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Geometria Analı́tica (MATA01)

Seções cônicas no espaço R3 . Quádricas centradas. Parabolóides. Superfı́cies de

revolução. Superfı́cies Cilı́ndricas.

V Araujo
Cursos de Graduação: Ciências da Computação, Estatı́stica,
Engenharia, Fı́sica, Geofı́sica, Quı́mica.

Conteúdo
1 Quádricas 1
1.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Centradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Cônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4 Parabolóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.5 Cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Superfı́cies Quádricas—Classificação e identificação

1 Quádricas
1.1 Definição
Definição de superfı́cie quádrica
A equação geral do segundo grau nas variáveis x, y, z

Ax2 + By 2 + Cz 2 + 2Dxy + 2Exz + 2F yz + Gx + Hy + Iz = J

onde um dos coeficientes A, B, C, D, E ou F é não nulo, representa um superfı́cie


quádrica, muitas vezes dita simplesmente quádrica.

1
Se intersectarmos a superfı́cie dada pela equação acima com planos paralelos
aos planos coordenados, então obtemos uma cônica nesse plano, dita de traço da
quádrica no plano dado, e que nos ajuda a identificar o tipo de quádrica.

As formas padronizadas de quádricas


Tal como no caso das cônicas no plano, via mudança de coordenadas (translação/rotação)
todas as quádricas se reduzem a uma das seguintes formas:

quádricas centradas: Ax2 +By 2 +Cz 2 = D, caso em que se P (x, y, z) pertence


à superfı́cie, então P (−x, −y, −z) também pertence, logo a origem é um
centro de semetria destas quádricas; ou

quádricas não centradas: uma das seguintes

• Ax2 + By 2 + Rz = 0,ou
• Ax2 + Ry + Cz 2 = 0, ou
• Rx + By 2 + Cz 2 = 0.

Vamos estudar o aspecto de cada uma destas superfı́cies.

Superfı́cies Quádricas—Quádricas Centradas

1.2 Centradas
Superfı́cies quádricas centradas
Se nenhum dos coeficientes em Ax2 + By 2 + Cz 2 = D se anular, então
podemos reescrever esta equação como

x2 y 2 z 2
± ± 2 ± 2 =1
a2 b c
que é uma forma canônica ou padrão de uma quádrica central.
Como há três possı́veis combinações de sinais na expressão acima (consoante
temos ou todos os sinais positivos, ou um negativo, ou dois negativos), temos três
possı́veis tipos de quádricas centrais.
Note que se todos os coeficientes forem negativos, o conjunto de pontos re-
presentado pela equação é o conjunto vazio (ou seja, o lugar geométrico represen-
tando por esta equação não existe).

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Elipsóide
O elipsóide (“elipse”+”óide”=”em forma de elipse”) é dado pela equação

x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 =1
a2 b c
com todos os sinais positivos e onde a, b, c dão os tamanhos dos semieixos do
elipsóide.
Os traços nos planos z = 0, y = 0, x = 0 são as elipses

x2 y 2 x2 z 2 y2 z2
+ 2 = 1, + 2 = 1, + 2 =1
a2 b a2 c b2 c
respectivamente.

Esboço do elipsóide

Elipsóide de revolução
Se dois dos valores a, b, c forem iguais, o elipsóide é uma superfı́cie de revolução,
pois passa a ter um dos eixos coordenados como eixo de simetria.

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Por exemplo, se a = c, então o elipsóide pode ser obtido rodando em torno do
eixo y a seguinte elipse no plano XOZ
y2 z2
+ 2 = 1, x = 0
b2 c
como indicado na figura seguinte, no caso particular de
x2 y 2 z 2
+ + = 1.
22 42 22
Outro exemplo é o caso a = b = c que corresponde à superfı́cie de uma esfera de
raio a centrada na origem.

Esboço de um elipsóide de revolução

Elipsóide com translação de eixos


Se o centro do elipsóide for o ponto (h, k, `) e os eixos se mantêm paralelos
aos eixos coordenados, então sua equação tem o aspecto
(x − h)2 (y − k)2 (z − `)2
+ + = 1.
a2 b2 c2
Da mesma forma, a superficie esférica de centro (h, k, `) e raio a tem equação
(x − h)2 + (y − k)2 + (z − `)2 = a2
e é caso particular de um elipsóide todos os semieixos iguais a = b = c.

