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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Ciências e Tecnologia


Unidade Acadêmica de Matemática

Introdução à Teoria dos


Reticulados
e Reticulados de Subgrupos

por

Michell Lucena Dias


sob orientação do

Prof. Dr. Antônio Pereira Brandão Júnior

Campina Grande - PB
Setembro de 2013
Universidade Federal de Campina Grande
Centro de Ciências e Tecnologia
Unidade Acadêmica de Matemática

Michell Lucena Dias

Introdução à Teoria dos


Reticulados
e Reticulados de Subgrupos
Trabalho apresentado ao Curso de Gra-
duação em Matemática da Universi-
dade Federal de Campina Grande como
requisito parcial para a obtenção do tí-
tulo de Bacharel em Matemática.

Prof. Dr. Antônio Pereira Brandão Júnior


Orientador

Campina Grande, 30 de Setembro de 2013


Curso de Matemática, Modalidade Bacharelado
Introdução à Teoria dos
Reticulados
e Reticulados de Subgrupos
por

Michell Lucena Dias

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 30 de Setembro


de 2013 pela comissão examinadora constituída pelos professores:

Prof. Dr. Antônio Pereira Brandão Júnior


Orientador
UAMat/CCT/UFCG

Prof. Dr. Diogo Diniz Pereira da Silva e Silva


Examinador
UAMat/CCT/UFCG

Com nota igual a:


Resumo
Neste trabalho apresentaremos um estudo introdutório sobre a Teoria dos
Reticulados, no qual discutiremos algumas propriedades de maior relevância,
como modularidade, distributividade e completude, e sobre a estreita relação
entre álgebras de Boole e anéis de Boole. Além disso, mostraremos sua utili-
dade pontual enquanto ferramenta algébrica no estudo da Teoria de Grupos.
Para tanto, buscaremos aplicar os resultados desenvolvidos no presente texto
a uma importante classe de reticulados, chamada Reticulados de Subgrupos.

4
Abstract
In this work we will present an introductory study on the Lattice Theory,
in which we will discuss some of the most relevant properties, such as mo-
dularity, distributivity and completeness, and the close relationship between
Boolean algebras and Boolean rings. Furthermore, we will show their utility
as an algebraic tool in the study of Group Theory. For that, we will seek
to apply the results developed in this text to an important class of lattices,
called Subgroups Lattices.

5
Dedicatória

Aos meus pais, Mairon e Socorro.

6
Sumário

Introdução 9
1 Preliminares 11
1.1 Conjuntos Parcialmente Ordenados . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.1 Denição e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.2 Dual de um Sistema Parcialmente Ordenado . . . . . . 13
1.1.3 Elementos Maximais, Minimais, Máximos e Mínimos . 14
1.1.4 Diagramas de Hasse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.5 Isomorsmo de Conjuntos Parcialmente Ordenados . . 16
1.2 Algumas Notas Sobre Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.2.1 Denição e Propriedades Básicas . . . . . . . . . . . . 19
1.2.2 Subgrupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2.3 Classes Laterais e o Teorema de Lagrange . . . . . . . 23
1.2.4 Grupos Cíclicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2.5 Subgrupos Normais e Grupos Quocientes . . . . . . . . 25
1.2.6 Homomorsmos de Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.2.7 Teoremas de Cauchy e de Sylow . . . . . . . . . . . . . 29
1.2.8 Grupos Abelianos Finitamente Gerados . . . . . . . . . 30
1.3 Anéis de Boole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2 Reticulados 33
2.1 Conceitos Primários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.1 Denição e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.2 Subreticulados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.1.3 Homomorsmos de Reticulados . . . . . . . . . . . . . 39
2.2 Reticulados Completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.3 Reticulados como Espaços Algébricos . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4 Reticulados Distributivos e Modulares . . . . . . . . . . . . . 46

7
2.5 Álgebras de Boole . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

3 Reticulados de Subgrupos 65
3.1 Resultados Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.2 Reticulados Distributivos e Grupos Cíclicos . . . . . . . . . . . 67
3.3 Reticulados Modulares e Grupos Abelianos . . . . . . . . . . . 72
3.4 Grupos Abelianos e Duais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.5 Alguns Teoremas de Classicação . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.5.1 Reticulados de Subgrupos e o Grupo de Klein . . . . . 81
3.5.2 Reticulados de Subgrupos e Cadeias . . . . . . . . . . . 83
3.5.3 Reticulados de Subgrupos e Álgebras de Boole . . . . . 86
3.5.4 Reticulados que Não São Reticulados de Subgrupos . . 86

Bibliograa 89

8
Introdução
A teoria dos reticulados teve sua origem em meados do século XIX com os
estudos do matemático britânico George Boole (1815 − 1864) sobre relações
entre conjuntos. Estes estudos representaram o protótipo das estruturas
algébricas hoje conhecidas como álgebras booleanas, em sua homenagem.

George Boole.

No entanto, o conceito de reticulado, no sentido atual, foi introduzido pelo


alemão Richard Dedekind (1831 − 1916) por volta de 1890 com a tentativa de
responder a seguinte problemática ([6]): dados três subgrupos A, B e C de um
grupo abeliano, qual o maior número de subgrupos distintos que é possível
formar usando A, B e C e as operações de união (ou soma) e interseção?
Dedekind iniciou a teoria básica dos reticulados culminando com a publi-
cação de dois artigos, em 1897 e 1900. Todavia, o tema permaneceu ador-
mecido até a década de 1930, quando passou a ter a colaboração de outros
matemáticos, como Ernest Schroder, Garret Birko, Oystein Ore e George
Gratzer.

9
Daquele momento em diante, a teoria
dos reticulados tem sido um tema ativo
e em crescimento, tanto em termos de
sua aplicação à álgebra e suas próprias
questões intrínsecas ([5]).

Assim, sob caráter introdutório, pretendemos com este trabalho resgatar


esta fecunda linha de pesquisa da álgebra moderna, salientando sua utilidade
como uma conveniente ferramenta para elucidar características intrínsecas à
estrutura de grupo.
Dispusemos este trabalho em três capítulos da seguinte maneira:
No Capítulo 1 introduziremos os resultados que darão suporte ao docu-
mento e é assumido o conhecimento por parte do leitor de relações binárias.
Iniciamos com a denição de ordem parcial em um conjunto, e apresentamos
os conceitos relacionados a conjuntos ordenados como ordem dual, elementos
máximo e mínimo, diagramas de Hasse e isomorsmo entre conjuntos ordena-
dos. Sobremaneira, este estudo teve como base a referência [4]. Além disso,
abordamos brevemente tópicos importantes sobre grupos, os quais serão am-
plamente utilizados no Capítulo 3. Nesta seção, seguimos essencialmente [1]
e [2]. Por m, apresentamos a denição de Anel de Boole.
No capítulo 2 apresentamos a denição de reticulado como um caso par-
ticular de conjuntos ordenados. Deniremos distributividade, modularidade
e completude, em reticulados, e mostraremos condições que identicam reti-
culados com estas propriedades, das quais destacamos a Lei de Corte. Em
seguida, descreveremos com detalhes o processo de contrução de álgebras de
Boole a partir de anéis de Boole, e reciprocamente. Tivemos como referência
[3] e [4].
O Capítulo 3 será destinado aos reticulados de subgrupos. Relacionare-
mos reticulados distributivos e grupos cíclicos, reticulados modulares e gru-
pos abelianos e reticulados auto-duais e grupos abelianos nitos. Em seguida,
ancorados em alguns problemas sugeridos em [7], mostraremos alguns teo-
remas que classicam reticulados de subgrupos como cadeias, álgebras de
Boole e o Grupo de Klein. Também mostraremos exemplos de reticulados
que não são reticulados de subgrupos.

10
Capítulo 1
Preliminares

1.1 Conjuntos Parcialmente Ordenados


1.1.1 Denição e Exemplos
Denição 1.1.1 Seja P um conjunto não vazio. Dizemos que uma relação
binária é uma ordem parcial em P , normalmente denotada por  ≤, se possui
as seguintes propriedades:

i) a ≤ a, para todo a ∈ P (reexividade);


ii) Se a, b ∈ P são tais que a ≤ b e b ≤ a, então a = b (anti-simetria);
iii) Se a, b, c ∈ P são tais que a ≤ b e b ≤ c, então a ≤ c (transitividade);
Neste contexto, dizemos que o par (P, ≤) é um sistema parcialmente or-
denado, ou que P é um conjunto parcialmente ordenado.
Uma ordem parcial também recebe a denominação de relação de prece-
dência. Assim, se a ≤ b, dizemos que a precede b, e que os elementos a e b
são comparáveis. Se a ≤ b e a 6= b então escrevemos a < b e dizemos que a
precede efetivamente b. Dizemos ainda que b é um sucessor de a se a < b e
se não existe x ∈ P tal que a < x < b.

Denição 1.1.2 Seja  ≤ uma ordem parcial em P. Se a ≤ b oub ≤ a,


para quaisquer a, b ∈ P , dizemos que  ≤ é um ordem total e que (P, ≤) é
um sistema totalmente ordenado, ou cadeia.

Observe, portanto, que numa cadeia quaisquer dois elementos são com-
paráveis.

11
Denimos o comprimento de uma cadeia nita de n elementos como sendo
n − 1.
C ⊆ N o conjunto dos comprimentos de todas as cadeias nitas con-
Seja
tidas em P . Se C é limitado superiormente, dizemos que P tem comprimento
nito. Em caso contrário, dizemos que P tem comprimento innito.

Denição 1.1.3 Denimos o comprimento (ou altura) de um conjunto or-


denado P, e denotamos por l(P ), como sendo

l(P ) = max{n ∈ N; n ∈ C },

se P tem comprimento nito. Se {n ∈ N; n ∈ C } é ilimitado, denimos


l(P ) = ∞.

De agora em diante, denotaremos (P, ≤) simplesmente por P , cando sua


ordem subentendida.

Exemplo 1.1.4 Seja E um conjunto qualquer. O conjunto P(E) das partes


de E, munido da relação de inclusão, é um sistema parcialmente ordenado.
Temos que l(P(E)) = número de elementos de E, se E for nito.

Exemplo 1.1.5 Sendo G um grupo, o conjunto dos subgrupos de G, munido


da relação de inclusão, é um sistema parcialmente ordenado, normalmente
denotado por R(G). Este será um dos principais objetos de estudo deste
trabalho.

Exemplo 1.1.6 O conjunto R dos números reais, munido de sua ordem


usual, é uma cadeia.

Exemplo 1.1.7 O conjunto N dos números naturais, munido da relação de


divisibilidade, é um sistema parcialmente ordenado.

Observação 1.1.8 O conjunto Z dos inteiros não pode ser ordenado pela
relação de divisibilidade. De fato, dado a∈Z não nulo, temos que −a divide
a e a divide −a, mas −a 6= a. Logo, a propriedade de anti-simetria não é
válida.

Exemplo 1.1.9 Sejam P1 e P2 conjuntos ordenados. Considerando o pro-


duto cartesiano P1 × P2 , vamos denir a relação

12
(x1 , y1 ) ≤ (x2 , y2 ) se x1 ≤ x2 e y1 ≤ y2 .

Temos que P1 × P2 munido desta relação é um conjunto parcialmente orde-


nado, chamado de produto cardinal (ou produto direto) de P1 e P2 .

Observação 1.1.10 Se o produto cardinal P1 × P2 é uma cadeia, então P1


e P2 também são. No entanto, a recíproca não é verdadeira. De fato, os
elementos (0, 1) e (1, 0) são incomparáveis em R × R.

Denição 1.1.11 (Q, ≤) é dito ser um subsistema de (P, ≤) se ∅ 6= Q ⊆ P .


Exemplo 1.1.12 Todo subsistema é por si um sistema parcialmente orde-
nado, e todo sistema é um subsistema de si próprio.

Exemplo 1.1.13 Considerando os conjuntos numéricos N, Z, Q e R, temos


que N é um subsistema de Z, que é um subsistema de Q, que por sua vez é
um subsistema de R, com respeito à sua ordem usual.

Exemplo 1.1.14 Seja E um conjunto innito. Então o conjunto de suas


partes nitas constitui um subsistema de P(E), com respeito a relação de
inclusão.

Exemplo 1.1.15 a, b ∈ P e a ≤ b, denotemos por [a, b] o conjunto for-


Se
mado pelos elementos x ∈ P tais que a ≤ x ≤ b. Temos que [a, b] é um
subsistema de P chamado de intervalo fechado com extremos a e b. Em
especial, para todo a ∈ P , temos que {a} = [a, a] é um subsistema de P .

Exemplo 1.1.16 Dado n ∈ N, denotaremos por Dn o conjunto dos divisores


naturais de n. Temos que Dn é um subsistema de N, com respeito à relação
de divisibilidade. Observe que Dn = [1, n].

1.1.2 Dual de um Sistema Parcialmente Ordenado


Denimos a inversa de uma relação de ordem ≤ em um conjunto P , e deno-
0
tamos por ≤ , como sendo uma relação de ordem em P que satisfaz

a ≤0 b ⇐⇒ b ≤ a

para quaisquer a, b ∈ P .

13
Denição 1.1.17 O sistema (P, ≤0 ) será dito o dual do sistema (P, ≤) se a
0
ordem parcial ≤ for a relação inversa da ordem parcial ≤.

Denotaremos por P0 o dual de um conjunto ordenado P.

Observação 1.1.18 Todo sistema parcialmente ordenado coincide com o


dual do seu dual. O dual de uma cadeia ainda é uma cadeia.

1.1.3 Elementos Maximais, Minimais, Máximos e Míni-


mos
Denição 1.1.19 Sejam P um conjunto parcialmente ordenado,
∅ 6= S ⊆ P e x ∈ S. Dizemos que:

a) x é um elemento minimal de S , se não existe s ∈ S tal que s < x.


b) x é um elemento maximal de S , se não existe s ∈ S tal que x < s.

Denição 1.1.20 Sejam P um conjunto parcialmente ordenado,


∅ 6= S ⊆ P e x ∈ P. Dizemos que:

a) x é uma cota inferior de S , se x ≤ s para todo s ∈ S .


b) x é uma cota superior de S , se s ≤ x para todo s ∈ S .

No contexto da denição anterior, se x ∈ S S,


é uma cota superior de
então dizemos que x é um elemento máximo de S . Dualmente, se x ∈ S é
uma cota inferior de S , então dizemos que x é um elemento mínimo de S .
É imediato que todo elemento mínimo de S também é um elemento mini-
0 0
mal de S . Além disso, se x, x ∈ S são elementos mínimos de S , então x ≤ x
0 0
e x ≤ x, ou seja, x = x . Portanto, o elemento mínimo de um conjunto, se
existir, é único, e é denotado por minS .
De maneira dual, todo elemento máximo também é um elemento maxi-
mal, e é único, se existir. Denotaremos por maxS o elemento máximo de S,
se existir.
Usualmente, vamos denotar o mínimo e o máximo de um conjunto orde-
nado P por 0 e 1, respectivamente, se existirem.

Exemplo 1.1.21 Em R não existem elementos minimais ou maximais, com


respeito à sua de ordem usual.

14
Exemplo 1.1.22 Em D36 , considere o subconjunto S = {2, 3, 6, 12, 18}. Te-
mos que 2 e 3 são elementos minimais e 12 e 18 são elementos maximais em
S, mas não existe em S nem máximo e nem mínimo.

Seja P um conjunto parcialmente ordenado com elemento mínimo 0. Di-


zemos que x∈P é um átomo de P se x é um sucessor de 0.
Observe que os átomos (se existirem) são os elementos minimais do sub-
sistema que se obtém de P, excluindo-se o elemento 0.

Exemplo 1.1.23 Seja E um conjunto qualquer. Então 0=∅ e 1=E em


P(E) (ordenado pela inclusão). Ademais, os seus átomos são exatamente
os subconjuntos unitários de E.

Exemplo 1.1.24 O conjunto N dos números naturais, parcialmente orde-


nado pela divisibilidade, tem como o seu mínimo o número 1, mas não possui
máximo. Temos que os seus átomos são exatamente os números primos.

Exemplo 1.1.25 Sendo G um grupo, tem-se 0 = {e} e 1 = G em R(G),


onde  e denota o elemento neutro de G. Note também que os átomos em
R(G) são os subgrupos de G que não possuem subgrupos intermediários, ou
seja, são exatamente os seus subgrupos de ordem prima, se existirem (con-
forme veremos na seção 3.1). Observe que para cada p primo, pZ é maximal
em R(Z) − Z, mas não existem átomos em R(Z).

1.1.4 Diagramas de Hasse


Em geral, a utilização de diagramas é uma conveniente ferramenta para iden-
ticar relações hierárquicas entre determinados elementos. Não obstante, no
caso de sistemas parcialmente ordenados nitos, os diagramas de Hasse serão
introduzidos de modo a evidenciar tais relações. Considerando-se um sistema
ordenado nito P, seu diagrama é construído da seguinte forma:

• Os elementos do sistema são representados por pequenos círculos;

• Se a < b, então o círculo que representa b ca acima do círculo que


representa a;

• Seb é sucessor de a, então o círculo que representa a é ligado ao círculo


que representa b por um segmento de reta.

15
Exemplo 1.1.26 Considere os diagramas abaixo.

O primeiro diagrama representa o conjunto D30 , ordenado pela divisibilidade


(Exemplo 1.1.16). O segundo representa uma cadeia com quatro elementos.

Exemplo 1.1.27 Considere o sistema parcialmente ordenado representado


pelo seguinte diagrama:

Observe que esta é uma generalização dos diagramas de Hasse para conjun-
tos ordenados innitos. Observe também que o sistema representado acima
possui innitos átomos, mas sua altura é nita (igual a 2).

1.1.5 Isomorsmo de Conjuntos Parcialmente Ordena-


dos
Denição 1.1.28 Sejam P e Q dois sistemas parcialmente ordenados. Di-
remos que uma aplicação ϕ : P −→ Q é:

a) isótona, se para a, b ∈ P tais que a ≤ b tivermos ϕ(a) ≤ ϕ(b).


b) antítona, se para a, b ∈ P tais que a ≤ b tivermos ϕ(b) ≤ ϕ(a).

16
Denição 1.1.29 Um isomorsmo de conjuntos ordenados é denido como
sendo uma bijeção isótona com inversa isótona.

Se existe um isomorsmo ϕ : P −→ Q dizemos que P e Q são sistemas


isomorfos, e denotamos por P ' Q.

Observação 1.1.30 Nem toda aplicação isótona possui inversa isótona. De


fato, basta considerarmos a aplicação ϕ : D6 − {1} −→ D9 denida por

 1, se x=2
ϕ(x) = 3, se x=3
9, se x=6

Temos que 1≤3 em D9 , mas sequer ϕ−1 (1) e ϕ−1 (3) são comparáveis em
D6 − {1}.

Observação 1.1.31 Se ϕ : P −→ Q é um isomorsmo de conjuntos orde-


nados e x, y ∈ P são elementos distintos, então:

x < y ⇐⇒ ϕ(x) < ϕ(y).

Portanto, todas as relações hierárquicas entre os elementos são preservadas


por isomorsmos, e daí, podemos concluir que sistemas isomorfos possuem
o mesmo diagrama de Hasse. Quanto à recíproca, conforme discutimos an-
teriormente, como os diagramas de Hasse estabelecem tais relações, então
podemos concluir que conjuntos ordenados que possuem o mesmo diagrama
de Hasse são isomorfos.

