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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco -IFPE

Campus Recife
Curso: Bacharelado em Engenharia Civil
Disciplina: Estradas 1
Professor: Mário Ribeiro

Assunto: Curvas de Transição parte 1


As concordâncias horizontais com curvas circulares simples apresentam, do ponto de vista
geométrico, um traçado fluente e contínuo. Porém, do ponto de vista do usuário, esse tipo de
concordância provoca desconforto e até insegurança, mesmo se utilizando das superelevações
e das superlarguras.
A passagem da tangente para a curva circular simples (bem como a passagem da curva para a
tangente) ocorre de forma instantânea. Uma solução para esse problema, isto é, uma passagem
suave, confortável e segura, é introduzir uma curva de transição entre a tangente e a curva
circular.
Em geral, se houver superelevação maior que 2%, haverá necessidade de implantação de um
trecho de transição entre a tangente e a curva circular. Porém a curva de transição é dispensada,
segundo o DNIT, para raios maiores que os apresentados na tabela 1, em função da velocidade
de projeto.
Tabela 1 – Raios de curvas que dispensam a transição
V (Km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
R (m) 170 300 500 700 950 1200 1550 1900 2300 2800
Manual de projeto geométrico de rodovias rurais (1999)

Pontos notáveis da curva circular com transição


Os pontos notáveis são os pontos limites entre a tangente e o início do trecho de transição,
chamado TS, o ponto entre o TS e o ponto inicial da curva circular, SC; o ponto entre SC e o fim
da transição e entrada na tangente, chamado de ST. Se o veículo se desloca da esquerda para a
direita, a sequência desses pontos é a mostrada na figura 2.

SC CS

TS
ST
Figura 2 – Pontos notáveis de curvas circulares com transição

Significados dos nomes


TS = Tangente para a espiral
SC = Espiral para a curva circular
CS = curva circular para a espiral
ST = espiral para a tangente de saída.

Observe nas figuras abaixo o que acontece com a força centrípeta quando existe uma transição
(neste caso, linear) antes de chegar a curva circular e quando não há uma transição. Na figura 1,
observa-se que a força centrípeta cresce de forma linear até o valor dado pela força centrípeta
na curva. Na curva sem transição a força centrípeta cresce abruptamente do zero para o valor
da força na curva circular. Essa última situação pode causar um desconforto nos passageiros e
motoristas, esforço na estrutura do carro, esforço na carga e insegurança.
FC

Trecho Circular
TS SC CS ST
Trecho transição Trecho transição
a)
FC

Tangente Trecho circular Tangente


PC PT

Tipos de curvas de transição


As curvas de transição poder ser uma clotoide, uma lemniscata ou uma parábola de terceiro
grau.
Lemniscata
A Lemniscata de Bernoulli é a curva algébrica do quarto grau de equação cartesiana que se
assemelha muito ao símbolo do infinito e sua principal propriedade como curva de transição
deve-se ao fato de que a magnitude da curvatura em qualquer ponto é proporcional à distância
daquele ponto da origem.

𝐾
𝜌=
𝑟
Em que
ρ = o raio de curvatura em um ponto P;
k = uma constante;
r = o raio vetor.

Parábola de terceiro grau


A parábola cúbica é uma curva gráfica resultantes de uma equação do tipo y=ax³+bx²+c.

Além da sua função matemática muito conhecida, é também utilizada em projetos rodoviários
como curva de transição de acordo do a formulação:

𝑥3
𝑦=
6𝐾
em que
y é a ordenada do ponto P;
x é a abcissa do ponto P;
k é uma constante.

Clotoide
A clotoide ou espiral é definida pela equação
𝜌∗𝐿 =𝐾
A clotoide tem a vantagem em relações às outras curvas, pois:
1. É a curva descrita por um veículo, em velocidade constante, quando o volante é girado
com velocidade constante;
2. O grau de curvatura, que é proporcional à curvatura, varia linearmente com o
comprimento percorrido
Tipos de transição

A introdução de espirais de transição nas concordâncias horizontais pode ser efetuada de três
maneiras, as quais são:
1. Transição a raio e centro deslocados;
2. A transição a raio conservado e,
3. A transição a centro conservado.

