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Superfı́cies Quádricas e de Revolução

1 Superfı́cies Quádricas

Definição 1.1. O gráfico de uma equação de segundo grau nas variáveis x, y e z da


forma

Ax2 + By 2 + Cz 2 + Dxy + Exz + F yz + Gx + Hy + Iz + J = 0,

com A, B, C, D, E, F, G, H, I e J constantes reais, é chamada uma superfı́cie quádrica.

Para visualizar, reconhecer e traçar o gráfico destas superfı́cies usamos uma técnica
que envolve a determinação dos traços e seções da superfı́cie.
Os traços de uma superfı́cie são as curvas de interseção da superfı́cie com os
planos coordenados xy (z = 0), xz (y = 0) e yz (x = 0).
As seções de uma superfı́cie são as curvas de interseção da superfı́cie com os
planos paralelos aos planos coordenados, ou seja, com planos x = k, y = k ou z = k,
onde k é uma constante real não nula.

Definição 1.2. Uma superfı́cie quádrica dada por uma equação da forma

x2 y 2 z 2
± ± 2 ± 2 = 1, (1)
a2 b c
onde a, b, c são constantes positivas, é chamada uma quádrica central.

As superfı́cies quádricas centrais são classificadas do seguinte modo:

(i) Se os três sinais do lado esquerdo da equação (1) são positivos, a superfı́cie é
chamada elipsóide.

(ii) Se apenas um dos sinais do lado esquerdo da equação (1) é negativo, a superfı́cie
é chamada hiperbolóide de uma folha.

(iii) Se dois sinais do lado esquerdo da equação (1) são negativos e o outro é positivo,
a superfı́cie é chamada hiperbolóide de duas folhas.

As justificativas para tais nomes são dadas a seguir.

1
1.1 O elipsóide

Considere o elipsóide de equação:

x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 = 1, com a, b, c > 0.
a2 b c

Os traços do elipsóide nos planos coordenados são:

(1) No plano xy (z = 0) temos:

x2 y 2
+ 2 = 1, (elipse).
a2 b

(2) No plano xz (y = 0) temos:

x2 z 2
+ 2 = 1, (elipse).
a2 c

(3) No plano yz (x = 0) temos:

y2 z2
+ 2 = 1, (elipse).
b2 c

A seção do elipsóide no plano z = k 6= 0, possui equação da forma

x2 y 2 k2 c2 − k 2
+ = 1 − = .
a2 b2 c2 c2

(i) Se |k| < c, (c2 − k 2 )/c2 > 0,

x2 y 2 c2 − k 2
+ = e a seção é uma elipse.
a2 b2 c2

(ii) Se |k| > c, (c2 − k 2 )/c2 < 0,

x2 y 2 c2 − k 2
+ = e a seção é o conjunto vazio.
a2 b2 c2

(iii) Se |k| = c, (c2 − k 2 )/c2 = 0,

x2 y 2
+ 2 =0 e a seção é o ponto (0, 0, k).
a2 b

2
De modo análogo, podemos obter as seções do elipsóide nos planos x = k e y = k.
Observação: Considere um elipsóide de equação
x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 = 1, com a, b, c > 0.
a2 b c

Se a = b = c temos uma esfera centrada na origem e raio r = a.


A equção de uma esfera S de centro em C(x0 , y0 , z0 ) e raio r é obtida da seguinte
forma:
p
P (x, y, z) ∈ S ⇔ d(P, C) = r ⇔ (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 = r ⇔
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 = r2 .

1.2 O hiperbolóide de uma folha

Supondo que apenas o termo envolvendo z 2 seja negativo, temos a equação:


x2 y 2 z 2
+ 2 − 2 = 1, com a, b, c > 0.
a2 b c

Os traços deste hiperbolóide nos planos coordenados são:

(1) No plano xy (z = 0) temos:


x2 y 2
+ 2 = 1, (elipse).
a2 b

(2) No plano xz (y = 0) temos:


x2 z 2
− 2 = 1, (hipérbole).
a2 c

(3) No plano yz (x = 0) temos:


y2 z2
− 2 = 1, (hipérbole).
b2 c

A seguir as seções do hiperbolóide de uma folha.

