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Capítulo 1

Coordenadas e distância na reta e


no plano

1. Introdução

A Geometria Analítica nos permite representar pontos da reta por


números reais, pontos do plano por pares ordenados de números reais e pontos
do espaço por ternos ordenados de números reais.
Desse modo, curvas no plano e superfícies no espaço podem ser descritas
por meio de equações, o que torna possível tratar algebricamente muitos
problemas geométricos e, reciprocamente, interpretar de forma geométrica
diversas questões algébricas.
Ao longo destas notas admitiremos que o leitor conheça os principais
axiomas e resultados da Geometria Euclidiana Plana e Espacial, relativos aos
seus elementos básicos: pontos, retas e planos. Por exemplo: por dois pontos
distintos passa uma, e somente uma reta; por três pontos do espaço não
situados na mesma reta passa um, e somente um plano; fixada uma unidade
de comprimento, a cada par de pontos A e B corresponde um número real,
denominado distância entre os pontos A e B ou comprimento do segmento
AB, e designado por d(A, B) ou |AB|, respectivamente, que satisfazem às
seguintes propriedades:

1
2 2.. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA

Sejam A, B e C pontos arbitrários. Então:


Teorema 1
a. para todo λ > 0 e para toda semirreta de origem A, existe
um único D nesta semirreta tal que d(A, D) = λ.
b. d(A, B) ≥ 0.
c. d(A, B) = 0 ⇐⇒ A = B.
d. d(A, B) = d(B, A).
e. d(A, B) ≤ d(A, C) + d(C, B)(desigualdade triangular).
f. d(A, B) = d(A, C) + d(C, B) ⇐⇒ A, B e C são colineares
e C está entre A e B.

Figura 1: O ponto C está entre A e B, logo d(A, B) = d(A, C) + d(C, B).

2. Coordenadas e distância na reta

Seja r uma reta.


Dizemos que r é uma reta orientada quando sobre ela se escolheu um
sentido de percurso chamado positivo. O sentido oposto sobre a reta r é
denominado negativo.

Figura 2: Escolha de um sentido de percurso na reta r.

Sejam A e B pontos na reta r. Dizemos que o ponto B está à direita


do ponto A (ou que A está à esquerda de B) quando o sentido de percurso
de A para B coincide com o sentido positivo escolhido na reta r.

Figura 3: B está à direita de A na reta orientada r.

Um eixo E é uma reta orientada na qual é fixado um ponto O, chamado


origem.

Figura 4: Origem O escolhida no eixo E.

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 3

Todo eixo E pode ser posto em correspondência com o conjunto dos


números reais R da seguinte maneira:
E −→ R

• à origem O do eixo faz-se corresponder o número zero.


• a cada ponto X de E à direita de O corresponde o número real positivo
x = d(O, X).
• a cada ponto X de E à esquerda de O corresponde o número real negativo
x = −d(O, X).

Pode-se provar, usando o teorema 1, item a, que esta correspondência


entre E e R é biunívoca.

Definição 1
O número real x correspondente ao ponto X é chamado coordenada do
ponto X.

Figura 5: Coordenada de um ponto X do eixo E em relação à origem O.

Proposição 1
Sejam X e Y dois pontos sobre o eixo E com coordenadas x e y respectiva-
mente. Então,
d(X, Y ) = |y − x| = |x − y|.

Prova.
Se X = Y , não há o que provar.
Suponhamos então que X 6= Y . Para fixar as idéias, vamos assumir que X
está à esquerda de Y , isto é, x < y. Temos três casos a considerar:
Caso 1. X e Y estão à direita da origem. Isto é, 0 < x < y.

Figura 6: Caso 1: 0 < x < y.

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4 2.. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA

Como X está entre O e Y , d(O, X) = x e d(O, Y ) = y, temos por


d(O, Y ) = d(O, X) + d(X, Y ),
que
y = x + d(X, Y ).
Portanto,
d(X, Y ) = y − x = |y − x|.
Caso 2. X e Y estão à esquerda da origem. Isto é, x < y < 0.

Figura 7: Caso 2: x < y < 0.

Neste caso, Y está entre X e O, d(O, X) = −x e d(O, Y ) = −y. Logo,

d(O, X) = d(X, Y ) + d(Y, O) ⇔ −x = d(X, Y ) − y,


ou seja,
d(X, Y ) = y − x = |y − x|.
Caso 3. X e Y estão em lados opostos em relação à origem. Isto é,
x < 0 < y.

Figura 8: Caso 3: x < 0 < y.

Como O está entre X e Y , d(X, Y ) = d(X, O) + d(O, Y ). Além disso,


d(X, O) = −x e d(O, Y ) = y. Logo,
d(X, Y ) = −x + y = y − x = |y − x|.
Verificando assim o desejado. 

Observação 1
• Se X estiver à direita de Y a demonstração é feita de maneira similar.

• Sejam X e Y pontos de coordenadas x e y, e M o ponto médio do


x+y
segmento XY de coordenada m. Então, m = .
2

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 5

Figura 9: Sendo M o ponto médio do segmento XY , temos d(M, X) = d(M, Y ).

De fato, suponhamos que X está à esquerda de Y . Como o ponto médio M


está entre X e Y , temos x < m < y. Logo,

d(M, X) = d(M, Y ) ⇐⇒ |x − m| = |y − m|

⇐⇒ m − x = y − m

⇐⇒ 2m = x + y
x+y
⇐⇒ m = .
2

3. Coordenadas no Plano

• Designamos por R2 o con-


junto formado pelos pares or-
denados (x, y), onde x e y são
números reais. O número x
chama-se primeira coorde-
nada e o número y chama-
se segunda coordenada do
par ordenado (x, y).
• Um sistema de eixos or-
togonais OXY num plano π
é um par de eixos OX e OY , Figura 10: Sistema de eixos ortogonais OXY no plano π.
tomados em π, que são per-
pendiculares e têm a mesma origem O.
O eixo−OX é chamado eixo horizontal e o eixo−OY , eixo vertical.
• Um plano π munido de um sistema de eixos ortogonais põe-se, de maneira
natural, em correspondência biunívoca com o conjunto R2 :

π ←→ R2

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6 3.. COORDENADAS NO PLANO

De fato, dado um ponto P ∈ π, tomamos as retas r e s tais que:

◦ r keixo−OY e P ∈ r,
◦ s keixo−OX e P ∈ s.

Se o ponto X de interse-
ção da reta r com o eixo−OX
tem coordenada x no eixo−OX
e se o ponto Y de interseção da
reta s com o eixo−OY tem coor-
denada y no eixo−OY , associa-
se ao ponto P o par ordenado
(x, y) ∈ R2 . Figura 11: Determinando as coordenadas do ponto P ∈ π

Reciprocamente:
Dado o par ordenado (x, y) ∈ R2
temos que, se:

◦ X é o ponto do eixo−OX de coordenada x;


◦ Y é o ponto do eixo−OY de coordenada y;
◦ r é a reta paralela ao eixo−OY que passa por X;
◦ s é a reta paralela ao eixo−OX que passa por Y , então {P } = r ∩ s.

• Os números x e y chamam-se coordenadas cartesianas do ponto P


relativamente ao sistema de eixos ortogonais fixado.
A coordenada x é a abscissa de P e y é a ordenada de P .

Observação 2
No eixo−OX, os pontos têm coordenadas (x, 0).

No eixo−OY , os pontos têm coordenadas (0, y).

Observação 3
Os eixos ortogonais decompõem o plano em quatro regiões chamadas qua-
drantes:

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 7

1o Quadrante = {(x, y) | x > 0 e y > 0}


2o Quadrante = {(x, y) | x < 0 e y > 0}
3o Quadrante = {(x, y) | x < 0 e y < 0}
4o Quadrante = {(x, y) | x > 0 e y < 0}

Cada ponto do plano pertence a um


dos eixos ortogonais ou a um dos qua-
drantes.

Figura 12: Quadrantes e eixos ortogonais no plano.

4. Distância entre dois pontos no plano

Seja π um plano munido


de um sistema de eixos ortogo-
nais OXY e sejam P1 = (x1 , y1 )
e P2 = (x2 , y2 ) dois pontos do
plano π.
Seja Q = (x1 , y2 ). Como,
d(P1 , Q) = |y2 − y1 | ,
d(P2 , Q) = |x2 − x1 | ,
temos, pelo teorema de Pitágo-
Figura 13: Distância entre dois pontos no plano.
ras,

d(P1 , P2 )2 = d(P1 , Q)2 + d(P2 , Q)2

⇐⇒ d(P1 , P2 )2 = |x2 − x1 |2 + |y2 − y1 |2


p
⇐⇒ d(P1 , P2 ) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2

Exemplo 1
Calcule a distância do ponto A = (−1, 2) ao ponto B = (2, −3).

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8 4.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO

Solução.
Temos:
p √ √
d(A, B) = (2 − (−1))2 + (−3 − 2)2 = 9 + 25 = 34.


Exemplo 2
Determine para quais valores de m ∈ R os pontos P = (m, 1) e Q = (2m, −m)
têm distância igual a 1.

Solução.
Temos:
p √
d(P, Q) = (2m − m)2 + (−m − 1)2 = 2m2 + 2m + 1 = 1
⇐⇒ 2m2 + 2m + 1 = 1
⇐⇒ m(m + 1) = 0
⇐⇒ m = 0 ou m = −1.


Exemplo 3
Determine os pontos P pertencentes ao eixo-OX tais que d(P, A) = 5, onde
A = (1, 3).

Solução.
O ponto P é da forma (x, 0) para algum x ∈ R. Logo,
p
d(A, P ) = (x − 1)2 + (0 − 3)2 = 5
⇐⇒ (x − 1)2 + 9 = 25 ⇐⇒ (x − 1)2 = 16
⇐⇒ x − 1 = ±4 ⇐⇒ x = 5 ou x = −3
⇐⇒ P = (5, 0) ou P = (−3, 0).


Definição 2
Dados um ponto A num plano π e o número r > 0, o círculo C de centro
A e raio r > 0 é o conjunto dos pontos do plano π situados à distância r do
ponto A, ou seja:

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 9

C = {P ∈ π | d(P, A) = r}.
Seja OXY um sistema de eixos ortogonais no plano π e sejam a e b as
coordenadas do centro A neste sistema de eixos. Então,

P = (x, y) ∈ C ⇐⇒ d(P, A) = r ⇐⇒ d(P, A)2 = r2 ⇐⇒

(x − a)2 + (y − b)2 = r2

Assim, associamos ao cír-


culo C uma equação que re-
laciona a abscissa com a or-
denada de cada um de seus
pontos. Uma vez obtida
a equação, as propriedades
geométricas do círculo po-
dem ser deduzidas por mé-
todos algébricos.

Figura 14: Círculo de centro A = (a, b) e raio r > 0.

Exemplo 4
Determine o centro e o raio do círculo dado pela equação:

(a) C : x2 + y 2 − 4x + 6y = 0.

(b) C : x2 + y 2 + 3x − 5y + 1 = 0.

Solução.
(a) Completando os quadrados, obtemos:

x2 − 4x + y 2 + 6y = 0

(x2 − 4x+4) + (y 2 + 6y+9) = 0+4+9

(x − 2)2 + (y + 3)2 = 13.



Portanto, o círculo C tem centro no ponto A = (2, −3) e raio r = 13.

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10 4.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO

(b) Completando os quadrados, obtemos:

x2 + 3x + y 2 − 5y = −1
9 25 9 25
   
x2 + 3x+ + y 2 − 5y+ = −1+ +
4 4 4 4
3 2 5 2 30
   
x+ + y− = .
2 2 4
 3 5 √
30
Assim, C é o círculo de centro no ponto A = − , e raio . 
2 2 2

Exemplo 5
Seja OXY um sistema de eixos ortogonais e considere os pontos P1 = (x1 , y1 )
x + x y + y 
1 2
e P2 = (x2 , y2 ). Então, M = , 1 2
é o ponto médio do
2 2
segmento P1 P2 .

Solução.
De fato, considerando os pontos
Q1 = (xM , y1 ) e Q2 = (xM , y2 ), te-
mos que os triângulos 4P1 M Q1 e
4P2 M Q2 são congruentes (AAL),
onde M = (xM , yM ).
Logo,
• d(P1 , Q1 ) = d(P2 , Q2 )
=⇒ |xM − x1 | = |x2 − xM |
=⇒ xM é o ponto médio entre
x1 e x2 Figura 15: M é o ponto médio do segmento P1 P2 .
x + x2
=⇒ xM = 1 .
2
• d(Q1 , M ) = d(Q2 , M ) =⇒ |yM − y1 | = |y2 − yM |
=⇒ yM é o ponto médio entre y1 e y2
y1 + y2
=⇒ yM = .
2
Assim, as coordenadas do ponto médio M do segmento P1 P2 são os
valores médios das respectivas coordenadas dos pontos P1 e P2 . 

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 11

Exemplo 6
Dados dois pontos A e B do plano π, seja R o conjunto dos pontos equidis-
tantes de A e B, ou seja:
R = {P ∈ π | d(P, A) = d(P, B)}.

Mostre algebricamente que R é a mediatriz do segmento AB, isto é, R


é a reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto médio M de
AB.

Solução.
Para isso, escolhemos um sistema de eixos ortogonais OXY de modo que
o eixo−OX seja a reta que passa pelos pontos A e B, com origem no ponto
médio M do segmento AB e orientada de modo que A esteja à esquerda de
B (figura 17).
Neste sistema de eixos, A e B têm coordenadas (−x0 , 0) e (x0 , 0), respecti-
vamente, para algum número real x0 > 0. Então,
P = (x, y) ∈ R ⇐⇒ d(P, A) = d(P, B) ⇐⇒ d(P, A)2 = d(P, B)2
⇐⇒ (x − (−x0 ))2 + (y − 0)2 = (x − x0 )2 + (y − 0)2
⇐⇒ (x + x0 ))2 + y 2 = (x − x0 )2 + y 2
⇐⇒ x2 + 2xx0 + x20 + y 2 = x2 − 2xx0 + x20 + y 2
⇐⇒ 2xx0 = −2xx0 ⇐⇒ 4xx0 = 0 ⇐⇒ x = 0 ⇐⇒ P ∈ eixo − OY .

Figura 16: Mediatriz e ponto médio de AB. Figura 17: Escolha do sistema de eixos ortogonais
OXY .

Portanto, R = {(x, y) ∈ R2 | x = 0} = eixo − OY , que é geometricamente

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12 4.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO

a reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto médio M deste


segmento, como queríamos provar. 

Exemplo 7
Dado o ponto P = (x, y), considere os pontos P 0 = (−y, x) e P 00 = (y, −x).
Mostre que os pontos P 0 e P 00 são obtidos a partir do ponto P por uma
rotação de 90o do segmento OP em torno da origem.
Convencionamos dizer que a rotação de 90o que leva o ponto P = (x, y)
ao ponto P 0 = (−y, x) tem sentido positivo, e que a rotação de 90o que
leva o ponto P ao ponto P 00 tem sentido negativo.

Solução.

Figura 18: Posição dos pontos P e P 0 no plano.

Como
(
d(P, O)2 = (x − 0)2 + (y − 0)2 = x2 + y 2
d(P 0 , O)2 = (−y − 0)2 + (x − 0)2 = y 2 + x2 ,
temos que o triângulo 4P OP 0 é isósceles.
Além disso,

d(P, P 0 )2 = (−y − x)2 + (y − x)2 = y 2 + 2xy + x2 + x2 − 2xy + y 2


=⇒ d(P, P 0 )2 = 2(x2 + y 2 ) =⇒ d(P, P 0 )2 = d(P, O)2 + d(P 0 , O)2 .
Logo, pela lei dos cossenos, o triângulo 4P OP 0 é retângulo em O.

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CAPÍTULO 1. COORDENADAS E DISTÂNCIA NA RETA E NO PLANO 13

Isso significa que o ponto P 0 é obtido a partir do ponto P por uma rotação
de 90o do segmento OP em torno da origem.

Figura 19: P rotacionado de 90o até coincidir com P 0 .

Consideremos agora o ponto P 00 = (y, −x). De maneira análoga, podemos


provar que P 00 é obtido a partir do ponto P por uma rotação de 90o do
segmento OP em torno da origem.

Figura 20: P rotacionado de 90o até coincidir com P 00 .

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14 4.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO

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Capítulo 2

Vetores no plano

1. Paralelogramos

Lembremos que um paralelogramo é um quadrilátero (figura geomé-


trica com quatro lados) cujos lados opostos são paralelos.
Usando congruência de triângulos, podemos verificar que as seguintes
afirmativas são equivalentes:

• O quadrilátero ABDC é um paralelogramo;


• Os lados opostos de ABDC são congruentes;
• Os ângulos opostos de ABDC são congruentes;
• Dois lados opostos de ABDC são congruentes e paralelos;
• As diagonais de ABDC se intersectam num ponto que é o
ponto médio de ambas.

Figura 1: Paralelogramo ABDC.

Por exemplo, vamos demonstrar a seguinte equivalência:

15
16 1.. PARALELOGRAMOS

Proposição 1
No quadrilátero ABDC os lados opostos AC e BD são congruentes e para-
lelos se, e somente se, as diagonais de ABDC se intersectam num ponto que
é o ponto médio de ambas.

Prova.
(a) Suponhamos que os lados
opostos AC e BD no quadri-
látero ABDC são congruen-
tes e paralelos, e seja M o ponto
de interseção das diagonais AD Figura 2: ABDC de lados opostos congruentes e paralelos.
e BC. Pela hipótese, temos:
• |AC| = |BD|, isto é, os comprimentos dos lados AC e BD são iguais;
• AC k BD.
Logo,
• ACB
[ = DBC,
\ por serem ângulos alternos internos;

• CAD
\ = BDA,
\ por serem ângulos alternos internos.
Pelo critério ALA (ângulo-lado-ângulo), concluímos que os triângulos
4AM C e 4DM B são congruentes.
Em particular, |AM | = |DM | e |BM | = |CM |. Portanto, M é o ponto
médio das diagonais AD e BC.

(b)Suponhamos agora que as


diagonais AD e BC do qua-
drilátero ABDC se intersec-
tam no ponto M que é o ponto
médio de ambas.
Devemos mostrar que os lados Figura 3: ABDC com |AM | = |DM | e |BM | = |M C|.
opostos AC e BD no parale-
logramo ABDC são paralelos e congruentes. Temos:
• |AM | = |DM |
• |BM | = |CM |

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 17

• AM
\ C = DM
\ B, pois são ângulos opostos pelo vértice.
Pelo critério LAL (lado-ângulo-lado), os triângulos 4AM C e 4DM B são
congruentes.
Em particular, |AC| = |DB| e ACB
[ = CBD,
\ ou seja, os lados AC e DB
são congruentes e paralelos. 

Você pode (e deve) demonstrar as outras equivalências da mesma forma.

2. Segmentos orientados

Seja AB um segmento orientado com origem A e extremidade B.


Isto é, no segmento AB estabelecemos um sentido de percurso (orientação)
de A para B.

Figura 4: Os segmentos AB e BA têm sentidos opostos.

Dizemos que o segmento orientado BA tem sentido de percurso (ou


orientação) oposto ou contrário ao do segmento AB. Classificamos os
segmentos orientados da seguinte maneira:

Definição 1
Dizemos que os segmentos AB e CD são equipolentes, e escrevemos AB ≡ CD,
quando satisfazem às três propriedades abaixo:

• AB e CD têm o mesmo comprimento: |AB| = |CD|.


• AB e CD são paralelos ou colineares.
• AB e CD tem o mesmo sentido.

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18 2.. SEGMENTOS ORIENTADOS

Esclarecimento da definição de equipolência


• Se AB e CD são segmentos colineares, então eles têm o mesmo sentido
quando induzem o mesmo sentido de percurso na reta que os contêm.

Figura 5: Segmentos colineares AB e CD que Figura 6: Segmentos colineares AB e CD que


têm o mesmo sentido. não têm o mesmo sentido.

• Se AB e CD são segmentos paralelos de igual comprimento, então AB e


CD têm o mesmo sentido quando ABDC é um paralelogramo.

Figura 7: AB ≡ CD, pois ABDC é um paralelo- Figura 8: AB 6≡ CD, pois ABDC não é um pa-
gramo. ralelogramo.

Proposição 2
AB ≡ CD ⇐⇒ ponto médio de AD = ponto médio de BC

Prova.
Com efeito, se AB k CD já sabemos que a equivalência é verdadeira, pois
ABDC é um paralelogramo.
Vejamos que isso também é verdadeiro quando AB e CD são segmentos
colineares.
Consideremos a reta r que contém A, B, C e D com uma orientação e uma
origem O escolhidas de modo que B esteja à direita de A (figura 9).
Sejam a, b, c e d as respectivas coordenadas dos pontos A, B, C e D na reta
r.
(a) Como AB e CD têm o mesmo sentido, a < b e c < d, e, como estes
segmentos têm o mesmo comprimento, b − a = d − c. Logo,

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 19

a+d b+c
b − a = d − c ⇐⇒ a + d = b + c ⇐⇒ =
2 2
⇐⇒ ponto médio de AD = ponto médio de BC.

(b) Reciprocamente, suponhamos que o ponto médio de AD é igual ao ponto


a+d b+c
médio de BC. Isto é, = . Então,
2 2
a + d = b + c =⇒ b − a = d − c .
Como b − a e d − c têm o mesmo sinal e o mesmo módulo, AB e CD têm
o mesmo sentido e o mesmo comprimento, além de serem colineares (por
hipótese). Assim, AB ≡ CD. 

Figura 9: AB ≡ CD com A, B, C e D colineares.

Proposição 3
Dados A, B e C pontos quaisquer no plano, existe um único ponto D no
plano tal que AB ≡ CD.

Prova.
Como os pontos A, B e C podem ou não ser colineares, temos dois casos
a considerar.
(a) A, B e C são colineares.
Neste caso, a circunferência de centro no ponto C e raio |AB| intersecta a
reta que contém os pontos A, B e C em exatamente dois pontos, mas apenas
um deles, que designamos D, é tal que AB e CD têm o mesmo sentido (veja
a figura 10).

(b) A, B e C não são colineares.


Seja r a reta que passa pelo ponto C e é paralela à reta que contém os pontos
A e B.

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20 3.. VETORES

O círculo de centro C e raio |AB| intersecta a reta r em exatamente dois


pontos, mas só um, que designamos D, é tal que ABDC é um paralelogramo.
Ou seja, AB ≡ CD (veja a figura 11).

Figura 10: AB ≡ CD com A, B e C colineares. Figura 11: AB ≡ CD com A, B e C não colineares.

3. Vetores
Definição 2
Quando os segmentos de reta orientados AB e CD são equipolentes, dizemos
−−→
que eles representam o mesmo vetor →−
v e escrevemos →

v = AB .
−−→
Isto é, o vetor →

v = AB é o conjunto que consiste de todos os segmen-
tos orientados equipolentes ao segmento AB. Tais segmentos são chamados
representantes do vetor → −
v .

Observação 1
−−→ −−→
(a) Da definição de vetor, temos AB ≡ CD ⇐⇒ →

v = AB = CD .

− −−→
(b) Por convenção, o vetor nulo é o vetor 0 = AA , qualquer que seja o
ponto A no plano.
(c) Dado um vetor →

v e um ponto qualquer C, existe um único ponto D
−−→
tal que →

v = CD . Isto é, qualquer ponto do plano é origem de um único

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 21

segmento orientado representante do vetor →



v .

Na prática, trabalhamos com vetores usando a sua expressão em relação


a um sistema de eixos ortogonais dado.
Consideremos um sistema de eixos ortogonais OXY no plano, e sejam
A = (a1 , a2 ) C = (c1 , c2 )
B = (b1 , b2 ) D = (d1 , d2 )

pontos do plano. A seguinte proposição caracteriza a equipolência em termos


de coordenadas.

Proposição 4
AB ≡ CD ⇐⇒ b1 − a1 = d1 − c1 e b2 − a2 = d2 − c2

Prova.
Pela proposição 2,
AB ≡ CD ⇐⇒ ponto médio de AD = ponto médio de BC
   
a1 + d1 a2 + d2 b1 + c1 b2 + c2
⇐⇒ , = ,
2 2 2 2
⇐⇒ (a1 + d1 , a2 + d2 ) = (b1 + c1 , b2 + c2 )
⇐⇒ a1 + d1 = b1 + c1 e a2 + d 2 = b 2 + c 2
⇐⇒ b1 − a1 = d1 − c1 e b 2 − a2 = d 2 − c 2 .
como queríamos demonstrar. 

Definição 3
Dados A = (a1 , a2 ) e B = (b1 , b2 ), os números b1 − a1 e b2 − a2 são as
−−→
coordenadas do vetor → −
v = AB e escrevemos → −
v = (b1 − a1 , b2 − a2 ).

Note que, se AB ≡ CD, então, pela proposição anterior,


−−→ −−→
AB = (b1 − a1 , b2 − a2 ) = (d1 − c1 , d2 − c2 ) = CD .

Exemplo 1
Sejam A = (1, 2), B = (3, 1) e C = (4, 0). Determine as coordenadas do

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22 3.. VETORES

−−→ −−→
vetor →

v = AB e as coordenadas do ponto D tal que →

v = CD .

Solução.
−−→
Temos →−
v = AB = (3 − 1, 1 − 2) = (2, −1) . Além disso, se D = (d1 , d2 ),
temos

− −−→ −−→
v = AB = CD ⇐⇒ AB ≡ CD
⇐⇒ (2, −1) = (d1 − 4, d2 − 0)
⇐⇒ 2 = d1 − 4 e − 1 = d2 − 0
⇐⇒ d1 = 2 + 4 = 6 e d2 = −1 + 0 = −1 .
Portanto, D = (6, −1). 

Corolário 1
Usando a proposição 4, é fácil verificar que:

(a) AB ≡ CD ⇐⇒ AC ≡ BD.

Figura 12: AB ≡ CD ⇐⇒ AC ≡ BD

(b) AB ≡ CD e CD ≡ EF =⇒ AB ≡ EF .

Figura 13: AB ≡ CD e CD ≡ EF =⇒ AB ≡ EF .

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 23

Em virtude do item (c) da observação 1, temos:

Proposição 5
−−→
Sejam OXY um sistema de eixos ortogonais e →

v = AB um vetor.
−−→ −−→
Então existe um único ponto P tal que OP = AB = → −
v . Além disso, as
coordenadas do ponto P coincidem com as coordenadas do vetor →

v .

Prova.
De fato, se A = (a1 , a2 ), B = (b1 , b2 ) e P = (p1 , p2 ), então →

v = (b1 −a1 , b2 −a2 )
e
AB ≡ OP ⇐⇒ (b1 − a1 , b2 − a2 ) = (p1 − 0, p2 − 0)
⇐⇒ P = (p1 , p2 ) = (b1 − a1 , b2 − a2 )
como queríamos verificar. 

Exemplo 2
−−→ −−→
Sejam A = (−1, 2) e B = (4, 1). Determine o ponto P tal que OP = AB .

Solução.
Pela proposição anterior,
P = (4 − (−1), 1 − 2) = (4 + 1, −1) = (5, −1).

Figura 14: Exemplo 2, onde AB ≡ OP .

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24 4.. OPERAÇÕES COM VETORES

4. Operações com vetores

Vamos definir a operação de adição de vetores que a cada par de vetores




u e v faz corresponder um novo vetor, chamado soma dos vetores →

− −
u e→ −
v .
−−→ − −−→
Sejam →

u = AB e → v = CD vetores dados e seja E um ponto no
−−→ − −−→
plano. Tomemos pontos P e Q tais que →

u = EP e →
v = PQ .
Definimos o vetor soma de →

u com →−
v como sendo o único vetor que
tem o segmento EQ como um representante (veja a figura 15 ). Isto é,

− −−→
u +→

v = EQ

Figura 15: Adição de vetores.

Quando se faz uma definição que depende, aparentemente, da escolha


de um representante devemos mostrar que a classe do novo objeto definido
independe do representante escolhido.

A adição de vetores é uma operação bem definida.


Com efeito, seja E 0 outro ponto do plano, e sejam P 0 e Q0 pontos tais
−−−→ − −−−→
que →

u = E 0P 0 e →
v = P 0 Q0 . Segundo a definição anterior, deveríamos ter
−−−→
também →

u +→ −
v = E 0 Q0 .

Verifiquemos, então, que os segmentos EQ e E 0 Q0 são equipolentes.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 25

Figura 16: O segmento EQ é equipolente ao segmento E 0 Q0 ?

Pelo corolário 1(a) (acompanhe a argumentação na figura 16), temos:



− −−→ −−−→
u = EP = E 0 P 0 =⇒ EP ≡ E 0 P 0 =⇒ EE 0 ≡ P P 0 ,

− −−→ −−−→
v = P Q = P 0 Q0 =⇒ P Q ≡ P 0 Q0 =⇒ P P 0 ≡ QQ0 .

Logo, pelo corolário 1(b), EE 0 ≡ QQ0 e novamente pelo corolário 1(a):


−−→ −−−→
EQ ≡ E 0 Q0 =⇒ EQ = E 0 Q0 .
Portanto, o vetor →

u +→

v está bem definido.

Observação 2
−−→ − −−→
Sejam →

u = AB e →
v = CD vetores no plano. Quando os segmentos AB
e CD não são colineares ou paralelos, podemos determinar também o vetor
−−→ −−→
soma AB + CD da seguinte maneira:

Figura 17: Adição de vetores como a diagonal de um paralelogramo.

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26 4.. OPERAÇÕES COM VETORES

Seja E um ponto do plano e sejam P e R tais que



− −−→ − −−→
u = EP e → v = ER .
−−→
Então o vetor soma →

u +→−
v é o vetor EQ , onde EQ é uma das diagonais do
paralelogramo que tem E, P e R como vértices.
−−→ − −−→ −−→
De fato, como →

u = EP ,→
v = ER = P Q , então

− −−→ −−→ −−→
u +→−
v = EP + P Q = EQ .

Adição de vetores em coordenadas


Se →

u = (α, β) e →
−v = (α0 , β 0 ) são dois vetores dados por suas coordenadas
com respeito a um sistema ortogonal OXY , então


u +→

v = (α + α0 , β + β 0 )

−−→ − −−→
De fato, pela proposição 5, →

u = OP e →
v = OQ , onde P = (α, β) e
Q = (α0 , β 0 ).
−−→
Seja Q0 = (a, b) o ponto tal que →

v = P Q0 . Então, pela proposição 4,

(α0 − 0, β 0 − 0) = (a − α, b − β)
=⇒ Q0 = (a, b) = (α + α0 , β + β 0 )
−−→ −−→ −−→ −−→
=⇒ →

u +→ −
v = OP + OQ = OP + P Q0
−−−→
= OQ0 = (α + α0 , β + β 0 ).

Figura 18: Adição de vetores em coordenadas.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 27

Multiplicação de um número real por um vetor

Definição 4
−−→ −−→
Sejam AB um vetor e λ ∈ R. O produto de λ por AB é o vetor

−−→ −−→
AB 0 = λ AB

representado pelo segmento orientado AB 0 , tal que:


• A, B, B 0 são colineares;
• d(A, B 0 ) = |λ|d(A, B);
• o sentido de AB 0 é igual ao sentido de AB se λ > 0, e oposto, se λ < 0;
• B 0 = A, se λ = 0.

Figura 19: Multiplicação de um vetor por um número real.

Seja OXY um sistema de eixos ortogonais. Vamos mostrar, usando a


definição geométrica dada acima, que:
B 0 = (a1 + λ (b1 − a1 ), a2 + λ (b2 − a2 )),

onde A = (a1 , a2 ), B = (b1 , b2 ) e λ 6= 0.

De fato:
p
• d(A, B 0 ) = λ2 (b1 − a1 )2 + λ2 (b2 − a2 )2
p
= |λ| (b1 − a1 )2 + (b2 − a2 )2
= |λ|d(A, B);

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28 4.. OPERAÇÕES COM VETORES

p
• d(B, B 0 ) = (λ(b1 − a1 ) + (a1 − b1 ))2 + (λ(b2 − a2 ) + (a2 − b2 ))2
p
= (λ − 1)2 (b1 − a1 )2 + (λ − 1)2 (b2 − a2 )2
p
= |λ − 1| (b1 − a1 )2 + (b2 − a2 )2
= |λ − 1|d(A, B).

Para verificar que A, B e B 0 são colineares, analisaremos os quatro casos


abaixo:

Caso 1. Se λ ∈ (0, 1), então:


d(A, B 0 ) + d(B 0 , B) = λd(A, B) + (1 − λ)d(A, B) = d(A, B).
Logo, pelo teorema 1, A, B e B 0 são colineares e B 0 está entre A e B.

Caso 2. Se λ = 1, B 0 = (b1 , b2 ) = B, o que coincide com a definição


geométrica de B 0 .

Caso 3. Se λ > 1, então:


d(A, B) + d(B, B 0 ) = d(A, B) + (λ − 1)d(A, B) = λd(A, B) = d(A, B 0 ).
Então, pelo teorema 1, A, B e B 0 são colineares e B está entre A e B 0 .

Caso 4. Se λ < 0, então:


d(B 0 , A) + d(A, B) = −λd(A, B) + d(A, B) = (1 − λ)d(A, B) = d(B 0 , B).
Assim, pelo teorema 1, A, B e B 0 são colineares e A está entre B 0 e B.

−−→ −−→
Resta provar que AB e AB 0
têm o mesmo sentido se λ > 0 e
sentidos opostos se λ < 0.

Suponhamos primeiro que


b1 − a1 > 0.
Neste caso, o sentido de per-
curso de A para B coincide, no eixo-
OX, com o sentido de crescimento
das abscissas dos pontos. Figura 20: Sentido de percurso de A para B.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 29

Portanto:
• Se λ > 0, então a1 + λ(b1 − a1 ) > a1 , ou seja, o sentido de A para B 0
coincide com o sentido de A para B.
• Se λ < 0, então a1 + λ(b1 − a1 ) < a1 , ou seja, o sentido de A para B 0 é
oposto ao sentido de A para B.
O caso de b1 − a1 < 0 pode ser analisado de maneira análoga.
Suponhamos agora que b1 − a1 = 0. Neste caso, b2 − a2 6= 0, pois A e
B são pontos distintos.
Se b2 − a2 > 0, o sentido de
percurso de A para B coincide, no
eixo-OY, com o sentido de cresci-
mento das ordenadas dos pontos.
De modo análogo ao caso
b1 − a1 > 0, podemos verificar que
o sentido de percurso de A para
B 0 coincide com o de A para B se
λ > 0, e é oposto ao de A para B,
se λ < 0. Figura 21: Sentido de percurso de A para B.

O caso b2 − a2 < 0 pode ser analisado da mesma maneira.

Provamos assim que:


−−→ −−→
AB 0 = λAB = (λ (b1 − a1 ), λ (b2 − a2 )).

Definição 5
A multiplicação do vetor →

v pelo número real λ é, por definição, o vetor
−−→ −−→
λ→

v = λAB , onde AB é um representante do vetor → −
v .

−−→ −−→
Pelo provado acima, λ→−
v está bem definido, pois se → −
v = CD = AB ,
então, num sistema de eixos ortogonais,


v = (d1 − c1 , d2 − c2 ) = (b1 − a1 , b2 − a2 ),

onde A = (a1 , a2 ), B = (b1 , b2 ), C = (c1 , c2 ) e D = (d1 , d2 ).

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30 4.. OPERAÇÕES COM VETORES

Portanto,
−−→
λCD = (λ(d1 − c1 ), λ(d2 − c2 )) = (λ(b1 − a1 ), λ(b2 − a2 ))
−−→ −−→
=⇒ λCD = λAB .
Além disso, fica provado também que:

se →

v = (α, β) então λ→

v = (λα, λβ).

−−→ − −−→
Então, se →

v = OP e λ→
v = OP 0 , temos que P = (α, β) e P 0 = (λα, λβ).

~ 0.
~ e λ~v = OP
Figura 22: Coordenadas dos vetores ~v = OP

Observação 3
Note que,

− −−→ −−→ → −
• λ 0 = λ AA = AA = 0 ;
−−→ −−→ → −
• 0AB = AA = 0 .


Não confunda: o número 0 (zero) com o vetor 0 .

Proposição 6
Um ponto P pertence a reta r que passa pelos pontos A e B se, e somente se,
−−→ −−→
AP = λAB , para algum λ ∈ R.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 31

Prova.

−−→
Pela definição de multiplicação do vetor AB pelo número real λ, o ponto P
−−→ −−→
tal que AP = λAB pertence a reta r.
d(A, P )
Reciprocamente, seja P um ponto pertencente a reta r e seja µ = .
d(A, B)
Se o sentido de percurso de A para P , ao longo de r, coincidir com o sentido
−−→ −−→
de A para B, então AP = λAB , onde λ = µ, pois pelo teorema 1, item (a),
o ponto P é o único ponto da semirreta de origem em A que passa por B tal
que d(A, P ) = µd(A, B).

Figura 23: Sentido de percurso de A para B.

Se o sentido de percurso, ao longo de r, de A para P for oposto ao sentido de


−−→ −−→
A para B, então AP = λAB , onde λ = −µ, pois, pelo teorema 1, item (a),
o ponto P é o único ponto da semirreta de origem em A oposta a semirreta
de origem em A que passa por B tal que d(A, P ) = µ(A, B). 

Exemplo 3
Dados os vetores →

u = (1, −1) e →

v = (3, 1), determine

− →
− 1→
− −
a = 2→

u +→

v , b =→

u + 2→

v ,→

c = b −→
a .
2

Solução.
Temos

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32 4.. OPERAÇÕES COM VETORES


− →

a = 2→

u +→ −
v b = →

u + 2→ −
v
= 2(1, −1) + (3, 1) = (1, −1) + 2(3, 1)
= (2(1), 2(−1)) + (3, 1) = (1, −1) + (2(3), 2(1))
= (2, −2) + (3, 1) = (1, −1) + (6, 2)
= (2 + 3, −2 + 1) = (1 + 6, −1 + 2)
= (5, −1) , = (7, 1) ,


− 1→
− →
c = b −−
a
2
1
= (7, 1) − (5, −1)
2
7 1
= , − (5, −1)
2 2
7 1

= − 5, − (−1)
2 2
 3 3
= − , .
2 2

Figura 24: Exemplo 3.

Exemplo 4
Dados os pontos do plano A = (1, 3) e B = (6, 1).

(a) Calcule o ponto médio C do segmento AB utilizando a multiplicação de


um vetor por um número real.
(b) Determine os pontos D e E que dividem o segmento AB em três partes
iguais.

Solução.
(a) Para isto basta notar que
−−→ 1 −−→
AC = AB .
2
Assim, se C = (x, y) temos:
 
1 5
(x − 1, y − 3) = (5, −2) = , −1 ,
2 2

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 33

então:

 x−1 = 5 7
2 =⇒ x = e y = 2.
 y − 3 = −1 2

Portanto,
 
7
C= ,2 .
2
(b) Note que:

−−→ 1 −−→ −−→ 2 −−→


AD = AB e AE = AB
3 3

Assim, se D = (x, y) e E = (z, w) temos:



1 5 2
(x − 1, y − 3) = (5, −2) = ,− ,
3 3 3
 
2 10 4
(z − 1, w − 3) = (5, −2) = ,− ,
3 3 3
então:

 x−1 = 5

8 7
3 =⇒ x = e y =
2 3 3
 y−3 = −

3
e

10
 z−1 =

3 =⇒ z = 13 e w = 5
4 3 3
 w−3 = −

3
   
8 7 13 5
Portanto, D = , eE= , . 
3 3 3 3

Observação 4
O método utilizado para resolver o exemplo acima pode ser generalizado da
seguinte maneira: dado um segmento AB, os pontos P1 , P2 , · · · , Pn−1 que
dividem o segmento AB em n partes iguais são dados por:

−−−→ k −−→
APk = AB , k = 1, · · · , n − 1.
n

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34 5.. PROPRIEDADES DAS OPERAÇÕES COM VETORES

5. Propriedades das operações com vetores

Propriedades da adição de vetores


Sejam →

u ,→

v e−
→ vetores no plano. Valem as seguintes propriedades.
w
• Comutatividade: →

u +→

v =→

v +→

u.
• Associatividade: →

u + (→

v +−
→) = (→
w −
u +→

v )+−
→.
w


• Existência de elemento neutro aditivo: o vetor zero 0 é tal


que →

u +0 =→ −
u.
• Existência de inversos aditivos: para cada vetor →

u existe um


único vetor, que designamos −→

u , tal que →

u + (−→

u )= 0 .

−−→ − −−→
• De fato, se →

u = AB e →
v = BC , então

− −−→ −−→ −−→
u +→−
v = AB + BC = AC .
−−→
Se D é o outro vértice do paralelogramo ABCD, então →

u = DC e

− −−→
v = AD .
Logo,

− −−→ −−→ −−→
v +→

u = AD + DC = AC .
Portanto,

− −−→ − →
u +→

v = AC = →
v +−
u.

Figura 25: Comutatividade da adição de vetores.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 35

• A associatividade da adição de vetores se verifica de maneira análoga.

Figura 26: Associatividade da adição de vetores.

Quanto às outras duas propriedades, observe que:


−−→ →
− −−→ −−→
• se →

u = AB , sendo 0 = AA = BB , temos:

− →
− −−→ −−→ −−→ −
u + 0 = AB + BB = AB = → u,

− → −−→ −−→ −−→ −
0 +− u = AA + AB = AB = → u.
−−→
• o simétrico ou inverso aditivo do vetor →

u = AB é o vetor
−−→
−→

u = BA , pois

− −−→ −−→ −−→ → −
u + (−→

u ) = AB + BA = AA = 0 ,
−−→ −−→ −−→ → −
−→

u +→

u = BA + AB = BB = 0 .

Observação 5
−−→ −−→
O vetor simétrico −→ −
u = BA do vetor → −
u = AB é o vetor (−1)→

u , pois
se →

u = (α, β) é o vetor →

u dado em coordenadas, então:
−−→ −−→
BA = (−α, −β) = (−1)(α, β) = (−1)AB .

Definição 6
O vetor →

u + (−→

v ), escrito →

u −→−
v ,é
chamado diferença entre → −
u e→−
v .

Figura 27: Diferença entre vetores.

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36 6.. COMBINAÇÃO LINEAR DE VETORES

−−→ − −−→
Sejam A, B, C pontos do plano tais que →

u = AB e →
v = AC . Então,

− −−→ −−→
u + (−→ −
v ) = AB + (−AC )
−−→ −−→
= AB + CA
−−→ −−→ −−→
= CA + AB = CB .

Propriedades da multiplicação de números reais por vetores


Sejam →

u e →

v vetores no plano e λ, µ ∈ R. Valem as seguintes
propriedades:
• Existência de elemento neutro multiplicativo: 1 ∈ R satisfaz
1→−
u =→−
u.
• Propriedades distributivas: λ(→

u + →

v ) = λ→

u + λ→

v e
(λ + µ)→

u = λ→

u + µ→

u.

As propriedades distributivas são verificadas usando coordenadas e a


propriedade distributiva que já conhecemos nos números reais.
De fato, se →

u = (a, b) e →

v = (a0 , b0 ), então, dados λ, µ ∈ R, temos:
λ(→−
u +→ −
v ) = λ [(a, b) + (a0 , b0 )] = λ(a + a0 , b + b0 )
= (λ(a + a0 ), λ(b + b0 )) = (λa + λa0 , λb + λb0 )
= (λa, λb) + (λa0 , λb0 ) = λ(a, b) + λ(a0 , b0 )
= λ→

u + λ→ −v .

A outra propriedade distributiva se verifica da mesma forma (faça-o!).

6. Combinação linear de vetores

Definição 7
(a) Dizemos que o vetor →

v é múltiplo do vetor →

u se existe λ ∈ R tal que


v = λ→−
u.
(b) Dizemos que um vetor → −
v é combinação linear dos vetores


v 1, →

v 2 , . . ., →

v n quando existem números reais λ1 , λ2 , . . ., λn , tais que

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 37



v = λ1 →

v 1 + λ2 →

v 2 + · · · + λn →

v n.

Em relação a esta definição, observe que:




• O vetor nulo 0 é múltiplo de qualquer vetor →

u.


De fato, 0 = 0→

u.
• Nenhum vetor não nulo pode ser múltiplo do vetor nulo.

− →
− →
− →

De fato, se →

u 6= 0 , não existe λ ∈ R tal que λ 0 = →

u , pois λ 0 = 0 ,
para todo λ ∈ R.


• Se →
− 6 0 é múltiplo de →
v = −
u , então →

u é também múltiplo de →

v .


Com efeito, seja λ ∈ R tal que →

v = λ→

u . Como →
− 6 0 , temos λ 6= 0
v =


e→

u 6= 0 .
1−
u = →
Logo →
− v .
λ
• Note que dizer que →−
v é combinação linear dos vetores → −
v 1, →
−v 2, . . . , →

v n

− →
− →
− →

significa que v é soma de múltiplos dos vetores v 1 , v 2 , . . . , v n .

A seguinte proposição fornece uma maneira para determinar quando


dois vetores são, ou não, múltiplo um do outro.

Proposição 7
Um dos vetores →

u = (a, b) e →

v = (a0 , b0 ) é múltiplo do outro se, e somente
se,
a b
= ab0 − ba0 = 0 .
a0 b 0

Prova.
(=⇒) Suponha que → −
v = λ→

u para algum λ ∈ R. Como →

u = (a, b) e


v = (a0 , b0 ), temos:
(a0 , b0 ) = λ(a, b) = (λa, λb) =⇒ a0 = λa
e
b0 = λb =⇒ ab0 − ba0 = aλb − bλa = 0.

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38 6.. COMBINAÇÃO LINEAR DE VETORES

(⇐=) Suponhamos agora que ab0 − ba0 = 0.

Caso a = 0: Se a = 0, então ba0 = 0, ou seja, b = 0 ou a0 = 0. Logo:




• b = 0 =⇒ → −u = (0, 0) = 0 =⇒ → −
u = 0→−


 v .

0 b0 −
 • a0 = 0 e b 6= 0 =⇒ (0, b0 ) = b (0, b) =⇒ →

v = →

u.

b b
a0
6 0, temos ab0 − ba0 = 0 =⇒ b0 = b . Logo:
6 0: Se a =
Caso a =
a
 
a0 →
− a0 a0 a0
u = (a, b) = a, b = (a0 , b0 ) = →

v .
a a a a
Portanto, em qualquer caso, um dos vetores é múltiplo do outro. 

Exemplo 5
Determine se os vetores →

u = (1, 2) e →

v = (3, 6) são múltiplos um do outro.

Solução.
1 2
Temos = 6 − 6 = 0. Portanto, um vetor é múltiplo do outro.
3 6
Note que →

v = 3→

u. 

Proposição 8
Se nenhum dos vetores → −
u e→−
v é múltiplo um do outro, então qualquer outro
vetor −
→ do plano se escreve de modo único como combinação linear de →
w −
u e

− −

v . Isto é, existem λ, µ ∈ R, determinados de forma única por w , tais que

→ = λ→
w −
u + µ→

v .

Prova.
De fato, se →

u = (a, b), →

v = (a0 , b0 ) e −
→ = (a00 , b00 ) temos, pela proposi-
w
ção 7, que ab0 − ba0 6= 0.
Vamos determinar λ, µ ∈ R de modo que −
→ = λ→
w −
u + µ→

v .

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 39

Figura 28: Vetor w


~ é combinação linear de ~
u e ~v .

Em coordenadas, esta condição equivale a


(a00 , b00 ) = λ(a, b) + µ(a0 , b0 )
= (λa + µa0 , λb + µb0 ).
Ou seja, os números λ e µ devem ser soluções do sistema:
(
λa + µa0 = a00
λb + µb0 = b00 .
Resolvendo o sistema obtemos:
a00 b0 − b00 a0 ab00 − ba00
λ= e µ= .
ab0 − ba0 ab0 − ba0
Ou seja, os números λ e µ existem e são determinados de forma única. 

Observação 6
O plano é bidimensional (de dimensão 2).Isso significa que basta conhecer
dois vetores →

u e→ −
v , que não sejam múltiplos um do outro, para conhecer
todos os outros vetores do plano. De fato, pela proposição anterior, qualquer
outro vetor se expressa de forma única como combinação linear destes dois
vetores.

Exemplo 6
Verifique que qualquer vetor do plano se escreve como combinação linear dos
vetores →

u = (2, −1) e → −v = (−3, 2), e escreva o vetor −→ = (1, 1) como
w
combinação linear de →

u e→

v .

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40 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

Solução.
2 −1
• Como = 4 − 3 = 1 6= 0, os vetores →

u e →

v não são múlti-
−3 2
plos um do outro. Pela proposição anterior, qualquer outro vetor se escreve
de maneira única como soma de múltiplos dos vetores →−
u e→ −
v .
• Dado o vetor −
→ = (1, 1), devemos achar λ, µ ∈ R tais que:
w

→ = λ→
w −
u + µ→−
v .
Escrevendo esta equação em coordenadas, vemos que:
(1, 1) = λ(2, −1) + µ(−3, 2) = (2λ − 3µ, −λ + 2µ),
ou seja,
(
2λ − 3µ = 1
−λ + 2µ = 1 .
Os números λ e µ que resolvem este sistema são:
1 × 2 − (−3) × 1
λ= =2+3=5
1
e
2 × 1 − 1 × (−1)
µ= = 2 + 1 = 3.
1
Portanto, −
→ = 5→
w −
u + 3→

v . 

7. Produto interno de dois vetores


Vamos agora definir um novo tipo de multiplicação. Os fatores desta
nova operação são vetores e o produto é um número real.
Começamos com a seguinte definição:

Definição 8
−−→
A norma ou comprimento do vetor →

v = AB é o número real não negativo:

k→

v k = d(A, B).

Observe que a norma de um vetor é um número bem definido, isto


é, depende apenas do vetor e não do segmento orientado escolhido para

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 41

representá-lo.
De fato, se

− −−→ −−→
v = AB = CD =⇒ AB ≡ CD =⇒ d(A, B) = d(C, D).

Ou seja, a norma de um vetor →



v se calcula usando qualquer segmento
representante.
Consideremos agora um sistema de eixos ortogonais OXY .
−−→
Se →

v = (x, y) = OP , então P = (x, y) e

k→
− p
v k = d(O, P ) = x2 + y 2 .

Figura 29: Representante na origem de um vetor para o cálculo da norma.

Quando k→

v k = 1, dizemos que o vetor →

v é um vetor unitário.

Observação 7
Se →

v = (x, y) e λ ∈ R então kλ→

v k = |λ| k→

v k. De fato, como λ →

v = (λx, λy),
então:
kλ →
− p p
v k = λ2 x2 + λ2 + y 2 = λ2 (x2 + y 2 )
√ p
λ2 x2 + y 2 = |λ| x2 + y 2 = |λ| k→

p
= v k.

Definição 9
−−→ − −−→
Sejam →

u = AB e →
v = AC vetores no plano.
O ângulo entre →−
u e→ −
v , designado ∠(→

u ,→
−v ),
é o menor ângulo formado pelos segmentos AB
e AC.
Figura 30: Ângulo entre ~
u e ~v .

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42 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

Observação 8


v
Se →

v é um vetor não nulo, então →− é um vetor unitário que tem a mesma
kv k
direção e o mesmo sentido de →

v . Com efeito, pela observação 7,


v 1 1
= k→

v k= → k→

v k = 1.
k→

v k k→

v k k−
v k

Além disso, como




v


v = k→

v k →
− kv k

v →

e k→

v k > 0, temos que →

v e →
− têm a mesma direção e o mesmo sentido.
kv k

Assim, se →

u e→

v são vetores não nulos,
 →− →
− 

− →
− u v
∠( u , v ) = ∠ , − .
||→

u || ||→
v ||

Definição 10
O produto interno dos vetores → −
u e →−v do plano é o número real, que
designamos por h→

u ,→

v i, definido da seguinte maneira:



h→

u ,→

v i = 0, se →

u =0 ou →

v =0

h→

u ,→

v i = k→

u k k→

v k cos θ , se →

u 6= 0 , →
− 6 0
v = e θ = ∠(→

u ,→

v )

Proposição 9
Sejam →

u = (α, β) e →

v = (α0 , β 0 ) dois vetores no plano. Então,

h→

u ,→

v i = αα0 + ββ 0

Prova.
Se →

u ou → −
v são vetores nulos, a identidade acima verifica-se, pois, neste
caso, h→

u ,→

v i = 0 e αα0 + ββ 0 = 0.
−−→
Suponhamos agora que →−
u e → −
v são vetores não nulos. Se →

u = OP e

− −−→
v = OQ , então P = (α, β), Q = (α0 , β 0 ) e

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 43

Figura 31: Diferença ~v − ~


u.

−−→ −−→ −−→


PQ = P O + OQ
−−→ −−→
= OQ − OP
= →

v −→−
u
= (α − α, β 0 − β).
0

Aplicando a lei dos cossenos ao triângulo 4OP Q, temos:


k→

v −→ −u k2 = k→

u k2 + k→−
v k2 − 2k→

u k k→

v k cos θ ,
onde θ = ∠(→

u ,→−
v ). Desta identidade, obtemos:
2k→

u k k→

v k cos θ = k→ −
u k2 + k→−
v k2 − k→

v −→−
u k2
(α2 + β 2 ) + ((α0 )2 + (β 0 )2 ) − ((α0 − α)2 + (β 0 − β)2 )
=
α2 + β 2 + (α0 )2 + (β 0 )2 − ((α0 )2 − 2α0 α + α2
=
(β 0 )2 − 2β 0 β + β 2 )
+
α2 + β 2 + (α0 )2 + (β 0 )2 − (α0 )2 + 2α0 α − α2
=
(β 0 )2 + 2β 0 β − β 2

2α0 α + 2β 0 β
=
2(αα0 + ββ 0 )
=
Portanto, h→

u ,→

v i = k→

u k k→ −v k cos θ = αα0 + ββ 0 , como queríamos demons-
trar. 

Com a expressão do produto interno em coordenadas, fica fácil provar


as seguintes propriedades.

Proposição 10
Sejam →

u,→
−v e−
w→ vetores do plano e seja λ ∈ R. Valem as seguintes propri-

edades:

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44 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

(1) h→

u ,→

u i = k→

u k2 ≥ 0


(2) h→

u ,→

u i = 0 ⇐⇒ →−
u =0
(3) h→

u ,→

v i = h→

v ,→

ui
(4) hλ→

u ,→

v i = λh→

u ,→

v i
(5) h→
−u , λ→

v i = λh→

u ,→
−v i
(6) h u + w , v i = h u , →

− −
→ →
− →
− −
v i + h−
→, →
w −
v i
(7) h→

u ,→

v +−
→i = h→
w −
u ,→

v i + h→

u ,−
→i
w

Definição 11
Sejam →−
u e →−
v vetores do plano. Dizemos que →

u é perpendicular a →

v

− →

se ∠(→−
u ,→

v ) = 90o ou →

u = 0 ou → −
v = 0 . Se → −
u é perpendicular a →

v
escrevemos u ⊥ v . Note que u é perpendicular a →

− →
− →
− −
v se, e somente se, →

v
é perpendicular a →

u.

Temos, então, a seguinte caracterização da perpendicularidade entre


dois vetores por meio do produto interno.

Proposição 11
Dois vetores são perpendiculares se, e somente se, o seu produto interno é
igual a zero. Isto é,


u ⊥→

v ⇐⇒ h→

u ,→

v i=0

Prova.
Sejam →−
u e →

v vetores do plano. Se algum destes vetores é o vetor nulo,
então u ⊥ v e h→

− →
− −
u ,→

v i = 0, por definição.

− − →

Suponhamos, então, que →

u 6= 0 e → v =6 0 , e seja θ = ∠(→

u ,→

v ). Então,
h→

u ,→

v i = k→

u k k→

v k cos θ = 0 ⇐⇒ cos θ = 0 ⇐⇒ θ = 90o ,
como queríamos demonstrar. 

Proposição 12
Seja →

u = (a, b) um vetor não nulo. Então o vetor →

v é perpendicular ao

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 45

vetor →

u se, e só se, →

v = λ(−b, a), para algum λ ∈ R.

Prova.
De fato, se v = λ(−b, a), então
h→

u ,→

v i = a(−λb) + b(λa) = 0 =⇒ →

u ⊥→

v .
Reciprocamente, se h→

u ,→

v i=0e→

v = (c, d), então ac + bd = 0, isto é,

c d
= 0.
−b a

Logo, pela Proposição 7, (c, d) é múltiplo de (−b, a), ou seja, existe λ ∈ R


tal que →

v = (c, d) = λ(−b, a). 

Exemplo 7
Dados os pontos A = (−2, 3), B = (0, 1) e C = (4, 2). Calcule o cosseno do
−−→ −−→
ângulo θ entre os vetores AB e AC .

Solução.
Sabemos que
−−→ −−→ −−→ −−→
hAB , AC i = ||AB || · ||AC || cos θ.
−−→ −−→
Por outro lado, como AB = (2, −2) e AC = (6, −1) , temos:
−−→ −−→
hAB , AC i = 2 · 6 − 2 · (−1) = 14.
−−→ √ −−→ √
E ainda, ||AB || = 2 2 e ||AC || = 37, o que implica que
√ √ √
14 = 2 2 37 cos θ =⇒ cos θ = 7/ 74.


Exemplo 8
Dados os vetores →

u = (4, −3) e →

v = (x, 1), determine x ∈ R de modo que
h→

u ,→

v i = 5.

Solução.
Como h→−
u ,→

v i = 5 temos:

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46 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

4 · x − 3 · 1 = 5 =⇒ x = 2.
Portanto, x = 2. 

Exemplo 9
Dados os vetores →

u = (a + 1, 2) e →

v = (−3, 1), calcule o valor de a ∈ R para
que →

u seja perpendicular a →

v .

Solução.
Para que →

u e→

v sejam perpendiculares, é necessário e suficiente que
h→

u ,→

v i = 0,
ou seja,
(a + 1) · (−3) + 2 · 1 = 0 ⇐⇒ −3a − 3 + 2 = 0 ⇐⇒ a = − 13 .
1
Portanto, a = − . 
3

Proposição 13
Seja →

u = (a, b) um vetor não nulo. Então os vetores unitários −
v→ −

1 e v2 que

fazem um ângulo θ ∈ (0, π) com o vetor →



u são dados por:


u −

w


v1 = cos θ → + sen θ −
||−
u || →||
||w


u −

w


v2 = cos(−θ) → + sen(−θ) −
||−
u || →|| ,
||w

onde −
→ = (−b, a) é um vetor perpendicular a →
w −
v .

Prova.
De fato:


u −

w →

u −
w→

→ 2
• ||v1 || = < cos θ → + sen θ −
||−
u || →|| , cos θ ||→
||w −
u ||
+ sen θ −
||w→|| >


u →

u →

u −

w
= cos2 θ < → , > +2 cos θ sen θ < , →|| >
||−
u || ||→

u || ||→

u || ||−
w


w −

w
+ sen2 θ < − , →|| >
→|| ||−
||w w

= cos2 θ + sen2 θ = 1,

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 47

<− v→ →

1 ,u >
• cos ∠(−
v→ , →

u ) =
||−
v→ →

1
1 |||| u ||

−u −

w
< cos θ → − + sen θ − → ,→

u >
|| u || ||w ||
=
||→

u ||
<→ −u ,→ −
u > <− →, →
w −u >
= cos θ →
− + sen θ = cos θ,
|| u || 2 ||w || · ||→

→ −
u ||
pois,
<→ −
u ,→−
u > 1 →
− →
− ||→

u ||2
• = → < u , u >= → =1
||→

u ||2 ||−
u ||2 ||−
u ||2
<− →, −
w →>
w 1 −
→ −
→ ||−
→||2
w
• →||2 = ||−
→||2 < w , w >= ||−→||2 = 1
||−
w w w
<→ −
u ,−→>
w 1
• →
− −
→ = →− −
→ <→

u ,−
→ >= 0.
w
|| u ||||w || || u ||||w ||

Figura 32: Vetores ~


u, w,
~ v~1 , v~2 .

De modo análogo, podemos mostrar que ||−


v→ −
→ → −
2 || = 1 e cos ∠(v2 , u ) = cos(−θ) = cos θ.

Exemplo 10
Determine os vetores unitários −v→ −→
1 e v2 que fazem um ângulo θ ∈ (0, π) com

o vetor →

u = (1, 2) tal que cos θ = √25 .

Solução.

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48 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

Como θ ∈ (0, π) e cos θ = √2 , obtemos que sen θ = √1 . Logo, pela pro-


5 5
posição anterior,

−u −

w 2 (1, 2) 1 (−2, 1)


• v1 = cos θ → + sen θ − =√ √ +√ √

|| u || →
||w || 5 5 5 5

2 1
= (1, 2) + (−2, 1) = (0, 1),
5 5
e

−u −

w 2 (1, 2) 1 (−2, 1)
• −
v→
2 = cos(−θ) →
− + sen(−θ) −
→ =√ √ −√ √
|| u || ||w || 5 5 5 5
 
2 1 4 3
= (1, 2) − (−2, 1) = , .
5 5 5 5


Exemplo 11
Mostre que os pontos médios dos lados de um quadrilátero são os vértices de
um paralelogramo.

Solução.
Seja ABDC um quadrilátero qualquer e sejam X, Y , Z e W os pontos
médios dos lados AC, CD, DB e BA, respectivamente. Devemos mostrar
que XY W Z é um paralelogramo (figura 33).
Temos:
−−→ −−→
−−→ −−→ −−→ AC CD
XY = XC + CY = +
2 2
1 −−→ −−→ 1 −−→
 
= AC + CD = AD ,
2 2
−−→ −−→
−−−→ −−→ −−−→ AB BD
ZW = ZB + BW = +
2 2
1 −−→ −−→
  1 −−→
= AB + BD = AD .
2 2
−−→ 1 −−→ −−−→
Logo XY = AD = ZW . Entao XY ≡ ZW , e portanto, XY ZW é um
2
paralelogramo.

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CAPÍTULO 2. VETORES NO PLANO 49

Figura 33: Pontos médios dos lados de um quadrilátero determinando um paralelogramo.

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50 7.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES

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Capítulo 3

Equações da reta no plano

1. Equação paramétrica da reta

Vamos descrever algebricamente uma reta no plano usando a linguagem


vetorial.

Reta r que passa pelos pontos A e


B.
Seja r a reta que passa pelos pon-
tos A e B e seja P um ponto do plano.
Então, pela proposição 6 do capítulo an-
terior, o ponto P pertence à reta r se,
−−→ Figura 1: Ponto P pertencente a r.
e somente se, AP é múltiplo do vetor
−−→
AB .
Isto é, P ∈ r se, e somente se, existe um número t ∈ R tal que
−−→ −−→
AP = tAB

Note que o número t é determinado de forma única pelo ponto P e é


chamado parâmetro de P em r.
Assim, para atingir o ponto P na reta r, devemos ir até o ponto A e
−−→
nos deslocarmos ao longo da reta por tAB . Escrevemos então a equação que

51
52 1.. EQUAÇÃO PARAMÉTRICA DA RETA

determina o ponto P “pela variação do parâmetro t” da seguinte forma:


−−→
r : P = A + tAB , t∈R

Esta equação é chamada equação paramétrica da reta r.


Se A = (a, b), B = (a0 , b0 ) e P = (x, y) são as coordenadas dos pontos
num sistema de coordenadas dado, então:

P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (a, b) + t(a0 − a, b0 − b) para algum t ∈ R



 x = a + t(a0 − a)
⇐⇒ para algum t ∈ R .
 y = b + t(b0 − b),

Dizemos que as equações


(
x = a + t(a0 − a)
r: ; t∈R
y = b + t(b0 − b)

são as equações paramétricas da reta r.

Exemplo 1
Determine a equação paramétrica da reta que passa pelos pontos A = (2, 3)
e B = (1, 2).

Solução.
−−→
Como AB = (1 − 2, 2 − 3) = (−1, −1),
P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (2, 3) + t(−1, −1), t ∈ R
⇐⇒ (x, y) = (2 − t, 3 − t), t ∈ R .
(
x=2−t
Portanto, as equações paramétricas de r são: r : ; t ∈ R. 
y =3−t

Definição 1


Dizemos que um vetor →−
v =6 O é paralelo a uma reta r quando, para quais-
−−→
quer dois pontos A, B ∈ r, o vetor AB é múltiplo do vetor →

v . Nesse caso,


escrevemos v k r.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 53

Figura 2: Vetor direção da reta r.

Um vetor →

v paralelo a uma reta r é chamado vetor direção de r.

Observação 1
Sejam C e D pontos pertencentes a reta r que passa pelos pontos A e B.
−−→ −−→
Então existe λ ∈ R tal que CD = λAB .
De fato, pela proposição 6 do capítulo anterior, existem s ∈ R e t ∈ R tais
que
−−→ −−→ −−→ −−→
AC = sAB e AD = tAB .
Logo,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
CD = CA + AD = AD − AC = tAB − sAB = (t − s)AB ,
ou seja,
−−→ −−→
CD = λAB , onde λ = t − s.

Observação 2
É fácil verificar, usando a observação anterior, que um vetor →

v é paralelo à
−−→
reta r se, e somente se, →

v = λAB , onde λ ∈ R − {0} e A, B são dois pontos
fixos quaisquer da reta r.

Reta r que passa pelo ponto A e é paralela ao vetor →


− 6 0.
v =


Se r é a reta que passa pelo ponto A e tem direção →

v 6= 0 , temos:
−−→
P ∈ r ⇐⇒ AP é múltiplo de → −v
−−→ →

⇐⇒ AP = t v , para algum t ∈ R
⇐⇒ P = A + t→ −
v , para algum t ∈ R.

Portanto, a equação paramétrica de r é:

r : P = A + t→

v ; t∈R

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54 1.. EQUAÇÃO PARAMÉTRICA DA RETA

Escrevendo essa equação em coordenadas, temos que se A = (a, b) e




v = (α, β), então:

P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (a, b) + t(α, β), t ∈ R



 x = a + αt
⇐⇒ ;t ∈ R
 y = b + βt

Assim, as equações paramétricas de r, neste caso, são:


(
x = a + αt
r: ;t ∈ R
y = b + βt

Exemplo 2
Determinar a equação paramétrica da reta r que passa por A = (1, 4) e é
paralela ao vetor →

v = (5, 2).

Solução.
Temos que:
P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ (x, y) = (1, 4) + t(5, 2) = (1 + 5t, 4 + 2t), t ∈ R.
Portanto,
(
x = 1 + 5t
r: ; t ∈ R,
y = 4 + 2t
são as equações paramétricas da reta r.

