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sumário
CAPÍTULO - 01 ............................................................................................................. 8
CAPÍTULO - 02 ........................................................................................................... 19
CAPÍTULO - 03 ........................................................................................................... 28
CAPÍTULO - 04 ........................................................................................................... 35
CAPÍTULO - 05 ........................................................................................................... 47

sumário
CAPÍTULO - 06 ........................................................................................................... 57
CAPÍTULO - 07 ........................................................................................................... 68
CAPÍTULO - 08 ........................................................................................................... 85
CAPÍTULO - 09 ........................................................................................................... 95
CAPÍTULO - 10 ......................................................................................................... 111
CAPÍTULO - 11 ......................................................................................................... 129
CAPÍTULO - 12 ......................................................................................................... 141
CAPÍTULO - 13 ......................................................................................................... 149
CAPÍTULO - 14 ......................................................................................................... 160
CAPÍTULO – 15 ........................................................................................................ 177
CAPÍTULO - 16 ......................................................................................................... 192

sumário
CAPÍTULO - 17 ......................................................................................................... 202
CAPÍTULO - 18 ......................................................................................................... 210
CAPÍTULO - 19 ......................................................................................................... 221
EPÍLOGO .................................................................................................................. 231
agradecimentos ......................................................................................................... 240

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AVISO
Essa tradução é realizada pelo grupo Literary
Affection. Nosso grupo não possui fins
lucrativos, este é um trabalho voluntário e não
remunerado. Traduzimos livros com o objetivo
de acessibilizar a leitura para aqueles que não
sabem ler em inglês, sendo esses livros sem
previsão de publicação no Brasil. Nós não
aceitamos doações de nenhum tipo e proibimos
que nossas traduções sejam vendidas!
Também deixamos expresso aqui que, caso
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alguma editora no Brasil, o livro em questão
será retirado de nosso acervo. Não faça a
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blogs. Estejam cientes que o download é
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SINOPSE
Tudo o que Keegan queria era um colega de quarto que fosse
tranquilo, cuidasse dos próprios assuntos e pagasse parte do
aluguel. Em vez disso, ela encontrou Camden Brooks.

Camden, com seu corpo pecaminoso, língua afiada e a


incapacidade de ficar longe do espaço pessoal de Keegan,
parecia incapaz de conter seu interesse na nova garota que não
tolerava seu jeito dominador.

Os sentimentos estavam à flor da pele, a tensão sexual era


palpável e ambos estavam lutando, resistindo em abrir mão do
controle.

Para algumas pessoas, ter um colega de quarto significava


simplesmente viver com outra pessoa. Mas para Camden e
Keegan, era uma jogada com a qual nenhum dos dois estava
preparado para lidar.

⚾ Conteúdo sexual explícito


⚾ Pode ser lido de forma independente. Cada
Irmão terá seu próprio livro.

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CAPÍTULO - 01
— KEEGAN, vou precisar que você vá buscar sua irmã hoje no ensaio de balé.
Meu chefe ligou e quer que eu trabalhe uma hora a mais hoje à tarde, — minha
mãe chamou de dentro da cozinha.

— Mãe, não consigo. Tenho um grupo de estudos que se reunirá logo após
minha aula de A&P e não posso faltar a essa aula. Você não pode pedir ao tio
Murphy para buscá-la? — Eu não queria parecer chorona, mas, sinceramente,
já tive que perder a ajuda a mais porque o trabalho da minha mãe sempre
parecia precisar de uma hora extra.

Ela virou a cabeça, com sua cabeleira selvagem de cachos castanhos escuros
torcidos para todos os lados. — Sério, Keegan, preciso que você faça isso por
mim. Seu tio tem uma vida além de nós, e você sabe que eu não posso dizer não
ao meu trabalho. Precisamos do dinheiro e eu preciso desse emprego.

É sempre a mesma desculpa, apenas com palavras diferentes. Rowan Phillips,


minha mãe, é mãe solteira desde sempre. Meu pai, também conhecido como o
doador de esperma, a deixou quando acidentalmente engravidaram de mim.
Quando ela lhe contou, ele acabou saindo da cidade e ela nunca mais teve
notícias dele. Minha mãe teve de abandonar a escola quando seus pais se
recusaram a ajudá-la. Assim, logo que me deu à luz, ela conseguiu um emprego.
Enquanto crescia, éramos sempre só minha mãe e eu. Era uma espécie de ‘nós
contra o mundo’. Mas um dia, quando eu tinha 12 anos, ela me sentou e me
contou que estava grávida. Lembro que as palavras não faziam sentido. Eu tinha
uma enxurrada de perguntas girando em minha cabeça, mas apenas uma
continuava a se destacar. Como ela poderia estar grávida novamente se não era
casada? Na verdade, que se dane o casamento, ela nem estava namorando
ninguém! Ela me explicou que estava saindo com um rapaz, principalmente em
almoços aqui e ali. Aparentemente, minha mãe não sabia que havia métodos
para evitar engravidar. Agora, aqui estávamos nós, oito anos depois, e minha
irmãzinha estava descendo as escadas com leggings roxas, uma blusa azul de
mangas compridas e um laço amarelo que prendia todo o seu cabelo, idêntico à
juba selvagem da minha mãe, no alto da cabeça. Ela tinha os gostos excêntricos
de minha mãe. Fiquei surpresa por ela não ter sido zoada na escola.

Enruguei o nariz para a roupa dela e suspirei pesadamente. — Tudo bem. Mas
não posso perder outra sessão de estudos, certo? Já estou mal conseguindo
tirar um C nessa disciplina e, se eu tiver alguma chance de ser aceita na escola
de enfermagem, preciso ter certeza de que vou conseguir ajuda. Esta tem de ser
a última vez.

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Ela me deu o sorriso de sempre, que me fazia saber quando ela tinha conseguido
o que queria. — Obrigada, garota.

— Sarah, você precisa se sentar e tomar o café da manhã. — Eu a cutuquei nas


costelas quando ela passou por mim, fazendo com que ela soltasse um grito. —
Com toda essa dança, preciso engordar você.

Eu amava minha irmãzinha. Como minha mãe trabalhava muito, eu


praticamente a criava. Ela tinha sido uma bênção disfarçada que eu nunca
aceitaria devolver. Eu podia ficar irritada com a nossa situação ou com o fato
de ter de me afastar de algo que era muito importante para mim - a escola - mas
nunca a culpei por isso. E por mais que eu quisesse ficar brava com minha mãe
por causa da nossa sorte na vida, eu simplesmente não conseguia. Eu adorava
nossa pequena família.

— Os meninos gostam de meninas magras? — A pergunta de Sarah me pegou


de surpresa.

Levantando a sobrancelha para ela quando nos sentamos à pequena mesa da


cozinha, perguntei: — O que lhe importa se os meninos gostam de você?

Ela deu uma grande mordida em um mingau de aveia que minha mãe havia
colocado à sua frente. — Bem, algumas das meninas da minha classe disseram
que os meninos não gostam de meninas gordas e que só gostam das magras.
Então, por que você quer que eu seja uma garota gorda? Eu quero um namorado
um dia, sabe?

Olhei para minha mãe, que estava de costas para mim. Ela estava claramente
rindo, porque seus ombros estavam se movendo para cima e para baixo. —
Sarah, me escute. Os meninos gostam de meninas de todas as formas e
tamanhos. Se todos gostassem do mesmo tipo de garota, este mundo seria um
lugar chato, e todos tentariam parecer exatamente iguais. E o que eu disse foi
apenas uma figura de linguagem. Na verdade, não quero engordá-la, só estava
dizendo que você precisa continuar comendo porque é muito pequena. — Por
que eu sentia que estava cavando um buraco ainda mais fundo que continha
mais perguntas?

Minha irmãzinha ficou sentada por alguns instantes, refletindo sobre o que eu
havia acabado de dizer. Era incrível como a lógica de uma criança da segunda
série funcionava, dava para ver as engrenagens girando na cabeça dela. Eu
estava literalmente esperando que me fizessem perguntas. Todas elas envolviam
os suspeitos de sempre: quem, o quê, quando, onde, porque e como.

— Então, os meninos gostam que as meninas sejam pequenas?

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Minha cabeça pendeu para baixo e soltei um suspiro frustrado. — Mãe, você
pode entrar a qualquer momento.

Ela deu uma risadinha enquanto colocava o último prato na máquina de lavar
louça. — Por que eu faria isso? Você parece estar se virando muito bem.

Colocando algumas colheres grandes de meu próprio mingau de aveia na boca,


me levantei e joguei minha tigela na pia. — Desculpe, mas não tenho tempo
para isso agora. Vou me atrasar para a aula. — Minha mãe poderia responder
às perguntas. Quando saí da cozinha, ela gritou para que eu não me esquecesse
da Sarah esta tarde. — Não vou — gritei de volta, irritada.

Andando pelo corredor, fui para o meu quarto me vestir. Eu tinha aula em trinta
minutos. Queria tomar um banho, mas não tive tempo. Me olhando no espelho,
suspirei, prendi meu longo cabelo loiro em um coque bagunçado e vesti uma
camiseta regata branca com jeans skinny. A roupa provavelmente ficaria mais
bonita com botas, mas, em vez disso, calcei meus chinelos. Pegando minha
mochila, saí pela porta.

Entrei no estacionamento para estudantes com cinco minutos de sobra e,


felizmente, encontrei uma vaga na esquina do prédio de ciências. Eu adorava
este campus, mas a Universidade da Geórgia era enorme, e encontrar
estacionamento nem sempre era fácil. Hoje, aparentemente, era meu dia de
sorte. Ao sair do carro, quase corri para a minha aula. Minha professora, a Dra.
Christensen, era durona e, ela não abria exceções se você chegasse atrasado.
Um minuto depois do horário de início, ela trancava as portas e você não podia
entrar. Um dia perdido de Anatomia e Fisiologia e você estava ferrado! Eu nunca
me atrasei, nem uma vez sequer, e felizmente cheguei bem a tempo. Ao passar
por ela, quando entrei pela porta, ela disse: — Está chegando bem perto,
Keegan.

— Sim, senhora. Desculpe-me, isso não acontecerá novamente. — Abaixei a


cabeça, corri para o meu lugar e a aula começou como de costume. Falamos
detalhadamente sobre o sistema cardiovascular e como o sangue é bombeado
pelo coração. Quando saí da sala, minha cabeça estava girando e eu não tinha
certeza de como conseguiria manter as válvulas, o átrio e os ventrículos em
ordem. Era por isso que eu precisava do meu grupo de estudos. Frustrada, saí
pela porta e fui em direção ao sol, indo para o Bulldog Café, no campus, onde
eu encontrava minha melhor amiga, Macie, para almoçar dia sim, dia não.
Aquela hora do dia estava bem tranquila, porque ainda não estávamos perto do
almoço e a maioria das aulas ainda estava acontecendo. Entrei na fila, comprei
uma pizza pequena e um refrigerante antes de pegar uma mesa para esperar
por Macie. Assim que me sentei, ela apareceu no corredor com uma bandeja e
um olhar irritado que me disse que eu estava prestes a levar uma bronca.

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Deixando a bandeja sobre a mesa, ela se sentou na cadeira à minha frente. —
Então, na noite passada, você sabe que eu tinha combinado de sair com o Mark
do time de basquete, certo?

— Olá para você também, — eu disse sarcasticamente.

— Sério, Keegan, você está me ouvindo? Deixe de lado as gentilezas e me


pergunte sobre meu encontro — ela respondeu impaciente.

Eu sorri para ela, sabendo muito bem que ela só ficaria mais irritada se eu não
a satisfizesse. — Como foi seu encontro ontem à noite?

Ela ergueu os braços no ar da forma mais dramática possível e disse: — Oh,


meu Deus, foi horrível! — Mordi a parte interna da minha bochecha para não
rir dela. — Primeiro, tudo começou muito bem. Ele me buscou em um carro
muito bom e estava sendo um cavalheiro. Você sabia que ainda existem caras
que abrem portas para você?

— Mace, nós vivemos no Sul, a maioria deles existe.

Ela estava olhando para mim como se tivesse crescido duas cabeças. — Nenhum
dos que namorei fazia isso.

Levantei minha sobrancelha. — Isso é porque os que você namorou só querem


transar.

— Shhh, estou contando uma história, — disse ela, ignorando minha afirmação
muito verdadeira. — De qualquer forma, ele estava sendo gentil a noite toda,
abrindo portas para mim, pagando o jantar, segurando minha mão… então
chegou o fim da noite. Ele entrou e as coisas começaram a esquentar. Eu estava
realmente a fim, ele estava muito a fim.

— Então, qual é o problema? Não quero um resumo, Mace.

— Estou chegando lá, Keegan. Então, eu estava deitada e ele tinha tirado
minhas calças, mas quando pensei que as coisas estavam prestes a ficarem
realmente boas… BAM!

— O quê? Bam o quê?

— Os dedos dele começaram a mexer como se fosse um adolescente que


estivesse apalpando uma vagina pela primeira vez. Quero dizer, que diabos? Ele
parecia tão confuso lá embaixo.

Ok, agora eu não conseguia conter o sorriso que estava surgindo em meu rosto.
— Confuso como?

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— Keegan, ele estava esfregando meu clitóris como se estivesse tentando
acender um fogo. Na verdade, em um determinado momento, tenho quase
certeza de que vi uma faísca. Oh, Deus. — Ela apoiou a cabeça em seu
antebraço. — Minhas partes femininas estão tão doloridas hoje que tenho
certeza de que vai levar uma semana para sarar, e sei que estou andando de
forma estranha.

Não tinha como conter meu riso. Foi bem feito. Macie e eu somos melhores
amigas desde o ensino fundamental. O fato de termos crescido juntas sempre
foi interessante, eu era a mais quieta e moderada, enquanto ela era barulhenta
e gostava da atenção. Eu ficava longe dos holofotes, enquanto ela aproveitava
cada pedacinho deles. Macie era cinco centímetros mais alta do que eu. Ela
tinha um metro e oitenta e tinha pernas compridas. Seus longos cabelos
castanhos iam até o meio das costas, e ela tinha olhos castanhos chocolate
quentes. Os rapazes se aproximavam dela com um simples bater de seus cílios
curvados. Eu ficava feliz em permanecer em sua sombra. Mas o que eu mais
gostava em Macie era que ela sempre me tratava como igual a ela. Na maioria
dos dias eu a invejava, mas hoje ela me provou novamente por que eu não
poderia estar no lugar dela, mesmo que quisesse.

— Preciso levá-la à loja para encontrar um creme para queimaduras? Não sei se
pode ser colocado lá embaixo, mas talvez o farmacêutico possa nos orientar…
— Parei de falar quando ela me lançou um olhar que dizia que era melhor eu
calar a boca. Soltei uma risada. — Desculpe, tenho certeza de que está doendo.

— Sim, sua voz está transbordando simpatia.

— Ei, — eu disse quando ela desviou o olhar de mim, obviamente mais


descontente do que eu pensava. — Desculpe-me, Mace, não foi minha intenção.
Como foi o resto da noite? Você pelo menos disse ao Mark que ele estava te
machucando?

— Tudo bem. Não, eu apenas fingi o orgasmo da minha vida para que ele saísse
de cima de mim. Eu queria que ele fosse para casa. Toda a doçura foi por água
abaixo com sua falta de habilidade para fazer amor. Como foi sua noite? — Ela
mudou de assunto.

— Tenho que sair do campus para buscar Sarah no balé e perder outra sessão
de estudos. Estou me debatendo aqui, Macie. Acabei de sair da A&P e acho que
não saberia dizer qual é o caminho para cima ou para baixo. Estou muito
confusa, e a necessidade constante de ajuda da minha mãe vai me impedir de
entrar na faculdade de enfermagem. — Eu estava reclamando novamente, mas
não pude evitar. Se alguém entendia minha situação em casa, era ela.

— Não sei como você lida com isso. Eu amo a Sarah tanto quanto você, mas sua
mãe tem que parar de depender de você. Ela não percebe que a escola é

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importante? Você já disse a ela que está com dificuldades e precisa de ajuda
extra?

— Sério, você não acha que eu já disse algo a ela?

Ela ergueu as mãos, com as palmas para fora. — Você tem razão, desculpe. Você
sabe que sempre pode me ligar e me pedir ajuda também. Não sei por que você
acha que tem que cuidar de tudo sozinha.

Suspirando, eu disse: — Porque você já faz demais. Sinto que nunca serei capaz
de retribuir.

Ela se aproximou e pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos. — Keegan,


eu amo você. Você é minha melhor amiga, e isso significa que estamos lá uma
para o outra. Você faz mais por mim do que imagina. Juro que, se não fosse por
você, eu provavelmente já estaria grávida e seguindo os passos de sua mãe. Você
me mantém com os pés no chão. Na amizade, não existe pagamento ou placar.
Se precisar de mim, diga-me, e eu estarei lá, não importa o que aconteça. — Ela
apertou minha mão ao dizer essa última frase.

Olhei para ela do outro lado da mesa, com os olhos vidrados pelas lágrimas não
derramadas. — Eu também amo você.

Ela balançou a cabeça, com seus longos cabelos castanhos caindo sobre o
ombro. — Ack! Chega dessa merda piegas, vamos descobrir o que você vai fazer.

Macie soltou minha mão e se recostou na cadeira. — O que você quer dizer com
'descobrir o que eu vou fazer'? O que há para descobrir? Vou procurar meu
assistente técnico depois do almoço, pedir o guia de estudos, vou trabalhar por
uma hora e depois vou buscar a Sarah.

— Não, eu quis dizer a longo prazo. Acho que está na hora de você se mudar
dessa casa e ter seu próprio espaço. Comece a viver sua própria vida.

Eu torci o nariz. — Eu tenho minha própria vida. — Ela me deu um olhar severo
de ‘pare com essa merda’. — Ok, então eu não tenho minha própria vida. Mas
isso não importa, não é? Tenho um emprego em que mal ganho mais do que o
necessário para cobrir minhas despesas, quanto mais as da minha mãe. Eu não
poderia pagar uma casa agora, mesmo que quisesse.

Macie ficou sentada, claramente tentando pensar em uma maneira de contornar


minha situação, com suas unhas perfeitamente bem cuidadas batendo na mesa.
Decidi aproveitar o silêncio e comecei a devorar minha pizza. O queijo gorduroso
traria consequências mais tarde, mas eu estava com fome e não me importava.
Eu tinha acabado de pegar meu refrigerante quando a mão dela disparou e
agarrou meu pulso, me assustando.

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— Já sei! — Ela gritou um pouco alto demais.

— Jesus, Mace, fale baixo.

— Desculpe. — Ela olhou ao redor do espaço ainda bastante vazio. — Eu sei o


que vai resolver seus problemas — disse ela mais suavemente.

— Me ilumine, oh! Sábia — eu disse sarcasticamente.

— Você não pode pagar uma casa sozinha, e eu seria sua colega de quarto se
pudesse, mas meu pai me dá dinheiro, então vou pedir emprestado enquanto
posso. — Os pais da garota eram podres de ricos. Sua mãe trabalhava como
vereadora e seu pai era médico. Eu não a culpava por ter bebido daquele poço
enquanto ele ainda estava sendo abastecido.

— Certo, então o que você sugere?

— Bem, se eu não posso ser sua colega de quarto, então vamos encontrar uma
para você. — Ela disse isso como se fosse a explicação mais simples de todas.

— Como onde, no Craigslist? Não vou procurar um colega de quarto na


Craigslist, Mace. Então nem sugira isso.

Eu estava me levantando para jogar minha caixa de pizza vazia no lixo. — Não
é da Craigslist. Jesus, eu não quero que você seja morta por um assassino com
machados. Eu quis dizer dos anúncios postados no campus. — Ela segurou
minha mão e começou a me puxar para o Centro Comum, onde os alunos iam
para estudar ou sair. — Vi panfletos afixados nos quadros de avisos. Vamos ver
se conseguimos encontrar um quarto para você.

Quando entramos no prédio, havia alguns alunos conversando e outros com o


nariz enfiado em um livro. Assim que abrimos a porta, o vento soprou alguns
dos papéis que estavam pendurados lá dentro, fazendo com que eles se
movessem. Vasculhamos os quadros por cerca de cinco minutos, arrancando
as pequenas bordas cortadas que continham um nome e um número de
telefone. Sinceramente, nenhum deles parecia promissor. Ou moravam em uma
parte ruim da cidade, ou queriam mais do que eu podia pagar.

— Bingo! — Macie sorriu enquanto levantava alguns papéis que cobriam o que
ela estava lendo.

Eu estava embaralhando os poucos que tinha na mão e tentando enfiá-los no


bolso de trás. — O que você encontrou?

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Macie leu o anúncio, mas eu não entendi o que a fez dizer ‘bingo’. — Detesto ter
que lhe dizer isso, mas tenho quase certeza de que ouvi você dizer que eles
estavam procurando um homem. E da última vez que verifiquei, eu não estava
ostentando um apêndice extra.

— Não, o anúncio dizia que eles considerariam uma garota também. Pense
nisso. O Ridgewood Apartments fica bem na esquina do campus e a apenas
duas quadras do seu trabalho. São ótimos, e o aluguel está dentro do valor que
você pode pagar. Além disso, é um rapaz. Quem não quer morar com um cara
gostoso 24 horas por dia, sete dias por semana? É melhor do que viver com uma
mulher maluca que está sempre roubando suas roupas e maquiagem. Cara, eu
machucaria uma vadia por tocar no meu delineador.

Revirei os olhos. — Quem disse que era um cara gostoso? Ele poderia ser um
nerd completo que usa calças até o umbigo, um par de mocassins com borlas,
óculos de aro de chifre e estar coberto de espinhas. Melhor ainda, ele pode ser
um jogador que não sai do sofá e fuma cinco maços de cigarro por dia, o que,
se pensarmos bem, pode colocar minha vida em risco. Ele pode adormecer com
um cigarro na boca e, quando der por si, você estará lendo sobre mim no jornal
e como eles só conseguiram identificar meus restos mortais pelos meus registros
dentários.

Ela arrancou o número da parte inferior da página e o entregou a mim. — Você


é psicótica.

Coloquei o papel no bolso de trás da calça e disse a mim mesma que o jogaria
fora mais tarde. — Seja realista, Mace. Nada disso parece que vai funcionar.
Vou ter que ficar com minha mãe por mais um tempo até conseguir me
recuperar. Pelo menos assim eu poderia encontrar meu próprio lugar e não ter
que me preocupar se estou assinando um contrato de aluguel com o colega de
quarto do inferno.

Ela ficou de pé com as mãos nos quadris e me observou por um segundo antes
de dizer: — Alguém já lhe disse que você é uma pessoa muito pessimista?

Eu sorri. — Só você. Agora vamos lá, preciso ir para o trabalho e você tem aula.

— Keegan, você pode pegar aquela pilha de papéis e arquivá-los nos registros
que eu deixei ontem à noite? Estou muito atrasada! — Perguntou Marsha de
sua mesa.

Eu trabalhava meio período em um consultório médico na sala de registros.


Geralmente, apenas Marsha e eu ocupávamos esse espaço. Ela estava aqui há
quase dez anos e foi ela quem me contratou para ajudá-la. Quando o Dr. Hill

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aumentou seu número de pacientes e contratou um médico assistente, a carga
de trabalho de Marsha dobrou. Ela era tecnicamente minha chefe e a quem eu
pedia folga ou quando precisava sair mais cedo para cuidar de coisas em casa.
Eu era grata por isso, porque ela era gentil comigo.

— Claro, sem problemas! — Respondi enquanto pegava os papéis e começava a


arquivá-los. — Ugh, quando é que o Dr. Hill vai mudar para um sistema
eletrônico?

Ela olhou para mim por cima de seus óculos com estampa de leopardo. —
Provavelmente nunca. Ele é da velha guarda e gosta de ter tudo registrado no
papel.

Resmunguei enquanto me movia entre duas prateleiras altas que abrigavam


pilhas de registros médicos. Enquanto eu arquivava, perguntei a Marsha: — Ei,
você não se importa se eu sair um pouco mais cedo, não é? Minha mãe precisa
que eu vá buscar minha irmã no treino.

— Você sabe que não tenho nenhum problema com isso.

Continuamos trabalhando por mais uma hora antes de eu precisar sair. Peguei
minhas coisas e me despedi antes de sair para o sol forte. Tremi um pouco
enquanto caminhava para o meu carro. Estávamos no meio do outono aqui na
Geórgia, e hoje estava um pouco frio e fresco. As folhas ainda não tinham
começado a mudar, mas logo começariam. Essa era minha época favorita do
ano. No próximo mês, eu levaria Sarah a um campo de abóboras no interior
para que pudéssemos colher nossas próprias abóboras para o Halloween.

Depois de buscar a Sarah, voltei para o campus e me encontrei com o assistente


técnico para pegar as anotações de estudo para a aula. Ele repassou algumas
coisas na folha para me ajudar a entender melhor, mas, sinceramente, eu estava
mais confusa e desanimada quando voltei para o carro. Sarah estava pulando
alegremente ao meu lado, e foi uma pena que eu não pudesse espelhar seu
entusiasmo. Minha aula de A&P foi muito importante. As ciências tinham mais
peso no seu histórico acadêmico do que, por exemplo, sociologia, quando
chegava a hora de entregar a inscrição para o programa de enfermagem. Se eu
não saísse dessa aula com um A, teria de refazê-la. Olhando para Sarah no
banco de trás, pulando de um lado para o outro, senti falta dos dias em que era
despreocupada. Sem preocupações ou não ter de decidir o que eu comeria para
o lanche depois da escola. Algo precisava mudar. Eu estava começando a pensar
que talvez Macie estivesse tramando algo. Será que sair de casa poderia ser a
resposta para colocar minha vida sob controle? Como minha mãe receberia a
notícia? A culpa por ter deixado ela e Sarah sozinhas estava subindo pela minha
garganta e fazendo meus olhos arderem. O fato de eu me sentir tão responsável

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pelas duas falava muito alto. Bem, em minha cabeça, sim, mas a culpa em meu
coração foi o que me levou a ficar. Quando parei em casa, Sarah soltou o cinto
e entrou correndo. Fiquei sentada no carro por mais alguns instantes. Meu
bolso continha pelo menos dez pedaços de papel rasgados com números de
telefone. A simples ideia de ligar para qualquer um deles me deixava
desconfiada. Eu nunca havia morado sozinha. Sabia que poderia cuidar de mim
mesma se fosse embora, mas me preocupava com o que aconteceria com mamãe
e Sarah. Talvez eu pudesse ligar para alguns deles para ver o que estavam
oferecendo e tomar minha decisão depois disso? Quem disse que eu teria de me
comprometer com qualquer um deles só porque liguei para perguntar? Sim, era
isso que eu faria. Saí do carro e entrei. O problema: eu sabia que, assim que a
ideia passasse pela minha cabeça, eu encontraria uma desculpa para cada um
dos números que eu ligasse. Não importava o quão perfeitas elas parecessem,
elas simplesmente não funcionariam para mim.

Mamãe chegou em casa uma hora mais tarde do que havia dito. Quando ela
entrou pela porta da frente, o ar do lado de fora soprou em sua direção, e senti
o cheiro de colônia masculina ao seu redor. Eu estreitei meus olhos para ela, e
ela sabia que eu sabia.

— Não comece a falar de mim, Keegan, tive um dia ruim.

— Hmmm... sim, parece que sim.

— O que isso quer dizer? — Ela entrou e colocou sua bolsa na mesa perto da
porta.

Sarah estava no outro quarto assistindo à televisão, então eu sabia que ela não
nos ouviria. — Significa que você chegou mais tarde do que me disse que
chegaria, e eu tive que fazer o jantar para a Sarah.

— Você cozinha o tempo todo, Keegan, qual é o problema? — Ela se virou e


entrou na cozinha. Eu a segui.

— O problema é que eu tive que perder outra sessão de estudos porque você
supostamente teve que trabalhar até tarde. Onde você foi? — Eu estava
tentando manter minha voz baixa para que Sarah não me ouvisse.

— Jed, do escritório, me convidou para tomar um drinque. Não ficamos muito


tempo fora. Me dê um tempo. — Ela se curvou em frente à geladeira e começou
a vasculhar. — Onde estão as sobras?

— Não tem nada. Fiz um sanduíche com batatas fritas para a Sarah. Se você
quiser alguma coisa, faça você mesma. — Eu estava tão furiosa que precisava
ir embora ou diria algo de que me arrependeria. Subi as escadas e ouvi minha
mãe dizer algo sobre eu estar sendo dramática. Ah, sim, veríamos quem era
dramática. Eu tinha vinte anos e ainda morava em casa. Cansada de me sentir

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uma perdedora que seria reprovada na faculdade, os papéis em meu bolso eram
um lembrete da minha possível solução. Minha mãe havia me incentivado o
suficiente para que eu estivesse pronta para dar um salto de fé. Sentando-me
em minha cama, tirei todos eles do bolso. Começando com a primeira que
peguei, fiz a ligação. Respirando fundo, ouvi alguém atender.

— Alô?

— Humm, sim, oi. Estou ligando por causa do anúncio de uma vaga para colega
de quarto.

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CAPÍTULO - 02
NO DIA SEGUINTE, ENCONTREI MACIE para almoçar em uma lanchonete
local. Ela ia ficar chocada quando descobrisse que eu realmente havia ligado e
marcado de visitar alguns desses lugares. O que ela não sabia é que iria comigo
a todos eles. De jeito nenhum, eu entraria sozinha em um possível covil de
loucos e nunca mais sairia de lá. Essa era a ideia da minha melhor amiga e, por
Deus, ela morreria comigo se esse fosse o caso.

Quando Macie entrou, ela pediu sua comida e se acomodou no lado oposto da
mesa. Eu devia estar com uma expressão de espanto, porque ela imediatamente
disse: — O quê?

— Eu liguei, — foi tudo o que eu disse.

Ela tomou um gole de seu chá doce e disse: — Liguei para o quê?. — Fiquei
sentada, olhando para ela, esperando que ela se atualizasse. Eu praticamente
podia ver a luz se acendendo em sua cabeça. — Oh, meu Deus, você ligou! —
Ela começou a se mexer em seu assento. — Então, o que eles disseram? Alguma
coisa parece promissora?

— Bem, ainda não sei. Tenho três lugares marcados para visitar hoje e vou ver
se algum deles funciona. A propósito, você virá comigo. — Um funcionário veio
e colocou nossos sanduíches na nossa frente.

— Eu vou?

— Você vai, — repeti. — Preciso que você venha me apoiar para que eu não
pareça uma garota solitária que pode ser aproveitada. E considerando que dois
desses lugares são com um cara, vou precisar de você.

— Achei que só tinha arrancado um que era homem. — Ela deu uma grande
mordida em seu sanduíche de atum.

— Não, mas não tem problema. Pensei muito sobre isso ontem à noite. Quase
cancelei os dois hoje de manhã, mas acho que vou ficar bem mesmo assim.
Nunca pensei em ter um colega de quarto homem. Quem sabe, isso pode ser
uma coisa boa.

Ela inclinou a cabeça para o lado. — Ah, olhe para a minha pequena Keegan,
sendo adulta e não pessimista. — Revirei os olhos. — Então, o que eles

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disseram? Quando vamos nos encontrar com eles? O que a levou a ficar tão
entusiasmada com isso?

Suspirei. — Honestamente, Mace, minha mãe voltou tarde para casa ontem à
noite.

— Oh, querida, de novo? Sinto muito. Qual foi a desculpa dela dessa vez?

— Ela não precisava de uma. Estava cheirando a homem, e eu me irritei. Nunca


vou terminar a faculdade de enfermagem se ela continuar me forçando a cuidar
de suas responsabilidades. — Eu me encolhi com minhas próprias palavras.
Sarah nunca foi um fardo para mim. Foi minha mãe que a empurrou para cima
de mim. — Odeio o fato de ter vinte anos e ser mais madura do que ela. Talvez
o fato de eu não estar em casa para que ela dependa constantemente a faça
perceber que Sarah não é minha filha e que ela precisa assumir o papel de mãe.

— Acho que gosto dessa nova Keegan.

Mastiguei minha comida antes de responder a ela. — Esta não é uma nova
Keegan, Mace. Sempre pensei dessa forma, mas nunca tive coragem suficiente
para dar o salto. Ontem à noite, eu estava estudando antes de ela entrar pela
porta e tudo o que eu queria era bater minha cabeça na parede porque não
entendia a matéria. Então, minha mãe entra e age como se eu estivesse sendo
ingrata. Não consigo nem mesmo ser uma irmã para Sarah, porque estou
sempre fazendo o papel de mãe. Está na hora de me livrar dela para que eu
possa me formar e organizar minha vida. — Fiz uma pausa para pensar em dizer
a próxima parte em voz alta. — Tenho pensado que, quando terminar os
estudos, quero que Sarah venha morar comigo.

Macie estava sentada ali, ouvindo-me divagar com atenção. Minha última frase
fez com que ela parasse com o sanduíche na boca e olhasse para mim como se
eu estivesse louca. — Você está brincando comigo? Keegan, você não pode ficar
com ela. Sua mãe nunca vai deixar.

— Não é que eu queira a custódia ou algo assim, só quero dar a ela um ambiente
de vida mais estável. Eu sei como é viver em uma casa onde você tem que se
criar sozinho. E, na verdade, acho que minha mãe aceitaria.

Ela balançou a cabeça. — Então você prefere se obrigar a viver a mesma vida e
ser pai de sua irmã a fazer sua mãe lidar com as cartas que recebeu na vida?
Não, isso é loucura. Entendo que você queira algo melhor para Sarah, mas ela
não é sua filha e você tem sua própria vida para viver.

Afastei meu sanduíche meio comido e me recostei no assento de plástico frio.


Eu nunca havia pensado nisso dessa forma. Se eu acolhesse Sarah depois de
me estabelecer, estaria apenas seguindo os passos dela? Tecnicamente, não
seria a mesma coisa. Eu pelo menos tinha terminado o ensino médio e estava

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continuado meus estudos para poder cuidar de nós duas. Fechei os olhos e
respirei fundo. O cheiro de pão fresco entrou pelo meu nariz. Acho que eu
precisava pensar um pouco mais sobre isso. Talvez Macie estivesse certa.

— Mudando de assunto. Onde é o primeiro lugar que vamos visitar? — Ela


perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

— Fica a algumas quadras daqui, perto de todas as fraternidades. O nome do


cara é Seth. Vamos nos encontrar com ele em cerca de trinta minutos, — eu
disse, olhando para a tela do meu celular.

— Oh, Seth, já estou gostando. — Ela balançou as sobrancelhas para mim.

Eu ri e enrolei meu guardanapo, jogando-o em seu rosto. — Você não tem jeito!

Nós duas nos levantamos da mesa e jogamos nosso lixo fora. — Vamos pegar
meu carro. Não sei se sobreviveremos à viagem em seu velho carro enferrujado.

— Ei, deixe a Nelly em paz. Eu tenho esse carro a bastante tempo e ele me
ajudou a passar por momentos muito difíceis. — Passei a mão no meu Camry
prata de 15 anos quando passamos por ele a caminho do novíssimo Beamer da
Macie.

— Sim, sim, cale a boca e entre. — Rimos enquanto nos dirigíamos para a
primeira casa.

Quando chegamos à entrada da garagem para um único carro, eu estava uma


bola de nervos. Saí do carro com apreensão e caminhei até a porta da frente. Se
as primeiras impressões significam tudo, a minha não foi boa. A casa era de um
andar só, com um quintal de terra e uma calçada rachada que levava aos
degraus. A pintura amarela da casa estava descascando e dava a ela uma
aparência velha e dilapidada.

Enquanto caminhávamos para os degraus, Macie se inclinou e sussurrou: —


Ele parecia normal ao telefone, certo?

Ela parecia tão nervosa quanto eu. — Sim.

Bati na porta duas vezes e me afastei para esperar. Ouvi alguém se


movimentando pela casa antes de a porta se abrir. Um cara alto, magro e loiro
estava na minha frente com um grande sorriso no rosto. Ele soprou um pouco
de ar para tirar as longas madeixas desgrenhadas dos olhos e depois estendeu
a mão para nos cumprimentar.

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— Ei, eu sou o Seth, você deve ser a Keegan.

Estendi minha mão e disse: — Na verdade, eu sou Keegan. Esta é minha amiga
Macie.

Eu não sabia se deveria ficar ofendida por ele ter presumido que Macie era eu
ou se, ao abrir a porta, ele tinha grandes esperanças de que minha melhor amiga
morena e alta pudesse ser sua possível colega de quarto. De qualquer forma,
observei seu sorriso vacilar um pouco e soube que estava certa. Bem, esse foi o
primeiro golpe contra ele. Ele rapidamente se endireitou e apertou minha mão
estendida.

— Prazer em conhecê-la, Keegan. Por favor, entre. Peço desculpas pela bagunça.
Acabei de sair da aula e não tive tempo de limpar muita coisa antes de você
chegar. — Ele se virou e entrou no que eu supunha ser a sala de estar.

Olhei em volta e vi caixas de pizza vazias e latas de cerveja espalhadas por toda
parte. O cheiro era de meias de ginástica suadas, e a mobília consistia em duas
cadeiras de gramado e uma televisão que ficava em cima de alguns paletes
empilhados. Havia um sofá no centro da parede, estofado com tecido coberto de
flores laranja queimadas. Isso me fez lembrar de algo que teria sido popular nos
anos setenta.

Segunda tentativa.

— Você pode se sentar, se quiser. — Ele apontou para a cadeira de gramado.

Olhei para Macie e tentei não rir. — Tudo bem. Então, pode me falar um pouco
mais sobre o lugar e o quarto que vou alugar?

— Quarto? Esta casa tem um quarto com sala de estar, cozinha e banheiro. Eu
fico com o quarto, e você fica com o sofá. Mas não se preocupe com suas roupas
e outras coisas. Aquele armário atrás de você tem bastante espaço para aquelas
gavetas de plástico da Tupperware.

Ele estava falando sério? A julgar pela maneira como ele estava me olhando, ele
estava falando sério. Engoli com força. Puxa, isso não era bom. — Uhhh... você
estaria disposto a me dar o quarto para que eu possa ter um pouco mais de
privacidade?

Ele olhou de relance para Macie, que ele claramente estava examinando, e de
volta para mim. — Olha, se você está preocupada com a privacidade, não se
preocupe com isso. Tenho uma TV no meu quarto, então, quando for hora de
você dormir, posso simplesmente voltar para lá. Você pode se trocar no
banheiro, e eu me certificarei de que os rapazes da minha fraternidade não a
incomodem quando eles estiverem lá. As regras básicas serão estabelecidas e
ninguém vai mexer nas suas coisas.

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A essa altura, minha boca estava aberta. — Você não pode estar falando sério.
Isso é uma piada, certo? Estou sendo punida. Macie — me virei para olhá-la, —
pare com essa besteira. Você armou isso, certo?

Ela mordeu o lábio para não rir. — Não, querida, não tive nada a ver com isso.
Acho que o Seth está falando muito sério.

— Do que vocês dois estão falando? É um negócio muito bom, se você quer
saber. Um dos meus irmãos de fraternidade queria o sofá, mas eu disse a ele
que dependia da sua opinião. E, na verdade, eu meio que queria uma garota
como ajudante de quarto. — Ele sorriu para mim.

Eu estremeci, enojada. Ele realmente achava que eu aceitaria a oferta. Eu não


sabia se ele era apenas estúpido, drogado ou uma combinação dos dois, mas
não havia mulher no mundo que aceitasse não ter privacidade, gavetas de
plástico e não ter seu próprio banheiro.

Terceiro strike.

— Infelizmente, Seth, acho que não é isso que estou procurando. Mas espero
que você encontre o colega de quarto certo. — Me virei para caminhar em direção
à porta da frente, e Macie me seguiu.

— Bem, se você ou sua amiga mudarem de ideia, ou estiverem procurando uma


festa, entrem em contato comigo.

Macie se virou para ele e fez uma saudação. — Com certeza, Sethy.

Fechamos a porta e corremos para o carro. Quando entramos no Beamer, olhei


para ela e ela olhou para mim, e nós duas caímos na gargalhada. Ela estava
colocando o carro em marcha à ré, e eu nunca fiquei tão feliz em sair de um
lugar.

— Oh, meu Deus, — eu disse, enxugando os olhos. — Sinto pena da pessoa que
vai ficar com o sofá. Tenho quase certeza de que vi as almofadas se mexendo.

Ela estava histérica. — Pare, pare, preciso fazer xixi.

Rimos um pouco mais até que ela se acalmou o suficiente para dizer: — Ok,
onde fica o próximo lugar?

Dei-lhe o endereço e partimos para conhecer a possível colega de quarto número


dois.

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Esse lugar era um pouco melhor. Ficava a alguns quilômetros ao sul da
universidade, o que ainda era bom. Eu não podia necessariamente ir a pé para
a escola ou para o trabalho, mas dirigir não era tão ruim. Era um complexo de
apartamentos menor que parecia estar bem conservado. É verdade que o prédio
estava um pouco desatualizado, mas isso não significava que o interior fosse de
má qualidade. Se havia uma coisa que eu sabia, era que nunca se deve julgar
um livro pela capa.

— Este é para a garota, certo? — Macie perguntou ao sair do carro.

— Sim. — Olhei para o pedaço de papel em que escrevi o número do


apartamento dela. — Ela disse que morava no último andar, no canto.

Passamos por algumas portas antes de eu encontrar o número que ela havia me
dado. Bati na porta e esperamos. E esperamos… e esperamos mais um pouco.

— Chegamos cedo? — Macie olhou para o celular.

— Não, ela me disse que estaria aqui. Deixe-me bater de novo. — Levantei o
punho e bati na porta.

Quando ela se abriu, uma garota baixa, com cabelos negros e um piercing no
nariz, atendeu. Seus olhos estavam cobertos de delineador preto e seu batom
era… caramba, era roxo? Ela não disse nada, só estava olhando. Senti como se
seus olhos fossem ponteiros de laser e ela estivesse me acertando com seus
raios da morte. Que horror! Eu já estava me sentindo desconfortável. Precisando
quebrar o silêncio constrangedor, dei um passo à frente e estendi minha mão.

— Oi, eu sou o Keegan, liguei por causa do apartamento.

Ela olhou para baixo e depois de volta para mim. — Quem é? — Sua cabeça se
inclinou para Macie.

— É a minha amiga Macie, ela está me acompanhando.

Ela olhou para Macie de cima a baixo e depois fez o mesmo comigo. Ela deve ter
nos considerado aceitáveis, pois se afastou e nos deixou entrar. Ao atravessar o
saguão de entrada, ouvi música, se é que se pode chamar assim. A cada passo
que eu dava, ela ficava mais alta e mais alta. A princípio, pensei: ‘Que corredor
tão longo e incomum’, mas quando chegamos à sala de estar aberta, a melhor
pergunta foi: ‘Como é que não ouvimos esse barulho do lado de fora?’ Havia uma
bateria montada em um canto com um cara sentado atrás dela, um microfone
alguns metros à frente da bateria para o qual outro cara com um moicano estava
gritando e uma pessoa atrás de uma guitarra. Eu não sabia dizer se essa pessoa
era um rapaz ou uma moça… essas pessoas, Macie e eu, chamávamos de Pat.
Ou Patrick ou Patty, mas não dava para saber qual. Ao me virar, olhei para a

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garota que nos deixou entrar. Estranhamente, fiquei torcendo para que ela fosse
a possível colega de quarto. Ela parecia menos assustadora do que o Drummer
Boy, o Mohawk Man ou o Pat.

Quando os gritos/cantos pararam, perguntei à garota gótica: — Você é a


Jennifer? — Quase ri do nome carinhoso que ela tinha.

— Sim. Estes são meus colegas de banda. Vou começar dizendo que ensaiamos
todos os dias das três às sete, às vezes até mais tarde. O gerente deixou o espaço
à prova de som quando nos mudamos para cá.

Macie murmurou baixinho: — Isso explica tudo. — Mordi o lábio para conter o
riso.

— Seu quarto fica nos fundos. Nada de hóspedes durante a noite, se seus
amigos tiverem algum problema com alguém da minha banda, você vai embora,
e espero que não seja uma pessoa matutina, porque eu durmo até o meio-dia.

Por que ela ainda estava me encarando como se quisesse prender minha cabeça
entre os dedos polegar e indicador? — O-kay, — eu disse. — Você se importaria
se eu abrisse as cortinas, pelo menos? Está muito escuro aqui.

Se olhares pudessem matar... — Eu preferiria que você não abrisse. Eu gosto


do escuro. A escuridão me faz sentir coisas, e então escrevo sobre isso. As
persianas ficam fechadas.

Obviamente, isso não ia dar certo, e eu não estava nem um pouco interessada
em ver o quarto. — Acho que vou ter que continuar procurando Jennifer.
Provavelmente sou uma pessoa matutina demais para você, gosto da luz do sol
e tenho certeza de que seria muito barulhenta. Ah, e eu gosto muito de música
country. — Acrescentei a última parte porque sabia que Macie estava prestes a
perder a cabeça.

— OK. Você sabe onde fica a porta. — Ela se virou de volta para a banda, e eles
recomeçaram a cantar. Jennifer havia efetivamente dispensado Macie e eu como
se não fosse nada de mais.

Agarrei a mão de Macie e voltei para o longo corredor e para a luz do sol. Respirei
fundo, sem perceber que estava me sentindo claustrofóbica nos limites escuros
do apartamento.

— Puta que pariu, Keegan, acho que você conheceu a maior quantidade de
esquisitos hoje.

— Nossa, isso foi assustador e eu estava estranhamente temendo por minha


vida. A propósito, qual foi seu veredicto sobre o Pat? — Perguntei.

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Seu sorriso se abriu. — Estou mais propensa para garota. Estive a ponto de
pedir a ela que abaixasse as calças para que eu pudesse ver.

— Muito bem. — Entramos no carro dela e ficamos sentadas por alguns


minutos. Me inclinei para a frente e coloquei o rosto entre as mãos. Coloquei as
palmas das mãos em meus olhos e esfreguei com força. E se todos eles fossem
assim? Se fossem, eu preferiria ficar na casa da minha mãe.

— Pare com isso. Eu praticamente posso ouvir sua mente trabalhando aí. Pare
com isso. Temos este último lugar para ir, e dizem que a terceira vez é a melhor,
certo? — Macie estava tentando ser otimista.

— Ou três vezes e você está fora.

Ela revirou os olhos. — O último lugar é perto da escola, certo? O Ridgewood


Apartments?

— Sim.

— Bem, vamos lá. Tenho um pressentimento sobre esse.

Sim, eu também. Só que minha sensação era de que eu iria morar com minha
mãe pelos próximos dois anos até me formar.

Dirigimos alguns quilômetros de volta ao campus e estacionamos em frente ao


complexo de apartamentos. Esse era um lugar pelo qual eu passava com
frequência, mas nunca tinha ido. O terreno era bem conservado, havia um clube
que provavelmente abrigava uma pequena academia, uma piscina externa e
uma banheira de hidromassagem. De forma alguma eu usaria essas partes das
instalações. Eu não era uma garota muito grande, mas era bem mediana. Usava
jeans tamanho 10 e tinha peitos e bunda mais do que suficientes, mas tinha
muita consciência do meu corpo e das minhas curvas. Nada de biquínis para
mim.

Depois das duas últimas entrevistas desastrosas, eu não estava animada para
essa. O número do apartamento que me foi dado era no segundo andar. Olhei
para Macie e respirei fundo. Pouco antes de eu bater, a porta se abriu. O ar
soprou ao meu redor e senti um cheiro tão forte que meus joelhos quase se
dobraram. Era algum tipo de sabonete e um leve cheiro de loção pós-barba.
Meus olhos percorreram as longas pernas magras que claramente pertenciam a
um homem. Quanto mais meus olhos subiam, mais eu gostava do que via.
Shorts de ginástica cobriam uma cintura fina e uma camiseta Nike branca lisa
estava esticada sobre um peito musculoso. Quando finalmente cheguei ao rosto
da pessoa à minha frente, todo o ar que havia me enchido antes deixou meus
pulmões com pressa. Esse cara tinha olhos azuis penetrantes e cabelos escuros
que estavam desgrenhados por ter acabado de sair do chuveiro. Não precisei
olhar para Macie para saber que ela estava com a mandíbula aberta como a

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minha. O Senhor Calça Gostosa nos deu um sorriso delicioso que me fez
estender a mão para a moldura da porta. Ele sabia que era bonito, e eu era
estúpida demais para lembrar que normalmente odiava esse tipo de homem.

Mais um silêncio constrangedor se seguiu até que ele estendeu a mão e disse:
— Oi, eu sou Dodger, qual de vocês é a Keegan?

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CAPÍTULO - 03
MACIE ME CUTUCOU COM O COTOVELO. Dodger percebeu e seu sorriso se
transformou em um sorriso contagiante. Como era possível alguém ter dentes
como aqueles? Todos brancos, brilhantes e retos… Continuei olhando. Macie
me cutucou novamente, só que dessa vez com mais força.

Tossi e limpei minha garganta. Oh, meu Deus, eu estava petrificada e o cara
gostoso demais que sabia que eu o estava observando. Esse era meu futuro
colega de quarto, e eu estava pronta para me inscrever. Ele precisava que eu
dormisse no sofá - verificar. Se ele precisasse que a casa ficasse escura durante
o dia, verificar. Se ele precisasse dormir até o meio-dia e trazer caras parecidos
com ele regularmente - verificação dupla. Oh, Jesus, ele ainda estava lá, com a
mão estendida, esperando que eu a pegasse. Siga o programa, Keegan, repreendi
a mim mesmo.

— Puxa, me desculpe. Sou a Keegan, aquela que ligou por causa do quarto. —
Fiquei ali novamente com minha mão em sua grande palma. Ouvi a Macie
limpar a garganta ao meu lado. — Que merda. E esta é minha amiga Macie. —
Eu não estava me recuperando muito bem do meu ataque de estupidez. — Ela
veio comigo para me dar um apoio extra. Espero que você não se importe.

Ele soltou minha mão e apertou a de Macie também. Eu a observei olhando para
ele e reconheci o brilho em seus olhos. Ela estava interessada. Oh, não, eu
cortaria isso pela raiz rapidamente! De jeito nenhum, ela arruinaria minha
possível situação perfeita de colega de quarto porque queria ir para a cama com
o Sr. Calça Bonita. Ugh! E por que ele tinha que olhar para ela como se quisesse
fazer a mesma coisa? Quando eles se soltaram, ele se virou para olhar para o
apartamento e disse: — Por favor, entrem. A maior parte do apartamento está
bem arrumada, mas, por outro lado, geralmente está.

Ele se virou e, em poucos metros, estávamos em uma sala de estar de conceito


aberto. À esquerda, havia uma cozinha com armários cor de café expresso em
uma das paredes e uma ilha de granito. O teto da sala de estar era grande e
espaçoso. Eles se estendiam até o segundo andar, onde havia um pequeno
mirante com um corrimão de madeira.

— O local é um apartamento de dois quartos. A maior parte do aluguel está


coberta. Sua parte seria de apenas quatrocentos dólares, mais metade das
contas de luz e água. Se as senhoras não se importarem de me seguir até o
andar de cima, eu lhes mostrarei quais são os quartos. — Seu sotaque suave
da Geórgia era muito evidente.

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Macie se inclinou e sussurrou: — Eu o seguiria até um inferno ardente se ele
me pedisse. Você viu aquela bunda?

Dodger olhou por cima do ombro e disse: — É de fazer agachamento. Eu poderia


lhe mostrar a boa forma um dia desses, — e continuou subindo as escadas
depois de dar uma piscadela para ela.

Pela primeira vez, bem, desde que conheço Macie, ela parecia genuinamente
envergonhada. Suas bochechas estavam rosadas e ela olhou para baixo. Ela
estava realmente apaixonada pelo cara, e só tinham se passado cinco minutos.
Deve ser amor, pensei depois de revirar os olhos.

Chegamos ao topo da escada de carpete bege e havia novamente um espaço


aberto. Eu podia ver o corrimão que dava para a sala de estar à minha frente.
Mas, à esquerda, havia duas portas e, à direita, uma. Dodger abriu a primeira
porta e, lá dentro, estava um pouco escuro porque as cortinas estavam fechadas
e as pesadas cortinas bloqueavam qualquer luz. Uma cama king-size no centro
de uma parede tinha um edredom azul-escuro e, em frente a ela, havia uma
televisão grande montada na parede com uma cômoda logo abaixo. Havia
objetos de recordação em quase todas as superfícies que eu podia ver, mas
estava muito escuro para ver para que serviam.

— Aqui está o quarto principal. Desculpe, obviamente ele será um pouco maior
do que o seu quarto, — disse Dodger.

— Ah, isso não é problema. Pelo menos esse tem uma porta.

Macie soltou uma risadinha. Dodger parecia confuso. Ela olhou para ele com
um sorriso presunçoso. — Nem pergunte.

Ele passou na nossa frente e atravessou o espaço até a segunda porta fechada.
— Aqui está o banheiro do andar de cima. Infelizmente, ele terá de ser
compartilhado. Mas isso não deve ser um problema. Bem, a menos que você
queira colocar toda aquela merda rosa com babados no assento do vaso
sanitário e um tapete. — Eu sorri e balancei a cabeça. — Está bem, ótimo. —
Ele fechou a porta e foi até a última abertura. — Aqui seria seu quarto. Há uma
fechadura do lado de dentro, se você achar que precisa. Embora eu possa lhe
dizer que sua privacidade não será interrompida. Dê uma olhada e eu estarei lá
embaixo, na cozinha.

Ele se virou e saiu. Dei um passo à frente e acendi a luz. O cômodo estava
completamente limpo. Não era enorme, mas era maior do que o lugar onde eu
estava dormindo. Meu quarto em casa tinha apenas uma cama e uma cômoda.
Mas nesse quarto, eu poderia colocar uma cama, uma cômoda, uma televisão
na parede e uma escrivaninha para que eu pudesse finalmente ter um lugar
para estudar. Eu estava decorando mentalmente o local e ficando animada com

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todas as possibilidades. O único problema era que eu não poderia trazer
nenhum dos meus móveis da casa da minha mãe. Embora fossem meus,
tecnicamente pertenciam a ela, e eu ainda não tinha certeza de como ela reagiria
à minha mudança. Com todos esses pensamentos, percebi que eu realmente
queria me mudar. Não demoraria mais do que alguns meses para ganhar
dinheiro suficiente para começar a comprar minhas próprias coisas. Nesse meio
tempo, eu dormiria em um colchão de ar. Esse apartamento parecia perfeito e
quase bom demais para ser verdade. Estudantes universitários não costumam
morar em lugares tão bons. Havia uma sensação incômoda de que deveria haver
algum tipo de pegadinha. Por exemplo, Dodger andava pelado pela casa? Isso
não parecia ser uma dificuldade com a qual eu não poderia lidar. Ele trazia
garotas todas as noites? Mais uma vez, eu poderia simplesmente fechar a porta
e ignorar. Eu seria obrigada a cozinhar para nós dois? Eu já fazia isso em casa,
então não faria muita diferença.

— Então, o que você acha? — Macie perguntou em voz baixa.

Olhei ao redor novamente e dei uma olhada na porta. — Parece que estou
deixando passar algo. Como se fosse bom demais para ser verdade, se é que isso
faz algum sentido.

Ela revirou os olhos. — Pessimista. Dodger foi bem direto com o que espera.
Acho que você deveria aceitar este. Você consegue se imaginar indo a mais
lugares como os dois últimos?

Eu estremeci. — Eu preferiria ser reprovada em A&P e morar com minha mãe.


— Ela riu. — Mas parece muito barato. Quero dizer, quatrocentos dólares por
um lugar como esse? Sei que ele disse que a maior parte do aluguel já está paga,
mas por que não dividi-lo igualmente?

Macie deu de ombros com indiferença, e isso me deixou frustrada. Às vezes era
difícil lembrar que o dinheiro não significava nada para ela, e isso porque ela
sempre o teve. — Aceite o que está sendo oferecido a você, Keegan. Se você não
aceitar, alguma outra universitária vai entrar em cena e roubar este lugar.

— E isso seria por causa do Sr. Calça Bonita lá embaixo? — Levantei minha
sobrancelha para ela.

— O quê? Não! Não estou interessada no Bonitão… quero dizer, no Dodger. —


Suas bochechas estavam ficando rosadas pela segunda vez hoje. Ela segurou
minha mão. — Me ouça, este não é o típico dormitório de faculdade ou casa de
fraternidade, onde não há portas e bandas gritando em seus ouvidos. Essa é
uma boa chance, Keeg, aproveite-a. Saia da manipulação de sua mãe e comece
a viver sua vida. O Sr. Calça Bonita faz com que a classificação deste lugar passe
de um perfeito dez para um onze. Ele é apenas um bônus. Mas este lugar será
perfeito para você.

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Eu sorri para ela, sabendo que ela estava certa. — Se eu aceitar, você não poderá
dormir com meu colega de quarto, Mace. — Ela torceu o nariz como se fosse
discutir. — Não, estou falando sério. Você é minha melhor amiga e não quero
que venha até aqui se as coisas derem errado, e será estranho para todos. O
Dodger está fora dos limites.

Ela bufou. — Tudo bem. Podemos ir lá embaixo e pelo menos dar a ele as boas
notícias?

Bati palmas discretamente como uma jovem adolescente. — Sim!

Ela sorriu muito e me puxou em direção às escadas. Quando chegamos lá


embaixo, Dodger estava sentado à mesa que compunha a sala de jantar. Ela
ainda dava para a sala de estar e a cozinha, mas era separada dos dois espaços.
Ele tinha alguns papéis à sua frente. Quando me aproximei, ele deve ter lido
meu rosto, pois sorriu gloriosamente para mim e deslizou os papéis em minha
direção. Era realmente um pecado ter uma aparência tão bonita.

— Aqui está o contrato que estabelece o que se espera que você pague, as datas
em que tudo deve ser pago e algumas outras coisas menores que não
discutimos. Como não pintar as paredes com cores malucas, receber hóspedes
durante a noite sem avisar o colega de quarto… blá, blá, blá, esse tipo de coisa.
A maior parte disso é basicamente retirada do contrato de aluguel que foi
assinado para morar aqui. Tenho certeza de que você entende. — Seus olhos
azuis brilharam de entusiasmo.

— Sim, eu entendo. — Mordi meu lábio para não retribuir o sorriso.

— Muito bem, então, aqui está uma caneta, e eu coloquei marcas onde você
precisa assinar. — Peguei a caneta de sua mão e me sentei na cadeira ao lado
dele. No momento em que pressionei a ponta contra o papel, a porta da frente
se abriu e entrou um homem que deixou a boa aparência de Dodger de lado. Ele
era alto e musculoso. Estava usando roupas de ginástica e presumi que era de
lá que ele tinha acabado de vir. Seu cabelo castanho era curto, mas espetado, e
estava molhado de suor. As roupas que ele usava estavam grudadas nele como
uma segunda pele, e eu podia ver o contorno do suor em partes de sua camisa.
Meus olhos o observaram em cada centímetro quando ele entrou e colocou sua
bolsa de ginástica perto da cozinha. Arfei quando ele se curvou e pude dar uma
boa olhada em sua bunda. Já ouviu falar do termo bumbum de aço? Acho que
ele lhe deu um novo significado. Quando ele se levantou, pegou uma garrafa de
água na geladeira e começou a beber enquanto se virava lentamente. Ele deve
ter finalmente percebido que havia pessoas na sala o observando. Quando olhei
bem para seu rosto, arfei novamente, mas de forma mais audível. Dodger estava
tentando não rir ao meu lado, e a boca de Macie estava mais uma vez aberta
como um peixe. Seu rosto parecia tão familiar, mas não era. Suas bochechas
eram altas e afiadas, e sua mandíbula era perfeitamente quadrada. O que mais
se destacou para mim foram seus olhos. Os olhos castanhos, amendoados e cor

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de chocolate escuro, estavam estreitados, olhando para mim e para a caneta em
minha mão. Eu engoli em seco. Ele parecia quase ameaçador ao me observar.