(1) No plano z = k 6= 0, temos


x2 y 2 k2 c2 + k 2
+ = 1 + = e a seção é uma elipse.
a2 b2 c2 c2

3
(2) No plano x = k 6= 0, temos
y2 z2 k2 a2 − k 2
− = 1 − = . (2)
b2 c2 a2 a2
(i) Se |k| < a, (a2 − k 2 )/a2 > 0 e a curva dada pela equação (2) é uma
hipérbole com focos no eixo y.
(ii) Se |k| > a, (a2 − k 2 )/a2 < 0 e a curva dada pela equação (2) é uma
hipérbole com focos no eixo z.
(iii) Se |k| = a, (a2 − k 2 )/a2 = 0 e a curva dada pela equação (2) é um par de
retas concorrentes cujas equações são: y = ±(b/c)z.

(3) No plano y = k 6= 0, temos uma situação análoga à do item (2).

1.3 O hiperbolóide de duas folhas

Supondo que apenas os termos envolvendo x2 e z 2 possuam sinais negativos, temos


a equação:
x2 y 2 z 2
− 2 + 2 − 2 = 1, com a, b, c > 0.
a b c
Os traços deste hiperbolóide nos planos coordenados são:

(1) No plano xy (z = 0) temos:


x2 y 2
− + 2 = 1, (hipérbole com focos no eixo y).
a2 b
(2) No plano xz (y = 0) temos:
x2 z 2
− − 2 = 1, (conjunto vazio).
a2 c
(3) No plano yz (x = 0) temos:
y2 z2
− 2 = 1, (hipérbole com focos no eixo y).
b2 c

A seguir as seções do hiperbolóide de duas folhas.

(1) No plano z = k 6= 0, temos


x2 y 2 k2 c2 + k 2
− + = 1 + =
a2 b2 c2 c2
e a seção é uma hipérbole com focos no eixo y.

4
(2) No plano x = k 6= 0, temos
y2 z2 k2 a2 + k 2
− = 1 + =
b2 c2 a2 a2
e a seção é uma hipérbole com focos no eixo y.
(3) No plano y = k 6= 0, temos:
x2 z 2 k2 b2 − k 2
− − = 1 − = . (3)
a2 c2 b2 b2
(i) Se |k| < b, (b2 − k 2 )/b2 > 0 e a curva dada pela equação (3) é um conjunto
vazio.
(ii) Se |k| > b, (b2 − k 2 )/b2 < 0 e a curva dada pela equação (3) é uma elipse.
(iii) Se |k| = b, (b2 − k 2 )/b2 = 0 e a curva dada pela equação (3) é o ponto
(0, k, 0).

1.4 Parabolóides

Consideremos uma superfı́cie quádrica cuja equação padrão tem uma das seguintes
formas:

x2 y 2 y2 z2 x2 z 2
± 2 ± 2 = z ou ± 2 ± 2 = x ou ± 2 ± 2 = y,
a b b c a c
onde a, b e c são constantes positivas.
Se os sinais do lado esquerdo destas equações são iguais, a superfı́cie é chamada um
parabolóide elı́ptico. Se os sinais forem diferentes teremos uma superfı́cie chamada
parabolóide hiperbólico (ou sela de cavalo).

1.5 Parabolóide elı́ptico

Suponha, por exemplo, que o parabolóide tenha equação


x2 y 2
+ 2 = z, com a, b > 0.
a2 b

Os traços nos planos coordenados são:

(1) No plano xy (z = 0) temos :


x2 y 2
+ 2 = 0, que é o ponto (0, 0, 0).
a2 b

5
(2) No plano xz (y = 0) temos:

x2
z= , (parábola).
a2

(3) No plano yz (x = 0) temos:

y2
z= , (parábola).
b2

A seguir as seções do parabolóide elı́ptico.

