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arnaldo garcia

yves lequain

PROJETO

EUCLIDES
A
Prefácio

Este livro evoluiu de notas de aula utilizadas num curso ofere-


cido anualmente no IMPA. Foi escrito com a preocupação de poder
ser utilizado como livro de referência num curso básico de Álgebra
das universidades brasileiras. Não se faz uso de resultados que não
sejam estabelecidos no texto.
O livro está dividido em três partes. Os capítulos I, IH, III e
IV podem ser adotados como texto de um curso sobre a teoria dos
anéis, com algumas aplicações à teoria dos números e à geometria
algébrica. Os capítulos 1, V, VI, VII podem ser adotados como
texto de um curso sobre a teoria dos grupos. Os capítulos I, II,
VIII, IX podem ser adotados como texto de um curso sobre a teoria
dos módulos finitamente gerados sobre domínios euclidianos, com
aplicações à teoria dos operadores lineares em espaços vetoriais de
dimensão finita.
Os exercícios são parte importante do livro. Alguns deles são
integrados ao corpo do livro; eles estendem, desenvolvem e clarifi-
cam idéias abordadas no texto e devem ser encarados como parte
integrante deste. Outros são colocados no final dos capítulos.
Grande contribuição foi dada pelas várias turmas de alunos do
IMPA, através de perguntas, dúvidas e observações, e somos gratos
por isto. Gostaríamos também de agradecer aos nossos colegas
Nicolau Corção Saldanha e Carlos Gustavo Tamm Moreira pela
apresentação de sugestões matemáticas importantes, e a Rogério
Dias Trindade pelo excelente trabalho de composição e editoração
eletrônica do texto deste livro.

ARNALDO GARCIA

YvESs LEQUAIN

Rio de Janeiro, dezembro de 2001


Conteúdo

DIVISAO E FATORAÇÃO EM ANÉIS

Introdução ........ccccce
erre 3

CAPÍTULO I Anéis e Domínios 7


[1 Definições e Exemplos .......icciiiiciiiciiic ir 7
[2 Anéis de Polinômios .........cccciciiciiiiiiccco 2.15
[3 Domínios Euclidianos ........icccciicicicc
cr 19
[4 Homomorfismos de Anéis ........icciciiiiiicciccrra 30
5 Exercícios ......cccciccic 34

CAPÍTULO II Fatoração Única 39


I.1 Definições e Exemplos .........ccciiciiiiicciicicees 39
I.2 Fatoração em Domínios Noetherianos ................. 45
H.3 Fatoração Única em Anéis de Polinômios ............. 54
I.4 Exercícios .....ccciccccc er 65

CAPÍTULO III Polinômios 71


WI.1 Raízes e Fatores de um Polinômio ..........ccccc.... 11
HI.2 Critérios de Irredutibilidade .......cccccccccccc 76
HI.3 Resultante de dois Polinômios ........ccccccccici 84
1.4 Polinômios Simétricos .....cccciciiciiticciscre
er 97
WI.o Teorema da Base de Hilbert ........cccccicccc 104
WI.6 Exercícios ......ccccciiciic
eee 107

CAPÍTULO IV Aplicações 113


IV.1 Somas de dois Quadrados .........ccciciiccicccc 113
IV.2 Soluções Inteiras de Xº+Y2=Zº 119
IV.3 Teorema de Bezout ......cciciciciiiccc cr 121
IV.4 Exercícios ..cccicccl 129
GRUPOS

CAPÍTULO V Teoria Básica dos Grupos 135


V.1 Exemplos de Grupos ......ccccciiiciiii 135
V.2 Subgrupos .......cccccccce ne 142
V.3 Classes Laterais e Teorema de Lagrange ............. 147
V.4 Subgrupos Normais e Grupos Quocientes ............ 152
V.5 Homomorfismos de Grupos .........ccciicccccc 159
V.6 Grupos Cíclicos ......ciicicciciiciscc 172
V.7 Grupos Finitos Gerados por dois Elementos ......... 182
V.8 Produto Direto de Grupos ..........ccccciiiiccc 197
V.9 Produto Semidireto de Grupos ........cccccccii 200
V.10 Grupos de Permutações .........ccciicccccciccci 218
V.ll Exercícios ......cccccciciicscics 239

CAPÍTULO VI Estudo de um Grupo via Represen-


tações por Permutações 249
VI.1 Representação de um Grupo por Permutações ...... 250
VI.2 Teoremas de Sylow ........ccccccciiiiiiiscrer 258
VI.3 p-Grupos Finitos ........cccciiicccccc ee 266
VI.4 Classificação dos Grupos Simples de Ordem < 60 ... 268
VI.5 Classificação dos Grupos de Ordem < 15 ........... 275
VI.6 Propriedades de A, e Às ......cciiiiiiiiciccre 280
VI.7 Exercícios ......ccccicicic cera 285

CAPÍTULO VII Grupos Solúveis 293


VII.1 Teorema de Jordan-Hólder ........ccccccccc 293
VII.2 Grupos Solúveis .....ccccicccccccic sa 300
VII.3 Exercícios ...ccccccc 3504
MÓDULOS SOBRE DOMÍNIOS EUCLIDIANOS

CAPÍTULO VIII Matrizes e Módulos Finita-


mente Gerados 309
VIII.1 Diagonalização de Matrizes ..........cicciccco. 309
VIII.2 Módulos e Homomorfismos ............ccicccc. 318
VIII.3 Submódulos de um Módulo Livre ................ 327
VIII.4 Estrutura dos Módulos Finitamente Gerados ...... 332
VIII.5S Exercícios ......ccccccc rr 338

CAPÍTULO IX Aplicações 341


IX.1 Estrutura dos Grupos Abelianos Finitamente Gerados 341
IX.2 Forma Canônica de Jordan .......ccccccccc cc 342
IX.3 Exercícios ....ccccccccciic rr err 348

ÍNDICE ......cc 353

NOTAÇÕES ...... 361


Introdução

A verificação das afirmações seguintes sobre os números inteiros


primos é imediata:

2=1241º é soma de dois quadrados,

3 não é soma de dois quadrados,

5=922 41º é soma de dois quadrados,

7 não é soma de dois quadrados,

11 não é soma de dois quadrados,

13=32 +42? é soma de dois quadrados,

17 =4241? é soma de dois quadrados.

Agora, observamos que 5, 13, 17 são números primos do tipo 4k+1,


enquanto 3, 7, 11 são números primos do tipo 4k+3; ainda mais, se-
ria fácil verificar que se p é um número primo ímpar qualquer menor
do que, digamos 1000, então o primo p é soma de dois quadrados
se ele é do tipo 4k + 1, e não é soma de dois quadrados se ele é do
tipo 4k + 8. E então natural propor a seguinte conjectura:

3
4 INTRODUÇÃO

Conjectura: Um número primo p é soma de dois quadrados se e


somente sep— 2 oup é do tipo 4k+4 1.

Fermat (1606-1665) considerou esta conjectura e demonstrou a


sua validade. À seguir, damos uma idéia do método que usaremos
para uma demonstração.

Primeiro, lembramos que se R é o conjunto dos números reais e


C = R + Ri é o conjunto dos números complexos, a função norma

N:C-R+R
SR
a+bi> (a+bi)(a
— bi)

preserva a multiplicação. De fato, se para todo a = att EC


denotamos seu conjugado a — bi por à, então é imediato verificar
que temos a) =a5,Va,8€C,e portanto que

N(af) = af 08 = aaBf = N(o)N(8).


de p é um número primo que é soma de dois quadrados, então
p=aqº+b = (a+ibl(a-— ib) com a,b E Z, isto é, o primo p se
fatora num produto de dois elementos de Zfil:= (r+Hiy | x,y E Z),
cada um desses fatores tendo norma 1 (pois a norma é igual a
a2+bº + 1). Reciprocamente, se um número primo p se fatora num
produto de dois elementos de Zf[i| de normas * 1, então

pv” =N(p)=NIa+riblc+rid]=N(a+ridN(c+id),

isto é, temos p? = (a? + b?)(c? + d?).


INTRODUÇÃO 5

Agora,

po = (a? + b2)(cº + dê)


1 + a +b EN > Do
Lo 7 CrRen (Ut =p
p primo

isto é, o primo p é soma de dois quadrados.

Assim, para um número primo p, obtivemos que:

p é soma de dois quadrados de inteiros


y
p se fatora num produto de dois elementos de Z[i| de normas + 1.

Em outras palavras, o problema de caracterizar os inteiros primos


que são somas de dois quadrados é equivalente a um certo problema
de fatoração no anel Zfi].

É via este caminho de fatoração em Zi] que vamos querer provar


a validade desta “conjectura”. Para isto, naturalmente, devemos es-
tudar o problema da fatoração em Z/i] e, em particular, o problema
da fatoração única.

É usual provar que o domínio Z tem a propriedade de fatoração


única como consequência do teorema seguinte:

Teorema. (Algoritmo da divisão em Z, de Euclides).


Sejama,be Z, b+0. Então existem t,r E Z tais que

a=bt+r com lIr|<l|bl.

Assim é natural se perguntar se existe no domínio Zfi| uma


noção de divisão com resto pequeno similar à divisão euclidiana
em Z (veremos que SIM), e se esta noção de divisão implica a
propriedade de fatoração única (veremos que SIM).
6 INTRODUÇÃO

Aplicaremos também a propriedade de fatoração única do do-


mínio Z|:| para determinar o conjunto de todas as soluções inteiras
da equação Xº + Yº = Zº2.

Um outro problema, básico é o de procurar as soluções de um sis-


tema de equações polinomiais. Consideraremos aqui o caso particu-
lar seguinte: dados dois polinômios f(X),g(X) E Z[X|, determinar
se o sistema de equações

o =0
g(X) =0

tem alguma solução. Veremos que este problema está relacionado


com o problema da fatoração única no anel de polinômios Z[X].
Nos perguntaremos então se em Z/X] existe uma noção de divisão
com resto pequeno similar à divisão euclidiana em Z (veremos que
NÃO), e se o domínio Z[X] tem a propriedade de fatoração única
(veremos que SIM).
Capítulo 1

Anéis e Dominios

1.1 Definições e Exemplos


Na expressão do algoritmo de Euclides para Z, usamos o fato de Z
possuir duas operações: a adição e a multiplicação. Uma tentativa
de generalizar um tal algorítmo vai exigir trabalhar num conjunto
D munido de duas operações que satisfazem algumas condições na-
turais, condições estas satisfeitas pelas operações de Z. Isso nos
leva à definição seguinte:

Definição 1.1.1. Um anel ou anel comutativo (A, +,-) é um con-


junto 4 com pelo menos dois elementos, munido de uma operação
denotada por + (chamada adição) e de uma operação denotada
por - (chamada multiplicação) que satisfazem as condições se-
guintes:

À.1) À adição é associativa, isto é,

Vr,y,ze4A, (x+y)tz=2+(y+2).

A.2) Existe um elemento neutro com respeito à adição, isto é,

30€ A talque, VIrEA, 0+7x=%x e z4+0=7.


8 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

A.3) Todo elemento de À possui um inverso com respeito à adição,


Isto é,

VzxE A, dz€ A talque z+z=0 e z+zx=0.

A.4) À adição é comutativa, isto é,

Vive A, tty=ytaga.

M.1) A multiplicação é associativa, isto é,

Ve,yzeA, (rxy)-z=r-(y-2).

M.2) Existe um elemento neutro com respeito à multiplicação, isto


4

e,

391€ À tal que, Vr E A, lzx=r e zrl=gz.

M.3) A multiplicação é comutativa, isto é,

YVI,VEÁ, Ly=y't.

AM) À adição é distributiva relativamente à multiplicação, isto é,

VL,y,zes, v(ytzg)=ry+r-a.

Se todas as condições são satisfeitas com exceção de M.3), então


(A,+,-) é chamado de anel não-comutativo.

Nota: Muitas vezes deixaremos de indicar as operações do anel,


escrevendo A para denotar um anel (A, +,-). Também, quando não
existir ambiguidade, escreveremos ab no lugar de a - b.
ISEC. 1.1: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 9

Observação 1.1.2. a) À condição A.2) garante a existência de um


elemento neutro para a adição; é imediato verificar que realmente
esse elemento neutro é único. De fato, se O e 0º são dois elementos
neutros para a adição, temos

0=0+4+0 pois 0" é elemento neutro


= (0 pois O é elemento neutro.
Esse único elemento neutro para a adição será chamado zero e de-
notado por 0.
Similarmente, existe um único elemento neutro para a multi-
plicação. Ele será chamado um e denotado por 1.
b) Dado x € 4, a condição A.3) garante a existência de um inverso
para x com respeito à adição; é fácil verificar que esse inverso é
único. De fato, se y e y são dois inversos de z com respeito à
adição, temos:

y=y+0 por A.2)


=y+(z+y) pois y é inverso de x
=(ytar)+y porÃ1)
=0+y pois y é inverso de 1
=y por A.2).
Esse único inverso de x com respeito à adição será denotado
por —g.
c) O elemento neutro da adição O tem a seguinte propriedade:

O-.x=0, VZzxeA.

De fato, basta observar que 0-x = (0+0)x=0-x+0-4.


Definição 1.1.3. Um anel (D,+, - ) é chamado domínio ou domí-
nio de integridade se ele satisfaz a seguinte condição:
M.4) O produto de quaisquer dois elementos não-nulos de D é um
elemento não-nulo, isto é,

Verve DIO, ryAo0.


10 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Um anel (K, +, -) é chamado corpo se ele satisfaz a seguinte condição:


M.4') Todo elemento diferente de zero de K possui um inverso com
respeito à multiplicação, isto é,

Vrxe K40), dyekKtalquezx-y=1.


Observação 1.1.4. a) Se x 4 O é um elemento de um domínio D
ey,2 € D, então

ry=T:2 > y=az (verifique).

b) Dado x E K, x £ 0, a condição M.4') garante a existência de


um inverso com respeito à multiplicação; é fácil verificar que esse
inverso é único. De fato, se y e y' são dois inversos de x com respeito
à multiplicação, temos: y=yl=y(zx-y)=(yr)-y=ly=y.
Denotaremos por x”! este inverso multiplicativo.
c) O axioma M.4”) é mais forte que o axioma M.4) (Verifique).
Logo, em particular, um corpo é um domínio.
d) Todo domínio D com um número finito de elementos é um corpo.
De fato, para x € D, x É 0, considere o conjunto (x” | n E NJ.
Pela finitude de D existem dois inteiros n; < n tais que 7"! = q”;
portanto x: 7"? "17! = 1 e o elemento x possui um inverso.
Exemplo 1.1.5. Nos seis primeiros exemplos que seguem, + denota
a adição usual em C e - denota a multiplicação usual em C.

a) (Z,+,-) é um domínio.
b) (Q,+,:), (R,+,:), (C, +,-) são corpos.

c) Seja Zlil = fa+bi la, be Z+. Então (Zlil, +,-) é um domínio


chamado anel dos inteiros de Gauss.

d) Ia+by3]abe Z), +, )e(fa+biv3|a,be Z),+,-) são


domínios.

e) Mais geralmente, se n é um inteiro positivo, temos então que


fa+by/nlabeZh+, )e(fa+biyn|a,be Z),+,:) são
domínios.
ISEC. |.1: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 11

f) fa+bi | a,b E Q) é um corpo; na procura de um inverso


multiplicativo para a + bi, lembre-se que (a + bi)(a — bi) =
a2 + b? E Q. Esse corpo será denotado por Q(i).

g) Dados dois anéis (Ari, do) e (42, +55), podemos construir


1 2
um novo anel da maneira seguinte: definimos no conjunto
Ay x Ay:= [(03,02); q E Aj,as E As) as operações:

(01,02) + (04,05) := (ay + al, aa + db)


(a1,42) , (01,45) = (a 01,0 > ay).

É rotina verificar que (4; x A5,+,:) é um anel, chamado


produto direto de À; com As, onde o elemento neutro com
respeito à adição é (04,, 04,) e o elemento neutro com respeito
à multiplicação é (1a,, 14).
h) Mais geralmente, dados r anéis (A,,+, ), (A, +,:), de
1 rr
fina a noção de produto direto 4, x --- x À,.

i) Se f:R >» Reg:R — R são duas funções de R em R,


definimos:
fog:R = R
To fax)+g(x)
fog:R => R
To fa) g(g).
Então ((funções de R em R+, &,0) é um anel comutativo com
unidade, mas não é um domínio.

j) Seja M,xn(R) o conjunto das matrizes n xn com entradas em


R:; sejam + a adição usual de matrizes e - a multiplicação
usual de matrizes. Então, (M,xn(IR), +,:) é um anel não-
comutativo se n > 2.

Exercício 1.1.6. Mostre que se no Exemplo e) acima substituimos


o anel dos inteiros Z pelo corpo dos números racionais Q (i.e., se
tomamos a,b € Q), então obtemos corpos.
12 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Exemplo 1.1.7. (Anel dos inteiros módulo n).


Seja n um inteiro positivo. Sobre Z, definimos a relação = da

8 |
maneira seguinte: para a,b € Z,

a=b > a-bé


um múltiplo de n.
n

Em vez de escrever a = b, escreve-se também a = b(modn) e


n

diz-se que a é côngruo a b módulo n.


E imediato verificar que = é uma relação de equivalência, isto é,

a =
n

a=b>b=a
nr n

a=bb=c>aze.
n n n

Se a € Z, então, por definição, sua classe de equivalência módulo o


inteiro n consiste no conjunto (b € Z; b = ab, i.e., no subconjunto
n

fa + kn;k € Z!. ela será denotada por à ou a + nZ. Denotaremos


por Z/nZ o conjunto das classes de equivalência módulo n; é claro
que Z/nZ = 10,1,...,n— 1h.
Sobre Z/nZ, definimos duas operações:

PD: Z/nZ x Z/nZ — ZjnZ


(7,9) — T+y
O: Z/nZ x ZnZ — ZlnZ
n

(7,9) > Ty.


Note que Z representa uma classe de equivalência, classe esta
que admite outras representações 7º (com x — xº = kn para algum
k e Z). Similarmente, a classe de equivalência y tem várias repre-
sentações. E necessário verificar que nossas definições das operações
& e O são boas no sentido do resultado não depender da escolha
n n
das representações das classes de equivalências; de maneira precisa,
[SEC. 1.1: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 13

é necessário verificar que

t=%

s IJ s Il)
vEy > r+ty=r+y e Ty=uy,

isto é, deve-se verificar que

x!
z
sis II

phstusa+r e Ty = ay.

Deixamos essa verificação ao leitor.


Veremos agora que (Z/nZ, &, O) é um anel onde:
n mn

o elemento neutro para €& é a classe 0


n

o elemento neutro para O é a classe 1


n

o inverso de Z com respeito à operação & éaclasse —gz.


n

Verificamos que o axioma A.1) é satisfeito, isto é,

vz,9,2€Z/nZ, (1O)Dz=7O(7O2).
mn n n n

Com efeito, temos:

1OWBZ por definição de &


8]

S
|

D
W

=(rx+y)+z por definição de &


n

(y + 2) pois + é associativa em Z
+ 2) por definição de &
=TI0(yOZ) por definição de €.

Deixamos como exercício a verificação dos outros axiomas.


O anel (Z/nZ, 2,0) se chama o anel dos inteiros módulo n.
n mn
14 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Definição 1.1.8. Seja (4,+,-) um anel e seja 1 um subconjunto


não-vazio de 4. Dizemos que Í é um ideal de À se
o cv+yETl, Va,yel
e axel, Vrxel, Vac A.

Exemplo 1.1.9. a) Seja n > 0 um inteiro. Claramente, o subcon-


junto nZ := fzn | z € ZJ é um ideal do anel dos inteiros.
b) Mais geralmente, seja (4,+,-) um anel e sejam q,...,0
elementos do anel 4. Então, claramente, o subconjunto
Aa + ecc + Aa; — tao ++ aa; | 01,...,0 E Ab é um
ideal de (A, +,:) que será denotado por (a4,..., ay).

O conceito de ideal permite fazer uma construção totalmente


análoga à construção do anel (Z/nZ, &, O) dos inteiros módulo n:
nm

Exemplo 1.1.10. (Anel quociente módulo um ideal).


Sejam (A, +,-) um anel e 7 um ideal de A. Sobre 4, definimos
a relação de congruência (mod 1): paraa,be À,

a=b(mod!) & a-bel.

É imediato verificar que esta relação é uma relação de equivalência.


de a € À, então por definição, sua classe de equivalência módulo f
consiste no subconjunto (b E A; b = a(mod 1)), isto é, no subcon-
junto (a+c; c€ T); ela será denotada por à ou a+1. Denotaremos
por A/I o conjunto das classes de equivalência módulo 1. Sobre este
conjunto A/T, definimos duas operações o e O da maneira seguinte:
para T,y E A/I,

TOVI=THY e TOVI=T:).

Deixamos ao leitor a tarefa de verificar que as operações € e O


Io TI
estão bem definidas e que (A/I, O, 2) é um anel, chamado de anel
quociente de A módulo T.
[SEC. 1.2: ANÉIS DE POLINÔMIOS 15

I.2 Anéis de Polinômios


Seja (4, +, -) um anel. Um polinômio numa variável sobre A é uma
sequência (ao, a1,...,Gn,..- ), onde a; E À para todo índice e onde
a; + O somente para um número finito de índices.
Seja 4 = (polinômios numa variável sobre A+. No conjunto A,
definimos as operações seguintes:

B: Ax A — A
(a0,01,..-); (bo,br,...) H5> (ao + bo,a1 + br,...)

C: Ax A — A
(ao,01,...), (bo,br,...) + (Co, C1,--.)

onde

Co = G0b0
Cy =— a001 + a1b

Cn — agbr + Q10n-1 + 49bn-2 +: +an-by + Ando

Deixamos ao leitor a verificação de que (4,6,0) é um


anel onde:

e o elemento neutro de & é o elemento (0,0,0,...)


e o elemento neutro de O é o elemento (1,0,0,...)
e o inverso de (a9,01,...,Gn,... ) com respeito à operação O é
o elemento (—ao, —01,...,—Qn,...).

Observe que a multiplicação de 4 é comutativa pois a multi-


plicação de 4 é comutativa.
Se (ao, 44, . .. ) é um elemento de 4, então o símbolo (ag, a1,...)”
designará o elemento

(a9,01,...)O (a9,01,... JO: O(a9,01,...).


Num
a A

n vezes
16 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Usando as definições de & e O, é fácil ver que

(0,...,0, 0n,0,0,0,...)
= (0,,0,0,...)0(0,...,0,1,0,0,...)
(e Ne (ee,
lugar n+4 1 lugar n + 1
e que
(0,...,0,1,0,0,...) = (0,1,0,0,...)”.
4 eee e,
lugar n+ 1
Portanto

(00,01,...,0n,0,0,...)= (9,0,0,...)
& [(01,0,0,...)0 (0,1,0,0,...)]
& [(a5,0,0,...)0(0,1,0,0,...)7
PD...
& |(a,,0,0,...)0(0,1,0,0,...)"].
Por razões de ordem prática, vamos utilizar o símbolo X para
designar o elemento (0,1,0,...). Também, no lugar de escrever
(a;,0,0,...), vamos escrever a;; assim, o símbolo a; vai ser usado
para designar duas coisas distintas: o elemento a; de 4 e o elemento
(a;,0,0,...) de 4; no entanto, isto não vai criar confusão. Final-
mente, no lugar de escrever & e O, vamos escrever + e -; assim, O
símbolo + (respectivamente o símbolo -) será usado para designar
duas coisas distintas: a adição de 4 e a adição de 4 (respectiva-
mente a multiplicação de 4 e a multiplicação de 4); no entanto, isto
também não vai criar confusão. Com essas convenções, o elemento
(a0,01,...,0n,0,...) é igual à soma aq + a X +-:-+a,X”, onde
a;X" designa a; - X'. Vai ser conveniente representar o elemento
(09,01,..-,0n,0,...) pela expressão ag + a X +---+aX”; então
n

A = [Da nencacA!
i=0
c as operações deste anel são simplesmente as operações com as
quais todo mundo está acostumado. Vamos denotar o anel (4, +,-)
por A[X|, e chamá-lo de anel de polinômios numa variável sobre A.
[SEC. 1.2: ANÉIS DE POLINÔMIOS 17

Definição 1.2.1. Seja A um aneleseja H(X):= ao +taX+---+


anX” E A[X| com a, £ 0. O inteiro n se chama o grau de f(X).
O coeficiente a, se chama o coeficiente líder de f(X). Quando o
coeficiente líder for igual a 1, o polinômio é dito mônico.

Observe que não definimos a noção de grau para o polinômio


nulo.

Exercício 1.2.2. 1) Sejam 4 um anele f(X),g(X) E AX] 1 10h.

a) Mostre que se À é um domínio, então

grau(f(X) -g(X)) = grau f(X) + grau g(X).

b) Mostre que A[X] é um domínio se e somente se 4 é um


domínio.

2) Dê um exemplo de um anel e de polinômios f(X) e g(X) que


não satisfazem a igualdade acima.

Por indução, podemos definir o anel de polinômios em k variá-


veis sobre o anel A do modo seguinte:

AX, X6] = (AX, 0 Xe DIXA.


Olhamos mais de perto o caso k = 2. Por definição, A/X1, X5] =
(A|X1|)[X5]: logo um elemento qualquer do anel A/X,, X5] é do tipo

((a00, 401,-::50,...),. o, (0n0,0n1,.::40,...,),(0,0,...),...)

com Ci E ÁÃ, V t, 9.

Note que o elemento ((0,1,0,...),(0,0,...),...) é representado por


X, eo elemento ((0,0,...),(1,0,...),(0,0,...),... ) é representado
por X,. Não é mais um luxo utilizar esses símbolos X, e X5. Com
eles, o elemento qualquer acima se escreve como

a (X1) . Xo +. + An(X1) . X>,


ao(X1) +
18 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

onde
ag(X1) = 00 + Goi X1 + ago Xf +...

a(X1) = 0 + aà + ao X* +...

An(X1) = no + Ani X1 + Ano X? +...

Utilizando a comutatividade e a distributividade no anel


A|[X1, X5], podemos escrever um mesmo elemento de diversas ma-
neiras. Por exemplo:

ArXD)+(3+42X, +2X5X + (Xi — 2X DX?


= (1 43X) + (2X, + X9)X + (1— 2X9) X7 + (2X9)X;
= (1) + (3X) + (X2 + 2X X9) + (Xi XP) + (QXÊX, — 2X2 XD).

Observe que na primeira linha os termos estão arranjados de


modo a ter potências de X, com coeficientes em A/X,]; na segunda
linha, eles estão arranjados de modo a ter potências de X, com coe-
ficientes em A/X,); na terceira linha, os termos de mesmo grau estão
agrupados (o grau de um termo Xi X7 é definido como sendo i + 5).
Dependendo do problema considerado, pode ser mais conveniente
usar uma ou outra das representações.

Observação 1.2.3. Dado f(X) = Si ouX' E A[X], podemos


considerar a função polinomial associada f : AS A, definida por
f (0) = 3 qua. É bom observar que um polinômio diferente de
zero pode ter a função identicamente nula como função polinomial
associada; esse é o caso com H(X):=1.X+1.X? e (Z/22)|X]
pois
No

+ .
OI
Ol

“co Vo
+ 1. +1=0.
pa
al

No entanto, veremos mais tarde que isto não pode ocorrer se À é


um domínio com um número infinito de elementos.
[SEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 19

I.3 Domínios Euclidianos


Essencialmente o algorítmo de Euclides diz que em Z podemos fazer
a divisão de um elemento a por um elemento b obtendo um “resto
pequeno”, ou mais precisamente, um resto cujo valor absoluto é
menor do que o valor absoluto de b. É essa idéia que queremos
generalizar. Para isso, precisamos então de um conjunto com duas
operações (adição e multiplicação) e uma maneira de “medir” se
um elemento do conjunto é menor do que um outro. Um domínio
euclidiano será um domínio no qual existe um algoritmo similar ao
algorítmo de Euclides.

Definição 1.3.1. Um domínio euclidiano (D, +,-,) é um domínio


de integridade (D, +,:) com uma função

p: DIO, >N=(0,1,2,...)

que satisfaz as propriedades seguintes:

|) Va,be D,b%0, existem t,r € D tais que

a=bt+r com |
p(r) < p(b)
our =0.

2) pla) < (ab), Va,be DIO).

Observação 1.3.2. a) Dados dois elementos « £ 0, 8 + O de um


domínio euclidiano (D,+,-,y), nós os comparamos, via a função
y, em N com a ordem usual. É claro que poderíamos fazer isso
com uma função p: DA 410+ — S onde S seria um conjunto total-
mente ordenado qualquer no lugar de N; assim, teríamos uma noção
de divisão com resto nesses domínios também. Além disso, se su-
pusermos a condição mais forte que S seja bem ordenado, isto é, que
todo subconjunto não vazio de S tem um menor elemento (N com a
ordem usual é bem ordenado), então todas as propriedades que va-
mos provar para os domínios euclidianos seriam também satisfeitas.
20 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Por isso, vários autores dão uma definição de anel euclidiano usan-
do uma função y: DA 404 — S com S conjunto bem ordenado
qualquer no lugar de N com a ordem usual [vide P. Samuel, About
Euclidean Rings, Journal of Algebra 19 (1971), 282-301). No en-
tanto, não se sabe se, com essa definição mais geral, tem-se uma
classe maior de domínios.
b) Na definição de domínios euclidianos exigimos que a função y
satisfizesse a condição pouco natural p(a) < (ab), Va,be DO).
Essa exigência é puramente técnica; ela vai permitir simplificar as
provas dos teoremas. É bom notar que essa exigência não restringe
nossa definição de domínio euclidiano; de fato, é possível mostrar
que se existe uma função y que satisfaz a condição 1), então existe
também uma função 1 que satisfaz as duas condições 1) e 2) [vide
P. Samuel, artigo acima citado, p. 284].
c) Nesse mesmo artigo, P. Samuel generaliza o conceito “euclidiano”
para anéis que não são necessariamente domínios.

Agora vamos provar alguns teoremas que fornecem exemplos im-


portantes de domínios euclidianos. Em cada caso, consideraremos
o problema do cálculo efetivo e da unicidade do quociente e do resto
da divisão de um elemento por outro.

Teorema 1.3.3. (Algoritmo de Euclides para Z).


Sega | |: Z — Na função valor absoluto. Então:

(1) (Z,+,:,| |) é um domínio euclidiano, isto é,

o (Z,+,:) éum domínio,


e Va,be Z, b+0, existemt,r E Z tais que

a=bt+4r com |
ri <b) 9
our =0

e Va,be Z 110), lal< |abl.


[SEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 21

(ii) Tais elementos t er podem ser efetivamente calculados.

(iii.1) Em geral, tais inteiros t er não são únicos.


(11.2) E sempre possível escolher r > 0, e isso de maneira única.

DEMONSTRAÇÃO. (i)e (ii): Que (Z, +, -) é um domínio, já foi visto.


Se be Z1 10), temos |b| > 1, e consequentemente
al<lalbl=|abl, VaezZ.
Agora, sejam a,b e Z, b + O. Procuramos elementos ter e Z
tais que a = bt +r com r “pequeno” e positivo (afim de obter
(111.2)), isto é, procuramos t € Z tal que a — bt seja “pequeno” e
positivo.
Vejamos a idéia da prova no caso b > 0 ea > 0. Neste caso,
temos b > 1 e existe um único inteiro t tal que

tb<a e (t+lb>a.

tb (t+ Wo

O ] D a

*——— x
Não-nulo

Observe que este inteiro t é necessariamente tal que O < t <


a, de modo que calculando 06, 1b,2b,...,ab, vamos efetivamente
encontrá-lo. Tome r = a — tb (que pode ser efetivamente calculado
pois a e b são dados e t foi calculado); temos a = bt+r com r > 0;
além disto, de (t+ 1)b > a, obtemos |r|=r = a —tb<b= ||.
Os outros casos podem ser tratados de maneira similar (veri-
fique!). É possível formalizar uma prova que cobre todos os casos
de uma vez; tente se quiser.
Tratamos agora o problema da unicidade. Se existem elementos
tiTrito,ro E Z tals que

O<r;<|b
a=bt,y+4r,=bto+ro
1 1 2 2 com Doro
22 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

então temos |b||ti—ta| = |b(ti—to)| = |r2—ri| < |bl, logo |tiy—ta| = O


e portanto, tt = toe 7; =r9. Falta agora verificar (iii.1). Podemos
escrever

3=2:141 (t=1,r=1)
3=2.94(1D) (t=27r=01),
isto é, temos duas possibilidades para a divisão de 3 por 2. []

Vamos aplicar o Teorema 1.3.3 no estudo dos ideais de (Z, +, -).

DETERMINAÇÃO DE TODOS OS IDEAIS DE (Z, +, -).


É imediato verificar que os subconjuntos de Z da forma nZ
com n > 0 são ideais de (Z, +,-). Veremos agora que todo ideal
de Z é dessa forma. Seja 1 um ideal qualquer de (Z,+,-). Se
I = (0), então 1 = 0Z. Podemos então supor que 1 < (0). Seja
n:= mintx € T; x > 0+. Claramente, 7 O nZ. Reciprocamente,
seja h € TI; pelo algorítmo de Euclides, temos A = qn +r com
O <7r <n; como he n pertencem ao ideal T, o inteiro r pertence a
I também; pela minimalidade de n temos

rel = r=0
O<r<n o

e portanto A — gn, ou seja À E nZ. Logo [ — nZ.

Exercício 1.3.4. Sejam a,b e Ze do Maior Divisor Comum deles.


Já que Za + Zb é um ideal de (Z,+,-), então, pelo visto acima,
existe n > 0 tal que Za + Zb = Zn. Mostre que d = n e portanto
que existem e, f € Z tais que ea + fb = d.

Observação 1.3.5. Seja py um número primo. Já sabemos que


(Z/pZ, &,O) é um anel. Mostraremos agora que, p sendo primo,
pp
(Z/pZ, OD, O) é um corpo, isto é, mostraremos que:
p Pp
Vac(Z/pZ)N140%, aIbeZ/pZtal qeaob-1-boa.
[a

Pp p
[SEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 23

Tome a € à. Como à % 0, o inteiro a não é um múltipo de p; então,


já que p é primo, « e p são primos entre si, e consequentemente pelo
exercício anterior

db,ce Z taisque batcp=1.

Considerando as classes de equivalência módulo p, obtemos:

db,ceZ taisque ba+cp=1;

logo,
boa=(boa)s0-bage=ba+cp 1

+
p p p p
Como a multiplicação é comutativa, temos também a O b = 1.
p
Observação 1.3.6. 4 função N:Z —> N, N(a) = q?, é tal que
N(a) < N(ab), Va,be ZN 40]; além disso, N(r) = 7º < b” = N(b)
se e só se |r| < |b|. Assim, no Teorema 1.3.3, poderíamos ter usado
essa função N no lugar da função | |, e temos que (Z, +,:, N) é um
domínio euclidiano.
Essa função N é a restrição a Z da função norma

N:C=R4AR > R
a+bi — (a+bi)(a
— bi).

À função norma que, como vimos na Introdução preserva a mul-


tiplicação, será usada de novo no teorema seguinte.

Teorema 1.3.7. Seja Zlil = Z + Zi o anel dos inteiros de Gauss.


Seja N: Z[i] >N, N(a+bi) = a? +b?, a função norma. Então:
(1) (Zhi], +,:,N) é um domínio euclidiano, isto é,

e (Zlil,+,:) é um domínio,
e Vo,,€EZlil, 80, existemt,r € Zli] tais que

a=bBt+r com |
Nr) < N(6)
our =0
24 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

e Vo,BEZINIOS, N(o)< N(aB).

(11) Tais elementos t er podem ser efetivamente calculados.

(11) Em geral, tais elementos t er não são únicos.

DEMONSTRAÇÃO. (1) e (ii). Já foi visto que (Zlil, +,-) é um domí-


nio.
SeB=c+di e Zlil, 8 0, temos N(8) = e + d? £0, logo
N(8) >1 (já que N(5) é um inteiro positivo), e consequentemente
N(c)Agora
< Nía) - N(8) = N(a(f).
vejamos a divisão:
Sejam «,8 e Zh) CC, 6 + 0. Digamos que a =a+bie
8 =c+di com a,b,c,d E Z. Procuramos dois elementos t,r € Zi]
tais que a = 8t+r com N(r) < N(8), isto é, procuramos um
elemento t E Zfi] tal que

N(a— Bt) < N(B)

isto é, procuramos t € Z[i] tal que N s — t) < 1. Como SEC =


R + Ri, existem x,y E R tais que 3 — x + iy. Afirmamos que x e
y podem ser efetivamente calculados, e pertencem a Q. De fato,

1 1 c— di C do.
— ]D—>—————|TDT———T+ |>——— í————1

BB ctdi ecer+do cC4r+d ce+d?!


logo,

1 c é ac+bd be-—ad.
orgao) (5 ” si) “ora tara! OO
[SEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 209

Agora, escolhemos

eEZtalque|r-—el<s
feZ tal que |y — f| < 13º

É claro que, x e y sendo efetivamente calculáveis, tais elementos


ee f podem ser efetivamente computados. Tomando t = e+ if,
temos

v(5-*) — N((x +iy) — (e +1f))

= N((r —e)+ily—1)
-(2-P+(y- 1) < (1) +(5) cio
Logo o elemento t = e + 1f satisfaz a propriedade desejada. Além
disso, o elemento t é efetivamente calculado. Naturalmente, o ele-
mento r = a — Bt é efetivamente calculado também.

(11) Tais t e 7 não são únicos em geral pois, de novo temos

isto é, temos duas possibilidades para a divisão de 3 por 2. []

Finalmente, damos um exemplo de domínio euclidiano com anéis


de polinômios.

Teorema 1.3.8. Seja (K,+,-) um corpo e seja K|X|] o anel de


polinômios numa variável sobre K. Seja grau: K|X|N (0 > N a
função grau. Então:

(1) (KI[X], grau) é um domínio euclidiano, isto é:

e K|X| é um domínio.
26 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

e VHX,g(X) e HIX,g(X) + O, existem polinômios


UX), r(X) E KIX] tais que

FX=—)9(X) 4X)+ r r(X) com u


(SEEs
(ÃO) < grau gt)

e VHX), 9(X) E KIX] NO), grau f(X) < grau(f(X)9(X)).


(11) Tais polinômios t(X) er(X) podem ser efetivamente caleula-
dos.

(ii) Tais polinômios t(X) er(X) são unicamente determinados.

Agora, observando que todo elemento não-nulo de um corpo


é invertível, isto é, possui inverso com respeito à multiplicação,
obtemos o Teorema 1.3.8 como consequência da seguinte proposição
um pouco mais geral.

Proposição 1.3.9. Sejam (R,+,:) um anel e R(X] o anel de poli-


nômios numa variável sobre R. Seja H(X) E RIX| um polinômio e
seja g(X) E R[X] um polinômio cujo coeficiente líder é invertível
em R. Então,

(1) Existem t(X),r(X) E R[X] tais que

grau r(X) < grau g(X)


TM) = 96X) -H(0) + r(Ã) com o r(X) =
0.
(11) Tais polinômios t(X) er(X) podem ser efetivamente calcula-
dos.

(iii) Tais polinômios t(X) er(X) são unicamente determinados.

À demonstração da Proposição 1.3.9 generaliza o processo usual


da divisão de polinômios que exibimos no seguinte exemplo concreto
[SEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 27

em Z/X!:

HX) =2Xº+3Xº4+0X2+2X +41 -Xº — 5 =9(X)


—(2Xº +0Xº+10Xº 5) —-2Xº - 3X +10 =X)
H(X) = 3Xº — 10X2 +2X 41
—(38Xº +0X2 +15X )
f(X) = —-10Xº — 13X +1
—(—10Xº + 0X — 50)
r(X) = —13X +51
Assim, obtemos que

2X* +3Xº+2X4+1=(-Xº-5)(-2Xº
-3X +10) +(-13X +51),

onde
grau(—-13X +51) =1<2=grau(>-Xº — 5).

DEMONSTRAÇÃO DA PROPOSIÇÃO 1.3.9: (i) e (ii). Se f(X) =


ou se grau f(X) < grau g(X), acabou: tome (X) = De r(X mo
F(X). Se grau f(X) > grau g(X) = m, escreva f(X) = a, X” +
-+acomn>2mea, £O0,e escreva (X) = baX” +... +bo.
Fela hipótese, o coeticiente líder bm de g(X) é invertível em R, logo
> € Re portanto; EE An X"O " € R(X]; observe que; On XT m é
exatamente O volinôrmio pelo qual se precisa multiplicar o primeiro
termo de g(X) para se obter o primeiro termo de f(X). Temos
então

FOO = ra X"M9(X)
m

- (ar 25nOm- Dri - esod (anom — nb x om 4

chame isso de A(X)ER[X]

e HX) — (X)panX"” + A(X). Observe que ÀUn € f(X)


foram efetivamente calculados.
28 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

de fi(X) = O ou se grau f(X) < grau g(X) = m, acabou:


tome t(X) = An X"M er(X)= f(X). Sep=grau A(X)>m,
repita o processo com fi(X) e g(X) no lugar de f(X) e g(X), isto
é,escreva f(X)=cXº+--.+cocomn-1>p>mec&O,e
tome fo(X) = f(X) — Cp XP g(X); temos então

100
= 900) | 1 an XT mod+ ep XP]em + fo(X),
com Br Un, po Cp, fo(X) efetivamente calculáveis.
Se f(X) = 0 ou se grau fo(X) < m, acabou: tome t(X) =
5 An XT Aco XP er(X) = fo(X). Segrau fo(X) > m, repita
o processo. Como grau f(X) > grau A(X) > grau f(X) > ...,
obtemos depois de um número finito de passos um polinômio f;(X)
nulo ou de grau menor que m. Tome r(X) = f(X).
(111) Se existem polinômios t;(X),rm(X),to(X),ro(X) e R[X] tais
que

g (ou "4 =— 0)
srau mM « grau
Ty = gto + ro com
gt +
(our, =0),
f —
grauro <graug

então g(X) - [t(X) — ta(X)) = ra(X) — m(X). Suponha que o


polinômio t;(X) — t5(X) seja não-nulo; temos então

grau(ra(X) — m(X)) = grau(g(X) - [th (X) — to(X)))


= graug(X) + grau(ti(X) — to(X)),
onde a última igualdade acima decorre da hipótese que o coefi-
ciente do termo de maior grau de g(X) é invertível em R; assim,
grau(ro(X) — ri(X)) > graug(X), o que é absurdo pois temos
grau(ro(X) — ri(X)) < maxtgrauri(X), grauro(X)+ < graug(X).
[]

Exercício 1.3.10. Seja (T,+,:) um anel. Seja R € T um sub-


conjunto tal que (R,+,-) é um anel. Seja f(X) E R|X) e seja
ISEC. 1.3: DOMÍNIOS EUCLIDIANOS 29

g(X) € R[X] um polinômio cujo coeficiente líder é invertível em R.


Sejam t(X) er(X) E T|X! tais que

FX) = 90X) HM) + r(X) com [Egraur(X)0-0< graug(X)

Mostre que (X) er(X) E RX].

Observação 1.3.11. a) Se K é um corpo, vimos que (K[X], grau) é


um domínio euclidiano; na prova dada, se usou de maneira essencial
que b é invertível, Vb e K 1 (0+. O domínio Z não é um corpo; é
natural perguntar se, usando uma prova diferente, seria possível
mostrar que Z/X| é um domínio euclidiano com a função grau ou
com alguma outra função. Veremos um pouco mais tarde que a
resposta é NÃO; de fato, dado um domínio D, veremos que D[XT
é euclidiano para alguma função y (se e) só se D é um corpo.

b) Se K é um corpo, vimos que (K[X], grau) é um domínio euclidi-


ano no qual a divisão é única; é fácil mostrar que (K, função identi-
camente nula) é um domínio euclidiano com a mesma propriedade.
É possível mostrar que esses são os únicos domínios euclidianos
onde a divisão é única; uma prova pode ser encontrada em M.A.
Jodeit, Uniqueness in the division algorithm, American Math. Soc.
Monthly 74 (1967), p. 835-836 ou em Picavet, Caracterization de
certains types d'anneauz euclidiens, Enseignement Mathématique
18 (1972), p. 245-254.

c) Não é difícil mostrar que (Z, | |) é um domínio euclidiano tal que,


Va,be Z,b + O, a não-múltiplo de b, existem exatamente dois pares
(t,r) distintos tais que a = bt +r (verifique!). É possível mostrar
que (Z, | |) é o único domínio euclidiano com essa propriedade; uma
prova pode ser encontrada em S. Galovich, A characterization of the
integers among Euclidean domains, American Math. Soc. Monthly
89 (1978), 9572-575.
30 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

I.4 Homomorfismos de Anéis


Definição 1.4.1. Sejam (4,+,-)e (B.6,0) dois anéis. Uma apli-
cação f: A > B é um homomorfismo se ela é compatível com as
estruturas de anéis, isto é, se

Dfr+ry=foeofy), Vives.
(1) Fr-m=H0)0 fly), Vive A.
(ii) f(14) = lp.
Exemplo 1.4.2. a) Id: (4,+,:) > (4,+,-), dado por Id(a) = a,
Va€e À, é um homomorfismo chamado identidade.
b) E:(4,+,:) > (B,8,0), definido por E(a) = Op, Va € À, é
uma aplicação satisfazendo (1) e (ii) mas não (iii).
c) Se 1 é um ideal do anel (A, +, -), então py: (A, +,:) — (A/I, O, O),
definido por y(a) = a 4 I, Ya € 4, é um homomorfismo chamado
homomorfismo canônico ou projeção canônica.
d) Se (B,€,0) é um anel, então p: (Z,+,:) — (B,€,0) definido
por

p(n) =1,01,0---Ols
ee eee”
Yn>o,
p(-n) =(-Io)6(-1Io)O: O (lg) É
Yn>0,
NA

n vezes

é um homomorfismo. Verifique que ele é o único homomorfismo de


(Z, +, ) em (B, D, O).

e) Se (41, +5:); s(A,,+,-) são anéis, ese (A, x... x A,,+,:) é


1 Tr”
o produto direto então, Vi = 1,...,7,

po ÁjxocexAÃ, —S 4;
(a1,...,0r) Tr qi

é um homomorfismo chamado i-ésima projeção.


É) Se f: (Ay, +) —" (Ao, +55) e g. (4a, 4,5) —— (43, 44) são

homomorfismos, então go f: (A, +. ) — (As, +.:) é um homo-


3 «
morfismo.
[SEC. 1.4: HOMOMORFISMOS DE ANÉIS 31

Propriedades elementares
Seja f: (4, +,-) > (B,+, -) um homomorfismo de anéis.
A A B B

1) Sejaker f:= (face 4; f(a) =0/ €C 4. Então ker f é um ideal


de (4, +14) (verifique) chamado núcleo de f.
2) Seja Im f:=(f(a); ae AIC B. Então (Im D+) é um anel
(verifique) chamado imagem de f.
3) f é injetivo se e somente se ker f = (0) (verifique).
Definição 1.4.3. Um homomorfismo de anéis f: 4 > B é um
isomorfismo se ele é injetivo e sobrejetivo.
Note que neste caso, a aplicação inversa f!: B — A também é
um homomorfismo de anéis (verifique). Quando existe um isomor-
fismo entre dois anéis 4 e B, dizemos que A e B são isomorfos.
Teorema 1.4.4. (Teorema dos isomorfismos).
Seja f: (A, +,:) > (B, 8,0) um homomorfismo de anéis. En-
tão, a aplicação f abaixo é um isomorfismo de anéis:

f(Afkerf, ker
0,0)
f kerf
> (imfo,0)
a o fla).
DEMONSTRAÇÃO. Primeiramente, devemos verificar que f é uma
função bem definida, isto é, se a,,a, € A são tais que q, = q», então
f(a1) = f(as). E de fato, se à, = à», então temos a; — ap E ker f,
logo f(a; — ao)= 0; além do mais f(a, — ao) = f(a,) — f(as), pois
f é um homomorfismo; portanto, f(a1)= f(as).
Agora, f é claramente uma aplicação sobrejetiva e é um homo-
morfismo pois, para elementos a,,a2 E 4, temos:
o fla o, ão)= f(ay Tas) pela definição de O,
— ( f(a tas) pela definição de f
(an) Pf(ao) pois f é um homomorfismo
(a) & f(ão) pela definição de f.
e f(a Oo, ão) = (01) 0 f(a o) (verifique).
32 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Finalmente, temos que ker f = fã E (A/ker f): f(a) = 0

LJ
(ae (A/ker f); ae ker f) = (0); logo f é injetiva.

Teorema 1.4.5. (Teorema chinês dos restos). Sejam mi,...,M,


números inteiros positivos dois a dois primos entre si. Então, a
aplicação diagonal

A: Z — Z/mZ x---xZ/mZ

2 5 (2c+mZ,...z+mZ)

é sobrejetiva.
Equivalentemente, Y 21,...,2Zr EL, Iz E Z tal que

= 2 modm;
|

= 2 modmo
|
R

2=2 modm,.

DEMONSTRAÇÃO. Note primeiro que a aplicação À é um homo-


morfismo entre os anéis

(Z,+,) e (Z/mZ, B O)x---x(Z/m,Z, 6,0).


ma, mi Tr

O núcleo desse homomorfismo À é

ker A:=[2€2Z;2=0,...,2=
0)
— (2 € Z; z múltiplo de m;,...,z múltiplo de m,+.

Sendo my, ma,...,m, dois a dois relativamente primos, temos

ker A=(z€Z; z múltiplo dem,...mj=m...mZ.

Pelo Teorema dos isomorfismos, À induz um isomorfismo

A:Zim...mZ > ImA,


[SEC. 1.4: HOMOMORFISMOS DE ANÉIS So

o que implica em particular que ambos os lados acima têm a mesma


cardinalidade:
|Z/m...mZ| = |[ImAÃl,
Isto é,
ImÃl=my...m.
Por outro lado, temos também

Imà CZ/mZx---xZ/mZ

Z/mZ xx Z/mZ| = |Z/mZ)...|Z/mZ =m...m.

Portanto, concluímos que Imà = Z/m;Z x --: x Z/m,Z, isto é,


que À é sobrejetiva. [)

Observação 1.4.6. O teorema anterior estabelece um resultado


que envolve os conjuntos Z e Z/miZ x --- x Z/m,Z, e a aplicação
A entre estes conjuntos. No entanto, a prova que demos consistiu
em observar que, na realidade, estes conjuntos tinham estruturas
de anéis e a respeito das quais a aplicação À era um homomorfismo
de anéis. Aí, ao confrontar propriedades desses dois anéis através
desse homomorfismo, obtivemos o resultado desejado. Isto ilus-
tra a importância do conceito de homomorfismo entre dois anéis:
ele estabelece uma interdependência entre duas estruturas, inter-
dependência que pode trazer à luz resultados e relações até então
escondidos.

Evidentemente, a prova que demos do Teorema 1.4.5 nos permite


enunciar a seguinte versão um pouco mais “sofisticada”.

Teorema 1.4.7. Sejam mi,...,m, inteiros positivos dois a dois


primos entre si. Então, a aplicação

A:Zlm.mi — ZlmZx-xZmZ
z+tm..mi —S (2+mZ,...,z+mZ)

é um isomorfismo de anéis.
34 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

Definição 1.4.8. Seja 4 um anel e seja y: Z > A o (único) ho-


momorfismo de Z em A (vide Exemplo 1.4.2d) acima). O núcleo
ker y é um ideal de Z, logo existe um único inteiro c > O tal que
ker y = cZ. Este inteiro c é chamado de característica do anel À.

Exercício 1.4.9. Mostre que a característica de um domínio é igual


a O ou igual a um número primo.

Exercício 1.4.10. Sejam A um anel, 1 um ideal de 4 e

p: AX] — (A4/DIX)
> ax — > ax,

a) Mostre que y é um homomorfismo de anéis.

b) Mostre que T[X] := [52 quX'; a € T, n € NJ é um ideal


de A[X] e que os anéis A[X]/I[X] e (A/N[X] são isomorfos.

L.5 Exercícios

. Procure os elementos invertíveis para a multiplicação no anel


(Z/12 , 8,0)
2/1272

. Mostre que o número de Fermat 2? + l, ie. 232 +1, não é


primo. Para isto, observe que 641 sendo primo, Z/641Z é um
corpo; observe também que

641
= 22 + 5º
641=2".5+41.

Agora, da segunda igualdade, tire a expressão de 5(mod 641),


substitua esta expressão na primeira igualdade e veja que 641
divide 2% + 1.
[SEC. 1.5: EXERCÍCIOS So

3. Seja n um inteiro positivo que não é primo. Mostre que o anel


(Z/nZ, B,O) não é um domínio.
n n

4. Mostre que todo ideal não-nulo de Zfi] contém algum ele-


mento positivo de Z.

5. Seja (4, +,-) um anel comutativo com 1. Um ideal P de 4 é


dito ideal primo se P ç Aese

LyEA
WEpl=ser ou ve P.

(Ver, por exemplo, que o ideal 22 é um ideal primo de (Z, +, -),


mas que o ideal 4Z não é um ideal primo de (Z,+,-)). Um
ideal M de A é dito ideal máximo (ou ideal maximal) se
M ç A e se não existe ideal propriamente contido entre M
e 4, isto é, se não existe ideal J tal que M ç J ç A. (Por
exemplo, ver que o ideal 2Z é um ideal máximo de Z).

a) Mostre que um ideal 1 é primo se e somente se o anel


quociente 4/1 é um domínio.
Mostre que um ideal 1 é máximo se e somente se o anel
quociente 4/1 é um corpo.
Mostre que todo ideal máximo é um ideal primo.
b) Seja B um anel e seja A = B/X] o anel de polinômios
numa variável sobre B. Mostre que o ideal (X) de 4 é
primo se e só se B é um domínio.

6. Seja A = [f:R — Ri com as operações

D definida por hef:R—s R


dr f(x) + folx),
50 [CAP. |: ANÉIS E DOMÍNIOS

O definida por AhSf:R—s R


ri fix) - fox).
Seja r E R; mostre que M, := (fe A| f(r) = 0) é um ideal
máximo de 4. Dê um exemplo de ideal 7, próprio e não-nulo,
(Le, IG AeT+(0)) que não seja ideal máximo de 4.

Exiba dois elementos a, 5 do anel Zfi), 8 £ 0, para os quais


é possível fazer a divisão de a por $ de quatro maneiras dis-
tintas. (Á prova do Teorema 1.3.7 sugere como fazer para
encontrar tais elementos).

Seja m € Z tal que |m| é um número primo.


Seja Z[Vm] := fa+bym |a,be Z). Seja
9: Zlv/m] SN
a + by/m-— la? — mb”.
a) Mostre que y preserva a multiplicação, isto é, que
pla: B) = p(a) -p(B), Va,B e Zlym].
b) Param = 2,-2,3, mostre que (Z[/m], y) é um domínio
euclidiano.
Dica. Faça uma argumentação similar àquela feita para
provar que (Zl[i|, Norma) é euclidiano.
Nota. Como será visto mais tarde, existem primos m
tais que os domínios Z|//m| não são euclidianos.

Seja K um corpo e seja y: K — N a função identicamente


nula. Mostre que (K,y) é um domínio euclidiano, e mostre
que o quociente e o resto são unicamente determinados e efe-
tivamente calculáveis (o resto é sempre igual a zero).

10. Sejam y: À, — A, um homomorfismo de anéis e aq € As.


Mostre que existe um único homomorfsmo de anéis
p: AX] — 4 com d(a,) — pla), Va E As, tal que
P(X) = ap.
ISEC. 1.5: EXERCÍCIOS 37

11. a) Mostre que R[X]/(X* + 1) é um corpo isomorfo a C.


b) Mostre que Z[X]/(X* + 1) é um domínio isomorfo a Zfi].

12. Seja py: A, — Às um homomorfismo de anéis. Seja 1 um ideal


de A, contido em ker y. Mostre que a aplicação

p: Ay/T ——— Às

a (a)
é um homomorfismo (bem definido) de anéis, chamado de
homomorfismo induzido.

13. Sejam m,n dois inteiros. Mostre que o Menor Múltiplo Co-
mum entre m e n é a característica do anel Z/mZ x Z/nZ.
Capítulo II

Fatoração Unica

II.1 Definições e Exemplos


Seja D um anel. Seja a € D; um elemento b € D é um divisor ou
fator de a (em D) se existe c E D tal que a = bc; dizemos também
que b divide a, ou que a é múltiplo de b, e denotamos bla.
Um elemento a € D é invertível (em D) se existe b € D tal que
ab = 1. Denotaremos por D* o conjunto dos elementos invertíveis.
Dois elementos a,b € D são associados (em D) se existe u E D,
u invertível em D, tal que a = ub.
Um elemento não-invertível a € D (0) é irredutível (em D) se
a possui apenas fatoração trivial em D, isto é,

Vb,ce Dtais que a = bc, então b ou c é invertível em D.

Observe que os únicos divisores de um elemento irredutível a


são os elementos associados de a em D e os elementos invertíveis.
Um elemento não-invertível p € D é primo se

Vabe D, pla-b= pla ou po.

Sejam a1,...,Gh E D; um elemento d € D é um Maior Divisor


Comum (M.D.C.) de a,...,an se d divide a,,...,an e se todo
elemento d' € D que divide a,,...,an, divide d também. Um tal
Maior Divisor Comum de a;,...,an pode não existir.

39
AQ [CAP. lt: FATORAÇÃO ÚNICA

Exercício 11.1.1. Seja D um domínio e sejam a,,...,m € D.


Mostre que dois M.D.C. para a4,...,a, São necessariamente asso-
ciados em D.

Por este exercício, num domínio temos a unicidade (a menos de


multiplicação por elementos invertíveis) do M.D.C.; em um anel,
não temos essa unicidade em geral. Por isso, consideraremos o
M.D.C. somente em domínios, e logo poderemos falar do M.D.C.
de a4,...,Ô,n que denotaremos por M.D.€. fa;,...,a,+. Os elemen-
tos a),...,a, são ditos primos entre si ou relativamente primos se
M.D.C. fa,...,ant = 1.

Exemplo 11.1.2.

1) Em Z:

e (la cZ|aéinvertível) = (1,-1).


e Dadoa ce Z, (bEZ|b é associado aa) = (a, -—a).
e (ac Z|aéirredutível) = (tp | p primol.

2) Em Zfi]:

o lo e Zl] | aéinvertívell) = (a e Zhl | N(o) = 1) =


(41,4).
e Dado a € Zlfil, (8 € Zfil | 8 é associado a al = [+a, tia.
e (fo Ee Zjil | a é irredutível; será determinado mais tarde
(vide Corolário IV.1.3). Observamos que este conjunto de
irredutíveis contém (fa € Zlil | N(a) é primo?.

3) Em K|[X|, onde K é um corpo:

o (H(X) E KIX| | f(X) é invertível) = KN (O).


o Dado f(X) E KIX|, fg(X) E KIX] | g(X) é associado a
HX) = EH) ke KAOS
o (H(X)e KIX| | F(X) é irredutível) = ?.
[SEC. 1.1: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 41

Observe que: a) (polinômios de grau 1) € ftirredutíveis de K|X!]).


No caso de K — €, o Teorema Fundamental da Algebra garante que
esses dois conjuntos são iguais. No caso de um corpo K qualquer,
os dois conjuntos não são iguais em geral; procure um exemplo.
b) Em Q/[X], é sempre possível determinar efetivamente se um
polinômio dado é irredutível ou não (ver no livro de van der Waer-
den, Modern Algebra, 825 p. 77). Para um corpo K qualquer, em
geral não é possível. Em todo caso, mesmo em Q/X|, é um proble-
ma difícil determinar quando um polinômio é irredutível ou não;
o método mencionado acima (devido a Kronecker) pode exigir um
número finito tão grande de operações que na prática não é muito
útil. Desenvolveremos critérios práticos que nos permitirão resolver
o problema de irredutibilidade em alguns casos particulares.

4) Num domínio euclidiano (D,qy)

e face D|aéinvertívell = fae D | v(a) = y(1)) (Note que


para todo a + 0, temos p(a) = p(a- 1) > p(1)).

e Dadoae D, (be D|bé associado


a af = (au [ue DI E
be DI lb) = (a).
e (ace D|airredutível) = ?.

Estes fatos seguem diretamente da seguinte afirmação:


Afirmação [I[.1.3. Sejam a e b elementos não-nulos de um domínio
euclidiano (D,y). Então,

p(b) = p(ba) sea é invertível,


p(b) < p(ba) sea não é invertível.

DEMONSTRAÇÃO. Seja a um elemento invertível do domínio D,


isto é, a,1/a € D. Pela definição da função y, temos

e(0) < ela) < o ( (ab) ) = e(6)


42 [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

Reciprocamente, suponha que y(b) = (ba). Sendo (D,y) um


domínio euclidiano e como ab 0, podemos fazer a divisão de b
por ab: existem elementos t,r € D tais que

b = (ab)t + 7 com [ão < lab) = lb)


our =.

Afirmamos que r = 0; caso contrário, der = b— (ab)t = b(1 — at),


obteríamos p(r) = y(b(1 — at)) > «(b), em contradição com a
condição y(r) < y(b). Assim, temos r = 0, isto é, b(1 — at) = 0.
Como D é um domínio e como b * 0, obtemos que 1 —- at = 0,e
logo que a é invertível em D. []

Em geral o conjunto fa E D | a é irredutível: não é conhecido


(vide o caso particular D = K[X], K um corpo). No entanto, temos
Afirmação I[.1.4. Seja (D,9) um domínio euclidiano que não seja
um corpo. Seja

ô=minty(d) | de D, d não-invertível)
= min(g(d) | d E D, p(d) > (1)
Então, (ae D|y(a)=0hC (ae D |a é irredutível).
DEMONSTRAÇÃO. Seja a € D tal que p(a) = d. Como 6 > y(1),
então a não é um elemento invertível. Afirmamos que a não possui
fatoração não-trivial em D. De fato, se a = bc com c não-invertível,
então pela Afirmação 11.1.3,

p(b) < p(bc) = pla) = à.


Pela definição de 6, concluímos que y(b) = «(1) e portanto que o
elemento b é invertível em D. []

Definição 11.1.5. Um domínio D é domínio de fatoração única ou


domínio fatorial se todo elemento não-nulo e não-invertível de D se
escreve de “maneira única” como produto de elementos irredutíveis
de D, isto é, de maneira precisa:
ISEC. 1.1: DEFINIÇÕES E EXEMPLOS 43

(1) Todo elemento não-nulo e não-invertível de D é produto finito


de fatores irredutíveis.

(1) Se (pih<i<s e (q;)1<;< são famílias finitas de elementos irre-


dutíveis de D'tais que p;---ps = G*-- q, então

o st.
e a menos da ordenação, p; é associado a g;, Vi=1,...,s
(i.e. existe uma bijeção o de (1,...,sf sobre (1,...,5)
tal que p; é associado a g5(i;), Vi = 1,...,8).

Exercício 11.1.6. Seja D um domínio fatorial.


Sejam a,b E DN (0!. Mostre que M.D.C. (a, b) existe.
Exercício I1.1.7. Seja D um domínio no qual vale a condição que
todo irredutível é primo, isto é vale que:

(1i) Yp € D irredutível, Va,be D,

pjab => pla ou gb.

1º ) Mostre que a seguinte condição vale:


VYpeDirredutível, Yn>1,Va,,...,an e D,

pjm...aa => dital que pla;

2º ) Sejam p4,...,Ps,Q,...,G elementos irredutíveis de D tais


que Di...Ps=>Q..-G.

a) Mostre que p; é associado a q;, para algum 1.


b) Se s = 1, mostre que t = 1 e que, consequentemente, os
elementos p, e q; são associados.
c) Se s > 1, mostre (por indução sobre s) que t = s e que,
módulo a ordem, p; e q; são associados, Vi = 1,...,s.

À proposição seguinte relaciona a Definição I[.1.5 com o Exer-


cício 1[.1.7.
44 ICAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

Proposição [1.1.8. Seja D um domínio. Então são equivalentes:

a) D satisfaz as condições (1) e (x) (isto é, D é fatorial).


b) D safisfaz as condições (à) e (11).
DEMONSTRAÇÃO. a) > b): Seja p € D elemento irredutível; sejam
a,b E D tais que plab, 1.e., tais que ab = pc com c € D. Pela
condição (i) existem fatorações de a, b, c em elementos irredutíveis.
Colocando juntas as fatorações de a e b, obtemos uma fatoração
do produto ab. Colocando a fatoração de c junto com o elemento
irredutível p obtemos uma outra fatoração de ab. Pela condição
(ii), obtemos então que p é necessariamente associado a algum dos
fatores da primeira fatoração de ab, logo associado a algum dos
fatores da fatoração de a ou da fatoração de b; logo, em particular,
p divide a ou p divide b.
b) > a): É uma consegiiência do exercício precedente. []
Na prática, as condições (i) e (ii) são em geral mais fáceis de
manipular do que as condições (1) e (ii).
O exercício seguinte apresenta uma situação onde existe uma
relação íntima entre o maior divisor comum de elementos e o ideal
gerado por esses elementos. Fazemos antes a seguinte definição:
Definição 11.1.9. Seja R um anel. Um ideal 7 de R é dito ideal
principal se existe «a € R tal que 7 = (a). Um domínio no qual
todo ideal é principal é chamado domínio principal. Um ideal 1 é
dito finitamente gerado se existem m E Ne a,...,am E R tais
que 1 = (01,...,04m). Um anel no qual todo ideal é finitamente
gerado é dito noetheriano.
Exercício 11.1.10. Seja D um domínio.
a) Sejam m,...,an E D tais que (a;,...,a,) seja um ideal prin-
cipal, digamos (ay,...,an) = (d). Mostre que M.D.C. (m,...,an)
existe, é igual a d, e portanto existem ÀA;,As,...,A, € D tais que

M.D.C.fa,, ... Gn) — Aja + ecc + Ant.

b) Sejam a,b,c e DN 10) tais que (a,c) = (1) e (b,c) = (1).


Mostre que (ab, c) = (1).
[SEC. 11.2: FATORAÇÃO EM DOMÍNIOS NOETHERIANOS 45

Exemplo 11.1.11. e (0; e R são ideais principais de um anel A.

e (fH(X) E Z|X] | termo constante de f(X) é igual a zerok =


[H(X) e ZIX] | f(0) = O) é um ideal principal de Z[X!|; verifique
que ele é igual a (X).

Exercício 11.1.12. Mostre que M.D.C. (2X) = 1 em Z|X] e


que o elemento 1 não pode ser escrito como combinação linear dos
elementos 2 e X com coeficientes em Z[X]. Conclua que Z[X] não
é domínio principal.

Exercício I[.1.13. Seja R um domínio que não seja um corpo.


Mostre que R[X] não é um domínio principal.

1.2 Fatoração em Domínios Noetheri-


anos
Uma cadeia ascendente de ideais de um anel

hcChCcChCc---ChChnC..

é estacionária se existe n E N tal que Jk = 1, para k > n.

Teorema 11.2.1. Seja R um anel. Então

a) R é noetheriano se e somente se toda cadeia ascendente de


ideais de R é estacionária.

b) SeR é domínio noetheriano, então todo elemento não-invertível


de RN 40k se escreve como produto finito de irredutíveis.

c) R é domínio principal se e somente se R é um domínio fato-


rial com a propriedade abaixo:

Vabe RO! JefeR tais que MDC(a,b) = ea+ fb.


46 ICAP. |: FATORAÇÃO ÚNICA

DEMONSTRAÇÃO. a) Suponha R noetheriano e seja h € b €


1 CC... uma cadeia ascendente de ideais de R. Então a união
[= JT, é um ideal de R e portanto 1 é finitamente gerado;
n>l
digamos 1 = (01,05,...,âam). Claramente temos que q, E L,,
ao E lh»: Om E lh, é denotando n = maxfny,n9,..., Nm),
temos
[= (03,02,...,Qm) C In - l; € [

para cada k € N com k > n. Isto mostra que 1, = L, para k > n


e, portanto, a cadeia ascendente é estacionária. Suponha agora
que R não seja noetheriano e seja 1 um ideal de R que não é
finitamente gerado. Vamos construir uma cadeia ascendente de
ideais que não é estationária. Tome q; E T; tome a, € TN (ay);
tome az € IN (a1,05) e assim sucessivamente. Note que existe
sempre q, € IN (01,095,...,Qn-1) pois o ideal 1 não é finitamente
gerado e, em particular, temos que 7 2 (01,02,...,Qn-1). Desta
maneira obtemos a cadeia ascendente não-estacionária abaixo

(01) G (01, 02) ç (01, O2, 03) ç o ç (01, 02,..., On) G teto

b) Provamos inicialmente a seguinte afirmação:


Afirmação: Seja a € R 4 f0) elemento não-invertível. Então existe
elemento p € D irredutível com pja.
Prova da Afirmação: Se o elemento a é irredutível, então podemos
tomar p = a. Se o elemento a não é irredutível, então a = ab;
com ambos a,,b; não-invertíveis. Se o elemento a, é irredutível,
então podemos tomar p = a1. Se o elemento a; não é irredutível,
então ay = q9b, com ambos as, db, não-invertíveis. Se o elemento as
é irredutível, então podemos tomar p = a» pois temos

Qd: b4 — a92b901, Isto é, aaja.

O processo acima tem que acabar; isto é, para algum n € N temos


An-1 = Gb, com o elemento a,, irredutível. De fato, caso contrário,
obtemos a cadeia ascendente não-estacionária de ideais

(a) G& (mn) G (02) G ---G (an) G (an) G....


[SEC. 1.2: FATORAÇÃO EM DOMÍNIOS NOETHERIANOS AT

Provamos agora a existência da fatoração em irredutíveis. Seja


então a € R1 (0) não-invertível. Pela afirmação temos a = p;-q1
com p; irredutível. Se q, é invertível, então a é irredutível. Se q; não
é invertível, pela afirmação, temos q; = p» : q2 com po irredutível.
Se q2 é invertível, temos que a = p; - q, é uma fatoração irredutível
para o elemento a. Se q, não é invertível, pela afirmação, temos
q2 = p3 - q3 com ps irredutível. Se q3 é invertível, temos então que
a = pj * p2'*q2 é uma fatoração irredutível para o elemento a.
O processo acima tem que acabar; isto é, para algum n E N
temos Qn-1 = Pr: GQ com p, irredutível e q, invertível, e então
a=pi'Dpo...Da-1:ºQn- é uma fatoração irredutível. De fato, caso
contrário, obtemos a cadeia ascendente não-estacionária de ideais

(a) & (1) & (90) G -- G (qn-1) G (Gn) G .

Note que a hipótese de R ser domínio foi usada acima para verificar
a inclusão estrita dos ideais nas cadeias ascendentes (a,) e (gn).
c) Seja agora R um domínio principal, em particular, R é noethe-
riano e, portanto, temos a existência da fatoração em irredutíveis.
Temos que verificar que elementos irredutíveis são primos. Seja
então p € R irredutível e sejam a,b E R com pf aep1+b.
Sendo R principal temos R = (a,p) = (b,p) e, então, existem
a,09,b,,b9 €E R tais quel=aa+t+apel=bb+bop.
Multiplicando as igualdades acima, existem c,,c) € R tais que

I=ci(ab)+cop e,então, temos pftab.

