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Universidade Federal Rural do Semi-árido

Centro de Ciências Exatas e Naturais


Professora: Maria Joseane F. G. Macêdo
Disciplina: Introdução às Funções de Várias
Variáveis - IFVV

Notas de aula de IFVV

Mossoró, novembro de 2023.


ii
Sumário

1 Revisão: os Espaços Rn iii


1.1 O Espaço Vetorial R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii
1.2 Norma de um Vetor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
1.3 Conjunto Aberto e Ponto de Acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vi

2 Função de uma Variável Real a Valores em Rn (Curvas) ix


2.1 Função de uma Variável Real a Valores em R2 . . . . . . . . . . . . . . . . ix
2.2 Função de uma Variável Real a Valores em R3 . . . . . . . . . . . . . . . . x
2.3 Operações com Funções de uma Variável Real a Valores em Rn . . . . . . . x
2.4 Limite e Continuidade de Funções de uma Variável Real a Valores em Rn . xii
2.5 Derivada de Funções de uma Variável Real a Valores em Rn . . . . . . . . xiii

3 Funções de Várias Variáveis Reais à Valores Reais xvii


3.1 Funções de Duas Variáveis Reais a Valores Reais . . . . . . . . . . . . . . . xvii
3.2 Alguns tipos de funções de duas variáveis reais a valores reais . . . . . . . xix

4 Limite e Continuidade xxi


4.1 Limite de uma Função de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxi
4.2 Continuidade de uma Função de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . xxiv

5 Derivadas de Funções de Várias Variáveis xxvii


5.1 Derivadas parciais de uma função de duas variáveis . . . . . . . . . . . . . xxvii
5.2 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxviii
5.3 Plano Tangente e Reta Normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxx
5.4 O Vetor Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxi
5.5 Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxi
5.5.1 Regra da Cadeia - Caso I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxi

iii
SUMÁRIO i

5.5.2 Regra da Cadeia - Caso II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxii


5.6 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxiii

6 Aplicações xxxv
6.1 Polinômio de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxv
6.2 Máximos e Mı́nimos de Funções de Várias Variáveis . . . . . . . . . . . . . xxxvi
6.2.1 Alguns conceitos importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxxvi
6.2.2 Condições necessárias e suficiente para que um ponto interior ao
domı́nio de f seja um ponto extremo de f . . . . . . . . . . . . . . xxxviii
6.2.3 Pontos extremos na fronteira de um conjunto: Teorema de Weierstrass xl
ii
Capı́tulo 1

Revisão: os Espaços Rn

O principal objetivo da disciplina Cálculo III é estudar os conceitos básicos de


limites e derivadas para funções de duas ou mais variáveis. Para isso, faz-se necessário
ter um conhecimento prévio sobre os espaços Rn . Vamos começar o estudo para o caso
em que n = 2, isto é, o espaço R2 . Após estarmos familiarizados com o R2 , focaremos no
espaço R3 para finalmente generalizar para o caso Rn .

1.1 O Espaço Vetorial R2


Precisamos introduzir no R2 os conceitos de norma e de conjunto aberto, os
quais generalizam os conceitos de módulo e de intervalo aberto em R. O espaço R2 é o
produto cartesiano de dois fatores iguais a R, isto é, R2 = R × R. Os pontos de R2 são os
pares ordenados (x, y) tais que x e y são números reais, como segue

R2 = {(x, y); x, y ∈ R}.

Para as interpretações geométricas e fı́sicas, veremos o par ordenado (x, y) como


⃗ , onde O é a origem do sistema ortogonal de coordenadas e
sendo um vetor no plano OP
P o ponto de coordenadas (x, y).
Vamos determinar para o conjunto R2 uma estrutura de espaço vetorial.

Definição 1.1 Sejam (x, y) e (s, t) dois elementos quaisquer do R2 e λ um número real
qualquer. Definimos:

(a) Soma de (x, y) com (s, t): (x, y) + (s, t) = (x + s, y + t) (soma).

(b) λ(x, y) = (λx, λy) (produto por escalar).

iii
iv CAPÍTULO 1. REVISÃO: OS ESPAÇOS Rn

(c) (x, y) − (s, t) = (x, y) + (−1)(s, t) (diferença).

(d) (x, y) = (s, t) ⇐⇒ x = s y = t (igualdade).

Exemplo 1.1 Efetue as seguintes operações com vetores dados:

(a) (2, 3) + (−1, 2) =

(b) (0, 1) - (2, 2) =


   
1 1 4 5
(c) 2 , −3 , =
2 3 3 2
Exemplo 1.2 Determine os valores de x e y que satisfazem (x + 1, y − 2) = (1, 4).

O R2 munido da soma e do produto por escalar ganha uma estrutura vetorial de


modo que satisfaz as oito propriedades de espaço vetorial.

Definição 1.2 O produto escalar dos vetores (a1 , b1 ) e (a2 , b2 ) é o número real dado por

(a1 , b1 ) · (a2 , b2 ) = a1 a2 + b1 b2 .

Por exemplo, o produto escalar dos vetores (2, −1) e (−1, 3) é dado por

(2, −1) · (−1, 3) = 2(−1) + 3(−1) = −2 − 3 = −5.

Exercı́cio 1.1 Calcule o produto escalar dos seguintes vetores:

(a) (2, 3) e (−1, 2);

(b) (0, 1) e (2, 2);


   
1 1 4 5
(c) , e , .
2 3 3 2
Agora vamos definir perpendicularismo (ou ortogonalismo) entre vetores do R2 .
Para isso, consideremos os vetores ⃗u = (a1 , b1 ) e ⃗v = (a2 , b2 ). A figura a seguir apresenta
um esboço desses dois vetores aplicados no ponto P = (x, y) do plano.
1.2. NORMA DE UM VETOR v

Note que A e B são extremidades de ⃗u e ⃗v , respectivamente. Daı́, temos que

⃗ = OP
OA ⃗ + ⃗u = (x, y) + (a1 , b1 ) = (x + a1 , y + b1 )

e
⃗ = OP
OB ⃗ + ⃗v = (x, y) + (a2 , b2 ) = (x + a2 , y + b2 ).

Logo, A = (x + a1 , y + b1 ) e B = (x + a2 , y + b2 ).
Aplicando a Lei dos Cossenos ao triângulo AP B segue,

¯ 2 = AP
AB ¯ 2 + P¯B 2 − 2AP
¯ · P¯Bcos(θ).
q
¯ = ¯ a21 + b21 e P¯B =
p
Além disso, como AB 2 2
(a2 − a1 ) + (b2 − b1 ) , AP =
q
a22 + b22 , temos que

a1 a2 + b 1 b 2
cos(θ) = p 2 p . (1.1)
a1 + b21 a22 + b22
Portanto os vetores ⃗u e ⃗v serão perpendiculares se, e somente se, o produto escalar
entre eles for nulo.

Definição 1.3 Dizemos que os vetores (a1 , b1 ) e (a2 , b2 ) são perpendiculares ou ortogo-
nais se (a1 , b1 ) · (a2 , b2 ) = 0.

1.2 Norma de um Vetor


Vejamos agora a norma de um vetor em R2 e algumas propriedades.

Definição 1.4 Sejam V um espaço vetorial, u, v ∈ V e λ ∈ R. Uma função || · || :


V → R é dita uma norma se:

1. ||u|| ≥ 0 e ||u|| = 0 se, e somente se, u = 0

2. ||λu|| = λ||u||

3. ||u + v|| ≤ ||u|| + ||v|| (desigualdade triangular)

A definição de norma dada é para o caso geral em Rn . Num espaço vetorial com produto

interno temos que ||u|| = u · u.
vi CAPÍTULO 1. REVISÃO: OS ESPAÇOS Rn
p
Exemplo 1.3 Para o caso R2 , temos que a função dada por ||(x, y)|| = x2 + y 2 é uma
norma. Denominada norma do vetor (x, y). Para verificar isso, basta mostrar que os
três itens vistos em 1.4 são satisfeitos.

