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TEORIA DE CATEGORIAS: UMA INTRODUÇÃO.

MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO


Prefácio

Após a experiência de escrever um artigo de divulgação sobre Teoria de Categorias,


pensamos em seguir um pouco adiante e escrever um livro sobre o tema. O objetivo estava
bem claro: apresentar as idéias introdutórias da teoria, proporcionando ao leitor um con-
tato inicial suave e, na medida do possı́vel, de maneira natural e agradável. Certamente,
qualquer livro com esse objetivo deve conter um histórico razoável do desenvolvimento
da teoria, noções importantes como as de monomorfismos, epimorfismos e isomorfismos,
bem como, as de produtos, equalizadores, pullbacks e seus respectivos duais. Além disso,
um texto introdutório sobre Teoria de Categorias, também deve conter, funtores, trans-
formações naturais, equivalência, o Lema de Yoneda e a noção de adjunção. Procuramos
distribuir e expor todo esse conteúdo de modo que o nı́vel de abstração exigido para com-
preensão crescesse gradativamente. Alcançar o objetivo sem perder o rigor matemático
foi o princı́pio que norteou o desenvolvimento do presente texto durante todo o trabalho.
Os capı́tulos 1, 2 e 3 possuem um caracter introdutório. Iniciamos o livro com um breve
histórico sobre o surgimento e desenvolvimento da Teoria de Categorias e apresentamos
motivações para seu estudo. Definimos formalmente uma Categoria, apresentamos uma
discussão sobre o Princı́pio da Dualidade e, exploramos o conceito de morfismo e o conceito
de objeto em uma categoria.
O capı́tulo 4 se ocupa de algumas importantes construções em Teoria de Categorias:
produtos, equalizadores, pullbacks e seus respectivos duais, coprodutos, coequalizadores
e pushouts. Veremos que conceitos conhecidos em diversas áreas podem ser reformulados
e até generalizados em termos dessas novas noções.
No capı́tulo 5 definimos produto e coproduto de uma famı́lia arbitrária de objetos.
Os resultados desse capı́tulo serão usados apenas no capı́tulo final do texto e podem ser
omitidos em uma primeira leitura.
Nos capı́tulos 6, 8 e 9 estão presentes pontos principais da teoria. Nesses capı́tulos
exploramos as definições de funtores, transformações naturais e equivalência de categorias,
respectivamente. Por meio dessas ferramentas podemos relacionar, comparar e classificar
categorias. As definições de limites e colimites são apresentadas no capı́tulo 7 e, de certo
modo, generalizam importantes noções ja vistas anteriormente. O capı́tulo 7 também
pode ser omitido em uma primeria leitura.
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O capı́tulo 10 traz um dos principais e mais conhecidos resultados em Teoria de Ca-


tegorias: O Lema de Yoneda. Nesse capı́tulo caracterizamos funtores representáveis,
preparando o caminho para o estudo de adjunções.
Encerramos ”Uma introdução a Teoria de Categorias” no capı́tulo 11, onde definimos
funtores adjuntos, adjunções e apresentamos o principal resultado do livro: O Teorema do
Funtor Adjunto. Este resultado responde uma importante questão sobre a existência de
um funtor adjunto e relaciona esse fato com a propriedade de preservação de limites. A
demonstração apresentada exige e aplica grande parte das principais noções distribuı́das
ao longo do texto.
Os exercı́cios, quando presentes, formam uma das principais partes de um livro acadê-
mico. Eles estendem, desenvolvem e tornam claros os conteúdos abordados no texto.
Aqui, foram integrados ao corpo do livro e devem ser encarados como parte do texto,
inclusive aqueles que são propostos nos rodapés. São, em sua maioria, de fácil resolução
ou podem ser resolvidos de maneira semelhante às ideias apresentadas anteriormente.
O leitor iniciado ao assunto logo irá perceber que fizemos uma série de empréstimos:
grande parte dos inúmeros exemplos presentes ao longo dos onze capı́tulos deste livro, são
exemplos clássicos da teoria, outrora, exercı́cios dos mais variados livros sobre Teoria de
Categorias, que foram cuidadosamente escolhidos e, detalhadamente resolvidos. Existem
excelentes livros sobre o tema, dentre os quais, gostarı́amos de citar alguns que propicia-
ram ao autor uma visão mais ampla e clara sobre o assunto: o célebre livro de Saunders
Mac Lane, Categories for the working mathematician, o livro de Steve Awodey, Category
Theory, o livro de Bodo Pareigis, Category Theory, o livro de Paulo B. Menezes e Edward
H. Haeuler, Teoria das categorias para ciência da computação e, finalmente, o livro de
T. S. Blyth, Categories, o qual seguimos mais de perto. O leitor que também fizer uso
dessas múltiplas visões, irá perceber página por página de Uma introdução a Teoria de
Categorias, que este texto é um reflexo do caminho traçado pelo autor no processo de
aprendizagem do tema e carrega forte influência de cada uma dessas obras.
O livro destina-se principalmente a alunos de graduação em Matemática, Fı́sica e
Ciência da Computação com certa experiência matemática, que desejam elaborar estudos
avançados de iniciação cientı́fica. Sua leitura pressupõe conhecimento de noções básicas
da teoria elementar de conjuntos, funções e relações de equivalência, anéis e grupos. Além
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disso, para o perfeito entendimento de alguns exemplos, o leitor terá que possuir conhe-
cimentos elementares sobre espaços topológicos e alguma familiaridade com conceitos da
Álgebra Linear, tais como espaços vetoriais e transformações lineares e suas matrizes.
Assim, seria interessante o leitor ter cursado alguma disciplina básica na área de Álgebra.
Ao terminar, agradeço ao Professor Fernando P. P. Reis por ter escrito os capı́tulos 2
e 3 e, gentilmente, me oferecido a oportunidade de continuar sua obra, pela apresentação
de várias sugestões matemáticas ao longo de todo trabalho e pela cuidadosa revisão da
versão final. Estou certo de que seu nome merecia lugar de destaque na capa deste livro,
contudo, sua modéstia me impediu de fazê-lo. Gostaria também de agradecer ao Professor
Karlo F. Rocha pelo árduo trabalho de digitação do capı́tulo 4, o mais extenso do livro e ao
Professor Hugo Luiz Mariano pelo incentivo e valiosas sugestões. Finalmente, agradeço a
Gabriela C. Bremenkamp pela digitação de parte do manuscrito, pela minuciosa correção
gramátical, pelas sugestões que tornaram claros e objetivos os textos presentes nas in-
troduções de cada capı́tulo e, principalmente, por ter comemorado ao meu lado o final de
cada etapa concluı́da.
Sumário

1 Introdução 1

2 Categorias 3
2.1 Definições e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1.1 Construções a partir de categorias existentes . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Princı́pio da dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3 Morfismos e objetos especiais 18


3.1 Monomorfismos, Epimorfismos, Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.2 Objeto Terminal e Objeto Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4 Noções importantes em categorias 29


4.1 Produto e Coproduto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.1 Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.2 Coproduto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1.3 Produto e Coproduto de morfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.2 Equalizadores e Coequalizadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2.1 Equalizadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.2.2 Coequalizadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3 Pullbacks e Pushouts . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.3.1 Produto Fibrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.3.2 Somas Amalgamadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

5 Generalização de Produtos e Coprodutos 92


5.1 Generalização da noção de Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

5
5.2 Generalização da noção de Coproduto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

6 Funtores 105
6.1 Definições, algumas considerações e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
6.2 Funtores especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
6.2.1 Funtores Esquecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
6.2.2 Bifuntores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
6.3 A formalização do conceito de Diagrama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

7 Limites e Colimites 129


7.1 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
7.2 Colimites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

8 Transformações Naturais 137


8.1 Definições e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
8.2 A Categoria de Funtores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

9 Equivalência de categorias 151


9.1 Isomorfismo de categorias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
9.2 Caracterização de categorias equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

10 O Lema de Yoneda 174

11 Adjunções 184
11.1 Caracterização de Funtores Adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
11.2 O Teorema do Funtor Adjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
Capı́tulo 1

Introdução

A Teoria de Categorias é uma teoria matemática capaz de fornecer ambiente e lin-


guagem conveniente para apresentar, relacionar e tratar de maneira uniforme, modelos
matemáticos originados em campos distintos do conhecimento humano.
Em Matemática é corriqueiro organizar objetos em conjuntos com certas estruturas,
tais como: grupos, anéis, espaços vetoriais ou módulos, espaços de medida, variedades
diferenciáveis e muitas outras. Um dos principais interesses nessa organização é com-
preender melhor o comportamento e obter resultados gerais sobre propriedades que rela-
cionam ou caracterizam esses objetos. Essas estruturas, por sua vez, são alvo de estudo
de áreas como Álgebra, Análise, Topologia, Geometria, etc. Apesar dessa ”distribuição
de competências”, é muito comum notar semelhanças entre propriedades de objetos e
também fenômenos que ocorrem nessas diferentes áreas matemáticas. Muitas vezes, essas
semelhanças conduzem naturalmente ao estabelecimento de identificação entre esses ob-
jetos. A Teoria de Categorias é, sem sombra de dúvidas, o abrigo perfeito para o trabalho
matemático. Ela fornece mecanismos e ferramentas que ajudam no reconhecimento dessas
semelhanças e no estabelecimento de ”mapeamentos”. Este processo permite tratar um
problema originado em uma área, transportando-o para uma outra zona em que, nor-
malmente, pode-se fazer uso de ferramentas mais poderosas, apresentando soluções mais
simples e transportando-as de volta para área de origem. Como linguagem, a Teoria de
Categorias permite descrever, de uma forma geral, objetos de áreas distintas que pos-
suem essencialmente a mesma estrutura. Essa unificação conceitual, na prática, oferece
muitos benefı́cios. Um exemplo disso é a possibilidade de avaliar o comportamento e as

1
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propriedades de diversas estruturas, a princı́pio distintas, por intermédio do estudo de


noções como limites e adjunções.
A Teoria de Categorias é relativamente recente. Seus primeiros passos iniciaram em
1942, quando Samuel Eilenberg e Saunders Mac Lane apresentaram as noções de trans-
formações naturais, funtores e categorias em um trabalho sobre Cohomologia. Em 1945,
Eilenberg e Mac Lane esclareceram e formalizaram as ideias apresentadas no trabalho
de 1942, publicando o artigo intitulado ”General theory of natural equivalences ”. Esse
trabalho, apresentou a Teoria de Categorias oficialmente ao mundo acadêmico. A par-
tir de então, as aplicações da teoria, que eram originalmente nos campos da topologia
algébrica, teoria da homologia e álgebra abstrata, se estendeu à geometria algébrica e a
lógica, impulsionada por grandes nomes, como Grothendieck e Lawvere. Apesar de sua
recente história, nas décadas de 80 e 90, a Teoria de Categorias consolidou seu poder de
expressão e alto potencial de aplicabilidade às mais variadas áreas do conhecimento hu-
mano, apresentando aplicações em ciência da computação, linguı́stica, ciências cognitivas
e à fı́sica teórica.
Capı́tulo 2

Categorias

Em seu famoso livro Categories for the Working Mathematician, Saunders Mac Lane
inicia a descrição de categorias sem fazer uso de recursos da teoria dos conjuntos. Ele
descreve uma categoria por intermédio da noção de Metacategoria, que por sua vez, é
especificada a partir dos conceitos primitivos de Objetos, Setas e operações sujeitas a dois
axiomas. Em seguida, apresenta uma nova abordagem, atribuindo uma interpretação
para os axiomas sobre categorias dentro das linhas da teoria dos conjuntos. Isso permite
definir diretamente uma categoria em termos de ”composições” de setas. Por questões
práticas e didáticas, escolhemos seguir esse segundo caminho.

2.1 Definições e exemplos


Começamos estabelecendo a definição de categoria.

Definição 2.1 Uma categoria C = hObC , M orC i consiste de um conjunto1 de objetos ObC
e um conjunto de Setas M orC , que satisfazem as seguintes condições:

i) A cada seta f ∈ M orC , estão associados dois objetos A, B ∈ ObC chamados Domı́nio
e Codomı́nio de f respectivamente, e denotados A = dom (f ) e B = cod (f ) . Neste
caso, escrevemos
f
f :A→B ou A −→ B
1
Neste trabalho, quando usarmos o termo ”conjunto” podemos estar nos referindo à conjuntos pequenos
ou a classes segundo discussão dada adiante.

3
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 4

e definimos M orC (A, B) pondo

M orC (A, B) = {f ∈ M orC | A = dom (f ) e B = cod (f )} .

ii) Dados três objetos A, B, C ∈ ObC existe uma operação

◦ : M orC (B, C) × M orC (A, B) → M orC (A, C) ,

chamada Composição. Escrevemos ◦ hg, f i = g ◦ f para g ∈ M orC (B, C) e f ∈


M orC (A, B) .

iii) Para cada A ∈ ObC , existe uma seta 1A ∈ M orC (A, A), chamado Identidade2
de A.
Ainda, a operação de composição categorial e a seta Identidade, satisfazem as seguintes
propriedades:
p.1) A composição é associativa; isto é, dados f ∈ M orC (A, B) , g ∈ M orC (B, C) e
h ∈ M orC (C, D) , tem-se
h ◦ (g ◦ f ) = (h ◦ g) ◦ f.

p.2) Fixado A ∈ ObC , para cada B ∈ ObC , f ∈ M orC (A, B) e g ∈ M orC (B, A) temos que

f ◦ idA = f e idA ◦ g = g.

Observação 2.2 As setas de uma categoria são normalmente chamadas morfismos.

Observação 2.3 O conjunto M orC (A, B) é conhecido como hom-set e, pode ser deno-
tado de uma das seguintes formas:

C (A, B) = homC (A, B) = hom (A, B) = (A, B) = (A, B)C .

A partir de agora, iremos adotar a primeira notação.

Observação 2.4 A notação C = hObC , M orC i será usada apenas quando houver risco de
ambiguidade, do contrário, usaremos a notação mais simples C.
2
O propriedade (p.2) afirma que a seta identidade 1A de cada objeto A, atua como elemento neutro
para operação de composição sempre que isso faz sentido.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 5

Exemplo 2.5 Categoria 0


0, definida como segue, constitui uma categoria:
a) Ob0 = {};
b) M or0 = {} .

Exemplo 2.6 Categoria 1


1, definida como segue, constitui uma categoria:
a) Ob1 = {A};
b) M or1 = {1A } .

Exemplo 2.7 Categoria 2


2, definida como segue, constitui uma categoria:
a) Ob2 = {A, B};
b) M or2 = {1A , 1B , f : A → B};

As categoria 0, 1 e 2, além de serem simples, sem uma estrutura matemática, são


algumas das menores categorias em termos de objetos e morfismos. Obviamente, em cada
caso existe apenas uma possibilidade para definição da operação de composição categorial.

Exemplo 2.8 Seja X um conjunto não vazio.


CX definida como segue, constitui uma categoria:
a) ObCX = X;
b) O conjunto M orCX é determinado da seguinte forma: dados x, y ∈ ObCX ,

 {1 } , se x = y
x
CX (x, y) =
 ∅, se x 6= y.

c) Note que os morfismos do tipo 1x : x → x são os únicos morfismos da categoria. Por-


tanto, a composição categorial é definida de forma trivial, satisfazendo naturalmente as
propriedades (p.1) e (p.2)

Definição 2.9 Uma categoria C é chamada discreta se o conjunto M orC é formado


apenas por morfismos identidade.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 6

Exemplo 2.10 As categorias 1 e CX são categorias discretas.

A fim de dar continuidade a caracterização de categorias, vamos agora, assumir a


existência de um conjunto suficientemente grande U , o conjunto universo. Assumir a
existência desse conjunto será suficiente para os nossos propósitos. Uma construção mais
elaborada do conjunto universo, pode ser encontrada na sexta seção do capı́tulo I do livro
[5]. Na referida seção, o autor propõe uma bela discussão sobre os fundamentos da Teoria
de Categorias e sua consistência. Preferimos não repetir tal diálogo, por acreditarmos
que o assunto foge aos objetivos do presente texto. Contudo, apontamos dois importantes
pontos da discussão: a caracterização de conjuntos pequenos e a caracterização de classes.
Dizemos que um conjunto X é um conjunto pequeno se, e somente se, é um elemento do
universo. Uma Classe C é qualquer subconjunto C ⊂ U . É possı́vel mostrar que cada
conjunto pequeno é uma classe. No entanto, algumas classes (como o próprio conjunto
universo) não são conjuntos pequenos. Neste caso, são chamadas de classes próprias.

Definição 2.11 Uma categoria C = hObC , M orC i é pequena se os conjuntos ObC e M orC
são conjuntos pequenos.

Exemplo 2.12 As categorias 0, 1 e 2 são categorias pequenas.

Definição 2.13 Um conjunto M munido de uma operação binária associativa ⊕ e de um


elemento neutro eM , tal que para qualquer a ∈ M , tem-se que

a ⊕ eM = eM ⊕ a = a,

é chamado um Monóide, e é denotado por hM, ⊕, eM i .

Definição 2.14 Dados dois monóides hM, ⊕M , eM i e hN, ⊕N , eN i , uma função


h : M → N é um homomorfismo de monóide se

h (eM ) = eN e h (x ⊕M y) = h (x) ⊕N h (y) ,

para todo x, y ∈ M.

Exemplo 2.15 Considere um monóide hM, ⊕, eM i .


MhM,⊕,eM i , definida como segue, constitui uma categoria pequena:
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 7

a) ObMhM,⊕,e = {M };
Mi

b) M orMhM,⊕,e = M;
Mi

c) A operação de composição categorial

◦ : MhM,⊕,eM i (M, M ) × MhM,⊕,eM i (M, M ) → MhM,⊕,eM i (M, M ) ,

é a operação binária ⊕;
d) O morfismo 1M ∈ MhM,⊕,eM i (M, M ) é o elementro neutro eM , isto é 1M = eM .
Note que, dados f, g ∈ MhM,⊕,eM i (M, M ) , tem-se que:

g ◦ f = g ⊕ f ∈ MhM,⊕,eM i (M, M ) .

Ainda, se h ∈ MhM,⊕,eM i (M, M ) , tem-se que:

(h ◦ g) ◦ f = (h ⊕ g) ⊕ f = h ⊕ (g ⊕ f ) = h ◦ (g ◦ f ) ,

e,
f ◦ 1M = f ⊕ 1M = f ⊕ eM = f = eM ⊕ f = 1M ⊕ f = 1M ◦ f.

Portanto, M é de fato uma categoria. Por outro lado, MhM,⊕,eM i é uma categoria pequena
pois, ObMhM,⊕,e , e M orMhM,⊕,e são conjuntos pequenos.
Mi Mi

O exemplo anterior mostra que um monóide hM, ⊕, eM i pode ser visto como uma
categoria MhM,⊕,eM i . Por outro lado, uma categoria pequena, com apenas um objeto,
gera um monóide, no qual a composição de morfismos é a operação binária.
Para o exemplo que segue, seja A um anel comutativo com unidade.

Exemplo 2.16 Categoria MatA


MatA , definida como segue, constitui uma categoria pequena:
a) ObMatA = N;
b) O conjunto M orMatA é determinado da seguinte forma:
Sejam m, n ∈ ObMatA . Então f ∈ MatA (m, n) se, e somente se f é uma matriz m × n
sobre A;
c) Sejam m, n, e p objetos em MatA . A operação de composição categorial

◦ : MatA (n, p) × MatA (m, n) → MatA (m, p) ,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 8

é o produto usual de matrizes, isto é, g ◦ f = f g;


d) Dado m ∈ ObMatA , o morfismo 1m ∈ MatA (m, m) é a matriz identidade m × m.
A associatividade da operação de composição categorial segue diretamente da associativi-
dade do produto de matrizes.

Definição 2.17 Uma categoria C = hObC , M orC i é grande se ObC e M orC são classes
(próprias ou não).

Exemplo 2.18 A categoria CX pode ser pequena ou grande, dependendo do conjunto X.

Exemplo 2.19 Categoria Set.


Set, definida como segue, constitui uma categoria grande:
a) ObSet é o conjunto de todos os conjuntos pequenos;
b) M orSet é o conjunto de todas as funções entre conjuntos pequenos;
c) Dados A, B, C ∈ ObSet , a operação de composição categorial

◦ : Set (B, C) × Set (A, B) → Set (A, C) ,

é a operação de composição de funções;


d) Dado A ∈ ObSet , o morfismo 1A ∈ Set (A, A) é a função identidade idA : A → A.
Note que, dados f ∈ Set (A, B) , g ∈ Set (B, C), h ∈ Set (C, D) e a ∈ A, tem-se que:

((h ◦ g) ◦ f ) (a) = (h ◦ g) (f (a)) = h (g (f (a))) = h (g ◦ f (a)) = (h ◦ (g ◦ f )) (a) .

Portanto, (h ◦ g) ◦ f = h ◦ (g ◦ f ) . Ainda, se w ∈ Set (B, A) , tem-se que:

(f ◦ 1A ) (a) = f (1A (a)) = f (a) ,

(1A ◦ w) (a) = 1A (w (a)) = w (a) .

Assim, f ◦ 1A = f e 1A ◦ w = w, o que mostra que Set é de fato uma categoria. Além


disso, Set é uma categoria grande pois, ObSet , o conjunto de todos os conjuntos pequenos
é uma classe própria, isto é, não é um conjunto pequeno.1

Observação 2.20 Obviamente, ObSet = U .


1
Caso contrário, terı́amos ObSet ∈ ObSet , contrariando o axioma da regularidade. Veja §6 do Capı́tulo
I de [5]
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 9

O próximo exemplo, mostra como podemos utilizar linguagem categorial para rela-
cionar conjuntos estruturados.

Exemplo 2.21 Categoria Mon


Mon, definida como segue, constitui uma categoria grande:
a) ObMon é o conjunto de todos os monóides;
b) M orMon é o conjunto de todos os homomorfismos entre monóides;
. . .
c) Dados A = hA, ⊕A , eA i , B = hB, ⊕B , eB i , C = hC, ⊕C , eC i ∈ ObMon , a operação de
composição categorial

◦ : Mon (B, C) × Mon (A, B) → Mon (A, C) ,

é a operação de composição de funções;


.
d) Dado A = hA, ⊕A , eA i ∈ ObMon , o morfismo 1A ∈ Mon (A, A) é a função identidade
idA : A → A.
A demonstração de que Mon é de fato uma categoria, segue diretamente da associativi-
dade da composição de funções e do fato de que a composição de dois homomorfismos de
monóides resulta em um homomorfismo de monóides.

A seguir, listamos outras importantes categorias de conjuntos estruturados.

Categorias Objetos Morfismos


Poset Conjuntos parcialmente ordenados Funções Monótonas
Ring Anéis Homomorfismos de Anéis
Homomorfismos de Anéis
CRing Anéis comutativos
comutativos
Grp Grupos Homomorfismos de Grupos
VectK Espaços vetoriais sobre um corpo K Transformações lineares
Espaços vetoriais de dimensão
FVectK Transformações lineares
finita sobre um corpo K
Top Espaços topológicos Funções contı́nuas
Homomorfismos de grafos
RGr Grafos reflexivos
reflexivos
Conjunto de todas as Π ∈ P rovL (β, α) ⇔ Π é
ProvL
proposições de uma lógica L uma prova de α a partir de β.
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Um exercı́cio interessante: Mostrar que Poset, Rings, Grp, Vect, e Top são, de
fato, categorias.
Os dois últimos exemplos de categorias são amplamente utilizadas em Ciência da
Computação, (para mais detalhes, veja capı́tulo 3 em [12]).

Exemplo 2.22 Categoria Met.


Met, definida como segue, constitui uma categoria grande:
a) ObMet é o conjunto de todos os espaços métricos;
b) O conjunto M orMet é determinado da seguinte forma:
Sejam (A, d1 ) e (B, d2 ) objetos de Met. Então f ∈ Met ((A, d1 ) , (B, d2 )) se, e somente
se f : A → B é uma função contração3 ;
c) Sejam (A, d1 ) , (B, d2 ) e (C, d3 ) objetos em Met. A operação de composição categorial

◦ : Met ((B, d2 ) , (C, d3 )) × Met ((A, d1 ) , (B, d2 )) → Met ((A, d1 ) , (C, d3 )) ,

é a operação de composição de funções;


d) Dado (A, d1 ) ∈ ObMet , o morfismo 1A ∈ Met ((A, d1 ) , (A, d1 )) é a função identidade
idA : A → A.
Na demonstração de que Met é de fato uma categoria, usamos a associatividade da com-
posição de funções e o fato de que a composição de duas contrações é ainda uma contração.

Definição 2.23 Uma categoria é chamada de Pré-ordem se, para cada par de objetos
A e B, existir no máximo um morfismo f : A → B.

Exemplo 2.24 As categorias 2. A categoria CX é uma pré-ordem qualquer que seja o


conjunto X.

Definição 2.25 Seja C uma categoria. Dados A, B ∈ ObC , se C (A, B) for um conjunto
pequeno, a categoria C é chamada localmente pequena.

Observação 2.26 Neste texto, vamos trabalhar essencialmente com categorias localmente
pequenas. Portanto, a menos que seja feita menção contrária, o termo ”categoria”, indica
”categoria localmente pequena”.
3
Isto é, dados x e y em A, então d2 (f (x) , f (y)) ≤ d1 (x, y) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 11

2.1.1 Construções a partir de categorias existentes

Uma importante caracterı́stica em Teoria de Categorias é a possibilidade de se construir


categorias a partir de categorias existentes. Em muitos casos, a categoria construı́da herda
importantes propriedades e resultados.

Exemplo 2.27 (Categoria Produto) Sejam C1 , C2 ,...,Cn categorias.


Yn
Ci , definido como segue, constitui uma categoria:
i=1
n
Y
Ci = hObΠCi , M orΠCi i
i=1

a) ObΠCi é o conjunto formado por todas as n-uplas (A1 , A2 , ..., An ) , onde Ai ∈ ObCi para
cada i = 1, ..., n;
b) M orΠCi é o conjunto formado por todas as n-uplas (f1 , f2 , ..., fn ) , onde fi ∈ M orCi
n
Y
para cada i = 1, ..., n. Ainda, (f1 , f2 , ..., fn ) ∈ Ci ((A1 , A2 , ..., An ) , (B1 , B2 , ..., Bn )) se,
i=1
e somente se, fi ∈ Ci (Ai , Bi ) , para cada i = 1, ..., n;
. . .
c) Dados A = (A1 , A2 , ..., An ) , B = (B1 , B2 , ..., Bn ) e C = (C1 , C2 , ..., Cn ) objetos de
Yn
Ci , a operação de composição categorial
i=1
n
Y n
Y n
Y
◦: Ci (B, C) × Ci (A, B) → Ci (A, C) ,
i=1 i=1 i=1

é tal que (f1 , f2 , ..., fn ) ◦ (g1 , g2 , ..., gn ) = (f1 ◦ g1 , f2 ◦ g2 , ..., fn ◦ gn ) ;


Yn
d) Dado (A1 , A2 , ..., An ) ∈ ObΠCi , o morfismo 1(A1 ,A2 ,...,An ) ∈ Ci (A, A) é o morfismo
i=1
(1A1 , 1A2 , ..., 1An ) .
n
Y
A demonstração de que Ci é de fato uma categoria, segue diretamente do fato de que
i=1
Ci é uma categoria para cada i = 1, ..., n.
n
Y
Observação 2.28 A categoria produto Ci , pode ser denotada simplesmente por
i=1
C1 × C2 ×...×Cn .

Exemplo 2.29 (Categoria das setas sobre C) Seja C uma categoria qualquer.
~ definida como segue, constitui uma categoria
C,

C~ = hObC~, M orC~i .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 12

a) ObC~ = M orC ;
b) O conjunto M orC~ é determinado da seguinte forma:
~ então (α1 , α2 ) ∈ C~ (f, g) se, e somente
Sejam f ∈ C (A, B) e g ∈ C (C, D) objetos de C,
se, α1 ∈ C (A, C), α2 ∈ C (B, D) e α2 ◦ f = g ◦ α1 .
c) Dados a ∈ C (A, B), b ∈ C (C, D) e c ∈ C (E, F ) a operação de composição categorial

◦C~ : C~ (b, c) × C~ (a, b) → C~ (a, c)

é tal que (γ1 , γ2 ) ◦ (α1 , α2 ) = (γ1 ◦ α1 , γ2 ◦ α2 ) , onde (α1 , α2 ) ∈ C~ (a, b) e (γ1 , γ2 ) ∈ C~ (b, c) .
d) Dado a ∈ C (A, B) , o morfismo 1a ∈ C~ (a, a) é o morfismo 1a = (1A , 1B ) .
Note que, se (α1 , α2 ) ∈ C~ (a, b) e (γ1 , γ2 ) ∈ C~ (b, c) , então α1 : A → C, α2 : B → D,
γ1 : C → E, γ2 : D → F. Daı́,

γ1 ◦ α1 ∈ C (A, E) , γ2 ◦ α2 ∈ C (B, F )

(γ2 ◦ α2 ) ◦ a = γ2 ◦ (α2 ◦ a)

= γ2 ◦ (b ◦ α1 )

= (γ2 ◦ b) ◦ α1

= (c ◦ γ1 ) ◦ α1

= c ◦ (γ1 ◦ α1 ) .

Portanto, (γ1 ◦ α1 , γ2 ◦ α2 ) ∈ C~ (a, c). Agora, se d ∈ C (G, H) e (β1 , β2 ) ∈ C~ (c, d) , então

((β1 , β2 ) ◦ (γ1 , γ2 )) ◦ (α1 , α2 ) = ((β1 , γ1 ) ◦ (β2 , γ2 )) ◦ (α1 , α2 )

= ((β1 , γ1 ) ◦ α1 , (β2 , γ2 ) ◦ α2 )

= (β1 , β2 ) ◦ ((γ1 , γ2 ) ◦ (α1 , α2 )) .

Finalmente, se (s1 , s2 ) ∈ C~ (b, a) temos

(α1 , α2 ) ◦ (1A , 1B ) = (α1 ◦ 1A , α2 ◦ 1B )

= (α1 , α2 )
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 13

(1A , 1B ) ◦ (s1 , s2 ) = (1A ◦ s1 , 1B ◦ s2 )

= (s1 , s2 ) .

Isso mostra que C~ é de fato uma categoria.

Para o exemplo que segue, suponha C uma categoria e X ∈ ObC .

Exemplo 2.30 Categoria das Setas sobre X.


C↓X , definida com segue, constitui uma categoria:
a) ObC↓X é o conjunto formado por todos os morfismos f ∈ M orC tais que cod (f ) = X.
b) O conjunto M orC↓X é determinado da seguinte forma:
Sejam f ∈ C (A, X) e g ∈ C (B, X) objetos de C↓X . Então k ∈ C↓X (f, g) se, e somente
se, k ∈ C (A, B) e g ◦ k = f. Por conveniência, usaremos a notação k X para indicar um
morfismo k em C↓X .
c) Dados a ∈ C (A, X) , b ∈ C (B, X) e c ∈ C (C, X) , a operação de composição categorial

◦ : C↓X (b, c) × C↓X (a, b) → C↓X (a, c)

é tal que wX ◦ k X = (w ◦ k)X , onde wX ∈ C↓X (b, c) e k X ∈ C↓X (a, b) ;


X
d) Dado a ∈ C (A, X) , o morfismo 1X
a ∈ C↓X (a, a) é o morfismo (1A ) .

Note que, se k X ∈ C↓X (a, b) e wX ∈ C↓X (b, c) , então k ∈ C (A, B) e w ∈ C (B, C) , logo
w ◦ k ∈ C (A, C) . Ainda,

c ◦ (w ◦ k) = (c ◦ w) ◦ k

=b◦k

= a,

logo, wX ◦ k X ∈ C↓X (a, c) . Por outro lado, se d ∈ C (D, X) e hX ∈ C↓X (c, d) , então

hX ◦wX ◦ k X = (h◦w)X ◦ k X


= [(h ◦ w) ◦ k]X

= [h ◦ (w ◦ k)]X

= hX ◦ (w ◦ k)X

= hX ◦ wX ◦ k X .

VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 14

Agora, se lK ∈ C↓X (b, a) , temos que

X
k X ◦ 1X
a = (k ◦ 1A ) = k
X

X
1X X X
a ◦ l = (1A ◦ l) = l .

Portanto, C↓X é de fato uma categoria.

De forma análoga, podemos definir a Categoria C↓X , das setas sob X ∈ ObC , onde,
ObC↓X é o conjunto formado por todos os morfismos f ∈ M orC tais que dom (f ) = X.

Definição 2.31 (Subcategoria) Uma subcategoria S = hObS , M orS i de uma categoria


C = hObC , M orC i é uma categoria na qual:
a) ObS ⊆ ObC ;
b) Dados A, B ∈ ObS , tem-se que:

S (A, B) ⊆ C (A, B)

c) A composição e a identidade em S são as mesmas de C, restritas aos morfismos e


objetos de S.

Exemplo 2.32 Seja S = hObS , M orS i definida como segue:


a) ObS é o conjunto de todos os conjuntos finitos;
b) M orS é o conjunto de todas as funções bijetoras;
c) A composição e a identidade de S são as mesmas de Set.
S é claramente uma subcategoria de Set, conhecida como Categoria dos conjuntos finitos,
e denotada por FinSet.

Exemplo 2.33 A categoria Ab de todos os grupos abelianos é uma subcategoria de Grp.

Exemplo 2.34 A categoria FVectK é uma subcategoria de VectK .

Exemplo 2.35 A categoria CRing é uma subcategoria de Ring.

Definição 2.36 (Categoria Dual) Seja C uma categoria. A categoria dual de C, deno-
tada por C op = hObC op , M orC op i , é definida como segue:
a) ObC op = ObC ;
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 15

b) O conjunto M orC op é determinado da seguinte forma:


Sejam A, B ∈ ObC op . Então f ∈ C op (A, B) se, e somente se, f ∈ C (B, A) . Por con-
veniência, usaremos a notação f op para indicar um morfismo f em C op .
c) Dados três objetos A, B, C ∈ ObC op a operação de composição categorial dual

◦op : C op (B, C) × C op (A, B) → C op (A, C) ,

.
e tal que g op ◦op f op = (f ◦C g)op , onde g op ∈ C op (B, C), e f op ∈ C op (A, B) ;
d) Dado A ∈ ObC op tem-se que (1A )op = 1A .
A demonstração de que C op é de fato uma categoria, segue diretamente do fato de que C
é uma categoria.

A categoria dual de uma categoria é basicamente a inversão do sentido das suas setas.
A seguir, daremos um exemplo interessante de categoria dual.

Exemplo 2.37 Seja P um conjunto finito, dotado de uma relação de ordem parcial .
Vamos definir uma categoria P(P,) , pondo para objetos dessa categoria os elementos de
P, isto é, ObP(P,) = P . Sejam x, y ∈ ObP(P,) . Se x  y então diremos que existe em
P(P,) , um único morfismo entre x e y e representaremos esse morfismo por (x, y) : x → y.
Dessa forma, podemos definir o conjunto dos morfismos de P(P,) pondo
n o
M orP(P,) = (x, y) : x → y ; x, y ∈ ObP(P,) e x  y .

Em alguns casos, iremos escrever apenas (x, y) para representar o morfismo (x, y) : x → y.
Vamos mostrar que
D E
P(P,) = ObP(P,) , M orP(P,)

é, de fato, uma categoria. Para cada x, y ∈ ObP(P,) definimos o conjunto



 (x, y) : x → y, se x  y
P(P,) (x, y) =
 φ, se x e y não se relacionarem através de  .

Sejam x, y, z ∈ ObP(P,) tais que P(P,) (x, y) 6= φ e P(P,) (y, z) 6= φ. A operação de


composição categorial

◦P : P(P,) (y, z) × P(P,) (x, y) → P(P,) (x, z)


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 16

é a transitividade de , isto é,

.
(y, z) ◦P (x, y) = (x, z) .

Dado x ∈ ObP(P,) , o morfismo (x, x) : x → x é o morfismo identidade 1x caracterizado


pela propriedade reflexiva de  . Notemos que, se (x, y) , (y, z) ∈ M orP(P,) , pela transi-
tividade de , temos x  z e portanto, (x, z) ∈ M orP(P,) . Além disso, se w ∈ ObP(P,) é
tal que P(P,) (z, w) 6= φ, então

((z, w) ◦P (y, z)) ◦P (x, y) = (y, w) ◦P (x, y)

= (x, w)

(z, w) ◦P ((y, z) ◦P (x, y)) = (z, w) ◦P (x, z)

= (x, w) .

Assim,
(z, w) ◦P ((y, z) ◦P (x, y)) = ((z, w) ◦P (y, z)) ◦P (x, y) .

Finalmente, dado w ∈ ObP(P,) tal que P(P,) (w, x) 6= φ, então

(x, y) ◦P 1x = (x, y) ◦P (x, x) = (x, y)

e
1x ◦P (w, x) = (x, x) ◦P (w, x) = (w, x) .

Isso prova que P(P,) é uma categoria.


Considere agora, a seguinte relação em P : para x, y ∈ P definimos

y  x sempre que x  y.

É fácil verificar que  é uma ordem parcial em P. Portanto, a correspondente categoria


op
dual P(P,) é o conjunto parcialmente ordenado (P, ), visto como a categoria P(P,) .

2.2 Princı́pio da dualidade


As construções duais desempenham um papel muito importante em Teoria de Catego-
rias. De uma forma mais geral, se Σ é uma afirmação válida na linguagem de Teoria
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 17

de Categorias, a sua afirmação dual, denotada por Σ∗ é a afirmação obtida a partir


de Σ, substituindo: ”domı́nio” por ”codomı́nio”, ”codomı́nio” por ”domı́nio” e ”h é a
composta de f com g”por ”h é a composta de g com f ”. Assim, as setas e composições
são ”invertidas”e a afirmação Σ∗ pode ser interpretada como a afirmação original apli-
cada a C op . Ao longo dos capı́tulos que seguem surgirão naturalmente, afirmações duais,
apresentadas na forma de definições, proposições e teoremas. A princı́pio, por questões
didáticas, iremos apresentar as construções duais e, quando for o caso, a demonstração
de resultados duais, contudo, a medida que avançarmos na teoria, iremos deixar a cargo
do leitor tais construções, e, usaremos extensivamente o chamado Princı́pio da dualidade,
apresentado de modo mais formal, a seguir:
”Se Σ for uma afirmação válida em todas as categorias, então a sua afirmação dual
Σ∗ também será válida em todas as categorias.”
Segue do Princı́pio da dualidade que dado qualquer prova de um resultado sobre uma
categoria C arbitrária, a partir de afirmações válidas em C, podemos obter o resultado dual,
substituindo cada afirmação pela sua dual. Consequentemente o princı́pio da dualidade
reduz para a metade o número de resultados a provar, o que o torna uma poderosa
ferramenta.

Observação 2.38 i) Se C é uma categoria, então (C op )op = C;


ii) Se Σ∗ é uma afirmação dual, então (Σ∗ )∗ = Σ;
iii) Em alguns casos, morfismos de uma categoria dual não preservam as propriedades
dos morfismos da categoria original;1
iv) A categoria dual pode coincidir com a própria categoria.2

1
Com efeito, se f ∈ Set (A, B) não é injetiva, então f ∈ Setop (B, A) não é uma função
2
Basta considerar, por exemplo, o monóide abeliano hM, ⊕, eM i visto como uma categoria M . Do
mesmo modo, qualquer categoria discreta C, é tal que C op = C.
Capı́tulo 3

Morfismos e objetos especiais

3.1 Monomorfismos, Epimorfismos, Isomorfismos


Nesta seção introduzimos as noções de monomorfismo, epimorfismo e isomorfismo.
Estas noções generalizam o conceito de funções injetivas, sobrejetivas e bijetivas, respec-
tivamente. Mais precisamente, estendemos essas idéias para categorias cujos objetos e
morfismos são arbitrários.

Definição 3.1 Seja C uma categoria. Dizemos que uma seta f ∈ C (A, B) é um monomor-
fismo, e escrevemos f : A  B, se dados dois morfismos g, h ∈ C (X, A) tais que
f ◦ g = f ◦ h, então, g = h.

Exemplo 3.2 Na categoria 2 o morfismo f : A → B é trivialmente um monomorfismo.

Exemplo 3.3 Todos os morfismos da categoria MhN,+,0i são monomorfismos. Com efeito,
fixado a ∈ M orMhN,+,0i , tome n e m morfismos em MhN,+,0i tais que a ◦ n = a ◦ m. Por
definição, segue que a + n = a + m. Pela lei do cancelamento em N, concluı́mos que
n = m, isto é, a é um monomorfismo.

Exemplo 3.4 Todos os morfismos da categoria P(P,) são monomorfismos. De fato,


fixado arbitrariamente (x, y) ∈ M orP(P,) , sejam z e w objetos de P(P,) tais que

(x, y) ◦P (z, x) = (x, y) ◦P (w, x) .

Daı́, segue que (z, y) = (w, y) . Assim, z = dom ((z, y)) = dom ((w, y)) = w, donde
concluı́mos que (z, x) = (w, x), ou seja, (x, y) é um monomorfismo.

18
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 19

Definição 3.5 Seja C uma categoria. Dizemos que uma seta f ∈ C (A, B) é um epi-
morfismo, e escrevemos f : A  B, se dados dois morfismos g, h ∈ C (B, Y ) tais que
g ◦ f = h ◦ f , então, g = h.