Concluimos que R é fatorial usando a Proposição 1[.1.8. À pro-


priedade do item c) segue do Exercício 11.1.10.
Finalmente, seja R um domínio fatorial com a propriedade
do item c). Vamos mostrar que R é domínio principal. Sejam
01,42,...,Qn elementos de R. Naturalmente, (1,02) € diR onde
di := MDCt(asy,as); reciprocamente, por hipótese, existem elemen-
tos e,,e3 € R tais que d; = e;ay + e2a2 E (1,42). Logo temos que
(a1,02) = diR. Similarmente, temos (a1,02,03) = (di,as) = &R
onde do := MDC(idr;,as+ = MDCfa,,as,a3+. Por indução, temos
48 [CAP. |]: FATORAÇÃO ÚNICA

que (a,,...,an) = dR onde d := MDCa,,as,...,anj. Obte-


mos portanto que todo ideal finitamente gerado de R é principal.
Afim de poder concluir que R é um domínio principal, basta então
mostrar que todo ideal de R é finitamente gerado.
Suponha por absurdo que exista um ideal 1 de R que não
seja finitamente gerado. Então, existe uma sequência infinita
a1,.-.,Gn,--. de elementos de [ tal que

(01) G (m,a2) SG: Glam. an) Ge

Para cada n, o ideal (a1,...,an) é finitamente gerado, logo pelo


visto anteriormente, (a1j,...,0n) é um ideal principal, digamos
(a1,...,0n) = (bn). Seja n um inteiro positivo arbitrário. Para
todo à < n, temos (b;-1) G& (bi), logo b;-; tem pelo menos um fator
irredutível a mais do que b,. Evidentemente, b, tem pelo menos um
fator irredutível, logo b,..; tem pelo menos dois fatores irredutíveis,
logo b,-2 tem pelo menos três fatores irredutíveis e por indução,
a1 = b; tem pelo menos n fatores irredutíveis. Assim, obtemos que
a; tem um número de fatores irredutíveis arbitrariamente grande,
pois n é arbitrário, o que é absurdo pois R é fatorial. []

Teorema 11.2.2. Seja (D,y) um domínio euclidiano. Então

(1) D é um domínio principal.

(1) Va,be D' 40>, pode-se calcular efetivamente ef E D tais


que M.D.C. ta,bk = ea + fb, se a divisão em D for efetiva.

DEMONSTRAÇÃO. (1) Seja 1 + (0) um ideal do domínio D. Quere-


mos mostrar que o ideal 1 é principal. Considere o conjunto
p(IN4OD) = (ola) [ae Ta + 0) CN. Como N é bem
ordenado, (1 N 10) possui um menor elemento; seja a € I tal
que y(a) seja o menor elemento de p(1 À (0)). Mostraremos que
I = (a), isto é que VE E TI, temos é = at para algum elemento
te D. Seja € E T; pela condição euclidiana, existem t,r € D tais
que
ێ=at+r com y(r)<y(a)our =0.
[SEC. 11.2: FATORAÇÃO EM DOMÍNIOS NOETHERIANOS 49

Observe que 1 sendo um ideal, temos:

acl>atel=>-atel > r=é-—atel,


rea mm,
pois
é Ef

logo p(r) < o(a) é impossível já que p(a) é o menor elemento de


p(IN fO)); portanto 7 = 0, isto é £ = at como queríamos.
(11) Sejam a,b E D 40). Utilizando somente que D é um
domínio principal, obtivemos no Teorema 11.2.1 a existência de ele-
mentos e, f € D tais que MDC (a,b! = ea + fb, sem poder no
entanto calcular estes elementos e e f.
Agora, vamos mostrar que se (D,) for um domínio euclidiano
e se a divisão em D for efetiva, então os elementos e e f podem ser
efetivamente calculados.
Pela propriedade euclidiana, existem t,,74 € D tais que

plri) < o(b) (+1)


a=bt,i+4r, com
our, 0.

e Ser; = 0, acabou: M.D.C. (a,b) existe e é igual a b, que


pode se escrever O-a+1-b.

e Ser, £0: Sejaa € D. Então em virtude de (*1), o elemento


a divide a e b se e somente se a divide b e r;; assim

M.D.C.ta,b) existee é iguala d


!
M.D.C.(b,ri) existe e é igual a d.

Agora consideramos b e 74; existem to,1r9 € D tais que

9) <
b = Tito + 75 com (ira Plrm) (2)
ouro =0.

e Se r3 = 0, acabou: M.D.C. (b,r;| existe e é igual a 7, que,


em virtude de (*1). se escreve la + (—ty)b.
90 [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

e Ser, 0: Seja a € D. Então em virtude de (+2), o elemento


a divide b e rj se e somente se a divide 7; e 75; assim

M.D.C.(b,r1! existe e é igual a d


y
M.D.C.(r;,
To) existe e é igual a d.

Agora consideramos 7; e 19; existem ts,73 € D tais que

(rs) < p(ra) (*3)


r4 = Tots + 73 com
ou 73 = 0.

Se r3 = 0, acabou: M.D.C. (ri, ra existe e é igual a 7 que,


em virtude de (*+2) e (x1), se escreve (—toJa + (tyto + 1)b.

Se r3 * O, continuamos o processo. Observe que nesse pro-


cesso, quando r; + 0, obtemos um r;,, tal que

[ir < (ri)


OU T;is1i — O.

Já que a função y toma seus valores em N, não é possível ter


uma sequência decrescente infinita, logo vai existir um inteiro
n para o qual não será mais possível ter p(7n41) < (Tn), isto
é, para o qual r,,; = 0. Ássim, obtemos um n tal que

Ta = Tatasi E Tai = Tala. (en + 1)

Isto termina a prova: M.D.C. (rn-1,7n) existe, é igual à 7, €

M.D.C.ta,bk=...=MD.Clra ara) = Tn

Em virtude de (+*n),...,(*1), o elemento r, se escreve como


combinação linear de a e b com coeficientes em D. [|

Corolário 11.2.3. Sejam K um corpo e fi(X), f(X) E K|X] dois


polinômios primos entre si. Seja k(X) € KI|X]. Então:
[SEC. I1.2: FATORAÇÃO EM DOMÍNIOS NOETHERIANOS 91

1) É possível calcular efetivamente gi(X),g(X) E KIX] tais


que R(X) = (A) f(X) + go(X) fal).
2) Se grauk(X) < grau fi(X) + grau fo(X), tais polinômios
g(X) e g,(X) podem ser tomados satisfazendo

e graugi(X)<grau fo(X) (oug(X)=0)


e grauga(X) <grau fi(X) (ou g(X) =0).
DEMONSTRAÇÃO. 1) Sabemos que a divisão em K[X] é efetiva.
Como fi(X) e f(X) são primos entre si, podemos efetivamente
encontrar (Teorema I[.2.2) dois polinômios y;(X),po(X) E K[X]
tais que 1 = p(X)A(X) + pa(X) fo(X), logo também tais que
k(X) = kd X)po(N)f(X) + k(X)po(X) fo(X). Portanto, basta
tomarmos gi(X) = k(X )pi(X) e ga(X) = k(X )pa(X).
2) Pelo Teorema 1.3.8, podemos efetivamente encontrar polinômios
q(X),r(X) e K|X] tais que

g(X) = f(X)a(X) + T(X) com oo < grau fal)


our(X) = 0.

Temos então k(X) = r(X)A(X) + [h(X)a(X) + ga(X) fX).


Como grauk(X) < graufi(X) + grau fo(X) e também
grau(r(X) f(X)) < grau fi(X) + grau fo(X) (ou r(X) = 0), então
grau(lA(X)g(X) + g2(X)] fo(X)) < grau A(X) + grau fo(X) (ou
AUX)a(X) + g2(X) = 0) e portanto, f(X)g(X) + ga(X) tem grau
menor que o grau de fi(X) (ou é zero). Portanto os polinômios
r(X) e A(X)g(X) + g5(X) têm as propriedades desejadas. N

Exercício 11.2.4. Seja (X) =X" +a,aXT!I+-..+a e Z|X),


n > 1, um polinômio mônico com coeficientes em Z. Seja a € Q.
Mostre que se f(a) = 0, então a € Z.

Exercício 11.2.5. a) Seja a um elemento irredutível de Z[i]. Mos-


tre que existe um primo p de Z tal que, em Zfi], a é um fator de p.
92 [CAP. |): FATORAÇÃO ÚNICA

Assim, tem-se

(elementos irredutíveis de Z[il) =


(fatores irredutíveis de p em Zfil: p número primo-+.

b) Seja p um primo de Z tal que p = 3(mod4). Olhando módulo


4, mostre que p não é soma de dois quadrados de inteiros e que p é
um elemento irredutível de Zi].
c) Seja p um primo de Z tal que p= a? +b com a, be Z. Mostre
que p = (a+ib)(a— àb) é a fatoração de p em elementos irredutíveis
de Zlil. Mostre que, se p £ 2, então (a + ib) e (a — ib) não são
associados em Zfil,esep=2= 1241, então (1 +i)e (1-1) são
associados em Zi).
Observação 11.2.6. Existem domínios principais não-euclidianos;
o domínio E + 29 y > [21,22 € Z, de mesma paridade | é um
tal exemplo. Uma prova disso pode ser encontrada em J. Wilson,
A principal ideal ring that is not a Euclidean ring, Mathematics
Magazine 46 (1973), 34-38. (Apesar de sua aparência exótica, esse
anel surge de maneira natural na teoria dos números; ele é o anel
dos inteiros do corpo quadrático Q(v—19)).
Vamos agora generalizar o Teorema 1.4.7 para qualquer domínio
principal.

Teorema 11.2.7. (Teorema chinês dos restos). Seja D um domínio


principal e sejam di, do,...,d, elementos de D dois a dois primos
entre si. Então a aplicação

A: D/Md,...d) — (D/(dy)) x ---. x (D/(d,))


z+(d...d)r> (2 +(di),...,z
+ (d,))

é um isomorfismo de anéis.

DEMONSTRAÇÃO. Primeiro observe que pelo Teorema I[.2.1, o do-


mínio D é fatorial; como d,,...,d, são dois a dois relativamente
primos, então os dois elementos d;...d,. 4 e d, são relativamente
[SEC. I.2: FATORAÇÃO EM DOMÍNIOS NOETHERIANOS So

primos. E fácil ver que se provarmos o teorema no casor = 2,0


caso geral seguirá por indução (verifique!).
Considere a aplicação
A:D — (D/(dy)) x (D/(do))
2 (2 + (dy), 2 + (do).
É rotina verificar que A é um homomorfismo de anéis.
E claro que (did,) € ker A. Reciprocamente, seja z € ker À,
isto é, z € (di) N (ds). Sejam q,,a, E D tais que
Z — dio — do 09. (1)

Como d; e do são primos entre si, então pelo Teorema 11.2.1, existem
€;,€69 € D tais que
1 = edi + cado. (2)

Temos

2 — es 2 + esdoz por (2)


= esxdidoao + esdodia, -— por (1)
= (eja2 + exam did» E (dido).
Logo ker A = (dido).
Vejamos agora que À é sobrejetiva. Seja (ay + (di), as + (ds))
um elemento qualquer de (D/(d;)) x (D/(d,)). Este elemento é a
imagem por À do elemento a := ase;di+aresds,. De fato, é claro que
a = qesdo mod(d;); além disso, esd, = Imod(d,) pela igualdade
(2); portanto a = ay mod(d,). Similarmente, a = a, mod(ds). Logo
o homomorfismo À é sobrejetivo.
Finalmente, pelo Teorema 1.4.4, temos que À é um isomorfismo.
LU
Exercício 11.2.8. Seja D um domínio principal e sejam ds, ds, ds
elementos dois a dois relativamente primos de D. Exiba um e-
lemento z € D tal que a imagem por À de z + (didsds) seja o
elemento
(21 + (dy), 292 + (do), 23 + (da)).
Dica: Escreva 1 como combinação linear de d, e ds e também como
combinação linear de (did») e ds.
o4 [CAP. |): FATORAÇÃO ÚNICA

II.3 Fatoração Única em Anéis de Polinômios


Sabemos que Q[X] é um domínio euclidiano. O que podemos dizer
de Z|X|? Ele não é domínio euclidiano, pois vimos no Exercício
[.1.12 que nem domínio principal ele é. No entanto, ainda podemos
esperar que Z[X| seja um domínio fatorial. De fato, o teorema
seguinte garante que este é o caso:

Teorema 11.3.1. (Gauss). Seja D um domínio fatorial. Então


DIX| é um domínio fatorial.

Aplicações sucessivas do Teorema de Gauss nos dá o corolário


seguinte:

Corolário 1I.3.2. Seja D um domínio fatorial. Então


D|X1,..., Xn| é um domínio fatorial.

À prova do Teorema 11.3.1 vai exigir um trabalho de preparação.


Para dar uma idéia da “dinâmica” da prova, suponha que D seja Z.
Temos Z|X|] € Q/X] e sabemos que Q/X| é um domínio fatorial.
Dado f(X) e Z|X| € QIX], então f(X) tem uma fatoração em
elementos irredutíveis em Q/X]; digamos f(X) = pi(X)...p(X)
com p;(X) E Q/X], irredutível em Q/X|. Agora, para um polinômio
p(X) E QIX], escrevemos p(X) = (ag/bo) + (1/b)X + --- +
(0m/bn)X” com a;,b; € Z; multiplicando pelo produto dos de-
nominadores, obtemos um polinômio em Z[X!| que, caso p(X) seja
irredutível em Q/X|, não pode admitir dois fatores de grau > 1
em Z|X]. Assim, se c é o produto de todos os denominadores de
todos os p;(X), então o polinômio cf(X) tem uma fatoração em
Z|X] em elementos que não admitem dois fatores de grau > 1 em
Z/X|. Assim, já vemos que f(X) está bem perto de ter uma fa-
toração em elementos irredutíveis em Z|X]. Depois de estudar mais
cuidadosamente o comportamento do conceito de irredutibilidade
na passagem entre Q/X] e Z|X], obteremos que, de fato, f(X) tem
uma fatoração única em elementos irredutíveis em Z[X|.
Gostaríamos de poder utilizar a idéia acima mencionada (trans-
portar o estudo da fatoração em Z[X] para Q[X]) para um domínio
[SEC. 11.3: FATORAÇÃO ÚNICA EM ANÉIS DE POLINÔMIOS SO

fatorial qualquer D no lugar de Z. Para isto, precisamos de um


corpo K que faça o papel de (QD, isto é, um corpo K tal que:

a) K contém D.

b) Vc K,existea E D,a 0 tal que aé € D.

Observe que se existe tal corpo K, então:

a) Todo elemento a £ O de D possui um inverso a”! em K


(talvez não em D) pois K é um corpo que contém D. Se
a,8€e D,a+o0,temos a! e K; tal elemento a !8 pode
ser representado pela “fração” a Assim K terá que conter
todas as “frações” É com «,3 € D, a + 0.

b) Vê e K, existem a,8 E D, a 0, tais que aé = 5, isto é


tais que É = + Assim, todo elemento de K terá que ser uma
“fração”.

Isso mostra que se um tal corpo K existe, ele consiste exata-


mente de todas as “frações” de D.
Vamos mostrar agora que, dado um domínio qualquer D (não
necessariamente fatorial), sempre existe um tal “corpo de frações
de D”.
Quando dizemos que o domínio (D, +,-) está contido no corpo
(K, 2,0) queremos dizer que D € K e que as operações de D são
as restrições das operações de K, isto é, a inclusão de D) em K é
um homomorfismo de anéis.

Proposição 11.3.3. Seja (D,+,:) um domínio. Então

1) Existe um corpo (K,6,0) tal que

a) (D,+,-) (K, 9,0).

b) VEcK,Ia,BED, az0,tais queé=BOa.

2) Se (K,,91,01) e (K5,€05, 02) são corpos que satisfazem as


condições a) e b), então eles são isomorfos.
56 ICAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

O item 2) da Proposição [1.3.3 diz que, a menos de isomorfismos,


existe um único corpo K que satisfaz as condições a) e b). Tal corpo
K se chama o corpo das frações de D. Observe que Q é o corpo
das frações de Z.

DEMONSTRAÇÃO DA PROPOSIÇÃO 11.3.3: 1) Antes de começar a


construção de K, observamos que se um tal corpo K existe, e se
a,becdeD,b+0,d 0, são tais que ad = be, então os símbolos
> e q terão que representar o mesmo elemento de K pois:

“-ioa=
b bo lb(0. d )od —— =— “ol
50) )obe= ige-
CL good
pois
ad = bc

Faremos agora a construção de K':


Seja 4=Dx(Di(0)=((a,b)jabe D, b+0L
Pensamos nos elementos (a, b) como sendo as futuras frações 7;
no entanto, já observamos que será necessário ter (4) — (S) quando
ad = be, isto é, será necessário identificar o par (a,b) com o par
(c,d) quando ad = bc; é o que faremos agora.
Sobre 4, definimos a relação de equivalência seguinte:

(a,b)- (cd) & ad=be.

Verifique que — é realmente uma relação de equivalência,


isto é que:

(a,b) » (a, b).


(a,b) — (c,d) > (c,d) — (a,b).
(ab) (cd)e(cd)- (ef) > (a,b) - (e, f).
Seja K4 o conjunto das classes de equivalência; o símbolo %, ou
a/b, representará o elemento “classe de equivalência de (a,b)”, i.e.,

a/b=I(cd)e A|ad = be).

Sobre K,, definimos as duas operações seguintes:


[SEC. |.3: FATORAÇÃO ÚNICA EM ANÉIS DE POLINÔMIOS 57

Adição:
a c ad + be
bodo bd
Note que a/b representa uma classe de equivalência, classe esta
que admite outras representações a'/b' (com ab” = a'b); a mesma
observação vale para c/d. É necessário verificar que nossa definição
de & é boa no sentido de que a soma de dois elementos de K,
não depende das escolhas das representações destes elementos; de
maneira precisa, é necessário verificar que
/ /

(a, b) o (a, | > (ad + be, bd) » (ad + be',b'd),


(c, d) (c,d”)

isto é, que

ab = ab > (ad + bob'd' = (a'd' + b'e')bd


cd' = cd o '

Faça esta verificação.

Multiplicação:
ac ac
bOa Td
De novo, é necessário verificar que O é bem definida no sen-
tido de que o produto de dois elementos de K; não depende das
escolhas das representações destes elementos; de maneira precisa, é
necessário verificar que

(a,b) — (a',b)
| > (ac, bd) — (a'c',b'd').
(cd) = (e,d')

Faça esta verificação.

Afirmamos que (K,,&,O) é um corpo onde:

e o elemento neutro de & é a classe 0/1.

e o elemento neutro de O é a classe 1/1.


58 [CAP. ll: FATORAÇÃO ÚNICA

e o inverso de a/b com respeito a & é a classe (—a)/b.


e sea 0, o inverso de a/b com respeito a O é a classe b/a.

Verifique estas afirmações.

Afirmamos ainda que

Pp. (D,+,') — (K, 9,0)


do dA

é uma função injetiva tal que

(di; + do) = (di) O p(do).


p(dido) = p(dy) O p(do).
Verifique esta afirmação.

Então, temos que (P(D), EloD) OlotD)) E (K,D,0). As


sim construímos um corpo (K,,2,O) que não contém realmente
(D,+,-), mas contém (p(D), Blo(D), Olp(D)). Como y é injetiva e
“preserva” a adição e a multiplicação, podemos “identificar” (D,+,-)
com sua imagem isomorfa (P(D), Slap), Olv(D)). Querendo ter
uma prova rigorosa (sem identificação), podemos fazer o seguinte:

j SN

A idéia é anexar K, NV y(D) ao conjunto D e transportar a es-


trutura de K,. De maneira precisa:
[SEC. |1.3: FATORAÇÃO ÚNICA EM ANÉIS DE POLINÔMIOS 59

Seja K = DU(K, Ny(D)).


Defina y: K — K, do seguinte modo:

(ua = (d), para de D.


Plax) =, para q € KiNy(D).

É claro que y é uma bijeção; agora, transporte a estrutura de K;


para K via esse 1), isto é, para cada x,y € K, defina:

Tey=w" (bx) w(y)).


Toy =w (bx) O v(y)).
É fácil verificar que (K,€,0) é um corpo que tem todas as
propriedades desejadas.

2) Provamos agora a unicidade módulo isomorfismos.


Sejam (K,,01,01) e (K,,€5, 02) dois corpos que satisfazem as
condições desejadas.
Se 0 86 € (D,+,-), vamos escrever (871), para designar o in-
verso de 8 em (Ki, 1,01) e escrever (87!)o para designar o inverso
de 8 em (K5,05,03). Se w,8 E (D,+,:), 8 £ 0, vamos escrever
(5) para designar a O; (87!) e (5)> para designar a Os (8-")o.
Defina

p: (Ki,
PD, 01) — (Ko, Do, 02)
a a
( 3)
=)1 —S
( 3)
|(— >.

Verifique que p é bem definida no sentido de que a imagem de


um elemento x € K, não depende da representação deste elemento;
verifique ainda que p é uma bijeção; verifique enfim que p “preserva”
as operações. Isto acaba a prova da proposição. []

No que segue D vai designar um domínio fatorial e K vai ser


seu corpo de frações. Queremos estudar o comportamento da noção
de irredutibilidade na passagem entre D[X] e K|[X]. Note que se
a+£0ae DC D|X], então a fica invertível em K[X]; assim,
60 [CAP. |l: FATORAÇÃO ÚNICA

os fatores irredutíveis de grau zero em D[X] se perdem em K[X].


Vamos ver que, essencialmente, estes fatores irredutíveis de grau
Zero São os únicos que se comportam mal. A fim de melhor os
controlar, vamos fazer as definições seguintes:

Definição 11.3.4. Seja D um domínio fatorial. Para um polinômio


HO) =X" +--+aX + € D|X], o conteúdo de fF(X) é o
M.D.C. (an,..., ao); ele será denotado por c(f(X)). Dizemos que
f(X) é primitivo em D[X] se o conteúdo de f(X) é um elemento
invertível de D, isto é, equivalentemente, se f(X) não tem fator
não-trivial de grau zero.

Observação 11[.3.5. Seja D um domínio fatorial e seja K o corpo


de frações de D.

1) Se H(X) E DI|XI, então

HX) = (F(X)) - f(X), com A(X) primitivo em DIX].


2) Se f(X) € DIX]e de D, então
e(d S(X)) = d-(f(0).
3) Se f(X) E K|X], então existem a,b € D, b 0, tais que

HX)= - A(X), com A(X) primitivo em D/X).


SC | O

É claro que se f(X) € D[X] é um polinômio irredutível de D[X]


com grau > 1, então f(X) é primitivo em D|X]. Vejamos agora o
comportamento do conceito de “irredutibilidade” e do conceito de
“elementos associados”, na passagem entre D/X| e K[X|.
Lema 11.3.6. (Gauss). Seja D um domínio fatorial e seja K seu
corpo de frações.

1) Se g(X) E D|[X] tem grau > 1, então g(X) é irredutível em


D|X| see só se g(X) é primitivo em D|X! e irredutível em
KIX).
[SEC. 11.3: FATORAÇÃO ÚNICA EM ANÉIS DE POLINÔMIOS 61

2) Seg(X) eh(X) são primitivos em D[X], então g(X) e h(X)


são associados em D|[X| seesóseg(X) eh(X) são associados
em K|X).

3) Se F(X), 9(X) E D[X], então

(IX) -g(X)) = HX)) clg(X)).


DEMONSTRAÇÃO. 3) Sejam d = c(f(X)) e d = c(g(X)). Temos
HX)=d f(X) e g(X)=d-g(X), com A(X) e g(X) primitivos;
logo, F(X) - g(X) = dd". A(X)gi(X) e, portanto,

(HX) - (X)) = (dad AX) (X)) = dd - (H(X)n(X)).


Então, para provar a afirmação, basta provar que c(f(X)gi(X)) é
invertível em D (equivalentemente, que o produto de dois polinômios
primitivos A(X),g(X) é um polinômio primitivo).
Escreva

FX) =a+ÓX+- tax”,

=b+bX+ E BmX,
gu(X)

AOOIgn(O =0+raX+ + cam" t”, onde c; — >. 0;bp.-


j+le=i
Seja p um elemento irredutível qualquer de D; queremos mostrar
que dc; tal que pf c;. Sendo A(X) e g(X) primitivos, podemos
considerar os primeiros coeficientes a, e b, tais que pf as e p4 br.
Então o coeficiente c,,, não é divisível por p, pois temos:

Cr+s — (Lo Dr+s + 1 brss-1 + ee + As Dry 1+

p divide p divide p divide

+ ade +
Naa
p não divide

+ Us+1 br-1 + + As bo
De? a
p divide p divide
62 [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

1) “<” claro.

“=>” Suponha por absurdo que temos g(X) = h(X)!(X) com


ambos h(X),(X) e K[X] de grau > 1. Podemos então escrever
hnaX) = (a/b)h(X) e AX) = (a/b5)2(X) com a,b, d',b E D,
b+Ob £0, hi(X), f(X) E D|X)] polinômios primitivos de
grau > 1 e, portanto, temos g(X) = (aa'/bb)hi(X)t(X) ou equi-
valentemente bb'g(X) = aa h,(X)t4(X). Vemos que

bb'c(g(X)) = c(bb'g(X)) = claa'hy(X)t(X))


— aa c(hi(X)t4 (X)) = qq.

Portanto (aa'/bb') = c(g(X)) E D. Assim,

9X) = (aa! [ob (A(O)


com (aa'/bb)hy(X) e D[X] de grau > 1 e com A(X) E D|X] de
grau > 1, isto é, g(X) é produto de dois fatores de grau > 1 no
anel D|X!; absurdo.

2) Sejam g(X), A(X) dois polinômios primitivos em D[X]. É imedi-


ato ver que se g(X) e h(X) são associados em D[X], então eles são
também associados em K[X]. Reciprocamente, se gy(X) e h(X) são
associados em K|X], então temos g(X) = =-h(X) com e invertível
em K|X|, isto é, com ce € K À (0). Sendo K o corpo de frações de
D, temose = a/bcoma,b e D,b 0. Escrevendo bg(X) = ah(X),
vemos que o conteúdo do lado esquerdo desta igualdade é be o do
lado direito é a. Não podemos concluir que a = b pois o conteúdo
é definido somente a menos de multiplicação por um elemento in-
vertível de D; no entanto, podemos concluir que a e b são associados
em D, logo que : = a/b é invertível em D. Portanto g(X) e h(X)
são associados em D/X). 0
[SEC. 11.3: FATORAÇÃO ÚNICA EM ANÉIS DE POLINÔMIOS 63

DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA 11.3.1: Considere um polinômio


HX)e DIX|C KIX|.
Existência de uma fatoração em elementos irredutíveis em D/[X].
Seja f(X) € D[X] um polinômio de grau > 1. Escreva f(X) =
d- f(X), onde d € Dé o conteúdo de f(X) e f(X) é primi-
tivo em D|[X]. Como D é fatorial, o elemento d possui uma fa-
toração d = pj...p; com py,...,p; irredutíveis em D e portanto
irredutíveis em D/X]). Como fi(X) e D[X| c K[X], A(X) pos-
sui uma fatoração em K|X], digamos fi(X) = q(X)...q(X) com
q(X) E KI|X], q; (X) irredutível em K[X|, Vi = 1,...,r. Escreva
q(X) = (a;/b;))gi(X) com a;,b; E D,b; £D e q(X) € DX] primi
tivo; g;(X) sendo irredutível em K[X], então g;(X) é irredutível em
K|X| e logo, pelo Lema 11.3.6, gi(X) é irredutível em D[X]. Temos
FX) = q(X)....(X) = (01... .0,/br.. bo) (X)...q(X)
e portanto,

b4 . dr f(X) — d.. A q(X) .. qu(X).

O conteúdo do lado esquerdo da igualdade é b;...br pois A(X) é


primitivo; o conteúdo do lado direito é aj ...ar pois cada q;(X) é
primitivo. Portanto b,...b, e a,...a, são associados em D, e logo
(a1...0,/bj...b,) é um elemento invertível de D. Denotando este
elemento por 7, temos que

FOX) = (mpipa... pe a(X)...ar(X)


é uma fatoração de f(X) em elementos irredutíveis de D[X].

Unicidade da fatoração. Considere duas fatorações em D[X]:


fatores irredutíveis de grau 2 1
ee,
em
HA) = pr...Pi q(X) ...qr(X)
fatores irredutíveis de grau O

“ fatores irredutíveis de grau > 1

HX) = UI... Ur vi(X)...v(X)

fatores irredutíveis de grau O


64 CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

Vemos que p, ...p;e wu... ur são ambos iguais ao conteúdo de f(X)


e logo ps ...P; = EU ...Us, com E invertível em D. Pela unicidade
da fatoração em D, obtemos que t = t' e, módulo a ordem, p; €
u; são associados em D e logo também em D|[X]. Agora, temos
eq(X)..g(X) = w(X)...v(X): pela hipótese, os q(X) e os
v;(X) são irredutíveis em D[X], logo são irredutíveis em K[X| (pelo
Lema 11.3.6). Pela unicidade da fatoração em K|[X] obtemos que
r = r' e módulo a ordem, que g;(X) e v;(X) são associados em
K|X!:; q(X) e v;(X) sendo irredutíveis em D[X] de grau > 1, eles
são primitivos em D[X], e portanto, são associados em D|X] (pelo
Lema 11.3.6). L)

Exercício 11.3.7. No teorema anterior, dê uma nova prova da uni-


cidade da fatoração em D[X], verificando que a condição (ii') da
Proposição 11.1.8 está satisfeita.

Exercício 11.3.8. Seja D um domínio fatorial e seja K seu corpo


das frações.

a) Se f(X) € K|X] tem algum coeficiente igual a 1 (por exem-


plo se f(X) é mônico), então existe d € D tal que df(X) é
primitivo em D[X1.

b) Sejam A(X) e fa(X) E K[X], ambos com algum coeficiente


iguala 1. Se A(X)f(X) E D|[X], então ambos fA(X) e fo(X)
estão em D[X].
Dica: No item b), utilize o item a) e o item 3) do Lema [[.3.6.

c) Seja fi(X) primitivo em D/[X]. Se f(X) E K[X] é tal que


f(X) - f(X) e D|[X], então f(X) e D[X1.

À seguir, enunciamos um resultado importante sobre anéis de


polinômios (colocado neste ponto do livro embora não envolva o
teorema de Gauss).
[SEC. 11.4: EXERCÍCIOS 65

Proposição 11.3.9. (Decomposição em frações parciais).


Sejam K um corpo e K(X) o corpo de frações de K|X1.

1) Sejam a(X),b(X) E K[X] e seja d(X) = TE, pil(X)" a fa-


toração de b(X) em elementos irredutíveis de K|X]. Então é
possível encontrar efetivamente c(X),...,c(X) € K|X| tais
que
d(X) q dX)
(XxX) DE

2) Sejam c(X) E K|X], p(X) E K|X) irredutível de grau d er


um inteiro positivo. Então é possível encontrar efetivamente
a(X), B(X),...,B(X) E K[X] com grau B(X) < d (ou
B(X) = 0) tais que

d(X) o BHX)
(X)
p(X)” + Xy

DEMONSTRAÇÃO. 1) Aplique o Corolário 11.2.3.1) com fi(X) :=


pi(XIT.. pea( XL f(X) = p(X) e k(X) = a(X), e faça
uma indução sobre t.
2) Faça divisões sucessivas por p(X). []

II.4 Exercícios
1. Calcular o M.D.C. em Q/X] dos seguintes pares de polinômios:
a) X!+Xº+2X] 4 X4+le Xº+4X2 44X +43.
b) 4Xº + 7Xº+2Xº+11 esXº+ X+41
)XI4X 42X IX SI e XI XIX X4I.
2. Calcular o M.D.C. em Zi] dos seguintes pares de elementos:
a) 8+% e —1I+Ti
b) 3+2ie 2-1.
66 [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

3. Seja Zliv7| = fa+ibv7 |a,b E Z) com a adição e a multi-


plicação usuais em €.

a) Procurar os elementos invertíveis de Z[iv'7].


Dica: Use a função norma (N(4y) = 9%, Vy € C).
b) Mostrar que Z[iv7] não é um domínio fatorial.
Dica: Mostre que 2.2.2.2 e (3 +1V7)(3 — iv'T) são fa-
torações distintas em elementos irredutíveis de Z[iv7].

4. Seja N: Zfi) — N a função norma.

a) Seja a € Zli]. Se N(a) é irredutível em Z, mostre que «


é irredutível em Zfi].
b) Sejam a, 5 dois elementos de Zfi| e seja y o M.D.C. de
ae jem Zlil.
1) Mostre que N(y) divide o M.D.C. de N(a) e N(6)
em Z.
2) Se N(a) e N(85) são primos entre si em Z, mostre
que « e 8 são primos entre si em Zli).
c) Mostre que a recíproca de b) é falsa, exibindo dois ele-
mentos a, 8 € Zli| tais que

a e ) são primos entre si em Zfi].


N(a) e N(8) não são primos entre si em Z.

5. Seja py: Ay — Às um homomorfismo de anéis. Mostre que

a) p(Aj) E AS.
b) A inclusão em a) pode ser estrita, mesmo se supomos
que y é um homomoriismo sobrejetivo.

6. Seja D um domínio que não é um corpo e seja «a É O um


elemento não-invertível em D. Seja D[X] o anel de polinômios
em uma indeterminada com coeficientes em D.
ISEC. 11.4: EXERCÍCIOS 67

a) Mostre que o maior divisor comum entre a e X existe


em D|X] e é igual a 1.
b) Mostre que não existem e(X), f(X) € DI|X] tais que
d(X)arf(X)- X =1.
c) Mostre que o ideal (a, X) de D[X] não é principal.

7. Sejam HF um corpo e F|X,Y| o anel de polinômios em duas


variáveis. Mostre que F[X,Y| não é domínio principal.

. o - = .. X
Determine a decomposição em frações parciais de 0%) nos
casos seguintes:

a) Em Q/X),a(X) led(X)=(X+DAX+3(X +45).


b) Em Q/X),a(X) Le XX) =(X2-2(X3— 9).
c) Em R[X],a(X) Te d(X)=(Xº- M(Xº — 9).

. Seja D um domínio.

a) Mostre que um elemento primo não-nulo é irredutível.


b) Mostre que a recíproca é falsa em geral, isto é, podem
existir elementos irredutíveis que não são primos. À
Proposição 11.1.8 diz que a recíproca é verdadeira se D
é um domínio fatorial.

10. a) Seja FP := Z/11Z. Mostre que Xº 4 1 é irredutível em


Fu|X]. Mostre que o ideal (X2 + 1) é maximal de Fy[X].
Mostre que H1[X]/(X* + 1) é um corpo com 121 elementos.
b) Sejam p um número primo e E, := Z/pZ. Seja f(X)
um polinômio irredutível em F,[X| de grau n. Mostre que
FAXIMJ(X)) é um corpo com p” elementos.
68 [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

11. Seja D um domínio principal.

a) Se p é um elemento irredutível de D, mostre que D/(p)


é um COrpo.
b) Seja p um ideal não-nulo de D. Mostre que as condições
seguintes são equivalentes:
(1) p é um ideal maximal.
(li) p é um ideal primo.
(iii) existe irredutível p € D tal que p = (p).

12. Sejam D um domínio e K seu corpo de frações. Um subcon-


junto S de D é dito sistema multiplicativo de D se

s,2€5S>5>>5989€5.
1Ees,
0&5S.

Dado umtal S, seja Ds:= (te K; Ide D, ds E S tais que


£€ = d/st. Mostre que Ds é um subanel de K que contém o
domínio D. Mostre que

(ão primos p de D
tais que pNS = 0 | —» tideais primos de Ds)

p— ;pEp,sES)
é uma bijeção, cuja inversa é dada por

PNDaP.

13. Seja C(X) o corpo de frações de C[X]. Mostre que todo


elemento de C(X) pode ser escrito como uma soma de um
polinômio em C/X] com uma combinação C-linear de termos
da forma (X — a)”, ondeae CenenN.
[SEC. 1.4: EXERCÍCIOS 69

14. Seja m um inteiro livre de quadrados tal que m = 1(mod 4).


Considere o anel

Zlvm] = fa+bvm
|a,be 2h.

a) Mostre que 2 é irredutível em Z[/m!|.


b) Verifique que 21 (1 + m) e que 21 (1 — /m) no anel
zivm,
c) Verifique que no anel Z[/ml|X], os polinômios f(X) =
2X —-(1+/m)eg(X)=2X-(1- m) são primitivos,
mas f(X) - g(X) não é primitivo.
d) Conclua que Z[,/m| não é domínio fatorial.

Dica (item a)): Verifique que a função y definida por


p(a+by/m) = a? — bêm preserva a multiplicação. Se 2 = o - 8
com «,5 € Zlym], então 4 = p(a) - y(8). Raciocinando
módulo 4, mostre que [a? — b2m| = 2 é impossível.

15. a) Sejam 4,,...,4, anéise B:= À; x--:x 4, o produto


direto. Seja B* o conjunto dos elementos invertíveis de B.
Verifique que B* = ((a,,...,m,) E B; a; é invertível em 4,,
Vi=1,...th
b) Sejam n,r dois inteiros. Mostre que 7 é invertível no anel
Z/nZ se e somente se n e 7 são primos entre si, e portanto
que H(Z/nZ)* = H(l<r <n; MD.C.fr,n) = 15).
c) Seja $: N > Na função de Euler, isto é, a função definida
por
d(n):=H(I<r<n; MD.C.tr,ny=1>

c.1) Mostre que se n;,...,ny são inteiros positivos dois a dois


primos entre si, então (nm, ...m) = P(my)... (ni).
c.2) Mostre que se p é um número primo e u é um inteiro
positivo, então H(p') =p“ !(p — 1).
TO [CAP. Il: FATORAÇÃO ÚNICA

c.3) Concluir que se p,,....D; São Os números primos que


dividem o inteiro positivo n, então

(pi — 1)...(p:
— In
9(n) = Pi... D:
Capítulo III

Polinômios

IJ.1 Raízes e Fatores de um Polinômio


Dados um anel À e um polinômio f(X) e A[X], vamos relacionar
os fatores mônicos de grau 1 de f(X) em A[X] com as raízes de
H(X) em 4.

Proposição 1I1.1.1. Sejam 4 um anel, H(X) E AlX|] ea E À.


Então f(a) = 0 se e somente se existe um polinômio UX) E AjX|
tal que H(X) = (X — a)t(X).

DEMONSTRAÇÃO. Pela Proposição 1.3.9, sabemos que existem


UX),r(X) E AjX) tais que H(X) = (X — a)t(X) + r(X) com
grau r(X) < grau(X — a) = 1 our(X) = 0, isto é, com r(X) uma
constante. Então f(a) = (a — alt(a) + r(a) = r(a) = r(X) e
portanto f(a) =0 o r7r(X)=06 HX)=(X — aux). 0)

Definição II1.1.2. Sejam 4 um anel, f(X) € A[X|, a E 4, e um


inteiro s > 1. Dizemos que a é uma raiz de F(X) de multiplicidade
s se (X — a)º divide f(X) mas (X — a)**! não divide f(X).
Corolário 111.1.3. Sejam A um anel, (X)€E AIX| a € À, e seja
s> 1 um inteiro. Então as afirmações seguintes sao equivalentes:

(1) a é uma raiz de fF(X) de multiplicidade s.

11
12 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

(ii) Existe h(X) E AlX] tal que HX) = (X — a) h(X) com


h(a) + 0.

DEMONSTRAÇÃO. (1) => (ii). Aplique a Proposição II[.1.1.


(1) => (1). Devemos mostrar que (X — a)s*! não divide f(X).
Suponha que (X —o)**1 divida f(X). Temos então (X =a)*h(X) =
ftX) = (X — a)tit(X) para algum polinômio (X) e A[X],
logo (X — a) [h(X) — (X — o)/(X)| = 0. Como (X — a)* é um
polinômio mônico, obtemos h(X) — (X — a)!(X) = O (verifique).
Então A(X) = (X — a)!(X) e portanto A(a) = 0, o que contradiz
nossa hipótese. [1]

Definição 1I1.1.4. Seja 4 um anel. Seja (X) = X"+e,


XX" +
tax +e E ALX]. Sua derivada é o polinômio
(O =r,XTt4 (r- DeuXT +. toe.

É fácil verificar que se FX) = 9(X)d(X), então

FOX) = 9(X)M(X) + (XX).


Definimos indutivamente as derivadas de ordem superior fMM(X),
n > 1, de um polinômio f(X) E A[X] da maneira seguinte:

FO) =X) e SO
= (DD.
Exercício 111.1.5. Seja e um inteiro > 1. Seja a € À uma raiz de
f(X) e A(X] com multiplicidade > e. Escreva

FO) =(X a) MX), com h(X) € AX].


Sejan E Ntal quel <n <e. Mostre que existe h(X) E A[X] tal
que

FX) = e(e-1)...(e-n4D)(X o) PAO MX =) HA (X).


Exercício 1I1.1.6. Sejam 4 um anel, f(X) E AlX| eo € À.

a) Mostre que a é raiz de f(X) com multiplicidade 1 se e somente


se f(a)=0e f(a) £0.
[SEC. llt.1: RAÍZES E FATORES DE UM POLINÔMIO 73

b) Suponha que A seja um domínio contendo Z. Mostre que


a é raiz de f(X) com multiplicidade e > 2 se e somente se
0 = Ho) = fa) == feU(a) e fa) £0.
Corolário III.1.7. Sejam D um domínio e 0 £ FX) e D[X).
Então:

1) Número de raízes de F(X) em D (contando as multiplici-


dades) < grau f(X).

2) Chamando qj,...,Q, essas raízes e denotando por ey,...,er


as suas multiplicidades, temos

HX)=(X cat. (X —a JJ tUX),

onde t(X) E D|[X] é um polinômio que não tem raiz em D.

DEMONSTRAÇÃO. e Se f(X) não tem raiz em D, acabou.


e Se f(X) tem uma raiz q; em D de multiplicidade e, então

HA) =(X — a) t(X)


com ty(X) € D|X| etila) £ 0. Se f(X) não tem outra raiz, então
acabou, pois:

Htraízes de (X) em Di =e; <e,+grauti(X) = grau f(X).

e Se f(X) tem uma outra raiz q, em D de multiplicidade es», então

HX) = (X = an) h(X) E (X — a) 2ha(X)


com hi(X) € D|X] e (as) £ O. Se K denota o corpo de frações
de D, então K|[X] é um domínio fatorial e f(X) tem uma única
fatoração em polinômios irredutíveis em K|[X|. Como X — a; e
X — q» são irredutíveis e não são associados, então em vista da
igualdade (x), existe to(X) E K[X] tal que

HO) = (X — a) 2to(X).
14 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Por outro lado, já que t;y(X) e (X — ao)? € D|[X| e que (X — a,)º


é mônico, temos to(X) e D[X] (vide Exercício 1.3.10) e portanto

HX) =(X — a)(X — aoJ2taX)


com to(X) E D[X], to(0,) L0 eto(as) £ 0. Se f(X) não tem outra
raiz em D, então acabou pois:

Hlraízes de f(X) em Dt=e;+es < grau f(X).

e Se f(X) tem uma outra raiz a; em D de multiplicidade es, então


temos:

F(X) = (X — a) (X — ao)2ta(X) =— (X — as) ho(X)

com hy(X) E D|X] e hs(a3) £ 0, e obteremos

to(X) =— (X — as)Sta(X) com ta(X) E D|X).

O processo tem que terminar pois grau f(X) > grauti(X) >
grauto(X) >.... 0)

Observação III.1.8. O Corolário [1.1.7 é falso em geral se D é um


anel que não é domínio. De fato é possível construir, por exemplo,
um anel A e um polinômio f(X) e A[X] de grau 1 tal que f(X)
possui um número infinito de raízes em 4: basta tomar

QIY, Z] e fHX)=YX e A[X] (verifique).


“=(7)
Corolário 111.1.9. Seja D um domínio. Sejam f(X),g(X) dois
polinômios em D|[X| de grau < n tais que f(a) = g(a) para (n+1)
elementos a distintos de D. Então HMX) = g(X).

DEMONSTRAÇÃO. Basta aplicar o Corolário 111.1.7 ao polinômio


HA) — g(X). 0
ISEC. 11.1: RAÍZES E FATORES DE UM POLINÔMIO 75

Corolário 111.1.10. (Fórmula de interpolação de Lagrange)


Seja K um corpo. Sejam ay,...,an+, elementos distintos de K.
Sejam bi,...,bny1 elementos (talvez não-distintos) de K.
Então existe um único polinômio f(X) E K[X] com grau f <n
tal que F(a;) =b;, Vi=1,2,...,n+1. Este polinômio é dado por

Sal X-a9)..(X
n+4+1 TT
a). (X — ane)
D..(a;— a;)... (a; — ana)

onde o símbolo ”” significa que omitimos o fator.

DEMONSTRAÇÃO. E claro que f(X) satisfaz as propriedades dese-


jadas. À unicidade decorre do Corolário 111.1.9. [)

À proposição seguinte mostra que os polinômios homogêneos


(i.e., polinômios envolvendo somente monômios de mesmo grau) de
duas variáveis têm um comportamento similar aos de uma.

Proposição II1.1.11. Seja K um corpo e seja (X,Y) = aÔ +


agX"IY +... +anY” um polinômio não-nulo de K|[X,Y], ho-
mogeneo de graun.

a) Seja a € K. Então a é raiz de fF(X,1) se e somente se


(X —aY) divide HX,Y) em KIX,Y|.

b) SeK =C, então HX,Y) = [[.,(bX +c;Y) combc ecl.

DEMONSTRAÇÃO. a) Se H(X,Y) = (X —aoY)g(X,Y), então é claro


que f(X,1) = (X — a)g(X,1) e portanto que a é raiz de f(X,1).
Reciprocamente, se (X,D) = (X —-o)(boX"! +... +ba-1), então
substituindo X pelo valor ç e multiplicando os dois lados por Y”,
obtemos f(X,Y) =(X —aW)(boX"I ++ bay).
b) Escreva F(X,Y) = X'Y(doX“+d XIY +. .+dY") com
do £ O d,. Denote por A(X,Y) :— do X “HA XIV +. dy
Sejam 01,09,...,Gy em C as raízes de h(X,1); assim,

(En)
ca (Ea) 1—1
76 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Multiplicando a igualdade acima por Y*, obtemos

NY) = do: TI — ay).


4=—1

Como f(X,Y) = X"Y*h(X,Y), obtivemos a decomposição dese-


jada para o polinômio f(X,Y).
) []

III.2 Critérios de Irredutibilidade


Já mencionamos que em geral, mesmo se D for um domínio fatorial
(ou até um corpo), pode não existir um algorítmo que determine se
um polinômio qualquer f(X) e D[X] é irredutível ou não. Mesmo
que um tal algorítmo exista (é o caso por exemplo em Z[X|), ele
pode ser tão “lento” que na prática não seja de grande utilidade.
(Ver por exemplo, van der Waerden, Modern Algebra, Cap. IV,
925). Vamos estabelecer algumas condições suficientes para que
um polinômio f(X) e D[X] seja irredutível. Primeiro, lembramos
que no caso de D ser um domínio fatorial com corpo de frações K,
a irredutibilidade de f(X) em D|[X] está intimamente relacionada
com a irredutibilidade de f(X) em K/[X] (vide Lema 11.3.6). Em
geral vai ser mais fácil procurar os fatores em D[X| pois D sendo
um conjunto menor que K, existem menos fatores plausíveis para
serem testados em D[X)]. Ilustramos isto com alguns exemplos.

Exemplo 1I1.2.1. Seja f(X) = Xº-—- Xº+1 € Z[X]. Vamos


mostrar que f(X) é irredutível em Z[X]. Claramente f(X) é pri
mitivo, de modo que basta mostrar que f(X) não é um produto de
dois fatores de grau > 1 em Z[X].

e f(X) não tem fator de grau 1 em Z|X|; com efeito, se ele tivesse,
este fator (que tem que ser mônico pois f(X) é mônico) seria do tipo
X-a coma € Z, isto é, teríamos Xº- X2+1=(X —-a)g(X) com
g(X) E Z|X]; olhando para o termo constante, teríamos 1 — am
com m € Z, logo a = +1, isto é, +1 seria raiz de X! - Xº+4 1:
no entanto, é imediato verificar que nem 1, nem —1, são raízes de
ISEC. Hl.2: CRITÉRIOS DE IRREDUTIBILIDADE TT

XxX! —- Xº +1. (Observe que se tivéssemos trabalhado em Q[X] no


lugar de Z|X|, a priori a poderia ser qualquer elemento 4 0 de Q
e logo não daria para verificar, um por um, que nenhum a de Q é
raiz de f(X)).
o f(X) não tem fator g(X) de grau 3 em Z/X]; com efeito, se
ele tivesse, teríamos f(X) = g(X)h(X), onde h(X) E Z[X] teria
necessariamente grau 1; mas isto é impossível pelo caso precedente.
e f(X) não tem fator de grau 2 em Z[X]; com efeito, se ele tivesse,
teriamos

Xº-X4+1=(Xº+aXx+b(Xº+cX
+d) coma,b,c de Z

(termo constante) 1=bd, logo b=d=+l;


(termo em X) 0 = ad + bc
= b(a+c) logoa=c-c;
(termoem Xº) -1=d+ac+b
=9b-— a?, logo a2-1=2b=+2:

assim a? = 3 ou a” = —1, o que é impossível.

Exemplo 1I1.2.2. Seja (X) = Xº +aXº -1€ Z[X]) coma £0.


Então f(X) é irredutível em Z[X] (verifique).

Ágora, se À é um anel e 1 é um ideal de 4, já sabemos que a


aplicação

AX] — (A/DIX]
HX) := DaX' ss fX) := DaX
é um homomorfismo de anéis.
Escolhendo o ideal 1 de maneira adequada, pode-se esperar que
o anel A/I seja relativamente simples para a análise do polinômio
reduzido f(X). Conseguindo informações sobre o reduzido, pode-
mos esperar traduzí-las em informações sobre o polinômio f(X).
78 ICAP. Ill: POLINÔMIOS

Proposição 111.2.3. Sejam A um domínio, 1 um ideal deÀ e


f(X) E A[X] um polinômio mônico. Se o polinômio reduzido f(X)
é irredutível em (A/D|X], então f(X) é irredutível em A[X|.

DEMONSTRAÇÃO. Exercício.

Proposição 111.2.4. Seja f(X) E Z|X|] um polinômio mônico.


Seja p um número primo.

a) Sejam 71,...,7, as raízes de F(X) em Z/pZ. Caso f(X)


tenha uma raíz q E Z, então existe um índice i E (1,...,r)
tal que a = Yi;(mod p).

b) Suponha que grau H(X) >3 e que AX) =(X -Py(X) com
p(X) irredutível em (Z/pZ)|X]. Então f(X) é irredutível em
Z|X|, ou f(X) possui uma raíz a E Z tal que a = y(mod p).

DEMONSTRAÇÃO. a) Como p é um número primo, então Z/pZ é um


corpo, logo (Z/pZ)|X] é um domínio fatoriale X —-%,,...,X — 9,
são os fatores irredutíveis de grau 1 de f(X). Caso f(X) tenha
uma raíz a em Z, então X — a é um fator de f(X) em Z[XÍ, logo
X — à é um fator de f(X) em (Z/pZ)[X], logo existe um índice
1€ (1,...,rl tal que a = 9, 1.e., tal que a = y;(mod p).
b) Suponha que f(X) não seja irredutível em Z[X], logo que
HX) = 9(X)h(X) com g(X), h(X) E Z|X|] mônicos de grau > 1.
Temos então

FOX)
= (X)H(X) em (Z/pZ)[X].
Pela hipótese, f(X) = (X —3)p(X) é uma fatoração em elementos
irredutíveis em (Z/pZ)|X]. Como (Z/pZ)|X| é um domínio fatorial,
concluímos que (X) = X —-% ou h(X) = X — %, e portanto que
(X)=X -aouh(X)=X —-acoma€EZ, a=7ymodp. [1]

Exemplo II1.2.5. a) Seja f(X) = Xº + (1329) Xº + 3002X +


12.001 E Z[X|. Olhando módulo 3, temos

HX) = Xº+2X +1€ (Z/37)[X].


[SEC. Hll.2: CRITÉRIOS DE IRREDUTIBILIDADE 79

Este polinômio f(X) é irredutível em (Z/3Z)[X] pois, se ele fosse


redutível em (Z/3Z)[X], então ele teria um fator de grau 1, logo
possuiria uma raiz em (Z/3Z), o que é absurdo pois f(0) = 1 £0,
HD) =1760,f(2)=1%0. Logo f(X) é irredutível em Z[X).
b) Seja f(X) = Xº — 15X? + 10X — 83 € Z[X]. Olhando agora
módulo 2, temos f(X) = Xº+X2+1 € (Z/2Z)|[X], que é irredutível
em (Z/2Z)|X]. Logo f(X) é irredutível em Z[X].
Exemplo II1.2.6. O polinômio f(X) = Xº — 15X2 + 10X — 84 é
irredutível em Z/X).
DEMONSTRAÇÃO. Basta mostrar que f(X) não tem raízes em Z.
Uma raiz em Z tem que ser um divisor de 84, portanto basta ve-
rificar que +1, +2, +3, +4, +6, +7, +12, +14, +21, +98, +42 e +84
não são raízes de f(X).
Vamos utilizar a proposição anterior para diminuir o número
destas verificações.

Mod 3Z, temos

FX) =X(Xº+1) em (Z/32)[X]


e, claramente, Xº + 1 é irredutível em (Z/3Z)[X]. Logo se a é raiz
de f(X) em Z, então a = O(mod3). Portanto bastaria verificar que
+3,+6, 412, +21, +42 e +84 não são raízes de f(X).
Queremos limitar ainda mais o número destas verificações.
Mod 5Z, temos

MMX) =(X-4(Xº+4X +41) em (Z/52)[X]


e, claramente, Xº + 4X 4 1 é irredutível em (Z/5Z)|X]. Logo se
a é raiz em Z de f(X), então «a = 4(mod5). Portanto bastaria
verificar que —6, —21 e 84 não são raízes de f(X).
Facilmente verifica-se que números inteiros negativos $ não são
raízes de f(X), pois f(6) < 0. Verifica-se finalmente diretamente
que f(84) £ 0. Concluímos então que f(X) é irredutível em Z|X].
L]
80 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Observação II[.2.7. O método do Exemplo anterior foi fazer con-


siderações (mod p), para diversos primos p em Z, acumulando então
informações que nos permitiram concluir algo sobre o polinômio
original f(X) de Z|X|.

À seguir, estabelecemos um critério que se destaca pela facili-


dade de seu uso quando se conhece os elementos irredutíveis de um
domínio fatorial.
Teorema [I1.2.8. (Critério de Eisenstein). Sejam D um domínio
fatoriale (X) =aX”"+a,X"!+..-+ay E D[X] um polinômio
de graun > 1.
Se existe um elemento irredutível p E D tal que

p1 am
Pp | Qi, Va < n— L,

p 1 Jg;

então f(X) não é o produto de dois fatores de grau > 1 em D[X]


(equivalentemente, o polinômio f(X) é irredutível em K(X], onde
K é o corpo de frações de D).
DEMONSTRAÇÃO. Suponha que a afirmação seja falsa, isto é supo-
nha que f(X) = g(X)h(X) com
(XX) =aX +ecraX+ae D|X|, as%o0,
MMX) =X+: +AX + DX), BO,
st>1 (equivalentemente, st <n— 1).

Temos

ão = 9/0 ploo e pr ho

p | do > ou
|ee
pº 1 ao pois D é fatorial |p|Boeptao.

Digamos que seja o caso p | 2) e p 1 Bo (o outro caso seria tratado


de maneira análoga). Temos
Un — Os:
Dt a, | —> ptase ptb.
[SEC. 111.2: CRITÉRIOS DE IRREDUTIBILIDADE 81

Seja x, comu <s<n—1,o coeficiente do termo de mais baixo


grau de g(X) que p não divida e considere o coeficiente a, em f(X);
temos

Ou — 00 Pu + Q1 Du ++ Qui + Qu DO )
A

p divide p não divide

e portanto p não divide a,,. Isto contradiz a hipótese que o elemento


p dividea;, Vi<n—l. []

Observação I[[.2.9. Na demonstração do Teorema II1.2.8 a hi-


pótese de que D é fatorial somente foi usada para concluir que o
elemento irredutível p € D é um elemento primo (i.e., vale que se
a,be Dep!|ab, entãop|aoup|b). O Critério de Eisenstein
poderia então ter sido enunciado com as hipóteses de D ser um
domínio qualquer e p € D ser um elemento primo.

Observação 111.2.10. A demonstração apresentada acima do Cri-


tério de Eisenstein pode ser reescrita trabalhando-se módulo o ideal
principal (p) de D. Faremos isto abaixo, onde utilizaremos as
notações já introduzidas na demonstração:
Considere a aplicação

DX] — (D/(X]
k(X) = DdjX* > k(X) = DX",
que sabemos ser um homomorfismo de anéis.
Tendo f(X) = g(X)h(X) em D|X], temos

FO) =500)hMX) em (D/Mp)IX].


Da hipótese p | a;, Yi <n — 1, obtemos

An X” — (As Xº + ad + do) (8X + tee + Bo).

Da hipótese p 1 an, obtemos

OLX”.
82 [CAP. l: POLINÔMIOS

Da hipótese pº* 1 ao = a98o, obtemos pt co ou ptBoie.,

Oo + 0 ou Bo + 0.

Suponhamos que 8, £ 0 em D/(p). (O caso do O seria tratado


de maneira análoga). Como f(X) = q,X” é um polinômio não-
nulo, então 9(X) também é não-nulo; seja q, X“ seu monômio de
menor grau. Então 5%, X“ é o monômio de menor grau do produto
9(X)h(X) = f(X) = q,X”, e portanto u = n, o que é absurdo pois
u<Ls<n-—l<n. LU)

Exemplo II1.2.11. a) f(X) = Xº* + 45X + 15 é irredutível em


Z|X|. De fato, Z sendo fatorial, podemos aplicar o critério de
Eisenstein com o elemento irredutível p = 3 (ou p = 5) para obter
que f(X) não é produto de dois fatores de grau > 1 em Z[X]; já
que f(X) não tem também fatores não-invertíveis de grau 0, então
f(X) é irredutível em Z[X1.

b) H(X) = 2Xº 43X + 3 é irredutível em Z[X].

co) HX) = 2X" +3"Xº +3 é irredutível em Z[X].

d) f(X) = 10X + 6X3 +6 é irredutível em Q/X] (não em Z[X]).


e) HX)= Xº+2Xº + (141%) é irredutível em Zfi][X).

Exemplo I[1.2.12. (p-ésimo polinômio ciclotômico) Seja p um pri-


mo. Então f(X) = X?-14 XP? 4... +1 é irredutível em Z|[X).

DEMONSTRAÇÃO. Já que f(X) não tem fatores de grau 0, resta


verificar que f(X) não é o produto de dois polinômios de grau > 1
em Z|X]. Suponhamos que f(X) = g(X)h(X) com g(X), h(X) E
Z|X| de grau > 1, logo que H(X +1) = 9(X +1)-h(X +41); observe
que g(X + 1) e A(X + 1) são polinômios em Z[X|, de grau > 1.
Então, para obter uma contradição, basta provar que f(X + 1) é
[SEC. 111.2: CRITÉRIOS DE IRREDUTIBILIDADE 83

um polinômio irredutível em Z|X]. Ora,

HUX+AD=(X+ADTA(X+ADP
4 (X+AD+41
dQ(X+IP-—1
(X+0)-1
2 XPACXPI A... 4 CBIX AI
X
= XICO ÃX +... +CrêX +,
onde o símbolo Ci denota o coeficiente binomial.
Agora afirmamos que p | Ci, Vi € (1,...,p— 1). Temos,

No cj=
| P M lpri+o),
— D...(p>—1+1

como 1 < p, todos os fatores irredutíveis de 1! são menores que 7;


como p é primo e como 1! divide p(p — 1)...(p — à + 1), obtemos
que 1! divide o produto (p — 1)...(p— 1 + 1) e, consegiientemente,
que o coeficiente binomial Cj é múltiplo de p.
Aplicando o Critério de Eisenstein ao polinômio f(X + 1) com
o primo p, concluímos que f(X + 1) é irredutível em Z/[X]. 0]

Exemplo 111.2.13. Seja p um primo. Então,

f=-XM1 xP XPB DL... X +41 é irredutível em Z[X).

DEMONSTRAÇÃO. Similar ao exemplo precedente, usando f(X —1)


no lugar de f(X + 1). Faça esta demonstração.

Exercício [11.2.14. (“dual” do Critério de Eisenstein)


Sejam D um domínio fatorial e H(X) = a,X”"+-.-+ay e D|X]
um polinômio de grau n > 1. Suponha que exista um elemento
primo pe Dtalqueptas,pla; Vi>1,pºtan. Mostre que f(X)
não é o produto de dois fatores de grau > 1 em D[X].
84 ICAP. HI: POLINÔMIOS

WI.3 Resultante de dois Polinômios


Seja D um domínio fatorial. Dados f(X),g(X) e D[X] dois po-
linômios de grau > 1, estudamos neste parágrafo a questão de
f(X) e g(X) possuirem um fator comum em D[X] de grau > 1.
Poderíamos estudar esta questão através de aplicações repetidas do
algoritmo de Euclides. No entanto, será conveniente introduzir um
novo conceito: a resultante de dois polinômios.

Definição 1I1.3.1. Seja D um domínio. Sejam

f(X) =ÔwX"+aXTi+.ta,s, ag £ 0,

(X) =bX"+bXTI +. +bm, boo,


dois polinômios em D[X] de grau > 1. A resultante de HMX) e
9(X), denotada por R,,, é o elemento do domínio D dado pelo
determinante da matriz (m +n) x (m + n) abaixo:

à) 1 On

E Um

m linhas

Ref. — do Zn 3 A
bo by bn-1 Dn

bo bn-1 Dm
, n linhas

Do bm!

sendo que existem m linhas de a;'s e existem n linhas de b;'s, e as


linhas são completadas com zeros.
A resultante entre um polinômio f(X) e sua derivada f(X)
(quando f'(X) não é constante), é chamada discriminante de f(X).
ISEC. 11.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 85

Exemplo 111.3.2. Seja f(X) = Xº+a,X + as € C|X]. Vamos


calcular o discriminante de f(X). Temos
HX)=Xº+0Xº + 09X + as,
f(X) =3Xº +0X + as,

do 43 Ó

HÃO
OVO tm
O a, as
Ryf =
SO
aa O 0O|=4a;+27a3.
Õ 49 Ó

3 O 49
So

Antes de procurar as informações que a resultante Ry, carrega,


vamos mostrar que a resultante pode ser escrita como uma certa
combinação linear não trivial dos polinômios f(X) e g(X). Mais
precisamente:

Lema 111.3.3. Seja D um domínio. Sejam H(X),g(X) E DIX]


dois polinômios de graus n > 1 em >1, respectivamente.

a) Se R;g 0 eseh(X) E D|X| é um polinômio não-nulo de


grau<n+m-—l, então existe um único par de polinômios
fi(X), 91(X) E DIX] tal que
grau f(X) <n—-1ou f(X) =0;
graugi(X) <m-1 oum(X)=0;
RrgdX) = HX)9(Ã) + gu) HA).
b) As afirmações seguintes são equivalentes:

(1) Reg — O.

(11) Existem polinômios não-nulos f(X),gm(X) E D|[X| com

grau fi(X) <n—l;


graugi(X) <m
O = f(X)X) FADOIVO.
86 [CAP. ll: POLINÔMIOS

DEMONSTRAÇÃO. Seja h(X) € D/[X|] um polinômio não-nulo de


grau <n+m-—1,ou o polinômio nulo. Escrevemos

HX) =X" +aX"T!+...+a, coma+£o,


900) =X" +bhXT +. tb, combo,
BO) = XANA 4 Lenin
Denotamos por K o corpo das frações do domínio D.
Encontrar polinômios f(X) =X" +... tane g(X) =
BT. em KIX) tais que AX) = fa)
+92 (00) FO)
é equivalente a encontrar uma solução em K do seguinte sistema
de (n + m) equações nas (n + m) incógnitas D1,..., Bm, 01,---40n:

(termo em X7AmM=1) a084 + boay = Co


(termo em X rm?) 0181 + a0/2> + bjay + boas = €1
(+) o.

(termo constante) AnBm + bmAn = Cnimo1-

A matriz dos coeficientes desse sistema de equações é a transposta


da matriz a partir da qual a resultante R,, foi definida; portanto,
seu determinante é igual a Ryq-
a) Se h(X) é não-nulo, i.e., se os cy's não são todos iguais a zero,
ese Ryo % 0, então o sistema tem uma única solução em K7*”
que, pela regra de Cramer, é dada por 5; = det(B;)/Rsg onde 5;
é a matriz obtida a partir da matriz dos coeficientes substituindo
a i-ésima coluna pela coluna dos cy's (i = 1,...,m) e por a; =
det(Bm+;)/Ryg (4 = 1,...,n). Observe que det(B,) E D, Vl =
L..on+m, logo que Rebe D, Vi=1,..,m,e Riga; E D,
V3 =1,...,n. Tomando então

A(X) = Reg) = Reign XT +. + RygQn

g(X) := RegglX) = RegAXTP +: + Ryglmo


teremos

Reg X) = (NX) + n(X) HM),


[SEC. 111.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 87

com fi(X),gi(X) € D[X| como desejado.


b) Existe um par de polinômios fi(X),g(X) e D|[X] ambos não
nulos (eguivalentemente, não ambos nulos) tal que

O = AX) g(X) + g(X) FX)


se e somente se o sistema de equações (*) com todos os c;'s iguais
a zero tem uma solução não trivial em D. É claro que se este
sistema de equações tem uma solução não-trivial em K, então ele
também tem uma solução não trivial em D (basta multiplicar por
um múltiplo comum dos denominadores). Naturalmente, o sistema
(*) com todos os c;'s iguais a zero tem uma solução não-trivial em
K se e somente se o determinante da matriz dos coeficientes é zero,
1.e., Se e somente se Ryg = 0. LU)
Corolário 111.3.4. Sejam D um domínio e HX),9(X) E D(X|
dois polinômios de graus n > 1 em > 1, respectivamente. Então,
existem polinômios f(X),gi(X) E DIX] tais que:

FX) e g(X) não são ambos nulos


graufi(X)<n—-1 ou f(X) =0
graugi(X)<m-—-1l oug(X)=0
Reg — 90X) HX) + FX)I(X) E (FX), (XD).
DEMONSTRAÇÃO. Aplique a parte a) do lema anterior com
hM X)=1seR;,5%0,eaparteb)se Rs; -—0. 0
Observação II1.3.5. 1) Se h(X) e D|[X] é um polinômio não-
nulo, e se Rsg = 0, então pode existir, ou não, polinômios fo(X),
g2(X) E K|[X] tais que A(X) = f(X)g(X) +ga(X)F(X) (verifique).
2) No caso particular de D ser um corpo e f(X) e g(X) serem
primos entre si, a parte a) do lema já foi obtida no Corolário 1[.2.3.

Podemos agora enunciar um critério efetivo para reconhecer


quando dois polinômios possuem um fator comum de grau > 1.
88 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Teorema 111.3.6. Sejam D um domínio e H(X),g(X) e D|[X]


dois polinômios de grau > 1.

a) Se (X) e g(X) possuem um fator comum de grau > 1 em


D|X!, então Rs, = 0.
b) Se D é um domínio fatorial e se Rs, = 0, então F(X) eg(X)
possuem um fator comum de grau > 1 em D/X).

DEMONSTRAÇÃO. a) Seja h(X) € D[X| um fator comum de f(X)


e g(X) com grau > 1. Temos

OO) = AVOP(X) com f(X) E DEI, grau fi(X) < grau f(X),
HX) = hM X)g(X) com gi(X) E DIX], graug(X) < graug(X).
É claro que A(X)g(X) = g1(X)f(X); portanto, pelo lema anterior,
segue que Rs; = 0.
b) Reciprocamente, suponhamos que Rs q = O. Pelo lema anterior,
parte b), existem dois polinômios f(X),g(X) E D[X| tais que:

AOOINX) — (0X) HH),


com grau f(X) < grau f(X) egraug(X) < graug(X). Como D é
um domínio fatorial, então D[X| é um domínio fatorial e todos os
fatores irredutíveis de grau > 1 de f(X) em D[X] devem aparecer
no produto f(X)g(X); nem todos eles podem aparecer em fi(X)
pois temos grau á(X) < grau f(X):; assim, pelo menos um dos
fatores irredutíveis de grau > 1 de f(X) deve dividir g(X). []
Corolário 111.3.7. Sejam D € D' dois domínios, sendo D fatorial.
Sejam f(X),g(X) E DIX] degrau > 1. Então, H(X) e g(X) têm
um fator comum de grau > 1 em D|X] se (e somente se) eles têm
um fator comum de grau > 1 em DX).
DEMONSTRAÇÃO. Se os polinômios f(X) e g(X) têm um fator co-
mum de grau > 1 em D'([X], então Rs, = O pelo Teorema [1.3.6a).
Como D é um domínio fatorial, e como Rs, = 0, então f(X) e
g(X) têm um fator comum de grau > 1 em D[X], pelo Teorema
[1.3.6b). o
[SEC. lH.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 89

Exercício 111.3.8. Sejam D um domínio e (X) e g(X) e D/X|


dois polinômios de grau > 1, tais que Rs, 0. Seja a € D. Mostre
que se existe zo € D tal que a divida f(xo) e g(xo), então a divide
a resultante Ry-

Vamos precisar do seguinte resultado técnico:

Proposição 111.3.9. Seja D um domínio. Sejam

FX) = agX” +ÓuXTI+..sta, vo,


(X) = bXT ABNT tbm, bo fO,
dois polinômios em D|[X] de grau > 1. Então a resultante Rpg é
uma soma de termos do tipo

ta; ...Gbi---bi, comúndccctimtj+o +HIn=nM.

DEMONSTRAÇÃO.

Rsg = det(Cij)i<ij<man
onde
Qi; sSer<I<i+n
eparal<i<m,c=4 o
O caso contrário.

eparam+1I<i<m+n, cj = o
caso contrário. | |
Agora, det(c;;) é uma soma de termos do tipo

Éc1j C95o ... Crnjm Cn+ljmad o. CmtnimAn ,

com (91, -.sJmo má o Imant = 4L2,..,m+n?.


Um tal termo é igual a zero ou igual a

TA; -10j,-2 o Ajm-mbmt ima —(m+1) ne. Om jman—(m+n)»

1.€.,
+A;, 10,9 Nr Ajm mb Im+1 —1
.b ImAn—n
90 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

deja S a soma dos índices deste termo. Temos:

S=(n-D+(j-)++(jm—m)
+ (ma — 1) + +(men Mn)

Da Du Do
Se Du:

[)

Dado um domínio D, dados F(X) = agX”" +---+a,, 00 %0,e


(X) — 6X” +---4+bm, bo 0, dois polinômios em D[X] de grau >
1, é possível mostrar que sempre existe um corpo L O D e elementos
Docs yb--sUmELtais que H(X)=ag(X —- 71)... (X — x)
e(X) =br(X —1)...(X — ym).
E claro que f(X) e g(X) têm uma raiz comum em L se e somente
se [[.Il;(x; — y;) = 0. Por outro lado sabemos, pelo Teorema
1.3.6, que f(X) e g(X) têm uma raiz comum em L se e somente
se Rysg = OD. Isto sugere que deve ter alguma conexão entre Rss
e o produto [|, [l,(z; — y;). A proposição seguinte esclarece esse
ponto.

Proposição 111.3.10. Seja D um domínio. Sejam

HX)-aX
+. +ta-a(X-x)..(X-—-2x), O,
HX) =boX” ++ bm =br(X — 9)... (X —ym) bo£O,
dois polinômios em D|[X], com Z1,...,Xn,Y1,...,Ym pertencendo a
algum corpo LD D. Então,

= à0 Do Hc: — Yi) = 06 [otro


1=1 9=1
[SEC. 11.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 91

DEMONSTRAÇÃO. Sejam Xr,..., Xn,J4,..., Ym novas indetermi-


nadas e
F(X) := ad(X — Xy)..(X — X,)
GP(X) = (XY)... (X — Ya).

