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UFRJ
Visualizando a Hiperesfera
Convenções:
Ao longo deste artigo, estarei utilizando a seguinte notação:
S 1 → Círculo, que vem a ser a “esfera” no R 2 , ou seja, o lugar geométrico dos
pontos que satisfazem a relação x 2 + y 2 = r 2 , onde r é o raio do círculo.
S 2 → Esfera, já conhecida de todos, contida em R 3 , ou seja, o lugar geométrico
dos pontos que satisfazem a relação x 2 + y 2 + z 2 = r 2 , onde r é o raio da esfera.
S 3 → Hiperesfera, que vem a ser a “esfera” no R 4 , ou seja, o lugar geométrico dos
pontos que satisfazem a relação x 2 + y 2 + z 2 + w 2 = r 2 , onde r é o raio da hiperesfera.
Com o intuito de facilitar os cálculos, estaremos considerando sempre raios
unitários (r = 1).
2
Projeção estereográfica:
Uma projeção tem a propriedade de representar um objeto de n dimensões em um
espaço de dimensão m, em que m ≤ n. A projeção estereográfica tem a propriedade de levar
um objeto de n dimensões em um espaço de n-1 dimensões, e é esta projeção que
utilizaremos ao longo deste trabalho.
z
Percebe-se que a parte com z negativo fica projetada no interior do círculo de interseção da
esfera com o plano, e que a parte com z positivo fica projetada no exterior deste círculo. O
que pode ser feito é projetar a parte superior pelo Polo Sul e a inferior pelo Polo Norte,
obtendo-se assim dois discos(círculos cheios) representando a esfera.
Observe agora que o polo de aplicação da projeção não se encontra mais em (0,0,1), mas em
(0,0,2).
y
x
3
Dado um ponto (a,b,c) pertencente à esfera, vamos determinar o ponto (x,y) do
plano.
(0,0,2)
(a,b,c) 2 (a,b)
(a, b)
c
(x,y) (x,y)
( x, y )
Por outro lado, claramente o vetor (x,y) possui a mesma direção e sentido que o
( x, y ) 2
vetor (a,b). Logo ∃ λ>0 tal que (x,y) = λ(a,b); portanto =λ= .
( a, b) 2−c
Conclusão:
2 2a 2b
(x,y) = .(a,b). Portanto (x,y) = , .
2−c 2−c 2−c
Vamos encontrar, agora, sua inversa, ou seja: Dado o ponto (x,y) do plano,
queremos o ponto (a,b,c) pertencente à esfera.
Considere R a reta que liga o pólo norte da esfera à um ponto qualquer do plano que
a tangencia no pólo sul(origem dos eixos).
(0,0,2)
R=(0,0,2) + t(x,y,-2) = tx + ty + (2-2t) ∈ S 2
Mas S 2 é definida por a 2 +b 2 + (c-1) 2 =1
(a,b,c) Logo: (tx) 2 + (ty) 2 + ((2-2t)-1) 2 =1
t 2 (x 2 + y 2 + 4) – 4t = 0
4±4 4
(x,y) t= → t1 = 2 ; t 2 = 0.
2( x + y + 4)
2 2
x + y2 + 4
4
Análise de t: Para t=0, temos o Polo Norte, que já era conhecido. Queremos então
4
t= 2 .
x + y2 + 4
Sabemos que (a,b,c) = (tx, ty, 2-2t),
Logo:
4x 4y 8
(a,b,c) = 2 , 2 ,2 − 2 .
x + y 2
+ 4 x + y 2
+ 4 x + y 2
+ 4
Portanto:
4x 4y 4z 8
(a,b,c,d) = , , ,2 − .
x² + y ² + z + 4 x² + y ² + z + 4 x² + y ² + z + 4
2 2 2
x ² + y ² + z + 4
2
Entendendo a hiperesfera
De posse destas fórmulas, e das equações de S 2 e S 3 , podemos tirar conclusões
interessantes, que tornam mais claro o entendimento da S 3 . Vamos, como sempre, entender
o resultado desta projeção de S 2 e, por analogia, entender a projeção da S 3 .
Sabemos que a equação de S 2 é definida por x 2 + y 2 + z 2 =1, então considere agora
o primeiro tipo de projeção, ou seja, a esfera está com o centro na origem dos eixos. Se
pararmos para analisar esta esfera, fica óbvio, que o hemisfério norte é a parte com z
positivo, o hemisfério sul é a parte com z negativo. Façamos então esta projeção em duas
etapas: Faremos primeiro na parte positiva de z, ou seja, o intervalo [0,1], e posteriormente
na parte negativa de z, o intervalo [-1,0].
