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Matemática Discreta:

Elementar e Além

L. L OV ÁSZ , J. P ELIK ÁN E K. V ESZTERGOMBI

Traduzido do original em inglês


Discrete Mathematics:
Elementary and Beyond
Springer, January 2003, ISBN 0387955852.
por Ruy José Guerra Barretto de Queiroz
Junho 2005

i
Índice

Prefácio v

1 Vamos contar! 1
1.1 Uma festa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Conjuntos e similares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 O número de subconjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 O número aproximado de subconjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.5 Seqüências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.6 Permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.7 O número de subconjuntos ordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.8 O número de subconjuntos de um dado tamanho . . . . . . . . . . . . 18

2 Ferramentas combinatórias 23
2.1 Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2 Comparando e estimando números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3 Inclusão-exclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4 Casas de Pombo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.5 O paradoxo gêmeo e o velho e bom logaritmo . . . . . . . . . . . . . 33

3 Coeficientes binomiais e o Triângulo de Pascal 39


3.1 O Teorema Binomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2 Distribuindo presentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3 Anagramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4 Distribuindo dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.5 O Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.6 Identidades no Triângulo de Pascal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.7 Uma visão de olhos de pássaro do Triângulo de Pascal . . . . . . . . 50
3.8 Uma visão de olhos de águia: detalhes finos . . . . . . . . . . . . . . 53

4 Números de Fibonacci 60
4.1 O exercı́cio de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2 Muitas identidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.3 Uma fórmula para os números de Fibonacci . . . . . . . . . . . . . . 65

ii
5 Probabilidade combinatória 70
5.1 Eventos e probabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2 Repetição independente de um experimento . . . . . . . . . . . . . . 71
5.3 A Lei dos Grandes Números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.4 A Lei dos Pequenos Números e a Lei dos Números Muito Grandes . . 74

6 Inteiros, divisores, e primos 77


6.1 Divisibilidade de inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.2 Os primos e sua história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.3 Fatoração em primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.4 Sobre o conjunto de primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.5 O “Pequeno” Teorema de Fermat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
6.6 O Algoritmo Euclideano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
6.7 Congruências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
6.8 Números estranhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
6.9 Teoria dos números e combinatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
6.10 Como testar se um número é primo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

7 Grafos 112
7.1 Graus pares e ı́mpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
7.2 Caminhos, ciclos, e conectividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
7.3 Passeios eulerianos e ciclos hamiltonianos . . . . . . . . . . . . . . . 120

8 Árvores 127
8.1 Como definir árvores? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
8.2 Como crescer árvores? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
8.3 Como contar árvores? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
8.4 Como armazenar árvores? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
8.5 O número de árvores não-rotuladas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

9 Encontrando o ótimo 142


9.1 Encontrando a melhor árvore . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
9.2 Caixeiro Viajante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146

10 Emparelhamentos em grafos 150


10.1 Um problema de dança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
10.2 Um outro problema de emparelhamento . . . . . . . . . . . . . . . . 151
10.3 O teorema principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
10.4 Como encontrar um emparelhamento perfeito? . . . . . . . . . . . . 156

11 Combinatória em Geometria 164


11.1 Interseções de diagonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
11.2 Contando regiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
11.3 Polı́gonos convexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

iii
12 Fórmula de Euler 172
12.1 Um planeta sob ataque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
12.2 Grafos planares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
12.3 Fórmula de Euler para Poliedros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176

13 Colorindo mapas e grafos 179


13.1 Colorindo regiões com duas cores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
13.2 Colorindo grafos com duas cores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
13.3 Colorindo grafos com muitas cores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
13.4 Coloração de mapas e o Teorema das Quatro Cores . . . . . . . . . . 186

14 Geometrias finitas, códigos,


quadrados latinos,
e outras belas criaturas 193
14.1 Pequenos mundos exóticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
14.2 Planos afins finitos e planos projetivos finitos . . . . . . . . . . . . . 199
14.3 Desenhos em bloco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
14.4 Sistemas de Steiner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
14.5 Quadrados latinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210
14.6 Códigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213

15 Uma olhada em complexidade e criptografia 219


15.1 Uma aula de Connecticut na corte do Rei Arthur . . . . . . . . . . . . 219
15.2 Criptografia clássica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222
15.3 Como guardar o último movimento em xadrez? . . . . . . . . . . . . 224
15.4 Como verificar uma senha—sem aprendê-la? . . . . . . . . . . . . . 225
15.5 Como encontrar esses primos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
15.6 Criptografia de chave pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227

16 Respostas aos exercı́cios 231

iv
Prefácio

Para a maioria dos estudantes, o primeiro e único curso em matemática na universidade


é cálculo. E é verdade que cálculo é o mais importante campo da matemática, cuja
emergência no século XVII sinalizou o nascimento da matemática moderna, foi a chave
para as aplicações bem sucedidas da matemática nas ciências e na engenharia.
Mas o cálculo (ou a análise) também é muito técnico. Requer bastante trabalho
até mesmo para introduzir suas noções fundamentais como continuidade ou derivadas
(afinal de contas, levou 2 séculos somente para desenvolver a própria definição dessas
noções). Para se ter um verdadeiro sentimento sobre o poder de seus métodos, digamos
através da descrição de uma de suas aplicações importantes em detalhe, leva anos de
estudo.
Se você quiser ser um matemático, cientista da computação, ou engenheiro, esse
investimento é necessário. Mas se seu objetivo é desenvolver um sentimento sobre o
que é a matemática, onde é que os métodos matemáticos podem ser úteis, e que tipo de
questões sobre as quais os matemáticos realmente trabalham, você pode querer buscar
a resposta em algum outro campo da matemática.
Existem muitas estórias de sucesso da matemática aplicada fora do cálculo. Um
tópico quente recente é criptografia matemática, que é baseada na teoria dos números
 


(o estudo dos inteiros positivos ), e é largamente aplicada, entre outras, em
segurança de computadores e transação bancária eletrônica. Outras áreas importantes
em matemática aplicada incluem programação linear, teoria dos códigos e a teoria da
computação. O conteúdo matemático nessas aplicações é coletivamente chamado de
matemática discreta. (A palavra “discreta” é usada no sentido de “separados um do ou-
tro”, o oposto de “contı́nua”; ela é também comumente usada no sentido mais restritivo
de “finita”. A versão mais cotidiana dessa palavra é escrita “discreet”. 1 )
O objetivo deste livro não é cobrir “matemática discreta” em profundidade (deve-
ria ter ficado claro da descrição acima que tal tarefa seria mal-definida e impossı́vel
mesmo assim). Ao contrário, discutimos um número de resultados e métodos selecio-
nados, a maioria das áreas de combinatória e teoria dos grafos, com um pouco de teoria
elementar dos números, probabilidade e geometria combinatória.
É importante se dar conta de que não existe matemática sem provas. Meramente
enunciar os fatos, sem dizer algo sobre por que esses fatos são válidos, seria terrivel-
mente distanciado do espı́rito da matemática e tornaria impossı́vel dar qualquer idéia
1 N.T. Trata-se de jogo de palavras: discreet em inglês também significa discreto, mas dessa vez no sentido

de cuidadoso.

v
sobre como ela funciona. Daı́, sempre que possı́el, daremos as provas dos teoremas
que enunciamos. Às vezes isso não é possı́vel; fatos um tanto simples e elementares
podem ser extremamente difı́ceis de provar, e algumas dessas provas podem requerer
cursos avançados para seguı́-las. Nesses casos, enunciaremos pelo menos que a prova
é altamente técnica e vai além do escopo deste livro.
Um outro ingrediente importante da matemática é a resolução de problemas. Você
não será capaz de aprender o quer que seja de matemática sem sujar suas mãos e expe-
rimentar as idéias que você aprende na solução de problemas. Para alguns, isso pode
soar apavorante, mas na verdade a maioria das pessoas perseguem esse tipo de atividade
quase todo dia: todo mundo que joga uma partida de xadrez, ou resolve uma charada,
está resolvendo problemas de matemática discreta. O leitor é fortemente aconselhado a
responder às questões postas no texto e se envolver com os problemas no final de cada
capı́tulo deste livro. Trate isso como resolver charada, e se você achar que alguma
idéia que lhe ocorreu na solução tem algum papel mais adiante, fique satisfeito pois
você está começando a pegar a essência de como a matemática se desenvolve.
Esperamos que possamos ilustrar que a matemática é um edifı́cio, onde resultados
são construı́dos sobre resultados anteriores, frequentemente voltando aos grandes ma-
temáticos gregos; que a matemática está viva, com mais idéias novas e mais problemas
prementes não-resolvidos que nunca; e que a matemática é também uma arte, onde a
beleza de idéias e métodos é tão importante quanto sua dificuldade ou aplicabilidade.

