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Análise Complexa
Ricardo Mamede
Departamento de Matemática, Faculdade de Ciências e Tecnologia
Universidade de Coimbra
2021
ÍNDICE
1 Números Complexos 1
1.1 O corpo dos números complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 A forma polar dos complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Subconjuntos de C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3 Séries de Fourier 35
4 Funções Analíticas 45
4.1 Funções complexas e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Diferenciabilidade e condições de Cauchy-Riemann . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3 Funções elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6 Séries de Potências 81
6.1 Série de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6.2 Série de Laurent . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3
7 Resíduos 95
7.1 Teorema dos Resíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2 Classificação das singularidades isoladas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Bibliografia 117
CAPÍTULO 1
NÚMEROS COMPLEXOS
(a ? b) ? c = a ? (b ? c).
a ? e = e ? a = a.
a ? a0 = a0 ? a = e.
a ? b = b ? a.
Exemplos familiares de grupos abelianos incluem (Z, +), os números inteiros sob a adi-
ção usual; (R, +), os números reais sob a adição usual; (Rn , +), o conjuntos dos n-úplos
de números reais sob a adição vetorial; ou (R \ {0}, ·), os números reais não nulos sob a
multiplicação. Como exemplo de um grupo não abeliano temos o grupo das matrizes não
singulares.
1
Capítulo 1
Um corpo (K, +, ·) é constituído por um conjunto não vazio K e duas operações binárias
+ e · em K, designadas resp. por adição e multiplicação, tais que (K, +) e (K\{0}, ·) são gru-
pos abelianos, onde 0 denota o elemento neutro da adição, e a multiplicação é distributiva
em relação à adição: para quaisquer a, b, c ∈ K,
a · (b + c) = (a · b) + (a · c).
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
(a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc)
2
Capítulo 1
1, r=0
i, r=1
in = i4k+r = (i4 )k ir = ir = .
−1, r = 2
−i, r = 3
√
O módulo do número z = a + bi é o número real não negativo |z| = a2 + b 2 , e o
conjugado de z é número z = a − bi.
Proposição 1.1
Sejam z e w números complexos. Então:
1. z + z = 2Re(z) e z − z = 2iIm(z).
2. z = z se e só se Im(z) = 0 se e só se z ∈ R.
3. z = z.
z z
4. z ± w = z ± w, zw = z w e, se w 6= 0, = .
w w
5. zz = |z|2 = (Re(z))2 + (Im(z))2 .
6. |z| = 0 se e só se z = 0.
1 z
7. Se z 6= 0, z −1 = = 2.
z |z|
z |z|
8. |zw| = |z||w| e = se w 6= 0.
w |w|
9. ||z| − |w|| ≤ |z ± w| ≤ |z| + |w|.
3
Capítulo 1
|z + w|2 = (z + w)(z + w)
= zz + (zw + zw) + ww
= |z|2 + zw + zw + |w|2
donde segue a desigualdade triangular. Uma vez que | − w| = |w|, obtemos igualmente
ou equivalentemente,
|z| − |w| ≤ |z − w|.
Analogamente,
|w| − |z| ≤ |z − w|,
A desigualdade triangular pode ser estendida para somas com um número arbitrário de
parcelas
|z1 + z2 + · · · + zn | ≤ |z1 | + |z2 | + · · · + |zn |.
Ocorre igualdade se e só se a razão entre dois quaisquer números não nulos for positiva.
Se k e n são inteiros positivos tais que mdc(k, n) = 1, definimos ainda
k
−k 1 k n1
z = , z n = zk .
z
4
Capítulo 1
y y
z z+w
z
w
x x
A interpretação geométrica da adição de vetores já nos é familiar, uma vez que corres-
ponde à adição de vetores no plano. Para termos uma visualização geometrica da multipli-
cação vamos introduzir um sistema de coordenadas polares no plano do seguinte modo.
Se z 6= 0 então z/|z| está situado algures sobre o circulo unitário e, portanto, existe um
ângulo θ tal que z/|z| = cos(θ) + i sin(θ). Podemos então escrever z na forma polar
z = |z|(cos(θ) + i sin(θ))
onde θ é designado por argumento de z e denotado por arg(z). É importante ter presente
que arg(z) NÃO é univocamente determinado por z; adicionando qualquer múltiplo de
2π a θ dá origem a outro valor para arg(z), igualmente válido. Quando nos referimos
‘ao’ argumento de um número complexo, queremos dizer um de entre os infinitos possíveis
valores do argumento. Portanto,
5
Capítulo 1
pois não definimos qualquer argumento para este número, sendo vulgar considerar qualquer
real como um argumento válido para 0.
É frequente utilizar-se as formas abreviadas
z = rcis(θ) = reiθ ,
onde r = |z| e cis(θ) = cos(θ)+i sin(θ) = eiθ . Esta última igualdade designa-se por fórmula
de Euler e será justificada mais à frente.
z = reiθ
r sin(θ)
r
θ
x
r cos(θ)
Re(z) = r cos(θ)
Im(z) = r sin(θ).
Re(z) Im(z)
cos(θ) = e sin(θ) = .
r r
π
arg(i) = {2kπ + , k ∈ Z},
2
6
Capítulo 1
1. zw = r1 r2 cis(θ1 + θ2 ).
2. z = r1 cis(−θ1 ).
1 1
3. = cis(−θ1 ).
z r1
z r1
4. = cis(θ1 − θ2 ).
w r2
7
Capítulo 1
Para cada k = 0, 1, . . . , n − 1, obtemos n raízes distintas, todas com o mesmo módulo n |z|
p
1.3 Subconjuntos de C
Seja z0 = x0 +y0 i ∈ C. Como |z −z0 | = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 é a distância entre z = x+yi
p
|z − z0 | = ρ, ρ > 0,
8
Capítulo 1
Também se chama vizinhança de z0 à bola aberta B(z0 , r). A bola fechada de centro z0
e raio r é o conjunto
B(z0 , r) = {z : |z − z0 | ≤ r}.
Exemplo 1.5. A bola aberta B(z0 , r) é um conjunto aberto, mas a bola fechada B(z0 , r) não
é um conjunto aberto. Já o conjunto C \ B(z0 , r) é aberto.
S ∩ (B(z0 , r) \ {z0 }) 6= ∅
9
Capítulo 1
Definição 1.5. Um conjunto S ⊆ C diz-se conexo se, quaisquer que sejam z, w ∈ S, existir
uma curva contínua totalmente contida em S, que une z a w. Chamamos região a qualquer
subconjunto de C aberto e conexo.
Exemplo 1.6. A bola aberta B(z0 , r) (bem como a bola fechada B(z0 , r)) é um conjunto
conexo.
Nota 1.1. Se S ⊆ C é aberto e conexo, então quaisquer que sejam z, w ∈ S, existe uma
linha poligonal composta por segmentos horizontais e verticais, totalmente contida em S,
que une z a w.
10
CAPÍTULO 2
SUCESSÕES E SÉRIES NUMÉRICAS
|zn | ≤ M, ∀n ∈ N.
Ou seja, (zn ) é limitada se todos os seus termos estão contidos na bola fechada B(0, M ).
in
Por exemplo, a sucessão de termo geral zn = n é limitada pois para todo o número
2
natural n ∈ N temos
in 1
n
= n ≤ 1.
2 2
Portanto, todos os termos de (zn ) estão contidos na bola B(0, 1).
lim zn = ` ou zn → `
se para qualquer ε > 0 existe um nε ∈ N tal que |zn − `| < ε para n > nε .
11
Capítulo 2
Portanto, a sucessão (zn ) é convergente se pudermos tornar os seus termos zn tão perto
de ` quanto quisermos ao fazermos n suficientemente grande. Temos zn → ` se e só se
|zn − `| → 0. A desigualdade |zn − `| < ε significa que a partir de nε todos os termos da
sucessão estão contidos na bola B(`, ε). O significado geométrico desta definição pode ser
visto na figura 2.1.
z2
z3 •
•
zn •
• `
z1 zε •• •• ε
• • •
Exemplo 2.1. A sucessão (in /n) converge para 0. Seja ε > 0. Então,
in 1
−0 = <ε
n n
e
ε
|zn − `2 | < , para n > n2 .
2
Seja nε = max{n1 , n2 }. Então, para n ≥ nε temos
ε ε
|`1 − `2 | = |(`1 − zn ) + (zn − `2 )| ≤ |zn − `1 | + |zn − `2 | < + = ε.
2 2
Ou seja, |`1 − `2 | é uma constante positiva menor do que qualquer ε > 0, logo `1 = `2 .
Teorema 2.2
Uma sucessão convergente é limitada.
Demonstração. Suponhamos que zn → `. Então existe nε ∈ C tal que |zn − `| < 1 para
n > nε . Assim,
|zn | = |zn − ` + `| ≤ |zn − `| + |`| < 1 + |`|.
O reciproco do resultado anterior não é verdadeiro, ou seja, uma sucessão limitada não
é, necessariamente, convergente.
Exemplo 2.3. A sucessão de termo geral zn = (−1)n é limitada, com |zn | ≤ 1 para todo o
n ∈ N. Vamos mostrar que esta sucessão não é convergente. Seja ` um número complexo e
notemos que para todo o n ∈ N, temos |zn+1 − zn | = 2. Assim, podemos escrever
Isto significa que para todo o n ∈ N, pelo menos uma das duas desigualdades |zn+1 − `| ≥ 1
e |zn − `| ≥ 1 se verifica. Portanto, a condição para a convergência não se verifica para
ε = 1, pelo que (zn ) é divergente.
1. lim(zn ± wn ) = z ± w,
2. lim(zn wn ) = zw,
zn z
3. lim = se w 6= 0.
wn w
13
Capítulo 2
pelo que
|zn | < |z| + 1 para n > n1 .
Definição 2.3. Dizemos que a sucessão (zn ) diverge para ∞, e escrevemos zn → ∞, se para
qualquer M > 0 existe n0 ∈ N tal que |zn | > M sempre que n > n0 .
Exemplo 2.4. A sucessão de termo geral zn = (2i)n satisfaz zn → ∞ pois qualquer que seja
o real M > 0 temos
|(2i)n | = 2n > M
sempre que n > log2 M .
É consequência das definições que zn → ∞ se e só se 1/zn → 0.
Definição 2.4. Chamamos subsucessão da sucessão (zn ) a qualquer sequência infinita obtida
a partir de (zn ) por eliminação de alguns termos.
Proposição 2.4
2. Sejam (un ) e (vn ) subsucessões da sucessão (zn ) que contêm todos os termos
desta. Se (un ) e (vn ) têm o mesmo limite ` então (zn ) também tem limite `.
e
|vn − `| < ε para n > n2 .
Fazendo n0 = max{n1 , n2 }, temos que se n > n0 então
Como o conjunto dos termos de (zn ) é a união do conjunto dos termos de (un ) e de (vn ),
obtemos |zn − `| < ε, ou seja, zn → `.
15
Capítulo 2
Exemplo 2.5. O resultado anterior fornece uma nova prova de que a sucessão de termo
geral (−1)n é divergente, pois as suas subsucessões dos termos pares ((−1)2n ) e dos termos
ímpares ((−1)2n+1 ) têm limites 1 e -1, resp.
As sucessões reais são particularmente interessantes devido ao corpo dos números reais
ser ordenado. Este facto permite obter resultados que só se aplicam às sucessões reais.
Vamos de seguida relembrar alguns resultados sobre convergência de sucessões reais que
necessitaremos mais adiante.
1. an ≤ bn ≤ cn , para todo o n;
Portanto, bn → `.
Exemplo 2.6. Utilizando o teorema das sucessões enquadradas é fácil verificar que
n!
lim = 0.
nn
De facto, temos
n! 1 · 2···n 1 23 n 1
0≤ n = = ··· ≤ .
n n · n···n n nn n n
Como lim 0 = lim 1/n = 0 temos o resultado.
16
Capítulo 2
a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ · · · ≤ an ≤ · · ·
a1 ≥ a2 ≥ a3 ≥ · · · ≥ an ≥ · · ·
Como vimos atrás, nem toda a sucessão limitada é convergente. No entanto, temos o
seguinte resultado:
Proposição 2.6
Toda a sucessão real monótona e limitada é convergente.
Demonstração. Suponhamos que (an ) é uma sucessão crescente (o caso decrescente é aná-
logo) e limitada. Seja ` o supremo do conjunto
{an : n ∈ N}.
Vamos mostrar que an → `. Dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que ` − ε < an0 ≤ `. Como (an ) é
crescente, temos ` − ε < an0 ≤ an ≤ ` < ` + ε para todo o n > n0 , pelo que |an − `| < ε.
Exemplo 2.7. Vamos utilizar o resultado anterior para estudar o comportamento da sucessão
(rn ), com r um número real fixo.
Quando r > 1, temos rn+1 − rn = rn (r − 1) > 0, pelo que (rn ) é crescente. Além disso,
escrevendo r = 1 + h e utilizando o binómio de Newton, podemos escrever
n(n − 1) 2
rn = (1 + h)n = 1 + nh + h + ···
2
e, como todas as parcelas são positivas,
rn > 1 + nh.
17
Capítulo 2
Se 0 < r < 1, temos rn+1 − rn = rn (r − 1) < 0 pelo que (rn ) é decrescente. Além disso,
temos 0 < rn < r1 para todo o n. Portanto, a sucessão (rn ) é monótona e limitada, logo
convergente. Seja ` = lim rn . Então 0 = ` − ` = lim rn+1 − rn = lim rn (r − 1) = `(r − 1), o
que implica que ` = 0.
Quando r = 0 obtemos a sucessão constante rn = 0n = 0 convergente para 0.
Finalmente, se r < 0, temos r1 < 0, r2 > 0, r3 < 0, . . ., pelo que (rn ) não é monótona.
Além disso, podemos escrever
rn = (−1)n (−r)n .
Se −1 < r < 0, lim(−r)n = 0, donde lim rn = 0. Se r = −1 obtemos a sucessão divergente
(−1)n e se r < −1, de (rn ) podemos extrair duas subsucessões
a1 , a3 , a5 , . . . → −∞
e
a2 , a4 , a6 , . . . → +∞,
pelo que (rn ) é divergente.
