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CÁLCULO

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R721c Rogawski, Jon.


Cálculo [recurso eletrônico] / Jon Rogawski ; tradução Claus
Ivo Doering. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2009.

Editado também como livro impresso em 2009.


ISBN 978-85-7780-411-5

1. Cálculo. 2. Matemática. I. Título.


CDU 517
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Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/Prov-021/08
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14.3 Comprimento de arco e velocidade


Na Seção 12.2, deduzimos uma fórmula para o comprimento de arco de uma curva plana.
Aquela discussão pode ser aplicada, com poucas alterações, a caminhos no espaço tridi-
LEMBRETE O comprimento de
um caminho ou curva é denominado mensional. Lembre que o comprimento de arco é definido como o limite de aproximações
comprimento de arco. poligonais. Uma aproximação poligonal a um caminho

é obtida escolhendo uma partição e ligando com seg-


mentos de reta os pontos finais dos vetores , como na Figura 1. Argumentando como
r(t3) r(b) na Seção 12.2, verificamos que, se existir e for contínua em [a, b], então os compri-
r(a)
mentos das aproximações poligonais tendem a um limite L quando o máximo das larguras
r(t2) tende a zero. O limite é o comprimento de arco e é dado pela fórmula
r(t1)

FIGURA 1 Aproximação poligonal do


arco r(t) ao longo de .

Comprimento de arco de um caminho Suponha que r(t) seja derivável e que seja
A quantidade na Equação (2) é a contínua em [a, b]. Então o comprimento L do caminho r(t) ao longo de é
distância percorrida por uma partícula igual a
que segue a trajetória . Contudo,
pode percorrer toda a curva, ou parte
dela, mais de uma vez e pode trocar seu
sentido de percurso. Assim, é igual
ao comprimento da curva subjacente
somente se, com , a curva for
percorrida uma única vez sem haver
troca no sentido de percurso.
■ EXEMPLO 1 Encontre o comprimento de arco L de ao longo
de .

Solução A derivada é e

Portanto, . ■

Como observamos na seção precedente, nos referimos à derivada tanto como o


vetor tangente ou o vetor velocidade da trajetória r(t). O termo “vetor tangente” parece ser
justificado porque é, de fato, tangente ao caminho, quando não é nulo. Para justificar
o termo “vetor velocidade”, suponha que t seja um parâmetro temporal e relacionemos
com a velocidade da trajetória. Por definição, a velocidade v(t) de uma trajetória é a
taxa de variação da distância percorrida em relação ao tempo t. Para calcular a velocidade,
z definimos a função comprimento de arco:
r′(t0)

r′(t1)
r(t0)
r(t1)
Então s(t) é a distância percorrida durante o intervalo de tempo [a, t] e a derivada
é a velocidade. Pelo Teorema Fundamental do Cálculo,

x y

FIGURA 2 A partícula está mais


rápida em do que em pois o vetor Assim, a velocidade é o comprimento do vetor velocidade (Figura 2). Resumindo, temos
velocidade é mais comprido em . a interpretação seguinte do vetor velocidade:
CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 739

• aponta na direção e sentido instantâneos da partícula (quando não for nulo)


• é a velocidade no instante t.

■ EXEMPLO 2 Encontre a velocidade de uma partícula no instante t = 2 se o vetor posi-


ção da partícula é (em unidades de metros).

Solução O vetor velocidade é e, em t = 2,

A velocidade da partícula é 14,65 m/s. ■

Parametrização pelo comprimento de arco


Lembre que uma parametrização Vimos que uma parametrização não é única. Por exemplo, ambas e
r(t) faz mais do que simplesmente parametrizam a parábola . Observe que pode ser obtida subs-
descrever a curva. Ela também nos
diz como a partícula percorre a tituindo em .
curva, possivelmente aumentando ou Em geral, obtemos novas parametrizações fazendo uma substituição , ou
diminuindo sua velocidade, ou então, seja, substituímos r(t) por . Se r(t) e forem deriváveis, então
invertendo seu sentido de percurso.
também é derivável. Além disso, se cresce de a a b quando s varia de c a d, en-
Mudar a parametrização significa
descrever uma maneira diferente de tão o caminho r(t) ao longo de também é parametrizado por ao longo de
percorrer a mesma curva subjacente. .