László Lovász József Pelikán Katalin Vesztergombi

vi
Capı́tulo 1

Vamos contar!

1.1 Uma festa


Alice convida seis pessoas para sua festa de aniversário: Bob, Carl, Diane, Eve, Frank
e George. Quando eles chegam, eles apertam as mãos de cada um (estranho costume
Europeu). Esse grupo é estranho mesmo, porque um deles pergunta: “Quantos apertos
de mão isso significa?”
“Eu apertei 6 mãos no total” diz Bob, “e eu acho, assim fez todo mundo.”

“Como somos sete, isso deveria significar  apertos de mão” aventura Carl.
“Isso parece demasiado” diz Diane. “A mesma lógica dá 2 apertos de mão se duas
pessoas se encontram, o que está claramente errado.”
“Isso é exatamente o ponto chave: todo aperto de mão foi contado duas vezes.
Temos que dividir 42 por 2, para chegar ao número certo: 21.” resolve Eve a questão.
Quando eles iam para a mesa, eles entraram numa discussão sobre quem senta
onde; para contornar isso, Alice sugere:
“Vamos mudar o posicionamento de sentar a cada meia hora, até que cheguemos a
cada posicionamento possı́vel.”
“Mas você fica na cabeceira da mesa” diz George, “pois é seu aniversário.”
Quanto tempo essa festa vai durar? Quantos posicionamentos diferentes existem
(com o lugar de Alice fixo)?
Vamos preencher as cadeiras uma a uma, começando com a cadeira à direita de
Alice. Podemos por aqui qualquer um dos 6 convidados. Agora olhe para a segunda
cadeira. se Bob senta na primeira cadeira, podemos por aqui qualquer um dos 5 con-
vidados remanescentes; se Carl senta aı́, temos novamente 5 escolhas, etc. Portanto o
número de maneiras de preencher as primeiras duas cadeiras é





 
  . De forma semelhante, não importa como preenchemos as primeiras duas
cadeiras, temos 4 escolhas para a terceira cadeira, o que dá   maneiras de preen-
cher as primeiras três cadeiras. Continuando de forma semelhante, encontramos que o
   
número de maneiras de sentar os convidados é      .
Se eles trocam de assentos a cada meia hora, isso leva 360 horas, isto é, 15 dias
para passar por todas as ordens de assentamento. Que festa, pelo menos no que diz

1
respeito à duração!

1.1 Quantas maneiras essas pessoas podem ser sentadas à mesa, se Alice também pode sentar
em qualquer lugar?

Após o bolo, a turma quer dançar (rapazes com garotas, lembre-se, essa é uma festa
européia conservadora). Quantos pares possı́veis podem ser formados?
OK, essa é fácil: existem 3 garotas, e cada uma pode escolher um dos 4 rapazes, e
 
isso faz  pares possı́veis.
Após cerca de dez dias, eles realmente precisam de algumas idéias novas para man-
ter a festa acontecendo. Frank tem uma:
“Vamos fazer uma vaquinha e tirar um prêmio na loteria! Tudo o que temos que
fazer é comprar um número suficiente de bilhetes tal que independente do que eles sor-
teiem, devemos ter um bilhete com os números certos. De quantos bilhetes precisamos
para isso?”
(Na loteria sobre a qual eles estão falando, 5 números são selecionados de 90.)
“Isso é como o assentamento” diz George, “Suponha que façamos o jogo de modo
que Alice marca um número, então ela passa o bilhete a Bob, que marca um número e

 
o passa a Carl, Alice tem 90 escolhas, e independente do que ela escolha, Bob tem

89 escolhas, de modo que existem  escolhas para os primeiros dois números, e
continuando de forma semelhante, chegamos a 
    escolhas possı́veis
para os cinco números.”
“Na verdade, acho que essa é como a questão do aperto de mão” diz Alice. “Se
preenchermos os bilhetes da maneira que você sugeriu, obtemos o mesmo bilhete mais
que uma vez. Por exemplo, haverá um bilhete onde eu marco 7 e Bob marca 23, e um
outro onde eu marco 23 e Bob marca 7.”
Carl salta e diz:
     
“Bem, vamos imaginar um bilhete, digamos, com números  e  . De
quantas maneiras o obtemos? Alice poderia ter marcado quaisquer deles; qualquer que
fosse o que ela marcou, Bob poderia ter marcado qualquer dos quatro restantes. Agora
 
esse é realmente como o problema do assentamento. Obtemos todo bilhete     
vezes.”
“Portanto” conclui Diane, “se preenchermos os bilhetes da maneira que George

propôs, então dentre os 
  

  bilhetes que obtemos, toda 5-tupla ocorre
não apenas uma vez, mas      vezes. Portanto o número de diferentes bilhetes
é apenas 
   
  
 
  
Precisamos somente de comprar esse número de bilhetes.”
Alguém com uma boa calculadora de bolso calculou esse valor numa olhadela;
era 43.949.268. Portanto eles tiveram que decidir (recordem, isso acontece em um
paı́s europeu pobre) que eles não têm dinheiro suficiente para comprar tantos bilhetes.
(Além disso, eles ganhariam muito menos. E para preencher tantos bilhetes estragaria



a festa )

2
Portanto eles decidiram jogar cartas ao invés de loteria. Alice, Bob, Carl e Diane
jogam bridge. Olhando para suas cartas, Carl diz: “Acho que eu tinha a mesma mão na
última vez.”
“Isso é muito improvável” diz Diane.
Quão improvável? Em outras palavras, quantas mãos diferentes pode-se ter em
bridge? (O baralho tem 52 cartas, cada jogador recebe 13.) Esperamos que você o
tenha notado: isso é essencialmente a mesma questão que a loteria. Imagine que Carl
pega suas cartas uma a uma. A primeira carta pode ser qualquer uma das 52 cartas; o
que quer que ele pegou primeiro, existem 51 possibilidades para a segunda carta, de

modo que existem  possibilidades para as primeiras duas cartas. Argumentando
   
 
semelhantemente, vemos que existem     possibilidades para as 13
cartas.
Mas, agora toda mão foi contada muitas vezes. Na verdade, se Eve chega a kibitz
e olha nas cartas de Carl depois que ele as arrumou, e tenta adivinhar (não sabemos
por que) a ordem na qual ele as escolheu, ela poderia pensar: “Ele poderia ter pe-
gado qualquer das 13 cartas primeiro; ele poderia ter pegado qualquer das 12 cartas

 
remanescentes segundo; qualquer das 11 cartas remanescentes terceiro; Aha, isso é
  
  
novamente como o assentamento: existem     ordens nas quais ele poderia
ter pegado suas cartas.”
Mas isso significa que o número de mãos diferentes em bridge é
   
 
          
  
      
