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Eduardo Tengan
Herivelto Borges
13 de fevereiro de 2014
Prefácio
iii
iv PREFÁCIO
Prefácio iii
I Nocturne 1
vii
viii SUMÁRIO
II Scherzo 79
3 Ideais Primos e Espectro 81
3.1 Ideais primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.2 Dimensão de Krull . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.3 Topologia de Zariski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4 Localização 97
4.1 Construção e propriedade universal . . . . . . . . . . . . . . . 97
4.2 O funtor localização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
4.3 Como assassinar primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
4.4 Conexidade e Irredutibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4.5 Anéis locais e lema de Nakayama . . . . . . . . . . . . . . . . 111
4.6 Bases minimais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
4.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
IV Burlesque 239
13 Anéis completos 241
13.1 Topologia a-ádica e o teorema de Artin-Rees . . . . . . . . . 241
13.2 Anéis completos e henselianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
13.3 Completamento de anéis noetherianos . . . . . . . . . . . . . 248
13.4 Teorema de Preparação de Weierstraß . . . . . . . . . . . . . 253
13.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
14 Dimensão 259
14.1 Algumas identidades binomiais . . . . . . . . . . . . . . . . . 259
14.2 Polinômio de Hilbert-Samuel . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
14.3 Teorema de dimensão de Krull . . . . . . . . . . . . . . . . . 266
14.4 Dimensão de fibras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269
14.5 Anéis locais regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
14.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273
x SUMÁRIO
15 Esquemas 275
15.1 Geometria com categoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
15.1.1 Pré-feixes e Feixes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
15.1.2 Espaços localmente anulares . . . . . . . . . . . . . . . 284
15.2 Esquemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
15.2.1 Feixe estrutural de um anel . . . . . . . . . . . . . . . 289
15.2.2 Esquemas afins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
15.2.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
15.2.4 Esquemas Projetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298
15.3 Funtor de Pontos e Produto Fibrado . . . . . . . . . . . . . . 302
15.3.1 Funtor de pontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304
15.3.2 Produto Fibrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308
15.4 Propriedades de esquemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310
15.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315
V Apêndices 319
A Fundamentos 321
A.1 Topologia Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321
A.1.1 Construindo novas topologias . . . . . . . . . . . . . . 323
A.1.2 Espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323
A.1.3 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
A.1.4 Grupos topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
A.2 Categorias e Funtores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
A.3 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
A.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338
Nocturne
1
Capı́tulo 1
2.
3
4 CAPÍTULO 1. DANDO NOMES AOS BOIS
f
B C
φ ψ
A
A[x1 , . . . , xn ] � B = A[λ1 , . . . , λn ]
f (x1 , . . . , xn ) �→ f (λ1 , . . . , λn )
1.2. DOMÍNIOS, ANÉIS REDUZIDOS E ANÉIS INDECOMPONÍVEIS 5
Notamos
A× = grupo de unidades de A
= {u ∈ A | u é unidade em A}
A ✲ B×C
≈
B×C
≈
✲ A
� �
a �−→ a · e1 ; a · e2 (b; c) �−→ b + c
são isomorfismos de anéis, inversos um do outro.
Z/6Z ∼
= Z/6Z · e × Z/6Z · (1 − e) ∼
= Z/2Z × Z/3Z
A �→ Frac A
a
a �→
1
No capı́tulo 4 na página 97, generalizaremos a construção acima para um
anel qualquer.
1.3 Ideais
Dado um anel A, um ideal deste anel é qualquer subconjunto a ⊆ A que é
fechado por combinações A-lineares:
�
x, y ∈ a
=⇒ ax + by ∈ a
a, b ∈ A
8 CAPÍTULO 1. DANDO NOMES AOS BOIS
(a1 , . . . , an ) = A · a1 + · · · + A · an
Ideais da forma (a), isto é, gerados por um único elemento, são chamados de
ideais principais.
Se φ : A → B é um morfismo de anéis, o kernel de φ,
def
ker φ = φ−1 (0) = {a ∈ A | φ(a) = 0}
(ii) 1 ∈
/ a;
(iii) A× ∩ a = ∅.
a ⊇ m =⇒ a = m ou a = (1) = A
Um importante fato é que todo anel não nulo possui ideais maximais:
g, h ∈ C =⇒ g ⊆ h ou h ⊆ g
Então �
u= g
g∈C
2. Temos A = 0 ⇐⇒ Specm A = ∅.
Demonstração:
3. a interseção de a e b:
a∩b
4. o radical de a:
√ def
a = {a ∈ A | an ∈ a para algum n ≥ 1}
pois ou i ≥ n, logo√ai ∈ a, ou i ≤ n ⇐⇒ 2n − i ≥ n,
�logo b
2n−i
∈ a.
Assim, xa + yb ∈ a. Em particular, o nilradical (0) de A é um
ideal.
1.3.7 Exemplo Sejam m e n inteiros positivos e seja m = pe11 pe22 . . . perr a
fatoração de m em potências de primos distintos pi . Então, no anel Z,
� �
(m) + (n) = (m, n) = mdc(m, n)
(m) · (n) = (mn)
� �
(m) ∩ (n) = mmc(m, n)
�
(m) = (p1 p2 · · · pr )
� � � �
As igualdades (m, n) = mdc(m, n) e (m) ∩ (n) = mmc(m, n) seguem do
fato de que Z é um DIP: todo ideal de Z é principal e vale a fatoração única
em primos (teorema B.1.4 na página 344 e lema B.1.6 na página 345).
1.4. ANEL QUOCIENTE 11
a≡b (mod a) ⇐⇒ a − b ∈ a
a + a = a mod a = a ∈ A/a
def def
a+b = a+b e a·b = a·b (a, b ∈ A)
π : A � A/a
a �→ a
def
Homa (A, B) = {φ ∈ Hom(A, B) | φ(a) = 0}
12 CAPÍTULO 1. DANDO NOMES AOS BOIS
ψ �−→ ψ ◦ π
φ ←−� φ
φ : A/a → B
φ(a) �→ φ(a)
φ
A B
π
∃!φ
A/a
φ : A/ ker φ
≈
✲ B
a �−→ φ(a)
✲
≈ A[x1 , . . . , xn ]
β: A
(x1 − a1 , . . . , xn − an )
Demonstração:
logo φ−1 (b) é ideal de A. Agora suponha que φ seja sobrejetor. Então
se x, y ∈ φ(a) e b, c ∈ B, digamos x = φ(x� ), y = φ(y � ) com x� , y � ∈ a e
b = φ(b� ), c = φ(c� ) com b� , c� ∈ A, então
b ∈ b� + a ⊆ b + a = b
Demonstração:
1. O ideal a é próprio se, e só se, A/a �= 0 o que, pelo teorema 1.3.4 na
página 9, é equivalente a Specm A/a �= ∅. E, pelo teorema da corres-
pondência (teorema 1.4.4 na página anterior), esta última condição é
equivalente à existência de m ∈ Specm A tal que m ⊇ a.
já que, pelo exemplo 1.4.3 na página 13, temos um isomorfismo “avaliação”
de k-álgebras
k[x1 , . . . , xn ] ✲ k
≈
α:
(x1 − a1 , . . . , xn − an )
xi �−→ ai
Mais tarde (teorema 9.3.4 na página 191), veremos que, se k for algebrica-
mente fechado, a recı́proca também é verdadeira, ou seja, todo ideal maximal
de k[x1 , . . . , xn ] é da forma acima.
(x1 − a1 , . . . , xn − an ) ⊇ a
⇐⇒ f (a1 , . . . , an ) = 0 para todo f (x1 , . . . , xn ) ∈ a
(x1 − a1 , . . . , xn − an ) ⊇ a
A[x1 , . . . , xn ] α
∼
⇐⇒ ∀f (x1 , . . . , xn ) ∈ a, f (x1 , . . . , xn ) = 0 em =A
(x1 − a1 , . . . , xn − an )
� �
⇐⇒ ∀f (x1 , . . . , xn ) ∈ a, α f (x1 , . . . , xn ) = 0 em A
⇐⇒ ∀f (x1 , . . . , xn ) ∈ a, f (a1 , . . . , an ) = 0
1.5. TEOREMA CHINÊS DOS RESTOS 17
1.5.2 Exemplo Seja k um corpo. Seja f (x) ∈ k[x] não nulo com fatoração
1.6 Módulos
Seja A um anel. Um A-módulo M é, moralmente falando, um “espaço
vetorial sobre A.” Explicitamente, M é um grupo abeliano aditivo, acrescido
de uma “multiplicação por escalares”
A×M →M
(a, m) �→ a · m
1.6. MÓDULOS 19
(a + b) · m = a · m + b · m
a · (m + n) = a · m + a · n
(ab) · m = a · (b · m)
1·m=m
··· ✲ Mi+1 ✲ Mi
fi+1
✲ Mi−1
fi
✲ Mi−2
fi−1
✲ ···
fi−2
0 ✲ M ✲ N
f
✲ P
g
✲ 0
é uma sequência exata (dita sequência exata curta) se, e só se,
(i) f é injetora;
(ii) g é sobrejetora;
g : N/f (M ) ✲ P
≈
n �−→ g(n)
0 ✲ a ι
✲ A ✲ A/a
π
✲ 0
0 ✲ M ✲ N ✲ N/M ✲ 0
1.6. MÓDULOS 21
0 ✲ M ✲ N
f
✲ P
g
✲ 0
pois N/f (M ) ∼
= P.
Note que toda sequência exata (M• , f• ) pode ser quebrada em sequências
exatas curtas
0 ✲ im fi+1 ✲ Mi ✲ im fi ✲ 0
de modo que o estudo de sequências exatas gerais pode ser reduzido ao estudo
das sequências exatas curtas.
N + P = {n + p ∈ M | n ∈ N, p ∈ P },
induzido por composição com f . É fácil verificar que HomA (N, −) preserva
identidades e composição de morfismos, o que de fato lhe dá o direito de ser
chamado de funtor. De maneira análoga, define-se o funtor contravariante
HomA (−, N ). Temos uma importante
Proposição 1.6.3 Seja N um A-módulo. Seja
0 ✲ M� ✲ M
f g
✲ M �� ✲ 0
são exatas. Dizemos que HomA (N, −) e HomA (−, N ) são funtores exatos à
esquerda.
Demonstração: Como as duas provas são análogas, vamos apenas mostrar
a tı́tulo de exemplo que a segunda sequência é exata. Primeiro, HomA (g, N )
é injetora (lema 1.3.1 na página 8): se φ ∈ ker HomA (g, N ) ⇐⇒ φ ◦ g =
0, temos φ = 0 pois g é sobrejetora. Por outro lado, im HomA (g, N ) ⊆
ker HomA (f, N ) pois HomA (−, N ) é um funtor e g ◦ f = 0 por hipótese, logo
HomA (f, N ) ◦ HomA (g, N ) = HomA (g ◦ f, N ) = 0
Reciprocamente, dado ψ ∈ ker HomA (f, N ) ⇐⇒ ψ ◦ f = 0, temos ker ψ ⊇
f (M � ) = ker g, logo pela propriedade universal do quociente (teorema 1.4.1
na página 11) temos um morfismo induzido φ ∈ HomA (M �� , N ) dado pela
composição ψ ◦ g −1 :
φ : M �� ✛g M/f (M � ) ✲
ψ
N
≈
m�� = g(m) �−→ m �−→ ψ(m)
Assim, φ ◦ g = ψ ⇐⇒ HomA (g, N )(φ) = ψ.
5 ver apêndice A.2 na página 328 para definições
1.6. MÓDULOS 23
Dada uma famı́lia de A-módulos {Mi }i∈I , podemos construir dois novos
A-módulos:
�
(i) o produto direto i∈I Mi que, como conjunto, é igual ao produto
cartesiano dos Mi , sendo a soma e o produto por escalares realizada
componente a componente;
�
(ii) a soma direta i∈I Mi que é o submódulo do produto direto cujos
elementos são as tuplas (mi )i∈I “quase nulas”, i.e., com mi �= 0 apenas
para um número finito de ı́ndices i.
� �
Em particular, se o conjunto de ı́ndices I é finito, então i∈I Mi = i∈I Mi .
Temos as seguintes propriedades universais do produto e soma de módulos,
de verificação imediata:
e
� �� �
HomA (Mi , T ) = HomA Mi , T
i∈I i∈I
� � �
(ψi )i∈I �→ (mi )i∈I �→ ψi (mi )
i∈I
�
Note que a soma i∈I ψi (mi ) faz sentido uma vez mi = 0 para quase todo
i ∈ I.
HomA (A, M ) ✲ M
≈
φ �−→ φ(1)
24 CAPÍTULO 1. DANDO NOMES AOS BOIS
Para mostrar que |I| = dimk M/mM , basta ver que φ induz um isomorfismo
de A-módulos (e portanto de k-espaços vetoriais)
�
k ✲ M/mM
≈
φ:
i∈I
�
(ai )i∈I �−→ ai ω i
i∈I
� � �
0 i∈I m i∈I A i∈I k 0
≈ φ ≈ φ φ
�
0 mM M i∈I M/mM 0
� �
Note que i∈I m=m i∈I A, que é isomorfo a mM via φ, logo
� �
� �
m = ker A ✲ M
φ
✲
✲ M/mM
π
≈
i∈I i∈I
M (d)g = Md+g (g ∈ G)
0 ✲ N ✲ M ✲ M/N ✲ 0
1.7. ANÉIS E MÓDULOS GRADUADOS 27
a ∈ a ⇐⇒ ag ∈ a para todo g ∈ G
e assim ag ∈ a.
1.8 Exercı́cios
1.1 Seja A um anel e a ∈ A um elemento nilpotente. Mostre que 1+a ∈ A× .
def
C(U ) = {f : U → C | f é contı́nua}
def
H(U ) = {f : U → C | f é holomorfa}
def
M(U ) = {f : U → C | f é meromorfa}
Mostre que
(b) Mostre que se a e b são coprimos, então o mesmo vale para am e bn para
todo m, n ≥ 0.
√
(c) Suponha que√ a é finitamente gerado. Mostre que existe um inteiro n
tal que a ∈ a =⇒ an ∈ a globalmente (i.e., n não depende do a).
(d) Suponha
√ que A é um anel graduado e que a ⊆ A é homogêneo. Prove
que a também é homogêneo.
f = u · pe11 . . . perr , u ∈ k×
(b) Seja
0 ✲ Vn fn
✲ Vn−1 fn−1
✲ ··· f2
✲ V1 ✲ V0
f1
✲ 0
f0
def ker fi
hi (V• , f• ) =
im fi+1
Mostre que
� �
(−1)i dimk hi (V• , f• ) = (−1)i dimk Vi
0≤i≤n 0≤i≤n
A B C D E
f ≈ g h ≈ i j
A� B� C� D� E�
Mostre que se
30 CAPÍTULO 1. DANDO NOMES AOS BOIS
(a) R é isomorfo ao anel das matrizes com linhas e colunas indexadas por N
e cujas colunas são sequência quase nulas.
= R2 ∼
(b) temos isomorfismos de R-módulos à esquerda R ∼ = R3 ∼
= R4 ∼
= ···.
a 0 + a 1 t + a 2 t2 + · · · + a n tn (ai ∈ A)
Por outro lado, uma série formal com coeficientes em A é algo visivelmente
mais simples:
a 0 + a 1 t + a 2 t2 + · · · (ai ∈ A)
O anel de séries formais A�t� com coeficientes em A consiste no conjunto
de todas as expressões da forma acima. A soma e a multiplicação em A�t�
1 mas com a vantagem de não termos de nos preocupar com as irritantes questões de
convergência. . .
31
32 CAPÍTULO 2. ANÉIS QUE APARECEM NA NATUREZA
são definidas da maneira usual, como no anel de polinômios (ou seja, você
“soma somando” e “multiplica multiplicando”):
(a0 + a1 t + a2 t2 + · · · ) + (b0 + b1 t + b2 t2 + · · · )
= (a0 + b0 ) + (a1 + b1 )t + (a2 + b2 )t2 + · · ·
(a0 + a1 t + a2 t2 + · · · ) · (b0 + b1 t + b2 t2 + · · · )
= a0 b0 + (a0 b1 + a1 b0 )t + (a0 b2 + a1 b1 + a2 b0 )t2 + · · ·
(1 − t) · (1 + t + t2 + t3 + · · · ) = 1
A[t]
A�t� = proj lim n)
n∈N (t
def
� � A[t] �� �
= (fn ) ∈ � f m ≡ fn (mod tm ) para todo n ≥ m
(tn )
n∈N
Demonstração:
1. Um elemento a0 + a1 t + a2 t2 + · · · ∈ A�t� é uma unidade se, e só se, a
seguinte “equação nas variáveis” bi ’s
(a0 + a1 t + a2 t2 + · · · )(b0 + b1 t + b2 t2 + · · · ) = 1
a 0 b0 = 1
a 1 b0 + a 0 b1 = 0
a 2 b0 + a 1 b1 + a 0 b2 = 0
..
.
b0 = a−1
0
bn = −a−1
0 (an b0 + an−1 b1 + · · · + a1 bn−1 ) para n ≥ 1,
A�t�/(tn ) = A[t]/(tn )
A�t�
A�t�/(tm ) = A[t]/(tm )
3. k�t� é um DIP. Qualquer ideal não nulo é da forma (tn ) para algum
n ∈ N. Em particular, (t) é o único ideal maximal de k�t�3 .
Demonstração:
f= tn
���� × (an + an+1 t + an+2 t2 + · · · ) , an �= 0
� �� �
potência de t unidade pela proposição 2.1.1 na página 32
n 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ···
Fn 0 1 1 2 3 5 8 13 21 34 55 ···
S = F 0 + F1 t + F 2 t 2 + F3 t3 + F4 t 3 + · · ·
−S · t = − F 0 t − F 1 t 2 − F2 t3 − F3 t 3 − · · ·
−S · t2 = − F 0 t 2 − F1 t3 − F2 t 3 − · · ·
e 1 = x1 + x 2 + · · · + x n ,
e2 = x1 x2 + x1 x3 + · · · + xn−1 xn ,
..
.
e n = x1 x 2 x 3 · · · x n
A[e1 , e2 , . . . , en ] = A[s1 , s2 , · · · , sn ]
Demonstração:
1. É claro que A[e1 , e2 , . . . , en ] ⊆ A[x1 , . . . , xn ]Sn . Para mostrar a inclusão
oposta, primeiro definamos uma boa ordem em Nn : escrevemos
(α1 , . . . , αn ) � (β1 , . . . , βn )
f (x1 , . . . , xn ) � g(x1 , . . . , xn )
5 uma relação que é reflexiva e transitiva, mas não necessariamente anti-simétrica
2.2. INTEIROS ALGÉBRICOS 39
é igual a 1
40 CAPÍTULO 2. ANÉIS QUE APARECEM NA NATUREZA
αn − β n
Fn = (n ≥ 0)
α−β
√ √
em que α = 1+2 5 e β = 1−2 5 são as raı́zes de x2 − x − 1 = 0. Observe que
tanto α como β = 1 − α são elementos do anel Z[α] = {a + bα | a, b ∈ Z}.
Este anel tem uma propriedade muito interessante: todo elemento de Z[α] é
um inteiro algébrico. De fato, como α + β = 1 e αβ = −1, multiplicando pelo
“conjugado” temos que a + bα é raiz do polinômio mônico com coeficientes
inteiros
� � � �
x − (a + bα) · x − (a + bβ) = x2 − (2a + b)x + (a2 + ab − b2 )
Fn Fkm αkm − β km
= = m
Fm Fm α − βm
= (αm )k−1 + (αm )k−2 (β m ) + (αm )k−3 (β m )2 + · · · + (β m )k−1
1. (Critério de Euler)
� �
a
≡ a(p−1)/2 (mod p)
p
2. Temos �
� �
−1 p−1 1 p ≡ 1 (mod 4)
= (−1) 2 =
p −1 p ≡ 3 (mod 4)
F× × 2
p /(Fp )
✲ {±1}
≈
� �
a
a �→
p
Se a ∈ F×
p , pelo teorema de Lagrange (ou pelo pequeno teorema de Fermat),
ap−1 = 1 e portanto
f (a) = 0 ⇐⇒ a ∈ (F×
p)
2
(⇒) Como f (x) tem no máximo (p − 1)/2 raı́zes em Fp e já sabemos que
todo elemento em (F× 2 × 2
p ) é raiz, basta mostrarmos que (Fp ) tem exatamente
(p − 1)/2 elementos. De fato, como ±1, ±2, . . . , ±(p − 1)/2 é um sistema
completo de representantes de F× × 2
p , temos que os elementos de (Fp ) são
exatamente as classes de
� p − 1 �2
(±1)2 , (±2)2 , . . . , ±
2
e não há repetições nesta listagem, já que se a, b ∈ Fp então
a2 = b2 ⇐⇒ (a − b)(a + b) = 0 ⇐⇒ a = ±b
2. �
� �
2 p2 −1 1 se p ≡ ±1 (mod 8)
= (−1) 8 =
p −1 se p ≡ ±3 (mod 8)
Então
S 2 = (−1)(p−1)/2 p
� � �na−1 − 1�
n
= ζp · .
×
p
n∈Fp a∈Fp
Para n = 0 temos
� �na−1 − 1� � �−1� � �
−1
= = (p − 1)
×
p ×
p p
a∈Fp a∈Fp
� �a �
=0
p
a∈Fp
F×
p
≈
✲ Gal(Q(ζp )/Q)
� �
a �−→ ζp �→ ζpa
q−1
Assim, basta calcular S . Temos
q � �a�q aq � �a� aq
S = ζp = ζ
p p p
a∈Fp a∈Fp
� ��� � � �
q aq aq q
= ζp = S,
p p p
a∈Fp
2.3.8 Exemplo A união dos eixos Z(xy) = Z(x) ∪ Z(y) no plano afim A2k
é claramente redutı́vel, logo não é variedade. Por outro lado, Ank é uma
variedade para todo n ≥ 1. De fato, como k é infinito (pois é algebricamente
fechado!), temos que nenhum polinômio não nulo se anula identicamente em
todo Ank (exercı́cio 2.9 na página 74). Assim, Z(a) é próprio se, e só se,
2.3. VARIEDADES ALGÉBRICAS 49
�� � � �� � �
a b e f ae + bg af + bh
; �−→
c d g h ce + dg cf + dh
como a função “inverso”
� � � � � �−1
a b d −b a b
�−→ =
c d −c a c d
f ∗ : k[Y ] → k[X]
φ �→ φ ◦ f
f g
X Y Z
g◦f
f∗ g∗
k[X] k[Y ] k[Z]
f ∗ ◦g ∗
52 CAPÍTULO 2. ANÉIS QUE APARECEM NA NATUREZA
f g
f : Ak1 → X g : X → A1k
a �→ (a, a2 ) (a, b) �→ a
k[x, y] k[x, y]
(y − x2 ) I(X)
x�→x f∗
≈
y�→x2 ≈
k[x]
k[w, x, y, z] ≈ k[w, x, y, z]
i∗ : →
(wz − xy − 1) (wz − xy − 1)
w �→ z
x �→ −x
y �→ −y
z �→ w
k[x1 , . . . , xn ] f �→f (P )
∼
= k
(x1 − a1 , . . . , xn − an )
é um corpo (exemplo 1.4.6 na página 15), logo
mP = (x1 − a1 , . . . , xn − an )
X
≈
✲ Specm k[X] = Specm k[x1 , . . . , xn ]
I(X)
I(P )
P = (a1 , . . . , an ) �−→ mP = = (x1 − a1 , . . . , xn − an )
I(X)
Note que só falta mostrarmos que a associação acima é sobrejetora. Basta
mostrar que
17
Teorema 2.3.22 (Billignullstellensatz) Seja K um corpo algebrica-
mente fechado e incontável. Então
x i ≡ ai (mod m) (i = 1, . . . , n)
1. Z(a) = ∅ ⇐⇒ a = (1)
√
2. I(Z(a)) = a
Demonstração:
e f : X → Y um morfismo.
1. Se φ : k[Y ] → k[X] é um morfismo de k-álgebras, então
P �→mP
X ≈ Specm k[X]
f m�→(f ∗ )−1 (m)
Q�→mQ
Y ≈ Specm k[Y ]
Demonstração:
1. Primeiro, como um ideal maximal m de k[X] = k[x1 , . . . , xm ]/I(X) é da
forma (x1 − a1 , . . . , xm − am ) para algum ponto P = (a1 , . . . , am ) ∈ X,
temos um isomorfismo
que a função
HomAff (X, Y ) → HomRed (k[Y ], k[X])
f �→ f ∗
é uma bijeção. Pelo teorema 2.3.24 na página anterior, temos que esta função
é injetora, já que um morfismo de k-álgebras φ : k[Y ] → k[X] determina uni-
camente uma função entre espectros maximais, logo uma única função entre
conjuntos algébricos. Para a sobrejetividade, tome φ ∈ HomRed (k[Y ], k[X])
e escolha representantes pi ∈ k[x1 , . . . , xm ] para as imagens das funções co-
ordenadas y i ∈ k[Y ] = k[y1 , . . . , yn ]/I(Y ):
φ(y i ) = pi ∈ k[X] = k[x1 , . . . , xm ]/I(X) (i = 1, . . . , n)
2.3. VARIEDADES ALGÉBRICAS 59
� �
f (a1 , . . . , am ) = p1 (a1 , . . . , am ), . . . , pn (a1 , . . . , am )
de modo que h ∈ I(Y ) =⇒ h ◦ f ∈ I(X). Assim, se P = (a1 , . . . , am ) ∈ X,
f (P ) ∈ Z(I(Y )) = Y e portanto f se restringe a um morfismo f : X → Y
de conjuntos algébricos. Por construção, a imagem por f ∗ da função i-ésima
coordenada y i é f ∗ (y i ) = y i ◦ f = pi = φ(y i ) e como os y i geram a k-álgebra
k[Y ], concluı́mos que f ∗ = φ. Isto encerra a prova.
