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Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo
Agradecimentos
Minha turma ficou em segundo lugar da campanha. Motivados
pela competição e, também, pela boa ação, as turmas do terceiro
ano do ensino médio competiram entre si para arrecadar alimentos.
Existia uma tabela de pontuação para cada produto, dando
prioridade para os mantimentos da cesta básica, aqueles mais
importantes, uma vez que muitos quilos de polvilho, por exemplo,
não deveriam ter a mesma pontuação que o arroz ou o feijão.
— Combinado!
— Não, mãe, doação não tem nada a ver com estudar, mas...
— Mãe, o filme vai sair de cartaz e não vou assistir. Por favor
— implorei, mesmo sabendo a resposta.
— Rebeca.
— E você também. Olha que vestido lindo! — Fiz com que ela
desse uma volta no seu eixo, e depois fiz cosquinhas. — Só as
princesas mais lindas riem assim.
— Sim, muito linda! Você vai? — Ela virou o rosto para mim,
acenei afirmativo e ela voltou a ficar de costas enquanto começava
a trançar seus cabelos castanhos.
O tempo passou muito rápido, as crianças foram tão
boazinhas e carentes, que duvidei que eles teriam sido mais
beneficiados em tudo isso do que nós. Gostaria de poder mostrar
aos meus pais toda essa ação social. Havia ocasiões na vida que
não se pagava com dinheiro ou estudo, era necessário viver o
momento, sentir-se presente.
— E você?
— Eu vou ficar bem, mas você, vai brincar muitão e orar todas
as noites para o papai do céu abençoar você e todos os seus
amigos. É meu presente para você.
— Eu também.
Estava no meu primeiro ano de faculdade de Medicina, com
vinte anos. Dediquei-me a ser tão bom quanto meu pai, médico
oncologista. Ninguém precisou dizer-me para largar a farra e os
amigos e me dedicar aos estudos. Pelo contrário, minha mãe,
muitas vezes, tirava os livros de perto de mim e me mandava viver a
vida, ser jovem e inconsequente.
— Meu filho, diga oi para sua irmã. Rebeca, filha, esse é seu
irmão mais velho, Matias.
— Sua irmã, meu filho. E não, Rebeca falou que foi uma
princesa de verdade que a presenteou com o amuleto da sorte. Eu
também acho, porque não tem outra explicação para eu querer
trazer essa preciosidade para casa hoje, sem nem planejar.
— Não sou.
***
Não foi uma nem duas vezes que fomos para o pronto
atendimento por conta dessa pequena preciosidade. Como uma
criança que precisava recuperar o tempo perdido sem família, ela
brincou e muitas vezes se machucou.
Até então, não entendia seu propósito com tudo isso e estava
esperando entrar no carro para dispensá-la. Ela poderia trazer
alegria para os pacientes participando de alguns grupos voluntários,
como a minha mãe participava, mas... tema de redação?
— Por que não olha para nossa mãe e faz uma redação sobre
ela, Rebeca Meleca? — Apertei o botão do alarme do carro, abri a
porta do motorista e ela entrou na minha frente, com seus olhos
grandes cheios de ternura. Ela tinha me conquistado desde o
momento que espirrou catarro em mim.
— Por que não esquece esse apelido, hein? — Ela tentou me
fazer cócegas, eu a tirei do caminho e me sentei no banco do
motorista. — É sério, Tias, me deixa ir, por favor!
Ela fez uma careta, depois olhou para mim fazendo bico e
segurou o pingente da sua correntinha. Era seu amuleto da sorte, a
lembrança que a princesa lhe deu no orfanato.
— Sim, Yasmim! Foi ela quem me deu isso, dois dias antes
da mãe me adotar. — Ela apontou para a porta do quarto e me
deixou em choque. — É a mesma Yasmin e você precisa salvar a
vida dela!
Não era a primeira vez que a via, nem que me sentia daquela
forma. A conexão que tentei ignorar quando dei alta para Yasmin
retornou com força, ao cogitar que ela poderia ser a dona daquela
correntinha de Rebeca.