   
Portanto, a chance de que Carl tivesse a mesma mão duas vezes seguidas é uma em
635.013.559.600, muito pequena mesmo.
Finalmente, os seis convidados decidem jogar xadrez. Alice, que só quer assistı́-los,
prepara 3 tabuleiros.
“De quantas maneiras vocês turma podem ser emparelhados um com outro?” ela
questiona. “Isso é claramente o mesmo problema que sentar vocês em seis cadeiras;
 
não importa se as cadeiras estão ao redor da mesa de jantar ou nos três tabuleiros.
Portanto, a resposta é como antes.”
“Acho que você não devia contar como um emparelhamento diferente se duas pes-
soas no mesmo tabuleiro trocam de lugar” diz Bob, “e não deveria importar que par
senta diante de qual tabuleiro.”
“Sim, acho que temos que concordar sobre o que a questão realmente significa”
adiciona Carl. “Se incluirmos nela quem joga com as brancas em cada tabuleiro, então
se um par troca de lugar obtemos de fato um emparelhamento diferente. Mas Bob está
certo de que não importa qual par usa qual tabuleiro.”
“O que você quer dizer com não importa? Você senta diante do primeiro tabuleiro,
que é o mais próximo ao amendoim, e eu sento diante do último, que é o mais distante”
diz Diane.
“Vamos simplesmente nos fixar à versão de Bob da questão” sugere Eve. “Não é
difı́cil, na verdade. É como nos apertos de mão: a cifra de Alice de 720 conta cada
emparelhamento várias vezes. Poderı́amos rearranjar os 3 tabuleiros de 6 maneiras
diferentes, sem mudar o emparelhamento.”

3
 
“E cada par pode ou não trocar de lado” adiciona Frank. “Isso significa  

  maneiras de rearranjar as pessoas sem trocar o emparelhamento. Portanto, na
realidade existem     maneiras de sentar todas as quais significam o mesmo
  
emparelhamento. Os 720 modos de sentar vêm em grupos de 48, e portanto o número
de emparelhamentos é 
  .”
“Acho que ainda existe outra maneira de chegar nisso” diz Alice após algum tempo.
“Bob é o mais jovem, portanto deixe-o escolher um parceiro primeiro. Ele pode esco-
lher seu parceiro de 5 maneiras. Quem quer que seja o mais jovem entre os restantes,
pode escolher seu ou sua parceiro(a) de 3 maneiras, e isso resolve o emparelhamento.

Portanto o número de emparelhamento é   .”
“Bem, é bom ver que chegamos na mesma cifra por dois argumentos realmente
diferentes. No mı́nimo, é reconfortante” diz Bob, e nesse tom feliz deixamos a festa.

1.2 Qual é o número de “emparelhamentos” no sentido de Carl (quando importa quem senta
em qual lado do tabuleiro, mas os tabuleiros são todos iguais), e no sentido de Diane (quando é
o contrário)?

1.3 Qual é o número de “emparelhamentos” (nos vários sentidos como acima) em uma festa de
10?

1.2 Conjuntos e similares


Queremos formalizar asserções como “o problema de contar o número de mãos em
bridge é essentialmente o mesmo que o problema de contar bilhetes na loteria”. A
ferramenta mais básica em matemática que ajuda aqui é a noção de conjunto. Qualquer
coleção de coisas, chamadas de elementos, é um conjunto. O baralho é um conjunto,
cujos elementos são as cartas. Os participantes da festa formam um conjunto, cujos
elementos são Alice, Bob, Carl, Diane, Eve, Frank e George (vamos representar esse
conjunto por  ). Todo bilhete de loteria contém um conjunto de 5 números.
Para a matemática, vários conjuntos de números são importantes: o conjunto dos
reais, representado por  ; o conjunto dos números racionais, representado por
 ; o conjunto
números
dos inteiros, representado por  ; o conjunto dos inteiros não-negativos,
representado por  ; o conjunto dos inteiros positivos, representado por  . O conjunto
vazio, o conjunto sem qualquer elemento, é um outro conjunto importante (embora não
muito interessante); ele é representado por .
Se
é um conjunto e é um elemento de
, escrevemos 
. O número de
elementos de um conjunto
(também chamado de cardinalidade de
) é representado

por 
 . Por conseguinte,   ;   ; e   (infinito).1
Podemos especificar um conjunto listando seus elementos entre chaves; portanto
  Alice, Bob, Carl, Diane, Eve, Frank, George 
é o conjunto de participantes da festa de aniversário de Alice, ou
     
  
1 Em matemática, pode-se distinguir vários nı́veis de “infinitude”; por exemplo, pode-se distinguir entre
 
as cardinalidades de e . Esse é o assunto da teoria dos conjuntos e não nos diz respeito aqui.

4
é o conjunto de números no bilhete de loteria de meu tio. Às vezes substituı́mos a lista
por uma descrição verbal, como

 Alice e seus convidados 


Frequentemente especificamos um conjunto por uma propriedade que destaca os ele-
mentos em um grande “universo” como os números reais. Escrevemos então essa pro-
priedade dentro das chaves, mas após os dois pontos. Por conseguinte
 
  
é o conjunto dos inteiros não-negativos (que chamamos   anteriormente), e

  é uma garota    Alice, Diane, Eve 

(representamos esse conjunto por  ). Deixe-me também dizer a você que

  tem mais de 21 anos   Alice, Carl, Frank 


(representamos esse conjunto por  ).
Um conjunto
é chamado de subconjunto de um conjunto , se todo elemento de

é também um elemento de . Em outras palavras,


consiste de certos elementos de
. Permitimos que
consista de todos os elementos de (caso em que

), ou
de nenhum deles (caso em que
 ). Portanto, o conjunto vazio é um subconjunto
de todo conjunto. A relação que diz que
é um subconjunto de é representada por

. Por exemplo, entre os vários conjuntos de pessoas consideradas acima,  
e   . Entre os conjuntos de números, temos uma longa cadeia:

      
A notação

 quer dizer que


é um subconjunto de e diferente de . Na cadeia
acima, poderı́amos substituir o sı́mbolo de por  .
Se temos dois conjuntos, podemos definir vários outros conjuntos a partir da ajuda
deles. A interseção de dois conjuntos é o conjunto consistindo daqueles elementos
que são elementos de ambos os conjuntos. A interseção de dois conjuntos
e é
representada por
 . Por exemplo, temos    Alice  . Dois conjuntos
cuja interseção é o conjunto vazio (em outras palavras, não têm qualquer elemento em
comum) são chamados disjuntos.
A união de dois conjuntos é o conjunto consistindo daqueles elementos que são
elementos em pelo menos um dos conjuntos. A união de dois conjuntos
e é repre-
sentada por
 . Por exemplo, temos   Alice, Carl, Diane, Eve, Frank  .
A diferença de dois conjuntos
e é o conjunto de elementos que pertencem a

mas não a . A diferença de dois conjuntos


e é representada por
 . Por
exemplo, temos    Diane, Eve  .
A diferença simétrica de dois conjuntos
e é o conjunto de elementos que
pertencem a exatamente um deles:
ou . A diferença simétrica de dois conjuntos
e
é representada por
! . Por exemplo, temos "   Carl, Diane, Eve, Frank  .
Interseção, união, e os dois tipos de diferença são semelhantes à adição,
multiplicação, subtração: elas são operações sobre conjuntos, ao invés de operações

5
A A

C B C B

Figura 1.1: O diagrama de Venn de três conjuntos, e os conjuntos em ambos os lados


de (1.1).

sobre números. Tal qual operações sobre números, operações de conjuntos obedecem
a muitas regras (identidades) úteis. Por exemplo:
  

    

 


(1.1)
Para ver que isso é o caso, pense num elemento que pertence ao conjunto no lado
esquerdo. Então temos
e também   . Essa última asserção é a mesma
que dizer que ou ou
 . Se , então (como também temos
)
temos
 . Se  
, então, de modo semelhante, obtemos
 . Portanto
sabemos
 ou
  . Pela definição da união de dois conjuntos, isso é o
   
mesmo que dizer que
 
 .
Reciprocamente, considere um elemento que pertence ao lado direito. Pela
definição de união, isso significa que
 ou
 
. No primeiro caso,
temos
e também
. No segundo, obtemos
e também  .
Portanto em qualquer dos casos
, e temos ou , o que implica que