E = Z+ (y 2 z − x3 + xz 2 ) ⊆ P2k
def
e um único “ponto no infinito” O = (0 : 1 : 0) ∈ E ∩ U1 , já que se c = 0 e
b2 c = a3 − ac2 então a = 0 (e b �= 0 pois alguma coordenada é não nula).
def Z � � Z �� �
Zp = proj lim = (a n ) ∈ � a m ≡ an (mod pm ) se n ≥ m
n∈N (pn ) (pn )
n∈N
0 1
0 2 3 1
0 4 2 6 7 3 5 1
a 0 + a 1 p + a 2 p2 + · · · (0 ≤ ai < p)
1 + (1 + 2 + 22 + 23 + · · · ) = 2 + 2 + 22 + 23 + · · ·
= 22 + 22 + 23 + · · ·
= 23 + 23 + · · ·
= ··· = 0
Z �→ Zp
a �→ (a mod pn )n∈N
1. O grupo de unidades de Zp é
� � �
Z× 2 �
p = a0 + a1 p + a2 p + · · · ∈ Zp a0 �= 0, 0 ≤ ai < p ,
ou seja, é o subconjunto dos inteiros p-ádicos que não são divisı́veis por
p ou cujos “termos constantes” a0 não são nulos.
Demonstração:
21 que é, portanto, um anel local (definição 4.5.1 na página 111)
2.4. INTEIROS P -ÁDICOS 63
f = u · pn (u ∈ Z×
p , n ∈ Z)
lim pn = 0
n→∞
Dois inteiros p-ádicos f = (an mod pn )n∈N e g = (bn mod pn )n∈N estão
quanto mais próximos quanto a quantidade de dı́gitos iniciais coincidentes na
representação em base p: para r ∈ N, temos
�f − g�p ≤ p−r ⇐⇒ pr | f − g
⇐⇒ ai ≡ bi (mod pi ) para i = 0, 1, 2, . . . , r
⇐⇒ os r primeiros dı́gitos na base p de f e g coincidem
ˆ é
Verificações rotineiras mostram que tudo está bem definido e que (X̂, d)
completo (i.e., toda sequência de Cauchy em X̂ converge para um elemento
de X̂), com X ⊆ X̂ via o “mapa diagonal” que leva um elemento x ∈ X na
classe da sequência constante an = x.
3. Zp é compacto.
Demonstração:
1. Denote provisoriamente por C o completamento de Z com relação à
métrica p-ádica. Vamos construir uma bijeção entre Zp e C. Dada uma
tupla coerente (an mod pn )n∈N ∈ Zp , temos que (an ) é uma sequência
de Cauchy em Z, já que
f : Zp → C
n
(an mod p )n∈N �→ [(an )]
g : C → Zp
[(an )] �→ (a∞ mod pr )r∈N
{x ∈ Zp | �x − x0 �p < p−r }
= {(bn mod pn )n∈N ∈ Zp | bi ≡ ai (mod pi ) para i = 0, 1, 2, . . . , r + 1}
= {caminhos na árvore com inı́cio ai mod pi , i = 0, 1, 2, . . . , r + 1}
� � �
= πi−1 {ai mod pi } ∩ Zp
0≤i≤r
Teorema 2.4.4 (Lema de Hensel) Seja f (x) ∈ Zp [x] e denote por f (x) ∈
Fp [x] o polinômio obtido por redução módulo p dos coeficientes de f (x). Su-
ponha que a ∈ Zp é tal que a ∈ Fp = Zp /(p) é raiz simples de f (x). Então
existe ã ∈ Zp tal que
f (ã) = 0 e ã ≡ a (mod p)
2.4. INTEIROS P -ÁDICOS 67
Tome a1 ∈ Z tal que a1 ≡ a (mod p); por hipótese, temos f (a1 ) ≡ 0 (mod p)
e f (a1 ) �≡ 0 (mod p) já que a1 é raiz simples de f (x). Suponha que os
n primeiros termos já estejam definidos; para definir an+1 satisfazendo as
condições acima, temos que encontrar h ∈ Z tal que an+1 = an + h · pn e
pela expansão de Taylor de f (x). Note que por hipótese de indução pn | f (an )
e f � (an ) ≡ f � (a1 ) �≡ 0 (mod p), ou seja, f � (an ) é uma unidade módulo p e
n
assim podemos tomar h ≡ f (a n )/p
f � (an ) (mod p), ou seja, basta definirmos
f (an )
an+1 ≡ an − (mod pn+1 )
f � (an )
Com isso, ã = (an mod pn )n∈N é o elemento procurado. Note que a sequência
de Cauchy (an ) obtida acima é exatamente a obtida aplicando-se o método
de Newton para aproximações de raı́zes de f (x):
an+1 an
y = f (x)
Q× × 2
p /(Qp ) = {1, u, p, up} / (F× )2
u ∈ Zp tal que u ∈
68 CAPÍTULO 2. ANÉIS QUE APARECEM NA NATUREZA
em que
def
�� n �
M (n, �) =
ϕ(�i )
i≥1
� � � � � � � �
n n n n
= + + 2 + 3 + ···
�−1 �(� − 1) � (� − 1) � (� − 1)
2. A prova deste teorema é não trivial, veja [Ser73], chapter VI, p.61 por
exemplo.
r−1
todo r. Para todo r ≥ 1, temos a(�−1)� = 1 + �r u com � � u também,
como segue por indução de
múltiplo de �≥3
� �
� ���� �
r
�
� r−1 2 � 2r−1 3 �
a(�−1)� r �
= (1 + � u) = 1 + � r+1
· u+ � u + � u + ···
2 3
� �� �
não múltiplo de �
Assim, para r ≥ 2,
r r−1
aϕ(� )
= a(�−1)� ≡ 1 (mod �r ) mas
r−1 r−2
aϕ(� )
= a(�−1)� �≡ 1 (mod �r ) (∗)
Como também temos d | ϕ(�r ) por Lagrange e � é primo, só há duas
possibilidades d = ϕ(�r−1 ) ou d = ϕ(�r ), mas (∗) mostra que a primeira
não ocorre, como querı́amos.
Em particular, observe que para r = 2 as condições (∗) dizem exata-
mente que a mod �2 é um gerador de (Z/�2 Z)× . Assim reduzimos todo
o problema a mostrar a existência de um a ∈ Z tal que a gera F× � e
a�−1 = 1 + �u com � � u. Mas se porventura � | u, basta tomar a + � no
lugar de a, pois
� �
�−1 �−1 � − 1 �−2
(a + �) = 1 + � · (a (� − 1) + u + a � + ···)
2
� �� �
não múltiplo de �
r−2
4. Verifique por indução em r ≥ 2 que 52 = 1 + 2r u com u ı́mpar.
2r−2 r−3
Assim, para r ≥ 3, temos 5 ≡ 1 (mod 2 ) mas 52
r
�≡ 1 (mod 2r ),
r r−2
donde 5 mod 2 tem ordem 2 .
2.5 Exercı́cios
2.1 Encontre fórmulas explı́citas para as seguintes recursões:
(a) G0 = 0, G1 = 1 e Gn+2 = 5Gn+1 − 6Gn para n ≥ 0.
2.5. EXERCÍCIOS 73
Mostre que f n = 1 + t.
2.3 Seja k um corpo e seja A = k�t�. Seja f (x) ∈ A[x] e denote por
f (x) ∈ k[x] o polinômio obtido por redução módulo t dos coeficientes de
f (x). Prove o lema de Hensel para A: se a ∈ A é tal que a ∈ k = A/(t) é
raiz simples de f (x), então existe ã ∈ A tal que
f (ã) = 0 e ã ≡ a (mod t)
√ √
2.5 (a) Mostre que (i 2) é um
√ ideal
√ maximal de Z[i 2] e determine expli-
citamente o quociente Z[i 2]/(i 2).
√
(b) Determine a cardinalidade de Z[i 2]/(2n ) em função de n ∈ N.
(a) Mostre que há uma bijeção entre o conjunto de todos os morfismos de
anéis f : A → Q e pontos racionais (i.e. pontos com ambas as coordena-
das racionais) do cı́rculo de equação x2 + y 2 = 1.
(b) Mostre que há uma bijeção entre o conjunto de todos os morfismos de
anéis f : A → Q(i) e pontos do cı́rculo de equação x2 +y 2 = 1 com ambas
as coordenadas em Q(i).
(c) Determine (geradores
√ para) ker f , onde f : A → C é o morfismo dado por
x̄ �→ i e ȳ �→ 2.
fX : X
≈
✲ Specm HomTop (X, R)
x �−→ mx
fX
X ≈ Specm HomTop (X, R)
φ m�→HomTop (φ,R)−1 m
fY
Y ≈ Specm HomTop (Y, R)
2.13 Mostre que temos uma bijeção entre a reta projetiva e a circunferência
P1C → Z+ (x2 + y 2 − z 2 )
(a : b) �→ (b2 − a2 : 2ab : a2 + b2 )
P1C
� 1−t2 2t
�
1+t2 , 1+t 2
(−1, 0) (0, t)
Mostre ainda que esta bijeção se restringe a uma bijeção entre os abertos
afins
A1C \ {±i} e Z(x2 + y 2 − 1) \ {(−1, 0)}
f (x, y, z, w) = x2 + uy 2 + pz 2 + upw2
é anisotrópica sobre Qp .
2.15 (Lema de Hensel, o retorno) Seja f (x) ∈ Zp [x] e seja f (x) ∈ Fp [x]
o polinômio obtido por redução módulo p dos coeficientes de f (x). Suponha
que a ∈ Zp é tal que
2.16 Mostre
(a) u ∈ Z×
2 é um quadrado perfeito se, e só se, u ≡ 1 (mod 8).
(b) Q× × 2
2 /(Q2 ) = {±1, ±5, ±2, ±10} é um grupo isomorfo a Z/2Z ⊕ Z/2Z ⊕
Z/2Z.
(c) há exatamente 7 extensões quadráticas de Q2 em seu fecho algébrico.
2.5. EXERCÍCIOS 77
def
� zn def
� zn
exp(z) = e log(1 + z) = (−1)n+1
n! n
n≥0 n≥1
e o subgrupo multiplicativo de Z×
p
U (n) = {a ∈ Z×
p |a≡1 (mod pn )}
Mostre que
(a) log(1 + z) converge para todo z ∈ Zp .
(b) exp(z) converge para todo z ∈ Zp com vp (z) ≥ 1 se p �= 2 e com v2 (z) ≥ 2
se p = 2.
(c) log(1 + z) e exp(z) definem isomorfismos de grupos entre U (1) e (p) se
p �= 2 e entre U (2) e (22 ) se p = 2.
(d) Qp contém todo o subgrupo µp−1 das raı́zes (p − 1)-ésimas da unidade.
(e) temos isomorfismos de grupos
�
Q× ∼ Z ⊕ µp−1 ⊕ Zp se p �= 2
p =
Z ⊕ {±1} ⊕ Zp se p = 2
Scherzo
79
Capı́tulo 3
81
82 CAPÍTULO 3. IDEAIS PRIMOS E ESPECTRO
Muito bem, que tal verficarmos algumas coisas nesta definição? Note que
em (1), as condições (i)–(iii) são de fato equivalentes: o anel quociente A/p
é um domı́nio se, e só se,
(a) A/p �= 0, i.e., p é um ideal próprio de A e
(b) para quaisquer a, b ∈ A, a · b = 0 ⇐⇒ a = 0 ou b = 0. Ou, em outras
palavras, a · b ∈ p ⇐⇒ a ∈ p ou b ∈ p.
Assim, temos (i) ⇔ (ii).
É também claro que (iii) ⇒ (ii), pois basta tomar a = (a) e b = (b).
Para mostrar que (ii) ⇒ (iii), suponha por absurdo que p ⊇ ab mas p �⊇ a
e p �⊇ b. Neste caso, existem elementos a ∈ a \ p e b ∈ b \ p, logo por (ii)
devemos ter ab �∈ p. Por outro lado, temos ab ∈ ab ⊆ p, uma contradição.
Em (3), precismaos verificar que φ−1 (q) é de fato um ideal primo de B.
Temos que φ−1 (q) ⊆ B é um ideal pelo teorema 1.4.4 na página 13. Este ideal
é primo, pois primeiro φ−1 (q) é próprio, já que 1 ∈ φ−1 (q) ⇐⇒ 1 = φ(1) ∈ q
seria um absurdo (lema 1.3.2 na página 8) e segundo, para quaisquer a, b ∈ B,
temos
Por sua vez, o nome espectro no contexto da Análise Funcional parece ter
sido cunhado por Hilbert, aparentemente por alguma analogia superficial com
o espectro ótico de moléculas em Fı́sica! Bem, ninguém disse que todos os
nomes precisam fazer sentido. . .
Antes de darmos exemplos, vejamos alguns resultados básicos que seguem
diretamente das definições.
1 Surpresa! Você achou que fosse o filho da tia ideal?
2 pelo menos no mundo ideal, em que (a) ⊇ (b) ⇐⇒ a | b.
3.1. IDEAIS PRIMOS 83
2. Spec A = ∅ ⇐⇒ A = 0
Demonstração:
ab ∈ (f ) ⇐⇒ f | ab ⇐⇒ f | a ou f | b ⇐⇒ a ∈ (f ) ou b ∈ (f )
k[x1 , x2 , . . . , xn ] ∼
= k[xi+1 , xi+2 , . . . , xn ]
(x1 , . . . , xi )
são domı́nios.
3.1.8 Exemplo Pelo exemplo anterior e o lema 3.1.2 na página 83, temos
� � �
Spec Z/(n) = (p) � p é fator primo de n
� � � � �
Spec C[t]/ f (t) = (t − a) � a ∈ C, f (a) = 0
(x,0)�→(a,0)
Fp [x] Fp [x] Fp [x] (0,x)�→(0,−a)
∼
= × = F p × Fp
2
(x − 5) (x − ā) (x + ā)
é o produto de dois corpos, de modo que seus ideais primos são os ideais
maximais (0) × Fp e Fp × (0), que correspondem aos ideais√ maximais√(x̄ − ā) e
(x̄+ā)√em Fp [x]/(x −5), ou seja, aos ideais maximais ( 5−a, p) e ( 5+a, p)
2
√
√ Z e Spec Z[ 5] são representados por curvas√(pois afinal de contas
Aqui, Spec
Z e Z[ 5] têm dimensão 1!), com o mapa f : Spec Z[ 5] → Spec Z √ fazendo
o papel
√ de projeção em um “recobrimento duplo ramificado em (2, 5 − 1)
e ( 5)”; ideais maximais são representados por pontos e os ideais (0) pelas
linhas cheias, “espalhados” por toda a curva.
Se você está achando que os autores neste momento endoidaram de vez,
calma! Esta representação fará mais sentido após o exemplo a seguir e quando
mais tarde introduzirmos a noção de esquema, que permite “visualizar” qual-
quer anel comutativo como um objeto geométrico.
Caso f (q) = (0) ⇐⇒ q ∩ C[x] = (0): neste caso, temos q = (0). Inicial-
mente, observe que y 2 − x3 + x é um polinômio irredutı́vel no DFU C[x, y] e
assim (y 2 − x3 + x) ⊂ C[x, y] é um ideal primo e A = C[x, y]/(y 2 − x3 + x)
é um domı́nio6 . Portanto (0) ∈ Spec A. Para mostrar que este é o único
q ∈ Spec A com f (q) = (0), tome um elemento não nulo a(x) + b(x)y ∈ q e
multiplique-o por seu “conjugado”, obtendo
� � � �
a(x) + b(x)y · a(x) − b(x)y = a(x)2 − b(x)2 (x3 − x) ∈ q ∩ C[x],
que é um elemento não nulo, pois é o produto de dois elementos não nulos
no domı́nio A.
que possui dois ideais primos (0) × C e C × (0), ambos maximais, correspon-
dendo aos ideais primos (e maximais) (y − b, x − a) e (y + b, x − a) de A.
Segundo, se b = 0 (isto é, se a3 − a = 0 ⇐⇒ a = 0 ou a = ±1) então só
há um primo (y) em C[y]/(y 2 ), que corresponde ao ideal primo (e maximal)
(y, x − a).
Resumindo: Spec C[x, y]/(y 2 − x3 + x) consiste no ideal (0) e nos ideais
maximais (x − a, y − b), que estão em bijeção com os pontos (a, b) ∈ E (o
que já sabı́amos pelo Nullstellensatz, teorema 2.3.20 na página 55, mas neste
caso particular temos uma prova direta). Pictoriamente (c.f. o diagrama no
exemplo 3.2.2 na página 87):
(x − a, y − b)
f
(x − a)
� �
3. i∈I V (ai ) = V ( i∈I ai )
�
Aqui i∈I ai denota o ideal gerado pela famı́lia de ideais {ai }i∈I .
5. Spec A é compacto.
Demonstração:
�
1. Segue da identidade Spec A \ V (a) = h∈a D(h) (um primo p não
contém a se, e só se, p não contém algum elemento h ∈ a).
2. Segue de gh ∈
/ p ⇐⇒ g ∈
/peh∈
/ p para p ∈ Spec A.
3. Temos
� �−1 � �
q ∈ Spec (φ) D(h) ⇐⇒ Spec (φ)(q) = φ−1 (q) ∈ D(h)
/ φ−1 (q) ⇐⇒ φ(h) ∈
⇐⇒ h ∈ /q
� �
⇐⇒ q ∈ D φ(h)
4. Segue de
� �� �
{p} = V (a) = V a = V (p)
V (a)�p a⊆p
92 CAPÍTULO 3. IDEAIS PRIMOS E ESPECTRO
5. Pelo item (1), é suficiente provar que toda cobertura de Spec A por
uma famı́lia de abertos básicos7 {D(hα )}, hα ∈ A, admite subcobertura
finita. Note que
� �� � �
D(hα ) = Spec A ⇐⇒ V (hα ) = V ((hα )) = ∅
α α α
cor. 1.4.5
�
⇐⇒ (hα ) = (1)
α
�
Assim podemos escrever 1 = 1≤i≤n ai hαi como�combinação A-linear
finita de elementos hαi , o que implica Spec A = 1≤i≤n D(hαi ).
(0) × k k × (0)
• Em Spec k�t� = {(0), (t)} (proposição 2.1.2 na página 34), por outro
lado, temos que (t) é um ponto fechado enquanto (0) é um ponto denso.
Assim, os fechados de Spec k�t� são: ∅, Spec k�t� e {(t)}. Note que
Spec k�t� é irredutı́vel, logo conexo. Esquematicamente:
(0)
(t)
7 não, não, você não precisa considerar os abertos ácidos!
8 veja apêndice A.1 na página 321 para as definições
3.3. TOPOLOGIA DE ZARISKI 93
(0)
(t + 2) (t2 + t + 1) (t) (t − 1) (t2 + 1)
3.4 Exercı́cios
3.1 Seja V um espaço vetorial de dimensão finita sobre C e seja T : V → V
um operador linear. Mostre que
� �
(a) C[T ] = C[x]/ p(x) onde p(x) ∈ C[x] é o polinômio minimal de T .
3.2 (a) Mostre que todo anel A �= 0 possui um ideal primo minimal com
relação à inclusão (por exemplo, se A é um domı́nio, então (0) é o único
primo minimal de A).
(b) Quais são os primos minimais de C[x, y]/(x2 −y 2 )? Dê uma interpretação
geométrica.
(iii) dim A;
Dê também descrições geométricas destes anéis (por exemplo, faça um de-
senho) no maior número de casos que você conseguir. Aqui, p denota um
número primo.
96 CAPÍTULO 3. IDEAIS PRIMOS E ESPECTRO
(a) Fp (b) Q × Q
(c) Z × Z (d) Q[z]
(e) Q�z� (f) Q[z]/(z 2014 )
(g) Zp /(p2014 ) (h) C�z�/(z 2014 )
(i) C[x, y]/(x2014 , y 2014 ) (j) C[x, y]/(xy)2014
(k) Q[x, y]/(x2 − y 2 ) (l) R[z]/(z 2 + 1)
(m) C[z]/(z 2 + 1) (n) F5 [z]/(z 2 − 2)
(o) F5 [z]/(z 5 − 2) (p) Z[x]/(3x − 1)
3.5 Idem.
Localização
97
98 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
Uma verificação chata e rotineira mostra que estas operações estão bem defi-
nidas, isto é, não dependem dos representantes de classe utilizados. Para que
você não fique resmungando “os autores estão é na verdade com preguiça de
escrever os detalhes”, vamos excepcionalmente mostrar, a tı́tulo de exemplo,
que a soma está bem definida. Se
a1 b1 a2 b2
= e = (a1 , a2 , b1 , b2 ∈ A e s1 , s2 , t1 , t2 ∈ S)
s1 t1 s2 t2
s 2 a1 + s 1 a2 t 2 b 1 + t1 b 2
= em S −1 A
s1 s2 t1 t2
� �
⇐⇒ ∃w ∈ S tal que w t1 t2 (s2 a1 + s1 a2 ) − s1 s2 (t2 b1 + t1 b2 ) = 0 em A
� �
⇐⇒ ∃w ∈ S tal que w s2 t2 (t1 a1 − s1 b1 ) + s1 t1 (t2 a2 − s2 b2 ) = 0 em A
ρ : A → S −1 A
a
a �→
1
chamado de mapa de localização que, como veremos, é muito útil na
prática, aparecendo até em lugares inusitados, veja:
Hom(S −1 A, B)
≈
✲ HomS (A, B)
ψ �−→ ψ ◦ ρ
S −1 A
2 acrediteem mim, dá certo!
3 c.f.
a propriedade universal do quociente (teorema 1.4.1 na página 11), que afirma que
dar um morfismo A/a → B é o mesmo que dar um morfismo A → B que anula a.
100 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
a b
Demonstração: Note que ψ está bem definido: se s = t ∈ S −1 A (a, b ∈ A
e s, t ∈ S), então existe u ∈ S tal que
pois φ(u), φ(t), φ(s) ∈ B × . Agora uma verificação rotineira4 mostra que a
associação φ �→ ψ é a inversa de ψ �→ ψ ◦ρ, provando a propriedade universal.
φ : Z/(12) ✲ Z/(4)
a mod 12 �−→ a mod 4
ψ : A(2) ✲ Z/(4)
a mod 12
�−→ (s mod 4)−1 · (a mod 4)
s mod 12
Para construirmos um inverso para ψ, note que como ρ(4) = 0, pela propri-
ρ
edade universal do quociente, a composição Z � A = Z/(12) → A(2) define
um morfismo de anéis
τ : Z/(4) ✲ A
(2)
a mod 12
a mod 4 �−→
1 mod 12
Agora é imediato ver que as composições
A(2) ✲
ψ
Z/(4) ✲ S −1 A
τ
� �−1 � �
a mod 12
s mod 12 � → (s mod 4)−1 · (a mod 4) �−→ 1s mod
− 12
mod 12 · a mod 12
1 mod 12
4 uma daquelas coisas que é melhor você fazer escondido na privacidade do seu lar,
e
Z/(4) ✲
τ
A(2)
ψ
✲ Z/(4)
a mod 12
a mod 4 �−→ 1 mod 12 �−→ (1 mod 4)−1 · (a mod 4)
são as identidades em A(2) e Z/(4), respectivamente.
Note que em particular que neste exemplo o mapa de localização ρ : A →
A(2) não é injetor, ao contrário do caso de domı́nios.
4.1.6 Exemplo Seja A um anel qualquer e h ∈ A. Vamos mostrar que
A[x] �1�
Ah = (daı́ intuitivamente = A )
(1 − hx) h
De fato, o morfismo natural A → A[x]/(1 − hx) leva h em uma unidade já
que x · h = 1 em A[x]/(1 − hx), logo pela propriedade universal da localização
temos um morfismo induzido φ : Ah → A[x]/(1−hx), dado explicitamente por
φ(a/hn ) = a·xn . É fácil construir o inverso deste morfismo: pela propriedade
universal do quociente, temos um morfismo de A-álgebras
A[x] ✲ Ah
ψ:
(1 − xh)
1
x �−→
h
e uma verificação imediata mostra que ψ◦φ = id e φ◦ψ = id, como querı́amos.
