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FUNÇÃO REAL DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS

ASPECTOS HISTÓRICOS

 Todo o Cálculo Diferencial e Integral desenvolve-se em torno de dois conceitos


fundamentais: o conceito de função e o conceito de limite.
 Os conceitos de limite, derivada e integral, embora tenham sido utilizados com
bastante intensidade desde fins do século XVII, foi só por volta de 1820 que os
matemáticos começaram a encontrar o caminho para sua devida formalização.
 O Cálculo desenvolveu-se consideravelmente, desde fins do século XVII até começo do
século XIX, por obra de Leibniz, dos Bernouilli, de Euler e de Lagrange, sem que os
conceitos fundamentais de função e de limite tivessem sido formalizados e essa
formalização que começou com Bolzano e Cauchy, por volta de 1820, só foi possível
graça à aquela evolução anterior de 150 anos antes.
 Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz desenvolveram independentemente a teoria
do cálculo (infinitesimal) no final do século XVII.

Trataremos agora de alguns conceitos básicos que serão utilizados ao longo da disciplina.

Definição: Seja A  R n . Se para cada ponto P  A associamos um único elemento


z  f ( P )  R , temos uma função f : A  R . Essa função é chamada função real de n
variáveis reais. O conjunto A é chamado domínio da função f , denotado por D ( f ) . O
conjunto imagem de f , denotado por Im( f ) , é o conjunto Im( f )   f ( P); P  A.

Notações: z  f (P ) ou z  f ( x1 , x 2 ,, x n )

Exemplo 1: Seja z  f ( x, y)  4  x2  y2 .

   
Neste caso, D( f )  ( x, y )  R 2 ;4  x 2  y 2  0  ( x, y )  R 2 ; x 2  y 2  4 e
Im( f )  z  R; 0  z  2  [0,2] .

Exercícios: Fazer uma representação gráfica do domínio das seguintes funções:

xy
a) f ( x, y )  ln( x  y ) b) g ( x, y, z )  16  x 2  y 2  z 2 c) w 
x  y2
2
Exemplo 2: Encontrar o domínio e a Imagem das seguintes funções:

a) z  x 2  y 2 b) z  x  y  4

x y
Exercícios: Dada a função z  encontrar:
x

a) A imagem do ponto (1 / a , a), a  R*

b) D ( f )

GRÁFICOS

Definição: O gráfico de uma função de duas variáveis z  f ( x, y ) , denotado por Graf ( f ) , é


o conjunto de todos os pontos ( x, y, z )  R 3 tais que ( x, y )  D ( f ) e z  f ( x, y ) . Em outras
palavras

 
Graf ( f )  ( x, y, z )  R 3 ; z  f ( x, y ), x, y )  D( f ) 

Exemplo 3: Fazer um esboço do gráfico da função z  f ( x, y)  4  x2  y2 .


Graf ( f )  ( x, y, z )  R 3 ; z  4  x 2  y 2 
Ver arquivo Gráfico 1

Exemplo 4: A equação x  2 y  3 z 3 é a equação de um plano que corta os eixos em


x  3, y  3 / 2, z  1 . Resolvendo esta equação para z em função de ( x, y ) obtemos

3  x  2y
z
3

Ver arquivo Gráfico 2

Observação 1: Dada uma superfície S no espaço, nem sempre ela representa o gráfico de uma
função z  f ( x, y ) .

Ver arquivo Gráfico 3

Definição: Seja k um úmero real. Uma curva de nível C k , de uma função z  f ( x, y ) é o


conjunto de todos os pontos ( x, y )  D ( f ) tais que f ( x, y )  k . Em outras palavras

C k  ( x, y )  D( f ) ; f ( x, y )  k 
Exemplo 5: Se z  4  x 2  y 2 então

 
C0  ( x, y)  R 2 ; 4  x 2  y 2  0  ( x, y)  R 2 ; x 2  y 2  4 
C  ( x, y)  R ;
1
2
4  x2  y2  1 ( x, y)  R ; x  y  3
2 2 2

C  ( x, y)  R ;
2
2
4  x2  y2  2 ( x, y)  R ; x  y  0  (0,0)
2 2 2

Ver arquivo Gráfico 4

Observação 2:

a) As curvas de nível são sempre subconjuntos do domínio da função z  f ( x, y ) , portanto


são traçadas no plano x y .

b) Cada curva de nível é a projeção sobre o plano x y , da interseção do gráfico de f com o


plano horizontal z  k .

c) Para obtermos uma visualização do gráfico de f podemos traçar diversas curvas de nível e
imaginarmos cada uma dessas curvas deslocadas para a altura k correspondente.

