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Diego Sier de Faria

Simetrias do Espaço-Tempo
e Vetores de Killing

Belo Horizonte - MG
2022/1
Diego Sier de Faria

Simetrias do Espaço-Tempo e Vetores de Killing

Orientador: Nelson de Oliveira Yokomizo


Coorientador: Filipe Henrique de Castro Menezes

Belo Horizonte
2022
3

Agradecimentos

Agradeço meus pais e irmã, Vinicius, Cinara e Isabelle, por todo apoio a minha
caminhada na física e nas minhas decisões.
Agradeço a minha namorada Bruna, pela paciência e carinho em me acompanhar
nas discussões sobre física e me ajudar a seguir com meus objetivos.
Agradeço, aos meus avós e tios, principalmente a Tia Nem pela afeição em minha
criação.
Agradeço aos meus amigos, que me permitiram descontrair nas pausas dos estudos.
Agradeço ao meu orientador Nelson, por contribuir com minha formação.
Agradeço ao meu coorientador Filipe, por ter aceitado o projeto de escrever esse
trabalho e por me ajudar de n formas na minha carreira acadêmica.

Em memória de Vô Nil.
4

Resumo

A presente monografia tem como objetivo analisar simetrias do espaço-tempo


através de vetores de Killing e calcular grandezas conservadas em um buraco negro através
desses vetores. De início, são introduzidos os formalismos matemáticos utilizando notação
diferencial, para que, na segunda parte do trabalho, sejam obtidos os vetores de Killing e
calculadas as grandezas conservadas através da integral de Komar. Por fim, são analisados
os significados físicos proporcionados pelos resultados calculados.
Palavras-chaves: Simetria; Vetores de Killing; Buraco Negro; Teoria da Relativi-
dade Geral; Conservação.
5

Abstract

The present monograph aims to analyze spacetime symmetries through Killing


vectors and calculate conserved quantities in a black hole through these vectors. Initially,
mathematical formalisms are introduced using differential notation. In the second part
of the work, they are used to obtain the Killing vectors and to calculate the conserved
quantities through the Komar integral. Finally, the physical meanings provided by the
calculated results are analyzed.
Key-Words: Symmetry; Killing vectors; Black Holes; General Theory of Relativity;
Conservation.
6

Sumário

Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1 FERRAMENTAS MATEMÁTICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1 Variedade Diferenciável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1.1 Vetor Tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.2 Campos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.3 1-formas e Vetores Cotangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.1.4 Tensores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.5 p-formas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.1.6 Pushforward e Pullback . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.1.7 Fluxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.1.8 Derivada de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.1.9 Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.1.9.1 Forma de Volume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.1.9.2 Teorema De Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

2 VETORES DE KILLING . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.1 Equação de Killing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.2 Obtenção de Vetores de Killing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.3 Equação Geodésica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4 Vetores de Killing na Equação Geodésica . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.5 Equação da Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.6 Quantidades Conservadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.7 Quantidades Conservadas em Métricas de Buracos Negros. . . . . . 57
2.7.1 Quantidade Conservada na Métrica de Schwarzschild . . . . . . . . . . . . 58
2.7.2 Quantidade Conservada na Métrica de Reissner-Nordström. . . . . . . . . . 61
2.7.3 Quantidade Conservada na Métrica de Kerr. . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
2.7.4 Quantidade Conservada na Métrica de Kerr-Newman . . . . . . . . . . . . 67
2.8 Análise das Quantidades Conservadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

3 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

A CONCEITOS ALGÉBRICOS E TOPOLÓGICOS . . . . . . . . . . . 74


A.1 Homomorfismo e Isomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
A.2 Homeomorfismo e Difeomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Sumário 7

B PRODUTO EXTERIOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

C TENSORES E OPERADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
C.1 Derivada Exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
C.2 Símbolos de Christoffel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
C.3 Derivada Covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
C.4 Tensores de Riemann e de Ricci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

D MÉTRICA DE BURACOS NEGROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

E DESENVOLVIMENTO MATEMÁTICO . . . . . . . . . . . . . . . . 84
E.1 Primeiro fator h de Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
E.2 Segundo fator h de Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
E.3 Terceiro fator h de Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
E.4 Antissimetrização de Deltas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
8

Convenções

• ηµν = Diag(−1, 1, 1, 1) (Minkowski).

• Sistema de Unidades Naturais c = 1/4πϵ0 = µ0 = ℏ = G = 1;

• xµ ≡ ηµν xν ;

• xµ ≡ Λµ ν xν (Transformação de Lorentz);

• ∂µ = ∂xµ
;

• Índices gregos: 0,1,2,3; Índices romanos: 1,2,3;

• Índices com letras a,b,c,d se referem ao objeto matemático e não diretamente às


suas componentes.
9

Introdução

Em 1915 Albert Einstein desenvolveu uma das mais surpreendentes e bem sucedidas
teorias físicas. Na época, as consequências geradas por essa teoria foram extremamente
discutidas entre a comunidade científica, já que ela permitiu a solução do problema do
avanço do periélio de mercúrio, assim como a descrição da deflexão da luz provocado
por campos gravitacionais, a explicação do desvio para o vermelho de luzes emitidas por
outras galáxias indicando que elas estão em movimento, a implicação de um início para
o universo (Big-Bang), buracos negros e vários outros fenômenos. Além da comunidade
científica, muitos desses temas despertam um grande interesse da sociedade, como por
exemplo o Big-Bang e buracos negros. Sobre esse último tema, desde a primeira previsão
feita por R. Penrose em 1965, de que em algumas situações corpos massivos irão sofrer
um colapso gravitacional e formar um buraco negro, até os dias atuais, há sempre uma
grande discussão por parte da comunidade científica e da mídia. Isso pode ser afirmado,
visto a grande divulgação de pesquisas relacionadas a buracos negros, como por exemplo
a ampla publicação na mídia das últimas descobertas relacionadas ao imageamento dos
buracos negros M87 em 2019 e Sagitarius A* em 2022 pelo projeto de colaboração global
Event Horizon Telescope (EHT).
Em vista disso, física de buracos negros é uma área da física que representa ganhos
científicos e ganhos culturais. O primeiro ganho é devido aos grandes avanço na física teórica
e experimental para prever e observar o comportamento desses corpos. O segundo ganho é
devido ao grande interesse da população acerca de descobertas sobre buracos negros. Dessa
forma, o estudo de buracos negros é importante em diversos aspectos, principalmente
devido ao fato de ele gerar singularidades que são vistas como sendo estruturas do espaço-
tempo. Logo a existência deles tem consequências diretas em propriedades do próprio
espaço-tempo.
Em meio a tantas descobertas relacionadas à física de buracos negros, será dada
uma atenção nessa monografia para quantidades conservadas no espaço-tempo. Esse estudo
se baseia nos campos vetoriais de Killing, os quais foram denominados assim devido a uma
homenagem a Wilhelm Killing que os desenvolveu. Por meio desses campos vetoriais é
possível resolver as integrais de Komar, desenvolvidas por Arthur Komar em 1963 [15]. E
finalmente, descobrir o que está sendo conservado no espaço-tempo devido à presença de
buracos negros. O objetivo dessa monografia é calcular através das integrais de Komar as
quantidades conservadas no espaço-tempo devido à presença de buracos negros.
10

1 Ferramentas Matemáticas

“A matemática é uma linguagem mais


raciocínio; é como uma linguagem mais lógica.
A matemática é uma ferramenta de raciocínio”
- Richard P. Feynman

A Teoria da Relatividade Geral é uma teoria que incorporou vários conceitos físicos
não vistos até então pela física não relativística. Um deles é a utilização do tempo como
uma quarta dimensão passível de transformações, se comportando, assim, como qualquer
uma das outras três dimensões espaciais. Além disso, o contexto em que a teoria é elaborada
é em um espaço maleável, ou seja, nesse caso não está se lidando mais com um espaço
plano e sim com um espaço que pode vir a se curvar. Para isso é necessário a incorporação
da geometria diferencial na descrição matemática da relatividade geral. Por conseguinte,
é necessário compreender alguns termos matemáticos para poder iniciar o tratamento
diferencial dessa teoria.

1.1 Variedade Diferenciável


Hodiernamente, sabe-se que a Terra é um corpo celeste aproximadamente esférico.
Entretanto, até as primeiras evidências para a forma esférica da Terra (feita por Aristóteles
em torno de 330 a.C), havia um consenso na sociedade científica grega de que a Terra era
um corpo plano [16]. Esse conceito antigo de que a Terra era plana se baseava em questões
religiosas da época, mas também pelo fato de localmente uma esfera se assemelhar a um
plano bidimensional. Essa observação se baseia em propriedades matemáticas que podem
ser explicadas através do uso de variedades diferenciais. Assim, o estudo de variedades
diferenciais é importante para diversos aspectos, sendo esse um deles. Logo, neste trabalho,
as variedades diferenciáveis fazem um papel importante na descrição matemática da teoria
da relatividade geral.
Portanto, inicialmente deve-se definir o que é uma variedade diferenciável. Para
isso, uma n-dimensional variedade diferenciável M é um conjunto que possui uma coleção
de subconjuntos (Oα ) satisfazendo as seguintes propriedades:

• M é localmente homeomorfo1 a Rm , em que m < ∞. (Pode-se tomar de exemplo o


1
A definição de homeomorfismo está descrita no apêndice A.2. Caso haja a necessidade de outra definição
sobre os conceitos de homeomorfismo são recomendadas as seguintes referências: [3], [7], [6].
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 11

que foi citado no primeiro parágrafo dessa seção.) Portanto, tomando-se um elemento
p de M haverá um aberto U e um homeomorfismo ϕ : U → Rm . ϕ é denominado um
mapa;

• O par (U ,ϕ) é chamado de carta coordenada e sua ação pode ser vista na imagem 1.
O conjunto formado por todas as cartas é chamada de atlas de M .

Figura 1 – Ilustração da atuação do mapa ϕ sobre o aberto U ∈ M .

• Utilizando duas cartas (U1 , ϕ1 ) e (U2 , ϕ2 ) tais que U1 ∩ U2 =


̸ ∅, haverá um ponto
p ∈ U1 ∩ U2 que pode ser mapeado em Rn usando ϕ1 ou ϕ2 . Dessa forma, haverá
aplicações do mapa ϕ1 ◦ ϕ−1 −1 m m
2 e ϕ2 ◦ ϕ1 indo de R à R , que devem ser suaves. Essa
definição permite uma mudança de coordenada do ponto p e sua aplicação pode ser
vista na imagem 2.

Figura 2 – Ilustração da ação de ϕ1 e ϕ2 sobre a interseção de abertos U1 ∩ U2 , como


também da atuação da composição ϕ2 ◦ ϕ−1 −1
1 e sua inversa ϕ1 ◦ ϕ2 .
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 12

Em uma definição mais simples do conceito de variedades diferenciais, é possível


dizer que: uma variedade diferenciável é um espaço topológico2 que é feito, basicamente,
de peças que se parecem com subconjuntos abertos de Rn e esses subconjuntos podem ser
unidos suavemente. Para uma definição mais detalhada sobre variedades diferenciais ver
referência [7].

1.1.1 Vetor Tangente


Uma das principais ferramentas matemáticas para a construção da física é a noção
de vetor. Então é importante desenvolver uma abordagem de vetores sobre variedades
diferenciáveis. Para esse fim, serão utilizadas duas variedades diferenciais M e N de
dimensão m e n respectivamente3 , como também uma função f : M → N . Em outras
palavras, a função f leva um ponto p pertencente à carta (U, ϕ) da variedade M até um
ponto f (p) pertencente à carta (W, ψ) da variedade N . É possível definir uma função F
que leva o ponto p mapeado em Rn pelo mapa ϕ até um ponto f (p) mapeado em Rm pelo
mapa ψ. Dessa forma, é possível demonstrar de forma esquemática a ação de F : Rm → Rn
através da imagem 3 e definir a ação de F como sendo:

F = ψ ◦ f ◦ ϕ−1 . (1.1)

Figura 3 – Ilustração da ação da função f : M → N atuando no aberto U ∈ M e a ação


da função F : Rm → Rn .

Uma definição importante que deve ser considerada nessas variedades é o possível
difeomorfismo de M em relação à N . Para tal, será definido que as dimensões de M e N
são as mesmas, ou seja, m = n. Sejam xµ ∈ Rm as coordenadas de p ∈ M e coordenadas
y ν ∈ Rn para o ponto f (p) ∈ N , de forma que y ν = F ν (x). Assim, será dito que f é
2
A definição de espaços topológicos se encontra no apêndice A.2
3
Note que nada impede as dimensões das variedades serem a mesma, mas aqui foi tomado m diferente
de n para se fazer uma generalização do argumento.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 13

diferenciável de classe C∞ se F o for. Se, além disso, F for invertível e sua inversa for suave,
f é chamado de difeomorfismo4 . Portanto, a variedade diferenciável M será difeomorfa a
N.
Visto isso, será utilizado uma classe de mapeamento bastante importante para o
contexto. Esse tipo de mapeamento é o de uma curva aberta γ(t) sobre a variedade M em
Rn através de um mapa f : M → R. Para definir um vetor tangente X a um ponto dessa
curva deve-se diferenciá-la em relação ao parâmetro t da curva e analisar o valor de t para
o qual está definido o ponto em questão (para simplificar será tomado γ(0) = p), o que
geometricamente está mostrado na imagem (4) e estabelecido na relação (1.2).

Figura 4 – Representação de um vetor tangente à curva γ(t) no ponto γ(0) = p, o qual é


definido como sendo γ ′ (t = 0).


df (γ(t))
X(f ) = . (1.2)
dt t=0

Note que essa definição independe de coordenadas, porém é necessário incorporar


coordenadas para gerar uma interpretação física desse vetor tangente no espaço em questão.
Para isso, utilizando um mapa ϕ : M → Rm , de forma que:

f (γ(t)) = f (ϕ−1 ◦ ϕ ◦ γ(t)) = F (ϕ(γ(t))) = F (x1γ (t), · · · , xm


γ (t)), (1.3)

em que f (ϕ−1 ) : Rm → R. Portanto, a ação do vetor X sobre uma função agora com
coordenadas é dada por:

dF (x1γ (t), · · · , xm

γ (t))

X(f ) = , (1.4)
dt
t=0

ou seja,
dxµ ∂F (xγ (t))

X(f ) = γ . (1.5)
dt ∂xµγ
t=0

A noção de vetor construída até o momento foi através de uma aplicação linear
sobre uma função. Porém, ao analisar todas as curvas que passam pelo ponto p e obter
todos os vetores tangente associados a essas curvas é possível construir a noção de um
espaço através da composição desses vetores, o qual será denominado de espaço Tp M que é
4
O conceito de difeomorfismo está explicado no apêndice A.2.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 14

por definição um espaço vetorial. Portanto, é dito que Xp é pertencente ao espaço vetorial
Tp M e sua ação é dada por Xp : C∞ (M ) → R. Logo, ele deve possuir uma base, de forma
que qualquer vetor tangente seja uma combinação linear dessa base. Dessa maneira, é
possível determinar uma base eµ associada ao espaço Tp M , de forma que o vetor X escrito
em termos de sua base e componentes é dado por:

X = X µ eµ . (1.6)

Assim, a pergunta natural que surge após determinar uma base para esse vetor é
como determinar as componentes dessa base. Essa indagação pode ser respondida de forma
simples através de uma inspeção nas equações (1.2) e (1.5). Na relação (1.5) há um termo
de derivada em relação ao parâmetro t como em (1.2) multiplicado por uma derivada da
função F em relação à xµγ , assim é possível associar esse termo de derivada parcial com a
atuação da base na função F . Portanto, a base eµ do espaço Tp M e as componentes do
vetor X µ serão determinados, respectivamente, como sendo:

eµ = = ∂µ , (1.7)
∂xµ

dxµ
Xµ = . (1.8)
dt
Dito isso, a base eµ será escrita a partir de agora como sendo ∂µ . Assim, a aplicação
X(f ) escrita em termos de coordenadas pela relação (1.5) pode ser reescrita da seguinte
forma:
X(f ) = X µ ∂µ (f ). (1.9)

Portanto, tem-se em mãos duas relações de vetor tangente, sendo uma que independe
de coordenadas (1.2) e outra que depende de coordenadas (1.5). Porém, a relação (1.5) foi
construída através da (1.2), gerando a ideia de que é possível mudar as coordenadas do
vetor, já que a definição independe de um sistema de coordenadas específico. Portanto, é
de interesse mudar da base ∂µ que corresponde às coordenadas xµ para uma outra base

∂µ′ que corresponde às coordenadas xµ e que atue em f da seguinte forma:

dxµγ ∂F (x′γ (t))

X(f ) = ′ . (1.10)
dt ∂xµγ
t=0

Para isso:
∂F (x′ ) ∂xµ ∂F (x) ∂xµ
∂µ′ (f ) = = = ∂µ (f ). (1.11)
dxµ′ ∂xµ′ ∂xµ ∂xµ′

Logo:
∂xµ ∂ ∂xµ
∂µ′ = ′ = ∂µ . (1.12)
∂xµ ∂xµ ∂xµ′
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 15

∂x µ
Isso informa que as duas bases estão relacionadas através de uma matriz ∂x µ′ ,

que é denominada de matriz inversa da Jacobiana. Logo, a troca de coordenadas das


componentes desse vetor tangente atuando em f é dada pela relação (1.13),
′ ′ ′
µ′ dxµ ∂xµ dxµ ∂xµ µ
X = = = X . (1.13)
dt ∂xµ dt ∂xµ

Visto isso é possível concluir matematicamente o que foi dito anteriormente, que
um vetor é definido independentemente do sistema de coordenadas dada a conta abaixo,
′ ′
dxµ ∂F (x′ ) ∂xµ dxµ ∂xν ∂F (x)
X ′ (f ) = = , (1.14)
dt ∂xµ′ ∂xµ dt ∂xµ′ ∂xν
organizando os termos e usando a propriedade de delta de Kronecker,

′ ∂xµ ∂xν dxµ ∂F (x) µ
ν dx ∂F (x)
X (f ) = ′ = δµ . (1.15)
∂xµ ∂xµ dt ∂xν dt ∂xν

Portanto,
dxµ ∂F (x)
X ′ (f ) = = X(f ). (1.16)
dt ∂xµ
Frente ao exposto, foi possível visualizar a construção de vetores tangente, como
suas componentes e base se comportam sobre uma mudança de coordenadas. Além disso,
foi visto que o objeto matemático, vetor X, independe do sistema de coordenadas para ser
definido. O que faz com que se tenha em mãos conceitos extremamente importantes sobre
esse objeto bastante utilizado na física.

1.1.2 Campos Vetoriais


Na seção sobre vetores tangentes 1.1.1 foi demonstrado que a representação de um
vetor no espaço pode ser feita através de uma seta apontando com uma direção e sentido
devido à taxa de variação da curva em que ele foi definido. Essa representação está feita na
Figura 4. Portanto, a noção de vetor como uma seta apontando para a direção e sentido
em que ele está definido é uma interpretação que permite desenvolver uma ideia de como
esse vetor está se comportando no espaço. Visto isso, é possível tomar um vetor para cada
ponto de um determinado espaço e definir esse conjunto de vetores como sendo um campo
vetorial. A representação de um campo vetorial em um certo espaço pode ser visualizada
na Figura 5-a), em que há um certo campo vetorial em uma esfera S2 , e também na Figura
5-b) em que há um campo vetorial em um plano.
Essa abordagem permite visualizar que um certo campo vetorial é determinado
como sendo um conjunto de vetores em diferentes pontos de um espaço. De forma a definir
matematicamente esse conceito é necessário relembrar que um vetor tangente a uma curva
é obtido ao diferenciar uma curva em termos do seu parâmetro e analisar o resultado no
ponto de análise, que é denominado, aqui, de ponto p. Além disso, esse vetor pertence a
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 16

Figura 5 – a) Representação de um campo vetorial em uma esfera S2 . b) Representação


de um campo vetorial em um plano.

um espaço que foi denominado de espaço Tp M , o qual pode ser construído a partir do
vetor tangente de todas as curvas que passam no ponto p.
Dito isso, há um espaço tangente Tp M associado a cada ponto p ∈ M . Um campo
vetorial é definido como sendo uma função vetorial que associa um vetor em Tp M a cada
ponto p da variedade M .
Também é possível introduzir uma definição algébrica de campo vetorial utilizando
ferramentas do Cálculo. Para isso, inicialmente, será dito que um campo vetorial v agindo
sobre uma função f ∈ C∞ (M ) fornecerá informações sobre como essa função varia na
direção do campo vetorial v. E, caso se aplique esse campo vetorial em um ponto p da
função, a aplicação passa a ser v : f → R. Um exemplo desse tipo de operação é através
da derivada direcional da função f em um espaço euclidiano,
∂f 2 ∂f 3 ∂f i ∂f
v(f ) = v∇(f ) = v 1 + v + v = v . (1.17)
∂x1 ∂x2 ∂x3 ∂xi

Visto isso, é possível expandir esse conceito para o contexto de variedade diferen-
ciável. Para isso, usando uma função f ∈ C∞ (M ) e um campo vetorial em Rm é possível
determinar a ação de v em f através de v(f ). Isto é, está havendo uma diferenciação da
função f ao longo do campo vetorial v. Mas como v é um objeto definido em um espaço, ele
necessariamente necessita de uma base coordenada e para isso será feita a mesma análise
feita na seção de vetores tangentes. Pois, a partir da relação (1.17) é possível visualizar
que há uma contração dos componentes v i com o gradiente. Logo, expandido o conceito
para uma variedade M de dimensão m, é possível definir a ação de v(f ) em termos de
coordenadas através de:
∂f ∂f
v(f ) = v 1 1 + · · · + v m m . (1.18)
∂x ∂x
Portanto, o campo vetorial em questão será definido como sendo:

v = v µ ∂µ . (1.19)
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 17

É possível observar que como f é uma função C∞ (M ) então a ação de um campo


vetorial v sobre essa função irá gerar outra função pertencente a C∞ (M ). Além disso, um
campo vetorial deve satisfazer as seguintes condições, para todo f, g ∈ C∞ (M ):

• v(f + g) = v(f ) + v(g);

• v(αf ) = αv(f );

• v(f g) = v(f )g + f v(g), sendo essa a condição da regra de Leibniz.