Terminamos esta seção com um lema, que trata de um caso “patológico”,
mas com aplicações úteis na prática.
Lema 4.1.7 Seja A um anel e seja S ⊆ A um conjunto multiplicativo. Então
S −1 A = 0 ⇐⇒ 0 ∈ S
Demonstração: Temos que S −1 A = 0 se, e só se, 0/1 = 1/1 em S −1 A,
ou seja, se e só se, existe s ∈ S tal que s · (1 · 0 − 1 · 1) = 0 em A, i.e., se, e
só se, s = 0 ∈ S.
estando tudo bem definido como é fácil (e tedioso) verificar. Um fato notável
é que este funtor é exato.
M
φ
✲ N ✲ P
ψ
S −1 φ S −1 ψ
S −1 M ✲ S −1 N ✲ S −1 P
n ψ(n) 0
∈ ker S −1 ψ ⇐⇒ = em S −1 P
s s 1
⇐⇒ ∃t ∈ S tal que t · ψ(n) = 0 em P
ker S −1 φ = S −1 ker φ
coker S −1 φ = S −1 coker φ
im S −1 φ = S −1 im φ
4.2. O FUNTOR LOCALIZAÇÃO 103
0 ✲ ker φ ✲ M φ
✲ N
2. O complexo de A-módulos
M
φ
✲ N ψ
✲ P
Mm ✲ Nm
φm ψm
✲ Pm
Demonstração:
2. O mapa de espectros
Demonstração:
Como p ∈ DS , rt ∈
/ p e portanto a ∈ p, o que prova a implicação ⇒.
a a� aa� (∗)
· � ∈ S −1 p ⇐⇒ ∈ S −1 p ⇐⇒ aa� ∈ p
s s ss�
⇐⇒ a ∈ p ou a� ∈ p
(∗) a a�
⇐⇒ ∈ S −1 p ou � ∈ S −1 p
s s
o que mostra que S −1 p é um ideal primo de S −1 A.
106 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
DS ✲ Spec S −1 A ✲ DS
p � →
− S −1 p � →
− Spec(ρ)(S −1 p)
Spec S −1 A ✲ DS ✲ Spec S −1 A
q � →
− ρ−1 q � →
− S −1 (ρ−1 q)
{q ∈ Spec A | q ⊆ p}
≈
✲ Spec Ap
q �−→ qAp
D(h) ✲ Spec Ah
≈
p �−→ ph = pAh
A ✲
✲ A/p �→ Frac A/p
ht p = dim Ap
p = p 0 � p1 � · · · � p n = q
1. Temos � �
(0) = p
p∈Spec A
Demonstração:
�
1. (⊆) Se a ∈ (0), temos an = 0 para algum n ∈ N e portanto, para
qualquer p ∈ Spec A temos an ∈ p =⇒ a ∈ p.
�
(⊇) Vamos mostrar que dado h ∈ / (0) existe p ∈ Spec A tal que p não
contém h, ou seja, que D(h) �= ∅. Pelo corolário 4.3.2 na página 106,
isto é equivalente a mostrar que Spec Ah �= ∅, ou seja, que Ah �= 0
(lema 3.1.2 na página 83). Mas pelo lema 4.1.7 na página 101, Ah =
0 ⇐⇒ h é nilpotente e o resultado segue.
√
Como h é nilpotente em A/a se, e só se, h ∈ a, o nilradical de A/a é
2. √
a/a. Pela identificação Spec A/a = V (a) (lema 3.1.2 na página 83),
o resultado segue do item (1) aplicado ao anel A/a e o teorema da
correspondência (teorema 1.4.4 na página 13).
anel nilradical
�
Z/(120) (0) = (2) ∩ (3) ∩ (5) = (30)
�
C[t]/(t2014
) (0) = (t)
�
C[x, y]/(x2 − y 2 ) (0) = (x − y) ∩ (x + y) = (0)
�
C[x, y]/(x10 y 13 ) (0) = (x) ∩ (y) = (xy)
Demonstração:
�
1. Segue diretamente do fato que
� a projeção
� A � A/ (0) induz um ho-
meomorfismo entre Spec A/ (0) e V ( (0)) = Spec A (corolário 3.3.4
na página 92).
√ � � √
2. Temos V (a) ⊆ V (b) =⇒ a = p∈V (a) p ⊇ p∈V (b) p = b ⊇ b e,
√ √
reciprocamente, a ⊇ b =⇒ V (a) = V ( a) ⊆ V (b).
3. Basta aplicar o item anterior com a = (g) e b = (h) e tomar comple-
mentares.
Demonstração:
1. Pelo corolário
� anterior, podemos supor sem perda de generalidade que
A = A/ (0) é reduzido e nesta situação devemos mostrar que Spec A
é irredutı́vel se, e só se, A é domı́nio.
Se A não é domı́nio, então Spec A é redutı́vel: se g, h ∈ A são
elementos não nulos tais que gh = 0, temos que Spec A = V ((g)) ∪
V ((g)) e esta decomposição �
é não trivial:
� se (por exemplo) V ((g)) =
Spec A = V ((0)) terı́amos (g) = (0) = (0) ⇐⇒ g = 0, um
absurdo.
Se A é domı́nio, então Spec A é�irredut √ ı́vel: se Spec A = V (a) ∪
V (b), então V ((0)) = V (ab) ⇐⇒ (0) = ab ⇐⇒ a = b = 0 já que
A não possui divisores de zero. Logo V (a) = V (b) = Spec A e portanto
Spec A é irredutı́vel.
110 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
¡ Assim, pelo teorema chinês dos restos (teorema 1.5.1 na página 17)
temos um isomorfismo
A A A A
= = ×
ab a∩b a b
Como a e b são próprios, os anéis A/a e A/b são não nulos e assim
A/ab é decomponı́vel. Pelo próximo lema, temos portanto que A é
decomponı́vel.
�
Lema 4.4.4 Seja A um anel e seja a um ideal tal que a ⊆ (0). Então
de modo que
� �
2n n n
e�1 + e�2 = e�1 + e�2 + e e = (e1 + e2 )2n = 1
n 1 2
112 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
• O anel dos inteiros p-ádicos Zp é local com ideal maximal (p) e corpo
residual Fp = Zp /(p) (proposição 2.4.1 na página 62).
• Seja k um corpo. Então k�t� é um anel local com ideal maximal (t)
e corpo residual k. Mais geralmente, temos que k�x1 , . . . , xn � é local,
com ideal maximal (x1 , . . . , xn ), que é o complementar de (ver pro-
posição 2.1.1 na página 32)
� � � �
�
k�x1 , . . . , xn �× = ai1 ,...,in xi11 . . . xinn � a0,...,0 �= 0
i1 ,...,in ∈N
def
κ(p) = Ap /pAp = S −1 A/S −1 p = S −1 (A/p) = Frac(A/p)
uma vez que que localização comuta com quocientes (corolário 4.2.2 na
página 102) e a imagem de S em A/p (visto como A-álgebra) consiste
justamente nos elementos não nulos de A/p.
1. Se aM = M então M = 0.
Demonstração:
M
M = Aω1 + · · · + Aωn ⇐⇒ = kω 1 + · · · + kω n
mM
Em particular, qualquer conjunto minimal de geradores de M possui exata-
mente dimk M/mM elementos.
φ : An ✲ M
(a1 , . . . , an ) �−→ a1 ω1 + · · · + an ωn
φ : kn ✲ M/mM
(a1 , . . . , an ) �−→ a1 ω1 + · · · + an ωn
mAm S −1 m � �
−1 m m
= = S = 2
(mAm )2 S −1 m2 m2 m
k[x, y]
A= � �
f (x, y)
∂f ∂f 1 ∂2f
f (x, y) = (a, b) · (x − a) + (a, b) · (y − b) + (a, b) · (x − a)2
∂x ∂y 2 ∂x2
∂2f 1 ∂2f
+ (a, b) · (x − a)(y − b) + (a, b) · (y − b)2 + · · ·
∂x∂y 2 ∂y 2
Temos dois casos:
∂f
O ponto (a, b) ∈ C é não singular: Se, digamos ∂x (a, b) �= 0, então a
imagem da igualdade acima em A fornece
� ∂f 1 ∂2f �
0 = (x − a) · (a, b) + (a, b) · (x − a) + · · · + múltiplo de (y − b)
� ∂x 2 ∂x2 �� �
unidade em Am
Mas para α, β ∈ k,
� �
α(x − a) + β(y − b) ∈ (x − a, y − b)2 = (x − a)2 , (x − a)(y − b), (y − b)2
se, e só se, α = β = 0 de modo que dimk mAm /(mAm )2 = 2 e {x − a, y − b}
é uma base minimal do ideal mAm neste caso.
que tem dimensão 2 sobre F3 : para mostrar que 3 e x são, módulo (3, x)2 ,
linearmente independentes sobre F3 , sejam α, β ∈ Z e f, g, h ∈ Z[x] tais que
4.7 Exercı́cios
4.1 Mostre que
(a) Zp [ p1 ] = Qp (p primo)
4.4 Considere o anel A = C[x, y](x,y) /(xy). Determine Spec A, seus abertos
e fechados e calcule explicitamente a localização Ax . Dê uma interpretação
geométrica.
C[x, y, x+1
1
]
e C[t, t21+1 ]
(x2 + y 2 − 1)
são isomorfos. Dê uma interpretação geométrica em termos da bijeção no
exercı́cio 2.13 na página 76.
118 CAPÍTULO 4. LOCALIZAÇÃO
4.6 Mostre que o anel A = C[x, y, z]/(xz, yz) possui duas cadeias de ideais
primos saturadas (ou seja, não é possı́vel interpolar primos nestas cadeias) de
comprimentos diferentes. Em particular, mostre que existe p ∈ Spec A tal que
dim A > ht p + dim A/p. Explique geometricamente o que está acontecendo.
4.10 Seja (A, m, k) um anel local e sejam f (x), g(x) ∈ A[x] polinômios môni-
cos. Denote por f (x), g(x) ∈ k[x] as imagens de f (x) e g(x) em A[x]/mA[x] =
k[x], respectivamente. Mostre que se (f (x), g(x)) = (1), então
A[x] ∼ A[x] × A[x]
=
(f (x)g(x)) (f (x)) (g(x))
4.11 Seja A o anel de todas as funções contı́nuas f : [0, 1] → R. Mostre que
existe um primo p ∈ Spec A que não é da forma
IP = {f ∈ A | f (P ) = 0}
Produto Tensorial
119
120 CAPÍTULO 5. PRODUTO TENSORIAL
HomA (M ⊗A N, T )
≈
✲ BilA (M × N, T )
f �−→ f ◦ ⊗
M ⊗N
⊗: M × N ✲ M ⊗A N
(m, n) �−→ m ⊗ n
5.1. CONSTRUÇÃO E PROPRIEDADES BÁSICAS 121
f : M ⊗A N ✲ T
� �
ai mi ⊗ ni �−→ ai φ(mi , ni )
i i
(i) (associatividade)
(M ⊗A N ) ⊗A P
≈
✲ M ⊗A (N ⊗A P )
(m ⊗ n) ⊗ p �−→ m ⊗ (n ⊗ p)
A ⊗A M ✲ M
≈
a ⊗ m �−→ am
(iii) (comutatividade)
M ⊗A N
≈
✲ N ⊗A M
m ⊗ n �−→ n ⊗ m
122 CAPÍTULO 5. PRODUTO TENSORIAL
M ⊗A (A/a) ✲ M/aM
≈
m ⊗ a �−→ am
(S −1 A) ⊗A M
≈
✲ S −1 M
a am
⊗ m �−→
s s
HomA (M ⊗A N, P )
≈
✲ HomA (M, HomA (N, P ))
� �
f �−→ n �→ f (m ⊗ n)
i∈I i∈I
[mi ] ⊗ n �−→ [mi ⊗ n]
φ : M × (A/a) ✲ M/aM
(m, a) �−→ am
f : M ⊗A (A/a) ✲ M/aM
m ⊗ a �−→ am
5.1. CONSTRUÇÃO E PROPRIEDADES BÁSICAS 123
γ: M ✲ M ⊗A (A/a)
m �−→ m ⊗ 1
g : M/aM ✲ M ⊗A (A/a)
m �−→ m ⊗ 1
f ◦ g(m) = f (m ⊗ 1̄) = m
g ◦ f (m ⊗ a) = g(am) = am ⊗ 1̄ = m ⊗ a
Z Z Z/(m) Z/(m) Z Z
⊗Z = =� � = =
(m) (n) (n) · (Z/(m)) (m) + (n) /(m) (m, n) (d)
124 CAPÍTULO 5. PRODUTO TENSORIAL
f × g: M × N ✲ M � ⊗A N �
(m, n) �−→ f (m) ⊗ g(n)
f ⊗ g : M ⊗A N ✲ M � ⊗A N �
m ⊗ n �→ f (m) ⊗ g(n)
M
f
✲ N g
✲ P ✲ 0
M ⊗T ✲ N ⊗T
f ⊗id g⊗id
✲ P ⊗T ✲ 0
φ: P × T ✲ (N ⊗ T )/ im(f ⊗ id)
p ⊗ t �−→ n ⊗ t (p ∈ P, t ∈ T )
5.2. O FUNTOR MUDANÇA DE BASE 125
n� − n = f (m) =⇒ n� ⊗ t = n ⊗ t + (f ⊗ id)(m ⊗ t) =⇒ n� ⊗ t = n ⊗ t
0 ✲ Z 2
✲ Z ✲ Z/(2) ✲ 0
em que Z
2
✲ Z denota a multiplicação por 2. Tensorizando por Z/(2)
e utilizando os isomorfismos canônicos, obtemos um diagrama comutativo
cujas flechas verticais são isomorfismos:
2⊗id
0 Z ⊗Z Z/(2) Z ⊗Z Z/(2) Z/(2) ⊗Z Z/(2) 0
≈ a⊗b�→ab ≈ a⊗b�→ab ≈ a⊗b�→ab
0 id
0 Z/(2) Z/(2) Z/(2) 0
Como a linha de baixo não é exata à esquerda, o mesmo ocorre com a linha
de cima.
M ⊗A B ✲ M ⊗A B
id⊗b0
m ⊗ b �−→ m ⊗ b0 b
(M ⊗A B) ⊗B (N ⊗A B) ✲ (M ⊗A N ) ⊗A B
≈
(m ⊗ b) ⊗ (n ⊗ b ) �−→ (m ⊗ n) ⊗ bb�
�
(M ⊗A B) ⊗B P ✲ M ⊗A P
≈
(m ⊗ b) ⊗ p �−→ m ⊗ bp
(M ⊗A B) ⊗B C ✲ M ⊗A C
≈
(m ⊗ b) ⊗ c �−→ m ⊗ (bc)
MC = (MB )C C
MB B
M A
5.3. PRODUTO TENSORIAL DE ÁLGEBRAS 127
N ✲ M
φ
✲ coker φ ✲ 0
(φ, ψ) �−→ f
em que f é definido por f (b ⊗ c) = φ(b) · ψ(c). A inversa desta bijeção é
HomA-alg (B ⊗A C, D)
≈
✲ HomA-alg (B, D) × HomA-alg (C, D)
f �−→ (f ◦ p, f ◦ q)
Em outras palavras, dados morfismos de A-álgebras φ : B → D e ψ : C →
D, existe um único morfismo de A-álgebras f : B ⊗A C → D fazendo o
seguinte diagrama comutar:
B ⊗A C
p q
∃!f
φ ψ
B D C
A A � = A ⊗ A A�
A[x] ⊗A B ✲ B[x]
≈
A[x] ≈
✲ �B[x]�
φ: � � ⊗A B
f (x) f (x)
p(x) ⊗ b �−→ b · p(x)
A[x] ✲ A[x]
f (x)
✲ � A[x] � ✲ 0
f (x)
f (x)⊗id A[x]
A[x] ⊗A B A[x] ⊗A B (f (x)) ⊗A B 0
≈ ≈ φ
f (x) B[x]
B[x] B[x] (f (x)) 0
5.3.4 Exemplo Seja L ⊇ K uma extensão Galois finita com grupo de Galois
G = Gal(L/K). Então temos um isomorfismo de L-álgebras
L ⊗K L
≈
✲ Maps(G, L)
a ⊗ b �−→ (a · σ(b))σ∈G
Como p(x) é separável, pelo exemplo anterior e pelo teorema Chinês dos
restos (teorema 1.5.1 na página 17) temos um isomorfismo
5.4 Fibras
Dada uma função f : X → Y qualquer, a fibra f −1 (y) de um ponto y ∈ Y é
somente um nome pomposo para denotar a pré-imagem de y. A origem deste
nome fabril pode ser visualizada por exemplo no caso em que f : R2 → R
5.4. FIBRAS 131
A A�
Spec B ⊗A A� Spec B
Spec φ
Spec A� Spec A
� �
o mapa horizontal de cima é injetor com imagem f −1 V (a) . Assim,
temos uma identificação natural
� �
f −1 V (a) = Spec B ⊗A A/a
Spec B ⊗A S −1 A Spec B
f =Spec φ
Spec S −1 A Spec A
132 CAPÍTULO 5. PRODUTO TENSORIAL
B → B ⊗A A/a B → B ⊗A S −1 A
b �→ b ⊗ 1 b �→ b ⊗ 1
B → B/φ(a)B B → φ(S)−1 B
b �→ b b �→ b/1
A Ap κ(p)
novamente pelo teorema B.3.4 na página 351. Por outro lado, como
D[x] �→ K[x] é injetor, a imagem de (0) ∈ Spec K[x] é (0) ∈� Spec�D[x].
Assim, a fibra de p consiste nos primos da froma (0) e f (x) com
f (x) ∈ D[x] \ D irredutı́vel.
(ii) Fibra
� de� p = (π). Neste caso, κ(p) = D/(π). Portanto D[x] ⊗D κ(p) =
D/(π) [x] e o mapa
� D[x] � → D[x] ⊗D κ(p) pode ser identificado com a
projeção D[x] � D/(π) [x]. Assim, como
� � � � � �
Spec D/(π) [x] = {(0)} ∪ { f (x) | f (x) ∈ D/(π) [x] é irredutı́vel }
� �
a fibra de p consiste
� nos
� primos da forma (π) e π, f (x) com f (x)
irredutı́vel em D/(π) [x].
Note que com isso temos dim D[x] = 2, sendo� uma �cadeia de comprimento 2
dada por (0) � (π) � (π, f (x)) com f (x) ∈ D/(π) [x] irredutı́vel.
Ou seja, há 3 tipos de primos, que estão em bijeção com as variedades de A2C
(c.f. proposição 2.3.18 na página 53):
(i) (x − a, y − b), que corresponde ao ponto (a, b) ∈ A2C ;
(ii) (f ) com f irredutı́vel, que corresponde à curva Z(f ) (já que o fecho de
(f ) em Spec C[x, y] consiste em (f ) e nos ideais maximais (x − a, y − b)
com f (a, b) = 0);
(iii) (0), que correspondende a todo A2C (já que (0) é um primo denso em
Spec C[x, y]).
Da mesma forma, temos
� �
Spec Z[x] = {(0)} ∪ { f (x) | f (x) ∈ Z[x] é irredutı́vel }
�� � �� p ∈ Z é um número primo e�
∪ f (x), p �
f (x) é irredutı́vel em Fp [x]
e por analogia podemos pensar em Spec Z[x] como um “plano aritmético”,
com “pontos fechados” da forma (p, f (x)), “curvas” correspondendo aos fe-
chos dos primos da forma (p) e (f ), e todo o “plano”, que é o fecho de (0).
Por exemplo, representando Spec Z como uma reta horizontal e conside-
rando a projeção Spec Z[x] → Spec Z dada pela inclusão Z �→ Z[x] (que foi o
mapa utilizado na prova da proposição), temos que a “curva” correspondente
ao primo (x2 + 5) ∈ Spec Z[x] intercepta a “reta vertical” dada por um primo
(p) em 1 ou 2 pontos, dependendo se x2 + 5 ∈ Fp [x] é irredutı́vel ou não: esta
é justamente a figura do exemplo 3.2.2 na página 87! Legal, não?
5.4. FIBRAS 135
φ : C[x, y] ⊂ ✲ C[x, y, z]
(y − xz)
f (x, y) �−→ f (x, y)
que é o pullback associado ao morfismo de conjuntos algébricos
Z(y − xz) ⊆ A3C ✲
✲ A2C
(a, b, c) �−→ (a, b)
(projeção da superfı́cie de equação y = xz no plano A2C ). Note que a superfı́cie
Z(y − xz), o chamado blow-up ou explosão do plano na origem2 , é a união
de retas da forma
def
Lm = {(λ, λm, m) ∈ A3C | λ ∈ C}
uma para cada “altura” m, cuja projeção no plano A2C é uma reta de coefici-
ente angular m, como mostra a figura a seguir:
Observe ainda na figura que cada ponto (a, b) ∈ A2C do plano com a �= 0 tem
uma única pré-imagem (a, b, b/a) na superfı́cie, à exceção da origem, cuja
pré-imagem é uma reta (o chamado “divisor excepcional”).
Vamos calcular a fibra de um ideal maximal da forma m = (x − a, y − b) ∈
Spec C[x, y]. Na verdade, tendo em vista que o mapa de espectros Spec φ
coincide com o mapa de conjuntos algébricos quanto restrito a ideais maxi-
mais via a identificação do Nullstellensatz (proposição 3.3.9 na página 94), é
fácil encontrar a resposta geometricamente; o que estamos fazendo é apenas
uma checagem para ver se tudo está funcionando como deveria.
Devemos calcular o morfismo de espectros associado ao mapa natural
C[x, y, z] C[x, y, z]
→ ⊗C[x,y] κ(m)
(y − xz) (y − xz)
2 ou quase; na verdade, é apenas uma carta afim do “verdadeiro” blow-up, que é o
conjunto {(x, y; z : w) ∈ A2C × P1C | yw = xz}. Assim, o blow-up é a superfı́cie obtida
a partir do plano trocando-se a origem por uma reta projetiva (o “verdadeiro” divisor
excepcional), representando as possı́veis direções no plano pela origem.
5.5. MÓDULOS E ÁLGEBRAS PLANAS 137
�
Assim, se f é injetor, f também é injetor, mostrando que M é A-plano.
f
N/aN M/aM
0 ✲ A ✲ A×A
ϕ
✲ A
ψ
✲ A/(x, y) ✲ 0
em que
ϕ: A → A × A ψ: A × A → A
1 �→ (y, −x) (f, g) �→ xf + yg
0 ✲ B ✲ B×B
ϕB ψB
✲ B ✲ B/(x, y) ✲ 0
C
plana ψ
B ψ◦φ plana
plana φ
M é A-plano =⇒ M ⊗A B é B-plano
3. (Natureza local)
Em particular, B é uma A-álgebra plana se, e só se, Bn é Aφ−1 (n) -plano
para todo ideal maximal n de B.
Demonstração:
Nm ⊗Am Mm = (N ⊗A Am ) ⊗Am (M ⊗A Am ) = (N ⊗A M ) ⊗A Am
= (N ⊗A M )m ,
e o resultado segue já que localização por φ−1 (n) e − ⊗Aφ−1 (n) Nn são
funtores exatos.
Agora vamos definir álgebras e módulos com relação aos quais a mudança
de base é “reversı́vel”.
5.5.8 Definição Um A-módulo M é fielmente plano se o funtor − ⊗A M
é exato e fiel, ou seja, se M é plano sobre A (exatidão) e o mapa natural
HomA (P, Q) �→ HomA (P ⊗A M, Q ⊗A M )
φ �→ φ ⊗ id
é injetor para quaisquer A-módulos P e Q (fidelidade). Uma A-álgebra B é
fielmente plana sobre A se ela é fielmente plana como A-módulo.
5.5.9 Exemplo (c.f. exemplo 5.5.3 na página 137) Qualquer A-álgebra livre
B é fielmente plana sobre A. Em particular, qualquer álgebra sobre um corpo
é fielmente plana.
Lema 5.5.10 São equivalentes:
(a) M é fielmente plano sobre A;
(b) M é A-plano e satisfaz a seguinte “propriedade de cancelamento”: para
qualquer A-módulo T ,
T ⊗A M = 0 =⇒ T = 0
N ✲ P
f
✲ Q
g
(∗)
e sua tensorização por M
N ⊗A M ✲ P ⊗A M
f ⊗id
✲ Q ⊗A M
g⊗id
(∗) ⊗A M
temos que
(∗) é exata ⇐⇒ (∗) ⊗A M é exata
5.5. MÓDULOS E ÁLGEBRAS PLANAS 141
(g ◦ f ) ⊗ id = (g ⊗ id) ◦ (f ⊗ id) = 0
temos
� � � � (b)
im(g ◦ f ) ⊗ M = im (g ◦ f ) ⊗ id = 0 =⇒ im(g ◦ f ) = 0
M é A-plano ⇐⇒ M ⊗A B é B-plano
N � → N → N �� (∗)
(N � ⊗A M ) ⊗A B → (N ⊗A M ) ⊗A B → (N ⊗A M ) ⊗A B
5.6 Exercı́cios
5.1 Seja (A, m, k) um anel local e sejam M , N dois A-módulos finitamente
gerados. Mostre que
M ⊗A N = 0 ⇐⇒ M = 0 ou N = 0
(b) Calcule as fibras dos ideais primos (x(x − 1), x2 (x − 1), y) e (x(x − 1)y −
x2 (x − 1)) de Spec C[x(x − 1), x2 (x − 1), y] por Spec ι. Interprete geome-
tricamente.