Temos agora: x 2 + y 2 = 1 - z 2 , { z ∈ R / 0 ≤ z ≤ 1}, que nada mais é que a união
de círculos concêntricos cujos raios variam de 0 a 1, o que resulta em um disco (círculo
cheio).
Fazendo o mesmo para a parte negativa de z, teremos outro conjunto de círculos
concêntricos que geram um círculo cheio.
z z
Projetando
Z negativo
Z=[0,1]
Z=[-1,0] Projetando
Z positivo
Observe que para projetar o hemisfério norte, utilizamos o Polo Sul, e para projetar o hemisfério sul, utilizamos o Polo Norte
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Faremos agora o mesmo procedimento com a S 3 . Considere que esta está com o
centro na origem dos eixos, ou seja, (0,0,0,0).
Se tomarmos as mesmas considerações feitas para a projeção da S 2 , perceberemos
que a parte de S 3 que se encontra em w positivo, onde w é o quarto eixo de coordenadas,
representa o “hemisfério” norte da S 3 , e que a parte da mesma que se encontra em w
negativo, representa seu “hemisfério” sul. Faremos a projeção em duas etapas:
Trabalharemos primeiro com a parte positiva de w e posteriormente com sua parte negativa,
ou seja, os intervalos [0,1] e [-1,0] respectivamente.
2
Temos agora: x 2 + y 2 + z = 1 - w 2 ,{ w ∈ R / 0 ≤ w ≤ 1}, que nada mais é que a
união de esferas concêntricas cujos raios variam de 0 a 1, o que resulta em uma bola (esfera
cheia).
Fazendo o mesmo para a parte negativa de w, teremos outro conjunto de esferas
concêntricas que geram uma outra bola (esfera cheia).
A função de Hopf:
Para que se entenda a função de Hopf, começaremos por uma analogia.
Considere a função p : S 3 → [−1,1] ( S 2 com centro na origem), p ( x, y, a ) = a :
.
S2 p
a
-1
-
1
Para entender esta aplicação, considere uma esfera ao lado de um segmento de reta e
um plano que intercepta os dois: Perceberemos que o ponto determinado pela interseção
deste segmento com o plano tem “ligação” com o círculo determinado pela interseção deste
plano com a esfera.
6
Se considerarmos um círculo de S 2 , teremos como inversa em S 3 , um círculo que
gira em torno de outro círculo, ou seja, um toro.
S3
S2
.
? h
?
? a
?
? ? S1
?
x = 2 (ab + cd)
y = 2 (ad – bc)
z = (a 2 + c 2 ) - (b 2 + d 2 ).
Mas como foi dito no início, nós preferimos trabalhar com S 2 centrada em (0,0,1) e
S 3 centrada em (0,0,0,1), portanto temos as equações de S 2 e S 3 na forma x 2 + y 2 + (z-
1) 2 = 1 e x 2 + y 2 + z 2 + (w-1) 2 = 1 respectivamente, e para que a função de Hopf (que as
considera centradas na origem) se adeqüe ao modelo de projeção proposto, teremos que
substituir z por z-1 e w por w-1 na função, e teremos agora:
x = 2 (ab + c(d-1))
y = 2 (a(d-1) – bc)
z = (a 2 + c 2 ) - (b 2 + (d-1) 2 ) + 1.
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Introduzindo a notação
Projeção estereográfica π1 : S 2 → R2 ,
Projeção estereográfica π 2 : S 3 → R3 ,
Função de Hopf h : S3 → S2,
? ? h
? S3 S2
π2 π1
R3 R2
? ? h
S3 S2
?
π 2 ) −1
(π π1
R3
F R2
Portanto: F = π 1 ο h ο (π 2 )
−1
Ou seja, teremos uma função F que define, implicitamente, para cada ponto do R²
(x,y) uma curva no R³ resultada da projeção estereográfica de uma parte da hiperesfera.
Do mesmo modo, dada uma curva em R², a função F define, implicitamente, um
“toro” em R³, pois estará girando uma curva ao redor de outra. (Mais precisamente, um
círculo em torno de outro).
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F( a,b,c,d ) se dá pela composição de ( π 2 ) −1 , h e π1 em uma única função.