Exemplo 3
Determine o ponto de interseção da reta r1 paralela ao vetor →

v = (1, 2) que
passa pelo ponto A = (3, 4) com a reta r2 que passa pelos pontos B = (2, 3)
e C = (−2, 4).

Solução.
Um ponto P = (x, y) ∈ r1 se, e somente se, P = A + t→

v , ou seja,
(x, y) = (3, 4) + t(1, 2) , t ∈ R.
−−→
E um ponto P = (x, y) ∈ r2 se, e somente se, P = B + sBC , isto é,

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 55

(x, y) = (2, 3) + s(−4, 1) , s ∈ R.


Logo um ponto P = (x, y) ∈ r1 ∩ r2 se, e somente se,

(3, 4) + t(1, 2) = (2, 3) + s(−4, 1)


⇐⇒ (3 + t, 4 + 2t) = (2 − 4s, 3 + s)
 
 3 + t = 2 − 4s  t + 4s = −1
⇐⇒ ⇐⇒
 4 + 2t = 3 + s  2t − s = −1

 −2t − 8s = 2
⇐⇒ ⇐⇒ −9s = 1 e 2t = s − 1
 2t − s = −1
1 s−1 −1/9 − 1 10 5
⇐⇒ s = − e t = = =− =− .
9 2 2 18 9
Substituindo t = −5/9 em (3 + t, 4 + 2t) ou s = −1/9 em (2 − 4s, 3 + s),
obtemos que o ponto de interseção das retas é:
     
5 10 4 1 22 26
P = 3 − ,4 − = 2 + ,3 − = , .
9 9 9 9 9 9


Atenção: Para determinar o ponto de interseção de duas retas dadas


por suas equações paramétricas, devemos usar parâmetros diferentes, pois o
parâmetro de um ponto ao longo de uma reta pode não ser igual ao parâmetro
do mesmo ponto ao longo da outra reta.

2. Equação cartesiana da reta

Equação da reta r que passa pelo ponto A = (x0 , y0 ) e é normal ao




vetor →

u = (a, b) 6= 0 .
Vamos agora caracterizar algebricamente (usando o produto interno) a
equação de uma reta normal (isto é, perpendicular) a uma direção dada.

Definição 2

− −−→
Um vetor →

u 6= 0 é normal ou perpendicular a uma reta r se →

u ⊥ AB ,
quaisquer que sejam os pontos A, B ∈ r.

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56 2.. EQUAÇÃO CARTESIANA DA RETA

Figura 3: Vetor normal à reta r.

Seja r a reta que passa pelo ponto A = (x0 , y0 ) e é perpendicular ao




vetor →

u = (a, b) 6= 0 . Então,
−−→ →
P = (x, y) ∈ r ⇐⇒ AP ⊥ − u
−−→ →−
⇐⇒ hAP , u i = 0
⇐⇒ h(x − x0 , y − y0 ), (a, b)i = 0
⇐⇒ a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0
⇐⇒ ax + by = ax0 + by0
⇐⇒ ax + by = c , onde c = ax0 + by0 .

A equação dada por:


r : ax + by = c

é chamada equação cartesiana da reta r.

Observação 3
Na equação cartesiana da reta r obtida acima, você deve observar que os
coeficientes a e b de x e y, respectivamente, são as coordenadas do vetor
normal → −
u = (a, b) e que o valor de c é determinado quando se conhece um
ponto de r, no caso, o ponto A = (x0 , y0 ). Observe também que a e b não
podem ser ambos iguais à zero, pois →

u = (a, b) é um vetor não nulo.

Observação 4
Um vetor →
−u = (a, b) 6= (0, 0) é normal à reta r se, e somente se, o vetor


v = (−b, a) é paralelo à r.
De fato, sejam A e B dois pontos quaisquer pertencentes à reta r.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 57

−−→
Se →

u = (a, b) é normal à reta r então, por definição, → −u ⊥ AB . Logo, pela
−−→
proposição 12 do capítulo anterior, existe λ ∈ R tal que AB = λ(−b, a) = λ→

v .

Provamos assim, que se →



u = (a, b) ⊥ r então →

v = (−b, a) k r.

Suponhamos agora que → −


v = (−b, a) é paralelo à reta r. Então, por definição,
−−→
existe λ ∈ R tal que AB = λ→ −
v . Logo,
−−→ −
hAB , →u i = h(−λb, λa), (a, b)i = −λba + λab = 0,
−−→
ou seja, →

u ⊥ AB . Assim, por definição, →

u é um vetor normal a r.

Exemplo 4
Determine a equação cartesiana da reta r que passa pelo ponto A = (2, 3) e
é normal ao vetor →

u = (1, 2).

Solução.

Como →−
u ⊥ r, devemos ter
r : x + 2 y = c.
O valor de c é calculado sabendo que
A = (2, 3) ∈ r:
c = 1 × 2 + 2 × 3 = 2 + 6 = 8.
Portanto, a equação procurada é
r : x + 2y = 8. Figura 4: Exemplo 4.

Exemplo 5
Determinar a equação cartesiana da reta r que passa pelo ponto B = (2, 3)
e é paralela ao vetor →

v = (1, 2).

Solução.
Conhecer um ponto e um vetor paralelo da reta equivale a dar as equações
paramétricas:
(
x=2+t
r: ; t ∈ R.
y = 3 + 2t

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58 2.. EQUAÇÃO CARTESIANA DA RETA

Como → −
v = (1, 2) k r temos, pela observa-
ção 4,


u = (2, −1) ⊥ r.
Portanto,
r : 2x − y = c.
Para determinar c, usamos o fato de que
B = (2, 3) ∈ r, isto é,
c = 2 × 2 − 3 = 1.
Logo,
r : 2x − y = 1.

Figura 5: Exemplo 5.

Exemplo 6 (
x=2−s
Determine a equação cartesiana da reta r : ; s ∈ R.
y = 1 + 3s

Solução.
Das equações paramétricas, obtemos o vetor


v = (−1, 3) paralelo à reta r e um ponto
A = (2, 1) pertencente a ela.
Como, pela observação 4, o vetor →

u = (3, 1)
é normal a r, a equação cartesiana de r é
3x + y = c.
Para calcular c, usamos que A = (2, 1) ∈ r,
isto é,
c = 3 × 2 + 1 = 7.
Logo a equação cartesiana de r é Figura 6: Exemplo 6.
3x + y = 7.


Exemplo 7
Determine as equações paramétricas da reta r : 4x + 3y = 16.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 59

Solução.
Para achar as equações paramétricas de r
precisamos conhecer um vetor paralelo a r
e um ponto de r.
Da equação cartesiana, temos:


u = (4, 3) ⊥ r =⇒ →−
v = (3, −4) k r .
Para determinar um ponto de r, fazemos
y = 0 na equação cartesiana de r e calcula-
mos o valor correspondente de x:
y = 0 =⇒ 4 × x + 3 × 0 = 16 =⇒ x = 4 .
Portanto, o ponto A = (4, 0) pertence a r. Figura 7: Exemplo 7.

Assim, as equações paramétricas de r são:


(
x = 4 + 3t
r: ; t ∈ R.
y = −4t


Exemplo 8
Determine as equações cartesianas das retas r1 e r2 que passam pelo ponto
A = (3, 1) e fazem um ângulo de π/4 com a reta r : 2x + y = 2.

Solução.
Como o vetor →−u = (2, 1) é perpendicular à reta r, o vetor →

v = (−1, 2),
pela observação 4, é paralelo à reta r.

Figura 8: Exemplo 8.

Sejam −
→ = (−2, −1) e −
w v→ −

1 , v2 os vetores unitários que fazem um ângulo de

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60 2.. EQUAÇÃO CARTESIANA DA RETA

π/4 com o vetor →



v . Então, pela proposição 13 do capítulo anterior, temos:


v −

w


v1 = cos π/4 · → + sin π/4 · −
||−
v || →||
||w
√ √
= 2√25 (−1, 2) + 2√25 (−2, −1)
= √1 (−3, 1),
10

−v −

w

v→ = cos(−π/4) · + sin(−π/4) ·
2 →

|| v || ||−
→||
w
√ √
= 2√25 (−1, 2) − 2√25 (−2, −1)
= √1 (1, 3).
10

Como a reta r1 é paralela ao vetor −


v→ 1
1 = √10 (−3, 1) e a reta r2 é paralela ao

vetor −
v→ 1 −→
2 = √10 (1, 3), temos que u1 = (1, 3) é um vetor normal à reta r1 e

u→ = (3, −1) é um vetor normal à reta r .
2 2
Assim,
r1 : x + 3y = c1 e r2 : 3x − y = c2 ,
onde c1 = 1×3+3×1 = 6 e c2 = 3×3−1×1 = 8 são as equações cartesianas
das retas que passam pelo ponto A e fazem um ângulo de π/4 com a reta
r.

Observação 5
A equação cartesiana da reta r que corta o eixo-horizontal no ponto de abs-
cissa a e o eixo-vertical no ponto de ordenada b, com a e b diferentes de zero,
x y
é dada por + = 1.
a b
De fato, como os pontos A = (a, 0)
e B = (0, b) são distintos e a equa-
x y
ção + = 1 representa uma reta
a b
que passa por A e B, concluimos que
x y
r : + = 1, pois por dois pontos
a b
distintos passa uma única reta.
Figura 9: Reta passando pelos pontos (a, 0) e
(0, b).

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 61

Exemplo 9
Uma reta r que passa pelo ponto P = (2, 4/3) forma com os semieixos coor-
denados positivos um triângulo de perímetro 12. Determine sua equação.

Solução.
Sejam a e b números reais positivos tais que
{(a, 0)} = r ∩ eixo − OX e {(0, b)} = r ∩ eixo − OY .
x y
Pela observação anterior, r : + = 1 é a equação cartesiana de r.
a b

Figura 10: Exemplo 9.

Como o ponto P = (2, 4/3) pertence a r,


2 4
+ = 1 ⇐⇒ 6a + 4a = 3ab.
a 3b
Além disso, o perímetro do triângulo 4AOB é 12, ou seja,

a + b + a2 + b2 = 12,
onde A = (a, 0) e B = (0, b). Temos, então, que resolver o sistema:
(
6a + 4b = 3ab
√ (1)
a + b + a2 + b2 = 12

Elevando ao quadrado a segunda equação, obtemos que:



a2 + b2 = 12 − (a + b)
⇐⇒ a2 + b2 = 144 − 24(a + b) + (a2 + 2ab + b2 )
⇐⇒ 24(a + b) = 144 + 2ab
⇐⇒ 12(a + b) = 72 + ab.
Assim, o sistema (1) é equivalente ao sistema:

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62 2.. EQUAÇÃO CARTESIANA DA RETA

( (
12(a + b) = 72 + ab −36(a + b) = −3 · 72 − 3ab
⇐⇒
4a + 6b = 3ab 4a + 6b = 3ab

Somando as duas equações, obtemos que:


108 − 16a
−32a − 30b = −3 · 72 ⇐⇒ 16a + 15b = 108 ⇐⇒ b = . (2)
15
108 − 16a
Substituindo b = na equação 6b + 4a = 3ab, temos:
15
6 3
(108 − 16a) + 4a = a(108 − 16a)
15 15

⇐⇒ 6(108 − 16a) + 60a = 3a(108 − 16a)


⇐⇒ 2(108 − 16a) + 20a = −16a2 + 108a
⇐⇒ 16a2 − 108a − 32a + 20a + 216 = 0
⇐⇒ 16a2 − 120a + 216 = 0
⇐⇒ 2a2 − 15a + 27 = 0
√ √
15 ± 225 − 216 15 ± 9
⇐⇒ a = =
4 4
18 9
⇐⇒ a = = ou a = 3.
4 2

Portanto, se a1 = 9/2 então, por (2),

108 − 16 · 9/2 108 − 72 36 12


b1 = = = = ,
15 15 15 5
e a equação da reta r1 é

2x 5y
+ = 1 ⇐⇒ 8x + 15y = 36.
9 12

108 − 16 · 3 60
Se a2 = 3, então b2 = = = 4, e a equação da reta r2 é
15 15
x y
+ = 1 ⇐⇒ 4x + 3y = 12.
3 4
Assim, o problema possui duas soluções:

r1 : 8x + 15y = 36 e r2 : 4x + 3y = 12.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 63

Figura 11: Exemplo 7.

3. Equação afim das retas


Considere uma reta r : ax + by = c dada por sua equação cartesiana,
onde →

u = (a, b) 6= (0, 0) é um vetor normal a r.
Vamos verificar que r pode ser reescrita das seguintes formas:
• Se b = 0, então um ponto (x, y) ∈ r se, e somente se, x = ac . Ou seja,
r = {(d, y); y ∈ R},
c
onde d = a
(observe que a 6= 0).

Uma reta do tipo r : x = d é dita vertical pois, neste caso, r é paralela


ao eixo-OY ou coincidente com esse eixo.

Figura 12: r é vertical e sua equação é x = d

• Se b 6= 0, isto é, r é não vertical, então o ponto (x, y) ∈ r se, e somente

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64 3.. EQUAÇÃO AFIM DAS RETAS

se,
a c
by = −ax + c ⇐⇒ y = − x + .
b b
Ou seja,
r = {(x, mx + n); x ∈ R},
a c
onde m = − en= .
b b
Uma equação do tipo y = mx + n é chamada equação reduzida ou afim
da reta r.
Provamos assim que toda reta r não vertical se representa por uma
equação do 1o grau da forma y = mx + n, onde:
• n é a ordenada do ponto onde r intersecta o eixo−OY . Se n = 0,
então r passa pela origem.
• m é a razão entre o acréscimo de y e o acréscimo de x quando se
passa de um ponto a outro sobre a reta. De fato, se x0 6= x1 , y0 = mx0 + n
e y1 = mx1 + n, então:
y1 − y0 (mx1 + n) − (mx0 + n) m(x1 − x0 )
= = = m.
x1 − x0 x1 − x0 x1 − x0

• O número m chama-se inclinação da reta r : y = mx + n.


Além disso,
 Se m > 0, a função y = mx + n é crescente, isto é, se x1 < x2 , então
y1 = mx1 + n < y2 = mx2 + n.

Figura 13: Para m > 0, y = mx + n é crescente.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 65

 Se m < 0, a função y = mx + n é decrescente, isto é, se x1 < x2 ,


então y1 = mx1 + n > y2 = mx2 + n.

Figura 14: Para m < 0, y = mx + n é decrescente.

 Se m = 0, a função y = mx + n é constante, pois y = n para todo


x ∈ R. Neste caso, dizemos que r : y = n é uma reta horizontal.

Figura 15: Para m = 0, y = mx + n é constante.

• Seja θ o ângulo que a reta r : y = mx + n faz com o semieixo−OX


positivo. Então,
tg θ = m

De fato, veja as figuras 16, 17 e 18:

y2 − 0
m= = tg θ.
x2 − x1

π
Figura 16: Caso m > 0 : 0 < θ < 2
.

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66 3.. EQUAÇÃO AFIM DAS RETAS

0−y1
m= x2 −x1
= − tg(π − θ) = tg θ.

π
Figura 17: Caso m < 0 : 2
< θ < π.

m = 0 =⇒ θ = 0 =⇒ m = tg θ.

Figura 18: Caso m = 0 : θ = 0.

Exemplo 10
Determine as equações das retas que contêm os lados do triângulo de vértices
nos pontos A = (1, 1), B = (4, 1) e C = (1, 3).

Figura 19: Triângulo de vértices A, B e C.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 67

Solução.
• A reta r1 que contém o lado AC é vertical, pois A e C têm a mesma
abscissa 1. Assim, r1 : x = 1.
• A reta r2 que contém o lado AB é horizontal, pois A e B têm a mesma
ordenada 1. Portanto r2 : y = 1.
3−1 2
• A reta r3 que contém o lado BC tem inclinação m = = − . Assim,
1−4 3
a equação de r3 é da forma:
2
r3 : y = − x + n.
3
Como B = (4, 1) ∈ r3 , obtemos, substituindo x por 4 e y por 1 na equação
anterior, que:
2 8 11
1 = − × 4 + n =⇒ n = 1 + = .
3 3 3
Portanto,
2 11
r3 : y = − x + ,
3 3
é a equação da terceira reta.

4. Paralelismo e perpendicularismo entre retas

Duas retas r1 e r2 no plano podem estar em três posições relativas (uma


em relação à outra):

(a) coincidentes: quando são iguais, isto é, r1 = r2 ;


(b) paralelas: quando não se intersectam, isto é,
r1 ∩ r2 = ∅.

Neste caso, escrevemos r1 k r2 .


(c) concorrentes: quando se intersectam em um ponto, isto é,

r1 ∩ r2 = {P }.

A partir das equações cartesianas de r1 e r2 , determinemos quando

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68 4.. PARALELISMO E PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS

ocorre cada uma dessas situações.

Proposição 1
As retas r1 : ax + by = c e r2 : a0 x + b0 y = c0 são paralelas ou coincidentes se,
e somente se, existe λ 6= 0 tal que (a0 , b0 ) = λ(a, b), isto é, se e somente se,
seus vetores normais são múltiplos.

Prova.
Suponhamos que a0 = λa, b0 = λb, c0 6= λc e λ 6= 0.
Se P = (x, y) ∈ r1 , ou seja,
ax + by = c =⇒ λax + λby = λc
=⇒ a0 x + b0 y = λc 6= c0 .
Provamos assim que se P = (x, y) ∈ r1 então P = (x, y) ∈
/ r2 , ou seja, que
r1 ∩ r2 = ∅.
Por outro lado, se a0 = λa, b0 = λb, c0 = λc e λ 6= 0, então
ax + by = c ⇐⇒ λax + λby = λc ⇐⇒ a0 x + b0 y = c0 ,
ou seja, as retas r1 e r2 são coincidentes.
Suponhamos agora que r1 ∩ r2 = ∅ ou r1 = r2 , ou seja, que r1 e r2 são retas
paralelas ou coincidentes.
Considere o sistema:
(
ax + by = c
a0 x + b 0 y = c 0

a b
Se = ab0 − a0 b 6= 0, o sistema possui uma única solução dada por:
a0 b0
cb0 − c0 b ca0 − c0 a
x= e y= .
ab0 − a0 b ab0 − a0 b
Logo, como as retas são paralelas ou coincidentes, devemos ter ab0 − a0 b = 0.
Mas, pela proposição 7, isso significa que os vetores (a, b) e (a0 , b0 ) são múl-
tiplos, ou seja, existe λ ∈ R tal que (a0 , b0 ) = λ(a, b). Como (a, b) 6= (0, 0) e
(a0 , b0 ) 6= (0, 0), devemos ter λ 6= 0.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 69

Corolário 1
As retas r1 : ax + by = c e r2 : a0 x + b0 y = c0 são coincidentes se, e
somente se, existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que
(a0 , b0 ) = λ(a, b) e c0 = λc .

Prova.
Pelo teorema acima, se as retas são coincidentes, existe λ 6= 0 tal que a0 = λa
e b0 = λb.
Seja (x0 , y0 ) um ponto da reta r. Como r1 = r2 , as coordenadas x = x0 e
y = y0 satisfazem também a equação de r2 . Logo,
c0 = a0 x0 + b0 y0 = λax0 + λby0 = λc ,
isto é c0 = λc.
Reciprocamente, se existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que λa = a0 , λb = b0 e
λc = c0 , é claro que as equações de r1 e r2 representam a mesma reta, isto é,
r1 = r2 .

Como consequência do corolário anterior e da proposição 1, obtemos:

Corolário 2
As retas r1 : ax + by = c e r2 : a0 x + b0 y = c0 são paralelas se, e somente
se, existe λ ∈ R, λ 6= 0, tal que
(a0 , b0 ) = λ(a, b) e c0 6= λc .

Exemplo 11
Determine a equação cartesiana da reta r2 paralela à reta r1 : 2x + 3y = 6
que passa pelo ponto A = (1, 0).

Solução.
Seja r2 : ax + by = c a equação cartesiana da reta r2 . Pela proposição
1, existe λ 6= 0 tal que
(a, b) = λ(2, 3),

onde (2, 3) é o vetor normal à reta r1 . Podemos tomar, sem perda de gene-
ralidade, λ = 1, ou seja, (a, b) = (2, 3).

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70 4.. PARALELISMO E PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS

Como r2 : 2x+3y = c e o ponto A = (1, 0) ∈ r2 , devemos ter c = 2×1+3×0 = 2.

Figura 20: Exemplo 11.

Logo 2x + 3y = 2 é a equação cartesiana da reta r2 .

Exemplo 12
Verifique se as retas
r1 : 2x + y = 1, r2 : 6x + 3y = 2 e r3 : 4x + 2y = 2 ,
são paralelas ou coincidentes.

Solução.
Multiplicando a equação de r1 por 3, obtemos r1 : 6x + 3y = 3 e, como
3 6= 2, temos r1 k r2 .
Multiplicando a equação de r1 por 2, obtemos a equação de r3 . Logo r1 = r3 .
Além disso, r2 k r3 .

Definição 3
O ângulo ∠(r1 , r2 ) entre duas retas r1 e r2 se define da seguinte maneira:

• se r1 e r2 são coincidentes ou paralelas, então ∠(r1 , r2 ) = 0,

• se as retas são concorrentes, isto é, r1 ∩ r2 = {P }, então ∠(r1 , r2 ) é o menor


dos ângulos positivos determinados pelas retas.

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 71

Figura 21: ∠(r1 , r2 ) = θ

Em particular, 0 < ∠(r1 , r2 ) ≤ π/2. A medida dos ângulos pode ser dada
em graus ou radianos.

Sejam −
v→ −→
1 e v2 vetores paralelos às retas r1 e r2 , respectivamente. En-

tão, como ∠(r1 , r2 ) = ∠(−


v→ −
→ −→ − →
1 , v2 ) ou ∠(r1 , r2 ) = π − ∠(v1 , v2 ) (ver figura

21),

−→ − →
cos ∠(r1 , r2 ) = | cos ∠(−
v→ , →)| = |hv1 , v2 i| ,

v 0 < ∠(r1 , r2 ) ≤ π/2
1 2 −→ − → kv1 k kv2 k

Observe que a fórmula vale também quando r1 e r2 são paralelas ou


coincidentes, isto é, quando ∠(r1 , r2 ) = 0, pois:

− |hλ−
v→ −

2 , v2 i| |λ| |h−
v→ −

2 , v2 i|
v→ −

1 = λv2 =⇒ = → = 1 = cos 0 = cos ∠(r1 , r2 ) .
kλ−
v→ −

2 k kv2 k |λ| k−v→ −
2 k kv2 k

• Duas retas são perpendiculares quando o ângulo entre elas é de 90o (ou
π
radianos). Nesse caso, escrevemos r1 ⊥ r2 .
2

Proposição 2
As retas r1 : ax+by = c e r2 : a0 x+b0 y = c0 são perpendiculares se, e somente
se, seus vetores normais −
w→ = (a, b) e −
1 w→ = (a0 , b0 ) são perpendiculares, ou
2
seja,
aa0 + bb0 = 0.

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72 4.. PARALELISMO E PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS

Prova.

Figura 22: Retas perpendiculares.

De fato, as retas r1 e r2 são perpendiculares se, e somente se,

∠(r1 , r2 ) = π/2 ⇐⇒ cos ∠(r1 , r2 ) = 0 ⇐⇒ h−


v→ −

1 , v2 i = 0,

onde −
v→ −→
1 e v2 são vetores paralelos às reta r1 e r2 respectivamente.

Como −w→ −→ 0 0
1 = (a, b) ⊥ r1 e w2 = (a , b ) ⊥ r2 temos, pela observação 4, que

v→ = (−b, a) k r e −
v→ = (−b0 , a0 ) k r . Logo r ⊥ r se, e somente se,
1 1 2 2 1 2

h−
v→ −
→ 0 0 0 0
1 , v2 i = (−b)(−b ) + aa = aa + bb = 0,

ou seja, h−
w→ −→ 0 0
1 , w2 i = aa + bb = 0.

Exemplo 13
Determine a equação cartesiana da reta r2 que passa pelo ponto (1, 2) e é
perpendicular à reta r1 : x + 3y = 1.

Solução.
Seja r2 : ax + by = c a equação cartesiana de uma reta perpendicular a
r1 : x + 3y = 1.
Pela proposição anterior, o vetor −
u→ = (a, b) é perpendicular ao vetor
2

u→ −→
1 = (1, 3) e, portanto, pela proposição 12 do capítulo anterior, u2 = λ(−3, 1)
para algum λ 6= 0.
Podemos tomar, sem perda de generalidade, λ = 1, ou seja, − u→ = (−3, 1). 2

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 73

Então r2 : −3x+y = c, onde c = −3×1+1×2 = −1, pois o ponto A = (1, 2)


pertence a r2 . Obtemos assim que −3x + y = −1 é a equação cartesiana da
reta r2 .

Vejamos agora como caracterizar o paralelismo e o perpendicularismo


entre duas retas dadas na forma reduzida.
É fácil verificar que se r1 é uma reta vertical, então: r2 k r1 ⇐⇒ r2 é
vertical.
A proposição abaixo nos diz quando duas retas não verticais na forma
reduzida são paralelas.

Proposição 3
As retas r1 : y = mx + n e r2 : y = m0 x + n0 são paralelas se, e somente se,
m = m0 e n 6= n0 .

Prova.
De fato, como r1 : mx−y = −n e r2 : m0 x−y = −n0 , temos que → −
v = (m, −1)


e w = (m0 , −1) são vetores normais às retas r e r , respectivamente.
1 2
Logo, pelo corolário 2, r1 e r2 são paralelas se, e somente se, existe λ 6= 0 tal
que
(m0 , −1) = λ(m, −1) = (λm, −λ) e −n0 6= −λn.

Como −1 = −λ, devemos ter λ = 1. Então r1 k r2 se, e somente se, m = m0


e n 6= n0 . 

Exemplo 14
Determine a equação da reta r2 que passa pelo ponto A = (1, 4) e é paralela
à reta
r1 : y = 3x + 2.

Solução.
Como r2 é paralela à reta não vertical r1 , r2 é também não vertical.
A equação de r2 é da forma r2 : y = 3x + n0 , pois r1 e r2 têm a mesma
inclinação m = 3, pela proposição 3.

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74 4.. PARALELISMO E PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS

Além disso, como A = (1, 4) ∈ r2 , as coordenadas x = 1 e y = 4 desse


ponto devem satisfazer a equação de r2 . Isto é, 4 = 3 × 1 + n0 . Portanto,
n0 = 4 − 3 = 1 e r2 : y = 3x + 1 é a equação procurada.

Sejam r1 e r2 retas perpendiculares. Se r1 é horizontal, r1 : y = b, então


r2 é vertical, r2 : x = c, e vice-versa.

Figura 23: Retas horizontais e verticais são perpendiculares.

A proposição abaixo nos diz quando duas retas não verticais e não
horizontais são perpendiculares.

Proposição 4
Sejam r1 : y = mx + n e r2 : y = m0 x + n0 duas retas tais que m 6= 0 e m0 6= 0.
Então r1 ⊥ r2 se, e somente se, mm0 = −1.

Prova.
Como r1 : mx − y = −n e r2 : m0 x − y = −n0 temos, pela proposição 2, que
r ⊥ r se, e somente se, seus vetores normais →
1 2

v = (m, −1) e −→ = (m, −1)
w
são ortogonais.
Logo,
r1 ⊥ r2 ⇐⇒ h→

v ,−
→i = mm0 + 1 = 0 ⇐⇒ mm0 = −1.
w


Exemplo 15
Determine a equação da reta r2 que passa pelo ponto A e é perpendicular à
reta r1 , onde:
(a) r1 : x = 2 , A = (5, 3) ; (b) r1 : y = 4x + 5 , A = (4, 1) .

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CAPÍTULO 3. EQUAÇÕES DA RETA NO PLANO 75

Solução.
(a) Como r1 é vertical, r2 deve ser horizontal e a sua equação da forma
r2 : y = n.
Sendo que A = (5, 3) ∈ r2 , devemos ter 3 = n e, portanto, r2 : y = 3.

Figura 24: Reta r1 vertical, r2 ⊥ r1 . Figura 25: Reta r1 : y = 4x + 5 , r2 ⊥ r1 .

(b) Como r1 é não vertical e não horizontal, a equação de r2 deve ser da


1
forma r2 : y = mx + n, onde 4m = −1 pela proposição 4. Isto é, m = − e
4
1
r2 : y = − x + n.
4
Para determinar o valor de n usamos que A = (4, 1) ∈ r2 . Ou seja, as
coordenadas de A devem satisfazer a equação de r2 :
1
1 = − × 4 + n =⇒ n = 2 .
4
1
Assim, r2 : y = − x + 2 é a equação procurada.
4

Exemplo 16
Determine as equações cartesianas das retas perpendiculares à reta r que
passa pelos pontos A = (1, 0) e B = (−1, 3).

Solução.
3−0 3
A reta r tem inclinação m = = − . As retas perpendiculares a
−1 − 1 2
1 1 2
r devem, portanto, ter inclinação m0 = − = − = . Logo a equação
m −3/2 3
de uma reta perpendicular a r é

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76 4.. PARALELISMO E PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS

2
rd0 : y = x + d .
3
Variando d ∈ R obtemos a equação de qualquer reta perpendicular à reta r.

2
Figura 26: Reta passando pelos pontos A e B e algumas retas da família rd0 : y = 3
x + d.

Escrevemos o valor d como subíndice em rd0 para indicar que a reta em questão
depende do valor d. Ou seja, mudar o valor de d significa considerar outra
reta também perpendicular a r.
A equação da reta rd0 se escreve na forma cartesiana como:
2
rd0 : − x + y = d , ou seja, rd0 : 2x − 3y = −3d .
3
Nesta equação d é um número real qualquer, assim como −3d. Portanto,
fazendo c = −3d, a família de retas perpendiculares à reta r pode ser reescrita
na forma:
rc0 : 2x − 3y = c ,
onde c ∈ R é um número real arbitrário.

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76

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Capítulo 4

Distâncias no plano e regiões no


plano

1. Distância de um ponto a uma reta

Dados um ponto P e uma reta r no plano, já sabemos calcular a dis-


tância de P a cada ponto P 0 ∈ r.

Definição 1
Definimos a distância, d(P, r), do ponto
P à reta r por
d(P, r) = min{d(P, P 0 ) | P 0 ∈ r}

Dizemos que um ponto P ? ∈ r realiza a


distância de P à reta r, se Figura 1: P ? realiza a distância de P à reta r.

d(P, P ? ) ≤ d(P, P 0 ) ,para todo P 0 ∈ r.

Usando o teorema de Pitágoras é fácil verificar que o ponto P ? que


realiza a distância do ponto P à reta r é o pé da perpendicular a r que passa
pelo ponto P .
Assim,

77
78 1.. DISTÂNCIA DE UM PONTO A UMA RETA

d(P, r) = min{d(P, P 0 ) | P 0 ∈ r} = d(P, P ? ) .

Teorema 1
Sejam r : ax + by = c uma reta e P = (x0 , y0 ) um ponto no plano. Então a
distância de P a r é dada por
| ax0 + by0 − c |
d(P, r) = √
a2 + b2

Prova.
Seja s a reta perpendicular à reta r : ax + by = c que passa pelo ponto
P = (x0 , y0 ).
Como →−u = (a, b) ⊥ r, temos que →

u k s.
Logo,
(
x = x0 + at
s: ;t ∈ R
y = y0 + bt

são as equações paramétricas de s.


Seja P ∗ o pé da perpendicular a r que
passa por P , ou seja, {P ∗ } = r ∩ s. En-
Figura 2: Demonstração do teorema 1.
tão P ∗ = (x0 + at∗ , y0 + bt∗ ), para algum
t∗ ∈ R, e
a(x0 + at∗ ) + b(y0 + bt∗ ) = c
⇐⇒ (a2 + b2 )t∗ + ax0 + by0 = c
c − (ax0 + by0 )
⇐⇒ t∗ = .
a2 + b 2
−−−→ −−−→
Como d(P, r) = d(P, P ∗ ) = ||P P ∗ || e P P ∗ = (a, b)t∗ , temos:
|ax0 + by0 − c| √ 2
d(P, r) = |t∗ | · ||(a, b)|| = a + b2
a2 + b 2
|ax0 + by0 − c|
d(P, r) = √ .
a2 + b 2


Exemplo 1
Calcule a distância do ponto P = (1, −1) à reta r : x + 2y = 1.

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 79

Solução.
Vamos resolver o problema de duas maneiras:
(1) Usando a fórmula obtida no teorema anterior: sendo x0 = 1, y0 = −1,
a = 1, b = 2 e c = 1, temos
|1 × 1 + 2 × (−1) − 1| |1 − 2 − 1| 2
d(P, r) = √ = √ =√ .
2
1 +2 2 1+4 5
(2) Seja r0 a reta que passa pelo ponto P = (1, −1) e é perpendicular à reta
r : x + 2y = 1.
−1
Como r tem inclinação m = , a reta r0 tem inclinação
2
1 1
n=− =− = 2.
m −1/2
Logo a equação de r0 deve ser r0 : y = 2x + d.
Sendo P = (1, −1) ∈ r0 , temos −1 = 2 × 1 + d =⇒ d = −1 − 2 = −3.
Assim, r0 : y = 2x − 3. Note, também, que a equação de r se escreve:
1 1
r :y =− x+ .
2 2
1 1
Seja r ∩ r0 = {P ? }. Se P ? = (x, y) então 2x − 3 = − x + , ou seja,
2 2
1 1
 
2+ x = + 3.
2 2
2 7 7 7 1
7 1
Portanto, x = × = e y = 2 × − 3 = − =⇒ P ? = ,− .
5 2 5 5 5 5 5
Logo,
r
2  1 2
? 7
d(P, r) = d(P, P ) = −1 + − +1
r  5 5
r
2 2 4 2 4 + 16 2
 
= + = 2
=√ ,
5 5 5 5
concluindo, assim, o cálculo desejado.

2. Distância entre duas retas no plano

Definimos a distância entre r e r0 como sendo a menor distância entre


um ponto de r e um ponto de r0 .

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80 2.. DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS NO PLANO

Isto é,
d(r, r0 ) = min{d(P, P 0 ) | P ∈ r e P 0 ∈ r0 }

Então d(r, r0 ) = 0 se r e r0 são coincidentes ou concorrentes.

Figura 3: Distância entre duas retas paralelas.

Sejam r e r0 retas paralelas.


Sabemos que, dado P ∈ r, existe um único ponto P ? ∈ r0 , pé da
perpendicular a r0 traçada por P , tal que
d(P, P 0 ) ≥ d(P, P ? ) , para todo P 0 ∈ r0 .

Como r k r0 , temos d(Q, Q? ) = d(P, P ? ), quaisquer que sejam P, Q ∈ r,


pois QP P ? Q? é um retângulo.
Então d(Q, Q0 ) ≥ d(Q, Q? ) = d(P, P ? ) = d(P, r0 ) , quaisquer que sejam
Q ∈ r e Q0 ∈ r0 .
Logo,
d(r, r0 ) = d(P, r0 ) , qualquer que seja P ∈ r.
Como conseqüencia do teorema 1, temos o seguinte corolário.

Corolário 1
Sejam r : ax+by = c e r0 : ax+by = c0 retas paralelas (c 6= c0 ) ou coincidentes
(c = c0 ). Então,

| c − c0 |
d(r, r0 ) = √
a2 + b2

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 81

Prova.
Seja P = (x0 , y0 ) um ponto da reta r. Então
|ax0 + by0 − c0 |
d(r, r0 ) = d(P, r0 ) = √ .
a2 + b2
|c − c0 |
Como ax0 + by0 = c, obtemos d(r, r0 ) = √ .
a2 + b2 

Exemplo 2
Determine as equações das retas paralelas à reta r : 2x + y = 1 que distam
3 unidades de r.

Solução.
Seja s : 2x + y = c uma reta paralela à reta r. Temos,
|c − 1| √
d(r, s) = 3 ⇐⇒ √ = 3 ⇐⇒ |c − 1| = 3 5.
22 + 1 2
√ √
Logo c = 1 + 3 5 ou c = 1 − 3 5, ou seja,
√ √
s1 : 2x + y = 1 + 3 5 e s2 : 2x + y = 1 − 3 5 ,
são as retas paralelas a r que distam 3 unidades da reta r.
Vejamos outra solução para o mesmo problema sem usar a fórmula da dis-
tância entre duas retas paralelas.
1
Seja t : y = x a reta perpendicular à reta r que passa pela origem.
2
2 1
Logo r ∩ t = {P }, onde P = , (verifique!).
5 5
Sejam (2y, y) os pontos pertencentes à reta t que distam 3 de r, ou seja,
  2 1 
d (2y, y) , , = 3.
5 5
Então,
1 2 1 2
   
4 y− + y− =9
5 5
1 2 9 3 1
 
⇐⇒ y − = ⇐⇒ y = ± √ + .
5 5 5 5
Como t : x = 2y, os pontos ao logo de t que estão a distância 3 de P são:
 
6 2 3 1
P1 = √ + , √ +
5 5 5 5

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82 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

 
6 2 3 1
P2 = −√ + , −√ + .
5 5 5 5
Consideremos agora as retas s1 e s2 paralelas à reta r que passam por P1 e
P2 , respectivamente.
Como
d(s1 , r) = d(P1 , P ) = 3
d(s2 , r) = d(P2 , P ) = 3,
s1 e s2 são as retas paralelas a r que distam 3 unidades de r, e suas equações
são:
 √ √ √


6 5+2 3 5+1 15 5 + 5
s1 : 2x + y = 2 + = =3 5+1
5 5 5
 √ √ √


−6 5 + 2 −3 5 + 1 −15 5 + 5
s2 : 2x + y = 2 + = = −3 5 + 1.
5 5 5

Figura 4: Retas a distância 3 de r.

3. Esboço de regiões no plano

Consideremos a reta r : ax + by = c e a reta s que passa pelos pontos


(0, 0) e (a, b). Então s : bx − ay = 0, pois (0, 0) e (a, b) satisfazem a equação

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 83

de s.

Afirmativa 1: As retas r e s são perpendiculares.


De fato, a · b + b · (−a) = 0. Logo, pelo proposição ?? do capítulo 3,
temos r ⊥ s.

Figura 5: Retas r e s perpendiculares.

Afirmativa 2: Por cada ponto (x0 , y0 ) do plano passa uma única reta
r0 paralela à reta r.
Para verificar esta afirmativa, basta tomar r0 : ax + by = c, onde
c = ax0 + by0 .

Figura 6: Retas r e r0 paralelas.

Afirmativa 3: O plano π é união de retas paralelas a uma reta dada.


Isto é,
[
π= { (x, y) | ax + by = c } .
c∈R

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84 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

Figura 7: Plano π visto como união de retas paralelas.

Figura 8: Retas paralelas r1 e r2 com perpendicular s passando pela origem.

Afirmativa 4: Consideremos as retas paralelas r1 : ax + by = c1 e


r2 : ax + by = c2 , e os pontos P1 e P2 , tais que {P1 } = r1 ∩ s e {P2 } = r2 ∩ s,
onde s : bx − ay = 0.
O sentido de percurso de P1 para P2 na reta s coincide com o sentido de
percurso de (0, 0) para (a, b) em s se, e só se, c1 < c2 .

De fato, analisemos a situação nos quatro casos seguintes:


• Caso 1. b = 0,
• Caso 2. a = 0,
• Caso 3. a > 0, b 6= 0,
• Caso 4. a < 0 e b 6= 0.
Vejamos:
c1 c
Caso 1. b = 0. Neste caso, temos: r1 : x = , r2 : x = 2 , e
a a
s : y = 0.

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 85

Figura 9: Caso b = 0 e a > 0. Figura 10: Caso b = 0 e a < 0.


c1 c2 c2 c1
Se a > 0, então < ⇐⇒ c1 < c2 . Se a < 0, então < ⇐⇒ c1 < c2 .
a a a a
c1 c
Caso 2. a = 0. Neste caso, temos: r1 : y = , r2 : y = 2 , e
b b
s : x = 0.

Figura 11: Caso a = 0 e b > 0. Figura 12: Caso a = 0 e b < 0.


c1 c2 c2 c1
Se b > 0, então < ⇐⇒ c1 < c2 . Se b < 0, então < ⇐⇒ c1 < c2 .
b b b b

Caso 3. a > 0 e b 6= 0. Se P1 = (x1 , y1 ), temos


b
P1 ∈ s ⇐⇒ y1 = x1 e P1 ∈ r1 ⇐⇒ ax1 + by1 = c1 .
a

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86 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

b2 ac
Logo, ax1 + x1 = c1 ⇐⇒ x1 = 2 1 2
a a +b

ac2
Analogamente, se P2 = (x2 , y2 ) ∈ s ∩ r2 , então x2 =
a2 + b2

Subcaso a > 0 e b > 0. Pelas formas das abscissas x1 e x2 , temos


ac1 ac
x1 < x2 ⇐⇒ < 2 2 2 ⇐⇒ c1 < c2 .
a2 +b 2 a +b

Figura 13: a > 0 e b > 0. O sentido de percurso em s é de x crescente.

Subcaso a > 0 e b < 0. Fazendo uma análise como no subcaso


anterior, vemos que
x1 < x2 ⇐⇒ c1 < c2 .

Figura 14: a > 0 e b < 0. O sentido de percurso em s é de x crescente.

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 87

Caso 4. a < 0 e b 6= 0.
As abscissas x1 de P1 e x2 de P2 satisfazem as mesmas relações que no
caso anterior.

Subcaso a < 0 e b > 0. Como a < 0, temos,


ac2 ac
x2 = < x1 = 2 1 2 ⇐⇒ c1 < c2 .
a2 + b2 a +b

Figura 15: a < 0 e b > 0. O sentido de percurso em s é de x decrescente.

Subcaso a < 0 e b < 0. A análise é feita da mesma forma que o


subcaso anterior.

Figura 16: a < 0 e b < 0. O sentido de percurso em s é de x decrescente.

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88 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

Exemplo 3
Faça um esboço detalhado da região R do plano cujos pontos têm coordena-
das satisfazendo simultaneamente as desigualdades do sistema abaixo.
(
y ≤ 2x
R:
x + y ≥ 1.

Solução.
A região R procurada é a interseção das regiões R1 e R2 dadas por:
R1 = {(x, y) | 2x − y ≥ 0} e R2 = {(x, y) | x + y ≥ 1} .

(a) Determinando a região R1

Considere a reta r1 : 2x − y = 0.
O ponto (a, b) = (2, −1) pertence à
reta s1 perpendicular a r1 que pas-
sa pela origem e o número
c = 2x − y aumenta conforme se
avança ao longo da reta s seguindo
o sentido da origem para o ponto
(a, b) = (2, −1), ou seja, o sentido
do vetor →−
v = (a, b). Figura 17: Região R1 . a = 2 > 0 e b = −1 < 0. O
sentido de percurso em s é de x crescente.

Portanto, a região R1 é o semiplano determinado por r1 que fica acima de


r1 , como vemos na figura 17, incluindo a própria reta r1 .

(b) Determinando a região R2


Para determinar a região R2 , consideremos agora a reta r2 : x + y = 1.
Neste caso, a = 1 > 0 e b = 1 > 0. O ponto (a, b) = (1, 1) pertence à reta s1
perpendicular a r que passa pela origem. Como no item anterior, o número
c = x + y aumenta conforme se avança ao longo da reta s2 seguindo o sentido
do vetor →

v = (a, b).
Assim, as coordenadas de um ponto pertencente a uma reta x + y = c sa-
tisfazem a desigualdade x + y ≥ 1 se, e somente se, a reta está contida na
região sombreada indicada na figura 18. Ou seja, a região R2 é o semiplano
determinado por r2 que fica acima de r2 , incluindo a reta r2 .

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 89

Figura 18: Região R2 . a = 1 > 0 e b = 1 > 0. O sentido de percurso em s é de x crescente.

(c) Determinando a região R

Finalmente, a região R procu-


rada é a interseção das regiões
R1 e R2 , formada pelos pontos
do plano que pertencem ao semi-
plano abaixo da reta r1 e ao se-
miplano acima da reta r2 , simul-
taneamente. Esboçamos a região
R na figura 19. 

Figura 19: Região R = R1 ∩ R2 procurada.

Exemplo 4
Determinar e esboçar a região R do plano dada pelo seguinte sistema de
desigualdades:
(
|y| ≤ x − 1
R:
x − y > 2.

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90 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

Solução.
A região R é a interseção de duas regiões R1 e R2 .
A primeira região consiste dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem
a primeira desigualdade:

R1 = {(x, y) | |y| ≤ x − 1} .
A segunda região consiste dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem
a segunda desigualdade:
R2 = {(x, y) | x + y > 2} .
(a) Determinação da região R1
(
y, se y ≥ 0
Começamos lembrando que |y| =
−y , se y < 0 .
Portanto, a desigualdade |y| ≤ x − 1 equivale a duas desigualdades condici-
onadas:

• Na condição y ≥ 0, temos |y| = y.

Logo a desigualdade |y| ≤ x − 1 equivale a y ≤ x − 1, ou seja, x − y ≥ 1.


Designamos por S1 o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satis-
fazem, simultaneamente, as desigualdades y ≥ 0 e x − y ≥ 1:
(
x−y ≥1
S1 = {(x, y) | y ≥ 0 e x − y ≥ 1} , ou seja, S1 :
y ≥ 0.

Figura 20: Região S1 determinada pelas desigualdades x − y ≥ 1 e y ≥ 0.

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 91

• Na condição y < 0, temos |y| = −y.

Logo a desigualdade |y| ≤ x − 1 equivale a −y ≤ x − 1, ou seja, x + y ≥ 1.


Designamos por S2 o conjunto dos pontos do plano cujas coordenadas satis-
fazem, simultaneamente, as desigualdades y < 0 e x + y ≥ 1:
(
x+y ≥1
S2 = {(x, y) | y < 0 e x + y ≥ 1} , ou seja, S2 :
y < 0.

Figura 21: Região S2 determinada pelas desigualdades x + y ≥ 1 e y < 0.

Finalmente, a região R1 consiste dos pontos que pertencem à região S1 ou à


região S2 .
Ou seja,
R1 = {(x, y) | |y| ≤ x − 1} = S1 ∪ S2 .

Figura 22: Região R1 determinada pela desigual- Figura 23: Região R2 = {(x, y) | x − y > 2}.
dade |y| ≤ x − 1.

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92 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

(b) Determinação da região R2


Como a região R2 consiste dos pontos cujas coordenadas (x, y) satisfazem
x − y > 2, temos que um ponto de coordenadas (x, y) pertence à região R2
se, e somente se, pertence a uma reta de equação x − y = c com c > 2.
Seja s a reta que passa pela origem e é perpendicular à reta r3 : x − y = 2.
Uma reta de equação x − y = c intersecta a reta s num ponto Pc de modo
que o valor de c aumenta conforme o ponto Pc se desloca na reta s seguindo
o sentido da origem para o ponto de coordenadas (a, b) = (1, −1), ou seja, o
sentido do vetor →
−v = (a, b).
Portanto, a região R2 procurada consiste dos pontos do semiplano que fica
abaixo da reta r3 , excluindo os pontos da própria reta, como vemos na figura
23.
(c) Determinação da região R
Finalmente, um ponto pertence à região R se, e somente se, pertence às
regiões R1 e R2 simultaneamente. Isto é, R = R1 ∩ R2 . Esboçamos a região
na seguinte figura.

Figura 24: Região R determinada pelas desigualdades |y| ≤ x − 1 e x − y = 2.

Exemplo 5
Determine e esboçe a região R do plano dada pelo seguinte sistema de ine-
quações:

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 93


2 2
 x +y ≤1

R: x − y ≤ −1

x + y ≥ 0.

Solução.
A região R consiste dos pontos do plano cujas coordenadas satisfazem as
três inequações do sistema dado simultaneamente.
Logo R = R1 ∩ R2 ∩ R3 , onde
R1 = {(x, y) | x2 + y 2 ≤ 1}
R2 = {(x, y) | x − y ≤ −1}
R3 = {(x, y) | x + y ≥ 0}

(a) Determinação da região R1

Os pontos do plano cujas coordenadas satisfazem a equação x2 + y 2 = c



formam o círculo de centro na origem e raio c, para c > 0. Se c = 0,
P = (0, 0) é o único ponto que satisfaz a equaçao x2 + y 2 = 0.
Assim, um ponto pertence à região R1 se, e somente se, o ponto é a origem ou

pertence a um círculo de raio c ≤ 1, estando, portanto, contido no interior
do círculo ou sobre o círculo de centro na origem e raio 1 (figura 25).

Figura 25: R1 é o círculo de centro na origem e


raio 1. Figura 26: R2 é o semiplano em cima da reta r1 .

Determinação da região R2 .
Seja r1 : x − y = −1. Como (a, b) = (1, −1), R2 é o semiplano acima da reta
r1 , incluindo a própria reta (figura 26).

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94 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

Determinação da região R3 .
Raciocinando de maneira similar a outros casos já tratados, vemos que a
região R3 é o semiplano acima da reta r2 : x + y = 0, incluindo a reta r2 ,
pois (a, b) = (1, 1) (veja a figura 27).

Figura 27: R3 é o semiplano em cima da reta r2 . Figura 28: Região R = R1 ∩ R2 R3 .

Esboço da região R.
Para esboçar a região R são considerados apenas os pontos do plano que
pertencem às três regiões anteriores simultaneamente (figura 28). 

Exemplo 6
Determine e faça um esboço da região R do plano dada pelo seguinte sistema
de inequações:

2 2
 (x − 1) + y ≥ 4

R: x+y ≥1
 √
x + y ≤ 1 + 2 2.

Solução.
A região R procurada é a interseção das três regiões seguintes:
R1 = {(x, y) | (x − 1)2 + y 2 ≥ 4},
R2 = {(x, y) | x + y ≥ 1},

R3 = {(x, y) | x + y ≤ 1 + 2 2} .

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CAPÍTULO 4. DISTÂNCIAS NO PLANO E REGIÕES NO PLANO 95

Determinação da região R1

Para determinarmos a região R1 , con-


sideremos o círculo C, dada por
C : (x − 1)2 + y 2 = 4 .
Observamos que Cc : (x−1)2 +y 2 = c2 ,
c > 0 é a equação do círculo de cen-
tro no ponto (1, 0) e raio c. Assim, se
c < 2, os pontos do círculo Cc estão
contidos na região limitada pelo cír-
culo C, e se c > 2, os pontos do círculo
Figura 29: Região R1 = {(x, y) | (x−1)2 +y 2 ≥ 4}. Cc são exteriores ao círculo C.
Portanto, a região R1 consiste dos pontos (x, y) que são exteriores a C, in-
cluindo a próprio círculo.
Determinação das regiões R2 e R3

Observe que as retas r1 : x + y = 1 e r2 : x + y = 1 + 2 2 são paralelas.
Como (a, b) = (1, 1), o valor c aumenta na equação x + y = c quando nos
movimentamos ao longo da reta perpendicular s a r1 no sentido da origem

para o ponto (a, b). Portanto, a reta r2 , com valor c = 1 + 2 2 maior, fica
por cima da reta r1 , com valor c = 1, e as regiões R2 e R3 são as esboçadas
nas figuras 30 e 31.


Figura 30: Região R2 = {(x, y) | x + y ≥ 1}. Figura 31: Região R3 = {(x, y) | x+y ≤ 1+2 2}.

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96 3.. ESBOÇO DE REGIÕES NO PLANO

Determinação da região R
Finalmente, a região R procurada é a interseção das três regiões obtidas
anteriormente e cujo esboço apresentamos na figura abaixo.

Figura 32: Região R = R1 ∩ R2 ∩ R3 .


√ √
Observe que r2 ∩ C = {(1 + 2, 2)}, pois (x, y) ∈ r2 ∩ C se, e somente se,

x=1+2 2−y e (x − 1)2 + y 2 = 4
√ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e (1 + 2 2 − y − 1)2 + y 2 = 4
√ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e (2 2 − y)2 + y 2 = 4
√ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e y 2 − 4 2y + 8 + y 2 = 4
√ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e 2y 2 − 4 2y + 4 = 0
√ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e y 2 − 2√ 2y + 2 = 0
√ √ √
⇐⇒ x=1+2 2−y e y = 2 2±2 8−8 = 2
√ √ √
⇐⇒ x=1+2 2− 2 e y= 2
√ √
⇐⇒ x=1+ 2 e y= 2


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Capítulo 5

Aplicações: bissetrizes, projeção


ortogonal e áreas

Neste capítulo, vamos determinar as bissetrizes de duas retas, a proje-


ção ortogonal de um vetor sobre uma reta e usaremos vetores para determinar
a área de triângulos e paralelogramos.

1. Bissetrizes de duas retas concorrentes


Sejam r e r0 duas retas concor-
rentes no plano. Dizemos que uma
reta s é bissetriz de r e r0 quando
os ângulos entre r e s e entre r0 e s
são iguais.

Proposição 1
Se s e s0 são as bissetrizes das retas
concorrentes r e r0 , então Figura 1: Bissetrizes s e s0 das retas r e r0 .

s ∪ s0 = {P | d(P, r) = d(P, r0 )}

Prova.
(=⇒) Suponhamos que s é uma bissetriz das retas r e r0 que se cortam

97
98 1.. BISSETRIZES DE DUAS RETAS CONCORRENTES

no ponto O. Seja P ∈ s um ponto arbitrário. A reta perpendicular a r que


passa por P intersecta r no ponto Q e a reta perpendicular a r0 que passa
por P intersecta r0 no ponto Q0 , como na figura 1.
Consideremos os triângulos retângulos 4P QO e 4P Q0 O.
Sendo s bissetriz de r e r0 , os ângulos P[
OQ e P
\ OQ0 têm a mesma medida e,
como os ângulos P[
QO e P
\ Q0 O são retos, concluímos que os ângulos OP
[ Qe
OP
\ Q0 têm a mesma medida. Portanto, os triângulos 4P QO e 4P Q0 O são
congruentes, pois têm o lado OP em comum.
Em particular, as medidas d(P, r) = |P Q| e d(P, r0 ) = |P Q0 | são iguais.
Como P ∈ s foi escolhido arbitrariamente, concluímos que os pontos de s
são equidistantes de r e r0 .
(⇐=) Provaremos agora que se P é um ponto equidistante de r e r0 , então a
reta s que passa pelos pontos O e P é uma bissetriz de r e r0 .
Usando ainda a figura 1, a nossa hipótese equivale a |P Q| = |P Q0 |.
Como os triângulos 4P QO e 4P Q0 O têm o lado OP em comum, obtemos,
pelo teorema de Pitágoras, que os lados OQ e OQ0 têm a mesma medida e,
portanto, os triângulos retângulos 4P QO e 4P Q0 O são congruentes.
Logo os ângulos QOP [ eQ \0 OP têm a mesma medida. Isto é, a reta s é uma

bissetriz de r e r0 . 
Pela proposição anterior, as bissetrizes s e s0 de duas retas concorrentes
r : ax + by = c e r 0 : a0 x + b 0 y = c 0
são caracterizadas da seguinte maneira:
P = (x, y) ∈ s ∪ s0 ⇐⇒ d(P, r) = d(P, r0 )
|ax + by − c| |a0 x + b0 y − c0 |
⇐⇒ p = p .
a2 + b2 (a0 )2 + (b0 )2
Ou seja:
ax + by − c a0 x + b0 y − c0
P = (x, y) ∈ s ∪ s0 ⇐⇒ p = ±p .
a2 + b2 (a0 )2 + (b0 )2

Tomando nesta identidade o sinal positivo, obtemos a equação de uma


das bissetrizes e, tomando o sinal negativo, obtemos a equação da outra
bissetriz.

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CAPÍTULO 5. APLICAÇÕES: BISSETRIZES, PROJEÇÃO ORTOGONAL E ÁREAS 99

Exemplo 1
Determinar as bissetrizes das retas r : 2x + y = 1 e r0 : 3x + 2y = 2.

Solução.
Sejam s e s0 as bissetrizes de r e r0 . Então:

2x + y − 1 3x + 2y − 2
P = (x, y) ∈ s ∪ s0 ⇐⇒ p =± p
22 + 1 2 32 + 22
2x + y − 1 3x + 2y − 2
⇐⇒ √ =± √
5 13
r
5
⇐⇒ 2x + y − 1 = ± (3x + 2y − 2) .
13
Assim,
 r
 5
 s : 2x + y − 1 = (3x + 2y − 2)


13
r
 s : 2x + y − 1 = − 5 (3x + 2y − 2) ,


 0
13

Figura 2: Exemplo 1.

ou seja,
 ! !
r r r
5 5 5


 s: 2−3 x+ 1−2 y =1−2


13 13 13

 r ! r ! r

 0 5 5 5
 s : 2+3 x+ 1+2 y =1+2


13 13 13

são as equações das bissetrizes procuradas. 

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100 1.. BISSETRIZES DE DUAS RETAS CONCORRENTES

Bissetriz de um ângulo
Sejam O, P e Q pontos não colineares do plano. Vejamos como usar a
linguagem vetorial para determinar a bissetriz do ângulo P[
OQ.

Figura 3: Bissectando o ângulo P


\ OQ.

−−→ − −−→
Sejam →

u = OP e →
v = OQ .
Começamos observando que k→ −
u k·→

v e k→−v k·→

u são múltiplos positivos
de →

v e→−
u , respectivamente, que têm a mesma norma:
k k→

u k·→−
v k = k→

u k · k→

v k = k→

v k · k→

u k = k k→

v k·→

u k.
Sejam P 0 , Q0 e R pontos do plano tais que:
−−→ −−−→ −−→ −−−→ −−→
k→

v k→

u = OP 0 , k→ −
u k→−
v = OQ0 e OP 0 + OQ0 = OR .
Como os segmentos OP 0 e OQ0 são congruentes, o paralelogramo OP 0 RQ0
é um losango. Assim, o segmento OR, que é uma diagonal do losango
OP 0 RQ0 , bissecta o ângulo P\
0 OQ0 = P
[ OQ.
−−→
Logo a semirreta {O + tOR , t ≥ 0} é a bissetriz do ângulo P[
OQ.

Exemplo 2
Determine a equação cartesiana da reta r que contém a bissetriz do ângulo

OQ, onde P = (1, 1), O = (1, −1) e Q = (2, 1).


P[

Solução.
−−→ −−→
Sejam →

u = OP = (0, 2) e →

v = OQ = (1, 2).

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CAPÍTULO 5. APLICAÇÕES: BISSETRIZES, PROJEÇÃO ORTOGONAL E ÁREAS 101


Temos k→ −
u k = 2 e k→−
v k = 5. Pelo visto acima, o vetor
−→ √
w0 = k→ −v k→−
u + k →

u k →

v =  5(0, 2)√+ 
2(1, 2)
 √ 
= 2, 2 2 + 5 = 2 1, 2 + 5
→ = 2 + √5, −1 é um vetor normal
é paralelo à reta r. Portanto, o vetor −
 
w
 √ 
a r e a equação de r é da forma 2 + 5 x − y = c.
Como O = (1, −1) ∈ r, temos:
 √ 
c = 2 + 5 × 1 − (−1)

= 3 + 5,
e, portanto,
 √  √
r : 2 + 5 x − y = 3 + 5,
é a equação procurada. 

Figura 4: Reta r bissectando o ângulo P


\ OQ.

2. Projeção ortogonal de um vetor sobre uma


reta
Definição 1
→ sobre a reta r é o vetor −
A projeção ortogonal do vetor −
w

w0 = Projr (−
→)
w
→−−
paralelo a r tal que −
w

w0 é perpendicular a r.

Figura 5: Projetando w
~ sobre a reta r.


− −→
Seja →

u 6= 0 um vetor paralelo à reta r. Então w0 é múltiplo de →

u , isto

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102 2.. PROJEÇÃO ORTOGONAL DE UM VETOR SOBRE UMA RETA

−→ →−− → −
é, w0 = λ→

u , para algum número λ ∈ R. Além disso, como − w w0 ⊥ →
u,
temos:
→−−
h−
w
→ −
w0 , →
u i = 0 ⇐⇒ h−
→, →
w − −→ −
u i − hw 0 , →
u i=0
−→ −
⇐⇒ h− →, →
w −u i = hw0 , →
u i ⇐⇒ h−
→, →
w −
u i = hλ→
−u ,→ −
ui
h−→, →
w −
ui
⇐⇒ h−
→, →
w −
u i = λh→

u ,→

u i ⇐⇒ λ = →− →

hu , u i
h−
→, →
w −
ui
⇐⇒ λ= .
k→

u k2


→ → −
Portanto, Projr (−
w →0 = hw , u i →
→) = −
w −
u
k→

u k2

Observação 1
Note que a projeção ortogonal do vetor −
→ sobre a reta r depende apenas
w
da direção da reta. Como a direção da reta é dada por qualquer vetor →

u
paralelo a ela, definimos a projeção ortogonal do vetor −
→ sobre o vetor →
w −
u

→ →

como sendo a projeção de w sobre qualquer reta r paralela a u , ou seja,

→ → −
Proj−
→ (−
w → ) = hw , u i →
→) = Proj (−
w −
u
u r
k→

u k2

Exemplo 3
Sejam A = (1, 1), B = (2, 3), C = (−4, 1) e D = (−2, 1) pontos do plano.
−−→
Determine a projeção ortogonal do vetor CD sobre a reta r que passa pelos
pontos A e B.

Solução.
→=−
Sejam os vetores −
w
−→
CD = (2, 0) e →
− −−→
u = AB = (1, 2).
Então, como k→−
u k2 = 12 + 22 = 5:
−−→ −−→
→) = hCD , AB i −
Projr (−
w
−→ h(2, 0), (1, 2)i
−−→ 2 AB = 5
(1, 2)
kAB k

2×1+0×2 2
2 4
= (1, 2) = (1, 2) = , .
5 5 5 5


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CAPÍTULO 5. APLICAÇÕES: BISSETRIZES, PROJEÇÃO ORTOGONAL E ÁREAS 103

Exemplo 4
Determine os valores m ∈ R de modo que a projeção ortogonal do vetor

→ = (m + 1, m − 1) sobre o vetor →
w −
u = (m, 1 − m) seja um vetor unitário.

Solução.
Temos

→ → − |h−
→, →
− |h−
→, →

kProj−
→ ( →)k = hw , u i →

w −
u =
w u i| →
k −
u k =
w u i|
,
u →

ku k 2 →

ku k 2 →

ku k
onde,
h−
→, →
w −
u i = h(m + 1, m − 1), (m, 1 − m)i = (m + 1)m + (m − 1)(1 − m)
= m2 + m − (m − 1)2 = m2 + m − m2 + 2m − 1
= 3m − 1 ,
e

k→
− p
u k = k(m, 1 − m)k = m2 + (1 − m)2 = 2m2 − 2m + 1.
Logo:
|h−
→, →
w −u i| |3m − 1|

− = 1 ⇐⇒ p =1
ku k 2m2 − 2m + 1
(3m − 1)2
⇐⇒ =1
2m2 − 2m + 1
⇐⇒ 9m2 − 6m + 1 = 2m2 − 2m + 1

⇐⇒ 7m2 − 4m = 0

⇐⇒ m(7m − 4) = 0
4
⇐⇒ m = 0 ou m = .
7
são os valores procurados. 

Exemplo 5
Determine o segmento AB obtido projetando-se ortogonalmente o segmento
CD sobre a reta r : x + 2y = 2, onde C = (1, 1) e D = (3, 2).

Solução.
Vamos resolver esse exemplo de duas maneiras.

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104 2.. PROJEÇÃO ORTOGONAL DE UM VETOR SOBRE UMA RETA

−→ →=− −→
• Seja w0 a projeção ortogonal do vetor −w CD = (2, 1) sobre a reta r.
Então,
−→ <−w→, →−
u >→−
w0 = →
− u,
|| u ||2
onde →
−u = (2, −1) é um vetor paralelo à reta r, pois (1, 2) ⊥ r.
Logo,
−→
 
0 < (2, 1), (2, −1) > 3 6 3
w = (2, −1) = (2, −1) = ,− ,
5 5 5 5
ou seja,
−−→ −→
 
6 3
AB = w0 = ,− .
5 5

Vamos obter o ponto A fazendo a interseção da reta r com a reta s1 perpen-


dicular à reta que passa por C.
Como (1, 2) ⊥ r e s1 ⊥ r, temos que (1, 2) k s1 . Logo (2, −1) ⊥ s1 . Portanto,
s1 : 2x − y = c1 ,
onde c1 = 2 × 1 − 1 = 1, pois C ∈ s1 .
Assim, A = (x, y), onde (x, y) é a solução do sistema:
( (
x + 2y = 2 −2x − 4y = −4 3
⇐⇒ =⇒ −5y = −3 =⇒ y =
2x − y = 1 2x − y = 1 5

6 4
=⇒ x = 2 − 2y = 2 − = .
5 5
   
4 3 −−→ 6 3
Sendo A = , e AB = , − , obtemos que:
5 5 5 5
   
−−→ 4 3 6 3
B = A + AB = , + ,− = (2, 0).
5 5 5 5

• Outra maneira de resolver o exercício, é obter o ponto B da mesma maneira


que encontramos o ponto A. Ou seja, o ponto B é a interseção da reta r com
a reta s2 perpendicular a r que passa pelo ponto D.
Como s2 k s1 , pois s2 ⊥ r e s1 ⊥ r, temos que:

s2 : 2x − y = c2 ,

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CAPÍTULO 5. APLICAÇÕES: BISSETRIZES, PROJEÇÃO ORTOGONAL E ÁREAS 105

onde c2 = 2 × 3 − 2 = 4, uma vez que D = (3, 2) ∈ s2 .


Logo B = (x, y) é a solução do sistema:
( (
2x − y = 4 4x − 2y = 8
⇐⇒ =⇒ 5x = 10 =⇒ x = 2
x + 2y = 2 x + 2y = 2

=⇒ y = 2x − 4 =⇒ y = 2 × 2 − 4 = 0.

Figura 6: Exemplo 5.