Capı́tulo 6
Anéis e Módulos
Noetherianos
145
146 CAPÍTULO 6. ANÉIS E MÓDULOS NOETHERIANOS
6.1.3 Exemplo Corpos e DIPs (tais como Z, Z[i], C[x], Q�x� ou Zp ) são
noetherianos pois todos seus ideais são finitamente gerados (por um único
elemento).
6.1.4 Exemplo O exemplo clássico3 de anel não noetheriano é o anel de
polinômios nas variáveis x1 , x2 , . . .:
�
k[x1 , x2 , . . .] = inj lim k[x1 , . . . , xn ] = k[x1 , . . . , xn ]
n∈N
n∈N
Demonstração:
1. Sem perda de generalidade, podemos supor que M � é submódulo de M
e que M �� = M/M � .
M1 ⊆ M2 ⊆ M3 ⊆ · · ·
M1 ∩ M � ⊆ M2 ∩ M � ⊆ M3 ∩ M � ⊆ · · · ⊆ M � e
� � �
M1 + M M2 + M M3 + M M
⊆ ⊆ ⊆ · · · ⊆ � = M ��
M� M� M� M
estabilizam para i � 0. Assim, basta provar que
�
Mi ∩ M � = Mi+1 ∩ M �
=⇒ Mi = Mi+1
Mi + M � = Mi+1 + M �
m� = mi+1 − mi ∈ Mi+1 ∩ M � = Mi ∩ M � =⇒ m� ∈ Mi
0 ✲ An−1 ✲ An ✲ A ✲ 0
An � M
(a1 , . . . , an ) �→ a1 ω1 + · · · + an ωn
Demonstração:
A[x1 , . . . , xn ] � B
xi �→ ωi
Am ✲ An ✲ M ✲ 0
152 CAPÍTULO 6. ANÉIS E MÓDULOS NOETHERIANOS
φ : An � M
(a1 , . . . , an ) �→ a1 ω1 + · · · + an ωn
ψ : Am � ker φ ⊆ An
(a1 , . . . , am ) �→ a1 τ1 + · · · + an τm
Am
ψ
✲ An φ
✲ M ✲ 0
φ: A = B � C ∼
= A[y1 , . . . , ym ]/a
A[y1 , . . . , ym ] y i �→ai A
C∼
= ∼
= �
a f1 (a1 , . . . , am ), . . . , fn (a1 , . . . , am ))
�
o que mostra que ker φ = f1 (a1 , . . . , am ), . . . , fn (a1 , . . . , am )) é finitamente
gerado.
Resultados que são válidos para módulos livres de posto finito em geral
podem ser estendidos para módulos de presentação finita via a importante
técnica de “devissagé” (desmantelamento). Com exemplo, provaremos o
Teorema 6.3.3 (Devissagé) Seja B uma A-álgebra plana e seja M um A-
módulo de presentação finita. Seja N um A-módulo qualquer. Denote por
µb : B → B a multiplicação por um elemento b ∈ B fixado. Então o mapa
canônico
é um isomorfismo de B-módulos.
154 CAPÍTULO 6. ANÉIS E MÓDULOS NOETHERIANOS
Am ✲ An ✲ M ✲ 0
≈ ≈
6.4 Exercı́cios
�
6.1 Seja A um anel noetheriano e seja a = (0) seu nilradical. Mostre que
o ideal a é nilpotente: existe n ≥ 1 tal que an = (0).
�
6.2 Seja f = n≥0 an tn ∈ A�t�. Mostre:
(a) Se f é nilpotente em A�t� então cada um de seus coeficientes an é nilpo-
tente em A.
(b) Suponha adicionalmente que A seja noetheriano. Mostre que se os coe-
ficientes de f são nilpotentes em A, então f é nilpotente em A�t�.
6.3 Seja A um anel noetheriano e φ : A � A um morfismo sobrejetor. Mos-
tre que φ é um isomorfismo.
6.4 Prove que se todos os elementos de Spec A são finitamente gerados então
o anel A é noetheriano.
6.5 Prove: um domı́nio noetheriano A é um DIP se, e só se, todos os seus
ideais primos são principais.
6.6 (Chomp, o jogo) Há um chocolate em cada ponto (m, n) de Z2≥0 , com
exceção do ponto (0, 0), no qual há um morango envenenado. Dois jogadores
se alternam: cada movimento deste jogo consiste em escolher um chocolate
em um ponto (m, n) e papar todos os chocolates acima e à direita de (m, n),
ou seja, todos os chocolates nos pontos (x, y) com x ≥ m e y ≥ n (sim,
cada jogador é um tremendo glutão capaz fagocitar infinitos chocolates em
um só movimento!) O jogo acaba quando um deles morre (os jogadores são
highlanders, somente o morango envenenado é capaz de lhes subtrair a vida).
Mostre que o jogo acaba após um número finito de movimentos.
Dica: Utilize o teorema da base de Hilbert.
6.7 Prove ou dê um contra-exemplo:
(a) Subanéis de anéis noetherianos são noetherianos.
(b) Se Ap é noetheriano para todo p ∈ Spec A então A é noetheriano.
6.8 Considere o anel das funções holomorfas em C
A = {f : C → C | f é holomorfa }
e os elementos
sen(πz)
fn (z) = ∈A
z(z − 1)(z − 2) . . . (z − n)
para n ≥ 0. Mostre que temos uma cadeia estrita ascendente de ideais em A
� � � � � � � �
f0 (z) � f1 (z) � f2 (z) � f3 (z) � · · ·
Portanto A não é noetheriano.
156 CAPÍTULO 6. ANÉIS E MÓDULOS NOETHERIANOS
Anéis e Módulos
Artinianos
(i) toda cadeia descendente de submódulos estabiliza, isto é, dada uma
cadeia de submódulos de M
N 0 ⊇ N1 ⊇ N2 ⊇ N3 ⊇ · · ·
Um anel é dito artiniano se, visto como módulo sobre si mesmo, é artiniano.
1 não, não é onairehteon! E muito menos noetheriano. . . O nome artiniano é uma
homenagem ao matemático austrı́aco Emil Artin.
157
158 CAPÍTULO 7. ANÉIS E MÓDULOS ARTINIANOS
1. Seja
0 ✲ M� ✲ M ✲ M �� ✲ 0
Note que na tabela acima todo anel artiniano é também noetheriano. Isto é
um fato geral que será demonstrado mais tarde (teorema 7.3.3 na página 166).
M = Mn � Mn−1 � Mn−2 � · · · � M1 � M0 = 0
V = Vn � Vn−1 � Vn−2 � · · · V1 � V0 = 0
0 ✲ M� ✲ M ✲ M �� ✲ 0
Neste caso,
lenA M = lenA M � + lenA M ��
Demonstração:
0 � M1 � M2 � · · ·
M = Mn � Mn−1 � Mn−2 � · · · � M1 � M0 = 0
0 ✲ M1 ✲ M ✲ M/M1 ✲ 0
M = Md � Md−1 � Md−2 � · · · � M1 � M0 = 0
M = Me� � Me−1
� �
� Me−2 � · · · � M1� � M0� = 0
Mr� ⊇ Mr−1
� �
+ M1 � Mr−1
e Mr� /Mr−1
�
é simples, logo não há submódulos de M estritamente entre
Mr−1 e Mr� . Por outro lado, temos que os quocientes entre termos
�
M � = Md� � Md−1
� �
� Md−2 � · · · � M1� � M0� = 0
162 CAPÍTULO 7. ANÉIS E MÓDULOS ARTINIANOS
e
M �� = Me�� � Me−1
�� ��
� Me−2 � · · · � M1�� � M0�� = 0
de M � e M �� , basta combiná-las em uma série de composição de M de
tamanho d + e: se M ��� ⊇ M � denota o submódulo de M correspondente
i
ao submódulo Mi de M �� = M/M � , então
��
M =M �e−1
�e�� � M �� �0�� = M � = Md� � Md−1
� ··· � M �
� · · · � M0� = 0
��� /M
é uma série de composição de M pois M ��� = M �� /M �� .
i+1 i i+1 i
lenA M = lenA/a M
2. (Localização) �
lenA M = lenAm Mm
m∈Specm A
lenA N = [l : k] · lenB N
Demonstração:
1. Como aM = 0, M e seus submódulos são naturalmente (A/a)-módulos.
Assim, uma série de composição de M visto como A-módulo é o mesmo
que uma série de composição de M visto como (A/a)-módulo, logo
lenA M = lenA/a M .
2. Considere uma série de composição de M sobre A
M = Mn � Mn−1 � Mn−2 � · · · � M1 � M0 = 0
uma vez que omitirmos os fatores repetidos, isto é, aqueles para os quais
(Mi+1 )p = (Mi )p ⇐⇒ (Mi+1 /Mi )p = 0 ⇐⇒ mi �= p, o que prova a
afirmação acima.
3. Como ambos os lados da equação são aditivos em sequências exatas
curtas, basta provar a equação no caso em que N é um B-módulo
simples, i.e., lenB N = 1. Mas neste caso, N ∼
= B/n = l. Como B é
uma A-álgebra local, temos que a imagem de m está contida em n, logo
mN = 0 e pelo item (1) segue que lenA N = dimk l = [l : k].
{xe11 . . . xedd | e1 + · · · + ed = n − 1}
C[x, y]
lenC[x,y] = mn
(xn , y m )
✲ C[x, y] C[x, y]
n−1 m
0 ✲ (x ,y ) ✲ ✲ 0
(xn , y m ) (xn , y m ) (xn−1 , y m )
Q[x] Q[x]
lenQ[x] = 1 �= 2 = dimQ 2
(x2 + 1) (x + 1)
é nilpotente.
3. Todo ideal primo de A é maximal. Assim, dim A = 0 e Spec A é finito
e discreto na topologia de Zariski.
Demonstração:
1. Suponha por absurdo que haja infinitos ideais maximais m1 , m2 , . . ..
Neste caso, terı́amos uma cadeia estritamente descendente de ideais
m1 � m1 m2 � m1 m2 m3 � · · ·
S = {a ⊆ A | a é ideal e a · jm �= (0)}
A
≈
✲ Am1 × · · · × Amn
A ✲ Am1 × · · · × Amn
Demonstração: Já sabemos que lenA A < ∞ se, e só se, A é artiniano
e noetheriano (teorema 7.2.4 na página 159) e é claro que dim A = 0 ⇐⇒
Spec A = Specm A ⇐⇒ Spec A é discreto, condições estas que são satisfeitas
se A é artiniano pelo teorema 7.3.1 na página 165. Assim, falta mostrar que
Se A é artiniano então lenA A < ∞: como (lema 7.2.5 na página 162)
�
lenA A = lenAm Am
m∈Spec A
De fato, note primeiro que se p ∈ Spec C[x, y] é tal que p ⊇ (x2 + y 2 − 1, xy)
então
7.4 Exercı́cios
7.1 Seja A um anel artiniano e φ : A → A um morfismo de anéis. Mostre
que se φ é injetor então φ é um isomorfismo.
7.2 Seja
0 ✲ Mr ✲ Mr−1 ✲ ··· ✲ M0 ✲ 0
A
(x3 + x2 y 2 + y 100 , y 3 − x999 )
Passacaglia
169
Capı́tulo 8
Extensões Finitas e
Integrais
8.1.3 Exemplo Uma extensão integral de corpos é o mesmo que uma ex-
tensão algébrica e uma extensão de corpos L ⊇ K é finita se, e só se,
[L : K] = dimK L < ∞. Desta forma, as definições acima generalizam
para anéis os conceitos familiares de elemento algébrico e extensões finitas e
algébricas de corpos.
171
172 CAPÍTULO 8. EXTENSÕES FINITAS E INTEGRAIS
C
finito ψ
B ∴ ψ◦φ finito
finito φ
b�→b⊗1
B B ⊗ A A�
finito φ ∴ φ� finito
A A�
A[b] = A + Ab + · · · + Abn−1
b · ω1 = a11 ω1 + · · · + a1n ωn
..
.
b · ωn = an1 ω1 + · · · + ann ωn
Note em particular que o critério acima mostra que toda extensão integral
é um limite direto de extensões finitas, exatamente como no caso de corpos.
O corolário seguinte generaliza o fato de que toda extensão finita de corpos
é algébrica e que “algébrico sobre algébrico é algébrico” (teorema C.1.4 na
página 356).
174 CAPÍTULO 8. EXTENSÕES FINITAS E INTEGRAIS
C
integral
B ∴ integral
integral
Demonstração:
1. O fato de toda extensão finita ser integral é consequência imediata do
teorema 8.1.5 na página anterior. Reciprocamente, se B ⊇ A é integral
e B é finitamente gerado como A-álgebra, digamos B = A[ω1 , . . . , ωn ],
então cada gerador ωi é integral sobre A, logo pelo teorema 8.1.5 na
página precedente, A[ω1 ] ⊇ A é uma extensão finita. Como ω2 é integral
sobre A, também é integral sobre A[ω1 ], de modo que A[ω1 , ω2 ] ⊇ A[ω1 ]
é uma extensão finita e, por transitividade (lema 8.1.4 na página 172),
A[ω1 , ω2 ] ⊇ A também é uma extensão finita. Procedendo desta forma,
concluı́mos que B = A[ω1 , . . . , ωn ] é uma extensão finita de A.
2. Dado c ∈ C, devemos mostrar que c é integral sobre A. Por hipótese, c
satisfaz uma relação integral sobre B
cn + bn−1 cn−1 + · · · + b0 = 0 (bi ∈ B)
Por outro lado, cada bi é integral sobre A. Assim, como na demons-
tração do item anterior, concluı́mos que
A[b0 , b1 , . . . , bn−1 ] ⊇ A
é uma extensão finita. Mas agora c é integral sobre A[b0 , b1 , . . . , bn−1 ]
e como acima temos que
A[b0 , b1 , . . . , bn−1 , c] ⊇ A
é uma extensão finita. Assim, novamente pelo teorema 8.1.5 na página
precedente, concluı́mos que c é integral sobre A, como desejado.
1 em
� � �
sı́mbolos: / =
8.2. FIBRAS DE EXTENSÕES FINITAS E INTEGRAIS 175
P Spec B
p=P∩A Spec A
A é corpo ⇐⇒ B é corpo
176 CAPÍTULO 8. EXTENSÕES FINITAS E INTEGRAIS
p é maximal ⇐⇒ P é maximal
Demonstração:
como querı́amos.
Corolário 8.2.4 Seja (A, m, k) um anel local e seja B uma A-álgebra finita.
Então B é semi-local e Specm B é precisamente a fibra do maximal m ∈
Spec A.
P � ∃P� � B
| | |
p � p� � A
dim A = dim B
p 0 � p1 � · · · � p n � A (∗)
P0 � P1 � · · · � Pn � B (∗∗)
à = {b ∈ B | b é integral sobre A}
Demonstração:
1. Como à é integral sobre A, temos que S −1 à é integral sobre S −1 A
(lema 8.2.1 na página 175). Reciprocamente, seja b/s ∈ S −1 B (b ∈ B,
s ∈ S) um elemento integral sobre S −1 A e seja
� b �n a � �n−1 a1 � b � a0
n−1 b
+ + ··· + + =0 (ai ∈ A, s ∈ S)
s s s s s s
uma relação de integralidade; note que podemos representar os coefici-
entes desta relação e o elemento b/s por meio de um único um denomi-
nador comum s. Existe portanto t ∈ S tal que
Demonstração:
1. Se o polinômio minimal (que é mônico por definição) de β ∈ L pertence
a A[x] então claramente β ∈ B. Reciprocamente, dado β ∈ B, seus
conjugados (i.e. as raı́zes de f (x) no fecho algébrico de K) são todos
integrais sobre A. De fato, se f (β) = f (γ) = 0, considere o isomorfismo
de K-álgebras σ que leva β em γ, dado pela composição
σ : K[β] ✲ �K[x]�
β�→x
✲ K[γ]
x�→γ
≈ f (x) ≈
Note que como βωi e ωi ωj são todos integrais sobre o anel normal
A, D = det(TrL/k (ωi ωj )), o discriminante4 da base ωi , pertence a A.
Como L ⊇ K é separável, temos que D �= 0. Pela regra de Cramer
temos que ai ∈ A · D−1 , o que mostra que β ∈ A · ωD1 + · · · + A · ωDn ,
como desejado.
Finalmente, se A é um DIP, então o resultado segue do teorema de
estrutura de módulos finitamente gerados sobre um DIP (teorema B.4.1
na página 353), já que B, sendo um domı́nio, é livre de torção como
A-módulo. O posto deste módulo é igual a dimK B ⊗A K. Note que
B ⊗A K é a localização de B com relação ao conjunto multiplicativo
S = A \ {0}, logo L ⊇ B ⊗A K ⊇ B e a extensão B ⊗A K ⊇ K é finita;
pelo “lema do elevador” (lema 8.2.2 na página 175) B ⊗A K é um corpo,
que só pode ser igual a L. Assim o posto de B é dimK L = [L : K].
É fácil ver que em ambos os casos ω é integral sobre Z e assim pelo lema 8.3.1
na página 178 √ o anel Z[ω]
√ está contido no fecho integral. Reciprocamente,
seja β = x + y d ∈ Q( d) (x, y ∈ Q) um elemento integral sobre Z. Pelo
teorema anterior,
�
Tr(β) = 2x ∈ Z e
=⇒ d · (2y)2 = (Tr(β))2 − 4N (β) ∈ Z
N (β) = x − dy ∈ Z
2 2
f (x) = αn xn + · · · + α0 (αi ∈ K)
8.4 Exercı́cios
8.1 Dizemos que uma extensão de anéis B ⊃ A satisfaz o going-up (respec-
tivamente going-down) se as conclusões dos respectivos teoremas valem para
todo par de ideais primos p � p� em A. Para cada extensão B ⊂ A, decidir
se o going-up/going-down é satisfeito. Dê interpretações geométricas.
(a) A = Z, B = Z[ 17 ].
(b) A = C[x, y], B = C[x, y, z]/(z 2 − x).
Normalização de Noether
e Nullstellensatz
185
186 CAPÍTULO 9. NORMALIZAÇÃO E NULLSTELLENSATZ
A
finito
k[x1 , . . . , xr ]
puramente transcendente
xy = 1 z 2 − w2 = 1
B L
Galois (em particular separável)
C M = LAut(L/K)
puramente inseparável
A K
Se char K = 0 não há mais nada a fazer, assim suponha p = char K > 0
e escreva L = K(β1 , . . . , βn ); seja q uma potência de p suficientemente
grande para a qual βiq ∈ K = k(x1 , . . . , xr ) para todo i = 1, . . . , n. Sejam
c1 , . . . , cm ∈ K todos os coeficientes das funções racionais βiq (i = 1, . . . , n).
1/q 1/q 1/q 1/q
Estendendo L, podemos supor que L = k(c1 , . . . , cm )(x1 , . . . , xr ) e
1/q 1/q 1/q 1/q
agora B = k(c1 , . . . , cm )[x1 , . . . , xr ]: este último anel é isomorfo a
1/q 1/q
um anel de polinômios sobre o corpo k(c1 , . . . , cm ), logo é normal (teo-
rema 8.3.4 na página 178), além de ser claramente finito sobre A. Mas agora
B é um módulo livre de posto finito sobre A.
Demonstração:
1. Já vimos (teorema 8.3.8 na página 180) que o polinômio minimal f (x) =
xn + an−1 xn−1 + · · · + a0 de b sobre K pertence a A[x] e que NL/K (b)
é, a menos de sinal, uma potência de a0 , logo NL/K (b) ∈ A. E de
9.3 Nullstellensatz
A versão geral do Nullstellensatz, válida sobre qualquer corpo (não necessa-
riamente algebricamente fechado) é dada pelo seguinte
2. Z(a) = ∅ ⇐⇒ a = (1)
√
3. I(Z(a)) = a
(ii) A é artiniano;
(iii) dim A = 0;
temos que para mostrar que dimk A < ∞ basta mostrar que dimk mn−1 /mn <
∞, o que é fácil: primeiro, dim� mn−1 /mn < ∞ pois os ideais mn−1 são
finitamente gerados; além disso, � = A/m é finito sobre k pelo Nullstellensatz
(teorema 9.3.1 na página 191), assim mn−1 /mn têm dimensão finita sobre k
também, como desejado.
9.4 NullstellensatZ
O Nullstellensatz possui uma variante para domı́nios finitamente gerados
sobre Z:
Note que X(�) é finito, que b ∈ X(�) e que f se restringe a uma injeção
f : X(�) �→ X(�). Mas isto é um absurdo, pois neste caso f : X(�) �→ X(�) é
também uma bijeção e b não pertence à imagem de f por hipótese.
Para reduzir o caso geral ao caso particular acima, vejamos que “f ser
injetor” e “f ser sobrejetor” podem ser “codificados” por relações polinomiais:
Lema 9.4.4 Na notação do enunciado do teorema de Ax-Grothendieck,
1. se b = (b1 , . . . , bn ) ∈ Ank , existe um conjunto finito S de polinômios tal
que b está na imagem de f se, e só se Z(S) �= ∅.
2. existe um conjunto finito T de polinômios tal que f é injetor se, e só
se Z(T ) = ∅.
Demonstração: Escreva f = (f1 , . . . , fn ) com fi ∈ k[x1 , . . . , xn ] e denote
por x = (x1 , . . . , xn ), etc.
1. Temos que b ∈ im f se, e só se,
�
X∩ Z(fi (x) − bi ) �= ∅
1≤i≤n
Se você gostou da técnica acima, saiba que ela tem diversas outras aplica-
ções; recomendamos a leitura do excelente artigo [Ser09] de J.-P. Serre para
mais diversão!
9.5 Exercı́cios
9.1 Seja k um corpo. Suponha que k seja infinito e seja f (x1 , . . . , xn ) ∈
k[x1 , . . . , xn ] um polinômio de grau d que não pertence a k[x2 , . . . , xn ], ou
seja, a variável x1 realmente aparece em f (x1 , . . . , xn ). Mostre que existem
infinitas (n−1)-uplas (a2 , . . . , an ) ∈ k n−1 para as quais xd1 é o único monômio
de grau d em
f (x1 , x2 + a2 x1 , x3 + a3 x1 , . . . , xn + an x1 )
Utilize este fato para dar uma outra demonstração do teorema de norma-
lização de Noether no caso em que k é infinito.
Domı́nios de Dedekind e
valorizações discretas
197
198 CAPÍTULO 10. DOMÍNIOS DE DEDEKIND E VALORIZAÇÕES
√
Historicamente, esta é a origem do nome ideal : (3, 1+2i 5) é um fator primo
“ideal” de 3, que não existe como elemento, mas sim como, bem. . . , ideal!
Localmente, domı́nios de Dedekind são o que chamamos de domı́nios de
valorização discreta, que são os DFU’s mais simples do universo (depois de
corpos) pois possuem um único elemento irredutı́vel a menos de associados.
São por eles que começamos nosso estudo.
(i) v(a) = ∞ ⇐⇒ a = 0;
Demonstração:
4. Segue do item anterior, já que se v(ai ) �= v(aj ) para todo i �= j (em
particular, haveria no máximo um termo ai = 0), terı́amos que a va-
lorização do lado esquerdo da igualdade seria min{v(ai )} ∈ Z (pois há
algum termo não nulo) enquanto que a valorização do lado direito seria
∞.
Ov× = {a ∈ K | v(a) = 0} = Ov \ mv
Definindo
� v(f ) como o menor n ∈ Z para o qual an �= 0 em f =
an tn ∈ k((t))× (e v(f ) = ∞ se f = 0), temos que v : k((t)) → Z ∪ {∞}
é uma valorização discreta com Ov = k�t�.
M = {f : C → C | f é meromorfa}
200 CAPÍTULO 10. DOMÍNIOS DE DEDEKIND E VALORIZAÇÕES
Pelos exemplos acima, você já deve ter percebido que uma valorização
discreta nada mais é do que o “expoente de um irredutı́vel fixado” na fa-
toração de um elemento de um DFU. O próximo teorema, que é um dos
resultados centrais deste capı́tulo, mostra que a sua intuição está correta.
Antes, provemos um
Lema 10.1.5 Seja A um domı́nio noetheriano normal com K = Frac A e
seja a ⊆ A um ideal. Se b ∈ K é tal que b · a ⊆ a, então b ∈ A.
pois se por acaso (a/π i+1 ) = (a/π i ) =⇒ a/π i+1 = ab/π i (b ∈ A) então
bπ = 1, um absurdo. Mas a cadeia acima não pode existir já que A é
noetheriano.
(iv ⇒ i) Todo elemento a ∈ K × pode ser unicamente escrito na forma
a = uπ n com u ∈ A× e n ∈ Z. Basta definir v(a) = n e é fácil verificar que v
define uma valorização discreta com Ov = A.