Exemplo 3.6 Na categoria 2 o morfismo f : A → B é trivialmente um epimorfismo.

Exemplo 3.7 Nas categorias MhN,+,0i e P(P,) todos os morfismos são epimorfismos.

Exemplo 3.8 Considere a categoria Mon. Sejam hN, +, 0i , hZ, +, 0i ∈ ObMon . O mor-
fismo inclusão i : hN, +, 0i → hZ, +, 0i é um epimorfismo. Com efeito, sejam hM, ⊕, eM i ∈
ObMon e f, g ∈ Mon (hZ, +, 0i , hM, ⊕, eM i) tais que f ◦ i = g ◦ i. Dado n ∈ Z, tem-se:
i) Para n ≥ 0, i (n) = n. Daı́,

f (n) = f (i (n)) = g (i (n)) = g (n) .

ii) Para n < 0, −n ≥ 0. Daı́

f (n) = f (n) ⊕ eM

= f (n) ⊕ g (0)

= f (n) ⊕ g (−n + n)

= f (n) ⊕ (g (−n) ⊕ g (n))

= f (n) ⊕ (f (−n) ⊕ g (n))

= (f (n) ⊕ f (−n)) ⊕ g (n)

= f (n − n) ⊕ g (n)

= f (0) ⊕ g (n)

= eM ⊕ g (n)

= g (n) .

Portanto, f = g, ou seja, i é um epimorfismo.

Exemplo 3.9 Considere a categoria Top dos espaços topológicos. O morfismo inclusão
i : Q → R é um epimorfismo. De fato, sejam X um espaço topológico qualquer e f, g ∈
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 20

Top (R, X) funções contı́nuas, tais que f ◦ i = g ◦ i. Então, para todo x ∈ Q,

f (x) = f (i (x))

= f ◦ i (x)

= g ◦ i (x)

= g (i (x))

= g (x) .

Como Q é denso em R, segue que g = h para todo x ∈ R. Logo, i é um epimorfismo.

Definição 3.10 Seja C uma categoria. Dizemos que um morfismo f ∈ C (A, B) é um


isomorfismo e escrevemos f : A→B,
˜ se existe g ∈ C (B, A) tal que g ◦ f = 1A e
f ◦ g = 1B . Neste caso, dizemos que A é isomorfo1 a B, e escrevemos A=B.
˜

Exemplo 3.11 Considere um Grupo hA, ⊕, eA i . GhA,⊕,eA i = hObG , M orG i constitui uma
categoria (se for definida de forma análoga ao que foi feito no exemplo 2.15 ). Como
cada elemento de A possui inverso e M orGhA,⊕,e = A, então, cada morfismo de GhA,⊕,eA i
Ai

possui um inverso, ou seja, é um isomorfismo.

Proposição 3.12 Sejam C uma categoria e f ∈ C (A, B) . Se existem dois morfismos


g, h ∈ C (B, A) tais que h ◦ f = 1A e f ◦ g = 1B , então g = h.

Demonstração. De fato,

h = h ◦ 1B

= h ◦ (f ◦ g)

= (h ◦ f ) ◦ g

= 1A ◦ g

= g.

Provada essa afirmação, podemos definir o que segue.


1
Pode existir mais de um isomormofismo entre dois objetos.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 21

Definição 3.13 Sejam C uma categoria e f ∈ C (A, B) um isomorfismo. Chamamos de


inversa de f a única seta f −1 ∈ C (B, A) , que satisfaz

f −1 ◦ f = 1A e f ◦ f −1 = 1B .

Proposição 3.14 Sejam C uma categoria, f, g morfismos tais que a composição g ◦ f


está bem definida. Então:
i) Se f, g são monomorfismos, então g ◦ f é monomorfismo;
ii) Se f, g são epimorfismos, então g ◦ f é epimorfismos;
iii) Se g ◦ f é monomorfismo, então f é monomorfismo;
iv) Se g ◦ f é epimorfismo, então g é epimorfismo.

Demonstração. Iremos demonstrar os itens i) e iii), os outros dois itens serão deixados
a cargo do leitor:
i) Sejam h e k morfismos em C tais que g ◦ f ◦ h = g ◦ f ◦ k. Como, g é monomorfismo,
temos que, f ◦ h = f ◦ k. Analogamente, f é monomorfismo, donde concluı́mos que h = k,
ou seja, g ◦ f é um monomorfismo.
iii) Sejam h e k morfismos em C tais que f ◦ h = f ◦ k. Neste caso,

g ◦ f ◦ h = g ◦ f ◦ k,

como g ◦ f é um monomorfismo, segue que h = k. Portanto, f é monomorfismo;

Proposição 3.15 Sejam C uma categoria e f ∈ C (A, B) .


i) Se existe g ∈ C (B, A) tal que g ◦ f = 1A , então f é um monomorfismo;
ii) Se existe g ∈ C (B, A) tal que f ◦ g = 1B , então f é um epimorfismo.
Em particular, todo isomorfismo é monomorfismo e epimorfismo.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 22

Demonstração. Sejam C uma categoria e g ∈ C (B, A) tal que g ◦ f = 1A . Dados


C ∈ ObC , u, v ∈ C (C, A) tais que f ◦ u = f ◦ v, tem-se que:

u = 1A ◦ u

= (g ◦ f ) ◦ u

= g ◦ (f ◦ u)

= g ◦ (f ◦ v)

= (g ◦ f ) ◦ v

= 1A ◦ v

= v.

Portanto, f : A  B. A prova de que f é um epimorfismo é feita utilizando argumentos


semelhantes.
Um morfismo pode ser simultaneamente monomorfismo e epimorfismo (frequentemente
denominado bimorfismo), sem ser um isomorfismo. Os dois exemplos a seguir, ilustram
esse fato.

Exemplo 3.16 Na categoria 2 o morfismo f : A → B é um bimorfismo, no entanto, não


é um isomorfismo.

Exemplo 3.17 Considere a categoria Ring. Sejam Z, Q ∈ ObRing e α ∈ Ring (Z, Q) a


x
imersão, α (x) = ∈ Q, para todo x ∈ Z. Afirmamos que:
1
i) α é um monomorfismo: De fato, dados A ∈ ObRing , f1 , f2 ∈ Ring (A, Z) tais que
α ◦ f1 = α ◦ f2 , tem-se:
f1 = α ◦ f1 = α ◦ f2 = f2 .

ii) α é um epimorfismo: Agora, considere B ∈ ObRing , g1 , g2 ∈ Ring (Q, B) tais que


g1 ◦ α = g2 ◦ α.
ii.a) Se z ∈ Z, tem-se:

g1 (z) = (g1 ◦ α) (z) = (g2 ◦ α) (z) = g2 (z) .

z1
ii.b) Se z ∈ Q − Z, existem z1 , z2 ∈ Z − {0} tais que z = . Como g1 , g2 são homomor-
z2
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 23

fismos,


z1
g1 (z) = g1
z
 2 
α (z1 )
= g1
α (z2 )
 
1
= g1 (α (z1 )) g1
α (z2 )
 
1
= g2 (α (z1 )) g1 .
α (z2 )
Ainda,
 
1
= g1 (α (z2 ))−1

g1
α (z2 )
= [g1 (α (z2 ))]−1

= [g2 (α (z2 ))]−1

= g2 (α (z2 ))−1

 
1
= g2 .
α (z2 )
Isso mostra que α é um epimorfismo. Sabemos, entretanto, que não existe um isomorfismo
entre Z e Q.

A proposição a seguir reforça o comentário feito na introdução desta seção, onde


mencionamos o fato de que as noções de monomorfismo, epimorfismo e isomorfismo gen-
eralizam os conceitos de funções injetivas, sobrejetivas e bijetivas, respectivamente.

Proposição 3.18 Considere a categoria Set. Então:

i) Uma função f é injetiva se, e somente se, é um monomorfismo em Set;


ii) Uma função f é sobrejetiva se, e somente se, é um epimorfismo em Set;
iii) Uma função f é bijetiva se, e somente se, é um isomorfismo em Set.

Demonstração.
i) Suponha f ∈ Set (A, B) uma função injetiva. Sejam C um conjunto e g, h ∈ Set (C, A)
funções tais que f ◦ g = f ◦ h. Dado x ∈ C, temos que

f (g (x)) = f ◦ g (x)

= f ◦ h (x)

= f (h (x)) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 24

Daı́, segue que g (x) = h (x), portanto, g = h, isto é, f é um monomorfismo. Reciproca-
mente, sejam x, y ∈ A tais que f (x) = f (y). Consideramos o conjunto C = {1} e o par
de funções g, h ∈ Set (C, A) definidas por g (1) = x e h (1) = y. Temos que

f ◦ g (1) = f (g (1))

= f (x)

= f (y)

= f (h (1))

= f ◦ h (1) ,

isto é, f ◦ g = f ◦ h. Como f é um monomorfismo, g = h. Daı́

x = g (1)

= h (1)

= y.

Portanto, f é injetiva.
ii) Suponha f ∈ Set (A, B) uma função sobrejetora. Sejam C um conjunto e g, h ∈
Set (B, C) tais que g ◦ f = h ◦ f . Dado y ∈ B, existe x ∈ A tal que y = f (x) .Daı́,

g (y) = g (f (x))

= g ◦ f (x)

= h ◦ f (x)

= h (f (x))

= h (y) .

Portanto, g = h donde concluı́mos que f é um epimorfismo. Reciprocamente, suponha


f um epimorfismo em Set (A, B) . Se f não for uma função sobrejetiva, existe y ∈ B tal
que y ∈
/ f (A) . Considere o conjunto C = B ∪ {a} onde a ∈
/ B. Defina o par de funções
g, h : B → C pondo g (x) = x, para todo x ∈ B, e,

 x, se x 6= y
h (x) = .
 a se x = y
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 25

Dado w ∈ A, temos que f (w) ∈ f (A) ⊂ B. Daı́,

g ◦ f (w) = g (f (w))

= f (w)

= h (f (w))

= h ◦ f (w) .

Logo, g ◦ f = h ◦ f , donde concluı́mos que g = h. Portanto, a = h (y) = g (y) = y, uma


contradição. Logo, f é uma função sobrejetiva.
iii) Esse resultado segue diretamente dos itens (i), (ii) e da Proposição 3.15. Deixamos a
cargo do leitor.

Exemplo 3.19 Sejam A e B ∈ ObSet . Afirmamos que A ' A × {0} e B ' B × {1} .
Com efeito, considere a função

f : A → A × {0}
x 7→ (x, 0)

Dado (x0 , 0) ∈ A × {0} , tome x0 ∈ A, daı́, f (x0 ) = (x0 , 0) , portanto f é sobrejetiva.


Sejam x, y ∈ A tais que f (x) = f (y) , temos que (x, 0) = (y, 0) , logo x = y e a função f
é injetiva e portanto uma bijeção, pela proposição anterior, f é um isomorfismo, assim
A ' A × {0} . Analogamente, prova-se que B ' B × {1} .

A proposição 3.18 não é válida no caso geral, como mostram os seguintes exemplos:

Exemplo 3.20 O epimorfismo inclusão i : Q → R definido no exemplo 3.9, é uma função


contı́nua não sobrejetora.

Exemplo 3.21 O epimorfismo inclusão i : hN, +, 0i → hZ, +, 0i definido no exemplo 3.8


é claramente um homomorfismo de monóides não sobrejetor.

3.2 Objeto Terminal e Objeto Inicial


Para o que segue, a notação ”!AB ” indica a unicidade do morfismo que tem domı́nio A e
codomı́nio B.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 26

Definição 3.22 Seja C uma categoria. Então:


i) I ∈ ObC é chamado objeto inicial de C se, para cada B ∈ ObC , existe um único
morfismo !IB ∈ C (I, B);
ii) T ∈ ObC é chamado objeto terminal de C se para cada A ∈ ObC , existe um único
morfismo !AT ∈ C (A, T );
iii) Um objeto Z ∈ ObC que é ao mesmo tempo inicial e terminal é chamado objeto zero.

Observação 3.23 Em Teoria de Categorias, conceitos definidos em termos de existência


e unicidade de morfismo são conhecidos como construções universais1 . Assim, objeto
inicial e terminal são exemplos de construções universais.

Segue agora alguns exemplos cuja verificação ficam a cargo do leitor

Exemplo 3.24 Na Categoria 2, A é um objeto inicial e B é um objeto terminal.

Exemplo 3.25 Qualquer conjunto unitário é um objeto terminal de Set.

Exemplo 3.26 O conjunto vazio ∅ é um objeto inicial na categoria Set2 .

Exemplo 3.27 Considere a categoria Mon. O monóide h{e} , ⊕, ei é objeto zero de


Mon.

Exemplo 3.28 O conjunto Z é um objeto inicial na categoria Ring1 dos anéis com
unidade.

Exemplo 3.29 Seja (Z, ≤) o conjunto dos inteiros munido da relação de ordem usual.
P(Z,≤) não possui objeto inicial, nem terminal, visto que Z não possui elementos mı́nimo
e máximo.

Observação 3.30 Uma categoria pode ter vários, um ou nenhum objeto inicial, valendo
o mesmo para objeto terminal e objeto zero.
1
Para mais detalhes, veja capı́tulo III em [5].
2
Qualquer função com domı́nio em ∅ é chamada Função vazia, independente do seu contradomı́nio.
A prova de que a função vazia é o único morfismo de Set (∅, A) , para cada A ∈ ObSet , fica a cargo do
leitor.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 27

Teorema 3.31 Sejam C uma categoria, T um objeto terminal e !T 0 T o único morfismo


0  0
de C T , T . Então, !T 0 T é um isomorfismo se, e somente se T é um objeto terminal.

Demonstração. Dado A ∈ ObC , existe um único morfismo !AT ∈ C (A, T ) . Daı́, temos
que (!T 0 T )−1 ◦!AT ∈ C A, T é único. Portanto, T é um objeto terminal. Reciproca-
 0 0

0 0
mente, se T é um objeto terminal em C, existe um único morfismo !T T 0 : T → T . Uma
vez que !T 0 T ◦!T T 0 ∈ C (T, T ) e T é terminal, tem-se !T 0 T ◦!T T 0 = 1T . Análogamente, é
possı́vel mostrar que !T T 0 ◦!T 0 T = 1T 0 . Portanto, !T 0 T é um isomorfismo.

Teorema 3.32 Sejam C uma categoria, I um objeto inicial e !II 0 o único morfismo de
0 0
C I, I . Então, !II 0 é um isomorfismo se, e somente se I é um objeto inicial.

Demonstração. Basta usar argumentos semelhantes aos usados na demonstração do


teorema anterior. Deixamos a cargo do leitor.
Em palavras, esses resultados afirmam que os objetos inicial e terminal, são únicos, a
menos de isomorfismos.

Corolário 3.33 Se uma categoria C, tem um objeto zero Z, então cada objeto inicial I
e cada objeto terminal T , são isomorfos a Z.

Demonstração. Segue imediatamente da definição de objeto zero e dos teoremas 3.31 e


3.32. Deixamos a cargo do leitor.

Exemplo 3.34 Pelo corolário anterior, as categorias 2 e Set não possuem objeto zero.
Assim, uma categoria que possui um objeto inicial e um objeto terminal não precisa ter
um objeto zero.

Definição 3.35 Uma categoria C é conectada se, para quaisquer objetos A e B em C


tem-se C (A, B) 6= ∅.

Exemplo 3.36 A categoria 2 não é conectada, pois 2 (B, A) = ∅

Teorema 3.37 Seja C uma categoria com um objeto inicial e com um objeto terminal.
Então, C tem um objeto zero se, e somente se, C é conectada.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 28

Demonstração. Sejam A, B ∈ ObC quaisquer. Se Z é um objeto zero de C, existem


!AZ : A → Z e !ZB : Z → B morfismos em C. Portanto, !ZB ◦!AZ ∈ C (A, B) , o que
mostra que C é conectada. Reciprocamente, suponha C conectada. Se I e T são objetos
inicial e terminal em C então existem !IT e f : T → I morfismos em C. Temos que
!IT ◦ f ∈ C (T, T ) = {1T } e f ◦!IT ∈ C (I, I) = {1I } . Daı́, concluı́mos que !IT é um
isomorfismo, pelo Teorema 3.31, I é um objeto terminal, portanto, um objeto zero.

Exemplo 3.38 Pelo teorema anterior, as categorias Mon e Grp são conectadas, pois
possuem objeto zero.

Exemplo 3.39 A categoria Set não é conectada, pois não possui objeto zero.
Capı́tulo 4

Noções importantes em categorias

No capı́tulo anterior, vimos que construções universais são conceitos definidos em ter-
mos de existência e unicidade de morfismos. Neste capı́tulo, iremos definir e discutir
aspectos relevantes sobre outros exemplos importantes de tais construções: Produtos,
Equalizadores, Produtos Fibrados e seus respectivos duais, Coprodutos, Coequalizadores
e Somas Amalgamadas. Veremos que conceitos conhecidos em diversas áreas podem ser
reformulados e até generalizados em termos dessas novas noções. Deste modo, poderemos
utilizar a Teoria de Categorias como uma linguagem conveniente para apresentar, rela-
cionar e trabalhar em problemas originados em campos distintos do conhecimento. Além
disso, iremos relacionar essas noções com outros importantes conceitos em Teoria de Cat-
egorias, principalmente através de resultados enunciados no capı́tulo 11, sobre funtores
adjuntos.
Tendo em vista o caráter mais abstrato dessas construções, faremos uso indiscriminado
de diagramas para representar propriedades especı́ficas que caracterizam as construções
universais tratadas neste capı́tulo. Os diagramas são muito utilizados em Álgebra, princi-
palmente na simplificação de enunciados dos mais variados resultados e no entendimento
de suas demonstrações. No capı́tulo 6, porém, iremos definir formalmente um diagrama
em uma categoria usando a linguagem funtorial.

29
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 30

4.1 Produto e Coproduto


Nesta seção definimos o Produto e o Coproduto entre dois objetos A e B em uma categoria
C. Veremos que Produto generaliza a noção de produto cartesiano da Teoria dos Conjuntos
e que o Coproduto, por sua vez, generaliza, em certo sentido, à noção de união disjunta.
No que segue, suponha C uma categoria e A, B ∈ ObC .

4.1.1 Produto

”Trata-se da menor estrutura através da qual qualquer outra estrutura do mesmo tipo pode
ser definida de forma única”
Frase retirada do livro [12], onde os autores expõem de maneira brilhante uma inter-
pretação de uma construção universal que, em particular, se aplica a noção de Produto
Categorial.

Definição 4.1 Um pré-produto categórico (ou simplesmente, pré-produto) dos ob-


jetos A e B é uma tripla (C, f1 , f2 ) constituı́da por um objeto C em C e dois morfismos
f1 ∈ C (C, A) e f2 ∈ C (C, B).

Definição 4.2 Um pré-produto (A × B, π1 , π2 ) é chamado produto categórico (ou sim-


plesmente, produto) dos objetos A e B se, para cada pré-produto (C, f1 , f2 ), existe um
único morfismo h ∈ C (C, A × B) tal que

π 1 ◦ h = f1 e π 2 ◦ h = f2 . (4.1)

Quando as equações em 4.1 forem satisfeitas, diremos que o diagrama

f1
. ↓h &f2

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

comuta.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 31

Observação 4.3 Os morfismos π1 e π2 são chamados de projeções. Quando houver


risco de ambiguidade, denotaremos π1A,B e π2A,B .

Observação 4.4 O morfismo h : C → A × B da definição anterior, é o morfismo


induzido por f1 e f2 associado às projeções π1 e π2 . Sempre que necessário, faremos uso
da notação h = hf1 , f2 i.

Observação 4.5 Em geral, costuma-se usar o sı́mbolo ”99K” (setas tracejadas) para
indicar a existência de um único morfismo que pode ocupar uma determinada posição
em um diagrama, permitindo que o mesmo comute. Neste texto, não faremos uso deste
sı́mbolo.

O Exemplo que segue ilustra o fato de que o produto categorico é uma generalização
do produto cartesiano da Teoria dos Conjuntos:

Exemplo 4.6 Sejam A, B ∈ ObSet . Considere o conjunto A×B = {(x, y) ; x ∈ A e y ∈ B}


e as funções
π1 : A × B → A e π2 : A × B → B
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y.

A tripla (A × B, π1 , π2 ), é um produto categórico de A e B. Com efeito, sejam (C, f1 , f2 )


um pré-produto de A e B e h : C → A × B uma função definida por

h (x) = (f1 (x) , f2 (x)) , ∀ x ∈ C.

Dado x ∈ C, tem-se que

π1 ◦ h (x) = π1 ((f1 (x) , f2 (x))) = f1 (x)

e
π2 ◦ h (x) = π2 ((f1 (x) , f2 (x))) = f2 (x) ,

isto é, π1 ◦ h = f1 e π2 ◦ h = f2 . Suponha agora, que o morfismo g : C → A × B seja tal


que π1 ◦ g = f1 e π2 ◦ g = f2 . Para cada z ∈ C com g (z) = (r, s), temos

r = π1 ((r, s)) = π1 (g (z)) = π1 ◦ g (z) = f1 (z)


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 32

e
s = π2 ((r, s)) = π2 (g (z)) = π2 ◦ g (z) = f2 (z) .

Logo,

g (z) = (r, s)

= (f1 (z) , f2 (z))

= h (z) .

Portanto, g = h, o que prova afirmação.

Exemplo 4.7 Suponha G, H ∈ ObGrp , G × H = {(x, y) ; x ∈ G e y ∈ H},

π1 : G × H → G e π2 : G × H → H
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y.

os homomorfismos projeções. A tripla (G × H, π1 , π2 ) é um produto categórico de G e H.


A demonstração desse fato segue a mesma linha de raciocı́nio usada no exemplo anterior
e será deixada a cargo do leitor.

Definição 4.8 Dizemos que uma categoria C possui todos os produtos se, cada par
de objetos em C possui um produto.

Exemplo 4.9 As categorias Set, Grp, VectF , Ring e Top possuem todos os produtos.

Exemplo 4.10 Considere a categoria discreta1 CX . Não existe produto categórico entre
a, b ∈ ObCX , com a 6= b. Com efeito, suponha por absurdo que a tripla (a × b, π1 , π2 ) é um
produto categórico de a e b. Neste caso, CX (a × b, a) e CX (a × b, b) são conjuntos não
vazios. Por definição, segue que a = a × b = b, contrariando a hipótese. Assim CX não
possui todos os produtos.

Exemplo 4.11 Sejam x, y ∈ ObP(P,≤) tais que min {x, y} existe2 . A tripla

(min {x, y} , (min {x, y} , x) , (min {x, y} , y))


1
Veja exemplo 2.8 na página 5.
2
Aqui, a notação min {y, z} denota o menor elemento dentre x e y.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 33

é um produto categórico de x e y, onde x × y = min {x, y} . De fato, seja z ∈ ObP(P,≤)


tal que P(P,≤) (z, x) 6= ∅ e P(P,≤) (z, y) 6= ∅. Por definição, temos que z ≤ x e z ≤ y,
logo, z ≤ min {x, y} e, consequentemente, P(P,≤) (z, min {x, y}) 6= ∅. Portanto, existe um
único morfismo
(z, min {x, y}) : z → min {x, y} .

tal que o diagrama

z
|
(z,min{x,y})
(z,x)
. ↓ &(z,y)

x (min{x,y},x)
←−−−−−− x×y (min{x,y},y)
−−−−−−→ y

comuta, isto é,


(min {x, y} , x) ◦P (z, min {x, y}) = (z, x)

e,
(min {x, y} , y) ◦P (z, min {x, y}) = (z, y) ,

o que demonstra a afirmação.

Observação 4.12 Sempre existem os morfismos (min {x, y} , x) e (min {x, y} , y).

Exemplo 4.13 Considere a categoria 2. A tripla (A, 1A , f ) é o produto de A e B. Com


efeito, para o único pré-produto de A e B, (A, 1A , f ), existe um único morfismo
h : A → A × B = A tal que π1 ◦ h = 1A e π2 ◦ h = f. Basta tomar h = 1A . Neste caso,
o diagrama

1A
. ↓1A &f

1A f
A ←
− A →
− B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 34

é comutativo, o que prova a afirmação. Note que A × B = A, π1 = 1A e π2 = f .

Proposição 4.14 Se C tem um objeto terminal T , então existe um produto categórico de


A e T , para todo A ∈ ObC .

Demonstração. Afirmamos que a tripla (A, 1A , !AT ) é um produto de A e T . Com efeito,


dado um pré-produto (C, f, !CT ), temos que

1A ◦ f = f (4.2)

e !AT ◦ f ∈ C (C, T ) = {!CT } . Logo,

!AT ◦ f =!CT . (4.3)

Portanto, o diagrama

f
. ↓f &!CT

1A !AT
A ←
− A −
→ T

é comutativo. Suponha agora que h : C → A é tal que 1A ◦ h = f e !AT ◦ h =!CT . Neste


caso,
h = 1A ◦ h = f .

Ou seja, f é o único morfismo que satisfaz as igualdades em 4.2 e 4.3, o que encerra a
prova.
Para as proposições que seguem, suponha que (A × B, π1 , π2 ) é um produto categórico
de A e B.

Proposição 4.15 Seja (C, f1 , f2 ) um pré-produto de A e B. Se α, β ∈ C (C, A × B) são


tais que π1 ◦ α = f1 = π1 ◦ β e π2 ◦ α = f2 = π2 ◦ β, então, α = β.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 35

Demonstração. Por definição, existe um único morfismo h : C → A × B tal que o


diagrama

h
f1
. ↓ & f2

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

comuta. Portanto, α = h = β.

Corolário 4.16 A identidade 1A×B é o único morfismo tal que

π1 ◦ 1A×B = π1 e π2 ◦ 1A×B = π2 .

Em particular, hπ1 , π2 i = 1A×B .

Demonstração. Com efeito, basta lembrar que a tripla (A × B, π1 , π2 ) é um pré-produto


de A e B. Além disso, o diagrama

A×B

1A×B
π1
. ↓ &π 2

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B

é comutativo.
 
Proposição 4.17 Se existe o produto B × A, π1B,A , π2B,A , então A × B ∼
= B × A.

Demonstração. Inicialmente, note que a tripla (A × B, π2 , π1 ) é um pré-produto de B

e A. Por definição, existe um único morfismo hπ2 , π1 i : A × B → B × A tal que


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 36

π1B,A ◦ hπ2 , π1 i = π2 e π2B,A ◦ hπ2 , π1 i = π1 . (4.4)

 
Analogamente, a tripla B × A, π2B,A , π1B,A é um pré-produto de A e B. Logo, existe um
D E
único morfismo π2B,A , π1B,A : B × A → A × B tal que

D E D E
π1 ◦ π2B,A , π1B,A = π2B,A e π2 ◦ π2B,A , π1B,A = π1B,A (4.5)

ou seja, o diagrama

A×B

hπ2 ,π1 i
π2
. ↓ &π1

π1B,A π2B,A
B ←−− B×A −−→ A

hπ2B,A ,π1B,A i
π2
- ↓ %π1

A×B

é comutativo. Combinando as equações em 4.4 e 4.5, segue que

A×B

hπ2B,A ,π1B,A i◦hπ2 ,π1 i


π1
. ↓ &π2

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 37

comuta, ou seja,

π1 = π2B,A ◦ hπ2 , π1 i
D E 
= π1 ◦ π2B,A , π1B,A ◦ hπ2 , π1 i

π2 = π1B,A ◦ hπ2 , π1 i
D E 
= π2 ◦ π2B,A , π1B,A ◦ hπ2 , π1 i .
D E
Desse fato, juntamente com a proposição 4.16, obtemos, π1B,A , π2B,A ◦ hπ2 , π1 i = 1A×B .
D E
Com argumentos semelhantes, mostra-se que hπ2 , π1 i ◦ π1B,A , π2B,A = 1B×A . (Deixamos
como exercı́cio essa parte da demonstração). Portanto, hπ2 , π1 i é um isomorfismo e A ×

B∼
= B × A.

Proposição 4.18 Se (A ⊗ B, p1 , p2 ) é também um produto categórico de A e B então


A × B ' A ⊗ B.

Demonstração. Como (A ⊗ B, p1 , p2 ) é um pré-produto de A e B, existe um único


morfismo hp1 , p2 i ∈ C (A ⊗ B, A × B) tal que

π1 ◦ hp1 , p2 i = p1 e π2 ◦ hp1 , p2 i = p2 . (4.6)

Por outro lado, (A × B, π1 , π2 ) é também um pré-produto de A e B, assim, existe um


único morfismo hπ1 , π2 i ∈ C (A × B, A ⊗ B) tal que

p1 ◦ hπ1 , π2 i = π1 e p2 ◦ hπ1 , π2 i = π2 . (4.7)

Usando 4.6 e 4.7, vemos que o diagrama


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 38

A⊗B

hp1 ,p2 i
p1
. ↓ & p2

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B

hπ1 ,π2 i
p1
- ↓ % p2

A⊗B

comuta, isto é,

p1 = π1 ◦ hp1 , p2 i

= (p1 ◦ hπ1 , π2 i) ◦ hp1 , p2 i

= p1 ◦ (hπ1 , π2 i ◦ hp1 , p2 i)

e,

p2 = π2 ◦ hp1 , p2 i

= (p2 ◦ hπ1 , π2 i) ◦ hp1 , p2 i

= p2 ◦ (hπ1 , π2 i ◦ hp1 , p2 i) .

Ou seja,

A⊗B

hp1 ,p2 i◦hπ1 ,π2 i


p1
. ↓ & p2

p1 p2
A ←−− A⊗B −−→ B

comuta. Novamente, da proposição 4.16, segue que 1A⊗B = hπ1 , π2 i ◦ hp1 , p2 i. Usando
argumentos semelhantes, podemos provar que 1A×B = hp1 , p2 i ◦ hπ1 , π2 i. (Deixamos como
exercı́cio essa parte da demonstração). Portanto, hp1 , p2 i é um isomorfismo, e, conse-
quentemente, A × B ' A ⊗ B.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 39

Proposição 4.19 Se L ∈ ObC é tal que L ∼


= A × B, então existem p1 : L → A e
p2 : L → B tais que (L, p1 , p2 ) é um produto de A e B.

Demonstração. Seja h : L → A × B um isomorfismo. Defina p1 : L → A e p2 : L → B


pondo p1 = π1 ◦ h e p2 = π2 ◦ h respectivamente. Vamos mostrar que (L, p1 , p2 ) é um
produto de A e B. Com efeito, seja (C, f1 , f2 ) um pré-produto de A e B. Por definição,
existe um único morfismo h̄ : C → A × B tal que π1 ◦ h̄ = f1 e π2 ◦ h̄ = f2 . Ainda, se
k = h−1 ◦ h̄, temos que

p1 ◦ k = p1 ◦ h−1 ◦ h̄ = π1 ◦ h̄ = f1


e
p2 ◦ k = p2 ◦ h−1 ◦ h̄ = π2 ◦ h̄ = f2 .


Ou seja, o diagrama


f1
. ↓ & f2

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B

h−1
p1
- ↓ % p2

comuta. Por outro lado, se ∆ : C → L é tal que p1 ◦ ∆ = f1 e p2 ◦ ∆ = f2 , segue


imediatamente da definição de p1 e p2 que

h◦∆
f1
. ↓ & f2

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 40

comuta. A partir disso e da unicidade do morfismo h̄, temos h ◦ ∆ = h̄. Assim, k = ∆,


ou seja, (L, p1 , p2 ) é um produto de A e B.

Observação 4.20 Em palavras, as proposições 4.18 e 4.19 afirmam que o objeto produto
A × B, quando existe, é único a menos de isomorfismo.
 
B,C B,C
Proposição 4.21 Se existem os produtos B × C, π1 , π2 , ((A × B) × C, p1 , p2 ) e

(A × (B × C) , g1 , g2 ), então A × (B × C) ∼
= (A × B) × C.
 
Demonstração. Notemos inicialmente que A × (B × C) , g1 , π1B,C ◦ g2 é um pré-produto
 
de A e B, e, (A × B) × C, π2A,B ◦ p1 , p2 é um pré-produto de B e C. Logo, existem

γ : A × (B × C) → A × B e β : (A × B) × C → B × C morfismos em C. Além disso, γ


satisfaz:
π1A,B ◦ γ = g1 . (4.8)
   
As triplas A × (B × C) , γ, π2B,C ◦ g2 e (A × B) × C, π1A,B ◦ p1 , β são pré-produtos de

A × B e C, e, A e B × C, respectivamente. Assim, existem e, são únicos, os morfismos

h : A × (B × C) → (A × B) × C e z : (A × B) × C → A × (B × C) tais que os diagramas

A × (B × C)

h B,C
γ ◦g2
. ↓ & π2

p1 p2
A×B ←−− (A × B) × C −−→ C

e,
(A × B) × C

z
π1A,B ◦p1
. ↓ &β

g1 g2
A ←−− A × (B × C) −−→ B × C
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 41

comutam. Desse fato, e da igualdade em 4.8, segue que

g1 = π1A,B ◦ (p1 ◦ h) (4.9)


 
= π1A,B ◦ p1 ◦ h

= (g1 ◦ z) ◦ h

= g1 ◦ (z ◦ h) .

Ainda,
g2 ◦ z = β (4.10)

Por outro lado, (A × (B × C) , g1 , β ◦ h) e um pré-produto de A e B × C, logo, existe um


único morfismo η : A × (B × C) → A × (B × C) tal que

A × (B × C)

η
g1
. ↓ &β◦h

g1 g2
A ←−− A × (B × C) −−→ B×C

comuta. Consequentemente, η = 1A×(B×C) , de onde concluı́mos que g2 = β ◦ h. Assim,


de 4.10, obtemos
g2 = g2 ◦ (z ◦ h) . (4.11)

Portanto, segue das igualdades em 4.9 e 4.11 que o diagrama

A × (B × C)

z◦h
g1
. ↓ & g2

g1 g2
A ←−− A × (B × C) −−→ B × C
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 42

é comutativo. A partir disso, e da proposição 4.16, segue que 1A×(B×C) = z ◦ h. Com


argumentos semelhantes é possı́vel provar que 1(A×B)×C = h ◦ z (deixamos como exercı́cio
essa parte da demonstração), ou seja, h é um isomorfismo, e, A × (B × C) ∼
= (A × B) × C.

Proposição 4.22 Se (C, f, g) e (C, h, k) são dois pré-produtos de A e B tais que hf, gi =
hh, ki então f = h e g = k.

Demonstração. Por hipótese, existem e são únicos os morfismos hf, gi : C → A × B e


hh, ki : C → A × B tais que o diagrama

hf,gi
f
. ↓ &g

π1 π2
A ←−− A×B −−→ B

h - ↑ %k
hh,ki=hf,gi

é comutativo. Isto é,


π1 ◦ hf, gi = f e π2 ◦ hf, gi = g

e,
π1 ◦ hh, ki = h e π2 ◦ hh, ki = k.

Combinando as equações acima, obtemos

f = π1 ◦ hf, gi = π1 ◦ hh, ki = h,

e,
g = π2 ◦ hf, gi = π2 ◦ hh, ki = k.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 43

Proposição 4.23 Seja h ∈ C (C, D) . Se (D, f, g) é um pré-produto de A e B, então


hf ◦ h, g ◦ hi = hf, gi ◦ h.

Demonstração. Inicialmente, notemos que f ◦ h ∈ C (C, A) e g ◦ h ∈ C (C, B), portanto,


(C, f ◦ g, g ◦ h) é um pré-produto de A e B. Por definição, existem e são únicos os
morfismos hf, gi : D → A × B e hf ◦ g, g ◦ hi : C → A × B, tais que

π1 ◦ hf, gi = f e π2 ◦ hf, gi = g (4.12)

e,
π1 ◦ hf ◦ g, g ◦ hi = f ◦ h e π2 ◦ hf ◦ g, g ◦ hi = g ◦ h. (4.13)

Isto é, o diagrama

hf ◦h,g◦hi
f ◦h
. ↓ &g◦h

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

f
- ↑ %g
hf,gi

h

comuta. Segue das igualdades em 4.12 que

π1 ◦ (hf, gi ◦ h) = f ◦ h e π2 ◦ (hf, gi ◦ h) = g ◦ h.

Com as equações acima, juntamente com a unicidade de hf ◦ g, g ◦ hi satisfazendo as


equações em 4.13, concluı́mos que

hf ◦ g, g ◦ hi = hf, gi ◦ h.

O que encerra a prova.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 44

4.1.2 Coproduto

A noção de Coproduto é dual a de Produto. Por se tratar de um dos primeiros conceitos


duais, a abordagem que segue apresenta todas as respectivas definições e uma prova para
a maioria dos resultados, sem fazer uso do Princı́pio da Dualidade.

Definição 4.24 Um pré-coproduto dos objetos A e B é uma tripla (C, f1 , f2 ) con-


stituı́da por um objeto C em C e dois morfismos f1 ∈ C (A, C) e f2 ∈ C (B, C).

Definição 4.25 Um pré-coproduto (A + B, i1 , i2 ) é chamado coproduto de A e B se,


para cada pré-coproduto (C, f1 , f2 ), existe um único morfismo h ∈ C (A + B, C) tal que o
diagrama

f1
% ↑h - f2

i1 i2
A →
− A+B ←
− B

comuta, isto é, h ◦ i1 = f1 e h ◦ i2 = f2 .

Observação 4.26 Os morfismos i1 e i2 são chamados imersões (ou inclusões)

Observação 4.27 O morfismo h : A + B → C da definição anterior, é o morfismo


induzido por f1 e f2 associado as imersões i1 e i2 . Vamos usar a notação [f1 , f2 ] :
A + B → C para indicá-lo.

O próximo exemplo mostra que o coproduto é uma generalização, em certo sentido,


da noção de união disjunta da Teoria dos Conjuntos

Exemplo 4.28 Sejam A e B ∈ ObSet . Considere o conjunto A + B = {A × {0}} ∪


{B × {1}} e as funções

i1 : A → A + B i2 : B → A + B
e .
x 7→ (x, 0) y 7→ (y, 1)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 45

A tripla (A + B, i1 , i2 ), é um coproduto de A e B. Com efeito, para qualquer pré-coproduto


(C, f1 , f2 ) de A e B, podemos definir a função [f1 , f2 ] : A + B → C pondo:


 f (x) , se i = 0
1
[f1 , f2 ] (x, i) =
 f (x) , se i = 1.
2

É facil verificar que a função [f1 , f2 ] está bem definida. Agora, dados x ∈ A e y ∈ B,
temos que

[f1 , f2 ] ◦ i1 (x) = [f1 , f2 ] (i1 (x))

= [f1 , f2 ] (x, 0)

= f1 (x)

e,

[f1 , f2 ] ◦ i2 (y) = [f1 , f2 ] (i2 (y))

= [f1 , f2 ] (y, 1)

= f2 (y) .

Assim, [f1 , f2 ] ◦ i1 = f1 e [f1 , f2 ] ◦ i2 = f2 . Por outro lado, se g : A + B → C é tal que


g ◦ i1 = f1 e g ◦ i2 = f2 , então, para cada (x, i) ∈ A + B, temos:

[f1 , f2 ] (x, i) = [f1 , f2 ] (x, 0)

= f1 (x)

= g ◦ i1 (x)

= g (i1 (x))

= g (x, 0)

= g (x, i) ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 46

ou,

[f1 , f2 ] (x, i) = [f1 , f2 ] (x, 1)

= f2 (x)

= g ◦ i2 (x)

= g (i2 (x))

= g (x, 1)

= g (x, i) .

Em qualquer caso, g = [f1 , f2 ]. Portanto, (A + B, i1 , i2 ) é, de fato, um coproduto de A e


B.

Definição 4.29 Dizemos que uma categoria C possui todos os coprodutos se, cada
par de objetos em C possui um coproduto.

Exemplo 4.30 A categoria Set possui todos os coprodutos.

Exemplo 4.31 Sejam x, y ∈ ObP(P,≤) tais que max {x, y} existe. A tripla

(max {x, y} , (x, max {x, y}) , (y, max {x, y}))

é um coproduto de x e y com x + y = max {x, y} .

z

(max{x,y},z)
(x,z)
% | -(y,z)

(x,max{x,y}) (y,max{x,y})
x −−−−−−→ x+y ←−−−−−− y.

Exemplo 4.32 Não existe o coproduto entre dois objetos distintos a e b em uma categoria
CX . Por outro lado, se a = b, então a tripla (a, 1a , 1a ) é coproduto de A consigo mesmo,
pois o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 47

1a
% ↑1a -1a

1a 1a
a →
− a ←
− a

é comutativo.

Proposição 4.33 Se C tem um objeto inicial I, então existe um coproduto de A e I, para


cada A ∈ ObC .

Demonstração. A tripla (A, 1A , !IA ) é um coproduto de A e I. De fato, dado um


pré-coproduto (C, f, !IC ), temos que

f ◦ 1A = f . (4.14)

Ainda, como f ◦!IA ∈ C (I, C) = {!IC }, segue que

f ◦!IA =!IC . (4.15)

Isto é, o diagrama

f
% ↑f -!IC

1A !IA
A →
− A ←
− I

comuta. Agora, se existe h : A → C tal que h ◦ 1A = f e h◦!IA =!IC , temos claramente


que h = f . Portanto, f = [f, !IC ] é o único morfismo que satisfaz as igualdades em 4.14 e
4.15, o que prova a afirmação.

Para as proposições que seguem, suponha que (A + B, i1 , i2 ) é um coproduto de A e


B.