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Exemplo
Dada uma superfı́cie esférica

(x − h)2 + (y − k)2 + (z − `)2 = a2

e um plano Ax + By + Cz + D = 0 que dista do centro (h, k, `) menos do que


a, mostre que a interseção entre estas duas superfı́cies é uma circunferência
e ache seu raio.

Resolução
Primeiro, por uma translação, podemos assumir que (h, k, `) = (0, 0, 0). Se-
gundo, rodando os eixos, podemos assumir que o plano é horizontal com equação
z = b e b constante e 0 < b < a.

Então a distância entre o centro da esfera e o plano é b.

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Conclusão
A equação da esfera com z substituı́do pela constante b é a equação da curva
de interseção com o aspecto
(
x 2 + y 2 + z 2 = a2
⇐⇒ x2 + y 2 = a2 − b2
z=b

√ é uma curva no plano z = b com a equação de uma circun-


e portanto a interseção
ferência com raio a2 − b2 .
Concluı́mos que a interseção da esfera de raio a com um plano a√distância b
do seu centro, com b menor do que a, é uma circunferência com raio a2 − b2 .
Se tomarmos b cada vez mais próximo de a vemos que, no limite, quando
b = a, temos que a interseção é um único ponto (uma circunferência “degenerada”
com raio 0).

Hiperbolóide de uma folha


Se na equação de uma quádrica central dois coeficientes forem positivos e
um negativo, obtemos um hiperbolóide de uma folha. Uma de suas equações
canônicas é
x2 y 2 z 2
+ 2 − 2 =1
a2 b c
(as outras duas se obtêm trocando a posição de z com x ou y). O traço desta
superficie no plano XOY é a elipse

x2 y 2
+ 2 = 1, z=0
a2 b
e os traços no planos XOZ e Y OZ são as hipérboles

x2 z 2 y2 z2
− 2 = 1, y=0 e − 2 = 1, x = 0.
a2 c b2 c

Esboço de um hiperbolóide de uma folha

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Hiperbolóide de uma folha de revolução
Estes traços justificam o nome desta superfı́cie.
Se a = b temos que o traço no plano z = 0 é a circunferência x2 + y 2 = a2 e
esse hiperbolóide de uma folha é uma superfı́cie de revolução em torno do eixo z.
Tal como no caso do elipsóide, se transladarmos esta superfı́cie por um vetor
(h, k, `) obtemos uma equação com aspecto
(x − h)2 (y − k)2 (z − `)2
+ − = 1.
a2 b2 c2

Hiperbolóide de duas folhas


Se na equação de uma quádrica central dois coeficientes forem negativos e
um positivo, obtemos um hiperbolóide de duas folhas. Uma de suas equações
canônicas é
x2 y 2 z 2
− + 2 − 2 =1
a2 b c
(as outras duas se obtêm trocando a posição de y com x ou z). O traço desta
superficie no plano XOY e Y OZ são as hipérboles
x2 y 2 y2 z2
− 2 + 2 = 1, z=0 e − 2 = 1, x = 0,
a b b2 c

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respectivamente.

Esboço de um hiperbolóide de duas folhas

Traços do hiperbolóide de duas folhas


Os planos y = k com |k| < b não intersectam esta superfı́cie; e, para |k| ≥ b
a interseção é a elipse

x2 z 2 k2
+ = − 1, y=k
a2 c2 b2
e os traços nos planos z = k ou x = k são hipérboles.
Se tivemos a = c então o hiperbolóide é de revolução e gerado pela rotação
da hipérbole

x2 y 2
− + 2 = 1, z=0
a2 b
em torno do seu eixo principal (o eixo x) e no lugar de elipses os traços em y = k
com |k| > b passam a ser circunferências.