Exemplo 1.4 Calcule a norma dos seguintes vetores em R2 :

(a) ||(1, 2)||

(b) ||(1/2, 2)||

(c) ||(0, 1)||

(d) ||(sen(x), cos(x))||

1.3 Conjunto Aberto e Ponto de Acumulação


Veremos nesta seção algumas definições necessárias para o estudo de limites de
funções de duas ou mais variáveis.

Definição 1.5 Sejam (x0 , y0 ) um ponto do R2 e r > 0 um número real. O conjunto dado
por
{(x, y) ∈ R2 ; ||(x, y) − (x0 , y0 )|| < r},

é chamado de bola aberta de centro (x0 , y0 ) e raio r.

Observemos que ||(x, y) − (x0 , y0 )|| < r se, e somente se, (x − x0 )2 + (y − y0 )2 < r.
No plano, a bola aberta de centro (x0 , y0 ) e raio r é o conjunto de todos os pontos
internos ao cı́rculo de centro (x0 , y0 ) e raio r.

Definição 1.6 Seja A um subconjunto não vazio de R2 e r > 0. Dizemos que (x0 , y0 ) ∈ A
é um ponto interior de A se existir uma bola aberta de centro (x0 , y0 ) contida em A.

Exemplo 1.5 Seja A = {(x, y) ∈ R2 ; x ≥ 0 e y ≥ 0}.

(a) Todo (x, y) com x > 0 e y > 0 é ponto interior de A.

(b) Todo (x, y) com x = 0 e y = 0 não é ponto interior de A.

Definição 1.7 Seja A um conjunto aberto não vazio de R2 . Dizemos que A é um con-
junto aberto se todo ponto de A for ponto interior.
1.3. CONJUNTO ABERTO E PONTO DE ACUMULAÇÃO vii

Por definição, o conjunto vazio é um conjunto aberto.

Definição 1.8 Sejam A um subconjunto de R2 e (a, b) ∈ R2 . Dizemos que (a, b) é um


ponto de acumulação de A se toda bola aberta de centro (a, b) contiver pelo menos um
ponto (x, y) ∈ A, com (x, y) ̸= (a, b).

Observação: (a, b) pode ou não pertencer a A. Em outras palavras, (a, b) é


ponto de acumulação de A se existem pontos de A, distintos de (a, b), tão próximos de
(a, b) quanto se queira.

Exemplo 1.6 Todo (x, y), com x ≥ 0 e y ≥ 0, é ponto de acumulação de A = {(x, y) ∈


−1
R2 ; x ≥ 0 e y ≥ 0}. Porém o ponto ( , 1) não é ponto de acumulação de A, pois existe
2
−1
uma bola aberta de centro ( , 1) que não contém ponto de A.
2
viii
Capı́tulo 2

Função de uma Variável Real a


Valores em Rn (Curvas)

O principal objetivo da disciplina Cálculo III é estudar curvas, as quais são funções
vetoriais de uma variável real a valores em Rn . A princı́pio estudaremos as funções
vetoriais de uma variável real a valores em R2 e, em seguida, estudaremos funções vetoriais
de uma variável real a valores em R3 . Vamos aprender a operar com tais funções, calcular
o seu limite e sua derivada.

2.1 Função de uma Variável Real a Valores em R2


Definição 2.1 Uma função de uma Variável Real a Valores em R2 é uma função F :
A → R2 , onde A é um subconjunto de R. Neste caso, F associa a cada real t ∈ A, um
único vetor F (t) ∈ R2 .

O conjunto A é chamado de domı́nio da função F e o conjunto ImF = {F (t) ∈


R2 ; t ∈ A} é a imagem ou trajetória de F . A imagem de F é o lugar geométrico, em R2 ,
descrito por F (t) quando t varia no domı́nio de F .

Exemplo 2.1 Seja F a função dada por F (t) = (t, 2t).

(a) Calcule F (0) e F (1).

(b) Desenhe a imagem de F .

Exemplo 2.2 Desenhe a imagem da função F dada por F (t) = (t, t2 ).

ix
xCAPÍTULO 2. FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn (CURVAS)

Exemplo 2.3 Seja F (t) = (cost, sent), com t ∈ [0, 2π]. Desenhe a imagem de F .

Exemplo 2.4 Seja F (t) = (e−t cost, e−t sent), com t ≥ 0. Desenhe a imagem de F .

2.2 Função de uma Variável Real a Valores em R3


Definição 2.2 Uma função de uma Variável Real a Valores em R3 é uma função F :
A → R3 , onde A é um subconjunto de R. Neste caso, F associa a cada real t ∈ A, um
único vetor F (t) ∈ R3 . A imagem de F é o lugar geométrico, em R3 , descrito por F (t)
quando t varia no domı́nio de F .

Exemplo 2.5 Desenhe a imagem da função F dada por F (t) = (t, t, t), t ≥ 0.

Exemplo 2.6 Desenhe a imagem da função F dada por F (t) = (cost, sent, 1), t ≥ 0.

Exemplo 2.7 Desenhe a imagem de F (t) = (cost, sent, bt), onde b > 0 é um número
real fixo.

Em exemplos práticos do dia a dia surgem funções de uma variável real a valores
em Rn , com n > 3. No entanto, nestes casos perdemos a visão geométrica.

Exemplo 2.8 A função dada por F (t) = (t, t2 , 1, t2 ), onde t ∈ R, é uma função real a
valores em R4 .

Exemplo 2.9 A função dada por F (t) = (cost, sent, t2 , t, t3 ), com t ∈ R, é uma função
real a valores em R5 .

2.3 Operações com Funções de uma Variável Real a


Valores em Rn
Definição 2.3 Seja F : A → Rn uma função de uma Variável Real a Valores em Rn ,
então existem, e são únicas, n funções a valores reais Fi : A → R, com i = 1, 2, · · · , n,
tais que
F (t) = (F1 (t), F2 (t), · · · , Fn (t)), ∀t ∈ A.

Tais funções são chamadas funções componentes de F. Para simplificar a notação, usa-
remos F = (F1 , F2 , · · · , Fn ).
2.3. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn xi

Exemplo 2.10 Se F (t) = (cost, sent, t), onde t ∈ R, então as componentes de F são as
funções dadas por F1 (t) = cost, F2 (t) = sent e F3 (t) = t.

Definição 2.4 Sejam F, G : A → Rn duas funções de uma Variável Real a Valores em


Rn , f : A → R uma função real e k uma constante. Definimos:

1. A soma de F e G é a função F + G : A → Rn dada por

(F + G)(t) = F (t) + G(t).

2. O produto de F pela constante k é a função k F : A → Rn dada por

(kF )(t) = kF (t).

3. O produto de F pela função escalar f é a função f · F : A → Rn dada por

(f · F )(t) = f (t) · F (t).

4. O produto escalar de F e G é a função F · G : A → R dada por

(F · G)(t) = F (t) · G(t) = F1 (t) · G1 (t) + F2 (t) · G2 (t) + · · · + Fn (t) · Gn (t),

onde F = (F1 , F2 , · · · , Fn ) e G = (G1 , G2 , · · · , Gn ).