— Dodger, seu desgraçado, você não pode entrevistar pessoas sem que eu esteja
aqui. — Sua voz causou um arrepio na minha espinha. Era profunda e ressoava
em meu peito.

Ele ergueu as mãos. Ainda estava sorrindo como se esse cara não tivesse
nenhum efeito sobre ele. — Você me disse para fazer a entrevista, então eu fiz.
E — ele olhou para mim, piscando, — encontrei um colega de quarto para você.

— Desculpe? — Seus olhos castanhos e duros se voltaram para mim. — Você


simplesmente deu o contrato para ela assinar sem discutir comigo se estava
tudo bem?

A maneira como ele disse ‘ela’ me fez sentir como se eu fosse pequena e
insignificante.

— Ela é exatamente o que você está procurando. Achei que você não se
importaria.

A atitude indiferente de Dodger em relação à situação estava me deixando


nervosa. Meu cérebro estava tendo dificuldade para acompanhar a conversa,
mas quando o fez, tudo se encaixou.

— Espere um pouco. Você não mora aqui? — Dirigi minha pergunta a Dodger.

— Não, aquele idiota mora. — Ele acenou com a cabeça para o Sr. Alto, Moreno
e Zangado. — Ele é meu irmão. Estou aqui muito mais do que meus outros
irmãos, por isso assumi o papel de entrevistador.

Macie, que parecia animada, disse: — Há mais de vocês? — Eu a chutei por


baixo da mesa. — Ai!

A cabeça de Dodger se inclinou para o lado, mas ele sorriu para minha amiga.
— Sim, somos quatro. — Ele estava bem ciente do que estava fazendo com ela.

— Espere, espere, espere. Você me fez pensar que seria meu colega de quarto.

— Você presumiu que eu seria, mas eu nunca disse que morava aqui. — Fiz
uma careta para ele. — Tudo bem, acho que não fui muito direto com as
informações, mas meu irmão aqui pode ser um pouco temperamental e ele
assustou algumas pessoas que vieram conhecer o lugar.

Sim, sem brincadeira. Seus olhos árduos me observavam, e eu podia ver o tique
em sua mandíbula enquanto ele cerrava os dentes. — Dodger, venha para cá,
precisamos conversar.

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Olhei para Macie, e sua expressão estava dançando de alegria. Sim, aposto que
ela estava animada. Um pouco de drama com um par de caras bonitos na
mistura, ela vivia para isso. Eu, por outro lado, estava com o estômago
revirando, queria me levantar e ir embora. Fiquei relembrando repetidamente
com o fato de Dodger ter me mostrado todos os cômodos, mas ele realmente
nunca disse que era o quarto dele, o banheiro dele, o apartamento dele. Minha
cabeça estava começando a doer. Esfregando as têmporas com as pontas dos
dedos, apoiei os cotovelos na mesa para me apoiar. Isso não ia dar certo. Esse
era um problema que sabia que ia acontecer. Nada nunca dava certo para mim.
Eu podia ouvir Dodger e seu irmão, cujo nome eu ainda não sabia, falando
baixo, mas alto o suficiente para ser captado.

— Seu idiota, não é você que está morando com uma estranha, e eu preciso
aprová-la — disse o irmão.

— Você queria uma colega de quarto, bem, eu acho que ela é perfeita. Ela é
tranquila, está estudando na faculdade, não indicou que tem um namorado que
virá para cá e tem um emprego fixo, o que mais você poderia querer? — Dodger
parecia estar ficando frustrado.

Meu rosto esquentou de vergonha. Eu teria preferido que minha solteirice


permanecesse privada e não fosse divulgada. — De qual garota estamos
falando? A bonita ou a gordinha? — Disse a voz gelada um pouco mais alta, e
eu sabia que ele sabia que eu estava ouvindo. Levantei a cabeça e o encarei. Ele
estava olhando diretamente para mim.

Dodger falou um pouco mais suavemente, mas foi definitivamente ameaçador


em suas palavras para com seu irmão. — A loira. O nome dela é Keegan, e ela
está assinando os malditos papéis. Não vou passar por isso de novo, irmão. Vá
conhecer sua nova colega de quarto e tome um banho frio, seu fedorento. —
Com isso, ele pegou algumas chaves que estavam sobre o balcão e se dirigiu à
porta. Antes de sair, ele se dirigiu a Macie e a mim: — Espero que vocês gostem
do lugar. Vamos nos ver muito. — Ele olhou para seu irmão e apontou. —
Joguem bem pra caramba. — Então ele se virou e saiu.

Mantive meus olhos nivelados e não os tirei do cara que ainda estava olhando
para a porta. Eu poderia jurar que o ouvi rosnar. Resignado, ele esfregou a mão
no rosto e voltou a subir no cabelo bagunçado. Quando seu braço caiu ao seu
lado, ele se virou para mim. Endireitando minhas costas, aceitei seu olhar. Não
quis mostrar a ele que suas palavras me feriram um pouco mais do que eu
deveria ter permitido. Esse cara era claramente um rato de academia. Seus
músculos tinham músculos, e eu não pisava em uma academia desde… bem,
desde que estava no ensino médio e fui forçada a participar. Eu me recusava a
deixar que alguém me fizesse sentir menos do que eu era, e certamente não esse
idiota. Seus olhos permaneceram em mim o tempo todo, sem nunca olhar para
Macie. Isso nunca havia acontecido antes. Ela sempre foi a mais notável. Eu me

33
misturava às paredes. Obviamente, ele formou algum tipo de opinião sobre mim,
porque balançou a cabeça e foi até a frente da mesa. Ele ficou olhando para nós,
antes de finalmente falar.

— Assine os papéis. Nada de namorados, nada de festas de garotas a menos que


eu saiba, sou eu quem vai às compras e cozinha, e nada de música alta. Se você
seguir essas regras, não teremos nenhum problema um com o outro. — Seus
olhos se estreitaram um pouco nos cantos.

— E se eu não concordar com elas? — Perguntei, dirigindo-me a ele pela


primeira vez desde que ele entrou.

Ele colocou as mãos grandes sobre a mesa e se inclinou para ficar mais perto
de mim. Eu podia sentir o cheiro de seu suor e de algum outro perfume delicioso
que invadiu meus sentidos. — Acredite em mim, Blue, você não encontrará
outro lugar como este com a mesma oferta. Você acabaria pagando o dobro do
que estou pedindo. Portanto, assine a porra dos papéis. Tem uma chave reserva
na cesta ao lado da pia. — Ele se levantou e começou a subir as escadas.

Minha cabeça estava girando. — Espere, Blue? Meu nome é Keegan. E eu nem
sequer sei o seu.

Era tudo o que eu tinha para argumentar. Ele sabia que tinha ganhado, e eu ia
assinar mesmo assim. Espero que não acabemos nos matando antes do fim do
ano.

Ele parou alguns passos à frente, mas não se virou. — Nada a explicar. E o meu
nome é Camden. — Então ele continuou subindo as escadas, e ouvi o chuveiro
funcionando.

— Puta merda, isso vai ser divertido, — disse Macie, sorrindo mais do que eu
jamais tinha visto.

Puta merda, estava certa.

34
CAPÍTULO - 04
MINHA PRIMEIRA SEMANA NO APARTAMENTO foi um pouco complicada. Na
noite em que assinei os papéis, fui para casa contar à minha mãe e à minha
irmã que estava me mudando. Minha mãe não tinha muito a dizer. Acho que
ela percebeu o que estava reservado para ela, e suas festas e os dias em que
dependia tanto de mim não existiriam mais. Ela olhou para mim, simplesmente
disse: — Espero que você seja feliz, — e foi embora. Eu não tinha certeza de
como interpretar aquelas quatro palavras. Ou ela estava sendo irreverente e
sarcástica, ou estava triste e não sabia mais o que dizer. Sarah, por outro lado,
não aceitou bem a notícia. Ela chorou e correu para os meus braços. Por mais
triste que fosse, expliquei a ela que eu era uma adulta e precisava sair sozinha.
Fiz questão de que ela soubesse que poderia vir me ver sempre que quisesse e
que poderia dormir em minha casa se sentisse muito a minha falta. Quando
disse isso a ela, meus pensamentos se voltaram para Camden, e eu me animei
mentalmente. Suas pequenas regras não incluíam dormir com irmãs mais
novas, portanto, ele que reportasse isso ao banco. Eu a trouxe para ver o filme
alguns dias depois. Mamãe não quis vir, o que foi ótimo, e felizmente Camden
estava fora. Sarah se apaixonou. Ela correu por todos os lados e mergulhou no
sofá. Eu ria de sua alegria boba. Ela ia ficar bem, e eu planejava trazê-la para
cá o máximo possível.

Depois de alguns dias morando aqui, descobri que Camden era dono de uma
academia. Fiquei pensando em como um estudante universitário poderia se dar
ao luxo de morar aqui e pedir tão pouco pela minha parte do aluguel. Eu
considerava a mesma situação de Macie. Achei que mamãe e papai pagavam
por tudo. Eu estava muito enganado. Nunca imaginei que Camden fosse um
empresário e, afinal, ele não era um estudante universitário. Eu o questionaria
sobre isso, mas ele quase nunca estava em casa. E quando estava, nunca tinha
muito a dizer. Eu me repreendia nas primeiras vezes em que ouvia a porta da
frente se abrir e meu coração acelerava o passo, sabendo quem seria. O que ele
disse a Dodger naquele primeiro dia ficou gravado em minha memória: ‘a
gordinho’. Eu odiava achá-lo atraente, mas qualquer atração que eu sentia por
ele desapareceu rapidamente quando ele trouxe uma garota para casa e a exibiu
bem na minha frente. Infelizmente, ela também não foi a primeira. Como todas
as outras, ela era exatamente o oposto de mim. Enquanto eu tinha pouco mais
de um metro e oitenta de altura, ela era escultural, com cerca de um metro e
oitenta. Meu cabelo era longo, ondulado e loiro, enquanto o dela era curto e
preto como azeviche. Eu tinha um pouco mais de curvas, mas essa garota era
muito magra. Ele entrou e a mão dela estava em seu bolso traseiro, seguindo
um pouco atrás dele. Eu estava sentada no sofá estudando para uma prova de
história quando eles pararam na cozinha. Ele foi até a geladeira e começou a

35
procurar alguma coisa. Quando se virou, tinha uma lata de chantilly e uma
garrafa de vinho. Ele lhe deu um sorriso sexy, e ela deu uma risadinha. Camden
lhe entregou os itens e abriu o armário que continha as taças de vinho. Foi
quando ela finalmente se virou em minha direção e me viu sentada ali,
observando-os. Suas sobrancelhas se ergueram como se estivessem
ligeiramente assustadas.

— Quem é ela? — Perguntou a mulher. Seu tom era confuso e um pouco


desanimado.

Camden tinha dois copos na mão enquanto olhava para onde ela estava
olhando. Ele olhou para mim, com seus olhos castanhos fixos nos meus e
respondeu: — Ninguém, apenas minha colega de quarto.

Ela aceitou a resposta dele como sendo toda a explicação que precisava. Os dois
subiram as escadas até o quarto dele, e ouvi a porta se fechar. Não precisei de
muita imaginação para saber o que iria acontecer. Fiquei ali sentada,
repassando suas palavras em minha cabeça. Eu não era ninguém? Ele nem
sequer se deu ao trabalho de tentar me conhecer. Como eu poderia ser
ninguém? Eu era tão ofensiva assim para ele? Quanto mais eu pensava nisso,
mais irritada eu ficava. Em vez de estender-lhe qualquer ramo de oliveira, eu
ficaria mais do que feliz em ser ‘apenas a colega de quarto’. Não era necessário
ter amizade para vivermos juntos. Eu esperava que pudesse ser amiga dele, mas
parecia que ele não estava interessado. Fechando meu livro, peguei minhas
coisas e subi as escadas. Fechando a porta sem fazer barulho, agradeci aos
deuses da parede por terem feito a nossa um pouco mais espessa do que os
apartamentos normais. Eu não conseguia imaginar ter que ouvi-los transando.
Eu provavelmente vomitaria.

Me deitei em meu colchão de ar e me enrolei sob as cobertas. Olhei ao redor do


espaço ainda muito vazio do meu quarto. Consegui comprar algumas cortinas
para cobrir a janela e um espelho para encostar na parede, mas qualquer outra
compra teria de esperar. Eu gostaria de ter uma cama de verdade, porque essa
cama inflável estava machucando minhas costas, mas isso não era uma
prioridade no momento. O que eu precisava era de um laptop para poder fazer
meus trabalhos escolares em casa, uma cômoda e alguns cabides para minhas
roupas. Depois, eu compraria uma cama. Achei que levaria alguns meses para
fazer todas as compras, mas não me importava com isso. Seria meu, algo pelo
qual eu teria trabalhado duro e pago com meu próprio dinheiro. Por enquanto,
isso teria que servir.

Deitada ali, acabei decidindo que viveria aqui como se fosse a única pessoa.
Quando o aluguel chegasse ao fim, eu o deixaria no balcão, junto com as outras
contas que precisassem ser pagas. Amanhã eu sairia e compraria uma
fechadura para a minha porta, para garantir a privacidade que eu precisava. Eu
não precisava que nenhuma das garotas de Camden entrasse em meu quarto
achando que podia levar o que quisesse. Eu também manteria o mínimo de

36
comunicação com ele. Se eu não era nada para ele, então ele não seria nada
para mim. Me sentindo mais tranquila em relação aos meus planos, me ajeitei
ainda mais na minha cama desconfortável e adormeci.

No dia seguinte, acordei e respirei fundo enquanto esticava os braços acima da


cabeça. Senti o cheiro de algo que fez meu estômago roncar. O que era aquilo,
bacon? Me levantei da cama e esfreguei os olhos com as palmas das mãos.
Coloquei meu roupão amarelo-claro e desci as escadas. Eu tinha certeza de que
meu cabelo estava todo bagunçado, mas desde que decidi que não me importava
mais com Camden e com o que ele pensava de mim, não importava a minha
aparência. Quando cheguei ao último degrau, eu o vi na cozinha, de costas,
virando ovos em uma frigideira. Ou ele me ouviu, ou me sentiu, porque se virou
e me viu ali. A garota que parecia uma modelo não estava à vista. Fiquei
imaginando se ele a teria feito ir para casa ontem à noite, depois de ter
terminado com ela. Isso não me surpreenderia. Eu me contorci um pouco com
o olhar de Camden sobre mim. Seus olhos saíram do meu cabelo bagunçado e
percorreram todo o meu corpo, observando o roupão e as pernas nuas que
estavam à mostra. Onde quer que seus olhos tocassem, parecia uma carícia em
minha pele. Por que ele estava me olhando daquele jeito? Balancei a cabeça. Eu
tinha certeza de que ele estava se perguntando como tinha ficado preso a uma
pessoa como eu como colega de quarto. Minha aparência não estava nada
fabulosa naquela manhã.

Sem saber o que fazer, no início, fiquei ali mordendo o lábio inferior. Eu gostava
de seus olhos em mim, mas também odiava o que eu sabia que ele via e pensava.
Parecia que ele já tinha corrido uma maratona, ou o que quer que ele fizesse de
manhã. Seus cabelos estavam espetados para todos os lados e ele usava uma
camisa preta com as mangas rasgadas. Seus braços bronzeados se flexionavam
como se soubessem que alguém estava observando. Sua bermuda azul era longa
e ia até os joelhos, com o material de malha se formando sobre partes dele nas
quais eu não deveria estar pensando agora. Endireitando minhas costas,
avancei em direção à cozinha. Não vá até lá, Keegan. Eu estava pensando em
café, e havia um bule fresco já pronto. Contornei Camden quando ele estava em
frente ao fogão e fui até o armário que continha as canecas de café.

— Bom dia, — disse ele, com a voz mais grave do que o normal. Agarrei a caneca
com mais força.

Não me virei para olhá-lo, nem retribuí o cumprimento. Fui até a cafeteira e
enchi minha caneca. Abrindo a geladeira, peguei o leite e derramei algumas
gotas. A lata de açúcar estava ao lado da geladeira, coloquei duas colheres de
chá na minha xícara e comecei a mexer. Senti os olhos de Camden em minhas
costas, mas me recusei a olhar para ele.

37
Eu o ouvi suspirar e então ele disse: — Fiz o café da manhã. Torrada de trigo
integral, claras de ovos e bacon de peru. Vou colocar seu prato no balcão do
café da manhã. — Ouvi o tilintar do prato quando ele o colocou no chão.

Se ele estava esperando por um reconhecimento de minha parte, não o


receberia. Fiquei chocada por ele ter pensado em preparar um prato para mim.
Por outro lado, com o que ele fez, provavelmente estava tentando me colocar em
uma dieta pensando que eu não notaria… ou ele envenenou o prato. Ele que se
dane. Apesar de meu estômago roncar, peguei minha caneca e comecei a sair
da cozinha. Eu tomaria o café da manhã na cidade a caminho de Sarah. Ela
estava chegando para passar o dia comigo e íamos comer no sofá.

— É sério que você não vai comer? — Ele perguntou antes que eu pudesse subir
as escadas.

Dessa vez, eu me virei para olhar para ele. — Por que cozinhar alguma coisa
para mim? Sou apenas a colega de quarto, certo? Cozinhe para você. — Com
isso, subi as escadas. Alguns segundos depois de fechar a porta do banheiro,
ouvi um estrondo e a porta da frente bateu. Fantástico… eu irritei o urso pardo.

Depois de tomar banho e me vestir, desci as escadas. Ao passar, olhei para a


pia. O prato de comida que ele havia feito para mim estava jogado fora e
quebrado em alguns pedaços grandes. Suspirando, peguei os vidros quebrados
e joguei-os fora, depois joguei a comida no lixo. Eu queria me sentir mal pelo
que disse a Camden, mas não podia. Ele precisava de uma lição sobre como
tratar as pessoas, e eu me recusava a me sentir desconfortável em minha
própria casa.

Depois de limpar a bagunça, fui buscar Sarah e compramos alguns filmes na


loja, além de uma sacola cheia de doces. Eu gostava muito de doces e ainda não
tinha encontrado uma criança de oito anos que não tivesse o mesmo problema.
Ela queria assistir primeiro a Meu Malvado Favorito. Ao abrir o filme, a pré-
estreia estava apenas começando quando a porta da frente se abriu. Dodger
entrou e deu uma olhada nos doces espalhados na mesa de centro. Ele sorriu.

— Olá, meninas, o que estão fazendo?

Dodger já havia conhecido minha irmã, e eles se davam bem. — Assistindo a


um filme, quer assistir conosco? — Perguntou Sarah.

Ele assentiu com a cabeça.

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— Você pode ficar com o Laffy Taffy da Keegan, mas não pode ficar com meus
NeRdS1. Eu não os compartilho.

Ele riu e bagunçou os cachos selvagens dela ao se sentar ao seu lado. — Na


verdade, estou de olho nesses Snickers.

Ela fez uma cara dura para ele. — Você pode comer um, mas não mais.

— Tudo bem, um é suficiente. Mas e o outro doce?

— Você está brincando? Se você comer mais do que essa barra de chocolate, vai
ficar com dor de barriga!

— Bem, então é melhor eu ficar só com um. — Ele sorriu para ela.

Eu estava sorrindo com a conversa deles. Dodger era muito parecido com uma
criança. Sua atitude despreocupada e seu espírito divertido eram exatamente o
motivo pelo qual eu adorava tê-lo em casa o tempo todo. Eu o via mais do que
via Camden. Eu realmente queria que fosse ele quem morasse aqui. Nós três
assistimos ao filme juntos e rimos quando fiz imitações da voz de Steve Carrell.
Quando acabou, coloquei o próximo e deixei Sarah começar. Aproveitei que ela
estava distraída, peguei uma sacola no balcão e fui até a porta do meu quarto.
Eu havia comprado uma nova maçaneta que tinha uma trava para que eu
pudesse trancá-la do lado de fora. Achei que Dodger tinha adormecido quando
comecei o próximo filme, mas aparentemente eu estava errada. Eu o ouvi atrás
de mim limpando a garganta.

— O que está fazendo?

Eu me assustei. — AH! Você não poderia se aproximar de mim desse jeito? Estou
com uma chave de fenda na mão.

Ele sorriu. — Estou vendo isso. O que há de errado com a maçaneta que já
estava ai?

Olhei para ele por alguns segundos antes de voltar à tarefa que tinha em mãos.
— Estou trocando-as para ter certeza de que tenho total privacidade,
especialmente quando não estou em casa.

Ele deu uma risadinha. — Posso lhe garantir que Camden não tem interesse em
roupas de garotas.

1
NeRdS é uma bala produzida nos EUA pela Nestlé. NeRdS são pedaços de
açúcar com aromas de uva, morango, melão, limão, entre outros. Devido à
pouca importação, só é possível encontrar o produto em lojas e lugares
específicos.
39
— Ha, ha, espertinho. Estou me referindo às amazonas que ele traz para casa
todas as noites. Não confio que elas não entrem e pensem que está tudo livre no
meu quarto e levem minhas coisas — resmunguei.

Dodger tocou meu ombro. — Espere, ele tem trazido mulheres para casa?

Minhas sobrancelhas se juntaram. — Sim, ele trouxe pelo menos três desde que
me mudei para cá. Por quê?

Seu rosto parecia confuso. — Nada, não se preocupe com isso. — Ele ficou atrás
de mim, completamente quieto enquanto eu trabalhava. Quando me levantei,
abri a porta para testar a fechadura. Ouvi Dodger gemer.

— Que merda, Keeg. — Ele me empurrou para o lado e apertou o interruptor de


luz na parede.

— Ei, o que você está fazendo? — Tentei manobrar na frente dele e empurrá-lo
de volta para fora. Ele não cedeu. Seus olhos examinaram cada centímetro da
sala. Quando se encontraram com os meus, ele parecia confuso e furioso. —
Onde estão todos os seus móveis? Achei que você tinha dito que já tinha se
mudado.

Meus ombros caíram e minha voz ficou calma. — Estou me mudando. Isso é
tudo o que eu tenho.

Sua cabeça estava balançando para frente e para trás. — Isso não é legal,
Keegan. Você nem sequer tem uma maldita cama!

— Por que está gritando comigo? Não é que eu não planeje comprar mais móveis,
mas não tenho dinheiro para isso no momento. E minha mãe não me deixou
levar as coisas do meu quarto. — Baixei os olhos e não consegui olhar para ele.
Por que eu me sentia tão envergonhada?

Ele inclinou meu queixo para cima, de modo que eu estava olhando para ele. —
Posso comprar uma cama para você, Keegan. Não é um problema.

Afastei minha cabeça. — Não! Não sou um caso de caridade e estou trabalhando
para ter o que tenho. Poderei conseguir tudo o que preciso em poucos meses,
portanto, pare de se preocupar comigo e tire essa cara de nojo.

Sua boca se afinou em uma linha frustrada. — Você sabe que eu vou contar a
ele.

— Contar para quem?

— Camden.

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Meu estômago caiu e imediatamente fiquei na defensiva. — Se você contar
alguma coisa para aquele desgraçado, eu vou embora. Não vou lidar com sua
pena e com o julgamento daquele idiota sendo jogado na minha cara. Posso não
ter pais que me dão tudo o que preciso, mas sou capaz de cuidar de mim mesma.
Camden não precisa saber nada sobre mim. Ele me julgou no momento em que
pôs os olhos em mim. Então, por favor, guarde isso para você, está bem?

Ele me observou por alguns segundos antes de passar a mão no rosto. — Tudo
bem, mas você sabe que ele vai perceber isso em algum momento.

— Não, ele não vai. E mesmo que percebesse, ele não se importaria. — Eu sabia
que ele não se importaria.

Ele deu de ombros. — Se você pensa assim… Mas tenho a sensação de que isso
o incomodaria mais do que você pensa.

— Tanto faz. Vamos descer para que eu possa terminar o filme com Sarah e
levá-la de volta para casa.

Quando fechei a porta e usei minha nova fechadura, ouvi a porta da frente abrir
e fechar.

— Quem diabos é você? — A voz grave de Camden ecoou pelo espaço aberto.

— Eu sou a Sarah, quem diabos é você?

Dodger já estava no final da escada, rindo da resposta da minha irmã, e eu


estava tentando enfiar a chave no bolso e descer a escada sem cair.

— Sarah! — Eu repreendi. — Cuidado com sua boca.

Ela deu de ombros com indiferença. — O quê? Foi ele quem começou.

Eu esperava seriamente que minha mãe não a deixasse falar assim enquanto
eu não estivesse por perto. Camden olhou para mim quando meus pés atingiram
o último degrau e começou a olhar de volta para Sarah, mas deu uma olhada
dupla para Dodger e eu, que estávamos juntos. Eu engoli em seco. Eu tinha
uma ideia de como era, já que nós dois tínhamos vindo do andar de cima.

Sua mandíbula se moveu para frente e para trás. — Ela pertence a você?

Minha boca se abriu, fechou e abriu novamente. Não tinha certeza de como
responder à sua raiva repentina. Seu tom de voz era cortado e a maneira como
ele se referia à minha irmã era como se ela fosse um objeto inanimado. — Se
por pertencer a mim você quer dizer que esta é minha irmã, então, sim, ela
pertence a mim.

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— Huh — ele grunhiu. — Eu não sabia que você tinha uma irmã.

Assumi uma postura defensiva, cruzando os braços sobre o peito. — Talvez você
soubesse se estivesse por perto. Esta é a terceira vez que ela está aqui.

Seus olhos se arregalaram. Quando se tratava de Sarah, eu nunca me continha.


Já havia bancado a mamãe urso para ela em mais de uma ocasião. Essa não foi
exceção.

— Sim, bem, eu trabalho. Você sabe, sair e ganhar um salário. — Sua frase
estava carregada de sarcasmo, e isso me irritou.

— Me desculpe? Eu trabalho. Como você acha que eu pago por este lugar?

— Não importa como você ganha. Desde que você esteja pagando, não me
importo.

— Oh, bem, essa é uma atitude realmente fantástica para se ter em relação a
alguém que mora em sua casa.

— É o que é, Blue. — Ele deu de ombros, e isso fez meu sangue passar de uma
lenta fervura para uma ebulição.

— Sério, por que esse apelido? — Eu quase gritei.

— Ei, — Sarah falou por cima do sofá. — Estou tentando assistir a um filme
aqui.

— Sim, ela está tentando assistir a um filme, fale baixo, — Dodger interrompeu.
Eu tinha esquecido completamente que ele ainda estava ali, e ele estava
parecendo muito divertido com a discussão acalorada que Camden e eu
estávamos tendo.

— Cale a boca, Dodger — Camden cortou.

Seu irmão mais novo apenas deu uma risadinha. — De jeito nenhum, cara.
Concordo, a garota está assistindo a um filme e vocês dois estão dificultando a
audição. — Ele olhou entre nós. — Olha só! Há uma séria tensão sexual nesta
sala.

Camden rosnou e passou as mãos pelo cabelo escuro e suado. — Cristo, você
não sabe quando parar, porra.

— O que é tensão sexual? — Os olhos curiosos de Sarah me observaram.

Eu me virei para olhar para Dodger e Camden. Levantei minhas mãos no ar e


as coloquei de volta em minhas pernas. — Oh, meu Deus! — Exclamei, cerrando

42
os dentes. Sussurrando bem baixo, apontei para os dois. — Muito obrigado. E
cuidado com sua boca. Ela só tem oito anos. — Fui em direção ao sofá e disse:
— Tensão sexual é quando todos estão realmente felizes e se divertindo.

Ouvi alguém bufar atrás de mim. Era isso, Sarah não voltaria aqui até que eu
desse a ambos uma palestra sobre como se comportar na frente de minha
irmãzinha. Eu podia imaginar isso agora. Sarah estava na escola e minha mãe
recebeu uma ligação porque minha irmãzinha estava adorando a tensão sexual
no playground. Suspirei.

— Bem, tudo isso foi divertido, mas tenho lugares para ir, garotas para
conhecer, — disse Dodger antes que Sarah pudesse perguntar mais alguma
coisa.

Ele colocou a mão em meu ombro quando passou por mim. Ele se abaixou e
deu um beijo no topo da minha cabeça. Não sei por que não pareceu estranho,
considerando que ele não me conhecia há tanto tempo, mas Dodger me fez sentir
confortável e eu sabia que era apenas um gesto amigável. — Fique bem, — ele
sussurrou em meu ouvido. Acenei levemente com a cabeça e o observei sair pela
porta da frente.

Dei uma olhada por cima do ombro para Camden. Seus olhos estavam fixos em
mim. Por que ele estava me olhando daquele jeito? Ele fechou seus olhos quase
castanhos e inspirou pelo nariz. Quando os abriu novamente, concentrou-se em
minha irmã. — Ei, garota, — ele inclinou a cabeça em direção à TV, — o que
você está assistindo?

Sarah o olhou com ceticismo. — Beverly Hills Chihuahua, quer assistir comigo?
— Claramente, o comportamento dele não a intimidou.

— Depende, é bom? — Ele começou a se mover em direção a ela, passando por


mim do outro lado do sofá.

— É sobre cachorros. Qualquer coisa com cachorros é boa.

Seu corpo quase roçou o meu quando ele passou por mim. Involuntariamente,
inspirei e o cheiro dele me atingiu como uma tonelada de tijolos. Era tão bom,
mas ele ainda estava suado. Eu me agarrei ao encosto do sofá.

Ele se sentou no lado oposto ao dela e continuou a falar. — Você tem um


cachorro?

Ela balançou a cabeça. — Não, mamãe não me deixa ter um. Ela diz que dá
muito trabalho.

Ele acenou com a cabeça. — Eu cresci com cachorros, e eles dão muito trabalho.
Mas talvez um dia você tenha um.

43
Por mais que ele me irritasse, sua atitude mais branda em relação a Sarah foi
uma mudança revigorante. Ter um homem em casa que estava sempre irritado
e mal-humorado tornava minha disposição normalmente feliz negativa. Na
semana em que morei aqui, achei isso exaustivo. Olhando para Camden sentado
com Sarah assistindo a um filme totalmente ridículo, senti como se o universo
tivesse ajudando. Como é que minha irmãzinha conseguiu penetrar em sua
concha de ‘não mexa comigo?’ Talvez ele gostasse de crianças. Os dois pareciam
bem acomodados. Passei a mão em meus longos cabelos. Parecia que seria
melhor eu me acomodar, pois não esperava que minha noite tomasse esse rumo.

Três horas e outro filme depois, Sarah estava desmaiada. Eram quase oito
horas, e eu precisava levá-la para casa. Me levantei e estiquei os braços bem
acima da cabeça. Minhas costas estalaram e eu gemi. Me senti melhor depois
de ficar sentada tão rigidamente por tanto tempo. Me recusei a olhar para
Camden quando o filme terminou. Ele parecia nervoso comigo, e eu não estava
a fim de ter outro confronto esta noite. Aproximando-me de Sarah, eu estava
prestes a me abaixar para pegá-la, quando Camden se mexeu e a levantou no
ar antes mesmo que eu tivesse a chance. Levantei uma sobrancelha para ele,
questionando.

— Abra a porta para mim, sim? — Ele disse, mas não tinha mais o tom que
tinha no início da noite.

Fui até a porta da frente e a abri. Passando na frente dele, fui até meu carro e
o ouvi me seguindo. Ao apertar o botão de destravamento, as luzes piscaram no
estacionamento escuro. Abri a porta de trás e observei o cuidado que ele tinha
com ela. A maneira como ele tentava gentilmente não empurrá-la era quase
cativante.

Quase.

Quando fechou a porta, ele se virou e me encarou. Seus olhos duros tinham um
toque mais suave, mas ainda assim eram intensos. Um momento pareceu se
passar entre nós nos poucos segundos em que nos olhamos silenciosamente.
Ele começou a abrir a boca, mas a fechou, quase como se tivesse pensado
melhor. Balançando a cabeça, ele abriu minha porta e voltou para a calçada.
Entrei e liguei o carro. Quando dei ré, olhei pelo espelho retrovisor e notei que
Camden não havia se mexido. Por mais desconfortável que ele tenha me feito
sentir desde o momento em que o conheci, eu apreciava sua ajuda com Sarah,
mas me irritava o fato de que eu precisaria agradecê-lo por me ajudar com ela
quando chegasse em casa.

Quando a coloquei para dormir, troquei algumas palavras com minha mãe. Ela
estava gritando comigo por tê-la deixado na rua até tão tarde e disse que eu
deveria tê-la deixado ficar comigo. Isso só serviu para me irritar. Eu a acusei de
dizer isso apenas porque ela queria sair e festejar, e não poderia se eu estivesse

44
trazendo Sarah de volta para casa. Suas discussões aumentaram e decidi que
não precisava mais ouvi-las. Eu me mudei por mais de um motivo, e esse era
um deles. Eram quase onze horas quando voltei para casa. Eu estava exausta
e pronto para ir para a cama.

Ao entrar no apartamento, o andar de baixo estava completamente escuro.


Camden deve ter ido para a cama ou saído novamente. Meu estômago se
desmanchou com a ideia de ele estar saindo com outra garota, mas rapidamente
esmaguei a decepção. Eu não tinha direito a ele, nem queria ter. Ele era meu
colega de quarto, e ponto final. Definitivamente, não iria agradecê-lo por ter me
ajudado antes. Subi os degraus com dificuldade e estava apenas destrancando
a porta quando a porta do banheiro se abriu. Camden saiu para o corredor e o
vapor flutuou ao seu redor. Ele estava com uma toalha azul-escura enrolada na
cintura e ainda havia gotas de água descendo por seu abdômen perfeitamente
esculpido. Havia um V bem definido com um rastro de pelos escuros que
passava por baixo da toalha. Eu me vi observando cada centímetro de sua forma
perfeita. E quando eu disse perfeita, quis dizer que não havia uma única falha
nele. Não tinha ideia de quanto tempo fiquei ali quase babando no carpete, mas
quando meus olhos alcançaram os dele, ele tinha um meio sorriso no rosto. Oh,
Deus, por favor, não se vanglorie de que eu o estava examinando, por favor. Meu
cérebro cansado não aguentou.

Em vez disso, ele deu um passo à frente até que estivéssemos perto. Seus olhos
de chocolate percorreram meu rosto, como se estivesse tentando encontrar algo.
Fiquei completamente imóvel, permitindo que ele examinasse minhas feições.
Minha respiração havia acelerado, e o sobe e desce do meu peito estava um
pouco mais rápido do que o normal. Se ele notou, não deu a entender. Sua
respiração ainda estava normal, e eu me afundei um pouco por não ter tido o
mesmo efeito sobre ele. Estando tão perto, eu não conseguia olhar em seus
olhos. Não sabia o que veria neles. O contato visual sem raiva parecia pessoal
demais. Eu não queria ser pessoal com ele. Pelo menos eu achava que não
queria, então meus olhos permaneceram em seu peito. Mas então ele fez algo
que parecia tão fora do normal que me assustou. Sua mão esquerda se
aproximou e ele colocou alguns fios do meu cabelo loiro atrás da minha orelha.
Foi tão sutil e, ao mesmo tempo, muito íntimo. Eu puxei um gole de ar e meus
joelhos quase se dobraram quando senti o cheiro dele. Era tão refrescante e
quente que me deu vontade de me envolver nele e me perder. Eu já havia tomado
banho muitas vezes e sabia qual era o cheiro do sabonete dele. Esse era o
sabonete e algo que era só dele.

Intoxicante.

— Fico feliz que você tenha voltado em segurança. Você ficou fora por um tempo,
— disse ele calmamente, quase como se suas palavras fossem quebrar o transe
em que ele me colocou.

45
Eu não conseguia falar. Minha mente era um quadro em branco, e nenhuma
palavra podia ser formada. Ele havia me deixado oficialmente sem palavras.
Entre sua proximidade, seu cheiro e o rastro de queimação que seus dedos
deixavam em minha pele, eu estava perdida. Ele tinha que saber o que estava
fazendo comigo. Ninguém que se parecesse com ele não percebia como afetava
as pessoas. Naquele momento, se ele me dissesse para pular, eu perguntaria:
‘De que altura?’

Em vez de me enrolar ainda mais, ele quebrou o feitiço em que havia me


colocado. Ele disse calmamente: — Boa noite, Blue, — e se virou para entrar em
seu quarto.

Quando a porta se fechou, eu me encostei na parede. Minhas pobres sinapses


estavam disparando em todas as direções diferentes, e eu estava tentando
recuperar o equilíbrio. O que diabos acabou de acontecer aqui? E, falando sério,
de onde ele tinha tirado o nome Blue? Balancei a cabeça e entrei no meu quarto,
trancando a porta atrás de mim. Não é que eu não me sentisse segura,
especialmente com Camden do outro lado do corredor. Mas eu não tinha certeza
se não teria um sonho maluco e entraria sonâmbula no quarto dele. Ele estava
me afetando, e eu precisava cortar o mal pela raiz rapidamente. Seu
comportamento quente e frio era demais. Havia se passado apenas uma semana
e eu não tinha certeza se conseguiria lidar com isso por um ano inteiro sem
perder a cabeça. Dodger afirmar que havia tensão sexual era risível. Eu poderia
ter sentido o desejo pela primeira vez esta noite no corredor, mas
definitivamente não havia nada registrado do lado dele. Amanhã, eu teria que
corrigi-lo. Nada mais de Camden babaca, e definitivamente nada mais de
Camden sensível. Eu queria poder entrar em minha casa e saber quem era a
pessoa com quem eu iria me encontrar todos os dias. Pronto, estava resolvido.
Meus nervos estavam à flor da pele e meu corpo precisava de algo, mas eu tinha
que ignorar. Eu resolveria tudo amanhã, quando me levantasse. Com sorte, eu
o pegaria antes que ele saísse para a academia. Fechando os olhos, demorou
uma eternidade para que eu cochilasse. Quando finalmente consegui, sonhei
com Camden de toalha e com todas as coisas safadas que eu gostaria que ele
fizesse comigo.

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CAPÍTULO - 05
EU NÃO DORMI MUITO ontem à noite devido a um certo homem da casa que
provocou borboletas no meu estômago e deu uma chicotada no meu cérebro.
Acordar antes de Camden não foi um problema esta manhã. Decidi parar de me
revirar por volta das cinco horas e desci para ler um livro. Ouvi rangidos no
andar de cima cerca de uma hora depois, e não demorou muito para que
Camden, com aparência grogue, entrasse na cozinha para preparar um bule de
café. Ele estava usando um par de suéteres cinza-escuros que se curvavam
sobre sua bunda perfeitamente tonificada. Sua parte superior do corpo não
tinha nenhuma roupa. Os músculos definidos de suas costas se moviam
enquanto ele enchia o bule de água. Com a pele bronzeada e macia, minha boca
ficava seca a cada movimento dele. Por que ele tinha de andar seminu e ser tão
delicioso? Quase gemi quando ele se virou e ficou de frente para a sala de estar.
Ele ainda não tinha me visto, e eu estava agradecida porque isso me poupou
alguns segundos extras para examinar cada centímetro dele. Camden se
inclinou e colocou os cotovelos no balcão, apoiando a cabeça nas mãos. Ele era
o retrato da perfeição. Olhando para ele agora, eu só esperava ser capaz de falar
com ele sem fazer alarde de como ele me tratou durante minha primeira semana
aqui. A cafeteira atrás dele apitou, ele passou a mão nos cabelos rebeldes e
puxou as pontas. Levantando-se, ele estava prestes a se virar quando me viu
olhando para ele.

— Bom dia — eu disse timidamente. Olhei para o livro que havia fechado e que
estava em meu colo.

Quando ele não respondeu ao meu cumprimento, olhei para ele. Seus olhos
escuros estavam fixos em mim, mas eu não sabia dizer em que estado de espírito
ele estava. — O que você está fazendo acordada? — Sua voz normalmente grave
saiu áspera.

— Não consegui dormir.

Ele me olhou antes de se afastar. — Café?

— Por favor — eu disse, levantando-me do sofá. Fui até a ilha e me sentei. Ele
serviu duas xícaras. Fez meu café exatamente como eu havia feito no outro dia:
um pouco de creme e duas colheres de chá de açúcar. Eu não tinha percebido
que ele prestava tanta atenção.

Ele passou a caneca para mim e eu disse: — Obrigada — envolvendo minhas


mãos na xícara quase quente demais. O silêncio estava me fazendo contorcer, e

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senti que precisava iniciar essa conversa antes que eu desistisse. — Você
sempre acorda tão cedo? — Tomei um gole lento do café fumegante. Ele o
preparou perfeitamente.

Percebi que seus olhos estavam observando minha boca enquanto eu lambia as
gotas de café que caíam. — Normalmente.

— Você vai sair para correr?

— Provavelmente.

— Você desenrola bem uma conversa pela manhã — comentei com sarcasmo.

Ele grunhiu para mim. — E você fala demais.

Ele estava me provocando ou estava falando sério? Era exatamente por isso que
eu precisava conversar com ele. Eu não sabia nada sobre Camden e não sabia
realmente como avaliar seu comportamento e suas respostas. Eu lhe dei um
pequeno sorriso para mostrar que, se ele estava brincando, eu percebi. Se não
estivesse, bem, pelo menos eu parecia fingir indiferença.

— Só estou tentando entender você.

Ele colocou a caneca na superfície e se encostou no balcão oposto ao meu. Seus


braços cruzados sobre o peito o faziam parecer ainda maior do que já era. Ele
cruzou os tornozelos e notei seus pés descalços. Engoli com força. O que havia
em um homem de moletom ou jeans com os pés descalços que era tão tentador?

— Muito bem, Blue, o que você quer saber?

Levantei uma sobrancelha para ele e tomei outro gole de café. — Bem, para
começar, qual é o motivo do apelido? Você mal falou algumas frases curtas
comigo desde que me mudei para cá.

— Não é óbvio?

— Obviamente não — respondi, sendo espertinho.

— Próxima pergunta, — disse ele, desconsiderando a primeira.

— Você não vai responder?

— Não.

Resmunguei baixinho. Percebi que a lateral de sua boca se contraiu, mas logo
desapareceu. Será que eu o peguei tentando não sorrir para mim?

48
— Tudo bem. Que tal me contar sobre sua academia?

Ele pareceu revirar os olhos diante da pergunta. — Dodger te contou?

— Não, na verdade, não. Ele disse que você e seus irmãos eram donos de uma,
e que você era o gerente dela. Isso é tudo o que eu sei. Não sei onde fica, nem
nada a respeito.

Ele suspirou e soltou os braços. — Estou surpreso. Dodger gosta de falar


demais. A academia pertencia ao meu pai até que ele decidiu se aposentar mais
cedo e passá-la para nós. Ele e minha mãe queriam viajar, então a academia
agora é nossa. Eu fui o que demonstrou mais interesse por ela, mais do que
meus outros irmãos. É aquela que fica a algumas quadras daqui, The Dugout.
— Ele deu de ombros. — Bem, exceto pelo Dodger, mas ele não está interessado
em administrar o lugar, ele só gosta de treinar.

Eu me senti como se tivesse levado um tapa na cara. Essa foi a maior parte da
conversa que Camden teve comigo desde, bem… sempre. O que foi ainda mais
surpreendente foi o fato de ele ter sido tão franco com as informações. Eu só
esperava dele respostas semelhantes às que ele me deu até agora, nesta manhã.
Curtas e sucintas.

— Hmmm, eu realmente passei por ela algumas vezes. Mas estou percebendo
um tema aqui; The Dugout, Camden, Dodger… seus pais têm uma queda por
beisebol?

— Você é rápida. — Sua boca se inclinou para cima em um sorriso.

— Então, seus outros dois irmãos também têm nome de alguma coisa
relacionada a beisebol?

— Eles tem.

Voltamos a ser breves. — Quer compartilhar?

— Meu irmão mais velho é Turner, e meu irmão mais novo é Wrigley.

Eu sorri. — Alguns nomes bem singulares. Então seus pais deram nomes de
beisebol para tudo?

— Mais ou menos isso. — Ele me olhou com olhos cautelosos. — É a minha vez?

Olhei para a minha xícara de café. O vapor ainda estava subindo da superfície
do líquido. — Sua vez de fazer o quê?

— Para fazer perguntas.

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Meu coração acelerou o ritmo. — O que você quer saber?

Um olhar de malícia dançou em seus olhos. — Por que uma diferença tão grande
de idade entre você e sua irmãzinha?

Eu realmente não queria falar sobre minha família, minha mãe em particular,
mas ele havia divulgado algumas informações, então acho que eu precisava
retribuir. — Minha mãe ficou grávida de mim quando ainda estava no ensino
médio. Meu doador de esperma (ele arqueou uma sobrancelha com o termo) foi
embora depois que ela lhe contou sobre minha chegada iminente. Minha mãe
me criou sozinha e, doze anos depois, ela me disse que Sarah estava a caminho.

Eu não sabia se ele estava esperando mais, mas não tinha a menor intenção de
continuar. — Ela é sua única irmã?

Assenti com a cabeça. Seu corpo se mexeu enquanto ele pegava a xícara de café
preto, e eu observei abertamente a forma como cada músculo se contraía sob
sua pele. Seus olhos se estreitaram, e eu sabia que ele tinha me visto
observando-o. — Então, o que você sabe sobre The Dugout? — Sua mudança
de assunto me fez parar. Entre a nossa conversa muito incomum e o fato de ele
ter sido até simpático, eu me senti quase desanimada.

— Bem, eu só ouvi falar sobre ele. A Macie era sócia de lá há pouco tempo. Ela
estava tentando chamar a atenção de um rapaz que frequentava o local, mas
acabou não dando certo. De qualquer forma, ela cancelou a assinatura porque
não queria encontrá-lo novamente e a garota não precisa se exercitar. Seu corpo
já é bastante perfeito.

Ele franziu o lábio como se algo que eu dissesse tivesse deixado um gosto ruim
em sua boca. — Em primeiro lugar, ir a uma academia para chamar a atenção
de um cara é simplesmente estúpido. E segundo, não me importa a aparência,
todo mundo deveria se exercitar.

Eu me mexi em minha cadeira. Esse assunto parecia mais tabu do que contar
a ele todos os meandros dos negócios da minha mãe. Eu já era insegura comigo
mesma, mas quando você juntava isso com o Adônis que estava à minha frente
e me olhava como se quisesse fazer aquele comentário para mim, eu me irritava.

— O que isso quer dizer?

Ele deu um passo à frente, como se soubesse que eu iria brigar com ele sobre o
assunto. — Exatamente o que eu disse, você pode ser magro, alto, baixo,
saudável, fora de forma ou gordo; todos deveriam estar se exercitando.

Foi impressão minha ou meus ouvidos perceberam a ênfase que ele deu à
palavra ‘gordo?’ Eu sabia que provavelmente estava exagerando, mas de repente

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eu queria essa briga. — Por que parece que suas palavras são um golpe na
minha direção, Camden?

Ele recuou um pouco. — O quê? Eu estava fazendo uma declaração geral. Por
que está sendo tão sensível?

Revirei os olhos e desci da banqueta. Ao dar a volta no balcão, joguei o resto do


meu café na pia. — Ah, me dê um tempo! Eu ouvi você no dia em que assinei os
papéis e vejo como você me olha. Eu entendo, certo? Sei que não sou magra e
não tenho a melhor dieta. Mas quem diabos é você para me julgar pela forma
como vivo minha vida? Se eu quisesse colocar meu traseiro gordo em uma
academia, estaria fazendo agachamento como o resto das garotas magras que
você traz para casa.

Eu não tinha percebido que havia me colocado diretamente na frente dele.


Minha postura era de confronto total, e minhas mãos tremiam de raiva. Seus
olhos castanhos pareciam ameaçadores enquanto ele me encarava.

— Não sei que tipo de problemas de menina insegura você tem em sua linda
cabecinha loira, mas minhas palavras não foram dirigidas a você. Se eu tivesse
algo a lhe dizer, eu diria.

Bonita? Eu o encarei com um olhar de reprovação. — Quer saber? — Parei para


recuperar minha compostura. Inspirando profundamente pelo nariz, fechei os
olhos e depois os reabri. — Esqueça que essa conversa aconteceu. É óbvio que
você e eu somos incapazes de ser amigos. Não quero viver os próximos onze
meses em uma casa com alguém cruel e crítico. Portanto, faça-me um favor.
Quando me vir, finja que não estou aqui. Ficarei fora do seu caminho, se você
ficar fora do meu. — Me virei para subir as escadas. Antes que eu pensasse
mais sobre isso, dei meia-volta, meu cabelo voando em direção ao meu rosto.
Eu tinha certeza de que parecia uma mulher louca. — E outra coisa, eu
realmente apreciaria se você parasse de trazer para minha casa suas garotas
com zero por cento de gordura corporal, peitos falsos e cabeça de vento. E sim,
a casa também é minha. Eu tenho um contrato que diz isso. — Bum. Agora eu
estava acabada. Ele não disse nada depois do meu discurso, subi as escadas e
bati a porta do meu quarto. Sentada em meu colchão de ar, tentei acalmar
minha respiração.

Nos poucos minutos que se passaram, tentei engolir o grande caroço que estava
se formando em minha garganta. Eu realmente tinha saído do fundo do poço.
Deixei meu problema de imagem levar a melhor sobre mim. Mas eu tinha a
sensação de que era mais do que apenas uma briga minha com ele. Desde que
me mudei para cá, o clima estava tenso entre nós. A pressão era muito grande
e eu estava cedendo. Eu realmente gostava de ter minha independência e de
morar aqui, apesar de meus poucos desentendimentos com Camden. Não podia
desistir agora e dizer ‘que se dane’ e voltar a morar com minha mãe. Eu faria
isso dar certo. Eu só não tinha certeza de como me sentiria perto de Camden

51
depois do meu pequeno episódio lá embaixo. E eu odiava a maneira como ele
me fazia sentir como se eu estivesse sob um microscópio quando ele estava na
mesma sala que eu. Eu sabia que isso devia ser coisa da minha cabeça, mas eu
sempre colocava pessoas como ele em um pedestal, o que só fazia com que eu
me sentisse mal comigo mesma. Isso tinha que parar, agora mesmo! Ele era
uma pessoa normal, assim como eu.

Agora, a outra questão em questão era a atração que eu sentia quando ele estava
perto. Era mais do que apenas atração. E isso realmente me irritava. Eu não
queria gostar dele. Ele era muito bonito, e isso era algo que não iria mudar. Mas
o ar entre nós era tão elétrico que era quase tangível. A noite passada foi algo
que não deveria ter acontecido. Deixei que ele mexesse com minha cabeça. Ele
estava sendo gentil e parecia gostar de fazer com que eu o desejasse. Talvez ele
fosse um daqueles caras que se divertiam com a ideia de que, se uma garota
não parecesse estar interessada nele, ele a atrairia e sentiria atração. Será que
ele tinha feito isso de propósito, só para me irritar? Eu não tinha certeza se
queria uma resposta para isso. Por enquanto, eu voltaria ao meu plano original.
Eu o ignoraria quando ele estivesse por perto e faria minhas próprias coisas.
Hoje eu ficaria no meu quarto e estudaria para a prova de A&P no final da
semana e talvez ligasse para a Macie para saber o que ela estava fazendo.

Eu tinha acabado de sair da minha aula de história quando ouvi uma voz
familiar atrás de mim. Me virei e Dodger estava atravessando o corredor para
chegar até mim.

— Ei, Blue, o que está fazendo? Acabou de sair da aula?

Resmunguei. — Você também não. Quer me dizer de onde veio esse nome? Seu
irmão não parece muito propenso a explicar.

Ele soltou uma gargalhada. — São seus olhos, Keegan. São os mais azuis que
já vi, mesmo comparados aos meus. Combina com você.

Meus olhos? Foi daí que Camden tirou o apelido? Balancei a cabeça, recusando-
me a pensar muito sobre o assunto. — Bem, acho que não me importo com isso.
Além disso, esse não é o apelido do cara velho do filme Old School? Você é o
meu garoto Blue. — Fiz a pior imitação de Will Ferrell.

Dodger estava praticamente se divertindo ao rir de mim. Tentei fazer uma careta
para ele, mas, sinceramente, o ar ao redor dele era leve e não pude evitar o
sorriso que se estendeu pelo meu rosto. Era por isso que eu gostava de estar
perto dele. Ele estava sempre feliz.

52
Ele limpou a parte de baixo do olho e se endireitou. — Não sabia que você era
uma imitadora. Tem mais alguma coisa que você possa fazer?

Eu o cutuquei com meu braço quando começamos a andar. — Cale a boca.

— Não, sério, isso foi ótimo. Você deveria ter tirado a camisa e corrido pelo
campus gritando isso. Teria sido muito melhor.

Meu rosto esquentou e eu sabia que estava vermelho. Ele ainda estava rindo
enquanto passava o braço em volta do meu ombro. — Você é inacreditável, —
eu o repreendi.

— Foi o que ela disse. — Ele balançou as sobrancelhas para mim.

Suspirei. Ele poderia continuar o dia todo, então desisti enquanto estava na
frente. Notei uma mochila pendurada em seu ombro. — Como eu não sabia que
você estudava aqui? Estou me sentindo uma péssima amiga.

— O assunto nunca veio à tona. Estou no terceiro ano, tentando obter minha
licença de fisioterapia.

— Huh, entendi — eu disse, olhando para ele. — Você trabalha no The Dugout?

Um sorriso malicioso se espalhou por seu rosto. — Camden te contou sobre


isso? — Quando assenti com a cabeça, mas não disse mais nada, ele continuou:
— Pensei: por que não? Não precisaria abrir minha própria casa ou encontrar
um consultório médico para trabalhar. Provavelmente, farei um acréscimo ao
prédio para parecer mais separado e poderei usar os equipamentos da academia
para o que meus clientes precisarem.

Dei uma piscadela. — Parece que você tem um bom plano.

Caminhávamos em silêncio e bem devagar quando ele perguntou: — Para onde


estamos indo?

— Bem, estou indo para o Bulldog Café. E você é mais do que bem-vindo a me
acompanhar. Eu sempre encontro a Macie para almoçar.

— Macie, hein? Qual é a história dela, afinal?

Eu fiz uma careta para ele. — Por que você pergunta?

Ele olhou para frente e tirou o braço do meu ombro. — Só estou curioso, só isso.

— Uh huh. Você está interessado nela, não está? — Quando ele não disse nada,
olhei para ele. — A Mace é minha melhor amiga e eu a amo muito, mas ela é
namoradeira. — Parei de andar e puxei seu braço. — Ouça, eu sei que você

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provavelmente está interessado nela, mas acho que seria melhor se você ficasse
longe dela. Detesto falar assim dela, mas gosto muito de você, Dodger, e não
quero ver nenhum de vocês magoado.

As emoções dele se espalharam pelo rosto antes que ele desse um sorriso e
dissesse, de forma provocante: — Não estou querendo me casar com a garota,
só estava pensando.

— Se você diz isso, mas, por favor, tome cuidado, certo?

Ele estendeu a mão e bagunçou meu cabelo, e eu o rebati. — Você se preocupa


demais. Fique à vontade. Ah, por falar nisso, vai haver uma festa em uma das
fraternidades…

Eu o interrompi com um suspiro. — Oh, meu Deus, eu nunca teria imaginado


que você fosse um cara de fraternidade.

— Bem, se você tivesse ouvido o que eu estava dizendo, eu estava chegando à


parte em que eu diria que um dos meus grandes amigos mora na casa que está
organizando a festa. Vai ser uma festa de Halloween, então você precisa se
fantasiar, mas seria divertido se você fosse. Eu poderia apresentá-la a algumas
pessoas e você teria a chance de sair e esticar as pernas.

— Esticar minhas pernas? — Eu dei uma risadinha.

— Sim, esticar as pernas. — Seu sorriso era radiante. — Até agora, só vi você
trabalhar, ir à escola e sair com sua irmã e Macie. Saia um pouco, Keegan. Deve
haver uma diabinha escondida aí em algum lugar. — Ele se agachou para ficar
na altura dos meus olhos e agiu como se estivesse procurando.

Fiquei corada. — Não, não há. E eu não quero ir a uma festa de Halloween de
uma fraternidade em que eu seja obrigada a me vestir como uma policial vadia
ou uma enfermeira sexy. Parece um pesadelo me vestir com spandex2 e algo
muito curto. Eu pareceria uma lata de massa explodida.

Seu rosto ficou estoico. — Do que diabos você está falando?

— Sério, Dodger, eu não sou cega. Sei como sou e não me importo com o que
vejo no espelho. Ficar apertada em algo que só vai me deixar desconfortável a
noite toda não me parece bom . — Parei de falar quando o vi cerrando os punhos,
e sua boca formou uma linha reta. Inclinando minha cabeça, perguntei: — Eu
disse algo errado?

Ele balançou a cabeça. — Você realmente não se vê com clareza.

2
É o tecido usado em leggins e roupas de academia e yoga.

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— O quê?

— Você tem uma visão muito distorcida, porque o que você está vendo não é o
que eu estou vendo. Você não é gorda, nem gordinha, nem o que quer que seja
que gosta de se chamar. Você é linda, Keegan. E antes que você discuta comigo,
gostaria de acreditar que sou um bom juiz sobre o que é gostoso e o que não é.
Você, minha amiga, é demais. — Seus olhos percorreram toda a minha extensão
enquanto ele me dava um sorriso malicioso e bonito.

Senti vontade de me esconder debaixo de um arbusto. Sem dúvida, meu rosto


estava vermelho e eu realmente não tinha certeza de como responder ao seu
elogio equivocado. — Hummm... obrigado?

— Você diz isso como se fosse uma pergunta. — Ele colocou as duas mãos em
meus ombros. — Então, você não é daquelas magrinhas que mal pesam cem
libras e não é tão alta quanto um arranha-céu. Mas você tem algo especial que
essas garotas não possuem.

Agora ele havia despertado minha curiosidade. — E o que seria isso?

— Peitos e bunda, — disse ele com um encolher de ombros casual.

Eu ri. — Talvez. Mas é uma pena que minhas curvas também venham
acompanhadas de um pneu sobressalente robusto.

Ele olhou para minha barriga e tudo o que eu queria fazer era cobri-la. — Mais
uma vez, você está vendo coisas que simplesmente não existem. Mas agora
parece que estou em uma missão.

— Oh, Deus, eu deveria me preocupar?

— Definitivamente, — ele deu uma risadinha. — Vou provar a você que é uma
mulher desejável. Não consigo suportar que você tenha uma autoestima tão
baixa quando você é um dez no meu medidor de gostosura. Isso precisa ser
consertado.

Revirei os olhos. — Sim, sim. Você está indo pelo caminho errado. Mas, se
quiser, vá em frente e continue tentando, mesmo que eu ache que você está
equivocado.