Observação 1.1.32 Claramente, todo sistema parcialmente ordenado é iso-


morfo a si. Observe também que se ϕ : P −→ Q é um isomorsmo, então
−1
a aplicação inversa ϕ : Q −→ P também é um isomorsmo. De fato, se
y1 , y2 ∈ Q então existem x1 , x2 ∈ P tais que ϕ(x1 ) = y1 e ϕ(x2 ) = y2 . Logo,

y1 ≤ y2 ⇐⇒ ϕ(x1 ) ≤ ϕ(x2 ) ⇐⇒ ϕ−1 (y1 ) = x1 ≤ x2 = ϕ−1 (y2 ).

Ademais, como a composta de duas aplicações isótonas é uma aplicação isó-


tona, segue que a composição de isomorsmos ainda é um isomorsmo.
Com base nisto, ca estabelecido, portanto, que a relação de isomorsmo
na classe de todos os sistemas parcialmente ordenados é uma relação de equi-
valência.

17
Observação 1.1.33 Sejam P e Q conjuntos ordenados e ψ : P −→ Q
um isomorsmo. Se P tem mínimo 0P , então Q também possui mínimo
e ψ(0P ) = 0Q . De fato, se y ∈ Q, então y = ϕ(x), com x ∈ P . Sendo
0P ≤ x, tem-se ϕ(0P ) ≤ ϕ(x) = y .
Por analogia:

• ψ(1P ) = 1Q (onde 1P é o maxP , se existir);

• Se x∈P é maximal, então ψ(x) é maximal em Q;

• Se x∈P é minimal, então ψ(x) é minimal em Q.

Um isomorsmo de um sistema parcialmente ordenado sobre si mesmo


será dito um automorsmo.

Denição 1.1.34 Um isomorsmo dual é denido como sendo uma aplica-


ção bijetiva, antítona e com inversa antítona.

Um isomorsmo dual de um sistema sobre si é denido como sendo um


automorsmo dual, ou auto-dualidade.
Observe que um isomorsmo dual entre conjuntos ordenados P e Q pode
ser visto como um isomorsmo entre P e o dual de Q. Neste sentido, um
automorsmo dual é um isomorsmo entre um conjunto ordenado e seu dual.
Em especial, se ψ : P −→ Q é um isomorsmo dual, então, tendo em vista a
Observação 1.1.33, tem-se:

• ψ(0P ) = 1Q (onde 0P = minP , se existir);

• ψ(1P ) = 0Q (onde 1P = maxP , se existir);

• Se x∈P é maximal, então ψ(x) é minimal em Q;

• Se x∈P é minimal, então ψ(x) é maximal em Q.

1.2 Algumas Notas Sobre Grupos


Nesta seção pretendemos coligir alguns resultados e conceitos relevantes sobre
a Teoria de Grupos, os quais se farão presentes ao longo deste trabalho. Es-
clarecemos, ainda, que as demonstrações serão omitidas para que o presente
texto não se torne demasiado longo, e portanto, fuja do seu objetivo.

18
1.2.1 Denição e Propriedades Básicas
Denição 1.2.1 Sejam G um conjunto não vazio e  ∗ uma operação em
G. Dizemos que o par (G, ∗) é um grupo se:

i)  ∗  é associativa, ou seja, (a ∗ b) ∗ c = a ∗ (b ∗ c) para quaisquer a, b, c ∈ G;


ii)  ∗ possui elemento neutro, ou seja, existe e ∈ G tal que e ∗ g = g ∗ e = g
para todo g ∈ G;
iii) Para cada g ∈ G, existe g −1 ∈ G tal que g ∗ g −1 = g −1 ∗ g = e.

Muitas vezes deixaremos de indicar a operação do grupo, escrevendo sim-


plesmente G para denotar (G, ∗). Para a, b ∈ G também representaremos
a∗b por ab.
Não é difícil ver que o elemento neutro em G é único. Ademais, para cada
g ∈ G existe um único g −1 ∈ G tal que gg −1 = g −1 g = e. O elemento nestas
condições é chamado de inverso de g. Dizemos que G é um grupo abeliano,
se a operação  ∗ é comutativa.
Dizemos que (G, ∗) G é nito. Em caso
é um grupo nito se o conjunto
contrário, dizemos que o grupo é innito. (G, ∗) nito, denimos a
Sendo
sua ordem como sendo o número de elementos de G. Sendo (G, ∗) innito,
denimos a sua ordem como sendo innita. Denotaremos a ordem de G por
|G|.

Observação 1.2.2 Temos duas notações para grupos.


• Multiplicativa:  · denota a operação,  e (ou  1) denota o elemento
−1
neutro e  g  denota o inverso do elemento g.
• Aditiva:  + denota a operação,  0 denota o elemento neutro e  −g 
denota o inverso de g.

Observação 1.2.3 Sendo G um grupo, g∈G e n ∈ Z, denimos




 e, se n = 0
 gg · · · g , se n > 0


gn =
| {z }
n vezes




 −1 |n|
(g ) , se n < 0
São válidas as leis das potências: g n+m = g n g m e (g n )m = g nm , com
n
n, m ∈ Z. Perceba que na notação aditiva, usamos ng ao invés de g .

19
Exemplo 1.2.4 (Z, +) e (Q, +) são grupos aditivos e (C∗ = C−{0}, ·) é um
grupo multiplicativo, onde  + e  · representam a soma e o produto usuais
de números. Além disso, estes grupos são abelianos.

Exemplo 1.2.5 Sejam G = {e, a, b, c} e  ∗ uma operação em G denida


segundo a tabela:

∗ e a b c
e e a b c
a a e c b
b b c e a
c c b a e
Temos que G, munido desta operação, é um grupo, chamado de Grupo de
Klein.

Exemplo 1.2.6 Sejam n∈N e Mn (R) o conjunto das matrizes de ordem n


com entradas em R. Considerando o conjunto

GLn (R) = {X ∈ Mn (R); detX 6= 0},

temos que GLn (R) é fechado em relação ao produto usual de matrizes. Ade-
mais, GLn (R), munido deste produto, é um grupo, chamado de grupo linear
de grau n sobre R.

Exemplo 1.2.7 Sejam G1 , . . . , Gn grupos e considere o produto cartesiano


G1 × · · · × Gn . Denimos em G1 × · · · × Gn a operação:

(x1 , . . . , xn ) · (y1 , . . . , yn ) = (x1 y1 , . . . , xn yn )


Temos que G1 × · · · × Gn , munido desta operação, é um grupo, chamado
de produto direto de G1 , . . . , Gn . Sendo ei o elemento neutro de Gi , temos
que (e1 , . . . , en ) é o elemento neutro do produto direto G1 × . . . × Gn . Se
(x1 , . . . , xn ) ∈ G1 × · · · × Gn , então (x1 , . . . , xn )−1 = (x−1 −1
1 , . . . , xn ).

Denição 1.2.8 Sejam G um grupo e g ∈ G. Dizemos que g tem ordem


nita se existe n ∈ Z não nulo tal que g n = e. Neste caso, denimos a ordem
de g , denotada por o(g), como sendo

o(g) = min{n ∈ N | g n = e}.

20
Se gn = e vale somente para n = 0, dizemos que a ordem de g é innita, e
denotamos por o(g) = ∞.

Denotemos por T (G) o conjunto dos elemetos de ordem nita de G. Di-


zemos que G é um grupo de torção se T (G) = G. Dizemos que G é um grupo
livre de torção se T (G) = {e}.

Observação 1.2.9 Sejam G um grupo, g∈G e n, m ∈ Z.

a) Se o(g) g n = e ⇐⇒ o(g)divide n. Ademais, g n = g m


é nita, vale: se, e
somente se, n ≡ m (mod o(g)).
b) Se o(g) é innita, então g n = g m se, e somente se, n = m.

1.2.2 Subgrupos
Denição 1.2.10 Seja G um grupo. Denimos um subgrupo de G como
sendo um subconjunto H não vazio de G tal que:

i) xy ∈ H para quaisquer x, y ∈ H ;
ii) x−1 ∈ H para todo x ∈ H .

Escrevemos H≤G para indicar que H é subgrupo de G.


Se H ≤ G, observe que H é por si um grupo, cujos subgrupos são exata-
mente os subgrupos de G contidos em H.

Exemplo 1.2.11 G e {e} são subgrupos de G.


Exemplo 1.2.12 Se G é o Grupo de Klein, então os seus subgrupos são
exatamente {e}, G, {e, a}, {e, b} e {e, c}.

Exemplo 1.2.13 Dado g ∈ G, consideremos o seguinte conjunto

hgi = {g n | n ∈ Z}.

Temos que hgi é um subgrupo de G, chamado de subgrupo gerado por g .


−1
Observe que hgi = hg i. Ademais, se o(g) = ∞, então hgi é innito. Se
o(g) é nito, então hgi = {e, g, . . . , g k−1 }, onde k = o(g). Nestas condições,
hgi é nito de ordem igual a o(g).

21
Exemplo 1.2.14 Se n ∈ Z, então nZ = {nq | q ∈ Z} é um subgrupo do
grupo aditivo dos inteiros. Observe que nZ = hni.

Exemplo 1.2.15 Sejam G um grupo abeliano e H


um subgrupo de G. Se
−1
g ∈ G, denimos o conjugado de H por g , denotado por g Hg , como sendo

g −1 Hg = {g −1 hg; h ∈ H}.

Perceba que g −1 Hg ≤ G e que |H| = |g −1 Hg|.

Exemplo 1.2.16 G, normalmente denotado por Z(G),


Denimos o centro de
como sendo Z(G) = {x ∈ G | xg = gx, ∀g ∈ G}. Note que Z(G) ≤ G.

Exemplo 1.2.17 Se G é um grupo e (Hi )i∈I é uma família de subgrupos de


G, \
Hi
i∈I

é um subgrupo de G. Além disso, tal interseção é o maior subgrupo contido


em todos os Hi 's. Se a família (Hi )i∈I for uma cadeia (ou seja, Hi1 ⊆ Hi2
ou Hi2 ⊆ Hi1 para quaisquer i1 , i2 ∈ I ), então
[
Hi
i∈I

é um subgrupo de G.

Denição 1.2.18 Se S ⊆ G, denimos o subgrupo de G gerado por S , de-


notado por hSi, como sendo a interseção de todos os subgrupos de G que
contêm S.

Observação 1.2.19 Sendo G um grupo, tem-se:

• Se S ⊆ G, então S ⊆ hSi. Além disso, se H é subgrupo de G e S ⊆ H,


então hSi ⊆ H .

• Se S1 ⊆ S2 ⊆ G, então hS1 i ⊆ hS2 i.

22
Observe que se ∅ 6= S ⊆ G, então

hSi = {x1 x2 . . . xn /n ∈ N, xi ∈ S ∪ S −1 },

onde S −1 = {s−1 /s ∈ S}.


Se H é subgrupo de G e H = hSi, dizemos que S gera H , ou que S é
o conjunto gerador de H . Se H possui um conjunto gerador nito, dizemos
que H é nitamente gerado.
Se S = {a1 , . . . , an }, denotamos hSi por ha1 , . . . , an i. Sendo G abeliano,
temos
ha1 , . . . , an i = {ak11 . . . aknn /ki ∈ Z}
(ou {k1 a1 + · · · kn an /ki ∈ Z}, em notação aditiva).
Sejam G um grupo e H e N subgrupos de G. Denimos

HN = {hn/h ∈ H, n ∈ N }.

Temos que H e N são subconjuntos de HN . Observe que se G é abeliano,


então HN ≤ G. Se H e N são nitos, então

|H||N |
|HN | =
|H ∩ N |

(consultar [2], página 142). Observe também que H ∪ N ⊆ HN ⊆ hH ∪ N i.

1.2.3 Classes Laterais e o Teorema de Lagrange


Denição 1.2.20 Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e g ∈ G. De-
nimos:

a) A classe lateral à diretia de H contendo g , denotada por Hg , como sendo


Hg = {hg/h ∈ H}.
b) A classe lateral à esquerda de H contendo g , denotada por gH , como sendo
gH = {gh/h ∈ H}.

Observação 1.2.21 1) No contexto da denição anterior, temos que


|Hg| = |Hg| = |H|.
2) Para g ∈ G vale: gH = H ⇐⇒ g ∈ H ⇐⇒ Hg = H .
3) Para x, y ∈ G vale: xH = yH ⇐⇒ x−1 y ∈ H e Hx = Hy ⇐⇒ xy −1 ∈ H .

23
Vamos denotar por DG:H o conjunto de todas as classes laterais à direita
de H em G e por EG:H o conjunto de todas as classes laterais à esquerda de
H em G. Ademais, a aplicação

f : EG:H −→ DG:H
xH 7−→ f (xH) = Hx−1
é bem denida e é uma bijeção. Assim, os conjuntos EG:H e DG:H têm a
mesma cardinalidade, a qual é chamada de índice de H em G, e denotada
por |G : H|.

Teorema 1.2.22 (Lagrange) Se G é um grupo nito e H é um subgrupo


de G, então
|G| = |G : H||H|
e assim |H| divide |G|.

Demonstração. Consultar [2], página 134.

Observação 1.2.23 O Teorema de Lagrange estabelece um resultado bas-


tante útil: se G é um grupo nito de ordem prima, então {e} e G são seus
únicos subgrupos. Consequentemente, se g ∈ G − {e}, então hgi = G.

1.2.4 Grupos Cíclicos


Denição 1.2.24 Dizemos que G é um grupo cíclico se existe g∈G tal que
G = hgi.

|G| = o(g).
Nas condições desta denição, observe que
m n m+n
Todo grupo cíclico é abeliano (pela lei das potências, g g = g =
n+m n m
g = g g ), mas a recíproca não vale. Basta tomarmos como exemplo o
Grupo de Klein. Segue do Exemplo 1.2.13 que se G é nito, vale:

G é cíclico ⇐⇒ existe g∈G tal que o(g) = G.

Observação 1.2.25 Todo grupo cíclico é nitamente gerado (pois possui


conjunto gerador unitário).

24
Teorema 1.2.26 Seja G = hgi cíclico.

a) H ≤ G, com H 6= {e}, então H = hg k i onde k = |G : H|.


Se
b) Sejam H1 e H2 subgrupos de G tais que |G : H1 | = n e |G : H2 | = m.
Vale: H1 H2 = G ⇐⇒ mdc(n, m) = 1.
c) Se G é innito, então hg n i = hg m i se, e somente se, n = ±m.
d) Se G é nito e n é divisor de |G|, existe um único H ≤ G tal que |H| = n.
k
Ademais, H = hg i, onde k = |G|/n = |G : H|.
e) Se G é nito e k ∈ Z, então o(g k ) = |G|/d, onde d = mdc(|G|, k). Ade-
k
mais, G = hg i se, e somente se, mdc(|G|, k) = 1.

Dizemos que um grupo é localmente cíclico se todo subgrupo nitamente


gerado é cíclico.

Observação 1.2.27 Seja G um grupo localmente cíclico. Valem:

a) G é abeliano. De fato, dados a, b ∈ G, temos que ha, bi é um subgrupo


nitamente gerado de G, e portanto é cíclico. Logo ha, bi é abeliano, donde
ab = ba. Como estes elementos foram tomados arbitrários em G, segue o
resultado.
b) Se H ≤ G, então H é localmente cíclico.
c) Se G é um grupo nitamente gerado, então G é cíclico.

Observação 1.2.28 G é localmente cíclico se, e somente se, ha, bi é cí-


clico, para todo a, b ∈ G. De fato, basta observar que se a1 , . . . , a n ∈ G e
han−1 , an i = hci, então ha1 , . . . , an i = han , . . . , an−2 , ci.

1.2.5 Subgrupos Normais e Grupos Quocientes


Denição 1.2.29 Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Dizemos que
H é um subgrupo normal de G, e denotado por H E G, se gH = Hg para
todo g ∈ H.

Observação 1.2.30 Se G é um grupo e N ≤ G. Então:

N E G ⇐⇒ g −1 N g = N, ∀g ∈ G.

Em decorrência disto, se H ≤ G e é único com sua ordem, então H é normal


em G.

25
Observação 1.2.31 H E G ou N E G, então HN ≤ G (consultar [2],
Se
página 141). Neste caso, como H ∪ N ⊆ HN , devemos ter hH ∪ N i ⊆ HN ,
e assim hH ∪ N i = HN .

Sejam N EG e G/N = {gN | g ∈ G}. Por simplicidade, vamos denotador


gN por g. Considere também a seguinte operação:

· : G/N × G/N −→ G/N


(a, b) 7−→ a · b = ab
Temos que G/N , munido desta operação (bem denida, uma vez que N é
normal em G), é um grupo, chamado de grupo quociente de G por N . Observe
que e = N é o elemento neutro em G/N . Observe também que se a ∈ G,
−1
então a = a−1 em G/N .
Observação 1.2.32 Sejam G um grupo e N E G. Valem:

a) G/N é trivial se, e somente se, N = G.


b) Se g ∈ G e n ∈ Z, então g n = g n . Segue daí que se G é cíclico, então
G/N é cíclico.
c) Se G é abeliano, então G/N é abeliano.
d) Se G é nitamente gerado, então G/N é nitamente gerado.
e) Se G/N e N são nitos, então G é nito.
f ) Se N ⊆ Z(G) e G/N é cíclico, então G é abeliano.
Exemplo 1.2.33 Sendo p primo, considere o subgrupo do grupo aditivo dos
racionais  
a
A= ; a ∈ Z, n ≥ 0 .
pn
Temos que o quociente A/Z é um grupo, chamado de p-grupo de Prufer, e
normalmente denotado por Cp∞ .
Denindo αn = 1/pn e Hn = hαn i, temos

[
Cp ∞ = Hn ,
n=1
n
S∞
e o(αn ) = p . De fato, observe que a inclusão n=1Hn ⊆ Cp∞ é clarividente.
Reciprocamente, se g ∈ Cp ∞ , então g = a/pn , para algum a ∈ Z e n ∈ Z.
Nestas condições

g = a/pn = a1/pn = aαn ∈ hαn i ⊆ Hn

26
S∞
e assim g∈ n=1 Hn mostrando a igualdade.
Perceba também que
αn = pm−n αm
para m ≥ n, Hn ⊆ Hm .
e assim
Tomando agora H um subgrupo próprio de Cp∞ , deve existir n∈N tal
que αn ∈
/ H , e daí αm ∈
/ H para m ≥ n. Seja, portanto,

n0 = max{n ∈ N; αn ∈ H}.

Uma vez que αn0 ∈ H , então Hn0 ⊆ H . Reciprocamente, se g ∈ H então


g = a/pm = aαm , para algum a ∈ Z e m ∈ N, com mdc(a, pm ) = 1. Existem,
m
portanto, t, s ∈ Z tais que ta + sp = 1. Como

ta + spm = 1 =⇒ t(a/pm ) + s = 1/pm


=⇒ tg = αm
=⇒ αm ∈ H
=⇒ m ≤ n0 ,

temos que αm ∈ Hn0 . Portanto, g ∈ Hn0 e H = Hn0 . Mais geralmente, estes


apontamentos indicam que os subgrupos próprios de Cp ∞ formam a seguinte
cadeia não estacionária

{e} = H0 < H1 < H2 < · · · < Hn < Hn+1 < · · ·

onde Hn = hαn i.
O grupo Cp∞ é localmente cíclico. De fato, tomando g1 , . . . , gk ∈ Cp∞ e
Hn1 , . . . , Hnk subgrupos de Cp∞ , tais que gj ∈ Hnj , seja

l = max{n1 , . . . , nk }.

Assim, g1 , . . . , gk ∈ Hl , donde hg1 , . . . , gk i ⊆ Hl e portanto hg1 , . . . , gk i é


cíclico.

Teorema 1.2.34 (Teorema da Correspondência) Sejam G um grupo e


N E G. Então:

a) Se H≤G N ⊆ H , então H/N = {h = hN/h ∈ H}.


e
b) Todo subgrupo de G/N é da forma K/N , onde K é um subgrupo de G
contendo N .