Sejam

CF(X) = F(X)/ao =(X-X)..


(X — X)
=X"4+AXTI+-...+A,
CX) = CX) = (XY) (XY)
=X" 4 BXP I++Br,
onde, para i € (1,...,n),

A AMX cs XD) = (DO SO Xw Xe à


I<kj<-:<k;<n

é um polinômio homogêneo de grau 1 nas variáveis Xy,..., An


(lembre-se que o grau de um polinômio é o grau máximo de seus
monômios, onde o grau de um monômio (XY o Xin) ent,
e que um polinômio é dito homogêneo de grau r se todos seus
monômios têm graur), e para j E (1,...,mb,

B;=B(Y, o Ym=( 1) So o Ya), J


I<kj<e<k;<m

é um polinômio homogêneo de grau 7 nas variáveis Y4,..., Ym-


Seja P o subanel primo de D,i.e., P = Z se a característica de
Dézeroe P = Z/pZ se a característica de D é p. Note que

AO, GOO E PO... XY YnIX],


logo que
RrG, € P|X,, os Ano VI Ynl.

Afirmação II[.3.11. [| JL.(X; — Y) divide Rr em


PXns XY Ya.
92 [CAP. ll: POLINÔMIOS

De fato, sejam 1 E (l,...,nlej e (l,...,;m). Substituindo X,;


por Y,, o polinômio Fi(X) se transforma num polinômio F,;(X) e
o polinômio G;(X) fica inalterado. Os polinômios F;;(X) e Gi(X)
tem um fator comum de grau 1, a saber X — Y,; portanto, temos
Rr;,,01 — O pelo Teorema II1.3.6. Mas é claro que Rp, c, é obtida
quando se substitui X, por Y em Rp, G,. Portanto, Y, é raiz de
Rr q, considerado como polinômio em X, com coeficientes em

PMs YA]

(onde X ; Significa que X, é ausente) e consequentemente, o elemento


(X; — Y,;) divide Rr, em PiX,, 5, AX. Yal.
Todos os polinômios (X, — Y,)'s sendo primos entre si, e o
domínio P|X,,...,Xm,Yh,...,Ym) sendo fatorial, obtemos que
Di 15=)(X; — Y;) divide Rr, em PlXG, 0, Xa .os Yml-
Afirmação 11[.3.12. Rr,c, é um polinômio homogêneo em
P|X,,....Xn,h,...,Ym) de grau nm.

De fato, pela Proposição [11.3.9, temos

Rr => £A,.. ABB


com iw+ctimtj+o+jn=nm.

Cada termo 4;, ... A; B;, ... B;, é homogêneo, pois cada 4, e cada
B; é homogêneo. Além disto, temos

grau(A, ... Ai, Bi... Bi)


= grau 4, +---+grauA, +graub; +---+grauB,
=ntctimtido+jn
= nm.

Assim, Rr,c, é um polinômio homogêneo de grau nm, ou Ar, =


0: mas esta última alternativa é impossível pois. claramente, e G1
não têm fator comum de grau > lem P[X,,.... XX, 4 1
YmlX].
[SEC. Ill.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 93

Afirmação 111.3.13. Rec, = [ia [=(Xi — Y;).

De fato, é claro que [[;., | [-,(X; — Y;) é um polinômio ho-


mogêneo em PjX1,...,Xn,Y1,...,Ym| de grau nm. Então, pelas
Afirmações H1.3.11 e 111.3.12, temos

Rr — o || es — Y;),
i=1 j=1

com a € P. Agora, o monômio (Y,...Y,)” aparece no lado da es-


querda com o coeficiente (— 1)”” (ele provém da diagonal da matriz
que define Rr,G,), e aparece no lado da direita com o coeficiente
a(—1)7"”, Portanto a=1e

Rr,61 — | Lx — Y,;),
i=1 j=1

como queríamos.
Agora, podemos terminar a demonstração da proposição. Temos

Rs — Rrct(as, clas Vi. Um)

= ag do Fer,G (71, ces ln Voe »Ym)


n m

= o Ta: — y;), pela Afirmação 111.3.13


i=1 j=1
n mM

= ar [do | [(x: — v;)


i=1 0 j=1

= 0 ]1 g(Li;). []
i=1

Definição 111.3.14. Seja 4 um anel. Seja f(X) € A[X| um poli-


nômio. Um fator g(X) de f(X) em A[X] é chamado fator múltiplo
de f(X) se 9(X)º | F(X), isto é, se f(X) = 9(X)ºh(X) para algum
polinômio A(X) E AjX].
94 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Proposição 11I.3.15. Seja D um domínio fatorial que contém


Z. Sega F(X) E D|[X] um polinômio de grau > 1 e seja f(X)
a derivada de f(X).

1) Se g(X) € D|X] é um polinômio irredutível de grau > 1,


entao

COPO & IOO)1HX) e g00) FM).

2) O polinômio f(X) possui um fator múltipo de grau > 1 em


D|X]| se e somente se o discriminante de f(X) é nulo.

DEMONSTRAÇÃO. 1) Se gº | f, então f = gh para algum h(X) €


D[X]. Derivando, obtemos f' = 29g'h + gºh' e portanto g | f".
Reciprocamente, suponhamos que g | fe g | f. Como g | f,
temos f = gk para algum k(X) E DIX)|. Derivando, obtemos
f = gk+ gk. Como g | f, obtemos g | g'k. Como g(X) é
irredutível em D[X] e como D[X] é um domínio fatorial, então
9lg oug|k. Agora, g19' pois graug' < graug (aqui usamos a
hipótese “D contém Z” para garantir que g' £ 0) e portanto g | k.
Isto mostra que 9º | f.
2) Como D é um domínio fatorial, então é claro que f(X) possui
um fator múltiplo de grau > 1 se e somente se f(X) possui um
fator irredutível múltiplo de grau > 1. Pelo item 1), isto ocorre
se e somente se f e f/ possuem um fator comum de grau > 1,
portanto pelo Teorema 111.3.6, se e somente se Ay p = 0. LU)

Se D é um domínio e f(X) e D[X] é um polinômio de graun, e


se 71,..., Tn São as raízes (talvez não distintas) de f(X) em algum
corpo L D D, então é claro que f(X) tem uma raiz múltipla em L
se e somente se [[ cic;cnlti — £;) = 0. Por outro lado, sabemos
pela proposição anterior, que f(X) tem uma raiz múltipla em L se
e somente se Rs; = 0. Isto sugere que deve ter alguma conexão
entre R;p e [icic;onlTi — 25). À proposição seguinte esclarece
este ponto.
[SEC. 111.3: RESULTANTE DE DOIS POLINÔMIOS 95

Proposição 111.3.16. Seja D um domínio. Seja

HX) =X" + +an=alX—m)..


(X —tn), aof0,
um polinômio em D|X| de graun > 2, com z1,...,Zn pertencendo
a algum corpo LO D. Seja f(X) a derivada de F(X), e suponha
que grau f(X)=n—1. Então,

Disc H(X)) = Rg = (re DP TT (x 0).


I<i<y<n

DEMONSTRAÇÃO. Pela Proposição 111.3.10, temos

Rep=a (e).
i=1
Como f(X) =ag(X — x1)...(X — x,), temos

FX) = S ao(X a) (X-2)..(X-2),


j=1

logo

f(x) = ao(x; — 11)... (x; — xi )(g; — Tua)... (Zi — Tn).

Portanto,
n

Hr) =0 (uz) =a0-Do Th (mz)


i=1 1<i,j<n I<i<j<n
1%)

Rev =" f(x) = (e DPapr [| (x— 0).


1=1 I<i<y<n
96 [CAP. Hl: POLINÔMIOS

Corolário 111.3.17. Seja D um domínio. Sejam H(X), g(X),


h(X) e D|[X| polinômios de graus n,;m,r > 1, respectivamente.
Entao,

a) Rrgn = RygRyh-

D) Rig = (DP Ros

c) Ryga = Rygsny, Se F(X) for mônico.

DEMONSTRAÇÃO. Tome um corpo L OD D no qual existem


01,.:50n, Doc csm Y1.::4Yr
E É tais que

HX)=a(X —- o)... (X —- on), 00,


900) =b(X—- 8)... (X - Ba). O,
MX)=c(X
mn). (X-y) DÃO.

Naturalmente, temos

GOMX) = doco(X — 1) (XE X =). (X 9).


a) Pela Proposição 111.3.10, temos

= co Nos
Ren = 096 r: A; —
i
Assim, RyoRyn = ag” (boco)” Ho: — B;) Lo; — Yk))
ij k
= Rfgh, novamente pela Proposição H1.3.10.

b) Claro pela Proposição 11[.3.10.


[SEC. 111.4: POLINÔMIOS SIMÉTRICOS 97

c) Se f for mônico, então pela Proposição 11[.3.10, temos

Rfo = [E g(x,)
1=1

Rtg+hf = Lg +hfx;)
1=1

= | | g(z;), pois f(x;) = 0, vVvi=1,...,n.

i=1

Portanto, Ryo = Rfg+hf- L)

IITI.4 Polinômios Simétricos


Definição 111.4.1. Seja 4 um anel e seja f(X1,..., Xn) um polinô-
mio em A/X1,..., Xn). Dizemos que f(X1,..., Xn) é um polinômio
simétrico se ele é invariante por permutações das indeterminadas
X1,..., Xn, L.e., se

HM, o , Xn) — FX), Xo(o)) ... , Xo(n))

para todas as bijeções o: (L,...,nhi > (1,...,nh.

Exemplo III.4.2. Os seguintes polinômios são simétricos:

S1 =M ++ += Xi

= 5 0 XX
I<i<ig<n

$j = >. X,; X; o Ki,

I<i<ig<-<i;<n
98 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

De fato, os polinômios 51, s2,..., Sn acima são (a menos de sinal) os


coeficientes do polinômio em AjX1, X5,..., XnllY] dado pelo pro-
duto TI.,(Y — X;), o qual, evidentemente, é invariante quando se
permuta as indeterminadas X1,..., An. O polinômio s,, 1 < 9 <n,
é homogêneo de grau j e 81,52,...,8n São chamados polinômios
simétricos elementares nas variáveis Xy,..., Xn.
Considere a aplicação

AX... Xi] É AÍX,,...,Xh]


M(X 1.0.5 Xn) + h(81,82,...,8n))
que sabemos ser um homomorfismo de anéis.
Claramente, os polinômios de AjX4,..., X,| que pertencem à
imagem de são simétricos. Vamos mostrar que a imagem de q é
exatamente o conjunto dos polinômios simétricos e que «p é injetivo.
Primeiro, fazemos uma definição:

Definição II1.4.3. Se m := aXJ X?... X'” é um monômio não-


nulo, definimos seu peso w(m) como

wlm)=n+2M
+ +nta.

Para um polinômio h(X,,..., Xn) € AlX,,..., Xl, definimos seu


peso w(h) como o peso máximo de seus monômios.
É imediato verificar que para todo monômio m(X1,..., Xn),
temos (grau de m(s1,...,8n)) = (peso de m(X,..., Xn)) e por-
tanto que para todo polinômio h(X1,...,Xn) E AlX,..., Xl
temos

(grau de h(s1,...,Sn)) < (peso de (X1,..., Xn)).

Teorema 111.4.4. (Teorema de Newton). Seja A um anel e seja


HX1,..., An) E AlX1,..., Xn] um polinômio simétrico. Então

a) Existe um único polinômio h(X1,..., Xn) E AX 1,..., Xn), efe-


tivamente calculável, tal que H(X1....,Xn) = h(81,82,...,8n).
b) O peso deste polinômio h é igual ao grau de f.
[SEC. IIl.4: POLINÔMIOS SIMÉTRICOS 99

DEMONSTRAÇÃO. Á demonstração vai ser feita por uma indução


dupla sobre o número n de variáveis e o grau k do polinômio
simétrico f(X1,..., Xn). O caso n = 1 é trivial; neste caso temos
s; = X, e tomamos h(X,) = f(X4). Note que neste caso, os con-
ceitos de grau e peso coincidem.
Assumindo o teorema válido para os polinômios em (n — 1)
variáveis, com n > 1, vamos prová-lo para polinômios em n variáveis.
Para polinômios simétricos f em n variáveis de grau < 1 0 teorema
é trivial; de fato, tais polinômios f têm a forma
f=-a(XM+X + +X)+ao, com ag,41 E À,

e claramente f = h(s1), onde A(X,,...,Xn) = 1X, + ao. Observe


que temos a igualdade entre o grau de f e o peso de h.
Por indução, supomos que o teorema foi provado para polinômios
simétricos de grau < k, com k > 2. nas n variáveis X,, X5,..., Xn-
Escrevemos f(X1+,..., X,) como polinômio na variável X, e com
coeficientes em A[X1, Xo,..., Xn-1]:

HX, ... Xn) — Po(X1, e. XD) XG


(1)
+od(X os Xa )XE + + (Xi, 0.0, Xno1),
com grau p(X1,...,Xn-1) <j ou pi(Xr...,Xn-a1) = 0, para
cada ) = 0,1,...,k. Observe que qualquer permutação das variáveis
Xn..., Xn-1 deixa f(X1,..., Xn) invariante, logo deixa seus coef-
cientes vV9,Y1,...,Y: invariantes também. Temos então
que os polinômios vo,Y/1,...,Yk São simétricos nas variáveis
X1,Xo,...,Xn-1. Para cada j, 1 < 9) <n-—1, seja (sd :=
S(X1,..., Xn-1,0); note que estes (s;)o, 1 < 9 <n-—1, são os
polinômios simétricos elementares nas variáveis X1, X32,..., An-1.-
Se py; * O, seja h(X,,...,Xn-1) um polinômio em
A[X1,..., Xn-1), que pela hipótese de indução sobre n, existe e
pode ser efetivamente calculado, com (peso de h1) = (grau yr) < k,
tal que
Pr(X1,..., Xn-1) = hi((sido,---» (Sn-1)o). (2)
Como h(X1,..., Xn-1) € AlX,,..., Xn-1|, Observe que
(grau de h1(s1,82,...,8n-1)) < (peso de h(X1,..., Xn-1)) < k.
100 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

Se Pk = 0, seja ha(X, ... , Xn-1) = 0.

Agora, considere o polinômio


f(X, .. Xn) = HX, o. , Xn) — hi(s1, 892, .. , Sno1). (3)

Note que 4 = 0, ou f, é um polinômio de grau < k, simétrico nas


variáveis X4,..., Xn pois é a diferença de dois polinômios simétricos
de grau < k. Além disso, X, divide fA(Xi,,..., Xn) pois
A(X,,...,Xn-1,0) = 0 por (1), (2) e (3). Já que f, é simétrico e
tem X, como fator, concluimos que f, tem s, = X,X5... X, como
fator. Escreva:
AUX, 0.0, Xn) = Sag(Ã,..., Xn), (4)
com g(X1,..., Xn) E AlXY,..., Xn].
Claramente, g(X4,..., Xn) é simétrico também e g = 0 ou
(graug) <k-—n < k. Pela hipótese de indução sobre k, existe
um polinômio ho(X1,..., Xn) em AjX,,..., X,|, que pode ser efe-
tivamente calculado, com (peso de h5) = (grau de g) <k— n, tal
que
9(X1,...,Xn) = ha(81,...,8n). (5)
Então, o polinômio
h(X1, ... Xn) :— hi(X, .. Xa-1) + Xaho(X, 1...) Xn)

é tal que

Asi, ...s Sn) =— hi(si, ...) $n-1) + Snha(s1, . » Sn)

= hi(s1,...,8n-1) + Sng(X1,..., Xn), por (5),


— hi(si, ...) $n-1) + f(X, .. Xn); por (4),

= (X,,...,Xn), por (3).


Calculamos agora o peso de h(X14,..., X,). Por um lado, temos

(peso de h) = maxf(peso de hj), n+ (peso de ho)+ < k.


Por outro lado, temos também

k = (grau de f(X1,..., Xn)) = (grau de h(s1,...,8n))


< ( peso de h(X4,..., Xn)).
[SEC. IIl.4: POLINÔMIOS SIMÉTRICOS 101

Portanto, obtemos

(peso de h(X1,..., Xn)) = (grau de f(X1,..., Xn)).

Vejamos agora a unicidade do polinômio h. Já que a aplicação


h(X1,..., Xn) > h(s1,...,8n) é um homomorfismo, basta mostrar
que |
(X1,...,Xn) 0 = h(s1,...,8n) O.

Faremos uma prova por indução sobre n.


O caso n = 1 é trivial. Seja n > 2 e supomos por indução que
para todo O £ W(X4,..., Xn-1), tenhamos W((si)o,..., (Sn-1)0) É
O. Suponhamos agora que exista h(X1,...,Xn) É O com
h(s1,...,Sn) = 0. Escrevemos h(X,,..., X,) como polinômio na
variável X, com coeficientes em A[X4,..., Xn-1]:

h(Xi, ... , Xn) — Yo(X1, ... Xana) X

+ b(X os XD) XT 4 ba(Xo 0, Xno1).

Dentre os polinômios não-nulos A(X1,..., Xn) com h(s1,...,Sn) =


O, escolhemos um de grau mínimo na variável X, (i.e., com m
mínimo). Observe que neste caso Ym(X1,--., Xn-1) é não-nulo,
pois senão teríamos h(X1,...,Xn) = Xalu(Xi,..., An), logo O =
h(s1,...,8n) = Snha(s1,...,8n), e portanto hy(s1,..., Sn) = 0, com
(grau de hy(X1,..., Xn) na variável X,) =m—1, o que contradiria
a minimilidade de m. “Temos

O =— h(sa, o. ;$n) — vols1, ... Sn 1) ST + ec + Ym(S1, o. ,Sn=1).

Fazendo X, = 0, obtemos O — Ym((s1)o, (S2)0,.-., (Sn-1)o), O que


contradiz a hipótese de indução. []

Observação 111.4.5. Se f(X1,..., Xn) € AjX,,..., Xn| é um po-


linômio simétrico, então pelo teorema anterior, existe um único po-
linômio A(X1,..., Xn) tal que f(X,,..., Xn) = h(s1,...,8n). Além
disso, a prova do teorema fornece um algorítmo para calcular efeti-
vamente este polinômio A(X4...., X,). No entanto, por ser muito
geral (funciona para todos os polinômios simétricos f(X1,..., Xn)),
102 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

este algorítmo também é muito lento. Portanto, em muitos casos


particulares, será importante procurar por algum outro algoritmo
melhor adaptado à situação específica.

Exemplo III.4.6. Para cada inteiro k > 1, considere o polinômio

Op XEAX ++ XE
As igualdades abaixo, conhecidas como Identidades de Newton,
fornecem recursivamente um algorítmo para o cálculo efetivo do
polinômio h;(X1,..., An) tal que ok = hp(s1,...,8n). Note que os
termos envolvidos nestas identidades são todos de grau k.

a) Se k < n, então

Ok — 0Ok-18S1 — Ok-2S9 + ecc + (—1)*oisk- + (—-DHksp .

b) Se k > n, então

— n+1
Ok — Ok-191 — Ok-a82 + "cc + (—1) Ok—-nSn

Exercício II1.4.7. Considere 03 := X$+X;+X5 € AlX1, Xo, X3).

a) Utilizando a prova dada para o Teorema 1I1.4.4, determine o


polinômio h(X1, Xo, X3) tal que 03 = h(s1, s2, 83).

b) Determine também este polinômio A(X,, X5, X3) usando as


Identidades de Newton apresentadas no Exemplo III.4.6.

Agora, vamos aplicar o Teorema III.4.4 ao estudo das raízes de


um polinômio numa variável.
Sejam D um domínio, H(X) = aX”"+---.+a, € D|[X| um
polinômio de grau n e %4,...,Xn suas raízes (possivelmente não
todas distintas) em algum corpo L O D. Temos

FX) — ao(X” + ecc + (a;/ag) X"T* + ecc + (an/49))

=a(X-—zx)..(X — 2).
[SEC. 111.4: POLINÔMIOS SIMÉTRICOS 103

E claro que
—(a/09)=T + +Hrxn=s(Z,..., Un)

(—-D'(ai;/a9) = >. Lj Lj = ST... Zn);


I<j<-<gi<n

(—D” (an/00) = T1...Xn = Sn(X1,.. 5 Xn).


Se 9(X1,...,Xn) € D[X,,..., X,] é um polinômio simétrico,
então g(x1,...,Zn) é chamada de função simétrica nas raízes de
f(X).Como aplicação imediata do Teorema de Newton, temos:
Proposição II1.4.8. Sejam D um domínio, H(X) := 3 quX' E
DI|X| um polinômio numa variável de graun e Ty,L2,...,Tn aS
raízes de H(X). Seja g(N,...,%) E DM,...,Yh| um polinômio
simétrico em n variáveis. Então existe um polinômio A(Y1,...,Y) E
DY,...,Yal, que pode ser efetivamente calculado, tal que
g(x1,...,%n) = Il—(a1/00),...,(—D'(a;/a0),...,(— 1)" (an/a0)).
Assim, mesmo não conhecendo as raízes de f(X), podemos efe-
tivamente expressar todas as funções simétricas nas raízes de f(X)
em função dos coeficientes de f(X).
Agora, pode acontecer que uma certa função simétrica abstrata
g(z1,...,Zn) nas raízes de f(X) contenha uma informação geomé-
trica importante sobre as raízes e que então seja essencial expressar
de fato g(x1,...,Xn) em função dos coeficientes de f(X). Muitas
vezes, o algorítmo dado na prova do Teorema II1.4.4 não será a me-
lhor maneira de encontrar essa expressão. Por exemplo, querendo
expressar a função simétrica

A(S) = HH (x; — v;)º


I<i<gy<n

em função dos coeficientes de f(X), poderíamos calcular o polinômio


h(Y1,...,Y,) correspondente ao polinômio simétrico

901,...XY) = 11 (Y, — Y)*,


I<i<j<n
104 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

usando o Teorema 11.4.4, e tomar h(—(a1/ao),...,(—1)”(an/ao)).


No entanto, é muito mais eficiente mostrar diretamente, como fize-
mos na Proposição [11.3.16, que

A(f) = (CDA
(ag Rap
e observar que, pela definição de R, ;r, isto é de fato uma expressão
em função dos coeficientes de f(X).

HI.5 Teorema da Base de Hilbert


Em geometria, a descrição de um objeto muitas vezes é feita utih-
zando-se de equações. Por exemplo, o conjunto das soluções comuns
(x,y,2) das equações

X4+Y4+Z=1 e 2X -Y-Z-=-83

é uma reta no espaço tridimensional Rº.


Mais geralmente, dado um corpo K, definimos uma variedade
algébrica afim no espaço K” como o conjunto das soluções co-
muns (71,%9,...,Zn) € K” de uma família de equações polinomiais
FX, Xo,...,Xn) = 0, onde f E FC KIX 5, Xo,...,Xn). Clara
mente, o ideal (F) de K|[X1, Xo,..., Xn| gerado pela família F,
1.e.,

(PF) = [Dos meN, qe kK|X,..., Xl, pes),


i=
e a própria família F determinam a mesma variedade.
O teorema seguinte mostra que toda variedade algébrica afim
pode ser descrita como o conjunto de soluções comuns de uma
família finita de equações polinomiais. Antes de enunciá-lo vamos
fazer algumas considerações que serão úteis na sua demonstração.
Seja A um anel e seja f(X) E A[X| um polinômio não-nulo. Es-
crevemos

f(X) = aX” + (termos de grau menor),


[SEC. 111.5: TEOREMA DA BASE DE HILBERT 105

significando que a diferença f(X) — aX” é nula ou tem grau <r.


Dado um ideal U do anel de polinômios A/X| numa variável so-
bre A, podemos associar ao ideal U diversos ideais de 4, utilizando
a noção de coeficiente líder:

D £L(U) = fa e A | a é coeficiente líder de algum H(X) EUJU


(Os.
2) Para cada inteiro não-negativo r > 0,
LU) = (ae A|a é coeficiente líder de algum f(X) EU
com grau f(X) =ryU (0+

Exercício 1I1.5.1. a) Verifique que L(U) e L.(U) são realmente


ideais do anel A.
b) Mostre que Lo(U) EC L(U) CL(U) E... e que

cu) = (J c(u).

Relembramos que um ideal 1 de um anel À é dito finitamente


gerado quando podemos encontrar um número finito de elementos
b1,b5,...,bm em Í tais que

Fsb) = (Doo a;eE Á, vib


j=1
Teorema 1I1.5.2. (Teorema da base de Hilbert). Seja 4 um anel
onde todo ideal de À é finitamente gerado. Então todo ideal do anel
de polinômios AjX1, Xo,..., Xn| é também finitamente gerado.

DEMONSTRAÇÃO. Fazendo uma indução sobre n, basta mostrar


que todo ideal do anel A[X| de polinômios numa variável sobre
o anel 4 é finitamente gerado. Seja então 4 um ideal não-nulo
de A[X]. Como L(U) é finitamente gerado, podemos encontrar
b,,bo,...,bm elementos do anel À tais que

C(U) =— (bi, bo, . . Om).


106 ICAP. Ill: POLINÔMIOS

Para cada 1 <j <m, tome f(X) EU da forma

f(X) = b;X" + (termos de grau menor).

(Observamos que escolher f;(X) com o grau r; menor possível dará


mais eficiência na construção de um conjunto de geradores para U.)
Seja r = maxtr,,72,...,7mt. Para cada k, 0 <k<r-—l,o
ideal Lu(U) é finitamente gerado; digamos que

LU) = (Cras Ck2s cs Chita)

Para 1 <i< tr tome gri(X) EU da forma

gri(X) = cpiX* + (termos de menor grau).

Vamos mostrar que o ideal U de A|X]| é gerado pelos f;(X), onde


I<xj<m.epelos g;(X), comb<k<r-1lel<i< ta
Seja f(X) € U um polinômio de grau s. Seja b seu coeficiente
líder e sejam a1,a»,..., am elementos de À tais que

b = S a;b;.
j=1

Se grau f(X) = s > r, considere o polinômio f(X)

O) =100)-5 af0OX TT Eu.


9=1

Então f(X) = 0 ou grau f(X) < grau f(X). Se ainda tivermos que
grau f(X) > r, escrevemos seu coeficiente líder como combinação
de b,,b5,...,bm e repetimos o processo. Depois de um número finito
de etapas, obteremos polinômios hi(X),...,hm(X) em AlX] tais
que o polinômio A(X) do ideal U dado por
4

HMX)=HX)-S hAX) SAX) EU


j=
seja o polinômio nulo ou tenha grau < 7.
ISEC. 111.6: EXERCÍCIOS 107

Se h(X)=0, acabou. Se h(X)Z0, seja k := (grau de h(X ))<r.


Então o coeficiente líder a de h(X) é da forma
tk
a = > oicni com q;€E À.
i=1

Considere o polinômio h(X) dado por

- th

MMX) = h(X) — > a; “GlX) EU.


i=1

Este polinômio h(X) é nulo, ou tem grau < k. Se h(XO) = 0,


acabou. Se h(X) não for nulo, repetimos o processo. Depois de um
número finito de etapas obtemos o resultado desejado. []

O Teorema [1.5.2 diz que o anel de polinômios A/X4, X5,..., X,)


é noetheriano se o anel Á for noetheriano (vide Definição 1[.1.9).

II.6 Exercícios
l.a) Seja a > 0 um inteiro e seja f(X) = Xº+aX*?+1. Investigue
a irredutibilidade de f(X) em Z[X1.

b) Seja D um domínio qualquer. Mostre que f(X) := X*4+ Xº+


X + 1 não é irredutível em D/[X1.

c) Mostre que Xº +2X24 3X +11 é irredutível em Zfil|X], logo


também em Z(X].

d) Mostre que f(X) := Xº* — 15X? + 10X — 82 é irredutível em


Z|X).
2.2) Seja (X) = Xº + X2+1 € Z[X]. Mostre que f(X) é irre-
dutível em (Z/2Z)|X] e portanto que f(X) é irredutível em
Z|X|. Mostre que f(X) não é irredutível em (Z/3Z)|X|.
108 [CAP. Ill: POLINÔMIOS

b) Seja p um inteiro > 5. Mostre que f(X) :— Xº — 37X? +


(p + 5)! + 1]X + (3p + 1) é irredutível em Z[X]).
c) Mostre que F(X) := X!4+5Xº+2X2 - 12X + (113!+ 1) é
irredutível em Z/X)].

3. Investigue a irredutibilidade em Z[X] e em Zfi||X] dos poli-


nômios abaixo:

a) X2 4 14X 4 21X +47.


b) X2L45X'415Xº+45.
c) XP
+ 5X +5.
d) XB
+ 3Xº +83.
e ) 2X! 4 3Xº 4 12X2 4 6X +46.

4a) Mostre que 2X12 + 5(2+3)X!º + 39Xº 4 13 é irredutível em


ZliJX!.
b) Mostre que (2 + )Xº + 5(44+)Xº + 5- 17 é irredutível em
QUIX).
5. Seja F(X) = Xº 3X 4 (3 +78D)X2 —- 5 E Z|X]. Mostre
que f(X) é irredutível em Z[X|.
Dica: Mostre que o polinômio f(X) e (Z/2Z)[X] se fatora
em HX)=(X+I(X 4 XA+T).

6. Investigue a irredutibilidade em Z|X| e em Zli]X| dos se-


guintes polinômios:

a) Xº— 2.
b) Xº—9.

7. Sejjan0ZneZ aeZe HMX):= Xº-anX +nº e Z|X)].


Investigue a irredutibilidade de f(X) em Z[X].
Dica: Considere o polinômio f(nX).
[SEC. 111.6: EXERCÍCIOS 109

8. Sejam p um número primo e n > 1 um inteiro.

a) Mostre que f(X) := X”" + p"tl é irredutível em Z[X1.


b) Mais geralmente, se b;,...,bn-1 € Z, mostre que

+ ban XT 4... + bp" ti x


HX) =X"
+ethpX+4 pr!

é irredutível em Z/X].
Dica: Considere o polinômio f(pX).

. Utilizando o fato de Z[v2] ser um domínio fatorial, mostre


que H(X) =X" + v2(1 — v2)Xº — V2(34242) é irredutível
em Z[v2][X].

10. Seja K o corpo de frações do domínio Q|X| e seja H(X,Y) =


XY LL X(XASPVIA XX A TD(X AS) 4 XAX + 5).
Mostre que f(X,Y) é irredutível em K[Y] mas que f(X,Y)
não é irredutível em Q/X,Y.

11. Faça os seguintes itens:

a) Determine se Xº+2X2 + X+2e Xº+1 possuem um


fator comum não-constante em Z|X].
b) Determine se X2+(W2- V3)X — 6 e Xº?— 2 possuem
um fator comum não-constante em R[X|.

12. Seja D um domínio. Sejam 014,...,0n, P1,...sBn E D tais


que:

att = Bit tb
Duicis<iz<n AQ = Dui<i<i<n Dj Bjo

OQ... On — Br... Ba

Mostre que fay,...,ant = 181,...,Bn).


110 ICAP. Hll: POLINÔMIOS

13. Seja D um domínio que contém Z, isto é um domínio D de


característica zero. Sejam 01,...,Qn, 01,...,bn E D tais que

ai+---rai=8E+---+B;, paratodo I<k<n.


Mostre que fay,...,ant = (81,...,Bnh.

14. (Determinante de Vandermonde)

a) Seja A um anel e sejam X4,..., X, indeterminadas sobre


o anel 4. Mostre que

1X X? x
EE (X:— X;) = det Aa Xá x
(SIstén 1X X2 x
b) Sejam q4,...,0an € À. Mostre que

1 OQ a of!

1 oo a? os -
EL (o — a;) = det ? t
I<j<i<n 9 n-1
1 on af O

15. Seja p um número primo e seja k > 1 um inteiro. Seja

1:= D ax la eZ,a;=0 (mod p), i=0,1,...,k-— 1h


i
Mostre que 1 é um ideal de Z/X]. Mostre que (exibindo os
geradores) 1 pode ser gerado por dois elementos.

16. Seja p um número primo e seja (a,b) E Z x Z. Seja

L=(H(X,YW)eZIX,Y| | f(a,b) =0 (mod p)h.

Mostre que 1 é um ideal de Z[X,Y]. Mostre que (exibindo


os geradores) o ideal 1 pode ser gerado por três elementos.
[SEC. 11.6: EXERCÍCIOS 111

17. Seja p um número primo e seja f(X) € Z|X| um polinômio


de grau (2n + 1), digamos

HX) = Gon XP! ecra ÃO + + mnà +ao.

Suponha que

Udn41 + Ú (mod p) Q9,01,...,54n = Ó (mod pº)

Lg É 0 (mod pº) à» Intl, Qn+42,--.,A2n — Ó (mod p).

Mostre que f(X) é irredutível em Q/X].

18. (Corpos Finitos) Seja p € Z um primo. Seja f(X) € x]


irredutível com grau n. Mostre que então o anel quociente
XI (S(X)) é um corpo finito com p” elementos. Mostre
que f(X) = Xº + X +1 é irredutível em &[X], mas não é
irredutível em &[X).
Observação: D possível mostrar que, para todo número primo
vp €e Z e para todo n E N, existem polinômios irredutíveis
F(X) em SIX] com grau f(X) = n. É possível mostrar que
a cardinalidade de um corpo finito é sempre uma potência de
um número primo.
Capítulo IV

Aplicações

IV.1 Somas de dois Quadrados


Neste parágrafo vamos dar uma caracterização simples dos inteiros
que são soma de dois quadrados. Começaremos dando uma tal ca-
racterização para os números primos. Mas antes, enunciamos um
resultado clássico que nos será útil.
Proposição IV.1.1. (Pequeno Teorema de Fermat).
Seja p um número primo. Então,

Wl=-1, vze(Z/pZ) 40)


DEMONSTRAÇÃO. O resultado é claro para 7 = 1. Agora, seja T +
0,1 e suponha por indução que (x — 1) =, portanto também
que (x— 1) = (x-— 1). Já vimos na análise do Exemplo TI1.2.12
que, paratodo 1 <1i<p-1,o primo p divide Ci; logo temos

"=((r-D)+1)P=(r-1) +1Ê

Como por hipótese de indução (x — 1) = (x — 1), obtemos


P=(r-D)+1=z7,
e portanto, já que T é um elemento não-nulo do domínio Z/pZ,

Zi —1. DO)

113
114 [CAP. IV: APLICAÇÕES

Teorema IV.1.2. (Fermat). Seja p um número primo. Então as


afirmações seguintes são equivalentes:

(1) p=2 oup=lImod4.


(1) Existea E Z tal que aº = —Imodp.
(ii) p não é irredutível em Zli).
(iv) p é soma de dois quadrados.
DEMONSTRAÇÃO. (1) > (ii). Sep=2,tomea=1.
Seja agora p = 4n +41, com n € N. Pela Proposição IV.l.l,
1,2,...,p— 1, são raízes do polinômio 1X?! — 1 e (Z/pZ)|X).
Logo, pelo Corolário I[[.1.7, temos

IX T=(X-I(X-5).. (X-D5).
Como p — 1 = 4n, temos também

ix”! -1=1X"-1=0X"-DAX” +),


e portanto

AX” - DAXP + D=(X-D(X-D..[(X-p-—1).


Como p é primo, (Z/pZ) é um corpo e, pelos Teoremas 1.3.8 e
[1.2.2, (Z/pZ)|X| é um domínio de fatoração única. Portanto, existe
Tel(l,2,...,p-—ljtal que zº" + 1 = 0. Tomando a = x”, temos
a -xn-1 istoé,a”=-Imodp.
(1) > (ii). Por hipótese, existe a € Z tal que a” = —lmodp.
Então, a? + 1 = kp para algum k € Z, logo (a+i)(a— 1) = kp ou
sejap | (a + i)(a — 1).
Agora, p não divide a + 1 em Zfil pois, se ele dividisse, teríamos
a+1i = p(e + fi) como e,f E Z; olhando no coeficiente de 1,
obteríamos 1 = pf, o que é absurdo pois p não é invertível em Z.
Similarmente, p não divide a — à em Zi). Então,
Z/:] domínio fatorial
p não é elemento
pI(at idas) irredutível em Zfil.
pt (a+i)epi(a-—a)
ISEC. IV.1: SOMAS DE DOIS QUADRADOS 115

(iii) > (iv). Por hipótese, existem a + bi,c + di E Zli] tais que
= (a+bi)(c+ di), N(a+bi) £le N(c+ di) £ 1. Temos então

p= N(p) = N(a+b)N(c+ di) = (02 + bc + d?),

onde a? +b? £1eci4d” £1. Sendo Z um domínio fatorial e p


um elemento irredutível de Z, devemos ter p = a2 4 b”. Portanto o
primo p é soma de dois quadrados.
(iv) => (1). Sendo p um número primo, temos somente três possi-
bilidades: p = 2, p é do tipo 4n 41 ou p é do tipo 4n +43. Basta
então mostrar que nenhum inteiro do tipo 4n + 3 é soma de dois
quadrados. Se a é um inteiro qualquer, então à =0,1,2 ou 3 em
(Z/4Z) e portanto à = 0,1,0 ou listoé, a? = 0 ou 1 em (Z/4Z).
Então, se a e b são dois inteiros quaisquer, as possibilidades para
a? + b? são 0,1 ou 2 em (Z/4Z), e 4n 43 (= 3 em (Z/47)) não é
soma de dois quadrados. [)

Corolário IV.1.3. Os elementos irredutíveis de Zl?] são exata-


mente os elementos dos tipos seguintes:

e tp, Lip com p primo em Z tal que p = 3mod4.

e a+ib coma” + 6 igual a um primo de Z.

DEMONSTRAÇÃO. Um elemento de Z[i] do tipo tp, ip com p


primo em Z, p = 3mod4, é irredutível em Zfi| pelo Teorema IV.1.2.
Um elemento a + ib € Zi], com a? + b? igual a um primo em Z, é
irredutível em Zli| pois senão, teríamos

a+ib=a) com a,BEeZli), a,5++l,+i,

logo,
2 + = N(a+ib) = N(a8) = N(o)N(8)
com N(a), N(8) e Z, N(a) £ 1 e N(8) £ 1, o que contradiz a
hipótese de aí + b” ser primo em Z.
Reciprocamente, seja a + ib um elemento irredutível em Zfil.
Usando a conjugação complexa, é fácil mostrar que a — 16 é também
116 [CAP. IV: APLICAÇÕES

irredutível em Zfi]. Se a24+b2 não é primo em Z, então a2+bº = nm


com n,m € Z, nm + +l1, logo

(a + ib)(a — àb) = nm.

Pela unicidade da fatoração em Z/i], obtemos a+1ib = en (ea—ib =


em) come € (+l, til: logoa = 0oub=0,ou seja, a +ib = tic
ou a-tib=+ecomcEeN. Agora, sendo a + 1b irredutível em Zlil,
vemos que c é irredutível em Zfi] e, a fortiori, irredutível em Z.
Pelo Teorema [V.1.2, este elemento c é côngruo a 3 módulo 4. [Tl]

Observação IV.1.4. a) À parte sutil do teorema anterior é a im-


plicação (ii) => (iii), onde se usou o fato de Zli] ser um domínio
fatorial.
b) Quando um primo p é soma de dois quadrados, ele o é de maneira
única. De fato, suponha que p= a 45º = cê 4 d?. Temos então

p=(a-+ib)(a-— ib) = (c+id)(c— id);

os elementos a-+%b, a—1b, c+id, c—id são irredutíveis em Zi), pois


têm norma igual a p que é irredutível em Z. Sendo Zfi) domínio
fatorial, obtemos que a + ib é associado a (c+ id) ou a (c— id): já
que os elementos invertíveis de Z[i| são +1 e +i, obtemos:

a = +c a = +d logo a” = cº a? = d?
ou » lo ou
b= +d b =— +c b? = dº b?
= e.

c) Em geral, é possível para um inteiro positivo não-primo ser ex-


presso como soma de dois quadrados de duas maneiras diferentes,
por exemplo:
125 =102 +52 = 112 +22.
Antes de generalizar o teorema anterior e caracterizar os inteiros
que são soma de dois quadrados, observamos que o produto de
somas de dois quadrados é uma soma de dois quadrados.

Lema IV.1.5. Se f,9 são inteiros que são soma de dois quadrados,
então o produto fg também é soma de dois quadrados.
[SEC. IV.1: SOMAS DE DOIS QUADRADOS 117

DEMONSTRAÇÃO. Por hipótese, existem inteiros a,b,c,d tais que


f-atbeg=c+d. Então,

fg= (+) +d) = N(a+ibN(c+id)


= N((a +ib)(c+id)) = N((ac — bd) + i(ad + bc))
— (ac — bd)º + (ad + be)”.

[]

Teorema IV.1.6. (Fermat). Seja n um inteiro positivo e seja


n=2pr... prq ...q' sua decomposição irredutível em Z, onde
p1,--.,D; são primos do tipo 4k + 1 e q,...,G; são primos do
tipo 4k + 3. Então, n é soma de dois quadrados se e somente se
Vi, V9,...,UVs SÃO pares.

DEMONSTRAÇÃO. Se v,,V2,...,UVs São pares, então gj",..., qu são


quadrados e portanto são soma de dois quadrados. O Teorema ante-
TiOr NOS diz que 2,71,...,7; são soma de dois quadrados e portanto,
aplicando sucessivamente o lema anterior, temos que n é soma de
dois quadrados.
Reciprocamente, suponhamos que n = a?+b” com a,b E Z. Seja
p um primo ímpar e suponhamos que a maior potência de p que
divide n seja ímpar. Queremos mostrar que p é necessariamente do
tipo 4k + 1. Seja d = M.D.C.ta,b); então a = da,, b = db; com
a,b E Ze M.D.C.[a,,b)) = 1. Temos n = a2+b” = dai? 4 b?)
e é claro que a maior potência de p que divide d? é par; con-
seqiuentemente, p divide a? + b?, ou seja à + b? = 0 em (Z/pZ).
Note que b; £ O pois senão, teríamos à?= —b?= 0, logo também
a = 0, isto é, teriamos que p divide a; e bi, o que é impossível pois
M.D.C.(a,,b1) = 1. Temos então

O =aj+b = billa/by)? + 1),


e portanto (a1/b1)?+ 1 = O pois (Z/ pZ) é um domínio. Tomando
ce Ztal que é = d%/b,, temos é = —l, ou seja c” = —-Imodp.
Pelo Teorema [V.1.2, concluímos que p é do tipo 4k + 1. q
118 [CAP. IV: APLICAÇÕES

Observação IV.1.7. a) A idéia da prova do Teorema IV.1.2 con-


sistiu em traduzir um problema dado em Z (um primo é soma de
dois quadrados?) em termos de propriedades de um anel maior
(existe uma fatoração própria em Zfi]?) e então resolver o proble-
ma neste anel maior (um primo p possui uma fatoração própria
em Zlil see sósep = 2 ou p é do tipo 4n + 1). A comunicação
entre as propriedades de Z e as propriedades de Zfi] foi feita pela
função norma que é bem adaptada ao nosso problema pois preserva
a multiplicação. Essa idéia de procurar um domínio D O Z pos-
suindo propriedades que garantam uma resposta para um problema
inicialmente dado em Z tem sido usada com muito sucesso.
b) Já sabemos que o primo 2 e os primos do tipo 4n + 1 são exata-
mente os primos que são soma de dois quadrados. O que podemos
dizer sobre os primos do tipo 4n43? Claramente, 3 = 12 +12 +12e
portanto 3 é soma de três quadrados. Por outro lado Y não é soma
de três quadrados; mais geralmente, olhando módulo 8, é fácil ver
que nenhum inteiro do tipo 8n + 7 é soma de três quadrados. Um
teorema de Lagrange garante que todo inteiro positivo é uma soma
de quatro quadrados. E possível dar uma prova deste teorema de
Lagrange bastante análoga à prova dada acima para o teorema de
Fermat. No lugar de Zf] = (2) + ai; 20,21 € Z), trabalhamos
com

H=(S 4514545: w=n =2 = z;mod2,

onde definimos a adição de maneira natural e a multiplicação a


partir de
P=p=k
=
ij=h=-ji.
jk=i=-kj.
ki=j=-ik.
Uma função norma em H é definida por:

Zoo A. 2.23 Z0)? 21? 29? 23)?


NS a tottoltaor
+ou 8) = (5)2) +Tio)(5) +(5) +Ts
tis) (5)
ISEC. |V.2: SOLUÇÕES INTEIRAS DE X2+Y2 = 2? 119

É possível verificar que (H,+,-, N) tem todas as propriedades


de um domínio euclidiano com a exceção que a multiplicação não
é comutativa. Este anel H é chamado anel dos quaternios inteiros
de Hurwitz. Os detalhes de uma prova do teorema de Lagrange,
seguindo estas idéias, podem ser encontrados no livro de 1. Herstein,
Topics in Algebra, pp. 371-377. Vide também o Exercício 4 no final
deste capítulo.

IV.2 Soluções Inteiras de Xº+Y* = Zº


Observamos primeiro que se z,y,z €EZ, então rº+y = 2º see
somente se (Ax)* + (Ay)? = (Az)? para todo À E Z. Portanto, para
encontrar todas as soluções inteiras da equação Xº+Yº = Z2,
basta encontrar as soluções com x,y, 2 relativamente primos.
Vamos precisar do seguinte lema:

Lema IV.2.1. Sejam x ey dois elementos relativamente primos


no anel Z. Então:

a) Os inteiros x e y são relativamente primos em Zfi).

b) 4 menos de elementos invertíveis, os únicos possíveis divi-


sores comuns de x +iy ex — iy em Zlil sãol el+i.

c) vx+iy ex—iy são relativamente primos em Zli] se e somente


sex + y é ímpar (se e somente se x e y têm paridades
distintas).

DEMONSTRAÇÃO. a) Suponha que existe um elemento irredutível


a € Zli] tal que

zr=o0T e y=oy com Zi;,y E Zlil.

Tomando normas, obtemos

q* — N(x)= N(a)N(x)) e yº = N(y) = N(o)N(y).


120 [CAP. IV: APLICAÇÕES

Vemos então que os fatores irredutíveis em Z de N(a) dividem


ambos x e y, o que é absurdo.
b) Seja a € Zli] um divisor comum de (x + iy) e (x — ày). Então
o elemento a divide 2x (que é a soma dos dois) e 2y em Zli|. Pela
parte a), os inteiros x e y são ainda relativamente primos em Zfi):
como Zl:) é um domínio fatorial, obtemos que a divide 2 em Zfil.
Assim, a menos de elementos invertíveis, temos a = 1,(1+1%) ou 2.
Não é possível termos a = 2, pois x +iy = 2(c+id) com cd E Z
implicaria que 2 divide x e y em Z, o que é absurdo. Portanto,
a menos de elementos invertíveis, 1 e 1 +21 são os únicos possíveis
divisores comuns de (x + iy) e (x — iy) em Zfil.
c) Temos2=(1+)I-Dexl+yl=(x+iy(x-—iy).
Se 2 divide x2 + y?, então (1 +11) divide um dos fatores, digamos
x +iy, pois (1 +1) é irredutível em Zfi). Mas então por conjugação,
(1 — 1) divide x — iy; como (1 — 1) = —:(1 +11), obtemos que (1 +%)
divide x — iy. Ássim, (1 + 1) divide os dois fatores x + iy e x — ày.
Reciprocamente, se x +% e x — 1 não são relativamente primos
em Zli], então (1+%1) divide x +iy pelo item b). Mas então N(1-+1)
divide N(x + iy), i.e., 2 divide x? + y”. 0

Teorema IV.2.2. Sejam x,y dois inteiros. Então, as afirmações


seguintes são equivalentes:

(1) x,y são relativamente primos e xº + yº = 2º 2 com z E Z.

(ii) x,y são relativamente primos e x+iy = e(a+ib)* coma,b E Z


e £ invertível em Zli).

Gi) z=(a-b) ey = 2ab (ou vice-versa) com a,,b E Z


relativamente primos e de paridades distintas.

DEMONSTRAÇÃO. (i) > (ii). Seja n € Z; temos a seguinte tabela


módulo 4:

n|0/1/2/3.
nº |0/1/0| 1
[SEC. IV.3: TEOREMA DE BEZOUT 121

Como x? + y” = zº com z E Z, temos 1º + yº = 0 ou Imod4. Se


tivéssemos x? + yº = Omod4 então, como mostra a tabela, z e y
seriam pares, o que contradiz a hipótese. Logo 1º + yº = Imod4;
em particular xº + yº é ímpar e, portanto, z + iy e x — iy são
relativamente primos em Z[%) pelo Lema IV.2.1. Sejaz = af"... a;
a fatoração de z em elementos irredutíveis de Zl[t|; então
(r+Hiylz—iy)=2]=apt.. air.
Como x+iy e x—iy são relativamente primos em Zfi|, então, depois
de uma reordenação dos fatores, existe r < t tal que
z+Hiy=e".. ar =e(ar.. ar,
com € invertível em Zfi).
(ii) > (iii). É de fácil verificação.
(ii) > (1). E imediato. E
Observação IV.2.3. Seja n > 3 um inteiro. Então não existem
inteiros x,y e z com xyz + O tais que

q +y" = 7.
Este fato é conhecido como o último Teorema de Fermat e foi du-
rante mais de 300 anos um grande desafio para os matemáticos.
domente em 1995 A. Wiles conseguiu uma demonstração deste fato.

IV.3 Teorema de Bezout


Seja K um corpo. Seja f(X,Y) um polinômio não-nulo em K[X,Y.
Denotamos por Vw (f) o conjunto dos pontos em K? da curva plana
afim determinada por f(X,Y),ie.,

V(f) = (x,y) E Kº | f(x,y) = 0).


Dados f(X,Y),9(X,Y) dois polinômios em K[X,Y| de graus
n,;m > 1 respectivamente, escrevemos
mn

HXY) = 5 axo
1=()
122 [CAP. IV: APLICAÇÕES

(XI) =5 bx,
j=0

onde Vi, a;(Y) e K[Y], grau ai(Y) <i ou a;(Y) =0 fe ainda com
grauas(Y) = para algum índice 0 <!<n),eVj, b(Y)eKIY],
grau b;(Y)<j ou b;(Y)=0 [e grau be(Y)=k para algum 0<k<m].
O Teorema de Bezout dá informações sobre a cardinalidade da
interseção Ve (f)NVr(9). Antes de enunciá-lo vamos fazer algumas
considerações que serão utilizadas na demonstração deste teorema.
Para um elemento 54 € K qualquer, considere o homomorfismo
K-linear ya abaixo:

K? 28, K?

(2,4) — (1,y — Ba).


É imediato verificar que este homomorfismo Pg leva os pontos das
curvas afins VK(f) e V«(g) nos pontos das curvas afins Va(fi) e
Ve (91), respectivamente, onde

fUX,Y) = HXY +0X) € gu(X,Y) = (XY + 5X),

e que pg induz uma bijeção entre Ve()NV(g) e VEe(f)NVelg).


É imediato verificar também que temos grau fi = grauf=ne que
graug; = graug=m.
Dado um conjunto finito de pontos distintos em Kº2, digamos
P; = (x;,y;) paraj = 1,2,...,t, e supondo que K é um corpo
infinito, existe 4 € K tal que

y;— bx; £ ye — bx; paratodo 1<k,j<t, kJ.

Para verificar isto, basta tomar É diferente dos seguintes quocientes


(ye —y;)/(xe—x;), comi<k+j<tecomaz,*ax;. Assim, se K
é um corpo infinito, podemos encontrar 5 € K tal que a imagem
por yg de um conjunto finito dado de pontos distintos em Kº seja
um conjunto de pontos com todas ordenadas distintas.
[SEC. IV.3: TEOREMA DE BEZOUT 123

Consideramos ao, a(Y),...,an(Y) E K[Y] os coeficientes de


f(X,Y). Como graua;(Y) < 1, escrevemos

a(Y) = ay” + ( termos de grau menor), para0<i<n.

Para algum índice 0 < £ < mn, temos por hipótese que grau a;(Y) =
t e portanto temos a, £ O. O coeficiente de X” no polinômio
HI) = XY + 8X) = 5 alY + 8X)X"* é então igual a

> a!

Assim, evitando apenas um número finito de elementos de K, a


saber, evitando as raízes do polinômio «o + w)Z +-:-+aZ”,o
elemento 3 € K será tal que o coeficiente de X” em f(X,Y) será
não-nulo. Analogamente, evitando apenas um número finito de
elementos de K, o elemento 54 E K será tal que o coeficiente de X”
em gi(X,Y):= 9(X,Y + 8X) será não-nulo.

Teorema IV.3.1. (Teorema de Bezout). Seja K um corpo. Sejam


H(X,Y),9(X,Y) dois polinômios em K[X,Y] de graus n;m > 1.
Se H(X,Y) eg(X,Y) não têm fator comum em K|X,Y|, então

HAVE) NVe(9)) < nm.


DEMONSTRAÇÃO. Podemos supor que o corpo K seja infinito. De
fato, se não for, considere o corpo K' = K(Z) das frações do anel de
polinômios K[Z], onde Z é uma indeterminada sobre K. É claro
que K' é um corpo infinito que contém K e que, pelo Corolário
1.3.7, f(X,Y) e g(X,Y) não têm fator comum em K'|[X,Y!; se
mostramos que H(Vre(f)NVr'(9)) < mn, então a fortiori, teremos
que H(VK(f) NVr(g)) < mn.
Como f(X,Y) e g(X,Y) não têm fator comum em K[YI||X],
então de novo pelo Corolário II1.3.7, eles não têm fator comum no
domínio principal K(Y)[X] e portanto, pelo Teorema 11.2.1, exis-
tem elementos y,ô em K(Y)|X] tais que

l=y-f+6-g.
124 [CAP. IV: APLICAÇÕES

Multiplicando por um denominador comum d(Y) E K[Y] para estes


elementos y e d, obtemos
dO) = AX, HAND + BA, (XY),
com A(X,Y), B(X,Y) e KIX,Y].
Se (x,y) E Kº é tal que f(x,y) = g(x,y) = 0, então d(y) = 0.
Assim existe somente um número finito de ordenadas possíveis para
um ponto em Kº? da interseção das curvas determinadas por f e por
9, à saber as raízes em K do polinômio não-nulo d(Y). Agora, para
uma ordenada fixa y € K, existem no máximo n pontos em Kº da
curva determinada por f(X,Y) com esta ordenada y, a saber os
pontos (x,y) E K? tais que x seja uma raiz de f(X,y). Fica assim
provado que
HAVE) NVk(g)) < 00.
Como K é um corpo infinito, existe 8 € K tal que, com
HU) = HXYVABX) e g(XY)=9(X,Y
+ 6X),
temos: os pontos distintos de Ve (fi) N Vk(g1) tem ordenadas dis-
tintas, o coeficiente de X” em A(X,Y) e o coeficiente de X” em
g(X,Y) são não-nulos.
Escrevemos
F(X,Y) = aÔ + a (N)X"O! +:--+an(Y), com aq £o0,
(XY) =X" + (V)XTT +... + ba(Y), com do £ 0.
Vamos considerar fA(X,Y) e g(X,Y) como polinômios na variável
X com os coeficientes a;(Y ),b;(Y) em K[Y| V 2,3, e vamos consi-
derar a resultante, que é um elemento de K|Y]. Denotaremos esta
resultante por Rs, (Y) no lugar de Rj (xy),gn(x,y) - Temos:
FWD ON Velg) = HVelf) NVelg))
=H(yekK; f(X,y) e g(X,y) têm uma raiz comum em K!
<HtlyvekK; f(X,y) e g(X,y) têm um fator comum de
grau > 1 em K[X])
=H(vcK; RaxymantXy — O pelo Teorema 113.6
= Hoy EK; Rpg (Y) — 0)
< grau Rp g(Y), pelo Corolário II.1.7.
[SEC. IV.3: TEOREMA DE BEZOUT 125

Pela Proposição II1.3.9, a resultante Rs,


ga (Y) envolve termos
do tipo

an)... ab (1)...b; (7), com + +imtjd+In = nm.

Como graua;(Y) <1e graub;(Y) < 3, vemos que

grau(a; (Y)... a; (1); (1)...b; (1) < nm.

Logo grau(Rs, a(Y)) < nm, e portanto H(Ve(J) N Ve(9)) < nm.
LU]

Seja R o corpo dos números reais. Lembramos que as cônicas


irredutíveis em R* são as parábolas, as elípses e as hipérboles; com
uma escolha adequada de coordenadas, suas equações são do tipo

Y=Xº, (X/a0)'+(Y/b)=1 e (X/9))-(Y/b) =1,

respectivamente.
Vamos agora aplicar o teorema de Bezout para obter o resul-
tado seguinte: os pontos de interseção (quando eles existirem) dos
lados opostos de um hexágono inscrito numa cônica irredutível são
colineares. De maneira mais precisa:

Teorema IV.3.2. (Teorema do hexágono de Pascal). Sejam


P,,...,P6 seis pontos distintos sobre uma cônica irredutível C. Se
as retas PP, e PP; se intersectam em Q1, se as retas PP; e Pb,
se intersectam em (), e se as retas PP, e PeP, se antersectam em
3, então os pontos (1,609, (3 são colineares.
126 [CAP. IV: APLICAÇÕES

DEMONSTRAÇÃO. Escolha um sistema de coordenadas em Rº. Seja


L; a reta PP; para cada i = 1,...,6 (onde, por convenção, faze-
mos P, = P,),eseja £;(X,Y) sua equação. Seja f(X,Y) a equação
da cônica irredutível €C. Escolha um ponto 4 sobre €, diferente de
P,,..., Ps; sejam (a, 8) suas coordenadas.
Como ?, é irredutível de grau 1 e f é irredutível de grau 2, e
como P,, P> são dois pontos distintos de L;NC, então, pelo Teorema
de Bezout, L, NC = (P, Po). Similarmente, L;NC = (P;, Pu)
para cada ri = 1,...,6.
Como 4 € C, Á + P,, P, e L; NC = tP,, Po, então 4 É Li.
Similarmente, 4 É L; para cadai = 1,...,6.
Como Qy e L;NLhLe (L; NC) N (Ly NC) = (P,, Po NM
tP,, Psy = 0, então Q, É C. Similarmente, Q1, Qo,03 É O.
Para yu € R*, considere agora o polinômio

g(X, Y) = Llals + Ulatile.

Afirmamos que graug = 3. De fato, graug < 3 pois grau?, = 1,


Vi=1,...,6. Por outro lado, os pontos A, P>,() são distintos e
estão sobre a curva Vr(g) determinada por 9, e também sobre a reta
Li. Logo, pelo teorema de Bezout, ou graug > 3 ou ?, divide 9.
No entanto, é impossível ?, dividir g, pois, neste caso, ?, dividiria
ufotse, O que é absurdo pois R[X,Y]| é um domínio fatorial. Logo,
graug = 83.
[SEC. |V.3: TEOREMA DE BEZOUT 127

Escolha o número real 4 de maneira tal que o ponto 4 se en-


contre sobre a curva Vr(g), isto é, tome

4 (a, Bala, Bts(a, B)


u=
tola, B)la(a, B)bela, 8)
Com esta escolha, os sete pontos P,,..., Fe, À se encontram na
interseção de €' com Vr(9). Pelo teorema de Bezout, f divide 9;
então, existe um polinômio h(X,Y) de grau 1 tal que g = fhe
portanto

Vr(9) = Vr(f) U Ve(h).

Obtemos finalmente que Q,, Qs, Q3 estão sobre a reta Vr(h). De


fato, Q1, Q5, Q3 pertencem a Vr(g), e não pertencem a €. []

Exercício IV.3.3. (Complemento do Teorema IV.3.2). Sejam


P,,..., Pg seis pontos distintos sobre uma cônica irredutível €.

a) Se as retas PP, e P,P; são paralelas, se as retas PP e PP,


se intersectam em (), e se as retas PP, e Ps P, se intersectam
em ()5, então a reta 0,03 é paralela à reta PP».

Dica: Tome um ponto P, * P, “muito perto” de P, na cônica


C, e compare o caso PP...
1 P; com o caso PB... P..

b) Se as retas PP, e PP; são paralelas, se as retas BP; e


P; Ps são paralelas, então as retas PP, e PsP, são também
paralelas.

Dica: Tome um ponto P, £ P, “muito perto” de P, na cônica


C, um ponto PF; £ Pe “muito perto” de Pg na cônica C, e
compare o caso PP... PP; com o caso PP... PB.
128 ICAP. IV: APLICAÇÕES

Item a) Item b)

Teorema IV.3.4. (Teorema de Pappus). Sejam À; e As duas


retas concorrentes. Sejam P,, P3, P; três pontos distintos sobre Ay
e P,, Pi, Pe três pontos distintos sobre As. Se as retas PP, e PP;
se intersectam em (1, se as retas BP; e PsPs se intersectam em
(), ese as retas PP, e PP, se intersectam em (23, então os pontos
(21,()2,4)3 são colineares.

P,

DEMONSTRAÇÃO. Faça uma prova análoga à prova do teorema de


Pascal, escolhendo o ponto Á na interseção de À; com Ás. []
[SEC. IV.4: EXERCÍCIOS 129

IV.4 Exercícios

l.a) Mostre que —6 + 48i é um múltiplo de 2 + 4 em Zfil.

b) Procure a fatoração de —6 + 48i em fatores irredutíveis em


Zi).

2. Seja n um inteiro do tipo 4k + 3.

a) Mostre que n possui um fator primo do tipo 42 + 3 que


aparece com uma potência ímpar na fatoração de n.

b) Mostre que a equação Xº + Y? = nZ? não possui uma


solução em Zº diferente de (0,0,0).
c) Mostre que a equação Xº + Y? = n não possui solução
em Q, 1.e., que n não é soma de dois quadrados em Q.

3. a) Mostre que Z[V'3] = Z[X]/(X? — 3).


b) Seja p € Z um número primo. Mostre que p é um ele-
mento primo de Z[v'3] se e somente se o polinômio X? — 3 é
irredutível em (Z/pZ)|X].

. O objetivo deste exercício é mostrar que todo inteiro positivo


é uma soma de quatro quadrados de números inteiros. Seja
Q:—CxC, com as operações & e & definidas por:

(0,0) 6(y0)=(a+y,8+6)
(1,8) 8 (7,6) = (ay — 86,6 + 89),
onde Z denota o complexo-conjugado de z € TC. Considere a
função py: Q — R>o definida por

pl(a, 8)) := (aà + 88).


130 [CAP. |V: APLICAÇÕES

Observe quesea = a +iae 8 = as+ias, então p((a, 8)) =


a? + a2 + az + az. Considere o seguinte subconjunto de Q:
o ab cd | abc de Z com
m= (5455). (5+5)): DOR modo

a) Mostre que (Q), &, 9) é um anel não comutativo com unidade.


Mostre que a função y é multiplicativa, isto é, mostre que

p(lroy)=y(vp(y), VYryeg.
Mostre que todo elemento não-nulo de Q tem inverso multi-
plicativo. Mais explicitamente, verifique que

(a, 6)! — (E 8) 169) |

b) Mostre que (H, &,&) é um subanel de Q tal que p(z) E Z,


Var e H. Verifique que este anel é isomorfo ao anel dos quater-
nios inteiros de Hurwitz introduzido na Observação IV.1.7.
c) Mostre que (H,€,9,y) tem a seguinte propriedade eu-
clidiana: dados dois elementos y e x não-nulos de H, existem
elementos t,r € H tais que

v=t9rer com q(r)<«y(a).

Dica. A prova de que Zfi] é um domínio euclidiano sugere


como fazer.

d) Um subconjunto não-vazio 1 de H é dito um ideal se


VxyelevVYwe Htemos
que reyelewgrel.
Mostre que todo ideal 1 de H é principal, isto é, mostre que
existe um elemento re TI tal que IT = (w9zr; we Hh+.
e) Um elemento ze H é dito central sex Qy=y A x, para
cada y € H. Um elemento central «x € H é dito primo se,
Vyw E H, temos

T|i(y Sw) > z|y ou eju.


ISEC. IV.4: EXERCÍCIOS 131

Um elemento x de H, x não-invertível em H, é dito irredutível


se, Vy,w € H, temos

t=y8w>youw éinvertível em H.

Mostre que se x € H é um elemento central e irredutível,


então o elemento x é primo.

f) Seja p € Z um número primo. Mostre que o elemento (p, 0)


não é irredutível em H.
Dica. Utilize que existem inteiros a,b € Z tais que o número
primo p divide (a? + b? 41) e que vale a seguinte igualdade
(arti;b)S(a-i,—b)=(a24+6+1,0).

g) Seja p € N um número primo. Mostre que existem números


inteiros a,b,c,d € Z tais que

4p=a+b
+ ce + dº.

h) Seja n € N tal que 2n é uma soma de quatro quadrados de


inteiros. Então n também é uma soma de quatro quadrados
de inteiros.

Dica.
a“ + b? — fa+b 2 4 a-bN*
Do 2 2 '

1) Conclua que todo número primo p € N é uma soma de


quatro quadrados de inteiros.

j) Usando a propriedade multiplicativa da função «y, mostre


que o produto de duas somas de quatro quadrados de inteiros
é anda uma soma de quatro quadrados de inteiros. Con-
clua que todo número inteiro positivo é uma soma de quatro
quadrados de inteiros.
132 [CAP. IV: APLICAÇÕES

5. Sejam P = (71,%y),...,P; = (75,Y) cinco pontos distintos


do plano real R?.

a) Mostre que

o: Rê —s Rº
2 9
(020, 011, 4025 410; 401, 490) +— (az0%; + a T;y; + agay; +
...4

é uma aplicação R-linear.

b) Mostre que existe ao menos uma cônica passando pelos


cinco pontos P,,..., Ps.

c) Mostre que se duas cônicas distintas contêm esses pon-


tos, então quatro dos pontos são colineares.

6. Seja K um corpo infinito e seja f(X,Y) E K|X,Y| irredutível


de grau 2. Se Va(f) + À, então Vk(f) é um conjunto infinito.
Dica. Considere um ponto (a,b) E Vk(f) e as retas Ly dadas
porY -b=ao(X — a) com a € K. Considere La N Vk(f).
Capítulo V

Teoria Básica dos Grupos

V.1 Exemplos de Grupos


Definição V.1.1. Um conjunto G com uma operação

GxGsG
(a,b)-5a-b
é um grupo se as condições seguintes são satisfeitas:

(1) A operação é associativa, isto é,


a-(b-c)=(a-b)-c Va,b,ceG.

(11) Existe um elemento neutro, isto é,


JSeeG talquee-a=a-ce=a, VaceG.

(1;) Todo elemento possui um elemento inverso, isto é,

VaceG, dbeG talquea-b=b-a=e.

O grupo é abeliano ou comutativo se:


(iv) À operação é comutativa, isto é,
a-b=b.a, VabeG.

135
136 ICAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Observação V.1.2. 1) O elemento neutro é único. De fato, se


e,e' € G são elementos neutros de G, então

e=e-e pois e” é elemento neutro,


= e pois e é elemento neutro.

2) O elemento inverso é único. De fato, sejaa € G, esejam b,b' E G


dois elementos inversos de a; temos:

b=b.e=b-(a-b) pois b é inverso de a,


=(ba)b=e-b=b pois
b é inverso de a.
Denotaremos o único inverso de a por q”.
3) Da unicidade do inverso de um elemento a € G, obtém-se o fato
mais geral seguinte:
Se a,b e G, então a equação X -a = b tem uma única solução
em G, a saber b-a.
De fato, se c é uma solução de X - a = b, então temos c-a =D,
logo c-a-a! =b.a! eportantoc=b-a”!. Por outro lado, b-a”!
é claramente uma solução.
De maneira similar, obtém-se que a equação a - X = b tem uma
única solução em G, a saber a! -b.
4) Em decorrência da Observação V.1.2 3), para mostrar que um
elemento f € G é igual ao elemento neutro do grupo, basta mostrar
que f-a= a para algum elemento a E G.
5) (a-b)1 =b7!.a”! (Verifique).

Nota: Muitas vezes deixaremos de indicar a operação do grupo,


escrevendo G para denotar um grupo (G,-). Também, quando não
existir ambiguidade, escreveremos ab no lugar de a - b.
Pela definição, se (4, +,-) é um anel, então (4, +) é um grupo
abeliano. Pela definição, um corpo (K, +,-) é um conjunto K com
duas operações + e - tal que (K, +) é um grupo abeliano, (K
— (0+, -)
é um grupo abeliano, e vale a distributividade.
[SEC. V.1: EXEMPLOS DE GRUPOS 137

Exemplos de grupos:

1) (Z, +) é um grupo abeliano infinito.


(Z/nZ, 6) é um grupo abeliano finito com n elementos.
n

2) (Q, +), (R, +), (C, +) são grupos (aditivos) abelianos.

(Q1104,:), (RTOF, -), (CA 0), -) são grupos (multiplicativos)


abelianos.
Se p é um número primo, ((Z/pZ) N (0),0) é um grupo
p
abeliano.

3) Lembramos que se (4,+,:) é um anel, comutativo ou não,


então A* representa o conjunto dos elementos invertíveis de
A; (A*,-) é um grupo (prove) que será abeliano se o anel for
comutativo. Em particular, se K é um corpo ese Maxn(K) é 0
anel das matrizes n x n com entradas em K, então
((Maxn(H))*,:) é um grupo (em geral não abeliano, pois o
produto de matrizes não é uma operação comutativa); tal
grupo é denotado por GL(n; K) e é chamado grupo linear
geral sobre K.

3) Considere (Z/nZ, B,O). Por definição, o conjunto dos ele-


mentos de ((Z2/nZ)*, O) consiste das classes 7 onde o inteiro
pertence ao conjunto (| <r<n-—1;
n

IseZcomrOs=
t—

li)
que é igual ao conjunto (1 <r <n—1; MDCtIr,n) = 1!
(verifique isto, usando o fato que, se d = MDCtfr,n!, então
existem a,b E Z tais que d = ar +bn). Logo ((Z/nZ)*,O) é
um grupo com &(n) elementos, onde d: N — N é à função
de Euler, i.e., a função definida por

d(n)=Hll<r<n:; MDC(r,n) = 1).

4) Seja € um conjunto qualquer. Considere o conjunto Bij(C) =


tf: C > C| fé uma bijeção!. Prove que (Bij(C),0) é um
138 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

grupo, não-abeliano em geral, onde a operação o é a com-


posição de funções. Observe que o grupo Bij(C) só será
abeliano se o conjunto É tiver um ou dois elementos. Uti-
lizaremos também o símbolo P(C) para designar este grupo.

Caso o conjunto CU tenha um número finito n de elementos,


Bij(C) será denotado por $, e será chamado grupo simétrico
ou grupo das permutações de n letras. Temos que £S, = nº.
4” )
O grupo 93:
= (25) 123 2) 123) (1238) (1923
“o Vasos) os) a21/" ago) logia) |?
- 1 - j j
onde a notação (152) representa a função definida da maneira
seguinte: f(1l)=a, (2) = be f(3) =
ce EN go (3 e
am à = =
Jam é= og1)* 213)" CMOS
— (128) (128 3
“= o (681) (81) = (315):
(128) (1238) (123
= o (250) (281) o (123) = 1 td,
— (128N (128) (123
2 =. (013) (613) . (123) —º
= td,
(128/1238) (128
da o (3) (31) o (135).
a8 = (51) (1) o“ (51)
231/1213 321
228 = 123) (123) (123
“Asi/igaig) ago)
Complete a tabela de multiplicação desse grupo. Observe que
foi verificado acima que a e $ geram o grupo 53, isto é, que
todos os elementos do grupo são produtos finitos de fatores
iguais a a ou 3; foi também verificado que 0º = id, B* = ide
que Sa — a28 + af.
[SEC. V.1: EXEMPLOS DE GRUPOS 139

5) O grupo Sa das simetrias espaciais de um triângulo equilátero.