 . Mas isso significa que
  .  
Esse tipo de argumento fica um tanto cansativo, muito embora não existe nada
nele a não ser lógica elementar. Um problema com ele é que é tão comprido que
é fácil cometer um erro no argumento. Existe uma boa maneira gráfica de suportar

tais argumentos. Representamos os conjuntos
, e por três cı́rculos sobrepostos
(Figura 1.1). Imaginamos que os elementos em comum de
, e são colocados 
na parte comum dos três cı́rculos; aqueles elementes de
que também estão em

mas não em são colocados na parte comum dos cı́rculos
e fora de , etc. Esse 
desenho é chamado de diagrama de Venn dos três conjuntos.
Agora onde estão aqueles elementos no diagrama de Venn que pertencem ao lado

esquerdo de (1.1)? Temos que formar a união de e , que é o conjunto cinza em
(1.1(a)), e então intersectá-lo com
, para obter a parte cinza escuro. Para obter o
conjunto no lado direito, temos que formar os conjuntos
 e
 (marcados por
linhas verticais e horizontais, respectivamente), e então formar sua união. Está claro
a partir da figura que obtemos o mesmo conjunto. Isso ilustra que diagramas de Venn
provêem uma maneira segura e fácil de provar tais identidades envolvendo operações
de conjuntos.

6
A identidade (1.1) é boa e um tanto fácil de lembrar: se pensamos na “união”
como um tipo de adição (isso é um tanto natural), e “interseção” como um tipo de

 
multiplicação (hmm não tão claro por que, talvez após aprendermos sobre proba-
bilidade no Capı́tulo 5 você verá), então vemos que (1.1) é completamente análoga à
conhecida regra distributiva para números:


   


Essa analogia vai mais longe? Vamos pensar sobre as outras proprieadades de
adição e multiplicação. Duas proporiedades importantes são que elas são comutativas::
 



e associativa:

 



     
Acontece que essas são também propriedades das operações de união e interseção:


  

  
 (1.2)

e

    
 


  
 
  
 (1.3)
A prova dessas identidades fica para o leitor como exercı́cio.
Advertência! Antes de ir longe demais com essa analogia, vamos apontar para o
fato de que existe uma outra lei distributiva para conjuntos:


    

 


   (1.4)

Chegamos nisso simplesmente trocando “união” e “interseção” em (1.1). (Essa identi-


dade pode ser provada tal qual (1.1), veja o Exercı́cio 1.19.) Essa segunda distributivi-
dade é algo que não tem análogo para números: em geral,


 
 


 
para três números . 
Existem outras identidades importantes envolvendo união, interseção, e também
os dois tipos de diferença. Essas são úteis, mas não muito profundas: elas refletem a
lógica simples. Portanto não as listamos aqui, mas enunciamos várias delas adiante nos
exercı́cios.

1.4 Dê exemplo de conjuntos cujos elementos são (a) edifı́cios, (b) pessoas, (c) estudantes, (d)
árvores, (e) números, (f) pontos.

1.5 Quais são os elementos dos seguintes conjuntos: (a) exército, (b) humanidade, (c) biblio-
teca, (d) o reino animal?

1.6 Nomeie conjuntos tendo cardinalidade (a) 52, (b) 13, (c) 32, (d) 100, (e) 90, (f) 2.000.000.

1.7 Quais são os elementos do seguinte (reconhecidamente peculiar) conjunto: Alice   


 ?
7
1.8 O termo “elemento de um conjunto” é um caso especial de um “subconjunto de um con-
junto”?

 
 . Quantos você obtém?
1.9 Liste todos os subconjuntos de 

1.10 Defina pelo menos três conjuntos, dos quais  Alice, Diane, Eve é um subconjunto.

1.11 Liste todos os subconjuntos de       


  , contendo  mas não contendo  .

1.12 Defina um conjunto dos quais ambos 


   e      são subconjuntos. Encontre tal
conjunto com um menor número possı́vel de elementos.

           
1.13 (a) Que conjunto você chamaria de união de    ,   
e  
?
(b) Encontre a união dos primeiros dois conjuntos, e então a união desse com o terceiro.
Também, encontre a união do último dos dois conjuntos, e então a união desse com o primeiro
conjunto. Tente formular o que você observou.
(c) Dê uma definição da união de mais de dois conjuntos.

1.14 Explique a conexão entre a noção da união de conjuntos e o exercı́cio 1.12.

1.15 Formamos a união de um conjunto com 5 elementos e um conjunto com 9 elementos.


Quais dos seguintes números podemos obter como a cardinalidade da união: 4, 6, 9, 10, 14, 20?

1.16 Formamos a união de dois conjuntos. Sabemos que um deles tem  elementos e o outro
tem  elementos. Que podemos inferir sobre a cardinalidade da união?

 
 
 
1.17 Qual é a interseção
(a) dos conjuntos   e   ;
(b) do conjunto de garotas nessa classe e o conjunto de garotos nessa classe;
(c) do conjunto dos números primos e o conjunto de números pares?

1.18 Formamos a interseção de dois conjuntos. Sabemos que um deles tem  elementos e o
outro tem  elementos. Que podemos inferir sobre a cardinalidade da interseção?

1.19 Prove (1.2), (1.3) e (1.4).

1.20 Prove que    ! "  .

1.21 (a) Qual é a diferença simétrica do conjunto #%$ de inteiros não-negativos e o conjunto &
     
de inteiros pares ( &' )(((+* *,  ((( contém inteiros pares tanto negativos quanto
positivos).
(b) Formamos a diferença simétrica de  e  , para obter um conjunto - . Formamos a
diferença simétrica de  e - . O que você obteve? Dê uma prova da resposta.

8
1.3 O número de subconjuntos
Agora que introduzimos a noção de subconjuntos, podemos formular nosso primeiro
problema combinatório geral: qual é o número de todos os subconjuntos de um con-
junto com elementos?
Começamos tentanto com números pequenos. Não tem qualquer importância o que
são os elementos do conjunto; chamamos
 

etc. O conjunto vazio tem apenas um
subconjunto (a saber, ele próprio). Um conjunto com um único elemento, digamos   ,
tem dois subconjuntos: o conjunto próprio   e o conjunto vazio . Um conjunto com
   
dois elementos, digamos   tem quatro subconjuntos:     e   . Dá mais
 
trabalho listar todos os subconjuntos de um conjunto   com 3 elementos: 
 
               
(1.5)
Podemos fazer uma pequena tabela com esses dados:
No. de elementos 0 1 2 3
No. of subconjuntos 1 2 4 8
Olhando para esses valores, observamos que o número de subconjuntos é uma potência

de 2: se o conjunto tem elementos, o resultado é , pelo menos nesses pequenos
exemplos.
Não é difı́cil ver que essa é sempre a resposta. Suponha que você tenha que sele-
cionar um subconjunto de um conjunto
com elementos; vamos chamar esses ele-
 
 
  
mentos   . Então podemos ou não querer incluir  , em outras palavras,
podemos tomar duas possı́veis decisões nesse ponto. Não importa o que decidimos
sobre  , podemos ou não querer incluir  no subconjunto; isso significa duas de-
cisões possı́veis, e portanto o número de maneiras que podemos decidir sobre  e 
 
é    . Agora não importa como decidimos sobre  e  , temos que decidir sobre

, e podemos novamente decidir de duas maneiras. Cada uma dessas maneiras pode
ser combinada com cada uma das 4 decisões que poderı́amos ter tomado sobre  e  ,
 
o que perfaz    possibilidades para decidir sobre   e
.
Podemos continuar de modo semelhante: não importa como decidimos sobre os
primeiros elementos, temos duas decisões possı́veis sobre o seguinte, e portanto so o
número de possibilidades dobra sempre que tomamos um novo elemento. Para decidir
 
sobre todos os elementos do conjunto, temos possibilidades.
Daı́, derivamos o teorema seguinte.