27
c) Se K1 e K2 são subgrupos de G, ambos contendo N , tais que K1 /N =
K2 /N , então K1 = K2 . Ademais, K1 ⊆ K2 se, e somente se, K1 /N ⊆ K2 /N .
d) Se H é um subgrupo de G, com N ⊆ H , tem-se H/N EG/N se, e somente
se, H E G.

Observe que o Teorema da Correspondência associa biunivocamente:

   
Subgrupos de G Subgrupos de
−→
contendo N G/N
K 7−→ K/N

Demonstração. Consultar [2], página 150.

1.2.6 Homomorsmos de Grupos


Denição 1.2.35 Sejam G e G1 grupos. Dizemos que uma aplicação
ϕ : G −→ G1 é um homomorsmo de grupos se ϕ(ab) = ϕ(a)ϕ(b) para
quaisquer a, b ∈ G.

Denimos o Núcleo e a Imagem de um homomorsmo ϕ : G −→ G1 ,


denotados por Kerϕ e Imϕ, respectivamente, como sendo

Kerϕ = {x ∈ G | ϕ(x) = e1 },

onde e1 denota o elemento neutro de G1 , e

Imϕ = {y ∈ G1 | y = ϕ(x), para algum x ∈ G}.

Denimos um isomorsmo como sendo um homomorsmo bijetivo. Sendo


G1 e G2 grupos isomorfos, indicamos por G1 ' G2 .

Observação 1.2.36 A inversa de um isomorsmo também é um isomor-


smo.

Proposição 1.2.37 (Propriedades Básicas) Sejam G e G1 grupos e


ϕ : G −→ G1 um homomorsmo de grupos. Valem:

a) ϕ(e) = e1 .

28
b) ϕ(xn ) = ϕ(x)n para quaisquer x ∈ G e n ∈ Z.
c) Se H é um subgrupo de G, então

ϕ(H) = {ϕ(h) | h ∈ H}

é um subgrupo de G1 . Imϕ é subgrupo de G1 .


Particularmente,
d) Se K é um subgrupo de G1 , então ϕ−1 (K) ≤ G. Ademais, se K E G1 ,
−1
então ϕ (K) E G. Particularmente, kerϕ E G.
e) ϕ é injetor se, e somente se, Kerϕ = {e}.

Teorema 1.2.38 (1◦ Teorema de Isomorrmo) Sejam G e G1 grupos e


ϕ : G −→ G1 um homomorsmo. Sendo N = Kerϕ, a aplicação

ϕ : G/N −→ Imϕ
g 7−→ ϕ(g) = ϕ(g)

é bem denida e é um isomorsmo. Consequentemente, G/N ' Imϕ.

Demonstração. Consultar [2], páginas 148 − 149.

Teorema 1.2.39 (2◦ Teorema de Isomorsmo) Sejam G um grupo e H


e N subgrupos de G, com N E G, então H ∩N EH e

HN H
' .
N H ∩N
Demonstração. Consultar [2], páginas 150 − 151.

1.2.7 Teoremas de Cauchy e de Sylow


Teorema 1.2.40 (Cauchy) Sejam G um grupo e p um divisor primo de
|G|. Então G possui pelo menos um elemento de ordem p, e consequente-
mente pelo menos um subgrupo de ordem p.

Demonstração. Consultar [1], página 219.

Teorema 1.2.41 (1◦ Teorema de Sylow) G um grupo nito de or-


Seja
n
dem p m, onde p é primo, n ≥ 1 e p não divide m. se k ∈ {1, 2 . . . , n},
k
então G possui pelo menos um subgrupo de ordem p . Ademais, se k < n e
H é um subgrupo de G de ordem pk , então existe algum subgrupo N de G tal
k+1
que H E N e |N | = p .

29
Demonstração. Consultar [1], páginas 220 − 221.


Sejam um grupo nito e p um divisor primo de |G|. O 1 Teorema de
G
k
Sylow assegura que se p divide |G|, então G deve possuir pelo menos um
k
subgrupo de ordem p .
n
Considere p a maior potência de p que divide |G|. Um subgrupo de G
n
de ordem p é chamado de Sp -subgrupo ou p-subgrupo de Sylow de G.

Teorema 1.2.42 (2◦ Teorema de Sylow) Sejam G um grupo nito e p


um divisor primo de |G|. Se P1 e P2 são dois Sp -subgrupos de G, então P1 e
P2 são conjugados.

Demonstração. Consultar [1], página 221.


Teorema 1.2.43 (3◦ Teorema de Sylow) Sejam G um grupo nito, p um
divisor primo de de |G| e np o número de Sp -subgrupos de G. Então np ≡ 1
(mod p) e np divide |G : P |, onde P é um Sp -subgrupo de G.
Demonstração. Consultar [1], páginas 221 − 222.

1.2.8 Grupos Abelianos Finitamente Gerados


Sendo G um grupo abeliano nitamente gerado, dentre todos os conjuntos
geradores nitos de G, considere aqueles que têm a menor quantidade de
elementos. Esta menor quantidade de elementos que um conjunto gerador
de G pode ter é chamada de número mínimo de geradores de G, e é denotada
por d(G). Observe que d(G) = 1 se, e somente se, G é cíclico.

No próximo teorema, C∞ denotará um grupo cíclico innito, Cm (m ∈ N)
denotará o produto direto C∞ × · · · × C∞ e Ck (k ∈ N) denotará o grupo
| {z }
m vezes
cíclico de ordem k .

Teorema 1.2.44 (Teorema Fundamental) Seja G um grupo abeliano -


nitamente gerado. Então:

m
a) G ' Cd1 × Cd2 × · · · × Cdn × C∞ , onde, n, m ≥ 0, di divide di+1 , para todo
i = 1, . . . , n − 1, e d1 ≥ 2. Ademais, d(G) = n + m, e m = 0 se, e somente
se, G é nito.
m v
b) Se Cd1 × Cd2 × · · · × Cdn × C∞ ' Cq1 × Cq2 × · · · × Cqu × C∞ , com d1 , q1 ≥ 2,
d1 divide di+1 , qi divide qi+1 e n, m, u, v ≥ 0, então n = u, m = v e di = qi
para todo i = 1, . . . , n − 1.

30
Demonstração. Consultar [2], página 309.

Observação 1.2.45 Sejam G, G1 , . . . , Gn grupos. Então se o grupo G é


isomorfo ao grupo G1 × . . . × Gn , então G possui subgrupos normais H1 '
G1 , . . . , Hn ' Gn tais que:

a) G = H1 . . . Hn .
b) Para cada g ∈ G, existem elementos unicamente determinados
x1 ∈ H1 , . . . , xn ∈ Hn tais que g = x1 . . . xn .

Para maiores esclarecimentos sobre a observação anterior, indicamos a


leitura de [2], páginas 178 − 181.

1.3 Anéis de Boole


Denição 1.3.1 R um conjunto não vazio e  + e  ·
Sejam duas operações
binárias em R. Dizemos que a terna (R, +, ·) é um anel se:

i) (R, +) é um grupo abeliano.


ii)  · é associativa, ou seja, (a · b) · c = a · (b · c) para quaisquer a, b, c ∈ R.
iii)  · é distributiva em relação a  +, ou seja, a · (b + c) = a · b + a · c e
(a + b) · c = a · c + b · c, para quaisquer a, b, c ∈ R.

Sendo (R, +, ·) um anel, chamamos a operação  + de adição e a operação


 · de multiplicação. Para a, b ∈ R, costumamos denotar a · b simplesmente
por ab. O elemento neutro para  + em R também é normalmente chamado
de zero do anel R, e denotado por 0 (ou por 0R ). Além disso, para cada
a ∈ R existe um único −a ∈ R tal que a + (−a) = (−a) + a = 0, o qual é
chamado de oposto aditivo de a. Observe que −(−a) = a.
Dizemos que o anel R é comutativo se  · for comutativa. Dizemos que R
é um anel com unidade se existe 1 ∈ R tal que 1x = x1 = x para todo x ∈ R.
Obsrve que um tal elemento, se existir, é único, e é chamado de unidade de
R.
Dizemos que x∈R é idempotente se x2 = x .

Denição 1.3.2 Um anel de Boole é denido como sendo um anel onde todo
elemento é idempotente.

31
Observação 1.3.3 Seja A um anel de Boole. Observe primeiramente que
para todo a∈A
2a = (2a)2 = 4a2 = 4a,
isto é, 2a = 0, e assim a = −a. Daí, se x, y ∈ R, tem-se

x + y = (x + y)2 = (x + y)(x + y) = x2 + xy + yx + y 2 = x + xy + yx + y,

e portanto
xy + yx = 0 =⇒ xy = −yx = yx.
Assim, todo anel de Boole é comutativo.

32
Capítulo 2
Reticulados

2.1 Conceitos Primários


2.1.1 Denição e Exemplos
Sejam P um conjunto parcialmente ordenado e X ⊆P um subconjunto li-
mitado superiormente, ou seja, que possui cota superior em P . Um elemento
b ∈ P será chamado de supremo do conjunto X, quando b é a menor das
cotas superiores de X em P, isto é:

i) Para todo x ∈ X , tem-se x ≤ b;


ii) Se c ∈ P é tal que x ≤ c para todo x ∈ X , então b ≤ c.

0
É imediato que se dois elementos b e b em P cumprem as condições (i) e
(ii) acima, então b ≤ b e b ≤ b, ou seja, b = b0 . Portanto, o supremo de um
0 0

conjunto, se existir, é único, e denotado por supX .


De maneira dual, um elemento a ∈ P será chamado de ínmo de um
conjunto Y , limitado inferiormente, quando a é a maior das cotas inferiores
de Y em P , ou seja, se valem:

i0 ) Para todo y ∈ Y tem-se a ≤ y ;


ii0 ) Se c ∈ P é tal que c ≤ y para todo y ∈ Y , então c ≤ a.

Note que o ínmo de um conjunto, quando existe, também é único, e


denotado por inf Y .

33
Denição 2.1.1 Um sistema parcialmente ordenado será dito um reticulado
se nele existirem o supremo e o ínmo de qualquer par de seus elementos.

Sendo R um reticulado, consideremos as operações em R denidas por:

∨: R×R −→ R
(a, b) 7−→ a ∨ b = sup{a, b}
e
∧: R×R −→ R
(a, b) 7−→ a ∧ b = inf {a, b}
Observe que estas operações estão bem denidas em virtude da unicidade
de supremos e ínmos, comentadas anteriormente. Dessa forma, passaremos
a indicar por ∨ e por ∧, o supremo e o ínmo de um par de elementos. Mais
geralmente, se P é um conjunto ordenado e S ⊆ P, denotaremos quando
conveniente _ ^
supS = s e inf S = s
s∈S s∈S

se estes existirem. De modo particular, se S = {s1 , s2 , . . . , sn }, então deno-


taremos
n
_ n
^
supS = si e inf S = si
i=1 i=1

Exemplo 2.1.2 Toda cadeia é um reticulado, pois quaisquer dois de seus


elementos são comparáveis. Logo, o supremo de um par {a, b} será o maior
entre a e b, e o ínmo será o menor entre eles.

Exemplo 2.1.3 O conjunto das partes de um conjunto E, parcialmente or-


denado pela inclusão, é um reticulado. Observe que o supremo e o ínmo de
dois subconjuntos de E são, respectivamente, sua união e sua interseção.

Exemplo 2.1.4 O conjunto N dos números naturais, parcialmente ordenado


pela divisibilidade, é um reticulado. O supremo e o ínmo de dois elementos
são, respectivamente, o mínimo múltiplo comum e o máximo divisor comum
entre eles.

Exemplo 2.1.5 G, temos que R(G) é um reticulado. De


Para todo grupo
fato, dados H, N ≤ G, lembre que H ∩ N é o maior subgrupo contido em
ambos, donde H ∧ N = H ∩ N . Além disso, claramente H ⊆ hH ∪ N i e
N ⊆ hH ∪ N i. Tomando, agora, K subgrupo de G tal que H ⊆ K e N ⊆ K ,
temos que H ∪ N ⊆ K e assim hH ∪ N i ⊆ K . Portanto, H ∨ N = hH ∪ N i.

34
Exemplo 2.1.6 O conjunto de todos os subespaços de um espaço vetorial,
parcialmente ordenado pela inclusão, é um reticulado. Observe que o ínmo
de dois subespaços W1 e W2 é a sua interseção. Veja também que se W3 é
um subespaço de sorte que W1 , W2 ⊆ W3 , então W1 + W2 ⊆ W3 , onde

W1 + W2 = {w1 + w2 ; wi ∈ Wi }.

Assim,W1 + W2 é o menor subespaço que contém ambos, ou seja, W1 ∨ W2 =


W1 + W2 .

Exemplo 2.1.7 Se P0
é o dual do conjunto parcialmente ordenado P , temos
que a ∧ b = c em P se, e somente se, a ∨ b = c em P 0 . Da mesma forma,
a ∨ b = d em P se, e somente se, a ∨ b = d em P 0 . Portanto, o dual de um
reticulado é um reticulado.

Exemplo 2.1.8 Os diagramas de Hasse de todos os reticulados de ordem


menor do que 6 são:

Este último será chamado de Pentágono.

Exemplo 2.1.9 Considere (G, ∗) o Grupo de Klein (veja Exemplo 1.2.5),


onde G = {e, a, b, c}. Sabemos que seus subgrupos são exatamente: {e}, G,
hai = {e, a}, hbi = {e, b} e hci = {e, c}. Logo, R(G) possui 5 elementos, dos
quais G e {e} são, respectivamente, o máximo e o mínimo, e os demais são
incomparáveis dois a dois. Portanto, o diagrama de Hasse de R(G) é:

35
o qual será chamado de Reticulado de Klein.

Exemplo 2.1.10 O produto cardinal (Exemplo 1.1.9) de dois reticulados é


um reticulado. Sendo R e L dois reticulados e (a1 , b1 ), (a2 , b2 ) ∈ R×L, temos
que
(a1 , b1 ) ∨ (a2 , b2 ) = (a1 ∨ a2 , b1 ∨ b2 )
e
(a1 , b1 ) ∧ (a2 , b2 ) = (a1 ∧ a2 , b1 ∧ b2 ).

Vimos que o conceito de reticulado está fortemente associado aos concei-


tos de supremo e ínmo. Neste sentido, é fundamental esclarecermos algumas
propriedades relevantes sobre ∨ e ∧, as quais serão alicerce na condução de
nosso estudo.

Teorema 2.1.11 (Propriedades básicas) Seja R um reticulado. Então


para quaisquer a, b, c, d ∈ R valem:

a) Se a ≤ b, então a ∨ b = b e a ∧ b = a.
b) Se a ≤ b e c ≤ d, então a ∨ c ≤ b ∨ d e a ∧ c ≤ b ∧ d;
c) Se a ≤ b, então a ∨ c ≤ b ∨ c e a ∧ c ≤ b ∧ c.
d) a ∨ a = a e a ∧ a = a.
e) a ∧ b = a ∨ b ⇐⇒ a = b.
f ) a ∨ b = b ∨ a e a ∧ b = b ∧ a.
g) (a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c) e (a ∧ b) ∧ c = a ∧ (b ∧ c).
h) a ∨ (b ∧ c) ≤ (a ∨ b) ∧ (a ∨ c) e (a ∧ b) ∨ (a ∧ c) ≤ a ∧ (b ∨ c).
i) a ∨ (a ∧ b) = a e a ∧ (a ∨ b) = a.

Demonstração. a) Decorre imediatamente das denições de supremo e ínmo.

36
b) Suponha a ≤ b c ≤ d. Observando que b ≤ b ∨ d e d ≤ b ∨ d, por
e
transitividade, tem-se a ≤ b ∨ d e c ≤ b ∨ d, e portanto, a ∨ c ≤ b ∨ d. A
demonstração da outra armação é análoga.

c) Basta observar que c≤c e utilizar d=c no ítem (b).

d) Como a ≤ a decorrem a ≤ a ∨ a e também a ∨ a ≤ a. Logo, por


anti-simetria, segue que a ∨ a = a. A demonstração da outra armação é
análoga.

e) Se a = b, é imediato que a∨b = a∧b em virtude de (c). Reciproca-


mente, suponha a ∧ b = a ∨ b. Assim,

a≤a∨b=a∧b≤b

e
b ≤ a ∨ b = a ∧ b ≤ a.
Daí, por anti-simetria, encontramos a = b.

f) Primeiramente, note que a ≤ b∨a e que b ≤ b ∨ a. Devemos ter, en-


tão, a ∨ b ≤ b ∨ a. Da mesma forma, verica-se que b ∨ a ≤ a ∨ b, e assim,
por anti-simetria, a∨b = b∨a. A demonstração da outra armação é análoga.

g) Temos
a ≤ a ∨ b ≤ (a ∨ b) ∨ c.
Vericamos ainda que
b ≤ a ∨ b ≤ (a ∨ b) ∨ c
e
c ≤ (a ∨ b) ∨ c,
donde
b ∨ c ≤ (a ∨ b) ∨ c.
Logo, a ∨ (b ∨ c) ≤ (a ∨ b) ∨ c. Da mesma forma, (a ∨ b) ∨ c ≤ a ∨ (b ∨ c), o
que nos leva à igualdade (a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c). A demonstração da outra
armação é análoga.

h) De a ≤ a∨b e a ≤ a∨c resulta que a ≤ (a ∨ b) ∧ (a ∨ c). Também

37
valeb ∧ c ≤ b ≤ a ∨ b e b ∧ c ≤ c ≤ a ∨ c donde b ∧ c ≤ (a ∨ b) ∧ (a ∨ c).
Portanto, a ∨ (b ∧ c) ≤ (a ∨ b) ∧ (a ∨ c) . A demonstração da outra armação
é análoga.

i) Por um lado, é imediato que a ≤ a ∨ (a ∧ b). Por outro lado, como


a ≤ a e a ∧ b ≤ a temos a ∨ (a ∧ b) ≤ a, e assim a ∨ (a ∧ b) = a. A demons-
tração da outra armação é análoga. 

Em virtude da associatividade de ∨ e ∧, expressadas pelo ítem (g) no teo-


rema anterior, por simplicidade, escreveremos a∨b∨c e a∧b∧c para designar,
respectivamente, o supremo e o ínmo de {a, b, c}. Com base nisto, dados
a1 , a2 , . . . , an (com n ≥ 2) elementos quaisquer de um reticulado, mostra-se
indutivamente que

a1 ∨ a2 ∨ · · · ∨ an = sup{a1 , a2 , . . . , an } = (a1 ∨ a2 ∨ · · · ∨ an−1 ) ∨ an


e também

a1 ∧ a2 ∧ · · · ∧ an = inf {a1 , a2 , . . . , an } = (a1 ∧ a2 ∧ · · · ∧ an−1 ) ∧ an .


Esta interpretação permite concluir que todo reticulado contém o ínmo e o
supremo de qualquer subconjunto nito, generalizando, portanto, a Denição
2.1.1.

2.1.2 Subreticulados
Denição 2.1.12 Sejam R Q um subconjunto não vazio
um reticulado e
de R. Dizemos que Q é um subreticulado de R se dados a, b ∈ Q, tem-se
a ∨ b, a ∧ b ∈ Q, ou seja, o ínmo e o supremo de {a, b}, em R, pertencem a
Q.

Exemplo 2.1.13 Seja E um conjunto innito. Temos que o conjunto das


partes nitas de E, ordenado pela inclusão, é um subreticulado de P(E)
(Exemplo 2.1.3), pois a união e a interseção de conjuntos nitos é nita.
Por outro lado, observe que o conjunto das partes innitas de E não é um
subreticulado de P(E), pois duas de suas partes innitas podem ter interse-
ção nita.