— Por que você não vai à academia comigo hoje à noite?

Recusei. — Então, sua primeira ordem de trabalho é tirar as curvas que você
diz serem atraentes e me transformar em uma daquelas garotas magras? Não,
obrigado, Dodger, não estou interessado. — Eu estava me virando para ir
embora.

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Ele agarrou meu antebraço e me deteve. Seus olhos azuis-bebê procuraram os
meus. — Você não está me ouvindo. Não estou tentando mudar você, Keegan,
estou tentando ajudá-la. Você acha que tem uma determinada aparência, mas
eu não vejo nada de errado nisso. Minha solução é mudar a maneira como você
se vê. — Ele parecia genuinamente inseguro sobre se estava conseguindo me
atingir.

Alguns segundos se passaram antes que eu limpasse os olhos para tirar a


umidade e endireitasse as costas. — Tudo bem. — Dodger realmente não estava
tentando ferir meus sentimentos ao dizer o que disse. — Venha me buscar
depois das seis, devo estar em casa depois do trabalho até lá.

Ele acenou com a cabeça. — Eu ainda não vou almoçar com você?

— Não, preciso de um pouco de tempo sozinha com a Macie, se não houver


problema. Não quero ser grosseira.

— Não foi nada rude. Vejo você depois do trabalho. Diga a sua amiga que eu
mandei um oi. — E, com isso, Dodger se virou e foi em direção ao
estacionamento dos alunos.

Continuei em direção à cafeteria, pronta para despejar toda a negatividade no


colo de Macie. Eu queria saber a opinião dela sobre tudo. Eu realmente estava
decidida a ir ao The Dugout e possivelmente encontrar Camden. Ele estava em
minha mente quando Dodger mencionou que me levaria com ele. Se eu fosse,
pareceria que eu estava concordando com cada palavra que Camden me disse
no fim de semana, e isso me irritou. Eu não queria que ele pensasse que tinha
conseguido o que queria e que, de alguma forma, tinha conseguido que sua
colega de quarto gordinha entrasse na academia. Juro que praticamente podia
ouvi-lo rindo sobre isso agora, enquanto me fazia uma cara de ‘eu te disse’.
Cerrei os punhos até minhas unhas roerem as palmas das mãos. Só a ideia
disso já me fazia sentir uma assassina. Eu sabia que Dodger não me deixaria
desistir. Mal sabia Macie que eu a arrastaria comigo. Pelo menos ela poderia
agir como um amortecedor enquanto eu estivesse lá. Todos os rapazes estariam
prestando atenção nela, em vez de me verem bufando no elíptico. Eu
sobreviveria a isso. Eu prometi que iria com ele hoje à noite, mas isso não
significava que todas as noites seriam assim. E uma noite na academia não ia
mudar a maneira como eu me via. Quando me aproximei da cafeteria, senti que
esse seria um acordo único. Depois disso, Dodger teria que encontrar uma nova
maneira de me mostrar como eu deveria me ver. Eu também cruzaria os dedos
para que Camden tivesse coisas melhores para fazer do que estar no trabalho
tão tarde da noite.

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CAPÍTULO - 06
EU TINHA ACABADO DE PUXAR UM PAR DE CALÇAS PRETAS DE IOGA
quando ouvi a porta da frente se abrir. Pegando um elástico para prender meu
cabelo comprido, desci os degraus. Macie estava sentada no sofá, lendo alguma
revista de fofocas, mais bonita do que nunca com suas roupas de ginástica e
maquiagem impecável. Dodger estava pegando algumas garrafas de água na
geladeira da cozinha, olhando para Macie por cima do ombro. Eu não tinha
certeza de como me sentia em relação ao interesse dele por ela, mas essa era
uma ponte que eu cruzaria quando chegasse lá.

— Você está pronta? — Dodger perguntou, enquanto fechava o zíper de uma


bolsa de ginástica.

Dei de ombros. Eu realmente estava temendo isso o dia todo e me repreendi por
ter concordado com isso. Eu já tinha ido à academia antes, mas era do tipo que
entrava uma vez, ficava constrangido e nunca mais ia. Eu me sentia muito mais
confortável fazendo exercícios em minha própria casa, o que, é claro, nunca fiz.

Macie se levantou do sofá, e eu não pude deixar de admirar sua confiança


naquele momento. Ela não estava se angustiando com sua aparência. Não
precisava. Suas pernas longas e magras eram perfeitamente proporcionais ao
resto de seu corpo. Ela estava usando um par de shorts curtos de spandex preto
com uma camiseta regata rosa choque justa. Seus cabelos castanhos estavam
presos em um rabo de cavalo bagunçado, que ela fazia de forma impecável. Seu
corpo era incrível, e eu quase a odiava por isso. Olhei para o meu próprio corpo
e suspirei. Além da minha calça de ioga, eu estava usando um sutiã esportivo
amarelo com uma camiseta regata branca por cima. Nunca saí de casa usando
roupas mais justas. O que me deixava confortável geralmente era um pouco
folgado no meio do corpo. Vestir isso estava completamente fora do meu padrão.
Eu estava preocupada com o fato de que as pessoas iriam reparar na minha
barriga protuberante. Eu queria voltar para o andar de cima e trocar de roupa
com uma camiseta larga, mas Dodger pareceu ler minha mente e balançou a
cabeça para mim.

— Você não vai se trocar de jeito nenhum. Além disso, a academia não é o lugar
para um maldito concurso de beleza. Você está perfeita, vamos lá. — Ele ergueu
a bolsa no ombro e abriu a porta para Macie e eu.

A viagem de carro até o Dugout foi tranquila. Dodger e Macie estavam


conversando na frente sobre música e horários escolares. Macie parecia tão
interessada nele quanto ele nela. A música no carro estava alta o suficiente para

57
que eles tivessem que falar por cima dela para ouvir um ao outro. Eu os ignorei
e fiquei observando a paisagem passar. Como ainda estávamos perto do
campus, os prédios eram bem conservados e os bairros ao redor eram bem
cuidados. Eu adorava essa área de Atenas. Fazia parte da cidade, mas ainda
tinha um ar campestre. Além disso, se você se cansasse da agitação, não era
preciso dirigir muito para ver pastos de vacas em vez de concreto. Fechei os
olhos e deixei que o baixo da música me acalmasse. Antes que eu percebesse,
estávamos parando em um estacionamento e Dodger se virou, olhando para
mim.

— Você está dormindo, Blue?

Revirei os olhos. — Não, eu estava apenas… meditando. E pare de me chamar


assim, é irritante.

Ele sorriu antes de sair do carro, e Macie o seguiu. Eu nunca tinha recebido um
apelido antes, mas aquele em particular realmente me irritou. Eu também sabia
o motivo. Olhando em volta para os carros estacionados, tentei encontrar o
Mustang de Camden, mas não o vi. Soltei um suspiro que não tinha percebido
que estava segurando. Meu corpo liberou automaticamente alguma tensão e saí
do banco de trás. Dodger e Macie estavam me esperando na porta da frente.

— Quando entrarmos aqui, há um vestiário feminino à esquerda. Você pode dar


uma olhada nele ou usar o banheiro, se precisar, antes de começarmos. Vou
usar esta noite para fazer uma demonstração e garantir que você saiba como
usar as máquinas e os pesos. Está bom?

Ugh! Por que ele estava sempre tão feliz? — Eu nem sei por que você está se
incomodando com isso. Só vou ficar aqui uma vez. É melhor me colocar em uma
esteira e treinar a Macie.

Seu lábio se curvou. — Você não vai sair dessa. E eu não vou colocá-la na
esteira. Bem, pelo menos não durante todo o tempo em que estivermos aqui.
Quero lhe mostrar que a academia não é um lugar assustador onde as pessoas
estão aqui para julgá-la. Ok?

Não havia sentido em discutir com ele, então simplesmente assenti.

Quando entramos pelas portas duplas de vidro, havia uma mesa na frente com
uma morena atraente sentada atrás dela. Ela levantou os olhos da tela do
computador e sorriu para Dodger, piscando os cílios.

— Ei, você, — disse ela.

— Oi. — Dodger lhe deu um sorriso amigável, mas realmente não parecia
interessado.

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— Está procurando seu irmão? — Perguntou a Garota da Recepção em uma voz
cantante. Meu coração saltou para a garganta ao ouvir a menção de Camden.
Achei que ele não estivesse aqui. — Ele está lá atrás fazendo uma aula, mas eles
vão sair, — ela olhou para o relógio, — em mais dez minutos.

Fantástico.

— Não, na verdade, estou prestes a mostrar as instalações a essas duas lindas


senhoras e dar a elas algumas máquinas.

A morena olhou para nós como se não tivesse nos visto ali. Seu lábio se curvou
enquanto ela parecia estar nos avaliando. Dei uma olhada rápida, mas ela não
deve ter me considerado ameaçadora. Quando viu Macie, seus olhos se abriram
um pouco mais e seu rosto parecia ter acabado de chupar um limão.

— Bem, divirtam-se, — disse ela com uma voz alegre e falsa.

Dodger grunhiu antes de nos levar até algumas esteiras azuis.

— Alguém está caidinha — disse Macie, rindo.

— Do que está falando? — Perguntou Dodger, enquanto se curvava e desdobrava


algumas das esteiras para formar um longo retângulo.

— Aquela garota ali. Estava praticamente fodendo você com os olhos. — Oh


Dodger, — disse Macie com uma voz falsa e aguda. — Você é tão gostoso. Me
incline sobre esse balcão e… — ela continuou.

Dodger se virou e lançou um olhar para Macie. Eu não sabia ao certo o que ele
dizia, mas era ao mesmo tempo, um olhar de calor e um aviso. Mas Macie não
recuou. Ela gostava de um desafio como esse. Ela prosperava com eles.

— Cuidado — foi tudo o que ele disse.

Ela levantou uma única sobrancelha e sorriu. Dodger passou as mãos pelo
cabelo bagunçado cor de carvão e se virou. Macie olhou para mim, e eu apenas
dei de ombros. Ele parecia defensivo em relação às provocações de Macie, mas,
por outro lado, quem sabia do que se tratava? Francamente, eu não me
importava. Meus olhos estavam ocupados demais voltando para a porta fechada
onde eu supunha que Camden estava dando aula. Eu não sabia que ele dava
aulas. Eu apenas pensei que ele entrava e lidava com a papelada o dia todo.

— Muito bem, meninas, vamos nos alongar primeiro. Não posso permitir que
façam nada antes que seus músculos estejam aquecidos, ou vocês podem se
machucar. Então, deitem-se. Sentem-se no estilo indiano e mantenham as
costas retas, como se tivessem uma tábua atrás delas. — Fizemos como ele
instruiu. — Muito bem, agora, vocês vão se inclinar para a frente com os braços

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estendidos à sua frente e vão se dobrar e alongar os músculos das costas. —
Quando me inclinei para a frente, minhas costas estalaram duas vezes. Eu gemi;
a sensação era tão boa.

Ouvi um som profundo na minha frente que quase parecia um rosnado.


Levantando-me lentamente, meus olhos pousaram em um par de tênis grandes.
Hmmm... aqueles pés eram bem grandes. Quanto mais meus olhos subiam,
mais eu os admirava. Eu sabia a quem pertenciam aquelas pernas tonificadas.
Eu já havia olhado para aqueles quadris estreitos e braços esculpidos em mais
de uma ocasião. Quando cheguei aos olhos de Camden, fiquei chocada ao ver
um rosto frustrado e um tanto irritado olhando para mim.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Ele falou baixo.

— Eu as trouxe para poder treiná-las, — disse Dodger com facilidade.

Ele ainda estava olhando para mim. Os olhos castanhos profundos dele me
atraíram como uma droga, implorando para que eu tomasse uma dose. Eles
fizeram meu estômago revirar como se eu tivesse acabado de dar um mergulho
na encosta de uma montanha e estivesse caindo livremente. Em todos os meus
vinte anos de vida, nunca conheci um homem que me fizesse sentir tão curiosa,
tão irritada, tão reprimida com... alguma coisa. Seus olhos se estreitaram como
se ele estivesse lendo meus pensamentos.

— Então, depois de seu pequeno ataque de raiva, você teve coragem de entrar
na minha academia? — Sua arrogância me surpreendeu.

— Jesus, Cam, você poderia se afastar? — Dodger implorou.

— Do que ele está falando? Que ataque de raiva? — Macie perguntou com
curiosidade.

Os olhos severos de Camden não deixaram os meus. Balancei a cabeça.


Inacreditável! Ele estava procurando uma briga? Se sim, eu estava pronta.
Alguém me dê um par de luvas de boxe e me coloque no ringue. Toda academia
tem um ringue de boxe, certo? Err, talvez não. De qualquer forma, eu estava
irritada por ele ter trazido à tona a discussão do dia anterior e agora estar
esfregando na minha cara que eu estava aqui.

Olhei para o lado e disse a Macie: — Não se preocupe com isso, eu te conto
depois. — Em seguida, voltei minha atenção para ele. — Seu irmão parece estar
em alguma missão maluca. Ele me pediu para vir aqui com ele e, com relutância,
concordei. No entanto, não sabia que seria julgada por fazer um favor a um
amigo. Erro meu. — Comecei a me levantar e caminhar em direção à porta da
frente.

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Ouvi uma discussão atrás de mim e Dodger chamando Camden de idiota. Eu
estava quase na frente quando uma mão pesada me agarrou pelo pulso. O calor
queimou minha pele. Parei em meu caminho e me virei ligeiramente para
Camden.

— O que foi? — Sussurrei.

— Então você vai desistir, sem mais nem menos? — Ele estava tão perto que eu
podia sentir o cheiro do suor delicioso que ainda estava em seu corpo.

— Não estou desistindo. Apenas me recuso a ser tratada como se eu não


pertencesse a esse lugar. Sou um maldito ser humano, Camden. Não aceito bem
que as pessoas me envergonhem. — Mordi a parte interna de minha bochecha
para evitar que as lágrimas se formassem. Eu queria ficar com raiva e,
infelizmente, quando estou com raiva, eu choro.

Ele fechou os olhos por alguns instantes. Observei suas feições enquanto se
enrugavam. Ele estava pensando em algo, e suas emoções estavam passando
pelo seu rosto, quer ele percebesse ou não. Esse era um rosto em conflito. Eu
não sabia sobre o que ele estava possivelmente pensando. Sua mão ainda estava
em volta do meu pulso. Uma sensação subia pelo meu braço e deixava minhas
pernas fracas. Acho que ele não percebeu que estava fazendo isso, mas seu
polegar estava fazendo círculos curtos e doces na parte interna da minha pele
macia. Quando seus olhos cor de chocolate se abriram e se fixaram em mim,
eles estavam mais suaves.

— Desculpe-me, eu não deveria tê-la envergonhado. Só estou confuso quanto


ao motivo de você estar aqui.

Seu tom me pegou de surpresa, porque ele estava falando sério. Olhei para o
chão. Seus dedos me apertaram como se estivessem tentando chamar minha
atenção. Voltei a olhar para cima. Meus olhos se moviam para frente e para trás
entre os dele. — Está tudo bem, não se preocupe com isso. Hoje cedo eu contei
algumas coisas ao Dodger e ele acha que pode me ajudar.

Ele deu um passo para perto de mim. — Coisas como o quê?

Eu engoli em seco. — Apenas coisas. Coisas que eu não gosto em mim.

— E do que você não gosta em você?

— É óbvio, não é?

— Obviamente não. — Ele jogou minhas palavras anteriores de volta para mim.
Isso me fez dar um meio sorriso.

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Pensei em contar a ele. Aqui, neste momento, onde parecia ser apenas eu e ele,
quase lhe contei. Havia uma suave súplica em sua voz que fazia parecer que ele
realmente queria saber. Um barulho alto de pesos sendo jogados soou atrás de
mim, e eu pulei. Tirando meu pulso de sua mão, virei o rosto para o outro lado.
Grata pela distração, comecei a caminhar em direção a Macie e Dodger, que
aparentemente estavam tendo sua própria discussão. A essa altura, eu estava
exausta e nem tinha começado a suar. Minha pulsação já estava alta e tudo o
que eu queria era acabar com isso e ir para a minha cama. Camden estava atrás
de mim e, quando voltei para as esteiras, ouvi-o falar.

— O negócio é o seguinte. — O som grave de sua voz me deu arrepios. — Vocês


são mais do que bem-vindos para vir aqui e usar as instalações sempre que
quiserem, mas tenho duas regras. — Macie e eu estávamos ouvindo
atentamente. — A primeira é que, quando estiver aqui, você estará se
exercitando. Nada de ficar mexendo nas máquinas e, se não souberem como
usar alguma coisa, perguntem e eu ajudarei. Não posso permitir que as pessoas
se machuquem aqui. — Fiquei tentado a revirar os olhos. Ele estava falando
conosco como se estivesse na frente de uma sala de aula da segunda série dando
dicas de segurança. Não pude deixar de imaginar o que ele faria se eu quebrasse
suas regras. Me daria uma surra? Tossi, o que fez com que seus olhos se
voltassem para mim.

Levantei minha mão. — Estou bem, estou bem. — Eu podia sentir meu rosto
esquentando.

— Segundo. — Ele olhou para mim como se estivesse esperando outra


interrupção. — Isso não é um concurso de beleza. Não há nada que me irrite
mais do que ver uma garota entrar com o cabelo e a maquiagem bem feitos. Eu
não dirijo um serviço de encontros. Portanto, se eu vir isso, vou convidá-los a
se retirarem, entendi? — Foi isso que Dodger havia dito mais cedo no
apartamento.

Ele havia direcionado a regra dois para Macie. Ela zombou: — Ah, deixe de ser
convencido. Se eu quisesse arrumar um cara, não seria um brutamontes cheio
de músculos cuja cabeça é pequena demais para o corpo inchado pelos
esteroides.

Dodger, que havia ficado quieto o tempo todo, soltou uma gargalhada. Seus
olhos estavam quase brilhando para ela, como se ela fosse algo que ele nunca
tivesse visto antes. Camden grunhiu uma vez, fez um breve aceno de cabeça e
se afastou.

— Seu irmão consegue ser mais esnobe? Talvez esse deva ser meu exercício do
dia. Tirar a vara de aço enorme da bunda do Camden. — O rosto de Macie não
era nada além de curiosidade séria.

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Agora era minha vez de rir. — Isso tornaria minha noite muito melhor. Sem falar
no resto do ano em que vou morar com ele. Poderia torná-lo mais tolerável.

Dodger estava rindo de nossos comentários. — Vamos lá, meninas, vamos


começar.

— Não sinto minhas pernas. Acho que elas caíram na escada quando vim para
cá — eu disse ao me deitar no sofá.

— Minha bunda está uma gelatina. Tipo, eu definitivamente acho que entendo
por que as pessoas fazem massagem na bunda, — murmurou Macie, de bruços
na poltrona.

Dodger tinha acabado de nos deixar no apartamento depois de quase ter nos
matado. Eu havia desistido pelo menos quinze vezes durante o treino de duas
horas, mas ele me dizia que queria mais. Nunca me esforcei tanto em minha
vida. As pessoas realmente o pagavam para torturá-las? Eu estava perplexa.
Elas precisavam examinar suas cabeças. Sim, eu estava convencida de que as
pessoas que iam para a academia e se esforçavam a ponto de perder um membro
eram loucas.

— Preciso de uma ducha, — gemi.

— Preciso de uma cadeira de rodas.

Dei uma risadinha. Éramos patéticas. Me levantei lentamente do sofá, quase


caindo de cara no processo, quando a porta da frente se abriu. Camden entrou
como um homem em uma missão. Seus olhos estavam fixos em mim e engoli
com força diante de sua intensidade. Quando ele fechou a porta com um chute,
veio em minha direção, mas parou quando Macie limpou a garganta. Ele não
deve tê-la visto.

— Que diabos? — Ela se perguntou, tão confusa quanto eu estava me sentindo.

Ele apontou para ela e ordenou com uma voz autoritária: — Você... fora.

— Desculpe? — Ela ficou surpresa com o tom dele.

— Preciso conversar com Keegan e prefiro que você vá embora.

Ela estava prestes a dizer algo que provavelmente se assemelharia a uma


ameaça de morte, mas eu levantei minha mão e disse: — Tudo bem, Mace. Pode
ir e eu ligo para você mais tarde.

63
Macie manteve seus olhos fixos em Camden. — Tem certeza? Ele parece prestes
a explodir.

Acenei, mas não falei. Eu não tinha certeza. Na verdade, meu pulso estava
acelerado e minhas mãos estavam ligeiramente trêmulas. Apertei-as em punhos
para esconder o fato. Macie ficou olhando por mais um minuto antes de ceder
e me abraçar com força. Ela falou alto o suficiente para que Camden pudesse
ouvir. — Se ele machucar você, vou precisar de sua ajuda para mover o corpo.

Eu sorri com sua tolice, mas tive a nítida impressão de que ela não estava
brincando. Quando ela saiu, Camden deu dois passos deliberados em minha
direção. — Que diabos foi isso? — Perguntou ele, com a voz calma, mas não ao
mesmo tempo.

Inclinei minha cabeça para o lado, questionando. — Do que você está falando?

Mais um passo. — Você sabe do que estou falando, Keegan. Estou


extremamente irritado agora, então sugiro que você responda à porra da
pergunta.

A maneira como ele disse meu nome fez meu corpo tremer. — Não, eu realmente
não tenho a menor ideia. E posso dizer que você está bravo.

Ele ainda estava avançando em minha direção. Ele pareceu respirar fundo e
soltou o ar. — Vou lhe contar um pouco sobre mim. Gosto de ter controle.
Controlo todas as facetas da minha vida. Isso mantém as coisas funcionando
sem problemas e raramente há surpresas. Parece que você não me ouviu antes.
Eu lhe disse o que eu não queria que acontecesse e, mesmo assim, aconteceu.
Agora eu quero saber: ele a convidou para sair?

Ah, agora eu sabia onde isso ia dar. Mas, mesmo assim, por que isso importava?
Ele não poderia pensar que poderia me controlar, ou o que qualquer outra
pessoa fizesse. Isso seria um absurdo! Cerca de uma hora depois do início do
meu treino, um rapaz de boa aparência, com cabelos loiros compridos e
desgrenhados, se aproximou de mim e começou a conversar. Eu estava uma
bagunça nojenta e suada e nem uma vez me ocorreu que o cara estava flertando.
Seu nome era Luke. Ele se aproximou depois de levantar alguns pesos livres e
me perguntou qual era o meu nome. Ele comentou que nunca tinha me visto ali
antes. Fui educada, apesar de estar bufando e bufando. Ele me deu um sorriso
deslumbrante e ficou conversando enquanto eu levantava as pernas e esticava
os braços, mantendo um ritmo constante no elíptico. Eu havia notado Luke no
canto mais distante quando estava examinando o local para ver se alguém
estava me observando. E não como se estivesse me observando, mas olhando
para mim como se eu não pertencesse ao lugar. Os olhos de Luke se fixaram
nos meus, e eu olhei para baixo, corando. Nunca imaginei que ele teria se
aproximado de mim. Quando ele estava no meio de uma conversa e me disse
que era um estudante de pós-graduação, senti um par de olhos fixos em minhas

64
costas. Os cabelos da minha nuca se eriçaram e fiquei arrepiada, apesar de
estar mais quente do que Hades. Meus olhos se desviaram dos de Luke e eu os
fixei nos olhos castanhos escuros que me olhavam cautelosamente através dos
espelhos. Camden parecia irritado. Deve ter sido apenas dez minutos depois de
termos conversado, err... bem, ele conversando comigo, já que eu não conseguia
respirar, muito menos falar, que ele me convidou para sair com ele algum dia.
Eu disse que sim e dei meu número de telefone. Ele me surpreendeu com um
lindo sorriso e disse que ligaria em breve. Depois que ele voltou para os pesos,
olhei para cima para ver se Camden ainda estava me observando, mas ele não
estava em lugar nenhum. Agora, de pé aqui, com a fera rastejante de um homem
dando passos lentos e ameaçadores em minha direção, eu gostaria de poder
falar. Infelizmente, o gato pegou minha língua.

— Vou te perguntar de novo, Blue, ele a convidou para sair? — O tom grave de
sua voz tremeu em meu peito.

Pisquei os olhos uma, duas, três vezes antes de assentir levemente com a
cabeça. Camden fez outro movimento em minha direção e, por instinto, dei um
passo para trás. Ele estreitou os olhos para mim, desafiando-me
silenciosamente a me mover novamente. Eu sabia que ele não me machucaria,
mas meu instinto de luta ou fuga estava entrando em ação, e eu queria sair de
perto de seu olhar penetrante. De alguma forma, sua raiva estava me excitando,
e eu podia sentir a umidade em minha calcinha. Camden estava a apenas
alguns metros de mim e se aproximava cada vez mais.

— Preciso tomar banho! — Eu disse de repente.

Sua boca se inclinou em um meio sorriso. — Você disse que sim?

Sacana, ele não ia deixar isso passar. Por que isso era tão importante? Melhor
ainda, por que era tão importante para ele? Limpei a garganta e respondi: — Eu
dei meu número.

Eu estava me afastando em direção aos degraus, e ele me acompanhou.


Parecíamos estar em algum tipo de dança. — O que eu te disse sobre minha
academia não ser um lugar para pegar alguém?

Eu me animei. — Eu não peguei ninguém, eu dei meu número. Ele pediu o


número. Qual é o problema?

Ele passou as mãos pelos cabelos castanhos espetados. — O problema é que


você quebrou uma das regras que dei. Não é um lugar para encontros e
cumprimentos. Você entra, treina pra caramba e sai. É simples assim.

— E, mais uma vez, eu não fui procurar o Luke, ele veio até mim. O que não
estou conseguindo ver aqui é que ninguém estava curtindo ou pulando nos
ossos um do outro, Camden. Ele era um cara legal, me convidou para sair e

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depois seguimos nosso caminho. Mas qual é exatamente a parte disso que o
preocupa?

Agora ele estava realmente vindo em minha direção. Me virei e acelerei o passo
em direção às escadas. Parei abruptamente quando sua voz gritou ‘Pare’ pelo
apartamento, e ele estava a menos de um metro de distância. Eu podia ouvir
sua respiração. Era irregular e parecia nervosa. Ficamos assim por vários
momentos; o único som no apartamento era a nossa respiração. Quando ele
finalmente falou, fiquei tensa. Ele havia se aproximado, roçando de leve em mim
por trás. Minhas narinas se dilataram e pude sentir o cheiro de sabão e limpeza
dele.

— Quando eu te dou regras para seguir, você as segue. Se minhas regras forem
quebradas, haverá consequências. Sempre há consequências. Eu disse para
não pegar ninguém e, mesmo assim, você pegou. — Eu queria me irritar com a
escolha da expressão — de alguma forma — mas preferi não fazer isso e fiquei
calada. — Vou deixar isso para lá por enquanto, mas é assim que as coisas vão
se desenrolar. Se você voltar à minha academia e ele estiver lá, você o ignora. —
Seu hálito soprou na parte externa da minha orelha e eu quase gemi de prazer.
— Se o bonitão piscar na sua direção, vou cancelar a matrícula dele e expulsar
vocês dois. — Senti sua presença se afastar de mim e olhei por cima do ombro.
Ele estava caminhando para trás, em direção à porta. Parecia que seus olhos
estavam ardendo em mim. — Regras, Keegan. Se você as quebrar novamente,
haverá consequências.

Eu queria me virar e atacar, depois implorar para que ele me fodesse. Ele quase
me fez cair em uma poça de mingau no chão. Sua mão estava na porta que dava
para o lado de fora quando ele me chamou por cima do ombro. — E fique à
vontade para compartilhar o que eu disse ao Luke, — Camden zombou com
ênfase no nome dele, depois bateu a porta atrás de si.

Meu corpo cedeu e eu caí no degrau de baixo. Eu me sentia mais exausta agora
do que quando voltei da academia. Camden estava sendo muito duro e, de
alguma forma, parecia ter grande prazer em brigar comigo. Como era possível
que um homem que demonstrava sua clara aversão por mim fosse
completamente contrário ao fato de eu trocar números com alguém? Isso nem
deveria importar para ele. E o que era pior? Nada disso era o que realmente
estava me incomodando no momento. Era ainda mais perturbador do que suas
regras estúpidas. Era o fato de que, com um olhar, um estalar de dedos, um
passo ameaçador em minha direção, meu corpo se tornava necessitado por ele.
Camden me fez sentir um desejo diferente de tudo que eu já havia
experimentado antes. Eu estava com raiva de mim mesma por cada grama
disso. Eu havia percebido que queria que ele me tocasse, e queria mais do que
apenas seus olhos me penetrando. Isso era inaceitável.

Sentada aqui no apartamento silencioso, os únicos sons eram os dos aparelhos


de ar condicionado do lado de fora zumbindo. Meus longos cabelos loiros

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ondulados estavam enrolados em mim, cobrindo-me como um cobertor. Sentia-
me fria e desamparada sem a presença de Camden. Cerrei os dentes e tentei me
recompor. Me levantei, subi os degraus e entrei em uma ducha gelada.
Enquanto a água batia em meus músculos doloridos, decidi que voltaria para a
academia. Eu enfrentaria o fato de ver Camden diariamente. Eu lidaria com o
fato de que me sentia fisicamente atraída por ele, mas ignoraria isso. Esperava
encontrar Luke, para que pudéssemos resolver as coisas e possivelmente sair
para fazer alguma coisa. Fazia muito tempo que eu não saía com ninguém e já
estava esperando por um encontro. Meu colega de quarto mandão teria de lidar
comigo e com minha não conformidade com suas regras estúpidas. Sorri para
mim mesma, quase tonta com minha determinação. Pegue suas regras e enfie-
as em sua bunda perfeitamente esculpida, Camden. Eu tinha outras coisas em
mente.

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CAPÍTULO - 07
TRÊS SEMANAS SE PASSARAM desde a ameaça de Camden. Continuei
praticamente com minha rotina diária. Fui para a escola, para o trabalho, voltei
para casa e fui para a academia. Sim, a academia. Apesar da minha
preocupação de que partes do meu corpo pudessem se soltar, eu gostava de
como me sentia depois de um bom treino. Eu via Camden quase todas às vezes
que ia à academia. Nos primeiros dias em que fui, ele estava com um sorrisinho
presunçoso no rosto. Eu queria muito bater em seu rosto com um haltere. Eu
me abstive, porque não parecia muito agradável e, francamente, não tinha
certeza se conseguiria tirar o sangue das minhas roupas. Isso me irritava muito.
Era como se ele conseguisse o que queria e, de alguma forma, fosse a pessoa
certa para me convencer a entrar em forma. Houve um momento, depois da
minha segunda ida ao The Dugout, em que pensei em adicionar um laxante à
sua proteína em pó. Eu teria ficado muito satisfeita ao vê-lo correndo para o
banheiro. Ele teve sorte de eu não ser uma pessoa vingativa. Por volta da minha
quarta vez, ele parou de sorrir de forma arrogante e continuou seu trabalho
como se eu fosse qualquer outro cliente pagante. Eu não tinha certeza de como
me sentia em relação a isso. Para começar, eu não estava pagando nada para
ser membro da empresa. Isso me fez sentir uma pontada de culpa, porque eu já
estava pagando tão pouco pelo apartamento e agora estava tirando proveito de
suas instalações. Esse era o meio de vida dele. Mas suas palavras ‘a gordinha’
passaram pela minha cabeça e eu dei de ombros. Ele estava em dívida comigo.

Sarah foi até lá pelo menos uma dúzia de vezes. Ela parecia estar se adaptando
bem à mudança e adorava vir aqui. Desde que ela estivesse feliz, eu estava feliz.
Em um determinado dia, quando Dodger estava por perto, ele lhe perguntou se
ela tinha um namorado. Ela corou e disse: — Sim. — Meus olhos quase saíram
da minha cabeça. Mas o que me divertiu foi a resposta de Dodger. Em algum
momento, desde que a conheceu, ele assumiu um papel de protetor com ela. Ele
a olhou fixamente depois de perguntar o nome do garoto, a idade, a altura dele,
se ele tinha algum crime anterior...? Ao que ela respondeu de uma forma muito
parecida com a de Sarah: — Ele tem oito anos. Por que ele vai ser preso, por
roubar cuecas do Homem-Aranha? — Ele explicou que, com meninos, nunca se
sabe, e então começou a lhe dizer que ela não podia beijar ninguém até que se
casasse. Dodge disse: — Você é o melhor tipo de garota que existe, Sarah. Você
faz questão de encontrar um namorado que valorize cada um de seus sorrisos
e gargalhadas, que a trate como uma princesa e que lhe dê tudo o que você
possa querer. — Em seguida, ele disse: — Coisas como diamantes, um castelo
e uma Ferrari, para que eu possa dirigi-la e ter certeza de que é segura. — Eu
ri dele. Sarah deu um tapa no braço dele e disse que beijar era nojento, depois
voltou a brincar com suas bonecas. Dodger foi muito gentil em colocá-la sob sua

68
proteção. Ela não tinha um modelo masculino em sua vida. Ele foi bom para
ela, e eu aprovei o tempo que eles passaram juntos.

Luke e eu saímos algumas vezes desde que ele pediu meu telefone. Lembro-me
de estar andando pelo campus enquanto comia alguns Whoppers quando meu
celular tocou e vi o nome de Luke piscando na tela. Inalei minha bola de
chocolate inteira e comecei a engasgar. Graças a Deus, os transeuntes
conheciam a manobra de Heimlich. Que maneira triste, mas maravilhosa, de
morrer… morte por doce. De qualquer forma, depois de minha experiência de
quase morte, tive coragem de ligar para ele. Ele perguntou se eu queria ir comer
alguma coisa e assistir a um filme. Eu disse que sim, e agora estamos aqui.

Ele tem sido muito simpático, e eu certamente me senti atraída por ele. Luke
tem uma aparência despreocupada. Ele tinha cabelos loiros compridos, com
mechas como se tivesse acabado de sair do mar e deixado secar ao ar livre. Seus
braços eram bem bronzeados, e eu só podia supor que o resto do corpo era
igualmente escuro. O corpo de Luke era longo e magro. Não era como a
aparência musculosa e volumosa de Camden, mas mostrava claramente as
linhas e os sulcos do abdômen e dos braços sem ser exagerado. Minha parte
favorita de Luke, no entanto, era seu sorriso. Era tão fácil e caloroso. Seus
dentes perfeitamente retos e brancos se destacavam cada vez que seu rosto se
iluminava com algo que eu dizia. Em várias ocasiões, eu me inclinava para ele
quando ele dirigia seu sorriso para mim. Sim, eu definitivamente estava atraída.

Meu celular estava vibrando sobre a mesa em que eu o havia colocado. Eu


estava na biblioteca estudando para meu próximo teste de A&P. Consegui tirar
um B no último, mas, mais uma vez, não foi suficiente. Eu tinha que me esforçar
mais se tivesse alguma chance de entrar no curso de enfermagem.

Peguei meu celular e o coloquei entre a orelha e o ombro, enquanto mexia em


alguns livros. — Alô?

— Oi, linda, o que você está fazendo? — A voz agradável de Luke falou ao
telefone.

Não pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto. — Estou na biblioteca
estudando. E você?

— Eu estava no supermercado comprando algumas coisas para a casa. Esses


caras comem pelo menos cinco quilos de comida por dia. — Eu dei uma
risadinha. — Se você acha que estou brincando, deveria ir vê-los algum dia. Se
há comida na casa, eles parecem um bando de cães de caça farejando a próxima
refeição. Se eu era assim quando cheguei à puberdade, devo muito à minha mãe
por ter me mantido bem alimentado. — Eu podia ouvir o tom alegre em sua voz.
Luke morava na mesma república que Dodger havia me convidado para a festa
de Halloween.

69
— Parece bem típico. Afinal, vocês ainda são garotos em crescimento, não é
mesmo?

Sua voz se aprofundou. — Depende do que você está querendo dizer que está
crescendo. — Mordi o lábio e pude ouvir sua risada rouca. — Juro que posso
praticamente ouvir você corar pelo telefone.

— Cale a boca, — foi tudo o que respondi.

— Tudo bem, tudo bem, estou ligando porque queria saber se você gostaria de
ir ao parque comigo. Eu poderia preparar um piquenique para nós e levar um
frisbee ou uma pipa. O que você acha?

Ele parecia tão esperançoso. Ainda me surpreendia o fato de eu estar saindo


com alguém como Luke. Pessoas como ele nunca aconteciam com pessoas como
eu. Devo ter ficado quieta, porque ele disse meu nome. — Oh, desculpe, eu me
distraí. Sim, eu adoraria, parece divertido. A que horas?

— Estarei lá por volta das seis.

— Parece bom, até lá.

Nós dois desligamos e eu juntei todas as minhas coisas, olhando as horas.


Droga, eu tinha duas horas para me arrumar. Eu ainda precisava ir para casa
tomar um banho e escolher o que vestir. Colocando minha bolsa no ombro, fui
para os elevadores.

Quando cheguei ao apartamento, Camden estava sentado no sofá. Eu não


esperava que ele chegasse em casa tão cedo. Ele estava sempre na academia,
trabalhando até pelo menos sete horas. Ainda assim, fiquei um pouco nervosa
por estar sozinha com ele no mesmo espaço. Encolhendo os ombros, entrei, tirei
os sapatos e coloquei minha bolsa na poltrona.

— Ei, você chegou cedo, — eu disse simplesmente.

Ele olhou para mim da televisão. Estava assistindo a algum programa sobre
muscle cars3. — Sim, eu estava dando uma aula para os idosos quando uma
das vovós começou a passar mal. Achei que ela estava tendo um ataque
cardíaco, mas parece que ela não consegue levantar os pesos livres e subir nas
plataformas. — Ele suspirou. — Acabei distendendo meu quadril para tentar
chegar até ela antes que caísse no chão.

3
Muscle car é um termo usado para definir uma variedade de carros com
potência, tamanho e performance elevadas fabricados entre 1960 a 1970.

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Olhei para baixo e foi então que notei a bolsa de gelo em sua perna.
Instintivamente, fui até ele para verificar, mas parei. Ele estava me olhando
como se estivesse se perguntando o que eu estava fazendo. Em vez disso, fui
para a frente do sofá e dei a volta por trás. Eu tinha certeza de que parecia uma
pessoa maluca andando em círculos aleatórios na sala de estar, mas não podia
fingir que tinha feito um movimento em sua direção.

— Só não se esqueça de manter o gelo por vinte minutos e depois retirar por
mais vinte.

Ele olhou para mim por cima do ombro, com um olhar estranho marcando suas
feições duras. — Eu trabalho no setor de condicionamento físico, sei como
cuidar de uma distensão muscular.

Ele não quis dizer o que disse em um tom arrogante, mas eu suspirei. — Você
vai ficar bem? — Perguntei, indo em direção às escadas.

Ele tinha se virado para olhar a televisão. — Está tudo bem, estou bem. Só
preciso dar um gelo e resolver isso.

— Ok, — foi tudo o que respondi.

Subi as escadas e comecei a remexer no meu armário bagunçado. Decidi por


um vestido azul-claro, que combinei com algumas sandálias rasteiras, achei que
seria a roupa perfeita para o parque. Não queria que ficasse muito elegante, mas
também não queria parecer que não estava me importando. Ao entrar no
chuveiro, limpei todo meu corpo, depilei as pernas e passei um paninho nos
pés. Eu costumava andar muito descalça, então as solas dos meus pés estavam
mais ásperas. Quando saí, enrolei meu corpo em uma toalha e atravessei o
corredor até meu quarto. Eu não tinha percebido, até me maquiar e arrumar o
cabelo, que estava realmente animada para ver o Luke. Ele me dava calafrios.
Ele também era a primeira pessoa, desde o meu namorado do ensino médio,
que me fazia sentir bonita.

Arrumei meu cabelo meio para cima e meio para baixo, de modo que ele caísse
em cascata pelas minhas costas em longas ondas loiras. A maquiagem que
apliquei tinha um brilho natural. Minhas bochechas eram de um rosa suave,
apliquei um pouco de rímel em meus cílios e um brilho labial rosa bem claro
para finalizar. Ao me olhar no espelho, tive de admitir para mim mesma que
estava bonita. Eu parecia… feliz, animada, revigorada. Luke estava fazendo isso
comigo. Foi bom.

Ao descer as escadas, passei rapidamente por Camden, que estava na geladeira


procurando algo para comer. Dei uma olhada rápida nele e notei que suas
narinas estavam ligeiramente dilatadas. Será que ele estava sentindo o cheiro
do ar?

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— Tem uma sopa de batata-doce na Tupperware, na prateleira de baixo, que fiz
outro dia, se você quiser. É saudável, então achei que você poderia querer um
pouco, — ofereci, enquanto me sentava em uma das banquetas e ajustava
minhas sandálias.

Camden estava me olhando de um jeito estranho, mas acabou voltando para a


geladeira e pegou a tigela. Quando levantou a tampa, ele grunhiu o que eu só
podia supor que fosse aprovação. — Isso não parece tão ruim. Obrigado por
oferecer.

Eu ri. — É porque não está. Eu sei cozinhar, sabia?. Só porque você gosta de
controlar tudo, não significa que os outros sejam incapazes de preparar
alimentos saudáveis para sua majestosa boca provar. E... de nada.

Sinceramente, tudo isso saiu mais duro do que eu pretendia, mas não importa.
Ele me olhou por alguns instantes antes de continuar a se movimentar pela
cozinha e esquentar a sopa que havia sobrado. Enquanto estava de costas para
mim, ele disse: — Você está bonita. Você vai sair?

Fiquei olhando para ele. Como um peixe fora d'água, com a boca aberta, fiquei
boquiaberta. Será que Camden Brooks tinha acabado de me elogiar? Esse era
um conceito estranho. E me fez ficar vermelha da cabeça aos pés. Eu não tinha
certeza se deveria reconhecer o fato ou se deveríamos fingir que ele nunca
aconteceu. Eu também estava um pouco curiosa sobre as pequenas borboletas
que eu tinha no estômago por causa de pensamentos sobre Luke, e como elas
agora tinham criado asas de beija-flor e estavam tremulando tão rápido que
senti a necessidade de verificar meu pulso. Preste atenção, Keegan. Havia uma
pergunta associada ao seu elogio. O que era mesmo? Quando levantei a cabeça
depois de mexer nas tiras dos sapatos, fui recebida por aquela cor marrom
chocolate profunda que estava se tornando familiar demais. Sua sobrancelha se
ergueu, lembrando-me de que eu ainda não o havia respondido.

— Você vai sair? — Ele repetiu, mas de forma mais lenta, anunciando cada
palavra.

Saia dessa, mulher! — Humm, sim. O Luke está vindo me buscar.

Ele estava pensando em algo. — Vocês dois parecem estar se vendo muito.

Era uma afirmação, não uma pergunta. Eu respondi mesmo assim. — Sim,
saímos algumas vezes.

O calor de seu olhar estava me deixando desconfortável e nervoso. — Hmph.

O que. Na. Terra? Pare com isso, Keegan. Felizmente, uma batida na porta me
salvou da pergunta. Atendi a porta e recebi um lindo buquê de flores silvestres.

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Luke estava radiante. Seus olhos azuis empoeirados iam do meu rosto, desciam
pelo meu vestido e subiam novamente. Ele sorriu com aprovação.

— Você está linda, como sempre. — Luke se inclinou e me deu um beijo na


bochecha.

— Muito obrigado. Elas são lindas. Por que você não entra para que eu possa
colocá-los na água e depois podemos ir embora? — Dei um passo para o lado e
o deixei entrar.

Luke parou logo depois da porta e estava observando Camden ingerir sua sopa.

— O que Brooks está fazendo aqui? — Perguntou Luke.

Eu não havia dito a ele que Camden e eu morávamos juntos? Pensei nisso, mas
quanto mais eu refrescava minha memória, mais eu percebia que não havia dito
nada sobre isso. Ops!

— Ele mora aqui. Camden é meu colega de quarto. — Entrei na cozinha e


comecei a procurar um vaso. Quanto mais rápido eu colocasse as flores na água,
mais rápido poderíamos ir embora.

— Tudo bem — disse Camden ao cumprimentá-lo.

Luke fez um aceno brusco com a cabeça. — Eu não sabia que vocês moravam
juntos.

O sorriso arrogante de Camden estava estampado em seu rosto. — Bem, agora


você sabe.

— Huh. — A voz de Luke soou desanimada.

Os dois continuaram a se encarar, enquanto eu procurava desesperadamente


por algo para usar nas flores. Por que diabos parecia um campo de batalha
induzido por testosterona na minha cozinha? E uma pergunta ainda melhor,
por que eu estava me dando ao trabalho de procurar um vaso no apartamento
de um cara? Não podia imaginar que Camden os tivesse à mão para as muitas
vezes em que recebeu flores. Peguei um copo alto no armário, enchi-o de água
e comecei a colocar as flores dentro. Olhei para os dois rapazes quando a sala
ficou em silêncio. Ambos estavam olhando um para o outro como se estivessem
se avaliando. Brevemente, me perguntei se deveria soltar que eles deveriam
apenas comparar seus pênis para que alguém pudesse sair como um vencedor
claro e eu pudesse distribuir as medalhas. Quase ri de mim mesma por ter
pensado nisso. Por mais que eu não entendesse esse estranho ritual masculino
que estava presenciando, ele ainda me parecia estranho. Camden não parecia
ser do tipo que se intimidava, no entanto, havia algo em seu rosto que fazia

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parecer que Luke era um competidor. Competição pelo quê, eu não tinha
certeza. Precisávamos sair daqui, agora.

Limpando minha garganta, Luke quebrou o contato visual e olhou para mim. —
Você está pronto para ir?

Ele assentiu, e abriu a porta. Os dois rapazes disseram seus sobrenomes como
forma de despedida e saímos pela porta.

Quando Luke e eu entramos no carro, havia um silêncio constrangedor. Minhas


mãos estavam inquietas em meu colo e eu tentava não me inclinar para frente
para começar a mexer nos botões do rádio ou do ar-condicionado. Estive sozinha
com Luke em mais de uma ocasião e nunca fiquei tensa quando nenhum de nós
estava falando, embora os momentos de silêncio fossem raros. Neste momento,
eu venderia um rim para ouvir o que estava passando pela cabeça dele.

— Então… — Eu disse, mas não tinha certeza de onde estava querendo chegar.

Ele olhou para mim com o canto do olho. — Então?

Mmm, isso não ia dar em nada a menos que eu explicasse isso a ele. — Ouça,
desculpe-me por não ter lhe contado sobre minha situação de vida. Não foi
intencional. Camden e eu quase não nos vemos, porque ele está sempre na
academia ou eu estou no campus estudando. Na maior parte do tempo, parece
que moro lá sozinha. Acho que o assunto nunca veio à tona ou me ocorreu. Mas
preciso saber se isso vai ser um problema?

Ele ficou sentado por alguns instantes antes de se aproximar e pegar minha
mão. Meus dedos se entrelaçaram com os dele e eu olhei para baixo, percebendo
uma mancha amassada no meu vestido. Ah, cara, aparentemente eu tinha
parado de torcer as mãos e tinha começado a torcer meu vestido. Maravilhoso,
ele estava todo amassado agora, então, quando eu me levantasse, pareceria que
eu estava com um aperto mortal em minha virilha. Suspirei.

— Está tudo bem. Acho que isso me pegou de surpresa mais do que qualquer
outra coisa. Achei que você morava com a Macie. Mas é isso que eu ganho por
presumir, eu deveria ter perguntado. — Ele falou em voz baixa e percebi que
ainda estava pensando muito sobre o assunto.

— Bem, eu deveria ter dito alguma coisa. Não é nada demais. Na verdade, nem
deveríamos tê-lo encontrado esta noite, mas ele voltou para casa mais cedo
porque distendeu um músculo enquanto dava aula. Eu realmente não o vejo
muito. — Dei de ombros, envergonhada.

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Ele apertou minha mão. — Está tudo bem, Keegan, você não precisa se explicar.
Você mora com ele e não há mais nada além de ser seu colega de quarto, certo?

— Certo! — Minha resposta saiu mais abrupta e aguda do que o necessário. —


Camden não tem sido a pessoa mais agradável para se viver, mas eu me viro
bem. Posso lhe dizer, sem sombra de dúvida, que ele é apenas meu colega de
quarto, nada mais.

Estávamos chegando ao parque e Luke estacionou o carro. Quando ele saiu,


veio para o meu lado e abriu a porta para mim, estendendo a mão para me
ajudar a sair. Perguntei se ele precisava de ajuda para carregar os cobertores
ou a comida, mas ele recusou, assegurando-me que tinha tudo sob controle.
Caminhamos um pouco até uma árvore que ficava perto de um lago cheio de
patos. Luke começou a desdobrar o cobertor que havia trazido e o jogou para o
alto, deixando o tecido se soltar e se espalhar pelo chão. Quando me sentei,
suspirei de contentamento. Todo esse lugar era pitoresco. A grama era de um
verde profundo e cortada curta. Cheirava como se tivesse sido cortada
recentemente. Esse era um dos meus cheiros favoritos. A árvore sob a qual
estávamos também era uma das minhas favoritas. Era um salgueiro-chorão. Eu
queria ter um no meu quintal quando era criança, porque achava que eles eram
mágicos, mas minha mãe me disse que eram árvores bagunçadas e nojentas, e
que ela nunca plantaria uma. Sentada embaixo dela agora, deixando que os
galhos caídos nos protejam do calor do sol, não parecia tão ruim quanto ela
fazia parecer. Eu a achei linda e um lugar perfeito para me esconder do mundo.
Havia patos grasnando ao fundo, com alguns pássaros cantando e crianças
brincando. Eu me senti aquecida e em paz, foi bom.

Luke abriu alguns dos sacos de papel que havia trazido. Eles continham
sanduíches, batatas fritas, dois biscoitos e algum tipo de salada de macarrão.
Eu sorri para ele, e ele pareceu um pouco envergonhado.

— Desculpe, eu sei que isso não é exatamente comida saudável, mas pelo menos
é gostoso.

Eu dei uma risadinha. — Só porque estou malhando, não significa que estou
fazendo dieta. Eu ainda adoro comida. Na verdade, meus quadris e minha
bunda gostam mais de comida do que minha boca.

Ele riu. — Agradeço por seus quadris e bumbum gostarem da comida.

Meu rosto ficou vermelho e eu sabia que estava corando. Luke se aproximou e
inclinou meu queixo para cima para que eu olhasse para ele. — Você é linda,
Keegan. Gosto do fato de você ter curvas e de gostar de boa comida. Entre seus
longos cabelos loiros, seus grandes olhos azuis brilhantes e sua personalidade
doce como uma torta… você é o pacote perfeito. Eu não consego acreditar que
ninguém tinha notado você ainda.

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Eu me esquivei ainda mais. — Ninguém notou até você.

Seus olhos estudaram meu rosto. — Bem, então eles são tolos, e eu fico com o
prêmio. Mas é difícil acreditar que ninguém tenha notado. Até seu próprio colega
de quarto olha para você como eu olho. Todos os rapazes da academia
praticamente tropeçam nos próprios pés ao vê-la.

Eu me afastei dele. — Ok, agora sei que está mentindo. — Não pude deixar de
me perguntar se ele estava certo sobre Camden. Eu nunca havia notado
nenhum olhar dele que não fosse de irritação. Será que ele poderia se sentir
atraído por mim? Não, eu não era nem de perto o tipo dele, e me recusei a cogitar
a ideia. Luke estava apenas tentando ser elogioso. Camden me tolerava porque
morávamos juntos, e isso era tudo.

Ele deu de ombros casualmente. — Mais uma vez, você está se vendendo muito
mal.

Nós dois desempacotamos os jantares. Luke e eu ficamos sentados por um longo


tempo desfrutando da companhia um do outro. Conversamos sobre nossas
aulas na faculdade e os professores que compartilhamos nos últimos dois anos.
Ele era dois anos mais velho do que eu, já que estava em um programa de
mestrado, o que significava que, apesar de termos o mesmo professor, nunca
estaríamos juntos em sala de aula. Conversamos sobre como crescemos. Ele
tinha uma irmã mais velha que via com frequência, e sua família ainda fazia
jantares de domingo. Eu admirava isso e desejava ter tido uma família tão
unida. Quando lhe contei sobre minha mãe e Sarah, ele me ouviu atentamente.
Vi o que parecia ser simpatia passar por seu rosto em um determinado momento
e isso me fez recuar um pouco em minha história. Deixei de fora alguns dos
detalhes mais difíceis, como o ciclo de namoro da minha mãe e como eu era
mais pai de Sarah do que ela na metade do tempo. Não queria que ele sentisse
pena de mim. Essa era a mão que me foi dada na vida e eu a estava aceitando.
Independentemente dos assuntos que compartilhamos, eu estava me sentindo
mais próxima de Luke do que nos últimos encontros. Rimos de suas piadas
idiotas e, de modo geral, estávamos nos divertindo muito. Durante todo o tempo
em que conversamos, ele estava me tocando de uma forma ou de outra, seja
passando o cabelo atrás da orelha, colocando a mão sobre a minha ou se
inclinando e beijando meus lábios.

Luke estava deitado de lado, com o corpo apoiado no cotovelo. Ele olhou para
mim através de seus cílios grossos e loiros escuros. Seus olhos estavam
sedutores quando ele disse: — Trouxe um frisbee, quer jogar um pouco antes
que escureça demais?

Minha barriga deu cambalhotas ao ver como seus olhos estavam ardentes. —
Claro, isso parece divertido.

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Ele se levantou e estendeu a mão. Quando a peguei, sua palma era ligeiramente
áspera, mas quente ao toque. Fiquei arrepiada, embora o ar estivesse abafado.
Inclinei minha cabeça para trás para olhar para ele. Ele era um pouco mais alto
que Camden, mas, ainda assim, eu era tão baixa que tinha de olhar para cima
para quase todo mundo. Luke segurou minha mão enquanto caminhávamos
para um local aberto perto da lagoa. Ele me deu um leve aperto antes de me
soltar, e caminhamos em direções opostas.

— Não vá muito longe. Posso jogar um frisbee, mas não sei se posso prometer
que ele chegará até onde você está, — brinquei casualmente.

Ele sorriu. — Basta estender sua mão assim. — Ele dobrou o pulso e o virou
para fora sem soltar o disco de plástico, para me mostrar como fazer isso. — O
Frisbee fará o resto do trabalho. — Luke deu um leve toque no pulso e o disco
veio em minha direção. Ele fez isso com tanta facilidade e precisão que o disco
veio direto para mim, e eu o peguei com graça.

Eu ri. — O que você é, um arremessador de frisbee profissional?

O rosto de Luke se iluminou. — Na verdade, no ensino médio, ganhei um prêmio


pelo arremesso de disco no atletismo.

— Exibido, — gritei. Tentei imitar como ele havia feito segundos antes, mas o
arremessei praticamente em linha reta para cima e ele caiu quase na frente dos
meus próprios pés. — Ah, vamos lá! — Eu ri. Luke estava rindo, com as costas
da mão cobrindo a boca. — Você está rindo de mim?

Ele deu de ombros. — Bem, você é muito engraçada. Você fica com esse olhar
de concentração e, de alguma forma, consegue jogá-lo para si mesma. Posso ir
buscar outra se você quiser jogar sozinho, eu acho.

Eu o encarei com um olhar provocador do outro lado do espaço aberto. Luke


soltou uma gargalhada. Joguei o frisbee e, dessa vez, pelo menos ele foi na
direção dele. Ele o pegou depois de dar alguns passos para a esquerda. Eu
adorava o modo como seus olhos dançavam quando ele estava brincando
comigo. Suas longas pernas bronzeadas se moviam facilmente enquanto
continuávamos o jogo. Luke tirava o cabelo loiro do rosto a cada lance, e isso
parecia tão masculino que eu me pegava observando-o, intrigada com o
movimento que ele faria em seguida. Será que ele sabia que esses movimentos
básicos deixavam as mulheres excitadas? Devia saber, pelo modo como seu
olhar passou de divertido e brincalhão para aquecido e tenso. Luke pegou o
Frisbee depois desse último arremesso e deu alguns passos curtos pela grama
para ficar na minha frente. Meu coração acelerou o passo. O ar entre nós estava
pesado, e a sensação entre minhas pernas indicava que ele estava me afetando.

— Por que está me olhando desse jeito? — Perguntou Luke, com a voz um pouco
mais grave do que o normal.

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— Não sei, você é apenas… lindo — eu disse sem fôlego.

— Lindo? — Ele fez uma pergunta, mas não se ofendeu com o elogio ligeiramente
feminino.

Minha cabeça estava inclinada para trás e eu olhava para seus olhos azuis. Eu
sabia que meu peito estava subindo e descendo com minha respiração porque
ele olhou para baixo e depois para cima novamente. Luke levantou a mão e
passou os dedos por baixo do meu cabelo comprido e atrás do meu pescoço. Já
havíamos nos beijado antes, mas sempre de forma breve e doce. Isso foi
diferente. Pelo modo como ele me olhava, percebi que me desejava. As pontas
de seus dedos acariciavam levemente a pele sensível do meu pescoço. Observei
com admiração quando ele se inclinou lentamente para a frente e encostou os
lábios nos meus. No início foi suave, mas quando suspirei, ele me puxou para
si e uniu meu corpo ao dele. Meus olhos se fecharam e deixei que ele
determinasse o ritmo. Sua língua percorreu meus lábios, e eu me abri,
permitindo seu acesso. O calor de sua boca era convidativo, e ele tinha o gosto
das batatas fritas que comemos antes. Lambi o pouco de sal que permanecia
em seu lábio inferior. Ele gemeu com minha exploração. Seu beijo era adorável
e apaixonado. Fez meu corpo reagir de uma forma que me implorava para deixá-
lo me levar de volta para casa e fazer o que quisesse comigo. Mas eu estava
pronta para ir até lá? Naquele momento, minha resposta foi sim. Ele era
atraente, gentil e não tinha feito nada além de me fazer sentir desejada. Não se
tratava de um relacionamento de ensino médio em que eu precisava ir devagar,
porque ainda era virgem e queria me guardar para o casamento. Eu já tinha
ficado com outros três rapazes e agora estava na faculdade. Eu era adulta, e
isso parecia certo. Tomei a decisão rapidamente. Antes que eu pudesse me
acovardar, recuei um pouco, com os olhos ainda fechados.

Sussurrei para ele: — Venha para casa comigo. Preciso ficar com você.

Ele encostou a testa na minha, com a respiração difícil. Eu podia sentir como
ele estava excitado contra meu estômago. — Tem certeza? Não quero que você
pense que isso precisa ir mais longe agora.

Abri meus olhos e vi o azul brilhante dele me observando. — Absoluta.

Ele soltou um suspiro e se inclinou para trás. — Vamos guardar as coisas e sair
daqui, então. Além disso, está ficando tarde.

Assenti, voltamos para a área de piquenique e nos arrumamos. Quando


entramos no carro, ele pegou minha mão e beijou os nós dos meus dedos com
muita ternura. Eu sorri para ele e começamos a voltar para o meu apartamento.

