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ISSN: 1984-6290

Qualis B1 - avaliação CAPES 2020-2024


DOI: 10-18264/REP

Desafios da educação e o professor como mediador no processo ensino-


aprendizagem na sociedade da informação

Marcos Antonio de Oliveira


Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional (Univ. de Taubaté)

Elvira Aparecida Simões de Araujo


Professora, psicóloga, doutora em Psicologia (Univ. Taubaté)

Introdução
Com as mudanças ocorridas na sociedade, sobretudo após a sociedade industrial, com a inserção das novas tecnologias de informação e
comunicação, principalmente com o advento da internet, o que para muitos pesquisadores tem como nome ‘Sociedade da Informação’, deu-se
muita ênfase ao saber, à elaboração e à construção desses saberes. Dessa forma, a educação não pode ficar alheia a essa realidade. Investir em
massa na educação nunca foi tão importante, mas investir na sociedade que incorpora as novas tecnologias exige um novo modelo de educação,
um modelo que quebre os velhos paradigmas. Assim, o papel do professor passa por transformação, exigindo desse profissional novas práticas,
exercendo o papel de mediador, transformador de sentidos, buscando a formação de alunos críticos, autônomos, e o educando deixa de ser
passivo e passa a ser responsável pelo seu processo de aprendizagem.

A realidade que demanda a sociedade da informação passa a exigir um esforço que exige um trabalho de time entre os professores, em que não
se permite mais limitar o conteúdo apenas na sua disciplina; portanto, colocar na prática conceitos como desenvolvimento de competências,
contextualização e interdisciplinaridade e trabalhar com projetos que possibilitem uma prática docente mais motivadora são ações primordiais
na sociedade que incorpora as novas tecnologias.

É preciso adotar uma postura positiva em relação às mudanças paradigmáticas e assumir compromisso com a formação dos alunos e com o
desenvolvimento de atividades que atendam às necessidades da realidade atual, inovando sempre o processo de ensino.
Este artigo tem como objetivo contribuir para discussões dos desafios da educação contemporânea, com foco da importância do professor na
construção do conhecimento, diante das novas tecnologias da informação e comunicação, que caracterizam a sociedade da informação.

O conhecimento e a sociedade da informação


Observa-se que, com o passar do tempo, ocorreram profundas transformações, as quais trouxeram relevantes mudanças que impactaram
fortemente a vida das pessoas e das organizações. Em consequência, sabe-se que o conhecimento passou a ser o bem de maior valor,
ganhando cada vez mais espaço numa sociedade caracterizada por uma economia desmaterializada.

Para Sene (2008), qualquer que seja a definição para essa sociedade, o fato é que estamos numa sociedade a qual se encontra em constante
revolução tecnológica, em que devem ser considerados os impactos que geram mudanças em todas as áreas que envolvem a sociedade como
um todo, no modo de vida das pessoas, na política, dentre outras questões que passam a requerer a necessidade de adaptação de todos.

Ainda do ponto de vista conceitual, de acordo com Burch (2005), não se sabe se estamos numa nova etapa da sociedade industrial ou estamos
entrando numa nova era. Vários são os conceitos dados a essa nova realidade, alguns deles cunhados, os quais buscam a intenção de identificar
e entender o alcance dessas mudanças.

De acordo com Carmo (2007), essa sociedade, quando comparada aos setores tradicionais de produção industrial, é também caracterizada por
novos tipos de relações sociais e pela importância da informação e do saber científico. Sendo assim, passamos de uma sociedade pós-industrial
para uma sociedade da informação.

De acordo com Drucker (1969), é nesse momento que o recurso econômico básico não é mais o capital nem os recursos naturais ou a mão de
obra, mas sim o conhecimento, numa sociedade na qual este exerce o papel central. Nesse sentido, os profissionais que passam a ser mais
reconhecidos nesta era são aqueles bem preparados para atender o fator chave do poder econômico: o conhecimento.

De acordo com Takahashi (2000), a sociedade da informação representa profundas mudanças na forma como a sociedade e a economia passam
a se organizar. Essas mudanças serão afetadas de alguma forma, na medida em que cada região dispõe de infraestrutura de informações
disponíveis.

Uma vez que esse modelo de sociedade é caracterizado pelas constantes mudanças decorrentes das inovações, observa-se que para desenvolver
uma sociedade de informação de igualdade se faz necessário o desenvolvimento de políticas de acesso à informação para todos, possibilitando
assim, por meio desse acesso, que as pessoas sejam capazes de adquirir, assimilar e construir o conhecimento, que no percurso de nossas vidas
se transforma constantemente.
Desafios da educação e o papel da escola
De acordo com Takahashi (2000), vários serão os desafios a serem encarados pela sociedade da informação em todo o mundo; no entanto, cada
país terá sua particularidade, uma vez que o desafio reflete uma combinação singular de oportunidades e riscos.