Teorema 1.3.1 Um conjunto com elementos tem subconjuntos.
Podemos ilustrar o argumento usado na prova através da imagem que aparece na
Figura 1.2. Lemos essa figura da seguinte forma. Desejamos selecionar um subcon-
junto chamado . Começamos do cı́rculo no topo (chamado de n ó). O nó contém uma
pergunta:  é um elemento de ? As duas setas saindo desse nó são rotuladas com as
duas possı́veis respostas a essa pergunta (Sim e Não). Tomamos uma decisão e segui-
mos a seta apropriada (também chamada de aresta) rumo ao nó na outra extremidade.
Esse nó contém a próxima pergunta:  é um elemento de ? Siga a seta correspon-
dente à sua resposta rumo ao próximo nó, que contém a terceira (e nesse caso a última)

9
a S
S N

b S b S

S N S N

c S c S c S c S

S N S N S N S N

abc ab ac a bc b c 

Figura 1.2: Uma árvore de decisão para selecionar um subconjunto de   .

pergunta que você deve responder para determinar o subconjunto:


é um elemento de
? Dando uma resposta e seguindo a seta apropriada chegamos a um nó, que contém
uma listagem dos elementos de .
Por conseguinte, selecionar um subconjunto corresponde a descer nesse diagrama
de cima para baixo. Existem tantos subconjuntos de nosso conjunto quanto nós no


último nı́vel. Como o número de nós dobra de nı́vel para nı́vel ao descer, o último

nı́vel contém   nós (e se tivéssemos um conjunto de -elementos, ele conteria
nós).
Observação. Uma figura como essa é chamada de árvore.. (Isso não é uma definição
matemática; essa virá mais tarde.) Se você quiser saber por que a árvore está crescendo
de cabeça para baixo, pergunte aos cientistas da computação que introduziram essa
convenção. (A sabedoria convencional é que eles nunca saı́ram da sala, e por isso eles
nunca viram uma árvore de verdade.)
Podemos dar uma outra prova do teorema 1.3.1. Novamente, a resposta ficará es-
clarecida se fizermos uma pergunta sobre subconjuntos. Mas, agora não queremos sele-
cionar um subconjunto; o que queremos é enumerar subconjuntos, o que significa que
 
 
 
desejamos rotulá-los com números de modo que possamos falar, digamos,
sobre o subconjunto de No. 23 do conjunto. Em outras palavras, queremos arranjar os
subconjuntos do conjunto em uma lista e então falar sobre o 23 subconjunto da lista. 

(Na verdade desejamos chamar o primeiro subconjunto da lista de No. 0, o segundo


subconjunto na lista de No. 1 etc. Isso é um pouco estranho mas, dessa vez são os
lógicos os culpados. Na realidade, você achará isso um tanto natural e conveniente
após algum tempo.)
Existem muitas maneiras de ordenar os subconjuntos de um conjunto para formar
uma lista. Uma coisa razoavelmente natural a fazer é começar com , e então listar
todos os subconjuntos com 1 elemento, então listar todos os subconjuntos com 2 ele-
mentos, etc. Essa é a maneira pela qual a lista (1.5) é montada.
Uma outra possibilidade é ordenar os subconjuntos como um catálogo telefônico.

10
Esse método será mais transparente se escrevermos os subconjuntos sem chaves e
 
vı́rgulas. Para os subconjuntos de   , obtemos a lista 
 

 
      
Essas são de fato maneiras úteis e naturais de listar todos os subconjuntos. Entre-
tanto, elas têm uma limitação. Imagine a lista dos subconjuntos de 10 elementos, e se
  
pergunte qual é o  subconjunto da lista, sem na verdade escrever a lista inteira.
Isso seria difı́cil! Existe uma maneira de torná-la mais fácil?
Vamos começar com uma outra maneira de representar subconjuntos (uma outra
codificação no jargão matemático). Ilustramos tal maneira para os subconjuntos de

    . Olhamos para os elementos um por um, e escrevemos um 1 se o elemento
ocorre no subconjunto e um 0 se ele não ocorre. Por conseguinte, para o subconjunto
   , escrevemos  , pois está no subconjunto, não está, e está novamente.
 
Dessa maneira todo subconjunto é “codificado” por uma cadeia de comprimento 3,
consistindo de 0’s e 1’s. Se especificarmos qualquer cadeia dessa, podemos facilmente
extrair dela o subconjunto ao qual ela corresponde. Por exemplo, a cadeia 010 corres-
ponde ao subconjunto   , pois o primeiro 0 nos diz que não está no subconjunto, o
1 que segue nos diz que está lá, e o último 0 nos diz que não está lá. 
Agora tais cadeias consistindo de 0’s e 1’s nos remetem à representação binária
de inteiros (em outras palavras, representações na base 2). Vamos recordar a forma
binária de inteiros não-negativos até 10:
 

 
  

  


  
 
 
 

 
  


  
 

 
  
 
  
 

    
 

(Colocamos o ı́ndice 2 aı́ para nos lembrar que estamos trabalhando na base 2, e não
10.)
  

 
Agora as formas binárias de inteiros parecem quase como “códigos” de
subconjuntos; a diferença é que a forma binária de um inteiro sempre começa com um
1, e os primeiros 4 desses inteiros têm formas binárias mais curtas que 3, enquanto
que todos os códigos de subconjuntos consistem de exatamente 3 dı́gitos. Podemos
fazer essa diferença desaparecer se acrescentarmos 0’s às formas binárias nos seus
inı́cios, para fazê-las todas ficar com o mesmo comprimento. Dessa maneira obtemos

11
a seguinte correspondência:

    
  
 
 
 
   
 
   
  

 
  
  

 
 


        
 
Portanto vemos que os subconjuntos de   correspondem aos números
  

 
 

.
O que acontece se considerarmos, em geral, subconjuntos de um conjunto com
elementos? Podemos argumentar tal qual foi feito acima, para obter que os subconjun-
tos de um conjunto de elementos correspondem aos inteiros, começando com 0, e
terminando com o maior inteiro que tem apenas dı́gitos na sua representação binária


(dı́gitos na representação binária são usualmente chamados de bits). Agora o menor
 
número com
bits é , portanto os subconjuntos correspondem aos números
  
 
    
. Está claro que a quantidade desses números é , daı́ a quantidade
 
de subconjuntos é .
Agora podemos responder à nossa pergunta sobre o 233 subconjunto de um con- 


junto de 10 elementos. Temos que converter 233 à notação binária. 233 é ı́mpar,
portanto seu último dı́gito binário (bit) será 1. Vamos cortar fora esse último  bit. Isso é
   
 . 

o mesmo que subtrair 1 de 233 e depois dividı́-lo por 2: obtemos


Esse número é par, portanto  seu último bit será 0. Vamos cortar fora esse bit no-
 
   
  . Novamente, o último é 0, e cortando-o fora
  
vamente; obtemos
obtemos   


. Esse é ı́mpar, portanto seu último bit  é 1, e cortando-o fora
 
obtemos

     . Cortando fora um 0, obtemos    ; cortando fora
 
 ; cortando fora um 1, obtemos


 ; cortando

um 1, obtemos


 
fora um 1, obtemos 0. Portanto a forma binária de 233 é 11101001.
     
Segue que se  são os elementos de nosso conjunto, então o 233 subcon-
    

junto de um conjunto de 10-elementos consiste dos elementos   .