No caminho para lá, minha mente se voltou para Camden. Eu realmente não o
havia levado em consideração quando fiz a oferta para que Luke passasse a

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noite comigo. Seria errado eu trazer um cara para casa com a intenção de fazer
mais do que apenas ficar com ele? Tão rapidamente quanto esse pensamento
veio à minha mente, eu o deixei de lado. É claro que era. Mas Camden já havia
trazido para casa pelo menos meia dúzia de garotas e nunca pensei se eu me
importaria com o fato de aquelas vadias estarem no meu espaço. Ele fazia o que
queria, então eu ia fazer o mesmo. Minha única hesitação foi quando me lembrei
do olhar que Camden deu a Luke na cozinha. Eu não queria repetir os episódios
de uma competição desnecessária. Na verdade, eu esperava que ele já estivesse
em seu quarto ou que tivesse saído para fazer alguma coisa e nem nos visse.

Quando chegamos ao apartamento, meu nervosismo começou. Não deveria


estar me incomodando tanto o fato de estar levando alguém para casa. Subimos
os degraus até a porta da frente e eu destranquei a porta silenciosamente. Eu
estava tentando ser o mais discreta possível. Se Luke havia percebido o que eu
estava fazendo, ele não demonstrou. Olhei para ele por cima do ombro, e ele
sorriu para mim. Se eu não soubesse, diria que ele também parecia um pouco
nervoso. Por que ele tinha que estar nervoso? Luke era perfeito. Corpo perfeito,
aparência perfeita, movimentos perfeitos… diabos, ele até beijava perfeitamente.
Talvez eu estivesse apenas interpretando-o mal.

Quando entramos, estava notavelmente escuro, mas ouvi um leve barulho de


batida vindo do andar de cima. Camden deve estar em seu quarto ouvindo
música. Fechei os olhos e exalei. Graças a Deus! Pegando a mão do Luke, eu o
conduzi pelo andar de baixo e subimos até o meu quarto. Quando peguei
minhas chaves, Luke levantou a sobrancelha em sinal de dúvida.

— Não pergunte — murmurei.

Logo na entrada, acendi a luz e fechei a porta atrás dele. Ele estava parado,
observando meu espaço pessoal, mas suas sobrancelhas estavam franzidas.

— Qual é o problema?

— Onde está sua cama? Na verdade, onde estão todos os seus móveis?

Dei de ombros. — Ainda estou economizando para comprar tudo. Quando me


mudei da casa da minha mãe, não levei nada comigo além das minhas roupas.
Realmente não é nada demais.

Ele me olhou com atenção. — Mas você está dormindo em um colchão de ar,
Keegan.

— Sim, eu sei. Isso é um problema?

— Bem, sim. Não posso acreditar que Camden nem sequer se ofereceu para
comprar móveis para você. Uma garota como você não deveria ficar em um
quarto sem nada. Na verdade, eu ficaria feliz em comprar…

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Levantei minha mão e o interrompi. — Não, você não vai me comprar nada.
Agora podemos mudar o assunto para algo mais agradável? Caso contrário, vou
me deitar e dormir um pouco. — Não gostei do fato de ele estar se oferecendo.
Qual era o problema com todos esses rapazes que tentavam me consertar?

Ele estava de pé com as mãos nos quadris, tentando avaliar se eu estava falando
sério. Levantei a sobrancelha, silenciosamente instigando-o a me tentar. Por
mais rápido que ele conseguisse me excitar, esse assunto estava acabando com
meu humor. Sua mandíbula quadrada e graciosa estalava enquanto ele cerrava
os dentes. Eu podia ver a guerra que lutava dentro dele para ser o herói aqui,
mas eu não queria um cavaleiro branco. Eu queria que ele olhasse para mim
como fez no parque. Queria que Luke me tomasse em seus braços e ficasse
comigo. Qualquer que fosse sua decisão, ele a havia tomado. Dando um passo
à frente, ele agarrou meu cotovelo e deslizou sua mão para baixo até chegar à
minha mão. Ele me puxou para junto de si e passou meus braços ao redor de
suas costas.

— Tudo bem, eu entendo que você seja orgulhosa e queira fazer isso sozinha.
Mas se precisar de ajuda, saiba que estou aqui. Tudo o que você precisa fazer é
pedir.

Inclinei minha cabeça para o lado. — Isso é muito gentil, Luke. Agradeço a
oferta. Agora podemos, por favor, nos beijar ou algo assim? Meus joelhos
ficaram um pouco fracos no parque e eu gostaria de ver se você consegue fazer
isso de novo.

Seu sorriso de resposta era tudo o que eu precisava. Sua boca se chocou contra
a minha, e as roupas voaram. Ele me levou para trás até que meus pés atingiram
o colchão de ar. Quando cambaleei para trás e minha bunda bateu na cama,
dei uma risadinha. Eu estava pronta para aproveitar isso.

Na manhã seguinte, eu estava deitada e bem acordado. A noite passada não foi
nada do que eu estava esperando. Luke foi maravilhoso em todos os sentidos,
mas quando ele empurrou dentro de mim… eu não senti nada. Não houve faísca,
não houve química, nada! Quero dizer, não me entenda mal. Meu corpo
respondeu da maneira que deveria quando foi tocado e acariciado em lugares
muito íntimos. Eu até tive um orgasmo com as sensações, mas foi
completamente insuficiente para mim. Foi mais uma formalidade do que um
encontro apaixonado de corpos. Eu estava quase pronta para chorar, porque
algo estava faltando. No meio das investidas de Luke, eu me perguntei
brevemente se Camden podia nos ouvir. Eu queria saber se ele estava com
ciúmes, se desejava ser o Luke. Quando o ritmo de Luke começou a mudar,

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coloquei minha cabeça de volta no jogo, porque ele estava claramente perto de
gozar, e eu ainda não estava nem perto de estar no mesmo nível.

Olhando para aquele homem bonito, de cabelos loiros, com quem eu estava me
envolvendo, eu me perguntei se havia algo de errado comigo. Eu não deveria
estar pensando no meu colega de quarto enquanto estava nua e me envolvendo
com outra pessoa. Esse pensamento era simplesmente errado! Na verdade, eu
ia fazer isso de novo. Eu gostava do Luke. Ele merecia ter toda a minha atenção
e não apenas parte dela. Bem, isso se ele quisesse fazer sexo comigo novamente.
Eu não podia simplesmente presumir que eu era a Miss Super Estrela Pornô e
tudo o que ele esperava.

— O que está acontecendo nessa sua cabeça linda? — A voz grogue de Luke
soou abaixo de mim.

Levantei minha cabeça de seu peito e olhei para ele. — Mmm… você está
acordado. Não vale a pena falar sobre nada. — Eu lhe dei um pequeno sorriso.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Tem certeza?

Assenti com a cabeça, meu queixo roçando a leve camada de pelos em seus
peitorais. — Você dormiu bem?

Sua boca se inclinou para cima. — Dormi muito bem, graças a você. De fato,
talvez colchões de ar sejam a melhor opção. Este é bem confortável.

Eu ri baixinho. — Sim, camas normais são superestimadas.

Sua linda boca se curvou em um sorriso e ele tocou meu nariz com o dedo. —
Você é bonita de manhã.

Eu enrolei meu lábio. — Vou fingir que você não consegue ver a maquiagem que
tenho certeza que está borrada sob meus olhos e que não parece que um
pássaro está fazendo ninho no meu cabelo.

Ele balançou a cabeça. — Você não se vê como eu.

Inclinei minha cabeça. — Dodger disse a mesma coisa para mim.

Luke deu uma risadinha. — Bem, talvez estejamos descobrindo algo. — Ele
começou a se sentar, então eu me mexi. — Ouça, não quero interrompê-lo, mas
tenho que ir para o trabalho em uma hora e ainda preciso trocar de roupa.

— Tudo bem. Quer que eu prepare um café da manhã para você antes de ir?

Ele colocou sua mão em minha bochecha e eu me inclinei para ela. — Não. Vou
pegar algo no caminho para casa.

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Abaixando-se, ele depositou o mais doce e suave dos beijos em meus lábios.
Luke se levantou e andou pelo meu quarto se vestindo. Olhei para o seu corpo
de matar, completamente sem pudor. Tenho certeza de que suspirei
sonhadoramente. Ele olhou por cima do ombro e piscou para mim. Apanhada.

Eu também me levantei da cama e vesti meu roupão amarelo. Anotei que


precisava trocar essa coisa. Já tinha visto dias melhores.

— Vou acompanhá-lo até a saída.

Agarrando minha mão, descemos as escadas e nos deparamos com o cheiro de


bacon, Camden e Dodger sem camisa. Eu não sabia por que tinha esquecido
que Dodger estava vindo para correr. Ele me convidou para correr com eles e eu
recusei, dizendo que não conseguiria acompanhar o ritmo. Eu estava ficando
mais saudável, mas de forma alguma era capaz de ter a resistência deles.

Luke esbarrou em mim quando parei na base dos degraus. Os dois rapazes
pararam o que estavam fazendo e olharam para mim. Os ombros de Dodger
estavam se movendo para cima e para baixo, e eu sabia que ele estava rindo.
Eu só podia supor que nunca mais ouviria o fim dessa história dele. Camden,
por outro lado, tinha uma expressão diferente. Sua boca estava fechada e seus
olhos se concentraram no roupão que eu estava usando. Percebi uma sutil e
breve elevação de sua sobrancelha, antes que ela desaparecesse, e ele parecia o
rabugento de sempre. Certo, continue andando, Keegan. Assim que passamos
pelo balcão do café da manhã, a mão de Luke deslizou para a parte inferior das
minhas costas de forma possessiva.

— Ei, Dodge… Camden. — Luke foi amigável com Dodger, mas sua saudação ao
meu colega de quarto foi rápida e fria.

Os dois rapazes acenaram para ele. Eu o acompanhei rapidamente até a porta


da frente para poder me despedir. Quando ele parou, ouvi Camden dizer
baixinho: — Legal, fazendo a caminhada da vergonha. — Eu me virei e vi um
Luke muito irritado. Até eu me irritei.

— O que você disse? — A voz de Luke era baixa e ameaçadora.

Camden levantou os olhos do bacon que estava cozinhando e olhou diretamente


para Luke. — Eu disse, que legal, fazer a caminhada da vergonha.

— Cale a boca, Camden — sussurrei.

Ele nem sequer olhou para mim. O corpo de Luke estava tenso. Eu não queria
nada mais do que empurrá-lo pela porta da frente e lidar com isso sozinha. Meu
rosto estava inflamado, e eu odiava o fato de que não só um irmão Brooks estava
aqui para testemunhar a saída do meu hóspede noturno, mas havia dois deles.

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E agora o porco machista, Camden, não podia se dar ao trabalho de manter a
boca fechada?

Maravilhoso.

Luke tentou dar de ombros com seu jeito descontraído e casual. — Sim, bem,
nem todos nós podemos ter a sorte de estar com alguém como Keegan.

Olhei para ele e sorri. Foi uma coisa muito gentil de se dizer.

As narinas de Camden se abriram. Será que atingimos um ponto sensível? Ele


grunhiu e disse: — Continue andando, Luke. Talvez você tenha sorte e ela abra
as pernas para você de novo algum dia.

Ai, fala sério, isso foi como uma adaga no estômago. Foi o suficiente para doer.
Luke avançou em direção a Camden, e Dodger se interpôs entre eles. Ele
empurrou Luke para trás antes que ele conseguisse acertar qualquer golpe
sólido em seu irmão. Eu estava ali tremendo como uma folha. Não por causa do
frio ou do medo, mas porque estava furiosa. Não conseguia acreditar que
Camden disse algo tão odioso. De tudo o que havia saído de sua boca no último
mês e meio, essa foi a pior. Ele me fez parecer como se eu fosse fácil, como se
eu fosse igual a todas as outras garotas que ele trazia para casa. Luke foi o
primeiro cara que eu trouxe para este apartamento. Como ele ousava fazer com
que eu me sentisse uma vadia quando era ele quem trazia mulheres para cá aos
montes?

Dodger também estava furioso. Ele olhou para o irmão e disse: — Que porra é
essa, Camden? Desde quando você fala assim das mulheres? Keegan é uma boa
garota, e você sabe disso.

Camden ignorou o comentário e ficou de pé, com os músculos salientes como


se estivesse se flexionando. A expressão em seu rosto gritava que ele queria essa
luta. Ele estava implorando por ela.

Luke se inclinou o mais perto que Dodger permitia e apontou o dedo no rosto
de Camden. — Se você voltar a falar dela desse jeito, terá sorte se acordar em
uma cama de hospital. Eu vejo a maneira como você olha para ela. Não somos
cegos. Você a quer. Ela não é como qualquer outra pessoa com quem você já
esteve, e está ficando louco por não poder tê-la. Então você a trata como uma
merda porque não sabe como lidar com isso. — Camden realmente rosnou. —
O que vai acontecer é o seguinte: se você olhar para ela de forma errada ou
disser algo que a magoe novamente, eu vou atrás de você, Brooks. Não tenha
dúvidas quanto a isso. — Luke endireitou os ombros, rolando-os para aliviar a
tensão. Ele olhou para mim e seus olhos se suavizaram. Ele disse as palavras
‘me desculpe’ antes de se dirigir à porta.

83
Fiquei ali em choque. Minhas emoções iam de mágoa e raiva extrema a pena e
confusão. Eu não conseguia nem processar o que Luke tinha acabado de dizer.
Camden nunca havia dado a entender que estava interessado em mim… certo?
Eu queria ir até ele e lhe dar um tapa na cara por ser tão mau comigo. E, por
alguma razão estranha, eu queria fazer o mesmo com o Luke, mas isso era
porque eu não gostava da maneira como ele ameaçava Camden. Puxa vida, que
maneira estranha de se sentir. Eu deveria estar agradecendo a ele por ter me
defendido. Eu realmente precisava organizar minhas emoções. Balancei a
cabeça e olhei para Luke, que estava se dirigindo para a porta.

— Eu ligo para você mais tarde, Keegan. Ah, e Camden, por que você não compra
uma mobília decente para sua colega de quarto? Não acredito que você deixaria
uma mulher dormir em um colchão de ar por um mês e nem ao menos a
ajudaria. Você é um verdadeiro pedaço de merda. — Ele saiu pela porta,
batendo-a. O som me assustou.

Engolindo com dificuldade, olhei timidamente para Camden. Notei que seus
olhos passaram de confusos a irritados em menos de alguns segundos. Ah,
não… por que o Luke disse isso a ele? Camden se afastou de Dodger e deu um
passo em minha direção.

— Do que ele está falando? — Mantive meus olhos no chão. Eu podia sentir a
raiva emanando pelo curto espaço. — Eu disse, de que diabos ele está falando?
— Eu me acalmei com o tom cortado de sua voz.

— Cam… acalme-se, você a está assustando.

Camden se virou e começou a subir as escadas, duas de cada vez. Algo em mim
chamou a atenção. Droga, ele estava indo para o meu quarto. Eu não o queria
em meu espaço pessoal. Era privado, e ele não merecia vê-lo. Comecei a me
mover para frente para persegui-lo. Dodger estava em meu encalço. Quando
cheguei ao degrau mais alto, vi Camden dar um golpe rápido com o ombro na
minha porta e quebrar a fechadura. Quando ele se levantou, vi a expressão em
seu rosto. Era pura raiva.

Oh! Que merda.

84
CAPÍTULO - 08
NÃO SABIA O QUE ME ACONTECEU quando o vi parado na porta. Tudo o que
eu sabia era que não o queria aqui e que estava disposta a fazer qualquer coisa
para mover essa montanha de homem. Fui em sua direção a toda velocidade e
me joguei em suas costas. Eu esperava que ele cambaleasse para frente ou desse
um passo firme, algo assim, mas ele não se moveu. Nem mesmo um pouquinho.
Quanto a mim, senti como se tivesse me chocado contra uma parede de cimento.
Fiz um som de ‘oof’ quando meu estômago bateu em suas costas. Meus braços
estavam enrolados em seu pescoço e minhas pernas estavam presas em sua
cintura. Meu peso não o estava pressionando nem um pouco. Sério, os joelhos
dele não deveriam estar se dobrando com a pressão? Fiquei furiosa com o fato
de ele ter entrado aqui sem minha permissão. Ele não apenas quebrou minha
fechadura novinha em folha, mas eu estava me sentindo tão violada que estava
à beira das lágrimas.

— Saia — tentei rosnar em seu ouvido, mas a voz saiu distorcida e fraca.

Eu o vi balançando a cabeça para frente e para trás. Não poder ver seu rosto
não estava me ajudando em nada, nem me agarrar a ele como um macaco.
Soltando-o, deslizei por suas costas e fiquei de frente para ele. Talvez eu pudesse
tentar impedi-lo de ver mais do que ele já tinha visto. Oh, quem eu estava
enganando? De pé na frente dele, ele podia ver facilmente por cima da minha
cabeça. Percebi como ele era rígido. Os olhos de Camden percorreram o espaço
quase vazio. Há apenas alguns segundos, ele parecia tão irritado que suas veias
estavam saltando do pescoço e sua mandíbula estava amassada. Agora sua
expressão parecia apenas… derrotada. Eu não entendia.

Ele engoliu, e eu acompanhei o movimento de seu pomo de Adão. — Por que


você não tem móveis, Blue? — Sua voz estava calma.

— Eu simplesmente não tenho.

— Por quê?

— Porque eu não tenho, está bem?

Foi quando ele desviou os olhos do meu quarto e olhou para mim. Tipo,
realmente olhou para mim. Eu me senti tão pequena aqui, com ele se elevando
sobre mim e sem meios de me defender. Não de uma forma física, mas
emocional. Aqueles olhos me abraçaram de uma forma que eu nunca havia
sentido. Ele me fez sentir como se eu estivesse caindo nas profundezas dele e,

85
por mais que eu tentasse sair, ele não me soltava. Levantei os braços e os envolvi
ao redor do meu corpo. Ele acompanhou meu movimento. Era como se eu
estivesse exposta à única pessoa que eu não queria que me julgasse. Seja qual
for a razão pela qual isso importava, vindo dele, importava para mim. De
nenhuma maneira, forma ou jeito eu estava pronta para analisar o motivo. A
maneira como seus olhos penetravam nos meus era como se ele estivesse vendo
através de mim. Isso me enervou.

Ele balançou a cabeça novamente. — Não, não está tudo bem.

— Eu não entendo por que isso importa?

Camden se levantou e passou a mão pelo cabelo. — Porque sim.

Às vezes era tão exasperante conversar com ele. Ele sempre foi tão curto comigo,
e isso não era diferente. Eu precisava que ele me explicasse por que parecia tão
chateado. Eu queria saber por que ele se comportava da maneira que se
comportava comigo, porque ele disse o que disse ao Luke. Porque ele não podia
simplesmente agir da mesma forma que seu irmão. Por falar nisso, para onde
foi o Dodger?

— Isso não é um motivo, Camden. Eu quero saber por quê.

Aqueles olhos castanhos avermelhados e profundos queimaram os meus. —


Porque você é minha colega de quarto, e uma garota, e não deveria estar em um
quarto vazio.

Balancei a cabeça com raiva. Não muito longe de bater o pé nele, eu disse: —
Não, não é bom o suficiente. Qual é o problema de eu não ter essas coisas? Não
me importa que eu seja uma garota ou que seja sua colega de quarto. Quero
saber por que isso importa para você?

Ele deu um passo à frente, então dei um passo para trás. Quando ele viu que
eu não o deixaria se aproximar mais, resmungou algo sem fôlego, esfregando a
mão no rosto.

— Hmmm? O que foi isso? — Eu perguntei.

Camden colocou as mãos nos quadris e olhou para mim. Eu sabia que o que
quer que estivesse por vir seria um golpe, então me preparei, endireitando
minhas costas e ficando de pé. — Você é importante, certo? Você é importante,
porra. Você é mais do que apenas uma garota, é mais do que uma colega de
quarto. Você é gentil e se preocupa com as pessoas. Você tem aturado minhas
besteiras desde o dia em que se mudou para cá, e eu já fiz um monte delas. Fico
esperando que você se quebre, mas você não o faz. Você levanta seu pequeno
queixo e dá as cartas. Então, sim, é muito importante para mim que você esteja

86
dormindo em um maldito colchão de ar, e não na cama mais macia que o
dinheiro pode comprar. Isso me irrita muito, Keegan. Você merece mais.

Santo… o quê? Eu estava respirando com dificuldade e ele também. A


intensidade de seus olhos se aprofundou, e isso foi mais do que eu poderia
suportar. Virei o rosto para o outro lado e respirei fundo. Por onde eu começaria
a processar tudo isso? Eu era importante para ele? Desde quando? O homem
mal me dava atenção, muito menos agia como se se importasse. Achei que eu
poderia ser atropelada por um caminhão e ele seria o cara na beira da estrada
gravando o vídeo em vez de ligar para o 911. Essa era a importância que eu dava
ao meu relacionamento com Camden. Ouvi-lo dizer que eu merecia mais foi
minha ruína. Comecei a andar para a frente, quando o senti dar um passo atrás
de mim. Arrepios percorreram minha pele com sua proximidade e fechei os olhos
com força. Bloqueie-o, Keegan. Quando sua mão se aproximou e pousou no
ponto entre meu ombro e meu pescoço, dei um pulo e meus olhos se abriram.
Seus dedos duros e calejados passaram sobre a pele nua e exposta. Eu sabia
que ele sabia o que estava fazendo. Seu toque era tão gentil e indesejável, mas
meu corpo se inclinou para ele para pedir mais.

— Não se afaste de mim, Blue. — Ele estava falando de forma muito sutil, mas
firme.

— O que devo fazer com isso? — Continuei a olhar fixamente para as paredes
brancas. — Você vem me tratando assim desde que me mudei para cá, e agora
está me dizendo que sou importante? Não sei nem o que dizer a isso.

Ele se inclinou para baixo de modo que seu rosto ficasse a poucos centímetros
de distância. Senti o calor de sua respiração soprar na concha da minha orelha.
— Isso não pode ficar assim. Eu não vou deixar.

Do que ele estava falando? Ele estava se referindo ao quarto? — Não estou
entendendo — respondi confusa.

Ele nem sequer respondeu. Quando meu quarto ficou em silêncio por um tempo
muito longo, eu me virei e ele tinha ido embora. Isso foi estranho, eu ainda o
sentia em minhas costas. Era como se a sensação dele estivesse gravada em
minha pele, e a sensação dele continuava a persistir. Suspirei alto. Isso era
demais. Tudo isso era demais. Eu não tinha a menor vontade de tentar explicar
o que havia acabado de acontecer. Mas eu conhecia alguém que faria isso. Eu
precisava ligar para minha melhor amiga e dizer a ela que era uma emergência.
Juro que todos os pelos do meu corpo ainda estavam arrepiados, e meu coração
ainda não tinha se acalmado. Macie saberia o que estava acontecendo. Ela tinha
que saber. Ela conhecia o código dos garotos. Seria essa a maneira estranha de
Camden fazer as pazes comigo? Ouvi alguém se mexendo no andar de baixo e
me enrijeci.

— Keeg? — Dodger gritou lá em cima.

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Eu relaxei visivelmente com sua voz. Talvez ele soubesse o que tinha acabado
de acontecer. Saí do meu quarto e fui até o corrimão que dava vista para a sala
de estar.

— Sim? — Respondi.

— Ei, eu preciso ir embora. Tenho coisas para fazer e tudo mais.

Engoli, sem saber como perguntar. Mas principalmente porque me senti


estúpida ao falar com o irmão de Camden sobre isso. — Dodger, você pode me
dizer por que…

Levantando a mão, com o cabelo preto se movendo para frente e para trás, ele
disse: — Não. Você está sozinha nisso. Cam acabou de sair, e eu não vou me
meter no meio dessa situação.

Minha boca se abriu. — Mas eu só quero…

Ele olhou para mim com seus olhos azuis penetrantes e repetiu com firmeza:
— Eu disse não. Eu amo você, mas isso é entre vocês dois.

Inclinei minha cabeça para baixo em sinal de compreensão. — Ok. — Fiquei ali,
observando-o pegar as chaves e fechar a porta da frente atrás de si. Meu lábio
inferior tremia e eu só queria voltar para a cama e fingir que tudo o que
aconteceu hoje de manhã desapareceria. Será que eu poderia ter um dia de
recomeço, por favor? Sacudindo-me do meu estupor, voltei para o meu quarto
e telefonei para Macie. Marcamos um horário para nos encontrarmos. Ela não
pareceu nem um pouco preocupada quando lhe contei a história resumida. Ela
simplesmente disse: — Vamos pular o almoço e ir direto para o bolo de
chocolate. — Eu não me importei com isso. E, francamente, minhas coxas
gostariam de um pouco de carinho no momento.

— O que significa tudo isso? — Eu choraminguei para Macie, que estava sentada
à minha frente. Eu tinha acabado de contar a ela todos os detalhes lamentáveis
do que aconteceu, desde o momento em que acordei até o momento em que me
virei e Camden não estava atrás de mim.

Usando o garfo, ela pegou um pedaço de bolo e o levou à boca. Ela o enfiou e
depois deu de ombros. Mas que diabos? Por que ela estava dando de ombros
para mim?

— Mace, não estou brincando. Preciso de ajuda aqui. Por que Camden continua
indo de quente para frio?

88
Lambendo os lábios, ela pousou o garfo. — Bem, primeiro, por que você não me
conta sobre seu encontro com o Luke?

Eu ergui minhas sobrancelhas. — Luke? O que ele tem a ver com isso?

Macie tinha uma expressão perspicaz em seu rosto, como se soubesse onde
estava querendo chegar. — Apenas me conte sobre seu encontro e depois
abordaremos o outro assunto.

Olhei para o prato. Meu estômago estava tão embrulhado que eu nem sequer
tinha comido um pedaço inteiro da pequena fatia do paraíso à minha frente. —
Bem, fizemos um piquenique no parque e depois jogamos frisbee. A propósito,
ele é muito bom. Antes do jogo e durante o jogo, as coisas pareciam estar
esquentando entre nós. Antes que eu percebesse, estávamos nos beijando e eu
estava pedindo para que ele passasse a noite comigo.

— E ele passou?

Revirei os olhos. — Duh, ele tem um pênis? Uma garota pede para você passar
a noite e você acha que ele realmente recusaria?

Ela deu de ombros novamente. Grrr… Eu já estava farta de seus ombros


estúpidos. — Nunca se sabe. Quero dizer, e se ele soubesse que ela dormia com
outras pessoas e tivesse um caso sério de ‘Hot Crotch?’ Ela pegou o garfo
novamente, atravessou a mesa e mergulhou no meu bolo. Depois de dar uma
mordida, ela apontou o talher para mim. — Isso, minha amiga, é desagradável.
Tenho certeza de que ele teria dito não a isso.

— Mace, não tenho ideia de onde você quer chegar com isso, mas comer bolo de
chocolate como você está fazendo e falar sobre o Hot Crotch vai me fazer
engasgar. — Sem mencionar que isso estava me dando coceira.

— Não importa. Conte-me o que aconteceu depois.

Recostei-me na cabine. — Bem, voltamos para o apartamento e fizemos sexo.

— Você teve um orgasmo?

— Claro que sim.

— Não precisa parecer ofendida, Keeg, só estou lhe fazendo perguntas.

Cruzei os braços sobre o peito de forma protetora. — Sim, tive um orgasmo.

— Você sentiu mais alguma coisa?

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— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, houve paixão, vapor, calor, puxões de cabelo, espancamento,


conversa suja, qualquer coisa boa que acontece quando você está realmente a
fim.

— Jesus, você faz todas essas coisas?

Macie me encarou como se eu tivesse uma segunda cabeça. — Você não acha?
— Balancei a cabeça. — Puta merda, o que eu vou fazer com você? Então vocês
simplesmente fizeram sexo e foi isso?

— Não foi só sexo, Mace, foi amoroso. Ele era doce.

Agora ela parecia irritada comigo. — É aí que eu quero chegar. Você não tem
paixão pelo Luke. Ele pode aquecê-la, mas só a mantém aquecida. Você quer
alguém que a deixe furiosa, ardente, apaixonada e tão desesperada para tê-lo
que faça suas coxas tremerem. — Ela fez uma pausa por alguns breves
momentos. — Alguém como Camden.

Levantei-me em meu assento. — Não faço ideia do que você está falando.

Seu pequeno sorriso se estendeu por seu belo rosto e tocou seus olhos. — Sim,
você sabe. Camden faz você sentir todas essas coisas e muito mais. Você acabou
de me dizer, há menos de dez minutos, que estava respondendo a ele e não sabia
por quê. Aposto que se você se sentasse e ouvisse o seu corpo, ele lhe diria que
você deseja o seu companheiro de quarto sexy. Você o quer, Keegan. Ele pode
irritá-la mais do que qualquer outro homem que você já conheceu, mas é desse
tipo de intensidade que estou falando. Esse tipo de relacionamento é explosivo
dentro e fora do quarto. Aposto que ele pode fazer você gozar só de dizer para
você fazer isso.

Eu me contorci em meu assento e ela percebeu. Que constrangedor. Eu estava


sentada no meio de um restaurante, com as pernas juntas, porque só a ideia de
Camden me tocar da maneira que eu estava fisicamente desejando me deixava
molhada. Senti minhas bochechas esquentarem, e Macie me deu um sorriso de
canto de boca.

— Tudo bem, eu me sinto atraída por ele. Mas, no final das contas, nada disso
importa. Ele não tem sido nada além de um idiota para mim, e não sei se posso
perdoá-lo por isso.

— Claro que você pode. Depois de tudo o que você me disse, ele parece ter um
fraco por você. De fato, eu sei que ele tem. Fiz algumas pesquisas com o irmão
mais novo.

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Eu tinha a sensação de que precisaria de um pouco de bolo para isso. Dei uma
mordida e esperei que ela me contasse mais.

— Então, Dodger e eu estamos nos tornando próximos.

— Eu notei — resmunguei.

— Ah, cale a boca e fique feliz por mim. Nada vai ficar estranho, eu prometo. De
qualquer forma, — ela enfatizou, deixando de lado o assunto. — Eu já vinha
notando alguns sinais sutis do Camden quando ele está perto de você. Ele a
observava quando você não estava olhando, ou eu o via dando um fora nas
garotas que se aproximavam dele. Decidi perguntar ao Dodger o que estava
acontecendo. A princípio, ele não quis dizer nada. Esses meninos são muito
calados sobre tudo. Mas, como sou eu, bastou um pouco de persuasão e ele
começou a falar. — Ela me deu um sorriso diabólico brilhante. Não pude evitar
o sorriso que estava se espalhando pelo meu rosto. — Acontece que Camden é
uma pessoa muito reservada. Ele não sai com garotas e nunca dorme com elas
mais de uma vez. Mas quando você disse ao Dodge que Cam estava trazendo
garotas para a casa, ele aparentemente foi perguntar ao irmão sobre isso. Ele o
acusou de tentar deixá-la com ciúmes. Cam, é claro, disse que ele era ridículo,
mas Dodger jura que nunca o viu se comportar como ele se comporta com você.
Ele diz que seu irmão ficou mais mole.

— O que isso significa, mais suave? — Questionei.

— Eu não sei. Mas se eu tivesse que adivinhar, diria que as paredes de Camden
estão começando a cair e ele está tentando descobrir se você o deixará entrar.

Eu me sentei novamente, completamente confusa e incapaz de responder. Será


que Camden gostava de mim? Eu não tinha certeza. Mas percebi uma diferença
na maneira como ele estava comigo no meu quarto. Suas palavras eram
sinceras. Eu era importante para ele. Talvez ele estivesse pronto para finalmente
sermos amigos. Só pode ser isso. Talvez Camden nunca tivesse se aproximado
de uma garota antes, sido amigo, porque ele nunca confiou nelas. Eu estava
achando que tinha descoberto algo quando Macie interrompeu meus
pensamentos.

— Então, o que você vai fazer em relação ao Luke?

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, como você vai dispensá-lo?

Balancei a cabeça confusa. — Dispensá-lo? Não vou me afastar do Luke. Ele é


bom para mim e já fizemos planos para a festa de Halloween.

Ela inclinou a cabeça. — Mas acabamos de estabelecer que você e Cam…

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— Não, você tem uma teoria. Não vou me afastar de algo que pode ser a melhor
coisa que me aconteceu em anos, Mace. Acho que Camden só quer ser meu
amigo. Luke não faz joguinhos, e eu gosto de estar com ele. Não vou me afastar
disso.

— Mesmo que o sexo seja medíocre?

Eu zombei. — Sexo não é tudo.

A garçonete passou e nos deu a conta, e eu tirei uma nota de vinte para deixar
na mesa.

— Oh, jovem, tenho muito a lhe ensinar.

Me levantei e peguei minha bolsa. — Tudo bem, Yoda, você pode me contar tudo
no carro. Vamos embora antes que eu peça um sorvete para acompanhar o bolo
que você acabou de comer. — Nós duas rimos quando saímos do restaurante.

Eu me mantive ocupada indo ao shopping e dando uma olhada. Depois, passei


em casa para conversar um pouco com Sarah e minha mãe. Quando as coisas
ficaram muito tensas e eu e minha mãe estávamos à beira de uma discussão,
me levantei e fui embora. Evitei voltar para casa durante a maior parte do dia
porque ainda não estava pronta para encarar Camden. Quando destranquei a
porta e comecei a abri-la, vi a luz da televisão brilhando no espaço escuro.
Quando entrei, coloquei minhas chaves no balcão e tirei meus sapatos. Meu
coração acelerou quando Camden saiu do banheiro do andar de baixo,
apagando a luz atrás de si.

— Ei, você está em casa. — Ele me cumprimentou com sua voz grave de sempre.

— Sim, fui me encontrar com a Macie e passei um pouco na casa da minha mãe.
Mas estou muito cansada, então acho que vou dormir. — Eu estava cobrindo
minha boca para abafar um bocejo.

Ele parecia estar observando todos os meus movimentos, e isso estava me


irritando. — Certo, tenha uma boa noite.

— Sim, você também. — Parei por um segundo, tentando pensar no que


significava aquela expressão em seu rosto.

Eu estava muito cansada para mais jogos mentais, então me virei e subi os
degraus. Quando cheguei à minha porta, parei. A maçaneta estava diferente.
Não havia fechadura do lado de fora e parecia que ela havia sido trocada por

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essa nova. Tentativamente, peguei a maçaneta e girei, empurrando a porta e
acendendo a luz na parede. Assim que meu espaço foi iluminado, fiquei
ofegante.

O que. O. Que diabos. Era. Isso?

Meu quarto não estava como eu o havia deixado. Paredes recém-pintadas


invadiram meus sentidos, e eu observei cada centímetro que agora estava
diferente. Havia um amarelo suave que agora coloria as paredes. Ele iluminava
o espaço ainda mais do que o branco puro. Mas não tive a chance de apreciá-
lo. Meus olhos pousaram nos outros objetos ofensivos da sala. Encostada na
parede, onde antes ficava meu colchão de ar, agora havia uma cama de trenó
cor de café com duas mesinhas de cabeceira combinando de cada lado. Seu
elegante acabamento brilhante refletia a luz do ventilador de teto. Diretamente
em frente à cama, havia uma cômoda combinando. No chão, havia um tapete
cinza que parecia tão macio que você perderia de vista os dedos dos pés se
pisasse nele descalço. O que diabos era tudo isso? Dei alguns passos para
dentro do quarto e me aproximei lentamente da cama. Passei meus dedos pela
madeira polida, que era macia ao toque. Senti meu sangue ferver mais a cada
passo que dava. Inclinei a cabeça para frente e para trás, estalando os ossos do
pescoço.

Eu não conseguia acreditar que ele havia feito isso. Era por isso que ele estava
me olhando de forma tão estranha. Esse era o meu quarto, e Camden entrou e
o invadiu completamente. Eu me deitei na cama e pensei no que iria fazer. Não
é que eu não gostasse dos móveis, mas é que eu não os pedi. A cada momento
que passava, minha raiva se transformava em pura fúria. Como ele se atreve?
Aposto que o desgraçado estava sentado lá embaixo, todo presunçoso, pensando
que tinha ajudado o pobre colega de quarto que não tinha dinheiro para nada.
Eu não conseguia ficar parada. Comecei a andar de um lado para o outro. Isso
estava indo longe demais. Eu conseguia lidar com gestos simpáticos, mas entrar
no meu quarto e me dar coisas que eu não havia pedido estava indo longe
demais. Eu queria que isso acabasse. Queria que tudo acabasse.

Agora!

Descendo as escadas, eu era uma garota em uma missão. Quando cheguei ao


último degrau, Camden se virou para olhar para mim. Com certeza, lá estava
aquele sorrisinho presunçoso e satisfeito. Aposto que ele estava esperando um
agradecimento por seu diluído senso de generosidade. E ele estava esperando
por isso. Eu sorri de volta para ele, mas tive a sensação de que não parecia
muito certo. Eu tinha certeza de que estava com uma expressão de loucura nos
olhos e, a essa altura, não me importava. Minha loucura estava prestes a se
espalhar por todos os lados. Agora, onde diabos ela estava? Meus olhos se
desviaram para o canto da sala de jantar. Encostada na parede havia uma

93
Louisville Slugger4, exatamente o que eu estava procurando. Caminhei
casualmente até ela e a peguei. Eu sabia que os olhos de Camden estavam me
observando. O sorriso em sua boca havia desaparecido, e agora ele parecia
confuso. Segurei o taco em minha mão, testando seu peso e decifrando meu
próximo passo.

— O que está fazendo? — Perguntou Camden.

Olhei para ele, lançando-lhe adagas com meus olhos. — Praticando meu swing.

Sua confusão se aprofundou. Quando vi suas sobrancelhas se erguerem,


percebi que a realização o havia atingido. — Keegan, não faça algo de que vai se
arrepender.

O riso que saiu de minha boca foi de pura maldade. Parecia bizarro, mesmo
para mim. — Oh! Camden, eu não vou me arrepender disso. Vou gostar muito.
— Com isso, me virei nos calcanhares e subi correndo as escadas. Mas não
antes de ouvi-lo dizer: — Merda — e saltar do sofá, vindo atrás de mim.

Consegui chegar ao meu quarto antes dele. Parei por um breve momento para
inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Eu estava me centrando para a minha
grande tacada. De pé diante da bela cama que ele não tinha nada que comprar
para mim, levantei o taco bem alto e estava prestes a derrubá-lo com toda a
força que pudesse, quando ele parou no ar. Virando a cabeça para trás, fixei os
olhos em um marrom profundo e selvagem.

— Não se atreva — ele rosnou, a centímetros do meu rosto.

4
Taco de baseball.

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CAPÍTULO - 09
Seu tom só serviu para aumentar a selvageria que fluía em mim. Com o queixo
erguido, eu gritei: — Ou você vai fazer o quê?

Camden lambeu os lábios, meus olhos seguiram seu caminho. — Ou você larga
esse bastão e se afasta da cama, ou, pela minha vida, vou colocá-la sobre o meu
joelho.

Soltei uma risada. — Ah, sério, eu gostaria de ver você tentar. Estou tão furiosa
com você agora que, no momento em que você soltar esse bastão, vou arrasar
com tudo neste quarto. Talvez eu até comece por você.

Ele estreitou os olhos. — Não me teste, Blue.

— Pare de me chamar assim! — Eu gritei em seu rosto.

— Não, acho que vou ficar com ele. Se isso a deixa irritada comigo, eu diria que
vale a pena, — provocou Camden.

— Solte o taco. — Falei com os dentes cerrados.

— Não.

Tentei dar um puxão, mas ele não se moveu. Ele ainda estava parcialmente no
ar, mas Camden o segurava com tanta força que eu sabia que ele não iria a
lugar algum. Alguma coisa tinha que ceder aqui, e não havia como eu recuar
diante disso. Eu me senti violada, e o único lugar para onde eu poderia
direcionar as emoções que estavam surgindo em mim era para o homem que
estava na minha frente. Ele não tinha nada que fazer isso sem pedir. Em vez
disso, ele entrou aqui de maneira típica de Camden e fez o que bem quis. Eu
tinha certeza de que ele achava que estava fazendo uma coisa boa, mas ele não
sabia nada sobre mim. Eu nem sequer nos considerava amigos e, mesmo assim,
ele decorou meu quarto sem nenhuma opinião minha. Se eu o amava? Sim. Era
exatamente o que eu teria escolhido? Sim, mas isso não vem ao caso.

— Juro por Deus, sei que você tem mais bastões nesta casa, e vou procurá-los.
Sugiro que você largue esse.

Nossos peitos estavam arfando, apesar de não termos nos esforçado. Os olhos
de Camden eram tão ferozes, tão letais, que não pude evitar a umidade que se
formou entre as minhas pernas. O homem era muito sexy quando estava

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irritado. Eu gostava ainda mais, porque ele estava voltado para mim. A
profundidade de suas íris marrons profundas penetrou em minha alma
enquanto eu as via saltar para frente e para trás entre meus olhos. Quando o vi
olhando para a minha boca, inclinei a cabeça ligeiramente. O que ele estava
fazendo? Antes mesmo que eu tivesse a chance de registrar o movimento, ele
arrancou o taco da minha mão e o jogou para o lado. Ouvi-o bater na parede
com um baque e o encarei. O maldito valentão. Calculei mentalmente se poderia
ou não me desviar para o lado e pegá-lo mais rápido do que ele poderia me
agarrar, mas sabia que as chances estavam contra mim. Vê-lo me observando
causou um arrepio em minha pele. Camden estava me desafiando.

Ele balançou lentamente a cabeça para frente e para trás, sem tirar os olhos
dos meus. — Você simplesmente não consegue esquecer, não é? Eu
praticamente vejo as engrenagens trabalhando na sua cabeça. — Ele se inclinou
ainda mais. Se eu me aproximasse alguns centímetros, nossas bocas se
tocariam. — Você nunca vai conseguir. — O sorriso estampado em seu rosto me
deu vontade de bater nele.

— Eu odeio você, — eu disse com o máximo de veneno que consegui reunir.

Ele me deu um sorriso brilhante que quase me fez fraquejar. — Não, você não
odeia.

— Oh, sim, eu odeio você mais do que…

Ele me interrompeu. Suas mãos se moveram incrivelmente rápido e


mergulharam no meu cabelo atrás do meu pescoço. Ele me puxou para frente
com tanta força que não tive escolha a não ser me chocar contra ele. Sua boca
veio até a minha com tanta intensidade que gemi de desejo não correspondido.
Sua língua pressionou meus lábios fechados, exigindo a entrada. Eu nem tentei
negá-lo. Não havia nada nesse beijo que fosse suave e doce. Foi intenso pra
caramba. Ele estava tirando o que queria de mim, e eu não me importava que
ele não tivesse pedido. O que era estranho, pois eu estava furiosa com ele por
ter feito exatamente isso no meu quarto. Quando abri minha boca, ele
mergulhou. Sua língua era macia e, ao mesmo tempo, forte. Ele estava
conduzindo o beijo a cada investida, a cada empurrão. Uma de suas mãos
enterrada em meu cabelo avançou alguns centímetros para descansar em
minha bochecha. Ele inclinou minha cabeça levemente com o polegar e
conseguiu um ângulo mais profundo. A maneira como sua boca se movia sobre
a minha era possessiva. Ele estava me marcando. Eu aceitava abertamente
qualquer marca que ele estivesse disposto a deixar. Minhas mãos estavam
agarrando a parte da frente de sua camisa e não percebi que ele estava me
levando para trás até que minhas costas bateram na parede. Com o
comprimento de seu corpo pressionado contra o meu, eu podia sentir o que
estava fazendo com ele. Naquele momento, eu me sentia poderosa. Eu estava
excitando Camden, e ele me queria. Havia uma mistura inebriante de luxúria e

96
desejo em meu interior. Eu não tinha autocontrole com os lábios dele nos meus
e, ainda assim, sentia que podia obrigá-lo a fazer o que eu quisesse.

Quando suas mãos desceram pelas minhas costas e pousaram no meu


bumbum, levantei um pouco a perna. Ele a segurou e me levantou sem esforço.
Quando me envolvi com ele, ouvi-o rosnar sua aprovação em minha boca. Sua
ereção estava agora exatamente onde eu queria que estivesse. Empurrando
contra a dureza tensa de sua calça, senti a poça de desejo em meu centro. Tudo
o que estava nos separando eram algumas peças de roupa. Eu queria que elas
desaparecessem, eu precisava que elas desaparecessem. Levantando sua
camisa, puxei-a para cima sobre sua cabeça, interrompendo brevemente o beijo
torturante com o qual ele estava me consumindo. Ficamos parados por um
instante, olhando um para o outro, avaliando o que o outro faria em seguida.
Quando permiti que meus olhos descessem por seu peito, admirei cada curva
esculpida. Coloquei um dedo no centro de seu peito e tracei a protuberância de
seus peitorais, descendo até o abdômen. Ele estava me observando com um
fascínio cauteloso, mas não interrompeu minha observação. Eu queria
memorizar cada centímetro daquela pele nua sob a ponta dos meus dedos. A
maneira como meu toque fazia seus músculos se contorcerem enquanto eu
passava o dedo sobre sua pele, a maneira como ele prendia a respiração como
se tivesse medo de mim ou de que eu acabasse com isso. E eu precisava mesmo
acabar com isso. Eu não tinha ideia do que estava fazendo ao deixá-lo me
segurar contra a parede, mesmo que ele estivesse satisfazendo meus desejos
mais obscuros. Tudo o que eu sabia era que iria aproveitar esse momento e
guardá-lo para mais tarde, quando tudo voltasse ao normal entre nós. Quando
Camden se lembrasse de que não suportava me ver. Eu me lembraria disso e
saberia que, por alguns breves momentos, eu detinha o poder, que eu era capaz
de levar esse homem ao limite e fazê-lo me desejar. Uma de suas mãos, que
estava entre minhas costas e a parede, avançou e imobilizou minha mão em seu
peito, logo acima de seu coração.

— Chega — disse ele de forma tão grosseira que pensei que ele fosse me colocar
no chão, que tivesse caído em si. Em vez disso, ele se aproximou novamente e
usou sua língua para traçar a costura de meus lábios. Eu os separei levemente
para que ele pudesse avançar mais. Um som de aprovação ecoou em sua
garganta enquanto ele pressionava sua pélvis contra mim. Não pude evitar o
suspiro de choque que saiu de minha boca. Senti sua boca se inclinar em um
sorriso. — Está se sentindo bem, Blue? Eu posso fazer você se sentir muito
melhor. — Oh, eu sabia que ele podia. Essa nunca foi a questão. Mas meu
cérebro estava em conflito entre parar com isso e dizer a ele para ir embora e
cuidar da própria vida, ou deixá-lo me levar ao êxtase que ele tinha em mente.
Ambas as opções não eram boas. Ambas nos levariam de volta ao mesmo barco
em que estávamos antes de ele decidir me beijar. Ele ia se arrepender disso, no
fundo, eu sabia que sim.

Ele me carregou até a cama que eu amava e odiava ao mesmo tempo, e me


colocou de pé. Suas mãos ásperas entraram por baixo da minha camisa,

97
levantando-a até que ficasse bem embaixo dos meus seios. Minha pele arrepiou
sob seu toque. Minhas pernas tremeram com a fraqueza que ele me fez sentir,
e apertei seu ombro para me manter de pé.

— Deite-se — ele exigiu.

— O que...? — Nem cheguei a terminar.

— Deite-se, ou eu mesmo o colocarei sobre esta cama.

Engoli em seco, meu coração estava na garganta. Será que eu realmente queria
fazer isso? Hesitante, me sentei na beirada da cama e me empurrei para trás
com os braços. Quando me afastei o suficiente para poder me deitar sem que
meus pés ficassem pendurados na beirada, olhei para ele. O que eu vi em suas
profundezas avermelhadas não tinha reservas. Ele queria isso. Havia um limite
que gritava que ele iria me levar, e eu não tinha escolha. Será que isso me
incomodava? Não houve tempo para pensar nisso, porque uma de suas
sobrancelhas se ergueu, desafiando-me a desafiá-lo. Afundando de volta na
cama, eu estava completamente deitada. Meu corpo estava zumbindo com uma
energia que eu nunca havia sentido antes. Era como estar em uma montanha-
russa. Eu estava nos trilhos, indo para o topo. O momento em que você estava
balançando levemente, antes da queda livre, e seu estômago estava na
garganta… era assim que eu estava me sentindo. Era revigorante e
aterrorizante, tudo ao mesmo tempo. Fiquei olhando para o teto, sabendo que
ele estava ao lado da cama, me observando, calculando seu próximo passo. O
quarto estava tão silencioso que era possível ouvir um alfinete cair. A
expectativa estava me deixando louca. Com os olhos fechados, esperei, contando
minhas respirações enquanto ele decidia seu próximo passo. Ouvi o farfalhar
silencioso de roupas e algo caindo no chão. Oh, meu Deus, ele estava ficando
nu? De repente, eu não estava pronta para isso. Nós nem éramos amigos e,
mesmo assim, eu estava esparramada na cama, esperando por ele. Eu tinha
que parar com isso antes que algo acontecesse.

Eu me mexi um pouco, fazendo de conta que ia me levantar, quando senti o


peso da cama cair ao meu lado. Sua mão chegou ao meu ombro, do lado oposto
ao que ele estava sentado, e gentilmente me empurrou de volta para o chão.
Meus olhos se abriram e se voltaram para os dele. Camden balançou a cabeça,
dizendo que eu não iria a lugar algum. Os meus se estreitaram em resposta, e
vi um lampejo de desafio cruzar suas feições. Sua cabeça se inclinou para o
lado, desafiando-me silenciosamente a tentar me mover. Quando seu olhar se
separou do meu e desceu pelo meu corpo, notei que sua calça não estava mais
apoiada nos quadris. Deve ter sido isso que eu ouvi.

— Eu não vou fazer sexo com você! — Exclamei em um momento de pânico.

Todos os movimentos dele pararam, e ele trouxe aqueles lindos olhos castanhos
de volta para os meus. — Quem disse que estávamos fazendo sexo?

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— Bem, eu pensei… e você me beijou, você… você tirou as calças, então eu
assumi.... — Eu estava gaguejando, com as bochechas ardendo.

Ele me deu um meio sorriso, como se estivesse a par de alguma piada particular
que eu não conhecia. — Estou deitado ao seu lado esta noite para garantir que
você não destrua seus móveis novos, Blue. Acalme-se.

Ele o quê? — Então, espere… você não vai dormir comigo? — Questionei, agora
um pouco confusa.

Rindo, ele disse: — Você quer que eu durma com você?

— Não! — Eu disse, com a voz embargada.

— Certo. — Ele se inclinou de modo que estava me olhando de cima a baixo. —


Não pense que eu não sei o que você estava sentindo há alguns segundos. Tudo
bem que você me queira.

— Seu filho da mãe hipócrita…

— Estamos recorrendo a xingamentos? Porque, se for esse o caso, tenho alguns


em mente para você: Vixen, Feisty Kitten, Crazy Bat Lady… a lista poderia
continuar.

— Não estou entendendo você — retruquei de forma sarcástica.

— Ótimo, não quero que você me entenda.

— Bem, eu não entendo. — Ele se inclinou para trás, e eu cruzei os braços sobre
o peito como uma criança amuada. Minhas emoções estavam à flor da pele.

— Então você esperava que eu saísse daqui e confiasse que você não encontraria
outra coisa para acabar com tudo isso? — Seu braço se estendeu, como se
quisesse mostrar a vitrine de móveis. — Não… não vou perder você de vista.

— Você não pode ficar aqui sem minha permissão.

— O diabo é que não posso. E tenho certeza de que seria divertido ver você tentar
me expulsar. — Ele subiu na cama e se recostou, enfiando as pernas sob o
edredom e colocando as mãos atrás da cabeça. Seu corpo estava encostado no
meu. Bem, a cama era tão macia que eu não tive escolha a não ser rolar para o
lado dele.

Eu estava sem palavras. Como passei de furiosa e com vontade de cometer um


assassinato a sentir tanta luxúria que achei que fosse explodir? Agora eu estava
totalmente confusa. Infelizmente, ele estava certo, eu nunca seria capaz de tirá-

99
lo. Meus esforços seriam inúteis. Meus esforços seriam inúteis. — Isso é
inaceitável. Amanhã de manhã vou ligar para algumas pessoas e pedir que
removam todas essas coisas...

— Você não tem ninguém, Blue, — ele me interrompeu. Seus olhos estavam
fechados e ele estava completamente relaxado.

— Eu tenho sim!

— Não, você não tem.

— Sim, eu tenho.

— Dodger já sabe que, se ele tentar tirar alguma coisa do lugar, eu vou dar uma
surra nele. Portanto, não, você não tem pessoas. — Ele abriu um olho para olhar
para mim. Eu estava boquiaberta. — E cale sua boca ou talvez eu tenha que
encontrar uma maneira de usá-la.

Inacreditável. Como tudo isso aconteceu? Eu tinha me esgueirado para o lugar


mais distante que pude na cama para me afastar dele. — O maluco acha que
pode entrar aqui e tomar conta de tudo. Bem, eu vou lhe mostrar… — Eu estava
murmurando baixinho, meu corpo se afastou do dele.

— Hmmm... o que é isso? — Ele provocou.

— Eu vou lhe pagar por isso. Não posso deixar que você me compre todas essas
coisas e não lhe dê o dinheiro por elas.

Em um minuto, eu estava deitada de lado e, no outro, estava deitada de costas


com Camden pairando sobre mim. — Ouça-me com atenção, Keegan. Tudo isso
foi um presente. Eu o dei a você porque queria que você o tivesse, porque acho
que você merece ter algo bom. Você acha que eu não vejo o quanto você luta;
você estuda, trabalha, vai à academia, à escola. E até agora, eu não sabia que
você estava dormindo em um colchão de ar. Não havia como eu dormir do outro
lado do corredor, sabendo disso, e não fazer nada a respeito. Que tipo de homem
eu seria se estivesse enrolado em uma cama de verdade todas as noites,
enquanto você estava no chão? Eu não ia tolerar isso. — Sua boca formou uma
linha fina. — Você aceitará esse presente de mim e não vou ouvir mais nada
sobre você me pagar por ele. Está me entendendo?

Inspirei pelo nariz, absorvendo suas palavras. Não estava ajudando o fato de
seu corpo estar quase deitado sobre o meu, e eu ainda sentia a sensação de
desejo correndo em minhas veias. — Não gosto que as coisas sejam entregues a
mim, Camden. Eu trabalho por elas, eu as conquisto. Não quero me sentir fraca,
como se fosse uma espécie de caso de caridade.

— É assim que tudo isso faz você se sentir?

100
— Sim.

Ele continuou a me olhar fixamente, com um olhar que eu não conseguia


decifrar gravado em suas belas feições. Quando um sorriso começou a se
espalhar lentamente por seu rosto, eu sabia que não ia ganhar essa discussão.
Certo, quando foi que eu ganhei uma discussão com ele? Com um encolher de
ombros casual, ele disse: — Que pena, você vai ficar com tudo. E, para constar,
eu não sou fraco, e você não é.

Se alguém me perguntasse se eu sabia o que ia fazer em seguida, se tinha sido


um acidente ou de propósito, eu mentiria até ficar com a cara azul. Meu joelho
deu um solavanco e entrou em contato com suas bolas. Ele quase caiu em cima
de mim, mas se segurou antes que isso acontecesse. Camden rolou de costas,
segurando suas preciosas joias, com os olhos semicerrados.

— Ops! Espero não ter batido com muita força — eu disse com a voz mais
feminina que consegui invocar.

Ele começou a tossir e a gemer. — Mas que diabos, Keegan?

Um sorriso surgiu em meu rosto e eu me afastei dele novamente. — Boa noite,


Camden.

Eu poderia jurar que ele me chamou de Crazy Devil Woman antes de rolar na
direção oposta à minha e se acomodar em minha nova cama. Vejo que outro
novo nome foi adicionado à lista.

Meu corpo estava quente, e eu estava mexendo as pernas, tentando tirá-las de


debaixo dos lençóis. Uma mão se aproximou e tocou a pele nua de meu
estômago, fazendo-me parar. O hálito quente de Camden soprou em meu
pescoço, causando arrepios em mim. Seus dedos ásperos desceram até que mal
escorregaram sob a borda da minha calcinha. Virei o rosto para o travesseiro e
tentei abafar meu gemido. O que estava acontecendo agora? Não importava, eu
precisava disso para continuar. Empurrando meu bumbum de volta para o
corpo duro do homem atrás de mim, pressionei minha bunda contra um pênis
ereto. Meus braços saíram de debaixo do travesseiro e agarrei o antebraço que
me segurava. Arrastei levemente minhas unhas pela pele até a mão que estava
bem perto do meu centro pulsante. Ajudei-o a empurrá-la cada vez mais para
baixo, até chegar à pele sensível que precisava desesperadamente de atenção.

— Por favor — eu implorei.

— Por favor, o quê? — A voz rouca de Camden ressoou em meu ouvido.

101
— Por favor, me toque. Eu quero que você me toque.

— Onde?

Segurando sua mão grande, empurrei seus dedos entre minhas dobras
escorregadias. — Aqui. Oh, Deus, bem aqui.

— Bem aqui? — Ele respirou enquanto passava os dedos sobre meu clitóris.

Meu corpo estava tremendo e eu ainda estava muito quente. Por que estava
ridiculamente quente aqui? Tentei novamente tirar as cobertas de cima de mim,
mas elas não se mexiam. Mas que diabos? Quando um dedo comprido deslizou
para dentro de mim, todos os outros pensamentos foram por água abaixo. Meus
quadris começaram a balançar contra dedos muito capazes. Estrelas dançavam
atrás de minhas pálpebras e eu estava muito perto de chegar ao limite. Gemi
novamente, desta vez muito mais alto. O suor que estava se acumulando na
minha pele agora escorria pelos meus seios e pela minha testa. Era demais. Eu
estava com uma sobrecarga sensorial. Entre o que estava acontecendo e a
sensação de estar em uma sauna, eu tinha que tirar as cobertas de cima de
mim antes que desmaiasse. Agarrando os cobertores, joguei meu braço para
trás, tirando o inferno ardente de cima de mim. Minha mão se chocou com
alguma coisa.

— Ai! Droga! — Gritou alguém ao meu lado.

Acordei sobressaltada e abri os olhos. Quando me virei, Camden estava com a


mão no rosto. Subi na cabeceira da cama, tentando acalmar meu coração
acelerado. Ele olhou para mim com confusão.

— Sério, Blue, você tem um golpe poderoso. Droga, isso doeu. — Ele estava
esfregando o nariz.

— Por que você continua na minha cama? — Minha voz estava embargada pelo
sono, meu corpo ainda estava cheio de necessidades.

— Eu te disse que não iria embora. — Quando ele abaixou a mão, tinha um
olhar incrédulo.

— O quê? — Eu disse sarcasticamente.

— Acho que a melhor pergunta seria: você estava sonhando comigo?

Meu rosto se inflamou. — Não, por quê?

Uma sobrancelha se ergueu e ele sorriu. — Me toque. Oh, Deus, bem aqui… —
disse ele em uma voz que deveria imitar a minha.

102
Fiquei ofegante. Eu realmente havia dito tudo aquilo em voz alta? Puxa vida,
isso foi constrangedor. Tentei controlar meu rosto e não demonstrar o quanto
estava mortificado. — Eu estava sonhando, mas certamente não era com você.