■ EXEMPLO 3 Parametrize o caminho ao longo de em


termos do parâmetro s, onde .

Solução Substituindo em r(t), obtemos a parametrização

Além disso, s = ln t, portanto t varia de 3 a 9 quando s varia de ln 3 a ln 9. Desse modo, o


caminho é parametrizado por ao longo de . ■

Q Q

P P
O O

(A) Uma parametrização pelo comprimento (B) Não é uma parametrização pelo
de arco (todos vetores tangentes têm comprimento de arco (os vetores
comprimento 1) tangentes variam de comprimento)
FIGURA 3

Um tipo especial de parametrização, denominada parametrização pelo compri-


mento de arco, desempenha um papel importante no estudo de curvas. Essa para-
metrização é definida pela condição para todo t [Figura 3(A)]. Uma pa-
rametrização pelo comprimento de arco também é denominada parametrização de
velocidade unitária, porque a velocidade é igual a 1 para todo t. Falando infor-
malmente, a parametrização pelo comprimento de arco corresponde a caminhar pela
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s=1 curva a “1 m/s” e a distância percorrida em qualquer intervalo de tempo é igual ao


comprimento do intervalo (Figura 4):
s=0 s=2 s=4
s=3

FIGURA 4 Numa parametrização pelo


comprimento de arco, no instante s a
partícula está localizada a s unidades
depois de r(0).
Como podemos obter uma parametrização pelo comprimento de arco? Seja r(t) uma
parametrização qualquer e considere a função comprimento de arco:

Então e, se exigirmos que para todo t, então s(t) é uma


função crescente de t. Nesse caso, s(t) tem uma inversa . Afirmamos que
é uma parametrização pelo comprimento de arco. Para conferir isso, de-
vemos verificar se . Pela fórmula da derivada de uma inversa,

A existência da parametrização pelo Portanto, pela regra da cadeia,


comprimento de arco é importante (e
será utilizada para definir a curvatura
na seção seguinte). Contudo, muitas
vezes é difícil ou impossível encontrar
explicitamente uma parametrização
pelo comprimento de arco. Isso Muitas vezes, a letra s é usada como o parâmetro de uma parametrização pelo compri-
exige encontrar a inversa da função mento de arco. Assim, é o vetor posição do ponto localizado a uma distância s ao
comprimento de arco s(t), o que só pode longo da curva a partir de .
ser obtido em casos especiais.

■ EXEMPLO 4 Encontrando uma parametrização pelo comprimento de arco Encontre a para-


metrização pelo comprimento de arco da reta .

Solução
Passo 1. Encontrar a inversa da função comprimento de arco.
Temos

Assim, a função comprimento de arco é

A inversa de s(t) = 3t é .

Passo 2. Reparametrização da curva.


Como explicamos acima, uma parametrização pelo comprimento de arco é

Para conferir, verificamos que tem velocidade unitária: e


CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 741

ENTENDIMENTO CONCEITUAL Embora o comprimento de arco L de uma curva seja defi-


nido como o limite de aproximações poligonais, nunca calculamos diretamente esse
limite. Em vez disso, escolhemos uma parametrização r(t) que percorra a curva exa-
tamente uma vez com e determinamos L calculando a integral do compri-
mento de arco. Segue que o valor da integral do comprimento de arco não depende da
parametrização escolhida (sendo igual a L para todas escolhas de parametrizações). No
Exercício 26, provamos de uma outra maneira que a integral do comprimento de arco
independe da parametrização, usando a fórmula de mudança de variáveis.