5. Supondo n = 3, o produto vetorial de F e G é a função F ∧ G : A → R3 dada


pelo determinante a seguir
⃗i ⃗j ⃗k
(F ∧ G)(t) = F (t) ∧ G(t) = F1 (t) F2 (t) F3 (t) (2.1)
G1 (t) G2 (t) G3 (t)

Exemplo 2.11 Sejam as funções F⃗ , G


⃗ e f , definidas em R, e dadas por F⃗ (t) = (t, t2 , 2),

G(t) = (3, t, t) e f (t) = e−2t . Determine:

(a) A soma F e G;

(b) O produto de F pela constante 2;

(c) O produto de F pela função escalar f ;

(d) O produto escalar de F e G;

(e) O produto vetorial de F e G;

(f ) Determine 2F⃗ (t) = 3G(t).



xiiCAPÍTULO 2. FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn (CURVAS)

2.4 Limite e Continuidade de Funções de uma Variável


Real a Valores em Rn
Agora vamos estender o conceito de limite e continuidade, estudado na disciplina
de Cálculo I, para funções de uma Variável Real a Valores em Rn .

Definição 2.5 Seja F : A → Rn uma função de uma variável real a valores em Rn e t0


um ponto do domı́nio de F ou extremidade de um dos intervalos que compõem o domı́nio
de F . Dizemos que F (t) tende a L, onde L ∈ Rn , quando t tende a t0 , e escrevemos
lim F (t) = L se, e somente se, para todo ε > 0 dado, existir δ > 0 tal que, para todo
t→t0
t ∈ DF , 0 < |t − t0 | < δ =⇒ ∥F (t) − L∥ < ε.

Observação 2.1 ∥F (t) − L∥ < ε se, e somente se, F (t) ∈ Bε (L)

A figura a seguir ilustra geometricamente a definição de limite, para o caso em


que n = 2.

Teorema 2.1 Sejam F = (F1 , F2 , · · · , Fn ) uma função de uma variável real com valores
em Rn e L = (L1 , L2 , · · · , Ln ) ∈ Rn . Então

lim F (t) = Lse, e somente se, lim Fi (t) = Li , i = 1, 2, · · · , n.


t→t0 t→t0

Exemplo 2.12 Seja F⃗ (t) = (t2 + 1, t3 ). Calcule lim F⃗ (t), lim F⃗ (t) e lim F⃗ (t).
t→0 t→2 t→−1

Exemplo 2.13 Seja F⃗ (t) = (cost, sent, 1). Calcule lim F⃗ (t) e lim F⃗ (t).
t→0 t→π

sent ⃗
Exemplo 2.14 Seja F⃗ (t) = i + (t2 + 3) ⃗j. Calcule lim F⃗ (t).
t t→0

F⃗ (t + h) − F⃗ (t)
Exemplo 2.15 Seja F⃗ (t) = (cost, sent, t). Calcule lim .
t→0 h

Definição 2.6 Sejam F : A → Rn e t0 ∈ A. Definimos: F é contı́nua em t0 , se e


somente se, lim F (t) = F (t0 ).
t→t0
2.5. DERIVADA DE FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn xiii

Dizemos que F é contı́nua em B ⊂ A de F for contı́nua em todo t ∈ B, e que


F é contı́nua se for contı́nua em cada t do seu domı́nio. Além disso, do teorema anterior
podemos concluir que F será contı́nua em t0 se, e somente se, cada componente de F
também for contı́nua em t0 .
 
1
Exemplo 2.16 Calcule limt→0 F⃗ (t), onde F⃗ (t) = cost, sent, 2 . A função F⃗ é
t +1
contı́nua em t0 = 0? Justifique.
√ 
⃗ ⃗ t−1 2 t−1
Exemplo 2.17 Calcule limt→1 F (t), onde F (t) = ,t, . A função F⃗ é
t−1 t
contı́nua em t0 = 1? Justifique.

2.5 Derivada de Funções de uma Variável Real a Va-


lores em Rn
Nesta seção vamos aplicar o que aprendemos sobre derivada de funções de uma
variável real a valores reais, estudado na disciplina de Cálculo I, para funções de uma
variável real a valores em Rn . Sugerimos que você faça uma breve revisão sobre as regras
de derivação estudadas na disciplina de Cálculo I.

Definição 2.7 Sejam F : A → Rn e t0 ∈ A. Definimos a derivada de F em t0 por

dF F (t) − F (t0 )
(t0 ) = lim ,
dt t→t0 t − t0

caso o limite exista.

Se F admite derivada em t0 , então dizemos que F é derivável ou diferenciável em


t0 . Dizemos que F é derivável em B ⊂ DF se F for derivável em cada t ∈ B. Dizemos,
simplesmente, que F é derivável ou diferenciável se o for em cada ponto do seu domı́nio.

Teorema 2.2 Sejam F = (F1 , F2 , · · · , Fn ) uma função e t0 um ponto pertencente ao


domı́nio de F . Então, F é derivável em t0 se, e somente se, cada componente de F for
derivável em t0 . Neste caso, temos

F ′ (t0 ) = (F1′ (t0 ), F2′ (t0 ), · · · , Fn′ (t0 )).

2 dF⃗ dF⃗
Exemplo 2.18 Dada F⃗ = (sen3t, et , t), calcule (t) e (0).
dt dt
xivCAPÍTULO 2. FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn (CURVAS)

dF⃗ dF⃗
Exemplo 2.19 Dada F⃗ = (tg(t2 ), ln(t2 + 1), tcost), calcule (t) e (0).
dt dt

d⃗r d2⃗r
Exemplo 2.20 Seja ⃗r = t2⃗i + arctg(2t)⃗j + e−t⃗k, calcule (t) e 2 (t).
dt dt

Significado geométrico da derivada de uma curva num ponto t0 :


dF⃗
Sejam F : A → R2 uma curva e t0 ∈ A. Geometricamente, (t0 ) pode ser
dt
interpretado como um vetor tangente à trajetória de F no ponto F (t0 ).

dF⃗ dF⃗
Definição 2.8 Seja F : A → Rn derivável em t0 , com (t0 ) ̸= ⃗0. Dizemos que (t0 )
dt dt
é um vetor tangente à trajetória de F , em F (t0 ). A reta

dF⃗
X = F (t0 ) + λ (t0 ), λ ∈ R,
dt

denomina-se reta tangente à trajetória de F no ponto F (t0 ).

A reta tangente à trajetória de F no ponto F (t0 ) é a reta passando pelo ponto


dF⃗
F (t0 ) e paralela ao vetor tangente (t0 ).
dt

Exemplo 2.21 Seja F⃗ = (cost, sent), com t ∈ R, determine a equação da reta tangente
à trajetória de F no ponto F (π/4).

Exemplo 2.22 Seja F⃗ = (t, t, t2 ), com t ∈ R, determine a equação da reta tangente à


trajetória de F no ponto F (1).

Teorema 2.3 Sejam F⃗ , G


⃗ : A → Rn , f : A → R deriváveis em A. Então, f · F⃗ e F · G

também serão deriváveis em A e:

d df ⃗ dF⃗
(a) (f · F⃗ ) = ·F +f ·
dt dt dt
2.5. DERIVADA DE FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL REAL A VALORES EM Rn xv

d ⃗ ⃗ dF⃗ ⃗ ⃗ dG ⃗
(b) (F · G) = ·G+F ·
dt dt dt
(c) Além disso, se n = 3, então F⃗ ∧ G
⃗ também é derivável em A:

d ⃗ ⃗ dF⃗ ⃗ ⃗ dG ⃗
(F ∧ G) = ∧G+F ∧ .
dt dt dt

⃗ = (cost, sent, t), determine d (F⃗ · G)


Exemplo 2.23 Seja F⃗ = (t, t, t2 ) e G ⃗ e d (F⃗ ∧ G).

dt dt
xvi
Capı́tulo 3

Funções de Várias Variáveis Reais à


Valores Reais

A maioria das relações da natureza, sejam elas fı́sicas, econômicas, entres outras,
são interpretadas por funções duas ou mais variáveis.
Neste capı́tulo, nós daremos ênfase ao estudo das funções reais de duas variáveis
reais, e você não terá dificuldade em generalizar os resultados para funções de mais de duas
variáveis, já que não há diferenças importantes. Na verdade, o cálculo de várias variáveis
é na realidade o cálculo de uma variável aplicando para várias variáveis ao mesmo tempo.
Vejamos alguns exemplos de funções de várias variáveis. A função dada por
V = πr2 h calcula o volume de um cilindro circular reto a partir do seu raio e altura. A
função dada por f (x, y) = x2 + y 2 calcula a altura do paraboloide Z = x2 + y 2 acima do
ponto P (x, y) a partir das duas coordenadas de P . A temperatura T de seu ponto na
superfı́cie da Terra depende de sua latitude x e longitude y, representada por T = f (x, y).

