções na sua série de Laurent, o mesmo
já não acontece com os seguintes exemplos.
1
Exemplo 1.142. Para função f (z) = o ponto z0 = 0 trata-se de uma singularidade
z cos z
isolada. Seja g(z) = 1, como g(0) = 1 6= 0 temos que z0 = 0 é um zero de ordem 0 de g.
Seja h(z) = z cos z, como h(0) = 0 e h0 (0) = 1 6= 0, temos que z0 = 0 é um zero de ordem
1 de h. Assim, z0 = 0 é um pólo de ordem 1 de f e então
1
Res (f (z), 0) = lim zf (z) = lim = 1.
z→0 z→0 cos z
1
Exemplo 1.143. Para função f (z) = o ponto z0 = 0 trata-se de uma singularidade
z sen z
isolada. Seja g(z) = 1, como g(0) = 1 6= 0 temos que z0 = 0 é um zero de ordem 0 de g.
Seja h(z) = z sen z, como h(0) = h0 (0) = 0 e h00 (0) = 2 temos que z0 = 0 é um zero de
ordem 2 de h. Assim, z0 = 0 é um pólo de ordem 2 de f e então
d 2 d z sen z − z cos z
Res (f (z), 0) = lim z f (z) = lim = lim =
z→0 dz z→0 dz sen z z→0 sen2 z
cos z − cos z + z sen z z
= lim = lim = 0.
z→0 2 sen z cos z z→0 2 cos z
Nota 1.144. Nos dois exemplos anteriores existem muitas mais singularidades isoladas para
além do ponto z0 = 0, como exercı́cio tente determiná-las e os respectivos resı́duos.
5z − 2
Exemplo 1.146. Para a função f (z) = e para Γ a circunferência de centro na
z(z − 1)
origem e raio 2 percorrida no sentido positivo, temos que
Z
f (z) dz = 2πi (Res (f (z), 0) + Res (f (z), 1)) ,
Γ
pelo que Res (f (z), 0) = 2. Para determinar Res (f (z), 1) podemos escrever a função f
como uma série de potências de z − 1,
1 2 1 2
f (z) = 5− = 5− =
z−1 z z−1 1 − (−(z − 1))
+∞ +∞
!
1 X
n n 5 X
= 5− 2(−1) (z − 1) = + 2(−1)n+1 (z − 1)n−1 ,
z−1 z−1
n=0 n=0
Z
pelo que Res (f (z), 1) = 5 − 2 = 3. Logo f (z) dz = 10πi.
Γ
Nesta Secção vamos ver como podemos usar o Teorema dos Resı́duos para calcular integrais
impróprios.
Dada uma função f integrável em R, recordemos que um integral impróprio de primeira
espécie é definido como
Z +∞ Z M
f (x) dx = lim f (x) dx.
a M →+∞ a
Podemos parametrizar SR por η : [−R, R] → C dada por η(t) = t. Assim, temos que
Z Z R Z R
f (z) dz = f (η(t))η 0 (t) dt = f (t) dt.
SR −R −R
Nos integrais impróprios que vamos estudar mostramos que o último limite na igual-
dade (1.9) dá zero e obtemos a igualdade
Z +∞ r
X
f (x) dx = 2πi Res (f (z), zj ) . (1.10)
−∞ j=1
Im zj >0
Teorema 1.147. Consideremos f uma função analı́tica em Ω tal que CR ⊂ Ω. Seja α > 1
tal que
lim |z|α |f (z)| < +∞,
|z|→+∞
Prova: Como lim |z|α |f (z)| < +∞, existe M ∈ R+ tal que para |z| > R temos
|z|→+∞
M M
|z|α |f (z)| 6 M ⇒ |f (z)| 6 α
6 α.
|z| R
A curva CR pode ser parametrizada por cR (t) = R eit , com t ∈ [0, π], e obtemos
Z Z π Z π Z π
it
it
it
it M Mπ
f (z) dz =
f R e Ri e dt 6 f Re |Ri e | dt 6 α
R dt = α−1 .