Transição a raio e centro deslocado


Nesse tipo de transição, basicamente o centro e o raio da curva circular (azul) não são alterados,
mantendo a curva no local original, porém as tangentes são afastadas para permitir a inserção
dos ramos em espiral (vermelho), conforme o esquema abaixo.

Curva espiral de centro conservado


Para esse segundo tipo de transição, apenas o centro da curva circular é conservado. Nesse caso,
o seu raio original (azul) diminui com o objetivo de permitir a inserção dos ramos de transição
em espiral (vermelho), conforme a imagem abaixo.
Curva espiral de raio conservado
Por fim, para o último tipo de transição, raio da curva circular é conservado e o centro (o) é
deslocado para permitir a inserção dos ramos de transição em espiral (vermelho), conforme
abaixo.

Comprimentos máximos e mínimos admissíveis do trecho de transição


A seguir, falaremos dos comprimentos de transição máximos e mínimos admitidos pelos órgãos
de rodovias. A curva mais usada no trecho de transição é a curva espiral.

Comprimentos mínimos
Há três propostas para comprimento mínimo do trecho de transição

1. Critério do comprimento mínimo de transição


O menor comprimento de transição admissível e a de 30 m ou o comprimento que um
veículo desenvolve em dois segundos. Dois segundos é o tempo estimado para que o
motorista gire o volante para acompanhar a curva.
Lmin = t*v = 2*v, v em m/s
Para usar diretamente o valor da velocidade em Km/h deve-se fazer a transformação
usando um fator de transformação como mostrado na fórmula abaixo

𝑣
𝐿𝑚𝑖𝑛 = 2 ∗
3,6

Então,

𝐿𝑚𝑖𝑛 = 0,555 ∗ 𝑣

2. Critério da fluência ótica


Para raios superiores a 800 m se estabelece a seguinte equação

1
𝐿𝑚𝑖𝑛 = 𝑅
9
Em que
R = raio da curva circular, em metros.
3. Critério de conforto
O critério da máxima aceleração centrípeta definida pelo DNIT procura determinar o
menor comprimento admissível para o trecho de transição de modo a não sujeitar os
usuários a sensações de desconforto e insegurança ao permitir uma passagem suave
entre a tangente e a curva circular de concordância ou entre a curva e a tangente.
A taxa de desconforto ou solavanco transversal é a grandeza que varia a aceleração
transversal por unidade de tempo.
O balanceamento entre as forças laterais devidas à superelevação e o atrito lateral dado
pela seguinte equação:

𝑝 ∗ 𝑣2
𝑐𝑜𝑠(𝛼) = 𝑓𝑝𝑐𝑜𝑠(𝛼) + 𝑝𝑠𝑒𝑛(𝛼)
𝑔𝑅
A força lateral devido à superelevação anula apenas parte da força centrípeta e a
diferença atua sobre o veículo. Essa diferença pode-se deduzir a partir da equação:

𝑝 ∗ 𝑣2
𝑓𝑝𝑐𝑜𝑠(𝛼) = 𝑐𝑜𝑠(𝛼) − 𝑝𝑠𝑒𝑛(𝛼) = 𝐹𝑎
𝑔𝑅
A carga sentida pela estrutura do carro, cargas e passageiros é FT (dividindo por cosα))

𝑝 ∗ 𝑣2
𝐹𝑇 = 𝑓𝑝 = − 𝑝𝑡𝑔(𝛼)
𝑔𝑅
Considerando a aceleração transversal aT, dada pela fórmula abaixo

𝐹𝑇 𝑝
𝑎𝑇 = , considerando que 𝑚 = a equação fica
𝑚 𝑔

𝐹𝑇 𝑝 ∗ 𝑣 2
𝑎𝑇 = = − 𝑝𝑡𝑔(𝛼)
𝑝𝑔 𝑔𝑅
Simplificando, fica

𝑣2
𝑎𝑇 = − 𝑔𝑒𝑅
𝑅

O solavanco transversal, simbolizado por C, é o valor da variação da aceleração


transversal dividido pelo tempo, isto é,

𝑎𝑇
𝐶=
𝑡
Considerando o tempo t mínimo para que o veículo percorra o trecho de transição, e a
velocidade v é

