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Cálculo Avançado

Aldo Trajano Lourêdo

Alexandro Marinho Oliveira

Osmundo Alves Lima

1a Edição
2

Para Adrielly e Viviane;


Luciana e Eduardo;
E Isadora.
Sumário

Prefácio da Primeira Edição 6

1 Noções de Topologia no Rn 9
1.1 O espaço Euclidiano Rn . . . . . . . . . . . . . 10
n
1.2 Topologia do R . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Topologia Relativa . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.4 Conjuntos Conexos em Rn . . . . . . . . . . . . 23
1.5 Conjuntos Compactos em Rn . . . . . . . . . . 26
n
1.6 Sequências em R . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.7 Ponto de Acumulação . . . . . . . . . . . . . . 38
1.8 Sequências de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . 41
1.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

2 Limite e Continuidade de Funções 51


2.1 Limite de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.2 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.2.1 O Espaço Vetorial L(E, F ) . . . . . . . 64
2.3 Aplicações Bilineares . . . . . . . . . . . . . . . 74

3
4 SUMÁRIO

2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

3 Diferenciabilidade 83
3.1 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.1.1 Operações sobre funções diferenciáveis . 101
3.2 Funções Continuamente
Diferenciáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
3.2.1 Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . 107
3.2.2 A Desigualdade do Valor Médio . . . . . 117
3.3 Teorema da Função Inversa . . . . . . . . . . . 132
3.4 Teorema da Função Implı́cita . . . . . . . . . . 151
3.5 Derivadas de Ordem Superior . . . . . . . . . . 165
3.6 Problemas Extremos . . . . . . . . . . . . . . . 169
3.7 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . 182
3.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192

4 Integração 203
4.1 Somas Inferiores e Superiores . . . . . . . . . . 205
4.2 Propriedades aritméticas . . . . . . . . . . . . . 211
4.3 Teorema do Valor Médio para Integrais Múltiplas 219
4.4 Caracterização das funções integráveis via con-
junto de medida nula . . . . . . . . . . . . . . 221
4.5 Teorema de Fubini . . . . . . . . . . . . . . . . 235
4.6 Mudança de Variáveis . . . . . . . . . . . . . . 243
4.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
SUMÁRIO 5

5 Soluções dos Exercı́cios Propostos 255


5.1 Soluções do Exercı́cios do
Capı́tulo 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
5.2 Soluções dos Execı́cios do
Capı́tulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
5.3 Soluções do Exercı́cios do
Capı́tulo 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
5.4 Soluções do Exercı́cios do
Capı́tulo 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337

Bibliografia 351
Prefácio

A idéia de escrever este livro surgiu das experiências dos


autores lecionando disciplinas de cálculo de funções de várias
variáveis e análise matemática.
O principal objetivo deste livro é fazer uma apresentação ri-
gorosa e clara dos principais resultados do cálculo das funções de
várias variáveis, os quais poderam ser utilizados para cursos no
final da graduação, bem como cursos introdutórios em programa
de Pós-Graduação. O texto é dividido em cinco capı́tulos e os
pré-requisitos para ler este texto é um conhecimento básico em
álgebra linear e cálculo de funções de várias variáveis.
Tivemos a preocupação de fazer um texto onde os resulta-
dos fossem apresentados da forma mais detalha possı́vel. Neste
texto são deixados alguns exercı́cios ao longo dos capı́tulos. Al-
guns deles fazem parte integrante do texto e outros são exercı́cios
de fixação. No final de cada capı́tulo há uma lista de exercı́cios,
onde o aluno terá a oportunidade de fixar os conceitos estuda-
dos. Acreditamos que trabalhar esses exercı́cios é essencial no
processo de aprendizagem. No capı́tulo 5, são apresentadas as
soluções de quase todos os exercı́cios do texto e alguns foram dei-
xados a sugestão. Acreditamos que a busca por essas sugestões
e soluções só devem ser feitas após várias tentativas de resolver
os problemas.
É nossa expectativa que este livro auxilie o aluno na transição
entre o cálculo de funções de várias variáveis e análise no Rn ,
SUMÁRIO 7

sendo bem vinda as crı́ticas e ou sugestões apresentadas por


todos.
Gostarı́amos de agradecer aos colegas e alunos dos cursos
de matemática da UEPB e UFPI que de forma direta ou inde-
retamente contribuiram para a realização deste trabalho. Em
particular, gostarı́amos de agradecer aos professores Luis Adauto
da Justa Medeiros e Manuel Milla Miranda da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro e o professor Marcondes Rodigues Clark da
Universidade Federal do Piauı́, pela leitura criteriosa e sugestões
do texto e finalmente, agradecer à Editora da Universidade Es-
tadual da Paraı́ba pela oportunidade de publicar este livro.

Campina Grande-PB, Junho de 2010

Os Autores
8 SUMÁRIO
Capı́tulo 1

Noções de Topologia no
Rn

Topologia é o campo da Matemática que objetiva basicamente


descrever como estão ”colocadas” determinadas classes de sub-
cojuntos de um conjunto maior, chamado de espaço topológico,
e no qual alguma noção de aproximi-dade está definida. A lin-
guagem introduzida pela topologia é fundamental para a gene-
ralização do conceito de continuidade de funções como veremos
no Capı́tulo 2.

9
10 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

1.1 O espaço Euclidiano Rn


O conjunto Rn das ”n-uplas,” x = (x1 , . . . , xn ) onde xi ∈ R
com a ”soma ”

x + y = (x1 + y1 , . . . , xn + yn ), x, y ∈ Rn

e a ”multiplicação por escalar”

cx = (cx1 , . . . , cxn ), c ∈ R e x ∈ Rn

é um espaço vetorial real.


Temos que, R1 é a reta, R2 o plano e R3 é o espaço.
Denotemos por 0 = (0, 0, . . . , 0) a origem do Rn .
Produto Escalar em Rn .
Dados x, y ∈ Rn define-se o produto escalar

hx, yi = x1 y1 + . . . + xn yn .

Propriedades do Produto Escalar:


(i) hx, xi ≥ 0, ∀x ∈ Rn e hx, xi = 0 ⇔ x = 0;
(ii) hx, yi = hy, xi, ∀x, y ∈ Rn ;
(iii) hcx, yi = chx, yi, ∀c ∈ R e ∀x, y ∈ Rn ;
(iv) hx + y, zi = hx, zi + hy, zi, ∀x, y, z ∈ Rn .
Norma Euclidiana
p
Dado x ∈ Rn , temos hx, xi ≥ 0 e portanto hx, xi é um
número real bem definido e é denominado ”norma” do vetor x,
p
e representado por, kxk = hx, xi.
1.1. O ESPAÇO EUCLIDIANO RN 11

Exemplo 1.1.1 Em R2 , temos que x = (x1 , x2 ) e


p q
kxk = hx, xi = x21 + x22

Em Rn temos,

q n
! 12
X
kxk = x21 + . . . + x2n = x2i .
i=1

Propriedades da Norma
(i) kxk ≥ 0, ∀x ∈ Rn e kxk = 0 ⇔ x = 0;
(ii) kλxk = |λ|kxk, ∀x ∈ Rn e ∀λ ∈ R;
(iii) kx + yk ≤ kxk + kyk, ∀x, y ∈ Rn .

Lema 1.1.1 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz) Dados x e


y no Rn , temos
|hx, yi| ≤ kxkkyk.

Demonstração: Partindo das identidades


n n
X x2i X yi2
1= e 1 =
i=1
kxk2 i=1
kyk2

e somando membro a membro, temos


n n n 
x2i yi2 x2i yi2
X X X 
2= + = + ≥
i=1
kxk2 i=1 kyk2 i=1
kxk2 kyk2

n
X |xi ||yi |
2 ,
i=1
kxkkyk
12 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

pois a2 + b2 ≥ 2|a||b|, ∀a, b ∈ R.


Donde,
n
X n
X
kxkkyk ≥ |xi yi | ≥ xi yi = |hx, yi|
i=1 i=1

Vamos provar as propriedades (ii) e (iii) da norma.


Prova (ii). Temos, x = (x1 , . . . , xn ) e λx = (λx1 , · · · , λxn )
então
p p
kλxk = (λx1 )2 + . . . + (λxn )2 = λ2 x21 + . . . + λ2 x2n =
p
= λ2 (x21 + . . . + x2n ) = |λ|kxk

(iii)

kx + yk2 = hx + y, x + yi = kxk2 + 2hx, yi + kyk2 ≤


≤ kxk2 + 2kxkkyk + kyk2 = (kxk + kyk)2

Portanto, kx + yk ≤ kxk + kyk


Distância em Rn
Dados x, y ∈ Rn a distância entre x e y com relação a norma
k.k é definida por:

d(x, y) = kx − yk

O espaço Rn com a distância d é chamado ”Espaço Eucli-


diano”.
Três subconjuntos especiais em Rn .
1.1. O ESPAÇO EUCLIDIANO RN 13

Seja x0 ∈ Rn e r > 0.
(a) Esfera de centro x0 e raio r.

Sr (x0 ) = {x ∈ Rn ; d(x, x0 ) = r}

(b) Bola aberta de centro x0 e raio r.

B(x0 ; r) = {x ∈ Rn ; d(x, x0 ) < r}

(c) Bola fechada de centro x0 e raio r.

B[x0 ; r] = {x ∈ Rn ; d(x, x0 ) ≤ r}

Outras normas em Rn .
(a) Norma da soma.
Dado x ∈ Rn , x = (x1 , . . . , xn ) define-se

kxkS = |x1 | + . . . + |xn |

(b) Norma do máximo.


Dado x ∈ Rn , x = (x1 , . . . , xn ) define-se

kxkM = max{|x1 |, . . . , |xn |}

Lema 1.1.2 Para todo x ∈ Rn , temos

max {|xi |} ≤ kxk ≤ |x1 | + . . . + |xn |.


1≤i≤n

Demonstração: Temos, para todo 1 ≤ i ≤ n, que: x2i ≤ x21 +


p p
. . . + x2n , que x2i ≤ x21 + . . . + x2n , donde |xi | ≤ kxk, ∀1 ≤
14 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

i ≤ n.
Portanto,
max {|xi |} ≤ kxk. (1.1)
1≤i≤n

Por outro lado, para todo x ∈ Rn , temos

x = (x1 , . . . , xn ) = x1 e1 + . . . + xn en ,

onde {e1 , . . . , en } é a base canônica do Rn . Logo,

kxk ≤ |x1 |ke1 k + . . . + |xn |ken k = |x1 | + . . . + |xn |. (1.2)

De (1.1) e (1.2) segue o Lema.

Definição 1.1 Duas normas k.k1 e k.k2 são equivalentes quando


existirem constantes c1 > 0 e c2 > 0 tais que

c1 k.k2 ≤ k.k1 ≤ c2 k.k2

Notação: k.k1 ∼ k.k2 .

A equivalência entre duas normas é uma relação de equivalência,


isto é:
(a) Se k.k1 ∼ k.k2 então k.k2 ∼ k.k1 .
(b) k.k1 ∼ k.k1 .
(c) Se k.k1 ∼ k.k2 e k.k2 ∼ k.k3 então k.k1 ∼ k.k3 .

Exercı́cio 1.1.1 Prove que as normas k.kM , k.k e k.kS são equi-
valentes.
1.1. O ESPAÇO EUCLIDIANO RN 15

Exemplo 1.1.2 Consideremos R2 com k.kM , k.k e k.kS .


Sejam p = (a, b) e ε > 0.
Temos que B[p; ε] na norma euclidiana, é dada por:

p
kx − pk ≤ ε ⇔ (x1 − a)2 + (x2 − b)2 ≤ ε ⇔

(x1 − a)2 + (x2 − b)2 ≤ ε2 .

Figura 1.1: Norma Euclidiana

Exemplo 1.1.3 Consideremos a bola fechada B[p; ε] com a


norma do máximo. Assim,



 |x1 − a| ≤ ε

kx−pkM ≤ ε ⇔ max{|x1 −a|, |x2 −b|} ≤ ε ⇔ e



 |x − b| ≤ ε
2

Exemplo 1.1.4 Consideremos B[p; ε] com a norma da soma


Temos, kx − pkS ≤ ε ⇔ |x1 − a| + |x2 − b| ≤ ε
16 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Figura 1.2: Norma do Máximo

Figura 1.3: Norma da Soma

Exercı́cio 1.1.2 (a) Mostre que em Rn vale a identidade


(∗) kx + yk2 + kx − yk2 = 2(kxk2 + kyk2 )
(b) Mostre que em R2 , (∗) não vale com as normas k.kM e k.kS .

1.2 Topologia do Rn
Seja A ⊂ Rn e x0 ∈ Rn um ponto fixado. Então uma e
somente uma das três possibilidades deve ocorrer:
(i) Existe δ > 0 tal que B(x0 ; δ) ⊂ A;
(ii) Existe δ > 0 tal que B(x0 ; δ) ⊂ Ac = Rn − A;
1.2. TOPOLOGIA DO RN 17

(iii) Para qualquer δ > 0 a bola B(x0 ; δ) contém pontos de A


e pontos de Ac .
No caso (i) o ponto x0 é dito ponto interior a A.
No caso (ii) o ponto x0 é denominado ponto exterior a A.
No caso (iii) x0 é dito ponto fronteira de A.
Notação: Os pontos interiores a A constitui o interior de A,
que é denotado por int(A). O exterior de A, anota-se ext(A), e
sua fronteira por ∂A. O fecho de A é o conjunto A = A ∪ ∂A.
Na figura abaixo temos os casos onde p é um ponto interior
de A, p é ponto de fronteira de A e p é ponto exterior de A
respectivamente.

Figura 1.4: Ponto interior, fronteira e exterior em A ⊂ R2

Exemplo 1.2.1 Consideremos A = {(x, y) ∈ R2 ; y ≥ 0} ∪


{(0, −1)}.
Temos,
int(A) = {(x, y) ∈ R2 ; y > 0};
18 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

ext(A) = {(x, y) ∈ R2 ; y < 0} − {(0, −1)};


∂A = {(x, y) ∈ R2 ; y = 0} ∪ {(0, −1)};
A = A ∪ ∂A = A.

Exemplo 1.2.2 Seja A = {(x, y) ∈ R2 ; 1 < x2 + y 2 < 2}


Temos,
int(A) = {(x, y) ∈ R2 ; 1 < x2 + y 2 < 2};
ext(A) = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 < 1 ou x2 + y 2 > 2};
∂A = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = 1 ou x2 + y 2 = 2};
A = {(x, y) ∈ R2 ; 1 ≤ x2 + y 2 ≤ 2}

Definição 1.2 A ⊂ Rn é dito aberto se int(A) = A, isto é,


todos os pontos de A são interiores. Quando ∂A ⊂ A, dizemos
que A é fechado.

Exercı́cio 3. Mostre que A é fechado, se e somente se, A = A.

Exemplo 1.2.3 B(x0 ; r) é um conjunto aberto.


De fato, seja x ∈ B(x0 ; r) e ε = r − kx − x0 k > 0.
Afirmação: B(x; ε) ⊂ B(x0 ; r).
De fato, dado y ∈ B(x; ε) então: ky − xk < ε. Logo,

ky − x0 k ≤ ky − xk + kx − x0 k < ε + kx − x0 k = r

Exemplo 1.2.4 ∂B(x0 ; r) = Sr (x0 ) = { x ∈ Rn ; kx − x0 k =


r}.

Exemplo 1.2.5 B[x0 ; r] = B(x0 ; r) ∪ Sr (x0 ) = B(x0 ; r) ∪


∂B[x0 ; r], que implica: ∂B[x0 ; r] ⊂ B[x0 ; r].
Portanto, B[x0 ; r] é um conjunto fechado.
1.2. TOPOLOGIA DO RN 19

Proposição 1.1 (i) Se A1 e A2 são abertos então A1 ∩ A2 é


aberto;
[
(ii) Se {Aλ } é uma famı́lia de abertos então: A = Aλ é
λ∈L
aberto.1

Demonstração: (i) Seja x ∈ A1 ∩ A2 então: x ∈ A1 e x ∈


A2 . Logo, existem ε1 > 0 e ε2 > 0 tais que B(x; ε1 ) ⊂ A1 e
B(x; ε2 ) ⊂ A2 pois, A1 e A2 são abertos. Seja ε = min{ε1 , ε2 }.
Então: B(x; ε) ⊂ B(x; ε1 ) ⊂ A1 e B(x; ε) ⊂ B(x; ε2 ) ⊂ A2 o
que implica B(x; ε) ⊂ A1 ∩ A2 , e portanto A1 ∩ A2 é aberto.
(ii) Seja x ∈ A = ∪Aλ então, existe λ tal que x ∈ Aλ e como
Aλ é aberto, existe ελ > 0 tal que B(x; ελ ) ⊂ Aλ , o que implica
B(x; ελ ) ⊂ A, o que acarreta A = ∪Aλ é aberto.

 
1 1
Observação 1.1 Considere An = − , que aberto em R,
n n

\
mas An = {0} não é aberto.
n=1

Lema 1.2.1 F ⊂ Rn é fechado, se e somente se, F c é aberto.

Demonstração: (⇒) Suponha F fechado e seja x ∈ F c então


x ∈
/ F, o que implica x ∈
/ ∂F que acarreta x ∈ int(F ) ou
x ∈ ext(F ). Mas, x ∈
/ int(F ) implica x ∈ ext(F ) e portanto,
1
Dado um conjunto X, uma famı́lia de elementos de X com ı́ndices em
L é uma função x : L → X, onde x(λ) = xλ . A famı́lia x é representada
pela notação (xλ )λ∈L .
20 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

existe ε > 0 tal que B(x; ε) ⊂ F c , o que implica F c é aberto.


(⇐) Suponhamos que F c é aberto e seja x ∈ ∂F. Se x estivesse
em F c existiria ε > 0 tal que B(x; ε) ⊂ F c , isto contradiz a
definição de ponto de fronteira. Logo, x ∈ F. Assim, ∂F ⊂ F,
o que implica F é fechado.

Proposição 1.2 (i) Se F e G são fechados então: F ∪ G é


fechado;
\
(ii) Se {Fλ } é uma famı́lia de fechados então: F = Fλ é
λ
fechado.

Demonstração: (i) Pelas leis De Morgan, temos (F ∪ G)c =


F c ∩ Gc . Como F e G são fechados, então: F c e Gc são abertos.
Logo, F c ∩ Gc é aberto, o que implica (F ∪ G)c é aberto, o que
acarreta F ∪ G é fechado.
(ii) Pela lei De Morgan, temos:
" #c
\ [
Fλ = Fλc .
λ λ
[
Mas, Fλc é aberto, o que implica Fλc é aberto, que implica
" #c λ
\ \
Fλ é aberto, e portanto Fλ é fechado.
λ λ

Observação 1.2 A união qualquer de fechados não é necessa-


riamente fechado.
Considere
[
[0, 1) = {x}.
x∈[0,1)
1.3. TOPOLOGIA RELATIVA 21

1.3 Topologia Relativa


Seja S ⊂ Rn um subconjunto.
Um subconjunto A ⊂ S é dito aberto em S, se dado x ∈ A
existe ε > 0 tal que:

B(x; ε) ∩ S ⊂ A.

Proposição 1.3 Um subconjunto A ⊂ S é aberto em S, se e


somente se, existe um aberto A∗ de Rn tal que:

A = S ∩ A∗ .

Demonstração: (⇒) Suponha que A é aberto em S. Então:


para cada x ∈ A existe ε > 0 tal que B(x; ε) ∩ S ⊂ A. Seja
[
A∗ = B(x; ε),
x∈A

então A∗ é um aberto de Rn e A = S ∩ A∗ .
De fato, x ∈ A implica x ∈ S e x ∈ A∗ que acarreta x ∈ S ∩ A∗ ,
isto é,
A ⊂ S ∩ A∗ . (1.3)
Por outro lado, x ∈ S ∩ A∗ implica x ∈ S e x ∈ A∗ que implica
x ∈ S e x ∈ B(x; ε) o que acarreta x ∈ B(x; ε) ∩ S que implica
x ∈ A, pois A é aberto em S. Logo,

S ∩ A∗ ⊂ A. (1.4)

De (1.3) e (1.4), obtemos A = S ∩ A∗ .


(⇐) Suponha que existe um aberto A∗ de Rn tal que: A =
22 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

S ∩ A∗ .
Seja x ∈ A então: x ∈ A∗ . Logo, existe ε > 0 tal que B(x; ε) ⊂
A∗ .
Portanto, B(x; ε) ∩ S ⊂ A∗ ∩ S = A.
Assim, A é aberto em S.

Exemplo 1.3.1 Seja S = [0, 1] então: A = (0, 1] é um aberto


em S.
De fato, A∗ = (0, 2) é um aberto de R e A∗ ∩S = (0, 2)∩[0, 1] =
(0, 1] = A.
Portanto, A é aberto em S.

Exemplo 1.3.2 Seja

S = {(x, y) ∈ R2 ; y ≥ −1} e A = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 < 1}.

Temos que, A é aberto em S, pois A = B(0; 1) ∩ S.

Um subconjunto F ⊂ S diz-se fechado em S quando existe


um conjunto fechado G em Rn tal que

F = G ∩ S.

Exemplo 1.3.3 Seja F = (0, 1] e S = (0, 2). Então, F é fe-


chado em S.
De fato, considere G = [0, 1] o qual é fechado em R e portanto,

G ∩ S = [0, 1] ∩ (0, 2) = (0, 1] = F.

Portanto, F é fechado em S.
1.4. CONJUNTOS CONEXOS EM RN 23

1.4 Conjuntos Conexos em Rn


Definição 1.3 Um subconjunto E ⊂ Rn é dito conexo se os
únicos subconjuntos de E os quais são abertos e fechados são ∅
e E.

Observação 1.3 Uma formulação equivalente de conexidade é


dizer que E não é conexo se existem conjuntos abertos A e B
não vazios e disjuntos em E tal que E = A ∪ B.

Uma definição equivalente de conexidade é dada abaixo.

Definição 1.4 Um subconjunto E ⊂ Rn qualquer é dito conexo


se não existem conjuntos abertos G1 e G2 tais que:

G1 ∩ E 6= ∅, G2 ∩ E 6= ∅, G1 ∩ G2 ∩ E = ∅ e G1 ∪ G2 ⊃ E.

Proposição 1.4 Um subconjunto E ⊂ R é conexo, se e so-


mente se, E é um intervalo.

Demonstração: (⇒) Suponha que E = (a, b) não é um inter-


valo. Então existe um q 6∈ E com a < q < b. Logo, os conjuntos
A = (a, q) e B = (q, b) são abertos, disjuntos e não vazios.
Além disso, E = A ∪ B. Logo, E não é conexo.
Os demais tipos de intervalos são tratados de maneira análoga.
(⇐) Suponhamos que E = [a, b], com a, b ∈ R. Seja A 6= E.
Mostraremos que A não pode ser fechado, e portanto, E será
conexo. Como A é aberto e a ∈ A existe ε > 0 tal que
24 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

[a, a + ε) ⊂ A.
Afirmação:

[a, a + r) ⊂ A, onde r = sup{ε : [a, a + ε) ⊂ A}.

De fato, se a ≤ x < a + r então considerando h = a + r − x > 0,


pela definição de supremo implica que existe ε > 0 com r − h <
ε < r e [a, a + ε) ⊂ A. Mas, a ≤ x = a + (r − h) < a + ε o que
implica que x ∈ A, o que prova nossa afirmação.
Entretanto, a + r 6∈ A, pois se a + r ∈ A, e como A é aberto,
existe δ > 0 tal que [a + r, a + r + δ) ⊂ A.
Mas [a, a + r + δ) = [a, a + r) ∪ [a + r, a + r + δ) ⊂ A, pois
[a, a + r) ⊂ A e [a + r, a + r + δ) ⊂ A. Agora, se A também
fosse fechado, então a + r ∈ B = E − A, o qual é aberto.
Portanto, podemos encontrar um δ > 0 tal que (a+r−δ, a+r] ⊂
B, contradizendo a afirmação acima.
A prova para os outros tipos de intervalos é análoga e fica como
exercı́cio.
Se w, z ∈ Rn então denotamos o segmento de reta fechado
de z a w por

[z, w] = {tw + (1 − t)z : 0 ≤ t ≤ 1}.

Uma poligonal de a e b é um conjunto


n
[
P = [zk , wk ], onde z1 = a, wn = b e wk = zk+1 ,
k=1

para 1 ≤ k ≤ n − 1.
Notação: P = [a, z2 , . . . , zn−1 , b].
1.4. CONJUNTOS CONEXOS EM RN 25

Teorema 1.1 Um subconjunto aberto E 6= ∅ de Rn é conexo


se, e somente se, quaisquer dois de seus pontos podem ser ligados
por uma poligonal contida em E. A poligonal pode ser escolhida
tal que seus segmentos sejam paralelos aos eixos coordenados.

Demonstração: (⇒) Suponhamos que E é conexo e fixe a ∈ E.


Mostraremos que existe uma poligonal contida em E. Para a ∈ E
fixado definamos

A = {b ∈ E : existe uma poligonal P ⊂ E de a a b}

Mostraremos que A é aberto e fechado em E e que A = E, o


que mostra que a condição é necessária.
Para mostrar que A é aberto, seja b ∈ A e P = [a, z2 , . . . , zn , b]
uma poligonal de a a b com P ⊂ E.
Como E é aberto existe ε > 0 tal que B(x, ε) ⊂ E. Mas se
z ∈ B(b, ε) então [b, z] ⊂ B(b, ε) ⊂ E. Portanto, a poligonal
Q = P ∪ [b, z] está contido em E e vai de a e z.
Isto mostra que B(b, ε) ⊂ A e portanto A é aberto.
Para mostrar que A é fechado, suponha que exista z ∈ E − A
e seja ε > 0 tal que B(z, ε) ⊂ E. Se existe um ponto b ∈
A∩B(z, ε) então, como acima, construı́remos uma poligonal de a
a z. Assim, teremos que ter B(z, ε)∩A = ∅ ou B(z, ε) ⊂ E −A.
Isto é, E − A é aberto, de modo que A é fechado.
(⇐) Suponhamos que E satisfaz a condição da poligonal e vamos
supor que E não é conexo e obteremos uma contradição.
Por definição, E = A ∪ B, onde A e B são abertos com A ∩ B =
26 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

∅, A 6= ∅ e B 6= ∅. Seja a ∈ A e b ∈ B. Por hipótese, existe


uma poligonal P ligando a e b tal que P ⊂ E. Assumiremos que
P = [a, b] e definamos

S = {s ∈ [0, 1] : sb + (1 − s)a ∈ A}

e
T = {t ∈ [0, 1] : tb + (1 − t)a ∈ B}

Então, S ∩ T = ∅, S ∪ T = [0, 1], 0 ∈ S e 1 ∈ T.


Além disso, S e T são abertos (prove isso como exercı́cio), con-
tradizendo a conexidade de [0, 1]. Portanto, E é conexo.

Corolário 1.1 O Rn é conexo.

1.5 Conjuntos Compactos em Rn


Seja K ⊂ Rn um subconjunto. Uma coleção A de conjuntos
A é dita uma cobertura de K se :
[
K⊂ A
A∈A

A cobertura A é dita finita se A tem apenas um número finito


de elementos. A cobertura A é dita aberta se todo A de A é
aberto.
Se A e A1 são ambas coberturas de K e A1 ⊂ A, dizemos que
A1 é relativamente a A, uma subcobertura de K.
1.5. CONJUNTOS COMPACTOS EM RN 27

Exemplo 1.5.1 Para cada n ∈ N seja An = (−n, n). A coleção


A = (An )n∈N é uma cobertura aberta enumerável de R. Seja
L=conjuntos dos números pares. A famı́lia A1 = (An )n∈L é
uma subcobertura de R.
Por outro lado, qualquer que seja o subconjunto finito

{n1 < n2 < . . . < nk }

de inteiros positivos, temos

An1 ∪ An2 ∪ . . . ∪ Ank = Ank .

Logo, A2 = (An1 , An2 , . . . . . . , Ank ) não é uma subcobertura


finita de R.

Definição 1.5 Um subconjunto K de Rn é dito compacto quando


toda cobertura aberta de K admite uma subcobertura finita.

Exemplo 1.5.2 O intervalo (0, 1) e R não são compactos.


Note que {( n1 , 2)}, é uma cobertura de (0, 1) que não admite
uma subcobertura finita. Logo, (0, 1) não é compacto.

Lema 1.5.1 K = [a, b], −∞ < a ≤ b < ∞ é compacto.

Demonstração: Seja A uma cobertura aberta de [a, b] e consi-


dere
L = {x ∈ [a, b]; [a, x] pode ser coberto por

um número f inito de aberto de A}


28 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

(i) L 6= ∅ pois, a ∈ L;
(ii) L é limitado, porque L ⊂ [a, b];
Seja α = sup L
(iii) α ∈ [a, b] pois, [a, b] é fechado.
Afirmação 1. α ∈ L.
Temos, α ∈ [a, b] implica que existe A ∈ A tal que α ∈ A. Logo,
existe δ > 0 tal que (α − δ, α + δ) ⊂ A. Assim, (α − δ, α] ⊂ A
para algum δ > 0.
Desde que, α = sup L então: para todo β < α existe x ∈ L tal
que β < x ≤ α. Em particular, para β = α − δ < α existe x ∈ L
tal que α − δ < x ≤ α,
o que implica, [x, α] ⊂ (α − δ, α] ⊂ A. Logo, pela definição de
L, temos

[a, x] ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ Ak , Ai ∈ A, e [x, α] ⊂ A.

Portanto,
[a, α] ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ Ak ∪ A.
Pela definição de L, temos que α ∈ L.
Afirmação 2. α = b.
Suponha que α < b então: Existe α < x < b tal que [α, x] ⊂ A0
para algum A0 ∈ A.
Desde que α ∈ L então: [a, α] ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An . Logo,

[a, x] ⊂ A1 ∪ A2 . . . ∪ An ∪ A0

que implica x ∈ L o que contradiz o fato que α = sup L.


Portanto, α = b.
1.5. CONJUNTOS COMPACTOS EM RN 29

Exemplo 1.5.3 Todo conjunto finito K ⊂ Rn é compacto.


Seja K = {x1 , x2 , . . . , xr } e considere A = {Aj }j∈N uma co-
bertura aberta de K. Podemos supor que, x1 ∈ A1 , x2 ∈
A2 , . . . , x r ∈ Ar .
Logo, A1 = {A1 , A2 , . . . , Ar } é uma subcobertura para K. Por-
tanto, K é compacto.

Lema 1.5.2 Se K ⊂ Rn é compacto e F ⊂ K é fechado então


F é compacto.

Demonstração: Seja AF uma cobertura aberta de F. Então:

AK = AF ∪ {Rn − F }

é uma cobertura aberta de K. Como K é compacto, então:

K ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ Ar ∪ {Rn − F }.

Como nenhum ponto de F pode pertencer a Rn − F, temos


necessariamente

F ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ Ar , Ai ∈ AF .

donde F é compacto.

Definição 1.6 Um intervalo fechado em Rn é um conjunto I da


forma [a1 , b1 ] × . . . × [an , bn ], onde ai < bi para i = 1, 2, . . . , n.

Exercı́cio 1.5.1 Todo intervalo fechado I de Rn é compacto.


30 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Teorema 1.2 (Heine-Borel) K ⊂ Rn é compacto, se e so-


mente se, K é fechado e limitado.

Demonstração: (⇐) Sendo K limitado então: K ⊂ I n onde


I = [a, b]. Como I n é compacto e K ⊂ I n é fechado então, pelo
Lema anterior K é compacto.
(⇒) (i) K compacto então K é fechado.
Seja x ∈ K c e para cada m ∈ N definamos
 
n 1
Gm = y ∈ R ; ky − xk >
m

[
Temos que, cada Gm é aberto em R e a n
Gm = Rn − {x}.
m=1

[
Como x ∈
/ K temos K ⊂ Gm . Desde que, K é compacto,
m=1
segue que,
K ⊂ G1 ∪ G2 ∪ . . . ∪ Gr = Gr

pois, (Gm )m∈N é crescente. Logo, a vizinhança


 
n 1
V = z ∈ R ; kz − xk < ∩K =∅
r
isto é, V ⊂ K c , que implica K c é aberto, e portanto K é fechado.
(ii) K compacto então K é limitado, isto é,

K ⊂ {x ∈ Rn ; kxk < r0 } para algum r0 > 0.

De fato, para cada m ∈ N, seja Hm definido por:

Hm = {x ∈ Rn ; kxk < m}
1.6. SEQUÊNCIAS EM RN 31


[
Temos que, cada Hm é aberto e K ⊂ Hm . Como K é
m=1
compacto então:

K ⊂ H1 ∪ H2 ∪ . . . ∪ Hr = Hr

pois, (Hm )m∈N é crescente.


Logo, existe r > 0 tal que K ⊂ Hr , o que implica que K é
limitado.

Exercı́cio 1.5.2 Sejam K e L subconjuntos compactos de Rn


e Rm respectivamente. Mostre que K × L é um subconjunto
compacto de Rn × Rm = Rn+m .

Exercı́cio 1.5.3 F ⊂ Rn é fechado, se e somente se, F = F .

1.6 Sequências em Rn
Uma sequência em Rn é uma aplicação

x : N → Rn
k 7→ x(k) = xk
O vetor xk é chamado o k-ésimo termo da sequência.
Notação: (xk )k∈N ou (x1 , x2 , . . . , xk , . . .).
Uma subsequência de (xk )k∈N é a restrição da sequência (xk )
a um subconjunto infinito N0 = {ν1 < ν2 < . . . νk < . . .} ⊂ N.
Notação: (xk )k∈N0 ou (xνk )k∈N .
Dizemos que (xk )k∈N é limitada se existe c > 0 tal que
kxk k ≤ c, ∀k ∈ N.
32 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN
 
1 1
Exemplo 1.6.1 A sequência xk = ,− é limitada,
k k k∈N
pois
s 
2 2 √
2 √

1 1
kxk k = + − = ≤ 2, ∀k ∈ N.
k k k
Exemplo 1.6.2 A sequência xk = (k, 1)k∈N não é limitada, pois
√ √
kxk k = k 2 + 1 > k 2 = k, ∀k ∈ N.

Uma sequência (xk )k∈N em Rn equivale a n sequências de


números reais.
De fato, para cada k ∈ N temos que, xk = (xk1 , xk2 , . . . , xkn )
onde, as n sequências (xki ), 1 ≤ i ≤ n são ditas as sequências
das coordenadas de (xk )k∈N .

Observação 1.4 Uma sequência (xk )k∈N em Rn é limitada, se


e somente se, cada sequência coordenada (xki )k∈N e 1 ≤ i ≤ n
é limitada.
Com efeito, use o fato que:

|xki | ≤ kxk k ≤ |xk1 | + |xk2 | + . . . + |xkn |

Dizemos que a ∈ Rn é o limite da sequência (xk )k∈N em Rn


quando:

∀ε > 0, ∃k0 ∈ N tal que : k ≥ k0 ⇒ kxk − ak < ε.

Notação: xk → a ou lim xk = a ou lim xk = a, ou ainda,


k→∞
lim xk = a.
k∈N
1.6. SEQUÊNCIAS EM RN 33

Observação 1.5 Se xk → a e xk → b então a = b.

Demonstração: Para todo k ∈ N e pela desigualdade triangular


temos
ka − bk ≤ ka − xk k + kxk − bk.

Como lim kxk − ak = 0 e lim kxk − bk = 0 então ka − bk = 0,


e portanto a = b.
Temos que lim xk = a, se e somente se, lim kxk − ak = 0.

1
, − k1 k∈N

Exemplo 1.6.3 A sequência xk = k
é convergente e
lim xk = (0, 0).
k→∞ √
2
De fato, dado ε > 0 existe k0 ≥ tal que
ε

2
k ≥ k0 então kxk − (0, 0)k ≤ < ε.
k0

Observação 1.6 Toda sequência (xk )k∈N em Rn convergente é


limitada.
De fato, seja lim xk = a então ∃k0 ∈ N tal que, k > k0 ⇒
kxk − ak < 1. Logo, temos

kxk k ≤ kxk − ak + kak < 1 + kak, ∀k > k0 .

Seja c = kx1 k + kx2 k + . . . + kxk0 k + 1 + kak então:

kxk k ≤ c, ∀k ∈ N

que implica (xk )k∈N é limitada.


34 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Observação 1.7 Se (xk ) converge para a então toda subse-


quência (xνk ) também converge para a.
Demonstração: Se xk → a então, para todo ε > 0 existe
k0 ∈ N tal que:

kxk − ak < ε, ∀k ≥ k0 .

Mas, νk ≥ k, ∀k ∈ N. Logo,

k ≥ k0 ⇒ νk ≥ k0 ⇒ kxνk − ak < ε

que implica xνk → a.

Observação 1.8

lim kxk − akM = 0 ⇔ lim kxk − ak = 0 ⇔ lim kxk − akS = 0.

De fato, use o fato que

kxk − akM ≤ kxk − ak ≤ kxk − akS ≤ nkxk − akM

Teorema 1.3 Seja (xk )k∈N uma sequência em Rn e seja a =


(a1 , a2 , . . . , an ) um ponto de Rn . Então

xk → a ⇔ xki → ai , ∀1 ≤ i ≤ n.

Demonstração: (⇒) Como |xki − ai | ≤ kxk − ak, ∀1 ≤ i ≤ n


e kxk − ak → 0 então |xki − ai | → 0, ∀1 ≤ i ≤ n.
(⇐) Temos, lim xki = ai , ∀1 ≤ i ≤ n então: ∀ε > 0 existem
k→∞
números k1 , . . . , kn tais que
ε
k > ki ⇒ |xki − ai | <
n.
1.6. SEQUÊNCIAS EM RN 35

Seja k0 = max{k1 , . . . , kn }. Então:


ε
k > k0 ⇒ kxk − ak ≤ |xk1 − a1 | + . . . + |xkn − an | < +...+
n
ε nε
= = ε.
n n
Logo, xk → a.

Corolário 1.2 Sejam (xk ) e (yk ) sequências em Rn e (αk ) sequên-

cia em R tais que: lim xk = a, lim yk = b e lim αk = α.


Então:
(i) lim(xk + yk ) = a + b;
(ii) lim αk xk = αa;
(iii) limhxk , yk i = ha, bi;
(iv) lim kxk k = kak.

Demonstração: (i) Temos, lim xk = a então lim xki = ai e se


lim yk = b então lim yki = bi , ∀1 ≤ i ≤ n.
Logo, lim(xki + yki ) = ai + bi , que implica lim(xk + yk ) = a + b.
(ii) lim xk = a então lim xki = ai , ∀1 ≤ i ≤ n. Como lim αk =
α então: lim αk xki = αai , que acarreta lim αk xk = αa.
(iii) Temos:
n
X n
X n
X
limhxk , yk i = lim xki yki = lim xki yki = ai bi = ha, bi.
i=1 i=1 i=1

(iv) Use o fato que: |kxk k − kak| ≤ kxk − ak, ∀k ∈ N.


36 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Teorema 1.4 (Bolzano-Weierstrass) Toda sequência limitada


em Rn possui uma subsequência convergente.

Demonstração: Seja (xk )k∈N em Rn limitada. Então (xk1 )k∈N


é uma sequência limitada em R e pelo Teorema de Bolzano-
Weierstrass na reta, (xk1 ) possui uma subsequência convergente.
Isto é, existe um subconjunto infinito N1 ⊂ N e existe um número
real a1 tais que: lim xk1 = a1 . Por sua vez, a sequência limitada
k∈N1
(xk2 ) de números reais possui uma subsequência convergente.
Ou seja, podemos obter um subconjunto infinito N2 ⊂ N1 e
um número real a2 tais que lim xk2 = a2 . Continuando com
k∈N2
este processo, encontramos conjuntos infinitos N ⊃ N1 ⊃ N2 ⊃
. . . ⊃ Nn e números reais a1 , a2 , . . . , an , tais que: lim xki =
k∈Ni
ai , ∀1 ≤ i ≤ n. Então, pondo a = (a1 , . . . , an ), obtém-se pelo
Teorema 1.3, que lim xk = a, o que prova o Teorema 1.4.
k∈N

Lema 1.6.1 Seja S ⊂ Rn . Então, x ∈ S, se e somente se, existe


(xk ) em S tal que xk → x.

Demonstração: (⇒) Temos x ∈ S = S ∪ ∂S.


(i) Se x ∈ S, considere a sequência xk = x, ∀k então: (xk ) ⊂ S
e kxk − xk = 0 → 0 que implica xk → x.
/ S então x ∈ ∂S e para cada k ∈ N a B(x; k1 ) contém
(ii) Se x ∈
um ponto xk ∈ S. Logo, (xk ) ⊂ S, ∀k ∈ N e kxk − xk < k1 ,
que implica xk → x.
(⇐) Se x ∈ S então x ∈ S. Agora, suponhamos que exista
(xk ) ⊂ S tal que xk → x.
1.6. SEQUÊNCIAS EM RN 37

Afirmação: Se x ∈
/ S então x ∈ ∂S.
De fato, ∀ε > 0 a bola B(x; ε) contém os termos xk para k ≥ k0 ,
pois xk → x. Logo, B(x; ε)∩S 6= ∅. Por outro lado, como x ∈
/S
então B(x; ε) ∩ S c 6= ∅. Assim, x ∈ ∂S, que implica x ∈ S.

Proposição 1.5 Seja S ⊂ Rn com a seguinte propriedade: ”Toda


sequência de pontos de S possui uma subsequência convergente.”
Então: S é limitado.

Demonstração: Suponhamos que S não é limitado. Logo, para


cada k ∈ N existe xk ∈ S tal que kxk k ≥ k. Assim, nenhuma
subsequência de (xk ) é limitada, porque kxνk k ≥ νk → ∞.
Portanto, (xk ) não possui subsequência convergente, o que é
uma contradição. Portanto, S é limitado.

Proposição 1.6 S ⊂ Rn é compacto, se e somente se, toda


sequência de pontos de S possui uma subsequência convergente
para um ponto de S.

Demonstração: (⇒) Suponhamos que S é compacto e seja


(xk ) uma sequência em S.
• S limitado então (xk ) é limitada, o que acarreta que (xk )
possui uma subsequência convergente (xνk ). Seja x = lim xνk .
Como (xνk ) ⊂ S então, pelo Lema anterior x ∈ S.
• Por outro lado, S fechado implica que S = S, o que acarreta
x ∈ S.
(⇐) Suponhamos que toda sequência (xk ) de S possui uma
subsequência (xνk ) que converge para um ponto de x0 ∈ S.
38 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Logo, pela Proposição anterior, segue que S é limitado.


Por outro lado, dado x ∈ S então, pelo Lema 1.6.1 tem-se
x = lim xk com xk ∈ S, ∀k ∈ N. Logo, por hipótese existe
uma subsequência (xνk ) de (xk ) tal que xνk → x0 ∈ S e pela
unicidade do limite, temos x = x0 ∈ S. Logo, S = S e portanto,
S é fechado. Assim, S sendo fechado e limitado, tem-se que S
é compacto.

1.7 Ponto de Acumulação


Seja S ⊂ Rn . Um ponto x0 ∈ Rn é dito um ponto de
acumulação de S se: ∀ε > 0 existe x ∈ S tal que 0 < kx −
x0 k < ε, que é equivalente a: B(x0 ; ε) − {x0 } contém um ponto
de S.

Teorema 1.5 Sejam S ⊂ Rn e x0 ∈ Rn . As seguintes afirmações


são equiva-lentes:
(i) x0 é um ponto de acumulação de S;
(ii) x0 = lim xk , xk ∈ S e xk 6= x0 ;
k→∞
(iii) Toda bola aberta B(x0 ; ε) contém uma infinidade de pontos
de S.

Demonstração: (i) ⇒ (ii) Como x0 é ponto de acumulação


de S então: ∀k ∈ N podemos achar um ponto xk ∈ S tal que
0 < kxk − x0 k < k1 . Logo, x0 = lim xk , xk ∈ S e xk 6= x0 .
(ii) ⇒ (iii) Como kxk − x0 k → 0 quando k → ∞ então
1.7. PONTO DE ACUMULAÇÃO 39

∀ε > 0 ∃k0 ∈ N tal que: k > k0 ⇒ kxk − x0 k < ε. Mas,


o conjunto {xk ; k > k0 } é infinito, pois do contrário existiria um
termo xν1 que se repetiria infinitas vezes e isto forneceria uma
subsequência constante com lim xν1 6= x0 .
(iii) ⇒ (i) Como toda bola aberta B(x0 ; ε) contém uma infini-
dade de pontos de S então B(x0 ; ε) − {x0 } contém um ponto
de S.

Exemplo 1.7.1 Um conjunto finito de pontos não pode ter ponto


de acumulação.

Exemplo 1.7.2 Seja S = (0, 1) ⊂ R. Então todo ponto do


intervalo [0, 1] é ponto de acumulação de S.
De fato, para mostrar que 0 é um ponto de acumulação de S,
1
considere a sequência (xk ) = ( k1 ) em S. Temos, lim = 0.
k→∞ k
Para mostrar que 1 é um ponto de acumulação de S, considere a
sequência (xk ) definida por: x1 = a ∈ S e xk = 1− k1 se 
k ≥ 2.
1
Temos que (xk ) é uma sequência em S e que lim 1 − = 1.
k→∞ k
Agora se a ∈ S então considere a sequência (xk ) = (a) em S e
lim xk = a.
k→∞

Quando x0 não é ponto de acumulação de S, dizemos que x0


é um ponto isolado de S.
Assim, se x0 é um ponto isolado de S então, existe δ > 0 tal
que B(x0 ; δ) não contém pontos de S, a não ser o ponto x0 .
40 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

Teorema 1.6 Um conjunto S ⊂ Rn é compacto, se e somente


se, todo subconjunto infinito A de S tem pelo menos um ponto
de acumulação em S.

Demonstração: (⇒) Suponha que S é compacto e seja A ⊂


S um subconjunto infinito. Então: A contém um subconjunto
infinito enumerável cujos elementos podem ser arranjados em
uma sequência (xk )k∈N . Desde que, S é compacto (xk ) possui
uma subsequência (xνk ) que converge para um ponto x ∈ S. É
claro que, x é um ponto de acumulação do conjunto

{xν1 , xν2 , . . . , xνk , . . .} ⊂ A

e portanto, do conjunto A.
(⇐) Suponha que todo A ⊂ S infinito tem pelo menos um ponto
de acumulação em S. Seja (xk ) uma sequência qualquer em S.
O conjunto
{x1 , x2 , . . . , xk , . . .}
pode ser finito ou infinito.
(i) Se {x1 , x2 , . . . , xk , . . .} é finito então pelo menos um de seus
pontos ocorre infinita vezes na sequência (xk )k∈N . Assim, (xk )
tem uma subsequência convergente.
(ii) Se {x1 , x2 , . . . , xk , . . .} ⊂ S for infinito então por hipótese
ele tem um ponto limite x ∈ S e este é claramente o limite de
uma subsequência de (xk )k∈N .

Exemplo 1.7.3 Se S é limitado então S é limitado. De fato, se


x ∈ S = S ∪ ∂S então x ∈ S ou x ∈ ∂S. Logo, se x ∈ S então
1.8. SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 41

kxk ≤ c e se x ∈ ∂S então existe uma sequência (xk ) em S tal


que xk → x. Logo,

kxk = k lim xk k = lim kxk k ≤ lim c = c.


k→∞ k→∞ k→∞

Portanto, S é limitado.

Teorema 1.7 (Bolzano-Weierstrass) Um conjunto infinito e li-


mitado S ⊂ Rn tem pelo menos um ponto de acumulação.

Demonstração: Temos, pelo Exemplo 1.7.3 que S é limitado e


sendo S fechado, tem-se que S é compacto. Pelo Teorema 1.6,
S possui pelo menos um ponto de acumulação.

1.8 Sequências de Cauchy


Uma sequência (xk )k∈N em Rn é de Cauchy se: ∀ε > 0 ∃k0 ∈ N
tal que:
k, l > k0 ⇒ kxk − xl k < ε.

Proposição 1.7 Se (xk ) em Rn converge então (xk ) é de Cau-


chy.

Demonstração: Seja x0 = lim xk então ∀ε > 0 ∃k0 ∈ N tal


que:
ε
k > k0 ⇒ kxk − x0 k < .
2
Logo, se k, l > k0 então:
ε ε
kxk − xl k ≤ kxk − x0 k + kx0 − xl k < + = ε,
2 2
42 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

que implica (xk ) é de Cauchy.


Um subespaço S de Rn é dito completo se toda sequência de
Cauchy em S converge para um ponto de S.

Exemplo
  1.8.1 S = (0, 1] ⊂ R não
 é completo, pois, a sequência
1 1
é de Cauchy em S, mas não converge em S.
k k∈N k k∈N

Teorema 1.8 O espaço Rn é completo.

Demonstração: Seja (xk )k∈N uma sequência de Cauchy em Rn .


Se xk = (xk1 , xk2 , . . . , xkn ) então

|xki − xli | ≤ kxk − xl k, ∀1 ≤ i ≤ n.

Logo, cada sequência (xk1 )k∈N , . . . , (xkn )k∈N é uma sequência


de Cauchy em R e como R é completo existem números reais
a1 , . . . , an tais que

xk1 → a1 , . . . , xkn → an

Se x = (a1 , . . . , an ) então temos

kxk − xk ≤ |xk1 − a1 | + . . . + |xkn − an |

e desde que

|xk1 − a1 | → 0, . . . , |xkn − an | → 0 se k → ∞

então: kxk − xk → 0, ou seja, xk → x.


Critério de Cauchy: Em Rn uma sequência converge, se, e
somente se, é de Cauchy.
1.8. SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 43

Corolário 1.3 Todo subespaço fechado F de Rn é completo.

Demonstração: Seja (xk )k∈N uma sequência de Cauchy em F.


Então:

∀ε > 0 ∃k0 ∈ N tal que : k, l > k0 ⇒ kxk − xl k < ε.

Logo, (xk ) é de Cauchy em Rn e como Rn é completo existe


x ∈ Rn tal que xk → x. Como (xk ) ⊂ F então x ∈ F = F.
44 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

1.9 Exercı́cios
1.1- Mostre que

|kxk − kyk| ≤ kx − yk, ∀ x, y ∈ Rn

1.2- Mostre que

kx + yk2 + kx − yk2 = 2(kxk2 + kyk2 ), ∀x, y ∈ Rn .

1.3- Mostrar que

kx + yk2 − kx − yk2 = 4hx, yi, ∀x, y ∈ Rn .

1.4- Sejam x e y vetores não nulos de Rn perpendiculares. Mos-


tre que ∀c ∈ R temos que

kx + cyk ≥ kxk.

1.5- Sejam x, y vetores não nulos de Rn tais que: kx + cyk ≥


kxk, ∀c ∈ R. Mostre que, x e y são perpendiculares.

1.6- Seja x = (x1 , x2 , . . . , xn ) um vetor do Rn . Mostre que:

|xi | ≤ kxk ≤ |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |, ∀i = 1, 2, . . . , n.

1.7- Seja x ∈ Rn e seja 1 ≤ p < ∞. Definamos


n
! p1
X
kxkp = |xi |p
i=1
1.9. EXERCÍCIOS 45

1 1
Sejam 1 < p, q < ∞ tais que p
+ q
= 1. Mostre que

|hx, yi| ≤ kxkp kykq .

1.8- Sejam x, y ∈ Rn e seja 1 ≤ p < ∞. Mostre que:

kx + ykp ≤ kxkp + kykp (1.5)

1.9- Mostre que em R2 , a igualdade do Exercı́cio 1.2, não vale


com as normas k.kM e k.kS .

1.10- Sejam x, y ∈ Rn tais que hx, yi = 0. Mostre que:

kx + yk2 = kxk2 + kyk2 .

1.11- Um conjunto X ⊂ Rn é dito convexo quando:

a, b ∈ X, 0 ≤ t ≤ 1 ⇒ (1 − t)a + tb ∈ X

Prove que toda bola aberta ou fechada é um conjunto


convexo.

1.12- Sejam A e B conjuntos convexos do Rn então A ∩ B é


também convexo.