Comentários. Apresentamos duas provas do teorema 1.3.1. Você pode estar se per-
guntando por que precisamos de duas provas. Certamente não porque uma única prova
não teria provido suficiente confiança na veracidade do enunciado! Diferentemente de
um procedimento legal, uma prova matemática ou dá absoluta certeza ou então ela é
inútil. Não importa quantas provas incompletas apresentemos, elas não se somam para
compor uma prova completa.
Aliás, a propósito, poderı́amos lhe pedir para confiar, e não apresentar qualquer
prova. Mais adiante em alguns casos isso será necessário, quando enunciaremos teo-
remas cuja prova é longa demais ou complicada demais para ser incluı́da nesse livro
introdutório.
Portanto, por que cuidamos de apresentar uma prova, imagine duas provas do
mesmo enunciado? A resposta é que toda prova revela muito mais que apenas o sim-
ples fato enunciado no teorema, e esse elemento a mais pode ser mais valioso que o

12
próprio teorema. Por exemplo, a primeira prova apresentada acima introduziu a idéia
de quebrar a seleção de um subconjunto em decisões independentes, e a representação
dessa idéia por uma “árvore de decisão”; usaremos essa idéia repetidamente.
A segunda prova introduziu a idéia de enumeração desses subconjuntos (rotulando-
  
 

os com inteiros ). Também vimos um método importante de contagem: es-


tabelecemos uma correspondência entre os objetos que desejamos contar (os subcon-
juntos) e alguns outros tipos de objetos que podemos contar facilmente (os números
  

   
). Nessa correspondência
— para todo subcojunto, tı́nhamos exatamente um número correspondente, e
— para todo número, tı́nhamos exatamente um subconjunto correspondente.
Uma correspondência com essas propriedades é chamada de uma correspondência
um-para-um (ou bijeção). Se pudermos fazer uma correspondência um-para-um entre
os elementos de dois conjuntos, então eles têm o mesmo número de elementos.

1.22 Dada a correspondência entre números e subconjuntos descrita acima, que números cor-
respondem a (a) subconjuntos com 1 elemento, (b) o conjunto todo? (c) Que conjuntos corres-
pondem a números pares?

1.23 Qual é o número de subconjuntos de um conjunto com  elementos, contendo um dado


elemento?

1.24 Mostre que um conjunto não-vazio tem o mesmo número de subconjuntos ı́mpares (i.e.,
subconjuntos com um número ı́mpar de elementos) que subconjuntos pares.

1.25 Qual é o número de inteiros com (a) no máximo  dı́gitos (decimais); (b) exatamente 
dı́gitos (não esqueça que existem números positivos e negativos!)?

1.4 O número aproximado de subconjuntos


Portanto sabemos

 
que o número de subconjuntos de um conjunto de 100 ele-
mentos é . Esse é um número grande, mas quão grande? Seria bom sa-
ber, no mı́nimo, quantos dı́gitos terá na forma decimal usual. Usando computa-
dores, não seria muito difı́cil encontrar a forma decimal desse número (
           

 

  
Sabemos

que
 
  
 
 ), mas suponha que não tenhamos computado-
res à mão. Podemos
pelo menos estimar a ordem

de magnitude desse número?
  
, e daı́
 
  
. Por conseguinte,




    

 
 .
Agora 

máximo  dı́gitos.
Sabemos também que
 

é um 2 seguido por zeros; ele tem  dı́gitos, e portanto

 



 

 



tem no

; esses dois números são bastante


 
próximos um do outro2. Daı́  , o que significa que tem pelo menos
dı́gitos.
2 O fato de que  
é tão prx́imo a   é usado — ou mesmo mal-usado — no nome “kilobyte”, que sig-

nifica   bytes, embora ele devesse significar 1000 bytes, tal qual um “kilograma” significa 1000 gramas.
Igualmente, “megabyte” significa 
bytes, o que é próximo a 1 milhão de bytes, mas não exatamente igual.

13
Isso nos dá uma idéia razoavelmente boa do tamanho de
 

. Com um pouco mais


de matemática de segundo grau, podemos obter exatamente
o número de dı́gitos. O que
 
significa dizer que um número tem exatamente dı́gitos? Significa que ele está entre

e

(o limitante inferior é permitido, o superior não). Desejamos encontrar o



valor de para o qual
       
  
Agora podemos escrever  na forma , apenas não será um inteiro: o valor
  
apropriado de é  


. Temos então
  

o que significa que


 é o maior inteiro não superior a . Matemáticos têm um nome
para isso: é a parte inteira ou piso de , e é representada por  . Podemos também
dizer que obtemos arredondando para baixo para o próximo inteiro. Há também
um nome para o número obtido arredondando-se para cima para o próximo inteiro:
ele é chamado de teto de , e representado por   .



 Usando
  qualquer calculadora

, portanto

. Por conseguinte
 

   cientı́fica


  
(ou tabela de logaritmos), vemos que 

, e aproximando isso para baixo obtemos que


tem 31 dı́gitos.

1.26 Quantos bits (dı́gitos binários)  



tem se for escrito na base  ?

1.27 Encontre uma fórmula para o número de dı́gitos de  .

1.5 Seqüências
Motivados pela “codificação” de subconjuntos como cadeias de 0’s e 1’s, podemos
querer determinar o número de cadeias de comprimento compostas de algum outro

conjunto de sı́mbolos, por exemplo, , e . O argumento que demos para o caso de 0’s
e 1’s pode ser transportado para esse caso sem qualquer mudança essencial. Podemos
observar que para o primeiro elemento da cadeia, podemos escolher qualquer dos , e
, isto é, temos 3 escolhas. Independentemente do que escolhermos, existem 3 escolhas
 
para o segundo elemento da cadeia, de modo que o número de maneiras de escolher os
primeiros dois elementos é  . Continuando de maneira

semelhante, obtemos que
o número de maneiras de escolher a cadeia inteira é .
Na verdade, o número 3 não tem qualquer papel especial aqui; o mesmo argumento
prova o seguinte teorema:

Teorema 1.5.1 O número de cadeias de comprimento compostas de elementos

dados é .
O problema seguinte leva a uma generalização dessa questão. Suponha que um
banco de dados tem 4 campos: o primeiro, contendo uma abreviação de 8-caracteres
do nome de um empregado; o segundo, M ou F para o sexo; o terceiro, o aniversário
do empregado, no formato mm-dd-aa (desconsiderando o problema de não ser capaz
de distinguir empregados nascidos em 1880 de empregados nascidos em 1980); e o

14
quarto, um código de função que pode ser um de 13 possibilidades. Quantos registros
diferentes são possı́veis?
O número será certamente grande. Já sabemos do teorema 1.5.1 que o primeiro
         
campo pode conter   nomes (a maioria desses será muito difı́cil
de pronunciar, e não são prováveis de ocorrer, mas vamos contá-los todos como pos-
sibilidades). O segundo campo tem 2 entradas possı́veis; o terceiro, 36524 entradas
possı́veis (o número de dias em um século); o último, 13 entradas possı́veis.
Agora como determinamos o número de maneiras pelas quais essas entradas podem
ser combinadas? O argumento que descrevemos acima pode ser repetido, tal como
 
“3 escolhas” tem que ser substituı́do, na ordem, por “  escolhas”, “ escolhas”,
      
“   escolhas” e “13 escolhas”. Obtemos que a resposta é      
     
   .
Podemos formular a seguinte generalização do teorema 1.5.1. A prova consiste da
repetição do argumento acima.

Teorema 1.5.2 Suponha que desejemos formar cadeias de comprimento de modo


que possamos usar qualquer dos elementos de um dado conjunto de  sı́mbolos como
o primeiro elemento da cadeia, qualquer dos elementos de um dado conjunto de 
sı́mbolos como o segundo
elemento da cadeia, etc., qualquer dos elementos de um
dado conjunto de  sı́mbolos como o último
elemento da cadeia. Então o número


 
total de cadeias que podemos formar é      .
Como um outro caso especial, considere o problema: quantos inteiros não-
negativos têm exatamente dı́gitos (em decimal)? Está claro que o primeiro dı́gito
 
 
 
pode ser qualquer um dos 9 números ( ), enquanto que o segundo, terceiro,
etc. dı́gitos podem ser qualquer dos 10 dı́gitos. Por conseguinte obtemos um caso es-


  
com   e      
   
pecial da questão anterior . Por conseguinte a
resposta é  . (cf. exercı́cio 1.25).


1.28 Desenhe uma árvore ilustrando a maneira que contamos o número de cadeias de compri-
mento  formadas dos caracteres   e  , e explique como ela dá a resposta. Faça o mesmo para
  
o problema mais geral quando    ,   ,    ,   .