0 R R
CR 0 0
Z Z
Fazendo R → +∞ temos f (z) dz → 0 e logo lim f (z) dz = 0.
CR R→+∞ CR
Nota 1.148. No teorema a constante α > 1 pode ser tomada como α = 2 na maior parte
dos casos.
+∞
2x2 − 1
Z
Exemplo 1.149. Para calcular o integral impróprio dx consideramos a
−∞ x4 + 5x2 + 4
2z 2 − 1 2z 2 − 1
função f (z) = 4 = que tem singularidades em z0 = ±i, ±2i.
z + 5z 2 + 4 (z 2 + 1)(z 2 + 4)
2z 4 − z 2
Como lim |z|2 |f (z)| = lim = 2 < +∞, pelo Teorema 1.147, temos
|z|→+∞ |z|→+∞ |z 4 + 5z 2 + 4|
Z
que lim f (z) dz = 0.
R→+∞ CR
Assim, da igualdade (1.10) temos
Z +∞
2x2 − 1
4 2
dx = 2πi (Res (f (z), i) + Res (f (z), 2i)) .
−∞ x + 5x + 4
46 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
+∞
X
Então f (z) = an (z − i)n−1 é a série de Laurent de f em torno do ponto i e logo
n=0
−3 1
Res (f (z), i) = a0 = g(i) = =− .
6i 2i
Para calcular Res (f (z), 2i) podemos escrever f como
2z 2 −1
(z 2 +1)(z+2i)
f (z) = ,
z − 2i
2z 2 − 1
ora, a função g(z) = é analı́tica no disco D1 (2i) e portanto, g admite
(z 2 + 1) (z + 2i)
série de Taylor em torno do ponto z0 = 2i dada por
+∞
X g (n) (2i)
an (z − 2i)n onde an = .
n!
n=0
+∞
X
Então f (z) = an (z − 2i)n−1 é a série de Laurent de f em torno do ponto 2i e logo
n=0
−9 3
Res (f (z), 2i) = a0 = g(2i) = = .
−12i 4i
Logo
+∞
2x2 − 1
Z
π
4 2
dx = .
−∞ x + 5x + 4 2
Para os casos em que a função integranda do integral impróprio também tem funções
trigonométricas, mais concretamente, integrais impróprios da forma
Z +∞ Z +∞
cos(αx)g(x) dx e sen(αx)g(x) dx,
−∞ −∞
onde g é uma função racional, consideramos a função complexa f (z) = eiαz g(z).
Comecemos por considerar o seguinte resultado.
1.8. INTEGRAIS IMPRÓPRIOS 47
Lema 1.150 (de Jordan). Se g(z) converge uniformemente para zero quando |z| → +∞,
então
Z
lim g(z) eikz dz = 0,
R→+∞ CR
onde k > 0.
Prova: Consideremos a parametrização γR (t) = R eit = R (cos t + i sen t), com t ∈ [0, π],
da curva CR e temos
Z Z π
ikz
g R eit eikR cos t−kR sen t iR eit dt.
g(z) e dz =
CR 0
Como 0 6 arg z 6 π e lim g(z) = 0, para cada δ > 0 existe R suficientemente grande
|z|→∞
tal que |g(z)| < δ. Assim,
Z Z π
ikz it
ikR cos t−kR sen t it
g(z) e dz =
g R e e iR e dt
CR 0
Z π
g R eit eikR cos t e−kR sen t iR eit dt
6
0
π
Z π Z
2
−kR sen t
6 δR e dt = 2δR e−kR sen t dt.
0 0
h πi 2
Observemos que para t ∈ 0, temos sen t > t e logo
2 π
Z Z π h π iπ
2 2kR 2kR δπ
e− e− π t = 1 − e−kR .
ikz t 2
g(z) e dz 6 2δR π dt = 2δR −
CR 0 2kR 0 k
Fazendo R → +∞ temos
Z
ikz
δπ
lim g(z) e dz 6 ,
R→+∞ CR k
para todo o δ > 0, com δ → 0 obtemos o desejado.