14.3 RESUMO
• O comprimento L de um caminho ao longo de é

• A distância percorrida por uma partícula numa trajetória r(t) ao longo do intervalo de
tempo [a, t] é

A velocidade escalar v(t) da partícula é a taxa de variação da distância percorrida em


relação ao tempo:

• O vetor velocidade aponta na direção do movimento [desde que ] e a sua


magnitude é a velocidade escalar da partícula.
• Dizemos que r(s) é uma parametrização pelo comprimento de arco ou parametrização
de velocidade unitária se para todo s. Nesse caso, o comprimento de arco do
caminho para é b − a.
• Se r(t) é uma parametrização tal que para todo t, então é uma
parametrização pelo comprimento de arco, onde é a inversa da função compri-
mento de arco

14.3 EXERCÍCIOS
Exercícios preliminares
1. Num dado instante, um carrinho de montanha russa tem vetor (c) Os vetores velocidade podem apontar em sentidos opostos.
velocidade (em milhas por hora). Qual seria
o vetor velocidade se a velocidade escalar do carrinho dobrasse. 3. Um mosquito voa ao longo de uma parábola com velocidade
E qual seria se o sentido de percurso fosse invertido mas a velo- . Seja L(t) a distância total percorrida até o instante t.
cidade escalar mantida? (a) Quão rápido varia L(t) em t = 2?
2. Dois carros percorrem a mesma montanha russa no mesmo senti- (b) Será L(t) igual à distância desde o mosquito até a origem?
do (em tempos diferentes). Quais das afirmações seguintes sobre
4. Qual é o comprimento do caminho traçado por r(t) ao longo de
seus vetores velocidade num dado ponto P da montanha russa
4 ≤ t ≤ 10 se r(t) for uma parametrização pelo comprimento
são verdadeiras?
de arco?
(a) Os vetores velocidade são idênticos.
(b) Os vetores velocidade apontam na mesma direção e sentido mas
têm comprimentos diferentes.
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Exercícios
Nos Exercícios 1-6, calcule o comprimento da curva ao longo do 19. Encontre uma parametrização pelo comprimento de arco de
intervalo dado. .

1. 20. Encontre uma parametrização pelo comprimento de arco de


.
2.
3. 21. Expresse o comprimento de arco L de ao longo de
como uma integral, de duas maneiras, usando as parame-
4.
trizações e . Não calcule as integrais
5. Sugestão: mas use substituição para mostrar que dão o mesmo resultado.

22. Mostre que a hélice de raio R e altura h que faz N voltas comple-
tas tem a parametrização

6.

7. Calcule para .
23. Considere as duas molas na Figura 5. Uma tem 5 cm de raio, 4
Nos Exercícios 8-11, encontre a velocidade no valor de t dado. cm de altura e faz três voltas completas. A outra tem 3 cm de
altura, 4 cm de raio e faz cinco voltas completas.
8.
(a) Dê um palpite sobre qual mola utiliza mais arame.
9.
(b) Calcule os comprimentos das duas molas (use o Exercício 22) e
10. compare.
11.

12. Qual é o vetor velocidade de uma partícula percorrendo a curva


da esquerda para a direita com velocidade constante de
5 cm/s quando a partícula está em ? 4 cm 3 cm

13. Uma abelha com vetor velocidade começa na origem em


t = 0 e fica voando por T segundos. Onde está localizada a 5 voltas, raio 4 cm
3 voltas, raio 5 cm
abelha no instante T se ? O que representa a FIGURA 5 Qual mola utiliza mais arame?

quantidade ? 24. Use o Exercício 22 para encontrar uma fórmula geral do compri-
mento da hélice de raio R e altura h que faz N voltas completas.
14. Qual dos seguintes é uma parametrização pelo comprimento de
25. Calcule para a espiral de Bernoulli
arco de um círculo de raio 4 centrado na origem?
(a) (Figura 6). É conveniente tomar como li-
mite inferior de integração porque .
(b)
(a) Use s para obter uma parametrização pelo comprimento de arco
(c)
de r(t).
15. Seja . (b) Prove que o ângulo entre o vetor posição e o vetor tangente é
(a) Calcule como função de t. constante.
(b) Encontre a inversa e mostre que é
uma parametrização pelo comprimento de arco. y