— Plano de Saúde.
— Estou... bem.
— Vou tentar.
Positivo.
Demorei muito tempo para agir, por isso não respondi, apenas
ajudei-a com a posição. Apoiei suas costas com as mãos, o que me
fez ter a certeza da sua debilidade e magreza.
— Sim, confiante.
Uma vida saudável por uma vida incerta. Esse era o preço?
— O que aconteceu?
— Até quando vamos ter que lidar com isso? Não aguento
mais as despesas, os choros, as desilusões — ela falou se
aproximando da cama. Tentou tocar no corpo da filha, mas não
conseguiu, voltou a se aproximar de mim.
Estava difícil não criticar a mãe que não apoiava sua filha,
ainda mais que parecia muito saudável e bem-vestida. Dinheiro não
deveria ser um fator crítico quando o assunto era saúde. Tentei
recordar sobre o que Yasmin tinha falado, os pais estavam de férias.
— Só vim para saber como estava, ela não quer nossa
presença, faz questão de dizer a todos que sabe se virar sozinha, é
independente e autossuficiente. — Suas palavras continham dor, a
mãe saiu do quarto e me deixou com muitas perguntas. Uma delas
era: o que havia de verdade no relacionamento familiar da minha
paciente?
Então, não foi um adulto que lhe fez ter esperança sobre suas
origens, mas uma adolescente, com semblante carrancudo. Assim
que a menina a tocou, percebeu que havia encontrado a conexão
que tanto esperava. Linda e carinhosa, a garota lhe deu uma
correntinha preciosa, aquele que não a deixaria esquecer desse dia
nunca mais.
— A visita para minha irmã terá que ser adiada. Eu não moro
mais com meus pais. Vou pegar seu número com Rebeca e
conversamos mais tarde.
E se eu estragasse tudo?
— Enviei uma mensagem que iria chegar mais cedo e... quem
é você? — ela me perguntou confusa, olhei para os porta-retratos
virados para baixo e tudo fez sentido.
Matias poderia até gostar de mim, mas como ele mesmo
disse, eu demorei. Havia outra mulher, outro relacionamento e longe
de mim querer bagunçar com sua cabeça, quando a minha
finalmente estava sã.
— Eu já vou, adeus.
Não era para ter sido assim. Planejei na minha mente por
horas e horas como seria a nossa conversa. Deveríamos comer,
faria um pedido de tempo para resolver as coisas antes que
tentássemos nos aproximar e tudo encerraria bem.
Fazia poucos meses que estava junto com Nadja, ela vinha
dormir no meu apartamento e praticamente tínhamos uma rotina de
casal. Pensar no término do nosso caso me doía, mas era mais
insuportável quando pensava em Yasmin saindo do meu
apartamento sem que eu pudesse me explicar.
Que confusão!
— Pelo visto, você amou tanto a faculdade que agora não vai
largar — brinquei.
— Nunca mais! — Tomou um gole da sua bebida e envolveu
meu pescoço com seu braço. — E sabe quem é o professor gato do
jornalismo?
— Quem?
— Não precisa!
— Sim, por isso me chamou, não foi? — Por mais que seu
tom era divertido, me lembrando do doutor Matias pelo qual me
lembrava, eu não o recebi assim.
Eu dormi ou desmaiei?
— Tivemos.
— Um amor platônico que nunca deveria existir. — Respirou
fundo e terminou seu pão. — Vamos encerrar esse assunto, eu não
quero ter que relembrar quando estive aqui, com seus porta-retratos
abaixados e o flagrante da sua namorada.
Vi brilho nos seus olhos, ela sentia o mesmo que eu. Havia
situações em que muita coisa precisava acontecer, muitas palavras
necessitavam serem ditas. Mas não quando eu, sendo médico, tinha
me apaixonado pela paciente, cuja medula foi doada pela minha
irmã. Eu amava Rebeca, consequentemente, sentia o mesmo pelo
pedaço que estava em Yasmin. Parte ou todo, eu estava envolvido
muito mais do que planejei.