— Ah, sério, então com quem você poderia estar sonhando? E não se incomode
em mentir para mim dizendo Luke. Nós dois sabemos que ele nunca faria você
ficar ofegante desse jeito.

Soltei uma risada curta. — E você acha que poderia?

Uma mão áspera agarrou meu quadril e me deslizou para pressionar contra seu
lado. Ele subiu em cima de mim e se apertou entre minhas pernas. Com um
toque leve, ele passou o dedo pela curva do meu rosto, da bochecha até o queixo.
Não pude evitar a reação natural do meu corpo de se inclinar para ele. Quando
ele empurrou os quadris para cima e pressionou em meus nervos sensíveis que
já estavam à beira da combustão, soltei um gemido gutural. Meus olhos se
arregalaram e minhas mãos agarraram seus bíceps. O leve tremor do meu corpo
não podia ser evitado. Se ele fizesse isso só mais uma vez, eu ia explodir.

— Sim, parece que sim!

Respirei fundo e abri os olhos. — O quê? — Eu me sentia tão fora de controle


e reprimida que não queria mais falar. Discutir com ele era exaustivo. Eu estava
em posição de deixá-lo vencer, só dessa vez, se ele me desse o que eu precisava.

Ele estava olhando para mim, com admiração em seus olhos. — Você é
impressionante quando precisa gozar.

Minhas sobrancelhas se franziram. — O quê?

— Não torne isso tão complicado. Você estava sonhando comigo, até disse meu
nome. — Eu disse? — Vejo isso em seus olhos, a maneira como seu corpo está
se derretendo sob o meu. Se quiser que eu termine, Keegan, tudo o que precisa
fazer é pedir.

Oh, Deus, eu queria que ele terminasse, com cada fibra do meu ser eu queria
que ele terminasse. Mas meu cérebro estava gritando para que eu mandasse ele
se foder. A batalha interna era tão forte que eu não conseguia nem falar. Minha
boca se abria e fechava, e ele continuava a me encarar. Nada ia sair de mim. O
lado de mim que estava lutando para empurrá-lo estava ganhando.

— Não posso. — Finalmente consegui.

Ele soltou um suspiro, com a frustração estampada em seu rosto. — Você é


uma mulher muito teimosa, sabia?

103
Não pude evitar o sorriso que surgiu em meus lábios. — Olá, panela, gostaria
que você conhecesse a chaleira.

— Seu sarcasmo pode ser cativante na maior parte do tempo, mas, neste
momento, é irritante pra caramba.

Eu ri. — Ainda bem que pude entretê-lo. Agora pode sair de cima de mim,
preciso ir tomar banho.

Ele ficou ali por alguns instantes a mais do que o necessário. Tive a sensação
de que ele estava tentando decidir se iria me dar o que eu estava pedindo ou o
que eu realmente queria. E não seria apenas eu que precisaria ser saciada. Ah,
não, eu podia sentir claramente o que estava acontecendo com ele lá embaixo.
Decisão tomada, ele se afastou e saiu da cama. Ele foi até a porta e estava
prestes a sair quando disse: — Vou fazer o café da manhã. Torradas, bacon e
café estão bons?

De repente, me senti tímida. Lá estava o ‘gentil Camden’ novamente, aquele com


quem eu não sabia como lidar. — Claro — respondi.

Ele se virou e saiu do meu quarto. Inspirei um ar muito necessário. Meu Deus,
a noite passada não foi nada como eu imaginava. Levantei-me com as pernas
trêmulas e fui até o meu armário para encontrar algo para vestir. Eu tinha que
ir ao shopping hoje para dar os últimos retoques na minha fantasia de
Halloween para a festa que aconteceria em dois dias. E, é claro, em algum
momento, eu precisaria encontrar um horário para estudar. Ao entrar no
chuveiro, pensamentos sobre Camden passaram livremente pela minha cabeça.
Antes, eu duvidava que ele tivesse algum interesse em mim. Achava que eu era
apenas sua colega de quarto gordinha, com quem ele não queria mais nada além
de cobrar o aluguel, ignorando minha presença. Nunca pensei que ele pudesse
se sentir atraído por mim. Eu não era nada parecida com as mulheres que ele
trazia para casa. Na verdade, eu era o oposto. Talvez fosse por isso que ele estava
brincando comigo. Talvez ele estivesse testando as águas com algo diferente
porque estava entediado. Esse pensamento fez meu estômago revirar. Será que
ele poderia ser tão cruel assim? Quanto mais eu pensava sobre isso, mais eu
percebia que sim, ele poderia ser. Camden não teve problemas em esconder o
que sentia por mim quando me mudei para cá. Mesmo agora, ele me mantinha
alerta, sem nunca saber o que diria e se isso deixaria uma marca. Será que eu
poderia honestamente confiar no que aconteceu na noite passada e nesta
manhã como algo mais do que um homem tentando ver se conseguiria um bom
resultado com alguém como eu? O que aconteceu na noite passada não poderia
se repetir. Eu nem sabia o que tinha me dado. Eu estava namorando Luke.
Como ele se sentiria se descobrisse que Camden me beijou ontem à noite? Tive
um momento temporário de fraqueza. Camden vinha me irritando há muito
tempo e, na noite passada, tudo se transformou em um momento fugaz de bocas
e mãos. Eu não mentiria e diria que não me senti bem. Na verdade, eu nunca
havia sentido nada parecido. Quando Camden estava me tocando, meu cérebro

104
parecia começar a falhar e não conseguia mais formar pensamentos lógicos. Eu
tinha que ficar longe. Não havia dúvidas. Eu já não havia dito isso antes?

Quando saí do chuveiro e me vesti, estava de mau-humor. Qualquer desejo


residual que eu sentia por liberação havia se dissipado. Escovei o cabelo e os
dentes e comecei a descer as escadas. Pensei em tomar o café da manhã com
Camden o mais rápido possível e sair de casa antes que ele me irritasse
novamente. Mas quando cheguei ao último degrau, congelei. A visão à minha
frente era suficiente para fazer qualquer mulher se derreter. Camden estava sem
camisa, vestindo apenas uma cueca preta. Ele tinha um par de fones de ouvido,
e o iPod que estava conectado a ele estava parcialmente para fora do cós de sua
cueca. Ele estava balançando a cabeça e fazendo um pequeno movimento
estranho enquanto cozinhava bacon de peru na chapa. Sorri ao ver como ele
estava ridiculamente bonito. De costas, ele não tinha percebido que eu estava
aqui o observando. Na luz da manhã, ele parecia diferente, mais suave de
alguma forma. Deixei que meus olhos percorressem seu corpo mal coberto. O
sol refletia em seu torso bronzeado. Qualquer um que o visse assim poderia
admirar o trabalho que ele havia feito. A cada curva que ele fazia, a cada torção
e elevação de seu corpo e braços, era possível ver os músculos definidos
pressionando a pele. Ele era uma verdadeira obra de arte, e seu corpo era sua
tela. Camden cuidava de si mesmo, e eu achava isso uma qualidade atraente.
Ele se virou de costas para mim novamente, pegando algo no armário. Sem
saber, dei alguns passos em direção à cozinha. Era como se tudo o que ele fazia
me atraísse. Eu queria dar uma olhada mais de perto. Naturalmente, meus
olhos se voltaram para sua bunda, que estava perfeitamente envolta em um
tecido preto. Meu Deus, por que eu era uma garota da bunda? Parecia tão bom
que eu só conseguia me imaginar cravando minhas unhas nele e mordendo-o
com os dentes.

— What do you say to taking chances… — A súbita explosão de canto agudo


de Camden me fez sobressaltar. — So talk to me, talk to me… — ele cantou
mais um pouco. Ele se virou de volta para o resto da sala de estar e parou
quando me viu ali, com o maior sorriso no rosto. Tirando um dos fones de
ouvido, ele realmente parecia envergonhado. Hmmm... o que foi aquilo? —
Desculpe, não ouvi você descer.

— Bem, acho que não. Você estava muito ocupado cantando. — Eu o olhei com
ceticismo. Ainda sorrindo, perguntei: — O que você está ouvindo?

— Música.

— Uh huh, que música? Você parecia estar gostando muito. Que tal conectá-lo
ao aparelho de som e ouvirmos juntos?

— Não. É só rap. Você não gosta desse tipo de música. — Ele estreitou os olhos
para mim. — Há quanto tempo você está aqui embaixo?

105
— Tempo suficiente. — Dei alguns passos em direção a ele.

— Blue… — Seus olhos castanhos pareciam nervosos.

— Sim.

— O que está fazendo?

Eu queria saber o que o estava deixando tão nervoso. Ele estava ouvindo algo
que o fazia se esconder de mim. Determinada, eu ia descobrir o que era. Com
uma atitude casual, entrei na cozinha. Encolhendo os ombros, peguei um
morango maduro e dei uma mordida. Ele estava a apenas alguns metros de
mim, observando-me com ceticismo. — Nada, só estou tomando o café da
manhã antes de sair para ir ao shopping.

Seus ombros relaxaram visivelmente. — Por que você está indo para lá?

Camden ainda estava com um fone de ouvido. Eu podia ouvir o som fraco de
música tocando através do que estava pendurado ao seu lado. Fingindo pegar
uma banana, agi rapidamente. Pegando o iPod de dentro de sua cueca, corri em
volta do balcão e rapidamente coloquei um dos fones de ouvido. Seu rosto ficou
vermelho. Ele começou a vir em minha direção, mas levantei as mãos para
impedi-lo. Ao reconhecer a voz que estava cantando, comecei a rir.

— Celine Dion? Você está ouvindo Celine Dion?

— Sim, e daí? — Ele tentou deixar passar como se não fosse nada de mais.

— E daí? Camden, você não é o tipo de cara que ouve a mulher que ajudou a
tornar o Titanic popular. — Continuei rindo, e percebi que isso estava irritando-
o. — Você é fã da Celine, Cam?

Balançando levemente a cabeça, pude ver a luz dançando atrás de seus olhos.
— Vou te dar três segundos para voltar aqui e me entregar o iPod como uma
adulta, ou vou atrás de você.

— Ah, vamos lá. Juro que seu segredinho está seguro comigo.

— Um. — Ele se levantou com as mãos apoiadas no balcão.

Rindo, dei um pequeno passo para trás. Levantei meus braços dramaticamente
e os estendi para ele. — Nunca me deixe ir, Jack.

Vi o fantasma de um sorriso cruzar sua boca. — Dois.

— Posso conseguir ingressos para vê-la em Las Vegas, se você a ama tanto
assim.

106
— Eu avisei você. Três.

Eu gritei e corri para a mesa da sala de jantar. Chegando ao outro lado antes
que ele me pegasse, eu me virei e o vi sorrindo de orelha a orelha. Eu estava
respirando pesadamente, mas gostei de provocá-lo. — Acho que nunca imaginei
que você fosse do tipo que gosta de baladas. Isso até que é legal.

— Você está abusando da sorte. Eu vou pegá-la e, quando isso acontecer, você
vai desejar ter entregado o iPod como uma boa menina.

— Ainda bem que você não vai me pegar, então.

Estávamos em um concurso de olhares. Quem pularia primeiro? Quase como


se tivéssemos nos movido ao mesmo tempo, Camden pulou na mesa e se
arrastou por ela enquanto eu corria de volta para a cozinha. Um grito saiu da
minha boca e joguei o iPod por cima do ombro, esperando que ele desistisse se
eu lhe desse o que ele queria. Braços envolveram minha cintura e me
levantaram no ar. Ele me pegou. Eu estava rindo tanto que sabia que não
conseguiria escapar dele.

— Peguei você. — Ele me girou e me levou para a sala de estar, em direção ao


sofá.

Minhas pernas estavam balançando livremente e tentei chutar para longe dele.
— Me solte.

— Huh uh. Pelo que sei, você vai sair correndo daqui e dizer a todos que eu
gosto de música de garotas.

Eu disse, rindo: — Mas você gosta de música de garotas.

Ele me deixou cair no sofá e veio por cima de mim para me abraçar. — Juro por
Deus que vou fazer cócegas em você até ter certeza de que vai ficar de boca
fechada.

Eu ofeguei. — Você não faria isso.

Ele levantou as mãos como garras e mexeu os dedos. Comecei a rir antes mesmo
de ele me tocar. — Oh, Deus, não, por favor, não faça isso. Odeio cócegas.

— Então me diga o que eu quero ouvir.

— O que você quer que eu diga?

107
Ele ergueu uma sobrancelha para mim. Aquelas malditas sobrancelhas sempre
diziam muito. — Você vai dizer: Camden, prometo que não vou contar a ninguém
o que ouvi hoje.

Deixei passar alguns segundos. — Tenho certeza de que Macie e Dodger não o
julgarão por seus gostos musicais excêntricos. Na verdade, tenho certeza de que
eles cantariam junto com...AAAAAHHHHH! — Eu gritei quando seus dedos
desceram e se agitaram em minhas axilas. Eu estava rindo tanto que lágrimas
escorriam dos meus olhos. — Pare, pare, pare!

— Diga. — Sua voz era áspera, mas brincalhona. Ele parou de se mexer.

Respirando fundo, cantei: — Near, far, wherever you are… — Seus dedos
recomeçaram a tortura. — Ahhhh, tudo bem, tudo bem… eu não vou dizer nada.
Apenas pare! Juro que estou prestes a fazer xixi nas calças! PARE!

Ele deu uma risadinha. Inclinando-se para chegar mais perto do meu rosto, ele
disse: — Você promete?

Houve um estalo no ar. Toda a brincadeira estava sendo sugada de volta e algo
mais estava tomando seu lugar. — Eu prometo — afirmei com sinceridade.

Um dedo calejado subiu, passando por minha bochecha e parando sob meu
queixo. — Tão linda — ele sussurrou.

Ele continuou a pairar sobre mim. Seus olhos pareciam olhar dos meus olhos,
bochechas, nariz, lábios e vice-versa, como se estivesse procurando algo. Meu
coração começou a bater forte no peito, e eu tinha certeza de que ele podia ouvir.
Engolindo, perguntei timidamente: — O que está acontecendo? — Falei tão
baixinho que mal consegui me ouvir.

— O que você quer dizer com isso? — Disse ele, limpando um pouco a garganta.

Será que eu perguntei a ele o que estava acontecendo entre nós? Será que eu
estaria me envergonhando se jogasse fora todos os pensamentos que tive sobre
nosso relacionamento e como ele estava se deslocando para um terreno instável
que eu não conseguia definir? Deitada embaixo dele pela segunda vez hoje, notei
que ele estava novamente excitado. Mas será que era porque ele estava me
tocando ou porque eu era simplesmente uma mulher e isso era o que acontecia
com todos os homens? Decidindo melhor sobre minha pergunta, mudei de
assunto.

— Você vai à festa de Halloween?

Sua cabeça se inclinou para o lado, e eu me perguntei brevemente se ele me


deixaria escapar por ignorar o que acabara de perguntar. — Não, eu parei de ir

108
a essas festas de fraternidade há três anos. — Eu cedi de alívio por ele ter
deixado passar.

Eu me mexi embaixo dele, e ele entendeu a dica para sair de cima de mim. Senti
a perda imediatamente e desejei que ele voltasse. Eu adorava seu peso sobre
mim. — Ah, tudo bem.

Ele se sentou com os braços apoiados nos joelhos e estava olhando para o chão.
— Você vai com o Luke?

— Sim — respondi suavemente.

Ele olhou para mim com uma seriedade que eu ainda não tinha visto nele. —
Tenha cuidado com ele, Blue.

— O que...?

Balançando a cabeça, ele me interrompeu. — Não vou dizer mais nada além de,
por favor, tenha cuidado. Ok?

Acenei com a cabeça em sinal de compreensão. Eu tinha visto tantas expressões


no rosto de Camden nos últimos dois meses, mas essa, essa, me preocupou. Ele
estava me alertando sobre o Luke, mas eu não tinha ideia do motivo. Fiquei ali
sentada, imaginando o que poderia levá-lo a dizer isso para mim, mas eu não
me sentia nada além de confortável com Luke. Ele era caloroso, gentil, carinhoso
e cativante. Se eu devesse me preocupar com alguém, esse alguém seria
Camden. Ele era o único que tinha um ar de periculosidade, de nervosismo e de
escuridão que eu nunca havia tocado antes. Bem, não até a noite passada. Eu
deveria estar com medo do homem sentado ao meu lado, porque ele me fazia
sentir como se sua própria essência fosse uma droga. A atração que eu sentia
por ele era tão forte que, mesmo agora, eu queria prová-lo. Eu queria senti-lo
em mim, sentir seu corpo. Queria senti-lo em mim, me acariciando,
sussurrando coisas em meu ouvido que me faziam corar. Esfregando minhas
mãos para frente e para trás em minhas pernas, eu precisava ir embora. Um
pouco de ar fresco e um tempo longe de Camden me fariam bem. Levantei-me
com as pernas trêmulas e fui até a porta. Camden permaneceu no sofá e me
observou se afastar.

— Estarei em casa mais tarde — eu disse por cima do ombro.

— Está bem.

Abri a porta da frente. — E Cam?

— Hmmm?

— Você não vai dormir no meu quarto esta noite. — Dei uma olhada nele.

109
Aquele sorriso glorioso que agora me fazia sentir coisas maliciosas cruzou sua
boca. — Veremos, Blue, veremos.

Com isso, saí pela porta e fui para o shopping.

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CAPÍTULO - 10
DOIS DIAS ATRÁS, EU TINHA SAÍDO DO APARTAMENTO e minha mente estava
confusa. Depois de conversar com Macie enquanto eu encontrava o resto da
minha fantasia de Halloween, eu não estava mais me perguntando se Camden
gostava de mim, mas queria saber por quê? Eu não era o seu modus operandi
habitual. Quando me olhei no espelho, vi uma garota comum, com quadris
curvilíneos, cabelos bonitos e só isso. Quando eu olhava para Camden, ele era
perigosamente sexy, o cara que toda garota queria domar, mas nunca
conseguia. Então eu me perguntava novamente: por que eu?

Pensei nisso enquanto vestia a fantasia que Macie havia me convencido a usar
e sentia um frio na barriga. Ninguém havia me visto com ela ainda e, por mais
que eu dissesse a mim mesma que estava nervosa para que as massas em geral
me vissem em minha roupa de enfermeira, eu estava mais aterrorizada com a
possibilidade de Camden me ver. Ele já havia se referido a mim como ‘a
gordinha’ uma vez. Apesar de me exercitar, não estava me sentindo muito
confiante com minha aparência. Macie disse que a fantasia foi feita para mim,
mas, como minha melhor amiga, achei que ela deveria ter dito isso. Fiquei em
frente ao espelho de corpo inteiro que ficava atrás da porta do banheiro. Eu
estava usando um par de sapatos de salto alto pretos que aumentavam minha
altura em quatro centímetros, meias arrastão e uma cinta-liga de renda com
um pequeno laço vermelho abraçando minha coxa direita. Um vestido preto que
abraçava cada uma de minhas curvas completava o traje. Não havia como eu
me curvar ou sentar sem exibir minha caixa de tesouros. Quando decidi usar
uma fantasia de enfermeira, foi apenas como uma brincadeira, já que eu estava
na faculdade de enfermagem. Havia duas opções: preto ou branco. Macie me
disse para escolher o preto e que faríamos com que parecesse uma enfermeira
vampira, para que fosse algo diferente; mais escuro, mais sedutor. Meus cabelos
estavam presos em um coque bagunçado, com algumas mechas soltas caindo
em volta do meu rosto. O mais chocante eram meus olhos. A cor deles já era de
um azul vibrante, então, quando acrescentei o delineador e a sombra escura,
eles se destacaram em forte contraste com todo o preto. Inclinei-me um pouco
para dar uma olhada mais de perto. Estranho… eles pareciam quase azuis-
claro. Dei um toque final com um pouco de sangue falso no canto da boca e me
afastei para ver meu reflexo. Ah, cara, eu não ia conseguir sair com essa
aparência de jeito nenhum. Eu não parecia uma enfermeira vampira safada,
parecia uma prostituta que deve ter mordido o pênis de algum pobre coitado
porque ele o enfiou demais na minha garganta. Ai! De jeito nenhum, eu
precisava me trocar. Eu tinha certeza de que havia algo em meu armário. Meus
pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.

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— Saia dai, mulher! Luke vai chegar a qualquer momento e eu quero tirar
algumas fotos antes de irmos embora — Macie chamou do outro lado da porta.

Bem, lá se foi aquele plano, suspirei. Abri a porta e me mostrei lentamente. Eu


a ouvi inspirar um pouco de ar antes de soltar um assobio baixo. — Puta que
pariu, mamãe, você vai colocar fogo na cueca de todos os caras esta noite.

Revirei os olhos. — Cale a boca, Mace. Não estou nem um pouco confortável.
Não posso me trocar para algo um pouco menos revelador? Tenho certeza de
que tenho um macacão de adulto que posso vestir. Ele tem até uma aba na
parte de trás. Eu poderia deixá-lo aberto e colocar uma placa na parte aberta
dizendo 'proibido entrar' ou algo assim.

Ela balançou a cabeça e deu uma risadinha para mim. — De jeito nenhum,
senhora. Essa roupa é demais! Não entendo por que está tão preocupada. Eu
lhe disse que você estava linda, então qual é o problema?

— O problema é que meu casaco está muito frio, meus seios estão prestes a
saltar e toda essa maquiagem me faz parecer uma prostituta de dois dólares.

Ela inclina a cabeça para o lado e diz: — Eu pagaria uns vinte dólares para ver
suas curvas

Eu abri um sorriso. — Sério?

— Com certeza. Aposto que você tem um sanduíche de rosbife melhor do que
qualquer Arby's.

Deixei escapar uma risada. — Essa conversa é ridícula, você sabe disso, certo?

— Sim, mas se isso a convenceu a descer as escadas e tomar um Lemon Drops


comigo, então missão cumprida. Agora vamos, ou vou mandar o Dodger aqui
em cima para pegar você.

Eu empalideci um pouco. Havia uma grande diferença entre ficar na frente de


sua melhor amiga parecendo uma prostituta de alta classe, graças a Deus, do
que ficar na frente de um cara supergostoso e deixar que ele a julgasse. Ela deve
ter visto a indecisão em meu rosto porque gritou: — Dodger?

— O quê? — Ele gritou do andar de baixo.

Inclinei-me e agarrei seu braço. — Espere, espere, espere… Eu vou, só me deixe


pegar minha bolsa.

— Não importa. — Ela me deu um sorriso diabólico. A pirralha sempre levava a


melhor.

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Quando descemos os degraus, Macie estava andando na minha frente, muito
bonita, como sempre. Ela estava usando um conjunto de shorts de uma peça
só que deveria parecer um piloto de caça. Seus longos cabelos castanhos
balançavam a cada movimento que ela fazia. Um par de óculos de aviador estava
em sua cabeça, e ela calçava botas marrons que paravam acima do joelho. Elas
tinham cadarços e pareciam botas de combate. Onde ela as encontrou, eu não
sabia. Eu admirava sua confiança. Ela era dona de todos os cômodos em que
entrava, e as pessoas a notavam. Não porque ela era a garota gorda que parecia
ter se enfiado em um tubo de salsicha, mas porque ela sempre foi assim: linda,
deslumbrante, equilibrada.

Eu estava olhando para baixo, observando onde meus pés estavam e torcendo
muito para não cair com esses saltos arrasadores. Quando meu pé atingiu o
último degrau, ouvi um — Puta merda — vindo da boca de Dodger e o que
parecia ser um rosnado de animal vindo de Camden. Quando já estava bem
longe da escada, olhei para cima. Macie já estava na cozinha servindo a coragem
líquida, e os dois irmãos estavam olhando para mim de boca aberta.

— Jesus Cristo, Keegan, você estava escondendo isso debaixo de todas essas
roupas esse tempo todo? — Perguntou Dodger, maravilhado.

Quando me aproximei dos dois, os olhos de Camden estavam me seguindo. A


intensidade deles incendiou minhas entranhas. Balancei a cabeça para Dodger.
— Não faço ideia do que você está falando.

— Você está um estouro! — Disse ele, agradecido, mas logo depois estava
esfregando a parte de trás da cabeça onde Camden tinha acabado de bater nele.

— Cale a boca, babaca — disse ele ao irmão.

Timidamente, olhei para o chão e voltei a olhar para cima através dos meus
cílios. Camden e eu fizemos contato visual e todo o ar foi sugado para fora da
sala. Sua língua saiu e lambeu o lábio inferior, e senti meus joelhos fraquejarem.
Dei alguns passos decididos em sua direção e vi suas narinas se dilatarem. Senti
o desejo se acumulando em meu âmago. Ele estava me prendendo com seus
olhos castanhos penetrantes. Eu estava a alguns metros de distância dele,
quando Macie quebrou o transe em que eu estava.

— Venha até aqui, enfermeira Sexy, é hora de fazer um brinde.

Limpando minha garganta, fui até o balcão e peguei um copo de shot.

— A novas experiências, dançando até cansar, transando e fazendo com que


todos os paus do campus fiquem em posição de sentido — anunciou Mace com
o copo erguido, jogando sua dose de volta. Inclinei a cabeça para trás e engoli o
líquido amarelo-escuro, com o amargor queimando minha garganta. Notei que
Dodger estava olhando para ela. Ela o olhou fixamente. Tomei nota disso e teria

113
que me lembrar de perguntar a ela o que era aquilo mais tarde. Os dois estavam
saindo bastante, e eu sabia que Macie gostava dele. Eles tinham saído em
alguns encontros, mas aparentemente Dodger não cedeu a Mace e dormiu com
ela. Percebi que ela estava ficando chateada com isso.

Senti alguém atrás de mim e um toque sutil de ar na minha orelha. — Posso


falar com você por um minuto? — Camden murmurou.

Olhei por cima do ombro e fiz um leve aceno de cabeça. Achei que Dodger e
Macie nem perceberiam minha ausência. Eles pareciam estar travando uma
batalha de vontades no momento. Camden colocou a mão na parte inferior das
minhas costas, conduzindo-me à nossa pequena lavanderia. Quando ele fechou
a porta atrás de si, de repente me senti claustrofóbica. De frente para ele,
Camden ocupava a maior parte do espaço. Seus ombros largos e sua postura
alta me ofuscavam.

— Você não pode usar isso — disse ele categoricamente.

Minhas sobrancelhas se franziram. — O quê? Claro que posso.

— Não me teste quanto a isso.

— Não estou testando você, mas você não está fazendo nenhum sentido.

Ele levantou a mão e puxou seu cabelo. — Sério, Blue, você não pode entrar em
uma fraternidade onde todo mundo bebeu com essa aparência. Todos os caras
que estiverem lá terão a impressão errada.

— Camden, não estou usando nada mais revelador do que a Macie, qual é o
problema?

Ele deu um passo em minha direção. O chocolate quente de seus olhos era duro,
mas suplicante. — Você simplesmente não pode. Eu não vou estar lá para
garantir que você fique segura.

— Eu não sabia que você se importava tanto.

Ele grunhiu. — Não comece. Você e eu sabemos que isso não é verdade.

— Ah, é mesmo? Porque nos últimos dois dias eu tenho repetido isso em minha
mente, tentando descobrir o que exatamente é isso entre nós, e parece que não
consigo descobrir. — Eu não tinha ideia do que estava me fazendo discutir nosso
relacionamento misterioso agora. De qualquer forma, eu deixei escapar e a
pergunta agora estava à mostra para que ele respondesse.

— Não seja tão estúpida, Keegan — respondeu ele com severidade.

114
Levei a mão ao peito e ofeguei. — Agora você está me insultando?

— Não, estou expondo os fatos. Você sabe muito bem o que está acontecendo
entre nós e, mesmo assim, desce as escadas parecendo uma vagabunda. Depois
diz que ainda está saindo com o Luke, mesmo depois de eu tê-la avisado sobre
ele. Estou começando a achar que você não sabe distinguir sua cabeça da sua
bunda — ele repreendeu.

Minha mão se levantou por conta própria e lhe dei um tapa no rosto com toda
a força que pude. Sua cabeça girou para o lado, absorvendo o impacto. Ai, isso
doeu. Eu estava cansado do ódio que ele vomitava, especialmente depois de
questionar suas intenções.

— Você é um filho da puta presunçoso! — Eu cuspi. — Desde o dia em que entrei


aqui, você me tratou como se eu fosse uma coisa inconsequente com a qual você
poderia falar e tratar como quisesse. Você me degradou com xingamentos, me
assediou, me ignorou e me feriu. Então, de repente, você descobre que eu era a
garota pobre que morava do outro lado do corredor, sem móveis, e agora me
tornei um projeto. É como se estivesse me testando para ver se consegue fazer
com que eu me apaixone por você. Vá se foder, Camden. Não estou me
apaixonando por você. Na verdade, estou pulando dessa montanha-russa.
Estou farta de suas besteiras e desisto. Aproveite sua noite, tenho que ir a um
lugar. — Tentei passar por ele, mas ele me bloqueou.

Vi tantas emoções em seu rosto. Se eu não o conhecesse bem, diria que parecia
tristeza, arrependimento, dor. Suas mãos se aproximaram para tocar meu rosto.
Prendi a respiração, sabendo que, se ele fizesse isso, eu me derreteria nele.
Precisava que minha determinação se mantivesse firme. Se eu cedesse a ele
agora, ele nunca pararia com essa busca estranha que parecia estar fazendo.
Bateram na porta da frente e Camden baixou os braços. Todas as expressões
que eu tinha visto apenas um segundo antes foram apagadas. A indiferença em
seu belo rosto foi como um soco em meu estômago. Ao se afastar, ele me deu
espaço suficiente para sair. Acho que foi isso. De alguma forma, tive a última
palavra com ele e, sinceramente, não poderia me sentir pior. Ele sempre lutou
comigo a cada passo do caminho, e agora parecia estar desistindo. Eu não podia
me dar ao luxo de deixá-lo entrar agora. Camden me destruiria se eu o deixasse.
Preparando-me, ergui os ombros e levantei a cabeça. Esperando que meus olhos
mostrassem exatamente o que eu sentia naquele momento, eu o encarei.
Quando ele inclinou a cabeça para o lado, eu sabia que precisava sair daqui.
Quando passei por ele, meu lado roçou em sua frente, e eu poderia jurar que o
ouvi gemer.

Macie estava abrindo a porta para Luke, enquanto Dodger, com cara de mal-
humorado, estava na cozinha observando-a. Aparentemente, eu não era a única
que estava tendo problemas esta noite. Quando Luke entrou, foi como ver uma
lufada de ar fresco. Depois de vários dias com a intensidade de Camden, seria
bom estar perto do comportamento tranquilo de Luke. Seus cabelos loiros

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domados e olhos cor de água me procuraram. Quando ele me encontrou perto
da porta da lavanderia, seus olhos se arregalaram, e a expressão de choque
valeu o desconforto de usar a roupa. Tentamos coordenar nossas roupas, de
modo que ele estava vestido com uma bata com respingos de sangue na frente
e tinha um estetoscópio pendurado no pescoço.

Caminhei em sua direção, querendo nada mais do que sentir seu abraço. Ele
abriu os braços para mim, e eu me afundei nele, respirando seu perfume limpo.
Sua boca desceu até o topo da minha cabeça e ele beijou meu cabelo.

— Você está linda — elogiou ele.

Inclinei minha cabeça para trás e sorri para ele. — Obrigada. Você também não
está ruim, doutor.

Seu dedo apontado tocou a ponta do meu nariz e ele sorriu. — Talvez mais tarde
possamos brincar de médico. Você pode ser a enfermeira safada e me ajudar a
fazer um exame de mama.

Joguei minha cabeça para trás e ri. — Você é terrível — eu disse, dando-lhe um
tapa no braço.

Sua risada profunda aqueceu meu peito. Fiquei rígida quando ouvi uma porta
bater atrás de mim. Olhando por cima do ombro, vi Camden de pé com as mãos
nos quadris, parecendo furioso. Seus olhos estavam fixos nos meus e eu me
senti afundando em Luke. Aquelas profundezas marrom-escuras pareciam
letais, e isso me deixou nervosa. Até Dodger e Macie pararam o que estavam
fazendo para olhar para Cam. A sala ficou em silêncio e ninguém se mexeu. O
olhar de Camden era para mim. Ele estava com raiva, magoado, vulnerável, mas
havia algo mais ali. Ele estava me avisando. Apertei meus olhos em confusão e
inclinei minha cabeça para o lado. Era quase imperceptível, mas eu vi, ele olhou
de mim para o Luke. Ele estava me dizendo novamente para ter cuidado. Eu
queria desesperadamente saber por que ele estava se sentindo assim, já que
Luke tem sido um cavalheiro para mim. De qualquer forma, eu daria atenção
ao seu aviso. Como eu poderia não fazer isso? Por mais confuso que fosse o
nosso relacionamento, no fundo do meu coração eu sabia que podia confiar em
Camden. Acenei com a cabeça ainda mais sutilmente para ele. Sua boca se
afinou em uma linha reta e ele exalou ruidosamente. Parando de me olhar, ele
foi até o canto da sala de jantar e pegou sua bolsa de ginástica. Colocando-a
sobre o ombro, passou por mim e pelo Luke até a porta da frente.

— Para onde ele está indo? — Ouvi Macie sussurrar para Dodger.

— Ele tem alguns problemas que precisa resolver — ele respondeu.

Quando a porta da frente se fechou, todos nós relaxamos visivelmente. — O que


foi isso? — Luke perguntou em meu ouvido.

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Balancei a cabeça. — Não sei — menti, sem querer lhe dizer nada.

Quando me virei para encará-lo novamente, ele me olhou com ceticismo. Um


sorriso lento se espalhou por seu rosto e ele aproximou seus lábios dos meus.
A ternura suave de seu beijo me fez suspirar. Foi o mais breve dos beijos, mas
foi o suficiente para apagar a tensão que Camden havia causado. No entanto,
eu não podia ignorar a sensação incômoda de que ainda havia muito a ser dito
entre mim e Camden. Teríamos que conversar em algum momento. Além disso,
eu queria saber qual era o problema dele com o Luke.

— Você está pronta para ir? — Ele perguntou.

— Sim, deixe-me pegar meu casaco.

Quando eu estava pronta, apaguei as luzes e fomos para a festa.

Ao chegar à casa, havia carros estacionados ao acaso por toda parte, e a música
podia ser ouvida por toda a rua. Luzes laranjas estavam penduradas nas árvores
e decorações bregas de Halloween adornavam o gramado da frente. Havia de
tudo, desde lápides de isopor até zumbis de plástico que pareciam estar saindo
do chão. Teias de aranha estavam penduradas em todos os arbustos da frente
e lanternas pretas iluminavam o caminho até a porta da frente. A casa em si era
enorme. Era um estilo Tudor de dois andares que precisava de uma camada de
tinta fresca e alguns acabamentos novos. Juntamente com as decorações de
Halloween, o lugar era bastante assustador.

Quando nos aproximamos da porta da frente, hesitei. Não só estava nervoso


porque nunca tinha saído com os tipos de fraternidade, como também estava
pior por causa do traje que escolhi. Amaldiçoando-me em silêncio, desejei ter
escolhido o macacão. Quando Luke abriu a porta, a festa estava a todo vapor.
As pessoas estavam amontoadas como sardinhas; dançando, rindo, beijando e
se divertindo. Na parede mais à esquerda havia uma pequena cabine de DJ com
alto-falantes espalhados por toda a casa. A música estrondosa de Ellie Goulding
- Burn estava reverberando em meu peito. Os que estavam dançando tinham as
mãos no ar, sentindo a batida. Luke colocou a mão na parte inferior das minhas
costas, conduzindo-me pelo meio da multidão. As pessoas estavam esbarrando
em mim a torto e a direito, e perdi o equilíbrio algumas vezes com esses saltos.
Felizmente, Luke estava lá para me segurar. Vários casais nos pararam
enquanto abríamos caminho pela multidão, cumprimentando Luke e me
olhando com curiosidade. Entramos em uma cozinha que parecia pequena
demais para uma casa daquele tamanho. Diversas bebidas alcoólicas estavam
espalhadas pelo balcão, junto com copos que estavam meio cheios ou virados
de lado. Luke abriu um dos armários e se virou para mim.

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— Escolha seu veneno, enfermeira Rachett. — O sorriso preguiçoso que ele me
deu foi contagiante.

— Cerveja do barril está bom.

— Nunca imaginei que você gostasse de cerveja. Imaginei que Cosmos e


qualquer coisa com guarda-chuva fossem mais a sua praia.

Eu ri. — Isso é coisa da Macie. Não sou uma garota que exige muito cuidado.

Enchendo um copo vermelho, ele o entregou a mim e me puxou para junto dele.
— Verdade, — disse ele com tanta diversão que me perguntei se era isso que ele
pensava de mim o tempo todo.

— Ei, onde está minha bebida? — Macie perguntou por trás de mim. Ela e
Dodger chegaram logo atrás de nós, mas se perderam no meio da multidão.
Dodger já havia estado aqui algumas vezes, então ele conhecia o caminho e eu
não estava muito preocupada com o fato de Macie ficar ao meu lado. Luke pegou
outra xícara e perguntou o que ela gostaria de tomar. Ela pensou por um
momento, batendo a unha coberta de esmalte preto no queixo. — Vocês têm
alguma coisa frutada?

Luke e eu demos uma risadinha. Percebi seu sorriso e dei de ombros. — Posso
pensar em algo. Todos os caras aqui têm que manter suas namoradas felizes de
alguma forma.

Quando ele lhe entregou a bebida, ela se virou para mim. — Então, o que vocês
dois vão fazer?

— Eu não sei. Todas essas pessoas fazem com que seja difícil se movimentar.

— Bem, há dança, beer pong nos fundos, há também algumas espreguiçadeiras


no deck onde podemos nos sentar e relaxar, se você quiser — disse Luke.

— Relaxar parece bom. Nunca fui um grande dançarino e nunca joguei beer
pong na minha vida.

Seu sorriso de menino não havia saído de seu rosto desde que entramos pela
porta. — Você não sabe o que está perdendo. Eu sou o atual campeão desta
casa. Se você mudar de ideia, terá um parceiro invicto.

— É bom saber — eu disse, levando minha xícara aos lábios. Seus olhos
observavam meus movimentos e suas pupilas se dilataram.

Dando as costas para ele, dei atenção a Macie. — E quanto a você? Para onde
foi o Dodger?

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Ela se irritou e disse: — Quem sabe? Ele foi detido por um anjo de aparência
estranha antes de eu entrar aqui.

Meus olhos se voltaram para minha amiga. Peguei sua mão e a apertei. — Mace,
tenho certeza de que ele estava apenas sendo amigável. Além disso, será que o
Dodger sabe que você gosta dele?

Revirando os olhos, ela disse: — Tenho certeza. Já saímos algumas vezes e ele
até me beijou. Mas quando eu o convidei para entrar em casa no final de nossos
encontros, ele me deu um fora todas às vezes. Estou começando a me perguntar
se ele é gay.

— Jesus Cristo, Macie, eu não sou gay, porra — disse um Dodger irritado da
porta.

Ela girou sobre os calcanhares, nem um pouco envergonhada por ter sido pega
dizendo aquilo. — Então, qual é a sua proposta? Você vai dar uns amassos em
mim, mas não vai dormir comigo?

Ele olhou de mim para Luke e de volta para Macie. — Já conversamos sobre
isso e não vou discutir isso na frente de outras pessoas.

— Ah, vamos lá, Dodger, tudo o que você me contar, eu vou compartilhar com
o Keegan. — Ah! Ela realmente precisava me envolver nisso?

Ele balançou a cabeça com veemência. — Não. Este não é o momento nem o
lugar.

— Bem, você não é cavalheiresco? — Ela respondeu de forma sarcástica.

A frustração de Dodger aumentou e ele passou a mão em seus cabelos quase


pretos. — Eu juro por Deus, Mace. Não sei o que você quer de mim.

Ela ergueu os braços para o alto, frustrada. — Eu quero que você me foda!

Os olhos de Dodgers se arregalaram e depois se fecharam para ela. — Você está


forçando a barra. Se continuar assim, vou arrastá-la para fora daqui e levá-la
para casa.

— Oh, que bom. Então tenho certeza de que você vai me deixar em casa e me
deixar lá para cuidar das minhas próprias necessidades. Que cavalheiro. —
Suas palavras estavam cheias de veneno, e ela ainda nem estava bêbada.

Eu não queria estar aqui para isso e tenho certeza de que o Dodger gostaria que
os deixássemos sozinhos para resolver a situação. Tocando Macie no ombro, eu

119
lhe disse: — Vamos sair para sentar no pátio. Se precisar de mim, venha me
buscar.

Sem desviar o olhar, ela disse: — Está bem.

Luke pegou minha mão e me levou de volta para o meio da multidão. — O que
foi aquilo? — Ele gritou em meu ouvido.

— Longa história — gritei de volta.

Ao passarmos por grupos de garotas conversando e rindo, notei que algumas


delas notaram Luke. O ciúme correu em minhas veias. Ele era meu, senhoras,
segurem seus corações, pensei. Também observei todas as fantasias e como a
minha era surpreendentemente discreta. Havia biquínis mal feitos e trajes de
banho de coelhinhas da Playboy. Algumas garotas usavam roupas em que a
parte de trás ia até a bunda, como uma tanga. Eu me arrepiei. Eu nunca seria
pega de surpresa usando algo assim. Nem mesmo na privacidade da minha
própria casa. Os rapazes, por outro lado, tinham uma variedade de fantasias.
De Ace Ventura a Chippendales. Alguns deles me fizeram rir com sua
criatividade. Ao sairmos por um conjunto de portas francesas, entramos em um
deck muito grande que se estendia por toda a parte de trás da casa. Não havia
decorações de Halloween aqui, mas as tochas Tiki, apoiadas em suportes de
cilindros, iluminavam o quintal. Havia cerca de uma dúzia de espreguiçadeiras
espalhadas pelo deck. Um grupo de rapazes estava ao lado, conversando alto e
se divertindo.

— Ei, Luke! — Gritou uma voz masculina por cima da multidão. Várias cabeças
se viraram e olharam em nossa direção. Luke sorriu e fomos até onde eles
estavam sentados.

Luke segurou várias de suas mãos estendidas e todos se cumprimentaram.

— Keegan, quero que você conheça alguns dos meus irmãos da casa. Estes são
Holden, Brent e RJ. — Fiz um aceno tímido para os três. — E o resto desses
palhaços são calouros. — Houve um grunhido retumbante vindo dos homens
que estavam na minha frente. Tudo o que eu conseguia imaginar era cada um
deles sentado em frente a uma televisão com uma cerveja e as mãos nas calças.
A ideia me deu vontade de rir.

— Você não vai me apresentar, Luke? — Disse uma doce voz feminina por trás
de alguns dos rapazes que haviam se levantado, bloqueando sua visão.

Notei que o maxilar de Luke se movia para frente e para trás, e algo em sua
postura dizia que ele não tinha nenhum interesse em me contar quem era essa
garota.

— Keegan, esta é a Verônica. Roni, Keegan.

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— Ugh, eu gostaria que você parasse de me chamar assim. Esse apelido é tão
colegial, Luke — disse ela com um pouco de irritação. — Por favor, me chame
de Verônica. Ninguém mais me chama de Roni, exceto ele.

— Algumas coisas nunca mudam — disse ele em voz baixa.

Veronica estava sentada em uma cadeira, mas pude perceber que ela era alta.
Talvez até mais alta que Macie. Suas feições eram uma mistura de asiática e
caucasiana. Ela tinha longos cabelos negros que tocavam a parte superior dos
seios e um par de lábios carnudos e cheios. O que mais chamava a atenção nela
eram os cílios longos e cheios que cercavam os olhos de gato. A cor era quase
caramelo, o que eu nunca tinha visto antes. Por mais bonita que fosse, ela
também não me deixava muito feliz. Ela estava me olhando como se eu fosse,
de alguma forma, o inimigo entrando em seu território. Eu não tinha dúvidas
de que uma garota como ela tinha cada um desses rapazes sob controle. Tudo
bem. Eu não estava interessado em nenhum deles. No entanto, seria um
problema se ela estivesse interessada em Luke. Tínhamos saído juntos apenas
algumas vezes, mas foi o suficiente para que eu me sentisse possessiva em
relação a ele. A maneira como ela me olhava me deixava inquieta.

— Então, Keegan, o que você faz? — Perguntou Holden.

Quebrando o contato visual com Veronica, me virei para ele e disse: — Sou
estudante de enfermagem aqui na UG e trabalho nos registros médicos no
consultório do Dr. Hill.

Holden parecia um cara comum, cabelos e olhos castanhos. Nada realmente se


destacava nele. — Parece legal. Em que ano você está?

— Estou no meio do meu primeiro ano — afirmei com orgulho.

— Você está no primeiro ano e ainda não está no curso de enfermagem? —


Perguntou Verônica, interrompendo a conversa. Sua voz de repente estava se
tornando irritante.

— Pare com isso, Roni — repreendeu Luke. Eu odiava o fato de ele ter um apelido
para ela. Eu me perguntava há quanto tempo eles se conheciam.

— O quê? Só estou perguntando. A maioria dos alunos do primeiro ano já está


fazendo estágio no terceiro ano.

Limpando minha garganta, senti a necessidade de me defender. — Eu estaria,


mas optei por me conter. Não quero me inscrever sem ter certeza de que estou
dando o melhor de mim. O programa é altamente competitivo e quero garantir
que minhas notas estejam à altura. Optei por refazer algumas aulas de ciências.

121
Depois deste semestre, devo estar pronta para começar. Vou enviar minha
inscrição e, com sorte, saberei se entrei na primavera.

Luke estava sorrindo para mim, e notei que Verônica estava com o lábio
curvado. — Oh, bem, isso é bom, eu acho.

Assenti com a cabeça, incapaz de dizer qualquer outra coisa sem parecer rude.
Enquanto eu falava, percebi que o grupo de rapazes que eram calouros olhavam
para mim de vez em quando e depois voltavam para a conversa. Passei a língua
nos dentes da frente, consciente de que havia algo neles. Por que eu tinha a
nítida impressão de que estavam falando de mim? A mão de Luke roçou minhas
costas, fazendo-me voltar para os outros quatro que ainda estavam conversando
comigo. RJ e Brent tinham cabelos castanhos e olhos verdes. Na verdade,
quanto mais eu olhava para eles, percebia que poderiam se passar por gêmeos.
Com sua estatura alta e ombros largos, eu me perguntava se eles estavam no
time de futebol. Nada naqueles dois parecia normal. Na verdade, ambos eram
muito bonitos.

— Você está bem? — Perguntou Luke, encostando a testa em minha têmpora.

— Mmmhmm.

— Vocês parecem ter se aconchegado. — Acho que foi RJ quem disse isso.

Luke mais uma vez ficou rígido. — Acho que sim. Keegan é uma garota doce. —
Eu me inclinei ainda mais para ele diante de seu elogio.

Os sorrisos que se espalharam por aqueles quatro rostos fizeram algo em meu
estômago revirar. — É bom ouvir isso, Luke, é bom ouvir isso — disse Brent de
forma quase sarcástica.

— Então, até onde vocês levaram as coisas? — Perguntou RJ.

— Como? — Eu disse.

— Vá se foder, Brent. — Ok, eu tinha confundido os dois caras.

Levantando as mãos, com as palmas para fora, Brent disse: — Ei, cara, só estou
perguntando. Eu não sabia se vocês estavam falando sério. Talvez eu quisesse
convidar o Keegan para sair mais tarde.

Minhas sobrancelhas se franziram. — Isso é um pouco rude, você não acha?

Se olhares pudessem matar, Luke parecia querer esganar Brent. — Talvez —


disse ele com um encolher de ombros. — Mas, caso você não tenha entendido o
memorando, nós compartilhamos por aqui.

122
A risada que saiu da boca de Verônica me deixou doente. — Bem, eu não
compartilho.

— Ei, princesa, só estou dizendo que você é uma bela peça. E quando o Luke
acabar com você, eu ficaria feliz em dar uma volta. — Desta vez, foi RJ quem
falou.

— Chega! — Luke rosnou.

Eu estava tão atônita com o rumo que a conversa tomou que fiquei sem reação.
Precisando dar um passo para trás e me recompor, olhei para Luke e disse: —
Preciso ir ao banheiro.

Cerrando os dentes, ele acenou com a cabeça. — No final do corredor, é a


terceira porta à direita.

Sem olhar para trás, entrei correndo na casa e tentei encontrar o banheiro. Eu
precisava ficar sozinha. Quando encontrei a porta correta, tive de esperar que
duas outras meninas terminassem de usá-lo. Quando chegou a minha vez,
entrei e tranquei a porta. Encostada na madeira, tentei afastar a sensação de
pânico. Naquele momento, Camden me veio à mente. Se aqueles caras tivessem
dito tudo aquilo na frente dele, ele os teria jogado no chão. Luke parecia
igualmente chateado com a dureza deles, mas havia algo mais ali que o fez
morder a língua. Eu não conseguia identificar o que era, mas não estava certo.
Como nunca tinha participado de uma festa de fraternidade antes, tive que me
perguntar se esse era apenas o modo como esses caras se comportavam. Luke
nunca havia me tratado como um objeto sem importância, mas talvez em algum
momento ele tenha agido como eles. Ele estava na faculdade agora, então isso
deve ter feito com que ele crescesse um pouco e visse que as mulheres não eram
objetos de brincadeira. Eu merecia ser tratada com respeito. Apesar de minha
roupa ser um lixo, em qualquer outro dia, eu era muito reservada. Preparando-
me, decidi que não esperaria que Luke ou qualquer outra pessoa me defendesse.
Eu exigiria um certo nível de respeito desses caras, e eles precisariam saber que
eu não toleraria nada menos que isso. Lavando as mãos e verificando minha
maquiagem ridícula, eu me perguntava para onde Macie e Dodger tinham ido e
se tinham resolvido seus problemas. De jeito nenhum eles ficariam sentados
ouvindo o monte de besteiras que eu tinha acabado de ouvir. Secando minhas
mãos, destranquei a porta e entrei no corredor. Fui recebida pelos mesmos olhos
de gato que estavam me encarando do lado de fora.

— Está se divertindo? — Verônica perguntou, com um tom estranho.

— Acho que sim. Tudo isso — disse eu, olhando em volta. — Não é bem a minha
praia, mas estou me divertindo bastante.

— Foi tudo uma grande piada, você sabe disso, certo? — Ela me disse.

123
— Do que você está falando? — Perguntei, confuso.

— O Luke está saindo com você, trazendo você aqui para esta festa.

— Não estou entendendo.

Ela suspirou irritada. — É o que eles fazem. Eles encontram uma garota comum
para ver se ela se apaixona pelo cara e depois a trazem para esta festa para que
os amigos julguem o quanto ela está interessada. Eles fazem isso todo ano. —
Ela olhou casualmente para as unhas.

Eu balancei a cabeça. — O Luke nunca faria algo assim.

— Ah, é? Então você achava mesmo que alguém como ele iria se interessar por
alguém como você? Desculpe estourar sua bolha, querida, mas Luke e eu somos
um casal. Somos desde o ensino médio. Eu o deixei aceitar o desafio, porque o
vencedor ganha férias em Cozumel, e eu queria isso. Ele me dá tudo o que eu
quero. — Seus lábios carnudos se contorceram em um sorriso de aparência
sádica.

Minha cabeça estava girando e eu me sentia tonta. Colocando minha mão na


parede atrás de mim para me apoiar, eu disse: — Você está mentindo.

Seus ombros se levantaram e caíram em uma atitude indiferente. — Se não


acredita em mim, volte lá para fora. Os rapazes estão discutindo isso enquanto
falamos.

Passei por ela e fui até a porta dos fundos. Quando cheguei à maçaneta, girei-a
e hesitei em sair para o deque, tentando me manter discreta para não mostrar
que eu havia voltado. Tudo isso foi um grande erro. Ela só estava com ciúmes.
Verônica deve ter tido um relacionamento com Luke em algum momento, e ela
o queria de volta. Essa era a única explicação que eu conseguia encontrar. Por
um lado, ele nunca a mencionou para mim, não que estivéssemos juntos há
tempo suficiente para nos aprofundarmos em nossos relacionamentos
anteriores. E, segundo, eu não conseguia imaginar que ele me levasse para sair,
que me jantasse, que todas as risadas que compartilhamos e que até dormimos
juntos fossem apenas um estratagema. Coisas como essa não aconteciam na
vida real. Essa era a merda sobre a qual você lia em romances. Quando me
aproximei deles, fiquei escondida atrás das pessoas que estavam conversando,
ouvi Luke e os outros três com alguns dos calouros.

— Eu diria que é um negócio fechado. A garota que o RJ trouxe não está nem
aí para o fato de ela estar com ele. Na verdade, acabei de vê-la chupando a cara
de um cara do fim da rua.

124
— Sim, bem, a garota do Holden estava olhando para ele com olhos de
cachorrinho e parecia que ela teria se ajoelhado na frente de todos se ele
dissesse que a amava.

Houve uma rodada de risos. — O Luke tem isso na manga. Talvez, depois que
você der a notícia a ela, eu seja o único a juntar os cacos e ela me deixe acabar
com a tristeza dela.

— Vá se foder, cara. Deixe-a em paz, está bem?

Eu estava ficando irritada por não conseguir ouvir quem estava dizendo o quê,
mas isso não importava. Meu estômago estava preso em minha garganta. Tudo
o que Verônica disse era verdade. Tudo isso era para um grande jogo, e eu era
um peão para o Luke ganhar.

— Cara, não me diga que você está se apaixonando por ela. A Roni ficaria
furiosa.

— Não estou me apaixonando por ela. Mas ela é uma boa garota, certo? Eu a
conheci, só isso — argumentou Luke.

— De qualquer forma, idiotas, temos mais duas horas antes de encerrarmos o


assunto. Mantenham seus pares felizes e seus copos cheio — disse outra
pessoa.

Eu estava prestes a vomitar. Em vez de acabar com a farsa deles e deixá-los


saber que ouvi tudo o que disseram, corri de volta para dentro de casa. Olhando
em volta, freneticamente, meus olhos se moviam por toda parte em busca de
Macie ou Dodger. Eu me desviava das pessoas, esbarrando em algumas com
tanta força que achei que cairia. Eu estava tentando conter a bile que subia em
minha garganta, mas sabia que era apenas uma questão de tempo até que eu
jogasse meus biscoitos fora. Naquele momento, braços fortes me envolveram e
eu recuei contra o aperto. Pensei que fosse o Luke, que poderia ter entrado para
me encontrar, mas ouvi o Dodger perto do meu ouvido.

— Qual é o problema? — Sua voz profunda foi como um toque suave em meu
coração partido. Virando-me em seus braços, apertei-me em seu peito e deixei
que ele me abraçasse. As lágrimas começaram a escorrer livremente pelo meu
rosto, e percebi que o estava preocupando. Afastando-se um pouco, ele inclinou
meu queixo para cima. — Me diga o que aconteceu?

Mordi meu lábio trêmulo para não explodir em lágrimas. — Não posso falar
sobre isso agora. Você pode apenas me levar para casa?

Seus olhos azuis procuraram os meus. — Foi o Luke que fez isso? Vou dar uma
surra nele se ele a machucar. Ele tocouem você?

125
Balancei a cabeça. — Não, não foi nada disso. Por favor, Dodger, quero ir para
casa.

Ele estreitou os olhos para mim e assentiu. — Deixe-me ver se consigo encontrar
a Macie. Dê-me só um segundo.

Eu me dirigi lentamente para a porta da frente, quando ouvi Luke me chamando


dos fundos da casa. Ao me virar, vi-o acenando e sorrindo para mim, mas o
sorriso desapareceu quando ele viu meu rosto. Ele começou a vir em minha
direção. Eu não queria fazer isso agora. Estava muito chateada e não queria
nada mais do que tirar essas roupas e deitar na minha cama. Se ele chegasse
até mim agora, eu ficaria muito tentada a lhe dar um tapa na cara pela forma
como ele me tratou. Dodger se aproximou com Macie junto, com a preocupação
estampada no rosto de ambos.

— Rápido, temos que ir — eu disse, desesperada para sair daqui e me afastar


do barulho dos alto-falantes.

Dodger se virou quando ouviu Luke chamar meu nome novamente. Olhando
por cima do meu ombro, vi que o arrependimento estava estampado nele. Acho
que ele sabia que eu sabia. Ele não deveria estar feliz? Ele conseguiu o que
queria. Ganhou seu concurso estúpido. Agora ele podia voltar para a Verônica
e me deixar em paz.

— Keegan, espere! — Gritou ele. Algumas pessoas pararam o que estavam


fazendo para ver a cena que estava se desenrolando.

— Leve-a para o carro. Estarei lá em um minuto — ele instruiu Macie.

Agarrei seu antebraço e fiquei balançando a cabeça para frente e para trás. —
Não, Dodger. Deixe isso para lá, está bem? Não foi nada demais, eu só quero ir
para casa. Por favor! — Eu implorei.

A indecisão estava estampada em seu rosto. Ele olhou de mim para a minha
melhor amiga, finalmente decidindo que queria que fôssemos para o carro sem
ele. O fato de não saber o que Dodger iria fazer me deixou ainda mais doente.
Eu não queria que ele se envolvesse em nenhuma briga por minha causa. E,
infelizmente, também não queria que o Luke se machucasse. Macie pegou
minha mão e me arrastou para fora, até o carro. Quando cheguei ao meio-fio,
dobrei-me ao meio e perdi meu jantar. O ácido estava queimando minha
garganta e o gosto do álcool regurgitado me fez vomitar novamente. Por que isso
estava acontecendo comigo? Não era assim que eu via a noite de hoje. Quando
meu estômago se esvaziou de tudo o que eu havia ingerido hoje, subi no banco
de trás do carro. Macie entrou do outro lado e me puxou para o seu colo. Com
minha cabeça apoiada em suas pernas, finalmente me senti segura o suficiente
para me soltar. O soluço que saiu de meu peito foi doloroso. Nunca havia me
sentido tão usada em minha vida. Eu me agarrei à Macie como se ela fosse

126
minha tábua de salvação. Ela era minha rede de segurança. Ela sempre esteve
aqui para mim, e eu não poderia estar mais grato pelo fato de meu lugar macio
para cair estar aqui comigo esta noite.

— Quer falar sobre isso? — Ela perguntou baixinho.

Balancei a cabeça. A porta do motorista abriu e fechou. Levantei a cabeça para


ver que Dodger tinha entrado e estava ligando o carro. Seu rosto estava sério.

— O que aconteceu? — Macie perguntou a ele.

— Não se preocupe com isso. Vamos apenas levá-la para casa. — Eu o vi pegar
o celular que havia deixado no porta-copos, apertar alguns botões e colocá-lo
de volta no lugar. Perguntei-me brevemente para quem ele estava enviando
mensagens de texto, mas não dei muita importância.