3.1 Funções de Duas Variáveis Reais a Valores Reais

Definição 3.1 Uma função de duas variáveis reais a valores reais é uma função f : A →
R, onde A é um subconjunto de R2 , que associa a cada par (x, y) ∈ A um único número
real z = f (x, y).

f : A ⊂ R2 → R
(3.1)
(x, y) 7−→ z = f (x, y)

xvii
xviiiCAPÍTULO 3. FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS À VALORES REAIS

Observação 3.1 (1) O conjunto A é domı́nio de f e será indicado por Df ;

(2) O conjunto Im(f ) = {f (x, y) ∈ R; (x, y) ∈ Df } é a imagem de f .

(3) As palavras aplicação e transformação são sinônimas de função.

(4) Podemos também denotar z = f (x, y). Neste caso, x e y são as variáveis indepen-
dentes, ou variáveis de entrada da função, e z é variável dependente, ou variáveis
de saı́da.

(5) Por simplificação, deixamos, muitas vezes, de especificar o domı́nio, ficando implı́cito
que se trata do ”maior”subconjunto de R2 para o qual faz sentido a regra em questão.

Exemplo 3.1 Seja f a função de duas variáveis reais a valores reais dada por
x+y
f (x, y) = .
x−y

(a) Determine o domı́nio de f ;

(b) Calcule f (2, 3) e f (a + b, a − b).

Exemplo 3.2 Represente graficamente o domı́nio da função f dada por

√ p
f (x, y) = y−x + 1 − y.

Exemplo 3.3 Represente graficamente o domı́nio das seguintes funções:

(a) A função f dada por (x, y) 7→ Z, onde

Z = 5x2 y − 3x.

(b) A função ω = f (u, v) dada por

u2 + v 2 + ω 2 = 1, ω ≥ 0.

p
(c) A função Z = f (x, y) dada por Z = y − x2 .
3.2. ALGUNS TIPOS DE FUNÇÕES DE DUAS VARIÁVEIS REAIS A VALORES REAISxix

3.2 Alguns tipos de funções de duas variáveis reais a


valores reais
Vejamos agora alguns tipos de funções de duas variáveis.

Função Polinomial

Uma função polinomial de duas variáveis reais a valores reais é uma função f :
R2 → R dada por
X
f (x, y) = amn xm y n , (3.2)
m+n≤p

onde p é um número natural fixo e os amn são números (constantes) reais dados. A soma
é estendida a todas as soluções (m, n), com m e n naturais, da inequação m + n ≤ p.
1 √
Exemplo 3.4 (a) f (x, y) = 3x3 y 2 − xy + 2 é uma função polinomial;
3
(b) f (x, y) = ax + by + c, onde a, b, c são reais dados, também é uma função polinomial
(função afim). Por exemplo, f (x, y) = x + y + 1

Função Linear

Toda função f : R2 → R dada por

f (x, y) = ax + by, (3.3)

onde a e b são reais dados, denomina-se função Linear. Toda função linear é uma função
afim.

Função Racional

Toda função f : R2 → R dada por


p(x, y)
f (x, y) = , (3.4)
q(x, y)
onde p e q são funções polinomiais, denomina-se função racional. O domı́nio de f é o
conjunto Df = {(x, y) ∈ R2 ; q(x, y) ̸= 0}.
x+y
Exemplo 3.5 (a) f (x, y) = é uma função racional com domı́nio dado por Df =
x−y
{x, y ∈ R2 ; x ̸= y}
x2 − 3xy + 1
(b) g(x, y) = também é uma função racional, cujo domı́nio é todo o con-
x2 y 2 + 1
junto R2 .
xx CAPÍTULO 3. FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS À VALORES REAIS

Função homogênea

Uma função f : A → R, A ⊂ R2 , é dita homogênea de grau λ se

f (tx, ty) = tλ f (x, y), (3.5)

∀ t > 0 e para todo (x, y) ∈ A tais que (tx, ty) ∈ A.

Exemplo 3.6 Verifique que:

(a) f (x, y) = 3x2 + 5xy + y 2 é homogênea de grau 2.


xex/y
(b) f (x, y) = é homogênea de grau -1.
x2 + y 2
Capı́tulo 4

Limite e Continuidade

4.1 Limite de uma Função de Duas Variáveis


Veremos aqui, praticamente, uma representação do estudo de limite de funções
de uma variável real. Ou seja, os resultados estudados para uma única variável continuam
válidos. Algumas definições necessárias para o bom entendimento podem ser encontradas
no Capı́tulo 2 deste material.

Definição 4.1 Sejam f : A ⊂ R2 uma função, (x0 , y0 ) um ponto de acumulação de A e


L um número real. Definimos

 P ara todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, para todo (x, y) ∈ D ,
f
lim f (x, y) = L ⇔
(x,y)→(x0 ,y0 )  0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ ⇒ |f (x, y) − L| < ϵ
(4.1)

Observação 4.1 Sempre que falamos que f tem limite em (x0 , y0 ), fica implı́cito que
(x0 , y0 ) é ponto de acumulação de Df .

Exemplo 4.1 Se f (x, y) = K é uma função constante, então, para todo (x0 , y0 ) em R2 ,

lim K = K.
(x,y)→(x0 ,y0 )

xxi
xxii CAPÍTULO 4. LIMITE E CONTINUIDADE

Note que continua sendo válida a propriedade que limite de uma constante é a própria
constante, como visto para funções de uma variável.
Dem.: Primeiramente observemos que

|f (x, y) − K| = |K − K| = 0.

Sendo assim, temos que a definção de limite é satisfeita. Isto é, ∀ ε > 0 e tomando-se
um δ > 0 qualquer, temos que

0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ ⇒ |f (x, y) − K| < ε.

Logo,

lim f (x, y) = lim K = K.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 4.2 Seja f a função de duas variáveis dada por f (x, y) = x, ∀ (xO , y0 ) ϵ R2 .
Usando a definição de limite, mostre que lim f (x, y) = lim x = x0 .
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Agora que estamos um pouco familiarizados com a definição de limite, vejamos


as propriedades básicas do cálculo de limites para funções de duas variáveis.

Teorema 4.1 (Propriedades dos Limites de Funções de Duas Variáveis)


As regras a seguir são verdadeiras se L, M e K são reais e existem os limites
lim f (x, y) = L e lim g(x, y) = M.
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(1) Regra da Soma: lim [f (x, y) + g(x, y)] = L + M .


(x,y)→(x0 ,y0 )

(2) Regra da Diferença: lim [f (x, y) − g(x, y)] = L − M .


(x,y)→(x0 ,y0 )

(3) Regra do Produto: lim [f (x, y) · g(x, y)] = LM .


(x,y)→(x0 ,y0 )

(4) Regra da Multiplicação por Constante: lim Kf (x, y) = KL, ∀ K constante.


(x,y)→(x0 ,y0 )

f (x, y) L
(5) Regra do Quociente: lim = se M ̸= 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) g(x, y) M
m m
(6) Regra da Potência: Se m e n forem inteiros, então lim [f (x, y)] n = L n ,
(x,y)→(x0 ,y0 )
m
desde que L n seja real.