Nota 1.151. O Lema de Jordan pode ser adaptado para k < 0, tomando como CR o arco
de circunferência abaixo do eixo das abcissas de centro 0 e raio R.
Z +∞
cos(2x)
Exemplo 1.152. Para calcular o integral impróprio 2
dx consideramos a função
−∞ x + 1
e2iz
f (z) = 2 que tem singularidades em z0 = ±i.
z +1
1
Assumindo que a função g(z) = 2 converge uniformemente para zero quando
z +1
|z| → +∞, pelo Lema de Jordan (Lema 1.150) temos que
Z
lim f (z) = 0.
R→+∞ CR
48 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
e2iz
ora, a função g(z) = é analı́tica no disco D2 (i) e portanto, g admite série de Taylor
z+i
em torno do ponto z0 = i dada por
+∞
X g (n) (i)
an (z − i)n onde an = .
n!
n=0
+∞
X
Então f (z) = an (z − i)n−1 é a série de Laurent de f em torno do ponto z0 = i e
n=0
e−2 1
logo Res (f (z), i) = a0 = g(i) = = 2 .
Z +∞ 2ix 2i 2e i
e 1 π
Assim, 2+1
dx = 2πi 2 = 2 .
−∞ x 2 e i e
e2ix cos(2x) sen(2x)
Como 2 = 2 +i 2 temos que
x +1 x +1 x +1
Z +∞ 2ix Z +∞ Z +∞
e cos(2x) sen(2x)
2
dx = 2
dx + i 2
dx,
−∞ x + 1 −∞ x + 1 −∞ x + 1
temos
|e−y | eix
ix−y
e 1
|f (z)| = 2 = 26 2
|(z − 1)2 + 4| |(z − 1)2 + 4| 2
|z − 1| − 4
1 1
6 2 = 2 .
2 2
||z| − 1| − 4 |R − 1| − 4
Assim
π
Z Z Z π
it f R eit Ri eit dt
it
f (z) dz = f R e Ri e dt 6
CR 0 0
Z π
R πR
6 2 1 dt = 2 .
2 0 2
|R − 1| − 4 |R − 1| − 4
Z
Fazendo R → +∞ temos lim f (z) dz = 0, de onde concluı́mos que
R→+∞ CR
Z
lim f (z) dz = 0.
R→+∞ CR
eiz
ora, a função g(z) = é analı́tica no disco D4 (1 + 2i) e portanto, g admite
(z − 1 + 2i)2
série de Taylor em torno do ponto z0 = 1 + 2i dada por
+∞
X g (n) (1 + 2i)
an (z − 1 − 2i)n onde an = .
n!
n=0
+∞
X
Então f (z) = an (z − 1 − 2i)n−2 é a série de Laurent de f em torno do ponto
n=0
z0 = 1 + 2i e logo
+∞
eix 3 e−2 (sen 1 − i cos 1) 3π e−2 (cos 1 + i sen 1)
Z
Assim, 2 dx = 2πi = .
−∞ (x2 − 2x + 5) 32 16
eix cos x sen x
Como 2 = 2 +i 2 temos que
2
(x − 2x + 5) 2
(x − 2x + 5) (x − 2x + 5)2
+∞ +∞ +∞
eix
Z Z Z
cos x sen x
2 dx = 2 dx + i dx,
−∞ (x2 − 2x + 5) −∞ (x2 − 2x + 5) −∞ (x2 − 2x + 5)2
1.9 Exercı́cios
a) |z| < 1 e) Re z + Im z = 0
b) Re z > 2
f) |z + i| > 2|z|
c) |z + 2 − i| 6 3
π 3π
d) Im z > 1 e < arg z < g) |2z − i| = 4
4 4
a) z 2 + 2iz + i − 1 = 0 1 + 28i
b) z 3 = (2 − i)3 +
2+i
Exercı́cio 1.8. Exprima cada uma das funções f (z) na forma u(x, y) + iv(x, y), onde u e
v são funções reais.
