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Notas de Aula

SEQUÊNCIAS E SÉRIES

Luiz Augusto Fernandes de Oliveira


e
Renan Edgard Brito de Lima

INSTITUTO DE TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

Departamento de Matemática
SUMÁRIO

1 Sequências 1
1.1 Sequências Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Subsequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Condições Sucientes para Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.5 Sequências de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2 Séries 11
2.1 Séries Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Critérios de Convergência para Séries Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.1 Séries de Termos não-Negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Séries Alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4 Convergência Absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

3 Séries de Potências 25
3.1 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3 Derivação e Integração de Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.4 O Teorema de Abel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4 Séries de Taylor 37
4.1 Séries de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Appendices 47
A Euler 47
A.1 Como Euler especulou a soma dos inversos dos quadrados . . . . . . . . . . . 47
A.2 Fórmula de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
A.3 Soma dos inversos dos primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
A.4 A função zeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

B Wallis, Stirling e Pêndulo 53


B.1 Fórmula de Wallis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
B.2 A Fórmula de Stirling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
B.3 O Pêndulo Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

3
CAPÍTULO 1
SEQUÊNCIAS

1.1 Sequências Numéricas


De modo informal, uma sequência é um arranjo innito ordenado de elementos de R. Por
ordenado, queremos dizer qual é o primeiro elemento da sequência, qual o segundo, etc. Por
exemplo, se 2, 3, 5, 7, . . . indica um arranjo dos primeiros números primos, entendemos que 2
é o primeiro termo da sequência, 3 é o segundo termo, 5 é o terceiro termo, etc.

Como temos em mente ordenar os elementos de um arranjo, vamos usar nessas notas o símbolo
N para indicar o conjunto N = {1, 2, 3, ...}. A denição que consideraremos é a seguinte

Denição 1.1.1. Uma sequência é uma função f : N → R.


Diremos então que f é uma sequência real. Se f f (n) = an é
é uma sequência real, o elemento
chamado o n-ésimo ∞
termo da sequência f . Usaremos a notação (an )n∈N ou (an )n=1 ou ainda
{an }∞
n=1 para indicar a sequência para a qual f (n) = an .

Como denido, uma sequência é uma função e, como tal, devemos distinguir os elementos da
sequência da propria sequência. Por exemplo, a sequência { n1 }n∈N tem como elementos os
números
1 1 1 1 1
1, , , , , ..., , ... (1.1)
2 3 4 5 n
Por outro lado, a sequência {an }n∈N para a qual

1, se n é ímpar
an = 2
n+2 , se n é par

tem como elementos

1 1 1 1
1, , 1, , 1, , 1, , ... (1.2)
2 3 4 5
Claramente, os elementos das sequências (1.1) e (1.2) são os mesmos; contudo, as sequências
são diferentes. Pode mesmo acontecer que o conjunto dos pontos {f (n) : n ∈ N} da imagem
da sequência f seja nito. Um exemplo é sequência {an } na qual an = (−1)n : a imagem é o
conjunto {−1, 1}, enquanto que a sequência é o arranjo innito ordenado
(−1, 1, −1, 1, −1, ....). (1.3)

Como no caso de funções reais, temos uma noção de limite para uma sequência (an )n∈N .

1
2 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS

Denição 1.1.2. n=1 uma sequência real. Dizemos que {an }n=1 é convergente se
{an }∞
Seja

existe um número real L com a seguinte propriedade: para todo número real  > 0, existe
n0 ∈ N tal que |an − L| <  para todo n ≥ n0 .

Quando {an }∞
n=1 é convergente, o número L da Denição 1.1.2 é único e doravante será deno-
minado limite da sequência {an }∞
n=1 . Denotaremos lim an = L, ou simplesmente, lim an = L.
n→∞

Exemplo 1.1.3. Seja c um número real e considere a sequência an = c para todo n ∈ N,



então {an }n=1 é convergente e lim an = c.
n→∞

Exemplo 1.1.4. Se an = 1
n para todo n ≥ 1, então lim an = 0.
n→∞

A imagem que o leitor deve fazer da noção de limite de uma sequência é a seguinte: Léo
limite da sequência {an }∞
n=1 se para todo n0 tal que, se n ≥ n0 , então
 > 0, existe um índice
an ∈ (L − , L + ). Ou ainda: todo intervalo aberto (L − , L + ) contém todos os termos an

da sequência, exceto um número nito deles. Isso implica, em particular, {an }n=1 é limitada,
isto é, que existe M > 0 tal que |an | ≤ M , para todo n.

Denição 1.1.5. Uma sequência que não é convergente é chamada divergente.


Dentre as sequências divergentes, vamos destacar duas classes importantes, de acordo com a
seguinte denição.

Denição 1.1.6. an diverge para +∞ se, dado M > 0, existe


Dizemos que uma sequência
n0 ∈ N, tal que para todo n ≥ n0 , tem-se an > M . Denotamos lim an = +∞. Analogamente,
uma sequência an diverge para −∞ se, dado M > 0, existe n0 ∈ N tal que, para todo n ≥ n0 ,
tem-se an < −M . Denotamos lim an = −∞.

Antes de passar a exemplos, vamos enunciar alguns resultados que são extremamente úteis. A
demonstração de cada um deles é uma consequência imediata da Denição 1.1.2 e é deixada
ao leitor.

Teorema 1.1.7. Se {an }∞


n=1 e {bn }∞
n=1 são sequências convergentes e α é um número real,
então

(i) lim (αan ) = α lim an ;


n→∞ n→∞

(ii) lim (an ± bn ) = lim an ± lim bn ;


n→∞ n→∞ n→∞

(iii) lim (an bn ) = ( lim an )( lim bn );


n→∞ n→∞ n→∞

an lim an
(iv) lim = n→∞ , se lim bn 6= 0.
n→∞ bn lim bn n→∞
n→∞

(v) lim |an | = lim an .


n→∞ n→∞

Teorema 1.1.8. Se {an }n∈N e {bn }n∈N são sequências que divergem para +∞, então

(i) lim αan = +∞ se α>0


n→∞

(ii) lim αan = −∞ se α < 0.


n→∞

(iii) lim (an + bn ) = +∞


n→∞
1.2. EXEMPLOS 3

(iv) lim (an bn ) = +∞


n→∞
1
(v) lim = 0.
n→∞ an

Teorema 1.1.9. Se f : [a, ∞) → R é uma função tal que lim f (x) = L


x→∞
e se an = f (n) para

todo n≥ a, então {an }∞ lim an


n=1 é convergente e tem-se n→∞ = L.

Teorema 1.1.10. Se f : [a, ∞) → R é uma função tal que lim f (x) = +∞


x→∞
e se an =
f (n) para todo n ≥ a, então lim an = +∞. (Vale um resultado análogo para o caso de
n→∞
lim f (x) = −∞.)
x→∞

Teorema 1.1.11 (Teorema do Confronto). Se an ≤ bn ≤ cn , para todo n≥1 e se lim an =


n→∞
lim cn = L, então lim bn = L.
n→∞ n→∞

Teorema 1.1.12. Suponha que f :R→R é uma função contínua num ponto x0 e suponha

que {an }n=1 é uma sequência que converge para

x0 . Então, {f (an )}n=1 converge para f (x0 ).

Uma sequência {an }∞


n=1 é limitada se existe M > 0 tal que |an | ≤ M para todo n ∈ N. Como
consequência imediata do Teorema do confronto 1.1.11, temos o seguinte

Corolário 1.1.13. Se {an }∞


n=1 é limitada e lim bn = 0,
n→∞
então lim an bn = 0.
n→∞

Teorema 1.1.14. Sejam {an }∞ ∞


n=1 e {bn }n=1 sequências tal que an ≥ bn . Se lim bn = +∞
n→∞
para todo n ≥ 1, então lim an = +∞.
n→∞

1.2 Exemplos
1 1
Exemplo 1.2.1. Se an = para todo n ≥ 1, então lim an = 0. De fato, se f (x) = , temos
n n→∞ x
que f (n) = an para todo n ∈ N e lim f (x) = 0. Pelo Teorema 1.1.9, temos lim an = 0.
x→∞ n→∞

Exemplo 1.2.2. Se an = nsen( πn ) para todo n ≥ 1, então lim an = π .


n→∞
De fato, se f (x) =
xsen( πx ), então f (n) = an para todo n≥1 e

π π sent
lim f (x) = lim xsen( ) = lim = π;
x→∞ x→∞ x t→0 t
pelo Teorema 1.1.9, lim an = π .
n→∞

ln n ln x
Exemplo 1.2.3. Se an = para n ≥ 1, então lim an = 0. De fato, se f (x) = , então
n n→∞ x
f (n) = an para todo n≥1e
ln x
lim f (x) = lim
x→∞ x→∞ x
∞ 1
que é da forma lim
∞ . Como x→∞ = 0, pela Regra de L'Hospital, temos lim f (x) = 0. Pelo
x x→∞
Teorema 1.1.9, lim an = 0.
n→∞
4 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS

Exemplo 1.2.4. Seja r um número real xado e seja an = rn para n ≥ 1. Então, {an }∞
n=1 é
convergente se e somente se −1 < r ≤ 1. Se |r| < 1, então lim rn = 0.
n→∞
Os casos r =1 ou r =0 são imediatos. Nestes casos, an é uma sequência constante e, em
particular, convergente. O caso r = −1 será visto no exemplo 1.3.5, onde veremos que a
sequência an = (−1)n é divergente.

Vamos examinar os casos |r| < 1, r 6= 0 e |r| > 1.


Suponhamos primeiro que r > 1. Então existe b > 0 tal que r = 1 + b. Do Teorema Binomial,
segue-se que
n(n − 1) 2
rn = (1 + b)n = 1 + nb + b + ... + bn > 1 + nb, (1.4)
2
para todo n ≥ 1. Como lim (1 + nb) = +∞, pelo Teorema 1.1.10, temos lim an = +∞.
n→∞ n→∞
Se r < −1, então |r| > 1 e, procedendo como no caso anterior, temos que a sequência bn = |an |
diverge. Portanto, an diverge (ver Teorema (1.1.7, (v))).
1
Suponha agora que 0 < r < 1. Então existe b>0 tal que r= . De (1.4) segue-se que
1+b
1 1 1
an = n
< < ,
(1 + b) 1 + nb nb

1
para todo n ≥ 1. Como an ≥ 0 lim
= 0, tem-se lim an = 0.
e
n→∞ nb n→∞
Finalmente, se −1 < r < 0, então |r| < 1 e procedemos como no caso anterior para obter
1
0 < |an | < , para n ≥ 1. Logo, lim |an | = 0 e isso implica que lim an = 0 (verique!).
nb n→∞ n→∞

Exercício: Se lim |an | = L e L 6= 0, você pode concluir que lim an = L ou lim an = −L?
Justique.


Exemplo 1.2.5. lim
n→∞
n
n = 1.
De fato, escreva
√ √
n ln n
an = n
n = eln n
=e n = ebn ,
ln n
onde bn = para n ≥ 1. Pelo Exemplo (1.2.3),temos que lim bn = 0 e pelo Teorema
n
(1.1.12)
0
que lim an = e = 1.

Rn
Exemplo 1.2.6. Se R ≥ 0, então lim
n→∞ n!
= 0.
Rn 1
Seja an = . Se 0 ≤ R ≤ 1, então 0 ≤ R n ≤ 1, para todo n ≥ 1, donde 0 ≤ an ≤ e,
n! n!
portanto, pelo Teorema do Confronto (ver Teorema 1.1.11), lim an = 0.
n→∞
R
Suponhamos agora que R > 1. Então, existe um inteiro p > 1 tal que < 1. Segue-se,
p
então, que
R R R R R R
< , < , ... , < ,
p+1 p p+2 p p+k p
para todo k≥1 inteiro.
1.3. SUBSEQUÊNCIAS 5

Se n > p, temos

 n−p
Rp Rn−p Rp R
0 ≤ an = < .
p! (p + 1)(p + 2)...(n − 1)n p! p
 n−p
Rp R R
Como está xo (é constante) e < 1, temos lim = 0. Pelo Teorema do
p! p n→∞ p
Confronto, segue-se que lim an = 0.
n→∞

1.3 Subsequências
Uma forma de demonstrar que uma sequência (an )∞
n=1 diverge é utilizar a noção de subsequên-
cia, que deniremos a seguir.

Denição 1.3.1. Seja {an }∞


n=1 uma sequência real. SeS = {n1 , n2 , ..., nk , ...} é um conjunto
innito de números inteiros tais que n1 < n2 < ... < nk < nk+1 < ..., a sequência {ank }∞ k=1 é
chamada uma subsequência da ∞
sequência {an }n=1 .

Observação: À luz da denição (1.1.1), a subsequência denida pelo subconjunto S na


denição (1.3.1) é a restrição da função f ao subconjunto S.
 
1 1 1 1
Exemplo 1.3.2. Seja an = , isto é, a sequência 1, , , , . . . . Um exemplo de uma
n  2 3 4
1 1 1
subsequência é bn = a2n , que é , , . . . . Outro exemplo de subsequência é cn = a3n−2 ,
  2 4 6
1 1
que é 1, , , . . . .
4 7

Naturalmente, toda subsequência é, em particular, uma sequência e, no caso especíco do


exemplo anterior, temos que lim an = lim bn = lim cn = 0
n→∞ n→∞ n→∞
 
1 1 1 1 1 1
Observação: A sequência 1, , , , , , . . . não é uma subsequência de an = . É
6 3 12 24 48 n
obrigatório que se mantenha a ordenação n1 < n2 < n3 < . . . dos índices dos termos da
sequência an .

Teorema 1.3.3. Se {an }∞


n=1 converge para L e se {ank }∞
k=1 é uma subsequência de {an }∞
n=1 ,
então {ank }∞
k=1 também converge para L.

Corolário 1.3.4. Se uma sequência admite duas subsequências distintas que convergem para
limites distintos, então a sequência original é divergente.

As demonstrações do Teorema (1.3.3) e do Corolário (1.3.4) são imediatas e ca como exercício
para o leitor.

Exemplo 1.3.5. A sequência an = (−1)n é divergente, pois ela admite duas subsequências
convergentes para limites distintos: a subsequências dos índices pares converge para 1 e a
subsequências dos índicesímpares converge para −1.
6 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS

Exemplo 1.3.6. Considere o seguinte exemplo:



 0, se n é da forma 3k




 2

an = , se n é da forma 3k + 1
 n+2



 n + 1 , se n é da forma 3k + 2



n
As subsequências a3n e a3n−1 são sequências convergentes que convergem para 0, mas a
subsequência a3n−2 converge para 1. Pelo Corolário 1.3.4, a sequência an é divergente.

Exercício: Escreva os 10 primeiros termos da sequência (an ) do Exemplo (1.3.6).

1.4 Condições Sucientes para Convergência


Denição 1.4.1. Dizemos que uma sequência de números reais {an }∞
n=1 é

(i) crescente se an ≤ an+1 , para todo n ≥ 1;


(ii) decrescente se an+1 ≤ an , para todo n ≥ 1.

Se uma sequência é crescente ou se ela é decrescente, dizemos que ela é uma sequência mo-
nótona. an < an+1 para n ≥ 1, dizemos que a sequência é estritamente crescente;
Se se
an+1 < an para n ≥ 1, dizemos que a sequência é estritamente decrescente.