1.13- Seja
A = {(x, y) ∈ Rn ; y ≥ |x|}

Mostre que A é um subconjunto convexo de R2 .

1.14- Seja u um vetor não nulo do Rn e seja c ∈ R. Mostre que


o conjunto dos pontos x tais que hx, ui ≥ c é convexo.
46 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

1.15- Sejam X ⊂ Rn e Y ⊂ Rn . Prove que:


(i) int(X ∪ Y ) ⊃ intX ∪ intY ;
(ii) int(X ∩ Y ) = intX ∩ intY ;
(iii) Se X = (0, 1] e Y = [1, 2) mostre que int(X ∪ Y ) 6=
intX ∪ intY.

1.16- Prove que para qualquer conjunto X ⊂ Rn tem-se

int(intX) = intX

e conclua que intX é um conjunto aberto.

1.17- Prove que para todo X ⊂ Rn vale a união disjunta:

Rn = intX ∪ int(Rn − X) ∪ F

onde, F é a fronteira de X.

1.18- Prove que para todo X ⊂ Rn tem-se: X é fechado se, e


somente se, X = X.

1.19- Dizemos que um ponto x0 é aderente ao conjunto X ⊂ Rn


se x0 é limite de alguma sequência (xn ) de pontos de X.
Denotamos o conjunto dos pontos aderentes a X por X,
e chamamos fecho do conjunto X.
Mostre que x0 ∈ X se e só se toda bola aberta B de centro
em x0 contém algum ponto de X.

1.20- Sejam X, Y ⊂ Rn . Prove que:


(i) X ∪ Y = X ∪ Y ;
1.9. EXERCÍCIOS 47

(ii) X ∩ Y ⊂ X ∩ Y ;
(iii) Use X = [0, 1) e Y = (1, 2] para provar que X ∩ Y 6=
X ∩Y.

1.21- Prove que para todo X ⊂ Rn tem-se que X = X ∪ X 0 ,


onde X 0 é o conjunto dos pontos de acumulação de X.
Conclua que, X é fechado se, e somente se, X ⊃ X 0 .

1.22- Prove que se X ⊂ Rm e Y ⊂ Rn então

X × Y = X × Y em Rm+n

1.23- Prove que o fecho de um conjunto conexo é conexo.

1.24- Sejam A ⊂ Rn e a ∈ A. Prove que se lim xk = a então


existe k0 ∈ N tal que k > k0 ⇒ xk ∈ A.

1.25- Prove que se E ⊂ Rn é convexo então: E também é


convexo. A recı́proca é verdadeira? Justifique sua resposta.

1.26- Mostre que o subconjunto

{(x, y); x = 0, −1 ≤ y ≤ 1} ∪
  
1
(x, y); 0 < x ≤ 1, y = sen
x
de R2 é conexo.

1.27- Mostre que se uma sequência de Cauchy (xk ) em Rn tem


uma subsequência (xik ) convergente então (xk ) é conver-
gente.
48 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN

1.28- Seja (xk ) uma sequência em Rn .

Se kxk k → kxk e hxk , xi → hx, xi então xk → x.

1.29- Mostre que se K e L são subconjuntos compactos de Rm


e Rn respectivamente, então: K × L ⊂ Rm+n é compacto.

1.30- Mostre que a interseção de uma famı́lia qualquer de con-


juntos compactos Kλ ⊂ Rn é um conjunto compacto.

1.31- Seja E ⊂ Rn e seja c ∈ Rn . Define-se a distância de c a


E, que indicamos por d(c, E) pondo

d(c, E) = inf kc − xk.


x∈E

(i) Prove que, f (x) = d(x, E) é uniformemente contı́nua;


(ii) Prove que d(x, E) = 0 ⇔ x ∈ E.

1.32- Dados A ⊂ Rn e B ⊂ Rn define-se a distância entre A e


B que denota-se por d(A, B), pondo-se

d(A, B) = inf kx − yk.


x∈A
y ∈B

Prove que se A e B são compactos então existem pontos


a ∈ A e b ∈ B tal que

d(A, B) = ka − bk.

1.33- (i) Sejam A e B subconjuntos do Rn , sendo A compacto


e B fechado. Prove que d(A, B) > 0.
(ii) Dê exemplo de dois subconjuntos fechados A e B tais
que d(A, B) = 0.
1.9. EXERCÍCIOS 49

1.34- Sejam A e B subconjuntos de Rn , e consideremos

A + B = {x + y; x ∈ A e y ∈ B}

Prove que:
(i) Se A ou B é aberto então A + B é aberto.
(ii) Se A e B são compactos então A + B é compacto.
(iii) Se A é compacto e B é fechado então: A + B é
fechado.

1.35- Prove que A ⊂ Rn é aberto se, e somente se: A∩f r(A) =


∅.

1.36- Mostre que a esfera unitária

S = {x ∈ Rn ; kxk = 1}

é um conjunto compacto de Rn .

1.37- Prove que: lim xk = x em Rn se, e somente se, limhxk , yi =


hx, yi, ∀y ∈ Rn .
50 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TOPOLOGIA NO RN
Capı́tulo 2

Limite e Continuidade de
Funções

2.1 Limite de Funções


Seja f : S ⊂ Rm → Rn uma função, x0 ∈ Rm um ponto de
acumulação de S e y0 ∈ Rn .
Dizemos que lim f (x) = y0 se, ∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que
x→x0

0 < kx − x0 k < δ ⇒ kf (x) − y0 k < ε.

Exemplo 2.1.1 Sejam S = R2 − {(0, 0)} e f : S → R definida


por
x2 y
f (x, y) = .
x2 + y 2
Então:
lim f (x, y) = 0.
(x,y)→(0,0)

51
52CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

De fato, temos

x2 y x2 |y| p
|f (x, y) − 0| = 2 2
= 2 2
≤ |y| ≤ x2 + y 2
x +y x +y

Logo, dado ε > 0 seja δ = ε então

0 < k(x, y) − (0, 0)k < δ ⇔


p
0< x2 + y 2 < δ ⇒ |f (x, y)| < δ = ε.

Teorema 2.1 Sejam f : S ⊂ Rm → Rn uma função, x0 um


ponto de acumulação de S e y0 ∈ Rn . Então, lim f (x) = y0 ,
x→x0
se e somente se, para qualquer sequência (xk ) em S − {x0 } tal
que xk → x0 , temos f (xk ) → y0 se k → ∞.

Demonstração: (⇒) Temos lim f (x) = y0 então, ∀ε > 0


x→x0
existe δ > 0 tal que

x ∈ S e 0 < kx − x0 k < δ ⇒ kf (x) − y0 k < ε.

Assim, se (xk ) for qualquer sequência em S − {x0 } tal que xk →


x0 então, existe k0 ∈ N satisfazendo 0 < kxk − x0 k < δ, ∀k >
k0 .
Logo,
kf (xk ) − y0 k < ε ∀k > k0 ,

e, f (xk ) → y0 .
(⇐) Suponha, sempre que (xk ) está em S − {x0 } e xk → x0 ,
tem-se f (xk ) → y0 . Se f (x) 6→ y0 quando x → x0 então existe
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 53

um ε0 > 0 com a seguinte propriedade: Para todo δ > 0 existe


x ∈ S com

0 < kx − x0 k < δ mas kf (x) − y0 k ≥ ε0 > 0.


1
Em particular, para δ = k
existe uma sequência (xk ) em S tal
que:
1
0 < kxk − x0 k < e kf (xk ) − y0 k ≥ ε0 > 0.
k
Assim, existe uma sequência (xk ) em S − {x0 } tal que

xk → x0 mas f (xk ) 6→ y0 .

Isto contradiz a hipótese original e portanto, lim f (x) = y0 .


x→x0

Corolário 2.1 Sejam f, g : S ⊂ R → R funções e x0 ∈ Rm


m n

um ponto de acumulação de S e y0 e z0 pontos de Rn . Seja


também, a função real
α : S ⊂ Rm → R. Suponha que, lim f (x) = y0 , lim g(x) = z0
x→x0 x→x0
e lim α(x) = β ∈ R. Então:
x→x0
(i) lim [f (x) + g(x)] = y0 + z0 ;
x→x0
(ii) lim α(x)f (x) = βy0 ;
x→x0
(iii) lim hf (x), g(x)i = hx0 , y0 i.
x→x0

2.2 Funções Contı́nuas


Seja f : S ⊂ Rm → Rn uma função e x0 ∈ S. Dizemos que
f é contı́nua em x0 se: ∀ε > 0 ∃δ(ε, x0 ) > 0 tal que:

x ∈ S e kx − x0 k < δ ⇒ kf (x) − f (x0 )k < ε.


54CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Ou equivaletemente

∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que : f (B(x0 ; δ) ∩ S) ⊂ B(f (x0 ); ε).

Exemplo 2.2.1 Seja f : R2 → R definida por


 2
 x y , se (x, y) =

6 (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

 0, se (x, y) = (0, 0)

Então, f é contı́nua em (0, 0).

Exemplo 2.2.2 ( Projeções.) Seja πj : Rm → R definidas


por
πj (x) = xj , x = (x1 , x2 , . . . , xm ).
Então
|πj (x) − πj (x0 )| = |xj − x0j | ≤ kx − x0 k,
onde x0 = (x01 , x02 , . . . , x0m ).
Dado ε > 0 tome δ = ε e kx − x0 k < δ implica

|πj (x) − πj (x0 )| < ε, j = 1, 2, . . . , m.

Logo, as projeções πj são contı́nuas.

Funções Componentes de f . Seja

f : S ⊂ Rm → Rn
x 7→ f (x)
f (x) = (f1 (x), . . . , fn (x)), onde fj : S ⊂ Rm → R, j =
1, 2, . . . , n são chamadas funções componentes de f ou funções
coordenadas de f .
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 55

Exemplo 2.2.3 Seja

f : S ⊂ R3 → R3
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = (x + y, x − y, x + y + z)

Assim f = (f1 , f2 , f3 ), onde as funções fj : S ⊂ R3 → R, j =


1, 2, 3 são dadas por

f1 : S ⊂ R3 → R
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = x + y,

f2 : S ⊂ R3 → R
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = x − y
e
f3 : S ⊂ R3 → R
(x, y, z) 7→ f (x, y, z) = x + y + z.

Proposição 2.1 Sejam f : S ⊂ Rm → Rn e x0 ∈ S. Então,


f = (f1 , . . . , fn ) é contı́nua em x0 ∈ S, se e somente se, para
cada 1 ≤ j ≤ n temos fj contı́nua em x0 .

Demonstração: Use a seguinte desigualdade

|fj (x) − fj (x0 )| ≤ kf (x) − f (x0 )k ≤ |f1 (x) − f1 (x0 )| + · · · +

|fn (x) − fn (x0 )|, ∀1 ≤ j ≤ n.

(⇒) f contı́nua em x0 então ∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que

x ∈ S e kx − x0 k < δ ⇒ kf (x) − f (x0 )k < ε,


56CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

donde

|fj (x) − fj (x0 )| < ε sempre que x ∈ S e kx − x0 k < δ.

Portanto, fj é contı́nua em x0 .
(⇐) Se f1 , f2 , . . . , fn são contı́nuas em x0 então ∀ε > 0 existem
δ1 , δ2 , . . . , δn > 0 tais que
ε
x ∈ S e kx − x0 k < δj ⇒ |fj (x) − fj (x0 )| < , ∀1 ≤ j ≤ n.
n
Seja δ = min{δ1 , δ2 , . . . , δn }. Logo,
ε ε ε
x ∈ S e kx−x0 k < δ ⇒ kf (x)−f (x0 )k ≤ + +. . .+ = ε.
n n n

Observação 2.1 Se f : S ⊂ Rm → Rn é uma função e x0 ∈


Rm é um ponto isolado de S então f é contı́nua em x0 .
De fato, dado ε > 0 tome δ = ε para obter

kx − x0 k < δ ⇒ x = x0 ⇒

f (x) = f (x0 ) ⇒ kf (x) − f (x0 )k = 0 < ε.

Teorema 2.2 Seja f : S ⊂ Rm → Rn uma função e x0 ∈ S.


Assim, f é contı́nua em x0 , se e somente se, para toda sequência
(xk ) em S com xk → x0 tem-se f (xk ) → f (x0 ).

Demonstração: Semelhante à demonstração do Teorema 2.1.


2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 57

Corolário 2.2 Sejam f, g : S ⊂ Rm → Rn e φ : S → R funções


contı́nuas em x0 ∈ S, então
(i) f + g : S → Rn e φf : S → Rn são contı́nuas em x0 ∈ S;
(ii) hf, gi : S → R é contı́nua em x0 ∈ S.

Teorema 2.3 Sejam f : S ⊂ Rm → Rn , g : U ⊂ Rn → Rp


com f (S) ⊂ U. Se f é contı́nua em x0 ∈ S e g é contı́nua em
y0 = f (x0 ) ∈ U então: h = g ◦ f é contı́nua em x0 .

Demonstração: Desde que f é contı́nua em x0 ∈ S, pelo Teo-


rema 2.2, para qualquer sequência (xk ) em S com xk → x0 temos
f (xk ) → f (x0 ) = y0 . Agora, sendo g contı́nua em y0 = f (x0 ) te-
mos que g(f (xk )) → g(f (x0 )), ou seja, para qualquer sequência
(xk ) em S, com xk → x0 temos

(g ◦ f )(xk ) → (g ◦ f )(x0 ).

Novamente pelo Teorema 2.2 temos que h = g ◦ f é contı́nua


em x0 .

Exemplo 2.2.4 Seja f : R2 → R2 de modo que


 p 
2 2 2 2
f (x, y) = ln(x + y + 1), x + y

Logo, f1 (x, y) = ln(x2 + y 2 + 1) é contı́nua.


De fato, f1 = ψ ◦ ϕ, onde ϕ(x, y) = x2 + y 2 + 1 e ψ(t) = ln t.
Sendo ψ e ϕ contı́nuas, temos que f1 é contı́nua.
p
f2 (x, y) = x2 + y 2 é contı́nua.

De fato, f2 = α ◦ θ, onde α(x, y) = x2 + y 2 e θ(t) = t. Sendo
58CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

α e θ contı́nuas, temos que f2 é contı́nua.


Logo, f = (f1 , f2 ) é contı́nua, pois f1 e f2 são contı́nuas.

Definição 2.1 f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua em S quando f é


contı́nua em cada x0 ∈ S.

Teorema 2.4 f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua em S, se e somente


se, f −1 (A) for aberto em S para todo conjunto aberto A do Rn .

Demonstração: (⇒) Suponhamos que f : S ⊂ Rm → Rn é


contı́nua e seja A ⊂ Rn um aberto. Mostraremos que

f −1 (A) = {x ∈ S; f (x) ∈ A}

é aberto em S. Seja x ∈ f −1 (A), então f (x) ∈ A e como A é


aberto, existe ε > 0 tal que B(f (x); ε) ⊂ A. Como f é contı́nua
em x, existe δ > 0 tal que f (B(x; δ) ∩ S) ⊂ B(f (x); ε). Logo,

B(x; δ)∩S ⊂ f −1 (f (B(x; δ)∩S)) ⊂ f −1 (B(f (x)); ε) ⊂ f −1 (A)

que implica f −1 (A) é aberto em S.


(⇐) Suponhamos que f −1 (A) é aberto em S, para todo A ⊂ Rn
aberto. Mostremos que f é contı́nua em x ∈ S. Seja ε > 0
dado. O conjunto A = B(f (x); ε) é aberto em Rn . Logo, A1 =
f −1 (B(f (x); ε)) é aberto em S e x ∈ A1 . Portanto, existe δ > 0
tal que B(x; δ) ∩ S ⊂ A1 que implica

f (B(x; δ) ∩ S) ⊂ f (A1 ) ⊂ B(f (x); ε),

o que acarreta f contı́nua em x.


2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 59

Exercı́cio 2.2.1 Mostre que f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua, se


e somente se, ∀F ⊂ Rn fechado, f −1 (F ) é fechado em S.

Exemplo 2.2.5 Seja A = {(x, y) ∈ R2 : x2 − y 2 < 1} e seja


f (x, y) = x2 − y 2 . Então, f é contı́nua e A = f −1 (] − ∞, 1[) é
aberto em R.

Exemplo 2.2.6 Seja B = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} e seja


g(x, y) = x2 +y 2 . Então, g é contı́nua e B = g −1 ({1}) é fechado.

Corolário 2.3 Se f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua e A é aberto


em f (S), então f −1 (A) é aberto em S.

Demonstração: Temos, A = f (S) ∩ V, onde V é um aberto


em Rn . Logo, f −1 (A) = S ∩ f −1 (V ) é aberto em S.

Proposição 2.2 Se f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua e S é conexo


então: f (S) é conexo.

Demonstração: Suponha que A é um aberto, fechado em B =


f (S) e que A 6= ∅. Então, existem conjuntos abertos e fechados
G e F em Rn tais que A = G ∩ B e A = F ∩ B. Logo,

f −1 (A) = f −1 (G ∩ B) = f −1 (G) ∩ f −1 (B) = f −1 (G) ∩ S.

Sendo f contı́nua, segue do Teorema 2.4 que f −1 (G) é aberto


em Rm e portanto f −1 (A) é aberto em S. Usando o Exercı́cio
2.2.1 tem-se f −1 (F ) é fechado em Rm e portanto, f −1 (A) =
f −1 (F ) ∩ S é fechado em S. Assim, sendo A 6= ∅ tem-se que
60CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

f −1 (A) 6= ∅ e S sendo conexo, segue-se que A = f (S) = B.


Portanto, f (S) é conexo.

Corolário 2.4 Se f : S ⊂ Rm → R for contı́nua e S for um


conexo. Então, f (S) é um intervalo.

Demonstração: Como f é contı́nua e S é conexo pelo Teorema


2.4 tem-se que f (S) é conexo, mas pela Proposição 1.4, todos
os conexos de R são intervalos.
O Corolário acima pode ser reformulado e enunciado como
segue:

Teorema 2.5 (Teorema do Valor Intermediário) Seja A ⊂


Rn um conexo e seja f : A ⊂ Rn → R uma função contı́nua. Se
existem a, b ∈ A e d ∈ R tais que f (a) < d < f (b) então existe
c ∈ A tal que f (c) = d.

Exercı́cio 2.2.2 Se f : [a, b] → R é contı́nua então f assume


1
em [a, b] todo valor entre f (a) e f (b).

Proposição 2.3 Se f : K ⊂ Rm → Rn é contı́nua e K é


compacto, então f (K) é compacto em Rn .

Demonstração: Seja {Aλ } uma cobertura aberta de f (K), isto


[ [
é, f (K) ⊂ Aλ então K ⊂ f −1 (Aλ ). Logo, {f −1 (Aλ )}
λ λ
é uma cobertura aberta de K e como K é compacto, K ⊂
1
Este resultado é conhecido como Teorema do Valor Intermediário.
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 61

r
[ r
[
−1
f (Aλj ) donde f (K) ⊂ Aλj . Portanto, f (K) é com-
j=1 j=1
pacto.

Corolário 2.5 Se f : K ⊂ Rm → Rn é contı́nua e K é com-


pacto então f (K) é fechado e limitado.

Corolário 2.6 Se f : K ⊂ Rm → R é contı́nua e K é compacto


então f é limitada e assume seu ı́nfimo e seu supremo em K, isto
é, existem x0 , x1 ∈ K tais que f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ), ∀x ∈ K.

”Este corolário, segue do fato que, um conjunto fechado e limi-


tado de R contém seu supremo e seu ı́nfimo.”

Exemplo 2.2.7 A função f : B[0, 1] ⊂ R2 → R definida por


f (x, y) = x2 + y 2 é limitada e assume seu ı́nfimo e seu supremo
na bola fechada B[0, 1].
p
De fato, para (x, y) ∈ B[0, 1] tem-se x2 + y 2 ≤ 1, donde
0 ≤ x2 + y 2 ≤ 1, isto é, 0 ≤ f (x, y) ≤ 1.
Mostra-se que seu ı́nfimo é 0 e o supremo é 1.

Teorema 2.6 Se f : K ⊂ Rm → Rn é contı́nua, bijetiva e K é


compacto então, f −1 é contı́nua, isto é, f é um homeomorfismo.2

Demonstração: Seja (yk )k∈N uma sequência em Rn que con-


verge para um ponto y ∈ Rn . Desejamos provar que f −1 (yk ) →
2
Uma aplicação f : A ⊂ Rm → B ⊂ Rn bijetiva e contı́nua, cuja
inversa f −1 : B → A é contı́nua é chamada um homeomorfismo.
62CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

f −1 (y). Seja xk = f −1 (yk ). Desde que K é compacto, (xk ) pos-


sui uma subsequência (xνk ) que converge para x ∈ K. Como
f é contı́nua, yνk = f (xνk ) → f (x). Mas, yνk → y. Portanto,
y = f (x), isto é, x = f −1 (y). Assim, toda subsequência conver-
gente de (xk ) converge para x = f −1 (y). Segue pela compaci-
dade de K que xk → x, ou seja, f −1 (yk ) → f −1 (y).

Exemplo 2.2.8 A função f : [0, 1] → [2, 3] definida por f (x) =


x + 2 é um homeomorfismo, pois f é bijetiva e contı́nua e sua
inversa f −1 : [2, 3] → [0, 1] definida por f −1 (x) = x − 2 é
contı́nua.

Exercı́cio 2.2.3 Seja f : [0, 1) ∪ {2} → R definida por



 x, se x ∈ [0, 1)
f (x) =
 1, se x = 2

Mostre que f é uma bijeção contı́nua e que a sua inversa f −1


não é contı́nua.

Definição 2.2 Seja f : S ⊂ Rm → Rn uma função. Dize-


mos que f é uniformemente contı́nua em S se ∀ε > 0 ∃δ >
0(dependendo apenas de ε) tal que:

∀x1 , x2 ∈ S e kx1 − x2 k < δ ⇒ kf (x1 ) − f (x2 )k < ε.

Isto é equivalente ao conjunto

E(δ) = {kf (x1 ) − f (x2 )k; kx1 − x2 k < δ}

ser limitado e ω(δ) = sup E(δ) → 0 se δ → 0.


2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 63

1
Exemplo 2.2.9 A função f : (0, 1) → R dada por f (x) = x

contı́nua, mas não é uniformemente contı́nua.
De fato,
 
1 1
E(δ) = − ; x1 , x2 ∈ (0, 1) e |x1 − x2 | < δ ⊃
x1 x2
   
1 1 1
1 − ;0 < x < δ = ; 0<x<δ ,
2
x x x

isto é,  
1
E(δ) ⊃ ; 0<x<δ ,
x
e portanto, E(δ) não é limitado.

Teorema 2.7 Seja f : S ⊂ Rm → Rn contı́nua e seja S com-


pacto então, f é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Suponha que f não seja uniformemente contı́nua.


Então, existe ε > 0 com a propriedade que, para todo δ > 0 cor-
responde x, y ∈ S tais que:

kx − yk < δ e kf (x) − f (y)k ≥ ε.

Assim, existem sequências (xk ) e (yk ) em S tais que


1
kxk − yk k < e kf (xk ) − f (yk )k ≥ ε.
k
Desde que, S é compacto a sequência (xk ) contém uma sub-
sequência (xνk ) que converge para α. Note que,
1
kyνk − αk ≤ kyνk − xνk k + kxνk − αk < + kxνk − αk → 0
νk
64CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Portanto, yνk → α e sendo, f contı́nua f (xνk ) → f (α) e


f (yνk ) → f (α), segue-se que

kf (xνk ) − f (yνk ))k → 0 (2.1)

Entretanto, (xνk , yνk ) é uma subsequência da sequência (xk , yk ),


portanto
kf (xνk ) − f (yνk )k ≥ ε, ∀ k ∈ N (2.2)

Como (2.1) e (2.2) são incompatı́veis, f é uniformemente contı́nua.

2.2.1 O Espaço Vetorial L(E, F )


Fixemos dois espaços vetoriais reais E e F normados com
normas k.kE e k.kF , respectivamente.
Uma aplicação T : E → F é dita linear se

T (αx + y) = αT (x) + T (y), ∀x, y ∈ E e ∀α ∈ R.

Uma função linear ϕ : E → R é denominada um funcional


linear.

Teorema 2.8 Seja T : E → F uma transformação linear. Então,


as seguintes afirmações são equivalentes
(i) T é uniformemente contı́nua;
(ii) T é contı́nua;
(iii) T é contı́nua em x = 0;
(iv) Existe c > 0 tal que kT xkF ≤ ckxkE , ∀x ∈ E.
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 65

Demonstração: (i) ⇒ (ii) Óbvia.


(ii) ⇒ (iii) Óbvia.
(iii) ⇒ (iv) Suponha que (iv) não ocorra. Então, ∀n ∈ N
existe um ponto xn ∈ E, xn 6= 0 tal que kT xn kF > nkxn kE .
1 xn 1
Seja yn = . Então: kyn kE = → 0, donde, yn → 0
n kxn kE n
em E.
Mas,  
1 xn 1
T yn = T = T xn ,
n kxn kE nkxn kE
implica
1
kT yn kF = kT xn kF > 1, ∀n ∈ N,
nkxn kE

donde kT yn kF 6→ 0 e portanto T yn 6→ 0. Logo, T não é contı́nua


em 0.
(iv) ⇒ (i) Temos,

kT x − T ykF = kT (x − y)kF ≤ ckx − ykE , ∀x, y ∈ E.

Agora, dado ε > 0, basta escolher δ ≤ ε, donde T é uniforme-


mente contı́nua.

Exemplo 2.2.10 Seja P = o espaço vetorial dos polinômios


p : R → R, com as normas

|p|1 = sup |p(t)| e |p|2 = sup |p(t)|


t∈[0,1] t∈[0,2]

Então, a aplicação, id : {P, |.|1 } → {P, |.|2 } não é contı́nua.


66CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES
 n
t
De fato, seja pn (t) = . Se t ∈ [0, 1] então:
2
 n  n
t 1 1
≤ = n → 0 se n → ∞.
2 2 2
independente de t ∈ [0, 1], portanto |pn |1 → 0 sempre que n →
∞.
t
Por outro lado, se 0 ≤ t < 2 então 0 ≤ 2
< 1 e ( 2t )n → 0
sempre que n → ∞.
t
Se t = 2 então 2
= 1 e ( 2t )n = 1 → 1.
Assim, pn (t) → f (t) pontualmente em [0, 2], onde
(
0 se 0 ≤ t < 2
f (t) =
1 se t = 2
Como, f não é contı́nua em [0, 2], a convergência de (pn ) para
f não pode ser uniforme. Logo, (pn ) não converge em {P, |.|2 }.

Proposição 2.4 Toda aplicação linear T : Rm → F é contı́nua.

Demonstração: Seja β = {e1 , e2 , . . . , em } a base canônica do


m
X
m
R e seja c = kT ei kF . Dado um ponto x = (x1 , x2 , . . . , xm ) =
i=1
m
X
xi ei em Rm então
i=1

m
X m
X
Tx = xi T ei ⇒ kT xkF ≤ |xi |kT ei kF ≤ ckxkS ≤ Ckxk,
i=1 i=1
onde na última desigualdade usamos a equivalência da norma da
3
soma e da norma euclidiana.
3
Uma aplicação linear T : V → W bijetiva é chamada de isomorfismo.
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 67

Definição 2.3 Uma função f : V → W é dita Lipschitiziana se


existe k > 0 tal que

kf (x) − f (y)kW ≤ kkx − ykV .

Exercı́cio 2.2.1 Mostre que se uma função f : V → W é Lips-


chitiziana então f é contı́nua.

Proposição 2.5 Sejam E um espaço vetorial de dimensão finita


n β = {v1 , v2 , . . . , vn } uma base de E. Considere o isomorfismo
natural n
X
n
φ : R → E tal que φ(x) = xi v i .
i=1

Então
(i) φ é contı́nua;
(ii) φ−1 : E → Rn é contı́nua.

Demonstração: (i) A prova de (i) decorre da Proposição 2.4.


(ii) Considere a função k.kE : E → R que é lipschitiziana e
portanto, contı́nua. Logo,

φ k.kE
Rn / E / R e ϕ = k.kE ◦ φ : Rn → R

Assim, ϕ(x) = kφ(x)kE é contı́nua em Rn e a função contı́nua


ϕ, assume um máximo e um mı́nimo no conjunto compacto K =
{x ∈ Rn ; kxk = 1} ⊂ Rn .
Seja x0 ∈ K um ponto de mı́nimo, isto é, ϕ(x0 ) ≤ ϕ(x), ∀x ∈
K.
68CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

x
Dado x ∈ Rn , x 6= 0 então kxk ∈ K e portanto,
   
x x
ϕ (x0 ) ≤ ϕ ⇒ kφ(x0 )kE ≤ φ ⇒
kxk kxk E
1
kφ(x0 )kE ≤ kφ(x)kE
kxk
Assim,
kφ(x0 )kE kxk ≤ kφ(x)kE (2.3)

Mas, (2.3) vale se x = 0. Logo,

kφ(x0 )kE kxk ≤ kφ(x)kE , ∀x ∈ Rn .

Dado y ∈ E existe um único x ∈ Rn tal que y = φ(x), donde

1
kφ−1 (y)k ≤ kykE ,
kφ(x0 )k

portanto φ−1 : E → Rn contı́nua em E.

Corolário 2.7 Se dim E < ∞ então, toda aplicação linear T :


E → F é contı́nua.

A prova deste Corolário já foi feita na Proposição 2.4.

Corolário 2.8 Se dimE < ∞ então, quaiquer duas normas em


E são equivalentes.

Demonstração: Sejam |.| e k.k normas em E. Temos que

id : {E, |.|} → {E, k.k}


2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 69

é contı́nua, logo, existe c1 > 0 tal que kid(x)k ≤ c1 |x|, ou seja,

kxk ≤ c1 |x|, ∀x ∈ E. (2.4)

Observe que
id : {E, k.k} → {E, |.|}

também é contı́nua. Logo, existe c2 > 0 tal que |id(x)| ≤ c2 kxk


ou
|x| ≤ c2 kxk, ∀x ∈ E. (2.5)
1
De (2.4) e (2.5), resulta que c2
|x| ≤ kxk ≤ c1 |x|, ou

1
kxk ≤ |x| ≤ c2 kxk, ∀x ∈ E.
c1

Onde, desta última desigualdade concluı́mos que |.| e k.k são


equivalentes.
Notação: O espaço vetorial das aplicações lineares contı́nuas
T : E → F será representado por L(E, F ) e será equipado com
a norma  
kT xkF
kT kL(E,F ) = sup ; x 6= 0
kxkE

Exemplo 2.2.11 Consideremos a transformação linear T : R2 →


R2 definida por T (x, y) = (2x, 2y). Então
 
kT (x, y)kR2
kT kL(R2 ,R2 ) = sup ; (x, y) 6= (0, 0) =
k(x, y)kR2

sup{2 : (x, y) 6= (0, 0)} = 2.


70CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Veremos a seguir que a aplicação

k.kL(E,F ) : L(E, F ) → R
T 7→ kT kL(E,F )

define uma norma em L(E, F ).

(i) De fato, notemos primeiro que


kT xkF
kT kL(E,F ) = sup ≥ 0.
x6=0 kxkE
Logo,
kT xkF kT xkF
kT kL(E,F ) = 0 ⇒ ≤ sup = kT k = 0 ⇒
kxkE x6=0 kxkE
kT xkF = 0, ∀x 6= 0
Logo, T x = 0, ∀x 6= 0 e sendo T 0 = 0, temos que, T x =
0, ∀x ∈ E. Portanto, T ≡ 0.
Reciprocamente, se T ≡ 0 então T x = 0, ∀x ∈ E, donde
kT xkF
kT kL(E,F ) = sup = 0.
x6=0 kxkE
(ii)
k(λT )xkF kλT xkF
kλT kL(E,F ) = sup = sup =
x6=0 kxkE x6=0 kxkE

|λ|kT xkF kT xkF


= sup = |λ| sup = |λ|kT kL(E,F ) , ∀λ ∈ R.
x6=0 kxkE x6=0 kxkE

(iii)
k(T1 + T2 )(x)kF kT1 xkF kT2 xkF
≤ + ≤
kxkE kxkE kxkE
kT1 kL(E,F ) + kT2 kL(E,F ) , x 6= 0
2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 71

donde
k(T1 + T2 )(x)kF
sup ≤
x6=0 kxkE
kT1 kL(E,F ) + kT2 kL(E,F ) ,
e portanto, kT1 + T2 kL(E,F ) ≤ kT1 kL(E,F ) + kT2 kL(E,F ) .

Observação 2.2 (i) kT xkF ≤ kT kL(E,F ) kxkE ;


(ii) kT1 ◦ T2 kL(E,W ) ≤ kT1 kL(F,W ) kT2 kL(E,F ) ,
onde T1 ∈ L(F, W ) e T2 ∈ L(E, F ).
(i) De fato,

kT xkF kT xkF
kT kL(E,F ) = sup ⇒ ≤ kT kL(E,F ) , x 6= 0 ⇒
x6=0 kxkE kxkE
kT xkF ≤ kT kL(E,F ) kxkE , ∀x ∈ E e x 6= 0.

Mas, kT 0kF = kT kL(E,F ) k0kE , logo

kT xkF ≤ kT kL(E,F ) kxkE , ∀x ∈ E.

(ii) Temos,

k(T1 ◦ T2 )xkW kT1 (T2 (x))kW


kT1 ◦ T2 kL(E,W ) = sup = sup ≤
x6=0 kxkE x6=0 kxkE
kT1 kL(F,W ) kT2 xkF kT2 xkF
≤ sup = kT1 kL(F,W ) sup =
x6=0 kxkE x6=0 kxkE

kT1 kL(F,W ) kT2 kL(E,W ) .

Portanto, kT1 ◦ T2 kL(E,W ) ≤ kT1 kL(F,W ) kT2 kL(E,F ) .


72CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Exercı́cio 2.2.4 Prove que, a transformação T : Rm → Rn


é linear, se e somente se, ela é da forma T (x1 , x2 , . . . , xm ) =
(y1 , y2 , . . . , yn ), onde

 y1 = a11 x1 + . . . + a1m xm


.. ..
. .


 y = an1 x1 + . . . + anm xm
n

ou,     
y1 a11 . . . a1m x1
 .   . ..  . 
 ..  =  .. .   .. 
    
yn an1 . . . anm xm
A matriz (aji )n×m é dita matriz da transformação linear T.

Teorema 2.9 Se (aij ) é a matriz de T ∈ L(Rm , Rn ) então


m Xn
! 12
X
max |aji | ≤ kT k ≤ a2ji . (2.6)
1≤i≤m
1≤j≤n i=1 j=1

Demonstração: Seja x um ponto qualquer de Rm e considere


y = T (x). Pelo exercı́cio anterior, temos

 y1 = a11 x1 + . . . + a1m xm




 y = a x + ... + a x
2 21 1 2m m
. . (2.7)

 .
. .
.


 yn = an1 x1 + . . . + anm xm

Usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, com a = (a11 , a12 ,


. . . , a1m ) e x = (x1 , x2 , . . . , xn ) e usando (2.7) temos

|ha, xi| ≤ kakkxk ⇒ y12 = |a11 x1 + . . . + a1m xm |2 ≤


2.2. FUNÇÕES CONTÍNUAS 73

n
! n
!
X X
a21i x2i .
i=1 i=1
Portanto, ! !
m
X m
X
y12 ≤ a21i x2i
i=1 i=1
m
! m
!
X X
y22 ≤ a22i x2i
i=1 i=1
..
.
m
! m
!
X X
yn2 ≤ a2ni x2i
i=1 i=1

Somando membro a membro, obtemos


m
! m ! m
! m !
X X X X
2 2 2 2 2 2
y1 +. . .+yn ≤ a1i xi +. . .+ ani xi
i=1 i=1 i=1 i=1

Ou seja,
m m
!
X X
kyk2 ≤ a21i + . . . + a2ni kxk2 ,
i=1 i=1
ou !
m X
X n
2
kyk ≤ a2ji kxk2
i=1 j=1

donde ! 12
m X
X n
kT xk ≤ a2ji kxk
i=1 j=1

Se x 6= 0 então
m X
n
! 21
kT xk X
≤ a2ji
kxk i=1 j=1
74CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Logo,
m X
n
! 12
kT xk X
sup ≤ a2ji ,
x6=0 kxk i=1 j=1

e
m X
n
! 12
X
kT k ≤ a2ji .
i=1 j=1

Assim, se |aqp | = max |aji |, seja x∗ o vetor de Rm com p-


1≤i≤m
1≤j≤n
ésima componente igual a 1 e o restante das componentes nulas.
Então, kx∗ k = 1 e
 
a1p
 .  2 21
T (x∗ ) =  .  ∗ 2
 .  ⇒ kT (x )k = (a1p + . . . + anp ) ≥ |aqp |.
anp

Assim,
max |aji | = |aqp | ≤ kT (x∗ )k ≤ kT k.
1≤i≤n
1≤j≤n

Exercı́cio 2.2.5 Mostre que kT k = sup kT xk = sup kT xk.


kxk=1 kxk≤1

2.3 Aplicações Bilineares


Sejam E, F e G espaços vetoriais normados. No produto
cartesiano E × F consideremos uma das normas
2.3. APLICAÇÕES BILINEARES 75

p
k(u, v)k1 = kuk2E + kvk2F

k(u, v)k2 = kukE + kvkF

k(u, v)k3 = max{kukE , kvkF }


Convergência em E × F.

(uk , vk ) → (u, v) em E × F quando k → ∞ ⇔

uk → u em E e vk → v em F.

Continuidade em E × F.
Uma função f : E × F → G é contı́nua em (u0 , v0 ) ∈ E × F
se

(uk , vk ) → (u0 , v0 ) então f (uk , vk ) → f (u0 , v0 ) em G.

Definição 2.4 Uma aplicação B : E ×F → G é bilinear quando

(i) B(u+λv, w) = B(u, w)+λB(v, w), ∀u, v ∈ E, w ∈ F e λ ∈


R;
(ii) B(u, λv + w) = λB(u, v) + B(u, w), , ∀u ∈ E, v, w ∈
F e λ ∈ R.

Exemplo 2.3.1 Produto de números reais.

P : R×R → R
(x, y) 7→ x.y
76CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Exemplo 2.3.2 Produto interno em Rn .

h , i : Rn × Rn → R
n
X
(x, y) 7→ hx, yi = xi y i .
i=1

Temos
|hx, yi| ≤ kxkkyk, ∀x, y ∈ Rn .

Exemplo 2.3.3 Composição de aplicações lineares.

µ : L(Rm , Rn ) × L(Rn , Rp ) → L(Rm , Rp )


(T, U ) 7→ U ◦T

Temos

kµ(T, U )k = kU ◦ T kL(Rm ,Rp ) ≤ kU kL(Rn ,Rp ) kT kL(Rm ,Rn )

Teorema 2.10 Seja B : E × F → G uma aplicação bilinear.


Então as seguintes afirmações são equivalentes:

(i) B é contı́nua;
(ii) B é contı́nua em (0, 0);
(iii) Existe c > 0 tal que |B(u, v)|G ≤ c|u|E |v|F , ∀(u, v) ∈
E × F.

Demonstração: (i) ⇒ (ii) Como B é contı́nua, em particular


B é contı́nua no ponto (0, 0).
(ii) ⇒ (iii) Se (iii) não ocorre então para cada n ∈ N existe
(uk , vk ) em E × F tal que

kB(uk , vk )kG > kkuk kE kvk kF


2.3. APLICAÇÕES BILINEARES 77

1 uk 1 vk
Sejam zk = √ e wk = √ então,
k kuk kE k kvk kF
1 1
kzk kE = √ → 0 e kwk kF = √ → 0 em R.
k k
Logo, zk → 0 em E e wk → 0 em F. Assim,

(zk , wk ) → (0, 0) em E × F

donde, por (ii) obtemos

B(zk , wk ) → B(0, 0) = 0.

Mas,
 
1 uk 1 vk
kB(zk , wk )kG = B √ ,√ =
k kuk kE k kvk kF G

1
kB(uk , vk )k > 1,
kkuk kE kvk kF
o que contradiz o fato que, B(uk , vk ) → 0.
(iii) ⇒ (i) Sejam (u0 , v0 ) ∈ E ×F e (uk , vk ) → (u0 , v0 ) em E ×
F. Então, temos que

kB(uk , vk ) − B(u0 , v0 )kG =

= kB(uk , vk ) − B(u0 , vk ) + B(u0 , vk ) − B(u0 , v0 )kG =

= kB(uk − u0 , vk ) + B(u0 , vk − v0 )kG ≤

≤ kB(uk − u0 , vk )kG + kB(u0 , vk − v0 )kG ≤

≤ c2 ku0 kE kvk − v0 kF + c1 kvk kF kuk − u0 kE ≤

≤ c2 ku0 kE kvk − v0 kF + c1 c3 kuk − u0 kE → 0 em R.


78CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

Corolário 2.9 Se dimE < ∞ e dimF < ∞ então, toda aplica-


ção bilinear B : E × F → G é contı́nua.

Demonstração: Sejam α = {u1 , u2 , . . . , um } uma base de E e


X
β = {v1 , v2 , . . . , vn } uma base de F. Seja c = kB(ui , vj )kG .
1≤i≤m
1≤j≤n
m
X n
X
Dado (u, v) ∈ E × F então, u = xi ui e v = yj vj .
i=1 j=1
Assim,
X
B(u, v) = xi yj B(ui , vj ).
1≤i≤m
1≤j≤n

Logo,
X
kB(u, v)kG ≤ |xi ||yi |kB(ui , vj )kG ≤
1≤i≤m
1≤j≤n
X
≤ kkukE kvkF kB(ui , vj )kG = CkukE kvkF ,
1≤i≤m
1≤j≤n

onde na última desigualdade, usamos a norma da soma e a equi-


valência das normas da soma e da norma euclidiana.
Assim, B é contı́nua em E × F.

Notação: L2 (E×F, G) = {B : E×F → G bilinear contı́nua}.


Quando E = F escrevemos L2 (E, G).

L2 (Rm , Rn ) = {B : Rm × Rm → Rn bilinear}
e
L2 (E) = {B : E × E → E bilinear contı́nua}
2.4. EXERCÍCIOS 79

2.4 Exercı́cios
2.1- Sejam A e B subconjuntos fechados e disjuntos de Rn .
Mostre que existe uma função contı́nua ϕ : Rn → R tal
que (
0 se x ∈ A
ϕ(x) =
1 se x ∈ B
e
0 ≤ ϕ(x) ≤ 1, ∀x ∈ Rn .

2.2- Mostre que f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua se, e somente


se, f −1 (F ) é fechado em S, para todo F ⊂ Rm fechado.

2.3- Seja E um espaço normado. Mostre que toda aplicação


linear T : Rm → E é contı́nua.

2.4- Seja f : Rm → Rn uma função linear. Mostre que f é


injetiva ⇔ ∃k > 0 tal que kf (x)k ≥ kkxk, ∀x ∈ Rm .

2.5- Mostre que toda função f : Rn → R linear é da forma

f (x) = hx, yi, ∀x ∈ Rn .

2.6- Seja f : Rn → R linear. Mostre que f transforma sequências


de Cauchy em Rn em sequências de Cauchy de números
reais.
4
Este resultado é conhecido como Teorema de Riesz em dimensão
finita.
80CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

2.7- Prove que a função f : Rn → R tal que f (x) = kxk é


uniformemente contı́nua.

2.8- Seja f : Rm → Rn contı́nua. Dada uma sequência (xk ) de


pontos de Rn com lim xk = a ∈ Rm e kf (xk )k ≤ c para
algum c > 0 e ∀k ∈ N, prove que, kf (a)k ≤ c.

2.9- Considerando as sequências


 
1
xk = k, e yk = (k, 0) em R2 ,
k

prove que, a aplicação ϕ : R2 → R definida por ϕ(x, y) =


xy não é uniformemente contı́nua.

2.10- Seja T ∈ L(Rm , Rn ) onde, Rm e Rn estão munidos da


norma euclidiana. Prove que:

kT k = inf{c > 0; kT xk ≤ ckxk, ∀x ∈ Rn }.

2.11- Prove que f : Rn → Rm é contı́nua se, e somente se:


∀X ⊂ Rn tem-se f (X) ⊂ f (X).

2.12- Seja f : Rn → R uma função contı́nua e tal que

lim f (x) = +∞.


kxk→+∞

Mostre que existe x0 ∈ Rn tal que

f (x0 ) < f (x), ∀x ∈ Rn .


2.4. EXERCÍCIOS 81

2.13- Seja f : Rn → R uma função contı́nua e seja α ∈ R.


Consideremos os seguintes conjuntos:
(i) A = {x ∈ Rn ; f (x) > α};
(ii) B = {x ∈ Rn ; f (x) = α};
(iii) C = {x ∈ Rn ; f (x) ≥ α}.
Mostre que (i) A é aberto, (ii) B é fechado, (iii) C é
fechado.

2.14- Seja A ⊂ R limitado e f : A ⊂ R → R contı́nua. Então


f (A) necessariamente é limitado? Se sua resposta for ver-
dadeira prove e se falsa dê um exemplo.

2.15- Seja f : A ⊂ Rn → R uma função e a um ponto de


acumulação de A. Se lim f (x) = b > c, mostre que existe
x→a
um δ > 0 tal que

f (x) > c, ∀x ∈ Bδ (a) − {a} ∩ A.

2.16- Mostre que a função det : Mn×n (R) → R é uma uma


aplicação contı́nua.

2.17- Denotamos por GLn×n (R) o conjunto das matrizes in-


vertı́veis com entradas reais de Mn×n (R). Mostre que

GLn×n (R)

é um conjunto aberto.

2.18- Mostre que a função f : N → R é contı́nua.


82CAPÍTULO 2. LIMITE E CONTINUIDADE DE FUNÇÕES

2.19- Seja f : A ⊂ R → Rm contı́nua. Se para todo a ∈ A


existe lim f (x), então a função F : A → Rm dada por
x→a

 f (y), se y ∈ A
F (x) =
 lim f (x), se y ∈ A − A
x→y

é contı́nua.

2.20- Seja A ⊂ Rn e a um ponto de acumulação de A. Dadas


as funções f, g : A → R com lim f (x) = 0, e g é limitada
x→a
em A ∩ Bδ (a) com δ > 0. Mostre que lim f (x)g(x) = 0.
x→a
Capı́tulo 3

Diferenciabilidade

Introdução:
Neste capı́tulo, consideraremos funções de Rm em Rn dando
o significado da derivada de tais funções.
Os principais objetivos deste capı́tulo são demonstrar o teo-
rema da função inversa, que dar condições sob as quais uma
função diferenciável de Rn em Rn tem uma inversa diferenciável,
e o teorema da função implicita, que fornece uma diferenciação
implicita como no estudo do cálculo elementar.

3.1 Diferenciabilidade

Seja A um subconjunto de R e seja f : A → R uma função.


Suponha que A contém uma vizinhança do ponto a. Definimos

83
84 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

a derivada de f em a por
f (a + t) − f (a)
f 0 (a) = lim ,
t→0 t
desde que o limite exista.
Neste caso, dizemos que f é derivável em a.

Definição 3.1 Sejam f : A ⊂ Rm → Rn uma função , a um


ponto interior de A e u ∈ Rm . Definimos
f (a + tu) − f (a)
Du f (a) = lim , (3.1)
t→0 t
desde que o limite exista. Este limite depende de a e u, sendo
chamado derivada direcional de f em a na direção do vetor u.

Notações: f 0 (a; u) ou fu (a).


No que segue vamos denotar as normas do Rm e Rn , sim-
plesmente por k.k.
Alternativamente, Du f (a) é a derivada direcional de f em a
com respeito ao vetor u, se para cada ε > 0 existe δ = δ(ε) > 0
tal que, para todo t ∈ R satisfazendo 0 < |t| < δ temos
1
{f (a + tu) − f (a)} − Du f (a) < ε. (3.2)
t
Exemplo 3.1.1 Seja f : R2 → R dado por f (x, y) = xy.
A derivada direcional de f em a = (a1 , a2 ) com respeito ao vetor
u = (1, 0) é

(a1 + t)a2 − a1 a2
Du f (a) = lim = a2 .
t→0 t
3.1. DIFERENCIABILIDADE 85

Com respeito ao vetor v = (1, 2), a derivada direcional é


(a1 + t)(a2 + 2t) − a1 a2
Dv f (a) = lim = a2 + 2a1 .
t→0 t
Exercı́cio 3.1.1 Seja A ⊂ Rm um aberto e f : A ⊂ Rm → Rn .
Mostre que:
Se f 0 (a; u) existe, então f 0 (a; cu) existe e é igual a cf 0 (a; u);

Exercı́cio 3.1.2 Seja f : R2 → R definida por


x2 y


 , se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 2

0, se (x, y) = (0, 0)

Mostre que
(i) Du f (a) existe para todo u ∈ R2 ;
(ii) Se a = (0, 0) então Du+v f (a) 6= Du f (a) + Dv f (a), para
quaisquer u, v ∈ R2 .

Para ocorrer a igualdade no segundo item do exercı́cio é exigida


a diferenciabilidade da função f.
Quando u = ej para j = 1, 2, . . . , m, a derivada direcional
de f em a na direção do vetor u é chamada derivada parcial
de f em a e usamos também as notações Dj f (a), Dj f (a), ou
∂f
(a).
∂xj
Observação 3.1 Sejam A ⊂ Rm um aberto, f : A ⊂ Rm → R
e φ : R → R dada por

φ(t) = f (a1 , . . . , aj−1 , t, aj+1 , . . . , am ).


86 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Então a j-ésima derivada de f no ponto a é igual a derivada or-


dinária de φ no ponto t = aj . Assim, a derivada parcial Dj f pode
ser calculada tratando x1 , . . . , xj−1 , xj+1 , . . . , xm como constan-
tes e diferenciando a função resultante com respeito a xj , usando
a regra de diferenciabilidade para funções de uma única variável.

Para motivar a definição de diferenciabilidade de funções de


várias variáveis, vamos reformular a definição de diferenciabili-
dade de função de uma variável.
Seja f : A ⊂ R → R e a um ponto interior de A. Dizemos
que f é diferenciável em a se existe um número λ tal que

f (a + t) − f (a) − λt
lim = 0.
t→0 t
O número λ, o qual é único, é chamado a derivada de f em a,
e denotado por f 0 (a).
Esta formulação da definição produz explicitamente o fato
que, se f é diferenciável, então a função linear λt é uma boa
aproximação para a ”função incremento” f (a + t) − f (a). A
função λt é chamada aproximação linear ou aproximação de
primeira ordem para a função incremento.
Vamos generalizar esta versão da definição. Se f : A ⊂
R → Rn , o que significa ”aproximação linear” ou de ”primeira
m

ordem” para a função incremento f (a+h)−f (a)? A idéia natural


é tomar uma função que é linear no sentido da álgebra linear.
Esta idéia produz a seguinte definição.
3.1. DIFERENCIABILIDADE 87

Definição 3.2 Seja A ⊂ Rm um aberto e f : A ⊂ Rm →


Rn . Dizemos que f é diferenciável num ponto a se existe uma
aplicação linear L : Rm → Rn tal que

kf (a + u) − f (a) − L(u)k
lim =0 (3.3)
kuk→0 kuk

A aplicação linear L quando existe é única. Ela é chamada deri-


vada de f em a e é denotada por Df (a). Escrevemos

Df (a)(u)

ao invés de L(u).

Observação 3.2 Algumas vezes L é chamada derivada de Fréchet


ou a diferencial de f em a e é denotada por f 0 (a) ou df (a).

Alternativamente, (3.3) pode ser escrito como: Dado ε > 0


existe δ = δ(ε) > 0 tal que se, u ∈ Rm e 0 < kuk < δ então

f (a + u) − f (a) − Df (a)(u) < εkuk. (3.4)

Teorema 3.1 Seja A ⊂ Rm um aberto. Se f : A ⊂ Rm → Rn


é diferenciável a ∈ A, então a aplicação linear Df (a) é única.