Temos, portanto,
+∞,
se r > 1
se r = 1
1,
lim rn = .
0, se − 1 < r < 1
não existe, se r ≤ −1
Uma sucessão da forma (arn ) diz-se uma progressão geométrica de razão r. Cada termo
é obtido do anterior por multiplicação pelo número r, chamado razão.
Exemplo 2.8. A sucessão (an ), onde para cada n ∈ N,
n
1
an = 1 + ,
n
é convergente. De facto, pode provar-se que esta sucessão é monótona e limitada. Ao seu
limite chamamos e (número de Euler):
n
1
lim 1 + = e ≈ 2, 718281828459 · · ·
n
18
Capítulo 2
podemos concluir que a diferença entre esta e a definição de limite de uma sucessão está
unicamente no domínio onde as funções estão definidas. Como N está contido em R podemos
facilmente estabelecer o seguinte resultado:
Proposição 2.7
Seja f : [1, +∞[→ R uma função real de variável real e seja ` ∈ R. Se lim f (x) = `
x→+∞
então a sucessão de números reais (f (n)) também converge para `.
Este resultado pode ser usado para calcular limites de sucessões reais efetuando a sua
extensão a uma função de R em R onde temos outros instrumentos para calcular limites.
ln n
Exemplo 2.9. Se quisermos calcular o limite da sucessão , podemos considerar a
n
ln(x)
função f (x) = definida em R+ e calcular o seu limite quando x tende para +∞.
x
Como se trata de um limite indeterminado, podemos utilizar a regra de L’Hôpital para
mostrar que
ln(x)
lim = 0.
x→+∞ x
ln n
Pelo teorema anterior, segue que lim = 0.
n
Testes de convergência
Vamos agora usar as propriedades das sucessões reais para estudar sucessões complexas.
Proposição 2.8
2. zn → 0 se e só se |zn | → 0.
0 ≤ |Re(zn ) − Re(z)|, |Im(zn ) − Im(z)| ≤ |(Re(zn ) − Re(z)) + i(Im(zn ) − Im(z))| = |zn − z|.
19
Capítulo 2
isto é, |zn − z| → 0.
A propriedade 2. é consequência da definição.
3. Temos zn → z se e só se |zn − z| → 0. Como
Proposição 2.9
Demonstração. Sendo (wn ) uma sucessão limitada, existe M > 0 tal que |wn | < M para
todo o n ∈ N. Além disso, dado ε > 0 existe nε ∈ N tal que |zn | < ε/M para n > n0 . Assim,
para n > n0 temos
0 < |zn wn | < ε.
Ou seja, zn wn → 0.
20
Capítulo 2
∞
X
zn = s.
n=1
zn
1 r
lim sn = lim r − = .
1−z 1−z 1−z
∞
X
Portanto, se r =
6 0, a série geométrica rz n é convergente se e só se |z| < 1 e, neste caso,
n=0
a sua soma é ∞
X r
rz n = . (2.2)
n=0
1−z
Por outras palavras, a soma de uma série geométrica convergente é dada por
primeiro termo
.
1 − razão
21
Capítulo 2
Exemplo 2.14. Chama-se série telescópica ou série de Mengoli a uma série da forma
∞
X
(zn − zn+p ) ,
n=1
onde (zn ) é uma sucessão de números complexos. Quando p = 1, a sua n-ésima soma parcial
pode ser escrita como
n
X
sn = (zk − zk+1 )
k=1
Assim, a série converge se e só se a sucessão (zn ) converge e, nesse caso, a sua soma é
z1 − lim zn .
Exemplo 2.15. A série harmónica
∞
X 1
n=1
n
é divergente. De facto, consideremos a subsucessão (s2n ) da sucessão das somas parciais
(sn ) e notemos que
1
s21 = 1 +
2
1 1 1 1 1 1 2
s22 = 1 + + + >1+ + + =1+
2 3 4 2 4 4 2
1 1 1 1 1 1 1
s23 = 1 + + + + + + +
2 3 4 5 6 7 8
1 1 1 1 1 1 1
>1+ + + + + + +
2 4 4 8 8 8 8
3
=1+
2
..
.
n
s2n > 1 +
2
Portanto, (sn ) possui uma subsucessão ilimitada, pelo que (sn ) não é convergente. Concluí-se
então que a série harmónica é divergente.
Uma vez que a noção de convergência de uma série está ligada à noção de limite da
sucessão das somas parciais, obtemos o seguinte resultado.
Proposição 2.10
22
Capítulo 2
∞ ∞
Demonstração. Sejam zn e wn duas séries de números complexos e suponhamos que
P P
n=1 n=1
existe uma ordem n0 tal que zn = wn para todo o n > n0 . Ou seja, as duas séries diferem
apenas nos primeiros n0 termos. Vamos mostrar que neste caso as séries têm a mesma
∞ ∞
natureza. Sejam (sn ) e (tn ) as sucessões das somas parciais de zn e wn , respetivamente.
P P
n=1 n=1
Então, para cada n > n0 ,
e
tn = w1 + · · · + wn0 + wn0 +1 + · · · + wn = tn0 + wn0 +1 + · · · + wn .
| {z }
tn0
sn − tn = sn0 − tn0 = c,
∞ ∞
2. a soma de (zn + wn ) é s + t e a soma de czn é cs.
P P
n=1 n=1
Cololário 2.12
∞ ∞ ∞
Se zn é convergente e wn é divergente, então a série (zn + wn ) é divergente.
P P P
n=1 n=1 n=1
23
Capítulo 2
∞
Demonstração. Se (zn + wn ) fosse convergente, então pelo teorema anterior também a
P
n=1
série
∞
X ∞
X ∞
X
wn = (zn + wn ) − zn
n=1 n=1 n=1
∞
X ∞
X ∞
X
zn = Re(zn ) + i Im(zn ).
n=1 n=1 n=1
Demonstração. Seja (sn ) a sucessão das somas parciais associada à série. Considerando
tn = sn−1 , podemos considerar a sucessão (tn ) como uma subsucessão de (sn ) e, como tal,
convergente para o mesmo limite. Assim, lim zn = lim sn − tn = 0.
A uma série associamos duas sucessões: a sucessão (sn ) das somas parciais associada à
∞
série e a sucessão (zn ) dos seus termos. Se zn for convergente, a sua soma é s = lim sn
P
n=1
e lim zn = 0. O recíproco deste teorema é falso: se lim zn = 0 não podemos concluir que a
∞ ∞
X 1 1
série zn converge. De facto, a série diverge e lim = 0.
P
n=1 n=1
n n
24
Capítulo 2
∞ ∞∞
X X X ni
Exemplo 2.16. As séries (−1) , ni e
n
são divergentes, pois os seus termos
n=1 n=1 n=1
n+1
gerais não convergem para zero.
Séries reais
Vamos seguidamente analisar o caso particular das séries de números reais. Como veremos
mais adiante, as séries de números reais terão um papel importante no estudo da natureza
de uma série complexa.
Teorema 2.16: Teste de comparação
∞ ∞
Sejam an e bn duas séries de números reais tais que 0 ≤ an ≤ bn , para todo o
P P
n=1 n=1
n ≥ n0 . Então,
∞ ∞
1. se bn é convergente, então an é também convergente;
P P
n=1 n=1
∞ ∞
2. se an é divergente, então bn é também divergente.
P P
n=1 n=1
∞
X 1
Exemplo 2.17. A série é convergente, uma vez que
n=1
2n +1
1 1
0≤ ≤
2n + 1 2n
∞
X 1
e a série converge pois é uma série geométrica de razão 0 < 1
2
< 1.
n=1
2n
25
Capítulo 2
1. Se ` ∈ R+ , isto é, não é zero nem +∞, então as séries têm a mesma natureza.
∞ ∞
2. Se ` = 0 e bn converge, então an converge.
P P
n=1 n=1
∞ ∞
3. Se ` = +∞ e bn diverge, então an diverge.
P P
n=1 n=1
Demonstração. 1. Sejam m e M números reais positivos tais que m < ` < M . Como
lim an /bn = `, existe n0 ∈ N tal que para n > n0 se tem
an
m< < M,
bn
ou de forma equivalente,
mbn < an < M bn .
∞ ∞
Se bn converge, também M bn converge e, pelo o teste de comparação, também a série
P P
n=1 n=1
∞ ∞ ∞
an converge. Por outro lado, se bn diverge, também mbn diverge e mais uma vez
P P P
n=1 n=1 n=1
∞
pelo o teste de comparação, concluímos que a série an diverge.
P
n=1
an an
2. Se lim= 0 então dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que para n > n0 temos 0 < < ε,
bn bn
∞
ou de forma equivalente, 0 < an < εbn . Se bn converge, o mesmo se passa com a série
P
n=1
∞ ∞
εbn e, pelo teste de comparação, an converge.
P P
n=1 n=1
an
3. Finalmente, se lim = +∞ então dado M > 0 existe n0 ∈ N tal que para n > n0
bn
an
temos 0 < M < , ou seja, 0 < M bn < an . Mais uma vez o teste de comparação diz-nos
bn
∞ ∞
que se bn diverge também a série an diverge.
P P
n=1 n=1
∞
X 1
Exemplo 2.18. A série é convergente. De facto,
n=1
2n −1
1
2n −1 2n
lim 1 = lim = 1 ∈ R+
2n
2n − 1
26
Capítulo 2
∞
e a série 1
é geométrica de razão 0 < 1
< 1, logo convergente. Pelo teste de comparação
P
2n 2
n=1
do limite, obtemos o resultado.
Teorema 2.18: Critério do integral
Seja f : [1, +∞) → R uma função contínua, não negativa e decrescente. Então o
R +∞ ∞
integral impróprio 1 f (x)dx e a série f (n) têm a mesma natureza.
P
n=1
Demonstração. Consideremos a área limitada pelo eixo dos xx’s e o gráfico da função f (x)
entre 1 e n. Particionamos o intervalo [1, n] em subintervalos de comprimento 1 e tomamos o
valor da função f no extremo direito de cada intervalo (cf. figura abaixo). Este procedimento
define retângulos de área ai := f (i), para i = 2, . . . , n, cuja soma das áreas satisfaz
Z n
a2 + a3 + · · · + an ≤ f (x)dx. (2.3)
1
y = f (x)
a2 a3 a4 a5 an x
1 2 3 4 5 · · · n
Z +∞
Se o integral f (x)dx é convergente, então da desigualdade (2.3) segue que
1
n
X Z n Z +∞
ai ≤ f (x)dx ≤ f (x)dx.
i=2 1 1
Portanto,
n
X Z +∞
s n = a1 + ai ≤ a1 + f (x)dx = M,
i=2 1
∞
para algum M ∈ R. Isto significa que a sucessão das somas parciais (sn ) da série f (n) é
P
n=1
limitada. Como esta sucessão é claramente crescente, podemos concluir que (sn ) é conver-
∞
gente, i.e., a série f (n) é convergente.
P
n=1 Z +∞
Suponhamos agora que o integral f (x)dx é divergente. Como f (x) ≥ 0 temos
Rn 1
1
f (x)dx → +∞ quando n → +∞. De forma análoga ao caso anterior (cf figura abaixo),
27
Capítulo 2
y = f (x)
a1 a2 a3 a4 an−1 x
1 2 3 4 5 ··· n
∞
A desigualdade (2.4) significa que sn → +∞, pelo que a série f (n) diverge.
P
n=1
∞
X 1
Exemplo 2.19. Dado p ∈ R designamos por série-p ou série de Dirichlet a série p
.
n=1
n
Vamos utilizar os critérios anteriores para estudar a natureza desta série.
Se p < 0 então lim 1/np = ∞ e se p = 0 então lim 1/np = 1. Em ambos os casos
lim 1/np 6= 0, pelo que o teste para a divergência permite concluir que a série-p correspon-
dente diverge.
Se p > 0 a função f (x) = 1/xpZ é contínua, decrescente e positiva no intervalo [1, +∞[.
+∞
Uma vez que o integral impróprio f (x)dx converge se p > 1 e diverge se p ≤ 1, o teste
1
do integral diz-nos que a série-p converge para p > 1 e diverge se 0 < p ≤ 1.
Resumindo, a série-p
∞
X 1
p
converge para p > 1 e diverge para p ≤ 1.
n=1
n
Vamos de seguida analisar séries reais cujos termos não são necessariamente positivos.
Designaremos estas séries por séries de termos de sinal não definido. De entre estas, existem
umas especiais chamadas séries alternadas.
∞
X ∞
X
Definição 2.7. Uma série da forma (−1) bn ou
n
(−1)n−1 bn , onde bn ∈ R+ para todo
n=1 n=1
o n, chama-se série alternada.
28
Capítulo 2
∞
Demonstração. Consideremos a sucessão das somas parciais (sn ) da série (−1)n bn . Uma
P
n=1
vez que bn > 0 e que (bn ) é decrescente, não é difícil verificar que
s1 ≥ s3 ≥ s5 ≥ · · · ≥ s2n−1 ≥ s2n ≥ · · · ≥ s6 ≥ s4 ≥ s2 .
Concluímos que a subsucessão dos termos ímpares (s2n−1 ) é decrescente e limitada inferi-
ormente por s2 , enquanto que a subsucessão dos termos pares (s2n ) é crescente e limitada
superiormente por s1 . Portanto, ambas as subsucessões são convergentes. Além disso
s2n−1 − s2n = b2n → 0,
pelo que ambas as subsucessões têm o mesmo limite. Concluímos assim que (sn ) é conver-
gente.
∞
X 1
Exemplo 2.20. A série alternada (−1)n−1 é convergente pois (bn ) = (1/n) é uma suces-
n=1
n
são decrescente, isto é, bn ≥ bn+1 para todo o n ≥ 1 e lim bn = 0. Esta série designa-se por
série harmónica alternada.