1.29 Numa loja de esportes, existem camisetas de 5 cores diferentes, calções de 4 cores dife-
rentes, e meias de 3 cores diferentes. Quantos uniformes diferentes você pode compor com esses
itens?

1.30 Em um bilhete de loteria esportiva, você tem que apostar 1, 2, ou X para cada um dos 13
jogos. De quantas maneiras você pode preencher o bilhete?

1.31 Jogamos um dado duas vezes; quantos resultados diferentes você pode ter? (Um 1 seguido
por um 4 é diferente de um 4 seguido por um 1.)

1.32 Temos 20 presentes diferentes que desejamos distribuir para 12 crianças. Não é exigido
que toda criança obtenha algo; poderia acontecer que damos todos os presentes à mesma criança.
De quantas maneiras podemos distribuir os presentes?

15
1.33 Temos 20 tipos de presentes; dessa vez, temos um grande suprimento de cada. Desejamos
dar presentes a 12 crianças. Novamente, não é exigido que toda criança obtenha algo; mas
nenhuma criança possa ganhar duas cópias do mesmo presente. De quantas maneiras podemos
dar presentes?

1.6 Permutações
Durante a festa, já havı́amos encontrado o problema: de quantas maneiras podemos
sentar pessoas em cadeiras (bem, havı́amos encontrado o problema para  
e 

, mas a questão é suficientemente natural para qualquer ). Se imaginarmos
que as cadeiras são numeradas, então encontrar um assentamento para essas pessoas
 
    
 
  
é o mesmo que associá-las aos números (ou se desejamos
agradar aos lógicos). Ainda uma outra maneira de dizer isso é ordenar as pessoas em
uma única fila, ou montar uma lista (ordenada) com seus nomes.
Se temos uma lista de objetos (um conjunto ordenado, onde é especificado qual
elemento é primeiro, segundo etc.), e os rearranjamos de modo que eles estejam em
uma outra ordem, isso é chamado de permutá-los; a nova ordem é também chamada de
uma permutação dos objetos. Também chamamos a rearrumação que não muda nada,
uma permutação (um pouco no espı́rito de chamar o conjunto vazio de um conjunto).
 

Por exemplo, o conjunto   tem as seguintes 6 permutações:
  
     
   

Portanto, a questão é determinar o número de maneiras pelas quais objetos podem


ser ordenados, i.e., o número de permutações de objetos. A solução encontrada pelas


pessoas na festa funciona em geral: podemos por qualquer das pessoas no primeiro
lugar; independentemente de quem escolhemos, temos escolhas para o segundo.


Portanto o número de maneiras de preencher as primeiras duas posições é .

 
Independentemente de como tenhamos preenchido a primeira e a segunda posições,

existem escolhas para a terceira posição, de modo que número de maneiras de
preencher as primeiras três posições é  
. 
Está claro que esse argumento continua assim até que todas as posições forem


preenchidas. A penúltima posição pode ser preenchida de duas maneiras; a pessoa


colocada na última posição é determinada, se as outras posições sejam preenchidas.
Por conseguinte, o número de maneiras de preencher todas as posições é   

 


 
  . Esse produto é tão importante que temos uma notação para ele: 
(leia fatorial). Em outras palavras,  é o número de maneiras de ordenar objetos.
Com essa notação, podemos enunciar nosso segundo teorema.

Teorema 1.6.1 O número de permutações de objetos é  .


Novamente, podemos ilustrar o argumento acima graficamente (Figura 1.3).
Começamos com o nó no topo, que põe nossa primeira decisão: quem devemos sen-
tar na primeira cadeira? As 3 setas saindo correspondem às três respostas possı́veis
à questão. Tomando uma decisão, podemos seguir uma das setas em direção ao nó
seguinte. Esse carrega o próximo problema de decisão: quem devemos colocar na se-
gunda cadeira? As duas setas saindo do nó representam as duas escolhas possı́veis.

16
1o.?
a b c

2o. ? 2o. ? 2o. ?

b c a c a b

abc acb bac bca cab cba

Figura 1.3: Uma árvore de decisão para selecionar uma permutação de   .

(Note que essas escolhas são diferentes para nós diferentes nesse nı́vel; o que é impor-
tante é que existem duas setas saindo de cada nó.) Se tomamos uma decisão e seguimos
a seta correspondente para o nó seguinte, sabemos quem senta na terceira cadeira. O


nó carrega a “ordem de assentamento” inteira.


Está claro que para um conjunto com elementos, setas deixam o nó no topo, e
portanto existem nós no nı́vel seguinte. setas saem de cada um desses, portanto
existem  nós no terceiro nı́vel.

setas saem de cada um desses, etc. O
nı́vel mais ao fundo tem  nós. Isso mostra que existem exatamente  permutações.

1.34  rapazes e  garotas saem para dançar. De quantas maneiras eles podem todos dançar
simultaneamente? (Assumimos que somente casais de sexo diferente dançam um com o outro.)

1.35 (a) De quantas maneiras 8 pessoas podem jogar xadrez na interpretação de Alice da
questão?
(b) Você pode dar uma fórmula geral para  pessoas?

1.7 O número de subconjuntos ordenados


 
Numa competição de atletas, apenas a ordem dos primeiros é registrada. Quan-
tos resultados diferentes tem a competição?
Essa questão pode ser respondida na linha dos argumentos que vimos. O primeiro
lugar pode ser vencido por qualquer dos atletas; independente de quem vença, existem
99 possı́veis vencedores do segundo lugar, de modo que os dois primeiros prêmios

podem sair de   maneiras. Dados os primeiros
 dois, existem 98 atletas que
 

podem ser terceiros, etc. Portanto a resposta é   .
1.36 Ilustre esse argumento por meio de uma árvore.

1.37 Suponha que registremos a ordem de todos os 100 atletas.


(a) Quantos resultados diferentes podemos então ter?
(b) Quantos desses dão o mesmo para os 10 primeiros lugares?
(c) Mostre que o resultado acima para o número de possı́veis resultados para os 10 primeiros
lugares podem também ser obtidos usando (a) e (b).

17
Não há nada especial sobre os números 100 e 10 no problema acima; poderı́amos

fazer o mesmo para atletas com os primeiros lugares registrados.
Para dar uma forma mais matemática ao resultado, podemos substituir os atletas
por qualquer conjunto
de tamanho . A lista dos primeiros lugares é dada por uma
seqüência de elementos de , de forma que todos têm que ser diferentes. Podemos
também ver esse procedimento como selecionando um subconjunto dos atletas com
elementos, e então os ordenando. Por conseguinte, temos o teorema a seguir.

  

 
Teorema 1.7.1 O número de subconjuntos ordenados com elementos de um conjunto

com elementos é
.

(Note que se começarmos com e contarmos números, o último será


.)

É longo demais falar em termos de “conjuntos com elementos” e “subconjuntos

 
com elementos”; daı́ é conveniente abreviar essas expressões para “ -conjuntos” e

-subconjuntos”. Portanto o número de -subconjuntos ordenados de um -conjunto é
 


. 
1.38 Se você generalizar a solução do exercı́cio 1.37, você obtém a resposta na forma

   
*

Verifique que esse é o mesmo número tal qual dado no teorema 1.7.1.

1.39 Explique a semelhança e a diferença entre as questões de contagem respondidas pelo teo-
rema 1.7.1 e pelo teorema 1.5.1.

1.8 O número de subconjuntos de um dado tamanho


Daqui, podemos facilmente derivar um dos mais importantes resultados de contagem.






Teorema 1.8.1 O número de -subconjuntos de um -conjunto é




  


Prova.
 
Recordemos que se contarmos subconjuntos ordenados, obtemos






 


, pelo Teorema 1.7.1. É claro que, se desejamos saber o
número de subconjuntos
não-ordenados, então contamos demais; todo subconjunto foi
contado exatamente vezes (com toda ordenação possı́vel de seus elementos). Por-

tanto temos que dividir esse número por para obter o número de subconjuntos com

elementos (sem ordenação). 