(7) Teorema do Confronto: Se f (x, y) ≤ g(x, y) ≤ h(x, y) para


0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < r∥ e se lim f (x, y) = L = lim h(x, y),
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
então lim g(x, y) = L.
(x,y)→(x0 ,y0 )
4.1. LIMITE DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS xxiii

(8) Consequência do Confronto: Se lim f (x, y) = 0 e se |g(x, y)| ≤ M (g é


(x,y)→(x0 ,y0 )
limitada) para 0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < r, onde r > 0 e M > 0 são reais fixos,
então

lim f (x, y)g(x, y) = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 )

(9) lim f (x, y) = 0 ⇔ lim |f (x, y)| = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(10) lim f (x, y) = L ⇔ lim [f (x, y) − L] = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(11) lim f (x, y) = L ⇔ lim f (x0 + h, y0 + K) = L.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (h,K)→(0,0)

(12) Conversão do sinal: Se lim f (x, y) = L, L > 0, então existe δ > 0, tal que
(x,y)→(x0 ,y0 )
∀ (x, y) ∈ Df , 0 < ∥(x, y) (x0 , y0 )∥ < δ ⇒ f (x, y) > 0.

Exemplo 4.3 Calcule, caso exista, os seguintes limites:

x − xy + 3
(a) lim
(x,y)→(0,1) x2 y + 5xy − y 3
p
(b) lim x2 y 2
(x,y)→(3,−4)

x2 − xy
(c) lim √ √
(x,y)→(0,0) x− y

x3
(d) lim
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Proposição 4.2 Suponha que lim f (x, y) = L. Seja γ uma curva em R2 , conti-
(x,y)→(x0 ,y0 )
nua em to , com γ(t0 ) = (x0 , y0 ) e, para t ̸= t0 , γ(t) ̸= (x0 , y0 ) com γ(t) ϵ Df . Então,

lim f (γ(t)) = L.
(t)→(t0 )

Dem.: Por hipótese,


lim f (x, y) = L ⇔ ∀ ε > 0 dado, ∃ δ1 > 0 tal que, para todo (x, y) ∈ Df ,
(x,y)→(x0 ,y0 )

0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ1 ⇒ |f (x, y) − L| < ε. (∗1 )

Além disso, por γ ser continua em t0 , temos que para todo ε > 0 ∃ δ > 0 tal
que

|(t − t0 )| < δ ⇒ |γ(t) − γ(t0 )| < ε. (∗2 )


xxiv CAPÍTULO 4. LIMITE E CONTINUIDADE

Em particular, (∗2 ) vale para ε = δ1 . E como γ(t) ̸= (x0 , y0 ), ∀ t ̸= t0 , temos

0 < |(t − t0 )| < δ ⇒ ∥γ(t) − (x0 , y0 )∥ < δ1 . (∗3 )

Logo, de (∗1 ) e (∗3 ), temos

(∗3 ) (∗1 )
0 < |(t − t0 )| < δ ⇒ ∥γ(t) − (x0 , y0 )∥ < δ1 ⇒ |f (γ(t)) − L| < ε.

Donde segue,
lim f (γ(t)) = L.■
t→t0

Corolário 4.3 Sejam γ1 e γ2 duas curvas nas condições da proposição anterior, tais que,

lim f (γ1 (t)) = L1 e lim f (γ2 (t)) = L2 , (4.2)


t→t0 t→t0

com L1 ̸= L2 , então lim f (x, y) não existe. Além disso, tal limite não existe se
(x,y)→(x0 ,y0 )
um dos limites em 4.2 não existir.
Dem.: De fato, se lim f (γ1 (t)) = L1 = lim f (x, y) e lim f (γ2 (t)) = L2 =
(t)→(t0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) (t)→(t0 )
lim f (x, y) (ver proposição anterior) então L2 = lim f (x, y) = L1 . O que
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
é um absurdo, pois L1 ̸= L2 .■

A proposição e o corolário, anteriores, resultam no seguinte teste:

Teste dos dois caminhos para não-existência de um limite:

Se f (x, y) tem limites diferentes ao longo de dois caminhos distintos quando (x, y)
se aproxima de (x0 , y0 ), então lim f (x, y) não existe.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 4.4 Calcule, caso existam, os seguintes limites:

2x2 y 2

(a) lim . Caminho: y = Kx
(x,y)→(0,0) x4 + y 2

x2
 
1
(b) lim . γ1 (t) = (0, t) f (γ1 ) → 0 ̸= γ2 (t) = (t, t) f (γ2 ) →
(x,y)→(0,0) x2 + y 2 2

4.2 Continuidade de uma Função de Duas Variáveis


A definição de continuidade para funções de duas variáveis é inicialmente análoga
a de funções de uma única variável.
4.2. CONTINUIDADE DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS xxv

Definição 4.2 (Continuidade) Uma função f (x, y) é uma contı́nua no ponto (x0 , y0 ),
com (x0 , y0 ) sendo ponto de acumulação de Df , se

(i) f for definida em (x0 , y0 );

(ii) lim f (x, y) existe;


(x,y)→(x0 ,y0 )

(iii) lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).


(x,y)→(x0 ,y0 )

Uma função f é dita contı́nua quando é contı́nua em todos os pontos de seu domı́nio.

Observação 4.2 Como ocorre na definição de limite, a definição de continuidade aplica-


se tanto a pontos de fronteira como a pontos interiores do domı́nio de f . A única exigência
é que o ponto (x, y) permaneça no domı́nio todo tempo.

Exemplo 4.5 (1) A função constante f (x, y) = K é contı́nua.

(2) A função f (x, y) = x é contı́nua.

(3) A função  2 2
 x − y , se (x, y) ̸= (0, 0)

f (x, y) = x2 + y 2 (4.3)
0, se (x, y) = (0, 0)

é contı́nua em (0, 0)?

(4) Mostre que 


2xy
, (x, y) ̸= (0, 0)


f (x, y) = x2 + y2 (4.4)
0, (x, y) = (0, 0)

é contı́nua em todo ponto, exceto na origem.

Teorema 4.4 (A composta de funções contı́nuas também é contı́nua)


Sejam f : A ⊂ R2 → R e g : B ⊂ R → R duas funções tais que Im(f ) ⊂ Dg .
Se f for contı́nua em (x0 , y0 ) e g contı́nua em f (x0 , y0 ), então a composta h(x, y) =
g(f (x, y)) também é contı́nua em (x0 , y0 ).
Dem.: a demonstração será omitida.

Observação 4.3 Como consequência deste teorema, segue que se g for contı́nua, então
a função h dada por h(x, y) = g(x) também será contı́nua. De fato, sendo f (x, y) = x,
teremos h(x, y) = g(f (x, y)) com g e f contı́nuas.
xxvi CAPÍTULO 4. LIMITE E CONTINUIDADE

Exemplo 4.6 (1) h(x, y) = x2 é contı́nua em R2 , pois g(x) = x2 é contı́nua em R.

(2) sendo f (x, y) contı́nua, as compostas sen(f (x, y)), cos(f (x, y)), [f (x, y)]2 , etc, também
são contı́nuas.

Observação 4.4 Sejam f (x, y) e g(x, y) funções contı́nuas em (x0 , y0 ) eK uma cons-
tante. Então, segue das propriedades de limites que f + g, Kf e f g também são contı́nuas
f
em (x0 , y0 ). Além disso, se g(x0 , y0 ) ̸= 0 então também será contı́nua em (x0 , y0 ).
g

Exemplo 4.7 Determine o conjunto dos pontos de continuidade da função f dada por

x3
, (x, y) ̸= (0, 0)


f (x, y) = x2 + y 2
0, (x, y) = (0, 0).