A viagem de volta para casa foi curta, mas tranquila. Macie continuou a passar
os dedos pelo meu cabelo, acalmando meus nervos e silenciosamente me dando
força. Nenhum deles fez perguntas, mas sabiam que foi Luke quem me chateou.
Eu contaria a eles sobre isso mais tarde, mas agora eu estava agradecida pela
reticência deles. Eu não tinha dúvidas de que Macie estava cheia de perguntas,
mas ela me conhecia bem o suficiente para saber que eu não iria falar tão cedo.
A última vez que fiquei tão chateada foi quando mamãe me disse que estava
grávida de Sarah. Isso virou meu mundo de cabeça para baixo, e Macie veio me
consolar. Colocamos N'Sync no repeat e comemos sorvete de chocolate até tarde
da noite. Naquela época, eu também não falava muito, apenas me apoiava na
força e na companhia da minha melhor amiga. Eu precisava processar como
isso mudaria as coisas para mim, como minha vida seria diferente. No momento,
estava tudo igual. O que Luke fez foi doloroso. Isso tinha me atingido em cheio.
Na maior parte de minha vida, nunca me senti especial, como se merecesse algo
excepcional. O convite de Luke para sair foi a primeira vez que baixei a guarda
e me permiti pensar que eu poderia ser boa o suficiente para alguém como ele.
Alguém inteligente, bonito, carismático e divertido: o homem dos contos de
fadas. Eu não estava nem perto de me apaixonar por ele. Mas abrir a caixa que
permitia que essa ideia penetrasse em minha concha, o simples pensamento de
que poderíamos ter tido algo especial, fez com que a dor fosse ainda pior. Eu
ergui muros ao meu redor por um motivo.

Ao chegar ao estacionamento do complexo de apartamentos, sentei-me e limpei


os olhos. Macie me lançou um olhar triste, mas compreensivo. Eu estava
cansada e pronta para lavar o rosto e dormir. Dodger abriu minha porta e me
ajudou a sair do carro. Eu tinha tirado os saltos mais cedo, então o chão estava
áspero em meus pés. Sem nem mesmo pedir, Dodger se aproximou e passou os
braços por baixo dos meus joelhos e em volta das minhas costas, pegando-me
para me carregar. Foi um gesto gentil e pelo qual fiquei grata. Descansei minha
bochecha em seu peito enquanto ele subia os degraus e abria a porta da frente.
Macie vinha atrás de nós carregando minha bolsa, jaqueta e sapatos. Ele ficou

127
de lado para deixar Macie entrar e fechou a porta com um chute atrás de si.
Olhei para ele e lhe dei um sorriso hesitante. Foi tudo o que consegui fazer.

Um cheiro forte de suor e Camden se aproximou do outro lado. Mas que diabos?
Olhando em direção à sala de estar, Camden estava a alguns metros de nós e
vindo em minha direção. Sua mandíbula estava rígida, e eu nunca o tinha visto
tão irritado.

— Me conte tudo — ele exigiu.

128
CAPÍTULO - 11
EU NÃO ENTENDIA MINHA REAÇÃO ao ver Camden vindo em minha direção.
Era como se eu tivesse uma visão, e ele era tudo o que eu conseguia ver. Todo
o resto ao meu redor desapareceu, e eu precisava dele. Precisava ouvir sua voz
e estar em sua presença. Ao me soltar dos braços de Dodger, ouvi um "ooof"
silencioso antes de meus pés atingirem o chão. Ops, devo ter lhe dado uma
cotovelada sem querer. Apressei os últimos passos até Camden, sem tirar os
olhos dele. Joguei-me em seus braços, ele me pegou e um jato de ar saiu de
mim. Inspirei profundamente quando enterrei meu nariz em seu pescoço e senti
seus braços me envolverem, segurando-me com força. Ele deve ter acabado de
voltar da academia. O almíscar de seu suor misturado com o sabão em pó que
nós dois usávamos se espalhava por ele. Senti seu peito roncar contra o meu,
mas bloqueei tudo. Tudo, menos ele. Presumi que ele estivesse falando com
Dodger, mas ignorei tudo. Simplesmente fiquei quieta, deixando o calor desse
homem penetrar em meus poros, fazendo com que eu me sentisse segura. Por
que eu precisava dele assim? Tínhamos brigado há apenas algumas horas, e eu
lhe dei um tapa no rosto. Ele deveria estar me afastando e me internando no
hospício pela forma como eu estava me comportando agora. Só que não estava.
O olhar de raiva que ele tinha quando entramos pela porta não era dirigido a
mim, mas à situação. Era para Dodger, exigindo que ele explicasse o que tinha
acontecido. Quando corri até ele, seus olhos castanhos se suavizaram. Nos
poucos instantes antes de eu atingi-lo como um trem de carga, seu olhar para
mim era de perdão.

— Espere, Blue — ele murmurou em meu ouvido.

Acenei com a cabeça na curva de seu pescoço e apertei meus braços ao redor
dele. Ele me pegou da mesma forma que Dodger e nos levou pela casa. Eu não
tinha ideia se Macie e Dodger ainda estavam aqui, e não me importava muito.
Tudo o que importava para mim era que, a cada respiração que eu inspirava,
era Camden que estava ao meu redor. Embora eu soubesse que Macie teria um
monte de perguntas para me fazer mais tarde. Não apenas sobre o incidente da
festa, mas também sobre toda a Scarlett O'Hare que acabei de fazer com
Camden.

Senti o sutil empurrão como se estivéssemos subindo os degraus e admirei a


facilidade com que Camden me carregava, como se eu não pesasse mais do que
uma pena. Ele empurrou uma porta e entrou, fechando-a com um chute atrás
de si. Pensando que estávamos no meu quarto, levantei a cabeça na expectativa
de que ele fosse me colocar na cama. Mas quando meus olhos se ajustaram à
luz fraca que entrava pelas janelas do poste de luz, percebi que estávamos no

129
quarto de Camden. Eu nunca tinha estado em seu quarto antes. Nunca havia
me sentido confortável o suficiente para pisar aqui. Mesmo antes de assinar
meu contrato de aluguel, eu só tinha dado uma breve olhada nesse quarto.
Fiquei ali, observando o ambiente depois que ele me colocou no chão, querendo
nada mais do que andar por ali e olhar cada coisa que ele obviamente achava
importante o suficiente para exibir. Camden se afastou de mim para pegar algo
em sua cômoda. Quando voltou, estendeu a mão. Ele estava me dando uma de
suas camisetas.

— Camden — eu disse, com a voz embargada pelo choro. — Meu quarto é do


outro lado do corredor, posso pegar uma de minhas próprias camisetas para
dormir.

Ele balançou a cabeça. — Esta noite não, Blue. Quero você com minhas roupas
e deitada na minha cama.

Peguei a camisa dele, engolindo com dificuldade. — Você poderia se virar, por
favor?

O sorriso doce que ele deu derreteu meu coração. Não era o sorriso habitual ou
o sorriso arrogante que ele me mostrava diariamente. Esse era gentil e
complacente. — Na verdade, vou sair por um minuto.

Ele saiu, fechando a porta atrás de si. Rapidamente, tirei a roupa desconfortável
do meu corpo. Joguei-a no chão, desejando poder levá-la para o andar de baixo
e queimá-la na pia ou algo assim. Prometi a mim mesma que nunca mais seria
pega de surpresa vestindo algo tão provocante. Tudo o que fiz foi me fazer de
boba. Eu não devia usar roupas como aquelas. Eu não pertencia àquela
fraternidade como uma típica garota de grupo da faculdade. E certamente não
pertencia a um cara como Luke. Eu me repreendi por pensar que poderíamos
ter tido algo. Odiei ter me feito acreditar que ele poderia realmente gostar de
mim. Eu não conseguia fazer com que minha mente se envolvesse com as
palavras que estavam tocando repetidamente em minha cabeça. Tudo não
passava de um jogo, uma competição estúpida que eles faziam todo ano. Mas
Luke era tão crível. Nada daquilo fazia sentido para mim. Não poderia ter sido
apenas um jogo para ele. Ele era tão carinhoso e suas palavras eram sinceras.
Ou será que eram? Será que eu realmente tinha sido tão estúpida? Sentei-me
na beirada da cama, com os braços ao lado do corpo e o cabelo cobrindo meu
rosto. Meus olhos estavam pesados por causa do choro, e os pensamentos
turbulentos estavam me deixando tonta. A cada minuto que passava, eu me
sentia mais confusa e mais perguntas surgiam. O leve clique da porta se abrindo
e fechando me alertou que Camden havia entrado novamente no quarto. Eu
queria olhar para ele, dar-lhe um sorriso seguro que o tranquilizasse de que eu
estava bem, mas não consegui. Fiquei ali sentada com a cabeça baixa,
mergulhada em meus pensamentos. Camden se ajoelhou na minha frente e eu
abri os olhos. Seus dedos levantaram gentilmente meu queixo e notei a toalha
de rosto em suas mãos.

130
— Vamos tirar um pouco dessa maquiagem — disse ele enquanto passava a
toalha quente com cuidado nos meus olhos. Eu provavelmente parecia um
guaxinim com todo o preto.

Mordi meu lábio, tentando manter as lágrimas afastadas enquanto o deixava


me limpar. Esse era um lado de Camden que eu nunca tinha visto antes. Fiquei
chocada com sua compaixão. Ele sempre era tão duro, nunca deixando ninguém
receber esse tipo de afeto dele.

— Por que você está sendo tão gentil comigo? — Sussurrei.

Ele fez uma pausa e me olhou. Seus olhos ardiam nos meus. Depois de alguns
instantes, ele continuou o que estava fazendo. — Uma garota como você nunca
deveria chorar, a menos que sejam lágrimas de felicidade.

Não havia como parar. Uma única lágrima escorreu do meu olho e desceu em
cascata pela minha bochecha. Camden estendeu a mão e a enxugou. — O que
eu fiz para ser tratada dessa forma?

Eu sabia que ele entendia a que eu estava me referindo. — Alguns caras


simplesmente não entendem o que têm. E há alguns que nunca mereceram ter
o que estava bem na frente deles. O Luke nunca valeu o chão que você pisou.

Eu funguei e dei um leve sorriso. — Obrigada.

Ele jogou o pano em um cesto que estava no canto. — Pelo quê?

— Por não dizer 'eu te avisei'.

Ele balançou a cabeça. Ao se levantar, inclinou a cabeça para mim. Recuei e me


deitei. Sua cama era tão aconchegante. A sedosidade de seus lençóis e a maciez
de seus travesseiros, eu poderia me esconder nesse lugar e não me mexer por
dias. Ele se sentou ao meu lado e afastou um fio de cabelo da minha testa.

— Eu lhe disse que isso não vai consertar o mal que foi feito a você, Keegan. —
Seus olhos eram tão suaves que tive de desviar o olhar.

Assenti com a cabeça. A delicadeza dos dedos de Camden passou pela minha
bochecha e pelo meu pescoço. Fechei os olhos e deixei a sensação penetrar em
mim. Ele estava me tocando como se eu fosse quebrável. Quando os abri
novamente, ele estava me observando com um olhar profundo.

— Conte-me o que aconteceu.

Suspirando alto, tentei me desligar da situação. Não queria mais chorar por
causa disso. Começando do início, contei tudo a Camden. Contei a ele sobre o

131
encontro com os três rapazes e como eles me fizeram sentir. Contei a ele sobre
a Veronica e como ela me encurralou do lado de fora do banheiro para revelar o
pequeno segredo deles. Quando finalmente cheguei à parte em que eu estava no
deque e escutei a conversa sobre tudo ser uma grande competição, pude ver
todas as veias do pescoço de Camden se sobressaindo. Suas narinas estavam
dilatadas e eu sabia que ele estava fazendo o possível para conter a raiva que
parecia estar sentindo. Meu lábio começou a tremer quando contei a ele que
encontrei Dodger e implorei para que me levasse para casa. Camden se virou,
sentou-se na cama e ergueu a metade superior do meu corpo para cobrir o dele.
Ele beijou o topo do meu cabelo e sussurrou: — Eu vou matá-lo — para si
mesmo.

— Essa foi praticamente a história toda. Estou me sentindo patética! Eu deveria


saber que não deveria acreditar que meu lugar era em um lugar como aquele e
agir como se eu me encaixasse. Não é assim que eu sou.

Camden grunhiu embaixo de mim e eu levantei a cabeça para olhar para ele. —
Quem é você? — Ele perguntou.

Com pesar, admiti: — Sou a garota que sempre é escolhida por último. Estou
acima do peso e pareço mais velha do que minha idade. Nunca tentei me
encaixar no grupo dos populares. Crescer com minha mãe me forçou a viver
uma vida além da minha idade. Suas ações exigiram que eu assumisse o papel
de mãe com Sarah, e acho que isso me impediu de fazer as coisas normais que
as crianças da minha idade faziam. — Levantei meus ombros e os deixei cair.
— Não há nada de extraordinário em mim. Mas eu me preocupo com as pessoas
e adoro ajudá-las. Foi praticamente por isso que escolhi a área de enfermagem.

Ele passou os dedos longos pelos meus cabelos ondulados. — Você não poderia
estar mais errada se isso lhe atingisse entre seus lindos olhos azuis. Você é
extraordinária.

— Como você sabe?

— Que você é extraordinária?

Balancei a cabeça. — Não, como você sabia sobre o Luke? Você me avisou sobre
ele, então como sabia?

Ele se enrijeceu. — Na época em que eu estava na escola, aquela fraternidade


era conhecida por fazer coisas desse tipo. Ouvi histórias em que eles levavam
as pessoas menos atraentes que conseguiam encontrar para essas festas e as
provocavam para se divertir. É por isso que eu nunca ia quando era convidado.

— Mas, mesmo assim, você me deixou ir a uma, sabendo muito bem que poderia
ter sido uma armadilha? — Eu me sentei, meu corpo estava meio virado para
ele enquanto eu me apoiava em meu braço.

132
— Não, não foi nada disso. Você não é nada parecida com o que costumavam
trazer para essas festas. Você é inteligente, engraçada, teimosa e linda de
morrer, Keegan. Como eu poderia saber que eles mudaram o jogo?

— Que tal o simples fato de que eles até jogavam jogos como esse? Você deveria
ter me contado. Eu não teria chegado nem perto daquela casa se soubesse.

Ele cerrou os dentes, sua mandíbula estava firme. — Se você quiser me culpar
pela forma como esta noite se desenrolou, tudo bem, eu assumo o ônus disso.
Mas não pense nem por um segundo que eu acho que você mereceu o que
aconteceu. Eu a teria jogado por cima do ombro e a tirado de lá se soubesse que
você fazia parte do jogo deles. Diabos, eu oa teria amarrado, trancado no meu
armário e contado a todos que você estava doente se soubesse de antemão.
Como eu disse, eu não sabia que aqueles idiotas tinham mudado de tática. —
Ele se inclinou para frente e deslizou a mão por baixo do meu cabelo até meu
pescoço. — Isso vai acabar.

Minha pulsação acelerou ao seu toque, enquanto a confusão se instalava em


minhas feições. — O que vai acabar?

Seus olhos se tornaram duros, e meu Camden durão estava de volta. — Vou
encontrar cada um dos idiotas que tiveram a coragem de fazer isso com você e
eles vão desejar nunca ter entrado em uma fraternidade. Eles terão sorte se
ainda estiverem andando quando eu terminar com eles.

Meus olhos se arregalaram. — Camden, você não pode sair batendo em todo
mundo que fere meus sentimentos.

— Não posso, porra. Essa merda está acontecendo há anos. Talvez alguém
precise colocar o temor de Deus neles… ou reorganizar seus rostinhos bonitos.
— O sorriso que se espalhou por seus lábios foi assustador. — Eles se meteram
com a garota errada.

— Eu gostaria que você não fizesse isso. Brigar não resolve nada.

— Isso é engraçado, Keegan. Você parece a porra de um conselheiro escolar. —


Ele sorriu. — Luke sabe o que está por vir. Aposto que ele está tremendo em
suas botas arrogantes.

— Sério, Camden. Não. Apenas deixe isso de lado. Quero esquecer que essa
noite aconteceu. Está bem? Deixe. Deixe. Esqueça isso.

— Isso não vai acontecer, Blue.

Deitei minha cabeça de volta sobre ele e balancei a cabeça em frustração. Mais
uma batalha que eu não estava com vontade de travar com ele. Ele riu da minha

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resignação. Eu odiava que ele sentisse a necessidade de lutar por mim. Eu não
era uma defensora do uso dos punhos. Mas ele tinha razão, era bom que Luke
estivesse tremendo de medo. Não só Camden era totalmente capaz de lidar com
ele, mas eu tinha quase certeza de que perderia a paciência se o visse
novamente. Suspirando profundamente para Camden, me enterrei ao seu lado
e inalei seu cheiro novamente. A necessidade dele de me defender era doce, mas
mal orientada. Ele acabaria descobrindo que eu não era muito mais do que uma
simples garota que poderia oferecer uma boa amizade. Doía em meu coração o
fato de eu pensar tão pouco de mim, mas era o que eu achava que era verdade.
Eu queria Camden. Eu o queria mais do que meu próximo suspiro, mas a que
custo? A tristeza se infiltrou novamente em mim enquanto minhas pálpebras
ficavam tão pesadas que eu não conseguia mais mantê-las abertas. Enquanto
dormia, tive o pensamento assustador de que estava me apegando a esse
homem. Com todas as brigas apaixonadas e, às vezes, momentos mais suaves,
ele havia se tornado uma fonte de conforto. O apartamento não parecia apenas
um lar para mim, mas também Camden.

Ao abrir os olhos, vi que ainda estava escuro lá fora. Olhando para o relógio no
criado-mudo, vi que eram duas da manhã. Fechei os olhos e estiquei meus
músculos imóveis. A sensação da cama era estranha. Onde eu estava? Percebi
que não estava em meu quarto. Agarrando o lençol, puxei-o até o queixo. O
cheiro de Camden me inundou e eu gemi de contentamento. Eu estava em sua
cama e havia adormecido sobre ele. Só que, quando olhei em volta, ele não
estava no quarto. Para onde ele foi? Talvez ele tinha ido dormir no meu quarto
para me dar espaço. Eu não o culparia. Primeiro eu me joguei em cima dele e
chorei muito, depois ele se sentiu obrigado a cuidar de mim. Eu era a garota
carente. Aposto que foi por isso que o Luke me escolheu. Os eventos que
aconteceram apenas algumas horas atrás me atingiram como um caminhão
Mack. O jogo, as palavras deles, Verônica, Luke... tudo era real. Ele deve ter
percebido minha solidão e se concentrou em mim. Era como se eu fosse um alvo
fixo que estava piscando um sinal vermelho brilhante gritando ‘escolha-me, serei
sua próxima vítima.’ Lágrimas brotaram em meus olhos, e a tristeza que eu
sentia caiu sobre mim como um peso pesado. Por que eu? O que eu fiz nesta
vida para merecer isso? Fui uma filha decente na infância e cuidei da minha
irmãzinha como se fosse minha filha. Chegava ao meu trabalho na hora certa e
fazia o que era exigido de mim. E, do ponto de vista acadêmico, eu me superava.
Era como se o mundo estivesse pregando uma peça cruel em mim. Será que eu
estava tão desesperada por atenção que não percebi nenhum sinal de alerta em
Luke? Em algum momento ele fez algo que indicasse que tudo era fingimento?
Eu mexi com meu cérebro até o ponto de sentir dor. Uma dor profunda estava
se instalando logo acima dos meus olhos e me deixou enjoada. Eu me entreguei
a ele de todas as formas possíveis. Eu me senti tão estúpida.

134
Então, onde Camden se encaixava em tudo isso? Eu estava definitivamente
frustrada com ele por não ter me contado sobre a história da fraternidade. Se
ele sabia disso, deveria ter dito algo, não apenas ter me alertado para que eu
me afastasse de Luke. Eu achava que o único motivo para ele fazer isso era
ciúme. Que pensamento ridículo. Camden não poderia estar com ciúmes…
poderia? Eu sabia que havia algo entre nós, mas será que era o que eu pensava?
Claramente, meu histórico em desvendar os homens, não era muito bom. Mas
Camden havia me beijado, me levado à beira do orgasmo e me tocado como se
me desejasse tanto quanto eu o desejava. Eu não podia estar tão longe da
realidade.

Deslizando para fora da cama, peguei minhas roupas e fui até a porta. Ela não
estava totalmente fechada e notei que a água do chuveiro estava correndo. Por
que diabos ele estava tomando banho às duas da manhã? Bem, retiro o que
disse. Ele tinha acabado de voltar da academia quando o encontrei, então
provavelmente não teve a chance de se limpar antes de me pegar do chão. Fui
até o corredor e joguei a roupa de enfermeira que eu tanto odiava pela porta
aberta do meu quarto. Anotei mentalmente que jogaria aquela porcaria fora na
primeira oportunidade que tivesse. Virando-me e olhando para a porta do
banheiro, dei alguns passos em direção a ela, percebendo que a porta estava
aberta. O chuveiro que compartilhávamos não tinha uma cortina pendurada em
um varão. Esse tinha uma porta de vidro. Ao olhar para dentro, o banheiro
inteiro estava embaçado. O vidro atrás do qual ele se encontrava estava
embaçado, mas consegui ver sua figura do outro lado. Engolindo com
dificuldade, senti que meu coração estava na garganta. O que eu estava
fazendo? Desde quando eu havia me tornado uma bisbilhoteira? Eu sabia que
deveria voltar para o meu quarto, como havia planejado, mas algo estava me
prendendo aqui. Observei enquanto seus braços musculosos se erguiam e
passavam várias vezes pelos cabelos, a espuma branca do xampu escorrendo
em cascata pelo seu corpo. Eu estava fascinada. A luxúria e o desejo estavam
ardendo em minhas veias. Eu me sentia atraída por ele. Uma dor profunda
estava me empurrando para frente. Colocando minha mão na porta, abri-a com
dificuldade e dei um passo para dentro. Meus pensamentos estavam
enlouquecidos, gritando para que eu saísse dali e fingisse que não tinha entrado
como uma pequena pervertida. Mas eu não podia. Eu precisava de algo, e isso
estava me impulsionando a continuar andando. Eu observava fascinada como
se cada movimento de seu corpo fosse a coisa mais incrível que eu já tinha visto.
Ver suas mãos se movendo sobre o peito e descendo até o abdômen…
ensaboando áreas que eu desejava poder passar a língua. No momento em que
esse pensamento passou pela minha cabeça, seus olhos se arregalaram como
se ele tivesse me percebido. Eu me preparei, achando que ele iria gritar comigo
ou me expulsar. Em vez disso, ele inclinou a cabeça para o lado. Sua mão grande
se levantou e limpou o vidro para que ele pudesse me ver melhor. Ao me conectar
com seus olhos castanhos, fui atingida pela necessidade mais íntima de que ele
me tocasse… de que me abraçasse. Quer ele tenha entendido o que eu não
conseguia dizer em voz alta ou não, ele abriu a porta de vidro, sem quebrar o
contato visual.

135
Então, ele ficou na minha frente, completamente nu e parecendo um Adônis.
Você nunca sabe o quão sexy um homem pode parecer até que o deixe
completamente molhado e pingando água. Não há nada no mundo como isso!
Pelo menos não no caso de Camden. O ritmo do meu coração tropeçava,
tentando encontrar sua nova batida. Oh, Deus, o que eu estava fazendo? Senti
lágrimas nos olhos, e Camden percebeu minha mudança repentina.

Estendendo a mão para mim, ele disse: — Venha cá. — A voz saiu profunda e
rouca.

Dei um passo à frente e coloquei minha mão na dele. Dando-me um leve puxão,
ele me moveu até que eu estivesse de pé no chuveiro, de frente para ele. O ar
estava denso e úmido, dificultando a respiração completa. Ou talvez eu estivesse
apenas engasgando com minhas próprias palavras. Ele estava impedindo que a
maior parte da água me atingisse, mas pequenas gotas caíam em minha pele.
Eu estava usando apenas a camiseta dele e uma calcinha, mas o vapor no ar
me mantinha aquecida. Ou talvez o fato de estar na presença dele estivesse me
esquentando demais. Eu ainda não tinha deixado meus olhos percorrerem o
resto de seu corpo que estava à mostra. Eu já tinha entrado aqui, como uma
adolescente depravada tentando ver os produtos. Achei que não deveria tirar
vantagem da situação. Quando fiquei na frente dele, não consegui reunir
coragem para olhar para ele. Eu não sabia o que era isso, o que estava sentindo,
como deveria estar me sentindo. O constrangimento estava ofuscando todas as
outras emoções que estavam passando por mim. Sugando o máximo de ar
possível, eu estava prestes a lhe dizer ‘desculpe’ e ir embora quando ele colocou
os dedos sob meu queixo e forçou meus olhos a se encontrarem com os dele.

— O que está acontecendo nessa sua linda mente?

Suas palavras perfuraram meu coração. Meu lábio tremeu. — Qualquer coisa…
tudo.

— Quer falar sobre isso? — Lá vem ele de novo com suas palavras doces e
carinhosas. Eu não sabia como lidar com esse lado de Camden. Quando ele
brigava comigo, guerreava comigo, me irritava, eu conseguia lidar com ele. Eu
simplesmente revidava. Isso era estranho.

De uma só vez, minhas emoções afloraram e vieram à tona. Lágrimas jorravam


de meus olhos enquanto meus ombros tremiam com soluços pesados. Cobri
meu rosto com as mãos e tentei me afastar dele. — Desculpe-me, desculpe-me
— solucei.

— Ei, ei, o que é isso? — Perguntou ele, com os braços em volta de mim,
segurando-me em seu peito.

136
A confusão e a dor assolaram meu corpo como uma onda gigante. Ela me atingiu
em cheio quando eu não estava preparada. Nada parecia certo, mas em seus
braços tudo parecia certo. Era como se minha mente confusa fosse uma
contradição em termos. Como eu poderia explicar a ele que estava enojada com
o que foi feito comigo esta noite? Como expressar que me senti tão degradada e
usada que não queria sair de casa novamente? Eu estava tão envergonhada por
ter caído nessa armadilha. Por ter dormido com um cara que não fez nada além
de me usar. Como eu poderia dizer a ele que achava que talvez eu merecesse
isso? Que talvez fosse minha penitência. Tremi ainda mais, e seus braços me
apertaram com mais força. Como eu poderia dizer a Camden que eu o queria
mais do que qualquer outra coisa em minha vida? Que quando ele brigava
comigo, não só me deixava com raiva, mas também me fazia delirar de desejo.
Mesmo agora, eu ansiava por sentir sua pele na minha. Para saber como era
sentir a água escorregadia deslizar meus seios doloridos em seu peito. Queria
sentir seus dedos roçando em meu clitóris e me levando à beira do orgasmo.
Meu corpo atormentado não conseguia decidir o que queria fazer, então chorei
mais um pouco.

Não tenho ideia de quanto tempo fiquei ali em seus braços chorando, mas à
medida que minhas lágrimas diminuíam, pude respirar mais profundamente.
Fiquei muito ciente do abraço de Camden em mim. Eu estava apertada com
força em seu calor, e não pude deixar de notar a ereção óbvia que estava cravada
em meu estômago. Eu me mexi um pouco para reajustar minha posição. Ele
sibilou com a sensação. Meus olhos se voltaram para os dele, e ele sabia que eu
sabia. Observei seu olhar mudar de gentil e carinhoso para sombrio e tóxico em
questão de segundos. O marrom de seus olhos foi completamente engolido pelas
pupilas negras. Seu pomo de Adão balançou. Passando as mãos pelos meus
braços, as pontas de seus dedos percorreram a bainha de sua camisa, roçando
a parte superior de minhas coxas. Inspirei fundo. Seus olhos se estreitaram
para mim e, naquele momento, eu soube que não conseguiria impedir isso. Eu
não queria. Ele levantou a camisa alguns centímetros, avaliando minha reação.
Esperou que eu lhe dissesse que estava tudo bem, que era isso que eu queria.
Acenei levemente com a cabeça, dando-lhe permissão para continuar. Enquanto
ele levantava o tecido, tive um pensamento fugaz de que não estava usando
sutiã. Camden estava prestes a ver muito de mim. Eu deveria ter me preocupado
se estava usando minha linda calcinha de renda, mas estava mais preocupada
com meu corpo. Lembrei-me das últimas garotas que ele havia trazido para casa
e como elas eram. Eu ainda não estava no meu peso ideal e odiava o fato de ter
medo de que ele me achasse grande demais ou pouco atraente. Ele percebeu
minha apreensão quando colocou a camiseta até a altura do meu umbigo.
Inclinando-se para a frente, encostou a testa na minha.

— Limpe sua mente, Keegan. Você é perfeita.

— Eu não me pareço com as outras garotas, Camden.

— Eu sei. É isso que a torna perfeita.

137
E, sem mais nem menos, ele me convenceu. Levantei meus braços acima da
cabeça. Como se estivesse se movendo em câmera lenta, o tecido subiu sobre
minha barriga, meus seios, minha cabeça e depois meus braços. Cada um deles
formigava quando o ar úmido os atingia. Quando ele deixou a camisa cair no
chão, deixei meus braços voltarem para o lado do corpo. Observei enquanto
seus olhos castanhos viajavam do meu rosto para os meus seios. Cada uma de
minhas terminações nervosas estava em chamas. Meus seios se arrepiaram sob
seu olhar atento. Tive vontade de levantar a mão e me cobrir, mas me contive.

— Tire a calcinha. — Ele falou tão profundamente que era como um estrondo
baixo em seu peito.

Meu rosto ficou vermelho, e eu estava me sentindo tímida. — Você… você quer
tirar tudo? — Gaguejei.

— Quero ver você. Não quero nada no meu caminho quando eu tocar em você.
A calcinha, Keegan, agora — ele exigiu.

Minhas mãos tremiam com um nervosismo que eu nunca tinha visto antes, mas
obedeci. Enganchando os dedos em minha calcinha de seda preta, deslizei-a
pelas coxas e deixei-a cair aos meus pés. Levantei um pé de cada vez e saí de
dentro dela. Eu estava completamente nua para Camden, e ele para mim. Ele
se aproximou e tocou meu quadril não mais coberto com o mais sutil dos toques.
Enquanto ele olhava para o meu corpo nu, finalmente me dei permissão para
ver tudo o que era Camden. Minha boca se abriu com a visão. Ele era muito
mais dotado do que eu imaginava. Eram vários centímetros de pele aveludada
com uma cabeça lisa que chamava a atenção. Eu já havia sentido seu pau
contra mim antes, mas não sabia dizer o quão grande ele realmente era.

— Está gostando da vista, Blue?

Ack! Ele me pegou olhando. — Não! Eu só estava notando essa pequena sarda
do seu lado.

— Então você não gosta do que está vendo? — Ele provocou.

— Sim! Não! Espere… qual foi a pergunta?

Camden deu uma risadinha. — Não tem problema em olhar — disse ele,
tentando aliviar a atmosfera tensa.

— Nesse caso, eu olhei, mas não vi nada de especial. — Dei de ombros com
indiferença.

Ele deu uma risada. — Sabe, isso não estaria certo se essa sua pequena atitude
não viesse à tona.

138
— Que atitude? Eu lhe mostrei o meu, você me mostrou o seu e eu disse que
não estava impressionada. Agora estou pronta para dormir. — Eu sabia muito
bem que estava cutucando um urso adormecido, mas Camden era o meu urso
e eu estava pronta para a perseguição.

Sua mão forte se estendeu e envolveu meu bíceps. Ao puxar minhas costas para
ele, meu corpo ficou alinhado com o dele. Seu pênis encostou na fenda da minha
bunda, e minha pele ficou arrepiada. Ele grunhiu em meu ouvido e disse: —
Falaremos mais tarde sobre como você ficou impressionada quando eu a fiz
gritar meu nome. Mas, enquanto isso, vamos deixar uma coisa bem clara. Não
há como voltar atrás. — A mão que não estava segurando meu braço se
espalhou pelo meu estômago. — Quando eu tocar em você, você vai implorar
por mais. Ficará ofegante para que eu a toque de todas as formas humanamente
possíveis. — Dedos duros e calejados desceram para tocar meu sexo. Gemi alto,
desejando muito que ele me abrisse e me tocasse onde eu queria. Beliscando
minha orelha, ele disse: — E quando eu transar com você, você saberá que
ninguém mais é dono dessa buceta além de mim. — Meu corpo inteiro tremeu
de desejo. Um dedo hábil deslizou entre minhas dobras e circulou meu clitóris
várias vezes até que meus joelhos ameaçaram ceder. Quando o ambiente ao
meu redor começou a se dissipar, ele parou de repente e eu gemi com a perda.
Senti seus lábios formarem um sorriso, ele sabia que me tinha. — Isso… tudo
isso. — Ele pressionou seu pau entre a minha bunda e estendeu a mão para
tocar meu seio. — Isso não vai acontecer a menos que você me diga uma coisa.

Eu estava respirando tão forte e minha mente estava tão perdida para ele que
não sabia como responder: — O quê?

— Que você é minha.

Ele beliscou meu seio novamente, desta vez com mais força, e isso enviou um
choque de prazer direto para o meu centro. Eu bati minha bunda contra
Camden. Ele gemeu e deu um tapa com a mão nela. Isso me assustou, mas
intensificou minha necessidade.

Rindo, ele disse: — Garota safada. Dê-me o que eu quero primeiro. Você é
minha, Keegan. Não vou compartilhá-la com mais ninguém. Diga isso.

— Sim — eu disse, sem fôlego.

— Sim o quê?

Meu Deus! Por que ele estava me provocando? — Jesus Cristo Camden… por
favor! Eu preciso de você.

— Me dê o que eu quero.

139
Virei meu rosto para ele e o encarei. — Bunda teimosa.

— Keegan. — Ele disse meu nome em tom de advertência.

Eu lutei com ele porque sabia que ele gostava, e ele sabia que eu gostava. Era o
que fazíamos. Nós dois sabíamos que eu cederia, mas eu gostava de provocá-lo.

— Sim, eu sou sua. Só sua.

O sorriso brilhante que ele me deu fez com que tudo isso valesse a pena. —
Ótimo, agora é hora de nos divertirmos. — Ele disse, desligando o chuveiro e me
conduzindo para fora do banheiro e para seu quarto.

140
CAPÍTULO - 12
MEU CORPO ESTAVA LITERALMENTE TREMENDO de desejo. Só que, quando
ele me levou de volta ao seu quarto com a mão na parte inferior das minhas
costas, meus nervos ficaram a flor da pele. Meu coração começou a palpitar por
um motivo totalmente diferente: eu estava nervosa. Eu estava prestes a cruzar
uma linha com ele que mudaria o curso de nosso estranho e tumultuado
relacionamento. Ao sentir seus lábios roçarem em meu ombro nu, não houve
reservas. Eu queria isso. Ele queria isso. Mas a vozinha no fundo da minha
cabeça estava me dizendo que isso poderia dar errado. Quando cheguei aos pés
de sua cama, parei, esperando que ele indicasse o que eu deveria fazer em
seguida. Nunca me importei em ser a dominante quando me sentia confortável
com alguém no quarto, mas esse não era o caso aqui. Camden era o dominante.
Eu podia dizer que ele seria o instrutor, e eu seria sua aluna. Estremeci ao saber
que estava prestes a ser treinada em uma arte totalmente nova da paixão.

Mãos grandes passaram de meus cotovelos para meus ombros. Lentamente, eu


me virei em seus braços. Os olhos de Camden estavam ardentes, e esse olhar,
por si só, me fez fraquejar. Seu tamanho imenso bloqueava o espaço atrás dele.
Eu adorava o fato de que tudo nele fazia com que eu me sentisse pequena. Ele
aproximou sua boca da minha, parando a uma respiração de distância dos
meus lábios. De alguma forma, eu sabia instintivamente que ele estava me
persuadindo a avançar. Ele queria que eu fechasse o último centímetro para ele,
mostrando-lhe que essa era uma decisão minha e não algo que ele estava me
seduzindo. Não houve hesitação. Eu o queria. Precisava dele agora. Queria que
ele me envolvesse. Queria que ele me abraçasse, que se movesse dentro de mim
e me proporcionasse um prazer maior do que o que eu já havia conhecido antes.
Movendo-me até a ponta dos pés, pressionei meus lábios contra os dele. Seu
gemido retumbante de aprovação me disse que eu havia lhe dado o que ele
estava pedindo. Seus dedos mergulharam em meu cabelo, agarrando minha
nuca. A sensação era possessiva. Separei meus lábios levemente e o senti tocar
meu lábio inferior com a língua. Envolvendo meus braços ao redor dele, eu me
moldei ao seu corpo. Podia sentir cada cume de músculo em minha pele nua.
Sua ereção estava pressionada entre nós. Quando ele empurrou mais para
dentro da minha boca, inclinei a cabeça para lhe dar melhor acesso. Camden
mordiscou e chupou meus lábios e minha língua, deixando-me incrivelmente
molhada. Quando seus quadris avançaram, meus joelhos já trêmulos cederam.
Seu braço me apoiou pelas costas, com um sorriso estampado nos lábios

— Se você já está tão receptiva assim, Blue, parece que sou eu quem vai se
deliciar.

141
— Você não faz ideia — eu respirei contra sua boca.

Ele se afastou um pouco e me mostrou seu sorriso brilhante. Ele era tão bonito.
Era o tipo de beleza que me tirava o fôlego com apenas um olhar. Do tipo que
era tão intenso que eu poderia me perder em suas profundezas marrons pelo
resto da minha vida. Elas eram expressivas e compreensivas. Eu estava me
afogando em tudo o que era Camden. Ele se abaixou e agarrou a parte de trás
das minhas pernas, levantando-me para que eu ficasse enrolada nele. Com
minhas pernas abertas e segurando-o pela cintura, minhas dobras se abriram
e seu pau foi pressionado contra o meu centro. O sorriso que estava nele se
dissipou, transformando-se em uma linha reta. O contato de sua pele sedosa e
dura contra meu clitóris foi mais do que eu podia suportar e gemi, minha cabeça
caindo para trás de prazer. Seus dedos estavam cravados em minha bunda,
segurando-me firmemente contra ele, enquanto eu me esfregava nele com mais
força.

Senti que estávamos nos movendo. Ele estava subindo na cama comigo
agarrada a ele, me deitando quando chegamos ao topo da cama. Os travesseiros
macios de pelúcia embaixo de mim eram uma contradição com a firmeza do
homem acima de mim. A boca de Camden voltou a se aproximar da minha em
um beijo abrasador que fez meu corpo tremer. Sua língua entrava e saía em um
ritmo que combinava com a forma como eu queria que ele se movesse dentro de
mim. Quando ele se separou do beijo, seus lábios desceram até minha
mandíbula e até o ponto atrás da minha orelha. Seu hálito soprando contra
minha pele sensível acendeu um fogo mais intenso em minha necessidade, eu
sabia que estava encharcada.

— Camden, meu Deus… por favor, me toque — eu gritei.

Seu tom de voz era baixo. — Aqui não é bom o suficiente? — Sua lambida
questionadora no lóbulo da minha orelha fez com que meus mamilos ficassem
arrepiados.

— Huh-uh.

— Que tal aqui? — Ele arrastou o nariz até minha clavícula e mordiscou minha
carne.

— Mais abaixo — sussurrei.

Ele desceu pelo meu corpo com seus lábios torturantes. Um dedo subiu e
circulou meu seio, depois o beliscou de leve. Sua boca foi para o outro e ele me
puxou para o seu calor úmido. Meu corpo se curvou, enquanto eu tentava obter
mais. Tentativamente, ele me soltou, seus dentes roçando o pico. — Você
gostaria que eu ficasse aqui ou devo continuar?

142
Minhas mãos se moveram para agarrar as dele e mantê-lo ali. Eu queria as
palmas de suas mãos em meus seios. Seus olhos quase negros se voltaram para
os meus. Soltando suas mãos de mim com facilidade, ele juntou meus pulsos e
os segurou em um de seus grandes punhos. Levantando meus braços acima da
cabeça, ele voltou ao nível dos meus olhos.

— Se você quer alguma coisa, peça — disse ele, levantando uma das
sobrancelhas. — Você não tem controle aqui, Keegan. Você é minha, e aqui, na
minha cama, eu domino você. — Eu choraminguei diante de sua ameaça. Ele
encostou sua testa na minha. A mão que não estava segurando meus pulsos
passou a traçar pequenos círculos infinitos em minha barriga. Isso fez cócegas,
me fazendo sugar. — Agora vou perguntar de novo, mais baixo?

— Sim — sussurrei.

Estava completamente nua. Não havia pelos para bloquear a sensação de seus
dedos sobre meu sexo. Seu dedo médio deslizou entre minhas dobras e deu uma
longa pincelada em meu clitóris inchado.

— Nossa, você está molhada — ele rosnou para mim.

Não consegui engolir o ruído agudo que veio do fundo da minha garganta.
Usando os outros dois dedos para me abrir, ele usou a ponta do seu dedo para
passar pelos nervos sensíveis. Seu pau estava pressionando minha perna, e eu
podia sentir que ele se movia contra mim para obter algum alívio. Minha cabeça
se voltou para a dele. Os movimentos da mão muito habilidosa de Camden
estavam se tornando irresistíveis. Foi só quando ele deslizou um longo dedo
dentro de mim que perdi todo o senso de controle. Eu estava em uma espiral e
não havia nada que eu não fizesse para conseguir o que eu precisava dele. Meu
orgasmo iminente já estava tão próximo que meus quadris começaram a
balançar para frente. Ele soltou minhas mãos e empurrou meus quadris para
baixo para me manter no lugar. Eu nunca havia sido tratada assim antes. O
orgasmo para mim sempre foi uma construção suave. Ele estava me atingindo
com força e eu estava pronta para cair do penhasco. Empurrando outro dedo
para dentro, senti Camden dobrá-los. Ele os deslizava para dentro e para fora,
enquanto cada golpe roçava no ponto dentro de mim que me fazia ver estrelas.
Minhas unhas se cravaram em seus ombros enquanto eu me agarrava a ele.

— Oh, merda, eu estou… eu preciso… eu… — Ofeguei as palavras, mas nada


soou coerente.

— Você está quase lá, querida, apenas deixe vir.

Suas palavras foram a minha ruína. Uma sensação de queimação em meu


estômago explodiu em uma série de sentimentos. Eu gritei enquanto ele
continuava a me penetrar. Os tremores que assolavam meu corpo eram
incontroláveis. Minhas pernas estavam se contorcendo, e minha cabeça se

143
debateu no travesseiro. Mordi meu lábio com tanta força que pude sentir o gosto
metálico do sangue. Sentia minhas paredes internas pulsando e agarrando-o à
medida que cada onda me dominava. Ao descer do ponto alto, pequenos
choques ainda me sacudiam, fazendo-me tremer. Seus dedos ainda estavam
dentro de mim, e ele os movia infinitamente. Abaixei a mão e envolvi seu pulso
para mantê-lo imóvel.

— Pare — gaguejei, meu corpo tentando recuperar o controle.

Ele deu um risinho de satisfação. — Essa foi uma das coisas mais incríveis que
já vi. — Ele deu uma pequena sacudida.

Eu gemi alto. Abrindo os olhos novamente, olhei para ele. Apertei seu pulso com
mais força para tentar mostrar meu ponto de vista. Tentei puxá-lo para fora de
mim, mas sabia que isso só me faria voltar a ter espasmos. — Não se mexa.
Meu Deus, por favor, não se mexa. Ainda não, preciso de um minuto. —

O olhar de admiração em seus olhos era algo impressionante. Não era que ele
estivesse me vendo pela primeira vez, mas era mais como se ele estivesse me
vendo sob uma nova luz. Beijando-me na ponta do nariz, ele desceu e lambeu o
seio que estava mais perto dele. Oh, merda, o que esse homem estava fazendo
comigo? Meus músculos tensos estavam se soltando, e seus movimentos
simples estavam me fortalecendo novamente.

— Pronto para mais? — Ele perguntou, enquanto sugava a aréola apertado em


sua boca.

— Porra, não pare. — Minhas costas se arquearam em direção a ele.

Ele se levantou para vir por cima de mim, com os dedos ainda no lugar. Camden
os retirou gentilmente e eu estremeci com a pequena onda de prazer que isso
provocou em mim. Olhando para baixo, vi como ele acariciava seu pau uma,
duas e uma, terceira vez antes de olhar para mim através de seus cílios escuros.
Engoli com força. Ele passou a cabeça lisa para cima e para baixo sobre meu
clitóris, cobrindo-se com meu líquido.

— Você está brilhando, Keegan. Gostaria que você pudesse ver o que estou
vendo agora. Seu cabelo em todo o meu travesseiro. Seus olhos azuis brilhantes
olhando para mim com uma inocência que me faz querer destruir o mundinho
em que você vive. E, porra… esse corpo incrível que parece não me cansar. —
Ele enfiou a ponta de si mesmo em mim e parou. — Aguente firme.

Aguentar o quê? Quando percebi que o controle dele estava caindo, levantei a
mão e me segurei na cabeceira da cama. Com um súbito impulso para frente,
ele bateu em mim. Gritei seu nome enquanto o prazer e a dor me atravessavam.
O corpo de Camden desceu e ele se segurou, pairando com as mãos apoiadas
em cada lado da minha cabeça. Ele se afastou um pouco antes de avançar

144
novamente. O ritmo constante foi algo que não levou tempo para meu corpo se
ajustar, pois ele fez isso várias vezes. Eu já podia sentir o clímax se formando
no fundo do meu estômago. Balançando os quadris, eu os levantei, tentando
acompanhá-lo em cada investida. O tamanho dele me fez sentir tão cheia e
esticada que, se ele fosse maior, não caberia. Eu já me sentia apertada ao redor
dele. Cada movimento de balanço de nossos corpos o fazia penetrar mais fundo.
Minha mente estava completamente perdida. Não havia quarto, nem cama, nem
cobertas, nem nada. Era apenas Camden. Eu estava inequivocamente
encantada por ele. Se ele parasse agora, eu tinha certeza de que morreria. Ele
estava em cada respiração minha, meu sangue pulsando em minhas veias, o
suor escorrendo de minha pele. Eu estava consumida.

Todo o meu ser estava cambaleando, pronto para flutuar para longe de outro
orgasmo iminente, quando ele se sentou e levantou meus quadris no ar. Minha
parte inferior das costas estava fora da cama, enquanto a metade superior de
mim ainda descansava onde estava. Camden tinha uma camada de suor em sua
testa que brilhava à luz da lua que entrava pela janela. Observei enquanto uma
gota de suor descia por seu peito magnífico até o umbigo. Se eu não estivesse
presa assim, eu me inclinaria para frente e lamberia seu incrível abdômen. Seus
dedos ásperos se cravaram em meus quadris. De alguma forma, com esse novo
ângulo, ele conseguiu ir mais fundo do que antes. Seus movimentos incansáveis
me levaram de volta à beira da explosão. Sua cabeça estava se esfregando tão
agressivamente contra meu ponto G que manchas escuras estavam se formando
em meus olhos. Meus ouvidos estavam zumbindo, e eu sentia como se ele
estivesse me fodendo sem sentido.

Ele gemeu profundamente em seu peito. — Sua boceta é tão apertada. Foi feita
para mim. Você é minha. Diga-me que você é minha.

Ele quer conversar? Agora? Eu não conseguia nem formar um pensamento


completo, muito menos ter ar suficiente para emitir uma frase. Minhas unhas
se agarravam aos lençóis e o balanço dos meus seios com o impulso dele foi
quase a minha ruína. Eu estava prestes a cair no precipício quando ele parou.
Eu estava ofegante. Se ele não estivesse me segurando, eu tinha certeza de que
daria um golpe nele por ter recuado.

Cerrando os dentes, ele disse: — Você sabe o que eu quero ouvir, Keegan.

Inclinei a cabeça para trás, recusando-me a olhar em seus olhos intensos.


Talvez se eu me abaixasse e usasse meus próprios dedos com ele ainda dentro
de mim, eu poderia ter um orgasmo decente. De qualquer forma, eu estava bem
ali, não daria muito trabalho. Comecei a fazer exatamente isso quando ele
agarrou minha mão e interrompeu meu movimento.

— De jeito nenhum, Blue. Seu prazer só vem de mim. Agora diga. — Não pude
evitar a risada que subiu pela minha garganta. A ação fez com que minha boceta
se fechasse em torno dele, porque ele soltou meu quadril, minha bunda apoiada

145
em suas pernas, e ele caiu para frente com um gemido. Ele disse uma série de
palavrões, e eu sorri.

— Desculpe-me, o que foi isso? — Coloquei a mão na orelha.

Sua cabeça se levantou e o olhar cruel que ele me lançou me fez fechar a boca.
Oh, ele estava prestes a gozar, assim como eu, mas estava torturando nós dois.
Desgraçado.

— Não estou brincando, Keegan.

Ele se inclinou para trás até quase sair de dentro de mim, e eu jurei que choraria
se ele me deixasse assim. Como eu estava tão perto do que provavelmente seria
o orgasmo mais alucinante da minha vida, pensei em escolher essa briga em
outro momento.

Levei minha mão livre até sua bochecha e passei os dedos em sua pele quente.
— Eu sou sua, Camden. Só sua.

Seus olhos não se desviaram dos meus. Ele se inclinou para frente e voltou a se
mover dentro de mim. Suspirei de alívio. Continuei a observá-lo enquanto ele
deslizava para dentro e para fora em um padrão de punição. Nós dois estávamos
tão excitados antes que seu movimento diminuísse que não demorou muito para
que eu voltasse ao momento de êxtase. Mais alguns empurrões. Quando minha
visão se turvou e meu corpo se arqueou, meu orgasmo me atingiu com força
brutal. Minhas pernas se fecharam e eu tremi, gritando o nome de Camden. Eu
o senti gaguejar acima de mim, e ele gritou de satisfação logo depois de mim.
Ele caiu em cima de mim, seu calor era quase demais. Ele me preencheu até o
ponto de transbordar, e pude sentir sua umidade escorrendo pela minha bunda.
Os tremores secundários nos abalaram, enquanto voltávamos da euforia.

Camden ainda estava dentro de mim quando levantou a cabeça, que estava
enterrada em meus cabelos. Ele parecia completamente saciado e sonolento.
Era mais um rosto novo que eu nunca tinha visto nele. Fiquei feliz em saber que
eu o havia deixado nesse estado de exaustão. Ele me deu um sorriso torto que
o fez parecer jovem e infantil. Ele afastou alguns fios de cabelo que estavam
grudados na minha testa e os colocou atrás da minha orelha.

— Como você está? — Perguntou ele, com a voz cansada e rouca.

— Bem — respondi, sem saber o que mais dizer.

À medida que a euforia do que acabáramos de fazer começou a se dissipar, e a


preocupação se instalou. Será que as coisas vão ficar estranhas entre nós? Será
que ele se arrependeu? O que ele achava disso, de mim? Eu não estava me
enganando e acreditando que era boa de cama, mas Camden era experiente.

146
Ficar em uma posição inferior teria sido um golpe para o meu ego. Na melhor
das hipóteses, eu esperava me encaixar em algum lugar no meio.

Inclinando a cabeça para o lado, ele me olhou com curiosidade. — É como se


todas as suas emoções estivessem escritas em seu rosto neste momento.
Respire, Keegan, quaisquer que sejam suas dúvidas e preocupações, deixe-as
de lado. Sinta o momento e esteja apenas no agora.

— Desde quando você se tornou um leitor de mentes e tão filosófico?

Ele sorriu para mim. — Não leio mentes, apenas entendo você. Já a observei o
suficiente para saber quando você não consegue relaxar. Assim. — Ele puxou
meu lábio, soltando-o dos meus dentes. — Ou isso. — Ele usou o polegar para
suavizar o vinco que provavelmente estava entre minhas sobrancelhas. — E
sempre tem seus olhos.

— O que tem eles? — Perguntei.

— Você olha por cima do meu ombro, nunca para mim quando está nervosa e
perdida em pensamentos. Gosto de contato visual, sei que está comigo quando
vejo esses olhos azuis de bebê olhando para os meus.

Suas palavras eram doces e carregadas de muito sentimento. Eu não sabia que
ele prestava atenção suficiente em mim para perceber certos hábitos. Senti um
rubor subir às minhas bochechas e olhei para a cor quente do chocolate que
refletia exatamente o que eu estava sentindo.

— Vou pegar algo para limpar. Já volto.

Apesar do sexo que tínhamos acabado de fazer, ele ainda tinha uma ereção
semidura que deslizou para fora de mim quando ele se levantou. O ar frio atingiu
minha pele nua no peito, e meu corpo estremeceu. Camden se levantou e puxou
as cobertas para cima de mim em um gesto muito terno e doce. Quando ele se
virou, tive uma visão completa da bunda que eu vinha admirando através das
roupas nos últimos meses. Ela certamente não decepcionou. Tomei nota para
sentir bem a bunda dele na próxima vez que estivéssemos juntos.

Espera aí… na próxima vez que estivermos juntos? Faríamos isso de novo?

Acho que nunca cheguei a pensar se isso era uma situação única, apenas para
tirar isso de nossos pensamentos, ou se ele realmente me queria. Eu tinha
certeza de uma coisa, e essa era a maneira como eu me sentia em relação a isso.
Toda noção preconcebida que eu tinha de Camden antes desta noite foi por água
abaixo. Eu gostava dele. Gostava muito dele. Eu não deveria, por causa da forma
como ele me tratou no passado, mas nada disso realmente importava.

147
Meus pensamentos foram interrompidos quando Camden voltou ao quarto com
uma toalha de rosto em uma mão e uma camiseta dobrada na outra. Ele se
aproximou da cama e notei que vestiu uma cueca preta bem justa. Levantei o
cobertor. Ele me entregou o pano e eu tentei me limpar discretamente. Ou ele
percebeu meu desconforto, ou estava sendo respeitoso, pois se sentou na
beirada da cama, de costas para mim. Quando terminei, joguei o pano sobre
seu ombro. Ele deu uma risadinha. Subindo novamente ao meu lado, ele me
puxou para perto de si, de modo que minhas costas ficassem à sua frente. Eu
me afundei nele, adorando a forma como seus bíceps amorteciam minha cabeça
e me apoiavam. Ele estava completamente enrolado em mim, fazendo com que
eu me sentisse segura.

— Você está dolorida? — Ele murmurou em meu ouvido.

Eu me mexi um pouco só para checar. Infelizmente, isso também fez com que
minha bunda batesse de volta nele, então ele cutucou minha lateral com os
dedos. Eu ri e me contorci mais um pouco. — Talvez um pouco, mas é bom.

Camden grunhiu, e eu o senti se ajustar. — Ótimo. Agora vamos dormir um


pouco. Foi uma noite muito longa. Vou preparar seu café da manhã.

Suspirei profundamente, sentindo meus músculos se soltarem e ficarem moles.


— Mmm… parece bom — eu disse, fechando os olhos.

— Se gemer assim de novo, nenhum de nós vai dormir — ele ameaçou.

Fechei a boca e sorri. — É bom saber Camden, é bom saber.

Ele soltou uma gargalhada e me apertou com força. Esse foi o fim da conversa
antes que nós dois desmaiássemos de exaustão.

148
CAPÍTULO - 13
A LUZ DO SOL DA MANHÃ ENTRAVA pelas frestas das cortinas. Abrindo os
olhos. Minha bochecha estava colada ao peito firme de Camden. Inspirei
profundamente e senti o cheiro de tudo o que era ele. Levantei o canto da boca
em um sorriso. Seu cheiro de sabonete ainda estava grudado em sua pele. Fiquei
tentada a lambê-lo, só para ver se o gosto dele era tão bom quanto o cheiro. Era
uma essência de dar água na boca. Se acordar nos braços de Camden seria
assim todos os dias, então me inscreva. Ele tinha uma mão apoiada no meu
quadril e uma das minhas pernas sobre a dele. Fiquei deitada ali, sentindo seu
coração bater sob minha palma. Sua respiração era profunda. Tentei não me
mexer, mas cuidadosamente levantei a cabeça e olhei para ele. Demorei um
pouco e deixei meus olhos percorrerem suas feições. Sua mandíbula forte não
parecia ser tão dura sob a luz e do ângulo em que eu estava deitada. Ele tinha
maçãs do rosto altas que lhe davam uma aparência esculpida. Os cílios longos
e escuros se espalhavam por suas pálpebras, e seu cabelo estava preso ao acaso.
Ele tinha uma aparência muito sutil de menino durante o sono. Era quase
acessível e não tão intimidador. Me virei para descansar minha bochecha no
mesmo recanto de seu ombro. Parecia um lugar que tinha sido feito só para
mim. Tentativamente, deixei meus dedos traçarem o padrão de seus abdominais
definidos e de seu peito esculpido. Ele era exatamente o tipo de homem que
garotas como eu admirava de longe, mas nunca poderiam ter.

— Vou ter que te dizer que isso faz cócegas. — Sua voz grogue e sonolenta soou
sob minha bochecha.

Eu sorri, sabendo que ele podia sentir isso. — Só estou olhando para tudo o que
é Camden.

Ele se mexeu um pouco, dando-me uma bela visão do V em sua cintura. — E o


que achamos de tudo o que sou eu? — Perguntou ele, divertido.

Escrevi meu nome com o dedo repetidamente em sua pele dourada, tentando
pensar nas palavras certas. — Bem… — Fiz uma pausa. É melhor deixar tudo
isso às claras. Camden e eu cruzamos uma barreira na noite passada, e talvez
seja hora de definir o que somos. — Acho que você é arrogante, teimoso, cheio
de si e pode ser um completo idiota.

Ele zombou: — Diga-me como você realmente se sente. — Eu podia sentir seu
estômago balançando para cima e para baixo com uma leve risada.

149
Levantei a cabeça para encará-lo. — Eu ainda não terminei. Agora, shhh… —
Ele levantou as mãos em um sinal para continuar. Coloquei minha cabeça de
volta em seu lugar especial. — Você é tudo isso, Camden. Mas também é
bondoso, caloroso, carinhoso, protetor, genuíno e engraçado. É como se todas
as suas qualidades negativas fossem ofuscadas pelas boas. E mesmo assim,
suas qualidades ruins podem ser transformadas em algo positivo. Como sua
teimosia. A maioria dos homens não toleraria meu sarcasmo. Eles o consideram
ofensivo e desagradável. Mas você, de alguma forma, o utiliza e o transforma em
um flerte estranho que acho que não entendo, mas pelo qual me sinto
estranhamente atraída.

— Hmmm… estou intrigado. Continue.

— Bem, ontem à noite você estava meio que… aqui para mim. Presumo que o
Dodger tenha lhe avisado que estávamos voltando para casa, mas quando
entramos pela porta, você estava com uma cara de quem queria bater na cara
de alguém.

— É porque eu queria.

Assenti com a cabeça. — Eu sei. Esse é o seu lado que me confunde.

Ele passou os dedos por minhas longas ondas. — O que você quer dizer com
isso?

— Camden, desde que me mudei para cá, as coisas não começaram com o pé
direito. Você foi cruel com suas palavras e agiu como se desejasse que eu nunca
tivesse entrado em seu apartamento. Ninguém nunca me fez sentir como se a
simples visão de mim o enojasse.

— Keegan, não foi assim que aconteceu — argumentou ele.

— Foi assim que aconteceu comigo. Você me disse algumas coisas que me
magoaram muito, e elas foram muito profundas. Meu peso parecia ser um
problema para você, mas suas palavras agora dizem o contrário. Percebe como
eu poderia estar me sentindo como um ioiô na minha cabeça?

— Sim, mas eu gostaria de ter a chance de explicar tudo isso.