∞
X 2n
Exemplo 2.21. O critério de Leibniz não pode ser aplicado à série alternada (−1)n−1
n=1
3n − 1
2n 2
pois o limite lim = 6= 0. No entanto, é fácil verificar que as subsucessões dos ter-
3n − 1 3
mos pares e dos termos ímpares têm limites diferentes, donde se conclui que não existe o
2n
limite do termo geral (−1)n−1 . Assim, pelo teste para a divergência, a série dada é
3n − 1
divergente.
Podemos usar uma soma parcial sn de uma série convergente para estimar a sua soma
s. No entanto, o grau de precisão desta estimativa pode ser difícil de obter, o que torna a
estimativa pouco eficiente. O erro que se comete ao aproximar s usando sn é a diferença
Rn = s − sn . No caso das séries alternadas, é possível controlar o erro cometido nesta
aproximação.
Teorema 2.20: Estimativa do erro para séries alternadas
∞
Seja (−1)n−1 bn uma série alternada convergente com soma s satisfazendo as hipó-
P
n=1
teses do critério de Leibniz. Se (sn ) é a sucessão das somas parciais da série, então
|Rn | = |s − sn | ≤ bn+1 .
Demonstração. Segue da prova do critério de Leibniz que a soma s se situa entre quaisquer
dois termos consecutivos sn e sn+1 da sucessão das somas parciais. Portanto,
|s − sn | ≤ |sn+1 − sn | = bn+1 .
29
Capítulo 2
∞
X (−1)n
Exemplo 2.22. A série alternada é convergente, pois satisfaz as condições do
n! n=0
critério de Leibniz. Se aproximarmos a sua soma usando os primeiros 7 termos da série
obtemos
1 1 1 1 1 1 1
s ≈ s6 = − + − + − + ≈ 0.368056.
0! 1! 2! 3! 4! 5! 6!
O erro que se comete nesta aproximação é menor do que o módulo do primeiro termo
desprezado:
1
R ≤ b7 = = 0.0002.
7!
Como o erro é menor do que 0.0002, a estimativa s ≈ 0.368056 tem pelo menos 3 casas
decimais corretas.
Séries complexas
∞
Dada uma série de números complexos zn podemos considerar a série de números reais
P
n=1
∞
X
|zn | = |z1 | + |z2 | + · · · + |zn | + · · ·
n=1
O teorema seguinte mostra que uma série absolutamente convergente é também conver-
gente. Isto significa que podemos usar critérios de convergência de séries reais para analisar
séries complexas.
Teorema 2.21
∞ ∞
Se a série zn é absolutamente convergente, então a série zn é convergente e
P P
n=1 n=1
∞
X ∞
X
zn ≤ |zn |.
n=1 n=1
Demonstração. Vamos provar em primeiro lugar que a convergência absoluta implica con-
∞
vergência para séries de números reais. Seja então an uma série de números reais ab-
P
n=1
solutamente convergente e notemos que 0 ≤ an + |an | ≤ 2|an |, para todo o n ≥ 1. Como
30
Capítulo 2
∞ ∞
por hipótese |an | converge, também a série 2|an | converge e, pelo teste de comparação
P P
n=1 n=1
∞
para série de termos positivos, podemos concluir que a série an + |an | também converge.
P
n=1
∞
Mas então an converge, pois podemos expressar esta série como a soma de duas séries
P
n=1
convergentes
∞
X ∞
X ∞
X
an = (an + |an |) − |an |.
n=1 n=1 n=1
∞
X
Seja agora zn uma série absolutamente convergente. Então, como |Re(zn )| ≤ |zn | e
n=1
|Im(zn )| ≤ |zn | o critério de comparação para séries de termos positivos permite concluir
∞ ∞ ∞
que as séries |Re(zn )| e |Im(zn )| são convergentes. Ou seja, as séries reais
P P P
Re(zn )
n=1 n=1 n=1
∞
e Im(zn ) são absolutamente convergentes logo, pelo que vimos atrás, são também con-
P
n=1
∞
vergentes, o que implica a convergência da série zn .
P
n=1
∞ ∞
Designemos por (sn ) e por (s0n ) as sucessões das somas parciais das séries zn e
P P
|zn |.
n=1 n=1
Pela desigualdade triangular podemos escrever
∞ ∞
Assim, obtemos lim |sn | ≤ lim s0n , ou seja,
P P
zn ≤ |zn |.
n=1 n=1
Definição 2.9. Uma série é dita simplesmente convergente se for convergente mas não
absolutamente convergente.
31
Capítulo 2
∞
2. Se ` > 1 ou ` = +∞ a série zn é divergente.
P
n=1
Demonstração. 1. Suponhamos que ` < 1. Seja L ∈ R tal que ` < L < 1. Então, existe
n0 ∈ N tal que
zn+1
<L para n > n0 .
zn
∞
Daqui segue que |zn | < |zn0 |Ln para n > n0 . Como a série |zn0 |Ln é convergente, pois é
P
n=1
uma série geométrica de razão 0 < L < 1, pelo teste de comparação concluímos que a série
∞
|zn | é também convergente.
P
n=1
2. Se ` > 1 ou ` = +∞, então existe n0 ∈ N tal que
zn+1
>1 para n > n0 .
zn
Isto significa que |zn+1 | > |zn | para n > n0 e, portanto, lim |zn | =
6 0. Logo lim zn 6= 0 e pelo
∞
teste para a divergência concluímos que a série zn é divergente.
P
n=1
∞
X
3. A série-p 1/n2 é absolutamente convergente e satisfaz lim |zn+1 /zn | = 1, enquanto
n=1
∞
X
que a série harmónica 1/n é divergente mas também satisfaz lim |zn+1 /zn | = 1. Portanto,
n=1
se ` = 1 o teste da razão é inconclusivo.
32
Capítulo 2
n=1
∞
1. Se ` < 1 a série zn é absolutamente convergente.
P
n=1
∞
2. Se ` > 1 ou ` = +∞ a série zn é divergente.
P
n=1
Demonstração. 1. Se ` < 1 seja L ∈ R tal que ` < L < 1. Então, existe n0 ∈ N tal que
para n > n0 ,
p
n
|zn | = |zn |1/n < L
ou ainda,
|zn | < Ln para n > n0 .
∞ ∞
Como a série geométrica Ln converge, pelo teste de comparação a série |zn | também
P P
n=1 n=1
converge.
2. Se ` > 1 ou ` = +∞, então existe n0 ∈ N tal que
para n > n0 .
p
n
|zn | = |zn |1/n > 1
Isto significa que |zn | > 1n = 1 para n > n0 e, portanto, lim |zn | =
6 0. Logo lim zn 6= 0 e pelo
∞
teste para a divergência concluímos que a série zn é divergente.
P
n=1
∞
X ∞
X
3. A série-p 1/n é absolutamente convergente enquanto que a série harmónica
2
1/n
n=1 n=1
é divergente, mas em cada um destes casos temos ` = lim n |zn | = 1.
p
33
Capítulo 2
34
CAPÍTULO 3
SÉRIES DE FOURIER
Séries de Fourier são ferramentas importantes para representar funções periódicas. Devem
o seu nome a Jean-Baptiste Joseph Fourier, que as utilizou para solucionar um problema
relacionado com a condução do calor numa placa de metal.
Definição 3.1. Uma função f : R → R é dita periódica de período L ∈ R se
e
f (x − L) = f (x − L + L) = f (x).
Portanto, sem perda de generalidade podemos considerar apenas períodos positivos. O
intervalo de regularidade de f é qualquer intervalo de comprimento L. Na maior parte dos
casos, vamos considerar os intervalos de regularidade [− L2 , L2 ].
Definição 3.2. Chamamos período fundamental de uma função periódica ao menor dos
períodos positivos. Vamos, no entanto, daqui em diante chamar apenas período ao período
fundamental.
Exemplo 3.1. As funções sin(x) e cos(x) são periódicas com período 2π.
Exemplo 3.2. Para cada n ∈ N e cada L ∈ R \ {0}, fixos, as funções definidas por f (x) =
nπx nπx 2L
sin e g(x) = cos são periódicas com período T = , pois
L L n
nπ 2L nπx nπx
f (x + T ) = sin x+ = sin + 2π = sin = f (x)
L n L L
35
Capítulo 3
f (a+
i ) := lim+ f (x) e f (a−
i ) := lim− f (x).
x→ai x→ai
Definição 3.4. Seja f uma função seccionalmente contínua no intervalo [−L, L]. Então a
série de Fourier de f é a série de funções
∞
a0 X nπx nπx
+ an cos + bn sin ,
2 n=1
L L
A presença do factor 1/2 na parcela a0 serve para tornar a fórmula para os coeficientes an
válida para todo o n ≥ 0. Note-se ainda que nesta definição não é dito que f (x) é a soma da
sua série de Fourier. Apenas se diz que associada a uma qualquer função f seccionalmente
contínua no intervalo [−L, L], existe uma certa série chamada série de Fourier. Coloca-se
então a questão de saber qual a relação entre f e a sua série de Fourier. A resposta a esta
questão é dada no próximo teorema.
Antes, porém, vamos mostrar como deduzir as fórmulas para os coeficientes de Fourier,
começando com uma função f periódica de período 2π, que supomos coincidir com a sua
série de Fourier no intervalo [−π, π]:
∞
a0 X
f (x) = + (an cos(nx) + bn sin(nx)), −π ≤ x ≤ π.
2 n=1
36
Capítulo 3
Atendendo a que
Z π π, n = m
cos(nx) cos(mx)dx = ,
−π 0, n 6= m
obtemos então Z π
1
am = f (x) cos(mx)dx, m ≥ 1.
π −π
onde Z π Z π
1 1
an = g(t) cos(nt)dt, bn = g(t) sin(nt)dt.
π −π π −π
πx
Substituindo a variável t = nestas fórmulas, obtemos os coeficientes dados na definição
L
3.4.
37
Capítulo 3
1 π 1 π
Z Z
a0 = f (x)dx = 1dx = 1,
π −π π 0
π
1 π 1 π
Z Z
1 sin(nx)
an = f (x) cos(nx)dx = cos(nx)dx = = 0, para n ≥ 1,
π −π π 0 π n 0
e
n par
Z π Z π π
0,
1 1 1 − cos(nx)
bn = f (x) sin(nx)dx = sin(nx)dx = = .
π −π π 0 π n 0
2 , n ímpar
nπ
f (x+ ) + f (x− )
.
2
As condições requeridas neste teorema para a convergência da série de Fourier são conhe-
cidas como condições de Dirichlet. Notemos que se f é contínua em x, então f (x+ ) = f (x− )
f (x+ ) + f (x− )
e = f (x), ou seja, a série de Fourier converge para f (x) nos pontos de
2
continuidade da função f .
Exemplo 3.4. Consideremos novamente a função f periódica de período 2π definida no
intervalo [−π, π] por
0, −π ≤ x < 0
f (x) = .
1, 0 ≤ x < π
38
Capítulo 3
É fácil verificar que tanto f como a sua derivada são seccionalmente contínuas no intervalo
[−π, π]. A função f é contínua no ponto x = 1 e descontínua em x = 0, onde tem uma
descontinuidade de primeira espécie. Assim, a sua série de Fourier, que determinámos no
f (0+ ) + f (0− )
exemplo 3.3, converge para f (1) = 1 no ponto x = 1, e converge para =
2
0+1 1
= no ponto x = 0.
2 2
Uma propriedade que pode ser útil quando se pretende obter a série de Fourier de uma
função é a linearidade, que se estabelece de seguida.
Proposição 3.2
Se f (x) = `g(x) + mh(x), onde g(x) e h(x) são funções periódicas de período 2L
e seccionalmente contínuas em [−L, L]. Então os coeficientes de Fourier de f (x) no
intervalo [−L, L], são a soma dos coeficientes de Fourier das funções g(x) e h(x) em
[−L, L], multiplicados por ` e m, respetivamente.
Se f é uma função par em [−L, L], isto é, se f (−x) = f (x) para todo o x ∈ [−L, L],
então Z L Z L
f (x)dx = 2 f (x)dx.
−L 0
Se f é uma função ímpar em [−L, L], isto é, se f (−x) = −f (x) para todo o x ∈ [−L, L],
então Z L
f (x)dx = 0.
−L
39
Capítulo 3
Além disso, o produto de duas funções pares ou de duas funções ímpares é uma função
par, enquanto que o produto de uma função par por uma função ímpar é uma função ímpar.
Daqui segue que se f é uma função par no intervalo [−π, π], então os coeficientes de Fourier
bn são nulos para n ≥ 1, enquanto que se f é uma função ímpar em [−π, π], então os
coeficientes de Fourier an são nulos para n ≥ 0.
Proposição 3.3
1. Seja f uma função periódica de período 2L, par e seccionalmente contínua em
[−L, L]. Então a série de Fourier de f é a série de cossenos
∞
a0 X nπx
+ an cos ,
2 n=1
L
2 L
Z nπx
com an = f (x) cos dx para n ≥ 0.
L 0 L
2. Seja f uma função periódica de período 2L, ímpar e seccionalmente contínua em
[−L, L]. Então a série de Fourier de f é a série de senos
∞
X nπx
bn sin ,
n=1
L
Z L
2 nπx
com bn = f (x) sin dx para n ≥ 0.
L 0 L
Exemplo 3.5. Determinemos a série de Fourier da função definida por f (x) = |x|, para
−1 ≤ x ≤ 1, e f (x + 2) = f (x) para todo o x. O gráfico desta função está indicado em
baixo.
x
-2 -1 1 2
Tanto a função f como a sua derivada são seccionalmente contínuas no intervalo [−1, 1].
Além disso, notemos que f é uma função par. Determinemos então os coeficientes an de
Fourier de f , com L = 1:
Z 1 Z 0 Z 1
1
a0 = f (x)dx = (−x)dx + xdx = 1,
1 −1 −1 0
40
Capítulo 3
e para n ≥ 1, temos
se n é par
Z 1 0,
2
an = f (x) cos(nπx)dx = (cos(nπ) − 1) = .