— Bem.
— Bem nada, ouvi uma ou outra coisa, ele foi idiota como no
jantar. — Virou-se para mim e abriu os olhos, bocejando e me
contagiando. — Ele morreu de ciúmes que você ficou com o
professor Miguel. Não foi?
Estava claro que ela sabia sobre mim, porque olhou rosto por
rosto até achar o meu. Sorriu amarelo, deixou o material em cima da
mesa do professor e apoiou o quadril nela, exalando superioridade.
— Por isso você quer que eu vá nesse bar com a sua turma,
para te dar cobertura — constatei e ela acenou afirmativo
empolgada. — Vocês estão namorando?
— Isso não fará com que sua vida seja mais fácil com Matias.
A rotina pode acabar com um relacionamento.
— Sim, mãe?
Pegou meu material, foi até mim, segurou minha mão e saiu
me puxando para onde ela queria. Pelo visto, iria ser álibi para a
minha amiga perder a virgindade e provavelmente, daria de cara
com seus amigos que achavam que eu tinha interesse em Miguel.
Pior, ele poderia estar lá também e eu teria que lidar com sua
presença.
Não dava para ligar para a minha mãe e pedir uma carona,
sendo assim, estava por minha conta.
Achava que teria mais tempo sem o ver antes de ter que lidar
com a rotina do hospital, na oncologia. Pelo visto, o universo estava
conspirando para a nossa vida se emaranhar de um jeito que não
teria como escapar.
Levando sua irmã no colo, segui Matias pelo elevador até seu
apartamento. Entrei me sentindo confortável, deixei o material em
cima da mesa, fui para a cozinha e sorri ao encontrar o chá gelado
na geladeira. Minha mãe esquecia sempre de comprar e eu estava
sentindo falta.
— Ela não está indo trabalhar e volta para casa no outro dia,
como se fosse normal! — Soltei indignada. — Minha vida foi estudar
e focar em ser uma boa pessoa, centrada e certinha. Agora, depois
que você foi embora, minha mãe é outra pessoa!
— Será que mudou? Só acho que ela sempre foi assim e nós
dois não vimos.
— Doutor, não sei mais o que fazer. Ele acha que é dono do
próprio nariz, mas quando passa mal por causa dessas porcarias,
quem tem que dar conta sou eu. — A mãe desabafou enquanto eu o
examinava.
— Tem algo que te incomoda e você não quer falar para mim.
— Você também, mas pelo visto, não sou digna dos seus
segredos — respondeu com desdém.
— Você não fala mais sobre seus pais, não entrou em contato
com minha mãe para participar do voluntariado e deixou de falar
sobre você e meu irmão.
— Não tem nada acontecendo — falei um pouco mais alto e
nervosa. Para minha indignação, ela pegou o próprio celular e
chamou Matias. — Pare, Rebeca, isso é muito infantil da sua parte.
Sobre meus pais...
O problema não era pagar sua parte, mas como tudo estava
acontecendo. Senti a dor de cabeça surgir do lado esquerdo,
coloquei a mão na testa e suspirei em busca de alívio. Seria uma
noite e tanto.
— E, então?
Apertei sua coxa, ele colocou a mão na boca para não soltar
o riso descontrolado. Aos poucos fui me contagiando, percebi que
estávamos lidando com uma mãe leoa, que para mim, aquecia meu
peito por demonstrar que se importava comigo.
— Acho melhor ir com você, ou terei que lidar com ela. — Dei
de ombros. — Ou não, já que está mais fora do que dentro de casa.
— O que é isso?
— E você não sabe da maior, ele conta essas piadas até para
os pacientes dele.
— Eu não posso.
— Sim — soltei.
— Obrigado, Yasmin.
Por Deus, ele era um homem bom, nós iríamos achar uma
forma do nosso relacionamento dar certo.