O número de -subconjuntos de um -conjunto  é uma quantidade tão importante

que é preciso uma notação separada para ele:   (leia: ‘de escolha ’). Por conse-


guinte,


 
 (1.6)

18

Daı́ o número de bilhetes de loteria diferentes é   , o número de apertos-de-mão é



   etc. Os números   são também chamados de coeficientes binomiais (na Seção 3.1
veremos por que).

1.40 Quais problemas discutidos durante a festa eram casos especiais do teorema 1.8.1?

1.41 Faça uma tabela com os valores de   para     .

1.42 Ache os valores de    para   *





  através de (1.6), e explique os resultados
por meio do significado combinatório de   .

Coeficientes binomiais satisfazem muitas igualdades importantes. No próximo te-


orema reunimos algumas dessas; algumas outras igualdades ocorrerão nos exercı́cios e
no próximo capı́tulo.

Teorema 1.8.2 Coeficientes binomiais satisfazem as seguintes igualdades:




 
 (1.7)

 
 
Se  , então




 (1.8)















  
(1.9)


Prova. Provamos (1.7) apelando para o significado combinatório de ambos os lados.
um conjunto de -elementos, digamos . O lado esquerdo conta subconjuntos
Temos
de -elementos de , enquanto que o lado direito conta subconjuntos de

- 

elementos de . Para ver que esses números são os mesmos, precisamos apenas ob-
servar que juntamente com todo subconjunto de -elementos vai um subconjunto de


-elementos: seu complemento de um conjunto, que contém exatamente aqueles
elementos de que não estão contidos no conjunto de -elementos. Isso emparelha

subconjuntos de -elementos com os subconjuntos de

-elementos, mostrando 
que existe o mesmo número de ambos.
Vamos provar (1.8) usando a fórmula algébrica (1.6). Após substituição, a igual-
dade fica

 



     

   
  

Podemos dividir ambos os lados por , e multiplicar por




 ;
então a identidade fica
   



que pode ser verificada por fácil manipulação algébrica.


Finalmente, provamos (1.9) através da interpretação combinatória novamente.
Mais uma vez, seja um conjunto de -elementos. O primeiro termo no lado esquerdo

19
conta os subconjuntos de 0-elementos de (existe apenas um, o conjunto vazio); o se-
gundo termo conta subconjuntos de 1-elemento; o próximo termo, subconjuntos de
2-elementos etc. Na soma completa, todo subconjunto de é contado exatamente uma
 
vez. Sabemos que (o lado direito) é o número de todos os subconjuntos de . Isso
prova (1.9), e completa a prova do Teorema 1.8.2. 

1.43 Encontre uma prova de (1.7) usando a fórmula algébrica para    , e de (1.8), usando o
significado combinatório de ambos os lados.

1.44 Prove que




 

   ; dê duas provas, uma usando a interpretação combi-


 
 
natória e a outra, usando a fórmula algébrica para os coeficientes binomiais.

  *

1.45 Prove (novamente, de duas maneiras) que 



  
*
 .

  
1.46 Prove (de duas maneiras) que para    ,

   "* 

     *    *  

Exercı́cios de Revisão
1.47 De quantas maneiras você pode assentar 12 pessoas em duas mesas redondas com 6 lu-
gares em cada uma? Pense nas possı́veis maneiras de definir quando dois assentamentos são
diferentes, e encontre a resposta para cada um.

1.48 Nomeie conjuntos com cardinalidade (a) 365, (b) 12, (c) 7, (d) 11.5, (e) 0, (f) 1024.

1.49 Liste todos os subconjuntos de   


      contendo     mas não contendo  .

1.50 Não escrevemos todas as relações de subconjunto entre vários conjuntos de números; por
exemplo, # também é verdadeiro. Quantas tais relações você pode encontrar entre os
    
conjuntos
# $ #  ?

1.51 Qual é a interseção entre


(a) o conjunto dos inteiros positivos cujo último dı́gito é 3, e o conjunto dos números pares;
(b) o conjunto dos números divisı́veis por 5 e o conjunto dos números pares?

    
1.52 Sejam     
e   
  . Liste todos os subconjuntos de 

cuja
interseção com  tenha elemento.

1.53 Três conjuntos têm 5, 10 e 15 elementos, respectivamente. Quantos elementos podem ter
sua união e sua interseção?

1.54 Qual é a diferença simétrica de  e  ?

20
1.55 Forme a diferença simétrica de  e  , para obter um conjunto - . Forme a diferença
simétrica de  e - . Que conjunto você obtém?

1.56 Sejam   -   três conjuntos e assuma que  é um subconjunto de - . Prove que


   
  -     - (
Mostre por um exemplo que a condição de que  é um subconjunto de - não pode ser omitida.

1.57 Qual é a diferença   , se 


(a)  é o conjunto dos números primos e  é o conjunto números ı́mpares?
(b)  é o conjunto dos números reais não-negativos e  é o conjunto dos números reais
não-positivos?

1.58 Prove que para quaisquer três conjuntos   - ,  


         

   
   -    -    -   - (

1.59 Seja  um conjunto e suponha que  represente o conjunto de todos os subconjuntos de




2-elementos de  . Qual dos seguintes enunciados é verdadeiro?

        
 

 

     

 
       
 

 

    

 

 
(


1.60 Seja  um subconjunto de  ,  "   ,   

. Qual é a quantidade de subconjuntos de


 cuja interseção com  tem elemento?

1.61 Calcule a forma binária de   e   , e calcule sua soma na notação binária. Verifique os
resultados em confronto com adicionar   e   na notação decimal usual, e então convertê-lo
para binário.

1.62 Prove que todo inteiro positivo pode ser escrito como a soma de potências diferentes de 2.
Prove também que para um dado número, existe apenas uma maneira de fazê-lo.

1.63 Começando de Washington, DC, de quantas maneiras você pode visitar 5 das outras 50
capitais de estado e retornar a Washington?

1.64 Encontre o número de todos os inteiros de 20-dı́gitos nos quais nenhum par de dı́gitos
consecutivos são iguais.

1.65 Alice tem  bolas (todas diferentes). Primeiro, ela as divide em duas pilhas; então ela
apanha uma das pilhas com pelo menos dois elementos, e a divide em duas; ela repete isso até
que cada pilha tenha apenas um elemento.
(a) Quantos passos isso leva?
(b) Mostre que número de maneiras diferentes nas quais ela pode realizar esse procedimento


  
   
(((
   
(



[Dica: imagine o procedimento de trás-para-frente.]

21
1.66 Você deseja enviar cartões postais a 12 amigos. Na loja, existem apenas 3 tipos de cartões
postais. De quantas maneiras você pode enviar os cartões postais, se
(a) existe um número grande de cada cartão postal, e você deseja enviar um cartão a cada
amigo;
(b) existe um número grande de cada cartão postal, e você deseja enviar um ou mais cartões
para cada amigo (mas ninguém deve receber dois cartões idênticos);
(c) a loja tem apenas 4 exemplares de cada cartão, e você deseja enviar um cartão para cada
amigo?

1.67 Qual é o número de maneiras de colorir  objetos com 3 cores, se cada cor tem que ser
usada pelo menos uma vez?

1.68 Desenhe uma árvore para solução de Alice de quantificar o número de maneiras que 6
pessoas podem jogar xadrez, e explique o argumento de Alice usando a árvore.

1.69 Quantas palavras diferentes você pode obter rearranjando as letras da palavra MA-
TEMÁTICA?

1.70 Encontre todos os inteiros positivos  ,  e  para os quais

  
 (
     

1.71 Prove que


 *   *   * 


 

  
*
  
*  
(

1.72  pessoas estão sentadas ao redor de uma mesa. De quantas maneiras podemos escolher
 pessoas, sem que nunca duas delas sejam vizinhas?

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