Proposição 4.34 Seja (C, f1 , f2 ) um pré-coproduto de A e B. Se α, β ∈ C (A + B, C)


são tais que α ◦ i1 = f1 = β ◦ i1 e α ◦ i2 = f2 = β ◦ i2 , então, α = β.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 48

Demonstração. A demonstração será deixada como um exercı́cio para o leitor.

Proposição 4.35 A identidade 1A+B é o único morfismo tal que

1A+B ◦ i1 = i1 e 1A+B ◦ i2 = i2 .

Em particular, [i1 , i2 ] = 1A+B .

Demonstração. A demonstração será deixada como um exercı́cio para o leitor.


 
Proposição 4.36 Se existe o coproduto B + A, iB,A
1 , iB,A
2 então A + B ∼
= B + A.

Demonstração. A tripla (A + B, i2 , i1 ) é um pré-coproduto de B e A, logo, existe um


único morfismo [i2 , i1 ] : B + A → A + B tal que

[i2 , i1 ] ◦ iB,A
1 = i2 e [i2 , i1 ] ◦ iB,A
2 = i1 . (4.16)
 
Do mesmo modo, B + A, iB,A
2 , iB,A
1 é um pré-coproduto de A e B, daı́ existe um único
h i
B,A B,A
morfismo i2 , i1 : A + B → B + A tal que
h i h i
iB,A
2 , iB,A
1 ◦ i2 = iB,A
1 e iB,A
2 , iB,A
1 ◦ i1 = iB,A
2 . (4.17)

Assim, o diagrama

A+B

i2
% ↑ -i1
[i2 ,i1 ]

iB,A iB,A
B 1
−→ B+A 2
←− A

i2 & ↑ .i1
B,A B,A
[ i2 ,i1 ]

A+B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 49

é comutativo. De 4.16 e 4.17, obtemos

i1 = [i2 , i1 ] ◦ iB,A
2
 h i
= [i2 , i1 ] ◦ iB,A2 , iB,A
1 ◦ i1

e,

i2 = [i2 , i1 ] ◦ iB,A
1
 h i
= [i2 , i1 ] ◦ iB,A
2 , iB,A
1 ◦ i2 .
h i h i
Portanto, iA,B
2 , iA,B
1 ◦ iB,A B,A
1 , i2 = 1A+B . Analogamente, mostra-se que
h i h i
B,A B,A A,B A,B
i1 , i2 ◦ i2 , i1 = 1B+A .

(Deixamos a cargo do leitor). Portanto, [i2 , i1 ] é um isomorfismo e A + B ∼


= B + A.

Proposição 4.37 Se (A ⊕ B, I1 , I2 ) é também um coproduto de A e B, então A + B '


A ⊕ B.

Demonstração. Por hipótese, (A + B, i1 , i2 ) é um pré-coproduto de A e B, logo, existe


um único morfismo [i1 , i2 ] : A ⊕ B → A + B induzido por i1 e i2 tal que

[i1 , i2 ] ◦ I1 = i1 e [i1 , i2 ] ◦ I2 = i2 . (4.18)

Analogamente, como (A ⊕ B, I1 , I2 ) é um pré-coproduto de A e B, existe um único mor-


fismo [I1 , I2 ] : A + B → A ⊕ B tal que

[I1 , I2 ] ◦ i1 = I1 e [I1 , I2 ] ◦ i2 = I2 . (4.19)

Combinando as equações em 4.18 e 4.19, vemos que o diagrama

A+B

i1
% ↑ -i1
[i1 ,i2 ]

I1 I2
A →
− A⊕B ←
− B

i1 & ↑ .i1
[I1 ,I2 ]

A+B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 50

comuta. Assim,
i1 = [i1 , i2 ] ◦ I1 = ([i1 , i2 ] ◦ [I1 , I2 ]) ◦ i1 (4.20)

e,
i2 = [i1 , i2 ] ◦ I2 = ([i1 , i2 ] ◦ [I1 , I2 ]) ◦ i2 . (4.21)

Da proposição 4.35 e das equações em 4.20 e 4.21, concluı́mos que [i1 , i2 ] ◦ [I1 , I2 ] =
1A+B . Analogamente, prova-se que [I1 , I2 ] ◦ [i1 , i2 ] = 1A⊕B . (Deixamos a cargo do leitor).
Portanto, [i1 , i2 ] é um isomorfismo e A + B ' A ⊕ B.

Observação 4.38 O objeto coproduto A + B, quando existe, é único a menos de isomor-


fismo.

Proposição 4.39 Se L ∈ ObC é tal que L ∼


= A + B, então existem φ1 : A → L e
φ2 : B → L tais que (L, φ1 , φ2 ) é um co-produto de A e B.

Demonstração. Basta usar argumentos semelhantes aos usados na demonstração da


proposição 4.19. Deixamos a cargo do leitor.

Proposição 4.40 Se (C, f, g) e (C, h, k) são dois pré-coprodutos de A e B tais que


[f, g] = [h, k], então f = h e g = k.

Demonstração. Por hipótese, existem e são únicos os morfismos [f, g] : A + B → C e


[h, k] : A + B → C, tais que

[f, g] ◦ i1 = f e [f, g] ◦ i2 = g

e,
[h, k] ◦ i1 = h e [h, k] ◦ i2 = k.

Ou seja,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 51

f
% ↑ -g
[f,g]

i1 i2
A →
− A⊕B ←
− B

[h,k]
h & ↓ .k

comuta. Logo,
f = [f, g] ◦ i1 = [h, k] ◦ i1 = h

e,
g = [f, g] ◦ i2 = [h, k] ◦ i2 = k.

Proposição 4.41 Seja h ∈ C (C, D). Se (D, f, g) é um pré-coproduto de A e B, então


[h ◦ f, h ◦ g] = h ◦ [f, g].

Demonstração. Sabemos que (C, h ◦ f, h ◦ g) é um pré-produto de A e B, logo, existem


e são únicos os morfismos [f, g] : A + B → D e [h ◦ f, h ◦ g] : A + B → C, tais que

[f, g] ◦ i1 = f e [f, g] ◦ i2 = g (4.22)

e,
[h ◦ f, h ◦ g] ◦ i1 = h ◦ f e [h ◦ f, h ◦ g] ◦ i2 = h ◦ g. (4.23)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 52

Ou seja,
C

h◦f
% ↑ -h◦g
[h◦f,h◦g]

i1 i2
A −→ A×B ←− B

f & .g
[f,g]

D

h

é comutativo. Segue de 4.22 que

(h ◦ [f, g]) ◦ i1 = h ◦ f e (h ◦ [f, g]) ◦ i2 = h ◦ g. (4.24)

Concluı́mos, assim, que [h ◦ f, h ◦ g] = h ◦ [f, g].

4.1.3 Produto e Coproduto de morfismos

Produtos e Coproduto de morfismos são morfismos especiais induzidos a partir de Pro-


dutos e Coprodutos de objetos em uma categoria C.
No que segue, A, B, C e D são objetos em uma categoria C.

Produto de morfismos
   
Definição 4.42 Sejam A × B, π1A,B , π2A,B e C × D, π1C,D , π2C,D produtos, f : A → C
e g : B → D morfismos em C. O morfismo
D E
f ◦ π1A,B , g ◦ π2A,B : A × B → C × D

induzido por f ◦π1A,B e g ◦π2A,B é chamado produto de morfismos e denotado por f ×g.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 53

Proposição 4.43 O produto de morfismos f ×g é o único morfismo de C (A × B, C × D)


tal que π1C,D ◦ (f × g) = f ◦ π1A,B e π2C,D ◦ (f × g) = g ◦ π2A,B .
 
Demonstração. Basta notar que a tripla A × B, f ◦ π1A,B , g ◦ π2A,B é um pré-produto
D E
de C e D e que f × g = f ◦ π1A,B , g ◦ π2A,B . Logo, o diagrama

π1A,B π2A,B
A ←−− A×B −−→ B

f ×g
f f ◦π1A,B A,B
↓ . ↓ &g◦π2 ↓g

π1C,D π2C,D
C ←−− C ×D −−→ D

é comutativo, isto é,


D E
π1C,D ◦ f◦ π1A,B , g ◦ π2A,B = f ◦ π1A,B

e,
D E
π2C,D ◦ f ◦ π1A,B , g ◦ π2A,B = g ◦ π2A,B .

Exemplo 4.44 Sejam f : A → C e g : B → D morfismos em Set. Considere a aplicação

γ : A×B →C ×D
(a, b) 7→ γ (a, b) = (f (a) , g (b)).

Dados (a, b) ∈ A × B, temos que

π1C,D ◦ γ (a, b) = π1C,D (f (a) , g (b))

= f (a)
 
A,B
= f π1 (a, b)

= f ◦ π1A,B (a, b)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 54

e,

π2C,D ◦ γ (a, b) = π2C,D (f (a) , g (b))

= g (b)
 
= g π2A,B (a, b)

= g ◦ π2A,B (a, b) .

Logo, pela proposição 4.43, γ = f × g.

Proposição 4.45 Se existe o produto (A × B, π1 , π2 ) então 1A × 1B = 1A×B .

Demonstração. Note que o diagrama

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

h1A ◦π1 ,1B ◦π2 i


1A ◦π1
1A ↓ . ↓ &1B ◦π2 ↓ 1B

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

é comutativo, pois a tripla (A × B, π1 , π2 ) é um pré-produto de A e B. Pela proposição


4.16, segue que 1A × 1B = h1A ◦ π1 , 1B ◦ π2 i = 1A×B .
   
Proposição 4.46 Sejam A × B, π1A,B , π2A,B e D × E, π1D,E , π2D,E produtos,

g : C → D, f : D → A, k : C → E e h : E → B morfismos em C, então

hf ◦ g, h ◦ ki = (f × h) ◦ hg, ki .

Demonstração. A tripla (C, f ◦ g, h ◦ k) é um pré-produto de A e B, logo, existe um


único morfismo hf ◦ g, h ◦ ki : C → A × B, tal que

π1A,B ◦ hf ◦ g, h ◦ ki = f ◦ g e π2A,B ◦ hf ◦ g, h ◦ ki = h ◦ k. (4.25)

isto é, o diagrama,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 55

g k
D ←
− C →
− E

hf ◦g,h◦ki
f f ◦g
↓ . ↓ &h◦k ↓h

π1A,B π2A,B
A ←−− A×B −−→ B

é comutativo. Por outro lado, como (C, g, k) é pré-produto de D e E. Existe um único


morfismo hg, ki : C → D × E, tal que

π1D,E ◦ hg, ki = g e π2D,E ◦ hg, ki = k,

logo,
   
f◦ π1D,E ◦ hg, ki = f ◦ g e h◦ π2D,E ◦ hg, ki = h ◦ k.

Das equações acima, e da proposição 4.43, obtemos


   
π1A,B ◦ f × h ◦ hg, ki = f ◦ g e π2A,B ◦ f × h ◦ hg, ki = h ◦ k,

isto é,
π1A,B ◦ (f × h ◦ hg, ki) = f ◦ g e π2A,B ◦ (f × h ◦ hg, ki) = h ◦ k. (4.26)

Logo, o diagrama

π1A,B π2A,B
A ←−− A×B −−→ B

f
↑ f ◦π1D,E - ↑ %h◦πD,E ↑h
2
f ×h

π1D,E π2D,E
D ←−− D×E −−→ E

g - ↑ %k
hg,ki

C
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 56

comuta. Assim, das equações em 4.25 e 4.26, e da proposição 4.15, segue que hf ◦ g, h ◦ ki =
(f × h) ◦ hg, ki .
    
Proposição 4.47 Sejam A × B, π1A,B , π2A,B C,D C,D
, C × D, π1 , π2 E,F E,F
e E × F, π1 , π2

produtos, g : A → E, f : E → C, k : B → F e h : F → D morfismos em C, então

(f ◦ g) × (h ◦ k) = (f × h) ◦ (g × k).

Demonstração. Sabemos que g × k é tal que

π1E,F ◦ g × k = g ◦ π1A,B e π2E,F ◦ g × k = k ◦ π2A,B .

Logo,
   
f◦ π1E,F ◦ g × k = (f ◦ g) ◦ π1A,B e h◦ π2E,F ◦ g × k = (h ◦ k) ◦ π2A,B . (4.27)

Por outro lado, f × h satisfaz

π1C,D ◦ f × h = f ◦ π1E,F e π2C,D ◦ f × h = h ◦ π2E,F . (4.28)

Combinando as equações em 4.27 e 4.28, obtemos

π1C,D ◦ [(f × h) ◦ (g × k)] = (f ◦ g) ◦ π1A,B

e,
π2C,D ◦ [(f × h) ◦ (g × k)] = (h ◦ k) ◦ π2A,B ,

isto é, o diagrama

π1A,B π2A,B
A ←−− A×B −−→ B

(f ×h)◦(g×k)
f ◦g (f ◦g)◦π1A,B A,B
↓ . ↓ &(h◦k)◦π2 ↓h◦k

π1C,D π2C,D
C ←−− C ×D −−→ D

é comutativo. Daı́ e da proposição 4.43 segue que (f ◦ g) × (h ◦ k) = (f × h) ◦ (g × k).


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 57

Coproduto de morfismos
   
Definição 4.48 Sejam A + B, iA,B
1 , iA,B
2 e C + D, iC,D C,D
1 , i2 coprodutos h : C → A

e z : D → B morfismos em C. O morfismo

h i
A,B A,B
i1 ◦ h, i2 ◦ z : C + D → A + B

induzido por iA,B


1 ◦ h e iA,B
2 ◦ z é chamado coproduto de morfismo e denotado h + z.

Proposição 4.49 O coproduto de morfismos h+g é o único morfismo de C (C + D, A + B)

tal que (h + g) ◦ iC,D


1 = iA,B
1 ◦ h e (h + g) ◦ iC,D
2 = iA,B
2 ◦ z.
 
Demonstração. A tripla A + B, iA,B
1 ◦ h, iA,B
2 ◦ z é um pré-coproduto de C + D, e o
diagrama

iA,B iA,B
A 1
−→ A+B 2
←− B

A,B
A,B
i1 ◦h ◦z
h↑ % ↑ -i2 ↑z
h+z

iC,D iC,D
C 1
−→ C +D 2
←− D

h i
comuta. Portanto, o morfismo h + g = iA,B
1 ◦ h, iA,B
2 ◦ z é o único morfismo tal que

(h + g) ◦ iC,D
1 = iA,B
1 ◦ h e (h + g) ◦ iC,D
2 = iA,B
2 ◦ z.

Proposição 4.50 Se existe o coproduto (A + B, i1 , i2 ), então 1A + 1B = 1A+B .

Demonstração. O diagrama seguir,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 58

i1 i2
A →
− A+B ←
− B

i1 ◦1A
1A
↑ % ↑ -i2 ◦1B ↑1B
[i1 ◦1A ,i2 ◦1B ]

i1 i2
A →
− A+B ←
− B

é comutativo, pois (A + B, i1 , i2 ) é um pré-coproduto de A e B. Pela proposição 4.35,

segue que 1A + 1B = [i1 ◦ 1A , i2 ◦ 1B ] = 1A+B .


   
Proposição 4.51 Sejam A + B, iA,B
1 , iA,B
2 , C + D, iC,D C,D
1 , i2 coprodutos, f : A →

C, g : C → E, h : B → D e k : D → E morfismos em C, então

[g ◦ f, k ◦ h] = [g, k] ◦ (f + g) .

Demonstração. Como (E, g ◦ f, k ◦ h) é um pré-coproduto de A e B, existe um único

morfismo [g ◦ f, k ◦ h] : A + B → E tal que o diagrama

g k
C →
− E ←
− D

f g◦f
↑ % ↑ -k◦h ↑h
[g◦f,k◦h]

iA,B iA,B
A 1
−→ A+B 2
←− B

é comutativo, isto é,

[g ◦ f, k ◦ h] ◦ iA,B
1 = g ◦ f e [g ◦ f, k ◦ h] ◦ iA,B
2 = k ◦ h. (4.29)

Sabemos que a tripla (E, g, k) é um pré-coproduto de C e D, logo, existe um único


morfismo [g, k] : C + D → E, tal que

[g, k] ◦ iC,D
1 =g e [g, k] ◦ iC,D
2 = k.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 59

Logo,
   
[g, k] ◦ iC,D
1 ◦ f =g◦f e [g, k] ◦ iC,D
2 ◦ h = k ◦ h.

Daı́ e da proposição 4.49,

[g, k] ◦ f + g ◦ iA,B
1 = g ◦ f e [g, k] ◦ (f + g) ◦ iA,B
2 = k ◦ h. (4.30)

Logo, o diagrama

iA,B iA,B
A 1
−→ A+B 2
←− B

f +g C,D
f ◦h
↓ iC,D ◦f & ↓ . i2 ↓h
1

iC,D iC,D
C 1
−→ C +D 2
←− D

[g,k]
g & ↓ .k

comuta. Segue, das equações em 4.29 e 4.30 e da proposição 4.34 que [g ◦ f, k ◦ h] =


[g, k] ◦ (f + g).
     
Proposição 4.52 Sejam A+ B, iA,B A,B
1 , i2
C,D C,D
, C + D, i1 , i2 E,F E,F
e E + F, i1 , i2

coprodutos, f : A → E, g : E → C, h : B → F e k : F → D morfismos em C,

então (g ◦ f ) + (k ◦ h) = (g + k) ◦ (f + h) .

Demonstração. O morfismo f + h : A + B → E + F é tal que

f + h ◦ iA,B
1 = iE,F
1 ◦ f e f + h ◦ iA,B
2 = iE,F
2 ◦ h. (4.31)

Por outro lado, o morfismo g + k : E + F → C + D satisfaz:

g + k ◦ iE,F
1 = iC,D
1 ◦ g e f + h ◦ iE,F
2 = iC,D
2 ◦ k.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 60

Logo,
   
(g + k) ◦ iE,F
1 ◦ f = i C,D
1 ◦ (g ◦ f ) e (g + k) ◦ iE,F
2 ◦ h = iC,D
2 ◦ (k ◦ h) .

Dessa afirmação juntamente com 4.31, concluı́mos que

[(g + k) ◦ (f + h)] ◦ iA,B


1 = iC,D
1 ◦ (g ◦ f )

e,
[(g + k) ◦ (f + h)] ◦ iA,B
2 = iC,D
2 ◦ (k ◦ h) .

Portanto, o diagrama

iC,D iC,D
C 1
−→ C +D 2
←− D

g◦f (g◦f )◦iC,D C,D


↑ 1 % ↑ -(k◦h)◦i2 ↑k◦h
(g+k)◦(f +h)

iA,B iA,B
A 1
−→ A+B 2
←− B

comuta. Daı́ e da proposição 4.49, segue que (g ◦ f ) + (k ◦ h) = (g + k) ◦ (f + h).

4.2 Equalizadores e Coequalizadores


No que segue, suponha C uma categoria e f, g ∈ C (A, B) .

4.2.1 Equalizadores

Definição 4.53 Um pré-equalizador de f e g é um par (E, i), constituı́do por um


objeto E de C e um morfismo i ∈ C (E, A) tal que f ◦ i = g ◦ i.

Definição 4.54 Um pré-equalizador (E, i) é chamado equalizador de f e g se, para


   
cada pré-equalizador Ê, ı̂ , existir um único morfismo h ∈ C Ê, E tal que
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 61


&ı̂
f
h
↓ A −−−→ B
−−−g→

%i
E

comuta, isto é, i ◦ h = ı̂.

Exemplo 4.55 Sejam f, g ∈ Set (A, B), E = {x ∈ A; f (x) = g (x)} ∈ ObSet e,

i: E →A
x 7→ i (x) = x

a função inclusão. Afirmamos que (E, i) é um equalizador de f e g. Com efeito, dado


x ∈ E,
f ◦ i (x) = f (i (x)) = f (x) = g (x) = g (i (x)) = g ◦ i (x) ,
 
isto é, f ◦ i = g ◦ i. Seja Ê, ı̂ um pré-equalizador de f e g. Dado x ∈ Ê,

f (ı̂ (x)) = f (x) = g (x) = g (ı̂ (x)) ,


 
logo, ı̂ (x) ∈ E e, Im Ê ⊂ E ⊂ A. Considere as inclusões
 
i1 : Im Ê →E
x 7→ i1 (x) = x

e,  
i2 : Im Ê →A
x 7→ i2 (x) = x.
Defina a função  
α : Ê → Im Ê
x 7→ α (x) = ı̂ (x) .
 
Dado x ∈ Ê e y ∈ Im Ê , temos que

i2 ◦ α (x) = i2 (α (x)) = α (x) = ı̂ (x)


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 62

e
i ◦ i1 (y) = i (i1 (y)) = i1 (y) = y = i2 (y)

ou seja, o diagrama


α
↓ &ı̂
f
 
Im Ê i2
A −−−→ B
−−→ −−−g→

i1
↓ %i
E

comuta. Ou seja, i2 ◦ α = ı̂ e i ◦ i1 = i2 . Dessa maneira,

i ◦ (i1 ◦ α) = (i ◦ i1 ) ◦ α = i2 ◦ α = ı̂.

Defina agora, h : Ê → E pondo h = i1 ◦ α. Afirmamos que h é o único morfismo que


satisfaz i ◦ h = i. Com efeito, seja g : Ê → E tal que i ◦ g = i. Neste caso, i ◦ h = i ◦ g.
Como i é injetiva, segue diretamente da proposição 3.18 que h = g. Portanto, (E, i) é de
fato, um equalizador de f e g.

Exemplo 4.56 No exemplo anterior, poderiamos ter usado a categoria Grp no lugar de
Set, logo, se f, g ∈ Grp (G, H), E = {x ∈ G; f (x) = g (x)} ∈ ObGrp e

i: E →G
x 7→ i (x) = x

é o homomorfismo inclusão, então (E, i) é um equalizador de f e g.

Exemplo 4.57 Considere os morfismos g, f ∈ Set (R3 , R) dados por g (x, y, z) = 0 e


f (x, y, z) = −x2 − y 2 + z, para todo (x, y, z) ∈ R3 . Pelo exemplo anterior, (E, i) é um
equalizador de f e g, onde i : E → R3 é a função inclusão, e E = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = x2 + y 2 } .

Para as duas proposições que seguem, suponha que (E, i) é um equalizador de f e g.

Proposição 4.58 O morfismo i : E → A é monomorfismo.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 63

Demonstração. Sejam α, β ∈ C (D, E) tais que i ◦ α = i ◦ β. Se i ◦ α = k, temos que

f ◦ k = (f ◦ i) ◦ α = (g ◦ i) ◦ α = g ◦ k.

Então, (D, k) é um pré-equalizador de f e g. Logo, existe um único morfismo h ∈ C (D, E)


tal que i ◦ h = k, de onde concluı́mos que α = h = β.

Proposição 4.59 Se o morfismo i : E → A é um epimorfismo, então é um isomorfismo.

Demonstração. Suponha agora que i : E → A é um epimorfismo. Neste caso, segue da


igualdade f ◦ i = g ◦ i que f = g, e, consequentemente, que f ◦ 1A = g ◦ 1A , isto é, (A, 1A )
é um pré-equalizador de f e g. Por definição, existe um único morfismo l : A → E tal que

i ◦ l = 1A . (4.32)

Por outro lado, temos

i ◦ (l ◦ i) = (i ◦ l) ◦ i = 1A ◦ i = i = i ◦ 1E .

Daı́ e pelo item anterior, segue que

l ◦ i = 1E . (4.33)

Por 4.32 e 4.33, i é um isomorfismo.


 
Proposição 4.60 Se (E, i) e Ê, ı̂ são equalizadores de f e g, então E ∼
= Ê.
 
Demonstração. Como (E, i) e Ê, ı̂ são pré-equalizadores de f e g, existem e são
   
únicos, os morfismos h ∈ C E, Ê e k ∈ C Ê, E tais que ı̂ ◦ h = i e i ◦ k = ı̂. Daı́,

i ◦ (k ◦ h) = ı̂ ◦ h = i.

Por outro lado, 1E e o único morfismo tal que i ◦ 1E = i. Portanto, k ◦ h = 1E . Com


argumentos semelhantes, prova-se que h ◦ k = 1Ê , logo, h é um isomorfismo, e E ∼
= Ê.

Exemplo 4.61 Considere os morfismos f, g ∈ Set (A, R), com A = R3 − {(0, 0, 1)},
f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 e g (x, y, z) = 1, para todo (x, y, z) ∈ A. Pelo exemplo 4.55,
1 1
(SN , i) é um equalizador de f e g, onde i : SN → R3 é a função inclusão, e o conjunto
1
SN = {(x, y, z) ∈ A; x2 + y 2 + z 2 = 1} é a esfera sem o pólo norte. Seja
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 64

φ: R2 → A
 2 2

(x, y) 7→ 2x
, 2y , x +y −1
x2 +y 2 +1 x2 +y 2 +1 x2 +y 2 +1
.

Afirmamos que o par (R2 , φ) é também, um equalizador de f e g. Com efeito, inicialmente,


notemos que

f ◦ φ (x, y) = f (φ (x, y))

=1

= g (φ (x, y))

= g ◦ φ (x, y) ,

para todo (x, y) ∈ R2 , ou seja, f ◦ φ = g ◦ φ. Logo, (R2 , φ) é um pré-equalizador de f e g.


Seja (E, k) um pré-equalizador qualquer de f e g, onde

k: E → A
t 7→ (k1 (t) , k2 (t) , k3 (t)).

Por definição, temos que f ◦ k = g ◦ k, logo,

(k1 (t))2 + (k2 (t))2 + (k3 (t))2 = 1. (4.34)

Considere a função

hk : E → R2
 
k1 (t)
t 7→ , k2 (t)
1−k3 (t) 1−k3 (t)
.

Com o auxı́lio da equação em 4.34, é possı́vel verificar que hk é o único morfismo que
satisfaz
φ ◦ hk (t) = k (t) ,

para todo t ∈ E, isto é, o diagrama


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 65

E
&k
f
hk
↓ A −−−→ R
−−−g→


R2

comuta. Portanto, (R2 , φ) é de fato, um equalizador de f e g. Pela proposição anterior,


1 ∼ 2
SN =R .
 
Proposição 4.62 Seja Ê, ı̂ um equalizador de f e g. Se E ∈ ObC é tal que E ∼
= Ê,
então, existe l ∈ C (E, A) tal que (E, l) é um equalizador de f e g.
 
Demonstração. Seja h : E → Ê um isomorfismo entre E e Ê. Como ı̂ ∈ C Ê, A ,
podemos considerar o morfismo l ∈ C (E, A) dado por l = ı̂ ◦ h. Note que

f ◦ l = (f ◦ ı̂) ◦ h = (g ◦ ı̂) ◦ h = g ◦ l.

Seja (D, φ) um pré-equalizador de f e g. Por definição existe um único morfismo f¯ : D →


Ê tal que ı̂ ◦ f¯ = φ. Seja k = h−1 ◦ f . Afirmamos que k é o único morfismo que satisfaz
l ◦ k = φ. Com efeito,

l ◦ k = l ◦ h−1 ◦ f


= l ◦ h−1 ◦ f


= (ı̂ ◦ h) ◦ h−1 ◦ f
 

= ı̂ ◦ f¯

= φ.

Ainda, se ∆ : D → E é tal que l ◦ ∆ = φ, segue que l ◦ k = l ◦ ∆. Ora, pela proposição


3.14, l é um monomorfismo. Logo, k = ∆, e, consequentemente, (E, l) é um equalizador
de f e g.

Definição 4.63 Dizemos que uma categoria C possui todos os equalizadores se, cada
par de morfismos f, g ∈ C (A, B) tiver um equalizador.

Exemplo 4.64 As categorias Set e Grp possuem todos os equalizadores.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 66

4.2.2 Coequalizadores

Sabemos que o conceito de coequalizador é um conceito dual ao de equalizador. Assim,


todas as proposições desta seção são afirmações duais. Portanto, faremos o uso contı́nuo
do Princı́pio da Dualidade para obter os respectivos resultados duais de cada afirmação
da seção anterior sem apresentar uma prova. Contudo, convidamos o leitor a demonstrar
tais resultados, por se tratar de um ótimo exercı́cio para fixação do conteúdo.

Definição 4.65 Um pré-coequalizador de f e g é um par (C, ci ), constituido por um


objeto C de C e um morfismo ci ∈ C (B, C) tal que ci ◦ f = ci ◦ g.

Definição 4.66 Um pré-coequalizador (C, ci ) é chamado coequalizador se, para cada


   
pré-coequalizador Ĉ, ĉi , existir um único morfismo h ∈ C C, Ĉ tal que o diagrama

C
ci
%
f
A −−−→ B ↓h
−−−g→

ĉi &

é comutativo, ou ainda, h ◦ ci = ĉi .

Exemplo 4.67 Sejam f, g ∈ Set (A, B) e R a menor relação de equivalência em B tal


que:
Para cada a ∈ A, tem-se f (a) ∼ g (a) . (4.35)
B
Se = {x̄; x ∈ B} e
R
B
φ: B →
R
x 7 x̄,

VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 67

 
B
então o par , φ é um coequalizador de f e g. Com efeito, dado a ∈ A, temos
R

φ ◦ f (a) = f (a)

= g (a)

= φ ◦ g (a) ,

ou seja, φ ◦ f = φ ◦ g. Agora, para cada pré-coequalizador (C, ci ) defina

B
h: →C
R
x̄ 7→ ci (x).

A função h está bem definida. De fato, seja Rci é a relação de equivalência em B induzida
por ci . Como, para cada a ∈ A,

ci (f (a)) = ci ◦ f (a)

= ci ◦ g (a)

= ci (g (a)) ,

temos, f (a) Rci g (a). Ora, R é a menor relação que satisfaz a afirmação em 4.35, segue
que R ⊂ Rci . Assim, dado (x, y) ∈ R, então (x, y) ∈ Rci , em outras palavras, se xRy
então xRci y, isto é,
ci (x) = ci (y) . (4.36)

B
Portanto, dados x̄, ȳ ∈ , com h (x̄) = ci (x) e h (ȳ) = ci (y), se x̄ = ȳ, segue da igualdade
R

em 4.36 que h (x̄) = h (ȳ). Além disso, dado x ∈ B,

h ◦ φ (x) = h (x̄) = ci (x) ,

B
isto é, h ◦ φ = ci . Finalmente, se k : → C é tal que k ◦ φ = ci , temos que h ◦ φ = k ◦ φ.
R

Como φ é sobrejetiva, então é um epimorfismo, de onde concluı́mos que h = k. Assim, h


é o único morfismo em Set que faz o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 68

B
R
φ
%
f
A −−−→ B ↓h
−−−g→

ci &
C

 
B
comutar. Consequentemente, , φ é um coequalizador de f e g.
R

Para as duas proposições que seguem, suponha que (C, ci ) é um coequalizador de f e


g.

Proposição 4.68 O morfismo ci : B → C é um epimorfismo.

Exemplo 4.69 Na categoria MhN,+,0i todos os morfismos são epimorfismos, contudo, o


morfismo 1 : N → N não é coequalizador de f e g, para quaisquer que sejam
f, g ∈ ObMhN,+,0i . Com efeito, suponha o contrário. Como 0 ◦ f = 0 ◦ g, temos que (N, 0) é
um pré-coequalizador de f e g, portanto, existe um único morfismo h ∈ MhN,+,0i (N, N) =
N tal que h ◦ 1 = 0, isto é, h + 1 = 0, uma contradição.

O exemplo anterior mostra que a recı́proca da proposição 4.68 não é verdadeira.

Proposição 4.70 Se o morfismo ci : B → C é um monomorfismo, então é um isomor-


fismo.
 
Proposição 4.71 Se (C, ci ) e Ĉ, ĉi são co-equalizadores de f e g, então C ∼
= Ĉ.
 
Proposição 4.72 Seja Ĉ, ĉi é um co-equalizador de f e g. Se C ∈ ObC é tal que
C∼
= Ĉ, então, existe l ∈ C (B, C) tal que (C, l) é um co-equalizador de f e g.

Definição 4.73 Dizemos que uma categoria C possui todos os coequalizadores se,
cada par de morfismos f, g ∈ C (A, B) tiver um coequalizador.

Exemplo 4.74 As categorias Set e Grp possuem todos os coequalizadores.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 69

4.3 Pullbacks e Pushouts


Os termos Pullbacks e Pushouts são também conhecidos como Produto Fibrado e Soma
Amalgamada, respectivamente. Veremos, través de exemplos, que o Produto Fibrado
generaliza a noção de interseção de conjuntos e a Soma Amalgamada generaliza, em certo
sentido, a noção de união de conjuntos.

4.3.1 Produto Fibrado

Para o que segue, suponha C uma categoria e (f, g) um par de morfismos tais que f ∈
C (A, C) e g ∈ C (B, C).

Definição 4.75 Um pré-produto fibrado (ou pré-pullback) do par (f, g) é uma tripla
(D, f 0 , g 0 ), constituı́da por um objeto D e dois morfismos f 0 ∈ C (D, A) e g 0 ∈ C (D, B)
tais que f ◦ f 0 = g ◦ g 0 .

Definição 4.76 Um pré-produto fibrado (D, f 0 , g 0 ) é chamado produto fibrado (ou pull-
back) do par (f, g) se, para cada pré-produto fibrado (E, α, β), existe um único morfismo
h ∈ C (E, D) tal que o diagrama

β
E −−→ B
h & %g 0
α
↓ D ↓g
f0 .
f
A −−→ C

comuta. Ou seja, f 0 ◦ h = α e g 0 ◦ h = β.

Exemplo 4.77 Considere a categoria Set e um par de morfismos (f, g) tais que f ∈
Set (A, C) e g ∈ Set (B, C). Sejam D ∈ ObSet definido por

D = {(x, y) ∈ A × B; f (x) = g (y)} ,

e funções
π1 : D →A e π2 : D →B
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 70

A tripla (D, π1 , π2 ), é um produto fibrado do par (f, g). Com efeito, note inicialmente que
o diagrama

π2
D −−−→ B

π1
↓ ↓g

f
A −−→ C

comuta. Ainda, para cada pré-produto fibrado (E, α, β) do par (f, g), existe uma única
função
h: E →D
t 7→ (α (t) , β (t)),
que faz o diagrama

β
E −−→ B
h & % π2
α
↓ D ↓g
π1 .
f
A −−→ C

comutar, este fato comprova a afirmação.

Exemplo 4.78 À luz do exemplo anterior, se f ∈ Set (A, B), então (D, π1 , π2 ), é um
produto fibrado do par (f, f ), onde D = {(x, y) ∈ A × A; f (x) = f (y)} e,

π1 : D →A e π2 : D →A
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y.

Note que D é a relação de equivalência determinada por f em A, a saber, x ∼ y se, e


somente se f (x) = f (y).
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 71

Exemplo 4.79 Considere a categoria Mon. Sejam M := hM, ⊕M , eM i , L := hL, ⊕L , eL i ,


Z := h{e} , ⊕, ei ∈ ObMon e f ∈ Mon (M, L). Se N = {x ∈ M ; f (x) = eN } e

iN : N → M
x 7→ x,

então (N, iN , !N Z ) é um produto fibrado do par (f, !ZL ). Com efeito, basta notar que o
diagrama

!N Z
N −−−−→ Z

iN
↓ ↓!ZL

f
M −−→ L

comuta. Além disso, para cada pré-produto fibrado (E, α, β) do par (f, !ZL ), existe uma
única função
h: E →N
t 7→ α (t),
tal que

β
E −−→ Z
h & % !N Z
α
↓ N ↓!ZL
iN
.
f
M −−→ L

comuta.

Para as duas proposições que seguem, suponha que (D, f 0 , g 0 ) é um produto fibrado
de (f, g), onde f ∈ C (A, C) e g ∈ C (B, C).

Proposição 4.80 Se (E, f 00 , g 00 ) é também um produto fibrado de (f, g), então D ∼


= E.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 72

Demonstração. Por hipótese, (E, f 00 , g 00 ) é um pré-produto fibrado de (f, g), o que


garante a existência de um único morfismo h : E → D tal que

f 0 ◦ h = f 00 e g 0 ◦ h = g 00 . (4.37)

Por outro lado, (D, f 0 , g 0 ) é um pré-produto fibrado de (f, g). Assim, existe um único
morfismo k : D → E, tal que

f 00 ◦ k = f 0 e g 00 ◦ k = g 0 . (4.38)

Combinando 4.37, e 4.38, obtemos

f 0 = f 00 ◦ k

= (f 0 ◦ h) ◦ k

= f 0 ◦ (h ◦ k)

e,

g 0 = g 00 ◦ k

= (g 0 ◦ h) ◦ k

= g 0 ◦ (h ◦ k)

isto é, o diagrama

g0
D −−→ B
k & %g00
f0 0
↓ E ↑g
f 00
. &h
f0
A ←−− D

comuta. Portanto, h◦k = 1D . Analogamente, prova-se que k◦h = 1E , de onde concluı́mos

que h é um isomorfismo e D ∼
= E.

Observação 4.81 A proposição 4.80 afirma que objeto D quando existe, é único a menos
de isomorfismo.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 73

Exemplo 4.82 Sejam A, B ∈ ObSet , tais que A, B ⊆ C e

iA : A → C e iB : B → C
x 7→ x x 7→ x.

A tripla (A ∩ B, i1A∩B , i2A∩B ) é um produto fibrado de (iA , iB ), onde

i1A∩B : A ∩ B → A e i2A∩B : A ∩ B → B
x 7→ x x 7→ x.

De fato, o diagrama

i2A∩B
A∩B −−−−→ B

i1A∩B
↓ ↓ iB

iA
A −−−→ C

é comutativo. Ainda, para cada pré-produto fibrado (E, α, β) do par (iA , iB ), existe uma
única função

h: E →A∩B
t 7→ α (t),

tal que o diagrama

β
E −−→ B
h & %i2A∩B
α
↓ A∩B ↓ iB
i1A∩B
.
iA
A −−→ C

comuta. Por outro lado, pelo exemplo 4.77, (D, π1 , π2 ) é também um produto fibrado do
par (iA , iB ), onde
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 74

D = {(x, y) ∈ A × B; x = iA (x) = iB (y) = y}

= {(x, x) ∈ A × B; x ∈ A ∩ B} ,

e,

π1 : D →A e π2 : D →A
(x, x) 7→ x (x, x) 7→ x.

Pela proposição 4.80, D ∼


= A ∩ B.

Observação 4.83 O exemplo anterior, mostra que o produto fibrado, generaliza, em certo
sentido, a noção de interseção de conjuntos.

Proposição 4.84 Se E ∈ ObC é tal que E ∼


= D, então existem dois morfismos α ∈
C (E, A) e β ∈ C (E, B) tais que (E, α, β) é um produto fibrado de (f, g).

Demonstração. Seja h : E → D um isomorfismo em C. Considere os morfismos


α = f 0 ◦ h e β = g 0 ◦ h. Temos que:

f ◦ α = f ◦ (f 0 ◦ h)

= (f ◦ f 0 ) ◦ h

= (g ◦ g 0 ) ◦ h

= g ◦ (g 0 ◦ h)

= g ◦ β.

Logo, a tripla (E, α, β) é um pré-produto fibrado de (f, g). Se (F, f1 , f2 ) é um pré-produto


fibrado de (f, g), existe um único morfismo l : F → D tal que

f 0 ◦ l = f1 e g 0 ◦ l = f2 . (4.39)

Defina k ∈ C (F, E). Pondo k = h−1 ◦ l. Note que

α ◦ k = α ◦ h−1 ◦ l


= α ◦ h−1 ◦ l


= f 0 ◦ h ◦ h−1 ◦ l


= f0 ◦ l

= f1
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 75

e,

β ◦ k = β ◦ h−1 ◦ l


= β ◦ h−1 ◦ l


= g 0 ◦ h ◦ h−1 ◦ l


= g0 ◦ l

= f2 .

Ou seja, o diagrama

f2
F −−→ B
k & %β
f1
↓ E ↓g
α
.
f
A →
− C

comuta. Ainda, se ∆ : F → E é tal que α ◦ ∆ = f1 e β ◦ ∆ = f2 , segue da definição de α

e β que,
f 0 ◦ (h ◦ ∆) = α ◦ ∆ = f1 (4.40)

e,
g 0 ◦ (h ◦ ∆) = β ◦ ∆ = f2 . (4.41)

Por outro lado,


f 0 ◦ (h ◦ k) = α ◦ k = f1 (4.42)

e,
g 0 ◦ (h ◦ k) = β ◦ k = f2 . (4.43)

Das equações em 4.40, 4.41, 4.42, e 4.43, e, da unicidade do morfismo l satisfazendo a


equação em 4.39, segue que h ◦ ∆ = h ◦ k, de onde concluimos que ∆ = k. Portanto,
(E, α, β) é um produto fibrado de (f, g).

Exemplo 4.85 Sejam f ∈ Set (A, B), K ⊆ B e


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 76

iK : K → B
x 7→ x.

Considere o conjunto f −1 (K) = {x ∈ A; f (x) ∈ K} e as funções

if −1 (K) : f −1 (K) → A e f¯ : f −1 (K) 7→ K


x 7→ x x 7→ f (x) .

A tripla f −1 (K) , if −1 (K) , f¯ é um produto fibrado do par (f, iK ). De fato, dado




x ∈ f −1 (K), temos que

iK ◦ f¯ (x) = f (x)

= f if −1 (K) (x)

= f ◦ if −1 (K) (x) .