−1 n2 π 2 −4
, se n é ímpar
n2 π 2
Nos exemplos anteriores, a função analisada estava definida num certo intervalo simétrico
em relação à origem, sendo depois prolongada por periodicidade a toda a reta real. Se
tivermos uma função definida apenas num certo intervalo [0, L] e estivermos interessados
em obter um desenvolvimento em série de Fourier desta função temos a liberdade de definir
o período e a paridade do prolongamento desta função ao intervalo [−L, L]. Deste modo,
podemos obter várias séries para representar a função no intervalo [0, L].
Exemplo 3.6. Consideremos a função f : [0, π) → R definida por f (x) = x e suponhamos
que estamos interessados em obter uma série de Fourier de f (x) em senos. Deveremos
então pensar em efetuar um prolongamento ímpar da função f , como por exemplo a função
fe(x) = x se −π ≤ x < π e fe(x + 2π) = fe(x) para todo o x ∈ R, cujo gráfico representamos
em baixo:
y
x
−2π −π π 2π
−π
41
Capítulo 3
e temos Fe(x) = f (x) para todo o x ∈ (0, π), pois fe(x) é contínua neste intervalo.
Por outro lado, se estivermos interessados em obter uma série de Fourier de cossenos
da função f (x), devemos considerar um prolongamento par de f (x), como por exemplo a
função fb(x) definida por
x, se 0 ≤ x < π
f (x) =
b ,
−x, se − π ≤ x < 0
com fb(x + 2π) = fb(x) para todo o x ∈ R, cujo gráfico representamos em baixo:
x
−2π −π π 2π
e temos Fb(x) = f (x) para todo o x ∈ (0, π), pois fb(x) é contínua neste intervalo.
Portanto, as séries de Fourier (3.2) e (3.3), embora diferentes, representam a mesma
função f (x) no intervalo (0, π). Neste intervalo, as séries são iguais entre si e têm como
soma f (x).
Uma função que não seja par nem ímpar, pode ser representada pela soma de uma função
par com uma função ímpar, como veremos de seguida. Seja f (x) uma função que não é par
nem ímpar e suponhamos que
f (x) = g(x) + h(x), (3.4)
com g(x) uma função par e h(x) uma função ímpar. Então,
1
h(x) = (f (x) − f (−x)) .
2
1 1
f (x) = (f (x) + f (−x)) + (f (x) − f (−x))
|2 {z } |2 {z }
g(x) par h(x) ímpar
1 L
Z nπx
an = f (x) cos dx
L −L L
1 L 1 L
Z nπx Z nπx
= g(x) cos dx + h(x) cos dx
L −L L L −L L
1 L
Z nπx
= g(x) cos dx
L −L L
e, analogamente, temos
Z L
1 nπx
bn = h(x) sin dx.
L −L L
Ou seja, os coeficientes de Fourier de f (x) são determinados pela parte par de f (x) e os
coeficientes bn são determinados pela parte ímpar de f (x).
Uma alternativa à forma trigonométrica da série de Fourier que vimos em cima é a sua
forma complexa, que passamos a deduzir. Consideremos então a série Fourier de uma função
f : R → R:
∞
a0 X nπx nπx
f (x) = + an cos + bn sin . (3.6)
2 n=1
L L
Usando a fórmula de Euler eit = cos(t) + i sin(t), obtemos as fórmulas (ver secção 4.3)
para o seno e cosseno reais:
onde Z L
a0 1
c0 = = f (x)dx,
2 2L −L
Z L Z L
an − ibn 1 nπx nπx 1 nπx
cn = = f (x) cos − i sin dx = f (x)e−i L dx
2 2L −L L L 2L −L
e
Z L Z L
an + ibn 1 nπx nπx 1 nπx
c−n = = f (x) cos + i sin dx = f (x)ei L dx
2 2L −L L L 2L −L
Resumindo, temos:
Definição 3.5. Seja f : R → R uma função periódica de período 2L. Chama-se forma
complexa da série de Fourier de f à série
+∞
nπx
X
cn ei L ,
n=−∞
Z L
1 nπx
onde cn = f (x)e−i L dx.
2L −L
44
CAPÍTULO 4
FUNÇÕES ANALÍTICAS
f : A −→ C,
é um polinómio de grau n.
2. Funções racionais: Se p(z) e q(z) são dois polinómios, chamamos função racional a
toda a função da forma
p(z)
r(z) = .
q(z)
45
Capítulo 4
Uma vez que um número complexo z pode ser escrito na forma algébrica z = x + iy,
toda a função complexa f : A ⊆ C → C pode ser expressa em termos da sua parte real e
parte imaginária
f (z) = u(z) + iv(z),
com u(z), v(z) ∈ R. Denotamos usualmente Ref (z) e Imf (z) por u e v, resp. Como tanto
u como v dependem da variável complexa x + iy, que pode ser identificada com o seu afixo,
estas funções podem também ser vistas como funções reais de duas variáveis reais e f pode
escrever-se na forma
f (z) = u(x, y) + iv(x, y).
Assim, toda a função complexa f pode ser encarada como uma função de R2 em R2 :
f : A ⊆ R2 → R2
(x, y) 7→ (u(x, y), v(x, y))
x 2 + y 2 = c2 .
46
Capítulo 4
y v
ci
f
c x c u
−ci
Uma vez que o domínio C da função f pode ser coberto por circunferências x2 + y 2 = c2 ,
com c > 0, concluímos que o contradomínio de f é dado por
u
0
se a distância de f (z) a w puder ser tornada tão pequena quanto se queira desde que se
tome z suficientemente próximo de z0 , ou seja, se
47
Capítulo 4
Para tal, fixemos ε > 0. Pretendemos mostrar a existência de δ > 0 tal que se z ∈ B(w, δ) \
{w} = {z : 0 < |z − w| < δ}, então ||z| − |w|| < ε. Ora uma vez que ||z| − |w|| ≤ |z − w|,
basta tomar δ := ε, pois
De forma semelhante se pode mostrar que lim z = w, lim Re(z) = Re(w) e que lim Im(z) =
z→w z→w z→w
Im(w).
Teorema 4.1
O limite de uma função complexa, quando existe, é único.
e
0 < |z − z0 | < δ1 ⇒ |f (z) − w1 | < ε/2.
Tomando δ = min{δ1 , δ2 } vem
Uma vez que podemos considerar uma função complexa como uma função de R2 em
R2 , podemos exprimir o limite de uma função complexa como a soma dos limites de duas
funções reais.
Teorema 4.2
Sejam f (z) = u(x, y) + iv(x, y) uma função complexa de domínio A e z0 = x0 + iy0
um ponto de acumulação de A. Então,
se e só se
lim u(x, y) = u0 e lim v(x, y) = v0 .
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
48
Capítulo 4
Demonstração. Suponhamos que lim f (z) = u0 + iv0 . Então, dado ε > 0 existe δ > 0 tal
z→z0
que para todo o z ∈ A tal que 0 < |z − z0 | < δ se tem |f (z) − (u0 + iv0 )| < ε, isto é,
e
0 < ||(x, y) − (x0 , y0 )|| < δ1 ⇒ |v(x, y) − v0 | < ε/2.
Tomando δ = min{δ0 , δ1 } temos que sempre que 0 < ||(x, y) − (x0 , y0 )|| < δ temos
Exemplo 4.4. Seja f (z) = z 2 + i. Fazendo z = x + yi, temos f (z) = u(x, y) + v(x, y)i, com
u(x, y) = x2 − y 2 e v(x, y) = 2xy + 1. Uma vez que
49
Capítulo 4
Exemplo 4.5. Utilizemos o critério anterior para mostrar que não existe o limite
z
lim .
z→0 z
Para tal, façamos z tender para a origem ao longo do eixo real, isto é, z = x + 0i → 0.
Para estes pontos temos
z x + yi x
lim = lim = lim = 1.
z→0 z y=0,x→0 x − yi x→0 x
Por vezes é conveniente extender as noções de limite de uma função de modo a incluir o
"ponto no infinito"da seguinte forma:
• lim f (z) = w0 ⇔ dado ε > 0 existe M > 0 tal que |z| > M ⇒ |f (z) − w0 | < ε.
z→∞
50
Capítulo 4
• lim f (z) = ∞ ⇔ dado R > 0 existe δ > 0 tal que 0 < |z − z0 | < δ ⇒ |f (z)| > R.
z→z0
• lim f (z) = ∞ ⇔ dado R > 0 existe M > 0 tal que |z| > M ⇒ |f (z)| > R.
z→∞
e
1
lim f (z) = w0 se e só se lim f = w0 .
z→∞ z→0 z
Como consequência da álgebra dos limites para funções complexas, obtemos o seguinte
resultado.
Proposição 4.6
Se f e g são funções contínuas em z0 ∈ C, então também são contínuas em z0 as
funções f + g, f g e 1/f (esta última desde que f (z0 ) 6= 0).
É claro que a função constante f (z) = c e a função identidade f (z) = z são contínuas
para todo o z ∈ C (basta tomar δ = ε na definição). Combinando estes factos com o
resultado anterior concluímos que qualquer polinómio é uma função contínua para todo o
z ∈ C. Além disso, qualquer função racional p(z)/q(z) é contínua em todos os pontos z ∈ C,
excepto possivelmente nas raízes de q(z).
Uma vez que o limite, quando z tende para z0 , de uma função f (z) é w se e só se o
limite das suas partes reais e imaginárias é Re(w) e Im(w), respectivamente, obtemos ainda
o seguinte resultado.
51
Capítulo 4
Proposição 4.7
O próximo teorema mostra que se uma função contínua é não nula num ponto, então
existe uma vizinhança desse ponto onde a função é diferente de zero.
Teorema 4.8
Se uma função f (z) é contínua e não nula no ponto z0 , então f (z) 6= 0 numa vizinhança
de z0 .
|f (z0 )|
Demonstração. Seja = > 0. A continuidade de f (z) no ponto z0 diz-nos que existe
2
um δ > 0 tal que
|f (z0 )|
|f (z) − f (z0 )| < se |z − z0 | < δ.
2
Portanto, se existisse um ponto z na vizinhança |z − z0 | < δ tal que f (z) = 0, obteríamos a
contradição
|f (z0 )|
|f (z) − f (z0 )| = |f (z0 )| < .
2
As regras familiares da derivação de funções reais de variável real são também válidas
no caso complexo.
52
Capítulo 4
Proposição 4.9
Se f e g são funções diferenciáveis em z, então:
A função identidade f (z) = z e a função constante g(z) = c são diferenciáveis para todo
o z ∈ C, com f 0 (z) = 1 e g 0 (z) = 0. Como um polinómio p(z) = a0 + a1 z + a2 z 2 + · · · + an z n
pode ser construído usando estas funções e combinações das alíneas da proposição anterior,
concluímos que p(z) é diferenciável para todo o z ∈ C. Segue que qualquer função racional
p(z)/q(z) é diferenciável em todos os pontos de C, excepto nos zero de q(z).
Proposição 4.11
Se f é diferenciável em z0 , então f é contínua em z0 .
f (z) − f (z0 )
Demonstração. Por hipótese, os limites lim e lim (z − z0 ) existem e são f 0 (z0 )
z→z0 z − z0 z→z0
e 0, respectivamente. Portanto,
f (z) − f (z0 )
lim (f (z) − f (z0 )) = lim (z − z0 ) = f 0 (z0 ) · 0 = 0,
z→z0 z→z0 z − z0
53
Capítulo 4
O recíproco deste resultado é falso, como se pode verificar com a função f (z) = Re(z).
Já vimos que esta função é contínua em C, mas não possui derivada em nenhum ponto, pois
dado z ∈ C, temos
f (z + h) − f (z)
lim = 1,
h→0 h
quando h = x + i0 → 0 tende para a origem ao longo do eixo real, e
f (z + h) − f (z)
lim = 0,
h→0 h
quando h = 0 + iy → 0 tende para a origem ao longo do eixo imaginário.
f : A ⊆ R → C,
temos
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim (h ∈ R)
h→0 h
Ref (x + h) − Ref (x) Imf (x + h) − Imf (x)
= lim +i
h→0 h h
0 0
= (Ref ) (x) + i(Imf ) (x).
Exemplo 4.7. Vamos usar o resultado anterior para mostrar que para qualquer número
0
complexo c ∈ C se tem (ect ) = cect . Para cada t ∈ R, temos
0
eit = (cos(t) + i sin(t))0
= (cos(t))0 + i(sin(t))0
= − sin(t) + i cos(t)
1
= i − sin(t) + cos(t)
i
= i(cos(t) + i sin(t))
= ieit .
54
Capítulo 4
f (z) f 0 (z0 )
lim = 0 .
z→z0 g(z) g (z0 )
f (z)−f (z0 )
f (z) z−z0 f 0 (z0 )
lim = lim g(z)−g(z = ,
z→z0 g(z) z→z0 0) g 0 (z0 )
z−z0
pois g(z0 ) 6= 0.
z 2 − 3z
Como aplicação da regra de L’Hôpital, calculemos o limite lim . Fazendo f (z) =
z→0 2z
z − 3z e g(z) = 2z, temos f (0) = g(0) = 0 e g (0) = 2 6= 0. Portanto,
2 0
d
z 2 − 3z dz
(z 2 − 3z) 2z − 3 −3
lim = lim d = lim = .
z→0 2z z→0
dz
(2z) z→0 2 2
O próximo resultado indica que se uma função f (z) = u(x, y) + iv(x, y) é diferenciá-
vel num ponto z, então satisfaz um par de equações designadas por equações de Cauchy-
Riemann.