Balancei a cabeça. — Ainda não. Preciso desabafar. — Ele suspirou em


resignação. — Eu gosto de você, Camden. Apesar de como os últimos meses se
desenrolaram entre nós, houve uma constante. Você sempre foi o protetor. Não
sei por que você assumiu esse papel, mas assumiu. Desde a noite em que trouxe
minha irmãzinha de volta para casa, até o fato de me dar ordens e me dizer o
que eu podia ou não fazer na academia, e depois me avisar sobre o Luke. Por
alguma razão, independentemente de como você se mostrou para mim no início,
você sempre esteve presente. Você entrou na minha vida quando eu não estava

150
pedindo e quando eu menos esperava. Por mais que você me irrite e eu tenha
planejado secretamente como matá-lo enquanto dormia, você cresceu em mim.

Pude sentir as vibrações de seu peito quando ele riu do que eu disse. —
Caramba, essa conversa está ficando cada vez melhor. — Levantei a mão e mexi
em seu mamilo. — Ai!

Ele agarrou meu pulso e me virou de costas, prendendo meus braços de cada
lado da minha cabeça. — Cuidado. Se você está querendo brincar, eu vou
brincar.

Eu estreitei meus olhos. — Então pare de rir de mim.

— Pare de dizer coisas engraçadas — ele retrucou.

— Nossa, você me deixa frustrada! Eu não estava tentando ser engraçada, eu


estava dizendo como você me faz sentir.

Ele se posicionou entre minhas pernas e rebolou os quadris até roçar em partes
de mim que ainda estavam sensíveis por causa da noite anterior.

— Então, diga-me como eu faço você se sentir.

Minhas pálpebras se fecharam e mordi o lábio para esconder meu gemido.

— Pare de me distrair — reclamei.

— Olhe para mim, Keegan. Deixe-me ver seus olhos. — Eu os abri e dei a ele
toda a minha atenção. — Boa menina, agora me diga como eu a faço se sentir.
Não vou distraí-la.

— Sim, claro, você é uma grande distração — murmurei baixinho, e ele deu uma
risadinha. Suspirei antes de continuar: — Veja, em algum momento, algo
mudou entre nós. Você deixou de ser apenas meu colega de quarto e passou a
ser a pessoa que eu espero ver quando chego em casa. Se você não está por
perto, fico imaginando o que está fazendo. Quando vou à academia, me pego
procurando por você. Houve até momentos em que senti você entrar em uma
sala e soube que seus olhos estavam em mim. Isso me dá calafrios e não sei o
que fazer a respeito. São muitas emoções confusas que eu não sei como
expressar, porque você deve ser uma das pessoas mais difíceis de entender que
eu já conheci.

Seus olhos castanhos pareciam brilhar para mim. — Já é minha vez de falar?

Assenti com a cabeça.

151
— Você é mesmo uma contradição em termos. Mas não é a única a se sentir
assim. Tudo começou quando eu a vi sentado no meu apartamento, prestes a
assinar o contrato de aluguel, e pensei: que porra o Dodger está fazendo agora?
Então você olhou para mim e foi como se meu mundo mudasse. Tudo o que eu
vi foram seus olhos azuis brilhantes e inocentes e foi isso. — Ele se sentou sobre
os calcanhares e esfregou a palma da mão no rosto. — Eu estava tão fodido.

— Como assim? — Eu perguntei.

O canto de sua boca se ergueu. — Porque com aquele olhar, eu sabia que você
era a garota que poderia me arruinar. — Camden balançou a cabeça como se
estivesse revendo seus pensamentos. — Eu não deveria ter dito a merda que
disse, e por isso sinto muito. Eu não sabia como lidar com você. Aqui estava
essa loirinha minúscula que invadiu meu espaço, precisando de um lugar para
ficar, e tudo o que eu queria fazer era empurrá-la de volta para fora da porta.
Desde então, você tem sido um tornado, destruindo todos os aspectos da minha
vida. Eu vivo de acordo com minhas rotinas, sempre vivi. Só que agora me vejo
chegando em casa mais cedo, porque sei que você está aqui. Chego em casa
para almoçar só para ouvir você me contar como foi seu dia. Qualquer coisa só
para estar perto de você. Esse é um território novo para mim, Keegan.

— Aceito seu pedido de desculpas, mas Camden, suas palavras sobre meu peso
ou sobre eu ser 'fácil' foram difíceis de engolir. Minha autoestima não é das mais
altas quando se trata do meu corpo. Minha confiança está em baixa.

Sua mandíbula se apertou. Não de uma forma irritada, mas mais do tipo ‘como
posso consertar isso’. — Eu fui um idiota. Quero dizer, eu trabalho em uma
academia. Sei como as pessoas podem se sentir inseguras, e nunca sou de
julgar. Não sei mais como lhe dizer que não quis dizer o que disse. Eu estava
tentando fazer com que você fosse embora. Você me tira do sério, Keegan.
Sempre estive com garotas altas e magras. Você é magra, mas tem essas curvas
graciosas e macias que me dão água na boca. — Ele terminou a frase lambendo
os lábios.

Olhei para baixo e senti um rubor subindo pelas minhas bochechas. —


Obrigada.

— De nada. Quero que fique confortável na minha frente. — Ele puxou o lençol.
— Não quero que esconda seu corpo quando eu quero ver tudo.

Eu me arrepiei com seu atrevimento. As coisas estavam começando a se


encaixar onde antes havia buracos. Eu não esperava que ele fosse tão direto em
seus sentimentos. Ainda insegura e inquieta, fiz a pergunta que estava pairando
em minha cabeça há dias. — Então, onde tudo isso nos deixa? O que está
acontecendo entre nós?

152
Camden agarrou meus braços e me puxou para uma posição sentada. Fiz
questão de levar o lençol comigo e cobrir meus seios. Ele percebeu e me deu um
sorriso diabólico. — Bem, posso lhe dizer onde isso não deixa você e o Luke. Ou
você e qualquer outra pessoa, aliás. Eu estava falando sério sobre o que disse
ontem à noite. Você é minha. Não vou compartilhar você.

Eu arqueei a sobrancelha e observei sua expressão séria. A menção do nome de


Luke irritou meus nervos. — Eu devo compartilhar você? Porque eu não posso
Camden. Já foi difícil o suficiente ver você entrar e sair com mulheres daqui
sem se importar com meus sentimentos. Mas se você está me reivindicando de
uma forma estranha, tipo homem das cavernas, então espero o mesmo de você.
Não estou dizendo que temos que colocar um rótulo nisso — fiz um sinal entre
nós com a mão. — Só preciso saber que, se eu for exclusiva, você também será.

Ele inclinou meu queixo para cima para que eu encontrasse seus olhos
enquanto ele se aproximava perigosamente de minha boca. — Acho que posso
lidar com isso.

Camden se aproximou para me beijar, mas eu recuei um centímetro. — Estou


falando sério, Brooks. Sou uma garota sensível. Se você me sacanear, a Macie
vai acabar com você.

Ele soltou uma gargalhada que soou tão despreocupada e relaxada que derreteu
meu coração. — Macie, hein, e quanto a você, assassina?

Eu sorri. — Tenho minhas maneiras de fazer você pagar.

— Tenho certeza de que você conhece bem um bastão.

Deslizei minha mão por seu peito e a coloquei em volta de seu pescoço. — Pode
apostar que sim — disse enquanto o puxava para mim em um beijo que poderia
ter acendido fogos de artifício.

Camden e eu ficamos na cama o resto da manhã e parte da tarde. Só nos


levantamos para ir ao banheiro ou quando ele desceu para preparar o café da
manhã e os sanduíches para o almoço. Eu teria dado qualquer coisa para ainda
estar ali, aconchegado em seu calor, mas tinha que encontrar Macie para jantar
e precisava ir buscar Sarah, porque não tínhamos passado muito tempo juntas
nos últimos três dias. Eu sentia falta dela. Ficar longe de Sarah por mais de um
dia era difícil. Eu a via todos os dias quando morava em casa, mas agora parecia
que o intervalo entre nossas visitas estava aumentando, e eu não gostava disso.
Sentada em meu carro, a caminho da casa da minha mãe, prometi fazer um
esforço maior para trazê-la ou levá-la a lugares diferentes.

153
Fiz um trabalho rápido para pegar Sarah na casa da minha mãe para não ter
que lidar com as vinte perguntas sobre quando eu a traria de volta para casa e
para onde iríamos. Quanto menos ela soubesse, melhor. Ela só queria saber
porque seria sua desculpa para sair de casa e fazer todas as coisas
irresponsáveis que ela normalmente fazia. Eu preferia não dar a ela essa
satisfação. Mamãe e eu ainda não estávamos nos melhores dias. Percebi que
Sarah estava bem quieta no trajeto até o restaurante, o que era completamente
fora do normal para minha irmã tagarela. Olhei para ela com preocupação.

— Ei, como você tem passado?

Ela deu de ombros. — Tudo bem.

— Como está indo a escola? Você ainda está tirando boas notas?

— Está tudo bem. Matemática está ficando mais difícil. A professora está nos
obrigando a fazer frações, e eu as odeio. Quando é que vou usá-las? — Disse ela
em tom irritado.

— Que tal quando você me ajudar a cozinhar? Você tem de saber as medidas
para que eu saiba quanto despejar ou colher — respondi.

Ela aproximou seus olhos dos meus no espelho. — Sim, mas nós não
cozinhamos mais juntas.

Inspirei um pouco de ar. Aparentemente, minha ausência foi notada não apenas
por mim, mas por ela também. Eu me senti péssima. — Ouça, Sarah, desculpe-
me por não ter aparecido muito ultimamente. Tenho tido muitas coisas para
fazer, e levei algum tempo para colocar tudo em ordem. Não quero ignorar você.
Está bem?

Lágrimas brilharam em seus olhinhos, e ela assentiu. — Sinto sua falta.


Costumávamos ficar juntas todos os dias. Agora somos só eu e mamãe, e ela
nem brinca comigo.

Engoli o nó que estava em minha garganta. — Também sinto sua falta. Por que
a mamãe não brinca com você?

Ela levantou os ombros e os deixou cair. — Ela diz que está ocupada e não pode.
E, em alguns dias, ela nem está em casa, e eu tenho que cuidar de mim mesma.
Fico entediada quando ninguém está lá.

Essa pequena informação foi uma completa novidade para mim. — Como assim,
ela não está em casa? Com que frequência ela deixa você sozinha?

— Algumas vezes por semana.

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— Por que você não me disse nada?

— Porque sempre que estamos juntas você está muito ocupado. Você também
não brinca comigo como costumava fazer.

Balancei a cabeça. — Sarah, se a mamãe deixar você sozinha em casa


novamente, quero que me ligue. Você não tem idade suficiente para ficar em
casa sem um adulto com você. Quando ela sai, ela fica fora por muito tempo ou
apenas alguns minutos?

— Os dois. Ontem ela ficou fora até depois do anoitecer. Tive de fazer meu
próprio jantar.

Oh, meu Deus. Minha mãe estava deixando minha irmãzinha de oito anos em
casa para cuidar de si mesma? Isso não era aceitável! Não morávamos em um
gueto nem nada do gênero, mas também não conhecíamos muitos de nossos
vizinhos. Qualquer coisa poderia acontecer com Sarah enquanto ela estivesse
fora. Lembrei-me de quando tinha a idade dela e precisava cuidar de mim
mesma. Eu gostava de acreditar que tinha um pouco mais de responsabilidade
e conhecimento do que Sarah naquela época, porque já fazia isso há algum
tempo. Eu não tinha mais ninguém para fazer minhas refeições ou me levar ao
parque. Ela não era tão autossuficiente. Tentei ensinar à minha irmãzinha o
que fazer em caso de emergência e a não falar com estranhos, mas não tinha
certeza de que, se algo acontecesse, ela realmente saberia o que fazer. Eu ia ter
uma longa conversa com minha mãe sobre isso. Até que ponto a vida social dela
se tornou mais importante do que sua própria carne e sangue? Se ela era
incapaz de cuidar de suas filhas, talvez não devesse tê-los tido em primeiro
lugar.

Olhando-a no espelho, certifiquei-me de que Sarah estava ouvindo o que eu


estava prestes a dizer. — Vou falar com mamãe. Não posso permitir que você
fique sozinha. Isso não está certo. Estou falando sério quando digo que você vai
me ligar e me avisar se ela tiver saído para que eu possa vir buscá-la. Está bem?
E eu estarei por perto com mais frequência. Ninguém é mais importante para
mim do que você. Eu amo você, Sarah.

Seu lábio tremeu. — Eu também amo você.

Chegamos ao restaurante cerca de cinco minutos depois. Minha mente estava


confusa com pensamentos de como eu iria abordar esse assunto com minha
mãe. Eu odiava falar com ela como se eu fosse o pai e ela a filha. Mas Sarah
precisava de alguém ao seu lado. Eu aceitaria fazer parte do time se isso
significasse manter minha irmãzinha segura e feliz. O carro de Macie já estava
aqui, então Sarah e eu entramos e a encontramos sentada em nossa cabine
habitual, nos fundos. Ela sorriu e acenou para nós quando entramos.

— Ei, garota, como está indo? — Macie perguntou a Sarah.

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— Bem. Posso comer a sobremesa antes do jantar?

Revirei os olhos. — Qual você acha que vai ser a resposta para isso?

— Ah, vamos lá, mamãe — brincou Macie. — Um pouco de ostentação nunca


fez mal a ninguém.

— Sério, Mace? Estou tentando incutir bons comportamentos aqui. Você é como
o diabinho sentado no ombro dela cantando: 'ande pelo lado selvagem… coma
bolo'.

Ela pegou seu copo de água e tomou um gole. — Quem não gosta de bolo no
jantar?

— Por favor, por favor, por favor… — Sarah implorou.

Coloquei meu rosto nas palmas das mãos. — Por que estou me incomodando?
— Levantei minha cabeça a tempo de ver Macie piscando para Sarah, e Sarah
sorrindo como uma idiota. Eu perdi totalmente essa batalha.

— Sim, sim! — Sarah sibilou.

— Ei. — Macie apontou o dedo para ela. — Você vai me dar uma mordida nesse
bolo, garota.

Sarah riu e concordou.

Depois de fazermos nossos pedidos, a conversa foi lenta. Eu estava esperando


até que minha irmãzinha estivesse envolvida até os joelhos em um jogo no meu
telefone para poder perguntar a Macie o que estava acontecendo entre ela e
Dodger.

— Vamos falar sobre isso? — Perguntei casualmente.

Uma sobrancelha perfeitamente desenhada se ergueu em questionamento. —


Não sei, vamos? Se você quer que eu fale, vai ter que contar alguns segredos
também. Por exemplo, o que diabos aconteceu ontem à noite? E oi… Camden?
Você correu para os braços dele, Keegan. O que você não me contou?

— Huh uh, você primeiro. Você vai precisar de alguns drinques antes de eu lhe
contar tudo.

— Isso parece promissor — disse ela sarcasticamente.

— Tanto faz, agora fale. Diga-me qual foi o motivo da explosão entre você e
Dodger. Então ele ainda não está com você? — Olhei de relance para Sarah para

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indicar que precisávamos manter essa conversa em um tom mais leve. Eu não
estava pronta para ter essa conversa com ela.

Ela soltou um gemido dramático. — Não! Ele está sendo mesquinho com a
salsicha.

Eu sorri. — Você acha que talvez ele ainda não esteja pronto para isso? Nem
todo homem gosta de agir rapidamente.

— Eu sei tudo sobre a história do Dodger e o quão rápido ele gosta de agir.
Minha colega de química disse que a melhor amiga dela ficou com ele em uma
festa no ano passado. Aparentemente, foi alucinante. Por falar nisso, também
não está acontecendo nada disso!

Não pude evitar a risada que escapou. — Então não está havendo nenhuma
brincadeira?

— Nada. Meu pobre túnel do amor precisa de um pouco de carinho.

— O que é um túnel do amor? — Sarah perguntou, ainda olhando para o meu


celular.

Minha boca caiu, mas Macie respondeu sem perder o ritmo. — É o rio que
atravessa o hotel Venetian em Las Vegas. É muito legal.

— Então, por que eles o chamam de túnel do amor? E por que ele precisa de
TLR?

— É TLC, que significa cuidado carinhoso. TLR é aquela coisa que limpa canos?
Espere… isso poderia funcionar perfeitamente na minha situação — disse Mace
com um brilho nos olhos.

Eu a chutei por baixo da mesa. — Foco!

— Certo, de qualquer forma, é um túnel do amor, porque deve ser como um


passeio romântico de gôndola que eles fazem na Itália.

Fizemos uma pausa, esperando a resposta de Sarah, mas acontece que ela
estava em seu jogo e não ouviu nada. Graças a Deus. Balancei a cabeça para
Macie e lhe disse — cuidado.

— Então, você vai dar um tempo para ele ou vai seguir em frente?

Ela deu de ombros. — Não sei. Eu realmente gosto dele, Keegan. Ele não é como
os outros caras com quem estive. É como se ele realmente quisesse me
conhecer, o meu verdadeiro eu.

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Estendi a mão para o outro lado da mesa e peguei sua mão. — Isso a assusta,
não é? — Macie assentiu com a cabeça. — Acho que sim. Talvez seja hora de
você deixar alguém entrar. Dodger não vai machucá-la. Pelo menos não
intencionalmente. Dê a ele uma chance.

Ela mordeu o lábio e apertou minha mão. — Ok. — Houve um momento de


silêncio antes de ela dizer: — Ok, chega de falar de mim. Quero saber tudo.

Nossa garçonete estava passando, então chamei sua atenção e disse: — Vamos
precisar de algumas bebidas. — Ela anotou o pedido e eu comecei a falar.

Dois drinques, jantar e quarenta minutos depois, finalmente terminei de contar


a ela todos os detalhes da festa e o que aconteceu entre mim e Camden. Ela se
sentou em seu lugar com uma expressão de espanto no rosto. — Puta merda.
Você fez isso antes de mim.

Eu pisquei para ela. — Foi isso que você tirou de tudo?

— Não, não totalmente, mas eu sinto que deveria lhe dar um abraço de parabéns
ou algo assim.

— Macie… não é nada demais.

— O diabo é que não é. Estamos falando de Camden Brooks. Você já viu como
ele é? — Sua voz chiou.

Eu ri. — Ah, sim, eu o vi bastante. — Nós duas rimos. — Mas não foi isso que
eu quis dizer. Camden e eu não vamos dar um nome ao que somos, mas
definitivamente somos exclusivos. Eu quero saber sobre a situação do Luke.

Ela estreitou os olhos. — Ele realmente estaria melhor se Camden ou Dodger o


pegassem. Se eu o vir, não terei piedade. Ninguém faz isso com alguém que eu
amo e sai com todas as partes do corpo intactas.

Eu acharia engraçado o que ela disse, mas sabia que ela realmente não estava
brincando. Macie podia ser uma coisinha assustadora quando queria. — Apenas
deixe-o em paz. Eu vou lidar com ele sozinha.

— Entendo que você queira, mas o idiota precisa pagar pelo que fez. Não acredito
que isso aconteceu e eu estava lá!

Assenti com a cabeça em concordância. — Não é sua culpa. Mas eu vou cuidar
do Luke. Só preciso de alguns dias para pensar no que precisa ser dito a ele
sobre tudo isso.

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— Tudo bem, eu lhe darei algum tempo. Mas se eu o vir pelo campus, não posso
prometer que ele estará inteiro quando você disser alguma coisa. Já estou
planejando seu trágico acidente.

Eu ri. — Eu posso cuidar disso.

Nós nos levantamos da mesa e saímos em direção aos nossos carros. Houve
breves abraços por toda parte, e eu carreguei Sarah e a levei de volta para casa.
Durante o trajeto até o apartamento, fiquei com frio na barriga ao saber que
veria Camden. Pela primeira vez em muito tempo, senti que as possibilidades
eram infinitas. Eu estava realmente feliz e gostava de ter algo pelo qual ansiar.

159
CAPÍTULO - 14
CAMDEN E EU TÍNHAMOS encontrado uma nova rotina na semana passada. O
que provavelmente era uma coisa boa, porque ele gostava de rotinas. Ele
acordava antes de mim e saía para correr. Quando eu saía da cama, ele já estava
lá embaixo me preparando o café da manhã. Comíamos juntos e eu ia para as
aulas. O dia sempre parecia se arrastar, porque eu estava ansiosa para vê-lo.
Entre a escola e o trabalho, eles tomavam muito tempo. Poder ver Camden ao
final de dez longas horas era como uma pequena recompensa especial. Isso não
quer dizer que não tenhamos tido alguns pequenos contratempos. Viver com
Camden e estar em um relacionamento com ele eram duas coisas muito
diferentes. Ele podia ser muito insistente. Por exemplo, em que quarto iriamos
dormir. Ele resmungava sobre o fato de ter comprado uma cama nova para mim
e de precisar quebrá-la. E nós realmente quase a quebramos na outra noite,
mas eu gostava da cama dele. Tinha o cheiro dele e era aconchegante. Depois,
tivemos um problema com o fato de ele pagar pelas coisas quando saíamos. Eu
gostava de pagar minhas próprias despesas quando saíamos, mas Camden
disse que eu não estava deixando que ele fosse o homem do relacionamento. Ele
disse que se sentia bem por saber que estava cuidando de mim. Eu entendia as
palavras por trás do que ele estava dizendo, mas me convencer de que ele
precisava cuidar de mim, quando eu sempre cuidei de mim mesma, era uma
questão totalmente diferente. E, aparentemente, discutir isso na frente do
cinema era motivo para uma boa surra no quarto. Eu não me importei. Sim,
Camden era um homem e tanto para se adaptar. Eu realmente gostava de tudo
nele, mas ele era um homem extremamente dominante em todos os aspectos de
sua vida. Controle era o nome do jogo para ele. Ele adorava saber que podia me
submeter. Eu estava mais do que de acordo com isso, mas certamente lutei
muito antes de ceder. Quanto mais eu lutava, mais ele me aplicava. Tornou-se
um jogo interessante de dar e receber.

Eu estava saindo do trabalho depois de um dia particularmente infernal de


arquivamento e estava indo para a academia. Era algo que havia se tornado
parte da rotina. Ouvir música no carro me animou e, quando entrei no
estacionamento, estava me sentindo particularmente animada. Camden havia
me enviado algumas mensagens de texto no início do dia sobre o que ele queria
fazer comigo quando eu chegasse em casa, quando ele sabia muito bem que eu
estaria sentada em meu escritório corando. Tive uma ideia e decidi que iria me
vingar dele. Sorrindo em meu carro, eu sabia que pagaria por isso, mas, mesmo
assim, seria épico. Pegando meu iPod, saí do carro e entrei na academia. A
garota que geralmente ficava na frente já tinha ido embora, mas Camden estava
saindo de uma sala nos fundos quando me viu entrar.

160
Adorei o sorriso que se espalhou por seu rosto antes de ele dizer: — Oi, Blue.

Ele deu a volta no balcão e colocou os braços sob os meus, levantando-me e


trazendo sua boca para baixo em um beijo esmagador. Minhas pernas estavam
balançando e eu as envolvi em sua cintura. Oh, Deus, uma garota poderia se
acostumar com isso. — Ei… — eu disse, afastando minha boca.

Suas mãos me agarravam por baixo da bunda. Só o beijo dele já era suficiente
para me excitar, mas quando ele me abraçava assim, como se eu não pesasse
nada, eu me sentia como se estivesse flutuando nas nuvens. As pessoas
estavam andando ao nosso redor, mas continuamos como se fôssemos os únicos
dois na academia. Camden me fez algumas perguntas sobre meu dia e depois
me colocou no chão. Eu estava usando uma blusa branca de botões e calça
preta com salto, então ainda precisava me trocar. Eu estava planejando como
iria ficar atrás da recepção e fazer o que precisava, apenas torci para que ele
não percebesse.

— Vou me trocar bem rápido. Volto logo. — Fiquei na ponta dos pés e o beijei
de leve na boca. — Ai. — Estendi a mão para seu braço.

Suas sobrancelhas se ergueram em sinal de preocupação. — Qual é o problema?


Está machucada?

Levantei um de meus calcanhares. — Não, na verdade não. Estes sapatos estão


me causando uma bolha, e ela está pegando a parte de trás do meu calcanhar.
Você tem um kit de primeiros socorros aqui atrás que eu possa usar para fazer
um curativo?

Ele me ajudou a ir até a cadeira atrás da escrivaninha e abriu uma gaveta. —


Sim. Preciso dar uma olhada no meu cliente bem rápido. Vejo você em alguns
minutos.

Camden foi até uma máquina onde um senhor idoso estava puxando um cabo
em pé. Eu ainda não tinha ideia de como essas coisas se chamavam. Não
importava. Eu precisava me concentrar, estava em uma missão. Peguei meu
iPod no bolso e o conectei ao aparelho de som que tocava em toda a academia.
Eu tinha que esperar até que a música que estava tocando no momento
terminasse para poder apertar o play na minha própria lista de reprodução,
caso contrário, Camden estaria atrás de mim. Preparei tudo e a primeira música
começou a tocar. Olhei em volta para ver se alguém havia notado a diferença na
música, mas, felizmente, ninguém percebeu. Sorri para mim mesma. Ah, cara,
eu ia me meter em um grande problema. Me levantei da cadeira e fui para o
vestiário, trocando rapidamente minhas roupas de trabalho por uma calça capri
preta elástica e uma camiseta regata com sutiã esportivo embutido. Voltei para
a parte principal da academia e Camden havia se deslocado para os pesos livres,
observando seu cliente. Ele olhou para mim e sorriu. Gostei de ver esse lado de
Camden. Embora eu ainda gostasse do — Camden melancólico — também.

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Sorrindo de volta, fui até as esteiras e estiquei minhas pernas. Toda vez que a
música mudava, minha frequência cardíaca aumentava. Eu não tinha ideia de
quando a música iria tocar. Por fim, levantei-me e fui para a esteira. Achei que
poderia fazer um pouco de exercício aeróbico e aquecer meu corpo, e depois,
com sorte, Camden teria terminado sua sessão e poderia me ajudar com os
pesos. Ao entrar na esteira, estabeleci meu ritmo. Eu estava indo em uma
velocidade lenta, aumentando gradualmente a cada minuto de intervalo. Eu
estava quase terminando meu aquecimento quando aconteceu. O som de uma
flauta flutuou pelo ginásio e uma música muito familiar começou a tocar. Houve
uma rodada coletiva de gemidos das cerca de dez pessoas que estavam se
exercitando, e algumas delas disseram: — Que porra estamos ouvindo? Mordi a
parte interna da bochecha e tentei manter a compostura. Foi uma mudança e
tanto passar de uma música "Woe Is Me" para "My Heart Will Go On", de Celine
Dion. Mantive meu ritmo na esteira, recusando-me a fazer contato visual com a
única pessoa que eu sabia que estava me encarando.

— Ei Brooks, acho que seu aparelho de som está quebrado — disse um dos
levantadores de peso regulares do outro lado da academia.

Várias pessoas riram, mas a música continuou a tocar. Eu podia sentir o calor
subindo pelas minhas bochechas, e decidi tomar coragem e encarar o olhar de
Camden. Minha esteira estava diretamente em frente a um conjunto de espelhos
que me permitia ver toda a academia atrás de mim. Meu homem sombrio e
taciturno estava parado no mesmo lugar em que estava quando comecei meu
aquecimento. Seus olhos estavam quase pretos e se estreitaram em fendas. Sua
postura era rígida e seu peito se movia para cima e para baixo. Eu sabia que
sorrir naquele momento provavelmente não era do meu interesse, mas que se
dane… eu gostava de viver na loucura. Olhando diretamente para ele, levantei
meus ombros em um encolher de ombros bem casual, como se dissesse ‘o quê?’
Em seguida, dei um sorriso malicioso. Ele deu uma leve sacudida na cabeça.
Oh, ele estava furioso. Meu coração estava na garganta, mas continuei agindo
como se não tivesse acabado de anunciar para todo o ginásio que Camden era
um fã de carteirinha da Celine. Afastei meus olhos dos dele e continuei na
esteira, sabendo que algo grande estava por vir. Alguns minutos se passaram e
pude ver que ele ainda estava no mesmo lugar em minha visão periférica. Droga!
Talvez eu tenha ido longe demais. Ele não podia estar realmente bravo comigo
por isso. Eu poderia ter tocado a música, mas nós éramos os únicos que
sabíamos o motivo. Talvez eu devesse ir pedir desculpas a ele. Quando pensei
nisso, notei Camden indo de pessoa em pessoa dizendo algo. Um a um, todos
juntaram suas coisas e saíram do ginásio. O que ele estava fazendo? Ele estava
expulsando todo mundo? Quando a última pessoa saiu, observei pelo espelho
enquanto ele as seguia e fechava a porta atrás delas. Em seguida, ele foi até o
aparelho de som e o desligou. O único som era o dos meus pés batendo no chão.
Quando ele se virou, seu rosto estava ilegível. Puta que pariu, ele expulsou todo
mundo e eu estava prestes a ser sacaneada. Por que, oh, por que eu tinha que
ser um idiota às vezes?

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Camden se aproximou de mim enquanto eu aumentava a velocidade da esteira.
Eu me perguntava se ele não iria embora se eu o ignorasse. Passei de uma
caminhada para uma corrida em um período muito curto. Minhas coxas
estavam pegando fogo antes, mas agora elas estavam gritando comigo. Camden
veio ficar ao meu lado enquanto eu olhava para frente e me recusava a olhar
para ele.

— Keegan.

— Sim?

— Keegan.

— Uh huh?

— Você sabe que está em apuros, certo?

— Me desculpe, como assim? — Tentei me fazer de boba. Tentei me fazer de


desentendida. Tentei abusar um pouco mais da sorte e comecei a cantarolar a
música, retomando-a de onde havia parado.

O sorriso que vi em seu rosto, pelo canto do olho, me deixou arrepiada. — Você.
Está. Em. Apuros — ele enfatizou cada palavra.

Levei minha mão ao ouvido. — Não consigo ouvi-lo. Talvez você deva esperar até
que eu saia daqui para conversarmos. — Para começar, eu estava tão sem fôlego
que achei que fosse desmaiar. Em segundo lugar, gostaria de acreditar que
poderia esperar que ele saísse, mas, nesse ritmo, eu estaria em fibrilação
ventricular e ele teria de dar um choque no meu coração para que voltasse ao
ritmo normal.

Vi seu braço se mover à minha frente e ele puxou a corda vermelha que estava
ligada à parada de emergência. O cinto abaixo de mim parou abruptamente, e
meu impulso para frente quase me fez cair. Camden estendeu a mão para me
segurar. Ajudando-me a sair, me curvei e coloquei as mãos nos joelhos,
tentando desacelerar minha respiração. Uma garrafa de água foi colocada em
frente ao meu rosto e eu a peguei. Inclinando a cabeça para trás, bebi o máximo
que pude e depois despejei o restante sobre minha cabeça. Estava muito quente
aqui. Limpei os olhos e notei que Camden estava me observando com uma
luxúria que eu ainda não tinha visto nele antes.

Encostado no espelho, ele cruzou os braços sobre o peito em uma postura


casual. Quando fazia isso, ele parecia enorme. — Você consegue respirar?

— Sim. — Meu peito ainda estava subindo e descendo em um padrão pesado.

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— Ainda estamos jogando e você não consegue ouvir o que estou dizendo?

— Eu não estava jogando.

Ele sorriu. — Hmmm… você consegue me ouvir agora?

Revirei os olhos. — É claro que consigo ouvir você.

O sorriso que estava lá desapareceu abruptamente. Ele foi substituído por uma
expressão sombria. — Ótimo, agora vamos conversar. Você está jogando um
jogo muito perigoso, Keegan. E presumo que você provavelmente sabia disso. —
Seus olhos cor de castanho-avermelhado nunca deixaram os meus. — Você é
uma garota inteligente. O que também significa que aquela pequena façanha
que você fez, foi intencional. Estava me testando para ver que tipo de punição
eu aplicaria?

Ele acertou precisamente, mas eu não podia deixar que ele soubesse disso. Tudo
nele gritava sexo neste momento, e meu corpo estava tremendo de ansiedade.
Sua postura, a maneira como seus olhos brilhavam com a possibilidade, sua
mandíbula cerrada; todos esses eram sinais de que Camden estava se
preparando para algo grande. Eu tinha que clarear minha mente. Fique com a
expressão séria, Keegan. — Não, claro que não. Foi só uma pegadinha boba.

O canto de sua boca se inclinou para cima. — Nossa, nossa, você tem sido uma
menina travessa.

Coloquei as mãos nos quadris, demonstrando indiferença. — Oh, pare com isso,
Camden. Você podia rir, sabia? Era uma piada, era engraçado. Você sabe, ha,
ha engraçado?

— Estou rindo?

— Não, mas você é sempre duro.

Quando seu sorriso se abriu, seus dentes brilharam com as luzes. Ele parecia
positivamente cruel. A sua personalidade dura parecia fazer a balança pender
para o lado da maldade e da dominação. Era tudo o que eu amava nesse lado
dele. Meu sexo se apertou, sabendo que eu só estava piorando as coisas para
mim mesma ao instigá-lo.

— Oh, você não tem ideia de como eu posso ser duro, Blue.

— Estou tremendo em meus tênis, Camden.

Abaixei meus braços e comecei a me virar para ir embora. Ele se aproximou


muito, fazendo com que eu parasse meu próximo movimento. Sua respiração
soprou em minha pele, que agora estava esfriando. — Vou lhe dizer o que você

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vai fazer para consertar isso, e sugiro que não me faça repetir. Meu controle
está se esvaindo rapidamente, Keegan. Não fale, mas acene com a cabeça que
está entendendo.

Sua voz era baixa e ameaçadora. Toda a antecipação e o desenvolvimento me


levaram a esse momento. Ele realmente estava perto de se soltar, e eu sabia que
não deveria pressioná-lo novamente. Fiz o que ele pediu.

— Boa menina. Agora quero que você vá até aquela pequena máquina ali no
canto e tire tudo. É melhor que não haja um único pedaço de roupa em seu
lindo corpo quando eu chegar lá ou vou dobrá-la e bater em você até que sua
bunda fique vermelha. Assinta se você entendeu.

Engoli com força e balancei a cabeça em sinal de compreensão. Camden se


afastou de mim, entrando em uma das salas de aula e desaparecendo atrás da
porta. Eu me virei e caminhei até onde ele disse que me queria. A máquina para
a qual ele me mandou era chamada de adutora de pernas. Era uma máquina
em que você se sentava e colocava as pernas em dois apoios diferentes. Você
podia adicionar ou subtrair peso de acordo com a sua tolerância, mas o objetivo
era que você conseguisse apertar as coxas e os pesos as abrissem. Puxa vida,
ele quer que eu suba nessa coisa completamente nua e de barriga para cima?
Mas eu estaria totalmente aberta e exposta. Cada parte do meu ser estava
tremendo de ansiedade, mas será que eu poderia ser tão descarada na frente
dele e deixá-lo me ver desse jeito? Será que eu tinha escolha? É claro que eu
sabia a resposta para essa pergunta. Se eu não obedecesse, Camden inventaria
outra coisa que seria ainda pior. Apesar de meu nervosismo, eu também estava
curiosa sobre o que ele queria fazer comigo. Essa máquina tinha muitas
possibilidades. Com as mãos trêmulas, comecei a me despir. Tirei minha
camiseta regata, sapatos e calças de ioga. Eu estava ali com nada além de uma
calcinha azul de corte masculino. Cobri meus seios com o braço. Quando olhei
para cima, Camden tinha saído do quarto com algo pendurado na mão. Ele
havia diminuído as luzes enquanto estava nos fundos para que eu não pudesse
ver o que ele estava segurando. Ele fez uma pausa quando olhou para mim. Seu
olhar era positivamente carnal.

— Tudo, Keegan. Não se esconda de mim.

Com coragem, tirei os braços dos seios, mas, felizmente, meu cabelo estava
esvoaçando sobre os ombros e cobria a maior parte de mim. Seus olhos se
estreitaram. Enganchando os dedos na calcinha, me virei, dando-lhe as costas,
e lentamente deslizei a calcinha pelos quadris, deixando-a cair em uma poça
aos meus pés. Ouvi um estrondo baixo no espaço.

— Feliz? — Eu disse com uma voz sedutora.

— Muito. Agora nem mais uma palavra. Você entendeu?

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Olhei para ele por cima do ombro, lambendo os lábios. — Sim.

Fiquei completamente imóvel, esperando que ele viesse até mim. Observei-o ir
para trás da escrivaninha e ligar a música novamente. Em vez da batida pesada
do hard rock, era o som sedutor do baixo. Era um som que o atraía e o fazia
querer balançar os quadris de um lado para o outro em uma dança tentadora.
Uma dança que, se eu ainda estivesse usando roupas, teria tirado com prazer
mais uma vez. ‘Sail’, do Awolnation, tocou nos alto-falantes, e Camden começou
a caminhar em minha direção. Seus olhos castanhos escuros eram ferozes. A
cada batida da música que o aproximava de mim, meu coração disparava mais
um pouco. Ele escolheu essa música de propósito. Sabia que ela me afetaria de
todas as formas possíveis. O som reverberou em meu corpo já tenso. Ele se
aproximou de mim em câmera lenta. Como um animal selvagem que se
aproxima sorrateiramente de sua presa, e eu era sua próxima refeição. Minhas
pernas tremeram, prontas para ceder. E elas iriam, quando ele me tocasse, eu
não seria capaz de me manter de pé por mais um segundo. Ele estava a apenas
alguns metros de distância agora. Ele olhou de relance para o meu corpo. Cada
lugar que seus olhos tocavam era como fogo lambendo minha pele. Eu já estava
encharcada de necessidade, mas o fato de ele estar fora de alcance era
insuportável. Minha necessidade era grande demais. O suspiro que saiu de
meus lábios entreabertos foi mais como um gemido. Seus olhos se voltaram
para os meus. Ele balançou a cabeça tão sutilmente que eu não teria visto se
não estivesse olhando para ele.

Quando ele finalmente falou, sua voz estava uma oitava abaixo do normal. —
Você vai se sentar e colocar suas pernas nos apoios. Quero que coloque as mãos
nas alças ao seu lado e nem pense em se mexer, ou vou piorar as coisas para
você.

— Piorar? — Minha voz tremeu, revelando minha expectativa.

Ele levantou a sobrancelha. — O que eu disse sobre falar?

Engolindo em seco, dei um passo em direção à máquina e me sentei. A


relutância estava se manifestando com força total. Se a música não estivesse
tão alta, eu tinha certeza de que ele seria capaz de ouvir meu coração. Meu
bumbum nu tocou o plástico frio da cadeira, mas logo se aqueceu. Coloquei
minhas mãos onde ele instruiu e depois hesitei. Senti que precisava me animar
para fazer isso. Camden não disse nada. Ele viu a indecisão em meu rosto, mas
ficou ali, permitindo que eu superasse meu desconforto por conta própria.
Fiquei grata por ele ter feito isso. Isso me garantiu que, apesar de estar no limite,
não se tratava apenas dele. Ele também queria que eu me sentisse bem. Ele se
importava. Levantei meus olhos para os dele quando senti que estava pronta e
o observei quando levantei minha perna esquerda primeiro. Eu ainda não estava
totalmente desconfortável, mas quando levantei minha perna direita e a
coloquei no suporte, senti como se todo o ar tivesse sido sugado para fora do
quarto. Eu sabia qual era a minha aparência naquele momento. Minha boceta

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estava completamente exposta para ele, e ele podia ver cada centímetro de mim
lá embaixo. Eu estava escorregadia de desejo e, sem dúvida, isso estava
aparecendo. Os olhos de Camden deixaram os meus e ele olhou para baixo.
Agarrei as alças com força, querendo desesperadamente me cobrir, mas não
quis fazer isso. Eu queria estar confiante com Camden. Queria saber que a
simples visão de mim o deixava de joelhos. Eu queria ser a garota que podia se
abrir e sentir que era dona dele.

— Perfeita — ele sussurrou.

Quebrei o contato visual e olhei para o objeto que Camden havia carregado. Ele
estava segurando duas faixas de resistência. Cada uma tinha cerca de um metro
e meio de comprimento, e minha curiosidade foi aguçada. O que ele estava
planejando fazer com elas? Não precisei pensar muito sobre isso. Ele deu um
passo em minha direção e se agachou ao meu lado direito. Estando tão perto
dele, pude sentir o cheiro subjacente de seu sabonete. Era de dar água na boca.
Camden começou a fazer um nó rápido em meu pulso e a prendê-lo ao cabo que
eu estava segurando. A borracha contra minha pele não era exatamente
desconfortável, mas também não era o material mais macio. Quando ele sentiu
que estava apertado o suficiente, foi para o meu outro lado e fez a mesma coisa.
Eu nunca havia sido amarrado a nada antes, muito menos a um equipamento
de ginástica. Meu sangue estava escaldante e eu podia senti-lo pulsando em
minhas veias. Não gostei da ideia de não poder me mexer. Além de poder apertar
minhas pernas, eu não tinha mobilidade. Eu estava presa e incapaz de fazer
qualquer coisa para me esconder ou me proteger se as coisas fossem além do
que eu estava disposta a fazer. Eu estava prestes a dizer a Camden que achava
que não conseguiria fazer isso quando ele olhou para mim. Sob a ferocidade de
seu olhar, havia algo que eu não esperava ver. Havia compreensão e gentileza.
Ele estava satisfeito por eu estar permitindo que ele me levasse tão longe.
Levantando a mão, sua palma tocou minha bochecha. Eu me inclinei em seu
toque. Com um aceno sutil, eu sabia que a ternura havia acabado.

Ele se levantou sobre mim de uma forma muito dominadora. Eu podia ver o
contorno nítido do seu pau através do short de ginástica. Camden estava duro
como uma rocha, e tudo o que eu queria era tomá-lo em minha boca. Eu não
tinha ideia do que ele iria fazer, mas o fato de não saber fazia parte da diversão.
Aparentemente, ele ainda não havia terminado de me restringir. Achei que
conseguiria manter a mobilidade das minhas pernas, mas ele se inclinou e
adicionou peso suficiente na máquina para que juntar minhas pernas, não fosse
mais uma opção. Eu o encarei.

— É isso mesmo, Blue, fique brava comigo. Mas não se preocupe, você vai gostar
disso tanto quanto eu.

Usando uma de suas mãos, ele estendeu a mão e beliscou um de meus mamilos
com força suficiente para me fazer gritar. Inclinando-se para baixo, ele levou o
bico sensível à boca e o acalmou com sua língua quente, rolando-o entre os

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dentes. A dor e depois o prazer me fizeram sentir uma onda de prazer em meu
centro. Camden estava alternando entre beliscar e chupar. Ele fez isso várias
vezes, e meus olhos se arregalaram. Quando sentiu que já havia dado atenção
suficiente aos meus seios, ele se levantou e olhou para mim. Agarrando seu pau,
ele se ajustou. Será que ele estava tentando me enlouquecer? Por que ele não
estava ficando nu também? Eu queria vê-lo em toda a sua magnífica glória.
Camden tinha um dos corpos mais incríveis que eu já tinha visto em um
homem. Eu já o tinha visto muitas vezes andando pela casa ou aqui na
academia com nada além de um par de shorts. Os músculos rígidos de seus
braços e costas eram sólidos. Seu abdome tinha sulcos definidos, feitos para
serem alisados pelos dedos de uma mulher. E seu V... me provocava. Tudo em
Camden era uma provocação. Eu queria minhas mãos nele o tempo todo. Sua
pele bronzeada era macia e impecável. Ele gritava sexo.

— Vou sentir o gosto de cada centímetro de seu corpo com minha língua. E,
caso isso não seja suficiente, acho que vou fodê-la até que sua boceta fique
vermelha, latejante e pingando com minha porra.

Puxa vida, ele nunca havia falado assim comigo antes. Eu queria tanto
responder, mas sabia que não era permitido. Mordendo o lábio, esperei o
próximo passo dele. Ajoelhando-se, Camden aproximou seu rosto da minha
carne aberta. Fechei os olhos, tentando esconder o constrangimento que sentia.
Eu nunca havia deixado um homem fazer isso antes, e Camden e eu não
havíamos ultrapassado esse limite até agora. Era mortificante. Usando um de
seus dedos, ele o arrastou pelos lábios da minha boceta, mas não me tocou onde
eu mais queria. Ele passou o dedo várias vezes, fazendo com que a sensação
dentro de mim fervesse. Mexi os quadris, e ele abaixou o antebraço para me
manter no lugar.

— Você quer provar a si mesma?

Balancei a cabeça. Fazer algo assim nunca me pareceu atraente, nem mesmo
por curiosidade. Quando Camden passou seu dedo sobre meu clitóris inchado,
eu gritei. A tensão em meu corpo era palpável, e eu tremia com força. Ele passou
a ponta do dedo sobre os nervos sensíveis mais algumas vezes, e eu senti que
estava pronta para explodir.

— Não estou mais pedindo. Você vai lamber tudo e quero que me descreva o seu
gosto. Depois, vou absorver até a última gota quando você gozar na minha boca.

Ele me deixou inebriada pela necessidade. Eu não queria recusá-lo. Com o dedo
indicador, Camden o aproximou dos meus lábios, e eu os abri o suficiente para
que ele o introduzisse. Com a língua, puxei seu dedo e lambi o que ele estava
me oferecendo. Não era nada do que eu esperava que fosse. Gostei de ver seus
olhos se arregalarem com minha ousadia. Quando ele se retirou, olhou para
mim com expectativa.

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— Meu gosto é salgado e doce ao mesmo tempo. Como uma maçã com caramelo
salgado.

Ele sorriu em aprovação. — Uma de minhas sobremesas favoritas.

Sua boca desceu sobre mim, e eu me senti como um animal enjaulado querendo
se libertar. A sensação me deixou sobrecarregada. Ele lambeu minhas dobras
abertas repetidas vezes até que eu estivesse gemendo e implorando por mais.
Eu não tinha ideia de que isso era apenas o começo. Quando ele se fixou em
meu clitóris, estrelas passaram por minha visão e eu gritei de prazer. A música
que estava flutuando no ar desapareceu. Minha visão ficou turva e a única coisa
que conseguia compreender era o que Camden estava fazendo comigo e que eu
precisava de mais agora. Tentei levantar as mãos para agarrar seu cabelo e
segurá-lo, para dizer que não queria que ele parasse, mas não consegui me
mover. Eu havia me esquecido de que estava amarrada. Meus dedos se
fecharam em punhos e minhas unhas morderam as palmas das mãos.

— Me desamarre, Camden, quero tocar você. Preciso tocar você — disse entre
dentes. Ele riu, enviando vibrações diretamente para o meu âmago.

Ele olhou para mim, seus olhos castanhos dançando com malícia. — Em seus
sonhos, Blue. Eu disse que faria você se sentir bem, mas não prometi que seria
fácil.

— Seu filho da puta! — Ele mordiscou meu clitóris, e eu me afundei na cadeira.


— Porra! Eu o odeio, porra. Desamarre-me, ou então me ajude, Camden…

Observei-o com atenção enquanto sua língua saía e ele fazia um longo
movimento da minha entrada até o topo dos meus lábios. Eu tremia tão
violentamente que achei que fosse desmaiar. — Você é uma garota durona, sei
que pode aguentar. Seu gosto é incrível. — Oh, meu Deus, a provocação dele ia
me mandar para o manicômio. Eu não sabia se queria implorar por mais ou
torcer seu pescoço.

Senti a ponta de seus dedos circulando em minha entrada. Se ele continuasse


nesse ritmo com a boca e começasse a me foder com os dedos, eu estaria
perdida. Camden cobriu seus dedos, certificando-se de que estavam molhados
com meu suco. Muito lentamente, ele deslizou dois dedos para dentro de mim.
Em um ritmo constante de pressionar para dentro e puxar para fora, não
consegui mais me segurar.

— Oh, Deus, oh, Deus… eu vou gozar!

Com uma leve curvatura de seus dedos, ele sugou meu feixe de nervos com
tanta força que eu explodi. O prazer me invadiu em ondas ofuscantes, e meu
corpo tremeu. Os punhos em que minhas mãos estavam cravadas certamente
ficariam com marcas permanentes das minhas unhas. O braço livre de Camden

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saiu de debaixo da cadeira e envolveu minha cintura. Sua mão estava estendida
sobre meu quadril, segurando-me enquanto eu me recuperava da incrível
sensação. Meus ouvidos estavam zumbindo, meu lábio inferior estava inchado
por tê-lo mordido e meu corpo estava coberto de suor.

— Essa foi sua recompensa por ter sido corajosa o suficiente para me deixar
fazer isso com você. Mas agora é hora de seu castigo — disse ele ao se levantar
dos joelhos. — Sua boca e meu pau estão prestes a ficarem amigos.

Eu quase ri, mas nada estava funcionando direito ainda. Minhas sinapses não
estavam disparando normalmente, e eu tinha certeza de que tudo estava
inclinado para a esquerda. A palma da mão de Camden tocou minha bochecha
pela segunda vez esta noite. Eu podia sentir o cheiro da minha excitação em
seus dedos. Ele levantou minha cabeça. Ah… pronto, agora está tudo certo.
Piscando algumas vezes, vi o sorriso estampado em seu rosto.

— Você vai precisar ser carregada para fora daqui quando eu terminar com você.
— Ele deu uma risadinha.

— Cale a boca — eu disse grogue.

— Está na hora de fazer alguma coisa com essa sua boca.

Ele deu um passo em minha direção. Enganchando os dedos no cós da calça,


ele os puxou para baixo e sua ereção pesada apareceu. A simples visão dele me
animou novamente. Mal podia esperar para sentir a pele macia e aveludada em
minha boca. Camden segurou seu pau e bombeou a mão para cima e para baixo
várias vezes. Toda vez que eu o via dessa forma, ele me deixava sem fôlego. Cada
parte dele era perfeita. E, claro, eu ainda me perguntava como ele cabia dentro
de mim. Eu já havia ficado com outros caras, mas nenhum era tão bem feito
quanto ele. Olhei para ele por entre os cílios e lambi os lábios em antecipação.

— Você está com fome? — Um sorriso malicioso se espalhou por seu rosto.

— Muito, mas eu gostaria de usar minhas mãos para isso.

— Não — ele disse com firmeza. — Você precisa de um lembrete de quem está
no comando e de quem a domina, Keegan. Esse sou eu. Você não pode usar
suas mãos a menos que eu diga, e você vai aceitar o que eu lhe der.

— Você acha que vou realmente me comportar enquanto seu pau estiver na
minha boca? — Levantei a sobrancelha. — Cuidado com quem você está
mandando Camden, eu tenho dentes.

Ele estreitou os olhos para mim e se curvou na cintura para ficar cara a cara
comigo. — Se quiser experimentar… fique à vontade. — Ele deu de ombros. —
Mas você não conseguirá se sentar por uma semana.

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Ele falou com tanta naturalidade que eu sabia que ele não estava brincando.
Ficamos nos encarando por longos momentos até que ele se levantou e se
aproximou da minha boca. Talvez eu tenha jogado mal minhas cartas, porque
eu não queria nada mais do que senti-lo gozar em minha boca. Eu queria sentir
o gosto do líquido salgado que se acumulava no fundo da minha garganta. Ele
sabia disso, e eu sabia disso. Ele se segurou na base enquanto a glande macia
dele roçava meus lábios. A ponta da minha língua saiu e eu lambi a gota de
sêmen. Era exatamente o gosto que eu esperava que ele tivesse. Gemi e abri a
boca para mais. Guiando-o para dentro, fechei meus lábios ao redor dele e alisei
minha língua contra a parte inferior de seu pau.

— Oh, droga — ele gemeu.

Seus quadris se inclinaram para a frente e ele me introduziu alguns centímetros


antes de se retirar. A cada vez, eu passava a língua ao redor da borda de seu
pau e chupava com um pouco mais de força. A cabeça de Camden caiu para
trás e ele agarrou a minha. Ele estava controlando cada movimento que nós dois
fazíamos. Eu queria desesperadamente que minhas mãos estivessem livres para
que eu pudesse cravar meus dedos em sua bunda e segurá-lo contra mim, mas
isso não ia acontecer. Pelo menos não dessa vez. Inclinando a cabeça para a
frente, levei-o à boca mais do que ele estava esperando. Seu pau tocou o fundo
da minha garganta e eu fiz um movimento de engolir. Ele se sacudiu para frente
de surpresa, claramente gostando da sensação. Os dedos de Camden se
enroscaram em meu cabelo e ele me puxou para trás. Fez com que minha cabeça
se inclinasse de modo que eu estivesse olhando para ele.

— Você quer que eu foda sua boca? Eu estava tentando ir com calma e deixá-la
se ajustar, mas parece que minha garota ansiosa quer mais. Eu lhe darei mais.
É isso que você quer? — Ele rosnou.

— Me dê tudo o que você tem.

— Garotinha, você acabou de entrar na grande liga. — Seu punho apertou meu
cabelo, e o puxão foi um pouco doloroso. Camden não estava brincando quando
disse que estava indo com calma. Isso era absolutamente brutal. Nada me
preparou para a rapidez com que ele começou a entrar e sair da minha boca.
Ele tinha um controle mortal sobre minha cabeça e, a cada investida, atingia o
fundo da minha garganta. Mal tive tempo de engolir antes que ele voltasse a
enfiar. A saliva estava se acumulando em minha boca, e meu reflexo de vômito
estava entrando em ação. Quando tentei tossir, Camden se retirou
abruptamente e deu uma risada cruel.

— Como eu disse, talvez da próxima vez você se comporte e me deixe fazer as


coisas do meu jeito. Já estou farto de brincadeiras. Preciso estar dentro de você,
agora.

171
Me engasguei com a saliva que estava em minha boca. Senti um pouco de raiva
por ele estar sendo tão brutal, mas, por outro lado, eu sabia no que estava me
metendo quando cutucava meu urso adormecido. Ou isso, ou eu estava com
raiva porque ele ainda não me deixava tocá-lo. Quero dizer, já era o bastante.
Eu não gostava que ele estivesse fora do meu alcance. Eu odiava isso. Quando
eu estava prestes a dizer a ele que tinha terminado por hoje, Camden soltou as
faixas em volta dos meus pulsos. Balancei minhas mãos para frente e para trás,
tentando ajudar a circulação a voltar ao normal.

— Decidiu me deixar ir? — Perguntei, esfregando um ponto dolorido em meu


braço.

— Blue, você me faz rir. Não, estamos apenas trocando de lugar.

— Mudando de lugar? Para onde? — Honestamente, eu estava cansada e pronta


para dormir, mas Camden ainda não tinha terminado e, se ele não viesse, teria
um caso sério de bolas azuis. Eu não era homem, mas tinha certeza de que essa
não era a melhor sensação.

Quando tentei levantar minhas pernas dos apoios, elas estavam rígidas. Meus
joelhos estavam travados, e eu me esforçava para movê-los. Consegui levantar
uma delas e tirá-la, mas quando estremeci de dor, Camden percebeu e me
levantou. Ele me abraçou em seu peito, e eu me afundei em seu calor.

Fomos até uma escrivaninha que ficava no canto oposto e ele me sentou. Aqui
atrás, as pessoas não conseguiam ver a academia se olhassem pela porta da
frente. Gentilmente, Camden massageou minhas pernas. — Como você está se
aguentando?

— Muito bem.

Adorei o sorriso doce que ele me deu. Era um sorriso que ele reservava só para
mim. — Acho que vamos ficar com a escrivaninha, já que suas pernas não estão
funcionando bem agora.

Eu as dobrei sobre a borda e deixei a dor se instalar. — Não sei se quero saber
o que mais você tem em mente. Aquela pequena façanha que você fez ali foi
suficiente para me deixar louca.

Ele deu uma risadinha. — Precisamos aumentar sua resistência e vigor.

— Falou como um verdadeiro personal trainer — eu provoquei.

Ele se inclinou e me deu um beijo suave nos lábios e depois na ponta do nariz.
— Hmmm… você é uma gracinha. E está tornando incrivelmente difícil para
mim querer continuar seu castigo.

172
Eu revirava os olhos e levava a mão ao peito. — Você está dizendo que vai
desistir? Eu nunca imaginei que você fosse um desistente.

Ele se aproximou de brincadeira e beliscou meus mamilos, fazendo-os


endurecer. — Está tentando me irritar de novo? Porque, Keegan, você não
conseguiria lidar com isso agora se eu fizer o que realmente quero.

— Experimente.

Ele arrastou as mãos pelos cabelos castanhos que estavam espetados para
todos os lados. Ele era tão sexy quando fazia isso. Lançando-me um olhar
incisivo, ele disse: — Não posso ser gentil agora, ainda estou muito nervoso.
Mas de jeito nenhum vou fazer o que planejei. Vamos deixar isso para outra
noite. — Ele piscou e minha pele se arrepiou. — Deite-se de barriga para baixo,
quero ver essa bunda linda curvada e levantada no ar.

Fiquei sem graça. — Camden, eu nunca fiz isso antes.

— E o que exatamente você acha que estou planejando fazer?

Eu engoli. — Hummm… bem, quero dizer, não é que a entrada pela porta dos
fundos não me atraia, mas acho que não estou pronto para…

Ele me interrompeu quando soltou uma gargalhada. — Relaxe, Blue, não vamos
fazer isso. Pelo menos não esta noite, mas um dia eu pretendo pegar a sua
bunda e ter você de todas as formas possíveis. — Sua expressão ficou mais
sombria.

Fiquei sem palavras. Acenando com a cabeça, decidi que não falaria mais nada.
Deslizando para fora da mesa, me virei e me curvei sobre a estrutura de
madeira. Eu o ouvi sugar antes de sentir sua mão agarrar meus quadris.

— Jesus, acho que você nunca esteve tão bem. Agarre-se à borda e segure-se.

Fiz o que ele instruiu, e foi então que o senti atrás de mim. Ele passou a glande
do seu pau para cima e para baixo em minha fenda e, em um movimento rápido,
empurrou até o fim. Eu gritei com a súbita sensação de plenitude. Eu estava
muito molhada e mais do que pronta para ele, mas não havia nenhum
preâmbulo para sua intrusão. A testa de Camden caiu sobre minhas costas e
ele soltou uma série de palavrões. Dando-me um momento para me ajustar ao
seu tamanho, ele recuou até quase sair e depois avançou novamente. Ele fez
isso várias vezes, deslizando para dentro e para fora com mais facilidade. Meu
corpo estava sendo trabalhado e eu conseguia senti-lo muito mais
profundamente dessa forma. Cada vez que seus quadris batiam nos meus, um
som de estalo ecoava em meus ouvidos. Camden segurava meus quadris com
tanta força que eu tinha certeza de que ficaria com hematomas quando isso
acabasse. Eu não me importava. Queria que ele me marcasse. Uma sensação

173
de aperto começou no fundo do meu estômago, e eu sabia que estava chegando
perto. Recuando, tentei me mover de volta para ele.

— Mais forte — grunhi.

— Não — ele rosnou de volta para mim, baixando a mão com um forte golpe
contra a minha bunda. — Eu determino o ritmo, Keegan, não você.

O ardor só aumentou minha excitação. — Bata em mim, Camden. Meu Deus,


quero suas mãos em mim.

Ele atendeu ao meu pedido e sua mão deu um tapa na outra nádega. Eu tremia
de prazer. Juntando todo o meu cabelo em seu punho, ele puxou minha cabeça
para trás e lambeu o topo da minha coluna. Meu corpo estava arqueado em um
ângulo sedutoramente estranho, com os seios salientes, e minha mão se esticou
para trás para segurar em seus quadris.