3. Área de paralelogramos e triângulos

Seja ABDC um parale-


logramo. Consideremos os ve-
−−→ → −−→
tores →

u = AC e −w = AB .
Seja θ = ∠(→

u ,−
→). To-
w
mando k→ −
u k como medida da
base, temos que a área A do
paralelogramo ABDC é dada
Figura 7: Cálculo da área do paralelogramo ABDC.
por:

A = k→

u k k−
→k sen θ.
w
Logo,

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106 3.. ÁREA DE PARALELOGRAMOS E TRIÂNGULOS

A2 = (k→

u k k−
→k sen θ)2
w

= k→

u k2 k−
→k2 sen2 θ
w

= k→

u k2 k−
→k2 (1 − cos2 θ)
w
.
= k→

u k2 k−
→k2 − k→
w −
u k2 k−
→k2 cos2 θ
w

= k→

u k2 k−
→k2 − (k→
w −
u k k−
→k cos θ)2
w

= k→

u k2 k−
→k2 − h→
w −
u ,−
→i2 .
w

Observe também que:


k→

u k2 h→

u ,−
→i
w
A 2
= k→

u k2 k−
→k2 − h→
w −
u ,−
→i2 =
w
h→

u ,−
→i
w k−
→ k2
w
h→

u ,→−
ui h→

u ,−
→i
w
= →
− −
→i
hu , w h−
→, −
w →i
w

Consideremos agora os vetores →



u = (α, β) e −
→ = (α0 , β 0 ) e determine-
w
mos a expressão da área em termos destas coordenadas.
Sendo k→

u k2 = α 2 + β 2 , k−
→k2 = (α0 )2 + (β 0 )2 e h→
w −
u ,−
→i = αα0 + ββ 0 ,
w
temos:

A2 = (α2 + β 2 )((α0 )2 + (β 0 )2 ) − (αα0 + ββ 0 )2

= α2 (α0 )2 + α2 (β 0 )2 + β 2 (α0 )2 + β 2 (β 0 )2 − α2 (α0 )2 − 2αα0 ββ 0 − β 2 (β 0 )2

= α2 (β 0 )2 + β 2 (α0 )2 − 2αα0 ββ 0

= (αβ 0 )2 − 2(αβ 0 )(βα0 ) + (βα0 )2


  2
0 0 2 α β
= (αβ − βα ) = det
α0 β 0

Portanto, a área A do paralelogramo de lados adjacentes →



u = (α, β)
e −
→ = (α0 , β 0 ) é o módulo do determinante da matriz cujas linhas são as
w
coordenadas de → −
u e−w→, respectivamente:
!
α β
A = det
α0 β 0

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CAPÍTULO 5. APLICAÇÕES: BISSETRIZES, PROJEÇÃO ORTOGONAL E ÁREAS 107

Você pode verificar que A é também o módulo do determinante da


matriz cujas colunas são as coordenadas de →

u e−
→:
w
!
α α0
A = det
β β0

Exemplo 6
Determine a área do paralelogramo ABDC, onde A = (1, 2), B = (3, 1),
C = (4, 1) e D = (−2, 3).

Solução.
−−→ −−→
Como AB = (2, −1) e AC = (3, −1), a área A do paralelogramo ABDC é:
!
2 −1
A = det = |−2 + 3| = 1 . 
3 −1

Área de um triângulo
Consideremos agora um triângulo 4ABC de vértices A, B e C e seja
T a sua área.

Figura 8: Triângulo 4ABC.

Observamos que, para calcular a área de um paralelogramo, foi ne-


cessário o conhecimento de dois lados adjacentes (não paralelos). Assim,
considerando o paralelogramo ABDC, de lados adjacentes AB e AC e área
A, temos:
−−→!
1 1 AB
T = A = det −−→
2 2 AC

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108 3.. ÁREA DE PARALELOGRAMOS E TRIÂNGULOS

−−→!
AB −−→
onde −−→ representa a matriz cujas linhas são as coordenadas de AB e
AC
−−→
AC .

Exemplo 7
Determine a área T do triângulo de vértices A = (4, 2), B = (6, 1) e
C = (3, 2).

Solução.
−−→ −−→
Temos que AB = (2, −1) e AC = (−1, 0). Logo,
!
1 2 −1 1 1
T = det = | − 1| = ,
2 −1 0 2 2

é a área procurada.

Exemplo 8
Sejam A = (1, 2), B = (3, n + 2) e C = (n − 1, 1). Determine os valores de n
1
de modo que o triângulo 4ABC tenha área T igual a .
2

Solução.
−−→ −−→
Temos que AB = (2, n) e AC = (n − 2, −1). Logo,
!
1 2 n 1
T = det = |−2 − n(n − 2)|
2 n − 2 −1 2 .
1 1
= |−2 − n2 + 2n| = |n2 − 2n + 2|
2 2
1
Assim, T = ⇐⇒ |n2 − 2n + 2| = 1 ⇐⇒ n2 − 2n + 2 = ±1.
2
• Tomando o sinal positivo, obtemos a equação
n2 − 2n + 2 = 1 ⇐⇒ n2 − 2n + 1 = 0 ⇐⇒ (n − 1)2 = 0.
Isto é, n = 1 é uma solução.
• Considerando o sinal negativo, obtemos a equação n2 − 2n + 3 = 0 que,
por ter discriminante ∆ = (−2)2 − 4(1)(3) < 0, não possui raízes reais.
Portanto, n = 1 é a única solução ao problema proposto.

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Capítulo 6

Exemplos de revisão

Exemplo 1
Dado o ponto A = (0, 3) e as retas r : x + y = −1 e s : x − 2y = −5, encontre:

(a) As coordenadas dos pontos C ∈ s cuja distância a r é 2.
(b) Ache as coordenadas do ponto A0 simétrico de A em relação à reta
r.

Solução.
(a) Da equação da reta s, vemos que um ponto C pertence à reta s, se
e somente se, C = (2y − 5, y) para algum y ∈ R.

Figura 1: Retas r e s e pontos C1 e C2 .

Então,

109
110

√ |(2y − 5) + y + 1| √
d(C, r) = 2 ⇐⇒ √ = 2 ⇐⇒
2
y=2
 

 3y − 4 =2 

|3y − 4| = 2 ⇐⇒ ou ⇐⇒ ou
  y=2

3y − 4 = −2

3
Para y1 = 2, x1 = 2y1 − 5 = 2(2) − 5 = −1 e C1 = (−1, 2).
2 2 4 11 11 2
 
Para y2 = , x2 = 2y2 − 5 = 2 · − 5 = − 5 = − e C2 = − , .
3 3 3 3 3 3

(b) Seja ` a reta perpendicular a r que


passa por A. O ponto A0 simétrico
de A em relação a r é o ponto da reta
`, distinto de A, tal que
d(A0 , r) = d(A, r).
Como (1, 1) ⊥ r, temos (1, 1) k `.
Logo (−1, 1) ⊥ ` e a equação de ` é
da forma ` : −x + y = c, onde c se de- Figura 2: Ponto A0 simétrico de A em relação a r.
termina sabendo que A = (0, 3) ∈ `:
−0 + 3 = c =⇒ c = 3 =⇒ ` : −x + y = 3.
Seja M o ponto da interseção das retas
` e r. Para determinar M , devemos resolver o sistema formado pelas equações
de ` e r:
(
−x + y = 3
`∩r : .
x + y = −1
Somando as equações, obtemos 2y = 2, ou seja, y = 1 e, substituindo este
valor na segunda equação, obtemos x = −2. Portanto, M = (−2, 1).
Como M é o ponto médio do segmento AA0 , temos:
1
M = (A + A0 )
2
=⇒ A0 = 2M − A = 2(−2, 1) − (0, 3) = (−4, 2) − (0, 3) = (−4, −1).


Exemplo 2
Faça um esboço detalhado da região R do plano dada pelo sistema de ine-

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 111

quações:

 x≤y+1

R: x ≥ −y

x + y 2 > 12 .
 2

Solução.
A região R é a interseção das regiões:
R1 : x ≤ y + 1 , R2 : x ≥ −y e R3 : x2 + y 2 > 12 .

Determinando a região R1
A região R1 consiste dos pontos (x, y) tais que x ≤ y + 1, ou seja, x − y ≤ 1.
Consideremos a reta r1 : x − y = 1 e seu vetor normal (a, b) = (1, −1), que
aponta no sentido para o qual o parâmetro c na equação x − y = c aumenta.
Assim, a região R1 é o semiplano da figura 3.
Determinando a região R2
A região R2 é formada pelos pontos (x, y) tais que x ≥ −y, ou seja, x+y ≥ 0.
Considerando agora a reta r2 : x + y = 0, seu vetor normal (a, b) = (1, 1)
aponta no sentido para o qual o parâmetro c na equação x + y = c aumenta.
A região R2 é o semiplano indicado na figura 4.

Figura 3: Região R1 . Figura 4: Região R2 .

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112

Determinando a região R3

1
A equação C : x2 + y 2 = 2
repre-
senta o círculo de centro na origem
1
e raio √ . Para um ponto (x, y)
2
pertencer à região R3 , o quadrado
da sua distância à origem deve ser
1
maior que , ou seja, o ponto deve
2
estar na região exterior ao círculo
C, como mostramos na figura 5.

Figura 5: Região R3 .

Para esboçarmos corretamente a região R, devemos determinar a interseção


de r1 com r2 :
(
x−y =1 1 1
r1 ∩ r2 : =⇒ 2x = 1 =⇒ x = =⇒ y = − .
x+y =0 2 2
1 1
Assim, as retas se intersectam no ponto de A = , − . Este ponto per-
2 2
 1 2  1 2 1 1 1
tence à circunferência C, pois + − = + = .
2 2 4 4 2
Além disso, {A} = r1 ∩ C, pois:
P = (x, y) ∈ r1 ∩ C ⇐⇒ x=y+1 e x2 + y 2 = 21
⇐⇒ x=y+1 e (y + 1)2 + y 2 = 12
⇐⇒ x=y+1 e 2y 2 + 2y + 21 = 0
⇐⇒ x=y+1 e 4y 2 + 4y + 1 = 0

−4 ± 16 − 16
⇐⇒ x = y + 1 e y=
8
1
⇐⇒ x = y + 1 e y=−
2
1 1
⇐⇒ x = − + 1 e y=−
2 2
1 1
⇐⇒ x = − e y=−
2 2
Na figura 6, mostramos a região R = R1 ∩ R2 ∩ R3 .

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 113

Figura 6: Região R, exemplo 2.

Exemplo 3
Determine os pontos C e B de modo que a projeção ortogonal do segmento
AB sobre a reta r : x + 3y = 6 seja o segmento CD, onde A = (1, 1),
D = (3, 1) e AB é um segmento contido numa reta paralela ao vetor (2, 1).

Solução.
Primeiro vamos determinar a reta ` que contém os pontos A e B.
−−→ −−→
Como AB é paralelo ao vetor (2, 1), temos AB ⊥ (−1, 2) e, portanto,
` : −x + 2y = c. Determinamos c sabendo que A ∈ `: c = −1 + 2(1) = 1.
Logo ` : −x + 2y = 1.
Seja agora r1 a reta perpendicular a r que passa por D = (3, 1).
Como (1, 3) ⊥ r, temos (1, 3) k r1 . Logo (−3, 1) ⊥ r1 e, portanto, a
equação de r1 tem a forma: r1 : −3x + y = c. Como D = (3, 1) ∈ r1 ,
c = −3(3) + 1 = −8.
Assim, r1 : −3x + y = −8.
Para determinarmos o ponto B (r1 ∩ ` = {B}), devemos resolver o sistema
formado pelas equações de r1 e `:

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114

( (
−3x + y = −8 −3x + y = −8 11
=⇒ =⇒ −5y = −11 =⇒ y =
−x + 2y = 1 3x − 6y = −3 5
.
22 17
=⇒ x = 2y − 1 = −1=
5 5
 17 11 
Logo B = , .
5 5
O ponto C procurado, além de pertencer à reta r, deve pertencer à reta r2
perpendicular a r que passa por A.
Sendo r1 k r2 , a equação de r2 deve ser da forma r2 : −3x + y = c, onde c é
calculado sabendo que A = (1, 1) ∈ r2 : c = −3(1) + 1 = −2.
Portanto, r2 : −3x + y = −2.
Temos então {C} = r2 ∩ r :
( (
−3x + y = −2 −3x + y = −2 8
=⇒ =⇒ 10y = 16 =⇒ y =
x + 3y = 6 3x + 9y = 18 5
.
24 6
=⇒ x = 6 − 3y = 6 − =
5 5
6 8
Assim, C = , é o outro ponto procurado.
5 5

Figura 7: Segmento CD obtido projetando o segmento AB sobre a reta r.

Exemplo 4
Seja P o paralelogramo ABDC cujas diagonais estão sobre as retas
( (
x=t+1 x = −2s + 1
r1 : ; t∈R e r2 : ; s∈R
y = −t + 1 y =s+2

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 115

Sabendo que A = (1, 1) e que AB ⊂ r, onde r é uma reta paralela ao


vetor (2, 1), determine os vértices B, C e D de P.

Solução.
Sabemos que num paralelogramo as diagonais cortam-se num ponto M , que
é ponto médio de ambas. Em nosso caso, {M } = r1 ∩ r2 :
( (
t + 1 = −2s + 1 t + 2s = 0
r1 ∩ r2 : =⇒ =⇒ s = 1.
−t + 1 = s + 2 −t − s = 1
Logo M = (−2 × 1 + 1, 1 + 2) = (−1, 3) é o ponto médio das diagonais AD
e BC. Em particular,
A+D
M= =⇒ 2M = A + D =⇒ D = 2M − A = (−2, 6) − (1, 1) = (−3, 5) .
2
Como A e D pertencem à reta r1 (t = 0 e t = −4, respectivamente), os
pontos B e C pertencem à reta r2 .
Além disso, {B} = r ∩ r2 .
Determinemos a reta r.
Sabemos que a reta r passa
por A e é paralela ao vetor
(2, 1). Logo (−1, 2) ⊥ r e,
portanto, r : −x + 2y = c.
Como A = (1, 1) ∈ r, obte-
mos c = −1 + 2(1) = 1.
Assim, r : −x + 2y = 1. Figura 8: Paralelogramo P = ABDC, exemplo 4.
Determinemos agora o vértice
B.
Como B ∈ r1 ∩ r2 , B = (−2s + 1, s + 2), para algum s, e
1
−(−2s + 1) + 2(s + 2) = 1 =⇒ 2s − 1 + 2s + 4 = 1 =⇒ 4s = −2 =⇒ s = − .
2
  1 1
  3

Logo B = −2 − + 1, − + 2 = 2, .
2 2 2
Finalmente, para determinar C, usamos de novo o ponto médio:
B+C
 3  9

M= =⇒ C = 2M − B = (−2, 6) − 2, = −4, ,
2 2 2
concluindo assim a determinação dos vértices de P (Veja a figura 8).

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116

Exemplo 5
Ache a equação do círculo C circunscrito ao triângulo de vértices A = (7, 3),
B = (1, 9) e C = (5, 7).

Solução.
O centro D do círculo C circunscrito ao triângulo 4ABC é o ponto de interse-
ção das mediatrizes dos lados deste triângulo. Além disso, como A, B, C ∈ C,
o raio R de C é dado por:
R = d(A, D) = d(B, D) = d(C, D).

Para determinar o ponto D, basta achar


e intersectar duas mediatrizes.
Sabemos que a mediatriz do segmento
AB, ou seja, o conjunto
mAB = {P | d(P, A) = d(P, B)},
−−→
é a reta perpendicular ao vetor AB
que passa pelo ponto médio MAB do
segmento AB.
Como
1 1
MAB = ((7, 3) + (1, 9)) = (8, 12) = (4, 6) Figura 9: Exemplo 5.
2 2
e
−−→
AB = (−6, 6) ⊥ r ⇐⇒ (−1, 1) ⊥ r,
a reta mAB tem equação:
mAB : −x + y = c.
Sendo MAB = (4, 6) ∈ mAB , c = −4 + 6 = 2. Portanto,
mAB : −x + y = 2.
Determinemos a mediatriz mBC do segmento BC, isto é, a reta perpendicular
−−→
ao vetor BC que passa pelo ponto médio
1 1
MBC = ((1, 9) + (5, 7)) = (6, 16) = (3, 8).
2 2
−−→
Como BC = (4, −2) ⊥ mBC ⇐⇒ (2, −1) ⊥ mBC , a equação da mediatriz
mBC é da forma
mBC : 2x − y = c,

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 117

onde c é calculado sabendo que MBC ∈ mBC , ou seja, c = 2(3) − 8 = −2.


Logo,
mBC : 2x − y = −2 .
Para determinar D, devemos resolver o sistema formado pelas equações de
mAB e mBC :
(
−x + y = 2
⇐⇒ (−x + 2x) + (y − y) = 2 − 2 ⇐⇒ x = 0.
2x − y = −2
Logo y = 2 + x = 2 e, portanto, D = (0, 2) é o centro de C.
p √ √
Além disso, R = d(D, A) = (0 − 7)2 + (2 − 3)2 = 49 + 1 = 50 é o raio
de C.
Finalmente,
√ 2
C : (x − 0)2 + (y − 2)2 = 50 ,
ou seja,
C : x2 + (y − 2)2 = 50 ,
é a equação do círculo C.

Exemplo 6 
x = 2t
Considere as retas r1 : 4x − y = 0 , r2 : 4x − y = 1 , e r3 : ;
y = −t
t ∈ R.. Determine o ponto C ∈ r3 tal que d(C, r1 ) = d(C, r2 ).

Solução.
Temos que P = (x, y) equidista de r1 e r2 ⇐⇒ d(P, r1 ) = d(P, r2 )

|4x − y| |4x − y − 1|
⇐⇒ d(P, r1 ) = p =p = d(P, r2 )
42 + (−1)2 42 + (−1)2

⇐⇒ |4x − y| = |4x − y − 1| ⇐⇒ 4x − y = ±(4x − y − 1)


 
 4x − y = 4x − y − 1  0 = −1
⇐⇒ ou ⇐⇒ ou
 4x − y = −4x + y + 1  8x − 2y = 1

Sendo a primeira dessas alternativas impossível, a segunda deve acontecer.


Isto é,
1
P = (x, y) equidista de r1 e r2 ⇐⇒ 8x − 2y = 1 ⇐⇒ 4x − y = .
2

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118

Portanto, o conjunto dos pontos equidistantes das retas paralelas r1 e r2 é a


reta s, paralela a ambas, que tem por equação:
1
s : 4x − y = .
2
Então {C} = s ∩ r3 , ou seja, C = (2t, −t) para algum t ∈ R e
 
1 1 2 1
4(2t) − (−t) = =⇒ t = =⇒ C = ,− .
2 18 18 18


Exemplo 7
Seja 4ABC um triângulo de área 4 tal que AB ⊂ r1 e AC ⊂ r2 , onde
r : y = 3x + 1 e r é a reta paralela ao vetor →
1 2

u = (3, 1) que passa pelo ponto
M = (3, 2).

Ache a equação cartesiana da reta r3 paralela ao vetor →



v = (1, −1) que
contém o lado BC, e determine os vértices A, B e C.

Solução.
Como AB ⊂ r1 e AB ⊂ r2 , temos {A} = r1 ∩ r2 .
Para determinar o vértice A, devemos obter a equação da reta r2 . Pelas
informações dadas, as equações paramétricas de r2 são :
(
x = 3 + 3t
r2 : ; t ∈ R.
y =2+t
Assim, A = (3 + 3t, 2 + t), para algum t ∈ R.
Sendo A ∈ r1 , temos:
2 + t = 3(3 + 3t) + 1 ⇐⇒ 2 + t = 10 + 9t ⇐⇒ 8t = −8 ⇐⇒ t = −1 .
Portanto, A = (3 + 3(−1), 2 + (−1)) = (0, 1).

Em relação aos outros dois vértices, temos:


B ∈ r1 =⇒ B = (x, 3x + 1) , para algum x ∈ R
C ∈ r2 =⇒ C = (3t + 3, t + 2) , para algum t ∈ R .
Como
−−→
AB = (x − 0, (3x + 1) − 1) = (x, 3x)
e

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 119

−−→
AC = ((3t + 3) − 0, (t + 2) − 1) = (3t + 3, t + 1) ,
temos que:
!
1 x 3x
área (4ABC) = det
2 3t + 3 t + 1
1 1
= 2
|xt + x − 9xt − 9x| = |−8xt − 8x|
2
8
= 2
|x(t + 1)| = 4
ou seja,

|x(t + 1)| = 1 (1)

−−→ −−→ −
Além disso, como BC k r3 e → −
v = (1, −1) k r3 , temos BC k → v , onde
−−→
BC = ((3t + 3) − x, (t + 2) − (3x + 1)) = (3t − x + 3, t − 3x + 1).
−−→!
BC
Assim, det → − = 0, ou seja,
v
−−→! !
BC 3t − x + 3 t − 3x + 1
det → − = det
v 1 −1
= −3t + x − 3 − t + 3x − 1 = −4t + 4x − 4 = 0
⇐⇒ −t + x − 1 = 0 ⇐⇒ x = t + 1 .
Substituindo na identidade (1), obtemos |x2 | = 1, ou seja, x2 = 1.
Logo x = 1 ou x = −1.
Se
x = 1 =⇒ t = x − 1 = 1 − 1 = 0
e, portanto,
B = (1, 3(1) + 1) = (1, 4) e C = (3(0) + 3, 0 + 2) = (3, 2) .
Se
x = −1 =⇒ t = x − 1 = −1 − 1 = −2.
Logo,
B = (−1, 3(−1) + 1) = (−1, −2) e C = (3(−2) + 3, −2 + 2) = (−3, 0) .
Obtemos, assim, dois triângulos que resolvem o problema:

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120

• O triângulo 4ABC, com vér-


tices A = (0, 1), B = (1, 4) e
C = (3, 2).

• O triângulo 4ABC, com vér-


tices A = (0, 1), B = (−1, −2)
e C = (−3, 0).
Determinemos, em cada caso,
a reta r3 que contém os vérti-
ces B e C.

Figura 10: Exemplo 7.


Em ambos os casos, →
−v = (−1, 1) k r3 , ou seja, (1, 1) ⊥ r3 . Logo r3 : x+y = c,
onde o valor c pode ser determinado sabendo, por exemplo, que o ponto B,
calculado em cada um dos dois casos, pertence a r3 .
No primeiro caso: c = 1 + 4 = 5 =⇒ r3 : x + y = 5.
No segundo caso: c = −1 − 2 = −3 =⇒ r3 : x + y = −3. 

Exemplo 8
(a)Mostre que as retas r1 : x − y = 2 e r2 : x + y = 2 são tangentes ao círculo
C : x2 + y 2 = 2, e determine os pontos de tangência.
(b) Usando o item (a), faça um esboço detalhado da região R do plano dado
pelo seguinte sistema de inequações:
 2

 x + y2 < 4
 x2 + y 2 ≥ 2

R:


 x + |y| ≥ 2
x ≥ 1.

Solução.
(a) Uma reta r é tangente a um círculo C quando a interseção de C com
r consiste de um único ponto P , o ponto de tangência.
Um ponto P1 = (x, y) ∈ r1 ∩ C se, e somente se,

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 121

x=y+2 e x2 + y 2 = 2
⇐⇒ x=y+2 e (y + 2)2 + y 2 = 2
⇐⇒ x=y+2 e 2y 2 + 4y + 2 = 0
⇐⇒ x=y+2 e y 2 + 2y + 1 = 0
⇐⇒ x=y+2 e y = −1
⇐⇒ x=1 e y = −1
⇐⇒ P1 = (1, −1).

E um ponto P2 = (x, y) ∈ r1 ∩ C se, e somente se,


x=2−y e x2 + y 2 = 2
⇐⇒ x=2−y e (2 − y)2 + y 2 = 2
⇐⇒ x=2−y e y 2 − 2y + 1 = 0
⇐⇒ x=1 e y=1
⇐⇒ P2 = (1, 1).

(b) Observe que R = R1 ∩ R2 ∩ R3 ∩ R4 , onde:


R1 : x2 + y 2 < 4 ,
R2 : x2 + y 2 ≥ 2 ,
R3 : x + |y| ≥ 2
R4 : x ≥ 1.

Determinando R1 .

Note que C1 : x2 +y 2 = 4 é o círculo


de centro na origem e raio 2. Os
pontos que satisfazem à primeira
inequação são os pontos interiores
a este círculo.

Figura 11: Região R1 .

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122

Determinando R2 .
Note que C2 : x2 + y 2 = 2, é o cír-

culo de centro na origem e raio 2.
Os pontos que satisfazem à segunda
inequação são os pontos exteriores
a este círculo e os pontos deste cír-
culo.

Figura 12: Região R2 .


Determinando R3 .

y, se y ≥ 0
Como R3 : |y| ≥ 2 − x e |y| = −y , se y ≤ 0 , R3 é a união de duas
regiões S1 e S2 :
• S1 é a interseção do semiplano y ≥ 0 com o semiplano acima da reta
x + y = 2:
S1 = {(x, y) | y ≥ 0 e x + y ≥ 2}.
• S2 é a interseção do semiplano y ≤ 0 com o semiplano abaixo da reta
x − y = 2:
S2 = {(x, y) | y ≤ 0 e x − y ≥ 2} .

Figura 13: Região S1 . Figura 14: Região S2 .

A região R3 é a união das regiões S1 e S2 , como mostra a figura 6.

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 123

Figura 15: Região R3 .

Determinando R4 .
A região R4 consiste dos pontos P = (x, y), com x ≥ 1, isto é, dos pontos à
direita da reta vertical x = 1.

Figura 16: Região R4 . Figura 17: Região R .

Determinando R.
Finalmente, sabendo, pelo item(a), que r1 ∩C2 = {(1, −1)} e r2 ∩C2 = {(1, 1)}
podemos esboçar a região R.

Exemplo 9
−−→
Seja ABDC um paralelogramo tal que A ∈ r1 , B ∈ r2 , C = (2, 3), CD é
−−→
múltiplo do vetor (1, 4) e AC ⊥ r3 , onde

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124

( (
x=t+1 x = −5s + 3
r1 : ; t ∈ R , r2 : ; s ∈ R , r3 : 2x − 3y = 6.
y = −2t + 3 y = 4s − 1

Determine os vértices A, B e D, e calcule a área do paralelogramo.

Solução.
−−→ −−→
Sendo AC ⊥ r3 e (2, −3) ⊥ r3 , temos AC k (2, −3), ou seja,
−−→ !
AC
det = 0.
(2, −3)
Como A ∈ r1 , temos, para algum t ∈ R, que A = (t + 1, −2t + 3) e, portanto,
−−→
AC = (2 − (t + 1), 3 − (−2t + 3)) = (1 − t, 2t).
Logo,
−−→ ! !
AC 1 − t 2t
det = det = −3(1 − t) − 2(2t)
(2, −3) 2 −3
= −3 + 3t − 4t = −3 − t = 0 =⇒ t = −3 .
Assim,
A = (t + 1, −2t + 3) = (−3 + 1, −2(−3) + 3) = (−2, 6 + 3) =⇒ A = (−2, 9).
−−→ −−→ −−→
Como ABDC é um paralelogramo, AB = CD , e sendo CD múltiplo de
(1, 4),

−−→
CD = k(1, 4) = (k, 4k), (2)

para algum k ∈ R.
Por outro lado, B ∈ r2 =⇒ B = (−5s + 3, 4s − 1), para algum s ∈ R.
−−→
Logo AB = (−5s + 3 − (−2), 4s − 1 − 9) = (−5s + 5, 4s − 10).
Sabendo que dois vetores são iguais se, e somente se, as suas correspondentes
coordenadas são iguais, temos:
(
−−→ −−→ −5s + 5 = k
AB = CD ⇐⇒
4s − 10 = 4k .
Substituindo k da primeira equação na segunda, obtemos
30 5 5 5
4s − 10 = −20s + 20 =⇒ 24s = 30 =⇒ s = = =⇒ k = −5 × + 5 = − .
24 4 4 4

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 125

Se D = (x, y), temos por (2), que


−−→  5  5   5 
CD = (x − 2, y − 3) = − , 4 − = − , −5 .
4 4 4
 5  3 
Assim, D = (x, y) = − + 2, −5 + 3 = , −2 .
4 4
 5 
Também, se B = (x0 , y 0 ), temos (x0 − (−2), y 0 − 9) = − , −5 , pois
4
−−→ −−→
AB = CD .
5 13 13
 
0
Logo x = −2 − = − e y 0 = 9 − 5 = 4. Isto é, B = − , 4 .
4 4 4

Calculemos agora a área do paralelogramo ABDC.


−−→  5  −−→
Como AB = − , −5 e AC = (2 − (−2), 3 − 9) = (4, −6), temos:
4
−−→! !
AB − 54 −5
área (ABDC) = det −−→ = det
AC 4 −6

30 110 55
= + 20 = = .
4 4 2


Exemplo 10
Considere os pontos E = (1, 6), F = (2, 3) e as retas r1 e r2 dadas por:
(
x = 2t − 1
r1 : ; t∈R e r2 : 3x − y = 3 .
y = 5t + 1

Determine os pontos A, B, G e D tais que DE seja a projeção ortogonal


do segmento AB sobre a reta r1 e F G seja a projeção ortogonal do segmento
−−→
AB sobre a reta r2 , sabendo-se que AB = (1, 2).

Solução.
Sendo DE a projeção ortogonal de AB sobre r1 , o ponto B deve ser pro-
jetado no ponto E e sendo F G a projeção ortogonal de AB sobre r2 , o ponto
A deve ser projetado no ponto F .
Seja s1 a perpendicular a r1 que passa por E. Então B ∈ s1 .
Determinemos as equações paramétricas de s1 .

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126

Como (2, 5) k r1 , então (2, 5) ⊥ s1 .


Logo (5, −2) k s1 e, sendo E = (1, 6) ∈ s1 , temos:
(
x = 5t + 1
s1 : ; t ∈ R.
y = −2t + 6
Em particular, B ∈ s1 =⇒ B = (5t + 1, −2t + 6), para algum t ∈ R.
Analogamente, seja s2 a reta que passa por F e é perpendicular a r2 . Então
A ∈ s2 .
Determinemos as equações paramétricas de s2 .
Sendo s2 ⊥ r2 e (3, −1) ⊥ r2 , temos (3, −1) k s2 .
Logo, como F = (2, 3) ∈ s0 , as equações paramétricas de s2 são:
(
x = 3s + 2
s2 : ; s ∈ R.
y = −s + 3
Como A ∈ s2 , devemos ter A = (3s + 2, −s + 3), para algum s ∈ R.
−−→
Por hipótese, AB = (1, 2). Logo:
−−→
AB = ((5t + 1) − (3s + 2), (−2t + 6) − (−s + 3))
= (5t − 3s − 1, −2t + s + 3) = (1, 2).
Essa identidade nos permite calcular os valores dos parâmetros t e s:
( (
5t − 3s − 1 = 1 5t − 3s = 2
ou seja,
−2t + s + 3 = 2 , −2t + s = −1 .
Multiplicando a segunda equação por 3 e somando com a primeira, obtemos:
−t = −1 ⇐⇒ t = 1. Substituindo na segunda equação, concluímos que
s = 2(1) − 1 = 1.
Portanto, A = (3(1) + 2, −1 + 3) = (5, 2) e B = (5(1) + 1, −2(1) + 6) = (6, 4) .
Para achar o ponto D ∈ r1 tal que DE é a projeção ortogonal de AB sobre
r1 , precisamos determinar a reta s3 perpendicular a r1 que passa por A. O
ponto D é a interseção de s3 com r1 .
Como s3 ⊥ r1 e (2, 5) k r1 , a equação de s3 é da forma: s3 : 2x + 5y = c.
Sendo A = (5, 2) ∈ s3 , devemos ter c = 2(5) + 5(2) = 20. Portanto,
s3 : 2x + 5y = 20 .
Intersectar r1 com s3 significa achar o ponto (2t − 1, 5t + 1) ∈ r1 que pertence
a s3 , ou seja, achar o valor de t para o qual as coordenadas deste ponto

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CAPÍTULO 6. EXEMPLOS DE REVISÃO 127

satisfazem a equação de r3 :
2(2t − 1) + 5(5t + 1) = 20 =⇒ 4t − 2 + 25t + 5 = 20
17
=⇒ 29t = 17 =⇒ t = .
29
Este valor de t é o parâmetro do ponto D na reta r1 :
 17 17
  5 114 
D= 2 − 1, 5 +1 = , .
29 29 29 29
Finalmente, o ponto G é o ponto de interseção de r2 com a sua perpendicular
s4 que passa por B = (6, 4).
Como s4 ⊥ r2 e (3, −1) ⊥ r2 , temos (3, −1) k s4 . Logo,
(
x = 6 + 3s
s4 : ; s ∈ R,
y =4−s
pois B = (6, 4) ∈ s4 .
Calculemos o valor do parâmetro s de modo que o ponto
G = (6 + 3s, 4 − s) ∈ s4
satisfaça a equação de r2 :
3(6 + 3s) − (4 − s) = 3 =⇒ 18 + 9s − 4 + s = 3
11
=⇒ 10s = −11 =⇒ s = − .
10
11 11
   27 51 
Portanto, G = 6 − 3 , 4 + = , .
10 10 10 10

Figura 18: r1 ⊥ s1 , r1 ⊥ s3 , r2 ⊥ s2 e r2 ⊥ s4 .

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Capítulo 7

Coordenadas e distância no
espaço

1. Coordenadas no Espaço

Seja E o espaço da Geometria Euclidiana tridimensional.


Um sistema de eixos ortogonais OXY Z em E consiste de três eixos
ortogonais entre si, OX, OY e OZ, com a mesma origem O (figura 1).

Figura 1: Sistema de eixos ortogonais no espaço. Figura 2: Planos cartesianos no espaço.

Escolhido um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E, os pla-


nos cartesianos são (figura 2):
• πXY , o plano que contém os eixos OX e OY ,

129
130 1.. COORDENADAS NO ESPAÇO

• πXZ , o plano que contém os eixos OX e OZ,


• πY Z , o plano que contém os eixos OY e OZ.
Um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E permite estabele-
cer uma correspondência entre pontos P ∈ E e ternos ordenados de números
reais (x, y, z), de modo que a cada ponto corresponde exatamente um terno
ordenado de números reais, e a cada terno ordenado de números reais corres-
ponde exatamente um ponto de E.
Assim, se P está em correspondência com o terno (x, y, z), dizemos que
x, y e z são as coordenadas de P em relação ao sistema de eixos
ortogonais OXY Z. Estas coordenadas são obtidas da seguinte forma:
• coordenada x: coordenada no eixo OX associada ao ponto de interseção
deste eixo com o plano π 0 que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πY Z .
• coordenada y: coordenada no eixo OY associada ao ponto de interseção
deste eixo com o plano π 00 que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πXZ .
• coordenada z: coordenada no eixo OZ associada ao ponto de interseção
deste eixo com o plano π 000 que passa pelo ponto P e é paralelo ao plano πXY .

Figura 3: Coordenadas do ponto P no espaço. Figura 4: Determinando as coordenadas do ponto P .

Uma vez escolhido um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço E,


todo ponto P ∈ E é identificado pelas suas coordenadas (x, y, z) em relação
a este sistema de eixos e escrevemos:
P = (x, y, z)

Com esta identificação, observamos que:

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CAPÍTULO 7. COORDENADAS E DISTÂNCIA NO ESPAÇO 131

• a origem do sistema de eixos ortogonais é o ponto O = (0, 0, 0).


• os eixos do sistema são os conjuntos:

eixo−OX = {(x, 0, 0) | x ∈ R}
eixo−OY = {(0, y, 0) | y ∈ R}
eixo−OZ = {(0, 0, z) | z ∈ R}

• os planos cartesianos são os conjuntos:

πXY = {(x, y, 0) | x, y ∈ R}, ou seja, πXY : z = 0


πXZ = {(x, 0, z) | x, z ∈ R}, ou seja, πXZ : y = 0
πY Z = {(0, y, z) | y, z ∈ R}, ou seja, πY Z : x = 0

Um sistema de coordenadas cartesianas no espaço E permite des-


crever todos os subconjuntos do espaço por meio das coordenadas de seus
pontos. Por exemplo, vejamos como caracterizar outros planos com equa-
ções que envolvem as coordenadas dos pontos neles contidos.

Definição 1
• Um plano π é chamado horizontal quando coincide ou é paralelo ao plano
πXY .

Figura 5: Plano π horizontal, paralelo ao plano πXY .

Se c ∈ R é a terceira coordenada do único ponto onde π intersecta o


eixo−OZ, então qualquer ponto P ∈ π terá a sua terceira coordenada igual
a c, ou seja,

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132 1.. COORDENADAS NO ESPAÇO

π = {P ∈ E | P = (x, y, c)}

Assim, descrevemos o plano π pela equação:


π:z=c

• Analogamente, os planos paralelos aos planos πXZ e πY Z são dados, res-


pectivamente, por equações da forma y = b e x = a, com b 6= 0 e a 6= 0.

Figura 6: O plano π : y = b, b 6= 0, é paralelo ao Figura 7: O plano π : x = a, a 6= 0, é paralelo ao


plano πXZ . plano πY Z .

Observação 1
Uma reta r no espaço, que é pa-
ralela a um dos eixos coordenados,
intersecta o plano cartesiano com-
plementar em apenas um ponto. As
coordenadas deste ponto determi-
nam as coordenadas de todos os pon-
tos da reta r.
Por exemplo, sejam r1 uma reta pa-
ralela ao eixo OZ e r1 ∩πXY = {Q1 }. Figura 8: Retas r1 , r2 e r3 paralelas aos eixos coorde-
nados.
Se Q1 = (a, b, 0), então qualquer
outro ponto Q = (x, y, z) ∈ r1 satisfaz: x = a, y = b e z ∈ R (veja a
figura 8).

x=a
Portanto, { r1 = (a, b, z) ; z ∈ R } e as equações da reta são r1 : y = b.

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CAPÍTULO 7. COORDENADAS E DISTÂNCIA NO ESPAÇO 133

De modo análogo:
• Se r2 k eixo OY e r2 ∩ πXZ = {Q2 = (a, 0, c)}, então r2 = {(a, y, c) ; y ∈ R}

x=a
e as equações da reta são: r2 : z = c .

• Se r3 k eixo OX e r3 ∩ πY Z = {Q3 = (0, b, c)}, então r3 = {(x, b, c) ; x ∈ R},



y=b
e as equações da reta são r3 : z = c .

Definição 2
Um plano π é chamado vertical quando contém ou é paralelo ao eixo−OZ.
Isto é, π é um plano vertical se, e somente se,
eixo−OZ ⊂ π ou eixo−OZ ∩ π = ∅.

Por exemplo, os planos π : x = a,


a ∈ R, assim como os planos π : y = b,
b ∈ R, são planos verticais.
Um plano vertical π intersecta o
plano πXY ao longo de uma reta r. A
reta r, vista exclusivamente no plano
πXY : z = 0, possui uma equação da
forma αx + βy = d, onde α2 + β 2 6= 0.
Figura 9: Plano π paralelo ao eixo−OZ e
Mas, no espaço, a reta r = π ∩ πXY é r = π ∩ πXY .
dada por duas equações:

αx + βy = d
r:
z = 0.

Ou seja, um ponto pertence à reta r se, e somente se, as suas coorde-


nadas satisfazem, simultaneamente, às duas equações acima.
Por outro lado, como a direção do eixo-OZ é parelela ao plano π, π é
formado pela união de todas as retas paralelas ao eixo-OZ que passam por
um ponto de r.
Portanto, pela Observação 1,

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134 2.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS DO ESPAÇO


π = (x, y, z) ∈ R3 α x + β y = d e z ∈ R .

Dizemos então que a equação do plano π é dada por:

π : αx+βy = d

Observação 2
Não confunda! No espaço, uma equação da forma αx + βy = d representa
um plano vertical, ao passo que, no plano de coordenadas XY , esta equação
representa uma reta.

Procedendo de forma análoga com os outros dois eixos, temos que:

eixo − OX k π ou eixo − OX ⊂ π ⇐⇒ π : βy + γz = d, onde β 2 + γ 2 6= 0;

eixo − OY k π ou eixo − OY ⊂ π ⇐⇒ π : αx + γz = d, onde α2 + γ 2 6= 0;

eixo − OZ k π ou eixo − OZ ⊂ π ⇐⇒ π : αx + βy = d, onde α2 + β 2 6= 0.

2. Distância entre dois pontos do espaço

Sejam P = (a, b, c) e Q = (a0 , b0 , c0 ) pontos no espaço E.


Começamos observando que se P e Q estão sobre uma reta paralela
a um dos eixos coordenados, então eles têm duas coordenadas iguais e a
distância entre eles é o módulo da diferença das coordenadas diferentes.
Suponhamos que P e Q não estão sobre uma reta paralela a um dos
eixos coordenados. Para o cálculo da distância de P a Q são considerados
os pontos auxiliares (figura 10):
R = (a, b, c0 ), S = (a, b, 0), T = (a0 , b0 , 0) e U = (a0 , b, 0).
Pela observação feita anteriormente,
d(S, U ) = |a0 − a| e d(U, T ) = |b0 − b|.
Usando o teorema de Pitágoras no triângulo 4SU T , obtemos:
d(S, T )2 = d(S, U )2 + d(U, T )2 = |a0 − a|2 + |b0 − b|2 = (a0 − a)2 + (b0 − b)2 .

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CAPÍTULO 7. COORDENADAS E DISTÂNCIA NO ESPAÇO 135

Os segmentos ST e RQ são lados opostos de um retângulo. Logo,


d(R, Q)2 = d(S, T )2 = (a0 − a)2 + (b0 − b)2 .

Figura 10: Os triângulos 4P RQ e 4SU T são retângulos e o quadrilátero RST Q é um retângulo.

Além disso, d(P, R) = |c0 − c|, pois os pontos P e R estão sobre uma
mesma reta paralela ao eixo OZ.
Finalmente, como o triângulo 4P RQ é retângulo,
d(P, Q)2 = d(P, R)2 + d(R, Q)2 = |c0 − c|2 + (a0 − a)2 + (b0 − b)2 ,
ou seja,
p
d(P, Q) = (a0 − a)2 + (b0 − b)2 + (c0 − c)2

Definição 3
A esfera S de centro C e raio r é o conjunto que consiste dos pontos P ∈ E
cuja distância ao centro C é igual a r:
S = {P ∈ E | d(P, C) = r} .

Figura 11: Esfera S de centro C = (a, b, c) e raio r.

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136 2.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS DO ESPAÇO

Sejam C = (a, b, c) e P = (x, y, z) as expressões do centro C e de um


ponto genérico P de S em relação ao sistema de eixos ortogonais OXY Z.
p
Então, P ∈ S ⇐⇒ d(P, C) = r ⇐⇒ (x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = r.
Elevando ao quadrado ambos os lados desta última identidade, obtemos
a equação da esfera S no sistema de eixos OXY Z:

S : (x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = r2

Exemplo 1
Mostre, completando os quadrados, que a equação de segundo grau
z 2 + x2 + y 2 − 2x + 4y − 6z = 1,
representa uma esfera S. Determine o centro e o raio de S.

Solução.
Completando os quadrados na equação, temos:
z 2 + x2 + y 2 − 2x + 4y − 6z = 1
⇐⇒ (x2 − 2x) + (y 2 + 4y) + (z 2 − 6z) = 1
⇐⇒ (x2 − 2x+1) + (y 2 + 4y+4) + (z 2 − 6z+9) = 1+1+4+9
⇐⇒ (x − 1)2 + (y + 2)2 + (z − 3)2 = 15.

Portanto, S é a esfera de centro C = (1, −2, 3) e raio r = 15. 

Exemplo 2
Ponto médio de um segmento no espaço. Determinar as coordenadas
do ponto médio do segmento que liga os pontos A = (a, b, c) e B = (a0 , b0 , c0 ).

Solução.
Na figura 12 mostramos um segmento AB genérico e o seu ponto médio
M = (ma , mb , mc ). Por hipótese, d(A, M ) = d(M, B), ou seja, |AM | = |M B|.
Pelo critério ALA de congruência de triângulos, temos 4ACM ' 4M DB.
Em particular, |CM | = |DB|. Logo, |F G| = |CM | = |DB| = |GH|.

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CAPÍTULO 7. COORDENADAS E DISTÂNCIA NO ESPAÇO 137

Figura 12: Ponto médio de um segmento no espaço.

Aplicando de novo o critério ALA, vemos que os triângulos 4F IG e 4GJH


a + a0
são congruentes. Em particular, |F I| = |GJ| e, portanto, ma = .
2
b + b0
Analogamente, |IG| = |JH|; donde, mb = .
2
Também da congruência 4ACM ' 4M DB, obtemos:
|KN | = |AC| = |M D| = |LP |.
c + c0
Portanto, mc = . Assim, o ponto médio M do segmento AB tem
2
coordenadas:
 
a + a0 b + b0 c + c0
M = (ma , mb , mc ) = , ,
2 2 2

Exemplo 3
Determinar o conjunto,
M = {P ∈ E | d(P, A) = d(P, B)} ,
que consiste dos pontos equidistantes a dois pontos distintos A e B no espaço.

Solução.
Note que o ponto médio M do segmento AB pertence ao conjunto M.
Consideremos agora um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço tal
que M seja a origem (M = O) e o segmento AB esteja contido no eixo OX,
com A à direita de B.

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138 2.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS DO ESPAÇO

Com esta escolha, as coordenadas dos pontos A e B são da forma: A = (r, 0, 0)


e B = (−r, 0, 0), para algum número real r > 0.

Figura 13: Pontos eqüidistantes de dois pontos dados.

Assim:
P = (x, y, z) ∈ M
⇐⇒ d(A, P ) = d(B, P ) ⇐⇒ d(A, P )2 = d(B, P )2
⇐⇒ (x − r)2 + (y − 0)2 + (z − 0)2 = (x − (−r))2 + (y − 0)2 + (z − 0)2
⇐⇒ x2 − 2xr + r2 = x2 + 2xr + r2 ⇐⇒ −2xr = 2xr ⇐⇒ 4xr = 0
⇐⇒ x = 0 (pois r 6= 0) ⇐⇒ P = (0, y, z) ∈ πY Z .
Ou seja, M = πY Z . Portanto, geometricamente, o conjunto M é o plano
perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto médio deste segmento.


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Capítulo 8

Vetores

1. Vetores no espaço

Vamos agora abordar a noção de vetores no espaço. A definição é a


mesma dada no plano, assim como as principais propriedades, salvo alguns
acréscimos.
Para definir a relação de equipolência no espaço, começamos observando
que duas retas são paralelas quando estão contidas no mesmo plano e não se
intersectam.
De fato, há situações em que duas retas no espaço não se intersectam,
mas não são paralelas. Pense, por exemplo, em duas ruas, sendo uma delas
um viaduto que passa por cima da outra transversalmente!

Figura 1: Paralelogramo ABDC no espaço, AB ≡ CD.

139
140 1.. VETORES NO ESPAÇO

Definição 1
Os segmentos orientados AB e CD no espaço são equipolentes, e escreve-
mos AB ≡ CD, quando satisfazem as seguintes condições:

• AB e CD têm igual comprimento: |AB| = d(A, B) = d(C, D) = |CD|.


• AB e CD estão contidos em retas paralelas ou na mesma reta.
• AB e CD têm o mesmo sentido.

Se AB e CD satisfazem às duas primeiras propriedades, a terceira sig-


nifica, no caso em que A, B, C e D não são colineares, que ABDC é um
paralelogramo no plano que contém os pontos A, B, C e D.
Da mesma forma feita no plano, podemos mostrar que:
AB ≡ CD ⇐⇒ o ponto médio de AD coincide com o ponto médio de BC

A relação de equipolência entre segmentos é uma relação de equiva-


lência, isto é, satisfaz às seguintes propriedades:
1. Reflexividade: Todo segmento é equipolente a si próprio: AB ≡ AB.
2. Simetria: Se AB ≡ CD, então CD ≡ AB.
3. Transitividade: Se AB ≡ CD e CD ≡ EF , então AB ≡ EF .
Estas propriedades podem ser verificadas usando a Proposição 1 abaixo.
Por causa disso, podemos dividir o conjunto que consiste de todos os
segmentos orientados do espaço em subconjuntos especiais chamados classes
de equivalência pela relação de equipolência, ou simplesmente, classes
de equipolência. Cada classe de equipolência é denominada um vetor do
espaço.
Usamos a mesma notação adotada para vetores no plano para designar
o conjunto que consiste de todos os segmentos orientados que são equipolentes
ao segmento AB:

− −−→
v = AB = {CD | AB ≡ CD}

Note que,

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CAPÍTULO 8. VETORES 141

−−→ −−→
AB ≡ CD ⇐⇒ AB = CD

Figura 2: Ponto P é origem de um representante de ~v .

Como no plano, o vetor representado por um segmento cuja origem é


igual à extremidade é chamado vetor nulo ou vetor zero:

− −−→ −−→ −−→
0 = AA = BB = CC = . . ..
Além disso, todo ponto P do espaço é origem de um segmento orientado
−−→
representante de um vetor dado →−
v = AB qualquer (figura 2).
−−→
Ou seja, dado um vetor →

v = AB e um ponto P ∈ E, existe um único
−−→
ponto Q ∈ E tal que →

v = PQ .
Para verificar esta propriedade, quando A, B e P não são colineares,
basta considerar o plano que contém os pontos A, B e P . Neste plano, o
problema de determinar o ponto Q já foi resolvido quando estudamos vetores
no plano.
Notação: Dado um ponto P no espaço e um vetor →

v , designamos o único
−−→
ponto do espaço tal que →

v = P Q como:

Q=P +→

v

Proposição 1
Seja OXY Z um sistema de eixos ortogonais e sejam A = (a, b, c), B = (a0 , b0 , c0 ),
C = (x, y, z) e D = (x0 , y 0 , z 0 ) pontos do espaço.
Então os segmentos AB e CD são equipolentes se, e somente se,
a0 − a = x0 − x , b 0 − b = y 0 − y e c0 − c = z 0 − z .

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142 1.. VETORES NO ESPAÇO

Prova.
Temos que AB ≡ CD se, e somente se, o ponto médio AD coincide com
o ponto médio BC, ou seja, se, e só se:
   0 
a + x0 b + y 0 c + z 0 a + x b0 + y c0 + z
, , = , ,
2 2 2 2 2 2
a+x 0 0
a +x b+y 0 0
b +y c + z0 c0 + z
⇐⇒ = , = e =
2 2 2 2 2 2
⇐⇒ a + x0 = a0 + x , b + y 0 = b0 + y e c + z 0 = c0 + z

⇐⇒ a0 − a = x0 − x , b0 − b = y 0 − y e c0 − c = z 0 − z .
generalizando, assim, o resultado já conhecido no plano. 

Definição 2
Sejam A = (a, b, c) e B = (a0 , b0 , c0 ) pontos no espaço. Os números reais
−−→
a0 − a, b0 − b e c0 − c são as coordenadas do vetor AB no sistema de eixos
OXY Z. Em coordenadas, o vetor é representado por:
−−→
AB = (a0 − a, b0 − b, c0 − c).

Observação 1
• Pela proposição anterior, as coordenadas de um vetor podem ser calculadas
usando qualquer segmento orientado representante do vetor.
• Em particular, dado um vetor →

v = (α, β, γ), o ponto P = (α, β, γ) satisfaz

− −−→
v = OP .
−−→
O vetor OP é o representante na origem do vetor →

v .

Exemplo 1
Considere os pontos A = (1, 4, 0), B = (−1, 1, −1) e C = (3, 5, −10). Deter-
−−→
mine as coordenadas do vetor →−v = AB , do ponto D e do ponto P tais que

− −−→ −−→
v = CD = OP .

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CAPÍTULO 8. VETORES 143

Solução.
−−→
Temos →−
v = AB = (−1 − 1, 1 − 4, −1 − 0) = (−2, −3, −1).
Seja D = (x, y, z) o ponto procurado.
−−→ −−→
Como AB = CD ⇐⇒ AB ≡ CD, temos, pela proposição anterior, que:
−1 − 1 = x − 3 , 1 − 4 = y − 5 − 1 − 0 = z − (−10) .
Ou seja, x = 1, y = 2 e z = −11. Assim, D = (1, 2, −11).
−−→
E pela observação acima, P = (−2, −3, −1) é o ponto tal que →

v = OP . 

2. Operações com vetores no espaço

Vamos definir agora as operações de adição de vetores no espaço e mul-


tiplicação de um vetor espacial por um número real. O processo é análogo ao
efetuado para definir estas operações para vetores no plano e as propriedades
são basicamente as mesmas, por isso muitos detalhes serão omitidos.

Definição 3
Sejam →

u e→−
v vetores no espaço E. Seja A ∈ E um ponto qualquer e sejam
AB e BC segmentos orientados representantes dos vetores →

u e→

v respecti-
vamente.
O vetor soma dos vetores → −
u e→ −
v , que designamos por →

u +→

v , é, por
definição, o vetor representado pelo segmento orientado AC.

Note que a definição da soma de


dois vetores recai na situação já estudada
no plano, pois os pontos A, B e C estão
contidos num mesmo plano π.
De forma análoga ao que foi feito
para vetores no plano, podemos verificar
que a definição do vetor soma não de-
pende da escolha do ponto A ∈ E. Isto Figura 3: Soma de vetores no espaço.

é, o vetor soma está bem definido.

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144 2.. OPERAÇÕES COM VETORES NO ESPAÇO

Na prática, a adição de vetores se efetua em relação às coordenadas dos


vetores parcelas num sistema de eixos ortogonais escolhido.
Assim, fixemos um sistema de eixos ortogonais OXY Z, e, com respeito
a este sistema, sejam →

u = (a, b, c) e →

v = (a0 , b0 , c0 ).

Então o vetor soma →



u +→ −
v é dado em termos de coordenadas como:

−u +→ −
v = (a, b, c) + (a0 , b0 , c0 ) = (a + a0 , b + b0 , c + c0 )

A demonstração deste fato se faz de modo análogo ao feito para vetores


no plano.

Exemplo 2
Sejam A = (3, 2, 0), B = (0, 3, −2) e C = (4, 3, 2) pontos do espaço.
−−→ −−→ −−→
Determine o ponto D tal que AD = AB + AC .

Solução.
Temos,
−−→
AB = (0 − 3, 3 − 2, −2 − 0) = (−3, 1, −2),
−−→
AC = (4 − 3, 3 − 2, 2 − 0) = (1, 1, 2).

Figura 4: Exemplo 2.

Logo,
−−→ −−→
AB + AC = (−3, 1, −2) + (1, 1, 2)
= (−2, 2, 0).
Além disso, se D = (d1 , d2 , d3 ) é a extremidade do representante AD do vetor
−−→ −−→
soma AB + AC com origem no ponto A, então: d1 − 3 = −2, d2 − 2 = 2 e
d3 − 0 = 0. Portanto, D = (1, 4, 0). 

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CAPÍTULO 8. VETORES 145

Propriedades da adição de vetores no espaço


A operação de adição de vetores no espaço possui as mesmas propri-
edades da operação de adição de vetores no plano, que são herdadas das
correspondentes propriedades da adição de números reais.
Sejam →

u,→

v e−
→ vetores no espaço.
w
1. Comutatividade: →

u +→

v =→

v +→

u.

− −−→
2. Existência de elemento neutro: O vetor zero, 0 = AA =
−−→
BB = . . ., representado por qualquer segmento nulo, é o único vetor tal que

− →

u +0 = → −
u qualquer que seja o vetor →

u . Em termos de coordenadas, temos


0 = (0, 0, 0).

3. Existência de inverso aditivo: Dado um vetor → −


u , existe um
único vetor, que é designado −→

u e chamado inverso aditivo (ou simétrico)


de →

u , tal que →

u + (−→

u )= 0 .
−−→ −−→
Note que se →

u = AB , então −→

u = BA .
4. Associatividade: (→

u +→

v )+−
→=→
w −
u + (→

v +−
→) .
w

Figura 5: Associatividade da adição de vetores.

Definição 4
A subtração do vetor →

v pelo vetor →

u é a soma de →−
v com o inverso aditivo
−→

u do vetor →−
u . O vetor →−
v + (−→ −
u ) se escreve, abreviadamente, como


v −→

u.

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146 2.. OPERAÇÕES COM VETORES NO ESPAÇO

−−→ − −−→
Se →

u = AB e →
v = AC , então:

− −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
v + (−→−
u ) = AC + BA = BA + AC = BC .

Observação 2
Já sabemos que se A, B, C são pontos não colineares do plano, então o
ponto D faz do quadrilátero ABDC um paralelogramo se, e somente se,
−−→ −−→ −−→
AD = AB + AC .

Observação 3
Se A, B, C e D são pontos não coplanares no espaço, então
−−→ −−→ −−→
AB + AC = AE ,
−−→ −−→ −−→
AB + AD = AF ,
−−→ −−→ −−→
AC + AD = AG ,
−−→ −−→ −−→ −−→
AB + AC + AD = AH ,

se, e somente se, A, B, C, D, E, F ,


G, e H são os vértices de um parale- Figura 6: Paralelepípedo.
lepípedo no espaço (veja a figura 3).

• A operação de multiplicação de um número real por um vetor no espaço


é definida da mesma forma que no plano.

Definição 5
−−→ −−→
Sejam AB um vetor do espaço e λ ∈ R. O produto de λ por AB é o
−−→ −−→
vetor AB 0 = λ · AB , tal que:
• A, B e B 0 são colineares,
• |AB 0 | = d(A, B 0 ) = |λ| · d(A, B) = |λ| · |AB| ,
• os segmentos AB e AB 0 têm o mesmo sentido se λ > 0 e sentidos opostos
se λ < 0.

Observação 4
Note que se λ = 0, então d(A, B 0 ) = 0 · d(A, B) = 0, isto é, B 0 = A e,

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CAPÍTULO 8. VETORES 147

−−→ −−→ → − →
− →

portanto, 0 · AB = AA = 0 . Analogamente, λ · 0 = 0 , qualquer que seja
λ ∈ R.

Na prática, a multiplicação de um escalar por um vetor se efetua em


relação a um sistema de coordenadas cartesianas ortogonais da mesma forma
feita no plano. Ou seja, se →

u = (a, b, c) é um vetor do espaço e λ ∈ R, então:

λ·→

u = λ(a, b, c) = (λa, λb, λc)

Exemplo 3
Sejam A = (1, 2, 1) e B = (2, 3, 3). Determinemos as extremidades D, D0
−−→ −−→ −−→
e D00 dos representantes CD, CD0 e CD00 dos vetores AB , −2AB e 2AB
com origem no ponto C = (1, 1, 0).

Solução.
−−→
Em termos de coordenadas, AB = (2 − 1, 3 − 2, 3 − 1) = (1, 1, 2) . Logo,
−−→
−2AB = (−2 · 1, −2 · 1, −2 · 2) = (−2, −2, −4),
−−→
2AB = (2 · 1, 2 · 1, 2 · 2) = (2, 2, 4) .

Como C = (1, 1, 0), as coordenadas dos pon-


tos D = (d1 , d2 , d3 ) , D0 = (d01 , d02 , d03 ) e
D00 = (d001 , d002 , d003 ) , satisfazem:

−−→ −−→  d1 − 1 = 1
CD = AB ⇐⇒ d2 − 1 = 1 ;
 d −0=2
3

−−−→ −− →  d01 − 1 = −2
CD0 = −2AB ⇐⇒ d0 − 1 = −2 ;
 d20 − 0 = −4
3

−−−→ −−→  d001 − 1 = 2
00
CD = 2AB ⇐⇒ d00 − 1 = 2 .
 d200 − 0 = 4
3

Figura 7: Exemplo 3.
Portanto,
D = (2, 2, 2), D0 = (−1, −1, −4) e D00 = (3, 3, 4).

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148 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

são os pontos procurados. 

Propriedades da multiplicação de um escalar por um vetor


Sejam →
−u,→

v e− → vetores do espaço e λ, µ ∈ R. A multiplicação de um
w
escalar por um vetor satisfaz às seguintes propriedades.
1. Associatividade: λ · (µ · →

a ) = (λ · µ) · →

a ;

− →


λ · (→ −
a + b )=λ·→ −
a +λ· b
2. Distributividade: ;
(λ + µ) · → −
a =λ·→ −
a +µ·→
−a

3. Elemento neutro multiplicativo: O número 1 ∈ R satisfaz


1· a =→

− −
a .

Observação 5
Estas propriedades são verificadas escrevendo os vetores em um sistema de
eixos ortogonais.

Observação 6
Se →
−u é um vetor do espaço, então o seu inverso aditivo −→

u é obtido multi-


plicando →

u por −1. De fato, →−
u + (−1)→ −
u = (1 + (−1))→ −
u = 0→−
u =0 .

3. Colinearidade e coplanaridade de pontos no


espaço

Sabemos que três pontos A, B e C no espaço são colineares se eles


pertencem a uma mesma reta.
Vamos analisar a colinearidade de pontos no espaço usando vetores.
Para isso, precisamos da seguinte definição.

Definição 6
O vetor →

v é múltiplo do vetor →

u quando existe um escalar λ ∈ R tal que


v = λ→−
u.

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CAPÍTULO 8. VETORES 149

Observação 7
a. Todo vetor é múltiplo de si próprio (neste caso, λ = 1).


b. O vetor zero 0 é múltiplo de qualquer vetor.


De fato, dado um vetor arbitrário →

u , temos 0 = 0 →

u.
Em contrapartida, nenhum vetor não nulo pode ser múltiplo do vetor zero.
1−
c. Se →
− 6 0e→
v = −
v = λ→

u , então λ 6= 0 e →

u = →
v .
λ


Assim, se →
− 6 0 , então →
v = −
v é múltiplo de →

u se, e somente se, →

u é múltiplo


de v .

Proposição 2
Se →

u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ) são vetores do espaço, então um dos
vetores →

u ou →−
v é múltiplo do outro se, e somente se,
x1 y2 − x2 y1 = x1 z2 − x2 z1 = y1 z2 − y2 z1 = 0 .

Prova.
Sejam →

u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ).
(=⇒) Se v é múltiplo de →

− −u , existe λ ∈ R tal que →

v = λ→

u.
Logo,


v = (x , y , z ) = λ(x , y , z ) = (λx , λy , λz ) = λ→

u,
2 2 2 1 1 1 1 1 1
ou seja,

x2 = λx1 , y2 = λy1 , z2 = λz1 . (1)

Multiplicando a primeira das identidades (1) por y1 e a segunda por x1 ,


obtemos:
y1 x2 = λx1 y1 = x1 y2 =⇒ x1 y2 − x2 y1 = 0.
Multiplicando a primeira das identidades (1) por z1 e a terceira por x1 , ob-
temos:
x2 z1 = λx1 z1 = x1 z2 =⇒ x1 z2 − x2 z1 = 0.
Finalmente, multiplicando a segunda das identidades (1) por z1 e a terceira
por y1 , obtemos:
y2 z1 = λy1 z1 = y1 z2 =⇒ y1 z2 − y2 z1 = 0.

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150 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

(⇐=) Reciprocamente, suponhamos que


x1 y2 − x2 y1 = x1 z2 − x2 z1 = y1 z2 − y2 z1 = 0.


Se →

u = 0 = (0, 0, 0) então →−
u = 0→ −
v , isto é, →

u é múltiplo de →−
v .


Podemos então supor que → −u = (x , y , z ) 6= (0, 0, 0) = 0 .
1 1 1

Assim, necessariamente, alguma das coordenadas de →



u deve ser diferente de
zero.
x
Se x 6= 0, tome λ = 2 . Afirmamos que →
1

v = λ→−
u.
x1
x2
De fato, como x1 y2 − x2 y1 = 0, segue que y2 = y1 . Também, sendo
x1
x2
x1 z2 − z1 x2 = 0, temos z2 = z1 . Logo,
x1
 
x x2 x x
λ→

u = 2 (x1 , y1 , z1 ) = x1 , 2 y1 , 2 z1 = (x2 , y2 , z2 ) = →

v .
x1 x1 x1 x1
Os casos y1 6= 0 e z1 6= 0 são tratados da mesma maneira. 

Observação 8
(a) Para mostrar que dois vetores →

u e→

v não são múltiplos, basta verificar
que um dos números
x1 y 2 − x2 y 1 , x1 z2 − x2 z1 ou y1 z2 − y2 z1 ,
é diferente de zero.
(b) Os números x1 y2 − x2 y, x1 z2 − x2 z1 e y1 z2 − y2 z1 são os determinantes
2 × 2 que podem ser formados com as colunas da matriz 2 × 3
!
x1 y1 z1
x2 y2 z2

em cujas linhas aparecem as coordenadas dos vetores →



u e→

v .

Definição 7
Dizemos que dois vetores →

u e→

v não nulos são colineares quando um deles
é múltiplo do outro.

Observação 9
−−→ −−→
Esta definição está bem justificada, pois se AC = λAB , então os pontos

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CAPÍTULO 8. VETORES 151

A, B e C estão sobre uma mesma reta. E, reciprocamente, se A, B e C são


−−→ −−→
pontos distintos de uma reta, então existe λ ∈ R tal que AC = λAB . Para
d(A, C)
isso, basta tomar λ = ± , onde escolhemos o sinal positivo caso B e
d(A, B)
C estejam do mesmo lado em relação ao ponto A na reta que os contém, e o
sinal negativo caso B e C estejam em lados opostos. Portanto, temos:
−−→ −−→
Os pontos A, B e C são colineares ⇐⇒ os vetores AB e AC são múltiplos.

Exemplo 4
Determine se os pontos A = (−1, 1, 0),
B = (1, 1, 1) e C = (−2, −1, −1) são
colineares ou não.

Solução.
Como
−−→
AB = (x1 , x2 , x3 ) = (2, 0, 1), Figura 8: Exemplo 4.
−−→
AC = (x2 , y2 , z2 ) = (−1, −2, −1),
! !
x1 y 1 2 0
e det = det = (2)(−2) − (0)(−1) = −4 6= 0,
x2 y 2 −1 −2
os pontos dados não são colineares. 

Exemplo 5
Determine se os pontos A = (0, 1, 0), B = (1, 1, 1) e C = (−2, 1, −2) são
colineares ou não.

Solução.
−−→ −−→
Temos AB = (x1 , x2 , x3 ) = (1, 0, 1) e AC = (y1 , y2 , y3 ) = (−2, 0, −2).
A matriz 2 × 3 que tem por linhas as coordenadas destes vetores é
! !
x1 x2 x3 1 0 1
= ,
y1 y2 y3 −2 0 −2

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152 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

e os determinantes 2 × 2 formados com as colunas desta matriz são:


! !
x1 x 2 1 0
det = det = 1(0) − (−2)(0) = 0 ,
y1 y2 −2 0
! !
x1 x3 1 1
det = det = 1(−2) − 1(−2) = 0 ,
y1 y3 −2 −2
! !
x2 x3 0 1
det = det = 0(−2) − 1(0) = 0 .
y2 y3 0 −2
−−→ −−→
Portanto, AB e AC são múltiplos, ou seja, os pontos A, B e C são coline-
ares. 

Sabemos que três pontos A, B e C não colineares determinam um único


plano π no espaço. O teorema abaixo nos permite saber quando um quarto
ponto D pertence ou não a este plano.