Teorema 4.13: Condições de Cauchy-Riemann
f (z + h) − f (z)
lim = f 0 (z). (4.1)
h→0 h
Escrevendo h = h1 + ih2 , temos
55
Capítulo 4
Este limite é independente da forma como h se aproxima da origem. Façamos então h tender
para a origem ao longo eixo real, ou seja, com h2 = 0. Obtemos assim
u(x + h1 , y) + iv(x + h1 , y) − u(x, y) − iv(x, y)
f 0 (z) = lim
h1 →0 h1
u(x + h1 , y) − u(x, y) v(x + h1 , y) − v(x, y)
= lim + i lim
h1 →0 h1 h1 →0 h1
∂u ∂v
= (x, y) + i (x, y). (4.2)
∂x ∂x
Fazendo agora h tender para a origem ao longo do eixo imaginário, ou seja, com h1 = 0,
obtemos
u(x, y + h2 ) + iv(x, y + h2 ) − u(x, y) − iv(x, y)
f 0 (z) = lim
h2 →0 ih2
u(x, y + h2 ) − u(x, y) v(x, y + h2 ) − v(x, y)
= lim + i lim
h2 →0 ih2 h2 →0 ih2
1 ∂u ∂v
= (x, y) + (x, y)
i ∂y ∂y
∂v ∂u
= (x, y) − i (x, y). (4.3)
∂y ∂y
De (4.1) e (4.2) vem
∂u ∂v ∂v ∂u
f 0 (z) = (x, y) + i (x, y) = (x, y) − i (x, y),
∂x ∂x ∂y ∂y
pelo que
∂u ∂v ∂u ∂v
= e =− .
∂x ∂y ∂y ∂x
56
Capítulo 4
Exemplo 4.9. Seja f (z) = 2x2 + y + i(y 2 − x) e definamos u(x, y) = 2x2 + y e v(x, y) = y 2 − x.
Então
∂u ∂v
= 4x = −1
∂x ∂x
∂u ∂v
=1 = 2y,
∂y ∂y
e as condições de Cauchy-Riemann são satisfeitas apenas na recta 4x = 2y, ou seja, na recta
y = 2x. Fora desta recta a função não é diferenciável.
∂u ∂v ∂v ∂u
f 0 (z) = (x, y) + i (x, y) = (x, y) − i (x, y).
∂x ∂x ∂y ∂y
Demonstração. Omitida.
Temos f 0 (x) = 0 para todo o x ∈ (0, 1) ∪ (3, 4), mas f não é constante. A função f é apenas
constante nos intervalos (0, 1) e (3, 4).
57
Capítulo 4
∂u ∂v
f 0 (z) = (x, y) + (x, y)i = 0 + 0i
∂x ∂x
∂v ∂u
= (x, y) − (x, y)i = 0 − 0i.
∂y ∂y
Temos então f (z) = f (z1 ) = f (z2 ) = · · · = f (zn ) = f (w), ou seja, f é constante no conjunto
A.
Cololário 4.16
Seja f : A ⊆ C → C uma função complexa com A aberto e conexo. Se f é diferenciável
e Ref (z) é constante em A, então f é constante em A.
Demonstração. Sendo f (x+iy) = u(x, y)+iv(x, y), temos u(x, y) = k para todo o x+yi ∈ A.
Assim, as derivadas parciais de u anulam-se em A. Pelas condições de Cauchy-Riemann,
também as derivadas parciais de v se anulam em A. Assim, podemos concluir que f 0 (z) = 0
e, pelo teorema anterior, f é constante em A.
58
Capítulo 4
Uma das razões pelas quais é natural designar esta função por exponencial reside no
facto de esta generalizar a exponencial real: se z = x + i0 é real,
Pelas equações de Cauchy-Riemann, é fácil verificar que ez é uma função inteira e que a sua
derivada é dada por (ez )0 = ez .
O módulo, argumento e o conjugado de ez são igualmente fáceis de determinar a partir
da definição. Escrevendo ez na forma polar
Uma vez que ex > 0 para todo o x ∈ R, segue que |ez | > 0 para todo o z ∈ C, donde se
conclui que ez 6= 0 para todo o z ∈ C. No entanto a exponencial complexa pode tomar
valores negativos. Por exemplo, eπi = −1. Como a função seno real é ímpar e a função
cosseno real é par, temos ainda
Proposição 4.17
Se z1 e z2 são números complexos, então
1. e0 = 1
59
Capítulo 4
(ez1 )n = (ex1 cis(y1 ))n = (ex1 )n cis(ny1 ) = enx1 cis(ny1 ) = enx+iny = enz .
ez+2πi = ez e2πi = ez .
60
Capítulo 4
O logaritmo complexo
Ou seja,
ew = z ⇒ w = ln |z| + iarg(z), (4.4)
com ln |z| o logaritmo real de |z|. Como há um número infinito de argumentos de z, (4.4)
origina um número infinito de soluções da equação ew = z.
Portanto, cada número complexo z 6= 0 tem uma infinidade de logaritmos, todos com
parte real ln |z|, e diferindo uns dos outros por múltiplos de 2πi. Ou seja, se z = reiθ , temos
3. log(z1n ) = nlog(z1 ).
Proposição 4.19
O logaritmo principal é a função inversa da exponencial complexa quando restrita ao
seu domínio fundamental.
61
Capítulo 4
Demonstração. Por definição temos eLog(z) = z, para todo o z 6= 0. Seja então z = x + iy,
com −π < y ≤ π. Como |ez | = ex e Arg(ez ) = y, podemos escrever
Log(ez ) = ln(ex ) + iy = x + iy = z,
A igualdade eLog(z) = z verifica-se para todo o número complexo não nulo, mas já a
igualdade Log(ez ) = z só se verifica se z pertence à região fundamental da exponencial. Por
exemplo, 1 + 32 πi não está nesta região e
3 3 π 3
Log e1+ 2 πi = ln e + iArg e 2 πi = 1 − i 6= 1 + πi.
2 2
Notemos ainda que o logaritmo principal generaliza o logaritmo real: se x ∈ R+ então
enquanto que
62
Capítulo 4
z w = ewlog(z) .
1. z w1 z w2 = z w1 +w2
z w1
2. = z w1 −w2
z w2
3. (z w1 )n = z nw1 para n = 0, ±1, ±2, · · ·
Mas como en2kπi = cos(n2kπ) + i sin(n2kπ) = cos(0) + i sin(0) = 1, podemos então escrever
z n = enln|z| enArg(z)i .
63
Capítulo 4
A função valor principal de z w não é contínua em todo o plano complexo pois a função
logaritmo principal não é contínua em todo o plano. No entanto, como a exponencial
complexa é contínua em C e Log(z) é contínua no conjunto {z : |z| > 0, −π < Arg(z) < π},
segue que z w é contínua neste conjunto. Além disso, neste conjunto podemos usar a regra
da cadeia para obter a derivada da função valor principal de z w :
0 w
(z w )0 = ewLog(z) = ewLog(z) (wLog(z))0 = ewLog(z) = wz w−1 .
z
Adicionando estas duas equações e simplificando, obtemos uma expressão para a função
cosseno real à custa da exponencial complexa:
eix + e−ix
cos(x) = . (4.7)
2
De forma semelhante, subtraindo as duas equações em (4.6) obtemos uma expressão para a
função seno real à custa da exponencial complexa:
eix − e−ix
sin(x) = . (4.8)
2i
Estas formulas para o seno e para o cosseno reais podem ser usadas para definirmos as
funções seno e cosseno complexos.
Definição 4.10. As funções seno complexo e cosseno complexo são definidas por
eiz − e−iz eiz + e−iz
sin(z) = e cos(z) =
2i 2
para todo o z ∈ C.
As equações (4.7) e (4.8) mostram que o seno e cosseno complexos generalizam as funções
seno e cosseno reais. Tal como no caso real podemos definir a tangente, cotangente, secante
e cossecante complexas:
sin(z) cos(z) 1 1
tan(z) = , cot(z) = , sec(z) = e csc(z) = .
cos(z) sin(z) cos(z) sin(z)
É imediato constatar que o seno e o cosseno complexos são funções inteiras, pois são
combinações lineares da exponencial complexa. Além disso, usando a regra da derivada da
exponencial, temos
(sin(z))0 = cos(z) e (cos(z))0 = − sin(z).
64
Capítulo 4
A maioria das identidades satisfeitas pelas funções trigonométricas reais são também válidas
para as funções trigonométricas complexas. Listamos na próxima proposição algumas das
mais úteis.
Proposição 4.21
Se z e w são números complexos, então
para todo o z ∈ C. Ou seja, o seno e o cosseno complexos são funções periódicas com
período 2π.
ez − e−z ez + e−z
sinh(z) = e cosh(z) =
2 2
para todo o z ∈ C.
No caso real não é clara a relação existente entre o seno e o cosseno hiperbólico e as
funções seno e cosseno ordinárias. No entanto, no caso complexo esta relação é imediata,
uma vez que se x ∈ R, então
66
CAPÍTULO 5
uma função complexa de variável real contínua em [a, b]. Chama-se integral de f em [a, b],
Rb
e representa-se por a f (t)dt, ao número complexo
Z b Z b Z b
f (t)dt := Ref (t)dt + i Imf (t)dt.
a a a
Como estamos a supor a continuidade de f no intervalo [a, b], o mesmo se passa com as
funções reais de variável real Ref (t) e Imf (t), pelo que o integral de f em [a, b] existe e é
finito. Notemos ainda que
Z b Z b Z b Z b
Re f (t)dt = Ref (t)dt e Im f (t)dt = Imf (x)dt.
a a a a
Z b Z b
É também fácil verificar que f (t)dt = f (t)dt. A partir dos resultados standard da
a a
integração real, obtemos as seguintes propriedades.
67
Capítulo 5
Proposição 5.1
Sejam f, g : [a, b] → C funções complexas de variável real contínuas em [a, b]. Então:
Z b Z b Z b
1. f (t) + g(t)dt = f (t)dt + g(t)dt.
a a a
Z b Z b
2. αf (t)dt = α f (t)dt, para qualquer α ∈ C.
a a
Z b Z c Z b
3. Se a ≤ c ≤ b, então f (t)dt = f (t)dt + f (t)dt.
a a c
Z b
4. Se F for uma primitiva de f , então f (t)dt = F (b) − F (a).
a
Exemplo 5.1. A função −ieit é uma primitiva de eit para t ∈ R. Assim, pela proposição
anterior, temos
Z π/4
√ √ !
it π/4 2 2
eit dt = −ie = −ieiπ/4 + i =
0
+ 1− i.
0 2 2
A propriedade seguinte é útil para estimar o valor de um integral de uma função complexa
de variável real.
Proposição 5.2
Seja f : [a, b] → R uma função complexa de variável real contínua em [a, b]. Então
Z b Z b
f (t)dt ≤ |f (t)| dt
a a
Z b
Demonstração. A desigualdade é claramente válida se f (t)dt = 0. Suponhamos então
a
68
Capítulo 5
Z b Z b
que f (t)dt = re com r > 0. Então
iθ
f (t)dt = r e podemos escrever
a a
Z b Z b
1
r = iθ f (t)dt =e−iθ f (t)dt
e
aZ b a
Z b
−iθ
Re e−iθ f (t) dt
= Re e f (t)dt =
a a
Z b Z b
≤ e−iθ f (t) dt = e−iθ |f (t)| dt
a a
Z b
= |f (t)| dt.
a
γ : [a, b] ⊆ R → A
.
t 7→ γ(t)
A γ(a) chamamos origem e a γ(b) extremidade da curva. Se γ(a) = γ(b), dizemos que a
curva é fechada. Ao conjunto tr(γ) := {γ(t) : t ∈ [a, b]} chamamos traço de γ. A equação
z = γ(t), t ∈ [a, b], diz-se uma parametrização da curva.
Notemos que γ1 (0) = γ1 (2π) = γ2 (0) = γ2 (2π) = 1 e que o traço de ambas as curvas é a
circunferência unitária {z ∈ C : |z| = 1}. No entanto, as curvas são diferentes. A curva γ1
descreve a circunferência percorrendo-o no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio uma
vez, enquanto que γ2 descreve a mesma circunferência, no mesmo sentido, mas percorrendo-a
duas vezes. Portanto, o traço de uma curva não a define completamente.
Exemplo 5.3. Outra curva importante é o segmento de reta que une os pontos z e w no
plano complexo. Uma parametrização é dada por γ(t) = tw + (1 − t)z, para t ∈ [0, 1].
Se nada for dito em contrário, usaremos os símbolos C(u, r) e [z, w] para designar as
parametrizações u + reit , para 0 ≤ t ≤ 2π, e tw + (1 − t)z, para 0 ≤ t ≤ 1, da circunferência
de centro u ∈ C e raio r > 0, e do segmento de reta [z, w], resp.
69
Capítulo 5
Definição 5.2. Uma curva γ : [a, b] → C diz-se simples se não se autointerseta, exceto
possivelmente nas extremidades, i.e., γ(t1 ) = γ(t2 ) apenas se t1 = t2 ou {t1 , t2 } = {a, b}.
Se γ 0 (t) é contínua e não nula em ]a, b[, a curva diz-se regular. A curva γ diz-se seccio-
nalmente regular ou um caminho se existirem t0 = a < t1 < · · · < tn = b tais que γ é
regular em cada um dos intervalos [tk−1 , tk ], k = 1, . . . , n.
O sentido de uma curva não fechada γ : [a, b] → C é definido como a direção corres-
pondente ao incremento dos valores do parâmetro t. A curva −γ : [a, b] → C definida por
−γ(t) = γ(a+b−t) e designada por curva oposta, tem o mesmo traço de γ, mas descreve-o
no sentido oposto.
O sentido positivo de uma curva simples fechada é definido como correspondente ao
sentido contrário dos ponteiros do relógio. A direcção oposta ao sentido positivo diz-se o
sentido negativo da curva.
Dado uma curva γ : [a, b] → A consideremos uma bijecção crescente ψ : [c, d] → [a, b].
Então γ ◦ ψ : [c, d] → A é uma curva em A com a mesma origem, extremidade, traço e
sentido da curva γ. Dizemos que γ ◦ ψ é obtido de γ por mudança de parâmetro.
Nota 5.1. Sendo [a, b] um qualquer intervalo, a função ψ : [0, 1] → [a, b] definida por ψ(t) =
(1 − t)a + bt é uma bijecção crescente. Através desta bijecção podemos considerar qualquer
caminho, por mudança de parâmetro, definido no intervalo [0, 1], ou em qualquer outro
intervalo.