(1) No plano x = k 6= 0, temos

y2 k2
z= + 2 (parábola).
b2 a

(2) No plano y = k 6= 0, temos

x2 k 2
z= + 2 (parábola).
a2 b

(3) No plano z = k 6= 0, temos:


x2 y 2
+ 2 = k. (4)
a2 b
(i) Se k > 0 a curva dada pela equação (4) é uma elipse.
(ii) Se k < 0 a curva dada pela equação (4) é um conjunto vazio.

1.6 Parabolóide hiperbólico

Suponha, por exemplo, que o parabolóide hiperbólico tenha equação

x2 y 2
− + 2 = z, com a, b > 0.
a2 b

Os traços nos planos coordenados são:

(1) No plano x = 0 temos:


y2
z= , (parábola).
b2

6
(2) No plano y = 0 temos:
x2
z=− , (parábola).
a2

(3) No plano z = 0 temos:


x2 y 2
− + 2 = 0,
a2 b
que é um par de retas concorrentes cujas equações são y = (b/a)x e y = −(b/a)x.

A seguir as seções do parabolóide hiperbólico.

(1) No plano x = k 6= 0, temos


y2 k2
z= − 2 (parábola).
b2 a

(2) No plano y = k 6= 0, temos


x2 k 2
z=− + 2 (parábola).
a2 b

(3) No plano z = k 6= 0, temos:


x2 y 2
− + 2 = k. (5)
a2 b
(i) Se k > 0 a curva dada pela equação (5) é uma hipérbole com focos no eixo
y.
(ii) Se k < 0 a curva dada pela equação (5) é uma hipérbole com focos no eixo
x.

1.7 Cone elı́ptico

Uma superfı́cie quádrica cuja equação padrão é da forma


x2 y 2 2 y2 z2 2 x2 z 2
+ = z ou + = x ou + 2 = y2,
a2 b2 b2 c2 a2 c
onde a, b e c são constantes positivas, é chamada cone elı́ptico.
A seguir vamos determinar os traços e as seções do cone elı́ptico de equação

x2 y 2
+ 2 = z 2 , com a, b > 0. (6)
a2 b

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(i) No plano x = 0 temos:

y2 y
z2 = ⇒ z = ± (par de retas concorrentes).
b2 b

(ii) No plano y = 0 temos:

x2 x
z2 = , ⇒ z = ± (par de retas concorrentes).
a2 a

(iii) No plano z = 0 temos:


x2 y 2
+ 2 = 0,
a2 b
que é o ponto (0, 0, 0).

A seguir as seções do cone elı́ptico dado pela equação (6).

(1) No plano x = k 6= 0, temos

y2 k2
z2 − = (hipérbole).
b2 a2

(2) No plano y = k 6= 0, temos

2 x2 k2
z − 2 = 2 (hipérbole).
a b

(3) No plano z = k 6= 0, temos:

x2 y 2
+ 2 = k2 (elipse).
a2 b

Observação: Se na equação (6) a = b, o cone é chamado circular.


Exemplos: Identifique as superfı́cies a seguir, determinando os traços e seções.
Se a superfı́cie for uma esfera determinar o centro e o raio.

1. 4x2 + 8x + y 2 − 2y + z 2 − z = 55.

2. 4x2 + 8x + 4y 2 − 8y + 4z 2 − 4z = 16.

3. 3x2 + 4y 2 + 9z 2 = 25.

4. x2 − 16y 2 + 25z 2 = 4.

8
5. 49x2 − 25y 2 − 36z 2 = 1.

6. −x2 + 8y 2 = −4z 2 .

7. 36y 2 + 49z 2 = x.

8. 121x2 − 100y 2 = 64z.

9. −64y 2 − 100z 2 = 4x.

10. −36x2 + 81y 2 − 25z 2 = 7.


y2
11. x2 − + 36z = 0.
144

1.8 Superfı́cies cilı́ndricas

Definição 1.3. Um cilindro é uma superfı́cie gerada por uma reta L, chamada gera-
triz do cilindro, que se move ao longo de uma curva plana C, chamada diretriz, de
modo que a reta L permanece sempre paralela a uma reta fixa não situada no plano
da curva.