Definição 8
Um vetor →

v que é soma de múltiplos dos vetores − v→ −
→ −→
1 , v2 , . . . , vn é cha-

mado uma combinação linear de − v→ −


→ −→
1 , v2 , . . . , vn , ou melhor, v é uma

combinação linear de −
v→, −
v→, . . . , −
1 v→, se existem λ , λ , . . . , λ ∈ R tais
2 n 1 2 n
que


v = λ1 →

v 1 + λ2 →

v 2 + . . . + λn →

v n

Teorema 1
Sejam A, B e C pontos não colineares no espaço e seja π o plano que eles
determinam. A fim de que o ponto D pertença ao plano π é necessário e
−−→ −−→ −−→
suficiente que o vetor AD seja combinação linear dos vetores AB e AC ,
ou seja,
−−→ −−→ −−→
D ∈ π ⇐⇒ existem x, y ∈ R tais que AD = xAB + y AC

Prova.
(=⇒) Suponhamos primeiro que D ∈ π.

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CAPÍTULO 8. VETORES 153

−−→ −−→
Seja r1 a reta paralela a AC que passa por D e seja r2 a reta paralela a AB
que passa por D.
Então r1 está contida no plano π e intersecta a reta que contém os pontos A
e B num ponto D1 .
Analogamente, r2 está contida no plano π e intersecta a reta que contém os
pontos A e C num ponto D2 .

Como os pontos A, B e D1 são colinea-


−−−→ −−→
res, existe x ∈ R tal que AD1 = xAB .
Também, como A, C e D2 são colineares,
existe y ∈ R tal que
−−−→ −−→
AD2 = y AC .
Sendo AD1 DD2 um paralelogramo, te-
mos:
−−→ −−−→ −−−→ −−→ −−→ Figura 9: A, B, C e D coplanares.
AD = AD1 + AD2 = xAB + y AC .
−−→ −−→
(⇐=) Suponhamos agora que AD é combinação linear dos vetores AB e
−−→ −−→ −−→ −−→
AC . Isto é, existem x, y ∈ R tais que AD = xAB + y AC .
Seja OXY Z um sistema de eixos ortogonais no espaço tal que a origem O é o
ponto A e os eixos OX e OY estejam sobre o plano π. Assim, neste sistema
de eixos, π = πXY .
−−→ −−→ −−→
Sendo as terceiras coordenadas de A, B e C iguais a zero e AD = xAB +y AC ,
concluímos que a terceira coordenada do ponto D é também igual a zero (fi-
gura 3.). Logo, D ∈ πXY = π.

Figura 10: Sistema OXY Z e D ∈ πXY .

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154 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

Exemplo 6
Considere os pontos A = (1, 2, 3) , B = (2, 3, 4), C = (3, 4, 6) , D = (1, 1, 2)
e E = (4, 5, 2).
Mostre que:
(a) A, B e C não são colineares e, portanto, determinam um plano π.
(b) D não pertence ao plano π.
(c) E pertence ao plano π.

Solução.
−−→ −−→ −−→ −−→
Temos AB = (1, 1, 1), AC = (2, 2, 3), AD = (0, −1, −1) e AE = (3, 3, −1).
 
−−→ −−→ 1 1
(a) Como AB e AC não são múltiplos um do outro, pois det = 1 6= 0,
2 3
concluímos que A, B e C não são colineares, determinando, assim, um plano
π.
(b) Segundo o teorema 1, D ∈ π se, e somente se, existem x, y ∈ R tais que
−−→ −−→ −−→
AD = xAB + y AC .
Isto é,
(0, −1, −1) = x(1, 1, 1) + y(2, 2, 3) = (x + 2y, x + 2y, x + 3y) .
Portanto, os números x e y devem satisfazer as equações:
x + 2y = 0 , x + 2y = −1 , x + 3y = −1 ,
o qual é impossível, pois as duas primeiras implicam que 0 = −1.
Concluímos, então, a não existência dos números x e y e, portanto, a impos-
−−→ −−→ −−→
sibilidade da relação AD = xAB + y AC . Logo, D 6∈ π.
(c) De novo, pelo teorema 1, E ∈ π se, e somente se, existem x, y ∈ R tais
que
−−→ −−→ −−→
AE = xAB + y AC .
Isto é,
(3, 3, −1) = x(1, 1, 1) + y(2, 2, 3) = (x + 2y, x + 2y, x + 3y) .
Logo, x e y devem satisfazer, simultaneamente, as equações:
x + 2y = 3 , x + 2y = 3 , x + 3y = −1 .
Ou seja, x e y são a solução do sistema

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CAPÍTULO 8. VETORES 155

(
x + 2y = 3
x + 3y = −1.
−−→ −−→ −−→
Resolvendo o sistema, obtemos x = 11 e y = −4. Portanto, AE = 11AB −4AC ,
e os pontos A, B, C e E são coplanares. 

Provaremos, agora, que quatro pontos não coplanares A, B, C e D


determinam o espaço todo, ou melhor, que todo vetor do espaço se expressa
−−→ −−→ −−→
de maneira única como combinação linear dos vetores AB , AC e AD .

Definição 9
−−→ − −−→ → −−→
Dizemos que os vetores →

u = AB , →
v = AC e −
w = AD são linearmente
independentes (LI) quando os pontos A, B, C e D não são coplanares,
isto é, não pertencem a um mesmo plano.
−−→ − −−→ → −−→
Se os vetores →

u = AB , →v = AC e − w = AD não são linearmente in-
dependentes, dizemos que eles são linearmente dependentes (LD). Neste
caso, os pontos A, B, C e D são coplanares.

Teorema 2
Sejam −v→ −
→ − →
1 , v2 e v3 três vetores linearmente independentes no espaço. En-

tão, para cada vetor −


→ do espaço, existem escalares únicos x, y, z ∈ R tais
w
que:


→ = x−
w v→ −
→ −

1 + y v2 + z v3

Prova.
−−→ − −−→
Sejam A, B, C, D e P pontos do espaço tais que −v→ →
1 = AB , v2 = AC ,
− −−→ − → −−→
v→ −→ − → − →
3 = AD e w = AP . Como os vetores v1 , v2 e v3 são LI, os pontos A,
B, C e D não são coplanares.
Designamos π1 o plano que contém os pontos A, B e C, π2 o plano determi-
nado pelos pontos A, B e D e π3 o plano determinado pelos pontos A, C e
D (figura 3.).
Sejam agora π10 , π20 e π30 os planos que passam pelo ponto P e são paralelos
aos planos π1 , π2 e π3 , respectivamente.

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156 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

Como a reta que contém os pontos


A e D não está contida no plano π1 ,
esta reta intersecta o plano π10 num
único ponto D0 . Então,
−−−→ −−→
AD0 = z AD ,
para algum número z ∈ R, o qual
é determinado de forma única pelo
ponto D0 e, portanto, pelo ponto P .
Analogamente, a reta que passa por Figura 11: Determinando os pontos B 0 , C 0 e D0 .
A e C não está contida no plano π2 ,
logo intersecta o plano π20 , paralelo a π2 , num único ponto C 0 , de onde
−−→ −−→
concluímos que AC 0 = y AC , para algum escalar y ∈ R determinado de
maneira única pelo ponto P .
Finalmente, a reta que passa pelos pontos A e B não está contida no plano π3 ,
intersectando, portanto, o plano π30 num único ponto B 0 . Assim, existe um
−−→ −−→
escalar x, determinado de maneira única pelo ponto P , tal que AB 0 = x AB .
Por causa do paralelismo estabelecido entre os planos, os segmentos AB 0 ,
AC 0 e AD0 são as arestas de um paralelepípedo no qual os pontos A e P são
as extremidades de uma das diagonais. Portanto,
→=−
− −→ −−−→ −−−→ −−−→ −−→ −−→ −−→
w AP = AB 0 + AC 0 + AD0 = x AB + y AC + z AD = x −
v→ −→ −→
1 + y v2 + z v3 ,
como queríamos.

O teorema 2 diz que qualquer vetor do espaço se exprime de maneira


única como combinação linear de três vetores LI dados. Dizemos então que
o espaço tem dimensão três.

Exemplo 7
Considere os pontos O = (0, 0, 0), A = (1, 1, 1), B = (3, 1, 2), C = (2, 0, 1) e
D = (1, 0, −1).
(a) Verifique que O, A, B e C são pontos coplanares.
(b) Verifique que O, A, B e D são pontos não coplanares.

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CAPÍTULO 8. VETORES 157

→ = (2, 6, 5) como combinação linear dos vetores −


(c) Escreva o vetor −
w
−→
OA ,
−−→ −−→
OB e OD .

Solução.
(a) Observe, primeiro, que os pontos O, A e B não são colineares.
−−→ −−→
De fato, os vetores OA = (1, 1, 1) e OB = (3, 1, 2) não são múltiplos um do
! !
1 1 1 1 1
outro, pois a matriz possui uma submatriz 2 × 2, ,
3 1 2 3 1
com determinante diferente de zero.
Para verificar que o ponto C pertence ao plano π determinado pelos pontos
O, A e B, devemos encontrar α, β ∈ R tais que:
−−→ −−→ −−→
OC = α OA + β OB ,
ou seja:
(2, 0, 1) = α(1, 1, 1) + β(3, 1, 2) = (α + 3β, α + β, α + 2β).
Logo, α e β devem ser solução das equações:
α + 3β = 2 (2)
α+β =0 (3)
α + 2β = 1 (4)

Da equação (3), obtemos que α = −β. Substituindo na equação (2), obtemos


−β + 3β = 2, ou seja, β = 1; portanto, α = −1. A equação (4) também é
satisfeita por α = −1 e β = 1.
−−→ −−→ −−→
Assim, OC = −OA + OB e, pelo teorema 1, C pertence ao plano π.
(b) Sabemos que o ponto D = (1, 0, −1) pertence ao plano π que contém O,
A e B se, e somente se, existem escalares α e β tais que:
−−→ −−→ −−→
OD = α OA + β OB .
Isto é, em termos de coordenadas,
α + 3β = 1 (5)
α+β =0 (6)
α + 2β = −1 (7)

Da equação (6), obtemos α = −β. Substituindo na equação (5), obtemos


β = 21 .

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158 3.. COLINEARIDADE E COPLANARIDADE DE PONTOS NO ESPAÇO

Porém, substituindo α = −β na equação (7), obtemos β = −1.


Logo, como β não pode assumir dois valores ao mesmo tempo, concluímos que
não existem escalares α e β que resolvam as três equações simultaneamente.
Portanto, D ∈ / π.
−−→ −−→ −−→
(c) Sabemos, do item (b), que os vetores OA , OB e OD são LI. Logo, pelo
teorema 2, todo vetor do espaço se escreve, de forma única, como combinação
linear destes vetores.
Logo, para −→ = (2, 6, 5), existem números reais únicos, x, y e z, tais que:
w

w→ = x− −→ −−→ −−→
OA + y OB + z OD .
Isto é,
(2, 6, 5) = x(1, 1, 1) + y(3, 1, 2) + z(1, 0, −1)
= (x + 3y + z, x + y, x + 2y − z).
Desta identidade, obtemos que:
x + 3y + z = 2 (8)
x+y =6 (9)
x + 2y − z = 5 (10)

Pela equação (9), x = 6 − y. Substituindo nas equações (8) e (10), temos:


(
6 − y + 3y + z = 2
6 − y + 2y − z = 5,
ou seja, temos o sistema:
(
2y + z = −4
y − z = −1.
5
Somando estas duas equações, obtemos 3y = −5, isto é, y = − .
3
Logo,
5 2 5 23
z =y+1=− +1=− e x=6−y =6+ = .
3 3 3 3
Portanto,
→ = 23 −

w
−→ 5 −−→ 2 −−→
OA − OB − OD
3 3 3
→ como combinação linear de −
é a expressão de −
w
−→ −−→ −−→
OA , OB e OD . 

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Capítulo 9

Produto Interno e Vetorial

1. Produto interno de dois vetores no espaço

As noções de norma e produto interno de vetores no espaço são com-


pletamente análogas às correspondentes noções já estudadas para vetores no
plano. No entanto, por motivos de completeza, vamos rever estes conceitos
considerando vetores no espaço, omitindo, porém, a maioria dos detalhes.

Definição 1
−−→
A norma ou comprimento de um vetor →

v = AB no espaço é o número
real não negativo

k→

v k = d(A, B)

Como foi visto no plano, este número não depende do segmento AB


escolhido para representar o vetor →

v .
Em particular, tomando um sistema de eixos ortogonais OXY Z e re-
presentando o vetor →

v pelo segmento OP , as coordenadas de →

v coincidem
com as coordenadas do ponto P em relação ao sistema OXY Z. Assim, se

− −−→
v = OP = (α, β, γ), então P = (α, β, γ) e

k→
− p
v k = d(O, P ) = α2 + β 2 + γ 2

159
160 1.. PRODUTO INTERNO DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

Definição 2
• Um vetor →

v de norma igual a 1 é chamado unitário.
−−→ − −−→
• O ângulo ∠(→−
u ,→

v ) entre dois vetores →

u = AB e →
v = AC não nulos é o
menor ângulo formado pelos segmentos AB e AC. Então, ∠(→
−u ,→

v ) ∈ [0, π].
Quando os vetores são colineares, isto é, A, B e C são colineares, então
∠(→

u ,→

v ) = 0o se B e C estão do mesmo lado em relação a A na reta que os
contém, e ∠(→

u ,→

v ) = 180o se B e C estão em lados opostos em relação a A.

Lembremos agora a definição de produto interno entre dois vetores:

Definição 3
Sejam →

u e→ −
v dois vetores no espaço. O produto interno entre →

u e→

v é
o número real h→

u ,→

v i definido da seguinte maneira:

− →


 0, se →

u = 0 ou →−
v =0
h→

u ,→

v i= →
− →

 k→

u k k→

v k cos θ, se →

u 6= 0 e →

v 6= 0

onde θ = ∠(→

u ,→

v ).

Desta definição, é fácil verificar que

h→

u ,→

u i = k→

u k2

para qualquer vetor → −


u no espaço. Este número é sempre não negativo e é


igual a zero se, e somente se, →

u =0 .
Por um cálculo análogo ao efetuado para o produto interno no plano,
obtemos a seguinte proposição que caracteriza o produto interno em termos
das coordenadas dos vetores.

Proposição 1
Sejam →

u = (α, β, γ) e →

v = (α0 , β 0 , γ 0 ) vetores no espaço expressos em termos
de suas coordenadas com respeito a um sistema de eixos ortogonais OXY Z.
Então,

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 161

h→

u ,→

v i = αα0 + ββ 0 + γγ 0

Usando esta caracterização do produto interno, fica fácil provar as se-


guintes propriedades:

Proposição 2
Sejam →

u, →

v e −
→ vetores no espaço e seja λ ∈ R. Valem as seguintes
w
propriedades:

(1) h→

u ,→

v i = h→

v ,→

ui
(2) hλ→

u ,→

v i = λh→

u ,→

v i
(3) h→

u , λ→

v i = λh→

u ,→
−v i
(4) h→

u +− →, →
w −
v i = h→

u ,→
−v i + h−
→, →
w −
v i
(5) h→

u ,→

v +−
→i = h→
w −
u ,→

v i + h→

u ,−
→i
w

A noção de perpendicularidade entre dois vetores no espaço é a mesma


que no plano.

Definição 4
O vetor →

u é perpendicular ao vetor →

v , e escrevemos →

u ⊥ →

v , quando o
ângulo entre eles é reto ou quando um dos vetores é igual a zero.

Da definição do produto interno, obtemos a seguinte caracterização de


perpendicularidade:


u ⊥→

v ⇐⇒ h→

u ,→

v i=0

Exemplo 1
Determine os valores de x e y de modo que o vetor →

u = (x, y, 1) tenha norma

igual a 3 e seja perpendicular ao vetor →

v = (1, 3, 4).

Solução.
Temos que →

u ⊥→

v se, e só se,

h→

u ,→

v i = h(x, y, 1), (1, 3, 4)i = x + 3y + 4 = 0 ⇐⇒ x = −3y − 4 . (1)

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162 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

Por outro lado,

k→

u k2 = x2 + y 2 + 1 = 3 ⇐⇒ x2 + y 2 = 2 . (2)

Por (1), x = −3y − 4. Substituindo na equação (2), obtemos:


(−3y − 4)2 + y 2 = 2 ⇐⇒ 10y 2 + 24y + 14 = 0

−24 ±
576 − 560
⇐⇒ y =
20
28 7 −24 + 4
⇐⇒ y = − = − ou y = = −1.
20 5 20
O problema possui então duas soluções:
• y = − 7 =⇒ x = 21 − 4 = 1 =⇒ −
1 5 1 5
u→ = ( 1 , − 7 , 1);
5 1 5 5

• y2 = −1 =⇒ x2 = 3 − 4 = −1 =⇒ −
u→
2 = (−1, −1, 1).

2. Produto vetorial de dois vetores no espaço

O produto interno de dois vetores, como vimos, é um número real e


tem sentido tanto no plano quanto no espaço.
Já o produto vetorial de dois vetores, que definiremos abaixo, só faz
sentido no espaço e dá como resultado um outro vetor.
O produto vetorial, como o produto interno, também pode ser definido
geometricamente, estabelecendo sua norma, sua direção e seu sentido,
mas será definido algebricamente para facilitar a dedução de suas principais
propriedades.
Seja OXY Z um sistema de eixos ortogonais no espaço e consideremos
os vetores →

u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ), dados por suas coordenadas.

Definição 5
O produto vetorial de →

u por →

v é o vetor


u ×→

v = (y1 z2 − y2 z1 , −(x1 z2 − x2 z1 ), x1 y2 − x2 y1 ).

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 163

Um dispositivo prático para determinar o produto vetorial consiste em


calcular o “determinante simbólico” da matriz 3 × 3 cujos elementos da pri-
meira linha são os vetores −
e→, −
e→ e −
e→, os elementos da segunda linha são
1 2 3

as coordenadas do vetor →

u e os elementos da terceira são as coordenadas do


vetor v :

e→ −
e→ −
e→
1 2 3

− →
− y1 z1 − x1 z1 − x 1 y1 −
u × v = x1 y1 z1 = e→
1 − e→
2 + e→
3
y2 z2 x2 z2 x2 y 2
x2 y2 z2

onde −e→ −
→ −

1 = (1, 0, 0), e2 = (0, 1, 0) e e3 = (0, 0, 1) são os vetores unitários na
direção e sentido dos semieixos positivos OX, OY e OZ, respectivamente.

Proposição 3
(Propriedades do Produto Vetorial.) Sejam → −u = (x1 , y1 , z1 ), →

v = (x2 ,
y2 , z2 ) e −
→ = (x , y , z ) vetores no espaço e seja λ ∈ R. Então:
w 3 3 3

(1) < →

u ×→ −
v ,→

u > = < →

u ×→

v ,→

v > = 0, isto é, →

u ×→

v é um vetor

− →

ortogonal a u e a v .
Com efeito,
<→

u ×→

v ,→−
u > = (y1 z2 − y2 z1 )x1 − (x1 z2 − x2 z1 )y1 + (x1 y2 − x2 y1 )z1
= x1 y1 z2 − x1 y2 z1 − x1 y1 z2 + x2 y1 z1 + x1 y2 z1 − x2 y1 z1
= 0.

De modo análogo, podemos mostrar que < →



u ×→

v ,→

v > = 0.


(2) →

u ×→

v = 0 se, e só se, um dos vetores →

u ou →

v é múltiplo do outro.

− − →
− →
− − → →

Em particular, 0 × →
u = →

u ×0 = 0 e→
u ×−
u = 0 para todo vetor


u.
De fato, pela proposição 2 do capítulo 8, sabemos que um dos vetores


u ou →

v é múltiplo do outro se, e só se,
y1 z1 x1 z1 x1 y 1
= = = 0,
y2 z2 x2 z2 x2 y 2

ou seja, se, e só se,

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164 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

!

− y1 z1 x1 z1 x1 y1
u ×→

v = ,− , = (0, 0, 0).
y2 z2 x2 z2 x2 y2

(3) k→

u ×→

v k = k→

u k k→

v k sen θ, onde θ = ∠(→

u ,→

v ).
Temos:
k→

u ×→ −
v k2 = (y1 z2 − y2 z1 )2 + (x1 z2 − x2 z1 )2 + (x1 y2 − x2 y1 )2
= y1 2 z2 2 − 2y1 y2 z1 z2 + y2 2 z1 2 + x1 2 z2 2 − 2x1 x2 z1 z2 + x2 2 z1 2 + x1 2 y2 2
−2x1 x2 y1 y2 + x2 2 y1 2
= x1 2 (y2 2 + z2 2 ) + y1 2 (x2 2 + z2 2 ) + z1 2 (x2 2 + z2 2 ) − 2x1 x2 y1 y2
−2z1 z2 (x1 x2 + y1 y2 )
= x1 2 (x2 2 + y2 2 + z2 2 ) + y1 2 (x2 2 + y2 2 + z2 2 ) + z1 2 (x2 2 + y2 2 + z2 2 )
−x1 2 x2 2 − y1 2 y2 2 − z1 2 z2 2 − 2x1 x2 y1 y2 − 2z1 z2 (x1 x2 + y1 y2 )
= (x1 2 + y1 2 + z1 2 )(x2 2 + y2 2 + z2 2 ) − (x1 2 x2 2 + 2x1 x2 y1 y2 + y1 2 y2 2
+2z1 z2 (x1 x2 + y1 y2 ) + z1 2 z2 2 )
= (x1 2 + y1 2 + z1 2 )(x2 2 + y2 2 + z2 2 ) − ((x1 x2 + y1 y2 )2 +
2z1 z2 (x1 x2 + y1 y2 ) + z1 2 z2 2 )
= (x1 2 + y1 2 + z1 2 )(x2 2 + y2 2 + z2 2 ) − (x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 )2
= k→−
u k2 k→ −
v k2 − h→ −u ,→− 2
v i.

Mas, como h→

u ,→

v i = k→

u k k→

v k cos θ, segue que:
k→

u ×→−
v k2 = k→ −
u k2 k→

v k 2 − k→

u k2 k→−
v k2 cos2 θ
= k→ −
u k2 k→

v k2 (1 − cos2 θ)
= k→ −
u k2 k→

v k2 sen2 θ.

Portanto, k→

u ×→

v k = k→

u k k→

v k sen θ.


(4) Se →

u ×→

v 6= 0 , então →

u ,→

v e→

u ×→

v são LI.
−−→ − −−→ − → −−→
Sejam O, A, B e C pontos tais que →

u = OA , →
v = OB e → u ×−v = OC .


Como →

u ×→−
v 6= 0 , temos, pela propriedade (2), que os vetores →

u e→

v não
são múltiplos, ou seja, os pontos O, A e B não são colineares.
Seja π o único plano que passa pelos pontos O, A e B. Suponhamos,
por absurdo, que os vetores →

u ,→

v e→
−u ×→ −
v não são LI.
Então o ponto C pertence ao plano π. Pelo teorema 1 do capítulo 8,

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 165

existem λ, µ ∈ R tais que



− −−→ −−→ −−→
u ×→ −
v = OC = λOA + µOB = λ→

u + µ→

v .
Logo, pela proposição 2,
k→−
u ×→−v k2 = h→ −
u ×→−
v ,→−
u ×→ −
v i
= h u × v , λ u + µ→

− →
− →
− −v i
= λh u × v , u i + µh→

− →
− →
− −
u ×→

v ,→

v i
= 0,


uma contradição, pois, por hipótese, →

u ×→

v 6= 0 (⇐⇒ k→

u ×→

v k=
6 0).

(5) →

u ×→

v = −(→

v ×→

u)
Com efeito,


u ×→ −
v = (y1 z2 − y2 z1 , −(x1 z2 − x2 z1 ), x1 y2 − x2 y1 )
= −(y2 z1 − y1 z2 , −(x2 z1 − x1 y2 ), x2 y1 − x1 y2 )
= −(→
−v ×→ −
u)

(6) (λ→

u )×→

v =→

u × (λ→

v ) = λ (u × →

v ).

De fato, como λ→

u = (λx1 , λx2 , λx3 ), temos:
(λ→

u )×→−
v = ((λy1 )z2 − y2 (λz1 ), −((λx1 )z2 − x2 (λz1 )), (λx1 )y2 − x2 (λy1 ))
= λ(y1 z2 − y2 z1 , −(x1 z2 − x2 z1 ), x1 y2 − x2 y1 )
= λ(→−
u ×→ −
v ).

A outra identidade, →

u × (λ→

v ) = λ (u × →

v ), prova-se de maneira análoga.

(7) (→

u +−
→) × →
w −
v =→

u ×→

v +−
→×→
w −
v e→

u × (→

v +−
→) = →
w −
u ×→

v +→

u ×−
→.
w

Com efeito, sendo −


→ = (x , y , z ) e →
w 3 3 3

u +−
→ = (x + x , y + y , z + z ),
w 1 3 1 3 1 3
temos:
(→

u +−→) × →
w −
v = ((y + y )z − y (z + z ), −((x + x )z − x (z + z )),
1 3 2 2 1 3 1 3 2 2 1 3
(x1 + x3 )y2 − x2 (y1 + y3 ))
= (y1 z2 − y2 z1 + y3 z2 − y2 z3 , −(x1 y2 − x2 z1 + x3 z2 − x2 z3 ),
x1 y2 − x2 y1 + x3 y2 − x2 y3 )
= (y1 z2 − y2 z1 , −(x1 y2 − x2 z1 ), x1 y2 − x2 y1 )
+(y3 z2 − y2 z3 , −(x3 z2 − x2 z3 ), x3 y2 − x2 y3 )
= −

u ×→ −
v +− →×→
w −
v .

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166 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

De forma análoga, podemos verificar que →



u × (→

v +−
→) = →
w −
u ×→

v +→

u ×−
→.
w

(8) h→

u ×→

v ,−
→i = det(→
w −
u ,→

v ,−
→), onde
w
 
x1 y1 z1
(→

u ,→

v ,−
→ ) = x y z 
w  2 2 2 (3)
x3 y3 z3

é a matriz 3 × 3 cujas linhas são as coordenadas dos vetores →



u ,→

v −
→, na
w
ordem em que são listados.
De fato, temos que:
h→

u ×→−
v ,−
→i = h(y z − y z , −(x z − x z ), x y − x y ), (x , y , z )i
w 1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 3 3 3
= x3 (y1 z2 − y2 z1 ) − y3 (x1 z2 − x2 z1 ) + z3 (x1 y2 − x2 y1 ) .

Por outro lado, o determinante da matriz (3), quando desenvolvido pela


regra de Sarrus, nós dá
x1 y1 z1 x1 y1
det(→

u ,→

v ,−
→) =
w x2 y2 z2 x2 y2
x3 y3 z3 x3 y3 .
= x1 y2 z3 + y1 z2 x3 + z1 x2 y3 − x3 y2 z1 − y3 z2 x1 − z3 x2 y1
= x3 (y1 z2 − y2 z1 ) − y3 (x1 z2 − x2 z1 ) + z3 (x1 y2 − x2 y1 ) .

Portanto, h→

u ×→

v ,−
→i = det(→
w −
u ,→

v ,−
→).
w

(9) h→

u ×→

v ,−
→i = 0 se, e somente se, →
w −
u ,→

v e−
→ são vetores LD.
w

Suponhamos que h→

u ×→

v ,−
→i = 0. Então ocorre uma das seguintes
w
alternativas:


•→−
u ×→ −
v =0 ,


•→

u ×→

v 6= 0 .
−−→ − −−→
Sejam A, B e C pontos do plano tais que →

u = OA , →
v = OB e
→=−

w
−→
OC .
Se a primeira alternativa ocorre, então, pela propriedade (2), os vetores

− →

u e v são múltiplos, ou seja, os pontos O, A e B são colineares. Logo, os
pontos O, A, B e C são coplanares (⇐⇒ → −
u ,→−
v e− → são LD).
w

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 167



Suponhamos agora que →

u ×→

v ⊥−
→e→
w −
u ×→

v 6= 0 .


Como → −
u ×→ −
v 6= 0 , os pontos O, A e B não são colineares. Seja π o
único plano que contém estes pontos.
Pela propriedade (4), os vetores →

u ,→

v e→

u ×→

v são LI.
Logo, pelo teorema 2 do capítulo 8, existem λ, µ, δ ∈ R tais que

→ = λ→
w −u + µ→−
v + δ(→ −
u ×→ −
v ).
Então,
0 = h→

u ×→ −
v ,−
→i = h→
w −
u ×→ −
v , λ→

u + µ→−
v + δ(→−
u ×→ −
v )i
= λh u × v , u i + µh u × v , v i + δh u × v , u × →

− →
− →
− →
− →
− →
− →
− →
− →
− −
v i .

− →

= δk u × v k2

pois, pela propriedade (1), h→



u ×→

v ,→

u i = h→

u ×→

v ,→

v i = 0.

Como δk→

u ×→

v k2 = 0 e k→

u ×→

v k=
6 0, segue que δ = 0, ou seja,
→=−

w
−→ −−→ −−→
OC = λOA + µOB .
Portanto, pelo teorema 1 do capítulo 8, o ponto C pertence ao plano
−−→ − −−→
π, ou seja, os pontos O, A, B e C são coplanares (⇐⇒ →

u = OA , →v = OB
e−→=−
w
−→
OC são vetores LD).

Figura 1: Propriedade (9).

Reciprocamente, suponhamos que os vetores →



u ,→

v e−
→ são LD.
w
Se →

u e→

v são múltiplos, então h→

u ×→

v ,−
→i = 0, pois, pela propriedade
w


(2), →

u ×→ −
v =0 .

Se →

u e→−
v não são múltiplos, pela observação 9 do capítulo 8, os pontos
O, A e B não são colineares.

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168 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

−−→ −−→ −−→


Seja π o plano que passa por O, A e B. Como OA , OB e OC não são
LI, o ponto C pertence ao plano π.
Pelo teorema 1 do capítulo 8, existem λ, µ ∈ R tais que
→=−

w
−→ −−→
OC = λOA + µOB = λ→
−−→ −
u + µ→ −
v .
Portanto, pela proposição 2,
hu × →

− −
v ,−
→i = h→
w −
u ×→ −v , λ→

u + µ→−
v i = λh→

u ×→

v ,→

u i + µh→

u ×→

v ,→

v i = 0.


(10) h→

u ×→

v ,−
→i =
w 6 0 se, e somente se, →

u ,→

v e−
→ são vetores LI.
w
Segue diretamente da propriedade (9).

2.1 Interpretação geométrica da norma do produto ve-


torial
−−→ → − −−→ → −
Sejam →−
u = OA 6= 0 e → −
v = OB 6= 0 vetores não colineares. Seja
C tal que o quadrilátero OACB é um paralelogramo, que designamos P.
A altura de P, considerando o segmento OA como base, é
−−→ −−→ −−→
h = |OB | sen ∠(OA , OB ).

Figura 2: Paralelogramo OACB de altura h.

Logo,

−−→ −−→ −−→ −−→


área (P) = kOA k kOB k sen ∠(OA , OB )

= k→

u k k→

v k sen ∠(→

u ,→

v )

= k→

u ×→

v k

−−→ −−→
Isto é, a norma do produto vetorial de →

u = OA por →

v = OB é a

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 169

área do paralelogramo que tem por lados adjacentes os segmentos OA e OB.



− →

Note que, se →−
u e→ −
v são colineares, ou →

u = 0 ou →−v = 0 , então o
paralelogramo P fica reduzido a um segmento ou a um ponto (paralelogramo
degenerado) e tem, portanto, área zero. Como, nestes casos, pela propriedade
(2), k→

u ×→−
v k = 0, a interpretação geométrica continua válida.

Observação 1


Pela propriedade (2), →

u ×→

v = 0 se, e só se, um dos vetores →

u ou →

v é
múltiplo do outro.
Caso contrário, pela propriedade (1), →−
u ×→−
v é um vetor não nulo perpen-

− →

dicular ao plano gerado pelos vetores u e v . Isto nos dá a direção do vetor


u ×→ −
v . E, pela propriedade (3), →−
u ×→ −v é um vetor de comprimento igual
a k→

u k k→
−v k sen ∠(→

u ,→

v ), ou seja, igual a área do paralelogramo construído
sobre os vetores →

u e→−
v .
Como existem apenas dois vetores de mesma direção e mesma norma, ele e
seu inverso aditivo, o vetor fica determinando se escolhermos o seu sentido.
O sentido escolhido, na definição, para o produto vetorial é tal que
det(→

u ,→
−v ,→

u ×→ −
v ) = h→−
u ×→ −
v ,→−
u ×→−
v i = k→−
u ×→ −
v k2 >0.
Mas este sentido depende do sistema de eixos ortogonais OXY Z escolhido.
Portanto, o produto vetorial, como definido acima, fica determinado geome-
tricamente a menos de seu sentido.
É possível dar uma definição geométrica para o produto vetorial, isto é,
podemos escolher geometricamente o sentido do produto vetorial. Vejamos:

Definição 6
Seja {−
u→, −
u→, −
1 u→} um terno ordenado de vetores LI. Dizemos que {−
2 3 u→, −
u→, −
1 u→}
2 3

é um terno positivamente orientado se ele satisfaz a regra da mão direita, ou


seja, ao esticarmos os dedos indicador, médio, anular e mínimo na direção e
sentido do vetor −
u→ e depois fecharmos a mão na direção e sentido do vetor
1

u→ −→
2 , o polegar esticado apontará na direção e sentido do vetor u3 .

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170 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

Figura 3: Regra da mão direita.

Dada esta definição, o produto vetorial →−


u ×→ −
v ficaria determinado
geometricamente se estabelecêssemos, em sua definição, que o terno ordenado
{→

u ,→

v ,→

u ×→−v } é positivo.
Teríamos então de provar que esta definição geométrica coincide com
a definição dada em coordenadas, desde que {− e→ −
→ − →
1 , e2 , e3 } fosse também um
terno positivo. Mas isso não será feito, por ser muito trabalhoso e pelo fato
de o sentido do produto vetorial não importar nas aplicações que faremos no
texto.

Exemplo 2
Determinar o produto vetorial →

u ×→

v , onde →

u = (1, 2, 3) e →

v = (2, −1, 1).

Solução.
Temos:

− 2 3 − 1 3 − 1 2 −
u ×→ −
v = e→
1 − e→
2 + e→ −
→ −
→ −

3 = 5e1 + 5e2 − 5e3 .
−1 1 2 1 2 −1
Logo, →

u ×→−
v = (5, 5, −5) . 

Exemplo 3
Sejam P0 = (1, −1, 2), P = (1, 3, 1) e Q = (2, −1, 0). Calcule a área do
paralelogramo P que tem como arestas adjacentes os segmentos P0 P e P0 Q.

Solução.
−−−→ −−−→
Sendo P0 P = (0, 4, −1) e P0 Q = (1, 0, −2), temos:

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 171

−−−→ −−−→ 4 −1 − 0 −1 − 0 4 −
P0 P × P0 Q = e→
1 − e→
2 + e→ = (−8, −1, −4).
0 −2 1 −2 1 0 3
−−−→ −−−→ √
Portanto, área (P) = kP0 P × P0 Q k = k(−8, −1, −4)k = 64 + 1 + 16 = 9 .


Exemplo 4
Determine os valores de t ∈ R para os quais os vetores →

u = (2, 0, t) e


v = (t, 0, 2) sejam colineares.

Solução.


Sabemos que →−
u e→−v são colineares se, e somente se, →

u ×→

v =0 .
Calculando, temos:


− 0 t − 2 t − 2 0 −
u ×→

v = e→
1 − e→
2 + e→
0 2 t 2 t 0 3

= 0−
e→ 2 −→ −

1 − (4 − t ) e2 + 0 e3

= (t2 − 4) −
e→
2 .



Logo, →−
u ×→ −
v = (0, t2 − 4, 0) = (0, 0, 0) = 0 se, e somente se, t2 − 4 = 0, ou
seja, se, e somente se, t = 2 ou t = −2. 

Observação 2
Já provamos que o produto vetorial não é comutativo(propriedade (6)). É
importante também observar que o produto vetorial não é associativo,
como mostra o exemplo a seguir.

Exemplo 5
Sejam →

u = (1, 2, 3), →

v = (1, 0, 2) e −
→ = (1, 0, 0). Mostre que
w
(→

u ×→−
v )×− → 6= →
w −
u × (→−
v ×− →) .
w

Solução.
Como,

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172 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO


− 2 3 − 1 3 − 1 2 −
u ×→

v = e→
1 − e→
2 + e→
3
• 0 2 1 2 1 0
= 4−e→ −
→ −

1 + e2 − 2 e3 = (4, 1, −2) ,

1 −2 − 4 −2 − 4 1 −
=⇒ (→

u ×→

v )×−
→ =
w e→
1 − e→
2 + e→
0 0 1 0 1 0 3
= −2 −
e→ −

2 − e3 = (0, −2, −1)
e

− 0 2 − 1 2 − 1 0 −
v ×−
→ =
w e→ − e→ + e→
• 0 0 1 1 0 2 1 0 3
= 2−e→
2 = (0, 2, 0) ,

2 3 − 1 3 − 1 2 −
=⇒ →

u × (→

v ×−
→) =
w e→ − e→ + e→
2 0 1 0 0 2 0 2 3
= −6 −e→ −

1 + 2 e3 = (−6, 0, 2) ,

obtemos que (→

u ×→

v )×−
→ 6= →
w −
u × (→−
v ×− →) .
w 

Definição 7
O produto misto dos vetores →

u,→

v e−
→ do espaço é o número real
w

[→

u ,→

v ,−
→] = h→
w −
u ×→

v ,−
→i
w

Observação 3
O produto misto de →

u, →

v e −
→ nada mais é, pela propriedade (8), que o
w
determinante da matriz 3×3 que tem como linhas as coordenadas dos vetores


u,→ −
v e−→, na ordem em que são listados. Isto é,
w
[→

u ,→

v ,−
→] = det(→
w −
u ,→

v ,−
→).
w

2.2 Interpretação geométrica do produto misto

Sejam O, A, B e C pontos não coplanares e consideremos os vetores



− −−→ − −−→ → −−→
u = OA , →
v = OB e − w = OC .
Seja P o paralelepípedo que tem como arestas adjacentes os segmentos
OA, OB e OC.

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 173

Considerando o paralelogramo T de lados adjacentes OA e OB como


base de P, temos:
Vol (P) = área (T ) · altura (P) .

Sendo área (T ) = k→

u ×→ −
v k e altura (P) = k−
→k | cos ∠(→
w −
u ×→ −
v ,−→)|,
w
temos:
Vol (P) = k→

u ×→ −
v k · k−
→k | cos ∠(→
w −
u ×→ −
v ,−
→)| = |h→
w −
u ×→ −
v ,−
→i| .
w

Ou seja, o volume de P é o módulo


do produto misto dos vetores →

u,→

v
e−
→:
w
Vol (P) = | [→

u ,→

v ,−
→] |
w

ou, em termos dos vértices O, A, B e C:


h−−→ −−→ −−→i
Vol (P) = OA , OB , OC
Figura 4: Interpretação geométrica do produto
misto.
Por outro lado, se os pontos O,
A, B e C são coplanares, isto é, se os vetores

− −−→ − −−→ → −−→
u = OA , → v = OB e − w = OC
não são LI, o paralelepípedo fica reduzido a um paralelogramo, a um segmento
ou a um ponto, tendo, portanto, volume zero. Este fato concorda com a
propriedade (9) do produto vetorial:

Se →

u,→

v e−
→ não são LI, então [→
w −
u ,→

v ,−
→] = 0 .
w

As propriedades abaixo do produto misto, ou do determinante, são


consequências imediatas das propriedades do produto interno e do produto
vetorial.

Proposição 4
(Propriedades do Produto Misto.) Sejam →

u, −
u→ →
− − → − → −→
0 , v , v0 , w e w0

vetores no espaço e seja λ ∈ R. Então:


(1) [→

u ,→

v ,−
→] = 0 se, e somente se, →
w −
u ,→

v e−
→ não são LI (ou seja, são LD).
w

(2) [→

u ,→

v ,−
→] 6= 0 se, e somente se, →
w −
u ,→

v ,−
→ são LI.
w

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174 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

(3) O sinal do produto misto muda quando permutamos dois fatores. Isto é,
[→

u ,→

v ,−
→] = − [→
w −
v ,→

u ,−
→] = − [→
w −
u ,−
→, →
w −
v ].
= − [−
→, →
w −
v ,→

u ] = [−
→, →
w −
u ,→

v ] = [→

v ,−
→, →
w −
u]

(4) [λ→

u ,→

v ,−
→] = [→
w −
u , λ→

v ,−
→ ] = [→
w −
u ,→

v , λ−
→] = λ [→
w −
u ,→

v ,−
→] .
w

(5) [→

u +−
u→ →
− − → →
− → − − → −→ → − − →
0 , v , w ] = [ u , v , w ] + [u0 , v , w ] .

[→

u ,→

v +−
v→ −
→ →
− → − − → →
− − → − →
0 , w ] = [ u , v , w ] + [ u , v0 , w ] .

[→

u ,→

v ,−
→+−
w w→ →
− → − − → →
− → − −→
0 ] = [ u , v , w ] + [ u , v , w0 ] .

Exemplo 6
Verifique se os pontos A = (2, 2, 1), B = (3, 1, 2), C = (2, 3, 0) e D = (2, 3, 2)
são coplanares.

Solução.
Consideremos os vetores
−−→ −−→ −−→
AB = (1, −1, 1) , AC = (0, 1, −1) , AD = (0, 1, 1) .
Sabemos que os pontos A, B, C e D são coplanares se, e somente se,
h −−→ −−→ −−→ i
AB , AC , AD = 0.
Calculando, temos:
!
−−→ −−→ −1 1 1 1 1 −1
AB × AC = ,− , = (0, 1, 1) .
1 −1 0 −1 0 1
Logo,
h −−→ −−→ −−→ i −−→ −−→ −−→
AB , AC , AD = hAB × AC , AD i = h(0, 1, 1), (0, 1, 1)i = 2 6= 0 .
Portanto, os pontos A, B, C e D não são coplanares. 

Exemplo 7
Mostre que → −
u = (1, 0, 2), →

v = (2, 1, 0) e −
→ = (1, 1, 1) são vetores LI, e
w
calcule o volume do paralelepípedo cujas arestas adjacentes são →

u,→−
v e−w→.

Solução.
Sabemos que o terno de vetores é LI se, e somente se, [ →

u ,→

v ,−
→ ] 6= 0.
w

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CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 175

Sendo,
!
0 2 1 2 1 0
[→

u ,→

v ,−
→ ] = h→
w −
u ×→

v ,→

v i = ,− ,
1 0 2 0 2 1
= −2 + 4 + 1 = 3 6= 0,
os vetores →

u ,→

v e−
→ são LI.
w
Além disso, o volume do paralelepípedo P, cujas arestas são →

u,→

v e−
→, é:
w
Vol (P) = [ →−
u ,→

v ,−
→ ] = |3| = 3 .
w


Exemplo 8
Determine, caso existam, os valores de t ∈ R para os quais os vetores


u = (t, −1, 1), →

v = (1, t, 2) e −
→ = (3, t, 1) são coplanares.
w

Solução.
Sabemos que →

u,→

v e−
→ são coplanares se, e somente se, [ →
w −
u ,→

v ,−
→ ] = 0.
w
Então:

[→

u ,→
− → ] = 3 −1 1 − t t 1 + 1 t −1
v ,−
w
t 2 1 2 1 t
= 3(−2 − t) − t(2t − 1) + 1(t2 + 1)
= −t2 − 2t − 5 .
Logo, [ →

u ,→

v ,−
→ ] = 0 se, e somente se, t2 + 2t + 5 = 0.
w
Como o discriminante desta última equação é ∆ = 4 − 20 = −16 < 0, a
equação não tem raízes reais, isto é, [→

u ,→

v ,−
→] 6= 0 para todo t ∈ R.
w
Assim, →

u,→

v e−
→ são LI para todos os valores reais de t.
w 

Exemplo 9
Considere os pontos O = (0, 0, 0), P = (1, 2, 0), Q = (3, 1, 1) e R = (1, −1, 1)
−−→ − −−→ →
e os vetores →

u = OP , →
v = OQ e − w = OR.
(a) Determine a altura relativa à base de lados OP e OQ do paralelepípedo
P que tem por vértices O, P , Q e R.
(b) Calcule a área do triângulo T de vértices P , Q e R.

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176 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

(c) Calcule o volume do paralelepípedo P.


(d) Calcule a área externa do tetraedro σ cujos vértices são O, P , Q e R.

Solução.
(a) A altura h do paralelepípedo P, tomando como base o paralelogramo
de lados adjacentes OP e OQ, é:

− → − − → →
− → − − →
h = k−
→k cos ∠(→
w −
u ×→

v ,− →k h u × v , w i = h u × v , w i ,
→) = k−
w w
k→

u ×→ −
v k k−→k
w k→

u ×→−v k
onde

e→ −
e→ −
e→
1 2 3

− 2 0 − 1 0 − 1 2 −
u ×→

v = 1 2 0 = e→
1 − e→
2 + e→ = (2, −1, −5) ,
1 1 3 1 3 1 3
3 1 1
√ √
k→

u ×→
− p
v k = 22 + (−1)2 + (−5)2 = 4 + 1 + 25 = 30 ,

h→

u ×→

v ,−
→i = h(2, −1, −5), (1, −1, 1)i = 2 + 1 − 5 = −2 .
w

| − 2| 2 30
Assim, h = √ = √ = .
30 30 15
(b) O triângulo T tem por arestas adjacentes os segmentos P Q e P R. Logo,
a sua área é
1 −−→ −−→
área (T ) = kP Q × P R k .
2
−−→ −−→
Como P Q = (2, −1, 1) e P R = (0, −3, 1):
−−→ −−→ −1 1 − 2 1 − 2 −1 −
PQ × PR = e→
1 − e→
2 + e→
3
−3 1 0 1 0 3 .
= (2, −2, 6)
Assim,
−−→ −−→ p
kP Q × P R k 22 + (−2)2 + 62
área (T ) = =
√ 2 √ 2 .
44 2 11 √
= = = 11
2 2
(c) Pelo item (a),
Vol (P) = [ → −
u ,→

v ,−
→ ] = h→
w −
u ×→ −
v ,−
→i = − 2 = 2 .
w
(d) A área externa do tetraedro σ de vértices O, P , Q e R é a soma das

J. Delgado - K. Frensel - L. Crissaff Geometria Analítica e Cálculo Vetorial


CAPÍTULO 9. PRODUTO INTERNO E VETORIAL 177

áreas dos triângulos 4OP Q, 4OP R, 4OQR e 4P QR = T , a última das


quais calculamos no item (b).
Calculemos as áreas dos outros três triângulos:
1 −−→ −−→ 1 → 1√
área (4OP Q) = kOP × OQ k = k−
u ×→

v k= 30 ;
2 2 2
1 −−→ −−→ 1 →
área (4OP R) = kOP × OR k = k−
u ×−
→k ;
w
2 2
1 −−→ −−→ 1 →
área (4OQR) = kOQ × OR k = k−
v ×−
→k .
w
2 2
Como
2 0 − 1 0 − 1 2 −
• →

u ×−
→ =
w e→
1 − e→
2 + e→
−1 1 1 1 1 −1 3
= (2, −1, −3) ,
1 1 − 3 1 − 3 1 −
• →

v ×−
→ =
w e→ − e→ + e→
−1 1 1 1 1 2 1 −1 3
= (2, −2, −4) ,
segue que:
k→

u ×− →k p
w 22 + (−1)2 + (−3)2
área (4OP R) = =
√ 2 2
14
= ;
2
k→

v ×− →k p
w 22 + (−2)2 + (−4)2
área (4OQR) = = 2
√ 2 √
24 2 6
= = .
2 2
Logo, a área do tetraedro σ é:

área (σ) = área (4OP Q) + área (4OP R) + área (4OQR) + área (4P QR)
1√ 1√ 1√ 1√
= 30 + 14 + 24 + 44
2 2 2 2
1 √ √ √ √ 
= 30 + 14 + 24 + 44 .
2


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178 2.. PRODUTO VETORIAL DE DOIS VETORES NO ESPAÇO

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178

J. Delgado - K. Frensel - L. Crissaff Geometria Analítica e Cálculo Vetorial


Capítulo 10

Equação da reta e do plano no


espaço

1. Equações paramétricas da reta no espaço

Sejam A e B dois pontos distintos no espaço e seja r a reta que os


contém. Então,
−−→ −−→
P ∈r ⇐⇒ existe t ∈ R tal que AP = t AB

Figura 1: Reta r passando por A e B.

O ponto P pode ser visto como sendo a translação do ponto A pelo


−−→ −−→
vetor AP , isto é, P = A + AP . Portanto,
−−→
P ∈ r ⇐⇒ existe t ∈ R tal que P = A + tAB .

179
180 1.. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DA RETA NO ESPAÇO

Assim, a reta r é caracterizada pela equação


−−→
r : P = A + t AB ; t∈R

chamada equação paramétrica da reta r com parâmetro t.

Equação paramétrica da reta em coordenadas


Seja OXY Z um sistema de eixos ortogonais no espaço e considere os
pontos A e B em coordenadas: A = (a, b, c) e B = (a0 , b0 , c0 ).
Escrevendo o ponto P em coordenadas, temos que:
P = (x, y, z) ∈ r
⇐⇒ (x, y, z) = (a, b, c) + t(a0 − a, b0 − b, c0 − c) , t ∈ R
⇐⇒ (x, y, z) = (a + t(a0 − a), b + t(b0 − b), c + t(c0 − c)) , t ∈ R
⇐⇒ x = a + t(a0 − a) , y = b + t(b0 − b) , z = c + t(c0 − c) , t ∈ R .

Isto é, P = (x, y, z) ∈ r se, e somente se, suas coordenadas x, y e z


satisfazem as equações paramétricas da reta r que passa por A = (a, b, c)
e B = (a0 , b0 , c0 ):

0
 x = a + t (a − a)

r: y = b + t (b0 − b) ; t∈R

z = c + t (c0 − c)

Exemplo 1
Determine as equações paramétricas da reta r que contém os pontos A = (1, 0, 0)
e B = (0, 1, 1).

Solução.
−−→ −−→
O vetor AB tem coordenadas AB = (0 − 1, 1 − 0, 1 − 0) = (−1, 1, 1).
Logo,
 

 x = 1 + t(−1)  x=1−t

r: y = 0 + t(1) ; t ∈ R , ou seja , r : y=t ; t∈R
 
z = 0 + t(1) z=t
 

são as equações paramétricas da reta r. 

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 181

Definição 1


Dizemos que um vetor →

v 6= 0 é paralelo a uma reta r quando, para quaisquer
−−→
dois pontos A e B de r, o vetor AB é múltiplo de →−
v .

Assim, um ponto P pertence à


reta r que passa por A e é paralela ao
vetor →

v se, e somente se, existe t ∈ R
−−→
tal que AP = t →

v , ou seja,

r : P = A + t→

v ; t∈R

Em termos de coordenadas, se
A = (a, b, c) e →

v = (α, β, γ), as equa-
Figura 2: Vetor −

v paralelo à reta r.
ções paramétricas de r são:

 x = a + αt

r: y = b + βt ; t∈R

z = c + γt

Exemplo 2
Determine se os pontos P = (1, 1, 1) e Q = (0, −1, 0) pertencem à reta r que
passa pelo ponto A = (1, 1, −1) e é paralela ao vetor →

v = (1, 2, −1).

Solução.
As equações paramétricas da reta r são:

 x=1+t

r: y = 1 + 2t ; t ∈ R .

z = −1 − t

Logo, P = (1, 1, 1) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que


(1, 1, 1) = (1 + t, 1 + 2t, −1 − t),
isto é, se, e somente se, existe t ∈ R que satisfaz às identidades
1 = 1 + t, 1 = 1 + 2t e 1 = −1 − t,
simultaneamente. Das duas primeiras obtemos t = 0, mas este valor é in-
compatível com a terceira identidade, pois implicaria na identidade 1 = −1.

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182 2.. EQUAÇÃO SIMÉTRICA DA RETA NO ESPAÇO

Portanto, P 6∈ r.
Analogamente, Q = (0, −1, 0) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que
(0, −1, 0) = (1 + t, 1 + 2t, −1 − t),
isto é, se, e somente se, existe t ∈ R que satisfaz, simultaneamente, às iden-
tidades
0 = 1 + t, −1 = 1 + 2t e 0 = −1 − t,
Da primeira identidade, obtemos t = −1, valor que satisfaz as outras duas
identidades.
Portanto, Q ∈ r. 

2. Equação simétrica da reta no espaço

Consideremos as equações paramétricas da reta r que passa pelo ponto


A = (a, b, c) e é paralela ao vetor →

v = (α, β, γ):

 x = a + αt

r: y = b + βt ; t ∈ R .

z = c + γt

Quando as três coordenadas do vetor direção → −


v são diferentes
de zero, podemos colocar em evidência o parâmetro t em cada uma das
equações:
x−a y−b z−c
t= , t= e t= .
α β γ

Portanto, P = (x, y, z) ∈ r se, e somente se, as coordenadas de P


satisfazem:
x−a y−b z−c
r: = =
α β γ

Esta expressão é chamada equação simétrica da reta r.


Quando a reta r é dada por dois de seus pontos A = (a, b, c) e
−−→
B = (a0 , b0 , c0 ), o vetor →

v = AB = (a0 − a, b0 − b, c0 − c), paralelo a r,
terá suas três coordenadas não nulas se, e somente se, os pontos A e B não

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 183

pertencerem a um plano paralelo a um dos planos coordenados (isto é, a0 6= a,


b0 6= b e c0 6= c).
Neste caso, podemos expressar a reta r por meio de sua equação simé-
trica:
x−a y−b z−c
r: 0
= 0 = 0
a −a b −b c −c

Atenção!
Se a reta r é paralela a algum dos planos coordenados, então ela não
pode ser representada por uma equação simétrica.

Exemplo 3
Determine, caso seja possível, a forma simétrica da equação da reta r que
passa pelos pontos dados.
(a) A = (1, 2, 3) e B = (2, 3, 4).
(b) A = (1, 0, 1) e B = (1, 2, 3).

Solução.
−−→
(a) Como o vetor AB = (1, 1, 1) tem todas suas coordenadas diferentes
de zero, a reta r pode ser expressa pela equação simétrica:
x−1 y−2 z−3
r: = = ,
1 1 1
ou seja,
r : x − 1 = y − 2 = z − 3.
−−→
(b) Como o vetor AB = (0, 2, 2) é paralelo ao plano πY Z , pois tem a primeira
coordenada igual a zero, a reta r não pode ser representada por uma equação
simétrica.
As equações paramétricas de r são:
 
 x=1
  x=1

r: y = 0 + 2t ; t ∈ R, ou seja, r: y = 2t ; t ∈ R.
 
z = 1 + 2t z = 1 + 2t
 

1 −−→
Neste exemplo, observe que o vetor →

v = (0, 1, 1) = AB é também paralelo
2

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184 2.. EQUAÇÃO SIMÉTRICA DA RETA NO ESPAÇO

à reta r. Portanto,

 x=1

r: y=t ; t ∈ R.

z =1+t

são também equações paramétricas para a mesma reta r. 

Exemplo 4
Seja r a reta que passa pelos pontos A = (1, 0, 0) e B = (0, 0, 1) e seja S a
superfície definida pela equação S : z = x2 + y 2 . Determine os pontos de r
pertencentes a S.

Solução.
−−→
Como AB = (−1, 0, 1), a equação paramétrica da reta r é:

−−→  x=1−t

r : P = A + t AB ; t ∈ R , ou seja, r: y=0 ; t ∈ R.

z=t

Agora, P ∈ r ∩ S se, e somente se, as


coordenadas de P satisfazem as equa-
ções paramétricas de r e a equação de
S simultaneamente.
Como P ∈ r ⇐⇒ P = (1 − t, 0, t),
para algum t ∈ R, temos que:
P = (1 − t, 0, t) ∈ S
⇐⇒ t = (1 − t)2
Figura 3: Interseção r ∩ S = {P1 , P2 }.
⇐⇒ t = 1 − 2t + t2
⇐⇒ t2 − 3t + 1 = 0
1 √  1  √ 
⇐⇒ t= 3± 9−4 = 3± 5 .
2 2
Temos, portanto, duas soluções:

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 185

  √ √ 
3+ 5 3+ 5
P = 1− , 0,




 2 2
P ∈ r ∩ S ⇐⇒ ou  √ √ 
3− 5 3− 5


 P = 1− , 0,


2 2
 √ √ 
−1 − 5

3+ 5

 P = , 0,


 2 2
⇐⇒ ou
  √ √ 
 P = −1 + 5 , 0, 3 − 5 .



2 2
Logo, a reta r intersecta a superfície S em dois pontos. 

3. Equações paramétricas do plano no espaço

Sejam A, B e C três pontos não colineares no espaço e seja π o plano


que os contém. Então, pelo teorema ??,
−−→ −−→ −−→
P ∈ π ⇐⇒ existem s, t ∈ R tais que AP = s AB + t AC .
Isto é, P ∈ π se, e somente se, satisfaz à seguinte equação paramétrica do
plano π:
−−→ −−→
P = A + s AB + t AC ; s, t ∈ R

Observação 1
A equação paramétrica de uma reta é determinada a partir da variação de
um parâmetro (t ∈ R), enquanto a equação paramétrica de um plano é
caracterizada pela variação de dois parâmetros (s, t ∈ R). Por isso dizemos
que a reta é unidimensional e o plano é bidimensional.

Equação paramétrica do plano em coordenadas


Consideremos um sistema de eixos ortogonais OXY Z no espaço no
qual os pontos A, B e C têm coordenadas: A = (a, b, c), B = (a0 , b0 , c0 ) e
C = (a00 , b00 , c00 ).

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186 3.. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DO PLANO NO ESPAÇO

Substituindo as coordenadas dos pontos P = (x, y, z) e A = (a, b, c) e


−−→ −−→
dos vetores AB = (a0 − a, b0 − b, c0 − c) e AC = (a00 − a, b00 − b, c00 − c) na
equação paramétrica do plano π, obtemos que:
(x, y, z) = (a, b, c) + s(a0 − a, b0 − b, c0 − c) + t(a00 − a, b00 − b, c00 − c) ; s, t ∈ R.
Ou seja, as equações paramétricas do plano π são:

 x =
 a + s (a0 − a) + t (a00 − a)
π: y = b + s (b0 − b) + t (b00 − b) ; s, t ∈ R

z = c + s (c0 − c) + t (c00 − c)

Exemplo 5
Determine as equações paramétricas do plano π que contém os pontos A = (1, 0, 0),
B = (1, 1, 0) e C = (0, 0, 1).

Solução.
−−→ −−→
Temos AB = (0, 1, 0) e AC = (−1, 0, 1). Logo,
 
 x = 1 + 0s + (−1)t
  x=1−t

π: y = 0 + 1s + 0t ; s, t ∈ R ,ou seja, π : y=s ; s, t ∈ R .
 
z = 0 + 0s + 1t z=t
 

são as equações paramétricas do plano π. 

Definição 2
Dizemos que o vetor →−
v =6 0 é paralelo ao plano π quando, para qualquer
ponto P ∈ π, a reta r que passa por P e é paralela ao vetor →

v está contida
no plano π.
−−→
Em particular, se →

v = P Q e P ∈ π então Q ∈ π.

Sabemos que a equação paramétrica do plano π que passa pelos pontos


não colineares A, B e C é dada por:
−−→ −−→
π : P = A + s AB + t AC ; s, t ∈ R .
−−→ −−→
Seja P0 = A + s0 AB + t0 AC um ponto pertencente a π. Como todos

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 187

os pontos da forma
−−→ −−→ −−→
P = P0 + s AB = A + (s + s0 ) AB + t0 AC , s ∈ R,
−−→
pertencem ao plano π, a reta que passa por P0 e é paralela ao vetor AB está
−−→
contida em π. Sendo P0 ∈ π arbitrário, obtemos que o vetor AB é paralelo
ao plano π.
−−→
De forma análoga, verificamos que o vetor AC é paralelo ao plano π.
−−→
Além disso, como A, B e C são pontos não colineares, os vetores AB
−−→
e AC não são múltiplos um do outro, isto é, não são colineares.
Com isso, vemos que um plano π é determinado se conhecermos um
ponto pertencente a π e duas direções não colineares paralelas a π.
Assim, a equação paramétrica do plano π que passa por A e é para-
lelo aos vetores não colineares →

u e→

v é
π : P = A + s→

u + t→

v ; s, t ∈ R

Escrevendo em coordenadas, A = (a, b, c), →



u = (α, β, γ), →

v = (α0 , β 0 , γ 0 )
e P = (x, y, z), obtemos as seguintes equações paramétricas de π:

 x = a + α s + α0 t
π: y = b + β s + β0 t ; s, t ∈ R
 z = c + γ s + γ0 t

Exemplo 6
Determine as equações paramétricas do plano π que passa por A = (1, 1, 1) e
B = (1, 0, 1) e é paralelo à reta r que passa por D = (2, 0, 1) e E = (0, 0, 2).

Solução.
Para determinar as equações paramétricas do plano π é necessário conhe-
cer um ponto A pertencente a π e:
• dois outros pontos de π não colineares com A, ou
• dois vetores não colineares paralelos a π.
−−→
Em nosso caso, o vetor DE = (−2, 0, 1) paralelo à reta r e, portanto, paralelo

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188 3.. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DO PLANO NO ESPAÇO

−−→
a π, não é múltiplo do vetor AB = (0, −1, 0) paralelo a π.
Então π é o plano que passa por A = (1, 1, 1) e é paralelo aos vetores
−−→ −−→
AB = (0, −1, 0) e CD = (−2, 0, 1) tendo, portanto, as equações para-
métricas:
 
 x = 1 + (0)s + (−2)t
  x = 1 − 2t

π: y = 1 + (−1)s + (0)t ; s, t ∈ R , ou seja, π : y = 1 − s ; s, t ∈ R .
 
z = 1 + (0)s + (1)t z =1+t
 

Exemplo 7
Determine, caso exista, o ponto onde o plano π, que passa pelos pontos
A = (1, 2, 3), B = (2, 3, 1) e C = (3, 2, 1), intersecta o eixo−OX.

Solução.
Determinemos, primeiro, as equações paramétricas do plano π.
−−→ −−→
Os vetores AB = (1, 1, −2) e AC = (2, 0, −2) não são colineares e são
paralelos a π. Logo,
(
x = 1 + s + 2t
π: y =2+s ; s, t ∈ R .
z = 3 − 2s − 2t
O ponto da interseção de π com o eixo−OX deve ser um ponto com a segunda
e terceira coordenadas iguais a zero. Isto é,
y =2+s=0
n
P = (x, y, z) ∈ π ∩ eixo − OX ⇐⇒ z = 3 − 2s − 2t = 0 .
Da primeira equação do sistema, vemos que s = −2 e, substituindo este valor
3 − 2(−2) 7
na segunda equação, obtemos t = = .
2 2
7
 
Portanto, P0 = 1 + (−2) + 2 × , 0, 0 = (6, 0, 0) é o ponto de interseção
2
de π com o eixo-OX. 

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 189

4. Equação cartesiana do plano

Agora vamos aplicar a noção de produto interno para determinar a


equação cartesiana de um plano no espaço.

Definição 3


Dizemos que um vetor →−u 6= 0 é perpendicular ou normal a um plano π,
e escrevemos →
−u ⊥ π, quando → −
u é perpendicular a qualquer vetor paralelo ao
−−→
plano π. Isto é, →

u ⊥ π se, e somente se, →

u ⊥ AB para quaisquer A, B ∈ π.

Se π é o plano que passa pelo ponto A e é normal ao vetor →



u , então:
−−→ − −−→ −
P ∈ π ⇐⇒ AP ⊥ →
u ⇐⇒ hAP , →
u i=0

Escrevendo a última condição em termos das coordenadas dos elementos


envolvidos:
A = (x0 , y0 , z0 ) , →

v = (a, b, c) e P = (x, y, z) ,
obtemos:
−−→ −
P = (x, y, z) ∈ π ⇐⇒ hAP , →
u i=0
⇐⇒ h(x − x0 , y − y0 , z − z0 ), (a, b, c)i = 0
⇐⇒ a (x − x0 ) + b (y − y0 ) + c (z − z0 ) = 0
⇐⇒ ax + by + cz = ax0 + by0 + cz0 .

Portanto, P = (x, y, z) ∈ π se, e somente se, suas coordenadas satisfa-


zem à equação cartesiana de π:
π : ax + by + cz = d

onde →

u = (a, b, c) ⊥ π e d é calculado sabendo que π passa por A = (x0 , y0 , z0 ):
d = ax0 + by0 + cz0

Exemplo 8
Determine a equação cartesiana do plano π que passa pelo ponto A = (1, 1, 2)
e é normal ao vetor →

u = (1, 2, −3).

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190 4.. EQUAÇÃO CARTESIANA DO PLANO

Solução.
Como →−
u = (1, 2, −3) ⊥ π, temos π : 1 x + 2 y + (−3) z = d, onde
d = 1 (1) + 2 (1) + (−3) (2) = −3.
Portanto,
π : x + 2y − 3z = −3
é a equação cartesiana do plano π. 

Exemplo 9
Determine as equações paramétricas do plano π : x + 3y − z = 2.

Solução.
Para determinar as equações paramétricas do plano π, devemos encontrar
três pontos de π que não sejam colineares.
Tomando y = z = 0 na equação cartesiana de π, obtemos x = 2. Portanto,
o ponto A = (2, 0, 0) pertence ao plano π.
Tomando agora x = y = 0 na equação de π, obtemos z = −2. Portanto, o
ponto B = (0, 0, −2) pertence ao plano π.
Finalmente, tomando x = 0 e y = 1, obtemos z = 1. Portanto, C = (0, 1, 1) ∈ π.
Devemos verificar agora que A, B e C não são colineares.
−−→ −−→
Para isso, consideremos os vetores AB = (−2, 0, −2) e AC = (−2, 1, 1).
!
−2 0
Como det = −2 6= 0, concluímos que A, B e C não são colineares.
−2 1
−−→ −−→
Logo, AB e AC são vetores não colineares paralelos a π.
Assim, como o plano π passa por A = (2, 0, 0) e é paralelo aos vetores
−−→ −−→
AB = (−2, 0, −2) e AC = (−2, 1, 1),
(
x = 2 − 2s − 2t
π: y=t ; s, t ∈ R ,
z = −2s + t
são equações paramétricas do plano π. 

Observação 2
Seja ax + by + cz = d a equação cartesiana do plano π que passa por três
pontos A, B e C não colineares.