Denição 1.4.2. Dizemos que uma sequência de números reais {an }∞


n=1 é

(i) limitada superiormente se existe b tal que an ≤ b, para todo n ≥ 1;


(ii) limitada inferiormente se existe a tal que an ≥ a, para todo n ≥ 1;
(iii) limitada se existem a e b tal que a ≤ an ≤ b, para todo n ≥ 1.

O principal resultado dessa seção é demonstrar o seguinte

Teorema 1.4.3. Toda sequência crescente e limitada é convergente.


Demonstração. Seja {an }∞
n=1 uma sequência crescente e limitada. Então, existe um número
real b an ≤ b, para todo n ≥ 1. Seja S = {an : n ≥ 1} o conjunto dos elementos da
tal que
sequência {an }. Então, S é um conjunto não-vazio e limitado superiormente (por b). Pelo
Axioma do Supremo, existe um número real L ≤ b tal que L = sup S . Vamos demonstrar que

a sequência {an }n=1 converge para L.
Seja dado  > 0. Como L −  não é um limitante superior de S , existe n0 ∈ N tal que
L −  < an0 ≤ L. Como {an }∞ n=1 é crescente, temos an0 ≤ an ≤ L, para todo n ≥ n0 .
Segue-se então que L −  < an ≤ L para todo n ≥ n0 . Isso implica que |an − L| < , para

todo n ≥ n0 . Portanto, {an }n=1 converge para L, como queríamos demonstrar.

De forma análoga, temos

Teorema 1.4.4. Toda sequência decrescente e limitada é convergente.


1.4. CONDIÇÕES SUFICIENTES PARA CONVERGÊNCIA 7

Decorre da demonstração do Teorema 1.4.3 que, se {an }∞


n=1 é uma sequência crescente e
limitada superiormente, então {an }n=1 é convergente e vale

lim an = sup{an : n ≥ 1}.


n→∞

De forma análoga, se {an }∞


n=1 é uma sequência decrescente e limitada inferiormente, então

{an }n=1 é convergente e vale

lim an = inf{an : n ≥ 1}.


n→∞

Naturalmente, uma sequência convergente não precisa ser necessariamente nem crescente nem
decrescente. Na realidade, ela não precisa ser nem mesmo monótona. Um exemplo desse fato
(−1)n
é a sequência dada por an = n , que converge para zero, mas não é monótona.

1 n
 
Exemplo 1.4.5. Considere a sequência an = 1 + ∞
. Vamos mostrar que (an )n=1 é uma
n
sequência convergente. Para isso, mostraremos que an é crescente e limitada superiormente e
aplicaremos o Teorema 1.4.3.

Passo 1: Vamos mostrar que an ≤ 3 para todos os n ≥ 1.

Usando a expansão binomial, temos que

 n
1
an = 1 +
n
n
X n! 1
=1+
(n − k)!k! nk
k=1
n
X n(n − 1)(n − 2) . . . (n − k + 1)
=1+
k!nk
k=1
n     
X 1 1 2 k−1
=1+ 1− 1− ... 1 −
k! n n n
k=1
n
X 1
≤1+
k!
k=1
n
X 1
≤1+
2k−1
k=1
 
1 1 1
= 1 + 1 + + + . . . n−1
2 4 2
< 1 + 2 = 3.

Logo, an ≤ 3, para todo n ∈ N. E isso mostra que an é limitada superiormente.

Passo 2: an ≤ an+1 , para todo n.


8 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS

Vimos no passo anterior que

n     
X 1 1 2 k−1
an = 1 + 1− 1− ... 1 −
k! n n n
k=1
n     
X 1 1 2 k−1
≤1+ 1− 1− ... 1 −
k! n+1 n+1 n+1
k=1
n       n+1
X 1 1 2 k−1 1
<1+ 1− 1− ... 1 − +
k! n+1 n+1 n+1 n+1
k=1
n
X n(n − 1) . . . (n − k) 1
=1+ k
+
(n + 1) k! (n + 1)n+1
k=1
n+1
X (n + 1)! 1
=1+
(n + 1 − k)!k! (n + 1)k
k=1
 n+1
1
= 1+
n+1
= an+1
Logo, an ≤ an+1 para todo n ∈ N. Portanto, concluímos que (an )∞
n=1 é convergente.
Como é sabido, o valor do limite é conhecido como número de Euler e é denotado por e.
Observação: Como vimos, a sequência do Exemplo anterior é estritamente crescente e con-
verge para e. Em particular,

1 n
 
1+ <e , para todo n ≥ 1.
n

1.5 Sequências de Cauchy


Denição 1.5.1 (Sequência de Cauchy) . Dizemos que uma sequência de números reais
{an }∞
n=1 é uma sequência de Cauchy se dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que |an − am | < ε
para todos n, m ≥ n0 .

Decorrem imediatamente da Denição 1.5.1 as seguintes consequências:

(i) se {an }∞
n=1 é uma sequência de Cauchy, então {an }∞
n=1 é limitada;

(ii) se {an }∞
n=1 é convergente, então {an }∞
n=1 é uma sequência de Cauchy.

Com efeito, para demonstrar (i), tomemos ε = 1. Como {an }∞n=1 é de Cauchy, pela Denição
1.5.1, existe n0 tal que |an − am | < 1, para todos n, m ≥ n0 . Em particular, tomando
m = n0 , concluímos então que an0 − 1 < an < an0 + 1, para todo n ≥ n0 ; agora tomando
a = min{a1 , a2 , ..., an0 −1 , an0 − 1} e b = max{a1 , a2 , ..., an0 −1 , an0 + 1}, obtemos a ≤ an ≤ b,

para todo n ≥ 1; portanto, {an }n=1 é limitada.

Para demonstrar (ii), suponha que lim an = L e seja dado ε > 0. Então, existe n0 ∈ N
n→∞
tal que |an − L| < ε/2, para todo n≥ n0 . Portanto, se n, m ≥ n0 , temos
|an − am | = |(an − L) + (L − am )|
≤ |an − L| + |am − L|
< ε/2 + ε/2 = ε,
1.5. SEQUÊNCIAS DE CAUCHY 9

e, portanto, {an }∞
n=1 é uma sequência de Cauchy.
O grande resultado das sequências de Cauchy nos números reais é a validade da recíproca do
item (ii).

Teorema 1.5.2. Suponha que {an }∞


n=1 é uma sequência de Cauchy de números reais. Então,
{an }∞
n=1 é convergente.

Demonstração. Seja {an }∞


n=1 uma sequência de Cauchy de números reais e dena o conjunto
Sn por
Sn = {ak : k ≥ n}.
Como {an }∞
n=1 é uma sequência de Cauchy, cada conjunto Sn é limitado e não-vazio, de modo
que existe bn := sup Sn . De Sn+1 ⊂ Sn , para todo n, obtemos bn+1 ≤ bn , para todo n, de

modo que a sequência {bn }n=1 é decrescente e limitada. Pelo Teorema 1.4.3, existe L ∈ R tal
que lim bn = L.
n→∞
Vamos provar que {an }∞
n=1 converge para L. Faremos isso em duas etapas. Primeiramente,
mostraremos que an possui uma subsequência convergente para L. De fato, para cada n
xado, como bn = sup{ak ; k ≥ n}, e, pela denição de supremo, existe kn ≥ n tal que
1
bn − < akn < bn . Pelo Teorema do Confronto, temos que lim akn = L.
n n→∞
A 2ªetapa é mostrar que an de fato converge para L.

Dado ε > 0. Então, como an é de Cauchy, existe n1 ∈ N tal que |an − am | < ε/2 para todo
n, m ≥ n1 . Por outro lado, como akn converge para L, temos que existe n2 tal que para todo
n > n2 , temos que |akn − L| < ε/2. Tome n0 = max{n1 , n2 }, então para todo n > n0 , temos

|an − L| = |an − akn + akn − L| ≤ |an − akn | + |akn − L| < ε.

Portanto {an }∞
n=1 converge para L. A demonstração está completa.

Observação. Como vimos, a demonstração do Teorema 1.5.2 repousa fortemente na existên-


cia do número bn = sup Sn , para cada n, que por vez é consequência do Axioma do Supremo.
É um exercício interessante o leitor demonstrar que se admitirmos o Teorema 1.5.2 como
verdadeiro, a existência do supremo de um conjunto não-vazio limitado superiormente de
números reais pode ser demonstrada, passando, assim, a ser um teorema. Portanto, os dois
resultados (Axioma do Supremo e convergência de sequências de Cauchy de números reais)
são equivalentes e ambos expressam o fato importante de que o conjunto R dos números reais
`não tem buracos', isto é, R é um espaço completo.
10 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS
CAPÍTULO 2
SÉRIES

2.1 Séries Numéricas


Denição 2.1.1. A série associada à sequência {an }∞
n=1 é a sequência {sn }∞
n=1 cujo termos
sn s1 = a1 , s2 = a1 + a2 , . . . , sn = a1 + a2 + · · · + an ,
são denidos por para todo n ≥ 1. Os
termos sn são chamados somas parciais da série {sn }n=1 .

O termo an será doravante denominado termo geral da série {sn }n=1 .


X
Para indicar que{sn }∞ ∞
n=1 é a série associada à sequência {an }n=1 usaremos a notação an .
X 1 1
Por exemplo,

indica a série associada à sequência {an }n=1 dada por an = . Os
2n−1 X 2n−1
1
termos da sequência de são
2n−1
1 1 1 1
s1 = 1 , s2 = 1 + , . . . , sn = 1 + + 2 + · · · + n−1 .
2 2 2 2

Denição 2.1.2. convergente


X
Dizemos que a série an é se a sequência de suas somas

parciais {sn }∞
n=1 tem limite.

an converge para S
X X
Se S = lim sn , dizemos que a série e denotaremos S= an .
n→∞
n=1

X ∞
X
Se an não existe ou se é +∞ ou −∞, dizemos que a série an é divergente.
n=1 n=1

Decorre diretamente das propriedades de sequência o seguinte teorema

Teorema 2.1.3.
X X X
Se an e bn são convergentes, então (an + bn ) é convergente; se α
X
é um número real, então (αan ) é convergente. Além disso,


X ∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
(an + bn ) = an + bn e (αan ) = α an .
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1

11
12 CAPÍTULO 2. SÉRIES

1
Exemplo 2.1.4.
X
No exemplo acima , temos
2n−1

  n 
1 3 1 1 1 1 1
s1 = 1 , s2 = 1 + = , ... , sn = 1 + + 2 + · · · + n−1 = 1 1− ,
2 2 2 2 2 1− 2
2

para todo n ≥ 1.

(Para obter a expressão para sn usamos o fato de que sn é a soma dos n primeiros termos de
1
uma progressão geométrica de razão ). Portanto,
2

 n−1
1
sn = 2 − ,
2

X 1
e, portanto, lim sn = 2. Isso mostra que a série converge e vale = 2.
n→∞ 2n−1
n=1

Denição 2.1.5. rn−1 .


P
A série geométrica de razão r é a série

Teorema 2.1.6.
X
A série geométrica rn−1 é convergente se e somente se |r| < 1. Além
1
disso, se |r| < 1, a série geometrica converge para 1−r :


X 1
rn−1 = .
1−r
n=1

Demonstração.
X
Sejasn = 1 + r + r2 + · · · + rn−1 a sequência associada à série rn−1 .
Para obter uma expressão para sn , usamos a técnica utilizada por Gauss: se r 6= 1, multipli-
camos sn por r, para obter

rsn = r + r2 + · · · + rn ;

a seguir, subtraímos rsn de sn , para obter

(1 − r)sn = 1 + r + r2 + · · · + rn−1 − (r + r2 + · · · + rn−1 + rn ),

e, portanto,
1 − rn
sn = .
1−r
Se r=1 obtemos imediatamente s n = n.

Para estudar a convergência da séria geométrica, precisamos estudar o limite lim sn . Claro,
n→∞
lim sn = ∞ se r = 1. Se r 6= 1, então
n→∞

1 − rn 1
lim sn = lim = ,
n→∞ n→∞ 1 − r 1−r

se |r| < 1. Se r > 1, então lim sn = +∞, enquanto que se r < −1, lim sn não existe.
n→∞ n→∞
2.2. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES NUMÉRICAS 13

1 1 1 1
Exemplo 2.1.7.
X
Considere a série . Como = − , as somas
n(n + 1) n(n + 1) n n+1
parciais sn têm uma expressão simples:

       
1 1 1 1 1 1 1 1
sn = 1 − + − + − + ··· + − =1− ,
2 2 3 3 4 n n+1 n+1
para todo n ≥ 1. Portanto, lim sn = 1. Isso mostra que a série converge para 1:
n→∞

X 1
= 1.
n(n + 1)
n=1

O procedimento utilizado para calcular sn no Exemplo 2.1.7 permite uma generalização inte-
ressante que nos permitirá criar uma innidade de exemplos de séries convergentes.

Teorema 2.1.8 (Série Telescópica) . f : [1, ∞) → R é uma função


Suponha que
X para a qual
existe lim f (x). Seja an = f (n) − f (n + 1), para n ≥ 1 inteiro. Então a série an converge
x→∞
X∞
e vale an = f (1) − lim f (n + 1).
n→∞
n=1

Demonstração. Exercício.

Exercício: Justique a igualdade

∞  
X
n n
(−1) ln = ln 2.
n+2
n=1

2.2 Critérios de Convergência para Séries Numéricas


Nessa seção, vamos apresentar alguns critérios que nos permitirão decidir se uma dada série
é convergente ou divergente. Começamos com o mais simples deles:


Teorema 2.2.1.
X
(Critério do Termo Geral) Se an converge, então lim an = 0.
n→∞
n=1

Demonstração. Suponha que a sequência das somas parciais sn = a1 + a2 + · · · + an converge


para s. De an = sn − sn−1 concluímos que lim an = lim (sn − sn−1 ) = s − s = 0.
n→∞ n→∞


Corolário 2.2.2.
X
Se lim an 6= 0 ou não existe, então an é divergente.
n→∞
n=1


n+1 n+1
Exemplo 2.2.3.
X
A série é divergente, pois lim = 1.
n n→∞ n
n=1

X
O exemplo seguinte mostra que a recíproca do Teorema 2.2.1 é falsa: uma série an pode
n=1
satisfazer a propriedade lim an = 0 mas ela pode não ser convergente.
n→∞
14 CAPÍTULO 2. SÉRIES


1
Exemplo 2.2.4. série harmônica.
X
Considere a série , chamada Claramente temos que
n
n=1
1
lim an = lim = 0. Vamos demonstrar que a série harmônica é divergente.
n→∞ n→∞ n
1 1
Seja sn = 1 + + · · · + a soma parcial de ordem n da série harmônica. Como os termos an
2 n
são positivos, a sequência {sn } é crescente; vamos mostrar que lim sn = ∞.
n→∞
1
s2 = 1 +
2  
1 1 1 1 1 1
s4 = 1 + + + >1+ + =1+2 ,
2 3 4 2 2 2
 
1 1 1 1 1 1 1
s8 = s4 + + + + >1+2 +4 =1+3
5 6 7 8 2 8 2
e, por indução, obtemos
1
s2n > 1 + n
2
para todo n ≥ 1. Segue-se então que lim s2n = ∞ e, como {sn } é crescente, lim sn = ∞, o
n→∞ n→∞
que mostra que a série diverge.

2.2.1 Séries de Termos não-Negativos

Por permitir um tratamento mais simples, nessa subseção vamos nos concentrar primeiramente

positivos:
X
em discutir a convergência de séries de termos são as séries an , com an ≥ 0,
para todo n ≥ 1.

Começamos com o seguinte

Teorema 2.2.5. Uma série de termos positivos é convergente se e somente se a sequência de


suas somas parciais é limitada.