1.1.3 1-formas e Vetores Cotangente


Dado o espaço vetorial Tp M trabalhado anteriormente é possível definir um operador
linear ω aplicado a um vetor X qualquer que retorne valores reais, isto é ω : Tp M → R 5 .
Devido ao fato de que ω foi definido como um operador linear, então caso haja uma soma
de operadores e multiplicação por número reais, esse operador ω deve obedecer a relação
dada abaixo:
(c1 ω1 + c2 ω2 )(X) = c1 ω1 (X) + c2 ω2 (X). (1.20)

Esse operador irá fazer parte de um espaço vetorial, o qual será denominado de
espaço cotangente ou de espaço dual a Tp M e simbolizado pela sigla Tp∗ M . Os funcionais
que fazem parte desse espaço serão chamados de vetores duais, vetores cotangentes ou
simplesmente 1-formas.
Como se definiu uma 1-forma como sendo um objeto pertencente ao espaço Tp∗ M
é necessário incorporar o mesmo argumento dado à (1.19), ou seja, é preciso que uma
1-forma ω possa ser representada por componentes em uma base eµ em relação a esse
espaço. Assim, é possível representar ω da seguinte forma:

ω = ωµ eµ . (1.21)

Como uma 1-forma é linear sua operação sobre um vetor é definida com a atuação
nos vetores de base,
ω(X) = ωµ eµ (X ν ∂ν ) = ωµ X ν eµ (∂ν ). (1.22)

Tomando os vetores eν como, também, os da base dual a ∂µ , temos:

eν (∂µ ) = δµν . (1.23)

Da mesma maneira que a atuação de ω sobre o espaço Tp M foi definida de forma a


resultar em um número real, é possível reinterpretar, também, um vetor como sendo um
5
É possível definir um operador linear ω que atue sobre um dado X ∈ Tp M que retorne um número
complexo, porém isso não será o objeto de interesse nesse trabalho.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 18

funcional linear, porém atuando sobre 1-formas, ou seja, X : Tp∗ M → R. Assim, a atuação
de vetores sobre uma 1-forma genérica ω é definida como:

X(ω) = ω(X). (1.24)

Dessa forma, aplicando esse conceito para a base de eµ , é possível verificar que
a única possibilidade para a contração de uma base de 1-forma com uma base de vetor
resultar em um delta de Kronecker é se eµ = dxµ .
ν ν∂xν
dx (∂µ ) = ∂µ (x ) = µ
= δµν . (1.25)
∂x

Portanto, a partir de agora a base de uma 1-forma será escrita como sendo dxµ , e
a 1-forma será tida como:
ω = ωµ dxµ . (1.26)

A ação de uma 1-forma genérica sobre um vetor tangente também genérico é dada
pela (1.24). Essa relação pode ser conferida em termos de um sistema de coordenadas.
Isto é,
ω(X) = X µ ω(∂µ ) = X µ ων dxν (∂µ ) = X µ ων δµν = X µ ωµ . (1.27)

A definição de uma 1-forma é feita sem o uso de um sistema de coordenadas


específico, como o efetuado para vetores tangentes. Isso acontece, pois é possível atribuir
uma coordenatização ϕ : M → Rm que gera coordenadas xµ para um ponto p ∈ M , ou
uma coordenatização ψ : M → Rm que resulta em coordenadas y µ para o ponto p. Logo,
igualmente como os vetores tangente, uma 1-forma pode ser escrita em termos de uma
coordenatização, mas pode sofrer uma transformação que troque sua coordenatização.
Dessa maneira, a mudança de coordenadas para a base de 1-formas é dada por:

µ′∂xµ ν
dx = dx , (1.28)
∂xν
em que no último passo foi utilizada a definição de diferencial, aplicando a regra da cadeia.
Deve-se observar que a atuação de uma 1-forma ω nos vetores de base ∂µ′ é dada
por:
ω(∂µ′ ) = ωµ dxµ (∂µ′ ) = ωµ′ . (1.29)

Então, finalmente é possível visualizar que:


∂xν
ω(∂µ′ ) = ων dxν (∂µ′ ) = ων ∂µ′ (xν ) = ων . (1.30)
∂xµ′

Ou, utilizando a relação (1.29) é possível escrever a relação explícita entre as trocas
de coordenadas de uma 1-forma ω para as novas coordenadas de ω ′ .
∂xν
ωµ′ ′ = ων . (1.31)
∂xµ′
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 19

As relações de troca de coordenada são extremamente importante para uma série


de contextos físicos e por isso saber as relações (1.13) e (1.31) é extremamente importante.
Ademais, é importante pontuar que como (1.13) relaciona a troca de coordenadas das
componentes de um vetor tangente diretamente com a matriz Jacobiana, esses vetores são
chamados de contravariantes. Já a relação (1.31) demonstra que as componentes de uma
1-forma se transformam com a inversa da Jacobiana, logo são chamados de covariantes.
Como visto anteriormente, a noção geométrica de um vetor é representada por setas.
Entretanto, a noção geométrica de um covetor não é tão direta, pois há uma dificuldade
em se desenhar um plano dual ao plano Tp M . Para poder contornar esse problema, é
possível representar de forma heurística um vetor cotangente como sendo uma série de
hiperplanos paralelos.
De forma a visualizar isso, será tomada uma função f : M → R e uma 1-forma
df associada a essa função. A justificativa de que se pode interpretar df como 1-forma
se deve à derivada exterior aplicada na função f . A forma como operar com a derivada
exterior está descrita no apêndice C.1, mas o importante aqui é saber que df é de fato
uma 1-forma. Dito isso, é possível visualizar df em um ponto p ∈ Rm desenhando linhas de
curvas da função f perto do ponto p, as quais se parecem, de fato, a uma série de linhas
paralelas. Isso é possível de ser identificado na Figura 6-a). Além disso, quanto maior o
valor de df mais estreitas ficarão as linhas.

Figura 6 – a) Representação heurística do vetor cotangente (df )p . b) Representação da


atuação df (X)p = 3. c) Representação da atuação df (−X)p = −3

No caso em que é tomado um vetor X ∈ Tp M , a atuação de uma 1-forma df


sobre X, df (X), deve resultar em um número real. Esse valor será exatamente o número
de pequenos hiperplanos provocados por df que o vetor X cruza. Assim, através da
representação da Figura 6-b) é possível ver que df (X) = 3. Por definição, o resultado de
df (X) é, puramente, a derivada direcional da função f provocada por X, X(f ). Portanto,
como em (C.2),
df (X) = X(f ). (1.32)

Ademais, o valor de df (X) pode ser negativo. Para descrever essa situação da
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 20

mesma maneira heurística, será tomado o vetor −X e contado o número de curvas que ele
cruza. Dessa maneira, o resultado deve ser o negativo do valor encontrado anteriormente,
ou seja, df (X) = −3. Assim, essa situação pode ser representada através da Figura 6-c).
É valioso salientar que essa abordagem heurística é uma forma de tentar compreen-
der a representação geométrica de uma 1-forma, mas que nem sempre será possível fazer
essa análise.

1.1.4 Tensores
Devido à definição (1.24) encontrada na seção de 1-formas 1.1.3, é possível verificar
que, assim como 1-formas são objetos matemáticos que atuam em vetores e retornam um
valor numérico real, vetores atuando em 1-forma irão retornar valores reais. Assim, de
maneira natural, é possível definir um funcional bilinear de um vetor X e uma 1-forma ω,
T (ω, X). Dessa forma, para expressar a bilinearidade desse funcional será utilizado o vetor
X e a 1-forma ω em termos de suas bases associadas a uma mesma coordenatização em
Tp M e Tp∗ M . Tal funcional é um exemplo de tensor. Dessa forma, é possível visualizar a
operação abaixo:

T (ω, X) = T (ωµ dxµ , X ν ∂ν ) = ωµ X ν T (dxµ , ∂ν ) = T µν ωµ X ν , (1.33)

em que T µν := T (dxµ , ∂ν ), são coeficientes. Logo, ao contrair as componentes de T com as


componentes da 1-forma e as componentes do vetor, o resultado será um valor real.
Será utilizada uma coordenatização ψ que permita escrever p em termos de novas

coordenadas xµ . Porém, a ação do tensor será mantida, pois é possível escrever uma lei
de transformação bem definida, em termos das coordenadas xµ antigas.
′ ′
T (ω, X) = T (ωµ′ dxµ , X ν ∂ν ′ )
′ ′
= ωµ′ X ν T (dxµ , ∂ν ′ )

∂xµ µ ∂xν
!
ν′
= ωµ′ X T dx , ν ′ ∂ν
∂xµ ∂x
µ′
∂xν ν ′ ∂xµ
= ω X µ µ′ν ′ T (dx , ∂ν ). (1.34)
∂x ∂x

É possível utilizar a seguinte relação:



′ ∂xµ ∂xν µ
T µν ′ = T . (1.35)
∂xµ ∂xν ′ ν

Logo, de (1.34) e (1.33):


′ ′
T (ω, X) = ωµ X ν T (dxµ , ∂ν ) = ωµ′ X ν T µν ′ . (1.36)
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 21

A partir dessas contas é possível visualizar que T (ω, X) independe do sistema de


coordenadas, havendo uma lei de transformação bem definida para tensores.
O funcional bilinear T que está sendo utilizado é um elemento pertencente ao
espaço produto tensorial dos espaços tangente e cotangente Tp M ⊗ Tp∗ M . Essa definição já
era utilizada implicitamente ao utilizar a atuação linear em (1.24). Visto isso, um elemento
típico da base deste espaço é dado por:

∂µ ⊗ dxν . (1.37)

Esse elemento, por definição, será considerado um funcional bilinear sobre o espaço
Tp∗ M × Tp M , cuja ação é dada por:

∂µ ⊗ dxν (ω, X) := ∂µ (ω)dxν (X) = ωµ X ν . (1.38)

Devido a esse fato, qualquer tensor bilinear do tipo citado pode ser escrito em
termos de uma combinação linear desta base. Assim:

T = T µν ∂µ ⊗ dxν . (1.39)

Logo,
T (ω, X) = T µν ∂µ ⊗ dxν (ω, X). (1.40)

Pode-se examinar essa forma de escrever o funcional através da aplicação desse


funcional aos vetores de base Tp M e Tp∗ M . Ao fazer isso, obtêm-se os coeficientes, pois:

T (dxσ , ∂ρ ) = T µν ∂µ ⊗ dxν (dxσ , ∂ρ ) = T µν ∂µ (dxσ )dxν (∂ρ ) = T µν δµσ δρν = T σρ . (1.41)

Devido a essa bilinearidade, é possível utilizar essa relação em uma 1-forma e um


vetor e observar que o resultado será o mesmo de (1.33). Assim, essa atuação é dada por:

T µν ∂µ ⊗ dxν (ω, X) = T µν ∂µ ⊗ dxν (ωα dxα , X β ∂β )


= T µν ωα X β ∂µ (dxα )dxν (∂β )
= T µν ωα X β δµα δβν
= T αβ ωα X β
= T (ω, X). (1.42)

Logo, a definição do tensor sendo um objeto definido com componentes e uma base
é consistente com a atuação de um funcional. O tensor utilizado é do tipo (1, 1), dessa
forma, ele é um elemento de Tp M ⊗ Tp∗ M .
Após a definição de um tensor do tipo (1, 1) é possível expandir esse conceito a
um tensor mair geral através do produto tensorial de k vetores tangentes e l 1-formas.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 22

Portanto, como haverá um produto tensorial entre esses k e l espaços, é possível construir
um tensor do tipo (k, l). Assim, como um tensor (1, 1) obedece uma operação bilinear,
um tensor (k, l) deve obedecer uma operação multilinear. Portanto, é possível escrever de
forma genérica um tensor multilinear da seguinte forma:

T : Tp∗ M × · · · × Tp∗ M × Tp M × · · · × Tp M → R, (1.43)


| {z } | {z }
(k vezes) (l vezes)

em termos de coordenadas, tem-se:

T = T µ1 ···µk ν1 ···νl ∂µ1 ⊗ · · · ⊗ ∂µk ⊗ dxν1 ⊗ · · · ⊗ dxνl . (1.44)

Como visto em um tensor (1, 1), cada base se transforma individualmente quando
há troca de coordenadas. Portanto, para um tensor geral que obedece uma multilinearidade
será a mesma coisa, logo a troca de coordenadas é dada por:
′ ′
µ′1 ···µ′k ∂xµ1 ∂xµk ∂xν1 ∂xνl µ1 ···µk
T ν1′ ···νl′ = · · · ′ · · · ′ T ν1 ···νl . (1.45)
∂xµ1 ∂xµk ∂xν1 ∂xνl

Como um tensor é uma operação multilinear de vetores tangentes e 1-formas, é


possível existir campos tensoriais que agem sobre campos vetoriais e campos de 1-forma
definidos em cada ponto da variedade M . Isso será bastante útil para poder fazer relações
entre esses campos. Além disso, é possível concluir que um vetor é um tensor (1, 0) e uma
1-forma é um tensor (0, 1).
Frente a isso, anteriormente foi comentado sobre a relação dual entre os espaços
Tp M e Tp∗ M . Portanto, é importante analisar a correspondência que existe entre esses
dois espaços e para isso será utilizado um campo tensorial específico que é a métrica.
Nesse quesito, uma métrica dada por gab é um tensor do tipo (0, 2) que deve satisfazer as
propriedades:

1. gab X a Y b = gab Y a X b ;

2. gab X a X b = 0, se e somente se X a = 0.

A métrica obedecerá todas as propriedades de tensor descritas até o momento, ou


seja, ela será bilinear pois é um tensor (0, 2). Logo a métrica será descrita como sendo o
tensor:
gab = gµν dxµ ⊗ dxν . (1.46)

Esse tipo de tensor, com as propriedades demonstradas anteriormente, implica na


existência de uma inversa:
gab · g bc = δac . (1.47)
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 23

Logo,
g ab = g µν ∂µ ⊗ ∂ν . (1.48)

Foi verificado que a contração desses dois tensores geram um delta de Kronecker
em (1.47), logo é convidativo observar a ação de gab sobre um vetor tangente.

gab X a = gµν X µ dxν = Xν dxν . (1.49)

Por conseguinte, é possível concluir que a métrica inversa atuando sobre um vetor
de base Tp M irá fazer com que esse vetor seja levado ao espaço Tp∗ M , pois, como foi
observado acima, há uma troca de base e o vetor passa a ter uma base do espaço Tp∗ M .
Devido a isso, é possível pensar na métrica como sendo um isomorfismo entre Tp M e Tp∗ M .
O mesmo raciocínio pode ser efetuado para uma 1-forma, e o resultado não será diferente,
pois a métrica inversa aplicada em uma 1-forma irá trocar a sua base Tp∗ M para uma
base em Tp M . Logo, é possível escrever essas relações de troca de base de forma genérica
para um vetor qualquer e uma 1-forma qualquer, o que está descrito em (1.50) e (1.51)
respectivamente,
Xµ = gµν X ν , (1.50)

ω µ = g µν ων . (1.51)

Assim, é possível observar o papel importante que os tensores fazem na matemática


e na física, pois irão operar com vetores e 1-forma, os quais fazem um papel principal
em uma descrição física de um sistema dinâmico. Além disso, com as relações acima
demonstradas, é possível concluir com toda certeza a correspondência entre os espaços
Tp M e Tp∗ M através da atuação da métrica. Em alguns contextos, a operação observada
em (1.50) é comumente chamada de “descer o índice” do vetor e a operação dada em (1.51)
é chamada de “subir o índice” da 1-forma. Esses nomes não são de se espantar, pois na
prática o que está ocorrendo com os índices é exatamente sua subida e descida, porém não
se deve esquecer que não é apenas uma operação de índices, e sim uma associação entre
espaços através da métrica. Além disso, a operação de subir e abaixar índice é aplicável
também para tensores. Isso é feito com a atuação de uma métrica ou da métrica inversa
para cada índice que será abaixado ou levantado.

1.1.5 p-formas
Tendo em vista o contexto de tensores, é possível fazer uma generalização para um
subgrupo de tensores (0, p), o qual consiste de tensores cujos coeficientes são totalmente
antissimétricos e que serão chamados de formas diferenciais ou simplesmente de p-formas.
Desse grupo, é possível exemplificar um tensor do tipo (0, 2) que é escrito como sendo:

ω = ωµν dxµ ⊗ dxν . (1.52)


Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 24

Devido à antissimetrização de ωµν é possível escrever ω como sendo:

ω = −ωνµ dxν ⊗ dxµ . (1.53)

Então, como há duas formas de escrever a 2-forma através da antissimetrização de


ωµν , é possível relacioná-los através de uma soma entre as duas representações e depois
dividir essa soma por 2. Logo a 2-forma ω pode ser escrita seguinte forma:
1
ω= ωµν (dxµ ⊗ dxν − dxν ⊗ dxµ ). (1.54)
2

Dessa maneira, é possível observar que há claramente uma antissimetrização dos


elementos de base da 2-forma dada em (1.54). Por isso é possível definir o produto exterior
de duas ou mais bases de 1-formas como sendo a antissimetrização delas a menos da
constante de antissimetrização, obedecendo à seguinte definição6 :

dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp = sign(S) dxµS(1) ⊗ · · · ⊗ dxµS(p) ,


X
(1.55)
S

em que S é uma permutação arbitrária e sign(S) é o sinal da permutação.


Devido a isso, o produto exterior das duas 1-formas base da 2-forma (1.54) é dado
como sendo:
dxµ ∧ dxν = dxµ ⊗ dxν − dxν ⊗ dxµ . (1.56)

Logo, é possível definir a 2-forma ω dada em (1.54) utilizando o produto exterior


através da relação abaixo:
1
ω = ωµν dxµ ∧ dxν . (1.57)
2
Um outro exemplo que pode ser feito é considerar o produto exterior das bases de
1-forma de um tensor antissimétrico ω de tipo (0, 3). Como ω é do tipo (0, 3), ele terá
um elemento com três índices, ou seja, ωµνρ , o qual é totalmente antissimétrico. Isto é,
haverá permutações entre esses índices que irá modificar o sinal da grandeza de forma
a ser positivo caso a permutação seja par e negativa caso a permutação fora ímpar. É
importante notar que, como há três índices, haverá seis possíveis permutações, as quais são
dadas por ωµνρ = −ωνµρ = −ωµρν = ωρµν = −ωρνµ = ωνρµ . Assim, pelo mesmo raciocínio
feito anteriormente, obtem-se:
1
ω= ωµνρ (dxµ ⊗ dxν ⊗ dxρ + dxν ⊗ dxρ ⊗ dxµ + dxρ ⊗ dxµ ⊗ dxν
6
−dxµ ⊗ dxρ ⊗ dxν − dxν ⊗ dxµ ⊗ dxρ − dxρ ⊗ dxν ⊗ dxµ ).
6
Algumas propriedades sobre produto exterior estão descritas no apêndice B.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 25

Usando o fato de que 6 = 3! e a definição de produto exterior como antissimetrização


dos elementos de base a menos de uma constante, tem-se:
1
ω= ωµνρ dxµ ∧ dxν ∧ dxρ . (1.58)
3!

Logo, é possível ver que a estrutura seguida pela relação (1.58) segue a estrutura
de (1.54), com a diferença de que (1.58) possui uma base de 1-forma a mais. Isso não é
uma mera coincidência, pois parte do princípio de construção de uma p-forma, o qual
segue a definição abaixo:
1
ω= ωµ1 ,··· ,µp dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp , , (1.59)
p!

em que dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp é dada por (1.55).


Até esse momento foi feito a descrição de uma 1-forma e como se obtê-la, assim
como obter outras p-formas genéricas. Além disso, é importante salientar que há uma
propriedade muito importante que informa como é possível se obter uma (p+1)-forma a
partir de uma p-forma sem utilizar o produto exterior dado acima. Essa propriedade é
denominada de derivada exterior e sua ação sobre uma p-forma ω genérica é dada por
!
1 ∂
dω := ωµ ···µ dxν ∧ dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp . (1.60)
p! ∂xν 1 p

Frente ao exposto, é importante salientar que o uso de p-formas e de sua derivada


exterior é bastante importante para a construção matemática que será feita posteriormente
e principalmente na parte de integração, a qual necessita de propriedades de p-formas e
1-formas vista nesye trabalho.

1.1.6 Pushforward e Pullback


Na seção sobre campos vetoriais foi discutido que é possível associar um ponto
pertencente a uma variedade M com outro ponto q pertencente a variedade N através
de uma mapeamento dado por q = f (p). Agora o objeto de estudo será a associação de
vetores pertencentes à M com o vetores pertencentes à N . Além disso, será tomado uma
curva diferencial γ(t) em M e Xγ como sendo o vetor tangente a essa curva.
Será imposto que o ponto p é dado por γ(0) = p, logo o seu associado em N é
dado por f (γ(0)) = q. Através da extensão desse raciocínio a todos os pontos de γ(t), é
possível observar que a curva γ(t) em N é dada por f (γ(t)). Até o momento as definições
apresentadas se assemelham com as que já foram citadas nesse trabalho, porém agora
será utilizado o mapeamento f atuando sobre o vetor Xγ . Para isso, será denominado
f∗ como sendo o mapeamento entre vetores tangentes, para diferenciar do mapeamento
f entre os pontos da variedade. Logo, o mapeamento f∗ : Tp M → Tf (p) N associa um
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 26

vetor Xγ ∈ Tp M ao vetor f∗ Xγ ∈ Tf (p) N . Em outras palavras, o mapeamento f∗ associa o


vetor tangente a γ(t) ao vetor tangente tangente a f (γ(t)). Essa operação é chamada de
pushforward. Os conceitos apresentados podem ser vistos mais didaticamente através do
esquema apresentado na Figura 7.

Figura 7 – Ilustração do mapeamento f atuando sobre a função γ(t) ∈ M , associando-a


f (γ(t) ∈ N . Vê-se também o pushfoward f∗ que está atuando sobre o vetor
Xγ ∈ M , o associando ao vetor f∗ Xγ ∈ N .