Exemplo 2.1.14 Sejam R um reticulado e a, b ∈ R. Perceba que o intervalo


[a, b] é um subreticulado de R. De fato, se x, y ∈ [a, b], então a ≤ x ≤ b e

38
a ≤ y ≤ b, e portanto a≤x∧y ≤b e a ≤ x ∨ y ≤ b. Em especial, Dn é um
subreticulado de N (ordenado pela divisibilidade), para todo n ∈ N.

Exemplo 2.1.15 G um grupo. Se H é um subgrupo de G, então R(H)


Seja
é um subreticulado de R(G). Basta observar que se M e N são subgrupos de
H , então M ∨ N = hM, N i ⊆ H e que M ∧ N = M ∩ N ⊆ H .

Observação 2.1.16 No contexto da Denição 2.1.12, é interessante obser-


var que um subsistema de um reticulado pode ser, por si, um reticulado, e no
entanto não ser subreticulado. Por exemplo, considere D36 (ordenado pela
divisibilidade) e o subconjunto P = {1, 2, 3, 12}.

Temos que P é um reticulado com respeito à relação de divisibilidade. Porém,


o supremo de 2 e 3 em D36 é igual a 6, que não pertence a P. Logo, P não
pode ser um subreticulado de D36 com esta ordem.

2.1.3 Homomorsmos de Reticulados


Denição 2.1.17 Sejam R1 e R2 reticulados. Uma aplicação ϕ : R1 −→ R2
será dita um homomorsmo de reticulados se preservar ínmos e supremos,
ou seja,

ϕ(x ∧ y) = ϕ(x) ∧ ϕ(y) e ϕ(x ∨ y) = ϕ(x) ∨ ϕ(y)

para quaisquer x, y ∈ R1 .

Um isomorsmo de reticulados é denido como sendo um homomorsmo


bijetivo.

39
Observação 2.1.18 Todo homomorsmo de reticulados é uma aplicação
isótona. De fato, seja ϕ : R1 −→ R2 um homomorsmo e x, y ∈ R1 tais
que x ≤ y. Então x = x ∧ y e assim

ϕ(x) = ϕ(x ∧ y) = ϕ(x) ∧ ϕ(y)

ou seja, ϕ(x) ≤ ϕ(y). Observe que ϕ(x) ≤ ϕ(y) implica em ϕ(x) = ϕ(x ∧ y).

Observação 2.1.19 Sejam ϕ : R1 −→ R2 é um isomorsmo de reticulados.


Dados y1 , y2 ∈ R2 , existem x1 , x2 ∈ R1 tais que ϕ(x1 ) = y1 e ϕ(x2 ) = y2 .
Logo,

ϕ−1 (y1 ∧ y2 ) = ϕ−1 (ϕ(x1 ) ∧ ϕ(x2 )) = ϕ−1 (ϕ(x1 ∧ x2 ))


= x1 ∧ x2 = ϕ−1 (y1 ) ∧ ϕ−1 (y2 )

e analogamente, ϕ−1 (y1 ∨ y2 ) = ϕ−1 (y1 ) ∨ ϕ−1 (y2 ). Assim ϕ−1 também é um
isomorsmo (tendo em vista que também é bijetiva). Podemos então dizer
que R1 e R2 são reticulados isomorfos e, neste caso, usaremos a notação
R1 ' R2 .

Proposição 2.1.20 Sejam R1 e R2 reticulados e δ : R1 −→ R2 uma aplica-


ção bijetiva. Então são equivalentes:

i) x ≤ y se, e somente se, δ(x) ≤ δ(y), para quaisquer x, y ∈ R1 (ou seja, δ


é um isomorsmo de conjuntos ordenados);
ii) δ(x ∨ y) = δ(x) ∨ δ(y) para quaisquer x, y ∈ R1 ;
iii) δ(x ∧ y) = δ(x) ∧ δ(y) para quaisquer x, y ∈ R1 .
V
Além disso, se δ satisfaz (i)
V e S é um subconjunto de R tal que inf S =
V V s∈S s
existe, então inf δ(S) = s∈S δ(s) existe e δ( s∈S s) = s∈S δ(s); analoga-
W W
mente, δ( s∈S s) = s∈S δ(s) se supS existe.

Demonstração. Observe que iii) =⇒ i) dá-se essencialmente conforme a


Observação 2.1.18, levando em conta que δ é injetora. ii) =⇒ i) mostra-se
analogamente.

i) =⇒ ii) Se δ : R1 −→ R2 satisfaz (i) e S é um subconjunto de R2 tal


que
^
z= s
s∈S

40
existe, entãoδ(z) ≤ δ(s) para todo s ∈ S . Logo, δ(z) é uma cota inferior
para δ(S) em R2 . Supondo que w ∈ R2 também é uma cota inferior de δ(S),
−1
então w ≤ δ(s) e daí, δ (w) ≤ s para todo s ∈ S .
Portanto,
^
δ −1 (w) ≤ s = z,
s∈S

e por conseguinte, w ≤ δ(z). Isto mostra que δ(z) é o ínmo de δ(S) e que

^ _
δ( s) = δ(s).
s∈S s∈S

Em particular, (ii) ocorre, bastando tomar S = {x, y}.

i) =⇒ iii) Análoga à demonstração anterior. 

Observação 2.1.21 Nem toda aplicação isótona entre dois reticulados é um


homomorsmo. Por exemplo, considere ψ : D10 −→ D8 denida por


 1, se x=1
2, se x=2

ψ(x) =

 4, se x=5
8, se x = 10

Temos que ψ é isótona, mas

ψ(2 ∧ 5) = ψ(1) = 1 6= 2 = 2 ∧ 4 = ψ(2) ∧ ψ(5).

Observação 2.1.22 P um reticulado, então todo sistema parcial-


Sendo
mente ordenado isomorfo a P também é um reticulado.
De fato, seja ϕ : P −→ Q um isomorsmo de conjuntos ordenados.
Dados x, y ∈ P , temos que x ≤ x ∨ y e y ≤ x ∨ y , donde ϕ(x) ≤ ϕ(x ∨ y) e
também ϕ(y) ≤ ϕ(x ∨ y).
Por outro lado, suponha z ∈ Q tal que ϕ(x) ≤ z e ϕ(y) ≤ z . Devemos
ter z = ϕ(t), para algum t ∈ P , donde x ≤ t e y ≤ t. Logo, x ∨ y ≤ t, e
portanto ϕ(x ∨ y) ≤ ϕ(t) = z . Isto signica que ϕ(x ∨ y) é o menor entre
as cotas superiores de {ϕ(x), ϕ(y)} em Q, ou seja, ϕ(x ∨ y) = ϕ(x) ∨ ϕ(y).
Ademais, mostra-se dualmente que ϕ(x ∧ y) = ϕ(x) ∧ ϕ(y), e assim (Q, ≤) é
um reticulado.

41
Observação 2.1.23 Dois reticulados isomorfos possuem o mesmo Diagrama
de Hasse.

Denição 2.1.24 Denimos um isomorsmo dual entre reticulados, ou anti-


isomorsmo, como sendo uma bijeção que inverte ínmos e supremos, isto
é, f (x ∨ y) = f (x) ∧ f (y) e f (x ∧ y) = f (x) ∨ f (y). Dizemos ainda que um
reticulado é auto-dual, se existe um isomorsmo entre ele e o seu dual.

Com respeito aos anti-isomorsmos, podemos ainda destacar o resultado


dual da Proposição 2.1.20, cuja demonstração é análoga.

Proposição 2.1.25 Sejam R1 e R2 reticulados e δ : R1 −→ R2 uma aplica-


ção bijetiva. Então são equivalentes:

i) x ≤ y se, e somente se, δ(y) ≤ δ(x), para quaisquer x, y ∈ R1 (ou seja, δ


é um isomorsmo dual de conjuntos ordenados);
ii) δ(x ∨ y) = δ(x) ∧ δ(y) para quaisquer x, y ∈ R1 ;
iii) δ(x ∧ y) = δ(x) ∨ δ(y) para quaisquer x, y ∈ R1 .
V
Além disso, se δ satisfaz (i)
W e S é um subconjunto V de R talW
que inf S = s∈S s
existe, então supδ(S) = s∈S δ(s) existe e δ( s∈S s) = s∈S δ(s); analoga-
W V
mente, δ( s∈S s) = s∈S δ(s) se supS existe.

2.2 Reticulados Completos


Na Seção 2.1.1 discutimos que um reticulado contém o supremo e o ínmo
de todo subconjunto nito de seus elementos; porém, isto não ocorre com
qualquer subconjunto. Por exemplo, se R não possui máximo e nem mínimo,
em especial, não existe o supremo e o ínmo do próprio R. Neste contexto,
introduziremos a seguinte

Denição 2.2.1 Um reticulado será dito completo se nele existirem o ínmo


e o supremo de qualquer subconjunto.

Exemplo 2.2.2 Todo reticulado nito é completo, em virtude do que foi


comentado acima.

Exemplo 2.2.3 Sejam R1 e R2 reticulados isomorfos. Ancorados na Pro-


posição 2.1.20, temos que R1 é completo se, e somente se, R2 é completo.
Em particular, o dual de todo reticulado completo é completo.

42
Exemplo 2.2.4 Sejam R1 e R2 reticulados completos e ∅ 6= S ⊆ R1 × R2 .
Denindo,
S1 = {x ∈ R1 /(x, y) ∈ S, para algum y ∈ R2 }
e
S2 = {y ∈ R2 /(x, y) ∈ S, para algum x ∈ R1 },
temos S1 ⊆ R1 e S2 ⊆ R2 , e portanto, existem supS1 em R1 e supS2 em R2 .
Logo, (supS1 , supS2 ) é o supremo de S em R1 × R2 . Além disso, existem
também inf S1 em R1 e inf S2 em R2 , donde (inf S1 , inf S2 ) é o ínmo de S
em R1 × R2 . Portanto, R1 × R2 é completo.
Reciprocamente, suponha o produto cardinal R1 × R2 completo e consi-
dere S1 e S2 subconjuntos não vazios de R1 e R2 , respectivamente. Fixado
arbitrariamente x0 ∈ S1 , tomemos o conjunto

A = {(x0 , y)/y ∈ S2 }.
Tem-se ∅ 6= A ⊆ R1 × R2 , e assim, existe em R1 × R2 o supA e o inf A, os
quais são da forma

sup(A) = (x0 , ys ) e inf (A) = (x0 , yi )


Nestas condições, devemos ter ys = supS2 e yi = inf S2 , ambos pertencendo
a R2 . Logo, R2 é completo. Analogamente, verica-se que R1 é completo.
Com isto, mostramos que

R1 × R2 é completo ⇐⇒ R1 e R2 são completos.

A propriedade de completude nem sempre é herdada pelos subreticulados.


Por exemplo, dado um conjunto E qualquer, P(E) é um reticulado completo.
Sendo E um conjunto innito, o subreticulado constituído pelo conjunto
de suas partes nitas não pode ser completo. De fato, considerando-se os
subconjuntos unitários, vem
_ [
{x} = {x} = E,
x∈E x∈E

que não é nito.


Outro exemplo interessante ocorre com o conjunto N dos naturais (orde-
nado pela divisibilidade). Por um lado, este reticulado não pode ser completo,
pois não existe o mínimo múltiplo comum de um conjunto innito de núme-
ros naturais. Por outro lado, ele possui innitos subreticulados completos:
observe que Dn é nito para todo n ∈ N.

43
Teorema 2.2.5 Um reticulado R com elemento máximo é completo se, e
somente se, contém o ínmo de todos os seus subconjuntos não vazios.

Demonstração. Suponha que R contém o ínmo de todos os seus subconjun-


tos não vazios. Sejam X ⊆ R não vazio e M o conjunto das cotas superiores
de X . Temos que 1 ∈ M , e assim existe em R o ínmo m de M . Observe
que este elemento satisfaz

x ≤ m, ∀x ∈ X.

Ademais, se y ∈ M , então m ≤ y e portanto m é o supremo de X . Assim,


todo subconjunto X ⊆ R não vazio possui supremo e ínmo. Logo, R é
completo.
A recíproca é imediata. 

Observação 2.2.6 Se substituirmos as palavras máximo e ínmo no Te-


orema anterior por mínimo e supremo, respectivamente, o resultado ainda
será válido.

Teorema 2.2.7 (Ponto Fixo) Sejam R um reticulado completo e


λ : R −→ R um operador isótono. Então existe x∈R tal que λ(x) = x.

Demontração. Dena o conjunto

S = {x ∈ R; x ≤ λ(x)}.

Temos que S 6= ∅ pois λ(0) ∈ R, e assim, 0 ≤ λ(0). Logo, 0 ∈ S . Como R é


completo, existes = supS o qual satisfaz λ(x) ≤ λ(s) para todo x ∈ S . Daí,
x ≤ λ(s) para todo x ∈ S , donde s ≤ λ(s), e por conseguinte, λ(s) ≤ λ(λ(s)).
Portanto, λ(s) ∈ S donde λ(s) ≤ s. Tem-se então λ(s) = s. 

Observação 2.2.8 O resultado anterior não vale sem a hipótese de comple-


tude. De fato, cientes de que Z (munido de sua ordem usual) é um reticulado
não completo, observemos que o operador

f : Z −→ Z
n 7−→ f (n) = n + 1
é isótono, mas não possui ponto xo.

44
2.3 Reticulados como Espaços Algébricos
A denição que adotamos para reticulados permite classicá-los como um
caso especial de conjuntos parcialmente ordenados. Alternativamente, é pos-
sível obter o conceito de reticulado utilizando uma abordagem axiomática, na
qual passamos a tratá-los com espaços algébricos. Abordaremos esta cons-
trução com o teorema a seguir.

Teorema 2.3.1 Sejam R um conjunto não vazio e ∨ : R × R −→ R e


∧ : R × R −→ R duas operações binárias em R que possuem as propriedades:

i) a ∨ b = b ∨ a e a ∧ b = b ∧ a (comutatividade)
ii) a ∨ (b ∨ c) = (a ∨ b) ∨ c e a ∧ (b ∧ c) = (a ∧ b) ∧ c (associatividade)
iii) a ∧ (a ∨ b) = a e a ∨ (a ∧ b) = a (absorção)

para quaisquer a, b, c ∈ R. Então R, munidos destas operações, é um re-


ticulado.

Demonstração. Nosso objetivo é denir uma ordem parcial em R em termos


das operações ∨ e ∧, e mostrar que dados a, b ∈ R, existe o supremo e o
ínmo desses elementos, os quais são expressos exatamente por a∨b e a ∧ b,
respectivamente.
Antes disso, note que a ∨ b = b se, e somente se, a ∧ b = a. De fato, se
a ∨ b = b, então por absorção, a ∧ b = a ∧ (a ∨ b) = a. Da mesma forma,
a ∧ b = a implica a ∨ b = (a ∧ b) ∨ b = b.
Observe também que estas operações gozam da idempotência, pois

a = a ∨ [a ∧ (a ∨ b)] = a ∨ a

e, por analogia, tem-se a ∧ a = a.


Denindo agora a relação

a≤b se a∨b=b

vamos mostrar que  ≤ é uma relação de ordem. De fato:

• a ≤ a, pois a ∨ a = a;

• Se a≤b e b ≤ a, então a∨b=b e b ∨ a = a, donde a = b;

45
• Se a ≤ b e b ≤ c, então a ∨ b = b e b ∨ c = c. Daí, a ∨ c = a ∨ (b ∨ c) =
(a ∨ b) ∨ c = b ∨ c = c, e portanto, a ≤ c.

Assim, resta-nos mostrar que a ∨ b é a menor das cotas superiores e a∧b


a maior das cotas inferiores de {a, b}. Primeiramente, temos que

a ∨ (a ∨ b) = (a ∨ a) ∨ b = a ∨ b

e
b ∨ (a ∨ b) = b ∨ (b ∨ a) = (b ∨ b) ∨ a = b ∨ a,
ou seja, a ≤ a ∨ b e b ≤ a ∨ b . Ademais, se c é uma cota superior de {a, b},
segue que a ≤ c e b ≤ c, ou seja, a ∨ c = c e b ∨ c = c. Logo,

(a ∨ b) ∨ c = a ∨ (b ∨ c) = a ∨ c = c.

Isto mostra que a ∨ b ≤ c, donde concluímos que a ∨ b representa o sup{a, b}


em R. Dualmente, demonstra-se que a ∧ b = inf {a, b}. Desse modo, a terna
(R, ∨, ∧) representa um reticulado, como queríamos. 

2.4 Reticulados Distributivos e Modulares


Teorema 2.4.1 Seja R um reticulado. São equivalentes:

i) x ∨ (y ∧ z) = (x ∨ y) ∧ (x ∨ z), ∀x, y, z ∈ R.
ii) x ∧ (y ∨ z) = (x ∧ y) ∨ (x ∧ z), ∀x, y, z ∈ R.
iii) (x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ (z ∨ x) = (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ (z ∧ x), ∀x, y, z ∈ R.

Demonstração. i) =⇒ ii)

(x ∧ y) ∨ (x ∧ z) = [(x ∧ y) ∨ x] ∧ [(x ∧ y) ∨ z]
= [x ∨ (x ∧ y)] ∧ [z ∨ (x ∧ y)]
= x ∧ [z ∨ (x ∧ y)]
= x ∧ [(z ∨ x) ∧ (z ∨ y)]
= [x ∧ (z ∨ x)] ∧ (z ∨ y)
= [x ∧ (x ∨ z)] ∧ (y ∨ z)
= x ∧ (y ∨ z),

onde na primeira e quarta igualdades usamos (i).

46
ii) =⇒ iii)

[(x ∨ y) ∧ (y ∨ z)] ∧ (z ∨ x) = [(x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ z] ∨ [(x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ x]


= [(x ∨ y) ∧ z ∧ (z ∨ y)] ∨ [x ∧ (x ∨ y) ∧ (y ∨ z)]
= [(x ∨ y) ∧ z] ∨ [x ∧ (y ∨ z)]
= [z ∧ (x ∨ y)] ∨ [x ∧ (y ∨ z)]
= (z ∧ x) ∨ (z ∧ y) ∨ (x ∧ y) ∨ (x ∧ z)
= (x ∧ y) ∨ (z ∧ y) ∨ [(z ∧ x) ∨ (x ∧ z)]
= (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ [(x ∧ z) ∨ (x ∧ z)]
= (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ (x ∧ z),

onde na primeira e quinta igualdade usamos (ii).


iii) =⇒ i) Primeiramente,

x ∨ (y ∧ z) = [x ∨ (x ∧ z)] ∨ (y ∧ z)
= x ∨ [(x ∧ z) ∨ (y ∧ z)]
= [x ∨ (x ∧ y)] ∨ [(x ∧ z) ∨ (y ∧ z)]
= x ∨ [(x ∧ y) ∨ (x ∧ z) ∨ (y ∧ z)]
= x ∨ [(x ∨ y) ∧ (x ∨ z) ∧ (y ∨ z)].

onde na quinta igualdade usamos (iii).


Tomando y1 = x ∨ y , camos com

(x ∨ y1 ) ∧ (x ∨ z) ∧ (y1 ∨ z) = (x ∧ y1 ) ∨ (x ∧ z) ∨ (y1 ∧ z)
= (x ∧ y1 ) ∨ (y1 ∧ z) ∨ (x ∧ z)
= [x ∧ (x ∨ y)] ∨ [(x ∨ y) ∧ z] ∨ (x ∧ z)
= x ∨ [(x ∨ y) ∧ z] ∨ (x ∧ z)
= x ∨ (x ∧ z) ∨ [(x ∨ y) ∧ z]
= x ∨ [(x ∨ y) ∧ z].