Portanto, o diagrama


f −1 (K) −−→ K

if −1 (K)
↓ ↓ iK

f
A −−→ B

é comutativo. Agora, dado um pré-produto fibrado (E, α, β), podemos considerar a função

h: E → f −1 (K)
t 7→ α (t).

Assim, se t ∈ E, temos que

if −1 (K) ◦ h (t) = h (t) = α (t) ,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 77

e,

f¯ ◦ h (t) = f (h (t))

= f (α (t))

= iK (β (t))

= β (t) .

Ainda, se g : E → f −1 (K) é tal que if −1 (K) ◦ g = α, então

g (t) = if −1 (K) (g (t))

= α (t)

= h (t) ,

ou seja, g = h. Portanto, h é o único morfismo que faz o diagrama

β
E −−−→ K
h & %f¯
α
↓ f −1 (K) ↓iK
if −1 (K)
.
f
A −−−→ B

comutar, de onde concluı́mos a afirmação. Além disso, se

D = {(x, y) ∈ A × K; f (x) = iK (y) = y}

= {(x, y) ∈ A × K; f (x) = y} ,

e,

π1 : D →A e π2 : D →K
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y,

a tripla (D, π1 , π2 ) é um produto fibrado do par (f, iK ), consequentemente, D ∼


= f −1 (K).
Considerando a demonstração da proposição 4.84, vemos que
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 78

φ: D → f −1 (K)
(x, y) 7→ x

é o único isomorfismo entre D e f −1 (K), cujo morfismo inverso é dado por

φ−1 : f −1 (K) → D
x 7→ (x, f (x)).

Observação 4.86 O exemplo anterior mostra que o gráfico de uma função é isomorfo
ao seu domı́nio e apresenta o único isomorfismo entre esses conjuntos.

Definição 4.87 Dizemos que uma categoria C possui todos os produtos fibrados se,
cada par de morfismos com mesmo codomı́nio (f, g), possui um produto fibrado.

Teorema 4.88 Seja (f, g) um par de morfismos tais que f ∈ C (A, C) e g ∈ C (B, C). Se
(A × B, π1 , π2 ) é um produto de A e B e (D, i) é um equalizador de f ◦ π1 e g ◦ π2 , então
(D, π1 ◦ i, π2 ◦ i) é um produto fibrado de (f, g)

Demonstração. Para simplificar a notação, façamos f 0 = π1 ◦ i e g 0 = π2 ◦ i. Note que

f ◦ f 0 = f ◦ (π1 ◦ i)

= (f ◦ π1 ) ◦ i

= (g ◦ π2 ) ◦ i

= g ◦ (π2 ◦ i)

= g ◦ g0.

Ou seja, (D, f 0 , g 0 ) é um pré-produto fibrado do par (f, g). Seja (E, α, β) um pré-produto
fibrado qualquer de (f, g). Por definição, (E, α, β) é também, um pré-produto de A e B.
Logo, existe um único morfismo k : E → A × B tal que

π 1 ◦ k = α e π2 ◦ k = β (4.44)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 79

Daı́, e da definição de pré-produto fibrado,

(f ◦ π1 ) ◦ k = f ◦ (π1 ◦ k)

=f ◦α

=g◦β

= g ◦ (π2 ◦ k)

= (g ◦ π2 ) ◦ k.

Assim, (E, k) é um pré-equalizador de f ◦ π1 e g ◦ π2 . Portanto, existe um único morfismo


h : E → D tal que
i◦h=k (4.45)

isto é, o diagrama

E
&k
g◦π2
h
↓ A×B −−
−−→→ C
f ◦π1

%i
D

é comutativo. Logo,

f 0 ◦ h = (π1 ◦ i) ◦ h

= π1 ◦ (i ◦ h)

= π1 ◦ k

g 0 ◦ h = (π2 ◦ i) ◦ h

= π2 ◦ (i ◦ h)

= π2 ◦ k


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 80

ou seja,

β
E −−→ B
h & %g 0
α
↓ D ↓g
f0 .
f
A −−→ C

comuta. Suponha que exista ∆ : E → D tal que f 0 ◦ ∆ = α e g 0 ◦ ∆ = β. Temos que,

π1 ◦ (i ◦ ∆) = (π1 ◦ i) ◦ ∆

= f0 ◦ ∆

e,

π2 ◦ (i ◦ ∆) = (π2 ◦ i) ◦ ∆

= g0 ◦ ∆

Daı́, da unicidade do morfismo k satisfazendo as igualdade em 4.44 e de 4.45, segue que

i ◦ h = i ◦ ∆.

Como i é um monomorfismo, h = ∆. Portanto, (D, f 0 , g 0 ) é um produto fibrado de (f, g).

Proposição 4.89 Sejam T um objeto terminal em uma categoria C e (f, g) é um par de


morfismos tais que f ∈ C (A, T ), g ∈ C (B, T ) . Se (D, f 0 , g 0 ) é um produto fibrado do par
(f, g), então (D, f 0 , g 0 ) é um produto de A e B.

Demonstração. Seja (C, f1 , f2 ) um pré-produto de A e B. Considere os morfismos


f ◦ f1 : C → T e g ◦ f2 : C → T . Como T é um objeto terminal, segue que C (C, T ) é
unitário. Assim,
f ◦ f1 = g ◦ f2
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 81

e, (C, f1 , f2 ) é um pré-produto fibrado do par (f, g). Por definição, existe um único
morfismo k : C → D, tal que o diagrama

f2
C −−→ B
k & %g0
f1
↓ D ↓g
f0 .
f
A −−→ T

comuta. Ou seja,
f 0 ◦ k = f1 e g 0 ◦ k = f1 .

De onde concluimos que (D, f 0 , g 0 ) é um produto de A e B.

Corolário 4.90 Uma categoria C possui todos os produtos finitos e todos os equalizadores
se, e somente se, possui todos os produtos fibrados e um objeto terminal.

Demonstração. Se uma categoria C possui todos os produtos finitos e todos os equa-


lizadores, o resultado segue imediatamente do teorema 4.88 e do teorema 5.17. Reci-
procamente, se C possui um objeto terminal T e todos os produtos fibrados, então pela
proposição 4.89, C é uma categoria cartesiana. Logo, pelo teorema 5.17, possui todos os
produtos finitos. Resta mostrar que a categoria C possui todos os equalizadores. Sejam
α, β ∈ C (A, B) dois morfismos quaisquer e (A × B, π1 , π2 ) o produto de A e B. Note que
(A, 1A , α) e (A, 1A , β) são pré-produtos de A e B. Logo, existem e são únicos os morfismos

hα : A → A × B e hβ : A → A × B,

tais que os diagramas

A A

hα hβ
1A
. ↓ &α 1A
. ↓ &β

π1 π2 π1 π2
A ←
− A×B →
− B A A×B B

− →

VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 82

comutam, ou seja,
π1 ◦ hα = 1A e π2 ◦ hα = α (4.46)

e,
π1 ◦ hβ = 1A e π2 ◦ hβ = β. (4.47)

Ainda, podemos considerar a tripla (E, iα , iβ ), a qual é o produto fibrado de (hα , hβ ), de


onde segue que
hα ◦ iα = hβ ◦ iβ . (4.48)

Note que (E, 1A ◦ iα , α ◦ iα ) e (E, 1A ◦ iβ , β ◦ iβ ) são pré-produtos de A e B. Por definição,


existem e são únicos os morfismos

kα : E → A × B e kβ : E → A × B

tais que o diagrama


1A ◦iα
. ↓ &α◦iα

π1 π2
A ←
− A×B →
− B

1A ◦iβ - ↑ %β◦iβ

comuta, isto é,


π1 ◦ kα = 1A ◦ iα e π2 ◦ kα = α ◦ iα (4.49)

e,
π1 ◦ kβ = 1A ◦ iβ e π2 ◦ kβ = β ◦ iβ (4.50)

Segue das equações em 4.46 e 4.47, e da unicidade dos morfismo kα e kβ satisfazendo as


equações em 4.49 e 4.50 que kα = hα ◦ iα e, kβ = hβ ◦ iβ . Desse fato, juntamente com
4.48, concluimos que
kα = kβ . (4.51)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 83

Por definição, temos kα = h1A ◦ iα , α ◦ iα i e kβ = h1A ◦ iβ , β ◦ iβ i. Da igualdade em 4.51


e da proposição 4.22, temos
1α ◦ iα = 1A ◦ iβ

e
α ◦ iα = β ◦ iβ

Resultando que
α ◦ iβ = β ◦ iβ .

Ou seja, (E, iβ ) é um pré-equalizador de α e β. Vamos mostrar que (E, iβ ) é um equa-


lizador. Seja (C, iC ) um pré-equalizador qualquer de α e β. Por definição,

α ◦ iC = β ◦ iC .

Daı́, por 4.46 e 4.47,

π1 ◦ (hα ◦ iC ) = (π1 ◦ hα ) ◦ iC

= 1A ◦ iC

= (π1 ◦ hβ ) ◦ iC

= π1 ◦ (hβ ◦ iC )

e,

π2 ◦ (hα ◦ iC ) = (π2 ◦ hα ) ◦ iC

= α ◦ iC

= β ◦ iC

= (π2 ◦ hβ ) ◦ iC

= π2 ◦ (hβ ◦ iC ) .

Como (C, 1A ◦ iC , α ◦ iC ) é um pré-produto de A e B, pela proposição 4.15,

hα ◦ iC = hβ ◦ iC .

Logo, (C, iC , iC ) é um pré-produto fibrado de (hα , hβ ). Ora,

(E, iβ , iβ ) = (E, iα , iβ )
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 84

é o produto fibrado de (hα , hβ ), portanto, existe um único morfismo k : C → E tal que

C
&iC
α
k
↓ A −


→ B
β

% iβ
E

comuta. Assim (E, iβ ) é um equalizador de α e β, o que encerra a demonstração.

Exemplo 4.91 A categoria Grp possui todos os produtos finitos e todos os equalizadores,
logo, pelo corolário 4.90, possui todos os produtos fibrados. Ainda, se f ∈ Grp (G, C) e
g ∈ Grp (H, C), então (D, π1 ◦ i, π2 ◦ i) é um produto fibrado de (f, g), onde

D = {(x, y) ∈ G × H; f (x) = f ◦ π1 (x, y) = g ◦ π2 (x, y) = g (y)}

e,
i: D →G×H
(x, y) 7→ i (x, y) = (x, y)
Proposição 4.92 Se (f, g) é um par de morfismos tais que f, g ∈ C (A, B) e (E, i, i) é
um produto fibrado de (f, g), então (E, i) é um equalizador de f e g.

Demonstração. Por hipótese, temos que

f ◦ i = g ◦ i,

e, (E, i) é um pré-equalizador de f e g. Se (E 0 , i0 ) um pré-equalizador qualquer de f e g,


então (E 0 , i0 , i0 ) é um pré-produto fibrado de (f, g). Neste caso, existe um único morfismo
k : E 0 → E tal que o diagrama

i0
E0 −−→ A
k & %i
i0
↓ E ↓g
i
.
f
A −−→ B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 85

comuta, ou seja,
i ◦ k = i0 .

Portanto, (E, i) é um equalizador de (f, g).

Proposição 4.93 Seja f ∈ C (A, B). A tripla (A, 1A , 1A ) é o produto fibrado de (f, f )
se, e somente se, f é um monomorfismo.

Demonstração. Suponha que (A, 1A , 1A ) é um produto fibrado de (f, f ). Sejam g, h ∈


C (D, A) tais que
f ◦g =f ◦h

Por definição, segue que (D, g, h) é um pré-produto fibrado de (f, f ). Daı́, existe um único
morfismo k : D → A tal que

1A ◦ k = g e 1A ◦ k = h,

de onde concluı́mos que g = h e, consequentemente, que f é um monomorfismo. Suponha


agora que f é um monomorfismo. Seja (C, α, β) um pré-produto fibrado do par (f, f ).
Por definição, segue que
f ◦ α = f ◦ β.

Como f é monomorfismo, α = β. Escreva h = α. Segue que

1A ◦ h = α e 1A ◦ h = β, (4.52)

ou seja, (A, 1A , 1A ) é um pré-produto fibrado do par (f, f ). Seja k : C → A um morfismo


em C tal que 1A ◦ k = α, temos que

h = α = 1A ◦ k = k.

Assim, h é o único morfismo satisfazendo as igualdades em 4.52. Portanto, (A, 1A , 1A ) é


um produto fibrado de (f, f ).

Proposição 4.94 Seja (D, f 0 , g 0 ) um produto fibrado de (f, g), onde f ∈ C (A, C) e g ∈
C (B, C) . Se f é um monomorfismo, então, g 0 é um monomorfismo.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 86

Demonstração. Sejam α, β ∈ C (E, D) tais que

g 0 ◦ α = g 0 ◦ β. (4.53)

Como (D, f 0 , g 0 ) é um produto fibrado de (f, g), temos que

f ◦ (f 0 ◦ α) = (f ◦ f 0 ) ◦ α

= (g ◦ g 0 ) ◦ α

= g ◦ (g 0 ◦ α)

= g ◦ (g 0 ◦ β) .

E, (E, f 0 ◦ α, g 0 ◦ β) é um pré-produto fibrado de (f, g). Por definição, existe um único


morfismo k : E → D tal que o diagrama

g 0 ◦β
E −−−−→ B
k & %g0
f 0 ◦α
↓ D ↓g
f0 .
f
A −−−−→ C

comuta, isto é,


f 0 ◦ k = f 0 ◦ α e g 0 ◦ k = g 0 ◦ β. (4.54)

Ainda, é possı́vel verificar (deixamos como exercı́cio para o leitor) que f ◦ (f 0 ◦ α) =


f ◦ (f 0 ◦ β), consequentemente,
f0 ◦ β = f0 ◦ α (4.55)

pois f é um monomorfismo. Das igualdades em 4.53 e 4.55 e da unicidade do morfismo k


satisfazendo as equações em 4.54, segue que

α = k = β,

isto é, g é um monomorfismo.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 87

4.3.2 Somas Amalgamadas

A demonstração dos principais resultados desta seção serão deixados como exercı́cio para
o leitor, por se tratarem de afirmações duais das respectivas afirmações contidas na seção
anterior.
Para o que segue, suponha C uma categoria e (f, g) um par de morfismos tais que
f ∈ C (C, A) e g ∈ C (C, B).

Definição 4.95 Uma pré-soma amalgamada (ou pré-pushouts) do par (f, g) é


uma tripla (S, f 0 , g 0 ), constituı́da por um objeto S e dois morfismos f 0 ∈ C (A, S) e g 0 ∈
C (B, S) tais que f 0 ◦ f = g 0 ◦ g.

Definição 4.96 Uma pré-soma amalgamada (S, f 0 , g 0 ) é chamada soma amalgamada


(ou pushouts) do par (f, g) se, para cada pré-soma amalgamada (E, α, β), existe um
único morfismo h ∈ C (S, E) tal que o diagrama

β
E ←−− B
h - .g 0
α
↑ S ↑g
f0 %
f
A ←−− C

comuta. Ou seja, h ◦ f 0 = α e h ◦ g 0 = β.

Exemplo 4.97 Sejam x, y, z ∈ ObP(P,≤) e (x, y), (x, z) ∈ M orP(P,≤) . Se existem o


max {y, z} e o min {y, z} então a tripla


max {y, z} , 1max{y,z} , (min {y, z} , max {y, z})

é uma soma amalgamada do par ((x, y) , (x, z)). Com efeito, basta notar que, para
cada pré-soma amalgamada (e, α, β) do par ((x, y) , (x, z)), existe um único morfismo
(max {y, z} , e) tal que o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 88

β
e ←−−−−−−−− min {y, z}

- .
α
↑ max {y, z} ↑(x,min{y,z})

%
(x,max{y,z})
max {y, z} ←−−−−−−−−− x

comuta.

Exemplo 4.98 Sejam A, B ∈ ObSet ,

i1A∩B : A ∩ B → A e i2A∩B : A ∩ B → B
x 7→ x x 7→ x.

A tripla (A ∪ B, iA , iB ) é uma soma amalgamada do par (i1A∩B , i2A∩B ), onde

iA : A → A ∪ B e iB : B → A ∪ B
x 7→ x x 7→ x.

Com efeito, note inicialmente que o diagrama

iB
A∪B ←−−− B

iA 2
↑ ↑iA∩B

i1A∩B
A ←−−−− A∩B

é comutativo. Além disso, para cada pré-soma amalgamada (E, α, β), definimos o mor-
fismo h : A ∪ B → E, pondo
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 89


 α (x) , se x ∈ A
h (x) =
 β (x) , se x ∈ B − A.

Claramente, h ◦ iA = α e h ◦ iB = β. Finalmente, se g : A ∪ B → E é tal que g ◦ iA = α


e g ◦ iB = β, temos, para cada x ∈ A ∪ B:
i) se x ∈ A,

g (x) = g ◦ iA (x)

= α (x)

= h (x) ,

ii) se x ∈ B − A,

g (x) = g ◦ iB (x)

= β (x)

= h (x) .

Assim, h é o único morfismo que faz o diagrama

β
E ←−− B
-h iB
.
α 2
↑ A∪B ↑iA∩B
iA
%
i1A∩B
A ←−−−− A∩B

comutar.

Observação 4.99 O exemplo anterior, mostra que a soma amalgamada, generaliza, em


certo sentido, a noção de união de conjuntos.

Para as duas proposições que seguem, suponha que (S, f 0 , g 0 ) é uma soma amalgamada
de (f, g), onde f ∈ C (A, S) e g ∈ C (B, S).
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 90

Proposição 4.100 Se (E, f 00 , g 00 ) é também uma soma amalgamada de (f, g), então
S∼
= E.

Proposição 4.101 Se E ∈ ObC é tal que E ∼


= D, então existem dois morfismos α ∈
C (A, E) e β ∈ C (B, E) tais que (E, α, β) é uma soma amalgamada de (f, g).

Observação 4.102 As proposições 4.100 e 4.101 afirmam que objeto S quando existe, é
único a menos de isomorfismo.

Definição 4.103 Dizemos que uma categoria C possui todas as somas amalga-
madas se, cada par de morfismos com mesmo domı́nio (f, g), possuir uma soma amal-
gamada.

Teorema 4.104 Seja (f, g) um par de morfismos tais que f ∈ C (C, A) e g ∈ C (C, B).
Se (A + B.i1 , i2 ) é um coproduto de A e B e (E, e) é um coequalizador de i1 ◦ f e i2 ◦ g,
então (E, e ◦ i1 , e ◦ i2 ) é uma soma amalgamada de (f, g).

Exemplo 4.105 Considere o par de morfismos (f, g) tal que f ∈ Set (C, A) e
g ∈ Set (C, B). Pelo exemplo 4.28, (A + B, i1 , i2 ) é um coproduto de A e B, onde
A + B = {(a, 0) ; a ∈ A} ∪ {(b, 1) ; b ∈ B}, e

i1 : A → A + B e i2 : A →A+B
a 7→ (a, 0) a 7→ (b, 1).

Sejam

i1 ◦ f : C →A+B e i2 ◦ g : C →A+B
x 7→ (f (x) , 0) x 7→ (g (x) , 1).

A+B

Pelo exemplo 4.67, o par R
,φ é um coequalizador de i1 ◦ f e i2 ◦ g, onde R é a menor
relação de equivalência em A + B tal que:

para cada x ∈ C, i1 ◦ f (x) ∼ i2 ◦ g (x) ,

e,
A+B
φ: A+B → R

t 7→ t̄.

A+B

Portanto, pelo teorema 4.104, R
,φ ◦ i1 , φ ◦ i2 é uma soma amalgamada do par (f, g).
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 91

Exemplo 4.106 Sejam A, B ∈ ObSet . Considere os morfismos

i1 ◦ i1A∩B : A ∩ B →A+B e i2 ◦ i2A∩B : A ∩ B →A+B


x 7→ (x, 0) x 7→ (x, 1)

e, R a menor relação de equivalência em A + B, tal que:

para cada x ∈ A ∩ B, i1 ◦ i1A∩B (x) ∼ i2 ◦ i2A∩B (x) .

Se
A+B
φ: A+B → R

t 7→ t̄,

A+B
φ ◦ i1 : A → R

a 7→ (a, 0),

e,
A+B
φ ◦ i2 : B → R

b 7→ (b, 1).

A+B

Segue do exemplo anterior que R
,φ ◦ i1 , φ ◦ i2 é uma soma amalgamada do par (i1A∩B , i2A∩B ).
A+B ∼
Pelo exemplo 4.98, e pela proposição 4.100, = A ∪ B.
R
Proposição 4.107 Sejam I um objeto inicial em uma categoria C e (f, g) é um par de
morfismos tais que f ∈ C (I, A), g ∈ C (I, B) . Se (S, f 0 , g 0 ) é uma soma amalgamada do
par (f, g), então (S, f 0 , g 0 ) é um coproduto de A e B.

Corolário 4.108 Uma categoria C possui todos os coprodutos finitos e todos os coequal-
izadores se, e somente se, possui todas as somas amalgamadas e um objeto inicial.

Proposição 4.109 Se (f, g) é um par de morfismos tal que f, g ∈ C (A, B) e (E, e, e) é


uma soma amalgamada de (f, g), então (E, e) é um coequalizador de f e g.

Proposição 4.110 Seja f ∈ C (A, B). A tripla (B, 1B , 1B ) é a soma amalgamada de


(f, f ) se, e somente se, f é um epimorfismo.

Proposição 4.111 Seja (S, f 0 , g 0 ) um produto fibrado de (f, g), onde f ∈ C (C, A) e
g ∈ C (C, B) . Se f 0 é um epimorfismo, então, g 0 é um epimorfismo.
Capı́tulo 5

Generalização de Produtos e
Coprodutos

Neste capı́tulo, definimos as noções de Produto e Coproduto de uma famı́lia arbitrária


de objetos. Estabelecemos uma relação entre o produto categórico entre dois objetos
(visto no capı́tulo anterior) e o produto de famı́lias finitas de objetos. No último capı́tulo
deste livro, a noção de Produto generalizado será relacionada com a existência de funtores
adjuntos.

5.1 Generalização da noção de Produto


Para o que segue, suponha C uma categoria e F = (Ai )i∈I uma famı́lia de objetos em C.

CpF , definida como segue constitui uma categoria:


a) ObCpF é o conjunto de todos os pares C, (fi )i∈I constituı́do de um objeto C e uma
famı́lia (fi )i∈I de morfismos fi : C → Ai em C.

b) O conjunto M orCpF é determinado da seguinte forma:


Sejam A, (ai )i∈I e B, (bi )i∈I objetos em CpF . Então h ∈ CpF
   
A, (ai )i∈I , B, (bi )i∈I
se, e somente se, h ∈ C (A, B) e bi ◦ h = ai , para todo i ∈ I, isto é, o diagrama

92
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 93

ai
. ↓h

bi
Ai ←−− B

F
comuta, para cada i ∈ I. Usaremos a notação hCp para indicar o morfismo h em CpF .

.  .  . 
c) Dados  = A, (ai )i∈I , B̂ = B, (bi )i∈I e Ĉ = C, (ci )i∈I , a operação de composição
categorial
     
◦CpF : CpF B̂, Ĉ × CpF Â, B̂ → CpF Â, Ĉ

F
é tal que g Cp ◦CpF f Cp = (g ◦ f )Cp .
F F

  F
d) O morfismo 1Â ∈ CpF Â, Â é o morfismo 1Â = (1A )Cp .

As propriedades p.1 e p.2 decorrem, imediatamente, do fato de C ser uma categoria.

F F F F
Observação 5.1 Dois morfismos hCp e g Cp em CpF são tais que hCp = g Cp se, somente
se, h = g em C.
 n F o
Proposição 5.2 Se CpF A, (ai )i∈I , B, (bi )i∈I = hCp , então o morfismo h ∈ C (A, B)


tal que bi ◦ h = ai para todo i ∈ I é único.

Demonstração. Suponha que o morfismo g ∈ C (A, B) seja tal que o diagrama

ai
. ↓g

bi
Ai ←−− B

F
comuta, para cada i ∈ I. Por definição, temos que g Cp ∈ CpF
 
A, (ai )i∈I , B, (bi )i∈I =
n o
F F F
hCp , isto é, g Cp = hCp , consequentemente, g = h.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 94

em CpF , quando existe, é chamado um



Definição 5.3 Um objeto terminal P, (πi )i∈I
produto da famı́lia F = (Ai )i∈I (ou simplesmente, produto de (Ai )i∈I ). Quando
houver risco de ambiguidade, denotaremos
Y
P = Ai
i∈I

ou,
P = A1 × A2 × ... × An

quando o conjunto de ı́ndices I for finito.

Exemplo 5.4 Sejam C uma categoria qualquer e (A, B) uma famı́lia de objetos em C. É
fácil verificar (fica a cargo do leitor) que um produto da famı́lia (A, B), quando existe, é
um produto categorial (A × B, π1 , π2 ) em C. Além disso, cada elemento de ObCp(A,B) é um
pré-produto categórico de A e B.

 
Proposição 5.5 Se P, (pi )i∈I e Q, (qi )i∈I são produtos da famı́lia F = (Ai )i∈I , então
existe em C, um único isomorfismo h : P → Q, tal que qi ◦ h = pi para cada i ∈ I.

Demonstração. Por hipótese, P, (pi )i∈I e Q, (qi )i∈I são objetos terminais em CpF .
 

F
pelo teorema 3.31, existe um único isomorfismo hCp : P, (pi )i∈I → Q, (qi )i∈I em CpF .
 

Consequentemente, h é o único isomorfismo de P em Q tal que qi ◦ h = pi , para cada


i ∈ I.
Para as duas proposições que seguem, suponha A1 , A2 , ..., An objetos em C, e
In = {1, 2, ..., n}.
n−1  n−1  
Q Q
Proposição 5.6 Se existem os produtos Ai , (fi )i∈In−1 , Ai × An , p1 , pn e
i=1 i=1
 n
 n−1  
Q Q
Ai , (ai )i∈In das famı́lias F1 = (Ai )i∈In−1 , F2 = Ai , An e F3 = (Ai )i∈In
i=1 i=1
n−1  n
× An ∼
Q Q
respectivamente, então Ai = Ai .
i=1 i=1
n−1 
Q
Demonstração. Sabemos que fi ∈ C Ai , Ai para todo i ∈ In−1 ,
i=1
n−1  n−1
 n−1   n 
Q Q Q Q
p1 ∈ C Ai × An , A i , pn ∈ C Ai × An , An e ai ∈ C Ai , Ai para
i=1 i=1 i=1 i=1
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 95

n−1 
Q
cada i ∈ In . Como fi ◦ p1 : Ai × An → Ai , para cada i ∈ In−1 , segue que
i=1

n−1  
Q
Ai × An , (fi ◦ p1 )i∈In−1 , pn ∈ ObCpF3 . Logo, existe um único morfismo
i=1
n−1  n
Q Q
h: Ai × An → Ai , tal que o diagrama
i=1 i=1

n−1
 
Q
 Ai ×An
i=1

fi ◦p1
. ↓h &pn

n
(ai )i∈In an
Q
Ai ←−−− Ai −−−→ An
i=1

comuta, isto é
ai ◦ h = fi ◦ p1 , para cada i ∈ In−1 , (5.1)

e,
an ◦ h = p n . (5.2)
 n

Q
Além disso, temos que Ai , (ai )i∈In−1 ∈ ObCpF1 , logo, existe um único morfismo g :
i=1

n
Q n−1
Q
Ai → Ai tal que
i=1 i=1
fi ◦ g = ai para cada i ∈ In−1 . (5.3)
 n

Q
Consequentemente, Ai , g, an ∈ ObCpF2 . Portanto, existe um único morfismo
i=1

n
n−1 
Q Q
z: Ai → Ai × An tal que
i=1 i=1

p 1 ◦ z = g e p n ◦ z = an . (5.4)

assim, o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 96

n
Q
A
i=1

g
. ↓z &an

n−1
n−1 
p1 pn
Q Q
Ai ←−− Ai × An −−−→ An
i=1 i=1

comuta. Segue, das equações em 5.1, 5.2, 5.3 e 5.4, que

ai ◦ (h ◦ z) = ai , para cada i ∈ In−1

e,
an ◦ (h ◦ z) = an .

Ou seja,

n
Q
Ai
i=1

ai
. ↓h◦z

n
ai
Q
Ai ←−− Ai
i=1

n
Q n−1
Q
comuta. Logo, se K = Ai e L = Ai × An , segue que h ◦ z = 1K . Fica a cargo do
i=1 i=1

n−1 n
Ai × An ∼
Q Q
leitor mostrar que z ◦ h = 1L . Portanto, z é isomorfismo e, = Ai .
i=1 i=1

Exemplo 5.7 Se A1 , A2 , A3 ∈ ObC e (A1 × A2 , f1 , f2 ), ((A1 × A2 ) × A3 , p1 , p2 ), e


(A1 × A2 × A3 , a1 , a2 , a3 ) são produtos, pela proposição anterior, segue que

(A1 × A2 ) × A3 ∼
= A1 × A2 × A3 .
n−1  n−1  
Q Q
Proposição 5.8 Se existem os produtos Ai , (fi )i∈In−1 e Ai × An , p1 , pn ,
i=1 i=1
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 97

então existem morfismos n−1 


Q
aj : Ai × An → Aj ,
i=1
n−1  
Q
com j ∈ In , tais que Ai × An , (aj )j∈In é um produto da famı́lia F3 = (Ai )i∈In .
i=1

Demonstração. Podemos definir

ai = f i ◦ p 1 ,

para cada i ∈ In−1 e,


an = pn .

   n−1
Q
Dado C, (φi )i∈In ∈ ObCpF3 , segue que C, (φi )i∈In−1 ∈ ObCpF1 . Assim, h : C → Ai é o
i=1

único morfismo em C tal que

fi ◦ h = φi , para cada i ∈ In−1 . (5.5)

n−1 
Q
Ainda, (C, h, φn ) ∈ ObCpF2 . Logo, existe um único morfismo g : C → Ai × An tal
i=1
que
p1 ◦ g = h e pn ◦ g = φn . (5.6)

Note que, o diagrama

φi
. ↓g

n−1 
ai
Q
Ai ←−− Ai × An
i=1

é comutativo, pois

ai ◦ g = fi ◦ (p1 ◦ g)

= fi ◦ h

= φi ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 98

para cada i ∈ In−1 e,

an ◦ g = p n ◦ g

= φn .
n−1 
Q
Ainda, se ∆ : C → Ai × An satisfaz aj ◦ ∆ = φj para cada j ∈ In , podemos concluir
i=1

da definição de aj , da unicidade de h satisfazendo a igualdade em 5.5 e da unicidade de


g satisfazendo as equações em 5.6, que g = ∆. Ou seja, g é o único morfismo em C que


satisfaz aj ◦ g = φj , para cada j ∈ In . Como C, (φi )i∈In foi tomado arbitráriamente,
n−1  
Ai × An , (aj )j∈In é um objeto terminal em CpF1 , isto é, um produto
Q
segue que
i=1

da famı́lia (Ai )i∈In .


 
Q
Proposição 5.9 Seja Ai , (ai )i∈I um produto de uma famı́lia F = (Ai )i∈I de objetos
i=1

em C. Se L ∈ ObC é tal que L ∼


Q
= Ai , então existem morfismos
i=1

pi : L → Ai


como i ∈ I, tais que L, (pi )i∈I é um produto de (Ai )i∈I .

Q
Demonstração. Seja h : L → Ai um isomorfismo. Para cada i ∈ I, defina pi : L → Ai
i=1
 Q
pondo pi = ai ◦ h. Dado C, (φi )i∈I ∈ ObCpF , existe um único morfismo h̄ : C → Ai em
i=1

C, tal que ai ◦ h̄ = φi . Se k = h−1 ◦ h̄, temos que

pi ◦ k = ai ◦ h̄

= φi .

Além disso, se ∆ : C → L é tal que pi ◦ ∆ = φi , segue da unicidade de h̄ que h ◦ ∆ = h̄,


consequentemente, k = ∆. Portanto, k é o único morfismo em C tal que o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 99

φi
. ↓k

pi
Ai ←−− L


comuta. Logo L, (pi )i∈I é um produto da famı́lia F = (Ai )i∈I .


Teorema 5.10 Se C é conectada e P, (πi )i∈I é um produto da famı́ila F = (Ai )i∈I ,
então para cada i ∈ I, πi é um epimorfismo.

Demonstração. Fixe arbitrariamente i0 ∈ I. Considere o objeto Ai0 e o morfismo


1Ai0 . Como C é conectado, existe fi ∈ C (Ai0 , Ai ) 6= ∅ para cada i ∈ L = I − {i0 }.
Assim, Ai0 , 1Ai0 , (fi )i∈L é um objeto da categoria CpF . consequentemente, existe um


único morfismo h : Ai0 → P tal que o diagrama

Ai0

fi 1Ai
. ↓h & 0

πi πi0
Ai ←−− P −−−→ A i0

comuta. Assim, pi0 ◦ h = 1Ai0 , pela proposição 3.15, pi0 é um epimorfismo. Como i0 foi
tomado arbitrariamente, o resultado está demonstrado.
 
Q
Teorema 5.11 Sejam C uma categoria, Ai , (pi )i∈I um produto da famı́lia F =
i∈I
 
 Q
(Ai )i∈I e X, (vi )i∈I ∈ ObCpF . Se α, β ∈ C X, Ai são tais que pi ◦ α = vi = pi ◦ β,
i∈I

para cada i ∈ I, então α = β.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 100

 n

é um objeto terminal em CpF e X, (vi )i∈I ∈
Q 
Demonstração. Como Ai , (pi )i∈I
i=1
Q
ObCpF , existe um único morfismo h : X → Ai em C, tal que
i∈I

vi
. ↓h

pi
Q
Ai ←−− Ai
i∈I

comuta. Neste caso, α = h = β.


Podemos considerar a noção de produto de uma famı́lia vazia de objetos de uma
categoria C.

Definição 5.12 Seja C uma categoria. P ∈ ObC é um produto de uma famı́lia vazia de
objetos de C se, e somente se, é um objeto terminal1 de C.

↓f

Definição 5.13 Dizemos que uma categoria C possui todos os produtos finitos se
cada famı́lia finita de objetos em C possuir um produto.

Definição 5.14 Dizemos que uma categoria C possui todos os produtos arbitrários
se cada famı́lia de objetos em C possuir um produto.

Exemplo 5.15 As categorias Set, Grp, Ab, Ring, FVectK e Top possuem todos os
produtos arbitrários.

Definição 5.16 Dizemos que C é uma categoria cartesiana se, possui um objeto ter-
minal T e todos os produtos.
1
Lembramos que se P é um objeto terminal em C, dado C ∈ ObC , existe um único morfismo f : C → P
em C.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 101

Teorema 5.17 Uma categoria C possui todos os produtos finitos se, e somente se é uma
categoria cartesiana.

Demonstração. Se a categoria C possui todos os produtos finitos, o resultado segue


imediatamente da definição 5.13. Reciprocamente, suponha que C é uma categoria carte-
siana. Se T ∈ ObC é um objeto terminal, então, é um produto de uma famı́lia vazia de
objetos de C. Seja Fn = (Ai )i∈In uma famı́lia não vazia de objetos em C:

Os casos onde n = 1 e n = 2 serão deixados como exercı́cio para o leitor.


n−1 
Q
Se n ≥ 3, podemos supor a existência do produto Ai , (fi )i∈In−1 . Neste caso, o par
i=1
n−1  n−1  
Q Q
de objetos Ai , An possui um produto Ai × An , P1 , Pn . Pela proposição
i=1 i=1
n−1  
Q
5.8, Ai × An , (fj ◦ P1 )j∈In−1 , pn é um produto da famı́lia Fn = (Ai )i∈In com
i=1

n ≥ 3. Logo, C possui todos os produtos finitos.

5.2 Generalização da noção de Coproduto


Por se tratar de conceitos duais, as demonstrações dos resultados desta seção seguem uma
linha de raciocı́nio semelhante a usada nas demonstrações da seção anterior. Logo, serão
deixadas a cargo do leitor.
Podemos considerar a noção generalizada de coproduto, supondo inicialmente C uma
categoria e F = (Ai )i∈I uma famı́lia de objetos em C.

CcF , definida como segue constitui uma categoria:


a) ObCcF é o conjunto de todos os pares C, (fi )i∈I constituı́do de um objeto C e uma
famı́lia (fi )i∈I de morfismos fi : Ai → C em C.
b) O conjunto M orCcF é determinado da seguinte forma:
Sejam A, (ai )i∈I e B, (bi )i∈I objetos em CcF . Então h ∈ CpF
   
A, (ai )i∈I , B, (bi )i∈I
se, e somente se, h ∈ C (A, B) e h ◦ ai = bi , para todo i ∈ I, isto é, o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 102

h
↑ - bi

ai
A ←−− Ai

F
comuta, para cada i ∈ I. Usaremos a notação hCc para indicar o morfismo h em CcF .

.  .  . 
c) Dados  = A, (ai )i∈I , B̂ = B, (bi )i∈I e Ĉ = C, (ci )i∈I , a operação de composição
categorial
     
◦CcF : CcF B̂, Ĉ × CcF Â, B̂ → CcF Â, Ĉ

F
é tal que g Cc ◦CcF f Cc = (g ◦ f )Cc .
F F

  F
d) O morfismo 1Â ∈ CcF Â, Â é o morfismo 1Â = (1A )Cc .

As propriedades p.1 e p.2 decorrem, imediatamente, do fato de C ser uma categoria.


n o
CcF
CcF
 
Proposição 5.18 Se A, (ai )i∈I , B, (bi )i∈I = h , então o morfismo h ∈
C (A, B) tal que h ◦ ai = bi é único.

Definição 5.19 Um objeto inicial Q, (qi )i∈I em CcF quando existe, é chamado copro-


duto da famı́lia F = (Ai )i∈I (ou simplesmente, coproduto de (Ai )i∈I ). Sempre que
houver risco de ambiguidade, denotaremos
M
Q= Ai
i∈I

ou,
Q = A1 + A2 + ... + An ,

quando o conjunto de ı́ndices I for finito.


` L
Observação 5.20 Alguns textos usam a notação Ai para denotar Ai .
i∈I i∈I

Exemplo 5.21 Sejam C uma categoria qualquer e (A, B) uma famı́lia de objetos em C.
Um coproduto da famı́lia (A, B), quando existe, é um coproduto categorial (A + B, i1 , i2 )
em C. Além disso, cada elemente de ObCcF é um pré-coproduto categórico de A e B.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 103

 
Proposição 5.22 Se P, (pi )i∈I e Q, (qi )i∈I são coprodutos da famı́lia F = (Ai )i∈I ,
então existe em C, um único isomorfismo h : P → Q, tal que h ◦ pi = qi , para cada i ∈ I.
n−1  n−1  
L L
Proposição 5.23 Se existem os coprodutos Ai , (fi )i∈In−1 , Ai + An , p1 , pn
i=1 i=1
 n
 n−1 
L L
e Ai , (ai )i∈In das famı́lias F1 = (Ai )i∈In−1 , F2 = Ai , An e F3 = (Ai )i∈In res-
i=1 i=1

n−1 n
Ai + An ∼
L L
pectivamente, então = Ai .
i=1 i=1

Exemplo 5.24 Se A1 , A2 , A3 ∈ ObC e (A1 + A2 , f1 , f2 ), ((A1 + A2 ) + A3 , p1 , p2 ) e


(A1 + A2 + A3 , a1 , a2 , a3 ) são coprodutos, pela proposição anterior, segue que

(A1 + A2 ) + A3 ∼
= A1 + A2 + A3 .
n−1  n−1  
L L
Proposição 5.25 Se existem os coprodutos Ai , (fi )i∈In−1 e Ai + An , p1 , pn ,
i=1 i=1

então existem morfismos n−1 


L
aj : Aj → Ai + An ,
i=1

n−1  
L
com j ∈ In , tais que Ai + An , (aj )j∈In é um coproduto de F3 = (Ai )i∈In .
i=1

 
L
Proposição 5.26 Seja Ai , (ai )i∈I um coproduto de uma famı́lia F = (Ai )i∈I de
i=1

objetos em C. Se L ∈ ObC é tal que L ∼


L
= Ai , então existem morfismos
i=1

φi : Ai → L,

com i ∈ I, tais que L, (φi )i∈I é um coproduto de (Ai )i∈I .

Teorema 5.27 Se C é conectada e Q, (qi )i∈I é um coproduto de (Ai )i∈I , então para
cada i ∈ I, qi é um monomorfismo.
 
L
Teorema 5.28 Sejam C uma categoria, Ai , (ϕi )i∈I um produto da famı́lia F =
i∈I
 
 L
(Ai )i∈I e X, (vi )i∈I ∈ ObCcF . Se α, β ∈ C Ai , X são tais que α ◦ ϕi = vi = β ◦ ϕi ,
i∈I

para cada i ∈ I, então α = β.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 104

Definição 5.29 Seja C uma categoria. Q ∈ ObC um coproduto de uma famı́lia vazia de
objetos em C se, somente se, é um objeto inicial de C.

↑f

Definição 5.30 Dizemos que uma categoria C possui todos os coprodutos finitos
se, cada famı́lia finita de objetos em C possuir um coproduto.

Definição 5.31 Dizemos que uma categoria C possui todos os coprodutos arbitrários
se, cada famı́lia de objetos em C possuir um coproduto.