O vetor f∗ Xγ será denominado como Yf (γ(t)) . Então, utilizando uma função


g : N → R diferenciável, é possível efetuar a seguinte relação:
d d
f∗ Xγ (g) ≡ Yf (γ(t)) (g) = g(f (γ(t))) = g ◦ f (γ(t)) = Xγ (g ◦ f ). (1.61)
dt dt

Logo,
f∗ Xγ (g) := Xγ (g ◦ f ). (1.62)

Mas, utilizando o fato de que o vetor Yf (γ(t)) pode ser escrito em termos de uma
base cujas coordenadas são proporcionadas pela ψ : N → Rn e usando uma função do tipo
G = g ◦ ψ −1 , é possível obter:

∂(g ◦ ψ −1 (y)) ∂G(y)


f∗ Xγ (g) ≡ Yf (γ(t)) (g) = Y ν ν
=Yν . (1.63)
∂y ∂y ν

Frente ao exposto, essa última relação está totalmente de acordo com a definição
de vetor tangente no espaço Tf (p) N dada por (1.9).
Porém, deve-se saber como se comportam as componentes de Y ν , pois, como esse
vetor vem de uma associação provocada pelo mapeamento f∗ em Xγ , é de se esperar que
haja alguma relação entre as componentes desses vetores. Isso é possível de concluir através
do lado direito da relação (1.62), que se refere a uma atuação de um vetor do espaço
tangente a M em p. Lembrando, que da seção de vetores 1.1.1, ϕ : M → Rm , tem-se:

∂ (g ◦ f ◦ ϕ−1 (x)) ∂G(y(x))


Xγ (g ◦ f ) = X ν ν
= Xν . (1.64)
∂x ∂xν
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 27

Entretanto, é possível colocar essa expressão em termos de uma derivada explicita-


mente das coordenadas y, assim:

∂y ν ∂G(y)
Xγ (g ◦ f ) = X µ . (1.65)
∂xµ ∂y µ

Feito essas contas é possível igualar as expressões (1.63) e (1.65), obtendo:


ν
∂G(y) µ ∂y ∂G(y)
Yν = X . (1.66)
∂y ν ∂xµ ∂y µ

Então, as componentes do vetor Yf (γ(t)) estão relacionadas às do vetor Xγ , por meio


de:
∂y ν
Y ν = Xµ . (1.67)
∂xµ
Portanto, é possível concluir que as componentes dos vetores se associam através da
∂y ν
matriz ∂x µ e que essa matriz não é necessariamente quadrada, uma vez que as variedades

não foram definidas de forma a ter a mesma dimensão, sendo então uma relação bastante
geral.
Visto a definição de um pushfoward para um vetor, é possível estender a definição
para tensores do tipo (k, 0),

T = T µ1 ···µk ∂µ1 ⊗ · · · ⊗ ∂µk . (1.68)

Para efetuar um pushfoward sobre esse tensor é necessário visualizar como o mapa
f∗ atua sobre os vetores de base ∂µ em Tp M . Essa atuação irá relacionar essa base antiga
com uma base ∂ν dada em N de coordenada y. Dessa forma, essa ação é definida como
sendo
∂y ν
f∗ ∂µ = ∂ν . (1.69)
∂xµ
Devido ao fato de que o pushfoward é uma aplicação linear entre os espaços
tangentes às duas variedades M e N , a atuação de f∗ pode ser definida em termos da
atuação nos vetores de base. Ou seja,

f∗ X = X µ f∗ ∂µ . (1.70)

Utilizando a forma com que as componentes desse vetor se transformam (1.67) e o


pushfoward aplicado à base (1.69), é possível escrever a atuação f∗ X da seguinte maneira:

∂y ν
f∗ X = X µ f∗ ∂µ = X µ ∂ν = Y ν ∂ν , (1.71)
∂xµ

o que demonstra que de fato o pushfoward faz a mudança do vetor X ∈ Tp M para um


vetor Y ∈ Tf (p) N .
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 28

Com isso em mãos é possível estender o raciocínio a tensores do tipo (k, 0) através
da relação abaixo:
f∗ T = T µ1 ···µk f∗ ∂µ1 ⊗ f∗ ∂µk . (1.72)

Logo, se as componentes desse tensor se transformam de forma idêntica às compo-


nentes de um vetor tangente (com a diferença que há várias transformações lineares nesse
caso), ou seja, através de (1.67), então, as novas componentes do tensor em N serão dadas
por:
∂y ν1 ∂y νk µ1 ···µk
T ′ ν1 ···νk = · · · T . (1.73)
∂xµ1 ∂xµk
Dessa forma, seguindo o raciocínio efetuado em (1.71), tem-se:

f∗ T = T µ1 ···µq f∗ ∂µ1 ⊗ f∗ ∂µk


∂y ν1 ∂y νk
= T µ1 ···µk · · · ∂ν ⊗ · · · ⊗ ∂νk
∂xµ1 ∂xµk 1
= T ′ ν1 ···νk ∂ν1 ⊗ · · · ⊗ ∂νk . (1.74)

Visto a ação de um mapa f sobre vetores tangentes, é de se imaginar que esse mapa
deve possuir alguma atuação sobre 1-formas que também estão definidas na variedade M ,
sobre a qual f atua. De fato há um tipo de mapeamento que permite associar 1-formas
definidas em N em 1-formas definidas em M . Esse mapeamento é denominado como sendo
pullback e age sobre uma 1-forma da seguinte maneira: f ∗ : Tf∗(p) N → Tp∗ M . É possível
observar que o caráter do pushforward é levar um vetor até N e o caráter do pullback
trazer uma 1-forma até M , por isso o pullback é chamado de retrocesso em português.7
A atuação desse pullback sobre as coordenadas de ω será parecida com a demons-
trada em (1.67) para vetores tangentes, porém nesse caso a matriz de transformação será
a inversa da obtida em (1.67). Assim, a atuação de f ∗ em ω pode ser escrita como:

f ∗ (ω) = ω ′ . (1.75)

Essa 1-forma definida como sendo ω ′ é pertencente a Tp∗ M , cujo vetor base é dado
por dxν . Como a troca de coordenadas segue o mesmo raciocínio demonstrado para vetores,
com a diferença de que nesse caso são 1-formas sofrendo f ∗ : Tf∗(p) N → Tp∗ M , o leitor será
poupado as contas (as quais podem ser vistas em [3] ou em [7]) para 1-forma e as novas
componentes da 1-forma são dadas por:
∂y ν
ωµ′ = ων . (1.76)
∂xµ
Note que, apesar de a matriz de transformação ser igual a matriz de (1.67), a
equação (1.76) está calculando uma 1-forma em Tp∗ M , já a equação (1.67) está calculando
um vetor em Tf (p) N . Logo, essas relações dizem respeito a variedades diferentes.
7
A tradução em português para pullback é usada em algumas publicações, como por exemplo em [3],
porém nesse trabalho será utilizada a nomenclatura em ingês devido à maior quantidade de referências
usadas para elaboração desse texto que usam os nomes pullback e pushforward.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 29

Da mesma forma observada para vetores, essa matriz de transformação não precisa
ser necessariamente quadrada, pois as dimensões de M e N não foram definidas como
sendo iguais. Assim, a relação de troca das componentes dada por (1.76) é bastante geral.
Além disso, como feito para vetores, a ação de f ∗ sobre a base dy ν é dada por:
∂y ν µ
f ∗ (dy ν ) = dx . (1.77)
∂xµ

Visto isso, é possível utilizar o mesmo raciocínio efetuado para pushforwards e


verificar que o pullback aplicado a uma 1-forma pertencente a Tf∗(p) N irá associá-la a uma
outra 1-forma pertencente a Tp∗ M . Portanto, a atuação de f ∗ nas bases de 1-forma será:

∂y ν
f ∗ (ω) = ων f ∗ dy ν = ων dxµ = ωµ′ dxµ = ω ′ . (1.78)
∂xµ

Portanto, tendo em mãos um tensor (0, l) é sabido (da seção sobre tensores) que
ele será construído através do produto tensorial de 1-formas base, logo:

T = Tµ1 ···µl dy µ1 ⊗ · · · ⊗ dy µl . (1.79)

Dessa forma, a aplicação de um pullback sobre esse tensor será de forma individual
sobre cada base de 1-forma, o que gera a seguinte relação:

f ∗ T = Tµ1 ···µl f ∗ dy µ1 ⊗ · · · ⊗ f ∗ dy µl = T ′ . (1.80)

Logo, as componentes Tµ1 ···µl irão se transformar com l matrizes de transformação


devido à transformação atuadas nas bases dy µ como demonstra a relação (1.77). Assim, as
novas componentes do tensor ficarão iguais a:
∂y ν1 ∂y νl
Tµ′ 1 ···µl = · · · Tν ···ν . (1.81)
∂xµ1 ∂xµl 1 l

Logo, é possível demonstrar, novamente, que

f ∗ T = Tν1 ···νl f ∗ dy ν1 ⊗ · · · ⊗ f ∗ dy νl
∂y ν1 ∂y νl
= Tν1 ···νl µ1 · · · µ dxµ1 ⊗ · · · ⊗ dxµl
∂x ∂x l
= Tµ′ 1 ···µl dxµ1 ⊗ · · · ⊗ dxµl . (1.82)

Por fim, é possível expandir a discussão para um tensor (k, l). Porém, como f∗
associa um vetor de M para N e f ∗ associa uma 1-forma de N para M , não há como
generalizar uma atuação em um tensor do tipo (k, l). Contudo, é possível transpor essa
barreira caso o mapeamento f seja um difeomorfismo, pois, nesse caso, a inversa de
f∗ : Tp M → Tf (p) N será (f −1 )∗ : Tp∗ M → Tf∗(p) N . Portanto, quando há uma inversão de f
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 30

a matriz de transformação deve ser invertida também, logo a transformação de um tensor


(k, l) é dada por:

f∗ (T ) = T µ1 ···µk ν1 ···νl f∗ ∂µ1 ⊗ · · · ⊗ f∗ ∂µk ⊗ (f −1 )∗ dxν1 ⊗ · · · ⊗ (f −1 )∗ dxνl . (1.83)

Como a atuação de f∗ age individualmente sobre as 1-formas e vetores, devem


haver k matrizes de transformação para os vetores e l matrizes de transformação para
as 1-formas (lembrando que essa deve ser a inversa das matrizes dos vetores). Assim, as
novas componentes do tensor (k, l) seguem as relações de transformações dadas por (1.69)
e (1.77), sendo relacionadas por:

∂y β1 ∂y βk ∂xν1 ∂xνl µ1 ···µk


T ′β1 ···βkα1 ···αl = · · · · · · T ν1 ···νl . (1.84)
∂xµ1 ∂xµk ∂y α1 ∂y αl

Frente ao exposto, é possível concluir a discussão sobre pushforward e pullback


afirmando que eles fazem um papel bastante importante no estudo sobre variedades
diferenciáveis. Com a ajuda desses conceitos é possível construir a noção da derivada de
Lie que será apresentada em (1.1.8).

1.1.7 Fluxo
Esta seção será voltada à discussão de fluxos, porém para isso é preciso retomar
conceitos utilizados na seção de campos vetoriais. Assim, será tomado um campo vetorial
X sobre a variedade diferenciável M e será definida uma curva integral de X, que passa
pelo ponto p. Essa curva integral é uma curva σ(t) que passa pelo ponto p, de forma que
obedeça as seguinte propriedades:

• σ(0, p) = p;

• σ∗ (d/dt) = Xσ(t,p) , para todo t ∈ (−ϵ, ϵ) de R, com ϵ > 0. E sendo σ∗ (d/dt) um


difeomorfismo.

É simples enxergar do que se trata a primeira definição, pois o valor que a curva
σ(t) assume quando o parâmetro t é igual a zero é exatamente o valor do ponto p. Porém,
a segunda definição merece um pouco de atenção e será de extrema importância para a
definição de fluxo. Nela está sendo usado um pushforward 8 para associar ao vetor tangente
em um t qualquer do intervalo (−ϵ, ϵ) de R, o qual é (d/dt), a um outro vetor tangente
em σ(t) de M , que é definido atuando em uma função f : R → R de M por

dF (σ µ (t, p)) dσ µ
!
d f (σ(t, p))
σ∗ (f ) = = = eµ (f ), (1.85)
dt dt dt dt
8
Como a noção de pushfoward não havia sido construida quando foi falado de campos vetoriais, não
fazia sentido definir fluxo. Por isso, a construção de fluxo está distante da de campos vetoriais no texto.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 31

em que há uma coordenatização ϕ dada por

σ µ (t, p) ≡ ϕµ (σ(t, p)) = xµ (σ(t, p)),

e por isso se usa a função F : Rm → Rn , explicada em (1.1.1) ao invés de f .


Além disso, sabendo que

Xσ(t) (f ) = X µ (σ(t, p))eµ (f ),

é possível concluir que o lado direito dessa relação é igual o último termo da igualdade
(1.85). Assim:
dσ µ
= X µ (σ(t, p)). (1.86)
dt
Essa equação descreve exatamente a propriedade de fluxo proporcionado por um
campo vetorial, pois ela diz que um vetor tangente à curva σ(t, p), num ponto genérico dela
tem as mesmas componentes que o campo vetorial X naquele ponto. Assim, em outras
palavras, é possível definir um fluxo a partir de um campo vetorial sobre a variedade M
através de um conjunto de curvas tal que por cada ponto passe apenas uma curva e o
vetor tangente a ela nesse ponto coincida com o vetor associado ao campo vetorial nesse
exato ponto.

1.1.8 Derivada de Lie


A derivação é uma operação de extrema importância para a matemática e para
a física, pois permite observar o comportamento de uma dada grandeza ao longo de
seus parâmetros. Para campos vetoriais, a derivada também faz um papel de extrema
importância para visualizar como um vetor muda em certo ponto. Assim, uma maneira
natural de definir uma variação infinitesimal dos vetores associados a um campo vetorial é
através da variação da curva integral desse campo vetorial associada a uma outra curva
gerada por outro campo vetorial.
Entretanto, a adição de vetores em espaços tangentes de pontos diferentes não
está definida. Assim, quando se deseja calcular a taxa de variação (sendo essa a definição
de derivada) do campo vetorial Y : C∞ → R entre um ponto p e um ponto q, deve-se
utilizar um outro conceito que faça com que seja possível comparar o valor de Y nesses
dois pontos.
Dessa forma, é preciso construir uma forma de trazer o campo Y atuando em q
para o ponto p e compará-lo. Uma das maneiras de se fazer isso será através da utilização
de dois campos vetoriais X : C∞ → R e Y : C∞ → R, cujas curvas integrais σ e τ que
passam pelo ponto p satisfazem as seguintes relações, as quais são obtidas de (1.86),
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 32

dσ µ (t, p)
= X µ (σ(t, p)), (1.87)
dt

dτ µ (t, p)
= Y µ (τ (t, p)). (1.88)
dt
Caso o ponto p e o ponto q pertençam ao fluxo gerado pelo campo vetorial X e
sejam infinitesimalmente próximos, então tomando um ϵ infinitesimal tem-se σ(ϵ, p) = q,
ou por outra notação σϵ (p) = q, e σ(0, p) = p. Assim, a atuação de (σ−ϵ )∗ em Y (q) terá o
efeito de mapear o vetor Y (q) em Tp M , isto é, o vetor Y (q) foi trazido de volta para o
ponto p, como observa-se na imagem 8.

Figura 8 – Ilustração do pushfoward (σ−ϵ )∗ atuando em Y (q), fazendo com que esse vetor
tangente a q seja trazido para o ponto p pertencente à curva integral gerada
por Y .

Além disso, é possível notar que Y aplicado em q é diferente do Y aplicado em p,


mas antes não havia como comparar esses dois vetores. Já agora, como o vetor Y (q) foi
trazido para o ponto p através de (σϵ )∗ , é possível ver explicitamente na imagem 8 que os
dois vetores são diferentes. Assim, como agora eles estão no mesmo ponto é possível efetuar
uma subtração entre eles e ver o quanto o campo vetorial Y muda ao ser aplicado em p e
depois q. Portanto, essa operação efetuada é a própria derivada de Lie e sua definição é
dada por (1.89).
1
LX Y := lim [(σ−ϵ )∗ Yq − Yp ] . (1.89)
ϵ→0 ϵ

Essa relação é bastante importante e diferente da definição de uma derivada usual.


É possível afirmar isso, pois a relação (1.89) independe de um sistema de coordenadas
específico e da noção da métrica. Na derivada de Lie, as operações efetuadas foram
operações que utilizam conceitos próprios da variedade em questão, como os campos
vetoriais atuando nela e o pushforward, o que faz com que se ganhe uma noção de taxa de
variação de um campo vetorial sem se trabalhar com alguma coordenatização específica.
Para calcular a derivada de Lie em um sistema de coordenadas específico é necessário
utilizar um mapa ϕ : M → R que faz com que as coordenadas do ponto p sejam xµ e as
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 33

coordenadas do ponto q sejam ϕµ (q) = σ µ (ϵ, p). Expandindo a relação das coordenadas do
ponto q em série de Taylor até a primeira ordem e utilizando a relação entre o ponto p e q
através de σ(ϵ, p), tem-se:

µ
dσ (t, p)

σ µ (ϵ, p) = σ µ (0, p) + ϵ ,
dt
t=0

σ µ (ϵ, p) = xµ + ϵX µ (x), (1.90)

em que foi utilizando a definição de vetor tangente dada por (1.2).


Já o campo vetorial Y com coordenadas é dado por:
µ
!
µ ν ∂Y
Yq = Y (xµq )∂µ|q µ µ µ
= Y (x + ϵX (x)) ∂µ|q = Y (x) + ϵX µ
∂µ|q , (1.91)
∂xν

em que foi utilizado a atuação do campo vetorial X µ sobre o campo vetorial Y µ .


O próximo passo a ser efetuado é aplicar o mapa (σϵ )∗ no vetor Yq ,

∂σ ν (−ϵ, q) ∂xν
(σ−ϵ )∗ Yq = (σ−ϵ )∗ Y µ (xµq )∂µ|q = Y µ (xµq ) ∂ ν| = Y µ µ
(x ) ∂ν| , (1.92)
∂σ µ (ϵ, p) p q
∂σϵµ (p) p

em que foi utilizado o valor do mapa diferencial voltando infinitesimalmente de q para p,


σ ν (−ϵ, q) = p, e os valores dos pontos em coordenadas.
Porém, para calcular a derivação de (1.92) é necessário utilizar a relação que xµ
possui com σϵµ (p), que é dada por (1.90). Logo,

xµ = σϵµ (p) − ϵX µ (x) = σϵµ (p) − ϵX µ (σϵ (p)),

em que os termos de segunda ordem foram excluídos da relação.


Assim a derivação de xµ em relação a esse parâmetro será dada por:
∂xν ∂ (σϵν (p) − ϵX ν (σϵ (p)) ν ∂X ν (σϵ (p))
= = δµ − ϵ . (1.93)
∂σϵµ (p) ∂σϵµ (p) ∂σϵµ (p)

Portanto, tendo calculado essas relações é possível resolver a relação (1.92) utilizando
os resultados de (1.91) e (1.93) excluindo os termos de segunda ordem,
µ
∂X ν (σϵ (p))
! !
µ λ ∂Y
(σ−ϵ )∗ Yq = Y (x) + ϵX δµν −ϵ ∂ν|p . (1.94)
∂xλ ∂σϵµ (p)

Resolvendo essa multiplicação, contraindo os índices do delta de Kronecker e


excluindo os termos de segunda ordem é possível encontra a seguinte relação:
µ
∂X µ (x(p))
!
µ ν ∂Y ν
(σ−ϵ )∗ Yq = Y (x)∂µ (p) + ϵ X − Y (x) ∂µ|p . (1.95)
∂xν ∂xν (p)
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 34

Portanto, usando valor de (σ−ϵ )∗ Yq dado por essa relação na equação da derivada
de Lie dada por (1.89) é possível obter a derivada de Lie em termos das coordenadas dos
vetores, isto é:
µ µ
!
ν ∂Y ν ∂X
LX Y = X −Y ∂µ|p . (1.96)
∂xν ∂xν

Ao observar a equação (1.96) é possível constatar que há alguma relação de


comutação entre os dois campos vetoriais, pois ora um está sofrendo a derivação parcial
ora outro. Logo é possível definir a derivada de Lie através dos colchetes de Lie, os quais
podem ser vistos como um comutador por meio da relação (1.97),

LX Y = [X, Y ]. (1.97)

A derivada de Lie foi definida para campos vetoriais, porém é possível definir essa
derivada em termos de 1-formas. Entretanto, nesse caso é preciso usar um pullback para
comparar uma 1-forma definida no ponto p com a definida no ponto q = σ(ϵ, p), sendo σ o
fluxo gerado pelo campo vetorial X. Logo a derivada de Lie para 1-forma é dada por:
1
LX ω := lim [(σϵ )∗ ωq − ωp ] . (1.98)
ϵ→0 ϵ

É possível coordenatizar essa derivada usando os argumentos dados para a coorde-


natização da derivada de Lie dada em (1.96), mas utilizando o pullback dado por (σϵ )∗ e a
base dxµ definida para 1-formas. A conta dessa coordenatização é bem parecida com a já
efetuada para a derivada de Lie do vetor Y , por isso não será repetida nessa seção. Caso
haja a necessidade de aprofundar nessa conta é possível vê-la em [3]. Assim, a derivada de
Lie para 1-formas com coordenadas é dada por:

∂X µ
!
∂ων
LX ω = Xµ µ + ωµ ν dxν . (1.99)
∂x ∂x

Além disso, tomando uma função f da variedade M é possível definir a derivada


de Lie dessa função com respeito ao fluxo σ proporcionado pelo vetor X. Para isso, é
necessário usar uma função coordenatizada dada por F = f ◦ ϕ−1 , como feito a seguir:
1
LX f = lim [f (σ−ϵ (p)) − f (p)]
ϵ→0 ϵ

1 ∂F
LX f = lim [F (xµ + ϵX µ ) − F (xµ )] = X µ µ . (1.100)
ϵ→0 ϵ ∂x
Mas esse resultado é exatamente igual ao resultado de um campo vetorial aplicado
a uma função, o qual está expresso na relação (1.4). Portanto, é possível concluir que:

LX f = X[f ]. (1.101)
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 35

Por fim, como os mapas σt são difeomorfismos, é possível definir uma derivada de
Lie de um tensor arbitrário (k, l) ao longo de um fluxo σ proporcionado por um campo
vetorial X, o que é dado pela relação

LX T = lim [(σ−ϵ )∗ Tq − Tp ] , (1.102)


ϵ→0

em que
Tq = T µ1 ···µk ν1 ···νl (q) ∂µ1 ⊗ · · · ∂µk ⊗ dy ν1 ⊗ · · · ⊗ dy νl .