Demonstração: Vamos denotar por L1 e L2 ambas as derivadas


de f em a, e seja L = L1 − L2 . Então

kf (a + u) − f (a) − L1 (u)k
lim =0 (3.5)
kuk→0 kuk
88 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

e
kf (a + u) − f (a) − L2 (u)k
lim = 0. (3.6)
kuk→0 kuk
Pela desigualdade triangular, obtemos
kL(u)k
=
kuk
kf (a + u) − f (a) − L1 (a) − [f (a + u) − f (a) − L2 (u)]k

kuk
kf (a + u) − f (a) − L1 (a)k kf (a + u) − f (a) − L2 (a)k
≤ +
kuk kuk
Passando ao limite na desigualdade acima, quando kuk → 0,
usando (3.5) e (3.6), temos que
kL(u)k
lim = 0. (3.7)
kuk→0 kuk

Assim, para qualquer v ∈ Rm , sendo L é linear, por (3.7) temos


kL(tv)k
kL(v)k = kvk lim = 0.
t→0 ktvk
Portanto, L1 = L2 .

Observação 3.3 A seguir daremos uma definição equivalente


de derivada dada em (3.2).

Definição 3.3 Seja f : A ⊂ Rm → Rn e a um ponto interior


de A. Dizemos que f é diferenciável em a se existe uma função
g definida para todo vetor h suficientemente pequeno, tal que
f (a + h) − f (a) − Df (a)(h)
= g(h), (3.8)
khk
3.1. DIFERENCIABILIDADE 89

onde
lim g(h) = 0. (3.9)
khk→0

Exemplo 3.1.2 Seja f : Rm → Rn dada por f (u) = c. Então,


para todo a ∈ Rm temos que Df (a) = 0, onde 0 : Rm → Rn é
transformação linear identicamente nula.
De fato, para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, se kuk < δ
então

kf (u + a) − f (a) − 0(u)k = kc − c − 0k = k0k ≤ εkuk.

Portanto, Df (a) = 0, pela unicidade da derivada de f.

Exemplo 3.1.3 Seja T : Rm → Rn uma transformação linear.


Então, para todo a ∈ Rm temos que Df (a) = T.
De fato, para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, se kuk < δ
então

kT (u + a) − T (a) − T (u)k = kT (u) + T (a) − T (a) − T (u)k =

k0k ≤ εkuk.

Logo, Df (a) = T pela unicidade da derivada.

Teorema 3.2 Se f : A ⊂ Rm → Rn é diferenciável em um


ponto a interior de A, então f é contı́nua em a.

Demonstração: Desde que Df (a) é linear, então

kDf (a)(u)k ≤ M kuk, ∀u ∈ Rm .


90 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Sendo f diferenciável em a, dado ε = 1 existe um δ > 0 tal que,


se kuk < δ então

kf (a + u) − f (u) − Df (a)(u)k ≤ kuk.

Portanto, pela desigualdade triangular e pelas duas últimas desi-


gualdades, temos
kf (a + u) − f (a)k =

kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u) + Df (a)(u)k ≤


≤ kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k+

kDf (a)(u)k ≤ kuk + M kuk =


= (M + 1)kuk,
isto é,

kf (a + u) − f (a)k ≤ (M + 1)kuk se kuk ≤ δ,

donde, segue a continuidade de f em a.


Seja f : A ⊂ Rm → Rn . Então existem n funções fj : A →
R, j = 1, 2, . . . , n tal que f = (f1 , . . . , fn ).

Exemplo 3.1.4 Seja f : R3 → R2 dada por f (x, y, z) = (x2 +


y 2 + z 2 , xy). Então, existem funções f1 : R3 → R e f2 : R3 → R
dadas por:

f1 (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 e f2 (x, y, z) = xy.

Proposição 3.1 Seja f : A ⊂ Rm → Rn . Então f é dife-


renciável no ponto a ∈ int(A) se, e somente se, fj : A → R é
diferenciável em a.
3.1. DIFERENCIABILIDADE 91

Demonstração: (⇒) Suponhamos que f é diferenciável em a.


Logo, para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que

kuk < δ ⇒ kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k < εkuk.

Usando o fato que |xi | ≤ kxk, onde x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rm ,


temos

kuk < δ ⇒ |fj (a + u) − fj (a) − Dfj (a)(u)| < εkuk.

Portanto, fj é diferenciável em a.
(⇐) Suponhamos que, para j = 1, . . . , n a função fj é dife-
renciável em a. Logo, para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que
ε
kuk < δ ⇒ |fj (a + u) − fj (a) − Dfj (a)(u)| < √ kuk,
n
portanto,
n n
X
2
X ε2
kuk < δ ⇒ |fj (a + u) − fj (a) − Dfj (a)(u)| < kuk2 ,
j=1 j=1
n

isto é,

kuk < δ ⇒ kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k2 < ε2 kuk2 .

Logo,

kuk < δ ⇒ kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k < εkuk.

Portanto, f é diferenciável em a.
92 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Teorema 3.3 Se f : A ⊂ Rm → Rn é diferenciável em um


ponto a interior de A, então as derivadas parciais Di fj (a) existe,
com i = 1, . . . , m e j = 1, . . . , n e Df (a) é dada por
  
D1 f1 (a) . . . Dm f1 (a) u1
  . 
Df (a)(u) =  ... ... ...   .. ,
  
D1 fn (a) . . . Dm fn (a) um
onde u = (u1 , . . . , um ).

Demonstração: Desde que, Df (a) : Rm → Rn é uma trans-


formação linear, temos da Álgebra Linear que Df (a) pode ser
representada por
  
a11 . . . a1m u 1
  . 
Df (a)(u) =  . . . . . . . . .   .. 
  
. (3.10)
an1 . . . anm um
Sendo f diferenciável em a, temos
kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k
lim =0
kuk→0 kuk
Agora, considerando a j-ésima componente de f (a + u) − f (a) −
Df (a)(u) e tomando u = tei em (3.10), obtemos
|fj (a + tei ) − fj (a) − aji t|
lim = 0,
|t|→0 |t|
o que implica
fj (a + tei ) − fj (a)
lim − aji = 0
t→0 t
Assim, Di fj (a) existe e pela unicidade da derivada parcial, ob-
temos que Di fj (a) = aji , o que prova o teorema.
3.1. DIFERENCIABILIDADE 93

Exemplo 3.1.5 Seja f : R2 → R2 dada por f (x, y) = (x2 +


y 2 , x). Seja a = (a1 , a2 ) ∈ R2 . Então, f é diferenciável em a,
pois as funções componentes f1 (x, y) = x2 + y 2 e f2 (x, y) = x
são diferenciávies em a.
Logo,

D1 f1 (a) = 2a1 , D2 f1 (a) = 2a2 , D1 f2 (a) = 1 e D2 f2 (a) = 0

e para u = (u1 , u2 ) ∈ R2 temos


! ! !
2a1 2a2 u1 2a1 u1 + 2a2 u2
Df (a)(u) = = .
1 0 u2 u1

Portanto, Df (a)(u) = (2a1 u1 + 2a2 u2 , u1 ).

Figura 3.2: Curvas de


2 2
Figura 3.1: f1 (x, y) = x + y nı́vel

Exemplo 3.1.6 A função f : R2 → R definida por f (x, y) =


p
x2 + y 2 não é diferenciável no ponto (0, 0).
94 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

De fato, se f fosse diferenciável na origem, então pelo Teorema


∂f
3.3 a derivada parcial ∂x
(0, 0) existiria. Porém,

f (x, 0) − f (0, 0) x2 |x|
lim = lim = lim .
x→0 x x→0 x x→0 x

Observando que

x −x
lim+ = 1 e lim− = −1.
x→0 x x→0 x
∂f
Portanto, o limite não existe e, consequentemente (0, 0) não
∂x
existe.
Logo, f não é diferenciável no ponto (0, 0).

Figura 3.3: f (x, y) = Figura 3.4: Curvas de


p
x2 + y 2 nı́vel

Seja A ⊂ Rm um aberto e se f : A ⊂ Rm → Rn é uma


função diferenciável em cada ponto a do seu domı́nio, então
podemos considerar a função f 0 , diferencial de f, e portanto
3.1. DIFERENCIABILIDADE 95

temos a aplicação

f 0 : A → L(Rm , Rn )
a 7→ f 0 (a)

onde
f 0 (a) : Rm → Rn
u 7→ f 0 (a)(u)

e L(Rm , Rn ) denota o conjunto das aplicações lineares de Rm


em Rn .

Exemplo 3.1.7 Se f (x, y) = (x2 + y 2 , xy), então

f 0 : A → L(R2 , R2 )
a 7→ f 0 (a)

onde,
f 0 (a) : R2 → R2
u 7→ f 0 (a)(u)

e se a = (a1 , a2 ) temos
" #
2a1 2a2
f 0 (a1 , a2 ) = .
a2 a1

Portanto, se u = (x, y) temos f 0 (a)(u) = (2a1 x + 2a2 y, a2 x +


a1 y).
96 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Observação 3.4 Recordemos da Álgebra Linear que fixada uma


base nos espaços Rm e Rn , (digamos na base canônica por exem-
plo) então cada elemento T ∈ L(Rm , Rn ), pode ser representado
por uma matriz [T ] pertencente ao espaço Mn×m (R), denotado
espaço da matrizes de ordem n por m.
Em decorrência da Observação 3.17, a derivada de uma função
diferenciável, pode ser representada por uma matriz de ordem
n × m.

Teorema 3.4 Seja A ⊂ Rm um aberto e f : A ⊂ Rm → Rn .


Se f é dife-renciável em a, então a derivada direcional de f em
a na direção do vetor u existe e

Du f (a) = Df (a)(u).

Demonstração: Sejam B = Df (a) e u 6= 0. Escrevendo h = tu


na definição de diferenciabilidade, onde t 6= 0, usando a hipótese
que f é diferenciável em a, e que ktuk = |t|kuk, e ainda que
ktuk → 0 se, e somente se, t → 0, obtemos:

kf (a + tu) − f (a) − B(tu)k


lim =0⇔
ktuk→0 ktuk

1 f (a + tu) − f (a) − B(tu)


lim =0⇔
kuk t→0 |t|
f (a + tu) − f (a) − B(tu)
lim =0⇔
t→0 t
f (a + tu) − f (a) − B(tu)
lim = 0.
t→0 t
3.1. DIFERENCIABILIDADE 97

Agora, desta última igualdade e usando o fato que B(tu) =


tB(u), pois B é linear, obtemos

f (a + tu) − f (a)
lim − B(u) = 0.
t→0 t
Portanto, deste último limite, concluı́mos que Du f (a) existe
e pela unicidade da derivada direcional, obtemos Du f (a) =
B(u) = Df (a)(u).

Observação 3.5 A existência de todas as derivadas direcionais


em um ponto a, não implica na existência da diferenciabilidade
de f neste ponto. Vejamos o seguinte exemplo.

Exemplo 3.1.8 Seja f : R2 → R definida por:


 2
 x y , se (x, y) =

6 (0, 0)
f (x, y) = x4 + y 2

 0, se (x, y) = (0, 0)

Mostraremos que as derivadas direcionais de f existe no ponto


(0, 0), mas que f não é diferenciável neste ponto. Seja u =
(h, k) e 0 = (0, 0) Então:

f (0 + tu) − f (0) (th)2 (tk) 1 h2 k


= = ,
t (th)4 + (tk)2 t t2 h4 + k 2

é tal que  2
 h , se k =

6 0
Df (0)(u) = k

 0, se k = 0
98 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.5: Gráfico de f do Ex. Figura 3.6: Curvas de


3.1.8 nı́vel

Assim, Df (0)(u) existe para todo u 6= 0. Contudo a função f


não é dife-renciável no 0.
De fato, para mostrar isso, seja g : R2 → R uma função dife-
renciável em 0. Então, pelo Teorema 3.3, temos

Dg(0) = [D1 g(0) D2 g(0)]1×2

e
Dg(0)(u) = D1 g(0)h + D2 g(0)k.

Portanto, Dg(0)(u) = D1 g(0)h +D2 g(0)k é uma função linear


de u, mas Df (0)(u) não é uma função linear de u.

Observação 3.6 A função f do exemplo acima é particular-


mente interessante. Ela é diferenciável (e portanto contı́nua) em
cada ponto da reta que passa pela origem. De fato, nos pontos
mx
da reta y = mx ela assume o valor 2 , mas f não é di-
m + x2
ferenciável na origem. Com efeito, f não é contı́nua na origem,
3.1. DIFERENCIABILIDADE 99

pois: f (0, 0) = 0 enquanto que, próximo da origem nos pontos


da forma (t, t2 ), temos que f (t, t2 ) = 12 . (Ver figura abaixo)

Figura 3.7: f (t, t2 ) = 21 .


100 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

A Matriz Jacobiana
Seja A ⊂ Rm um aberto e f : A ⊂ Rm → Rn . Se as
derivadas parciais das funções compontentes fi de f existe em
∂fi
a, então podemos formar uma matriz que tem (a), como
∂xj
entradas, isto é:
 
∂f1 ∂f1
(a) . . . (a)
   ∂x1 ∂xm 
∂fi  
= ... ... ...  .
∂xj  
 ∂fn ∂fn 
(a) . . . (a)
∂x1 ∂xm n×m

Esta matriz é chamada matriz jacobiana de f no ponto a.


Se f é diferenciável em a, como vimos no Teorema 3.3, então
matriz jacobiana é dada por:
 
∂f1 ∂f1
(a) . . . (a)

 ∂x1 ∂xm 

Df (a) = 
 ... ... ... 

 ∂fn ∂fn 
(a) . . . (a)
∂x1 ∂xm

Observação 3.7 A existência da matriz jacobiana não implica a


diferenciabilidade de f em a. De fato, para comprovar isso basta
considerar a função f dada no Exemplo 3.1.8 e u = ei . Temos
   
D1 f (0) D2 f (0) = 0 0 ,

mas f não é diferenciável no ponto (0, 0).


3.1. DIFERENCIABILIDADE 101

Sejam A ⊂ Rn um aberto e f : A ⊂ Rn → Rn . Se f é
diferenciável em a, o determinante

D1 f1 (a) . . . Dn f1 (a)
Jf (a) = ... ... ... ,
D1 fn (a) . . . Dn fn (a)

é chamado Jacobiano de f em a.
∂(f1 , . . . , fn )
Notações: Jf (a) ou .
∂(x1 , . . . , xn )

O fato que a transformação linear Df (a) : Rn → Rn é


bijetiva se, e somente se, Jf (a) 6= 0, é crucial, como veremos
para o teorema da função inversa e resultados relacionados.

Exemplo 3.1.9 Seja

f: R2 → R2
(x, y) 7→ f (x, y) = (x + y, x − y)

Temos que f é diferenciável em a = (a1 , a2 ) ∈ R2 , pois f é


linear.
Portanto,
1 1
Jf (a) = = −2 6= 0.
1 −1

3.1.1 Operações sobre funções diferenciáveis


Dadas funções f, g : Rm → Rn , podemos formar sua soma
f + g : Rm → Rn , por (f + g)(x) = f (x) + g(x) e seu produto
102 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

interno hf, gi, sendo hf, gi : Rm → R definido por hf, gi(x) =


hf (x), g(x)i. Além disso, consideramos a multiplicação escalar
de uma função φ : Rm → R por uma função f : Rm → Rn ,
dada por (φf )(x) = φ(x)f (x).

Teorema 3.5 Seja A ⊂ Rm um aberto. Suponhamos que as


funções f, g : A ⊂ Rm → Rn são diferenciáveis em a. Então
(i) f + g é diferenciável em a e

D(f + g)(a) = Df (a) + Dg(a);

(ii) (a) hf, gi é diferenciável em a e

D(hf, gi)(a) = hf (a), Dg(a)i + hg(a), Df (a)i.

(b) Se as funções φ : A ⊂ Rm → R e f : A ⊂ Rm → Rn são


diferenciáveis em a, então a função φf também é diferenciável
em a e a aplicação linear D(φf ) : Rm → Rn é dada por

D(φf )(a)(u) = φ(a)[Df (a)(u)] + [Dφ(a)(u)]f (a), u ∈ Rm .

Demonstração: Os itens (i) e (ii)- (b) são deixados como


exercı́cio, faremos o item (ii) − (a).
Consideremos o produto interno

hf, gi(a + u) − hf, gi(a)−


(3.11)
{hf (a), Dg(a)(u)i + hg(a), Df (a)(u)i}
3.1. DIFERENCIABILIDADE 103

Adicionando e subtraindo ao produto interno (3.11) as parcelas

hf (a), g(a + u)i e hDf (a)(u), g(a + u)i

, agrupando os termos semelhantes e usando a desigualdade tri-


angular, temos

|hf, gi(a + u) − hf, gi(a)



kuk
{hf (a), Dg(a)(u)i + hg(a), Df (a)(u)i}|

kuk
|hf (a + u) − f (a) − Df (a)(u), g(a + u)i|
≤ +
kuk (3.12)
|hg(a + u) − g(a) − Dg(a)(u), f (a)i|
+ +
kuk
|hDf (a)(u), g(a + u) − g(a)i|
+
kuk

Vamos analisar cada termo do segundo membro da igualdade


(3.12).
(i) Note que, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz,temos

|hf (a + u) − f (a) − Df (a)(u), g(a + u)i|



kuk
kf (a + u) − f (a) − Df (a)(u)k
≤ kg(a + u)k → 0kg(a)k = 0,
kuk

quando kuk → 0, pois f é diferenciável em a e g é contı́nua em


a.
104 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Portanto,
|hf (a + u) − f (a) − Df (a)(u), g(a + u)i|
lim = 0 (3.13)
kuk→0 kuk
(ii) Usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz e o fato que g é
diferenciável em a, obtemos
|hg(a + u) − g(a) − Dg(a)(u), f (a)i|
lim =0 (3.14)
kuk→0 kuk
(iii) Pela desigualdade de Cauchy-Schwarz e usando o fato que
existe M > 0 tal que kDf (a)(u)k ≤ M kuk, pois Df (a) é linear,
obtemos:
|hDf (a)(u), g(a + u) − g(a)i|

kuk
kDf (a)(u)kkg(a + u) − g(a)k

kuk
M kukkg(a + u) − g(a)k
≤ = M kg(a + u) − g(a)k → 0,
kuk

quando kuk → 0, pois g é contı́nua no ponto a.


Logo,
|hDf (a)(u), g(a + u) − g(a)i|
lim =0 (3.15)
kuk→0 kuk
Passando o limite em (3.12) quando kuk → 0, usando (3.13),
(3.14) e (3.15), obtemos
|hf, gi(a + u) − hf, gi(a)
lim −
kuk→0 kuk
{hf (a), Dg(a)(u)i + hg(a), Df (a)(u)i}|
lim = 0.
kuk→0 kuk
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.105

Portanto, hf, gi é diferenciável em a, e

Dhf, gi(a) = hf (a), Dg(a)i + hg(a), Df (a)i.

3.2 Funções Continuamente


Diferenciáveis.
Nesta seção, obteremos um critério útil para diferencia-
bilidade. Sabemos que a existência das derivadas parciais não
implica diferenciabilidade (Ver Exemplo 3.1.8). Se contudo, im-
pormos uma condição adicional que as derivadas parciais sejam
contı́nuas, então a diferenciabilidade esta assegurada.

Definição 3.4 Seja A ⊂ Rm um aberto e f : A ⊂ Rm → Rn .


Se as derivadas parciais Dj fi (x) das funções componentes de
f existem e são contı́nuas, a função f é dita continuamente
diferenciável ou de classe C 1 sobre A.

Suponhamos que f : A ⊂ Rm → Rn , onde A é um aberto do


Rm e que as derivadas parciais Dj fi das funções componentes de
f exista sobre A. Estas são funções Dj fi : A → R, e podemos
calcular suas derivadas parciais, as quais tem a forma Dk (Dj fi )
e são chamadas derivadas parciais de segunda ordem de f .
Analogamente podemos difinir as derivadas parciais de terceira
106 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

ordem das funções fi , mais geralmente as derivadas parciais de


ordem r para r ∈ N, arbitrário.
Dizemos que uma função f : A ⊂ Rn → Rn é de classe C r
sobre A se, e somente se, cada função Dj fi é de classe C r−1
sobre A.
Dizemos que f é classe C ∞ sobre A se as derivadas parciais
das funções fi de todas as ordens são contı́nuas sobre A.
Exemplo 3.2.1
f: R2 → R2
(x, y) 7→ f (x, y) = (x2 + y 2 , x − y)
∂f1
Sejam f1 (x, y) = x2 + y 2 e f2 (x, y) = x − y. Tem-se: = 2x,
∂x
∂f1 ∂f2 ∂f2
= 2y, =1e = −1.
∂y ∂x ∂x
Como as derivadas parcias das funções f1 e f2 existem e são
contı́nuas em R2 , segue-se que f é de classe C 1 sobre R2 .

Exemplo 3.2.2 (Coordenadas Polares) Seja f : R2 → R2


definida por
f (r, θ) = (rcosθ, rsenθ),
f é chamada transformação de coordenadas polar.
Temos " #
cosθ −rsenθ
Df (r, θ) = .
senθ rcosθ
Assim, det Df (r, θ) = r.
Seja A = (0, 1) × (0, b) no plano rθ, onde b ≤ 2π.
Um esboço da imagem de f sobre A é dado na figura abaixo.
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.107

Figura 3.8: Coordenadas polares

Exercı́cio 3.2.1 (Coordenadas Esféricas) Seja f : R3 → R3


definida por

f (ρ, φ, θ) = (ρcosθsenφ, ρsenθsenφ, ρcosφ),

f é chamada transformação de coordenadas esféricas.


(i) Calcule Df e detDf ; h πi
(ii) Esboçe a imagem de f sobre o conjunto A = [1, 2]× 0, ×
h πi 2
0, .
2

3.2.1 Regra da Cadeia


Nesta seção mostraremos que a composição de duas funções
diferenciáveis é diferenciável e deduzimos uma fórmula para a sua
derivada. Esta fórmula é chamada ”regra da cadeia”.
No que segue vamos considerar A ⊂ Rm e B ⊂ Rn abertos do
Rm e Rn respectivamente.
108 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.9: Coordenadas esféricas

Teorema 3.6 (Regra da Cadeia) Sejam f : A → Rn e g :


B → Rp com f (A) ⊂ B. Suponhamos que f é diferenciável
em a e que g é diferenciável em b = f (a). Então a função
composta g ◦ f é diferenciável em a. Além disso

D(g ◦ f )(a) = Dg(f (a)) ◦ Df (a).

Demonstração: Usaremos na prova a definição de derivada 3.3.


Desde que f diferenciável em a existe uma aplicação φ definida
para h suficientemente pequeno, tal que
f (a + h) − f (a) − Df (a)(h)
= φ(h) (3.16)
khk
onde
lim φ(h) = 0
khk→0

Agora, sendo g diferenciável em b = f (a), existe uma aplicação


ψ definida para k suficientemente pequeno tal que
g(b + k) − g(b) − Dg(b)(k)
= ψ(k) (3.17)
kkk
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.109

onde
lim ψ(k) = 0
kkk→0

Considere agora k = k(h), sendo função de h, isto é,

k = k(h) = f (a + h) − f (a) = Df (a)(h) + khkφ(h) (3.18)

Note que quando khk → 0 então kkk → 0, pois, sendo Df (a)


linear e contı́nua, tem-se que Df (a)(h) → Df (a)(0) = 0 e
khkφ(h) → 0.
Então por (3.17) e (3.18), obtemos

(g ◦ f )(a + h) = g(f (a + h)) = g(k + f (a)) = g(b + k) =

= g(b) + Dg(b)(k) + kkkψ(k) = g(f (a)) + kkkψ(k)+

+Dg(b)[Df (a)(h) + Dg(b)khkφ(h)]

o que implica

(g ◦ f )(a + h) − (g ◦ f )(a) − Dg(b)(Df (a))(h)


=
khk
(3.19)
[kDf (a)(h) + khkφ(h)k]ψ(k)
= Dg(b)(φ(h)) +
khk

Agora vamos justificar que cada parcela do segundo membro de


(3.19) tende a 0 quando khk → 0.
(i) De fato, por (3.16) temos que φ(h) → 0 quando khk →
0 e sendo Dg(b) linear e contı́nua, obtemos Dg(b)(φ(h)) →
Dg(b)(0) = 0, quando khk → 0.
(ii) Note que quando khk → 0 então kkk → 0 e portanto por
110 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

(3.17) temos que ψ(k) → 0. Também, notemos que


kDf (a)(h) + khkφ(h)k kDf (a)(h)k khkkφ(h)k
≤ + ≤
khk khk khk
kDf (a)kkhk
≤ + kφ(h)k =
khk
kDf (a)k + kφ(h)k ≤ kDf (a)k + M ,
| {z }
=C

onde M é uma constante, pois quando khk → 0, temos que


kφ(h)k → 0, e portanto limitada.
Logo, desta limitação, e do fato que ψ(h) → 0 quando khk → 0,
obtemos
[kDf (a)(h) + khkφ(h)k]ψ(k)
lim =0
khk→0 khk
Assim, de (i) e (ii), por passagem ao limite em (3.19), quando
khk → 0, obtemos
(g ◦ f )(a + h) − (g ◦ f )(a) − Dg(b)(Df (a))(h)
lim = 0.
khk→0 khk
Logo, g ◦ f é diferenciável em a e pela unicidade da derivada,
temos
D(g ◦ f )(a) = Dg(f (a)) ◦ Df (a).

Exemplo 3.2.3 A função f : R2 → R definida por f (x, y) =


2 −y 2
e−x é diferenciável em R2 , pois f (x, y) = h(g(x, y)), com
g(x, y) = −x2 − y 2 e h(x) = ex , onde g e h são diferenciáveis.
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.111

2 −y 2
Figura 3.10: Gráfico de f (x, y) = e−x

Exemplo 3.2.4 A função g : R2 → R definida por g(x, y) =


2 −y 2 2 −y 2
xe−x é diferenciável em R2 , pois f (x, y) = e−x , é di-
ferenciável, pelo exemplo acima e z(x, y) = x é diferenciável.
Logo, h(x, y) = z(x, y)f (x, y) é dife-renciável em R2 .

2 −y 2
Figura 3.11: Gráfico de g(x, y) = xe−x

Corolário 3.1 (Multiplicação dos Jacobianos) Sejam

f : A → Rn
112 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

e
g : B → Rn

com f (A) ⊂ B. Suponhamos que f é diferenciável em x e que


g é diferenciável em f (x). Então a função composta h = g ◦ f é
diferenciável em x. Além disso

Jh(x) = Jg[f (x)]Jf (x)

Demonstração: A Regra da Cadeia assegura que h é dife-


renciável em x. A multiplicação de determinantes produz

Jg[f (x)]Jf (x) = det[Dj gi (f (x))]det[Dj fi (x)] =


" n #
X
det Dk gi (f (x))Dj fk (x) .
k=1

Mas a regra da cadeia também fornece que está última soma é


Dj hi (x) e isto prova o corolário.

Exemplo 3.2.5 Sejam

f: R2 → R2
(x, y) 7→ f (x, y) = (x2 + y 2 , x − y)
e
g: R2 → R2
(x, y) 7→ g(x, y) = (x + y, x − y).
Então a função h = g ◦ f é dada por

h: R2 → R2
(x, y) 7→ h(x, y) = (x2 + y 2 + x − y, x2 + y 2 − x + y)
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.113

Temos,

2x 2y 1 1
Jf (x) = = −2(x+y) e Jg(x) = = −2.
1 −1 1 −1

Também, temos

2x + 1 2y − 1
Jh(x) = = 4(x + y)
2x − 1 2y + 1
e
1 1
Jg(f (x)) = = −2.
1 −1
Logo, Jg(x)Jf (x) = −2[−2(x + y)] = 4(x + y) = Jh(x), como
afirma o Corolário da multiplicação dos jacobianos.

Corolário 3.2 Sejam f : A → Rn e g : B → Rp com f (A) ⊂


B. Se f e g são funções de classe C r , então g ◦ f é também de
classe C r .

Demonstração: A prova é feita por indução sobre r. Pela Regra


da Cadeia temos

D(g ◦ f )(a) = Dg(f (a)) ◦ Df (a), ∀a ∈ A.

Suponhamos primeiro que f e g são funções de classe C 1 .


Como D(g(f (a))) e D(f (a)) são funções contı́nuas, então é
contı́nua Dg(f (a)) ◦Df (a). Sendo D(g ◦ f )(a) = Dg(f (a)) ◦
Df (a), temos que D(g ◦ f )(a) é contı́nua. Portanto, g ◦ f é de
classe C 1 sobre A.
114 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Suponhamos por indução sobre r que o teorema seja verda-


deiro para funções de classe C r−1 . Sejam f e g funções de classe
C r . Então, Dg(f (a)) é uma função de classe C r−1 sobre B, pois
é a composta de duas funções de classe C r . Agora Df é de classe
C r−1 sobre A, pois f é de classe C r .
Portanto, D(g ◦ f )(a) = Dg(f (a)) ◦ Df (a) é de classe C r−1
sobre A. Logo, g ◦ f é de classe C r sobre A, o que prova o
teorema.

O teorema segue-se para r finito. Se agora f e g são de


classe C ∞ , então elas são de classe C r para todo r, e portanto
g ◦ f é também de classe C r para todo r. Logo, g ◦ f é de classe
C ∞.

Exemplo 3.2.6 Seja f : R3 → R2 satisfazendo a condição


f (0, 0, 0) = (1, 2) e
" #
1 2 3
Df (0, 0, 0) =
2 0 1

Seja g : R2 → R2 definida pela equação

g(x, y) = (x + 2y + 1, 3xy)

Encontrar D(g ◦ f )(0, 0, 0).


Temos pela regra da cadeia que

D(g ◦ f )(0, 0, 0) = Dg(f (0, 0, 0)) ◦ Df (0, 0, 0)


3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.115

Calculando
∂g1 ∂g1
 
" #
 ∂x ∂y  1 2
Dg(x, y) = 
 ∂g2
= ,
∂g2  3y 3x
∂x ∂y

onde g1 (x, y) = x + 2y + 1 e g2 (x, y) = 3xy.


Sendo f (0, 0, 0) = (1, 2), obtemos:
" #
1 2
Dg(f (0, 0, 0)) = Dg(1, 2) =
6 3

Assim,
" #" # " #
1 2 1 2 3 5 2 5
D(g ◦ f )(0, 0, 0) = = ,
6 3 2 0 1 12 12 21

que implica,

D(g ◦ f )(0, 0, 0)(x, y, z) = (5x + 2y + 5z, 12x + 12y + 21z).

Exercı́cio 3.2.2 Seja f : R3 → R e g : R2 → R diferenciáveis.


Considere a função F : R2 → R definida pela equação

F (x, y) = f (x, y, g(y, x))

(i) Encontrar DF em termos das derivadas parciais de f e g;


(ii) Se F (x, y) = 0 para todo (x, y), encontrar D1 g e D2 g em
termos das derivadas parciais de f.
116 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Corolário 3.3 Sejam A ⊂ Rn um aberto e f : A → Rn , com


f (a) = b. Suponhamos que g aplica uma vizinhança de b em
Rn , tal que g(b) = a, e que g(f (x)) = x para todo x em uma
vizinhança de a. Se f é diferenciável em a e se g é diferenciável
em b, então Dg(b) = [Df (a)]−1 .

Demonstração: Seja I : Rm → Rm a transformação linear


identidade. Então, sua derivada é a própria transformação linear
identidade I. Por hipótese, temos g(f (x)) = x para todo x em
uma vizinhança de a. Pela Regra da Cadeia temos que:

Dg(b) ◦ Df (a) = I

Assim, a transformação linear Dg(b) é a inversa da transformação


linear Df (a) e portanto Dg(b) = [Df (a)]−1 .

Observação 3.8 Em termos de matrizes, decorre do Corolário


3.3 que se, fj−1 denota a j-ésima componente da função g = f −1 ,
então  
D1 f1−1 (b) . . . Dn f1−1 (b)
 
 ... ... ... =
 
D1 fn−1 (b) . . . Dn fn−1 (b)
 −1
D1 f1 (a) . . . Dn f1 (a)
 
 . . . . . . . . .  .
 
D1 fn (a) . . . Dn fn (a)
Exemplo 3.2.7 Seja
f: R2 → R2
(x, y) 7→ f (x, y) = (x + y, x − y)
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.117

e
f −1 : R2 → R2
(x, y) 7→ f −1 (x, y) = ( x+y
2
, x−y
2
)
Tem-se f1 (x, y) = x + y, f2 (x, y) = x − y, f1−1 (x, y) = x+y
2
e
x−y
f2 (x, y) = 2
.
Portanto,
∂f1∂f1 −1 
 

 ∂x ∂y  1 1

 ∂f2 = =
∂f2  1 −1
∂x ∂y
∂f1−1 ∂f1−1
 
 
1 1 1    ∂x ∂y 
= .

2 1 −1  ∂f2−1 ∂f2−1 
∂x ∂y

Observação 3.9 O Corolário 3.3 implica que, para uma função


diferenciável f ter uma inversa diferenciável é necessário que a
tranformação linear Df (a) seja invertı́vel. É um tanto supreen-
dente que esta condição é também suficiente para uma função f
de classe C 1 ter uma inversa, pelo menos localmente. Provare-
mos este fato na seção 3.3.

3.2.2 A Desigualdade do Valor Médio


Como aplicação da regra da cadeia, generalizamos o Teorema
do Valor Médio para funções de uma única variável, isto é, obte-
mos o teorema do valor médio para funções definidas em Rm a
valores em R.
118 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Consideremos a, b ∈ Rm , vamos denotar o segmento de reta


fechado por

[a, b] = {a + t(b − a) : 0 ≤ t ≤ 1}

e segmento de reta aberto por

(a, b) = {a + t(b − a) : 0 < t < 1}.

Teorema 3.7 (Teorema do Valor Médio) Sejam A ⊂ Rm um


aberto e f : A → R uma função diferenciável sobre A. Se A
contém o segmento de reta com ponto inicial a e final a + h,
então existe um ponto c = a + t0 h com 0 < t0 < 1 deste
segmento de reta tal que

f (a + h) − f (a) = Df (c)(h)

Demonstração: Seja φ : [0, 1] → R definida por φ(t) =


f (a + th). Sendo φ a composta de funções diferenciáveis, φ é
diferenciável e sua derivada é dada por

φ0 (t) = Df (a + th)(h)

Pelo Teorema do Valor Médio para funções de uma única variável


real, obtemos

φ(1) − φ(0) = φ0 (t0 ).1, para algum t0 ∈ (0, 1).

Esta equação pode ser reescrita na forma

f (a + h) − f (a) = Df (a + t0 h)(h)
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.119

Observação 3.10 O Teorema do Valor Médio não vale para ca-


minhos. Por exemplo, considere o caminho:

f : [0, 2π] → R2
t 7→ f (t) = (cost, sent)

Como |f 0 (t)| = 1, ∀t ∈ [0, 2π] e f (2π) − f (0) = 0 não pode


existir c ∈ (0, 2π) tal que:

f (2π) − f (0) = 2πf 0 (c).1

Provaremos agora a importante desigualdade do valor médio e


faremos uma aplicação desta desigualdade. Vimos que o Teorema
do Valor Médio é válido para funções f : A ⊂ Rm → R e que
não é válido para funções f : A ⊂ R → Rm onde m ≥ 2. Mas a
2
Desigualdade do Valor Médio é um substituto parcial.

Teorema 3.8 (Desigualdade do Valor Médio) Seja A ⊂ Rm


um aberto e S um subconjunto convexo de A. Se a função
f : A → Rn é diferenciável em todos os pontos de S e kDf (x)k
é limitada para x ∈ S, então

kf (x) − f (y)k ≤ sup kDf (z)kkx − yk, ∀x, y ∈ S. (3.20)


z∈S

1
Um caminho em Rn é uma aplicação cujo domı́nio é um intervalo
I ⊂ R a valores em Rn , n ≥ 2.
2
Um conjunto S ⊂ Rm é dito convexo se, dados dois pontos pertence
a S, então o segmento de reta ligando estes pontos está contido em S.
120 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Demonstração: Sejam x, y ∈ S quaisquer e h = y − x. Se


f (x) = f (y), então (3.20) está assegurado. Caso contrário, seja
f (y)−f (x)
w= kf (y)−f (x)k
∈ Rn um vetor unitário tal que

kf (x) − f (y)k = hw, f (y) − f (x)i (3.21)

Agora defina a função φ : [0, 1] → R pela relação

φ(t) = hw, f (x + th)i

Então, φ(0) = hw, f (x)i, φ(1) = hw, f (y)i e φ é contı́nua sobre


[0, 1]. Também φ é diferenciável em (0, 1) e pelo Teorema 3.5,
(ii) − b e pela Regra da Cadeia, temos

φ0 (t) = hw, Df (x + th)hi

Pelo Teorema do Valor Médio para funções reais, existe ξ ∈ (0, 1)


tal que
φ(1) − φ(0) = φ0 (ξ)(1 − 0)
isto é,
hw, f (y) − f (x)i = hw, Df (x + ξh)hi (3.22)
Então por (3.21), (3.22) e usando a desigualdade de Cauchy-
Schwarz e o fato que kwk = 1, encontramos

kf (x) − f (y)k = hw, Df (x + ξh)hi ≤

kwkkDf (x + ξh)(h)k ≤ kDf (x + ξh)kkhk.


Como x + ξh ∈ S, pois S é convexo, obtemos

kf (x) − f (y)k ≤ sup kDf (z)kkx − yk.


z∈S
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.121

Uma consequência importante da Desigualdade do Valor Médio é


o fato que uma função real cuja derivada é nula em um intervalo
ela é constante nesse intervalo. Na verdade este resultado está
assegurado para domı́nios conexos. A Desigualdade do Valor
Médio permite provar um teorema similar para funções de Rm
em Rn .

Teorema 3.9 Suponha que A ⊂ Rm é um aberto e conexo. Se


f : A → Rn é uma função diferenciável e tal que Df (x) = 0,
então f é a função constante.

Demonstração: Seja u ∈ A fixado e x outro ponto qualquer de


A. Pelo Teorema 1.1, u e x podem ser ligados por uma poligonal
contida em A. Denote os vértices desta poligonal por

u = x0 , x1 , . . . , xp−1 , xp = x.

Como o segmento de reta ligando xi−1 a xi é um subconjunto


convexo de A, segue-se pela Desigualdade do Valor Médio,

kf (xi ) − f (xi−1 )k ≤

sup kDf (zi )kkxi − xi−1 k, ∀i = 1, . . . , n.


zi ∈(xi ,xi−1 )

Agora, usando a hipótese que Df (x) = 0, temos da desigualdade


acima que

f (x0 ) = f (x1 ) = . . . = f (xi−1 ) =


(3.23)
f (xi ) = . . . = f (xp−1 ) = f (xp )
122 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

De (3.23), temos que, f (x) = f (u). Portanto, f é constante em


A.

Observação 3.11 Se retirarmos a hipótese da conexidade no


Teorema 3.9 não garantimos o resultado.
De fato, considerando A = (0, 1) ∪ (2, 3) e f : A ⊂ R → R
definida por (
1 se x ∈ (0, 1)
f (x) =
3 se x ∈ (2, 3)
Então f 0 (x) = 0 em A, mas f não é constante em A.

Teorema 3.10 Seja f : A ⊂ Rm → Rn e a um ponto interior


de A. Se as derivadas parciais Di fj existem, onde i = 1, . . . , m
e j = 1, . . . , n em uma bola aberta B(a, δ) e são contı́nuas em
a, então f é diferenciável em a.

Demonstração: Vimos que f é diferenciável em a se, e so-


mente se, a funções componentes fj : A → R são diferenciáveis
em a. Logo, é suficiente provar que para cada j = 1, . . . , n a
função componente fj : A → R é diferenciável em a. Sejam
h = (h1 , . . . , hm ), k 0 = (0, . . . , 0) e k i = (h1 , .., hi , 0, ., 0) =
h1 e1 + . . . + hi ei , i = 1, . . . , m. Temos
m
X
fj (a + h) − fj (a) = [fj (a + k i ) − fj (a + k i−1 )] (3.24)
i=1

Para cada i escrevemos

k i − k i−1 = hi ei .
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.123

Pelo Teorema do Valor Médio, existe um ξi ∈ (0, 1) tal que

fj (a + k i ) − fj (a + k i−1 ) = fj (a + k i−1 + hi ei )−
fj (a + k i−1 ) == Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(hi ei ) = (3.25)
hi Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(ei )

Somando (3.25), com i = 1, . . . , m usando (3.24), temos

m
X
fj (a + h) − fj (a) = hi Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(ei ) (3.26)
i=1

Considere o funcional linear B : Rm → R definido por B(h) =


Xm
Di fj (a)(hi ei ) o qual existe, pois Di fj existe. Assim, de
i=1
(3.26) temos

fj (a + h) − fj (a) − B(h)
=
khk
m (3.27)
X [Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(ei ) − Di fj (a)(ei )]hi
i=1
khk

Agora, notemos que


(i) kk i k ≤ khk,
(ii) kk i−1 + ξi hi ei k ≤ kk i k.
De fato,

q q
kk i k = h21 + . . . + h2i ≤ h21 + . . . + h2i + . . . + h2m = khk.
124 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Além disso,

kk i−1 + ξi hi ei k = k(h1 , . . . , hi−1 , ξi hi , 0, . . . , 0) =


p p
= h21 + . . . + h2i−1 + (ξi hi )2 = h21 + . . . + h2i−1 + ξi2 h2i ≤
p
≤ h21 + . . . + h2i−1 + h2i = kk i k ≤ khk,

onde na penúltima desigualdade, usamos que 0 < ξi < 1.


Agora, tomando khk → 0 temos se que kk i + ξi hi ei k → 0,
usando a continuidade de Di fj em a, temos

Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei ) → Di fj (a)

quando khk → 0. Logo,

Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(ei ) − Di fj (a)(ei ) → 0

hi
quando khk → 0. Desta convergência, sendo khk
≤ 1, temos
que
m
X [Di fj (a + k i−1 + ξi hi ei )(ei ) − Di fj (a)(ei )]hi
→ 0, quando khk → 0
i=1
khk
(3.28)
Passando o limite em (3.27) quando khk → 0, usando (3.28),
temos
fj (a + h) − fj (a) − B(h)
lim = 0. (3.29)
khk→0 khk
Portanto, de (3.29) concluı́mos que fj é diferenciável em a e
consequentemente, f é diferenciável em a.
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.125

Observação 3.12 A recı́proca do teorema não é verdadeira, há


funções que são diferenciáveis, logo possui derivadas parciais,
mas as derivadas parciais não são contı́nuas.

Exemplo 3.2.8 Seja f : R2 → R definida por


1

 (x2 + y 2 )sen 2
 , se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x + y2

 0, se (x, y) = (0, 0).
∂f ∂f
Mostre que f é diferenciável em (0, 0), mas ∂x
(0, 0) e ∂y
(0, 0)
não são contı́nuas.
De fato, para (x, y) 6= (0, 0) temos

|f (x, y) − f (0, 0)| ≤ |x2 + y 2 | = x2 + y 2 = k(x, y)k2

donde
|f (x, y) − f (0, 0)|
0≤ ≤ k(x, y)k.
k(x, y)k
Desta última desigualdade por passagem ao limite obtemos, Df (0, 0)(x, y) =
0, quando k(x, y)k → 0,
Vamos mostrar que as derivadas parcias no ponto (0, 0) não são
limitadas.
De fato, seja (x, y) 6= (0, 0). Digamos que x 6= 0, portanto
1 1 1
D1 f (x, x) = 2xsen 2
− cos 2
2x x 2x
a qual não é limitada quando x → 0. Análogo resultado é garan-
tido para D2 f.
Assim, as derivadas parciais D1 f e D2 f não são limitadas e por-
tanto não são contı́nuas no ponto (0, 0).
126 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Exercı́cio 3.2.3 Seja f : R2 → R definida por


 1 1
 x2 sen + y 2 sen , se x 6= 0 e y 6= 0
x y





 x2 sen 1 ,


 se x 6= 0 ey=0
f (x, y) = x
 1
y 2 sen , se x = 0 e y 6= 0





 y


0, se x = 0 ey=0

(i) Mostre que f é diferenciável em (0, 0);


(ii) Mostre que

∂f  2xsen 1 − cos 1 , se x 6= 0

(x, y) = x x
∂x 
 0, se x = 0
e
1 1

∂f  2ysen − cos , se y =
 6 0
(x, y) = y y
∂y 
 0, se y = 0
∂f ∂f
(iii) Conclua que ∂x
(0, 0) e que ∂y
(0, 0) não são contı́nuas no
ponto (0, 0).

Exemplo 3.2.9 A função f (x, y) = sen(xy) é diferenciável,


∂f ∂f
pois a derivadas parciais = ycos(xy) e = xcos(xy)
∂x ∂y
existem e são contı́nuas.

Exemplo 3.2.10 Considere a função f : R2 → R definida por


 2 2
 xy(x − y ) , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) = x2 + 2y 2

 0, se (x, y) = (0, 0)
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.127

Temos que f possui derivadas de segunda ordem e que


∂ 2f ∂ 2f
(0, 0) 6= (0, 0).
∂x∂y ∂y∂x
De fato,
∂f hy(h2 − y 2 )
(0, y) = lim = −y
∂x h→0 h(h2 + y 2 )

logo
∂ 2f
(0, y) = −1,
∂y∂x
em particular
∂ 2f
(0, 0) = −1.
∂y∂x
Além disso,
∂f kx(x2 − k 2 )
(x, 0) = lim = x,
∂y k→0 k(x2 + k 2 )

logo
∂ 2f
(x, 0) = 1,
∂x∂y
ou
∂ 2f
(0, 0) = 1.
∂x∂y
Portanto,
∂ 2f ∂ 2f
(0, 0) 6= (0, 0).
∂x∂y ∂y∂x

Exercı́cio 3.2.4 Seja f : R2 → R definida por


x

 y 2 sen
 se y 6= 0
f (x, y) = y
 0,

se y = 0
128 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.12: Gráfico da função do Exemplo 3.2.10

Mostre que
∂ 2f ∂ 2f
(0, 0) 6= (0, 0).
∂x∂y ∂y∂x

Vamos mostrar que, sobre a hipótese que a função f é de


classe C 2 , então Dk Dj f = Dj Dk f. Este resultado é devido a
3
Schwarz.

Observação 3.13 Como no cálculo das derivadas parciais, to-


das as variáveis a menos de xk e xj permanecem fixas, na prova
do Teorema de Schwarz é suficiente considerar o caso onde A ⊂
R2 é um aberto.
3
Karl Herman Amandus Schwarz nasceu em Hermsdorf, Silesia,
atualmente Sobiecin na Polônia em 30 de novembro de 1843. Doutorou-
se na Universidade de Berlin sob a orientação de Weierstrass no ano de
1864.
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.129

Teorema 3.11 (Schwarz) Seja f : A ⊂ Rm → R uma função


de classe C 2 . Então para cada a ∈ A,

Dk Dj f (a) = Dj Dk f (a).

Demonstração: A prova será feita para A sendo um conjunto


aberto do R2 .

Figura 3.13: Retângulo em A

A demonstração será feita em duas etapas.


1a Etapa: Primeiro provaremos um certo teorema do valor
médio de ”segunda ordem” para f.
Seja Q = [a, a + h] × [b, b + k] um retângulo contido em A.
Defina

g(h, k) = f (a, b) − f (a + h, b) − f (a, b + k) + f (a + h, b + k)

Então g é a soma, com apropriados sinais do valor de f nos


quatro vértices de Q.
130 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Mostraremos que existem pontos p e q de Q tal que:

g(h, k) = D2 D1 f (p).hk e g(h, k) = D1 D2 f (q).hk

Mostraremos a primeira equação, a outra é provada de maneira


análoga.
Definimos

φ(s) = f (s, b + k) − f (s, b), s ∈ (b, b + k).

Então
φ(a + h) − φ(a) = g(h, k)

Como D1 f existe em A a função φ é diferenciável em um inter-


valo aberto contendo [a, a + h] e aplicando o Teorema do Valor
Médio para funções reais implica que:

φ(a + h) − φ(a) = φ0 (s0 ).h, s0 ∈ (a, a + h).

Esta equação pode ser escrita na forma

g(h, k) = [D1 f (s0 , b + k) − D1 f (s0 , b)].h (3.30)

Agora, fixamos s0 e consideremos a função D1 f (s0 , t). Desde


que D2 D1 f exis-te em A, esta função é diferenciável em t, em
um intervalo aberto contendo [b, b + k]. Aplicando o Teorema do
Valor Médio para funções reais, obtemos:

D1 f (s0 , b + k) − D1 f (s0 , b) = D2 D1 f (s0 , t0 ).k, t0 ∈ (b, b + k).


(3.31)
3.2. FUNÇÕES CONTINUAMENTEDIFERENCIÁVEIS.131

Combinando (3.30) e (3.31) obtemos

g(h, k) = D2 D1 f (s0 , t0 ).kh = D2 D1 f (p)hk, onde p = (s0 , t0 ).

2a Etapa: Provaremos o teorema.


Dado o ponto c = (a, b) ∈ A e t > 0, seja Qt o retângulo

Qt = [a, a + t] × [b, b + t]

Se t é suficientemente pequeno, Qt está contido em A; então


pela primeira etapa temos que:

g(t, t) = D2 D1 f (pt )t2

para algum ponto pt em Qt . Se t → 0 então pt → c. Sendo


D2 D1 f contı́nua, segue-se que:
g(t, t)
→ D2 D1 f (c) quando t → 0. (3.32)
t2
Usando um argumento análogo na outra equação a partir da
primeira etapa, obtemos:
g(t, t)
→ D1 D2 f (c) quando t → 0. (3.33)
t2
De (3.32) e (3.33), temos

D1 D2 f (c) = D2 D1 f (c)

Exemplo 3.2.11 A função f : R2 → R definida por f (x, y) =


x2 + y 2 sendo de classe C 2 em R2 , obtemos que, D1 D2 f (x, y) =
D2 D1 f (x, y).
132 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

3.3 Teorema da Função Inversa


Seja A ⊂ Rn um aberto e f : A → Rn de classe C 1 . Sa-
bemos que para f ter uma inversa diferenciável é necessário que
a derivada Df (x) de f seja uma transformação linear invertı́vel.
Agora provaremos que esta condição é também suficiente para
f ter uma inversa diferenciável, pelo menos localmente. Este re-
sultado é chamado Teorema da Função Inversa. O Teorema da
Função Inversa nos dá, sob certas condições, a diferenciabilidade
de f −1 , sua derivada e informações sobre a regularidade desta
derivada.
No que segue apresentaremos alguns resultados que serão
utilizados na demonstração do teorema da função inversa, al-
guns destes resultados serão apresentados como exercı́cio e ou-
tros como lemas, os quais demonstraremos.
Vamos denotar por

GL(Rn ) = {T : Rn → Rn , T é linear e bijetiva}.

Exercı́cio 3.3.1 Se T ∈ GL(Rn ) então existe c > 0 tal que,


para toda L ∈ L(Rn ) com kLk ≤ c, temos T + L ∈ GL(Rn ) e
k(T + L)−1 k ≤ 1c .
Solução: De fato, considerando c = (2kT −1 k)−1 , tem-se

kxk = kT −1 T xk ≤ kT −1 kkT xk ⇒ kT xk ≥ 2ckxk, ∀x ∈ Rn .

Usando a hipótese que, kLk ≤ c, obtemos

k(T + L)xk = kT x + Lxk ≥ kT xk − kLxk ≥


3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 133

2ckxk − ckxk = ckxk.


Desta última desigualdade e do Exercı́cio 2.4, decorre que T + L
é injetiva e consequentemente bijetiva.
Além disso,

kxk = k(T + L)(T + L)−1 xk ≥ ck(T + L)−1 xk,

logo
kxk
k(T + L)−1 xk ≤ , ∀x ∈ Rn .
c
Portanto, k(T + L)−1 k ≤ 1c .

Observação 3.14 Note que T ∈ GL(Rn ) se, e somente se,


a matriz da transformação linear T, que denotamos por [T ] é
invertı́vel, se e somente se, det[T ] 6= 0.

