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CÁLCULO

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R721c Rogawski, Jon.


Cálculo [recurso eletrônico] / Jon Rogawski ; tradução Claus
Ivo Doering. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2009.

Editado também como livro impresso em 2009.


ISBN 978-85-7780-411-5

1. Cálculo. 2. Matemática. I. Título.


CDU 517
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Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/Prov-021/08
CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 743

Compreensão adicional e desafios


26. Prove que o comprimento de uma curva calculado se- 29. A curva é denominada tractriz.
gundo a integral do comprimento de arco não depende de sua
(a) Mostre que a função comprimento de arco
parametrização. Mais precisamente, seja a curva traçada por
é igual a s(t) = ln(cosh t).
r(t) ao longo de . Seja uma função derivável tal
que e e . Então (b) Mostre que é uma inversa de s(t)
parametriza ao longo de . Verifique que e verifique que

é uma parametrização da tractriz pelo comprimento de arco.


27. Mostre que o caminho parametri- (c) Use um sistema algébrico computacional para esboçar a tractriz.

za o círculo unitário exceto pelo ponto (0, −1) ao longo de


y
. Use essa parametrização para calcular o com-
primento do círculo unitário como uma integral imprópria. Su- P
Barbante
gestão: simplifique a expressão para .
(comprimento Rt)
28. A involuta de um círculo é a curva traçada por um ponto na (R cos t, R sen t)
ponta de um barbante desenrolando de um carretel circular de t
R
raio R. Parametrize a involuta encontrando o vetor posição r(t)
do ponto P na Figura 7 como uma função de t. Determine a fun-
ção comprimento de arco e a parametrização de comprimento
de arco da involuta. FIGURA 7 A involuta de um círculo.

14.4 Curvatura
Nesta seção, aplicamos as ferramentas vetoriais desenvolvidas para estudar a curvatura
que, como sugere o nome, é uma medida de quanto se entorta uma curva. A curvatura
é utilizada para estudar propriedades geométricas de curvas e movimento ao longo de
curvas. Tem aplicações em áreas diversas, tais como projetos de rodovias e de monta-
nhas russas (Figura 1), desenho por meio de computadores, óptica e até cirurgia ocular
(Exercício 58). Os bioquímicos descobriram que a curvatura de trechos de DNA de-
sempenha um papel nos processos biológicos de uma maneira que ainda não é total-
mente compreendida (Figura 2).
FIGURA 1 A curvatura é um
ingrediente essencial no projeto de No Capítulo 4, usamos a derivada segunda para medir o “entortamento”, ou a
uma montanha russa. concavidade de um gráfico y = f (x). Poderia parecer natural, portanto, tomar como
nossa definição de curvatura. Contudo, existem duas razões pelas quais isso não funciona.
Em primeiro lugar, só faz sentido para um gráfico no plano e nosso objetivo é defi-
nir curvatura de curvas no espaço tridimensional. Em segundo lugar, um problema mais
sério é que realmente não captura a curvatura de uma curva, como pode ser visto
considerando o círculo unitário. O círculo é simétrico, portanto a curvatura deveria ser a
mesma em cada ponto (Figura 3). No entanto, note que o semicírculo superior é o gráfico
de . A derivada segunda não tem o mesmo
valor em cada ponto e, assim, não é uma boa medida da curvatura.
Para alcançar a definição correta de curvatura, consideremos um caminho vetorial
. Dizemos que a parametrização é regular se para cada t
FIGURA 2 Os bioquímicos estudam o do domínio de r(t). Supomos que r(t) seja regular e definimos o vetor tangente unitário
efeito da curvatura de seqüências de T(t) na direção por:
DNA sobre os processos biológicos.
744 CÁLCULO

y Agora imagine que caminhemos ao longo de um caminho observando a variação da di-