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 191

Como o vetor −
w→ = (a, b, c) deve ser penpendicular ao plano π, ou seja, aos
−−→ − −−→
vetores →

u = AB e →u = AC , basta tomar − → = (a, b, c) = →
w −
u ×→ −
v .

O número real d é calculado sabendo que os pontos A = (x1 , y1 , z1 ),


B = (x2 , y2 , z2 ) e C = (x3 , y3 , z3 ) pertencem ao plano π. Isto é:
d = ax1 + by1 + cz1 = ax2 + by2 + cz2 = ax3 + by3 + cz3 .

Exemplo 10
Determine a equação cartesiana e as equações paramétricas do plano π que
contém os pontos A = (1, −1, 3), B = (4, 0, 1) e C = (2, 1, 3).

Solução.
−−→ −−→
Como AB = (3, 1, −2) e AC = (1, 2, 0) são vetores paralelos ao plano
!
3 1
π e não são múltiplos um do outro, pois det = 5 6= 0, obtemos que:
1 2
−−→ −−→
π : P = A + sAB + tAC ; s, t ∈ R .
Isto é,

 x = 1 + 3s + t

π: y = −1 + s + 2t ; s, t ∈ R ,

z = 3 − 2s

são equações paramétricas do plano π.


Para determinar a equação cartesiana de π, devemos achar um vetor perpen-
dicular a π.
Sendo, pela observação ??,

e→ −
e→ −
e→ !
1 2 3
−−→ −−→ 1 −2 3 −2 3 1
AB × AC = 3 1 −2 = ,− ,
2 0 1 0 1 2
1 2 0
= (4, −2, 5) ,
um vetor normal ao plano π, a equação cartesiana de π tem a forma:
4x − 2y + 5z = d ,
onde d é calculado sabendo que A = (1, −1, 3) ∈ π:
d = 4(1) − 2(−1) + 5(3) = 21 .

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192 4.. EQUAÇÃO CARTESIANA DO PLANO

Portanto,
4x − 2y + 5z = 21 ,
é a equação cartesiana do plano π que procurávamos. 

Exemplo 11
Determine a equação cartesiana do plano

 x = −1 + s + 2t

π: y =1−s+t ; s, t ∈ R .

z = 3 + 2t

Solução.
Das equações paramétricas de π, obtemos um ponto A = (−1, 1, 3) per-
tencente a π e os vetores →

v = (1, −1, 0) e −
→ = (2, 1, 2) não colineares e
w
paralelos ao plano π.
Para determinar a equação cartesiana de π, como já sabemos que A ∈ π,
basta achar um vetor →−
u perpendicular a π.
Como → −
u ⊥ π se, e somente se, →

u ⊥ →

v e →

u ⊥ − →, basta tomar, pela
w
observação ??,

e→ −
e→ −
e→ !
1 2 3

− −1 0 1 0 1 −1
u =→ −
v ×− → =
w 3 1 −2 = ,− ,
1 2 2 2 2 1
1 2 0
= (−2, −2, 3).
Assim, a equação cartesiana de π tem a forma:
π : −2x − 2y + 3z = d ,
onde o valor d é calculado sabendo que A = (−1, 1, 3) ∈ π:
d = −2(−1) − 2(1) + 3(3) = 9 .
Portanto,
π : −2x − 2y + 3z = 9 ,
é a equação cartesiana do plano π. 

Observação 3
Seja r a reta dada pela interseção de dois planos π1 : a1 x + b1 y + c1 z = d1 e

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 193

π2 : a2 x + b2 y + c2 z = d2 concorrentes. Ou seja,
(
a1 x + b 1 y + c 1 z = d 1
r:
a2 x + b 2 y + c 2 z = d 2

Como −v→
1 = (a1 , b1 , c1 ) ⊥ π1 e
−→
v2 = (a2 , b2 , c2 ) ⊥ π2 e r = π1 ∩π2 ,
temos que − v→ ⊥ r e −
1 v→ ⊥ r.
2

Portanto, −v→ −→
1 × v2 é um vetor
paralelo à reta r.
Para determinar a equação para-
métrica de r, temos também de
encontrar um ponto A que satis-
faz ao sistema (??). Feito isso,
Figura 4: Reta r dada pela interseção de dois planos.
r = {A + t (→−
u ×→−v ) ; t ∈ R }.

Exemplo 12
Determine a equação paramétrica da reta:

(
x + y − 2z = 1
r:
2x + 3y − 4z = 5

Solução.
Pela observação acima, →

u ×→ −
v k r, onde →

u = (1, 1, −2) e →

v = (2, 3, −4)
são os vetores normais aos planos x + y − 2z = 1 e 2x + 3y − 4z = 5,
respectivamente.
Sendo,
!

− 1 −2 1 −2 1 1
u ×→−
v = ,− , = (2, 0, 1),
3 −4 2 −4 2 3
obtemos que o vetor (2, 0, 1) é paralelo à reta r.
Fazendo x = 0 no sistema (??), segue que P = (0, y, z) ∈ r se, e somente se,
y e z satisfazem ao sistema:

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194 4.. EQUAÇÃO CARTESIANA DO PLANO

( (
y − 2z = 1 3y − 6z = 3
⇐⇒
3y − 4z = 5 3y − 4z = 5
Subtraindo a segunda equação da primeira, chegamos que 2z = 2 ⇐⇒ z = 1
e, portanto, y = 1 + 2z = 3. Assim, P = (0, 3, 1) ∈ r e

 x = 2t

r: y=3 ;t∈R

z =t+1

é uma equação paramétrica de r. 

Exemplo 13
Determine, caso exista, m ∈ R de modo que a reta r seja perpendicular ao
plano π : x − z = 0, onde
(
mx + y + 2z = 1
r:
x + my + z = 2

Caso afirmativo, determine o ponto P de interseção da reta r com o plano π.

Solução.
Sabemos que a reta r é paralela ao vetor

e→ −
e→ −
e→ !
1 2 3

− 1 2 m 2 m 1
u = m 1 2 = ,− ,
m 1 1 1 1 m
1 m 1
= (1 − 2m, −m + 2, m2 − 1) .

Figura 5: Reta r perpendicular ao plano π.

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CAPÍTULO 10. EQUAÇÃO DA RETA E DO PLANO NO ESPAÇO 195

Para que r seja perpendicular a π, o vetor →



u deve ser múltiplo do vetor

− →

v = (1, 0, −1), normal ao plano π. Logo, →

u ×→−
v = 0 , ou seja,

e→ −
e→ −
e→
1 2 3

− →

u × v = 1 − 2m −m + 2 m − 1 2

1 0 −1
= (m − 2, −1 + 2m − m2 + 1, m − 2)
= (m − 2, m(2 − m), m − 2) = (0, 0, 0) .
Segue que m = 2 e →

u = (1 − 4, −2 + 2, 4 − 1) = (−3, 0, 3).
Fazendo x = 0 e m = 2 em (??), obtemos o sistema
(
y + 2z = 1
,
2y + z = 2
cuja solução é y = 1 e z = 0.
Logo, A = (0, 1, 0) ∈ r e as equações paramétricas de r são

 x = −3t

r: y=1 ; t ∈ R.

z = 3t

Seja r ∩ π = {P }. Então P = (−3t, 1, 3t) e


x − z = −3t − 3t = 0 =⇒ t = 0.
Assim, P = A = (0, 1, 0) é o ponto de interseção de r com π. 

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196 4.. EQUAÇÃO CARTESIANA DO PLANO

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Capítulo 11

Ângulos e distâncias no espaço

1. Ângulo entre duas retas no espaço

Definição 1
O ângulo ∠(r1 , r2 ) entre duas retas r1 e r2 é assim definido:

• Se r1 e r2 são coincidentes, então


∠(r1 , r2 ) = 0.
• Se as retas são concorrentes, isto é,
r1 ∩ r2 = {P }, então ∠(r1 , r2 ) é o me-
nor dos ângulos positivos determina-
dos pelas retas no plano que as con-
tém.
Em particular, 0 < ∠(r1 , r2 ) ≤ π/2.
Figura 1: Retas concorrentes: θ = ∠(r1 , r2 ) < ϕ.
• Se r1 ∩ r2 = ∅, temos duas situações a considerar:
◦ se r1 k r2 , então ∠(r1 , r2 ) = 0;
◦ se r1 e r2 não são paralelas e não se intersectam, dizemos que as
retas são reversas. Neste caso, seja P ∈ r1 e seja r20 a paralela a r2 que
passa por P . Então as retas r1 e r20 são concorrentes e definimos

∠(r1 , r2 ) = ∠(r1 , r20 )

197
198 1.. ÂNGULO ENTRE DUAS RETAS NO ESPAÇO

Figura 2: Retas reversas: θ = ∠(r1 , r2 ).

Além disso, pelo paralelismo, ∠(r1 , r2 ) independe do ponto P escolhido.


A medida dos ângulos pode ser dada em graus ou radianos.

Sejam −
v→ −

1 e v2 vetores paralelos às retas concorrentes (ou reversas) r1 e

r2 , respectivamente. Como ∠(− v→ −


→ −
→ − →
1 , v2 ) = ∠(r1 , r2 ) ou ∠(v1 , v2 ) = π−∠(r1 , r2 ),
segue que:
|h−
v→, −
v→i|
cos ∠(r1 , r2 ) = | cos ∠(v1 , v2 )| = −→1 − 2
, 0 < ∠(r1 , r2 ) ≤ π/2.
kv1 k kv→
2 k

Figura 3: ∠(r1 , r2 ) = θ

A fórmula vale também quando r1 e r2 são paralelas ou coincidentes,


isto é, quando ∠(r1 , r2 ) = 0, pois
−→ − → −→ − →

v→ = λ−
v→ =⇒ |hλv2 , v2 i| = |λ| |hv2 , v2 i| = 1 = cos 0 = cos ∠(r , r ) .
kλ−
v→ −
→ |λ| k−
v→ −

1 2 1 2
2 k kv2 k 2 k kv2 k

Exemplo 1
Calcule o ângulo entre as retas

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 199

x−1 y+1 z y−1 z−2


r1 : = = e r2 : x + 2 = = .
2 2 2 2 3
Mostre, também, que estas retas são reversas.

Solução.
Temos que −
v→ −

1 = (2, 2, 2) k r1 e v2 = (1, 2, 3) k r2 . Logo,

|h−
v→, −
v→
r
2 i| |2 + 4 + 6| 12 6
cos ∠(r1 , r2 ) = −→1 − = √ √ =√ = .
kv1 k kv→2 k 12 14 12 × 14 7
π
Assim, o ângulo entre r1 e r2 é o ângulo entre 0 e cujo cosseno é igual a
2
r
6
.
7
Para verificar que as retas r1 e r2 são reversas, observamos primeiro que os
vetores −
v→ −

1 e v2 não são múltiplos, pois
 
2 2
det 1 2 = 4 − 2 = 2 6= 0.

Portanto, as retas não podem ser coincidentes e nem paralelas, podendo ser
concorrentes ou reversas.
Para concluir que r1 e r2 são reversas, devemos mostrar que elas não se
intersectam. As equações paramétricas de r1 são:

 x = 1 + 2t
r1 : y = −1 + 2t ; t ∈ R .
 z = 2t

Seja P = (1 + 2t, −1 + 2t, 2t) um ponto de r1 . Vamos tentar determinar o


valor do parâmetro t, de modo que P esteja também em r2 :
(−1 + 2t) − 1 2t − 2
P ∈ r2 ⇐⇒ (1 + 2t) + 2 = =
2 3
−2 + 2t 2t − 2
⇐⇒ 3 + 2t = =
2 3
2
⇐⇒ 3 + 2t = −1 + t = (t − 1).
3
Da segunda igualdade, obtemos t−1 = 0, ou seja, t = 1. Porém, substituindo
este valor na primeira igualdade, obtemos a identidade impossível 5 = 0.
Portanto, não existe P ∈ r1 ∩ r2 . Isto é, as retas não são concorrentes e sim
reversas. 

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200 2.. ÂNGULO ENTRE DOIS PLANOS

2. Ângulo entre dois planos

Definição 2
Sejam π1 : a1 x + b1 y + c1 z = d1 e π2 : a2 x + b2 y + c2 z = d2 dois planos no
espaço.
O ângulo entre os planos π1 e π2 ,
representado por ∠(π1 , π2 ), se define da se-
guinte maneira:
• se os planos são paralelos (π1 k π2 ) ou
coincidentes (π1 = π2 ), então ∠(π1 , π2 ) = 0,
• se π1 e π2 não são paralelos nem coinciden-
tes, então se intersectam ao longo de uma Figura 4: ∠(π1 , π2 ) = θ.

reta r.
Sejam P ∈ r um ponto qualquer, r1 a reta perpendicular a r contida
em π1 , que passa por P e r2 a perpendicular a r contida em π2 , que passa
por P . Definimos:
∠(π1 , π2 ) = ∠(r1 , r2 )
Tomando A ∈ r1 e B ∈ r2 , ∠(π1 , π2 ) é o menor ângulo positivo cujo
cosseno é
−−→ −−→
−−→ −−→ hP A , P B i
cos ∠(π1 , π2 ) = cos ∠(r1 , r2 ) = | cos ∠(P A , P B )| = −−→ −−→
kP A k kP B k

Seja agora s1 a reta perpendicular ao plano π1 , que passa pelo ponto


A, e seja s2 a reta perpendicular ao plano π2 , que passa por B.
As retas s1 e s2 se intersectam em um ponto C.
−−→ −−→ −−→ −−→
Como os ângulos ∠(P A , P B ) e ∠(CA , CB ) são suplementares (a
sua soma é π), temos:
−−→ −−→ −−→ −−→
cos ∠(π1 , π2 ) = cos ∠(P A , P B ) = cos ∠(CA , CB ) .

Além disso, como −v→ −



1 = (a1 , b1 , c1 ) ⊥ π1 e v2 = (a2 , b2 , c2 ) ⊥ π2 , os
−−→ −−→
ângulos ∠(−
v→, −
v→) e ∠(CA , CB ) são iguais ou suplementares. Logo,
1 2

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 201

−→ − →
cos ∠(π1 , π2 ) = |cos ∠(−
v→ , →)| = |hv1 , v2 i|

v
1 2 −→ − →
kv1 k kv2 k

A fórmula vale também quando os planos são paralelos ou coincidentes.

Observação 1
Pela fórmula acima, dois planos π1 e π2 são perpendiculares se, e só se, os
vetores −
v→ −

1 e v2 normais aos planos π1 e π2 , respectivamente, são ortogonais.

Exemplo 2
Calcule o ângulo entre os planos π1 : −y + 1 = 0 e π2 : y + z + 2 = 0.

Solução.
Temos que −
v→ −→
1 = (0, −1, 0) ⊥ π1 e v2 = (0, 1, 1) ⊥ π2 . Logo, ∠(π1 , π2 ) é
o menor ângulo positivo cujo cosseno é
|h−
v→ −→
1 , v2 i|
cos ∠(π1 , π2 ) = |cos ∠(−
v→ −

1 , v2 )| = − → − →
kv1 k kv2 k √
|h(0, −1, 0), (0, 1, 1)i| |−1| 1 2
= = √ = √ = .
k(0, −1, 0)k k(0, 1, 1)k (1) 2 2 2
π
Portanto, ∠(π1 , π2 ) = 45o = . 
4

3. Ângulo entre uma reta r e um plano π

Definição 3
Sejam r uma reta e π um plano no
espaço. Sejam −
→ um vetor normal
w
ao plano π e →

v um vetor paralelo
à reta r.
Seja θ o menor ângulo não negativo
entre r e w (0 ≤ θ ≤ π/2). O ân-
gulo entre r e π é, por definição, π
Figura 5: ∠(r, π) = 2
− θ.
o complementar do ângulo θ.

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202 4.. DISTÂNCIA DE UM PONTO P0 A UM PLANO π

Isto é,
π
∠(r, π) = −θ
2

Logo,
|h→

v ,−
→i|
π  w
sen ∠(r, π) = sen − θ = cos θ = →
2 k−v k k−
→k
w

Exemplo 3
Calcule o seno do ângulo entre a reta r e o plano π, onde

 x=t

r: y = 2t − 1 ; t ∈ R e π : x − 2y + 3 = 0 .

z=4

Solução.
Temos que →

v = (1, 2, 0) k r e −
→ = (1, −2, 0) ⊥ π. Logo,
w
|h→

v ,−
→i|
w |h(1, 2, 0), (1, −2, 0)i| |1 − 4 + 0| 3
sen ∠(r, π) = → →k = k(1, 2, 0)k k(1, −2, 0)k = √ √ = .
k−
v k k−
w 5 5 5


4. Distância de um ponto P0 a um plano π

Definição 4
A distância do ponto P0 ao plano π, designada d(P0 , π) é, por definição,
a menor das distâncias de P0 aos pontos P ∈ π. Isto é,

d(P0 , π) = min { d(P0 , P ) | P ∈ π }

Seja P ? o ponto de interseção de π com a reta r, que passa por P0 e é


perpendicular a π.
Se P é um ponto qualquer no plano π, diferente de P ? , obtemos, pelo
teorema de Pitágoras aplicado ao triângulo retângulo 4P0 P ? P , que:

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 203

d(P0 , P )2 = d(P0 , P ? )2 + d(P ? , P )2 > d(P0 , P ? )2 .

Logo, d(P0 , P ) > d(P0 , P ? ) e, portanto, d(P0 , P ? ) = min { d(P0 , P ) | P ∈ π }.

Isto é,
d(P0 , π) = d(P0 , P ? )

Se P0 = (x0 , y0 , z0 ) e π : ax+by+
cz = d, então −
w→ = (a, b, c) k r e as
equações paramétricas de r são:

 x = x0 + at

r: y = y0 + bt ; t ∈ R .
 Figura 6: Cálculo de d(P0 , π).
z = z0 + ct

Como P ? ∈ r, temos P ? = (x0 + at, y0 + bt, z0 + ct), para algum valor


t ∈ R a determinar.
Além disso, P ? ∈ π. Logo,
a(x0 + at) + b(y0 + bt) + c(z0 + ct) = d ,
ou seja,
ax0 + by0 + cz0 − d
(a2 + b2 + c2 )t = d − ax0 − by0 − cz0 ⇐⇒ t = − .
a2 + b2 + c2
Assim,
−−−→
d(P0 , P ? ) = kP0 P ? k = k(at, bt, ct)k = kt(a, b, c)k = |t| k(a, b, c)k
ax0 + by0 + cz0 − d
= − k(a, b, c)k
a2 + b2 + c2
|ax0 + by0 + cz0 − d|
= k(a, b, c)k
k(a, b, c)k2
|ax0 + by0 + cz0 − d|
= .
k(a, b, c)k

Logo, a distância do ponto P0 = (x0 , y0 , z0 ) ao plano π : ax+by+cz = d


é
|ax0 + by0 + cz0 − d|
d(P0 , π) = p
a2 + b2 + c2

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204 5.. DISTÂNCIA ENTRE DOIS PLANOS

Exemplo 4
Calcule a distância do ponto A = (1, 2, 3) ao plano π : 2x + y − 5z = 4 .

Solução.
(a) Usando a fórmula:
r
|ax0 + by0 + cz0 − d| |2(1) + 1(2) − 5(3) − 4| 15 15
d(A, π) = p = p =√ = .
a2 + b2 + c2 22 + 12 + (−5)2 30 2
(b) Sem usar a fórmula:
A reta r que passa por A = (1, 2, 3) e é paralela ao vetor −
→ = (2, 1, −5) ⊥ π,
w
é dada por:

 x = 1 + 2t

r: y = 2 + t ; t ∈ R.

z = 3 − 5t

Seja {B} = r ∩ π. As coordenadas de B = (1 + 2t, 2 + t, 3 − 5t) satisfazem à


equação de π:
2(1 + 2t) + (2 + t) − 5(3 − 5t) = 4 ,
ou seja,
1
2 + 4t + 2 + t − 15 + 25t = 4 =⇒ 30t = 15 =⇒ t = .
2
1→ −−→ 1 → 1
Logo, B = A + −
w , isto é, AB = −w = (2, 1, −5) e, portanto,
2 2 2

1√
r
−−→ 1 → 30 15
d(A, π) = d(A, B) = kAB k = k−
wk= 4 + 1 + 25 = =
2 2 2 2
é a distância procurada.

5. Distância entre dois planos

Definição 5
A distância entre os planos π1 e π2 , designada d(π1 , π2 ), é, por definição,
a menor dentre as distâncias dos pontos de π1 aos pontos de π2 . Isto é,
d(π1 , π2 ) = min { d(P, Q) | P ∈ π1 e Q ∈ π2 }

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 205

Note que,
• se π1 e π2 são coincidentes, isto é, π1 = π2 , então d(π1 , π2 ) = 0;
• se π1 e π2 são concorrentes, isto é, π1 ∩ π2 é uma reta, então d(π1 , π2 ) = 0;
• suponhamos agora que π1 e π2 são planos paralelos dados pelas equações:

π1 : ax + by + cz = d1
π2 : ax + by + cz = d2 .

Sejam P1 ∈ π1 e Q1 o pé da
perpendicular baixada do ponto P1
sobre o plano π2 .
Sejam P ∈ π1 , Q ∈ π2 e P 0
o pé da perpendicular baixada do
ponto P sobre o plano π2 .
Figura 7: Cálculo de d(π1 , π2 ).
Então, como P1 Q1 Q0 P é um
retângulo,
d(P, Q) ≥ d(P, P 0 ) = d(P1 , Q1 ) .
Assim,
d(π1 , π2 ) = d(P1 , Q1 ) = d(P1 , π2 ) , qualquer que seja P1 ∈ π1

Se P1 = (x1 , y1 , z1 ) ∈ π1 , então ax1 + by1 + cz1 = d1 , então:


|ax1 + by1 + cz1 − d2 | |d − d2 |
d(π1 , π2 ) = d(P1 , π2 ) = p =p 1 .
a2 + b2 + c2 a2 + b2 + c2

Isto é, a distância entre os planos π1 : ax+by+cz = d1 e π2 : ax+by+cz


= d2 é dada por:
|d1 − d2 |
d(π1 , π2 ) = p
a2 + b2 + c2

Exemplo 5
Calcule a distância entre os planos π1 : x + 2y + z = 2 e π2 : 2x + 4y + 2z = 6 .

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206 6.. DISTÂNCIA ENTRE UMA RETA E UM PLANO

Solução.
|3 − 2| 1
Como π2 : x + 2y + z = 3, π1 k π2 ; logo, d(π1 , π2 ) = √ =√ .
12 2
+2 +1 2 6


6. Distância entre uma reta e um plano

Definição 6
A distância entre uma reta r e um plano π é o número d(r, π) dado por:

d(r, π) = min { d(P, Q) | P ∈ r e Q ∈ π}

Note que, se r ∩ π 6= ∅ (r ⊂ π ou r ∩ π = {P }), então d(r, π) = 0.


O caso interessante a considerar ocorre quando r ∩ π = ∅, isto é, r k π.

Sejam P1 ∈ r e Q1 o pé da
perpendicular baixada do ponto P1
sobre o plano π.
Sejam P ∈ r e Q ∈ π pontos
arbitrários e P 0 o pé da perpendi-
cular baixada do ponto P sobre o
plano π. Então,
d(P, Q) ≥ d(P, P 0 ) = d(P1 , Q1 ) ,
pois P1 Q1 P 0 P é um retângulo. Logo, Figura 8: Cálculo de d(r, π2 ).

d(r, π) = d(P1 , Q1 ) = d(P1 , π) , qualquer que seja P1 ∈ r

Exemplo 6
Mostre que a reta r é paralela ao plano π, onde
x+2 3y + 1 1−z
r: = = e π : 2x − 3y + 6z = −3 .
6 −6 3

Calcule também d(r, π).

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 207

Solução.
A equação simétrica de r pode ser reescrita da seguinte maneira:
x+2 y + 13 z−1
r: = = .
6 −2 −3
Logo, a reta r passa pelo ponto A = (−2, − 13 , 1) e é paralela ao vetor →

v = (6,
−2, −3), e o plano π é perpendicular ao vetor − w→ = (2, −3, 6).

Temos →

v ⊥− →, pois:
w
h→

v ,−
→i = h(6, −2, −3), (2, −3, 6)i
w
.
= (6)(2) + (−2)(−3) + (−3)(6) = 12 + 6 − 18 = 0
Logo, r é paralela ao plano π ou r está contida no plano π.
Para mostrar que r 6⊂ π, basta verificar que um ponto de r não pertence a π.
De fato, A = (−2, − 31 , 1) 6∈ π, pois
2(−2) − 3(− 13 ) + 6(1) = −4 + 1 + 6 = 3 6= −3 .
Portanto, r ∩ π = ∅, isto é, r k π. Além disso,
2(−2) − 3(− 31 ) + 6(1) + 3 6
d(r, π) = d(A, π) = √ = .
4 + 9 + 36 7


7. Distância de um ponto a uma reta

Definição 7
Sejam P um ponto e r uma reta no espaço. A distância do ponto P à
reta r, designada d(P, r), é o número

d(P, r) = min { d(P, Q) | Q ∈ r }

Seja P 0 o pé da perpendicular baixada do ponto P sobre a reta r.


Para todo ponto Q ∈ r, Q 6= P 0 , temos, pelo teorema de Pitágoras,
que:
d(P, Q)2 = d(P, P 0 )2 + d(P 0 , Q)2
> d(P, P 0 )2 .

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208 7.. DISTÂNCIA DE UM PONTO A UMA RETA

Logo, d(P, Q) > d(P, P 0 ) e, portanto,

d(P, r) = d(P, P 0 )

Figura 9: Cálculo de d(P, r).

Assim, para calcular a distância de P a r devemos:


• determinar o ponto P 0 , pé da perpendicular baixada de P sobre
a reta r;
−−→
• calcular d(P, P 0 ) = kP P 0 k.

Exemplo 7
Calcule a distância entre P = (2, 5, −1) e a reta r que passa por P0 = (1, −1, 2)
e é paralela ao vetor →

v = (1, 0, 1).

Solução.
Seja Q o pé da perpendicular baixada do ponto P sobre a reta r e seja
t ∈ R tal que Q = P + t →
0

v . 0 0
−−→
Então, P Q é perpendicular à reta r se, e somente se,
−−→ − −−−→ −−−→ −
0 = hP Q , →
v i = hP P0 + t0 →

v ,→
−v i = hP P0 , →
v i + t0 h→

v ,→

v i.
−−−→
Como P P = (−1, −6, 3) e →
0

v = (1, 0, 1):
−−−→ −
0 = hP P0 , →
v i + t0 h→

v ,→

v i

= h(−1, −6, 3), (1, 0, 1)i + t0 h(1, 0, 1), (1, 0, 1)i

= (−1 + 3) + t0 (1 + 1) = 2 + 2t0 .

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 209

Logo, t0 = −1 e, portanto,
Q=P +t → −
v = (1, −1, 2) − (1, 0, 1) = (0, −1, 1) .
0 0
Assim,
−−→ p
d(P, r) = d(P, Q) = kP Q k = (2 − 0)2 + (5 − (−1))2 + (−1 − 1)2
√ √ √
= 4 + 36 + 4 = 44 = 2 11 .


Exemplo 8
Determine o conjunto S dos pontos do espaço que estão a distância 2 da reta
r, paralela ao vetor →

v = (1, 2, 1) que passa pela origem.

Solução.
−−→ −−→
Temos que Q ∈ S se, e somente se, existe P ∈ r tal que P Q ⊥ r e kP Q k = 2.
Sejam P = (t, 2t, t), t ∈ R, um ponto de r e Q = (x, y, z).
Então,
−−→ −−→ − −−→ −
P Q ⊥ r ⇐⇒ P Q ⊥ → v ⇐⇒ hP Q , → v i = 0,
se, e somente se,
−−→ −
0 = hP Q , → v i = h(x − t, y − 2t, z − t), (1, 2, 1)i
= x − t + 2y − 4t + z − t = x + 2y + z − 6t .
Isto é,
x + 2y + z
t= .
6

Figura 10: Exemplo ??.


−−→
Suponhamos, agora, que kP Q k = 2 . Como

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210 7.. DISTÂNCIA DE UM PONTO A UMA RETA

 
x + 2y + z 2(x + 2y + z) x + 2y + z
P = , , ,
6 6 6
obtemos
 
−−→ x + 2y + z 2(x + 2y + z) x + 2y + z
PQ = x− ,y − ,z −
6 6 6
 5x − 2y − z −2x + 2y − 2z −x − 2y + 5z 
= , , .
6 6 6
−−→ −−→
Logo, d(Q, r) = d(Q, P ) = kP Q k = 2 se, e somente se, kP Q k2 = 4, isto é,
se, e somente se,
−−→ (5x − 2y − z)2 (−2x + 2y − 2z)2 (−x − 2y + 5z)2
4 = kP Q k2 = + + ,
36 36 36
se e somente se,
(5x − 2y − z)2 + (−2x + 2y − 2z)2 + (−x − 2y + 5z)2 = 4(36) .
Desenvolvendo os quadrados e simplificando, obtemos a equação de S:
S : 30x2 + 12y 2 + 30z 2 − 24xy − 12xz − 24yz − 144 = 0 .
O conjunto S é o cilindro circular reto de raio 2 cujo eixo é a reta r. 

Exemplo 9
Determine o conjunto dos pontos do plano π : x + y + 2z = 1 que estão a
distância três da reta r que passa pelos pontos A = (1, 0, 1) e B = (2, −1, 1).

Solução.
−−→
A reta r é paralela ao vetor AB = (1, −1, 0) e o plano π é perpendicular ao
vetor −
→ = (1, 1, 2).
w
−−→ →
Como hAB , −
w i = h(1, −1, 0), (1, 1, 2)i = 1 − 1 = 0, e A ∈
/ π (note que as
coordenadas de A = (1, 0, 1) não satisfazem a equação de π) obtemos que
r k π.
−−→ −−→
Sejam P = A+tAB = (1+t, −t, 1) ∈ r e Q = (x, y, z) ∈ π tais que P Q ⊥ r
e d(Q, r) = d(P, Q) = 3. Então,
−−→ −−→
hP Q , AB i = h(x − 1 − t, y + t, z − 1), (1, −1, 0)i
,
= x − 1 − t − y − t = x − y − 2t − 1 = 0
ou seja,

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CAPÍTULO 11. ÂNGULOS E DISTÂNCIAS NO ESPAÇO 211

x − y = 2t + 1 .
Como Q ∈ π, as suas coordenadas x, y e z satisfazem ao sistema formado
pela equação acima e pela equação de π:
(
x − y = 2t + 1
x + y = −2z + 1 .
Somando as equações, obtemos 2x = 2 + 2t − 2z, ou seja, x = 1 + t − z, e sub-
traindo a primeira equação da segunda, obtemos 2y = −2z−2t ⇐⇒ y = −t−z.
Então, as coordenadas de um ponto Q = (x, y, z) do plano π que se projeta
perpendicularmente sobre o ponto P = (1 + t, −t, 1) ∈ r, satisfazem

(
x=1+t−z
y = −t − z .

Figura 11: Exemplo ??.

Além disso, devemos ter d(P, Q) = 3, ou seja,


9 = d(P, Q)2 = (x − (1 + t))2 + (y − (−t))2 + (z − 1)2
= (−z)2 + (−z)2 + (z − 1)2 = 3z 2 − 2z + 1 .
Resolvendo a equação 3z 2 − 2z + 1 = 9, ou seja, 3z 2 − 2z − 8 = 0, obtemos
4
as raízes z = 2 e z = − .
3
Substituindo estas raízes no sistema (??), obtemos as retas

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212 7.. DISTÂNCIA DE UM PONTO A UMA RETA


7
x= +t
 

 x = −1 + t 3


 

r1 : y = −2 − t ; t∈R r2 : 4 t∈R
e y = −t ;
  3
z=2
 

 z = −4


3
paralelas à reta r, contidas no plano π e cujos pontos estão a distância três
de r. 

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Capítulo 12

Distâncias entre retas no espaço

Sejam r1 = { P1 + t−
v→
1 | t ∈ R} e r2 = { P2 + t−
v→
2 | t ∈ R} duas
retas no espaço. Se r1 6= r2 , sabemos que r1 e r2 são concorrentes (isto é,
r1 ∩ r2 6= ∅) ou não se intersectam. Quando a segunda possibilidade ocorre,
temos ainda duas situações a considerar: as retas podem ser paralelas ou
reversas.

Definição 1
A distância entre r1 e r2 é o número d(r1 , r2 ) dado por:

d(r1 , r2 ) = min d(P, Q) | P ∈ r1 e Q ∈ r2 }

Se as retas se intersectam, por definição, d(r1 , r2 ) = 0. Assim, os casos


importantes a considerar ocorrem quando r1 ∩ r2 = ∅.

1. Distância entre duas retas paralelas no es-


paço

Suponhamos que r1 k r2 . Então, −v→ −



1 e v2 são colineares, r1 ∩ r2 = ∅
e existe um plano π que contém ambas as retas. Seja P1 ∈ r1 e R1 o pé da
perpendicular baixada de P1 sobre a reta r2 . Então,

213
214 1.. DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS PARALELAS NO ESPAÇO

d(P, Q) ≥ d(P, R) = d(P1 , R1 ) .


quaisquer que sejam os pontos P ∈ r1 e Q ∈ r2 , onde R é o pé da perpendi-
cular baixada de P sobre a reta r2 , pois P1 R1 RP é um retângulo contido no
plano π.

Logo, qualquer que seja o


ponto P1 ∈ r1 , temos que (figura
??):
d(r1 , r2 ) = d(P1 , R1 ) = d(P1 , r2 ).

Exemplo 1
Mostre que a reta r1 , que passa
por A1 = (1, 2, 1) e B1 = (2, 1, 0),
é paralela à reta r2 que passa por
Figura 1: d(P, Q) ≥ d(r1 , r2 ), para todo Q ∈ r2 e P ∈ r1 .
A2 = (0, 1, 2) e B2 = (1, 0, 1).
Calcule a distância entre r1 e r2 .

Solução.
Temos:
− −−−→ −−−−→
v→ = A B = (1, −1, −1) k r
1 1 1 1 e −
v→
2 = A2 , B2 = (1, −1, −1) k r2 .

Logo, −
v→ −

1 = v2 e as retas r1 e r2 são:

r1 = {A1 + t − v→
1 | t ∈ R} = {(1 + t, 2 − t, 1 − t) | t ∈ R} ,
−→
r2 = {A2 + s v2 | s ∈ R} = {(s, 1 − s, 2 − s) | s ∈ R} .
Para verificar que r1 k r2 basta verificar que um ponto de r2 não pertence a
r1 , pois já sabemos que −v→ −→
1 e v2 são múltiplos. Por exemplo, vejamos que
B2 = (1, 0, 1) 6∈ r1 .
De fato, se B2 = (1, 0, 1) ∈ r1 , então deveria existir um valor t ∈ R tal que:

 1+t=1

2−t=0

1 − t = 1.

Da segunda destas identidades obtemos t = 2, e substituindo este valor de t


na primeira identidade, obtemos 3 = 1 + 2 = 1, um absurdo.
Portanto, B2 6∈ r1 e as retas r1 e r2 são, efetivamente, paralelas.

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CAPÍTULO 12. DISTÂNCIAS ENTRE RETAS NO ESPAÇO 215

Para calcular a distância d(r1 , r2 ), basta calcular a distância de um ponto de


r1 a r2 . Por exemplo, calculemos d(A1 , r2 ).
Seja C = (s, 1 − s, 2 − s) ∈ r2 , tal que o vetor
−−−→
A1 C = (−1 + s, −1 − s, 1 − s)
é perpendicular à reta r , isto é, ao vetor −
2 v→ = (1, −1, −1).
2
Temos:
−−−→ − −−−→ →
A1 C ⊥ v→
1 ⇐⇒ 0 = hA1 C , −
v1 i
= h(−1 + s, −1 − s, 1 − s), (1, −1, −1)i
= −1 + s + 1 + s − 1 + s = 3s − 1
1
⇐⇒ s = .
3
Logo,
−−−→
d(r1 , r2 ) = d(A1 , C) = kA1 C k
r 
2 2
 4 2  2 2 1 √
= − + − + = 24
3 3 3 3
2√
= 6
3
é a distância procurada. 

2. Distância entre duas retas reversas no es-


paço
Sejam r1 = { P1 + t−v→
1 | t ∈ R}

e r2 = { P2 + t−
v→
2 | t ∈ R} duas retas
reversas no espaço (isto é, r1 ∩ r2 = ∅ e
os vetores −
v→ e −
v→ não colineares). Por
1 2
definição, a distância entre r1 e r2 é a
menor das distâncias entre um ponto de
r1 e um ponto de r2 :
d(r1 , r2 ) = min{d(P, Q) | P ∈ r1 e Q ∈ r2 } . Figura 2: Retas reversas r1 e r2 .

Sejam π1 e π2 os planos paralelos aos vetores −


v→ −

1 e v2 que contêm,
respectivamente, os pontos P1 e P2 .

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216 2.. DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS REVERSAS NO ESPAÇO

Já sabemos que
d(π1 , π2 ) = min{d(P, Q) | P ∈ π1 e Q ∈ π2 } = d(P 0 , Q0 ) ,
onde P 0 ∈ π1 é um ponto arbitrário e Q0 ∈ π2 é o pé da perpendicular baixada
−−−→
desde o ponto P 0 sobre o plano π2 . Isto é, P 0 Q0 ⊥ π2 (ou a π1 ).
Pela própria definição, temos
d(r1 , r2 ) ≥ d(π1 , π2 ) ,
pois r1 ⊂ π1 e r2 ⊂ π2 .
Afirmamos que
d(r1 , r2 ) = d(π1 , π2 )

−−−→
Para isto, basta mostrar que existem P10 ∈ r1 e P20 ∈ r2 , tais que, P10 P20
é perpendicular a r1 e a r2 , isto é, perpendicular aos vetores −
v→ −

1 e v2 .

Consideremos
P10 = P1 + t−
v→ 0 −

1 ∈ r1 e P2 = P2 + sv2 ∈ r2 .

−−−→ −−−→
Como P10 P20 = P1 P2 + s−
v→ −

2 − tv1 ,

−−0−→ −−−→ → −−−→


P1 P20 ⊥ −
v→
1 ⇐⇒ hP10 P20 , −
v1 i = hP1 P2 + s−
v→ −
→ − →
2 − tv1 , v1 i = 0 ,
−−0−→ −−−→ → −−−→
P1 P20 ⊥ −
v→
2 ⇐⇒ hP10 P20 , −
v2 i = hP1 P2 + s−
v→ −
→ − →
2 − tv1 , v2 i = 0 .

−−−→
Desenvolvendo os produtos internos acima, obtemos que P10 P20 é per-
pendicular aos vetores −
v→ −

1 e v2 , simultaneamente, se, e somente se,
( −−−→
hP1 P2 , −
v→ −
→ − → −
→ − →
1 i + shv2 , v1 i − thv1 , v1 i = 0
−−−→ −
hP1 P2 , v→ −
→ − → −
→ − →
2 i + shv2 , v2 i − thv1 , v2 i = 0 ,

−−−→ −
sh−
v→ −
→ −
→ − → →
(
2 , v1 i − thv1 , v1 i = −hP1 P2 , v1 i
⇐⇒ −−−→ −
sh−
v→ −
→ −
→ − → →
2 , v2 i − thv1 , v2 i = −hP1 P2 , v2 i .

Como
(h−
v→ −
→ − → − → −
→ − → −
→ − →
2 , v1 i, hv2 , v2 i)s + (−hv1 , v1 i, −hv1 , v2 i)t
−−−→ − − −−→ −
= (−hP1 P2 , v→ →
1 i, −hP1 P2 , v2 i),

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CAPÍTULO 12. DISTÂNCIAS ENTRE RETAS NO ESPAÇO 217

o sistema possui uma única solução se, e só se, os vetores


(h−
v→ −
→ − → − →
2 , v1 i, hv2 , v2 i) e (−h−v→ −
→ −
→ − →
1 , v1 i, −hv1 , v2 i)

não são múltiplos, isto é, se e só, e somente, o determinante


 
h−
v→ , −
→i −h−
v →, −
v v→i
det 
2 1 1 1
 = −h− v→ −
→2 −
→ − → − → − →
1 , v2 i + hv1 , v1 ihv2 , v2 i
−→ −
→ −
→ −
hv , v i −hv , v i→
2 2 1 2

= k−
v→ 2 −→ 2 −
→ − →2
1 k kv2 k − hv1 , v2 i

= k−
v→k2 k−
v→k2 − k−
1 v→k2 k−
2 v→k2 cos2 ∠(−
1 2v→, −
v→) 1 2

= k−
v→ 2 −→ 2 2 −
→ − →
1 k kv2 k (1 − cos ∠(v1 , v2 ))

= k−
v→k2 k−
v→k2 sen2 ∠(−
1 2 v→, −
v→) , 1 2

é diferente de zero.
Sendo − v→
1 e −v→
2 vetores não nulos e não colineares, temos que
0 < ∠(v1 , v2 ) < π e, em particular, sen ∠(−

→ −→ v→ −

1 , v2 ) 6= 0.

Portanto, o determinante anterior é diferente de zero e o sistema em


questão possui uma única solução para s e t. Estes valores determinam um
−−−→
único par de pontos P10 ∈ r1 e P20 ∈ r2 , tais que, P10 P20 é perpendicular a r1 e
a r2 , simultaneamente. Então, a distância entre r1 e r2 é
d(r1 , r2 ) = d(P10 , P20 )

Exemplo 2
Mostre que as retas
 
 x=1+t
  x=2+t

r1 : y = 2t ; t∈R e r2 : y=3 ; t∈R
 
z=0 z =1+t
 

são reversas, calcule d(r1 , r2 ) e determine a única reta r3 que intersecta r1 e


r2 perpendicularmente.

Solução.
Temos que r1 k − v→ −
→ −
→ − →
1 = (1, 2, 0) e r2 k v2 = (1, 0, 1) . Como v1 e v2 não
são colineares, as retas podem ser concorrentes ou reversas.

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218 2.. DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS REVERSAS NO ESPAÇO

Para mostrar que r1 e r2 são reversas, basta verificar que r1 ∩ r2 = ∅.


Suponhamos, por absurdo, que r1 ∩ r2 6= ∅. Então deveriam existir valores
s, t ∈ R, tais que
(1 + t, 2t, 0) = (2 + s, 3, 1 + s) .
Igualando as coordenadas, obtemos:
1+t = 2+s
2t = 3
0 = 1 + s.
3
Da segunda identidade, temos t = e da terceira, s = −1. Estes valores são
2
3 5
incompatíveis com a primeira identidade, pois 1+t = 1+ = 6= 1 = 2+(−1)
2 2
= 1 + s. Assim, o sistema não tem solução e os valores procurados para s e
t não existem.
Logo, as retas r1 e r2 não se intersectam e são, portanto, reversas.

Vamos determinar pontos P10 = (1 + t, 2t, 0) ∈ r1 e P20 = (2 + s, 3, 1 + s) ∈ r2


−−−→
tais que o vetor P10 P20 = (1 + s − t, 3 − 2t, 1 + s) seja perpendicular a −
v→
1 e

v→, simultaneamente.
2
Devemos achar valores s, t ∈ R, tais que,
( −−−→
hP10 P20 , −
v→
(
1 i = 0 h(1 + s − t, 3 − 2t, 1 + s), (1, 2, 0)i = 0
−−0−→ 0 − → ⇐⇒
hP1 P2 , v2 i = 0 h(1 + s − t, 3 − 2t, 1 + s), (1, 0, 1)i = 0
ou seja,
(
s − 5t = −7
2s − t = −2 .
Substituindo t = 2+2s da segunda equação, na primeira, obtemos s−10−10s =
1
 1 4
−7. Então, s = − , t = 2 + 2 − = ,
3 3 3
0
7 8 
0
5 2
 −−0−→
0
 2 1 2
P1 = , , 0 , P2 = , 3, e P1 P2 = − , , .
3 3 3 3 3 3 3
Assim, a distância entre r1 e r2 é
−−−−→ 1√
d(r1 , r2 ) = kP10 , P20 k = 4+1+4=1
3
e

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CAPÍTULO 12. DISTÂNCIAS ENTRE RETAS NO ESPAÇO 219

n −−−→ o n 7 2 8 1 2  o
r3 = P10 + tP10 P20 | t ∈ R = − t, + t, t t ∈ R ,
3 3 3 3 3
é a reta procurada. 

Exemplo 3
Sejam r1 a reta que passa pelo ponto P1 = (1, 1, 2) e é paralela ao vetor

v→
1 = (1, 1, 0) e r2 a reta de interseção dos planos π1 : x + 2y + z = 4 e
π2 : x + z = 2.
(a) Mostre que r1 e r2 são retas reversas.
(b) Calcule a distância entre r1 e r2 .
(c) Determine a única reta r que intersecta r1 e r2 perpendicularmente.

Solução.
(a) A reta r1 é dada por
r1 = {P1 + t−
v→
1 | t ∈ R} = {(1 + t, 1 + t, 2) | t ∈ R} .
Determinemos a equação paramétrica da reta r2 .
Sabemos que a reta r2 é paralela ao vetor →−
u ×− →, onde →
w −
u = (1, 2, 1) ⊥ π1
e−
w→ = (1, 0, 1) ⊥ π :
2

e→ −
e→ −
e→ !
1 2 3

− −
→ 2 1 1 1 1 2
u ×w = 1 2 1 = ,− ,
0 1 1 1 1 0
1 0 1
= (2, 0, −2).
Para achar um ponto P2 ∈ r2 , tomamos x = 2, por exemplo, nas equações
dos planos π1 e π2 :
(
2 + 2y + z = 4
=⇒ z = 0 =⇒ y = 1 =⇒ P2 = (2, 1, 0) ∈ r2 .
2+z = 2
Logo, r2 é a reta que passa pelo ponto P2 = (2, 1, 0) e é paralela ao vetor

v→ = (1, 0, −1), ou seja:
2

r2 = {P10 + s−
v→
2 | s ∈ R} = {(s, 1, 2 − s) | s ∈ R} .

Como os vetores − v→ −

1 = (1, 1, 0) e v2 = (1, 0, −1) não são colineares, as retas
r1 e r2 são concorrentes ou reversas.

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220 2.. DISTÂNCIA ENTRE DUAS RETAS REVERSAS NO ESPAÇO

Suponhamos que r1 ∩ r2 = {Q}. Então Q = (1 + t, 1 + t, 2) = (s, 1, 2 − s)


para certos valores s, t ∈ R, que tentaremos determinar.
Devemos ter 1 + t = s , 1 + t = 1 e 2 = 2 − s. Da segunda identidade,
obtemos t = 0 e, da terceira, s = 0. No entanto, estes valores não são
compatíveis com a primeira identidade, pois 1 + t = 1 + 0 6= 0 = s.
Assim, o ponto Q ∈ r1 ∩ r2 não existe. Isto é, r1 ∩ r2 = ∅ e, portanto, as
retas são reversas.
−−→
(b) e (c) Devemos determinar P ∈ r e P 0 ∈ r , tais que P P 0 ⊥ −
1 v→ e 2 1
−−→
PP0 ⊥ −
v→
2 , simultaneamente.
−−→
Como P = (1 + t, 1 + t, 2), P 0 = (s, 1, 2 − s) e P P 0 = (s − t − 1, −t, −s), as
condições de perpendicularidade, em termos do produto interno, são:
( −−→
hP P 0 , −
v→
(
1 i = 0 h(s − t − 1, −t, −s), (1, 1, 0)i = 0
−−→ −→ ⇐⇒
hP P 0 , v i = 0 2 h(s − t − 1, −t, −s), (1, 0, −1)i = 0
( (
s−t−1−t = 0 s − 2t = 1
⇐⇒ ⇐⇒
s−t−1+s = 0 2s − t = 1
Substituindo s = 2t+1 da primeira equação, na segunda, obtemos 4t+2−t = 1
1
 1 1
ou seja, t = − e s = 2 − + 1 = .
3 3 3
Portanto,
2 2  1 5

0
P = (1 + t, 1 + t, 2) = , ,2 ; P = (s, 1, 2 − s) = , 1, ;
3 3 3 3
e
−−→  1 1 1 1
P P 0 = (s − t − 1, −t, −s) = − , , − = (−1, 1, −1) .
3 3 3 3
Assim,

−−→ 1√ 3
d(r1 , r2 ) = kP P 0 k = 1+1+1= .
3 3
A única reta r que intersecta r1 e r2 perpendicularmente é a a reta que passa
−−→
por P e é paralela ao vetor P P 0 , ou seja, paralela ao vetor →

v = (−1, 1, −1).
Logo,
n 2 2


 o
r = {P + t v | t ∈ R} = − t, + t, 2 − t t ∈ R
3 3
é a reta procurada. 

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Capítulo 13

Exemplos de revisão

Exemplo 1
Considere os pontos A = (1, 2, 2), B = (2, 4, 3), C = (−1, 4, 2), D = (7, 1, 3)
e E = (−4, 16, 5).
(a) Mostre que A, B e C não são colineares.
(b) Determine a equação paramétrica e a equação cartesiana do plano π que
contém os pontos A, B e C.
(c) Determine a área do paralelogramo que possui A, B e C como vértices.
(d) Mostre que A, B, C e D não são coplanares.
(e) Determine o volume do paralelepípedo de vértices A, B, C e D.
−−→ −−→ −−→
(f ) Escreva o vetor AE como combinação linear de AB e AC .
(g) Determine a distância do ponto D à reta que passa pelos pontos A e B.
(h) Determine o ponto simétrico do ponto C em relação à reta que passa
pelos pontos A e B.
(i) Determine a intersecção da reta que passa por A e B com a reta ` = {(7t−7,
t − 1, 2t − 1); t ∈ R}.

Solução.
(a) Sabemos que:

221
222

−−→ −−→
A, B e C são não colineares ⇐⇒ AB e AC não são múltiplos
−−→ −−→ → −
⇐⇒ AB × AC 6= 0 .
−−→ −−→
Como AB = (1, 2, 1), AC = (−2, 2, 0) e
!
−−→ −−→ 2 1 1 1 1 2
AB × AC = ,− ,
2 0 −2 0 −2 2


= (−2, −2, 6) 6= (0, 0, 0) = 0 ,
concluímos que A, B e C são não colineares.
−−→ −−→
(b) Temos π = {A + tAB + sAC | t, s ∈ R}, ou seja, as equações paramé-
tricas de π são:

 x = 1 + t − 2s
π: y = 2 + 2t + 2s ; t, s ∈ R.
 z =2+t
−−→ −−→
Para determinar a equação cartesiana de π, sabemos que AB ×AC = (−2, −2, 6)
é perpendicular a π. Logo, a equação cartesiana de π tem a forma
π : x + y − 3z = d ,
onde
d = 1 + 2 − 3(2) = −3 ,
pois A = (1, 2, 2) ∈ π.
Portanto, a equação cartesiana de π é
π : x + y − 3z = −3 .
(c) Seja R o paralelogramo que possui A, B e C como vértices. Então,
−−→ −−→ √ √ √
área (R) = kAB × AC k = k (−2, −2, 6) k = 4 + 4 + 36 = 44 = 2 11 .
(d) Sabemos que:
−−→ −−→ −−→
A, B, C, e D são não coplanares ⇐⇒ AB , AC e
h−−→ −−→ −−→ AD i são LI


⇐⇒ AB , AC , AC 6= 0 .
−−→
Como AD = (6, −1, 1), e
h−−→ −−→ −−→i −−→ −−→ −−→
AB , AC , AD = hAB × AC , AD i = h(−2, −2, 6), (6, −1, 1)i
= −12 + 2 + 6 = −4 6= 0 ,
concluímos que A, B, C e D não são coplanares.
(e) Seja P o paralelepípedo que tem os pontos A, B, C e D por vértices.
Então:

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 223

h −−→ −−→ −−→ i


Vol (P) = AB , AC , AD = | − 4| = 4 .
−−→
(f ) Temos que AE = (−5, 14, 3). Devemos achar números reais x e y tais
que:
−−→ −−→ −−→
AE = xAB + y AC .
Ou seja,
(−5, 14, 3) = x(1, 2, 1) + y(−2, 2, 0) .
Igualando as coordenadas, temos:

 −5 = x − 2y  
x=3 x=3
14 = 2x + 2y =⇒ =⇒ .
 3=x 2y = 5 + x = 5 + 3 = 8 y=4

Observe que os valores encontrados são compatíveis com a segunda equação:


2x + 2y = 2(3) + 2(4) = 6 + 8 = 14.
−−→ −−→ −−→
Portanto, AE = 3AB + 4AC e, em particular, E ∈ π.
(g) A reta r que passa por A e B é
−−→
r = {A + tAB | t ∈ R}.
Ou seja, as equações paramétricas de r são:

 x=1+s
r: y = 2 + 2s ; s ∈ R .
 z =2+s

Seja M = (1 + s, 2 + 2s, 2 + s) ∈ r o pé da perpendicular baixada do ponto


D = (7, 1, 3) sobre a reta r.
−−−→ −−→ −−→ −−−→
Devemos achar s ∈ R tal que DM ⊥ AB ⇐⇒ hAB , DM i = 0, onde
−−−→
DM = (s − 6, 2s + 1, s − 1).
Calculando, temos:
−−→ −−−→
hAB , DM i = h(1, 2, 1), (s − 6, 2s + 1, s − 1)i = 0
⇐⇒ s − 6 + 2(2s + 1) + s − 1 = 0
⇐⇒ 2s − 7 + 4s + 2 = 0
5
⇐⇒ 6s = 5 ⇐⇒ s=
6
Portanto,
−−−→  5 5 5
  31 16 1 
DM = − 6, 2 · + 1, − 1 = − , , −
6 6 6 6 6 6

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224

e
−−−→ 1√ 2 1√
d(D, r) = kDM k = 31 + 162 + 12 = 1218.
6 6
(h) Seja N = (1 + s, 2 + 2s, 2 + s) ∈ r o pé da perpendicular baixada do
ponto C = (−1, 4, 2) sobre a reta r.
−−→ −−→ −−→ −−→
Sendo CN = (s + 2, 2s − 2, s) e AB = (1, 2, 1), temos que CN ⊥ AB se,
e só se:
−−→ −−→
hCN , AB i = h(s + 2, 2s − 2, s), (1, 2, 1)i
1
= s + 2 + 2(2s − 2) + s = 6s − 2 = 0 ⇐⇒ s= .
3
1 1 1
  4 8 7
Logo, N = 1 + , 2 + 2 · , 2 + = , ,
3 3 3 3 3 3
0
Seja C o simétrico de C em relação à reta r.
1
Como N = (C + C 0 ), temos que:
2
4 8 7
0
C = 2N − C = 2 , , − (−1, 4, 2)
8 3 3 3 
16 14
= + 1, − 4, −2 .
3 3 3
 11 4 8 
Portanto, C 0 = , , .
3 3 3 Figura 1: Exemplo ??.

(i) Para determinar a interseção das retas


r = {(1 + s, 2 + 2s, 2 + s) | s ∈ R} e ` = {(7t − 7, t − 1, 2t − 1) | t ∈ R},
devemos resolver o sistema obtido igualando as coordenadas dos pontos de r
e de `:

 1 + s = 7t − 7

r∩`: 2 + 2s = t − 1

2 + s = 2t − 1.

Subtraindo a segunda equação do dobro da terceira, obtemos:


4 + 2s = 4t − 2
− 2 + 2s = t − 1
2 = 3t − 1.
Ou seja, t = 1. Substituindo este valor na terceira equação, obtemos s = 2t−3
= 2(1) − 3 = −1. Como os valores t = 1 e s = −1 também satisfazem à
primeira equação, pois 1 + s = 1 + (−1) = 0 = 7(1) − 7 = 7t − 7, podemos

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 225

concluir que (0, 0, 1) é o único ponto de interseção das retas r e `. 

Exemplo 2
Considere as retas
 
 x=t+3  x=s+4
r1 : y =t+4 ; t∈R e r2 : y = −s ;s∈R.
 z = −t − 1  z = −3s − 1

(a) Mostre que r1 e r2 são reversas.


(b) Determine a reta r que intersecta r1 e r2 perpendicularmente.
1 2
(c) Determine o plano π tal que d(π, r1 ) = d(r1 , r2 ) e d(π, r2 ) = d(r1 , r2 ) .
3 3

Solução.
(a) Temos que − v→ −→
1 = (1, 1, −1) k r1 e v2 = (1, −1, −3) k r2 .
As retas r1 e r2 são reversas, pois:
• →
−v 1e→ −
v 2 não são colineares.
De fato,
 

− →
− 1 −1 1 −1 1 1
v 1×v 2= ,− , = (−4, 2, −2) 6= (0, 0, 0) ;
−1 −3 1 −3 1 −1
• r1 ∩ r2 = ∅.
De fato,


 t+3 = s+4
t + 4 = −s

−t − 1 = −3s − 1.

3
Somando as duas primeiras equações, obtemos 2t + 7 = 4 =⇒ t = − .
2
3 5 5
Substituindo na segunda equação, temos −s = − + 4 = =⇒ s = − .
2 2 2
3 5
No entanto, substituindo t = − e s = − em ambos os lados da terceira
2 2
equação, vemos que
3 1
 5 13
−t − 1 = − 1 = e −3s − 1 = −3 − − 1 = .
2 2 2 2
Como estes números são diferentes, concluímos que o sistema não tem solu-

Geometria Analítica e Cálculo Vetorial GGM-IME-UFF


226

ção. Isto é, nenhum ponto de r1 pertence a r2 . Ou seja, r1 ∩ r2 = ∅.


Portanto, r1 e r2 são retas reversas.
(b) Vamos determinar os números t, s ∈ R de modo que P1 = (t+3, t+4, −t−1)
∈ r1 e P2 = (s + 4, −s, −3s − 1) satisfaçam:
−−−→ − −−−→ −
P P ⊥ v→ , 1 P P ⊥ v→ ,
2 1 1 2 2
−−−→
onde P1 P2 = (s+4−t−3, −s−t−4, −3s−1+t+1) = (s−t+1, −s−t−4, −3s+t).
Assim:
−−−→ →
• hP P , −
1 v i = h(s − t + 1, −s − t − 4, −3s + t), (1, 1, −1)i = 0
2 1
⇐⇒ s − t + 1 − s − t − 4 + 3s − t = 0
⇐⇒ 3s − 3t = 3 ⇐⇒ s − t = 1 ,
−−−→ →
• hP1 P2 , −
v2 i = h(s − t + 1, −s − t − 4, −3s + t), (1, −1, −3)i = 0
⇐⇒ s − t + 1 + s + t + 4 + 9s − 3t = 0
⇐⇒ 11s − 3t = −5 .
Temos, então, o sistema:
( (
s−t=1 −11s + 11t = −11
,ou seja,
11s − 3t = −5 11s − 3t = −5.
Somando estas equações, obtemos: 8t = −16 ⇐⇒ t = −2.
Substituindo t = −2 na primeira equação, segue que: s−(−2) = 1 ⇐⇒ s = −1.
Portanto,
P1 = (t + 3, t + 4, −t − 1) = (−2 + 3, −2 + 4, 1) = (1, 2, 1) ,
P2 = (s + 4, −s, −3s − 1) = (−1 + 4, −(−1), −3(−1) − 1) = (3, 1, 2) ,
−−−→
P1 P2 = (2, −1, 1) .
Logo,

 x = 1 + 2t

r: y =2−t ; t∈R

z =1+t

é a única reta que intersecta r1 e r2 perpendicularmente.


−−−→ √ √
(c) Como d(r1 , r2 ) = d(P1 , P2 ) = kP1 P2 k = 4 + 1 + 1 = 6 , temos que
√ √
6 2 6
d(π, r1 ) = e d(π, r2 ) = . Portanto,
3 3
π k r1 e π k r2 , pois d(π, r1 ) 6= 0 e d (π, r1 ) 6= 0.

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 227

 
1 −1 1 −1 1 1
Logo, −
v→ −

1 ×v2 = ,− , = (−4, 2, −2) k (−2, 1, −1) ,
−1 −3 1 −3 1 −1
é um vetor perpendicular a π, o que implica que π : 2x − y + z = d para
algum d ∈ R.
Sendo,

|2 − 2 + 1 − d| 6 6
• d(π, r1 ) = d(P1 , π) = √ = ⇐⇒ |d − 1| = = 2
4+1+1 3 3
(
d=3
⇐⇒ d − 1 = ±2 ⇐⇒ ou
d = −1 ,

|6 − 1 + 2 − d| 2 6 2·6
• d(π, r2 ) = d(P2 , π) = √ = ⇐⇒ |d − 7| = =4
4+1+1 3 3
(
d = 11
⇐⇒ d − 7 = ±4 ⇐⇒ ou
d = 3,
concluímos que d = 3 e, portanto, π : 2x − y + z = 3. 

Exemplo 3
Considere os pontos A = (1, 1, 2), B = (3, 2, 2) e C = (4, 5, 3), e a reta
x−1 y−2
r: = = z − 1.
3 4
(a) Determine a equação cartesiana do plano π que contém os pontos A, B
e C.
(b) Mostre que a reta r é paralela ao plano π.
(c) Calcule d(r, π)

Solução.
−−→ −−→
(a) Como A, B, C ∈ π, AB = (2, 1, 0) e AC = (3, 4, 1) são vetores pa-
ralelos ao plano π. Logo,
 
−−→ −−→ 1 0 2 0 2 1
AB × AC = ,− , = (1, −2, 5)
4 1 3 1 3 4
é perpendicular ao plano π.
Assim, π : x − 2y + 5z = d, onde d = 1 − 2 + 10 = 9, pois A = (1, 1, 2) ∈ π.

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228

Isto é,
π : x − 2y + 5z = 9.
(b) Como →−
v = (3, 4, 1) k r, −
→ = (1, −2, 5) ⊥ π e h→
w −
v ,−
→i = 3 − 8 + 5 = 0,
w
temos que :
r k π ou r ⊂ π.
Para mostrar que r k π, basta verificar que o ponto P = (1, 2, 1) ∈ r não
pertence ao plano π.
De fato, substituindo as coordenadas de P na equação do plano π, obtemos:
1 − 2 · 2 + 5 · 1 = 2 6= 9 =⇒ P 6∈ π .
|1 − 2 · 2 + 5 · 1 − 9| 7
(c) Calculando, temos: d(r, π) = d(P, π) = √ =√ . 
1 + 4 + 25 30

Exemplo 4
Considere os pontos A = (2, 3, 1), B = (1, 4, 2) e C = (3, 1, 2) e a reta r
paralela ao vetor →

v = (1, −1, 3) que passa pelo ponto P = (1, 3, 0).
(a) Verifique que A, B e C não são colineares.
(b) Determine a equação paramétrica e a equação cartesiana do plano π que
contém os pontos A, B e C.
(c) Determine os vértices R, S e T de um triângulo tal que {R} = π ∩ r,
−−→ 4 −−→
S ∈ r, T ∈ π, kST k = √ e ST ⊥ π.
14

Solução.
−−→ −−→
(a) Temos AB = (−1, 1, 1) e AC = (1, −2, 1).
−−→ −−→
Os pontos A, B e C não são colineares, pois AB e AC não são múltiplo um
do outro. De fato,
!
−−→ −−→ 1 1 −1 1 −1 1
AB × AC = ,− , = (3, 2, 1) 6= (0, 0, 0).
−2 1 1 1 1 −2
(b) A equação paramétrica do plano π que passa pelo ponto A = (2, 3, 1) e
−−→ −−→
é paralelo aos vetores AB e AC é

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 229


 x=2−t+s
π: y = 3 + t − 2s ; t, s ∈ R .
 z =1+t+s
−−→ −−→
Como o plano π é perpendicular ao vetor AB × AC e passa pelo ponto A,
a sua equação cartesiana é
π : 3x + 2y + z = 6 + 6 + 1 ⇐⇒ π : 3x + 2y + z = 13.
(c) A equação paramétrica da reta r é

 x=1+t
r: y = 3 − t ; t ∈ R.
 z = 3t

Como R é o ponto de interseção de r com o plano π, R = (1 + t, 3 − t, 3t),


onde t ∈ R é tal que as coordenadas de R satisfazem à equação cartesiana
de π:
3(1 + t) + 2(3 − t) + 3t = 13 =⇒ 3 + 3t + 6 − 2t + 3t = 13
=⇒ 9 + 4t = 13
=⇒ 4t = 4
=⇒ t=1
=⇒ R = (2, 2, 3) .
−−→ −−→ 4
Sejam S = (1 + t, 3 − t, 3t) ∈ r e T ∈ π, tais que ST ⊥ π e kST k = √ .
14
Então,
−−→ 4 |3(1 + t) + 2(3 − t) + 3t − 13| 4
d(S, π) = kST k = √ =⇒ √ =√
14 9+4+1 14
|4t − 4| 4
=⇒ √ =√
14 14
=⇒ |t − 1| = 1 =⇒ t − 1 = ±1
t = 2 =⇒ S1 = (3, 1, 6)
(
=⇒ ou
t = 0 =⇒ S2 = (1, 3, 0) .

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230

Figura 2: Exemplo ??.


4
Assim, os pontos S1 e S2 são os pontos da reta r que estão à distância √
14
do plano π.
Para achar os correspondentes pontos T1 e T2 tais que 4RT1 S1 e 4RT2 S2
são triângulos retângulos em T1 e T2 , respectivamente, projetamos os pontos
S1 e S2 perpendicularmente sobre o plano π.
• Seja `1 a reta perpendicular ao plano π que passa por S1 . Então,
x = 3 + 3t
(
`1 : y = 1 + 2t ; t ∈ R e {T1 } = `1 ∩ π.
z =6+t
Como T1 ∈ `1 ∩ π, T1 = (3 + 3t, 1 + 2t, 6 + t) e:
2
3(3 + 3t) + 2(1 + 2t) + (6 + t) = 13 =⇒ 14t + 17 = 13 =⇒ t = −
7
6 4 2
   15 3 40 
=⇒ T1 = 3 − , 1 − , 6 − =⇒ T1 = , , .
7 7 7 7 7 7
• Seja `2 a reta perpendicular ao plano π que passa por S2 . Então,
x = 1 + 3t
(
`2 : y = 3 + 2t ; t ∈ R =⇒ {T2 } = `2 ∩ π.
z=t
Como T2 ∈ `2 ∩ π, T2 = (1 + 3t, 3 + 2t, t) e:
2
3(1 + 3t) + 2(3 + 2t) + t = 13 =⇒ 14t + 9 = 13 =⇒ t =
7
6 4 2
   13 25 2 
=⇒ T2 = 1 + , 3 + , =⇒ T2 = , , .
7 7 7 7 7 7


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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 231

Exemplo 5
Considere os planos
π1 : mx − ny + z = 2 e π2 : nx − my + nz = 4,
onde m, n ∈ R.
(a) Determine m, n ∈ R, de modo que π1 e π2 sejam paralelos.
(b) Determine m, n ∈ R, de modo que π1 ∩ π2 seja uma reta perpendicular
ao vetor →

v = (2, 1, −1) que passa pelo ponto A = (0, 0, 2).