Assim, a atuação do mapa (σϵ )∗ deve ser de acordo com as componentes relacionadas
ao espaço tangente e o mapa (σϵ )∗ de acordo com as componentes relacionadas ao espaço
cotangente, como demonstrado a seguir:

(σ−ϵ )∗ Tq = T µ1 ···µk ν1 ···νl (q = σ(ϵ, p)) (σ−ϵ )∗ ∂µ1 ⊗· · ·⊗(σ−ϵ )∗ ∂µk ⊗(σϵ )∗ dy ν1 ⊗· · ·⊗(σϵ )∗ dy νl .
(1.103)
As definições apresentadas anteriormente utilizaram-se de derivadas usuais. Porém,
é mais conveniente expressar a derivada de Lie em termos da derivada covariante9 em
relação à métrica aplicada à variedade M . Assim as derivadas de Lie para vetores tangente,
1-formas e tensores (k, l) é dada respectivamente por:

LX Y = X b ∇b Y a − Y b ∇a Y b , (1.104)

LX ω = X b ∇b ωa + ωb ∇a Y b , (1.105)

q p
a1 ···aq c a1 ···aq X a ···c···aq ai
X a1 ···aq c
LX T b1 ···bp = X ∇c T b1 ···bp − T 1 b1 ···bp ∇c X + T b1 ···c···bp ∇bj X .
i=1 j=1
(1.106)
A derivada de Lie é uma operação de extrema importância e que será utilizada como
ponto chave para a definição de um vetor de Killing, por isso o estudo de sua construção e
como operar com essa derivada é valioso para esse trabalho. Assim, para fechar essa seção
serão dadas algumas propriedades da derivada de Lie, cujas provas podem ser visualizadas
em [1], [2] e [3].

• Seja f uma função diferenciável de M em R, X e Y sendo campos vetoriais sobre


M , então Lf X Y = f [X, Y ] − Y (f )X;

• Seja f uma função diferenciável de M em R, X e Y sendo campos vetoriais sobre


M , então LX f Y = f [X, Y ] + X(f )Y ;
9
A definição de derivada covariante se encontra no apêndice C.3, porém pode-se adiantar que o operador
de derivada covariante é um operador que obedece associatividade, linearidade e possui um bom
comportamento ao atuar em tensores
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 36

• Tomando ψ como um mapeamento entre duas variedades M e N , X e Y sendo


campos vetoriais sobre M , tem-se ψ∗ [X, Y ] = [ψ∗ X, ψ∗ Y ]

Frente ao exposto, é possível verificar que o uso de uma derivada de Lie é bastante
importante para diversos contextos da matemática e física, pois ela é definida indepen-
dentemente de um sistema de coordenadas, da noção de conexão e métrica. Assim a taxa
de variação de um campo vetorial calculada a partir da derivada de Lie é vista de forma
independente da coordenatização em que ele é definido, demonstrando assim uma relação
bastante poderosa e inteligente.

1.1.9 Integração
Visto a parte de derivação sobre uma variedade através das p-formas e vetores
tangentes, é necessário compreender agora como efetuar integrações sobre uma variedade.
Para tal, o primeiro passo a ser efetuado é limitar a integração somente a superfícies
orientáveis. Mas o que é ser orientável? Para superfícies mergulhadas no espaço Euclidiano
ser orientável significa ser possível definir um campo vetorial contínuo ortogonal a elas.
Um dos exemplos mais famosos de superfícies não orientáveis é a fita de Möbius, a qual
não segue o padrão orientabilidade descrito acima. (Para uma abordagem matemática
desse conceito de parametrização, superfícies orientáveis e a fita de de Möbius [11]).
Dessarte, com o pano de fundo da integração como sendo uma variedade M
n-dimensional orientável, é definido de modo consistente um campo n-forma não nulo
para qualquer lugar ϵ = ϵ[a1 ···an ] . Essa n-forma será definida como sendo a orientação
da variedade M , sendo muitas vezes chamada de elemento de volume, que irá definir a
orientação “right handed” como sendo a orientação positiva da variedade M . Considerando
a integração sobre um aberto U ⊂ M mapeado totalmente por ψ em um dado sistema de
coordenadas, é possível escrever ϵ como sendo:

ϵ = hdx1 ∧ · · · ∧ dxn , (1.107)

em que h é uma função não nula que define a orientação “right handed” caso h > 0.
Portanto, definindo outro campo de n-forma expandido em termos de suas coordena-
das α = a(x1 , · · · , xn ) dx1 ∧ · · · ∧ dxn , o qual será integrado sobre M através da orientação
de ϵ, é possível definir uma integração de α sobre o aberto U provido da coordenatização
dada por ψ através de: Z Z
α= a dx1 · · · dxn . (1.108)
U ψ[U ]

Apesar da integração acima ter sido definida em um sistema de coordenadas,


essa definição não depende de um sistema de coordenadas específico. Para provar isso,
será utilizado um mapa ψ ′ atuando sobre o mesmo aberto U , com a diferença que esse
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 37


novo mapa irá dar coordenadas xν ao invés das antigas. Para isso se faz necessário a
utilização do determinante da matriz jacobiana dessa troca de coordenatização, note que
isso é totalmente possível através das relações de troca de base (1.12) e (1.28). Assim,
determinando um novo campo α dado por:
′ ′ ′ ′
α = a′ (x1 , · · · , xn )dx1 ∧ · · · ∧ dxn , (1.109)

em que a′ é determinado pela matriz jacobiana, ou seja,

∂xµ
!
a′ = a det . (1.110)
∂xν ′

Logo a integração (1.108) pode ser escrita em outro sistema de coordenadas sem
mudar o seu valor. Ou seja,

∂xµ
Z Z Z !
′ 1′ n′ ′ ′
α= a dx · · · dx = a det dx1 · · · dxn . (1.111)
U ψ ′ [U ] ψ ′ [U ] ∂xν ′

Caso se queira integrar sobre toda a coleção de abertos Oi é possível efetuar uma
integração sobre a variedade M 10 . Portanto, a integração de α sobre toda a variedade M
utilizando uma partição da unidade dada por fi e Oi é dada por:
Z XZ XZ
α= fi |ai |dx1 · · · dxn = fi α. (1.112)
M i ψi [Oi ] i Oi

A construção formal dessa integração não será discutida nesse trabalho mas pode
ser encontrada em [1], [3] e [7].

1.1.9.1 Forma de Volume

Outra forma de integração importante é a de uma função f sobre a variedade


orientável M . Para isso é necessário novamente uma orientação ϵ de forma que a integral
por essa variedade seja dada por uma relação já definida anteriormente em (1.112) e que
pode ser escrita para essa função f da seguinte forma:
Z Z
f= f ϵ. (1.113)
M M

Dessa forma, a n-forma ϵ se demonstra ser imprescindível para fazer inúmeras


integrações sobre a variedade em questão, então a atenção de agora será voltada para
esse elemento matemático. Entretanto, não há uma definição natural dele quando é dado
somente a estrutura de M , portanto para definir ϵ é necessário que M tenha uma métrica,
10
As situações em que isso é possível são aquelas em que a variedade é paracompacta. Para definições
mais formais e técnicas ver referências [1], [7].
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 38

gab . Assim, a escolha natural de ϵ é dada como sendo positivo para a orientação para fora
da superfície através da condição:

ϵa1 ···an ϵa1 ···an = (−1)s n!, (1.114)

em que s = 1 para métrica lorentziana e s = 0 para métrica riemanniana.


Seguindo com o raciocínio, aplicando o operador de derivação covariante ∇b associ-
ada à métrica gab na relação (1.114),

∇b (ϵa1 ···an ϵa1 ···an ) = ∇b ((−1)s n!)

∇b (ϵa1 ···an )ϵa1 ···an + ϵa1 ···an ∇b (ϵa1 ···an ) = 0

2ϵa1 ···an ∇b (ϵa1 ···an ) = 0.

Logo,
∇a (ϵa1 ···an ) = 0. (1.115)

Dessa forma, é possível visualizar que por ϵ ser uma n-forma ele é totalmente
antissimétrico nos últimos n índices e além disso é possível observar que ϵa1 ···an é não nulo
11
. Portanto, devido ao fato de ser antissimétrico, tem-se que
[a1 ··· an ]
ϵa1 ···an ϵb1 ···bn = δ b1 δ bn , (1.116)

contraindo j índices dessa relação, tem-se:


[aj+1 ··· an ]
ϵa1 ···aj aj+1 ···an ϵa1 ···aj bj+1 ···bn = (−1)s (n − j)!j!δ bj+1 δ bn . (1.117)

O fator δ a b , além de ser o delta de Kronecker, é tido como sendo o mapa identidade
do espaço tangente à superfície integrada. O seu uso vem do fato de que n-formas em uma
variedade n-dimensional formam um espaço vetorial de uma dimensão e por isso deve-se
utilizar a antissimetrização desses deltas. Portanto, a essa antissimetrização de deltas de
Kronecker em uma base ortonormal é atribuído um tensor n-dimensional denominado
como sendo o símbolo de Levi-Civita e sua definição segue abaixo:





1, caso µ1 µ2 · · · µn é uma permutação par;
ϵ̄µ1 µ2 ···µn = −1, caso µ1 µ2 · · · µn é uma permutação ímpar; (1.118)


 0,

caso contrário.

O símbolo de Levi-Civita possui componentes definidas independentemente de


qualquer sistema de coordenadas e, portanto, não é um tensor. Esse símbolo se comporta
como um tensor quando se utiliza um espaço plano cujas coordenadas são inerciais e as
11
Note, que quando é escrito ϵ está sendo tratada da forma de volume e quando é utilizado ϵ̄µ1 µ2 ···µn
está sendo tratado do símbolo de Levi-Civita.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 39

transformações de coordenadas são dadas pelas transformações de Lorentz. Além disso, é


possível associar a forma de volume com o símbolo de Levi-Civita através de:

ϵµ1 ···µ1 = ϵ1,2,···n ϵ̄µ1 ···µn , (1.119)

em que ϵ1,2,··· ,n será determinado a seguir.


Analisado os possíveis valores do símbolo de Levi-Civita, é possível, a partir de um
sistema de coordenadas, utilizar a definição escrita em (1.114), ou seja, deve-se definir uma
ação da métrica em ϵµ1 µ2 ···µn de tal forma que a contração de dois tensores é dada por:

g µ1 ν1 · · · g µn νn ϵµ1 µ2 ···µn ϵν1 ν2 ···νn = (−1)s n!. (1.120)

A relação (1.120) pode ser escrita usando o tensor de Levi-Civita a partir da relação
(1.119), como demonstrado abaixo:

(ϵ1,2,··· ,n )2 g µ1 ν1 · · · g µn νn ϵ̄µ1 ···µn ϵ̄ν1 ···νn = (−1)s n!. (1.121)

É possível escrever o determinante de uma matriz M µν (n × n) da seguinte forma:

M µ1 ν1 · · · M µn νn ϵ̄µ1 ···µn ϵ̄ν1 ···νn = n! det (M µν ) . (1.122)

Por meio de (1.121) e utilizando a relação (1.122) para a métrica inversa g µν tem-se:

(ϵ1,2,···n )2 n! det (g µν ) = (−1)s n!

h i1/2
ϵ1,2··· ,n = (−1)s det(g µν )−1 . (1.123)

Pela definição da métrica, tem-se que det(g µν )−1 = det(gµν ). Então

ϵ1,2,··· ,n = [(−1)s det(gµν )]1/2 . (1.124)

Como o fator (−1)s garante que


q
o número dentro da raiz seja positivo para evitar
q
números complexos, pode-se definir |g| = | det(gµν )|. Assim, através de uma notação
compacta tem-se que q
ϵ1,2,··· ,n = |g|. (1.125)

Portanto, basta multiplicar (1.125) por uma base coordenada definida como sendo
‘right handed’, que a relação (1.114), isto é o elemento de volume dado por ϵ passa a ser:
q
ϵ= |g| dx1 ∧ · · · ∧ dxn . (1.126)

Entretanto, é possível escrever esse elemento como sendo:


q
ϵ= |g| ϵ̄µνσρ dxµ ⊗ dxν ⊗ dxσ ⊗ dxρ .
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 40

O símbolo de Levi-Civita possui somente três valores possíveis, como demonstrado


em (1.118). Esses três valores podem serem obtidos, também, através de um antissime-
trização de deltas de Kronecker, e isso será utilizado abaixo. Além disso, será utilizadas
coordenadas esféricas através da contração de 1-formas base com os deltas de Kronecker.
q
ϵ= |g| 4!δ t[µ δ rν δ θσ δ ϕρ] dxµ ⊗ dxν ⊗ dxσ ⊗ dxρ . (1.127)

Como a construção da integração foi feita sem um sistema de coordenadas específico


é de interesse visualizar como o elemento de volume se transforma através de uma mudança
de coordenadas. Para isso é necessário compreender, inicialmente, como o determinante
da métrica se comporta através de uma troca de coordenadas. Essa relação é possível de
obter através da troca de coordenadas da métrica:
∂xµ ∂xν
gµ′ ν ′ = gµν , (1.128)
∂xµ′ ∂xν ′

a partir da qual será tirado o determinante de ambos os lados, o que retorna:


∂xµ′ −2

µ′
g(x ) = g(xµ ), (1.129)

∂xµ


em que g(xµ ) é o determinante da métrica nas antigas coordenadas e g(xµ ) o determinante
nas novas. Note que essa relação é nada mais do que a relação (1.110) vista anteriormente,
porém agora o elemento em questão é o valor do determinante da métrica.
Já o símbolo de Levi-Civita ϵ̄µ1 ,··· ,µn não muda através de uma troca de coordenadas.
A única mudança de coordenadas é nas 1-formas em produto exterior através de (1.31) ou
seja

1 n ∂xµ ∂xµ 1′ n′
∂xµ
1′ n′
ϵ̄µ1 ,··· ,µn dx ∧· · ·∧dx = ϵ̄µ1 ,··· ,µn · · · dx ∧· · ·∧dx = ϵ̄ ′ dx ∧· · ·∧dx .

′ ′
µ1 ,··· ,µn
µ′1 µ
∂x n′ µ
∂x
∂x

Assim, utilizando a relação (1.129) na igualdade acima e lembrando que ϵ̄µ1 ,··· ,µn =
ϵ̄µ′1 ,··· ,µ′n , é possível escrevê-la da seguinte forma
q q ′ ′
|g| dx1 ∧ · · · ∧ dxn = |g ′ | dx1 ∧ · · · ∧ dxn .

Essa relação é de extrema importância, pois afirma que a n-forma ϵ é invariante


devido à troca de coordenadas, isto é,

ϵ = ϵ′ , (1.130)

permitindo, assim, uma integração em um elemento de volume que seja definido pela
métrica gab de uma variedade orientável em qualquer sistema de coordenadas.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 41

1.1.9.2 Teorema De Stokes

No contexto de integrações, há um importante teorema que facilita o cálculo de


várias integrais. Assim, será destinada essa subseção especialmente para o Teorema de
Stokes na notação utilizada nesse trabalho. Frente a isso, será utilizada uma subvariedade
B ⊂ M compacta, orientável de forma ‘right hand’ e com borda Ḃ. De forma que é
possível existir uma variedade int(B) definida como sendo a variedade B sem borda, ou
seja, int(B) = B − Ḃ. Além disso, será tomada uma (n-1)-forma α em M , sendo ela C 1 .
Dessa maneira, é possível enunciar o Teorema de Stokes da seguinte forma:
Z Z
dα = α. (1.131)
int(B) Ḃ

Visualizado esse teorema, é importante fazer com que o Teorema de Stokes definido
em (1.131) assuma a forma do Teorema de Gauss. Dessa forma, é necessário usar uma
subvariedade orientável B n-dimensional metrificada por gab , de modo que existe um
elemento de volume ϵ atuando nessa superfície para definir uma orientação. Assim, dado
qualquer campo vetorial v b de classe C 1 , é possível obter a (n-1)-forma α relacionada por

αa1 ,··· ,an−1 = ϵb,a1 ,··· ,an−1 v b . (1.132)

Aplicando em ambos os lados uma derivada covariante, é possível obter

d(α)c,a1 ,··· ,an−1 = n∇[c (ϵ|b|,a1 ,··· ,an−1 ] v b )

d(α)c,a1 ,··· ,an−1 = nv b ∇[c ϵ|b|,a1 ,··· ,an−1 ] + nϵb,[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b .

Porém o primeiro termo do lado direito é zero, logo

d(α)c,a1 ,··· ,an−1 = nϵb,[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b . (1.133)

Qualquer n-forma deve ser proporcional a ϵ na subvariedade n-dimensional B, ou


seja,
ϵb,[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b = hϵc,a1 ,··· ,an−1 . (1.134)

Portanto, contraindo (1.134) com ϵc,a1 ,··· ,an−1 e usando a definição dada em (1.117)
é possível determinar a função12 h, isto é:

∇b v b = nh. (1.135)

Assim, substituindo o valor de h dado por (1.135) na equação (1.133) tem-se:

d(α)c,a1 ,··· ,an−1 = nϵb,[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b = nhϵc,a1 ,··· ,an−1 = ∇b v b ϵc,a1 ,··· ,an−1 ,
12
A conta dessa contração está efetuada no apêndice E.1.
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 42

ou seja,
dα = ∇b v b ϵ. (1.136)

Assim, usando o Teorema de Stokes dado por (1.131) e os valores de α e dα dados


por (1.132) e (1.136) respectivamente, é possível obter o Teorema de Gauss, o qual é dado
por Z Z
∇b v b ϵ = ϵb,a1 ,··· ,an−1 v b . (1.137)
int(B) Ḃ

A equação (1.137) é a forma de se escrever o Teorema de Stokes através da notação


diferencial. Nessa relação, é possível ver que foi utilizado um campo vetorial que está
contraindo com o operador de derivada covariante do lado esquerdo da igualdade, e esse
vetor está contraindo com a forma de volume do lado direito da igualdade.
Além de se escrever o Teorema de Stokes utilizando um campo vetorial v a , como
foi efetuado até então, será calculado uma forma particular de se utilizar esse teorema.
Isso decorrerá da utilização de uma 2-forma α, que é possível de ser obtida através da
contração de um tensor antissimétrico genérico K ab com o elemento de volume ϵ 4-forma.
A motivação de se estar calculando especificamente essa forma de se escrever o Teorema de
Stokes é devido à ampla utilização do resultado na seção (2.6) de integração de quantidades
conservadas.
Frente a isso, será reescrita a relação (1.132) utilizando o tensor K ab para o contexto
atual, o que resulta em
αab = ϵabcd K cd . (1.138)

Aplicando a derivada covariante de ambos os lados é possível obter uma 3-forma

d(α)eab = 3 ϵ[ab|cd| ∇e] K cd , (1.139)

em que o fator 3 do lado direito aparece devido à antissimetrização.


Por definição, é possível escrever uma (n-1)-forma de volume através de uma
contração do vetor ortogonal N a à região de integração, descrita por essa (n-1)-forma,
com uma n-forma de volume. Utilizando essa definição para o contexto de uma 3-forma de
volume, tem-se
ϵeab = ϵeabf N f . (1.140)

Novamente será utilizada a definição de que qualquer n-forma deve ser proporcional
a ϵ na subvariedade n-dimensional B. Para o caso de uma 3-forma, tem-se

ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = hϵeab . (1.141)

Assim, deve-se calcular o valor da função h através da contração de Nf ϵabef pela


esquerda e eabe pela esquerda. A conta dessa contração está feita no apêndice E.2, logo
Capítulo 1. Ferramentas Matemáticas 43

será utilizado somente o resultado, o qual é dado por


2
h = Nd ∇c K cd . (1.142)
3

Obtida essa relação é possível fazer a seguinte igualdade, a qual é válida somente
na superfície de integração:

d(α)eab = 3 ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = 3hϵeab = 2 ϵeab Nd ∇c K cd = 2ϵeabd ∇c K cd , (1.143)

ou seja,
d(α)eab = 2ϵeabd ∇c K cd . (1.144)

Devido a isso, a forma utilizada do Teorema de Stokes para essa situação é:


Z Z
ed
2ϵabcd ∇e K = ϵabcd K cd , (1.145)
int(B) Ḃ

em que os índices da igualdade (1.144) foram redefinidos.


Essa forma de se expressar o Teorema de Stokes é bastante importante para o
contexto das integrais de Komar, e diferente da definida em (1.137) para um campo vetorial
vb.
44

2 Vetores de Killing

Toda a construção matemática elaborada até aqui será de extrema importância


para poder construir a noção do que é um vetor de Killing, de como obtê-lo e como
utilizá-lo nos cálculos relacionados à relatividade geral. A construção desses vetores é
baseada nas simetrias que o espaço trabalhado possui. Portanto, a presença de vetores
de Killing invoca propriedades simétricas desse espaço. No contexto da física, essa é uma
abordagem extremamente valiosa, visto que simetrias são sempre oportunas para se efetuar
cálculos de grandezas físicas.

2.1 Equação de Killing


Para que um vetor ξ a seja denominado um vetor de Killing, não basta ele cumprir
as definições de vetor vistas na seção 1.1.1. É necessário que ele obedeça, também, uma
equação que será chamada de “equação de Killing”. Assim, o objetivo dessa seção é deduzir
e introduzir essa equação para poder utilizá-la em cálculos envolvendo vetores de Killing.
Para isso, será, novamente, utilizada uma variedade M que possui uma métrica gab
e será utilizado um fluxo σt (p) provocado pelo campo vetorial ξ a . Ao fixar um parâmetro
t, o fluxo σt (p) passa a ser um mapa σt : M → M . Além disso, fixando um ponto p ∈ M
tem-se a curva σt (p) : R → M . É de interesse nessa seção introduzir uma isometria definida
por mapas σt . Para isso, é preciso que o mapa aja na métrica de tal forma que

σt∗ gab = gab , (2.1)

em que σt∗ é o pullback induzido pelo mapa σt .


Assim, para que um campo vetorial seja denominado como sendo um campo vetorial
de Killing, é preciso que suas curvas integrais correspondam a uma família de isometrias σ.
Essa definição é extremamente importante para o contexto do trabalho. Devido à condição
de isometria dada pela relação (2.1), a definição da derivada de Lie dada por (1.102)
resultará em:
1
Lξ gab = lim [(σt∗ gab − gab )] = 0, (2.2)
t→0 t

ou seja,
(Lξ g)ab = 0. (2.3)

Como a métrica é um tensor (0, 2), a derivada de Lie em termos da derivada


covariante deverá seguir a relação (1.106), o que gera:

Lξ gab = ξ c ∇c gab + gcb ∇a ξ c + gac ∇b ξ c = 0. (2.4)


Capítulo 2. Vetores de Killing 45

Como a derivada covariante é em relação à própria métrica gab , o primeiro termo


terá seu valor igual a zero. E então, utilizando os termos da derivada de Lie igualados à
zero, tem-se
gcb ∇a ξ c + gac ∇b ξ c = 0

∇a ξb + ∇b ξa = 0. (2.5)

A equação (2.5) é definida como sendo a equação de Killing, porém é possível


escrevê-la de forma mais compacta observando que há uma simetrização entre o índice da
derivada covariante e o índice do vetor de Killing ξ a . Portanto, a equação (2.5) pode ser
estabelecida como sendo
∇(a ξb) = 0. (2.6)

Em vista disso, todo vetor que satisfaça a equação de Killing dada por (2.6) será
um vetor de Killing por definição. Assim, como um vetor de Killing deve satisfazer uma
equação que vem da definição de isometria do espaço, ele será intimamente ligado a essas
isometrias.