Por outro lado,

(x ∨ y1 ) ∧ (x ∨ z) ∧ (y1 ∨ z) = (x ∨ x ∨ y) ∧ (x ∨ y ∨ z) ∧ (x ∨ z)
= (x ∨ y) ∧ (x ∨ y ∨ z) ∧ (x ∨ z)
= (x ∨ y) ∧ (x ∨ z).

47
Devemos ter então

x ∨ [(x ∨ y) ∧ z] = (x ∨ y) ∧ (x ∨ z), ∀x, y, z ∈ R. (2.1)

Portanto,

x ∨ (y ∧ z) = x ∨ {(x ∨ y) ∧ [(x ∨ z) ∧ (y ∨ z)]}


= (x ∨ y) ∧ {x ∨ [(x ∨ z) ∧ (y ∨ z)]}
= (x ∨ y) ∧ [(x ∨ z) ∧ (x ∨ y ∨ z)]
= (x ∨ y) ∧ (x ∨ z).
onde na segunda e terceira igualdades usamos (2.1). 
Denição 2.4.2 Um reticulado será dito distributivo se possuir uma (e con-
sequentemente todas) das propriedades do Teorema 2.4.1.
Observação 2.4.3 Como ∨ e ∧ são comutativas, podemos escrever simples-
mente (a ∨ b) ∧ c = (a ∧ c) ∨ (b ∧ c) e (a ∧ b) ∨ c = (a ∨ c) ∧ (b ∨ c).
Exemplo 2.4.4 Todo subreticulado de um reticulado distributivo é distribu-
tivo.

Exemplo 2.4.5 O dual de um reticulado distributivo é distributivo.

Exemplo 2.4.6 Sejam R1 e R2 reticulados isomorfos. Então R1 é distribu-


tivo se, e somente se, R2 é distributivo.

Exemplo 2.4.7 O produto cardinal R1 × R2 é um reticulado distributivo se,


e somente se, R1 e R2 são distributivos.

Exemplo 2.4.8 O conjunto N dos naturais, ordenado pela divisibilidade, é


um reticulado distributivo. Da Aritmética, lembre-se que dados a, b, c ∈ N
tem-se
mdc(a, mmc(b, c)) = mmc[mdc(a, b), mdc(a, c)].
Exemplo 2.4.9 Se R é uma cadeia, sabemos que quaisquer dois dos seus
elementos obedecem a uma ordem de precedência. Tomando então a, b, c ∈ R,
podemos supor que ocorra b ≤ c. Neste caso, b∧c = b e a ∨ b ≤ a ∨ c, donde
(a ∨ b) ∧ (a ∨ c) = a ∨ b = a ∨ (b ∧ c),
donde se verica a condição (i) do Teorema 2.4.1. Dessa forma, concluímos
que toda cadeia é um reticulado distributivo.

48
Exemplo 2.4.10 O Pentágono e o Reticulado de Klein são exemplos clássi-
cos de reticulados não distributivos. Com efeito, consideremos os diagramas
abaixo.

No Pentágono, destacamos que

a1 ∨ (b1 ∧ c1 ) = a1 ∨ 0 = a1 6= b1 = b1 ∧ 1 = (a1 ∨ b1 ) ∧ (a1 ∨ c1 ).

Já no Reticulado de Klein, vericamos que

a2 ∨ (b2 ∧ c2 ) = a2 ∨ 0 = a2 6= 1 = 1 ∧ 1 = (a2 ∨ b2 ) ∧ (a2 ∨ c2 ).

Mais adiante, veremos como estes exemplos ajudam a decidir se um reticu-


lado é ou não distributivo.

Teorema 2.4.11 Seja R um reticulado. São equivalentes:

i) [(x ∧ z) ∨ y] ∧ z = (x ∧ z) ∨ (y ∧ z), ∀x, y, z ∈ R.


ii) [(x ∨ z) ∧ y] ∨ z = (x ∨ z) ∧ (y ∨ z), ∀x, y, z ∈ R.
iii) Se x, y, z ∈ R e x ≤ z então x ∨ (y ∧ z) = (x ∨ y) ∧ z .

Demonstração. i) =⇒ ii)

(x ∨ z) ∧ (y ∨ z) = (x ∨ z) ∧ {y ∨ [z ∧ (x ∨ z)]}
= {y ∨ [z ∧ (x ∨ z)]} ∧ (x ∨ z)
= {[z ∧ (x ∨ z)] ∨ y} ∧ (x ∨ z)
= [z ∧ (x ∨ z)] ∨ [y ∧ (x ∨ z)]
= z ∨ [y ∧ (x ∨ z)]
= [(x ∨ z) ∧ y] ∨ z,

49
onde usamos (i) na quarta igualdade.
ii) =⇒ i)
(x ∧ z) ∨ (y ∧ z) = (x ∧ z) ∨ {y ∧ [z ∨ (x ∧ z)]}
= {y ∧ [z ∨ (x ∧ z)]} ∨ (x ∧ z)
= {[z ∨ (x ∧ z)] ∧ y} ∨ (x ∧ z)
= [z ∨ (x ∧ z)] ∧ [y ∨ (x ∧ z)]
= z ∧ [y ∨ (x ∧ z)]
= [(x ∧ z) ∨ y] ∧ z,
onde usamos (ii) na quarta igualdade.
i) =⇒ iii) Se x ≤ z , então x∧z =x e assim

x ∨ (y ∧ z) = (x ∧ z) ∨ (y ∧ z) = [(x ∧ z) ∨ y] ∧ z = (x ∨ y) ∧ z.
iii) =⇒ i) Escrevendo x ∧ z = z0, temos que z0 ≤ z. Logo,

[(x ∧ z) ∨ y] ∧ z = (z 0 ∨ y) ∧ z = z 0 ∨ (y ∧ z) = (x ∧ z) ∨ (y ∧ z).

Denição 2.4.12 Um reticulado será dito modular se possuir uma (e con-
sequentemente todas) das propriedades do Teorema 2.4.11.
Exemplo 2.4.13 Sejam R um reticulado distributivo e x, y, z ∈ R. Então

[(x ∧ z) ∨ y] ∧ z = [(x ∧ z) ∧ z] ∨ (y ∧ z) = (x ∧ z) ∨ (y ∧ z).


Assim, todo reticulado distributivo é modular. Em particular, toda cadeia é
modular.

Exemplo 2.4.14 Todo reticulado com menos do que 5 elementos é modu-


lar. De fato, para um reticulado nestas condições, de acordo com o Exemplo
2.1.8, temos duas situações possíveis: ou é uma cadeia ou possui o seguinte
diagrama:

50
Logo, x≤z implica x=0 ou z = 1. Assim, é fácil ver que em ambos os
casos vale
x ∨ (y ∧ z) = (x ∨ y) ∧ z,
onde x, y ∈ {0, 1, a, b}.

Exemplo 2.4.15 O Pentágono não é modular. De fato, considerando o


diagrama

temos x ≤ z, mas x ∨ (y ∧ z) = x ∨ 0 = x 6= z = 1 ∧ z = (x ∨ y) ∧ z.

Teorema 2.4.16 Um reticulado é não modular se, e somente se, contém


algum subreticulado isomorfo ao Pentágono.

Demonstração. Seja R um reticulado não modular. Então existem a, b, c ∈ R


distintos tais que a<ce

a ∨ (b ∧ c) < (a ∨ b) ∧ c.

Devem também existir em R os elementos

b, b ∧ c, a ∨ b, a ∨ (b ∧ c) e (a ∨ b) ∧ c. (2.2)

Naturalmente, observe que já ocorrem as seguintes precedências

b∧c≤b≤a∨b (2.3)

e também
b ∧ c ≤ a ∨ (b ∧ c) < (a ∨ b) ∧ c ≤ a ∨ b. (2.4)

Armação 1 Os elementos destacados em (2.2) são todos distintos.


Em virtude de (2.4), temos que

51
• b ∧ c 6= (a ∨ b) ∧ c.

• a ∨ (b ∧ c) 6= (a ∨ b) ∧ c;

• a ∨ (b ∧ c) 6= a ∨ b;

• b ∧ c 6= a ∨ b.

Ademais,

• b 6= a ∨ b. De fato, se b = a ∨ b, então a<b e assim a ≤ b ∧ c. Mas


neste caso,
a ∨ (b ∧ c) = b ∧ c = (a ∨ b) ∧ c,
o que é um absurdo.

• b 6= b ∧ c. Com efeito, se b = b ∧ c, então b < c, donde a ∨ b ≤ c. Logo,

a ∨ (b ∧ c) = a ∨ b = (a ∨ b) ∧ c,

o que nos leva ao mesmo absurdo.

• b 6= a ∨ (b ∧ c). Em caso contrário, teríamos a < b, que já vimos


acarretar um absurdo.

• b 6= (a ∨ b) ∧ c. Em caso contrário, teríamos b < c, o que já mostramos


acarretar um absurdo.

• b ∧ c 6= a ∨ (b ∧ c). Em caso contrário, teríamos a ≤ b ∧ c e assim a < b,


o que já mostramos acarretar um absurdo.

• a ∨ b 6= (a ∨ b) ∧ c. Em caso contrário, teríamos (a ∨ b) ≤ c e portanto


b < c, o que já mostramos acarretar um absurdo.

Armação 2 Supondo a < c, são válidas:


a) b ∨ [(a ∨ b) ∧ c] = a ∨ b.
b) b ∧ [(a ∨ b) ∧ c] = b ∧ c.
c) b ∨ [a ∨ (b ∧ c)] = a ∨ b.
d) b ∧ [a ∨ (b ∧ c)] = b ∧ c.

Para provar (a), observe que

52
b≤a∨b e [(a ∨ b) ∧ c] ≤ a ∨ b
donde b∨[(a∨b)∧c] ≤ a∨b. Mas como a < c e a ≤ a∨b, então a ≤ [(a∨b)∧c],
e assim a ∨ b ≤ b ∨ [(a ∨ b) ∧ c]. A igualdade segue por anti-simetria.
A prova de (d) dá-se analogamente. Ademais, (b) e (c) decorrem essenci-
almente da associatividade de ∨ e ∧.

Portanto, tendo em vista as armações 1 e 2 e as precedências supra-


citadas em (2.3) e (2.4), concluímos que os elementos destacados em (2.2)
constituem um subreticulado, cujo diagrama é exatamente o Pentágono:

A recíproca é imediata. 

Corolário 2.4.17 O Reticulado de Klein é modular, porém, não distribu-


tivo.

Teorema 2.4.18 Um reticulado modular R é distributivo se, e somente se,


não possui subreticulado isomorfo ao Reticulado de Klein. Um reticulado Ré
não distributivo se, e somente se, possui subreticulado isomorfo ao Pentágono
ou ao Reticulado de Klein.

Demonstração. Seja R modular, porém, não distributivo. Então existem


x, y, z ∈ R tais que (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ (x ∧ z) 6= (x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ (x ∨ z).
Denindo

u = (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ (x ∧ z)
v = (x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ (x ∨ z)
x1 = (x ∧ v) ∨ u
y1 = (y ∧ v) ∨ u
z1 = (z ∧ v) ∨ u

53
temos u 6= v e não é difícil ver que u ≤ v, donde

u ≤ (x ∧ v) ∨ u ≤ v
u ≤ (y ∧ v) ∨ u ≤ v
u ≤ (z ∧ v) ∨ u ≤ v

isto é,

u ≤ x1 ≤ v , u ≤ y1 ≤ v e u ≤ z1 ≤ v .
Com base nessas considerações, o nosso objetivo será mostrar que
{u, x1 , y1 , z1 , v} é um subreticulado de R isomorfo ao Reticulado de Klein.
Para tanto, nossa estratégia será mostrar que u é o ínmo e v é o supremo en-
tre estes elementos, tomando-os dois a dois. Antes disso, porém, ressaltamos
que

x ∧ v = x ∧ (x ∨ y) ∧ (y ∨ z) ∧ (x ∨ z)
= x ∧ (y ∨ z) ∧ (x ∨ z)
= x ∧ (y ∨ z)

e também

y ∨ u = y ∨ (x ∧ y) ∨ (y ∧ z) ∨ (x ∧ z)
= y ∨ (y ∧ z) ∨ (x ∧ z)
= y ∨ (x ∧ z).

Segue então

x 1 ∧ y1 = [(x ∧ v) ∨ u] ∧ [(y ∧ v) ∨ u]
= [((y ∧ v) ∨ u) ∧ (x ∧ v)] ∨ u
= [(x ∧ v) ∧ (y ∨ u) ∧ v] ∨ u
= [(x ∧ v) ∧ (y ∨ u)] ∨ u
= [x ∧ (y ∨ z) ∧ (y ∨ (x ∧ z))] ∨ u.

onde na segunda igualdade foi usada a lei de modularidade (ii) (veja o Te-
orema 2.4.11), e na terceira a lei de modularidade (iii), pois u ≤ v . Em
particular, tem-se

[y ∨ z] ∧ [y ∨ (x ∧ z)] = [(x ∧ z) ∨ y] ∧ [z ∨ y]

54
= [[(x ∧ z) ∨ y] ∧ z] ∨ y
= [(x ∧ z) ∨ (y ∧ z)] ∨ y
= (x ∧ z) ∨ [(y ∧ z) ∨ y]
= (x ∧ z) ∨ y,
onde na segunda igualdade foi usada a lei de modularidade (ii), e na terceira
a lei de modularidade (i). Finalmente,

x1 ∧ y 1 = [x ∧ (y ∨ z) ∧ (y ∨ (x ∧ z))] ∨ u
= [x ∧ ((x ∧ z) ∨ y)] ∨ u
= [((x ∧ z) ∨ y) ∧ x] ∨ u
= (x ∧ z) ∨ (y ∧ x) ∨ u
= u,
como queríamos. Ademais, esclarecendo que

((x ∧ v) ∨ y) ∧ v = ((x ∧ (y ∨ z)) ∨ y) ∧ v


= (((z ∨ y) ∧ x) ∨ y) ∧ v
= (z ∨ y) ∧ (x ∨ y) ∧ v
= v,
camos com

x1 ∨ y1 = (x ∧ v) ∨ u ∨ (y ∧ v) ∨ u
= [(x ∧ v) ∨ (y ∧ v)] ∨ u
= [((x ∧ v) ∨ y) ∧ v] ∨ u
= v ∨ u = v.
É notável que os demais casos (x1 ∨ z1 = y1 ∨ z1 = v e x1 ∧ z1 = y1 ∧ z1 = u)
seguem de modo análogo.
Daí, se x1 ≤ y1 , então x1 = u e y1 = v . Nestas condições, x1 ≤ z1 e assim
z1 = x1 ∨ z1 = v , donde z1 = y1 . Mas isto acarreta
u = y1 ∧ z1 = y1 ∨ z1 = v,
que é um absurdo. Logo, não existe ordem de precedência entre x1 e y1 .
Consequentemente, trabalhando de forma inteiramente análoga, concluímos
que x1 , y1 e z1 são 2 a 2 incomparáveis. Assim, {u, v, x1 , y1 e z1 } determinam
um subreticulado, o qual é isomorfo ao Reticulado de Klein:

55
A recíproca é imediata.
A segunda armação é consequência imediata do Teorema 2.4.16 e do que
foi feito acima. 

Um dos resultados centrais na Teoria dos Reticulados é conhecido como


Lei de corte, atribuída a Ore. Esta lei relaciona os reticulados que satisfazem
a condição

x∧z =y∧z e x∨z =y∨z =⇒ x = y. (2.5)

Supondo R um reticulado distributivo e x, y, z ∈ R elementos tais que

x∧z =y∧z e x ∨ z = y ∨ z,

então

x = x ∧ (x ∨ z) = x ∧ (y ∨ z)
= (x ∧ y) ∨ (x ∧ z) = (x ∧ y) ∨ (y ∧ z)
= (y ∧ x) ∨ (y ∧ z) = y ∧ (x ∨ z)
= y ∧ (y ∨ z) = y.

Logo, a condição (2.5) é intrínseca a todo reticulado distributivo. No


entanto, não é difícil ver que tanto o Pentágono quanto o Reticulado de
Klein não gozam de tal propriedade; basta tomar os elementos x, y e z como
indicados abaixo e vericar que x∧z =y∧z e x ∨ z = y ∨ z, mas x 6= y .

56
Este desenvolvimento, justamente com o Teorema 2.4.18, justica o teo-
rema a seguir.

Teorema 2.4.19 (Lei de corte) Um reticulado R é distributivo se, e so-


mente se, é válida a condição (2.5) para quaisquer x, y, z ∈ R.

Em analogia a Lei de corte, podemos caracterizar os reticulados modula-


res em termos do seguinte

Teorema 2.4.20 (Lei de corte enfraquecida) Um reticulado R é modu-


lar se, e somente se, possui a propriedade

se x ≤ y, x∧z =y∧z e x ∨ z = y ∨ z, então x=y (2.6)

para x, y, z ∈ R.

Demonstração. Sejam R um reticulado modular e x, y, z ∈ R tais que x ≤ y,


x∧z =y∧z e x ∨ z = y ∨ z . Então

x = x ∨ (x ∧ z) = x ∨ (y ∧ z)
= x ∨ (z ∧ y) = (x ∨ z) ∧ y
= (y ∨ z) ∧ y = y.

Reciprocamente, suponha que em R seja satisfeita a condição (2.6) e sejam


dados x, y ∈ R tais que x ≤ y . Destacando que x ∨ (y ∧ z) ≤ y ∧ (x ∨ z), vem

[x ∨ (y ∧ z)] ∧ z ≤ [y ∧ (x ∨ z)] ∧ z = y ∧ z = (y ∧ z) ∧ z ≤ [x ∨ (y ∧ z)] ∧ z


o que nos dá

[x ∨ (y ∧ z)] ∧ z = [y ∧ (x ∨ z)] ∧ z.

57
Da mesma forma,

[x ∨ (y ∧ z)] ∨ z ≤ [y ∧ (x ∨ z)] ∨ z ≤ (x ∨ z) ∨ z = x ∨ z ≤ [x ∨ (y ∧ z)] ∨ z,

donde
[x ∨ (y ∧ z)] ∨ z = [y ∧ (x ∨ z)] ∨ z.
Em decorrência de (2.6), devemos ter x ∨ (y ∧ z) = y ∧ (x ∨ z), e portanto R
é modular. 

2.5 Álgebras de Boole


Seja R um reticulado com máximo e mínimo (1 = maxR e 0 = minR).
Dizemos que x ∈ R é complementado se existe y ∈ R tal que x ∨ y = 1 e
x ∧ y = 0. Um elemento y nestas condições é chamado de complemento de x.
Observe que se y é complemento de x, então x é complemento de y . Se um
elemento x possui um único complemento, então denotamos tal complemento
por x.
Não é difícil ver que 1 = 0 e 0 = 1. No entanto, esclarecemos que nem
todos os elementos de um reticulado precisam possuir complemento, e que
os complementos podem não ser únicos.
Com efeito, considere os reticulados representados pelos seguintes diagra-
mas:

No primeiro caso, por exemplo, observe que a é complemento de b1 e b2 não


tem complemento. No segundo caso, todos os elementos têm complemento.
Em especial, cada elemento yi tem por complementos os elementos xi e x.
Este exemplo motiva a seguinte

58
Denição 2.5.1 Um reticulado com máximo e mínimo será dito comple-
mentado quando existirem complementos de todos os seus elementos.

Sejam R um reticulado distributivo e x ∈ R. Suponha que existam em R


dois complementos para x, digamos, x1 e x2 . Temos então
x ∧ x1 = 0 = x ∧ x 2 e x ∨ x1 = 1 = x ∨ x2 .
Tendo em vista a Lei de corte, concluímos que x1 = x2 , ou seja, nenhum
elemento de um reticulado distributivo possui mais do que um complemento.
Ainda sob a hipótese de distributividade, temos que se x, y ∈ R são tais
que x = y, vem

x∨x=1=x∨y e x∧x=0=x∧y
o que implica x = y.