(ii ⇒ v) Um DIP é noetheriano e é um DFU, logo é normal também (teo-
rema 8.3.4 na página 178). E se não for corpo, sua dimensão é 1.
(v ⇒ iii) Temos que mostrar que m é principal. A ideia é construir um
elemento f ∈ K tal que f · m = A, o que implica m = (f −1 ). De fato, de
f · m = A, existe π ∈ m tal que f π = 1, ou seja, f −1 = π ∈ m e assim
(f −1 ) ⊆ m; reciprocamente, dado a ∈ m, f a ∈ A ⇐⇒ a ∈ (f −1 ), logo
m ⊆ (f −1 ).
Para construir f , tome um a ∈ m� não nulo. Como dim A = 1, m é o único
ideal primo de A contendo a, logo (a) = m =⇒ mn ⊆ (a) para algum
n ≥ 1 pois A é noetheriano. Escolhendo n mı́nimo, ou seja, tal que
f ·m⊆A mas f∈
/A
Por fim, para mostrar que f · m = A, note que se por acaso f · m ⊆ m então
f ∈ A pelo lema lema 10.1.5 na página 200, o que seria um absurdo.
da curva plana Z(f ) ⊆ A2k é normal se, e só se, a curva é não singular, i.e.,
se, e só se, não existe (a, b) ∈ k 2 tal que
∂f ∂f
f (a, b) = (a, b) = (a, b) = 0
∂x ∂y
Temos que A é noetheriano pois é finitamente gerado sobre k e que dim A =
tdk Frac A = 1 (teorema 9.2.1 na página 189). Logo pelo corolário temos que
o resultado segue da proposição 4.6.3 na página 115.
Por exemplo, se k = C e f (x, y) = y 2 − x3 + x, temos que o sistema
2 3
∂f ∂f b = a − a
f (a, b) = (a, b) = (a, b) = 0 ⇐⇒ 3a2 − 1 = 0
∂x ∂x
2b = 0
Por fim, observamos que uma valorização induz uma topologia no corpo.
�a�v = e−v(a) (a ∈ K)
(i) �a�v = 0 ⇐⇒ a = 0;
O número e na definição poderia ser trocado por qualquer outro número real
r > 1 sem alterar a topologia de K. Assim como na norma p-ádica (de-
finição 2.4.2 na página 63), a intuição é que dois elementos estão “próximos”
se a diferença deles é “divisı́vel por potências grandes do uniformizador”. É
fácil mostrar que na topologia acima, as operações de K são contı́nuas.
com em quase todos nulos, como produto de ideais comuta com localizações
(verifique!), obtemos
(que faz sentido pois vm (a) = 0 para quase todo m ∈ Specm A). Este ideal
tem a propriedade
(1, 1)
(−1, −1)
y=x
y 2 = x3 − x + 1
e portanto
x2 + x x2 + x − y − 1
y − x = (x − 1) · − (x − 1) = (x − 1) ·
y+1 y+1
� �� �
f
Demonstração:
B A[x] k[x]
= =
qi (qi (x), π) (q i (x))
f (x) = a(x) · q1 (x) + π · s(x) (a(x) ∈ A[x], deg s(x) < deg q1 (x))
e portanto, como deg s(x) < deg q1 (x) =⇒ deg s(x) < deg q 1 (x) em
k[x] (lembre que q1 (x) é mônico), temos que s(x) �= 0 tem imagem
208 CAPÍTULO 10. DOMÍNIOS DE DEDEKIND E VALORIZAÇÕES
não nula em k[x]/(q 1 (x)) = B/q1 , i.e., que s(x) mod f (x) ∈
/ q1 em B.
Portanto
a(x) · q1 (x) + π · s(x) ≡ 0 (mod f (x))
a(x) · q1 (x) mod f (x)
=⇒ π = − ∈ q1 (x) · Bq1
s(x) mod f (x)
e novamente q1 Bq1 = (q1 (x) mod f (x)) é principal.
(⇒) Suponha que e1 ≥ 2 e π 2 | r1 (x). Primeiro, observamos que estas
condições implicam que f (x) ∈ (q1 (x), π)2 em A[x]. De fato, escrevendo
f (x) = a(x)·q1 (x)+r1 (x) com a(x) ∈ A[x], já temos r1 (x) ∈ (q1 (x), π)2
por hipótese, logo basta mostrar que a(x) ∈ (q1 (x), π), i.e., que a(x)
tem imagem trivial em A[x]/(q1 (x), π) = k[x]/(q 1 (x)), o que segue do
fato de e1 ≥ 2 ⇐⇒ q 1 (x)2 | f (x) ⇐⇒ q 1 (x) | a(x).
Seja � = Bq1 /q1 Bq1 = B/q1 = k[x]/(q 1 (x)) o corpo residual de q1 ;
queremos mostrar que o �-espaço vetorial
q1 Bq1 4.6.2 q1 (q1 (x), π) (q1 (x), π)
2 = 2 = 2
=
q1 B q 1 q1 (q1 (x), π) + (f (x)) (q1 (x), π)2
tem dimensão ≥ 2 (corolário 4.6.1 na página 114). Considere uma
relação de dependência linear entre as imagens de q1 (x) e π neste quo-
ciente, ou seja,
a(x) · π + b(x) · q1 (x) = α(x) · π 2 + β(x) · π · q1 (x) + γ(x) · q1 (x)2
com a(x), b(x), α(x), β(x), γ(x) ∈ A[x]. Módulo π, da relação acima te-
mos que q 1 (x) | b(x), logo b(x) tem imagem trivial em � = k[x]/(q 1 (x)),
de modo que podemos supor b(x) = 0. Assim, π | γ(x) · q1 (x)2 . Como π
é primo no DFU A[x] (teorema B.3.4 na página 351) e π � q1 (x) (q1 (x)
é mônico), π | γ(x). Dividindo a expressão acima por π, obtemos
a(x) ∈ (q1 (x), π), i.e., a(x) tem imagem trivial em � também.
Demonstração:
1. Pela transitividade da integralidade (corolário 8.1.6 na página 174) te-
mos que B é normal. Pelo teorema 8.3.8 na página 180, B também
é noetheriano. Finalmente, como a extensão B ⊇ A é integral, temos
dim B = dim A = 1 pelo corolário 8.2.6 na página 178.
2. Localizando A e B com relação a S = A \ p, podemos podemos supor
sem perda de generalidade que (A, p, k) é um DVD (em particular, um
DIP) e que B é semi-local com ideais maximais P1 , . . . , Pg . Assim,
pelo teorema 8.3.8 na página 180, B é um A-módulo livre de posto
n = [L : K] e portanto dimk B ⊗A k = n. Agora calculamos esta
dimensão de outra maneira utilizando a fatoração de pB: como
B TCR B B � B
B ⊗A k = = ×· · ·× =⇒ dim k B ⊗ A k = dimk ei
pB Pe1 Peg Pi
1≤i≤g
b �−→ bπie−1
210 CAPÍTULO 10. DOMÍNIOS DE DEDEKIND E VALORIZAÇÕES
10.3 Ordem
Na vida real, normalidade é um luxo de que nem sempre dispomos. Ainda
sim, em tais situações “anormais” é possı́vel definir um substituto para valo-
rizações discretas:
10.3.1 Definição Seja (A, m, k) um domı́nio local noetheriano de dimen-
são 1. A ordem de anulamento com respeito a A é definida por
def A
ordA (a) = lenA (a ∈ A)
(a)
O próximo lema resume alguns fatos importantes sobre a ordem.
Lema 10.3.2 (Ordem) Seja (A, m, k) um domı́nio local noetheriano de di-
mensão 1.
1. (Finitude) Temos
ordA (a) < ∞ ⇐⇒ a �= 0
Demonstração:
1. Se a = 0, temos que lenA A = ∞ pois A não é artiniano (teorema 7.2.4
na página 159): de fato, por Nakayama (teorema 4.5.5 na página 112)
temos mi �= mi+1 e assim obtemos a cadeia estritamente decrescente
m � m2 � m3 � · · ·
φ: A ✲ ✲ (a)
a
(ab)
x �−→ ax
Demonstração: Vamos mostrar que lenA A/(a) = lenB B/(a) para todo
a ∈ A não nulo. Daı́ a fórmula acima seguirá imediatamente do lema 7.2.5
na página 162, utilizando o fato de a ordem com relação a Bmi coincidir com
a valorização vi .
Primeiro, observe que lenA B/A < ∞: claramente B/A é um A-módulo
noetheriano pois B é finito sobre A por hipótese; além disso, como para todo
b ∈ B ⊆ K, existe a ∈ A não nulo tal que ab ∈ A e B é finito sobre A,
B/A é anulado por algum elemento t ∈ A com t �= 0, assim, B/A é um
módulo finitamente gerado sobre o anel artiniano A/(t) (pois dim A/(t) =
0, teorema 7.3.3 na página 166) e portanto B/A é um A-módulo artiniano
(teorema 7.1.2 na página 158) também.
Agora considere as sequências exatas
e
0 ✲ M ✲ B/A ✲ B/A
a
✲ B/(aB + A) ✲ 0
212 CAPÍTULO 10. DOMÍNIOS DE DEDEKIND E VALORIZAÇÕES
a
em que A/(a) → B/(b) e B/A → B/A são respectivamente induzidas pela
inclusão e multiplicação por a e M = {b ∈ B | ab ∈ A}. Observe que
a multiplicação por a induz um isomorfismo M
≈
✲ A ∩ aB. Assim,
lenA A/(a) = lenB B/(a) segue da aditividade do comprimento aplicada às
sequências acima.
10.4 Exercı́cios
10.1 Seja v : K → Z ∪ {∞} uma valorização discreta. Mostre que, na
métrica associada, todo triângulo em K é isósceles, i.e., dados três pontos
a, b, c ∈ K, dois dos números
�a − b�v , �b − c�v , �a − c�v
são iguais.
10.2 Seja A um domı́nio de Dedekind com K = Frac A. Seja m um ideal
maximal de A. Seja
def
m−1 = {b ∈ K | b · m ⊆ A}
Mostre que m−1 é um A-submódulo de K finitamente gerado contendo pro-
priamente A e que
m · m−1 = A
10.3 Mostre que um domı́nio de Dedekind com um número finito de primos
é um PID.
10.4 Seja A um domı́nio de Dedekind. Dados ideais a e b de A, mostre que
“conter é dividir”, ou seja que
a ⊇ b ⇐⇒ existe um ideal c de A tal que b = ac
10.5 Mostre que qualquer ideal em um domı́nio de Dedekind pode ser ge-
rado por dois elementos.
10.6 Seja k um corpo com char k �= 2, 3 e seja A = k[x, y]/(y 2 − x3 − 10).
Mostre que A é um domı́nio de Dedekind e encontre a fatoração em ideais
primos de x − 2y + 7. Interprete geometricamente o resultado.
√
10.7 Seja � um número primo. Mostre que Z[ 3 �] é um domı́nio de Dedekind
se, e só se, � �≡ ±1 (mod 9).
10.8 Seja θ uma raiz do polinômio irredutı́vel f (x) = x3 −x2 −2x−8 ∈ Q[x]
e seja K = Q[θ]. Mostre que
(a) ν = (θ2 + θ)/2 é um inteiro algébrico.
(b) o fecho integral de Z em K é Z + Zθ + Zν.
Capı́tulo 11
Ação de Grupo e
Going-down
Este livro precisa de mais ação! Com isto, queremos dizer ação de grupos1 , é
claro! O estudo de simetrias de objetos é uma das mais importantes técnicas
em Álgebra em geral e não poderia ser diferente com anéis.
Aqui veremos como utilizar o grupo de automorfismos de um anel para
provar o importante going-down, que complementa o going-up (teorema 8.2.5
na página 177). Além disso, olhando para ação induzida de um grupo G
sobre as fibras do mapa entre espectros de um anel B e de seu subanel de
invariantes B G , introduziremos os grupo de decomposição e de inércia de
um ideal primo P ∈ Spec B, que em certo sentido formalizam a noção de
“redução de G módulo P”. Tais grupos têm papel central em Teoria dos
Números, com diversas aplicações, por exemplo no cálculo do grupo de Galois
de um polinômio sobre Q.
def
B G = {b ∈ B | σ(b) = b para todo σ ∈ G}
1 que, além de ser emocionante, é uma dos mais lucrativos investimentos em toda a
Matemática!
213
214 CAPÍTULO 11. AÇÃO DE GRUPO E GOING-DOWN
Spec(σ)
Spec B Spec B
Spec B G
B G = LG ∩ B = K ∩ B = A
B � = B ⊗ A A� e G� = {σ ⊗ id : B � → B � | σ ∈ G}
Demonstração:
G�
2. É claro que A� ⊆ B � . Para mostrar a inclusão oposta, considere a
sequência exata de A-módulos
�
0 ✲ A ✲ B ✲
f
B
σ∈G
b �−→ (σ(b) − b)σ∈G
(note que f é de fato A-linear pois G fixa os elementos de A). Aplicando
o funtor exato − ⊗A A� , obtemos uma sequência exata de A� -módulos
f ⊗id �
0 ✲ A� ✲ B ⊗ A A� ✲ B ⊗ A A�
σ∈G
�
donde A� = (B � )G .
3. Sejam P, P� ∈ Spec B dois primos da fibra de p ∈ Spec A e suponha
por absurdo que P, P� possuam órbitas disjuntas:
{σ(P) | σ ∈ G} ∩ {σ(P� ) | σ ∈ G} = ∅
Se S = A \ p, pelo item anterior podemos substituir A, B e G por
suas localizações S −1 A, S −1 B e S −1 G e assim supor sem perda de
generalidade que p ∈ Spec A e P, P� ∈ Spec B são todos maximais pelo
“lema do elevador” (lema 8.2.2 na página 175). Assim, podemos aplicar
o teorema chinês dos restos (teorema 1.5.1 na página 17) para obter um
elemento b ∈ B tal que
� �
b ≡ 0 (mod σ −1 (P)) σ(b) ≡ 0 (mod P)
−1 �
⇐⇒ ∀σ ∈ G
b ≡ 1 (mod σ (P )) σ(b) ≡ 1 (mod P� )
11.2 Going-down
Agora estamos prontos para demonstrar o going-down (c.f. teorema 5.5.14
na página 142).
Teorema 11.2.1 (“Going-down”) Seja B ⊇ A uma extensão integral de
domı́nios com A normal. Sejam p � p� ideais primos de A. Se P� ∈ Spec B
está sobre p� então existe P ∈ Spec B sobre p tal que P � P� .
∃P � P� � B
| | |
p � p� � A
11.3. GRUPOS DE DECOMPOSIÇÃO E DE INÉRCIA 217
dim BP = dim Ap
P0 � P1 � · · · � Pn = P � B (∗)
p 0 � p1 � · · · � p n = p � A (∗∗)
DP → Aut(B/P)
σ �→ σ
para todo σ ∈ G.
Sejam A = B G e p = P ∩ A ∈ Spec A. É fácil ver que se S ⊆ A é um
conjunto multiplicativo tal que S ∩ p = ∅ então
DS −1 P = S −1 DP e IS −1 P = S −1 IP
G = {id, ρ, ρ2 , . . . , ρn−1 }
ρ: B → B
x �→ x · e2πi/n
de modo que I(x−a) = D(x−a) = {id}. Por outro lado, temos que D(x) = G
e, como ρ = id ∈ Aut(C), que I(x) = G.
11.3. GRUPOS DE DECOMPOSIÇÃO E DE INÉRCIA 219
B � = B DP B �� = B IP
P� = P ∩ B � ∈ Spec B � P�� = P ∩ B �� ∈ Spec B ��
P B l
P�� B �� = B IP l��
P� B � = B DP l�
p A = BG k
Demonstração: Temos
� �
N (b� ) ∈ A = B G ⇐⇒ σσi (b� ) = σi (b� ) para todo σ ∈ G
1≤i≤g 1≤i≤g
σσi = σσj τ =⇒ σi = σj τ =⇒ σi DP = σj DP =⇒ i = j
Pelo “elevador” (lema 8.2.2 na página 175), B � também será semi-local e seus
ideais maximais serão da forma σi (P) ∩ B � ; denote-os (sem repetição) por
(1) / �j
x∈P
i �= 1 =⇒ σi−1 (P) �= P =⇒ σi−1 (P) ∩ B � �= P� =⇒ σi (x) ∈
/P
� �� �
=P�j com j�=1
11.3. GRUPOS DE DECOMPOSIÇÃO E DE INÉRCIA 221
�
Assim3 , 2≤i≤g / P ∩ B � = P� e como x ∈ P� temos
σi (x) ∈
�
N (x) = x · σi (x) ∈ P� ∩ A = p =⇒ x ∈ pBP�
2≤i≤g
�
= �
1
× · · · × �
s
pB pBP� pBP�s
1
� � �
Para provar que pBP � = P BP� precisamos mostrar que o ideal maximal
P1 P2 P3 ... Pg B
p A
Demonstração:
1. Pelo teorema do elemento primitivo (teorema C.4.8 na página 371),
temos l = k(θ) para algum θ, que tem grau no máximo n sobre k por
hipótese. Logo [l : k] = [k(θ) : k] ≤ n.
2. Podemos supor que os corpos têm caracterı́stica positiva p > 0. Seja
k0 = lG . Temos que l ⊇ k0 é uma extensão Galois de grau |G| e que
k0 ⊇ k é puramente inseparável. Pelo teorema do elemento primitivo,
podemos escrever l = k0 (θ) para algum θ ∈ l. Temos que θ é separável
sobre k: como θ possui |G| conjugados distintos, temos
k(θ) l = k0 (θ)
separável de grau |G| Galois de grau |G|
pur. insep.
k k0 = l G
def
�
mb (x) = (x − σ(b)) ∈ A[x]
σ∈G
2. Seja f (x) ∈ k[x] um polinômio mônico irredutı́vel que admite uma raiz
b ∈ l (b ∈ B). Como f (x) é o polinômio minimal de b sobre k e
mb (b) = 0, temos que f | mb . E como mb se fatora completamente em
l[x], o mesmo ocorre para f . Assim l ⊇ k é quase-Galois.
pB = (P1 · . . . · Pg )e
com Pi ∈ Spec B e todos os corpos residuais B/Pi isomorfos entre si. Sendo
f o grau de um destes corpos sobre A/p, temos
ef g = [L : K] |DPi | = ef (i = 1, . . . , g)
|IPi | = e (i = 1, . . . , g)
B/Pi
σ
✲ B/σ(Pi ) = B/Pj
11.5. EXERCÍCIOS 225
11.5 Exercı́cios
11.1 Seja B = C[x, y] e considere G = {id, σ} onde σ : B → B é o automor-
fismo de C-álgebras definido por σ(x) = −x e σ(y) = −y.
227
228 CAPÍTULO 12. DIVISORES DE ZERO E PRIMOS ASSOCIADOS
2. Temos
supp M ⊆ V (ann M )
com igualdade se M é finitamente gerado sobre A.
Demonstração:
1. Temos
m 0
= em Mp ⇐⇒ ∃t ∈ A \ p tal que t · m = 0 em M
s 1
⇐⇒ ann(m) �⊆ p
0 ✲ M� ✲ M ✲ M �� ✲ 0
Demonstração:
1. Seja p ∈ Spec A. Como localização preserva exatidão, temos uma
sequência exata de Ap -módulos
0 ✲ Mp� ✲ Mp ✲ Mp�� ✲ 0
(M ⊗A N )p = (M ⊗A N ) ⊗A Ap = (M ⊗A Ap ) ⊗Ap (N ⊗A Ap )
= Mp ⊗Ap Np
basta mostrar que, dado um anel local (A, m, k) e dois A-módulos fini-
tamente gerados M e N , vale
M ⊗A N �= 0 ⇐⇒ M �= 0 e N �= 0
(M ⊗A N ) ⊗A k = (M ⊗A k) ⊗k (N ⊗A k)
reduzir o caso geral para este caso particular quando o módulo é finitamente
gerado sobre um anel noetheriano A.
Note que se m ∈ M tem anulador a = ann(m), o mapa de A-módulos
A ✲ M
a �−→ am
1.
Ass(M ) �= ∅ ⇐⇒ M �= 0
Em particular, se m ∈ M é um elemento não nulo então existe p ∈
Ass M tal que p ⊇ ann(m).
é injetor.
0 ✲ M� ✲ M ✲ M �� ✲ 0
Demonstração:
1I know it sounds ugly, but this is the official notation :-(
12.2. DIVISORES DE ZERO E PRIMOS ASSOCIADOS 231
F = {ann(m) | m ∈ M, m �= 0}
M �� = M/M � ⊇ (N + M � )/M � = N ∼
= A/p
0 ✲ k[x, y] x
✲ k[x, y] ✲ k[x, y] ✲ 0
(x, y) (x2 , xy) (x)
em que o mapa x denota multiplicação por este elemento. Assim, pelo teo-
rema 12.2.2 na página 230, temos
A A
Ass M ⊆ Ass ∪ Ass = {(x, y), (x)}
(x, y) (x)
12.2. DIVISORES DE ZERO E PRIMOS ASSOCIADOS 233
Por outro lado, é fácil ver que estes 2 primos pertencem a Ass M , uma vez
que (x, y) = ann(x) e (x) = ann(y).
1.
AssAp Mp = {qAp | q ∈ AssA M, q ⊆ p}
2. �
supp M = V (q)
q∈Ass M
Demonstração:
p ∈ supp M ⇐⇒ Mp �= 0 ⇐⇒ AssAp Mp �= ∅
⇐⇒ p ⊇ q para algum q ∈ Ass M
p ∈ Ass A/(a) =⇒ ht p = 1
para todo a ∈ A não nulo. Além disso, todo domı́nio noetheriano normal A
satisfaz R1 pelo corolário 10.1.8 na página 202.
O próximo lema fornece uma “versão melhorada” do princı́pio local-global
(teorema 4.2.3 na página 103).
Lema 12.3.2 Seja A um domı́nio noetheriano. Se a, b ∈ A, b �= 0, são tais
que a/b ∈ Ap para todo primo p ∈ Ass A/(b) então a/b ∈ A.
que é injetor pelo teorema 12.2.2 na página 230. Assim, a = 0 em A/(b), i.e.,
a/b ∈ A, como querı́amos.
terı́amos Ass(M � ) ⊆ Ass Q(p) ∪ {q} (ver teorema 12.2.4 na página 232),
logo p ∈/ Ass(M � ), o que contradiria a maximalidade de Q(p). Assim, como
E(p) �= 0 implica Ass E(p) �= ∅ (teorema 12.2.2 na página 230), devemos ter
Ass E(p) = {p}. �
Finalmente, para mostrar que o mapa natural M �→ p∈Ass M E(p) é inje-
def �
tor, temos que mostrar que N = p∈Ass M Q(p) é trivial. Mas como Ass N ⊆
Ass M e Ass N ⊆ Ass Q(p) (p ∈ Ass M ) (teorema 12.2.2 na página 230)
e p ∈ / Ass Q(p) por construção, temos que Ass N = ∅, logo N = 0, como
querı́amos.
12.5 Exercı́cios
12.1 Seja A um anel qualquer e seja M um A-módulo noetheriano. Mostre
que A/ ann(M ) é um anel noetheriano.
M M M
supp = supp ∪ supp
P ∩Q P Q
12.3 Seja A um anel reduzido. Mostre que Ass A consiste nos primos mi-
nimais de A e portanto os divisores de zero de A são exatamente aqueles
contidos em algum primo minimal de A.
Burlesque
239
Capı́tulo 13
Anéis completos
Se você acha que Análise é coisa só para doido, engana-se! Neste capı́tulo,
vamos empregar ideais analı́ticas no estudo de anéis comutativos. Definire-
mos a chamada topologia a-ádica, que generaliza para um anel qualquer a
topologia p-ádica nos inteiros (definição 2.4.2 na página 63). Muito embora
neste caso mais geral não dispomos de uma métrica como no caso p-ádico,
veremos que ainda sim é possı́vel definir o conceito de sequências de Cauchy,
de anel completo bem como a operação de completamento com respeito à
topologia a-ádica. Geometricamente, o completamento corresponde a uma
“super-localização”, algo similar à noção de vizinhança tubular em topologia
diferencial.
Para anéis completos, generalizaremos ainda o lema de Hensel e veremos
o importante teorema de preparação de Weierstraß, que é uma das principais
ferramentas no estudo do anel de séries formais. Como aplicação, mostrare-
mos que o anel k�x1 , . . . , xn � é um DFU para k um corpo qualquer.
pois se z ∈ (x+am )∩(y +an ) então x+am = z +am ⊆ z +an = y +an . Assim,
os conjuntos acima formam uma base de abertos para uma topologia de A,
241
242 CAPÍTULO 13. ANÉIS COMPLETOS
(x + an ) + (y + an ) = x + y + an e (x + an ) · (y + an ) ⊆ x · y + an
para x, y ∈ A e n ∈ N. �
Temos que A será Hausdorff se, e somente se, �n≥0 an = (0): a neces-
sidade é clara já que dois elementos distintos de n≥0 an não podem ser
separados por vizinhanças abertas básicas disjuntas; para a suficiência, se
x �= y são dois elementos de A e n ∈ N é tal que x − y ∈ / an então x + an e
n
y + a são vizinhanças abertas disjuntas de x e y, respectivamente.