— Eu também.
Para minha sentença final, nas mãos do meu pai estava meu
estojo. Ele segurava ainda se mantendo sentado e me esperava vir
pegar na sua mão.
— E Cleber?
— Conte para seu irmão, ele tem todos os recursos que você
precisa.
It's true, la la la
É verdade la la la
Fiz uma careta e não deixei que minha mão fosse buscar a
dela. Nós não estávamos mais nesse estágio. Era beijo, corpo
contra corpo, sentir suas curvas... Recusava-me regredir e tomar
alguma atitude contra isso não condizia com meu respeito ao tempo
que disse que lhe daria.
Abracei sua cintura, minha mão foi até sua lombar e ousou
descer um pouco mais que o recatado. Abri minha boca e deixei que
a língua conduzisse o beijo, exigente e punitivo, para mim mesmo,
que duvidei da nossa conexão.
Era com seus lábios unidos aos meus que eu sentia paz,
estava em casa e nada mais importava.
Olhei com carinho para Yasmin, que além de ser alguém que
me conectava com tanta confiança, estava se integrando a família
com naturalidade.
— Pode deixar.
— Meu pai sim, minha mãe não. Moro com ela. — Peguei o
estetoscópio e escutei seus batimentos cardíacos, bem como a
respiração.
— Sei que está aqui para ser bem tratado — falei ousada,
correndo o risco de ser chamada atenção, mas seu Wilson
precisava enxergar algumas verdades. — A dor é sua, bem como o
dinheiro que o senhor investiu no tratamento. Quatro meses de um
quarto de hospital pago em dinheiro, para ficar sozinho e fugir da
família? — Mostrei a palma da minha mão para o impedir de falar.
— Você acha que está no final da sua vida, tudo bem. Mas que triste
fim é esse? A opção de encerrar sorrindo também existe.
— O que disse?
— Que bom que está aqui. — Olhei por cima do seu ombro e
tentei relembrar o momento que estava gravado na minha mente. —
Nossa, aqui mudou tanto.
— Como assim?
— Foi tudo friamente calculado. Meu irmão ficar com ciúmes
de você e assumir o relacionamento publicamente. — Ergueu as
sobrancelhas divertida. — Obrigada?
De todas as formas.
Era real.
— Promete?
Ainda bem que existia Matias e que ele havia acolhido meu
coração tão bem. Não havia nada que pudesse manchar o que
sentia por ele.
Alguns dias depois...
Não olhei para os lados e orei para que Matias não tivesse
flagrado nossa interação. Ele era o mais preocupado de todos, seus
toques e olhares diziam mais que sua boca. Claro, estava fugindo,
porque em algum lugar dentro de mim, acreditava que enquanto não
tivesse o diagnóstico, estaria tudo bem. A doença não retornaria
para a minha vida.
Saí do hospital com pressa, caminhando pelas calçadas em
busca de algo para comer. Não era o ideal, mas teria que servir até
chegar em casa e me alimentar corretamente.
— Você não precisa ter os meus medos, mas nem por isso
vou deixar de cumprir meu papel. — Estendeu um copo com suco
para mim. — Cuidado, proteção e carinho. Me deixe fazer, preciso
disso.
— Gostei da ideia.
Que merda.
Matias cruzou comigo no corredor, mas não pode vir até mim,
porque um novo paciente emergencial tinha sido internado e uma
equipe de médicos estava discutindo se fariam uma cirurgia de
emergência ou não.
— Não diga isso, seu Wilson. Há dias bons e não tão bons,
sua cura ainda está ao seu alcance. — Engoli em seco, percebendo
que minhas palavras, quando era eu deitada na cama escutando,
não faziam sentido algum.
— Você é privilegiada.
— Ainda bem que não fui listado nisso, porque sou a solução,
moranguinho. I love it when you call me moranguinho... — Ergueu
as sobrancelhas enquanto cantava a sua versão da música señorita,
enterrou seu rosto no meu pescoço e inspirou profundamente. —
Seu cheiro é perfeito.