Teorema 2.5.2 Se os elementos a e b de um reticulado distributivo têm


complementos, então também a∧b e a ∨ b têm complementos e valem as
seguintes igualdades (chamadas de Leis de De Morgan):

a∧b=a∨b e a ∨ b = a ∧ b.

Demonstração. Das igualdades

(a ∧ b) ∧ (a ∨ b) = a ∧ [b ∧ (a ∨ b)]
= a ∧ [(b ∧ a) ∨ (b ∧ b)]
= a ∧ [(a ∧ b) ∨ 0]
= a∧a∧b
= 0∧b=0

(a ∧ b) ∨ (a ∨ b) = [(a ∧ b) ∨ a] ∨ b
= [(a ∨ a) ∧ (b ∨ a)] ∨ b
= [1 ∧ (b ∨ a)] ∨ b
= (b ∨ a) ∨ b
= (b ∨ b) ∨ a
= 1∨a=1

59
conclui-se que a∨b é complemento de a ∧ b. Dualmente, demonstra-se que
a∧b é complemento de a ∨ b. 

Do Teorema 2.5.2 resulta imediatamente que se a e b são complementados


e a ≤ b, então b = a ∨ b = a ∧ b, isto é, b ≤ a. O teorema também esclarece
que num reticulado distributivo com máximo e mínimo, o conjunto dos ele-
mentos complementados constitui um subreticulado, que é, evidentemente,
distributivo e complementado. Este tipo de estrutura recebe a seguinte

Denição 2.5.3 Uma álgebra de Boole (ou álgebra booleana) é um reticu-


lado distributivo e complementado.

Exemplo 2.5.4 P(E) é uma álgebra de Boole. De fato, lembre que da Teo-
ria dos Conjuntos, a união é distributiva com relação a interseção. Ademais,
se X ⊆ E, então E−X é o complemento de X em P(E).

Exemplo 2.5.5 Dn é uma álgebra de Boole se, e somente se, n é livre de


quadrado. Com efeito, lembremos que Dn é distributivo (Exemplo 2.4.8). Se
n é livre de quadrado, então n = p1 p2 . . . pm , onde pi ∈ N, i = 1, . . . , m , são
primos distintos. Logo, se x ∈ Dn , não é difícil ver que x é o quociente da
divisão de n por x.
Reciprocamente, suponha Dn uma álgebra booleana e suponha, por ab-
surdo, que n não seja livre de quadrado. Neste caso, n será divisível pelo
quadrado de pelo menos um dos primos de sua decomposição, ou seja, n =
pk1 p2 . . . pm , com k ≥ 2. Como, evidentemente, p1 ∈ Dn , devemos ter

mdc(p1 , p1 ) = p1 ∧ p1 = minDn = 1,

ou seja, p1 e p1 são relativamente primos. Por outro lado,

n = p1 ∨ p1 = mmc(p1 , p1 ) = p1 p1

e daí, p1 = pk−1
1 p2 . . . pm , sendo k − 1 ≥ 1, o que nos leva a uma contradição.

Exemplo 2.5.6 Toda álgebra de Boole totalmente ordenada é uma cadeia


com dois elementos. De fato, dado a ∈ A, devemos ter a ∈ A, e assim
podemos considerar, sem perda de generalidade, a ≤ a. Neste caso, a =
a ∨ a = 1, a = a = 1 = 0.
e daí Da mesma forma, se a ≤ a, então a = 1.
Portanto, A = {0, 1}.

60
Exemplo 2.5.7 O produto cardinal de duas álgebras de Boole é uma álgebra
de Boole. Observe que (a, b) = (a, b).

De posse desse arcabouço, vamos relacionar duas estruturas que aparen-


temente são dissociadas, mas que, na verdade, estão intimamente ligadas.
Precisamente, vamos mostrar que uma álgebra de Boole induz uma estru-
tura de anel de Boole com unidade, e reciprocamente.
Comecemos considerando (A, +, ·) um anel de Boole com unidade, ou
seja, um anel em que todo elemento é idempotente (veja a Seção 1.3), e a
relação

a≤b se a · b = a, para a, b ∈ A.

Temos

• a ≤ a, pois a = a2 = a · a;

• Se a≤b e b ≤ a, então a·b=a e b · a = b. Logo, a = a · b = b · a = b;

• Se a ≤ b e b ≤ c, então a · b = a e b · c = b. Daí, a = a · b = a · (b · c) =
(a · b) · c = a · c, e portanto a ≤ c.

Logo  ≤ é uma relação de ordem. 1 a


Sendo unidade e 0 o elemento
neutro aditivo de A, então 1·a = a e 0·a = 0 para todo a ∈ A. Por
conseguinte, vale

0 ≤ a ≤ 1, para todo a ∈ A,

isto é, A como conjunto ordenado possui máximo e mínimo. Tem-se também


que vale 2a = 0 para todo a ∈ A.

• Encontrando expressões para ∨ e ∧ em termos das operações  + e  ·


do anel A: dados a, b ∈ A, temos

(a · b) · a = a · b e (a · b) · b = a · b,

ou seja, a·b ≤ a e também a · b ≤ b. Supondo c∈A tal que c≤a e


c ≤ b, então
c · (a · b) = (c · a) · b = c · b = c,
isto é, c ≤ a · b. Portanto, a ∧ b = a · b.

61
Observe agora que

a · (a + b + a · b) = a · a + a · b + a · a · b = a + 2(a · b) = a,

e que, analogamente, b · (a + b + a · b) = b. Logo, a + b + a · b é uma cota


superior para {a, b} em A. Supondo d ∈ A tal que a ≤ d e b ≤ d, vem

(a + b + a · b) · d = a · d + b · d + (a · b) · d = a + b + a · (b · d) = a + b + a · b,

donde a + b + a · b ≤ d. Portanto, a ∨ b = a + b + a · b. Logo, (A, ≤) é


um reticulado.

• Distributividade. Suponha a, b, c ∈ A satisfazendo

a∨c=b∨c e a ∧ c = b ∧ c.

Logo, a·c=b·c e

a + c + a · c = b + c + b · c,

donde a + c = b + c e portanto a = b. Tendo em vista a lei de corte,


concluímos que A é um reticulado distributivo.

• Complementos. Para todo a ∈ A, tem-se a = 1 − a. De fato,

a ∧ (1 − a) = a · (1 − a) = a − a2 = a − a = 0

a ∨ (1 − a) = a + (1 − a) + a · (1 − a) = 1

Este desenvolvimento justica que (A, ≤) é uma álgebra de Boole.


Vamos proceder agora com a construção inversa. A partir de uma álgebra
de Boole A, e denindo as operações

+: A×A −→ A
(a, b) 7−→ a + b = (a ∧ b) ∨ (a ∧ b)
e

·: A×A −→ A
(a, b) 7−→ a·b=a∧b

62
mostraremos que (A, +, ·) é um anel booleano com unidade. É útil observar
que

(a ∨ b) ∧ (a ∨ b) = {(a ∨ b) ∧ a} ∨ {(a ∨ b) ∧ b}
= {(a ∧ a) ∨ (b ∧ a)} ∨ {(a ∧ b) ∨ (b ∨ b)}
= {(0 ∨ (b ∧ a)} ∨ {(a ∧ b) ∨ 0}
= (b ∧ a) ∨ (a ∧ b)

ou seja, sempre que conveniente, poderemos utilizar

a + b = (a ∨ b) ∧ (a ∨ b).

Assim, dados a, b, c ∈ A, vem:

• Comutatividade de  +.

a + b = (a ∧ b) ∨ (a ∧ b) = (a ∧ b) ∨ (a ∧ b) = (b ∧ a) ∨ (b ∧ a) = b + a;

• Existência de elemento neutro para  +.

a + 0 = (a ∧ 1) ∨ (a ∧ 0) = a ∨ 0 = a;

• Existência de opostos aditivos.

a + a = (a ∧ a) ∨ (a ∧ a) = 0 ∨ 0 = 0;

logo, −a = a;

• Associatividade de  +.

a + (b + c) = a + [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]
= {a ∧ [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]} ∨ {a ∧ [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]}
= {a ∧ [(b ∧ c) ∧ (b ∧ c)]} ∨ {a ∧ [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]}
= {a ∧ [(b ∨ c) ∧ (b ∨ c)]} ∨ {a ∧ [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]}
= {a ∧ [((b ∨ c) ∧ b) ∨ ((b ∨ c) ∧ c)]} ∨ {[a ∧ (b ∧ c)] ∨ [a ∧ (b ∧ c)]}
= {a ∧ [(b ∧ b) ∨ (c ∧ b) ∨ (b ∧ c) ∨ (c ∧ c)]} ∨ {[a ∧ b ∧ c] ∨ [a ∧ b ∧ c]}
= {a ∧ [0 ∨ (c ∧ b) ∨ (b ∧ c) ∨ 0]} ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c)
= {a ∧ [(c ∧ b) ∨ (b ∧ c)]} ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c)

63
= (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c)
= {(a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c)} ∨ {(a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ b ∧ c)}
= {[(a ∧ b) ∨ (a ∧ b)] ∧ c} ∨ {[(a ∧ b) ∨ (a ∧ b)] ∧ c}
= {[(a ∧ b) ∨ (a ∧ b)] ∧ c} ∨ {[(a ∧ b) ∧ (a ∧ b)] ∧ c}
= {[(a ∧ b) ∨ (a ∧ b)] ∧ c} ∨ {[(a ∨ b) ∧ (a ∨ b)] ∧ c}
= [(a + b) ∧ c] ∨ [(a + b) ∧ c]
= (a + b) + c.

• Comutatividade de  ·.

a · b = a ∧ b = b ∧ a = b · a;

• Existência de elemento neutro para  ·, ou unidade.

1 · a = 1 ∧ a = a;

• Associatividade de  ·.

(a · b) · c = (a ∧ b) ∧ c = a ∧ (b ∧ c) = a · (b · c);

• Distributividade de  · com relação a  +.

(a · b) + (a · c) = [(a ∧ b) ∧ (a ∧ c)] ∨ [(a ∧ b) ∧ (a ∧ c)]


= [(a ∧ b) ∧ (a ∨ c)] ∨ [(a ∨ b) ∧ (a ∧ c)]
= (a ∧ b ∧ a) ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ (a ∧ a ∧ c) ∨ (b ∧ a ∧ c)
= 0 ∨ (a ∧ b ∧ c) ∨ 0 ∨ (b ∧ a ∧ c)
= (a ∧ b ∧ c) ∨ (b ∧ a ∧ c)
= [a ∧ (b ∧ c)] ∨ [a ∧ (b ∧ c)]
= a ∧ [(b ∧ c) ∨ (b ∧ c)]
= a · (b + c);

• Idempotência. a2 = a · a = a ∧ a = a.

64
Capítulo 3
Reticulados de Subgrupos
Neste capítulo vamos estudar o comportamento dos reticulados de subgru-
pos. Em especial, vamos investigar propriedades inerentes de um grupo G
a partir da coleta de informações de seu reticulado de subgrupos R(G), tais
como distributividade, modularidade, dualidade, dentre outras. Buscaremos,
também, interpretar alguns resultados da Teoria de Grupos utilizando a lin-
guagem de reticulados.

3.1 Resultados Preliminares


Sendo G um grupo, introduzimos anteriormente que R(G) é um reticulado,
onde

H ∧N =H ∩N e H ∨ N = hH ∪ N i

para H, N ≤ G. Particularmente, conforme a Observação 1.2.31, se H ou N


é normal em G, então H ∨ N = HN .
Sendo N EG, vimos que o intervalo [N, G] em R(G) representa os subgru-
pos de G que contêm N . Assim, se H ∈ [N, G], devemos ter N E H , e assim
faz sentido falar no quociente H/N . Podemos então associar biunívocamente

[N, G] −→ R(G/N )
H 7−→ H/N
e esta aplicação é um isomorsmo de conjuntos ordenados. Este desenvol-
vimento pode ser interpretado como sendo o Teorema da Correspondência
(Teorema 1.2.34) em linguagem de reticulados de subgrupos.

65
Vimos também que se H ≤ G, então R(H) é um subreticulado de R(G)
(Exemplo 2.1.15).

Observação 3.1.1 Considerando o grupo cíclico innito C∞ = hgi, temos


n
que para cada n ∈ N, existe um subgrupo da forma hg i. Observe que se
n m
n 6= m, então hg i =
6 hg i. Portanto, R(C∞ ) é innito.

Lema 3.1.2 Seja G um grupo. Então R(G) é nito se, e somente se, G é
nito.

Demonstração. Supondo R(G) nito, então G deve ser um grupo de torção.


De fato, se não for, existe g ∈ G de sorte que o(g) = ∞. Logo, hgi é cíclico
innito e assim R(hgi) é innito (conforme a observação anterior), o que é
uma contradição.
Portanto, sendo hx1 i, . . . , hxm i todos os subgrupos cíclicos de G, vem

m
[
G= hxi i.
x=1

A partir desta igualdade e observando que cada um destes subgrupos é nito


(pois G é de torção), concluímos que G é nito.
A recíproca é imediata. 

Corolário 3.1.3 Se G é um grupo cujos únicos subgrupos são G e {e}, então


G é nito de ordem prima.

Demonstração. Sendo R(G) nito, então G é nito, pelo lema anterior. To-
mando agora g ∈ G − {e}, então segue da hipótese que G = hgi, e assim G
é cíclico. Logo, se n divide |G|, com 1 < n < |G|, então existe H ⊆ G, com
|H| = n (Teorema 1.2.26), e daí {e} =6 H 6= G, o que é um absurdo. 

Conforme foi dito no Exemplo 1.1.25, os átomos de R(G) são exatamente


os subgrupos de ordem prima de G, se existirem. De fato, se H é um átomo
de R(G), então os únicos subgrupos de H são {e} e H . Assim, pelo corolário
anterior, H é nito de ordem prima.

Observação 3.1.4 Sejam G1 e G2 grupos isomorfos e

ϕ : G1 −→ G2
g 7−→ ϕ(g)

66
um isomorsmo. Temos que se K1 ≤ G1 , então ϕ(K1 ) ≤ G2 . Reciproca-
−1
mente, se K2 ≤ G2 , então ϕ (K2 ) ≤ G1 . Ademais, se H, N ≤ G, tem-se

H ≤ N ⇐⇒ ϕ(H) ≤ ϕ(N ).
Logo,

ϕR : R(G1 ) −→ R(G2 )
H 7−→ ϕR (H) = ϕ(H)
é um isomorsmo de reticulados. Portanto, R(G1 ) ' R(G2 ).

3.2 Reticulados Distributivos e Grupos Cícli-


cos
Nesta seção vamos denotar por Cn um grupo cíclico de ordem n, para n ∈ N,
e C∞ um grupo cíclico innito.

Lema 3.2.1 Se n ∈ N, então R(Cn ) ' Dn .

Demonstração. Dado n ∈ N, consideremos a aplicação

ϕ : R(Cn ) −→ Dn
H 7−→ ϕ(H) = |H|
Tendo em vista o Teorema de Lagrange (Teorema 1.2.22), temos que ϕ está
bem denida e é uma aplicação isótona. Ademais, a sobrejetividade e a inje-
tividade decorrem de propriedades básicas de grupos cíclicos nitos (Teorema
1.2.26).
Tomemos K1 e K2 subgrupos de Cn tais que |K1 | divide |K2 |. Neste caso,
existe K3 ≤ K2 , com |K1 | = |K3 |. Assim, com base no Teorema 1.2.26,
−1
ítem (b), devemos ter K1 = K3 e portanto K1 é subgrupo de K2 . Logo, ϕ
também é isótona e ϕ é um isomorsmo de reticulados. 

Corolário 3.2.2 Sejam p, n ∈ N, com p primo. Então. R(Cpn ) é uma


cadeia.

n
Demonstração. Observando que todos os dividores de p são da forma pk ,
k k
com k ≤ n, e que p 1 divide p 2 , para k1 ≤ k2 , temos que Dpn é uma cadeia.
Aplicando o teorema anterior, tem-se Dpn ' R(Cpn ), donde R(Cpn ) é uma
cadeia. 

67
Lema 3.2.3 Denotemos por D∞ o conjunto N0 = N ∪ {0} ordenado pela
0
relação de divisibilidade. Então R(C∞ ) ' D∞ .

Demonstração. Considerando C∞ = hgi, dena a aplicação

ϕ : D∞ −→ R(C∞ )
n 7−→ ϕ(n) = hg n i
Temos que ϕ é sobrejetora, pois todo subgrupo de C∞ é da forma hg n i, com
n ∈ N0 . Além disso, como no lema anterior, a injetividade também decorre
de propriedades básicas de grupos cíclicos (Teorema 1.2.26).
Sejam dados agora n, m ∈ N0 . Então

n divide m ⇐⇒ ∃ q ∈ Z tal que m = nq ⇐⇒ hg m i ≤ hg n i

donde concluímos que ϕ e ϕ−1 são bijeções antítonas, e portanto ϕ é um


anti-isomorsmo de reticulados. 

Lema 3.2.4 Sejam G um grupo abeliano e A, B, C ≤ G. Supondo g ∈ G,


a1 , a2 ∈ A, b ∈ B e c ∈ C tais que a1 b = a2 c e hgi = ha1 , a2 , b, ci, então

hgi = (A ∧ hgi)(B ∧ hgi) = (A ∧ hgi)(C ∧ hgi).

Demonstração. Vamos nos ater apenas à primeira igualdade, uma vez que a
segunda igualdade é vericada de modo inteiramente análogo.
É imediato que (A ∧ hgi)(B ∧ hgi) ≤ hgi. Reciprocamente, observe que
a1 , a2 ∈ A ∧ hgi e b ∈ B ∧ hgi. Usando agora a hipótese

a1 b = a2 c,

tem-se c = a−1 2 a1 b e portanto, c ∈ (A ∧ hgi)(B ∧ hgi). Segue então que


hgi = ha1 , a2 , b, ci ≤ (A ∧ hgi)(B ∧ hgi). 

Teorema 3.2.5 (Ore) R(G) é distributivo se, e somente se, G é localmente


cíclico.

Demonstração. R(G) distributivo e sejam a, b ∈ G arbitrários.


Suponha
Primeiramente, note que se x ∈ hai ∧ hbi, então x comuta com a e com b,
e portanto, x deve comutar com qualquer elemento de ha, bi. Assim, tem-se
hai ∧ hbi ≤ Z(ha, bi), donde

habi ∨ (hai ∧ hbi) = habi(hai ∧ hbi).

68
Além disso, como

habi ∨ hai = ha, bi = habi ∨ hbi

camos com

habi ∨ (hai ∧ hbi) = (habi ∨ hai) ∧ (habi ∨ hbi) = ha, bi. (3.1)

Daí, pelo 2◦ Teorema de Isomorsmo, vem

ha, bi habi ∨ (hai ∧ hbi) (habi)(hai ∧ hbi) habi


= = ' ,
hai ∧ hbi hai ∧ hbi hai ∧ hbi habi ∧ (hai ∧ hbi)

onde na primeira igualdade usamos (3.1). Como habi é cíclico, então

habi
habi ∧ (hai ∧ hbi)
é cíclico, e portanto o grupo quociente

ha, bi
hai ∧ hbi

também é cíclico. Ademais, como hai ∧ hbi ≤ Z(ha, bi), temos que ha, bi é
abeliano. Dados x, y ∈ G, devemos mostrar que hx, yi é cíclico. Se não for,
temos d(hx, yi) = 2 e daí hx, yi ' G1 × G2 , com Gi cíclico. Neste caso, devem
existir c, d ∈ G tais que

• hx, yi = hcihdi = hc, di;

• hci ∧ hdi = {e}, onde  e denota o elemento neutro de G.