Semicírculo f ″(0) = −1
reção do vetor tangente unitário T(t) (Figura 4). Uma variação em T(t) indica que o caminho
y = f(x) f ″(0,7) ≈ −2,75 está se curvando e, quanto mais rápido variar T(t), mais curvo será o caminho. Assim, pode
parecer razoável definir curvatura como a magnitude da derivada de T(t). Isso está
x quase correto, mas também depende de quão rápido se caminha. Para eliminar o efei-
to da velocidade com que se caminha e capturar a taxa de “curvamento” intrínseco da própria
curva, definimos a curvatura como a magnitude de uma parametrização pelo
comprimento de arco (ou seja, supomos que se caminhe com velocidade unitária). Lembre
que r(t) é uma parametrização pelo comprimento de arco se e .
FIGURA 3 A derivada segunda de
não captura a
curvatura do círculo que, por simetria, DEFINIÇÃO Curvatura Sejam r(s) uma parametrização pelo comprimento de arco e T
deveria ser a mesma em todos os o vetor tangente unitário. A curvatura em r(s) é a quantidade
pontos.

Calculemos a curvatura nos dois casos básicos, da reta e do círculo.

■ EXEMPLO 1 Uma reta tem curvatura nula Seja a reta , onde


A curvatura é grande
onde o vetor tangente . Calcule o vetor tangente unitário e a curvatura em cada ponto.
unitário troca rapidamente
de direção
Solução Em primeiro lugar, observe que r(s) é uma parametrização pelo comprimento de
arco porque e . Numa parametrização pelo comprimento de
arco, . Portanto, T(s) = u é constante e a curvatura é nula em cada ponto:


FIGURA 4 Os vetores tangentes
unitários variam de direção mas não de
comprimento. ■ EXEMPLO 2 A curvatura de um círculo de raio é Calcule a curvatura de um círculo
de raio R.
y Solução Suponha que o círculo esteja centrado na origem e considere a parametrização
T = 〈 −sen , cos 〉 (Figura 5). O vetor tangente tem
comprimento R, portanto não é uma parametrização pelo comprimento de arco, a
r( ) = R〈cos , sen 〉 menos que R = 1. Na Seção 14.3 vimos que, para encontrar uma parametrização pelo
x comprimento de arco, calculamos a função comprimento de arco:
R

FIGURA 5 O vetor tangente unitário e tomamos a inversa de , que é . A parametrização pelo comprimen-
num ponto do círculo de raio R. to de arco é

Como um círculo de raio R tem


curvatura 1/R, um círculo grande e temos
tem curvatura pequena. Isso faz
sentido se considerarmos um arco de
comprimento fixado 1 num círculo de
raio R. Quando R cresce, esse arco fica
cada vez mais reto.
CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 745

Isso mostra que a curvatura é 1/R em cada ponto do círculo. ■

Muitas vezes, a Fórmula (1) para a curvatura é difícil de usar porque requer uma
parametrização pelo comprimento de arco. Felizmente, existem fórmulas para a curvatu-
ra em termos de qualquer parametrização regular r(t). Seja a
função comprimento de arco (com qualquer limite inferior a) e seja a inversa
de s(t). Como vimos na Seção 14.3, é uma parametrização pelo comprimento
LEMBRETE T(t) é o vetor tangente de arco. Observe que é o vetor tangente unitário ao longo de e, assim,
unitário
. Pela regra da cadeia,

Isso dá a fórmula

O teorema seguinte fornece uma outra fórmula útil para a curvatura, diretamente em ter-
mos do caminho r(t).

TEOREMA 1 Fórmula da curvatura Se r(t) é uma parametrização regular, então a curva-


Para aplicar a Equação (3) a curvas
tura em r(t) é
planas, trocamos por
e calculamos o
produto vetorial.

Demonstração Os vetores T(t) e são ortogonais. De fato, T(t) é um vetor unitário e,


como vimos no Exemplo 6 da Seção 14.2, qualquer função vetorial de comprimento cons-
tante é ortogonal à sua derivada (ver nota marginal). Denotemos . Então
LEMBRETE Para provar que T(t) pela Equação (2) e, portanto,
e são ortogonais, derivamos a
equação :

O próximo passo é expressar esse produto vetorial em termos de r(t) e . Por definição,
e, pela regra do produto:
Assim, . Na Equação
(4), usamos a fórmula

para concluir que se Usando , obtemos


v e w forem ortogonais.