2.2 Obtenção de Vetores de Killing


Na seção anterior houve a dedução da equação de Killing e foi feita a observação
de que, caso um vetor satisfaça essa equação, ele será um vetor de Killing. Assim, para
se obter um vetor de Killing, basta resolver a equação (2.6). Porém, apesar de ser uma
equação escrita de forma simplificada ela envolve duas derivadas covariantes, logo haverá
muitos termos na equação devido aos símbolos de Christoffel relacionados com a métrica
gab . Isso, então, tornará a conta um tanto quanto grande e tediosa.
Para se esquivar desse problema há uma forma muito mais simples e direta de
identificar vetores de Killing associados à métrica em questão. Para exemplificar como serão
obtidos os vetores de Killing nesse trabalho é conveniente evocar a métrica de Minkowski,

ds2 = −dt2 + dx2 + dy 2 + dz 2 . (2.7)

Ao observar essa métrica é possível visualizar que não há nenhum termo que
dependa explicitamente de t, x, y ou z. Como a relação (2.7) está descrita como a forma de
intervalo, talvez não seja possível observar explicitamente essa relação. Assim, de forma a
retirar toda e qualquer dúvida em relação a essa não dependência, é possível escrever (2.7)
em forma de matriz,
Capítulo 2. Vetores de Killing 46

 

−1 0 0 0
 0 1 0 0
 
gµν = . (2.8)
 0 0 1 0
 
 
0 0 0 1

Portanto, dessa forma é possível visualizar que de fato os termos não nulos não
dependem nem de t, x, y ou z. Essa característica de não dependência evoca a noção de
que o espaço definido por essa métrica é simétrico nessas coordenadas.
É possível obter um vetor de Killing para cada coordenada da qual a métrica não
depende explicitamente, e associar um vetor cuja base é referente a essa coordenada. Para
provar isso, será suposto que gµν não dependa explicitamente de x. Logo, se

V µ = (∂x )µ , (2.9)

então
σλ∗ gµν = gµν (x − λ) = g(x), (2.10)

em que σ ∗ é um pullback e λ é um parâmetro relacionado à curva integral provocada pelo


vetor V .
Visto isso, como em Minkowski não há dependência explicita das quatro coordena-
das, é possível escrever quatro vetores de Killing associados a essa métrica. Esses vetores
são dados por

T a = (∂t )a ; X a = (∂x )a ; Y a = (∂y )a ; Z a = (∂z )a , (2.11)

cujas componentes são claramente dadas por

T µ = (1, 0, 0, 0); X µ = (0, 1, 0, 0); Y µ = (0, 0, 1, 0); Z µ = (0, 0, 0, 1). (2.12)

Como não há dependência de nenhuma coordenada, os vetores de Killing são


obtidos naturalmente. Assim, esses vetores indicam simetria de translação em relação ao
tempo e ao espaço tri-dimensional no espaço de Minkowski. Porém, caso seja efetuada
uma transformação nas coordenadas espaciais dada por

x = r sen θ cos ϕ;

y = r sen θ sen ϕ;

z = r cos θ,
Capítulo 2. Vetores de Killing 47

no qual foi utilizado o sistema de coordenadas esféricas, a métrica de Minkowski ficará da


seguinte forma:  

−1 0 0 0 
 0 1 0 0
 

gµν = 
2
. (2.13)
 0 0 r 0


 
0 0 0 r2 sen2 θ

Nessa forma, é possível ver que a métrica ainda independe de t e que não há
dependência de ϕ, porém há elementos relacionados a r e θ. Assim, haverá somente dois
vetores de Killing relacionados à métrica de Minkowski em coordenadas esféricas que
podem ser obtidos através desse método. Eles são:

T a = (∂t )a ; Ra = (∂ϕ )a , (2.14)

cujas componentes são dadas por:

T µ = (1, 0, 0, 0); Rµ = (0, 0, 0, 1). (2.15)

O vetor de Killing Ra possui uma informação muito importante nessa métrica,


mas talvez não seja possível reconhecê-la diretamente. Isso ocorre, pois há uma relação
“escondida” no uso de coordenadas esféricas. Então para facilitar a interpretação do vetor
Ra é preciso passá-lo de volta para coordenadas cartesianas,
∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z ∂
= + + = −r sen θ sen ϕ ∂x + r sen θ cos ϕ ∂y + 0 ∂z . (2.16)
∂ϕ ∂ϕ ∂x ∂ϕ ∂y ∂ϕ ∂z

Logo,
Ra = −y (∂x )a + x (∂y )a . (2.17)

Assim, suas componentes no espaço quadridimensional são claramente dadas por

Rµ = (0, −y, x, 0). (2.18)

Esse vetor de Killing que foi definido não só se parece como uma rotação ao
longo do eixo z como é realmente essa rotação. Como uma rotação não altera um espaço
esfericamente simétrico, ela apenas gira as coordenadas, então um vetor de Killing associado
a uma rotação irá manter essa simetria. Esse resultado não é de se espantar, pois a direção
do vetor ϕ̂ em coordenadas esféricas é exatamente a direção de uma rotação ao longo do
eixo z, como mostra a Figura 9.
Portanto, como vetores de Killing são associados a simetrias, não é surpresa que os
vetores associados a uma rotação sejam vetores de Killing. Além dessa rotação ao longo
do eixo z é possível definir mais dois vetores de rotação, um ao longo do eixo x e o outro
ao longo do eixo y, cujas componentes foram respectivamente escritas abaixo.

Lµ = (0, 0, −z, x); S µ = (0, z, 0, −x). (2.19)


Capítulo 2. Vetores de Killing 48

Figura 9 – Ilustração da comparação entre a direção do vetor ϕ̂ e o sistema de coordenadas


cartesiano, mais especificamente a direção ẑ.

Portanto, é possível observar que a obtenção de vetores de Killing através da análise


da métrica é bem mais fácil e direta do que a resolução da equação (2.6). Porém, apesar
de não resolver essa equação, ela será utilizada em algumas contas que envolvem derivadas
covariantes de vetores de Killing.

2.3 Equação Geodésica


A relatividade geral é uma teoria cujo pano de fundo não é mais um espaço plano,
como a física não relativística trata, e sim um espaço curvo. Nesse contexto as distâncias
não são tratadas como linhas retas, logo o menor caminho entre dois pontos não será
mais uma reta. Entretanto, ainda há uma curva no espaço curvo que descreve a menor
distância entre dois pontos. Essa curva é chamada de geodésica e o seu estudo é de extrema
importância para a física relativística, principalmente porque as trajetórias inerciais que
corpos físicos não massivos descrevem são dados por geodésicas tipo luz e menor distância
entre dois pontos que corpos massivos descrevem são dados por geodésicas tipo tempo.
Para se definir matematicamente uma geodésica, é necessário compreender o
conceito de transporte paralelo e para isso será tomado um vetor v a . Esse vetor é dito
como sendo transportado paralelamente ao longo de uma curva x(t), cujo vetor tangente é
dado por ta , caso obedeça a equação abaixo:

ta ∇a v b = 0. (2.20)

Essa relação pode ser reescrita utilizando um sistema de coordenadas.

tµ ∂µ v ν + tµ Γνµσ v σ = 0. (2.21)
Capítulo 2. Vetores de Killing 49

Em termos da base coordenada e do parâmetro λ da curva, a equação acima se


transforma em
dv ν
+ tµ Γνµσ v σ = 0. (2.22)

A ilustração de um vetor se propagando paralelamente ao longo de um curva pode
ser visualizado na imagem 10.

Figura 10 – Representação do vetor v a se propagando paralelamente à curva x(t), cujo


vetor tangente é ta .

Assim, uma curva geodésica será definida caso o vetor X a seja tangente à própria
curva em que ele se propagada paralelamente, satisfazendo a equação

X a ∇a X b = αX b , (2.23)

em que α é uma função arbitrária da curva.


Entretanto, através de uma reparametrização (a qual é denominada como sendo
parametrização afim) da equação (2.23) é possível obter

X a ∇a X b = 0. (2.24)

Para fins práticos é necessário escrever a equação da geodésica em termos dos


coeficientes do vetor X a em uma base. Assim, utiliza-se um mapeamento ψ : xµ (λ) → Rn .
Será tomado o parâmetro afim λ de forma a garantir a equação (2.24). Então, dada a
equação do transporte paralelo, a equação da geodésica pode ser reescrita como sendo
dX µ
+ Γµρσ X ρ X σ = 0. (2.25)

dxµ
Além disso, sabe-se da seção 1.1.1 que X µ = dλ
. Então a equação ficará:
d2 xµ ρ
µ dx dx
σ
+ Γ ρσ = 0. (2.26)
dλ2 dλ dλ

Como está sendo tratado de movimento no contexto da relatividade geral, o


parâmetro λ é igual o tempo próprio τ para partículas massivas. Essa substituição pode
Capítulo 2. Vetores de Killing 50

ser feita diretamente na equação da geodésica, devido à condição de reparametrização


dada por (2.24). Já para partículas não massivas o parâmetro afim λ será mantido. Assim,
as equações geodésicas para partículas massivas, ou não, são dadas pela seguintes relações:

 d2 xµ + Γµρσ dx
ρ
dx
= 0,
σ
Para partículas massivas;
dτ 2 dτ dτ
(2.27)
 d2 xµ µ dxρ dxσ
+ Γ ρσ dλ dλ = 0, Para partículas não massivas.
dλ2

Uma análise mais detalhada sobre a construção da equação geodésica pode ser
encontrada em [2].
Se xµ (λ) corresponder à trajetória, as equações dadas (2.27) podem ser escritas em
termos do quadrimomento de uma partícula, o qual é dado por

a
m dx


, Para partículas massivas;
pa = dxa (2.28)
 dλ
 , Para partículas não massivas.

Logo, na ausência de momento angular e forças externas é possível utilizar o


quadrimomento como um vetor tangente à curva x(λ). Assim, ao utilizar o quadrimomento
na equação geodésica (2.24) chega-se à seguinte relação:

pb ∇b pa = 0. (2.29)

2.4 Vetores de Killing na Equação Geodésica


É possível obter quantidades conservadas para observadores que percorrem geo-
désicas através do uso de um vetor de Killing. Para isso, é necessário contrair o vetor de
Killing ξ a com o vetor tangente (que no caso será o quadrimomento pa ),

pb ∇b (pa ξa ) = pb ξa ∇b pa + pb pa ∇b ξa . (2.30)

O primeiro termo do lado direito da igualdade é a própria equação da geodésica


dada em (2.29), assim ele será igual a zero. Portanto

pb ∇b (pa ξa ) = pb pa ∇b ξa . (2.31)

O termo resultante do lado direito é uma contração de um termo totalmente


simétrico (pb pa ) com outro termo totalmente antissimétrico (∇b ξa ), resultando em zero.
Logo,
pb ∇b (pa ξa ) = 0. (2.32)

Essa equação indica que a contração dada por pa ξa não varia ao longo de geodésicas,
indicando, assim, uma quantidade conservada. Para analisar as grandezas associadas a
essas contrações serão utilizadas métricas que tendem assintoticamente à de Minkowski e
Capítulo 2. Vetores de Killing 51

com simetria de translação temporal e de translação axial, com vetores de Killing (∂t )a e
(∂ϕ )a , o primeiro para translações temporais e o segundo para translações axiais. Logo, as
quantidades conservadas associadas a esses vetores serão dadas por:

pµ ξµ = −E, (2.33)
pµ ψ µ = L z , (2.34)

em que E é a energia e Lz o momento angular ortogonal ao plano equatorial no infinito


(ou a uma distância bem grande). É possível verificar essas relações em [8].
Através dessa análise, é realizável a observação de que a interação do observador
com a curvatura do espaço-tempo ao longo da geodésica atua analogamente a uma energia
potencial, que irá variar obedecendo a uma lei de conservação. Isso ocorre devido às
grandezas conservadas no infinito carregarem uma intuição realmente física da situação
analisada.
Frente ao exposto, gera-se o desejo de obter leis de conservação a partir dos vetores
de Killing não somente para observadores no espaço-tempo, mas também para o próprio
espaço-tempo. Para isso, serão analisadas as equações da continuidade, pois, se há grandezas
conservadas no espaço-tempo, deve existir alguma equação da continuidade associada a
elas.

2.5 Equação da Continuidade


Em 1918 Emmy Noether formulou o famoso teorema de Noether [14], no qual
demonstra que simetrias em uma Lagrangeana resultam em equações da continuidade e
grandezas conservadas. Como a presença de vetores de Killing é proveniente de simetrias no
espaço-tempo, é conveniente tentar desenvolver uma equação da continuidade relacionada
a esses vetores.
Quando se é falado em equação da continuidade não há como não vir à mente
a equação que rege a conservação de carga no eletromagnetismo. Essa equação é uma
consequência das equações de Maxwell, ou seja, ela é deduzida a partir das equações de
Maxwell. Então é conveniente evocar1 as equações de Maxwell não homogêneas em espaços
curvos para poder obter a equação da continuidade associada. Assim, as equações de
Maxwell são dadas por
∇b F ba = −J a . (2.35)

Em que F ba é o tensor eletromagnético, o qual é totalmente antissimétrico, e J a a


densidade de corrente.
1
A dedução das equações de Maxwell na notação covariante para espaços curvos não será feita nesse
trabalho, mas pode ser encontrada em nas referências [1], [2] e [4]
Capítulo 2. Vetores de Killing 52

Tendo em mãos a relação (2.35), a equação da continuidade associada à conservação


de carga é dada por
∇a J a = 0. (2.36)

Uma coisa importante de se observar é que a equação (2.36) é uma consequência


direta de qualquer equação da forma

∇b K ba = −j a , (2.37)

em que K ab é antissimétrico.
Para verificar isso, deve-se primeiro observar o comportamento antissimétrico da
contração ∇b ∇a K ab dada por

∇b ∇a K ab = −∇b ∇a K ba .

Renomeando os índices do lado direito da igualdade acima, tem-se:

∇b ∇a K ab = −∇a ∇b K ab .

Logo é possível escrever:

2∇b ∇a K ab = (∇b ∇a − ∇a ∇b ) K ab .

É possível relacionar o tensor de Riemann com duas derivadas covariantes do tensor


ba
K puramente pela definição do tensor de Riemann, a qual se encontra no apêndice C.3:

(∇a ∇b − ∇b ∇a ) K ba = −Rabd b K da − Rabd a K bd . (2.38)

Além disso, utilizando a simetria da primeira e terceira componente do tensor de


Riemann é realizável a seguinte igualdade:

(∇a ∇b − ∇b ∇a ) K ba = −Rabd b K da − Rdba a K bd . (2.39)

Essa expressão, apesar de parecer de difícil resolução, é solucionada através da


inspeção de cada termo do lado direito da equação. O primeiro desses termos é uma
contração de um tensor simétrico (pois nesse caso o tensor de Riemann tem somente dois
índices livres, os quais são simétricos) com um antissimétrico, e isso resulta em zero. Já o
segundo termo o lado direito da igualdade deve se anular devido à antissimetria do terceiro
com o quarto índice do tensor de Riemann. Além disso, é sabido que qualquer contração
não nula do tensor de Riemann resultará no tensor de Ricci2 , assim o lado direito da
igualdade será nulo devido a uma contração que resulta em zero ou pelo fato de que irá
2
Para visualizar essa propriedade é recomendável o apêndice C.4.
Capítulo 2. Vetores de Killing 53

resultar em uma contração do tensor de Ricci, o qual é simétrico, com outro antissimétrico.
Logo, o resultado de (2.39) será:

(∇a ∇b − ∇b ∇a ) K ba = 0. (2.40)

Portanto, ao efetuar a derivada covariante da expressão (2.37) é possível obter:

∇a ∇b K ba = −∇a j a
1
(∇a ∇b − ∇b ∇a ) K ba = −∇a j a
2
0 = −∇a j a .

Ou seja,
∇a j a = 0. (2.41)

Assim, foi confirmado que qualquer equação do tipo (2.37) realmente resulta em
uma equação da continuidade. A partir disso, é possível concluir com certeza que as
equações de Maxwell não homogêneas dadas por (2.35) realmente resultam em uma
equação da continuidade através da contração do operador de derivada covariante.
Por conseguinte, o próximo passo é achar uma equação do tipo (2.37) que consiga
assimilar vetores de Killing e assim determinar a equação da continuidade associada a ela.
Para isso, primeiro são tomadas duas derivadas covariantes de um vetor de Killing ξ a , as
quais foram relacionadas com o tensor de Riemann, pela própria definição do tensor de
Riemann (a qual também se encontra no apêndice C.3). Note que esse passo é exatamente
o efetuado com o tensor K ab .

∇a ∇b ξc − ∇b ∇a ξc = Rabc d ξd . (2.42)

Utilizando a equação de Killing (2.6) é possível reescrever a relação acima como:

∇a ∇b ξc + ∇b ∇c ξa = Rabc d ξd . (2.43)

O próximo passo será fazer permutações cíclicas da equação (2.43) de forma que se
tenha:
∇b ∇c ξa + ∇c ∇a ξb = Rbca d ξd ; (2.44)

∇c ∇a ξb + ∇a ∇b ξc = Rcab d ξd . (2.45)

Somando (2.44) com (2.43) e subtraindo (2.45) do resultado dessa soma, obtem-se:
 
2∇b ∇c ξa = Rabc d + Rbca d − Rcab d ξd . (2.46)
Capítulo 2. Vetores de Killing 54

Além disso, é possível utilizar a propriedade de antissimetrização dos três primeiros


índice do tensor de Riemann, dada por:
 
R[abc]d = Rabc d + Rbca d + Rcab d = 0. (2.47)

Contraindo essa propriedade com ξd e subtraindo o resultado dessa contração de


(2.46):

2∇b ∇c ξa = −2Rcab d ξd
∇b ∇c ξa = −Rcab d ξd . (2.48)

O próximo passo das operações será somente manipulações de índices da equação


(2.48) através da métrica gab , resultando em

g ec g f a ∇b ∇c ξa = −g ec g f a Rcab d ξd (2.49)
∇b ∇e ξ f = −g f a gdh g hd Reabd ξd
∇b ∇e ξ f = −g f a Reabh ξ h . (2.50)

Renomeando os índices da relação acima com e → c, a → f , f → a e h → d, é


possível obter:
∇b ∇c ξ a = −g af Rc f bd ξ d . (2.51)

Assim, contraindo os índices b e c, tem-se:

∇b ∇b ξ a = −g af Rf d ξ d . (2.52)

Logo,
∇b ∇b ξ a = −Rad ξ d . (2.53)

Portanto, a partir da construção feita anteriormente, é possível concluir que essa


equação é do tipo (2.37), com K ba = ∇b ξ a e j a = Rad ξ d . Logo, essa equação resulta em
uma equação da continuidade (como provado anteriormente para qualquer equação do
tipo (2.37)). Assim, a equação da continuidade associada à (2.53) é obtida simplesmente
substituindo o valor de j a por Rad ξ d em (2.41), o que retorna a seguinte equação:
 
∇a Rad ξ d = 0. (2.54)

Por conseguinte, a equação (2.54) é a equação da continuidade associada a um


vetor de Killing. Isso indica explicitamente que há grandezas conservadas!
Capítulo 2. Vetores de Killing 55

2.6 Quantidades Conservadas


Após obter a equação de continuidade relacionada ao vetor de Killing, é de interesse
determinar as quantidades que são conservadas através dessa relação. Assim, a construção
para o cálculo dessas quantidades será feita de forma geral, ou seja, utilizando a equação
de continuidade associada a um tensor K ab antissimétrico qualquer (2.37) para depois
aplicar a mesma conta à equação (2.54).
Portanto, para qualquer tensor K ab que satisfaça a equação (2.37) há uma equação
de continuidade dada por (2.41). Isso significa que está sendo contraído um operador de
derivada covariante em ambos os lados da relação (2.37), o que resulta em:

∇a ∇b K ba = −∇a j a = 0, (2.55)

sendo igual a zero devido à (2.41).


Assim, para obter uma quantidade conservada deve-se integrar a relação acima.
Porém, como se está procurando uma quantidade conservada associada à equação (2.41)
deve-se integrar em relação ao termo da igualdade que possui j a ,ou seja,
Z
ϵabcd ∇e j e = 0. (2.56)
V

Essa é uma integração efetuada em uma região do espaço-tempo V , cuja forma


de volume relacionada a essa região é dada por ϵabcd . Essa região será delimitada por
duas superfícies espaciais tridimensionais B1 e B2 , escolhidas em relação a um parâmetro
temporal t constante. Além disso, sabe-se que o fator j a é associado a uma corrente, dessa
forma, B1 e B2 devem ser grandes o suficiente para englobar as fontes de corrente e será
colocado uma região intermediária U em que não há corrente, como pode ser visto na
Figura 11.

Figura 11 – Região de integração V , possuindo duas superfícies B1 e B2 fixadas no tempo


e uma região intermediária U que possui J = 0. Essas regiões são tratadas
como dois slices temporais para tempos distintos.
Capítulo 2. Vetores de Killing 56

Para integrar a relação (2.56) nessa região V , será utilizado o teorema de Stokes e
o fato de que j = 0 em U . Assim, tem-se:
Z Z
d
ϵabcd j − ϵabcd j d = 0
B1 B2

Z Z
d
ϵabcd j = ϵabcd j d . (2.57)
B1 B2

Assim, a partir da equação (2.57) é possível observar que a corrente deverá se


conservar. Além disso, é possível utilizar a equação (2.37) nessa integração. Logo,
Z Z
de
ϵabcd ∇e K = ϵabcd ∇e K de . (2.58)
B1 B2

Aplicando o Teorema de Stokes dado por (1.145) é possível obter:


Z Z
ϵabcd K cd = ϵabcd K cd . (2.59)
Ḃ1 Ḃ2

As igualdades (2.57) e (2.59) são extremamente importantes, pois evidenciam que


há uma quantidade conservada, e independente da escolha das superfícies B1 e B2 . Dessa
forma é viável determinar que a quantidade conservada será dada pela relação
Z
Q=α ϵabcd j d . (2.60)
B

Visto isso, é necessário aplicar esses conceitos à equação de conservação que envolve
o vetor de Killing (2.54). Isso pode ser feito de forma dinâmica, uma vez que as contas são
exatamente as mesmas efetuadas para o tensor genérico K ab , substituindo j d = Rad ξ d na
relação (2.60), ou seja, Z
Q = α ϵabcd Rde ξ e (2.61)
B

Z
Q=α ϵabcd ∇e ∇d ξ e , (2.62)
B
em que foi utilizado a equação (2.53).
Aplicando o teorema de Stokes na relação (2.62), como efetuado em (2.59) e
absorvendo todas as constantes no α, obtem-se
Z
Q=α ϵabcd ∇c ξ d . (2.63)

Essa integração foi calculada pela primeira vez por Arthur Komar (1931-2011) e
por isso é denominada de integral de Komar [15]. Ela indica a presença de quantidades
conservadas somente pela geometria do espaço por meio do elemento de volume ϵabcd e
pela derivada covariante de um vetor de Killing.
Capítulo 2. Vetores de Killing 57

2.7 Quantidades Conservadas em Métricas de Buracos Negros.


O cálculo de quantidades conservadas nesse trabalho será feito a partir de métricas
estacionárias que descrevem buracos negros. Então, para efetuar as contas dessa seção e
das próximas será necessário evocar a métrica Kerr-Newman, a qual pode ser visualizada
em forma de matriz nas coordenadas de Boyer-Lindquist (as quais são uma espécie de
“coordenadas esféricas” para buracos negros), dada por
2 θ(r2 +a2 −∆)
   
∆−a2 sen2 θ

− Σ
0 0 − 2a sen Σ 
Σ
0 0 0
 

 
gµν =  , (2.64)
0 0 Σ 0
 
 
 2

θ(r2 +a2 −∆)
h 2 22 2 2
i
− 2a sen Σ
0 0 (r +a ) −∆a
Σ
sen θ
sen 2
θ
em que

Σ = r2 + a2 cos2 θ, ∆ = r2 + a2 + Q2 − 2M r, J = M a, (2.65)

sendo M a massa do buraco negro, J o momento angular dele e Q a carga dele.