Superfı́cies Quádricas—Centradas e cônicas

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1.3 Cônicas
Cones centrados
O caso particular em que o termo constante é nulo

x2 y 2 z 2
± ± 2 ± 2 =0
a2 b c
origina superfı́cies que contêm retas que passam pela origem, pois a equação é
homogênea: se P (x, y, z) pertence à superfı́cie dada por uma equação deste tipo,
então (λx, λy, λz) também pertence à superfı́cies, para qualquer λ ∈ R.
Note que se todos os sinais forem iguais, então apenas a origem satisfaz a
equação.
Em todos os outros casos, a menos de multiplicar a equação por ±1 e trocar
as posições de x, y, z, podemos assumir que o sinal negativo está em z 2 e ficamos
com o cone z 2 = Ax2 + By 2 onde A, B são constantes positivas.

Esboço do cone

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Traços do cone
A interseção do cone com o plano XOY é a origem.
A interseção do cone com os planos XOZ e Y OZ são duas retas concorrentes
na origem, como se pode ver pela figura, ou notando que

z 2 = Ax2 , y = 0 ⇐⇒ (z − Ax)(z + Ax) = 0, y = 0 ou


z 2 = Bx2 , x = 0 ⇐⇒ (z − By)(z + By) = 0, x = 0.

A interseção com planos z = k e k 6= 0 são elipses


x2 y2
Ax2 + By 2 = k 2 ⇐⇒ + = 1.
k 2 /A k 2 /B
Se A = B temos o cone circular reto que é também a superfı́cie de revolução em
torno do eixo z gerado pela rotação em torno deste eixo de uma reta pela origem
(uma das retas obtidas na interseção do cone com x = 0 por exemplo).

Superfı́cies cônicas
Em geral, chama-se superfı́cie cônica ao conjunto de pontos no espaço gerado
pela famı́lia de todas as retas que contém um ponto de uma curva num plano e
outro ponto fixado fora desse plano.
A reta é chamada geratriz e a curva plana onde esta se apoia a diretriz.
No caso visto acima, a diretriz é um elipse ou uma circunferência.

Superfı́cies Quádricas—Quádricas Não Centradas

1.4 Não centradas


Superfı́cies quádricas não centradas
Vamos agora considerar Ax2 + By 2 + Rz = 0 (os outros casos, trocando o
lugar de z com y ou x

Ax2 + Ry + Cz 2 = 0 ou Rx + By 2 + Cz 2 = 0

são análogos).
Se todos os coeficientes são não nulos, então temos apenas dois casos, depen-
dendo se os coeficientes dos termos quadrados tiverem o mesmo sinal, ou sinais
contrários.

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Se algum dos coeficientes se anula, então temos uma superfı́cie cilı́ndrica:
Ax2 + By 2 = 0, ou Ax2 + Rz = 0, ou By 2 + Rz = 0
pois uma das variáveis pode tomar qualquer valor sem restrição. Trataremos des-
tes casos mais tarde.

Parabolóide elı́ptico
Se na equação Ax2 + By 2 + Rz = 0 os coeficientes do termos do segundo
grau tiverem o mesmo sinal, temos um parabolóide elı́ptico com forma canônica
x2 y 2
cz = 2 + 2 .
a b
Seu traço no plano XOY é apenas a origem; enquanto no plano XOZ e Y OZ
são as parábolas
x2 y2
cz = , y = 0 e cz = , x = 0.
a2 b2
2 2
A interseção com planos z = k com k 6= 0 ou é vazio, ou é a elipse xa2 + yb2 = ck;
enquanto para x = k ou y = k as interseções são novamente parábolas (estes
traços justificam o nome da superfı́cie).