Observação 4.5 Sejam agora, f : A ⊂ R2 → R, g, h : B ⊂ R2 → R três funções


tais que (g(x, y), h(x, y)) ∈ A, para todo (x, y) ∈ B. Então se g e h forem contı́nuas em
(x0 , y0 ) e f contı́nua em (g(x0 , y0 ), h(x0 , y0 )) então a composta f (g(x, y), h(x, y)) também
é contı́nua em (x0 , y0 ).
Capı́tulo 5

Derivadas de Funções de Várias


Variáveis

Ao trabalhar com funções de várias variáveis nos deparamentos com o conceito


de derivada parcial. O qual ocorre quando derivamos a função com relação a uma de
suas variáveis independentes, enquanto fixamos as demais variáveis independentes desta
função. Veremos neste capı́tulo, um resumo sobre as derivadas parciais. Para mais deta-
lhes, veja os livros que estão na bibliografia básica deste curso.

5.1 Derivadas parciais de uma função de duas variáveis

Seja z = f (x, y) uma função de duas variáveis reais a valores reais.

Definição 5.1 Definimos a derivada parcial de f em relação a x no ponto (x0 , y0 ),


como sendo o limite

∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim , (5.1)
∂x h→0 h

caso exista.

Definição 5.2 Definimos a derivada parcial de f em relação a y no ponto (x0 , y0 ),


como sendo o limite

∂f f (x0 , y0 + h) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim , (5.2)
∂y h→0 h

caso exista.

xxvii
xxviii CAPÍTULO 5. DERIVADAS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

Para funções de três variáveis w = f (x, y, z) a definição da derivada parcial de f


em relação a x, no ponto (x0 , y0 , z0 ), pode ser definida como.

Definição 5.3 Definimos a derivada parcial de f em relação a x no ponto


(x0 , y0 , z0 ), como sendo o limite
∂f f (x0 + h, y0 , z0 ) − f (x0 , y0 , z0 )
(x0 , y0 , z0 ) = lim , (5.3)
∂x h→0 h
caso exista.

De modo análogo calculam-se as derivadas parciais nas variáveis y e z.


∂f
Para calcular interpretamos y como constante e derivamos a função f em
∂x
∂f
relação a variável x. De maneira análoga, para calcular interpretamos x como cons-
∂y
tante e derivamos a função f em relação a variável y. No caso de uma função de três
variáveis dada por f (x, y, z) procedemos da mesma forma. Por exemplo, para calcular
∂f
interpretamos x e y como constantes e derivamos a função f em relação a variável z.
∂z
Todas as propriedades de derivação estudadas para funções de uma variável continuam
válidas para funções de duas ou mais variáveis.

∂f ∂f
Exemplo 5.1 Determine as derivas parciais e da função dada por f (x, y) =
∂x ∂y
6x2 + 5xy.

Exemplo 5.2 Determine as derivas parciais de f (x, y) = x2 + 3xy + y no ponto (−1, 1).

∂f ∂f
Exemplo 5.3 Determine as derivas parciais e das funções dadas por f (x, y) =
∂x ∂y
x3 + y
e g(x, y) = ysen(xy).
x2 + y 4

5.2 Diferenciabilidade
Nesta seção vamos generalizar o conceito de diferenciabilidade de uma função
de uma variável para funções de duas variáveis.

Teorema 5.1 Sejam f (x, y) definida no aberto A ⊂ R2 e (x0 , y0 ) um ponto de A. Tem-se


que f é diferenciável em (x0 , y0 ) se, e somente se:

(a) f admite derivadas parciais em (x0 , y0 )


E(h, k)
(b) lim ,
(h,k)→(0,0) ∥E(h, k)∥
5.2. DIFERENCIABILIDADE xxix

∂f ∂f
onde E(h, k) = f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )h − (x0 , y0 )k.
∂x ∂y

O próximo Teorema nos diz que diferenciabilidade implica em continuidade.

Teorema 5.2 Se f for diferenciável em (x0 , y0 ), então f será contı́nua em (x0 , y0 ).

Observação 5.1 Vejamos algumas observações sobre diferenciabilidade:

1. Se pelo menos uma das derivadas parciais de f não existir em (x0 , y0 ), então f não
será diferenciável em (x0 , y0 ).

2. Se ambas as derivadas existirem, mas se o limite no Teorema 5.1 for diferente de


zero, então f não será diferenciável em (x0 , y0 ).

3. Do Teorema 5.1 podemos concluir que se f não for contı́nua em (x0 , y0 ), então f
não será diferenciável em (x0 , y0 ).

4. Dizemos que f é diferenciável em B ⊂ Df se f for diferenciável em todo ponto


(x, y) ∈ B. Dizemos, apenas, que f é diferenciável se f for diferenciável em todo
ponto do seu domı́nio.

Exemplo 5.4 Prove que f (x, y) = x2 y é uma função diferenciável.

Exemplo 5.5 A função



2xy 2
se (x, y) ̸= (0, 0)


f (x, y) = x2 + y 4
0 se (x, y) = (0, 0).

é uma função diferenciável em (0, 0)? Justifique sua resposta.

Exemplo 5.6 A função



x3
se (x, y) ̸= (0, 0)


f (x, y) = x2 + y 2
0 se (x, y) = (0, 0).

é uma função diferenciável em (0, 0)? Justifique sua resposta.

Vejamos agora uma condição suficiente para a diferenciabilidade.

Teorema 5.3 Sem f : A ⊂ R2 → R, onde A é um conjunto aberto, e (x0 , y0 ) ∈ A. Se as


∂f ∂f
derivadas parciais e existirem em A e forem contı́nuas no ponto (x0 , y0 ), então f
∂x ∂y
será diferenciável neste ponto.
xxx CAPÍTULO 5. DERIVADAS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

O teorema anterior garante que se as derivadas parciais existirem e forem contı́nuas,


então a função é diferenciável. No entanto, esta é uma condição suficiente mas não é
necessária uma vez que existem funções com derivadas parciais não contı́nuas, em deter-
minado ponto, mas que são diferenciáveis neste ponto.

Exemplo 5.7 Verifique se a função f (x, y) = sen(x2 + y 2 ) é diferenciável em R2 .

Exemplo 5.8 Seja


  
 (x2 + y 2 )sen 1
se (x, y) ̸= (0, 0)

f (x, y) = x + y2
2

 0 se (x, y) = (0, 0).
∂f ∂f
1. Determine e ;
∂x ∂y
∂f ∂f
2. Mostre que e não são contı́nuas em (0, 0);
∂x ∂y
3. Prove que f é diferenciável em (0, 0);

4. Você pode concluir que f é uma função diferenciável? Justifique.

Exemplo 5.9 Verifique que



x4
se (x, y) ̸= (0, 0)


f (x, y) = x2 + y 2
0 se (x, y) = (0, 0)

é uma função diferenciável.

5.3 Plano Tangente e Reta Normal


Definição 5.4 Seja f diferenciável no ponto (x0 , y0 ). O plano
∂f ∂f
z − f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ),
∂x ∂y
denomina-se plano tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

A reta que passa pelo ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e cuja equação é dada por

 
∂f ∂f
(x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + λ (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1
∂x ∂y
denomina-se reta normal ao gráfico de f neste ponto.

Exemplo 5.10 Seja f (x, y) = 3x2 y − x, determine as equações do plano tangente e da


reta normal no ponto (1, 2, f (1, 2)).
5.4. O VETOR GRADIENTE xxxi

5.4 O Vetor Gradiente


Definição 5.5 Seja z = f (x, y) uma função que admite derivadas parciais no ponto
(x0 , y0 ). O vetor  
∂f ∂f
▽f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 )
∂x ∂y
denomina-se vetor gradiente de f no ponto (x0 , y0 ).