No que se refere ao campo educacional, de acordo com Werthein (2000), os investimentos que incorporam as novas tecnologias implicam riscos
e desafios, além da necessidade de os profissionais envolvidos terem ciência do verdadeiro papel que esses recursos vão desempenhar nas
atividades educacionais.

Portanto, a realidade nos leva a repensar constantemente os modelos de aprendizagem. Ensinar e aprender frente às novas tecnologias da
comunicação e informação é um desafio que deve ser encarado com profundidade.

Na dinâmica da vida contemporânea, as possibilidades que as tecnologias trazem para a sociedade demonstram ainda mais evidência de que a
educação pode ocorrer em diversos lugares de prática social, rompendo o paradigma de que a aprendizagem só acontece em ambientes
formais, mas é inegável o papel que a escola exerce na formação e seu significado no processo educativo de sujeitos que a integram. É no ensino
formal que a educação se condiciona a um projeto pedagógico que orienta a prática docente (Barbosa, 2004).
Nesse sentido, Baladeli e Barros (2012, p. 162) afirmam:

A escola como espaço para disseminação de conhecimento historicamente produzido representa a primeira esfera de contato entre o sujeito e
esse conhecimento científico. Assim, recai sobre ela a emergência na adequação de paradigmas a fim de que possibilite a formação de sujeitos
consoantes com a realidade de uma sociedade globalizada.

Dessa forma, torna-se necessário o comprometimento que as instituições devem assumir com a formação constante de seus professores, por
meio de capacitações e possibilidades que desenvolvam um ambiente e espaço para troca de saberes, permitindo uma aprendizagem constante
por parte de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Sob essa ótica, de acordo com Sene (2008), não importa o termo a ser aplicado para definir o momento em que vivemos, mas a realidade
demanda profundas mudanças no sistema educativo, a fim de atender à realidade imposta pela sociedade, o que requer necessidade de
adaptação, mas necessária.

A realidade imposta pela sociedade das tecnologias requer novos conhecimentos e a ampliação da escolaridade por parte de todos.
Consequentemente, torna-se importante que as escolas repensem seus modelos pedagógicos (Provenzo; Waldhelm, 2009).

Ao tratar da sociedade da informação, não há como distanciar as novas tecnologias da informação e comunicação; portanto, não há como
também distanciar as escolas dessa realidade. De acordo com Soares (2011), cada vez mais tem se tornado difícil ficar longe das novas
tecnologias de informação e comunicação, uma vez que o mercado de trabalho tem exigido muitos conhecimentos tecnológicos. Sendo assim, a
educação também precisa muito dessas ferramentas para que a aprendizagem seja eficiente, o que requer compromisso de professores, alunos,
instituições de ensino no sentido de preparar essas pessoas.

O papel do professor e do aluno na construção do conhecimento


Os desafios enfrentados frente à realidade da sociedade contemporânea requerem abordagens que conduzem a prática pedagógica numa
reflexão para além do papel da escola, mas também sobre a função do docente.

Segundo Perrenoud, (1999), a prática pedagógica depende de toda equipe envolvida, em um trabalho coletivo, buscando diversas estratégias
consideradas necessárias para o desempenho do exercício da educação, criando o que denomina ‘revolução de competências’, que segundo
esse autor só acontecerá se, durante a formação, os futuros e atuais docentes experimentarem-na pessoalmente.

Portanto, o grande desafio passa a ser encarar uma nova realidade, exigindo maior comprometimento e maior reflexão no fazer pedagógico do
professor.

Para Provenzo e Waldhelm (2009), é nesse cenário de transformação que se insere a reflexão sobre a didática e as novas tecnologias de
informação e comunicação, em que cabe um novo comportamento do professor, deixando de lado a ideia de que o saber é centrado na sua
figura, mas pensar num modelo de perspectiva transformadora no processo educativo.

Corroborando com esses autores, têm sido de extrema relevância os aspectos afetivos da relação professor-aluno, em que o professor deve
demonstrar competência humana, uma vez que ao estabelecer um clima de confiança e respeito, passa a valorizar e estimular seus alunos. Com
relação ao uso das novas tecnologias da informação, pensar numa didática de forma a planejar bem suas atividades, aplicando esses recursos de
maneira adequada e, sobretudo, a proposta da aula, possibilitando ao aluno refletir sobre as informações recebidas, desenvolvendo o senso
crítico para elaboração e construção do conhecimento (Ferreira; Souza, 2010).

Considerações finais
O estudo possibilitou uma discussão sobre os desafios da educação e a importância da ação docente frente à realidade imposta pela sociedade
contemporânea. Observou-se a elevada importância do conhecimento, assim como de outras características cognitivas que formam as
competências pessoais necessárias. A partir do conhecimento e dessas características, a sociedade da interconectividade emerge de profundas
reflexões acerca do sistema educativo, das escolas e do professor.