Teorema 5.32 Uma categoria C possui todos os coprodutos finitos se, e somente
se, possuir um objeto inicial e todos os coprodutos.
Capı́tulo 6

Funtores

O conceito de Funtor é uma das principais ferramentas em Teoria de Categorias. Por


intermédio desta linguagem iremos construir a categoria Cat de todas as categorias pe-
quenas, formalizando a idéia de que um funtor pode ser visto como um morfismo entre duas
categorias. Neste capı́tulo e nos próximos apresentamos uma quantidade considerável de
exemplos de funtores entre duas categorias. Advertimos ao leitor que alguns desses exem-
plos complementam a teoria. No restante deste livro estudamos meios para avaliar como
propriedades especı́ficas de determinados funtores podem ser usadas para relacionar, com-
parar e classificar categorias. Ainda neste capı́tulo, formalizamos a noção de diagramas
em categorias.

6.1 Definições, algumas considerações e exemplos


Nesta seção, definimos formalmente um funtor entre duas categorias, construı́mos a ca-
tegoria Cat e apresentamos alguns exemplos.
Para o que segue, sejam C e D categorias.

Definição 6.1 Um funtor covariante F com domı́nio C e codomı́nio D, denotado por


F : C → D é um par de funções F = hF0 , F1 i (chamadas função objeto e função
morfismo respectivamente), tais que:

i) F0 : ObC → ObD associa a cada objeto A ∈ ObC um objeto F0 (A) ∈ ObD ;


ii) F1 : M orC → M orD associa a cada morfismo f ∈ C (A, B) um morfismo

F1 (f ) ∈ D (F0 (A) , F0 (B))

105
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 106

satisfazendo:
a) F1 (g ◦ f ) = F1 (g) ◦ F1 (f ), quaisquer que sejam f ∈ C (A, B) e g ∈ D (B, C) ;
b) F1 (1A ) = 1F0 (A) , para todo A ∈ ObC .

Exemplo 6.2 Considere a categoria Set. Definimos um funtor covariante F : Set →


Set pondo F = hF0 , F1 i onde:
i) F0 : ObSet → ObSet é tal que F0 (A) = P (A) é o conjunto de todos os subconjuntos
S ⊂ A.
ii) F1 : M orSet → M orSet associa à cada função f ∈ Set (A, B) , à função F1 (f ) ∈
Set (P (A) , P (B)) dada por F1 (f ) (S) = f (S) ⊂ B, para cada S ⊂ A.
De fato, note que, dados f ∈ Set (A, B) , g ∈ Set (B, C) e S ⊂ X tem-se:

F1 (g ◦ f ) (S) = (g ◦ f ) (S) = g (f (S)) = F1 (g) (f (S))

= F1 (g) (F1 (f ) (S)) = F1 (g) ◦ F1 (f ) (S) .

Portanto, F1 (g ◦ f ) = F1 (g) ◦ F1 (f ) . Ainda, dados X ∈ Set e S ⊂ X, tem-se:

F1 (1X ) (S) = 1X (S) = S = 1F0 (X) (S)

ou seja, F1 (1X ) = 1F0 (X) .

Exemplo 6.3 Sejam hM, ⊕, eM i e hN, ~, eN i monóides e f : M → N um homomor-


fismo. Consideremos o par de funções F = hF0 , F1 i, definido por:

i) F0 : ObMhM,⊕,e → ObMhN,~,e i , onde F0 (M ) = N ;


Mi N

ii) F1 : M orMhM,⊕,e → M orMhN,~,e i , onde F1 (x) = f (x) , para cada morfismo x de


Mi N

MhM,⊕,eM i .
F é um funtor covariante F : MhM,⊕,eM i → MhN,~,eN i . Com efeito, dados x, y ∈
M orMhM,⊕,e , tem-se:
Mi

F1 (x ◦ y) = f (x ⊕ y) = f (x) ~ f (y) = F1 (x) ~ F1 (y) ,

e,
F1 (1M ) = f (eM ) = eN = 1N = 1F0 (M ) .

Donde concluı́mos que F é de fato, um funtor covariante.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 107

Em resumo, um funtor covariante é uma função entre duas categorias, que leva ob-
jetos em objetos, morfismo em morfismos, preservando domı́nios, codomı́nios, identidade
e composições. Quando for conveniente, iremos definir um funtor com auxı́lio de um
diagrama do tipo:

F : C → D

A 7→ F0 (A)

A F0 (A)

↓f 7→ ↓ F1 (f )

B F0 (B).

Definição 6.4 Um funtor Contravariante F com domı́nio C e codomı́nio D, denotado


por F : C → D é um par de funções F = hF0 , F1 i, tais que:

i) F0 : ObC → ObD associa a cada objeto A ∈ ObC um objeto F0 (A) ∈ ObD ;


ii) F1 : M orC → M orD associa a cada morfismo f ∈ C (A, B) um morfismo

F1 (f ) ∈ D (F0 (B) , F0 (A))

satisfazendo:
a) F1 (g ◦ f ) = F1 (f ) ◦ F1 (g), quaisquer que sejam f ∈ C (A, B) e g ∈ D (B, C) ;
b) F1 (1A ) = 1F0 (A) , para todo A ∈ ObC .

Observação 6.5 Note que um funtor contravariante inverte o sentido da seta que repre-
senta o morfismo F1 (f ) na categoria D :
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 108

F : C → D

A 7→ F0 (A)

A F0 (A)

↓f 7→ ↑ F1 (f )

B F0 (B).

Exemplo 6.6 Sejam (P, P ) e (Q, Q ) conjuntos parcialmente ordenados e α : P → Q


uma função monótona, tal que, se x P y então α (y) Q α (x) . O par de funções
F = hF0 , F1 i , definido por:

F : P(P,P ) → P(Q,Q )

x 7→ F0 (x) = α (x)

x α (x)

↓ (x, y) 7→ ↑ F1 ((x, y)) = (α (y) , α (x))

y α (y),

é um funtor contravariante F : P(P,P ) → P(Q,Q ) . Com efeito, dado x, y, z ∈ Ob(P,P ) ,


tais que (x, y) ∈ P(P,P ) (x, y) e (y, z) ∈ P(P,P ) (y, z), tem-se:

F1 ((y, z) ◦ (x, y)) = F1 ((x, z))

= (α (z) , α (x))

= (α (y) , α (x)) ◦ (α (z) , α (y))

= F1 ((x, y)) ◦ F1 ((y, z)) .


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 109

Ou seja, F1 ((y, z) ◦ (x, y)) = F1 ((x, y)) ◦ F1 ((y, z)). Ainda, como x P x, para todo
x ∈ P, então α (x) Q α (x). Portanto,

F1 (1x ) = 1α(x) = 1F0 (x) ,

o que permite concluir a afirmação.

Exemplo 6.7 Considere o par de funções F = hF0 , F1 i , dado por:

i) F0 : ObC → ObC op é tal que F0 (A) = A para todo A ∈ ObC ;


ii) F1 : M orC → M orC op associa à cada morfismo f ∈ C (A, B) , o morfismo F1 (f ) =
f op ∈ C op (B, A). O par F é um funtor contravariante F : C → C op . De fato, dados
f ∈ C (A, B), g ∈ C (B, C) e X ∈ ObC , temos

F1 (g ◦ f ) = (g ◦ f )op = f op ◦op g op = F1 (f ) ◦op F1 (g) .

Ainda,
F1 (1X ) = (1X )op = 1X = 1F0 (X) .

Proposição 6.8 Um funtor F : C → D é contravariante se, e somente se, o par de




funções F̄ = F̄0 , F̄1 , definido por:

i) F̄0 : ObC op → ObD , onde F̄0 (A) = F0 (A) para cada objeto A ∈ ObC op ,
e,
ii) F̄1 : M orC op → M orD , associa a cada morfismo f op ∈ C op (B, A) , o morfismo F1 (f ),
é um funtor covariante F̄ : C op → D.

Demonstração. Suponha F um funtor contravariante. Dado f op ∈ C op (B, A), temos


F̄1 (f op ) = F1 (f ) ∈ D (F0 (B) , F0 (A)) . Ainda, dados uop ∈ C op (A, B) e v op ∈ C op (B, C),
tem-se,

F̄1 (v op ◦op uop ) = F̄1 ((u ◦C v)op )

= F1 ((u ◦C v))

= F1 (v) ◦D F1 (u)

= F̄1 (v op ) ◦D F̄1 (uop ) .

Agora, se A ∈ ObC op , temos

F̄1 ((1A )op ) = F1 (1A ) = 1F0 (A) = 1F̄0 (A) ,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 110

de onde concluı́mos que F̄ é um funtor covariante. A recı́proca é de demonstração imediata


e deixaremos como exercı́cio para o leitor.
Em palavras, a proposição 6.8 garante que um funtor contravariante F : C → D pode
ser interpretado como um funtor covariante F̄ , considerando a categoria origem de F̄
como sendo a dual da categoria origem de F .

Exemplo 6.9 Seja F : P(P,P ) → P(Q,Q ) o funtor contravariante definido no exemplo


6.6. Consideremos par de funções G = hG0 , G1 i, dado por:

i) G0 : ObP(P, → ObP , onde G0 (x) = F0 (x) para todo x ∈ ObP(P, ) ,


P) (Q,Q ) P

e,
ii) G1 : M orP(P, → M orP , é tal que G1 ((y, x)) = F1 ((x, y)).
P) (Q,Q )
O par de funções G é um funtor covariante G : P(P,P ) → P(Q,Q ) .

Doravante, o termo ”Funtor” irá significar funtor covariante. Além disso, usaremos
apenas o sı́mbolo F, para indicar as funções F0 e F1 , sempre que não houver risco de
ambiguidade.

Exemplo 6.10 (Funtor Identidade) Consideremos o funtor 1C : C → C definido por:

i) 1C : ObC → ObC , onde 1C (A) = A para todo A ∈ ObC ,


e,
ii) 1C : M orC → M orC associa à cada morfismo f ∈ C (A, B) , o morfismo 1C (f ) = f ∈
C (A, B).
1C é conhecido como funtor identidade.

Exemplo 6.11 (Funtor Inclusão) Seja S é uma subcategoria de C. Consideremos


então, o par de funções IC = h(IC )0 , (IC )1 i, dado por:

i) (IC )0 : ObS → ObC , onde 1S (A) = A para todo A ∈ ObS ,


e,
ii) (IC )1 : M orS → M orC associa à cada morfismo f ∈ S (A, B) , o morfismo IC (f ) =
f ∈ C (A, B).
IC : S → C definem o funtor Inclusão.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 111

Definição 6.12 Sejam A, B, C categorias, F : A → B e G : B → C funtores. A com-


posição de G com F , denotada por GF : A → C é o par de funções

GF = h(GF )0 , (GF )1 i ,

dado por:

i) (GF )0 : ObA → ObC , onde (GF )0 (X) = G0 (F0 (X)), se X ∈ ObA


e,
ii) (GF )1 : M orA → M orC , é tal que (GF )1 (f ) = G1 (F1 (f )) , se f ∈ M orA .

Proposição 6.13 Composição de funtores é um funtor.

Demonstração. Sejam A, B, C categorias, F : A → B, G : B → C funtores e GF : A → C


a composição de G com F . Se f ∈ A (A, B) e g ∈ A (B, C) , temos:

F1 (f ) ∈ B (F (A) , F (B)) , F1 (g) ∈ B (F (B) , F (C)) ,

e,
F1 (g ◦ f ) = F1 (g) ◦ F1 (f ) .

Daı́,

(GF )1 (g ◦ f ) = G1 (F1 (g ◦ f ))

= G1 (F1 (g) ◦ F1 (f ))

= G1 (F1 (g)) ◦ G1 (F1 (f ))

= (GF )1 (g) ◦ (GF )1 (f ) .

Dado X ∈ ObA . Como F é funtor, F (X) ∈ ObB e F (1X ) = 1F (X) . Logo,


(GF )1 (1X ) = G1 (F1 (1X )) = G1 1F0 (X) = 1G0 (F0 (X)) = 1(GF )0 (X) .

Portanto, GF é um funtor.
A seguir, definimos a categoria Cat, de todas as categorias pequenas1 .
1
Existe também, a categoria CAT , de todas as categorias. Para mais detalhes sobre esse assunto,
sugerimos que o leitor faça uma visita à quinta seção do capı́tulo II do livro [5].
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 112

Exemplo 6.14 Categoria Cat.


Cat, definida como segue, constitui uma categoria:

Cat= hObCat , M orCat i

a) ObCat é o conjunto de todas categorias pequenas;


b) M orCat é o conjunto de todos os funtores entre categorias pequenas;
c) Dados A, B, C ∈ ObCat , a operação de composição categorial

◦ : Cat (B, C) × Cat (A, B) → Cat (A, C) ,

é a operação de composição de funtores;


d) Dado A ∈ ObCat , o morfismo 1A ∈ Cat (A,A) é o funtor identidade 1A : A → A.
Note que, dados F ∈ Cat (A, B) , G ∈ Cat (B, C), H ∈ Cat (C,D), X ∈ ObA e f ∈ M orA ,
tem-se que:

(HG) F (X) = H (G (F (X))) = H (GF (X)) = H (GF ) (X) ,

e,
(HG) F (f ) = H (G (F (f ))) = H (GF (f )) = H (GF ) (f ) .

Portanto, (HG) F = H (GF ) . Ainda, se W ∈ Cat (B, A) , tem-se que:

F 1A (X) = F (1A (X)) = F (X)

1A W (X) = 1A (W (X)) = W (X) .

Assim, F 1A = F e 1A W = W, o que mostra que Cat é de fato uma categoria.

Exemplo 6.15 Poset e Mon são exemplos de subcategorias de Cat.

Exemplo 6.16 (Funtor Constante) Sejam C e D categorias e  ∈ ObD . O funtor


KÂ : C → D definido por:

i) KÂ : ObC → ObD , onde KÂ (X) = Â para todo X ∈ ObC ,


e,
ii) KÂ : M orC → M orD associa à cada morfismo f ∈ C (A, B), o morfismo KÂ (f ) =
 
1Â ∈ D Â, Â , é conhecido como Funtor Constante associado ao objeto Â.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 113

Nos próximos dois exemplos A é um objeto escolhido arbitrariamente em uma categoria


C.

Exemplo 6.17 (Funtor Morfismo) O par de funções hA = h(hA )0 , (hA )1 i dado por:

i) (hA )0 : ObC → ObSet , onde (hA )0 (X) = C (A, X) para cada X ∈ ObC ,
e,
ii) (hA )1 : M orC → M orSet , associa a cada f ∈ C (X, Y ), o morfismo

(hA )1 (f ) ∈ Set ((hA )0 (X) , (hA )0 (Y )) ,

onde
(hA )1 (f ) (α) = f ◦ α,

para todo α ∈ (hA )0 (X), define um funtor hA : C → Set.


Com efeito, uma vez que C é uma categoria localmente pequena2 , dado X ∈ ObC ,

(hA )0 (X) = C (A, X) ∈ ObSet .

Além disso, dado f ∈ C (X, Y ), é óbvio que

(hA )1 (f ) ∈ Set (C (A, X) , C (A, Y )) = Set ((hA )0 (X) , (hA )0 (Y )) .

Sejam f ∈ C (X, Y ), g ∈ C (Y, Z) e α ∈ C (A, X). Temos que:

(hA )1 (g ◦C f ) (α) = (g ◦C f ) ◦C α

= g ◦C (f ◦C α)

= (hA )1 (g) (f ◦C α)

= (hA )1 (g) ((hA )1 (f ) (α))

= ((hA )1 (g) ◦ (hA )1 (f )) (α) ,

isto é, (hA )1 (g ◦C f ) = (hA )1 (g) ◦ (hA )1 (f ). Ainda, dados W ∈ ObC e β ∈ C (A, W ),
tem-se que

(hA )1 (1W ) (β) = 1W ◦C β = β = 1C(A,W ) (β) = 1(hA )0 (W ) (β) .

Portanto, (hA )1 (1W ) = 1(hA )0 . O funtor hA é conhecido como funtor morfismo.


2
Veja observação 2.26 na página 10.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 114


 
Exemplo 6.18 O par de funções hA = hA 0
, hA 1
dado por:
 
i) hA 0
: ObC → ObSet , onde hA 0
(X) = C (X, A) para cada X ∈ ObC ,
e,

ii) hA 1
: M orC → M orSet associa, a cada f ∈ C (X, Y ), o morfismo

hA hA (X) , hA
   
1
(f ) ∈ Set 0 0
(Y ) ,

onde
hA

1
(f ) (α) = α ◦ f ,

para todo α ∈ hA 0
(X), define um funtor contravariante hA : C → Set, também
conhecido como funtor morfismo.

Observação 6.19 Os funtores hA e hA também são chamados hom-funtores. O hom-


funtor hA pode ser denotado utilizando uma das seguintes notações:

homC (A, ) , C (A, ) ou M orC (A, ) .

Do mesmo modo, o hom-funtor hA pode ser denotado por

homC ( , A) , C ( , A) ou M orC ( , A) .

Para os dois exemplos que seguem, dado um espaço vetorial V de dimensão finita e
um corpo K, os conjuntos V ∗ = F V ectK (V, K) e V ∗∗ = F V ectK (V ∗ , K) são o seu dual
e bi-dual, respectivamente.

Exemplo 6.20 (Funtor Dual) Defina o funtor Gd : F V ectK → F V ectK , pondo:

i) Gd (V ) = V ∗ , para cada V ∈ ObF V ectK ,


e,
ii) Gd (T ) = Td , para cada T ∈ F V ectK (V, W ), onde Td ∈ F V ectK (W ∗ , V ∗ ) é tal que

Td (α) = αT ,

para todo α ∈ W ∗ . O funtor Gd , conhecido como funtor dual, é um funtor contravari-


ante.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 115

Exemplo 6.21 (Funtor Bi-dual) Defina Gdd : F V ectK → F V ectK , pondo:

i) Gdd (V ) = V ∗∗ , para cada V ∈ ObF V ectK ,


e,
ii) Gdd (T ) = Tdd , para cada T ∈ F V ectK (V, W ), onde Tdd ∈ F V ectK (V ∗∗ , W ∗∗ ) é tal
que
Tdd (β) = βTd ,

para todo β ∈ W ∗∗ .O par de funções Gdd é um funtor covariante, conhecido como funtor
bi-dual.

Fica a cargo do leitor verificar que as funções definidas nos três exemplos anteriores
são de fato, funtores.
O exemplo a seguir, será útil no capı́tulo de transformações naturais.

Exemplo 6.22 (Funtor Produto) Sejam C uma categoria que possui todos os produtos
×A
finitos e A ∈ ObC . Definimos um funtor F : C → C, pondo:
×A
i) F (B) = B × A, para cada B ∈ ObC ,
e,
×A
ii) F (f ) = f × 1A , para cada f ∈ C (B, C).
Note que a categoria C possui um produto para cada par de objetos, logo, dados B ∈ ObC
e f ∈ C (B, C), tem-se que:

×A
F (B) = B × A ∈ ObC

e,
×A ×A ×A

F (f ) = f × 1A ∈ C (B × A, C × A) = C F (B) , F (C) .

Além disso, se g ∈ C (C, D), então

×A
F (g ◦ f ) = (g ◦ f ) × 1A

= (g ◦ f ) × (1A ◦ 1A )

= (g × 1A ) ◦ (f × 1A )
×A ×A
=F (g) ◦ F (f ) ,

e,
×A
F (1B ) = 1B × 1A = 1B×A = 1F ×A (B) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 116

×A
Portanto, F é de fato, um funtor, conhecido como funtor produto.

Do mesmo modo, se a categoria C possui todos os coprodutos finitos e A ∈ ObC ,


podemos definir um funtor coproduto, como no exemplo a seguir:

+A
Exemplo 6.23 (Funtor Coproduto) Considere o funtor F : C → C, dado por:
+A
i) F (B) = B + A, para cada B ∈ ObC ,
e,
+A
ii) F (f ) = f + 1A , para cada f ∈ C (B, C).
Dados B ∈ ObC e f ∈ C (B, C), tem-se que:

+A
F (B) = B + A ∈ ObC

e,
+A +A +A

F (f ) = f + 1A ∈ C (B + A, C + A) = C F (B) , F (C) .

Além disso, se g ∈ C (C, D), então

+A
F (g ◦ f ) = (g ◦ f ) + 1A

= (g ◦ f ) + (1A ◦ 1A )

= (g + 1A ) ◦ (f + 1A )
+A +A
=F (g) ◦ F (f ) ,

e,
+A
F (1B ) = 1B + 1A = 1B+A = 1F +A (B) .
+A
O que mostra que F é de fato um funtor.

Podemos definir os funtores F A× e F A+ de modo semelhante ao que foi feito nos


exemplos 6.22 e 6.23, respectivamente. É um exercı́cio.

6.2 Funtores especiais


Nesta seção, trataremos de funtores que se destacam dos demais pelo intenso uso e apli-
cabilidade. Tais funtores serão utilizados para complementar a teoria desenvolvida nos
capı́tulos seguintes. Outros exemplos de funtores irão aparecer naturalmente ao longo de
todo texto.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 117

6.2.1 Funtores Esquecimento

Algumas das categorias listadas no Capı́tulo 2, possuem como objetos, conjuntos que
são dotados de alguma estrutura adicional. E, como morfismos, funções que satisfazem
propriedades especı́ficas. Veremos nesta seção uma classe de funtores que, de certo modo,
”esquecem” essas estruturas e propriedades adicionais.

Exemplo 6.24 Considere o par de operações E : Mon → Set dado por:

i) E (hM, ⊕, ei) = M , para cada monóide hM, ⊕, ei ∈ ObMon , onde M é o conjunto


subjacente,
e,
ii) E (f ) = fe , onde f ∈ Mon (hM, ⊕M , eM i , hN, ⊕N , eN i) e fe ∈ Set (M, N ) é a função
suporte, isto é, fe (a) = f (a) para cada a ∈ M .
O funtor esquecimento E : Mon → Set ”esquece” a estrutura construı́da sobre o conjunto
subjacente M e as propriedades especı́ficas da função f .

Fica a cargo do leitor definir os funtores esquecimento E : Grp → Set e


E : Ring → Set que ”esquecem” a estrutura de grupo e a estrutura de anel, definidas
sobre os conjuntos subjacentes G e A, assim como as propriedades especı́ficas de um
homomorfismo de grupos f e um homomorfismo de anéis g.
Para o próximo exemplo, suponha que X ∈ ObSet e ΩX é uma topologia em X.

Exemplo 6.25 Podemos definir um par de funções E : Top → Set pondo:

i) E ((X, ΩX )) = X, para cada espaço topológico (X, ΩX ) ∈ ObT op ,


e,
ii) E (f ) = f , onde f : X → Y é uma função contı́nua.
E : Top → Set definido dessa forma, é um funtor esquecimento.

Para o exemplo que segue, suponha C uma categoria e X ∈ ObC .

Exemplo 6.26 Considere o par de operações E : C↓X → C, dado por:

i) E (f : A → X) = A, para cada f ∈ ObC↓X ,


e,

ii) E k X = k, para cada k X ∈ C↓X (f, g).
E : C↓X → C definido como acima, é um funtor esquecimento.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 118

6.2.2 Bifuntores

Nesta seção, definimos e construimos dois bifuntores que serão peças fundamentais na
definição do conceito de Funtores Adjuntos. Esse conceito fundamental em Teoria de
Categorias será dado no Capı́tulo 11.

Definição 6.27 Sejam C1 , C2 e C3 categorias. Um bifuntor é um funtor da forma

F : C1 × C2 → C3 .
n
Y
Mais geralmente, um multifuntor, é um funtor da forma F : Ci → Cj .
i=1

Observação 6.28 A partir de agora, quando não houver risco de confusão, usaremos as
notações mais simples F0 A e F1 f para indicar F0 (A) e F1 (f ), respectivamente, ou F A e
F f para indicar F (A) e F (f ).

Exemplo 6.29 (Bifuntor Produto) Seja C uma categoria que possui todos os produtos
×
finitos. Definimos um bifuntor F : C × C → C, pondo:
×
i) F (A, B) = A × B, para cada (A, B) ∈ ObC×C ,
e,
×
ii) F (f, g) = f × g, para cada (f, g) ∈ C × C ((A, B) , (C, D)).
Dados (A, B) ∈ ObC×C e (f, g) ∈ C × C ((A, B) , (C, D)), temos

×
F (A, B) = A × B ∈ ObC

e,
× × ×

F (f, g) = f × g ∈ C (A × B, C × D) = C F (A, B) , F (C, D) .

Além disso, se (k, l) ∈ C × C ((C, D) , (E, F )), então

× ×
F ((k, l) ◦ (f, g)) = F ((k ◦ f, l ◦ g))

= (k ◦ f ) × (l ◦ g)

= (k × l) ◦ (f × g)
× ×
=F (k, l) ◦ F (f, g) ,

e,
× ×

F 1(A,B) = F (1A , 1B ) = 1A × 1B = 1A×B = 1F × (A,B) .

×
De onde concluı́mos que F é de fato, um bifuntor.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 119

Exemplo 6.30 (Bifuntor Coproduto) Seja C uma categoria que possui todos os co-
+
produtos finitos. Podemos definir um bifuntor F : C × C → C, pondo:
+
i) F (A, B) = A + B, para cada (A, B) ∈ ObC×C ,
e,
+
ii) F (f, g) = f + g, para cada (f, g) ∈ C × C ((C, D) , (A, B)).
+
Fica a cargo do leitor verificar que F é de fato, um bifuntor.

Exemplo 6.31 (Bifuntor Morfismo) Seja C uma categoria localmente pequena. Con-
sideremos o par de funções h = hh0 , h1 i dado por:

i) h0 : ObC op ×C → ObSet , onde h0 (A, B) = C (A, B), para cada (A, B) ∈ ObC op ×C ,
e,
  
ii) h1 : M orC op ×C → M orSet , associa a cada (f op , g) ∈ C op × C (A, B) , Â, B̂ , o
morfismo
  
h1 (f op , g) ∈ Set h0 (A, B) , h0 Â, B̂ ,

com
h1 (f op , g) (α) = g ◦ α ◦ f

para cada α ∈ h0 (A, B).


O par de funções h = hh0 , h1 i definem um bifuntor h : C op × C →Set. De fato, dados
  
(A, B) ∈ ObC op ×C e (f op , g) ∈ C op × C (A, B) , Â, B̂ , temos:

h (A, B) = C (A, B) ∈ ObSet ,

e
     
op
h1 (f , g) ∈ Set C (A, B) , C Â, B̂ = Set h0 (A, B) , h0 Â, B̂ .
  
Além disso, se (k op , l) ∈ C op × C (A, B) , Â, B̂ e α ∈ C (A, B), são escolhidos arbi-
trariamente, segue que

h1 ((k op , l) ◦ (f op , g)) (α) = h1 (k op ◦op f op , l ◦ g) (α)

= (l ◦ g) ◦ α ◦ (f ◦ k)

= l ◦ (g ◦ α ◦ f ) ◦ k

= l ◦ h1 (f op , g) (α) ◦ k

= h1 (k op , l) (h1 (f op , g) (α))

= h1 (k op , l) ◦ h1 (f op , g) (α) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 120

Portanto, h1 ((k op , l) ◦ (f op , g)) = h1 (k op , l) ◦ h1 (f op , g). Ainda,

h1 1(A,B) (α) = h1 ((1A )op , 1B ) (α)




= 1B ◦ α ◦ 1A

= 1C(A,B) (α)

= 1h0 (A,B) (α) ,



isto é, h1 1(A,B) = 1h0 (A,B) . Consequentemente, h : C op × C →Set é um bifuntor.

O bifuntor morfismo h : C op × C → Set, definido no exemplo anterior é normalmente


denotado por
homC ( , ) ou M orC ( , ) .

Exemplo 6.32 Definimos um bifuntor contravariante T : C op × D → Dop × C pondo:

i) T (A, B) = (B, A), para cada (A, B) ∈ ObC op ×D ,


e,
ii) T (f op , g) = (g op , f ), para cada morfismo (f op , g) ∈ M orC op ×D .
  
Com efeito, dados (A, B) ∈ ObC op ×D e (f op , g) ∈ C op × D (A, B) , Â, B̂ , temos que

A ∈ ObC op , B ∈ ObD

e,
   
f op ∈ C op A, Â e g ∈ D B, B̂ .

Concluı́mos que, T (A, B) = (B, A) ∈ ObDop ×C e


      
T (f op , g) = (g op , f ) ∈ Dop × C B̂, Â , (B, A) = Dop × C T Â, B̂ , T (A, B) .
  
op op
Agora, tomando qualquer (k , l) ∈ C × D Â, B̂ , (C, D) , temos:

T ((k op , l) ◦ (f op , g)) = T (k op ◦op f op , l ◦ g)

= T ((f ◦ k)op , l ◦ g)

= ((l ◦ g)op , f ◦ k)

= (g op ◦op lop , f ◦ k)

= (g op , f ) ◦ (lop , k)

= T (f op , g) ◦ T (k op , l) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 121

Ainda,

T 1(A,B) = T ((1A )op , 1B )




= ((1B )op , 1A )

= 1(B,A)

= 1T (A,B). .

Portanto, T : C op × D → Dop × C é de fato, um bifuntor contravariante.

Exemplo 6.33 Seja G : D → C um funtor. Podemos definir um bifuntor contravariante


TG : C op × D → C op × C pondo:

i) TG (A, B) = (GB, A), para cada (A, B) ∈ ObC op ×D ,


e,
ii) TG (f op , g) = ((Gg)op , f ), para cada morfismo (f op , g) ∈ M orC op ×D .
  
De fato, dados (A, B) ∈ ObC op ×D e (f op , g) ∈ C op × D (A, B) , Â, B̂ , temos

TG (A, B) = (GB, A) ∈ ObC op ×C ,

e,
      
TG (f op , g) = ((Gg)op , f ) ∈ C op ×C GB̂, Â , (GB, A) = C op ×C TG Â, B̂ , TG (A, B) .
  
op op
Se (k , l) ∈ C ×D Â, B̂ , (C, D) , então

TG ((k op , l) ◦ (f op , g)) = T (k op ◦op f op , l ◦ g)

= T ((f ◦ k)op , l ◦ g)

= ((G (l ◦ g))op , f ◦ k)

= ((Gl ◦ Gg)op , f ◦ k)

= ((Gg)op ◦op (Gl)op , f ◦ k)

= ((Gg)op , f ) ◦ ((Gl)op , k)

= T (f op , g) ◦ T (k op , l) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 122

Além disso,

TG 1(A,B) = TG ((1A )op , 1B )




= ((G1B )op , 1A )

= ((1GB )op , 1A )

= 1(GB,A)

= 1TG (A,B). .

Apresentamos agora os dois exemplos de bifuntores que serão utilizados na definição


de Funtores Adjuntos, dada no capı́tulo 11.

Exemplo 6.34 Seja G : D → C um funtor. O bifuntor homC (G , ) : C op × D →Set é


tal que
homC (G , ) = homC ( , ) TG .

De modo semelhante, se F : C → D é um funtor, então:

Exemplo 6.35 Definimos o bifuntor homD ( , F ) : C op × D →Set pondo

homD ( , F ) = homD ( , ) TF ,

onde, TF : C op × D → Dop × D é um bifuntor contravariante, tal que:

i) TF (A, B) = (B, F A), para cada (A, B) ∈ ObC op ×D ,


e,
ii) TF (f op , g) = (g op , F f ), para cada morfismo (f op , g) ∈ M orC op ×D .

Finalizamos este capı́tulo apresentando uma pequena aplicação de funtores:

6.3 A formalização do conceito de Diagrama


Abaixo definimos formalmente um diagrama d em uma categoria C. Vamos precisar de
algumas definições e resultados auxiliares.

Definição 6.36 (Grafo Orientado) Um grafo orientado (ou simplesmente grafo)


G = hN, S, Og, Dti consiste de um conjunto de objetos N , um conjunto de setas S, e
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 123

duas funções Og, Dt : S → N, que satisfazem a seguinte condição:

A cada seta f ∈ S, estão associados dois objetos X = Og (f ) e Y = Dt (f ) chamados


origem e destino de f . Neste caso, assim como em categorias, escrevemos

f : X → Y.

Os objetos de N são chamados nós ou vértices e as funções Og e Dt são chamadas


função origem e destino, respectivamente.

Definição 6.37 Sejam G = hNG , SG , OgG , DtG i e H = hNH , SH , OgH , DtH i grafos. Um
homomorfismo de grafos α com domı́nio G e codomı́nio H, denotado por α : G → H
é um par de operações α = hαN , αS i, tais que:
i) αN : NG → NH , associa a cada nó X ∈ NG , um nó αN (X) ∈ NH ;
ii) αS : SG → SH associa a cada seta f : X → Y de SG , uma seta

αS (f ) : αN (X) → αN (Y ) de SH ;

iii) OgH ◦ αS = αN ◦ OgG e DtH ◦ αS = αN ◦ DtG .

Definição 6.38 Consideremos os grafos G = hNG , SG , OgG , DtG i, H = hNH , SH , OgH , DtH i
e
L = hNL , SL , OgL , DtL i e os homomorfismos, α : G → H, e β : H → L. A composição
de β e α, denotada por βα : G → L, é dada por

βα = h(βα)N , (βα)S i = hβN ◦ αN , βS ◦ αS i .

Proposição 6.39 A composição de homomorfismos de grafos é um homomorfismo de


grafos.

Demonstração. Consideremos os grafos G = hNG , SG , OgG , DtG i, H = hNH , SH , OgH , DtH i


L = hNL , SL , OgL , DtL i e os homomorfismos, α : G → H, e β : H → L e a composição
βα : G → L de β e α. Tem-se
i) Dado X ∈ NG , segue que αN (X) ∈ NH . Portanto,

(βα)N (X) = (βN ◦ αN ) (X) = βN (αN (X)) ∈ NL ;


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 124

ii) Se f : X → Y ∈ SG então αS (f ) : αN (X) → αN (Y ) é uma seta de SH . Assim,

(βα)S (f ) = (βS ◦ αS ) (f )

= βS (αS (f )) : βN (αN (X)) → βN (αN (Y ))

é uma seta de SL.


iii) Finalmente,

OgL ◦ (βα)S = OgL ◦ (βS ◦ αS )

= (OgL ◦ βS ) ◦ αS

= (βN ◦ OgH ) ◦ αS

= βN ◦ (OgH ◦ αS )

= βN ◦ (αN ◦ OgG )

= (βN ◦ αN ) ◦ OgG = (βα)N ◦ OgG .

Analogamente, prova-se que

DtL ◦ (βα)S = DtL ◦ (βS ◦ αS )

= (βN ◦ αN ) ◦ DtG = (βα)N ◦ DtG .

Portanto, βα é um homomorfismo de grafo.

Definição 6.40 (Categoria dos Grafos Orientados) Categoria GR


GR, definido como segue, constitui uma categoria:
a) ObGR é o conjunto de todos os grafos;
b) M orGR é o conjunto de todos os homomorfismos de grafos;
c) Dados G = hNG , SG , OgG , DtG i, H = hNH , SH , OgH , DtH i
L = hNL , SL , OgL , DtL i ∈ ObGR , a operação de composição categorial

◦ : GR (L, H) × GR (G, H) → GR (G, L) ,

é a operação de composição de homomorfismos de grafos;


d) Dado G = hNG , SG , OgG , DtG i ∈ ObGR , o morfismo 1G ∈ GR (G, G) é o homomor-
fismo 1G = h(1G )N , (1G )S i, onde:
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 125

i) (1G )N : NG → NG , é tal que (1G )N (X) = X, para todo X ∈ NG e,


ii) (1G )S : SG → SG associa a cada seta f : X → Y de SG a seta (1G )S (f ) = f de SG .
Dados G, H, L, M ∈ ObGR , α ∈ GR (G, H) , β ∈ GR (H.L) e γ ∈ GR (L, M ), tem-se
que

γ (βα) = hγN ◦ (βα)N , γS ◦ (βα)S i

= hγN ◦ (βN ◦ αN ) , γS ◦ (βS ◦ αS )i

= h(γN ◦ βN ) ◦ αN , (γS ◦ βS ) ◦ αS i

= h(γβ)N ◦ αN , (γβ)S ◦ αS i = (γβ) α.

Então, a composição de homomorfismo de grafos é associativa. Ainda, dados δ ∈ GR (H, G),


X, Y ∈ NG e f : X → Y seta de SG , segue que

(α1G )N (X) = (αN ◦ (1G )N ) (X)

= αN ((1G )N (X)) = αN (X) ,

e,

(α1G )S (f ) = (αS ◦ (1G )S ) (f )

= αS ((1G )S (f )) = αS (f ) .

Portanto, α1G = α. Analogamente, prova-se que 1G δ = δ, donde concluı́mos que GR é,


de fato, uma categoria.

Exemplo 6.41 Considere as categorias Cat e GR. Definiremos agora, um par de funções
E : Cat → GR, onde:

i) E : ObCat → ObGR é tal que E (C) = GC , com

GC = hObC , M orC , OgC , DtC i ,

e,
OgC (f ) = dom (f ) e DtC (f ) = cod (f ) ;

ii) E : M orCat → M orGR associa à cada funtor T = hT0 , T1 i ∈ Cat (C, D), com

T0 : ObC → ObD e T1 : M orC → M orD ,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 126

o par de funções E (T ) = hT0 , T1 i. Note que E (T ) : E (C) → E (D) é um homomorfismo


de grafos. De fato, se f ∈ C (A, B), então T1 (f ) ∈ D (T0 (A) , T0 (B)) . Daı́,

(OgD ◦ T1 ) (f ) = OgD (T1 (f ))

= dom ((T1 ) (f ))

= T0 (A)

= T0 (OgC (f ))

= (T0 ◦ OgC ) (f ) ,

e,

(DtD ◦ T1 ) (f ) = DtD (T1 (f ))

= cod (T1 (f ))

= T0 (B)

= T0 (DtC (f ))

= (T0 ◦ DtC ) (f ) .

Assim, E (T ) ∈ GR (GC , GD ) . Agora, dados T ∈ Cat (C, D) e R ∈ Cat (D, H) , tem-se

E (RT ) = RT = E (R) E (T ) .

Ainda, dado C ∈ Cat,


E (1C ) = 1C = 1GC = 1E(C) .

Portanto, E : Cat → GR é um funtor esquecimento3 .

Definição 6.42 (Diagrama) Sejam C uma categoria, G = hN, S, Og, Dti um grafo e
E : Cat → GR o funtor esquecimento definido como no exemplo 6.41. Um morfismo
d ∈ GR (G, E (C)) , isto é,
d : G → GC

é chamado um diagrama d em C.
3
Esse funtor ”esquece” a operação de composição entre os morfismos de uma categoria C.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 127

Definição 6.43 (Diagrama comutativo) Um diagrama d em C é comutativo se, fixa-


dos arbitrariamente A, B ∈ NG , para quaisquer C, D ∈ NG , f : A → C, h : A → D,
g : C → B e w : D → B setas de SG , tem-se que:

dS (g) ◦C dS (f ) = dS (w) ◦C dS (h) .

Exemplo 6.44 Considere a categoria 2 = h{A, B} , {1A , 1B , f : A → B}i e o grafo

G2 = E (2) = h{A, B} , {1A , 1B , f : A → B} , Og2 , Dt2 i .

Sejam

G = h{1, 2, 3, 4} , {(1, 2) , (1, 3) , (1, 4) , (3, 2) , (3, 4)} , OgG , DtG i ∈ ObGR

e d : G → G2 um homomorfismo de grafos dado por

dN (1) = dN (2) = dN (3) = A, dN (4) = B,

e,
dS ((1, 2)) = dS ((1, 3)) = dS ((3, 2)) = 1A , dS ((1, 4)) = dS ((3, 4)) = f.

O morfismo d é um diagrama em C, como mostra a figura abaixo:

G
2
1 |
E

(1,3)
(1,2) d→ G2
. ↓ &(1,4) −−

(3,2) (3,4) A f B
2 ←− 3 −→ 4 −−→
 
1A 1B
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 128

Diagrama d:

1A
1A
. ↓ &f

1A f
A ←−−− A −−−→ B
Capı́tulo 7

Limites e Colimites

Neste capı́tulo construimos os conceitos de Limite e Colimite. Tais conceitos surgem com
frequência em Teoria de Categorias e, de certo modo, generalizam, por intermédio da
linguagem funtorial, importantes noções ja vistas nos capı́tulos anteriores. Além disso,
Limites e Colimites também auxiliam na caracterização de importantes propriedades de al-
guns funtores. Essas propriedades são necessárias por exemplo, para garantir a existência
de Funtores Adjuntos, o tema central do capı́tulo 11.
Contudo, tendo em vista o caráter introdutório deste livro, optamos por apresentar um
estudo mais superficial destes conceitos. O Leitor interessado poderá encontrar mais sobre
Limites e Colimites em praticamente todos os textos listados nas referências bibliográficas.
Para uma primeira leitura, este capı́tulo pode ser omitido.

7.1 Limites
Nesta seção definimos Limite e mostramos através de exemplos que este conceito gener-
aliza as noções de Produto, Equalizadores e Produto Fibrado.
No que segue, suponha F : D → C um funtor.

Definição 7.1 Seja (di )i∈I uma famı́lia de objetos de D. Um cone para F (ou F-cone ou

simplesmente cone) é um par C, (fi )i∈I consistindo de um objeto C de C e uma famı́lia
(fi )i∈I de morfismos fi : C → F0 (di ) em C, tais que, para cada morfismo g : di → dj com
i, j ∈ I, tem-se
F1 (g) ◦ fi = fj .