Exemplo 5.11 Seja f (x, y) = x2 + y 2 , calcule ▽f (1, 1) e represente-o geometricamente.

5.5 Regra da Cadeia


Agora vamos estudar como utilizar a regra da cadeia para o caso de funções de
várias variáveis.

5.5.1 Regra da Cadeia - Caso I

Considere a função composta

f ◦g : R→R
(5.4)
t 7−→ z = z(t),
onde z(t) = (f ◦ g)(t) = f (x(t), y(t)), como na figura a seguir.

Teorema 5.4 (Regra da Cadeia Caso I) Sejam A e B conjuntos abertos em R2 e R,


respectivamente. Sejam z = f (x, y) uma função que tem derivadas parciais de pri-
meira ordem contı́nuas em A, x = x(t) e y = y(t) funções diferenciáveis em B tais
que (x(t), y(t)) ∈ A, ∀ t ∈ B. Considere a função composta

h(t) = f (x(t), y(t)), t ∈ B.

dh
Então, essa função composta é diferenciável para todo t ∈ B e é dada por
dt
xxxii CAPÍTULO 5. DERIVADAS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

dh ∂f dx ∂f dy
= + .
dt ∂x dt ∂y dt
df
Exemplo 5.12 Calcule para as seguintes funções:
dt
1. f (x, y) = xy + x2 , onde x(t) = t + 1 e y(t) = t + 4.
2
2. f (x, y) = x2 y, onde x(t) = et e y(t) = 2t + 1.

3. f (x, y) = x2 y + ln(xy 2 ), onde x(t) = t2 e y(t) = t.

5.5.2 Regra da Cadeia - Caso II

Considere a função composta

f ◦ g : R2 → R2
(5.5)
(x, y) 7−→ z = z(x, y),
onde z(x, y) = (f ◦ g)(x, y) = f (u(x, y), v(x, y)), como na figura a seguir.

Teorema 5.5 (Regra da Cadeia Caso II) Sejam A e B conjuntos abertos em R2 e sejam
z = f (u, v) uma função que tem derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas em A,
u = u(x, y) e v = v(x, y) funções diferenciáveis em B tais que (u(x, y), v(x, y)) ∈ A,
∀ (x, y) ∈ B. Considere a função composta

h(x, y) = f (u(x, y), v(x, y)), (x, y) ∈ B.

Então, essa função composta é diferenciável para todo (x, y) ∈ B e tem as seguintes
derivadas parciais:

∂h ∂f ∂u ∂f ∂v
= +
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x
e
∂h ∂f ∂u ∂f ∂v
= + .
∂y ∂u ∂y ∂v ∂y
5.6. DERIVADA DIRECIONAL xxxiii

Exemplo 5.13 Determine as derivadas parciais das seguintes funções:

1. f (u, v) = u2 − v + 4, onde u(x, y) = x + y e v(x, y) = x2 y − 1.

2. f (x, y) = x2 y − x2 + y 2 , onde x = rcos(θ) e y = rsen(θ).

3. f (x, y) = x2 y + ln(xy 2 ), onde x(t) = t2 e y(t) = t.

5.6 Derivada Direcional


Inserir...

5.7 Derivadas Parciais de Ordem Superior


Dada uma função z = f (x, y), podemos escrever as derivadas parciais de segunda
ordem de z a partir das derivadas parciais de primeira ordem, como segue.

∂ 2f
 
∂ ∂f
2
= ,
∂x ∂x ∂x

∂ 2f
 
∂ ∂f
= ,
∂x∂y ∂x ∂y

∂ 2f
 
∂ ∂f
2
= ,
∂y ∂y ∂y

∂ 2f
 
∂ ∂f
= .
∂y∂x ∂y ∂x
De maneira análoga temos as derivadas parciais de terceira ordem,

∂ 3f ∂ 2f
 

3
=
∂x ∂x ∂x2
e
∂ 3f ∂ 2f
    
∂ ∂ ∂ ∂f
= = ,
∂x∂y∂x ∂x ∂y∂x ∂x ∂y ∂x
e assim por diante.

Exemplo 5.14 Dada a função f (x, y) = 4x5 y 4 − 6x2 y + 3, calcule todas as derivadas
parciais de segunda ordem de f .
xxxiv CAPÍTULO 5. DERIVADAS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS

∂ 2f ∂ 2f
Observação 5.2 Nem sempre a igualdade = se verifica. O Teorema de
∂x∂y ∂y∂x
Schwarz afirma que tal igualdade ocorre apenas quando a função f é de classe C 2 no seu
domı́nio.
Capı́tulo 6

Aplicações

Neste capı́tulo veremos algumas aplicações das derivadas parciais para funções de
várias variáveis. As demonstrações serão omitidas.

6.1 Polinômio de Taylor


Definição 6.1 O polinômio

∂f ∂f
P1 (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y

denomina-se polinômio de Taylor de ordem 1 de f em torno de (x0 , y0 ).

Observe que o gráfico de P1 (x, y) é o plano tangente ao gráfico de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Para essa aproximação precisamos que a função f seja de classe C 2 . O erro que se comete
na aproximação de f por P1 é conhecido como erro na forma de Lagrange e é dado por

1 ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
 
2 2
E1 (x, y) = (x, y)(x − x0 ) + 2 (x, y)(x − x0 )(y − y0 ) + 2 (x, y)(y − y0 ) .
2 ∂x2 ∂x∂y ∂y

Exemplo 6.1 Dada a função


 f (x,
 y) = ln(x + y), determine o polinômio de Taylor de
1 1
ordem 1 de f em torno de , .
2 2

Definição 6.2 O polinômio

∂f ∂f
P2 (x, y) = f (x0 , y0 ) +(x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) +
∂x ∂y
1 ∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f
 
2 2
(x, y)(x − x0 ) + 2 (x, y)(x − x0 )(y − y0 ) + 2 (x, y)(y − y0 )
2 ∂x2 ∂x∂y ∂y

denomina-se polinômio de Taylor de ordem 2 de f em torno de (x0 , y0 ).

xxxv
xxxvi CAPÍTULO 6. APLICAÇÕES

Omitiremos aqui o erro cometido com tal aproximação, e neste caso precisamos
que a função f seja de classe C 3 . De uma maneira geral, a fórmula de Taylor fornece apro-
ximações polinomiais de funções de duas variáveis. Os três primeiros termos do polinômio
fornecem a linearização da função. Para melhorar a linearização são acrescentados termos
de ordem maior.

Exemplo 6.2 Dada a função f (x, y) = xsen(y), determine o polinômio de Taylor de


ordem 2 de f em torno de (0, 0).

6.2 Máximos e Mı́nimos de Funções de Várias Variáveis


Uma aplicação importante do Cálculo Diferencial de Várias Variáveis é encontrar
os valores máximos e mı́nimos de funções de várias variáveis e saber onde eles ocorrem.
O valor máximo ou mı́nimo de uma função de duas variáveis pode ocorrer na fronteira ou
no interior de uma região do domı́nio da função.

6.2.1 Alguns conceitos importantes

Definição 6.3 Seja f (x, y) uma função de duas variáveis a valores reais e (x0 , y0 ) ∈ A ⊂
Df . Dizemos que (x0 , y0 ) é um ponto de máximo de f em A se,

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ), ∀ (x, y) ∈ A.

Sendo (x0 , y0 ) um ponto de máximo de f em A, o número f (x0 , y0 ) é chamado


de valor máximo de f em A.

Definição 6.4 Dizemos que (x0 , y0 ) ∈ Df é um ponto de máximo global ou absoluto


de f se,
f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ), ∀ (x, y) ∈ Df .

Neste caso, o número f (x0 , y0 ) é chamado de valor máximo de f ou valor máximo


global de f .