2
a) f (z) = z 3 + 2iz c) f (z) = ez e) f (z) = log z
z
b) f (z) = d) f (z) = cos z f) f (z) = sen(2 + iz)
3+z
Exercı́cio 1.9. Prove que as seguintes funções são holomorfas em C e determine f 0 (z)
para todo o z = x + iy ∈ C.
a) f (z) = iz + 2 c) f (z) = z 3
Exercı́cio 1.10. Para cada uma das seguintes funções, determine o subconjunto de C
onde f é diferenciável e calcule f 0 (z) nesses pontos, com z = x + iy ∈ C.
1 c) f (z) = z Im z
a) f (z) =
z
b) f (z) = x2 + iy 2 d) f (z) = z
Exercı́cio 1.12. Prove que não existe nenhuma função holomorfa cuja parte imaginária
seja v(x, y) = x2 − 2y.
ρ
g(z) = 3 ln + 3iθ
5
é holomorfa em todo o seu domı́nio ρ > 0 e 0 < θ < 2π. Calcule g 0 (z).
Z
z+2
Exercı́cio 1.16. Considere a função f (z) = . Calcule f , usando a definição, nos
z Γ
seguintes casos.
z
b) f (z) = cos , Γ uma curva qualquer de z1 = 0 até z2 = π + 2i, com esta orientação.
2
z2 1 c) f (z) = tg z.
a) f (z) = . b) f (z) = .
z2 − 3 z2 + 2z + 2
c) Calcule
Z
f (z)
dz,
Γ (z − i)2
onde Γ é a circunferência de centro na origem e raio π percorrida uma vez no sentido
positivo.
eiz
Z
a) dz, onde Γ é a circunferência |z| = 1 percorrida uma vez no sentido
Γ z + π/2
positivo.
Z
cos z
b) dz, onde Γ é a elipse 3x2 +2y 2 = 1 percorrida uma vez no sentido positivo.
Γ z(z − i)
Z
1
c) 2+4
dz, onde Γ é a circunferência |z − i| = 2 percorrida duas vezes no sentido
Γ z
negativo.
Z
cos z
d) 2
dz, onde Γ é o quadrado de vértices ±2 ± 2i percorrido no sentido
Γ z (z + 8)
positivo.
Exercı́cio 1.24. Encontre a série de MacLaurin das seguintes funções. Indique e repre-
sente a região onde é válida.
4z 2 1
b) f (z) = e) f (z) =
z2 − 4 1 + z2
1 1
c) f (z) = + (z + 1)2 f) f (z) =
(2 − z)2 (1 − z)2
Exercı́cio 1.26. Encontre a série de Taylor no ponto z0 das seguintes funções, indicando
a região onde é válida.
1 z
a) f (z) = e z0 = 3 c) f (z) = e z0 = 2
z (z − 1)(z − 3)
b) f (z) = z 3 e z0 = 1
Exercı́cio 1.27. Calcule os seguintes integrais, usando a fórmula integral de Cauchy para
as derivadas.
Z
sen z
a) 10
dz, onde Γ é a circunferência |z| = 2 percorrida uma vez no sentido
Γ (z − i)
positivo.
Z
1
b)
2 2 dz, onde Γ é a circunferência |z −i| = 2 percorrida duas vezes no sentido
Γ (z + 4)
positivo.
1.9. EXERCÍCIOS 55
ez+1
Z
c) dz, onde Γ é a circunferência |z − 1 − i| = 2 percorrida uma vez no
Γ (z 2 + 1)3
sentido positivo.
