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14.4 Curvatura
Nesta seção, aplicamos as ferramentas vetoriais desenvolvidas para estudar a curvatura
que, como sugere o nome, é uma medida de quanto se entorta uma curva. A curvatura
é utilizada para estudar propriedades geométricas de curvas e movimento ao longo de
curvas. Tem aplicações em áreas diversas, tais como projetos de rodovias e de monta-
nhas russas (Figura 1), desenho por meio de computadores, óptica e até cirurgia ocular
(Exercício 58). Os bioquímicos descobriram que a curvatura de trechos de DNA de-
sempenha um papel nos processos biológicos de uma maneira que ainda não é total-
mente compreendida (Figura 2).
FIGURA 1 A curvatura é um
ingrediente essencial no projeto de No Capítulo 4, usamos a derivada segunda para medir o “entortamento”, ou a
uma montanha russa. concavidade de um gráfico y = f (x). Poderia parecer natural, portanto, tomar como
nossa definição de curvatura. Contudo, existem duas razões pelas quais isso não funciona.
Em primeiro lugar, só faz sentido para um gráfico no plano e nosso objetivo é defi-
nir curvatura de curvas no espaço tridimensional. Em segundo lugar, um problema mais
sério é que realmente não captura a curvatura de uma curva, como pode ser visto
considerando o círculo unitário. O círculo é simétrico, portanto a curvatura deveria ser a
mesma em cada ponto (Figura 3). No entanto, note que o semicírculo superior é o gráfico
de . A derivada segunda não tem o mesmo
valor em cada ponto e, assim, não é uma boa medida da curvatura.
Para alcançar a definição correta de curvatura, consideremos um caminho vetorial
. Dizemos que a parametrização é regular se para cada t
FIGURA 2 Os bioquímicos estudam o do domínio de r(t). Supomos que r(t) seja regular e definimos o vetor tangente unitário
efeito da curvatura de seqüências de T(t) na direção por:
DNA sobre os processos biológicos.
744 CÁLCULO
■
FIGURA 4 Os vetores tangentes
unitários variam de direção mas não de
comprimento. ■ EXEMPLO 2 A curvatura de um círculo de raio é Calcule a curvatura de um círculo
de raio R.
y Solução Suponha que o círculo esteja centrado na origem e considere a parametrização
T = 〈 −sen , cos 〉 (Figura 5). O vetor tangente tem
comprimento R, portanto não é uma parametrização pelo comprimento de arco, a
r( ) = R〈cos , sen 〉 menos que R = 1. Na Seção 14.3 vimos que, para encontrar uma parametrização pelo
x comprimento de arco, calculamos a função comprimento de arco:
R
FIGURA 5 O vetor tangente unitário e tomamos a inversa de , que é . A parametrização pelo comprimen-
num ponto do círculo de raio R. to de arco é
Muitas vezes, a Fórmula (1) para a curvatura é difícil de usar porque requer uma
parametrização pelo comprimento de arco. Felizmente, existem fórmulas para a curvatu-
ra em termos de qualquer parametrização regular r(t). Seja a
função comprimento de arco (com qualquer limite inferior a) e seja a inversa
de s(t). Como vimos na Seção 14.3, é uma parametrização pelo comprimento
LEMBRETE T(t) é o vetor tangente de arco. Observe que é o vetor tangente unitário ao longo de e, assim,
unitário
. Pela regra da cadeia,
Isso dá a fórmula
O teorema seguinte fornece uma outra fórmula útil para a curvatura, diretamente em ter-
mos do caminho r(t).
O próximo passo é expressar esse produto vetorial em termos de r(t) e . Por definição,
e, pela regra do produto:
Assim, . Na Equação
(4), usamos a fórmula
t
−2 −1 1 2
1
x A Figura 8 mostra que o gráfico curva mais onde a curvatura é maior. ■
−1 1 2 3
−1
N Intuitivamente, o vetor normal unitário N indica a direção para a qual a curva está se
virando (Figura 10). Isso é particularmente claro para uma curva planar. Nesse caso, exis-
FIGURA 9 Para uma curva plana, o
tem dois vetores unitários ortogonais a T (Figura 9) e, desses dois, N é o vetor que aponta
normal unitário aponta para o lado de para o lado “de dentro” da curva.
dentro da curva.
■ EXEMPLO 5 Normal unitário de uma hélice Encontre o vetor normal unitário da hélice
em .
z
Solução O vetor tangente tem comprimento , portanto
N
T
x
c (4) y
x
Como a curvatura de um círculo é o recíproco de seu raio (pelo Exemplo 2), o círculo
P osculador tem raio . Dizemos que é o raio de curvatura em P.
FIGURA 11 Dentre todos os círculos O centro de é denominado centro de curvatura em P. Dentre todos os círculos
tangentes a em P, o osculador tem o tangentes a em P, é o círculo que “melhor se ajusta” à curva (Figura 11; ver,
melhor ajuste à curva. também, Exercício 70).
748 CÁLCULO
y Existe uma maneira fácil de encontrar N para uma curva plana que nos poupa o traba-
lho de calcular . O vetor tangente é e simplesmente observamos que
é ortogonal a (pois seu produto escalar é nulo). Portanto, N(x) é
(
Q= − ,
1 5
2 4 ) y = x2 o vetor unitário em um dos dois sentidos . A Figura 13 mostra que o vetor nor-
mal unitário aponta no sentido y positivo (a direção da curvatura), de modo que podemos
concluir que
N
P= (,)
1 1
2 4
x
Para definir o círculo osculador de uma curva espacial , devemos especificar, inicial-
mente, o plano em que fica esse círculo. O plano osculador num ponto P de é o plano
por P determinado pelos vetores unitários tangente T e normal N (estamos supondo que
, de modo que N está definido em P). Intuitivamente, o plano osculador é o plano
Se uma curva fica num plano, que “melhor quase” contém a curva perto de P. O círculo osculador, então, é definido
então esse plano é o plano osculador. como o círculo de raio por P no plano osculador tendo T e N como vetores
Para uma curva qualquer no espaço
tridimensional, o plano osculador varia tangente e normal. A Equação (7) permanece válida para curvas espaciais. A Figura 14
de ponto a ponto. mostra o círculo osculador em dois pontos da curva . O plano
osculador em cada um desses pontos é o plano que contém o círculo.
CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 749
z z
N
y y
x x
14.4 RESUMO
• Uma parametrização r(t) é dita regular se para todo t. Se r(t) é regular, defini-
• O plano osculador num ponto P de uma curva é o plano por P determinado pelos ve-
tores Te N. Só é definido se a curvatura em P não for nula.
• O círculo osculador em P é o círculo de raio no plano osculador que
tem T e N como vetores unitários tangente e normal. O centro de é denominado
centro de curvatura e R é denominado raio de curvatura.
• Se , o centro Q de satisfaz .
14.4 EXERCÍCIOS
Exercícios preliminares
1. Qual é o vetor tangente unitário de uma reta de vetor diretor 3. Qual tem uma curvatura maior, um círculo de raio 2 ou um círcu-
? lo de raio 4?