Consideremos o problema de encontrar uma equação para um cilindro com direriz


C no plano xy e geratriz paralela ao eixo z.
Suponhamos que C tem equação F (x, y) = 0. Um ponto P (x, y, z) pertence ao
cilindro se e somente se o ponto Q(x, y, 0) está em C, isto é, se e somente se as
coordenadas x e y de P satisfazem a equação de C. Logo, a equação do cilindro é
F (x, y) = 0, ou seja, a mesma equação de C.
Exemplos

1) Curva C dada por x2 + y 2 = 9 e diretriz L paralela ao eixo z.

9
2) Curva C dada por y = 8x2 e diretriz L paralela ao eixo z.

3) Esboce o gráfico em R3 das equação z = sen y.

4) Esboce o gráfico em R3 das equação z − ex = 0.

2 Superfı́cies de Revolução

Definição 2.1. Uma superfı́cie de revolução é uma superfı́cie obtida pela rotação de
uma curva plana em torno de uma reta fixa pertencente ao mesmo plano da curva.
Tal curva é chamada geratriz e a reta fixa eixo de revolução.

Exemplos: Esfera, cilindro, cone.


Vamos determinar a equação de uma superfı́cie de revolução obtida girando uma
curva C no plano yz, de equação z = f (y) (z função de y), em torno do eixo y.
Seja P (x, y, z) um ponto qualquer da superfćie. O plano perpendicular ao eixo
de revolução y e que passa por P intercepta o eixo y no ponto R(0, y, 0) e a curva
geratriz C no ponto Q(0, y, f (y)). Como P e Q estão na mesma circunferência de
centro R temos
√ p 2
d(P, R) = d(Q, R) ⇔ x2 + z 2 = [f (y)] ⇔ x2 + z 2 = [f (y)]2 .

De modo análogo, a equação da superfı́cie de revolução obtida pela rotação, em

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torno do eixo x, de uma curva num dos planos coordenados contendo este eixo é

y 2 + z 2 = [f (x)]2 .

Se o eixo de rotação for o eixo z e a curva geratriz está em um dos planos coorde-
nados contendo exte eixo, a equação da superfı́cie de revolução é

x2 + y 2 = [f (z)]2 .

Exemplos

1) Determine a equação da superfı́cie de revolução obtida pela rotação da parábola


z = x2 em torno do eixo z. Esboce o gráfico da superfı́cie.
√ √ √
Escreva x = z e seja f (z) = z ou f (z) = − z. Então, a equação da
superfı́cie é dada por x2 + y 2 = [f (z)]2 = z. Logo, a superfı́cie úm parabolóide
circular.
2) Considere a superfı́cie de equação ln(x2 + z 2 ) = −2y. Determine:
a) O eixo de revolução.
b) A curva geratriz em um dos planos coordenados que contém o eixo de
revolução.
c) Esboce o gráfico da superfı́cie.
Temos que ln(x2 + z 2 ) = −2y ⇔ x2 + z 2 = e−2y ⇔ x2 + z 2 = [e−y ]2 .
Logo o eixo de revolução é o eixo y e as curvas geratrizes são x = f (y) = e−y
ou z = f (y) = e−y .

Exemplos

 2
2 2 π 1
1) x + y = sen( z) + é uma superfı́cie de revolução.
2 2
2) Um elipsóide que tem 2 dos parâmetros iguais é um elipsóide de revolução.
x2 y 2 z 2
+ 2 + 2 = 1, com parâmetros a, b, c > 0.
a2 b c
O eixo de revolução é o eixo relacionado a variável que tem como coeficiente o
inverso do quadrado do parâmetro distinto.
3) O hiperbolóide de uma folha que tem parâmetros iguais associados aos termos
de sinal positivo é uma superfı́cie de revolução. A variável com coeficiente
negativo é o eixo de revolução.

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4) O hiperbolóide de duas folhas que tem parâmetros iguais associados aos termos
de sinal negativo é uma superfı́cie de revolução. A variável com coeficiente
positivo é o eixo de revolução.
x2 y 2 y
5) O cone 2 + 2 = z 2 pode ser obtido pela rotação da reta z = em torno do
a a a
eixo z.

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