Para terminar a prova, calculamos o comprimento e aplicamos a Equação (4):

Resulta , como queríamos provar. ■


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y ■ EXEMPLO 3 Cúbica torcida Calcule a curvatura da cúbica torcida


2 . Em seguida, esboce o gráfico de e determine onde a curvatura é a
y = (t) maior.

1 Solução Usamos a Equação (3):

t
−2 −1 1 2

FIGURA 6 O gráfico da curvatura


da cúbica torcida .

z O gráfico de na Figura 6 mostra que a curvatura é maior em t = 0. A curva r(t)


t=1
está ilustrada na Figura 7. O gráfico está dado segundo a curvatura, com curvatura
grande representada pela tonalidade vermelha e curvatura pequena pela tonalidade
vermelho-clara. ■
y

No segundo parágrafo desta seção, indicamos que a curvatura de um gráfico y = f (x)


Curvatura x t = −1
máxima deve envolver mais do que apenas a derivada segunda . Agora mostramos que a curva-
em t = 0 tura pode ser expressa em termos de ambas e .
FIGURA 7 O gráfico da cúbica torcida
com indicação da
TEOREMA 2 Curvatura de um gráfico no plano A curvatura no ponto (x, f (x)) do gráfico
curvatura.
de y = f (x) é igual a

Demonstração A curva y = f (x) é parametrizada por . Portanto,


e . Para calcular o produto vetorial, tratamos e
como vetores de com componente z igual a 0:

Como , a Equação (3) dá

■ EXEMPLO 4 Calcule a curvatura de em x = 0, 1, 2 e 3.

Solução Aplicamos a Equação (5):


CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 747

y Obtemos os valores seguintes:


f(x) = x 3 − 3x 2 + 4
6
Curvatura
4 κ(x)

1
x A Figura 8 mostra que o gráfico curva mais onde a curvatura é maior. ■
−1 1 2 3
−1

Vetor normal unitário


FIGURA 8 O gráfico de
e da curvatura O vetor tangente unitário T(t) é ortogonal à sua derivada , como observamos na prova
. do Teorema 1. Supondo que seja não-nulo, o vetor unitário na direção de é de-
nominado vetor normal unitário e é denotado por N(t) ou, simplesmente, N:

N Intuitivamente, o vetor normal unitário N indica a direção para a qual a curva está se
virando (Figura 10). Isso é particularmente claro para uma curva planar. Nesse caso, exis-
FIGURA 9 Para uma curva plana, o
tem dois vetores unitários ortogonais a T (Figura 9) e, desses dois, N é o vetor que aponta
normal unitário aponta para o lado de para o lado “de dentro” da curva.
dentro da curva.
■ EXEMPLO 5 Normal unitário de uma hélice Encontre o vetor normal unitário da hélice
em .
z
Solução O vetor tangente tem comprimento , portanto

N
T

x
c (4) y

FIGURA 10 Os vetores unitários


tangente e normal em na hélice
do Exemplo 5. Desse modo, (Figura 10). ■

Concluímos esta seção mencionando uma interpretação geométrica importante da


y curvatura, em termos do “círculo de melhor ajuste”. Seja P um ponto de uma curva plana
Círculo com parametrização r(t) e seja a curvatura em P. Se , então existe um único
osculador circulo que passa por P, denominado círculo osculador e denotado por , tal que
(i) e têm a mesma reta tangente e vetor normal unitário em P.
(ii) Ambos e têm curvatura em P.