70
Capítulo 5
Exemplo 5.4. O caminho γ(t) = re2it , 0 ≤ t ≤ 2π, tem comprimento comp(γ) = 4πr, pois
Z 2π Z 2π
2it
L(γ) = 2rie dt = 2rdt = 4πr.
0 0
Notemos que para o integral existir, a função f tem de estar definida no traço de γ e,
para o cálculo desse integral, só interessam os valores de f nessa conjunto. Notemos ainda
que o integral do segundo membro é o integral de uma função complexa de variável real, já
tratado na secção anterior. É fácil verificar que o integral não depende da parametrização
considerada. Se ψ : [c, d] → [a, b] é uma bijecção crescente então, efetuando a mudança de
variável t = ψ(s), temos dt = ψ 0 (s)ds e
Z Z b Z d
0
f (z)dz = f (γ(t))γ (t)dt = f (γ(ψ(s)))γ 0 (ψ(s))ψ 0 (s)ds
γ a c
Z d Z
0
= f (γ ◦ ψ(s))(γ ◦ ψ) (s)ds = f (z)dz.
c γ◦ψ
Z Z
2. αf (z)dz = α f (z)dz.
γ γ
Z Z Z Z Z
3. f (z)dz = f (z)dz + f (z)dz e f (z)dz = − f (z)dz.
γ+γ1 γ γ1 −γ γ
71
Capítulo 5
Z
1
Exemplo 5.5. O integral k
dz = 0 para k 6= 1, pois C(u, r) é um caminho
C(u,r) (z − u)
(z − u)−k+1 1
fechado e é uma primitiva de . Notemos no entanto que
−k + 1 (z − u)k
Z Z 2π Z 2π
1 1 it
dz = ire dt = idt = 2πi.
C(u,r) z − u 0 u + reit − u 0
Terminamos esta secção com uma estimativa para o valor do integral de uma função
complexa ao longo de um caminho, obtida como consequência da proposição 5.2.
Proposição 5.5: Desigualdade M L
72
Capítulo 5
Demonstração. Comecemos por notar que o número real M existe pois estamos a assumir
que f (γ(t)) é uma função contínua no intervalo fechado [a, b]. Assim, pela definição de
integral de caminho e pela proposição 5.2, podemos escrever
Z Z b
f (z)dz ≤ |f (γ(t))γ 0 (t)|dt
γ a
Z b
≤ M |γ 0 (t)|dt
a
Z b
=M |γ 0 (t)|dt
a
= M L(γ).
73
Capítulo 5
Podemos assim concluir que o integral de uma função que seja diferenciável em todo o plano
complexo se anula qualquer que seja o caminho simples fechado γ. Em particular,
Z Z Z Z
z
e dz = sin(z)dz = cos(z)dz = p(z)dz = 0,
γ γ γ γ
Z Z
Ou seja, f (z)dz = f (z)dz.
γ1 γ2
Definição 5.5. Um ponto z0 ∈ C diz-se uma singularidade da função f se f não possui de-
rivada em z0 . O ponto z0 diz-se uma singularidade isolada de f se z0 é uma singularidade
de f e f é analítica em algum conjunto {z ∈ C : 0 < |z − z0 | < r}, com r ∈ R+ .
74
Capítulo 5
γ1
γ γ2
a b
pois 1
z−i
não possui singularidades entre γ e C(i, 1), ou seja, é diferenciável neste conjunto.
75
Capítulo 5
para r > 0 tal que as p circunferências estão contidas no interior de γ e são disjuntas
duas a duas.
Z
1
Exemplo 5.8. Calculemos o valor do integral dz. Uma vez que z 2 + 1 = (z +
C(0,4) z2 +1
1
i)(z − i), a função f (z) = 2 dz tem singularidades nos pontos ±i, os quais se encontram
z +1
dentro da circunferência C(0, 4). Assim, podemos escrever
Z Z Z
1 1 1
2
dz = 2
dz + dz.
C(0,4) z +1 C(i,1) z +1 C(−i,1) z2 +1
−i/2
Z Z Z
1 1 i/2
dz = dz = + dz
C(i,1) z2 + 1 C(i,1) (z − i)(z + i) C(i,1) z − i z+i
−i
Z Z
1 i 1
= dz + dz
2 C(i,1) z − i 2 C(i,1) z + i
−i
= 2πi + 0,
2
1
visto que a função não tem singularidades dentro da circunferência C(i, 1). Analoga-
z+i
mente se conclui que Z
1 i
2
dz = 2πi,
C(−i,1) z + 1 2
pelo que Z
1
dz = 0.
C(0,4) z2 +1
76
Capítulo 5
77
Capítulo 5
ez
Z
Exemplo 5.9. Consideremos o integral dz. Uma vez que a exponencial complexa
C(0,1) z
não tem singularidades dentro de C(0, 1), temos
ez
Z
dz = e0 2πi = 2πi.
C(0,1) z
A função integranda tem singularidades nos pontos 0 e −2i, pois z 4 − 2iz 3 = z 3 (z + 2i), mas
apenas o ponto 0 se situa no interior da circunferência C(0, 1). Assim, podemos escrever
Z Z z+1
z+1 z+2i
dz = dz,
C(0,1) z 4 + 2iz 3 C(0,1) z3
2 − 4i
Z
z+1 2πi 00
dz = g (0) = πi .
C(0,1) z 4 + 2iz 3 2! (2i)3
Segue do teorema anterior que uma função analítica numa região D admite nessa região
derivadas de todas as ordens.
Cololário 5.12
Se f (z) é uma função analítica na região D, então todas as suas derivada
f 0 (z), f 00 (z), . . . , f (n) (z), . . . existem e são analíticas em D.
Analisamos de seguida mais algumas das mais importantes consequências das fórmulas
integrais de Cauchy.
78
Capítulo 5
n!M
f (n) (z0 ) ≤ para todo o n ≥ 0.
rn
f (z) |f (z)| M
n+1
= n+1 ≤ n+1 .
(z − z0 ) r r
Demonstração. Suponhamos que f é uma função inteira e limitada. Então, existe M > 0
tal que |f (z)| ≤ M para todo o z ∈ C. Tomemos uma circunferência centrada no ponto
z0 com raio r > 0. A desigualdade de Cauchy diz-nos que |f 0 (z0 )| ≤ M/r. Uma vez que
podemos tomar r tão grande quanto queiramos, podemos concluir que f 0 (z0 ) = 0 para todos
os pontos z0 ∈ C. Pelo teorema 4.15, a função f é constante em C.
Qualquer polinómio não constante p(z) tem pelo menos uma raiz em C.
segue-se que
p(z)
lim = an .
|z|→+∞ z n
79
Capítulo 5
Portanto, |p(z)/z n | ≥ |an |/2 para |z| suficientemente grande, digamos |z| ≥ R. Assim,
1 2 2
|f (z)| = ≤ n ≤ n
|p(z)| |z| |an | R |an |
para |z| ≥ R, ou seja, |f (z)| é limitada para |z| ≥ R. Além disso a função |f (z)| é contínua,
logo limitada no disco fechado |z| ≤ R. Concluímos assim que f é limitada em todo o plano
C. Pelo Teorema de Liouville, segue que f é constante, e portanto também p é constante.
Como este facto contradiz a nossa suposição, concluímos que p tem pelo menos uma raiz
em C.
Numa linguagem mais algébrica, o teorema anterior é por vezes enunciado afirmando
que o corpo dos números complexos é algebricamente fechado. O resultado seguinte é uma
consequência imediata deste teorema e, por vezes, também chamado Teorema Fundamental
da Álgebra.
Cololário 5.16
Se p(z) é um polinómio de grau n > 0, então existem n números complexos
z1 , z2 , . . . , zn (não necessariamente todos distintos) e um número complexo c 6= 0
tal que
p(z) = c(z − z1 )(z − z2 ) · · · (z − zn ).
Demonstração. Pelo Teorema Fundamental da Álgebra, o polinómio p(z) possui uma raiz,
digamos z1 . Usando divisão de polinómios, podemos escrever
80
CAPÍTULO 6
SÉRIES DE POTÊNCIAS
Definição 6.1. Sejam z0 ∈ C e (an ) uma sucessão de números complexos. Uma série de
potências de z − z0 com coeficientes a0 , a1 , . . ., é uma série da forma
∞
X
an (z − z0 )n = a0 + a1 (z − z0 ) + a2 (z − z0 )2 + · · ·
n=0
Esta série diz-se centrada em z0 e este ponto designa-se por centro da série. Convencio-
namos definir (z − z0 )0 = 1 mesmo quando z = z0 .
Uma série de potência é apenas um exemplo de uma série de números complexos, onde
o termo geral é da forma an (z − z0 )n . Notemos que a convergência da série depende do
valor de z. Se a série converge para todo o z ∈ D ⊆ C, então a série define uma função no
conjunto D.
X∞
Exemplo 6.1. A série geométrica z n é uma série de potências centrada em z0 = 0, e
n=1
1
coincide com a função f (z) = no disco |z| < 1. Fora deste disco a série diverge.
1−z
∞ n
X z
Exemplo 6.2. Já a série converge absolutamente para todo o z ∈ C. Podemos
n=0
n!
confirma-lo aplicando o teste da razão:
z n+1 n! |z|
lim n
= lim = 0.
(n + 1)! z n+1
Como este limite é inferior a 1, a série é absolutamente convergente em C e, portanto, define
uma função em C.
Uma série de potências de z −z0 converge, pelo menos, no ponto z0 . O proximo resultado
descreve os possíveis casos de convergência de uma série de potências.
81
Capítulo 6
Teorema 6.1
∞
Dada uma série de potências an (z − z0 )n , três situações podem ocorrer:
P
n=0
3. Existe um R > 0 tal que a série converge absolutamente se |z −z0 | < R e diverge
se |z − z0 | > R.
∞
X ∞
X
Demonstração. É suficiente mostrar que se an (z1 − z0 ) converge, então
n
an (z − z0 )n
n=0 n=0
converge absolutamente para todo o z tal que |z − z0 | < |z1 − z0 |. Suponhamos então que
X∞
an (z1 − z0 )n converge e que z satisfaz |z − z0 | < |z1 − z0 |. Pela condição necessária de
n=0
convergência, sabemos que an (z1 − z0 )n → 0. Portanto, existe M > 0 tal que
Mas então
|z − z0 |n
|an (z − z0 )n | = |an (z1 − z0 )n | · < M bn ,
|z1 − z0 |n
∞
|z − z0 | X
onde b = < 1. Como M bn é uma série geométrica (real) convergente, concluímos
|z1 − z0 | n=0
X∞
pelo teste de comparação que a série an (z − z0 )n é convergente.
n=0
82
Capítulo 6
Proposição 6.2
∞
X
Suponhamos que a série de potências an (z − z0 )n tem raio de convergência R > 0 e
n=0
seja D o seu disco de convergência. Consideremos ainda a função f : D → C definida
por
∞
X
f (z) = an (z − z0 )n .
n=0
Então:
1. A função f é analítica em D e
∞
! ∞ ∞
d X X d X
f 0 (z) = an (z − z0 )n = an (z − z0 )n = nan (z − z0 )n−1 .
dz n=0 n=0
dz n=1
Portanto, uma série de potências deriva-se e integra-se termo a termo, e a série resultante
mantém o raio de convergência. Note-se que, no caso de séries de potências reais, o caminho
γ da alínea 2 da proposição anterior reduz-se a um intervalo [a, b] contido no disco de
convergência (ele próprio um intervalo) da série.
∞
1 X
Exemplo 6.3. Uma vez que = z n , para |z| < 1, temos
1−z n=0
0 ∞
!0 ∞ ∞
1 1 X
n
X
n 0
X
= = z = (z ) = nz n−1
(1 − z)2 1−z n=0 n=0 n=1
83
Capítulo 6
∞ ∞ Z ∞
z n+1
Z X X X
n
f (z) = − z dz = − z n dz = − + c,
n=0 n=0 n=0
n + 1
para |z| < 1, onde c é a constante de integração. Como f (0) = Log(1) = 0, temos c = 0, ou
seja
∞
X z n+1
Log(1 − z) = −
n=0
n+1
para |z| < 1.
f (n) (z0 )
an = .
n!
Deste resultado concluí-se que uma função f não pode ser a soma de duas séries de
potências de z − z0 diferentes com raio de convergência não nulo, pois da igualdade
∞
X ∞
X
n
f (z) = an (z − z0 ) = bn (z − z0 )n
n=0 n=0
obtemos
f (n) (z0 )
an = b n = , para todo o n ≥ 0.
n!
84
Capítulo 6
Definição 6.2 (Série de Taylor). Seja f uma função analítica no disco |z − z0 | < R. A
série de Taylor de f centrada em z0 é a série de potências dada por
∞
X f (n) (z0 )
(z − z0 )n .
n=0
n!
Dada uma qualquer função com derivadas de qualquer ordem em z0 , podemos sempre
construir a sua série de Taylor. Coloca-se então a questão de saber qual a relação entre
a função f e a sua série de Taylor. No teorema seguinte, prova-se que no caso de funções
complexas, uma função analítica num disco é aí representada pela sua série de Taylor.
Veremos adiante que o caso de funções reais é muito diferente.
Teorema 6.3: Teorema de Taylor
Seja f uma função analítica em D ⊆ C e seja z0 ∈ D. Então
∞
X f (n) (z0 )
f (z) = (z − z0 )n
n=0
n!