Com o mercado cada vez mais segmentado e exigente, com as múltiplas formas de produção e de informação, chegou-se à conclusão de que a
educação precisa repensar sua atuação, assim como a prática docente e as características necessárias para o professor no século XXI.
As tecnologias da informação são uma realidade que se faz presente no cotidiano das pessoas, principalmente na vida dos jovens que se
fascinam com esses recursos. Portanto, o professor precisa tornar suas aulas mais animadas e interessantes. Para alcançar uma aula que motive
seus alunos, o professor deve ter a liberdade de desenvolver práticas mais interativas, integrando as dinâmicas tradicionais com as mais
inovadoras.

A realidade atual exige que se reconheça que a nova geração possui outros modos de aprendizagem; hoje são múltiplas maneiras de aprender,
de forma mais contextualizada e não linear, diferente da estrutura que imperava no passado.

É nesse sentido que a figura do professor ganha espaço e exige da educação uma nova abordagem no processo de ensino-aprendizagem, em
que se faz necessário trabalhar novas metodologias, capazes de desenvolver os indivíduos para resolver problemas e construir seus próprios
conhecimentos a partir das informações recebidas.

O Quadro 1 ilustra melhor o papel que se apresenta para as instituições de ensino para a sociedade da informação.

Quadro 1: Papel das escolas na sociedade da informação

Papel da instituição de ensino Autor

Melhores condições de trabalho; métodos, metodologias Provenzo e Waldhelm (2009)


recursos necessários e adequados.

Formar sujeitos com a realidade da sociedade, capacitação Takahashi (2000)


pedagógica e tecnológica e comprometimento com a formação
constante de seus professores.

Possibilitar um ambiente de troca de conhecimento entre a Moura e Brandão (2013)


equipe.

Alinhar-se com as tendências das TIC. Sene (2008), Soares (2011)

Elaboração de currículos flexíveis. Provenzo e Waldhelm (2009), Martinazzo (2009)

Promover o desenvolvimento de competências, Provenzo e Waldhelm (2009)


contextualização e interdisciplinaridade.

Construir projetos que atendam à necessidade; articular-se com Provenzo e Waldhelm (2009), Marinho (2006)
a cultura, integrar pessoas, movimentos, organizações e
instituições.

O quadro 2 ilustra melhor o papel que se apresenta para os professores para a sociedade da informação.

Quadro 2: Papel dos professores na sociedade da informação

Papel do professor Autor

Ensinar e aprender frente às novas tecnologias; ser dinâmico e Moura e Brandão (2013)
versátil.

Atuar como orientador, estimulador. Santos (2004), Provenzo e Waldhelm (2009)

Aprender a trabalhar colaborativamente. Perrenoud (1999), Moura e Brandão (2013)

Ser sujeito da construção do conhecimento. Provenzo e Waldhelm (2009), Moura e Brandão (2013)

Saber articular o conhecimento com a prática e com outros Moura e Brandão (2013)
saberes.

Atentar aos aspectos afetivos professor-aluno; estabelecer um Santos (2004), Provenzo e Waldhelm (2009)
espaço de aprendizagem cooperativo e estimulante.

Utilizar os recursos, incluindo as TIC, refletindo sobre suas Moura e Brandão (2013)
possibilidades pedagógicas.

Direcionar os alunos a utilizar as TIC da maneira mais útil Moura e Brandão (2013)
possível, conduzindo-os a uma reflexão crítica e questionadora
em relação à busca de informações.

Referências
BALADELI, A. P. D.; BARROS, M. S. F.; ALTO, A.É desafio para o professor na sociedade da informação.Curitiba, nº 45, p. 155-165, 2012. Editora
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BARBOSA, M. S. S. O papel da escola: obstáculos e desafios para uma educação transformadora. 2004. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/6668/000488093.pdf?sequence=1. Acesso em 27 maio 2016.
BURCH, S. Sociedade da informação/Sociedade do conhecimento. 2005. Disponível em:
http://www.cin.ufpe.br/~cjgf/SOCIETY/Sociedade%20da%20informacao%20e%20do%20Conhecimento%20-%20Sally%20Burch.pdf. Acesso em:
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CARMO, P. S. Sociologia e sociedade pós-industrial:uma introdução. São Paulo: Paulus, 2007.

DRUCKER, P. F. Uma era de descontinuidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.

FERREIRA, A. O.; SOUZA, M. J. J. A redefinição do papel da escola e do professor na sociedade atual.2010. Vértices, Campos dos Goytacazes, v. 12,
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MOURA, E.; BRANDÃO, E. O uso das tecnologias digitais na modificação da prática educativa escolar. 2013. Disponível em:
http://www.faers.com.br/revista_fazer_artigos/1. Acesso em 30 maio 2016.

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http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf. Acesso em 27 maio 2016.
Publicado em 08 de novembro de 2016

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