129
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 130

Isto significa que o diagrama

fi
. ↓fj

F1 (g)
F0 (di ) ←−−−− F0 (dj )

comuta.

Definição 7.2 Um F-cone C, (fi )i∈I é chamado um cone-limite de F (ou simples-

mente limite), se para cada F-cone E, (gi )i∈I , existir um único morfismo k : E → C
tal que o diagrama

gi
. ↓h

fi
F0 (di ) ←−− C

comuta, isto é, fi ◦ k = gi , para cada i ∈ I.

Exemplo 7.3 Sejam D = h{A, B} , {1A , 1B }i e C categorias e F : D → C um funtor.


Dado C ∈ ObC , se C (C, F0 (A)) 6= ∅ e C (C, F0 (B)) 6= ∅, então

(C, f1 : C → F0 (A) , f2 : C → F0 (B))

é um F-cone.

C C

f1
. &f1 f2
. & f2

F1 (1A ) F1 (1B )
F0 (A) −−−−−→ F0 (A) F0 (B) −−−−−→ F0 (B)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 131

Além disso, um limite (K, π1 : K → F0 (A) , π2 : K → F0 (B)), quando existe, é um pro-


duto de F0 (A) e F0 (B), pois, dado (E, g1 : E → F0 (A) , g2 : E → F0 (B)), existe um único
morfismo k : E → K tal que π1 ◦ k = g1 e π2 ◦ k = g2 .

E
g1
. &g2
k

π1 π2
F0 (A) ←−−− K −−−→ F0 (B).

Exemplo 7.4 Sejam D = h{A, B} , {1A , 1B , f : A → B, g : A → B}i e C categorias e


F : D → C um funtor. Um cone para F , quando existe, é uma tripla

(C, f1 : C → F0 (A) , f2 : C → F0 (B)) ,

tal que os diagramas

C C

f1
. ↓ f2 f1
. ↓f2

F1 (F ) F1 (g)
F0 (A) ←−−−−− F0 (B) F0 (A) ←−−−− F0 (B)

comutam, ou ainda, F1 (f ) ◦ f1 = f2 = F1 (g) ◦ f1 .

F1 (f )
C f1 −−→

−−−→ F0 (A) −−
F (g)
1
F0 (B)

Assim, podemos simplificar a notação, escrendo

(C, f1 : C → F0 (A))

para representar um cone para F . Um limite (E, i : C → F0 (A)) para F , quando existe, é
 
um equalizador de F1 (f ) e F1 (g). De fato, basta notar que, se o par Ê, ı̂ : Ĉ → F0 (A)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 132

é um cone, então F1 (f ) ◦ ı̂ = F1 (g) ◦ ı̂. Além disso, existe um único morfismo k : Ê → E


tal que i ◦ k = ı̂.


&ı̂
F1 (f )
h
↓ F0 (A) −
−F−
−−
−→
→ F0 (B)
(g)
1

%i
E

Exemplo 7.5 Sejam C e D = h{A, B, C} , {1A , 1B , 1C , f : A → C, G : B → C}i catego-


rias e F : D → C um funtor. Um cone para F , quando existe é uma quádrupla

(C, f1 : C → F0 (A) , f2 : C → F0 (B) , f3 : C → F0 (C)) ,

tal que os diagramas

C C

f1
. &f3 f2
. & f3

F1 (f ) F1 (g)
F0 (A) −−−−→ F0 (C) F0 (B) −−−−→ F0 (C)

comutam, ou ainda, F1 (f ) ◦ f1 = f3 = F1 (g) ◦ f2 , isto é,

f2
C −−−−→ F0 (B)

f1
↓ ↓F1 (g)

F1 (f )
F0 (A) −−−−→ F0 (C)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 133

é comutativo. Novamente, podemos simplificar a notação, pondo

(C, f1 : C → F0 (A) , f2 : C → F0 (B)) .

Um limite para F , quando existe, é um produto fibrado do par (F1 (f ) , F1 (g)). Com
 
efeito, dado uma tripla D, fˆ, ĝ tal que F1 (f ) ◦ fˆ = F1 (g) ◦ ĝ, existe um único morfismo
k : D → C tal que o diagrama


D −−−→ F0 (B)
h & %f2

↓ C ↓F1 (g)
f1 .
F1 (f )
F0 (A) −−−−→ F0 (C)

comuta.

Proposição 7.6 Suponha F : D → C um funtor e (di )i∈I uma famı́lia de objetos de D.


  
i) Se C, (fi )i∈I e Ĉ, (gi )i∈I são limites para F , então C ∼= Ĉ;

ii) Se C, (fi )i∈I é um limite para F e Ĉ ∈ ObC é isomorfo a C, então existe um morfismo
 
pi : Ĉ → F0 (di ), para cada i ∈ I, tal que o par Ĉ, (pi )i∈I é um limite para F .

Demonstração.
  
i) Supondo C, (fi )i∈I e Ĉ, (gi )i∈I limites para F , existem e são únicos os morfismos
k : C → Ĉ e l : Ĉ → C, tais que, para cada i ∈ I, tem-se:

gi ◦ k = fi ,

e,
fi ◦ l = gi .

Então,
fi ◦ (l ◦ k) = fi .

Por outro lado, sabemos que 1C : C → C é o único morfismo que satisfaz

fi ◦ 1C = fi ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 134

para cada i ∈ I. Logo, l ◦k = 1C . Fica como exercı́cio para o leitor mostrar que k ◦l = 1Ĉ .
Portanto, k é um isomorfismo e C ∼
= Ĉ.

ii) Sejam C, (fi )i∈I um limite, v : C → Ĉ um isomorfismo e i ∈ I qualquer. Defina o
morfismo pi : Ĉ → F0 (di ), pondo
pi = fi ◦ v −1 . (7.1)

Se E, (gi )i∈I é um F-cone qualquer, existe único morfismo h : E → C que satisfaz:

f i ◦ h = gi . (7.2)

Considere o morfismo φ : E → Ĉ dado por

φ = v ◦ h.

Por 7.1 e 7.2, temos


pi ◦ φ = gi . (7.3)

Se ∆ : E → Ĉ e um morfismo tal que

pi ◦ ∆ = gi ,

temos
fi ◦ v −1 ◦ ∆ = pi ◦ ∆ = gi .


Daı́, e da unicidade do morfismo h satisfazendo a equação 7.2,

v −1 ◦ ∆ = h.

Concluı́mos que ∆ = φ. Portanto, φ é o único morfismo que satifaz a equação 7.3, o que
 
prova que Ĉ, (pi )i∈I é um limite para F .

7.2 Colimites
A noção de Colimite é dual à noção de Limite. Por isso, todas as demonstrações dos
resultados desta seção serão deixadas como exercı́cio para o leitor. A elaboração de
exemplos que mostram que o conceito de Colimite generaliza as noções de Coproduto,
Coequalizador e Soma Amalgamada também é um bom exercı́cio.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 135

Definição 7.7 Seja (di )i∈I uma famı́lia de objetos de D. Um cocone para F (ou F-

cocone ou simplesmente cocone) é um par C, (fi )i∈I consistindo de um objeto C de C
e uma famı́lia (fi )i∈I de morfismos fi : F0 (di ) → C em C, tais que, para cada morfismo
g : di → dj com i, j ∈ I, tem-se
fj ◦ F1 (g) = fi ,

ou ainda, o diagrama

fi
% ↑fj

F (g)
F (di ) −−−−→ F (dj )

comuta.


Definição 7.8 Um F-cocone C, (fi )i∈I é chamado um cocone-limite de F (ou sim-

plesmente colimite), se para cada F-cocone E, (gi )i∈I , existir um único morfismo k :
C → E tal que
k ◦ fi = gi , para cada i ∈ I.

Isto quer dizer que o diagrama

gi
% ↑k

fi
F (di ) −−→ C

comuta.

Proposição 7.9 Suponha F : D → C um funtor e (di )i∈I uma famı́lia de objetos de D.


  
i) Se C, (fi )i∈I e Ĉ, (gi )i∈I são colimites para F , então C ∼
= Ĉ;
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 136


ii) Se C, (fi )i∈I é um colimite para F e Ĉ ∈ ObC é isomorfo a C, então existe um
 
morfismo pi : F0 (di ) → Ĉ, para cada i ∈ I, tal que o par Ĉ, (pi )i∈I é um colimite para
F.

Observação 7.10 Em palavras, as proposições 7.6 e 7.9 afirmam que o limite e o colimite
são únicos a menos de isomorfismos.
Capı́tulo 8

Transformações Naturais

Neste capı́tulo introduzimos o conceito de transformações naturais. Historicamente, este


conceito foi um dos grandes motivadores para criação da Teoria de Categorias, tendo
surgido no ano 1942 em trabalhos de Mac Lane e Eilenberg em Cohomologia. Por in-
termédio desta importante noção, podemos relacionar, comparar e verificar quando dois
funtores são ”essencialmente os mesmos”. Entender o conceito de transformações naturais
também será fundamental para compreensão da definição de funtores adjuntos dada no
capı́tulo 11 e, sobretudo, do Lema de Yoneda, um dos principais resultados estudados em
uma introdução à Teoria de Categorias. O Lema de Yoneda será o tema do capı́tulo 10.

8.1 Definições e exemplos


Nesta seção definimos formalmente uma transformação natural e apresentamos a impor-
tante noção de funtores naturalmente equivalentes.

Definição 8.1 Sejam C e D categorias e F, G : C → D dois funtores. Uma trans-


formação natural é uma função

τ : ObC → M orD
A 7→ τA : F (A) → G (A)

que associa a cada objeto A de C um morfismo τA em D (F (A) , G (A)) tal que, para cada
morfismo f ∈ C (A, B) temos G (f ) ◦ τA = τB ◦ F (f ). Ou seja, o diagrama

137
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 138

τA
A F (A) →
− G (A)

f F (f )
↓ ↓ ↓G(f )

τB
B F (B) →
− G (B)

é comutativo. Normalmente, representamos essa transformação por τ : F → G.

Observação 8.2 Ao definir transformações naturais como uma função, estamos nos
referindo a uma famı́lia de morfismos (τA : F (A) → G (A))A∈ObC indexada por ObC .

Observação 8.3 Os morfismos τA são chamados componentes de τ .

No exemplo que segue, faremos uso do Funtor Constante e do Funtor Produto,


definidos nos exemplos 6.16 e 6.22.

Exemplo 8.4 Sejam X um conjunto não vazio, F X× : Set → Set e KX : Set → Set
os funtores produto e constante respectivamente. A função

π : ObSet → M orSet
B 7→ πB
de modo que
πB : X × B →B
(a, b) 7→ a

é uma transformação natural π : F X× → KX . Com efeito, sejam f : A → B e (a, b) ∈


A × B. Temos

KX (f ) ◦ πA (a, b) = KX (f ) (a)

= 1X (a)

=a

= πB (a, f (b))

= πB (1X (a) , f (b))

= πB (1X × f (a, b))

= πB ◦ F X× (f ) (a, b) ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 139

isto é, o diagrama

πA
A X ×A →
− KX (A)

f F X× (f )
↓ ↓ ↓KX (f )

πB
B X ×B →
− KX (B)

é comutativo.

No exemplo que segue, A∗ denota o grupo dos elementos invertı́veis de um anel A e


GLn (A) o grupo das matrizes invertı́veis, de ordem n, com entradas no anel A.

Exemplo 8.5 (Determinante de matrizes.) Consideremos as categorias CRing e Grp.


Sejam F, G : CRing → Grp dois funtores, dados por:

i) F (A) = GLn (A), para cada A ∈ ObCRing ,


e,
ii) F (f ) = GLn f , para cada f ∈ CRing (A, B), onde GLn f ∈ Grp (GLn (A) , GLn (B)),
com

   
a ... a1n f (a11 ) ... f (a1n )
 11   
GLn f  ...  =  ,
   
... ... ...
   
an1 ... ann f (an1 ) ... f (ann )

e,
i) G (A) = A∗ , para cada A ∈ ObCRing
e,
ii) G (f ) = f , para cada f ∈ CRing (A, B).
Definimos agora a função

det : ObCRing → M orGrp


A 7→ detA : GLn (A) → A∗ ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 140

onde detA é o determinante usual de matrizes. Afirmamos que a função det é uma
transformação natural det : F → G. De fato, consideremos M ∈ GLn (A) . Como f é um
homomorfismo e a forma de calcular o determinante é a mesma independente do anel,
segue que

G (f ) ◦ detA (M ) = f ◦ detA (M )

= f (detA (M ))

= detB (GLn f (M ))

= detB ◦GLn f (M )

= detB ◦F (f ) (M ) .

Isso mostra que o diagrama

detA
A F (A) −→ G (A)

f F (f )
↓ ↓ ↓G(f )

detB
B F (B) −→ G (B)

é comutativo.

Definição 8.6 Sejam F, G : C → D funtores. Uma transformação natural τ : F → G é


um isomorfismo natural se qualquer componente τA é um isomorfismo em D. Neste
caso, denotamos τ : F ∼
= G.

×A
Exemplo 8.7 Sejam A um objeto da categoria Set, F : Set → Set e
F A× : Set → Set funtores produto. A função

τ : ObSet → M orSet
B 7→ τB

onde,
×A
τB : F A× (B) →F (B)
(x, y) 7→ (y, x)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 141

é um isomorfismo natural τ : F A× ∼
=F ×A
. De fato, dados f ∈ C (B, C) e (x, y) ∈ A×B,
temos

×A
F ◦ τB (x, y) = (f × 1A ) ◦ τB (x, y)

= (f × 1A ) (y, x)

= (f (y) , 1A (x))

= (f (y) , x)

= τC (1A (x) , f (y))

= τC ((1A × f ) (x, y))

= τC ◦ (1A × f ) (x, y)

= τC ◦ F A× (x, y) .

×A
Ou seja, F ◦ τB = τC ◦ F A× . Além disso, como cada τB é um isomorfismo, concluimos
a afirmação.

Definição 8.8 Dizemos que F e G são funtores isomorfos (ou que F e G são natural-
mente equivalentes) e denotamos F ≈ G, se existe um isomorfismo natural τ : F ∼
= G.

Observação 8.9 Em palavras, quando dois funtores são naturamente equivalentes, eles
são ”essenciamente os mesmos”.

Exemplo 8.10 Os funtores KX e F X× não são naturalmente equivalentes, pois não pode
existir uma transformação natural de KX em F X× . Com efeito, suponha por absurdo,
que

η : ObSet → M orSet
A 7→ ηA : X → X × A

é uma transformação natural. Sejam A, B ∈ ObSet com card (B) ≥ 2 e x ∈ X. Existem


a ∈ A e b ∈ B tais que ηA (x) = (xA , a) e ηB (x) = (xB , b). Seja f : A → B tal que
f (a) 6= b. Por hipótese, o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 142

ηA
A X →
− X ×A

f 1X ×f
↓ ↓1X ↓

ηB
B X →
− X ×B

é comutativo. Logo,

(xA , f (a)) = (1X (xA ) , f (a))

= 1X × f (xA , a)

= 1X × f ◦ ηA (x)

= ηB ◦ 1X (x)

= ηB (x)

= (xB , b) ,

ou seja, f (a) = b, uma contradição.

×T
Exemplo 8.11 Sejam T = {x0 } um objeto terminal em Set, F : Set → Set o funtor
produto, e 1Set : Set → Set o funtor identidade. A função

τ : ObSet → M orSet
×T
A 7→ τA : 1Set (A) → F (A)

onde, para cada A ∈ ObSet e x ∈ A, tem-se τA (x) = (x, x0 ), é um isomorfismo natural


τ : 1Set ∼
=F ×T
. Com efeito, dados f ∈ Set (A, B) e x ∈ A, temos

×T
F (f ) ◦ τA (x) = (f × 1T ) (τA (x))

= (f × 1T ) (x, x0 )

= (f (x) , 1T (x0 ))

= (f (x) , x0 )

= τB (f (x))

= (τB ◦ f ) (x)

= τB ◦ 1Set (f ) (x) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 143

Portanto, o diagrama

τA
A A →
− A×T

f
↓ f
↓ ↓f ×1T

τB
B B →
− B×T

×T ×T
comuta, isto é, F (f ) ◦ τA = τB ◦ 1Set (f ). Logo, τ : 1Set → F é uma transformação
natural. Além disso, para cada A ∈ ObSet , τA é um isomorfismo, e, τ é um isomorfismo
×T
natural. Consequentemente, 1Set ≈ F .

Exemplo 8.12 Considere os funtores 1F V ectK : F V ectK → F V ectK e o funtor bi-dual


Gdd : F V ectK → F V ectK definido no exemplo 6.21. A Função

τ : ObF V ectK → M orF V ectK


V 7→ τV : 1F V ectK (V ) → Gdd (V )

onde,
τV : V → V ∗∗
x 7→ τV (x) : V ∗ → K

e,
τV (x) : V ∗ →K
f 7→ τV (x) (f ) = f (x)

é um isomorfismo natural τ : 1F V ectK ∼


= Gdd . De fato, sejam T ∈ F V ectK (V, W ) e
x ∈ V , temos que
Gdd (T ) ◦ τV (x) = Tdd (τV (x)) = τV (x) ◦ Td , (8.1)

e,
τW ◦ T (x) = τW (T (x)) . (8.2)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 144

Agora, dado h ∈ W ∗ , segue que

τV (x) ◦ Td (h) = τV (x) (Td (h))

= τV (x) (hT )

= hT (x)

= h (T (x))

= τW (T (x)) (h) .

Daı́, e das equações em 8.1 e 8.2, segue que o diagrama

V V τV

− V ∗∗

T T
↓ ↓ ↓Gdd (T )

W W τW

→ W ∗∗

comuta. Logo, τ é uma transformação natural. Ainda, τV é um isomorfismo1 para cada


V ∈ ObF V ectK . Portanto, τ é um isomorfismo natural, consequentemente, 1F V ectK ≈ Gdd .

Proposição 8.13 Sejam F, G : C → D funtores e τ : F ∼


= G um isomorfismo natural. A
função

τ −1 : ObC → M orD
A 7→ (τA )−1 : G (A) → F (A)

é um isomorfismo natural τ −1 : G ∼
= F.

Demonstração. Seja f ∈ C (A, B) um morfismo qualquer. Por definição de trans-


formação natural, temos que G (f ) ◦ τA = τB ◦ F (f ). Assim,
1
A prova da afirmação: ”τV é um isomorfismo” pode ser encontrada em textos de Álgebra Linear.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 145

(τB )−1 ◦ G (f ) = (τB )−1 ◦ G (f ) ◦ τA ◦ (τA )−1




= (τB )−1 ◦ (G (f ) ◦ τA ) ◦ (τA )−1

= (τB )−1 ◦ (τB ◦ F (f )) ◦ (τA )−1

= (τB )−1 ◦ τB ◦ F (f ) ◦ (τA )−1




= F (f ) ◦ (τA )−1 .

E, o diagrama

(τA )−1
A G (A) −−−→ F (A)

f
↓ ↓G(f ) ↓F (f )

(τB )−1
B G (B) −−−→ F (B)

é comutativo. Portanto, τ −1 é uma transformação natural de G em F . Como cada


(τA )−1 ∈ D (G (A) , F (A)) é um isomorfismo, segue que τ −1 : G ∼
= F.

8.2 A Categoria de Funtores


Finalizaremos este capı́tulo dando mais um passo rumo a uma maior abstração mate-
mática: iremos construir uma categoria na qual os objetos são funtores e os morfismos
são transformações naturais. A construção dessa categoria formaliza a ideia de que uma
transformação natural pode ser vista como um morfismo entre funtores. No próximo
capı́tulo, veremos exemplos de algumas categorias que podem ser vistas sob esta perspec-
tiva.

Para as definições, exemplos e resultados que seguem, suponha que F, G, H, J : C → D


são funtores.

Exemplo 8.14 A função

1F : ObC → M orD
A 7→ 1F (A) : F (A) → F (A)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 146

é uma transformação natural 1F : F → F . Com efeito, dado f ∈ C (A, B) , temos

F (f ) ◦ 1F (A) = F (f ) = 1F (B) ◦ F (f ) ,

isto é, o diagrama

1F (A)
A F (A) −−→ F (A)

f F (f )
↓ ↓ ↓F (f )

1F (B)
B F (B) −−→ F (B)

comuta em D.

Definição 8.15 (Composição de Transformações naturais) Sejam τ : F → G e


η : G → H transformações naturais. A composta de η com τ, denotada por η ◦ τ :
F → H é uma função

η ◦ τ : ObC → M orD
A 7→ (η ◦ τ )A : F (A) → H (A)

onde, (η ◦ τ )A = ηA ◦ τA .

Proposição 8.16 A composta de transformações naturais é uma transformação natural.

Demonstração. Sejam τ : F → G e η : G → H transformações naturais. Dado


f ∈ C (A, B), temos que

H (f ) ◦ (η ◦ τ )A = H (f ) ◦ (ηA ◦ τA )

= (H (f ) ◦ ηA ) ◦ τA

= (ηB ◦ G (f )) ◦ τA

= ηB ◦ (G (f ) ◦ τA )

= ηB ◦ (τB ◦ F (f ))

= (ηB ◦ τB ) ◦ F (f )

= (η ◦ τ )B ◦ F (f ) .

Portanto, η ◦ τ : F → H é uma transformação natural.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 147

Proposição 8.17 Uma transformação natural τ : F → G é um isomorfismo natural se,


e somente se, existe uma transformação natural η : G → F tal que η ◦τ = 1F e τ ◦η = 1G .

Demonstração. Suponha que τ : F → G é um isomorfismo natural. Pela proposição


8.13, podemos tomar η = τ −1 . Dado A ∈ ObC , segue

(η ◦ τ )A = τ −1 ◦ τ

A

= (τA )−1 ◦ τA

= 1F (A)

= (1F )A ,

ou seja, η ◦ τ = 1F . Do mesmo modo, podemos mostrar que τ ◦ η = 1G . Reciprocamente,


suponha que η : G → F é uma transformação natural tal que η ◦ τ = 1F e τ ◦ η = 1G .
Dado A ∈ ObC , temos

ηA ◦ τA = (η ◦ τ )A

= (1F )A

= 1F (A) .

Analogamente, τA ◦ ηA = 1G(A) , isto é, τA é um isomorfismo para cada A ∈ ObC , conse-


quentemente, τ é um isomorfismo natural.

Exemplo 8.18 Os funtores esquecimento e hom-funtor E, hZ : Grp → Set, são natural-


mente equivalentes. Com efeito, considere a função

η : ObGrp → M orSet
G 7→ ηG : E (G) → hZ (G)

onde,

ηG : G → Grp (Z, G)
a 7→ ηG (a)

e,

ηG (a) : Z → G
n 7→ ηG (a) (n) = na.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 148

Dados f ∈ Grp (A, B) e a ∈ A, temos

hZ (f ) ◦ ηA (a) = hZ (f ) (ηA (a)) = f ◦ ηA (a) , (8.3)

e,
ηB ◦ f (a) = ηB (f (a)) . (8.4)

Por outro lado, se n ∈ Z,

ηB (f (a)) (n) = nf (a)

= f (na)

= f (ηA (a) (n))

= f ◦ ηA (a) (n) .

Daı́, e das igualdades em 8.3 e 8.4, obtemos a comutatividade do diagrama

ηA
A A →
− Grp (Z, A)

f f
↓ ↓ ↓hZ (f )

ηB
B B →
− Grp (Z, B) .

Logo, η : E → hZ é uma transformação natural. Agora, considere a função

τ : ObGrp → M orSet
G 7→ τG : hZ (G) → E (G)

onde,

τG : Grp (Z, G) →G
β 7→ τG (β) = β (1) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 149

Dado, β ∈ Grp (Z, A), temos

f ◦ τA (β) = f (β (1))

= f ◦ β (1)

= τB (f ◦ β)

= τB (hZ (f ) (β))

= τB ◦ hZ (f ) (β) .

Logo, f ◦ τA = τB ◦ hZ (f ), ou seja,
τA
A Grp (Z, A) →
− A

f
↓ ↓hZ (f ) f

τB
B Grp (Z, B) →
− B

comuta. Assim τ : hZ → E é uma transformação natural. Ainda, para cada G ∈ ObGrp ,


temos

ηG ◦ τG (β) = ηG (β (1))

= αβ(1)

= 1hZ (G) (β) ,

e,

τG ◦ ηG (a) = τG (αa )

= αa (1)

= 1a

=a

= 1G (a)

= 1E(G) (a) .

Daı́, ηG ◦ τG = 1hZ (G) e τG ◦ ηG = 1E(G) , ou seja, η ◦ τ = 1hZ e τ ◦ η = 1E . Pela proposição


8.17, η é um isomorfismo natural, consequentemente E ≈ hZ .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 150

Proposição 8.19 Sejam τ : F → G, η : G → H e β : H → J transformações naturais.


Então, β ◦ (h ◦ τ ) = (β ◦ h) ◦ τ .

Demonstração. Basta notar que, para cada A ∈ ObC ,

[β ◦ (h ◦ τ )]A = βA ◦ (hA ◦ τA )

= (β ◦ h)A ◦ τA

= [(β ◦ h) ◦ τ ]A .

A partir do conceito de Transformação Natural, podemos agora, definir a categoria de


todos os funtores de C em D:

Exemplo 8.20 Sejam C e D categorias quaisquer.

DC , definida como segue constitui uma categoria:

a) ObDC é o conjunto de todos os funtores de C em D;

b) M orDC é o conjunto de todas as transformações naturais entre esses funtores;

c) Dados F, G, H ∈ ObDC , a operação de composição categorial

◦DC : DC (G, H) × DC (F, G) → DC (F, H)

é tal que, η ◦DC τ = η ◦ τ , onde η ∈ DC (G, H), τ ∈ DC (F, G) e ”◦” é a operação


composição de transformações naturais dada na definição 8.15. Pela proposição 8.19, a
operação ”◦DC ” é associativa;

d) Dado F ∈ ObDC , o elemento neutro para operação de composição é a transformação


natural 1F ∈ DC (F, F ) definida no exemplo 8.14.

Observação 8.21 A categoria DC sempre existe2 , independente se C ou D são categorias


grandes ou pequenas.

Observação 8.22 A categoria DC costuma ser denotada por F unct (C, D), e, se
F, G ∈ ObDC , o conjunto DC (F, G) é muitas vezes representado por N at (F, G).

2
Para uma discussão mais detalhada sobre esse assunto, veja §4 do capı́tulo 2 de [5].
Capı́tulo 9

Equivalência de categorias

Em Matemática, é muito comum notar semelhanças entre uma propriedade que relaciona
ou caracteriza objetos em uma determinada área e uma propriedade que também relaciona
e caracteriza objetos em uma outra área. Essa semelhança de ”comportamento” conduz
naturalmente ao estabelecimento de identificações entre os objetos. Esse ”mapeamento”
permite tratar um problema originado em uma área, transportando-o para um ambiente
onde, normalmente, pode-se fazer uso de linguagens mais simples e muitas vezes, de
ferramentas mais poderosas. Um exemplo clássico é a utilização da linguagem matricial
para resolver problemas relacionados a transformações lineares entre espaços vetorias de
dimensão finita e vice-versa.
A Teoria de Categorias fornece mecanismos para formalizar todas essas ideias, definindo
a noção de ”Equivalência entre duas categorias”, tema central deste capı́tulo.

9.1 Isomorfismo de categorias.


No que segue, C e D sempre denotam categorias.

Definição 9.1 Um funtor F : C → D é um isomorfismo se existe um funtor G : D → C


tal que GF = 1C e F G = 1D . Neste caso, G é chamado o inverso de F e é denotado por
F −1 .

Exemplo 9.2 Considere o bifuntor F : C × D → D × C dado por:

i) F (A.B) = (B, A), para cada (A.B) ∈ ObC×D ,

151
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 152

e,
  
ii) F (f, g) = (g, f ), para cada (f, g) ∈ C × D (A, B) , Â, B̂ .
F é um isomorfismo, e F −1 : D × C → C × D é dado por:

i) F −1 (B, A) = (A, B), onde (B.A) ∈ ObD×C ,


e,
  
ii) F −1 (g, f ) = (f, g), para cada (g, f ) ∈ D × C (B, A) , B̂, Â .

Definição 9.3 Se o funtor F : C → D é um isomorfismo, então dizemos que C e D são


categorias isomorfas e denotamos C ∼
= D.

Observação 9.4 Em palavras, duas categorias isomorfas são essencialmente ”indistinguı́veis”do


ponto de vista categórico.

Exemplo 9.5 De acordo com o exemplo anterior, C × D ∼


= D × C.

Antes de prosseguir, veja exemplo 2.30 na página 13 deste livro.

Exemplo 9.6 Se I é um objeto inicial em uma categoria C, então C ∼


= C↓I Com efeito,
note inicialmente, que para cada A ∈ ObC , existe um único morfismo !IA ∈ C (I, A).
Portanto, os objetos de C↓I , são da forma !IX com X ∈ ObC . Podemos definir um funtor
Γ : C↓I → C, pondo:

i) Γ (!IA ) = A, para cada !IA ∈ ObC↓I ;


e,

ii) Γ hI = h, para cada hI ∈ C↓I (!IA , !IB ).
Segue imediatamente da definição da categoria C↓I , que

Γ (!IA ) = A ∈ ObC ,

e,
Γ hI = h ∈ C (A, B) .


Além disso, se k I ∈ C↓I (!IB , !IC , ), então


 
Γ k I ◦ hI = Γ (k ◦ h)I


=k◦h

= Γ k I ◦ Γ hI
 
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 153

e,
 
Γ (1!IA ) = Γ (1A )I

= 1A

= 1Γ(!IA ) .

Logo, Γ é de fato, um funtor. Agora, vamos definir o funtor ∆ : C → C↓I , pondo:

i) ∆ (A) =!IA , onde A ∈ ObC ;


e,
ii) ∆ (h) = hI , onde h ∈ C (A, B).
A verificação de que ∆ é de fato, um funtor, segue diretamente da definição de C↓I . Além
disso,
Γ∆ (A) = Γ (!IA ) = A

e,
Γ∆ (h) = Γ hI = h.


Ainda,
∆Γ (!IA ) = ∆ (A) =!IA

e,
∆Γ hI = ∆ (h) = hI .


Portanto, Γ∆ = 1C e ∆Γ = 1C↓I , consequentemente, Γ é um isomorfismo e C ∼


= C↓I .

Para o exemplo que segue, notemos que, se C é uma categoria qualquer, então, um
funtor F : 2 → C, é completamente determinado pela escolha de um morfismo k ∈
C (C, D) tal que F f = k.



Exemplo 9.7 Se C é uma categoria qualquer, então C 2 ∼
= C . Definimos um funtor


Γ : C 2 → C , pondo:

i) Γ (F ) = F f , para cada F ∈ ObC 2 ;


e,
ii) Γ (τ ) = (τA , τB ), para cada τ ∈ C 2 (F, G).
→ . Se τ ∈ C 2 (F, G).
Notemos que F f ∈ C (F A, F B). Logo, por definição, F f ∈ Ob−
C
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 154

Então τA ∈ C (F A, GA) e τB ∈ C (F B, GB) são tais que Gf ◦ τA = τB ◦ F f , isto é, o


diagrama

Ff
FA −
→ FB

τA
↓ ↓ τB

Gf
GA −
→ GB


− →

comuta. Portanto, (τA , τB ) ∈ C (F f, Gf ) = C (Γ (F ) , Γ (G)). Além disso, se δ ∈
C 2 (G, H), então

Γ (δ ◦ τ ) = ((δ ◦ τ )A , (δ ◦ τ )B )

= (δA ◦ τA , δB ◦ τB )

= (δA , δB ) ◦ (τA , τB )

= Γ (δ) ◦ Γ (τ ) ,

e,

Γ (1F ) = ((1F )A , (1F )B )

= (1F A , 1F B )

= 1F f

= 1Γ(F ) .

  
Assim, Γ é, de fato, um funtor. Agora, sejam k ∈ C (C, D), h ∈ C C̄, D̄ e l ∈ C Ĉ, D̂ .


→ . Definimos um funtor ∆ : C → C 2 , pondo:
Neste caso, k, h, l ∈ Ob−
C

i) ∆ (k) = F , onde F : 2 → C é tal que F (f ) = k; (A demonstração de que esta função


está bem definida fica a cargo do leitor.)

e,



ii) ∆ (α, β) = η α,β , onde (α, β) ∈ C (k, h) e
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 155

η α,β : Ob2 → M orC


A 7→ α
B 7→ β.

(A notação η α,β foi introduzida para manter o padrão usado neste livro na contrução dos
funtores. Ela denota simplesmente a imagem do morfimo (α, β) pelo funtor ∆).

Observemos que

α
C →
− C̄

k
↓ ↓h

β
D →
− D̄

é comutativo. Isso nos permite deduzir a comutatividade do diagrama

A FA (ηα,β )A GA
−−−−→

f F f =k
↓ ↓ ↓Gf =h

B FB (ηα,β )B GB
−−−−→

Assim, η α,β é uma transformação natural de F em G isto é, η α,β ∈ C 2 (F, G) = C 2 (∆ (k) , ∆ (h)).


Além disso, se (µ, φ) ∈ C (h, l), então,

η µ◦α,φ◦β

A
=µ◦α

= η µ,φ A ◦ η α,β A
 

e,

η µ◦α,φ◦β

B
=φ◦β

= η µ,φ B ◦ η α,β B .
 
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 156

Daı́, η µ◦α,φ◦β = η µ,φ ◦ η α,β , consequentemente,

∆ ((µ, φ) , (α, β)) = ∆ (µ ◦ α, φ ◦ β)

= η µ◦α,φ◦β

= η µ,φ ◦ η α,β

= ∆ (µ, φ) ◦ ∆ (α, β) .

Ainda,

∆ (1k ) = ∆ (1C , 1D )

= ∆ (1F A .1F B )

= η 1F A .1F B

= 1F

= 1∆(k).

Portanto, ∆ é um funtor. Finalmente, temos

Γ∆ (k) = Γ (F )

= Ff

= k,

e,

Γ∆ (α, β) = Γ η α,β


= η α,β A , η α,β B
  

= (α, β) ,



→ . Analogamente, ∆Γ = 1C 2 , logo, Γ é um isomorfismo e C 2 ∼
ou seja, Γ∆ = 1− = C.
C

Vamos agora descrever a categoria G que utilizaremos na próxima proposição:


i) ObG = {N, S},
e,
ii) M orG = {1N , 1S , o : S → N, d : S → N }.
Os objetos N e S podem possuir qualquer caracterı́stica. Além disso, 1N , 1S , o, e d são
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 157

apenas morfismos entre N e S. Ainda, ressaltamos que um funtor de G em Set é da


forma:

γ: G → Set
N 7→ γ (N )
S 7→ γ (S)
o 7→ γ (o) : γ (S) 7→ γ (N )
d 7→ γ (d) : γ (S) 7→ γ (N )
1N 7→ γ (1N ) = 1γ(N )
1S 7→ γ (1S ) = 1γ(S)

Proposição 9.8 Se SetG = F unct (G, Set), então GR ∼


= SetG .

Demonstração. Para demonstrar este resultado, vamos definir dois funtores


F : GR → SetG e Γ : SetG → GR, tais que F Γ = 1SetG e ΓF = 1GR . Considere o funtor

F : GR → SetG
H = hNH , SH , OgH , DtH i 7→ F H : G → Set
N 7→ NH
S 7→ SH
o 7→ OgH : SH 7→ NH
d 7→ DtH : SH 7→ NH
1N 7→ F H (1N ) = 1NH
1S 7→ F H (1S ) = 1SH

H FH

↓ α = hαN , αS i 7→ ↓ Fα

L F L,

onde,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 158

Fα : ObG → M orSet
N 7→ (Fα )N : F H (N ) → F L (N )
S 7→ (Fα )S : F H (S) → F L (S)

com (Fα )N = αN e (Fα )S = αS . Afirmamos que Fα : F H → F L é uma transformação


natural. Com efeito, note que

F L (o) ◦ (Fα )S = OgL ◦ αS

= αN ◦ OgH

= (Fα )N ◦ F H (o) ,

logo, o diagrama

(Fα )S
S F H (S) −−→ F L (S)

o F H(o)
↓ ↓ ↓F L(o)

(Fα )N
N F H (N ) −−→ F L (N )

é comutativo. Para d : S → N , temos

F L (d) ◦ (Fα )S = DtL ◦ αS

= αN ◦ DtH

= (Fα )N ◦ F H (d) ,

isto é, o diagrama

(Fα )S
S F H (S) −−→ F L (S)

d F H(d)
↓ ↓ ↓F L(d)

(Fα )N
N F H (N ) −−→ F L (N )
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 159

também comuta. Do mesmo modo, são comutativos os seguintes diagramas:

(Fα )S (Fα )N
S F H (S) −−→ F L (S) N F H (N ) −−→ F L (N )

1S F H(1S )
↓ ↓ ↓F L(1S ) 1N
↓ F H(1N )
↓ ↓F L(1N )

(Fα )S (Fα )N
S F H (S) −−→ F L (S) N F H (N ) −−→ F L (N ).

A demonstração de que F : GR → SetG é de fato, um funtor, segue diretamente da


definição de homomorfismo de grafos e de sua composição. Fica a cargo do leitor. Con-
sidere agora, o par de funções

Γ: SetG → GR
γ : G → Set 7→ Γγ = hγ (N ) , γ (S) , γ (o) , γ (d)i

γ : G → Set Γγ = hγ (N ) , γ (S) , γ (o) , γ (d)i

↓τ 7→ ↓ Γτ = hτN , τS i

θ: G → Set Γθ = hθ (N ) , θ (S) , θ (o) , θ (d)i,

onde,

τ : ObG → M orSet
N 7→ τN : γ (N ) → θ (N )
S 7→ τS : γ (S) → θ (S)

é uma transformação natural de γ em θ. Afirmamos que Γτ : Γγ → Γθ é um homomorfismo


de grafos. De fato, note inicialmente que τN e τS são componentes de uma transformação
natural, logo, os diagramas abaixo são comutativos:
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 160

τS τS
S γ (S) →
− θ (S) S γ (S) →
− θ (S)

o γ(o)
↓ ↓ ↓θ(o) d
↓ γ(d)
↓ ↓θ(d)

τN τN
N γ (N ) →
− θ (N ) N γ (N ) →
− θ (N ).

Portanto,
θ (o) ◦ τS = τN ◦ γ (o) e θ (d) ◦ τS = τN ◦ γ (d) ,

de onde concluı́mos a afirmação. A demonstração de que Γ : SetG → GR é um funtor,


segue da definição de composição de transformações naturais. Finalmente, vamos mostrar
que F Γ = 1SetG e ΓF = 1GR . Dados γ, θ ∈ ObSetG e τ : γ → θ uma transformação
natural. Segue que

F Γ (γ) = F (Γγ)

= F (hNΓγ , SΓγ , OgΓγ , DtΓγ i)

= F (hγ (N ) , γ (S) , γ (o) , γ (d)i)

= γ,

e,

F Γ (τ ) = F (Γτ )

= F Γτ .

Ora,

FΓτ : ObG → M orSet


N 7→ (FΓτ )N
S 7→ (FΓτ )S ,

onde, (FΓτ )N = (Γτ )N = τN e (FΓτ )S = (Γτ )S = τS . Portanto, FΓτ = τ , consequente-


mente, F Γ (τ ) = τ . Assim, F Γ = 1SetG . Agora, tomando arbitrariamente H, L ∈ ObGR
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 161

e α : H → L um homomorfismo de grafos, temos que:

ΓF (H) = Γ (F H)

= ΓF H

= hNΓF H , SΓF H , OgΓF H , DtΓF H i

= hF H (N ) , F H (S) , F H (o) , F H (d)i

= hNH , SH , OgH , DtH i

= H,

e,

ΓF (α) = Γ (F α)

= ΓF α

= h(ΓF α )N , (ΓF α )S i

= hαN , αS i

= α.

Portanto, ΓF = 1GR . Por definição, F é um isomorfismo, consequentemente GR ∼


= SetG .

9.2 Caracterização de categorias equivalentes


Nesta seção, iremos definir e desenvolver toda a teoria necessária para avaliar quando duas
categorias são equivalentes. Este conceito é menos restritivo se comparado ao conceito
de categorias isomorfas. Além disso, nos oferece a oportunidade de tratar de problemas
relacionados a uma categoria C, por intermédio de uma categoria equivalente D.

Considere um funtor F : C → D e A, B ∈ ObC objetos escolhidos arbitrariamente.


Podemos definir a seguinte função:

FA,B : C (A, B) → D (F0 (A) , F0 (B))


f 7→ FA,B (f ) = F1 (f )
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 162

Definição 9.9 Um funtor F : C → D é dito:

i) Pleno, se a função FA,B é sobrejetiva;


ii) Fiel, se a função FA,B é injetiva;
iii) Injetivo em objetos, se F0 : ObC → ObD é injetiva;
iv) Imersão, se for pleno, fiel e injetivo em objetos;
v) Representativo, se para cada objeto B em D, existe um objeto A em C tal que B é
isomorfo a F0 (A).

Exemplo 9.10 O funtor F : C → C op definido no exemplo 6.7 e os funtores identidade


1C : C → C é inclusão IC : S → C são imersões.