Solução.
(a) Das equações dos planos, temos −
v→
1 = (m, −n, 1) ⊥ π1 e − v→
2 = (n, −m, n) ⊥ π2 .
Logo,


π k π ⇐⇒ −
1 v→ e −
2 v→ são colineares ⇐⇒ −
1 2 v→ × −v→ = 0 .
1 2
Isto é, se, e somente se,
!
− −n 1 m 1 m −n
v→ −
→ =
1 × v2 ,− ,
−m n n n n −m
= (−n2 + m, −mn + n, −m2 + n2 ) = (0, 0, 0)
Ou seja,

2
 −n + m = 0

−nm + n = 0

−m2 + n2 = 0 .

Da terceira identidade, obtemos: n2 = m2 ⇐⇒ n = ±m. Substituindo na


primeira identidade, temos: −m2 + m = 0 ⇐⇒ m(−m + 1) = 0 ⇐⇒ m = 0
ou m = 1.
Se m = 0, n = m = 0 e − v→
2 seria o vetor nulo, uma contradição.
Assim, devemos ter, necessariamente, m = 1 e, portanto, n = ±1. Verifique
que a segunda identidade também é satisfeita para estes valores.
(
m = 1 e n = 1;
As soluções são:
m = 1 e n = −1.
(b) Seja r = π1 ∩ π2 . Como A = (0, 0, 2) ∈ r, temos A ∈ π1 e A ∈ π2 .
Em particular, A ∈ π2 ⇐⇒ n · 0 + m · 0 + n · 2 = 4 ⇐⇒ n = 2.
Como →−
v 1 = (m, −2, 1) ⊥ π1 , −
v→
2 = (2, −m, 2) ⊥ π2 e r = π1 ∩ π2 , segue que

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232


v→ −→
1 × v2 k r, onde:
 

→ −
→ −2 1 m 1 m −2
v1 × v2 = ,− , = (−4 + m, −2m + 2, −m2 + 4).
−m 2 2 2 2 −m
Sendo →

v = (2, 1, −1) ⊥ r, devemos ter h→

v ,−
v→ × −
v→i = 0. Isto é,
1 2

0 = h→−
v ,−
v→ −→
1 × v2 i
= h(2, 1, −1), (−4 + m, −2m + 2, −m2 + 4)i
= −8 + 2m − 2m + 2 + m2 − 4
= m2 − 10 .

Portanto, m = ± 10. 

Exemplo 6
Considere as retas
(
2x − y − z = 8
r1 : e r2 : x = y − 1 = z − 2 .
−x + y = −4

(a) Mostre que r1 e r2 são paralelas.


(b) Determine a equação cartesiana do plano que contém as retas r1 e r2 .
(c) Calcule d(r1 , r2 ).

Solução.
(a) Basta mostrar que as retas r1 e r2 são paralelas a uma mesma direção e
que um ponto de uma das retas não pertence à outra.
Como r1 = π1 ∩ π2 , onde π1 : 2x − y − z = 8 e π2 : −x + y = −4, temos que

v→ = (2, −1, −1) ⊥ r e −v→ = (−1, 1, 0) ⊥ r .
1 1 2 1

Logo, →

v =− v→ −→
1 × v2 k r1 , onde:
 

− −
→ −→ −1 −1 2 −1 2 −1
v = v1 × v2 = ,− , = (1, 1, 1) .
1 0 −1 0 −1 1
Da forma simétrica da equação de r , vemos que r k →
2

v = (1, 1, 1).
2

Portanto, r1 k r2 ou r1 = r2 .
Determinemos um ponto A ∈ r1 .
Tomando y = 0 nas equações dos planos que definem r1 , obtemos o sistema:

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 233

(
2x − z = 8
=⇒ x = 4 e z = 2 · 4 − 8 = 0 =⇒ A = (4, 0, 0) ∈ r1 .
−x = −4
Para mostrar que r1 k r2 , vamos verificar que A 6∈ r2 . De fato, substituindo
as coordenadas de A na equação de r2 , obtemos a identidade impossível
4 = 0 − 1 = 0 − 2.
Logo, A 6∈ r2 e, portanto, r1 k r2 .
(b) Para determinar a equação cartesiana do plano π que contém as retas r1
e r2 , devemos conhecer um ponto de π e um vetor perpendicular a π.
Como r ⊂ π, segue que A = (4, 0, 0) ∈ π e →
1

v = (1, 1, 1) k π.
−−→
Uma vez que r1 ∩ r2 = ∅, o vetor AB é um vetor paralelo a π que não é
colinear com →

v , para todo ponto B ∈ r2 .
Tomando x = 0 na equação de r2 ,
obtemos y − 1 = 0 e z − 2 = 0,
ou seja, y = 1 e z = 2. Logo,
−−→
B = (0, 1, 2) ∈ r2 e, portanto, AB =
(−4, 1, 2) k π.
−−→
Como → −v k π e AB k π, concluí-
Figura 3: Exemplo ??.
−−→
mos que → −
v × AB ⊥ π, onde:
!

− −−→ 1 1 1 1 1 1
v × AB = ,− , = (1, −6, 5) .
1 2 −4 2 −4 1
Assim, π : x − 6y + 5z = d, onde d = 4 − 6 · 0 + 5 · 0 = 4, pois A = (4, 0, 0) ∈ π.
(c) Como r1 k r2 , temos que d(r1 , r2 ) = (B, r1 ), onde B = (0, 1, 2) ∈ r2 .
Seja Q = (t + 4, t, t) ∈ r1 o pé da perpendicular a r1 baixada do ponto B.

Figura 4: Exemplo ??.


−−→ −−→
Sendo BQ = (t+4, t−1, t−2) ⊥ r1 , temos BQ = (t+4, t−1, t−2) ⊥ →

v = (1, 1, 1),

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234

ou seja,
−−→ −
hBQ , →
v i = t + 4 + t − 1 + t − 2 = 3t + 1 = 0
1
=⇒ t=− .
3
Então, d(B, r1 ) = d(B, Q).
Logo,
−−→  1 1 1
  11 4 7 
BQ = − + 4, − − 1, − − 2 = ,− ,−
3 3 3 3 3 3
e, portanto,
−−→
d(r1 , r2 ) = d(B, Q) = kBQ k
r
 11 2  4 2  7 2
= + − + −
3 3 3
1 √ 1√
= 121 + 16 + 49 = 186 .
3 3


Exemplo 7
Considere o ponto A = (1, 2, 1) e a reta

x−y+z =1
r: ; t ∈ R.
2x + y = 2

(a) Determine a equação paramétrica da reta r.


(b) Determine a equação cartesiana do plano π que contém a reta r e o ponto
A.

(c) Determine as retas paralelas à reta r contidas no plano π que distam 6
de r.

Solução.
(a) Temos:

(1, −1, 1) ⊥ r
=⇒ (1, −1, 1) × (2, 1, 0) = (−1, 2, 3) = →

v k r.
(2, 1, 0) ⊥ r
Tomando y = 0 nas equações que definem r, obtemos que B = (x, 0, z) ∈ r
se, e só se,
  
x+z =1 z =1−x z=0
⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ B = (1, 0, 0) .
2x = 2 x=1 x=1

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 235

Logo, a equação paramétrica de r é:



 x=1−t
r: y = 2t ; t ∈ R.
 z = 3t
−−→
(b) Temos → −
v = (−1, 2, 3) k π e BA =
(0, 2, 1) k π, pois →

v k r, r ⊂ π e
A, B ∈ r. Logo,

− −−→
v × BA = (−4, 1, −2) ⊥ π.
Como B = (1, 0, 0) ∈ π, obtemos Figura 5: Exemplo ??.
π : 4x − y + 2z = 4 .
(c) Seja ` ⊂ π tal que ` ⊥ r e B ∈ `.
Então,
(4, −1, 2) ⊥ ` e (−1, 2, 3) ⊥ `
=⇒ (4, −1, 2) × (−1, 2, 3) =
(−7, −14, 7) k `
Figura 6: Exemplo ??.
=⇒ (1, 2, −1) k ` .
Como B = (1, 0, 0) ∈ `, obtemos as equações paramétricas de `:

 x=1+t
`: y = 2t ; t ∈ R.
 z = −t

Seja P = (1 + t, 2t, −t) ∈ ` tal que d(P, B) = 6. Então:
d(P, B)2 = 6 ⇐⇒ t2 + 4t2 + t2 = 6 ⇐⇒ t2 = 1 ⇐⇒ t = ±1

 t = 1 =⇒ P1 = (2, 2, −1)

⇐⇒ ou

t = −1 =⇒ P2 = (0, −2, 1) .

Para P1 = (2, 2, −1), obtemos a reta



 x=2−t
r1 : y = 2 + 2t ; t∈R
 z = −1 + 3t

e para P2 = (0, −2, 1), a reta



 x = −t
r2 : y = −2 + 2t ; t ∈ R.
 z = 1 + 3t

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236

Figura 7: Exemplo ??.

Assim, r1 e r2 são as retas paralelas à reta r contidas no plano π que distam



6 de r. 

Exemplo 8

Determine as equações das esferas de raio 17 que contêm os pontos A = (2, 3, 1)
e B = (4, 1, 3), com centro no plano π : 2x + y + z = 3.

Solução.
O centro das esferas procuradas deve ser um ponto equidistante de A e B.
Seja π o conjunto dos pontos eqüidistantes de A e B. Já provamos que (ver
exemplo ??, do capítulo 7),
π = {P | d(P, A) = d(P, B)}
A+B 1
é o plano que passa pelo ponto médio M = = (6, 4, 4) = (3, 2, 2) e é
2 2
−−→
perpendicular ao vetor AB = (2, −2, 2), ou seja, (1, −1, 1) ⊥ π.
Assim, a equação de π é da forma x − y + z = d, onde d se calcula sabendo
que M ∈ π. Logo, d = 3 − 2 + 2 = 3 e
π : x − y + z = 3.
Então, o centro C das esferas procuradas deve pertencer à reta r = π ∩ π.
Determinemos a reta r:
(
x−y+z =3
r:
2x + y + z = 3 .
Como →−
v = (1, −1, 1) ⊥ r e −
→ = (2, 1, 1) ⊥ r, temos →
w −v ×−w→ = (−2, 1, 3) k r.

Além disso, P = (0, 0, 3) ∈ r.


Portanto, r = {(−2t, t, 3t + 3) | t ∈ R}.
Sendo C ∈ r e d(A, C) = 17, temos C = (−2t, t, 3t + 3), para algum t ∈ R, e

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 237

(−2t − 2)2 + (t − 3)2 + (3t + 2)2 = 17 .


Desenvolvendo os binômios do lado esquerdo desta identidade, segue que:
4t2 + 8t + 4 + t2 − 6t + 9 + 9t2 + 12t + 4 = 17 ⇐⇒ 14t2 + 14t = 0
⇐⇒ t(t + 1) = 0
⇐⇒ t = 0 ou t = −1.
Para t = 0, obtemos a esfera S1 : x2 +y 2 +(z−3)2 = 17 de centro C1 = (0, 0, 3).
Para t = −1, obtemos a esfera S2 : (x − 2)2 + (y + 1)2 + z 2 = 17 de centro
C2 = (2, −1, 0). 

Exemplo 9
Determine as equações paramétricas das retas paralelas ao plano π1 : x+3y−z =

3 e contidas no plano π2 : 2x+y +z = 5, que distam 300 da reta ` = π1 ∩π2 .

Solução.
Sejam −
v→ −

1 = (1, 3, −1) ⊥ π1 e v2 = (2, 1, 1) ⊥ π2 .

Como −v→ −→ →
− −
→ − →
1 ⊥ ` e v2 ⊥ `, devemos ter v = v1 × v2 k `, onde:
 

− −→ −
→ 3 −1 1 −1 1 3
v = v1 × v2 = ,− , = (4, −3, −5) .
1 1 2 1 2 1
Este vetor é a direção da reta `. Determinemos um ponto A ∈ `.
Sabemos que

x + 3y − z = 3
` = π1 ∩ π2 :
2x + y + z = 5.
Fazendo x = 0 nestas equações, obtemos o sistema:

3y − z = 3
y+z =5
Somando as equações, temos 4y = 8, ou seja, y = 2. Substituindo este valor
na segunda equação, obtemos z = 5 − y = 5 − 2 = 3.
Portanto, A = (0, 2, 3) ∈ `.

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238

Seja r uma reta contida em π2 e paralela


ao plano π . Então, −
1 v→ × −
v→ k r, ou seja,
1 2
r é paralela à reta `.
Seja agora ` a reta perpendicular a `,
contida no plano π2 , que passa pelo ponto
A.
Como ` ⊂ π2 , temos − v→2 ⊥ `, e, como

` ⊥ `, temos →
−v ⊥ `.
Portanto, −
v→ →
− Figura 8: Exemplo ??.
2 × v k `, onde
!
− 1 1 2 1 2 1
v→ →
− =
2 × v ,− ,
−3 −5 4 −5 4 −3
= (−2, 14, −10) .
→ = 1 (−
Assim, − v→ →

w 1 × v ) = (−1, 7, −5) k ` e ` = {(−t, 2 + 7t, 3 − 5t) | t ∈ R}.
2

Figura 9: Exemplo ??.



Na reta ` determinemos os pontos que estão a uma distância de 300 do
ponto A.
Seja P = (−t, 2 + 7t, 3 − 5t) ∈ ` tal que d(P, A)2 = 300. Sendo,
d(P, A)2 = (−t)2 + (2 + 7t − 2)2 + (3 − 5t − 3)2 = t2 + 49t2 + 25t2 = 75t2 = 300 ,
300
obtemos t2 = = 4. Portanto, t = ±2 .
75
Substituindo estes valores de t na expressão do ponto P , obtemos os pontos:

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 239

P1 = (−2, 2 + 7 · 2, 3 − 5 · 2) = (−2, 16, −7),


P2 = (−(−2), 2 + 7 · (−2), 3 − 5 · (−2)) = (2, −12, 13) .
Como as retas r1 e r2 procuradas são paralelas ao vetor → −
v = (4, −3, −5) e
passam pelos pontos P1 e P2 , respectivamente, estas retas são:
r1 : {(−2 + 4t, 16 − 3t, −7 − 5t) | t ∈ R} ,
r2 : {(2 + 4t, −12 − 3t, 13 − 5t) | t ∈ R} .


Exemplo 10
Considere os pontos A = (1, 2, 1), B = (3, 4, 3), e o plano
π : x − y + z = 1.
(a) Determine o conjunto dos pontos equidistantes de A e B.
−−→ −−→ √
(b) Determine o ponto C = (x, y, z) ∈ π tal que kCA k = kCB k = 11 e
x + y − 2z < 0.
(c) Determine a área do triângulo de vértices A, B e C, e o plano que contém
este triângulo.

Solução.
(a) Seja π = {P | d(P, A) = d(P, B)}. Então, π é o plano perpendicular
−−→ A+B
ao vetor AB = (2, 2, 2) k (1, 1, 1), que passa pelo ponto = (2, 3, 2).
2
Logo:
π : x + y + z = 7.
−−→ −−→ √
(b) Seja C = (x, y, z) ∈ π tal que kCA k = kCB k = 11 e x + y − 2z < 0.
Como d(C, A) = d(C, B), temos C ∈ π.

x−y+z =1
Logo, C ∈ π ∩ π = r :
x + y + z = 7.
Sendo →

v = (1, −1, 1) ⊥ r e −
→ = (1, 1, 1) ⊥ r, temos que →
w −
v ×−
→ = (−2, 0, 2) k
w
(−1, 0, 1) k r.
Fazendo x = 0 nas equações que definem r, temos que P0 = (0, y, z) ∈ r se,
e só se,

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240

  
−y + z = 1 2z = 8 z=4
⇐⇒ ⇐⇒ ⇐⇒ P0 = (0, 3, 4) ∈ r .
y+z =7 y =7−8 y=3
Logo, as equações paramétricas da reta r são:

 x = −t
r: y=3 ; t ∈ R.
 z =t+4

Como C ∈ r, C = (−t, 3, t+4) para algum t ∈ R. Além disso, d(C, A)2 = 11.
Assim,

(−t − 1)2 + (3 − 2)2 + (t + 4 − 1)2 = 11 ⇐⇒ t2 + 2t + 1 + 1 + t2 + 6t + 9 = 11


t=0
(
⇐⇒ 2t2 + 8t = 0 ⇐⇒ t2 + 4t = 0 ⇐⇒ t(t + 4) = 0 ⇐⇒ ou
t = −4
Substituindo estes valores de t, vemos que C = (0, 3, 4) ou C = (4, 3, 0). Mas
como as coordenadas de C devem satisfazer à desigualdade x + y − 2z < 0,
devemos ter C = (0, 3, 4).
(c) Sabemos que:
1 −−→ −−→
área (4ABC) = kAB × AC k .
2
Como
−−→
AB = (2, 2, 2) −−→ −−→
−−→ =⇒ AB × AC = (4, −8, 4) ,
AC = (−1, 1, 3)
obtemos
1 1√ 1√ 4√ √
área (4ABC) = k(4, −8, 4)k = 16 + 64 + 16 = 96 = 6 = 2 6.
2 2 2 2
Consideremos agora o plano π que contém o triângulo 4ABC. Então,
−−→ −−→
AB × AC = (4, −8, 4) ⊥ π,
isto é, (1, −2, 1) ⊥ π. Portanto,
π : x − 2y + z = 0 − 6 + 4 = −2 ,
pois C = (0, 3, 4) ∈ π. 

Exemplo 11
Considere o ponto A = (a, 2a, a), onde a ∈ R − {0}, e as retas

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CAPÍTULO 13. EXEMPLOS DE REVISÃO 241

 
 x = 2s  x = 2t + 1
r1 : y = 3s + 1 ; s∈R e r2 : y =t+2 ; t ∈ R.
 z =s+1  z = −t + 2

−−→
(a) Determine a ∈ R − {0} e C ∈ r1 de modo que AC seja perpendicular à
−−→ √
reta r2 e kAC k = 2.
(b) Mostre que os pontos A e C, do item anterior, e a reta r2 não são
coplanares.

Solução.
−−→
(a) Seja C = (2s, 3s+1, s+1) ∈ r1 . Então, AC = (2s−a, 3s+1−2a, s+1−a).
−−→ −−→
Como AC ⊥ r2 , temos que AC ⊥ (2, 1, −1), isto é,
−−→
hAC , (2, 1, −1)i = 4s − 2a + 3s + 1 − 2a − s − 1 + a = 0
⇐⇒ 6s − 3a = 0 ⇐⇒ a = 2s .
−−→ √
Além disso, como kAC k = 2, segue que:
√ √
|(2s − 2s, 3s + 1 − 4s, s + 1 − 2s)| = 2 ⇐⇒ |(0, 1 − s, 1 − s)| = 2

⇐⇒ (1 − s)2 + (1 − s)2 = 2 ⇐⇒ 2(1 − s)2 = 2 ⇐⇒ (1 − s)2 = 1


 
 s=2  a=4
⇐⇒ 1 − s = ±1 ⇐⇒ ou ⇐⇒ ou
 s=0  a = 0.

Sendo a ∈ R − {0}, a = 4 e, portanto, C = (4, 7, 3) .


(b) Seja π o plano que contém a reta r2 e o ponto A = (4, 8, 4).
Seja B = (1, 2, 2) ∈ r . Como →
− →=−
v = (2, 1, −1) k π e −
w
−→
AB = (−3, −6, −2)
2

k π, temos que →

v ×−
→ ⊥ π, onde:
w
!

− 1 −1 2 −1 2 1
v ×−
→=
w ,− , = (−8, 7, −9).
−6 −2 −3 −2 −3 −6
Logo, π : −8x + 7y − 9z = −8 + 14 − 18 = −12, pois B = (1, 2, 2) ∈ π.
Para mostrar que A, C e r2 não são coplanares, basta verificar que C = (4, 7, 3)
6∈ π.
De fato, substituindo as coordenadas de C no lado esquerdo da equação de
π, obtemos:

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242

−8 × 4 + 7 × 7 − 9 × 3 = −32 + 49 − 27 = −59 + 49 = −10 6= −12 ,


mostrando, assim, que C 6∈ π. 

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242

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Capítulo 14

Elipse

Nosso objetivo, neste e nos próximos capítulos, é estudar a equação


geral do segundo grau em duas variáveis:

Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 , onde A 6= 0 ou B 6= 0 ou C 6= 0

Para isso, definiremos, geometricamente, uma elipse, uma hipérbole e


uma parábola, que são possíveis soluções não degeneradas da equação acima.

1. Elipse

Definição 1
Uma elipse E de focos F1 e F2 é o conjunto do plano que consiste de todos
os pontos P , cuja soma das distâncias a F1 e F2 é igual a uma constante
2a > 0, maior do que a distância entre os focos 2c > 0. Ou seja:

E = { P | d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a } ,
0 < c < a ; d(F1 , F2 ) = 2c

Terminologia
• Como dissemos na definição, os pontos F1 e F2 são os focos da elipse.
• A reta ` que contém os focos é a reta focal.

243
244 1.. ELIPSE

Figura 1: Posicionamento dos focos da elipse na reta focal.

• A interseção da elipse com a reta focal ` consiste de exatamente dois pontos,


A1 e A2 , chamados vértices da elipse sobre a reta focal.
De fato, seja A ∈ E ∩ `. Então, A 6∈ F1 F2 , pois, se A ∈ F1 F2 , teríamos
2c = d(F1 , F2 ) = d(A, F1 ) + d(A, F2 ) = 2a ,
isto é, 2c = 2a, o que é impossível, já que, por definição, 2c < 2a.
Seja A2 ∈ E ∩ ` − F1 F2 tal que x = d(A2 , F2 ).

Como 2a = d(A2 , F1 ) + d(A2 , F2 ) = x + 2c + x, pois A2 ∈ E, temos que


x = a − c.

Figura 2: Determinação da distância dos vértices aos focos da elipse.

Logo, o ponto A2 pertencente a ` − F1 F2 , que dista a − c do foco F2 ,


pertence à elipse E. De modo análogo, o ponto A1 pertencente a ` − F1 F2 ,
que dista a − c do foco F1 , pertence à elipse E.

Figura 3: Posicionamento dos vértices em relação aos focos da elipse na reta focal.

• O segmento A1 A2 é denominado eixo focal da elipse. O seu comprimento


é 2a.

Figura 4: Posicionamento dos focos, vértices e centro da elipse na reta focal.

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 245

• O ponto médio C do eixo focal A1 A2 é o centro da elipse. Este ponto é


também o ponto médio do segmento F1 F2 delimitado pelos focos.
• A reta `0 que passa pelo centro C e é perpendicular à reta focal ` é a reta
não focal.
• A elipse intersecta a reta não focal `0 em exatamente dois pontos, B1 e B2 ,
denominados vértices da elipse sobre a reta não focal.
De fato, como `0 é a mediatriz do segmento F1 F2 , temos que B ∈ `0 ∩ E
se, e somente se, d(B, F1 ) = d(B, F2 ) = a. Logo, pelo teorema de Pitágoras,

`0 ∩ E consiste de dois pontos, B1 e B2 , em `0 , que distam b = a2 − c2 do
centro C da elipse.

Figura 5: Posicionamento dos focos, centro e vértices da elipse nas retas focal e não focal.

• O segmento B1 B2 é denominado eixo não focal da elipse e seu compri-


mento é 2b, onde b2 = a2 − c2 .
c
• O número e = é denominado excentricidade da elipse. Note que
a
0 < e < 1.
• O número a é a distância do centro aos vértices sobre a reta focal, b é a
distância do centro aos vértices sobre a reta não focal e c é a distância do
centro aos focos.

Observação 1
A elipse E é simétrica em relação à reta focal, à reta não focal e ao centro.

De fato, se P ∈ E e P 0 é o simétrico de P em relação à reta focal, então:

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246 2.. FORMA CANÔNICA DA ELIPSE

4F2 P Q ≡ 4F2 P 0 Q e 4F1 P Q ≡ 4F1 P 0 Q .


Em particular, |F1 P | = |F1 P 0 | e |F2 P | = |F2 P 0 |. Logo,
2a = d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = d(P 0 , F1 ) + d(P 0 , F2 ) =⇒ P 0 ∈ E .

Figura 6: Simetria da elipse em relação à reta focal.

Se P ∈ E e P 00 é o simétrico de P em relação ao centro, então:


4P CF2 ≡ 4P 00 CF1 e 4F1 CP ≡ 4F2 CP 00 .
Em particular, |F1 P | = |F2 P 00 | e |F2 P | = |F1 P 00 |. Portanto,
2a = d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = d(P 00 , F2 ) + d(P 00 , F1 ) =⇒ P 00 ∈ E .

Figura 7: Simetria da elipse em relação ao centro.

A simetria em relação à reta não focal se verifica de maneira análoga, usando


congruência de triângulos.

2. Forma canônica da elipse


Vamos obter a equação da elipse em relação a um sistema de eixos
ortogonais OXY para alguns casos especiais.

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 247

2.1 Elipse com centro na origem e reta focal coincidente


com o eixo OX

Neste caso, F1 = (−c, 0), F2 = (c, 0), A1 = (−a, 0), A2 = (a, 0),
B1 = (0, −b) e B2 = (0, b). Logo,

P = (x, y) ∈ E ⇐⇒ d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a


p p
⇐⇒ (x + c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 = 2a
p p
⇐⇒ (x + c)2 + y 2 = 2a − (x − c)2 + y 2
p
⇐⇒ (x + c)2 + y 2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2
p
⇐⇒ x2 + 2xc + c2 + y 2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + x2 − 2xc + c2 + y 2
p
⇐⇒ 4xc = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2
p
⇐⇒ a2 − cx = a (x − c)2 + y 2
⇐⇒ (a2 − cx)2 = a2 ((x − c)2 + y 2 )
⇐⇒ a4 − 2a2 cx + c2 x2 = a2 (x2 − 2xc + c2 + y 2 )
⇐⇒ (a2 − c2 )x2 + a2 y 2 = a4 − a2 c2 = a2 (a2 − c2 )
⇐⇒ b2 x2 + a2 y 2 = a2 b2
x2 y2 Forma canônica da elipse de centro na origem
⇐⇒ + =1
a2 b2 e reta focal coincidente com o eixo OX.

2.2 Esboço da Elipse

y2 x2 a2 − x2 b√ 2
Como = 1 − = , temos que y = ± a − x2 .
b2 a2 a2 a
b√ 2
Consideremos o gráfico da função y = a − x2 , x ∈ [0, a]. Para
a
x = 0 e x = a, temos y = b e y = 0, respectivamente.

É fácil verificar que a função é decrescente, pois:


x < x ⇐⇒ x2 < x2 ⇐⇒ a2 − x2 > a2 − x2
b√ 2 b√ 2
⇐⇒ y = a − x2 > y = a − x2 ,
a a

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248 2.. FORMA CANÔNICA DA ELIPSE

para quaisquer x, x̄ ∈ [0, a].


Para esboçarmos o gráfico da função, precisamos saber também que a

função y = b/a a2 − x2 , x ∈ [0, a] é côncava (isto é, dados dois pontos sobre
o gráfico, os pontos do gráfico ficam acima dos pontos do segmento que liga
estes pontos). Uma maneira de provar tal afirmação, para os alunos que já
tenham estudado derivada, é calcular a derivada segunda
ba
y 00 = −
(a2 − x2 )3/2

e observar que esta derivada é negativa para todo x ∈ (0, a).


O gráfico da função é, portanto, da forma:

p
b
Figura 8: Gráfico da função y = a
a2 − x2 , x ∈ [0, a].

Como a elipse é simétrica em relação ao eixo−OX (reta focal) e ao


eixo−OY (reta não focal), seu gráfico tem a forma:

x2 y2
Figura 9: Gráfico da elipse E : a2
+ b2
= 1.

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 249

2.3 Elipse com centro na origem e reta focal coincidente


com o eixo OY

Neste caso, F1 = (0, −c), F2 = (0, c), A1 = (0, −a), A2 = (0, a),
B1 = (−b, 0) e B2 = (b, 0).
Desenvolvendo como no caso anterior, podemos verificar que a equação
da elipse é:
x2 y2 Forma canônica da elipse de centro na origem
+ =1
b2 a2 e reta focal coincidente com o eixo OY .

x2 y2
Figura 10: Elipse E : b2
+ a2
= 1.

Exemplo 1
Os vértices de uma elipse são os pontos (4, 0) e (−4, 0) e seus focos são os
pontos (3, 0) e (−3, 0). Determine a equação da elipse.

Solução.
Como F1 = (−3, 0) e F2 = (3, 0), a reta focal é o eixo−OX e A1 = (−4, 0),
A2 = (4, 0) são os vértices sobre a reta focal `.
F1 + F2 A + A2
Então, C = = 1 = (0, 0) é o centro da elipse, a = d(C, A1 ) =
2 2
√ √
d(C, A2 ) = 4, c = d(C, F1 ) = d(C, F2 ) = 3 e b = a2 − c 2 = 42 − 32 =

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250 2.. FORMA CANÔNICA DA ELIPSE

√ √
16 − 9 = 7.
x2 y2
Logo, a equação da elipse é E: + = 1. 
16 7

Exemplo 2
Dois vértices de uma elipse E são os pontos (0, 6) e (0, −6) e seus focos são
os pontos (0, 4) e (0, −4). Determine a equação da elipse E.

Solução.
Temos F1 = (0, −4) e F2 = (0, 4). Então, a reta focal (que contém os focos)
é o eixo OY , os vértices sobre a reta focal são A1 = (0, −6) e A2 = (0, 6),
(0, 4) + (0, −4)
e o centro da elipse E é a origem, pois C = = (0, 0). Como
2
a = d(C, A1 ) = 6 e c = d(C, F1 ) = 4, temos que b2 = a2 − c2 = 36 − 16 = 20.
x2 y2
Portanto, a equação da elipse é E: + = 1. 
20 36

Exemplo 3
Os focos de uma elipse são os pontos (2, 0) e (−2, 0) e sua excentricidade é
2
. Determine a equação da elipse.
3

Solução.
Temos que a reta focal é o eixo OX, o centro da elipse é a origem C = (0, 0),
2 c 2
c = d(C, F1 ) = 2 e e = = = =⇒ a = 3. Logo, b2 = a2 − c2 = 9 − 4 = 5
3 a a
x2 y2
e + = 1 é a equação da elipse. 
9 5

Exemplo 4
Uma elipse E tem seu centro na origem e um de seus vértices sobre a reta
 √ 14 
focal é (0, 7). Se a elipse passa pelo ponto 5, , determine sua equação,
3
seus vértices, seus focos e sua excentricidade. Faça também um esboço da
elipse.

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 251

Solução.
A reta focal, que contém o centro e o vértice dado, é o eixo OY . A dis-
tância do centro C = (0, 0) ao vértice A2 = (0, 7) é a = d(C, A2 ) = 7 e o
outro vértice na reta focal é A1 = (0, −7).
Logo, a equação da elipse E é da forma:
x2 y2 x2 y2
E: + = 1, ou seja, E: + = 1.
b2 a2 b2 72

x2 y2
Figura 11: Gráfico da elipse E : 9
+ 49
= 1.
 √ 14 
Como 5, ∈ E, temos:
3
 2
√ 2 14
5 3 5 22 72
+ = 1 , ou seja, + = 1.
b2 49 b2 32 72
5 4 5
Então, 2 = 1 − = ⇐⇒ b2 = 9, e a equação da elipse é:
b 9 9
x2 y2
E: + = 1.
9 49
Como a reta não focal é o eixo OX e b = 3, os vértices na reta não focal são
B1 = (−3, 0) e B2 = (3, 0).
√ √ √ √
Temos também que c = a2 − b2 = 49 − 9 = 40 = 2 10. Logo, os focos
√ √
são F1 = (0, −2 10) e F2 = (0, 2 10).

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252 3.. TRANSLAÇÃO DOS EIXOS COORDENADOS


c 2 10
Finalmente, a excentricidade de E é e = = . 
a 7

3. Translação dos eixos coordenados

Seja OXY um sistema de eixos ortogonais e seja O = (x0 , y0 ) um ponto


no plano.

Seja O X Y o sistema cujos eixos O X e O Y são paralelos aos eixos OX


e OY e têm, respectivamente, o mesmo sentido que estes eixos.

Sejam (x, y) as coordenadas do ponto P no sistema de eixos O X Y e


(x, y) as coordenadas de P no sistema de eixos OXY .

Então, as coordenadas do ponto P nos sistemas OXY e O X Y são


relacionadas por:

(
x = x + x0
y = y + y0

Figura 12: Ponto P = (x, y)O X Y = (x0 + x, y0 + y)OXY .

Exemplo 5
Faça um esboço da curva
x3 − 3x2 − y 2 + 3x + 4y − 5 = 0 .

Para isso, escreva a equação nas coordenadas x e y do sistema de eixos O X Y ,


obtido quando o sistema OXY é transladado para a origem O = (1, 2).

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 253

Solução.
Fazendo x = x + 1 e y = y + 2 na equação dada, obtemos:
(x + 1)3 − 3(x + 1)2 − (y + 2)2 + 3(x + 1) + 4(y + 2) − 5 = 0 .
Simplificando esta identidade, temos x3 = y 2 .
Então, y = ±x3/2 e x ≥ 0.
Fazer agora o esboço da curva é bem mais simples.

Figura 13: Gráfico da curva x3 − 3x2 − y 2 + 3x + 4y − 5 = 0 .

4. Elipse com centro no ponto O = (x0, y0)

• Caso I. Reta focal paralela ao eixo OX

Como o centro O = (x0 , y0 ) pertence à reta focal, temos que ` : y = y0


é a equação cartesiana da reta focal.

Além disso, como d(F1 , O) = d(F2 , O) = c, onde F1 e F2 são os focos


da elipse, temos que F1 = (x0 − c, y0 ) e F2 = (x0 + c, y0 ).
Seja P = (x, y) = (x + x0 , y + y0 ) um ponto pertencente à elipse, onde
x, y são suas coordenadas no sistema OXY e x, y são suas coordenadas no

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254 4.. ELIPSE COM CENTRO NO PONTO O = (X0 , Y0 )

sistema O X Y , sendo este obtido quando o sistema OXY é transladado para


a origem O = (x0 , y0 ).
Então, P pertence à elipse se, e somente se,
d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a ,
ou seja,

⇐⇒ d((x + x0 , y + y0 ), (x0 − c, y0 )) + d((x + x0 , y + y0 ), (x0 + c, y0 )) = 2a

⇐⇒ d((x, y), (−c, 0)) + d((x, y), (c, 0)) = 2a


x2 y2 (x − x0 )2 (y − y0 )2
⇐⇒ + = 1 ⇐⇒ + = 1.
a2 b2 a2 b2
Logo, a forma canônica da equação da elipse com centro no
ponto (x0 , y0 ) e eixo focal paralelo ao eixo OX é:

(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = 1, onde b 2 = a2 − c 2
a2 b2

Os focos são F1 = (x0 −c, y0 ) e F2 = (x0 +c, y0 ); a reta focal é ` : y = y0 ;


os vértices sobre a reta focal são A1 = (x0 − a, y0 ) e A2 = (x0 + a, y0 ); a reta
não focal é `0 : x = x0 e os vértices sobre a reta não focal são B1 = (x0 , y0 − b)
e B2 = (x0 , y0 + b) .

(x−x0 )2 (y−y0 )2
Figura 14: Gráfico da elipse E : a2
+ b2
= 1.

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 255

• Caso II. Reta focal paralela ao eixo OY


Procedendo de maneira análoga ao caso anterior, verifica-se que a
forma canônica da equação da elipse com centro no ponto (x0 , y0 ) e
eixo focal paralelo ao eixo OY é:
(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = 1, onde b 2 = a2 − c 2
b2 a2

Neste caso, os focos são F1 = (x0 , y0 − c) e F2 = (x0 , y0 + c); a reta


focal é ` : x = x0 ; os vértices sobre a reta focal são A1 = (x0 , y0 − a) e
A2 = (x0 , y0 + a); a reta não focal é `0 : y = y0 e os vértices sobre a reta não
focal são B1 = (x0 − b, y0 ) e B2 = (x0 + b, y0 ) .

(x−x0 )2 (y−y0 )2
Figura 15: Gráfico da elipse E : b2
+ a2
= 1.

Exemplo 6
Os focos de uma elipse E são (3, 8) e (3, 2), e o comprimento do seu eixo
não focal é 8. Determine a equação da elipse E, os seus vértices e a sua
excentricidade.

Solução.

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256 4.. ELIPSE COM CENTRO NO PONTO O = (X0 , Y0 )

Como F1 = (3, 2) e F2 = (3, 8) são os focos da elipse, a reta focal de E é


F1 + F2
` : x = 3 (paralela ao eixo OY ) e o centro de E é C = = (3, 5). Além
2
disso, 2b = 8, isto é, b = 4, c = d(C, F1 ) = d(C, F2 ) = 3 e a2 = b2 +c2 = 42 +32
c 3
= 16 + 9 = 25, isto é, a = 5. Portanto, e = = ; A1 = (3, 0) e
a 5
A2 = (3, 10) são os vértices de E sobre a reta focal; `0 : y = 5 é a reta
não focal; B1 = (−1, 5) e B2 = (7, 5) são os vértices de E sobre a reta não
focal e
(x − 3)2 (y − 5)2
E: + =1
16 25
é a equação da elipse. 

Exemplo 7
A equação de uma elipse é E : x2 + 4y 2 + 2x − 12y + 6 = 0. Determine a
equação da elipse na forma canônica, o seu centro, os seus vértices, os seus
focos e a sua excentricidade.

Solução.
Completando os quadrados na equação de E, temos:

E : (x2 + 2x) + 4(y 2 − 3y) = −6


9 9
 
E : (x2 + 2x + 1) + 4 y 2 − 3y + = −6 + 1 + 4 × = 4
4 4
 3
 2
E : (x + 1)2 + 4 y − =4
2
(x + 1)2 3 2
 
E: + y− = 1,
4 2
sendo esta última equação a forma canônica de E. Desta equação, obte-
3
 
mos que o centro da elipse é C = −1, , a = 2, b = 1 e, portanto,
2
2 2 2 2 2

c = a − b = 2 − 1 = 3, ou seja, c = 3.
3
A reta focal de E é ` : y = , paralela ao eixo OX, e a reta não focal é
2
`0 : x = −1, paralela ao eixo−OY .

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 257

 √ 3  √ 3
Os focos da elipse são F1 = −1 − 3, e F2 = −1 + 3, ; os vértices
2 2
3 3 3
     
sobre a reta focal são A1 = −1 − 2, = −3, e A2 = −1 + 2, =
2 2 2
 3  3
  1

1, e os vértices sobre a reta não focal são B1 = −1, − 1 = −1,
2 2 2
3 5
   
e B2 = −1, + 1 = −1, .
2 2

c 3
Finalmente, a excentricidade de E é e = = .
a 2 

5. Equação do segundo grau com B = 0 e AC > 0

Consideremos a equação da elipse E de centro no ponto (x0 , y0 ) e reta


focal paralela ao eixo OX:
(x − x0 )2 (y − y0 )2
E: 2
+ = 1.
a b2
Desenvolvendo a equação acima, obtemos:
b2 x2 + a2 y 2 − 2b2 x0 x − 2a2 y0 y + b2 x20 + a2 y02 − a2 b2 = 0 ,
que é da forma
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 ,
onde A = b2 , B = 0, C = a2 , D = −2b2 x0 , E = −2a2 y0 e F = b2 x20 +a2 y02 −a2 b2 .
Então, B = 0 e A e C têm o mesmo sinal. O mesmo vale para a
equação da elipse com centro no ponto (x0 , y0 ) e reta focal paralela ao eixo
OY .
Reciprocamente, temos:

Proposição 1
Se os coeficientes A e C da equação do segundo grau

Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 (1)

têm o mesmo sinal, então a equação representa:


• uma elipse com eixos paralelos aos eixos coordenados;

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258 5.. EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC > 0

ou
• um ponto;
ou
• o conjunto vazio.

Prova.
Dividindo a equação (1) por AC, obtemos:
x2 y2 D E F
+ + x+ y+ = 0,
C A AC AC AC
ou seja,
D E
x2 + x y2 + y
A + C =− F .
C A AC
Completando os quadrados, temos:
D D2 E E2
x2 + x+ 2 y 2 + y+ 2 2 2
A 4A + C 4C = − F + D + E .
C A AC 4A2 C 4AC 2
Isto é,

D 2 E 2
   
x+ y2 +
2A 2C C 2 D2 + ACE 2 − 4AF C 2 M
+ = 2 3
= (2)
C A 4A C 4A2 C 3

onde M = C 2 D2 + ACE 2 − 4AF C 2 .


 D E

Se M = 0, a equação (2) representa o ponto − , − , pois A e C têm
2A 2C
o mesmo sinal.
Se M 6= 0, podemos escrever a equação (2) na forma:
2
E 2
  
D 2
x+ y +
2A 2C
+ = 1. (3)
M M
4A2 C 2 4ACC 2

Como AC > 0, a equação (3) representa uma elipse de eixos paralelos aos
 D E

eixos coordenados e centro no ponto − , − , se M > 0.
2A 2C
M
Se M < 0, a equação (3) representa o conjunto vazio, pois <0 e
4A2 C 2

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CAPÍTULO 14. ELIPSE 259

M
< 0. 
4ACC 2

Os casos em que a equação do segundo grau Ax2 +Cy 2 +Dx+Ey+F = 0,


com AC > 0, representa um ponto ou o conjunto vazio são denominados ca-
sos degenerados da elipse.

Exemplo 8
Determine se as equações abaixo representam uma elipse ou uma elipse de-
generada. Caso seja uma elipse, determine seus principais elementos.
(a) 25x2 + 9y 2 − 225 = 0.
Solução.
x2 y 2
Como 25x2 +9y 2 = 225, obtemos, dividindo por 225, que a equação + =1
9 25
representa uma elipse com:

• a = 5, b = 3 e c = 25 − 9 = 4;
• centro: C = (0, 0);
• reta focal: ` = eixo − OY : x = 0;
• reta não focal: `0 = eixo − OX : y = 0;
• vértices sobre a reta focal: A1 = (0, −5) e A2 = (0, 5);
• vértices sobre a reta não focal: B1 = (−3, 0) e B2 = (3, 0);
• focos: F1 = (0, −4) e F2 = (0, 4). 

(b) 4x2 + 9y 2 − 40x + 36y + 100 = 0.


Solução.
Completando os quadrados, obtemos:
4(x2 − 10x) + 9(y 2 + 4y) = −100
⇐⇒ 4(x2 − 10x + 25) + 9(y 2 + 4y + 4) = −100 + 4 × 25 + 9 × 4
⇐⇒ 4(x − 5)2 + 9(y + 2)2 = 36
(x − 5)2 (y + 2)2
⇐⇒ + = 1.
9 4
Logo, a equação representa uma elipse com:
√ √
• a = 3, b = 2 e c = 9 − 4 = 5;
• centro: C = (5, −2);

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260 5.. EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC > 0

• reta focal: ` : y = −2, paralela ao eixo−OX;


• reta não focal: `0 : x = 5, paralela ao eixo−OY ;
• vértices sobre a reta focal: A1 = (2, −2) e A2 = (8, −2);
• vértices sobre a reta não focal: B1 = (5, −4) e B2 = (5, 0);
√ √
• focos: F1 = (5 − 5, −2) e F2 = (5 + 5, −2). 

(c) 36x2 + 9y 2 − 108x + 6y + 82 = 0.


Solução.
Completando os quadrados, obtemos:
6
 
36(x2 − 3x) + 9 y 2 + y = −82
9
9 2 1 9 1
   
⇐⇒ 36 x2 − 3x + + 9 y2 + y + = −82 + 36 × + 9 ×
4 3 9 4 9
3 2 1 2
   
⇐⇒ 36 x − +9 y+ = −82 + 81 + 1
2 3
3 2 1 2
   
⇐⇒ 36 x − +9 y+ = 0.
2 3
3 1
Assim, apenas o ponto ,− satisfaz à equação dada, isto é, a equação
2 3
representa um ponto. 

(d) 9x2 + 4y 2 + 18x − 9y + 25 = 0.


Solução.
Completando os quadrados, obtemos:
9
 
9(x2 + 2x) + 4 y 2 − y = −25
4
9 81 81
 
⇐⇒ 9(x2 + 2x + 1) + 4 y 2 − y + = −25 + 9 × 1 + 4 ×
4 64 64
 9
2 81 175
⇐⇒ 9(x + 1)2 + 4 y − = −16 + =− .
8 16 16
175
Como − < 0, nenhum ponto do plano satisfaz à equação, isto é, a equação
16
representa o conjunto vazio. 

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Capítulo 15

Hipérbole

1. Hipérbole

Definição 1
Uma hipérbole H de focos F1 e F2 é o conjunto do plano que consiste de
todos os pontos P tais que o módulo da diferença das distâncias a F1 e F2
é igual a uma constante 2a > 0, menor do que a distância entre os focos
2c > 0.

H = { P | | d(P, F1 ) − d(P, F2 ) | = 2a }
0 < a < c ; d(F1 , F2 ) = 2c

Terminologia
• Os pontos F1 e F2 são os focos da hipérbole.
• A reta ` que contém os focos é a reta focal(ver figura 1.).

Figura 1: Reta focal da hipérbole.

• A interseção da hipérbole com a reta focal ` consiste de exatamente dois


pontos, A1 e A2 , chamados vértices da hipérbole.

261
262 1.. HIPÉRBOLE

Observemos primeiro que, se P ∈ ` − F1 F2 então P ∈


/ H. De fato, se P
pertence à semirreta de origem F1 que não contém F2 e d(P, F1 ) = x, então
P ∈
/ H, pois:
|d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = |x − (x + 2c)| = 2c > 2a.

Figura 2: Posicionamento dos vértices em relação aos focos da hipérbole na reta focal.

E, se P pertence à semirreta de origem F2 que não contém F1 e d(P, F1 ) = x,


então P ∈
/ H, pois:
|d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = |(x + 2c) − x| = 2c > 2a.

Figura 3: Posicionamento dos vértices em relação aos focos da hipérbole na reta focal.

Seja A1 ∈ F1 F2 ∩ H tal que d(A1 , F1 ) = x e 0 < x < c.

Figura 4: Posicionamento dos vértices em relação aos focos da hipérbole na reta focal.

Como d(F1 , F2 ) = 2c, temos:


|d(A1 , F1 ) − d(A1 , F2 )| = 2a ⇐⇒ |x − (2c − x)| = 2a ⇐⇒ |2x − 2c| = 2a
⇐⇒ 2c − 2x = 2a ⇐⇒ x = c − a .

Logo, o ponto A1 de F1 F2 , distante c − a de F1 , pertence à hipérbole.


Analogamente, o ponto A2 de F1 F2 , distante c − a de F2 , pertence à
hipérbole H.
• O segmento A1 A2 é denominado eixo focal da hipérbole e seu comprimento
é d(A1 , A2 ) = 2a.

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 263

• O ponto médio C do eixo focal A1 A2 é o centro da hipérbole. Este


ponto é também o ponto médio do segmento F1 F2 delimitado pelos focos:
A1 + A2 F + F2
C= = 1 .
2 2

Figura 5: Posicionamento dos focos, vértices e centro da hipérbole na reta focal.

Observe que d(C, F1 ) = d(C, F2 ) = c e d(C, A1 ) = d(C, A2 ) = a.


• A reta `0 que passa pelo centro C e é perpendicular à reta focal ` é a
reta não focal da hipérbole. Como `0 é a mediatriz do segmento F1 F2 , a
hipérbole não intersecta a reta não focal `0 , pois, se P ∈ `0 , temos:
|d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 0 6= 2a.

Figura 6: Pontos do eixo não focal não pertencem à hipérbole.

• O segmento B1 B2 perpendicular ao eixo focal que tem C como ponto


médio e comprimento 2b, onde b2 = c2 − a2 , é denominado eixo não focal
da hipérbole, e B1 e B2 são os vértices imaginários da hipérbole.

Figura 7: Relação dos comprimentos a, b e c.

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264 1.. HIPÉRBOLE

c
• O número e = é chamado excentricidade da hipérbole. Note que e > 1,
a
pois c > a.

• O retângulo de base da hipérbole H é o retângulo que tem os pontos


A1 , A2 , B1 e B2 como pontos médios de seus lados, e as retas que contêm as
diagonais do retângulo de base da hipérbole H são as assíntotas de H.
Portanto, geometricamente, as assíntotas da hipérbole H são as retas
b
que passam pelo centro da hipérbole e tem inclinação ± em relação à reta
a
focal.

Figura 8: Retângulo de base e assíntotas da hipérbole H.

Pelo teorema de Pitágoras, as diagonais do retângulo de base da hipér-


bole H têm comprimento 2c, e a distância do centro de H a qualquer vértice
do retângulo de base é igual a c.

• Dizemos que uma hipérbole é equilátera, se o comprimento do eixo focal


for igual ao comprimento do eixo não focal, isto é, a = b.
O retângulo de base de uma hipérbole equilátera é, na realidade, um
quadrado. Em particular, as retas que contêm as suas diagonais, isto é, suas
assíntotas, intersectam-se perpendicularmente.

• Duas hipérboles cujo eixo focal de cada uma é igual ao eixo não focal da
outra são denominadas hipérboles conjugadas. Como os retângulos de
base de duas hipérboles conjugadas são iguais, elas têm o mesmo centro,
mesmas assíntotas e os focos a uma mesma distância do centro.

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 265

Observação 1
1. A hipérbole H é simétrica em relação à reta focal, à reta não focal e ao
centro.

De fato, se P ∈ H e P 0 é o simétrico de P em relação à reta focal, então


4F2 P Q ≡ 4F2 P 0 Q e 4F1 P Q ≡ 4F1 P 0 Q .
Em particular, |F2 P | = |F2 P 0 | e |F1 P | = |F1 P 0 |. Logo,
2a = |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = |d(P 0 , F1 ) − d(P 0 , F2 )| =⇒ P 0 ∈ H .

Figura 9: Simetria da hipérbole em relação à reta focal.

Se P ∈ H e P 00 é o simétrico de P em relação ao centro, então:


4P CF2 ≡ 4P 00 CF1 e 4F1 CP ≡ 4F2 CP 00 .
Em particular, |F2 P | = |F1 P 00 | e |F1 P | = |F2 P 00 |. Logo,
2a = |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = |d(P 00 , F2 ) − d(P 00 , F1 )| =⇒ P 00 ∈ H .

Figura 10: Simetria da hipérbole em relação ao centro.

A simetria em relação à reta não focal se verifica de maneira análoga, usando


congruência de triângulos.

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266 2.. FORMA CANÔNICA DA HIPÉRBOLE

2. Forma canônica da hipérbole

Vamos obter a equação da hipérbole em relação a um sistema de eixos


ortogonais OXY em alguns casos especiais.

2.1 Hipérbole com centro na origem e reta focal coinci-


dente com o eixo OX

Neste caso, F1 = (−c, 0), F2 = (c, 0), A1 = (−a, 0), A2 = (a, 0),
B1 = (0, −b) e B2 = (0, b). Logo,

P = (x, y) ∈ H ⇐⇒ |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a



 d(P, F1 ) − d(P, F2 ) = 2a (ramo direito de H)
⇐⇒ ou
 d(P, F ) − d(P, F ) = −2a (ramo esquerdo de H)
1 2
 p p
 (x + c) + y − (x − c)2 + y 2 = 2a (ramo direito de H)
2 2

⇐⇒ ou
 p p
(x + c)2 + y 2 − (x − c)2 + y 2 = −2a (ramo esquerdo de H).

Continuando o desenvolvimento de maneira análoga ao caso da elipse,


e lembrando que b2 = c2 − a2 , chegamos à conclusão que
P = (x, y) ∈ H ⇐⇒ (c2 − a2 )x2 − a2 y 2 = a2 (c2 − a2 ) ⇐⇒ b2 x2 − a2 y 2 = a2 b2 .

Portanto, P = (x, y) ∈ H se, e somente se, as coordenadas x e y


satisfazem à equação
x2 y2
− =1 ,
a2 b2

chamada forma canônica da equação da hipérbole de centro na ori-


gem e reta focal coincidente com o eixo−OX.
As assíntotas dessa hipérbole são as retas que passam pela origem (cen-
b
tro) e têm inclinação ± em relação ao eixo−OX (reta focal). Logo as
a
b
assíntotas são as retas y = ± x, ou seja, bx − ay = 0 e bx + ay = 0 .
a

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 267

2.2 Esboço da Hipérbole

y2 x2 x2 − a2 b√ 2
Sendo = − 1 = , temos que y = ± x − a2 , onde x ≥ a
b2 a2 a2 a
ou x ≤ −a.
b√ 2
Considere a função y = x − a2 , x ∈ [a, +∞). Como y = 0
a
bx
para x = a, y é crescente e côncava (verifique que y 0 = p > 0 e
a x2 − a2
−ab
y 00 = < 0 para todo x ∈ (a, +∞)), e o gráfico da função é da
(x2 − a2 )3/2
forma:

p
b
Figura 11: Gráfico da função y = a
x2 − a2 , x ∈ [a, +∞].

Pela simetria da hipérbole em relação ao eixo−OX (reta focal) e ao


eixo−OY (reta não focal), obtemos o seu gráfico:

x2 y2
Figura 12: Gráfico da hipérbole H : a2
− b2
= 1.

Podemos, agora, explicar o porquê do nome assíntota para as retas


que contêm as diagonais do retângulo de base.
Sejam P = (x, y) um ponto da hipérbole, isto é, b2 x2 − a2 y 2 = a2 b2 , e

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268 2.. FORMA CANÔNICA DA HIPÉRBOLE

r+ : bx − ay = 0 uma de suas assíntotas. Então,

|bx − ay| |bx − ay| |bx + ay|


d(P, r+ ) = p =√ ×
b2 + a2 2
b +a 2 |bx + ay|
|b2 x2 − a2 y 2 | 1 a2 b2 1
= √ × = √ × .
b2 + a2 |bx + ay| b2 + a2 |bx + ay|

Logo, d(P, r+ ) → 0, quando x → +∞ e y → +∞ ou x → −∞ e


y → −∞.

Figura 13: d(P, r+ ) → 0, quando x → ±∞ e y → ±∞.

De modo análogo, podemos verificar que d(P, r− ) → 0, quando x → +∞


e y → −∞ ou x → −∞ e y → +∞, onde P = (x, y) ∈ H e r− : bx + ay = 0
é a outra assíntota da hipérbole.

Figura 14: d(P, r+ ) → 0, quando x → ±∞ e y → ∓∞.

2.3 Hipérbole com centro na origem e reta focal coinci-


dente com o eixo OY

Neste caso, temos F1 = (0, −c), F2 = (0, c), A1 = (0, −a), A2 = (0, a),
B1 = (−b, 0) e B2 = (b, 0).

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 269

Procedendo como no caso anterior, obtemos que a equação da hipérbole


é:
y2 x2 Forma canônica da hipérbole de centro na
2
− 2 =1
a b origem e reta focal coincidente com o eixo−OY .

b
onde b2 = c2 − a2 . As assíntotas são as retas x = ± y, ou seja,
a
ax − by = 0 e ax + by = 0 .

y2 x2
Figura 15: Hipérbole H : a2
− b2
= 1.

Exemplo 1

Determine a equação da hipérbole equilátera com focos nos pontos (− 8, 0)

e ( 8, 0).

Solução.
√ √ F + F2
Como F1 = (− 8, 0) e F2 = ( 8, 0), o centro da hipérbole é C = 1 =
2
(0, 0) e a reta focal é o eixo−OX. Sendo a hipérbole equilátera (a = b),

c = 8 e c2 = a2 + b2 , obtemos 8 = a2 + a2 = 2a2 , isto é, a2 = 4. Logo,
a=b=2e
x2 y2
H: − =1
4 4
é a equação da hipérbole.
Além disso, A1 = (−2, 0) e A2 = (2, 0) são os vértices, B1 = (0, −2) e
B2 = (0, 2) são os vértices imaginários e y = ±x são as assíntotas da hipérbole
H. 

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270 2.. FORMA CANÔNICA DA HIPÉRBOLE

Exemplo 2

Mostre que a excentricidade de qualquer hipérbole equilátera é 2.

Solução.

Como a = b e c2 = a2 + b2 , temos que c2 = 2a2 , ou seja, c = 2a. Logo,

c 2a √
e= = = 2. 
a a

Exemplo 3
Os vértices de uma hipérbole são os pontos (0, 3) e (0, −3) e um de seus focos
é o ponto (0, 5). Determine a equação da hipérbole, o comprimento do seu
eixo focal e suas assíntotas.

Solução.
(0, 3) + (0, −3)
A hipérbole tem centro C = = (0, 0), reta focal=eixo−OY ,
2
c = d((0, 0), (0, 5)) = 5, a = d((0, 0), (0, 3)) = 3 e b2 = c2 − a2 = 25 − 9 = 16.
y2 x2 4
Então, H : − = 1 é a equação da hipérbole, x = ± y são as suas
9 16 3
assíntotas e 2a = 6 o comprimento do seu eixo focal. 

Exemplo 4
O centro de uma hipérbole é a origem, sua reta focal é um dos eixos coorde-
nados e uma de suas assíntotas é a reta 2x − 5y = 0. Determine a equação
da hipérbole H, supondo que o ponto (4, 6) ∈ H.

Solução.
Como o centro é a origem e a reta focal (eixo−OX ou eixo−OY ) é uma
bissetriz das assíntotas, a reta 2x + 5y = 0 é a outra assíntota. Vamos
analisar os dois casos possíveis.
• Reta focal = eixo−OX.
x2 y2 b 2 2
Neste caso, H :
2
− 2
= 1 e = , isto é, b = a . Como (4, 6) ∈ H,
a b a 5 5
16 36
temos que 2 − 2 = 1, ou seja, 16 × 4 − 25 × 36 = 4a2 , o que é um absurdo,
a 4a
25

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 271

pois 4a2 > 0 e 16 × 4 − 25 × 36 < 0.


• Reta focal = eixo−OY .
y 2 x2 b 5 2
Neste caso, H : 2
− 2 = 1 e = , isto é, a = b . Como (4, 6) ∈ H, te-
a b a 2 5
36 16
mos que − = 1, ou seja, 36×25−16×4 = 4b2 . Logo b2 = 9×25−16 =
4b2 b2
25
836
209, a2 = e
25
y2 x2
H : 856 − =1
209
25
é a equação da hipérbole. 

Exemplo 5
Determine a equação, os vértices, os focos e a excentricidade da hipérbole
conjugada da hipérbole
9x2 − 4y 2 = 36.

Solução.
A hipérbole H : 9x2 − 4y 2 = 36, que também pode ser escrita na forma
x2 y2
H: − = 1, tem centro na origem, reta focal = eixo−OX, a = 2, b = 3
4 9
√ √
e c = a2 + b2 = 13.
Então, a hipérbole H0 , conjugada da hipérbole H, tem centro na origem,

a0 = b = 3, b0 = a = 2, c0 = c = 13 e reta focal = eixo−OY .
y2 x2
Logo, H0 : − = 1 é a equação da hipérbole conjugada da hipérbole H,
9 4
√ √
F1 = (0, − 13) e F2 = (0, 13) são seus focos, A1 = (0, −3) e A2 = (0, 3)

c 13
são seus vértices e e = = é a sua excentricidade. 
a 3

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272 3.. HIPÉRBOLE COM CENTRO NO PONTO O = (X0 , Y0 )

3. Hipérbole com centro no ponto O = (x0, y0)

• Caso I. Reta focal paralela ao eixo−OX

Como o centro O = (x0 , y0 ) pertence à reta focal, temos que ` : y = y0


é a equação cartesiana da reta focal.
Além disso, como
d(F1 , O) = d(F2 , O) = c,
onde F1 e F2 são os focos da elipse, temos que F1 = (x0 −c, y0 ) e F2 = (x0 +c, y0 ).
Seja P = (x + x0 , y + y0 ) um ponto pertencente à hipérbole, onde
x = x + x0 e y = y + y 0
são suas coordenadas no sistema OXY , e x, y são suas coordenadas no
sistema O X Y , obtido quando o sistema OXY é transladado para a origem
O = (x0 , y0 ).
Então, P pertence à hipérbole se, e somente se,
|d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a ,
ou seja,

⇐⇒ |d((x + x0 , y + y0 ), (x0 − c, y0 )) − d((x + x0 , y + y0 ), (x0 + c, y0 ))| = 2a

⇐⇒ |d((x, y), (−c, 0)) − d((x, y), (c, 0))| = 2a


x2 y2 (x − x0 )2 (y − y0 )2
⇐⇒ − = 1 ⇐⇒ − = 1.
a2 b2 a2 b2
Logo a forma canônica da equação da hipérbole com centro no
ponto (x0 , y0 ) e reta focal paralela ao eixo−OX é:

(x − x0 )2 (y − y0 )2
2
− = 1, onde b 2 = c 2 − a2
a b2

Os focos são F1 = (x0 − c, y0 ) e F2 = (x0 + c, y0 ); a reta focal é


` : y = y0 ; os vértices são A1 = (x0 − a, y0 ) e A2 = (x0 + a, y0 ); a reta
não focal é `0 : x = x0 ; os vértices imaginários são B1 = (x0 , y0 − b) e
B2 = (x0 , y0 + b), e as assíntotas são as retas (y − y0 ) = ±b/a(x − x0 ), ou

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 273

seja, b(x − x0 ) − a(y − y0 ) = 0 e b(x − x0 ) + a(y − y0 ) = 0 .

(x−x0 )2 (y−y0 )2
Figura 16: Gráfico da hipérbole H : a2
− b2
= 1.

• Caso II. Reta focal paralela ao eixo−OY


Procedendo como no caso anterior, verifica-se a forma canônica da
equação da hipérbole com centro no ponto (x0 , y0 ) e reta focal pa-
ralela ao eixo−OY é:

(y − y0 )2 (x − x0 )2
− = 1, onde b 2 = c 2 − a2
a2 b2

Neste caso, os focos são F1 = (x0 , y0 − c) e F2 = (x0 , y0 + c); a reta


focal é ` : x = x0 ; os vértices são A1 = (x0 , y0 − a) e A2 = (x0 , y0 + a); a
reta não focal é `0 : y = y0 ; os vértices imaginários são B1 = (x0 − b, y0 ) e
B2 = (x0 + b, y0 ) , e as assíntotas são as retas (x − x0 ) = ±b/a(y − y0 ), ou
seja, a(x − x0 ) − b(y − y0 ) = 0 e a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0.

(y−y0 )2 (x−x0 )2
Figura 17: Gráfico da hipérbole H : a2
− b2
= 1.

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274 3.. HIPÉRBOLE COM CENTRO NO PONTO O = (X0 , Y0 )

Exemplo 6
Determine o ângulo agudo de interseção das assíntotas da hipérbole
9x2 − y 2 − 36x − 2y + 44 = 0.

Solução.
A equação da hipérbole se escreve na forma:
9(x2 − 4x) − (y 2 + 2y) = −44
9(x − 2)2 − (y + 1)2 = −44 + 36 − 1 = −9
(y + 1)2
− (x − 2)2 = 1 .
9
Logo, C = (2, −1) é o centro, a reta focal é ` : x = 2, paralela ao eixo−OY ,
√ √ 1
a = 3, b = 1, c = a2 + b2 = 10 e as assíntotas são x − 2 = ± (y + 1), ou
3
seja, y = 3x − 7 e y = −3x + 5.
Assim, tg β = 3, tg α = −3, θ = α − β e
tg α − tg β −6 3
tg θ = = = ,
1 + tg α tg β 1−9 4
onde β e α são os ângulos que as retas y = 3x − 7 e y = −3x + 5 fazem,
respectivamente, com o semieixo OX positivo, e θ é o ângulo agudo entre as
assíntotas. 

Exemplo 7
As retas r : 2x + y = 3 e s : 2x − y = 1 são as assíntotas de uma hipérbole
que passa pelo ponto (6, 2). Determine sua equação.

Solução.
O centro C = (x, y) da hipérbole é o ponto de interseção das assíntotas,
isto é, (x, y) é a solução do sistema:
(
2x + y = 3
2x − y = 1 .
Logo, C = (1, 1) é o centro. A reta focal ` e a reta não focal `0 são as
bissetrizes das assíntotas, ou seja,

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 275

(x, y) ∈ ` ∪ `0 ⇐⇒ d((x, y), `) = d((x, y), `0 )


⇐⇒ |2x+y−3|

5
= |2x−y−1|

5
⇐⇒ 2x + y − 3 = ±(2x − y − 1)
⇐⇒ y = 1 ou x = 1.
Portanto, a reta focal é a reta x = 1 ou a reta y = 1. Vamos analisar os dois
casos possíveis.
• Reta focal ` : y = 1, paralela ao eixo−OX.
(x − 1)2 (y − 1)2 b
Neste caso, H : 2
− 2
= 1 e = 2, ou seja, b = 2a. Como
a b a
b2 = 4a2 e (6, 2) ∈ H, temos que H : 4(x − 1)2 − (y − 1)2 = 4a2 e
4 × 25 − 1 = 99 = 4a2 .
(x − 1)2 (y − 1)2
Portanto, H : 4(x − 1)2 − (y − 1)2 = 99, ou seja, H : 99
− = 1.
99
4
• Reta focal ` : x = 1, paralela ao eixo−OY .
(y − 1)2 (x − 1)2 b 1
Neste caso, H : 2
− 2
= 1 e = , ou seja, a = 2b. Como
a b a 2
a2 = 4b2 e (6, 2) ∈ H, temos que H : (y − 1)2 − 4(x − 1)2 = 4b2 e
4b2 = 1 − 4 × 25 = −99 < 0, o que é um absurdo.
Assim, a equação procurada corresponde ao primeiro caso:
H : 4(x − 1)2 − (y − 1)2 = 99.


4. Equação do segundo grau com B = 0 e AC < 0.

Consideremos a equação da hipérbole H com centro no ponto (x0 , y0 )


e reta focal paralela ao eixo−OX:
(x − x0 )2 (y − y0 )2
H: − = 1.
a2 b2
Desenvolvendo a equação acima, obtemos:
b2 x2 − a2 y 2 − 2x0 b2 x + 2y0 a2 y + x20 b2 − a2 y02 − a2 b2 = 0,
que é da forma

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276 4.. EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC < 0.

Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 ,
onde A = b2 , B = 0, C = −a2 , D = −2x0 b2 , E = 2y0 a2 , F = x20 b2 −a2 y02 −a2 b2 .
Em particular, os coeficientes A e C têm sinais opostos, e B = 0. Po-
demos verificar que o mesmo ocorre quando desenvolvemos a equação da
hipérbole de reta focal paralela ao eixo−OY .
Reciprocamente, temos a seguinte proposição:

Proposição 1
Se os coeficientes A e C da equação
Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 (1)
têm sinais opostos, então a equação representa:
• uma hipérbole de eixos paralelos aos eixos coordenados;
ou
• um par de retas concorrentes.

Prova.
Suponhamos que A > 0 e C < 0. Então,

Ax2 + Dx − (−Cy 2 − Ey) = −F ,


   
D E
x2 + x y2 + y
A C F
− = ,
 −C 2  A 
2
AC
D E
x+ y+
2A 2C F D2 E2
− = − 2 − ,
 −C 2  A 2 AC 4A C 4AC 2
D E
x+ y+
2A 2C 4ACF − CD2 − AE 2
− = .
−C A 4A2 C 2
Logo, a equação (1) representa uma hipérbole com eixos paralelos aos ei-
xos coordenados, se 4ACF − CD2 − AE 2 6= 0, e representa o par de retas
concorrentes
r
E −A D
 
y+ =± x+ ,
2C C 2A
se 4ACF − CD2 − AE 2 = 0 

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CAPÍTULO 15. HIPÉRBOLE 277

O caso em que a equação do segundo grau Ax2 +Cy 2 +Dx+Ey+F = 0,


com AC < 0, representa um par de retas concorrentes é chamado caso
degenerado da hipérbole.

Exemplo 8
Determine se as equações abaixo representam uma hipérbole ou uma hipér-
bole degenerada. Caso seja uma hipérbole, determine seus principais elemen-
tos.
(a) 9x2 − 25y 2 − 225 = 0.
Solução.
Como 9x2 − 25y 2 = 225, obtemos, dividindo por 225, a equação
x2 y2
− = 1,
25 9
que representa uma hipérbole com:
√ √ √
• a = 5, b = 3 e c = a2 + b2 = 25 + 9 = 34;
• centro: C = (0, 0);
• reta focal: ` = eixo−OX : y = 0;
• reta não focal: `0 = eixo−OY : x = 0;
• vértices: A1 = (−5, 0) e A2 = (5, 0);
• vértices imaginários (na reta não focal): B1 = (0, −3) e B2 = (0, 3);
√ √
• focos: F1 = (− 34, 0) e F2 = ( 34, 0);
3
• assíntotas: y = ± x, ou seja 3x ± 5y = 0. 
5

(b) x2 − 2y 2 + 6x + 4y + 9 = 0.
Solução.
Completando os quadrados, obtemos:
x2 + 6x − 2(y 2 − 2y) = −9
⇐⇒ (x2 + 6x + 9) − 2(y 2 − 2y + 1) = −9 + 9 − 2
⇐⇒ (x + 3)2 − 2(y − 1)2 = −2
(x + 3)2
⇐⇒ (y − 1)2 − = 1.
2
Logo a equação representa uma hipérbole com:

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278 4.. EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC < 0.

√ √ √ √
• a = 1, b = 2 e c = a2 + b2 = 1 + 2 = 3;
• centro: C = (−3, 1);
• reta focal: ` : x = −3, paralela ao eixo−OY ;
• reta não focal: `0 : y = 1, paralela ao eixo−OX;
• vértices: A1 = (−3, 0) e A2 = (−3, 2);
√ √
• vértices imaginários (na reta não focal): B1 = (−3− 2, 1) e B2 = (−3+ 2, 1);
√ √
• focos: F1 = (−3, 1 − 3) e F2 = (−3, 1 + 3);
√ √ √ √ √
• assíntotas (x+3) = ± 2(y−1), ou seja, x+ 2y = −3+ 2 e x− 2y = −3− 2.


(c) 9x2 − 16y 2 + 90x − 128y − 31 = 0.


Solução.
Completando os quadrados, obtemos:
9(x2 + 10x) − 16(y 2 + 8y) = 31
⇐⇒ 9(x2 + 10x + 25) − 16(y 2 + 8y + 16) = 31 + 9 × 25 − 16 × 16
⇐⇒ 9(x + 5)2 − 16(y + 4)2 = 0
⇐⇒ 9(x + 5)2 = 16(y + 4)2
⇐⇒ 3(x + 5) = ±4(y + 4)
⇐⇒ 3(x + 5) ± 4(y + 4) = 0 .
Logo, a equação representa o par de retas, 3x + 4y = −31 e 3x − 4y = 1,
que se cortam no ponto (−5, −4). 

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Capítulo 16

Parábola

1. Parábola

Definição 1
Sejam L uma reta no plano e F um ponto no plano não pertencente a L. A
parábola P de diretriz L e foco F é o conjunto que consiste de todos os
pontos P do plano, equidistantes do ponto F e da reta L, isto é,

P = { P | d(P, F ) = d(P, L) } .

Terminologia
• Como dissemos na definição, o ponto F é o foco e a reta L é a diretriz
da parábola.
• A reta ` que contém o foco e é perpendicular à diretriz L é chamada reta
focal da parábola.
• O vértice da parábola é o ponto V da reta focal, equidistante de F e de
L. Em particular, V ∈ P.
• Se A é o ponto onde L intersecta `, então V é o ponto médio do segmento
AF , ou seja,
A+F
V = .
2

279
280 1.. PARÁBOLA

• O número 2p = d(F, L) é o parâmetro da parábola. Note que d(V, F ) =


d(V, L) = p.

Figura 1: Posição do vértice em relação ao foco e à diretriz da parábola.

Observação 1
Toda parábola é simétrica em relação à sua reta focal.
De fato, seja P uma parábola de
foco F , vértice V , diretriz L e
reta focal `.
Seja P ∈ P e seja P 0 o ponto
simétrico de P em relação à reta
focal `.
O segmento P P 0 ⊥ ` intersecta
a reta focal ` num ponto Q que é
o ponto médio do segmento P P 0 .
Os triângulos 4P QF e 4P 0 QF
Figura 2: Simetria da parábola em relação à reta focal `.
são congruentes, pois o lado QF
é comum, d(P, Q) = d(P 0 , Q) e os ângulos P[
QF e P
\ 0 QF são retos. Em

particular, d(P, F ) = d(P 0 , F ).


Além disso, d(P, L) = d(Q, L) = d(P 0 , L), pois BP QA e AQP 0 B 0 são retân-
gulos.
Como P ∈ P, temos d(P, F ) = d(P, L). Portanto, d(P 0 , F ) = d(P 0 , L), isto
é, P 0 ∈ P.

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 281

2. Formas canônicas da parábola

Vamos estabelecer as formas canônicas da parábola em relação a um


sistema de coordenadas OXY no plano. Para isso, vamos considerar primeiro
os casos em que o vértice da parábola é a origem e a reta focal é um dos eixos
coordenados. E, por último, vamos considerar os casos em que o vértice é
um ponto qualquer e a reta focal é paralela a um dos eixos coordenados.

2.1 Parábola com vértice na origem e reta focal coinci-


dente com o eixo−OX

Caso I. O foco F está à direita da di-


retriz L.
Como o vértice da parábola P é a ori-
gem V = (0, 0), temos que o foco é o ponto
F = (p, 0) e a diretriz é a reta L : x = −p,
onde 2p = d(F, L).
Logo,
P = (x, y) ∈ P
⇐⇒ d(P, F ) = d(P, L)
p
⇐⇒ (x − p)2 + y 2 = |x + p| Figura 3: Parábola P : y 2 = 4px.
⇐⇒ (x − p)2 + y 2 = (x + p)2
⇐⇒ x2 − 2px + p2 + y 2 = x2 + 2px + p2
⇐⇒ −2px + y 2 = 2px
⇐⇒ y 2 = 4px

Caso II. O foco F está à esquerda da diretriz L.


Neste caso, temos
F = (−p, 0) e L : x = p,

onde 2p = d(F, L).

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282 2.. FORMAS CANÔNICAS DA PARÁBOLA

Então,
P = (x, y) ∈ P
⇐⇒ d(P, F ) = d(P, L)
p
⇐⇒ (x + p)2 + y 2 = |x − p|
⇐⇒ (x + p)2 + y 2 = (x − p)2
⇐⇒ x2 + 2px + p2 + y 2 = x2 − 2px + p2
⇐⇒ 2px + y 2 = −2px
⇐⇒ y 2 = −4px

Figura 4: Parábola P : y 2 = −4px.

2.2 Parábola com vértice na origem e reta focal coinci-


dente com o eixo−OY

Caso I. O foco F está acima da diretriz L.


Neste caso, F = (0, p) e L : y = −p, onde 2p = d(F, L). Logo,
P = (x, y) ∈ P se, e somente se,
p
x2 + (y − p)2 = |y + p| ⇐⇒ x2 = 4py

Figura 5: Parábola P : x2 = 4py.

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 283

Caso II. O foco F está abaixo da diretriz L.


Neste caso, F = (0, −p) e L : y = p, onde 2p = d(F, L). Logo,
P = (x, y) ∈ P se, e somente se,
p
x2 + (y + p)2 = |y − p| ⇐⇒ x2 = −4py

Figura 6: Parábola P : x2 = −4py.

Exemplo 1
Determine a equação da parábola P com vértice V na origem, cujo foco é o
ponto:
(a) F = (3, 0).
Solução.
Temos p = d(V, F ) = 3 e reta focal = eixo−OX. Como o foco F está à
direita do vértice, temos que a diretriz é a reta L : x = −3 e a equação da
parábola é P : y 2 = 12x. 

(b) F = (0, −2).


Solução.
Temos p = d(V, F ) = 2 e reta focal = eixo−OY . Como o foco F está
abaixo do vértice, temos que a diretriz é a reta L : y = 2 e a equação da
parábola é P : x2 = −8y. 

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284 2.. FORMAS CANÔNICAS DA PARÁBOLA

Exemplo 2
Uma parábola P com vértice V na ori-
gem, cuja reta focal é o eixo−OY , passa
pelo ponto (4, −2). Determine sua equa-
ção, o foco F e a equação da diretriz L.

Figura 7: Parábola P : x2 = −8y.

Solução.
A parábola tem equação P : x2 = ±4py, com p = d(V, F ) > 0.

Como (2 2, −2) ∈ P, temos que P : x2 = −4py e 8 = 8p. Logo, p = 1,
F = (0, −1), L : y = 1 e a equação da parábola é P : x2 = −4y. 

Exemplo 3
Um círculo C com centro no ponto C = (4, −1) passa pelo foco F da parábola
P : x2 = −16y. Mostre que a diretriz L da parábola é tangente ao círculo C.

Solução.
A reta focal da parábola P é o eixo−OY ,
o vértice é a origem, o foco está abaixo da
diretriz e 4p = 16. Então, F = (0, −4) e
L : y = 4.
A equação do círculo é:
C : (x − 4)2 + (y + 1)2 = r2 . Figura 8: Parábola P e círculo C.

Como F = (0, −4) ∈ C, temos 16+9 = r2 ,


ou seja, r = 5. Então,
(x, y) ∈ C ∩ L ⇐⇒ (x − 4)2 + (4 + 1)2 = 52
⇐⇒ (x − 4)2 = 0 ⇐⇒ x = 4 ⇐⇒ (x, y) = (4, 4).
Logo, L tangencia C no ponto (4, 4). 

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 285

2.3 Parábola com vértice V = (x0 , y0 ) e reta focal para-


lela ao eixo−OX

Para obtermos a forma canônica da parábola de vértice no ponto


V = (x0 , y0 ) e reta focal paralela ao eixo−OX, consideremos um sistema
de coordenadas O X Y , com origem O = V = (x0 , y0 ) e eixos O X e O Y
paralelos e de igual sentido aos eixos OX e OY , respectivamente.

Caso I. O foco F está à direita da diretriz L.


Sabemos que a equação da parábola no sistema de coordenadas O X Y
2
é y = 4px. Além disso, neste sistema de coordenadas, o foco é F = (p, 0); o
vértice é V = (0, 0); a diretriz é L : x = −p e a reta focal é ` : y = 0.
Como x = x + x0 e y = y + y0 , temos que a equação da parábola no
sistema OXY é:

(y − y0 )2 = 4p(x − x0 ).

Figura 9: Parábola (y − y0 )2 = 4p(x − x0 ).

Além disso, no sistema de eixos OXY , a parábola tem foco


F = (x0 + p, y0 ); vértice V = (x0 , y0 ); diretriz L : x − x0 = −p, ou seja,
L : x = x0 − p e reta focal ` : y − y0 = 0, ou seja, ` : y = y0 .

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286 2.. FORMAS CANÔNICAS DA PARÁBOLA

Caso II. O foco F está à esquerda da diretriz L.

Neste caso, a equação da parábola no sistema O X Y é y 2 = −4px, e


seus elementos são: foco F = (−p, 0); vértice V = (0, 0); diretriz L : x = p e
reta focal ` : y = 0.
Passando para as coordenadas x, y do sistema OXY , a equação da
parábola fica na forma

(y − y0 )2 = −4p(x − x0 ),

e seus elementos são: foco F = (x0 − p, y0 ); vértice V = (x0 , y0 ); diretriz


L : x − x0 = p, ou seja, L : x = x0 + p, e reta focal ` : y − y0 = 0, ou seja,
` : y = y0 .

Figura 10: Parábola (y − y0 )2=−4p(x − x0 ).

2.4 Parábola com vértice V = (x0 , y0 ) e reta focal para-


lela ao eixo−OY

Como nos casos anteriores, considerando um sistema de eixos ortogonais


O X Y , com origem O = V = (x0 , y0 ) e eixos O X e O Y paralelos e de
igual sentido aos eixos OX e OY , respectivamente, obtemos as equações e
os elementos das parábolas, com vértice V = (x0 , y0 ) e reta focal paralela ao
eixo−OY .

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 287

Caso I. O foco F está acima da diretriz L.


Neste caso, o foco é F = (x0 , y0 + p); a diretriz é L : y = y0 − p; a reta
focal é ` : x = x0 e a equação da parábola é:

(x − x0 )2 = 4p(y − y0 )

Figura 11: Parábola P : (x − x0 )2 = 4p(y − y0 ).

Caso II. O foco F está abaixo da diretriz L.


Neste caso, o foco é F = (x0 , y0 − p); a diretriz é L : y = y0 + p; a reta
focal é ` : x = x0 e a equação da parábola é:

(x − x0 )2 = −4p(y − y0 )

Figura 12: Parábola P : (x − x0 )2 = −4p(y − y0 ).

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288 2.. FORMAS CANÔNICAS DA PARÁBOLA

Exemplo 4
Determine a equação da parábola P de vértice V = (3, 4) e foco F = (3, 2).
Determine também a equação de sua diretriz.

Solução.
Como V = (3, 4) e F = (3, 2), ` : x = 3 é
a reta focal e F está abaixo de V , ou seja,
abaixo da diretriz L. Logo, a equação da
parábola é da forma:
P : (x − 3)2 = −4p(y − 4).
Temos que p = d(V, F ) = d((3, 4), (3, 2))
= 2. Então, L : y = 6 é a diretriz e
Figura 13: Parábola P : (x − 3)2 = −8(y − 4).
P : (x − 3)2 = −8(y − 4)
é a equação da parábola. 

Exemplo 5
Determine a equação da parábola P cuja reta focal é paralela ao eixo−OX
3 
e passa pelos pontos , −1 , (0, 5) e (−6, −7).
2

Solução.
Como a reta focal da parábola P é paralela ao eixo−OX, sua equação deve
ser da forma P : (y − y0 )2 = ±4p(x − x0 ), que se escreve também na forma:
P : y 2 + Dx + Ey + F = 0 .
Substituindo as coordenadas dos pontos dados nessa equação, temos:

3

 D − E + F = −1
 2
 5E + F = −25

 −6D − 7E + F = −49 .

Resolvendo o sistema, obtemos D = 8, E = −2 e F = −15.


Portanto, a equação da parábola é
y 2 + 8x − 2y − 15 = 0 ,
isto é,

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 289

y 2 − 2y + 1 = 15 − 8x + 1 ,
ou, ainda,
P : (y − 1)2 = −8(x − 2).
Assim, a parábola P tem vértice V = (2, 1) e reta focal ` : y = 1, paralela
ao eixo−OX. Como 4p = 8, isto é, p = 2, e o foco F está à esquerda da
diretriz, temos que F = (0, 1) e a diretriz L : x = 4. 

3. Equação geral do segundo grau com B = 0 e


AC = 0

Consideremos a equação canônica da parábola de vértice V = (x0 , y0 )


e reta focal paralela ao eixo−OX:
(y − y0 )2 = ±4p(x − x0 ) .
Desenvolvendo e agrupando os termos dessa equação, obtemos:
y 2 ∓ 4px − 2y0 y + y02 ± 4px0 = 0 .
Esta equação é da forma
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,
onde A = 0, B = 0, C = 1, D = ∓4p, E = −2y0 e F = y02 ± 4px0 .
Analogamente, desenvolvendo a equação da parábola de vértice
V = (x0 , y0 ) e reta focal paralela ao eixo−OY
(x − x0 )2 = ±4p(y − y0 ) ,
obtemos a equação
x2 − 2x0 x ∓ 4py + x20 ± 4py0 = 0 ,
que é da forma
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,
onde A = 1, B = 0, C = 0, D = −2x0 , E = ∓4p e F = x20 ± 4py0 .
No primeiro caso, A = 0, B = 0 e C 6= 0 e, no segundo caso, A 6= 0,
B = 0 e C = 0. Portanto, em qualquer caso, B = 0 e AC = 0.
Reciprocamente, temos a seguinte proposição:

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290 3.. EQUAÇÃO GERAL DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC = 0

Proposição 1
Seja a equação do segundo grau com B = 0:
Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0.
Se A = 0 e C 6= 0, esta equação representa:
• uma parábola cuja reta focal é paralela ao eixo−OX, se D 6= 0;
ou
• duas retas distintas paralelas ao eixo−OX, se D = 0 e E 2 − 4CF > 0;
ou
• uma reta paralela ao eixo−OX, se D = 0 e E 2 − 4CF = 0;
ou
• o conjunto vazio, se D = 0 e E 2 − 4CF < 0.
O mesmo vale para o caso em que C = 0 e A 6= 0, trocando “paralelo ao
eixo−OX” por “paralelo ao eixo−OY ”.

Prova.
Suponhamos A = 0, C 6= 0 e D 6= 0. Então, a equação do segundo grau
se escreve na forma:
E D F
y2 + y + x + = 0.
C C C
Completando o quadrado, obtemos:
E 2 D F E2
 
y+ + x + − 2 = 0.
2C C C 4C
Como D 6= 0, podemos escrever a equação na forma
  
E 2 D C F E2
 
y+ =− x+ − 2 ,
2C C D C 4C
que é a equação de uma parábola com reta focal paralela ao eixo−OX e
vértice
 
4C 2 F − CE 2 E
V = − 2
,− .
4C D 2C
Se D = 0, a equação Cy 2 + Ey + F = 0 representa:
• duas retas paralelas ao eixo−OX,

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 291

p p
−E + E 2 − 4CF −E − E 2 − 4CF
y= e y= ,
2C 2C
se E 2 − 4CF > 0;
E
• uma reta paralela ao eixo−OX, y = − , se E 2 − 4CF = 0;
2C
• o conjunto vazio, se E 2 − 4CF < 0. 

Os casos em que a equação do segundo grau Ax2 +Cy 2 +Dx+Ey+F = 0,


com AC = 0, representa duas retas paralelas, uma reta ou o conjunto vazio
são chamados casos degenerados da parábola.

Exemplo 6
Verifique se as equações abaixo representam uma parábola ou uma parábola
degenerada. Caso seja uma parábola, determine seus principais elementos.
(a) x2 − 8y = 0.
Solução.
Como x2 = 8y, a equação representa uma parábola com:
• vértice: V = (0, 0);
• reta focal = eixo−OY : x = 0;
• parâmetro: 2p = 4 (=⇒ p = 2);
• foco: F = (0, 2), acima da diretriz;
• diretriz: L : y = −2. 

(b) 2y 2 + 5x + 8y − 7 = 0.
Solução.
Completando o quadrado, obtemos
2(y 2 + 4y) = −5x + 7
⇐⇒ 2(y 2 + 4y + 4) = −5x + 7 + 8
⇐⇒ 2(y + 2)2 = −5x + 15
⇐⇒ 2(y + 2)2 = −5(x − 3)
5
⇐⇒ (y + 2)2 = − (x − 3) ,
2
que representa uma parábola com:
• vértice: V = (3, −2);

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292 3.. EQUAÇÃO GERAL DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC = 0

• reta focal: ` : y = −2, paralela ao eixo−OX;


5 5
• parâmetro: 2p = (=⇒ p = );
4 8
5
   19 
• foco: F = 3 − , −2 = , −2 , à esquerda da diretriz;
8 8
5 29
• diretriz: L : x = 3 + = .
8 8 

(c) 3y 2 + 7y − 6 = 0.
Solução.
Como A = B = D = 0 e seu discriminante é 49 + 4 × 3 × 6 = 121 > 0,
−7 ± 11
a equação (c) representa o par de retas y = , ou seja, y = −3 e
6
2
y = , paralelas ao eixo−OX. 
3

(d) 9x2 + 42x + 49 = 0


Solução.
Como B = C = E = 0 e seu discriminante é 422 −4×9×49 = 1764−1764 = 0,
42 21 7
a equação (d) representa a reta x = − = − = − , paralela ao eixo−OY .
18 9 3


(e) 3y 2 − 2y + 1 = 0
Solução.
Como A = B = D = 0 e seu discriminante é 4 − 12 = −8 < 0, a equa-
ção (e) representa o conjunto vazio. 

O exemplo 7 mostra como determinar a equação de uma parábola


usando sua definição e conhecendo alguns de seus elementos.

Exemplo 7
Sejam V = (−2, −1) o vértice de uma parábola P e L : x + 2y = 1 a equação
de sua diretriz. Encontre a equação da parábola e seu foco.

Solução.
A reta focal ` é a reta perpendicular à diretriz que passa pelo vértice.

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CAPÍTULO 16. PARÁBOLA 293

Como (1, 2) ⊥ L, temos (2, −1) ⊥ ` e, portanto, ` : 2x − y = −4 + 1 = −3.


Seja A = (x, y) o ponto de interseção das retas ` e L. Então, as coordenadas
x e y satisfazem ao sistema:
( (
2x − y = −3 2x − y = −3
⇐⇒
x + 2y = 1 −2x − 4y = −2 .
Logo, −5y = −5, isto é, y = 1 e x = 1 − 2y = −1.
Como V é o ponto médio do segmento AF , temos que F = 2V − A, ou seja,
F = 2(−2, −1) − (−1, 1) = (−3, −3) .
Então, P = (x, y) ∈ P se, e somente se, d(P, F ) = d(P, L), isto é, se, e só se,
p 2  |x + 2y − 1| 2
2
(x + 3) + (y + 3) 2 = √
5
(x + 2y − 1)2
⇐⇒ (x + 3)2 + (y + 3)2 =
5
x2 + 4xy + 4y 2 − 2x − 4y + 1
⇐⇒ x2 + 6x + 9 + y 2 + 6y + 9 =
5

⇐⇒ 5x2 + 30x + 5y 2 + 30y + 90 = x2 + 4xy + 4y 2 − 2x − 4y + 1

⇐⇒ P : 4x2 − 4xy + y 2 + 32x + 34y + 89 = 0 ,

que é a equação da parábola. 

Figura 14: Parábola P : 4x2 − 4xy + y 2 + 32x + 34y + 89 = 0.

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294 3.. EQUAÇÃO GERAL DO SEGUNDO GRAU COM B = 0 E AC = 0

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Capítulo 17

Rotação das cônicas

1. Rotação dos eixos coordenados

Seja OXY um sistema de eixos ortogonais no plano e seja O X Y o


π
sistema de eixos obtido girando os eixos OX e OY de um ângulo θ, 0 < θ < ,
2
no sentido positivo.

Figura 1: Sistema OXY obtido girando de θ o sistema OXY .

Sejam (x, y) e (x, y) as coordenadas de um ponto P nos sistemas OXY


−−→
e O X Y , respectivamente, ϕ o ângulo que o vetor OP faz com o semieixo
positivo O X e r = d(P, O). Então,

295
296 1.. ROTAÇÃO DOS EIXOS COORDENADOS

( (
x = r cos ϕ x = r cos(ϕ + θ)
e
y = r sen ϕ , y = r sen(ϕ + θ) .

Logo,
( (
x = r cos θ cos ϕ − r sen θ sen ϕ x = cos θ x − sen θ y
ou seja,
y = r sen θ cos ϕ + r cos θ sen ϕ , y = sen θ x + cos θ y

A mudança de coordenadas pela rotação de um ângulo θ dos


eixos OX e OY pode ser escrita também na forma matricial
! ! !
x cos θ − sen θ x
=
y sen θ cos θ y

ou na forma vetorial
(x, y) = (cos θ, sen θ)x + (− sen θ, cos θ)y

A mudança de coordenadas inversa (obtida pela rotação de −θ dos


eixos O X e O Y ) se expressa, em termos de matrizes, da seguinte maneira:
! ! !
x cos θ sen θ x
=
y − sen θ cos θ y

pois cos(−θ) = cos θ e sen(−θ) = − sen θ. Então,


(
x = cos θ x + sen θ y
y = − sen θ x + cos θ y

ou seja,
(x, y) = (cos θ, − sen θ) x + (sen θ, cos θ) y

Exemplo 1
Por uma rotação de 45o dos eixos coordenados OX e OY , uma certa equação
é transformada na equação 4x2 − 9y 2 = 36. Encontre a equação, o centro,
os vértices, os vértices imaginários, os focos e as assíntotas da hipérbole nas
coordenadas x e y.

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 297

Solução.
Como
 √
 x = cos θ x + sen θ y 2
= (x + y)

√2
 y = − sen θ x + cos θ y = 2
(−x + y) ,

2
a equação acima, nas coordenadas x, y, se escreve na forma:
2 2
4 × (x + y)2 − 9 × (−x + y)2 = 36 ,
4 4
ou seja,
4(x2 + 2xy + y 2 ) − 9(x2 − 2xy + y 2 ) = 72 ,
isto é,

−5x2 + 26xy − 5y 2 − 72 = 0

x2 y2
Como, nas coordenadas x e y, a equação pode ser escrita na forma − = 1,
9 4

ela representa uma hipérbole com a = 3; b = 2; c = 13; centro C = (0, 0);

reta focal ` : y = 0; vértices A1 = (−3, 0) e A2 = (3, 0); focos F1 = (− 13, 0)

e F2 = ( 13, 0); reta não focal `0 : x = 0; vértices imaginários B1 = (0, −2)
2
e B2 = (0, 2), e assíntotas y = ± x, ou seja, 2x ± 3y = 0.
3
Usando a mudança de coordenadas

1
 x = √ (x − y)


2
1
 y = √ (x + y) ,


2
vemos que, nas coordenadas x e y, o centro é C = (0, 0), os vértices são
 √ √   √ √ 
3 2 3 2 3 2 3 2
A1 = − ,− e A2 = , , os vértices imaginários são
2 2 2 2
    √ √ !
2 2 2 2 13 13
B1 = √ , − √ , B2 = −√ , √ e os focos são F1 = − √ ,− √
2 2 2 2 2 2
√ √ !
13 13
e F2 = √ , √ .
2 2

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298 2.. REDUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU À SUA FORMA CANÔNICA

Usando agora a mudança de coordenadas inversa


 √
 x = 2 (x + y)

√2
 y= 2
(−x + y) ,

2
obtemos que, nas coordenadas x e y, a reta focal é ` : −x + y = 0, a reta não
focal é `0 : x + y = 0 e as assíntotas são:
√ √
2 2
2 (x + y) ± 3 (−x + y) = 0 ⇐⇒ 2 (x + y) ± 3 (−x + y) = 0 ,
2 2
1
ou seja, r1 : y = x e r2 : y = 5 x .
5

Figura 2: Hipérbole −5x2 + 26xy − 5y 2 − 72 = 0.

2. Redução de uma equação do segundo grau à


sua forma canônica

Consideremos a equação do segundo grau:

Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 . (1)

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 299

π
Após uma rotação positiva de um ângulo θ, 0 < θ < , dos eixos
2
OX e OY , obtemos um novo sistema de eixos ortogonais O X e O Y . As
coordenadas (x, y) e (x, y) de um ponto P do plano nos sistemas de eixos
OXY e O X Y , respectivamente, estão relacionadas da seguinte maneira:
x = cos θ x − sen θ y
y = sen θ x + cos θ y .

Substituindo x por cos θ x − sen θ y e y por sen θ x + cos θ y na equação


(1), obtemos a equação nas coordenadas x e y:

Aθ x2 + Bθ x y + Cθ y 2 + Dθ x + Eθ y + Fθ = 0 (2)

onde
Aθ = A cos2 θ + B sen θ cos θ + C sen2 θ
Bθ = 2(C − A) sen θ cos θ + B(cos2 θ − sen2 θ)
Cθ = A sen2 θ − B sen θ cos θ + C cos2 θ
Dθ = D cos θ + E sen θ
Eθ = −D sen θ + E cos θ
Fθ = F.

Por uma verificação direta, temos que:


! ! ! !
Aθ Bθ /2 cos θ sen θ A B/2 cos θ − sen θ
= (3)
Bθ /2 Cθ − sen θ cos θ B/2 C sen θ cos θ
e
! ! !
Dθ cos θ sen θ D
=
Eθ − sen θ cos θ E

π
Determinemos o ângulo θ = θ0 , 0 < θ0 < , para o qual o coeficiente
2
Bθ0 da equação nas variáveis x e y é igual a zero.
Sendo
Bθ0 = (C − A) sen 2θ0 + B cos 2θ0 = 0,
temos que

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300 2.. REDUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU À SUA FORMA CANÔNICA

1. θ0 = 45o , se A = C.
B
2. tg 2θ0 = , se A 6= C.
A−C

Pela relação 1 + tg2 2θ0 = sec2 2θ0 e por tg 2θ0 e cos 2θ0 terem o mesmo
sinal, pois 0 < 2θ0 < 180o , segue que
1 B
cos 2θ0 = p , se > 0,
1+ tg2 2θ 0 A−C

e
−1 B
cos 2θ0 = p , se < 0.
1 + tg2 2θ0 A−C

Além disso, como cos 2θ0 = cos2 θ − sen2 θ e cos2 θ + sen2 θ = 1, temos
que

• cos 2θ0 = cos2 θ0 − (1 − cos2 θ0 ) = 2 cos2 θ0 − 1

• cos 2θ0 = (1 − sen2 θ0 ) − sen2 θ0 = 1 − 2 sen2 θ0 ,

ou seja,
r r
1 + cos 2θ0 1 − cos 2θ0
cos θ0 = e sen θ0 =
2 2

Fazendo θ = θ0 , A = Aθ0 , C = Cθ0 , D = Dθ0 , E = Eθ0 e F = Fθ0 = F ,


a equação do segundo grau (2) fica na forma

Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,

onde:
! ! ! !
A 0 cos θ0 sen θ0 A B/2 cos θ0 − sen θ0
=
0 C − sen θ0 cos θ0 B/2 C sen θ0 cos θ0

e
! ! !
D cos θ0 sen θ0 D
=
E − sen θ0 cos θ0 E

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 301

Definição 1
O indicador da equação do segundo grau
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
é o número
!
A B/2
I = B 2 − 4AC = −4 det
B/2 C

Como o determinante de um produto de matrizes é igual ao produto


dos determinantes das matrizes fatores, temos, por (3), que
! !
A θ B θ /2 A B/2
Iθ = Bθ2 − 4Aθ Cθ = −4 det = −4 det =I,
Bθ /2 Cθ B/2 C
! !
cos θ sen θ cos θ − sen θ
pois det = det = 1 para todo θ ∈ R.
− sen θ cos θ sen θ cos θ

Em particular, fazendo θ = θ0 , temos que I = B 2 − 4AC = −4A C.


Dizemos, então, que a equação do segundo grau (1) é do tipo:

• elíptico, se I = B 2 − 4AC = −4A C < 0 ;

• parabólico, se I = B 2 − 4AC = −4A C = 0 ;

• hiperbólico, se I = B 2 − 4AC = −4A C > 0 .

3. Exemplos

Exemplo 2
(a) Reduza, por uma rotação dos eixos coordenados, a equação

x2 + 2xy + y 2 − x + y + 1 = 0 (4)
à sua forma canônica.
(b) Determine o foco, o vértice e a diretriz da cônica nas coordenadas x, y.
(c) Faça um esboço da curva.

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302 3.. EXEMPLOS

Solução.
(a) Os coeficientes da equação são A = 1, B = 2, C = 1, D = −1, E = 1,
F = 1, e seu indicador é I = B 2 − 4AC = 22 − 4 × 1 × 1 = 0. Então, a
equação é do tipo parabólico.
Sendo A = C = 1, o ângulo de rotação necessário para eliminar o termo
misto (xy) é θ = 45o , e as relações de mudança de coordenadas, por esta
rotação, são:



o o 2
 x = cos(45 ) x − sen(45 ) y = (x − y)


2
√ (5)
 y = sen(45o ) x + cos(45o ) y = 2 (x + y)



2
e



o o 2
 x = cos(45 ) x + sen(45 ) y = (x + y)


2
√ (6)
 y = − sen(45o ) x + cos(45o ) y = 2 (−x + y)



2

Nas coordenadas x, y, a equação (4) se escreve na forma:


A x2 + C y 2 + D x + E y + F = 0 ,
onde F = F = 1,
! √ √ ! ! √ √ !
A 0 2/2 2/2 1 2/2 2/2 − 2/2
= √ √ √ √
0 C − 2/2 2/2 2/2 1 2/2 2/2
√ √ ! ! !
2 2 1 1 1 1 1 −1
= ×
2 2 −1 1 1 1 1 1
! !
1 2 2 1 −1
=
2 0 0 1 1
!
1 4 0
=
2 0 0
!
2 0
= , ou seja, A = 2 , C = 0 ,
0 0
e

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 303

! √ √ ! !
D 2/2 2/2 −1
= √ √
E − 2/2 2/2 1
√  !
−1

2 1 1
=
2 −1 1 1
√   !
2 0 0
= = √ ,
2 2 2

ou seja, D = 0, E = 2.
Portanto, nas coordenadas x e y, a equação da cônica se escreve na forma:

2x2 + 2 y + 1 = 0 ,
isto é,
√  √ 
2 2 2
x =− y+ ,
2 2
que é a forma canônica de uma parábola.

(b) A parábola, nas coordenadas x, y, possui os seguintes elementos:


 √ 
2
• vértice: V = 0, − ;
2
• reta focal: ` : x = 0;
√ √
2 2
• parâmetro: 2p = =⇒ p = ;
4 8
 √ √   √ 
2 2 5 2
• foco: F = 0, − − = 0, − ;
2 8 8
√ √ √
2 2 3 2
• diretriz: y = − + =− .
2 8 8

Determinação dos elementos da parábola nas coordenadas x e y.


1 1
 5
5 
Por (5), V = ,−
é o vértice, F = ,− é o foco e, por (6),
2 2 8 8
3
` : x + y = 0 é a reta focal e L : x − y = é a diretriz da parábola
4
nas coordenadas x e y.

(c) Na figura 3 mostramos o esboço da parábola.

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304 3.. EXEMPLOS

Figura 3: Parábola x2 + 2xy + y 2 − x + y + 1 = 0.

Exemplo 3
(a) Reduza, por uma rotação dos eixos coordenados, a equação
5x2 + 4xy + 2y 2 + 20x + 20y + 44 = 0
à sua forma canônica.
(b) Determine os focos, os vértices, o centro, a reta focal e a reta não focal
da cônica nas coordenadas x, y.
(c) Faça um esboço da curva.

Solução.
(a) Os coeficientes da equação são A = 5, B = 4, C = 2, D = 20, E = 20,
F = 44, e seu indicador é I = B 2 − 4AC = 16 − 40 = −24 < 0. Portanto, a
equação é do tipo elíptico.
B 4
Como A 6= C, temos que tg 2θ = = > 0. Logo,
A−C 3
r r
1 1 3
cos 2θ = = = > 0,
1 + tg2 2θ 1 + 16/9 5

da qual obtemos:

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 305

r r √ r
1 + cos 2θ 1 + 3/5
4 2 2 5
cos θ = = =√ = = ,
2 5 2 5 5
r r r √
1 − cos 2θ 1 − 3/5 1 1 5
sen θ = = = =√ = .
2 2 5 5 5

As relações de mudança de coordenadas são:



 5
 x= (2x − y)


5
√ , (7)
 y = 5 (x + 2y)



5


 5
 x= (2x + y)


5
√ , (8)
5


 y=

(−x + 2y)
5

e a equação nas coordenadas x, y fica na forma:


A x2 + C y 2 + D x + E y + F = 0,
onde F = F = 44;
! √ √ ! ! !
A 0 5 5 2 1 5 2 2 −1
= ×
0 C 5 5 −1 2 2 2 1 2
! ! !
1 12 6 2 −1 1 30 0
= =
5 −1 2 1 2 5 0 5
!
6 0
= ;
0 1
! √ ! ! √ !
D 5 2 1 20 12 5
= = √ .
E 5 −1 2 20 4 5

√ √
Logo, A = 6, C = 1, D = 12 5, E = 4 5, F = 4, e a equação dada, nas
coordenadas x e y, transforma-se na equação:
√ √
6x2 + y 2 + 12 5 x + 4 5 y + 44 = 0 .
Completando os quadrados, temos:

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306 3.. EXEMPLOS

√ √
6(x2 + 2 5x) + (y 2 + 4 5 y) = −44
√ √
6(x2 + 2 5x + 5) + (y 2 + 4 5 y + 20) = −44 + 30 + 20
√ √
6(x + 5)2 + (y + 2 5)2 = 6

√ 2 (y + 2 5)2
E : (x + 5) + = 1,
6
que é a forma canônica de uma elipse.
√ √
(b) A equação representa uma elipse E com a = 6, b = 1 e c = 5 que,
nas coordenadas x e y tem:
√ √
• centro: C = (− 5, −2 5);

• reta focal: ` : x = − 5, paralela ao eixo−O Y ;

• reta não focal: `0 : y = −2 5, paralela ao eixo−O X;
√ √ √ √ √ √
• vértices sobre o eixo focal: A1 = (− 5, −2 5− 6) e A2 = (− 5, −2 5+ 6);
√ √ √ √
• vértices sobre o eixo não focal: B1 = (− 5−1, −2 5) e B2 = (− 5+1, −2 5);
√ √ √ √ √ √ √ √
• focos: F1 = (− 5, −2 5− 5) = (− 5, −3 5) e F2 = (− 5, −2 5+ 5) =
√ √
(− 5, − 5);

5
• excentricidade: e = √ .
6
Determinação dos elementos da elipse nas coordenadas x e y.
Temos, por (8), que
• ` : 2x + y = −5 é a reta focal;
• `0 : x − 2y = 10 é a reta não focal;
e, por (7),
• C = (0, −5) é o centro;
• F1 = (1, −7) e F2 = (−1, −3) são os focos;
√ √   √ √ 
30 2 30 30 2 30
• A1 = , −5 − e A2 = − , −5 + são os vértices
5 5 5 5
sobre a reta focal;
 √ √   √ √ 
2 5 5 2 5 5
• B1 = − , −5 − e B2 = , −5 + são os vértices sobre
5 5 5 5
a reta não focal da elipse nas coordenadas x e y.
(c) Na figura 4, mostramos o esboço da elipse.

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 307

Figura 4: Elipse x2 + 2xy + y 2 − x + y + 1 = 0.

Exemplo 4
(a) Reduza, por uma rotação dos eixos coordenados, a equação abaixo à sua
forma canônica:
√ √ √ √
11x2 + 10 3xy + y 2 − (22 + 10 3)x − (2 + 10 3)y − (4 − 10 3) = 0.
(b) Determine os focos, os vértices, o centro, a reta focal e as assíntotas, se
existirem, da cônica nas coordenadas x, y.
(c) Faça um esboço da curva.

Solução.
(a) Os coeficientes da equação são:

A = 11, B = 10 3, C = 1,
√ √ √
D = −(22 + 10 3), E = −(2 + 10 3), F = −(4 − 10 3),
e seu indicador é I = B 2 − 4AC = 300 − 44 = 256 > 0. Então, a equação é
do tipo hiperbólico.

r
B 1 1
Como A 6= C, tg 2θ0 = = 3 > 0 e cos 2θ0 = = > 0. Logo,
A−C 1+3 2

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308 3.. EXEMPLOS

r √
1 + 1/2 3
cos θ0 = = ,
2 2
r
1 − 1/2 1
sen θ0 = = ,
2 2
isto é, θ0 = 30o .
Assim, as relações de mudança de coordenadas são:


 1 √
x = ( 3x − y)


2 , (9)
 1 √
 y = (x + 3y)

2

 1 √
x = ( 3x + y)


2 , (10)
 1 √
 y = (−x + 3y)

2

e a equação, nas coordenadas x e y, é dada por:

Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,

onde F = F = −(4 − 10 3);
! √ ! √ ! √ !
A 0 1 3 1 11 5 3 3 −1
= √ √ √
0 C 4 −1 3 5 3 1 1 3
√ ! √ !
1 16 3 16 3 −1
= √ √
4 4 −4 3 1 3
!
16 0
=
0 −4
e
! √ ! √ ! √ !
D 1 3 1 −(22 + 10 3) −16 3 − 16
= √ √ = √ .
E 2 −1 3 −(2 + 10 3) −4 + 4 3

Nas coordenadas x, y, a equação dada transforma-se na equação:


√ √ √
16x2 − 4y 2 − 16( 3 + 1)x − 4(1 − 3)y − (4 − 10 3) = 0 .
Completando os quadrados nesta equação, obtemos:

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CAPÍTULO 17. ROTAÇÃO DAS CÔNICAS 309

√ √ √
16(x2 − ( 3 + 1)x) − 4(y 2 + (1 − 3)y) = 4 − 10 3
√ √ 
√ √
  
2 ( 3 + 1)2 2 (1 − 3)2
16 x − ( 3 + 1)x + − 4 y + (1 − 3)y + =
4 4
√ √ √
4 − 10 3 + 4( 3 + 1)2 − (1 − 3)2
 √ 2  √ 2
3+1 1− 3
16 x − −4 y+ = 16
2 2
√ !2
1− 3
√ 2 y+
2

3+1
H: x− − = 1,
2 4
que é a forma canônica de uma hipérbole.
(b) A equação representa uma hipérbole com a2 = 1, b2 = 4, c2 = a2 +b2 = 5,
que tem, nas coordenadas x e y:
√ √ 
3+1 3−1
• centro: C = , ;
2 2

3−1
• reta focal: ` : y = , paralela ao eixo−O X;
2

0 3+1
• reta não focal: ` : x = , paralela ao eixo−O Y ;
2
√ √ √ √
3+1 √ 3+1 √
 
3−1 3−1
• focos: F1 = − 5, e F2 = + 5, ;
2 2 2 2
√ √  √ √ 
3−1 3−1 3+3 3−1
• vértices: A1 = , e A2 = , ;
2 2 2 2
√ √  √ √ 
3+1 3−5 3+1 3+3
• vértices imaginários: B1 = , e B2 = , ;
2 2 2 2

c 5 √
• excentricidade: e = = = 5;
a 1
 √   √ 
3+1 3−1
• assíntotas: 2 x − ± y− = 0.
2 2
Determinação dos elementos da hipérbole nas coordenadas x e y.
Temos, por (10), que:
√ √
• ` : x − 3y = 1 − 3 é a reta focal;
√ √
• `0 : 3 x + y = 3 + 1 é a reta não focal;

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310 3.. EXEMPLOS

( √ √
r1 : (2 3 − 1)(x − 1) + ( 3 + 2)(y − 1) = 0
• √ √ são as assíntotas;
r2 : (2 3 + 1)(x − 1) + (2 − 3)(y − 1) = 0

e, por (9),
• C = (1, 1) é o centro;
 √ √   √ √ 
15 5 15 5
• F1 = 1 − ,1 − e F2 = 1 + ,1 + são os focos;
2 2 2 2
 √   √ 
3 1 3 3
• A1 = 1 − , e A2 = 1 + , são os vértices;
2 2 2 2
√ √
• B1 = (2, 1− 3) e B2 = (0, 1+ 3) são os vértices imaginários da hipérbole
nas coordenadas x e y.
(c) Na figura 5 mostramos o esboço da hipérbole.

√ √ √ √
Figura 5: Hipérbole 11x2 + 10 3xy + y 2 − (22 + 10 3)x − (2 + 10 3)y − (4 − 10 3) = 0.

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Capítulo 18

Exemplos

1. Exemplos diversos

Exemplo 1
Determine os focos, os vértices, o centro, a reta focal e a reta não focal e faça
um esboço da curva abaixo:
9x2 − 18x + 25y 2 − 50y = 191.

Solução.
Completando os quadrados na equação, temos:

9(x2 − 2x) + 25(y 2 − 2y) = 191

⇐⇒ 9(x2 − 2x + 1) + 25(y 2 − 2y + 1) = 191 + 9 + 25

⇐⇒ 9(x − 1)2 + 25(y − 1)2 = 225


(x − 1)2 (y − 1)2
⇐⇒ E : + = 1.
25 9
Assim, a cônica é a elipse de centro C = (1, 1); reta focal ` : y = 1, paralela
ao eixo−OX; reta não focal `0 : x = 1, paralela ao eixo−OY ; a2 = 25, b2 = 9,
c2 = a2 −b2 = 25−9 = 16; vértices sobre a reta focal A1 = (1−a, 1) = (−4, 1)
e A2 = (1+a, 1) = (6, 1); focos F1 = (1−c, 1) = (−3, 1) e F2 = (1+c, 1) = (5, 1);
vértices sobre a reta não focal B1 = (1, 1−b) = (1, −2) e B2 = (1, 1+b) = (1, 4)

311
312 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

c 4
e excentricidade e = = . 
a 5

Figura 1: Elipse E : 9x2 − 18x + 25y 2 − 50y = 191.

Exemplo 2 √
5
Considere a elipse de centro C = (1, 1), foco (3, 2) e excentricidade .
3
Determine os vértices e o outro foco da elipse. Faça também um esboço da
curva.

Solução.
p
Seja F2 = (3, 2) o foco dado. Temos que c = d(C, F2 ) = (3 − 1)2 + (2 − 1)2
√ √
√ √ c 5 5
= 4+1= 5. Como e = = = , segue que a = 3 e b2 = a2 − c2 =
a a 3
9 − 5 = 4.
F1 + F2
Seja F1 o outro foco. Então, C = , isto é,
2
F1 = 2C − F2 = 2(1, 1) − (3, 2) = (−1, 0).
−−−→
Seja ` a reta focal. Como CF2 = (2, 1) k `, isto é, (1, −2) ⊥ `, e C = (1, 1) ∈ `,
a equação de ` é dada por:
` : x − 2y = −1 .
Sejam A1 = (2y1 − 1, y1 ) e A2 = (2y2 − 1, y2 ) os vértices sobre a reta focal.
Como d(A1 , C) = d(A2 , C) = a = 3, y1 e y2 são as raízes da equação:

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 313

d((2y − 1, y), C)2 = 32 ⇐⇒ (2y − 1 − 1)2 + (y − 1)2 = 9


⇐⇒ 4(y − 1)2 + (y − 1)2 = 9 ⇐⇒ 5(y − 1)2 = 9
9 3
⇐⇒ (y − 1)2 = ⇐⇒ y − 1 = ±√
5 5
3 3 3
⇐⇒ y =1± √ ⇐⇒ y1 = 1 − √ , e y2 = 1 + √ .
5 5 5
Logo,
 
3 6
x1 = 2y1 − 1 = 2 1 − √ −1=1− √ ,
5 5
 
3 6
x2 = 2y2 − 1 = 2 1 + √ −1=1+ √ ,
5 5
e
 
6 3
A1 = 1 − √ ,1 − √ ,
5 5
 
6 3
A2 = 1 + √ ,1 + √
5 5
são os vértices sobre a reta focal.
(1, −2)
Seja `0 a reta não focal. Então, (1, −2) k `0 k √ e C = (1, 1) ∈ `0 . Logo,
5

t
 x=1+ √


`0 : 5 ; t∈R
2t
 y =1− √


5
é uma equação paramétrica da reta não focal.
Seja B um dos vértices sobre a reta não focal. Então,
   
1 2 1 2
B = (1, 1) + t √ , − √ e |BC| = |t| √ , −√ = |t| = b = 2 ,
5 5 5 5
ou seja, t = ±2. Portanto,
   
1 2
2 4
B1 = (1, 1) − 2 √ , −√
= 1 − √ ,1 + √
5 5
5 5
   
1 2 2 4
B2 = (1, 1) + 2 √ , − √ = 1 + √ ,1 − √
5 5 5 5
são os vértices sobre a reta não focal.
Como (2, 1) ⊥ `0 e C = (1, 1) ∈ `0 , `0 : 2x + y = 3 é a equação cartesiana da

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314 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

reta não focal.


Na figura 2 mostramos o esboço da elipse E. 

Figura 2: Elipse E : 5x2 − 4xy + 8y 2 − 6x − 12y − 27 = 0.

Exemplo 3
Determine o vértice e a equação da parábola P que tem a reta L : 2x + y = 1
como diretriz e foco na origem.

Solução.
Temos que um ponto P = (x, y) pertence à parábola P se, e só se, d(P, F ) =
d(P, L), ou seja, se, e somente se,
p |2x + y − 1| (2x + y − 1)2
x2 + y 2 = √ ⇐⇒ x2 + y 2 =
5 5
⇐⇒ 5x + 5y = 4x + 4xy + y 2 − 4x − 2y + 1 .
2 2 2

Logo, x2 − 4xy + 4y 2 + 4x + 2y − 1 = 0 é a equação da parábola P.


A reta focal ` da parábola é a reta perpendicular à diretriz L que passa pelo
foco F = (0, 0). Então, ` : x − 2y = 0.
Seja A = (x, y) o ponto de interseção de ` e L. Então, as coordenadas x e y
satisfazem ao sistema
(
x = 2y
2x + y = 1.
1
Substituindo x = 2y na segunda equação, obtemos 5y = 1, isto é, y = .
5

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 315

2
2 1
Logo, x = 2y = eA= , .
5 5 5
Seja V o vértice da parábola. Como d(V, F ) = d(V, L) = d(V, A), segue que
V é o ponto médio do segmento F A, isto é,
A+F
 2 1  1 1 
V = = , = , .
2 10 10 5 10
A figura 3 mostra o esboço da parábola P.

Figura 3: Parábola P : x2 − 4xy + 4y 2 + 4x + 2y − 1 = 0.

Exemplo 4
Determine a equação da hipérbole H que passa pelo ponto Q = (−1, −5) e
tem os eixos coordenados como assíntotas.

Solução.
Como as assíntotas da hipérbole são os eixos coordenados e a reta focal
é uma das bissetrizes das assíntotas, temos que ` : x = −y ou ` : x = y.
Se a reta focal ` fosse a reta x = −y, a hipérbole estaria inteiramente contida
nos 2o e 4o quadrantes, o que é um absurdo, pois o ponto Q = (−1, −5),
pertencente à hipérbole H, está no 3o quadrante.
Portanto, ` : x = y. Observe que a hipérbole é equilátera, pois o ângulo que
as assíntotas fazem com a reta focal é igual a 45o , isto é, a inclinação b/a das
assíntotas em relação à reta focal é igual a 1(= tg 45o ).
Além disso, o centro C da hipérbole, ponto de interseção das assíntotas, é a

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316 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

origem. Então, seus focos são da forma F1 = (−m, −m) e F2 = (m, m) para
algum m ∈ R, m > 0.

Figura 4: Caso ` : x = −y. Figura 5: Caso ` : x = y.

Sendo c = d(F1 , C) = d(F2 , C), c2 = a2 + b2 e a = b, temos que:


a2 + a2 = c2 = m2 + m2 , ou seja, a = m.

Assim, um ponto P = (x, y) pertence à hipérbole H se, e só se,


p p
(x + m)2 + (y + m)2 − (x − m)2 + (y − m)2 = 2m
p p
⇔ (x + m)2 + (y + m)2 = ±2m + (x − m)2 + (y − m)2
p
⇔ (x + m)2 + (y + m)2 = 4m2 + (x − m)2 + (y − m)2 ± 4m (x − m)2 + (y − m)2
⇔ x2 + 2mx + m2 + y 2 + 2my + m2 = 4m2 + x2 − 2mx + m2 + y 2 − 2my + m2
p
±4m (x − m)2 + (y − m)2
p
⇔ 2mx + 2my = 4m2 − 2mx − 2my ± 4m (x − m)2 + (y − m)2
p
⇔ 4mx + 4my = 4m2 ± 4m (x − m)2 + (y − m)2
p
⇔ x + y = m ± (x − m)2 + (y − m)2
p
⇔ x + y − m = ± (x − m)2 + (y − m)2
⇔ (x + y − m)2 = (x − m)2 + (y − m)2
⇔ x2 + y 2 + 2xy + m2 − 2mx − 2my = x2 − 2mx + m2 + y 2 − 2my + m2
⇔ 2xy = m2
m2
⇔ xy = .
2
m2
Como Q = (−1, −5) ∈ H, temos que = (−1)(−5), isto é, m2 = 10. Logo,
2

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 317

xy = 5 é a equação da hipérbole H. 

Exemplo 5
1
Seja C uma cônica centrada no ponto C = (1, 2), de excentricidade e = ,
2
reta focal paralela ao eixo−OX e d(F, V ) = 1, onde F é um foco e V é o
vértice sobre a reta focal mais próximo de F .
Classifique a cônica e determine seus vértices, seus focos e sua equação.

Solução.
1
A cônica C é uma elipse, pois e = < 1. Então,
2
1 = d(F, V ) = d(C, V ) − d(C, F ) = a − c = a − ae
a a
= ⇐⇒ a = 2 .
⇐⇒ 1 = a −
2 2
1 √ √ √
Sendo a = 2, temos que c = ae = 2 × = 1 e b = a2 − c2 = 4 − 1 = 3.
2
Além disso, a reta ` : y = 2, paralela ao eixo−OX, é a reta focal da cônica
C. Logo,
(x − 1)2 (y − 2)2
C: + =1
4 3
é a equação canônica da elipse.
Nesta elipse:
• A1 = (−1, 2) e A2 = (3, 2) são os vértices sobre a reta focal.
√ √
• B1 = (1, 2 − 3) e B2 = (1, 2 + 3) são os vértices sobre a reta não focal.
• F1 = (0, 2) e F2 = (2, 2) são os focos. 

Exemplo 6
Seja C uma cônica centrada no ponto C = (1, 2), de excentricidade e = 2,
reta focal paralela ao eixo−OY e d(F, V ) = 2, onde F é um foco e V é o
vértice mais próximo de V .
Classifique a cônica e determine seus vértices, seus focos, suas diretrizes e
sua equação.

Solução.

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318 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

A cônica C é uma hipérbole, pois e = 2 > 1. Então,


2 = d(F, V ) = d(F, C) − d(C, V ) = c − a = ae − a
⇐⇒ 2 = 2a − a = a ⇐⇒ a = 2.
√ √ √ √
Logo, c = ae = 4 e b = c2 − a2 = 16 − 4 = 12 = 2 3.
Como a reta focal ` : x = 1 é paralela ao eixo−OY , obtemos que:
(y − 2)2 (x − 1)2
C: − = 1,
4 12
é a equação da hipérbole com:
• vértices: A1 = (1, 0) e A2 = (1, 4);
√ √
• vértices imaginários: B1 = (1 − 2 3, 2) e B2 = (1 + 2 3, 2);
• focos: F1 = (1, −2) e F2 = (1, 6);

• assíntotas: x − 1 = ± 3 (y − 2). 

Exemplo 7
Classifique, em função do parâmetro k ∈ R, a família de curvas
4x2 + ky 2 + 8kx + 20k + 24 = 0 ,
indicando, nos casos não degenerados, se a reta focal é paralela ao eixo−OX
ou ao eixo−OY .

Solução.
Completando o quadrado na equação, temos que:

4x2 + ky 2 + 8kx + 20k + 24 = 0

⇐⇒ 4(x2 + 2kx) + ky 2 = −20k − 24

⇐⇒ 4(x2 + 2kx + k 2 ) + ky 2 = −20k − 24 + 4k 2

⇐⇒ 4(x + k)2 + ky 2 = 4(k 2 − 5k − 6)

⇐⇒ 4(x + k)2 + ky 2 = 4(k + 1)(k − 6) .

Estudo do sinal dos coeficientes k e (k + 1)(k − 6) da equação:

−∞ < k < −1 k = −1 −1 < k < 0 k = 0 0 < k < 6 k = 6 6 < k < +∞


k − − − 0 + + +
(k + 1)(k − 6) + 0 − − − 0 +

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 319

Então, para:
• k ∈ (−∞, −1), a equação representa uma hipérbole de centro (−k, 0) e
reta focal = eixo−OX.
• k = −1, a equação 4(x − 1)2 − y 2 = 0 representa o par de retas concorrentes
y = ±2(x − 1) que passam pelo ponto (1, 0).
• k ∈ (−1, 0), a equação representa uma hipérbole de centro (−k, 0) e reta
focal ` : x = −k paralela ao eixo−OY .
• k = 0, a equação 4x2 = −24 representa o conjunto vazio.
• k ∈ (0, 6), a equação representa o conjunto vazio, pois 4(x + k)2 + ky 2 ≥ 0
e 4(k + 1)(k − 6) < 0 neste intervalo.
• k = 6, a equação 4(x + 6)2 + 6y 2 = 0 representa o ponto (−6, 0).
• k ∈ (6, +∞), a equação, que pode ser escrita na forma
(x + k)2 y2
+ = 1,
4(k + 1)(k − 6) 4(k + 1)(k − 6)
4 k
representa uma elipse de centro (−k, 0) e reta focal ` = eixo−OX, pois
4(k + 1)(k − 6) 4(k + 1)(k − 6)
> neste intervalo. 
4 k

Exemplo 8
Sejam OXY um sistema de eixos ortogonais e O X Y o sistema de eixos
ortogonais, obtido pela rotação positiva do ângulo θ dos eixos OX e OY ,
4 3
onde cos θ = e sen θ = .
5 5
 12 16 
Uma parábola P, nas coordenadas x e y, tem foco no ponto F = , e
5 5
 12 9 
vértice no ponto V = ,− .
5 5
(a) Determine a equação da parábola nas coordenadas x e y e nas coorde-
nadas x e y.
(b) Determine o foco, o vértice, a reta focal e a diretriz da parábola nas
coordenadas x e y.
(c) Faça um esboço da curva no sistema de eixos OXY , indicando seus

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320 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

elementos.

Solução.
25
(a) Como p = d(F, V ) = = 5 e, nas coordenadas x e y, a reta focal
5
12
`:x= é paralela ao eixo−OY e o foco F encontra-se acima do vértice
5
V , temos que
12 2 9
   
P : x− = 20 y +
5 5
9 9 34
é a equação da parábola, cuja diretriz é a reta L : y = − −p = − −5 = − .
5 5 5
Usando as relações de mudança de coordenadas

1
x = cos θ x + sen θ y = (4x + 3y)
5 (1)
1
y = − sen θ x + cos θ y = (−3x + 4y) ,
5

a equação da parábola, nas coordenadas x e y, é dada por:


12 2
1  1 9

(4x + 3y) − = 20 (−3x + 4y) +
5 5 5 5
20 × 25
⇐⇒ (4x + 3y − 12)2 = (−3x + 4y + 9)
5

⇐⇒ (4x + 3y)2 − 24(4x + 3y) + 144 = 100(−3x + 4y + 9)

⇐⇒ 16x2 + 24xy + 9y 2 − 96x − 72y + 144 = −300x + 400y + 900

⇐⇒ P : 16x2 + 24xy + 9y 2 + 204x − 472y − 756 = 0

12 1
(b) Pelas relações de mudança de coordenadas (1), ` : (4x + 3y) = , isto
5 5
1 34
é, ` : 4x + 3y = 12, é a equação da reta focal, e L : (−3x + 4y) = − , isto
5 5
é, L : −3x + 4y = −34, é a equação da diretriz nas coordenadas x e y.
E, pelas relações de mudança de coordenadas

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 321

1
x = cos θ x − sen θ y = (4x − 3y)
5
1
y = sen θ x + cos θ y = (3x + 4y) ,
5
obtemos que
 1  48
48 1 36
 64
 
F = ,− + = (0, 4) ,
5 5 5 5 5 5
 1  48 27  1  36 36 
V = + , − = (3, 0)
5 5 5 5 5 5
são o foco e o vértice, respectivamente, da parábola nas coordenadas x e y.
(c) Na figura 6 mostramos o esboço da parábola P.

Figura 6: Parábola P : 16x2 + 24xy + 9y 2 + 204x − 472y − 756 = 0.

Exemplo 9
Esboce, detalhadamente, a região do plano dada pelo sistema de inequações:
 2

 x + y2 ≥ 4
 16x2 + y 2 − 8y ≥ 0

R:


 −4x2 + y 2 − 4y ≤ 0
|x| ≤ 2 .

Solução.
A região R é a interseção das quatro regiões do plano:

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322 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

R1 = {(x, y) | x2 + y 2 ≥ 4}

R2 = {(x, y) | 16x2 + y 2 − 8y ≥ 0}

R3 = {(x, y) | − 4x2 + y 2 − 4y ≤ 0}

R4 = {(x, y) | |x| ≤ 2} .

• Descrição da região R1 .
A região R1 consiste dos pontos
pertencentes ou exteriores à
circunferência
C 1 : x2 + y 2 = 4
de centro na origem e raio 2.

Figura 7: Circunferência C1 e região R1 .

• Descrição da região R2 .
Para descrever a região R2 , vamos primeiro determinar a cônica:
C2 : 16x2 + y 2 − 8y = 0.

Completando o quadrado na equação da curva


C2 , obtemos:
16x2 + y 2 − 8y = 0
⇐⇒ 16x2 + (y 2 − 8y + 16) = 16
⇐⇒ 16x2 + (y − 4)2 = 16
(y − 4)2
⇐⇒ C2 : x2 + = 1.
16
Então C2 é a elipse de centro (0, 4); reta focal
` = eixo−OY ; reta não focal `0 : y = 4; a2 = 16,
b2 = 1, ou seja, a = 4 e b = 1; vértices sobre
a reta focal A1 = (0, 0) e A2 = (0, 8); vértices
sobre a reta não focal B1 = (−1, 4) e B2 = (1, 4).
Figura 8: Elipse C2 e região R2 .
Portanto,

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 323

(y − 4)2
R2 : 16x2 + y 2 − 8y ≥ 0 ⇐⇒ R2 : x2 + ≥1
16
consiste dos pontos do plano exteriores ou sobre a elipse C2 .
• Descrição da região R3 .
Para descrever a região R3 , vamos primeiro identificar a cônica:
C3 : −4x2 + y 2 − 4y = 0.
Completando o quadrado na equação de C3 , temos
−4x2 + y 2 − 4y = 0
⇐⇒ −4x2 + (y 2 − 4y + 4) = 4
⇐⇒ −4x2 + (y − 2)2 = 4
(y − 2)2
⇐⇒ C3 : −x2 + = 1,
4
que é a equação da hipérbole de centro (0, 2), reta focal ` = eixo−OY ; reta
não focal
0
` : y = 2, paralela ao eixo−OX; a = 4 e b2 = 1, ou seja, a = 2 e b = 1;
2

vértices A1 = (0, 0) e A2 = (0, 4), e vértices imaginários B1 = (−1, 2) e


B2 = (1, 2).

Figura 9: Hipérbole C3 e região R3 .

A hipérbole divide o plano em três regiões, duas delas limitadas pelos ramos
da hipérbole e a outra situada entre eles.

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324 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

Como as coordenadas do centro (0, 2) satisfazem à inequação −4x2 +y 2 −4y ≤ 0,


concluímos que a região R3 consiste dos pontos entre os ramos da hipérbole
ou sobre eles.

• Descrição da região R4 .
Temos que:
|x| ≤ 2 ⇐⇒ −2 ≤ x ≤ 2.
Portanto, a região R4 é o
conjunto
{(x, y) | − 2 ≤ x ≤ 2, y ∈ R} ,
que consiste dos pontos da faixa
vertical limitada pelas retas
r1 : x = 2 e r2 : x = −2.
Figura 10: Retas r1 e r2 e região R4 .

• Descrição da região R.
Finalmente, a região R consiste dos pontos exteriores à círculo C1 e à elipse
C2 , que estão entre os ramos da hipérbole C3 e na faixa R4 , podendo tais
pontos pertencerem também a uma das curvas do bordo C1 , C2 , C3 ou a
uma das retas r1 ou r2 , como vemos nas figuras 11 e 12.

Figura 11: Curvas que limitam a região R. Figura 12: Região R.

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 325

Exemplo 10
Classifique, em função do parâmetro λ ∈ R, a família de curvas
x2 + (λ − 2)y 2 + 2λx + 2(λ − 2)y + 3λ − 3 = 0 ,
indicando, nos casos não degenerados, se a reta focal é paralela ao eixo−OX
ou ao eixo−OY .

Solução.
Completando os quadrados na equação da família, temos que:

(x2 + 2λx) + (λ − 2)(y 2 + 2y) = 3 − 3λ

⇐⇒ (x2 + 2λx + λ2 ) + (λ − 2)(y 2 + 2y + 1) = 3 − 3λ + λ2 + λ − 2

⇐⇒ (x + λ)2 + (λ − 2)(y + 1)2 = λ2 − 2λ + 1

⇐⇒ (x + λ)2 + (λ − 2)(y + 1)2 = (λ − 1)2 . (2)

Para fazermos a classificação da família de curvas, precisamos estudar o sinal


dos coeficientes (λ − 2) e (λ − 1)2 da equação (2):

−∞ < λ < 1 λ = 1 1 < λ < 2 λ = 2 2 < λ < +∞

λ−2 − − − 0 +

(λ − 1)2 + 0 + + +

Então, para:
• λ ∈ (−∞, 1), a equação representa uma hipérbole de centro (−λ, −1) e
reta focal ` : y = −1 paralela ao eixo−OX.
• λ = 1, a equação (x+1)2 −(y+1)2 = 0 representa o par de retas concorrentes
y + 1 = ±(x + 1) que se cortam no ponto (−1, −1).
• λ ∈ (1, 2), a equação representa uma hipérbole de centro (−λ, −1) e reta
focal ` : y = −1 paralela ao eixo−OX.
• λ = 2, a equação (x + 2)2 = 1 representa o par de retas x + 2 = ±1, ou
seja, x = −3 e x = −1, paralelas ao eixo−OY .
• λ ∈ (2, +∞), a equação, que se escreve também na forma

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326 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

(x + λ)2 (y + 1)2
+ = 1,
(λ − 1)2 (λ − 1)2
λ−2
representa:
◦ uma circunferência de centro (−3, −1) e raio 2, se λ = 3, pois, neste
(λ − 1)2
caso, (λ − 1)2 = = 4;
λ−2
◦ uma elipse de centro (−λ, −1) e reta focal ` : x = −λ, paralela ao
(λ − 1)2
eixo−OY , se λ ∈ (2, 3), pois, neste intervalo, (λ − 1)2 < ;
λ−2
◦ uma elipse de centro (−λ, −1) e reta focal ` : y = −1 paralela ao
(λ − 1)2
eixo−OX, se λ ∈ (3, +∞), pois, neste intervalo, (λ − 1)2 > .
λ−2 

Exemplo 11
Considere os pontos F = (2, 1) e Q = (4, 0).