Seja PPP; um triângulo equilátero. Coloque o centro de
gravidade do triângulo na origem 0 do espaço e chame de
E, Es, Es as retas do espaço passando pelas medianas do
triângulo.

As transformações espaciais que preservam o triângulo são:

od, From, Rar: as rotações planas centradas em 0, no sentido


3

anti-horário, de ângulos zero, az e a respectivamente.

e R;, Ro, R3: as rotações espaciais de ângulo 7 com eixos E,


És, És, respectivamente.

É fácil ver que Sa := (id, Rear, Rar, Ra, Rio, Ras com a com-
posição de funções é um grupo (faça a tabela de multiplicação e
verifique os axiomas). O grupo não é abeliano pois temos:

Py Ps P

Ps

isto é, Ryo R, = Rar.


3
140 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

A Ps p

Isto é, Ro Õ R, — Rar.
3

Mostre que os elementos R2zx e R; geram o grupo SA, isto é,


qualquer elemento de Sa é um produto de alguns elementos Ror's
com alguns Ry's.
6) O grupo D. das simetrias espaciais de um quadrado.
Seja PP,P;P, um quadrado. Coloque o centro de gravidade
do quadrado na origem O do espaço e chame de D,,Ds,M,N as
retas do espaço determinadas pelas diagonais e pelas mediatrizes
do quadrado.

M D;

P2 P|

O N

P3 Pq

D,

As transformações espaciais que preservam o quadrado são:

o id, Rs, Rr, Rar: as rotações planas centradas em 0, no sentido


2

anti-horário, de ângulos zero E, me X,>» respectivamente.


[SEC. V.1: EXEMPLOS DE GRUPOS 141

e Ri, Ro, Rm, Rn: as rotações espaciais de ângulo 7 com eixos


D,, Do,M,N, respectivamente.

É fácil ver que

D. := id, Re, Rr, Bar, ly, Ro, Rm, Rn)

com a composição de funções é um grupo (faça a tabela de multi-


plicação e verifique os axiomas).
O grupo não é abeliano pois temos:

M D, M D; M D;

P> P, P, Po P; Po

N Ry
—— +» mm AA Rj—> N

5, Los 5.

M D, M D, M D,

Po | P, P, | fá P, — (4

vt, sy
P, P, P, P> A B;

| Do» E D, D,

Mostre que os elementos Rz e Rj geram o grupo Ds, isto é,


qualquer elemento de D,, é um produto de alguns elementos Rz's
com alguns Ry's.
7) Sejam (G1,O) e (Gs, 2) dois grupos. No conjunto G; x Gs defina
1
a operação
(91,92) - (9,92) = (93 O 91,92 O 95).
142 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Mostre que (G, x Gs,:) é um grupo (chamado produto direto de


G, com Gs); o elemento neutro de G; x Gs é (e1,€5), onde e; é
o elemento neutro de G;, à = 1,2; o elemento inverso de (91,92)
é (91',95!). Mostre que (G, x G»,:) é um grupo abeliano se e
somente se (Gr, 0) e (Go, 2) são grupos abelianos.
Mais geralmente, dados grupos (61,0)... (Gn, O), defina a
noção de produto direto Gy x G9 x --: x Ga.

V.2 Subgrupos
Definição V.2.1. Seja (G,-) um grupo. Um subconjunto não-
vazio H de G é um subgrupo de G (denotamos H < G) quando,
com a operação de G, o conjunto H é um grupo, isto é, quando as
condições seguintes são satisfeitas:
0)h-heH, Vh,heH.
Dhy-(ho-h3)=(h-cho)-hs, Vhy,ho,hy e H.
n)deyeHtalqueey:-h=h-en=h,VheH.
Wi) Para cadahe H,existeke Htal queh-k=k-h=
em.

Observação V.2.2. 1) A condição i) é sempre satisfeita, pois a


igualdade 9, - (92-93) = (91-92): 93 é válida para todos os elementos
de G.
2) O elemento neutro ey de H é necessariamente igual ao elemento
neutro e de G. De fato, tomando a €E H C G, temos ey -a = a;
multiplicando os dois lados por a”! à direita, obtemos ey = e.
3) Dado h € H, o inverso de Ah em H é necessariamente igual ao
inverso de h em G. De fato, se k é o inverso de h em H, então
h-k=k-h=em,logoh-k=k-h=epoisey=e,e portanto ké
o inverso de A em G.

Proposição V.2.3. Seja H um subconjunto não-vazio do grupo G.


Então H é um subgrupo de G se e somente se as duas condições
seguintes sao satisfeitas:
[SEC. V.2: SUBGRUPOS 143

Dh-heH,VYh,ho EH.
2) h!eH, vVhedH.
DEMONSTRAÇÃO. Suponhamos que H seja um subgrupo de G. À
condição 1) é então claramente satisfeita. Agora, seja h € H; sendo
H um grupo, h possui um inverso em H; mas, pela Observação
V.2.2 3) precedente, tal inverso é necessariamente igual ao inverso
de h em G, isto é, é necessariamente igual a A! logo ht c H,
e a condição 2) é satisfeita. Reciprocamente, suponhamos que as
duas condições 1) e 2) sejam satisfeitas. Então, a condição 0) da
Definição V.2.1 é claramente satisfeita. Como já observamos, a
condição 1) sempre é satisfeita. Para ver que a li) é satisfeita, basta
ver que e € H: isto de fato acontece pois, tomando h € H, temos
ht € H pela condição 2) e logo e = Ah! € H pela condição 1).
Finalmente, que a condição iii) é satisfeita decorre da condição 2)
ser satisfeita. []

Na prática, para verificar que um subconjunto H é um subgrupo


de um grupo G, será mais conveniente verificar que as propriedades
1) e 2) da Proposição V.2.3 são satisfeitas.

Exemplos de subgrupos:

1) Se G é um grupo, então (et e G são subgrupos de G.

2) (2Z,+) é um subgrupo de (Z,+). De maneira mais geral, se


n é um inteiro qualquer, (nZ, +) é um subgrupo de (Z,+).

3) fid, Rite (id, Rar, Rag 5 são subgrupos de Sa;


tid, Rrj e tid, Rz, Ra, Rar ) são subgrupos de D..

4) Seja U, = et ee o grupo multiplicativo


das raízes n-ésimas da unidade. Temos a seguinte cadeia de
subgrupos de C — (0%:

Un <(JUu,= raízes o) <SI<C-fo,


unidade
144 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

onde S! é o grupo dos números complexos de norma 1, ou


seja, S! é o círculo unitário em R*.

5) Considere o seguinte subconjunto D, de S4:

p = 1234 1234 1234 1234


*- ioga) logar 3412)" aros)
1234 1234 1234 1234
4321/" À2143/' 11432 /" 13214

Mostre que D, < Sá. Verifique que D, não é um grupo


abeliano.

6) Seja G um grupo qualquer. Considere o subconjunto Z(G) =


txeG|rxg=9%2 Vg e G). Mostre que Z(G) < G. Este
subgrupo Z(G) é chamado centro de G. Observe que G é
abeliano se e somente se Z(G) = G.

7) Se He K são dois subgrupos de G, então HNK é um subgrupo


de G. De maneira mais geral, mostre que se (Ha kuer é uma
família de subgrupos de G, então NH, é um subgrupo de G.
A

Determinação de todos os subgrupos de (Z,+):


Já sabemos que os (nZ, +), com n E N, são subgrupos de (Z, +).
Veremos que são os únicos subgrupos de Z. Seja H um subgrupo
qualquer de Z. Se H = (0), então H = 0Z. Podemos agora supor
que H + (0). Sejjan=minftre H |x> 0). Comone Hecomo
H é um subgrupo, temos nZ €C H. Reciprocamente, seja h € H;
pelo algorítmo de Euclides, existem q,r €E Z tais que A = gn +4r
com O <7r <1n; como À e n pertencem a H, então r pertence a H
também; pela minimalidade de n, temos

e portanto h = gn, ou seja h E nZ. Logo H = nZ.


[SEC. V.2: SUBGRUPOS 145

Subgrupo gerado por um subconjunto:


Fixemos inicialmente algumas notações. Se H e K são subcon-
juntos de um grupo G (em particular, se H e K são subgrupos de
G), o conjunto (hk |he Hek € K) será denotado por HK, eo
conjunto (h”! |h E H) será denotado por H”!. Em geral HK não
é um subgrupo de G, mesmo quando H e K são subgrupos de G
(procure um exemplo dentre os grupos que você já conhece).
Se S é um subconjunto não-vazio do grupo G, o conjunto
faas...an |neEN, a € Soua; E S”!) será denotado por (5).
Quando o conjunto é finito, digamos S = (01, 09,...,0r+, utilizare-
mos a notação (a, &2,..., Q&r) para designar (foi, 092,...,0r)). Ob-
serve que se g € G, então (9) = f...,(g D2,9g1,e,9,9º,...); com
freqiiência, quando r E N, escreveremos g ” para denotar o ele-
mento (g"!)”; assim, com estas notações, temos (9) = (g' [tc Z).
Proposição V.2.4. Sejam G um grupo e S um subconjunto não-
vazio de G. Então o conjunto (S) é um subgrupo de G.
DEMONSTRAÇÃO. Devemos provar que:
DVYz,y e (5), temos zy E (S).
2) Yx E (S), temos rt E (S).
Sejam x,y € (5). Temos

Z = mÂh02...Gn, com a; E S ou a; E ST, Va


y=bbo...bm, comb;e Soube St Vj.
Logo, xy = wa2...Gnbibo...bner! — artarl,...as'a,. estão
também em (5). O
Definição V.2.5. Sejam G um grupo e S um subconjunto não-
vazio de G. Então (S) é o subgrupo gerado por S.
Exercício V.2.6. Seja G um grupo e seja S um subconjunto de
G. Mostre que (S) é o menor subgrupo de G contendo S e que (S)
é a interseção de todos os subgrupos de G que contém 5.

Definição V.2.7. Um grupo G é cíclico quando ele pode ser gerado


por um elemento, isto é, quando G = (9), para algum g € G.
146 CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Exemplo V.2.8. Z = (1), Z/nZ = (1), Ur = (6.


Note que se G é cíclico, então G é abeliano.

Definição V.2.9. O subgrupo fryr ly! | x,y e G)h é o sub-


grupo dos comutadores do grupo G; ele será denotado por G'. Note
que G é abeliano se e somente se G' = te).
Exercício V.2.10. Calcule o centro e o subgrupo dos comutadores
dos grupos (Z, +), 93 e Da.

Definição V.2.11. À ordem de um grupo G é o número de ele-


mentos em G; ela será denotada por |G|. Se a é um elemento do
grupo G, a ordem de a é a ordem do subgrupo gerado por a; ela
será denotada por O(a).
Assim, |Z| = 00; |Z/nZ| = n; |D| = 8; |Saj= nº.
Proposição V.2.12. Sejam a um elemento do grupo Ge (a) o
subgrupo gerado por a. Então as seguintes condições são equiva-
lentes:

(1) 4 ordem |(a)| é finita.


(11) Existet > 1 tal que a* = e.
Neste caso, denotando por n a ordem de a, temos

t>0, 0d =el=140,n,2n,...1 e (o)=fe a... ar.


DEMONSTRAÇÃO. (1) > (ii) Como (a) = (0” |m € Z), e como,
por hipótese, o grupo (a) é finito, existem p,q € Z, p q tais que
a? — q!. Sem perda de generalidade, podemos supor que p > q.
Como o? = qº, então a?! — e, e portanto existe t > O tal que
q =e.
(ii) > (1). Consideramos o inteiro r := min(t > 1; a* = e). Que-
remos mostrar que 7 = n. Para isto, basta claramente provar a
afirmação seguinte:

Afirmação V.2.13. (a) = fe,a,a?,...,a”!) e os elementos


e, a,02,...,0"7! são todos distintos.
ISEC. V.3: CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 147

DEMONSTRAÇÃO DA AFIRMAÇÃO: Suponhamos que q? = a! com


O<paqa<r-—1l,p * q; podemos supor p > q. Temos a?! = e
com O < p-—q <r e isso contradiz a minimalidade de r. Logo
e,a,02,...,a””! são elementos distintos de G. Para provar que
(a) = fe,a,02,... a” !), devemos mostrar que Vm E Z, a” = a!
para algum O < £ <r. Ora, pelo algoritmo de Euclides, existem
qteZtais quem=gr+?com0<t!4<r,e portanto temos que
a” = qt — (a) at =e.q* = a. [

Exercício V.2.14. Seja ne N,n > 2. Sejam € N; mostre que m


gera o grupo (Z/nZ, &) se e só se m é um elemento invertível do
n

anel (Z/nZ, &,0).

Exercício V.2.15. Seja G um grupo eseja a EG, a e.


1) Mostre que a tem ordem 2 se e somente sea = a”.
2) Mostre que se O(a) = mn, então O(a”) = n.
3) Mostre que O(a”") = O(a).
4) Mostre que se O(a) =2, Va e, então G é um grupo
abeliano.

Exercício V.2.16. Seja G um grupo abeliano e considere o sub-


conjunto T(G) = (a e G | O(a) < oo). Mostre que T(G) é um
subgrupo de G (chamado subgrupo de torção de G). Em particular,
tomando G = C1 (0k, temos que

T(C 40) = fa e C1140!| O(a) < col = fraízes da unidades.

V.3 Classes Laterais e Teorema de Lagrange


Seja G um grupo e seja À um subgrupo de G. Sobre G, defina a
relação de equivalência = da maneira seguinte:

Er o SheH tal que y=7h.

Verifique que ç é realmente uma relação de equivalência.


148 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Por definição, a classe de equivalência que contém z é o conjunto


tye G|y = zy) = ftxh | h € H); denotaremos esse conjunto
por zH e o chamaremos de classe lateral à esquerda de H em G
que contém x. Quando não houver confusão possível, chamaremos
simplesmente esta classe de classe lateral de x à esquerda. Em
particular, H é a classe lateral do elemento neutro e à esquerda.
Observe queyezH os yH = 7H.
Analogamente, poderíamos definir a relação de equivalência
seguinte:
ya o JheH talque y=hz.

Obteríamos então as classes laterais à direita de H em G; a classe


lateral de x à direita seria Hx = (hz |he Hh+.
Definição V.3.1. À cardinalidade do conjunto das classes laterais
à esquerda é o índice de H em G; ele será denotado por (G : H).
Observação V.3.2. O índice de H em G também é a cardinalidade
do conjunto das classes laterais à direita de H em G, pois a aplicação
y abaixo é uma bijeção bem definida (Verifique!):

py: (classes laterais à esquerda) — (classes laterais à direita!


2H» He.
Definição V.3.3. Dada uma partição de um conjunto, um sistema
de representantes é um conjunto (xa taer que tem exatamente um
elemento em cada subconjunto da partição. Em particular, a cardi-
nalidade de qualquer sistema de representantes das classes laterais
à esquerda de H em G éiguala (G: H).
Proposição V.3.4. Todas as classes laterais de H em G têm a
mesma cardinalidade, igual à cardinalidade de H.

DEMONSTRAÇÃO. À função

Hs zH
hs zh

é claramente uma bijeção. [1


[SEC. V.3: CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 149

Teorema V.3.5. (Teorema de Lagrange). Sejam G um grupo


finito e H um subgrupo de G. Então |G| = |HI(G : H); em parti-
cular, a ordem e o índice de H dividem a ordem de G.

DEMONSTRAÇÃO. Considerando a relação de equivalência à es-


querda = em G, obtemos uma partição de G em classes de equi-
valência. A proposição anterior mostra que em cada uma dessas
classes temos |H| elementos. Como, por definição, o número de
classes é (G : H), temos a igualdade |G| = |HI|(G : H). E

Corolário V.3.6. Seja G um grupo finito e seja a E G. Então a


ordem de a divide a ordem de G.

DEMONSTRAÇÃO. Por definição, O(a) = |(a)|. Aplique agora o


Teorema de Lagrange ao subgrupo (a). Note que, equivalente-
mente, este corolário diz que a!S! = e (vide Proposição V.2.12). []

Corolário V.3.7. (Pequeno Teorema de Fermat) Seja p um nú-


mero primo. Então:

o”! = Imodp, Vac ZNyZ.

DEMONSTRAÇÃO. Seja a € ZN pZ; então à € 7 NO). Agora,


é um grupo de (p — 1) elementos, logo a?! = 1,
7? MOF = (7)
O
ou seja a?! = Imodp.

Exercício V.3.8. Mostre que se p é um número primo então, para


cada a € Z, temos a? = amod p.

Corolário V.3.9. (Euler) Sejam x en dois inteiros relativamente


primos. Então zº") = Imodn, onde B é a função de Euler.

DEMONSTRAÇÃO. Segue do Corolário V.3.6 depois de observar que


(Z/nZ)*| = &(n). (Vide Exemplos de grupos 3')). CD]

Corolário V.3.10. Seja G é um grupo de ordem prima. Então G


é cíclico.
150 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

DEMONSTRAÇÃO. Seja «a € GN tek e considere (a) o subgrupo ge-


rado por a. Pelo Teorema de Lagrange, |(a)| divide |G| e portanto
|(a)| = |G!|, pois |G| é primo. Logo G = (a). [O

Proposição V.3.11. Seja G um grupo abeliano.

a) Se a,b € G são dois elementos de ordem finita tais que


MDC(O(a),O(b)! = 1, então O(ab) = O(a)O(b).

b) Se r:= sup(O(9); g E G) é finito, então O(x) divide r para


cada x E G.

DEMONSTRAÇÃO. a) Sejam n := O(a), m := O(b), z := O(ab).


Como a e b comutam, então (ab)”"” = (a) (b")” = e; logo z é
um divisor de nm (vide Proposição V.2.12). Por outro lado, temos
(ab)* = e. Como a e b comutam, então a” = b”* E (a) N (b); como
|(a)| e |(b)| são relativamente primos, então (a) N(b) = fe). Assim,
a =eeb” =e; portanto z é um múltiplo de n e de m, logo um
múltiplo de nm pois n e m são relativamente primos. Portanto
obtemos que z = nm.
b) Primeiro, provamos a afirmação seguinte:
“se a,b € G são dois elementos de ordem finita, então existe um
elemento c € G tal que O(c) = MMC(O(a), O(b)P.
Sejam n := O(a), m := O(b). Se MDCfn,m) = 1, então, pelo
item a), podemos tomar c := ab. Se MDC fn,m| £ 1, considere as
decomposições em elementos irredutíveis den em:

n= pr... pr Ps pr
B
m = pf... po “Pl py,

onde 0 < a; < 9; para cadai = 1,2,...,k; a; > 6; > O para cada
9=k+1,...,t, e onde os primos p;'s são todos distintos.
Considere então os elementos
B
a, = af Pk e by=brcPr.
[SEC. V.3: CLASSES LATERAIS E TEOREMA DE LAGRANGE 151

Temos

O(a1) = —5— = PR. pe


py” = De" k+1

m
O(b) = Br+1 Br = pri. pk
Peri co Dr
Como as ordens O(a;) e O(b;) são relativamente primas, então
O(a1b,) = O(a,)O(b;) pelo item a). Assim, o elemento c := ab;
tem a ordem desejada. Isto prova nossa afirmação.
Agora, nós supomos que r := sup(O(g); g E G) é finito e
tomamos y € G tal que O(y) = 7. Suponha que exista x € G tal que
O(z) não divida r. Então teríamos s := MMC(O(x), O(y)) >r
e, pela afirmação anterior, existiria um elemento c € (x,y) CG tal
que O(c) = s > rr, o que contradiz a escolha de r. []
Proposição V.3.12. Seja G um grupo e sejam K < H < G.
Então
(G:K)=(G:H(H:K).
DEMONSTRAÇÃO. À proposição afirma que se o lado esquerdo da
igualdade é finito então o lado direito também o é e vale a igualdade;
e vice-versa.
No caso em que |G| < oco, podemos dar uma prova muito simples
utilizando três vezes o Teorema de Lagrange:
H<G=>5|G|=|H(G:H)
K<H=>|H|l=|K(H:K) | > IGl=|KIH: KG: H),
K<G>|G|=I|K(G:K),
e, comparando as duas expressões para a ordem |[G|, obtemos a
igualdade (G: K)=(G:H)(H: K).
No caso geral (i.e., no caso em que |G| pode ser infinito), se
mostra que se (Za taer é um sistema de representantes das classes
laterais à esquerda de H em G e se (ysksem é um sistema de
representantes das classes laterais à esquerda de K em H, então
(Loys koer,gem é um sistema de representantes das classes laterais
à esquerda de K em G. Deixamos a verificação dos detalhes para
o leitor. []
152 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Observação V.3.13. 1) Se G é um grupo abeliano e se H é um


subgrupo de G, então Hr = zH, Vr EG.
2) Seja D, o grupo das simetrias espaciais de um quadrado e seja
H = (id, R,). Temos

H Rs =— (Rs, Rn) + (Rs, Rm) = Rs H.

Isso ilustra que num grupo não-abeliano, a classe de x à direita


pode ser diferente da classe de x à esquerda.

Exercício V.3.14. Seja G = S3 (grupo das permutações de 3


elementos).

a) Procure todos os subgrupos de G com suas ordens.

b) Para cada subgrupo H de Ss, determinar as suas classes la-


terais à esquerda e à direita.

c) Exiba um subgrupo próprio H de S3 tal que

Hx = zk, Vx E Sa.

d) Exiba um subgrupo próprio K de S3 para o qual exista 1 € 53


tal que Kx £ TK.

V.4 Subgrupos Normais e Grupos Quocientes


Seja G um grupo e seja H um subgrupo de G. Queremos ver se
a operação de G induz de maneira natural uma operação sobre o
conjunto das classes laterais à esquerda de H em G, isto é, se a
operação
(cH,yH) > zyH
é bem definida, no sentido de não depender da escolha dos repre-
sentantes rey. Dadosx,y e Geh,ke H arbitrários, então ze zh
são representantes da mesma classe xH e, y e yk são representantes
[SEC. V.4: SUBGRUPOS NORMAIS E GRUPOS QUOCIENTES 153

da mesma classe vH. Assim, a operação induzida sobre as classes


laterais à esquerda é bem definida se e só se

zyH =zrhykH, VYryeG, Vh,ke H;

logo, se e só se

y lg lryH = yr rhykH,
ouseja, H=-y'hyH, VyEG, VheH,
e portanto se e só se

ghg'eH, YgeG, vheH.


Proposição V.4.1. Seja H um subgrupo de um grupo G. Às afir-
mações seguintes são equivalentes:

(1) a operação induzida sobre as classes laterais à esquerda de H


em G é bem definida.

(11) gg !CH,YgeG.
(iii) Hg" =H,VgEG.
(iv) 9gH = Hg,
Vg e G.

DEMONSTRAÇÃO. (1) <> (ii) já foi feito.


(iii) + (iv) é óbvio.
(u) => (1) é óbvio.
(1) => (ii) Suponhamos que gHg! C H, Vg € G; queremos
mostrar que H € gHg!, Vg € G. Sejamentãohe Hege G;
temos
h=g(g'hg)g" eglg 'Hg)g* CgHg.
0
Definição V.4.2. Um subgrupo H é um subgrupo normal de G
(e escrevemos H a G) se ele satisfaz as afirmações equivalentes da
proposição anterior. Neste caso, as classes laterais à esquerda de
H são iguais às classes laterais à direita de H; vamos chamá-las de
classes laterais de H.
154 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Exemplo V.4.3. 1) (e), G são subgrupos normais de G.


2) Z(G)4G. Mais geralmente, se H < Z(G), então HaG. (Provel!).
3) G' = ([ryr ly! | x,y € G) é um subgrupo normal de G.

DEMONSTRAÇÃO. Primeiro, observe que se chamamos de S o con-


junto fryr ly! |zx,yeGhesea E S, então a! E S; conse
quentemente, se É é um elemento qualquer de G' = (S), então é se
escreve da forma É = q1...«n com q,,...,a, € S. Segundo, se
g E G, temos

969" = g(m...an)g | = (gang D(gasg !... (gang*)


e consequentemente, para ver que gég! E G', basta ver que vale
goag t E S quando « E S. Seja então a = xyz ty! um elemento
de S; temos

gag”! = g(xyz'y Dg! = (gxg Dgyg gr 'g gy !g")


= (9x9 gyg geg )'(gyg tes.
4) Se(G:H)=2,então HaG.
Para mostrar isso, vamos mostrar que zH = Hx, Vz € G. Se
zeHentãozH=H=Hz.Sezx é H temos

cH + H,
Hx + H.

Como (G : H) = 2, existem exatamente duas classes laterais à es-


querda, que são então zH e H. Agora, uma relação de equivalência
num espaço decompõe o espaço na união disjunta de suas classes de
equivalência; assim zH = GN H. Da mesma forma, Hr = GH.
Portanto tH =GNH = Hz.
5) Se G é um grupo abeliano, então todo subgrupo de G é normal
em G. A recíproca é falsa em geral. Veremos mais tarde que o
grupo (Qs (grupo dos quaternios com 8 elementos) não é abeliano
apesar de todos seus subgrupos serem normais em (Qs.
[SEC. V.4: SUBGRUPOS NORMAIS E GRUPOS QUOCIENTES 155

Exercício V.4.4. Procure todos os subgrupos normais de 53 e D..

Teorema V.4.5. Seja G um grupo e seja H um subgrupo normal de


G. Então o conjunto das classes laterais, com a operação induzida
de G, é um grupo.

DEMONSTRAÇÃO. Deixamos essa demonstração a cargo do leitor;


o elemento neutro de G/H é a classe lateral H; o elemento inverso
da classe gH é a classe g!H. 0

Definição V.4.6. Sejam G um grupo e H um subgrupo normal de


G. O grupo de suas classes laterais, com a operação induzida de G,
é chamado de grupo quociente de G por H; ele será denotado por
G/H ou por £.

Proposição V.4.7. Sejam G um grupo e G' seu subgrupo dos co-


mutadores. Então,

a) G/G' é abeliano.

b) G' é o menor subgrupo normal de G com esta propriedade,


isto é, se H<sG étal que G/H é abeliano, então H 2 G..

DEMONSTRAÇÃO. Deixamos isto como um exercício para o leitor.


[)

Proposição V.4.8. Seja G um grupo e seja Z(G) seu centro. Se


o quociente G/Z(G) é cíclico, então Z(G) = G. Em particular, o
índice de Z(G) em G nunca é igual a um número primo.

DEMONSTRAÇÃO. Seja Z um gerador do grupo G/Z(G). Então,


Vg EG, Jital que q = 7, logo tal que g = 2h com h E Z(G). Se
qa := 22h e go:= 22h, são dois elementos quaisquer de G, temos

9192 = 2“ hy22 ho = 2º" hyho = 2ºh,2" ha — qn,

pois A; e hz comutam com qualquer elemento de G. Isto mostra


que o grupo G é abeliano, i.e., que Z(G) = G. []
156 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Subgrupos gerados pela união de dois subgrupos:


Sejam H e K dois subgrupos de um grupo G. Temos
(HUK)2 HK:=(hklheHekeK+D
HUK.

Portanto é claro que


(HUK)=HK & HK é um subgrupo de G.
Procuramos agora condições para que HK seja um subgrupo.
Proposição V.4.9. Sejam H, K dois subgrupos de G. Então:

HK é um subgrupo deG o HK =KH.

DEMONSTRAÇÃO. (=>) Seja a € KH. Então existem k E K e


he Htais que a = kh. Temosa! = h-lk-!l e HK. Como HK
é por hipótese um subgrupo de Ge al e HK, então a E HK;
assim, provamos que KH €C HK. Para provar a inclusão contrária,
tome y € HK. Como HK é um subgrupo, temos y! e HK; logo
y1 = hoko com ho € H, ko E K. Tomando inversos, obtemos
Y=ko'ho' € KH. Portanto temos HK = KH.
(<=) Suponhamos que HK = KH. Para provar que HK é sub-
grupo, basta provar o seguinte:

|) vye HK,Vr,ye HK.


2) v!eHK,Vxe HK.
Sejam z,y € HK; escreva x = hiki e y = hok, com h,ho E H,
ki, ko E K. Temos

Ly — (h1k1)(hoko) — hi(kiho)ko.

Como kh, € KH e por hipótese KH = HK, existem hge ÉH e


ks € K tais que kiho = hsk3; substituindo na expressão para Ty,
obtemos
Ly = hi(h3ks)ko — (h1hs3)(kako) E HK.

Agora, temos também


t=hh>r!=k'h'eKH=HK. 0)
[SEC. V.4: SUBGRUPOS NORMAIS E GRUPOS QUOCIENTES 157

Corolário V.4.10. Sejam H e K dois subgrupos de G. Se H ou


K for normal em G, então HK é um subgrupo de G.
DEMONSTRAÇÃO. Faremos a prova no caso em que HaG e K é
um subgrupo qualquer; o outro caso é totalmente análogo. Vamos
mostrar que HK = KH. Seja a = hk e HK. Temos a = Ak =
kk !hk = k8 com 8:=k"!hk e H pois H 4G; portanto a = kf €
KH. Provamos então que HK C KH. Para provar a inclusão
contrária, seja y = kh e KH. Temos y = kh = khk”!k = dk com
ó:=khk-! e H pois H 4G; portanto y = dk e HK. O
Corolário V.4.11. Sejam H e K dois subgrupos normais de G.
Então HK é um subgrupo normal de G.

DEMONSTRAÇÃO. Já sabemos, pelo corolário anterior, que HK


é um subgrupo de G. Para provar que HK é subgrupo normal
devemos mostrar que

ghkg' ec HK, VgeEG, VheH, VkeK.


E de fato, temos

ghkg” = (ghg)gkg”") E HK,


pois por hipótese, H e K são ambos normais em G. 0)

Vamos agora exibir uma relação entre a cardinalidade do con-


junto HK e a cardinalidade do subgrupo H N K no caso em que
|IG| < oo. Note que na proposição abaixo não temos hipótese ne-
nhuma sobre o conjunto HK ser um grupo.

Proposição V.4.12. Sejam H e K dois subgrupos de um grupo


finito G. Então:
HIIK|
HK|= HnK|
DEMONSTRAÇÃO. Considere a seguinte função:

v:HxkK
—s HK
(A, k) — hk.
158 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Claramente, a função y é sobrejetora e &(H x K) = |HI|K|. Vamos


provar que y”!(x) tem exatamente |H N K| elementos, Vx E HK.
Provado este fato, é claro que temos então a igualdade desejada.
Seja x = hAk e HK. Vamos mostrar que

v“(hk) = ((ha !,ak); ae HNK),


o que nos dará claramente que |p"!(7)| = |H N K|. A inclusão D é
clara. Para ver a inclusão inversa, sejam hi € He ki €E K tais que
(h1,k1) E py” !(hk). Temos h;k; = hk, logo kk! = h7!h; tomando
a=kk!=h!htemosaceHNKe(h,k)=(ha!,ak).
Proposição V.4.13. Seja G um grupo. Sejam H e K dois sub-
grupos de G tais que HK seja um subgrupo. Então,

(HK:K)=(H:HNK)

(e smilarmente, (HK :H)=(K:HNK)).

DEMONSTRAÇÃO. À proposição afirma que se o lado esquerdo da


igualdade é finito, então o lado direito também é finito e vale a
igualdade; e vice-versa.
No caso em que |G| < oo, podemos dar a prova simples seguinte:

HK
(HK:K)= ET pelo Teorema V.3.5,

HK H
E = A pela Proposição V.4.12,

JH “H.HNK) elo Teorema V.3.5


HnKpo So ? o
No caso geral (i.e., no caso em que |G| pode ser infinita), seja
fhatocr um sistema de representantes das classes laterais à es-
querda de HNK em H. Evidentemente, se mostramos que (ha acer
ISEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 159

também é um sistema de representantes das classes laterais à es-


querda de K em HK, teremos provado a proposição. Ora, vejamos
primeiro que sea * 6, então haK & hgK. De fato, senão te-
remos h, = he? com ? € K; mas, como £ = ha ha E H, tere-
mos te HNKe portanto h(HNK) = h(HN K), absurdo.
Agora vejamos que toda classe lateral à esquerda de K em HK é
do tipo haK, para algum a € 7. De fato, seja EK, E ce HK, uma
tal classe lateral; escrevendo é = hk com he H, k e K, temos
EK = hkK = hK, e escolhendo a E T tal que h E h(H NK),
teremos £K = hK = hgK. L)

Exercício V.4.14. Seja G um grupo. Sejam AÁaGe Bal <G.


Mostre que AB <« AC.

V.5 Homomorfismos de Grupos


Definição V.5.1. Sejam (G,-) e (G, x) dois grupos. Uma função
f:G > G é um homomorfismo se ela é compatível com as estru-
turas dos grupos, isto é, se

fla-b)= fla) x f(b), Vabe G.

Exemplo V.5.2. 1) Id: (G,) > (G,º), Id(g) = 9, é um homo-


morfismo chamado identidade.

2)e:G > G, e(g) = eg, para todo g € G, é um homomorfismo


chamado homomorfismo trivial.

3) Seja n E Z fixo. Então, pp: (2,4) > (Z,+), Pnlz) = nz, é


um homomorfismo. Mais geralmente, se (G,-) é um grupo abeliano
então Pr: G — G, Pn(9) = 9”, é um homomorfismo.
4) Seja HaG, então p: G > G/H, y(9) = 9H, é um homomorfismo
chamado de projeção canônica.
5) Seja g € G fixo. Então, LT: G — G, Ly(x) = gxg"!, é um
homomorfismo bijetivo.
160 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

6) Considere os elementos
1 =— (1,0), Co — (0, 1) e Os — (1, 1) de (Z/2Z)x(Z/22).

fi: 2/27 — (2/22) x (2/27)


0 — (0,0)
1 > Q;

é um homomorfismo injetivo (Vi = 1,2,3).

Propriedades elementares:
Seja f: (G,-) — (G, x) um homomorfismo de grupos. Então:
1) f(eg) = eg.

De fato, f(ec) = f(ec - ec) = flec) x Ff(ec).


») Ha) = far
De fato, eg=f(eo)-Hr-x)=f(x)x f(x!).
3) ker f:i= (xe G | f(x) = eçi é um subgrupo normal de G
chamado núcleo do homomorfismo f.

DEMONSTRAÇÃO. Vejamos primeiramente que ker f < G. Dados


z,y E ker f, temos:

Hay) =f(x)x fly) =eg x eg = eg,


Ha )=fa)"=eç =eg;
portanto ker f < G. Para provar que ker f «G devemos mostrar
que:
grg *ekerf, V9geG e Vreker f.
E de fato, temos

Hgxg = f(9) x f(x) x f(gD) = f(9) x eg x fg)!


= f(9) x f(g) ! = eg. O
ISEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 161

49) Im(P) = (ye G|y = f(g) para algum g € G) é um subgrupo


de G (Prove!), chamado Imagem de f.
5) Se H é um subgrupo de G, então f(H) é um subgrupo de G e
temos f!(f(H)) = Hker f.
DEMONSTRAÇÃO. À prova de que f(H) é um subgrupo é similar à
prova de que Im(f) é um subgrupo de G (note que Im(f) = f(G)).
Vamos provar que f!(f(H)) = Hker f. Seja h-k € Hker f, isto
é,heHekeker
f; temos

Fh-k) = FHh) x Hk) = fh) x eg = F(h) e FU);


provamos assim que

Hker f Cf (F(H)).
Para provar a inclusão contrária, tome y e f!(f(H)). Por definição,
f(y) e f(H); existe então h E H tal que f(y) = f(h), logo, multi-
plicando por f(h”!) à esquerda, tal que f(h)”! x f(y) = eg, isto é,
tal que hT! .ye ker f. Assim, y=h-(h!.y) € Hker f. C]
Note que a igualdade f!(f(H)) = Hker f implica que
f(f(H)) é um subgrupo de G, pois ker f é um subgrupo nor-
mal de G. Mais geralmente, temos:
6) Se H é um subgrupo de G, então f!(H) é um subgrupo de G
contendo ker f e temos que f(f1(H)) = HN Im(f).
DEMONSTRAÇÃO. À hipótese H < G implica eg € H e, portanto,
temos
f'(H)D f'(eg) = ker f.
Deixamos a cargo do leitor a prova de que f!(H) é subgrupo.
Verifiquemos a igualdade f(f(H)) = HNImf.
e À inclusão f(f'(H)) CH N Im(f) é trivial.
e Para provar a inclusão oposta, tome y € KH N Im(f); como o
elemento y € Im(f), existe g E G tal que f(g) = y. Como y E H,
então ge f HH) e assim y = f(g) e FCI H(H)). DO
162 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Note que no caso particular em que f: G — G é um homomor-


fismo sobrejetor temos:

ITD) =H.
7) ker f = (ec) & f é injetiva. (Prove!)
8) Se O(x) < oo então O(f(x)) divide O(x).
DEMONSTRAÇÃO. Seja n = O(x). Temos x” = eg, logo

eg = Jteo) = Ha") = f(x)”,


e portanto O(f(x)) divide n (vide Proposição V.2.12). a

9) Sejam f:(G,)>(G,x) eh: (9,x) > (H,O) dois homomor-


fismo de grupos. Então a composição ho f: (G,) > (K,O) é um
homomorfismo.
DEMONSTRAÇÃO. Sejam x,y € G quaisquer. Temos

ho f(x -y)= (fa y)) = (fx) x f(y)) = h(f(x)) O h(F(9))


= (ho f(r))O (ho f(y)).
L]

Definição V.5.3. Um homomorfismo f: G — G é um isomorfismo


se existe um homomorfismo g: G — G tal que fog =idçego
f = idg. Quando existe um isomorfismo entre dois grupos G e G,
dizemos que G e G são isomorfos e denotamos G = G.
Proposição V.5.4. Seja f: (G,:) > (G,x) um homomorfismo de
grupos. Então, f é um isomorfismo se e somente se f é bijetivo.
DEMONSTRAÇÃO. (=>) trivial.
(<=) Para provar isto, mostraremos que se f é um homomorfismo
bijetivo, então f”! é um homomorfismo, isto é,
fax 6)=f(a)- (8), Vabeg.
Sejam então «,8 EG, esejama= f"'(a) eb = f!(8); temos
ax 6) = 1"Y(a) x $(0) = Hab)
-ab= (a): 146). o
[SEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 163

Observação V.5.5. Seja f: G — G um homomorfismo injetivo de


grupos. Então

O(f(x)) = O(x), VrxeG (Provel).

Exemplos de isomorfismos:
1) Os grupos $3 e SA são isomorfos. De fato, considere a bijeção y
abaixo:

p: o — SA

123
(231) =o a Paz
(312) =E a — Re
312 5
123
(213) — 0 4 0
123
(351) =— a o Bo

123 ,
(132) = cbr
Mostre que «y é um homomorfismo, logo um homomorfismo bijetivo,
e portanto um isomorfismo.
2) Os grupos D, e D, são isomorfos. De fato, considere a bijeção
p abaixo:

p: D, — Do
id — id
1234
(2341) = em Es
a” > Rr
0º > Ra
2
164 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

1234
(4921) = br Rn
ab — Ri
28 + Rm
o 6 > By

Mostre que y é um homomorfismo, logo um homomorfismo bi-


jetivo, e portanto um isomorífismo.

Teorema V.5.6. (Teorema dos isomorfismos).


Seja f: (G,:) > (G,x) um homomorfismo de grupos. Então,

1) À função induzida

é um isomorfismo.

2) As seguintes funções

subgrupos de G 1-1
Ea contém ker H + tsubgrupos de f(G))
Hr HH)
HH) + K,

são bijeções, inversas uma da outra. Além disso, estas bijeções


levam subgrupos normais em subgrupos normais, isto é:

a) HaG
> HH) a f(G).
b) HS HG) => (HO) 4G.
[SEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 165

DEMONSTRAÇÃO. 1) Primeiramente, devemos verificar que f é


uma função bem definida, isto é, se gker f = gker f então temos
f(g) = f(g). Mas, gker f = gker f implica que g = 9- k, para
algum k € ker f e, portanto,

Hg) = H9-k)
= fg) x H(k)
= H(9) x eg = (9).
Agora, f é claramente uma função sobrejetora e, para q,9' E G,
obtemos

flgker f- g'ker 1) = Hlgg)ker 1) =FHg-9)


— (9) x f(9) = f(gker f) x f(g'ker f);
assim f é um homomorfismo. Agora,

ker f = (gker f| f(9) = eg) — (gker f |g e ker f) =ker f;


assim ker f = feg/rer fy ou seja, a função f é injetiva.
2) Já sabemos que f'(f(H)) = H(ker D), VH < G, e também
que (IF (H) =HNHG), VH<G. Daí, se H OD ker f então
rf) =H,eseHc f(G) então H(f!(H)) = H. Obtemos
assim que as duas funções definidas em 2) são uma a inversa da
outra. Só falta então mostrar que essas funções levam subgrupos
normais em subgrupos normais.

Prova de a): Dados y € H(G) ex € f(H) quaisquer, devemos


mostrar que yzy * e f(H). Temos y = f(g) ex = f(h), com
geGeheH,elogo yry! = Hy)fh)f(g!) = f(ghg”!); como,
por hipótese, H «G, temos ghg! E H e portanto yzy ! e f(H).
Prova de b): Dadosg E Geae fI(H) quaisquer, devemos
mostrar que gag”! e fH(H). Temos

flgag )=fHnflo)f(g)! e Hao)eXH;


como, por hipótese, H a f(G), temos f(gag!) E KH e portanto
obtemos gag * e f(H). 0]
166 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Corolário V.5.7. Seja f: G — G um homomorfismo de grupos e


seja H um subgrupo de G. Então a função

Mo — HH)
HENkerf
h-(HNker f)— f(h)

é um isomorfismo.

DEMONSTRAÇÃO. Considere o homomorfismo f restrito a H:

fla: H -—+G
h > f(h).

Claramente, flyu(H) = f(H) eker(f|lu) = (ker NH. Aplicando a


parte 1) do teorema dos isomorfismos ao homomorfismo f|y, obte-
mos o corolário. U

Corolário V.5.8. Seja H um subgrupo normal de G. Então a


função

puto (normais) de G - G
. | subgrupos (normais) de —
que contém H H
K > K/H
é uma bieção.

DEMONSTRAÇÃO. Considere o homomorfismo q: G — E, dado


por (9) = gH. Claramente, y é um homomorfismo sobrejetor e
ker py = H. Aplicando a parte 2) do teorema dos isomorfismos ao
homomorfismo y, obtemos o corolário. L)

Corolário V.5.9. Sejam HaG e K <G. Então,

K KH
Hnk Ho
ISEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 167

DEMONSTRAÇÃO. Já que H «G, sabemos que KH é um subgrupo


deGeque HK = KH. Claramente, HaG > HaKH e, portanto,
faz sentido considerar o grupo quociente KH/H. Considere o ho-
momorfismo canônico KH > KH/H e seja plx à sua restrição ao
subgrupo K < KH, isto é:
KH
Plr: K — “Ho
ks kH.

Claramente, ker(vlx) = (ke K |kH = Hj = HNK. Seja


agora a € KH/H; temos a = (kh)H para algum k E K e algum
he H;logo a = (kh)H = kH = plK(k) e portanto p|x é sobre-
jetor. Aplicando agora a parte 1) do teorema dos isomorfismos ao
homomorfismo |K, obtemos o corolário. []
Corolário V.5.10. Sejam K <H < G com KaG e HaG. Então,
G/K “sG
H/K H'
DEMONSTRAÇÃO. Considere o homomorfismo
G G

9K — gH.

A função 1) é bem definida, de fato gK = 9K implica que g = 9k


para algum k € K, e portanto vemos que gH = gkH = 9H pois
temos k e K €C H. Claramente, é sobrejetor e ker y = H/K.
Aplicando a parte 1) do teorema dos isomorfismos ao homomorfismo
y, obtemos o corolário. 0
Exemplo V.5.11. Considere

(Z,+) > (Un, *)


k 1 erki/n

Claramente y é um homomorfismo sobrejetor e ker y = nZ; por-


tanto (Z/nZ, O) = (Un, -).
168 ICAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Definição V.5.12. Seja (G,-) um grupo. Um automorfismo de G


é um isomorfismo f: G — G. O conjunto dos automorfismos de G
será denotado por Aut(G). É fácil verificar que a composição de
dois automorfismos de G é um automorfismo de G e que (Aut(G),0)
é um grupo, onde “o”
66,7)
denota a operação composição de funções.

Exemplo V.5.13. Já foi observado que Z;: G — G, definido por


To(x) = 9x9"!, é um homomorfismo bijetivo e portanto um auto-
morfismo de G, chamado automorfismo interno associado ao ele-
mento g € G. O conjunto dos automorfismos internos de G será
denotado por T(G); assim

T(G) = (L, |g e GJ C Aut(G).

Proposição V.5.14. (T(G),º) é um subgrupo normal de (Aut(G), 0).


DEMONSTRAÇÃO. Que T(G) é um subgrupo de Aut(G), segue das
igualdades:

(Lo) '=T e Tao = Ing (Verifique!).

Vamos agora mostrar que T(G) é normal em (Aut(G),o), isto é,


dados o E Aut(G) e g E G quaisquer, temos coT, oo"! E T(G).
Para todo x € G, temos:

(coTgoo x) =coT(o (x) =o(go”"(x)g”)


= o(g)xo(g)”* = To(g(2);
portanto, coT,oo”! = Ts E T(G). 0
Observação V.5.15. 1) Seja G um grupo. Um elemento g € G
comuta com todos os elementos de G se e só se TZ, — id. Portanto,
o grupo G é abeliano se e somente se T(G) = (id).
2) HaG & H é estável por todos os automorfismos internos de G
Le, T(D) CH, VgeG).
3) Existem automorfismos que não são automorfismos internos. Por
exemplo, seja G um grupo abeliano que possui um elemento y de or-
dem > 3; éfácilver que p: G > G, p(x) = x”!, é um homomorfismo
[SEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 169

bijetivo e portanto um automorfismo de G; p não é a aplicação iden-


tidade pois p(y) = y * £y e portanto, pela Observação V.5.15,1),
p não é automorfismo interno. Assim, em particular, obtemos que

Z> To. Zdl- ZdZ (comd>3)


nte —n Toso o —T
são exemplos de automorfismos que não são internos.

Definição V.5.16. Um subgrupo H de G é dito subgrupo carac-


terístico (denotado por H <] G) se ele é estável por todos os auto-
morfismos de G, i.e. seo(H) €C H, Vo € Aut(G). (Equivalente-
mente, seo(H) = H,Vo € Aut(G)). Claramente, HZ G > H<sG.
Exemplo V.5.17. fe, G, Z(G) e G' são subgrupos característicos
de G. (Prove).
Exercício V.5.18. Se H é o único subgrupo de ordem n de um
grupo G, então H < G.
Proposição V.5.19. Seja Kd HaG. Então K «G.
DEMONSTRAÇÃO. Queremos mostrar que T(K) = K, Vg E G.
Sejage Ge: G>G, Lx) = gxg!. Considere a restrição de
La H:

Lou: H -—s G

h-— ghg”.

Como, por hipótese, H «G, temos Z,lyu(H) = L(H) = H; portanto


temos que Z,|y é um automorfismo de H (não é um automorfismo
interno de H em geral, quando g não pertence a H). Como, por
hipótese, K<l H e como T,|y € Aut(H), temos

TolK) = Tolu(K) = K.
[]

Observação V.5.20. Em geral, Kas H<«G não implica que K seja


normal em G. Por exemplo no grupo D., temos (Rj) (Ri, Rr) ID,
mas (R,) não é normal em D,. (Verifique!)
170 ICAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Exercício V.5.21. Considere a função

T:(G,:) — (T(G),0)
9 Lo.

Por definição T é uma função sobrejetiva.


a) Mostre que 7 é um homomorfismo de grupos.
b) Mostre que ker T = Z(G) e que T(G) — G/Z(G).
c) Mostre que se G não é abeliano, então T(G) não é cíclico.

Determinação dos homomorfismos entre dois grupos:


Sejam G e G dois grupos e seja Hom(G,G) o conjunto dos ho-
momorfismos de G em G. Sabemos que todo homomorfismo de G
em & tem um subgrupo normal de G como núcleo. Portanto,

Hom(G,G) = U (Homomorfismos de G em G com núcleo H+.


HdG

Seja H um subgrupo normal de G, e seja py: G > G/H o homo-


morfismo canônico. É claro que (1) o yH; y homomorfismo injetivo
de G/H em G) € (Homomorfismos de G em G com núcleo H).
Pelo Teorema dos isomorfismos, temos a inclusão inversa. Assim,
obtemos

Hom(G,G) = J fvoypH; 1 homomorfismo injetivo de G/H em G+.


HaG

Observe ainda que a função sobrejetiva abaixo

Homomorfismos injetivos o, Homomorfismos de G


de G/H emG em G com núcleo H
PS pop

também é injetiva, e portanto é uma bijeção.


[SEC. V.5: HOMOMORFISMOS DE GRUPOS 171

Exemplo V.5.22. Vamos determinar Hom(53, 93).


Sabemos que S; = [id,0,02,8,0/,028) com a = (54) e com
B = (513), e que seus subgrupos normais são (id), fid,w,0o”) e Ss.

e Para H = (id), temos S3/H = S3 e procuramos os homomor-


fismos injetivos de S3/H em S3, i.e., procuramos os automorfismos
de S3. Ora, um homomorfismo f de S3 em 93 é completamente de-
terminado pelos seus valores f(a) e f(5). Para que f possa ser um
automorfismo, é necessário que f(a) tenha a mesma ordem que a
(a saber 3), logo que f(a') seja igual a a ou a”; também é necessário
que f(/3) tenha a mesma ordem que $ (a saber 2), logo que f(6) seja
igual a 3,48 ou q?8. Portanto, temos exatamente seis candidatos
a automorfismos de S3. Por outro lado, temos T(93) C Aut(53) e
T(S3) = S3/Z(593) = 93, logo Aut(S3) tem pelo menos seis elemen-
tos. Concluimos portanto que os seis candidatos a automorfismos
de S3 são de fato automorfismos e que

T(S3) = Aut(S3) = (fi: 83 — 83; fla) = 0º, fij(B) = 08,


comi=1,2e7=0,1,2>.

e Para H = (id,a,0”), temos S3/H= (e = id,B) e procuramos os


homomorfismos injetivos de (e= id, BY em S3. Ora, para que uma
aplicação 1) de je = id, BY em S; possa ser um homomorfismo, é
necessário que y(/) tenha ordem igual a um divisor da ordem de j,
i.e., um divisor de 2; para ser injetiva, é necessário que 1)(5) id.
Portanto, temos exatamente três candidatos a homomorfismos in-
jetivos de fe = id,8) em S3, a saber os homomorfismos definidos
por y(8)= 8,08 ou a28. É imediato verificar que, definidos desta
maneira e com W(id)= id, os três candidatos são de fato homomor-
fismos injetivos de ( = id, 8) em S3. Portanto, obtemos

(Homomorfismos de S; em S3 com núcleo fid,a,a?H


— (ve O Plida,a2) Ve: fid, 8) — 93) be(B) — o" 8, l = Ô, 1,2)
— (go: 53 — 53; ge(a) — id, ge(8) — a 8, b — Õ, ), 2).
172 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

e Para H = Ss, temos S3/H = id). É claro que p: fid) — 63


definido por p(id) = id é o único homomorfismo (injetivo) de (id)
em 53 e portanto que

fHomomorfismos de 53 em S3 com núcleo S3|


= [Homomorfismo trivial).

Exercício V.5.23. Determinar os homomorfismos do grupo 53 em


Z/27, x Z/27.

V.6 Grupos Cíclicos


Proposição V.6.1. a) Se H € Z, então H é um subgrupo de
(Z,+) scesóseH =nZ comnenN.
b)mZ O nZ seesóse m |n; neste caso, temos (mZ : nZ) = n/m.
DEMONSTRAÇÃO. a) já foi feita.
b) É claro que mZ 2 nZ & m|n.
Suponhamos que nZ < mZ < Z; tomando K = nZe H = mZ
no Corolário V.5.10, obtemos

Z/nZ, o zo
mZ/nZ mZ
portanto, n/(mZ : nZ) =m e daí (mZ : nZ) = n/m. []
Proposição V.6.2. Seja G = (a) = [...,ale,a,a2,...) um
grupo cíclico de ordem infinita. Então:

a) A função f: (Z,4) > (G,º), f(z) = à”, é um isomorfismo.


b) O elemento a” gera G see somente sez= 1 ouz=-l.

DEMONSTRAÇÃO. a) À função f: (Z,+) > (G,:), f(z) = a”, é um


homomorífismo pois

HMara)j=0"2 =9"2.02=f(m)-f(vo), Va,meZ;


ISEC. V.6: GRUPOS CÍCLICOS 173

a função f é claramente uma bijeção e portanto um isomorfismo.


b) À função f: z > a” sendo um isomorfismo, temos que a” gera G
se e somente se z gera Z. Agora, claramente, os únicos elementos
que geram Z são z = louz=-l. [)

Proposição V.6.3. Seja G = (a) = (fe,a,...,a""!) um grupo


cíclico de ordem finita igual an. Então:

a) A função f: (Z/nZ,&) > (G,:), f(m) = a”, é um isomor-


fismo.

b) O elemento a” gera G se e somente se M.D.Cim,nj =.

DEMONSTRAÇÃO. a) Como vimos na prova da Proposição anterior,


a função f de Z em G dada por z +» a” é um homomorfismo,
claramente sobrejetor. Sendo isomorfo a G, o grupo Z/ker f tem
n elementos e portanto ker f = nZ.
b) À função m + a” sendo um isomorfismo, a” gera G se e somente
se m gera (Z/nZ, &), logo se e somente se M.D.C.(m,nk=1. OD

Proposição V.6.4. Seja G = (a) = fe,a,... ja”! um grupo


cíclico finito de ordem n.

a) Se H é um subgrupo de G, então H é cíclico. De maneira


precisa, H = (a”) onde m é o menor inteiro positivo tal que
a” E H; o subgrupo H tem ordem igual a n/m.

b) Sed é um divisor den, então existe um único subgrupo H de


G com ordem igual a d. Este subgrupo H é igual a (a"/9).

DEMONSTRAÇÃO. À proposição é uma consequência da Proposição


V.6.3 e da Proposição V.6.1. Fazemos abaixo uma prova direta que
utiliza, essencialmente, os mesmos argumentos.
a) Seja m o menor inteiro positivo tal que a” E H. Claramente,
(a”) C H. Reciprocamente, seja a“ € H; vamos mostrar que m | u
174 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

(o que claramente implicará que a” € (a”)). Fazendo a divisão de


u por m, temos

u=qgm+r com OU<r<m,

logo a” = (a")].a”. Como a! E Hea” e H,entãoa” E He


portanto, pela minimalidade de m, temos 7 = 0; logo m | wu. Agora,
é fácil verificar que a ordem de a” (e portanto a ordem de H) é
igual a n/m.
b) Seja d um divisor de n. O subgrupo (a”/?) tem ordem d. Vamos
agora provar a unicidade. Seja então H um subgrupo qualquer de
G de ordem d; pela parte a), temos que H = (a”) com m inteiro
tal que — seja a ordem de H, isto é, tal que 2 = d; portanto temos
m=n/de H = (a/9. []
Exercício V.6.5. Mostre que todo grupo quociente de um grupo
cíclico é cíclico.
Proposição V.6.6. Seja (K,+,-) um corpo e seja (G,-) um sub-
grupo finito do grupo multiplicativo (K*,-). Então G é cíclico.
Em particular, se p é um número primo, então o grupo multi-
plicativo (Z/pZ)* é cíclico, i.e., (Z/pZ)* = Z/(p — DZ.
DEMONSTRAÇÃO. Seja r := max(O(g); g € G). Evidentemente,
pelo Teorema de Lagrange, r < |G|. Como G é abeliano e finito,
então pela Proposição V.3.11, O(x) divide r para todo x E G.
Assim, todos os elementos do grupo G são raízes do polinômio
XxX" — 1 € K|[X]. Pelo Corolário 11.1.7, isto implica que |G| < 7, e
portanto |G| = r. Então, se y € G tem ordem r, este elemento y é
um gerador do grupo G e logo G é cíclico. [)

Homomorfismos e automorfismos de grupos cíclicos:


Proposição V.6.7. Sejam G eG dois grupos, ae G, be G.

a) Se O(a) < oo, então existe um homomorfismo f: (a) — G


tal que f(a) = b se e somente se O(b) divide O(a). Quando
existir, o homomorfismo f é único e definido por f(a”) = b”,
VrenN.
[SEC. V.6: GRUPOS CÍCLICOS 175

b) Se O(a) = co (e O(b) qualquer), então existe um único ho-


momorfismo f: (a) — G tal que f(a) = b. Tal homomorfismo
é dado por f(a”) =b”, Vr E Z.

DEMONSTRAÇÃO. Se O(a) < co e O(b) não divide O(a), já sabe-


mos que não existe homomorfismo f: (a) — G tal que f(a) = b.
Agora, se O(a) = co ou se O(a) < oo e O(b) divide O(a),
considere f: (a) — G, definido por f(a”) = b”. Observe que no
caso de O(a) < oo, um mesmo elemento € E (a) pode ter duas
representações é = a” e € = aº; para que f seja uma função bem
definida devemos verificar que o valor f(£) é independente desta
representação, isto é, devemos verificar que se 7 e s são dois inteiros
tais que a” = a”, então b" = bº. De fato, sejam é — a" e € = af
duas representações de é. Temos a”"* = e, logo r — s é múltiplo de
O(a); como O(b) divide O(a), temos que r — s é múltiplo de O(b) e
portanto que 5"”* = e, donde b” = bº*. Assim, vemos que nesse caso
a função f é bem definida.
Se O(a) = oo, então todo elemento é E (a) tem representação
únicaf£=a” (poisa” =a Sa! =esr-s=06r=s5).
Portanto, se O(a) = oo, f é realmente uma função, qualquer que
seja a ordem do elemento b E G.
Deixamos a cargo do leitor a verificação de que a função f assim
definida é realmente um homomorfismo.
Este é o único homomorfismo que leva a em b pois, se q é um
homomorfismo tal que g(a) = b, então temos g(a”) = g(a)” = br”,
Yr € Z, e portanto temos g = f. [

Exemplo V.6.8. Seja G = Z/82 = (1) e G = Z/I0Z =


(0,1,3,...,9).
Procuramos todos os homomorfismos f de G em G. Os elemen-
tos b E G tais que O(b) divide O(1) = 8 são 0,5. Portanto, pela
176 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

proposição anterior, os homomorfismos de Z/8Z em Z/10Z são:

Z, 7,
h: — —sS — — que é o homomorfismo trivial, e
87, 10Z
ni 0

6: Z Z
2 87 10Z
ns 5n.

Exercício V.6.9. a) Procure todos os homomorfismos de Z/4Z em


Da.

b) Procure todos os homomorfismos de Z/6Z em S3. Mostre que


nenhum deles é um isomorfismo.

c) Procure todos os homomorfismos de Z em S3.

d) Procure todos os homomorfismos de Z/5Z em Da.

e) Seja G um grupo finito. Mostre que y: G — Z, dado por


p(g) = 0, Yg € G, é o único homomorfismo de G em Z.

f) Seja G = (a) um grupo cíclico e seja f: G — G um homo-


morfismo de grupos. Mostre que f é um automorfismo se e
somente se f(a) é um gerador do grupo G.

Proposição V.6.10. Aut(Z) = (Id, —Id+.

DEMONSTRAÇÃO. Aplique o Exercício V.6.9 f), acima. E

Proposição V.6.11. Sejan > 1 um inteiro e seja (Z/nZ)* o grupo


multiplicativo dos elementos invertíveis do anel Z/nZ. Então temos
T(Z/nZ) = (Id) ea aplicação y: Aut(Z/nZ) > (Z/nZ)*, definida
por W(f) = f(1), é um isomorfismo.
[SEC. V.6: GRUPOS CÍCLICOS 177

DEMONSTRAÇÃO. Que T(Z/nZ) = (Id) é claro pois Z/nZ é um


grupo abeliano. Agora, se f: Z/nZ = (1) — Z/nZ é um automor-
fismo, então f(1) é um gerador de (Z/nZ, &), logo f(1) E (Z/nZ)*.
Podemos portanto definir:
Z Z No
vº (ae).o) = ((2) 0)
fr f(0).
Verificamos que a aplicação 1) é um homomorfismo de grupos: sejam
então f,g E Aut(Z/nZ) e sejam f(1) = Z e g(1) = Z; temos

(go 1) = (90º DO) = 96H) = (a)


=90+1++D=9D+9(D+-+g(l)
E,

=2+t2B+Hcc+tH=242%4-
=+z
e eee?

=2Z:7=W(g)-Wlf).
O homomorfismo Y) é injetivo pois (f)=1IS HD=I&S
f)=HrD=r-MD)=rl=r, Vr eo f=Id.
Mostramos agora que 1%) é sobrejetiva. Se r é um elemento qual-
quer de (Z/nZ, ) então, em virtude da Proposição V.6.7 parte a),
podemos sempre definir um homomorfismo

pi (Lo) — (La
ro nZ n nZ” n

ars Ta,

pois O(r) divide n = O(1) (a ordem de um elemento de um grupo


sempre divide a ordem do grupo). Agora, tal homomorfismo f,
será um automorfismo de Z/nZ se e somente se 7 for um gerador
de (Z/nZ, &), isto é, se e somente se 7 E ((Z/nZ)*,-). Portanto,
tomando m E (Z/nZ)*, fm é um automorfismo de (Z/nZ, &) tal
que Y(fn) = fm(1) =m. Daí a sobrejetividade. D
178 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

À proposição seguinte já foi provada no contexto dos anéis.


Damos agora uma nova prova que somente usa os conceitos ele-
mentares da teoria dos grupos.

Proposição V.6.12. (Teorema chinês dos restos).


Sejam mi,...,m, números inteiros dois a dois primos entre si.
Então a aplicação diagonal

A:Z— (Z/miZ) x --- x (Z/m,Z)


2 S> (2+mZ ,..., z+mZ)

é sobrejgetiva.
Equivalentemente, Vz1,...,2 E Z, existe z E Z tal que

2 = »modm,,

2 = 2 modm,.

DEMONSTRAÇÃO. Seja a := (1 +miZ,...,I+m,Z) € (Z/mZ) x


x (Z/mZ). E claro que O(o) = mi ...m,| = (Z/mZ) x: x
(Z/mpZ)|, pois mi,...,m, são dois a dois relativamente primos;
logo a é um gerador do grupo aditivo (Z/miZ) x --- x (Z/m,Z).
Portanto, V21,...,2% E Z, existe z € Z tal que

(21 + m£, es Rr +mZ) = 20,

i.e., tal que

(2 +mZ,...,w+rmZ) = (2+mZ,...,2+mZ). 0)

Corolário V.6.13. Sejam mi,...,m, números inteiros dois a dois


primos entre st. Então a aplicação

A:Zim..mZ — (Z/mZ) x ---x (Z/m,Z)


ztm...mi
ro (2+mZ ,..., z+mZ)

é um isomorfismo de grupos.
ISEC. V.6: GRUPOS CÍCLICOS 179

DEMONSTRAÇÃO. À aplicação diagonal A: Z > (Z/mZ) x --- x


(Z/m,Z) é claramente um homomorfismo de grupos cujo kernel é
igual a my ...m,Z, pois m,,...,m, são dois a dois relativamente
primos. Pela proposição anterior, a aplicação À é sobrejetiva. Por-
tanto, À é um isomorfismo pelo Teorema dos isomorfismos. L)

Exercício V.6.14. Seja

D:N >>N
no &fl<r<n | MD.Cfr,nj=1)

a função de Euler. Com a multiplicação módulo n, o conjunto


(I<r<n; MD.C.fr,ny = 1) é o grupo (Z/nZ)*.
a) Sejam n,m dois inteiros primos entre si. Queremos mostrar que
$(mn) = $(m)B(n). Usando o Teorema 1.4.7, obtemos facilmente
o resultado. Sugerimos agora um novo roteiro que usa somente os
conceitos da teoria dos grupos.
Para todo inteiro r > 1, sejam r; o resto da divisão de r por n
e r9 0 resto da divisão de r por m. É claro que temos

M.D.C.fr,ny=1
M.D.C.frnmb=1&
M.D.Cirmk=1
M.D.C.fry,n) = 1

M.D.C.(ra,m) = 1.

Portanto, temos uma aplicação

y: (Z/nmZ)* — (Z/nZ)* x (Z/mZ)*


rs (ryro).

1) Mostre que é uma bijeção; portanto (nm) = &(n)d(m.).

2) Mostre que 1%) é um homomorfismo, e portanto um isomor-


fismo, entre o grupo (Z/nmZ)* e o grupo (Z/nZ)* x (Z/mZ)*.

b) Seja n = pi'...p' com p,,...,ps números primos distintos e


t;,..., ts números inteiros > 1.
180 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

1) Mostre que H(n) = O(pi) ... Ops).


2) Mostre que (Z/nZ)* = (Z/pi Z)* x --- x (Z/pi Z)*.

c) Seja p um número primo e seja t > 1 um número inteiro. Mostre


que O(p') = pp — 1).
Mais preciso do que a parte c) do exercício anterior, temos o
seguinte resultado:

Proposição V.6.15. a) Se p é um número primo ímpar, então


temos (Z/p'Z)* = Z/p" !(p — 1)Z para cada inteiro t > 1.
b) Temos (Z/2Z)* = (7/22) x (2/2227) para cada inteiro t > 2.
DEMONSTRAÇÃO. a) Podemos supor t > 2, pois o caso t = 1
já foi provado na Proposição V.6.6. Considere o homomorfismo
sobrejetivo de grupos multiplicativos

(2/2) > (Z/pZy


a-a+r+pZ
> a + pZ.

Temos ker f = (a; «a = Imodp+. Pelo Teorema dos isomorfismos,


temos também | ker f| = p'!.
AFIRMAÇÃO 1. ker f é um grupo cíclico gerado por p + 1.
Para provar esta afirmação, basta ver que
—— pt —2
(p+I) +1 em (Z/p'Z).

E de fato, temos (aqui usamos p primo ímpar):

(p + 1)? -s Ci t— o

=p"!4+1£1 (mod p'.

Consideramos agora o seguinte subgrupo H de (Z/p'Z)*:

H.=la | qr — 1h.
[SEC. V.6: GRUPOS CÍCLICOS 181

Sea e HNker f, então O(a) divide p — 1 e divide também p*,


logo O(a) = 1. Portanto H Nkerf = (1).
AFIRMAÇÃO 2. H é um grupo cíclico com |H| =p — 1.
De fato, primeiramente observamos que das duas relações se-
guintes
IH ker fl<Z/v'2)'|=(p-1Dp” e

|H (ker f)| = H nkerf —


o |H]| ker f| == |H| pl
?

obtemos |H| <p -— 1.


t—1 ———p
Observamos agora que 127", 2 pe p—l ”" são elementos
de H. De fato, temos (O ya = ()e-V” =1, já que (Z/p'Z)
tem ordem (p — 1)p*”!. Estes elementos são distintos pois eles têm
imagens distintas em (Z/pZ)* pelo homomorfismo f definido acima.
Logo temos |H|=p-— 1.
Vejamos agora que o grupo H é realmente cíclico. Seja b € Z tal
que (b+pZ) é um gerador do grupo cíclico (Z/pZ)* e tome h := 6?”
Então, a classe h pertence a H. Para verificar que H = (h) (e obter
em particular que H é cíclico), basta mostrar que (p — 1) divide
O(h). Temos f(h) = (b + pZ) e portanto (p — 1) = O(b + pZ) =
O(f(h)) divide O(h). Isto termina a prova da Afirmação 2.
Considere agora o elemento

a:=(p+1)-he(Z/p'Z)*.
e

Como O(p+ 1) = pl e O(h) = p— 1 são primos entre si, então


pela Proposição V.3.11a), temos

O(a) = O(p
+ DO(h) =p” (p— 1),
e assim concluímos que a é um gerador para o grupo (Z/p'Z)*.
b) Vide P. Ribenboim, Algebraic Numbers, Chapter 3K. O
182 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

V.7 Grupos Finitos Gerados por dois


Elementos
Os grupos gerados por um elemento, i.e., os grupos cíclicos, foram
facilmente classificados. Em compensação, os grupos gerados por
dois elementos podem ser extremamente complicados. Vamos então
restringir nosso estudo aos grupos finitos gerados por dois elemen-
tos muito particulares, a saber os grupos finitos G = (a,b) com
elementos a, b satisfazendo uma relação do tipo ba = a*b. Os resul-
tados que obteremos serão de grande utilidade na classificação dos
grupos de ordem pequena.
Considere
a Sia (128) 0 (128 (a -B 123) (123
3 Vologs)/ Cigg/ los) “iso / asa) f'
Vemos que 93 é um grupo de ordem 6 tal que:

Sa = (a,8)
a“ = id
Bº = id
Ba = 0º8.
Reciprocamente, vamos mostrar que se G é um grupo de ordem 6
no qual existem 4 e B tais que:

G=(4,B)
Aê=e
Bº-e
BA
= AºB,
então existe um isomorfismo entre $3 e G. ÃÁssim, a menos de
isomorfismos, o grupo S$3 é caracterizado como sendo o grupo de
ordem 6 gerado por dois elementos a e 5 que satisfazem as relações

o =e

B*=e
Ba = qº8.
[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 183

Similarmente, Do — fid, Rz = A, Rr, Rar, Ri, Ro, Rm, Rn — B) é

um grupo de ordem 8 tal que:

D., = (4, B)
A! = id
Bº=id
BA = AºB;

vamos ver também que /), é caracterizado, a menos de isomorfis-


mos, por geradores satisfazendo estas relações.
Primeiro, precisamos determinar a natureza dos homomorfismos
definidos sobre um grupo gerado por dois elementos satisfazendo a
relação ba = ab:

Teorema V.7.1. Seja s > 1 um inteiro. Sejam G um grupo fito


ea,b Ee G satisfazendo ba = ab (equivalentemente, Tila) = aº).
Sejam G um grupo ea,B EG. Sejam nm > 1 inteiros tais que

q" =e, reta). (+)

Então:

aj eba =a.b VrteN,e


(ab=(adby|0O<i<n-1e0<j;j<m-l).

e Se os inteiros n, m são escolhidos minimalmente satis-


fazendo (*), então o grupo (a,b) tem ordem igual a nm.

b) Se os inteiros n,m são escolhidos minimalmente, e seu é


um inteiro tal que b” = a“, então existe um homomorfismo
f: (a,b) — G com f(a) = a e f(b) = 8 se e somente se

ba=a'B, a" =e, DB” =a”.

DEMONSTRAÇÃO. Primeiro observe que G sendo um grupo finito,


tais inteiros n, m existem de fato.
184 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

a) e Queremos mostrar que b*a” = a”* b*, ou equivalentemente que


t .

t . mo
Tyw(a”) = a”* . Fazemos uma indução sobre t. Se t = 1, temos

Tola”) = (To(a))" = (aº)" = a”.


Se t > 2 e se supomos o resultado provado para t — 1, temos

To(a”) = Ty o Tyra”) = To(a") = (Tola)


— (as rs — ars

Com isso obtemos que todo elemento do grupo (a,b) pode ser
escrito na forma a"b” com v,w E N. Agora, a condição b” E (a)
permite escrever este elemento a”b” na forma a” bi com v' E Ne com
O<3<m- ll; a condição a” = e permite reescrever este elemento
a”? na forma a'b' com0<i<n-1le0O<j;j<m-l. Portanto,
temos (a,6) = (ab), 0O<i<n-l, 0O<j<m-l.
e Agora nós supomos que n e m são minimais satisfazendo (x).
Para ver que (a,b) tem ordem nm, basta verificar que se
O<iik<n-LO0O<j;t<m-leat = alt, então i =k
e j = £. Suponhamos que ? < 3; multiplicando ambos os lados
da igualdade a'b? = a*b* por a”* à esquerda e por b* à direita,
obtemos então que b'*=af* E (a) ccm0<j-t<j<m-l.
Portanto, pela minimalidade de m, temos q — ? = 0. Assim / = 3
e, consequentemente, a** = e; pela minimalidade de n, obtemos
1: = k também.

b) Suponhamos que exista um homomorfismo f: (a,b) — G tal que


fla)=a e f(b) = 8. Como ba = aºb, temos

= f(b)f(a) = f(ba) = flaíb) = (F(a))º F(b) = a“ d.