Demonstração.
X
Se an é uma série cujos termos satisfazem an ≥ 0, para todo n ≥ 1, então

a sequência de suas somas parciais sn = a1 +a2 +· · ·+an é crescente. Logo, {sn } é convergente
se e somente se ela é limitada.

Teorema 2.2.6. (Critério da Comparação) Suponha que 0 ≤ an ≤ bn , para todo n ≥ 1.


Temos:
X X
(i) se bn converge, então an converge;

X X
(ii) se an diverge, então bn diverge.

Demonstração. Consequência imediata do Teorema 2.2.5.

Observação. Como a convergência ou divergência de uma série não é afetada se excluirmos


um número nito de seus termos, na hipótese do Teorema 2.2.6 acima podemos supor que a
propriedade 0 ≤ an ≤ bn seja válida somente para todo n maior que um índice pre-xado n0
- obteremos a mesma conclusão. Dessa forma, todos os resultados que o leitor encontrará a
seguir continuam válidos trocando a hipótese para todo n ≥ 1 por existe n0 tal que para
todo n ≥ n0 .
2.2. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES NUMÉRICAS 15

X 1 1 1 X1
Exemplo 2.2.7. Considere a série √ . Como √ ≥ , para todo n ≥ 1 e como
n n n n
X 1
é divergente, pelo Critério da Comparação, concluímos que √ é divergente.
n

X 1
Exemplo 2.2.8. Considere a série , onde p > 0 é um número real xado. Se 0 < p < 1,
np X
1 1 1
então > , para todo n ≥ 1. Como é divergente, pelo Critério da Comparação,
np n X n
1
concluímos que é divergente se 0 < p < 1.
np
X 1
Por outro lado, se p ≥ 2, a série é convergente. De fato, se p = 2, a soma parcial sn
np
da série se escreve como

1 1
sn = 1 + 2
+ ··· + 2
2 n
Como k 2 ≥ k(k − 1), para todo inteiro k ≥ 1, obtemos
1 1
2
≤ ,
k k(k − 1)
para todo k ≥ 2 e, portanto, cada termo da série original é dominado pelo correspondente
X 1 X 1
termo da série . Como vimos no Exemplo 2.1.7, a série converge
k(k − 1) k(k − 1)
X 1
para 1; pelo Critério da Comparação, podemos concluir que é convergente (e tem soma
n2
1 1
s ≤ 2). Finalmente, se p > 2, cada termo da an = p é menor que bn = 2 , isto é, an ≤ bn ,
n Xn
para todo n ≥ 1. Do Critério da Comparação, concluímos que a série an é convergente.

X 1
Em resumo: a série é convergente se p≥2 e é divergente se p ≤ 1.
np
n=1

X 1
Observação. Vamos mostrar mais adiante (cf. Critério da Integral) que também é
npX
1
convergente se 1 < p < 2. Isso completará a análise da convergência da série para
np
todos os valores de p.

Uma consequência imediata do critério da comparação é

Teorema 2.2.9. (Critério da Comparação no Limite) Suponha que an ≥


X0 e bn X
> 0 para
an
todo n≥1 e que o limite lim seja um número real não-nulo. Então, an e bn são
n→∞ bn
ambas convergentes ou ambas divergentes.

an `
Demonstração. Suponha que lim = ` e que ` > 0. Tomando = na denição de limite,
n→∞ bn 2
concluímos que existe n0 tal que, se n ≥ n0 , então

an `
| − `| < .
bn 2
` 3`
Isso implica que
2 bn ≤ an ≤ 2 bn , para todo n ≥ n0 . A conclusão do teorema segue do
Critério da Comparação.
16 CAPÍTULO 2. SÉRIES

1
Exemplo 2.2.10.
X
Considere a série ln(1 + ), onde p > 0 é um número real xado.
np
1
Aqui, an = ln(1 + ) tende a zero quando n → ∞. Usando considerações geométricas a
np
respeito da reta tangente ao gráco da função f (x) = ln(1 + x) em (0, 0), concluímos que
1 1
ln(1 + p ) tende a zero quando n→∞ com `velocidade proporcional' à daquela com que
p
n X 1n
tende a zero. Isso sugere que a série dada tem o mesmo comportamento que a série .
np
1
Para tornar precisas essas ideias, usamos o Teorema 2.2.9: se , então bn =
np
 
an 1 ln(1 + x)
lim = lim np ln 1 + p = lim = 1,
n→∞ bn n→∞ n x→0 x
1
usando a regra de L'Hospital, após a mudança = x. Pelo Critério da Comparação no
np
Limite, as séries são ambas convergentes ou ambas divergentes.
∞  
X 1
Portanto, a série ln 1 + p converge se p>1 e diverge se p ≤ 1.
n
n=1

∞ √
3n4 + 2 sen( n1 )
3

Exemplo 2.2.11.
X
Considere a série √
4
√ .
n=1
4n3 + 3 5 2n3 + 2n + 3

3n4 + 2 sen( n1 )
3

Se an = √
4
√ , podemos vericar que a `taxa de crescimento' do numerador
4n3 + 3 5 2n3 + 2n + 3
de an é da forma n
4/3−1 = n1/3 e que a do denominador é da forma n3/4+3/5 = n27/20 . Assim,
X
an cresce com `velocidade' n1/3−27/20 = n−61/60 . Essas estimativas sugerem que an se
X 1 61
comporta como a série , com p = ; como p > 1, os exemplos anteriores sugerem que
np 60
a série é convergente.

X
Para tornar rigorosa a demonstração de que, de fato, a série an diverge, usamos o Critério
1 an
da Comparação no Limite. Seja bn = e calculemos lim . Temos
n31/60 n→∞ bn

an
3
3n4 + 2 sen( n1 ) n3/4+3/5
lim = lim √ √ ·
n→∞ bn n→∞ 4 4n3 + 3 5 2n3 + 2n + 3 n4/3−1
1
sen( n )
q
3
3 + n24 √
3
1
3
= lim q q n
= √4
√ .
n→∞ 4
4 + n33 5 2n3 + n22 + n33 452
X X
Agora aplicamos o Teorema 2.2.9 para concluir que as séries an e bn são ambas con-
vergentes.

Teorema 2.2.12. (Critério da Razão) Suponha que an > 0 e que o limite

an+1
` := lim
n→∞ an

existe. Temos
X
(i) se ` < 1, então an é convergente;

X
(ii) se ` > 1, então an é divergente.
2.2. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES NUMÉRICAS 17

Demonstração. (i) Suponha que 0 ≤ ` < 1. Fixando um número real r tal ` < r < 1 e
tomando =r−` na denição de limite, concluímos que existe n0 tal que, se n ≥ n0 , então
an+1
| − `| < r − `.
an

Isso implica que an+1 ≤ ran , para todo n ≥ n0 . an0 +1 ≤ ran0 ,


Daqui concluímos que
an0 +2 ≤ r2 an0 , ... ,an0 +p ≤ rp an0 , para todo p ≥ 1. X n ≥ n0 .
Logo, an ≤ rn−n0 an0 , para todo

A conclusão do teorema segue do Critério da Comparação, considerando a séries an0 rn−n0 ,


que é uma série geométrica de razão r .

(ii) Suponha que ` > 1. Fixando um número real r 1<r<`e


tal tomando =`−r na
denição de limite, concluímos que existe n0 tal que, se n ≥ n0 , então
an+1
| − `| < ` − r.
an

Isso implica que an+1 ≥ ran , para todo n ≥ n0 . Procedendo como acima, concluímos
Xan ≥
rn−n0 a n0 , para todo n ≥ n0 . Logo, lim an = ∞; pelo Teorema 2.2.1, a série an é
n→∞
divergente.

Teorema 2.2.13. (Critério da Raiz) Suponha que an > 0 e que o limite


` := lim n
an
n→∞

existe. Temos
X
(i) se ` < 1, então an é convergente;

X
(ii) se ` > 1, então an é divergente.

Demonstração. (i) Suponha que 0 ≤ ` < 1. Fixando um número real r tal ` < r < 1 e
tomando =r−` na denição de limite, concluímos que existe n0 tal que, se n ≥ n0 , então

| n an − `| < r − `.

Isso implica que an ≤ rn , para todo n ≥ n0 . A conclusão do teorema é consequência do


X
Critério da Comparação, considerando que a série rn é uma série geométrica de razão
r < 1.

(ii) Suponha que ` > 1. Fixando um número real r 1<r<`e


tal tomando =`−r na
denição de limite, concluímos que existe n0 tal que, se n ≥ n0 , então

| n an − `| < ` − r.

Isso implica que an ≥ rn , para todo n ≥ n0 . Logo, lim an = ∞; pelo Teorema 2.2.1, a série
X n→∞
an é divergente.
18 CAPÍTULO 2. SÉRIES

Os resultados dos Teorema 2.2.12 e 2.2.13 no caso em que ` = 1 não fornecem qualquer
conclusão a respeito da convergência ou da divergência da série estudada. Isso indica portanto,
que outros testes precisam ser utilizados na análise da convergência ou divergência da série
considerada. O Exemplo 2.2.14 a seguir mostra porque o caso `=1 é inconclusivo.

Exemplo 2.2.14. Para a sequência an = 1


np , obtemos
 p
an+1 n
lim = lim =1
n→∞ an n→∞ n+1
e
√ √
n
p
lim n
an = lim n = 1.
n→∞ n→∞

X 1
Se p > 1, então é convergente mas `=1 nos dois critérios; se p ≤ 1, ela é divergente
np
mas, novamente, ` = 1 nos dois critérios.

Exemplo 2.2.15.
X
Considere a série nan , onde a > 0. Temos

an+1 (n + 1)a
lim
= lim =a
n→∞ an n→∞ n
Portanto, a série é convergente se 0 < a < 1 e é divergente se a > 1. O teste não fornece
informação quando a = 1.
X
Entretanto, quando a = 1 a série dada simplica para n, que é divergente devido ao
Teorema 2.2.1.

Se na série do Exemplo 2.2.15 utilizarmos o Critério da Raiz, obteremos

√ √
lim n
an = lim a n n = a
n→∞ n→∞

e, portanto, as mesmas conclusões.

Observação. O fato de os dois limites calculados no Exemplo 2.2.15 terem o mesmo valor não
é incindental. De fato, pode-se demonstrar que se ambos existem, então

an+1 √
lim = lim n an .
n→∞ an n→∞

Deixaremos ao cargo do leitor a demonstração desta observação.

Teorema 2.2.16. (Critério da Integral) Suponha que f : [1, ∞) → R é uma função contínua
e que an > 0 é uma sequência tais que

(i) an = f (n), para todo n ≥ 1;

(ii) f é contínua, positiva e decrescente em [1, ∞).



X Z ∞
Então, a série an e a integral imprópria f (x) dx são ambas convergentes ou são ambas
n=1 1
divergentes.

Demonstração. Consideremos a soma parcial sn da série. Comparando as áreas na gura


abaixo, podemos escrever
2.2. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES NUMÉRICAS 19

y = f (x)
y = f (x)

0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6
a1 a2 a3 a4 a5 a2 a3 a4 a5 a6

Z n+1 Z n
f (x) dx ≤ a1 + a2 + a3 + ... + an ≤ a1 + f (x) dx.
1 1
Z b
Portanto, existe lim sn se e somente se existe lim f (x) dx.
n→∞ b→∞ 1

X 1
Exemplo 2.2.17. , onde p > 0 é um número real xado.
Considere novamente a série
np
1 1
Seja an = e consideremos a função f : [1, ∞) → R dada por f (x) = . Claramente,
np xp
an = f (n), f é contínua, positiva, decrescente e lim f (x) = 0. Pelo Critério da Integral, a
x→∞ Z ∞
X 1 1
série é convergente se e somente se a integral imprópria dx é convergente. Se
np 1 x p
p = 1, então
Z ∞ Z b
1 1
dx = lim dx = lim [ln b − ln 1] = ∞.
1 x b→∞ 1 x b→∞

Z ∞
1 X1
Portanto, dx é divergente; consequentemente, a série é divergente (como já sa-
1 x n
bíamos).

Se p 6= 1, então

Z ∞ Z b  1
1
dx = lim
1
dx = lim
1
[b1−p − 1] = p−1 , se p>1
.
1 xp b→∞ 1 x p b→∞ 1 − p +∞, se 0<p<1


X 1
Em resumo: a série é convergente se p>1 e é divergente se p ≤ 1.
np
n=1


1
Exemplo 2.2.18.
X
Considere a série , onde p>0 é um número real xado.
n(ln n)p
n=2

1 1
Seja an = e consideremos a função f : [2, ∞) → R dada por f (x) =
n(ln n)p x(ln x)p .
Claramente, an = f (n), f é contínua, positiva e lim f (x) = 0. Para mostrar que f é
x→∞
decrescente, calculamos f 0:
20 CAPÍTULO 2. SÉRIES

−[(ln x)p + p(ln x)p−1 ] −(ln x)p−1 [ln x + p]


f 0 (x) = = .
[x(ln x)p ]2 [x(ln x)p ]2
Logo, f 0 (x) < 0 quando x≥2 e, portanto, f é estritamente decrescente no intervalo [2, ∞).
Assim, as hipóteses do Critério da Integral estão todas vericadas e podemos
Z então concluir ∞
X 1 1
que a série é convergente se e somente se a integral imprópria dx é
n(ln n)p 2 x(ln x)p
convergente. Se p = 1, então

Z ∞ Z b
1 1
dx = lim dx = lim [ln(ln b) − ln(ln 2)] = ∞.
2 x ln x b→∞ 2 x ln x b→∞

Z ∞ ∞
1 X 1
Portanto, dx é divergente; consequentemente, a série é divergente.
2 x(ln x)p n ln n
n=2

Se p 6= 1, então

Z ∞ Z b
1 1
dx = lim dx
2 x(ln x)p b→∞ 2 x(ln x)p
1
= lim [(ln b)1−p − (ln 2)1−p ]
b→∞ 1 − p
 1
= p−1 , se p > 1

+∞, se 0 < p < 1


X 1
Em resumo: a série é convergente se p>1 e é divergente se p ≤ 1.
n(ln n)p
n=1

Observação: f : [1, +∞] → R nas hipóteses do Teorema


Em muitas situações, a função
(2.2.16) é derivável em (x0 , +∞) para algum x0 > 1. Nesses casos, a vericação de que f é
0
decrescente em (x0 , +∞) pode ser concluída pela análise do sinal de f (x), como zemos no
Exemplo (2.2.18).