Ver arquivo Gráfico 4 anterior.

Exercícios: Esboçar o gráfico das funções:

a) f ( x, y )  y 2  x 2 b) z  4  x 2  4 y 2 c) z  2

d) x  3 e) y  1 f) y  x

LIMITE E CONTINUIDADE

ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

Definição: Dados P0 ( x0 , y0 )  R 2 , r  0 , a bola aberta de centro P0 e raio r é definida por


B( P0 , r )  ( x, y )  R 2 ; ( x  x0 ) 2  ( y  y 0 ) 2  r 
Geometricamente B( P0 , r ) é o conjunto de todos os pontos internos à circunferência de
centro P0 e raio r .

Observação 3: Em R 3 a bola aberta de centro em P0 ( x0 , y 0 , z 0 ) e raio r é dada por


B( P0 , r )  ( x, y, z )  R 3 ; ( x  x0 ) 2  ( y  y 0 ) 2  ( z  z 0 ) 2  r 

Definição: Seja A  R 2 ou A  R 3 . Dizemos que um ponto P  A é um ponto interior de A


se existir uma bola aberta centrada em P contida em A .

Exemplo 6:

a) Em R 2 , o conjunto do pontos interiores a uma curva fechada simples é um conjunto aberto.

b) O conjunto dos pontos interiores de um paralelepípedo, ou de um elipsoide são conjuntos


abertos em R 3 .

c) R 2 e R 3 são conjuntos abertos.

Definições:

1)(Domínio conexo) Um domínio(conjunto aberto no plano ou no espaço) D  R 2 ou R 3 é


chamado conexo, se dados dois pontos quaisquer em D , eles podem ser ligados por uma
poligonal contida em D .

2) Quando um domínio D  R 2 não apresenta buraco, isto é, toda curva fechada simples C
do domínio D circunda somente pontos de D , D é dito simplesmente conexo.

3) Se D é um domínio em R 3 dizemos que D é simplesmente conexo quando qualquer curva


fechada simples em pode ser reduzida de maneira contínua a um ponto qualquer de D , sem
sair de D .

Exemplos 7

a) R 2 e R 3 são conjuntos simplesmente conexos.

b) Em 
R 2 ; D  ( x, y )  R 2 ;4  x 2  y 2  16  é um domínio conexo que não é
simplesmente conexo.

 
c) Em R 2 ; D  ( x, y )  R 2 ; x  1 não é um domínio conexo.
d) O interior de uma esfera, com um número finito de pontos removidos é um domínio
simplesmente conexo.

e) O interior de um cubo com uma diagonal removida não é simplesmente conexo.

Definições

1) Seja A  R 2 . Um ponto P  R 2 é dito um ponto de fronteira de A se toda bola aberta


centrada em P contiver pontos de A e pontos que não estão em A .

2) O conjunto de todos os pontos de fronteira do conjunto A é chamado fronteira de A .

3) Se todos os pontos de fronteira de A pertencem ao conjunto A , dizemos que A é um


conjunto fechado.

Essa definição também é válida para um conjunto A  R n , n  2 .

 
Exemplo 8: Seja A  ( x, y )  R 2 ; x  2 .

a) Determine o conjunto de pontos interiores de A , verificando se A é um conjunto aberto.

b) Determinar a fronteira de A .

 
Exemplo 9: Seja F  ( x, y )  R 2 ; y  2 x  1  (00). F não é um conjunto aberto, pois
(0,0)  F e não é um ponto interior de F .