85
Capítulo 6
podemos escrever
1 1 1 1
= =
ζ − z (ζ − z0 ) − (z − z0 ) ζ − z0 1 − z−z0
ζ−z0
∞ n ∞
X (z − z0 )n
1 X z − z0
= =
ζ − z n=0 ζ − z0 n=0
(ζ − z0 )n+1
N −1 ∞
X (z − z0 )n X (z − z0 )n
= +
n=0
(ζ − z0 )n+1 n=N (ζ − z0 )n+1
N −1
X (z − z0 )n (z − z0 )N
= + .
n=0
(ζ − z0 )n+1 (ζ − z)(ζ − z0 )N
Multiplicando esta última igualdade por f (ζ) e integrando ambos os membros ao longo de
C1 , obtemos:
Z N −1 Z Z
f (ζ) X f (ζ) f (ζ)
dζ = (z − z0 )n
n+1
dζ + (z − z0 )N
N
dζ. (6.1)
C1 ζ −z n=0 C1 (ζ − z0 ) C1 (ζ − z)(ζ − z0 )
f (n) (z0 )
Z
f (ζ)
n+1
dζ = 2πi para n ≥ 0,
C1 (ζ − z0 ) n!
pelo que, após multiplicação por 1/(2πi), podemos escrever a equação (6.1) como
N −1
X f (n) (z0 )
f (z) = (z − z0 )n + ξN (z − z0 ), (6.2)
n=0
n!
onde
(z − z0 )N
Z
f (ζ)
ξN (z − z0 ) = · dζ.
2πi C1 (ζ − z)(ζ − z0 )N
Portanto, obtemos o resultado pretendido se mostrarmos que
lim ξN (z − z0 ) = 0.
N →∞
|ζ − z| = |(ζ − z0 ) − (z − z0 )| ≥ ||ζ − z0 | − |z − z0 || = ρ − r.
86
Capítulo 6
O teorema de Taylor diz-nos que se soubermos os valores f (z0 ), f 0 (z0 ), f 00 (z0 ), . . . (apenas
no ponto z0 ), conhecemos o valor de f (z) em qualquer ponto do disco de convergência da
sua série de Taylor. O raio de convergência da série de Taylor de uma função f pode ser
obtido aplicando o teste da razão à série dos módulos. No entanto, pelo resultado anterior,
temos que o raio de convergência é igual à distância do centro z0 da série à singularidade
de f mais próxima de z0 .
Exemplo 6.5. A exponencial complexa ez é uma função inteira e todas as suas derivadas em
torno do ponto 0 são iguais a 1, pelo que a série de Maclaurin desta função em torno da
origem é dada por
∞ n
X z
z
e = para todo o z ∈ C.
n=0
n!
É igualmente fácil verificar que para todo o z ∈ C,
∞ 2k+1 ∞ 2k
n z n z
X X
sin z = (−1) e cos z = (−1)
n=0
(2k + 1)! n=0
(2k)!
1
Exemplo 6.6. Determinemos a série de Taylor da função f (z) = em torno do ponto
2z − 3
z0 = 2. Podemos usar a fórmula para os coeficientes da série de Taylor para determinar
∞
X f (n) (2)
(z − 2)n . Um método alternativo, menos fastidioso, consiste em escrever f como
n=0
n!
uma série geométrica e usar o resultado do exemplo 6.1. Notemos que
1 1 1
f (z) = =
2z − 3 2 z − 32
1 1
=
2 (z − 2) + 21
1
=
2(z − 2) + 1
1
=
1 − (−2(z − 2))
X∞ ∞
X
n
= (−2(z − 2)) = (−2)n (z − 2)n .
n=0 n=0
Esta série converge absolutamente para z tal que |2(z − 2)| < 1, ou seja, para |z − 2| < 1/2,
pelo que o seu raio de convergência é r = 1/2. Tendo em conta a unicidade da representação
de uma função pela sua série de Taylor, temos que
∞
X
f (z) = (−2)n (z − 2)n
n=0
1
no disco de convergência D = {z ∈ C : |z − 2| < }. Notemos que o raio de convergência
2
r = 1/2 é igual à distância entre o centro z0 = 2 da série e a única singularidade z = 3/2
da função f .
87
Capítulo 6
Exemplo 6.7. Neste exemplo vamos determinar a série de Taylor de centro z0 = 2 da função
−2
g(z) = . Comecemos por notar que esta função tem uma única singularidade no
(2z − 3)2
ponto z = 3/2, logo o Teorema de Taylor diz-nos que a série de Taylor de g(z) em torno do
ponto z0 = 2 é válida no disco
D = {z ∈ C : |z − 2| < 1/2}.
Para obtermos a série de Taylor, notemos que g(z) = f 0 (z), onde f (z) é a função que
considerámos no Exemplo 6.6. Portanto, podemos escrever
∞
!0
X
0 n n
g(z) = f (z) = (−2) (z − 2))
n=0
∞
X
= (−2)n ((z − 2)n )0
n=0
∞
X
= n(−2)n (z − 2)n−1 ,
n=1
para |z − z0 | < R, então a série de Taylor da sua soma em torno do ponto z0 é dada por
∞
X
f (z) + g(z) = (an + bn )(z − z0 )n
n=0
para |z − z0 | < R.
1
Exemplo 6.8. Consideremos a função f (z) = + ez . Uma vez que as séries de Taylor de
1−z
1
e de ez de centro z0 = 0 têm raios de convergência R = 1 e R = ∞, respetivamente,
1−z
temos que
∞ ∞ n
1 z
X
n
X z
f (z) = +e = z +
1−z n=0 n=0
n!
∞
X 1
= 1+ zn,
n=0
n!
88
Capítulo 6
O produto f (z)g(z) das somas das séries definidas em (6.3) é uma função analítica em
|z − z0 | < R e, portanto, possui uma representação em série de Taylor neste disco. Para a
obtermos temos de usar o produto de Cauchy de duas séries:
∞
X
f (z)g(z) = cn (z − z0 )n ,
n=0
n
X
onde para cada n ≥ 0 o coeficiente cn é dado por cn = ak bn−k . Notemos que este
k=0
procedimento é o que obtemos se multiplicarmos as duas séries termo a termo, tal como
fazemos com polinómios.
Exemplo 6.9. Temos:
∞ n
! ∞
!
ez X z X
= · zn
1−z n!
n=0 2
n=0
z3
z
+ · · · · 1 + z + z2 + z3 + · · ·
= 1+z+ +
2 6
1 2 1 1
= 1 + (1 + 1)z + +1+1 z + + + 1 + 1 z3 + · · ·
2 6 2
5 8
= 1 + 2z + z 2 + z 3 + · · ·
2 3
para todo o |z| < 1.
Exemplo 6.10. Como
∞
X (−1)n 2n+1 z3 z5 z7
sin(z) = z =z− + − + ···
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7!
z3 z5 z7 z3 z5 z7
2
sin (z) = z − + − + ··· · z − + − + ···
3! 5! 7! 3! 5! 7!
2 1 1 4 1 1 1 6 1 1 1 1
=z − + z + + + z − + + + z8 + · · ·
6 6 120 36 120 5040 720 720 5040
1 2 1 8
= z2 − z4 + z6 − z + ···
3 45 315
Continuemos a considerar f (z) e g(z) como as somas das séries (6.3) e suponhamos que
g(z) 6= 0 para |z − z0 | < R. Como o quociente f (z)/g(z) é analítica no disco |z − z0 | < R,
possui uma representação em série de Taylor neste disco:
∞
f (z) X
= dn (z − z0 )n ,
g(z) n=0
89
Capítulo 6
z3 z5 z7
para todo o z ∈ C. Efetuando a divisão termo a termo de z por z − + − + ···,
3! 5! 7!
obtemos
z3 z5 z7
1 2 7 4
z= z− + − + ··· · 1 + z + z + ··· .
3! 5! 7! 6 300
Portanto,
z 1 7 4
f (z) = = 1 + z2 + z + ···
sin(z) 6 360
Este desenvolvimento é válido no disco |z| < π uma vez que ±π são as singularidades de
f (z) mais próximas do ponto z0 = 0.
satisfaz f (n) (0) = 0 para todo o n ≥ 0, pelo que a sua série de Taylor é a série nula
0 + 0x + 0x2 + · · · = 0. Portanto, f não coincide com a sua série de Taylor em nenhuma
vizinhança de 0.
No entanto, pela unicidade da representação de uma função pela sua série de Taylor,
∞
X
conclui-se que se f for a soma de uma série de potências an (x − x0 )n numa vizinhança
n=0
de x0 , então essa é a sua série de Taylor.
90
Capítulo 6
Seja f :]a, b[→ R uma função que admite derivadas contínuas em ]a, b[ até à ordem
n + 1 e seja x0 ∈]a, b[. Então para qualquer x ∈]a, b[, existe c estritamente entre x e
x0 tal que
Notemos que a sucessão das somas parciais da série de Taylor de uma função f em torno
de x0 é dada por sn = Pn (f, x0 ). Assim, a série de Taylor de f converge para f (x) se e só
se lim rn (f, x0 ) = lim(f (x) − Pn (f, x0 )) = 0.
Se f tem uma singularidade no ponto z0 então não pode ser expandida em série de potências
centrada em z0 . No entanto, se z0 for uma singularidade isolada, é possível representá-la
por uma série envolvendo potências positivas e negativas de z − z0 . Por exemplo, a função
1
f (z) = tem singularidades nos pontos 0 e 1, pelo que não possui série de Taylor
z(1 − z)
de centro z0 = 0, mas podemos escrever
∞ ∞
1 1 1 X n X n−1 1
f (z) = · = · z = z = + z + z2 + z3 + · · ·
z (1 − z) z n=0 n=0
z
91
Capítulo 6
onde Z
1 f (w)
an = dw
2πi γ (w − z0 )n+1
para n = 0, ±1, ±2, . . . e γ um caminho simples fechado, orientado positivamente,
contido em D e contendo z0 no seu interior.
92
Capítulo 6
∞ n
X z
Exemplo 6.12. Uma vez que e = z
para todo o z ∈ C, obtemos o desenvolvimento em
n=0
n!
série de Laurent
∞
1
X 1
e = z
n
n=0
z n!
sin(z)
Exemplo 6.13. Para determinarmos a série de Laurent de f (z) = de centro z0 = 0,
z2
expandimos sin(z) em série de Taylor:
∞ ∞
1 1 X (−1)n 2n+1 X (−1)n 2n−1
f (z) = 2 sin(z) = 2 · z = z
z z n=0 (2n + 1)! n=0
(2n + 1)!
1 z z3
= − + + ···
z 3! 5!
válida para 0 < |z| < ∞.
1
Exemplo 6.14. A função f (z) = é analítica em C \ {1, 2}. Podemos usar a
(z − 1)(z − 2)
série geométrica para expandir a função f em série de Laurent de centro z0 = 1 ou z0 = 2
do seguinte modo:
∞
1 1 −1 X
f (z) = = · = − (z − 1)n−1 ,
(z − 1)(z − 2) (z − 1) 1 − (z − 1) n=0
(i) |z| < 1, (ii) 1 < |z| < 2, (iii) |z| > 2.
No caso (i) temos que se |z| < 1 então também |z| < 2 e podemos escrever
∞ ∞ ∞
1 1 1 1 X 1 z n X n X 1
f (z) = − =− + = − + z = 1 − n+1 z n ,
z−2 z−1 2(1 − z/2) 1 − z n=0
2 2 n=0 n=0
2
que é a série de Taylor de f no disco |z| < 1, i.e. a série de Laurent não tem parte principal.
93
Capítulo 6
No caso (ii), temos que se 1 < |z| < 2 então |z/2| < 1 e |1/z| < 1, e podemos escrever
∞ ∞ n
1 1 1 1 X 1 z n 1 X 1
f (z) = − =− − = − −
z−2 z−1 2(1 − z/2) z(1 − 1/z) n=0 2 2 z n=0 z
∞ ∞
X 1 X 1
= − − zn.
n=1
z n n=0 2n+1
Finalmente, no caso (iii) se |z| > 2, então |2/z| < 1 e |1/z| < 1 e podemos escrever
∞ n ∞ n
1 1 1 1 X1 2 1X 1
f (z) = − = − = −
z−2 z−1 z(1 − 2/z) z(1 − 1/z) n=0 z z z n=0 z
∞
X 1 1
= n+1
−1 n
.
n=1
2 z
94
CAPÍTULO 7
RESÍDUOS
95
Capítulo 7
96
Capítulo 7
Definição 7.2. Seja f uma função analítica numa vizinhança de z0 . Dizemos que z0 é um
zero de ordem m de f se
f (z) = (z − z0 )m φ(z),
onde am = f (m) (z0 )/m! 6= 0. A série do membro direito da equação (7.1) é uma série de
Taylor de centro z0 que converge nos pontos em que a função f converge, pelo que define
uma função φ(z) analítica em z0 e tal que φ(z0 ) = am 6= 0. Reciprocamente, se f se escreve
na forma (7.1), então tem um zero de ordem m no ponto z0 pois a primeira derivada que
não se anula em z0 é a derivada de ordem m.
97
Capítulo 7
Exemplo 7.3. O ponto z = 0 é um zero de ordem 3 da função f (z) = z − sin(z) uma vez que
Portanto, existe uma função φ(z) analítica no ponto 0 com φ(0) 6= 0 tal que
Uma consequência simples da proposição anterior é o seguinte resultado que afirma que
os zeros de uma função analítica não-constante são isolados.
Cololário 7.3
Se f é uma função analítica tal que f (z0 ) = 0, então ou f é constantemente igual a
zero numa vizinhança de z0 ou existe uma coroa circular 0 < |z − z0 | < R onde f não
tem zeros.
∞
X
Demonstração. Consideremos a série de Taylor an (z − z0 )n de f de centro z0 , onde
n=0
an = f (z0 )/n!. Então, pelo Teorema de Taylor, esta série converge num disco de centro
(n)
Demonstração. A função h(z) = f (z) − g(z) é analítica em D e uma vez que f e g coin-
cidem em M , os zeros de h não são isolados. Pelo corolário anterior, concluímos que h é
constantemente nula em D, ou seja f (z) = g(z) para todo o z ∈ D.
98
Capítulo 7
pelo que f 6= g. Como f é uma função inteira, o Teorema da Identidade implica que g não
é analítica.
Vejamos outro exemplo da aplicação do Teorema da Identidade. Suponhamos que f é
uma função analítica no disco de centro na origem e raio 1 tal que f (1/n) = 0 para todo
o n ≥ 1. Então f coincide com a função nula no conjunto M = {1/n : n ≥ 1}. É fácil
de verificar que este conjunto não é discreto uma vez que o ponto z = 0 é um ponto de
acumulação de M . Segue-se do Teorema da Identidade que f = 0.