Similarmente, como a” = e, temos a” = e e como b” = a“, temos
também 6” = a”,
Reciprocamente, suponhamos que Sa = 0º8, 0" = e, 8” = q”.
Naturalmente, pela parte a) aplicada a G e a,8, temos 5'o” =
o" Bt, Yr,t E N. Vamos verificar que a aplicação f: (a,b) > G
definida por f(a'b') = o'B', para) <i<n-1,0<j<m-l,éum
[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 185

homomorfismo. À boa definição de f decorre das escolhas minimais


den em. Agora, para :,7,k,2 E N, escreva y +? = pm +v com
O<v<m-leescrevai+ks!+pu=-qn+wcomÔ<w<n-—l.
Temos:
fait” . ab?) — fa bia! bº) — fla . até bi . bº) — f(aitks pie)

— f(aitts porpr) — Fat grupo) — F(ab?)

= "8º = qitks? aU B? = qts? Bom” — qirks? gi+

= Bi.Bt=a'p'- ab! =F(abi)- fab). O

Observação V.7.2. Se no Teorema V.7.1 sabemos que a ordem


do grupo (a,b) é o produto nm, então em virtude da parte a), os
inteiros n e m são minimais; em particular, O(a) = n.

Teorema V.7.3. Sejam n,m,s,u inteiros > 0.

a) 1) SeG é um grupo de ordem nm que possui elementos a, b


tais que
G = (a,b)
q" = e
(x) pm = q

ba = qºb.

Então, s” = Imodn e u(s— 1) = Omodn.

2) Reciprocamente, se s” = Imodn e u(s — 1) = Omodn,


então existe um grupo G de ordem nm que possui dois
elementos a,b satisfazendo as condições (+x).

b) Quando existir um grupo de ordem nm satisfazendo as con-


dições (xx), ele é único a menos de isomorfismos.

DEMONSTRAÇÃO. a) 1) Pelo item a) do Teorema V.7.1, temos


b"a = a” b”. Como b” E (a), vemos que b” comuta com a e assim
ab” = a” b”; dividindo ambos os lados por a à esquerda e por b”
186 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

à direita, obtemos e = a” “!. Portanto, s” — 1 é um múltiplo da


ordem de a. Logo, s” = |modn.
De novo pelo Teorema V.7.1, item a), temos ba” = a“*b. Como
a“ E (b), vemos que a” comuta com b e temos a“b = a“*b; dividindo
ambos os lados por a“ à esquerda e por b à direita, obtemos que
vale e = a“ts-D. Portanto, u(s — 1) é um múltiplo da ordem de a.
Logo u(s — 1) = Omodn.

2) Daremos uma prova deste resultado somente no caso parti-


cular u = O, pois a prova do caso geral seria muito técnica. Mas
esta prova do caso u = O somente poderá ser dada mais tarde, pois
antes precisaremos desenvolver o conceito do produto semidireto de
dois grupos (Vide Proposição V.9.9).

b) Sejam G um grupo de ordem nm que possui dois elementos a, 5


tals que

G=(a,B)
Ba = aºB
aq” — €
6” = q!

Como |G| = |6| = nm então a aplicação f: G — G definida por


Flat) = 0º8', para0<i<n—-1,0<j;<m-l é uma bijeção.
Pela parte b) do Teorema V.7.1, f é um isomorfismo. [)

Como corolário do Teorema V.7.1, obtemos:

Proposição V.7.4. Sejam n,m,s,u inteiros > 0. Seja G um grupo


de ordem nm que possui dois elementos a,b tais que

G= (a,b)
ba
= aºb
q" =e
Bb” — q”.
[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 187

Então,

Aut(G) — ((0,5) e GxG; G=(a,8), Ba=0'8B, 0" =e,


8º = 0º
fr (Fa), F(b))
é uma bijeção.

DEMONSTRAÇÃO. Deixamos esta verificação para o leitor. [)

Exercício V.7.5. Mostre que Aut(Z/2Z x Z/22) — Sa.

Exercício V.7.6. Mostre que Aut(S3) = $3 e que T(S3) = S3.

Exercício V.7.7. Mostre que Aut(D,) = D, e que os automorfis-


mos internos satisfazem T(D,) = Z/27Z x Z/22.

Exercício V.7.8. Mostre que Aut(Z/4Z x Z/27) = Da.

Determinação de todos os grupos de ordem < ll:

Vamos aplicar os resultados obtidos até esse ponto para clas-


sificar os grupos de ordem < 11. Não utilizaremos a parte não
provada do Teorema V.7.3.

Grupo de ordem 1.

Claramente, (e é o único tal grupo.

Grupos de ordem p com p = 2,3,5,7 ou ll.

Sendo p primo, G é grupo cíclico com p elementos e portanto


temos G = Z/pZ.
188 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Grupos de ordem 4.
Já sabemos que os grupos Z/4Z e Z,/2Z x Z/2Z são grupos de
ordem 4. Eles não são isomorfos pois Z/4Z, possui elementos de
ordem 4 enquanto Z/27Z, x Z/27, não possui tais elementos. Vamos
mostrar que, a menos de isomorfismos, estes dois grupos são os
únicos grupos de ordem 4.
Seja G um grupo de ordem 4. Se G possui um elemento de
ordem 4, então G = Z/4Z.
Se G não possui elemento de ordem 4 então, pelo Teorema de
Lagrange, todos seus elementos e são de ordem 2: sabemos então,
pelo Exercício V.2.15, que o grupo G é um grupo abeliano. Escreva
G = te,a,b,c); procuramos a sua tabela de multiplicação.
Qual é o resultado da multiplicação ab?
ab £ e pois caso contrário, a = b!, o que é absurdo, pois b
sendo de ordem 2, temos b”! = b;
ab + a pois caso contrário, teríamos b = e, absurdo;

ab + b pois caso contrário, teríamos a = e, absurdo.

Portanto, ab = c e também ba = c, pois o grupo é abeliano.


Similarmente, temos:

ac=b=ca e be=a=chb.

Tendo determinado a tabela de multiplicação de G, deixamos ao


leitor a tarefa de verificar que a função abaixo é um isomorfismo:

p: Z/2Z x Z/20 — G
(0,0) — e
1,0 Ja
Db
prum|
OI
mo

De
pad |
Fal

Assim, a menos de isomorfismos, Z/4Z e Z/2Z x Z/2Z são os únicos


grupos de ordem 4.
[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 189

Exercício V.7.9, Utilize o item b) do Teorema V.7.3 para dar uma


outra prova de

Gl=4, GHLZIAL > G=T/ILXT/Z.

Grupos de ordem 6.
Já sabemos que os grupos Z/6Z e S3 são grupos de ordem 6.
Eles não são isomorfos pois Z/6Z é abeliano enguanto que 83 não o
é. Vamos mostrar que, a menos de isomorfismos, eles são os únicos
grupos de ordem 6.
Seja G um grupo qualquer de ordem 6.

Afirmação V.7.10. O grupo G possui um elemento a de ordem 3.


Se G é cíclico gerado por um elemento , tome a = 9º.
Se G não é cíclico, suponha por absurdo que nenhum elemento
de G tenha ordem 3. Nesse caso, todo elemento * e tem que ter
ordem 2 (pelo Teorema de Lagrange), logo G é abeliano e, tomando
dois elementos a,b E GN Le), o conjunto fe, a,b, ab) é um subgrupo
de ordem 4 de G (Verifique!). Isto contradiz o Teorema de Lagrange,
pois 4 não divide 6.
Afirmação V.7.11. O grupo G possui pelo menos um elemento 5
de ordem 2e G = (a, 8).
Se G é cíclico gerado por um elemento 7, tome 8 = yº. Temos
é É (y) = (e, y,Y), logo |(y2,y)| > 3 e, pelo Teorema de
Lagrange, |(y2,7º)| divide 6; portanto G = (y2,9º) = (a, 8).
Se G não é cíclico, tome 8 É (a) = fe,a,a?). Os 6 elementos
e,0,02,8,08,0º8 são distintos (Verifique!); logo

G-feaw,o,8,08.08) e G=t(0,8).

À priori, a ordem de f é igual à 2 ou 3; vamos verificar que ela é


igual a 2. Observe primeiramente que 3º € (a), pois senão teríamos
82 E (8,08,028) e 8 então pertenceria a fe,a,a?) = (a), absurdo.
Agora, se supomos que a ordem de $ é 3, então temos

8=8"=(8") E (e,a,0º),
190 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

o que é absurdo. Logo a ordem de / é igual a 2.


Obtivemos então que:

IG]
=6
G= (0,8)
Q* =e
6 =e.

Quais as possibilidades para o produto Ga? Por razões elementares,


temos Sa É fe,a,a”, BY (Verifique!); logo 8a = af ou Ba = a?B.
Assim existem duas possibilidades para o grupo G:

|G| = 6 = 3.2 IG|=6=3.2


G = (0,8) G = (a,8)
(1) a* — e (2) o =e
Bº=e Bê =e
Ba = 8 Ba
= 028.
Pela parte b) do Teorema V.7.3, em cada caso, temos no máximo
um grupo, a menos de isomorfismos, satisfazendo as condições. Será
que existem de fato tais grupos? Sim; no Caso (1), tome G = Z/62Z
e no Caso (2), tome G = $5.
Note que Z/2Z x Z/3Z também satisfaz as condições do Caso
(1) e que portanto, pela unicidade, temos que Z/2Z x Z/3Z =
Z/6Z. Isto pode ser visto diretamente simplesmente observando
que o elemento (1, 1) E Z/2Z x Z/3Z tem ordem 6.

Grupos de ordem 8.
Já sabemos que Z/8Z, Z,/4Z x 2/22, 2/22 x Z/27 x Z/2Z e Ds
são grupos de ordem 8. Eles não são isomorfos entre si (Verifique!).
Vamos mostrar que, a menos de isomorfismos, existe somente
mais um grupo de ordem 8, chamado grupo dos quaternios e deno-
tado por Q3 (abaixo, ie C comi? = —1):

as= [e(5 Ve(5 D(O Di(0 O


[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 191

E fácil verificar que Q3 com a operação produto de matrizes é um


grupo. Tomando 4 = ' 2) e B= ( O »)- verifique que:
O —i —1 0

1Q3|
= 8
Qs = (4,B)

As
= ia = (1 |) 0 1
Bº2 = 42

BA
= AB.

Pela parte b) do Teorema V.7.3, sabemos que Q3 é caracterizado


pelas relações acima. É claro que o grupo Q3 não é isomorfo a
Z/82, Z/47 x 2/27, Z/27 x 2/27 x 2/22. Falta então somente
verificar que D, e (3 não são isomorfos. Isto fica claro mostrando
que D, possui exatamente 5 elementos de ordem 2 enquanto que o
grupo Q3 possui somente 1 elemento de ordem 2 (Verifique!).
Seja agora G um grupo qualquer de ordem 8. Pelo Teorema de
Lagrange, as possíveis ordens dos elementos de GN fek são 2,4e 8.

Caso 1: G possui um elemento de ordem 8.


Seja y E G elemento de ordem 8; então G = (y eG = Z/82Z.

Caso 2: G não possui nenhum elemento de ordem 8. Então, as


possíveis ordens dos elementos £ e são 2 e 4.
Dividimos o Caso 2 em dois subcasos:

Caso 2.1: G não possui nenhum elemento de ordem 4.


Nesse caso, todos os elementos £ e de G são de ordem 2 e,
portanto, o grupo G é abeliano. Seja a £ e; como O(a) = 2, temos
que H = (e,a) é um subgrupo de G. Tome be GH, então
K = [e,a,b,ab) é um subgrupo de G. Tome ce GN K; temos:

G = fe,a,b,ab,c,ac, be, abc) = (aibic* |i,j,k E (0,1).


192 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Deixamos ao leitor a tarefa de verificar que a função abaixo é um


isomorfismo entre os grupos Z/2Z x Z/2Z x Z/2Z e G:

p: Z/2Z x Z/2Z x 2/28 — G


(2,9,k) > a'bict.

CAso 2.2: G possui um elemento de ordem 4.


Seja a € G um elemento de ordem 4 e seja H = (a). Tome
agora be GH. Então G = (a,b) = fe,a,a2,a2,b,ab,a?b, ab),
pelo Teorema de Lagrange.
Temos b2 € H pois, claramente, bº É (b,ab,a2b, ab). Também
temos ba É fe,a,a*,a?,b).
Provamos assim que:

G|
= 8
G = (a,b)
a*
=e
b?=a! (para algum u € 10,1,2,3))
ba = aºb (para algum s € (1,2,3)).

Vejamos agora quais são as possibilidades para u,s € (0,1,2,3+.


Primeiramente, O(bab*) = O(a) = 4, logo s = 1 ou 3. Agora,
b2 É (a,aº), pois senão a ordem de bº seria 4, portanto O(b) seria
um múltiplo de 4 e logo O(b) seria 8 (absurdo, pois G não possui
elementos de ordem 8) ou seria 4 (absurdo, pois então O(b”) = 2).
Logo u = 0 ou 2. Vemos então que u=0ou2eques=1lou db.
Se u = 0, temos dois casos correspondentes a s= les =3:

G|=8 (IGl=8
G = (a,b) G = (a,b)
(1) a“ = e (2) (al=e
b=e b? =e
ba = ab ba
= 03
[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 193

Pela parte b) do Teorema V.7.3, em cada caso acima ((1) ou (2)),


temos no máximo um grupo, a menos de isomorfismos, satisfazendo
as condições. Será que existem de fato tais grupos? Sim; no caso
(1), tome G = Z/4Z x Z/2Z e no caso (2), tome G = Da.
Se u = 2, temos dois casos correspondentes a s = les =3:

IG|=8 IG| = 8
G = (a,b) G = (a,b)
(3) Jal=e (4) q! = e
b? — a? b2 = a?

ba = ab ba = aºb.

Pela parte b) do Teorema V.7.3, em cada caso acima ((3) ou (4)),


temos no máximo um grupo, a menos de isomorfismos, satisfazendo
as condições. Será que existem de fato tais grupos? Sim; no caso
(3), tome G = Z/4Z x Z/22 e no caso (4), tome G = Qs.
Assim, no final das contas, obtemos que, a menos de isomorfis-
mos, existem exatamente cinco grupos de ordem 8:

2/82, 2/47 x 2/27, Z/27 x Z/2Z x L/22, D, e Qs.

Observação V.7.12. 1) Os casos (1) e (3) acima põem em evi-


dência que um mesmo grupo pode ser apresentado, por meio de
geradores e relações, de formas distintas. O que ocorre é que mu-
dando a escolha dos geradores podemos alterar as relações entre
eles. Assim, no caso (1) os geradores escolhidos para Z/4Z x Z/22
são a = (1,0) eb =( 0, 11), e no caso (3) os geradores escolhidos são
a=(1,0)eb= (1,1).
2) O grupo Q3 é um grupo não-abeliano cujos subgrupos são todos
normais (verifique!).
194 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Grupos de ordem 9:

Já sabemos que os grupos Z/9Z e Z/3Z x Z/37Z são grupos de


ordem 9. Eles não são isomorfos pois Z/9Z possui elementos de
ordem 9 enquanto Z/3Z x Z/3Z não possui tais elementos. Vamos
mostrar agora que, a menos de isomorfismos, eles são os únicos
grupos de ordem 9.
Seja G um grupo de ordem 9 que não seja cíclico. Pelo teo-
rema de Lagrange, todos seus elementos £ e tem ordem 3. Se-
jame£ZaeGefB E Ga). Por razões elementares, temos
G = fe,a,0º,8,08,028,82,082,028º) (Verifique!) e portanto que

IG|=9
G = (a, 8)
o =
Bº= e.

Quem é o produto $a? Por razões elementares, temos Ga &


[e,0,02,8,821. Assim, falta analisar os casos Ba = af, Ba = 0º,
ba = 8º, Ba = a* 8º, sendo que, pela parte b) do Teorema V.7.3,
em cada caso temos no máximo um grupo. Será que existem de
fato tals grupos?
Caso Ba = aB. Existe sim: tome G = Z/3Z x Z/3Z.
Caso Ba = 028. Pela parte a), item 1), do Teorema V.7.3, não
existe tal grupo, pois 2º = 8 £ Imod3.
Caso Ba — «2. Não existe, pois senão, tomando 4 = $2e B=a,
teríamos G = (4,B), com 4º = e, Bê =e, BA = afBº = Ba =
A2B. Como acima isto não é possível, pois 2º = 8 £ Imod 3.
Caso Ba = q?8º. Não existe, pois senão teríamos

(20)* = aba =a-a“Bº.B=e,


2 2,22

o que é absurdo pois sabemos que «af tem ordem 3.


[SEC. V.7: GRUPOS FINITOS GERADOS POR DOIS ELEMENTOS 195

Grupos de ordem 10:


Seja G um grupo qualquer de ordem 10.
Afirmação 1: G possui um elemento a de ordem 5 (dê uma prova).
Afirmação 2: G possui um elemento 5 de ordem 2. Se G é cíclico
gerado por um elemento y, tome 8 := 9º. Se G não é cíclico, tome
8 e GN (a); pelo Teorema de Lagrange, a ordem de 9 é igual a 2
ou 5. Suponha que a ordem seja 5. Sendo um subgrupo de (a), a
interseção (ay) N (5) tem ordem igual a um divisor de 5, logo igual
a 1. Logo e,x,a2,0º,0º,8,82,8º,8! representam nove elementos
distintos de G; como af e q“8 são outros dois elementos de G
que, por razões elementares, são distintos dos nove outros, obtemos
que o grupo G possui pelo menos onze elementos, o que é absurdo.
Logo, a ordem de & é igual a 2.
Agora, é claro que G = (e,0,02,0º,0º,8,08,0º8,0º8,018) =
(a, 8). Quem é o produto Ba? Por razões elementares, vemos que
Ba É fe a,a2,0º, a!,B). Segue do Teorema V.7.3 que Ba £ a28
pois 22 = 4 * Imod5 e que Sa £ aºf pois 3º = 9 É Imods5.
Assim, temos duas possibilidades:

G/=10=5.2 G|=10=5.2
G = (0,0) G = (0,8)
(1) q =e (2) oq =e
Bº=e Bº=e
Ba — af Ba = qº8.
Pela parte b) do Teorema V.7.3, em cada caso, temos no máximo
um grupo, a menos de isomorfismos, satisfazendo as condições. Será
que existem de fato tais grupos? Sim; no caso (1), tome o grupo
G = Z/10Z; no caso (2), tome G := Ds o grupo das simetrias espa-
ciais do pentágono regular; este grupo consiste da identidade, das
rotações de ângulos 27/5, 47/5, 67/5, 8/5 e das reflexões espaciais
em torno das cinco bissetrizes. Note que Z/2Z x Z/5Z também
satisfaz as condições do caso (1) e que portanto, pela unicidade,
temos Z/2Z x Z/5Z = Z/10Z. Isto pode ser visto diretamente
observando que (1,1) € Z/2Z x Z/5Z tem ordem 10.
196 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

GRUPOS DE ORDEM 2p, COM p PRIMO ÍMPAR.


O grupo dihedral D, é o grupo das simetrias espaciais do polígono
regular de n lados. Verifique que ele admite a seguinte apresentação:

|Dal=2n
D, = (a,b)
q" = e
Bb? =e
ba = a" tb,

Se p é um número primo ímpar, verifique que Z/2pZ e D, são os


únicos grupos de ordem 2p (a menos de isomorfismos).
GRUPO Q, DOS QUATERNIOS GENERALIZADOS
Seja n > 3 um inteiro. Pelo Teorema V.7.3, existe um único
grupo, que denotaremos por (), e chamaremos de grupo dos quater-
nios generalizados, tal que

[On] — 2º
(mn = (a, b)
CEE) q" =e
p2 = q?
n—lo.
ba = a?" lb.
A unicidade pode ser obtida pela parte b) do Teorema V.7.3. Quanto
à existência, ela é dada pela parte a) item 2) deste mesmo teorema,
pois com s:= 2"! - le u:=2"* temos
SS =( 1-1) = gAn-D 94 1=]mod?!
uls-D=Prr-9D=92"8 or =0mod2!.
À existência pode também ser obtida da maneira seguinte:
Seja Qn:= (a,b) com
6; Ô mi/27—1 O 1
a:— (o 21) onde amem EC e b= [s, o).

Verifique que as condições (* * *) são satisfeitas.


[SEC. V.8: PRODUTO DIRETO DE GRUPOS 197

V.8 Produto Direto de Grupos


Se G1,...,G, São grupos, já definimos o produto direto de
G1,...,Gn como sendo o produto cartesiano G, x --- x G, com
a operação

(Ta, e , Tn) . (y1, e Yn) — (Tiy1, e TnYn).

Agora, queremos considerar o problema de expressar um grupo


em termos de grupos menos complexos. De maneira precisa, quere-
mos encontrar condições para que um grupo G seja isomorfo a um
produto direto de grupos G14,...,Gn.

Teorema V.8.1. Sejam G,Gr,...,Gn grupos. Então o grupo G é


isomorfo ao grupo G; x ---x Gn se e somente se o grupo G possui
subgrupos H, = G1,...,Hh = Gn tais que:

D) G=H...
H,.
2) H, 4 G, Vi=l,...n.

3) HiNn(H...HaHa...Ho)=tebVi=l,...n.

Antes de iniciar a prova, damos um sistema de condições equi-


valente ao sistema 1), 2), 3) que nos será útil:

Lema V.8.2. Sejam G um grupo e H,,...,H, subgrupos de G.


Então as condições 1), 2), 3) do Teorema V.8.1 são satisfeitas se e
somente se as condições 4) e 5) seguintes são satisfeitas:

4) Para cada gq € G, existem elementos unicamente determina-


dos714 E H,,...,Zn E Hn tais que g = T1...
Tn.

5) Para cadai + j, temos ry=yz, VxeH, eVyeH,.

DEMONSTRAÇÃO. Suponhamos que as condições 1), 2) e 3) es-


tejam satisfeitas. Sejam x e H, eye H, com 1 É 3, e con-
sidere o elemento xyz” !y"!. Temos zyx ly ! = (xyz Dy led,
198 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

pois H,1sG,ezxyr ty! = x(yr !y!) E H,, pois H; 4 G; assim


zyz ly le H;NH, = fe), como segue da condição 3). Portanto
Zy = yZ, isto é, a condição 5) está satisfeita. Seja agora g € G.
Pela condição 1), existem 7, € H,, %9 € H5,...,Zn € H, tais que
g = T1Z2... Zn; queremos mostrar que os z;'s são únicos. Suponha
então que T1...Zn — W...ym com y € H;; multiplicando ambos
os lados por y; * à esquerda e por z,!x/!,...75! à direita obtemos
que yI "Ti = Ways. Un YnLo oo... X5"; usando repetidas vezes
a condição 5), que já sabemos ser satisfeita, obtemos que

Vi LL
Sm
UT usta UT,
Nam Nem Na

e então Wi 21 E HnHo ... Hr — teh; logo ly — ty. De TjX9...Xn —


yy>...Yn e de 7) = y, tiramos que T2...T, = Yo...Yn- Proce-
dendo como acima, obtemos que

Yo
—1 To mam Ya3ls
-1 ... UYnl,
-1 9

EH, eHs EH,

e então y> ' 72 e HnNnH...H €C H,NHH...H, = (ey; logo


temos também x3 = y2. Continuando desta maneira obtemos que
a condição 4) está satisfeita.
Reciprocamente, suponhamos que as condições 4) e 5) são sa-
tisfeitas. Sejam então y E H;, eg E G; queremos mostrar que
gyg! € H;. Pela condição 4), temos g = z1%2...7n com x; E H;
e portanto gyg * =T1...Zi Ti... TnYLn LD Ty do
Aplicando repetidamente a condição 5) ao elemento y com os
elementos z;, j = i+1,...,n,obtemosgyg "= 2,...z;yr;"...m7".
Agora, aplicando repetidamente a condição 5) ao elemento z;yz;
(que pertence a H,) com os elementos x,, ) = 1,...,i— 1, obtemos

gyg”' — TiyT;

logo gyg* pertence a H;; isto prova que a condição 2) é satisfeita.


À condição 1) é claramente satisfeita pois ela é mais fraca que a
[SEC. V.8: PRODUTO DIRETO DE GRUPOS 199

condição 4). Provaremos agora que a condição 3) é satisfeita. Seja


ge HNH...H;aHo... H,; como g € H;, podemos escrever

9—-T...Za, COM TDT > *eeSLa1TujSSo =In=€C€T;—g,

comog € H,...H; 1H;,1... H,, podemos escrever

g=T,...Zn, com z; EH Vj=1,...i—-l),i+1,...,;nez;=e.

Da unicidade dada pela condição 4), concluímos que q = e, e isto


termina a prova. LU]

DEMOSTRAÇÃO DO TEOREMA V.8.1: Sep: G > G/x---x Ga é


um isomorfismo, então é claro que os subgrupos H, de G definidos
por H,:=p"(K;),1=1,...,n, onde
Ki=tejx-ccxtlebxG;ixtetx---xteb,
satisfazem as condições 1), 2), 3) pois os K;'s são subgrupos do
produto direto G, x --: x G, satisfazendo estas condições.
Reciprocamente, suponha que G possua subgrupos H,,...,H,
com H; = G; que satisfazem as condições 1), 2), 3). Considere a
aplicação
v:G=H...H>-Hx-cx&H,
definida por y(hy ...hn) = (hy,...,hn). Pela condição 4), a apli-
cação py é bem definida e, claramente, é uma bijeção. Provaremos
que y é um homomorfismo de grupos e portanto um isomorfismo.
Sejam g = L%2...Xn e 9 = yyo...yn dois elementos de G;
então 99 = Xy%2...Tn WY2...Yn = LiYLoyo --- LnYn, Onde a última
igualdade foi obtida por aplicações sucessivas da condição 5); deste
modo obtemos que y(99') = (Ty, X2y2,...sUnYn) = Plg)plg) e
portanto que «py é um homomorfismo. []

Notaçao V.8.3. Quando um grupo G e subgrupos H;,..., H, sa-


tisfazem as condições 1), 2), 3) do Teorema V.8.1 (equivalente-
mente, satisfazem as condições 4), 5) do Lema V.8.2), escrevemos
200 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

V.9 Produto Semidireto de Grupos


Já classificamos todos os grupos de ordem < 11, usando as técnicas
elementares desenvolvidas até agora e usando o resultado de unici-
dade dado pela parte b) do Teorema V.7.3. Se tentarmos encontrar
todos os grupos de ordem 12 seguindo as idéias utilizadas para en-
contrar os de ordem < 11, defrontamo-nos com duas dificuldades:

1) Provar a existência de elementos e subgrupos de certa ordem,


por exemplo de ordem 3 ou 4, em todo grupo de ordem 12.

2) Provar a existência (ou a não existência) de grupos de ordem


12 gerados por dois elementos satisfazendo certas relações.

Para enfrentar essa segunda dificuldade, seria conveniente ter à


nossa disposição o resultado de existência dado pela parte a), item
2), do Teorema V.7.3. Estamos portanto interessados em provar
este resultado, pelo menos no caso de u = 0. Para este fim, vamos
desenvolver uma técnica de construção de grupos a partir de dois
grupos dados, construção esta que generaliza o produto direto.
Se K e H são dois grupos (não necessariamente finitos), se
o: K — Aut(H) é um homomorfismo do grupo K no grupo dos
automoríismos de H, então - denotará a operação definida sobre o
o

conjunto K x H da maneira seguinte:

(kh) -(k,hD = (k-Kk,h-o(k)(h)).


o

Teorema V.9.1. Sejam K,H dois grupos eo: K — Aut(H) um


homomorfismo. Então, (K x H,-) é um grupo.

DEMONSTRAÇÃO. À operação - é associativa. De fato, temos:


o

o [(k1,ha) : (ko,ho)) : (ks,ha) = |knko,ha -o(kr)(ho)] - (ka, ha)


o

= (kykoks,hy - o(ki)(ho) -o(kiko)(A3))


[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 201

é (ki,hi) - (ko, ho) - (ka, ha)) = (ka, ha) - lkoks, ho - o (ka) (hs)
= (kubah, hy-o(ki)(ho - o(k>)(h3)))
= (kikoka,ly + o(ki)(ho) - o(ki)(o(ko)(h3)))
= (kikoks,hy -o(ki)(ho) -o(krko)(h3)).

Existe um elemento neutro, a saber (ex,eH). Também, todo ele-


mento (k,h) possui um inverso, a saber (k”!,o(k')(h”!)) (veri-
fique). O

Definição V.9.2. O grupo (K x H, -) é chamado de produto semidi-


reto de H por K com homomorfismo o. Ele será denotado por
(K
x H,-)oupor
K x H.
o o

Propriedades elementares:

Sejam K, H dois grupos e o: K — Aut(H) um homomorfismo.

1) O produto semidireto K x H é igual ao produto direto K x H


o

se e somente se o é o homomorfismo trivial (i.e., se e somente


se o(k) = Identidade de H, Vk € K). (Verifique!).

2) (k, h) oo (kh) = (ko, o(k')(h)) (Verifique fazendo


NÉ en!
n vezes

uma indução sobre n). Em particular,

(ke): ...: (k,e) =(k,e) e (eh)... (eh) = (e,h”).


tee ee? eee”
em

3) (e,h)-(ke)=(kh), VkekK,VheH.
(k,e) - (eh) = (k,o(k)(h)) que é diferente de (k,h), para
algum ke Kehe H,seo não é o homomorfsmo trivial.

4) ex H é um subgrupo normal de K x H.
o
202 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

De fato:

(k, h)-(e, h') o


, (k, h)T! — (k, h) o (e, h') o (KT, o(k(h))

= (kh o (6 (N) : (6Io (6h)


= (eh-o(k)(h) -h ND eexH.

5) K x e é um subgrupo de K x H; ele é normal em K x H se


o o

e somente se o é o homomorfismo trivial.


De fato, é claro que K x e é um subgrupo de K x H e que ele
o

é normal em K x H se o é o homomorfismo trivial. Agora,


se o não é O homomorfismo trivial, tome? e Kehe H com
o(!)(h) £ h, tome k E K qualquer e k' := k-!2k. Temos:

(k, h) -(k 16); (kh)! = (k, h) (Ke): (hold)


= (kk' 5h)» (KT, o(k (hr!)
= (kkk, h. Rot (hn D))
= (kk'k!,h-o(kk'k (hr)
= (kkk! h-o((h!) É K x fe),

e portanto K x e não é normal em K x H.


o

Exemplo V.9.3. Sejam K = (6) um grupo cíclico de ordem 2 e


H = (a) um grupo cíclico de ordem 3. Temos Aut(H ) = = (Id,0)
onde (: H = (a) — (a) é definido por G(o')= a? para todo
+ = 0,1,2. Como ( tem ordem 2, então existe um homomorfismo

o: K = (8) > Aut(H) = (Id, 0)


definido por o(8') = (* para i = 0,1.
O que podemos dizer do grupo G := K x H? Ele tem ordem 6
o

e não é abeliano, pois o não é trivial (vide Propriedade 5) acima).


Então, pelo estudo já feito dos grupos de ordem 6, sabemos que
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 203

G » S3. Uma verificação direta disto pode ser feita tomando os


elementos a = (e,a) e b = (8,€) e observando que temos

[G|
=6
G = (a,b)
aé =e
b?=e
ba= ab.

Verificamos por exemplo que ba = a2b (e deixamos ao leitor a veri-


ficação das outras afirmações):

ba = (8,€) : (0,0) = (e, eo(B)(0)) = (8, C(0)) = (8,02),


ob = (e,0?) - (8,e) = (e8,02o(e)(e)) = (8,02).
Exemplo V.9.4. Classificação dos grupos de ordem 12 que são
produtos semidiretos de Z/3Z por (Z/2Z) x (2/22).
Evidentemente, Aut(Z/3Z) = (Id, p| onde

p: Z/3% — Z/32
ls 2.

Escrevendo (Z/2Z) x (2/22) = fe, a1, 02,03), os homomorfismos


de (Z/2Z) x (Z/2Z) em Aut(Z/3Z) são:

o: (Z/22) x (2/22) — Aut(Z/32) = (Id, p)


es Id
amold Vi=1,23,
(isto é, o é o homomorfismo trivial), e para cada j = 1,2,3,

o;: (2/22) x (2/22) — Aut(Z/3Z) = (Id, p)


er» Id
a; Id
204 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Naturalmente, ((2/22) x (Z/27)) x Z/3Z é simplesmente o produto


direto (2/22) x (Z/22) x (Z/3Z), que é isomorfo a (Z/2Z) x (Z/6Z).
Seja j € (1,2,3) e perguntamos o que podemos dizer do grupo
((Z/22)x (Z/22)) x 2/32. Tomando à € (1,2,31 19h, e tomando
a:= (a;,D),b:= (a, 1), vamos verificar que

((Z/22) x (Z/22)) x 2/32 = (a,b)

— (e, 0)
b? — (e,0)
ba = ab.

Assim os produtos semidiretos de Z/3Z por (Z/2Z) x (Z/2Z)) com


os homomorfismos o;, j) = 1,2,3, são todos isomorfos (ao grupo
dihedral Ds). Temos,

a* = (a;,1) o; (a;,1)= (205,1


+ os(as)(1))
= (e,
1 + Id(1)) = (e,2), logo aº = (e,2)º = (e,0).
bº = (a;,1) - (04,1)= (205,1 + o;(o;)(1))
=(e1+o(1))=(e,1+2)= (e,0).
ba = (a;,1) ; (a;, D) =(a;+a;l+o;(a)(1))

= (a;+a;1i+ (1) = (a; + a;,0).


aºb = aa*a?b = (0;,1) ; (e,2) j (e,2) ; (cv;, 1)

= (05,1) - (e,4) - (05,1) = (0;


+ a5,0).

Além disso, temos a* 4 (e,0) e b É (a) (verifique), de modo que


(Z/2Z x Z/22) x 2/32 = (a,b).
oj
Assim, obtemos que a menos de um isomorfismo, os grupos
(Z/2Z) x (Z/6Z) e Ds são os únicos produtos semidiretos do grupo
Z/3Z por (2/22) x (2/22).
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 205

Exemplo V.9.5. Classificação dos grupos de ordem 12 que são


produtos semidiretos de Z/3Z por Z/47.
De novo, Aut(Z/3Z) = (Id, p) onde

p: Z/3% — T/37,
152.

Claramente, os homomorfismos de Z/4Z em Aut(Z/3Z) são

T: 2/47 — Aut(Z/3Z) = (Id, p)


ls Id,

(isto é, 7 é o homomorfismo trivial), e


Tn: 2/47 — Aut(Z/3Z) = (Id, p)
LS p.

Naturalmente, o grupo (2/42) x (Z/3Z) é simplesmente o produto


direto (Z/4Z) x (2/32), que é isomorfo a Z/122Z.
pa perguntamos o que podemos dizer do grupo não-abeliano
= (Z/ 4Z)> x (2/37)? Vejamos as ordens de seus elementos. Pelas
propriedades elementares da operação - -, sabemos que

O((0,1) =3, O((0,2) =3.


Também, é rotina verificar que

O((1,1)=4, O((1,2)=4, O((2,1))=6, O((2,


a
MI

Ns
S

O((3,1)) = 4, O((3,2)) =
Este grupo T' possui somente um elemento de ordem 2, logo T' não
é isomorfo ao dihedral De que possui 7 elementos de ordem 2. Ele
é um grupo que, até agora, não tínhamos encontrado.
Assim, obtemos que a menos de um isomorfismo, os grupos
Z/12Z e T são os únicos produtos semidiretos de Z/3Z por Z/4Z.
206 CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Exemplo V.9.6. O grupo Z/12Z é o único produto semidireto de


Z/4Z por Z/3Z. Verifique!

Exemplo V.9.7. Seja H um grupo tal que Aut(H) tenha pelo


menos dois elementos. Seja K :— Aut(H) esejjao = Id: K >
Aut(H). Como o = Id não é o homomorfismo trivial, então
Aut(H) x H é um grupo não abeliano de ordem |H|- | Aut(H)).

Para construir produtos semidiretos interessantes de dois grupos


He K, precisamos saber exibir homomoríismos não-triviais de K
em Aut(H). Em geral, isto é uma tarefa difícil. No entanto, quando
os grupos K e H são grupos cíclicos, a tarefa é mais fácil:

Lema V.9.8. Seja H := (a) um grupo cíclico de ordem n e seja


K := (0) um grupo cíclico de ordem m. Então as funções

Hom(K, Aut(H)) — fr E Aut(H):; O(7T) divide m)


o > 0(5)

(fr E Aut(H); O(7) dividem) — (1<s<n—l; s” = Imodn)


TH» s, onde s é dado por T(a) = oé,

são bijeções.

DEMONSTRAÇÃO. Pela Proposição V.6.7, a aplicação

Hom((0), Aut((a))) — fr E Aut((a)); O(r) é um divisor de m)


o > o(d)
é uma bijeção. Pela Proposição V.6.11, a aplicação

Aut((a)) — (Z/nZ)
THSS,
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 207

onde s é definido por T(a) = a*, é um isomorfismo de grupo. Por-


tanto, 7 tem ordem igual a m se e somente se s tem ordem igual a m,
e 7 tem ordem igual a um divisor de m se e somente se s tem ordem
igual a um divisor de m, i.e., se e somente se s” = 1 mod n. Obte-
mos que a segunda função do enunciado é também uma bijeção. [1]

Agora, podemos dar uma prova do resultado de existência do


Teorema V.7.3 no caso particular de u = 0. Para maior clareza,
nós enunciamos de novo o resultado neste caso particular:

Proposição V.9.9. Sejam n,m,s inteiros positivos. Então,

a) Existem um grupo G de ordem nm e dois elementos a,b e G


tais que
G=(a,b)
q" = e
b” = e
ba = a*b
se e somente se s” = ]Imodn.

b) Quando existir, tal grupo G é único a menos de isomorfismos.

DEMONSTRAÇÃO. a) Que a existência de um tal grupo G implica


a condição s” = | modn já foi provado no Teorema V.7.3. Agora,
para a recíproca, sejam H := (a) um grupo cíclico de ordem n e
K := (5) um grupo cíclico de ordem m. Já que s” = Imodn
então, o automorfismo 6: (a) — (a) definido por ((a) = a* tem
ordem igual a um divisor de m e existe um homomorfismo

o: (8) — Aut((a)),

definido por o(5) = 6.


Considere o produto semidireto G := K x H, e tome os ele-
mentos a := (e,a) e b:= (8,€). Pelas propriedades elementares do
produto semidireto vistas anteriormente, temos G = (a,b), a” =,
b” = e. Verificamos agora que ba = a*b:
208 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

e ba=(8,e)- (6,0) = (B,e-o(b)la)) = (8, C(a)) = (8,aº).


o

e ab = (e,0):(e,0):...:(e,0):(8,e) = (e,0º)-(8,e) = (8,0%).


b) Já foi visto no Teorema V.7.3. 0)

Como foi observado no Exemplo V.9.4, se K e H são dois grupos


e se 01 e 02 são homomorfismos distintos de K em Aut(H), então
pode acontecer que os produtos semidiretos K x He K x H sejam
o o

isomorfos. No Exemplo V.9.4, o isomorfismo foi obtido apelando ao


resultado de unicidade do Teorema V.7.3. Este teorema se aplica
no contexto dos grupos gerados por dois elementos a, b satisfazendo
a relação muito particular ba = aºb (i.e., ba = a*b*, com t = 1).
Vamos estabelecer um resultado que se aplica num contexto mais
geral.
Primeiro, fazemos uma observação. Sey: H > H, é um isomor-
fismo entre dois grupos H e H, então, claramente, para qualquer
elemento f € Aut(H), temos

WS) = vo foyp” E Aut(H);


obtemos portanto uma aplicação

W*: Aut(H) — Aut(H,)


f—vyo for,
aplicação esta que é um isomorfismo de grupos como é imediato
verificar.
Pode ser conveniente visualizar )*(f) como sendo o homomor-
fismo que faz o seguinte diagrama comutativo:

H tl
o| [um (1)
We (S) H;
HH, ——
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 209

Note que então o seguinte diagrama é também comutativo:

Heil H
y| E (2)

Teorema V.9.10. Sejam H e H, dois grupos, V: H > H, um


isomorfismo e y*: Aut(H) — Aut(H,) o isomorfismo definido por
(1) = pofow”!, para f E Aut(H). Sejam K e K, dois grupos e
sejam o: K — Aut(H), o: K, — Aut(H,) dois homomorfismos.
a) Se existir um homomorfismo py: K — K; tal que cy 0p =
W* og, 1.e., tal que o seguinte diagrama comuta

K —>s Aut(H)

e| |” (3)
K, >———» Aut(H,),

então a aplicação
p: KxH — K, x H,
o o1

(k, dh) — (p(k), lh)


é um homomorfismo.

b) Se y for um isomorfismo, então p é também um isomorfismo.


DEMONSTRAÇÃO. Temos
P(k,h) : (kh)
= (e, h-o(k)(h'))
= ((kk), wlh - o(k)(h)))= (plkk), (A) - (bo o(k))(h))
= ( (kk), (h) - ((W'(o(k))) o 4)(h')), pelo diagrama (2),
= ((kk), (A) - (or ((k)) o 1)(h')), pelo diagrama (3),
= (olk)p(k), (A) -ortp(k)) Ch)
= (p(k),y(h)) - (olho), (hr);
210 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

logo a aplicação q é um homomorfismo.

b) Caso q seja um isomorfismo, então y e y são bijeções e, portanto,


a aplicação 7 = (7,1) é também uma bijeção. O

Corolário V.9.11. Sejam 0,: K — Aut(H) eos: K — Aut(H)


dois homomorfismos e sega py: K — K um automorfismo tal que
01 = 020, 14.e., tal que o seguinte diagrama comuta:
O
1

? Aut(H).

Então a aplicação p abaixo é um isomorfismo:

p:KxH
ss KxH
01 02

(k, h) — (pk), ho).


Exercício V.9.12. Aplique o Corolário V.9.11 para dar uma nova
prova de que os grupos ((Z/2Z) x (Z/2Z)) x (2/32), j = 1,2,3,
do Exemplo V.9.4 são isomorfos.

Exemplo V.9.13. Classificação dos grupos de ordem 12 que são


produtos semidiretos de (Z/2Z) x (2/22) por Z/32Z.
Sabemos que Aut((Z/2Z,) x (Z/27)) é isomorfo a S3. De maneira
mais precisa, se escrevemos (Z/2Z) x (2/22) = (e,m1,02,03),
temos Aut((Z/2Z) x (Z/2Z)) = (Id, m, 2,4,Va, vs) onde

O + o CH Og
Hi: (dot Q3, do:
|U 0a,
Os 5 O Oo
5 04
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 211

O 5 OQ O > às OQ Og
HH
Vi:
l0o t+ 03, Vocido
t+ do, Va.
|O as,
Os H+ Ag As > OQ Os
+ Og

Já que Id tem ordem 1, os u;'s tem ordem 3 e os v;'s tem ordem 2,


então os homomorfismos de Z/3Z em Aut((Z/2Z) x (Z/2Z)) são

o: 2/37 —» Aut((Z/2Z) x (Z/22))


IS Id

(isto é, o é o homomorfismo trivial), e para cada à = 1,2,

o: 2/37 — Aut((Z/27) x (2/27)

Naturalmente, (Z/3Z) x ((Z/2Z) x (Z/2Z)) é simplesmente o pro-


duto direto (Z/3Z) x (Z/2Z) x (Z/2Z), que é isomorfo ao grupo
(2/22) x (2/62).
Agora, perguntamos o que podemos dizer dos produtos semidi-
retos (Z/32Z) x ((Z/2Z) x (Z/2Z))? Primeiro, eles são isomorfos
Ji
entre si. De fato, considerando o isomorfismo p: Z/3Z — Z/3Z
definido por p(1) = 2, e observando que u$ = |, então nós temos
o seguinte diagrama comutativo:

2/32
1
P
Aut((2/27) x (2/27).
A: Am

Portanto os produtos semidiretos (Z/3Z) x ((Z/2Z) x (Z/2Z)) e


o1
(2/32) x ((Z/22) x (Z/22)) são isomorfos pelo Corolário V.9.11.
Vejamos as ordens dos elementos desse produto semidireto
(Z/3Z) x ((Z/22Z) x (Z/2Z)). Pelas propriedades elementares da
212 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

operação x, temos
01

O((1,e)=O(Q2,e)=3, O((0,e)=1,
O((0,01)) = O((O, 02)) = O((0, as)) = 2.
Também, é rotina verificar que os outros seis elementos tem ordem
igual a 3. Esse grupo não-abeliano possui exatamente 8 elementos
de ordem 3, logo ele não é isomorfo ao grupo dihedral Ds, nem,
ao grupo T' construido no Exemplo V.9.5, pois estes tem somente
dois elementos de ordem 3. Denotaremos este grupo por Ay (esta
notação será justificada mais tarde).
Assim, obtemos que a menos de um isomorfismo, os grupos
(Z/2Z) x (2/62) e Aq são os únicos produtos semidiretos do grupo
(2/22) x (2/22) por Z/3Z.

Observação V.9.14. Pelos Exemplos V.9.4, V.9.5, V.9.6 e V.9.18,


obtivemos que existem exatamente ó grupos de ordem 12 que sejam
produtos semidiretos de um grupo de ordem 3 por um grupo de
ordem 4, ou de um grupo de ordem 4 por um grupo de ordem 3;
eles são:

Z/12Z, (2/22) x (2/62), Do, Aa, (Z/47) x (2/37),


71

onde

1: 2/47 — Aut(Z/3Z)
IS p:162.

Corolário V.9.15. Sejam K e H dois grupos e seja o: K —


Aut(H) um homomorfismo. Sejam K, e H, dois grupos isomor-
fosa K e H, respectivamente. Então, existe um homomorfismo
o: K — Aut(H,) tal que os grupos K x H e K, x H, sejam
o 01

isomorfos.

DEMONSTRAÇÃO. Seja py: K —» Key: H > H, dois isomor-


fismos; seja )*: Aut(H) — Aut(H,) o isomorfismo definido por
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 213

W(f) = wo fow, para f E Aut(H). Tome o, := btocoçr,


i.e. o1 definido como sendo o homomorfismo que faz o seguinte
diagrama comutativo:

o
K —.s Aut(H)

K, ——— Aut(H,),
ot

E claro que então o seguinte diagrama é comutativo

K —> Aut(H)

Lo
K, + Aut(H,),

Portanto, já que y é um isomorfismo, os grupos K xH e K, x H,


o 01
são isomorfos pelo Teorema V.9.10. L)

Agora, analogamente ao que fizemos para o produto direto,


queremos encontrar condições para que um grupo G seja isomorfo
a um produto semidireto de dois grupos, obtendo assim uma ex-
pressão de G em termos de grupos menos complexos.

Teorema V.9.16. Sejam G,K,H grupos. Então, existe um ho-


momorfismo o: K — Aut(H) tal que G seja isomorfoa K x H se
e somente se G possui subgrupos H,=H eK, = K tais que:
1) G —= KH,

2) H, qgG.
3) K; nH, =— fe>.

DEMONSTRAÇÃO. Seja o: K — Aut(H) um homomorfismo e seja


v: K x H — G um isomorfismo. Sabemos que K xee queex H
o

são subgrupos de K x H isomorfos a K e H, respectivamente, tais


que

KxH=(Kxe)(exH), exHskxH, (Kxen(exH) = [(e,e).


214 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Logo, tomando K, := W(K x e)e Hi := y(e x H), teremos

G=KH,, H, 4aG, KnH, = [eh

Reciprocamente, sejam H|, = He K, = K dois subgrupos de


G satisfazendo as condições 1), 2), 3). Para todo elemento k € K,,
podemos considerar o automorfismo interno TZ: G — G definido
por Tk(9) = kgk”!. Já que H, 4G, então T;(H,) = H, e portanto,
a restrição de T, a H,, que denotaremos por Z,., é um automorfismo
de H, (não necessariamente um automorfismo interno!). Assim
obtemos uma, aplicação

T': K, — Aut(H,)
k > Ty,

que satisfaz a condição T'(kk) = T'(k)oT(k), Vk,k' € Ky, ie., a


aplicação T' é um homomorfismo.
Já que H, é isomorfo a H e K, isomorfo a K, então sabemos pelo
Corolário V.9.15 que existe um homomorfismo o: K — Aut(H) tal
que K, x H, seja isomorfo a K X H. Portanto, afim de mostrar que
G é isomorfo a K x H, basta mostrar que G é isomorfo a K, x H,.
T!
Primeiro, observe que HK,= KH, (pois H, «G), e observe
que todo elemento g € G se escreve na forma g = hk, com he H,
e k e K;,, de maneira única (pois, se g = hk = h'k', então temos
hTih = kk!eHnNnk, = fere, portanto, h= h' ek = k).
Agora, considere a aplicação

p:KxH T'
— G

(k,h)— hk.

Pela observação anterior a aplicação p é uma bijeção. Vejamos


agora que p é um homomorfismo:

p((k,h) (k',h9) = p(kk',h - TU(hO) = p(kk',hkh'k!)


= hkh'k kk = hkh'k' = (kh) -o(k,h). O
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 215

Este Teorema V.9.16 é uma ferramenta útil para determinar a


estrutura de um grupo G.
Exemplo V.9.17. A menos de um isomorfismo, Z/15Z é o único
grupo de ordem 15.
DEMONSTRAÇÃO. Seja G um grupo de ordem 15.
Afirmação 1: O grupo G possui um elemento de ordem 3. (Veri-
fique)
Afirmação 2: O grupo G possui um elemento de ordem 5. De fato,
suponhamos que G não possua elementos de ordem 5. Então, pelo
Teorema de Lagrange, todos os elementos £ e teriam ordem igual
a3. TomereGYlereyeG(z).
a) e,x,7º,y,y” são elementos distintos, por razões elementares.
bD)e,T,22,y,y>, Ly,y 1º são sete elementos distintos. De fato, temos
que xy É fe, x,12,y,y”) por razões elementares, e por ser o inverso
de zy, o elemento y*x” também não pertence a este conjunto.
O) e,L,X,y,y, Ly, Y X2, xy", yr? são nove elementos distintos. De
fato, xy” É fe,z,7º,y,yº,xy) por razões elementares; também,
zyº + yr? pois caso contrário, teríamos zy” = y'x”, logo multi-
plicando ambos os lados por xy” à direita, obteríamos (xy)? = y
e tomando os inversos de ambos os lados, zyº — y*, o que seria
absurdo. Logo zy” É fe, x,7º,y,yº,Ly,yL”) e, por ser o inverso
de xy”, o elemento yzx? também não pertence a este conjunto.
D) LL, TU, VT, XY UT, Ly, y x são onze elementos dis-
tintos. De fato, z“y É fe, 7,1º,y,y”, Ly, Ly”) por razões elementa-
res; também z2y £ y'zº pois, caso contrário, teríamos z2y = y'T*,
logo multiplicando ambos os lados por yr” à direita, obteríamos
z = (yr?) e, tomando os inversos de ambos os lados, 1º = y'z?,
o que seria absurdo; similarmente, z2y % yL” pois, caso contrário,
os elementos x” e y comutariam, logo

(2,0) = (e, 2, 2,y, 0 y, Ly, yo, y, xy)


seria um subgrupo de G contendo 9 elementos, o que seria absurdo
pelo Teorema de Lagrange. Logo xºy É fe, x, 7 ,y,y',
xy, y x”,
216 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

zy”, ya”), e por ser o inverso de xy, o elemento y2x também não
pertence a este conjunto.

e) eLLyY, Ly, Y LL, Ly, YL, Ly, yr, ry, yr são 13 elemen-
tos distintos. De fato, xºy” É fe,x,xº,y,Y”, Ly, ZY”, Ly) por razões
elementares; também x2y? + yºxº pois, caso contrário, 7º e y” co-
mutariam, logo (x2, 1?) seria um subgrupo de G contendo 9 elemen-
tos, o que seria absurdo pelo Teorema de Lagrange; similarmente,
trocando os papéis de x e y no argumento dado em c), obtemos
22yº + yx*; finalmente, trocando os papéis de x e y no argumento
dado em d), obtemos x2yº y'x. Logo

Ty É ler,
y,y IV LIV, YT, Ty, yo),
e por ser o inverso de z*y”, o elemento yx também não pertence a
este conjunto.

f) Adicionando xyz e x2y?x? ao conjunto anterior, temos 15 ele-


mentos distintos. De fato, se tivéssemos xyz = xy”, então multi-
plicando ambos os lados por x? à esquerda, obteríamos yz = 1'*2y?
que sabemos ser absurdo pelo item e); similarmente, se tivessemos
eyz = yix*, então multiplicando ambos os lados por x? à direita,
obteríamos xy = wy!x'*? que sabemos ser absurdo pelo item e). Logo
zyz não pertence ao conjunto de 13 elementos dado no item e), e
por ser o inverso de xyz, o elemento x2y*z? também não pertence
a este conjunto de 13 elementos.

g) O elemento xyºx não pertence ao conjunto de 15 elementos dado


no item f). De fato, substituindo y por y” no argumento dado no
item Í), obtemos que zy?z não pertence ao conjunto de 13 elementos
dado no item e); também, zy“x 4 xyz pois, caso contrário, teríamos
zy'z = xyz, logo multiplicando ambos os lados por x? à direita e
à esquerda, obteríamos yº = y, o que seria absurdo; similarmente,
zyz + xºy'x? pois caso contrário, teríamos xyz = x2y2x”, logo
multiplicando ambos os lados por yº à direita, obteríamos (xyº)? =
(7212)? e, tomando os inversos de ambos os lados, xy? = z“y*, O
que seria absurdo.
[SEC. V.9: PRODUTO SEMIDIRETO DE GRUPOS 217

Assim, supondo a não existência de elemento de ordem 5 em G,


isto nos leva à existência de 16 elementos distintos em G, o que é
absurdo. Logo, a Afirmação 2 esta provada.

Afirmação 3: O grupo G possui pelo menos um subgrupo H de


ordem 5 que é normal em G ou um subgrupo K de ordem 3 que é
normal em G.
De fato, seja n o número de subgrupos de ordem 5. Pela
Afirmação 2, temos 1 <n, e por razões elementares, temos n < 3.
Se n = 1, então o único subgrupo H de ordem 5 deve ser normal
em G pois, Vg € G, 9Hg”! é um subgrupo de ordem 5, logo igual
ao subgrupo f.
Se n = 2, sejam H, e H, os subgrupos de ordem 5. É imediato
verificar que N, := (9 € G; 9H;g! = Hi) é um subgrupo de G,
que contém H,. Por outro lado, Vx € H5, temos que T;(H,) :=
zH;x”! é um subgrupo de ordem 5, logo que T;(H,) = H, ou H;;
no entanto, Ty é um automorfismo e T;(H5) = Ho; logo Ti;(H,)
não pode ser igual a H, e deve portanto ser igual a H,. Assim,
N 2 (Hi, H5) 2 Hi; portanto N, = Ge H, é normal em G.
Se n = 3, então G possui exatamente 3 x 4 = 12 elementos
de ordem 5. Logo, neste caso G possui exatamente dois elementos
de ordem 3, e portanto exatamente um subgrupo K de ordem 3.
Naturalmente, tal subgrupo K é normal em G.

Afirmação 4: O grupo G é isomorfo a Z/152Z.


De fato, seja H um subgrupo de ordem 5 e seja K um subgrupo
de ordem 3, tais que pelo menos um dos dois é normal em G. Então,
temos claramente que

G=KH
HasGou KaG
KnH
= teh,

e portanto, pelo Teorema V.9.16, o grupo G é isomorfo a um pro-


duto semidireto de Z/5Z por Z/3Z ou a um produto semidireto
de Z/3Z por Z/5Z. Ora, o único homomorfismo de Z/3Z em
218 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Aut(Z/5Z) = Z/4Z é o homomorfismo trivial, e também o único


homomorfismo de Z/5Z em Aut(Z/3Z) = Z/2Z é o trivial; logo,
a menos de um isomorfismo o produto direto (Z/3Z) x (Z/5Z) =
Z/15Z é o único grupo de ordem 15. Portanto o grupo G é isomorfo
ao grupo cíclico Z/15Z.

No próximo capítulo, vamos dar uma outra prova, menos


elementar porém mais eficiente, de que Z/15Z é o único grupo de
ordem 15.

V.10 Grupos de Permutações


Observamos primeiramente que todo grupo finito é isomorfo a um
subgrupo de um grupo de permutações.

Proposição V.10.1. (Teorema de Cayley). Seja G um grupo finito


de ordem n; seja Go 0 conjunto subjacente a G (i.e., Go é 0 conjunto
G sem a estrutura de grupo). Então
PG — P(Go) = Sn
giH—+ bo: Go — Go

LI gT;,

é um homomorfismo injetivo.
DEMONSTRAÇÃO. Sejam 91, 92 dois elementos quaisquer de G; para
todo elemento x de Go, temos

Toagi(2) = (9n92)2 = g1(927) = To (Toolx)) = To O Tool);


logo
Togo — Ta O Too,
e assim obtemos que T' é um homomorfismo entre o grupo Geo
grupo P(Go). Agora, T é injetivo pois se g € ker T, temos que
dg — Topistoérx=T(x)=gx, Vaz EG; logo g = e.
Em virtude deste teorema de Cayley, é muito importante estu-
dar os grupos 9, e seus subgrupos.
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 219

Definição V.10.2. Uma permutação a € S, é denominada um r-


ciclo se existem elementos distintos a,,...,a, E 11,...,;n) tais que
a(a) = ao, alas) = à3,...,a(a,1) = a, a(a,) = q, e tais que
(1) = 3, Vj ELL,...,nh fas,...,a,+; tal r-ciclo será denotado
por (a, ...a,); o número r é chamado o comprimento do ciclo. Os
2-ciclos são também chamados de transposições.

Exemplos em Ss:
(3315:) é um 5-ciclo, denotado por (12345); ele poderia também
ser denotado por (23451), ou (34512), ou (45123), ou (51234).
(15135) é um 3-ciclo, denotado por (143); ele poderia também
ser denotado por (431), ou (314).
(15105) é uma transposição, denotada por (13); ela poderia tam-
bém ser denotada por (31).
(1225) é uma transposição, denotada por (24) ou por (42).
O único 1-ciclo é a identidade, que denotamos por (1) ou também
por (a) com a € (1,2,3,...,nj).
(aco,
345921) não é um r-ciclo, qualquer que seja 7.

Definição V.10.3. Seja « € S, um r-ciclo e seja 9 € Sa um s-


ciclo; as permutações « e 5 são disjuntas se nenhum elemento de
(1,2...,n) é movido por ambas, isto é, Va € (1,2,...,n), temos
que a(a) = a ou S(a) = a.

Exemplos em 5::
Os ciclos (134) e (25) são disjuntos; os ciclos (14) e (25) são
disjuntos. Os ciclos (135) e (25) não são disjuntos, pois claramente
o elemento 5 é movido por ambos.

Exercício V.10.4. a) Sejam a, 8 € S, dois ciclos disjuntos. Mos-


tre que eles comutam, isto é, «5 = Ba.
b) Seja a € S, um r-ciclo. Mostre que a ordem de a é igual a 7.
220 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

c) Sejam q1,..., 0; € 5, ciclos disjuntos de comprimentos 74,..., T+,


respectivamente. Mostre que o produto a,;...a, tem ordem igual
aM.M.Ctri,...,ri.

Proposição V.10.5. Seja a € Sn, a £id. Então a permutação a


é igual a um produto de ciclos disjuntos de comprimentos > 2; tal
fatoração é única a menos da ordem dos fatores.

DEMONSTRAÇÃO. Como a é diferente de id, existe ij E (1,2,...,n)


tal que a(ij) £ à. Considere a segiência à, o(ij),0“(i1),...;
claramente, existe 71, 2 < 1 < n, tal que ir, a(iy),...
(a)
são todos distintos e o” (i1) E fin, a(ii),...,a"'!(i,)); é imediato
verificar que q"'(11) = à. Portanto a restrição de « ao conjunto
fin, o(in),..., art l(i,)) é tal que

A fiso(is),
var (a)) = (ha(is) ca (in).
Denotaremos este ri-ciclo (ija(i1)... a" !(i1)) por oi.
Se a restrição de a ao complementar de fiy, a(ij),...,0"!(i,))
é a identidade, acabou: a = o. Senão, tomamos um elemento
iz E L2,..,nyN in,a(ir),... a" !(ir)) tal que a(iz) £ às; de
maneira similar à etapa precedente, temos que existe um inteiro
ro > 2 tal que

O! tis aliz),...ar21ip)) = (toa(is)... 0"! (i5)).

Denotaremos este ra-ciclo (iza(ia)...a"2!(i5)) por 09. Obser-


vamos que 04 e 09 são disjuntos. Se a restrição de a ao complemen-
tar do conjunto fix, a(i1),...,a"!i1), iz,alio),... a His)f é a
identidade, acabou: a = ojos = 0504. Senão, tomamos
13 E (1, 2, ..., n+ À (ia, air), ...) ano t(a,), 19, ais), ...s ar t(i9))
tal que a(is) £ ia e continuamos o processo. Claramente este pro-
cesso vai ter que parar depois de um número finito de etapas, e
vamos obter que «a = 0105...0+, onde 01,092,...,0, são ciclos dis-
juntos de comprimentos > 2.
Agora, para provar a unicidade, suponha que temos também
Q = T2...Tu COM T4,7T9,...,Tu Ciclos disjuntos, cada um deles
de comprimento > 2. Como m...Tulii) = a() £ ày e como os
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 221

T;'s são ciclos disjuntos, existe um único 7; tal que T;(i1) = a(i1).
Como os ciclos 7;'s comutam entre si, podemos supor que 9) = 1
e então temos m(ij) = a(ij). Vamos mostrar que 7 = 0. O
ciclo 7 não pode deixar a(i) fixo, isto é, 7; não pode mandar
a(i1) sobre a(i1), pois 7 já manda ij sobre a(i1); como os 7;'s
são ciclos disjuntos, então, Vj > 2, 7; deixa a(i,) fixo e portanto
a(a(i1)) = Ti(a(i1)); assim vale que n(o(i1)) = a?(i1). De maneira
similar obtemos que n(o*-!(i1)) = a*(ij), Vk > 0, e portanto que
T; = 04. Similarmente, trabalhando com i, no lugar de à, vamos
obter que 73 = 093; continuando assim, obteremos que u = t e que a
menos da ordem o; = 7;, para cada j = 1,...,t. [1]
O fato de poder escrever de maneira única todo elemento do
grupo 9, como um produto de ciclos disjuntos vai ajudar muito a
fazer computações no grupo Sn.
Exercício V.10.6. Seja p um número primo e seja n € N. Mostre
que todo elemento de ordem p no grupo $, é um p-ciclo. Mostre
que Sp não tem elemento de ordem kp com k > 2. Se t é um inteiro
positivo, mostre que o grupo S, possui elementos de ordem pº se e
somente se n > pº.
Exercício V.10.7. Mostre que as possíveis ordens de elementos do
grupo 57 pertencem ao conjunto (1,2,3,4,5,6,7,10, 124.
Proposição V.10.8. a) Todo elemento de Sn é um produto de
transposições, isto é, Sn = (Itransposições)).
b) Sa = ((12),(13),...,(1n)).
c) Sn = ((12),(23),...,(n— 1n)).
DEMONSTRAÇÃO. a) Temos id = (12)(12) E ((transposições)).
Em virtude da proposição precedente, basta mostrar que todo ciclo
(aj... a) é um produto de transposições, e de fato, temos
(arão ...a,) = (ma;)(aa--1)... (aras)(ajas).

b) Em virtude da parte a), basta mostrar que toda transposição (27)


pertence a ((12), (13),...,(1n)), e de fato, temos (15) = (1:)(19)(1:),
se 1,4,7 são distintos.
222 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

c) Para todo inteiro 1 > 2, temos (1: + 1) = (Iú(ii + 1)(li);


portanto o subgrupo ((12), (23),...,(n — 1n)) contém (li), para
cada i = 2,...,n. Assim, pelo item b), este subgrupo é igual a S,.
Observação V.10.9. 1) Seja a E 54. À função
à: UX,...,X] — UXy,...,Xn]
HM, 00, Xn) > FX aq oo, Xo(n))
é um isomorfismo de anéis (Verifique!).
2) Um elemento «a € S, pode ser escrito como um produto de
transposições disjuntas se e somente se sua ordem for igual a 2.
3) À decomposição de um elemento a E S, como produto de trans-
posições não é única, mesmo se exigirmos um número mínimo de
transposições: por exemplo, (123) = (13)(12) = (23)(13). No en-
tanto, vamos mostrar que a paridade do número de transposições
em uma decomposição é bem definida.
Proposição V.10.10. Seja wu € S, esejjaa =7T,0---oT| uma
fatoração qualquer de a como um produto de transposições. Se
X1,,..., X, são indeterminadas sobre Z, então

W (Xp — Xa(o) = (—1) HH (X; — X,).


I<i<j<n IXi<j<n
Em particular, sea = T:0---0T; = My O:*-OHy são duas fatorações
de « como produto de transposições, então t = umod 2.
Definição V.10.11. Um elemento a de 5, é uma permutação par
quando a se escreve como um produto de um número par de trans-
posições ou, equivalentemente, quando

HE Xo-X)= | (X-X)
IXi<j<n IXi<j<n
Um elemento «a € S, é uma permutação ímpar quando a se es-
creve como um produto de um número ímpar de transposições ou,
equivalentemente, quando

HE Xy-Xo)=- o (x-x).
ISi<y<n I<i<y<n
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 223

DEMONSTRAÇÃO DA PROPOSIÇÃO V.10.10:


Seja
(XX) = KH (X; — Xj).
I<i<j<n

Paraj € (1,2,...,n), os fatores de g(X4,..., X,) que envolvem a


variável X, são exatamente:

(Xm X;)(Xn-1 = Xi), e.) (X 41 — X;),


(X; = X;-1), ...3 (X; —— Xo), (X; — X1).

Então, para uma permutação 5 € S,, temos que

(Xa(m) — Xo(g)), (Xau) — Lag) o (Xoga) — Xp),


(Xog — Xag-)) co (Xaçg) — Xo(2)); (Xp(gy) — Xa(a))
são exatamente, a menos do sinal, os fatores de g(X1,..., Xn) que
envolvem a variável Xs(;). Assim sendo, obtemos

= + 0! (X; — X;).
HM (Xag) — La)
I<Xi<j<n ISi<j<n

Agora vamos determinar o sinal. Defina y: Sa — (—1,+1) da


seguinte maneira: (5) = 1 se

HE Xwo-X)= | (X-X),
IXi<j<n 1<i<j<n

e W(8) = —1 se
HW Xwy-Xo)=— [| (X-X)
I<i<j<n IXi<j<n

À função 4) é um homomorfismo de grupos (com (—1,1+ munido


da multiplicação). De fato, sejam 8,Y € Sn; por definição, temos

HE Xoo- XD) =0) TE (X-X);


I<i<j<n I<i<y<n
224 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

aplicando o isomorfismo 4 (vide Observação V.10.9), obtemos

ED Msg — Xysao) =“) TE (Xy — Ko)


IXI<Xj<n IXi<j<n

=) | (X;-X),
i<i<jy<n

e portanto 1) (78) = y(B)b(y) = Al)p(s).


Se 7 é uma transposição do tipo (k k+ 1), então y(7) = —1. De
fato, temos que:
e o fator (X,,1 — X,) é transformado em (X, — X,41) pelo isomor-
fismo 7, e portanto introduz uma mudança de sinal.
e os fatores (X, — X;) com (i,j) Ntk,k + 1) = À permanecem
inalterados por 7, e portanto estes fatores não introduzem uma
mudança de sinal.
e os fatores que sobram são (X; — Xy), (X; — Xk4+1) com índices
j>k+2,e (Xp — X;), (Xw1i — X;) comi < k— 1. Os produ-
tos (X; — Xk)(X; — Xy+1) são transformados por 7 nos produtos
(X; — Xk+1)(X; — Xk), i.e., eles permanecem inalterados por 7, e
portanto não implicam uma mudança de sinal. Similarmente, os
produtos (Xy — X;)(Xk,1 — X;) não trazem mudança de sinal.
Assim, temos T(g(X1,...,Xn)) = —g(X1,...,
Xn) e portanto
obtemos que (7) = —1, como anunciado.
Se 7 é uma transposição qualquer (k?), temos
(kl) =(Lk+D(kk+ DL k+ DD,
logo

D(kO) = UML EA DO(A IDU((E R + 1) = O((kk+ 1) = 1


Finalmente, sea =7,0---0o7 é um produto de transposições,
então ú(a) = f(T) ...b(m) = (—1)*. [0]
Proposição V.10.12. Seja 4, = (a E Sn | a é permutação par).
Então A, é um subgrupo de S, de índice 2 (denominado grupo
alternado ou grupo das permutações pares ).
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 225

DEMONSTRAÇÃO. Seja y: Sa — (—1,+1j a função definida por


W(B) =1seB é pare W(8) = —l se 8 é ímpar. É claro que a
função 1) é um homomorfismo sobrejetor cujo núcleo é exatamente
o grupo alternado 4,. []
Exercício V.10.13. Seja H um subgrupo do grupo S,. Mostre
que H <A, ou(H:ENA,)=2.
Exercício V.10.14. Escreva cada elemento de S, como um pro-
duto de ciclos disjuntos. Escreva cada elemento de S, como um
produto de transposições. Veja que os elementos de A, são exata-
mente os produtos de dois 2-ciclos disjuntos e os 3-ciclos de S4. Veja
que A, possui exatamente 3 elementos de ordem 2 e exatamente 8
elementos de ordem 3.
Definição V.10.15. Sejan > 2. Sep e Snesep= (am...G,)...
(am -.. Qt, ) é à sua decomposição em ciclos disjuntos com r; < ra <
--- < ry, dizemos que fri,...,r;s é O tipo de decomposição de p.
Assim, por exemplo, p := (123)(45)(67) e 9" := (15)(36)(247) têm
o mesmo tipo de decomposição, a saber (2,2,3).
Lema V.10.16. Seja n > 2. Para uma permutação p E Sn, seja
p= (amn...ar)...(an...Qm,) à sua decomposição em ciclos dis-
juntos.

a) Seo E Sn, então a permutação opo”! tem a seguinte decom-


posição em ciclos disjuntos

opo! =(o(amn)...oc(ar))...(o(an)... o(a).


Em particular, as permutações p e opo”! têm o mesmo tipo
de decomposição.

b) Reciprocamente, se p,p' E Sn São permutações com o mesmo


tipo de decomposição, então existeo E Sn tal que p' = opo|.
c) Se as permutações p,p' E S, têm o mesmo tipo de decom-
posição e se a permutação p deixa pelo menos duas letras
fixas (e, a fortiori, a permutação p' também deixa), então
existe us E A, tal que p' = up |.
226 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

DEMONSTRAÇÃO. a) Seja 7 := (aj...a,) um r-ciclo qualquer.