Definição: Seja A  R 2 . Um ponto P  é dito ponto de acumulação de A se toda bola aberta


de centro em P  contiver uma infinidade de pontos de A .

Observação: Intuitivamente, podemos dizer que P  é um ponto de acumulação de A quando


existirem pontos de A diferentes de P  , que sejam tão próximo de P  quanto desejarmos .

 
Exemplo 10: Seja A  ( x, y)  R 2 ; 0  ( x  1) 2  ( y  2) 2  1 então:

i) Todos os pontos de A são pontos de acumulação de A .

ii) (1,2)  A mas é ponto de acumulação de A .

iii) Os pontos sobre a circunferência ( x  1) 2  ( y  2) 2  1 também não pertence ao conjunto


A , mas são pontos de acumulação de A .

iv) Os pontos no exterior do ciclo ( x  1) 2  ( y  2) 2  1 não são pontos de acumulação de A .

No exemplo 9 (0,0)  F mas não é ponto de acumulação de F .


LIMITE DE FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS

Definição: Sejam f : A  R 2  R e ( x0 , y 0 ) um ponto de acumulação de A . Dizemos que


lim f ( x, y )  L
( x , y )  ( x0 , y 0 )

Se, para todo   0 , existe um   0 , tal que f ( x, y)  L   , sempre que,

( x, y )  A e ( x  x 0 ) 2  ( y  y 0 ) 2   .

Exemplo 10: Usando a definição de limite, mostre que lim (3x  2 y )  7 .


( x , y ) (1, 2 )

2 xy
Exemplo 11: Demonstre que lim 0
( x , y ) ( 0 , 0 )
x2  y2

Observação: Quando lim f ( x, y )  L temos que independentemente da forma


( x , y )  ( x0 , y 0 )

(caminhos) pela qual ( x, y ) se aproxima do ponto ( x0 , y 0 ) através do domínio, temos que o


resultado do limite é L .

Proposição: Sejam D1 e D2 subconjuntos de D ( f ) ambos tendo ( x0 , y 0 ) como ponto de


acumulação. Se f ( x, y ) tem limites diferentes quando ( x, y ) tende a ( x0 , y 0 ) através de
pontos de D1 e D2 respectivamente então lim f ( x, y ) não existe.
( x , y )  ( x0 , y 0 )

Observação: Esta proposição pode é utilizada para mostrar que certos limites não existe, como
exemplo a seguir .

2 xy
Exemplo 12: Mostre que lim não existe.
( x , y ) ( 0 , 0 ) x  y2
2

xy 2
Exemplo 13: Verificar se existe lim .
( x , y )( 0, 0 ) x 2  y 4

Propriedades dos limites

1) Seja f : R 2  R dada por f ( x, y )  ax  b sendo que a, b  R constantes, então

lim (ax  b)  ax0  b e lim (ay  b)  ay0  b


( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )

2) Se lim f ( x, y ) e lim g ( x, y ) existem e c é um número real, então


( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )
a) lim ( f ( x, y )  g ( x, y ))  lim f ( x, y )  lim g ( x, y )
( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )

b) lim (c . f ( x, y ))  c. lim f ( x, y )
( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )

c) lim ( f ( x, y ) . g ( x, y ))  lim f ( x, y ) . lim g ( x, y )


( x , y ) ( x0 , y0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 )

d) lim ( f ( x, y ) / g ( x, y ))  lim f ( x, y ) / lim g ( x, y ) desde que


( x , y ) ( x0 , y0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 )

lim g ( x, y )  0 .
( x , y )  ( x0 , y 0 )

e) lim [ f ( x, y)]n  [ lim f ( x, y)]n , para n  Z , n  1


( x , y )( x0 , y0 ) ( x , y )( x0 , y0 )

f) lim n f ( x, y )  n lim f ( x, y ) , quando lim f ( x, y )  0 e n é um


( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y ) ( x0 , y0 )

número inteiro positivo; ou se lim f ( x, y )  0 e n é um número inteiro positivo ímpar;