4x 4y 4z 8
(π 2 )−1 (x, y, z ) = (a,b,c,d) = , 2 , 2 ,2 − 2
x + y + z +4 x + y +z +4 x + y + z +4
2 2 2 2 2 2 2
x + y + 4
2
2i 2j
π 1 (i, j , k ) = (xx,yy) = ,
2−k 2−k
Para:
4x 4y
a= ,b= 2 ,
x + y +z +4
2 2 2
x + y + z2 + 4
2
4z 8
c= ed=2- 2 .
x + y +z +4
2 2 2
x + y + z2 + 4
2
Temos:
i=
(
8 4 xy + zx 2 + zy 2 + z 3 − 4 z ),
(x 2
+ y2 + z2 + 4 )
2
j=
(
8 x 3 + xy 2 + xz 2 − 4 x − 4 yz )e
(x 2
+ y2 + z2 + 4 )
2
k=
(
32 x 2 + z 2 ) .
(x 2
+ y +z +42 2
)
2
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Onde:
xx =
(
8 4 xy + zx 2 + zy 2 + z 3 − 4 z ) e
x 4 + 2 x 2 y 2 + 2 x 2 z 2 − 8 x 2 + y 4 + 2 y 2 z 2 + 8 y 2 + z 4 − 8 z 2 + 16
yy =
(
8 x 3 + xy 2 + xz 2 − 4 x − 4 yz ) .
x 4 + 2 x 2 y 2 + 2 x 2 z 2 − 8 x 2 + y 4 + 2 y 2 z 2 + 8 y 2 + z 4 − 8 z 2 + 16
Agora basta aplicar xx e yy de acordo com o interesse. Para visualizar um toro, por
exemplo, basta plotar a superfície definida implicitamente por: xx 2 + yy 2 = 1, 2xx 2 +
yy 2 =2, etc.
Para visualizar estes toros, estão abaixo alguns exemplos, que podem ser rodados no
Maple (Utilizei o Maple V Release 5):
> restart;
a:=4*x/(x^2+y^2+z^2+4): #Inversa da projeção estereográfica π 2
b:=4*y/(x^2+y^2+z^2+4):
c:=4*z/(x^2+y^2+z^2+4):
d:=2-8/(x^2+y^2+z^2+4):
i:=simplify(2*(a*b+c*(d-1))): #Função de Hopf
j:=simplify(2*(a*(d-1)-b*c)):
k:=simplify((a^2+c^2)-(b^2+(d-1)^2)+1):
xx:=simplify(2*i/(2-k)): #Projeção estereográfica π1
yy:=simplify(2*j/(2-k)):
with(plots):
setoptions3d(style=PATCHNOGRID,scaling=CONSTRAINED,numpoints=5000):
implicitplot3d({xx=0,xx=-.5,xx=.5},x=-7..7,y=-7..7,z=-7..7);
implicitplot3d(xx^2+yy^2=1,x=-7..7,y=-7..7,z=-7..7);
implicitplot3d({(xx+2)^2+yy^2=1,(xx-2)^2+yy^2=1},x=-7..7,y=-7..7,z=-7..7);
2 2
Mas também podemos determinar os pontos em S , ao invés de R (observe que não
declararei mais a função a ser plotada em função de xx e de yy, mas de i, j e k):
implicitplot3d({i=0,i=-.5,i=.5},x=-7..7,y=-7..7,z=-7..7);
implicitplot3d({k=0,k=-.5,k=.5},x=-7..7,y=-7..7,z=-7..7);
implicitplot3d({k=.1,k=.9},x=-6..6,y=-6..6,z=-6..6);
Para visualizar esta imagem por ângulos diferentes, basta clicar com o mouse sobre
a mesma e arrastá-lo com o botão pressionado.
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Fig 1 Fig 2
Fig 3
Figura 1 e Figura 3 são toros entrelaçados, obtidos pela aplicação de F em três círculos de S 2 , a saber o equador, um círculo
do hemisfério norte e outro do hemisfério sul (contidos em planos paralelos entre si).
Figura 2 são toros concêntricos obtidos pela aplicação de F em três círculos concêntricos do R 2 , a saber xx 2 + yy 2 = 1 ,
xx 2 + yy 2 = 2 e xx + yy = 3
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Bibliografia:
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H. Koçak, D. Laidlaw; Computer Graphics and the Geometry of S ; The Mathematical
Intelligencer; Springer – Verlag New York – Publishers; Volume 9, Número 1 (1987), Pg. 8-10
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