Esboço do parabolóide elı́ptico

Parabolóide hiperbólico (sela)


Se em Ax2 +By 2 +Rz = 0 os coeficientes do termos do segundo grau tiverem
sinais contrário, temos um parabolóide hiperbólico com forma canônica
y 2 x2
cz = − 2.
b2 a
O traço no plano XOY são as retas concorrentes na origem
y 2 x2 y x y x
− = 0, z = 0 ⇐⇒ − + = 0, z = 0
b2 a2 b a b a
e os traços nos planos XOZ e Y OZ são as parábolas
x2 y2
cz = − , y = 0 e cz = , x = 0.
a2 b2

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12
Esboço do parabolóide hiperbólico (sela)

1.5 Cilı́ndricas
Superfı́cies cilı́ndricas
Definição de superfı́cies cilı́ndricas
Seja C uma curva dada num plano e f uma reta não contida nesse plano.
Uma superfı́cie cilı́ndrica é uma superfı́cie gerada por uma reta r que se move
paralelamente à reta f e sempre contedo algum ponto da curva C.
A reta f diz-se diretriz e a curva C geratriz da superfı́cie assim gerada.

Retas e planos concorrentes


Agora vamos assumir que um dos coeficientes em Ax2 + By 2 + Rz = 0 seja
zero. Podemos ter

Ax2 + By 2 = 0, com AB > 0 ou AB < 0

e temos no primeiro caso o eixo z e no segundo caso os planos bissetores y = ±x.


Observe que estas equações não especificam o valor de z portanto, para esboçá-
las, basta olha seu traço no plano XOY depois passar um reta paralela ao eixo z
por cada ponto desta curva.

Esboço da situação anterior

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Cilı́ndro parabólico
A 2
Outra situação é Ax2 + Rz = 0 de onde obtemos z = − R x e notamos que y
não tem restrição.
Esta curva é um parábola no plano XOZ e para obter a superfı́cie passamos
pelos seus pontos retas paralelas ao eixo y, obtendo um cilı́ndro parabólico.

Cilı́ndro hiperbólico ou elı́ptico


Outra forma de obter cilı́ndros é voltar à equação

x2 y 2 z 2
± ± 2 ± 2 =1
a2 b c

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e eliminar uma das variáveis (por exemplo, z) para obter
x2 y 2 x2 y 2
− 2 = 1 ou + 2 =1
a2 b a2 b
(ou analogamente trocando as variáveis x, y, z), que representa uma hipérbole ou
elipse no plano XOY .
Como a variável z não tem restrição, a superfı́cie é obtida passando por cada
pontos destas curvas no plano XOY uma reta paralela ao eixo z.
Observe que o nome da superfı́cie cilı́ndrica corresponde ao nome da
curva que é sua geratriz.

Cilı́ndro hiperbólico

Cilı́ndro elı́ptico

Mudança de centro das superfı́cies


Cada uma destas superfı́cies pode ter seu centro modificado por uma translação
para C(h, k, `) e obtemos sua equação substitutindo x, y, z por x − h, y − k e z − `
respectivamente.

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Dadas a equação de segundo grau em x, y, z muitas vezes precisaremos de
completar o quadrado para reconhecer qual a superfı́cie representada.

Exemplo √
Ache o raio da superfı́cie esférica que passa pelos pontos A(−2, 1, 26),
B(1, 2, −4) e C(2, 2, 3) e cujo centro está no plano xOy.
O centro (h, k, 0) está no plano z = 0 portanto a equação desta superfı́cie
esférica tem a forma

(x − h)2 + (y − k)2 + z 2 = r2

para certos valores de h, k e r > 0. Como temos três pontos que satisfazem esta
equação, obtemos o sistema
 
2 2 2 2 2 2

 (−2 − h) + (1 − k) + 26 = r (2 + h) + (1 − k) + 26 = r

(1 − h)2 + (2 − k)2 + 16 = r2 ⇐⇒ (1 − h)2 − (2 − h)2 + 7 = 0
 
(2 − h)2 + (2 − k)2 + 9 = r2 (2 − h)2 + (2 − k)2 + 9 = r2
 

e a segunda equação equivale a 2h + 4 = 0 ⇐⇒ h = −2.

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Conclusão da resolução do exemplo
Substituindo nas outras duas equações obtemos
( (
k 2 − 2k + 27 = r2 k 2 − 2k + 27 = r2
⇐⇒
k 2 − 4k + 29 = r2 −2k + 2 = 0
(
r2 = 1 − 2 + 27 √
⇐⇒ =⇒ r = 26
k=1

e concluimos que o raio da superfı́cie esférica indicada é 26.

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