2.3 Séries Alternadas


Como vimos a condição  limite do termo geral de uma série igual a zero não implica que a
série seja convergente. Entretanto, para séries alternadas essa condição é `quase suciente',
segundo o seguinte

Teorema 2.3.1. (Critério de Leibniz para séries alternadas)



X
Considere a série alternada (−1)n+1 an , com an ≥ 0. Suponha que
n=1
(i) a sequência {an }∞
n=1 é decrescente, isto é, an+1 ≤ an , para todo n ≥ 1;

(ii) lim an = 0.
n→∞

X
Então, a série alternada (−1)n+1 an é convergente.
n=1
2.3. SÉRIES ALTERNADAS 21

Demonstração. Vamos mostrar que a sequência das somas parciais tem limite. Como an −
an+1 ≥ 0, temos

s1 = a1 s2 = a1 − a2
s3 = s1 − (a2 − a3 ) ≤ s1 s4 = s2 + (a3 − a4 ) ≥ s2
s5 = s3 − (a4 − a5 ) ≤ s3 s6 = s4 + (a5 − a6 ) ≥ s4
. .
. .
. .

s2n+1 = s2n−1 − (a2n − a2n+1 ) ≤ s2n−1 s2n+2 = s2n + (a2n+1 − a2n+2 ) ≥ s2n

Logo a sequência das somas parciais de ordem ímpar constitui uma sequência decrescente e a
sequência das somas parciais de ordem par constitui uma sequência crescente.
Por outro lado, temos:

s1 = a1 s2 = a1 − a2 ≤ s1
s3 = s2 + a3 ≥ s2 s4 = s3 − a4 ≤ s3
s5 = s4 + a5 ≥ s4 s6 = s5 − a6 ≤ s5
. .
. .
. .

s2n+1 = s2n + a2n+1 ≥ s2n s2n+2 = s2n+1 − a2n+2 ≤ s2n+1

Temos então a seguinte ordenação:

s2 ≤ s4 ≤ s6 ≤ · · · ≤ s2n ≤ s2n+2 ≤ · · · ≤ s2n+1 ≤ s2n−1 ≤ · · · ≤ s5 ≤ s3 ≤ s1 .

Como as somas parciais de ordem par e ímpar são monótonas e limitadas, ambas são conver-
gentes; sejam s∗ = lim s2n e s∗ = lim s2n+1 . Obviamente, s∗ ≤ s∗ . Mas da estimativa
n→∞ n→∞

0 ≤ s∗ − s∗ ≤ |s2n − s2n−1 | = a2n , para todo n ≥ 1,

e da validade de lim an = 0, concluímos que s∗ = s∗ e, portanto {sn } é convergente.


n→∞
∞ ∞
1 1
Exemplo 2.3.2.
X X
n+1
As séries (−1) e (−1)n+1 são convergentes, qualquer
np n(ln n)p
n=1 n=2
que seja p > 0. Com efeito, ambas são séries alternadas cujo termo geral tende a zero. Para
vericar as hipóteses do Critério de Leibniz, devemos mostrar que elas são decrescentes.

1
Para a primeira série, tomamos a função f (x) = denida para x ≥ 1. Como f 0 (x) =
xp
−px−p−1 < 0 para todo x ≥ 1, concluímos que f é decrescente. Assim, an+1 = f (n + 1) <
f (n) = an , para todo n ≥ 1.
1
Para a segunda série, tomamos a função g(x) = denida para x ≥ 2. Temos
x(ln x)p

−(ln x)p−1 [ln x + p]


g 0 (x) =
[x(ln x)p ]2

Como g 0 (x) < 0 para todo x ≥ 2, concluímos que existe n0 ∈ N tal que g é decrescente no
intervalo [n0 , ∞). Assim, an+1 = g(n + 1) < g(n) = an , para todo n ≥ n0 .
22 CAPÍTULO 2. SÉRIES

2.4 Convergência Absoluta


Denição 2.4.1. absolutamente convergente
X X
Dizemos que uma série an é se |an | é

condici-
X X X
convergente. Se an é convergente mas |an | é divergente, dizemos que an é
onalmente convergente.

O seguinte resultado justica o termo absolutamente convergente.

Teorema 2.4.2.
X X
Se an é absolutamente convergente, então an é convergente.

Demonstração.
P
Suponha que a série an é absolutamente convergente. Se
P bn = an + |an |,
então bn ≥ 0 e |bn | ≤ 2|aP n |. Pelo Critério da Comparação, bn é convergente. Como
an = bn − |an |, resulta que an é convergente.

1
Exemplo 2.4.3.
X
Como vimos, a série (−1)n+1 é convergente, qualquer que seja p>
np
n=1
∞ ∞
X 1 X 1
0. Como é convergente se e somente se p > 1, concluímos que (−1)n+1 é
np np
n=1 n=1
absolutamente convergente se p>1 e é condicionalmente convergente quando 0 < p ≤ 1.

Para nalizar, vamos registrar que existem muitas perguntas sem respostas. Se uma série
não é de um dos tipos especiais considerados anteriormente que outros resultados podemos
utilizar para estudar sua convergência ou divergência? Sem dúvida, e de forma geral, o melhor
resultado que se pode utilizar é o Teorema 2.4.2: ela certamente será convergente se for
absolutamente convergente. Portanto, para decidir se uma série é absolutamente convergente,
usamos os critérios estabelecidos anteriormente para as séries de termos positivos. Alguns dos
mais importantes são os seguintes

Teorema
X 2.4.4. (Critério da Comparação) Suponha que
X |an | < bn , para todo n ≥ 1, e que a

série bn converge. Então, an é absolutamente convergente (e, portanto, convergente).

Teorema 2.4.5. (Critério da Razão) Suponha que an 6= 0 e que o limite

an+1
` := lim
n→∞ an
existe. Temos
X
(i) se ` < 1, então an é absolutamente convergente;

X
(ii) se ` > 1, então an é divergente.

Teorema 2.4.6. (Critério da Raiz) Suponha que o limite


p
n
` := lim |an |
n→∞

existe. Temos
X
(i) se ` < 1, então an é absolutamente convergente;

X
(ii) se ` > 1, então an é divergente.
2.4. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA 23

Por serem análogas aos correspondentes resultados já enunciados, as demonstações serão


omitidas.
24 CAPÍTULO 2. SÉRIES
CAPÍTULO 3
SÉRIES DE POTÊNCIAS

3.1 Séries de Potências


No estudo de aproximação de uma função sucientemente derivável num ponto x0 por polinô-
mios, encontramos expressões da forma

pn (x) = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + · · · + an (x − x0 )n ,

onde a0 , a1 , · · · , an são números reais. Na presente seção estudaremos séries de potências de


(x − x0 ) que, em certo sentido, podem ser pensadas como uma `generalização' de polinômios.

Denição 3.1.1. Seja x0 um número real xado e {an }∞


n=1 uma sequência real. Uma série
da forma


X ∞
X
(∗) a0 + an (x − x0 )n = an (x − x0 )n
n=1 n=0

é chamada uma série de potências em torno de x0 ou uma série de potências centrada em x0 .


Os elementos an são chamados coecientes da série.

Nessa seção estudaremos as respostas às seguintes perguntas: quais são os valores de x para
os quais a série (∗) converge? Se f é a função denida pela soma da série (∗) nos pontos em
que esta converge, quais são as propriedade de f?

Para responder à primeira pergunta, observamos que se x = x0 , então a série (∗) converge
(para a0 ) e, portanto, o conjunto

S = {x ∈ R : (∗) converge}

é não-vazio. Agora, se x1 ∈ S x1 =6 x0 , então (∗) converge quando x = x1 . Vamos


e
mostrar que todo x ∈ R que satisfaz |x − x0 | < |x1 − x0 | também pertence a S . De fato,
se |x − x0 | < |x1 − x0 |, então existe t ∈ (−1, 1) tal que x − x0 = t(x1 − x0 ) e, portanto,
an (x − x0 )n = an (x1 − x0 )n tn . Agora, pelo Critério do Termo Geral, lim an (x1 − x0 )n = 0
n→∞
e, portanto, existe x0 )n | ≤ 1. Se bn := |t|n , então
n0 tal que se n ≥ n0 , então |an (x1 −P
n n
|an (x1 − x0 ) t | ≤ bnPpara todo n ≥ n0 . Como a série |t|n converge, pelo Critério da
Comparação, a série
n
an (x − x0 ) é absolutamente convergente, portanto, convergente.

25
26 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

Assim, se S 6= {x0 }, então S é um intervalo não-trivial, simétrico com relação a x0 .


Se S não é limitado, então S = R e a série (∗) é absolutamente convergente, qualquer que seja
x ∈ R. Se S é limitado, então existe xS := sup S ; denindo R = xS − x0 , concluímos que
S = (x0 − R, x0 + R) e que (∗) converge absolutamente quando |x − x0 | < R. Essa discussão
é a demonstração do seguinte


Teorema 3.1.2.
X
Considere uma série de potências an (x − x0 )n em torno de x0 . Então,
n=0
apenas uma das três alternativa ocorre:

(i) a série converge apenas quando x = x0 ;

(ii) para qualquer x ∈ R, a série é absolutamente convergente;


(iii) existe R>0 tal que, se |x − x0 | < R, então a série é absolutamente convergente e se
|x − x0 | > R, então a série é divergente.

O número R é chamado raio de convergência da série (∗). O raio de convergência da série (∗)
é então caracterizado pela seguinte propriedade: a série (∗) converge absolutamente quando
|x − x0 | < R e diverge quando |x − x0 | > R. Por extensão, dizemos que no caso (i) a série (∗)
tem raio de convergência R = 0 e que no caso (ii) ela tem raio de convergência R = ∞. O
conjunto dos x tais que a série (∗) converge é chamado intervalo de convergência da série.

Vamos utilizar os critérios da razão e da raiz para obter para obter uma expressão para o raio
de convergência para uma ampla classe de séries.

Teorema 3.1.3. (Critério da Razão) Suponha que an 6= 0 e que o limite

an+1
` := lim
n→∞ an

existe ou é ` = ∞.
X
Seja R o raio de convergência da série an (x − x0 )n . Temos:
n=1

(i) se ` = ∞, então R=0 e a série é convergente apenas quando x = x0 ;

(ii) se ` = 0, então R=∞ e a série é absolutamente convergente em R;


1
(iii) se 0 < ` < ∞, então temos que R= e a série é absolutamente convergente no intervalo
`
(x0 − R, x0 + R) e é divergente em (−∞, x0 − R) ∪ (x0 + R, R + ∞).

Demonstração. x xado, seja bn = an (x−x


Para cada
n
P 0 ) o termo geral da série (∗). Sabemos,
pelo Critério da Razão, que a série numérica bn é convergente ou divergente, segundo
bn+1
limn→∞ bn < 1 ou > 1, respectivamente. Como

bn+1 an+1 (x − x0 )n+1 an+1


lim = lim n
= |x − x0 | lim ,
n→∞ bn n→∞ an (x − x0 ) n→∞ an
obtemos:

bn+1
(i) se `=∞ e x 6= x0 , então lim =∞ e a série é divergente. Assim, R = 0.
n→∞ bn
3.1. SÉRIES DE POTÊNCIAS 27

bn+1
(ii) Se ` = 0, então lim =0 independentemente de x e, portanto, R = ∞.
n→∞ bn
1 1
` > 0, a série converge absolutamente se |x − x0 | <
(iii) Se e é divergente se |x − x0 | > .
` `
1
Pela denição de raio de convergência, R = .
`

Teorema 3.1.4. (Critério da Raiz) Suponha que an 6= 0 e que o limite

p
` := lim n |an |
n→∞


X
existe ou `=∞ e seja R o raio de convergência da série an (x − x0 )n . Temos:
n=1

(i) se ` = ∞, então R=0 e a série é convergente apenas quando x = x0 ;

(ii) se ` = 0, então R=∞ e a série é absolutamente convergente em R;

1
(iii) se 0 < ` < ∞, então R = e a série é absolutamente convergente no intervalo
`
(x0 − R, x0 + R) e é divergente em (−∞, x0 − R) ∪ (x0 + R, R + ∞).

Demonstração. Por ser análoga a do Teorema 3.1.3, sua demonstração é deixada como exer-
cício.

O exemplo abaixo mostra que as possibilidades R=0 ou R=∞ podem ocorrer.

X xn
Exemplo 3.1.5.
X
A série n!xn tem raio de convergência R = 0. A série tem raio
n!
de convergência R = ∞.

Observação. Se R>0 é nito, a série de potências é absolutamente convergente quando


|x − x0 | < R e é divergente quando |x − x0 | > R. Os dois critérios não fornecem nenhuma
informação quando x é um dos pontos extremos x = x0 ± R. A convergência ou divergência
da série numérica em cada um desses pontos deve ser tratada com outros critérios.

X (−1)n (−1)n n
Exemplo 3.1.6. Considere a série xn . Se bn = x , então
n n

bn+1 (−1)n+1 xn+1 n n+1


lim = lim = |x| lim = |x|.
n→∞ bn n→∞ (n + 1)(−1)n xn n→∞ n

Portanto, o raio de convergência é R = 1 e a série converge absolutamente se |x| < 1 e diverge


se |x| > 1. Permanece saber o que acontece quando x = ±1. Se x = 1, a série dada se escreve
X (−1)n
como que, pelo Critério de Leibniz, é convergente. Agora, se x = −1, a série dada
n X
1
se escreve como que, como sabemos, é divergente. Assim, o intervalo de convergência
n
da série dada é (−1, 1].
28 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

Observação. As expressões obtidas acima para o raio de convergência da série de potências


(∗) usam fortemente as hipóteses de que os limites envolvidos existam (mesmo que sejam ∞).
2 1
O exemplo an = 2 se n é par e an =
n n se n é ímpar, mostra que o Teorema 3.1.4 pode ser
aplicado para concluir que o raio de convergência da série (∗) é 1, mas o Teorema 3.1.3 não dá
nenhuma informação, já que lim |an+1 /an | não existe. Para esses casos, é necessário utilizar
n→∞
o conceito de limite superior, que não será tratado nessas notas.

3.2 Exemplos

xn xn
Exemplo 3.2.1.
X
Considere a série e seja bn = o termo geral da série. Temos
n2 n2
n=1
bn+1 n2 x
lim = lim = |x|
bn (n + 1)2
P
Pelo Critério da Razão, bn converge absolutamente se |x| < 1
|x| > 1. Noe diverge se caso
X (−1)n X 1
x = −1, a série converge absolutamente. E o caso x = 1, converge. Isso
n2 n2
prova que o intervalo de convergência da série é [−1, 1] e o raio de convergência é 1.
∞ 2n n
e x e2n xn
Exemplo 3.2.2.
X
Considere a série . Seja bn = o termo geral da série. Temos
nn nn
n=1
que

r
p n e2n xn e2 |x|
lim n |bn | = lim = lim = 0.
nn n
P
Pelo Critério da Raiz, bn converge absolutamente para todo x ∈ R. Isso prova que o
intervalo de convergência é R e o raio de convergência é ∞.


Exemplo 3.2.3.
X
Considere a série xn! . Seja bn = xn! o termo geral da série. Aqui, temos
n=0
bn+1
lim = lim |x|(n+1)!−n! .
bn
X
Como lim[(n + 1)! − n!] = lim n!n = +∞, temos que se |x| > 1, pelo Critério da Razão, bn
X
diverge. Se |x| < 1, pelo Critério da Razão, bn converge. Se x=1 ou x = −1, temos que

lim bn 6= 0, e, portanto, bn diverge. Isso prova que o intervalo de convergência é (−1, 1) e o


raio de convergência é 1.

nx2n nx2n
Exemplo 3.2.4.
X
Considere a série . Seja bn = o termo geral da série. Aqui,
en en
n=1
temos

s
p
n n nx2n |x|2
lim |bn | = lim = .
en e
X
Pelo Critério da Raiz, bn converge se x2 < e e diverge se x2 > e. Note que no caso
√ √ √
x = ± e, temos que lim bn 6= 0. Isso prova que o intervalo de convergência é (− e, e) e o

raio de convergência é e.
3.3. DERIVAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE SÉRIES DE POTÊNCIAS 29

3.3 Derivação e Integração de Séries de Potências


Nessa seção vamos estudar as principais propriedades da função denida pela soma de uma
série de potências. Começamos com a seguinte

Proposição 3.3.1.
X
an (x − x0 )n
p
n
Suponha que lim |an | exista. Então, a série e a série
n=0

X
nan (x − x0 )n−1 possuem o mesmo raio de convergência.
n=1
Demonstração. Basta aplicar o Critério da Raiz às duas séries dadas.