𝐿𝑚𝑖𝑛
𝑡=
𝑣
logo,

𝑎𝑇 𝑣2 𝑣
𝐶= = ( − 𝑔𝑒𝑅 ) ∗
𝐿𝑚𝑖𝑛 𝑅 𝐿𝑚𝑖𝑛
𝑣
𝑣 3 𝑔𝑒𝑅 𝑣 𝑒𝑅
𝐿𝑚𝑖𝑛 = − −
𝐶𝑅 𝐶 0,367𝐶
Convertendo a equação acima para expressar a velocidade em Km/h, tem-se
𝑣3 𝑒𝑅 𝑣
𝐿𝑚𝑖𝑛 = −
46,656𝐶 ∗ 𝑅 0,367𝐶

Em que
Lmin = comprimento mínimo do trecho em transição, em metros,
R = raio da curva circular, em metros
eR = superelevação da curva circular, em metros/metros,
C= taxa de variação da aceleração transversal, dada em m/s2/s
O valor de C estabelecido pelo DNIT é dada pela seguinte equação:
𝐶 = 1,5 − 0,009𝑉
4. Critério da máxima rampa de superelevação
Este critério se baseia no controle da elevação da pista de rolamento em relação ao eixo
de rotação da pista que ocorre quando se efetua a distribuição da superelevação.
São fixados valores limites para rampa de superelevação, denominada como a diferença
entre as inclinações longitudinais do perfil do eixo da pista e do perfil da linha de borda
da pista mais afetada pela superelevação.
O DNIT estabelece os valores máximos admissíveis para rampas de superelevação,
considerando o caso básico de uma pista com duas faixas de trânsito e desenvolvimento
de superelevação efetuado mediante o giro da seção transversal em torno do eixo. Esses
valores estão tabelados pelo DNIT, como reproduzido aqui:

Tabela 1
V >100
40 50 60 70 80 90
(Km/h)
rmáx 1:137 1:154 1:169 1:185 1:200 1:213 1:233

Os valores máximos admissíveis da rampa de superelevação são majorados para os


casos em que o giro da seção transversal envolva mais de uma faixa, quando do
desenvolvimento da superelevação. Na tabela 2 estão listados os fatores para aplicação
aos casos envolvendo mais de uma faixa de trânsito.

Tabela 2
Largura de rotação da pista Fator multiplicador (Fm)
Caso básico: 1 faixa 1,0
Giro conjunto de 2 faixas 1,5
Giro conjunto de 3 faixas 2,0
Giro conjunto de 4 faixas 2,5

Fixada a rampa de superelevação (eR) aplicável, pode-se calcular o comprimento de transição


mínimo que corresponde a essa rampa, uma vez que se conheça a superelevação e o número
de faixas de gira no desenvolvimento da superelevação e a largura normal de faixa.

Com base na figura pode-se deduzir a fórmula de cálculo do comprimento mínimo de transição,
sabendo-se que:
∆𝑁 = 𝐿𝑏á𝑠 −𝑟𝑚á𝑥 = 𝐿𝐹 ∗ 𝑒𝑅
eR ∆N

Lbás

e=
0
LF

𝑒𝑅
𝐿𝑏á𝑠 = 𝐿𝐹
𝑟𝑚á𝑥
E, para o caso geral, temos
𝒆𝑹
𝑳𝒎𝒊𝒏 = 𝑭𝒎 ∗ 𝑳𝑭
𝒓𝒎á𝒙
Em que
Lmin = comprimento mínimo de transição, m
Fm = fator multiplicador em função da largura de rotação da pista (tabela 2);
LF = largura da faixa de trânsito (m);
ER = superelevação na curva circular, (m/m)
Rmáx = rampa de superelevação máxima admissível (tabela 1)

Comprimento máximo de transição


Para definir o comprimento máximo de transição, existem dois critérios bastante aceitos pelos
órgãos que trata de rodovias, descritos abaixo.
a) Critério do máximo ângulo central da clotoide
Para evitar comprimentos muitos grandes da clotoide em relação ao raio de curvatura
em sua extremidade, o DNIT limita o comprimento da clotoide ao valor do raio da curva
circular utilizada na concordância, ou seja:
Lmáx = R