Neste caso, hc, di/hci ∧ hdi ' hc, di, e assim hc, di é cíclico. Logo, hx, yi é
cíclico. Assim, a hipótese de não ciclicidade leva-nos a uma contradição.
Reciprocamente, suponha G localmente cíclico e sejam A, B, C ∈ R(G).
Como G é abeliano, é suciente mostrar que A(B ∧ C) = AB ∧ AC . Cla-
ramente, A(B ∧ C) ≤ AB ∧ AC . Tomemos, então, x ∈ AB ∧ AC . Logo,
x = ab = a0 c, onde a, a0 ∈ A, b ∈ B e c ∈ C .
0
Por hipótese, existe g ∈ G tal que ha, a , b, ci = hgi, e assim pelo Lema
3.2.4 devemos ter

hgi = (A ∧ hgi)(B ∧ hgi) = (A ∧ hgi)(C ∧ hgi).

69
Se A ∧ hgi = {e}, então a = a0 = e e x = b = c ∈ B ∧ C . Se B ∧ hgi = {e}
ou C ∧ hgi = {e}, então x ∈ A. Portanto, se um desses três subgrupos for
trivial, então x ∈ A(B ∧ C) e o teorema estará mostrado. Suponha então
que nenhum deles seja trivial e consideremos n, r e s os respectivos índices
de A ∧ hgi, B ∧ hgi e C ∧ hgi em hgi. Assim, pelo Teorema 1.2.26, ítem (b),
mdc(n, r) = 1 = mdc(n, s) e daí mdc(n, rs) = 1, donde

hgi = hg n ihg rs i ≤ (A ∧ hgi)(B ∧ C ∧ hgi) ≤ A(B ∧ C).

Neste caso, como x ∈ hgi, temos x ∈ A(B ∧ C), o que nos dá

AB ∧ AC ≤ A(B ∧ C).

Portanto, AB ∧ AC = A(B ∧ C) e R(G) é distributivo. 

Seja P um conjunto ordenado. Dizemos que P satisfaz a condição maxi-


mal se todo subconjunto não vazio de P possui elemento maximal.

Lema 3.2.6 Seja G um grupo. R(G) satisfaz a condição maximal se, e


somente se, todo subgrupo de G é nitamente gerado.

Demonstração. Suponha que R(G) satisfaz a condição maximal e considere


H um subgrupo de G que não é nitamente gerado. Denamos

F GH = {K subgrupo próprio de H/ K é nitamente gerado}.

Claramente, F GH é não vazio (pois os subgrupos cíclicos de H pertencem


a este conjunto), e assim deve existir algum elemento maximal em F GN .
Sendo K1 um tal elemento, tomemos x ∈ H − K1 . Mas, sendo S ⊆ K1 nito,
tal que hSi = K1 , temos
hS ∪ {x}i ∈ F GH .
e K1 ( hS ∪ {x}i, o que é uma contradição.
Reciprocamente, suponha que todo subgrupo deG é nitamente gerado e
suponha, por absurdo, que ∅ 6= P ⊆ R(G) não satisfaz a condição maximal.
Assim, se H1 ∈ P , deve existir H2 ∈ P tal que H1 ( H2 . Como H2 não é
maximal em P , existe H3 ∈ P tal que H2 ( H3 . Como este processo pode
continuar indenidamente, temos

H1 ( H2 ( H3 ( . . . ( Hn ( Hn+1 ( . . .

70
uma cadeia ascendente de subgrupos de G. Mas, neste caso,


[
H= Hn
n=1

é um subgrupo de G. Logo, existem g1 , . . . , gk ∈ G, com gi ∈ Hni , tais que

H = hg1 , . . . , gk i.

Considerando n0 = max{n1 , . . . , nk }, tem-se gi ∈ Hn0 , para todo i = 1, . . . , k .


Logo, H ⊆ Hn0 , e portanto

Hn0 = Hn0 +1 = Hn0 +2 = · · ·

o que é um absurdo. 

Teorema 3.2.7 G é cíclico se, e somente se, R(G) é distributivo e satisfaz


a condição maximal.

Demonstração. Se G é ciclíco, então todo subgrupo de G também é cíclico,


logo, nitamente gerado. Portanto, R(G) satisfaz a condição maximal (lema
anterior). Ademais, como G é localmente cíclico, pelo Teorema de Ore (Te-
orema 3.2.5) temos que R(G) é distributivo.
Reciprocamente, se R(G) é distributivo e satisfaz a condição maximal,
então G é localmente cíclico (Teorema de Ore) e todo subgrupo de G (par-
ticularmente o próprio G) é nitamente gerado (lema anterior). Logo, G é
cíclico. 

Corolário 3.2.8 G ' C∞ se, e somente se,


0
R(G) ' D∞ .

0
Demonstração. Se G ' C∞ é imediato do Lema 3.2.3 que R(G) ' D∞ . Reci-
0
procamente, se R(G) ' D∞ , então R(G) é distributivo. Ademais, como todo
subconjunto não vazio de números naturais possui elemento minimal com
respeito à relação de divisibilidade (a ordem de D∞ ), então todo subcon-
0 0
junto de D∞ tem elemento maximal. Logo, D∞ satisfaz a condição maximal,
e portanto G ' C∞ . 

Desse modo, vericamos que existe, a menos de isomorsmo, um único


grupo G tal que R(G) ' R(C∞ ), a saber, o próprio C∞ . No entanto, para os
0
grupos cíclicos nitos a situação pode ser bem diferente: existem m, m ∈ N,

71
tais que Dm ' Dm0 , e consequentemente R(Cm ) ' R(Cm0 ), mas m 6= m0 .
Podemos justicar esta asserção utilizando diagramas de Hasse. Por exemplo,
para todo grupo abeliano G cuja ordem é pq , com p e q primos distintos, o
diagrama de Hasse de R(G), assim como o de Dpq , é da forma:

Mais geralmente, o que determina o isomorsmo entre Dm e Dm0 é a


igualdade do número de fatores primos e dos seus respectivos expoentes
0
nas decomposições de m e m . Assim, para cada grupo cíclico nito Cn
existe uma innidade de grupos cíclicos C não isomorfos a Cn , mas que
R(C) ' R(Cn ).

3.3 Reticulados Modulares e Grupos Abelianos


Diremos que um grupo G é modular se R(G) for modular.

Observação 3.3.1 Sejam G um grupo onde todo subgrupo é normal e


H, N ≤ G. Então
H ∨ N = hH, N i = HN.

Lema 3.3.2 (Lei Modular de Dedekind) Sejam G um grupo e H1 , H2 e


H3 subgrupos de G tais que H1 ⊆ H3 . Então

(H1 H2 ) ∩ H3 = H1 (H2 ∩ H3 ).

Demonstração. Como H1 ⊆ H3 H2 ∩ H3 ⊆ H3 , é imediato que


e
H1 (H2 ∩ H3 ) ⊆ H3 . Além disso, como H2 ∩ H3 ⊆ H2 , então segue
H1 (H2 ∩ H3 ) ⊆ H1 H2 , donde H1 (H2 ∩ H3 ) ⊆ (H1 H2 ) ∩ H3 .
Tomando agora h ∈ (H1 H2 ) ∩ H3 , então h ∈ H3 e h = h1 h2 , com h1 ∈ H1
e h2 ∈ H2 . Dado que H1 ⊆ H3 , temos h1 ∈ H3 e portanto, h2 ∈ H3 . Logo,
h2 ∈ H2 ∩ H3 e assim h ∈ H1 (H2 ∩ H3 ). 

72
A Lei Modular de Dedekind não exige hipóteses sobre a natureza do grupo
sob o qual tem suporte, e portanto é válida em qualquer situação. Por outro
lado, se G é um grupo onde todo subgrupo é normal, conforme vimos na
observação anterior, teremos

H1 H2 = H1 ∨ H2
para H1 , H2 ≤ G. Neste caso, a Lei supracitada pode ser reescrita como

(H1 ∨ H2 ) ∧ H3 = H1 ∨ (H2 ∧ H3 )
que exprime exatamente a condição de modularidade.

Exemplo 3.3.3 Se G é abeliano, então R(G) é modular pois todo subgrupo


de G é normal. Porém, a recíproca não vale, como veremos a seguir.

Exemplo 3.3.4 Consideremos o conjunto

Q8 = {1, −1, i, −i, j, −j, k, −k}


1 = Id4
onde e
     
0 −1 0 0 0 0 −1 0 0 0 0 −1
 1 0 0 0 ,j =  0 1
 0 1   0 0 −1 0 
i=  e k= .
 0 0 0 −1   1 0 0 0   0 1 0 0 
0 0 1 0 0 −1 0 0 1 0 0 0
Considerando também o produto usual de matrizes, observe que 1 é o ele-
mento neutro e

· i j k
i −1 k −j
.
j −k −1 i
k j −i −1
Conforme a tabela acima, temos que Q8 é multiplicativamente fechado.
Ademais, a partir das igualdades

i · (−i) = j · (−j) = k · (−k) = 1


vericamos que Q8 também é fechado a inversos. Portanto, Q8 é um subgrupo
de GL4 (R), normalmente conhecido como Grupo dos Quatérnios.
Observe que o(−1) = 2 e o(i) = o(j) = o(k) = 4. Ancorados nestes
apontamentos, vamos identicar os subgrupos próprios de Q8 , que devem ser
de ordem 2 ou 4 (Teorema de Lagrange).

73
Caso 1. h−1i = {1, −1} é o único subgrupo de ordem 2. De fato, qualquer
outro subconjunto com dois elementos de Q8 não é um subgrupo, visto
que −1 é o único elemento de ordem 2 emQ8 .
Caso 2. hii = h−1i = {1, −1, i, −i}, hji = h−ji = {1, −1, j, −j} e hki =
h−ki = {1, −1, k, −k} são seus únicos subgrupos de ordem 4. Em ver-
dade, estes são os únicos subgrupos cíclicos de quatro elementos de Q8 .
Neste caso, se existisse um outro subgrupo de ordem 4, deveria ser iso-
morfo ao Grupo de Klein, e portanto deveria conter três subgrupos de
ordem 2, o que nos leva a uma contradição.

Concluímos, então, que R(Q8 ) possui o seguinte diagrama de Hasse:

Observe que Q8 é não abeliano, mas seu reticulado de subgrupos é modu-


lar, pois não possui uma cópia do Pentágono (Teorema 2.4.16).
Exemplo 3.3.5 Considere o Grupo Diedral

D4 = ha, b; a4 = b2 = 1, bab = a−1 i.


Temos os seguintes subgrupos:

• Ordem 2: H1 = ha3 bi, H2 = habi, H3 = ha2 i, H4 = hbi, H5 = ha2 bi.


• Ordem 4: H6 = ha2 , abi, H7 = hai, H8 = ha2 , bi.
Logo, o diagrama de Hasse de R(D4 ) será:

74
Observe que este diagrama contém uma cópia do Pentágono (por exemplo,
o subreticulado {{e}, H2 , H5 , H6 , D4 }), e assim, pelo Teorema 2.4.16, R(D4 )
não é modular.

Lema 3.3.6 Seja R um reticulado. Então são equivalentes:

i) R é modular.
ii) Para quaisquer a, m ∈ R, a aplicação

ϕa,m : [a ∧ m, a] −→ [m, a ∨ m]
ξ 7−→ ϕa,m (ξ) = ξ ∨ m

é um isomorsmo.
iii)Para quaisquer a, m ∈ R, a aplicação

ψa,m : [m, a ∨ m] −→ [a ∧ m, a]
ξ 7−→ ψa,m (ξ) = ξ ∧ a

é um isomorsmo.
iv) Para quaisquer a, m ∈ R, valem

ψa,m ◦ ϕa,m = Id[a∧m,a] e ϕa,m ◦ ψa,m = Id[m,a∨m] .

Demonstração. i) =⇒ iv) Suponha R modular e a, m ∈ R. Se x ∈ [a ∧ m, a],


então a ∧ m ≤ x ≤ a e assim

ψa,m (ϕa,m (x)) = ψa,m (x ∨ m) = (x ∨ m) ∧ a = x ∨ (m ∧ a) = x.

Da mesma forma, se z ∈ [m, a ∨ m], então m≤z ≤a∨m e assim

ϕa,m (ψa,m (z)) = ϕa,m (z ∧ a) = (z ∧ a) ∨ m = m ∨ (a ∧ z) = (m ∨ a) ∧ z = z.

iv) =⇒ i) Sejam x, z, m ∈ R tais que x ≤ z. Então x ∨ (m ∧ z) ∈ [z ∧ m, z],


e assim,

x ∨ (m ∧ z) = ψz,m (ϕz,m (x ∨ (m ∧ z)))


= ψz,m ((x ∨ (m ∧ z)) ∨ m)
= ((x ∨ (m ∧ z)) ∨ m) ∧ z
= (x ∨ ((m ∧ z) ∨ m)) ∧ z
= (x ∨ m) ∧ z.

75
Portanto, R é modular.
Por simplicidade, vamos denotar a partir de agora ϕa,m e ψa,m apenas por
ϕ e ψ, respectivamente.

ii) =⇒ iv) Seja x ∈ [a ∧ m, a]. Então x ≤ (x ∨ m) ∧ a. Daí,

x ∨ m ≤ ((x ∨ m) ∧ a) ∨ m.
Por outro lado, como m≤x∨m e (x ∨ m) ∧ a ≤ x ∨ m, camos com

((x ∨ m) ∧ a) ∨ m ≤ x ∨ m.
Portanto, ((x ∨ m) ∧ a) ∨ m = x ∨ m. Além disso, (x ∨ m) ∧ a ∈ [a ∧ m, a], e
assim
ϕ(x) = x ∨ m = ((x ∨ m) ∧ a) ∨ m = ϕ((x ∨ m) ∧ a).
Como ϕ x = (x ∨ m) ∧ a = ψ(ϕ(x)).
é injetiva, devemos ter
Tomando agoraz ∈ [m, a ∨ m], temos (z ∧ a) ∨ m ≤ z e, como ϕ é
sobrejetiva, existe x ∈ [a ∧ m, a] tal que z = ϕ(x) = x ∨ m. Segue que
x ≤ z ∧ a e z = x ∨ m ≤ (z ∧ a) ∨ m. Logo, z = (z ∧ a) ∨ m e assim
z = (z ∧ a) ∨ m = ϕ(ψ(z)).
Portanto, (iv) ocorre.

iv) =⇒ ii) e iv) =⇒ iii). Basta observar que ϕ e ψ são


É imediato que
isótonas para quaisquer a, m ∈ R, e inversas uma da outra, supondo que vale
(iv).

iii) =⇒ iv). Para x ∈ [a ∧ m, a], temos x ≤ (x ∨ m) ∧ a. Como ψ é so-


brejetiva, existe c ∈ [m, a ∨ m] tal que x = ψ(c) = c ∧ a. Segue daí que
x ∨ m ≤ c, e assim (x ∨ m) ∧ a ≤ c ∧ a = x. Portanto,

x = (x ∨ m) ∧ a = ψ(ϕ(x)).
Tomando agora z ∈ [m, a ∨ m], então (z ∧ a) ∨ m ≤ z , e assim,

((z ∧ a) ∨ m) ∧ a ≤ z ∧ a.
Como z ∧ a ≤ ((z ∧ a) ∨ m) ∧ a, concluímos

ψ(z) = z ∧ a = ((z ∧ a) ∨ m) ∧ a = ψ((z ∧ a) ∨ m),


(observe que (z ∧ a) ∨ m ∈ [m, a ∨ m]), e assim, como ψ é injetiva, camos
com z = (z ∧ a) ∨ m = ϕ(ψ(z)). 

76
Observação 3.3.7 Se R é modular, o lema acima estabelece que

[m, a ∨ m] ' [a ∧ m, a]

para quaisquer a, m ∈ R.

Teorema 3.3.8 Seja G um grupo modular. Então o conjunto T (G) de todos


os elementos de ordem nita de G é um subgrupo de G.

Demonstração. Tomando a, b ∈ T (G), pela Observação 3.3.7 obtemos

[habi ∧ hai, habi] ' [hai, habi ∨ hai] e [hai, hai ∨ hbi] ' [hai ∧ hbi, hbi].
Como habi ∨ hai = ha, bi = hai ∨ hbi, devemos ter

[habi ∧ hai, habi] ' [hai ∧ hbi, hbi]

e portanto, [habi ∧ hai, habi] é um reticulado nito, uma vez que hbi é nito
e daí R(hbi) é nito. Assim, tem-se que o quociente

habi
habi ∧ hai
é nito (veja a Seção 3.1). Como habi ∧ hai é nito, segue que habi é nito
e daí ab tem ordem nita. Ademais, como o(g −1 ) = o(g), para todo g ∈ G,
temos que T (G) é fechado a inversos. Portanto T (G) é um subgrupo de G.


3.4 Grupos Abelianos e Duais


Por simplicidade, se G e G1 são grupos eδ : R(G) −→ R(G1 ) é uma duali-
dade, então também diremos que δ é uma dualidade entre G e G1 . Denota-
0
remos por G um dual do grupo G.

Teorema 3.4.1 Se um grupo G tem um dual, então G é um grupo de torção.

Demonstração. Considere δ uma dualidade entre G e G0 e suponha, por


absurdo, que existe algum elemento z ∈ G de ordem innita. Denindo
i
Z = hzi e Zi = hz 2 i, com i ∈ N, tem-se

Z > Z1 > Z2 > · · · > Zn > Zn+1 > · · ·

77
uma cadeia decrescente de subgrupos de G, onde
^ \
Zi = Zi = {e}.
i∈N i∈N

Desse modo,

δ(Z) < δ(Z1 ) < δ(Z2 ) < · · · < δ(Zn ) < δ(Zn+1 ) < · · ·
0
S
é uma cadeia ascendente de subgrupos de G , e assim i∈N δ(Zi ) é subgrupo
0
de G . Logo,
^ _ [
G0 = δ({e}) = δ( Zi ) = δ(Zi ) = δ(Zi ). (3.2)
i∈N i∈N i∈N

Considerando o subgrupo maximal W = hz 3 i de Z , temos que δ(Z) é


maximal em δ(W ). Daí, se w ∈ δ(W ) − δ(Z), então hδ(Z), wi ≤ δ(W ) e
hδ(Z), wi contém propriamente δ(Z). Portanto, δ(W ) = hδ(Z), wi. Além
0
disso, como w ∈ G , por (3.2) deve existir k ∈ N para o qual w ∈ δ(Zk ), e
assim

δ(W ) = hδ(Z), wi ≤ hδ(Z), δ(Zk )i = δ(Zk )


k
o que nos dá Zk ≤ W . Mas, z 2 6∈ hz 3 i = W . Portanto, temos uma contra-
dição. 

Corolário 3.4.2 O grupo cíclico innito não possui dual.

Dado um grupo abeliano nito A (com notação multiplicativa), vamos



denotar por A = Hom(A, C) o conjunto de todos os homomorsmos de A
∗ ∗
no grupo multiplicativo dos complexos C . Para σ, τ ∈ A , denamos

: A∗ × A∗ −→ A∗
(σ, τ ) 7−→ σ τ

onde (σ τ )(x) = σ(x)τ (x), para todo x ∈ A. Temos que A∗ , munido da



operação , é um grupo abeliano. Observe que o elemento neutro de A é a
aplicação constante σ(x) = 1.

Lema 3.4.3 Seja A um grupo abeliano nito. Então:

a) (A∗ , ) ' A.
b) Se e 6= x, então existe σ ∈ A∗ tal que σ(x) 6= 1.