Teorema 3.3.2.
X
Suponha que a série an (x − x0 )n tenha raio de convergência R>0 e
n=0
considere f : (x0 − R, x0 + R) → R denida por


X
f (x) = an (x − x0 )n .
n=0

Então f é derivável em (x0 − R, x0 + R) e sua derivada é também a soma de uma série de


potências: para todo x ∈ (x0 − R, x0 + R), temos

X
0
f (x) = nan (x − x0 )n−1 = a1 + 2a2 (x − x0 ) + 3a3 (x − x0 )2 . . .
n=1

A demonstração deste Teorema será dada no nal desta seção.

Corolário 3.3.3. Com as notações do Teorema anterior, f é de classe C∞ em (x0 −R, x0 +R)
e temos

X
f (k) (x) = n(n − 1) . . . (n − k + 1)an (x − x0 )n−k ,
n=k
para todo inteiro k ≥ 1.
Decorre da Proposição 3.3.1 e por um simples argumento de indução que a série da k -ésima
derivada tem raio de convergência R.

Pelas expressões das derivadas, a0 = f (x0 ) e a1 = f 0 (x0 ). Argumentando por indução,


f (n) (x0 )
verica-se imediatamente que an = .
n!

Corolário 3.3.4.
X
Se I é um intervalo aberto contendo x0 e se f (x) = an (x − x0 )n =
n=0

X f (n) (x 0)
bn (x − x0 )n , para todo x ∈ I, então an = bn = , para todo n = 0, 1, 2, ....
n!
n=0

O Corolário (3.3.4) mostra então que se f é a soma de uma série de potências de raio de
convergência R > 0, então


X f (n) (x0 )
f (x) = (x − x0 )n , para |x − x0 | < R.
n!
n=0
Esse é um exemplo de uma série de Taylor de f, que será discutida no capítulo seguinte.
30 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS


Teorema 3.3.5.
X
Seja f (x) = an (x − x0 )n , com raio de convergência R > 0. Então
n=0

x ∞
an (x − x0 )n+1
Z X
f (t) dt = , para todo x ∈ (x0 − R, x0 + R).
x0 n+1
n=0


an (x − x0 )n+1
Demonstração.
X
Seja F (x) = . Pela Proposição 3.3.1, F está bem denida
n+1
n=0

X
em (x0 − R, x0 + R) e vale F 0 (x) = an (x − x0 )n = f (x) e F (x0 ) = 0. Seja G(x) =
n=0
Z x
f (t)dt. Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos que G0 (x) = f (x) = F 0 (x) e
x0
G(x0 ) = 0 = F (x0 ). Logo, F (x) = G(x), como queríamos demonstrar.


1
Exemplo 3.3.6.
X
Considere a igualdade = (−1)n xn . Integrando ambos os lados,
1+x
n=0

X (−1)n xn+1 x2 x3
temos que ln(1 + x) = = x− + − . . .. O raio de convergência de ambas
n+1 2 3
n=0
as séries é 1. Note que o intervalo de convergência da primeira série é (−1, 1) e da segunda

X (−1)n xn+1
série (−1, 1]. Mas, por enquanto, apenas podemos garantir que ln(1 + x) = =
n+1
n=0
x2 x3
x− + −... apenas quando |x| < 1 (vamos vericar mais tarde - veja Teorema de Abel
2 3
- que vale a igualdade também para x = 1).

1
Exemplo 3.3.7.
X
Considere a igualdade = (−1)n x2n . Integrando ambos os lados,
1 + x2
n=0

X (−1)n x2n+1
temos que arctg x = . O raio de convergência de ambas as séries é 1. Note
2n + 1
n=0
que o intervalo de convergência da primeira série é (−1, 1) e da segunda série [−1, 1]. Veremos
mais tarde que também vale a igualdade quando x = 1 e quando x = −1.

Para nalizar a seção, demonstraremos o Teorema (3.3.2) de derivação termo a termo de séries
de potências.

Demonstração do Teorema 3.3.2. Para a notação car mais simplicada, trabalharemos


com série de potências em torno de x0 = 0. O caso geral pode ser feita usando composição

X
de funções, isto é, se g(x) = an xn , então f (x) = g(x − x0 ).
n=0

X ∞
X
Seja f (x) = an xn com raio de convergência R. Dena Q(x) = nan xn−1 . Pelo Critério
n=0 n=0
da Raíz, Q(x) possui raio de convergência R. Fixemos x ∈ (−R, R). Queremos provar que f
é derivável e vale f 0 (x) = Q(x), isto é,

 
f (x + h) − f (x)
lim − Q(x) = 0.
h→0 h
3.3. DERIVAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE SÉRIES DE POTÊNCIAS 31

Para simplicar a notação, calculemos o limite pela direita, isto é, h → 0+ e denimos


Pn (x) = xn . Pelo Teorema do Valor Médio, existe cnh ∈ (0, h) tal que

(x + h)n − xn Pn (x + h) − Pn (x)
= = Pn0 (x + cnh ) = n(x + cnh )n−1 .
h h
Logo


!
f (x + h) − f (x) X [(x + h)n − xn ]
− Q(x) = an − Q(x)
h h
n=0

X
nan (x + cnh )n−1 − Q(x)

=
n=0
X∞
nan (x + cnh )n−1 − Q(x)

=
n=1

X
= lim nan [(x + cnh )n−1 − xn−1 ].
h→0+
n=1

Aplicando o Teorema do Valor médio, existe Dnh ∈ (0, cnh ) ⊂ (0, h) tal que

(x + cnh )n−1 − xn−1 = cnh (n − 1)(x + Dnh )n−2 ,

logo


f (x + h) − f (x) X
− Q(x) = cnh n(n − 1)an (x + Dnh )n−2
h
n=1

X
=≤ h n(n − 1)an (x + Dnh )n−2 .
n=1


X
Para nalizar a demonstração, provaremos que n(n − 1)an (x + Dnh )n−2 é limitada. Para
n=1
isso, escolha um número L tal que R > |L| > |x| e façamos h>0 tão pequeno de modo que
|x| + h < |L| e, portanto,


X ∞
X
n(n − 1)an (x + Dnh )n−2 ≤ n(n − 1)|an ||x + Dnh |n−2
n=1 n=1
X∞
≤ n(n − 1)|an ||L|n−2
n=1


X
Como a série n(n − 1)|an |xn−2 tem raio de convergência R e |L| < R, então
n=1


X
n(n − 1)|an ||L|n−2 converge.
n=1

Pelo Teorema do anulamento, Isso mostra que


32 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS


X
lim h n(n − 1)an (x + Dnh )n−2 = 0
h→0+
n=1
e, portanto,

 
f (x + h) − f (x)
lim − Q(x) = 0.
h→0+ h
De forma totalmente análoga, temos

 
f (x + h) − f (x)
lim − Q(x) = 0,
h→0− h
o que conclui a demonstração.

3.4 O Teorema de Abel



Teorema 3.4.1.
X
(Teorema de Abel) Suponha que an (x − x0 )n tem raio de convergência
n=0

X
0<R<∞ e suponha que an R n converge para S. Então
n=0

X ∞
X
n
lim an (x − x0 ) = an Rn = S.
x→(x0 +R)−
n=0 n=0

A demonstração deste Teorema será feita no nal da seção.


(−1)n xn+1 x2 x3
Exemplo 3.4.2.
X
Vimos no Exemplo 3.3.6 que ln(1+x) = = x− + −. . . e
n+1 2 3
n=0
o intervalo de convergência da série é (−1, 1]. Usando o Teorema de Abel, obtemos a seguinte
igualdade

X (−1)n+1 ∞
1 1
ln 2 = 1 − + − . . . = .
2 3 n
n=1


(−1)n x2n+1
Exemplo 3.4.3.
X
Vimos no exemplo 3.3.7 que arctg x = e o intervalo de
2n + 1
n=0
convergência da série é [−1, 1]. Pelo Teorema de Abe, temos a seguinte igualdade

π 1 1 1
= arctg 1 = 1 − + − . . .
4 3 5 7

1
Exemplo 3.4.4. Sabemos que
X
= xn e o intervalo de convergência é (−1, 1). O
1+x
n=0
teorema de Abel não arma nada para o caso x = 1.

Exemplo 3.4.5. Para cada x ∈ R, considere a sequência bn (x) = xn . Considere f (x) =


lim bn (x). É fácil ver que f está bem denida no intervalo (−1, 1]. Mais ainda, se |x| < 1,
n→∞
vale f (x) = 0 e vale f (1) = 1. Em particular, f não é contínua.
Conclusão: Existe uma diferença muito grande entre sequências de polinômios e
séries de potências.
3.4. O TEOREMA DE ABEL 33


1
Exemplo 3.4.6.
X
Vimos que a série telescópica = 1. Mostraremos esta igualdade
n(n + 1)
n=1
de outra forma.

X 1
Sabemos que xn−1 = para x ∈ (−1, 1). Integrando em ambos os lados de 0 a x,
1−x
n=1

X xn
obtemos = − ln(1 − x) para x ∈ (−1, 1).
n
n=1
∞ x
xn+1
X Z
Integrando novamente ambos os lados de 0 a x, temos que =− ln(1 − t)dt.
n(n + 1) 0
n=1

X 1
Como converge (critério da comparação), pelo Teorema de Abel, vale
n(n + 1)
n=1
∞ Z 1
X 1
=− ln(1 − t)dt = 1.
n(n + 1) 0
n=1
Na última igualdade, utilizamos integração por partes.
∞ ∞
1 1
Exemplo 3.4.7.
X X
Calculemos a soma . Seja xn = .
(n + 1)(n + 4) 1−x
n=0 n=0
Integrando de ambos os lados de 0 a x, obtemos


X xn+1
= − ln(1 − x).
n+1
n=0
.

Multiplicando por x2 em ambos os lados, temos


X xn+3
= −x2 ln(1 − x).
n+1
n=0

Integrando em ambos os lados de 0 a x e utilizando integração por partes, temos


xn+4 (1 − x3 ) ln(1 − x) (1 − x)2 (1 − x)3
 
X 1 1
= − (1 − x) + − − −1 + −
(n + 1)(n + 4) 3 2 3 2 3
n=0


X 1
Como a série é convergente, o Teorema de Abel garante que
(n + 1)(n + 4)
n=0

(1 − x3 ) ln(1 − x) (1 − x)2 (1 − x)3 5
 
X 1 5
= lim − (1 − x) + − + =
(n + 1)(n + 4) x→1− 3 2 3 6 6
n=0

Exercício. Demonstre que

1
(−1)n+1
Z
ln(1 + x) 1 1 1
dx = 1 − 2 + 2 − 2 + ... + + ....
0 x 2 3 4 n2
ln(1 + x)
(verique também que x 7→ é integrável em [0, 1].)
x

Finalizamos a seção demonstrando o Teorema de Abel.


34 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

Demonstração do Teorema 3.4.1. Para simplicar a notação, faremos x0 = 0. Para sim-


plicar ainda mais a notação, suporemos que R = 1.

X
Podemos fazer isso, pois se f (x) = an xn tem raio de convergência R, então a série de
n=0
potências de g(x) = f (Rx) tem raio de convergência 1 e vale lim g(x) = lim f (x).
x→1− x→R−


X
Escreva g(x) = cn xn , onde cn = an Rn , queremos provar que
n=0
lim g(x) = c0 + . . . + cn + . . .
x→1−

Seja então sn = c0 + . . . + cn , s−1 = 0. Então

m m m−1
!
X X X
n n m n
cn x = (sn − sn−1 )x = sm x + (1 − x) sn x .
n=0 n=0 n=0
Para |x| < 1 e fazendo m → ∞, temos que


X
g(x) = (1 − x) sn xn .
n=0
Seja S = lim sn e suponha dado ε > 0. Então, existe n0 tal que para todo n > n0 , temos
n→∞
ε
|S − sn | < .
2
X∞
Por outro lado, para |x| < 1, temos (1 − x) xn = 1, e portanto
n=0


X
|g(x) − S| = (1 − x) (sn − S)xn
n=0
n0
X ∞
X
n
≤ (1 − x) |sn − S||x| + (1 − x) |sn − s||x|n
n=0 n=n0 +1
n0
X ε
≤ (1 − x) |sn − S||x|n + .
2
n=0
n0
X
Seja M= |sn − S|. Então, para |x| < 1, tem-se
n=0
n0
X
|sn − S||x|n ≤ M
n=0
ε
Tomando δ= , e x > 1 − δ, temos
2M
n0
X ε ε ε
|g(x) − S| < (1 − x) |sn − S||x|n + < + <ε
2 2 2
n=0
.
Mostramos portanto que, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se x > 1−δ , então |g(x)−S| < ε.
Isso é equivalente a

lim g(x) = S,
x→1−
3.4. O TEOREMA DE ABEL 35

como queríamos demonstrar.


36 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS
CAPÍTULO 4
SÉRIES DE TAYLOR

4.1 Séries de Taylor


Denição 4.1.1. Suponha que I é um intervalo aberto contendo x0 e que f :I→R é uma
função innitamente derivável em x0 . A série


X f (n) (x0 )
(x − x0 )n
n!
n=0

é chamada série de Taylor de f em torno de x0 . [Quando x0 = 0 , costuma-se referir a essa


série como série de MacLaurin de f .]
Observação Decorre do Corolário (3.3.4) que se f : (x0 −R, x0 +R) → R é a soma de uma série

X
de potências an (x − x0 )n , então a série de potências é a série de Taylor de f em torno de
n=0
x0 . Essa observação é extremamente útil e, como veremos nos Exemplos a seguir, permite-nos
obter a série de Taylor de funções elementares sem a necessidade de cálculos intermináveis
para calcular f (n) (x).

1
Exemplo 4.1.2.
X
A série de MacLaurin da função é (−1)n xn , que converge em
1+x
n=0

X (−1)n+1 xn
(−1, 1). A série de MacLaurin da função ln(1 + x) é , que converge em (−1, 1].
n
n=1

1
Exemplo 4.1.3. Vamos determinar a série de Taylor da função f (x) = em torno do ponto
x
x = x0 , com x0 6= 0. Para isso, escrevemos

∞  n
1 1 1 1 X n x − x0
f (x) = = = (−1) ,
x0 + (x − x0 ) x0 1 + x−x
x0
0 x0 x0
n=0

x − x0
para todo x tal que < 1 (lembre-se que a série obtida é uma série geométrica de
x0
x − x0
razão ).
x0
Como a série acima converge para f (x) para todo x tal que |x − x0 | < |x0 |, então a série
obtida é a série de Taylor de f . Assim, estamos justicados a escrever

37
38 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE TAYLOR


1 X (−1)n
= (x − x0 )n , para |x − x0 | < |x0 |.
x xn+1
0
n=0

3x + 2
Exemplo 4.1.4. Vamos determinar a série de Taylor da função f (x) = em
2x2 − 3x − 5
torno do ponto x0 = 0 . Um momemto de reexão mostra que calcular derivadas sucessivas
de f em x0 = 0 é uma tarefa exaustiva e maçante que quase nunca leva a bom termo. Para
contornar o problema, vamos pensar em usar os Teoremas já aprendidos e o método utilizado
no Exemplo 4.1.3. Para isso, fatoramos o denominador de f e decompomos f em frações
parciais:

3x + 2 3x + 2 A B
f (x) = = = + .
2x2 − 3x − 5 (x + 1)(2x − 5) x + 1 2x − 5
1 19
Obtemos A= e B= e, portanto
7 7
3x + 2 1/7 19/7 1 1 19 1
f (x) = = + = · − · .
2x2 − 3x − 5 x + 1 2x − 5 7 1 + x 35 1 − 2x
5

Agora, identicamos as frações resultantes como somas de duas séries geometricas:


1 X
= (−1)n xn , que converge quando |x| < 1;
1+x
n=0
e

∞  n
1 X 2x 5
2x = , que converge quando |x| < .
1− 5 5 2
n=0

Portanto,

∞ ∞ n ∞ 
(−1)n 19 · 2n n
 
3x + 2 1X 19 X 2x X
f (x) = 2 = (−1)n xn − = − x
2x − 3x − 5 7 35 5 7 35 · 5n
n=0 n=0 n=0

e o raio de convergência é igual a ao menor dos raios de convergência das séries para 1/(1 + x)
e1/(1 − 2x/5), isto é, R = 1. Pelo Corolário 3.3.4, essa éa série de Taylor de f em torno de
x0 = 0.