Exemplo 9.11 Se F : Set → MhM,⊕,eM i é um funtor, então F não é injetivo em objetos,


qualquer que seja o monóide hM, ⊕, eM i.

Exemplo 9.12 Se F : Set → 1, é um funtor, então F é pleno, mas, não é fiel, e não
é injetivo em objetos.

×
Exemplo 9.13 O bifuntor produto, F : Set × Set → Set, é pleno, fiel e representa-
tivo. Com efeito, fixamos arbitrariamente (A, B) , (C, D) ∈ ObSet×Set e definimos:

×
(F )(A,B),(C,D) : Set × Set ((A, B) , (C, D)) → Set (A × B, C × D)
(f, g) 7→ f × g.

Dados k ∈ Set (A × B, C × D) e (a, b) ∈ A × B, existem k1 : A → C e k2 : B → D


morfismos em Set, tais que k (a, b) = (k1 (a) , k2 (b)). Observamos que

π1C,D ◦ k (a, b) = k1 ◦ π1A,B (a, b)

e,
π2C,D ◦ k (a, b) = k2 ◦ π2A,B (a, b) .
×
Pela proposição 4.43, k = k1 × k2 = (F )(A,B),(C,D) (k1 , k2 ). Como

(k1 , k2 ) ∈ Set × Set ((A, B) , (C, D)) ,


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 163

×
concluı́mos que F é pleno. Sejam (f, g) , (h, k) ∈ Set × Set ((A, B) , (C, D)) tais que
× ×
(F )(A,B),(C,D) (f, g) = (F )(A,B),(C,D) (h, k). Neste caso, f × g = h × k. Daı́, dado
(a, b) ∈ (A, B),

(f (a) , g (a)) = f × g (a, b)

= h × k (a, b)

= (h (a) , k (b)) ,

ou seja, f (a) = h (a) e g (b) = k (b). Portanto, f = h e g = k, e, consequentemente,


(f, g) = (h, k), isto é, F ×
é fiel. Finalmente, dado B ∈ ObSet , é óbvio que B × B ∼
= B.
Assim, F ×
(B, B) ∼
= B, de onde concluı́mos que F ×
é representativo.

Exemplo 9.14 O funtor dual Gd : F V ectK → F V ectK , é pleno, fiel e representativo.


De fato, fixados V, W ∈ ObF V ectK , considere a função:

(Gd )V,W : F V ectK (V, W ) → F V ectK (V ∗ , W ∗ )


T 7→ Td .

Inicialmente, vamos mostrar que (Gd )V,W é injetiva. Sejam T, Ť ∈ F V ectK (V, W ) tais
que Td = Ťd . Dado α ∈ W ∗ , temos que

αT = Td (α)

= Ťd (α)

= αŤ .

Daı́, para cada x ∈ V ,



αT (x) = αŤ (x) ⇔ α (T (x)) = α Ť (x)

⇔ α T (x) − Ť (x) = 0.

Em particular, se tomarmos α : W → K tal que α (y) 6= 0 para todo y 6= 0 em W , então


T (x) − Ť (x) = 0, ou seja, T (x) = Ť (x). Portanto, T = Ť . Vamos mostrar agora a
sobrejetividade de (Gd )V,W . Com essa finalidade consideremos as bases bV = {ψ1 , ..., ψn }
e bW = {φ1 , ..., φm } de V e W respectivamente, e as bases duais bV ∗ = {ψ1∗ , ..., ψn∗ } e
bW ∗ = {φ∗1 , ..., φ∗m } de bV e bW . Seja M ∈ F V ectK (V ∗ , W ∗ ) tomado arbitrariamente.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 164

Para cada k ∈ {1, ..., m}, temos M (φ∗k ) ∈ V ∗ , logo, existem zik ∈ K com 1 ≤ i ≤ n, tais
que
n
X
M (φ∗k ) = zik ψi∗ .
i=1

Defina T : V → W pondo, para cada s ∈ {1, ..., n},

m
X
T (ψs ) = zsj φj ,
j=1

a função T é linear, além disso,

φ∗k T (ψs ) = φ∗k (T (ψs ))


m
!
X
= φ∗k zsj φj
j=1
m
X
= zsj φ∗k (φj )
j=1

= zsk
n
X
= zik ψi∗ (ψs )
i=1
n
!
X
= zik ψi∗ (ψs )
i=1

= M (φ∗k ) (ψs ) ,

ou seja, φ∗k T = M (φ∗k ). Afirmamos que (Gd )V,W (T ) = M . Com efeito, dado α ∈ W ∗ ,
podemos escrever
m
X
α= cj φ∗j .
j=1
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 165

Daı́,
m
X
cj M φ∗j

M (α) =
j=1
m
X
= cj φ∗k T
j=1
m
!
X
= cj φ∗k T
j=1

= αT

= Td (α)

= (Gd )V,W (T ) (α) .

Portanto, (Gd )V,W é sobrejetiva. Finalmente, como dim W = dim W ∗ para todo W ∈
ObF V ectK , temos que Gd (W ) = W ∗ ∼
= W . Assim, Gd é pleno, fiel e representativo.

Proposição 9.15 Sejam F : C → D e G : D → H funtores.

i) Se F e G são plenos, então GF é pleno;


ii) Se F e G são fieis, então GF é fiel.

Demonstração. Sejam A, B ∈ ObC fixados arbitrariamente.


i) Suponha F e G plenos. Dado h ∈ H (GF (A) , GF (B)), existe g ∈ D (F (A) , F (B))
tal que h = G (g). Por outro lado, existe f ∈ C (A, B) tal que g = F (f ). Portanto,

h = G (g) = G (F (f )) = GF (f ) ,

ou seja, GF é pleno.
ii) Suponha agora, F e G fieis. Sejam v, u ∈ C (A, B) tais que GF (v) = GF (u), neste
caso, F (v) = F (u) e, consequentemente, v = u, ou seja, GF é fiel.
Nas duas próximas definições, F denota um funtor F : C → D.

Definição 9.16 Dizemos que F preserva uma propriedade categorial P se, sempre que
um objeto, morfismo ou diagrama tem a proprieaade P em C, a imagem sob F deste
objeto, morfismo ou diagrama, tem a propriedade P em D.

Definição 9.17 Dizemos que F espelha uma propriedade categorial P se, sempre que
a imagem sob F de um objeto, morfismo ou diagrama tem a proprieaade P em D, este
objeto, morfismo ou diagrama, tem a propriedade P em C.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 166

Teorema 9.18 Qualquer funtor F : C → D preserva isomorfismos.

Demonstração. Sejam A, B ∈ OBC e f ∈ C (A, B) um isomorfismo. Temos

F f −1 ◦D F (f ) = F f −1 ◦C f = F (1A ) = 1F (A)
 

e
F (f ) ◦D F f −1 = F f ◦C f −1 = F (1B ) = 1F (B) .
 

Portanto, F (f ) é um isomorfismo. Em particular, [F (f )]−1 = F (f −1 ).

Exemplo 9.19 Considere uma categoria GhA,⊕,eA i , onde hA, ⊕, eA i é um grupo finito. Se
F : GhA,⊕,eA i → Set é um funtor, então, pelo exemplo 3.11 e pelo teorema anterior, cada
morfismo F a é um isomorfismo em Set.

Teorema 9.20 Se F : C → D é um funtor fiel, então F espelha:

i) monomorfismos;
ii) epimorfismos;
iii) Triângulos comutativos. (Isto significa que dados f, g, h ∈ M orC tais que F (h) =
F (g) ◦D F (f ), tem-se que h = g ◦ f ).

Demonstração.
i) Sejam A, B objetos em C e f ∈ C (A, B) tal que F (f ) ∈ D (F (A) , F (B)) é um
monomorfismo em D. Dados g, h ∈ C (X, A) tais que f ◦C g = f ◦C h, temos

F (f ) ◦D F (g) = F (f ◦C g) = F (f ◦C h) = F (f ) ◦D F (h) .

Portanto, F (g) = F (h) de onde concluı́mos que g = h e, consequentemente, f é um


monomorfismo.
ii) Basta usar argumentos semelhantes aos usados na demonstração do item (i) .
iii) Por hipótese,
F (h) = F (g) ◦D F (f ) = F (g ◦C f ) .

Como F é fiel, h = g ◦ f .

Teorema 9.21 Se F : C → D é um funtor pleno e fiel, então F espelha isomorfismos.


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 167

Demonstração. Sejam A, B objetos em C e f ∈ C (A, B) tal que F (f ) ∈ D (F (A) , F (B))


é um isomorfismo em D. Por definição, existe v ∈ D (F (A) , F (B)) tal que F (f ) ◦D v =
1F (B) e v ◦ F (f ) = 1F (A) . Ora, F é pleno, logo, existe g ∈ C (B, A) tal que v = F (g). Daı́,

F (1B ) = 1F (B) = F (f ) ◦D v = F (f ) ◦D F (g) = F (f ◦C g)

e,
F (1A ) = 1F (A) = v ◦D F (f ) = F (g) ◦D F (f ) = F (g ◦C f )

Como F é fiel, f ◦C g = 1B e g ◦C f = 1A , ou seja, f é isomorfismo.

Observação 9.22 Em outras palavras, podemos dizer que se um funtor F é pleno, fiel e
FA ∼
= F B, então A ∼
= B.

Teorema 9.23 Se F : C → D é um funtor pleno, fiel e representativo, então F preserva


e espelha:

i) Monomorfismos;
ii) Epimorfismos;
iii) Triângulos comutativos. (Isto significa que dados f, g, h ∈ M orC , então F (h) =
F (g) ◦ F (f ) se, e somente se h = g ◦ f ).

Demonstração. Pelo Teorema 9.20, F espelha monomorfismo, epimorfismo e triângulos


comutativos. A prova de que F preserva e espelha isomorfismos segue dos Teoremas 9.18
e 9.21, respectivamente. Além disso, F preserva triângulos comutativos pois é um funtor.
Resta mostrar que F preserva monomorfismos e epimorfismos.
 
Sejam α : A → B um epimorfismo em C, Ŷ ∈ ObD e u, v ∈ D F (B) , Ŷ tais que

u ◦D F (α) = v ◦D F (α) .

Uma vez que F é representativo, existem Y ∈ ObC é um isomorfismo w : Ŷ → F (Y ) em


D. Por outro lado, existem g, h ∈ C (B, Y ) tais que F (g) = w ◦D u e F (h) = w ◦D v. Daı́,

F (g ◦C α) = F (g) ◦D F (α)

= w ◦D (u ◦D F (α))

= w ◦D (v ◦D F (α))

= F (h) ◦D F (α)

= F (h ◦C α) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 168

Como F é fiel, segue que g ◦C α = h ◦C α, consequentemente, g = h. Portanto, w ◦D u =


w◦D v, de onde concluı́mos que u = v, pois w é isomorfismo. Ou seja, F (α) é epimorfismo.
Agora, seja β : A → B um monomorfismo em C. Mostraremos que F (β) é um monomor-
 
fismo em D. Com efeito, sejam X̂ ∈ ObD e ū, v̄ ∈ D X̂, F (A) tais que

F (β) ◦D ū = F (β) ◦D v̄.

Como F é representativo e pleno, existem X ∈ ObC , um isomorfismo w̄ : F (X) → X̂ em



D e dois morfismos ḡ, h̄ ∈ C (X, A) tais que F (ḡ) = ū ◦D w̄ e F h̄ = v̄ ◦D w̄. Assim,

F (β ◦C ḡ) = F (β) ◦D F (ḡ)

= (F (β) ◦D ū) ◦D w̄

= (F (β) ◦D v̄) ◦D w̄

= F (β) ◦D F h̄

= F β ◦C h̄ .

Portanto, β ◦C ḡ = β ◦C h̄, de onde concluı́mos que ū ◦D w̄ = v̄ ◦D w̄, e consequentemente,


ū = v̄, o que finaliza a demonstração.

Definição 9.24 Dizemos que C e D são categorias equivalentes, se existem dois fun-
tores F : C → D e G : D → C tais que F G ≈ 1D e GF ≈ 1C .

Definição 9.25 As categorias C e D são dualmente equivalentes se C op e D são equi-


valentes.

Exemplo 9.26 Considere as categorias 1 e D = h{a, b} , {1a , 1b , f : a → b, g : b → a}i,


onde g ◦ f = 1a e f ◦ g = 1b . As categorias 1 e D são equivalentes. Com efeito, sejam
F : 1 → D e G : D → 1 funtores, dados por:

i) F (A) = a;
ii) F (1A ) = 1a ;

e,

iii) G (x) = A, para todo x ∈ ObD ;


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 169

iv) G (α) = 1A , para todo α ∈ M orD .


As funções
τ : FG → 1D
a 7→ τa = 1a
b 7→ τb = f
e,
η : GF → 11
A 7→ ηA = 1A ,

são isomorfismos naturais. Portanto, F G ≈ 1D e GF ≈ 11 .

Considerando toda a teoria construı́da ao longo dessa seção, estamos prontos para
enunciar e demonstrar o principal resultado deste capı́tulo:

Teorema 9.27 Duas categorias C e D são equivalentes se, e somente se, existe um funtor
F : C → D pleno, fiel e representativo.

Demonstração. Sejam C e D categorias equivalentes. Por definição, existem dois fun-


tores F : C → D e G : D → C tais que F G ≈ 1D e GF ≈ 1C . Mostraremos que F é pleno,
fiel e representativo. Com efeito, sejam τ : 1D → F G e η : 1C → GF dois isomorfismos
naturais, A, B ∈ ObC e f, g ∈ C (A, B) satisfazendo F (f ) = F (g). Temos que:

ηB ◦ f = GF (f ) ◦ ηA = GF (g) ◦ ηA = ηB ◦ g

isto é, o diagrama

ηA ηA
A A →
− G (A) ←
− A A

GF (f )=GF (g)
f f
↓ ↓ ↓ ↓g g

ηB ηB
B B →
− G (B) ←
− B B

é comutativo. Daı́, e do fato de que ηB é um isomorfismo, segue que f = g, ou seja, F


é fiel. Sabemos que, para cada K ∈ ObD , τK : K → F G(K) é um isomorfismo. Como
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 170

G (K) ∈ ObC , concluı́mos que F é representativo. Mostremos agora que F é pleno. Dado
ḡ ∈ D (F (A) , F (B)), defina f¯ ∈ C (A, B) pondo

f¯ = (ηB )−1 ◦ G (ḡ) ◦ ηA .

Por definição de transformação natural, o diagrama,

ηA
A A →
− GF (A)

GF (f¯)
f¯ f¯
↓ ↓ ↓

ηB
B B →
− GF (B)

comuta, isto é,


GF f¯ ◦ ηA = ηB ◦ f¯.

(9.1)

Por construção,
ηB ◦ f¯ = ηB (ηB )−1 ◦ G (ḡ) ◦ ηA = G (ḡ) ◦ ηA .
 

Daı́, da igualdade em 9.1, e do fato de que ηA é um isomorfismo, segue que

GF (f¯) = G(ḡ).

Como G é fiel1 ,
F f¯ = ḡ.


Portanto, F é pleno.
Reciprocamente, suponha que existe um funtor F : C → D, pleno, fiel e representativo.
Para cada B̂ ∈ ObD , podemos fixar AB̂ ∈ ObC tal que B̂ ∼
= F (AB̂ ) e, considerar a função

G0 : ObD → ObC
 
B̂ 7 → G0 B̂ = AB̂ ,

e um isomorfismo
  
τB̂ : F G0 B̂ → B̂
1
A prova é análoga a prova para F e será deixada como exercı́cio para o leitor.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 171

 
em D. Dado α ∈ D B̂, Ĉ , seja
     
(τC )−1 ◦ α ◦ τB : F G B̂ → F G Ĉ

um morfismo em D. Uma vez que F é pleno e fiel, existe um único morfismo


   
fα : G B̂ → G Ĉ

tal que
F (fα ) = (τC )−1 ◦ α ◦ τB . (9.2)

Assim, podemos definir uma aplicação

G1 : M orD → M orC
α 7−→ G1 (α) = fα ,

Daı́ e de (9.2),
F1 (G1 (α)) = (τC )−1 ◦ α ◦ τB . (9.3)

Afirmamos que o par de funções G = hG0 , G1 i é um funtor G : D → C. Com efeito, se


 
β ∈ D Ĉ, Ê , então

F1 (G1 (β ◦ α)) = (τE )−1 ◦ (β ◦ α) ◦ τB

= (τE )−1 ◦ β ◦ τC ◦ (τC )−1 ◦ α ◦ τB


   

= F1 (G1 (β)) ◦ F1 (G1 (α))

= F1 (G1 (β) ◦ G1 (α)) .

Ainda, se X ∈ ObD , segue que

F1 (G1 (1X )) = (τX )−1 ◦ 1X ◦ τX = 1F0 (G0 (X)) = F1 1G0 (X) .




Como F é fiel,
G1 (k ◦ g) = G1 (k) ◦ G1 (α) ,

e,
G1 (1X ) = 1G0 (X) ,

o que comprova a afirmação. Além disso, segue da equação em 9.3, que

α ◦ τB = τC ◦ F (G (α)) = τC ◦ F G (α) .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 172

   
Logo, a famı́lia τB̂ : F G B̂ → B̂ é um isomorfismo natural τ : F G → 1D , isto
B̂∈ObD
é, F G ≈ 1D . Resta mostrar, que existe um isomorfismo natural η : 1C → GF . De fato,
fixe A ∈ ObC . Como F (A) ∈ ObD , podemos considerar um isomorfismo

τF (A) : F (GF (A)) → F (A)

e seu inverso
−1
τF (A) : F (A) → F (GF (A)) .

Como F é pleno e fiel, existe um único morfismo ηA : A → GF (A) em C tal que


−1
F (ηA ) = τF (A) . (9.4)

Pelo Teorema 9.21, ηA é um isomorfismo. Ainda, se f ∈ C (A, B), temos


−1
F G (F (f )) ◦ F (ηA ) = F (G (F (f ))) ◦ τF (A)
h −1 i −1
= τF (B) ◦ F (f ) ◦ τF (A) ◦ τF (A)
h −1 i
= [F (ηB ) ◦ F (f )] ◦ τF (A) ◦ τF (A)

= F (hB ) ◦ F (f ) ,

ou seja,
F (GF (f ) ◦ ηA ) = F (hB ◦ f ) .

Assim, hB ◦ f = GF (f ) ◦ ηA , e a famı́lia de morfismos (ηA : A → GF (A))A∈ObC é um


isomorfismo natural η : 1C → GF . Por conseguinte, GF ≈ 1C donde concluı́mos que C e
D são categorias equivalentes.

Exemplo 9.28 As categorias Set × Set e Set são categorias equivalentes.

No exemplo que segue, para cada espaço vetorial de dimensão finita V sobre um corpo
K, fixe uma base bV .

Exemplo 9.29 Considere o funtor G : F V ectK → M atK , dado por:

i) G (V ) = dim V , para cada V ∈ ObF V ectK ,

e,

ii) G (T ) = MT , para cada morfismo T ∈ F V ectK (V, W ), onde MT ∈ M atK (dim W, dim V )
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 173

é a matriz de T nas bases bV , bW .


Dados V, W ∈ ObF V ectK , a função

GV,W : F V ectK (V, W ) → M atK (dim W, dim V )


T 7→ GV,W (T ) = MT

é sobrejetiva e injetiva2 . Ainda, dado n ∈ ObM atK , temos que G (K n ) = dim K n = n.


Logo, G (K n ) é isomorfo a n. Portanto, G é pleno, fiel e representativo, pelo teorema
9.27, as categorias F V ectK e M atK são equivalentes.

2
A demonstração dessa afirmação pode ser encontrada no livro [1].
Capı́tulo 10

O Lema de Yoneda

Neste capı́tulo, enunciamos e demonstramos um dos principais resultados em um curso


introdutório de Teoria de Categorias: o Lema de Yoneda. Este resultado e seus corolários
possuem diversas e importantes aplicações em vários ramos da matemática. Em Teoria de
Categorias, o Lema de Yoneda auxilia na caracterização de funtores representáveis e no
estudo de adjunções. Além disso, um de seus principais corolários, a Imersão de Yoneda,
afirma que podemos considerar toda categoria localmente pequena C como uma subcate-
goria de F unct (C, Set). Isto sugere que podemos estudar a categoria C por intermédio da
categoria F unct (C, Set), que nomalmente, possui uma estrutura mais rica e acessı́vel. O
leitor familiarizado com a Teoria de Grupos, logo irá perceber que a Imersão de Yoneda
é em certo sentido, uma generalização do Teorema de Cayley.
As grandes aplicações do Lema de Yoneda, encontram-se em um ponto bem distante
de um curso introdutório de Teoria de Categorias. Para alcançá-las seria necessária uma
grande quantidade de pré-requisitos, tanto em Teoria de Categorias quanto em outras
áreas. Assim, primando pelos objetivos que nortearam o desenvolvimento deste texto,
optamos novamente por apresentar um estudo mais superficial sobre o assunto, abordando
os pontos que serão úteis ao próximo capı́tulo, que trata sobre funtores adjuntos. O leitor
interessado, poderá encontrar mais sobre o Lema de Yoneda e seus corolários no capı́tulo
8 do livro [6] e no artigo [13]. Em [6], o autor apresenta a Imersão, o Lema e o Princı́pio de
Yoneda, além de uma série de aplicações e resultados que relacionam o Lema de Yoneda
e seus corolários, com noções ja vistas, como por exemplo Limites e Colimites. Em [13],
o autor propõe um diálogo, no qual apresenta uma brilhante interpretação para o lema.

174
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 175

Para o que segue, A é um objeto em uma categoria localmente pequena C e


homC (A, ) : C → Set é o hom-funtor definido no exemplo 6.17. Vamos usar a notação
mais simples hA para indicar homC (A, ).

Teorema 10.1 (Lema de Yoneda) Seja F : C → Set um funtor que assume valores
na categoria Set. Dado A ∈ ObC , o conjunto N at (hA , F ), de todas as transformações
naturais de hA em F é isomorfo à F (A).

Demonstração. Mostraremos inicialmente que N at (hA , F ) ∈ ObSet . Em seguida,


provaremos que N at (hA , F ) ∼
= F (A). Seja

τ : ObC → M orSet
X 7→ τX : C (A, X) → F (X)
f 7→ τX (f )

uma transformação natural de hA em F . Fixe arbitrariamente X ∈ ObC . Para cada


f ∈ C(A, X), o diagrama

τA
A C (A, A) −−−→ F (A)

f hA (f )
↓ ↓ ↓F (f )

τX
X C (A, X) −−−→ F (X)

comuta em Set, isto é,


F (f ) ◦ τA = τX ◦ hA (f ) . (10.1)

Daı́,

F (f ) (τA (1A )) = τX (hA (f )(1A ))

= τX (f ◦ 1A )

= τX (f ).
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 176

Ou seja, para cada X ∈ ObC ,

τX : C (A, X) → F (X)
(10.2)
f 7→ τX (f ) = F (f ) (τA (1A )) .

Em palavras, caracterizamos cada morfismo τX em Set e, portanto, a transformação


natural τ , fazendo uso do elemento τA (1A ) ∈ F (A). Considere agora a função

φ : N at (FA , F ) → F (A)
η 7→ φ (η) = ηA (1A ).

É fácil verificar que φ está bem definida. Deixamos essa verificação como exercı́cio. Além
disso, φ é injetiva. De fato, sejam τ, η ∈ N at (FA , F ) tais que φ (τ ) = φ(η). Assim,

τX (f ) = F (f ) (τA (1A ))

= F (f ) (φ (τ ))

= F (f ) (φ (η))

= F (f ) (ηA (1A ))

= ηX (f ) .

Logo, τX = ηX para todo X ∈ ObC , isto é, τ = η, e, concluı́mos que φ é injetiva.


Assim, N at (hA , F ) possui a mesma cardinalidade que um subconjnto de F (A). Portanto,
N at (hA , F ) é um conjunto pequeno, isto é, N at (hA , F ) ∈ ObSet .
Mostraremos agora, que φ é um isomorfismo. Notemos que, para cada X ∈ ObC e a ∈
F (A) fixados arbitrariamente, temos F (f )(a) ∈ F (X). Logo, podemos definir as funções

λ(a)X : C(A, X) → F (X)


(F)
f 7→ λ(a)X (f ) = F (f )(a),

e,
λ(a) : ObC → M orSet
X 7→ λ(a)X .
Afirmamos que λ(a) ∈ N at (hA , F ). Com efeito, dados k ∈ C (X, Y ) e g ∈ C(A, X), segue
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 177

que

(λ(a)X ◦ hA (k)) (g) = λ(a)Y (hA (k)(g))

= λ(a)Y (k ◦ g)

= F (k ◦ g)(a)

= F (k) ◦ F (g)(a)

= F (k)(F (g)(a))

= F (k) (λ(a)X (g))

= (F (k) ◦ λ(a)X ) (g).

Isto é, o diagrama

λ(a)X
X C (A, X) −−→ F (X)

k hA (k)
↓ ↓ ↓F (k)

λ(a)Y
Y C (A, Y ) −−→ F (Y )

é comutativo. Portanto, λ(a) : hA → F é uma transformação natural. Considere agora a


função

λ : F (A) → N at (hA , F )
a 7→ λ(a)

Notemos que, para cada a ∈ F (A), temos

φ ◦ λ(a) = φ(λ(a)) = λ(a)A (1A ) = F (1A )(a) = 1F (A) (a) = a.

Logo,
φ ◦ λ = 1F (A) .

Agora, se η ∈ N at (hA , F ),

λ ◦ φ (η) = λ (φ(η)) = λ (ηA (1A )) . (10.3)


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 178

A partir de 10.2, temos

λ (ηA (1A ))X (f ) = F (f ) (ηA (1A )) = ηX (f ) ,

isto é, λ (ηA (1A ))X = ηX para cada X ∈ ObC . Portanto, λ (ηA (1A )) = η. Desse fato e,
da igualdade em 10.3, segue que
λ ◦ φ (η) = η.

Assim,
λ ◦ φ = 1N at(hA ,F ) .

Ou seja, φ é um isomorfismo. Consequentemente N at (hA , F ) ∼


= F (A), o que encerra a
demonstração.

Corolário 10.2 Se A, B são objetos em C, então N at (hA , hB ) ∼


= C (B, A).

Demonstração. Basta notar que hB : C → Set é um funtor que assume valores na


categoria Set. Logo, segue diretamente do Lema de Yoneda que

C (B, A) = hB (A) ∼
= N at (hA , hB ) .

Seja F : C → Set, um funtor que assume valores na categoria Set. Dado A ∈ ObC ,
segue (como consequência de F na demonstração do Lema de Yoneda) que, para cada
a ∈ F (A), existe uma transformação natural λ(a) : hA → F .

Definição 10.3 Seja F : C → Set, um funtor que assume valores na categoria Set. Se
para algum A ∈ ObC e a ∈ F (A), λ (a) for um isomorfismo natural (neste caso, hA ≈
F ), dizemos que F é um funtor representável e que (A, a) representa F .

Exemplo 10.4 Considere o funtor esquecimento E : Grp → Set, o par (Z, 1) e a trans-
formação natural λ (1) : hZ → E, definida por

λ (1) : ObGrp → M orSet


G 7→ λ (1)G : hZ (G) → E (G)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 179

onde,

λ (1)G : Grp (Z, G) →G


β 7→ λ (1)G (β) = β (1)

é tal que λ (1)G (β) = Eβ (1) = β (1), para cada G ∈ ObGrp . Note que λ (1) é o isomor-
fismo natural τ definido no exemplo 8.18 (página 147). Portanto, E é representável pelo
par (Z, 1).

Teorema 10.5 O funtor F : C → Set é representável pelo par (A, a) se, e somente se,
para cada objeto X em C e cada x ∈ F (X), existe um único morfismo f : A → X em C
tal que F (f ) (a) = x.

Demonstração. Seja F : C → Set um funtor representável pelo par (A, a). Por definição,

λ (a) : hA → F

é um isomorfismo natural, isto é, dado X ∈ ObC , o morfismo

λ (a)X : C (A, X) → F (X)

em Set é um isomorfismo, em outras palavras, uma bijeção. Logo, para cada x ∈ F (X)
existe um único morfismo f ∈ C (A, X) tal que λ (a)X (f ) = x. Daı́, e de F, segue que
F (f ) (a) = x. Reciprocamente, sejam X ∈ ObC e f, g ∈ C (A, X) tais que λ (a)X (f ) =
λ (a)X (g). Neste caso,

F (f ) (a) = λ (a)X (f ) = λ (a)X (g) = F (g) (a) .

Como
λ (a)X (f ) ∈ F (X)

então, f = g, ou seja, λ (a)X é injetiva. A sobrejetividade de λ (a)X segue diretamente da


hipótese. Logo, λ (a)X é um isomorfismo em Set. Concluı́mos que λ (a) : FA → F é um
isomorfismo natural, isto é, (A, a) representa F .

Observação 10.6 No exemplo 10.4, para cada objeto G em Grp e cada x ∈ E (G) = G,
existe um único morfismo β : Z → G em Grp, tal que E (β) (1) = x.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 180

Exemplo 10.7 Sejam C uma categoria e A ∈ ObC qualquer. O funtor hA : C → Set é


representável pelo par (A, 1A ). Com efeito, dados X ∈ ObC e f ∈ hA (X), existe um único
morfismo g : A → X em C tal que hA (g) (1A ) = f , precisamente, o morfismo g = f .

Para o exemplo que segue, lembre-se que se uma função h : R → X satisfaz h (x + 2π) =
h (x), para todo x ∈ R, então, dado n ∈ Z, tem-se h (x + 2πn) = h (x).

Exemplo 10.8 Considere o funtor F : Set → Set, dado por:

i) F (X) = {f : R → X ; f (x + 2π) = f (x) , para todo x ∈ R}, onde X ∈ ObSet ;

e,

ii) F (h) = h̄, onde h ∈ Set (X, Y ) e h̄ ∈ Set (F (X) , F (Y )) é tal que h̄ (β) = h ◦ β, para
cada β ∈ F (X).

Defina o conjunto S := {[r] ; r ∈ [0, 2π)}, onde [r] = r + 2πZ. Para todo x ∈ R, é possı́vel
encontrar n ∈ Z tal que x = r + 2πn, com r ∈ [0, 2π)1 . Neste caso, vamos denotar
[xr ] = [r]. Considere a função

ω: R →S
x 7→ [xr ] .

Afirmamos que o par (S, ω) representa o funtor F . Com efeito, dados X ∈ ObSet e
α ∈ F (X), podemos definir a função

fα : S →X
[r] 7→ α (r) .

Agora, dado x ∈ R, segue que

fα ◦ ω (x) = fα (ω (x))

= fα ([xr ])

= fα ([r])

= α (r)

= α (r + 2πn)

= α (x) .
x
1

Basta tomar n = max m ∈ Z; m ≤ 2π .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 181

Portanto, fα ◦ ω = α, ou seja, o diagrama

ω
↓ &α


S −−−→ X

é comutativo. Além disso, se g : S → X é tal que g ◦ ω = α e [r] ∈ S, temos que

g ([r]) = g (ω (r))

= g ◦ ω (r)

= α (r)

= fα ([r]) ,

ou seja, g = fα . Logo, fα : S → X é o único morfismo em Set tal que F (fα ) (ω) =


fα ◦ ω = α, de onde concluı́mos a afirmação.

Corolário 10.9 Seja F : C → Set um funtor. Se (A, a) e (B, b) representam o funtor


F , então existe um único isomorfismo f : A → B tal que F (f ) (a) = b.

Demonstração. Como (A, a) representa F , pelo teorema anterior, existe um único


morfismo f ∈ C (A, B) tal que F (f ) (a) = b. Reciprocamente, existe um único morfismo
g ∈ C (B, A) tal que F (g) (b) = a. Então,

F (g ◦ f ) (a) = F (g) ◦ F (f ) (a)

= F (g) (F (f ) (a))

= F (g) (b)

=a

= 1F (A) (a)

= F (1A ) (a)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 182

e,

F (f ◦ g) (b) = F (f ) ◦ F (g) (b)

= F (f ) (F (g) (b))

= F (f ) (a)

=b

= 1F (B) (b)

= F (1B ) (b) .

Ora, 1A e 1B são o únicos morfismos que satisfazem F (1A ) (a) = a e F (1B ) (b) = b.
Portanto, g ◦f = 1A e f ◦g = 1B . Logo, f é um isomorfismo, o único tal que F (f ) (a) = b.

Observação 10.10 Em outras palavras, o corolário 10.9 afirma que, se dois pares (A, a)
e (B, b) representam o mesmo funtor F , então, A ∼
= B.

Para o exemplo que segue, considere os conjuntos S 1 = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = 1},


1
SN = S 1 − {(0, 1)} e a função

1
ρ : SN →R
x
(x, y) 7→ .
1−y

Exemplo 10.11 Sejam J = {(cos (x) , sen (x)) ∈ R2 ; x ∈ R}, a função

ω̄ : R →J
x 7→ (cos (x) , sen (x)),

e F : Set → Set, o funtor definido no exemplo 10.8. Note que ω̄ ∈ F (J). Afirmamos
que (J, ω̄) representa o funtor F . Com efeito, dados X ∈ ObSet e α ∈ F (X), podemos
definir a função

ψα : J → X
(cos (x) , sen (x)) 7→ α ◦ ρ ◦ φ (cos (x) , sen (x)),
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 183

onde

φ: J → 1
SN

2x x2 − 1
 
(cos (x) , sen (x)) 7→ , .
x2 + 1 x2 + 1

Temos, para cada x ∈ R e α ∈ F (X),

ψα ◦ ω̄ (x) = ψα (cos (x) , sen (x))

= α ◦ ρ ◦ φ (cos (x) , sen (x))


2x x2 − 1
 
=α◦ρ ,
x2 + 1 x2 + 1
2x x2 − 1
  
=α ρ ,
x2 + 1 x2 + 1
= α (x) .

Portanto, ψα ◦ ω̄ = α, ou seja, o diagrama

ω̄
↓ &α

ψα
J −−−→ X

é comutativo. Agora, suponha que g : J → X é tal que g ◦ ω̄ = α. Dado


(cos (x) , sen (x)) ∈ J,

g (cos (x) , sen (x)) = g ◦ ω̄ (x)

= α (x)

= ψα ◦ ω̄ (x)

= ψα (cos (x) , sen (x)) ,

isto é, g = ψα . Logo, ψα = J → X é o único morfismo em Set, tal que F (ψα ) (ω̄) = α.
Portanto, (J, ω̄) representa F . Pelo exemplo 10.8 e, pelo corolário 10.9, existe um único
isomorfismo f : S → J tal que F (f ) (ω) = ω̄.
Capı́tulo 11

Adjunções

Neste capı́tulo, introduzimos o conceito de Adjunções. Certamente, uma das principais e


mais abstratas noções em um primeiro curso sobre Teoria de Categorias. Muitas noções
fundamentais em Matemática, Lógica, Ciência da Computação e outras áreas do conhec-
imento humano que fazem uso da linguagem categorial, são casos especiais de funtores
adjuntos. Consequentemente, grande parte das importantes aplicações da Teoria de Cat-
egorias envolvem adjunções. Segundo alguns autores, o conceito de Adjunções é uma das
principais contribuições da Teoria de Categorias para o pensamento matemático.
O objetivo principal deste livro continua sendo introduzir a teoria geral de Catego-
rias de maneira mais agradável possı́vel, obviamente, sem perder o rigor matemático.
Portanto, o presente capı́tulo não irá se aprofundar em muitos exemplos e aplicações.
Principalmente pela complexidade que muitas vezes, essas aplicações possuem.

11.1 Caracterização de Funtores Adjuntos


Iniciamos esta seção, apresentando uma condição a respeito da existência de um funtor
adjunto. Enunciamos e demonstramos resultados que relacionam a noção de represen-
tatividade de funtores e a existência de funtor adjunto esquerdo. Finalizamos a seção
mostrando que o funtor adjunto esquerdo é único, a menos de isomorfismos.

Para a definição que segue, sejam F : C → D e G : D → C funtores quaisquer,


homC (G , ) e homD ( , F ) bifuntores de C op × D em Set definidos nos exemplos 6.34 e
6.35 respectivamente. Por conveniência, denotaremos para cada par (A, B) ∈ ObC op ×D e

184
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 185

(f op , g) ∈ M orC op ×D

homC (G , ) (A, B) = homC (GB, A) ,

homC (G , ) (f op , g) = homC (Gg, f ) ,

homD ( , F ) (A, B) = homD (B, F A) ,

homD ( , F ) (f op , g) = homD (g, F f ) .

Definição 11.1 Se F : C → D e G : D → C são funtores tais que

homC (G , ) ≈ homD ( , F ) ,

então, dizemos que G é um adjunto esquerdo de F , e que F é um adjunto direito


de G e denotamos G a F . Além disso, o par (G, F ) é chamado par adjunto.

Observação 11.2 Obviamente, existe uma condição dual a respeito da existência de um


funtor adjunto direito para o funtor F . Sua construção e todos os resultados duais
relacionados serão deixados a cargo do leitor. Trata-se de um excelente desafio.

Exemplo 11.3 Seja C uma categoria que possui todos os produtos finitos. Considere o
funtor diagonal
∆: C → C×C

A 7→ (A, A)

A (A, A)

↓f 7→ ↓ (f, f )

B (B, B),

×
afirmamos que ∆ a F . Com efeito, considere a função

τ : Ob(C×C)op ×C → M orSet
×
((A, B) , C) 7→ τ(A,B),C : homC×C (∆C, (A, B)) → homC (C, F (A, B)),
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 186

onde,
τ(A,B),C : C × C ((C, C) , (A, B)) → C (C, A × B)
(f, g) 7→ τ(A,B),C (f, g) = hf, gi.

×
Vamos mostrar que τ : homC×C (∆ , ) → homC ( , F ) é um isomorfismo natural. Se-

jam ((f, g)op , h) ∈ (C × C)op × C ((A, B) , C) ,


 
Ā, B̄ , C̄ e

 
(t1 , t2 ) : C̄, C̄ → Ā, B̄ . Temos que:

×

homC h, F (f, g) ◦ τ(Ā,B̄ ),C̄ (t1 , t2 ) = homC (h, f × g) (ht1 , t2 i)

= f × g ◦ ht1 , t2 i ◦ h

= hf ◦ t1 , g ◦ t2 i ◦ h

= hf ◦ t1 ◦ h, g ◦ t2 ◦ hi ,

e,

τ(A,B),C ◦ homC×C (∆h, (f, g)) (t1 , t2 ) = τ(A,B),C ((f, g) ◦ (t1 , t2 ) ◦ (h, h))

= τ(A,B),C (f ◦ t1 ◦ h, g ◦ t2 ◦ h)

= hf ◦ t1 ◦ h, g ◦ t2 ◦ hi .

Das igualdades acima, segue que o diagrama abaixo, comuta.

    τ(Ā,B̄ ),C̄ 
Ā, B̄ , C̄ C×C C̄, C̄ , Ā, B̄ −−−−→ C C̄, Ā × B̄

((f,g)op ,h) homC×C (∆h,(f,g))


↑ ↓ ↓homC (h,F (f,g))

τ(A,B),C
((A, B) , C) C × C ((C, C) , (A, B)) −−−−→ C (C, A × B)

Consequentemente, τ é uma transformação natural. Agora, basta mostrar que para cada
((A, B) , C) ∈ Ob(C×C)op ×C a função τ(A,B),C é um isomorfismo. Note inicialmente que o
diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 187

k
π1A,B ◦k A,B
◦k
. ↓ & π2

π1A,B π2A,B
A ←−− A×B −−→ B

D E
é comutativo, logo, k = π1A,B ◦ k, π2A,B ◦ k . Defina a função

φ(A,B),C : C (C, A × B) → C × C ((C, C) , (A, B))


 
k 7→ π1A,B ◦ k, π2A,B ◦ k .

Dado k : C → A × B e (f, g) : (C, C) → (A, B), temos que

 
τ(A,B),C ◦ φ(A,B),C (k) = τ(A,B),C ◦π1A,B k, π2A,B ◦k
D E
= π1A,B ◦ k, π2A,B ◦ k

= k,

e,

φ(A,B),C ◦ τ(A,B),C (f, g) = φ(A,B),C (hf, gi)


 
= π1A,B ◦ hf, gi , π2A,B ◦ hf, gi

= (f, g) .
−1 ×
Assim, φ(A,B),C = τ(A,B),C . Logo, homC×C (∆ , ) ≈ homC ( , F ).

+
Exemplo 11.4 Fica como um exercı́cio para o leitor mostrar que F a ∆, ou seja, o
bifuntor coproduto é um adjunto esquerdo do funtor diagonal.

Exemplo 11.5 Sejam (P, P ) e (Q, Q ) conjuntos parcialmente ordenados, α : P → Q


e β : Q → P funções monótonas satisfazendo a seguinte condição:

Dados x ∈ P e y ∈ Q, tem-se que β (y) P x se, e somente se, y Q α (x) .

Considere os funtores
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 188

F : P(P,P ) → P(Q,Q )

x 7→ α (x)

x1 α (x1 )

↓ (x1 , x2 ) 7→ ↓ (α (x1 ) , α (x2 ))

x2 α (x2 ),
e,

G: P(Q,Q ) → P(P,P )

y 7→ β (y)

y1 β (y1 )

↓ (y1 , y2 ) 7→ ↓ (β (y1 ) , β (y2 ))

y2 β (y2 ).