Voltamos agora a nossa atenção para as singularidades isoladas de uma função f . Sabe-
mos que se z0 é uma singularidade isolada de f , então a sua série de Laurent é
+∞ ∞
X 1 X
f (z) = a−n n
+ an (z − z0 )n (7.2)
n=1
(z − z0 ) n=0
para todo o z numa coroa circular 0 < |z − z0 | < R. Vamos classificar z0 numa de três
categorias.
Definição 7.3. Suponhamos que z0 é uma singularidade isolada da função f e seja (7.2) a
sua série de Laurent em 0 < |z − z0 | < R. Então:
2. Se a−m 6= 0 para certo inteiro positivo m e an = 0 para todo n < −m, dizemos que
z0 é um polo de ordem m de f . Quando m = 1 também dizemos que z0 é um polo
simples de f .
99
Capítulo 7
Res(f, z0 ) = 0.
Segue-se que, com a exceção do ponto z0 , a função f (z) é igual à função f˜(z), definida por
f (z) se z 6= z
0
˜
f (z) = ,
a0 se z = z0
que é analítica em z0 e cuja série de Taylor é a série no membro direito da equação (7.3),
válida no disco |z − z0 | < R. Ou seja, a única causa da singularidade é a função f (z)
não estar definida, ou ser definida de forma “irregular"no ponto z0 . Podemos então remo-
ver a singularidade definindo f em z0 por f (z0 ) = a0 = lim f (z). Notemos ainda que
z→z0
sendo f˜(z) analítica no ponto z0 , esta função é obviamente limitada numa vizinhança de z0 .
Estabelecemos assim o seguinte lema.
Lema 7.5
Se f tem uma singularidade removível no ponto z0 , então:
3. f (z) pode ser definida em z0 de forma a que a nova função seja analítica em z0 .
Demonstração. Suponhamos que f (z) não é analítica no ponto z0 . Então, z0 é uma singu-
laridade isolada de f e f pode ser representada pela série de Laurent
∞ ∞
X a−n X
f (z) = + an (z − z0 )n
n=1
(z − z0 )n n=0
100
Capítulo 7
para n = 1, 2, . . . Como f é limitada na coroa 0 < |z − z0 | < r, existe M > 0 tal que
|f (z)| < M
Exemplo 7.4. Uma vez que o ponto 0 é um zero simples da função sin(z), podemos escrever
sin(z) = zφ(z), com φ diferenciável em C e φ(0) 6= 0. Podemos então concluir que a função
sin(z) zφ(z)
f (z) = = = φ(z), (0 < |z| < +∞)
z z
tem uma singularidade removível no ponto 0. Definindo f (0) = 1 a função f torna-se inteira.
ez
Exemplo 7.6. O número 0 é um polo de ordem 2 de , pois
z2
∞
ez 1 X zn 1 1 1 z
2
= · = 2 + + + + ··· , para 0 < |z| < +∞.
z z n=0 n! z z 2! 3!
sin(z)
Exemplo 7.7. O número 0 não é um polo de , pois a parte principal da sua série de
z
Laurent em torno de z0 = 0
∞ ∞
sin(z) 1 X z 2n+1 X z 2n z2 z4
f (z) = = · (−1)n = (−1)n =1− + − ···
z z n=0 (2n + 1)! n=0 (2n + 1)! 3! 5!
(0 < |z| < +∞) tem todos os coeficientes nulos. Neste caso, 0 é uma singularidade removível
e definindo f (0) = 1 a função f torna-se inteira.
101
Capítulo 7
com g diferenciável em B(z0 , r) e tal que g(z0 ) = a−m 6= 0. A implicação recíproca é agora
imediata.
Cololário 7.8
Se f tem um polo de ordem m no ponto z0 , então
lim (z − z0 )` f (z) = +∞
z→z0
para todo o inteiro ` < m e a função (z − z0 )m f (z) tem uma singularidade removível
no ponto z0 . Em particular, lim f (z) = +∞.
z→z0
102
Capítulo 7
Cololário 7.9
Sejam g e h duas funções analíticas numa vizinhança de z0 tais que h tem um zero de
ordem m em z0 e g(z0 ) 6= 0. Então,
g(z)
f (z) =
h(z)
Demonstração. Basta notar que podemos escrever h(z) = (z − z0 )m φ(z), com φ analítica
numa vizinhança de z0 e φ(z0 ) 6= 0. Assim,
g(z)
g(z) g(z) φ(z)
f (z) = = m
= ,
h(z) (z − z0 ) φ(z) (z − z0 )m
g(z) g(z0 )
com analítica numa vizinhança de z0 e 6= 0.
φ(z) φ(z0 )
103
Capítulo 7
De forma alternativa, podemos calcular o resíduo num polo simples da seguinte forma:
Cololário 7.11
Sejam g e h funções analíticas numa vizinhança de z0 tais que h tem um zero simples
g(z)
em z0 e g(z0 ) 6= 0. Então, a função f (z) = tem um polo simples em z0 e
h(z)
g(z0 )
Res(f (z), z0 ) = .
h0 (z0 )
Teorema 7.12
Seja f uma função analítica num conjunto aberto A ⊆ C e seja z0 uma singularidade
isolada de f . Se f tem um polo de ordem m em z0 , então
1 dm−1
Res(f, z0 ) = lim m−1 (z − z0 )m f (z).
(m − 1)! 0 dz
z→z
104
Capítulo 7
105
Capítulo 7
Exemplo 7.12. A função e1/z tem uma singularidade essencial no ponto 0, pois
∞
1/z
X 1 1 1 1
e = n
= ··· + 3
+ 2
+ + 1.
n=0
z n! 3!z 2!z z
O próximo teorema mostra que perto de uma singularidade essencial, uma função assume
valores arbitrariamente próximos de qualquer número complexo.
Teorema 7.13: Teorema de Casorati-Weierstrass
Suponhamos que z0 é uma singularidade essencial de uma função f (z) e seja w0 um
número complexo. Então, para qualquer > 0, a desigualdade
Demonstração. A prova vai ser feita por contradição. Como z0 é uma singularidade isolada
de f , existe uma coroa circular 0 < |z − z0 | < δ onde f é analítica. Suponhamos que
a condição (7.6) não se verifica para qualquer ponto z. Então, |f (z) − w0 | ≥ quando
0 < |z − z0 | < δ e, portanto, a função
1
g(z) =
f (z) − w0
é analítica e limitada em 0 < |z − z0 | < δ. Pelo Teorema de Riemann (Lema 7.6), z0 é uma
singularidade removível de g(z). Estendendo a função g ao ponto z0 de forma adequada,
temos que g é analítica no interior do disco |z − z0 | < δ.
Se g(z0 ) 6= 0, a função f (z) pode ser escrita como
1
f (z) = + w0 (7.7)
g(z)
Mas isto significa que z0 é uma singularidade removível de f , não uma singularidade essen-
cial, e temos uma contradição.
Se g(z0 ) = 0, então z0 deve ser um zero de ordem finita m de g, pois g não é identicamente
0 em |z − z0 | < δ. Tendo em conta a equação (7.7), então f tem um polo de ordem m no
ponto z0 e mais uma vez chegamos a uma contradição.
106
Capítulo 7
Exemplo 7.13. O ponto z = 0 é uma singularidade isolada da função f (z) = e1/z . Vamos
analisar o limite o comportamento de f quando z → 0.
Para z = x ∈ R, x 6= 0, temos
pertence à circunferência de centro 0 e raio 1 e, portanto, o limite limy→0 e1/(iy) não existe.
Concluímos que nas proximidades da origem, a função f não é limitada nem tende para ∞.
Terminamos esta secção com um sumário das diferentes caracterizações que obtivemos
para os três tipos de singularidades isoladas de uma função.
Teorema 7.14
Suponhamos que z0 é uma singularidade isolada de f . Então:
3. z0 é uma singularidade essencial sse |f | não é limitada nem tende para infinito
quando z → z0 .
107
Capítulo 7
108
CAPÍTULO 8
MATERIAL EXTRA
A matéria que consta neste capítulo não faz parte do conteúdo programático de Análise
Matemática III, sendo portanto de leitura facultativa. A sua inclusão e discussão neste
texto justifica-se pela sua importância e utilidade na resolução de um grande número de
problemas.
109
Capítulo 8
Uma vez que a função integranda |f (z0 )| − f (z0 + reiθ ) é não-nula, este integral implica
que
|f (z0 )| = f (z0 + reiθ ) para 0 ≤ θ ≤ 2π.
110
Capítulo 8
z + 1/2 1 z + 1/2
|f (z)| = = = 1.
z/2 + z z̄ |z| 1/2 + z̄
Portanto, pelo Princípio do Módulo Máximo, temos que |f (z)| < 1 se |z| < 1.
f (z) = (z − z0 )m φ(z),
f 0 (z) m φ0 (z)
= + .
f (z) z − z0 φ(z)
Ou seja, f 0 (z)/f (z) tem um polo de ordem 1 com resíduo m no ponto z0 . Pelo Teorema dos
resíduos, Z 0
1 f (z)
dz = m,
2πi C f (z)
onde C é a fronteira da vizinhança D e m é a ordem do zero z0 de f .
Suponhamos agora que f (z) é analítica no interior e no traço dum caminho simples
e fechado C, sem zeros em C. Então, f (z) tem no máximo um número finito de zeros
no interior de C, digamos z1 , z2 , . . . , zn , de ordens m1 , m2 , . . . , mn . Neste caso, podemos
escrever
f (z) = (z − z1 )m1 (z − z2 )m2 · · · (z − zn )mn φ(z),
111
Capítulo 8
φ0 (z)
Z
dz = 0.
C φ(z)
A expressão
f 0 (z)
Z
1
dz
2πi C f (z)
pode ser vista como uma função de contagem do número de zeros de f (z) no interior de C,
onde um zero de ordem m é contado m vezes. Este argumento pode ser generalizado da
seguinte forma:
112
Capítulo 8
onde N é o número de zeros (cada zero é contado de acordo com a sua ordem) e P
é o número de polos (cada polo é contado de acordo com a sua ordem) de f (z) no
interior de C .
1 − 1/z 2
Z
dz.
C(0,2) 1 + 1/z
1 z2 + 1
A função f (z) = 1 + = tem um polo simples em z = 0 e dois zeros simples nos
z z
1
pontos z = i e z = −i. Uma vez que f 0 (z) = 1 − 2 , o Princípio do Argumento diz-nos que
z
f 0 (z) 1 − 1/z 2
Z Z
dz = dz = 2πi(2 − 1) = 2πi.
C(0,2) f (z) C(0,2) 1 + 1/z
113
Capítulo 8
imagens. Como a origem não pertence a f (C), é possível encontrar um ramo da função
logaritmo
log f (z) = ln |f (z)| + iargf (z)
tal que f (C) esteja contida no domínio de analiticidade do logaritmo. Assim,
Z 0 Z
f (z) d
dz = (log f (z)) dz = ln |f (z)| C + iargf (z) C .
C f (z) C dz
∆C argf (z) = φ1 − φ0 .
e, portanto,
1
∆C argf (z) = N − P,
2π
onde N é o número de zeros (cada zero é contado de acordo com a sua ordem) e P é o
número de polos (cada polo é contado de acordo com a sua ordem) de f (z) no interior de
C . Esta última fórmula justifica o nome do Princípio do Argumento.
114
Capítulo 8
para todo o z em C. Logo, f (z) e f (z) + g(z) são analíticas no traço e no interior de C e
não têm zeros em C. Segue-se que Pf = 0 e Pf +g = 0, onde Pf e Pf +g são os polos de f e
f + g no interior de C, respetivamente. Escrevendo
temos
(f + g)(z)0 = f 0 (z) (1 + g(z)/f (z)) + f (z) (1 + g(z)/f (z))0
(f + g)(z)0 f 0 (z)
Z Z 0
1 1 φ (z)
Nf +g − Nf = − dz = dz. (8.2)
2πi C (f + g)(z) f (z) 2πi C φ(z)
Como |g(z)/f (z)| < 1 em C, os valores de φ(z) estão dentro do disco |w − 1| < 1 para todo
o z em C. Como a origem não pertence ao disco |w − 1| < 1, temos
φ0 (z) d
= Log (φ(z))
φ(z) dz
O Teorema de Rouché pode ser útil para localizar regiões do plano onde uma função
analítica tem zeros.
Exemplo 8.4. Vamos usar o Teorema de Rouché para determinar o número de raízes do
polinómio
p(z) = z 4 − 4z 2 + 2
na coroa circular 1 < |z| < 3. Sejam C1 = C(0, 1) e C2 = C(0, 3). Sejam f (z) = z 4 − 4z 2 e
g(z) = 2. Temos p(z) = f (z) + g(z) e os zeros de f são z = 0 de ordem 2, z = 2 e z = −2.
Além disso, sobre C1 , temos
115
Capítulo 8
e segue-se que
|g(z)| |a0 | + |a1 | + · · · + |an−1 |
≤ <1
|f (z)| |an |R
se o número R > 1 também satisfizer
|a0 | + |a1 | + · · · + |an−1 |
R> . (8.3)
|an |
Portanto, temos |f (z)| > |g(z)| quando R > 1 satisfaz a desigualdade (8.3). O Teorema de
Rouché diz-nos que f (z) e f (z) + g(z) = p(z) têm o mesmo número de zeros no interior de
|z| < R. Concluímos assim que p(z) tem exatamente n zeros, contando multiplicidades no
interior do disco |z| < R.
116
BIBLIOGRAFIA
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Convergência pontual e uniforme.), Gradiva, Colecção Trajectos Ciência, 1997.
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Mathematics Publ., 2003.
[3] Glyn James Pearson, Advanced Modern Engineering Mathematics ( capítulo 4 Séries de
Fourier, secções 4.1, 4.2), Prentice Hall, Third edition, 2004.
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5 edição, 2006.
[5] James W. Brown e Ruel V. Churchill, Complex Variables and Applications, 8th edition.
McGraw-Hill Higher Education (2009).
117