Essa métrica indica a presença de buracos negros massivos em regime temporal
estacionário, em rotação e carregado, em uma métrica assintoticamente plana. Além disso,
essa é uma métrica extremamente geral, pois possui termos associados à massa, termos
associados ao momento angular e termos associados à carga de um buraco negro3 .
Visto que na seção 2.2 foi demonstrado como obter vetores de Killing facilmente
através de uma inspeção da métrica, é possível observar que as componentes não nulas da
métrica (2.64) não dependem dos parâmetros t e ϕ. Assim, haverá pelo menos dois tipos
de vetores de Killing associados a essa métrica, um em relação ao tempo t e outro em
relação à coordenada ϕ
ξ a = (∂t )a , ψ a = (∂ϕ )a , (2.66)

cujas componentes são dadas por

ξ µ = (1, 0, 0, 0), ψ µ = (0, 0, 0, 1). (2.67)

A partir da métrica (2.64) é possível obter as outras a partir das condições demons-
tradas na tabela abaixo.

Métrica M Q J
Schwarzschild ̸= 0 =0 =0
Reissner-Nordström ̸= 0 ̸= 0 =0
Kerr ̸= 0 =0 ̸= 0
Kerr-Newman ̸= 0 ̸= 0 ̸= 0
3
É possível dizer que a métrica (2.64) é geral devido ao No-Hair theorem, o qual implica que os
parâmetros relacionados à massa, carga e momento angular, são os únicos que diferem um buraco
negro de outro. Logo, não há outro parâmetro que poderia ser incluído na métrica.
Capítulo 2. Vetores de Killing 58

Dito isso, é preciso definir a região em que será feita a integração para calcular as
quantidade conservadas. Essa região será uma esfera fechada tendendo o raio ao infinito
englobando o buraco negro. Além disso, será tomada uma região B em um tempo fixo
como na Figura 11. Como a quantidade conservada é a mesma para qualquer região de
integração que englobe as fontes de corrente, é possível escolher qualquer uma para calcular
a quantidade conservada.
Diante dessas condições as integrações em relação aos parâmetros t e r terão os
valores iguais a zero, o que facilita bastante a conta, pois, sabendo desse resultado, não
será preciso calcular essas integrações. Assim, para todas as quantidades conservadas que
serão calculadas, haverá somente uma integral dupla em relação aos parâmetros θ e ϕ.

2.7.1 Quantidade Conservada na Métrica de Schwarzschild


O primeiro cálculo que será efetuado é para a métrica de Schwarzschild. Para
obtê-la de (2.64) é necessário impor que J = 0 e Q = 0, ou seja, indica a presença de
buracos negros massivos mas que não possuem carga nem momento angular.
Dessa forma, partindo da integração dada por (2.63) e utilizando a forma de volume
em termos de coordenadas esféricas dada por (1.127), tem-se
Z Z q
c d
ϵabcd ∇ ξ = 4! |g| δ t[µ δ rν δ θσ δ ϕρ] ∇σ ξ ρ dxµ ⊗ dxν . (2.68)
Ḃ Ḃ

Descendo o índice da derivada covariante através da métrica, obtem-se:


Z Z q
ϵabcd ∇ ξ =c d
4! |g| δ t[µ δ rν δ θσ δ ϕρ] g σλ ∇λ ξ ρ dxµ ⊗ dxν . (2.69)
Ḃ Ḃ

Como o vetor de Killing, tanto para ξ t e para ψ ϕ , envolvem somente uma componente
que é igual a 1 (segundo a relação (2.67)), o primeiro termo da derivada covariante será
igual a zero. Assim, a derivada covariante do vetor de Killing será dada por

∇λ ξ ρ = ∂λ (ξ ρ ) + Γρλβ ξ β (2.70)
∇λ ξ ρ = Γρλβ ξ β . (2.71)

Inserindo esse último resultado na integração, tem-se


Z Z q
ϵabcd ∇c ξ d = 4! |g| δ t[µ δ rν δ θσ δ ϕρ] g σλ Γρλβ ξ β dxµ ⊗ dxν . (2.72)
Ḃ Ḃ

Dessa forma, aplicando as condições de integração dadas anteriormente em (2.7),


deve-se abrir a antissimetrização dos deltas de forma que se evidencie somente os deltas
antissimetrizados em relação a θ e ϕ, pois o resto irá zerar na integração. (A conta sobre
essa antissimetrização foi feita no apêndice E.4). Assim,
2!  t r 
δ t[µ δ rν δ θσ δ ϕρ] = δ σ δ ρ − δ tρ δ rσ δ θ[µ δ ϕν] + · · ·
4!
Capítulo 2. Vetores de Killing 59

Substituindo esse termo na integral do lado direito da igualdade (2.72), resulta em:
Z q  
2! |g| g σλ Γρλβ ξ β δ tσ δ rρ − δ tρ δ rσ δ θ[µ δ ϕν] dxµ ⊗ dxν + · · · (2.73)

Z q  
|g| g σλ Γρλβ ξ β δ tσ δ rρ − δ tρ δ rσ dθ ∧ dϕ,

em que foi usada a definição de produto exterior na última linha.
Nesse momento, deve-se contrair a métrica g σλ e o símbolo de Christoffel Γρλβ com
os deltas, Z q  
|g| g tλ Γrλβ ξ β − g rλ Γtλβ ξ β dθ ∧ dϕ. (2.74)

Utilizando o vetor de Killing ξ t , a integração passa ser:


Z q  
|g| g tλ Γrλt − g rλ Γtλt dθ ∧ dϕ. (2.75)

Porém, segundo a relação dos símbolos de Christoffel dada em (D.5) para a métrica
de Schwarzschild e a métrica inversa dada por (D.4) com as condições citadas Q = J = 0,
os únicos termos não nulos são dados por
Z q  
|g| g tt Γrtt − g rr Γtrt dθ ∧ dϕ. (2.76)

Esses termos são:

 −1
2M M
• g tt Γrtt = − 1 − r r3
(r − 2M ) ,
  
2M M
• g rr Γtrt = 1 − r r(r−2M )
.

Logo, a integração ficará da seguinte forma:


Z 2π Z π q " −1 !#
2M M 2M M
  
|g| − 1 − (r − 2M ) − 1 − dθdϕ
0 0 r r 3 r r(r − 2M )
" #
Z 2π Z π q
r M r − 2M M
 
|g| − (r − 2M ) − dθdϕ
0 0 r − 2M r 3 r r(r − 2M )
Z 2π Z π
2M 2

r sen θ dθdϕ = −8πM, (2.77)
0 0 r2
em que foi utilizado o valor da raiz do determinante da métrica de Schwarzschild dado por

(D.3): −g = r2 sen θ e foram colocados os limites de integração em relação a θ e ϕ.
Utilizando esse resultado da integração como o lado direito da igualdade (2.72),
tem-se: Z
ϵabcd ∇c ξ d = −8πM. (2.78)

Capítulo 2. Vetores de Killing 60

Resolvendo para a massa, tem-se:


1 Z
M =− ϵabcd ∇c ξ d . (2.79)
8π Ḃ

Esse resultado indica que a massa de um buraco negro se conserva, pois a integral à
direita da igualdade é a integral de Komar que indica quantidade conservada. Além disso,
utilizando a definição do raio de Schwarzschild (Rs = 2M ) é possível obter a seguinte
igualdade
1 Z
Rs = − ϵabcd ∇c ξ d , (2.80)
4π Ḃ
indicando que o raio de um buraco negro estacionário deve se conservar.
É possível calcular a grandeza conservada em relação ao vetor de Killing ψ a . As
contas das integrais são bem parecidas com as já efetuadas para o vetor de translação
temporal. Assim, serão iniciados os cálculos na integração (2.74), porém utilizando o vetor
de translação axial,
Z q  
|g| g tλ Γrλβ ψ β − g rλ Γtλβ ψ β dθ ∧ dϕ. (2.81)

Z q  
|g| g tλ Γrλϕ g rλ Γtλϕ dθ ∧ dϕ. (2.82)

A integração somente com os elementos não nulos relacionados à métrica e aos


símbolos de Christoffel será dada por
Z q  
|g| g tt Γrtϕ + g tϕ Γrϕϕ − g rr Γtrϕ dθ ∧ dϕ. (2.83)

Os elementos presentes nessa integral, seguindo as condições de massa e momento


angular não nulos são dadas pela métrica inversa (D.4) e os símbolos de Christoffel (D.5),são

• g tt Γrtϕ = 0,

• g tϕ Γrϕϕ = 0,

• g rr Γtrϕ = 0.

Logo, é claro visualizar que a integração será igual a zero! Esse resultado é consistente
devido ao fato de que a métrica de Schwarzschild descreve um buraco negro estático, ou
seja, J = 0. Dessa forma, como os vetores de Killing de ψ a são associados a translação
axial e essa translação associada ao momento angular, o resultado deve dar zero.
Assim, é possível visualizar que as integrais de Komar são uma excelente ferramenta
para poder calcular a massa de um buraco negro, visto que não há como pesar diretamente
esse corpo. Como também, uma excelente forma de calcular o momento angular de um
Capítulo 2. Vetores de Killing 61

buraco negro. Além disso, pode-se obter o valor da derivada do vetor de Killing através do
estudo de geodésicas ao longo do espaço e obter o valor da massa, porém esse não será o
foco deste trabalho.
Além desses resultados é possível efetuar uma simples conta e verificar o comporta-
mento da densidade de um buraco negro estacionário regido pela métrica de Schwarzschild.

M 3Rs 3
ρ= = = . (2.84)
V ol 8πRs3 8πRs2
Como foi provado que a massa e o raio de um buraco negro regido pela métrica de
Schwarzschild se conserva, logo a densidade dele deve se conservar também. Além disso,
é possível fazer com que o raio do buraco negro seja grande o suficiente para que sua
densidade seja pequena o bastante para que seja menor que a densidade da água. Logo,
através de um abuso de linguagem, esse buraco negro boia!4

Figura 12 – Ilustração abstrata de um buraco negro boiando na água, pois sua densidade
foi reduzida a um valor menor do que a da água.

Afim de fazer uma estimativa de valor para o raio desse buraco negro para que ele
possa boiar, será escrita a relação (2.84) usando as unidades de c e G, ou seja,
3 c2
ρ= . (2.85)
8π Rs2

Igualando essa expressão a 1000, o qual é aproximadamente o valor da densidade


da água em kg/m3 , e resolvendo para o raio de Schwarzschild, tem-se:
s
3c2
Rs = ≈ 4.01 × 1011 , (2.86)
8πG
sendo esse valor, aproximadamente, 575754 vezes o raio do sol5 .

2.7.2 Quantidade Conservada na Métrica de Reissner-Nordström.


As contas dessa seção serão feitas para a métrica de Reissner-Nordström. Para se
obter essa métrica de (2.64) é necessário utilizar somente que J = 0, assim essa métrica
indica a presença de buracos negros massivos, estáticos e que possuem carga.
4
Essa frase é uma paráfrase do Mestre Filipe Henrique de Castro Menezes.
5
O valor do raio do Sol utilizado aqui foi de aproximadamente 695,508 km, encontrado em [17].
Capítulo 2. Vetores de Killing 62

Como a obtenção dos vetores de Killing feitos na seção anterior foi da métrica geral
(2.64), logo eles serão os mesmo vetores de Killing para a métrica de Reissner-Nordström.
Como a conta da integração é a mesma para a quantidade conservada relacionada ao vetor
de Killing temporal, as contas dessa seção serão iniciadas da relação (2.74),
Z Z q  
c d
ϵabcd ∇ ξ = |g| g tλ Γrλβ ξ β − g rλ Γtλβ ξ β dθ ∧ dϕ. (2.87)
Ḃ Ḃ

Utilizando o vetor ξ t e analisando somente o lado direito da igualdade, tem-se


Z q  
|g| g tλ Γrλt − g rλ Γtλt dθ ∧ dϕ.

Para que essa conta seja efetuada, deve-se utilizar os símbolos de Christoffel dados
em (D.5) para a métrica de Reissner-Nordström e a métrica inversa dada por (D.4), com a
condição de J = 0. Assim os termos não nulos serão:
Z q  
|g| g tt Γrtt − g rr Γtrt dθ ∧ dϕ.

Não é de se espantar que são exatamente os termos não nulos relacionados à métrica
inversa e os símbolos de Christoffel para Schwarzschild. Isso ocorre, pois o acréscimo do
termo de carga é exatamente nos dois primeiros termos da diagonal da matriz da métrica.
Assim os índices dos símbolos de Christoffel não nulos serão os mesmos, mas com valores
diferentes.
Os valores relacionados a eles são

r4 ∆ rQ2 +M (Σ−2r2 ) r2 (rQ2 −M r2 )


• g tt Γrtt = Σ∆
· Σ Σ2
= r6
,
2 +M (Σ−2r 2 ) 2 (rQ2 −M r 2 )
r2
• g rr Γtrt = ∆
Σ
· − rQ Σ2 ∆
= −r r6
.

Logo, a integral fica da seguinte forma:


!
Z 2π Z π q
r2 (rQ2 − M r2 ) r2 (rQ2 − M r2 )
|g| + dθdϕ. (2.88)
0 0 r6 r6

Com um pouco de álgebra se chega em


! !
Z 2π Z π
2 Q2 M Q2
r sen θ 2 − 2 dθdϕ = 8π −M , (2.89)
0 0 r3 r r
em que foi utilizado o valor da raiz do determinante da métrica de Reissner-Nordström

dado por (D.3), −g = r2 sen θ, e foram colocados os limites de integração em relação à θ
e ϕ.
Igualando esse resultado da integral com o lado esquerdo da igualdade (2.87) é
possível obter o seguinte resultado
!
Z
Q2
c d
ϵabcd ∇ ξ = 8π −M .
Ḃ r
Capítulo 2. Vetores de Killing 63

Resolvendo para a massa, tem-se

Q2 1 Z
M= − ϵabcd ∇c ξ d . (2.90)
r 8π Ḃ

O tensor de Ricci para essa métrica em uma região perto do buraco negro não é
igual a zero. Logo, para que a equação (2.90) resulte em uma quantidade conservada é
necessário analisá-la no limite em que o raio da superfície tenderá para infinito. Assim, essa
equação tenderá para a equação (2.79). Analisando a equação (2.90) em que a integração
foi feita até uma distância r qualquer, é possível observar que o termo associado à carga
corresponde à parcela da massa contida no exterior da região da integral. Logo, a massa
do buraco negro de Reissner-Nordström já contém a energia do campo eletromagnético
em sua formulação.
Além desse resultado, é possível calcular a grandeza conservada em relação ao vetor
de Killing ψ a . Como há a condição na própria métrica que J = 0, é de se esperar que o
resultado calculado aqui seja o mesmo que foi calculado na seção 2.7.1. Para isso, usada a
integração (2.74), porém utilizando o vetor de translação axial,tem-se
Z q  
|g| g tλ Γrλβ ψ β − g rλ Γtλβ ψ β dθ ∧ dϕ (2.91)

Z q  
|g| g tλ Γrλϕ g rλ Γtλϕ dθ ∧ dϕ. (2.92)

A integração somente com os elementos não nulos relacionados à métrica e aos


símbolos de Christoffel será dada por
Z q  
|g| g tt Γrtϕ + g tϕ Γrϕϕ − g rr Γtrϕ dθ ∧ dϕ. (2.93)

Os elementos presentes nessa integral, seguindo as condições de massa e momento


angular não nulos são dados pela métrica inversa (D.4) e os símbolos de Christoffel (D.5),
são

• g tt Γrtϕ = 0,

• g tϕ Γrϕϕ = 0,

• g rr Γtrϕ = 0.

Logo, é claro visualizar que a integração será, realmente, igual a zero! Confirmando
o fato de que o vetor de Killing associado a um translação axial resulta no momento
angular como quantidade conservada.
Capítulo 2. Vetores de Killing 64

2.7.3 Quantidade Conservada na Métrica de Kerr.


A métrica de Kerr é uma métrica que, diferentemente das outras duas vistas
(Schwarzschild e Reissner-Nordström), não é mais diagonal. Isto é, haverá termos não nulos
fora da diagonal principal devido à presença de momento angular. Para que isso ocorra,
é necessário impor a condição de que J ̸= 0, ou seja, a =
̸ 0 na métrica (2.64). Assim, os
buracos negros tratados nessa seção terão massa e momento angular, mas não terão carga.
Essa métrica possui uma independência de t e de ϕ como as outras vistas, mas
como agora há momento angular, então deve-se esperar que haja grandezas associadas a
ambos vetores de Killing abaixo:

ξ a = (∂t )a , ψ a = (∂ϕ )a . (2.94)

A primeira grandeza a ser calculada será a relacionada ao vetor ξ a . Novamente,


a conta será bem parecida com a já efetuada, então partindo da integral de Komar já
resolvida para os termos dθ e dϕ (pois a superfície de integração é uma esfera fechada
tendendo o raio para infinito em um dado tempo fixado) dada pela equação (2.74), tem-se
Z q  
|g| g tλ Γrλt ξ t − g rλ Γtλt ξ t dθ ∧ dϕ (2.95)

Z q  
|g| g tt Γrtt + g tϕ Γrϕt − g rr Γrrt dθ ∧ dϕ. (2.96)

Note que devido ao acréscimo do momento angular a métrica não é mais diagonal,
surgindo um termo a mais na integral.
Os elementos presentes nessa integral, seguindo as condições de massa e momento
angular não nulos são dados pela métrica inversa (D.4) e os símbolos de Christoffel (D.5),
os quais são dados abaixo.

(r2 +a2 )2 −∆a2 sen2 θ ∆ M (Σ−2r2 )


• g tt Γrtt = Σ∆
· Σ Σ2
,
M (Σ−2r2 )a sen2 θ ∆
• g tϕ Γrϕt = −2 MΣ∆
ar
· Σ2 Σ
,
M (Σ−2r2 ) (r2 +a2 )
• g rr Γrrt = − ∆
Σ
· Σ2 ∆
.

Como a superfície de integração é feita q


de forma que o raio tende para o infinito, os
parâmetros Σ, ∆ e o determinante da métrica |g| irão se comportar da seguinte maneira:
q
Σ → r2 ; ∆ → r2 ; |g| → r2 sen θ. (2.97)

Então os valores dos elementos da métrica multiplicada pelo símbolos símbolos de


Christoffel que não vão se anular na integração quando se aplicar o limite de r → ∞ serão
aproximados para termos até 1/r2 ,
Capítulo 2. Vetores de Killing 65

4 2
• g tt Γrtt ≈ − rr4 Mr4r = − M
r2
,
2M a M a sen2 θ
• g tϕ Γrϕt ≈ r3 r2
≈ 0,
r2 M M
• g rr Γrrt ≈ r2 r2
= r2
.

Utilizando esses valores na integral e já desconsiderando os termos que serão nulos,


é possível obter o seguinte resultado:
Z 2π Z π q
M M
 
|g| − 2 − 2 dθdϕ =
0 0 r r
Z 2π Z π
M
 
2
r senθ −2 2 dθdϕ = −8πM, (2.98)
0 0 r
em que foi utilizado o valor da raiz do determinante da métrica de Kerr dado por (2.97) e
colocado os limites de integração em relação à θ e ϕ.
Portanto, igualando esse resultado com a integral de komar, ou seja, igualando com
o lado esquerdo da relação (2.72), obtém-se:
1 Z
M =− ϵabcd ∇c ξ d . (2.99)
8π Ḃ

Não é de se espantar que o resultado encontrado é o mesmo considerado para a


métrica de Schwarzschild. Pois, apesar da métrica de Kerr indicar a presença de momento
angular, não há nenhum termo adicional nas multiplicações dos elementos da métrica
com os símbolos de Christoffel que contribua com a integral, como visto na métrica de
Reissner-Nordström, na qual há o termo relacionado à carga.
Além do vetor de Killing associado ao tempo, foi demonstrado que a métrica de
Kerr possui o vetor de Killing associado a ϕ. Como há momento angular relacionado a
essa métrica, logo a quantidade conservada associada ao vetor de Killing ψ a será diferente
de zero.
O cálculo dessa grandeza conservada não é diferente do que foi efetuado para o
vetor de Killing temporal, ou seja, deve-se calcular a integral de Komar. Só que ao invés
de ξ a usa-se ψ a . Então, partindo do lado esquerdo da igualdade de (2.87):

Z q  
|g| g tλ Γrλβ ψ β − g rλ Γtλβ ψ β dθ ∧ dϕ (2.100)

Z q  
|g| g tλ Γrλϕ − g rλ Γtλϕ dθ ∧ dϕ. (2.101)

A integração somente com os elementos não nulos relacionados à métrica e aos


símbolos de Christoffel será dada por:
Z q  
|g| g tt Γrtϕ + g tϕ Γrϕϕ − g rr Γtrϕ dθ ∧ dϕ. (2.102)

Capítulo 2. Vetores de Killing 66

Os elementos presentes nessa integral, seguindo as condições de massa e momento


angular não nulos são dados pela métrica inversa (D.4) e os símbolos de Christoffel (D.5),
os quais são dados abaixo.