Definição 6.5 Dizemos que (x0 , y0 ) ∈ Df é um ponto de máximo local de f se existir


uma bola aberta B de centro em (x0 , y0 ) tal que,

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ), ∀ (x, y) ∈ B ∩ Df .


6.2. MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS xxxvii

De maneira análoga definimos ponto de mı́nimo de f em A ⊂ Df , ponto de


mı́nimo global de f e ponto de mı́nimo local. Os pontos de máximo e mı́nimo de
uma função f denominam-se extremos de f .
Na figura a seguir, podemos verificar que P1 e P2 são pontos em que f assume
valor mı́nimo no interior de uma região A ⊂ Df , enquanto que no ponto P3 a função f
assume valor máximo na fronteira de A ⊂ Df .

Exemplo 6.3 Na função f (x, y) = 4 − x2 − y 2 , (0, 0) é um ponto de máximo absoluto ou


máximo global de f . Podemos visualizar facilmente no gráfico desta função.

1
Exemplo 6.4 O gráfico da função z = sen2 (x)+ y 2 pode ser visualizado a seguir. Nesse
2
caso, podemos observar a existência de infinitos pontos de mı́nimo locais no domı́nio de
z, isto é, em R2 .

Definição 6.6 Seja z = f (x, y) definida num conjunto aberto A ⊂ R2 . Um ponto


∂f ∂f
(x0 , y0 ) ∈ A é um ponto crı́tico de f se as derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 )
∂x ∂y
xxxviii CAPÍTULO 6. APLICAÇÕES

são iguais a zero (isto é, ▽f (x0 , y0 ) = (0, 0)) ou se f não é diferenciável em (x0 , y0 ) ∈ A.

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ), ∀ (x, y) ∈ B ∩ Df .

Geometricamente, podemos pensar nos pontos crı́ticos de uma função z = f (x, y)


como sendo os pontos em que o seu gráfico não possui plano tangente ou onde o plano
tangente é horizontal. Os pontos crı́ticos são candidatos a extremos de uma função. Logo,
existem pontos crı́ticos que não são extremos de uma função, os quais são chamados de
ponto de sela.

Exemplo 6.5 Verifique que (0, 0) é ponto crı́tico das funções a seguir:

(a) f (x, y) = x2 + y 2
p
(b) f (x, y) = 2x2 + y 2

(c) f (x, y) = x2 − y 2

6.2.2 Condições necessárias e suficiente para que um ponto in-


terior ao domı́nio de f seja um ponto extremo de f

O Teorema a seguir nos fornece um critério para selecionar, entre os pontos inte-
riores do domı́nio de f , os candidatos a extremos locais de f .

Teorema 6.1 Seja (x0 , y0 ) um ponto interior de Df . Se (x0 , y0 ) é um extremo local de f


∂f ∂f ∂f ∂f
e as derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) existe, então (x0 , y0 ) = 0 e (x0 , y0 ) =
∂x ∂y ∂x ∂y
0.

Observação 6.1 1. Segue do teorema anterior que se (x0 , y0 ) é um ponto interior de


Df , f diferenciável em (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) é um extremo local de f , então o plano
tangente ao gráfico de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) será paralelo ao plano xy.

2. Um ponto (x0 , y0 ) ∈ A que não é ponto interior denomina-se ponto de fronteira


de A. O Teorema 6.1 não se aplica aos pontos de fronteira de Df . Assim, um ponto
de fronteira pode ser um extremo local sem que as derivadas parciais se anulem nele.
Desse modo, os pontos de fronteira devem ser analisados separadamente.

Exemplo 6.6 Estude os extremos locais da função dada por f (x, y) = x2 + y 2 .


6.2. MÁXIMOS E MÍNIMOS DE FUNÇÕES DE VÁRIAS VARIÁVEIS xxxix

Teorema 6.2 Sejam f de classe C 2 e (x0 , y0 ) um ponto interior de Df .


∂ 2f
1. Se (x0 , y0 ) é máximo local, então (x0 , y0 ) é ponto crı́tico e (x0 , y0 ) ≤ 0 e
∂x2
∂ 2f
(x0 , y0 ) ≤ 0;
∂y 2
∂ 2f
2. Se (x0 , y0 ) é mı́nimo local, então (x0 , y0 ) é ponto crı́tico e (x0 , y0 ) ≥ 0 e
∂x2
∂ 2f
(x0 , y0 ) ≥ 0.
∂y 2

Definição 6.7 Seja z = f (x, y) uma função de classe C 2 . A matriz dada por

 
∂ 2f ∂ 2f
 ∂x2 (x, y) ∂y∂x (x, y) 
 2  (6.1)
 ∂ f ∂ 2f 
(x, y) (x, y)
∂x∂y ∂y 2
é chamada matriz Hessiana e aparece em diversas situações do Cálculo dife-
rencial. O seu determinante, H(x, y) é chamado determinante Hessiano da função
z = f (x, y) e é dado por

2
∂ 2f ∂ 2f ∂ 2f

H(x, y) = (x, y) · (x, y) − (x, y) .
∂x2 ∂y 2 ∂x∂y

O teorema a seguir nos fornece uma condição suficiente para um ponto crı́tico de
f ser extremo local.

Teorema 6.3 Sejam f (x, y) de classe C 2 e (x0 , y0 ) um ponto interior de Df . Suponhamos


que (x0 , y0 ) seja um ponto crı́tico de f , então:
∂ 2f
1. Se (x0 , y0 ) > 0 e H(x0 , y0 ) > 0, então (x0 , y0 ) será ponto de mı́nimo local
∂x2
de f ;
∂ 2f
2. Se (x0 , y0 ) < 0 e H(x0 , y0 ) > 0, então (x0 , y0 ) será ponto de máximo local
∂x2
de f ;

3. Se H(x0 , y0 ) < 0, então (x0 , y0 ) não será extremo de f . Neste caso, (x0 , y0 ) será
ponto de sela de f ;

4. Se H(x0 , y0 ) = 0, então nada se pode afirmar.

Exemplo 6.7 Determine os extremos locais das funções dadas a seguir, caso existam, e
classifique-os:
xl CAPÍTULO 6. APLICAÇÕES

(a) f (x, y) = x3 + y 3 − 3x − 3y + 4;

(b) f (x, y) = 3x4 + 2y 4 ;

(c) f (x, y) = x5 + 2y 5 ;

6.2.3 Pontos extremos na fronteira de um conjunto: Teorema


de Weierstrass

Teorema 6.4 Seja f : A ⊂ R2 → R, dada por z = f (x, y), uma função contı́nua no
conjunto fechado e limitado A. Então existem P1 e P2 em A tais que

f (P1 ) ≤ f (P ) ≤ f (P2 ),

qualquer que seja P ∈ A.

O Teorema de Weierstrass é muito importante na resolução de problemas práticos


que envolvem a análise de pontos extremos pertencentes à fronteira de um conjunto. Ele
garante a existência do ponto de máximo e do ponto de mı́nimo de uma função contı́nua
com domı́nio fechado e limitado.

Exemplo 6.8 Deseja-se construir uma caixa, sem tampa, com a forma de um parale-
lepı́pedo retângulo de 1 m3 de volume. O material a ser utilizado nas laterais custa o
triplo do que será utilizado no fundo. Determine as dimensões da caixa que minimiza o
custo do material.

Exemplo 6.9 A temperatura T em qualquer ponto (x, y) do plano é dada por T (x, y) =
3y 2 + x2 − x. Qual é a temperatura máxima e a mı́nima de um disco fechado de raio 1
centrado na origem?

Exemplo 6.10 Uma indústria produz dois produtos denotados por A e B. O lucro da
indústria pela venda de x unidades do produto A e y unidades do produto B é dado por
3 3
L(x, y) = 60x + 100y − x2 − y 2 − xy. Supondo que toda a produção seja vendida,
2 2
determinar a produção que maximiza o lucro.

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