Queremos mostrar que oToT! = (o(a)...o(a,)). De fato, para
jetf1,...,r — 1), temos oro”!(o(a;)) = or(a;) = o(a;), e
para j = r, temos oro '(o(a,)) = oT(a,) = o(a). Além disso,
para b é fo(a;),...,o(a,)), temos o!(b) é (a,...,a,-y, logo
To Hb) = o"!(b) eoroT!(b) = b. Portanto, temos a igualdade
o(a,...a)o!=(o(a)...o(a,)).
Agora, se p = (an ...a)... (am... Gr), temos

opo !=o(an...amjot.o(an...aom)o *-...colan... Ar)!


= (o(an)...o(ar,)) -(o(an)...o(azr))...(o(an)...o(arm,)).

Mais ainda, para todo par 1,j E (l,...,th,i É 3, é claro que a


interseção (o(an),..., (air, )|Nto(a;),...,o(a;r,)J é vazia pois a
interseção (a;n,...,Gir; IN aj... O jr;) é vazia. Portanto, os ciclos
obtidos acima para copo”! são disjuntos.
b) Seja 9” = (bi...bi)... (ba... ber,) à decomposição em ciclos
disjuntos da permutação p'. Sejam

fe. scy= E.) Ulaas sair)

[dy,...,duy = (1.7) MI bas dir).

Considere a permutação o € S, abaixo:

o — (Mir Gorro Gr, Gt Qt, Cyro Cy


bd bobo barccdr, dy dy

Aplicando a parte a), é imediato verificar que opo”! = p'. Note


que para cada ordenação do conjunto c;,...,cu, obtemos uma per-
mutação o que funciona.
c) Pela parte b), existe o € S, tal que p' = opo”!. Com as notações
usadas na prova da parte b), a hipótese de que a permutação p deixa.
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 227

pelo menos duas letras fixas significa que u > 2. Tome então

Jo, se o E À.
Po o(cica), seo É A.

L]

Observação V.10.17. Na parte c) do lema anterior, a hipótese de


que a permutação p deixa pelo menos duas letras fixas não pode
ser enfraquecida. Por exemplo, (123) e (124) são dois 3-ciclos de
Sa para os quais não existe y E A, tal que (123) = u(124)u”!
(verifique!).

Exercício V.10.18. a) Sejam a,b,:,j E (1,...,n+ distintos. Se-


guindo a prova do Lema V.10.16b), mostre que existe um 3-ciclo o,
envolvendo a,b e mais uma letra, tal que o(aij)o”! = (bak) para
algum k. Concluir que (aij) E ((abl); LE (L,...,n) (a,b)).
b) Sejam a,k,t,m E (1,...,n) distintos. Pelo Lema V.10.16b),
sabemos que do E Sn tal que (kim) = o(akm)o”!. Seguindo a
prova do lema, mostre que o pode ser escolhido igual a um 3-ciclo
envolvendo a letra a e mais duas letras.
c) Sejam a,b E (1,...,n) distintos. Concluir que

(3-ciclos) = ((abf); £ É fa, b)).

Proposição V.10.19. Seja n > 3.

a) Todo elemento de A, é um produto de 3-ciclos, isto é, temos


An = U3-ciclos)).

b) Sejama,b E (1,2,...,ny, coma £b. Então

An=U(abf)|t=1,2,...,n5 2%a,b)).

DEMONSTRAÇÃO. a) Se (:9k) é um 3-ciclo qualquer, temos então


(29k) = (2k)(19) e (:9k) E A; logo temos ((3-ciclost) C A,. Quere-
mos mostrar a igualdade. Seja 7 € A,, isto é, T = Om... 0201 com
228 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

o; transposição, Vi = 1,...,m, e com m par. Para mostrar que 7 é


um produto de 3-ciclos, basta então mostrar que se o e o! são duas
transposições quaisquer, então o'o é um produto de 3-ciclos. Se o
e o! são disjuntas, digamos o = (19) e o” = (kf), então temos

00 = (klij) = (kl)(ki)lki)lid) — (Mil)(igk),


logo o'o é um produto de dois 3-ciclos. Se o e o” não são disjuntas,
digamos o = (ij) eo' = (jk), então o'o = (9k)(i9) = (2kj) é um
3-ciclo. Logo, ((3-ciclosj) = An.
b) Seja K = (Íf(abl) | =1,2,...,n;? £ a,b). Claramente,
temos K C ((3-ciclosj) = A,. Para se ter a igualdade, basta
mostrar que se (k?m) é um 3-ciclo qualquer, então ele pertence ao
grupo K. Isto foi feito no exercício anterior. [)

Definição V.10.20. Um grupo G é simples se G e (e; são seus


únicos subgrupos normais.

Teorema V.10.21. Sejan = 3 oun > 5. Então o grupo alternado


An é um grupo simples.

DEMONSTRAÇÃO. O grupo As tem ordem igual a 3 e é portanto


simples. Agora, suponhamos que n 2 5.
Seja H £ (id) um subgrupo normal de A,. Queremos mostrar
que H = A,. Pela Proposição V.10.19, basta mostrar que H contém
todos os 3-ciclos.
Suponhamos que H contenha um 3-ciclo (abc). Então, para
todo 3-ciclo (17k), sabemos pelo Lema V.10.16, c), que Iu € A, tal
que (17k) = u(abe)ju”!, pois sendo n > 5 temos que p = (abc) deixa
pelo menos duas letras fixas; como ÉH é normal em 4,, obtemos
que (:19k) E H. Assim, obtemos H = A,.
Vamos agora mostrar que o subgrupo H contém um 3-ciclo.
Como H £ fidt, então existe o € HN (id) e denotamos m :=
O(o) > 1. Seja p um divisor primo de m; então 7 = o"? é um ele-
mento de H que tem ordem p. Escreva 7 = pj... Ps, com os p;'s cl-
clos disjuntos; sabemos que p = O(T) = M.M.C.(O(o1),..., O(ps))
e portanto todos os p;'s são p-ciclos.
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 229

1º CASO: p= 2.
Neste caso todos os p;'s são transposições e s é um inteiro par,
pois TE HC A,. Temos s > 2 e, escrevendo p, = (ab), po = (cd),
temos 7 = (ab)(cd)p3...ps. Encontrar um 3-ciclo (:jk) em H é
equivalente a encontrar em H um produto (:k)(ij) de duas trans-
posições que tenham exatamente uma letra em comum. Numa
primeira etapa, afirmamos que H contém um produto de duas
transposições disjuntas. Evidentemente, pelo Lema V.10.16, a),
temos (abc)(ab)(cd)(abe)T! = (be)(ad); como (abc) e os p;'s com
1 > 3 são disjuntos, eles comutam. Logo temos

(abe)r(abe)* = (abc) (ab) (cd) ps... ps(abe)|


= (ad)(bc)p3... ps E H, poistTE HaA, e (abc) E A,.

Usando que 77! E H, temos

(abe)r(abe)”!r”! = (ad)(bo)ps ... psp; "... pa (cd)(ab)


= (ad)(bc)(cd)(ab) = (ac)(bd) E H,
o que prova nossa afirmação.
Agora, tomando k £ a,b,c,d (o que é possível pois n > 5),
temos

(ak)(bd) = (akc)(ac)(bd)(akc)”* E H, pois


(ac)(bd) E Ha A, e (akc) E An.

Logo, o produto (ac)(bd)(ak)(bd) pertence a H, isto é, obtemos que


o 3-ciclo (akc) pertence a H.

2º CASO: Se p = 3.
Se s = 1, então 7 = p; é um 3-ciclo em H e acabou.
Se s > 2, escrevendo p; = (abc) e po = (def), temos então que
T = (abe)(def)ps...ps; note que todos os pi's, 1 = 1,2,3,...5,5,
são disjuntos por hipótese, de modo que a,b,c,d,e, f não aparecem
nos outros 3-ciclos p3,...,ps; assim, o 3-ciclo (bed) é disjunto de
230 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

P3,..., Ps € logo comuta com eles. Temos então

(bed)r (bed)! = (bed) (abc) (de f)ps ... ps(bed)*


= (acd)(bef)p3 ...ps E H,

e portanto também, usando que 77! E H, temos

(bed)r (bed) tr”!


= (acd)(be fps... psp; -.. pa (def) (abo)”
= (acd)(bef)(dfe)(acb) = (adbce) e H.

Assim, neste caso, encontramos em H um ó-ciclo, logo, em par-


ticular, um elemento de ordem 5; sendo p = 5 um primo > 3,
estamos reduzidos ao caso seguinte:

3º Caso: Se p > 3.
Escreva p; = (ajazagag... ap) e assim

T— (aasazas ... Ap) * Po... Ps;

note que todos os p;'s são disjuntos por hipótese, de modo que
01,02, 03,04,...,4p Não aparecem nos ciclos pa, p3,...,Ps; assim O
3-ciclo (aja2as3) é disjunto de po, P3,..., Ps € logo comuta com eles.
Temos então:

(ajazaz)r (a azas)”! = (azazaiaa ...ap)po... pre H,

e portanto temos também

(ajazas)7(ajaoas)
!TT! = (apagaças.. .ap)(arasasas...a,) "EH.

Uma verificação imediata nos dá que

(aoaza as... Ap) (Aasagas... ap)! = (010904),

e assim encontramos um 3-ciclo em H. []

Para n = 4, a situação é a seguinte:


[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 231

Teorema V.10.22. Seja K := (id, (12)(34), (13)(24), (14)(23)+ o


grupo de Klein. Então os grupos (id), K, Aq são os únicos subgru-
pos normais de As.

DEMONSTRAÇÃO. Escrevendo os elementos de S4 como produtos


de ciclos disjuntos, vemos que A, = (3-ciclostU K. Sendo o único
subgrupo de ordem 4 de A,, K é normal em AL.
Agora, seja fid) 7 H um subgrupo normal de 44. Se este
subgrupo normal H contém um 3-ciclo, digamos (123), então ele
contém também seu inverso (132) e portanto também (124), pois
(124) = (324)(132)(324)-1. Logo H D ((123), (124)) = A, pela
Proposição V.10.19, b), e portanto H = A,.
Se H não contém nenhum 3-ciclo, então ele contém um elemento
de K diferente da identidade, digamos (12)(34). Então, ele contém
também (13)(24) pois (13)(24) = (234)(12)(34)(234)-!, e também
(14)(23) pois (14)(23) = (12)(34)(13)(24). Portanto H=K. O
Corolário V.10.23. a) Sejan = 3 oun > 5. Então os grupos
tidy, An e Sn são os únicos subgrupos normais de Sn. Em particu-
lar, o grupo alternado A, é o único subgrupo de Sn de índice 2.

b) Sejan = 4. Seja K o grupo de Klein. Então tidl, K, As,Sa


são os únicos subgrupos normais de S4. Em particular, o grupo
alternado As é o único subgrupo de Sy de índice 2.

DEMONSTRAÇÃO. a) Evidentemente, fid!, 4, e S, são subgrupos


normais de S,.
Agora, seja H um subgrupo normal de S, e considere o homo-
morfismo de grupos

vi HS (-1,+ib,

definido por y(a) = 1, sea é par, e v(a) = —1, se a é ímpar.


Naturalmente, kr y = ENA, e(H:kery)=|W(H)|=1ou2.
Logo, (H: HNA,) = 1 ou 2. (Observe que este raciocínio vale
para o caso n = 4 também).
232 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

1º Caso: (HH: HENA,)=1,ie., HC A,. Como Has,, então a


fortiori H 3 4, e, pelo Teorema V.10.21, H = (id) ou H = Ah.

2º CAso: (H: EN A,) =2. Como Has, então ENA, IA, e,


pelo Teorema V.10.21, HN A, = fidjou HN A, = A,. Portanto
temos |[H|=2 ou H = S,.
Suponhamos que |H| = 2. Já que EN A, = (id), então H
contém uma permutação ímpar 7 de ordem 2. Tal permutação 7
é necessariamente um produto de transposições disjuntas, digamos
T=(12)02...ps. Então
Ti=(19)r(13)! EH, pois TEHAS,.
Como

T(2) = [(13)7(13)](2) = [(13)T](2) = [03)/(1) = 3


e como 7(2) = 1, obtemos que 7 É 7º e portanto que |H| > 3.
Assim, a suposição |H| = 2 leva a um absurdo e obtemos então que
H = Sa.
b) Evidentemente, (id), As, S4 são subgrupos normais de S4. Sendo
o único subgrupo de ordem 4 de 4,, o grupo de Klein K é um
subgrupo característico de A, e, A, sendo normal em 454, temos
que K é normal em S4 pela Proposição V.5.19.
Agora, seja H um subgrupo normal de S4. Se H € A,, então
H é normal em 44, logo H = tidl,ou H = K ou H = A.
Se H 7 A,, então H contém uma permutação ímpar. Ora, as
permutações ímpares consistem exatamente das seis transposições
e dos seis 4-ciclos. Se H contém uma transposição, então pelo
Lema V.10.16, H contém todas as seis transposições, logo H = S4
pela Proposição V.10.8. Se H contém um 4-ciclo, então pelo Lema
V.10.16, H contém todos os seis 4-ciclos; o subgrupo H vai também
conter a identidade e os quadrados dos 4-ciclos, que são os elementos
de K; logo |H| > 10e HNA, é um subgrupo normal de A, de ordem
> 5 pois, como observado anteriormente, o índice (H : EN A,) é
1 ou 2. Portanto, pelo Teorema V.10.22, EN 4, = À, e, como H
contém uma permutação impar, temos H = S4. [)
[SEC. V.10: GRUPOS DE PERMUTAÇÕES 233

Corolário V.10.24. Sejan > 5. Então,

D (Sa) = A; (An)! = Ap.

2) ZSn)= tid); Z(An) = lid);


T(Sn) = Sn; T(A,) = An.

3) Aut(S,,) — Aut(A,) é um isomorfismo;


o > O|A

Aut(S,) = T(Sn) = Sn sen £o6,

(Aut(Se6) . T(S6)) = 2

DEMONSTRAÇÃO. 1) O subgrupo dos comutadores (S,)' é normal


em S, e, portanto, pelo Corolário V.10.23, (Sn) = fidk, A, ou Sa.
Como A, 4 S, e Sn/An é abeliano, segue da ND V.4.7 que
vale (S,)' £ Sn; como S, não é abeliano, então (S,)'£ fid>.
Analogamente, (4,) é um subgrupo normal de 4, e portanto,
pelo Teorema V.10.21, (4,)'= (id) ou Ap. Agora, (A,)' + (id)
pois A, não é abeliano e portanto (4) = An.
2) O subgrupo Z(A,) é normal em A, e portanto, pelo Teorema
V.10.21, Z(A,) = (tidl ou A,. Mas Z(A,) £ An pois A, não é
abeliano e portanto, Z(A,)= (id).
O subgrupo Z(5,) é normal em $, e portanto, pelo Corolário
V.10.23, Z(S,) = tid), A, ou Sn. Como S, não é abeliano, temos
Z(Sn) £ Sn: Se supomos que Z(S,) = A,, então 9,/Z2(Sn) é cíclico
de ordem 2, o que é absurdo pela Proposição V.4.8. Portanto,
Z(Sn) = fidk. As outras afirmações do item 2) seguem do fato de
que T(G) = G/Z(G).

3) Ver W.R. Scott, Group Theory, 11.4.8. p. 314. Vide também os


Exercícios 49 e 51 no final deste capítulo. [)
234 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

Exercício V.10.25. a) Mostre que para n = 4 temos

(Sa) = As (Aq) = K;

Z(S)=+tid) ; ZA) =tids;


T(S4) Do S4 , T(A4) ud Au.

b) Mostre que T(S4) = Aut(S4) = Sa.


Dica: Prove que S4 = ((1234), (12)) e | Aut(S4)| < 6 x 6 = 36.
c) Mostre que T(A,) G Aut(A,) = Sa.
d) Mostre que V 1) E Aut(A,), o automorfismo 1) pode ser estendido
de uma única maneira a um automorfismo de Sa.
Dica: Considere a aplicação de restrição

Aut(S4) — Aut(4,)

pi Pla,

Exercício V.10.26. 1) a)Sejao € A; de ordem 3; mostre que o


é um 3-ciclo. Mostre que existem exatamente 2x CÊ? = 20 elementos
de ordem 3 em As.
b) Seja ô € As de ordem 5; mostre que ô é um 5-ciclo. Mostre que
existem exatamente 4! = 24 elementos de ordem 5 em Ás.
c) Seja 7 € As de ordem 2: mostre que 7 é um produto de duas
transposições disjuntas. Mostre que existem exatamente 3xC$=15
elementos de ordem 2 em As.
Observe que já obtivemos acima 59 elementos que, adicionados
ao elemento neutro, nos dão a totalidade dos elementos de As.
2) a) Mostre que As tem exatamente 10 subgrupos de ordem 3.
b) Mostre que 4; tem exatamente 6 subgrupos de ordem 5.
c) Mostre que As tem exatamente 5 subgrupos de ordem 4 que são

tid, (ab)(cd), (ac)(bd), (ad)(bc)+,


onde a, b, c, d são elementos distintos de (1,2,3,4,55.
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 235

DEMONSTRAÇÃO DE 2) c): Claramente o conjunto (id, (ab)(cd),


(ac)(bd), (ad)(bc)) é um subgrupo de ordem 4 de A; e existem
exatamente C$ = 5 deles. Vejamos agora que estes são os únicos.
Seja então H um subgrupo de ordem 4 de As. Pelo item 1), todos os
elementos de HNfid) são produtos de duas transposições disjuntas
e portanto tem ordem 2. Suponhamos, por absurdo, que H não
seja um dos 5 subgrupos listados acima; existem então elementos
(ab)(cd) E H e (ea)(6%) E H, onde fa,b,c,d,e) = 11,2,3,4,5) e
a,8,Y € (a,b,c, dj; logo o elemento (ab)(cd)(ea)(57y) pertence H,
o que é absurdo, pois sua ordem é > 3. De fato, esta permutação
leva a em e e não leva e em a. L)

Exercício V.10.27. a) Seja n > 3 um número inteiro. Mostre que


temos S, = ((12...n), (12)).
b) Seja p um número primo. Mostre que Vt,7 E (1,...,p), com
i + J, temos 5, = ((12...7),(19)).

Exercício V.10.28. Seja n um número impar > 5. Mostre que


temos A, = ((123),(345...n)).

V.11 Exercicios
1. Faça os itens seguintes:

a) Seja G = (e,91,92,...,9n) um grupo abeliano de ordem


n + 1. Suponha que G possui um único elemento de
ordem 2, digamos g1. Mostre que eg, ...Gn = G1-
b) Seja p um número primo ímpar. Mostre que o grupo
((Z/pZ)*, O) possui um único elemento de ordem 2, a
p
saber p — 1, e mostre que (p— 1)! = —Imodp. (Teorema
de Wilson).

2. Procure os elementos do grupo ((Z/24Z)*, O) e calcule suas


ordens.
256 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

. Determine a ordem de cada elemento de D,. Determine todos


os subgrupos de D,.

Sejam p um número primo e G um grupo de ordem p*. Mostre


que G possui no máximo p + 1 subgrupos de ordem p.
Dê um exemplo onde a cota (p + 1) é atingida e um exemplo
onde a cota não é atingida.

. Sejam G um grupo e H,K dois subgrupos de G. Suponha


que (G:H)e(G: K) são finitos. Mostre que (G: ENK) é
finito.

. Seja G um grupo tal que fe),G são seus únicos subgrupos.


Mostre que a ordem de G é um número primo.

. Seja G um grupo finito de ordem m. Seja n E N tal que


MDCtn,m) = 1. Mostre que todo elemento g de G pode ser
escrito na forma g = x” para algum x € G.

Seja G = (a) um grupo cíclico finito e u E N. Mostre que


temos O(a!) = O(a)/MDC(O(a), u+.

Faça os seguintes itens:

a) Seja G um grupo e sejam a,b E G tais que ab = ba.


Suponha que a e b tenham ordem finita, digamos O(a) =
ne O(b) = m. Mostre que O(ab) | MM.C.(n,m).
Mostre que se M.D.C.(n,m) = 1 então O(ab) = nm.
b) Seja G = GL(Q) (grupo das matrizes 2 x 2 invertíveis

(E) co( 4)
com entradas em Q). Sejam

Mostre que O(a) = 4, O(b) = 3 e que o produto ab não


tem ordem finita.

10. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e N um subgrupo


normal de G. Mostre que HN N é subgrupo normal de H.
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 237

11. Sejam H, K dois subgrupos de um grupo finito G tais que


IH| > V|G| e |K| > |G|. Mostre que |HNK| > 1.

12. Seja f: G; — Gs um homomorfismo de grupos. Mostre que


temos f(G1) € (f(G1)).
18. Seja G um grupo ey: G — G a aplicação definida por
Wlx) = xt. Mostre que G é abeliano se e somente se 1)
é um homomorfismo. Como caso particular, reencontre que
um grupo é abeliano se todos seus elementos & e tem ordem
igual a 2.

14. Seja G um grupo finito e escreva sua ordem como |G| = n-m,
com M.D.C.(n,m) = 1. Suponha que exista um subgrupo H
de G tal que |H| = n. Mostre que H é o único subgrupo de
G de ordem igual a n se e somente se H é normal em G.
Dica: Se K é outro subgrupo de ordem n, considere HK.

15. Sejam G1,Ga,...,Gn grupos e sejam H, H5,..., H, subgru-


pos normais de G1,G»,...,Gn, respectivamente. Mostre que
H, x Hox---x H, é um subgrupo normal de G;xG3x---xGn
e que temos o isomorfismo abaixo:

G1xGaX:xGh GG Gn
HxHx--xH Ho Ho “Ho

16. Seja f: G, — G» um homomorfismo de grupos, onde Gs é


um grupo abeliano. Mostre que todos os subgrupos de G;
que contêm ker f são subgrupos normais em Gy.

17. Seja G = f(a,b) ER* |a £ 0). Defina a seguinte operação:

V(a,b), (cd) e G, (a,b)-(c,d) = (ac,ad+b).

a) Mostre que (G, -) é um grupo não-abeliano.


Quem é o elemento neutro de G?
Quem é o elemento inverso de (a, b)?
Quem é o centro de G?
258 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

b) Seja K = ((1,b) |b € RJ. Mostre que K é um subgrupo


normal de G e que G/K = R*.

18. Dados a,b € R com a & 0, defina

Tab: R — R
> ax +b

Seja G = (7 |4%0, bER). Mostre que G é um grupo com


a operação de composição de funções. Compare este grupo
com o grupo do exercício anterior.

19. Seja K um corpo e seja G = GL,n(K) (o grupo das matrizes


n X n invertíveis com entradas em K). Seja SLi(K) = (4 €
GLi(K) | det(A) = 1). Mostre que SL,(K) «GLa(K) e que
o quociente GL,(K)/SL,(K) é isomorfo ao grupo K*.
Dica: Considere det: GL(K) > K*, A det(4).
20. Seja Sl := [r+iye C|7)4+yº = 1) o círculo unitário.
Mostre que a função

(R, +) —— (S", -)
T ESTiT

é um homomorfismo de grupos e conclua que o grupo S! é


isomorfo a R/Z.
21. Sejam G um grupo e a,b E GN fe). Suponha que 6º = ee
que bab”! = a2. Mostre que a ordem de a é 31.
2.2. Sejam G um grupo e a,b € G. Suponha que b” = e e que
bab! = a*. Mostre que a ordem de a divide s” — 1.
25. Determine os homomorfismos de G em H quando:
a) G=Sse H = Z/10Z.
bD)G=SeH=sS.
c)G=Z/10Z2e H = Z/152.
)G=DeH=S.
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 239

24. Seja x € D,NZ(D4). Seja y o automorfismo interno associado


a este elemento x. Mostre que «o define de maneira natural um
homomorfismo 7: D,/Z(D4) — D4/Z(D4). Mostre também
que p = ld, Plz(Da) = Id, q | Id.

29. Sejam 71,79, € Z; my,ma € Z. Mostre que existe um inteiro


re Ztal quer =r;modm, er =r,modm, se e só se temos
r, = r,mod M.D.C(mi,, mo).

26. Sejam a,b dois inteiros relativamente primos. Mostre que


a) + bla) = (mod ab), onde & é a função de Euler.
Dica. Considere a aplicação diagonal A: Z > Z/aZ x Z/bZ.

27. Seja & a função de Euler. Seja n um inteiro positivo. Mostre


que n = Pudin D(d).

28. Seja O a função de Euler. Mostre que

1
b(n)=n IH (1 — 5"
p primo
pin

29. Mostre que todo subgrupo finitamente gerado de (Q,+) é


cíclico. Use isto para provar que Q não é isomorfo a Q x Q.

30. Sejam G, e Gs dois grupos dados por geradores e relações da


maneira seguinte:

IG1|=9.3=27 65] =9.3=97


G, = (a,b) Go = (a, 8)
a =e aq = e
bi —e B'=e
ba = ab Ba =a'B

Mostre que G; = Gs.


Dica: No grupo Gi, considere os geradores 4:= ae B:=b.
240 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

31 Seja G := [f+l,+:,+9,+k) com a tabela de multiplicação


seguinte:
g=- =k, jk =—kj=1,

ki=-ik=9, t=j=kt=-1.
Mostre que G é isomorfo ao grupo dos quaternios Qs.

32. Seja n > 3 um inteiro. Mostre que o grupo Q, dos quaternios


de ordem 2” não é isomorfo ao dihedral D,n-: de ordem 2”.
Dica: Mostre que o grupo dos quaternios possui exatamente
um elemento de ordem 2.

3). Mostre que T(D4) = (Z/2Z) x (2/22) e Aut(D4) = Da.

34. Mostre que T(Q3) = (Z/2Z) x (2/22) e que | Aut(Q3)| = 24.


(No capítulo seguinte, veremos que Aut(Qs) = S4).

do. Exiba pelo menos quatro grupos de ordem 27 não isomorfos


dois a dois.

36. Sejam p um número primo e n > 3 um inteiro. Mostre que


existe um grupo não abeliano de ordem p”.

ST. Sejam p < q dois números primos:

a) Mostre que o único produto semidireto de Z/pZ por


Z,/gZ é o produto direto.
b) Classifique os produtos semidiretos de Z/gZ por Z/pZ.
(Considere separadamente os casos p|(q- 1) ept(g—1)).

38. Existem 14 grupos de ordem 16. Determine tantos quanto


você puder.

39. O objetivo deste problema é de mostrar que se H é um sub-


grupo normal de um grupo G, então em geral G não é isomortfo
a nenhum produto semidireto G/H x H.

Seja G :— 2/42 x Z/4Z. Seja H := ((1,7); à = 0,1,2,3,


j = 0,2). E imediato verificar que H é um subgrupo de G,
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 241

normal em G (pois G é abeliano), isomorfo a Z/42Z x Z/2Z e


que G/H = Z/2Z. Mostre que G não é isomorfo a nenhum
produto semidireto G/H x H.

40. O objetivo deste problema é de estabelecer uma relação entre


o conceito de produto semidireto e o conceito de seção.
Seja G um grupo. Seja H um subgrupo normal de G e seja
HS G2G/H
inclusão

9H q.
a) Suponha que exista um homomorfismo s: G/H > G tal
que pos = Idçg;y (tal homomorfismo s se chama uma
seção de G/H em G).
1) Observe que s é injetivo e mostre que G é isomorfo
a algum produto semidireto G/H x H.
2) Mais precisamente, exiba um homomorfismo
o: G/H > Aut(H) e exiba um isomorfismo
6: G/H x H > G tais que o seguinte diagrama
comuta:

HS GHxH É G/H
o

Idy 1 Ló 1 Idgn O
H SS G 2 G/H
CX

onde
vHS>G/HxH
h > (ec/H, h)

P:G/HxH>G/H

(9,h)
+ 3.
242 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

b) Reciprocamente, suponha que exista um homomorfismo


o: G/H — Aut(H) e um isomorfismo 6: G/HxH > G
tais que o diagrama (*) comute. Mostre que existe uma
seção s: G/H > G.

41. Escreva as permutações abaixo como produtos de ciclos dis-


juntos e calcule as suas ordens:
a) 123456789
234516798
1234567
b) (Gsastor)
o) — (123)(45)(16879)(15)
d) — (29(123)(12)
42. Calcule cao”* 1
nos exemplos seguintes:
a) o= (135)(12) a = (1579)
b) o=(579) a = (123)(34)
o) o=(12)(34) o = (123)(45)
43. Encontre uma permutação o tal que a” = cao”! nos exemplos
seguintes:
a) a=(12)(34) o! = (56)(13)
b) a=(129(78) = (257(13)
o) a=(I12)(34)(578) o! = (18)(23)(456)
44. Seja G um grupo.

a) Se H,,...,H,,K são subgrupos de ordem ímpar, mostre


que (H,U---UH,)NK| é ímpar.
b) Se H,,...,H, são subgrupos de ordem ímpar, mostre
que |H,U---U H,| é ímpar.
c) Se G tem ordem par, mostre que G possui algum ele-
mento de ordem 2.
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 243

49. Seja G um grupo de ordem 2k com k ímpar. Considere G


como subgrupo de S5, através do homomorfismo injetivo

T:G—s P(G) = Sa
95 T:G>G
a ga

Mostre que G possui um subgrupo de índice 2.


Dica: Mostre que existe a € G com ordem 2 e considere Th.

46. Seja Ds o grupo dihedral de 12 elementos. Sejam a := a


rotação plana de ângulo 27/6 e b:= uma das reflexões.

a) Mostre que Z(Ds) = (aº) e que T(Ds) = Sa.


b) Mostre que (a?) é um subgrupo de ordem 3, característico
em De. Mostre que Ds possui um subgrupo L isomorfo
ao grupo 93.
c) Mostre que Ds é isomorfo ao produto direto $3 x Z/2Z.
d) Mostre que Aut(De) = De.

Para os próximos cinco exercícios precisamos introduzir aqui


alguns conceitos. Dois elementos x,y de um grupo G são
ditos conjugados em G se existe ge Gtal quey= 9x9". É
fácil verificar que a relação de conjugação é uma relação de
equivalência em G. Suas classes de equivalência são chamadas
de classes de conjugação do grupo G; assim, sex € G, a classe
de conjugação de G que contém o elemento x é o conjunto

Ct(x) := fgxg”!; ge G).

Note que, pelo Lema V.10.16, dois elementos de S, são con-


jugados em S, se e somente se eles têm o mesmo tipo de
decomposição; em particular, os conjuntos (transposições+,
(3-ciclos) e fo E Sn; O tem tipo (2,2)) são classes de con-
Jugação de S,. Note também que, pela Observação V.10.17,
244 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

este tipo de resultado não vale no grupo alternado 4,: os 3-


ciclos (123) e (124) têm claramente o mesmo tipo de decom-
posição, mas não são conjugados em A, (eles são conjugados
em S, e também em A,, Yn > 5, como segue do item c) do
Lema V.10.16); assim, o conjunto (3-ciclos) não é uma classe
de conjugação de 4, mas é uma classe de conjugação de A,,
para cada n > 5.

47. Sejam G um grupo e o E Aut(G). Se x € G, mostre que


temos o(Ct(x)) = Cf(o(x)), e portanto que o automorfismo
oc manda uma classe de conjugação de G sobre uma classe
de conjugação de G com a mesma cardinalidade (evidente-
mente, o automorfismo o manda um elemento de G sobre um
elemento da mesma ordem).
48. Seja o € Aut(S,). Se o é um automorfismo interno de Sn,
então, pelo Lema V.10.16, o manda transposições sobre trans-
posições. O objetivo deste exercício é mostrar a validade da
recíproca. Seja n > 3 um inteiro e seja o € Aut(S,) um auto-
morfismo tal que o manda transposições sobre transposições.

a) Se (ij) e T são duas transposições, mostre que 7 é da


forma (ik) com k É j se e somente se (ij))oT £To (ij).
b) Mostre que o((12)) e o((13)) são duas transposições que
não comutam e portanto que, pelo item a), elas têm exata-
mente um elemento em comum; digamos

o((12)) = (mas) e c((13))= (ajas),


com a, as, à3 elementos distintos de (1,2,...,nj. Mostre que

o((12)) = (ajas), o((13)) = (ajas),...,o((In)) = (aan),

com fa,,a2,...,0ny = 11,2,..5,n%

c) Seja p € Sa à permutação de (1,2,...,n+ definida por


p(i) = a; parati = 1,2,...,n, e seja T, O» automorfismo in
terno de S, associado ao “elemento p (i e., To(v)= pvp”!
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 245

Vv € Sn). Verifique que para todo à = 2,3,...,n, temos que


To((1i)) = (ma;) = o((1i)) e conclua então que o = Z,.

49. Seja n > 3 um inteiro. O Corolário V.10.24 afirma o seguinte:

e Aut(S,) = T(Sn) = Sn, Sen É 6.


e Aut(S6) 2 T(Se6) = Se.

O objetivo deste exercício é de estudar os casos n = 5,6,7.


Para este estudo, os Exercícios 47 e 48 serão importantes.

a) Sejjan = 50un=7. Seo € Aut(S,), mostre que o au-


tomorfismo o manda transposições sobre transposições (seria
possível mostrar que este resultado vale para todo n > 5 com
n & 6). Conclua que Aut(S,) = T(Sn) = Sn.
Dica. Mostre que (transposições) é a única classe de con-
jugação de S, formada de elementos de ordem 2 com cardi-
nalidade igual a n(n — 1)/2.

b) Mostre que Cj := (transposições de Ser e Co := (fo E S$;


o tem tipo (2,2,2)) são duas classes de conjugação de Se
com a mesma cardinalidade, ambas formadas de elementos
de ordem 2. Seria possível provar que existe o € Aut(56) tal
que o(C14) = €5; pelo Lema V.10.16, tal automorfismo o não é
um automorfismo interno de S e logo Aut(Se) 2 T(S6) = Se.

o). Seja o € Aut(A,) um automorfismo do grupo alternado A,.


Se o é a restrição para 4, de um automorfismo interno de 8,
(i.e., se existe p € 5, tal que o = ZplA,) então, pelo Lema
V.10.16, o automorfismo o manda 3-ciclos sobre 3-ciclos. O
objetivo deste exercício é verificar à validade da recíproca.
Seja n > 5 um inteiro e seja o € Aut(4,) um automorfismo
tal que o manda 3-ciclos sobre 3-ciclos.

a) Se (ijk) e T são dois 3-ciclos, mostre que T é da forma


(19º) com £ £ k se e somente se (ijk) e 7 não comutam e o
produto (ijk) o 7 tem ordem 2.
246 [CAP. V: TEORIA BÁSICA DOS GRUPOS

b) Mostre que o((123)) e o((124)) são dois 3-ciclos que não


comutam e que o produto o((123)) o o((124)) tem ordem 2.
Pelo item a), estes dois 3-ciclos têm exatamente 2 elementos
em comum; digamos

o((123)) = (ajasa3) e oc((124)) = (ajasas),

com q1,02,03,/44 elementos distintos de (1,2,...,n+


Mostre então que

(123) = (ajaças), o(124) = (ajasas),...,o(12n) = (ayasa,),

com (ar,02,..,0n) = 141,2,...,n5.

c) Seja p E Sn à permutação de (1,2,...,ny definida por


p(i) — a; para i = 1,2,...,n, e seja T, o automorfismo
interno de 5, associado ao elemento p. Verifique que para
i=83,...,n, temos T,((12:)) = (ajaga;) = o((12:)) e conclua
então que o = Tola,.-

51. Seja n > 5 um inteiro. Entre outras coisas, o Corolário


V.10.24 afirma o seguinte:

e Aut(A,) — Sa; sen + 6.


e Aut( As) não é isomorfo a 96.

O objetivo deste exercício é de estudar os casos particulares


n = 5,6,7,8,11. Para este estudo, os Exercícios 47 e 50 serão
muito importantes.
Para n > 5, considere a aplicação

4: Sa — Aut(A,)
p + Tola:

a) Mostre que 4 é um homomorfismo injetivo.


b) Se n = 5, mostre que %) é um isomorfismo.
[SEC. V.11: EXERCÍCIOS 247

c) Para n > 6, mostre que o conjunto fo € An; o tem tipo


(3,3)) é uma classe de conjugação de A, (note que para n > 8,
este resultado segue do item c) do Lema V.10.16).
d) Paran = 7 ou n = 8, mostre que todo automorfismo
o E Aut(A,) é tal que o manda 3-ciclos sobre 3-ciclos, e
conclua então que %) é um isomoríismo.
Dica. Mostre que (3-ciclos) é a única classe de conjugação
de A, com cardinalidade Ur?) formada de elementos
de ordem 83.
e) Sen = 6, mostre que C4 := [3-—ciclos de Agje C5 := (o E
As; o tem tipo (3,3)t são duas classes de conjugação de Ag
com a mesma cardinalidade, ambas formadas de elementos de
ordem 3. Seria possível mostrar que existe o € Aut(As) tal
que o(C4) = Cs; pelo Lema V.10.16, tal automorfismo o não
pertence à imagem (S6). Logo Se = W(S6) & Aut(As).
f) Mostre que Aut(4,,) = Sh.
Capítulo VI

Estudo de um Grupo via


Representações por
Permutações

Na primeira parte de nosso estudo de grupos, consideramos alguns


conceitos básicos e demos exemplos concretos de grupos tais como
os grupos das matrizes invertíveis GL,(K), onde K é um corpo, os
grupos das permutações 5, e seus subgrupos 4,, D,, etc. Quando
procurávamos uma propriedade num grupo dado G, nossa atitude
foi de trabalhar dentro do próprio grupo, analisando seus elementos,
seus subgrupos, etc.
Nesta segunda parte, vamos adotar uma atitude diferente. Se
G e G são dois grupos e se p: G — G é um homomorfismo de
grupos, é razoável esperar que algumas propriedades de G possam
ser transportadas para G via o homomorfismo p. Agora, se G é
um grupo concreto (por exemplo se G é um grupo de permutações
ou um grupo de matrizes invertíveis), poderemos, possivelmente,
reconhecer se algumas propriedades estão de fato satisfeitas em G
e, possivelmente, trazê-las de volta para G via o homomorfismo p.
É esta idéia de estudar um grupo G via um outro grupo G e um
homomorfismo p: G — G que vamos explorar nesta parte do livro.
Dado um grupo G, uma representação de G é um homomorfismo
p de G em algum grupo G. Historicamente, as representações do

249
250 [CAP. Vi: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

tipo p: G — GL(n, K), onde K é um corpo e n um inteiro posi-


tivo, tiveram muito sucesso. Tais representações são chamadas de
representações matriciais ou lineares de G de grau n.
Se C:=(uw,...,un+ é um conjunto de n elementos e P(C) é o
grupo das permutações do conjunto €, uma representação do tipo
p:G > P(C) é chamada de representação de G por permutações
de grau n. Uma tal representação por permutações de grau n pode
ser interpretada como um caso particular de uma representação
matricial de grau n da maneira seguinte:

Pa: G — GL(n, K)

q (d:;(9)Dicij<n
onde
5:(9) = 1,se (1,7) é tal que u; = p(g)(u;)
519 O , caso contrário.

Neste livro, estaremos somente interessados nas representações


de um grupo G por permutações de um conjunto. Tentaremos
descobrir o máximo possível da estrutura de G. Entre os tópicos
específicos que abordaremos, estão os seguintes:

e Existência de subgrupos de uma ordem dada, quantidade de


tais subgrupos e relações existentes entre eles.

e Estudo de algumas propriedades dos p-grupos finitos.

e Determinação dos grupos simples de ordem < 60.

e Classificação dos grupos de ordem < 15.

VI.1 Representação de um Grupo por


Permutações
Definição VI.1.1. Sejam G um grupo, € um conjunto e P(C) o
grupo de permutações de €. Uma representação de G no grupo de
permutações de C é um homomorfismo p: G — P(C), isto é, uma
[SEC. Vl.1: REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO POR PERMUTAÇÕES 251

função tal que p(g192) = p(g1) o p(g2). Diz-se também que o grupo
G opera sobre o conjunto CU.
Dado um grupo G, podemos considerar G também como um
conjunto; neste caso, afim de evitar confusões, utilizaremos o simbolo
Go para designar o conjunto G.

EXEMPLO C.1: Seja G um grupo e seja € = Go. Considere

T: G — P(Go)

9H>S Lo: Go — Go

a > gag”*.

Sabemos que Z é um homomorfismo, logo uma representação de G


no grupo de permutações do conjunto Gs.

Exercício VI.1.2. Seja G um grupo e seja H um subgrupo normal


de G. Considere a aplicação

T: G —— P(Ho)

9 Lo: Ho > Ho
hr ghg*.

Mostre que esta aplicação é uma representação de G no grupo das


permutações do conjunto Ho = H.

ExEMPLO T.1: Seja G um grupo e seja C = Go. Considere

f: G — P(Go)

grs To: Go > Go


a» ga.

Foi verificado na prova da Proposição V.10.1 que T é um homo-


morfismo. Assim, temos uma outra representação de G no grupo
de permutações do conjunto Go.
252 ICAP. Vi: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

EXEMPLO C.2: Seja G um grupo e seja € = (subgrupos de G).


Considere a aplicação

TG — P(C)
g 5 T: C5>C
Ho gHg”.

É fácil verificar que, Vg E G, a função T;: C > €C é uma per-


mutação de € e que a aplicação T é um homomorfismo. Assim,
a aplicação T é uma representação do grupo G no grupo de per-
mutações do conjunto dos subgrupos de G.
Note que caso todos os subgrupos de G sejam normais (por
exemplo, se é G abeliano), a representação acima é trivial (isto é,
a aplicação T é o homomorfismo trivial).

ExEMPLO C.3: Seja m um inteiro positivo. Seja G um grupo e


seja C = (subgrupos de G de ordem m+. Considere
TG — P(C)
95
LT: CS5SC
Ho 9Hg |.

É claro que se H é um subgrupo de ordem m, então T(H) = 9Hg”"


também é subgrupo de ordem m e, assim, Z, é realmente uma
função de C em C. É fácil ver que Tg; é uma bijeção. De fato,
se H,H, € € são tais que T;(H,) = To(Ho), isto é, são tais que
9Hig"! = 9Hog”!, então H, = 9 (9gHig Dg = 99H59Dg =
Ho, de modo que a função T, é injetiva. Se H E €, então também
g'HgeC eH=g(g!'Hg)g! = Zig *Hg), de modo que T, é
sobrejetiva. Finalmente, é fácil verificar que 7 é um homomorfismo.
Assim, TZ é uma representação de G no grupo de permutações do
conjunto dos subgrupos de G de ordem m.
Note que se todos os subgrupos de G de ordem m forem normais,
então a representação acima é trivial.

ExEeMPLO T.2: Seja G um grupo e seja C =(Classes laterais à


esquerda de H em G|= (aH | a € G), onde H é um subgrupo do
[SEC. V!.1: REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO POR PERMUTAÇÕES 253

grupo G. Considere a aplicação

TG — P(C)
95 TG: C>C
al
> gal.

É fácil ver que 1, é uma bijeção. De fato, se aHl,bH e € são


tais que Ti(aH) = To(bH), isto é, são tais que gaH = gbH, então
aH = g!gaH = g !gbH = bH, de modo que T, é injetiva. Se
cH e C,enãog!cHeCecH = gg''cH = Ty(g!cH), de
modo que T, é sobrejetiva. Finalmente, é fácil verificar que T' é um
homomorfismo. Assim, Tº é uma representação de G no grupo de
permutações do conjunto das classes laterais à esquerda de H em
G. Note quekerT = (ge GlagaleH, VaeG/CcH.

EXEMPLO T.3: Sejam G um grupo e K um subgrupo de G. Seja H


um subgrupo de G e seja €C = (Classes laterais à esquerda de H em
Gy = taH |a e G). Considere a restrição a K do homomorfismo
T definido no Exemplo T.2, isto é, considere

T:K
— P(C)
kS> To: C5C
aH
> ka.

Assim, T' é uma representação de K no grupo de permutações


do conjunto das classes laterais à esquerda de H em G.

Neste livro, utilizaremos somente representações definidas a par-


tir da função “automorfismo interno” T: gr» TZ, (que chamaremos
de representações por conjugação) e representações definidas a par-
tir da função “translação” T: g -» T, (que chamaremos de repre-
sentações por translação, ou representações regulares).
Assim, nosso objetivo será sempre de procurar um conjunto €
que seja permutado de maneira natural pelos automorfismos inter-
nos de G (tipicamente, C' será Gy ou um conjunto de subgrupos
de G), ou que seja permutado de maneira natural pelas translações
254 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

de G (tipicamente, € será um conjunto de classes laterais de um


subgrupo H de G).
Os exemplos 0.1, €.2, €.3 são exemplos de representações por
conjugação, os exemplos T.1, T.2, T.3 são exemplos de represen-
tações por translação. Naturalmente, para conseguir resultados in-
teressantes, vamos ter que escolher o conjunto €C de acordo com o
problema em estudo.
Sejam G um grupo, C um conjunto e seja p: G — P(C) uma
representação de G. Sobre o conjunto €, definimos uma relação de
equivalência — da seguinte maneira:
Vrvel, rey existe g E G tal que p(g)(x) = y.
Verifique que esta relação » é uma relação de equivalência sobre o
conjunto C.
Definição V1.1.3. Seja x e C. À órbita de x é o conjunto

Dr) = tyeC|y- xy=tolgx) |ge G).


O estabilizador de x é o conjunto dos elementos de G que deixam
o elemento z fixo, isto é

E(z) := (ge G | olgx) = 5.


É imediato verificar que o estabilizador E (x) é um subgrupo de G.
Quando existe somente uma órbita, isto é, quando C = Q(x)
para algum x € C' (e logo para todo x € C), dizemos que a repre-
sentação p é transitiva.
O próximo teorema mostra que existe uma relação estreita entre
a órbita de um elemento e o seu estabilizador:
Teorema VI.1.4. Seja p: G — P(C) uma representação do grupo
G no grupo de permutações do conjunto C. Seja x E C. Então a
aplicação y abaixo é uma bijeção:
vw: O(x) — [Classes laterais à esquerda de E(x) em G)
plg)(x) = gE(a).
Em particular, no caso de G ser um grupo finito, temos que
O(x)) = (G: E(x)) e que |O(x)| divide |G|.
[SEC. Vl.1: REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO POR PERMUTAÇÕES 250

DEMONSTRAÇÃO. Primeiro, devemos verificar que a aplicação Y


é bem definida no sentido de que a imagem /(y) de um elemento
y € (x) não depende da escolha do elemento g € G utilizado para
obter y a partir de x. Sejam 91,92 € G tais que p(gi)(x) = p(go)(x);
então aplicando p(g5!) em ambos os lados e utilizando o fato de p
ser um homomorfismo, obtemos p(95 'gi)(x) = Z; assim, temos que
92'91 € E(x), logo 9) E g2E(x) e Ex) = g,E(a).
Agora, a aplicação Y) é sobrejetora pois, se gE(x) é uma classe
lateral à esquerda de E(x) em G, então temos que gE(x) = W(y)
com y = p(g)(x).
Finalmente, para ver que 1) é injetora, sejam y = p(g)(x) e
v2 = p(9g2)(x) dois elementos de D(x) tais que b(y) = W(y), isto
é, tais que gE(x) = goE(x). Então temos gi '9g2 € E(z), logo
p(gr'go)(x) = x, ou seja p(gr ) o p(go)(x) = x e, portanto, temos
v> = p(go)(x) = p(gi) 0 lg ) o p(g)(x) = plgu)(x) = qn. E
Vejamos estes conceitos de órbita e estabilizador de um elemento
em algumas das representações particulares consideradas previa-
mente:

EXEMPLO C.1: Sejam G um grupo e E = Go. Seja


TZ: G — P(Go)

gr5S Lo: Go > Go

T+ grg”.

Seja x € Go. À órbita D(x) = (L(x)|ge Gh=[lgrg! |ge G)


de um elemento x € Go nesta representação por conjugação se
chama a classe de conjugação de x, e se denota Cf(x). Os elementos
de Cf(x) se chamam os conjugados de x em G. Observe que temos
Cilx)=friosgrg!l=r, VgeGezxeZ(G).
O estabilizador E(x) = (ge G| Zlx) = 2x) = tg E G |
gxg”! = 1h = (g E G | 9 comuta com x) de um elemento de x E Go
nesta representação por conjugação se chama o centralizador de 4,
e se denota Z(x).
Observe que aqui, o Teorema VI.1.4 nos dá
Cf(x)| = (conjugados de z em Gh = (G: Z(x)).
256 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Naturalmente, o conjunto Go é igual à união (disjunta) das


classes de conjugação. Em cada classe de conjugação escolhemos
um representante xo. Então, temos |G| = > , |Cf(x5)|, logo

Gl=|Z(G|+ 5 Ickxa).
TaÉZ(G)

Esta igualdade se chama a equação das classes de conjugação.


Nessa altura fazemos uma pausa para observar que esta equação
que foi obtida de maneira muito simples já permite tirar algumas
consequencias interessantes:

AFIRMAÇÃO 1: Seja p um número primo e seja G um grupo de


ordem p” com n > 1. Então Z(G) tem pelo menos p elementos.

DEMONSTRAÇÃO. Temos |G| = |Z(G)| + > gz(a) Cllxa)). Para


elementos za É Z(G), temos |Cf(x.)| > 1; pelo Teorema VI. 1.4,
sabemos que |Cf(x,)| divide |G!|, isto é, divide p”; logo, |Cf(xa)| é
um múltiplo de p, > ...g7() [Ct(za)| é um múltiplo de p e portanto
1Z(G)| = IG) — Doug z(a) [Cllxo)| é um múltiplo de p. Por outro
lado, já que o elemento neutro pertence a Z(G), temos |Z(G)| 0.
Portanto, o centro Z(G) tem pelo menos p elementos. D

Como caso particular, reobtemos que D, e ()3 têm um centro


com pelo menos 2 elementos.

AFIRMAÇÃO 2: Seja p um número primo. Então todo grupo G de


ordem pº é abeliano.

DEMONSTRAÇÃO. Pela Afirmação 1, temos |Z(G)| = p ou p*; por


outro lado, já sabemos que o centro de um grupo nunca pode ter
índice no grupo igual a um primo (vide Proposição V.4.8): logo
|Z(G)| = pº e portanto, o grupo G é abeliano. O
Exercício VI.1.5. Seja p um número primo. Classifique os grupos
de ordem pº.
[SEC. VI.1: REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO POR PERMUTAÇÕES 257

ExEMPLO C.2: Seja G um grupo e seja € = (subgrupos de G).


Considere a aplicação

T:G —S P(C)
95 LT: CS Co
H 5 gHg.

A órbita O(H) = (LH) |g e G) = (9gHg"! | ge G) de um


subgrupo H se chama a classe de conjugação de H. Os elementos
de 9(H) se chamam os subgrupos conjugados de H. Observe que
temos O(H)= (Hj) e HaG.
O estabilizador E(H) = (ge G|Z(H) = Hj = (ge G|
9gHg"! = HJ se chama o normalizador de H em G, e será denotado
por Na(H). Verifique que Ng(H) é o maior subgrupo de G no qual
H é normal e também que No(H) =G & H aG.
Observe que aqui, o Teorema V1.1.4 nos dá

& (conjugados de H em G) = (G: No(H)).

ExEMPLO 0.4: Seja G um grupo. Sejam K um subgrupo de G e


C = (subgrupos de GJ. Considere a aplicação

T:Kk— P(C)
ks TT: CS C
Ho kHk,

isto é, a restrição para K da representação do Exemplo 0.2.


A órbita O(H) = (ZH) [ke K) = (kHk! | ke K] de
um subgrupo H se chama a K-classe de conjugação de H. Os
elementos de 9(H) se chamam os K-conjugados de H.
O estabilizador é

E(H)=(ke K, kHk! = Hh=KNNd(H).

Observe que aqui, o Teorema V1.1.4 nos dá

4(K-conjugados de H) = (K: KN Ne(H)).


2598 [CAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Exercício VI.1.6. Determine as órbitas e os estabilizadores nos


Exemplos T.1, T.2, T.3. Verifique que nos Exemplos T.le T.2 a
representação é transitiva.

Exercício VI.1.7. Seja G um grupo e seja € um conjunto. Seja


p: G — P(C) uma representação de G no grupo de permutações
de C. Seja z um elemento de C e seja 9(z) sua órbita. Então

pr: G— P(D(2))
9+ p(9)lo(.)
é uma representação transitiva.

VI.2 Teoremas de Sylow


Já sabemos que a recíproca do Teorema de Lagrange não vale em
geral: por exemplo, A, tem ordem 12 mas não possui subgrupo de
ordem 6; 4; tem ordem 60 mas não possui subgrupo de ordem 30.
O resultado mais geral na direção de uma recíproca ao Teorema
de Lagrange que provaremos é o seguinte:

Teorema VI.2.1. (1º Teorema de Sylow). Sejam p um número


primo e G um grupo de ordem p”b com (p,b) = 1. Então, para
cada n,0 <n <m, existe um subgrupo H de G tal que |H| = p”.

Primeiro provamos um caso particular:

Lema VI.2.2. (Cauchy). Seja G um grupo abeliano finito. Seja p


um número primo que divide |G|. Então existe x E G de ordem p.

DEMONSTRAÇÃO DO LEMA: Fazemos uma indução sobre |G!.


Se |G| = 1, não há nada para fazer.
Se [G| > 1, supomos, como hipótese de indução, que o lema vale
para todos os grupos abelianos de ordem menor que |G|; queremos
mostrar que o lema vale também para o grupo G.
Se p = |G|, então G é cíclico e qualquer gerador de G tem ordem
p (neste caso, não precisamos usar a hipótese de indução).
ISEC. VI.2: TEOREMAS DE SYLOW 299

Se p * |G|, afirmamos primeiro que existe um subgrupo H tal


que 1<|H|<|G|. De fato, tome y E G, ye; se (y) + G então
H = (y) serve; se (y) = G, então y £ee H = (y?) serve, pois
1H | = O(y?) = |Gl/p < |G!|.
Agora, se p divide |H| então, pela hipótese de indução, existe
elemento zr E H € G de ordem p, e acabou.
Se p não divide |H| então, pela igualdade |G| = |[HI||G/H|,
vemos que p divide |G/H]| e que |[G/H| < |G!; logo, pela hipótese
de indução, existe Z € G/H de ordem p. Considere o homomorfismo
canônico py: G — G/H, etome z E Gtal que p(z) = Z. Seja r a
ordem deste elemento z; temos z” = e, logo p(2”) = (e) ou seja
2” = ee, portanto, r é um múltiplo da ordem de Z, isto é, 7 é um
múltiplo de p, digamos r = kp com k > 1. Então, z* é um elemento
de G de ordem p. [)

DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA VIT.2.1: Fazemos uma prova por


indução sobre |G|.
Se |G| = 1, não há nada para fazer.
Se |G| > 1, supomos, como hipótese de indução, que o teo-
rema vale para todos os grupos de ordem menor que |G!|; queremos
mostrar que o teorema vale também para o grupo G.
Seja n um inteiro positivo tal que p” divida a ordem de G.

Caso 1: Se existe um subgrupo próprio H de G tal que p” divida


a ordem de H. Neste caso, pela hipótese de indução, temos que H,
e portanto a fortiori G, possui um subgrupo de ordem p”.

Caso 2: Se não existe um subgrupo próprio H de G tal que p”


divida a sua ordem. Neste caso, considere a equação das classes de
conjugação:

Gi=|HO+ Do ICU) =|2Gl+ a (G: Z(xa))


Para xo É Z(G), temos Z(x,) G G, logo, por hipótese, p” não
divide |Z(x4)|, e portanto p divide (G : Z(x5)). Como p divide
260 ICAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

|G|, obtemos então que p divide |Z(G)|. Como Z(G) é um grupo


abeliano existe, pelo lema de Cauchy, um elemento y E Z(G) de
ordem p. Como y € Z(G), é claro que (y) 4G, de modo que podemos
considerar o grupo quociente G/(y). Naturalmente, |IG/(y)| < |G| e
p"-! divide |G/(y)|. Logo, pela hipótese de indução, o grupo G/(y)
possui um subgrupo K” de ordem p"”!. Considere o homomorfismo
canônico p: G — G/(y) etome K = q !H(K9. Então K é um
subgrupo de Ge |K| = |kerpv||K'| = |(WI|K'| = p”. L

Corolário VI.2.3. (Generalização do lema de Cauchy).


Sejam G um grupo finito e p um número primo que divide |G|.
Então existe um elemento x E G de ordem p.

Corolário VI.2.4. Seja G um grupo finito e seja p um número


primo. Seja p” a maior potência de p que divide |G|. Então existe
um subgrupo de G de ordem p”.

Definição VI.2.5. Sejam G um grupo finito, p um primo e p” a


maior potência de p que divide |G|. Os subgrupos de G que têm
ordem p” (cuja existência está garantida pelo corolário acima) são
chamados de p-subgrupos de Sylow de G.
Observe que se p é um número primo que não divide |G!|, então
fek é o único p-subgrupo de Sylow de G.
Corolário VI.2.6. Sejam G um grupo finito e p um número primo.
Então |G| é igual a uma potência de p se e só se cada elemento do
grupo G tem sua ordem igual a uma potência de p.

DEMONSTRAÇÃO. Se |G| = p' ese x € G, então a ordem de « é


um divisor de p* e, portanto, é uma potência de p.
Reciprocamente, se |G| não é uma potência de p, existe um
número primo q tal que q £ p e q divide |G!|; pelo Corolário V1.2.8,
existe um elemento x € G de ordem q. []

Definição VI.2.7. Seja p um primo. Um grupo G (não necessa-


riamente finito) no qual todo elemento tem sua ordem igual a uma
potencia de p é chamado um p-grupo.
ISEC. VI.2: TEOREMAS DE SYLOW 261

Exemplo V1.2.8. 1) Os grupos Ds, Q3,Z/8Z, (2/42) x (2/22),


e (Z/2Z) x (Z/22) x (2/22) são 2-grupos de ordem 8 = 2º.
2) O grupo (Z/p"Z, &) é um p-grupo de ordem p”.
p”

3) (2/22) x (2/22) x (Z/2Z) x ... é um 2-grupo infinito.


O Corolário V1.2.6 diz que os p-grupos finitos são exatamente
os grupos cuja ordem é uma potência do primo p.
Acabamos de ver que se G é um grupo finito, se p é um primo e se
p” é a maior potência de p que divide |G!|, então existem subgrupos
de G de ordem p” (os p-subgrupos de Sylow de G). É claro que
se S é um p-subgrupo de Sylow de G ese p € Aut(G), então p(S)
é também um p-subgrupo de Sylow de G, pois ele tem o mesmo
número de elementos que 5, isto é, ele tem p” elementos. Em
particular, se p € T(G), isto é, se p = T, para algum g € G, então
To(S) = 999! é um p-subgrupo de Sylow de G. Vamos mostrar
que, dado um primo p, todos os p-subgrupos de Sylow de G podem
ser obtidos deste modo a partir de um deles, isto é, que dado um
primo p, todos os p-subgrupos de Sylow de G são conjugados entre
si. Nós vamos mostrar também que os p-subgrupos de Sylow de G
são exatamente os p-subgrupos maximais de G.

Teorema VI.2.9. (2º Teorema de Sylow).


Sejam G um grupo finito, p um número primo e np o número
de p-subgrupos de Sylow de G. Então:

a) Todos os p-subgrupos de Sylow de G são conjugados entre si.


Em particular, um p-subgrupo de Sylow S de G é normal em
G see somente se S é o único p-subgrupo de Sylow de G.
Neste caso, S é um subgrupo característico de G.

b) Se P é um p-subgrupo de G, existe um p-subgrupo de Sylow


S deG tal que PCS.

c) Se S é um p-subgrupo de Sylow, temos np = (G: Ne(S)).

Antes de iniciar a prova do teorema, provamos o seguinte lema:


262 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Lema VI.2.10. Sejam G um grupo finito e p um número primo.


Sejam S um p-subgrupo de Sylow de G e P um p-subgrupo qualquer
de G. Então PN Ng(S) = PNS.

DEMONSTRAÇÃO. Suponhamos que PN No(S) 2 PNS e seja


re PMN Ng(S) NS; o elemento x tem ordem igual a uma potência
de p, pois x € Pe, por hipótese P é um p-grupo. Como x € No(S),
temos que (x) é um subgrupo de Nc(S); como S é um subgrupo
normal de Nç(S), então o produto (7)S é um subgrupo de No(S)
e portanto um subgrupo de G. Além disso, sabemos que

(x)S| = [SmS Nm),


onde |S| e |(x)| são potências de p, e onde |[S N (x)| < |(x)| pois
z é S. Logo, (x)S é um p-subgrupo de G de ordem maior que |S|,
o que é absurdo, pois S é um p-subgrupo de Sylow de G. [)

DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA VI.2.9: Seja S um p-subgrupo de


Sylow qualquer de G. Considere o conjunto C = fconjugados de SJ
= (999 !; g€ G). Por definição mesmo, o conjunto C é a órbita
de $ na representação por conjugação T: G > P(D) onde denota-
mos D = (subgrupos de G):; portanto, pelo Teorema V1.1.4, temos

C|=(G: No(S)).
Itens a) eb). Claramente, basta mostrar que se P é um p-
subgrupo qualquer de G, então o subgrupo P está contido num
conjugado de S em G.
Considere a seguinte representação de P:

T:P— P(C)
as TT (SC
gSg * > agSg ta”.

Sejam 9),,..., 4), as órbitas distintas desta representação e para


cada 9); escolha um representante S; = 9:89; ' dentro de 9;. Clara-
mente |C| = 3 99;|; além disto, pelo Teorema VI.1.4, temos
[SEC. Vl.2: TEOREMAS DE SYLOW 263

D;|= (P: E(S;)) = (P: PN No(S;)) e, pelo lema anterior, temos


(P:PNNe(S;)) =(P: PNS,;). Portanto obtemos

k
Cl=5 (P:PnS).
1=1

Das duas expressões obtidas para |C!|, tiramos que

(G: Ne(S)) = DP :PNS;). (+)

Cada parcela (P : PNS,) é igual a 1 ou a um múltiplo de p, pois P


é um p-grupo. Por outro lado, o primo p não divide (G : S) pois S é
um p-subgrupo de Sylow; logo, a fortiori, p não divide (G : No(S)).
Consequentemente, existe 1 tal que p não divide (P : PN S;), logo
tal que (P:PNS;)=1e portanto tal que PC S;.

c) Pelo item a), temos (p-subgrupos de Sylowk = (conjugados


de SJ, logo np = (G: No(S)).

Observação VI.2.11. Como caso particular do item a) do 2º teo-


rema de Sylow, obtivemos que um p-subgrupo de Sylow S de um
grupo G é normal em G se e somente se S é o único p-subgrupo de
oylow de G. Este caso particular já foi obtido como consegiiência
de um resultado geral elementar (cf. Exercício 14 do Capítulo V).

de G é um grupo e se p é um número primo, já vimos que


existem p-subgrupos de Sylow, e que estes são conjugados entre si.
Já vimos também que o número n, deles é igual a (G : No(S)), onde
S é um qualquer deles. Vamos agora destacar duas propriedades
aritméticas muito simples do inteiro (G : Ng(S)), e portanto do
inteiro n,. Em geral, estas propriedades não vão caracterizar o
inteiro (G : Ne(S)), mas elas vão localizá-lo num conjunto pequeno
de divisores de |G|.
264 [ICAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Teorema VI.2.12. (3º Teorema de Sylow).


Sejam p um número primo e G um grupo finito de ordem p”b,
com (p,b) = 1. Seja n, o número de p-subgrupos de Sylow de G.
Então
(o divide b,
np = 1 módulo p.

DEMONSTRAÇÃO. Seja S um p-subgrupo de Sylow de G. Natural-


mente, temos que (G : No(S)) divide (G : S) =.
Agora, consideramos a expressão (+) para (G : No(S)) estabe-
lecida no decorrer da prova do Teorema VI.2.9. Tomando P = S
nesta expressão, obtemos

k
(G: No(S)) => (S: SNS),
1=1

onde $1,...,Sy são representantes das distintas órbitas O,,..., Ok


da representação seguinte

TS — P(O),
onde € é o conjunto dos p-subgrupos de Sylow de G. Evidente-
mente, podemos tomar S, = S; com esta escolha, obtemos

(G: No(S) =(S:SNS)+5


(S: SNS) = Imodp.
1—2

Pelo Teorema V1.2.9, sabemos que n, = (G : Ng(S)). Portanto,


obtemos os resultados desejados sobre n,. 1]
Observação VI.2.13. 1) No Teorema VI.2.12 mostramos que o
número de p-subgrupos de Sylow de um grupo G é côngruo a 1
módulo p. O seguinte resultado mais geral é devido a Fróbenius:
Se p é um primo e p” | |G], então o número de subgrupos de G
de ordem p” é cóôngruo a Í módulo p.
Para uma prova deste resultado mais geral, o leitor pode ver N.
Jacobson, Basic Algebra I, p. 81.
[SEC. V.2: TEOREMAS DE SYLOW 265

2) Seja m um inteiro e seja p um número primo. Seja G um grupo


de ordem m e n, o número de p-subgrupos de Sylow de G.
Se não tivermos nenhuma outra informação sobre o grupo G,
então, em geral, o 3º Teorema de Sylow não permite determinar o
valor de n,. Por exemplo, sem = 6= 2x3, então o 3º Teorema
de Sylow nos dá n5 = 1 ou n9 = 3, e sem outra informação sobre o
grupo G, não temos como levantar a dúvida, pois ambos os casos
podem acontecer: n) = IseG -Z/6Z en) =3seG = 5S3.
Às vezes, para valores específicos de m, via a descoberta de
subgrupos de No(S), consegue-se propriedades suplementares do
índice (G : Ne(5)) que permitem calcular n, precisamente.

Exemplo VI.2.14. Seja G um grupo de ordem 380 = 22 .5-19.


Pelo 3º Teorema de Sylow, temos n; = Imod5 e ns; divide 2º . 19,
logo n; = 1 ou 76. Similarmente, o 3º Teorema de Sylow nos
dá nyy = 1 ou 20. Seja H um subgrupo de ordem 5 e seja K
um subgrupo de ordem 19. Vamos buscar propriedades de No(H)
e de No(K) e mostrar que necessariamente ambos n5 e nj9 são
iguais a 1.
Primeiro, afirmamos que n5 ou n19 é igual a 1; de fato, caso
contrário, G possuiria 76 x 4 = 304 elementos de ordem igual a 5
(pois a interseção de dois subgrupos distintos de ordem 5 é igual
a (e)) e também possuiria 20 x 18 = 360 elementos de ordem 19,
o que seria absurdo pois |G| = 380. Portanto, um dos subgrupos
H ou K é normal em G e, em todo caso, o conjunto HK é um
subgrupo de G; a ordem deste subgrupo HK é igual a 5-19 = 95
pois, claramente, HN K = (ey. Agora, pelo 3º Teorema de Sylow
aplicado ao grupo HK, nós vemos que HHK possui somente um
subgrupo de ordem 5 (que necessariamente deve ser H) e somente
um subgrupo de ordem 19 (que necessariamente deve ser K). Logo,
H é normal em HK e equivalentemente, temos HK C No(H);
logo ns = (G : Ne(H)) < (G : HK) = 22 e, portanto, ns = 1,
pois já sabíamos que ns; era igual a 1 ou 76. Similarmente, K é
normal em HK e equivalentemente, temos HK C No(K); logo
no = (G: No(K)) < (G: HK) = 22 e, portanto, mo = 1, pois já
sabíamos que n149 era igual a 1 ou 20.
266 CAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Proposição VI.2.15. Sejam G um grupo finito e p um número


primo. Sejam S um p-subgrupo de Sylow de G e H um subgrupo de
G que contém o normalizador No(S). Então:

1) No(H) = H. Em particular, Ne(Ne(S)) = No(S).

2) (G: H) = Imodp.

DEMONSTRAÇÃO. 1) Seja 7 € Ne(H). É claro que o subgrupo S é


um p-subgrupo de Sylow de H; como x € Ng(H),o subgrupo xSx”!
também é um p-subgrupo de Sylow de H. Logo, pelo Teorema
V1.2.9, os subgrupos S e 57”! são conjugados em H, isto é, existe
elemento he H tal que S = hzSr th"! = hexS(hx)"!; logo temos
hz € No(S) € H e portanto concluimos que x E H.
2) Claramente, temos

(6: No(S)) = (6: HH: No(S))


Como S é um p-subgrupo de Sylow de G, então pelo Teorema
V1.2.12, temos
(G : Ne(S)) = Imodp.
Como Na(S) = Ne(S)N H = Ny(S), e como S é um p-subgrupo
de Sylow de H, então pelo Teorema VI.2.12, temos

(H: No(S)) = (H: Ny(S)) = Imodp.

Portanto, concluímos que

(G: H) = ]modp. [)

VI.3 y-Grupos Finitos


As duas primeiras proposições abaixo já foram provadas na Seção
VI.1. Nesta seção, o símbolo p denotará sempre um inteiro primo.

Proposição VI.3.1. Seja G fel um p-grupo finito. Então seu


centro Z(G) tem pelo menos p elementos.
[SEC. VI.3: P-GRUPOS FINITOS 267

Proposição VI.3.2. Se G é um grupo de ordem p ou p”, então o


grupo G é abeliano.

Proposição VI.3.3. Seja G um grupo de ordem p” e seja H um


subgrupo de G de ordem p" comr <m. Então:

1) Existe um subgrupo K de G de ordem p"*! contendo H.

2) Todo subgrupo L de G de ordem p"*! contendo H é tal que


HaL. Em particular, temos H G No(H).

DEMONSTRAÇÃO. 1) Mostramos por indução sobre |G| a seguinte


afirmação existe um subgrupo K de G tal que HaK e|K| =p”.
Se |G| = 1, não há nada para fazer.
Se |G| > 1, supomos, como hipótese de indução, que a afirmação
vale para todos os p-grupos de ordem menor que |G|; queremos
mostrar que a afirmação vale também para o grupo G. Sabemos
que Z(G) £ (ej; escolha x E Z(G) que tenha ordem p; como
x E Z(G), temos (x) 4G e x E No(H). Consideramos 2 casos:

Caso 1: r$ H.
Considere o subgrupo K = H(x). Como x É H e como x tem
ordem p, temos H N (x) = fel, e portanto |K| = |H||(x)| = p”+!.
Além disso, K € Ne(H), pois x € No(H); portanto HaK.

Caso 2: re H.
Como x € H e como o elemento x tem ordem p, temos que
H/(x) é um subgrupo de ordem p””! do grupo G/(z) e que G/(x)
tem ordem p”"! < p” = |G|. Pela hipótese de indução, existe
um subgrupo K' de G/(x) tal que |K'| = 9” e ainda H/(x) a K”.
Considere o homomorfismo canônico py: G — G/(x) e tome o grupo
K = p MK"): temos então o(K) = K/(x) = K' e assim, temos
KI = (o||lK'|=p-p" = p"*!. Além disso, temos H/(x) 4K”',o
que implica em q" H(H/(x)) ap (K'), isto é, HaK.