Observação 3.15 Da Álgebra Linear, tem-se que L(Rn ) pode


ser indentificado com o conjunto Mn (R) das matrizes de ordem n
e que GL(Rn ) pode ser identificado com o conjunto das matrizes
invertı́veis de ordem n, o qual vamos denotar por GL(R).
No que segue, identificaremos T com a sua matriz [T ], que será
representada por T.

Exercı́cio 3.3.2 Mostre que:


(i) GL(Rn ) é aberto em L(Rn );
(ii) A aplicação

φ : GL(Rn ) → L(Rn )
X 7→ φ(X) = X −1
é diferenciável e φ0 (X)(H) = −X −1 ◦ H ◦ X −1 .
134 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Solução: (i) Note que X ∈ GL(Rn ) se, e somente se, detX 6=


0. Agora sendo GL(Rn ) = det−1 (R \ {0}), onde det−1 (R \ {0})
indica a imagem inversa da função determinante, e sendo a
função determinante contı́nua, obtemos que GL(Rn ) é aberto
em L(Rn ), pois R \ {0} = (−∞, 0) ∪ (0, ∞) é um aberto em R.
(ii) Vamos mostrar que existe uma função r(H) tal que

φ(X + H) − φ(X) − T (H) = r(H),

onde
kr(H)k
lim = 0,
kHk→0 kHk

onde T (H) = −X −1 HX −1 . Note inicialmente que T é linear.


Temos

φ(X + H) = φ(X) + T (H) + r(H) ⇒ (X + H)−1 =

X −1 − X −1 HX −1 + r(H)

Fazendo a composição em ambos os membros desta última igual-


dade com (X +H) e fazendo os devidos cancelamentos, obtemos

r(H) = (X + H)−1 (HX −1 )2 .

Agora usando a Observação 2.2 e o Exercı́cio 3.3.2, obtemos

kr(H)k k(X + H)−1 (HX −1 )2 k


lim = lim ≤
kHk→0 kHk kHk→0 kHk
k(X + H)−1 kHk2 kX −1 k2
≤ lim ≤ lim ckHk = 0.
kHk→0 kHk kHk→0
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 135

Portanto,
kr(H)k
lim =0
kHk→0 kHk

donde da unicidade da derivada, obtemos,

φ0 (X)(H) = T (X) = −X −1 HX −1 .

Em particular a aplicação φ é contı́nua.

Definição 3.5 Uma função f : A ⊂ Rn → R tem um mı́nimo


num ponto x0 ∈ A se,

f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ A.

Exemplo 3.3.1 A função f : R2 → R definida por f (x, y) =


x2 + y 2 tem um mı́nimo no ponto (0, 0), pois

0 = f (0, 0) ≤ f (x, y) = x2 + y 2 , ∀(x, y) ∈ R2 .

Exercı́cio 3.3.3 Se f : A ⊂ Rn → R é diferenciável e tem um


ponto de mı́nimo em a ∈ A então Df (a) ≡ 0.
Solução: Sendo f diferenciável em a as derivadas parciais Dj f (a),
∀j = 1, . . . , n existem.
Considere a função

φ(t) = f (a1 , . . . , ai−1 , t, ai+1 , . . . , an ), a = (a1 , . . . , an ),

onde φ está definida em um intervalo aberto que contém t. Tem-


se que a função φ tem um mı́nimo em ai , pois f tem um mı́nimo
136 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

em a. Agora, segue-se do Cálculo Diferencial para funções de


uma variável real que

0 = φ0 (ai ) = Di f (a).

Note que este raciocı́nio, pode ser aplicado para todo i = 1, . . . , n.


Portanto, Dfi (a) = 0, ∀i = 1, . . . , n. Desta última igualdade e
do Teorema 3.3, obtemos Df (a) ≡ 0.

Agora, usando o Teorema 3.5 (ii) − (b), obtemos exercı́cio


abaixo.

Exercı́cio 3.3.4 Seja f : A ⊂ Rn → Rn diferenciável. Mostre


que a aplicação
φ : A ⊂ Rn → R
y 7→ φ(y) = ky − f (x)k2
é diferenciável e vale

Dφ(x)(h) = 2h−Df (x)(h), y − f (x)i, ∀ h ∈ Rn .

Lema 3.3.1 Seja f : A ⊂ Rn → Rn diferenciável em x0 com


Df (x0 ) = I, onde I é a transformação linear identidade. Então
existe δ > 0 tal que

f (x) 6= f (x0 ), ∀x ∈ B(x0 , δ).

Demonstração: De fato, se f (x) = f (x0 ) para valores de x


próximo de x0 então f (x0 + h) = f (x0 ) para h suficientemente
pequeno, e terı́amos:
kf (x0 + h) − f (x0 ) − Df (x0 )(h)k khk
lim = lim = 1,
khk→0 khk khk→0 khk
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 137

o que contraria o fato de f ser diferenciável em x0 .


Portanto, existe δ > 0 tal que

f (x) 6= f (x0 ), ∀x ∈ B(x0 , δ).

Lema 3.3.2 Seja f : A ⊂ Rn → Rn de classe C 1 e seja M > 0


tal que

|Dj fi (x)| ≤ M, ∀x ∈ A, ∀i, j = 1, . . . , n.

Então,

kf (x) − f (y)k ≤ n3 M kx − yk, ∀x, y ∈ A.

Demonstração: Primeiro notemos que para a i-ésima função


componente, temos

fi (y) − fi (x) =
Xn
[fi (y1 , . . . , yj , xj+1 , . . . xn ) − fi (y1 , . . . , yj−1 , xj , . . . , xn )]
j=1
(3.34)
Aplicando o Teorema do Valor Médio a função componente fi ,
resulta de (3.34) que

[fi (y1 , . . . , yj , xj+1 , . . . xn ) − fi (y1 , . . . , yj−1 , xj , . . . , xn )] =

= Dj fi (zij )((yj − xj )(ej ) = (yj − xj )Dj fi (zij )(ej ),


(3.35)
138 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Substituindo (3.35) em (3.34) sendo |Dj fi (x)| ≤ M e |yj −xj | ≤


ky − xk, obtemos
n
X
|fi (x) − fi (y)| ≤ |(yj − xj )Dj fi (zij )(ej )| ≤
j=1
n
X (3.36)
≤ |Dj fi (zij )||yj − xj | ≤ nM kx − yk
j=1

donde de (3.36) temos


n
X
2
kf (x) − f (y)k = |fi (x) − fi (y)|2 ≤
i=1
n (3.37)
X
≤ (nM )2 kx − yk2 = n3 M 2 kx − yk2 .
i=1

Portanto, desta última desigualdade obtemos



kf (x) − f (y)k ≤ n3 M kx − yk.

Lema 3.3.3 Sejam f : A ⊂ Rn → Rn de classe C 1 e T ∈


GL(Rn ). Se T ◦ f tem uma inversa diferenciável, então f tem
uma inversa diferenciável.

Demonstração: Se f (x) = f (y) então T (f (x)) = T (f (y)),


isto é,
(T ◦ f )(x) = (T ◦ f )(y), e sendo T ◦ f invertı́vel, logo injetiva, e
portanto x = y. Assim, a função f : A → f (A) tem uma inversa.
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 139

Portanto, usando a hipótese que (T ◦f )−1 é diferenciável e o fato


que T é diferenciável, pois é linear, temos que

f −1 = f −1 ◦ (T −1 ◦ T ) = (f −1 ◦ T −1 ) ◦ T = (T ◦ f )−1 ◦ T,

é diferenciável.

Teorema 3.12 (Teorema da Função Inversa) Seja f : A ⊂


Rn → Rn uma função de classe C 1 tal que Df (x0 ) é invertı́vel.
Então existem vizi-nhanças V0 de x0 e W0 de y0 = f (x0 ) tais
que:
(i) f |V0 : V0 → W0 tem uma inversa;
(ii) f −1 : W0 → V0 é de classe C 1 e

Df −1 [f (x)] = [Df (x)]−1 , ∀x ∈ V0 .

Demonstração: A prova do teorema da função inversa, será


feita em três etapas.
Vamos supor que Df (x0 ) = I, pois do contrário, substituı́mos
f por T ◦ f, onde T = Df (x0 )−1 e usamos o Lema 3.3.3, pois
se T = Df (x0 )−1 , temos

D(T ◦ f )(x0 ) = D(T (f (x0 ))) ◦ Df (x0 ) =

T ◦ Df (x0 ) = Df (x0 )−1 ◦ Df (x0 ) = I.

Note que, se o teorema é válido para T ◦ f ele também é será


válido para f, pelo Lema 3.3.3.
140 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

1a Etapa: Vamos mostrar que f é localmente injetiva.


Pelo Lema 3.3.1 existe δ1 > 0 tal que

f (x) 6= f (x0 ), ∀x ∈ A com 0 < kx − x0 k < δ1

e sendo Dj fi contı́nua, pois f é de classe C 1 existe δ2 > 0 tal


que

1
|Dj fi (x) − Dj fi (x0 )| ≤ √ , ∀x ∈ A com kx − x0 k < δ2 .
2 n3

Como a aplicação determinante é contı́nua e det[Df (x0 )] 6= 0,


pois Df (x0 ) é invertı́vel, temos que existe δ3 > 0 tal que

det[Df (x)] 6= 0, ∀x ∈ B(x0 , δ3 ).

Considerando δ = min{δ1 , δ2 , δ3 }, obtemos


(a) f (x) 6= f (x0 ), ∀x ∈ B(x0 , δ);
1
(b) |Dj fi (x) − Dj fi (x0 )| ≤ √ , ∀x ∈ B(x0 , δ);
2 n3
(c) det[Df (x)] 6= 0, ∀x ∈ B(x0 , δ).

Seja
ϕ : A ⊂ Rn → Rn
x 7→ ϕ(x) = f (x) − x

Temos Dj ϕi (x) = Dj fi (x) − Dj I(x) = Dj fi (x) − Dj fi (x0 ),


donde do item (b),

1
|Dj ϕi (x)| = |Dj fi (x) − Dj fi (x0 )| < √ , ∀x ∈ B(x0 , δ)
2 n3
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 141

Logo, pelo Lema 3.3.2, aplicado a função ϕ com constante M =


1
√ > 0, temos
2 n3

kϕ(x) − ϕ(y)k ≤
√ 1 1
n3 √ kx − yk = kx − yk, ∀x, y ∈ B(x0 , δ).
2 n3 2

Agora usando a desigualdade triangular, temos da última desi-


gualdade que

ky − xk − kf (x) − f (y)k ≤ kf (y) − y + x − f (x)k ≤

1
ky − xk, ∀x, y ∈ B(x0 , δ)
2
ou
1
kf (x) − f (y)k ≥ kx − yk, ∀x, y ∈ B(x0 , δ).
2
Logo, f é injetiva em V , onde V = B(x0 , δ) e V = B[x0 , δ].
Seja K = f (∂V ). Temos que K é compacto, pois, sendo f
contı́nua, e ∂V compacta então K = f (∂V ) é compacto.
2a Etapa: Construção das vizinhanças V0 de x0 e W0 de y0 =
f (x0 ).
Notemos inicialmente que y0 6∈ K, pois y0 = f (x0 ) e x0 ∈
/ ∂V,
visto que x0 é o centro da bola fechada B[x0 , δ].
Seja

d = inf{ky0 − kk : k ∈ K} = dist(y0 , K) > 0,


 
d
e consideremos W0 = B y0 , .
2
142 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.14: f |V : V → f (V )

Afirmação: Dado b ∈ W0 existe a ∈ V tal que b = f (a).


De fato, consideremos a aplicação φ(x) = kb−f (x)k2 , x ∈ V =
B[x0 , δ]. Como φ é contı́nua e V é compacta, pelo Teorema de
Weierstrass φ atinge seu mı́nimo num ponto a ∈ V .
Note a princı́pio que
d
kb − f (x)k ≥ , se x ∈ ∂V,
2
pois b ∈ B(y0 , d2 ).
Logo,
d
φ(x0 ) = kb − f (x0 )k2 = kb − y0 k2 < ≤
2
kb − f (x)k2 = φ(x), ∀x ∈ ∂V,

porque y0 = f (x0 ) ∈ W0 e f (x) ∈ f (∂V ), pois os pontos de


∂V são levados por f em pontos de f (∂V ). Portanto, a ∈
/ ∂V,
pois, sendo a um ponto onde φ atinge o mı́nimo, temos

φ(a) ≤ φ(x), ∀x ∈ B[x0 , δ].


3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 143

Em particular, φ(a) ≤ φ(x0 ), o que não pode ocorrer se a ∈ ∂V,


devido a desigualdade acima.
Logo, a ∈ B(x0 , δ). Sendo a um ponto de mı́nimo, temos do
Exercı́cio 3.3.4 que Dφ(a)(h) = 0, ∀h ∈ Rn . Assim, pelo
Exercı́cio 3.3.3 temos

Dφ(a)(h) = h−Df (a)(h), b − f (a)i = 0, ∀ h ∈ Rn . (3.38)

Agora, sendo Df (a) invertı́vel, pois a ∈ B(x0 , δ) e nesta bola,


det[Df (a)] 6= 0, então para todo w ∈ Rn , existe h ∈ Rn tal que
Df (a)(h) = w. Assim, de (3.38), obtemos

hw, b − f (a)i = 0, ∀w ∈ Rn . (3.39)

Logo, b − f (a) = 0, ou b = f (a).


Considerando V0 = V ∩ f −1 (W0 ), o qual é aberto, pois é in-
terseção de abertos. Assim,

f |V0 : V0 → W0

é uma bijeção de classe C 1 .

3a Etapa: Nesta etapa vamos mostrar que f −1 : W0 → V0 é


de classe C 1 .
Pela definição de derivada, temos

Df (x)(x1 − x) = f (x1 ) − f (x) − kx − x1 kϕ(x1 − x)


onde
lim ϕ(x1 − x) = 0
x→x1
(3.40)
144 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Aplicando [Df (x)]−1 em (3.40)1 e usando o fato que x1 =


f −1 (y1 ) e x = f −1 (y), e para y 6= y1 , obtemos
x1 − x 1
= [Df (x)]−1 (y1 − y)−
ky1 − yk ky1 − yk
kx1 − xk
[Df (x)]−1 (ϕ(x1 − x))
ky − y1 k
ou ainda
f −1 (y) − f −1 (y1 ) − {[Df (x)]−1 (y1 − y)}
=
ky1 − yk
(3.41)
kf −1 (y1 ) − f −1 (y)k
= [Df (x)]−1 (ϕ(x1 − x)).
ky − y1 k
Da desigualdade
1
kf (x1 ) − f (x)k ≥ kx1 − xk,
2
temos
kf −1 (y) − f −1 (y1 )k
≤ 2. (3.42)
ky1 − yk
Notemos que y → y1 se, e somente se, f −1 (y) → f −1 (y1 ),
ou seja, x → x1 , ou ainda, x − x1 → 0, logo, de (3.40)2 ,
obtemos ϕ(x − x1 ) → 0. Agora, sendo [Df (x)]−1 contı́nua e
[Df (x)]−1 (0) = 0, temos

[Df (x)]−1 (ϕ(x − x1 )) → [Df (x)]−1 (0) = 0 (3.43)

Logo de (3.42) e (3.43), obtemos

kf −1 (y) − f −1 (y1 )k
lim [Df (x)]−1 (ϕ(x − x1 )) = 0 (3.44)
y→y1 ky1 − yk
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 145

Passando ao limite em (3.41), usando (3.44), obtemos

f −1 (y) − f −1 (y1 ) − {[Df (x)]−1 (y1 − y)}


lim =0
y→y1 ky1 − yk

Portanto, f −1 é diferenciável e Df −1 (f (x)) = [Df (x)]−1 .


Consideremos a função

φ : GL(Rn ) → GL(Rn )
X 7→ φ(X) = X −1

que é contı́nua pelo Exercı́cio 3.3.1.


Agora notemos que, Df −1 = φ ◦ Df ◦ f −1 que é contı́nua (ver
diagrama abaixo). Portanto, f −1 é de classe C 1 .

Df −1
W0 ⊂ Rn / GL(Rn )
O
f −1 φ

V0 ⊂ Rn / GL(Rn )
Df

Corolário 3.4 Se a função f : A ⊂ Rn → Rn satisfaz as


hipóteses do teorema da função inversa é de classe C r , então
f −1 : V → U é de classe C r .

Demonstração: A prova é por indução sobre r. Se r = 1, o


resultado segue do Teorema da Função Inversa. Suponhamos que
o Corolário seja verdadeiro para funções de classe C r−1 . Desde
que f seja de classe C r , então, em particular f é de classe C r−1 ,
146 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

de modo que, por hipótese de indução, a inversa de f, a função


g = f −1 é uma função de classe C r−1 . Além disso, a função Df
é classe C r−1 , pois f é de classe C r . Portanto, pelo Corolário 3.2,
temos que Dg é de classe C r−1 e consequentemente, g = f −1 é
de classe C r , o que prova o Corolário.
Comentários sobre o Teorema da Função Inversa
(10 ) O Teorema da Função Inversa não tem carácter global.
De fato, considere o seguinte exemplo.

Exemplo 3.3.2 Seja f : R2 → R2 definida por

f (x, y) = (ex cosy, ex seny).

Então, f não é injetiva, pois f (0, 0) = f (0, 2π), mas (0, 0) 6=


(0, 2π). Entretanto, det[Df (x, y)] = e2x 6= 0, ∀(x, y) ∈ R2 .

Exemplo 3.3.3 Seja f : R2 → R2 definida por

f (r, θ) = (rcosθ, rsenθ)

f é chamada transformação de coordenadas polar.


Temos " #
cosθ −rsenθ
Df (r, θ) =
senθ rcosθ
Assim, detDf (r, θ) = r.
Seja A = (0, 1) × (0, b) no plano rθ. Um esboço da imagem de
f sobre A está representado na figura.
Então, Df é invertı́vel em cada ponto de A. Contudo f é injetiva
sobre A, se e somente se, b ≤ 2π.
3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 147

Figura 3.15: Coordenadas Polares

(20 ) A função f ser de classe C 1 não pode ser omitida.


De fato, considere o seguinte exemplo.

Exemplo 3.3.4 Seja f : R → R definida por


  
 1
 x + x sen 1 , se x 6= 0
2
f (x) = 2 x

 0, se x = 0.

Temos que
    
1 1 1
 + 2xsen − cos , se x 6= 0


2 x x
f 0 (x) =
 1,

se x = 0

2
e
1


1
  − , se k é par

f0 = 2
kπ  3 , se k é ı́mpar,

2
148 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

isto implica que f 0 não é contı́nua em x = 0, o que acarreta que


f não é de classe C 1 .
1
Seja δ > 0 e k ∈ N tal que < δ. Então,

 
0 1
f < 0, se k é par

 
0 1
f > 0, se k é ı́mpar

Pela continuidade de f 0 em (0, ∞) segue que existem intervalos


I, J ⊂ (−δ, δ) tais que

f 0 (x) > 0, ∀x ∈ I
f 0 (x) < 0, ∀x ∈ J,

isto implica que f é crescente em I e decrescente em J e portanto


f não tem inversa em (−δ, δ).
(30 ) A inversa de f pode existir em algumas vizinhanças de x0
sem que Df (x0 ) seja invertı́vel.
De fato, considere o exemplo.

Exemplo 3.3.5 A função f : R → R definida por f (x) = x3



tem inversa g(y) = 3 y e para x0 = 0 tem-se que Df (x0 ) = 0
é não invertı́vel. Neste caso, g = f −1 não será diferenciável em
y0 = f (x0 ). De fato, se f −1 fosse diferenciável em y0 , então:

I = Df (x0 ) ◦ Df −1 (y0 )

e Df (x0 ) seria invertı́vel.


3.3. TEOREMA DA FUNÇÃO INVERSA 149

A seguir faremos alguns aplicações do Teorema da Função


Inversa.

Exemplo 3.3.6 Mostre que a função f : R2 → R2 dada por

f (x, y) = (cosx + cosy, senx + seny)

tem uma inversa na vizinhança de todos os pontos (x0 , y0 ) ∈ R2


tal que x0 − y0 6= nπ com (n = 0, ±1, ±2, · · ·) e que em todos
os outros pontos não existe inversa local.
Solução: Temos
−senx0 −seny0
Jf (x0 , y0 ) = = −sen(x0 − y0 )
cosx0 cosy0
Note que Jf (x0 , y0 ) = −sen(x0 − y0 ) 6= 0 se, e somente se,
x0 − y0 6= nπ, n ∈ Z. Logo, pelo Teorema da Função Inversa
a aplicação f tem uma inversa local na vizinhança dos pontos
(x0 , y0 ) tal que x − y 6= nπ, n ∈ Z e que nos outros pontos não
existe a inversa local.

Exemplo 3.3.7 Prove que a função f : R2 → R2 dada por


!
x y
f (x, y) = p ,p
1 + x2 + y 2 1 + x2 + y 2
tem uma inversa local em toda vizinhança de qualquer ponto de
R2 . Se φ é uma inversa local em (x, y), encontre Jφ(x, y).
1
Solução: Temos que Jf (x, y) = 1+x2 +y 2
6= 0, ∀(x, y) ∈ R2 .
Logo, pelo Teorema da Função Inversa f admite uma função
inversa local em qualquer ponto do R2 . Seja φ a inversa de f
1
então Jφ(x, y) = Jf (x,y)
= 1 + x2 + y 2 6= 0.
150 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Exemplo 3.3.8 A função f : R3 → R3 é dada por

f1 (x, y, z) = x + y + z
f2 (x, y, z) = yz + zx + xy
f3 (x, y, z) = xyz

e x0 , y0 e z0 são números reais dois a dois distintos. Mostre


que a função f tem uma inversa φ em uma vizinhança do ponto
(x0 , y0 , z0 ) e que

Jφ(x, y, z) = −[(y − z)(z − x)(x − y)]−1 .

Solução: Temos

1 1 1
Jf (x0 , y0 , z0 ) = y0 + z0 x0 + z0 x0 + y0 .
y0 z0 x0 z0 x0 y0

Pela Regra de Chió, temos

1 1 1
y0 + z0 x0 + z0 x0 + y0 =
y0 z0 x0 z0 x0 y 0

1 0 0
y0 + z0 x0 − y 0 x0 − z0 =
y0 z0 z0 (x0 − y0 ) y0 (x0 − z0 )

= −(y0 − z0 )(z0 − x0 )(x0 − y0 )

Portanto, Jf (x0 , y0 , z0 ) = −(y0 − z0 )(z0 − x0 )(x0 − y0 ) 6= 0,


pois x0 , y0 e z0 são dois a dois distintos.
3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 151

Desde que Jf (x0 , y0 , z0 ) 6= 0 pelo Teorema da Função Inversa


existe uma inversa φ de f definida numa vizinhança de (x0 , y0 , z0 )
e
1
Jφ(x, y, z) = =
Jf (x, y, z)
1
− = −[(y − z)(z − x)(x − y)]−1 .
(y − z)(z − x)(x − y)

Exemplo 3.3.9 Seja A ⊂ R2 uma aberto, f : A → R uma


função de classe C 1 . Seja (a, b) ∈ A e suponhamos que D2 f (a, b)
seja não nula. Mostre que a função

F : A → R2
(x, y) 7→ F (x, y) = (x, f (x, y))

é localmente invertı́vel em (a, b).


Solução: Temos, F1 (x, y) = x e F2 (x, y) = f (x, y). Logo,
 
∂F1 ∂F1
  !
∂Fj ∂x ∂y 1 0
= = ,
∂xi ∂F2 ∂F2 D1 f (x, y) D2 f (x, y)
∂x ∂y

o que implica que no ponto (a, b), temos que JF (a, b) = D2 f (a, b)
não é nula por hipótese. Portanto, pelo Teorema da Função In-
versa a função F é localmente invertı́vel em (a, b).

3.4 Teorema da Função Implı́cita


Nesta seção vamos estudar outro resultado central do Cálculo
Avançado, o Teorema da Função Implı́cita.
152 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Dada a equação da circunferência

x2 + y 2 = 1,

podemos explicitar y como função da variável x? Neste caso


√ √
y = 1 − x2 ou y = − 1 − x2

Se ϕ : [−1, 1] → R é uma função definida por


√ √
ϕ(x) = 1 − x2 ou ϕ(x) = − 1 − x2 ,

então ϕ está implı́cita na equação da circunferência.


Se considerarmos agora o exemplo:

x4 + x3 y 3 + x2 y 2 − 5 = 0.

Neste caso podemos explicitar y em função de x?


Os exemplos acima nos remetem a seguinte pergunta:
Pergunta: Dada f : Rk+m → Rm e (x0 , y0 ) ∈ Rk × Rm =
Rk+m tal que f (x0 , y0 ) = 0, deseja-se saber se existe um subcon-
junto A ⊂ Rk aberto e uma função ϕ : A → Rm satisfazendo:
(i) x0 ∈ A e ϕ(x0 ) = y0 ;
(ii) f (x, ϕ(x)) = 0, ∀x ∈ A.
Se existe um aberto A ⊂ Rk satisfazendo (i) e (ii) acima, di-
zemos que ϕ é função implı́cita para a equação f (x, y) = 0 na
vizinhança de x0 .

Observação 3.16 Quando k = m = 1, pela Regra da Cadeia,


obtemos
∂f ∂f
+ ϕ0 (x) = 0.
∂x ∂y
3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 153

∂f
Se f é uma função de classe C 1 e (x0 , y0 ) 6= 0, podemos
∂y
obter ϕ como uma solução do problema de valor inicial


= φ(x, ϕ)
dx (3.45)
φ(x0 ) = y0

As hipóteses que garantam a existência de soluções para as equações


do tipo (3.45) (são dadas pelo Teorema de Existência em EDO)
fornecem respostas para a questão.

Agora suponhamos que a equação f (x, y) = 0, determina


y como uma função diferenciável de x, digamos y = ϕ(x). A
equação f (x, ϕ(x)) = 0 é uma identidade. Aplicando a regra da
cadeia nessa identidade, obtemos:
∂f ∂f
+ ϕ0 (x) = 0.
∂x ∂y

de modo que
∂f
0 ∂x ∂f
ϕ (x) = − ∂f
, se 6= 0,
∂y
∂y
onde as derivadas parciais são avaliadas no ponto (x, ϕ(x)).
∂f
Se assumirmos que a função f (x, y) tem a propriedade que 6=
∂y
0 no ponto (a, b), então existe uma solução da equação f (x, y) =
0, esta equação determina y como função de x, para x próximo
de a, e esta função de x é diferenciável.
Este resultado é um caso especial de um teorema chamado
Teorema da Função Implı́cita.
154 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Vamos tratar a questão acima usando o Teorema da Função


Inversa.
O caso geral do Teorema da Função Implı́cita envolve um
sistema de equações ao invés de uma única equação.
Suponhamos que f : Rk+n → Rn é uma função de classe C 1 .
Então a equação vetorial

f (x1 , . . . , xk+n ) = 0,

é equivalente a um sistema de n equações escalar em k + n


variáveis.
Em algumas ocasiões também usaremos a notação
∂f
Df = ,
∂x
mais geralmente, usaremos a notação
∂(fi1 , . . . , fik )
,
∂(xj1 , . . . , xjl )

para denotar a matriz de ordem k por l que consiste das entradas


de Df com linhas i1 , . . . , ik e colunas j1 , . . . , jl . Uma entrada
genérica desta matriz na linha p e na coluna q é a derivada
∂fip
parcial .
∂xjq
Agora lidamos com o problema de encontrar a derivada de
uma função definida explicitamente, assumindo que ela exista e
é diferenciável. Por simplicidade, assumiremos que resolvemos
um sistema de n equações em k + n variáveis para as últimas n
variáveis em termos das k primeiras variáveis.
3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 155

Vimos na Observação 3.17 que a derivada pode ser vista como


uma matriz. Usaremos este fato nos teoremas a seguir.

Observação 3.17 Escrevemos f na forma f (x, y), para x ∈ Rk


e y ∈ Rn . Então, Df tem a forma
 
∂f ∂f
Df = .
∂x ∂y

Teorema 3.13 Seja A ⊂ Rk+n um aberto e f : A → Rn


uma função diferenciável. Suponhamos que exista uma função
diferenciável g : B → Rn definida sobre um conjunto aberto
B ⊂ Rn , tal que

f (x, g(x)) = 0, ∀x ∈ B.

Então para todo x ∈ B, temos

∂f ∂f
(x, g(x)) + (x, g(x)).Dg(x) = 0.
∂x ∂y

∂f
Esta equação implica que se a matriz de ordem n por n for
∂y
invertı́vel no ponto (x, g(x)), então
 −1
∂f ∂f
Dg(x) = − (x, g(x)) (x, g(x)).
∂y ∂x

Demonstração: Dado g, defina a função h : B → Rk+n pela


equação
h(x) = (x, g(x)).
156 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Por hipótese, temos que a função composta

H(x) = f (h(x)) = f (x, g(x)), ∀x ∈ B

Da Regra da Cadeia temos que

0 = DH(x) = Df (h(x)).Dh(x) =
  " #
∂f ∂f Ik
(h(x)) (h(x)) . =
∂x ∂y Dg(x)
∂f ∂f
= (h(x)) + (h(x)).Dg(x).
∂x ∂y

Portanto,
∂f ∂f
(h(x)) + (h(x)).Dg(x) = 0.
∂x ∂y

Teorema 3.14 (Teorema da Função Implı́cita) Seja A con-


tido no Rk+n um aberto e f : A → Rn uma função de classe C r .
Escreva f na forma f (x, y), para x ∈ Rk e y ∈ Rn . Suponha
que (a, b) é um ponto de A tal que f (a, b) = 0 e

∂f
det (a, b) 6= 0.
∂y

Então, existe uma vizinhança B de a em Rk e uma única função


contı́nua g : B → Rn tal que g(a) = b e

f (x, g(x)) = 0, ∀x ∈ B.

Além disso, a função g é de classe C r .


3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 157

Demonstração: Construı́remos uma função F a qual podemos


aplicar o Teorema da Função Inversa. Defina F : A → Rk+n
pela equação
F (x, y) = (x, f (x, y)).

Então, F aplica o conjunto aberto A de Rk+n em Rk × Rn =


Rk+n . Além disso
 
I 0
 k
DF =  ∂f

∂f 
∂x ∂y

Calculando det DF, por repetidas aplicações do Teorema de La-


∂f
place,4 temos det DF = det 6= 0, por hipótese. Assim, DF
∂y
é invertı́vel no ponto (a, b).
Agora, note que F (a, b) = (a, f (a, b)) = (a, 0). Aplicando o
Teorema da Função Inversa a função F, concluı́mos que existe
um conjunto aberto U × V de Rk+n contendo (a, b), onde U é
um aberto em Rk e V é um aberto em Rn tal que:
(10 ) F aplica U × V de maneira injetiva em um conjunto aberto
W de Rk+n contendo (a, 0).
(20 ) A função inversa G : W → U × V é de classe C r .
Note que, sendo F (x, y) = (x, f (x, y)), temos

(x, y) = G(x, f (x, y)).


4
Pierre Simon Laplace nasceu em Beaumont-en-Auge, Normandia, na
França em 23-03-1749 e faleceu em 05-03-1827.
158 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Portanto, G preserva as primeiras k coordenadas, assim como F.


Então, podemos escrever G na forma

G(x, z) = (x, h(x, z)), ∀x ∈ Rk e ∀z ∈ Rn .

Aqui h é uma função de classe C r aplicando W em Rn . Seja B


uma vizinhança conexa de a em Rk , escolhida bastante pequena
de modo que B × {0} esteja contido em W. (Ver figura abaixo.)

Figura 3.16: Vizinhança Conexa

Provaremos a existência da função g : B → Rn .


Se x ∈ B então (x, 0) ∈ W, assim temos:

G(x, 0) = (x, h(x, 0))

e
(x, 0) = F (x, h(x, 0)) = (x, f (x, h(x, 0))),

o que implica f (x, h(x, 0)) = 0.


Escrevendo g(x) = h(x, 0) para x ∈ B, então a função g satisfaz
a equação f (x, g(x)) = 0, como queriamos mostrar. Além disso,
3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 159

como G é a inversa de F e que F (a, b) = (a, 0), obtemos

(a, b) = G(a, 0) = (a, h(a, 0)) = (a, g(a)).

Portanto, b = g(a) como desejado.


Agora provaremos a unicidade da função g.
Seja ϕ : B → Rn uma função contı́nua satisfazendo as
condições da conclusão do Teorema 3.14. Então em particu-
lar, ϕ coincide com g no ponto a.
Mostraremos que se ϕ coincide com g no ponto a0 ∈ B, então
ϕ coincide com g em uma vizinhança B0 de a0 .
Temos que a aplicação g leva a0 em V. Como ϕ é contı́nua, existe
uma vizinhança B0 de a0 contida em B tal que ϕ também aplica
B0 em V. O fato que f (x, ϕ(x)) = 0 para x ∈ B0 implica que

F (x, ϕ(x)) = (x, f (x, ϕ(x))) = (x, 0),

o que acarreta,

(x, ϕ(x)) = G(x, 0) = (x, h(x, 0)).

Daı́, obtemos ϕ(x) = h(x, 0) = g(x). Assim, ϕ e g são iguais


sobre B0 . Mostraremos que ϕ e g são iguais sobre B.
Seja
O1 = {x ∈ B : |g(x) − ϕ(x)| = 0}.

Acabamos de provar que O1 é aberto em B. Agora, consideremos


o conjunto

O2 = {x ∈ B : |g(x) − ϕ(x)| > 0}.


160 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Pela continuidade de g e ϕ, tem-se que O2 é aberto em B. Como


B = O1 ∪ O2 , e B é conexo, e O1 6= ∅, obtemos que O2 = ∅.
Portanto, ϕ = g sobre B.

Observação 3.18 Mostraremos a seguir que usando o Teorema


da Função Implı́cita, obtemos o Teorema da Função Inversa. Por-
tanto, o Teorema da Função Inversa e o Teorema da Função
Implı́cita são equivalentes.
De fato, para isto considere a função f : A ⊂ Rm → Rm de
classe C 1 e JDf (x0 ) 6= 0.
Seja
F : A × Rm → Rm
(x, y) 7→ F (x, y) = y − f (x)
Tem-se:
(i) F (x0 , y0 ) = y0 − f (x0 ) = 0
(ii) detDx F (z0 ) = detDf (x0 ) 6= 0, onde z0 = (x0 , y0 ).
Pelo Teorema da Função Implı́cita, existe uma vizinhança V de
y0 e uma função ϕ : V → Rm de classe C 1 tal que:
(10 ) ϕ(y0 ) = x0 ;
(20 ) (ϕ(y), y) ∈ U × Rm = W ;
(30 ) F (ϕ(y), y) = 0.
Deste último item, tem-se que, y − f (ϕ(x)) = 0, isto é,

f (ϕ(y)) = y.

Portanto, f é injetiva em ϕ(V ). Isto mostra a veracidade do


Teorema da Função Inversa.
3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 161

Note que a partir da Observação 3.18, segue-se que o Te-


orema da Função Inversa e o Teorema da Função Implı́cita são
equivalentes.
No que segue faremos várias aplicações do Teorema da Função
Implı́cita.

Exemplo 3.4.1 Quais das seguintes equações tem soluções para


∂z ∂z
z em uma vizinhança do ponto dado? Calcule e .
∂x ∂y
2 +y 2 +z 2
(i) ex − 1 = 0, p = (0, 0, 0)
(ii) z + 2cos(x + y + z) = 2, p = (0, 0, 0)
(iii) x2 y 2 z 2 = 1, p = (1, 1, 1)
(iv) x2 + y 2 − z 2 = 1, p = (0, 0, 1)
2 +y 2 +z 2 ∂F
Solução: (i) Seja F (x, y, z) = ex − 1. Temos ∂z
=
x2 +y 2 +z 2 ∂F
2ze o que implica ∂z
(0, 0, 0) = 0. Logo, não existe ne-
nhuma solução z = g(x, y) para a equação F (x, y, g(x, y)) = 0
em uma vizinhança de (0, 0).
(ii) Seja F (x, y, z) = z+2cos(x+y+z)−2. Temos Fz (0, 0, 0) =
1. Logo, pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma solução
z = g(x, y) da equação F (x, y, g(x, y)) = 0 em uma vizinhança
de (0, 0).
Portanto,
∂w 2sen(x + y + z) Fx (x, y, z)
= = gx (x, y) = −
∂x 1 − 2sen(x + y + z) Fz (x, y, z)
e
∂w 2sen(x + y + z) Fy (x, y, z)
= = gy (x, y) = −
∂y 1 − 2sen(x + y + z) Fz (x, y, z)
162 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

(iii) Seja F (x, y, z) = x2 y 2 z 2 − 1. Então Fz (1, 1, 1) = 2. Logo,


pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma solução z = g(x, y)
da equação F (x, y, g(x, y)) = 0 em uma vizinhança de (1, 1).
Temos
∂w z ∂w z
=− e =− .
∂x x ∂y y
(iv) Seja F (x, y, z) = x2 +y 2 +z 2 −1. Note que F (0, 0, 0) 6= 0 e
portanto, (0, 0, 1) não está no gráfico da equação F (x, y, z) = 0.

Exemplo 3.4.2 Dado que F (x, y, z) = 0, onde F tem derivadas


de primeira ordem não nula contı́nuas em um aberto A ⊆ R3 ,
prove que
∂x ∂y ∂z
= −1 em A.
∂y ∂z ∂x
Solução: Como Fx 6= 0, Fy 6= 0 e Fz 6= 0 pelo Teorema da
Função Implı́cita, obtemos
∂x Fy ∂y Fz ∂z Fx
=− , =− e =− .
∂y Fx ∂z Fy ∂x Fz
Logo,
   
∂x ∂y ∂z Fy Fz Fx
= − − − = −1.
∂y ∂z ∂x Fx Fy Fz
Exemplo 3.4.3 Encontre um ponto (x0 , y0 , z0 ) na vizinhança
do qual a equação

senyz + senzx + senxy = 0

tem uma única solução z = φ(x, y).


3.4. TEOREMA DA FUNÇÃO IMPLÍCITA 163

Solução: Pelo Teorema da Função Implı́cita, devemos ter Fz =


cosyz + cosxz 6= 0. Logo, por exemplo para (x0 , y0 , z0 ) =
(x0 , 0, 0) com x0 6= 0 então Fz (x0 , y0 , z0 ) = 2 6= 0, e pelo
Teorema da Função Implı́cita na vizinhança do ponto (x0 , y0 , z0 )
a equação F (x, y, z) = 0 possui uma única solução z = φ(x, y).

Exemplo 3.4.4 Mostre que as equações

xy 5 + yu5 + zv 5 = 1
x5 y + y 5 u + z 5 v = 1

tem uma única solução u = φ1 (x, y, z), v = φ2 (x, y, z) na vi-


zinhança do ponto (x, y, z, u, v) = (0, 1, 1, 1, 0) e encontre a
matriz de Dφ(0, 1, 1), onde φ = (φ1 , φ2 ).

Solução: Sejam

f1 (x, y, z) = xy 5 + yu5 + zv 5 − 1 = 0
(3.46)
f2 (x, y, z) = x5 y + y 5 u + z 5 v − 1 = 0

Se p = (x, y, z) q = (u, v) e f = (f1 , f2 ) então a equação (3.46)


pode ser escrita na forma f (p, q) = 0. Logo,

5yu4 5zv 4
J2 f (p, q) = 5 5
= 5yu4 z 5 − 5zv 4 y 5
y z

Se p0 = (0, 1, 1) e q0 = (1, 0) então J2 f (p0 , q0 ) = 5 6= 0.


Portanto, pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma vizi-
nhança do ponto (0, 1, 1, 1, 0) tal que a equação f (p, q) = 0
possui uma única solução q = φ(p), isto é, (y, z) = φ(x) =
164 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

(φ1 (x), φ2 (x)). Logo, y = φ1 (x) e z = φ2 (x).


Temos Dφ(p0 ) = −[D2 f (p0 , q0 )]−1 D1 f (p0 , q0 ).
Temos
" # " #
1 5 0 5 0
D1 f (p0 , q0 ) = , D2 f (p0 , q0 ) = ,
0 5 0 1 1
" #
1
0
D2 f (p0 , q0 )−1 = 5
− 15 1
Logo,
" #" # " #
1
1 5 0 5
0 − 15 1 0
Dφ(p0 , q0 ) = − = .
0 5 0 − 15 1 − 15 4 0

Exemplo 3.4.5 Mostre que na vizinhança de qualquer ponto os


quais satisfaz as equações

x4 + (x + z)y 3 − 3 = 0
x4 + (2x + 3z)y 3 − 6 = 0

existe uma única solução y = φ1 (x) e z = φ2 (x) dessas equações.

Solução: Sejam

f1 (x, y, z) = x4 + (x + z)y 3 − 3 = 0
(3.47)
f2 (x, y, z) = x4 + (2x + 3z)y 3 − 6 = 0

Se p = x, q = (y, z) e f = (f1 , f2 ) então a equação (3.47) pode


ser escrita na forma f (p, q) = 0. Logo,

3(x + z)y 2 y3
J2 f (p, q) = 2 3
= 3xy 5 6= 0 se xy 6= 0.
3(2x + 3z)y 3y
3.5. DERIVADAS DE ORDEM SUPERIOR 165

Portanto, para o ponto (x, y, z) com x 6= 0 e y 6= 0, pelo Teo-


rema da Função Implı́cita existe uma vizinhaça do ponto (x, y, z)
com x 6= e y 6= 0 tal que a equação f (p, q) = 0 possui uma única
solução q = φ(p), isto é, (y, z) = φ(x) = (φ1 (x), φ2 (x)). Logo,
y = φ1 (x) e z = φ2 (x).

3.5 Derivadas de Ordem Superior

No que segue A é um aberto do Rm . Seja f : A ⊂ Rm → R,


então a derivada de f em a é a transformação linear Df (a) :
Rm → R.
Se a derivada Df (a) existe, então ela é dada pela fórmula

m
X
Df (a)(u) = Di f (a)ui ,
i=1

onde u = (u1 , . . . , um ) ∈ Rm .
De fato, pelo Teorema 3.4 temos Dj f (a) = Df (a)(ej ), para
j = 1, · · · , m.
Consideremos {e1 , . . . , em } a base canônica do Rm . Dado u =
(u1 , . . . , um ) ∈ Rm tem-se:

u = u1 e1 + . . . + um em
166 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Sendo Df (a) linear, obtemos:

Df (a)u = u1 Df (a)e1 + · · · + um Df (a)em =


= u1 D1 f (a) + · · · + um Dm f (a) =
Xn
= ui Di f (a).
i=1

Definimos a segunda derivada de f em a, como sendo a função


linear
D2 f (a) : Rm × Rm → R dada por
m
X
2
D f (a)(u, v) = Dji f (a)ui vj ,
i,j=1

onde u = (u1 , . . . , um ), v = (v1 , . . . , vm ) ∈ Rm .


Na discurssão com respeito a segunda derivada, assumiremos
que as derivadas parciais de segunda ordem de f, existem e são
contı́nuas.
Analogamente definimos a terceira derivada de f em a,
sendo a função linear D3 f (a) : Rm × Rm × Rm → R dada
por
m
X
D3 f (a)(u, v, w) = Dkji f (a)ui vj wk ,
i,j=1

onde u = (u1 , . . . , um ), v = (v1 , . . . , vm ), w = (w1 , . . . , wm ) ∈


Rm .
Na discurssão com respeito a terceira derivada, assumiremos
que as derivadas parciais de terceira ordem de f, existem e são
contı́nuas em uma vizinhança de a.
3.5. DERIVADAS DE ORDEM SUPERIOR 167

Usaremos as seguintes notações:

D2 f (a)(u)2 para D2 f (a)(u, u);


D3 f (a)(u)3 para D3 f (a)(u, u, u);
··· ··· ···
n n
D f (a)(u) para Dn f (a)(u, u, . . . , u).

Se m = 2 então D2 f (a)(u)2 é igual

D2 f (a)(u)2 = Dxx f (a)h2 + 2Dxy f (a)hk + Dyy f (a)k 2 ,

onde u = (h, k).


Analogamente,

D3 f (a)(u)3 = Dxxx f (a)h3 + 3Dxxy f (a)h2 k+


3Dxyy hk 2 + Dyyy f (a)k 3

Dn f (a)(u)n = Dx...x f (a)hn + n1 Dx...xy f (a)hn−1 k+




+ n2 Dx...xyy f (a)hn−2 k 2 + · · · + Dy...y f (a)k n .




5
Teorema 3.15 (Fórmula de Taylor) Seja f : A ⊂ Rm → R
onde A é um aberto e suponha que f tem derivadas parciais
contı́nuas de ordem n em uma vizinhança de todo ponto sobre
um segmento de reta S ligando os pontos a e b = a + u em A.
5
Brook Taylor foi um matemático inglês nascido em Londres em 18-
09-1685 e faleceu em Londres em 30-10-1731).
168 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Então, existe um ponto c ∈ S tal que


1 1
f (a + u) = f (a) + Df (a)(u) + D2 f (a)(u)2 + · · · +
1! 2!
1 1
+ D(n−1) f (a)(u)n−1 + Dn f (c)(u)n .
(n − 1)! n!
Demonstração: Defina F : I → R por

F (t) = f (a + tu),

onde I é um intervalo de R.
Usando a hipótese da existência das derivadas parciais de f,
segue-se que:

F 0 (t) = Df (a + tu)(u);
F 00 (t) = D2 f (a + tu)(u)2 ;
.. ..
. .
F (n) (t) = Dn f (a + tu)(u)n .

Aplicando a Fórmula de Taylor a função F (que é uma função


real de uma variável real) existe um número t0 ∈ I tal que:
1 0 1 1
F (1) = F (0) + F (0) + · · · + F (n−1) (0) + F (n) (t0 )
1! (n − 1)! n!
Se considerarmos c = a + t0 u, obtemos o teorema.
O polinômio
1
pn (a + u) = f (a) + Df (a)(u)+
1!
1
1
2!
D2 f (a)(u)2 + · · · + D(n) f (a)(u)n
n!
é chamado polinômio de Taylor de grau n.
3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 169

Exemplo 3.5.1 Encontre o polinômio de Taylor de f : R2 → R


dada por f (x, y) = ex+y , no ponto (0, 0), de ordem 2.
Considerando a = (0, 0) e u = (x, y) temos pela fórmula de
Taylor
1
ex+y = 1 + x + y + (x2 + y 2 + 2xy) + R3 ,
2
ou ainda
1
ex+y = 1 + (x + y) + (x + y)2 + R3 ,
2
onde
1 3
R3 = D f (c)(u)3 , com c ∈ (a, u).
3!
Logo, o polinômio procurado é
1
p2 (x, y) = 1 + x + y + (x + y)2 .
2
As figuras abaixo representam os gráficos de f (x, y) = ex+y e
p2 (x, y) = 1 + x + y + 21 (x + y)2 respectivamente.

3.6 Problemas Extremos


Seja f : A ⊆ Rm → R. Um ponto a no qual Df (a) = 0 é
chamado ponto crı́tico de f.
Um ponto a ∈ A é chamado ponto de mı́nimo relativo de f
se existe um δ > 0 tal que

f (a) ≤ f (x) para todo x ∈ A com kx − ak < δ.


170 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.17: Gráfico de f (x, y) = ex+y .

Figura 3.18: Gráfico de p2 (x, y) = 1 + x + y + 21 (x + y)2 .

Um ponto a ∈ A é chamado ponto de mı́nimo relativo es-


trito de f se existe um δ > 0 tal que

f (a) < f (x) para todo x ∈ A com 0 < kx − ak < δ.


3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 171

De maneira análoga definimos um ponto de máximo relativo


de f e ponto de máximo relativo estrito de f.
Se a ∈ A é um ponto de mı́nimo ou máximo relativo de f,
dizemos que a é um ponto de extremo relativo de f, ou que f
tem um extremo relativo em a.
Se a ∈ A é um ponto de mı́nimo ou máximo relativo estrito
de f, dizemos que a é um ponto relativo estrito de f, ou que f
tem um extremo relativo estrito em a.

Teorema 3.16 Seja f : A ⊆ Rm → R. Se um ponto interior


a de A é um ponto de extremo relativo de f, e se a derivada
direcional Du f (a) de f com respeito ao vetor u ∈ Rm existe,
então Du f (a) = 0.

Demonstração: Defina F : I → R por

F (t) = f (a + tu),

onde I é um intervalo de R.
Sendo F 0 (t) = Df (a + tu)(u) e por hipótese a é um ponto de
extremo relativo de f, segue-se que t = 0 é um ponto de extremo
relativo de F, e portanto F 0 (0) = 0. Logo, Df (a)(u) = 0 e
portanto, pelo Teorema 3.4, obtemos Du f (a) = Df (a)(u) = 0.

Corolário 3.5 Seja f : A ⊆ Rm → R. Se um ponto interior a


de A é um ponto de extremo relativo de f, e se a derivada Df (a)
existe, então Df (a) = 0.
172 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Demonstração: Segue-se a partir do Teorema 3.4 que, se a deri-


vada parcial Dj f (a), j = 1, . . . , m existe e se u = (u1 , . . . , um ) ∈
Rm , então:
m
X
Df (a)(u) = uj Dj f (a)
j=1

Pelo Teorema anterior temos que Dj f (a)(u) = 0, para j =


1, · · · , m e portanto, Df (a)(u) = 0.
Comentários:
(i) Uma função f pode ter um extremo relativo em um ponto
interior a de A no qual a derivada Df (a) não exista.
(ii) A função f pode ter um extremo relativo em um ponto
a ∈ A, o qual não é um ponto interior de A.
Nos casos (i) e (ii) acima, o ponto a não será ponto crı́tico de
f. Vejamos os seguintes exemplos.

Exemplo 3.6.1 Seja f (x) = x3 para x ∈ [−1, 1]. Então Df (0) =


0, contudo, f não tem um extremo relativo em x = 0. Por outro
lado, f tem um extremo relativo nos pontos x = ±1, os quais
não são pontos interiores do domı́nio e estes não são pontos
crı́ticos.

Exemplo 3.6.2 Seja f (x) = |x| para x ∈ [−1, 1]. Então Df (0)
não existe; contudo f tem mı́nimo relativo estrito no ponto in-
terior 0. Por outro lado, f tem um extremo relativo estrito nos
pontos x = ±1.

Definição 3.6 Seja f : A ⊂ Rm → R uma função diferenciável


3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 173

Figura 3.19: Gráfico da função x3 .

Figura 3.20: Gráfico da função |x|.

em a. Dizemos que a é um ponto de sela de f, se Df (a) = 0,


e a não é ponto de mı́nimo ou de máximo local de f.

Exemplo 3.6.3 Seja f : R2 → R definida por f (x, y) = xy.


Então Df (0, 0) = 0, de modo que a origem é um ponto crı́tico
de f, contudo, ele não é um extremo relativo de f, visto que

f (0, 0) < f (x, y) se xy > 0


f (0, 0) > f (x, y) se xy < 0
174 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Figura 3.22: Curvas de


Figura 3.21: f (x, y) = xy nı́vel

No exemplo acima a origem é um ponto de sela de f, pois


toda vizinhança de (0, 0), contém pontos no qual f é estrita-
mente maior do que f (0, 0) e também pontos no qual f é estri-
tamente menor do que f (0, 0).
Vemos dos exemplos acima, que é conveniente ter condições
as quais são necessárias ou são suficientes para garantir que um
ponto crı́tico seja um extremo ou que ele seja um ponto de sela.
O próximo resultado dar condições em termos da segunda deri-
vada de f.

Teorema 3.17 Seja A ⊆ Rm um aberto e seja f : A → R uma


função tendo a segunda derivada parcial contı́nua sobre A.
(i) Se a ∈ A é um ponto de mı́nimo relativo de f, então

D2 f (a)(u)2 ≥ 0, ∀u ∈ Rm .