16. Encontre uma parametrização pelo comprimento de arco do cír- t=2


culo no plano z = 9 de raio 4 e centro (1, 4, 9).
x
10 20
17. Encontre um caminho que traça o círculo no plano y = 10 de raio t=0
4 e centro em (2, 10, −3) com velocidade constante 8.
−10
18. Mostre que um arco da ciclóide tem
comprimento 8. Encontre o valor de t em no qual é máxi-
ma a velocidade. FIGURA 6 A espiral de Bernoulli.
CAPÍTULO 14 Cálculo de Funções Vetoriais 743

Compreensão adicional e desafios


26. Prove que o comprimento de uma curva calculado se- 29. A curva é denominada tractriz.
gundo a integral do comprimento de arco não depende de sua
(a) Mostre que a função comprimento de arco
parametrização. Mais precisamente, seja a curva traçada por
é igual a s(t) = ln(cosh t).
r(t) ao longo de . Seja uma função derivável tal
que e e . Então (b) Mostre que é uma inversa de s(t)
parametriza ao longo de . Verifique que e verifique que

é uma parametrização da tractriz pelo comprimento de arco.


27. Mostre que o caminho parametri- (c) Use um sistema algébrico computacional para esboçar a tractriz.

za o círculo unitário exceto pelo ponto (0, −1) ao longo de


y
. Use essa parametrização para calcular o com-
primento do círculo unitário como uma integral imprópria. Su- P
Barbante
gestão: simplifique a expressão para .
(comprimento Rt)
28. A involuta de um círculo é a curva traçada por um ponto na (R cos t, R sen t)
ponta de um barbante desenrolando de um carretel circular de t
R
raio R. Parametrize a involuta encontrando o vetor posição r(t)
do ponto P na Figura 7 como uma função de t. Determine a fun-
ção comprimento de arco e a parametrização de comprimento
de arco da involuta. FIGURA 7 A involuta de um círculo.

14.4 Curvatura
Nesta seção, aplicamos as ferramentas vetoriais desenvolvidas para estudar a curvatura
que, como sugere o nome, é uma medida de quanto se entorta uma curva. A curvatura
é utilizada para estudar propriedades geométricas de curvas e movimento ao longo de
curvas. Tem aplicações em áreas diversas, tais como projetos de rodovias e de monta-
nhas russas (Figura 1), desenho por meio de computadores, óptica e até cirurgia ocular
(Exercício 58). Os bioquímicos descobriram que a curvatura de trechos de DNA de-
sempenha um papel nos processos biológicos de uma maneira que ainda não é total-
mente compreendida (Figura 2).
FIGURA 1 A curvatura é um
ingrediente essencial no projeto de No Capítulo 4, usamos a derivada segunda para medir o “entortamento”, ou a
uma montanha russa. concavidade de um gráfico y = f (x). Poderia parecer natural, portanto, tomar como
nossa definição de curvatura. Contudo, existem duas razões pelas quais isso não funciona.
Em primeiro lugar, só faz sentido para um gráfico no plano e nosso objetivo é defi-
nir curvatura de curvas no espaço tridimensional. Em segundo lugar, um problema mais
sério é que realmente não captura a curvatura de uma curva, como pode ser visto
considerando o círculo unitário. O círculo é simétrico, portanto a curvatura deveria ser a
mesma em cada ponto (Figura 3). No entanto, note que o semicírculo superior é o gráfico
de . A derivada segunda não tem o mesmo
valor em cada ponto e, assim, não é uma boa medida da curvatura.
Para alcançar a definição correta de curvatura, consideremos um caminho vetorial
. Dizemos que a parametrização é regular se para cada t
FIGURA 2 Os bioquímicos estudam o do domínio de r(t). Supomos que r(t) seja regular e definimos o vetor tangente unitário
efeito da curvatura de seqüências de T(t) na direção por:
DNA sobre os processos biológicos.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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