2) Segue diretamente da afirmação mais forte feita acima, na prova


do item 1), se tomamos G = L. L]
268 [CAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Corolário VI.3.4. Seja G um grupo de ordem p”. Então existem


subgrupos Ho = te), H,,H5,...,Hn =G tais que H;4H,, e tais
que H;s1/H, é cíclico de ordem p, Vi=0,...,m-—1.
DEMONSTRAÇÃO. Aplique sucessivamente a proposição anterior
começando com Ho = (e). []
Proposição VI.3.5. Sejam G um p-grupo finito e Z(G) seu centro.
Seja H £ (ek um subgrupo normal de G. Então

Z(O)NH £ tel.
DEMONSTRAÇÃO. Considere a aplicação (onde H := H):

T: G ——s P(Ho)

9 LT: Ho > Ho
hs ghg”.
Claramente, Z,; permuta os elementos de Ho, pois H «a G; logo
a aplicação T é uma representação de G. Sejam D(e) = (eb,
DO(ha),...,9(hs) as órbitas desta representação; temos |H| = 1 +
O(ho)| + --- + |O(hs)). Como p divide |H|, existe i > 2 tal
que p não divide |9(h;)|. Por outro lado, |O(h;)) = (G : E(h;))
é igual a 1 ou a um múltiplo de p. Consequentemente, existe
1 > 2tal que (G: E(h;)) = 1 isto é, tal que E(h;) = G. Como
E(h;)= (ge G | gh; = hig), obtemos que h; E Z(G). 0)
Corolário VT.3.6. Sejam G um p-grupo finito e Z(G) seu centro.
Seja H um subgrupo normal de G de ordem p. Então H está contido
em Z(G).
DEMONSTRAÇÃO. Segue diretamente da proposição anterior. [l

VI.4 Classificação dos Grupos Simples


de Ordem < 60
Problema: Dado um grupo G de ordem n, determinar se G possui
um subgrupo normal não-trivial.
[SEC. VI.4: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS SIMPLES DE ORDEM < 60 269

Vamos estudar este problema para alguns valores de n, uti-


lizando idéias desenvolvidas até agora.

Primeiro Método: Utilização dos Teoremas de Sylow.


Se, para um primo p que divide a ordem de G, podemos mostrar
que existe um só p-subgrupo de Sylow de G, então este p-subgrupo
é característico em G, e portanto, ele é normal em G.

Exemplo VI.4.1. Se G é um grupo tal que |G| = pq com p,q


primos, então G possui um subgrupo normal não-trivial.

DEMONSTRAÇÃO. Se p = q, então |G| = pº e sabemos que G é um


grupo abeliano; tomando x E G de ordem p, temos (x) 4G. Se
p + q, podemos supor que p > q. Denotando por n, o número de
p-subgrupos de Sylow de G, o 3º Teorema de Sylow nos dá

np = Imodyp
Nolq | » logo
8 n,=1
p p oIs p>4q > q.

Este único p-subgrupo de Sylow de G é normal em G. []

As vezes, os Teoremas de Sylow não dão a resposta diretamente,


mas dão a resposta depois de uma contagem.

Exemplo VI.4.2. Se G é um grupo de ordem 56 = 22.7, então G


possui um subgrupo normal de ordem 7 ou um subgrupo normal de
ordem 8.

DEMONSTRAÇÃO. Seja n; o número de 7-subgrupos de Sylow de


G. Pelo 3º Teorema de Sylow, temos:

n7 = Imod7
nal H logo n;=1 o 8.

Se n7 = 1, então este único 7-subgrupo de Sylow de G é normal em


G.
Se n; = 8, observamos primeiro que se S; e 9 são dois 7-
subgrupos de Sylow de G distintos, então S/N,95 = fes, pois |S1| =
270 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

|S9| = 7. Assim, sendo ny = 8, temos que existem 8 x 6 = 48


elementos distintos de ordem 7; sobram então 56—48 = 8 elementos.
Já sabemos que existe pelo menos um subgrupo H de G que tenha
ordem 8 e, naturalmente, nenhum dos 48 elementos acima pode
pertencer a H. Assim H tem que ser composto dos 8 elementos
restantes e é, portanto, o único 2-subgrupo de Sylow de G; H então
é um subgrupo normal de G. Obtemos assim que um grupo G de
ordem 56 sempre possui um subgrupo normal de ordem 7 ou um
subgrupo normal de ordem 8. LU]

Outras vezes, é quando combinados com alguma propriedade


suplementar sobre o índice (G : Ng(S)), que os Teoremas de Sylow
dão a resposta procurada. O Exemplo VI.2.14 ilustra esta situação.
Damos a seguir, um outro exemplo.

Exemplo VI.4.3. Se G é um grupo de ordem 22.7. 13, então G


possui um subgrupo normal de ordem 13.

DEMONSTRAÇÃO. Seja n13 o número de 13-subgrupos de Sylow de


G. Pelo 3º Teorema de Sylow, temos:

Ng = | mod 13
nasl?2 x 7 H logo ng=1 ou 14.

Seja S um 13-subgrupo de Sylow de G. Desejamos informações so-


bre (G : Ne(S)); para isto procuramos subgrupos entre S e No(S),
isto é, procuramos subgrupos nos quais S é normal. Pelo 3º Teo-
rema de Sylow, temos ny = 1; seja então K o único 7-subgrupo de
Sylow de G. Como K 4G, o produto KS é um subgrupo de G; sua
ordem é 7 x 13. Aplicando o 3º Teorema de Sylow ao grupo KS,
vemos que Sa KS. Assim ns = (G: No(S) <(G: KS) = 4.
Portanto, temos n13 = 1. [)

Segundo Método: Utilização das representações de um grupo.


Sabemos que se f: G — G é um homomorfismo de grupos,
então ker f é um subgrupo normal de G. Em particular, se G é
um grupo, € um conjunto e p: G — P(C) uma representação do
[SEC. VI.4: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS SIMPLES DE ORDEM < 60 271

grupo G no grupo de permutações do conjunto (€, então o núcleo


ker p é um subgrupo normal de G. Procuramos condições para que
ker p £ tel, G.
É claro que se € é um conjunto “pequeno” no sentido que
IP(C)| = |Cl! < |G!, então |o(G)| = |G/ker p|] < |G| e portanto
ker p £ (e). (Mais geralmente, se um inteiro u divide |G| e não
divide |C'|!, então ker p < tel).
Exemplo VI.4.4. Se G possui um “grande” subgrupo H * G (em
outras palavras, se H tem “poucas” classes laterais) no sentido que
(G: H)!< |G|, então tomando €C = fclasses laterais à esquerda de
HemG)=(aH|aeG),a representação T:G — P(C) étal que
ker T' £ (e); além disso, temos ker T €C H e, portanto, ker T é um
subgrupo normal não-trivial de G (contido em H).
Na procura da existência de um “grande” subgrupo de G, o 1º
Teorema de Sylow poderá ser de grande ajuda. Por exemplo, se
G é um grupo de ordem 48 = 2º x 3, existe, pelo 1º Teorema de
Sylow, um subgrupo H de ordem 2º; ele é um “grande” subgrupo
pois (G : H) = 3 e temos 3! < 48. O núcleo do homomorfismo
T:G+> P(faH |a e G)) é um subgrupo normal não-trivial de G,
e está contido em H. Afirmamos que |ker T| = 2º ou 2º. De fato,
por um lado, como (e! £ker T C H, temos |ker T|= 2,2º,2º ou
2*. Por outro lado, como -E- — T(G) < P(faH |a e GD) = 8,
temos |G/ker T| = 1,2,3, ou 6, isto é, temos |ker T| = 24.3,2º.3,24
ou 2º. Logo |ker T| = 2º ou 2º.
Exemplo VI.4.5. Se G possui um subgrupo H * G com “poucos”
conjugados no sentido que |fconjugados de H em GH! < |G|, então
tomando C = (conjugados de H em G) = (9gHg! | ge G),a
representação T: G — P(C) é tal que ker Z (e+; além disso, é
claro que ker Z = ()uec Ne(K) € No(H). Se No(H) G, temos
ker 7 + G e portanto ker T é um subgrupo normal não-trivial de G
(contido em Ne(H)); se Ne(H) = G, o próprio H é um subgrupo
normal não-trivial de G.

Na procura da existência de um subgrupo de G com “poucos”


conjugados em G, os Teoremas de Sylow poderão ser de grande
272 ICAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

ajuda. Por exemplo, se G é um grupo de ordem 72 = 2º. 3º,


se H é um subgrupo de G de ordem 9 e se denotamos por n3 o
número dos 3-subgrupos de Sylow de G, então temos ny = 1 mod3
e na3/8, logo n; = 10u4. Sens =1,então HaG. Seny = 4,
então H tem “poucos” conjugados pois, pelo 2º Teorema de Sylow,
(conjugados de H em G) = (3-subgrupos de Sylow de G+ e temos
41 < 72: portanto ker T, onde T:G — P(gHg! | g e G),
é um subgrupo normal não-trivial de G pois kerZ €C No(H) e
(G:Nd(H))=n5>1.
Exemplo VI.4.6. Seja G um grupo de ordem 189 = 3º. 7. Pelo
1º Teorema de Sylow, temos que existe um subgrupo H de ordem
3º. Seja C = (classes laterais à esquerda de H em G) e considere
a representação T: G — P(C). A maior potência de 3 que divide
IP(C)| = 7! é igual a 32; logo, a maior potência de 3 que divide
IT(G)| é < 3º. No entanto, 3º divide |G|; portanto, 3 divide |ker 7
e ker T é um subgrupo normal não-trivial de G (contido em H).
Observação VI.4.7. Seja G um grupo de ordem 72 = 23.32:se H
é um subgrupo de ordem 9, então H não é um “grande” subgrupo
de G (pois (G : H) = 8e temos 8! > 72) e, portanto, o método
usando a representação T: G — P((aH | a € G)) não funciona,
enquanto o método usando a representação T: G > P(gHg” |
g € G])) funcionou. Observe no entanto que temos (G : No(H)) =
4 (conjugados de H em Gl = 1 ou 4, com 4! < |G| = 72, de modo
que No(H) é um “grande” subgrupo de G e, portanto, o método
usando a representação T: G > P(faNc(H) | a € GJ)) teria
também funcionado.
Mais geralmente, temos:
Exercício VI.4.8. Seja H um subgrupo de um grupo G. Considere
as seguintes representações de G:

T:G>PlMHaNcdH)|aeGh)

TG > Pg9Hg |ge C).


Mostre que ker T' = ker T.
[SEC. VI.4: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS SIMPLES DE ORDEM < 60 273

Exercício VI.4.9. Seja n > 5 um inteiro. Seja H + (e) onde H é


um subgrupo de A,. Mostre que o subgrupo H tem pelo menos n
conjugados em Á,.

Exercício VI.4.10. Procure todos os grupos simples de ordem


inferior a 60 e conclua que eles são exatamente os grupos cíclicos
de ordem prima.

Proposição VI.4.11. Seja G um grupo simples de ordem 60. En-


tão G é isomorfo ao grupo Às.

DEMONSTRAÇÃO. Vamos primeiramente mostrar a seguinte afir-


mação:

AFIRMAÇÃO: Existe um subgrupo H de G que possui exatamente


cinco conjugados.
De fato, seja ny o número de 2-subgrupos de Sylow de G. Sabe-
mos que n, = Imod?2 e que n divide 15; logo n9 = 1,3,5 ou 15.
A igualdade n, = 1 é impossível pois, neste caso, o 2-subgrupo de
Sylow seria normal em G. À igualdade no = 3 é impossível também
pois, neste caso, denotando por K um 2-subgrupo de Sylow de G,
o subgrupo K teria “poucos” conjugados em G e portanto G pos-
suiria um subgrupo normal não-trivial. Logo, temos n9 = 5 ou
no = 15.
Se n9 = 5, então podemos tomar para H um qualquer 2-subgrupo
de Sylow de G.
Se n9 = 15, observamos primeiramente que devem existir dois
2-subgrupos de Sylow distintos K, e K5 tais que KNK5 £ te). De
fato, caso contrário, G possuiria 15 x 3 = 45 elementos de ordem
2 ou 4; mas, G sendo simples, G deve possuir mais do que um 5-
subgrupo de Sylow, logo deve possuir pelo menos seis 5-subgrupos
de Sylow, logo deve possuir pelo menos 6 x 4 = 24 elementos de
ordem 5; assim, G teria pelo menos 45424 = 69 elementos, absurdo
pois |G| = 60. Assim, existem de fato dois subgrupos K, e K5
tais que |K,| = 4 = |Ko) e |K, N K5| = 2. Naturalmente, temos
KnkKsgakK,e KNKs,4 Ko, pois subgrupos de índice 2 sempre são
274 ICAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

normais, e portanto No(K, N K5) O (Ki, K5). Seja H = (Ki, K5),


e considere o seguinte diagrama:

G tem ordem 4:3.5

N(K,NKs)

|
(K,kK)=H

LON
K K têm ordem 4

V V

Kunk, tem ordem 2.

Temos Nç(K, N Ko.) £ G pois, G sendo simples, K, MN K, não


é normal em G. Assim, as possibilidades para a ordem de H são
4.3 = 12 0u 4-5 = 20. A igualdade |H| = 20 é impossível pois, neste
caso, H seria um “grande” subgrupo de G e portanto G possuiria
um subgrupo normal não trivial; logo temos |H| = 12. Como H
não pode ser normal em G, temos necessariamente que No(H) = H
e portanto que H possui exatamente (G: N(H)) =(G:H)=5
conjugados. Isto termina a prova da afirmação.
Vamos agora provar que G = As. Seja H um subgrupo dado
pela Afirmação e seja C = (conjugados de H): temos |C| = 5 =
(G : No(H)). Considere a representação por conjugação

TG — P(C)
95 LT: C>0
g:Hg;' — ggiHg;'g”.
[SEC. VI.5: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS DE ORDEM < 15 275

O subgrupo ker Z é um subgrupo normal diferente de G, pois


ker 7 C No(H) S G; portanto, já que G é um grupo simples,
temos ker Z = fe). Assim T(G) é um subgrupo de S; de ordem 60;
logo T(G) = As, pois sabemos que As é o único subgrupo de Ss de
índice 2. Logo G — As. []

Observação VI.4.12. O grupo Aut((Z/22) x (2/22) x (2/22))


tem ordem igual a 168 = (8 — 1)(8 — 2)(8 — 4) (Verifiquel!). Seria
possível mostrar que se trata de um grupo simples e que não existe
nenhum grupo simples não-abeliano G com 60 < |G| < 168.

Observação VI.4.13. Em 1981, depois de muitos anos de tra-


balho, foi completada a classificação dos grupos finitos simples.
Uma apresentação integral deste resultado exigiria mais 10.000 pá-
ginas. (Ver Gorenstein, Finite Simple Groups: An Introduction to
their Classification).

É um fato que todos os grupos finitos simples são gerados por


dois elementos. Isto mostra o quanto difícil seria um estudo geral
dos grupos finitos gerados por dois elementos.

VI.5 Classificação dos Grupos de Or-


dem < 15
Os grupos de ordem < 10 já foram classificados; para a conveniência
do leitor, lJembraremos os resultados obtidos. Usando métodos ele-
mentares, os grupos de ordem 14 15 já foram classificados também;
usando os teoremas de Sylow, classificaremos aqui os grupos de or-
dem pq, com p < q dois números primos, reobtendo portanto, como
casos particulares, a classificação desses grupos de ordem 14 e 15.
Naturalmente, classificaremos também os grupos de ordem 12. Os
resultados serão sempre expressados a menos de isomorfismos.

Grupos de ordem 1:
fel.
276 [CAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

Grupos de ordem p, com p um número primo:

Z/pZ.

Grupos de ordem 4:

Z/4Z, (Z/27) x (2/27).


Grupos de ordem pq, p < q números primos:
Seja G um grupo de ordem pq.
Pelo 3º Teorema de Sylow, o grupo G possui um único subgrupo
H de ordem q; naturalmente, H é isomorfo a Z/qZ e é normal em
G. Pelo 1º Teorema de Sylow, o grupo G possui um subgrupo K
de ordem p; naturalmente, K é isomorfo a Z/pZ. Assim temos:

G = HK
HaG, K<G
HnK
= tes.

Logo, pelo Teorema V.9.16, o grupo G é isomorfo a um produto


semidireto de Z/gZ por Z/pZ, i.e.,

G=(Z/pZ) x (Z/g2), onde o: Z/pZ — Aut(Z/gZ)

é um homomorfismo. Ora, sabemos que Aut(Z/gZ) — (Z/qZ)* é


um grupo cíclico de ordem q — 1; então somos levados a considerar
2 casos:

Caso 1: p não divide q — 1.


Neste caso, o único elemento de Aut(Z/gZ) com ordem igual
a um divisor de p é Id, logo o único homomorfismo de Z/pZ em
Aut(Z/qZ) é o homomorfismo trivial, Jogo o único produto semidi-
reto de Z/gZ por Z/pZ, é o produto direto Z/pZ x Z/qgZ, que é
isomorfo a Z/pgZ. Assim, obtemos neste Caso 1, que existe exata-
mente um grupo de ordem pq, a saber

Z/pqZ.
[SEC. VI.5: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS DE ORDEM < 15 277

Com isso classificamos, em particular, os grupos de ordem 15.

Caso 2: p divide q — 1.
Neste caso, pela Proposição V.6.4, o grupo cíclico Aut(Z/9Z,)
possui exatamente um único subgrupo de ordem p; se f é um gera-
dor desse subgrupo, então (f', i=1,...,p— 1) são os elementos
de Aut(Z/gZ) que têm ordem igual a p. Portanto, os homomorfis-
mos de Z/pZ em Aut(Z/q92Z) são:
oo: Z/p — Aut(Z/g2), (i.e., oo é o homomorfismo trivial),
Is Id

o;: 2/02
— Aut(Z/gZ), i=1,...,p-—1.
ss fº

Naturalmente, o produto semidireto Z/pZ x Z/qgZ é simples-


0
mente o produto direto Z/pZ x Z/qZ, que é isomorfo a Z/pqgZ.
Agora, para i E (1,...,p— 1), a aplicação

bi: Z/pL — Z/pZ


1
é um isomorfismo tal que 0, 0%); = o;. Portanto, os produtos
semidiretos (Z/pZ) x (Z/g2) e (Z/pZ) x (Z/q2) são isomorfos pelo
Corolário V.9.11. Assim. neste Caso 2, obtemos que existem exata-
mente dois grupos de ordem pq:

Z/pgZ, (Z/pZ) x (27 qZ).


Como caso particular, reobtemos que se q é um número primo
impar, então existem exatamente dois grupos de ordem 2q, a saber:
Z/29Z e um grupo não abeliano que, necessariamente, é o grupo
dihedral D,. Com isto, classificamos em particular os grupos de
ordem 6,10 e 14.
Note que, querendo, pode-se representar o grupo não-abeliano
(Z/pZ) x (Z/gZ) por geradores e relações. Para isto, precisa-se de
01
278 ICAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

uma descrição explícita de um elemento f de Aut(Z/qZ) que tenha


ordem p. Pela Proposição V.6.6, ((Z/gZ)*, -) é um grupo cíclico
q
de ordem q — 1; como p divide g— 1, existe v e (1,...,g— ly tal
que v tem ordem p em ((Z/qZ)*, -). Naturalmente, a aplicação
q

f: (2/02, +) — (Z/q2, +)
Ls o

é um automorfismo pois v e q são relativamente primos. Ágora,


temos f(1) = 9, f() =f(0)=f0i+-+D=v(l)=ve, por
indução, f(1) =v', Yi > 1; como v tem ordem p em ((Z/gZ)*, -),
q
temos P(1) = £1, Vi<p-l,ef?(1) = 1. Logo, a aplicação
f é um automorfismo de ordem p. Agora, tomando a := (0,1) e
b:= (1,0), é rotina verificar que

(2/02) - (2/97) = ta,b)


ju q] — -e
DP = e
(dba = aºb.

Evidentemente, se p = 2, então q — 1 é o (único) elemento de


(1,...,g—l; tal que q — 1 tenha ordem 2 em ((Z/gZ)*,-); portanto,
q
neste caso, obtemos a apresentação

(2/22) x (2/02) = (ab)


jo q
=e

b? — e
(ba = ab,

a qual é a apresentação usual do grupo dihedral D, através de


geradores e relações.

Grupos de ordem 8:

Z/8Z, (2/47) x (2/22), (2/22) x (2/22) x (2/22), Da, Q3,


[SEC. VI.5: CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS DE ORDEM < 15 279

onde D, é o grupo dihedral e Q3 é o grupo dos quaternios, cujas


apresentações por geradores e relações são dadas por:

Da = a,b) Q3 = (a,b)
q* = e a! =e
b?=e b? = q?
(ba = aéb; (ba = aéb.

Grupos de ordem 9:

Z/9Z, (Z/37) x (2/37).

Grupos de ordem 12:

Seja G um grupo de ordem 12 = 22.83.


Pelo 1º Teorema de Sylow, existe um subgrupo H de ordem 4
e existe um subgrupo K de ordem 3. Pelo 3º Teorema de Sylow, o
número ns de subgrupos de ordem 3 é igual a lou 4. Seng = 1,
então K é normal em G. Sens = 4, então G possui 4x 2 — 8
elementos de ordem 3; neste caso, sobram exatamente 4 elementos,
o que permite formar somente um subgrupo de ordem 4, que ne-
cessariamente será igual a H, e necessariamente será normal em G.
Assim temos
G=HK
HaGouKaG
HNK = fel.
Logo, pelo Teorema V.9.16, o grupo G é isomorfo a um produto
semidireto de um grupo de ordem 4 por um grupo de ordem 3, ou
a um produto semidireto de um grupo de ordem 3 por um grupo
de ordem 4. Pelos Exemplos V.9.4, V.9.5, V.9.6 e V.9.13, obtemos
então que existem exatamente 5 grupos de ordem 12:

Z/12Z, (2/62) x (2/22),


Ds, As, (2/42) x (2/32),
11
280 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

onde

mn: Z/47 — Aut(Z/3Z)


Ls f: Z/3Z > Z/37
152.

Observação VI.5.1. É claro que Z/12Z, (Z/6Z) x (Z/2Z) e De


têm somente dois elementos de ordem 3; foi verificado no Exemplo
V.9.0 que (Z/4Z) x (2/32) também tem somente dois elementos
mn
de ordem 3. Portanto, nenhum desses quatro grupos é isomorfo ao
grupo das permutações pares Á,, que tem ordem 12 e contém mais
do que dois elementos de ordem 3 (por exemplo, ele contém (123),
(132), (124)). Portanto, necessariamente, o grupo A, é o grupo
(2/82) x (2/22) x (2/22) com

01: 2/37 — Aut((Z/27) x (2/22)


Ls m,
onde
ga ((1,0)) = (0,1), qm((0,1)) = (1,1), qa((1,1)) = (1,0).
Este é o grupo obtido no Exemplo V.9.13, e que, antes da hora,
mas com boas razões, tinhamos denotado pelo símbolo As.

V1.6 Propriedades de 4, e 4;
Começamos caracterizando o grupo alternado A, entre os grupos
de ordem 12.

Proposição VI.6.1. Seja G um grupo de ordem 12. Então as


afirmações seguintes são equivalentes:

(1) G é isomorfo a As.


(11) G não possui subgrupo de ordem 6.
[SEC. VI.6: PROPRIEDADES DE Aq E As 281

(ii) G não possui elemento de ordem 6.

(1v) G tem exatamente quatro 3-subgrupos de Sylow.

DEMONSTRAÇÃO. Os grupos de ordem 12 (são exatamente cinco


deles) foram classificados na seção anterior. Portanto, para ter uma
prova da proposição, basta olhar na descrição desses cinco grupos
e observar que o grupo alternado A, é o único deles a satisfazer
qualquer uma das propriedades (1)-(iv).
Vamos agora dar uma outra prova da proposição, prova esta que
não usa a classificação dos grupos de ordem 12.
deja H um 3-subgrupo de Sylow de G e seja ng o número de
3-subgrupos de Sylow de G; pelo 3º Teorema de Sylow, sabemos
que ng=loung=4.

(1) => (ii) De fato, se G tivesse um subgrupo de ordem 6, tal


subgrupo seria normal em G o que, pelo Teorema V.10.22,
seria absurdo.

(ii) => (Wi) Trivial.

(1ii) => (iv) Suponhamos que ng = 1. Então G possui exatamente


dois elementos de ordem 3 que são, digamos, os elementos
aea*. Os elementos de G que comutam com o elemento a
formam Z(a), o centralizador de a em G, e, pelo Teorema
VI.1.4, temos (G : Z(a)) = |Cf(a)| = 1 ou 2, pois claramente
Ct(a) E fa,a?t. Portanto |Z(a)| = 6 ou 12; em todo caso,
existe b € Z(a) que tem ordem 2. Agora, já que ab = ba com
O(a) = 3 e O(b) = 2, podemos concluir que O(ab) = 6, o que
contradiz a hipótese.

(iv) => (1) Seja C = (conjugados de H em G) e considere a repre-


sentação TG — P(C). Temos kerT €C No(H) = H, pois
(G: No(H))=n3=4=(G: H),eportanto |ker T| = 10u83.
A suposição |ker T| = 3 é impossível pois, neste caso, ker
seria um 3-subgrupo de Sylow normal de G, o que estaria
em contradição com a hipótese ng = 4. Logo |kerT| = 1e
282 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

T:G > P(C) = Sy é um homomorfismo injetivo; sendo um


subgrupo de ordem 12 de S4, T(G) é necessariamente igual a
As pelo Corolário V.10.23b) e, portanto, G = As. [1]
Proposição VI.6.2. As seguintes afirmações são verdadeiras:
1) O grupo A, é um grupo de ordem 12 cujo único subgrupo
normal não trivial é o grupo de Klein:
K = Lid, (12)(34), (13)(24), (14)(23)1.
2) O grupo Aq possui exatamente:
um elemento de ordem 1;
três elementos de ordem 2;
oito elementos de ordem 3.

3) O grupo A, possui exatamente:


três subgrupos de ordem 2, todos eles conjugados entre si;
quatro subgrupos de ordem 8, todos eles conjugados entre si;
um subgrupo de ordem 4, isomorfo a (2/22) x (2/22);
nenhum subgrupo de ordem 6.

4) T( As) — As € Aut(A4) — Sa-

DEMONSTRAÇÃO. 1), 2), 3). Essas propriedades de A, já foram


vistas no Capítulo V, com a exceção da conjugação entre si dos
subgrupos de ordem 2. Verificamos que, por exemplo, os grupos
((12)(34)) e ((14)(23)) são conjugados em 44. Temos (123) E A, e
(123)(12)(34)(123)7! = (14)(23).
4) Foi visto no Exercício V.10.25. []
Proposição VI.6.3. As seguintes afirmações são verdadeiras:
1) O grupo A; é um grupo simples de ordem 60.

2) O grupo As possui exatamente:


um elemento de ordem 1;
quinze elementos de ordem 2;
vinte elementos de ordem 8;
vinte e quatro elementos de ordem 5.
ISEC. V1.6: PROPRIEDADES DE Aq E As 283

3) O grupo As possui exatamente:


quinze subgrupos de ordem 2, todos eles conjugados entre st;
dez subgrupos de ordem 3, todos eles conjugados entre st;
cinco subgrupos de ordem 4, todos eles conjugados entre s1;
todos eles são isomorfos a (Z/2Z) x (2/2);
seis subgrupos de ordem 5, todos eles conjugados entre si;
dez subgrupos de ordem 6, todos eles conjugados entre st; to-
dos eles são isomorfos a Ss;
seis subgrupos de ordem 10, todos eles conjugados entre si;
todos eles são isomorfos a Ds;
cinco subgrupos de ordem 12, todos eles conjugados entre si;
todos eles são isomorfos a Aq;
nenhum subgrupo de ordem 15, 20, 30.

4) T(As) = As e Aut(As) = Ss.

DEMONSTRAÇÃO. 1) É um caso particular do Teorema V.10.21.


2) Foi visto no Exercício V.10.26.1).
3) As afirmações sobre os subgrupos de ordem 3, 4, 5 já foram
também vistas no Exercício V.10.26.2). Deixamos ao letor a ve-
rificação de que 4; não possui subgrupos de ordem 15, 20, 30.
Provaremos agora as afirmações feitas sobre os subgrupos de ordem
2, 6, 10, 12.

SUBGRUPOS DE ORDEM 2: O grupo alternado A; possui 15 sub-


grupos de ordem 2 pois, em As, existem 15 elementos de ordem
2. Pelo Exercício V.10.26.1), esses elementos são produtos de duas
transposições disjuntas. Como no caso de As, é fácil verificar que
esses elementos são conjugados entre si em Ás.

SUBGRUPOS DE ORDEM 12: Claramente, as permutações pares dos


conjuntos (1,2,3,44, 11,2,3,5+, 11,2,4,5),11,3,4,5/ e 12,3,4,5)
nos dão 5 subgrupos de ordem 12 de As, todos eles isomorfos a
As. Observe que, pelo Exercício V.10.26.2), As possui exatamente
cinco subgrupos de ordem 4 e que cada um destes se encontra em
284 [CAP. Vl: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

exatamente um dos subgrupos de ordem 12 exibidos acima. Su-


ponhamos agora que exista um outro subgrupo H de ordem 12 de
As. Tal subgrupo H não pode conter somente um subgrupo K de
ordem 4, pois, se contivesse, o subgrupo K seria normal em H, logo
Na(K) conteria estritamente H, pois sabemos que K também é
normal em algum dos cinco subgrupos de ordem 12 já exibidos.
Logo Na.(K) seria igual a As, pois 4; não tem subgrupo próprio
de ordem > 12, o que seria absurdo pois 4; é simples. Assim, tal
subgrupo HF contém mais do que um subgrupo de ordem 4, logo
H não é isomorfo a A, e, pela Proposição VI.6.1, tal subgrupo H
possui um elemento de ordem 6. Isto é absurdo, pois já sabemos
que Às possui nenhum elemento de ordem 6.
Assim, o grupo alternado A; possui exatamente cinco subgru-
pos de ordem 12, todos eles isomorfos a À,. Seja H um deles;
como As é simples, temos necessariamente Na(H) = H, logo
(As : Na(H)) = (45: H) = 5 e, portanto, todos os cinco sub-
grupos de ordem 12 de A; são conjugados entre si.

SUBGRUPOS DE ORDEM 10: Seja H = ((12345),(14)(23)). O


grupo H é um subgrupo de ordem 10; de fato, como

(14)(23)(12345)(14)(23) = (15432) = (12345)! € ((12345)),


temos ((12345)) 4H; logo ((12345), (14)(23)) = ((12345))((14)(23)),
e portanto, |H| = 5-2 = 10. Como As; é simples, e como A; não
possui subgrupos de ordem 20 ou 30, temos Na,(H) = H; logo
(As: Nas(H)) = 6 e portanto H possui exatamente seis conjuga-
dos. Ágora, observe que se K, e K, são dois subgrupos quaisquer
distintos de ordem 10 de As, se L; é o subgrupo de ordem 5 con-
tido em K,, e L; é o subgrupo de ordem 5 contido em Ks, então
Li É Lo, pois senão teríamos L; « (Ki, K5), onde (Kj, K5) = As
(pois (Ki, K5) contém K, de maneira própria), o que seria absurdo,
pois Ás é simples. Como sabemos existir somente seis subgrupos
de ordem 5 em Ás, obtemos que existem no máximo seis subgrupos
de ordem 10 em Á4;. Logo, o grupo alternado As possui exatamente
seis subgrupos de ordem 10, todos eles conjugados entre si. Note
que o subgrupo H é isomorfo ao grupo dihedral Ds.
ISEC. Vl.7: EXERCÍCIOS 285

SUBGRUPOS DE ORDEM 6: Seja H = ((123), (23)(45)). O grupo H


é um subgrupo de ordem 6; de fato, como (23)(45)(123)(23)(45) =
(132) e ((123)), temos ((123)) «a H; logo ((123),(23)(45)) =
((123))((23)(45)) e portanto |H| = 3-2 = 6. Como As é sim-
ples, e como Ás; não possui nenhum subgrupo de ordem 30, temos
|Nas(H)| = 6 ou 12. A suposição |Na,(H)| = 12 é impossível, pois
já sabemos que os subgrupos de ordem 12 de 4; são isomorfos a
As, e já sabemos que A, não possui nenhum subgrupo de ordem
6. Logo Na(H) = H, (As: Na(H)) = (45: H) = 10, e assim
H possui exatamente dez conjugados em As. Agora, observe que
se K, e K, são dois subgrupos quaisquer distintos de ordem 6 de
As, se L, é o subgrupo de ordem 3 contido em K, e Ls o subgrupo
de ordem 3 contido em K,, então L, É Ls pois senão teríamos
Ly a (K,, K5), onde (K,, K5) é um subgrupo de 4; de ordem 12
ou 60 (pois (Ki, K,) contém K, de maneira própria), isto é, onde
(K, K5) é um subgrupo isomorfo a 4, ou a Ás, O que seria ab-
surdo, pois sabemos que nem ÁA,, nem Ás, possuem um subgrupo
normal de ordem 3. Como sabemos existir somente dez subgrupos
de ordem 3 em As, obtemos que existe no máximo dez subgrupos
de ordem 6 em Ás. Logo, o grupo alternado 4; possui exatamente
dez subgrupos de ordem 6, todos eles conjugados entre si. Note que
o subgrupo H é isomorfo ao grupo de permutações 53.
4) Foi visto no Exercício 51 do Capítulo V. N

VI.7 Exercícios

1. Sejam p um número primo e G um grupo não-abeliano de


ordem pº. Mostre que |Z(G)| = p. Mostre que Z(G) = G' e
que G/Z(G) = Z/pZ x Z/pZ.

2. Mostre que se G é um grupo finito com apenas duas classes


de conjugação, então |G| = 2.

3. Seja G um grupo de ordem 11º . 13º. Mostre que G é um


grupo abeliano.
286 ICAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

4. Sejam p um número primo e G um grupo finito. Sejam H um


subgrupo normal de G e S um p-subgrupo de Sylow de G.

a) Mostre que H NS é um p-subgrupo de Sylow de H.


b) Mostre que SH/H é um p-subgrupo de Sylow de G/H.
Dica: Analise os índices no diagrama seguinte:

G
|
SH
/ N
S H
À /
SnH
Seja G um grupo abeliano finito. Mostre que G é isomorfo ao
produto direto de seus subgrupos de Sylow.

Seja G um grupo abeliano finito. Seja m um inteiro que divide


|G|. Mostre que existe um subgrupo K de G tal que |K| = m
(i.e., a recíproca de teorema de Lagrange vale para os grupos
abelianos finitos).
a) Seja G um grupo abeliano finito. Mostre que existe uma
série de subgrupos G = Ho Db H, D---D H, = (fe) tal que
H;/H;,1 é cíclico de ordem prima, Vi = 0,...,n— 1.

b) Sejam G um grupo e K um subgrupo normal de G tais


que G/K seja abeliano finito. Mostre que existe uma série de
subgrupos G = Hb H,D---DH,=XK tal que H,;/H; é
cíclico de ordem prima, V:=0,...,n— 1.
[SEC. Vl.7: EXERCÍCIOS 287

8. Sejam p < q dois números primos e G um grupo de ordem pq.

a) Mostre que G é abeliano se e somente se ele possui um só


v-subgrupo de Sylow.

b) Se G não é abeliano, mostre que G é isomorfo a um sub-


grupo de S,, mas não é isomorfo a um subgrupo de 5,1.

c) Se G é abeliano, mostre que G é isomorfo a um subgrupo


de Sp+q, Mas não é isomorfo a um subgrupo de Spyq-1.

. Seja r um inteiro, G um grupo infinito e H um subgrupo tal


que (G : H) = r. Mostre que existe um subgrupo K C H,
normal em G, tal que (G: K) <r!.

10. Sejam p,q dois números primos tais que p < q < 2p, n um
inteiro > 1 e G um grupo de ordem p”q. Mostre que se
(p,q) + 42,34, então G possui um subgrupo normal de ordem
p”. Sep=2eq=s3, mostre que existe um subgrupo normal
de ordem 2” ou 2º"1.
11. a) Seja G um grupo de ordem 22.3”, com n > 1. Mostre que
G possui um subgrupo normal de ordem 3” ou 3º-?.

b) Analisando o grupo A,, mostre que um grupo de ordem


22.3” pode não ter subgrupo normal de ordem 3”.
12. a) Sejam p < q dois números primos, q É 3, n > 1 um
inteiro e G um grupo de ordem p2g”. Mostre que G possui um
subgrupo normal de ordem q”. Mostre que G é um produto
semidireto de um grupo de ordem q” por um de ordem pº.

b) Mostre que, a menos de isomorfismos, existem exatamente


5 grupos de ordem 20 = 22.5.
c) Mostre que, a menos de isomorfismos, existem exatamente
4 grupos de ordem 28 = 22.7.
d) Mostre que, a menos de isomorfismos, existem exatamente
2 grupos de ordem 45 = 32.5.
288 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

e) (Generalização dos items b)-d)). Sejam p < q dois números


primos, q É 3. Classifique os grupos de ordem p*q.

Dica: Considere os 3 casos seguintes: p? divide q — 1, p? não


divide q — 1 mas p divide q — 1, p não divide q — 1.

Observação: O caso p = 2, g=3 (ie., o caso |G| = 12) é


diferente e foi tratado na Seção 5 deste capítulo.

13. a) Sejam p < q dois números primos, n > 1 um inteiro, e G


um grupo de ordem pg”. Mostre que G possui um subgrupo
normal de ordem q”. Mostre que G é um produto semidireto
de um grupo de ordem q” por Z/pZ.

b) Seja q £ 2 um número primo. Mostre que, a menos de iso-


morfismos, existem exatamente 2 grupos abelianos e 3 grupos
não abelianos de ordem 2gº.

Dica: Vai ser necessário encontrar os elementos de ordem 2


de Aut(Z/gZ x Z/gZ). Claramente, y: Z/gZ x Z/gZ —
Z/qZ x Z/qZ definido por W((1,3))= (1, —5), V (2,7), é um
tal elemento.

Verifique que Y py € Aut(Z/g2 x Z/gZ), py de ordem 2, q + Y,


existe iorde JE Z/gZ x Z/qZ tal que pl(i,,3,)) É ips do);
(—ips—),,)Y, logo tal que P((i,,3,)) É (li, 5,)). Note então
que, * tomando (050) = p((ip,)0)), O automorfismo q é
completamente determinado por «((ip,),)) = (ips Tg) e por
Agro) = (iodo):
Verifique finalmente que V y1,7> € Aut(Z/g2x Z/g2), p1, Pp?
de ordem 2, py £ wy £ po, existe q E Aut(Z/gZ x Z/qg2) tal
que o seguinte diagrama comuta:

Z/gLxZgl — ZlglxZ/qz
pi 1 192
Z/qgZ x Zigl “> Llgl xa
[SEC. Vl.7: EXERCÍCIOS 289

14. a) Sejam pm < py < --- < ps números primos,


Mm No,...,Ns > linteiros e G um grupo de ordem pj! ps”... p7s.
Suponha que exista um subgrupo H tal que (G : H) = pi.
Mostre que H é normal em G.

b) (Generalização de a)). Sejam r,t dois inteiros tais que


r < p para todo fator irredutível p de t e seja G um grupo de
ordem rt. Suponha que exista um subgrupo H de G tal que
(G:H) =r. Mostre que H é normal em G.
15. a) Sejam É < p < q três números primos e G um grupo
de ordem ?pg. Mostre que G possui um subgrupo normal de
ordem q. Mostre que G é um produto semidireto de um grupo
de ordem pq por Z//Z. (Dica: Utilize o exercício anterior).

b) Mostre que, a menos de isomorfismos, Z/455Z é o único


grupo de ordem 455 = 5-7-13.

c) Mostre que, a menos de isomorfismos, existem exatamente


dois grupos de ordem 231 = 3-7-11, sendo um cíclico e um
não abeliano.

d) Mostre que, a menos de isomorfismos, existem exatamente


dois grupos de ordem 385 = 5-7- 11, sendo um cíclico e um
não abeliano.

e) (Generalização dos items b)-d)). Sejam ? < p< q três


números primos tais que pf (g—- 1) e [£f(p—1) ou £+(g— 1)).
Classifique os grupos de ordem ?pqg.

16. a) Sejam É < p < q três números primos tais que:

ptlg—1), Ulp—1), Lg—1).


Mostre que a menos de isomorfismos, existem pelo menos um,
e no máximo £ + 1, grupos não abelianos de ordem ?pq.

b) Mostre que a menos de isomorfismos, existem exatamente


um grupo abeliano e três não-abelianos de ordem 30 = 2-3-5.
Dica: Calcule a ordem dos elementos dos grupos.
290 [CAP. VI: ESTUDO DE UM GRUPO VIA REPRESENTAÇÕES

c) Mostre que a menos de isomorfismos, existem exatamente


um grupo abeliano e quatro grupos não abelianos de ordem
243 = 3-T-13.

17. a) Seja G um grupo de ordem 42 = 2.3.7. Seja H um


subgrupo de ordem 3. Mostre que |Nc(H)| = 6 ou 42. Mostre
que G possui um subgrupo de ordem 6.

b) Mostre que existem exatamente um grupo abeliano e cinco


grupos não abelianos de ordem 42.

18. a) (Generalização do Corolário VI.3.6) Sejam p um número


primo, n > 1 um inteiro e G um grupo de ordem 9”b com
MDCtp-— 1,b) = 1. Seja H um subgrupo normal de ordem
p. Mostre que H € Z(G).
Dica: Como na prova da Proposição VI.3.5, considere a repre-
sentação por conjugação T: G — P(Ho). Agora, utilizando o
fato de todo elemento & e de H ser um gerador de H, mostre
queseh,,ho€ H,hy Ze ho, então os estabilizadores E(h1)
e E(ho) são iguais.

b) Seja G um grupo não abeliano de ordem 231 = 3.7-11.


Mostre que |Z(G)| = 11

c) Seja G um grupo não abeliano de ordem 385 = 5-7-11.


Mostre que |Z(G)| = 7.

19. Analisando o grupo Á,, mostre que é possivel ter um grupo


G de ordem p”b com p primo, MDCfp — 1,b| = 1 e um
subgrupo normal H de ordem pº tal que H N Z(G) = fel.
(Assim, a Proposição VI.3.5 não pode ser generalizada neste
contexto).

20. Seja G um grupo de ordem 24 = 2º.3. Mostre que G = S4


se e somente sen; =4en,=3.

21. Mostre que Aut(Q3) = S4.


[SEC. VI.7: EXERCÍCIOS 291

22. (Exercício muito trabalhoso). Mostre que, a menos de iso-


morfismos, existem exatamente 15 grupos de ordem 24.

Dica: Observe que pelo Teorema V.9.16 e pelo Exercício 20,


o grupo G é um produto semidireto se |G| = 24, G £ Su.

25. Procure todos os subgrupos de 54 e de Ss.

24. Suponha que existam apenas duas órbitas para uma operação
de um grupo G num conjunto finito €, órbitas estas com
cardinalidades m e n, respectivamente. Use esta operação
para definir um homomoríismo de grupos entre o grupo G e
o produto Sm X Sn-
Capítulo VII

Grupos Solúveis

VII.i Teorema de Jordan-Holder

Definição VII.1.1. Seja G um grupo. Uma série subnormal de G


é uma cadeia de subgrupos

G=GobGDbG,D---DG, = (e) (9)

onde G;,1 é um subgrupo normal de G;, para 1 = 0,1,...,,n—1.

Os grupos quocientes da série (*) são os grupos G;/Giy, para


1 = 0,1,...,n— 1. Numa série subnormal, o mesmo subgrupo pode
ser repetido, e portanto alguns dos grupos quocientes podem ser
triviais. O comprimento da série subnormal (*) é o número de
inclusões estritas ou, equivalentemente, o número de grupos quo-
cientes não-triviais.
Um refinamento da série subnormal (*) é uma série subnor-
mal obtida a partir de (*) pela inserção de alguns (possivelmente
nenhum) subgrupos. O refinamento é próprio se algum subgrupo
distinto dos já existentes é inserido na série.
A série subnormal (*) é uma série de composição se ela não
admite um refinamento próprio.

293
294 [CAP. VIl: GRUPOS SOLÚVEIS

Exercício V]I.1.2. Verifique que as afirmações seguintes são


equivalentes:

(1) À série subnormal (*) é uma série de composição.

(ii) Vi=0,1,...,n — 1,0 grupo G;/G;y1 é um grupo simples.

Observação VII.1.3. 1) Nem todo grupo admite uma série de


composição; por exemplo, o grupo aditivo (Z, +) não admite uma
tal série (Verifique).
2) Todo grupo finito G * (ek admite uma série de composição.
Afirmamos primeiro que existe um subgrupo G, de G que satisfaz

G GG
Gi 4G

e que é maximal para esta propriedade, isto é, tal que

GcCHSG o
Hac | > G = H.

De fato, o subgrupo fe) está estritamente contido em G e é normal


em G. Caso ele seja maximal para essa propriedade, podemos tomar
Gi = (e); caso contrário, por definição mesmo, existe um subgrupo
H 3 te) que satisfaz HS Ge HaG. Caso H seja maximal para
essa propriedade, podemos tomar G, = H; caso contrário, por
definição mesmo, existe um subgrupo H' 2 H que satisfaz H'Ç G
e H'aG. Caso H' seja maximal para essa propriedade, podemos
tomar Gy, = H'; caso contrário, continuamos o processo; este deve
necessariamente parar pois obtemos subgrupos H, H',... cada vez
maiores, enquanto que o grupo G é finito.
Mostramos agora que G possui uma série de composição. Pela
afirmação, existe um subgrupo G, de G que satisfaz G| SG Ge
G, 4G, e que é maximal para esta propriedade. Se G, = (eb,
acabou: GbG, = (e) é uma série de composição. Se G, * teb,
pela afirmação aplicada ao grupo G+, obtemos a existência de um
subgrupo G» de G, que satisfaz Gs ç G,e G,44G,, e que é maximal
[SEC. VH.1: TEOREMA DE JORDAN-HÔLDER 295

para esta propriedade. Se G, = fe), acabou: GD G;DbG, = (e)


é uma série de composição. Se Gs» £ fe!, continuamos o processo
aplicando a afirmação ao grupo Gs». Esse processo deve necessaria-
mente acabar pois obtemos subgrupos G4, (r9,... cada vez menores,
enquanto que o grupo G é finito.
Definição VII.1.4. Sejam

G=GoDbG,D---DG,=te) (*)

G=HobH,D--.DH,=te) (8)

duas séries subnormais de G. Elas são ditas equivalentes se existe


uma bijeção entre os grupos quocientes não-triviais da série (*)
e os da série (**) tal que os grupos quocientes correspondentes
são isomorfos. Observe que duas séries subnormais de G que são
equivalentes possuem o mesmo comprimento. Observe também que
se (** é um refinamento de (*), então este refinamento é próprio
se e só se as séries (*) e (**) não são equivalentes.
Exemplo VII.1.5. 1)
Z - - — -
307= MD) > (9) > (10) > 10
| | | |
Go Go GG Gs
é uma série de composição de Z/30Z. Verifique que os grupos quo-
cientes desta série são:
Co.ZL GL GG z
Go 57 GG 29 Gs 3H
2) A série dada no exemplo acima é um refinamento dela mesma;
ela também é um refinamento das séries abaixo:

ozZ — (Dos> (5)> (0)o


iz = (1) > (10) > 10).
296 ICAP. Vll: GRUPOS SOLÚVEIS

Note que as duas séries subnormais de Z/30Z acima não são equi-
valentes e também não são refinamentos uma da outra.

3) As seguintes séries subnormais de Z/30Z são séries de com-


posição de Z/30Z:

Z, - - — -
307 — (D - (5) > (10) > (0)
| | | |
Go G1 (79 (13

2-0»
Z -
(>
-
(>
-
40)-
| | | |
Ho HH H H
7 l l e Ê
mz= (D > (2) > (10) > (0)
| | | IR
Ko Ko K K
Observe que elas são todas equivalentes, pois temos:

G1 52 Gy 22 Gy 3%

K, 27 Ko 50 K 3%

As séries de composição de Z/30Z dadas acima são equivalentes;


o fato surpreendente é que isto é verdade para qualquer grupo G:
duas séries de composição de G são sempre equivalentes. Este re-
sultado é o teorema de Jordan-Hólder e provamos agora um lema
que será usado na demonstração deste teorema.
[SEC. Vll.1: TEOREMA DE JORDAN-HÓLDER 297

Lema VII.1.6. (Lema de Zassenhaus). Sejam H, H,, K, K quatro


subgrupos de um grupo G tais que H,asH e KyaK. Então:

1)

H(HNKi) aH(HNK)

KH, NK) aK(HNKH)

H(HNK) o Kd(HNK)
Ho(HNK) Kd(HNK)

DEMONSTRAÇÃO. 1) Como H,«H ecomo ENK, < H, então


HU(HNKs) é um subgrupo de H, logo também um subgrupo de G.
Analogamente, H(HENK), K(HNK)e K(HNK) são também
subgrupos de G.
Agora, queremos mostrar que H(HNK)«H(HNK), isto é,
queVzxeH,Vye HNK,valeryH(Hnky(ry) | = H(HNK,).
Ora, temos:

cyH(HNKy(ry)! = 2[yH (HO Kyo!


=alyHy ylHNnKoy Ho
H,aH K,aK
— ZH, e (H N Kya”! pois
veH º ve HNK
=H(HNKjr! pois re H,
— (HNKky)H! pela Proposição V.4.9
=(HNKH9H, pois x !eH,
= H(HNK.) pela Proposição V.4.9.

A prova de que K(H,NK)sK(HNK) é análoga.


298 [CAP. Vil: GRUPOS SOLÚVEIS

2) Temos o diagrama

H(HNK) K(HNK)

NANH(HNK,) B:=HNK K(H,NK)

(HNKMHNK)

Hi(HOH) + Ki(HNK)
Queremos mostrar que Hank) É RAR) Para isto, vamos
mostrar =. HOK
que ambos são isomorfos a HNKOA Verifique que
H(HNK) = ABeque (HNK(HNK) = ANB. Pelo item
1), sabemos que 44 AB. Portanto, pelo Corolário V.5.9, temos o
|
isomorfismo AB“* = Bo. HNK
H(HOR) ÀÉ THARUNAR
Sp» Isto é,4 HOR) À prova
K(HnkK / /
+ WORK) myTT
de que Ki(HnkK) SOR
(HnkKy)(HNK)
é análoga. O

Teorema VII.1.7. (Teorema de Schreier). Duas séries subnor-


mais de um grupo G possuem refinamentos que são equivalentes.

DEMONSTRAÇÃO. Sejam

G=GobGi>bG,D--:DG, = teh, (9)

G=HbDH,DH,D--DHm=te (+)

duas séries subnormais de G. Na série (*), entre cada G; e Gu,


coloque os grupos Gii(G;N H,) paraO<j<m:

G; = Gu(GNHo) OD Gua(GNH) DD Ga(GNHa) = Gun.

O refinamento da série (*) assim obtido ainda é uma série


subnormal de G. De fato, aplicando a parte 1) do Lema de
Zassenhaus aos quatro subgrupos G;, G;,1, H; e H,,1, obtemos que
[SEC. VIl.1: TEOREMA DE JORDAN-HÓLDER 299

Gui(GiN HH) 4Giun(G;N H;). Agora, na série (**), entre cada


H; e H;.1, coloque os grupos H, 1(G;N H,) para0<i<n:
H; — HH, (GoNH;) > H(GNEH,) DD H(GaNH;) — Hs.

Que o refinamento de (**) assim obtido seja ainda uma série subnor-
mal também segue da parte 1) do Lema de Zassenhaus. Indicando
por (*)n e (+x)p os refinamentos de (*) e (**) obtidos acima, afir-
mamos que (x)p é equivalente a (++)p. De fato, pela parte 2) do
Lema de Zassenhaus, para0<i<n-1e0<g3y<m-l, temos:

GolG NH) o Hd(GOH)


Go(G NH) H(Gm NH)
Gar(GNH;).
por outro lado, os grupos são Os grupos quocientes
Gira (GiNH;+41)
da série (*)p € OS grupos ai ds são OS grupos quocientes da
série (xx) p; isto prova a afirmação que os refinamentos (+)p e (x*)p
são equivalentes. L]

Teorema VII.1.8. (Teorema de Jordan-Hólder). Seja G um grupo.


Então todas as séries de composição de G são equivalentes.
DEMONSTRAÇÃO. Pela própria definição, os únicos refinamentos
possíveis de uma série de composição são refinamentos não-próprios,
logo refinamentos que são equivalentes à série de composição dada.
Ágora, séries de composição são em particular séries subnormais;
logo, pelo Teorema de Schreier, duas séries de composição possuem
refinamentos equivalentes e portanto são elas próprias equivalentes.
[]
Observação VII.1.9. O Teorema de Jordan-Hólder mostra que
os grupos finitos simples formam a base para o estudo dos grupos
finitos. Uma questão difícil é saber como recuperar o grupo G a
partir dos grupos quocientes de uma série de composição para o
grupo G. O exemplo de duas séries de composição abaixo mostra
que a informação sobre os grupos quocientes não é suficiente para
determinar o grupo; considere as séries

2 (De (pj> (O) e E gx (0) (0) x (0)


300 [CAP. VI: GRUPOS SOLÚVEIS

As duas séries de composição acima têm os mesmos grupos quo-


cientes, embora os grupos 2 € ZX z não sejam isomortfos.

VII.2 Grupos Solúveis


Os grupos finitos que possuem uma série de composição cujos gru-
pos quocientes são cíclicos de ordem prima são particularmente
importantes na resolução de equações algébricas. Em vista disto,
apresentaremos algumas propriedades destes grupos.
de H, K são dois subgrupos de um grupo G, definimos seu grupo
de comutadores por [H,K] := (hkh!k! |he H, ke K); em
particular, o grupo dos comutadores G' é igual a [G,G). Defini-
mos, por indução, GO = G e GD = [GO GU), isto é, GD é o
subgrupo dos comutadores do grupo Gº, para cada i = 0,1,2,....

Proposição VII.2.1. Seja G um grupo. Ás seguintes condições


são equivalentes:

(1) O grupo G possui uma série subnormal cujos grupos quo-


crentes são abelianos.

(ii) Existe um inteiro n tal que GP) = fe).

No caso de G ser finito, elas são também equivalentes a:

(11) O grupo G possui uma série de composição cujos grupos quo-


cientes são abelianos (e portanto, são cíclicos de ordem prima).

DEMONSTRAÇÃO. (1) => (ii). Seja

G=GDbGD---DG,= fe)

uma série subnormal com G;/Gi;,1 abeliano, Vi = O,...,r — 1.


Sendo Go/G1 abeliano, sabemos pela Proposição V.4.7 que G, O
(Go)!= GD. Sendo G1/G; abeliano, temos G» Co D (GUY =
GY. Sendo G5/Gs abeliano, temos G3 O (G5)'D (GO) = GU),
[SEC. Vil.2: GRUPOS SOLÚVEIS 301

Continuando desta maneira, obtemos que G,D GO, Vi — 0,...,r;


em particular, obtemos que Gt” = fe).
(11) => (1). Considere a seguinte série:
G — GO?) > GO) > GO Db G() = fe.

Pela Proposição V.4.7, ela é uma série subnormal cujos grupos quo-
cientes são abelianos.
Suponhamos agora que G é um grupo finito.
(ui) => (1). Trivial.
(1) > (iii). Seja G = GoDbG,b--->G, = (e) uma série subnormal
com G;/Giy1 abeliano, Vi = 0,...,7r — 1. Sendo G um grupo finito,
então cada quociente G;/G;,1 é um grupo abeliano finito. Podemos
aplicar a Observação VI[.1.3 a este grupo quociente para obter uma
série de subgrupos entre G; e G;,1 tal que cada grupo quociente
desta série é cíclico de ordem prima. Fazendo isto para todo índice
1 = 0,...,7—1, obtemos uma série de composição de G cujos grupos
quocientes são cíclicos de ordem prima. []

Definição VII.2.2. Um grupo é dito solúvel se ele satisfaz as


condições equivalentes da Proposição VII.2.1.

Definição VII.2.3. Uma série de subgrupos de um grupo G

G=Go>G>G,>--->G,=te)
é dita uma série normal de G se temos G; 4G, para cada índice
1 = 0,1,...,7. Em particular, uma série normal de G é uma série
subnormal de G.

Observação VI1.2.4. Seja G um grupo solúvel finito.


1) A série GDGDD>GYD...>G() — fe) é uma série normal de G
cujos grupos quocientes são abelianos (Verifique).
2) O grupo G possui uma série subnormal cujos grupos quocientes
são cíclicos de ordem prima; no entanto, o grupo G não possui
em geral uma série normal cujos grupos quocientes sejam cíclicos
de ordem prima (Vide exercício abaixo). Quando possuir uma tal
série normal, diz-se que o grupo G é supersolúvel.
302 [CAP. Vil: GRUPOS SOLÚVEIS

Exercício VII.2.5. Mostre que 4, e S4 são solúveis mas não são


supersolúveis.

Exercício VII.2.6. Seja G um grupo finito que possui uma série


normal G = HobH,b--->H, = (er com grupo quociente H;/H,;
cíclico, para cada i = 0,1,...,r—1.
1) Mostre que qualquer refinamento desta série é ainda normal.
2) Mostre que G possui uma série normal cujos grupos quocientes
são cíclicos de ordem prima, isto é, o grupo G é supersolúvel.

Exemplo VII.2.7. 1) Todo grupo abeliano é solúvel.


2) Todo p-grupo finito é solúvel (vide Corolário V1.3.4).
3) Todo grupo finito de ordem pºqº (onde p e q são primos) é solúvel.
(Este é um resultado obtido por Burnside em 1904; ver M. Hall Jr.,
The Theory of Groups, Theorem 16.8.7, p. 291).
4) Todo grupo finito de ordem ímpar é solúvel. (Este é um resultado
profundo devido a Feit e Thompson: Solvability of groups of odd
order, Pacific J. Math. 13 (1963), p. 775-1029).
5) Claramente, todo grupo simples não-abeliano não é solúvel; em
particular, se n > 5, então o grupo alternado 4, não é solúvel.
6) Se n > 5, então o grupo de permutações S, não é solúvel (vide
Corolário V.10.23).
Teorema VII.2.8. Seja G um grupo.
1) Seja H um subgrupo de G. Se G é solúvel, então H é solúvel.
2) Seja H um subgrupo normal de G. Então, o grupo G é solúvel
se e somente se os grupos H e G/H são solúveis.
DEMONSTRAÇÃO. 1) É claro que HO C GO, vi > 0. SeGé
solúvel, então existe n tal que G”) = fe), portanto também tal
que Hº) = fe): logo o subgrupo H é solúvel.
2) Seja py: G — G/H o homomorfismo canônico. É fácil ver que
AG") = ((G)); então temos q(G2) = (CM) = (p(GO) =
((A(G)YY = (A(G)) e, por indução, temos a(G)) = ((G)JO =
(G/H), Vi > 0. Suponha que G seja solúvel e seja n um in-
teiro tal que GM) = fe): temos então H() = fes e (G/H)M =
ISEC. VIl.2: GRUPOS SOLÚVEIS 303

(GM) = p(fe)) = fe), isto é, os grupos H e G/H são solúveis.


Reciprocamente, suponha que os grupos H e G/H sejam solúveis,
e sejam n e m inteiros tais que HP) = fe e (G/H)JM = fel.
Como fe) = (G/H)M = (Gr), temos GIP C kery = H; logo
Gtrtm) = (Gl) C H(m) — fe), e portanto G é solúvel. [1

Em geral, generalizações dos teoremas de Sylow para mais do


que um primo são falsas. Por exemplo, o grupo Ás tem ordem
igual a 60 = 22.35, mas não possui nenhum subgrupo de ordem
2º . 5 (nem de ordem 3 - 5); vide Proposição V1.6.3. No entanto,
sabemos que tais generalizações valem para os grupos abelianos;
mais geralmente, elas valem para os grupos solúveis:

Teorema VII.2.9. (P. Hall, 1928). Seja G um grupo solúvel finito


de ordem ab com (a,b) = 1. Então:
1) Existe um subgrupo de G de ordem a.
2) Todos os subgrupos de G de ordem a são conjugados entre st.
3) Se H é um subgrupo de G tal que |H| divide a, então existe um
subgrupo K de G com|K|=atalqueH CH.

DEMONSTRAÇÃO. O leitor interessado pode consultar M. Hall Jr.,


The theory of groups, Theorem 9.3.1, p. 141. [)

Os grupos finitos para os quais valem estas generalizações dos


teoremas de Sylow são exatamente os grupos solúveis finitos. Mais
forte ainda, a validade da generalização do 1º teorema de Sylow já
caracteriza os grupos solúveis finitos:

Teorema VII.2.10. (P. Hall, 1934). Seja G um grupo finito com


a propriedade seguinte: para todo inteiro a tal que |IG| = ab com
(a,b) = 1, existe um subgrupo de G de ordem a. Então, G é solúvel.

DEMONSTRAÇÃO. Este teorema é essencialmente equivalente ao


teorema de Burnside sobre a solubilidade dos grupos de ordem p”qé
com p,q primos. O leitor interessado pode consultar M. Hall Jr,,
The theory of groups, Theorem 9.3.3, p. 144. []
304 CAP. VIl: GRUPOS SOLÚVEIS

VII.3 Exercícios
l. Determine todas as séries de composição para o grupo Z/362.

2. Dê uma nova prova do Teorema VI1.2.8 usando a caracteri-


zação (1) da Proposição VII.2.1.

Sejam p um primo e G um p-grupo finito. Mostre que existe


uma série fes=Hh CH CH C--. CH, =G tal que
o subgrupo H, é normal em G, Vi > 0, etal que H,,/H, é
grupo cíclico de ordem p, Vi = 0,1,...,r — 1. Mostre que
esta série de subgrupos pode ser escolhida “central”, isto é,
tal que H,,1/H, está contido no centro de G/H,, V1.
Mostre que todo grupo de ordem < 59 é solúvel.

. Seja G = 5 x As. Exiba uma série de composição para G.


Mostre que o grupo G não é solúvel.

a) Sejam H e K dois subgrupos de um grupo finito G. Suponha


que exista uma série de subgrupos como abaixo:

G=GobDG,DG,D---DG,=H.

Mostre que (H : HNK) divide (G : K) e conclua que a ordem


do conjunto H . K divide |G|.
b) Exiba subgrupos H e K do grupo alternado A, que satis-
fazem as condições da parte a), embora o produto H - K não
seja um subgrupo de As.

Sejam T e G dois grupos e seja p: " > Aut(G) um homomor-


fismo de grupos. Um subgrupo H de G é dito T-invariante
se as seguintes condições equivalentes são satisfeitas:
)VyeT,temos o(y)(H) CH.
ii) V ye T, temos p(y)(H) = H.
Uma I-série subnormal de G é uma série subnormal

G=GobGiDG,Db---DGh=tel
[SEC. VIl.3: EXERCÍCIOS 305

tal que cada subgrupo G; é T-invariante, para? = 0,1,...,n.


Esta série é dita uma T-série de composição se ela não admite
um [I-refinamento próprio; i.e., se cada quociente G;/G;,1 não
possui um subgrupo normal próprio que seja [-invariante,
para: =0,1),...,,n-—1.
a) Verifique que as condições i) e ii) são equivalentes.
b) Prove um resultado do tipo do Teorema de Schreier e um
resultado do tipo do Teorema de Jordan-Hólder para o grupo
G e seus subgrupos [-invariantes.
c) Expressar o conceito de série normal (vide Definição VI[.2.3)
em termos do conceito de T-série subnormal de G, utilizando
um grupo [e um homomorfismo p: " — Aut(G) adequados.

8. Sejam G um grupo finito e H um subgrupo de G. Dizemos


que o € Aut(G) estabiliza o subgrupo H seo(H) € H. De-
a

notamos por H a interseção de todos os subgrupos normais de


G que contém H (equivalentemente, o subgrupo H é o menor
subgrupo normal de G contendo H).
a) Mostre que se um automorfismo de G estabiliza H, então
ele estabiliza também H.
b) Se existe uma série de subgrupos como abaixo:

G=GoDbG,D>G,D--.DG,=H,

mostre que então existe também uma série de subgrupos

G=LobplybLb--DL,=H

tal que cada automorfismo de G, que estabiliza o subgrupo


H, estabiliza também cada um dos subgrupos L,, para cada
1=0,1,...,5.
Dica: Fazer uma indução sobre o índice (G : H).
Capítulo VIII

Matrizes e Módulos
Finitamente Gerados

VIII.1 Diagonalização de Matrizes


Seja (D,y) um domínio euclidiano. Nesta seção vamos mostrar que
qualquer matriz M = (a;;), com entradas a;; € D, pode ser “dia-
gonalizada” através de uma sucessão finita das seguintes operações
elementares em suas linhas e colunas:

*.1) Permutação de duas linhas (respectivamente, de duas


colunas).

*.2) Substituição de uma linha (respectivamente, de uma coluna)


pela soma desta linha com um múltiplo de uma outra linha
(respectivamente, pela soma desta coluna com um múltiplo
de uma outra coluna).

De maneira precisa, vamos mostrar o seguinte resultado:

Teorema VIII.1.l. Sejam m > 1 en > 1 dois inteiros. Seja


(D,y) um domínio euclidiano e seja M = (a;;) uma matriz m x n
com entradas em D. Então, através de uma sucessão finita de
operações elementares em suas linhas e colunas, a matriz M pode

309
310 [CAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

ser transformada numa matriz diagonal da forma

a
do

O O

onde 0 <r <minfn,mk, dy,da,...,d, pertencem a DN (0) e onde


d; divide d;,1, para cada 9) — 1,2,...,7 — 1.

Primeiro vejamos, através de exemplos, que as operações ele-


mentares x.1) e *.2) são obtidas por multiplicação, à direita ou à
esquerda, da matriz M por certas matrizes invertíveis.

Exemplo VIII.1.2. 1) Permutação de linhas ou colunas.

10 00
011 Q13 Ajz dig Q11 2 13 Gig 0010
021 l23 dg2 agg | = | 4214 d92 do3 ag4 0100 ;
031 33 32 34 G31 A32 A33 Q34 0001

nós vêmos que a permutação entre a segunda e a terceira colunas


foi obtida pela multiplicação à direita de M pela matriz quadrada
1000
O 010 , ,
o 10 0| CO determinante é um elemento invertível de D.
0 001

GQ Q2 3 Qua 1 0 0 q Q2 3 Gig
axa as) ass a |=10 0 1 21 Go2 dos da |;
am do G93 Qo4 010 31 32 33 Ag4
[SEC. VIll.1: DIAGONALIZAÇÃO DE MATRIZES 311

nós vêmos que a permutação entre a segunda e a terceira linhas foi


obtida pela multiplicação à esquerda de M pela matriz quadrada
1 0 0
O O 1 |, cujo determinante é um elemento invertível de D.
010

2) Substituição de linha ou coluna.

a1 Q2 Ms + da a
à 22 a93 + dao) ao
as 032 ass+das ass
10 d 0
011 12 Gg Qi4 0100
— 421 99 do3 424 0 0 1 0 )

Q31 Q32 33 Ag4 0001

vêmos que a substituição da terceira coluna pelo resultado de


(terceira coluna)-+d- (primeira coluna), onde d € D, foi obtida pela
1 0 dO
010
multiplicação à direita de M pela matriz , cujo deter-
0010
0 00 1
minante é um elemento invertível de D. Analogamente em relação
a substituição de uma linha, temos por exemplo

a11 + das1 ao + daso as + dass aa + dass


Q921 09292 093 U924
431 032 133 34

1 0d an GQ2 Q13 Qu
=10 10 do 092 93 Gg
0 01 Q31 32 33 Aga

E um fato que uma matriz quadrada com coeficientes num anel


comutativo é invertível se e somente se seu determinante é um ele-
mento invertível do anel. Também, se Mt, e Ms são duas matrizes
quadradas de mesmo tamanho, vale que

det(Mt - Mo) = det(M,) - det(Mo).


312 ICAP. Vil: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

Estes são fatos bem conhecidos da Álgebra Linear, quando o anel


comutativo é um corpo, e não os provaremos aqui.
Uma outra operação elementar possível, que só será utilizada
na Seção 4 deste capítulo, é a seguinte:
3) Multiplicação de uma linha ou coluna por um elemento
invertível.
Esta operação também é obtida por multiplicação, à direita ou
à esquerda, da matriz M por certas matrizes invertíveis. De fato,
para yu € D* temos:

a 1 a 1 a 13 a 14 a uq a 12 a 13 a 14 1000
Hén2 O u O 01].
Q21 Uayo àd23 dy | — | 921 d922 do3 Aos 0 010]
à31 032 433 434 Q31 Q32 433 A34
p O 0 0 1

01 2 as 4 1 0 0 011 Q2 03 4
Hay) ago uaos ua | =10 uo0 291 d22 Cdo3 94
a31 q Q33 34 001 031 032 093 034

SejaM =(a;) 1<i<mel<g3<n, uma matriz mxn


com entradas a;; € D. Fazer uma operação elementar em colu-
nas significa multiplicar a matriz à direita por uma certa matriz
invertível de tamanho n x n. Fazer uma operação elementar em
linhas significa multiplicar à esquerda por uma certa matriz in-
vertível de tamanho m x m (ver os exemplos acima). Assim, fazer
uma sucessão finita de operações elementares entre linhas e colunas
da matriz M implica transformar M numa matriz da forma

QM-P,

onde Q é uma matriz m x m invertível e P é uma matriz n x n


invertível.

Observação VIII.1.3. Dadas duas matrizes / e M, cada uma


delas com m linhas e n colunas, escrevemos M = N se a matriz N/
pode ser obtida a partir de M por uma sucessão finita de operações
elementares entre linhas e entre colunas, e dizemos que M e N são
[SEC. VIIl.1: DIAGONALIZAÇÃO DE MATRIZES 313

matrizes equivalentes. Tal relação é uma relação de equivalência;


de fato, é claro que as afirmações

MasM
MEN e NXxP>MEP

são satisfeitas. Indicamos a seguir, através de um exemplo, porque


vale a simetria também, isto é

MENSNAM.

Suponha que a matriz Aí seja obtida de M pela substituição da


primeira linha de M por

(primeira linha de M) + À - (segunda linha de M).


Então, a matriz M é obtida de N/ pela substituição da primeira
linha de A/ por

(primeira linha de N/) — À - (segunda linha de N).

DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA VIII.1.1 Se M = (0), não temos


nada para fazer. Para uma matriz M = (a;;) não-nula, definimos

P(M) := mintp(a;s); qu 7 OF
Definimos também o inteiro t := t(M) como
t=minto(N), Nx Mp
Seja então uma matriz M, = (b;;) tal que

M=M e d(My)=t.
E claro que, permutando linhas e colunas em Ms, podemos
trazer uma entrada de menor y-valor para a posição (1,1), isto
é, para a primeira coluna e primeira linha, e portanto obter uma
matriz Ms» = (c;;) tal que

MzM, e plc) = (MA).


314 ICAP. Vill: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

AFIRMAÇÃO 1. Existe uma matriz Ms = (di;;) tal que

Ms=M,, di=c e dyj=-0, Vj>D2.

DEMONSTRAÇÃO DA AFIRMAÇÃO 1: Sejam Ji = [j > 2:c1; 0)


e) =(j>2;c0;=õO Para cada j € J, fazemos a divisão
euclidiana de cj; por cy:

C1; = GiCn+T; comr;=0 ou p(r;) < (ci),

e substituimos a j-ésima coluna de AM, por

(j-ésima coluna) — q; - (primeira coluna).


Para cada j € Jo, deixamos a 3-ésima coluna de Ms, inalterada.
Desta maneira, obtemos uma matriz Mt :— (d;;) = Mp» tal que
as únicas possíveis entradas não-nulas de sua primeira linha são
dy = Cn eosr;'s comq E Jj. Observamos, no entanto, que r; = O
para cada q € h. De fato, se existir 9 € J com r; É 0, então
teriamos Ms = M e p(M3) < p(r;) < p(cn) = t, o que é absurdo
pela definição de t.

AFIRMAÇÃO 2. Existe uma matriz Ms = (e;;) tal que

o Mi=Ms, emn=dy,
e1 O... Q

Ô
; A
Ú
onde À é uma matriz (m — 1) x (n — 1).
e e; divide cada entrada da submatriz À.