(ii) Se a é um ponto de máximo relativo de f, então

D2 f (a)(u)2 ≤ 0, ∀u ∈ Rm .
3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 175

Demonstração: Seja u ∈ Rm tal que kuk = 1. Se a é um ponto


de mı́nimo relativo de f, existe δ > 0 tal que

Se |t| < δ então f (a + tu) − f (a) ≥ 0

Como A é aberto, existe δ1 > 0 com δ1 ≤ δ, tal que, a + tu ∈ A


para 0 ≤ t ≤ δ1 . Pela Fórmula de Taylor, existe t1 com 0 ≤ t1 ≤
t ≤ δ1 tal que at = a + t1 u, então
1
f (a + tu) = f (a) + Df (a)(u) + D2 f (at )(tu)2
2
Como a é um ponto de mı́nimo relativo, segue-se do Corolário
3.5 que Df (a) = 0 e portanto,
1 2
D f (at )(tu)2 = f (a + tu) − f (a) ≥ 0 para 0 ≤ t ≤ δ1 .
2
Como kat − ak = |t1 | ≤ |t|, segue-se que at → a quando t →
0. Desde que as derivadas parciais de segunda ordem de f são
contı́nuas e t2 Df (a)(u)2 = Df (a)(tu)2 então D2 (a)(u)2 ≥ 0
para todo u ∈ Rm com kuk = 1. Se u ∈ Rm e kuk 6= 1
u
então o vetor w = kuk
∈ Rm e kwk = 1. Logo, pela primeira
1 1
parte, obtemos que kuk2
Df (a)(u)2 ≥ 0 e como kuk2
> 0, tem-se
Df (a)(u)2 ≥ 0, para todo u ∈ R , o que prova o teorema.
m

O caso em que a é um ponto de máximo relativo de f é feito


com um raciocı́nio análogo.

Exemplo 3.6.4 Seja f : R2 → R definida por f (x, y) = x2 +y 2 .


Temos que f (a) = f (0, 0) = 0 ≤ x2 + y 2 = f (x, y), ∀(x, y) ∈
176 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

R2 . Logo, a é um ponto de mı́nimo de f. Portanto, Df (a) = 0.


Temos
     
∂f ∂f
Df (a) = ∂x
(a) ∂y
(a) = 2x0 2y0 = 0 0

Logo, !
2 2
  x
D f (a)(u) = 0 0 = 0.
y
O próximo resultado é uma reciproca parcial do Teorema 3.17.
Porém, note que a sua hipótese é um pouco mais forte que a
conclusão do Teorema 3.17.

Teorema 3.18 Seja A ⊆ Rm um aberto e seja f : A → R


uma função tendo a segunda derivada parcial contı́nua sobre A
e a ∈ A um ponto crı́tico de f.
(i) Se D2 f (a)(u)2 > 0 para todo u ∈ Rm , u 6= 0 então f tem
um mı́nimo relativo estrito em a;
(ii) Se D2 f (a)(u)2 < 0 para todo u ∈ Rm , u 6= 0 então f tem
um máximo relativo estrito em a;
(iii) Se D2 f (a)(u)2 toma valores estritamente positivos e valores
estritamente negativos para u ∈ Rm , então a é um ponto de sela
de f.

Demonstração: (i) Por hipótese, temos

D2 f (a)(u)2 > 0, ∀u ∈ S = {u ∈ Rm ; kuk = 1}.

Como a aplicação u 7→ Df (a)(u)2 é contı́nua, existe m > 0 tal


que
D2 f (a)(u)2 > m para kuk = 1.
3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 177

Desde que as segundas derivadas parciais de f são contı́nuas


sobre A, existe δ > 0 tal que:
1
Se ku − ak < δ então D2 f (a)(u)2 ≥ m para kuk = 1.
2
Pela Fórmula de Taylor, se 0 ≤ t ≤ 1, existe um ponto at no
segmento de reta, ligando a e a + tu tal que:
1
f (a + tu) = f (a) + Df (a)(tu) + D2 f (at )(tu)2 .
2
Como a é um ponto crı́tico de f, segue-se que se kuk = 1 e
0 < t < δ, então
1 1
f (a + tu) − f (a) = t2 D2 (at )(u)2 ≥ mt2 > 0.
2 4
Assim, f (a + u) > f (a) para 0 < ku − ak < δ, donde f tem um
mı́nimo relativo estrito em a. Assim, a parte (i) esta provada. A
prova da parte (ii) é feita de maneira análoga.
(iii) Sejam v, w ∈ Rm com kvk = kwk = 1, tais que

D2 f (a)(v)2 > 0 e D2 f (a)(w)2 < 0.

Segue-se a partir da Fórmula de Taylor, que para t > 0 suficien-


temente pequeno, temos:

f (a + tv) > f (a) e f (a + tw) < f (a).

Assim, a é um ponto de sela de f.

Neste momento recordemos alguns conceitos de Álgebra Li-


near que serão úteis no decorrer da exposição.
178 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Seja f : Rm × Rm → R uma bilinear simétrica, a forma


quadrática associada a f é uma função q : Rm → R definida
por q(u) = f (u, u) para todo u ∈ Rm .

Observação 3.19 Se t ∈ R então q(tu) = t2 q(u), ∀u ∈ Rm .

Exemplo 3.6.5 Seja

f : Rm × Rm → R
(u, v) 7→ f (u, v) = hu, vi.

Então, a aplicação

q : Rm → R
u 7→ q(u) = kuk2 = u21 + . . . + u2m ,

é a forma quadrática associada a f.

A forma quadrática q chama-se não-negativa quando q(u) ≥


0 para todo u ∈ Rm , positiva quando q(u) > 0 para todo u 6= 0
em Rm e indefinida quando existem v, w ∈ Rm , tais que, q(v) >
0 e q(w) < 0.
De maneira análoga definem-se a forma quadrática negativa e
não-positiva.
Quando q é positiva ou negativa, diz que q é definida.
Seja A ⊆ Rm um aberto. Dada a função f : A → R de
classe C 2 , a forma quadrática hessiana H(x) = (Hf )(x) de f
no ponto x ∈ A é aquela cuja matriz é
 2 
∂ f
[hij ] = .
∂xi ∂xj
3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 179

Assim,
m
X ∂ 2f
H(x)(u) = (x)ui uj ,
i,j=1
∂xi ∂xj
onde u = (u1 , . . . , um ).
A forma hessiana é usada para determinar a natureza dos
pontos crı́ticos da função f.

Teorema 3.19 Seja A ⊆ Rm um aberto e a ∈ A um ponto


crı́tico da função f : A → R de classe C 2 .
(i) Se H(a) for positiva então a é um ponto de mı́nimo local de
f;
(ii) Se H(a) for negativa então a é um ponto de máximo local
de f ;
(iii) Se H(a) for indefinida, então a não é um ponto de máximo
local nem de mı́nimo local de f.

Demonstração: (i) Por simplicidade, escrevemos H em vez de


H(a). Seja
S = {v ∈ Rm ; kvk = 1}
Tem-se que S é um conjunto compacto em Rm . Como H é
uma função contı́nua positiva, pelo Teorema de Weierstrass, H
assume um valor mı́nimo 2c > 0 no conjunto S. Isto é,

2c ≤ H(u), ∀u ∈ S.

Desde que a é um ponto crı́tico de f, a Fórmula de Taylor se


resume a
1
f (a+v)−f (a) = H(v)+ρ(v)kvk2 com lim ρ(v) = 0 (3.48)
2 v→0
180 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

v
Como kvk
∈ S, obtemos

kvk2 kvk2
 
1 v
H(v) = H ≥ 2c = kvk2 c (3.49)
2 2 kvk 2

Substituindo (3.49) em (3.48), obtemos

f (a + v) − f (a) ≥ kvk2 (c + ρ(v))

Pela definição de limite, existe δ > 0 tal que a + v ∈ A e


0 < kvk < δ o que implica |ρ(v)| < c e consequentemente
c + ρ(v) > 0. Logo,

f (a + v) − f (a) > 0,

isto é,

f (a + v) > f (a) para todo v tal que a + v ∈ A e 0 < kvk < δ.

Portanto, a é um ponto de mı́nimo local para f.


Para demonstrar o item (ii), segue-se um raciocı́nio análago ao
feito na parte (i).
(iii) Dado v ∈ Rm , tem-se a + tv ∈ A para todo t suficiente-
mente pequeno. Como H(tv) = t2 H(v), temos pela Fórmula de
Taylor

f (a + tv) − f (a) = t2 kvk2 [H(v) + ρ(tv)] com lim ρ(tv) = 0.


t→0

Segue-se, como acima, que para todo t suficientemente pequeno,


f (a + tv) − f (a) tem o mesmo sinal de H(v). Assim, se H é
3.6. PROBLEMAS EXTREMOS 181

indefinida , tem-se que H(v) > 0 e H(w) < 0 em qualquer bola


de centro em a. Portanto, existem pontos a + tv e a + tw tais
que
f (a + tv) > f (a) e f (a + tw) < f (a).

Assim, f não tem máximo nem mı́nimo local no ponto a.

Exemplo 3.6.6 Encontre uma relação entre os valores de a, b e


c de modo que a função f : R2 → R definida por

f (x, y) = x2 + axy + by 2 + cx

sempre tenha um ponto de mı́nimo.


Notemos que para que f tenha um ponto de mı́nimo, devemos
ter que a det(Hf ) > 0, onde H é a matriz hessiana de f no
ponto crı́tico de f.
Para o cálculo dos pontos crı́ticos devemos ter:

∂f
= 2x + ay + c = 0
∂x
∂f
= ax + 2by = 0
∂y

A solução do sistema linear


(
2x + ay = −c
ax + by = 0

define o ponto crı́tico de f.


182 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Temos
∂ 2f ∂ 2f
 
!
 ∂x2 ∂x∂y  2 a
Hf =  ∂ 2f
=
∂ 2f  a b
∂y∂x ∂y 2

Logo, para que a matriz Hf seja positiva, devemos ter

det(Hf ) = 2b − a2 > 0.

Este valor independe do ponto crı́tico, portanto qualquer que seja


o ponto, este será ponto de mı́nimo se, a2 < 2b.

3.7 Multiplicadores de Lagrange


6

Uma das importantes aplicações do Teorema da Função Implı́cita


é o Método dos Multiplicadores de Lagrange para o cálculo de
extremos de funções sujeitas a restrições.
Seja B = B[x0 ; R] = B(x0 ; R) ⊂ Rn e f : B → R contı́nua.
Queremos encontrar o mı́nimo global de f sobre a bola B.
Como B é compacto e f é contı́nua, então existe x ∈ B tal que

f (x) ≤ f (x), ∀x ∈ B.

Se f é diferenciável e x ∈ int(B), então a solução pode ser


determinada dentre os pontos crı́ticos de f. Mas como determinar
a solução se x ∈ ∂B?
6
Joseph Louis Lagrange é um matemático italiano nascido em Tu-
rim em 25-01-1736 e falecido em 10-04-1813. Lagrange naturalizou-se
francês.
3.7. MULTIPLICADORES DE LAGRANGE 183

O resultado a seguir fornece um método, caso f seja uma


função de classe C 1 .

Teorema 3.20 (Multiplicador de Lagrange) Sejam f, g funções


do Rn em R de classe C 1 e

S = {u ∈ Rn ; g(u) = 0}.

Suponha u0 ∈ S tal que

g 0 (u0 ) 6= 0 e f (u0 ) = min{f (u); u ∈ S}.

Então, existe λ ∈ R tal que

∇f (u0 ) = λ∇g(u0 )

Demonstração: Se g 0 (u0 ) 6= 0, podemos supor sem perda de


∂g
generalidade que (u0 ) 6= 0. Seja λ ∈ R tal que
∂un
∂f ∂g
(u0 ) = λ (u0 )
∂xn ∂xn
Para concluir a prova, basta mostrar que
∂f ∂g
(u0 ) = λ (u0 ), para i = 1, . . . , n − 1.
∂xi ∂xi

Denotemos por u = (x, y) ∈ Rn−1 × R, u0 = (x0 , y0 ), então g é


de classe C 1 , g(x0 , y0 ) = 0 e

∂f ∂g
(u0 ) = λ (x0 , y0 ) 6= 0.
∂xn ∂y
184 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Segue-se do Teorema da Função Implı́cita que existe uma vizi-


nhança aberta A ⊂ Rn−1 de x0 e uma função ϕ : A → R de
classe C 1 tais que
ϕ(x0 ) = y0

e
g(x, ϕ(x)) = 0, ∀x ∈ A. (3.50)

Além disso, como

f (x0 , ϕ(x0 )) = f (x0 , y0 ) ≤ f (x, ϕ(x)), ∀x ∈ A,

pois f (u0 ) = min{f (u) : u ∈ A}.


Logo, x0 ∈ A é ponto de mı́nimo para a função diferenciável
dada por

ψ : A ⊂ Rn−1 → R
x 7→ ψ(x) = f (x, ϕ(x)).

Portanto, ψ 0 (x) = 0 e pela Regra da Cadeia, temos

∂f ∂f
ψ 0 (x0 ) = (x0 ) + (x0 )ϕ0 (x0 ) = 0 (3.51)
∂x ∂y

Derivando a equação (3.50) em relação a x, obtemos

∂g ∂g
(x0 ) + (x0 )ϕ0 (x0 ) = 0 (3.52)
∂x ∂y

Multiplicando a equação (3.52) por λ e subtraindo de (3.51),


obtemos
∂f ∂g
(x0 ) = λ (x0 ),
∂x ∂x
3.7. MULTIPLICADORES DE LAGRANGE 185

como queriamos demonstrar.


Como aplicação do Método dos Multiplicadores de Lagrange
provaremos que a média geométrica de uma coleção de números
reais não negativos {x1 , . . . , xn } não excede a média aritmética
destes números, isto é, mostraremos
√ 1
n
x1 · · · xn ≤ (x1 + · · · + xn ),
n
A seguir, aplicando o Método dos Multiplicadores de Lagrange,
também provaremos a importante desigualdade de Young e usando
a desiguadade de Young, provaremos as importantes desigualda-
7
des de Hölder e a desigualdade de Minkowski

Desigualdade entre a média geométrica e aritmética.


Mostre que
√ 1
n
x1 · · · xn ≤ (x1 + · · · + xn ),
n
onde x1 , . . . , xn são números reais não negativos.
Demonstração: Considere a função

f (x1 , . . . , xn ) = (x1 . . . xn )2 ,

sujeita a condição

x21 + · · · + x2n = 1.
n
X
7
Dado x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn então kxkpp = |xi |p .
i=1
186 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Seja F : Rn → R definida por

F (x1 , . . . , xn ) = (x1 . . . xn )2 + λ(x21 + · · · + x2n − 1)

Por derivação, obtemos

2x1 x22 . . . x2n + 2λx1 = 0


2x21 x2 . . . x2n + 2λx2 = 0
.. .. .. (3.53)
. . .
2x21 x22 . . . xn + 2λxn = 0

As soluções com x1 = 0, x2 = 0, . . . , ou xn = 0 podem ser


excluı́das, porque nestes pontos a função f assume o seu menor
valor, que é igual a zero.
Notemos que de (3.53) obtemos

2(n−1)
x21 = x22 = · · · = x2n e λ = −x1 (3.54)

Daı́ e empregando a condição x21 + . . . + x2n = 1, obtemos:


1 1 1
x1 = ±√ , x2 = ±√ , . . . , xn = ±√ ,
n n n
para as coordenadas que procuramos.
Em todos esses pontos a função f (x1 , . . . , xn ) = (x1 . . . xn )2
1
assume o mesmo valor nn
, que é o valor máximo procurado.
Logo,
1
(x1 · · · xn )2 = f (x1 , . . . , xn ) ≤ n =
n
2 n
 n  2 
1 x1 + · · · + xn
=
n n
3.7. MULTIPLICADORES DE LAGRANGE 187

Donde, obtemos

x21 + . . . + x2n
q
n
x21 x22 . . . x2n ≤ .
n
Portanto, acabamos de mostrar que a média geométrica de n
números positivos x21 , . . . , x2n é menor ou igual do que sua média
aritmética.
Agora, usando o método dos Multiplicadores de Lagrange,
vamos mostrar a desigualdade de Young.8
Desigualdade de Young. Sejam p e q tais que 1 < p, q <
1 1
+∞ e + = 1. Então, para todo número real x ≥ 0, y ≥ 0
p q
tem-se
xp y q
xy ≤ + .
p q
Demonstração: É claro que a desigualdade é válida se x = 0
ou y = 0. Se a desigualdade for válida para os números x e y
1 1
ela também será válida para os números xt p e yt q onde t é um
número real positivo arbitrário.
1 1
De fato, seja t > 0 e 1 < p, q < ∞ tal que p
+ q
= 1. Então

1 1 1 1 1 1 1 1
(xt p )(yt q ) ≤ (xt p )p + (xt q )q ⇔ (xy)t p + q ≤
p q
1 p 1
u t + vq t ⇔
p q
  1 1
⇔ (xy)t ≤ t p1 xp + 1q y q ⇔ xy ≤ xp + y q .
p q
8
William Henry Young matemático inglês nascido em Londres em
20-10-1863 e falecido em Lausanne em 07-07-1942.
188 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Portanto, é suficiente considerarmos, somente os valores de x e


y para os quais xy = 1.
De fato, se xy 6= 1 como xy > 0 existe t > 0 tal que
1 1 1 1
(xy)t = 1 ⇔ (xy)t p + q = 1 ⇔ (xt p )(yt q ) = 1.

Logo, devemos mostrar que a desigualdade


1 1
1 ≤ xp + y q ,
p q
se verifica para todos os números positivos x e y tais que xy = 1.
Para tanto, devemos determinar o mı́nimo da função
1 1
f (x, y) = xp + y q ,
p q
sujeito a condição xy = 1. Este mı́nimo existe e ocorre em um
ponto (x, y) onde x 6= 0 e y 6= 0.
Seja
1 1
F (x, y) = xp + y q − λxy.
p q
Por derivação obtemos
xp−1 − λy = 0
y q−1 − λx = 0
Multiplicando estas duas últimas equações por x e y respectiva-
mente, obtemos:
xp = λ, y q = λ
Considerando estes resultados com o fato que xy = 1 resulta
que, x = y = 1. Portanto, o valor mı́nimo da função
1 1
f (x, y) = xp + y q
p q
3.7. MULTIPLICADORES DE LAGRANGE 189

1 1
é igual a p
+ q
= 1. Assim,

1 1
1 ≤ f (x, y) = xp + y q ,
p q
ou seja,
1 1
1 ≤ xp + y q , quando xy = 1.
p q
Portanto,
1 1
xy ≤ xp + y q ,
p q
para todos os números x ≥ 0, y ≥ 0 e p > 0, q > 0 tais que
1 1
p
+ q
= 1.
Desigualdade de Hölder.9 Sejam p e q tais que 1 < p, q <
1 1
+∞ e + = 1. Sejam {xi }, {yi }, i = 1, . . . , n números
p q
reais positivos. Prove a desigualdade de Hölder

n n
! p1 n
! 1q
X X X
xi y i ≤ xpi yiq .
i=1 i=1 i=1

Demonstração: Para o caso em que pelo menos um xi ou um


yi for igual a zero a desigualdade é clara. Suponhamos que pelo
menos um dos xi e yi seja diferente de zero.
Considere
xi yi
x= ! p1 e y = ! 1q .
n
X n
X
xpi yiq
i=1 i=1

9
Otto Ludwig Hölder foi um matemático alemã, nascido em 22-12-
1859 e falecido em 29-09-1937.
190 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Pela desigualdade de Young, obtemos


xi yi
n
! p1 n
! 1q ≤
X X
xpi yiq
i=1 i=1
 p  q
   
1 yi  1 yi 
1  +
 
1 
p q
 !  !
 n p   n q 
 X p   X q 
yi yi
i=1 i=1
Somando as desigualdades acima para i = 1, . . . , n, obtemos
n
!
1 X 1 1
1 1 xi y i ≤ + .
Xn
! p
Xn
! q
i=1
p q
p q
xi yi
i=1 i=1
1 1
Desta desigualdade e do fato de ser p
+ q
= 1, obtemos

n n
! p1 n
! 1q
X X X
xi y i ≤ xpi yiq .
i=1 i=1 i=1

Desigualdade de Minkowski.10 Seja p > 1 um número real


e {xi }, {yi }, i = 1, . . . , n, números reais. Prove a desigualdade
de Monkowski
n
! p1 n
! p1 n
! p1
X X X
|xi + yi |p ≤ |xi |p + |yi |p .
i=1 i=1 i=1
10
Hermann Minkowski foi um matemático lituânuo, nascido em 22-07-
1864 e falecido em 12-01-1909.
3.7. MULTIPLICADORES DE LAGRANGE 191

1 1
Demonstração: Sejam p > 1, q > 1 tais que p
+ q
= 1. Daı́
temos p = 1 + pq .
Note inicialmente que para quaisquer xi , yi ∈ R, temos
p p
|xi + yi |p = |xi + yi ||xi + yi | q ≤ [|xi | + |yi |]|xi + yi | q =
p p
|xi ||xi + yi | q + |yi ||xi + yi | q .

Assim, temos
n n n
X X p X p
p
|xi + yi | ≤ |xi ||xi + yi | + q |yi ||xi + yi | q (3.55)
i=1 i=1 i=1

Agora, usando a desigualdade de Hölder, vamos estimar cada


parcela do segundo membro de (3.55).
De fato,
n n
! p1 n 
! 1q
X p X X p
q
|xi ||xi + yi | ≤ q |xi |p |xi + yi | q =
i=1 i=1 i=1

n
! p1 n
! 1q
X X
= |xi |p |xi + yi |p
i=1 i=1

isto é,
n n
! p1 n
! 1q
X p X X
|xi ||xi + yi | ≤ q |xi |p |xi + yi |p (3.56)
i=1 i=1 i=1

Analogamente, obtemos:

n n
! p1 n
! 1q
X p X X
|yi ||xi + yi | ≤ q |yi |p |xi + yi |p (3.57)
i=1 i=1 i=1
192 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

Substituindo (3.56), (3.57) em (3.55) obtemos

n

n
! p1 n
! p1 
X X X
|xi + yi |p ≤  |xi |p + |yi |p  ×
i=1 i=1 i=1

n
! p1
X
|xi + yi |p .
i=1
ou
n
!1− pq n
! p1 n
! p1
X X X
|xi + yi |p ≤ |xi |p + |yi |p .
i=1 i=1 i=1

p 1
Agora, usando o fato que 1 − q
= p
, obtemos desta última
desigualdade

n
! p1 n
! p1 n
! p1
X X X
|xi + yi |p ≤ |xi |p + |yi |p .
i=1 i=1 i=1

3.8 Exercı́cios
3.1- Dada a função f : A ⊂ Rm → Rn , a função kf k : A → R
é definida por

kf k(x) = kf (x)k, x ∈ A.

Prove que, se f é diferenciável no ponto x0 ∈ A, então


kf k é diferenciável em x0 .
3.8. EXERCÍCIOS 193

3.2- Uma função f ∈ C 2 (R2 ) é homogênea de grau n, onde n


é um inteiro não negativo, se f (tx, ty) = tn f (x, y) para
todo x, y e t. Prove que:
(i) xf1 (x, y)+yf2 (x, y) = nf (x, y) para todo (x, y) ∈ R2 ;
(ii) x2 f11 (x, y)+2xyf12 (x, y)+y 2 f22 (x, y) = n(n−1)f (x, y)
para todo (x, y) ∈ R2 .

3.3- Seja A ⊂ Rn tal que tx ∈ A sempre que x ∈ A e t > 0. A


função g : A → Rm é dita homogênea de grau α, onde α
é real se

g(tx) = tα g(x) para todo x ∈ A e t > 0.

Seja A um aberto e seja g uma função diferenciável em


todos os pontos de A.
(i) Mostre que, se g é homogênea de grau α, então cada
função Di g : A → Rm é homogênea de grau α − 1;
(ii) Prove que uma condição necessária e suficiente para g
ser homogênea de grau α é que

Dg(x)(x) = αg(x) para todo x ∈ A.

3.4- Seja f : R2 − {(0, 0)} → R2 definida por f (x, y) =


(x, y)
onde α ∈ R. Use a transformação polar p :
k(x, y)kα
R2 → R2 definida por

(x, y) = p(r, θ) = (rcosθ, rsenθ), (r, θ) ∈ R2

para provar que Jf (x, y) = (1 − α)k(x, y)k−2α .


194 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

3.5- A função f : R3 → R3 é dada por

f (x) = (f1 (x), f2 (x), f3 (x))

sendo

f1 (x) = x1 − x1 x2 , f2 (x) = x1 x2 − x1 x2 x3 ,

f3 (x) = x1 x2 x3 ,
onde x = (x1 , x2 , x3 ) ∈ R3 .
Prove que f é injetiva em A = R3 − {x : x1 x2 = 0} e
encontre B = f (A). Mostre também que f −1 : B → R3 é
diferenciável and calcule o Jf −1 (y) para todo y ∈ B.

3.6- Supondo que z = F (x, y) tem derivadas parciais de se-


gunda ordem contı́nuas e que x = au + bv, y = cu + dv,
onde a, b, c, d são constantes, encontre:
∂z ∂z ∂ 2 z ∂ 2 z ∂ 2z
, , , e .
∂u ∂v ∂u2 ∂u∂v ∂v 2
3.7- A equação de Laplace é dada por
∂ 2z ∂ 2z
+ =0
∂x2 ∂y 2
Encontre a equação de Laplace em coordenadas polares
(r, θ) onde x = rcosθ e y = rsenθ.

3.8- Mostre que F (x, y, z) = x2 + y 2 − z 2 − 1 = 0 define z


como uma função g(x, y) em uma vizinhança de qualquer
ponto (x0 , y0 , z0 ) e z0 6= 0. Também encontre as derivadas
parciais de primeira ordem de g.
3.8. EXERCÍCIOS 195

3.9- Seja f : R2 → R definida por



 0 se (x, y) = (0, 0)
f (x, y) = xy
 2 se (x, y) 6= (0, 0)
x + y2
Mostre que as derivadas parciais D1 f (0, 0) e D2 f (0, 0)
existe e é igual a 0. Contudo, a derivada de f em (0, 0)
com respeito ao vetor u = (a, b) não existe se ab 6= 0.
Mostre que f não é contı́nua em (0, 0).

3.10- Seja f : R2 → R definida por



 0 se (x, y) = (0, 0)
f (x, y) = xy 2
 se (x, y) 6= (0, 0)
x2 + y 2
Mostre que as derivadas parciais de f em (0, 0) com relação
a qualquer vetor u = (a, b) existe e que
ab2
Du f (0, 0) = , (a, b) 6= (0, 0).
a2 + b 2
Mostre que f é contı́nua mas não é diferenciável em (0, 0).

3.11- Seja f : R2 → R definida por


 (x2 + y 2 )sen 1 , se (x, y) 6= (0, )

f (x, y) = x2 + y 2
0, se (x, y) = (0, 0).

Mostre que f é diferenciável em todo ponto do R2 , mas


que a derivadas parciais D1 f e Df2 não são limitads (e
portanto não são contı́nuas) em nenhuma vizinhança de
(0, 0).
196 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

3.12- Seja f : A ⊆ Rn → Rm uma função diferenciável em um


ponto a interior de A, e seja v ∈ Rm . Se g : A → Rm
definida por g(x) = hf (x), vi para todo x ∈ A. Mostre
que g é diferenciável em c e que

Dg(c)(u) = h(Df (c))(u)), vi ∀u ∈ Rn .

3.13- Seja c um ponto interior de A ⊆ Rn e f : A → R. Se


f é diferenciável em c, mostre que existe um único vetor
vc ∈ Rn tal que

Du f (c) = Df (c)(u) = hvc , ui ∀u ∈ Rn .

O vetor vc é chamado gradiente de f em c e é denotado


por ∇f (c) ou por gradf (c). Mostre que

∇f (c) = (D1 f (c), . . . , Dn f (c)).

3.14- Calcule o jacobiano de cada uma das seguintes


transformações. Dertermine onde existe a inversa local.
(i) x = ucos(πv), y = usen(πv)
(ii) x = u2 − v 2 , y = 2uv
(iii) x = u2 − uv, y = v − u
(iv) x = sen(u + v), y = cos(u + v)

3.15- Dar um exemplo de cada um dos seguintes casos:

∇f (x0 , y0 ) = 0
3.8. EXERCÍCIOS 197

e fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) − fxy (x, 0, y0 )2 = 0 e


(i) f (x0 , y0 ) é um mı́nimo local
(ii) f (x0 , y0 ) é um máximo local
(iii) f (x0 , y0 ) é um ponto de sela.

3.16- Seja A ⊂ R2 um aberto e f : A → R uma função de classe


C 3 (A). Se (x0 , y0 ) ∈ A e ∇f (x0 , y0 ) = 0 então
(i) f (x0 , y0 ) é um máximo local se fxx (x0 , y0 ) < 0 e
∂ 2f ∂ 2f
(x 0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) > 0;

(ii) f (x0 , y0 ) é um mı́nimo local se fxx (x0 , y0 ) > 0 e


∂ 2f ∂ 2f
(x ,
0 0y ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) > 0;

(iii) (x0 , y0 , f (x0 y0 )) é um ponto de sela se


∂ 2f ∂ 2f
(x ,
0 0y ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0;
198 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

(iv) Se
∂ 2f ∂ 2f
(x 0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = = 0,
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
nada se pode concluir.
O determinante H(x0 , y0 ) é chamado determinante Hes-
siano.

3.17- Seja f (x, y) = px2 + 2qxy + ry 2 , onde p, q, r são constan-


tes. Encontre condições suficientes sobre p, q e r para que
ponto (0, 0) seja o único ponto onde ∇f = 0 e
(i) f (0, 0) é um máximo local
(ii) f (0, 0) é um mı́nimo local
(iii) (0, 0, f (0, 0)) é um ponto de sela.

3.18- Seja A ⊂ Rn um aberto e f : A → R diferenciável. Se


f é diferenciável em a e ∇f (a) 6= 0 então kDf (a)k =
∇f (a)
|Du0 f (a)|, onde u0 = k∇f (a)k
.

3.19- Seja
f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = x2 + y 2
e seja c = f (1, 1) = 2. Mostre que existe uma função
implı́cita y = ϕ(x) definida para valores de x próximo de
x = 1.
3.8. EXERCÍCIOS 199

3.20- Seja
f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = x2 y + 3y 3 x4 − 4
e seja (a, b) = (1, 1).
(i) Mostre que existe uma função implı́cita y = ϕ(x) a
qual não pode ser explı́citada.
(ii) Calcule ϕ0 (1).

3.21- Se f : A ⊂ Rn → R possui derivadas parciais em todos


os pontos do aberto A, e assume o máximo em um ponto
a ∈ A, mostre que ∇f (a) = 0.

3.22- Seja A : Rn → Rn uma transformação linear.


(i) Mostre que as aplicações
f : Rn × Rn → R
(x, y) 7→ f (x, y) = hAx, yi
e
g : Rn → R
x 7→ g(x) = hAx, xi
são diferenciáveis.
(ii) Determine ∇f (x, y) e ∇g(x).

3.23- Seja f : R2 → R uma função de classe C 1 . Mostre que f


não é injetiva.

3.24- Seja f : Rn → R uma função diferenciável e suponhamos


que limx→∞ |f (x)| = 0. Mostre que existe a ∈ Rn tal que
Df (a) = 0.
200 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE

3.25- Denotamos por

S n−1 = {x ∈ Rn ; kxk = 1}.

Seja f : Rn → R uma função contı́nua, possuindo deriva-


∂f
das direcionais em qualquer ponto do Rn . Se ∂u
(u) >0
para todo u ∈ S n−1 então existe um ponto a ∈ R tal que
n

∂f
∂v
(a) = 0 para todo v ∈ Rn .

3.26- Seja f : Rn → Rn diferenciável.


Encontre a derivada das funções:
(i)
h : Rn → R
x → h(x) = kf (x)k

(ii)
h : Rn → R
x → h(x) = kf (x)k2

∂f
3.27- Seja f : R2 → R de classe C 1 com ∂y
6= 0 em todos os
pontos, e φ : I → R tal que f (x, θ(x)) = 0 para todo
x ∈ I. Mostre que φ é de classe C 1 .

3.28- Seja F ; R2 → R definida por F (x, y) = y 2 − x.


∂f
(i) Mostre que F é de classe C 1 (R2 ) e que ∂y
(0, 0) = 0;
(ii) Mostre que não existe uma função φ definida numa
vizinhança W e 0 tal que F (x, φ(x)) = 0, para todo x ∈
W.
3.8. EXERCÍCIOS 201

3.29- Seja A ⊂ Rn um aberto e f : A ⊂ Rn → R diferenciável.


Defina f k : A → R pondo f k (x) = f (x)k . Mostre que f
é diferenciável e que

Df k (x).v = kf k−1 (x).Df (x).v, ∀x ∈ A e ∀v ∈ Rn .

3.30- Considere em Rn a norma euclidiana. De f : Rn −{0} → R


é definida por f (x) = kxkα , α ∈ R, então

Df (x).v = αkxkα−1 hx, vi, ∀v ∈ Rn .

3.31- (i) Determine os pontos crı́ticos da função f : R2 → R


dada por f (x, y) = 3xy 2 + x3 − 3x;
(ii) Analise os pontos crı́ticos de f.

3.32- Determine o máximo da função f : R2 → R dada por


f (x, y) = x + y sujeito a condição x2 + y 2 = 1.

3.33- Achar os extremos da função f : R3 → R dada por


f (x, y) = x2 +y 2 +z 2 sujeito à condição x2 +2y 2 −z 2 = 1.
202 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE
Capı́tulo 4

Integração

Neste capı́tulo será apresentada a definição da integral de


uma função f : A ⊂ Rn → R onde A ⊂ Rn é um retângulo
fechado.

Seja A = [a1 , b1 ] × . . . × [an , bn ] um retângulo fechado em


Rn .
Uma partição P de A é uma coleção P = {P1 , . . . , Pn } onde
cada Pi é uma partição do intervalo [ai , bi ].

Definição 4.1 Sejam

P1 = {a1 = t0 < t1 < . . . < tk = b1 }

e
P2 = {a2 = s0 < s1 < . . . < sl = b2 }

203
204 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

partições dos intervalos [a1 , b1 ] e [a2 , b2 ] respectivamente. Então


P = {P1 , P2 } é uma partição do retângulo [a1 , b1 ] × [a2 , b2 ] e
divide esse retângulo em kl sub-retângulos representados por

[ti−1 , ti ] × [sj−1 , sj ]

De maneira geral quando Pi divide [ai , bi ] em Ni subintervalos


então P = {P1 , . . . , Pn } divide [a1 , b1 ] × . . . × [an , bn ] em N =
N1 . . . Nn subretângulos, os quais são chamados sub-retângulos
da partição P.

Seja A ⊂ Rn um retângulo fechado e P uma partição de A.


Vamos denotar por R o conjunto de todos os subretângulos R
da partição P de A.

Definição 4.2 Seja f : A → R uma função limitada. Para cada


subretângulo R da partição P, definimos

mR = inf{f (x) : x ∈ R}

e
MR = sup{f (x) : x ∈ R}

Vamos denotar por vol(R) o volume do subretângulo R, o qual


é definido por

vol(R) = (b1 − a1 ) . . . (bn − an ).


4.1. SOMAS INFERIORES E SUPERIORES 205

4.1 Somas Inferiores e Superiores


Definição 4.3 Definimos as somas superiores e inferiores de f
relativamente a partição P de A como
X
s(f, P ) = mR (f ).vol(R)
R∈R

e
X
S(f, P ) = MR (f ).vol(R)
R∈R

Notemos inicialmente que s(f, P ) ≤ S(f, P ) para qualquer


partição P de A. De fato, mR (f ) ≤ MR (f ) e portanto
X X
mR (f ).vol(R) ≤ MR (f ).vol(R),
R∈R R∈R

o que implica s(f, P ) ≤ S(f, P ).


No que segue provaremos alguns lemas técnicos os quais serão
necessários para garantir a integrabilidade de uma função f :
A ⊂ Rn → R.

Dizemos que uma partição P é um refinamento para Q, se


cada subretângulo de Q está contido num subretângulo de P.

Lema 4.1.1 Se Q é um refinamento de P então

s(f, P ) ≤ s(f, Q) e S(f, Q) ≤ S(f, P ).


206 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Demonstração: Notemos inicialmente que cada subretângulo


R de P é dividido em diversos subretângulos R1 , . . . , Rr de Q.
Tem-se:
vol(R) = vol(R1 ) + . . . + vol(Rr )
Denotemos por
O = {f (x); x ∈ R}
e por
Oi = {f (x); x ∈ Ri }, i = 1, . . . , r.
Como Oi ⊂ O, obtemos que mR (f ) ≤ mRi (f ) e portanto

mR (f )vol(R) = mR (f )vol(R1 ) + . . . + mR (f )vol(Rr ) ≤


≤ mR1 (f )vol(R1 ) + . . . + mRr (f )vol(Rr ).
Logo, desta última desigualdade, obtemos

s(f, P ) ≤ s(f, Q)

A demonstração para somas superiores é análoga e fica como


exercı́cio.

Lema 4.1.2 Sejam P e Q duas partições quaisquer de A. Então,

s(f, Q) ≤ S(f, P )

Demonstração: Seja U uma partição de A que refine P e Q


simultaneamente.
Tem-se pelo Lema 4.1.1 que

s(f, Q) ≤ s(f, U ) ≤ S(f, U ) ≤ S(f, P ).


4.1. SOMAS INFERIORES E SUPERIORES 207

Observação 4.1 Do Lema 4.1.2 decorre que o supremo de todas


as somas inferiores é menor ou igual ao ı́nfimo de todas as somas
superiores para f.

Vamos denotar por P o conjunto de todas as partições P do


retângulo A, isto é,

P = {P : P é uma partição de A}

Definição 4.4 Seja A ⊂ Rn um retângulo fechado e f : A → R


limitada. Dizemos que f é integrável no retângulo A, quando

sup {s(f, P )} = inf {S(f, P )}.


P ∈P P ∈P

Quando f é integrável em A, este valor comum é representado


por Z
f (x)dx.
A

Teorema 4.1 Uma função f : A ⊂ Rn → R limitada é in-


tegrável em A se, e somente se, para qualquer ε > 0, existe uma
partição P de A tal que

S(f, P ) − s(f, P ) < ε.

Demonstração: (⇒) Suponhamos que exista uma partição P


de A tal que
S(f, P ) − s(f, P ) < ε.
208 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Então S(f, P ) = s(f, P ).


Logo,
sup {s(f, P )} = inf {S(f, P )}
P ∈P P ∈P

e portanto, desta última igualdade segue que f é integrável em


A.
(⇐) Suponhamos que

sup {s(f, P )} = inf {S(f, P )}.


P ∈P P ∈P

Então, para qualquer ε > 0 existem partições P 0 e P 00 de A tal


que
S(f, P 0 ) − s(f, P 00 ) < ε.

Consideremos a partição P de A, a qual é um refinamento para


P 0 e P 00 respectivamente. Então, do Lema 4.1.1 decorre que

S(f, P ) − s(f, P ) < S(f, P 0 ) − s(f, P 00 ) < ε.

Exemplo 4.1.1 Seja a função

f : A ⊂ Rn → R
x 7→ f (x) = c,

onde c é uma constante.


Seja P uma partição qualquer de A. Para cada subretângulo R
dessa partição P, temos mR (f ) = MR (f ) = c, o que implica
X
s(f, P ) = S(f, P ) = c.vol(R) = c.vol(A).
R∈P
4.1. SOMAS INFERIORES E SUPERIORES 209

Portanto,
Z
f (x)dx = c.vol(A).
A

Exemplo 4.1.2 Seja a função f : [0, 1] × [0, 1] → R definida


por
(
1
0, se 0 ≤ x < 2
f (x, y) = 1
1, se 2
≤x≤1

Mostre que f é integrável e que


Z
1
f (x)dx = .
[0,1]×[0,1] 2

Seja P = {P1 , P2 } uma partição de A = [0, 1] × [0, 1], onde


1
P1 e P2 são partições de [0, 1] respectivamente e que 2
∈ P1 e
1
2
∈ P2 .
Então P = P1 × P2 e

f ≡ 0, se x ∈ P1
f ≡ 1, se x ∈ P2

Logo,
(
0, se x ∈ P1
mR (f ) =
1, se x ∈ P2

e
(
0, se x ∈ P1
MR (f ) =
1, se x ∈ P2
210 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Logo, para todo ε > 0 temos:


X
S(f, P ) − s(f, P ) = [MR (f ) − mR (f )]vol(R) =
R∈P
X
= [MR (f ) − mR (f )]vol(R)+
R∈P1
P
R∈P2 [MR (f ) − mR (f )]vol(R) = 0 < ε.

Portanto, f é integrável em A = [0, 1] × [0, 1].


Notemos agora que
X X
S(f, P ) = MR (f )vol(R) = vol(R) =
x∈P2 x∈P2

   
1 1 1
vol 0, × 0, = .
2 2 2
Portanto, Z
1
f (z)dz = .
[0,1]×[0,1] 2

Exemplo 4.1.3 Seja a função f : [0, 1] × [0, 1] → R definida


por (
0, se x ∈ Q ∩ [0, 1]
f (x, y) =
1, se x ∈ (R − Q) ∩ [0, 1]
Seja P uma partição qualquer de A = [0, 1] × [0, 1]. Logo, qual-
quer subretângulo R de P, contém necessariamente pontos (x, y)
com x racional em pontos (x, y) com x irracional.
Assim,
MR (f ) = 1 e mR (f ) = 0.
4.2. PROPRIEDADES ARITMÉTICAS 211

Logo,
s(f, P ) = 0

e
X
S(f, P ) = MR (f )vol(R) = 1vol([0, 1] × [0, 1]) = 1.
R∈P

Portanto, como s(f, P ) 6= S(f, P ), então f não pode ser in-


tegrável no retângulo A = [0, 1] × [0, 1].

4.2 Propriedades aritméticas


No que segue f, g : A ⊂ Rn → R onde A é um retângulo do
Rn .
Antes de obtermos algumas propriedades aritméticas das inte-
gração, iremos provar a seguinte proposição.

Proposição 4.1 Seja P uma partição qualquer de A e R um


subretângulo qualquer desta partição. Sejam f, g : A → R
limitadas.
Então:
(i) mR (f )+mR (g) ≤ mR (f +g) e MR (f +g) ≤ MR (f )+MR (g);

(ii) s(f, P ) + s(g, P ) ≤ s(f + g, P ) e S(f + g, P ) ≤ S(f, P ) +


S(g, P ).
212 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

(iii) f + g é integrável em A e que


Z Z Z
(f + g)(x)dx = f (x)dx + g(x)dx.
A A A

(iv) Para qualquer constante c ∈ R tem-se cf é integrável em


A e que Z Z
(cf )(x)dx = c f (x)dx.
A A

Demonstração: (i) Para a prova do item (i), notemos inicial-


mente que, para qualquer subretângulo R da partição P de A,
temos: 
 mR (f ) ≤ f (x), ∀x ∈ R

 mR (g) ≤ g(x),
 ∀x ∈ R,

adicionando as desigualdades acima, obtemos

mR (f ) + mR (g) ≤ f (x) + g(x) = (f + g)(x), ∀x ∈ R

e portanto,

mR (f ) + mR (g) ≤ inf {(f + g)(x); x ∈ R} = mR (f + g).

Logo,
mR (f ) + mR (g) ≤ mR (f + g). (4.1)

Analogamente, mostra-se que:

MR (f + g) ≤ MR (f ) + MR (g). (4.2)
4.2. PROPRIEDADES ARITMÉTICAS 213

(ii) Vamos agora provar (ii).


Multiplicando (4.1) pelo vol(R), obtemos

[mR (f ) + mR (g)]vol(R) ≤ mR (f + g)vol(R)

donde
X X X
mR (f )vol(R) + mR (g)vol(R) ≤ mR (f + g)vol(R).
R∈P R∈P R∈P
(4.3)
De (4.3), obtemos

s(f, P ) + s(g, P ) ≤ s(f + g, P ). (4.4)

Analogamente,

S(f + g, P ) ≤ S(f, P ) + S(g, P ). (4.5)

(iii) Vamos agora provar (iii).


De (4.4), (4.4) e do Lema 4.1.2, obtemos

s(f, P ) + s(g, P ) ≤ s(f + g, P ) ≤


(4.6)
S(f + g, P ) ≤ S(f, P ) + S(g, P ).
Agora, usando o fato que f e g são integráveis em A, obtemos
ε ε
S(f, P ) − s(f, P ) < e S(g, P ) − s(g, P ) < (4.7)
2 2
Logo, de (4.6) e (4.7), obtemos

S(f + g, P ) − s(f + g, P ) ≤ S(f, P ) + S(g, P ) − s(f, P ) − s(g, P ) =

= (S(f, P ) − s(f, P ))+


ε ε
(S(g, P ) − s(g, P )) < + = ε.
2 2
214 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Assim, f + g é integrável em A.
Por (4.5) obtemos

S(f + g, P ) ≤ S(f, P ) + S(g, P )

o que acarreta, pela definição de integral que


Z Z
S(f + g, P ) ≤ f (x)dx + g(x)dx (4.8)
A A

o que implica
Z Z Z
(f + g)(x)dx ≤ f (x)dx + g(x)dx. (4.9)
A A A

Seguindo um raciocı́nio análogo, mostra-se que


Z Z Z
f (x)dx + g(x)dx ≤ (f + g)(x)dx. (4.10)
A A A

Portanto, de (4.9) e (4.10), obtemos


Z Z Z
(f + g)(x)dx = f (x)dx + g(x)dx.
A A A

(iv) O item (iv) fica como exercı́cio.

Proposição 4.2 Seja f : A ⊂ Rn → R e P uma partição


qualquer de A. Então, f é integrável em A se, e somente se,
para cada subretângulo R de A, a função f restrita a R, f |R é
integrável em R. Além disso,
Z XZ
f (x)dx = f |R (x)dx.
A R∈P R
4.2. PROPRIEDADES ARITMÉTICAS 215

Demonstração: (⇒) Como f é integrável em A, pelo Teorema


4.1 para todo ε > 0 existe uma partição P de A, tal que

S(f, P ) − s(f, P ) < ε.

Consideremos P 0 um refinamento da partição P de A. Então

S(f, P 0 ) − s(f, P 0 ) ≤ S(f, P ) − s(f, P ) < ε.

Sendo P 0 um refinamento de P, se R é um subretângulo de P,


existem subretângulos R10 , R20 , . . . , Rn0 ∈ P 0 tais que:
X
S(f, P 0 ) − s(f, P 0 ) = MR0 (f )vol(R0 )−
R0 ∈P 0
X X X
mR0 (f )vol(R0 ) = MR0 (f )vol(R0 ) − mR0 (f )vol(R0 )+
R0 ∈P 0 R0 6=Ri0 R0 6=Ri0
m
X m
X
+ MRi (f )vol(Ri ) − mRi (f )vol(Ri ),
i=1 i=1

desta última desigualdade, obtemos


m
X m
X
MRi (f )vol(Ri ) − mRi (f )vol(Ri ) < ε.
i=1 i=1

Se considerarmos P 00 = {R1 , . . . , Rm } como sendo uma partição


para R, obtemos

S(f |R , P 00 ) − s(f |R , P 00 ) < ε.

Portanto, pelo Teorema 4.1, obtemos que f |R é integrável em


R.
216 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

(⇐) Vamos denotar por PR uma partição do subretângulo R ⊂


P, sendo P uma partição de A.
Como por hipótese f |R é integrável em R, obtemos

S(f |R , PR ) − s(f |R , PR ) < ε.


[
Denotemos por Q = PR , a qual é uma partição de A.
R∈P
Temos
X
S(f, Q) − s(f, Q) = [S(f |R , PR ) − s(f |R , PR )] < nε,
R∈P

sendo n o número de subretângulo da partição P de A.


Portanto, segue-se desta última desigualdade e do Teorema 4.1,
que a função f é integrável em A.
Seja R ∈ P e vamos denotar por χR a função caracterı́stica de
R, isto é, (
1, se x ∈ R
χR (x) =
0, se x ∈ A − R
Tem-se: Z Z
f |R (x)dx = (f χR )(x)dx.
R A
Logo, daı́ obtemos
Z XZ XZ
f (x)dx = (f χR )(x)dx = f |R (x)dx.
A R∈P R R∈P R

Proposição 4.3 Sejam f, g : A ⊂ Rn → R funções integráveis


com
f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ A.
4.2. PROPRIEDADES ARITMÉTICAS 217

Então, Z Z
f (x)dx ≤ g(x)dx.
A A

Demonstração: Seja P uma partição de A. Como por hipótese

f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ A

então para qualquer subretângulo R da partição P, obtemos

MR (f ) ≤ MR (g).

Desta desigualdade, obtemos


X X
MR (f )vol(R) ≤ MR (g)vol(R),
R∈P R∈P

o que implica
S(f, P ) ≤ S(g, P ),
o que acarreta Z
f (x)dx ≤ S(g, P ),
A
ou ainda Z Z
f (x)dx ≤ g(x)dx.
A A

Definição 4.5 Seja f : A ⊂ Rn → R uma função. Definimos a


parte positiva e parte negativa de f respectivamente por

f + (x) = sup{f (x), 0}

e
f − (x) = inf{f (x), 0}
218 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Proposição 4.4 Seja f : A ⊂ Rn → R integrável. Então, f + e


f − são integráveis.

Demonstração: Mostreremos inicialmente que f − é integrável.


Como f é integrável em A, pelo Teorema 4.1, para qualquer
ε > 0 existe uma partição P de A tal que

S(f, P ) − s(f, P ) < ε. (4.11)

Seja R um subretângulo qualquer desta partição P.


Notemos inicialmente que, quando f < 0 então f = f − e se
f > 0 então f − = 0 e portanto

MR (f − ) − mR (f − ) = 0 ≤ MR (f ) − mR (f ).

Destas observações e de (4.11), obtemos


X
S(f − , P ) − s(f − , P ) = [MR (f − ) − mR (f − )]−
R∈P
X
− [MR (f ) − mR (f )] = S(f, P ) − s(f, P ) < ε.
R∈P

Portanto, pelo Teorema 4.1 a função f − é integrável em A.


Agora, notemos que

f + (x) = f (x) − f − (x), ∀x ∈ A.

Desta igualdade e do item (iii) da Proposição 4.1, obtemos que


f + integrável em A.
4.3. TEOREMA DO VALOR MÉDIO PARA INTEGRAIS MÚLTIPLAS219

Proposição 4.5 Seja f : A ⊂ Rn → R integrável. Então, |f | é


integrável e Z Z
f (x)dx ≤ |f (x)|dx.
A A

Demonstração: Notemos inicialmente que

|f |(x) = f + (x) − f − (x), ∀x ∈ A,

onde |f |(x) = |f (x)|. Como f + e f − são integráveis pela Pro-


posição 4.4, segue-se da igualdade acima e da Proposição 4.1
que |f | é integrável.
Como,
−|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|, ∀x ∈ A

segue-se da Proposição 4.2 que


Z Z Z
− |f (x)|dx ≤ f (x)dx ≤ |f (x)|dx
A A A

e portanto, Z Z
f (x)dx ≤ |f (x)|dx.
A A

4.3 Teorema do Valor Médio para


Integrais Múltiplas
Como no caso unidimensional, a integral múltipla satisfaz a
propriedade do valor médio.
220 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Teorema 4.2 (Teorema do Valor Médio) Seja A ⊂ Rn um


retângulo fechado e f integrável sobre A e seja g : A → R tal que
g(x) ≥ 0 para todo x ∈ A. Seja m = inf f (A) e M = sup f (A).
Então existe um número real λ ∈ [m, M ] tal que
Z Z
f (x)g(x)dx = λ g(x)dx. (4.12)
A A

Em particular, temos
Z
m.vol(A) ≤ f (x)dx ≤ M.vol(A) (4.13)
A

Observação 4.2 Se f é contı́nua então λ = f (x0 ) para algum


x0 ∈ A e temos
Z Z
f (x)g(x)dx = f (x0 ) g(x)dx.
A A

Em particular se g(x) = 1, ∀x ∈ A, obtemos


Z Z
f (x)g(x)dx = f (x0 ) 1dx = f (x0 )vol(A).
A A

Demonstração: Como g(x) ≥ 0 temos mg(x) ≤ f (x)g(x) ≤


M g(x) para cada x ∈ A. Pela Proposição 4.3, podemos escrever
Z Z Z
m g(x)dx ≤ f (x)g(x)dx ≤ M g(x)dx.
A A A
Z
Se g(x)dx = 0 então (4.12) está assegurado para todo λ.
ZA R
ARf (x)g(x)dx
Se g(x)dx > 0 então considerando λ = g(x)dx
obtemos
A
A
(4.12). Considerando g(x) ≡ 1, obtemos (4.13).
4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

Exemplo 4.3.1 Seja A = [0, 1] × [0, 1] ⊂ R2 e

f: A → R
(x, y) 7→ f (x, y) = x + y

e
g: A → R
(x, y) 7→ g(x, y) = x.
Então, 0 = inf f (A) e 2 = sup f (A).
Logo,
Z Z
7
f (ξ)g(ξ)dξ = (x + y)xdxdy = ,
A [0,1]×[0,1] 12

e Z Z
1
g(ξ)dξ = xdxdy = .
A [0,1]×[0,1] 2
7 7 14
Então, considerando ξ0 = ( 12 , 12 ) ∈ A e λ = 12
∈ [0, 2], obte-
mos Z Z
f (ξ)g(ξ)dξ = λ g(ξ)dξ.
A A

4.4 Caracterização das funções in-


tegráveis via conjunto de medida
nula
Nesta seção caracterizaremos as funções integráveis via con-
juntos de medida nula. Antes veremos alguns conceitos e resul-
tados preliminares.
222 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Definição 4.6 Seja A ⊂ Rn . Dizemos que A possui medida


nula, quando para cada ε > 0 existe uma cobertura para A
formada por retângulos fechados

O = {O1 , O2 , . . .}

tal que

X
vol(Oi ) < ε.
i=1

Exemplo 4.4.1 Se A = {a1 , a2 , . . . , an } então A possui medida


nula.
De fato, consideremos os retângulos fechados Oi , i = 1, 2, . . . , n
com ai ∈ Oi e
ε
vol(Oi ) < , ∀ε > 0.
2i
Logo,
∞ ∞
X X ε
vol(Oi ) < i
= ε.
i=1 i=1
2
Portanto, A tem medida nula.