Afirmamos que G a F . Com efeito, considere a função

τ : ObC op ×D → M orSet
[x, y] 7→ τ[x,y] : homC (Gy, x) → homD (y, F x),

onde, C = P (P,P ) , D = P (Q,Q ) e, para cada par [x, y] ∈ C op × D, a função

τ[x,y] : C (Gy, x) → D (y, F x)


(Gy, x) 7→ τ[x,y] (Gy, x) = (y, F x).

é um isomorfismo. Note que, dado ((x2 , x1 )op , (y1 , y2 )) ∈ C op × D ([x1 , y1 ] , [x2 , y2 ]) tal que
Gy2 P x2 , o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 189

τ[x2 ,y2 ]
[x2 , y2 ] C (Gy2 , x2 ) −−−→ D (y2 , F x2 )

op
↑((x2 ,x1 ) ,(y1 ,y2 ))
↓homC (G(y1 ,y2 ),(x2 ,x1 )) ↓homD ((y1 ,y2 ),F (x2 ,x1 ))

τ [x1 ,y1 ]
[x1 , y1 ] C (Gy1 , x1 ) −−−→ D (y1 , F x1 )

comuta, pois

homD ((y1 , y2 ) , F (x2 , x1 )) ◦ τ[x2 ,y2 ] (Gy2 , x2 ) = homD ((y1 , y2 ) , F (x2 , x1 )) (y2 , F x2 )

= (F x2 , F x1 ) ◦ (y2 , F x1 ) ◦ (y1 , y2 )

= (y1 , F x1 ) ,

e,

τ[x1 ,y1 ] ◦ homC (G (y1 , y2 ) , (x2 , x1 )) (Gy2 , x2 ) = τ[x1 ,y1 ] ((x2 , x1 ) ◦ (Gy2 , x2 ) ◦ (Gy1 , Gy2 ))

= τ[x1 ,y1 ] (Gy1 , x1 )

= (y1 , F x1 ) .

Consequentemente, τ : homC (G , ) → homD ( , F ) é um isomorfismo natural.

O próximo teorema oferece uma condição suficiente para um funtor F : C → D possuir


um adjunto esquerdo G : D → C. Antes de enunciá-lo, vamos definir um funtor auxiliar,
como segue:
Sejam B ∈ ObD e hB : D → Set um hom-funtor. Definimos FB : C → Set, pondo

FB = hB F.

Note que
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 190

FB : C → Set

X 7→ D (B, F (X))

X D (B, F (X))

↓f 7→ ↓ FB (f ) = hB (F f )

Y D (B, F (Y )),

onde,
FB (f ) (α) = hB (F f ) (α) = F f ◦ α,

para cada α ∈ D (B, F (X)).

Teorema 11.6 Se para cada B ∈ ObD , o funtor FB : C → Set é representável pelo par
(AB , aB ), então F possui um adjunto esquerdo G : D → C.

Demonstração. Inicialmente, vamos construir um funtor G : D → C. Sejam B e



B̄ objetos quaisquer em D e g ∈ D B, B̄ . Como (AB̄ , aB̄ ) representa FB̄ , segue que
AB̄ ∈ ObC e,

aB̄ ∈ FB̄ (AB̄ ) = hB̄ (F (AB̄ )) = D B̄, F (AB̄ ) .

Logo,
aB̄ ◦ g ∈ D (B, F (AB̄ )) . (11.1)

Por outro lado, (AB , aB ) representa FB , como AB̄ ∈ ObC e,

FB (AB̄ ) = hB (F (AB̄ )) = D (B, F (AB̄ )) ,

então, de 11.1 e do teorema 10.5, existe um único morfismo fB,B̄ : AB → AB̄ tal que

FB fB,B̄ (aB ) = aB̄ ◦ g. Por outro lado,
 
FB fB,B̄ (aB ) = hB F fB,B̄ (aB )

= F fB,B̄ ◦ aB .

Consequentemente, o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 191

aB
B −−−→ F AB

g
↓ ↓F fB,B̄

aB̄
B̄ →
− F AB̄

comuta, ou seja,
aB̄ ◦ g = F fB,B̄ ◦ aB .

Analogamente, se h ∈ D B̄, H , como h ◦ g : B → H é um morfismo em D, existe um
único morfismo fB,H : AB → AH tal que o diagrama

aB
B →
− F AB

h◦g
↓ ↓F fB,H

aH
H →
− F AH

comuta. Por outro lado,

aH ◦ (h ◦ g) = (aH ◦ h) ◦ g

= F fB̄,H ◦ aB̄ ◦ g

= F fB̄,H ◦ (aB̄ ◦ g)

= F fB̄,H ◦ F fB,B̄ ◦ aB

= F fB̄,H ◦ F fB,B̄ ◦ aB

= F fB̄,H ◦ fB,B̄ ◦ aB .

Portanto,

aB
B −−−→ F AB

h◦g
↓ ↓F (fB̄,H ◦fB,B̄ )

aH
H →
− F AH
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 192

também é um diagrama comutativo. consequentemente,

fB,H = fB̄,H ◦ fB,B̄ . (11.2)

Do mesmo modo, o diagrama

aB
B −−−→ F AB

1B
↓ ↓F (1AB )

aB
B →
− F AB

comuta, logo,
fB,B = 1AB . (11.3)

Defina agora, o par de funções

G: D → C

B 7→ AB

B AB

↓g 7→ ↓ G (g) = fB,B̄

B̄ AB̄ .

Segue de 11.2 e 11.3 que


G (h ◦ g) = G (h) ◦ G (g) ,

e,
G (1B ) = 1G(B) .

Portanto, G é um funtor. Vamos mostrar agora que G é um adjunto esquerdo de F .


Considere a função
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 193

τ : ObC op ×D → M orSet
(A, B) 7→ τ(A,B) : homC (GB, A) → homD (B, F A),

onde,
τ(A,B) : C (GB, A) → D (B, F A)
t 7→ τ(A,B) (t),
e,
τ(A,B) (t) = F t ◦ aB .

Afirmamos que τ é uma transformação natural de homC (G , ) em homD ( , F ). Com



efeito, dados (f op , g) ∈ C op × D (A, B) , Ā, B̄ e t : GB̄ → Ā, temos:

homD (g, F f ) ◦ τ(Ā,B̄ ) (t) = homD (g, F f ) (F t ◦ aB̄ )

= F f ◦ (F t ◦ aB̄ ) ◦ g

= F (f ◦ t) ◦ (aB̄ ◦ g) .

Por outro lado,

τ(A,B) ◦ homC (Gg, f ) (t) = τ(A,B) (f ◦ t ◦ Gg)

= F (f ◦ t ◦ Gg) ◦ aB

= F (f ◦ t) ◦ (F Gg ◦ aB )

= F (f ◦ t) ◦ F fB,B̄ ◦ aB

= F (f ◦ t) ◦ (aB̄ ◦ g) .

Das igualdades acima, segue que o diagrama

  τ(Ā,B̄ ) 
Ā, B̄ C GB̄, Ā −−→ D B̄, F Ā

(f op ,g) homC (Gg,f )


↑ ↓ ↓homD (g,F f )

τ(A,B)
(A, B) C (GB, A) −−→ D (B, F (A))
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 194

comuta. Portanto, τ é de fato, uma transformação natural. Seja (A, B) ∈ ObC op ×D .


Sabemos que (GB , aB ) representa o Funtor FB . Pelo teorema 10.5, para cada

x ∈ FB (A) = D (B, F (A)) ,

existe um único morfismo ψ : GB → A, tal que

FB (ψ) (aB ) = x.

Como
FB (ψ) (aB ) = F ψ ◦ aB ,

segue que
τ(A,B) (ψ) = x.

Logo, τ(A,B) é uma bijeção, consequentemente, τ é um isomorfismo natural e


homC (G , ) ≈ homD ( , F ), o que encerra a demonstração.

Exemplo 11.7 Sejam C uma categoria com um objeto terminal T e 1 a categoria definida
no exemplo 2.6. Considere o funtor

F : 1 → C

A 7→ T

A T

↓ 1A 7→ ↓!T T = 1T

A T.

O funtor F possui um adjunto esquerdo G : C → 1. Para mostrar isso, vamos provar que
para cada B ∈ ObC o funtor
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 195

FB : 1 → Set

A 7→ hB (F A) = {!BT }

A {!BT }

↓ 1A 7→ ↓ hB (F 1A )

A {!BT },

é representável pelo par (A, !BT ). Com efeito, dados X ∈ Ob1 e f ∈ FB (X), temos que
X = A e f =!BT , consequentemente, existe um único morfismo g : A → A em 1, a saber,
1A : A → A tal que

f =!BT

= 1T ◦!BT

= F 1A ◦!BT

= hB (F 1A ) (!BT )

= FB (g) (!BT ) ,

o que encerra a verificação.


·
[
Para os dois próximos exemplos que seguem, sejam X ∈ ObSet e X ∗ := X n.
n∈N
Considere a operação

· : X∗ × X∗ → X∗
((x1 , ..., xk ) , (y1 , ..., ym )) 7→ (x1 , ..., xk ) · (y1 , ..., ym ) = (x1 , ..., xk , y1 , ..., ym )
((x1 , ..., xk ) , ∅) 7→ (x1 , ..., xk ) · ∅ = (x1 , ..., xk )
(∅, (x1 , ..., xk )) 7→ ∅ · (x1 , ..., xk ) = (x1 , ..., xk ).

É fácil verificar que a tripla L (X) = hX ∗ , ·, ∅i é um monóide. Além disso, se X̄ ∈ ObSet


e f : X → X̄ é uma função, então
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 196

h∗ : L (X)

→ L X̄
∅ 7→ ∅
(x1 , ..., xk ) 7→ (f (x1 ) , ..., f (xk ))

é um homomorfismo de monóides.

Exemplo 11.8 O funtor esquecimento

E: Mon → Set

hM, ⊕M , eM i 7→ M

hM, ⊕M , eM i M

↓f 7→ ↓f

hN, ⊕N , eN i N,

definido no exemplo 6.24, possui um adjunto esquerdo. Com efeito, dado X ∈ ObSet ,
considere a função
aX : X → EL (X)
x 7→ (x).
Afirmamos que o par (L (X) , aX ), representa o funtor

EX : Mon → Set

hM, ⊕M , eM i 7→ Set (X, M )

hM, ⊕M , eM i Set (X, M )

↓f 7→ ↓ hX (f )

hN, ⊕N , eN i Set (X, N ).


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 197

Com efeito, sejam hM, ⊕M , eM i ∈ ObMon e f ∈ EX (hM, ⊕M , eM i) = Set (X, M ). Tome

f¯ : L (X) → hM, ⊕M , eM i
(x1 , ..., xk ) 7→ f¯ ((x1 , ..., xk )) = f (x1 ) ⊕M ... ⊕M f (xk ) .

Dado x ∈ X, temos que

f (x) = f¯ ((x))

= f¯ ◦ aX (x)

= hX E f¯ (aX ) (x)


= EX f¯ (aX ) (x) ,


ou seja,
EX f¯ (aX ) = f .


Suponha agora que existe k : L (X) → hM, ⊕M , eM i tal que EX (k) (aX ) = f . Neste caso,

k ◦ aX = f¯ ◦ aX .

Daı́, dado (x1 , ..., xk ) ∈ L (X), temos que

f¯ ((x1 , ..., xk )) = f (x1 ) ⊕M ... ⊕M f (xk )

= f¯ ((x1 )) ⊕M ... ⊕M f¯ ((xk ))

= f¯ ◦ aX (x1 ) ⊕M ... ⊕M f¯ ◦ aX (xk )

= k ◦ aX (x1 ) ⊕M ... ⊕M k ◦ aX (xk )

= k ((x1 )) ⊕M ... ⊕M k ((xk ))

= k ((x1 ) · ... · (xk ))

= k ((x1 , ..., xk )) .

Portanto, k = f¯ de onde concluı́mos a afirmação.

Exemplo 11.9 No exemplo anterior, mostramos que o funtor E : Mon → Set, possui
um adjunto esquerdo G : Set → Mon. Agora, a luz da demonstração do teorema 11.6,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 198

vamos exibir o funtor G. Sejam X, X̄ ∈ ObSet e f : X → X̄. Temos que (L (X) , aX ) re-
 
presenta EX e L X̄ , aX̄ representa EX̄ , consequentemente, existe um único morfismo

fX,X̄ : L (X) → L X̄ em Mon, tal que

fX,X̄ ◦ aX = aX̄ ◦ f .

Por outro lado, dado x ∈ X, temos que

h∗ ◦ aX (x) = h∗ ((x))

= (f (x))

= aX̄ (f (x))

= aX̄ ◦ f (x) ,

ou seja,
h∗ ◦ aX = aX̄ ◦ f .

Portanto, fX,X̄ = h∗ , de onde concluı́mos que

G: Set → Mon

X 7→ L (X)

X L (X)

↓f 7→ ↓ h∗


X̄ L X̄ ,

O resultado que segue, mostra que a recı́proca do teorema anterior é verdadeira.

Teorema 11.10 Se o funtor F : C → D possui um adjunto esquerdo G : D → C, então


para cada B ∈ ObD , o funtor FB : C → Set é representável.

Demonstração. Como (G, F ), é um par adjunto, existe uma função


VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 199

τ: ObC op ×D → M orSet
7→ τ(A,B) : homC (GB, A) → homD (B, F A)
(A, B)
t 7→ τ(A,B) (t),

onde, para cada par (A, B) ∈ ObC op ×D , o morfismo τ(A,B) é um isomorfismo em Set. Em
particular, dado B ∈ ObD , temos que (GB, B) ∈ ObC op ×D , consequentemente,

τ(GB,B) : homC (GB, GB) → homD (B, F GB)


t 7→ τ(GB,B) (t),

é uma bijeção. Além disso, τ(GB,B) (1GB ) ∈ D (B, F GB). Assim, definindo AB = GB e
aB = τ(GB,B) (1GB ), segue que aB ∈ D (B, F AB ) = FB (AB ).
Afirmamos que o par (AB , aB ) representa o funtor FB : C → Set. Com efeito, sejam
X ∈ ObC e x ∈ FB (X), como τ(X,B) : C (GB, X) → D (B, F X) é uma bijeção, existe um
único morfismo f : GB → X tal que,

τ(X,B) (f ) = x. (11.4)

Sabemos que (f op , 1B ) ∈ C op × D ((X, B) , (GB, B)), logo, o diagrama

τ(GB,B)
(GB, B) C (GB, GB) −−−→ D (B, F GB)

(f op ,1B ) homC (G1B ,f )


↑ ↓ ↓homD (1B ,F f )

τ(X,B)
(X, B) C (GB, X) −−→ D (B, F X)

comuta. Daı́,

homD (1B , F f ) ◦ τ(GB,B) (1GB ) = homD (1B , F f ) (aB )

= F f ◦ aB ◦ 1B

= F f ◦ aB.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 200

Por outro lado,

τ(X,B) ◦ homC (G1B , f ) (1GB ) = τ(X,B) (f ◦ 1GB ◦ 1GB )

= τ(X,B) (f ) .

Das igualdades acima, e de 11.4, temos que

x = F f ◦ aB

= hB (F f ) (aB )

= hB F (f ) (aB )

= FB (f ) (aB ) .

Suponha agora que f¯ : GB → X é tal que

x = FB f¯ (aB ) = F f¯ ◦ aB.

(11.5)

Como f¯op , 1B ∈ C op × D ((X, B) , (GB, B)) o diagrama




τ(GB,B)
(GB, B) C (GB, GB) −−−→ D (B, F GB)

(f¯op ,1B ) ↑ homC (G1B ,f¯)



¯
↓homD (1B ,F f )

τ(X,B)
(X, B) C (GB, X) −−→ D (B, F X)

também comuta. Da igualdade em 11.5, temos que

x = τ(X,B) f¯ .


Ora, τ(X,B) é bijeção, consequentemente

f¯ = τ(X,B)
−1
(x) = f .

Portanto, existe um único morfismo f : GB → X tal que FB (f ) (aB ) = x, pelo teorema


10.5, (AB , aB ) representa o funtor FB , o que encerra a demonstração.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 201

×
Exemplo 11.11 Sejam C uma categoria que possui todos os produtos finitos e F o
funtor produto. Para cada B ∈ ObC o funtor

FB : C×C → Set

(A, C) 7→ C (B, A × C)

(A, C) C (B, A × C)

↓ (f, g) 7→ ↓ hB (f × g)

 
Ā, C̄ C B, Ā × C̄ ,

é representável pelo par ((B, B) , h1B , 1B i).

Lema 11.12 Se G a F , então existe uma transformação natural a : 1D → F G tal que


para cada B ∈ ObD , C ∈ ObC e f ∈ D (B, F C) existe um único morfismo g : GB → C
tal que f = F g ◦ aB .

Demonstração. Como (G, F ) é um par adjunto, existe um isomorfismo natural


τ : homC (G , ) ∼
= homD ( , F ). Além disso, pelo teorema 11.10, para cada B ∈ ObD , o
funtor FB : C → Set é representável pelo par (GB, aB ), onde aB = τ(GB,B) (1GB ). Defina
a função

a : ObD → homD
B 7→ aB : B → F GB.

Afirmamos que a é uma transformação natural de 1D em F G. Com efeito, sejam B, K ∈


ObD e g ∈ D (B, K). Temos que ((Gg)op , 1B ) ∈ ObC op ×D . Como o diagrama abaixo é
comutativo
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 202

τ(GB,B)
(GB, B) C (GB, GB) −−−→ D (B, F GB)

(Gg op ,1B ) homC (G1B ,Gg)


↑ ↓ ↓homD (1B ,F Gg)

τ(GK,B)
(GK, B) C (GB, GK) −−−→ D (B, F GK) M ,

1GB ∈ homC (GB, GB),

homD (1B , F Gg) ◦ τ(GB,B) (1GB ) = homD (1B , F Gg) (aB )

= F Gg ◦ aB

e,

τ(GK,B) ◦ homC (G1B , Gg) (1GB ) = τ(GK,B) (Gg ◦ 1GB ◦ 1GB )

= τ(GK,B) (Gg) .

Temos,
F Gg ◦ aB = τ(GK,B) (Gg) . (11.6)

Por outro lado, ((1GK )op , g) ∈ ObC op ×D , e o diagrama abaixo também é comutativo

τ(GK,K)
(GK, K) C (GK, GK) −−−→ D (K, F GK)

(1op
GK ,1B ) ↑ homC (Gg,1GK )
↓ ↓homD (g,F 1GK )

τ(GK,B)
(GK, B) C (GB, GK) −−−→ D (B, F GK)

Ainda, 1GK ∈ homC (GK, GK), consequentemente,

homD (g, F 1GK ) ◦ τ(GK,K) (1GK ) = homD (g, F 1GK ) (aK )

= 1F GK ◦ aK ◦ g

= aK ◦ g.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 203

e,

τ(GK,B) ◦ homC (Gg, 1GK ) (1GK ) = τ(GK,B) (1GK ◦ 1GK ◦ Gg)

= τ(GK,B) (Gg) .

Logo,
τ(GK,B) (Gg) = aK ◦ g.

Daı́ e da igualdade em 11.6, segue que o diagrama

aB
B B →
− F GB

g g
↓ ↓ ↓F Gg

aK
K K −
→ F GK

comuta. Portanto, a : 1D → F G é de fato, uma transformação natural. Finalmente,


dados B ∈ ObD , C ∈ ObC e f ∈ D (B, F C) = FB (C), existe um único morfismo
g : GB → C tal que f = FB (g) (aB ) = F g ◦ aB , pois (GB, aB ) representa FB , o que
encerra a demonstração.

Definição 11.13 A transformação natural a : 1D → F G definida no lema anterior é


chamada unidade da adjunção.

Definição 11.14 Se G a F e a : 1D → F G é a unidade da adjunção, então a tripla


(G, F, a) é chamada uma adjunção.

Observação 11.15 Sugerimos que o leitor encontre as unidades da adjunção nos exem-
plos 11.7 e 11.8.

Teorema 11.16 As seguintes afirmações são equivalentes:


(1) (G, F ) é um par adjunto.
(2) Existe uma transformação natural a : 1D → F G tal que, para cada B ∈ ObD , C ∈ ObC
e f ∈ D (B, F C) existe um único morfismo g : GB → C tal que f = F g ◦ aB .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 204

Além disso, se τ : homC (G , ) ∼


= homD ( , F ), então as duas condições estão relacionadas
pelas expressões:
τ(A,B) (g) = F g ◦ aB

e
aB = τ(GB,B) (1GB ) .

Demonstração.
(1) ⇒ (2) Lema 11.12
(2) ⇒ (1) Fica a cargo do leitor. (Sugestão: use os teoremas 10.5 e 11.6)

Corolário 11.17 Se (G, F, a) e (H, F, b) são adjunções, então G ≈ H.

Demonstração. Suponha inicialmente que

τ : homC (G , ) ∼
= homD ( , F )

e,
η : homC (H , ) ∼
= homD ( , F ) ,

são isomorfismos naturais. Pelo teorema 11.10, dado B ∈ ObD , o funtor FB : C →


Set é representável pelos pares (GB, aB ) e (HB, bB ), onde aB = τ(GB,B) (1GB ) e bB =
η(HB,B) (1HB ). Pelo corolário 10.9, do Lema de Yoneda, existe um único isomorfismo
φB : GB → HB tal que FB (φB ) (aB ) = bB , equivalentemente,

F φ B ◦ aB = b B (11.7)

Considere a função
φ : ObD → M orC
B 7→ φB : GB → HB.
Afirmamos que φ é uma transformação natural de G em H. Com efeito, sejam B, K ∈
ObD e g ∈ D (B, K). Note que aB ∈ D (B, F GB) e bB ∈ D (B, F HB) para todo B ∈ ObD ,
além disso, são comutativos, os seguintes diagramas:

aB bB
B B →
− F GB B B →
− F HB

g g
↓ ↓ ↓F Gg g
↓ g
↓ ↓F Hg

aK bK
K K −
→ F GK K K →
− F HK.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 205

Consequentemente,
F Gg ◦ aB = aK ◦ g

e,
F Hg ◦ bB = bK ◦ g.

Daı́,

FB (Hg ◦ φB ) (aB ) = hB (F (Hg ◦ φB )) (aB )

= F (Hg ◦ φB ) ◦ aB

= F Hg ◦ (F φB ◦ aB )

= bK ◦ g,

e,

FB (φK ◦ Gg) (aB ) = hB (F (φK ◦ Gg)) (aB )

= F (φK ◦ Gg) ◦ aB

= F φK ◦ (F Gg ◦ aB )

= (F φK ◦ aK ) ◦ g

= bK ◦ g.

Das igualdades acima, segue que

FB (Hg ◦ φB ) (aB ) = FB (φK ◦ Gg) (aB ) .

De onde concluı́mos que Hg ◦ φB = φK ◦ Gg, ou seja, o diagrama

φB
B GB →
− HB

g Gg
↓ ↓ ↓Hg

φK
K GK −
→ HK

é comutativo. Portanto, φ : G → H é de fato, uma transformação natural, mais ainda,


um isomorfismo natural, pois φB é isomorfismo para cada B ∈ ObD . Assim, G ≈ H.
Em palavras, o resultado anterior garante que o funtor adjunto esquerdo é único, a
menos de isomorfismos.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 206

11.2 O Teorema do Funtor Adjunto


Como ja citado na introdução deste capı́tulo, muitas noções fundamentais em Matemática,
Lógica e em outras áreas são casos especiais de funtores adjuntos (para alguns exemplos,
veja o capı́tulo 9 do livro [6]). O reconhecimento de estruturas diferentes como casos
especiais de funtores adjuntos gera uma unificação conceitual que, na prática oferece
muitos benefı́cios. Um exemplo disso é a possı́bilidade de avaliar o comportamento e as
propriedades de diversas estruturas, a princı́pio distintas, por intermédio do estudo de
adjunções e funtores adjuntos. Neste contexto, surgem naturalmente duas perguntas:
i) ”Quais propriedades um funtor adjunto possui?”
ii) ”Dado um funtor, sob quais condições ele possui um funtor adjunto?”
Procurando responder (pelo menos parcialmente) essas perguntas, nesta seção, con-
sideramos uma propriedade fundamental das adjunções: preservação de limites (nos casos
especiais onde o limite é um produto categórico ou um equalizador). Outro resultado
muito importante que veremos é ”O Teorema do Funtor Adjunto”. Este teorema res-
ponde a questão sobre a existência do funtor adjunto esquerdo, relacionando este fato
com a propriedade de preservação de limites.

 
Q
Teorema 11.18 Se Ai , (πi )i∈I é um produto de uma famı́lia (Ai )i∈I em C e
i∈I

F : C → D é um funtor que possui um adjunto esquerdo, então


   
Q
F Ai , (F πi )i∈I é um produto da famı́lia (F Ai )i∈I em D. Em outras palavras,
i∈I

se G a F , então F preserva produtos.


Demonstração. Seja B, (bi )i∈I tal que B ∈ ObD e bi : B → F Ai é um morfismo em D.
Como F possui um adjunto esquerdo, (GB, aB ) é um representante de FB . Assim, para
cada i ∈ I, existe um único morfismo vi : GB → Ai tal que

F v i ◦ aB = b i (11.8)
 
Q 
Como Ai , (πi )i∈I é um produto e GB, (vi )i∈I é um pré-produto de uma famı́lia
i∈I
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 207

Q
(Ai )i∈I , existe um único morfismo φ : GB → Ai tal que πi ◦ φ = vi . Logo,
i∈I

F π i ◦ F φ = F vi .

Daı́ e da igualdade em 11.8, obtemos:

F π i ◦ F φ ◦ aB = b i . (11.9)
 
Q
Definindo h : B → F Ai pondo h = F φ ◦ aB , segue imediatamente da igualdade
i∈I

acima que o diagrama

bi
. ↓h

 
F πi
Q
F Ai ←−−− F Ai
i∈I

 
Q
comuta. Suponha agora que ψ : B → F Ai é tal que
i∈I

F π i ◦ ψ = bi . (11.10)

      
Q Q Q Q
Como Ai ∈ ObC e ψ ∈ D B, F Ai = hB F Ai = FB Ai , existe um
i∈I i∈I i∈I i∈I
Q
único morfismo t : GB → Ai tal que
i∈I

FB (t) (aB ) = ψ,

isto é,
ψ = F t ◦ aB .

Combinando a igualdade anterior e a igualdade em 11.10, obtemos:

F (πi ◦ t) ◦ aB = bi .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 208

Por outro lado, segue da igualdade em 11.9 que

F (πi ◦ φ) ◦ aB = bi .

Portanto, segue que π1 ◦ t = π1 ◦ φ para cada i ∈ I. Consequentemente, t = φ. Assim,

h = F φ ◦ aB

= F t ◦ aB

= ψ,
   
Q
ou seja, h é o único morfismo em D tal que F πi ◦ h = bi . Logo, F Ai , (F πi )i∈I
i∈I

é um produto da famı́lia (F Ai )i∈I em D.

Teorema 11.19 Sejam f, g ∈ C (A1 , A2 ). Se (E, e) é um equalizador de f e g e F : C →


D possui um adjunto esquerdo, então (F E, F e) é um equalizador de F f e F g. Em outras
palavras, se G a F , então F preserva equalizadores.

Demonstração. Note inicialmente que (F E, F e) é um pré-equalizador de F f e F g, pois

F f ◦ F e = F (f ◦ e)

= F (g ◦ e)

= F g ◦ F e.

Agora, seja (B, b) um par tal que B ∈ ObD e b : B → F A1 é um morfismo em D


satisfazendo
Ff ◦ b = Fg ◦ b (11.11)

pelo teorema 11.10, (GB, aB ) é um representante de FB . Assim, uma vez que A1 ∈ ObC e
B ∈ D (B, F A1 ) = FB (A1 ), existe um único morfismo v : GB → A1 tal que FB (v) (aB ) =
b, isto é,
b = F v ◦ aB .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 209

Daı́, e da igualdade em 11.11, temos que

FB (f ◦ v) (aB ) = F (f ◦ v) ◦ aB

= F f ◦ F v ◦ aB

= Ff ◦ b

= Fg ◦ b

= F g ◦ F v ◦ aB

= F (g ◦ v) ◦ aB .

Consequentemente, f ◦ v = g ◦ v e, o par (GB, v) é um pré-equalizador de f e g. Logo,


existe um único morfismo φ : GB → E tal que o diagrama

GB
&v
f
φ
↓ A1 −−→ A2
−−g→

%e
E

comuta, ou seja, e ◦ φ = v. Defina k : B → F E pondo k = F φ ◦ aB . Temos que

F e ◦ k = F e ◦ F φ ◦ aB

= F (e ◦ φ) ◦ aB

= F v ◦ aB

= b,

ou seja, o diagrama

B
&b
F f
k
↓ F A1 −
−−
−F− →
−g→ F A2

%F e
E
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 210

é comutativo. Suponha agora que α : B → F E, é tal que F e ◦ α = b. Como E ∈ ObC e


α ∈ D (B, F E) = FB (E), existe um único morfismo t : GB → E tal que

α = FB (t) (aB ) = F t ◦ aB .

Logo,

F (e ◦ t) ◦ aB = F e ◦ α

=b

= F (e ◦ φ) ◦ aB .

Portanto, e ◦ t = e ◦ φ. Uma vez que e é um monomorfismo, concluı́mos que t = φ. Daı́,

α = F t ◦ aB = F φ ◦ aB = k.

Por conseguinte, k é o único morfismo em D tal que F e ◦ k = b. Logo (F E, F e) é um


equalizador de F f e F g.

Definição 11.20 Sejam F : C → D um funtor e B ∈ ObD . Uma famı́lia (Ai )i∈I de


objetos em C é chamada uma famı́lia solução de B com respeito a F , se para cada
X ∈ ObC e cada morfismo g : B → F X, existe, para algum i ∈ I, morfismos v : Ai → X
e fi : B → F Ai tais que o diagrama

F Ai Ai
fi
%

B ↓F v ↓v

g &
FX X

comuta.

Observação 11.21 Alguns autores chamam a famı́lia (Ai )i∈I , de conjunto solução de
B com respeito a F .
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 211

Definição 11.22 Dizemos que um funtor F : C → D satisfaz a condição de conjunto


solução se para cada B ∈ ObD existe uma famı́lia solução de B com respeito a F .

Teorema 11.23 Se um funtor F : C → D possui um adjunto esquerdo, então satisfaz a


condição de conjunto solução.

Demonstração. Seja (G, F, τ ) uma adjunção. Pelo Teorema 11.6, para cada B ∈ ObD ,
o funtor FB : C → Set é representável pelo par (GB, aB ), onde

aB = τ(GB,B) (1GB ) ∈ D (B, F GB) .

Para cada X ∈ ObC e cada morfismo g : B → F X, existe um único morfismo v : GB → X


tal que

g = FB (v) (aB )

= F v ◦ aB .

Ou seja, o diagrama

F GB GB
aB
%

B ↓F v ↓v

g &
FX X

é comutativo. Consequentemente, o conjunto únitário {GB} é uma famı́lia solução de B


com respeito a F . Portanto, o funtor F satisfaz a condição de conjunto solução.

Teorema 11.24 Seja C uma categoria com produtos arbitrários e todos os equalizadores.
Se um funtor F : C → D preserva produtos, equalizadores e satisfaz a condição de conjunto
solução, então para cada B ∈ ObD , o funtor FB : C → Set é representável.
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 212

Demonstração. Sejam B ∈ ObD qualquer e (Ai )i∈I uma famı́lia solução de B com
respeito a F . Como Ai ∈ ObC para cada i ∈ I, podemos considerar os produtos
     
Q Q
Ai , (πi )i∈I e F Ai , (F πi )i∈I das famı́lias (Ai )i∈I e (F Ai )i∈I em C e D res-
i∈I i∈I

pectivamente. Note que, D (B, F Ai ) é um conjunto não vazio, para cada i ∈ I, pois
(Ai )i∈I é uma famı́lia solução de B. Assim se fi ∈ D (B, F Ai ) para cada i ∈ I, segue

que B, (fi )i∈I é um pré-produto da famı́lia (F Ai )i∈I . Logo, existe um único morfismo
 
Q
h:B→F Ai tal que o diagrama
i∈I

fi
. ↓h

 
F πi
Q
F Ai ←−−− F Ai
i∈I

é comutativo, ou seja, para cada i ∈ I,

F π i ◦ h = fi . (11.12)
 
Q
Afirmamos que Ai é uma famı́lia solução de B com respeito a F . Com efeito, sejam
i∈I

X ∈ ObC e g : X → F X quaisquer, sabemos que existe, para algum i ∈ I, morfismos


v : Ai → X e fi : B → F Ai tais que

F v ◦ fi = g. (11.13)

Q
Se definirmos v̄ : Ai → X pondo v̄ = v ◦ πi , segue das igualdades em 11.12 e 11.13, que
i∈I

o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 213

 
Q Q
F Ai Ai
i∈I i∈I
h
%

B ↓F v̄ ↓v̄

g &
FX X

é comutativo, isto é,

F v̄ ◦ h = F (v ◦ πi ) ◦ h = g,

de onde concluı́mos a afirmação. Considere agora o conjunto:

( ! )
Y Y
S= α∈C Ai , Ai ; Fα ◦ h = h
i∈I i∈I

 
Q Q
e o produto Aα , (pα )α∈S da famı́lia de objetos (Aα )α∈S em C, onde Aα = Ai para
α∈S i∈I
 
Q
cada ı́ndice α ∈ S. Note que Ai , (φα )α∈S é um pré-produto da famı́lia (Aα )α∈S , onde
i∈I
Q Q
φα = α ∈ S. Logo, existe um único morfismo γ : Ai → Aα tal que o diagrama
i∈I α∈S

Q
Ai
i∈I

φα
. ↓γ


Q Q
Ai ←−−− Aα
i∈I α∈S

comuta, isto é, para cada α ∈ S,


pα ◦ γ = φα (11.14)
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 214

 
Q
Do mesmo modo, Ai , (1Aα )α∈S é também um pré-produto da famı́lia (Aα )α∈S , conse-
i∈I
Q Q
quentemente, existe um único morfismo β : Ai → Aα , tal que o diagrama
i∈I α∈S

Q
Ai
i∈I

1Aα
. ↓β


Q Q
Ai ←−−− Aα
i∈I α∈S

também comuta, isto é


pα ◦ β = 1Aα . (11.15)

Segue das igualdades em 11.14 e 11.15, que

F pα ◦ F β ◦ h = F 1Aα ◦ h

= 1F Aα ◦ h

=h

= F φα ◦ h

= F (pα ◦ γ) ◦ h

= F pα ◦ F γ ◦ h,

consequentemente,
F β ◦ h = F γ ◦ h. (11.16)
 
Q Q
Por outro lado, como β, γ ∈ C Ai , Aα então existe um equalizador (E, e) de β e
i∈I α∈S

γ, ainda, como F preserva equalizadores, (F E, F e) é um equalizador de F β e F γ. Daı́ e


da igualdade em 11.16, existe um único morfismo η : B → F E tal que o diagrama
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 215

B
&h
   

η −
−− −→

Q Q
↓ F Ai −F− F Aα
i∈I γ α∈S

%F e
FE

comuta, ou seja,
F e ◦ η = h. (11.17)

Vamos mostrar que o par (AB , aB ) representa o funtor FB , onde AB = E e aB = η.


Com efeito, dados X ∈ ObC e g ∈ FB (X) = D (B, F X), tomemos k : E → X pondo
k = v ◦ πi ◦ e. Daı́ e pela igualdade em 11.17,

F k ◦ η = F (v ◦ πi ◦ e) ◦ η

= F (v ◦ πi ) ◦ F e ◦ η

= F (v ◦ πi ) ◦ h

= g.

Logo, o diagrama

FE Ai
η
%

B ↓F k ↓k

g &
FX X
comuta, ou ainda,
FB (k) ◦ η = F k ◦ η = g. (11.18)

Para finalizar a demonstração, vamos garantir a unicidade do morfismo k satisfazendo


a equação em 11.18. Suponha que δ : E → X é tal que FB (δ) ◦ η = g. Se (J, j) um
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 216

equalizador de k e δ, então (F J, F j) é um equalizador de F k e F δ. Por outro lado, temos


que F k ◦ η = F δ ◦ η, então existe um único morfismo m : B → F J tal que

F j ◦ m = η. (11.19)
 
Q
Uma vez que Ai é uma famı́lia solução de B, J ∈ ObC e m : B → F J é um
i∈I
Q
morfismo em D, existe morfismo t : Ai → J tal que o diagrama
i∈I

 
Q Q
F Ai Ai
i∈I i∈I
h
%

B ↓F t ↓t

m &
FJ X
comuta, isto é,

F t ◦ h = m. (11.20)
Q Q
Defina φ̄ : Ai → Ai pondo φ̄ = e ◦ j ◦ t. Segue, da definição de φ̄ e das igualdades
i∈I i∈I

em (11.17), (11.19), (11.20) que


F φ̄ ◦ h = h.

Portanto, φ̄ ∈ S. Daı́, e das igualdades em 11.14, 11.15,

e ◦ j ◦ t ◦ e = φ̄ ◦ e

= pφ̄ ◦ γ ◦ e

= pφ̄ ◦ (γ ◦ e)

= pφ̄ ◦ (β ◦ e)

= pφ̄ ◦ β ◦ e

= 1Aα ◦ e

=e

= e ◦ 1E ,
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 217

ou seja, e ◦ j ◦ t ◦ e = e. Como e é um monomorfismo,

j ◦ t ◦ e = 1E

Finalmente, como δ ◦ j = k ◦ j, temos que

δ = δ ◦ 1E

= (δ ◦ j) ◦ t ◦ e

= (k ◦ j) ◦ t ◦ e

= k ◦ (j ◦ t ◦ e)

= k ◦ 1E

= k,

isto é, existe um único morfismo k : E → X tal que FB (k) ◦ η = g, de onde concluimos
que FB é representável pelo par (AB , aB ).

Corolário 11.25 Nas condições do teorema anterior, o funtor F : C → D possui um


adjunto esquerdo.

Demonstração. Para cada B ∈ ObD , o funtor FB : C → Set é representável. Pelo


teorema 11.6, F : C → D possui um adjunto esquerdo.

Exemplo 11.26 Sabemos que a categoria Grp possui todos os produtos arbitrários e
todos os equalizadores. Além disso, o Funtor esquecimento E : Grp → Set preserva pro-
dutos, equalizadores e satisfaz a condição de conjunto solução1 . Portanto, pelo corolário
11.25, E possui um adjunto esquerdo F : Set → Grp. O funtor F associa a cada conjunto
X o grupo livre F X gerado por X.

Teorema 11.27 (Teorema do Funtor Adjunto) Seja C uma categoria com produtos
arbitrários e todos os equalizadores. Um funtor F : C → D possui um adjunto esquerdo se,
e somente se preserva produtos, equalizadores e satisfaz a condição de conjunto solução.

Demonstração. O resultado segue diretamente dos teoremas 11.18, 11.19 e 11.23 e, do


corolário 11.25.
1
Uma demonstração desse fato pode ser encontrada na página 123 do livro [5].
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 218

No capı́tulo 9 do livro [6] o leitor poderá encontrar uma série de aplicações da teoria de
funtores adjuntos e do Teorema anterior. Podemos citar o exemplo 9.10, que fornece uma
caracterização de um anel de polinômios via adjunções. Na seção 9.5 o autor apresenta
um problema de Lógica que foi resolvido por intermédio de adjunções. Finalmente, o
exemplo 9.37 cita uma aplicação do Teorema do Funtor Adjunto. Esta aplicação resulta
na caracterização e reconhecimento de determinados objetos que satisfazem propriedades
estruturais semelhantes as encontradas no conhecido conjunto dos números naturais. Su-
gerimos ao leitor, como último exercı́cio, a leitura desses exemplos.
Referências Bibliográficas

[1] Algebra Linear, 8a ed. Lima, E. L. Impa, 2012.

[2] An introduction to Category Theory. Simmons, H. Cambridge University Press, 2011.

[3] Categories. Blyth, T. S. Longman Sc & Tech, 1986.

[4] Categories and Modules wiht K - theory in view. Berrick, A. J. e Keating, M. E.


Cambridge University Press, 2000.

[5] Categories for the working mathematician. Mac Lane, S. Springer - Verlag, 1998.

[6] Category Theory, 2a ed. Awodey, S. Oxford University Press Inc., 2010.

[7] Categories types and structures - An introduction to category theory for the working
computer scientist. Asperti, A. e Longo, G. M.I.T. Press, 1991.

[8] Category Theory. Pareigis, B. Mathematisches Institut, Ludwig-Maximilians-


Universität München.

[9] Conceptual Mathematics - A first introduction to categories. Lawvere, F. W e


Schanuel, S. H. Cambridge University Press, 1997.

[10] Elementary Categories, Elementary Toposes. Mclarty, C. Oxford University Press


Inc, 1996.

[11] General theory of natural equivalences. Eilenberg, S. e Mac Lane, S. . AMS 58, 1945,
231-294.

[12] Teoria de Categorias para Ciência da Computação. Menezes, P. B. e Haeuler, E. H.


Sagral Luzzato, 2006.

219
VERSÃO PRELIMINAR - DIREITOS: MAICO FELIPE SILVA RIBEIRO 220

[13] The Yoneda Lemma: What´s it all about? Tom Leinster.

Universidade Federal do Espı́rito Santo, Vitória - ES, Brasil


Endereço de e-mail: maico.ribeiro@ufes.br
URL: www.ufes.br

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