Da mesma forma, dado um A-módulo M , os conjuntos da forma x + an M
(x ∈ M , n ∈ N) definem a topologia a-ádica de M . Novamente é fácil ver
que a soma e multiplicação por�A-escalar são contı́nuas nesta topologia e que
M será Hausdorff se, e só se, n≥0 an M = 0.
O próximo importante teorema diz que, no caso noetheriano, a topologia
a-ádica de um submódulo N ⊆ M coincide com a topologia induzida pela
topologia a-ádica de M .
Teorema 13.1.1 (Artin-Rees) Sejam A um anel noetheriano, a ⊆ A um
ideal e M um A-módulo finitamente gerado. Seja N um submódulo de M .
Então existe um r ∈ N tal que para todo n ≥ r
� �
(an M ) ∩ N = an−r · (ar M ) ∩ N
an N ⊆ (an M ) ∩ N ⊆ an−r N,
φ : A[x1 , . . . , xn ] � Ba (A)
xi �→ (0, ai , 0, 0, . . .)
13.1. TOPOLOGIA A-ÁDICA E O TEOREMA DE ARTIN-REES 243
def
�
P = (an M ) ∩ N
n≥0
Um importante corolário é o
�
Demonstração: Seja b = n≥0 an . Pelo teorema de Artin-Rees, existe c
tal que, para n � 0, b = b ∩ an+c ⊆ ban , isto é, b = ban .
Se A é local, então b = ban =⇒ b = 0 pelo lema de Nakayama (teo-
rema 4.5.5 na página 112). Por outro lado, se A é um domı́nio, localizando
em um ideal maximal m ⊇ a, obtemos bm = 0 em Am e, como A é domı́nio,
o mapa de localização é injetor e portanto de b ⊆ bm temos b = 0.
(exercı́cio!)
C[x, y, w, z] ≈✲
B(x,y) (C[x, y])
(yw − xz)
w �→ (0, x, 0, 0, . . .)
z �→ (0, y, 0, 0, . . .)
O caso mais importante para nós será o de um anel local (A, m, k) que é
completo com relação à topologia m-ádica. Neste caso, diremos simplesmente
que (A, m, k) é um anel local completo.
� (n)
Assim, dada uma sequência (fn (x))n∈N com fn (x) = i≥0 ai xi ∈ A�x�,
ela será de Cauchy em A�x� se, e só se, para cada i ∈ N fixado, a sequência
(n)
(ai )n∈N é de Cauchy em A. Se este é o caso, como A é completo existe
(∞) (n)
ai ∈ A para a qual (ai )n∈N converge, daı́ é fácil ver que (fn (x))n∈N
def � (∞)
converge para f∞ (x) = i≥0 ai ti .
Em particular, por indução em n temos que o anel A�x1 , . . . , xn � é um
anel local completo se A for artiniano ou A = Zp .
Demonstração:
(i) ⇒ (ii): por indução no número de ideais maximais, basta mostrarmos
que se qualquer A-álgebra finita B tem a seguinte propriedade:
| Specm B| > 1 =⇒ B é decomponı́vel (∗)
Geometricamente: se há mais de um ponto fechado então Spec B é desconexo
(teorema 4.4.3 na página 109). � �
Inicialmente, tratemos o caso especial B = A[x]/ f (x) com f (x) ∈ A[x]
� �
mônico. Se B não é local, o mesmo ocorre para B ⊗A k = k[x]/ f (x) , ou
seja, existem pelo menos dois fatores irredutı́veis não associados que dividem
f (x) e assim podemos escrever uma fatoração não trivial f = gh com g, h ∈
k[x] mônicos e primos entre si; por hipótese, existem levantamentos mônicos
g, h ∈ A[x] tais que f = gh, de modo que A[x]/(g, h) é finito sobre A. Por
Nakayama (teorema 5.2.5 na página 127),
A[x] k[x] NAK
⊗A k = = 0 =⇒ (g, h) = A[x]
(g, h) (g, h)
e assim pelo teorema chinês dos restos temos a decomposição não trivial
A[x] A[x] A[x] A[x]
B= = = ×
(f ) (gh) (g) (h)
Para o caso geral, note primeiro que se B tem a propriedade (∗), o mesmo
vale para qualquer quociente de B. Assim, para qualquer b ∈ B, a subálgebra
A[b] ⊆ B satisfaz (∗), já que b é raiz de um polinômio mônico f (x) ∈ A[x] (te-
orema� 8.1.5� na página 173) e portanto temos uma sobrejeção de A-álgebras
A[x]/ f (x) � A[b] (dada por x �→ b). Agora, sendo n1 �= n2 dois ideais
maximais de B, basta escolher b ∈ B tal que b ∈ n1 \ n2 pois neste caso
n1 ∩ A[b] �= n2 ∩ A[b] (b pertence a exatamente um destes ideais) e portanto
| Specm A[b]| > 1; assim, A[b] será decomponı́vel, isto é, haverá um idempo-
tente não trivial e ∈ A[b], que também será um idempotente não trivial em
B (geometricamente: Spec A[b] é desconexo, logo o mesmo vale para Spec B
já que B ⊇ A[b] é uma extensão finita e portanto Spec B � Spec A[b] é
sobrejetor pelo teorema 8.2.3 na página 176).
� �
(ii) ⇒ (i): Considere a A-álgebra B = A[x]/ f , que é finita sobre A pois f
é mônico por hipótese. Assim, B é igual ao produto de suas localizações com
relação aos seus ideais maximais. Se f = g · h é uma fatoração não trivial em
k[x] com g e h primos entre si, a decomposição
k[x] TCR k[x] k[x]
B ⊗A k = = ×
(f ) (g) (h)
13.2. ANÉIS COMPLETOS E HENSELIANOS 247
o que faremos por indução. Se os n-ésimos termos já estão definidos, queremos
encontrar δn (x), �n (x) ∈ mn A[x] com deg δn (x) < deg g 1 e deg �n (x) < deg h1
a fim de definir
def
Seja tn (x) = f (x) − gn (x)hn (x) ∈ mn A[x], um polinômio de grau estrita-
mente menor do que deg f . A condição f (x) ≡ gn (x) · hn (x) (mod mn A[x])
se escreve
�n (x) · gn (x) + δn (x) · hn (x) ≡ f (x) − gn (x) · hn (x) (mod mn+1 A[x])
� �� �
tn (x)
248 CAPÍTULO 13. ANÉIS COMPLETOS
e portanto
� � � �
a(x)tn (x) · gn (x) + b(x)tn (x) · hn (x) ≡ tn (x) (mod mn+1 A[x])
Como deg tn < deg f e deg rgn < deg hn +deg gn = deg f , o grau do polinômio
btn +qgn mod mn+1 A[x] é estritamente menor do que deg gn = deg g 1 . Assim,
basta tomar �n = r e δn ≡ btn + qgn (mod mn+1 A[x]) com deg δn < deg g 1 .
a relação de equivalência que identifica (an )n∈N e (bn )n∈N se para qualquer
d ∈ N existe n0 ∈ N tal que n ≥ n0 =⇒ an − bn ∈ ad . Nossa experiência
anterior com Zp (teorema 2.4.3 na página 64) sugere também a construção
de A� via o limite projetivo
� def A
A = proj lim n
n∈N a
� � � �
�
= (an mod an )n∈N ∈ A/an � an ≡ am (mod am ) para todo n ≥ m
n∈N
De fato, mutatis mutandis2 a mesma prova que vimos para o anel Zp no teo-
rema 2.4.3 na página 64 mostra que as duas construções acima estão natural-
mente em bijeção: um elemento (an mod an )n∈N ∈ proj limn∈N A/an define a
sequência de Cauchy (an )n∈N em A e, reciprocamente, dada uma sequência
de Cauchy (an )n∈N em A, temos que para cada d ∈ N fixado a sequência
(an mod ad )n∈N é eventualmente constante; denotando por a∞ mod ad este
valor constante, obtemos uma tupla coerente quando variamos d, isto é, um
elemento (a∞ mod ad )d∈N ∈ proj limd∈N A/ad . Deixamos a cargo do leitor
mostrar que os mapas acima não dependem de representantes de classes e
são inversos um do outro. Daqui para frente, a definição oficial que utiliza-
remos do completamento, aquela estabelecida pelo Comitê Internacional de
Pesos e Medidas3 , será a do limite projetivo.
13.3.1 Definição Sejam A um anel e a ⊆ A um ideal e seja M um A-
módulo. Definimos o completamento a-ádico de A como o anel
� = proj lim A
A
n∈N an
�
O completo a-ádico de M é o A-módulo
� = proj lim M
M
n∈N an M
0 ✲ M ✲ N ✲ P ✲ 0
0 ✲ M
� ✲ N
� ✲ P� ✲ 0
✲ M an N + M ✲ N ✲ N P ✲ 0
0 = = n
M ∩ an N an N an N an N + M a P
que determinam uma sequência de limites projetivos
✲ proj lim M ✲ N
� ✲ P� ✲ 0
0 (∗)
n∈N M ∩ an M
� = proj lim M
π: M
≈
✲ proj lim M
n∈N an M n∈N M ∩ an N
M ∩ an N ⊆ an−r M (n ≥ r)
13.3. COMPLETAMENTO DE ANÉIS NOETHERIANOS 251
de modo que (yn+r mod an M )n∈N é uma pré-imagem do elemento dado, mos-
trando que π é sobrejetor também.
1. O mapa natural
�
M ⊗A A
≈
✲ M
�
é um isomorfismo.
� é plano sobre A.
2. A
4. se a = (a1 , . . . , ar ) então
�∼ A�x1 , . . . , xr �
A =
(x1 − a1 , . . . , xr − ar )
� também é noetheriano.
e portanto A
Demonstração:
�
Am ⊗ A A �
An ⊗A A �
M ⊗A A 0
≈ ≈
�
A m �n
A �
M 0
252 CAPÍTULO 13. ANÉIS COMPLETOS
� ≈✲ bA
3. Pelo item anterior, o mapa natural b ⊗A A � é um isomorfismo.
� �
Mas pelo item (1), temos b ⊗A A = b e o resulado segue.
0 → b → A[x1 , . . . , xr ] → A → 0
0→� �→0
b → A�x1 , . . . , xr � → A
� �
ad = (a d ) = {(a mod an )
n
� i
n∈N ∈ A | ai ≡ 0 (mod a ) para i = 0, 1, . . . , d}
Assim, uma sequência (b̂n )n∈N ∈ A � com b̂n = (a(n) mod ai )i∈N é de Cauchy
i
a-ádica se, e só se, para cada d ∈ N existe n0 ∈ N tal que
na topologia �
(m) (n)
m, n ≥ n0 =⇒ ad ≡ ad (mod ad ) de modo que existe um valor estável
(∞)
ad mod ad . Variando d, obtemos uma tupla coerente, i.e., um elemento de
� que é um limite da sequência (b̂n )n∈N .
A,
13.4. TEOREMA DE PREPARAÇÃO DE WEIERSTRASS 253
�= k�x, y�
A
(y 2 − x2 (x + 1))
Indutivamente, obtemos
x = â1 ω1 + · · · + âr ωr
Suponha por absurdo que não. Como M é a-separado, existe d ∈ N tal que
/ ad M
(â1 ω1 + · · · + âr ωr ) − x ∈
(â1 ω1 + · · · + âr ωr ) − x
� � � � � �
= â1 − ai1 · ω1 + · · · + âr − ar1 · ωr − yn+1 ∈ ad M
0≤i≤n 0≤i≤n
o que é um absurdo.
M k�x� k�x�
= M ⊗A k = � � = r = k ⊕ kx ⊕ kx2 ⊕ · · · ⊕ kxr−1
mM f (x) (x )
(teorema B.3.4 na página 351) A[xn ] também é um DFU. Seja f (xn ) ∈ A�xn �
um elemento irredutı́vel e suponha que f (xn ) | g(xn ) · h(xn ) em A�xn �, i.e.,
Suponha inicialmente que g(xn ) · h(xn ) ∈/ mA�xn �, i.e., g(xn ) · h(xn ) não
tem imagem trivial no domı́nio k�xn �. Então o mesmo vale para f, g, h, p.
Assim, pelo corolário anterior, podemos substituir estes elementos por seus
polinômios de Weierstraß e pela unicidade, temos uma igualdade
τ : k�x1 , . . . , xn � �→ k�x1 , . . . , xn �
2 n−1
t(x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn ) �→ t(x1 + xen , x2 + xen , . . . , xn−1 + xen , xn )
13.5 Exercı́cios
13.1 Seja A um anel noetheriano e sejam a e b ideais de A. Seja M um A-
módulo finitamente gerado. Denote por um chapéu o completamento a-ádico.
Mostre que
�) = �
(bM �
bM
13.5. EXERCÍCIOS 257
(b) Para cada w = (z1 , . . . , zn−1 ) ∈ Cn−1 fixo com |zi | < δ (i = 1, . . . , n − 1),
sejam r1 (w), r2 (w), . . . , rn (w) as raı́zes de z �→ f (w, z), listadas com
multiplicidade. Mostre que
� ∂f
d d 1 ∂z (w, z)
r1 (w) + · · · + rn (w) = zd · dz
2πi |z|=� f (w, z)
def f (z1 , . . . , zn )
u(z1 , . . . , zn ) =
p(z1 , . . . , zn )
Dimensão
Estamos prontos para levar o estudo de Álgebra Comutativa para uma outra
dimensão! Dimensão não é um assunto novo para nós: por exemplo, vi-
mos que, para um domı́nio A finitamente gerado sobre um corpo k, dim A =
tdk Frac A (teorema 9.2.1 na página 189), de modo que neste caso a dimensão
pode ser interpretada como uma medida do número de “parâmetros indepen-
dentes” contidos neste anel.
Neste capı́tulo, apresentaremos um importante resultado válido para um
anel noetheriano local (A, m, k) qualquer, o teorema de Krull, que afirma
que dim A é sempre finito e coincide com outras duas medidas do número
de “parâmetros independentes” em A: primeiro, a cardinalidade mı́nima δ
� um sistema de parâmetros a1 , . . . , aδ ∈ A, que são elementos tais que
de
(a1 , . . . , aδ ) = m (intuitivamente, a menor quantidade de “equações” para
definir a “variedade” Spec k); e segundo, o grau do polinômio de Hilbert-
Samuel λ(n) = lenA A/mn (para n � 0 natural), que é uma generalização
do polinômio que calcula a dimensão do k-subespaço vetorial de k[x1 , . . . , xr ]
formado pelos polinômios de graus menores ou iguais a n.
Por fim, com o auxı́lio dos resultados obtidos para a dimensão de um anel
noetheriano local, daremos sentido algébrico preciso à noção de “não singula-
ridade”: definiremos os chamados anéis regulares, que desempenham um pa-
pel central especialmente em Geometria Algébrica. Por exemplo, domı́nios de
Dedekind são exatamente os domı́nios regulares noetherianos de dimensão 1.
259
260 CAPÍTULO 14. DIMENSÃO
Demonstração:
de modo que Δr(x) = q(x). Temos que Δ(f − r)(n) = 0 para todo
inteiro n � 0. Em outras palavras, f (n) − r(n) é constante e inteiro
para n � 0, digamos a0 = f (n) − r(n), assim f (n) = r(n) + a0 para
n � 0 e o resultado segue.
262 CAPÍTULO 14. DIMENSÃO
(iii) A é noetheriano.
�
Seja M = n∈Z Mn um A-módulo graduado finitamente gerado. Definimos
a sua função de Hilbert de por
χM (n) = dimk Mn
def
� mn m m2
B = = k ⊕ ⊕ ⊕ ···
mn+1 m2 m3
n≥0
k[x1 , . . . , xr ] ✲
✲ B
xi �−→ ωi mod m2
0 ✲ N ✲ M ✲ M [1]
xr
✲ P ✲ 0
def A
λA (n) = lenA
mn
Como a integral de um polinômio é um polinômio, não é difı́cil perceber
que, assim como a função de Hilbert, a função de Hilbert-Samuel também
será polinomial:
mn
ΔλA (n) = dimk
mn+1
264 CAPÍTULO 14. DIMENSÃO
Demonstração:
1. Segue da sequência exata
✲ mn ✲ A ✲ A ✲ 0
0
mn+1 mn+1 mn
e do fato de que lenA mn /mn+1 = dimk mn /mn+1 já que mn /mn+1 é
anulado por m, logo pode ser visto como um módulo sobre k = A/m.
2. Pelo item anterior, ΔλA (n) = χ�B (n) é exatamente a função de Hil-
bert da k-álgebra graduada B = n≥0 mn /mn+1 do exemplo 14.2.2 na
página 262. Logo, pelo teorema anterior, ΔλA (n) é uma função poli-
nomial para n � 0, assim o mesmo vale para λA (n) pelo lema 14.1.4
na página 260.
λA (n) = 2n − 1
14.2. POLINÔMIO DE HILBERT-SAMUEL 265
✲ (a) ✲ A ✲ B ✲ 0
0
(a) ∩ mn mn mn
de modo que
� A � �B � � (a) �
lenA = len A n + len A
mn m (a) ∩ mn
� (a) �
⇐⇒ λA (n) = λB (n) + lenA (∗)
(a) ∩ mn
(note que lenA B/mn = lenB B/mn ).
Vamos estimar o último termo em (∗). Provaremos que
(i) Para todo n ≥ 1, temos
� (a) � � A �
lenA ≤ len A = λA (n − 1)
(a) ∩ mn mn−1
(ii) se a ∈ A não é divisor de zero, existe uma constante c > 0 tal que, para
todo n � 0, temos
� (a) � � A �
lenA ≥ len A = λA (n − c)
(a) ∩ mn mn−c
14.3. TEOREMA DE DIMENSÃO DE KRULL 267
dim A = deg λA = δA
Passo 3: δA ≤ dim A. Vamos usar indução em dim A (que já � sabemos ser
finito pelo passo 1). Se dim A = 0, então Spec A = {m}, logo (0) = m e
portanto δA = 0.
Agora suponha que dim A > 0. Como A é noetheriano, A possui apenas
um número finito de ideais primos minimais (teorema 6.1.5 na página 147).
Assim, pelo “prime avoidance” (teorema 3.1.10 na página 85), podemos esco-
lher a ∈ m que não pertence a nenhum primo minimal. Assim, se B = A/(a),
temos dim B ≤ dim A − 1 e por hipótese de indução δB ≤ dim B. Note ainda
que se a1 , . . . , as ∈ A são elementos cujas imagens em B formam um sistema
de parâmetros de B, então a, a1 , . . . , as formam um sistema de parâmetros
de A, logo δA ≤ δB + 1. Assim,
� �� B� ≤ �dim
dim �� A� + �dim B ⊗ k
�� A �
topo base fibra
Um importante corolário é
Demonstração: É claro que por indução basta mostrar que dim A[x] =
dim A + 1. Dada uma cadeia de ideais primos de A
p 0 � p1 � · · · � p n
Para uma prova dos dois teoremas acima, veja por exemplo o capı́tulo IV
de [Ser73].
14.6. EXERCÍCIOS 273
14.6 Exercı́cios
14.1 �(Série de Hilbert) Seja k um corpo e seja A = k[x1 , . . . , xn ]. Seja
M = d∈Z Md um A-módulo graduado finitamente gerado com Md = 0 para
d < 0. A série de Hilbert de M é definida como
�
HM (t) = (dimk Md ) · td ∈ Z�t�
d≥0
Mostre que
p(t)
HM (t) =
(1 − t)n
para algum polinômio p(t) ∈ Z[t].
Dica: Copie a demonstração do teorema 14.2.3 na página 262.
(a) um corpo K
(c) Q[t](t)
(g) Z[x](3,x)
Esquemas
Por exemplo, uma variedade diferenciável nada mais é do que o seu espaço
topológico subjacente juntamente com o anel das suas funções diferenciáveis;
uma superfı́cie de Riemann é o mesmo que seu espaço topológico e o anel
de suas funções holomorfas (definidas em abertos do espaço); e um conjunto
algébrico afim consite em seu conjunto de pontos, munido da topologia de
Zariski, juntamente com o seu anel de funções regulares.
Em geral, é necessário considerar não só funções admissı́veis definidas em
todo o espaço X mas também aquelas cujos domı́nios são abertos U ⊆ X, sob
pena de não termos funções em quantidade suficiente: por exemplo, as únicas
funções globalmente holomorfas em uma superfı́cie de Riemann compacta são
as constantes (pelo princı́pio do máximo). Para cada aberto U ⊆ X, denote
275
276 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
1 diferente daqueles que você desenhava com régua e compasso no colégio para fazerem
hA (B) = {(α, β) ∈ B × B | α2 + β 2 + 1 = 0}
F(U ) = {f : U → R | f é contı́nua}
fi |Ui ∩Uj = resUi ,Ui ∩Uj (fi ) = resUj ,Ui ∩Uj (fj ) = fj |Ui ∩Uj (para todo i, j ∈ I)
existe uma única função f ∈ F(U ) tal que f |Ui = resU Ui (f ) = fi para
cada i ∈ I. De fato, se x ∈ U pertence a Ui , basta definir f (x) = fi (x),
o que independe da escolha do aberto Ui que contém x pelo fato de os fi ’s
concordarem nas intersecções.
2 lembre-se de que só existe um tipo de Matemática abstrata: aquela que você não
entendeu direito.
278 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
Lembre que um espaço topológico X define uma categoria O(X) dos seus
abertos: os objetos desta categoria são todos os abertos de X e as flechas são
dadas pelas inclusões:
�
def {U → V } se U ⊆ V
HomO(X) (U, V ) =
∅ caso contrário
tais que resU U = idF (U ) para todo aberto U e resV W ◦ resU V = resU W
para todas as inclusões de abertos U ⊇ V ⊇ W . Se não houver con-
fusão, denotaremos resU V (f ) ∈ F(V ) simplesmente por f |V . Os ele-
mentos de F(V ) são chamados de seções3 de F sobre V .
resUi ,Ui ∩Uj (fi ) = resUj ,Ui ∩Uj (fj ) (para todo i, j ∈ I)
existe uma única seção f ∈ F(U ) tal que resU Ui (f ) = fi para cada
i ∈ I.
φU
F(U ) G(U )
resF
UV resG
UV
φV
F(V ) G(V )
Então dizer que F é um feixe é o mesmo que dizer que as sequências acima
são exatas para todo aberto U ⊆ X e toda cobertura aberta {Ui }i∈I de U :
a injetividade de � expressa a unicidade da cola, enquanto ker d0 = im �
expressa a existência da mesma.
Em particular, se U = ∅, temos que U admite uma cobertura vazia (i.e.,
com I = ∅) e portanto temos que F(∅) = 0 já que o produto vazio é o grupo
trivial. Aqueles que acharem este tipo de raciocı́nio deveras bizarro estão
convidados a simplesmente incluir a condição F(∅) = 0 na definição acima.
usuais) que denotamos por H× . Note ainda que a função exponencial define
um morfismo de feixes de grupos abelianos em X = C:
expU : H(U ) → H× (U )
f �→ ef
15.1.6 Exemplo (Feixe kernel) Seja φ : F → G um morfismo de feixes de
grupos abelianos. Para cada U , defina
K(U ) = ker(F (U )
φU
✲ G(U ))
uma contradição.
15.1.7 Exemplo (Feixe estrutural de um domı́nio) Seja A um domı́-
nio com corpo de frações K = Frac A. Vamos construir o chamado feixe
estrutural de A, que é o feixe de anéis sobre Spec A (com a topologia de
Zariski) caracterizado pela propriedade
� �
OA D(h) = Ah (h ∈ A)
Basta definirmos para todo aberto não vazio U ⊆ Spec A
def
�
OA (U ) = Ap ⊆ K
p∈U
4 como diz o ditado popular, “kernel de feixe, feixinho é”.
15.1. GEOMETRIA COM CATEGORIA 281
�F � d0F �
0 F(U ) λ∈Λ F(Vλ ) λ,µ∈Λ F(Vλ ∩ Vµ )
� �
φU λ∈Λ φ Vλ λ,µ∈Λ φVλ ∩Vµ
�G � d0F �
0 G(U ) λ∈Λ G(Vλ ) λ,µ∈Λ G(Vλ ∩ Vµ )
já que os conjuntos D(h) formam uma base de Spec A. Novamente temos
que o talo é um anel local, em que o ideal maximal corresponde às “funções
que se anulam em p” (i.e., pertencem ao ideal gerado por p).