Notemos que mostramos que todo conjunto finito tem medida


nula.

Exemplo 4.4.2 Se {a1 , a2 , . . . , an , . . .} ⊂ Rn é um subconjunto


enumerável, então A possui medida nula.
De fato, dado ε > 0, seja

Rk = I1k × . . . × Ink ,
4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

um subretângulo do Rn contendo ak , onde,


 
1  ε n 1  ε n
ak = (a1k , . . . , ank ) e Ijk = ajk − , ajk + ,
2 2k 2 2k
ε
e tal que vol(Ri ) < 2i
.
Portanto,
∞ ∞
X X ε
vol(Ri ) < < ε.
i=1 i=1
2i
Logo, A tem medida nula.

Exercı́cio 4.4.1 Seja A = {a : a ∈ Q ∩ [0, 1]}. Mostre que A


tem medida nula.
De fato, em Lima, O.A e Maciel, A.B [10], mostra-se que A é
enumerável, e portanto, pelo exemplo acima A possui medida
nula.

Proposição 4.6 Se Ai tem medida nula para todo i ∈ N, então



[
A= Ai
i=1

tem medida nula.

Demonstração: Dado ε > 0, como por hipótese cada Oi tem


medida nula podemos, obter uma cobertura

{Oi,1 , Oi,2 , Oi,3 , . . .}


ε
formados por retângulos fechado Oi,j com vol(Oi,j ) < 2i
.
Logo,
∞ ∞
X X ε
vol(Oi,j ) < i

i=1 i=1
2
224 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Notemos que a coleção O = {Oi,j : i, j ∈ N} fornece uma


cobertura aberta para A, e considerando o diagrama

: : ;

O1,1 O1,2 O1,3 ·= · ·


? < <

O2,1 O2,2 O2,3 ·= · ·


? < <

O3,1 O3,2 O3,3 <· · ·


> ; ;

···
deduzimos que essa coleção pode ser enumerada (seguindo o
diagrama) como Q1 , Q2 , Q3 , . . . tal que
∞ ∞
X X ε
vol(Qi ) < i
= ε.
i=1 i=1
2

Definição 4.7 Seja A ⊂ Rn . Dizemos que A tem conteúdo


nulo, quando para cada ε > 0 dado existe uma cobertura

O = {O1 , O2 , . . . , On }

formada por retângulos fechados Oi de A tal que


n
X
vol(Oi ) < ε.
i=1
4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

Observação 4.3 Se A ⊂ Rn tem conteúdo nulo então A tem


medida nula.
De fato, A tendo conteúdo nulo, existe uma cobertura

O = {O1 , O2 , . . . , On },

de retângulos fechados Oi ⊂ A tal que


n
X
vol(Oi ) < ε.
i=1

Portanto, A tem medida nula.

Lema 4.4.1 O intervalo [a, b] ⊂ R não tem conteúdo nulo.

Demonstração: Sem perda de generalidade podemos supor que


os intervalos fechados Oi = [ti−1 , ti ] ⊂ [a, b], onde a ≤ tj ≤ b.
Logo,
n
X n
X
vol(Oi ) ≥ (ti − ti−1 ) = b − a.
i=1 i=1

Portanto, se escolhermos ε = b − a > 0 não temos


n
X
vol(Oi ) < ε.
i=1

Assim, o intervalo [a, b] não tem conteúdo nulo.

Teorema 4.3 Se A ⊂ Rn é compacto e tem medida nula então


A tem conteúdo nulo.
226 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Demonstração: Como A tem medida nula, para cada ε > 0


dado, existe uma cobertura

O = {O1 , O2 , O3 , . . .}

formada por abertos Oi tal que



X
vol(Oi ) < ε.
i=1

Agora, sendo A compacto esta coleção O admite uma subcober-


tura finita, isto é,
{O1 , . . . , On }

cobrem A e satisfaz
n
X
vol(Oi ) < ε.
i=1

Observação 4.4 Não se pode concluir o Teorema 4.3 quando


se retira a hipótese de A ser compacto.
De fato, consideremos

A = {a : a ∈ Q ∩ [0, 1]}

o qual tem medida nula.


Suponhamos que

A = {[a1 , b1 ], [a2 , b2 ], . . . , [an , bn ]},


4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

seja uma cobertura para A.


Então n
[
A⊂ [ai , bi ],
i=1
o que implica
n
[
[0, 1] ⊂ [ai , bi ].
i=1
O Lema 4.4.1 implica que
n
X
(bi − ai ) ≥ 1.
i=1

Considerando ε = 1 > 0, não temos


n
X
(bi − ai ) < ε.
i=1

Portanto, A não tem conteúdo nulo.

Seja f : A ⊂ Rn → R limitada. Para a ∈ A e δ > 0


consideremos os conjuntos

M (a, f, δ) = sup{f (x) : x ∈ A e kx − ak < δ}

e
m(a, f, δ) = inf{f (x) : x ∈ A e kx − ak < δ}

Definição 4.8 Seja f : A ⊂ Rn → R limitada. Definimos a


oscilação de f no ponto a ∈ A, a qual é denotada por o(f, a),
como sendo

o(f, a) = lim[M (a, f, δ) − m(a, f, δ)].


δ→0
228 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Lema 4.4.2 Uma função f : A ⊂ Rn → R é contı́nua no ponto


a ∈ A se, e somente se, o(f, a) = 0.

Demonstração: (⇒) Sendo f contı́nua em a por hipótese, dado


ε > 0 existe δ > 0 tal que

x ∈ A e kx − ak < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε.

o que implica

−ε + f (a) ≤ f (x) ≤ ε + f (a), para x ∈ A e kx − ak < δ.

Desta última desigualdade, obtemos

−ε + f (a) ≤ inf{f (x) : x ∈ A e kx − ak < δ} ≤ f (x) ≤

≤ sup{f (x) : x ∈ A e kx − ak < δ} ≤ ε + f (a),

isto é,

−ε + f (a) ≤ m(f, a, δ) ≤ M (f, a, δ) ≤ ε + f (a),

o que implica

lim[M (f, a, δ) − m(f, a, δ)] ≤ 2ε,


δ→0

isto é,
o(f, a) ≤ 2ε, ∀ε > 0.

Portanto, o(f, a) = 0
(⇐) Suponhamos que o(f, a) = 0, isto é,

lim[M (f, a, δ) − m(f, a, δ)] = 0.


δ→0
4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

Logo, para qualquer ε > 0 temos

M (f, a, δ) − m(f, a, δ) < ε se x ∈ A e kx − ak < δ.

Logo, desta última desigualdade se x ∈ A e kx − ak < δ e do


fato que m(f, a : δ) ≤ f (a) e f (x) ≤ M (f, a : δ) ≤ f (a),
obtemos

f (x) − f (a) ≤ f (x) − m(f, a, δ) ≤ M (f, a, δ) − m(f, a, δ) < ε,

isto é,

x ∈ A e kx − ak < δ ⇒ f (x) − f (a) < ε. (4.14)

Por outro lado, se x ∈ A e kx − ak < δ então

f (x) − f (a) ≥ f (x) − M (f, a, δ) ≥ m(f, a, δ) − M (f, a, δ) =

= −[M (f, a, δ) − m(f, a, δ)] > −ε,


isto é,

x ∈ A e kx − ak < δ ⇒ f (x) − f (a) > −ε. (4.15)

Portanto, de (4.14) e (4.15) obtemos

x ∈ A e kx − ak < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε,

o que mostra que f é contı́nua no ponto a.

Lema 4.4.3 Seja A ⊂ Rn fechado e f : A → R limitada. Então


para qualquer ε > 0 o conjunto

O = {x ∈ A : o(f, a) ≥ ε}

é fechado.
230 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Demonstração: Seja O = {x ∈ A : o(f, a) ≥ ε}. Vamos


mostrar que Rn −O é um aberto, o que provará que O é fechado.
Se x ∈ Rn − O então tem-se que x ∈
/ A ou x ∈ A e o(f, a) < ε.
Se x ∈
/ A como A é fechado existe um retângulo aberto Q que
contém x e que

Q ⊂ Rn − A ⊂ Rn − O,

o que prova, que neste caso que Rn − O é aberto e portanto O


é fechado.
Se x ∈ A e o(f, a) < ε, então existe um δ > 0 tal que

M (x, f, δ) − m(x, f, δ) ≤ ε.

Escolhamos um aberto Q que contenha x e tal que

kx − yk < δ, ∀y ∈ Q.

Portanto, se y ∈ Q existe δ1 > 0 tal que, para todos os z que


satisfazem kz − yk < δ1 se tem kx − zk < δ.
Então,
M (y, f, δ1 ) − m(y, f, δ1 ) < ε,
o que implica o(f, y) < ε e portanto, Q ⊂ Rn −O. Logo, Rn −O
é aberto e portanto O é fechado.

Lema 4.4.4 Seja A ⊂ Rn fechado e f : A → R limitada para


a qual se tenha o(f, a) < ε para todo x ∈ A. Então, existe uma
partição P de A que satisfaz

S(f, P ) − s(f, P ) < εvol(A).


4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

Demonstração: Para cada x ∈ A existe um retângulo fechado


Ox , cujo interior contém x e tal que

MOx (f ) − mOx (f ) < ε.

Agora, usando o fato que A é compacto, existe uma cobertura


finita
{Ox1 , Ox2 , . . . , Oxn }

para A.
Consideremos agora P uma partição de A tal que cada su-
bretângulo R de P esteja contido em algum dos Ox . Então para
cada subretângulo R de P, tem-se

MR (f ) − mR (f ) < ε.

Logo,
X
S(f, P ) − s(f, P ) = [MR (f ) − mR (f )]vol(R) < εvol(A)
R∈P

Teorema 4.4 Seja A ⊂ Rn fechado e f : A → R limitada e


seja
O = {x ∈ A : f não é contı́nua em x}.

Então, f é integrável em A se, e somente se, O tem medida


nula.
232 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Demonstração: (⇒) Suponhamos que f seja integrável em A.


Para cada j ∈ N, consideremos os conjuntos
 
1
O 1 = x ∈ A : o(f, a) ≥ .
j j
Notemos que

[
O= O1 ,
j
j=1

Para mostrar que O tem medida nula, pela Proposição 4.1, basta
mostrar que cada O 1 tem medida nula.
j

Vamos mostrar que cada O 1 tem conteúdo nulo, o que é equi-


j

valente a mostrar que O 1 tem medida nula, pois cada O 1 são


j j

compactos.
Dado ε > 0, consideremos P uma partição de A tal que
ε
S(f, P ) − s(f, P ) < .
n
Seja R um retângulo qualquer desta partição e denotemos por
n o
R = R ∈ P : R ∩ O1 .
n

Tem-se que R é uma cobertura para O 1 .


n

Agora, note que para cada R ∈ R temos


1
MR (f ) − mR (f ) ≥ .
n
Logo,
1X X
vol(R) ≤ [MR (f ) − mR (f )]vol(R) ≤
n R∈R R∈R
X ε
≤ [MR (f ) − mR (f )]vol(R) < ,
R∈P
n
4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS FUNÇÕES INTEGRÁVEIS VIA CONJUNTO DE M

donde
X
vol(R) < ε.
R∈R

Portanto, cada O 1 tem conteúdo nulo o que equivale a ter me-


j

dida nula e portanto,



[
O= O1
j
j=1

tem medida nula.


(⇐) Suponhamos que O possua medida nula. Para cada ε > 0,
consideremos os conjuntos

Oε = {x ∈ A : o(f, x) ≥ ε}.

Como Oε ⊂ O e O tem medida nula então Oε tem medida nula.


Pelo Lema 4.4.3 temos que Oε é fechado e como é limitado, pois
Oε ⊂ A e A é limitado, tem-se que Oε é compacto. Logo, pelo
Teorema 4.4, tem-se que Oε tem conteúdo nulo. Assim, existe
uma subcobertura finita

Q = {Q1 , Q2 , . . . , On }

de retângulos fechados cujo interior forma uma cobertura para


Oε e para a qual se tem
n
X
vol(Qi ) < ε.
i=1

Seja P uma partição de A e R um subretângulo dessa partição


P.
234 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Consideremos agora as coleções R1 e R2 dadas por

R1 = {R ∈ P : R ⊂ Qi , para algum i = 1, 2, . . . , n}

e
R2 = {R ∈ P : R ∩ Oε = ∅}

Suponha que |f (x)| ≤ M, para todo x ∈ A. Daı́, obtemos que

MR (f ) − mR (f ) = |MR (f ) − mR (f )| ≤

|MR (f )| + |mR (f )| ≤ M + M = 2M,

qualquer que seja o subretângulo R da partição P.


Portanto, se R ∈ R1 , tem-se que:
X n
X
[MR (f ) − mR (f )]vol(R) < 2M vol(Qi ) < 2M ε.
R∈R1 i=1
(4.16)
Se R ∈ R2 então o(f, a) < ε, para x ∈ R. Logo, pelo Lema
4.4.4 existe uma partição P 0 de P para a qual, temos
X
[MR0 (f ) − mR0 (f )]vol(R0 ) < εvol(R), (4.17)
R0 ⊂R

para cada R ∈ R2 .
Portanto, de (4.16) e (4.17) temos
X
S(f, P 0 ) − s(f, P 0 ) = [MR0 (f ) − mR0 (f )]vol(R0 )+
R0 ⊂R∈R1
X X
+ [MR0 (f ) − mR0 (f )]vol(R0 ) < 2M ε + εvol(R) =
R0 ⊂R∈R2 R∈R2

= [2M + vol(A)]ε.
4.5. TEOREMA DE FUBINI 235

Portanto, pelo Lema 4.4.4, obtemos a integrabilidade de f em


A.

4.5 Teorema de Fubini


O Teorema de Fubini permite reduzir o cálculo da integral sobre
retângulos fechados do Rn a integrais sobre intervalos fechados
da reta.

Definição 4.9 Dado um subconjunto C ⊂ Rn , a função carac-


terı́stica de C é a função χC : Rn → R definida por
(
1, se x ∈ C
χC (x) =
0, se x ∈ Rn − C

Definição 4.10 Seja A um retângulo compacto do Rn e C um


subconjunto de A. Se f : A → R é limitada, desiginamos a
integral de f em A por
Z Z
f (x)dx = (χC f )(x)dx
C A

Proposição 4.7 Seja A um retângulo compacto do Rn e C um


subconjunto de A. Então χC : A → R é integrável em A se, e
somente se, ∂C tem medida nula.

Demonstração: A fronteira de C é constituı́da pelos pontos de


descontinuidade de χC . Logo, pelo Toorema 4.4, χC é integrável
se, e somente se, ∂C tem medida nula.
236 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Definição 4.11 Um conjunto C ⊂ Rn limitado cuja fronteira


tem medida nula é dito Jordan - mensurável ou um conjunto que
tem volume.
O volume de C é dado por:
Z
vol(C) = 1dx.
C

Sejam A ⊂ Rn um retângulo fechado e f : A → R uma


função limitada e P o conjunto de todas as partições de A.
Definimos
Z Z
L f (x)dx = f (x)dx = sup {s(f, P )}
A A P ∈P

e Z Z −
U f (x)dx = f (x)dx = inf {S(f, P )}.
A A P ∈P

Teorema 4.5 (Teorema de Fubini) Sejam A ⊂ Rn e B ⊂


Rm retângulos compactos e f : A × B → R integrável. Fixado
x ∈ A arbitrário. Sejam

gx : B → R, gx (y) = f (x, y) para x ∈ B,


Z Z
L : A → R, L(x) = L gx (y)dy = L f (x, y)dy
B B
e
Z Z
U : A → R, U (x) = U gx (y)dy = U f (x, y)dy.
B B

Então, L e U são integráveis em A e,


Z Z Z  Z 
f (x, y)dxdy = L(x)dx = L f (x, y)dy dx
A×B A A B
(4.18)
4.5. TEOREMA DE FUBINI 237

e
Z Z Z  Z 
f (x, y)dxdy = U (x)dx = U f (x, y)dy dx.
A×B A A B
(4.19)

Demonstração: Sejam PA e PB partições de A e B respecti-


vamente. Então P = PA × PB é uma partição de A × B. Seja
R = RA × RB um subretângulo arbitrário da partição P, onde
RA é um subretângulo de PA e RB é um subretângulo de PB .
Logo,
X
s(f, P ) = mR (f )vol(R) =
R
X
= mRA ×RB (f )vol(RA × RB ) =
RA ,RB
X (4.20)
= mRA ×RB (f )vol(RA )vol(RB ) =
RA ,RB
!
X X
= mRA ×RB (f )vol(RB ) vol(RA )
RA RB

Para cada x ∈ RA tem-se

mRA ×RB (f ) ≤ mRB (gx ),

pois {x} × RB ⊆ RA × RB .
Assim,
X X
mRA ×RB (f )vol(RB ) ≤ mRB (gx )vol(RB ) = s(PB , gx ) ≤
RB RB
Z
≤ sup s(Q, gx ) = L gx = L(x), ∀x ∈ RA
Q∈P(PB ) B
(4.21)
238 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Logo,
!
X X X
mRA ×RB (f )vol(RB ) vol(RA ) ≤ mRA (L)vol(RA ).
RA RB RA

Então
X X
mRA ×RB (f )vol(RB ) ≤ mRA (L) = s(PA , L) (4.22)
RB RA

Das desigualdades (4.21) e (4.22) obtemos

s(P, f ) ≤ s(PA , L) ≤ S(PA , L) ≤ S(P, f ) (4.23)

Usando argumentos semelhantes, obtemos


!
X X
S(f, P ) = MRA ×RB (f )vol(RB ) vol(RA ) ≥
RA RB
X
≥ MRA (U )vol(RA ) = S(PA , U )
RA
(4.24)
Segue-se de (4.23) e (4.24) que:

s(P, f ) ≤ s(PA , L) ≤ S(PA , U ) ≤ S(P, f ) (4.25)

Como f é integrável, obtemos de (4.25) que

sup s(PA , L) = inf S(PA , L),

o que mostra que L é integrável em A.


Além diso, tem-se
Z Z  Z  Z
L(x)dx = L f (x, y)dy dx = f (x, y)dxdy.
A A B A×B
4.5. TEOREMA DE FUBINI 239

Usando argumentos análogos, mostra-se (4.19.)

Observação 4.5 Quando as funções gx : B → R e gy : B → R


são integráveis, então o Teorema de Fubini toma a forma
Z Z Z
f (x, y)dxdy = f (x, y)dxdy.
A×B A B

A seguir definiremos a integral sobre conjuntos geral. A par-


tir desta definição os resultados obtidos até agora continuaram
válidos em subconjuntos limitados Jordan-mensurável S do Rn .
Para igualdade em (4.12) com f contı́nua e λ = f (x0 ) com
x0 ∈ S, exigimos que S seja conexo.

Definição 4.12 Seja S ⊂ Rn um subconjunto limitado e Jordan-


mensurável e f : S → R limitada. Seja R um retângulo fechado
contendo S e definimos g sobre R como segue
(
f (x), se x ∈ S
g(x) =
0, se R − S

Então, f é dita integrável a Riemann sobre S se a integral


R
R
g(x)dx existe. Neste caso, escrevemos
Z Z
f (x)dx = g(x)dx.
S R

Exercı́cio 4.5.1 Seja S ⊂ Rn um subconjunto limitado Jordan-


mensurável e f : S → R integrável a Riemann. Suponha que
240 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

S = A ∪ B, onde A e B são retângulos tendo volume. Então as


integrais Z Z
f (x)dx e f (x)dx
A B
existem e vale
Z Z Z
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx.
S A B

Z 1] × [1, 2], f : R → R definida por


Exemplo 4.5.1 Seja R = [0,
f (x, y) = x2 + y 2 . Calcule f (x, y)dxdy.
R
Pelo Teorema de Fubini, temos
Z Z 1 Z 2
f (x, y)dxdy = g(x)dx, onde g(x) = (x2 + y 2 )dy
R 0 1

Daı́ Z 2
1 2 7
(x2 + y 2 )dxdy = (x2 y + y 3 ) = x2 + ,
1 3 1 3
o que implica
Z Z 1  
2 2 2 7 1 3 7 1 8
(x + y )dxdxy = (x + )dx = x + x = .
R 0 3 3 3 0 3
Exemplo 4.5.2 Calcule a integral dupla
Z Z
2 2
xex −y dxdy,
R

onde R é a região fechada limitada pelas retas y = x, y = x − 1,


y = 0 e y = 1.
Logo,
Z Z Z 1 Z y+1
x2 −y 2 2 −y 2
xe dxdy = xex dxdy =
R 0 y
4.5. TEOREMA DE FUBINI 241
Z 1
1 2y+1 1
(e − 1)dy = (e3 − e − 2).
0 2 4
Observação 4.6 A integral dupla poderia ser escrita como
Z Z Z 1 Z x
x2 −y 2 2 −y 2
xe dxdy = xex dydx+
R 0 0

Z 2 Z 1
2 −y 2
xex dydx,
1 x−1

que o leitor observará que o problema de integração aqui oferece


mais dificuldade.

Como aplicação do Teorema de Fubini, vamos mostrar que


podemos dar uma demonstração mais simples do Teorema de
Schwarz.

Exemplo 4.5.3 Use o Teorema de Fubini para provar que

D12 f (x, y) = D21 f (x, y)

se D12 f (x, y) e D21 f (x, y) são contı́nuas.


Solução: Suponha que existe (x0 , y0 ) ∈ R2 tal que

D12 f (x0 , y0 ) 6= D21 (x0 , y0 ).

Podemos supor que D12 f (x0 , y0 ) − D21 f (x0 , y0 ) > 0. Como D12
e D21 são contı́nuas existe um retângulo R = [a, b] × [c, d] tal
que
D12 f (x, y) − D21 f (x, y) > 0, ∀(x, y) ∈ R.
242 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Logo,
Z b Z d 
[D12 f (x, y) − D21 f (x, y)]dy dx =
a c
Z b Z d 
= [D12 f (x, y)]dy dx−
a c
R b R d 
a c
[D21 f (x, y)]dy dx =
Z b
= [D1 f (x, d) − D1 f (x, c)]dx−
a
R d R b 
c a
D21 f (x, y)dx dy =
Z b Z d
= [D1 f (x, d) − D1 f (x, c)]dx − D2 f (b, y)dy+
a c
Rd
c
D2 f (a, y)dy =
= Df (b, d) − Df (a, d) − Df (b, c) + Df (a, c)−
−Df (b, d) + Df (b, c) + Df (a, d) − Df (a, c) = 0,

isto é,
Z
[D12 f (x, y) − D21 f (x, y)]dxdy = 0,
R

com D12 f (x, y) − D21 f (x, y) > 0 em R, o que é um absurdo.


Logo,

D12 f (x, y) − D21 f (x, y) = 0,

isto é,

D12 f (x, y) = D21 f (x, y).


4.6. MUDANÇA DE VARIÁVEIS 243

4.6 Mudança de Variáveis


Um dos mais importantes resultados na teoria da integração
múltipla é a fórmula de mudança de variável. Isto é uma extensão
da equação,
Z b Z d
f (x)dx = f (g(t))g 0 (t)dt, a = g(c) e d = g(b), (4.26)
a c

sobre a hipótese que g tem derivada contı́nua g 0 sobre um inter-


valo I = [c, d] e que f é contı́nua sobre J = g(I).

Observação 4.7 Um caso ocorre quando g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ I (e


portanto de sinal constante sobre I).
Se g 0 (x) é positiva sobre I = [c, d] temos J = g(I) = [a, b].
Neste caso a fórmula pode ser escrita como
Z Z
f (x)dx = f (g(t))g 0 (t)dt. (4.27)
J g −1 (J)

Por outro lado, se g 0 é negativa sobre I, então a fórmula (4.26)


torná-se:
Z Z
f (x)dx = − f (g(t))g 0 (t)dt. (4.28)
J g −1 (J)

As fórmulas (4.27) e (4.28) pode ser representada em uma única


fórmula Z Z
f (x)dx = f (g(t))|g 0 (t)|dt, (4.29)
J g −1 (J)

onde g −1 (J) denota a imagem inversa de J.


O próximo resultado generaliza a fórmula (4.29), que é chamado
teorema da mudança de variável para integrais múltipla.
244 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Teorema 4.6 (Teorema da Mudança de Variáveis) Seja A


um aberto limitado do Rn com volume finito. Seja g : A → Rn
uma função satisfazendo as seguintes condições:
(i) g é injetiva e de classe C 1 ;
(ii) O jacobiano Jg(x) 6= 0 para todo x ∈ A.
Seja f : g(A) → R contı́nua. Então para todo subconjunto
compacto Jordan-mensurável X de g(A), tem-se:
Z Z
f (x)dx = f (g(ξ))|Jg(ξ)|dξ. (4.30)
X g −1 (X)

Demonstração: A prova é feita por indução sobre n. Quando


n = 1 a prova segue do Cálculo Diferencial. Suponhamos por
hipótese de indução que a fórmula (4.30) é verdadeira para espaços
(n − 1) dimensional e mostraremos sua validade para espaços n
dimensional.
Como Jg(ξ) 6= 0, ξ ∈ S nem todas as derivadas par-
ciais Dn gk podem ser iguais a zero em algum ponto de A.
Vamos assumir que Dn g2 (ξ0 ) 6= 0 onde ξ0 ∈ A. Pela con-
tinuidade de Dn g2 existe uma vizinhança V (ξ0 ) ⊂ A tal que
Dn g2 (ξ) 6= 0, ∀ξ ∈ V (ξ0 ). Agora mostraremos que existe um
aberto A ⊂ V (ξ0 ) na qual g pode ser expressa como a com-
posição de duas funções a valores vetorial ϕ = (ϕ1 , . . . , ϕn ) e
φ = (φ1 , . . . , φn ) tendo algumas propriedades especiais:
Primeiro, defina φ como segue:

(φ(ξ), . . . , φ(ξ)) = φ(ξ) =

(ξ1 , . . . , ξn−1 , g2 (ξ)), se ξ = (ξ1 , . . . , ξn ) ∈ A.


4.6. MUDANÇA DE VARIÁVEIS 245

Tem-se que φ é injetiva sobre V (ξ0 ) com φ ∈ C 1 sobre A, pois


cada componente de φ são funções de classe C 1 . Além disso,
Jφ = Dn g2 6= 0 em V (ξ0 ), donde do Teorema da Função Inversa,
temos uma inversa local ψ e dois conjuntos abertos A ⊂ V (ξ0 ),
B ⊂ φ(A) tal que ξ0 ∈ A, φ(ξ0 ) ∈ B, A = φ−1 (B), ψ ∈ C 1
sobre B. Portanto,

ψ(φ(ξ)) = ξ, ξ ∈ A.

Agora, defina ϕ = (ϕ1 , . . . , ϕn ) como segue.


Se ξ ∈ B defina

ϕk (ξ) = gk (ξ1 , . . . , ξn−1 , ψn (ξ)),

para 1 ≤ k ≤ n, k 6= 2 e ϕ2 (ξ) = ξn .
Então, para cada ξ ∈ A, temos

ϕk (φ(ξ)) = gk (ξ1 , . . . , ξn−1 , ψn (φ(ξ))) =

gk (ξ1 , . . . , ξn−1 , ξn ) = gk (ξ),

e
ϕ2 (φ(ξ)) = φn (ξ) = g2 (ξ).

Logo, temos
ϕ(φ(ξ)) = g(ξ), ∀ξ ∈ A.

Portanto, g = ϕ ◦ φ, onde φ(ξ) deixa todas as componentes de


ξ fixada, exceto a componente ξn e ϕ(ξ) deixa ξn fixada. Além
disso, ϕ é injetiva e ϕ ∈ C 1 sobre B.
246 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Note que poderı́amos ter assumido que Dn gk (ξ0 ) 6= 0 e obtermos


o mesmo resultado.
Agora, seja X uma subregião compacta Jordan-mensurável
de g(A). A imagem inversa g −1 (X) é então um subconjunto com-
pacto de A. Para cada ξ0 ∈ g −1 (X), existe em correspondência
um conjunto aberto A contendo ξ0 no qual g é a composta da
forma g = ϕ ◦ φ, onde φ(ξ) deixa todas as componentes de
ξ fixada, exceto ξn e ϕ(ξ) deixa ξn fixado. Sem perda de ge-
neralidade podemos assumir que A = (a1 , b1 ) × . . . × (an , bn )
retângulos abertos.
Quando variamos ξ0 sobre o conjunto g −1 (X), estes retângulos
abertos A forma uma cobertura aberta de g −1 (X) e por compaci-
dade, podemos obter uma subcobertura finita destes retângulos,
digamos que

A(1) , . . . , A(p) cobre g −1 (X).

Uma correspondente coleção finita de funções a valores vetorial


ϕ(1) , . . . , ϕ(p) e φ(1) , . . . , φ(p) existe e satisfaz

g(ξ) = ϕk (φk (ξ)), para cada ξ ∈ Ak .

Pela propriedade da multiplicação dos jocabianos, temos o pro-


duto

Jg(ξ) = Jϕ(k) [φ(k) (ξ)]Jφ(k) (ξ), k = 1, . . . , p.

Observe que este produto independente de k.


Seja T (k) = g(A(k) ) (Ver figura abaixo)
4.6. MUDANÇA DE VARIÁVEIS 247

Figura 4.1: Esboço quando n = 2

A hipótese que g é injetiva em A implica que os conjuntos


T (1) , . . . , T (p) são retângulos. Além disso, temos

X ⊂ T (1) ∪ . . . ∪ T (p) ⊂ g(A).

Portanto, se X tem volume, pelo Exercı́cio 4.5.1 temos

Z p Z
X
f (x)dx = F (x)dx,
X k=1 T (k)

onde
(
f (x), se x ∈ X
F (x) =
0, se g(A) − X
248 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

A prova do teorema estará completa se mostrarmos que a fórmula


de transformação
Z Z
F (x)dx = F (g(ξ))|Jg(ξ)|dξ, (4.31)
T (k) g −1 (T (k) )

está assegurada para cada k = 1, . . . , p.


Note que podemos supor que A é um retângulo fechado, para
tanto basta diminuir o diâmetro e aumetar os ı́ndices. Portanto,
podemos supor que g = ϕ ◦ φ em um retângulo fechado A e seja
B = φ(A). Então T = g(A) = ϕ(B). Agora, para cada x ∈ R,
definamos

T (x) = {ξ : ξ ∈ T, ξn = x} e B(x) = {ξ : ξ ∈ B; ξn = x}

Então T (x) = ϕ(B(x)). Sejam,

c = inf{φn (ξ) : ξ ∈ A} e d = sup{φn (ξ) : ξ ∈ A}

Então, pelo Teorema de Fubini, podemos escrever


Z Z d Z 
F (x)dx = F (x1 , . . . , xn )d(x1 , . . . , xn−1 ) dxn
T c T (xn )
(4.32)
Na integral externa substituı́remos a variável muda xn por un . A
integral interna em (4.32) é uma integral múltipla num espaço
(n − 1) dimensional, a qual podemos aplicar a hipótese indução e
usando a mudança de variáveis x = ϕ(u) (a qual afeta somente
as primeiras n − 1 componentes de u). Isto implica
Z Z d Z 
F (x)dx = F (ϕ(u))|Jϕ(u)|d(u1 , . . . , un−1 ) dun .
T c B(un )
(4.33)
4.6. MUDANÇA DE VARIÁVEIS 249

Agora escreva,

A = [a1 , b1 ] × . . . × [an , bn ] e An = [a1 , b1 ] × . . . × [an−1 , bn−1 ].

Também, para cada u = (u1 , . . . , un ) com u1 , . . . , un−1 fixado,


seja
Bn∗ (u) = {φn (u) : an ≤ un ≤ bn }.

Revertendo a ordem de integração no segundo membro de (4.33),


obtemos
Z Z Z 
F (x)dx = F (ϕ(u))|Jϕ(u)|dun d(u1 , . . . , un−1 )
T An ∗ (u)
Bn
(4.34)
Agora fazendo uso da mudança de variável unidimensional un =
φn (ξ), com ξ ∈ R na integral interna em (4.33) e substituindo
as variáveis de integração u1 , . . . , un−1 (como feito na reta) por
ξ1 , . . . , ξn−1 em (4.34), temos
Z Z Z bn 
F (x)dx = F (g(ξ))|Jϕ(ξ)|dξn d(ξ1 , . . . , ξn−1 ) =
T An an
Z
= F (g(ξ))|Jg(ξ)|dξ.
A

Aplicando um argumento similar aplicado a cada integral em


(4.31) temos o teorema.

Z Z
2 +y 2
Exemplo 4.6.1 Calcule a integral ex
dxdy, onde R é

R
a região fechada limitada pelo semi-cı́rculo y = 1 − x2 .
250 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Vamos fazer a transformação x = rcosθ e y = rsenθ. Então,


Z Z Z Z
x2 +y 2 2
e dxdy = er drdθ, onde r = |J(r, θ)|
R S

e S = {(r, θ) : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ π}. (Ver figura abaixo).

Figura 4.2: Semi-cı́rculo

Logo,
Z π Z 1 Z π
r2 1 π
e rdrdθ = (e − 1)dθ = (e − 1)
0 0 0 2 2
Exemplo 4.6.2 Calcule a integral
 
x−y
Z Z
sen dxdy,
R x+y
onde R é a região limitada pelo eixos coordenados e pela reta
y = 1 − x no primeiro quadrante.
Considere a mudança de variáveis
1 1
x = (u + v) e y = (v − u)
2 2
1
+ v), 21 (v − u) . No plano

Consideremos a função g(u, v) = 2
(u
(u, v) a reta y = 0 é u = v, a reta x = 0 é u = −v e a reta
4.6. MUDANÇA DE VARIÁVEIS 251

y = 1−x é v = 1. Isto fornece uma região limitada S (Ver figura


abaixo)

Figura 4.3: Esboço da região de integração

O jacobiano
1 1
2 2 1
Jg(u, v) = =
1 1 2

2 2
Logo,
 
x−y
Z Z Z Z u
sen dxdy = sen dudv
R x+y R v
Z Z
u
Resolvendo a integral sen( )dudv, obtemos
R v
1 1 v
Z Z u Z Z
u
sen dudv = sen dudv =
R v 2 0 −v v
Z 1
1
[−cos1 + cos(−1)]vdv = 0
2 0
Portanto
 
x−y
Z Z Z Z u
sen dxdy = sen dudv = 0.
R x+y R v
252 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

4.7 Exercı́cios
Z Z
4.1- Calcule a integral (x2 +y 2 )dxdy, onde R é um triângulo
R
com vértices (0, 0), (1, 0) e (1, 1).

4.2- Avalie
Z 1asZ integrais interadas:
2
2
(i) ex dxdy;
Z0 1 Z2y 1
(ii) ysen(πy 3 )dxdy.
0 x
Z Z
4.3- Encontre a integral dupla xydxdy, onde R é a região
R
limitada pelos gráficos das funções f (x) = x e g(x) = x3 .

4.4- (i) Seja R = [−1, 1] × [0, π2 ]. Calcule


Z Z
(xsenx − yex )dxdy
R

(ii) Seja R = [−1, 1] × [0, 2]. Calcule


Z Z p
|y − x2 |dxdy.
R

4.5- (Regra de Leibniz) Seja R = [a, b] × [c, d] e f : R → R


Z d
e para cada x ∈ [a, b] defina g(x) = f (x, y)dy. Se
c
fx (x, y) existe e é contı́nua sobre R então g(x) é dife-
Z d
0
renciável sobre [a, b] e g (x) = fx (x, y)dy.
c

4.6- Sejam f : [a, b] × [c, d] → R e D2 f contı́nuas. Definamos


Z x
F (x, y) = f (t, y)dt.
a
4.7. EXERCÍCIOS 253

(i) Determine D1 F e D2 F ;
Z g(x)
(ii) Se G(x) = f (t, x)dt, determine G0 (x).
a

4.7- Seja R = [a, b] × [c, d] e f : R →Z RZcontı́nua. Seja


y x
F : R → R definida por F (x, y) = f (u, v)dudv.
c a
Mostre que Fxy = f para todo (x, y) ∈ R.

4.8- Sejam u(x) e v(x) funções com derivadas contı́nuas para


todo x e que f (x, y) tem derivadas de parcial de primeira
ordem contı́nua para todo (x, y). Encontre a derivada da
função
Z v(x)
g(x) = f (x, y)dy.
u(x)

4.9- Sejam A ⊂ Rn um retângulo fechado e f, g : A → R


integráveis. Mostre que f g : A → R também é integrável.

4.10- Seja f : A ⊂ Rn → R uma função limitada e suponha que


A tenha Zconteúdo nulo. Mostre que f é integrável sobre
A e que f (x)dx = 0.
A

4.11- Sejam f, g : A ⊂ Rn → R funções limitadas e suponha


que f é integrável sobre A. Seja B ⊆ A tendo conteúdo
nulo e suponha que f (x) = g(x), ∀x ∈ A − B. Mostre
que g é integrável sobre A e que
Z Z
f (x)dx = g(x)dx.
A A
254 CAPÍTULO 4. INTEGRAÇÃO

Se C ⊂ Rn é um conjunto limitado de medida nula e


4.12- Z
χC dx existe, mostre que
R
Z
χC dx = 0.
R

Se f : A ⊂ Rn → R é uma função não negativa e


4.13- Z
f (x)dx = 0, mostre que
A

O = {x ∈ A : f (x) 6= 0}

tem medida nula.

4.14- Seja A = {(x, 0) : x ∈ R} ⊂ R2 . Mostre que A tem


medida nula em R2 .

4.15- Mostre que



1√
Z
2
e−x dx = π.
0 2
Capı́tulo 5

Soluções dos Exercı́cios


Propostos

5.1 Soluções do Exercı́cios do


Capı́tulo 1.
1.1- Mostre que

|kxk − kyk| ≤ kx − yk, ∀ x, y ∈ Rn

Solução: Temos

kxk = kx − y + yk ≤ kx − yk + kyk

Logo,
kxk − kyk ≤ kx − yk + kyk (5.1)

255
256CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Agora,

kyk = ky − x + xk ≤ ky − xk + kxk

Donde
kyk − kxk ≤ ky − xk = kx − yk
Multiplicando essa desigualdade por −1 vem que:

−kx − yk ≤ kxk − kyk (5.2)

De (5.1) e (5.2) tem-se que:

−kx − yk ≤ kxk − kyk ≤ kx − yk

Donde,

|kxk − kyk| ≤ ky − xk, ∀x, y ∈ Rn .

1.2- Mostre que

kx + yk2 + kx − yk2 = 2(kxk2 + kyk2 ), ∀x, y ∈ Rn .

Solução: Temos que,

kx + yk2 = hx + y, x + yi = kxk2 + 2hx, yi + kyk2 (5.3)

kx − yk2 = hx − y, x − yi = kxk2 − 2hx, yi + kyk2 (5.4)

Donde, somando membro a membro (5.3) e (5.4), obtém-


se:

kx + yk2 + kx − yk2 = 2(kxk2 + kyk2 ), ∀x, y ∈ Rn .


5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 257

1.3- Mostrar que:

kx + yk2 − kx − yk2 = 4hx, yi, ∀x, y ∈ Rn .

Solução: Temos que, subtraindo as igualdades (5.3) e


(5.4) do Exercı́cio 1.2, obtém-se

kx + yk2 − kx − yk2 = 4hx, yi, ∀x, y ∈ Rn .

1.4- Sejam x e y vetores não nulos de Rn perpendiculares. Mos-


tre que ∀c ∈ R temos que

kx + cyk ≥ kxk.

Solução: Temos que,

kx + cyk2 = hx + cy, x + cyi =

kxk2 + 2chx, yi + ckyk2 = kxk2 + c2 kyk2 ≥ kxk2 .

Usando o fato que a raiz quadrada é uma função crescente


temos:
kx + cyk ≥ kxk, ∀x, y ∈ Rn .

1.5- Sejam x, y vetores não nulos de Rn tais que: kx + cyk ≥


kxk, ∀c ∈ R. Mostre que, x e y são perpendiculares.
Solução: Temos, kx + cyk ≥ kxk, ∀c ∈ R então:

kx + cyk2 ≥ kxk2

ou seja,

kxk2 + 2chx, yi + c2 kyk2 ≥ kxk2 , ∀c ∈ R.


258CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Ou ainda,

2chx, yi + c2 kyk2 ≥ 0, ∀c ∈ R.

Portanto, o descriminante

4 = 4hx, yi2 − 4kyk2 0 ≤ 0

Ou seja,

4hx, yi2 ≤ 0 ∀x, y ∈ Rn ⇒ hx, yi = 0, ∀x, y ∈ Rn .

Portanto, x e y são ortogonais.


Exercı́cio 1.6: Seja x = (x1 , x2 , . . . , xn ) um vetor do
Rn .

1.6- Mostre que:

|xi | ≤ kxk ≤ |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |, ∀i = 1, 2, . . . , n.

Solução: Temos que,

x2i ≤ x21 + x22 + · · · + x2n , ∀i = 1, 2, . . . , n.

Usando o fato que a raiz quadrada é uma função crescente,


temos q q
xi ≤ x21 + x22 + . . . + x2n
2

Ou seja,
|xi | ≤ kxk, ∀i = 1, 2, . . . , n (5.5)
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 259

Por outro lado, x = x1 e1 + x2 e2 + . . . + xn en .


Usando a desigualdade triangular generalizada, temos:

kxk = kx1 e1 + x2 e2 + . . . + xn en k ≤
≤ kx1 e1 k + kx2 e2 k + . . . + kxn en k =
(5.6)
= |x1 |ke1 k + |x2 |ke2 k + . . . + |xn |ken k =
= |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |

pois, kei k = 1 ∀i = 1, 2, . . . , n.
De (5.5) e (5.6) segue que:

|xi | ≤ kxk ≤ |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |, ∀i = 1, 2, . . . , n.

1.7- Seja x ∈ Rn e seja 1 ≤ p < ∞. Definamos


n
! p1
X
kxkp = |xi |p
i=1

1 1
Sejam 1 < p, q < ∞ tais que p
+ q
= 1. Mostre que

|hx, yi| ≤ kxkp kykq .

Solução: Se x = 0 ou y = 0 a desigualdade acima é


trivial.
Podemos supor que x 6= 0 e y 6= 0 e colocoquemos
|xi | |yi |
ai = e bi = ∀i = 1, 2, . . . , n.
kxkp kykp
Usemos a desigualdade
api bq
ai b i ≤ + i ∀i = 1, 2, . . . , n.
p q
260CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

e obtém-se que:
|xi |p |yi |q
|xi | |yi | kxkpp kykqq
≤ +
kxkp kykp p q
Então: somando de 1 até n, obtém-se:
 p 
n n |xi | |yi |q
X |xi | |yi | X p q
 kxkp + kykq  =

i=1
kxkp kykp i=1
p q

kxkp kykq
kxkpp kykqq 1 1
+ = + =1
p q p q
Donde,
n
X
|xi ||yi | ≤ kxkp kykq
i=1
Ou seja,
n
X
|xi yi | ≤ kxkp kykq
i=1
Mas,
n
X n
X
xi y i ≤ |xi yi |
i=1 i=1
Donde temos
|hx, yi| ≤ kxkp kykq .

1.8- Sejam x, y ∈ Rn e seja 1 ≤ p < ∞. Mostre que:

kx + ykp ≤ kxkp + kykp (5.7)

Solução: (i) Se p = 1, temos


n
X n
X n
X
kx+yk1 = |xi +yi | ≤ |xi |+ |yi | = kxk1 +kyk1
i=1 i=1 i=1
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 261

(ii) Seja 1 < p < ∞. Então:

p n
X X
kx + ykpp = |xi + yi | = p
|xi + yi ||xi + yi |p−1 ≤
i=1 i=1
n
X Xn
(|xi | + |yi |)|xi + yi |p−1 = |xi ||xi + yi |+
i=1 i=1
" n
# 1q
Pn X q
i=1 |yi ||xi + yi |p−1 ≤ kxkp |xi + yi |p−1 +
i=1
Pn p−1 q q
1
kykp i=1 (|x i + y i | ) =
" n # 1q
q
X
|xi + yi |p−1

(kxkp + kykp )
i=1

Mostremos que
" n
# 1q
X q p

|xi + yi |p−1 = kx + ykpq .


i=1

De fato,
" n
# 1q " n
# 1q
X q X
|xi + yi |p−1 = |xi + yi |(p−1)q =
i=1 i=1
" n
# 1q
p
X 1
= |xi + yi |p = (kx + ykpp ) q = kx + ykpq .
i=1

Agora, temos
p

kx + ykpp ≤ (kxkp + kykp )kx + ykpq


262CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Se kx + ykp = 0 a desigualdade (5.7) é trivial.


p

Seja kx + ykp 6= 0 então kx + ykpq 6= 0 e portanto,


kx + ykpp
p ≤ kxkp + kykp
kx + ykpq
Ou seja,
p
kx + ykp− q ≤ kxkp + kykp .

Portanto, kx + ykp ≤ kxkp + kykp .

1.9- Mostre que em R2 , a igualdade do Exercı́cio 1.2, não vale


com as normas k.kM e k.kS .
Solução: Basta considerar os vetores e1 = (1, 0) e e2 =
(0, 1).

1.10- Sejam x, y ∈ Rn tais que hx, yi = 0. Mostre que:

kx + yk2 = kxk2 + kyk2 .

Solução: Temos que,

kx + yk2 = kxk2 + 2hx, yi + kyk2 = kxk2 + kyk2 ,

pois, hx, yi = 0.

1.11- Um conjunto X ⊂ Rn é dito convexo quando:

a, b ∈ X, 0 ≤ t ≤ 1 ⇒ (1 − t)a + tb ∈ X

Prove que toda bola aberta ou fechada é um conjunto


convexo.
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 263

Solução:
Seja B = B(x0 ; r) a bola aberta de centro x0 e raio r > 0
e mostremos que B é convexa.
Sejam a, b ∈ B então

kb − x0 k < r e ka − x0 k < r.

Temos ainda que, x0 = (1 − t)x0 + tx0 , ∀t ∈ [0, 1].


Logo, temos

k(1 − t)x0 + tb − x0 k =
k(1 − t)a + tb − (1 − t)x0 − tx0 k =
= k(1 − t)(a − x0 ) + t(b − x0 )k ≤
≤ (1 − t)ka − x0 k + tkb − x0 k < (1 − t)r + tr = r

Donde, temos que (1 − t)a + tb ∈ B, ∀t ∈ [0, 1].

1.12- Sejam A e B conjuntos convexos do Rn então A ∩ B é


também convexo.
Solução: Sejam x, y ∈ A ∩ B e seja t ∈ [0, 1]. Então:
x, y ∈ A e x, y ∈ B. Como A e B são convexos temos

(1 − t)x + ty ∈ A e (1 − t)x + ty ∈ B

Logo,
(1 − t)x + ty ∈ A ∩ B, ∀t ∈ [0, 1].

1.13- Seja
A = {(x, y) ∈ Rn ; y ≥ |x|}
264CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Mostre que A é um subconjunto convexo de R2 .

Solução: Sejam a, b ∈ A e t ∈ [0, 1]. Então:

a = (x1 , y1 ) com y1 ≥ |x1 | e b = (x2 , y2 ) com y2 ≥ |x2 |

Portanto,

(1 − t)a + tb = (1 − t)(x1 , y1 ) + t(x2 , y2 ) =


= ((1 − t)x1 , (1 − t)y1 ) + (tx2 , ty2 ) =
= ((1 − t)x1 + tx2 , (1 − t)y1 + ty2 ) ∈ R2

(1 − t)y1 + ty2 ≥ (1 − t)|x1 | + t|x2 | ≥ |(1 − t)x1 + tx2 |.

Logo,
(1 − t)a + tb ∈ A, ∀t ∈ [0, 1],

e portanto, A é convexo.

1.14- Seja u um vetor não nulo do Rn e seja c ∈ R. Mostre que


o conjunto dos pontos x tais que hx, ui ≥ c é convexo.

Solução: Seja

C = {x ∈ Rn ; hx, ui ≥ c}

e sejam a, b ∈ C e t ∈ [0, 1]. Então

a, b ∈ Rn e ha, ui ≥ c e hb, ui ≥ c.
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 265

Portanto, (1 − t)a + tb ∈ Rn e

h(1−t)a+tb, ui = (1−t)ha, ui+thb, ui ≥ (1−t)c+tc = c.

Assim,

(1 − t)a + b ∈ C, ∀t ∈ [0, 1] ⇒ C é convexo.

1.15- Sejam X ⊂ Rn e Y ⊂ Rn . Prove que:


(i) int(X ∪ Y ) ⊃ intX ∪ intY ;
(ii) int(X ∩ Y ) = intX ∩ intY ;
(iii) Se X = (0, 1] e Y = [1, 2) mostre que int(X ∪ Y ) 6=
intX ∪ intY.
Solução:(i) intX ∪ intY ⊂ int(X ∪ Y ).
Seja x ∈ intX ∪ intY ⇒ x ∈ intX ou x ∈ intY. Suponha
sem perda de generalidade que x ∈ intX.
Logo, existe δ > 0 tal que a bola aberta B(x; δ) ⊂ X.
Como X ⊂ X ∪ Y então:

B(X; δ) ⊂ X ∪ Y ⇒ x ∈ int(X ∪ Y ).

(ii) int(X ∩ Y ) = intX ∩ intY.


Seja x ∈ int(X ∩ Y ) então existe δ > 0 tal que a bola
aberta B(x; δ) ⊂ X ∩ Y. Portanto, temos B(x; δ) ⊂ X
e B(x; δ) ⊂ Y. Logo, x ∈ intX e x ∈ intY que implica
x ∈ intX ∩ intY.
Assim, temos

int(X ∩ Y ) ⊂ intX ∩ intY. (5.8)


266CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Seja agora, x ∈ intX ∩ intY ⇒ x ∈ intX e x ∈ intY.


Logo, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que B(x; δ1 ) ⊂ X e
B(x; δ2 ) ⊂ Y. Considere δ = min{δ1 , δ2 } então: δ > 0 e
B(x; δ) ⊂ X ∩ Y ⇒ x ∈ int(X ∩ Y ).
Assim, temos

intX ∩ intY ⊂ int(X ∩ Y ). (5.9)

De (5.8) e (5.9) temos

int(X ∩ Y ) = intX ∩ intY.