O método empregado no Exemplo 4.1.4 sempre pode ser aplicado para obter a série de Ma-
cLaurin de uma função racional na qual o denominador é o produto de fatores lineares.

2x3 − 3x2 + 2x − 1
Exercício. Determine a série de MacLaurin de f (x) = . Qual o raio de
x2 − 5x + 6
convergência? Qual o valor de f (27) (0)? Como voce procederia para obter a série de Taylor
dessa função em torno de x0 = −1? Qual o raio de convergência da série resultante?

Voltemos agora nossa atenção ao seguinte problema: se f : R → R é uma função que admite
derivadas de todas as ordens numa vizinhança de um ponto x0 , é verdade que sua série de
Taylor em torno de x0 converge em algum ponto 6 x0 ? Se sim, qual é o seu intervalo de
x=
convergência?
4.1. SÉRIES DE TAYLOR 39

Denição 4.1.5. Dizemos que uma função f é analítica num intervalo aberto I se f é in-
nitamente derivável em I e, para cada x0 ∈ I , existe r > 0 tal que a série de Taylor de f em
torno de x0 converge para f (x), para todo x no intervalo (x0 − r, x0 + r).

O exemplo a seguir mostra que devemos ser cautelosos.

Exemplo 4.1.6. Considere a função denida por

2
e−1/x ,

se x 6= 0
f (x) =
0, se x = 0.

Aqui temos f (0) = f 0 (0) = f 00 (0) = ... = f (n) (0) = 0, para todo n (verique!) e, portanto,
a série de Taylor de f em torno de x0 = 0 é a série identicamente nula. Portanto, o raio de
convergência é R = ∞ e a soma da série é a função identicamente nula g(x) = 0 para todo x.
Como f (x) 6= 0 para x 6= 0, concluímos que a série de Taylor de f não converge para f , em
qualquer intervalo aberto I contendo 0. Em particular, f não é analítica em I .

1
Exemplo 4.1.7. A função f (x) = tratada no Exemplo 4.1.3 é analítica em R\{0}. Ana-
x
logamente, a função ln x é analítica em (0, +∞). Todo polinômio dene uma função analítica
em R (verique).

Para estudar a convergência de uma série de Taylor numa vizinhança de x0 , começamos com

X f (k) (x0 )
a observação trivial que (x − x0 )k converge para f (x) se e somente se
k!
k=0
n
" #
X f (k) (x0 ) k
lim f (x) − (x − x0 ) = 0.
n→∞ k!
k=0
n
f (k) (x0 )
polinômio de Taylor de
X
Para cada n, a soma Pn (x) := (x − x0 )k representa o
k!
k=0
ordem n de f em torno de x0 e o termo entre colchetes é o erro cometido na aproximação
de f (x) por Pn (x). Usando a expressão do erro na forma de Lagrange, concluímos que dado
x ∈ I , existe x̄n entre x0 e x tal que

f (n+1) (x̄n )
f (x) − Pn (x) = (x − x0 )n+1 .
(n + 1)!
Daqui decorre imediatamente o seguinte

Teorema 4.1.8. Suponha que f é innitamente derivável num intervalo I e seja x0 ∈ I . Para
cada inteiro positivo n e para cada r > 0, seja

Mn,r = sup{|f (n) (t)| : |t − x0 | ≤ r}.

Se existe r>0 tal que


Mn,r (x − x0 )n
lim = 0,
n→∞ n!
então lim [f (x) − Pn (x)] = 0 e a série de Taylor de f em torno de x0 converge para f (x).
n→∞
40 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE TAYLOR

Exemplo 4.1.9. Vamos mostrar que as funções x 7→ sen x e x 7→ cos x são analíticas em R.
Para isso, vamos primeiro considerar as séries de Taylor dessas funções em torno de x0 = 0.

Considere f (x) = sen x e x0 = 0. Então, o polinômio de Taylor de f de ordem 2n + 1 em


torno de x0 é
x3 x5 x2n+1
P2n+1 (x) = x − + − · · · + (−1)n .
3! 5! (2n + 1)!
Agora, dado x ∈ R \ {0}, existe x̄n entre 0 e x tal que

±sen(x̄n )x2n+2
f (x) − P2n+1 (x) = .
(2n + 2)!
Logo, como |sen(x̄n )| ≤ 1,

|x|2n+2
|f (x) − P2n+1 (x)| ≤ ,
(2n + 2)!
para todo x ∈ R. Portanto, dado R>0 arbitrário e |x| ≤ R, temos

R2n+2
|f (x) − P2n+1 (x)| ≤ .
(2n + 2)!
Rn
Como lim = 0, segue-se que lim [f (x) − P2n+1 (x)] = 0. Portanto, a série de Taylor de
n→∞ n! n→∞
f (x) = sen x em torno de x0 = 0 converge absolutamente para f (x) para todo x ∈ R:


x3 x5 x2n+1 X (−1)n+1 x2n−1
sen x = x − + − · · · + (−1)n + ··· = , para todo x ∈ R.
3! 5! (2n + 1)! (2n − 1)!
n=1

Para a função cosseno, procedemos da mesma forma: considere g(x) = cos x e x0 = 0. Então,
o polinômio de Taylor de g de ordem 2n em torno de x0 é

x2 x4 x2n
P2n (x) = 1 − + − · · · + (−1)n .
2! 4! (2n)!
Agora, dado x ∈ R, existe x̄n entre 0 e x tal que

±sen(x̄n )x2n+1
g(x) − P2n (x) =
(2n + 1)!
Logo,
|x|2n+1
|g(x) − P2n (x)| ≤ ,
(2n + 1)!
para todo x ∈ R. Portanto, dado R>0 arbitrário e |x| ≤ R, temos

R2n+1
|g(x) − P2n (x)| ≤ ,
(2n + 1)!
e portanto, lim [g(x) − P2n (x)] = 0. Assim, a série de Taylor de g(x) = cos x em torno de
n→∞
x0 = 0 converge para g(x) para todo x ∈ R:


x2 x4 x2n X (−1)n x2n
cos x = 1 − + − · · · + (−1)n + ··· = , para todo x ∈ R.
2! 4! (2n)! (2n)!
n=0
4.1. SÉRIES DE TAYLOR 41

Finalmente, se x0 6= 0, o polinômio de Taylor de ordem 2n + 1 de f em torno de x0 é

(x − x0 )3 (x − x0 )5 2n+1
 
n (x − x0 )
P2n+1 (x) = cos x0 (x − x0 ) − + − · · · + (−1)
3! 5! (2n + 1)!
2 4 2n
 
(x − x0 ) (x − x0 ) n (x − x0 )
+ sen x0 1 − + − · · · + (−1)
2! 4! (2n)!

e portanto

lim P2n+1 (x) = cos x0 sen (x − x0 ) + sen x0 cos x − x0 = sen (x0 + x − x0 ) = sen x,
n→∞

para todo x ∈ R, o que mostra que f é analítica em R. O leitor atento deverá identicar aqui
que r = r(x0 ) = ∞ para todo x0 ∈ R.

A demonstração de g(x) = cos x ser analítica em R é análoga.

Exemplo 4.1.10. Considere f (x) = ex e x0 = 0. O polinômio de Taylor de f de ordem n


em torno de x0 é
x2 x3 xn
Pn (x) = 1 + x + + + ··· + .
2! 3! n!
Agora, dado x ∈ R, existe x̄n entre 0 e x tal que

ex̄n xn+1
f (x) − Pn (x) =
(n + 1)!
Se x < 0, então0 ≤ ex̄n ≤ 1 < e−x e se x > 0, então 0 ≤ ex̄n ≤ ex . Em qualquer caso,
x̄ |x|
podemos estimar 0 ≤ e n ≤ e , para todo x. Logo,

|x|n+1
|f (x) − Pn (x)| ≤ e|x| ,
(n + 1)!

para todo x ∈ R. Portanto, dado R>0 arbitrário e |x| ≤ R, temos

Rn+1
|f (x) − Pn (x)| ≤ eR .
(n + 1)!

Rn
Como lim = 0, segue-se que limn→∞ [f (x) − Pn (x)] = 0. Portanto, a série de Taylor de
n→∞ n!
x
f (x) = e em torno de x0 = 0 converge para f (x) para todo x ∈ R:

x2 x3 xn X xn
ex = 1 + x + + + ··· + + ··· = , para todo x ∈ R.
2! 3! n! n!
n=0

Finalmente, se x0 6= 0, o polinômio de Taylor de ordem n de f em torno de x0 é

(x − x0 )2 (x − x0 )3 (x − x0 )n
 
x0
Pn (x) = e 1 + (x − x0 ) + + + ··· + ,
2! 3! n!

e, portanto
lim Pn (x) = ex0 ex−x0 = ex ,
n→∞
∞ x0
X e (x − x0 )n
para todo x ∈ R. Logo, ex = e f é analítica em R.
n!
n=0
42 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE TAYLOR

Exemplo 4.1.11. (Série Binomial) Seja α um número real. Considere f (x) = (1 + x)α
denida para x > −1 e seja x0 = 0. Então,

f 0 (x) = α(1 + x)α−1 , f 00 (x) = α(α − 1)(1 + x)α−2 , f 000 (x) = α(α − 1)(α − 2)(1 + x)α−3

e, de modo geral,

f (n) (x) = α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)(1 + x)α−n , para todo n.


Portanto, f (n) (0) = α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1), para todo n e a série de Taylor de f em
torno de x0 = 0 é

α(α − 1) 2 α(α − 1)(α − 2) 3 X α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)
1 + αx + x + x + ··· = 1 + xn
2! 3! n!
n=1

Quando α=k é um número inteiro não-negativo, temos f (k) (x) = k! e f (k+1) (x) = 0 para
todo x; nesse caso, a série acima reduz-se a um polinômio de grau k , que é a expansão binomial
de f em potências de x:

k
k(k − 1) 2 k(k − 1)... · 3 · 2 k X
(1 + x)k = 1 + kx + x + ··· + x = Ck,p xp ,
2! k!
p=0
 
k k!
onde Ck,p são os coecientes binomiais Ck,p = = .
p p!(k − p)!
Vamos supor agora que α 6= k , para todo inteiro k ≥ 0, e vamos estudar a convergência da
série acima.

α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)


Escrevendo an = , observamos que
n!

an+1 xn+1 α(α − 1)(α − 2)...(α − n) n+1 n! |α − n|


n
= x n
= |x|
an x (n + 1)! α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)x (n + 1)
e, portanto,
an+1
lim = |x|.
n→∞ an
X
Segue-se que se |x| < 1, a série an xn é absolutamente convergente e se |x| > 1, a série é

divergente. Seja g : (−1, 1) → R denida por

∞ ∞
X X α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)
g(x) = 1 + an xn = 1 + xn .
n!
n=1 n=1

α
então, g é uma função innitamente derivável em (−1, 1) e satisfaz g 0 (x) = g(x) para
1+x
todo x ∈ (−1, 1) e g(0) = 1.
g(x)
Por outro lado, denindo h : (−1, 1) → R por h(x) = , concluimos que h(0) = 1 e
(1 + x)α

g 0 (x)(1 + x)α − g(x) · α(1 + x)α−1 αg(x)(1 + x)α−1 − g(x) · α(1 + x)α−1
h0 (x) = = = 0.
(1 + x)2α (1 + x)2α
4.1. SÉRIES DE TAYLOR 43

Logo, existe C ∈R tal que h(x) = C para todo −1 < x < 1 e, como h(0) = 1, concluimos
que C=1 e, portanto, g(x) = (1 + x)α , para todo −1 < x < 1. Demonstramos assim que

X α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)
(1 + x)α = 1 + xn , para todo − 1 < x < 1.
n!
n=1

|x − x0 |
Finalmente, se x0 > −1 e |x − x0 | < 1 + x0 , então <1 e, então
1 + x0

x − x0 α α(α − 1)(α − 2) · · · (α − n + 1) (x − x0 )n
  X
1+ =1+ ,
1 + x0 n! (1 + x0 )n
n=1
isto é,


X α(α − 1)(α − 2)...(α − n + 1)
(1 + x)α = 1 + x0 + (x − x0 )n ,
n!(1 + x0 )n−α
n=1

para todo |x − x0 | < 1 + x0 . Assim, para x0 > −1, o raio de convergência da série de Taylor de
f em torno de x0 é r(x0 ) = 1 + x0 e a série converge para f (x), para todo x ∈ (−1, 1 + 2x0 ).
Isso mostra que f é analítica em (−1, ∞).

1 1
De particular importância são os casos α=± . Quando α=− , temos
2 2

1 1 − 12 (− 12 − 1) 2 − 12 (− 12 − 1)(− 12 − 2) 3
√ =1− x+ x + x + ···
1+x 2 2! 3!

X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) n
=1+ (−1)n x ,
2n n!
n=1

isto é,


1 X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) n
√ =1+ (−1)n x , para − 1 < x < 1.
1+x 2 · 4 · 6 · · · (2n)
n=1
1
Quando α= 2 , temos

1 1
√ 1 ( − 1) 2 21 ( 12 − 1)( 12 − 2) 3
1+x=1+ x+ 2 2 x + x + ···
2 2! 3!

X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 3) n
=1+ (−1)n+1 x ,
2n n!
n=1

isto é,


√ X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 3) n
1+x=1+ (−1)n+1 x , para − 1 < x < 1.
2 · 4 · 6 · · · (2n)
n=1

Exercício. Para cada n ≥ 1, seja

1 · 3 · 5 · · · (2n − 1)
an = .
2 · 4 · 6 · · · (2n)
1 1
Verique que ≤ an ≤ √ para todo n ∈ N.
2n 2n + 1
44 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE TAYLOR

Existem vários modos de combinar séries conhecidas para obter novas séries. Vamos ilustrar
isso de três maneiras diferentes. Pode-se demonstrar a legitimidade desse procedimento, mas
não o faremos aqui. Em cada uma das maneiras abaixo descritas, estamos sempre supondo
que as séries envolvidas têm raios de convergência positivos.

ˆ Podemos multiplicar séries de potências para obter uma nova série de potências. O
processo de multiplicação é muito semelhante ao de multiplicação de polinômios: formamos
todos os possíveis produtos dos termos de uma série por todos os da outra e arranjamos os
resultados de acordo com as potências crescentes de x.

Exemplo 4.1.12. Determinar a série de MacLaurin de f (x) = ex sen x.