15.1.14 Exemplo Seja F : O(X)◦ → Ab um feixe de grupos abelianos so-
bre um espaço X. Dado um aberto U ⊆ X e uma seção f ∈ F(U ), denotamos
por fx = [(U, f )] ∈ Fx a imagem de f no talo em x ∈ U . Então o mapa
�
F(U ) �→ Fx
x∈U
f �→ (fx )x∈U
é injetor.7
De fato, se fx = 0 então existe uma vizinhaça aberta Ux ⊆ U de x para
a qual f |Ux = 0. Assim, se f pertence ao kernel do mapa acima, existe
uma cobertura aberta de U na qual f se restringe a 0 em cada aberto desta
cobertura. Pela unicidade no axioma de cola, temos f = 0, mostrando que o
mapa acima é injetor.
15.1.15 Exemplo Seja φ : F → G é um morfismo de pré-feixes de grupos
abelianos em X. Denotamos por φx o morfismo de grupos abelianos entre
talos induzido por φ:
φx : Fx → Gx
[(U, f )] �→ [(U, φU (f ))]
Em particular, observe que se P é um pré-feixe e temos dois morfismos de
pré-feixes φ, ψ : P → F tais que φx = ψx para todo x ∈ X então φ = ψ
pelo exemplo anterior. Assim, um morfismo de um pré-feixe para um feixe é
completamente determinado por seus valores nos talos.
7 ilustando o fato agricultural que um feixe é uma coleção de talos!
284 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
f ∗ φ : f ∗ F → f∗ G
f∗ : Sh(X) → Sh(Y )
g# g∗ f #
OZ ✲ g ∗ OY ✲ g∗ f∗ OX = (g ◦ f )∗ OX
φh : Ah → Bφ(h)
basta definirmos
φ(a) �
fU# (α) = ∈ (f∗ OB )(U ) = OB (f −1 U ) = Bq ⊆ Frac B
φ(s)
q∈f −1 U
def
o que de fato faz sentido: dado q ∈ f −1 (U ), temos que p = f (q) = φ−1 q ∈ U ,
logo α = a/s ∈ Ap e assim podemos supor10 que s ∈ / p ⇐⇒ φ(s) ∈ / q,
de modo que φ(a)/φ(s) ∈ Bq como querı́amos. Note em particular que o
morfismo induzido em talos
φq : Aφ−1 q → Bq
matérias.
15.1. GEOMETRIA COM CATEGORIA 287
tais que fij (Uij ∩ Uik ) = Uji ∩ Ujk e satisfazendo as seguintes condições de
cociclo:
(i) (fii , fii# ) = id e (fij , fij
# # −1
) = (fji , fji ) ;
# # #
(ii) (fik , fik )|Uij ∩Uik = (fjk , fjk )|Uij ∩Uik ◦ (fij , fij )|Uij ∩Uik
288 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
Os mapas de restrição são induzidos pelos dos feixes OXi . Temos ainda um
mapa ψi# : OX → ψi∗ OXi de feixes em X dado pela projeção na i-ésima coor-
denada. Com estas definições, uma verificação rotineira mostra que (X, OX )
é um espaço localmente anular e que todas as demais condições do lema são
satisfeitas.
(fi , fi# )|Ui ∩Uj = (fj , fj# )|Ui ∩Uj para todo i, j ∈ I
Então podemos “colar” estes morfismos: existe um único morfismo em LRS
(f, f # ) : (X, OX ) → (Y, OY ) tal que (fi , fi# ) = (f, f # )|Ui para todo i ∈ I.
15.2 Esquemas
Assim como uma variedade diferenciável é obtida “colando-se” cópias do Rn ,
um esquema geral será uma “colagem” de esquemas afins, que são os espaços
localmente anulares associados a anéis comutativos. No final, obteremos o
seguinte “dicionário”:
15.2. ESQUEMAS 289
Anéis Esquemas
ideal primo p ∈ Spec A ponto x ∈ X = Spec A
h∈p h ∈ OX (X)�se anula� em x
Ah O
� X� D(h) � �
localização Ah → Agh res : OA D(h) → OA D(gh)
Ap talo OX,x
morfismo φ : A → B (f, f # ) : (Spec B, OB ) → (Spec A, OA )
ρg,h : Ag → Ah
ξg � �
Ag OA D(g)
ρg,h res
ξh � �
Ah OA D(h)
com mapas de restrição dados pelas projeções. Com isto, temos um pré-feixe
sobre Spec A e, para todo g ∈ A, isomorfismos
� �
ξ g : Ag ✲ OA D(g)
≈
� �
s �−→ ρg,h (s) h∈A, D(h)⊆D(g)
Assim,
a ai
hM N
i · (ahi − ai ) = 0 =⇒ = N = si em Ahi
1 hi
como desejado.
Para isto, definimos f = Spec(φ), que é uma função contı́nua (teorema 3.3.3
na página 91). Para definir f # : OA → f∗ OB , observe inicialmente que, para
todo h ∈ A, φ induz um morfismo
φh : Ah → Bφ(h)
a φ(a)
n
�→ (a ∈ A)
h φ(h)n
e que, para um aberto U ⊆ Spec A, temos
φh
Ah Bφ(h)
f # : OA (U ) → (f∗ OB )(U )
(sg )D(g)⊆U �→ (φg (sg ))D(φ(g))⊆f −1 U
#
ξ φ=fSpec A ξ
A OA (Spec A) OB (Spec B) B
loc res res loc
#
ξ fD(h) ξ
Ah OA (D(h)) OB (D(φ(h))) Bφ(h)
#
de modo que fD(h) : OA (D(h)) → OB (D(φ(h))) pode ser identificado com a
#
localização φh : Ah → Bφ(h) de φ. O mesmo vale para gD(h) : OA (D(h)) →
# #
OB (D(φ(h))), de modo que fD(h) = gD(h) , como desejado.
15.2.3 Exemplos
Que tal vermos alguns esquemas de verdade?
de modo que não há morfismos entre estes dois esquemas afins a não ser
que K seja isomorfo a um subcorpo de L e, neste caso, há tantos morfismos
quanto imersões de K em L! Isto ilustra uma caracterı́stica muito importante:
morfismos de esquemas requerem certa compatibilidade das “funções” dos
dois espaços.
Note que embora os dois espaços topológicos sejam homeomorfos, estes dois
esquemas não são isomorfos como espaços localmente anulares: OX contém
elementos nilpotentes enquanto que OY não. Geometricamente, imaginamos
Y como a “reta” x = 0 enquanto que X deve ser pensado como uma “reta
gorda” obtida a partir do plano fazendo-se “x quase igual a 0” (mas só x2 é
realmente 0 em X) e que tem um “tecido adiposo” ou “material infinitesimal”
espalhando-se na direção normal a Y . Observe que temos um morfismo de
“inclusão” f : Y �→ X da reta magra na gorda correspondente ao morfismo
de Q-álgebras Q[x, y]/(x2 ) � Q[x, y]/(x), que leva a “função nilpotente” não
nula x ∈ OX (X) na função zero em OY (Y ) (ou seja, x ∈ OX (X) é uma
“função14 ” não nula se restringe a 0 em Y ).
13 Aqui começamos a utilizar o abuso de linguagem e omitir os feixes na notação.
14 quantas “aspas” neste exemplo, “sacou”?
296 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
(Spec Ah , OAh ) ∼
= (D(h), OA |D(h) )
Note que, como consequência do corolário (ou do lema), temos mais ge-
ralmente que para todo esquema (X, OX ) e todo aberto U ⊆ X o espaço lo-
calmente anular (U, OX |U ) também é um esquema, o subesquema aberto
determinado por U .
15.2.10 Exemplo Seja X = Spec C[x, y] e seja U = X \ {(x, y)}. Como
U = D(x) ∪ D(y), o esquema (U, OX |U ) pode ser coberto com duas “cartas
afins”
def def
U0 = Spec C[x, y, x1 ] e U1 = Spec C[x, y, y1 ]
Sejam f0 : U0 → X e f1 : U1 → X os morfismos de esquemas induzidos pelos
mapas de localização C[x, y] → C[x, y, x1 ] e C[x, y] → C[x, y, y1 ], respectiva-
mente. As restrições de f0 e f1 fornecem isomorfismos de espaços localmente
anulares (U0 , OU0 ) ∼
= (D(x), OX |D(x) ) e (U1 , OU1 ) ∼
= (D(y), OX |D(y) ).
15.2. ESQUEMAS 297
e C[x, y, y1 ].
Seja φ : U0
≈
✲ U1 o isomorfismo de A-esquemas dado pelo isomorfismo de
A-álgebras
A[y]y
≈
✲ A[x]x
y �→ 1/x
temos que
Em particular, como P1C �= Spec OP1C (P1C ) (P1C possui infinitos pontos enquanto
Spec C só possui um), temos que P1C não é afim.
(j) (i)
A[x0 , . . . , x(j) (i)
n ]x(j) → A[x0 , . . . , xn ]x(i)
i j
(i)
(j) xk
xk �→ (i)
xj
1. O ideal homogêneo de A
def
�
A+ = Ad
d>0
2. Definimos
def
Proj A = {p ∈ Spec A | p é homogêneo e p �⊇ A+ }
15.2. ESQUEMAS 299
def
V+ (a) = V (a) ∩ Proj A = {p ∈ Proj R | p ⊇ a}
def
D+ (h) = D(h) ∩ Proj A = {p ∈ Proj R | p �� h}
def
A(h) = {f ∈ Ah | deg(f ) = 0}
p �−→ ph ∩ A(h)
15 esta definição é literalmente demais!
300 CAPÍTULO 15. ESQUEMAS
D+ (h) ⊂ ✲ D(h) ✛
Spec ρ
Spec Ah ✲ Spec A(h) (∗)
≈
ψh (p) ⊇ ψh (a) ⇐⇒ p ⊇ a
15.2. ESQUEMAS 301
f
X Y
φ ψ
S
X : C/S → Sets
T �→ HomS (X, T )
X ×S Y (T ) = X(T ) × Y (T )
t �→ (p ◦ t, q ◦ t)
∃!(f,g) X ×S Y
p q
f
T X Y
g
φ ψ
τ
que é 0 em k[�] para todo i se, e só se, (a1 , . . . , an ) é um ponto com coordena-
das em k do conjunto algébrico definido por fi (x1 , . . . , xn ) = 0, i = 1, . . . , m, e
(b1 , . . . , bn ) é um “vetor tangente” ao conjunto algébrico neste ponto, também
com coordenadas em k.
Por exemplo, para o R-esquema X = R[x, y]/(x2 − y) (uma “parábola”),
temos que um R[�]-ponto de X é um par consistindo de um ponto real da
parábola (a, a2 ), a ∈ R, e um vetor tangente real b · (1, 2a), b ∈ R. Geometri-
camente, temos a seguinte “explicação”: Spec R[�] é um “ponto gordo” obtido
a partir da “reta real” Spec R[x] “quase” fazendo-se x = 0, de modo que há
certo “material infinitesimal extra” transbordando para os lados, nas direções
normais ao “ponto” Spec R[x]/(x). Assim, para especificar um morfismo
Spec R[�] → X precisamos dizer não só a imagem do “ponto” Spec R[x]/(x)
mas também a imagem da “parte infinitesimal”, que corresponde ao vetor
tangente.
O funtor de pontos tem uma descrição particularmente simples para es-
quemas afins.
Teorema 15.3.8 (Morfismos para um esquema afim) Seja X um es-
quema e seja A um anel. Temos uma bijeção natural
HomSch (X, Spec A) = HomRings (A, OX (X))
#
(f, f # ) �→ fSpec A
15.3. FUNTOR DE PONTOS E PRODUTO FIBRADO 307
�
Demonstração: Seja X = α Uα uma cobertura afim de X. Dado
φ : A → OX (X), construı́mos um morfismo f : X → Spec A da seguinte
maneira: seja φα = resXUα ◦φ : A → OX (Uα ) e seja fα : Uα → Spec A o
morfismo correspondente de esquemas afins. Vamos mostrar que os fα ’s
concordam nas intersecções e assim podem ser colados pelo lema 15.1.22 na
página 287.
�
Seja γ Vγ = Uα ∩ Uβ uma cobertura afim de Uα ∩ Uβ . Temos dois
morfismos entre os esquemas afins Vγ e Spec A: fα |Vγ e fβ |Vγ . Porém ambos
correspondem ao mesmo morfismo de anéis resXVγ ◦φ. Portanto fα |Vγ =
fβ |Vγ para todo k e assim fα |Uα ∩Uβ = fβ |Uα ∩Uβ , como desejado.
#
Reciprocamente, dado f : X → Spec(A), definindo φ = fSpec A e repetindo
a construção acima, obtemos um morfismo f : X → Spec(A) tal que f � |Uα =
�
def
15.3.9 Exemplo Seja Gm = Spec Z[x, x1 ]. Dado um esquema T , temos
bijeções naturais
Gm (T ) = HomRings (Z[x, x1 ], OT (T )) = OT (T )×
Às vezes, é mais fácil descrever um mapa entre funtores de pontos expli-
citamente; neste caso, o próximo resultado, que na verdade vale em qualquer
categoria, permite-nos recuperar o morfismo entre esquemas.
FX
X(X) Y (X)
X(t) Y (t)
FT
X(T ) Y (T )
Pelo lema anterior, temos que ambos Uαβ e Uβα são produtos fibrados de Xα ∩
Xβ e Y sobre S, portanto há um único S-isomorfismo φαβ : Uαβ
≈
✲ Uβα
compatı́vel com os morfismos de projeção. Em particular, da unicidade temos
φαα = id e φαβ = φ−1 βα . Além disso, para cada tripla (α, β, γ),
def
Uαβγ = Uαβ ∩ Uαγ = p−1
α (Xα ∩ Xβ ∩ Xγ ) ⊆ Xα ×S Y
def
Uγαβ = Uγα ∩ Uγβ = p−1
γ (Xα ∩ Xβ ∩ Xγ ) ⊆ Xγ ×S Y
m : Gm ×Spec Z Gm → Gm
Z[x, x1 ] → Z[x, x1 , y, y1 ]
x �→ xy
X � Zn � Zn−1 � · · · � Z1 � Z0 �= ∅
Como você já deve ter percebido, as definições acima não são indepen-
dentes entre si: por exemplo, temos
+localmente noetheriano
normal regular
(corolário 14.5.9)
+irredutı́vel
reduzido
com Vi ∼ = Spec Ai e Uij ∼ = Spec Bij afins tais que, para todo i ∈ I e
j ∈ Ji , Bij é uma Ai -álgebra finitamente gerada via o morfismo de anéis
induzido por f # :
fV#
Ai ∼
= OY (Vi ) ✲
i
OX (f −1 Vi ) ✲ OY (Uij ) ∼
res
= Bij
Se além disso (f, f # ) é quase-compacto, então dizemos que este mor-
fismo é de tipo finito;
(ix) finito (respectivamente integral) se é afim e se existe uma cobertura
�
Y = i∈I Vi com Vi afins tais que, para todo i ∈ I, fV#i : OY (Vi ) →
OX (f −1 Vi ) é um morfismo finito (respectivamente integral) de anéis;
def
(x) quase-finito se para todo y ∈ Y , a fibra Xy = X ×Y Spec κ(y) é um
conjunto finito e se OXy ,x é finito sobre κ(y) (via o morfismo de feixes
correspondente à projeção Xy → Spec κ(y)) para todo x ∈ Xy .
morfismo qualidades
Spec Ah �→ Spec A imersão aberta, tipo finito, plano
Spec A/a �→ Spec A imersão fechada, finito
√
Spec Z[ 2] � Spec Z finito, dominante, fielmente plano
√
Spec Z[ 2, 13 ] → Spec Z tipo finito, quase-finito, dominante, plano
Spec A[x] � Spec A tipo finito, dominante, fielmente plano
PnA → Spec A tipo finito, dominante, fielmente plano
As definições acima não são independentes entre si: por exemplo, temos
afim quase-compacto
i: U ✲ Spec A
≈
e j: V
≈
✲ Spec B
i|W : W
≈
✲ D(h) = Spec Ah e j|W : W ✲ D(g) = Spec Bg
≈
Demonstraç
� ão: Suponha que X é noetheriano com cobertura aberta afim
X = i∈I Ui com Ui ∼ = Spec Ai , Ai noetheriano. Como a localização dos Ai ’s
são noetherianos, pelo corolário 15.4.6 podemos
� assumir que Spec B admite
uma cobertura aberta finita Spec B = 1≤i≤m D(gi ) com gi ∈ B e tal que
cada Bgi é noetheriano. Agora considere uma cadeia ascendente de ideais
b1 ⊆ b2 ⊆ · · · de B. Como os Bgi ’s são noetherianos e há um número finito
de tais anéis, existe n0 tal que n ≥ n0 implica (bn )gi = (bn+1 )gi para todo
i = 1, . . . , m. Como os abertos principais D(gi ) cobrem Spec B, isto implica
que se n ≥ n0 então (bn )p = (bn+1 )p para todo p ∈ Spec A. Pelo princı́pio
local-global (teorema 4.2.3 na página 103), temos portanto que bn = bn+1
para todo n ≥ n0 .
com Vi ∼= Spec Ai e Uij ∼ = Spec Bij afins tais que, para todo i ∈ I e j ∈ Ji ,
Bij é uma Ai -álgebra finitamente gerada. Como a localização (Bij )hi de
Bij com relação a um elemento hi ∈ Ai é uma
� (Ai )hi -álgebra finitamente
gerada, podemos refinar a cobertura Y = i∈I Vi por abertos básicos de
modo que uma subcoleção dos Vi ’s passem a cobrir o aberto afim V , de
modo que a restrição f −1 V → V de f também é localmente de tipo finito.
Assim, substituindo Y por V podemos supor sem perda de generalidade que
Y = Spec A.
Aplicando o corolário 15.4.6, podemos ainda assumir que Y = Spec A
é coberto por um número finito de abertos principais D(hi ) e que Ai =
15.5. EXERCÍCIOS 315
15.5 Exercı́cios
15.1 Seja D o feixe das funções diferenciáveis sobre Rn .
0 ✲ F φ
✲ G ψ
✲ H ✲ 0
a sequência em Ab
0 ✲ Γ(X, F) φX
✲ Γ(X, G) ✲ Γ(X, H)
ψX
é exata.
Dica: Para mostrar que ker ψ = im φ use o lema de Zorn.
0 ✲ Z ✲ H
2πi exp
✲ H× ✲ 0
0 ✲ Z(X) ✲ H(X)
2πi
✲ H× (X)
exp
✲ 0
é exata.
0 ✲ Z(U ) 2πi
✲ H(U ) ✲ H× (U )
exp
✲ Z
δ
✲
k[x, y] → k[x, y]
x �→ ax + by
y �→ cx + dy
15.6 Mostre que P1A ×Spec A P1A = Proj A[x, y, z, w]/(yw − xz).
Apêndices
319
322 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
Dado um espaço métrico (X, d), dizemos que uma sequência (xn )n∈N em
X converge para um elemento a ∈ X, em sı́mbolos lim xn = a, se
ou seja, se lim d(xn , a) = 0 (limite em R). Dizemos que (xn )n∈N é uma
sequência de Cauchy se
Como em Cálculo, é fácil provar que se lim xn existe, ele é único e (xn )n∈N é
de Cauchy. Se toda sequência de Cauchy em X é convergente, dizemos que
X é completo.
Seja (X, d) um espaço métrico qualquer e defina X � como o conjunto das
sequências de Cauchy em X módulo a relação de equivalência
d�: X � ×X � → R≥0
� �
[(xn )], [(yn )] �→ lim d(xn , yn )
� é completo.
� d)
Teorema A.1.1 (X,
(0) (0)
Escolha t0 ∈ N de modo que m, n ≥ t0 =⇒ d(xm , xn ) < 1, ou seja, a
distância entre quaisquer dois termos na primeira linha a partir da coluna
t0 é menor do que 1. Em seguida, escolha t1 > t0 tal que m, n ≥ t1 =⇒
(1) (1)
d(xm , xn ) < 1/2 e assim por diante, de modo que temos uma sequência
A.1. TOPOLOGIA GERAL 325
(i) (i)
crescente ti com a propriedade de que m, n ≥ ti =⇒ d(xm , xn ) < 1/(1 + i).
Agora, em estilo “diagonal Cantoriano2 ”, defina a sequência em X
(i)
y i = xt i (i ∈ N)
Afirmamos que (yn )n∈N é de Cauchy em X e que lim x �n = [(yn )]. De fato,
xn )n∈N é Cauchy, dado � ∈ R>0 , existe N ∈ N tal que N > 3/� e
como (�
� xi , x
i, j ≥ N =⇒ d(� �j ) = lim d(x(i) (j)
n , xn ) < �/3
n→∞
(ou seja, a partir da N -ésima, quaisquer duas linhas acima ficam “�/3-
próximas” quando caminhamos para a direita). Mostremos que i, j ≥ N =⇒
d(yi , yj ) < �. Para j ≥ i ≥ N fixados, escolha n grande o suficiente de modo
(i) (j) (i) (i)
que n > tj ≥ ti e d(xn , xn ) < �/3. Como d(xti , xn ) < 1/(i + 1) < 1/N <
(j) (j)
�/3 e analogamente d(xtj , xn ) < �/3, temos da desigualdade triangular3
que d(yi , yj ) < �:
(i)
(i) d(xt ,x(i)
n )<�/3 (i)
i
y i = xt i xn
d(x(i) (j)
n ,xn )<�/3
(j)
d(xt ,x(j)
n )<�/3
(j) j (j)
y j = xt j xn
(i)
Assim, (yn )n∈N é de Cauchy. Finalmente, como (xt• ) é uma subsequência de
(i)
(x• ), estas duas sequências são equivalentes e portanto para i > N fixado
temos
A.1.3 Propriedades
Dizemos que um espaço topológico X é:
(i) Hausdorff se para cada par de pontos distintos x, x� ∈ X existem dois
conjuntos abertos disjuntos U e U � tais que x ∈ U e x� ∈ U � ;
�
(ii) compacto4 se toda cobertura aberta X = λ∈Λ Uλ admite uma sub-
cobertura finita X = Uλ1 ∪ · · · ∪ Uλn . Equivalentemente, X é compacto
se possui a seguinte propriedade: se F é uma famı́lia � de fechados em X
tal que F1 , . . . , Fn ∈ F =⇒ F1 ∩ · · · ∩ Fn �= ∅ então F ∈F F �= ∅;
(iii) desconexo se ele é a união de dois fechados disjuntos não vazios (que,
portanto, também são abertos). Caso contrário, X é dito conexo;
(iv) redutı́vel5 se ele é a união de dois conjuntos fechados próprios. Caso
contrário, X é chamado (adivinhe!) de irredutı́vel. Equivalentemente,
X é irredutı́vel se quaisquer dois abertos não vazios têm intersecção não
vazia.
Observe que todo espaço métrico é Hausdorff e que todo espaço irredutı́vel
é conexo. Diretamente das definições, é fácil mostrar o seguinte
Lema A.1.2 Seja f : X → Y uma função contı́nua entre dois espaços topo-
logicos. Então
1. Se X é compacto (respectivamente conexo, irredutı́vel) então f (X) é
compacto (respectivamente conexo, irredutı́vel).
2. Se X é compacto e F ⊆ X é um subconjunto fechado, então F é com-
pacto (na topologia de subespaço).
3. Se S ⊆ X é um subconjunto conexo (respectivamente irredutı́vel) então
o seu fecho S também é conexo (respectivamente irredutı́vel).
4. Se {Xi }i∈I é uma famı́lia�de subespaços conexos de X com Xi ∩ Xj �= ∅
para todo i, j ∈ I, então i∈I Xi é conexo.
G×G→G G→G
(g, h) �→ g · h g �→ g −1
são contı́nuas.
6e não somos um daqueles hereges que não acreditam no axioma da escolha!
328 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
h ◦ (g ◦ f ) = (h ◦ g) ◦ f
{a, b}
{a} {b}
(i) se x ∈ U e y ∈ x então y ∈ U;
330 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
(iii) se x ∈ U então 2x ∈ U ;
�
(iv) se I ∈ U e (xi )i∈I é uma famı́lia de elementos de U então i∈I xi ∈ U.
φX
F (X) G(X)
F (f ) G(f )
φY
F (Y ) G(Y )
G◦F ∼
= idC e F ◦G∼
= idD
332 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
e • •
•
Hom(X, F ) ✲ F (X)
≈
φ �−→ φX (idX )
7 a palavra único não está repetida por acidente: por exemplo, dados dois fechos
algébricos de um mesmo corpo K, eles são isomorfos, mas em geral há vários isomorfismos
entre eles (tantos quanto elementos do grupo de Galois absoluto GK )
A.3. LIMITES 333
A.3 Limites
Limites diretos e inversos são exemplos de funtores representáveis em muitas
categorias que aparecem “na prática”.
Sejam I e C duas categorias. Aqui, pensamos em I como uma “categoria
de ı́ndices”. Para cada objeto X ∈ C, seja cX : I → C o funtor constante
que leva todo i ∈ I em X e toda flecha em idX . Agora, dado um funtor
F : I → C, definimos o colimite, limite injetivo ou limite direto de F ,
em sı́mbolos
inj lim F (i),
i∈I
fi
F (i)
HomC (inj limi∈I F (i), inj limi∈I F (i)) Hom(F, cinj limi∈I F (i) )
f f
cujas flechas verticais são induzidas por composição com f . Assim, olhando
para a imagem de id ∈ HomC (inj limi∈I F (i), inj limi∈I F (i)), obtemos que a
bijeção (∗) é dada explicitamete por
∃!f
inj limi∈I F (i) X
φi
F (i) fi
�
Intuitivamente, é útil pensar em inj limi∈I F (i) “=” i∈I F (i), com os mor-
fismos φi : F (i) → inj limi∈I F (i) fazendo o papel das “inclusões”.