(iii) Temos, X = (0, 1] e Y = [1, 2) ⇒ X ∪ Y = (0, 2).


Portanto, int(X ∪ Y ) = (0, 2), intX = (0, 1) e intY =
(1, 2).
Assim, temos

int(X ∪ Y ) = (0, 2) 6= (0, 1) ∪ (1, 2) = intX ∪ intY.

1.16- Prove que para qualquer conjunto X ⊂ Rn tem-se

int(intX) = intX

e conclua que intX é um conjunto aberto.


Solução: (i) Temos que,

int(intX) ⊂ intX, ∀ X ⊂ Rn .

(ii) Vamos mostrar que

intX ⊂ int(intX)
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 267

Seja x ∈ intX então existe ε > 0 tal que a bola aberta


B(x; ε) ⊂ X.
Basta provarmos que:

B(x; ε) ⊂ intX ⇒ x ∈ int(intX).

Seja y ∈ B(x; ε) então: ky − xk < ε.


Agora, considere δ = ε − ky − xk então: δ > 0.
Afirmamos que:

B(y; δ) ⊂ B(x; ε) ⇒ y ∈ intX.

De fato, seja z ∈ B(y; δ) então:

kz−yk < δ ⇒ kz−xk ≤ kz−yk+ky−xk < δ+ky−xk = ε.

De (i) e (ii) temos o resultado.

1.17- Prove que para todo X ⊂ Rn vale a união disjunta:

Rn = intX ∪ int(Rn − X) ∪ F

onde, F é a fronteira de X.

Solução: Temos,

intX ⊂ Rn , int(Rn − intX) ⊂ Rn e F ⊂ Rn .

Logo,
intX ∪ int(Rn − X) ∪ F ⊂ Rn (5.10)
268CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Agora, basta mostrarmos que,

Rn ⊂ ∪int(Rn − X) ∪ F (5.11)

Seja x ∈ Rn . Suponha que, x ∈ / int(Rn − X)


/ intX, x ∈
e mostremos que x ∈ F. Se x ∈
/ intX então toda bola
aberta B de centro em x, contém ao menos um ponto de
Rn − X, pois do contrário, B ⊂ X.
/ int(Rn − X) então toda bola aberta B de centro
Se x ∈
em x contém ao menos um ponto x, pois, do contrário,
B ⊂ Rn − X.
Assim, toda bola aberta B de centro em x, contém ao
menos um ponto de X e um ponto de Rn − X.
Logo, x ∈ F. De (5.10) e (5.11) temos

Rn = intX ∪ int(Rn − X) ∪ F, ∀X ⊂ Rn

união disjunta.

1.18- Prove que para todo X ⊂ Rn tem-se: X é fechado se, e


somente se, X = X.

Solução: (⇒) Se X é fechado então f rX ⊂ X. Logo,


X = X ∪ f rX ⊂ X. Mas, X ⊂ X. Portanto, X = X.
(⇐) Se X = X então X = X ∪ f rX. Logo, f rX ⊂ X e
portanto, X é fechado.

1.19- Dizemos que um ponto x0 é aderente ao conjunto X ⊂ Rn


se x0 é limite de alguma sequência (xn ) de pontos de X.
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 269

Denotamos o conjunto dos pontos aderentes a X por X,


e chamamos fecho do conjunto X.
Mostre que x0 ∈ X se e só se toda bola aberta B de centro
em x0 contém algum ponto de X.

Solução:(⇒) Seja x0 ∈ X então x0 = lim xn onde xn ∈


X, ∀n ∈ N. Logo, dada qualquer bola aberta B de centro
em x0 temos que xn ∈ B para todo n suficientemente
grande. Assim, B ∩ X 6= ∅.
(⇐) Reciprocamente, se toda bola aberta B de centro
x0 contém pontos de X, podemos escolher em cada bola
aberta B x0 ; n1 n ∈ N, um ponto xn ∈ X. Então


1
kxn − x0 k < ⇒ lim xn = x0 ⇒ x0 ∈ X.
n

1.20- Sejam X, Y ⊂ Rn . Prove que:


(i) X ∪ Y = X ∪ Y ;
(ii) X ∩ Y ⊂ X ∩ Y ;
(iii) Use X = [0, 1) e Y = (1, 2] para provar que X ∩ Y 6=
X ∩Y.

Solução: (i) Temos,

X ⊂X e Y ⊂Y ⇒X ∪Y ⊂X ∪Y.

Como X ∪ Y é fechado, então: temos

X ∪Y ⊂X ∪Y. (5.12)
270CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Por outro lado, temos

X ⊂X ∪Y e Y ⊂X ∪Y

donde
X ⊂X ∪Y e Y ⊂X ∪Y

e portanto, temos

X ∪Y ⊂X ∪Y. (5.13)

De (5.12) e (5.13) temos (i).


(ii) Analogamente, temos

X ⊂X e Y ⊂Y ⇒X ∩Y ⊂X ∩Y

e como X ∩ Y é fechado, temos

X ∩Y ⊂X ∩Y.

(iii) Temos, X = [0, 1] e Y = [1, 2] de modo que: X∩Y =


{1}.
Temos, também, X ∩ Y = ∅ ⇒ X ∩ Y = ∅.
Assim, temos X ∩ Y 6= X ∩ Y .

1.21- Prove que para todo X ⊂ Rn tem-se que X = X ∪ X 0 ,


onde X 0 é o conjunto dos pontos de acumulação de X.
Conclua que, X é fechado se, e somente se, X ⊃ X 0 .
Solução: Mostremos que,

X ∪ X0 ⊂ X (5.14)
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 271

Seja x0 ∈ X ∪ X 0 então: x0 ∈ X ou x0 ∈ X 0 . Se x0 ∈ X
então x0 ∈ X. Seja x0 ∈ X 0 então toda bola aberta B
de centro em x0 contém um ponto x ∈ X x 6= x0 . Logo,
toda bola aberta B de centro x0 contém um ponto de X.
Pelo Exercı́cio 1.19, temos que x0 ∈ X.
Mostraremos agora que

X ⊂ X ∪ X 0. (5.15)

/ X 0 . (Se x0 ∈ X 0 e
Seja x0 ∈ X e suponha que x0 ∈
resultado é óbvio)
Vamos mostrar que x0 ∈ X.
(∗)1 Como x0 ∈ X então: pelo Exercı́cio 1.19, tem-se que,
toda bola aberta B de centro em x0 , contém ao menos um
ponto de X.
/ X 0 , segue que existe uma bola aberta
(∗)2 Como x0 ∈
B de centro em x0 que não contém ponto algum de X
diferente de x0 .
Como por (∗)1 B tem que conter um ponto de X, por (∗)2
esse ponto não pode ser diferente de x0 . Segue que, B tem
que conter x0 , ou seja, x0 ∈ X.
Então: temos

0
 x0 ∈ X


x0 ∈ X ⇒ ou ⇒ x0 ∈ X ∪ X 0 .

 x ∈ 0
0 / X ⇒ x0 ∈ X

De (5.14) e (5.15) temos X = X ∪ X 0 .


272CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Temos ainda,

X f echado ⇔ X = X ⇔ X = X ∪ X 0 ⇔ X ⊃ X 0 .

1.22- Prove que se X ⊂ Rm e Y ⊂ Rn então:

X × Y = X × Y em Rm+n

Solução: Temos que,

(x0 , y0 ) ∈ X × Y ⇔ (x0 , y0 ) = lim(xk , yk )

com (xk , yk ) ∈ X × Y, ∀k ∈ N ⇔ x0 = lim xk e y0 =


lim yk ⇔ x0 ∈ X e y0 ∈ Y ⇔ (x0 , y0 ) ∈ X × Y .
Donde temos,
X ×Y =X ×Y.

1.23- Prove que o fecho de um conjunto convexo é convexo.


Solução: Seja S ⊂ Rn um conjunto convexo e sejam
a, b ∈ S e 0 ≤ t ≤ 1. Então existem sequências (ak ) e (bk )
tais que:
lim ak = a e lim bk = b.
Como (ak ) e (bk ) estão em S e S convexo, então:

(1 − t)ak + tbk ∈ S, ∀k ∈ N e ∀t ∈ [0, 1].

Logo,

lim{(1 − t)ak + tbk } = (1 − t) lim ak +

t lim bk = (1 − t)a + tb ∈ S
Assim, S é convexo.
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 273

1.24- Sejam A ⊂ Rn e a ∈ A. Prove que se lim xk = a então


existe k0 ∈ N tal que k > k0 ⇒ xk ∈ A.

Solução: Como A é aberto e a ∈ A então: existe ε > 0


tal que B(a; ε) ⊂ A. Agora, se lim xk = a então: existe
k0 ∈ N tal que k > k0 ⇒ xk ∈ B(a; ε). Logo, existe
k0 ∈ N tal que k > k0 ⇒ xk ∈ A.

1.25- Prove que se E ⊂ Rn é conexo então: E também é conexo.


A recı́proca é verdadeira? Justifique sua resposta.

Solução: Mostremos inicialmente que se G é aberto e


G ∩ E 6= ∅ então: G ∩ E 6= ∅.
De fato, seja x ∈ G ∩ E então existe δ > 0 tal que

B(x; δ) ⊂ G e B(x; δ) ∩ E 6= ∅ ⇒ G ∩ E 6= ∅.

Agora, suponha que E não é conexo, então existem abertos


G1 e G2 não vazios tais que:

G1 ∩E 6= ∅, G2 ∩E 6= ∅, G1 ∩G2 ∩E = ∅ e G1 ∪G2 ⊃ E.

Portanto, temos que G1 ∩ E 6= ∅, G2 ∩ E 6= ∅, G1 ∩ G2 ∩


E = ∅ e G1 ∪ G2 ⊃ E. Logo, E não é conexo.
A reciproca não é verdadeira, basta considerar E = (0, 1)∪
(1, 2) que não é conexo. Entretanto, E = [0, 2] é conexo.

1.26- Mostre que o subconjunto

{(x, y); x = 0, −1 ≤ y ≤ 1}∪


274CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
  
1
(x, y); 0 < x ≤ 1, y = sen
x
de R2 é conexo.
Solução: Seja a função f : (0, 1] → R2 tal que f (x) =
x, sen x1 . Então f é contı́nua. Desde que (0, 1] é co-


nexo então o conjunto


  
1
E = (x, y); 0 < x ≤ 1, y = sen
x
é conexo. Mas, sendo E conexo então

E = E ∪ {(x, y); x = 0, −1 ≤ y ≤ 1}

é também conexo.

1.27- Mostre que se uma sequência de Cauchy (xk ) em Rn tem


uma subsequência (xik ) convergente então (xk ) é conver-
gente.
Solução: Seja x0 = lim xik então: ∀ε > 0 existe N ∈ N
tal que:
ε
ik ≥ N ⇒ kxik − x0 k < .
2
Por outro lado, (xk ) é de Cauchy e ik ≥ k, ∀k ∈ N então
temos
ε
kxk − xik k < , ∀k ≥ N.
2
Portanto,
ε ε
kxk −x0 k ≤ kxk −xik k+kxik −x0 k < + = ε se k ≥ N.
2 2
Logo, (xk ) converge para x0 .
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 275

1.28- Seja (xk ) uma sequência em Rn .

Se kxk k → kxk e hxk , xi → hx, xi então xk → x.

Solução: Temos que,

kxk −xk2 = hxk −x, xk −xi = kxk k2 −2hxk , xi+kxk2 → 0,

pois
limhxk , xi = kxk2 e lim kxk k2 = kxk2 .

Donde,

lim kxk − xk2 = 0 ⇒ lim kxk − xk = 0.

Ou seja, xk → x.

1.29- Mostre que se K e L são subconjuntos compactos de Rm


e Rn respectivamente, então: K × L ⊂ Rm+n é compacto.
Solução: Seja (xk , yk ) uma sequência em K × L. Então:
(xk ) é uma sequência em K e (yk ) é uma sequência em
L. Desde que K e L são compactos (xk ) possui uma sub-
sequência (xik ) que converge para x ∈ K e (yk ) possui
uma subsequência (yik ) que converge para y ∈ L. Logo, a
sequência (xk , yk ) possui uma subsequência (xik , yik ) que
converge para (x, y) ∈ K × L.
Portanto, K × L é compacto.

1.30- Mostre que a interseção de uma famı́lia qualquer de con-


juntos compactos Kλ ⊂ Rn é um conjunto compacto.
276CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Solução: Seja E uma coleção de conjuntos compactos


Kλ ⊂ Rn . Desde que, cada Kλ ∈ E é compacto então Kλ
\
é fechado e portanto, H = é um subconjunto fechado
Kλ ∈E
de Rn . Agora, seja Eλ ∈ E qualquer, então: H ∩ Eλ = H
é um compacto de Rn .

1.31- Seja E ⊂ Rn e seja c ∈ Rn . Define-se a distância de c até


E que indicamos por d(c, E) pondo

d(c, E) = inf kc − xk.


x∈E

(i) Prove que, f (x) = d(x, E) é uniformemente contı́nua;


(ii) Prove que d(x, E) = 0 ⇔ x ∈ E.
Solução: (i) Temos que,

inf kx−zk ≤ inf {kx−yk+ky−zk} = kx−yk+ inf ky−zk,


z∈E z∈E z∈E

ou seja,
d(x, E) ≤ kx − yk + d(y, E)

Ou ainda,

d(x, E) − d(y, E) ≤ kx − yk (5.16)

Analogamente, prova-se que:

d(y, E) − d(x, E) ≤ ky − xk

Ou seja,
−kx − yk ≤ d(x, E) − d(y, E) (5.17)
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 277

De (5.16) e (5.17) segue que,

|d(x, E) − d(y, E)| ≤ kx − yk, ∀x, y ∈ E.

Ou seja,

|f (x) − f (y)| ≤ kx − yk, ∀x, y ∈ E.

De onde segue que, f é uniformemente contı́nua em E.


(ii) Temos que,

d(x, E) = 0 ⇔ toda bola B(x; ε) contém

um ponto deE ⇔ x ∈ E.

1.32- Dados A ⊂ Rn e B ⊂ Rn define-se a distância entre A e


B que denota-se por d(A, B), pondo-se

d(A, B) = inf kx − yk.


x∈A
y ∈B

Prove que se A e B são compactos então existem pontos


a ∈ A e b ∈ B tal que

d(A, B) = ka − bk.

Solução: Existem sequências (xk ) em A e (yk ) em B tais


que
kxk − yk k → d(A, B).
Como A e B são compactos, (xk ) possui uma subsequência
(xνk ) tal que xνk → a ∈ A e (yk ) possui uma sub-
sequência (yνk ) tal que yνk → b ∈ B. Então, temos
278CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

lim kxνk − yνk k = d(A, B) e usando o fato que a função


k→∞
k.k é contı́nua, temos ka − bk = d(A, B).

1.33- (i) Sejam A e B subconjuntos do Rn , sendo A compacto


e B fechado. Prove que d(A, B) > 0.
(ii) Dê exemplo de dois subconjuntos fechados A e B tais
que d(A, B) = 0.

Solução: (i) Suponha que, d(A, B) = 0 então existem


(xk ) em A e (yk ) em B tais que lim kxk − yk k = 0.
Como A é compacto então (xk ) possui uma subsequência
(xνk ) tal que xνk → a ∈ A. Então (yk ) possui uma sub-
sequência (yνk ) tal que yνk → b e desde que B é fechado,
b ∈ B. Logo, 0 = lim kxνk − yνk k = ka − bk, o que implica
a = b.
Portanto, A ∩ B 6= ∅, que é uma contradição.
(ii) Em R2 com a métrica usual, considere os conjuntos

A = {(x, y) ∈ R2 ; y = 0} e B = {(x, y) ∈ R2 ; xy = 1}

É claro que, A e B são subconjuntos fechados do R2 e


d(A, B) = 0.
1
De fato, dado ε > 0 existe k ∈ N tal que: k
< ε. Daı́,
tomando-se a = (k, 0) e b = (k, k1 ) temos

1
d(a, b) = < ε, ∀ε > 0.
k

Logo, existem a ∈ A e b ∈ B tais que d(a, b) = 0.


5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 279

1.34- Sejam A e B subconjuntos de Rn , e consideremos

A + B = {x + y; x ∈ A e y ∈ B}

Prove que:
(i) Se A ou B é aberto então A + B é aberto.
(ii) Se A e B são compactos então A + B é compacto.
(iii) Se A é compacto e B é fechado então: A + B é
fechado.
Solução: (i) Seja a ∈ A e desde que A é aberto, existe
ε > 0 tal que B(a; ε) ⊂ A. Agora, B(a; ε) + {b} é um
conjunto aberto. Desde que, união qualquer de abertos é
aberto e
[
A+B = {B(a; ε) + {b}}
a∈A
b∈B

então: A + B é um conjunto aberto.


(ii) Considere a função ϕ : Rn × Rn → Rn tal que
ϕ(x, y) = x + y. Então ϕ é contı́nua e sua restrição ϕ|A×B
é contı́nua. Desde que A × B é compacto e ϕ(A × B) =
A + B então: A + B é compacto.
(iii) Seja z ∈ A + B então existe uma sequência (zk ) em
A + B tal que zk → z. Desde que, (zk ) está em A + B
então: zk = xk + yk onde, xk ∈ A e yk ∈ B, ∀k ∈ N.
Como A é compacto então (xk ) possui uma subsequência
(xνk ) tal que xνk → x ∈ A. Logo,

lim yνk = lim zνk = lim zνk − lim xνk = z − x = y ∈ B,


280CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

pois, B é fechado.
Assim, z = x + y com x ∈ A e y ∈ B o que acarreta que
z ∈ A + B.
Portanto, A + B ⊂ A + B e como A + B ⊂ A + B então
A + B é fechado.

1.35- Prove que A ⊂ Rn é aberto se, e somente se: A∩f r(A) =


∅.
Solução: (⇒) Sabemos que,

Rn = intA ∪ int(Rn − A) ∪ f r(A)

sendo essa união disjunta.


Logo,
A ∩ f r(A) = intA ∩ f r(A) = ∅.

(⇐) Reciprocamente, suponha que A não é aberto. Logo,


existe x ∈ A tal que x não é ponto interior de A. Portanto,
toda vizinhança de x contém pontos de Rn −A. Logo, toda
vizinhança de x, contém pontos de A e pontos de Rn − A.
Donde, f r(A) ∩ A 6= ∅ o que é uma contradição.

1.36- Mostre que a esfera unitária

S = {x ∈ Rn ; kxk = 1}

é um conjunto compacto de Rn .
Solução: Seja (xk ) uma sequência em S então: (xk )
está em Rn e kxk k = 1 ≤ 1, ∀k ∈ N. Pelo Teorema de
5.1. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1. 281

Bolzano-Weierstrass (xk ) possui uma subsequência (xνk )


convergente. Donde, S é compacto.

1.37- Prove que: lim xk = x em Rn se, e somente se, limhxk , yi =


hx, yi, ∀ ∈ Rn .

Solução: (⇒) Temos que, lim kxk − xk = 0.


Agora,
hxk , yi − hx, yi = hxk − x, yi

e, usando a desigualdade de Cauchy, temos

|hxk , yi − hx, yi| = |hxk − x, yi| ≤ kxk − xkkyk, ∀y ∈ Rn .

Como lim kxk − xk = 0 então lim |hxk , yi − hx, yi| =


0, ∀y ∈ Rn que implica limhxk , yi = hx, yi, ∀y ∈ Rn .

(⇐) Reciprocamente, se

limhxk , yi = hx, yi, ∀y ∈ Rn

então
limhxk − x, yi = 0, ∀y ∈ Rn .

Em particular, temos

limhxk − x, xk − xi = 0 ⇒ lim kxk − xk2 = 0 ⇒

lim kxk − xk = 0 ⇒ xk → x em Rn .
282CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

5.2 Soluções dos Execı́cios do


Capı́tulo 2
2.1- Sejam A e B subconjuntos fechados e disjuntos de Rn .
Mostre que existe uma função contı́nua ϕ : Rn → R tal
que (
0, se x ∈ A
ϕ(x) =
1, se x ∈ B
e
0 ≤ ϕ(x) ≤ 1, ∀x ∈ Rn .

Solução: Definamos a função ϕ : Rn → R pondo-se:


d(x, A)
ϕ(x) =
d(x, A) + d(x, B)
Então: ϕ(x) = 0 se x ∈ A e ϕ(x) = 1 se x ∈ B.
Agora,
0 ≤ d(x, A) ≤ d(x, A) + d(x, B)

Donde,
d(x, A)
0≤ ≤ 1, ∀x ∈ Rn ,
d(x, A) + d(x, B)
ou seja, 0 ≤ ϕ(x) ≤ 1, ∀x ∈ Rn . Além disso, ϕ é contı́nua.

2.2- Mostre que f : S ⊂ Rm → Rn é contı́nua se, e somente


se, f −1 (F ) é fechado em S, para todo F ⊂ Rn fechado.
Solução: Seja A = Rn − F então A é aberto em Rn e
f −1 (A) = S − f −1 (S)
5.2. SOLUÇÕES DOS EXECÍCIOS DO CAPÍTULO 2 283

(⇒) Suponha que, f é contı́nua então: f −1 (A) é aberto


em S. Logo, f −1 (F ) é fechado em S.
(⇐) Reciprocamente, suponha que f −1 (F ) é fechado em
S então S − f −1 (F ) é aberto em S e portanto, f −1 (A) é
aberto em S, implicando que f é contı́nua.

2.3- Seja E um espaço normado. Mostre que toda aplicação


linear T : Rm → E é contı́nua.
Solução: Seja β = {e1 , e2 , . . . . . . , em } a base canônica
de Rm e seja c = m
P
i=1 |T ei |E . Dado o ponto

m
X
x = (x1 , x2 , . . . , xm ) = xi ei em Rm
i=1
Pm
então: T x = i=1 xi T ei . Logo, temos
m
X
|T x|E ≤ |xi ||T ei |E ≤ ckxk, ∀x ∈ Rm .
i=1

Donde,

|T x − T y|E = |T (x − y)|E ≤ ckx − yk,

para todo x, y ∈ E, assim, T é contı́nua.

2.4- Seja f : Rm → Rn uma função linear. Mostre que f é


injetiva ⇔ ∃K > 0 tal que kf (x)k ≥ kkxk, ∀x ∈ Rm .
Solução: (⇐) Como f é linear então:

kf (x) − f (y)k = kf (x − y)k ≥ kkx − yk, ∀x, y ∈ Rn .


284CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Logo, f (x) = f (y) ⇒ kx − yk = 0 ⇒ x = y ⇒ f é


injetiva.
(⇒) Temos que, f : Rm → Rn é contı́nua e portanto,
kf k : Rn → R também é contı́nua. Consideremos a esfera
unitária compacta de Rn

S = {x ∈ Rn ; kxk = 1}

Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass existe x0 ∈ S tal


que:
kf (x0 )k = k = inf{kf (x)k; x ∈ S}

Como f é injetiva então: k = kf (x0 )k > 0. Logo,

kf (x)k ≥ k > 0, ∀x ∈ S.

x x
Mas, se x ∈ Rn e x 6= 0 então kxk
∈ S ⇒ k kxk k = 1
x
⇒ kxk
∈ S e pela linearidade de f, temos
 
1 x
f (x) = f ≥ k, ∀x 6= 0.
kxk kxk

Como essa deigualdade é trivial se x = 0, então: temos

f (x) ≥ kkxk, ∀x ∈ Rn .

2.5- Mostre que toda função f : Rn → R linear é da forma


f (x) = hx, yi, ∀y ∈ Rn . 1

1
Este resultado é conhecido como Teorema de Riesz em dimensão
finita.
5.2. SOLUÇÕES DOS EXECÍCIOS DO CAPÍTULO 2 285

Solução: Seja β = {e1 , e2 , . . . en } a base canônica de Rn .


Seja x ∈ Rn . Então:

x = x1 e1 + x2 e2 + . . . + xn en

Logo,

f (x) = x1 f (e1 ) + x2 f (e2 ) + . . . + xn f (en )

Seja yi = f (ei ), i = 1, 2, . . . , n. Então:

f (x) = x1 y1 + x2 y2 + . . . + xn yn

Ou seja, f (x) = hx, yi, y ∈ Rn .

2.6- Seja f : Rn → R linear. Mostre que f transforma sequências


de Cauchy em Rn em sequências de Cauchy de números
reais.
Solução: Sendo f linear ela é da forma: f (x) = hc, xi, c ∈
Rn .
Donde, usando a desigualdade de Cauchy, temos:

|f (x)| = |hc, xi| ≤ kckkxk = αkxk

onde α = kck > 0. Logo,

|f (x) − f (y)| ≤ αkx − yk, ∀x, y ∈ Rn .

Seja (xk ) um sequência de Cauchy em Rn . Então: ∀ε > 0


existe N ∈ N tal que k, l > N tem-se
ε
kxk − xl k < .
2
286CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Mas,
|f (xk ) − f (xl )| ≤ αkxk − xl k.

Logo, se k, l > N tem-se que:


ε
|f (xk ) − f (xl )| ≤ α =ε
α
e portanto, (f (xk )) é de Cauchy.

2.7- Prove que a função f : Rn → R tal que f (x) = kxk é


uniformemente contı́nua.

Solução: Use o fato que,|kxk − kyk| ≤ kx − yk, ∀x, y ∈


Rn . Logo, dado ε > 0 tome δ = ε e temos

kx − yk < δ ⇒ |f (x) − f (y)| ≤ kx − yk < δ = ε.

Portanto, f é uniformemente contı́nua.

2.8- Seja f : Rm → Rn contı́nua. Dada uma sequência (xk ) de


pontos de Rn com lim xk = a ∈ Rm e kf (xk )k ≤ c para
algum c > 0 e ∀k ∈ N, prove que, kf (a)k ≤ c.

Solução: Como f é contı́nua e lim xk = a então:

lim f (xk ) = f (a).

Agora, usando o fato que a norma é uma função contı́nua,


temos

kf (a)k = k lim f (xk )k = lim kf (xk )k ≤ c.


5.2. SOLUÇÕES DOS EXECÍCIOS DO CAPÍTULO 2 287

2.9- Considerando as sequências


 
1
xk = k, e yk = (k, 0) em R2 ,
k
prove que, a aplicação ϕ : R2 → R definida por ϕ(x, y) =
xy não é uniformemente contı́nua.
Solução: Temos,
s   r
1 1
kxk − yk k = (k − k)2 + −0 = =
k k2
1
→ 0 quando k → ∞.
k
Entretanto, |ϕ(xk ) − ϕ(yk )| = 1 6→ 0.
Logo, ϕ não é uniformemente contı́nua.

2.10- Seja T ∈ L(Rm , Rn ) onde, Rm e Rn estão munidos da


norma euclidiana. Prove que:

kT k = inf{c > 0; kT xk ≤ ckxk, ∀x ∈ Rn }.

Solução: Consideremos o conjunto

A = {c > 0; kT xk ≤ ckxk, ∀x ∈ Rn }

Desde que, kT k ∈ A então

kT k ≥ inf c (5.18)
c∈A

Por outro lado, consideremos x 6= 0 e c ∈ A então temos


kT xk kT xk
≤ c ⇒ sup ⇒ kT k ≤ c, ∀c ∈ A.
kxk x6=0 kxk
288CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Portanto,
kT k ≤ inf c (5.19)
c∈A
De (5.18) e (5.19) temos

kT k = inf A = inf{c > 0; kT xk ≤ ckxk, ∀x ∈ Rn }

2.11- Prove que f : Rn → Rm é contı́nua se, e somente se:


∀X ⊂ Rn tem-se f (X) ⊂ f (X).
Solução: (⇒) Seja y ∈ f (X) então existe x ∈ X tal que
y = f (x).
Como x ∈ X então existe uma sequência (xk ) em X tal
que:
xk → x
e como f é contı́nua, temos

f (xk ) → f (x).

Logo, existe uma sequência (f (xk )) em f (X) tal que:

f (xk ) → y ⇒ y ∈ f (X).

(⇐) Suponha que f é descontı́nua no ponto a ∈ Rn . Então


existem ε > 0 e uma sequência (xk ) com lim xk = a e
kf (xk ) − f (a)k ≥ ε, ∀n ∈ N. Então pondo-se

X = {x1 , x2 , . . . , xk , . . .}

temos a ∈ X, mas f (a) ∈


/ f (X).
Logo f (X) 6⊂ f (X), para algum X ⊂ Rn . Assim, se ∀X ⊂
Rn tem-se f (X) ⊂ f (X) então f é contı́nua.
5.2. SOLUÇÕES DOS EXECÍCIOS DO CAPÍTULO 2 289

2.12- Seja f : Rn → R uma função contı́nua e tal que

lim f (x) = +∞.


kxk→+∞

Mostre que existe x0 ∈ Rn tal que

f (x0 ) < f (x), ∀x ∈ Rn .

Solução: Seja a ∈ Rn então existe R > 0 tal que a ∈


B[a; R] e kxk > R acarreta f (x) > f (a). Temos ainda
que, f |B[a,R] é contı́nua e como B[a, R] é compacto então
f |B[a,R] assume um mı́nimo em um ponto x0 ∈ B[a, R].
Como f (x0 ) ≤ f (a) e f (a) < f (x) então

f (x0 ) < f (x), ∀x ∈ Rn .

Ou seja, f assume um mı́nimo em x0 ∈ Rn .

2.13- Seja f : Rn → R uma função contı́nua e seja α ∈ R.


Consideremos os seguintes conjuntos:
(i) A = {x ∈ Rn ; f (x) > α};
(ii) B = {x ∈ Rn ; f (x) = α};
(iii) C = {x ∈ Rn ; f (x) ≥ α}.
Mostre que (i) A é aberto, (ii) B é fechado, (iii) C é
fechado.
Solução: (i) Temos que, A = f −1 (α, +∞) e como f é
contı́nua e (α, ∞) é aberto então: A é aberto.
(ii) Temos que, B = f −1 {α} e como f é contı́nua e {α}
290CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

é fechado então: B é fechado.


(iii) Use o fato que, C = f −1 ([α, +∞)), f é contı́nua e
[α, +∞) é fechado.

2.14- Seja A ⊂ R limitado e f : A ⊂ R → R contı́nua. Então


f (A) necessariamente é limitado? Se sua resposta for ver-
dadeira prove e se falsa dê um exemplo.

2.15- Seja f : A ⊂ Rn → R uma função e a um ponto de


acumulação de A. Se lim f (x)x→a = b > c, mostre que
existe um δ > 0 tal que

f (x) > c, ∀x ∈ Bδ (a) − {a} ∩ A.

2.16- Mostre que a função det : Mn×n (R) → R é uma uma


aplicação contı́nua.

2.17- Denotamos por GLn×n (R) o conjunto das matrizes in-


vertı́veis com entradas reais de Mn×n (R). Mostre que

GLn×n (R)

é um conjunto aberto.

2.18- Mostre que a função f : N → R é contı́nua.

2.19- Seja f : A ⊂ R → Rm contı́nua. Se para todo a ∈ A


existe lim f (x), então a função F : A → Rm dada por
x→a

 f (y), se y ∈ A
F (x) =
 lim f (x), se y ∈ A − A
x→y
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 291

é contı́nua.

2.20- Seja A ⊂ RN e a um ponto de acumulação de A. Dadas


as funções f, g : A → R com lim f (x) = 0, e g é limitada
x→a
em A ∩ Bδ (a) com δ > 0. Mostre que lim f (x)g(x) = 0.
x→a

5.3 Soluções do Exercı́cios do


Capı́tulo 3.
3.1- Dada a função f : A ⊂ Rm → Rn , a função kf k : A → R
é definida por

kf k(x) = kf (x)k, x ∈ A.

Prove que, se f é diferenciável no ponto x0 ∈ X, então


assim é o kf k. Solução:
Seja g : Rn → R definida por
q
g(x) = kxk = x21 + · · · + x2n .
∂g 1
Temos que = p 2 , i = 1, . . . , n, existe
∂xi 2 x1 + · · · + x2n
e são contı́nuas, exceto no ponto 0 = (0, . . . , 0). Logo, pelo
Teorema 3.20 g é diferenciável em Rn − 0. Agora note que
kf k(x) = (g ◦ f )(x). Portanto, kf k é diferenciável em x0
se Df (x0 ) existe e f (x0 ) 6= 0.

3.2- Uma função f ∈ C 2 (R2 ) é homogênea de grau n, onde n


é um inteiro não negativo, se f (tx, ty) = tn f (x, y) para
292CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

todo x, y e t. Prove que:


(i) xf1 (x, y)+yf2 (x, y) = nf (x, y) para todo (x, y) ∈ R2 ;
(ii)

x2 f11 (x, y) + 2xyf12 (x, y) + y 2 f22 (x, y) = n(n − 1)f (x, y)

para todo (x, y) ∈ R2 .


Solução: (i) Pela Regra da Cadeia, obtemos

xf1 (tx, ty) + yf2 (tx, ty) = ntn−1 f (x, y), (5.20)

onde f1 e f2 são as derivadas parciais de f.


Considerando t = 1 na equação (5.20) obtemos

xf1 (x, y) + yf2 (x, y) = nf (x, y)

(ii) Derivando a equação (5.20) em ambos os membros e


usando a Regra de Cadeia, obtemos

x(x)f11 (tx, ty) + x(y)f12 (tx, ty)+

y(x)f21 (tx, ty) + y(y)f22 (tx, ty) = n(n − 1)tn−2 f (x, y)

Usando o fato que f12 = f21 , pois f é de classe C 2 (R2 ),


obtemos

x2 f11 (tx, ty) + 2xyf12 (tx, ty)+


(5.21)
y 2 f22 (tx, ty) = n(n − 1)tn−2 f (x, y)

Considerando t = 1 na equação (5.21), obtemos

x2 f11 (x, y)+2xyf12 (x, y)+y 2 f22 (x, y) = n(n−1)f (x, y).
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 293

3.3- Seja A ⊂ Rn tal que tx ∈ A sempre que x ∈ A e t > 0. A


função g : A → Rm é dita homogênea de grau α, onde α
é real se

g(tx) = tα g(x) para todo x ∈ A e t > 0.

Seja A um aberto e seja g uma função diferenciável em


todos os pontos de A.
(i) Mostre que, se g é homogênea de grau α, então cada
função Di g : A → Rm é homogênea de grau α − 1;
(ii) Prove que uma condição necessária e suficiente para g
ser homogênea de grau α é que

Dg(x)(x) = αg(x) para todo x ∈ A.

Solução: (i) Para cada t > 0 definimos ψ : A → R por


ψ(x) = g(tx) = tα g(x).
Então
Di ψ(x) = tDi g(tx) = tα Di g(x)
o que implica

Di g(tx) = tα−1 Di g(x).

Portanto, Di g, i = 1, . . . , n é homogênea de grau α − 1.


(ii) (⇒) Suponhamos que g é homogênea de grau α. Para
x ∈ A fixado, definamos φ : (0, ∞) → Rn por φ(t) =
g(tx) e f : (0, ∞) → Rn por f (t) = tx. Então φ = g ◦ f
e pela Regra da Cadeia, temos

φ0 (t) = Dg(f (t))f 0 (t) = Dg(tx)x


294CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

e por outro lado

φ0 (t) = αtα−1 g(x).

Logo,
αtα−1 g(x) = Dg(tx)x,

e tomando t = 1 nesta última igualdade, obtemos

Dg(x)x = αg(x).

(⇐) Temos

tφ0 (t) = tDg(tx)(x) = Dg(tx)(tx) = αg(tx) = αφ(t).

Assim, para t > 0, obtemos


d −α
(t φ(t)) = 0,
dt
isto é, t−α φ(t) = C onde C é uma constante. Tomando
t = 1, obtemos C = φ(1) = g(x) o que implica

g(tx) = φ(t) = tα g(x).

Portanto, g é homogênea de grau α.

3.4- Seja f : R2 − {(0, 0)} → R2 definida por f (x, y) =


(x, y)
onde α ∈ R. Use a transformação polar p :
k(x, y)kα
R2 → R2 definida por

(x, y) = p(r, θ) = (rcosθ, rsenθ), (r, θ) ∈ R2


5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 295

para provar que Jf (x, y) = (1 − α)k(x, y)k−2α .


Solução: Notemos inicialmente, que r = k(x, y)k.
Temos

(f ◦ p)(r, θ) = (r1−α cosθ, r1−α senθ)

e portanto,
!
(1 − α)r−α cosθ (1 − α)r−α senθ
 
∂(f ◦ p)i
=
∂xj −r1−α senθ r1−α cosθ

o que implica J(f ◦p)(r, θ) = (1−α)r1−2α . Como Jp(r, θ) =


re

J(f ◦ p)(r, θ) = Jf (rcosθ, rsenθ)Jp(r, θ),

temos

Jf (x, y) = Jf (rcosθ, rsenθ) = (1 − α)r−2α =

(1 − α)k(x, y)k−2α

3.5- A função f : R3 → R3 é dada por

f (x) = (f1 (x), f2 (x), f3 (x))

sendo

f1 (x) = x1 − x1 x2 , f2 (x) = x1 x2 − x1 x2 x3 ,

f3 (x) = x1 x2 x3 ,
296CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

onde x = (x1 , x2 , x3 ) ∈ R3 .
Prove que f é injetiva em A = R3 − {x : x1 x2 = 0} e
encontre B = f (A). Mostre também que f −1 : B → R3 é
diferenciável and calcule o Jf −1 (y) para todo y ∈ B.
Solução: Sejam x = (x1 , x2 , x3 ) e f (x) = (y1 , y2 , y3 ).
Como f1 (x) = x1 −x2 x3 , f2 (x) = x1 x2 −x1 x2 x3 e f3 (x) =
x1 x2 x3 , obtemos x1 = y1 + y2 + y3 . Note que y2 + y3 =
y2 +y3
x1 x2 , o que implica x2 = y1 +y2 +y3
. Também temos y3 =
y3
x1 x2 x3 = x3 (y2 + y3 ), o que implica x3 = y2 +y3
.
Como x2 x3 6= 0, devemos ter y1 +y2 +y3 6= 0 e y2 +y3 6= 0.
Portanto,

B = {(y1 , y2 , y3 ) : y1 + y2 + y3 6= 0 e y2 + y3 6= 0}.

Seja x = f −1 (y), onde

y2 + y3
f1−1 (y) = y1 + y2 + y3 , f2−1 (y) =
y1 + y2 + y3

y3
f −1 (y) = .
y2 + y3
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 297

Temos que

∂f1−1 ∂f1−1 ∂f1−1


(y) = 1, (y) = 1, (y) = 1
∂y1 ∂y2 ∂y3
∂f2−1 y2 + y3
(y) = −
∂y1 (y1 + y2 + y3 )2
∂f2−1 (1 + y3 )(y1 + y2 + y3 ) − (y2 + y3 )
(y) =
∂y2 (y1 + y2 + y3 )2
∂f2−1
(y) =
∂y3
(1+y2 )(y1 +y2 +y3 )−(y2 +y3 )(1+y1 +y2 )
(y1 +y2 +y3 )2

∂f3−1
(y) = 0
∂y1
∂f3−1 −y3
(y) =
∂y2 (y2 + y3 )2
∂f3−1 y2
(y) =
∂y3 (y2 + y3 )2

Como as derivadas parciais de f −1 existem e são contı́nuas,


então f −1 é diferenciável.

3.6- Supondo que z = F (x, y) tem derivadas parciais de se-


gunda ordem contı́nuas e que x = au + bv, y = cu + dv,
onde a, b, c, d são constantes, encontre:

∂z ∂z ∂ 2 z ∂ 2 z ∂ 2z
, , , e .
∂u ∂v ∂u2 ∂u∂v ∂v 2
298CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Solução: Temos
∂z ∂x ∂y
= Fx + Fy = aFx + bFy
∂u ∂u ∂v
∂z ∂y ∂y
= Fx + Fy = cFx + dFy
∂v ∂u ∂v

Temos
∂ 2z
 
∂ ∂z ∂ ∂x
2
= = (aFx + bFy ) +
∂u ∂u ∂u ∂x ∂u

+ ∂y (aFx + bFy ) ∂x
∂v
= (aFxx + bFyy )a + (aFxy + bFyy )b =
= a2 Fxx + abFxy + b2 Fyy

pois f é de classe C 2 .
Analogamente, obtemos
∂ 2z
2
= b2 Fxx + 2cdFxy + d2 Fyy .
∂v
Temos
∂ 2z
 
∂ ∂z ∂ ∂x
= = (cFx + dFy ) +
∂u∂v ∂u ∂v ∂x ∂u
∂ ∂x
(cFx + dFy ) == (cFxx + dFxy )a + (cFxy + dFyy )b =
∂y ∂v
acFxx + adFxy + bcFxy + bdFyy .

3.7- A equação de Laplace é dada por


∂ 2z ∂ 2z
+ =0
∂x2 ∂y 2
Encontre a equação de Laplace em coordenadas polares
(r, θ) onde x = rcosθ e y = rsenθ.
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 299

Solução: Sejam x = rcosθ e y = rsenθ. Pela Regra da


Cadeia, obtemos
∂z ∂z ∂r ∂v ∂θ
= + (5.22)
∂x ∂r ∂x ∂θ ∂x
e
∂z ∂z ∂r ∂v ∂θ
= + (5.23)
∂y ∂r ∂y ∂θ ∂y
Note que r e θ são funções de x e y. Logo diferenciando a
equação (5.22) em relação a x obtemos
∂θ ∂r

 1 = −rsenθ
 + cosθ
∂x ∂x

 0 = rcosθ ∂θ ∂r
+ senθ
∂x ∂x
Resolvendo o sistema acima obtemos
∂θ senθ ∂r
=− e = cosθ. (5.24)
∂x r ∂x
Agora diferenciando a equação (5.23) em relação a y ob-
temos
∂θ ∂r

 0 = −rsenθ ∂y + cosθ ∂y

 ∂θ ∂r
 1 = rcosθ
 + senθ
∂y ∂y
Resolvendo o sistema acima obtemos
∂θ cosθ ∂r
= e = senθ. (5.25)
∂y r ∂y
Substituindo (5.24) e (5.25)
∂z ∂z senθ ∂z
= cosθ − (5.26)
∂x ∂r r ∂θ
300CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

e
∂z ∂z cosθ ∂z
= senθ + (5.27)
∂y ∂r r ∂θ
Agora derivando (5.26) em relação a x e usando a Regra
da Cadeia, obtemos

∂ 2z
     
∂ ∂z ∂ ∂z ∂r ∂ ∂z ∂θ
= = + =
∂x2 ∂x ∂x ∂r ∂x ∂x ∂θ ∂x ∂x
 
∂ ∂z senθ ∂z ∂r
= cosθ − +
∂r ∂r r ∂θ ∂x
 
∂ ∂z senθ ∂z ∂θ
cosθ − =
∂θ ∂r r ∂θ ∂x
∂ 2 z senθ ∂ 2 z
 
= cosθ 2 − cosθ+
∂r r ∂θ∂r
∂ 2z senθ ∂ 2 z
  
senθ
cosθ − −
∂r∂θ r ∂θ2 r

o que implica

∂ 2z 2
2 ∂ z senθcosθ ∂z 2senθcosθ ∂ 2 z
= cos θ + − +
∂x2 ∂r2 r2 ∂θ ∂r ∂r∂θ
sen2 θ ∂z sen2 θ ∂ 2 z
+ +
r ∂r r2 ∂θ2
(5.28)
Analogamente, derivando a equação (5.27) em relação a y
obtemos
∂ 2z 2
2 ∂ z 2senθcosθ ∂z 2senθcosθ ∂ 2 z
= sen θ − + +
∂y 2 ∂r2 r2 ∂θ ∂r ∂r∂θ
cos2 θ ∂z cos2 θ ∂ 2 z
+ + 2
r ∂r r ∂θ2
(5.29)
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 301

Somando as equações (5.28) e (5.29), obtemos

∂ 2 z 1 ∂z 1 ∂ 2z ∂ 2z ∂ 2z
+ + = + = 0,
∂r2 r ∂r r2 ∂θ2 ∂x2 ∂y 2

que é a equação de Laplace em coordenadas polares.

3.8- Mostre que F (x, y, z) = x2 + y 2 − z 2 − 1 = 0 define z


como uma função g(x, y) em uma vizinhança de qualquer
ponto (x0 , y0 , z0 ) e z0 6= 0. Também encontre as derivadas
parciais de primeira ordem de g.
Solução: aa

3.9- Quais das seguintes equações tem soluções para z em uma


∂z ∂z
vizinhança do ponto dado? Calcule e .
∂x ∂y
2 +y 2 +z 2
(i) ex − 1 = 0, p = (0, 0, 0)
(ii) z + 2cos(x + y + z) = 2, p = (0, 0, 0)
(iii) x2 y 2 z 2 = 1, p = (1, 1, 1)
(iv) x2 + y 2 − z 2 = 1, p = (0, 0, 1)
2 +y 2 +z 2
Solução: (i) Seja F (x, y, z) = ex − 1. Temos
∂F x2 +y 2 +z 2 ∂F
∂z
= 2ze o que implica ∂z
(0, 0, 0) = 0. Logo,
não existe nenhuma solução z = g(x, y) para a equação
F (x, y, g(x, y)) = 0 em uma vizinhança de (0, 0).
(ii) Seja F (x, y, z) = z + 2cos(x + y + z) − 2. Temos
Fz (0, 0, 0) = 1. Logo, pelo Teorema da Função Implı́cita
existe uma solução z = g(x, y) da equação F (x, y, g(x, y)) =
0 em uma vizinhança de (0, 0).
302CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Portanto,
∂z 2sen(x + y + z) Fx (x, y, z)
= = gx (x, y) = −
∂x 1 − 2sen(x + y + z) Fz (x, y, z)
e
∂z 2sen(x + y + z) Fy (x, y, z)
= = gy (x, y) = −
∂y 1 − 2sen(x + y + z) Fz (x, y, z)

(iii) Seja F (x, y, z) = x2 y 2 z 2 − 1. Então Fz (1, 1, 1) = 2.


Logo, pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma solução
z = g(x, y) da equação F (x, y, g(x, y)) = 0 em uma vizi-
nhança de (1, 1). Temos

∂z z ∂z z
=− e =− .
∂x x ∂y y

(iv) Seja F (x, y, z) = x2 +y 2 +z 2 −1. Note que F (0, 0, 0) 6=


0 e portanto, (0, 0, 1) não está no gráfico da equação
F (x, y, z) = 0.

3.10- Dado que F (x, y, x) = 0, onde F tem derivadas de pri-


meira ordem não nula contı́nuas em um aberto A ⊆ R3 ,
prove que
∂x ∂y ∂z
= −1 em A.
∂y ∂z ∂x
Solução: Como Fx 6= 0, Fy 6= 0 e Fz 6= 0 pelo Teorema
da Função Implı́cita, obtemos
∂x Fy ∂y Fz ∂z Fx
=− , =− e =− .
∂y Fx ∂z Fy ∂x Fz
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 303

Logo,
   
∂x ∂y Fy Fz Fx
= − − − = −1.
∂y ∂z Fx Fy Fz

3.11- Seja f : R2 → R definida por



 0 se (x, y) = (0, 0)
f (x, y) = xy
 2 se (x, y) 6= (0, 0)
x + y2

Mostre que as derivadas parciais D1 f (0, 0) e D2 f (0, 0)


existe e é igual a 0. Contudo, a derivada de f em (0, 0)
com respeito ao vetor u = (a, b) não existe se ab 6= 0.
Mostre que f não é contı́nua em (0, 0).
Solução: Seja 0 = (0, 0), e1 = (1, 0) e e2 = (0, 1). Temos

f (0 + te1 ) − f (0) 0
lim = lim = 0
t→0 t t→0 t

e
f (0 + te2 ) − f (0) 0
lim = lim = 0.
t→0 t t→0 t
∂f ∂f ∂f
Portanto, as derivadas parciais ∂x
e ∂y
existem e ∂x
=0
∂f
e ∂y
= 0.
Seja u = (a, b). Temos

f (0 + tu) − f (0) ab 1 ab 1
lim = lim 2 2
= 2 2
lim .
t→0 t t→0 a + b t a + b t→0 t
Se ab 6= 0 então o limite acima não existe, sendo ±∞
conforme ab > 0 ou ab < 0 respectivamente.
304CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Note que para os pontos da forma (x, x) com x 6= 0,


obtemos:
x2 1 1
f (x, x) = 2
= e lim f (x, x) = 6= 0 = f (0, 0).
2x 2 x→0 2

3.12- Seja f : R2 → R definida por



 0 se (x, y) = (0, 0)
f (x, y) = xy 2
 se (x, y) 6= (0, 0)
x2 + y 2

Mostre que as derivadas parciais de f em (0, 0) com res-


peito a qualquer vetor u = (a, b) existe e que

ab2
Du f (0, 0) = , (a, b) 6= (0, 0).
a2 + b 2
Mostre que f é contı́nua mas não é diferenciável em (0, 0).
Solução: Seja u = (a, b). Temos

f (0 + tu) − f (0) (ta)(tb)2 1


lim = lim =
t→0 t t→0 (ta)2 + (tb)2 t

ab2 ab2
lim = .
t→0 a2 + b2 a2 + b 2
ab2
Portanto, Dfu (0, 0) existe e Dfu (0, 0) = a2 +b2
.
1
Note que x2 + y 2 > y 2 o que implica x2 +y 2
< y12 que
|x|y 2 |x|y 2
acarreta x2 +y 2
< y2
= |x|.
Logo,
xy 2
lim =0
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 305

que implica,
xy 2
lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Portanto, lim f (x, y) = 0 = f (0, 0).


(x,y)→(0,0)

3.13- Seja f : R2 → R definida por


 (x2 + y 2 )sen 1 , se (x, y) 6= (0, )

f (x, y) = x2 + y 2
0, se (x, y) = (0, 0).

Mostre que f é diferenciável em todo ponto do R2 , mas


que a derivadas parciais D1 f e Df2 não são limitads (e
portanto não são contı́nuas) em nenhuma vizinhança de
(0, 0).
Solução: Temos que
1
|f (x, y) − f (0, 0)| = (x2 + y 2 )sen
x2 + y2
≤ (x2 + y 2 ) = k(x, y)k2
o que implica
|f (x, y) − f (0, 0)|
lim ≤ lim (x2 + y 2 ) = 0,
k(x,y)k→0 k(x, y)k k(x,y)k→0

que acarreta,
|f (x, y) − f (0, 0)|
lim = 0.
k(x,y)k→0 k(x, y)k
Portanto, Df (0, 0)(x, y) = 0.
Se (x, y) 6= (0, 0) então
1 1 1
D1 f (x, y) = 2xsen( 2
) − cos( 2 ),
2x x 2x
306CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

e
1 1 1
D2 f (x, y) = 2ysen( 2
) − cos( 2 ),
2y y 2y
as quais não são limitadas quando x → 0 e y → 0 respec-
tivamente.
Portanto, os limites acima não existem e consequente-
mente D1 f e D2 f não são contı́nuas.

3.14- Seja f : A ⊆ Rn → Rm uma função diferenciável em um


ponto a interior de A, e seja v ∈ Rm . Se g : A → Rm
definida por g(x) = hf (x), vi para todo x ∈ A. Mostre
que g é diferenciável em c e que

Dg(c)(u) = h(Df (c))(u)), vi ∀u ∈ Rn .

Solução: Seja g(x) = hf (x), vi. Pelo Teorema 3.7 com


h(x) = v, obtemos que a função g é diferenciável e vale

Dg(c)(u) = hf (c), 0i + hDf (c)(u), vi = hDf (c)(u), vi.

3.15- Seja c um ponto interior de A ⊆ Rn e f : A → R. Se


f é diferenciável em c, mostre que existe um único vetor
vc ∈ Rn tal que

Du f (c) = Df (c)(u) = hvc , ui ∀u ∈ Rn .

O vetor vc é chamado gradiente de f em c e é denotado


por ∇f (c) ou por gradf (c). Mostre que

∇f (c) = (D1 f (c), . . . , Dn f (c)).