(a) Determine as equações das parábolas de reta focal ` perpendicular ao


vetor →

v = (1, −2) e foco F , que contêm o ponto Q.
(b) Determine os vértices das parábolas obtidas acima.
(c) Faça um esboço das parábolas obtidas no mesmo sistema de eixos orto-
gonais OXY , indicando todos os seus elementos.

Solução.
(a) Como a diretriz L é perpendicular à reta focal ` e →

v = (1, −2) ⊥ `,
temos que (2, 1) ⊥ L. Então, L : 2x + y = m, para algum m ∈ R.
Além disso, como Q = (4, 0) pertence à parábola, segue que d(Q, F ) = d(Q, L).
Isto é,
p |2 × 4 + 0 × 1 − m| √ |8 − m|
(4 − 2)2 + (0 − 1)2 = √ ⇐⇒ 5= √
5 5
⇐⇒ |m − 8| = 5

⇐⇒ m = 8 ± 5 .
Logo, L : 2x + y = 8 ± 5.

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 327

Caso 1. Parábola P1 de foco F = (2, 1) e diretriz L1 : 2x + y = 13.


Neste caso, um ponto P = (x, y) ∈ P1 se, e só se, d(P, F ) = d(P, L1 ), ou
seja,

d(P, F )2 = d(P, L1 )2
(2x + y − 13)2
⇐⇒ (x − 2)2 + (y − 1)2 =
5
⇐⇒ 5(x2 + y 2 − 4x − 2y + 5) = 4x2 + 4xy + y 2 − 52x − 26y + 169

⇐⇒ P1 : x2 − 4xy + 4y 2 + 32x + 16y − 144 = 0

Caso 2. Parábola P2 de foco F = (2, 1) e diretriz L2 : 2x + y = 3.


Assim, um ponto P = (x, y) ∈ P2 se, e só se, d(P, F ) = d(P, L2 ), ou seja,

d(P, F )2 = d(P, L2 )2
(2x + y − 3)2
⇐⇒ (x − 2)2 + (y − 1)2 =
5
⇐⇒ 5(x2 + y 2 − 4x − 2y + 5) = 4x2 + 4xy + y 2 − 12x − 6y + 9

⇐⇒ P2 : x2 − 4xy + 4y 2 − 8x − 4y + 16 = 0

(b) Consideremos as duas parábolas obtidas no item anterior.


• O vértice V1 da parábola P1 é o ponto médio do segmento A1 F , onde
A1 = (x, y) é o ponto de interseção da reta focal ` : x − 2y = 0 com a diretriz
L1 : 2x + y = 13. Então, as coordenadas x e y do ponto A1 satisfazem ao
sistema:
(
x − 2y = 0
2x + y = 13 .
26 13
 26 13 
Resolvendo este sistema, obtemos x = e y = , isto é, A1 = , .
5 5 5 5
Logo,  
26 13
, + (2, 1)
A +F
 36 18   18 9 
5 5
V1 = 1 = = , = , .
2 2 10 10 5 5
• O vértice V2 da parábola P2 é o ponto médio do segmento A2 F , onde
A2 = (x, y) é o ponto de interseção da reta focal ` : x − 2y = 0 com a diretriz

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328 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

L2 : 2x + y = 3. Logo, as coordenadas x e y do ponto A2 satisfazem ao


sistema:
(
x − 2y = 0
2x + y = 3 .
6 3
6 3
Resolvendo este sistema, obtemos x = e y = , isto é, A2 = , . Logo,
5 5 5 5
 
6 3
, + (2, 1)
A2 + F
 16 8   8 4 
5 5
V2 = = = , = , .
2 2 10 10 5 5
(c) Na figura 13, mostramos o esboço das parábolas P1 e P2 no mesmo
sistema de eixos ortogonais OXY .

Figura 13: Parábolas P1 e P2 .




Exemplo 12
Sejam OXY um sistema de eixos ortogonais e O X Y o sistema de eixos
ortogonais obtido pela rotação positiva de 45o dos eixos OX e OY em torno
da origem. Uma hipérbole nas coordenadas x e y tem centro na origem,

um de seus vértices no ponto ( 2, 0) e a reta y = 2x como uma de suas
assíntotas.
(a) Determine a equação da hipérbole nas coordenadas x e y e nas coorde-
nadas x e y.
(b) Determine o centro, os vértices, os vértices imaginários e as assíntotas

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 329

da hipérbole nas coordenadas x e y.


(c) Faça um esboço da curva no sistema de eixos OXY , indicando todos os
elementos encontrados no item (b).

Solução.
(a) Nas coordenadas x e y, a reta focal ` é o eixo−O X, pois o centro

C = (0, 0) e o vértice V = ( 2, 0) pertencem ao eixo−O X. Além disso,
√ b
a = d(C, V ) = 2 e = 2, pois y = 2x é uma assíntota da hipérbole.
a

Então, b = 2a = 2 2, e
x2 y2
H: − =1
2 8
é a equação da hipérbole nas coordenadas x e y.
Usando as relações de mudança de coordenadas



o o 2
 x = cos 45 x + sen 45 y = (x + y)


2
√ (3)
 y = − sen 45 x + cos 45 y = 2 (−x + y),


 o o
2
obtemos a equação da hipérbole nas coordenadas x e y:
1 2 1 2
× (x + y)2 − × (−x + y)2 = 1
2 4 8 4
⇐⇒ 4(x + y)2 − (−x + y)2 = 16

⇐⇒ 4(x2 + 2xy + y 2 ) − (x2 − 2xy + y 2 ) = 16

⇐⇒ 3x2 + 10xy + 3y 2 = 16

⇐⇒ H : 3x2 + 10xy + 3y 2 − 16 = 0

(b) Nas coordenadas x e y, a hipérbole tem:


• centro: C = (0, 0);
√ √
• vértices: A1 = (− 2, 0) e A2 = ( 2, 0);
√ √
• vértices imaginários: B1 = (0, −2 2) e B2 = (0, 2 2);
• reta focal: ` : y = 0;
• reta não focal: `0 : x = 0;

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330 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

• assíntotas: y = ±2x.
Por (3), obtemos que ` : −x + y = 0 é a reta focal; `0 : x + y = 0 é a reta não
√ √
2 2 1
focal e (−x + y) = ±2 × (x + y), isto é, r− : y = −3x e r+ : y = − x
2 2 3
são as assíntotas da hipérbole nas coordenadas x e y.
E, pelas relações de mudança de coordenadas

o 2o
x = cos 45 x − sen 45 y = (x − y)
2

o o 2
y = sen 45 x + cos 45 y = (x + y) ,
2

obtemos que C = (0, 0) é o centro, A1 = (−1, −1) e A2 = (1, 1) são os


vértices; B1 = (2, −2) e B2 = (−2, 2) são os vértices imaginários da hipérbole
nas coordenadas x e y.
(c) Na figura 14 mostramos o esboço da hipérbole H.

Figura 14: Hipérbole H : 3x2 + 10xy + 3y 2 − 16 = 0.

Exemplo 13
Sejam V1 = (7, 1) e V2 = (2, 5) os vértices de uma elipse com reta focal
paralela a um dos eixos coordenados.
(a) Determine o centro, a reta focal, a reta não focal, os vértices e os focos
da elipse E, supondo que o vértice V1 pertença à reta focal.

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 331

(b) Determine o centro, a reta focal, a reta não focal, os vértices e os focos
da elipse E, supondo que o vértice V2 pertença à reta focal.
(c) Faça um esboço das duas elipses encontradas acima num mesmo sistema
de eixos ortogonais, indicando todos os seus elementos.

Solução.
Consideremos o retângulo de lados paralelos aos eixos coordenados e vér-
tices nos pontos V1 = (7, 1) e V2 = (2, 5).

Figura 15: Retângulo de vértices V1 e V2 .

Como a > b numa elipse, temos que a = 5 e b = 4 nas elipses de vértices V1


e V2 e reta focal paralela a um dos eixos coordenados.
(a) Se o vértice V1 = (7, 1) pertence à reta focal da elipse, temos que ` : y = 1
é a reta focal, `0 : x = 2 é a reta não focal, C = (2, 1) é o centro, A1 = (−3, 1)
e A2 = V1 = (7, 1) são os vértices sobre a reta focal, B1 = (2, −3) e
B2 = V2 = (2, 5) são os vértices sobre a reta não focal, F1 = (−1, 1) e

F2 = (5, 1) são os focos, pois c = a2 − b2 = 3, e
(x − 2)2 (y − 1)2
E: + =1
25 16
é a equação da elipse E.
(b) Se o vértice V2 = (2, 5) pertence à reta focal da elipse E, temos que
0
` : y = 5 é a reta focal, ` : x = 7 é a reta não focal, C = (7, 5) é o centro,
A1 = V2 = (2, 5) e A2 = (12, 5) são os vértices sobre a reta focal, B 1 = (7, 9)
e B2 = V1 = (7, 1) são os vértices sobre a reta não focal, F 1 = (4, 5) e

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332 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

F 2 = (10, 5) são os focos, e


(x − 7)2 (y − 5)2
E: + =1
25 16
é a equação da elipse E.

(c) Na figura 16 mostramos as


elipses E e E no mesmo sistema
de eixos ortogonais.

Figura 16: Elipses E e E.

Exemplo 14
Considere os pontos A = (4, 1) e B = (3, 2).

(a) Determine as equações e os principais elementos das duas hipérboles


que possuem B como vértice imaginário, A como vértice e reta focal paralela
a um dos eixos coordenados.
(b) Faça um esboço das duas hipérboles num mesmo sistema de eixos
ortogonais, indicando todos os seus elementos (menos os focos).

Solução.
Caso 1. Reta focal ` paralela ao eixo−OX.
Como A = (4, 1) ∈ ` e B = (3, 2) ∈ `0 , onde `0 é a reta não focal, segue que
` : y = 1 e `0 : x = 3. Então, o centro C da hipérbole, ponto de interseção
da reta focal com a reta não focal, tem coordenadas x = 3 e y = 1, isto é,
C = (3, 1).
√ √
Além disso, a = d(C, A) = 1, b = d(C, B) = 1 e c = a2 + b2 = 2.
Logo,

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 333

H : (x − 3)2 − (y − 1)2 = 1
é a equação da hipérbole.
√ √
Nessa hipérbole, F1 = (3 − 2, 1) e F2 = (3 + 2, 1) são os focos; A1 = (2, 1)
e A2 = A = (4, 1) são os vértices; B1 = (3, 0) e B2 = B = (3, 2) são os
vértices imaginários e y − 1 = ±(x − 3) são as assíntotas.
Caso 2. Reta focal ` paralela ao eixo−OY .
Neste caso, ` : x = 4 é a reta focal e `0 : y = 2 é a reta não focal da
hipérbole H, com reta focal paralela ao eixo−OY , vértice A = (4, 1) e vértice
imaginário B = (3, 2). Então C = (4, 2) é o centro, a = d(C, A) = 1,

q
2
b = d(C, B) = 1 e c = a2 + b = 2, e
H : (y − 2)2 − (x − 4)2 = 1
é a equação da hipérbole H.

Além disso, F 1 =√(4, 2− 2)
e F 2 = (4, 2 + 2) são os
focos; A1 = A = (4, 1)
e A2 = (4, 3) são os vér-
tices; B 1 = B = (3, 2)
e B 2 = (5, 2) são os
vértices imaginários e
x − 4 = ±(y − 2) são as
assíntotas.
(b) Na figura 17 mostramos
as hipérboles H e H num
mesmo sistema de eixos
Figura 17: Hipérboles H e H.
ortogonais.


Exemplo 15
Considere as curvas
C1 : x2 − 20x + y + 100 = 0 ,
C2 : x2 − y 2 − 6x = 0 ,
C3 : x2 + 16y 2 − 6x − 7 = 0 .

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334 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

(a) Classifique as curvas e determine todos os seus elementos.


(b) Faça um esboço detalhado da região do plano dada pelo sistema de
inequações:


 x2 − 20x + y + 100 ≥ 0

2 2
 x − y − 6x ≥ 0



R: x2 + 16y 2 − 6x − 7 ≥ 0

x ≤ 10





 y ≥ −4 .

Observação: Ache as intersecções de C1 e C2 com a reta y = −4.

Solução.
(a) Curva C1 : x2 − 20x + y + 100 = 0.
Completando o quadrado, a equação de C1 na forma canônica é dada por:

C1 : x2 − 20x = −y − 100

C1 : x2 − 20x + 100 = −y − 100 + 100

C1 : (x − 10)2 = −y.

Logo, C1 é a parábola de reta focal ` : x = 10, paralela ao eixo−OY , vértice


1 1
 
V = (10, 0), 4p = 1, ou seja, p = , e foco F = 10, − .
4 4

Curva C2 : x2 − 6x − y 2 = 0.
A equação da curva C2 se escreve, completando o quadrado, da seguinte
forma:

C2 : x2 − 6x − y 2 = 0

C2 : (x2 − 6x + 9) − y 2 = 9

C2 : (x − 3)2 − y 2 = 9
(x − 3)2 y2
C2 : − = 1.
9 9
Logo, C2 é a hipérbole com reta focal ` : y = 0; reta não focal `0 : x = 3;
√ √
centro C = (3, 0); a = b = 3; c = a2 + b2 = 3 2; vértices A1 = (0, 0)
e A2 = (6, 0); vértices imaginários B1 = (3, −3) e B2 = (3, 3); assíntotas

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 335

√ √
r± : y = ±(x − 3) e focos F1 = (3 − 3 2, 0) e F2 = (3 + 3 2, 0).

Curva C3 : x2 − 6x + 16y 2 − 7 = 0.
Completando o quadrado na equação, obtemos:

C3 : x2 − 6x + 16y 2 − 7 = 0

C3 : (x2 − 6x + 9) + 16y 2 = 7 + 9

C3 : (x − 3)2 + 16y 2 = 16
(x − 3)2
C3 : + y2 = 1 .
16
Logo, C3 é a equação da elipse de reta focal ` : y = 0; reta não focal `0 : x = 3;
√ √
centro C = (3, 0); a = 4 e b = 1; c = a2 − b2 = 15; vértices sobre a reta
focal A1 = (−1, 0) e A2 = (7, 0); vértices sobre a reta não focal B1 = (3, −1)
√ √
e B2 = (3, 1); focos F1 = (3 − 15, 0) e F2 = (3 + 15, 0).

(b) A região R é a interseção das regiões:

R1 : x2 − 20x + y + 100 ≥ 0

R2 : x2 − y 2 − 6x ≥ 0

R3 : x2 + 16y 2 − 6x − 7 ≥ 0

R4 : x ≤ 10

R5 : y ≥ −4 .

Região R1 : x2 − 20x + y + 100 ≥ 0.


A parábola C1 : x2 − 20x + y + 100 = 0 divide o plano em duas regiões
1
 
disjuntas, uma das quais contém o foco F = 10, − .
4
2
Substituindo as coordenadas do foco na expressão x −20x+y+100, obtemos:
1 1 1
102 − 20 × 10 − + 100 = 100 − 200 − + 100 = − < 0 .
4 4 4
Portanto, R1 é a união da região determinada pela parábola que não contém
o foco F com os pontos da parábola, onde a igualdade na inequação, que
define R1 , é satisfeita.
Na figura 18, mostramos a região R1 .

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336 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

Figura 18: Região R1 .

Região R2 : x2 − y 2 − 6x ≥ 0.
A hipérbole C2 : x2 − y 2 − 6x = 0 divide o plano em três regiões disjuntas,
uma das quais contém o centro C = (3, 0) e as outras contêm os focos. A
expressão x2 −y 2 −6x tem sinal constante em cada uma destas regiões, sendo
iguais os sinais nas regiões que contêm os focos.
Substituindo as coordenadas do centro na expressão x2 − y 2 − 6x, obtemos:
32 − 02 − 6 × 3 = 9 − 0 − 18 = −9 < 0 .
Portanto, R2 consiste da região determinada pela hipérbole C2 que contêm
os focos, incluindo os ramos da curva C2 , onde a igualdade x2 − y 2 − 6x = 0
é verificada.
Na figura 19, mostramos a região R2 .

Figura 19: Região R2 .

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 337

Região R3 : x2 + 16y 2 − 6x − 7 ≥ 0.
A elipse C3 : x2 + 16y 2 − 6x − 7 = 0 divide o plano em duas regiões, uma
das quais (denominada interior) contém o centro C = (3, 0). O sinal da
expressão x2 + 16y 2 − 6x − 7 no centro C é:
32 + 16 × 02 − 6 × 3 − 7 = 9 + 0 − 18 − 7 = −16 < 0 .
Portanto, a região R3 é a região exterior à elipse C3 mais a própria curva,
onde a igualdade x2 + 16y 2 − 6x − 7 = 0 é satisfeita.

Figura 20: Região R3 .

Regiões R4 : x ≤ 10 e R5 : y ≥ −4.
A região R4 consiste dos pontos do plano à esquerda da reta x = 10, incluindo
os pontos da reta, e a região R5 consiste dos pontos do plano acima da reta
horizontal y = −4, incluindo os pontos da reta.

Figura 21: Região R4 . Figura 22: Região R5 .

Região R = R1 ∩ R2 ∩ R3 ∩ R4 ∩ R5 .
Para esboçarmos corretamente a região R, devemos determinar:
• as interseções da parábola C1 com as retas x = 10 e y = −4.

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338 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

A parábola C1 intersecta a reta vertical x = 10 exatamente no vértice (10, 0).


Para achar a interseção de C1 com a reta horizontal y = −4, devemos subs-
tituir y por −4 na equação C1 : y = −(x − 10)2 :
−4 = −(x − 10)2 =⇒ (x − 10)2 = 4 =⇒ x − 10 = ±2 =⇒ x = 10 ± 2 .
Temos, então, que
C1 ∩ {y = −4} = {(8, −4), (12, −4)}.
• as interseções da hipérbole C2 com as retas x = 10 e y = −4.
Para achar a interseção de C2 com a reta horizontal y = −4, substituímos y
por −4 na equação C2 : (x − 3)2 − y 2 = 9:
(x − 3)2 − (−4)2 = 9 =⇒ (x − 3)2 − 16 = 9 =⇒ (x − 3)2 = 16 + 9 = 25
=⇒ x − 3 = ±5 =⇒ x = 3 ± 5 .
Logo,
C2 ∩ {y = −4} = {(−2, −4), (8, −4)}.
Em particular, observe que
C1 ∩ C2 ∩ {y = −4} = {(8, −4)}.
Para achar a interseção de C2 com a reta vertical x = 10, substituímos x por
10 na equação C2 : (x − 3)2 − y 2 = 9:

(10 − 3)2 − y 2 = 9 =⇒ 72 − y 2 = 9 =⇒ y 2 = 49 − 9 = 40 =⇒ y = ±2 10 .
Logo,
√ √
C2 ∩ {x = 10} = {(10, −2 10), (10, 2 10)}.
Nas figuras 23 e 24 mostramos todas as curvas envolvidas e a região R. 

Figura 24: Região R = R1 ∩R2 ∩R3 ∩R4 ∩R5 .


Figura 23: Curvas C1 , C2 e C3 .

Exemplo 16
Classifique, em função do parâmetro λ ∈ R, a família de curvas

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 339

(λ − 1)x2 + (λ − 2)y 2 − 2λ(λ − 1)x + λ3 − 2λ2 − 2λ + 3 = 0 ,


indicando, nos casos não degenerados, se a reta focal é paralela ao eixo−OX
ou ao eixo−OY .

Solução.
Completando o quadrado, temos que:
(λ − 1)x2 + (λ − 2)y 2 − 2λ(λ − 1)x + λ3 − 2λ2 − 2λ + 3 = 0
⇐⇒ (λ − 1)(x2 − 2λx) + (λ − 2)y 2 = −λ3 + 2λ2 + 2λ − 3
⇐⇒ (λ − 1)(x2 − 2λx + λ2 ) + (λ − 2)y 2 = −λ3 + 2λ2 + 2λ − 3 + λ2 (λ − 1)
⇐⇒ (λ − 1)(x − λ)2 + (λ − 2)y 2 = −λ3 + 2λ2 + 2λ − 3 + λ3 − λ2
⇐⇒ (λ − 1)(x − λ)2 + (λ − 2)y 2 = λ2 + 2λ − 3
⇐⇒ (λ − 1)(x − λ)2 + (λ − 2)y 2 = (λ − 1)(λ + 3) .
Para fazermos a classificação, precisamos estudar o sinal dos coeficientes λ−1,
λ − 2 e (λ − 1)(λ + 3) da equação:

−∞ < λ < −3 λ = −3 −3 < λ < 1 λ = 1 1 < λ < 2 λ = 2 2 < λ < +∞


λ−1 − − − 0 + + +
λ−2 − − − − − 0 +
(λ − 1)(λ + 3) + 0 − 0 + + +

Então, para:
• λ ∈ (−∞, −3), a equação representa o conjunto vazio, pois (λ−1)(x−λ)2 ≤ 0,
(λ − 2)y 2 ≤ 0 e (λ + 3)(λ − 1) > 0.
• λ = −3, a equação −4(x + 3)2 − 5y 2 = 0 representa o conjunto unitário
que consiste do ponto (−3, 0).
• λ ∈ (−3, 1), a equação, que se escreve também na forma
(x − λ)2 y2
+ = 1,
(λ − 1)(λ + 3) (λ − 1)(λ + 3)
λ−1 λ−2
representa uma elipse com centro (λ, 0) e reta focal igual ao eixo−OX, pois
(λ − 1)(λ + 3) (1 − λ)(λ + 3) (1 − λ)(λ + 3) (λ + 3)(λ − 1)
= > = > 0,
λ−1 1−λ 2−λ λ−2
uma vez que 0 < 1 − λ < 2 − λ e λ + 3 > 0 para λ neste intervalo.

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340 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

• λ = 1, a equação −y 2 = 0, ou seja, y = 0, representa uma reta (o


eixo−OX).
• λ ∈ (1, 2), a equação representa uma hipérbole de centro (λ, 0) e reta focal
igual ao eixo−OX, pois
(λ − 1)(λ + 3) (λ − 1)(λ + 3)
>0 e < 0,
λ−1 λ−2
para todo λ neste intervalo.

• λ = 2, a equação (x − 2)2 = 5, ou seja, x = 2 ± 5, representa um par de
retas paralelas ao eixo−OY .
• λ ∈ (2, +∞), a equação, que se escreve na forma
(x − λ)2 y2
+ = 1,
(λ − 1)(λ + 3) (λ − 1)(λ + 3)
λ−1 λ−2
representa uma elipse de centro (λ, 0) e reta focal paralela ao eixo−OY , pois
λ − 1 > λ − 2 > 0 e (λ − 1)(λ + 3) > 0 para todo λ neste intervalo. 

Exemplo 17
Seja P uma parábola com reta focal paralela ao eixo−OX e foco F = (0, 3),
que intersecta o eixo−OX no ponto (4, 0) e o eixo−OY no ponto (0, 2).
(a) Determine o vértice, a diretriz e a equação da parábola P.
(b) Faça um esboço de P, indicando seus elementos.

Solução.
(a) Como a reta focal ` da parábola é paralela ao eixo−OX e o foco F = (0, 3)
pertence a `, temos que ` : y = 3, V = (x0 , 3) é o vértice, para algum x0 ∈ R,
e
(y − 3)2 = ±4p(x − x0 )
é a forma da equação de P.
Além disso, como P ∩ eixo − OX = {(4, 0)} e P ∩ eixo − OY = {(0, 2)},
obtemos:
(0 − 3)2 = ±4p(4 − x0 ) e (2 − 3)2 = ±4p(0 − x0 ) ,
isto é,
9 = ±4p(4 − x0 ) e 1 = ±4p(−x0 ) .

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 341

Logo, 9 = ±16p ± 4p(−x0 ) = ±16p + 1, ou seja, 8 = ±16p.


1
Sendo p > 0, concluímos que 8 = 16p, isto é, p = , e 1 = 4p(−x0 ) = −2x0 ,
2
1
ou seja, x0 = − .
2
 1 
Obtemos, assim, o vértice V = − , 3 da parábola e sua equação:
2
1
 
2
P : (y − 3) = 2 x + .
2
1
A diretriz de P é a reta L : x = − − p = −1, pois L é perpendicular a `, o
2
1
foco F está à direita de V e d(V, L) = p = .
2

(b) Na figura 25 mostramos o


gráfico de P e seus principais
elementos.

1
Figura 25: Parábola P : (y − 3)2 = 2 x +

2
.

Exemplo 18
Esboçe, detalhadamente, a região do plano dada pela inequação:
R : (|x| − 4)(4x2 + 9y 2 − 40x − 54y + 145) < 0.

Solução.
Completando o quadrado na equação
4x2 + 9y 2 − 40x − 54y + 145 = 0,
obtemos:

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342 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

4(x2 − 10x) + 9(y 2 − 6y) = −145

⇐⇒ 4(x2 − 10x + 25) + 9(y 2 − 6y + 9) = −145 + 100 + 81

⇐⇒ 4(x − 5)2 + 9(y − 3)2 = 36


(x − 5)2 (y − 3)2
⇐⇒ + = 1,
9 4
que é a equação da elipse de centro C = (5, 3), reta focal ` : y = 3 (paralela ao
eixo−OX), a = 3, b = 2, vértices sobre a reta focal A1 = (2, 3) e A2 = (8, 3),
e vértices sobre a reta não focal B1 = (5, 1) e B2 = (5, 5).
Então, a inequação, que define a região R, pode ser escrita na forma:
 
(x − 5)2 (y − 3)2
R : (|x| − 4) + − 1 < 0.
9 4
Assim, R = R1 ∪ R2 , onde:
 
 |x| − 4 < 0
  |x| − 4 > 0

R1 : 2 2 e R2 : 2 2
 (x − 5) + (y − 3) − 1 > 0
  (x − 5) + (y − 3) − 1 < 0.

9 4 9 4
A região R1 ,
 
(x − 5)2 (y − 3)2
R1 = {(x, y)| x ∈ (−4, 4) } ∩ (x, y) | + >1 ,
9 4
consiste dos pontos exteriores à elipse contidos na faixa limitada pelas retas
verticais x = −4 e x = 4, excluindo os pontos da elipse e das retas.
Na figura 26 mostramos a região R1 .

Figura 26: Região R1 .

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 343

A região R2 ,
 
(x − 5)2 (y − 3)2
R2 = { (x, y) | x ∈ (−∞, −4) ∪ (4, +∞) } ∩ (x, y) | + <1 ,
9 4
consiste dos pontos exteriores à faixa limitada pelas retas x = −4 e x = 4
que estão na região interior à elipse, excluindo os pontos das retas e da elipse.
Na figura 27 mostramos a região R2 :

Figura 27: Região R2 .

Portanto, o esboço da região R = R1 ∪ R2 é:

Figura 28: Região R = R1 ∪ R2 .

Exemplo 19
Verifique que a equação do segundo grau

−7x2 + 8xy − y 2 + 5(−x + y) = 0 (4)

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344 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

representa um par de retas concorrentes e determine suas equações.

Solução.
A equação tem coeficientes:
√ √
A = −7 , B = 8 , C = −1 , D = − 5 , E = 5 e F = 0 .
Como A 6= C, devemos girar o eixo−OX e o eixo−OY de um ângulo θ,
π B 8 8
0<θ< , no sentido positivo, tal que tg 2θ = = =− =
2 A−C −7 − (−1) 6
4
− , e escrever a equação nas coordenadas x e y do novo sistema de eixos
3
ortogonais O X Y , obtido após a rotação positiva de ângulo θ do sistema de
eixos ortogonais OXY .
4 1 3
Sendo tg 2θ = − < 0, temos que cos 2θ = − r = − . Logo,
3 16 5
1+
9
s s
3 3
1− 1+
cos θ = 5 = √1 e sen θ = 5 = √2 .
2 5 2 5
Efetuando a mudança de coordenadas dada pelas relações

 1
x = √ (x − 2 y)
( 

x = cos θ x − sen θ y 
5
, ou seja,
y = sen θ x + cos θ y
 y = √1 (2x + y) ,



5
na equação (4), obtemos a equação nas coordenadas x e y
A x2 + C y 2 + D x + E y + F = 0 ,
onde F = F = 0,
     
A 0 1 2 −7 4 1 −2
  = √1 × √1    
0 C 5 5 −2 1 4 −1 2 1
  
11 2 1 −2
=  
5 18 −9 2 1
   
1 5 0 1 0
= = 
5 0 −45 0 −9
e

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CAPÍTULO 18. EXEMPLOS 345

! ! √ ! ! ! !
D 1 1 2 − 5 1 2 −1 1
=√ √ = = .
E 5 −2 1 5 −2 1 1 3
Assim, a equação nas coordenadas x e y é:
x2 − 9y 2 + x + 3y = 0 .
Completando os quadrados, obtemos:
1 1 1 1 1 1
(x2 + x) − 9(y 2 − y) = 0 ⇐⇒ (x2 + x + ) − 9(y 2 − y + )= −9×
3 4 36 4 3 36
1 2 1 2 1 1
⇐⇒ (x + ) − 9(y − ) = − = 0
2 6 4 4
1 2 1 2
⇐⇒ (x + ) = 9(y − )
2 6
1 1
⇐⇒ x + = ±3(y − ) .
2 6
Logo, nas coordenadas x e y, a equação (4) representa o par de retas concor-
rentes:
1 1 1 1
x+ = 3(y − ) e x+ = −3(y − ) ,
2 6 2 6
ou seja,
x − 3y = −1 e x + 3y = 0 .
Para achar as equações das retas nas coordenadas x e y, devemos usar as
relações de mudança de coordenadas:

1
 x= √ (x + 2 y)
( 

x = cos θ x + sen θ y 5
, ou seja,
y = − sen θ x + cos θ y  1
 y=
 √ (−2x + y) .
5
Substituindo x e y nas equações das retas, obtemos:
1 1
√ (x + 2y) − 3 × √ (−2x + y) = −1
5 5
e
1 1
√ (x + 2y) + 3 × √ (−2x + y) = 0 ,
5 5
ou seja,

7x − y = − 5 e −x + y = 0 .


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346 1.. EXEMPLOS DIVERSOS

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Capítulo 19

Coordenadas polares

Neste capítulo, veremos que há outra maneira de expressar a posição


de um ponto no plano, distinta da forma cartesiana. Embora os sistemas
cartesianos sejam muito utilizados, há curvas no plano cuja equação toma
um aspecto muito simples em relação a um referencial não cartesiano.

Denição 1
Um sistema de coordenadas polares O ρ θ no plano
consiste de um ponto O, denominado polo ou ori-
gem, e de uma semirreta OA, com origem em O,
denominada eixo polar.
Dado um ponto P do plano, suas coordenadas,
neste sistema, são os valores ρ e θ, onde ρ é a dis-
tância de P a O e θ é a medida do ângulo do eixo
polar para a semirreta OP . Escrevemos:
P = (ρ, θ)
Figura 1: Coordenadas polares.

Convencionamos que a medida do ângulo tomada de OA para OP no


sentido anti-horário é positiva e negativa no sentido horário.

347
348

Observação 1
(I) A primeira coordenada polar ρ de um ponto
distinto do polo é sempre maior que zero, pois
ela representa a distância do ponto ao polo.
Mas podemos tomar também valores negativos
para ρ, convencionando-se, neste caso, marcar
a distância |ρ| na semirreta oposta, ou seja, o Figura 2: (ρ, θ) = (−ρ, θ + π)
ponto P = (ρ, θ), com ρ < 0, corresponde ao
ponto P = (−ρ, θ + π).

(II) Se a primeira coordenada polar de um ponto for zero, então este ponto
é o polo. O ângulo do polo não está denido.
(III) Podemos usar a medida em radianos ou em graus para os ângulos. Por
exemplo, P = (2, 30o ) = (2, π/6).
(IV) O par (ρ, θ) determina, de maneira única, um ponto do plano. No
entanto, um ponto no plano pode ser determinado por meio de várias co-
ordenadas polares distintas, pois, de acordo com a construção acima, as
medidas θ e θ + 2πk , onde k ∈ Z, estão associadas ao mesmo ângulo e,
portanto, (ρ, θ) e (ρ, θ + 2πk) representam o mesmo ponto do plano. Além
disso, pela observação (I), como (ρ, θ) = (−ρ, θ + π) se ρ < 0, então
(−ρ, θ + π) = (ρ, θ + 2π) = (ρ, θ) se ρ > 0. Ou seja, (ρ, θ) = (−ρ, θ + π) para
todo ρ ∈ R.
Assim, (ρ, θ) = (−ρ, θ + (2k + 1)π), quaisquer que sejam k ∈ Z e ρ ∈ R.

Exemplo 1
No sistema de coordenadas polares Oρθ mostrado na gura 3,

Figura 3: Sistema Oρθ

localize os seguintes pontos e determine outras coordenadas polares que os

representem:

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 349

(a) P1 = (1, 0o ).
Solução.

Figura 4: Ponto P1 no sistema Oρθ

Podemos representar também P1 das seguintes maneiras: P1 = (−1, 180o ) =


(1, 360o k), k ∈ Z. 

(b) P2 = (4, −π/4).


Solução.

Figura 5: Ponto P2 no sistema Oρθ

Por exemplo, P2 = (−4, −π/4+π) = (4, −π/4+2πk) , para k ∈ Z, são outras


maneiras de representar o ponto P2 . 

(c) P3 = (−1, 0o ).
Solução.

Figura 6: Ponto P3 no sistema Oρθ

Neste caso, como ρ = −1, temos que P3 = (1, 0o +180o ) = (1, 180o ) = (1, π) =
(1, π + 2πk), k ∈ Z. 

(d) P4 = (−2, π/3).

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350

Solução.

Figura 7: Ponto P4 no sistema Oρθ

Sendo ρ < 0, temos que P4 = (2, π/3 + π) = (2, 4π/3 + 2πk) , k ∈ Z. 

Exemplo 2
Seja Oρθ um sistema de coordenadas polares no plano. Determine os pontos

P = (ρ, θ) do plano que satisfazem à equação ρ = 3.

Solução.
Como na equação só gura a variável ρ,
a outra, θ, é arbitrária.
Isso signica que a equação só estabelece
condição sobre a distância do ponto ao
eixo polar, não importando a medida do
ângulo.
Portanto, os pontos do plano que satisfa-
zem à equação são aqueles cuja distância
ao polo O é igual a 3.
O conjunto solução é, portanto, o círculo Figura 8: Pontos com ρ = 3.

de centro O e raio 3 (Figura 8).




Observação 2
Pelo primeiro item da observação 1, ρ = −3 também é uma equação polar
do círculo acima. Em geral, ρ = a é a equação polar de um círculo de raio
|a| centrado na origem.

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 351

Exemplo 3
Seja Oρθ um sistema de coordenadas polares no plano. Determine o conjunto

π
r dos pontos P = (ρ, θ) do plano que satisfazem à equação θ= .
4

Solução.

Novamente, como na equação só gura uma variável, a outra é arbitrária.


Logo,
π
r = {(ρ, θ) | θ = e ρ ∈ R} ,
4
π
ou seja, r é a reta que passa pelo polo O e tem inclinação θ0 = em relação
4
à semirreta OA (Figura 9).

Figura 9: Pontos P1 , . . . , P4 na reta r.

Observação 3
Qualquer reta que passa pelo polo O tem equação polar da forma θ = θ0 ,
onde θ0 é uma constante. Além disso, a equação θ = θ0 + 2πk , k ∈ Z,
representa a mesma reta no plano.

1. Relações entre coordenadas polares e coor-

denadas cartesianas.

Seja Oρθ um sistema de coordenadas polares no plano. Consideremos


o sistema cartesiano ortogonal OXY tal que o eixo polar seja o semieixo

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352 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

positivo OX e o eixo−OY seja obtido rotacionando o eixo−OX de 90o no


sentido anti-horário.
Seja P 6= O um ponto no plano com
coordenadas ρ e θ no sistema Oρθ e co-
ordenadas x e y no sistema OXY . As
relações entre estas coordenadas são da-
das por:

x = ρ cos θ e y = ρ sen θ
Figura 10: Sistemas polar Oρθ e cartesiano
OXY .

Destas relações, obtemos:


x y y sen θ
x2 = ρ2 cos2 θ , y 2 = ρ2 sen2 θ , cos θ = , sen θ = e = = tg θ ,
ρ ρ x cos θ

das quais concluímos:


p x y y
ρ= x2 + y 2 , cos θ = p , sen θ = p e tg θ =
x + y2
2 x + y2
2 x

De fato, para obter a primeira relação, basta observar que


x2 + y 2 = ρ2 (cos2 θ + sen2 θ) = ρ2 ,

o que implica ρ = |ρ| = x2 + y 2 , pois ρ ≥ 0. As outras relações são obtidas


p

x y
substituindo ρ = x2 + y 2 nas equações cos θ = e sen θ = .
p
ρ ρ

Pela observação 1, podemos tomar ρ < 0. Neste caso, teremos:


x2 + y 2 .
p
ρ0 = −
x
Portanto, devemos considerar o ângulo θ0 tal que cos θ0 = − p e
x2 + y 2
y
sen θ0 = − p para continuarem válidas as igualdades x = ρ0 cos θ0
x2 + y 2
e y = ρ0 sen θ0 .
Como cos θ0 = − cos θ e sen θ0 = − sen θ, vemos que θ0 = θ + π , o
que justica a convenção feita anteriormente de que (ρ, θ) e (−ρ, θ + π)
representam o mesmo ponto em coordenadas polares.

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 353

Convenção: Daqui em diante, sempre que zermos referência a um sistema


polar Oρθ e a um sistema cartesiano OXY , no mesmo contexto, admitiremos
que o semieixo OX positivo é o eixo polar, caso este último não tenha sido
denido explicitamente.

Exemplo 4
Determine as coordenadas cartesianas ou polares dos seguintes pontos:

(a) P = (ρ, θ) = (2, π/2).


Solução.
Como ρ = 2 e θ = π/2, temos que

x = ρ cos θ = 2 cos π/2 = 0

y = ρ sen θ = 2 sen π/2 = 2

são as coordenadas cartesianas de P .



Figura 11: P = (2, π/2) em coordenadas pola-
res e P = (0, 2) em coordenadas cartesianas
(b) P = (x, y) = (1, 1).
Solução.
Sendo x = 1 e y = 1, temos que
√ √
x2 + y 2 = 12 + 12 = 2,
p
ρ=
1 1
cos θ = √ e sen θ = √ , ou seja, θ = π/4
2 2
ou θ = π/4 + 2πk , k ∈ Z. Então,
√ √
P = (ρ, θ) = ( 2, π/4) = ( 2, π/4 + 2πk)
é o ponto P dado em coordenadas pola-
res.
Também

(− 2, π/4 + (2k + 1)π) , k ∈ Z, Figura 12: P√= (1, 1) em coordenadas cartesi-
anas e P = ( 2, π/4) em coordenadas polares
é outra representação de P em coordena-
das polares.


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354 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

(c) P = (ρ, θ) = (−3, π/2).


Solução.
Como P = (−3, π/2) = (3, π/2+π) = (3, 3π/2),
vemos que
π 3π
x = ρ cos θ = −3 cos = 3 cos =0
2 2
π 3π
y = ρ sen θ = −3 sen = 3 sen = −3
2 2
são as coordenadas cartesianas de P . Figura 13: P = (−3, π/2) em coorde-
nadas polares e P = (0, −3) em coor-
denadas cartesianas



(d) P = (ρ, θ) = (− 2, 5π/4).
Solução.
√ √
Sendo P = (− 2, 5π/4) = ( 2, 5π/4 + π) =
√ √
( 2, 9π/4) = ( 2, π/4), temos que
√ √
x = − 2 cos 5π/4 = 2 cos π/4 = 1
√ √
y = − 2 sen 5π/4 = 2 sen π/4 = 1

Figura 14: Ponto P = (− 2, 5π/4) em
são as coordenadas cartesianas do ponto P . coordenadas polares e P = (1, 1) em
coordenadas cartesianas


(e) P = (x, y) = (4, 5).


Solução.
Como x = 4 e y = 5,
√ √ √
ρ= 42 + 52 = 16 + 25 = 41,
4 5
cos θ0 = √ e sen θ0 = √ .
41 41
Portanto,
√ √
(ρ, θ) = ( 41, θ0 ) = (− 41, θ0 + π)
Figura 15: P = (4, 5)
√ em coordenadas
é o ponto P dado em coordenadas polares. cartesianas e P = ( 41, θ0 ) em coor-
denadas polares


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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 355

(f) P = (x, y) = (0, −4).


Solução.
Como x = 0 e y = −4, temos que

02 + (−4)2 = 16 = 4,
p
ρ=
0 −4
cos θ = =0 e sen θ = = −1.
4 4
Logo, (ρ, θ) = (4, 3π/2) = (−4, 3π/2 + π) = Figura 16: P = (0, −4) em coordena-
das cartesianas e P = (−4, π/2) em co-
(−4, 5π/2) = (−4, π/2) é o ponto P dado em ordenadas polares
coordenadas polares.


Para esboçarmos uma curva, dada em coordenadas cartesianas (x, y)


ou em coordenadas polares (ρ, θ), é bastante útil conhecermos suas simetrias
para simplicar nossa análise.
Lembre-se de que dois pontos distintos P e Q são simétricos em relação
−−→
a uma reta r se, e só se, P Q ⊥ r e d(P, r) = d(Q, r).
Uma curva C é simétrica em relação:
• ao eixo-OX quando:

(x, y) ∈ C ⇐⇒ (x, −y) ∈ C
(ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, −θ) ∈ C ou (−ρ, π − θ) ∈ C;

Figura 17: Simetria em relação ao eixo−OX .

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356 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

• ao eixo-OY quando:

(x, y) ∈ C ⇐⇒ (−x, y) ∈ C
(ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, π − θ) ∈ C ou (−ρ, −θ) ∈ C;

Figura 18: Simetria em relação ao eixo−OY .

• à reta y = x quando:

(x, y) ∈ C ⇐⇒ (y, x) ∈ C
(ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, π − θ) ∈ C
2
ou (−ρ, 3π
2
− θ) ∈ C;

Figura 19: Simetria em relação à reta y = x.

• à reta y = −x quando:

(x, y) ∈ C ⇐⇒ (−y, −x) ∈ C
(ρ, θ) ∈ C ⇐⇒ (ρ, 3π − θ) ∈ C
2
ou (−ρ, π2 − θ) ∈ C.

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 357

Figura 20: Simetria em relação à reta y = −x.

Para vericar as simetrias, é preferível usar as coordenadas cartesianas,


devido à duplicidade de possibilidades em coordenadas polares.

Exemplo 5
Determine as equações cartesianas das curvas abaixo dadas em coordenadas

polares e faça um esboço.

(a) C : ρ = 2 .
Solução.
Substituindo a relação ρ = x2 + y 2 , temos:
p
p
ρ = 2 ⇐⇒ x2 + y 2 = 2
⇐⇒ x2 + y 2 = 4 .
Portanto, a equação ρ = 2 corresponde à equa-
ção cartesiana do círculo centrado na origem e
de raio 2.  Figura 21: Círculo ρ = 2.


(b) C : θ =
4
Solução.
y
Substituindo a relação = tg θ na equação dada, obtemos:
x

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358 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

3π y 3π sen((3π)/4)
θ= ⇐⇒ = tg =
4 x √4 cos((3π)/4)
2/2
= √ = −1 .
− 2/2
Portanto, a equação correspondente no sistema cartesiano de coordenadas é
y
= −1, isto é, y = −x, que é a equação da reta bissetriz do segundo e do
x
quarto quadrantes.

Figura 22: Reta θ = 3π


4
.

(c) C : ρ cos(θ − π/3) = 2 .


Solução.
Usando a identidade cos(a − b) = cos a cos b + sen a sen b , temos:
π
  π  π 
ρ cos θ − = 2 ⇐⇒ ρ cos θ cos + ρ sen θ sen = 2.
3 3 3
Das relações:
π  √
1
π  3
x = ρ cos θ , y = ρ sen θ , cos = e sen = ,
3 2 3 2
obtemos
1 √ 
3
C:x +y = 2,
2 2
ou seja,

C : x + y 3 − 4 = 0,

é a reta normal ao vetor →

v = (1, 3) que passa pelo ponto P = (4, 0).

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 359


Figura 23: Reta r : ρ cos(θ − π/3) = 2, ou seja, r : x + y 3 − 4 = 0.

(d) C : ρ cos θ = 3 .
Solução.
Como x = ρ cos θ, temos que C : x = 3
é a reta vertical que intersecta o eixo−OX
no ponto (3, 0).


Figura 24: Curva C : ρ cos θ = 3


(e) C : ρ = 2b sen θ , b > 0 .
Solução.
y
Sendo ρ = ± x2 + y 2 e sen θ = ± p ,
p
x2 + y 2
obtemos que
p 2by
± x2 + y 2 = ± p
x2 + y 2
⇐⇒ x2 + y 2 = 2by
⇐⇒ x2 + y 2 − 2by = 0
⇐⇒ x2 + (y − b)2 = b2
é a equação cartesiana da curva C , que re-
Figura 25: Curva C : ρ = 2b sen θ, b > 0.
presenta o círculo de raio b e centro (0, b).


(f) C : ρ2 − 4ρ cos θ + 2 = 0.

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360 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

Solução.
Substituindo as relações ρ2 = x2 + y 2 e x = ρ cos θ na equação dada, te-
mos
x2 + y 2 − 4x + 2 = 0 ⇐⇒ (x − 2)2 + y 2 = 2 ,

que é a equação cartesiana do círculo de centro (2, 0) e raio 2.

Figura 26: Círculo C e arcos C1 e C2

2
(g) C : ρ = .
3 − cos θ
Solução.
Observe que ρ > 0 para todo θ ∈ [0, 2π]. Substituindo ρ = x2 + y 2 e
p

x
cos θ = p na equação polar de C , obtemos que
x2 + y 2
p 2 p
x2 + y 2 = x ⇐⇒ 3 x2 + y 2 − x = 2
3− p
x + y2
2
p
⇐⇒ 3 x2 + y 2 = x + 2
⇐⇒ 9(x2 + y 2 ) = x2 + 4x + 4
⇐⇒ 8x2 − 4x + 9y 2 = 4
x
 
⇐⇒ 8 x2 − + 9y 2 = 4
2
1 2 1 9
 
⇐⇒ 8 x − + 9y 2 = 4 + 8 × =
4 16 2
1 2
 
x−
4 y2
⇐⇒ 9
+ 1
=1
16 2

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 361

1 
é a equação cartesiana de C . Portanto, C é uma elipse de centro C = ,0 ,
4
3 1 1
a = , b = √ , reta focal ` : y = 0, reta não focal `0 : x = , vértices
4 2 4
 1 
sobre a reta focal A1 = − , 0 e A2 = (1, 0), vértices sobre a reta não focal
2
   
1 1 1 1
B1 = , −√ e B2 = ,√ .
4 2 4 2

2
Figura 27: Curva C : ρ =
3 − cos θ


(h) C : ρ = 1 + sen 2θ .
Solução.
Pela relação trigonométrica
sen 2θ = 2 sen θ cos θ ,
obtemos que
ρ = 1 + 2 sen θ cos θ .
Além disso, como ρ ≥ 0 para todo θ ∈ R, temos que

2xy
(1)
p
x2 + y 2 = 1 + ⇐⇒ (x2 + y 2 )3/2 = x2 + y 2 + 2xy = (x + y)2
x2 + y 2

é a equação cartesiana da curva.

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362 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

Por (1), é fácil vericar que a curva C é


simétrica em relação à reta y = x (isto
é, (x, y) ∈ C ⇐⇒ (y, x) ∈ C ) e à reta
y = −x (isto é, (x, y) ∈ C ⇐⇒ (−y, −x) ∈ C )
Logo, basta analisar a curva ρ = 1+sen 2θ
h π πi
para θ no intervalo − , .
4 4
π
Temos: ρ = 0 para θ = − ; ρ = 1 para
4 Figura 28: Curva C no intervalo − π4 , π4
 

π
θ = 0; ρ = 2 para θ = e ρ > 0 para
4
 π πi
θ∈ − , .
4 4
h π πi
Na gura 28, mostramos o esboço da curva no intervalo − , .
4 4
Pelas simetrias da curva, é fácil ver que o esboço de C é o mostrado na gura
29.

Figura 29: Curva C : ρ = 1 + sen 2θ

(i) C : ρ = 1 + 2 cos θ .
Solução.
Neste exemplo, ρ pode assumir valores negativos e positivos.
±x
Logo, ρ = ± x2 + y 2 e cos θ = p . Substituindo ρ e θ na equação
p
x2 + y 2

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 363

dada, obtemos que


p 2x p
± x2 + y 2 = 1 ± p ⇐⇒ x2 + y 2 = ± x2 + y 2 + 2x
x2 + y 2
⇐⇒ (x2 + y 2 − 2x)2 = x2 + y 2
é a equação cartesiana da curva. É fácil vericar que esta curva é simétrica em
relação ao eixo−OX , mas não é simétrica em relação ao eixo−OY . Portanto,
para esboçá-la, basta variar o parâmetro θ no intervalo [0, π].
Para θ ∈ [0, π], temos:
1
• ρ = 1 + 2 cos θ = 0 se, e só se, cos θ = − , ou seja, ρ = 0 se, e só se,
2
π 2π
θ0 = π − = ;
3 3
1 2π
• ρ > 0 se, e só se, − < cos θ ≤ 1 , ou seja, se, e só se, 0 ≤ θ < ;
2 3
1 2π
• ρ < 0 se, e só se, −1 ≤ cos θ < − , ou seja, se, e só se, < θ ≤ π.
2 3
Tomando os pontos P1 = (3, 0), P2 = (2, π/3) , P3 = (1, π/2) , P4 = (0, 2π/3)
e P5 = (−1, π) em coordenadas polares da curva, podemos esboçar a parte
da curva correspondente ao intervalo [0, π] (ver Fig. 30).

Figura 30: Curva C descrita variando θ em [0, π]


Figura 31: Curva C
Sendo a curva simétrica em relação ao eixo−OX , obtemos o esboço completo
da curva C (ver Fig. 31). 

(j) C : ρ2 = cos θ .
Solução.
±x
Sendo ρ = ± x2 + y 2 e cos θ = p , obtemos a equação cartesiana
p
x2 + y 2
da curva:

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364 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

±x
x2 + y 2 = p ⇐⇒ (x2 + y 2 )3/2 = ±x ⇐⇒ (x2 + y 2 )3 = x2 .
x2 + y2
Como esta curva é simétrica em relação aos eixos OX e OY , basta analizá-la
no intervalo [0, π/2].
Temos que ρ = 0 se, e só se, cos θ = 0, ou seja, ρ = 0 se, e só se, θ = π/2
para θ ∈ [0, π/2].
Considerando os pontos P1 = (1, 0), P2 = 1/21/4 , π/4 e P3 = (0 , π/2)


da curva em coordenadas polares, podemos esboçar seu traço situado no


primeiro quadrante (ver Fig. 32).

Figura 32: Curva C no primeiro quadrante Figura 33: Curva C


Usando as simetrias em relação aos eixos OX e OY , podemos esboçar a curva
C (Fig. 33). 

(k) C : ρ = 2 sen2 θ .
2
Solução.
Usando a relação trigonométrica
θ
2 sen2 = 1 − cos θ ,
2
obtemos que C : ρ = 1 − cos θ .
x
Sendo ρ ≥ 0, temos que ρ = x2 + y 2 e cos θ = p . Logo,
p
x2 + y 2
p x p
x2 + y 2 = 1 − p ⇐⇒ x2 + y 2 = x2 + y 2 − x
x2 + y 2
p
⇐⇒ x2 + y 2 + x = x2 + y 2
é a equação cartesiana de C .
É fácil vericar que C é simétrica em relação ao eixo−OX , mas não é simétrica

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 365

em relação ao eixo−OY . Basta, então, analisar a curva no intercalo [0, π].


Como P1 = (0, 0), P2 = (1, π/2) e P3 = (2, π) são pontos da curva C no
intervalo [0, π], o esboço de C , nos primeiro e segundo quadrantes, é da forma:

Figura 34: Curva C no primeiro e segundo quadrantes


Usando a simetria de C em relação ao eixo−OX , podemos esboçá-la:

Figura 35: Curva C , a cardióide


Esta curva é chamada cadióide por se assemelhar a um coração. 

(l) C : ρ = cos 2θ .
Solução.
x2 − y 2
Como ρ = ± x2 + y 2 e cos 2θ = cos2 θ − sen2 θ = , obtemos que
p
x2 + y 2
p x2 − y 2
± x2 + y 2 = 2 2
⇐⇒ ±(x2 + y 2 )3/2 = x2 − y 2
x +y
⇐⇒ (x2 + y 2 )3 = (x2 − y 2 )2
é a equação cartesiana da curva, que é simétrica em relação aos eixos OX e
OY e às retas y = x e y = −x .
π
h i
Basta, então, analisar a curva no intervalo 0, . Temos que
4
h π
• ρ > 0 para θ ∈ 0, ;
4

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366 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

π π
• ρ = cos 2θ = cos = 0 para θ = ;
2 4
• ρ = cos 2θ = cos 0 = 1 para θ = 0.
Logo, a gura 36 é um esboço da curva para
θ variando no intervalo [0, π/4].
Usando as simetrias em relação aos eixos
OX e OY e em relação à reta y = x, ob-
temos o esboço completo da curva (gura Figura 36: Curva C com θ variando no
intervalo 0, π4


20).

Figura 37: Curva C




(m) C : ρ = sen 3θ .
Solução.
Sendo
sen 3θ = sen(θ + 2θ) = sen θ cos 2θ + cos θ sen 2θ
= sen θ(cos2 θ − sen2 θ) + 2 sen θ cos2 θ = 3 sen θ cos2 θ − sen3 θ
= sen θ(3 cos2 θ − sen2 θ),
obtemos que
 
p ±y 3x2 − y 2
± x2 + y 2 = p ⇐⇒ (x2 + y 2 )2 = y(3x2 − y 2 )
x2 + y2 x2 + y 2
é a equação cartesiana da curva.
Portanto, ela é simétrica em relação ao eixo−OY , mas não é simétrica em
relação ao eixo−OX .
Ao invés de usar as simetrias da curva, vamos analisá-la num ciclo completo,

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 367

isto é, variando θ no intervalo [0, 2π].


π 2π
• ρ = 0 ⇐⇒ sen 3θ = 0 ⇐⇒ 3θ = 0, π, 2π, 3π, 4π, 5π, 6π ⇐⇒ θ = 0, , , π,
3 3
4π 5π
, , 2π ;
3 3
π π π π 5π 9π
• ρ = 1 ⇐⇒ sen 3θ = 1 ⇐⇒ 3θ = , 2π + , 4π + ⇐⇒ θ = , , ;
2 2 2 6 6 6
3π 3π 3π π 7π 11π
• ρ = −1 ⇐⇒ sen 3θ = −1 ⇐⇒ 3θ = , 2π+ , 4π+ ⇐⇒ θ = , , ;
2 2 2 2 6 6
 π   2π   4π 5π 
• ρ > 0 em 0, ∪ ,π ∪ , ;
3 3 3 3
 π 2π   4π   5π 
• ρ < 0 em , ∪ π, ∪ , 2π .
3 3 3 3
Usando as informações acima, vemos que o traço da curva é o mostrado na
gura 38.

Figura 38: Curva C




Vamos agora apresentar alguns exemplos que nos mostram como po-
demos determinar regiões do plano usando coordenadas polares, nos quais
vamos considerar sempre ρ ≥ 0.

Exemplo 6
Faça o esboço da região R = R1 ∪ R2 do plano dada pelos seguintes sistemas

de desigualdades:

2 2
 
0 ≤ ρ ≤ 2 sen θ ≤ ρ ≤
R1 : cos θ e R2 : cos θ ,
− π ≤ θ ≤ 0 0 ≤ θ ≤ π
4 4

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368 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

onde (ρ, θ) são as coordenadas polares de um ponto da região R.

Solução.
Primeiro analisaremos as curvas que delimitam a região
2
(I) ρ = ⇐⇒ ρ cos θ = 2 ⇐⇒ x = 2, que é uma reta vertical.
cos θ
±2y
(II)
p
ρ = 2 sen θ ⇐⇒ ± x2 + y 2 = p ⇐⇒ x2 + y 2 = 2y ⇐⇒
2
x +y 2

x2 + (y − 1)2 = 1, que é o círculo de centro (0, 1) e raio 1.


π y
(III) θ = ⇐⇒ = tg θ = 1 ⇐⇒ y = x, que é a bissetriz dos primeiro e
4 x
terceiro quadrantes.
(IV) θ = − π ⇐⇒ y
= tg θ = −1 ⇐⇒ y = −x, que é a bissetriz dos segundo
4 x
e quarto quadrantes.
Então,

Figura 39: R é a região sombreada


é o esboço da região no sistema de eixos OXY , e


 x2 + y 2 − 2y ≥ 0
x≤2

R:

 x−y ≥0
 x+y ≥0

é a região dada em coordenadas cartesianas.

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 369

Como a interseção do círculo x2 + y 2 = 2y com a reta y = x são os pontos



(0, 0) e (1, 1), e na equação x2 +y 2 = 2y temos y = 1− 1 − x2 para y ∈ [0, 1]
e x ∈ [0, 1], a região R pode ser descrita também na forma S1 ∪ S2 , onde:
−x ≤ y ≤ 1 − √1 − x2
 
−x ≤ y ≤ x
S1 : e S2 :
0 ≤ x ≤ 1 1 ≤ x ≤ 2 .

Exemplo 7
Descreva as regiões esboçadas abaixo por meio de um sistema de desigual-

dades da forma
(
ρ1 (θ) ≤ ρ ≤ ρ2 (θ)
.
θ1 ≤ θ ≤ θ2

(a)

Figura 40: Região R

Solução.
Primeiro vamos determinar as equações polares das curvas C1 : (x−2)2 +y 2 = 4 ,
C2 : y = 1 , C3 : x − y = 0 e C4 : y = 0 que delimitam a região R.
(I) (x−2)2 +y2 = 4 ⇐⇒ x2 −4x+4+y2 = 4 ⇐⇒ x2 +y2 = 4x ⇐⇒ ρ2 = 4ρ cos θ
⇐⇒ ρ = 4 cos θ .
1
(II) y = 1 ⇐⇒ ρ sen θ = 1 ⇐⇒ ρ = .
sen θ

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370 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

(III) x − y = 0 ⇐⇒ x = y ⇐⇒ tg θ = 1 ⇐⇒ θ = π .
4
(IV) y = 0 ⇐⇒ ρ sen θ = 0 ⇐⇒ sen θ = 0 ⇐⇒ θ = 0 .
Por um cálculo simples, obtemos que
√ √ √
C2 ∩ C3 = {(1, 1)}; C1 ∩ C2 = {(2 − 3, 1), (2 + 3, 1)}; y = ± 4x − x2 ou
x = 2 ± 4 − y 2 para (x, y) ∈ C1 .
p

Logo,
 
0 ≤ ρ ≤ 4 cos θ S 0 ≤ ρ ≤ 1/sen θ
R:
0 ≤ θ ≤ θ0 θ0 ≤ θ ≤ π/4

1 √
é a região dada em coordenadas polares, onde tg θ0 = √ = 2 − 3,
2+ 3
 π
θ0 ∈ 0, . Além disso,
2
0 ≤ y ≤ √4x − x2
  
0 ≤ y ≤ x S 0 ≤ y ≤ 1 S
R: √ √
0 ≤ x ≤ 1 1 ≤ x ≤ 2 + 3 2 + 3 ≤ x ≤ 4

ou, simplesmente,  p
y ≤ x ≤ 2 + 4 − y 2
R:
0 ≤ y ≤ 1

é a região dada em coordenadas cartesianas. 

(b)

Figura 41: Região R

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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 371

Solução.
As curvas que delimitam a região são C1 : x2 + y 2 = 2 e C2 : y = x2 , que em

coordenadas polares são dadas por: C1 : ρ = 2 e C2 : ρ sen θ = ρ2 cos2 θ, ou
seja, C2 : ρ = tg θ sec θ.
Como C1 ∩C2 = {(1, 1), (−1, 1)}, temos que o ângulo polar θ varia no intervalo
π π
h i h 5π π i
−π − , = − , .
4 4 4 4
Logo,
√ √
0 ≤ ρ ≤ √2
  
tg θ sec θ ≤ ρ ≤ 2 S S tg θ sec θ ≤ ρ ≤ 2
R:
− 5π ≤ θ ≤ −π −π ≤ θ ≤ 0 0 ≤ θ ≤ π
4 4
é a região dada em coordenadas polares. Além disso,
 √
− 2 − x 2 ≤ y ≤ x 2
−1 ≤ x ≤ 1
S
 √
− 2 − x 2 ≤ y ≤ √ 2 − x 2
R: √
− 2 ≤ x ≤ −1
S
 √
− 2 − x 2 ≤ y ≤ √ 2 − x 2

1 ≤ x ≤ 2

é a região dada em coordenadas cartesianas. 

Exemplo 8

Descreva a região R do plano interior a ambas as curvas: C1 : ρ = 4 3 cos θ
e C2 : ρ = 4 sen θ.

Solução.
As curvas em coordenadas cartesianas são dadas por:
√ √ √
 
p ±x
• C1 : ρ = 4 3 cos θ ⇐⇒ ± x2 + y 2 = 4 3 p ⇐⇒ x2 +y 2 = 4 3 x
x2 + y 2
√ √ √
⇐⇒ (x − 2 3)2 + y 2 = 12 , que é o círculo de centro (2 3, 0) e raio 2 3.

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372 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

 
p ±y
2 2
• C2 : ρ = 4 sen θ ⇐⇒ ± x + y = 4 p ⇐⇒ x2 + y 2 = 4y
x2 + y2
⇐⇒ x + (y − 2) = 4 , que é o círculo de centro (0, 2) e raio 2.
2 2

Assim,

Figura 42: Região R


é um esboço da região no sistema de coordenadas OXY .
Temos que

(x, y) ∈ C1 ∩ C2 ⇐⇒ x2 + y 2 = 4 3 x e x2 + y 2 = 4y

⇐⇒ y = 3x e x2 + y 2 = 4y
√ √
⇐⇒ y = 3x e x2 + 3x2 = 4 3x
√ √
⇐⇒ y = 3x e 4x2 = 4 3 x

⇐⇒ x = 0 e y = 0 ou x = 3 e y = 3 .
n √ o
Ou seja, C1 ∩ C2 = (0, 0), 3, 3 .
√ 
Como o ângulo θ0 que o segmento OP0 , P0 = 3, 3 , faz com o eixo−OX
π y √
é , pois tg θ0 = = 3, temos que a região em coordenadas polares é
3 x
R = R1 ∪ R2 , onde:
  √
0 ≤ ρ ≤ 4 sen θ 0 ≤ ρ ≤ 4 3 cos θ
R1 : e R2 : π
0 ≤ θ ≤ π  ≤θ≤ π,
3 3 2
e, em coordenadas cartesianas,
( √ p p
2 3 − 12 − y 2 ≤ x ≤ 4 − (y − 2)2
R:
0 ≤ y ≤ 3.


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CAPÍTULO 19. COORDENADAS POLARES 373

Exemplo 9
Considere a região R do plano dada pelo sistema de inequações:
 2 √
 x ≤ y ≤ 1 16 − x2
R: 12 2
 0 ≤ x ≤ 2√3 .

(a) Faça um esboço detalhado da região R.


(b) Descreva a região por meio de um sistema de inequações da forma
(
ρ1 (θ) ≤ ρ ≤ ρ2 (θ)
R:
θ1 ≤ θ ≤ θ2 ,

onde (ρ, θ) são as coordenadas polares de um ponto do plano.

Solução.
(a) As curvas que delimitam a região R são:

• as retas verticais x = 0 e x = 2 3;
• a parábola C1 : x2 = 12y de vértice na origem e reta focal igual ao eixo−OY ,
voltada para cima;
• a parte C2 situada no semiplano y ≥ 0 da elipse:
√ x2 y2
C2 : 2y = 16 − x2 =⇒ 4y 2 = 16 − x2 =⇒ x2 + 4y 2 = 16 =⇒ + = 1,
16 4
de centro C = (0, 0), vértices (4, 0), (−4, 0), (0, 2) e (0, −2) e reta focal igual
ao eixo−OX .
 √ 
Observe que 2 3, 1 ∈ C1 ∩ C2 . Portanto, o esboço da região R é:

Figura 43: Região R


(b) As curvas C1 e C2 em coordenadas polares são dadas por

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374 1.. RELAÇÕES ENTRE COORDENADAS POLARES E COORDENADAS CARTESIANAS.

sen θ
• 12y = x2 ⇐⇒ 12ρ sen θ = ρ2 cos2 θ ⇐⇒ ρ = 12 = 12 tg θ sec θ ;
cos2 θ
• x2 +4y 2 = 16 ⇐⇒ ρ2 (cos2 θ+4 sen2 θ) = 16 ⇐⇒ ρ2 (1−sen2 θ+4 sen2 θ) = 16
4
⇐⇒ ρ = p
1 + 3 sen2 θ

π 1 3
 
Seja θ0 ∈ 0, tal que tg θ0 = √ = .
2 2 3 6
Então, R = R1 ∪ R2 , onde:
 
4
 0≤ρ≤ p

 0 ≤ ρ ≤ 12 tg θ sec θ
 
R1 : e R2 : 1 + 3 sen2 θ
 0 ≤ θ ≤ θ0  θ0 ≤ θ ≤ π .
 

2


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