Da mesma forma, um morfismo de funtores cX → F é o mesmo que dar
uma “famı́lia co-compatı́vel” de morfismos fi : X → F (i) (i ∈ I), ou seja,
para qualquer flecha i → j em I, temos um diagrama comutativo
fi
X F (i)
fj
F (j)
Desta forma, o limite projetivo vem equipado de fábrica com uma famı́lia
co-compatı́vel de “mapas de projeção”
fi
F (i)
πi
∃!f
X proj limi∈I
πj
fj
F (j)
Note que nos dois primeiros exemplos, a relação de pré-ordem é uma relação
de ordem (i.e., vale a propriedade anti-simétrica), mas não no último exemplo:
se S é o conjunto multiplicativo de Z formado por todos os elementos não
nulos, temos que 2 | −2 e −2 | 2 mas 2 �= −2.
336 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
i l
i⇒j→k
(iii) I é conexa vista como um grafo não direcionado, i.e., quaisquer dois
objetos i e j de I podem ser conectados por um caminho de flechas,
ignorando as suas orientações:
i ← x1 → x2 ← x3 → · · · ← xn−1 → xn ← j
A.4 Exercı́cios
A.1 (Furstenberg) Para a, b ∈ Z, seja Ua,b = {a + nb | n ∈ Z}.
(a) Mostre que os conjuntos Ua,b formam uma base de uma topologia de Z.
Observe que nesta topologia qualquer aberto não vazio é infinito e Ua,b
é simultaneamente aberto e fechado.
�
(b) Mostre que Z \ {−1, 1} = p U0,p , em que p percorre os primos. Utilize
este fato para mostrar que há infinitos primos.
A.2 Mostre que um espaço topológico X é Hausdorff se, e só se, a diagonal
Δ(X) = {(x, x) ∈ X × X | x ∈ X} é um conjunto fechado em X × X.
A.3 (Zorn e Tychonoff ) Seja X um conjunto. Dizemos que uma famı́lia
F de subconjuntos de X é um filtro sobre X se
1. ∅ ∈
/F
2. A, B ∈ F =⇒ A ∩ B ∈ F
3. A ∈ F e B ⊇ A =⇒ B ∈ F
Um ultrafiltro sobre X é um filtro que é maximal com relação à inclusão.
(a) Mostre que uma famı́lia F de subconjuntos de X é um ultrafiltro se, e
só se, tem a seguinte propriedade: S ⊆ X =⇒ S ∈ F ou X \ S ∈ F.
(b) Seja G uma famı́lia de subconjuntos de X que tem a seguinte propriedade
de interseção finita: se F1 , . . . , Fn ∈ G então F1 ∩· · ·∩Fn �= ∅. Utilizando
o lema de Zorn, mostre que existe um ultrafiltro F que contém G.
(c) Suponha que X é um espaço topológico e seja x ∈ X. Defina
F = {S ⊆ X | S contém uma vizinhança aberta de x}
Mostre que F é um filtro.
(d) Suponha que X é um espaço topológico e seja F um filtro sobre X. Di-
zemos que F converge para um ponto x ∈ X se, para todo subconjunto
S ⊆ X contendo uma vizinhança aberta de x, S ∈ F. Mostre que as
seguintes condições são equivalentes:
(i) X é compacto.
(ii) todo ultrafiltro sobre X converge para algum ponto de X.
A.4 Seja {Uλ }λ∈Λ uma cobertura aberta de um espaço topológico X. Mos-
tre que um subconjunto F ⊆ X é fechado em X se, e só se, F ∩ Uλ é fechado
em Uλ (com a topologia de subespaço) para todo λ ∈ Λ.
A.5 Dada uma sequência exata de funtores (ou seja, temos uma sequência
exata para cada i ∈ I)
também é exata.
340 APÊNDICE A. FUNDAMENTOS
Apêndice B
Fatoração Única
a | b ⇐⇒ (a) ⊇ (b)
/ D× .
B.0.2 Definição Seja D um domı́nio e seja π ∈ D com π �= 0 e π ∈
π = ab =⇒ a ∈ D× ou b ∈ D×
341
342 APÊNDICE B. FATORAÇÃO ÚNICA
2. Suponha que
(i) todo ideal de D é finitamente gerado (i.e. D é noetheriano, veja
o capı́tulo 6 na página 145);
(ii) todo irredutı́vel é primo.
Então D é um DFU.
Demonstração:
1. Já vimos ⇐; para mostrar ⇒, seja π um irredutı́vel. Se π | ab, então
existe c ∈ D tal que πc = ab e pela unicidade da fatoração em irre-
dutı́veis, π é associado a um dos fatores irredutı́veis na fatoração de a
ou b, i.e., π | a ou π | b. Logo π é primo.
2. Existência da fatoração: Vamos utilizar a técnica de indução no-
etheriana, estudada em detalhes no capı́tulo 6 na página 145, que aqui
apresentamos de forma independente, adaptada para a nossa situação
particular.
Dado d0 ∈ D, d0 �= 0 e d0 ∈ / D× , vamos mostrar que d0 é produto de
irredutı́veis. Suponha por absurdo que não. Então d0 não é irredutı́vel,
logo d0 = ab com a, b ∈ / D× . Pelo menos um dos dois fatores, a ou
b, não é produto de irredutı́veis, caso contrário d0 seria produto de
irredutı́veis. Assim, existe d1 ∈ {a, b} que não é produto de irredutı́veis
e tal que (d1 ) � (d0 ); observe que a inclusão é estrita pois a e b não
são unidades e portanto nem a nem b é associado a d0 . Como d1 ∈ D,
d1 �= 0 e d1 ∈ / D× , não é produto de irredutı́veis, podemos repetir
o procedimento, obtendo uma uma cadeia estritamente crescente de
ideais
(d0 ) � (d1 ) � (d2 ) � · · ·
Tome o ideal (c.f. a prova do teorema 1.3.4 na página 9)
def
�
d = (dn ) = (d0 , d1 , d2 , . . .)
n≥0
d = π1 π2 . . . πm = ρ1 ρ2 . . . ρn
π2 . . . πm = uρ2 . . . ρn
D é DE =⇒ D é DIP =⇒ D é DFU
1 = xπ + ya
b = xb · π + y · ab é múltiplo de π
como desejado.
B.1. DE, DIP, DFU 345
1. Se � e
dj = uj πi ji (uj ∈ D× , eji ∈ N)
1≤i≤r
Desta forma, temos que Z[i] é um DFU. Nosso próximo passo será carac-
terizar todos os irredutı́veis de Z[i]. Antes precisamos de um pequeno
Lema B.2.2 Seja p um primo com p ≡ 1 (mod 4). Então existe x ∈ Fp tal
que x2 = −1.
Por outro lado, pareando a com −a e lembrando que (p − 1)/2 é par, obtemos
� �p − 1� �
2
(p − 1)! ≡ (−12 ) · (−22 ) · (−32 ) · . . . · − (mod p)
2
�� p − 1 � � 2
⇐⇒ − 1 ≡ ! (mod p)
2
� �
Assim, podemos tomar x = (p − 1)/2 ! mod p.
Demonstração:
x + 2i = u(1 − i)e α3
y 3 = x2 + 4 = N (x + 2i) = 2e N (α)3
f (x) = α · f0 (x)
Demonstração:
def b
f0 (x) = · f (x) ∈ D[x]
a
é primitivo. Assim, basta tomar α = a/b; se f (x) ∈ D[x], podemos
tomar b = 1 de modo que α = a ∈ D.
Demonstração:
A[x] � (A/p)[x]
n n−1
an x + an−1 x + · · · + a0 �→ an xn + an−1 xn−1 + · · · + a0
4. Temos
Demonstração:
1. Seja π ∈ D um primo e p = (π) ∈ Spec D. Como f (x) e g(x) são
primitivos, seus coeficientes não são todos múltiplos de π, logo
Como (A/p)[x] é domı́nio pelo segundo lema acima, temos que neste
anel
f (x) · g(x) = f (x) · g(x) �= 0
Ou seja, π não divide todos os coeficientes de f (x) · g(x). Como π é um
irredutı́vel arbitrário, concluı́mos que f (x) · g(x) é primitivo.
2. Como f (x) | g(x) em K[x], pelo primeiro lema acima, podemos escrever
a
g(x) = · h(x)f (x) (∗)
b
com a, b ∈ D e h(x) ∈ D[x] primitivo. Pelo item anterior, h(x)f (x) é
primitivo, logo, ainda pelo mesmo lema, temos
h(x) ∈ D[x] e temos assim que f (x) = g(x)h(x) é uma fatoração não
trivial em D[x]. Logo f (x) é redutı́vel em D[x].
(⇒) A recı́proca é bem mais fácil e não utiliza os resultados anteriores.
Suponha que f (x) seja redutı́vel em D[x] e seja f (x) = g(x)h(x) uma
� �×
fatoração não trivial com g(x), h(x) ∈/ D[x] = D× . Não podemos
ter deg g(x) = 0 ou deg h(x) = 0, i.e., g(x) ∈ D ou h(x) ∈ D, pois caso
contrário f (x) não seria primitivo. Logo deg g(x), deg h(x) > 0 e assim
f (x) = g(x)h(x) é uma fatoração não trivial em K[x], de modo que
f (x) é redutı́vel em K[x].
4. A ideia é tentar reduzir o problema para K[x], pois já sabemos que
K[x] é um DFU (pois é DE).
Inicialmente, vamos provar que todo irredutı́vel p(x) ∈ D[x] é primo.
Se deg p(x) = 0, então p(x) deve ser um elemento irredutı́vel em D, que
é primo pois D é DFU por hipótese. Agora suponha que deg p(x) > 0;
em particular, temos que p(x) é primitivo, pois caso contrário o mdc
de seus coeficientes não nulos seria um fator não trivial de p(x). Além
disso, pelo item (3), p(x) é irredutı́vel em K[x] também, logo p(x) é
primo no DFU K[x]. Assim, se g(x), h(x) ∈ D[x],
am = 0 =⇒ a = 0 ou m = 0 (a ∈ A, m ∈ M )
Demonstração:
N = Av1 ⊕ N0
B.5 Exercı́cios
B.1 (Critério de Eisenstein) Seja D um DFU e f (x) = an xn + · · · +
a1 x + a0 ∈ D[x] um polinômio primitivo não constante. Suponha que exista
um primo π ∈ D tal que π � an , π | aj para todo 0 ≤ j < n e π 2 � a0 . Mostre
que f (x) é irredutı́vel em D[x].
com d1 | d2 | d3 | · · · .
Apêndice C
Teoria de Corpos
355
356 APÊNDICE C. TEORIA DE CORPOS
M
[M :L]
L [M :K]=[M :L]·[L:K]
[L:K]
Demonstração: Se
L = Kω1 ⊕ · · · ⊕ Kωm (m = [L : K])
M = Lτ1 ⊕ · · · ⊕ Lτn (n = [M : L])
então é fácil verificar que
�
M= Kωi τj ,
1≤i≤m
1≤j≤n
e portanto [M : K] = mn.
evalα : K[x] → L
f (x) �→ f (α)
K[x] x�→ α
� � ∼
= K[α]
mα (x)
Note que toda extensão finita L ⊇ K pode ser escrita como uma torre de
extensões simples
L = Kn ⊇ Kn−1 ⊇ Kn−2 ⊇ · · · ⊇ K0 = K
com Ki+1 = Ki (αi+1 ) para algum αi+1 ∈ Ki+1 . De fato, basta tomar α1 ∈
L \ K0 , α2 ∈ L \ K1 , etc.; este processo para já que [Ki+1 : K] > [Ki : K] e
[L : K] < ∞. Como uma primeira aplicação deste fato, temos o seguinte
(ii) todo polinômio f (x) ∈ K[x] não constante possui uma raiz α ∈ K;
(iii) um polinômio p(x) ∈ K[x] é irredutı́vel se, e só se, p(x) tem grau 1;
C.2. EXTENSÕES SIMPLES E FECHO ALGÉBRICO 359
É claro que (i) ⇒ (ii) ⇒ (iii). Para ver que (iii) ⇒ (iv), basta notar que
o polinômio minimal de qualquer elemento α algébrico sobre K tem grau 1 e
assim α ∈ K. Por fim, (iv) ⇒ (i) segue do corolário acima.
Teorema C.2.6 Para todo corpo K, existe uma extensão algébrica K alg ⊇
K com K alg algebricamente fechado. Dizemos que o corpo K alg é um fecho
algébrico de K.
(i) (zi )i∈I − (xi )i∈I − (yi )i∈I com zj = xj + yj para exatamente um j ∈ I
e zi = xi = yi para os demais i ∈ I \ {j};
� �
anterior). Seja m ∈ Specm f ∈I Af e considere o corpo Ω = ( f ∈I Af )/m.
Temos que cada Af pode ser visto como subcorpo de Ω via a composição
� �
Af �→ Af � Ω = ( Af )/m
f ∈I f ∈I
σ̃
K(α) L�
≈
K σ K�
em que a “flecha σ” denota o isomorfismo p(x) mod f (x) �→ pσ (x) mod f σ (x)
induzido por σ.
C.3. EXTENSÕES QUASE-GALOIS E LEMA FUNDAMENTAL 361
� �
uma extensão finita e L ⊇ K uma extensão de corpos qualquer. Então há
no máximo [L : K] imersões σ̃ : L �→ L� com σ̃|K = σ. Em particular,
| Aut(L/K)| ≤ [L : K]
L ⊇ K(α) � K
� �
σ =
τ̃
L L
τ
E1 ≈ E2
Aut(L/K) � Aut(M/K)
σ �→ σ|M
Aut(L/K) ✲ Aut(M/K)
≈
Aut(L/M )
C.4. SEPARABILIDADE 365
C.4 Separabilidade
Nesta seção, queremos estudar o número de imersões e para isto precisamos
analisar o problema de raı́zes múltiplas de um polinômio.
C.4.1 Definição Seja K um corpo e seja K alg um fecho algébrico de K.
1. Um polinômio f (x) ∈ K[x] é dito separável se ele não possui raı́zes
múltiplas em K alg . Caso contrário, dizemos que (surpresa!) f (x) é
inseparável.
2. Um elemento α algébrico sobre K é dito separável sobre K se é raiz
de um polinômio separável em K[x].
3. Uma extensão algébrica de corpos L ⊇ K é dita separável se todo
elemento de L é separável sobre K. Caso contrário, ela é dita inse-
parável.
4. Seja L ⊇ K uma extensão de corpos de caracterı́stica p > 0. Dizemos
que L ⊇ K é puramente inseparável se para todo α ∈ L existe um
n
n ∈ N (que depende de α) tal que αp ∈ K.
5. Dizemos que K é um corpo perfeito5 se char K = 0 ou p = char K > 0
e o morfismo de corpos
Φ: K → K
α �→ αp
1. (Critério
� da derivada)
� O polinômio f (x) é separável se, e somente se,
mdc f (x), f � (x) = 1.
4. Se char K = p > 0 então f (x) é inseparável se, e só se, existe g(x) ∈
K[x] tal que f (x) = g(xp ). Em particular, qualquer polinômio não
n
constante f (x) ∈ K[x] pode ser escrito como f (x) = g(xp ) para algum
n ∈ N e algum polinômio separável g(x) ∈ K[x].
Demonstração:
já que f (x) é irredutı́vel. Mas f � (x) = 0 ou deg f � (x) < deg f (x).
Assim, f (x) | f � (x) ⇐⇒ f � (x) = 0.
n
3. Seja α ∈ K alg uma raiz de f (x) = xp − a ∈ K[x]. Então em K alg [x]
n n n
temos a fatoração f (x) = xp − αp = (x − α)p e assim α é raiz única
de multiplicidade pn .
Demonstração:
n
α sobre K é da forma f (x) = g(xp ) para algum n ∈ N e g(x) ∈
K[x] separável. Necessariamente deg g(x) = 1, caso contrário terı́amos
[L : K]sep > 1 como acima, uma contradição. Portanto [L : K] =
deg f (x) = pn .
L
puramente inseparável
K̃
separável
Demonstração:
1. Já vimos a implicação ⇒. Reciprocamente, suponha que M ⊇ L e
L ⊇ K sejam extensões separáveis finitas. Pelo lema anterior, M ⊇ K
é separável pois
Para o caso geral, observe que uma extensão simples K(α) ⊇ K é se-
parável se, e só se, α é separável sobre K, já que esta última condição
é equivalente a [K(α) : K]sep = [K(α) : K], que por sua vez é equi-
valente a K(α) ⊇ K ser separável pelo lema anterior. Assim, uma
extensão K(α1 , . . . , αn ) ⊇ K gerada por elementos separáveis αi sobre
K é separável, já que basta decompô-la como uma torre de extensões
simples
Aut(L/K) �→ Aut(K̃/K)
σ �→ σ|K̃
i �= j =⇒ σi (α + cβ) �= σj (α + cβ)
e como K(α+cβ) ⊆ K(α, β), não há outra opção senão K(α+cβ) = K(α, β).
Para encontrar c, basta observar que há apenas um número finito de pos-
sibilidades para σi (α) e σi (β), a saber, os conjugados α1 , . . . , αm e β1 , . . . , βn
de α e β sobre K. Como K é infinito, é possı́vel escolher c evitando o conjunto
finito formado pelos elementos
αi − αj
(1 ≤ i, j ≤ m, 1 ≤ r, s ≤ n, r �= s)
βr − βs
e assim
� �
σi (α + cβ) = σj (α + cβ) ⇐⇒ σi (α) − σj (α) = c · σj (β) − σi (β)
⇐⇒ σi (α) = σj (α) e σi (β) = σj (β)
⇐⇒ σi = σj ⇐⇒ i = j
σσi = σσj τ =⇒ σi = σj τ =⇒ σi D = σj D =⇒ i = j
Assim, o polinômio � � �
f (x) = x − σi (α)
1≤i≤n
pertence a K[x] pois todos os seus coeficientes são expressões simétricas nos
elementos de O. Portanto α é raiz de um polinômio separável f (x) ∈ K[x]
C.5. TEORIA DE GALOIS 373
L
Galois de grau |G|
LG
puramente inseparável
GK � Gal(M/K)
σ �→ σ|M
2. (K sep )GK = K
Demonstração:
1. Se σ ∈/ Gal(K sep /L), devemos encontrar uma extensão Galois finita
M ⊇ K tal que σ Gal(K sep /M ) ∩ Gal(K sep /L) = ∅. Se x ∈ L é tal
que σ(x) �= x, basta tomar M como o corpo gerado sobre K pelos
conjugados de x.
2. Dado um corpo intermediário L de K sep ⊇ K, como K sep ⊇ L é Galois,
sep
temos que L = (K sep )Gal(K /L) pelo lema acima. Reciprocamente,
seja H ⊆ GK um subgrupo qualquer; então Gal(K sep /(K sep )H ) é igual
ao fecho de H em GK . De fato, claramente Gal(K sep /(K sep )H ) ⊇ H e
C.6. TEORIA DE GALOIS INFINITA 377
assim, pelo item anterior, Gal(K sep /(K sep )H ) contém o fecho de H em
GK . Para terminar, falta provar que, dados σ ∈ Gal(K sep /(K sep )H ) e
uma extensão Galois finita M ⊇ K, σ Gal(K sep /M ) ∩ H �= ∅.
Pelo lema anterior, GK � Gal(M/K) é sobrejetor com kernel GM .
Sejam σ e H as imagens de σ e H em Gal(M/K). Observe que
σ Gal(K sep /M ) ∩ H �= ∅ ⇐⇒ σ ∈ H e esta última condição segue
da correspondência de Galois finita:
GK Gal(M/K)
Gal(L/K)
Note que estes mapas de restrição são contı́nuos pela definição da to-
pologia de Krull. Logo, pela propriedade universal do limite projetivo,
temos um morfismo de grupos topológicos
Com esta descrição explı́cita, é fácil ver que Z (visto como o subgrupo das
tuplas constantes) possui corpo fixo Fp . Isto mostra que a correspondência de
Galois “ingênua” falha para extensões infinitas, pois dois subgrupos distintos
� fixam o mesmo subcorpo. Mas a explicação é simples: Z
Z e Z � é o fecho
�
de Z, ou seja, Z é denso em Z, logo é intuitivamente claro que eles fixem a
mesma coisa!
mβ : L → L
x �→ βx
Em particular, se α ∈ K então
Demonstração:
1. Segue de Tr(mβ1 +β2 ) = Tr(mβ1 + mβ2 ) = Tr(mβ1 ) + Tr(mβ2 ) e de
det(mβ1 ·β2 ) = det(mβ1 ◦ mβ2 ) = det(mβ1 ) · det(mβ2 ).
2. Sejam n = [L : K] e m = [M : L] e escolha bases
L = Kω1 ⊕ · · · ⊕ Kωn
M = Lτ1 ⊕ · · · ⊕ Lτm
�
M= Kωi τj
1≤i≤n
1≤j≤m
Faremos a prova para a norma, já que a prova para o traço é análoga
(e mais simples). Seja β ∈ M .
Caso β ∈ L: Seja A ∈ Mn (K) a matriz de mβ : L → L com relação à
base de L sobre K acima. Então a matriz de mβ : M → M relativa à
base de M sobre K acima tem formato “blocos em diagonal”
A 0 ··· 0
0 A · · · 0
.. ..
. .
0 0 ··· A
3. Faremos a prova para o traço, já que a prova para a norma é análoga.
Se m = [L : K(β)], pelo item anterior,
TrL/K (β) = TrK(β)/K ◦ TrL/K(β) (β) = m TrK(β)/K (β)
C.8 Discriminante
C.8.1 Definição Seja L ⊇ K uma extensão finita de corpos de grau n =
[L : K] e seja ω1 , . . . , ωn uma base de L sobre K. O discriminante desta
base é o elemento de K
Δ(ω1 , . . . , ωn ) = det(TrL/K (ωi ωj ))1≤i,j≤n
C.8. DISCRIMINANTE 381
Então
Δ(ω1 , . . . , ωn ) = Δ(τ1 , . . . , τn ) · (det C)2
Demonstração:
� �
(σj (ωi ))n×n · (σj (ωi ))Tn×n = TrL/K (ωi ωj )
n×n
� �2
=⇒ δ(ω1 , . . . , ωn ) = Δ(ω1 , . . . , ωn )
é não nulo, pois os conjugados θi são dois a dois distintos já que L ⊇ K
é separável.
382 APÊNDICE C. TEORIA DE CORPOS
C.10 Exercı́cios
C.1 Seja L ⊇ K uma extensão finita de corpos. Suponha que Aut(L/K)
tenha [L : K] elementos. Mostre que L ⊇ K é Galois.
C.2 Verdadeiro ou falso?
(a) Se M ⊇ L e L ⊇ K são extensões quase-Galois então M ⊇ K também é
quase-Galois.
(b) Se L1 ⊇ K e L2 ⊇ K são duas extensões Galois então o compósito L1 L2
(o subcorpo gerado por L1 e L2 em K alg ) é Galois sobre K.
C.3 Seja M ⊇ K uma extensão separável. Mostre que existe um corpo
L ⊇ M tal que L ⊇ K é Galois. Se [M : K] < ∞, então existe L com tal
propriedade e com [L : K] < ∞. O menor L com tal propriedade (i.e. a
intersecção de todos os corpos com esta propriedade) é chamado de fecho
Galois de M .
384 APÊNDICE C. TEORIA DE CORPOS
Gal(L1 L2 /K)
≈
✲ Gal(L1 /K) × Gal(L2 /K)
σ �→ (σ|L1 , σ|L2 )
C.6 Seja p um número primo e seja ζ uma raiz p-ésima primitiva da unidade.
Prove:
(a) TrQ(ζ)/Q (ζ k ) = p − 1 se k = 0 e TrQ(ζ)/Q (ζ k ) = 0 se k = 1, . . . , p − 1.
p−1
(b) Δ(1, ζ, . . . , ζ p−2 ) = (−1) 2 pp−2 .
Referências Bibliográficas
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groups of G(k), Group representation theory, EPFL Press, Lau-
sanne, 2007, pp. 405–450. MR 2336645 (2008g:20114)
[Ser09] , How to use finite fields for problems concerning infi-
nite fields, Arithmetic, geometry, cryptography and coding theory,
Contemp. Math., vol. 487, Amer. Math. Soc., Providence, RI, 2009,
pp. 183–193. MR 2555994 (2011a:14094)
[SS03] Elias M. Stein and Rami Shakarchi, Complex analysis, Princeton
Lectures in Analysis, II, Princeton University Press, Princeton, NJ,
2003. MR 1976398 (2004d:30002)
385
Índice Remissivo
386
ÍNDICE REMISSIVO 387