5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 307

Solução: Já vimos que Du f (c) = Df (c) e que Df (c) :


Rn → R é um funcional linear.
Seja β = {e1 , . . . , en } a base canônica do Rn . Então, dado

x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn

podemos escrever

x = x1 e1 + . . . + xn en

e portanto,

Df (c)(x) = Df (c)(x1 e1 + . . . + xn en ) = x1 Df (c)(e1 ) + . . . +


xn Df (c)(en ) == x1 D1 f (c) + . . . + xn Dn f (c) =
h(x1 , . . . , xn ), (D1 f (c), . . . , Dn f (c))i = hx, ∇f (c)i,

onde ∇f (c) = (D1 f (c), . . . , Dn f (c)).


Vamos agora mostrar a unicidade de vetor gradiente.
Suponhamos que existe outra vetor v tal que

hvc , ui = hv, ui, ∀u ∈ Rn .

Logo,
hvc − v, ui = 0, ∀u ∈ Rn ,

e portanto,

v = vc = ∇f (c) = (D1 f (c), . . . , Dn f (c)).

3.16- Calcule o jacobiano de cada uma das seguintes transformações.


Dertermine onde existe a inversa local.
308CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

(i) x = ucos(πv), y = usen(πv)


(ii) x = u2 − v 2 , y = 2uv
(iii) x = u2 − uv, y = v − u
(iv) x = sen(u + v), y = cos(u + v)
Solução: (i) Temos
∂f1 ∂f1
∂u ∂v
cos(πv) −uπsen(πu)
Jf (a) = = =
∂f2 ∂f2
∂u ∂v
sen(πv) πucos(πv)
= πucos2 (πv) + πusen2 (πv) = πu 6= 0, se u 6= 0.
Portanto, pelo Teorema da Função Inversa f é invertı́vel
em A = {(u, v) ∈ R2 ; u 6= 0}.
(ii) Temos

2u −2v
Jf (a) = = 2u2 + 2v 2 6= 0 se u 6= 0 e v 6= 0.
2v π2u)
Portanto, pelo Teorema da Função Inversa f é invertı́vel
em R2 − {(0, 0)}.
(iii) Temos

2u − v −u
Jf (a) = = u − v 6= 0 se u 6= v.
2v π2u)
Portanto, pelo Teorema da Função Inversa f é invertı́vel
em A = {(u, v)R2 : u 6= v}.
(iv) Temos

cos(u + v) cos(u + v)
Jf (a) = = 0.
−sen(u + v) −sen(u + v)
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 309

Portanto, f não é invertı́vel em R2 .

3.17- Dar um exemplo de cada um dos seguintes casos:

∇f (x0 , y0 ) = 0

e
fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) − fxy (x, 0, y0 )2 = 0
(i) f (x0 , y0 ) é um mı́nimo local
e (ii) f (x0 , y0 ) é um máximo local
(iii) f (x0 , y0 ) é um ponto de sela.
Solução: (i) Um exemplo seria f (x, y) = x2 + y 2 , f (0, 0)
é um mı́nimo local.
(ii) Um exemplo f (x, y) = −(x2 + y 2 ), f (0, 0) é um
máximo local.
(iii) Um exemplo f (x, y) = xy, ((0, 0), 0) é um ponto de
sela.

3.18- Seja A ⊂ R2 um aberto e f : A → R uma função de classe


C 3 (A). Se (x0 , y0 ) ∈ A e ∇f (x0 , y0 ) = 0 então
(i) f (x0 , y0 ) é um máximo local se fxx (x0 , y0 ) < 0 e

∂ 2f ∂ 2f
(x 0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0;
310CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

(ii) f (x0 , y0 ) é um mı́nimo local se fxx (x0 , y0 ) > 0 e


∂ 2f ∂ 2f
(x ,
0 0y ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0;
(iii) ((x0 , y0 ), f (x0 y0 )) é um ponto de sela se
∂ 2f ∂ 2f
(x ,
0 0y ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = =
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0;

(iv) Se
∂ 2f ∂ 2f
(x 0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂x2 ∂x∂y
H(x0 , y0 ) = = 0,
∂ 2f ∂ 2f
(x0 , y0 ) (x0 , y0 )
∂y∂x ∂y 2
nada se pode concluir.
O determinante H(x0 , y0 ) é chamado determinante Hes-
siano.
Solução: (i) Pela Fórmula de Taylor temos
f (x, y) − f (x0 , y0 ) = fx (x0 , y0 )(x − x0 )+
fy (x0 , y0 )(y − y0 )+
fxx (x0 , y0 )(x − x0 )2 + 2fxy (x0 , y0 )(x − x0 )(y − y0 )+
fyy (x0 , y0 )(y − y0 )2 + R2
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 311

Desde que ∇f (x0 , y0 ) = 0 temos que fx (x0 , y0 ) = fy (x0 , y0 ) =


0 e como R2 contém termos cúbicos ele pode ser despre-
zado para (x, y) suficientemente próximo a (x0 , y0 ). Por-
tanto o sinal de f (x, y) − f (x0 , y0 ) é o mesmo sinal da
quádrica

fxx (x0 , y0 )(x − x0 )2 + 2fxy (x0 , y0 )(x − x0 )(y − y0 )+

fyy (x0 , y0 )(y − y0 )2

(i) Note que a quádrica tem o mesmo sinal para todo (x, y)
próximo de (x0 , y0 ) se o discriminante

2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0.

Se fxx (x0 , y0 ) < 0 então a quádrica é negativa e f (x, y) −


f (x0 , y0 ) < 0, isto é, f (x, y) < f (x0 , y0 ) para todo (x, y)
próximo de (x0 , y0 ) e portanto f (x0 , y0 ) é um máximo lo-
cal.
(ii) Analogamente, se

2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) < 0.

e fxx (x0 , y0 ) > 0 então a quádrica é positiva e f (x, y) −


f (x0 , y0 ) > 0, isto é, f (x, y) > f (x0 , y0 ) para todo (x, y)
próximo de (x0 , y0 ) e portanto f (x0 , y0 ) é um mı́nimo local.
(iii) Se

2
fxy (x0 , y0 ) − fxx (x0 , y0 )fyy (x0 , y0 ) > 0,
312CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

então a quádrica
(x − x0 )2 ×
 
 (y − y0 )2 y − y0 
fyy (x0 , y0 ) + 2f (x , y ) + f (x , y )
 
2 yy 0 0 xx 0 0 
 (x − x0 ) x − x0 
| {z }
(I)

muda de sinal.
y−y0
Digamos que a quádrica muda de sinal em r = x−x0
.
Então existem direções ao longo da qual (x, y) aproxima-se
de (x0 , y0 ) e o termo (I) da quádrica é positivo e outras
direções onde o termo (I) da quádrica é negativa.
Portanto, em qualquer vizinhança de (x0 , y0 ) existem pon-
tos (x, y) para os quais f (x, y) > f (x0 , y0 ) e pontos (x, y)
para os quais f (x, y) < f (x0 , y0 ). Assim, (x0 , y0 , f (x0 , y0 ))
é um ponto de sela.
(iv) No Exercı́cio 3.17, temos que

∇f (x0 , y0 ) = 0,

e H(x0 , y) ) = 0 donde nada podemos conluir.

3.19- Seja f (x, y) = px2 + 2qxy + ry 2 , onde p, q, r são constan-


tes. Encontre condições suficientes sobre p, q e r para que
ponto (0, 0) seja o único ponto onde ∇f = 0 e
(i) f (0, 0) é um máximo local
(ii) f (0, 0) é um mı́nimo local
(iii) (0, 0, f (0, 0)) é um ponto de sela.
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 313

Solução: (i) Pelo item (i) do Exercı́cio 3.17, f (0, 0) é um


máximo local se (2q)2 − (2p)(2r) < 0 e 2p < 0, isto é,
p < 0 e q 2 − pr < 0.
Pelo item (ii) do Exercı́cio 3.17 (ii), f (0, 0) é um mı́nimo
local se (2q)2 − (2p)(2r) < 0 e 2p > 0, isto é, p > 0 e
q 2 − pr < 0.
Pelo item (iii) do Exercı́cio 3.17 (iii), (0, 0, f (0, 0)) é um
ponto de sela se, (2q)2 − (2p)(2r) > 0, isto é, q 2 − pr > 0.

3.20- Seja A ⊂ Rn um aberto e f : A → R diferenciável. Se


f é diferenciável em a e ∇f (a) 6= 0 então kDf (a)k =
∇f (a)
|Du0 f (a)|, onde u0 = k∇f (a)k
.
Solução: Temos Df (a)(u) = hDf (a), ui. Pela desigual-
dade de Cauchy-Schwarz

|Df (a)(u)| = |h∇f (a), ui| ≤

k∇f (a)kkuk = k∇f (a)k se kuk ≤ 1,

o que implica

kDf (a)k = sup |Df (a)(u)| ≤ k∇f (a)k (5.30)


kuk≤1

∇f (a)
Agora note que, se u0 = k∇f (a)k
então

Df (a)(u0 ) = h∇f (a), u0 i =

1
h∇f (a), ∇f (a)i = k∇f (a)k.
k∇f (a)k
314CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Desde que f é diferenciável em a, então Df (a)(u) =


Du f (a). Logo,

k∇f (a)k = |Du0 f (a)| = |Df (a)(u0 )| ≤ kDf (a)k.


(5.31)
Portanto, de (5.30) e (5.31), obtemos

kDf (a)k = k∇f (a)k = |Dfu0 (a)|.

3.21- Encontre um ponto (x0 , y0 , z0 ) na vizinhança do qual a


equação
senyz + senzx + senxy = 0

tem uma única solução z = φ(x, y).


Solução: Pelo Teorema da Função Implı́cita, devemos
ter Fz = cosyz + cosxz 6= 0. Logo, por exemplo para
(x0 , y0 , z0 ) = (x0 , 0, 0) com x0 6= 0 então Fz (x0 , y0 , z0 ) =
2 6= 0, e pelo Teorema da Função Implı́cita na vizinhança
do ponto (x0 , y0 , z0 ) a equação F (x, y, z) = 0 possui uma
única solução z = φ(x, y).

3.22- Mostre que as equações

xy 5 + yu5 + zv 5 = 1
x5 y + y 5 u + z 5 v = 1

tem uma única solução u = φ1 (x, y, z), v = φ2 (x, y, z) na


vizinhança do ponto (x, y, z, u, v) = (0, 1, 1, 1, 0) e encon-
tre a matriz de Dφ(0, 1, 1), onde φ = (φ1 , φ2 ).
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 315

Solução: Sejam
f1 (x, y, z) = xy 5 + yu5 + zv 5 − 1 = 0
(5.32)
f2 (x, y, z) = x5 y + y 5 u + z 5 v − 1 = 0
Se p = (x, y, z) q = (u, v) e f = (f1 , f2 ) então a equação
(5.32) pode ser escrita na forma f (p, q) = 0. Logo,
5yu4 5zv 4
J2 f (p, q) = = 5yu4 z 5 − 5zv 4 y 5
y5 z5
Se p0 = (0, 1, 1) e q0 = (1, 0) então J2 f (p0 , q0 ) = 5 6= 0.
Portanto, pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma vi-
zinhança do ponto (0, 1, 1, 1, 0) tal que a equação f (p, q) =
0 possui uma única solução q = φ(p), isto é, (y, z) =
φ(x) = (φ1 (x), φ2 (x)). Logo, y = φ1 (x) e z = φ2 (x).
−1
Temos Dφ(p0 )"= −[D2 f (p #0 , q0 )] D1 f (p0 , q"0 ). Temos
#
1 5 0 5 0
D1 f (p0 , q0 ) = , D2 f (p0 , q0 ) = e
0 5 0 1 1
" #
1
0
D2 f (p0 , q0 )−1 = 5
− 15 1
Logo,
" #" # " #
1
1 5 0 5
0 − 51 1 0
Dφ(p0 , q0 ) = − = .
0 5 0 − 15 1 − 15 4 0

3.23- Mostre que na vizinhança de qualquer ponto que satisfaz


as equações
x4 + (x + z)y 3 − 3 = 0
x4 + (2x + 3z)y 3 − 6 = 0
316CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

existe uma única solução y = φ1 (x) e z = φ2 (x) dessas


equações.
Solução: Sejam

f1 (x, y, z) = x4 + (x + z)y 3 − 3 = 0
(5.33)
f2 (x, y, z) = x4 + (2x + 3z)y 3 − 6 = 0

Se p = x, q = (y, z) e f = (f1 , f2 ) então a equação (5.33)


pode ser escrita na forma f (p, q) = 0. Logo,

3(x + z)y 2 y3
J2 f (p, q) = = 3xy 5 6= 0 se xy 6= 0.
3(2x + 3z)y 2 3y 3

Portanto, para ponto (x, y, z) com x 6= 0 e y 6= 0, pelo Te-


orema da Função Implı́cita existe uma vizinhaça do ponto
(x, y, z com x 6= e y 6= 0 tal que a equação f (p, q) = 0
possui uma única solução q = φ(p), isto é, (y, z) = φ(x) =
(φ1 (x), φ2 (x)). Logo, y = φ1 (x) e z = φ2 (x).

3.24- Mostre que a função f : R2 → R2 dada por

f (x, y) = (cosx + cosy, senx + seny)

tem uma inversa na vizinhança de todos os pontos (x0 , y0 ) ∈


R2 tal que x0 − y0 6= nπ com (n = 0, ±1, ±2, · · ·) e que
em todos os outros pontos não existe inversa local.
Solução: Temos

−senx0 −seny0
Jf (x0 , y0 ) = = −sen(x0 − y0 )
cosx0 cosy0
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 317

Note que Jf (x0 , y0 ) = −sen(x0 − y0 ) 6= 0 se, e somente


se, x0 − y0 6= nπ, n ∈ Z. Logo, pelo Teorema da Função
Inversa a aplicação f tem uma inversa local na vizinhança
dos pontos (x0 , y0 ) tal que x − y 6= nπ, n ∈ Z e que nos
outros pontos não existe a inversa local.

3.25- Prove que a função f : R2 → R2 dada por


!
x y
f (x, y) = p ,p
1 + x2 + y2 1 + x2 + y2

tem uma inversa local em toda vizinhança de qualquer


ponto de R2 . Se φ é uma inversa local em (x, y), encontre
Jφ(x, y).
1
Solução: Temos que Jf (x, y) = 1+x2 +y 2
6= 0, ∀(x, y) ∈
R2 . Logo, pelo Teorema da Função Inversa f admite uma
função inversa local em qualquer ponto do R2 . Seja φ a
1
inversa de f então Jφ(x, y) = Jf (x,y)
= 1 + x2 + y 2 6= 0.

3.26- A função f : R3 → R3 é dada por

f1 (x, y, z) = x + y + z
f2 (x, y, z) = yz + zx + xy
f3 (x, y, z) = xyz

e x0 , y0 e z0 são números reais dois a dois distintos. Mostre


que a função f tem uma inversa φ em uma vizinhança do
ponto (x0 , y0 , z0 ) e que

Jφ(x, y, z) = −[(y − z)(z − x)(x − y)]−1 .


318CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Solução: Temos

1 1 1
Jf (x0 , y0 , z0 ) = y+z x+z x+y .
yz xz xy

Pelo Regra de Chió, temos

1 1 1
y0 + z0 x0 + z0 x0 + y0 =
y0 z0 x0 z0 x0 y 0

1 0 0
y0 + z0 x0 − y 0 x0 − z0 =
y0 z0 z0 (x0 − y0 ) y0 (x0 − z0 )

= −(y0 − z0 )(z0 − x0 )(x0 − y0 )

Portanto Jf (x0 , y0 , z0 ) = −(y0 −z0 )(z0 −x0 )(x0 −y0 ) 6= 0,


pois x0 , y0 e z0 são dois a dois distintos.
Desde que Jf (x0 , y0 , z0 ) 6= 0 pelo Teorema da Função
Inversa existe uma inversa φ de f definida numa vizinhança
de (x0 , y0 , z0 ). Como

1 1
Jφ(x, y, z) = =− =
Jf (x, y, z) (y − z)(z − x)(x − y)

−[(y − z)(z − x)(x − y)]−1 .

3.27- Seja A ⊂ R2 uma aberto e f : A → R uma função de


classe C 1 . Seja (a, b) ∈ A e suponhamos que D2 f (a, b) 6=
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 319

0. Mostre que a função

F : A → R2
(x, y) 7→ F (x, y) = (x, f (x, y))

é localmente invertı́vel em (a, b).


Solução: Temos
  !
∂Fj 1 0
= F2 F2
∂xi (x, y) (x, y)
∂x ∂y

o que implica que no ponto (a, b), temos que JF (a, b) =


D2 f (a, b) 6= 0, por hipótese. Agora o resultado segue do
Teorema da Função Inversa.

3.28- Seja
f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = x2 + y 2

e seja c = f (1, 1) = 2. Mostre que existe uma função


implı́cita y = ϕ(x) definida para valores de x próximo de
x = 1.
Solução: De fato, temos D2 f (1, 1) = 2 6= 0. Logo, pelo
Teorema da Função Implı́cita, existe uma função y = ϕ(x)
definida para valores de x próximo de x = 1. Neste caso,

podemos explicitar ϕ, pois y = 2 − x2 , .
Logo,

ϕ(x) = 2 − x2 .
320CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

3.29- Seja

f : R2 → R
(x, y) 7→ f (x, y) = x2 y + 3y 3 x4 − 4

e seja (a, b) = (1, 1).


(i) Mostre que existe uma função implı́cita y = ϕ(x) a
qual não pode ser explı́citada.
(ii) Calcule ϕ0 (1).
Solução: (i) Notemos inicialmente que f (a, b) = f (1, 1) =
0, que D2 f (x, y) = x2 + 9y 2 x4 e que D2 f (1, 1) = 10 6= 0.
Logo, pelo Teorema da Função Implı́cita existe uma função
y = ϕ(x) definida para valores de x próximo de x = 1.
Note que neste caso, não podemos explicitar y em função
de x, pois x2 y − 3y 3 x4 = 4.
(ii) Pelo Teorema da Função Implı́cita y = ϕ(x) é uma
função diferenciável. Derivando explicitamente f (x, y) =
0, obtemos:

2xy + x2 y 0 + 12y 3 x3 + 9y 2 y 0 x4 = 0.

Desta última igualdade obtemos

2xy + 12y 3 x3
ϕ0 (x) = y 0 = − .
x2 + 9y 2 x4

Portanto,
7
ϕ0 (1) = − .
5
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 321

3.30- Se f : A ⊂ Rn → R possui derivadas parciais em todos


os pontos do aberto A, e assume o máximo em um ponto
a ∈ A, mostre que ∇f (a) = 0.
Solução: Desde que f assume o seu valor máximo em a,
temos
f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ A. (5.34)
Daı́ obtemos
f (a + tei ) − f (a)
lim+ ≤0 (5.35)
t→0 t
e
f (a + tei ) − f (a)
lim− ≥0 (5.36)
t→0 t
De (5.35) e (5.36), obtemos
f (a + tei ) − f (a)
lim =0 (5.37)
t→0 t
∂f
Como por hipótese ∂xi
(a) existe obtemos por (5.37) que

∂f f (a + tei ) − f (a)
(a) = lim = 0, ∀i = 1, . . . , n.
∂xi t→0 t
(5.38)
Portanto,
 
∂f ∂f
∇f (a) = (a), . . . , (a) = (0, . . . , 0).
∂x1 ∂xn

3.31- Seja A : Rn → Rn uma transformação linear.


(i) Mostre que as aplicações

f : Rn × Rn → R
(x, y) 7→ f (x, y) = hAx, yi
322CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

e
g : Rn → R
x 7→ g(x) = hAx, xi

são diferenciáveis.
(ii) Determine ∇f (x, y) e ∇g(x).
Solução: (i) Consideremos as funções componentes

f1 : Rn × Rn → R
(x, y) 7→ f1 (x, y) = Ax

e
f2 : Rn × Rn → R
(x, y) 7→ f2 (x, y) = y

as quais são diferenciáveis, pois f1 (x, y) = Ax que é uma


transformação linear, a qual é diferenciável e f2 (x, y) = y
é a aplicação identidade na segunda variável.
Portanto, f = (f1 , f2 ) é diferenciável.

(ii) Notemos inicialmente que sendo A : Rn → Rn linear,


então existem n funções lineares Ai : Rn → R, ∀i =
1, 2, . . . , n.
Consideremos β = {e1 , . . . , en } a base canônica do Rn .
Logo, podemos escre-ver

x = x1 e1 + x2 e2 + . . . + xn en , i = 1, 2, . . . , n
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 323

o que implica

Ai (x) = x1 Ai (e1 ) + x2 Ai (e2 ) + . . . + xn Ai (en ) =


Xn
= x1 ai1 + x2 ai2 + . . . + xn ain = aij xj ,
j=1

onde Ai (ej ) = aij .


Logo, temos
n
X n
X
f (x, y) = hAx, yi = y1 a1i xi + . . . + yn ani xi
i=1 i=1

Portanto,
n
∂f X
(x, y) = a11 y1 + a21 y2 + . . . + an1 yn = a1i yi
∂x1 i=1
n
∂f X
(x, y) = a12 y1 + a22 y2 + . . . + an2 yn = a2i yi
∂x2 i=1
..
.
n
∂f X
(x, y) = an1 y1 + an1 y2 + . . . + ann yn = ani yi
∂xn i=1
..
.
n
∂f X
(x, y) = a11 x1 + a12 x2 + . . . + an1 xn = a1i xi =
∂y1 i=1
A1 (x)
..
.
n
∂f X
(x, y) = an1 x1 + an2 x2 + . . . + ann xn = ani xi =
∂yn i=1
An (x)
324CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Logo,

∇f (x, y) =
 
∂f ∂f ∂f ∂f
(x, y), . . . , (x, y), (x, y), . . . , (x, y) =
∂x1 ∂xn ∂y1 ∂yn
n n
!
X X
= aii yi , . . . , ain yi , A1 (x), . . . , An (x) =
i=1 i=1
n n
!
X X
= aii yi , . . . , ain yi , A(x)
i=1 i=1

Temos que

n
X n
X
g(x, y) = hAx, xi = x1 a1i xi + . . . + xn ani xi
i=1 i=1

Assim,

∂g
(x, y) = a11 x1 + A1 (x) + a21 x2 + . . . + an1 yn =
∂x1
A1 (x) + ni=1 ai1 xi
P

∂g
(x, y) = a12 x1 + a22 x2 + A2 (x) + a32 x3 + . . . +
∂x2
an2 xn = A2 (x) + ni=1 ai2 yi
P

..
.
∂g
(x, y) = a1n x1 + a2n x2 + . . . + ann xn + An (x) =
∂xn
An (x) + ni=1 ain xi
P
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 325

Logo,
 
∂g ∂g
∇g(x, y) = (x, y), . . . , (x, y) =
∂x1 ∂xn
n n
!
X X
= A1 (x) + ai1 xi , . . . , An (x) + ain xi =
i=1 i=1

= A(x) + (hA(e1 ), xi, . . . , hA(en ), xi) .

3.32- Seja f : R2 → R uma função de classe C 1 . Mostre que f


não é injetiva.
∂f
Solução: Se ∂xi
≡ 0 para todo i = 1, . . . , n então
f (x, y) = c constante e neste caso f não é injetiva.
∂f
Se ∂x
6= 0 então existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ R2 tal que
∂f
∂x
(x0 , y0 ) 6= 0.
Defina

g : R2 → R2
(x, y) 7→ g(x, y) = (f (x, y), y)

Temos
!
  ∂f ∂f
∂fi ∂x
(x, y) ∂y
(x, y)
(x, y) =
∂xj 0 1

Logo,
∂f ∂f
∂x
(x0 , y0 ) ∂y
(x0 , y0 ) ∂f
Jg(x0 , y0 ) = = (x0 , y0 ) 6= 0
0 1 ∂x

Portanto, pelo Teorema da Função Inversa, existem vizi-


nhanças V e W com (x0 , y0 ) ∈ V e g(x0 , y0 ) ∈ W tal que
326CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

f : V → W é um difeomorfismo.
Seja g −1 = h = (h1 , h2 ). Assim

g −1 (z, w) = (h1 (z, w), h2 (z, w))


| {z } | {z }
=x =y

o que implica

(z, w) = g(x, y) = (f (h1 (z, w), h2 (z, w)), h2 (z, w))

Assim,

(z, w) = (f (h1 (z, w), h2 (z, w)), h2 (z, w))

que acarreta
(
h2 (x, y) =y
f (h1 (x, y), y) = x

Portanto, f não é injetiva.

3.33- Seja f : Rn → R uma função diferenciável e suponhamos


que limx→∞ |f (x)| = 0. Mostre que existe a ∈ Rn tal que
Df (a) = 0.
Solução: Desde que, lim |f (x)| = 0, temos que:
x→∞

∀ε > 0, ∃r > 0 tal que |x| > r ⇒ |f (x)| < ε.

Seja
A = {x ∈ Rn : |x| > r}

Mostra-se que A é aberto em Rn .


Logo, f |A : A → R é limitada.
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 327

Seja K = Rn − A. Tem-se que K é fechado, pois Rn é


fechado e A é aberto. Também temos que K é limitado,
pois, se x ∈ K então |x| ≤ r. Logo, K é compacto.
Portanto, pelo Teorema de Weierstrass, f atinge máximo
e mı́nimo em K. Seja S = K ∪ ∂K e definamos
(
f (x), se x ∈ K
F (x) =
0, se x ∈ ∂K

F é contı́nua em K, então F assume máximo e mı́nimo


em K.
Assim, existem x0 , x1 ∈ K tais que

f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ), ∀x ∈ K.

Suponhamos que x0 , x1 ∈ ∂K isto implica que f (x0 ) =


f (x1 ) = 0 e portanto f ≡ 0 em K.
Caso contrário f possui um ponto de máximo ou de mı́nimo
em K, ou seja, existe a ∈ K tal que

f (a) ≤ f (x) ou f (a) ≥ f (x), ∀x ∈ K.

Em qualquer um dos casos, obtemos que Df (a) = 0.

3.34- Denotamos por

S n−1 = {x ∈ Rn ; kxk = 1}.

Seja f : Rn → R uma função contı́nua, possuindo deriva-


∂f
das direcionais em qualquer ponto do Rn . Se ∂u
(u) >0
328CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

para todo u ∈ S n−1 então existe um ponto a ∈ Rn tal que


∂f
∂v
(a) = 0 para todo v ∈ Rn .
Solução: Na prova deste exercı́cio usaremos o seguinte
exercı́cio auxiliar.
Exercı́cio Auxiliar Se f : X ⊂ R → R é derivável à
direita no ponto a ∈ X ∩ X+0 , com f+0 (a) > 0, então existe
δ > 0 tal que x ∈ X, a < x < a + δ implica f (a) < f (x).
Solução: Temos
f (x) − f (a)
lim+ = f+0 (a) > 0.
x→a x−a
Agora tomando ε = f+0 (a) > 0 existe δ > 0 tal que
f (x) − f (a)
x ∈ X, a < x < a + δ ⇒ >0
x−a
e portanto

x ∈ X, a < x < a + δ ⇒ f (a) < f (x).

Agora, notemos que pelo exercı́cio auxiliar acima e pela


∂f
condição ∂u
(u) > 0 para todo u ∈ S n−1 implica

f (tu) < f (u), para 1 − ε < t < 1

para todo ε > 0 e suficientemente pequeno.


Portanto, o mı́nimo de f (x) para kxk ≤ 1 é atingido num
ponto a tal que kak < 1.
Para qualquer v ∈ Rn , definamos ϕ(t) = f (a + tv). Então,
ϕ tem um mı́nimo local quando t = 0, e portanto,
∂f
(a) = ϕ0 (a) = 0.
∂v
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 329

3.35- Seja f : Rn → Rn diferenciável.


Encontre a derivada das funções:
(i)
h : Rn → R
x → h(x) = kf (x)k
(ii)
h : Rn → R
x → h(x) = kf (x)k2
Solução: (i) Notemos inicialmente que
1
h(x) = kf (x)k = hf (x), f (x)i 2

Logo, pela Regra da Cadeia, temos:


1 1
h0 (x)(v) = hf (x), f (x)i− 2 hf (x), f (x)i0 .v =
2
1 1 hf (x), f 0 (x).vi
2hf (x), f (x)i =
2 kf (x)k kf (x)k
(ii) Seja h(x) = kf (x)k2 . Pela Regra da Cadeia, temos

hhf (x), f 0 (x).vi


h0 (x).v = 2kf (x)k.kf (x)k0 .v = 2kf (x)k =
kf (x)k

2hf (x), f 0 (x).vi.

∂f
3.36- Seja f : R2 → R de classe C 1 com ∂y
6= 0 em todos os
pontos, e φ : I → R tal que f (x, θ(x)) = 0 para todo
x ∈ I. Mostre que φ é de classe C 1 .
Solução: Seja x0 ∈ I e y0 = φ(x0 ). Temos que f (x0 , y0 ) =
330CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

∂f
f (x0 , φ(x0 )) = 0 e ∂y
(x0 , y0 ) 6= 0 por hipótese.
Pelo Teorema da Função Implı́cita existe um retângulo
aberto V × W de centro em (x0 , y0 ) tal que f −1 (0) ∩
(V × W ) é o gráfico de uma função ϕ : V → W de classe
C 1.
Logo, para cada x ∈ V existe um único y = ϕ(x) tal que

f (x, ϕ(x)) = 0.

Mas, V ⊂ I e portanto para cada x ∈ V, temos que

f (x, φ(x)) = 0.

Destas duas últimas igualdades, obtemos φ(x) = ϕ(x),


para todo x ∈ V.
Portanto, φ é de classe C 1 em V.
Agora, notemos que este resultado é válido para todo x ∈
I.
Logo φ : I → R é de classe C 1 .

3.37- Seja F ; R2 → R definida por F (x, y) = y 2 − x.


∂f
(i) Mostre que F é de classe C 1 (R2 ) e que ∂y
(0, 0) = 0;
(ii) Mostre que não existe uma função φ definida numa
vizinhança W e 0 tal que F (x, φ(x)) = 0, para todo x ∈
W.
Solução: (i) Sendo F (x, y) = y 2 − x então

∂f ∂f
(x, y) = −1 e (x, y) = 2y.
∂x ∂y
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 331

Desde que as derivadas parciais existem e são contı́nuas


para todo (x, y) ∈ R2 , então F é de classe C 1 (R2 ).
Temos
∂F
(0, 0) = 2.0 = 0.
∂y
(ii) Suponhamos que exista uma função φ definida numa
vizinhança W de 0 tal que

F (x, φ(x)) = 0, ∀x ∈ W.

Pelo Teorema da Função Implı́cita, temos que φ também


é de classe C 1 .
Logo, existe a derivada de φ e vale
∂F
(x, φ(x))
φ0 (x) = − ∂F
∂x
, ∀x ∈ W.
∂y
(x, φ(x))

Mas, 0 ∈ W e portanto,
∂F
(0, 0) 1
φ0 (0) = − ∂F
∂x
=−
∂y
(0, 0) 0

o que não pode ocorrer. Logo, não existe φ0 (0), isto é, φ
não é de classe C 1 em W.
Portanto, não existe a função φ.

3.38- Seja A ⊂ Rn um aberto e f : A ⊂ Rn → R diferenciável.


Defina f k : A → R pondo f k (x) = f (x)k . Mostre que f
é diferenciável e que

Df k (x).v = kf k−1 (x).Df (x).v, ∀x ∈ A e ∀v ∈ Rn .


332CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Solução: Definamos g : R → R por g(y) = y k . Temos


que g é diferenciável e que g ◦ f : A → R dada por

(g ◦ f )(x) = g(f (x)) = f (x)k .

é diferenciável, como composta de funções diferenciáveis.


Portanto, f k : A → R é diferenciável.
Agora pela Regra da Cadeia, obtemos:

Df k (x).v = D(g ◦ f )(x).v = g 0 (f (x))Df (x).v =

kf (x)k−1 Df (x).v, ∀x ∈ A e ∀v ∈ Rn .

3.39- Considere em Rn a norma euclidiana. De f : Rn −{0} → R


é definida por f (x) = kxkα , α ∈ R, então

Df (x).v = αkxkα−1 hx, vi, ∀v ∈ Rn .

Solução: Notemos inicialmente que



n
! 21 α
X
f (x) = kxkα =  x2i  =
i=1

n
! α2
X
x2i , x = (x1 , . . . , xn ).
i=1
n
Seja g : R − {0} → R definida por
n
X
g(x) = x2i .
i=1
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 333

α α
Logo, f (x) = g(x) 2 = g 2 (x).
Agora, usando o Exercı́cio anterior, obtemos:
α α α −1
Dg 2 (x) = g 2 .Dg(x).v =
2
n
! α−2
2
α X
x2i .Dg(x).v,
2 i=1

∀x ∈ R − {0} e ∀v ∈ Rn .
n

Notemos agora que

n
! α−2
2
X
x2i = kxkα−2
i=1

e que
n
X ∂g
Dg(x).v = (x).vi ,
i=1
∂xi
onde v = (v1 , . . . , vn ). Daı́, obtemos
n
X
Dg(x).v = 2xi vi = 2hx, vi.
i=1

Portanto,
α α
Df (x).v = Dg 2 (x) = kxkα−2 2hx, vi =
2
αkxkα−2 hx, vi, ∀v ∈ Rn .

3.40- (i) Determine os pontos crı́ticos da função f : R2 → R


dada por f (x, y) = 3xy 2 + x3 − 3x;
334CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

(ii) Analise os pontos crı́ticos de f.


Solução: Temos
∂f
(x, y) = 0 ⇒ 3y 2 + 3x2 − 3 = 0
∂x
∂f
(x, y) = 0 ⇒ 6xy = 0 ⇒ x = 0 ou y = 0
∂y

• Se x = 0 então 3y 2 − 3 = 0 que implica y = ±1. Logo,


(0, 1) e (0, −1) são pontos crı́ticos de f.
• Se y = 0 então 3x2 − 3 = 0 que implica x = ±1.
Portanto, (1, 0) e (−1, 0) também são pontos crı́ticos de
f.
(ii) A matriz Hessiana de f a qual vamos representar por
M (x, y) é dada por
" #
6x 6y
H(x, y) =
6y 6x
e o seu determinante Hessiano, o qual é representado por
H(x, y) é dado por:
∂ 2f ∂2f
(x, y) ∂x∂y
(x, y)
∂x2
H(x, y) = =
∂ 2f ∂2f
(x, y) ∂y 2
(x, y)
∂y∂x

6x 6y
= 36x2 − 36y 2 .
6y 6x
Agora analisar cada ponto crı́tico de f.
∂ 2f
• (−1, 0) ⇒ H(−1, 0) = 36 > 0 e (−1, 0) = −6 < 0.
∂x2
5.3. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3. 335

Logo, (−1, 0) é um ponto de máximo local de f.


∂ 2f
• (1, 0) ⇒ H(1, 0) = 36 > 0 e (1, 0) = 6 > 0.
∂x2
Logo, (1, 0) é um ponto de mı́nimo local de f.
• (0, 1) ⇒ H(0, 1) = −36 < 0
Logo, (0, 1) é um ponto de sela de f.
• (0, −1) ⇒ H(0, −1) = −36 < 0
Logo, (0, −1) é um ponto de sela de f.

3.41- Determine o máximo da função f : R2 → R dada por


f (x, y) = x + y sujeito a condição x2 + y 2 = 1.
Solução: Sejam g(x, y) = x2 + y 2 e S = {(x, y) ∈ R2 :
x2 + y 2 = 1}.
o Suponha que (x0 , y0 ) é um ponto no qual f assume
máximo. Então existe λ ∈ R tal que

∇f (x0 , y0 ) = λ∇g(x0 , y0 ).

Ou seja,

(1, 1) = λ(2x0 , 2y0 ) = (2x0 λ, 2y0 λ).

Então, temos 2x0 λ = 1 e 2y0 λ = 1. Destas igualdades,


temos que x0 6= 0, y0 6= 0 e x0 = y0 .
Como (x0 , y0 ) pertence ao cı́rculo x2 + y 2 = 1, tem-se
que: x20 + y02 = 1 que implica 2x20 = 1 e portanto, x0 =
√ √
2 2
± e y0 = ± . Logo, os pontos crı́ticos de f são:
√2 √ √ √ 2 √ √ √ √
( 2 , 2 ), (− 2 , 2 ), ( 22 , − 22 ) e (− 22 , − 22 ).
2 2 2 2
336CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

2

2
√ 2
√ √
2

2

2
Logo, f ( 2
, 2
) = 2, f (− 2
, ) =
2 √ √ 2
f ( , − 2
)=0
√ √ √
e f (− 22 , − 22 ) = − 2. Portanto, ( 22 , 22 ) é o ponto de

máximo e o máximo é 2.

3.42 Achar os extremos da função f : R3 → R dada por


f (x, y) = x2 +y 2 +z 2 sujeito à condição x2 +2y 2 −z 2 = 1.
Solução: Sejam g(x, y, z) = x2 +2y 2 −z 2 e (x0 , y0 , z0 ) ∈
R3 um ponto no qual f possui extremo. Então

∇f (x0 , y0 , z0 ) = λ∇g(x0 , y0 , z0 )

para algum λ ∈ R. Logo, temos

2x0 = 2λx0
2y0 = 4λy0 (5.39)
2z0 = −2λz0

Se z0 6= 0 então λ = −1. De (5.39)1 e (5.39)2 temos


x0 = y0 = 0. Mas g(x0 , y0 , z0 ) = 1 que implica z02 = −1,
o que é impossı́vel, pois z0 ∈ R. Logo, z0 = 0. Mas
g(x0 , y0 , z0 ) = 1 implica x20 = 1 e daı́ x0 = ±1. Logo,
os pontos crı́ticos de f são: (1, 0, 0) e (−1, 0, 0).
1
Seja y0 6= 0 então λ = 2
e por (5.39)1 temos que x0 =
0. Como g(x0 , y0 , z0 ) = 1 então 2y02 = 1 que implica
√ √
2 2
y0 = ± 2
. Logo, temos os pontos crı́ticos (0, − 2
, 0) e

2
(0, 2
, 0).
Temos que:
√ √
2 2
f (0, − , 0) = f (0, , 0) =
2 2
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 337

1
e f (−1, 0, 0) = f (1, 0, 0) = 1
2
Assim, os pontos de máximos são: (−1, 0, 0) e (1, 0, 0) e o
máximo é 1. E também temos que os pontos de mı́nimos
√ √
2 2
são: (0, − 2
, 0) e (0, 2
, 0) e o mı́nimo é 21 .

5.4 Soluções do Exercı́cios do


Capı́tulo 4.
Z Z
4.1- Calcule a integral (x2 +y 2 )dxdy, onde R é um triângulo
R
com vértices (0, 0), (1, 0) e (1, 1).
Solução: Aplicação do Teorema da Fubini.

4.2- Avalie
Z 1asZ integrais interadas:
2
2
(i) ex dxdy;
Z0 1 Z2y 1
(ii) ysen(πy 3 )dxdy.
0 x
Solução: Para os itens (i) e (ii) aplicação do Teorema
de Fubini.
Z Z
4.3- Encontre a integral dupla xydxdy, onde R é a região
R
limitada pelos gráficos das funções f (x) = x e g(x) = x3 .

Solução: Aplicação do Teorema de Fubini.


338CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.4- (i) Seja R = [−1, 1] × [0, π2 ]. Calcule


Z Z
(xsenx − yex )dxdy
R

(ii) Seja R = [−1, 1] × [0, 2]. Calcule


Z Z p
|y − x2 |dxdy
R

Solução: (i) Decorre diretamente do Teorema de Fubini


que:

π2
Z Z
1
(xsenx − yex )dxdy = ( − e) .
R e 8

(ii) Seja
Z 2 p
h(x) = |y − x2 |dy.
0

Note que h(x) pode ser escrito como:


Z x2 p Z 2 p
h(x) = x2 − ydy + y − x2 dy.
0 x2

Agora os cálculos é feito de maneira padrão.

4.5- (Regra de Leibniz) Seja R = [a, b] × [c, d] e f : R → R


Z d
e para cada x ∈ [a, b] defina g(x) = f (x, y)dy. Se
c
fx (x, y) existe e é contı́nua sobre R então g(x) é dife-
Z d
0
renciável sobre [a, b] e g (x) = fx (x, y)dy.
c
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 339

Solução: Como fx existe sobre R, para cada y ∈ [c, d] e


cada h 6= 0 segue-se do Teorema do Médio, temos:

f (x + h, y) − f (x, y) = hfx (t, y), t ∈ [x, x + h].

Logo, h 6= 0,
g(x + h) − g(x)
=
h
1 d
Z
[f (x + h, y) − f (x, y)]dy
h c
1 d
Z Z d
= hfx (t, y)dy = fx (t, y)dy.
h c c

Agora, seja ε > 0. Pela continuidade uniforme de fx sobre


R existe δ > 0 tal que:
ε
|u − v| < δ ⇒ |fx (u) − fx (v)| < .
d−c
Considerando 0 < |h| < δ, obtemos:
Z d
g(x + h) − g(x)
− fx (x, y)dy =
Z d h c

[fx (t, y) − fx (x, y)]dy <


c
ε
< (d − c) = ε,
d−c
pois t ∈ (x, x + h) e assim |t − x| < |h| < δ.
Portanto, desta última desigualdade, obtemos
Z d
0 g(x + h) − g(x)
g (x) = lim = fx (x, y)dy.
h→0 h c
340CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.6- Sejam f : [a, b] × [c, d] → R e D2 f contı́nuas. Definamos


Z x
F (x, y) = f (t, y)dt.
a

(i) Determine D1 F e D2 F ;
Z g(x)
(ii) Se G(x) = f (t, x)dt, determine G0 (x).
a
Solução: (i) Seja h(t, y) uma primitiva da função f (t, y),
isto é,
D1 h(t, y) = f (t, y).

Logo,
Z x
F (x, y) = f (t, y)dt =
Z x a

D1 h(t, y)dt = h(x, y) − h(a, y),


a

o que implica, D1 F (x, y) = D1 h(x, y) − 0 = D1 h(x, y) =


f (x, y), que acarreta F (x, y) = f (x, y).
Fixamos x e definamos
Z x
G(y) = F (x, y) = f (t, y)dt.
a

Pelo Exercı́cio 4.5, obtemos


Z x
0
G (y) = D2 f (x, y)dx.
a

Como G0 (y) = D2 F (x, y), segue-se que:


Z x
D2 F (x, y) = D2 f (x, y)dx.
a
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 341

(ii) Seja
Z g(x)
G(x) = f (t, y)dt.
a
Fixamos y consideremos as funções

i : [c, d] → [a, b] × {y}


x 7→ i(x) = (x, y),

h : [a, b] × {y} → Im(g) × {y}


(x, y) 7→ h(x, y) = (g(x), y)
e
F : Im(g) × {y} → R
Z g(x)
(g(x), y) 7→ F (g(x), y) = f (t, y)dt.
a

Note que, G(x) = (F ◦ h ◦ i)(x). Pela Regra da Cadeia,


obtemos:
G0 = F 0 (h(i)) ◦ h0 (i) ◦ i0 .
Temos,
! !
g0 0 1
F 0 = (D1 f D2 f ), h0 = e i0 = .
0 0 0
Logo,

G0 (x) = (D1 f (g(x), y) D2 f (g(x), y))×


! !
g 0 (x) 0 1
=
0 0 0

= D1 f (g(x), y)g 0 (x),


e portanto, G0 (x) = D1 f (g(x), y)g 0 (x).
342CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.7- Seja R = [a, b] × [c, d] e f : R →Z RZcontı́nua. Seja


y x
F : R → R definida por F (x, y) = f (u, v)dudv.
c a
Mostre que Fxy = f para todo (x, y) ∈ R.
Solução: Use Exercı́cio 4.5.

4.8- Sejam u(x) e v(x) funções com derivadas contı́nuas para


todo x e que f (x, y) tem derivadas de parcial de primeira
ordem contı́nua para todo (x, y). Encontre a derivada da
função Z v(x)
g(x) = f (x, y)dy.
u(x)

Solução: Sugestão: Escreva


Z u(x) Z v(x)
g(x) = − f (x, y)dy + f (x, y)dy
a a

e use o Exercı́cio 4.6.

4.9- Sejam A ⊂ Rn um retângulo fechado e f, g : A → R


integráveis. Mostre que f g : A → R também é integrável.
Solução: Sejam

O1 = {x ∈ A : f é descontı́nua}

e
O2 = {x ∈ A : g é descontı́nua}.

Desde que f e g são integráveis, então O1 e O2 tem medida


nula. Seja

O = {x ∈ A : f g é descontı́nua}
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 343

Tem-se que O ⊂ O1 ∪ O2 , e como O1 ∪ O2 tem medida


nula, então O tem medida nula, e portanto f g é integrável.

4.10- Seja f : A ⊂ Rn → R uma função limitada e suponha que


A tenha Zconteúdo nulo. Mostre que f é integrável sobre
A e que f (x)dx = 0.
A
Solução: Seja R um retângulo fechado contido em A.
Agora, usando a hipótese que A tem contúdo nulo, para
cada ε > 0, podemos construir uma partição Pε de R, com
subretângulos
{R1ε , R2ε , . . . , Rsε },
a qual contém pontos de A e tal que
s
X
vol(Riε ) < ε.
i=1

Agora, se
P = {R1 , R2 , . . . , Rn },
for um refinamento de Pε , estes subretângulos em P contém
pontos de A, e além disso,
n
X
vol(Ri ) < ε.
i=1

Portanto, se |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ A, onde M > 0 temos

|S(f, P ) − s(f, P )| ≤ 2M ε.
Z
Logo, f é integral em A e f (x)dx = 0, pois |S(f, P )| ≤
A
M ε.
344CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.11- Sejam f, g : A ⊂ Rn → R funções limitadas e suponha


que f é integrável sobre A. Seja B ⊆ A tendo conteúdo
nulo e suponha que f (x) = g(x), ∀x ∈ A − B. Mostre
que g é integrável sobre A e que
Z Z
f (x)dx = g(x)dx.
A A

Solução: Note inicialmente que, A = (A−B)∪B. Agora,


B tendo por hipótese conteúdo Z nulo, então pelo Exercı́cio
4.9, g é integrável sobre B e g(x)dx = 0.
B
Note tambémZ que, f é integrável em B pois é integrável
em A e que f (x)dx = 0, pois B tem contéudo nulo.
B
Agora usando a hipótese f (x) = g(x), ∀x ∈ A − B, e que
f é integrável em A e portanto em A − B, tem-se:
Z Z
f (x)dx = g(x)dx.
A−B A−B

Portanto, g é integrável em A−B e B e consequentemente,


g é integrável em A = (A − B) ∪ B.
Além disso,
Z Z Z
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx =
A A−B B
Z Z Z
= g(x)dx + g(x)dx = g(x)dx.
A−B B A

Se C ⊂ Rn é um conjunto limitado de medida nula e


4.12- Z
χC dx existe, mostre que
R
Z
χC dx = 0.
R
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 345
Z
Solução: Como χC dx existe, temos que ∂C tem me-
R
dida nula. Logo, C = C ∪ ∂C tem medida nula e portanto
volume zero, pois C é compacto. Portanto, dado ε > 0
exite uma conbertura de retângulos fechados
n
X
O1 , . . . , On tal que vol(Oi ) < ε.
i=1

Desde que C é limitado, existe um retângulo fechado R


com C ⊂ R. Seja P uma partição de R com a seguinte
propriedade. Se S ∈ P é tal que S ∩ C 6= ∅ existe S ⊂ Oi
para algum i = 1, . . . , n.
Logo,
X X
s(χC , P ) = ms χC vol(S) = ms χC vol(S)+
S∈P S∈P
S∪C=∅
X
ms χC vol(S) =
S∈P
S∪C6=∅

X n
X
= vol(S) ≤ vol(Oi ) < ε.
S∈P i=1
S∪C=∅

Logo, 0 ≤ s(χC , P ) < ε.


Seguindo um raciocı́nio análogo, mostra-se que

0 ≤ S(χC , P ) < ε.

Assim,
Z
0 ≤ 0 ≤ s(χC , P ) ≤ χC dx ≤ S(χC , P ) < ε, ∀ε > 0.
A
346CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Portanto, Z
χC dx = 0.
R

Se f : A ⊂ Rn → R é uma função não negativa e


4.13- Z
f (x)dx = 0, mostre que
A

O = {x ∈ A : f (x) 6= 0}

tem medida nula. Z


Solução: Como f (x)dx = 0, dado ε > 0 existe uma
A
partição P de A tal que S(f, P ) < ε e s(f, P ) < ε.
Consideremos
 
1
On = x ∈ A : f (x) > .
n

Tem-se que f (x) ≥ n1 χOn = g(x).


Logo,
X
S(f, P ) = MR (f )vol(R) ≥
R∈P
X
MR (g)vol(R) = S(g, P ),
R∈P

que implica S(f, P ) ≥ S(g, P ).


Analogamente, obtemos s(g, P ) ≤ s(f, P ). Desde que
S(f, P ) < ε e s(f, P ) < ε, obtemos S(g, P ) < ε e
s(g, P ) < ε, o que implica

S(g, P ) − s(g, P ) < ε.


5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 347

Logo, g é integrável, e portanto,


Z Z
1
g(x)dx = χBn (x)dx ⇒
A A n
Z Z
1
n χBn (x)dx = χOn (x)dx
A n A
existe.
Agora, notemos que
Z Z
1 1 1
0 < vol(On ) = 1dx = χO dx =
n n On n A n
Z Z
1
χOn dx ≤ f (x)dx = 0,
A n A
que implica 0 ≤ n1 vol(On ) ≤ 0 e portanto, vol(On ) = 0.
Agora, note que

[
O= On ,
n=1
e como cada On tem volume zero, tem-se que On tem
medida nula.

4.14- Seja A = {(x, 0) : x ∈ R} ⊂ R2 . Mostre que A tem


medida nula em R2 .
 ε ε

Solução: Seja Ak = [−k, k]× − 4k2k , 4k2k um retângulo
fechado em R2 . Tem-se que,
ε ε
vol(Ak ) = 2k k
= k
4k2 2
e que

[ ∞
X
A⊂ Ak e vol(Ak ) < ε.
k=1 k=1

Portanto, A tem medida nula em R2 .


348CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

4.15- Mostre que



1√
Z
2
e−x dx = π.
0 2
Solução: Para a > 0, considere
Z a
2
E(a) = e−x dx.
0

Então,
Z a Z a Z
−x2 −y 2 2 −y 2
2
E (a) = e dx e dy = e−x dxdy,
0 0 R

onde R = [0, a] × [0, a] ⊂ R2 .


Consideremos os conjuntos C1 e C2 dados por:

C1 = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ a}

C2 = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0, y ≥ 0 e x2 + y 2 ≤ 2a2 }.
2 2
Temos que C1 ⊂ R ⊂ C2 , e como e−x −y > 0, obtemos:
Z Z Z
−x2 −y 2 −x2 −y 2 2 2
e dxdy ≤ e dxdy ≤ e−x −y dxdy.
C1 R C2
(5.40)
Seja φ = (φ1 , φ2 ) onde

φ1 (r, θ) = rcosθ e φ2 (r, θ) = rsenθ,

onde 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 < r < 2a.


Tem-se que Jφ(r, θ) = r 6= 0.
5.4. SOLUÇÕES DO EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4. 349

Note que φ(X) = C1 , onde X = [0, a] × [0, 21 ]. Portanto,


pelo Teorema da Mudança de Variáveis, obtemos:
Z Z
−x2 −y 2 2
e dxdy = e−r rdrdθ =
C1 φ−1 (C1 )
Z π Z a
(5.41)
2
−r2 1 2
= dθ re dr = π(1 − e−a ).
0 0 4
Analogamente, obtemos:
Z
2 2 1 2
e−x −y dxdy = π(1 − e−2a ). (5.42)
C2 4

Portanto, de (5.40), (5.41) e (5.42), obtemos:


1 2 1 2
π(1 − e−a ) ≤ E 2 (a) ≤ π(1 − e−2a ). (5.43)
4 4
Passando ao limite (5.43), quando a → ∞, obtemos:
Z a 2
−x2 π
lim e dx =
a→∞ 0 4
e portanto, √
Z ∞
−x2 π
e dx = .
0 2
350CAPÍTULO 5. SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Referências Bibliográficas

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Secound edition -1974.

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