Exercı́cio 1.28. Determine as séries de Laurent para as seguintes funções, válidas nas
regiões indicadas.
z
a) f (z) = e z+1 em 0 < |z + 1| < +∞ 1
e) f (z) = z 3 cosh em C \{0}
z
1
b) f (z) = em 0 < |z| < 1 1
z 2 (1 − z) f) f (z) = em 0 < |z| < 3
3−z
1 1
c) f (z) = em 1 < |z| < +∞ g) f (z) = em 3 < |z| < +∞
z 2 (1 − z) 3−z
z+1 sen z
d) f (z) = em 1 < |z| < +∞ h) f (z) = 2 em 0 < |z| < ∞
z−1 z
Exercı́cio 1.29. Determine duas séries de Laurent em dois domı́nios diferentes para cada
uma das seguintes funções.
z 1
a) f (z) = b) f (z) =
(z − 1)(z − 3) z (z 2+ 1)
1 cos z 1 1
a) f (z) = z e z d) f (z) = g) f (z) = −
z2 z sen z
z2 1 1
b) f (z) = e) f (z) = h) f (z) =
z+1 1 − ez z − sen z
sen z z z 2 + sen z
c) f (z) = f) f (z) = i) f (z) =
z (ez −1)2 z
Exercı́cio 1.31. Indique os resı́duos Res (f (z), 0) para as funções do Exercı́cio 1.28.
Exercı́cio 1.32. Mostre que as singularidades isoladas das seguintes funções são pólos,
determine a sua ordem e os respectivos resı́duos.
1 − cosh z e2z 1
a) f (z) = b) f (z) = c) f (z) =
z3 (z − 1)2 z2 −z
56 CAPÍTULO 1. ANÁLISE COMPLEXA
senh z 1 ez
d) f (z) = f) f (z) = g) f (z) =
z (1 − z 2 )
4 z (ez −1) z2 + π
z
e) f (z) =
cos z
1 1 z − sen z
a) f (z) = b) f (z) = z cos c) f (z) =
z + z2 z z
Exercı́cio 1.34. Seja Γ a circunferência |z| = 3 percorrida uma vez no sentido positivo.
Z
Calcule f (z) dz, para as funções indicadas, usando o Teorema dos Resı́duos.
Γ
5 3 z+1
a) f (z) = + e) f (z) =
z−1 z−2 z 2 − 2z
5 3 1
b) f (z) = · f) f (z) =
z−1 z−2 (z − 2i)(z + 1)
1 3
c) f (z) = z 2 e z g) f (z) =
z 2 − 2z + 2
e−z 2
d) f (z) = h) f (z) =
z2 z3 +z
e−z
Z Z
1
a) dz b) e z2 dz
Γ (z − 1)2 Γ
Exercı́cio 1.36. Considere a curva Γ parametrizada por γ(t) = 5 eit , com t ∈ [0, 2π].
ez
Z
Determine dz.
Γ (z − 2)(z + 3)
Z +∞ Z +∞
cos x π cos x π
a) 2
dx = 3 e) 2 2
dx = , a ∈ R+
−∞ x +9 3e −∞ x +a a ea
Z +∞
1 π
b) dx = Z +∞
x sen 2x π
0 x2 +1 2 f) dx = √
2
x +3
Z +∞
1 π 0 2 e2 3
c) dx =
0 (x2 + 1)2 4 Z +∞
1 π
Z +∞
x2 π g) dx = √
d) dx = 0 x4 +1 2 2
2 2
(x + 1)(x + 4) 6
0
1.9. EXERCÍCIOS 57
Z +∞ Z +∞
1 x sen x
a) 2
dx b) dx
−∞ x + 2x + 2 −∞ (x2 + 1) (x2 + 4)
Índice
58
ÍNDICE 59
Ímpar, 192
Lei de Hooke, 117
Impulso, 132
Lei de Newton, 79
Integrável, 231
Segunda, 82, 117, 122
Absolutamente, 231
Limite
Ordem Exponencial, 125
à direita, 194
Par, 192
à esquerda, 194
Periódica, 191
Lateral, 194
Seccionalmente Contı́nua, 195
Função Complexa, 3 Matriz Diagonalizável, 156
Analı́tica, 28 Multiplicidade
60 ÍNDICE
Teorema, 42
Retrato de Fase, 168, 171