(r2 +a2 )2 −∆a2 sen2 θ M (Σ−2r2 )a sen2 θ ∆


• g tt Γrtϕ = Σ∆
· Σ2 Σ
,
 
2M ar ∆ sen2 θ (M (Σ−2r2 ))a sen2 θ
• g tϕ Γrϕϕ = Σ∆
· Σ
r+ Σ2
2
a sen θ , 2

M (Σ−2r2 )a sen2 θ
   
∆ a sen2 θ 2M r2
• g rr Γtrϕ = Σ
· ∆
(r2 + a2 ) Σ2
− Σ
.
q
Usando novamente a condição de r → ∞ os termos ∆, Σ e |g| passam a obedecer
a condição (2.97). Assim, os valores dos produtos escritos serão dados por

r4 M r4 a sen2 θ M a sen2 θ
• g tt Γrtϕ ≈ r4 r6
= r2
,
2M a 2M a sen2 θ
• g tϕ Γrϕϕ ≈ r3
r sen2 θ= r2
,
2 θ3r4 2
• g rr Γtrϕ ≈ − M a sen
r6
= − 3M arsen
2
θ
.

Então, com esses valores finais será feita a integração já desconsiderando os termos
que serão iguais a zero:
!
Z 2π Z π q
M a sen2 θ 2M a sen2 θ 3M a sen2 θ
|g| + + dθdϕ = (2.103)
0 0 r2 r2 r2
!
Z 2π Z π
2 6M a sen2 θ
r sen θ dθdϕ = 16πM a. (2.104)
0 0 r2

Usando a definição de momento angular dada em (D.2) e igualando o resultado da


integração acima com a integral de Komar relacionada ao vetor de Killing ψ a , tem-se:
1 Z
J= ϵabcd ∇c ψ d . (2.105)
16π Ḃ

Devido a esse resultado, o momento angular do buraco negro descrito pela métrica
de Kerr deve se conservar. Também é possível visualizar que o valor da constante α
associada a quantidade conservada pelo vetor de Killing ψ a é 1/16π.
Visto isso, é possível concluir que a métrica de Kerr indica que a massa do buraco
negro se conserva. Observa-se, também, que a métrica de Kerr implica em uma conservação
do momento angular desse buraco negro, grandeza que não havia até então para as outras
duas métricas analisadas..
Capítulo 2. Vetores de Killing 67

2.7.4 Quantidade Conservada na Métrica de Kerr-Newman


A última métrica utilizada para se calcular as grandezas conservadas será a métrica
de Kerr-Newman, a qual é exatamente a métrica (2.64). Essa métrica possui os termos
relacionados à massa, carga e momento angular não nulos, o que faz dela ser uma métrica
bastante completa na descrição de buracos negros.
Os vetores de Killing associados a essa métrica já foram apresentados no ínicio da
seção através da relação (2.7). Esses vetores são:

ξ a = (∂t )a , ψ a = (∂ϕ )a . (2.106)

Como essa é uma métrica que possui termos associados à massa e ao momento
angular, haverá grandezas conservadas para ambos vetores de Killing. Portanto, começando
pelo vetor de Killing temporal (ξ a ), é necessário calcular a integral de Komar para esse
vetor. Porém, como as contas já foram feitas anteriormente é possível partir novamente da
relação (2.74) que possui só a integração relacionada à dθ e dϕ
Z q  
|g| g tλ Γrλt ξ t − g rλ Γtλt ξ t dθ ∧ dϕ = (2.107)

Z q  
|g| g tt Γrtt + g tϕ Γrϕt − g rr Γrrt dθ ∧ dϕ. (2.108)

Os produtos dos elementos da métrica com os símbolos de Christoffel descritos na


integração acima são dados por (D.4) e (D.5) respectivamente, os quais estão descritos
abaixo.

(r2 +a2 )2 −∆a2 sen2 θ ∆ rQ2 +M (Σ−2r2 )


• g tt Γrtt = Σ∆
· Σ Σ2
,
(rQ2 +M (Σ−2r2 ))a sen2 θ ∆
• g tϕ Γrϕt = −2 MΣ∆
ar
· Σ2 Σ
,

(rQ2 +M (Σ−2r2 )) (r2 +a2 )


• g rr Γrrt = − ∆
Σ
· Σ2 ∆
.

Então, aplicando as condições da superfície de integração, será feito r → ∞ e


desconsiderado os termos maiores que 1/r2 , menos para o termo de carga (pois será
analisado o comportamento da carga na quantidade conservada e para isso será necessário
manter os termos 1/r3 relacionados a carga), obtém-se os seguinte produtos:

r4 rQ2 −M r2 Q2 M
• g tt Γrtt ≈ r4 r4
= r3
− r2
,
Q2
 
−2M a M
• g tϕ Γrϕt ≈ r3
a sen2 θ r3
− r2
≈ 0,
2 −M r 2 ]r 2
−Q2
• g rr Γrrt ≈ − [rQ r6
= r3
+ M
r2
.
Capítulo 2. Vetores de Killing 68

Utilizando esses valores na integração e já desprezando as integrações cujo resultado


será zero, tem-se:
! !
Z 2π Z π q
Q2 M Q2 M Q2
|g| − + − 2 dθdϕ = 8π −M , (2.109)
0 0 r3 r2 r3 r r
em que foi utilizado o valor da raiz do determinante da métrica de Kerr dado por (2.97) e
foram colocados os limites de integração em relação a θ e ϕ.
Por fim, igualando esse resultado com a integral de Komar relacionado ao vetor de
Killing temporal é possível chegar no seguinte resultado:
Q2 1 Z
M= − ϵabcd ∇c ξ d . (2.110)
r 8π Ḃ
Esse resultado é exatamente o encontrado para a métrica de Reissner-Nordström.
Isso ocorre devido ao fato de que, novamente, o tensor de Ricci não será igual a zero para
regiões perto do buraco negro descrito por essa métrica. Assim, quando é tomado o raio
indo para o infinito o termo de carga tende o seu valor a zero, ou seja, toda a contribuição
da energia relacionada aos campos eletromagnéticos estarão na massa.
Por fim, a última quantidade conservada que será calculada nesse trabalho é a
quantidade associada ao vetor de Killing ψ a relacionado à métrica de Kerr-Newman. Essa
conta será parecida com a conta feita para o vetor de Killing ψ a relacionado à métrica
de Kerr. Assim, da mesma maneira efetuada na seção sobre a métrica de Kerr 2.7.3, será
utilizado somente o lado direito da igualdade (2.87) (a qual é a resolução da integral de
Komar), com a diferença de que agora está sendo utilizado o vetor ψ a ao invés do vetor ξ a .

Z q  
|g| g tλ Γrλβ ψ β − g rλ Γtλβ ψ β dθ ∧ dϕ (2.111)

Z q  
|g| g tλ Γrλϕ − g rλ Γtλϕ dθ ∧ dϕ. (2.112)

Os produtos dos elementos da métrica inversa e símbolos de Christoffel não nulos


são dados por (D.4) e (D.5) respectivamente. Ou seja,

a∆ sen2 θ (rQ +M (Σ−2r ))


2 +b2 )2 −∆a sen2 2 2
θ
• g tt Γrtϕ = − (r Σ∆
· Σ Σ2 ,
 
2M ar ∆ sen2 θ (rQ2 +M (Σ−2r2 ))
• g tϕ Γrϕϕ = Σ∆
· Σ
r+ Σ2
2
a sen θ , 2

   
a sen2 θ (rQ2 +M (Σ−2r2 )) 2 −2M r)
• g rr Γtrϕ = ∆
Σ
· ∆
(r2 + a2 ) · Σ2
+ 2r (Q 2Σ
.

Por fim, utilizando a condição r → ∞, os termos serão aproximados para até no


máximo fatores 1/r2 menos para os termos de carga, os quais serão considerados até
1/r3 (novamente será feito isso para observar o comportamento desses termos de carga na
grandeza conservada).
Capítulo 2. Vetores de Killing 69

2 −M r 2 ) 2
4
 
• g tt Γrtϕ ≈ − rr4 (rQ r4
a sen2 θ = a sen2 θ − Qr3 + M
r2
,
Q2
 h i 
1 M 2M a sen2 θ
• g tϕ Γrϕϕ ≈ 2M a sen2 θ r2
+ r6
− r5
a2 sen2 θ = r2
,
Q2 Q2 2
h i h i
a2 sen2 θ
• g rr Γtrϕ ≈ r2 r
−M + r
− 2M = 2 Qr3 − 3 M
r2
a sen2 θ.

Utilizando esses valores na integração e já desconsiderando os termos que serão


nulos, é possível obter o seguinte resultado:
! ! !
Z q
Q2 M 2M a sen2 θ Q2 M
|g| a sen2 θ − 3 + 2 + 2
− 2 3
−3 2 a sen2 θ dθdϕ =
Ḃ r r r r r
(2.113)
!
Z q
3Q2 2 6M a sen2 θ
|g| − 3 a sen θ + dθdϕ = (2.114)
Ḃ r r2

! !
Z 2π Z π
3Q2 6M a sen2 θ Q2 8
r sen θ − 3 a sen2 θ +
2
dθdϕ = −3 + 6M aπ , (2.115)
0 0 r r2 r 3

em que foi utilizado o valor da raiz do determinante da métrica de Kerr dado por (2.97) e
colocado os limites de integração em relação a θ e ϕ.
Igualando esse resultado da integral com a integral de Komar relacionada ao vetor
de Killing ψ a , tem-se:
Q2 Z
−8πa + 16πM a = ϵabcd ∇c ψ d (2.116)
r Ḃ

a Q2 1 Z
Ma = + ϵabcd ∇c ψ d .
2 r 16π Ḃ
usando J = M a,
a Q2 1 Z
J= + ϵabcd ∇c ψ d . (2.117)
2 r 16π Ḃ
Como a métrica de Kerr-Newman possui carga, o tensor de Ricci perto da região
do buraco negro não é zero. Assim, há uma contribuição do momento angular associado à
carga dele. Porém, no limite do raio tendendo ao infinito é possível observar que o termo
relacionado à carga será igual a zero e assim o momento angular irá se conservar, fazendo
com que o resultado da equação (2.117) tenda a (2.105). Logo, o momento angular do
buraco negro de Kerr-Newman já contém o a contribuição do momento angular relacionado
ao campo eletromagnético em sua formulação.

2.8 Análise das Quantidades Conservadas


Após obtidas as quantidades conservadas serão analisadas, em especial, duas delas:
a massa do buraco negro obtida através da métrica de Schwarzschild e o momento angular
do buraco negro obtido através da métrica de Kerr. Serão escolhidas essas duas grandezas
Capítulo 2. Vetores de Killing 70

pelo fato do resultado ser visivelmente mais simples de se interpretar do que as grandezas
que envolvem termos relacionados à carga do buraco negro, porém o resultado dessa análise
pode ser expandido para elas sem perda de generalidade.
A primeira análise efetuada será para a quantidade conservada relacionada à massa,
pois as contas feitas para essa grandeza serão as mesmas para o momento angular. Assim,
basta utilizar somente o resultado obtido para a massa e aplicar para o momento angular.
Diante disso, foi obtido na seção 2.7.1 que a massa do buraco negro se conserva e é dada
por
1 Z
M =− ϵabcd ∇c ξ d .
8π Ḃ
O primeiro passo a ser efetuado será a aplicação do teorema de Stokes dada por
(1.145) nessa integração, porém de forma inversa. Isto é, será integrado, agora, a superfície
B inteira ao invés de somente da borda Ḃ, resultando em
1 Z
M =− ϵabcd ∇e ∇d ξ e . (2.118)
4π B

É possível utilizar a equação (2.53) nessa integração, mas para isso é preciso
permutar os índices a e b resultando na seguinte equação:

∇b ∇a ξ b = Rad ξ d . (2.119)

Ao utilizar esse resultado na integral (2.118), tem-se o seguinte resultado:


1 Z
M =− ϵabcd Rde ξ e . (2.120)
4π B

Ao permutar os índices do elemento de volume tem-se:


1 Z
M =− Rd ξ e ϵdabc . (2.121)
4π B e

Como efetuado na seção sobre teorema de Stokes 1.1.9.2, é possível relacionar o


elemento de volume que está contraindo com Rde ξ e com uma outra 3-forma a menos de
uma função h,
Rde ξ e ϵdabc = hϵabc . (2.122)

Para calcular o valor de h, deve-se contrair uma 3-forma de volume em ambos os


lados. A conta desse fator h está descrita no apêndice E.3 e o seu resultado é dado por
(E.19), ou seja,
h = −Nd Rde ξ e , (2.123)

em que Nf é o vetor normal à superfície de integração, vide seção 1.1.9.2.


Logo,
Rde ξ e ϵdabc = −Nd Rde ξ e ϵabc . (2.124)
Capítulo 2. Vetores de Killing 71

Dessa maneira, utilizando esse valor na integral (2.125) tem-se:


1 Z
M= Rde ξ e Nd ϵabc . (2.125)
4π B

Abaixando o primeiro índice do tensor de Ricci através da métrica e a contraindo


com o vetor normal, é possível escrever a integral da seguinte forma:
1 Z
M= Rf e ξ e N f ϵabc . (2.126)
4π B

Em uma forma compacta é possível escrever o elemento de volume ϵabc como sendo
dV e é possível renomear o os índices da seguinte maneira f → a e e → b, resultando em
1 Z
M= Rab N a ξ b dV. (2.127)
4π B

O último e mais importante passo para a análise dessa integral é através da


evocação da equação de Einstein, a qual não será motivada aqui mas essa motivação pode
ser visualizada nas referências [1] ou [2]. Assim, evocando a equação de Einstein abaixo
1
 
Rab = 8π Tab − T gab , (2.128)
2
em que Tab é o tensor de energia momento e T o seu traço.
É possível escrever o tensor de Ricci em termos dessa relação, assim a integração
ficará da seguinte forma:
Z 
1

M =2 Tab − T gab N a ξ b dV. (2.129)
B 2

As informações contida nessa integração são de extrema importância para o enten-


dimento da integral de Komar. Pois, como é possível ver em (2.129) o vetor de Killing está
contraído com o tensor de energia momento e, no caso de um vetor de Killing temporal, a
contração é justamente na componente do tensor relacionada à energia. Devido a isso, não
é surpresa que a quantidade conservada relacionada ao vetor de Killing ser justamente a
massa do buraco negro.
Como adiantado, as contas para a quantidade conservada relacionada ao momento
angular são iguais às feitas para a massa com a única diferença de que o vetor de Killing
tratado é o ψ a . Assim, para o momento angular tem-se
Z 
1

J =− Tab − T gab N a ψ b dV. (2.130)
B 2

A mesma interpretação feita para a massa pode ser efetuada aqui. Isso pode ser
feito, pelo fato de o vetor de Killing ψ a estar contraido com o tensor de energia momento e
essa contração se dá justamente na componente do tensor relacionada ao momento angular.
Capítulo 2. Vetores de Killing 72

Assim, a integral de Komar deveria resultar em algo relacionado com o momento angular
do buraco negro e isso de fato acontece.
Para métricas de buracos negros com carga, apareceram termos relacionados com
a carga nos resultados das grandezas calculadas. Ao visualizar que tanto o termo de massa
dado por (2.129) e quanto o termo de momento angular dado por (2.130) possuem uma
contração do tensor energia momento com o vetor de Killing, é possível afirmar que o
tensor de energia momento possui contribuições dos campos eletromagnéticos. Assim,
quando é imposta a condição do raio da superfície de integração indo para o infinito, a
contribuição desses campos eletromagnéticos já estão sendo contabilizados nas integrais de
Komar relacionadas à massa e momento angular.
Essa análise efetuada é importante para o entendimento do significado da integral
de Komar. Pois, por meio das quantidades conservadas em termos de uma integral de uma
2-forma não é possível identificar, diretamente, uma interpretação física do resultado dessas
quantidades. Porém, escrevendo as integrais de Komar de forma a aparecer a equação de
Einstein e visualizar que o vetor de Killing contrai com o tensor de energia momento, é
possível obter uma interpretação mais clara do resultado. Assim, é possível verificar que o
resultado das integrações feitas na seção 2.6 não poderia ser diferente do calculado, visto
a interpretação física que as equações (2.129) e (2.130) proporcionaram.
73

3 Conclusão

O presente estudo demonstrou uma construção de conceitos matemáticos utilizando


notação diferencial para poder aplicá-los no desenvolvimento da teoria da relatividade.
Através dessas ferramentas matemáticas foi possível determinar o que são vetores de
Killing e como eles estão associados a simetrias. Também foi calculada uma equação da
continuidade através desses vetores, a qual se demonstrou de extrema importância já que,
a partir dela foram calculadas grandezas conservadas para buracos negros no espaço-tempo
por meio das integrais de Komar e da utilização de métricas de buracos negros.
Para cada métrica associada a buracos negros tratada neste estudo havia alguma
condição diferente das demais. Assim, a construção da demonstração dos resultados
associados a cada uma dessas métricas foi feito de forma a demonstrar como cada condição,
seja de momento angular ou carga, influenciava nas grandezas conservadas. Dessa forma,
foi possível comparar explicitamente a diferença dos resultados em relação a cada métrica.
Os resultados das quantidades conservadas calculados demonstraram que tanto a
massa quanto o momento angular de buracos negros irão se conservar. Além disso, foi
verificado que, para buracos negros com carga, a massa e o momento angular dele já levam
em conta as contribuições eletromagnéticas.
Frente ao exposto, é possível concluir que as propriedades envolvendo buracos
negros são de extrema importância para a física relativística, pois elas estão diretamente
relacionadas ao espaço-tempo. No contexto desse estudo, essas propriedades calculadas
estão relacionadas com as simetrias do espaço-tempo. Assim, o estudo de buracos negros é,
desde suas primeiras previsões por R. Penrose em 1965 até hoje, de extrema importância
para o conhecimento do espaço-tempo.
74

A Conceitos Algébricos e Topológicos

A.1 Homomorfismo e Isomorfismo


Para o significado de homomorfismo e isomorfismo é necessário começar a análise
através da definição de lei de composição. Portanto, será tomado um conjunto X no qual
esteja definida uma operação (sendo ela uma lei de composição) que associa a cada dois
elementos de X, sendo esses a e b, um terceiro elemento determinado por a ◦ b.
De modo a se obter um exemplo para esse caso é possível tomar o conjunto de
todas as matrizes n × n reais, com a seguinte lei de composição:

a ◦ b = ab − ba = [a, b], (A.1)

em que o produto ab é um produto matricial usual. A lei de composição definida acima


não é necessariamente comutativa (a ◦ b = b ◦ a) ou associativa ((a ◦ b) ◦ c) = (a ◦ (b ◦ c)).
Portanto, a seguir com a definição de homomorfismo, serão considerados dois
conjuntos X e Y , nos quais são definidas leis de composição, denotando a operação em X
por “◦”, a operação em Y por “∗”. Supondo que a, b ∈ X → a◦b ∈ X e c, d ∈ Y → c∗d ∈ Y .
Então, tomando um mapa f : X → Y , ele é chamado de homomorfismo caso obedeça a
seguinte relação:
f (a ◦ b) = f (a) ∗ f (b) (A.2)

Assim, é possível tomar de exemplo uma função f modular de algum número


complexo z dada por f (x) = |x|. Então, f será um homomorfismo desde que preserve a
seguinte multiplicação:

f (x1 x2 ) = |x1 x2 | = |x1 ||x2 | = f (x1 )f (x2 ) (A.3)

Dessa forma, é possível visualizar que a estrutura entre duas estruturas algébricas
é preservada, como visto no exemplo acima e no contexto do homomorfismo do mapa
f : X → Y demonstrado anteriormente. Além disso, caso o mapa f seja um homomorfismo
bijetivo, ou seja injetivo e sobrejetivo, esse homomorfismo em questão é chamado de
isomorfismo.

A.2 Homeomorfismo e Difeomorfismo


A próxima definição a ser estudada é a de um homeomorfismo. Para isso, serão
tomados U, V ⊂ Rm como sendo abertos. Um mapa f : U → V é dito um homeomorfismo
caso seja uma bijeção contínua cuja inversa f −1 : V → U é também contínua.
Apêndice A. Conceitos Algébricos e Topológicos 75

É de interesse da relatividade geral utilizar o conceito de homeomorfismo entre


espaços topológicos. Portanto deve-se definir, inicialmente, o que é um espaço topológico
e para isso toma-se um espaço (X, F) consistindo de conjuntos X com um coleção F de
subconjuntos de X que satisfaçam as seguinte propriedades:

• A união arbitrária de uma coleção de subconjuntos, cada um contido em F, está em


[
F. (Se Oα ∈ F, ∀ α, então Oα ∈ F).
α

• A interseção de um número finito de subconjuntos em F está em F. (Caso O1 , · · · , On ∈


n
[
F, então Oi ∈ F).
i=1

• Todo o conjunto X e o conjunto vazio ∅ está em F.

Para uma descrição mais detalhada ver [1].


Dessarte, com a descrição acima apresentada é possível tomar dois espaços topoló-
gicos (X, F) e (Y, F) e dizer que um mapa f : X → Y é contínuo caso a imagem inversa
de todo conjunto aberto O ∈ Y é um conjunto aberto em X. Caso f seja uma bijeção
contínua e sua inversa também for contínua, f é chamado de homeomorfismo e assim os
espaços (X, F) e (Y, F) são ditos homeomorfos. Um exemplo comum de homeomorfismo é
o homeomorfismo entre um caneca e uma rosquinha (conhecida também como donuts).

Figura 13 – Ilustração de um homeomorfismo entre uma caneca e uma rosquinha.