Solução. Sabemos que


x2 x3
ex = 1 + x + + + · · ·,
2! 3!

x3 x5
sen x =x− + + · · ·.
3! 5!
Portanto

x2 x3 x3 x5
   
f (x) = ex sen x = 1+x+ + +··· · x− + +···
2! 3! 3! 5!

1
= x + x2 + x3 + · · ·
3
A série resultante é absolutamente convergente em R. Em geral, não é fácil reconhecer o
termo geral da série resultante desse processo.

ˆ Podemos dividir séries de potências para obter uma nova série de potências. O processo é
o mesmo empregado para a longa divisão de polinômios. Os termos são arranjados de acordo
com as potências crescentes de x.

x2
Exemplo 4.1.13. Determinar a série de MacLaurin de f (x) = .
1 − x + x2 − x3
Solução. Aqui podemos usar o método descrito no Exemplo 4.1.4 decompondo f em frações
parciais
A Bx + C
f (x) = +
1−x 1 + x2
e utilizar a série geométrica. (Complete os detalhes!).

Outra forma consiste em dividir x2 por 1 − x + x2 − x3 como polinômios, com `resto da divisão
de grau maior que o do divisor'.

x2 1 − x + x2 − x3
−x2 + x3 − x4 + x5 x2
x3 − x4 + x5
Procedendo com a divisão temos

x3 − x4 + x5 1 − x2 + x3 − x4
−x3 + x4 − x5 + x6 x3
x6
4.1. SÉRIES DE TAYLOR 45

x2
Continuando o processo, concluimos que a série de Taylor de f (x) = é
1 − x + x2 − x3
f (x) = x2 + x3 + x6 + x7 + x10 + x11 . . .
Verica-se facilmente que o raio de convergência é 1.

ˆ Podemos fazer composição de séries de potências para obter uma nova série de potências.
O processo de composição é muito semelhante ao de composição de polinômios: formamos
todos os possíveis produtos dos termos de uma série por todos os da outra e arranjamos os
resultados de acordo com as potências crescentes de x.

Exemplo 4.1.14. Determinar a série de MacLaurin até o termo x3 de f (x) = ln(1 + sen x).

Solução. Começamos com a série

1 1
ln(1 + h) = h − h2 + h3 − · · ·,
2 3
e colocamos
x3 x5
h = sen x = x − + − · · ·.
3! 5!
Obtemos

   2  3
x3 x5 x3 x5 x3 x5
ln(1 + sen x) = x − 3! + 5! − · · · − 21 x − 3! + 5! − ··· + 1
3 x− 3! + 5! − ··· − ···
= x − 12 x2 + 61 x3 + · · ·
46 CAPÍTULO 4. SÉRIES DE TAYLOR
APÊNDICE A
EULER

A.1 Como Euler especulou a soma dos inversos dos quadrados


Euler tinha uma genialidade inacreditável em diversas áreas. Ele foi o primeiro e grande
X
mestre dos produtos innitos (aliás, o uso de para somatório é devido a ele).

Neste pequeno texto, mostraremos como Euler especulou a seguinte igualdade.

1 1 1 1 π2
1+ + + + ··· + 2 ··· = .
4 9 16 n 6
Comecemos com álgebra elementar. Se a e b são números não-nulos, então eles são raízes da
equação

 x  x
1− 1− = 0.
a b
Esta equação pode ser escrita como

 
1 1 1 2
1− + x+ x = 0.
a b ab
Substitua x por x2 e a e b por a2 e b2 . As duas equações acima tornam-se

x2 x2
  
1− 2 1 − 2 = 0.
a b
e

 
1 1 1
1− 2
+ 2 x2 + x4 = 0.
a b a2 b2

As raízes da equação acima são exatamente ±a e ±b. O coeciente que acompanha x2 é a


soma dos inverso dos quadrados das duas raízes distintas a e b.
Ampliando este processo, sejam a, b, c não nulos e considere o polinômio

x2 x2 x2
   
1− 2 1− 2 1 − 2 = 0.
a b c
As raízes são obviamente ±a, ±b e ±c. Expandindo a equação acima, temos

47
48 APÊNDICE A. EULER

 
1 1 1 1
1− + + x2 + (· · · ) x4 − x6 = 0,
a2 b2 c2 a2 b2 c2
e assim por diante. Repare que a soma dos inversos dos quadrados de a, b, c aparece no
coeciente de x2 do polinômio acima.
Agora, vamos considerar a equação

sen x
= 0,
x
isto é,

x2 x4 x6
1− + − + · · · = 0.
3! 5! 7!
A equação pode ser encarada como uma equação polinomial de grau innito com um número
innito de raízes ±π, ±2π, ±3π, · · · .
O raciocínio feito anteriormente sugere escrever o seguinte produto innito

x2 x2 x2
   
sen x
= 1− 2 1− 2 1 − 2 ··· . (A.1)
x π 4π 9π

Mantendo a analogia feita anteriormente, sugere-se que temos

1 1 1 1
2
+ 2 + 2 + ··· = .
π 4π 9π 3!
que é a fórmula de Euler.
π
Outro ponto interessante é que se colocarmos x= na fórmula A.1, temos
2
   
2 1 1 1
= 1− 2 1− 2 1 − 2 ···
π 2 4 6
   
13 35 57
= ···
22 44 66

que é equivalente à fórmula de Wallis

π 224466
= ··· .
2 133557
Estas especulações arrojadas são características do gênio único de Euler. Esperamos que
nenhum estudante suponha que estas especulações sejam uma prova rigorosa. É possível a
construção de uma teoria geral de produtos innitos, dentro do qual a fórmula (A.1) pode ser
precisamente estabelecida e provada. Esta meta é alcançada em campos mais avançados na
Matemática.

A.2 Fórmula de Euler


Nesta seção, daremos uma prova elementar da fórmula de Euler para a soma dos inversos dos
quadrados

1 1 1 1 π2
1+ + + + ··· + 2 ··· = .
4 9 16 n 6
A.2. FÓRMULA DE EULER 49

A prova que será apresentada é devida a D.P. Giesy e foi publicada no Mathematics Magazine,
Vol.45 (1972), pp. 148-149.
Para cada n xado, considere

1
fn (x) = + cos x + cos 2x + · · · + cos nx.
2
Denimos a sequência an por

Z π
an = xfn (x)dx.
0
Integrando por partes, obtemos que

n 
π 2 X (−1)k − 1

an = + .
4 k2
k=1

Daí,

n
1 π2 X 1
a2n−1 = − .
2 8 (2k − 1)2
k=1

Armo que lim a2n−1 = 0. De fato, por um simples argumento de indução, temos

sen[(2n + 1)x/2]
fn (x) = .
2sen(x/2)
Daí,

π π
− 1)x/2]
Z Z
sen[(4n
a2n−1 = xf2n−1 (x)dx = x dx.
0 0 2sen(x/2)
Dena  
d x/2
g(x) = .
dx sen(x/2)

Temos que g(x) é crescente, positiva em (0, π] e portanto |g(x)| ≤ g(π) = 1/2.
Uma integração por partes mostra que

 Z π 
1 (4n − 1)x
a2n−1 = 2+2 g(x) cos dx .
4n − 1 0 2
Isso mostra que

 
(4n − 1)x
Z
1 1
|a2n−1 | ≤ 2 + 2 πg(x) cos dx ≤ (2 + 2π 2 ).
4n − 1 0 2 4n − 1

Pelo Teorema do Confronto, temos que lim a2n−1 = 0 e, daí,


X 1 π2
= .
(2k − 1)2 8
k=1

X 1
Para completar a demonstração, seja L= .
n2
n=1
∞ ∞ ∞
X 1 X 1 X 1 L π2
L= = + = + .
n2 (2n)2 (2n − 1)2 4 8
n=1 n=1 n=1
50 APÊNDICE A. EULER

Isso mostra que


X 1 π2
= .
n2 6
n=1

A.3 Soma dos inversos dos primos


É sabido desde à época de Euclides que existem innitos números primos. Cerca de 2.000
anos depois, em 1737, Euler descobriu outra demonstração fundamentalmente diferente. Os
métodos que ele utilizou lançaram fundamentos de um novo ramo da Matemática, que agora
se chama Teoria Analítica dos Números.
A m de compreender as ideias de Euler, considere a função zeta denida por

X 1 1 1
ζ(s) = s
= 1 + s + s + ...,
n 2 3
n=1
em função da variável s, com s > 1.
A descoberta básica de Euler foi a identidade que conecta a função zeta com os números
primos

Y 1 1 1 1 1
ζ(s) = 1 = 1 · 1 · 1 · ··· .
p
1 − ps 1 − 2s 1 − 3s 1 − 5s 1 − 71s

onde a expressão à direita denota o produto dos números 1/(1 − p−s ) para todos os primos
2, 3, 5, 7, 11, . . ..
Para ver como tal identidade à direita aparece, lembremos que

1
= 1 + x + x2 · · ·
1−x
para todo x com |x| < 1. Logo, para cada primo p, temos

1 1 1 1
1 = 1 + ps + p2s + p3s + · · · .
1 − ps
Sem nos determos na justicativa do processo, multipliquemos agora essas séries para todos os
primos p, lembrando que cada número n>1 pode ser expresso de forma única como produto
de potências de primos diferentes. Isto acarreta que

Y 1 Y 1 1 1

= 1 + s + 2s + 3s + · · ·
p
1 − p1s p
p p p
1 1 1
=1+ s
+ s + ··· + s + ···
2 3 n

X 1
= = ζ(s).
ns
n=1

Observe que se houvesse um número nito de primos, então o produtório dos primos da função
zeta seria um produto nito ordinário e teria um valor nito para todo s > 0, inclusive para
s=1 e portanto, ζ(1) seria nito. Isso é absurdo, pois a série harmônica diverge.
Outra descoberta de Euler foi que soma dos inversos dos primos diverge, isto é,

X 1 1 1 1 1 1
= + + + + · · · = ∞.
pn 2 3 5 7 11
A.4. A FUNÇÃO ZETA 51

Para iniciarmos a prova, seja pn o enésimo número primo e considere

n n  
Y 1 Y 1 1 1
1 = 1+ + 2 + 3 + ···
1 − p
pk pk pk
k=1 k k=1
Como todo inteiro n > 1 se expressa de modo único como o produto de potências de números
primos, temos que o produtório à direita poder visto como o somatório de todos números
n>1 cujos fatores primos são ≤ pn . Em particular, temos que

pn Z pn +1
1 1 1 X1 dx
1 · 1 ··· ≥ > = ln(pn + 1) > ln pn .
1− 2 1− 3 1 − p1n k=1
k 1 x
Daí, tomando os inversos,

    
1 1 1 1
1− 1− ··· 1 − < .
2 3 pn ln pn
Tomando os logaritmos, temos que

n  
X 1
ln 1 − < − ln ln pn .
pk
k=1
1
Como a reta y = 2x está abaixo da curva y = ln(1 + x) no intervalo − ≤ x < 0, temos que
2
para todo primo pk ,

 
2 1
− < ln 1 − = ln(pk − 1) − ln pk .
pk pk
Pondo valores k = 1, . . . , k = n na expressão acima e somando-as, obtemos

n
X 1 1
> ln ln pn .
pk 2
k=1
X 1
Concluímos que a série diverge do fato que lim ln ln pn = ∞.
pn n→∞

A.4 A função zeta


X 1
Um dos problemas do milênio da matemática é sobre a função ζ(s) = .
ns
Nestas notas, não estamos querendo falar sobre a história desta função e nem as conjecturas
e problemas relacionadas a esta função. Só queremos falar um pouco sobre o caso s = 3.
É notável que a descoberta de Euler de uma expansão notável da cotangente


1 X 1
π cotgπx = + 2x ,
x x − n2
2
n=1

válida para todo x não inteiro e os números de Bernoulli Bn que é obtido pela expansão em
série de potências

x X Bn
x
= xn
e −1 n!
n=0

1/n2k .
P
se encontra a fórmula de Euler
Pode-se demonstrar que
52 APÊNDICE A. EULER

X 1 π2 X 1 π4 X 1 π6
2
= , 4
= , 6
= .
n 6 n 90 n 945
É digno de notar que por quase 150 anos não tenha havido qualquer progresso na determinação
da soma exata de qualquer das séries

X 1 X 1 X 1
, , ...
n3 n 5 n7
Em 1977, Apéri provou que o número ζ(3) é irracional... E só. Não se sabe muita coisa para
ζ(n), para n ímpares.
Em 1772, Euler descobriu que


" #
π2 X ζ(2)
ζ(3) = 1−4 .
7 (2k + 1)(2k + 2)22k
k=1

Muitas outras fórmulas foram encontradas, tais como


7 3 X 1
ζ(3) = π −2 3 2πn
80 n (e −1
n=1

8X 1
=
7 (2k + 1)3
k=0

4 X (−1)k
=
3 (k + 1)3
k=0

5X (n!)2
= (−1)n−1
2 n3 (2n)!
n=1
1 ∞ x2
Z
= dx
2 0 ex − 1
2 ∞ x2
Z
=
3 0 ex + 1
1 3
= − Γ000 (1) + Γ0 (1)Γ00 (1) − [Γ0 (1)]3 , onde Γ é a função Gama.
2 2
etc...

Até hoje não se sabe se ζ(3) pode ser escrito como um polinômio em π com coecientes
racionais.
Para dar alguma esperança de resolver o problema, existem expressões de inversas do cubo
que são conhecidas, por exemplo,

1 1 1 1 1 π3
− + − + + · · · =
13 33 53 73 93 32
e também que


1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3π 3 2
+ − − + + − − + + ··· = .
13 33 53 73 93 113 133 153 173 193 128

Em resumo, precisaremos de um novo Euler!