Em que
R = raio do círculo de concordância entre duas tangentes, (m)
Lmáx = comprimento máximo de transição, (m)

b) Critério do tempo de percurso


O DNIT estipula que o comprimento máximo de transição seja limitado à distância
percorrida pelo veículo, durante um tempo de oito segundos, na velocidade diretriz, isto
é:
𝐿𝑚á𝑥 = 𝑣 ∗ 𝑡, 𝑣 𝑒𝑚 𝑚/𝑠
𝐿𝑚á𝑥 = 8𝑠 ∗ 𝑣
Para usar a velocidade em Km/h diretamente na equação acima, basta dividir a
velocidade pelo fator 3,6, temos:
𝐿𝑚á𝑥 = 2,22 ∗ 𝑣
Exercício-Exemplo 1
Considere um projeto que será desenvolvido para uma rodovia nova, classe II e em relevo
ondulado. O raio de concordância é R= 214,88 m, a superelevação é 7,7%. Determine o
comprimento de trecho de transição máximos e mínimos.
Solução
Velocidade diretriz classe II em ambiente ondulado, v= 70 Km/h (da tabela)
Limite mínimo
a) Pelo critério mínimo absoluto lmin = 30 m
b) Pelo critério do tempo de 2 s = lmin = 0,555*70 = 38,9 m
703 0,077∗70
c) Pelo critério do conforto lmin = 𝐿𝑚𝑖𝑛 = 46,656−0,87∗214,88 − 0,367∗0,87 = 22,44 𝑚
𝐶 = 1,5 − 0,009 ∗ 70 = 0,87

d) Critério da máxima rampa, Tabela 2 F10 = 1,0


Raio máximo = 1:185 (tabela 1)
LF = 3,5 m (tabela xx)
𝑒𝑅
𝐿𝑚𝑖𝑛 = 𝐹𝑚 ∗ 𝐿𝐹
𝑟𝑚á𝑥
0,077
𝐿𝑚𝑖𝑛 = 1,0 ∗ 3,5 ∗ = 49,86 𝑚
1/185

Então, pelo critério do DNIT, se escolhe o maior valor, no caso, Lmin = 50 m

Limite máximo
a) Lmáx = R, então Lmáx = 214,88 m
b) Critério do tempo de percurso em 8 s
Lmáx = 2,22V = 2,22*70 =155,56 m
Escolhe o menor desses valores, então Lmáx = 155,56 m

Usando o critério de adotar valores de Lc múltiplos de 10 m, temos que o Lc terá dimensões


entre 50 m e 160 m.

Exercício-exemplo 2
Qual seria o comprimento de um trecho de transição para uma rodovia classe 1, pista simples,
terreno plano, raio de 450 m. Determine a superelevação para encontrar o valor de Lc

Solução
Das tabelas
Velocidade diretriz = 100 Km/h
LF = 3,6 m
Ft = 0,13
Cálculo da superelevação
𝑣2 1002
𝑒𝑟 = 127,138𝑅 − 𝑓𝑡 = 127,138∗450 − 0,13 =0,044788 = 4,5%

Limite mínimo
a) Pelo critério mínimo absoluto lmin = 30 m
b) Pelo critério do tempo de 2 s = lmin = 0,555*100 = 55,5m
c) Pelo critério do conforto

1003 0,045 ∗ 100


𝐿𝑚𝑖𝑛 = − = 58,95𝑚
46,656 ∗ 0,60 ∗ 450 0,367 ∗ 0,60

𝐶 = 1,5 − 0,009 ∗ 100 = 0,6

d) Critério da máxima rampa, Tabela xx F10 = 1,0


Raio máximo = 1:233 (tabela xx)
LF = 3,6 m (tabela 2,3 pag 52 do livro Lee)
0,045
𝐿𝑚𝑖𝑛 = 1,0 ∗ 3,6 ∗ = 37,75 𝑚
1/233

Então, pelo critério do DNIT, se escolhe o maior valor, no caso, Lmin = 50 m

Limite máximo
e) Lmáx = R, então Lmáx = 450 m
f) Critério do tempo de percurso em 8 s
Lmáx = 2,22V = 2,2*100 =220 m
Escolhe o menor desses valores, então Lmáx = 220 m

Usando o critério de adotar valores de Lc múltiplos de 10 m, temos que o Lc terá dimensões


entre 60 m e 220 m.

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