DEMONSTRAÇÃO DA AFIRMAÇÃO 2: Seja 1 := [i>2; dy £ 0)


eseja b :— fi > 2; da = 0). Para cada à E h, fazemos a divisão
euclidiana de d;; por dj

di = qd + T; con T; = 4 ou p(r;) < p(di),


[SEC. VIll.1: DIAGONALIZAÇÃO DE MATRIZES 315

e substituimos a i-ésima linha de Ats por

(i-ésima linha) — q; - (primeira linha).

Para cada 1 € 1, deixamos a i-ésima linha de Als inalterada.


Desta maneira, obtemos uma matriz My = (e;;) = Ms tal que sua
primeira linha é igual à primeira linha de A13 e tal que as únicas
possíveis entradas não nulas de sua primeira coluna são e; = dj €
os r;'s com 1 € 1. De novo, em virtude da definição de t, podemos
verificar que r; = 0 para cada 1 E 1. Assim, nossa matriz My
satisfaz a condição (2).
Vamos agora verificar que e; divide cada entrada da matriz À.
Suponhamos por absurdo que existam k > 2e ? > 2 tais que ey
não divida ex». Fazemos a divisão euclidiana de ep, por ey:

ew=qen+r onder£O e g(r)< (em),

e substituimos a primeira linha de M, por

(primeira linha de Ms) + (k-ésima linha de Ms).

Nesta nova matriz My obtida depois da substituição da primeira


linha de Ms descrita acima, substituimos a sua ?-ésima coluna por

(t-ésima coluna de M4) — q - (primeira coluna de M4).

Desta maneira, obtemos uma matriz NV = Má = M cuja entrada


na primeira linha e ?-ésima coluna é igual a r, logo uma matriz tal
que v(N) < lr) < p(emn) = t, o que é impossível pela definição
de t. Isto termina a prova da Afirmação 2.
Agora, a matriz 4 obtida em (2) na Afirmação 2 é uma matriz
(m— 1) x (n— 1) logo, por indução, existe uma matriz diagonal B,
316 [CAP. VIH: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

com B = À da forma:

(dy )

O O
)
com dz,...,dr E DN (0) e com d; dividindo d;,1, para cada j.
Evidentemente temos
en O --- O en O --. 0
Ô Õ
Ma = =
A B
Ô Ó

e logo,

fes )

do
Õ
Mm dr

O O
/
Como e, divide cada entrada de 4, então e, divide cada entrada
de B também, pois as entradas de B são somas de múltiplos de en-
tradas de 4. Portanto e; divide d, e a demonstração está completa
tomando di — Cj. []
[SEC. Vill.1: DIAGONALIZAÇÃO DE MATRIZES 317

Observação VIII.1.4. A demonstração apresentada acima para


o Teorema VIII1.1 é algorítmica. Para ver isto, temos que ex-
plicitar um algorítmo que nos permita obter uma matriz M tal
que My = Me g(Mi) = UM) := minfo(N); N = Ms. Dada
uma matriz não-nula M, levamos uma entrada de menor y-valor de
M para a posição (1,1). Com argumentos análogos aos utilizados
na Afirmação 1 e na Afirmação 2, vamos obter uma seglência de
matrizes N; = M tais que a sequência de inteiros positivos p(N,)
seja decrescente (caso r; £ O na Afirmação 1 ou caso r; £ O na
Afirmação 2). Como segiências descrescentes de números naturais
são estacionárias, então depois de um número finito de passos va-
mos obter uma matriz M, = M tal que (MM) = t(M), como
desejado.

Observação VIII.1.5. O inteiro r > 0 no Teorema VIIL1.1 é


chamado de posto da matriz M. Os elementos não-nulos
di, da, ..., dy do domínio euclidiano D são unicamente determina-
dos, a menos de multiplicação por elementos invertíveis de D. Va-
mos dar agora uma prova desta unicidade. Para isto, vamos de-
notar aqui por (di, d»,...,d,) uma matriz m x n diagonal como
em (1). Sejam então NV = (d,,...,d)eN' = (dy...,d) duas
matrizes m x n diagonais do tipo (1), tais que / = Nº. Vejamos
primeiramente que d; e d, são associados em D, isto é, que existe
um elemento u € D invertível tal que dy = ud,. Como temos
dildo|... |d,, então d; divide cada entrada da matriz N e assim d);
divide cada entrada de qualquer matriz M4 satisfazendo NM, = N.
Em particular, o elemento d; divide dj. De modo análogo, temos
que d, divide d; e assim d, e d, são associados em D. Vejamos
agora que dy e d; são associados em D. Como dilds|...|d,, então
dido divide cada menor 2 x 2 da matriz N e assim did, divide cada
menor 2 x 2 de qualquer matriz N satisfazendo MN, = N. Em par-
ticular, o elemento dida divide d;d,. De modo análogo, temos que
did, divide did» e assim did» e did, são associados em D. Como d;
e d, são associados, concluímos que d, e d, são também associados
em D. À unicidade de ds vai seguir de considerações análogas para
os menores 3 x 3 e assim por diante.
318 [CAP. Vil: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

VIII.2 Módulos e Homomorfismos


Definição VIII.2.1. Seja 4 um anel comutativo com unidade. Um
grupo abeliano aditivo (M, +) dotado de uma multiplicação escalar

AxM—sM
(am)-> am

é dito um A-módulo se satisfaz os seguintes axiomas (Va1,a2 € À


eVYm,ma eM):

a) 1.m =m;

b) (ajas) -m = (ao cmi);

) (mta)
m=ua mam;

D) a(m+m)=a-m+Ha:ma.

Seat AemeM, escreveremos também am para denotar o


elemento a -m do módulo M.

Definição VIII.2.2. Sejam 4 um anel e M um A-módulo. Um


subgrupo N de M é um A-submódulo se a multiplicação escalar do
módulo M preserva N, isto é, se

a-neN, Vaeà e YnenN.

Seja M um A-módulo, seja tEN e sejam my,mo,...,m; ele-


mentos de M. Consideramos o seguinte subconjunto N de M:

N = Am +Am+-c+Am=(amA+--+ame|a;
e AS.

Claramente, este conjunto N é um submódulo de M e ele é chamado


de submódulo gerado por my,ma,...,my;. O módulo M é dito
finitamente gerado quando existe um número finito de elementos
my ma,...,my de M tais que

M = Am, + Amo, + ---+ Am.


[SEC. VIll.2: MÓDULOS E HOMOMORFISMOS 319

Neste caso, dizemos que mi, ma,...,m, é um conjunto de geradores


para o módulo M.
O módulo M é dito cíclico se pode ser gerado por um elemento,
isto é, se M = Am, para algum me M.

Exemplo VIII.2.3. a) Seja 4 um corpo. Então a noção de 4-


módulo coincide com a de A-espaço vetorial.
b) Seja 4 = Z. Seja (G, +) um grupo abeliano. Defina uma multi
plicação escalar Z x G — G da maneira seguinte

VzeZ, VgeG,2z:g=94---+gsez>0,
See e?

Z vezes

:9=(-9)+--+(-9) sez<0.
Ne
eee
z vezes

E imediato verificar que G é um Z-módulo.


Munidos dessa multiplicação escalar natural, os grupos abelianos
são exatamente os Z-módulos.
c) Seja (G, +) um grupo abeliano. Os subgrupos de G são exata-
mente os Z-submódulos de G.
d) Seja (A, +,-) um anel. Sobre o grupo abeliano (4, +), defina
uma multiplicação escalar por

Ax AS A
(a,b)
— ab.

É imediato verificar que munido dessa multiplicação escalar, (A, +)


é um A-módulo cíclico, gerado por 1. Os A-submódulos de À são
exatamente os ideais de 4. Os A-submódulos finitamente gerados
de À são exatamente os ideais finitamente gerados de 4.
e) Sejam (A, +, -) um anel e 1 um ideal de 4. Sobre o grupo abeliano
(A/T, +), defina uma multiplicação escalar por

AX A/I— A/I
(a,b6+1)
> ab+ 1.
320 [CAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

Munido dessa multiplicação escalar, (A/T, +) é um ÁA-módulo cíclico,


gerado por 1. Os A-submódulos de 4/1 são exatamente os ideais
do anel quociente A/I.
f) Seja M um A-módulo e sejam N4,..., N, A-submódulos de M.
Então NM +--+N=(m++tn|nenN,, Vi=1,...t) é
um A-submódulo de M.

g) Seja M um A-módulo e seja 1 um ideal do anel 4. Então IM :=


( am;neN,ael, m;emM, vi) é um A-submódulo de M.
j=1
h) Seja A um domínio e seja M um A-módulo. Então temos que
T(M) := (me M | Ja € ATO) tal que am = 0) é um A-
submódulo de M, chamado de submódulo de torção de M.
i) Seja t um inteiro positivo e considere o seguinte conjunto

A* =I(m,a3,...,a) |a; € Ab

Definindo a operação de adição coordenada a coordenada:

(a1,02,..,u)+H(aj,a5,...,0,)) = (a +aj,a+a,...,m+a,),
e a multiplicação escalar da maneira seguinte

a-(a1,02,...,0) = (am,aas,..., aa),

vemos que A* é um A-módulo.


Sejam e, = (1,0,...,0),e3 = (0,1,0,...,),...,e = (0,...,0,1).
Verifique que e,,€5,...,e; formam um conjunto de geradores para
o módulo 4*; assim o A-módulo A* é finitamente gerado.
Definição VTIII.2.4. Sejam M e M' dois A-módulos. Uma aplica-
ção f: M —> M' é um homomorfismo de A-módulos se:

a) f é um homomorfismo de grupos aditivos, isto é,

Fm + ma) = fimy) + flímo), Ymy,meM.

b) fla-m)=a-f(m),vVaeAeYmemM.
[SEC. VIll.2: MÓDULOS E HOMOMORFISMOS 321

Dizemos também que a aplicação f é A-linear, ou que f é um


operador A-linear. Um homomoríismo de A-módulos é um isomor-
fismo de A-módulos se ele é bijetivo.

Definição VTIII.2.5. Sejam A um anel e (M,+) um A-módulo.


Seja N um A-submódulo de M. Então, em particular, (N, +) é um
subgrupo do grupo (M, +) e podemos considerar o grupo quociente
(M/N, +), isto é o conjunto fm + N |m E M+ das classes laterais
de N em M munido da adição

+: M/N x M/N —s M/N

(mm +Nm+N
> (m+mo)+N.

Sobre este grupo (M/N,+), podemos considerar a seguinte multi-


N
plicação escalar:

AxM/N
— M/N
(am+N)-—am+N.

É fácil verificar que esta operação é bem definida e que M/N é um


A-módulo, chamado de A-módulo quociente de M por N.

Analogamente ao que foi feito para homomorfismos de grupos e


de anéis, temos os seguintes resultados (verifique-os):

(i) Seja N um submódulo de um A-módulo M e considere a


projeção canônica

t:M —> M/N


mos m+4 N.

Então 7 é A-linear, sobrejetora e com núcleo igual a N.

(ii) Sejam M e M' dois A-módulos e N um submódulo de M. Seja


f: M — M' uma aplicação A-linear tal que ker f O N. Então
existe um único homomorfismo de A-módulos f: M/N > M'
tal que f = for; ele é definido por f(m + N) = f(m).
322 [CAP. Vil: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

(ii) (Teorema dos Isomorfismos) Se no item (ii) acima temos que


ker f = N, então f é um isomorfismo de A-módulos entre o
quociente M/N e a imagem do homomorfismo f.

(iv) Existe uma correspondência bijetiva entre os submódulos do


quociente M/N e os submódulos de M que contém N.

Exercício VIII.2.6. Seja 4 um anel. Seja M,,..., M, um conjun-


to finito de A-módulos. Coordenada por coordenada, defina uma
estrutura de Á-módulo sobre o seguinte conjunto:

M x-ccxMo=tim.smlmemM, Vi=1,...,nh.

Com esta estrutura, dizemos que M, x ---x M, é o produto direto


dos módulos M,,...,M,.

a) Se N, é um A-submódulo de M; para à = 1,...,n, mostre que

(Mi, xx Mi) /(Ni xx No) = (Mi/Ny) xx (Ma/N).

b) Se M é um Á-módulo isomorfo ao A-módulo M, x --- x Mn,


mostre que existem A-submódulos M,,..., M, de M tais que
M; = Mi, Vi =h1,...,;n, e tais que para cada m E M,
existem elementos Mm; E Mi, sMn € M, unicamente deter-
minados satisfazendo m = Mm +": +H Ma.

Nestas condições, escrevemos

M=M6e---eM,.

Observe que esta notação é compatível com a Notação V.8.3.

Exercício VIII.2.7. Sejam 4 um anel, (M,+) um A-módulo e 1


um ideal de 4. Como IM é um A-submódulo de M, então podemos
considerar o A-módulo quociente M/IM. Podemos também consi-
derar o grupo quociente (M/IM, + ) munido da A/I-multiplicação
escalar seguinte:
ISEC. VIll.2: MÓDULOS E HOMOMORFISMOS SZS

A/I x M/IM — M/IM


(a+im+IM) — am
+ IM.

a) Verifique que esta 4/I-multiplicação é bem definida e que, com


ela, M/IM é um A/I-módulo.

b) Seja N um subgrupo do grupo (M/IM, + ). Mostre que o sub-


grupo N é um A-submódulo de M/IM se e somente se N é um
A/I-submódulo de M/IM.

De maneira similar à Definição 11.1.9, um A-módulo M é dito


noetheriano se todo A-submódulo de M é finitamente gerado. Em
particular, o próprio A-módulo M é finitamente gerado.

Proposição VIII.2.8. Seja A um anel noetheriano e seja M um


A-módulo finitamente gerado. Então M é A-módulo noetheriano.

DEMONSTRAÇÃO. Seja M = Am, + --- + Ams,. Seja N um ÁÀ-


submódulo de M. Mostraremos que N é finitamente gerado por
indução sobre t.
Se t = 1, considere a aplicação

pv: A—s Am, =M


at am.

Ela é um homomorfismo sobrejetivo de A-módulos. Considere o


ideal J:= (ae Alam E Ny do anel 4. Então N = J.m; é
finitamente gerado, pois J é ideal finitamente gerado.
Set>2,seja M':= Am,+---+ Am,. Seja b:= (5 € Alôm, E
N + M9. É claro que b é um ideal de 4; como A é noetheriano,
324 [CAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

então b = Abo + --- + Ab, para um número finito de elementos


bo, b1,...,bs em b. Portanto para cada i = 0,1,...,s, existen, € N
tal que

b;m1 — n; € M. (3)

Afirmamos que

N = Ano+ An +---+ Ans+(NNM). (4)

Claramente basta mostrar que N está contido no ÁA-módulo à direita


na Igualdade (4). Seja então é E NC Am +M' = M e escreva
£=- Bm, +m' com BE Aem' e M'. Logo 8 E b e escrevemos

5 — OY900 + ab +... + ads com Ai; E A.

Temos então € = Gm +m' = aobom + ---+abm+m €


Ang +: + Ans + M'; de fato, basta utilizar a Equação (3).
Escreva agora £ = any + am +: + asn; + m”, onde
ao,0,...,4, E A em" e M'. Comoé E Ne comon, € N,
então m” E NNM' eisto prova a Igualdade (4).
Como Nn M' é um A-submódulo de M' e como M' é gerado
por (t— 1) elementos, então, pela hipótese de indução, NN M' é um
A-módulo finitamente gerado. Por (4), concluímos que N também
é um A-módulo finitamente gerado. [)

Observação VTIII.2.9. Se 4 é um domínio arbitrário e M é um À-


módulo finitamente gerado, então podem existir A-submódulos de
M que não são finitamente gerados. Por exemplo, se X1,..., Xn,.-.-
é um conjunto infinito de indeterminadas sobre Q, então o anel de
polinômios A := Q/X1,..., Xn,...| é um A-módulo cíclico, mas o
ideal (X1,...,X,,...) é um A-submódulo que não é finitamente
gerado.
ISEC. Vill.2: MÓDULOS E HOMOMORFISMOS 329

Definição VIII.2.10. Seja M um A-módulo. Como no caso de


espaços vetoriais, dizemos que os elementos my, ma,...,m; de M
são A-linearmente independentes se

[» aim; =0, com a; € 4) > (0,=0, V9).


j=1

Um A-módulo finitamente gerado M é dito liwre se ele admite


um conjunto finito de geradores my, ma,...,Mm, que são elementos
A-linearmente independentes , ou equivalentemente, se o módulo
M é isomorfo a 4º. Para ver esta equivalência, considere o homo-
morfismo

g: 4*-—sM
t
(a1,.MU) > am;
1=1

Neste caso dizemos que (my, ma,...,my) é uma base para o módulo
livre M. Observe que M = Am, & --. E Am.

Exemplo VIII.2.11. a) Seja 4 um corpo. Então todo A-módulo


finitamente gerado (i.e., todo A-espaço vetorial finitamente gerado)
é um A-módulo livre.

b) Seja 4 um domínio. Ser > 2 é um inteiro e se ay,...,a, são ele-


mentos de 4, então q1,..., a, não são Á-linearmente independentes
(verifique). Se 1 é um ideal finitamente gerado de 4, então 1 é um
A-módulo livre se e somente se ele é um ideal principal (verifique).
c) Seja A um anel e seja t um inteiro > 1. Então os elementos
er := (1,0,...,0),...,e; := (0,...,0,1) formam uma base do A-
módulo livre A*, chamada base canônica de A.

d) Sejam 4 um anele M um A-módulo finitamente gerado. Então


M é isomorfo ao quociente de um A-módulo livre finitamente ge-
rado por um submódulo. De fato, se m,,...,my é um conjunto de
326 [CAP. Vill: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

geradores de M, consideramos a aplicação A-linear sobrejetora

p: As M
t

(a1,. MU) + Sami


i=1
Então, pelo teorema dos isomorfismos para módulos, temos o iso-
morfsmo M = A*/N, onde N := kery é um submódulo do A-
módulo livre Aº.
Se 4 é um anel noetheriano, então 4 possui ideais maximais.
Isto segue diretamente do item a) do Teorema [1.2.1. Assim, todo
domínio principal (e, em particular, todo domínio euclidiano) pos-
sui ideais maximais. Mais geralmente, usando o “Lema de Zorn”,
pode-se mostrar que todo anel com unidade possui ideais maximais.
Isto permite provar a seguinte proposição num contexto bastante
geral, embora a utilizaremos somente para módulos sobre domínios
euclidianos.

Proposição VIII.2.12. Seja À um anel com unidade e seja M


um A-módulo livre finitamente gerado. Então, todas as bases de M
possuem o mesmo número de elementos.

DEMONSTRAÇÃO. Seja m4,...,m, uma base do A-módulo M. Seja


m um ideal maximal de A e considere a aplicação

v:M — (Alm) x---x(A/m)


am + +ame—s> (a. . 04).

Ela é claramente um homomorfismo sobrejetivo de grupos aditivos


cujo núcleo é igual a mM. Portanto, temos um isomorfismo de
grupos aditivos:

vi: M/mM > (A/m) x cx (A/m). (5)


Neemnaaa [eee
t vezes

Agora, M/mM tem uma estrutura natural de A/m-espaço vetorial


dada por
(a+m)-(m+mM):=amt+mM.
[SEC. VIll.3: SUBMÓDULOS DE UM MÓDULO LIVRE 327

É imediato verificar que a aplicação Y dada em (5) é um isomorfismo


de espaços vetoriais. Portanto, obtemos que M/mM é um (A/m)-
espaço vetorial de dimensão t.
Se M possui uma outra base com n elementos então, pelo mesmo
argumento, obtemos que M/mM é um (A/m)-espaço vetorial de
dimensão n. Naturalmente, pela propriedade básica dos espaços
vetoriais, obtemos que t = n. []

Definição VII1.2.13. Seja 4 um anel com unidade. Seja M um


A-módulo livre finitamente gerado. Então, a cardinalidade comum
a todas as bases de M se chama o posto de M.

VIII.3 Submódulos de um Módulo Livre

Seja 4 um anel. Sejam N um A-módulo finitamente gerado, M


um A-módulo livre finitamente gerado e f: N — M uma aplicação
A-linear. Como em Álgebra Linear, uma vez escolhido um con-
junto ordenado de geradores B = fv,,...,vnj para N e uma base
ordenada B' = fw;,...,wm) para M, esta aplicação f pode ser re-
presentada por uma matriz m xn. Para j € (1,...,n), escrevemos

mM

f(v;) = > au; com ai; E À,


1=1

e dizemos que a matriz M = (a;;) representa a aplicação f em


relação a B e B'. Claramente, a matriz obtida para uma aplicação
A-linear f vai depender do conjunto de geradores B de N e da
base 6" de M escolhidos. Mostramos abaixo que as operações ele-
mentares em linhas e colunas de M, correspondem à mudanças do
sistema de geradores para N ou à mudanças de base para M. Para
simplificar, faremos isto através de exemplos:

Exemplo VIIT.3.1. (Verifique!): Sejam 4,N,M,n,m, f,5B,B,M


como acima:
328 [CAP. Vlll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

1. Permutação de linhas ou colunas.

a) Se na matriz M permutamos a 1? coluna com a 2? co-


luna, então a nova matriz obtida representa a mesma
aplicação f em relação a Bj = (va,v,,v3,...,Unj e Bº.
b) Se na matriz M permutamos a 12 linha com a 22 linha,
então a nova matriz obtida representa a aplicação f em
relação a Be Bj = (wa,Un, W3,..., Um).

2. Substituição de linha ou coluna.

a) Se na matriz M substituimos a 1º coluna pelo resultado


da operação

(12 coluna) + À - (22 coluna), com hEe4,

então a nova matriz obtida representa a aplicação f em


relação a

B» — tvs + Avg, Va, U3, ++» Un) e B.

b) Se na matriz M substituimos a 1º linha pelo resultado


da operação

(1º linha) + ÀA- (2º linha), com he4,

então a nova matriz obtida representa a aplicação f em


relação a

Be B, = (ww — Aw,,W3,...,Wm).

Como consequência do Teorema VIII.1.1, temos:

Corolário VIII.3.2. Seja D um domínio euclidiano. Sejam M,N


dois D-módulos livres finitamente gerados e Ff: N > Mum dD-
homomorfismo. Então, existe uma base B = (u,...,un) de N e
[SEC. VIll.3: SUBMÓDULOS DE UM MÓDULO LIVRE 329

uma base B' = (wy,...,Wm! de M tais que a matriz que representa


a aplicação f em relação a estas bases é da forma

[do

O O
! /
onde d,...,;dr pertencem a DN (0J e onde d; divide d;,1, para
cada j=1,2,...,r—1.

DEMONSTRAÇÃO. Exercício.

Vamos agora provar o seguinte resultado importante:

Teorema VIII.3.3. Seja D um domínio euclidiano. Sejam M um


D-módulo livre de postom e N um D-submódulo de M. Então:
a) O módulo N é livre, de posto r < m.
b) Existe uma base B' = fw,,...,wumy de M e existem elementos
di,...,dp E DN O) tais que:
ed; divided, Vj=1,...,r—l,
e diw,,...,dw, é uma base de N.

c) Dada uma base 71,...,Zm de M e dado um congunto ordenado


de geradores
mM mm

Yi = ) QT; ss... Yn — ) Dindi


1=1 i=1

do submódulo N, uma base de N pode ser efetivamente encontrada.


330 CAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

DEMONSTRAÇÃO. a) e b). Pela Proposição VIII.2.8, o submódulo


N é finitamente gerado. Sejam €C um conjunto qualquer ordenado
finito de geradores de N, €C' uma base qualquer de M,:i: N > M
a aplicação de inclusão e considere a matriz M correspondente à
aplicação 1 em relação a C e C'. Pelo Teorema VIII.1.1, através
de operações elementares em linhas e colunas, obtemos uma matriz
diagonal

[as )

O O
À
onde d; divide d; para j = 1,...,r — 1. Essa matriz M' é a ma-
triz correspondente à aplicação 1 em relação a um certo conjunto
de geradores B de N e a uma certa base B' = (w,,...,um) de
M. Isto quer dizer que B = fdw,,...,d;w,). Portanto, agora,
falta somente mostrar que d;w,,..-.,dyriw, são D-linearmente inde-
pendentes. Sejam a,,...,a, € D tais que
r

0 — Du Us(dyrw;) =5 (as;dyw;.
j=1

Usando que w,,...,w, são D-linearmente independentes, temos


a;d; = 0, para cada q = 1,...,7. Como d; + 0 e como D é
um domínio, concluímos que a; — 0, para cada q = 1,...,7.
c) Consideramos a matriz M := (a;;) obtida a partir das expressões
do conjunto de geradores y,...,Yn do submódulo N. Como in-
dicado na Observação VIII.1.4, podemos levar efetivamente esta
matriz M para uma forma diagonal após uma sucessão finita de
[SEC. VIll.3: SUBMÓDULOS DE UM MÓDULO LIVRE SS

operações elementares entre linhas e colunas. Como visto no Exem-


plo VII.3.1, essas operações elementares nos conduzem a uma nova
base para o módulo M e a um novo conjunto de geradores, efeti-
vamente calculados, para o submódulo N. Os elementos não-nulos
deste novo conjunto de geradores formam uma base de N. [)

Exemplo VIIT.3.4. O objetivo deste exemplo é ilustrar num caso


concreto os passos da demonstração do Teorema VIII3.3. Con-
sidere o submódulo N de Zº gerado por:

Yi — (1,0,2,0); a = (1,0,0,2): Y3 — (O, l, 1,0); Ya — (0,0,3, —8).

Então formamos a matriz

11 0 0
0010
201 3º
020—3

cujas colunas representam os geradores de N em relação à base


canônica (e1,e2,€3,e4) de Z'.
A matriz acima pode ser colocada na forma diagonal abaixo

1 00 0
O 100
0 01 0]'
O 000

após as seguintes sete operações (verifique!):


1º Operação: Substituir a 32 linha por (3? linha) - 2-(1º linha).
4º Operação: Substituir a 2º coluna por (2º coluna) - (1º coluna).
3º Operação: Permutar (22 coluna) com (3º coluna).
4º Operação: Substituir 32 linha por (3º linha) - (2º linha).
5º Operação: Substituir 42 linha por (4º linha) + (32 linha).
o

6º Operação: Substituir 32 coluna por (3? coluna) + (4º coluna).


* Operação: Substituir 4º coluna por (4º coluna) —3- (3º coluna).
SSZ [CAP. Vill: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

Sabemos que uma operação entre colunas significa uma mu-


dança no conjunto ordenado de geradores de N e que uma operação
entre linhas significa uma mudança na base ordenada de Zº. Des-
crevemos agora estas mudanças; para isto vamos denotar por 5,
(respectivamente, por B;) o novo conjunto ordenado de geradores
para o submódulo N (respectivamente, a nova base ordenada para
Zº) obtido após a i-ésima operação entre linhas ou colunas, para
cada 1 = 1,2,...,7. Temos então que:

Bi=ly,yoys,yu) e B=(e+2es,e2,e3,e4]!;
B-(lyyw-y,ysm) e B=B;
Bs=(y,ys,Y—-yW,yW) e B = Bo;
B,=-B; e B,=(e+2es,e2+e3,e3,e4):
B,=bB, e B,=(e;+2es,e2+e3,e3— eg,e4];
B=ly,ysy-—-n+tyym) ec Bo B;
Br=tys,ysy—y+Hys dy —uy)-—2wuj e 7 = Bs;

A forma diagonal obtida após as sete operações então nos dá as


seguintes igualdades:

y =e;+2e3, y3 = extes, yy—y+ya = e3—€4, y—yo)—2ya = 0.

Vemos então que N é isomorfo a Zº e que (y,y3,y2 — W + Wa) é


uma base para o submódulo N.

VIII.4 Estrutura dos Módulos Finita-


mente Gerados
Podemos agora enunciar o teorema fundamental de estrutura para
módulos finitamente gerados sobre domínios euclidianos.

Teorema VIII.4.1. (Decomposição de torção). Seja D um domí-


mio euclidiano. Sejam M um D-módulo finitamente gerado e T(M)
seu submódulo de torção. Então,
[SEC. VIll.4: ESTRUTURA DOS MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS 333

a) Existem um inteiro t > 0 e um D-submódulo L = Dº tais que


M=T(M EL.

b) Existem elementos não-invertíveis di,...,ds E DN 40) satis-


fazendo a condição d; divide d;,1, para cada j =1,...,s—1,
tais que
T(M) = D/(dy) x ---x D/d,).
c) Ointeiro t é unicamente determinado. Os elementos di,...,ds,
são unicamente determinados, a menos de multiplicação por
elementos invertíveis de D.

Definição VIII.4.2. O inteiro t é denominado posto de M. Os


elementos dr,...,ds são denominados coeficientes de torção de M.
Na prova do item c) do Teorema VIII.4.1, utilizaremos em várias
passagens o seguinte fato decorrente do Teorema dos Isomorfismos:
de 1 e J são dois ideais de um anel À, então
A/T
—TATI)
> [d+
oc AM(I+J). J)
Faremos apelo também ao conceito de anulador de um módulo: se
N é um A-módulo, o anulador de N é definido por

A(N):= face Alan=0, Yne Ny


e utilizaremos os seguintes resultados fáceis de verificar:
e An(N) é um ideal de 4.
e Se N, e No são dois A-módulos isomorfos, então vale a igual-
dade An(N1) = An(N5).
DEMONSTRAÇÃO DO TEOREMA VIII.4.1L a)eb). Seja fay,...,Qm)
um conjunto de geradores para M; logo M = Da; + --- + Da,.
Considere o seguinte homomorfismo sobrejetor de D-módulos:

g: D”" ->M
m
(ay, oa » Um) —s > aja;
=]
So4 [CAP. VIH: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

Pelo Teorema VIII.3.3, o núcleo K := kerg é um submódulo livre


do módulo D” e existem uma base fw,,...,wWwm+ de D” e elementos
di,...,d E DIO), comr <me com d; dividindo d,,1, para cada
gj=1,...,r—l, tais que fdiw,,..., dw,j é uma base de K. Temos
entao

M = DP/K
Dw, O---O
Dw, O... O Dum
- Ddjw,
O --- & Dd,w,
= D/(dy)x---x D/(d.) x D', comt:i=m-—r.

Observe que se algum d; é invertível em D, temos (d;) = D,


logo D/(d;) = (0). Podemos portanto descartar os elementos d,;
que são invertíveis e então supor que di,...,ds (com s < 7) são
elementos não-invertíveis de DA (0) tais que d; divide d;,, para cada
j=1,...,s—1. Obtemos assim que M = D/(dy)x---x D/(ds) x Dº.
Agora, é fácil ver que D/(d;) x ::- x D/(d,) é exatamente
o submódulo de torção do módulo D/(dj) x --. x D/(d,) x Dº
(verifique). Portanto, pelo Exercício VII1.2.6, obtemos então que
vale M =T(M) 6 L com T(M) = D/(d;) x---x D/(d.) e com L
um D-submódulo de M tal que L — Dº*.
c) O inteiro t é unicamente determinado pois, pelo item a), ele é
igual ao posto do módulo livre M/T(M) (vide Definição VII.2.13).
Vejamos agora a unicidade dos coeficientes de torção.
AFIRMAÇÃO: Sejam dy,...,d. E DN IDjed,...,d, e DN ÍO)
elementos não-invertíveis satisfazendo

d; divide d;+1 e d,; divide ds V9, (6)

tais que

T:=D/(d)x---x D/(d)=D/(d)x---x D/di). (7)

Então: D) s= gs”.
2) Todo divisor primo de d, também é divisor de d', para cada
9=1.,...,s.
[SEC. VIll.4: ESTRUTURA DOS MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS SS

DEMONSTRAÇÃO. 1) É claro que podemos supor s > s'. Seja p € D


um fator primo de d,. Então, para q = 1,...,8s, p divide d; e logo
(p, d;) = (7); olhando no lado esquerdo de (7), temos

ny xÃ. (8)
S vezes

Agora, olhando no lado direito de (7), obtemos

TLD sp (9)
pT (pd) (p, di)
Como D é um domínio euclidiano, o ideal (p) é maximal e portanto
D/(p) é um corpo. Por (8), T/pT é um D/(p)-espaço vetorial de
dimensão s.
Sendo (p) maximal, temos (p, d;) = (p) ou (p, d;) = D. Portanto
por (9), T/pT é um D/(p)-espaço vetorial de dimensão < s', i.e.,
temos s <s'. Logo s =.
2) Como T/pT tem dimensão s = s”, então por (9), obtemos que
(p, d;) = (p) para todo j, e logo que p divide d, para todo 3.
Isto termina a prova da afirmação.
Falta mostrar que d; e d são associados, Vj = 1,...,s. Faremos
isto por indução sobre o número m(d,) onde, se « é um elemento
de D, então mr(a) denota o número de fatores irredutíveis de a,
contados com suas multiplicidades. (Por exemplo, se p e q são dois
elementos irredutíveis de D, então r(p?) = 2 e n(piq”) = 8).
Primeiro, observe que por (6) e (7), temos

An(T) = (ds) = (ds),


logo temos que ds e d, são elementos associados em D e que, em
particular, temos m(ds) = 7(d!).
Se m(ds) = 1, então o elemento d, é um elemento primo de D.
Utilizando a notação a — f5 para indicar que a e 5 são dois
elementos associados em D, temos d, — d; pelo visto acima.
356 ICAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

As condições de divisibilidade em (6) garantem que

dinded-dd, Vj=1,2,...,8,
pois ds é primo, e portanto que d; - di, Vj=1,2,.
Suponhamos agora m(ds) > 1. Seja p um divisor primo de
di; então p divide cada d; (pois d; divide d;) e p divide cada
d; (vide item 2) da afirmação anterior). Para todo 1 = 1,...,5s,
a aplicação D — p- TE) — Es definida por «a » pa + (do
é um D- nomomortismo sobrejetor cujo núcleo é o ideal (d;/p);
logo p- a É Do TED Analogamente, para 1 = 1,...,5, temos
p: a) = CU7 Como por (7) temos

Ta DD. D D 6
Po Pata
E qa) E a
D D D D
(dido) O Tao) É Ta ao
Seja k definido por

(di/p)=e=(di/D)=D e (den/p)ZD (11)


e seja k' definido por

(d/p)=-=(de/p)=D e (dy +1/P) 7 D. (12)

Note que k ou k' podem ser nulos, mas que k < se k' < s (pois
temos m(d,) = m(d;) > 1). Podemos reescrever (10) como abaixo:

Dix
Po Doro (13)
(des 1/7) (ds/p) (dirs1/D) (di/p)

Aplicando o item 1) da afirmação anterior no contexto do isomor-


fismo em (13), obtemos s — k = s — k' ou seja obtemos k = k”.
Então, por (11) e (12), temos

(da) =": = (da) = (p) = (di) =": = (dy)


[SEC. Vill.4: ESTRUTURA DOS MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS 337

Isto mostra que d; e d; são associados em D), para cada ) < k.


Falta agora verificar que d; e d; são associados, para cada j =
k + 1,...,s. Como 7(d,/p) = m(ds) — 1, aplicando a hipótese de
indução ao isomorfismo em (13) obtemos, para cada ) = k+1,...,s,
que (d;/p) = (d;/p) e logo que (d;) — (d'). E

Seja d € D um elemento não-nulo e não-invertível. Sendo D


um domínio euclidiano, e portanto um domínio fatorial, podemos
escrever

d=pr'pj..Pe
com p; elemento primo do domínio D e p; não-associado de p;, para
à £ 3. Pelo Teorema Chinês dos Restos (Teorema 11.2.7), obtemos

D/(d) = D/(pi') x D/(p5?) x ---x D/(pp').

Aplicando este procedimento aos D-módulos cíclicos D/(di),


D/(do),..., D/(ds) que aparecem no Teorema VIII.4.1, obtemos:

Teorema VIII.4.3. (Decomposição primária). Seja D um domínio


euclidiano. Sejam M um D-módulo finitamente gerado e T(M) seu
submódulo de torção. Então,

a) Existem elementos primos p1,...,Pu € D (em geral não todos


distintos) e inteiros vy > 1,...,vy > 1 tais que

TM) = D/py') x: x D/(y).

b) Os elementos pj',...,pi: são unicamente determinados, a


menos de multiplicação por elementos invertíveis de D.
330 [CAP. VIll: MATRIZES E MÓDULOS FINITAMENTE GERADOS

VIII.5 Exercicios
1. Seja R um anel comutativo com unidade e considere M um
R-módulo simples (isto é, os únicos submódulos de M são (0)
eM).

a) Mostre que M é isomorfo (como R-módulo) ao módulo


R/M, onde M é um ideal maximal de R.
b) Seja M' um outro R-módulo simples e seja py: M > M'
um R-homomorfismo. Mostre que ou y = 0 ou y é um
isomorfismo.
c) Considere o conjunto dos endomorfismos de M:

Enda(M) = fy: M > M; q é R-homomorfismo +.

Mostre que (Endr(M), +,O) é um corpo, onde a mul-


tiplicação O é a composição de funções e a adição é
definida por (4 + po)(m) = pi(m) + palm), YmeM.

2. Resolva os seguintes itens:

a) Mostre que os elementos m; = 2 em, = 3 formam um


conjunto de geradores para Z como Z-módulo, isto é,
mostre que Z = Zm; + Zms.
b) Seja M um R-módulo livre de posto finito, onde R é um
anel comutativo com unidade. Então um conjunto de
geradores para M como R-módulo pode não conter uma
base de M?

3. Seja R um anel tal que todo R-módulo finitamente gerado é


livre. Mostre que R é um corpo.

4. Diagonalize a matriz 3 x 3 com entradas em Z:

3 l —4
2 —S 1
—4 6 —2
[SEC. VIll.5: EXERCÍCIOS 3359

5. Ache uma base para os seguintes submódulos de Zº:

a) O submódulo gerado por v = (1,0,-—1), va = (2,-3,1),


vs = (0,3,1) e vs = (3,1,5).
b) O submódulo das soluções do sistema de equações
lineares X+2Y +32 =X +4Y+9Z=0.

6. Sejam D um domínio euclidiano, M um D-módulo finita-


mente gerado e N um D-submódulo de M. Mostre que

(Posto de M/N) = (Posto de M) — (Posto de N).

7. Sejam 4 e B duas matrizes quadradas m x m que sejam


diagonalizáveis. Mostre que elas são simultaneamente diago-
nalizáveis (i.e., existe uma matriz invertível P tal que PAP”!
e PBP”! são matrizes diagonais) se e somente se AB = BA.
Capítulo IX

Aplicações

IX.1 Estrutura dos Grupos Abelianos


Finitamente Gerados
Traduzimos para o contexto dos grupos abelianos os resultados obti-
dos no capítulo anterior:
Teorema IX.1.1. Sejam G um grupo abeliano fintamente gerado
eT(G):= (9€G; In £0 tal que ng = 0J seu subgrupo de torção.
Então,
a) Existem um inteiro t > 0 (chamado de posto de G) e um
subgrupo L = Z! tais que
G=T(G)OL.

b) (Decomposição de torção) Existem inteiros unicamente deter-


minadost >0ed;/ >2,...,d; > 2 satisfazendo a condição
d; divide d;,1, para cada j = 1,...,S— 1, tais que
G=Z/dZx---xZ/dZx 7.
c) (Decomposição primária) Existem inteiros unicamente deter-
minados t > 0 epy,...,pi: comp, <--: < py números
primos ecomv 2 1),...,v, 21, tais que

G=Z/pZx--x pl x 7.

341
342 ICAP. IX: APLICAÇÕES

Exemplo IX.1.2. O teorema anterior nos permite exibir todos os


grupos abelianos finitos de uma certa ordem. Por exemplo, se p é
um número primo, então a menos de isomorfismo, existem exata-
mente 3 grupos abelianos de ordem p*, a saber:
Z, Z, , Z, Z , Z , Z
p'Z pZ pv pZ pã pa
À menos de isomorfismo, existem exatamente 5 grupos abelianos
de ordem q”, se q é um número primo, a saber:
Z Z Z Z Z Z Z Z
, DX DEXS DX xX—
q'Z PL ql q PL PL ql qu
Z Lo Z j Z
az * qm É qm” qm
Daí decorre que a menos de isomorfismo, existem exatamente 15
grupos abelianos de ordem pº- q?, se p e q são números primos dis-
tintos. Eles são obtidos como produto direto de um grupo abeliano
de ordem p? com um grupo abeliano de ordem q”.

IX.2 Forma Canônica de Jordan


Definição IX.2.1. Uma matriz Mf quadrada de tamanho m x m
é formada por blocos se existe uma partição de m

m=>m+tma++mMs,

e existem matrizes quadradas M, de tamanhos m, x m;, para cada


1=—1,2,...,8, tals que

Mm, O O
=| O Mo O|

O O M,
isto é, se a matriz M é formada pelos blocos Mi, Ms,...,Ms
dispostos ao longo da diagonal principal e todas as suas outras
entradas são nulas.
ISEC. IX.2: FORMA CANÔNICA DE JORDAN 343

Um bloco de Jordan é uma matriz quadrada com uma mesma


constante (que pode ser nula) na diagonal principal, com as en-
tradas logo abaixo da diagonal principal iguais a 1 e com todas as
outras entradas nulas. Por exemplo,
a 0 0 0
(o), (4 o 1 «q 0 0
Palas 10140
o O 01a

são os primeiros quatro blocos de Jordan possíveis.


Uma matriz de Jordan é uma matriz quadrada formada por
blocos que são blocos de Jordan. Se o tamanho da matriz é m = 3,
temos as seguintes possibilidades para as matrizes de Jordan:
a 00 q O 0 oq O 0
1 a 0 , O Oo Õ ; O Cg Ó
O 1 a O 1º 05 O O as
À primeira matriz acima é formada de um único bloco, a segunda
é formada de dois blocos e a terceira tem três blocos de Jordan.
Seja V um espaço vetorial complexo de dimensão finita e seja
T:V > V um operador C-linear. O teorema central desta seção
afirma que existe uma base ordenada para V tal que a matriz de
T com relação a esta base (usando a mesma base ordenada no
domínio e no contra-domínio) é uma matriz de Jordan. Demons-
traremos este teorema como uma aplicação do teorema de estrutura
para módulos finitamente gerados sobre domínios euclidianos.
Tratamos inicialmente uma situação mais geral:
Sejam F um corpo, t uma indeterminada sobre F e F[t| o anel
de polinômios sobre F. Seja V um espaço vetorial de dimensão
finita sobre F e seja
T:V>V um operador F-linear.

Idéia-chave: Considerar V com a estrutura de F'|t|-módulo dada


pela multiplicação escalar abaixo

6) cv = HD (v),
od44 [CAP. IX: APLICAÇÕES

onde se f(t) = 3-o it”, então f(T') denota o seguinte operador


linear sobre V (abaixo, 1: V > V é a identidade):
HT) = mT” +aasT ++ aT+agl.
Verifique que realmente a multiplicação escalar definida acima
faz de V um módulo sobre o anel de polinômios Fit). Sendo V
de dimensão finita sobre F, ele é finitamente gerado como módulo
sobre Fit] e, sendo (Flt], grau) um domínio euclidiano, temos a
seguinte decomposição de torção:
V=Fft/(d)x---xFtfl/(d),
com d,...,d, E FIH) NF, d; divide dy, Vj = 1,...,5— 1, onde
o isomorfismo acima é um isomorfismo de Flt])-módulos. Observe
que a parte livre de V como F'it]-módulo é igual a (0), pois V é de
dimensão finita sobre F enquanto que dimp Flt|) = oo. Portanto,
temos uma decomposição

V-=WV06Woe---DW,,

onde W, é um Fit]-submódulo cíclico de V, de torção, para cada


| = 1,...,8. Sendo um submódulo, W, é tal que t-W, CC Wi;
logo temos T(W;) € W;, isto é, o submódulo W, é um subespaço
vetorial T-invariante. Tomando bases ordenadas (como F-espaços
vetoriais) para Wi, Ws5,...,Ws, obtemos uma base ordenada para
o espaço vetorial V em relação à qual a matriz do operador T' é
formada por blocos M1,...,M, pois T(W;) € W.,.
Passamos agora a analisar cada um destes blocos correspon-
dendo a Tly: W, — W,;. O espaço vetorial T-invariante W; é
isomorfo a Flit|/(d;) como Fft|-módulo. Podemos supor que d; é
um polinômio mônico de grau> 1. (Aqui usamos pela primeira vez
a operação elementar de multiplicação de uma linha ou coluna por
elemento invertível de Ft], ou seja, por elemento não-nulo de F).
As condições de divisibilidade: d; divide ds, do divide ds, etc...
implicam em particular que os blocos quadrados M4,Ms»,...,Ms
ao longo da diagonal principal são de tamanhos não-decrescentes,
pois claramente temos
dimp Flt]/(d;) = grau(d;).
[SEC. 1X.2: FORMA CANÔNICA DE JORDAN 345

Consideramos então o Flt)-módulo cíclico Fift|/(d(t)), onde o


polinômio d(t) = t* + ap at 1 +... +at+açg E Flt] é mônico de
grau k > 1. O operador linear T age como multiplicação escalar
por t, isto é,
T(a)=t:a, Vae Fft/(d(t)).
Em relação à F-base ordenada B = (1,t,t2,... tt!) de FlH/(d(t)),
o operador T é representado pela seguinte matriz (matriz esta
chamada de matriz companheira de d(t)):
[o — Go )

1 0 O — q

1 0 —Q9

1 Õ —Qk-—92

N l “a1)

Essa matriz tem entradas iguais a 1 (um) abaixo da diagonal prin-


cipal e todas as outras entradas nulas, exceto as entradas na última
coluna que são os inversos aditivos dos coeficientes do polinômio
mônico d(t).
Assim obtemos que existe uma F-base de V tal que a ma-
triz de T em relação a esta base ordenada é formada de blocos
My, Mo,..., Ms (de tamanhos não-decrescentes), que são as ma-
trizes companheiras dos polinômios mônicos não-constantes
di, do,..., ds, respectivamente. À forma acima descrita para a ma-
triz de um operador linear T', formada de blocos que são matrizes
companheiras, é chamada de forma canônica racional.
Sendo Ft] um domínio fatorial, podemos fazer a decomposição
de d(t) em produto de polinômios mônicos e irredutíveis em Ft]:

d(t) = pi(t)S - po(t)P... polt)*e.


346 ICAP. IX: APLICAÇÕES

Pelo Teorema Chinês dos Restos (Teorema 11.2.7), obtemos

Fé (att) = FIGO) x ex FE) Mpelt)to).

Isto significa que podemos quebrar cada um dos blocos Ms,


Ms, -.., Ms, em sub-blocos, obtendo assim uma base ordenada para
o espaço vetorial V com relação à qual a matriz de T é formada de
blocos que são matrizes companheiras de potências de polinômios
mônicos irredutíveis de Fit].

Seja p(t) € Fit) um polinômio mônico irredutível e considere


o Flt]-módulo cíclico FIt|/(p(t)º), onde s € N. O operador linear
T age como multiplicação escalar por t. Seja k := grau(p(t)º) e
assim k = s- grau(p(t)). Procuramos agora representar o operador
T em relação a outras F-bases de Fit]/(p(t)º). Em relação à base
ordenada (1,t,...,tt"!, o operador T é representado pela matriz
companheira de p(t)*. Uma outra F-base natural para o módulo
Ft) /(p(t)º) é a seguinte:

B=[tp(t)-1 | 0<i<graup(t)eO<gj<
gs).

Ordenamos a base B acima segundo a ordem anti-lexicográfica, isto


é, definimos:

j<j
(1,9) < (1,7) quando ou
j=9' ei<r.

Se denotamos por B a matriz companheira do polinômio mônico


irredutível p(t) E Fit|, então a matriz de T em relação à base
ordenada B acima tem a forma (verifique!):
[SEC. IX.2: FORMA CANÔNICA DE JORDAN 347

isto é, uma matriz k x k tendo a matriz quadrada B (de tamanho


igual ao grau de p(t)) repetida s vezes ao longo da diagonal prin-
cipal e com todas as outras entradas nulas, exceto as entradas
das posições (i + 1,i:) com à = O(modgraup(t)) que são iguais a
1 (um). O ponto-chave para a montagem da matriz descrita acima
é o seguinte: se p(t) = E” + DV ajt?, então

t-tT!=(-ao)-1+(-a) tá +(-a a) t+ p(b).


No caso particular em que p(t) = (t— a) € Flt|, a F-base
ordenada B é dada por

B=((t-a)/.1|0<j<s).
Neste caso, a matriz do operador T nesta base B é então um bloco
de Jordan de tamanho s x s e com o elemento a ao longo da
diagonal principal. Utilizando o Teorema Fundamental da Álgebra
(i.e., o fato que os polinômios irredutíveis de Clt|] são exatamente
os polinômios de grau 1), obtemos então o seguinte resultado:

Teorema IX.2.2. (Forma canônica de Jordan). Seja V um espaço


vetorial complexo de dimensão finita e seja TF:V > V um operador
C-linear. Então existe uma base ordenada para o espaço vetorial
V em relação à qual o operador linear T é representado por uma
matriz de Jordan.
348 (CAP. IX: APLICAÇÕES

IX.3 Exercicios
Ô. Para n = 15, 45,2º.52.72,22.3º.52, exibir todos os gru-
pos abelianos de ordem n, dando para cada um deles a sua
decomposição de torção.

. Sejam G um grupo abeliano livre de posto finito e H um


subgrupo de G.

a) Mostre que (posto de H)=(posto de G) se e somente se


(G: H) é finito.
b) Suponha que (G : H) seja finito, e considere a inclusão
f:H > G. Sejam v,,...,vm uma base qualquer de
H, w,,...,wm uma base qualquer de G, e M a ma-
triz associada a f em relação a estas bases. Mostre que
det M|=(G: H).

. Seja y: Z” — Z” um Z-homomorfismo, onde n > m, e seja


A a matriz de y em relação às bases canônicas de Z” e de Z”.
Mostre que y é sobrejetora se e somente se o maior divisor
comum dos menores m x m da matriz 4 é igual a 1.

. Determine o número de grupos abelianos distintos de ordem


igual a 400.

. Sejam Wi, Ws,...,Wy grupos abelianos finitos. Seja m um


número natural fixado e, paraj = 1,2,...,k, seja u; o número
de elementos de W, com ordem dividindo este número natural
m. Mostre que o número de elementos de W, x Wo x ...Wk
com ordem dividindo m é igual a w -u2...Up.

Com as notações do Exercício 5 acima, suponha que cada W;


é um grupo cíclico de ordem 2º, onde p é um número primo.
Seja 71 o número de j's (1 < j <k) com e; = 1, r; o número
de j's com e; = 2, etc. Mostre que o número de elementos de
Wi x Wo x -:- x W, com ordem dividindo p” é igual a pº”,
[SEC. IX.3: EXERCÍCIOS 349

onde:

Ss="n+ro+oetra
Ss=T+2ro+27r3+4:--+2rh
Sss=1,+2r9+3r9+43r4
++ Ira,

e assim por diante. De maneira mais precisa, mostre que o


número s, é dado por:

Sa=mn+2r9+:+(n-
Dra +tnim+traa de +ra).

7. Seja M um C-espaço vetorial de dimensão finita e seja


TF: M > M um operador C-linear. O polinômio característico
c(t) e Cit] do operador linear T é definido por
c(t) := det(tld — A),

onde À é uma matriz que representa o operador T em relação


a alguma base ordenada de M.

a) Mostre que o polinômio característico não depende da


escolha da base ordenada de M.
b) Se a matriz À é a matriz companheira de um polinômio
d(t) (vide Seção IX.2), mostre que d(t) é o seu polinômio
característico, i.e., que d(t) = det(tid — 4).
c) Se a matriz À é a matriz companheira de um polinômio
d(t), mostre que d(4) = 0.
d) Prove o Teorema de Cayley-Hamilton, isto é mostre que
c(T) = 0, onde c(t) é o polinômio característico de T.
Dica: Decomponha M numa soma direta de subespaços
T-invariantes (vide a forma canônica racional na Seção
IX.2) e utilize os itens b) e c) precedentes.

8. Seja M um C-espaço vetorial de dimensão finita e seja


T:M 5 M um operador C-linear com polinômio caracte-
rístico com raízes distintas (isto é, todas as raízes com multi-
plicidades iguais a 1). Mostre que T' é diagonalizável.
350 [CAP. IX: APLICAÇÕES

Dica: Para cada raiz À € € do polinômio característico c(t),


existe um vetor não-nulo v E M com T(v) = À -v. Este vetor
não-nulo v é chamado autovetor do autovalor À E C. Mostre
que autovetores v,,v2,...,v, correspondentes a autovalores
A1, À2o,..., Ar distintos são C-linearmente independentes.

. Seja M um C-espaço vetorial de dimensão SesejaT: M > M


um operador C-linear com polinômio característico da forma
(t — a)º, com a E C. Suponha que o operador (T -ald) = S
tenha posto 2 (isto é, a dimensão da imagem S(M) é igual a
2). Quais são as possíveis formas de Jordan do operador 7?

10. Determine a forma de Jordan da matriz

1 0
ma

1 0
DD

11
O

11. Qual é a forma de Jordan de uma matriz com polinômio ca-


racterístico (t — 2)2 . (t — 5)º tal que o espaço de autovetores
para o autovalor 2 tem dimensão 1, enquanto que o espaço
para o autovalor 5 tem dimensão 2?

12. O polinômio minimal m(t) de um operador C-linear


T:M>5M, onde M é espaço vetorial complexo de dimensão
finita, é definido como o polinômio mônico de menor grau tal
que m(T) = 0.

a) Mostre que o polinômio minimal divide o polinômio ca-


racterístico de T.
b) Mostre que cada raiz do polinômio característico é ainda
uma raiz do polinômio minimal.
c) Mostre que o operador T é diagonalizável se e somente
se m(t) não tem raízes múltiplas.
[SEC. IX.3: EXERCÍCIOS 391

Dica: Como Clt|-módulo temos um isomorfismo (vide Seção


IX.2)

M = Cl xXx 0X Cl onde dildo|---|ds,.

Verifique que os polinômios característico e minimal do ope-


rador T' são respectivamente:

c(t)=di(t)-- dt) e m(t)= dt).

13. Ache todas as formas de Jordan possíveis para matrizes 8 x 8


com polinômio minimal dado por t? - (t — 1)º.
ÍNDICE

Pág.

Algorítmo de Euclides ........cccicccccccccicc esses 20


Da Vo (7 DO 7
Anel de polinômios .........cccciccccccccs cerco 16, 25, 26
Anel dos inteiros de Gauss ........ccccccccos. 10, 23, 115, 119
Anel dos inteiros módulo n ........cccccccccccccsecrcctes 12
Anel dos quaternios inteiros ........ccccccccccciico 119, 130
Anel não-comutativo .........cccccccccccc ecra 8
Anel noetheriano ...........cccccc cr 44, 45, 105
Anel quociente módulo um ideal ...........ciiiiiiiccc 14
Anulador de um módulo ..........cccccccci cc 333
Aplicação A-linear ........cciicicici ss 327
AutomorÃsmo .........ccciiiccc ce 168
Automorfismo interno ..........ccccccciscs iss essere 168
Autovalor de um operador linear ........ccciiicccciccteo 350
Autovetor de um operador linear .........ccciiiiiciccs 350
Base canônica .......cccccccccccce cereais 329
Base de um módulo livre ..........cccciciisciicci
cer 325
Bloco de Jordan .........ccccccicc cce ceara 343
Cadeia ascendente estacionária de ideais ...........ccci... 45
Característica de um anel ........cccccccciccc cnc nec 34
Centralizador de um elemento ...........cccccccccccci 259
Centro de um grupo ........ccccccccc cicero 144
Ciclo ...cccccccc erre 219
Ciclos disjuntos .......ccccccccccccc cer e rr rrra 219
Classe de conjugação de um elemento ................ 243, 259
Classe de conjugação de um subgrupo ...........cccco... 257
Classe lateral à direita de um subgrupo ................... 148
Classe lateral à esquerda de um subgrupo ................. 148
Classe lateral de um subgrupo normal .................... 153
Coeficiente líder de um polinômio ................... 17, 105
354 ÍNDICE

Coeficientes de torção de um módulo ............cccc... 333


Comprimento de uma série subnormal .................... 293
Comprimento de um ciclo .......cccccccciico 219
Comutadores ......ccciccc cce 300
Cônicas irredutíveis ......ccciccccccc 125
Conjugados de um elemento .........cccccccccccc. 243, 259
Conjugados de um subgrupo ...........ciicicccccii 297
Conteúdo de um polinômio .........cccccccccciccc
cer 60
Corpo ....ccccccc eee era 10
Corpo de frações de um domínio .........ciccccccciccca 56
Corpos finitos ........cccccccccccc encerra 67, 111
Critério de Ensenstem ......cccccccccce 80, 83
Curva plana afim .......cccc cce 121
Decomposição de torção de um grupo ...........ccccc.. 341
Decomposição de torção de um módulo ................... 332
Decomposição em frações parciais ............cccicciitie 65
Decomposição primária de um grupo ........ccccicccc. 341
Decomposição primária de um módulo ............c....... 337
Derivada de um polinômio .........ccciccccciciisis rs 72
Determinante de Vandermonde ...........ccccccccc 110
Diagonalização de matrizes .........ccccccccsicccicecc 309
Discriminante de um polinômio .........cccccc... 84, 94, 95
Divisor de um elemento ............cccciiccccici sera 39
Domínio .....ccccccc eee ar 9
Domínio de fatoração única ........ccccccccccciciccece 42
Domínio de integridade .......cccccccciiis rr 9
Domínio euclidiano .......cccccciicsicec sena 19, 48
Domínio fatorial ......ccccccccc crer 42, 54
Domínio principal .......ccccccccccc see 44, 45, 68
Elemento invertível .......cccccccclcc see 39
Elemento irredutível ......cccccccc ce 39
Elemento primo .........ccccccccclni ca 39, 81
Elementos associados ........icccccccciicic rr 39
Elementos primos entre si ..........cccciiiciicccs creo 40
Elementos relativamente primos ...........ccccicicccc 40
ÍNDICE SIDO

Endomorfismo de Módulo .......icciiicicicicicc cce 338


Equação das classes de conjugação ...........cccccccciio. 296
Estabilizador de um elemento .........cccciciiiiiicicc 294

Fator de um elemento ..........ciccccciiciii irei 39


Fator múltiplo de um polinômio ........cccccccicccccic 93
Forma canônica de Jordan de um operador linear ......... 347
Forma canônica racional de um operador linear ........... 349
Fórmula de interpolação de Lagrange ..........cccccccc. To
Função de Euler .....ccccccccccc ess 69, 149, 179, 239
Função norma .........cccciiicccii career rara 23
Função polinomial ..........ccccccccc cesso 18

Grau de um polinômio .......ccccccccccicc screen 17


GruUpO ecc e 135
Grupo abeliano .........ccciiccie ssa 135
Grupo abeliano finitamente gerado .........cciiicccco. 341
Grupo alternado ........ccciiiccccc eee 224
Grupo cíclico .....ccccccciiicc 145, 172, 174
Grupo comutativo .......cccciicccicc ese 135
Grupo das permutações ........cicicicicicccccceceo 138, 218
Grupo das permutações pares ..........ccccciccccicciico 224
Grupo das raizes n-ésimas da unidade ............... 143, 167
Grupo de automorfismos de um grupo ...........cccci.. 168
Grupo de Klein ......ccccsc eee 231
Grupo dihedral ........cccicccccc cer 196, 239, 240
Grupo dos quaternios generalizados .................. 196, 240
Grupo finito gerado por dois elementos .............. 182, 185
Grupo linear geral ........iccccciccc ciencia 137
Grupo quociente por um subgrupo ..........ccccccccio. 155
Grupo simétrico ........ccccc. eee 138, 218
Grupo simples ........ccccicic cicero 228, 273, 275
Grupo solúvel ......cccccccc eee 301,, 302, 303
Grupo supersolúvel ........cciciccccciicce srs ren 301
Grupos quocientes de uma série subnormal ............... 293
356 ÍNDICE

Homomorfismo canônico ........ccccccccicicicsc 30, 159


Homomorfismo de anéis .......cccicccccccicc 30
Homomorfismo de grupos ........cccccccccciscis 159
Homomorfismo de módulos .........cccicciciciiic 320
Homomorfismo identidade .......ccccccicicscc 30, 159
Homomorfismo trivial ........ccicicccccc 159

Ideal ..ccccc 14
Ideal finitamente gerado .........ccccccciicc
cr 44, 105
Ideal maximal ......cccc 3º
Ideal primo .......ccccciiciee eee So
Ideal principal ......ccciiccccici
crer r rr 44
Identidades de Newton ......ccciiciccciiici 102
Imagem de um homomorfismo ........ccccccccccc
e 31, 161
Índice de um SUDgrupo .......cccccccccccs
cr 148, 151
Inteiros de Gauss ........ccccccciccccic
ca 10, 23, 114, 118
Interpolação de Lagrange ........cccccicccccc
is crr 79
Isomorfismo de anéis ......cccciciicic 31
Isomorfismo de grupos .........cccccccccccis
cce as 162
Isomorfismo de módulos .........cciciciicicic 321

Lema de Cauchy ......cccccciic ne 258, 200


Lema de Gauss ......ccccc A 60
Lema de Zassenhaus ........cccccicic 297
Linearmente independentes ...........ccccicicccic rca 329

Maior divisor comum ......cccccccccicecciseas aaa 22, 39


Matriz companheira de um operador linear ............... 345
Matriz de aplicação A-linear ......cccccciscicicccsrirerra 327
Matriz de Jordan de um operador linear ............. 343, 347
Matriz formada por blocos .........ccccccciccsc cc 342
Matrizes equivalentes ..........ccccicciccccce ces «318
Módulo .....ccccccc re 318
Módulo cíclico ......ccccccicicc er 319
Módulo finitamente gerado .........ccccccccs 318, 323, 332
Módulo livre ....ccccic 329
Módulo noetheriano .....ccccccicc 323
ÍNDICE 357

Módulo quociente por um submódulo ..................... 321


Módulo simples ..........cccccccccccccc
cce rererere rea 338
Multiplicidade de uma raiz ........ccciiiiiciciccccicc rg

Norma .....cccccccccc crer 23


Normalizador de um subgrupo ...........cccciciicc
cc 257
Núcleo de um homomorfismo ..........cccccciccc
e 31, 160
Número de Fermat ..........ccccccciccs see 35
Operador linear .........cccicccce cer 321
Órbita de um elemento ......iiiiiiiiiiiii 254
Ordem de um elemento .........cccccicicicitc
cre 146, 149
Ordem de um grupo ........ccccicccce encerra 146, 149
p-ésimo polinômio ciclotômico .........ccccccciccsccccc 82
P-gIUPO ....cccccc errar rare 260
p-grupo Íinito ........cccccee errar 267, 268
p-subgrupo de Sylow .......ccciiciiiccc seres err rrrarerea 260
Pequeno Teorema de Fermat .............cccccccc... 113, 149
Permutação de linhas ou colunas .............cccc.. 310, 328
Permutação ímpar .........cccciciiss secs err 222
Permutação par .........ccccccisiccci ice eee 22.2
Permutações disjuntas .........ccicccciicccci sereno 219
Peso de um polinômio .........ccicccccciiicicec crer 98
Polinômio .....cccccccc eee errar 15, 17
Polinômio característico de um operador linear ........... 349
Polinômio ciclotômico ........ccciccccicictci sis 82
Polinômio homogêneo .........ccicccccc cce 19, 91, 92
Polinômio minimal de um operador linear ................ 390
Polinômio mônico ........ccciccccccc cce re a 17
Polinômio primitivo num domínio fatorial .................. 60
Polinômio simétrico ................. Reese ara 97, 98
Polinômios simétricos elementares ..........cccccccicccioo 98
Posto de uma matriz .........cccciccccccccisrcr erre 317
Posto de um grupo abeliano finitamente gerado ........... 341
Posto de um módulo finitamente gerado .................. 333
Posto de um módulo livre .........cccccicllcc 327
358 ÍNDICE

Produto direto de anéis ........ccccciccciis cisco 11


Produto direto de grupos .........ccccicicccc 142, 197
Produto direto de módulos ........ccccicciiicccs cr 322
Produto semidireto de dois grupos .............. 201, 207, 213
Projeção canônica ........ccccccciccccsce cr 30, 159, 321
Propriedades de À4 .....ccccciicciice sera 280, 282
Propriedades de Às ......ccciicciiii 282, 283
r-Ciclo ..ccciccccc eee 219
Raiz de um polinômio ........cccccclili erra 11
Raiz n-ésima da unidade ......ccccicciiciic 143
Refinamento de uma série subnormal ..............c... 293
Representação de um grupo ........ccccccicicciiitesra 249
Representação linear .........ccciciiccciiccrcrrrrrrrea 2090
Representação por conjugação ..........iiciccicciiiiiio 253
Representação por permutações ..........ccciiiccciciie 250
Representação por translação ..........cccciiiiicicciii 259
Representação regular ...........ccccccciic scr 253
Representação transitiva .........ccccciicciiicicicc 254
Resultante de dois polinômios .................. 84, 88, 89, 90
Seção de um grupo quociente ........ccccccicic 241
Série central .......ccccciiin e 304
dérie de composição .......ccccciiiciii sc 293, 299
Série normal .......ccccccicc cessa 301
Série subnormal .........cccccccccccce cer 293
Séries equivalentes .........cccccccc 295
Sistema de representantes de uma partição ............... 148
Sistema multiplicativo de um domínio ........ccccccc.. 68
Soma de dois quadrados .......ccccccciiiciccsc 114, 117
Soma de quatro quadrados ..........cccciciciccici 119, 129
Subgrupo .....cciicccic errar 142
Subgrupo característico ........ccccccciisi cc 169
Subgrupo conjugado ..........ccccciin nisi 297
Subgrupo de torção ........ccciicicccccc ecra 147
Subgrupo de Sylow .........ccciciili cicero 260
Subgrupo dos comutadores ..........cicccicicciirrerr 146
ÍNDICE 399

Subgrupo gerado por dois subgrupos ................. 156, 157


Subgrupo gerado por um subconjunto .............cc..... 145
Subgrupo normal .........ccccccccccs cer errerrr 153
Submódulo ......ccccccc ssa 318, 320
Submódulo de módulo livre .........ccccccicccsii cics 329
Submódulo de torção .........ccccccccccicccssic rarrra 320
Submódulo finitamente gerado .........ccccccccccccce eo 318
Substituição de linha ou coluna ..........ccccccccc. 311, 328
Teorema chinês dos restos ................ 32, 33, 92, 178, 337
Teorema da base de Hilbert ..........ccccccciicccecccs 105
Teorema de Bezout ........cccciccciccice crer 123
Teorema de Burnside .........iccccicciccc erre 302
Teorema de Cayley ......ccccccicscs cce 218
Teorema de Cayley-Hamilton ..........cccccccccs sec 349
Teorema de Feit- Thompson ...........cccciccclli 302
Teorema de Fermat (pequeno) .............c.coco. 113, 149
Teorema de Fermat (soma de quadrados) ............ 114, 117
Teorema de Fermat (último) ...........ccciciiiiiscieco 121
Teorema de Gauss ........icccicccicccitic crer 54
Teorema de Jordan-Holder .......cccciccccicscc 299
Teorema de Lagrange ..........cccciicciccc scr 149
Teorema de Newton ..........cccccciccccccce eee 98
Teorema de Pappus .........ccccccccccc center erra 128
Teorema de Pascal (hexágono) ...........cciiiic
iii 125
Teorema de P. Hall .........cccc re e 303
Teorema de Schreier .......ccccicccicci
cce 298
Teorema de Sylow .....cccccccccce 258, 261, 264, 303
Teorema de Wilson ........ccccccciciccec een 235
Teorema dos isomorfismos ...........ccccccccic. 31, 164, 322
Teorema Fundamental da Álgebra ARDOR 41, 75, 347
Tipo de decomposição de uma permutação ............... 225
Transposição ......ccccccccc neces 219

Variedade algébrica afim .......ccccicccciiccs


ces 104
NOTAÇÕES

qualquer que seja


QFRONZTWAOLU<

existe
complemento do subconjunto D em €
O

B é o símbolo que denotará ...


valor absoluto do número real q
conjunto dos números naturais
conjunto dos números inteiros
conjunto dos números racionais
conjunto dos números reais
conjunto dos números complexos
conjunto dos inteiros de Gauss
conjunto das classes de equivalência de
Z módulo n
anel quociente de 4 por um ideal 1
número de elementos do conjunto S
anel dos polinômios numa, variável sobre À
anel dos polinômios em r variáveis sobre À
derivada do polinômio f(X)
grau do polinômio f(X)
resultante dos polinômios f(X) e g(X)
Um) maior divisor comum de a,,...,Gn
menor múltiplo comum de a,,...,G
a divide b
a não divide 6
conjunto dos elementos invertíveis do
anel 4
ideal gerado por ay,...,Gn
H é um subgrupo de G
H é um subgrupo normal de G
H é um subgrupo característico de G
subgrupo gerado pelo subconjunto S
índice do subgrupo H em G
362 NOTAÇÕES

G/H,& grupo quociente de G por um subgrupo


normal H
classe lateral à esquerda de H em G
classe lateral à direita de H em G
classe lateral de um subgrupo normal H
em G
ordem do elemento q
núcleo do homomorfismo f
Im(f) imagem do homomorfismo f
G=>H G é isomorfo a H
T(G) subgrupo de torção de G
G'
subgrupo dos comutadores de G
Z(G) centro de G
Dz) órbita do elemento x
E(x) estabilizador do elemento x
Ct(x) classe de conjugação do elemento 1
Na(H) normalizador do subgrupo H em G
lg automorfismo interno associado ao
elemento g
T(G) grupo dos automorfismos internos de G
Aut(G) grupo dos automorfismos de G
Gi xx Ga produto direto dos grupos G4,...,Gn
G=Ho-...oH, G é produto direto dos subgrupos
H,,..sH,
G1 x Go » (Gi X Ga,:) produto semidireto, via o: Gj — Aut(Gs)
Sn grupo das permutações de n letras
An grupo das permutações pares de n letras
Dn grupo dihedral de ordem 2n
OQ grupo dos quaternios generalizados de
ordem 2”
GL(n,K) ,GL(K) grupo linear geral
Mes N M e N são matrizes equivalentes
An(N) anulador do módulo N
M/N, M módulo quociente de M por um
submódulo N
T(M) submódulo de torção de M
NOTAÇÕES 363

Mixx M, produto direto dos módulos M;,,...,M,


M=-M, 6:::6M, M é produto direto dos submódulos
Mi, Ma
tr | Ph, tr; P) conjunto dos elementos x satisfazendo a
propriedade P
Do asaca RSA (a PRA = eo dao AR A AO SANRU
nc cd o
Ace Ro)
Pesto jr 5 a pr
Matemática
Pura e Aplicada (IMPA) e desenvolveu
sua carreira matemática

Humboldt em duas ocasiões (Heidelberg/1987 e Essen/1990) e é membro


titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1998. Seus principais
[OS aca cao cedo SERA AA pAIE ESET do tc AT (io golo TUA Ao
e Geometria Algébrica, especialmente
em curvas algébricas sobre corpos
La cuepinçelcaçvengariceas nda e ie a

stage mt drPo ne
[epi
de gets ao go io Re ER = foco DC e ERR
um dos poucos sofredores remanescentes do América Futebol Clube do Rio
RÃS)

[A Se MD Rea ra re EAR E E To A pe
nos Estados Unidos, obtendo o doutorado na Universidade de Louisiana, em
Baton Rouge. Veio para o Rio de Janeiro em 1970 para passear um ano;
tendo descoberto o sol (desconhecido dos residentes de Lille), Ficou até hoje
TER RT o Doce DRA e SEO TETE]

ES) [TC ETA ora Ure RE RR TE]

M.€. Escher's “Symmetry Drawing E56” & 2002 Cordon Art B.V.-Baarn-Holland. All rights reserved

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