— Tias, o que está fazendo? — questionei sentindo meu
corpo inteiro se arrepiar em apreço. Não era local nem momento
para isso, mas sentia minha mente se esvaziar aos poucos
enquanto ele me seduzia. — Estou em uma cama, se não percebeu.
— Te amo, Matias.
Ele me amava.
Realizada!
— Sim. Era isso que eu merecia no dia que você foi jantar em
casa ao invés da... despedida — assumiu baixo, um pouco
envergonhado. Tentei não sentir ciúmes, naquela época, nosso
amor não estava sólido. — É passado. Nadja foi importante, ela
precisa entender isso e me liberar.
Yasmin>> Sua mãe tem seu pai, Rebeca tem sua mãe e
eu. Então, foco em mim, Tias. Vou ler sobre a ética para
profissionais de saúde.
Yasmin>> Eu te amo.
Esparramei-me no sofá, escolhi um filme para assistir e
esqueci da vida até que minha mãe chegou com duas sacolas
cheirosas. Nossa, estava com tanta fome que nem tinha percebido.
Minha tia apareceu logo depois que minha mãe gritou para a
minha avó que estávamos todas bem, tinha sido apenas um
acidente. Percebi semelhanças de Rebeca em Marina que eram
óbvias, mas nunca pareceu tão intenso quanto agora.
Fiz bico e ele mais que depressa correu para a cozinha. Ainda
bem que o clima mudou drasticamente em poucos segundos,
porque ninguém deveria ter o direito de tirar a nossa paz, muito
menos abalar o amor que existia há mais tempo do que o
relacionamento anterior.
Fui com Matias pegar Rebeca na casa dos seus pais. Por
opção dela, seus pais não a acompanhariam para que tivesse a
experiência sozinha, sem se sentir intimidada. Sorridente e
animada, essa não parecia uma garota que conheceria sua mãe
biológica.
Optei por contar que sua mãe era minha tia quando ambas
estivessem frente a frente. Que a enxurrada de informações caísse
no seu colo de uma vez só, para não criar mais expectativas.
— Claro que não. Como vou dar uns amassos com vocês do
lado? — falou indignada e eu a encarei da mesma forma.
— E você ainda vai ficar com ele? Rebeca, ele disse que você
é fácil!
— Perdi o contato...
— Minha mãe não é contra Rebeca ter contato com sua mãe
biológica. Dona Betânia é maravilhosa e poderá te incluir nas
atividades da família se você quiser.
— Farei. Obrigada.
— Agora que não terei mais estágio, consigo mais tempo livre
quando não estiver focada nos trabalhos.
Aprendi, há muito tempo com meu pai, que a cura era relativa.
Para alguns, melhorar era estar sã, para outros, era a própria
doença e ainda havia aqueles que obtinham a vitória na morte. A
luta, para aquele que enfrentava a doença, era sempre uma longa
jornada.
Eu quero estar
Pacientemente
— Pela sua cara, até parece que Marina não é minha mãe
biológica. Eu demito vocês como parentes — Rebeca brincou,
mesmo que seu olhar não parecesse divertido.
Ele não precisava dizer mais nada para que minha ficha
caísse e eu lembrasse da minha última visita a seu Wilson. Matias
tirou seu sangue, as histórias semelhantes, o nome da namorada
dele era Nina, a culpa, nossa conexão...
— É grave?
Confiança.
Por que não tinha pensado nisso antes de vir para cá? Já
estava surtando com a possibilidade de parecer interesseira, por
mais que não havia um pingo de cobiça em mim nesse sentido.
Eu dou conta.
Virei meu rosto e o beijei nos lábios. Paz e lar, era tudo o que
eu almejava.
Comecei a rir, porque Rebeca não sabia ser suave, tudo era
intenso. Ela ficou na minha frente com as mãos na cintura e olhar
chateado, não era divertido a sua intenção, mas o momento que
isso surgia.
Sim a vida.