78
Demonstração. a) Pela estrutura dos grupos abelianos nitos, temos

A = ha1 i · · · han i

com ai ∈ A, de modo que cada elemento g ∈ A tenha uma expressão única


k1 k
na forma g = a1 . . . ann , conforme a Observação 1.2.45. Sejam o(ai ) = ni

e εi ∈ C um elemento de ordem n1 (isto é, uma ni -ésima raiz primitiva
y1 y
complexa da unidade). Assim, para cada y = a1 . . . ann ∈ A denamos

χy : A −→ C∗
ax1 1 . . . axnn 7−→ χy (ax1 1 . . . axnn ) = ε1x1 y1 . . . εnxn yn .
Se
ax1 1 . . . axnn = ak11 . . . aknn
em A, então axi i = aki i e daí

x1 ≡ k1 (mod ni ) para todo i = 1, . . . n.

Logo, xi yi ≡ ki xi (mod ni ), donde

εxi i yi = εiki yi para todo i = 1, . . . n.

Portanto, χy está bem denida.


Escrevendo agora x = ax1 1 . . . axnn e t = at11 . . . atnn elementos de A, vem

χy (xt) = χy (ax1 1 +t1 . . . anxn +tn )


(x +t )y
= ε1 1 1 1 . . . ε(x n
n +tn )yn

= (εx1 1 y1 . . . εnxn yn )(εt11 y1 . . . εntn yn )


= χy (x)χy (t),

donde χy ∈ A∗ . Consequentemente, a aplicação

χ: A −→ A∗
y 7−→ χ(y) = χy
está bem denida e é um homomorsmo de grupos, ou seja, χy1 y2 = χy1 χy2 .

Tome σ ∈ A . Então

σ(ai )ni = σ(ani i ) = σ(e) = 1, ∀i = 1, . . . , n

79
ou seja, σ(ai ) é uma ni -ésima raiz da unidade em C. Logo, deve existir yi ∈ Z
yi y1 y
satisfazendo σ(ai ) = εi . Desse modo, sendo y = a1 . . . ann ,

σ(ax1 1 . . . axnn ) = εx1 1 y1 . . . εnxn yn = χy (ax1 1 . . . axnn )

para todo ax1 1 . . . axnn . Desse modo, σ = χy e χ é sobrejetiva.


z1 z zi
Se z = a1 . . . ann ∈ Kerχ, então 1 = χz (ai ) = εi para cada i = 1, . . . n.
Como i é ni -ésima raiz primitiva da unidade, segue que ni divide zi , o que
zi
nos dá ai = e para cada i = 1, . . . , n. Logo, z = e e daí χ é injetiva. Por-

tanto, (A , ) ' A, como queríamos.

b) Sex = ax1 1 . . . axnn 6= e, então existe i ∈ {1, . . . , n} para o qual axi i 6= e.


xi
Assim, ni - xi e εi 6= 1. Diante disto, basta observar que para a = ai , χa
xi
satisfaz χa (x) = εi 6= 1. 

Teorema 3.4.4 Todo grupo abeliano nito é auto-dual.

Demonstração. Seja A um grupo abeliano nito. Nosso objetivo é construir


uma dualidade entre A e A∗ .

Primeiramente, para X ≤ A e S ≤ A vamos denir

⊥(X) = {σ ∈ A∗ ; σ(x) = 1, ∀x ∈ X}

e
>(S) = {a ∈ A; σ(a) = 1, ∀σ ∈ S}.
É fácil ver que ⊥(X) ≤ A∗ e >(S) ≤ A, e daí segue a boa denição das
aplicações

⊥ : R(A) −→ R(A∗ ) e > : R(A∗ ) −→ R(A)


X 7−→ ⊥(X) S 7−→ >(S)
Dado X ≤ A, note que se x ∈ X e σ ∈ ⊥(X), então σ(x) = 1. Assim,
x ∈ >(⊥(X)), o que nos dá X ≤ >(⊥(X)). Tomando agora z ∈ A − X
arbitrário, temos que z 6= e no grupo quociente A/X . Pelo lema anterior,

existe, portanto, τ ∈ (A/X) tal que τ (z) 6= 1. Então, se α : A −→ A/X é a
projeção canônica, a aplicação composta

σ = τ ◦ α : A −→ C∗

pertence a A∗ e satisfaz σ(x) = τ (α(x)) = τ (e) = 1 para todo x ∈ X , e


σ(z) = τ (z) 6= 1. Portanto, σ ∈ ⊥(X) e z 6∈ >(⊥(X)). Isto mostra que

80
>(⊥(X)) = X .

Armação. ⊥ é uma bijeção antítona.


Sejam X1 , X2 ∈ R(A) de sorte que ⊥(X1 ) = ⊥(X2 ). Então

X1 = >(⊥(X1 )) = >(⊥(X2 )) = X2 .

Logo, ⊥ é injetiva. Como A e A∗ são isomorfos, devemos ter |R(A)| =


|R(A )|, donde concluímos que ⊥ é sobrejetiva (observe que R(A) e R(A∗ )

são nitos), e portanto ⊥ é uma bijeção, sendo > a sua inversa.



Consideremos agora S1 ≤ S2 ≤ A . Temos que se a ∈ >(S2 ), então
σ(a) = 1, para todo σ ∈ S2 . Em particular σ(a) = 1, para todo σ ∈ S1 .
Portanto, >(S2 ) ≤ >(S1 ). Ademais, observando que se X ≤ Y ≤ A e
σ ∈ ⊥(Y ), então σ(x) = 1, para todo x ∈ Y . Particularmente, σ(x) = 1, para
todo x ∈ X , donde concluímos que ⊥(Y ) ≤ ⊥(X) e assim, ca estabelecida
a equivalência
X ≤ Y ⇐⇒ ⊥(Y ) ≤ ⊥(X),
e a armação está bem posta.

De posse dessas informações, é possível enunciar o seguinte resultado:


sejamψ um isomorsmo entre A∗ e A e
ρ: R(A∗ ) −→ R(A)
M 7−→ ρ(M ) = ψ(M ).
Temos que ρ é um isomorsmo de reticulados. Portanto, a composição

δ = ρ ◦ ⊥ : R(A) −→ R(A)

é uma dualidade. 

3.5 Alguns Teoremas de Classicação


3.5.1 Reticulados de Subgrupos e o Grupo de Klein
Teorema 3.5.1 Seja G um grupo. Então R(G) é isomorfo ao Reticulado de
Klein se, e somente se, G é isomorfo ao Grupo de Klein.

81
Demonstração. Suponha R(G) isomorfo ao reticulado de Klein. Cientes de
que R(G) possui três átomos, os quais correspondem a subgrupos de ordem
prima, devemos ter |G| divisível por no máximo três primos distintos.

Caso 1. Suponha que |G| seja divisível por três primos distintos, digamos
p1 , p2 e p3 . Pelo Teorema de Cauchy existem H1 , H2 , H3 ≤ G tais que

|Hi | = pi .
Sendo estes únicos com suas respectivas ordens são portanto normais
em G. Ademais, como
Hi ∩ Hj = {e}
temos que H = H1 H2 ≤ G de sorte que |H| = p1 p2 e contém propria-
mente H1 e H2 . Assim, devemos ter H = G, o que é um absurdo pois
p3 - p1 p2 .
Caso 2. Suponha |G| p1 e p2 .
divisível por dois primos distintos, digamos
Então podemos supor, sem perda de generalidade, H1 , H2 , H3 ≤ G tais
que
|H1 | = |H2 | = p1 e |H3 | = p2 .
Sendo H3 G. Daí,
único com sua ordem, este deve ser normal em
procedendo ipsis litteris ao Caso 1, temos que H = H1 H3 ≤ G de
ordem p1 p2 e contém propriamente H1 e H3 . Logo, H = G e |G| = p1 p2 ,

o que nos leva a um absurdo. De fato, sendo np1 = 2, pelo 3 Teorema
de Sylow, vem
2≡1 (mod p1 )
donde p1 = 1.
Dessa forma, temos que G é um p-grupo, para algum p
primo. Ademais,
2
como a maior cadeia em G tem comprimento 2, concluímos que |G| = p .
Como R(G) não é uma cadeia, temos que R(G) não é cíclico e daí todo
x ∈ G − {e} tem ordem p. Assim, consideremos H1 , . . . , Hn os subgrupos
distintos de G de ordem p (os átomos de R(G)). Neste caso

(Hi − {e}) ∩ (Hj − {e}) = ∅


para i 6= j , e portanto,

n
[
G − {e} = (Hi − {e}).
i=1

82
Logo p2 −1 = n(p−1), ou seja, n = p+1. Mas como R(G) possui três átomos,
tem-se n = 3 e assim p = 2. Consequentemente, G é um grupo abeliano de
ordem 4 com três subgrupos intermediários de ordem 2, caracterizando-se
portanto, como o Grupo de Klein.
A recíproca é imediata (ver Exemplo 2.1.9). 

3.5.2 Reticulados de Subgrupos e Cadeias


Sejap primo. Vimos no Corolário 3.2.2 que R(Cpn ) é uma cadeia para todo
n ∈ N. Também estabelecemos no Exemplo 1.2.33 que R(Cp∞ ) é uma cadeia
innita. Com base nestas considerações, podemos nos indagar sobre o com-
portamento dos grupos cujo reticulado de subgrupos são cadeias. É possível
estabelecer um critério ou classicação para estes grupos?
Vislumbrando responder esta problemática, suponha inicialmente G um
grupo tal que R(G)
é uma cadeia nita (digamos de comprimento n). Como
n
R(G) possui um único átomo e G é nito, então |G| = p , para algum p
primo. Ademais, sendo R(G) distributivo, temos que G é localmente cíclico,
n
donde concluímos que G é um grupo cíclico de ordem p .
Seja R(G) uma cadeia innita e adotemos para G a notação aditiva.

Armação 1. G é localmente cíclico (em decorrência do Teorema de Ore).


Armação 2. G é um grupo de torção e todos os elementos têm ordem
potência de um único primo p.

0
Suponha, por absurdo, g ∈ G de ordem innita. Então R(hgi) ' D∞
(Lema 3.2.3). Neste caso, R(G) possui um subreticulado que não é uma
cadeia, o que é um absurdo.
Assim, sejam g1 , g2 ∈ G e suponha, por absurdo, p e q primos distintos
divisores de o(g1 ) e o(g2 ), respectivamente. Então

p divide |hg1 i| e q divide |hg2 i|.

Logo, pelo Teorema de Cauchy (Teorema 1.2.40), existem subgrupos de or-


dens p e q em G, e portanto átomos distintos em R(G), o que é um absurdo.

Armação 3. Para cada n∈N existe g∈G tal que o(g) = pn .

83
Seja g ∈ G. Sendo o(g) = pn , tomemos Hn = hgi ≤ G. Observe que
|Hn | = o(g) = pn . Assim, se K ≤ G, com |K| = pn e K 6= Hn , então
K ( Hn e Hn ( K , o que é um absurdo pois R(G) é uma cadeia. Portanto,
Hn é o único subgrupo de G de ordem np. Além disso, se k ∈ {0, 1, . . . , n},
n−k
então o((p )g) = pk e daí Hk = hpn−k gi é o único subgrupo de G de ordem
pk . Dessa forma, construímos uma cadeia
{e} = H0 ( H1 ( H2 ( · · · ( Hn−1 ( Hn .
Supondo {o(g)/g ∈ G} limitado, tomemos g0 ∈ G de ordem máxima, diga-
n m
mos o(g0 ) = p 0 , e Hn0 = hg0 i. Se x ∈ G, então o(x) = p , com m ≤ n0 .
m
Neste caso, |hxi| = p donde hxi = Hm ( Hn0 . Logo, G ⊆ Hn0 , o que é um
absurdo pois G é innito.
Assim, {o(g)/g ∈ G} é ilimitado e existem

{e} = H0 ( H1 ( H2 ( · · · ( Hn−1 ( Hn ( · · · .
Sendo Hn = hαn i, αn+1 ∈ Hn+1 tal que Hn+1 = hαn+1 i e αn = pαn+1 .
existe
n+1
De fato, consideremos Hn+1 = hgi, com o(g) = p . Assim, existe k ∈ Z de
sorte que αn = kg . Logo, pelo Teorema 1.2.26, ítem (e), temos

pn+1
pn = o(αn ) = n+1
=⇒ mdc(k, pn+1 ) = p.
mdc(k, p )
Daí, k = ap, com mdc(a, p) = 1. Nestas condições,

αn = kg = p(ag),
e novamente pelo Teorema 1.2.26, ítem (e), podemos então tomar

αn+1 = ag.
Por indução, podemos construir uma sequência

e = α0 , α1 , α2 , . . . , αn , . . .
tais que αn = pαn+1 e Hn = hαn i. Ademais, se n, m ∈ N, então

αn = pm αn+m .
Consideremos agora o subgrupo do grupo aditivo dos racionais

A = {a/pn ; a ∈ Z, n ≥ 0}
e a aplicação

84
ϕ: A −→ G
a/pn 7−→ ϕ (a/pn ) = aαn .

Dados a/pn e b/pm em A (suponhamos n ≤ m) tais que

a/pn = b/pm ,

devemos ter b = apm−n . Escrevendo m = m0 + n, onde m 0 = m − n, segue-se

0
bαm = apm−n αm = apm αn+m0 = aαn ,

ou seja, ϕ (a/pn ) = ϕ (b/pm ). Portanto, ϕ está bem denida. Observe tam-


bém que

apm + bpn
 
n m
ϕ (a/p + b/p ) = ϕ
pm+n
= (ap + bpn )αn+m
m

= apm αn+m + bpn αn+m


= aαn + bαm
= ϕ (a/pn ) + ϕ (b/pm ) ,

e assim ϕ é um homomorsmo de grupos, com Kerϕ = Z. Ademais, se


x ∈ G, então x ∈ Hi para algum i ∈ N, ou seja, x = nαi , para algum n ∈ N.
i i
Veja que n/p ∈ A satisfaz ϕ(n/p ) = x. Portanto, ϕ é sobrejetiva.
Assim, pelo Teorema Fundamental dos Homomorsmos, temos

A
'G
Z
donde concluímos que G é um p-grupo de Prufer.
Temos então o seguinte resultado:

Teorema 3.5.2 Seja G um grupo tal que R(G) é uma cadeia. Então:

a) R(G) é nito se, e somente se, G é um grupo cíclico de ordem pn , para


algum p primo.
b) R(G) é innito se, e somente se, G é um p-grupo de Prufer, para algum
p primo.

85
3.5.3 Reticulados de Subgrupos e Álgebras de Boole
Mostramos no Exemplo 2.5.5 que Dn é uma álgebra de Boole se, e somente
se, n é livre de quadrado. Assim, com base no Lema 3.2.1, podemos assegurar
que os reticulados de subgrupos de grupos cíclicos nitos com ordem livre de
quadrado são álgebras de Boole. Mas, seriam estes os únicos grupos nitos
com tal propriedade? A resposta é armativa.

Teorema 3.5.3 Seja G um grupo nito. Então R(G) é uma álgebra de Boole
se, e somente se, G é um grupo cíclico com ordem livre de quadrado.

Demonstração. Suponha R(G) uma álgebra de Boole. Então R(G) é distri-


butivo e portanto, pelo Teorema de Ore, G é localmente cíclico. Sendo nito,
G deve ser cíclico. Logo, apoiando-se novamente no Lema 3.2.1, devemos ter
R(G) ' Dn , com n = |G|, donde G é um grupo cíclico cuja ordem é livre de
quadrado.
A recíproca é imediata do comentário anterior. 

3.5.4 Reticulados que Não São Reticulados de Subgru-


pos
Para encerrar este trabalho, vamos dar alguns exemplos de reticulados que
não representam reticulados de subgrupos de nenhum grupo.

Teorema 3.5.4 Não existe nenhum grupo cujo reticulado de subgrupos seja
o Pentágono.

Demonstração. Suponha, por absurdo, que exista um grupo G nestas condi-


ções e considere o seguinte diagrama:

86
Como o Pentágono possui dois átomos, no caso os subgrupos H e N,
então |G| deve ser divisível no máximo por dois primos, digamos p e q , onde
|H| = p e |N | = q .

Caso 1. Se p 6= q , então H e N são únicos com suas respectivas ordens.


Assim, L = HN ≤ G, com |L| = pq e L contém propriamente H e N .
Logo, L = G e |G| = pq , o que contesta a existência de K .

Caso 2. Se p = q , então G é um p-grupo. Ademais, como a maior cadeia em


R(G) tem comprimento 3, então |G| = p3 . Mas observe que N não está
2 ◦
contido em algum subgrupo de ordem p , o que contraria o 1 Teorema
de Sylow.

Em ambos os casos, temos um absurdo. 

Teorema 3.5.5 O dual de R(Q8 ) não é reticulado de subgrupos de nenhum


grupo.

Demonstração. Suponha, por absurdo, que exista um grupo G tal que R(G)
seja o dual de R(Q8 ) e considere o seguinte diagrama:

Por 3.5.1, N é isomorfo ao Grupo de Klein. Daí, |H1 | = |H2 | = |H3 | = 2, e


portanto G deve ser um 2-grupo. Além disso, como a maior cadeira em G
3
tem comprimento 3, concluímos que |G| = 2 = 8.
Destacando que R(G) não é isomorfo a R(Q8 ), então, pelo Teorema 3.4.4,
G não pode ser abeliano. Assim, resta-nos apenas duas opções (de acordo
com a classicação dos grupos de ordem 8 que pode ser encontrada em [2],
páginas 172 − 175):

• G é isomorfo ao Grupo dos Quatérnios, o que já vimos ser um absurdo


pois R(Q8 ) não é auto-dual.

87
• G é isomorfo ao grupo D4 , o que é um absurdo pois R(D4 ) possui cinco
átomos (ver Exemplo 3.3.5).

Em ambos os casos temos uma contradição. 

Teorema 3.5.6 Não existe um grupo de sorte que o seu reticulado de sub-
grupos tenha o seguinte diagrama de Hasse:

Demonstração. Suponha, por absurdo, que exista um grupo G cujo reticu-


lado de subgrupo tenha tal diagramação. Como este reticulado possui apenas
n
um átomo, devemos ter |G| = p , para algum p primo e n ∈ N. Mas, como
3 ◦
a maior cadeia em R(G) tem comprimento 3, camos com |G| = p (1 Teo-
rema de Sylow). Observe agora que R(G) não possui subreticulado isomorfo
ao Reticulado de Klein e nem ao Pentágono. Assim, R(G) é distributivo
donde concluímos que G é localmente cíclico (Teorema de Ore). Sendo -
3
nito, concluímos que G deve ser um grupo cíclico de ordem p , para algum p
primo. Mas, neste caso, R(G) deveria ser uma cadeia, o que nos leva a um
absurdo. 

88
Bibliograa
[1] FRALEIGH, J. B. A rst Course in Abstract Algebra. 6◦ edição. EUA:
Addison Wesley, 1999.

[2] GARCIA, A. LEQUAIN, Y. Elementos de Álgebra. 4◦ edição. Rio de


Janeiro: IMPA, 2006.

[3] GRATZER, George. Lattice Theory - First Concepts and Distributive


Lattices. San Francisco: W. H. Freeman and Company, 1971.

[4]MORGADO, José. Introdução à Teoria dos Reticulados - Vol. I. Textos



de Matemática n 10. Recife: Instituto de Física e Matemática - Universi-
dade do Recife, 1962.

[5] NATION, J. B. Notices on Lattice Theory. University of Hawii. Dis-


ponível em: http://www.math.hawaii.edu/ jb/lat1-6.pdf. Acesso em: 7 de
maio de 2013.

[6] ROMAN, Steven. Lattices and Ordered Sets. New York: Springer Sci-
ence, 2008.

[7] SCHMIDT, Roland. Subgroups Lattices of Groups. New York: Walter


de Gruyter, 1994.

89

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