APÊNDICE B
WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

B.1 Fórmula de Wallis


Nesta seção, vamos examinar o comportamento da sequência

1 · 3 · 5 · ... · (2n − 1)
an =
2 · 4 · 6 · ... · (2n)

de uma forma diferente daquela utilizada anteriormente. Trata-se de usar uma técnica desen-
volvida por Wallis. Além de sua beleza e elegância, aprenderemos um pouco mais sobre essa
sequência. Na verdade, provaremos que

√ 1
lim n an = √ (B.1)
n→∞ π

Começamos por calcular a integral de potências de f (x) = sen x em [0, π2 ]: para todo inteiro
k ≥ 1, integração por partes implica

Z π/2 Z π/2
k k−1
sen x dx = sen x · senx dx
0 0
Z π/2
π/2
= senk−1 x (− cos x)|0 + cos x · (k − 1)senk−2 x cos x dx
0
Z π/2
k−2
= (k − 1) sen x(1 − sen2 x) dx
0
Z π/2 Z π/2
k−2 k
= (k − 1) sen x dx − (k − 1) sen x dx.
0 0

Portanto,

π/2 π/2
k−1
Z Z
k k−2
sen x dx = sen x dx.
0 k 0

53
54 APÊNDICE B. WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

Se k = 2n é um número par, então

Z π/2 Z π/2
2 1 + cos 2x π π 1
(n = 1) sen x dx = dx = = · ;
0 0 2 4 2 2
π/2 π/2
π 1·3
Z Z
4 3 2
(n = 2) sen x dx = sen x dx = · ;
0 4 0 2 2·4
π/2 π/2
π 1·3·5
Z Z
6 5 4
(n = 3) sen x dx = sen x dx = · ;
0 6 0 2 2·4·6
π/2 π/2
π 1·3·5·7
Z Z
8 7 6
(n = 4) sen x dx = sen x dx = · .
0 8 0 2 2·4·6·8

De modo geral, temos

π/2
π 1 · 3 · 5 · 7 · · · (2n − 1)
Z
2n π
sen x dx = · = · an .
0 2 2 · 4 · 6 · 8 · · · (2n) 2

Se k = 2n + 1 é um número ímpar, então

Z π/2
(n = 0) sen x dx = 1;
0
Z π/2 Z π/2
3 2 2
(n = 1) sen x dx = sen x dx = ;
0 3 0 3
π/2 π/2
2·4
Z Z
5 4 3
(n = 2) sen x dx = sen x dx = ;
0 5 0 3·5
π/2 π/2
2·4·6
Z Z
7 6 5
(n = 3) sen x dx = sen x dx = .
0 7 0 3·5·7

De modo geral, temos

π/2
2 · 4 · 6 · 8 · · · (2n)
Z
2n+1 1 1
sen x dx = = · .
0 1 · 3 · 5 · 7 · · · (2n + 1) an 2n + 1

2n+2 2n+1 2n
Como 0 ≤ x ≤ π/2, temos 0 ≤ sen x ≤1 e, portanto, sen x≤ sen x≤ sen x para
todo n ≥ 1, de modo que
Z π/2 Z π/2 Z π/2
2n+2 2n+1 2n
sen x dx ≤ sen x dx ≤ sen x dx,
0 0 0

isto é,
π 2n + 1 1 1 π
· an · ≤ · ≤ · an
2 2n + 2 an 2n + 1 2
ou seja
π 2n + 1 1 π
· ≤ ≤ .
2 2n + 2 (2n + 1)a2n 2
Portanto,
2 2 2n + 2
≤ (2n + 1)a2n ≤ · .
π π 2n + 1
B.1. FÓRMULA DE WALLIS 55

r r √ r
2 1 2 2n + 2 2 2n + 2 1
·√ ≤ an ≤ · ≤ · ·√ .
π 2n + 1 π 2n + 1 π 2n + 1 2n + 2
Logo,

2 √ 1
lim an = 0 , lim (2n + 1)a2n = e lim n an = √ .
n→∞ n→∞ π n→∞ π

1 2 · 4 · 6 · ... · (2n) (n!)2 22n


Proposição B.1.1. (Fórmula de Wallis) Seja αn = √ = √ .
√n 1 · 3 · 5 · ... · (2n − 1) (2n)! n
Então αn é uma sequência convergente e vale lim αn = π.
2
Pela expressão lim (2n + 1)a2n =
, obtemos a curiosa expressão
n→∞ π
π 2 2 4 4 6 6 2n 2n
= lim · · · · · · · · · .
2 n→∞ 1 3 3 5 5 7 2n − 1 2n + 1
56 APÊNDICE B. WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

B.2 A Fórmula de Stirling


Em muitas aplicações, particularmente em estatística e teoria de probabilidade, se faz neces-
sário ter uma simples aproximação de n! como funções elementares de n. Tal expressão é
dada pelo seguinte teorema, conhecido como Fórmula de Stirling :

n!en
lim √ = 1; (B.2)
2πnnn
Mais precisamente,
√ √
 
n −n n −n 1
2πn n e < n! < 2πn n e 1+ .
4n

Em outras palavras, as expressões n! e 2πn nn e−n diferem apenas por uma pequena porcen-
tagem quando o valor de n é sucientemente grande. Em nosso jargão, dizemos que as duas
expressões são assintoticamentes iguais.
Nós chegamos a esta fórmula memorável se tentarmos estimar a área sob a curva y = ln x.
Seja ak a área sob a curva y = ln x, limitada por x = k e x = k + 1.
Seja An a área sob a curva y = ln x, limitada por x = 1 a x = n, isto é,

n−1
X Z n
An = ak = ln xdx = n ln n − n + 1 = .
k=1 1

Se estimarmos a área ak pelo trapézio x = k, x = k + 1, y = 0 e o segmento de reta de


extremidades (k, ln k) e (k + 1, ln(k + 1)), temos que a área tk do trapézio é

y = ln x

0 1 2 3 4 5 6

t1 t2 t3 t4 t5

Figura B.1: Este procedimento de aproximar área é conhecida como regra do trapézio.

Daí
ln k + ln(k + 1)
tk = .
2
n−1
X
Seja Tn a soma de tk , então,
k=1

ln n ln n
Tn = ln 2 + ln 3 + . . . + ln(n − 1) + = ln(n!) − .
2 2

A estimativa Tn da área do gráco de uma função é conhecida como a regra do trapézio.


B.2. A FÓRMULA DE STIRLING 57

ek

e
k k+1 k

Figura B.2: Área ek menor que o trapézio formado pela reta tangente
e a secante que liga os pontos (k, ln k) e (k + 1, ln k + 1).

Queremos estimar o erro En = An − Tn . Para tal, denaek = ak − tk a diferença entre a área


sob a curva ln x e do trapézio gerado na faixa de x=k x = k + 1. Como a curva y = ln x
e
é concava, temos que ek são números positivos e claramente ek é menor que que a diferença
entre a área sob à tangente em x = k + 1/2 e a área sob o trapézio (ver gura). Logo temos
a seguinte desigualdade.

1 ln k + ln(k + 1)
ek < ln(k + ) −
2 2  
1 ln k ln k 1 1
= ln k + ln 1 + − − − ln 1 +
2k 2 2 2 k
   
1 1 1 1
= ln 1 + − ln 1 +
2 2k 2 2k + 1
   
1 1 1 1
< ln 1 + − ln 1 + .
2 2k 2 2(k + 1)

Daí,

n−1
X
En = ek
k=1
n−1
X    
1 1 1 1
< ln 1 + − ln 1 +
2 2k 2 2(k + 1)
k=1
   
1 3 1 1
= ln − ln 1 +
2 2 2 2n
 
1 3
< ln .
2 2

Logo, a sequência En é crescente e limitada e, portanto, convergente. Seja  = lim En .


Então, nossas estimativas de ek diz que

∞  
X 1 1
 − En = ek < ln 1 +
2 2n
k=n

Lembrando que En = An − Tn , temos que

 
1
En = n ln n − n + 1 − ln n! − ln n .
2
Daí,

 
1
ln n! = 1 − En + n + ln n − n.
2
58 APÊNDICE B. WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

Dena αn = e1−En . Então

1
n! = αn nn+ 2 e−n .
A sequência αn é monótona e decrescente e converge para α = e1− ; daí

αn
1< = e−En < e1/2 ln(1+1/(2n))
α r
1 1
= 1+ <1+ .
2n 4n
Portanto, temos que

 
n+1/2 −n n+1/2 −n 1
αn e < n! < αn e 1+ .
4n

Resta provar que α = 2π .
1 1
Como n! = αn nn+ 2 e−n , temos que (2n)! = α2n (2n)2n+ 2 e−2n e (n!)2 = (αn )2 n2n+1 e−2n .
Dividindo ambos os termos, temos


(n!)2 (αn )2 n
= √ .
(2n)! α2n 22n 2
Daí,

α2 (αn )2 (n!)2 22n √


√ = lim √ = lim √ = π,
α 2 α2n 2 (2n)! n
a última igualdade é devido a fórmula de Wallis (ver proposição B.1.1)

Logo α= 2π e a demonstração da fórmula de Stirling está, portanto, completa.
B.3. O PÊNDULO SIMPLES 59

B.3 O Pêndulo Simples


O pêndulo simples consiste de uma partícula de massa m suspensa por um o sem massa e
inextensível de comprimento `. Em sua posição de equilíbrio, a partícula está sobre a linha
vertical que passa pelo ponto de suspensão S.

S b

Θ0

Afastada da posição de equilíbrio de ângulo θ0 > 0 e abandonada, exclusivamente sob a ação


da força gravitacional g, a partícula executa um movimento oscilatório em torno da posição
de equilíbrio com amplitude θ0 . Indicando por θ = θ(t) a posição (o ângulo, em radianos)
medido da posição vertical, pela 2ª Lei de Newton, o movimento do pêndulo é regido pela
equação diferencial

d2 θ
m` = −mg sen θ. (B.3)
dt2

Estudaremos as soluções de (B.3) com condições iniciais

θ(0) = θ0 e θ0 (0) = 0 (B.4)

e mostraremos como obter o período de uma solução periódica.

Inicialmente, observamos que se θ = θ(t) é uma solução constante de (B.3) com |θ(t)| ≤
π , então θ(t) ≡ 0 ou θ(t) = π ou θ(t) = −π . No primeiro caso, dizemos que o estado
θ = 0 corresponde ao equilíbrio estável de (B.3). Analogamente, θ(t) = π ou θ(t) = −π
correspondem ao equilíbrio instável de (B.3).

No que segue vamos supor que θ = θ(t) é uma solução não-constante de (B.3), o que signica

que 0 < |θ0 | < π . Multiplicando (B.3) por e usando a regra da cadeia, obtemos
dt
 
d 1 0 2
m`θ (t) − mg cos θ(t) = 0.
dt 2

Portanto, existe uma constante C tal que

1
m`θ0 (t)2 − mg cos θ(t) = C, (B.5)
2
para todo t ≥ 0.

Equação (B.5) expressa o importante fato de que o sistema estudado é conservativo, isto é, a
energia total do sistema E(t) = 21 m`θ0 (t)2 −mg cos θ(t) é constante para cada solução θ = θ(t)
de (B.3).
60 APÊNDICE B. WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

Tomando t=0 em (B.5) e usando as condições iniciais, obtemos C = −mg cos θ0 e, assim,

θ0 (t)2 = 2k[cos θ(t) − cos θ0 ],


g
onde k = . Isso implica que, para os valores de t pertencentes a um intervalo aberto I
`
contendo t = 0 para os quais a solução de (B.3), (B.4) existe, devemos ter cos θ(t) ≥ cos θ0 ,
isto é, que |θ(t)| ≤ |θ0 |, o que signica que a amplitude de oscilação não ultrapassa |θ0 |. Como
0

também |θ (t)| ≤ 2 k para todo t ∈ I , concluimos (por um teorema sobre soluções limitadas
0
de equações diferenciais) que I = (−∞, ∞) e que o ponto (θ(t), θ (t)) pertence à curva fechada

θ0 (t)2 = 2k[cos θ(t) − cos θ0 ].

(O leitor deve constatar que a curva y 2 = 2k(cos x − cos θ0 ), −θ0 ≤ x ≤ θ0 é uma curva
fechada no plano xy simétrica com relação ao eixos x e y ). Dessa forma, concluímos que a
aplicação t ∈ R 7→ (θ(t), θ (t)) ∈ R é uma função periódica, digamos, de período T = T (θ0 ).
0 2

Agora, observamos que se 0 < θ0 < π , então o tempo total gasto em cada um dos quatro
quadrantes é igual a um quarto do período.

1
Quando 0 ≤ t ≤ T, temos θ0 (t) < 0 e θ(t) é decrescente de θ0 até 0; portanto
4
θ0 (t) = − 2k[cos θ(t) − cos θ0 ]
p

1
para 0 ≤ t ≤ T, isto é,
4
θ0 (t)
p = −1,
2k[cos θ(t) − cos θ0 ]
 
1 1
para 0 ≤ t ≤ T . Integrando em 0, T , obtemos
4 4
Z 1T
1 4 θ0 (t) dt
T (θ0 ) = − p .
4 0 2k[cos θ(t) − cos θ0 ]
 
1
Agora, fazendo a mudança θ(t) = s, temos θ(0) = θ0 , θ T = 0 e, então
4
Z 0 Z θ0
1 ds ds
T (θ0 ) = − p = p .
4 θ0 2k[cos s − cos θ0 ] 0 2k[cos s − cos θ0 ]

x θ0 s
Como cos x = 1 − 2sen( ), temos cos s − cos θ0 = 2[sen2 ( ) − sen2 ( )]. Fazendo a mudança
2 2 2
s θ0
sen( ) =  senφ, onde  = sen( ), a última integral pode ser escrita como
2 2
Z θ0 Z π/2
ds 1 2  cos φ dφ
T (θ0 ) = 4 p =4 √ p .
0 2k[cos s − cos θ0 ] 0 2 k  cos φ 1 − 2 sen2 φ

Portanto, se 0 < θ0 < π , então o período da solução de (B.3), (B.4) é dado por

s Z
` π/2 dφ
T (θ0 ) = 4 p , (B.6)
g 0 1 − 2 sen2 φ
onde  = sen( θ20 ). Como 0 <  < 1, o integrando em (B.6) é uma função contínua. A integral
(B.6) é chamada uma integral elíptica de primeira espécie.
B.3. O PÊNDULO SIMPLES 61

Vamos obter uma expressão para T (θ0 ) como soma de uma série. Para isso, usamos a série
1
binomial de √ .
1+x

1 X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) n
√ =1+ (−1)n x , para − 1 < x < 1.
1+x 2 · 4 · 6 · · · (2n)
n=1

Substituindo x = −2 sen2 φ, obtemos


1 X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) 2n 2n π
p =1+  sen φ, para 0≤φ≤ .
1 − 2 sen2 φ 2 · 4 · 6 · · · (2n) 2
n=1

Integrando em [0, π2 ], temos

π/2 ∞ π/2
π X 1 · 3 · 5 · · · (2n − 1) 2n
Z Z
dφ 2n π
p = +  sen φ dφ, para 0≤φ≤ .
0 1 − 2 sen2 φ 2 2 · 4 · 6 · · · (2n) 0 2
n=1

Durante a dedução da fórmula de Wallis, vimos que

π/2
π 1 · 3 · 5 · 7 · · · (2n − 1)
Z
2n
sen φ dφ = · .
0 2 2 · 4 · 6 · 8 · · · (2n)

Portanto,
s "  2    2    2   #
` 1 2 θ 0 1 · 3 4 θ 0 1 · 3 · 5 6 θ 0
T (θ0 ) = 2π 1+ sen + sen + sen + ...
g 2 2 2·4 2 2·4·6 2

é o período da solução periódica de (B.3) com condições iniciais (B.4). Para simplicar a
escrita, escrevemos essa fórmula como

s "
∞  #
` X
2 2n θ0
T (θ0 ) = 2π 1+ an sen , (B.7)
g 2
n=1
onde
1 · 3 · 5 · · · (2n − 1)
an = . (B.8)
2 · 4 · 6 · · · (2n)

Observe que lim T (θ0 ) = ∞ em virtude das estimativas . É também aparente de (B.7) que,
θ0 →±π
se |θ0 | é muito pequeno, então
s
`
T = 2π
g
é uma boa aproximação para o período das pequenas oscilações do pêndulo (oscilações livres
do pêndulo linear).

d2 θ
Observação Em um primeiro curso de física, a equação do pêndulo simples m` =
dt2
−mg sen θ é substituída pela aproximação linear do senθ ' θ. Esta aproximação só é boa
π
para θ0 < .
18
62 APÊNDICE B. WALLIS, STIRLING E PÊNDULO

Exercício. Escreva o comprimento de uma elipse em função da integral elíptica de segunda


espécie Z π/2 p
E(k) = 1 − k 2 sen2 φ dφ,
0
onde 0 < k < 1. Use o Exemplo (4.1.11) para expressar o comprimento de uma elipse de eixo
maior 2a e excentricidade k como
2 4 2n
 
2k 2k 2 k
L = 4aE(k) = 2πa 1 − a1 − a2 − · · · − an − ··· ,
1 3 2n − 1
com an dados por (B.8). Se descartarmos potências de k de expoentes maiores que 2, qual o
x2 y 2
comprimento da elipse + 2 = 1, onde a > b?
a2 b

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