( x , y ) ( x0 , y0 )

Exemplo 14: Calcular:

a) lim ( x 3 y  x 2 y 3  2 xy  4)
( x , y )( 2, 1)

b) lim x y
( x , y ) ( 0 , 2 )

x3 y  4
c) lim
( x , y )( 1,1) x  y  2

Proposição: Se f é uma função de uma variável, contínua em a e g ( x, y ), é uma função tal


que lim g ( x, y )  a então lim f ( g ( x, y ))  f (lim g ( x, y ))  f (a ) .
( x , y ) ( x0 , y0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )

Exemplo 15: Calcule:

a) lim ln( x 2  2 xy  1)
( x , y )(1, 2 )

b) lim sen ( x  y )

( x , y )( 0, )
2

Proposição: Se lim f ( x, y )  0 e g ( x, y ), é uma função limitada em uma bola aberta


( x , y ) ( x0 , y0 )

de centro ( x0 , y 0 ), então lim f ( x, y ) g ( x , y )  0 .


( x , y )  ( x0 , y 0 )

x2 y
Exemplo 16: Mostre que lim 0.
( x , y )( 0, 0 ) x 2  y 2
Cálculo de limites envolvendo algumas indeterminações

Sejam f e g funções tais que lim f ( x, y )  lim g ( x, y )  0 .


( x , y )  ( x0 , y 0 ) ( x , y )  ( x0 , y 0 )

f ( x, y )
Nestas condições nada podemos afirmar sobre lim . Neste caso temos uma
( x , y )  ( x0 , y 0 ) g ( x, y )
0
indeterminação da forma .
0

x 3  x 2 y  2 xy  2 x 2  2 x  4
Exemplo 17: Calcule lim .
( x , y )( 2,1) xy  x  2 y  2

x  y 1
Exemplo 18: Calcule lim .
x  1 y

( x , y )( 0 ,1 )

Continuidade

Definição: Sejam f : A  R 2  R e ( x0 , y 0 )  A um ponto de acumulação de A . Dizemos


que f é contínua em ( x0 , y 0 ) se lim f ( x, y )  f ( x 0 , y 0 ) .
( x , y )  ( x0 , y 0 )

 2 xy
 , ( x, y )  (0,0)
Exemplo 19: Verificar se f ( x, y )   x 2  y 2 é contínua em (0,0) .
 0, ( x, y )  (0,0)

 2 xy
 , ( x, y )  (0,0)
Exemplo 20: Verificar se f ( x, y )   x 2  y 2 é contínua em (0,0) .
 0, ( x, y )  (0,0)

 x 2  y 2  1, x 2  y 2  4
Exemplo 21: Discutir a continuidade da função f ( x, y )   .
 0, x 2  y 2  4

 2 xy
 , ( x, y )  (0,0)
Exercício: Mostre que a função f ( x, y )   2 x 2  2 y 2 é contínua em (0,0) .
 0, ( x, y )  (0,0)

Propriedades das funções contínuas

Proposição: Se as funções f e g são contínuas no ponto ( x0 , y 0 ) , então:

a) f  g é contínua em ( x0 , y 0 ) ;

b) f  g é contínua em ( x0 , y 0 ) ;

c) f . g é contínua em ( x0 , y 0 ) ;
d) f / g é contínua em ( x0 , y 0 ) ; desde que g ( x 0 , y 0 )  0 .

Observações:

1) Uma função polinomial é contínua em R 2 .

2) Uma função racional é contínua em todos os pontos do domínio.

Proposição: Sejam y  f (u ) e z  g ( x, y ) . Suponha que g é continua em ( x0 , y 0 ) e f é


contínua em g ( x0 , y 0 ) , então a função composta f  g é contínua no ponto ( x0 , y 0 ) .

Exercícios: Discutir a continuidade das seguintes funções:

a) f ( x, y )  2 x 2 y 2  5 xy  2

x  y 1
b) g ( x, y) 
x y  x  3xy  3x  2 y  2
2 2

c) h( x, y )  ln( x 2 y 2  4)

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