Apesar de ser uma abordagem heurística do conceito de homeomorfismo é possível


tirar proveito desse exemplo, devido ao fato de ambos espaços topológicos apresentados na
imagem 13 preservarem a estrutura de somente um furo em seu espaço (a rosquinha com
um furo central e a caneca com um furo em sua alça). Além disso, as setas definidas na
imagem indicam a possibilidade de sair de um espaço para outro, logo há uma função f
contínua, cuja inversa f −1 também é contínua.
Há um caso particular de homeomorfismo que é chamado de difeomorfismo. Portanto,
para discorrer sobre um difeomorfismo é necessário utilizar novamente dois abertos U, V ⊂
Apêndice A. Conceitos Algébricos e Topológicos 76

Rm que possuam uma função f bijetiva, contínua e diferenciável, tal que f : U → V . Assim,
caso a inversa dessa função f −1 for também diferenciável é dito que f é um difeomorfismo.
Além disso, se f e f −1 forem de classe Ck é possível dizer que o difeomorfismo de f é de
classe Ck .
Para exemplificar um difeomorfismo, tome uma função f (x) = ex , em que f :
R → (0, ∞). É possível observar que essa função é claramente de classe C∞ e sua inversa
f −1 (x) = ln(x) é também de classe C∞ . Portanto, f é um difeomorfismo de classe C∞ .
77

B Produto Exterior

A definição de produto exterior feita na seção sobre p-formas 1.1.5 foi feita através
de 1-formas, porém é possível expandir esse conceito para quaisquer p-formas. Para isso
será utilizado uma p-forma qualquer ω e outra p-forma qualquer η. O produto exterior
dessa p-forma com a q-forma é definido da seguinte forma:
 
1 1 X
ω∧η =  sign(S)ωµS(1) ···µS(p) ηµS(p+1) ···µs(p+q)  dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp+q . (B.1)
(p + q)! p!q! S

Algumas propriedades do produto exterior são bastante importantes e por isso


elas serão descritas abaixo, mas não serão provadas nesse trabalho. No entanto é possível
encontrar a prova de cada uma dessas relações em [3]. As propriedades são:

1. dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp = 0, caso algum índice seja repetido, ou seja, aparecer mais de duas
vezes;

2. dxµ1 ∧ dxµp é linear para cada dxµp ;

3. dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp = sign(S) dxµS(1) ∧ · · · ∧ dxµS(p) . Com o S sendo uma permutação


arbitrária, sign(S) sendo o sinal da permutação.

4. (η ∧ ξ) ∧ ω = η ∧ (ξ ∧ ω), ou seja, associatividade para formas de grau arbitrário;

5. η ∧ η = 0, caso η seja uma p-forma em que p é par;

6. η ∧ ξ = (−1)pq ξ ∧ η, caso η seja uma p-forma e ξ uma q-forma.


78

C Tensores e Operadores

C.1 Derivada Exterior


O diferencial de uma função f : R → R diferenciável de M faz com que essa função
vire uma 1-forma, pois
∂f µ
d(f ) = dx . (C.1)
∂xµ
Logo, quando aplicada essa 1-forma sobre um vetor X ∈ Tp M é possível obter a
seguinte atuação df (X) → R, a qual deve obedecer a atuação de uma 1-forma sobre um
vetor (já discutido anteriormente) que é dado por

df (X) = X(f ). (C.2)

A relação (C.2) demonstra que o resultado da aplicação dessa 1-forma sobre um


vetor é a derivada direcional da função f provocada por X. Deve-se notar que essa 1-forma
também obedece a relação de adição e multiplicação e por isso é linear,

df (c1 X1 + c2 X2 ) = c1 df (X1 ) + c2 df (X2 ) = c1 X1 (f ) + c2 X2 (f ). (C.3)

É possível pensar que uma função é uma 0-forma e após a aplicação do diferencial
ela irá se tornar uma 1-forma. Visto isso, é possível definir uma generalização do diferencial
para poder aplicá-lo em p-formas. Assim, será denominado de derivada exterior o operador
que atua em uma p-forma, fazendo com que ela seja transformada em uma (p+1)-forma.
Para isso será utilizada a p-forma:
1
ω= ωµ ···µ dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp . (C.4)
p! 1 p

Portanto, a aplicação da derivada exterior d sobre essa p-forma será a seguinte:


!
1 ∂
dω := ν
ωµ1 ···µp dxν ∧ dxµ1 ∧ · · · ∧ dxµp . (C.5)
p! ∂x

O termo em parênteses se assemelha bastante com o diferencial de uma função


visto no cálculo, o que não é de se espantar, pois afinal a derivada exterior atua exatamente
como se fosse um diferencial de uma p-forma.
Através da relação (C.5) é possível confirmar que a relação (C.1) resulta realmente
em uma 1-forma, !

df := ν
f dxν , (C.6)
∂x
Apêndice C. Tensores e Operadores 79

em que as componente dessa 1-forma serão dadas por:


!

f = ων . (C.7)
∂xν

Logo,
df := ων dxν . (C.8)

Para encerrar a discussão sobre derivada exterior é importante citar algumas


propriedades dessa operação, as quais serão dadas abaixo:

• d(ω p ) = ω p+1 , a atuação de uma derivada exterior sobre uma p-forma ω resulta em
uma (p+1)-forma;

• d(ω + η) = dω + dη, para toda ω e η sendo p-formas;

• d(cω) = cdω, para c ∈ R e ω sendo uma p-forma;

• d(ω ∧ η) = dω ∧ η + (−1)p ω ∧ dη, sendo ω e η p-formas;

• d(dω) = 0, sendo ω uma p-forma;

• d(f dg ∧ dh) = df ∧ dg ∧ dh, sendo f, g, h funções diferenciáveis. (A prova dessa


relação se encontra em [4]).

C.2 Símbolos de Christoffel


A relatividade é descrita matematicamente através de um espaço curvo. Através de
um objeto matemático denominado como conexão é possível relacionar vetores no espaço
tangente de ponto próximos. No contexto da relatividade geral a conexão utilizada é a
conexão de Levi-Civita, representada pelos símbolos de Christoffel:
1
Γabc = g ad (∂b gcd + ∂c gbd − ∂d gbc ) (C.9)
2

Os símbolos de Christoffel são as únicas conexões sem torção compatíveis com a


métrica. Além disso, é importante salientar que o objeto Γabc se parece bastante com um
tensor, entretando não é, por isso que são chamados de símbolos de Christoffel. Assim,
deve-se tomar cuidado ao utilizar esse elemento para não confundi-lo com um tensor.

C.3 Derivada Covariante


A derivada parcial de um tensor não se comporta bem como um operador de tensor.
Assim, de forma a solucionar esse problema e introduzir uma operação de derivada em
Apêndice C. Tensores e Operadores 80

relação a um tensor, a derivada covariante é crucial para transpor essa barreira. Assim, é
necessário que o operador de derivada covariante ∇ performe o papel de uma derivada
parcial que independe de coordenadas e que mapeie um campo tensorial (p, q) em outro
campo tensorial (p, q + 1).
Além disso, esse operador deve obedecer as seguinter propriedades:

• Linearidade: ∇(T + S) = ∇T + ∇S;

• Regra de Leibniz: ∇(T ⊗ S) = (∇T ) ⊗ S + T ⊗ (∇S).

Para que o operador ∇ obedeça a regra de Leibniz é possível sempre escrevê-lo


como a soma de uma derivada parcial mais uma transformação linear, ou seja, está sendo
pego a derivada parcial e aplicando uma correção de forma a torná-la covariante. Essa
afirmação não será provada aqui, porém pode ser visualizada em [1].
Assim, pode-se escrever a derivada covariante atuando sobre um tensor genérico
de forma a ser a soma de uma derivada parcial mais uma soma envolvendo a contração
dos símbolos de Christoffel com o tensor, os quais irão fazer a correção do operador de
maneira a torná-la covariante.

∇a T b1 ···bkc1 ···cl = ∂a T b1 ···bkc1 ···cl + Γad T b1 ···d···bck1 ···cl − Γdac T b1 ···bkc1 ···d···cl
X b X
i
(C.10)
i j

Há várias propriedades envolvendo a derivada covariante, porém elas não são


utilizadas nesse trabalho. Entretanto, podem ser encontradas em [1].

C.4 Tensores de Riemann e de Ricci


Diversas vezes foi falado que o plano de fundo da Teoria da Relatividade é um
espaço curvo. Logo, é importante poder quantificar a curvatura desse espaço, ou seja,
obter alguma forma de medir a curvatura desse espaço. É nesse cenário que o tensor de
Riemann entra em cena no contexto matemático da teoria da relatividade. Assim, é de se
esperar que esse tensor deve possuir alguma relação com a métrica e com os símbolos de
Christoffel. A primeira relação se deve ao fato de que a métrica é o que descreve a distância
entre quaisquer elementos do espaço, logo deve conter as informações necessárias que o
fazem ser curvo. Já a segunda relação é devido ao fato de que os símbolos de Christoffel
demonstram como a curvatura ocorre matemáticamente, como discutido em (C.2).
A equação que determina o tensor de Riemann através dos símbolos de Christoffel
é dada abaixo(a construção dessa equação não será feita aqui, mas pode ser visualizada
em [1] e [2].).
Rabc d = ∂b Γdca − ∂c Γdba + Γdbe Γeca − Γdce Γeba . (C.11)
Apêndice C. Tensores e Operadores 81

Como a derivada covariante possui termos relacionados com a derivada parcial


e símbolos de Christoffel, é possível definir o tensor de Riemann através de derivadas
covariantes. Essa definição será dada respectivamente através da atuação do tensor de
c ···c
Riemann sobre um campo tensorial T 1 q d1 ···dp ,
q p
c1 ···cq c1 ···e···cq c1 ···cq
Rabeci T Rabdej T
X X
(∇a ∇b − ∇b ∇a ) T d1 ···dp =− d1 ···dp + d1 ···e···dp . (C.12)
i=1 j=1

O tensor de Riemann possui algumas propriedades que são de extrema importância


e que estão citadas abaixo:

Rabcd = −Rabdc .
Rabcd = −Rbacd .
Rabcd = Rabc e ged → Rabcd = Rcdab . (C.13)
Ra(bcd) = 0.
R[abc]d = 0.

Por meio do tensor de Riemann, é possível obter o tensor de Ricci. Esse tensor é
simplesmente a contração do segundo com o quarto índice do tensor de Riemann, o que
gera o seguinte resultado:
Rac = Rabc b . (C.14)

Como os índices que restam dessa contração são simétricos, logo o tensor de Ricci
deverá ser simétrico,
Rac = Rca . (C.15)
82

D Métrica de Buracos Negros

A métrica utilizada neste texto é denominada de métrica de Kerr-Newman. Ela é


uma métrica geral para buracos negros estacionários em espaços assintoticamente planos.
Essa métrica está descrita abaixo:

2 θ(r2 +a2 −∆)


   
∆−a2 sen2 θ

− Σ
0 0 − 2a sen Σ 
Σ
0 0 0
 

 
gµν =  , (D.1)
0 0 Σ 0
 
 
 2

θ(r2 +a2 −∆)
h 2 22
(r +a ) −∆a2 sen2 θ
i
− 2a sen Σ
0 0 Σ
sen 2
θ
em que:
Σ = r2 + a2 cos2 θ. (D.2)

Para se obter outras métricas que descrevem buracos negros a partir dessa basta
colocar as seguinte condições:

Métrica M Q J
Schwarzschild ̸= 0 =0 =0
Reissner-Nordström ̸= 0 ̸= 0 =0
Kerr ̸= 0 =0 ̸= 0
Kerr-Newman ̸= 0 ̸= 0 ̸= 0

O determinante da métrica (D.1) e a raiz desse determiante são dados respectiva-


mente por:

g = −Σ2 sen2 θ, −g = Σ sen θ. (D.3)

A partir da métrica (D.1) é possível calcular a sua inversa que é dada por:
 2 +a2 )2 −∆a2

sen2 θ

− (r Σ∆
0 0 − 2M
Σ∆
ar


0 0 0
 
g µν = Σ
 

1
. (D.4)
0 0 0
 
Σ
 
 
ar ∆−a2 sen2 θ
− 2M
Σ∆
0 0 Σ∆ sen2 θ

Para os componentes da métrica e da métrica inversa (D.1) e (D.4), os símbolos de


Christoffel não nulos são dados por:
Apêndice D. Métrica de Buracos Negros 83

pb a sen2 θ 2
Γttr = − , Γtrϕ = (pb + 2qr),
∆ ∆

qa3 qa2
Γtϕθ = − sen2 θ sen 2θ, Γtθt = ΣΓθtt = sen 2θ,
∆ Σ

∆p a2 sen 2θ
Γrtt = − , Γrrθ = Γθθθ = −∆Γθrr = − ,
Σ 2Σ

r M −r r∆
Γrrr = + , Γrθθ = − , (D.5)
Σ ∆ Σ

r ∆ sen2 θ
Γθrθ = , Γrϕϕ = − (r + pa2 sen2 θ),
Σ Σ

ap a∆p sen2 θ
Γϕtr = − , Γrtϕ = ,
∆ Σ

qab2 sen 2θ 2qa


Γθtϕ = − , Γϕtθ = cot θ,
Σ2 Σ
r sen2 θ
Γϕrϕ = (1 + 2q) + a2 p ,
∆ ∆
" !#
sen 2θ 2 a2 sen2 θ
Γθϕϕ =− b − 2a2 sen2 θq 2 + ,
2Σ Σ

cot θ
Γϕϕθ = [(1 + 2q)(b2 − 2qa2 sen2 θ) − 2qa2 b2 Σ−1 sen2 θ] .

em que:

(rQ2 + M (Σ − 2r2 )) (Q2 − 2M Σr)


b 2 = r 2 + a2 , p= , q= . (D.6)
Σ2 2Σ
84

E Desenvolvimento Matemático

E.1 Primeiro fator h de Integração


A contração do elemento de volume dado em (1.134) por ϵc,a1 ,··· ,an−1 , pode ser
calculado da seguinte maneira:

ϵb[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b = hϵc,a1 ,··· ,an−1 . (E.1)

Essa igualdade é válida somente na superfície de integração e tem a dimensão da


forma de volume que está sendo integrada,

ϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵb[a1 ,··· ,an−1 ∇c] v b = hϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵc,a1 ,··· ,an−1 . (E.2)

Para simplificar a conta, será feito a contração do termo à direita da igualdade e


depois do termo à esquerda. Será escolhido fazer dessa forma, pois a contração do termo da
direita é bem mais direto do que o da esquerda, pois basta utilizar a definição de contração
dada em (1.117) , logo a conta ficará da seguinte forma:

hϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵc,a1 ,··· ,an−1 = h(n − n)!n!δ [c,ac,a1 1 ··· δ an−1 ]
an−1

= hn! (E.3)

Deve-se notar que o índice c também está contraindo, pois isso há n índices na
relação. Já a contração da parte esquerda é um pouco mais complicada, pois envolve uma
antissimetrização. Porém é possível construir um argumento efetivo utilizando poucas
linhas de cálculo.
Para resolver esse problema é possível se utilizar da definição de antissimetrização
de um tensor antissimétrico e pensar no seguinte argumento: como a forma de volume é
totalmente antissimétrico, a antissimetrização desse objeto é somente devido à permutação
do índice c com os outros índices. Assim, é possível definir uma contração genérica desse
termo dada por:

ϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵba1 ,··· ,an−1 ∇c v b = (n − (n − 1))!(n − 1)!δ c b ∇c v b (E.4)

= (n − 1)!δ cb ∇c v b

ϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵba1 ,··· ,an−1 ∇c v b = (n − 1)!∇b v b . (E.5)


Apêndice E. Desenvolvimento Matemático 85

O índice c será permutado n vezes, então a relação (E.5) dada acima será multipli-
cada por n, resultando em

nϵc,a1 ,··· ,an−1 ϵba1 ,··· ,an−1 ∇c v b = n(n − 1)!∇b v b . (E.6)

Entretanto, como parte de uma antissimetrização deve-se dividir o resultado pelo


número de permutação para evitar somas de termos iguais, ou seja, dividir por n. Então,
a relação volta a ser igual à (E.5).
Feito as contas do lado esquerdo e direito é possível juntar os termos em uma
igualdade, logo:
(n − 1)!∇b v b = hn!

(n − 1)!∇b v b = hn(n − 1)!, (E.7)

o que resulta em:


∇b v b = nh. (E.8)

Esse resultado é exatamente igual à equação (1.135), ou seja, a contração foi


efetuada e o valor final foi exatamente o esperado.

E.2 Segundo fator h de Integração


O segundo fator h que aparece na seção de integração é obtido através da contração
de ϵabe na igualdade (1.141). Sabendo que se ϵabc é a forma de volume da superfície
ortogonal ao vetor N a :
ϵabc = ϵabcd N d , (E.9)

então,
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = hϵeab ϵeab . (E.10)

Como é possível observar, a contração da esquerda é bem parecida com a feita


na equação (E.4). Assim o mesmo argumento dado para a contração do termo que está
antissimetrizado será utilizado novamente, juntamente com a propriedade (1.117). Portanto,
f]
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = (4 − 2)!2! Nf δc[e δd ∇c K cd

 
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = 2 (∇c K cd )Nd − (∇d K cd )Nc . (E.11)

Como o tensor é antissimétrico K ab = −K ba , tem-se:


 
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = 2 (∇c K cd )Nd + (∇d K dc )Nc , (E.12)
Apêndice E. Desenvolvimento Matemático 86

renomeando os índices do segundo termo,


 
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = 2 (∇c K cd )Nd + (∇c K cd )Nd ,

 
Nf ϵeabf ϵ[ab|cd| ∇e] K cd = 4Nd ∇c K cd . (E.13)

Feito isso, falta somente efetuar a contração do lado esquerdo da igualdade (E.10),
a qual é somente aplicar a propriedade (1.117).

hϵeab ϵeab = h(3 − 3)!3!

hϵeab ϵeab = h3!. (E.14)

Assim, deve-se igualar os lados direitos das expressões (E.13) (E.14),


 
4Nd ∇c K cd = h3!,

ou seja,
2
h = Nd ∇c K cd . (E.15)
3
Essa é exatamente a relação desejada para poder efetuar utilizar no Teorema de
Stokes em que se utiliza um tensor antissimétrico K ab .

E.3 Terceiro fator h de Integração


O terceiro fator h que aparece na seção 2.8 é bem parecido com a conta efetuada
em E.1. Logo, deve-se contrair uma 3-forma de volume em ambos os lados da relação
abaixo:
Rde ξ e ϵdabc = hϵabc . (E.16)

−Ng ϵgabc Rde ξ e ϵdabc = hϵabc ϵabc , (E.17)

em que N a é o vetor normal à superfície de integração.

−Ng Rde ξ e (4 − 3)!3!δdg = h(3 − 3)!3!. (E.18)

Portanto,
h = −Nd Rde ξ e . (E.19)
Apêndice E. Desenvolvimento Matemático 87

E.4 Antissimetrização de Deltas


A antissimetrização de dois índices é algo que pode ser feito facilmente permutando-
os e colocando um sinal negativo caso a permutação seja de ordem ímpar. Porém, quando
há antissimetrização de mais índices, a permutação pode ficar complicada. Assim, de forma
a simplificar a antissimetrização do termo δ t[σ δ rρ δ θµ δ ϕν] serão distribuidas todas as dezeseis
possíbilidades de índices em uma matriz 4 × 4 e será efetuado o determinante dessa matriz.


t
δσ δσr δσθ δσϕ


t
1 δρ δρr δρθ δρϕ 1 t  r θ ϕ

ϕ θ θ r θ ϕ r ϕ r θ θ r

t = δ σ δ [δ δ
ρ µ ν − δ δ
µ ν ] − δ [δ δ
ρ µ ν − δ δ
µ ν ] + δ [δ δ
ρ µ n u − δ δ
µ ν ] −
4! δµ δµr δµθ δµϕ 4!


t
δν δνr δνθ δνϕ

 
−δσr δρt [δµθ δνϕ − δµϕ δνθ ] − δρθ [δµt δνϕ − δµϕ δνt ] + δρϕ [δµt δνθ − δµθ δνt ]
 
+δσθ δρt [δµr δνϕ − δµϕ δνr ] − δρr [δµt δνϕ − δµϕ δνt ] + δρϕ [δµt δνr − δµr δνt ]

 
−δσϕ δρt [δµr δνθ − δµθ δνr ] − δρr [δµt δνθ − δµθ δνt ] + δρθ [δµt δνr − δµr δνt ] .

Os deltas utilizados na integração da seção 2.7.1 devem contribuir com os parâmetros


de integração, ou seja, com dθ ∧ dϕ. Logo, os únicos termos calculados acima que possuem
uma antissimetrização de deltas relacionada a θ e ϕ são:
1  t r h i
δσ δρ − δρt δσr δµθ δνϕ − δµϕ δνθ .
4!

Esse termo pode ser escrito também utilizando a notação de antissimetrização de


índices, o que retorna:
  2!
θ ϕ
δσt δρr − δρt δσr δ[µ δν] . (E.20)
4!
Assim, é possível visualizar que a integral (2.73) possui o termo de antissimetrização
(E.20) proporcionado pela conta acima. Além disso, pela conta acima é possível visualziar
que há outros termos envolvidos nessa antissimetrização, porém, como explicado na seção
2.7.1, esses termos após a integração no espaço-tempo utilizado ao redor do buraco negro
que possui raio constante serão zero. Assim, o que importa é somente esse termo calculado
acima.
88

Referências

[1] R. M. Wald. General relativity, The University of Chicago Press, 1984.

[2] S. Carrol. Spacetime and Geometry, An introduction to General Relativity, Pearson


Education, Inc., 2004.

[3] S. A. Dias. Notas de Aula Geometria Diferencial, CBPF, 2013.

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1994.

[5] R. L. Bishop e S. I. Goldberg. Tensor Analysis on Manifolds, Dover Publications Inc.,


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Co. Re. Ltd., Singapore.

[7] M. Nakahara. Geometry, Topology and Physics, Institute of Physics Publishing, wholly
owned by The Institute of Physics, London Institute of Physics Publis. 2003

[8] F. H. C. Menezes. Termodinâmica de Buracos Negros. Orientador: N. O. Yokomizo.


2021. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Física, Universidade Federal de Minas
Gerais.

[9] C. R. O. Amorim. Teorema da Função Implícita e Suas Aplicações. Orientadora:


Sônia P. C. 2016. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Matemática, Universidade
Federal de Minas Gerais.

[10] S. Warner. Lecture Notes of Introduction to Differential Geometry e General


Relativity, 2014, Departments of Mathematics and Physics, Hofstra University.

[11] J. Stewart. Cálculo: volume 2. 8ª ed. SÃO PAULO: Cengage Learning, 2016.

[12] I. Ciufolini e J. A. Wheeler. Gravitation and Inertia, Princeton University Press,


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[13] S. W. Hawking e W. Israel. General Relativity, An Einstein Centenary Survey,


Cambridge University Press, 1979.

[14] E. Noether. Invariant Variation Problems. Nachr. D. König. Gesellsch. D. Wiss. Zu


Göttingen, Math-phys. Klasse. 1918: 235–257, 1918.

[15] A. Komar. Positive-Definite Energy Density and Global Consequences for General
Relativity. Physical Review. 129 (4): 1873–1876, 1963.
Referências 89

[16] S. Singh. Big Bang, Record Ltda., 2004.

[17] https://solarsystem.nasa.gov/solar-system/sun/by-the-numbers/.

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