x
Como a curvatura de um círculo é o recíproco de seu raio (pelo Exemplo 2), o círculo
P osculador tem raio . Dizemos que é o raio de curvatura em P.
FIGURA 11 Dentre todos os círculos O centro de é denominado centro de curvatura em P. Dentre todos os círculos
tangentes a em P, o osculador tem o tangentes a em P, é o círculo que “melhor se ajusta” à curva (Figura 11; ver,
melhor ajuste à curva. também, Exercício 70).
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y Seja Q o centro de . Podemos determinar Q observando que esse ponto está a


uma distância de P na direção normal N (Figura 12). Portanto, se P é o ponto
final de r(t) em , então
Q
RN
P
r(t0) T
x ■ EXEMPLO 6 Parametrize o círculo osculador da parábola em .
O
FIGURA 12 O centro Q do círculo Solução Seja . Usamos a parametrização
osculador em P fica a uma distância
de P na direção normal.

e procedemos segundo os passos seguintes.


Passo 1. Encontrar e N.
Aplicamos a Equação (5) a e calculamos a curvatura:

y Existe uma maneira fácil de encontrar N para uma curva plana que nos poupa o traba-
lho de calcular . O vetor tangente é e simplesmente observamos que
é ortogonal a (pois seu produto escalar é nulo). Portanto, N(x) é
(
Q= − ,
1 5
2 4 ) y = x2 o vetor unitário em um dos dois sentidos . A Figura 13 mostra que o vetor nor-
mal unitário aponta no sentido y positivo (a direção da curvatura), de modo que podemos
concluir que
N
P= (,)
1 1
2 4
x

FIGURA 13 O círculo osculador a


em x = 1/2 tem centro Q e raio
. Passo 2. Encontrar o centro do círculo osculador.
Para encontrar o centro Q do círculo osculador em , usamos a Equação
(7). O vetor posição de Q é

Passo 3. Parametrizar o círculo osculador.


O círculo osculador tem raio e parametrização

Para definir o círculo osculador de uma curva espacial , devemos especificar, inicial-
mente, o plano em que fica esse círculo. O plano osculador num ponto P de é o plano
por P determinado pelos vetores unitários tangente T e normal N (estamos supondo que
, de modo que N está definido em P). Intuitivamente, o plano osculador é o plano
Se uma curva fica num plano, que “melhor quase” contém a curva perto de P. O círculo osculador, então, é definido
então esse plano é o plano osculador. como o círculo de raio por P no plano osculador tendo T e N como vetores
Para uma curva qualquer no espaço
tridimensional, o plano osculador varia tangente e normal. A Equação (7) permanece válida para curvas espaciais. A Figura 14
de ponto a ponto. mostra o círculo osculador em dois pontos da curva . O plano
osculador em cada um desses pontos é o plano que contém o círculo.
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z z

N
y y

x x

FIGURA 14 Círculos osculadores de (A) O círculo osculador em (B) O círculo osculador em


. a curvatura é a curvatura é

14.4 RESUMO
• Uma parametrização r(t) é dita regular se para todo t. Se r(t) é regular, defini-

mos o vetor tangente unitário .

• A curvatura é definida por , onde r(s) é uma parametrização pelo compri-

mento de arco. Na prática, calculamos as curvaturas usando as fórmulas seguintes, que


são válidas para parametrizações regulares arbitrárias:

• A curvatura num ponto de um gráfico y = f (x) no plano é

• Se , definimos o vetor normal unitário .

• O plano osculador num ponto P de uma curva é o plano por P determinado pelos ve-
tores Te N. Só é definido se a curvatura em P não for nula.
• O círculo osculador em P é o círculo de raio no plano osculador que
tem T e N como vetores unitários tangente e normal. O centro de é denominado
centro de curvatura e R é denominado raio de curvatura.
• Se , o centro Q de satisfaz .

14.4 EXERCÍCIOS
Exercícios preliminares
1. Qual é o vetor tangente unitário de uma reta de vetor diretor 3. Qual tem uma curvatura maior, um círculo de raio 2 ou um círcu-
? lo de raio 4?

2. Qual é a curvatura de um círculo de raio 4? 4. Qual é a curvatura de ?


Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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