Quando sentiu o arranhar das minhas unhas em sua pele, ele me soltou, e eu
caí para frente. Meu suor estava escorregadio na madeira. Ele se curvou sobre
meu corpo, envolvendo-me em seus braços. Beliscando meu ombro com os
dentes, ele sussurrou: — Garota safada. Deus, sua boceta é tão apertada. Você
está perto, não está? Minha garota quer gozar?

Eu estava à beira das lágrimas, pois as sensações que me atravessavam eram


mais do que eu podia suportar. — Por favor… por favor… Jesus, eu não posso.
Camden, é demais. Oh, Deus.

Eu o senti se expandindo dentro de mim e, pelo seu ritmo, ele também estava
chegando perto. Envolvendo seus braços ao meu redor, um sobre meus seios e
o outro no ápice das minhas coxas, Camden tocou meu clitóris. Eu gritei e
minhas pernas cederam. Ele me colocou de pé e bateu em mim em um ritmo
incrivelmente rápido. A ponta do seu pau estava atingindo meu colo do útero, e
a dor me levou ao limite.

— Venha, agora Keegan! — Ele exigiu em meu ouvido.

Meu corpo inteiro explodiu com uma violência que eu nunca havia conhecido
antes. Senti como se estivesse sendo rasgada por dentro e não havia como me
recompor. O zumbido em meus ouvidos era causado pelo rugido alto de prazer
de Camden. Eu ia ficar com marcas de dentes em meu ombro por causa das
mordidas dele. Minha visão ficou completamente preta e acho que estava
prendendo a respiração. Eu estava sendo abraçada com força enquanto ele
diminuía a velocidade de seus movimentos, mas continuava a me penetrar. Ele
me encheu tanto que, a cada impulso sutil, mais porra escorria pela minha
perna. Meu corpo tremia de um jeito que me faziam sentir como se eu não
tivesse controle sobre nenhum dos meus membros. Eu estava totalmente sem
forças. Quando finalmente abri os olhos, percebi que havíamos afundado no

174
chão e que Camden estava me segurando contra seu peito. Eu estava envolvida
por seus braços grandes e nunca me senti tão segura. Os cabelos estavam
grudados em minha testa coberta de suor.

Ele falou contra minha têmpora. — Aí está você. Achei que tinha te perdido por
um minuto.

Respirei fundo e expirei. — Acho que desmaiei.

— Hmmm… você desmaiou. Isso já aconteceu com você antes?

Balancei a cabeça. — Não. Definitivamente é a primeira vez.

— Vou ter que ser mais brando com você da próxima vez.

Coloquei minha cabeça sob seu queixo. — De jeito nenhum. Foi totalmente
perfeito.

Ele se afastou e levantou meu queixo com o dedo. — Eu não quero quebrar você,
Keegan.

— Eu não sou feito de vidro, Camden. Nem sempre vou querer que seja tão duro,
mas essa foi provavelmente a experiência sexual mais incrível da minha vida.
Era como se você estivesse em todos os lugares e eu não me cansava.

Ele franziu os lábios, pensando em algo que queria dizer, mas não disse. —
Obrigado pelo elogio. — Seus olhos se suavizaram. — Você acha que consegue
ficar de pé ou preciso ajudá-la a se vestir?

Mexi os dedos dos pés e tentei mover minhas pernas. — Definitivamente, vou
precisar de ajuda. Estou completamente sem energia.

Camden sorriu. — Muito bem, garotinha, levante-se. — Ele se levantou comigo


em seus braços. Como ele não estava exausto, eu não tinha a menor ideia. Nota
para mim mesma: preciso aumentar minha resistência. Nós dois nos vestimos
juntos, lançando um ao outro alguns olhares. Eu lhe dava um sorriso tímido, e
ele piscava para mim, fazendo-me corar. É difícil acreditar que, depois do que
acabei de permitir que ele fizesse comigo, eu me sentiria envergonhada por
qualquer coisa. Mas ele tinha esse efeito sobre mim.

Ele entrelaçou seus dedos nos meus e me deu um beijo lento e fácil. — Vamos
para casa, vou grelhar alguns hambúrgueres para nós.

Meu estômago roncou. — Ótimo, estou morrendo de fome.

Quando chegamos à porta, o celular de Camden tocou e ele o tirou da bolsa. Eu


dei uma olhada rápida no nome que apareceu na tela. Era uma mensagem de

175
texto de alguém chamada Bree. Ele leu o que ela enviou e rapidamente colocou
o celular de volta no lugar. Ele olhou para mim enquanto segurava a porta
aberta, e pude ver que algo em seu humor havia mudado. Meu estômago caiu e
fiquei imaginando quem seria ela. Ele não respondeu a ela, mas minha
curiosidade foi aguçada. Camden ainda estava saindo com outra pessoa? Eu
não sabia o que faria se ele estivesse. Eu estava me apaixonando muito por ele,
e a ideia de ele estar com outra pessoa que não fosse eu me deixava enjoada.
Ele me deu um sorriso de lábios fechados quando entramos em nossos veículos.
Dirigi o resto do caminho para casa em silêncio. Minha mente foi para todas as
direções possíveis e eu queria perguntar a ele, mas isso faria parecer que eu não
confiava nele. Eu não queria começar nosso relacionamento com dúvidas e
perguntas. Antes de chegar ao apartamento, decidi que deixaria para lá. Eu
tinha certeza de que não era nada demais. Rezei para que eu estivesse certa.

176
CAPÍTULO – 15
EU ESTAVA SAINDO das minhas aulas de A&P, me sentindo muito estressada
por causa da preparação para as provas finais, quando fui recebida por uma
visão de dar água na boca. Camden estava encostado em um poste do lado de
fora da porta em toda a sua glória de macho gostoso. Uma calça jeans bem
ajustada, que eu só tinha visto algumas vezes, estava pendurada nos quadris
estreitos, e ele vestia uma camisa xadrez de botão com os punhos enrolados até
os antebraços. Ele completou o visual com um par de tênis Nikes pretos. Vê-lo
depois da manhã que eu havia tido foi como respirar ar fresco. Sem hesitar,
caminhei até ele e inclinei minha cabeça para trás. Ele se inclinou e beijou a
ponta do meu nariz e depois a minha testa. Seus braços me envolveram e me
seguraram em seu peito enquanto eu encostava meu rosto nele.

— Dia difícil? — Ele perguntou.

— Muito. Essas provas finais vão me matar.

Com a mão ao meu redor, ele tirou minha bolsa do ombro e a colocou sobre o
seu. Agora, ele fazia pequenos gestos como esse para mim o tempo todo. — É
melhor não, tenho algumas coisas novas que gostaria de experimentar contigo
antes que você vá embora

Dei um tapa em seu braço. — Cale a boca, Brooks.

Rindo, ele pegou minha mão e começou a me acompanhar pelo campus até o
estacionamento. Conversamos sobre o corpo humano e, surpreendentemente,
por causa do trabalho de Camden, ele sabia bastante sobre como as coisas
funcionavam em termos fisiológicos. Se estivéssemos falando sobre qualquer
outra coisa, bem… ele também era bastante versado nesses assuntos. Parece
que eu o chamaria para ser meu parceiro de estudos ainda esta semana.
Estávamos quase chegando ao meu carro quando ouvi alguém chamar meu
nome à distância. Parando, me virei para ver quem era. Levantei minha mão
livre e protegi o sol de meus olhos para tentar ver melhor. De jeito nenhum. De
todas as pessoas… ele estava falando sério agora? Luke estava correndo pelo
campo até onde Camden e eu havíamos parado. Dei uma olhada para Camden
e verifiquei se ele parecia tão furioso quanto eu estava me sentindo. Tudo o que
vi foi indiferença. Mas que diabos?

Quando Luke se aproximou, ele parecia exatamente do mesmo jeito de sempre.


Não sei por que eu teria presumido que ele estava diferente. Fazia apenas
algumas semanas desde a festa de Halloween.

177
— Keegan, podemos conversar? — Perguntou ele, quando parou na minha
frente.

Eu franzi a testa. — Não, acho que não. Não tenho nada a lhe dizer.

Ele olhou de mim para Camden e depois para nossas mãos unidas. Camden
ainda parecia calmo e controlado. — Espere, vocês dois são um casal agora?

— Não que isso seja da sua conta, mas sim, somos — respondi.

Luke balançou a cabeça. — Inacreditável. Você passou de mim para Brooks,


deixe-me adivinhar, em pouco tempo.

Eu estava me desestabilizando rapidamente. Eu esperava nunca mais ter que


vê-lo, mas aparentemente o universo estava se sentindo muito cruel hoje. Cada
palavra que saía de sua boca estava servindo para alimentar o fogo dentro de
mim para esganar esse idiota do outro lado do campus. — Para começar, não
importa quanto tempo se passou até que Camden e eu começássemos nosso
relacionamento. E outra coisa, tenho certeza de que você perdeu qualquer
direito quando decidiu me colocar em seus malditos joguinhos de fraternidade.

Ele soltou um suspiro frustrado. Passando as mãos pelos cabelos, ele disse: —
Veja, é por isso que eu queria falar com você. Preciso me desculpar pelo que
aconteceu…

Levantei minha mão. — Não faça isso. Não quero ouvir suas desculpas de
merda. Você sabia o que estava fazendo desde o início. Era como 'oh, vamos
escolher a garota vulnerável e ver se consigo fazer com que ela se apaixone por
mim', não era? — Quando ele não respondeu, eu gritei: — Não era?

Ele olhou para o chão. — Quando falei com você pela primeira vez, sim. — Ele
trouxe seus familiares olhos azuis até os meus. — Mas depois eu comecei a
conhecê-la, Keegan. Você não era nada do que eu esperava, e comecei a me
apaixonar por você.

Acho que estava possuída. Soltei a mão de Camden e a levei para trás de mim
em um golpe tão forte que, quando ela se chocou com o rosto de Luke, senti as
reverberações em meu braço. Lágrimas se formaram em meus olhos devido à
raiva que eu estava sentindo. Sua cabeça se torceu com o golpe e ele parecia
genuinamente chocado.

— Não, você não estava, Luke. Você estava com medo de que sua namorada
vadia o deixasse porque você não conseguiu ganhar uma aposta. Isso nunca foi
sobre mim e, francamente, você não se importaria em quem pisoteia no
processo. Então, que se dane você e os idiotas com quem você vive. A vida das
pessoas não é um jogo. Cresça. — Eu me virei para ir embora, completamente

178
cega pela raiva que me invadia. A mão de Luke se esticou e tentou agarrar meu
braço quando Camden finalmente se aproximou.

Segurando o pulso de Luke, Camden o dobrou em um ângulo estranho, fazendo


com que Luke gritasse de dor. — Muito bem, idiota, você já disse o que pensa e
agora vou dizer o que penso. Aquela garota que você escolheu para brincar e
machucar — ele apontou para mim. — Ela é minha agora. Se você olhar para
ela, piscar para ela, respirar o mesmo ar que ela respira ou tentar entrar em
contato com ela novamente, eu vou acabar com você. Não haverá nada que ela
diga que me impeça de enterrá-lo. Está me entendendo? — Camden se inclinou
para perto, causando mais tensão no braço de Luke. — E para que fique
registrado, ela nunca foi sua. Quaisquer que sejam os sentimentos que você
acha que teve… eles se foram agora. Você não soube reconhecer algo bom
quando teve, então corra para seus amiguinhos e repasse a mensagem, isso vale
para eles também. Essa merda está acabada. Se eu souber de outra festa como
essa, nenhum de vocês sobreviverá. — Ele o soltou e Luke segurou seu pulso.
— Ah, e para que fique claro, sua matrícula na academia… foi revogada.

Camden se virou e deu vários passos em minha direção. Sem sequer dar uma
olhada para trás para ver se Luke ainda estava ali, ele tocou minha bochecha
com ternura. Eu me inclinei para seu toque enquanto seu polegar enxugava
uma lágrima perdida. Eu funguei. — Desculpe.

— Huh uh. Não precisa se desculpar, Blue. Mas esta será a última vez que quero
ver você chorando por ele. Ele não merece suas lágrimas.

— Não estou chorando por ele, estou chorando por causa de como deixei que
isso me afetasse. Mas não importa, ele não significa nada para mim. Eu tenho
você e sou feliz. — Tentei lhe dar um sorriso tranquilizador.

Agarrando minha mão, eu estremeci. — Você deu um tapa e tanto nele. Precisa
de gelo? — Ele sorriu.

Mordi o lábio, tentando não sorrir com sua brincadeira. — Quieto. Apenas me
leve para casa.

— É para já. — Ele me acompanhou pelo resto do caminho até meu carro,
encerrando oficialmente o capítulo que era o Luke.

O feriado de Ação de Graças estava chegando em dois dias. Macie e Dodger


estavam no apartamento conversando sobre nossos planos para o curto período
de férias. Naturalmente, eu passaria o feriado com Sarah em casa, mas não
estava ansiosa para ver minha mãe. Pensei em trazê-la aqui para que eu não
tivesse que lidar com o estresse adicional de estar perto da minha mãe, mas eu

179
sabia que ela ficaria chateada se eu não fosse lá em casa. Macie e Dodger
estavam indo para a casa da família dele para o jantar de Ação de Graças, já
que os pais dela estariam de férias em Cabo, como fazem todos os anos. Mace
geralmente vai junto, mas depois que eu e ela conversamos, ela estava tentando
dar uma chance ao relacionamento com Dodger. Camden e eu não tínhamos
conversado sobre as festas de fim de ano, mas achei que faríamos nossas
próprias coisas e talvez eu pudesse convencê-lo a fazer compras na Black Friday
comigo bem cedo pela manhã.

Por falar em Camden, ele tinha acabado de entrar pela porta colocando sua
bolsa de ginástica no chão. Vindo direto em minha direção, eu me senti como
um cervo capturado. Como tive tanta sorte? Suas roupas de ginástica estavam
suadas e grudadas em seu corpo musculoso, seu cabelo castanho estava
espetado como se ele tivesse passado os dedos por ele algumas vezes. Mas seus
olhos, aqueles olhos castanhos avermelhados que eu tanto amava, estavam
olhando para mim como se eu fosse o pedaço de bolo de chocolate que ele havia
desejado o dia todo e que finalmente poderia comer. Ah, sim, eu gostava de ser
sua recompensa depois de um longo dia longe um do outro. Eu estava na
cozinha lavando a louça que havia lavado mais cedo quando ele entrou por ela
e me levantou em seus braços. Os lábios macios de Camden se chocaram contra
os meus, roubando meu fôlego. Suspirando, separei meus lábios e senti sua
língua entrar em minha boca. Deixei que ele me lambesse e mordiscasse antes
de me afastar. Ele fez um beicinho lindo.

— Desculpe, Sarah está ali, caso você não tenha percebido.

Ele nos virou, já que ainda estava agarrado a mim. Ele viu minha irmãzinha
assistindo à TV e fazendo a lição de casa na mesa de centro. — Merda, eu não
a vi — ele sussurrou para mim.

— Está tudo bem. Você não se empolgou muito. — Eu lhe dei um sorriso. Ele
me colocou de pé e eu me encostei no balcão. — Você só s esqueceu do seu
irmão e da Macie.

Camden esvaziou algumas de suas coqueteleiras e as enxaguou na pia. — Ah,


sim, o que eles estavam fazendo?

— Eles queriam saber quais eram os planos de todos para o Dia de Ação de
Graças. A Macie está indo para a casa dos seus pais em vez de passar as férias
em algum lugar exótico. — Eu me abanei dramaticamente.

Ele sorriu para mim. — E quais são os nossos planos?

— Pensei em ir para a casa da minha mãe e preparar o jantar, assim as coisas


ficam seminormais para Sarah e você passa um tempo com sua família.

180
Ele colocou as xícaras no chão e se virou para mim. — Você não quer passar o
feriado juntos?

— É claro que eu adoraria, mas presumi que você quisesse estar com sua família
e não posso ficar longe da minha irmã no momento. Minha mãe tem entrado e
saído tanto ultimamente que não posso confiar que ela não a deixará para se
cuidar sozinha.

— Ela realmente faria isso?

Inclinei a cabeça para o lado e fiz um olhar de ‘você não tem ideia’. — Minha
mãe já me mostrou várias vezes que sua vida social é mais importante do que
passar o tempo com as filhas.

— Certo, então por que vocês duas não vão à casa dos meus pais no Dia de Ação
de Graças? Eles adorariam conhecê-las, e minha mãe sempre faz comida mais
do que suficiente.

Eu dei uma risadinha. — Tenho certeza de que ela faz. Vocês são quatro, não
são?

— Incluindo meu pai, são cinco.

Balancei a cabeça. — Sua mãe deve ser uma santa.

Ele deu um sorriso sincero. — Ela é incrível. Você vai adorá-la.

Suspirando, eu disse: — Camden, não posso deixar minha mãe sozinha. Ela já
está lidando com o fato de eu ter saído de casa e, com todas essas mudanças,
acho que nosso relacionamento está realmente sofrendo pressão.

Minha irmã mais nova entrou correndo na cozinha e abraçou o quadril de


Camden.

— Ei, garota, o que está acontecendo?

— Dever de casa estúpido… garotos estúpidos — disse ela despreocupadamente


enquanto pegava um biscoito no balcão.

— Os meninos são estúpidos — disse ele, provocando um dos cachos dela.

— Mas o Dodger não é estúpido. — Suas bochechas ficaram rosadas e ela olhou
para os pés.

Meus olhos se voltaram para os de Camden e seus ombros estavam tremendo


ao tentar conter o riso. Como não percebi que minha irmã tinha uma queda pelo

181
Dodger? Bem, não posso dizer que não a culpo, ele era muito bonito. — Não, o
Dodger não é estúpido.

— Psh...

— Camden! — Bati o pé nele e balancei a cabeça. Não vamos estourar a bolha


dela. Ele piscou para mim.

— Tudo bem, voltando ao que estávamos falando. Acho que você e a Sarah
deveriam planejar ir lá em casa. Comeremos por volta do meio-dia, e você não
precisa fazer nada. Depois de comermos e jogarmos bola, posso deixá-las na
casa de sua mãe e você pode levar comida da minha casa para ela.

— Jogar bola?

— Sim, temos uma espécie de tradição de, após cada jantar em família, irmos
para o campo e jogar beisebol. Como vocês duas e a Macie estarão lá, teremos
um bom time — respondeu Camden com simplicidade.

Sarah sorriu para ele: — Parece divertido. Podemos ir, Keegan?

— Minha mãe não vai aceitar de jeito nenhum que eu leve a Sarah para o feriado
— eu disse.

— Sim, ela aceitaria — disse a vozinha de Sarah.

— Por que você diz isso? — Perguntei.

— Porque sim. — Ela deu de ombros. — Mamãe estava falando com alguém ao
telefone ontem, e eu a ouvi dizer que estava indo para a casa do namorado, mas
que estava tentando pensar no que fazer comigo. Acho que ela ia te perguntar
se eu poderia ficar com você.

Fiquei boquiaberta com ela. — Mamãe disse que estava indo para a casa do
namorado no Dia de Ação de Graças?

— Sim!

Isso não podia ser adiado por mais tempo. Eu falaria com ela quando deixasse
Sarah em casa. Eu estava farta de que ela nos ignorasse. E durante as festas
de fim de ano? Não estava tudo bem. Olhei para Camden, e ele se abaixou para
sussurrar algo em seu ouvido. Ela assentiu com a cabeça e voltou para a sala
de estar para assistir à TV. Vindo até mim, ele me puxou para os seus braços e
apoiou o queixo no topo da minha cabeça.

— Minha casa? — Ele perguntou.

182
Respirei fundo, sentindo-me mais chateada do que deveria. Sempre soube como
minha mãe era. A idade normalmente amadurece as pessoas, mas, no caso dela,
ela parecia estar piorando. Eu queria sacudi-la pelos ombros e dizer: — Acorde,
mãe, você é uma mulher adulta. Sua vida foi uma merda, mas isso não faz de
mim e da Sarah objetos que atrapalharam sua vida. — Eu a amava. Eu a amava
incondicionalmente, mas às vezes eu realmente não gostava das escolhas que
ela fazia.

Inclinando minha cabeça para trás, olhei para seus olhos castanhos e suaves.
Eles estavam cheios de compreensão e engoli o nó em minha garganta. — Tudo
bem, sua casa. Mas pretendo contribuir de alguma forma. Não posso aparecer
de mãos vazias. Então, você poderia ligar para sua mãe e perguntar o que posso
levar?

Ele beijou a ponta do meu nariz. Isso estava se tornando uma das minhas coisas
favoritas que ele fazia. — Sim, vou ligar para ela agora mesmo e avisar que
temos mais dois chegando. — Ele me deu um tapa na bunda e pegou seu
telefone antes de ir para a sala de jantar.

Puxa, agora não era hora de entrar em pânico por conhecer a família de Camden
pela primeira vez. Eu tinha certeza de que os pais dele eram adoráveis. Não era
preciso ser um cientista para saber que eles haviam criado dois ótimos garotos.
Os outros dois deviam ser igualmente maravilhosos. Puxa vida, mais dois
irmãos Brooks. Eu não sabia se estava esperando uma surpresa ou se deveria
me preocupar. Camden e Dodger não poderiam ser mais diferentes um do outro.
Um irmão era sério e durão, mas com um lado doce que não mostrava com
frequência. O outro era carismático, engraçado e descontraído. Ambos eram
lindos de morrer. Eu estava curioso para saber como eram os pais deles. Isso
deve ter vindo de algum lugar. Suspirando, voltei a lavar a louça e tentei decidir
o que diria à minha mãe mais tarde.

— Blue, você pegou as tortas? — Camden chamou do andar de cima. Eu estava


carregando as sobremesas que tinha feito na noite anterior para o carro.

— Sim, vamos lá! — Eu gritei para ele. Ele estava inclinado sobre a grade e
parecia delicioso como sempre. Quem precisava de sobremesa quando eu o
tinha?

Depois de trancar tudo, ele desceu as escadas e todos entramos no carro. Sarah
passou a noite ontem, já que íamos sair cedo. Acontece que ela estava certa
sobre o fato de minha mãe querer ficar de fora das festividades do feriado.
Tivemos uma briga monumental por ela ter deixado minha irmã sozinha em
casa. Ela começou a chorar e me disse que eu a estava acusando de ser uma

183
mãe ruim. Talvez eu estivesse. Mas eu não tinha a menor ideia de como poderia
fazê-la acordar e ver o quanto ela estava sendo destrutiva.

Durante o trajeto até a casa dos pais dele, meu nervosismo começou a se
manifestar. O único conforto que eu tinha era o fato de que Macie também
estaria lá. Camden sabia que eu estava ficando ansiosa porque a cada poucos
minutos ele apertava minha mão. Ele era ridiculamente bonito. Estava usando
jeans escuros e uma camisa térmica preta que se moldava a cada curvatura dos
seus braços e peito. Tinha o cabelo espetado e usava uma colônia com cheiro
de madeira. Entre sua aparência e seu cheiro, ele era uma combinação letal. Eu
o queria. Senti que não estava à altura dele e fiquei mexendo na bainha da
minha camisa. Eu estava usando uma calça jeans branca skinny, sapatilhas
bronzeadas e uma blusa solta com estampa chevron de pêssego. Coloquei algo
em meu cabelo que ajudou a fazer com que as ondas se destacassem mais do
que o normal, ele estava pendurado nas minhas costas. O rosto de Camden
quando me viu esta manhã foi toda a aprovação de que eu precisava. Eu só
esperava não estar mal vestida para a família dele.

Estávamos na estrada há quase trinta minutos quando viramos em uma bela


subdivisão do outro lado de Athens. As casas não eram necessariamente novas,
mas era o tipo de bairro que tinha belas árvores grandes e gramados bem
cuidados. Quanto mais avançávamos, maiores ficavam as casas. Minhas
palmas das mãos estavam suando, mas Camden não disse nada sobre isso.
Quando ele entrou na entrada de uma casa de aparência imponente, olhei para
cima. Era uma casa colonial de dois andares que poderia ter sido tirada de uma
revista Southern Living. Colunas brancas adornavam a frente e as persianas
verdes faziam a parte anterior da casa se destacar. Papoulas, narcisos, lírios e
sebes estavam espalhados pela frente da casa e ao redor de uma árvore no meio
do quintal. Isso certamente não era o que pensava quando imaginava a casa da
infância de Camden. Ao estacionar o carro, ele saiu e deu a volta para abrir
minha porta. Vi o carro da Macie, junto com alguns outros, e me senti um pouco
aliviada por ela já estar aqui.

Sarah já tinha saído do carro e estava correndo pelo caminho até a porta da
frente. — Não toque em nada! — Eu gritei para ela.

Camden colocou seu braço em volta de mim e beijou minha bochecha. — Não é
um museu, Keegan. Meus pais são legais, prometo.

No momento em que ele falou, alguém abriu a porta da frente. Eu estava


olhando para uma versão mais jovem de Dodger, com cabelos pretos e olhos cor
de caramelo. Ele era alto, mas mais magro do que Dodger e Camden. Ele desceu
os degraus com um largo sorriso no rosto. Ele se aproximou de Camden, e eles
bateram palmas e se abraçaram.

— Ei, irmãozinho, é bom ver você.

184
— Você também. — Os dois se afastaram e sorriram. Quando aqueles olhos se
voltaram para mim, dei uma olhada rápida. — Bela companhia, cara. Você vai
me apresentar?

Camden revirou os olhos e empurrou seu ombro. — Ela não é apenas uma
acompanhante, idiota. Wrig, este é a Keegan. Keegan, este é meu irmão mais
novo, Wrigley.

Estendi minha mão, que ele pegou. — Muito prazer em conhecê-lo.

— O prazer é definitivamente todo meu. — Ele sorriu e balançou as


sobrancelhas.

— Dê um tempo, homenzinho. Ela não está interessada.

— Quem disse? Parece que a boa aparência é de família. Onde está o irmão mais
velho, preciso ver minhas opções? — Retruquei.

Camden estreitou os olhos para mim. — Keegan — ele disse em tom de


advertência.

— Bem, só estou dizendo… quem disse que você é o irmão ideal para mim? A
Macie pode ter um de vocês, mas isso me deixa com três… — fui interrompida.
Camden me levantou por cima do ombro e deu um tapa na minha bunda. Eu
gritei: — Me coloque no chão! Não posso conhecer sua mãe assim"

— Claro que pode, ela vai adorar você.

— Mas estou de cabeça para baixo. Vamos, Camden, meu cabelo vai ficar uma
bagunça.

— Você ainda é linda. — Ele se dirigiu para a porta. Ouvi Wrigley rindo atrás de
nós.

— Camden Mason Brooks, o que você está fazendo com essa pobre garota? —
Disse uma linda voz cantada.

— Oh, ei, mamãe. Só estou tentando dar uma lição.

Eu ia matá-lo. — Você tem mesmo que ser tão homem das cavernas? Juro que
você está cada dia mais parecido com seu pai.

— Isso não é uma coisa ruim. — Ele parecia satisfeito consigo mesmo. — Mãe,
quero que você conheça minha amiga e colega de quarto, Keegan. — Ele me
girou de modo que, quando me levantei com as mãos contra suas costas, pude
olhar para ela.

185
Ela quase me deixou sem fôlego. Eu estava olhando para uma boneca de
porcelana impecável. A mãe do garoto era mais pequena do que eu poderia
imaginar. Definitivamente, era mais baixa do que meu 1,80m. Ela tinha longos
cabelos castanhos que enrolava nas pontas, olhos castanhos profundos que
combinavam com os de Camden e as feições mais suaves que acho que já vi.
Embora fosse um pouco difícil dizer por esse ângulo. Ela me deu um sorriso de
boas-vindas que aliviou um pouco do meu desconforto.

Estendendo a mão, ela disse: — Oi, eu sou Donna. É um prazer finalmente


conhecê-la.

Pelo menos ela parecia estar se divertindo com as brincadeiras do filho. Apertei
a mão dela e retribuí o cumprimento. Não me passou despercebido que duas
coisas foram ditas que me fizeram pensar. Para começar, Camden me
apresentou como sua amiga. Percebi que não havíamos colocado um rótulo no
que quer que fosse, mas presumi que havíamos ultrapassado a categoria de
amigo. E, segundo, o que ele disse a ela sobre mim? O uso que ela fez da palavra
‘finalmente’ soou em meus ouvidos, então ele deve ter dito a ela algo a meu
respeito. Nada disso parecia promissor.

— Cam, coloque-a no chão e venha me dar um abraço. — Ela deu um tapinha


no braço dele.

Ele me colocou no chão e eu tentei pentear meu cabelo para trás com meus
dedos. É sério? Ótima primeira, impressão, Keegan, simplesmente maravilhosa.
O abraço que ele deu em sua mãe foi reverente e amoroso. Pude perceber na
ternura que ele demonstrou a ela que amava muito sua mãe. Eu gostei disso.
Meninos que amam e respeitam suas mães sempre marcam pontos em meu
livro. Quando ela o soltou, sorriu para mim e fez um gesto na direção da casa.

— Por favor, entre. Sua amiga Macie está na sala de jogos com meu marido Paul.

— Oh, Deus, o papai está mostrando a ela sua coleção de sujeira?

Olhei para ele com estranheza. — Coleção de sujeira?

Donna pegou meu braço e começou a me levar para dentro da casa. Olhei de
relance para Camden, que agora estava caminhando ao lado do irmão, e ele deu
de ombros. — Cam lhe contou que todos os meus meninos têm nomes de
campos de beisebol, certo? — Assenti com a cabeça. — Bem, somos uma família
que adora beisebol e tentamos ir ao maior número possível de jogos em todo o
país. Meu marido gosta de ser rebelde e pular o muro quando o jogo termina,
depois que a maioria das pessoas já foi embora, e recolher a sujeira do campo.

— Ele já se meteu em problemas por fazer algo assim?

186
Ouvi risadinhas atrás de mim. — Papai não é tão flexível como costumava ser
— respondeu Wrigley. — Houve um jogo em que os Cubs estavam jogando
contra os Cardinals, e ele não conseguia voltar para cima do muro. Mamãe
estava gritando para que o ajudássemos a subir antes que os seguranças o
pegassem.

Eu dei uma risadinha. — Ah, eu poderia tê-lo matado — disse Donna com uma
voz irritada.

Entrar na casa era como entrar em uma loja chique do interior. Para onde quer
que eu olhasse, havia pequenos toques de madeira rústica, pintura desbotada
nos móveis e antiguidades. Certamente não se parecia em nada com um museu.
O cheiro era de peru cozido, torta de maçã assada e canela. Era convidativo,
como uma casa deve ser. Camden deu um passo à frente e colocou a mão na
parte inferior das minhas costas para me mostrar o caminho a seguir. Donna
pegou as tortas dele e foi para a cozinha para continuar cozinhando. Eu havia
me oferecido para ajudar, mas ela me afastou.

A sala de estar era aberta, com vigas expostas ao longo do teto, e sofás
desgastados no meio da sala. Dodger e Macie estavam em um canto olhando
algum tipo de álbum de fotos e ainda não tinham nos visto. Um senhor mais
velho estava sentado conversando com alguém que se parecia muito com
Camden. Eu não achava que fosse possível que alguém o superasse na categoria
de tamanho, mas esse cara conseguiu. Ele era monstruoso! Quando os dois
homens nos viram entrar na sala, eles se levantaram. O homem mais velho
tinha um olhar de orgulho em seus olhos. Eles se assemelhavam aos olhos azuis
penetrantes de Dodger e do outro homem. Todos os meninos claramente
herdaram a constituição física do pai. Ele era alto, com ombros largos e uma
postura ampla. Se eu tivesse que adivinhar sua idade, diria que ele estava na
casa dos quarenta e poucos anos, e era óbvio que ele se cuidava.

Não houve troca de palavras entre os dois homens quando se cumprimentaram,


mas Camden e seu pai se abraçaram com força. Depois de algumas palmas nas
costas, o pai se afastou e segurou os ombros do filho.

— Você está com uma boa aparência, filho. Muito bem!

— Obrigado, pai. — Só a expressão no rosto de Camden me disse o quanto as


palavras do pai significavam para ele. — Oh, eu tenho alguém que quero que
você conheça. Keegan, este é meu pai, Paul.

Eu ia apertar sua mão, mas quando ele a segurou, me puxou para um abraço
de urso. — Desculpe, garota, mas eu sou do tipo que abraça. E é um prazer
conhecê-la.

Um nó estava se formando em minha garganta. Era assim que um pai deveria


ser: solidário, amoroso, atencioso. Não ter desaparecido de sua vida nos últimos

187
vinte anos, sem se importar com o fato de você estar ou não viva. Eu o abracei
de volta com força, quase desejando que eu pudesse ficar assim por mais algum
tempo, independentemente de tê-lo conhecido. Eu podia sentir o calor que
irradiava dele.

— Prazer em conhecê-lo também — eu disse, voltando para Camden e


apreciando o fato de ele possessivamente colocar a mão no meu quadril.

— Você vai me apresentar, homenzinho, ou tem medo de que eu roube essa


linda criatura de você? — Disse o gêmeo quase idêntico de Camden,
aproximando-se de mim.

— Que mania é essa de meus irmãos tentarem roubar minha garota?

— Bem, se você estivesse dando a ela o que ela precisa, então isso não seria um
problema, não é? — Ele olhou para mim. Fui imediatamente atraída por seus
olhos azuis. Seu elogio me pegou desprevenida e eu corei em um tom profundo
de vermelho. Eu não sabia se essa era uma brincadeira normal entre os dois ou
não. Os rostos dos dois estavam sérios, mas, aos poucos, um sorriso surgiu no
rosto de Camden.

— Idiota — rosnou Camden. — Keegan, este é meu irmão mais velho, Turner.
Turner, esta é minha… — disse ele possessivamente.

O pai deles deu uma risadinha. — Prazer em conhecê-lo, Turner. — Inclinei


minha cabeça para ele, pensando melhor em apertar sua mão como fiz com o
resto da família.

Ele percebeu e sorriu. Eu engoli em seco. A semelhança era incrível, exceto pela
cor dos olhos.

Senti uma presença se aproximar do meu outro lado e olhei para cima para ver
Dodger. Ele passou o braço por cima do meu ombro e me inclinou para beijar o
topo da minha cabeça. Eu adorava o fato de ele se sentir tão à vontade comigo.
— Está muito bonita, linda. Onde está a Sarah?

Ah, droga, em meu momento de distração, esqueci onde estava minha irmã. —
Ela está na cozinha com a mamãe. Acho que ela está ajudando a fazer chá doce
— Camden respondeu por mim. Soltei um suspiro de alívio.

Macie havia se sentado em um dos sofás e estava folheando uma revista quando
levantou os olhos e sorriu para mim. Aposto que ela percebeu o quanto eu estava
me sentindo constrangida. Revirei os olhos para ela e encostei minha cabeça no
ombro de Camden. Se não estivéssemos na frente de sua família, eu o beijaria
com força agora mesmo. Adorei o fato de Turner tê-lo pressionado a se interessar
por mim. E adorei o fato de ele ter feito isso na frente das pessoas que mais
significavam para ele. Calorosos e fofos.

188
— Bem. — Paul esfregou as mãos. — Espero que sua mãe esteja quase
terminando de cozinhar, porque estou morrendo de fome! Cam, por que você
não leva a Keegan e mostra a casa para ela? Podemos conversar quando nos
sentarmos para comer.

— Quer ver a casa? — Perguntou ele suavemente.

— Claro, eu adoraria.

Fiz um pequeno aceno para todos na sala, pois estavam me observando


atentamente. Por um instante, me perguntei se eu era a primeira garota que
Camden havia levado para casa. Eles pareciam estar intrigados comigo. Camden
pegou minha mão e começou a me guiar pela casa. Ele me mostrou tudo no
andar de baixo, desde a sala de jantar que estava arrumada para nos receber,
o quarto principal de seus pais, que me fez babar com o tema de praia e a cama
de dossel, até a lavanderia que fazia com que lavar roupas parecesse divertido.
Quando começamos a subir as escadas, a mãe de Camden o chamou para
ajudá-la com algo bem rápido. Ele me deixou ali, então aproveitei o tempo
sozinha para olhar todas as fotografias penduradas na parede. Havia fotos de
família das férias que eles haviam tirado, fotos da escola e fotos dos meninos
praticando esportes. Todos pareciam muito felizes. Senti uma pontada de
ciúme. Eu queria poder dar a Sarah algo assim, mas sabia que isso não ia
acontecer. Deixando isso de lado, continuei subindo os degraus, um a um, me
deliciando com cada sorriso e cada foto. Eles pareciam ser a família perfeita.
Quase no topo dos degraus, uma fotografia chamou minha atenção. Era de
Camden durante sua formatura no ensino médio. Ele estava usando o boné e
beca, e o sorriso em seu rosto me deixou sem fôlego. Mas o que mais me chamou
a atenção foi a garota que estava ao lado dele. Ela tinha cabelos escuros e olhos
verdes azul-marinho. Sua pele bronzeada quase combinava com a cor da pele
de Camden. Ela era incrivelmente bonita. O que me surpreendeu foi o controle
que ele exercia sobre ela. Ela estava olhando para a câmera, enquanto ele olhava
para ela. Parecia tão íntimo. Quem era ela? Ele nunca me contou sobre uma
antiga namorada, mas também nunca discutimos nossos passados. Alguma
coisa não estava certa. Eu já tinha visto quem ele trazia para dentro e para fora
do nosso apartamento antes; essa garota era diferente, era especial.

Apenas alguns minutos se passaram e Camden subiu as escadas, levando duas


pessoas de cada vez. Quando ele chegou até mim, beijou meu nariz como o típico
Camden, derretendo meu coração e me fazendo esquecer minhas preocupações.
Eu tinha certeza de que, quem quer que ela fosse, não seria nada demais. E se
ela fosse, bem, talvez ele compartilhasse em algum momento, quando tivesse
vontade. Continuamos com o resto da turnê. Os pais dele ainda mantinham os
quartos de cada um dos meninos exatamente iguais desde o dia em que foram
embora. É verdade que Wrigley ainda morava em casa, porque ainda estava no
ensino médio. Mas ele estaria se formando este ano e indo para a faculdade. Eu
adorava ver o estilo individual de cada um deles. Turner era apenas um ano

189
mais velho do que Camden, portanto, tinha 26 anos, e seu quarto era decorado
com roupas de cama xadrez e pôsteres de faculdade. Camden tinha pesos,
troféus e uma sensação geral de um espaço típico de um homem. O quarto do
Dodger tinha algumas guitarras e fotos de garotas de biquíni. O espaço do
Wrigley estava destruído. Ele tinha roupas espalhadas por todo o lugar, cheirava
a quarto de menino de colégio e as paredes estavam cheias de objetos de
beisebol. Sim, um típico quarto de menino. No corredor, empurrei Camden
contra uma parede. Ele olhou para mim com uma surpresa divertida.

— Está pensando em se divertir, Blue? — Ele provocou.

— Não. — Eu me esfreguei de brincadeira contra ele.

Rindo, ele disse: — Tudo bem, então o que eu fiz para merecer esse tratamento
duro.

Levantei uma de minhas mãos e toquei seu lábio inferior. Ele os separou e suas
pupilas se dilataram. — Eu queria lhe agradecer.

Ele lambeu os lábios e sua língua tocou a ponta do meu polegar. — Pelo quê?

— Por ter dito o que você disse lá embaixo. Você me chamou de amiga para a
sua mãe, e foi um soco no estômago, mas eu entendo, não temos rótulos. Só
que, quando o Turner insistiu, você se impôs. E não só isso, como na frente do
seu irmão e do seu pai. Então, obrigado. Isso me fez sentir desejada.

— Você é desejada, Keegan. Mais do que eu acho que você sabe. E me desculpe
pela minha mãe. Eu não tinha certeza do seu nível de conforto, por isso não
quis insistir no assunto. Se você quer nos definir, então podemos fazer isso.

Balancei a cabeça. — Não, não quero forçá-lo a fazer algo que talvez você não
queira.

Ele franziu as sobrancelhas. — De que diabos você está falando? Estou com
você neste momento?

— Sim.

— Então, o que diz que você está me forçando? Ninguém me obriga a fazer nada.
Você deveria saber disso mais do que ninguém.

Suspirando, olhei para baixo. — Você tem razão, me desculpe. Eu não queria
começar uma briga.

— Estamos brigando? Tenho certeza de que, se estivéssemos, você saberia disso.


— Ele inclinou meu queixo para cima com o dedo. — Mas, se estivermos, estou
pronto para o sexo das pazes. É o meu tipo favorito.

190
Agora era eu que estava me divertindo. — Pensei que o sexo na academia fosse
o seu favorito.

— Isso também.

— Mhmm…

Ele aproximou seus lábios dos meus e me beijou tão suavemente que parecia o
toque de uma pena. A delicada sensação desse beijo me deu borboletas; fez com
que eu me sentisse como se estivesse flutuando, fez com que eu me perguntasse
quão profundos eram meus sentimentos por Camden. O que começou como
uma lenta carícia de nossas bocas se transformou em algo mais. Eu me inclinei
para ele, pressionando todo o meu peso em seu peito e estômago. Sua língua
deslizou ao longo dos meus lábios, querendo ter acesso a mais de mim. Eu podia
sentir sua excitação me pressionando e me deixei esquecer onde estava e quem
estava lá embaixo. Camden fazia com que eu me perdesse sempre que ele me
beijava assim. Ele me consumia.

— O peru está pronto! — Sarah gritou da base dos degraus.

Meu doce homem pensativo beijou minha boca com ternura mais uma vez e
sorriu para mim. Fiz beicinho com a interrupção. O olhar em seus olhos parecia
diferente. Mais amoroso e aberto. Eu sabia que todas as paredes que eu tinha
estavam desmoronando e senti meu coração acelerar o ritmo. Eu estava me
apaixonando por Camden Brooks, e a palavra ‘A’ estava tentando entrar
sorrateiramente no meu vocabulário. Ele me deixava muito feliz, mais feliz do
que acho que jamais estive. Mas eu precisava ir mais devagar. Não havia como,
apesar de parecer que ele estava me vendo agora, ele estar sentindo outra coisa
que não fosse amor. Camden não fazia amor e, muito menos, não comigo. Eu
teria que ser mais cuidadosa com minhas emoções perto dele para não
escorregar e dizer algo que pudesse fazê-lo se afastar. A palavra com ‘A’
arruinaria tudo.

— Vamos lá, vamos comer. Juro que eu poderia comer uma vaca inteira agora
mesmo — disse ele, interrompendo meus pensamentos.

— Você quer dizer peru — corrigi.

Ele riu. — Você nunca viu um dos pratos de Ação de Graças da minha mãe. Eu
quis dizer vaca. Venha, vou lhe mostrar.

Ele puxou minha mão e descemos as escadas para nos juntarmos à família à
mesa.

191
CAPÍTULO - 16
— Oh, meu Deus, alguém vai precisar me levar de carrinho de mão para o campo
— disse Paul, esfregando a barriga cheia. — O peru estava delicioso, querida,
você se superou novamente.

Ela sorriu para ele.

— Sim, estou me sentindo como um pássaro recheado. Entendeu?


Stuffed...bird? — Wrigley brincou, tentando ser sarcástico.

Um guardanapo foi jogado em seu rosto, e houve uma rodada de resmungos.


No curto período de tempo em que estive na casa de Camden, aprendi que
Wrigley gostava de contar as piadas mais bregas. O que as tornava ainda mais
engraçadas era a forma como ele as contava. Por ser o bebê da família, ele era
o mais criticado, mas conseguia se safar de qualquer coisa. Turner, o mais
velho, era o mais prático. Ele tinha ido para a faculdade na LSU com uma bolsa
de estudos de beisebol e depois foi contratado por um time da liga principal. No
entanto, optou por voltar para casa e fazer um doutorado. Seus pais estavam
muito orgulhosos dele, apesar de adorarem a ideia de um de seus filhos entrar
para as grandes ligas. Acho que, na verdade, eles estavam mantendo a
esperança em Wrigley. Os olheiros estavam de olho nele, e era seu último ano
na escola. Camden era o irmão sério, aquele que assumia o papel de protetor
da família. Durante o jantar, eu o ouvia falar com seus irmãos sobre as coisas
que estavam acontecendo em suas vidas, deixando-os saber que ele estaria lá
se precisassem. Sempre foi o meu homem de humor. A personalidade de Dodger
era tranquila. Ele era o mais passivo dos quatro, mas eu sabia, desde a festa de
Halloween, que ele tinha um lado forte que não aceitava sacanagem. Ele era
como a tempestade silenciosa que se formava no mar. Eu podia ver facilmente
como alguém como Dodger era bom para Macie. Ele a deixava escapar das coisas
quando necessário, mas a prendia quando ela precisava ser pega. Eu adorava
todas as personalidades individuais deles, mas, de alguma forma, eram todos
iguais, porque eram frutos de seus pais. Pais que olhavam com orgulho
enquanto comíamos. Essa era uma família unida e que apoiava uns aos outros,
independentemente das batalhas. Eu os invejava.

— Prontos para levar uma surra? — Dodger se levantou da mesa e puxou a


cadeira de Macie.

Eu tinha ficado um pouco chocada com o fato de os pais deles não se ofenderem
com algumas das coisas sobre as quais os meninos falavam, mas percebi que
pouca coisa realmente os incomodava.

192
Turner deu uma risada estridente. — Em seus sonhos, Wild Thing.

Eu me inclinei para Camden, que estava sorrindo de orelha a orelha. — Wild


Thing?

— Sim, aqui o Dodger acha que tem o melhor arremesso da família. Só que ele
não consegue passar pelo home plate de jeito nenhum. Ele começou a se chamar
Wild Thing em homenagem ao personagem de Charlie Sheen no filme Major
League. Ele até tem alguns daqueles óculos de armação preta em algum lugar
por aqui — respondeu ele.

— Meu arremesso é incrível, seus filhos da puta. Keegan, você pode fazer parte
do meu time, assim saberá como é vencer.

Camden balançou a cabeça. — Ela vai para a cama comigo todas as noites,
então tenho certeza de que ela já sabe como é ganhar.

— Camden! — Eu repreendi. Será que ele poderia me envergonhar ainda mais


hoje?

Paul deu uma risadinha quando Camden deu de ombros. — Não se preocupe,
querida, todos nós sabemos que Cam late, mas não morde.

Oh, eles não faziam ideia de que certamente havia mais do que um latido com
Cam... Ele me olhou, confirmando que estava lendo minha mente. Piscando
para mim, ele também se levantou. — Vamos dividir as equipes quando
chegarmos ao campo. Vamos lá.

Comecei a pegar meu prato para levá-lo para a cozinha quando Donna colocou
a mão em meu antebraço e disse: — Não se preocupe com isso, nós sempre
limpamos depois de jogar.

Eu sorri para ela e coloquei o prato de volta na mesa. Na garagem deles havia
dois carrinhos de golfe e alguns sacos de tacos ao lado deles. Todos nós
entramos, Paul dirigindo um carrinho e Turner dirigindo o outro. Sarah se
sentou no colo de Dodger, pois não havia espaço suficiente para todos nós irmos
até lá. Eu tinha certeza de que ela estava emocionada. Andamos cerca de dois
quarteirões e paramos em um campo de beisebol que estava bem conservado,
mas parecia não ser usado com frequência.

Camden falou em meu ouvido. — Meus pais compraram esse terreno quando
eu era criança porque queriam um lugar onde pudessem nos levar para treinar
e não se preocupar com o fato de batermos bolas nas janelas dos vizinhos. Eles
o transformaram em um campo de beisebol e o abriram para qualquer pessoa
que quisesse usá-lo. Continuamos vindo para cá depois de cada jantar em
família e jogamos. É nossa tradição há mais de quinze anos.

193
Depois de sairmos, todos nós ficamos perto da cerca que ficava ao longo da
posição do apanhador. — Muito bem, é hora de escolher as equipes. — Turner
estava assumindo o comando. — Eu tenho a mamãe, o papai, o Keegan e a
Macie. Então, Cam, isso deixa você com Wrigley, Dodger e Sarah.

— Parece justo. — Ele assentiu.

— Vocês podem bater primeiro. Macie, como está seu braço?

— Sinceramente, sou péssima para arremessar bolas.

Ele sorriu. — Tenho certeza de que você é melhor jogando com elas.

Ela riu, mas eu ouvi Dodger rosnar. — Cuidado, idiota, ou o Wild Thing pode
acertar sua cara com uma bola rápida.

— Tudo bem, sejam bonzinhos, meninos, e Turner pare com as piadinhas —


repreendeu Donna.

— Desculpe, mamãe — disse ele. — Já que a Macie não pode arremessar, que
tal você, Keegan, arremessar uma bola? Não precisa fazer nenhuma loucura,
apenas arremessar uma bola de softball com a mão.

Eu não tinha ideia se conseguiria ou não, mas dei de ombros e disse: — Claro,
posso tentar.

— Boa garota — ele elogiou, o que me fez pensar em Camden dizendo a mesma
coisa para mim no quarto. Meu rosto ficou vermelho, mas, felizmente, ninguém
notou. — Macie, você vai ficar entre a segunda e a terceira base. Eu fico com o
lugar entre a primeira e a segunda. Mamãe, você e papai vão para o campo
externo. Estão todos de acordo?

Todos nós acenamos com a cabeça e fomos para nossas respectivas posições.
Todos os outros estavam ao lado, esperando sua vez de rebater, enquanto Sarah
estava na primeira base. Dodger ajudou a colocar os pés dela na posição correta
e a colocar as mãos no taco onde deveriam estar. Ele acenou para mim quando
ela estava pronta. Eu me aproximei um pouco mais para facilitar a vida dela.
No primeiro arremesso, ela balançou e errou. Todos nós batemos palmas e
dissemos a ela que continuasse tentando e que ficasse de olho na bola. Em sua
segunda tacada, ela acertou a bola, mas foi um strike. A próxima que joguei
estava muito longe do alvo. Ela riu de mim e fiquei feliz por ela estar se
divertindo tanto. Dodger ficou perto dela e a orientou quando deveria rebater.
Em meu quarto arremesso, ela balançou e acertou. A bola rolou no chão, e
Macie saiu correndo atrás dela. Sarah correu para a primeira base, e todos nós
diminuímos a velocidade para deixá-la chegar à base. Os Dodgers gritaram e
torceram por ela. Acho que nunca tinha visto um sorriso tão grande em seu

194
rosto. O próximo a chegar foi Wrigley. Ele passou o braço ao redor do taco,
aquecendo-o.

— Não se preocupe, garotinha, não vou bater com muita força — provocou ele.

— Tenho certeza de que não — respondi. Ouvi Donna rindo no campo externo
e vi Camden balançando a cabeça.

— Apenas acerte a porra da bola, idiota — gritou Camden.

Fiz meu primeiro arremesso, ele balançou e errou. É verdade que não foi o
melhor arremesso, mas acho que Wrigley planejava rebater tudo o que eu
lançasse em sua direção. Na segunda bola, ele acertou, e ela passou voando por
minha cabeça e foi em direção a Turner. Sarah saiu correndo ao comando do
Dodger e chegou à terceira base antes de parar. Wrigley chegou à primeira base
e parecia muito satisfeito consigo mesmo.

Camden foi o próximo. Quando ele se aproximou da base, seu boné de beisebol
encobriu seus olhos, e eu demorei a sacudir os ombros. Quando ele levantou o
rosto e nossos olhos se conectaram, engoli com força. Puta merda… mantenha
a calma, Keegan, ele está tentando intimidá-la. Ele acenou com a cabeça para
mim, dizendo que estava pronto. Por que eu gostava tanto de sua cara séria?
Levei meu braço para trás e fiz o primeiro arremesso com a mão. A bola foi para
fora, e Camden deixou o taco cair para o lado quando foi pegar a bola. Jogando-
a de volta para mim, ele sorriu. Ele sabia exatamente o que estava fazendo
comigo. Tudo bem, dois podem jogar nesse jogo. Todos os outros estavam
gritando: — Aqui, batedor, batedor — repetidamente, sem prestar atenção à
tensão que Camden e eu tínhamos entre nós dois. Chutei meus pés para frente
e para trás na terra e segurei a bola na altura do meu rosto. Lambi os lábios,
sabendo que ele podia ver, e balancei um pouco os quadris. Seus olhos se
estreitaram com o movimento. Jogando a segunda bola, ele balançou e errou.

— Vamos lá, Cam! — Gritou Wrigley. — Isso não é a porra do tee-ball, vamos lá.

Camden lhe deu uma piscadela e se reposicionou. — Mais uma vez, Blue.
Arremesse mais uma vez.

Oh, eu vou… Ele já tinha dois strikes, e eu estava bastante confiante de que
conseguiria fazer com que ele batesse e errasse uma terceira vez. Seus olhos cor
de chocolate estavam silenciosamente me desafiando, testando-me para ver se
eu vacilaria. Eu lhe dei outro arremesso. Se uma bola pudesse se mover em
câmera lenta, eu juro que essa se movia. Observei como ela foi direto para o
home plate, Camden estava concentrado enquanto trazia o taco e dava uma
tacada. A bola não chegou a se conectar com a madeira, e eu soltei um "whoop".

— Você acabou de deixar uma garota te derrubar, boa jogada — resmungou


Dodger.

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Ele não disse nada em troca. Simplesmente olhou para mim e sorriu. Por que
aquele sorriso me dizia que eu ia pagar por isso? De qualquer forma, isso fez
meu coração vibrar.

— Mais sorte da próxima vez, gostosão. — Eu o provocava.

Ele soltou uma gargalhada. — Sim, veremos Blue.

O jogo continuou e jogamos quatro entradas. Estávamos todos nos divertindo


muito, e acho que há muito tempo não me divertia tanto. Isso foi até fazermos
uma pausa porque o telefone de Camden estava tocando. Ele correu até a cerca
onde estavam todas as nossas coisas, e seu sorriso desapareceu quando olhou
para a tela. Suas sobrancelhas baixaram e ele levantou o dedo para dizer a todos
nós que esperássemos. Ele saiu do campo e foi em direção à rua, parecendo
tenso. O que estava acontecendo? Olhei para a Macie e ela deu de ombros. Todos
os outros começaram a conversar entre si enquanto esperávamos que ele
terminasse o telefonema. Algo em seu comportamento não estava certo. Sem
tirar os olhos dele, eu me perguntava quem poderia estar ligando para ele no
Dia de Ação de Graças, quando toda a sua família estava aqui com ele. Ou quem
poderia deixá-lo chateado dessa maneira. Quando ele desligou, parecia
derrotado. Eu queria ir até ele e perguntar qual era o problema, mas percebi
que ele estava fechado. Fosse qual fosse o motivo, ele não iria me contar.
Camden voltou para o campo e foi diretamente para Dodger. Ele era o irmão
mais próximo, e eu sabia que eles compartilhavam tudo. Dodger estava
balançando a cabeça enquanto ouvia, e eu podia dizer que ele também não
gostava do que quer que fosse. Se ele achava que eu ia dar de ombros e agir
como se estivesse incomodada com alguma coisa, estava redondamente
enganado. No restante do jogo, todos estavam se divertindo, exceto eu e
Camden. O humor dele estava afetando o meu, e eu estava ansiosa para
ficarmos sozinho e conversar. Felizmente, ninguém mais pareceu notar.

Depois do jogo, todos fizeram as malas e entraram nos carrinhos de golfe.


Camden ainda estava segurando um taco e uma bola quando disse a eles: —
Vocês vão na frente. Keegan e eu voltaremos a pé.

Paul e Donna se entreolharam, enquanto Macie e Dodger disseram: — Uh-huh


— em uníssono. Quando todos saíram, Camden voltou sua atenção para mim.

Segurando o taco, ele disse: — Aproxime-se da base, Keegan.

Eu não sabia se era o tom de voz dele ou o fato de seus olhos estarem cravados
nos meus, mas obedeci de bom grado. Pegando o taco, fui para o home plate e
esperei sua próxima ordem. Ele foi até o monte do arremessador e ficou de pé
com o corpo para o lado. Quase fiquei boquiaberta com a visão. Eu adorava a
linha de suas costas que levava ao seu jeans bem ajustado. Não me cansava
seu corpo perfeito. Era um prazer olhar para ele sem roupa e com roupa. Estava

196
ficando mais frio lá fora, à noite, com o clima de outono. Arrepios percorreram
minha pele exposta.

— Vamos ver se você consegue rebater quando eu estiver arremessando.

— Tenho certeza de que posso acertá-la fora do parque se você estiver


arremessando.

O prazer dançou em suas feições. — Você acha isso?

— Oh, eu sei que sim. Arremesse a bola, Brooks, eu consigo — provoquei.


Coloquei o taco na altura dos ombros, com os cotovelos para fora e os pés bem
abertos.

Ele lançou a primeira bola, e ela foi um pouco mais rápida do que eu esperava.
Mais uma vez, ele a arremessou com a mão, o que foi uma mudança em relação
a antes. Ela passou pelo meu taco, e eu o golpeei no ar.

Ele franziu uma sobrancelha e disse: — Tem certeza sobre isso, garota bonita?

— Cale a boca e jogue outra — eu disse, me estabilizando.

Ele voltou à pose de arremessador e segurou a bola perto do rosto. Quando ele
a arremessou, a bola foi muito para a esquerda, e eu não conseguiria acertá-la
nem se tentasse.

— Você falou muito bem antes, e agora veja quem não consegue acertar a bola?
— Ele estava tentando me irritar e, por algum motivo, mordi a isca.

— Ajudaria se você a jogasse por cima.

— Você poderia acertar e sabe disso. — Eu quase rosnei. Mordendo a língua,


voltei à posição, mas apontei meu taco para o campo. Ele percebeu o que eu
queria dizer e deu uma risadinha. — Muito bem, Babe Ruth, vamos ver se eu
consigo rebater você ou se você consegue tirar a bola do parque.

Ele olhou para mim, revirando os ombros, e seu olhar intenso aumentou minha
confiança e minha vontade de vencê-lo. Quando ele fez o arremesso, mantive
meus olhos na bola, ignorando tudo ao meu redor. Abaixando o taco e esticando
os braços, a madeira se conectou, enviando uma vibração ardente através de
minhas mãos enquanto eu seguia com o meu movimento. A bola voou alto no
ar e viajou até a extremidade direita do campo. Um sorriso se espalhou pelo
meu rosto e larguei o taco. Saí correndo, fui para a primeira base, com o pé
tocando o canto do acolchoado, depois para a segunda e, em seguida, para a
terceira. Camden estava rindo de mim enquanto eu diminuía a velocidade e
pulava de volta para casa, curtindo minha felicidade. Ao pular no diamante
coberto de terra, levantei os braços no ar e soltei um sonoro — wooh! Você já

197
viu um jogador de futebol americano fazer uma dança de comemoração quando
marca um touchdown? Achei que o momento pedia isso. Fiz um pequeno
shimmy e chacoalhei cantarolando no meu ritmo. Eu podia ouvir a risada do
meu homem taciturno ficando mais alta. Ele estava vindo em minha direção.
Em vez de deixá-lo chegar até mim, eu queria a perseguição, eu precisava da
perseguição. Me levantei e saí correndo, indo em direção ao campo externo.

Ele estava bem atrás de mim quando disse: — Eu vou te pegar, Keegan. Eu
sempre pego.

Dei uma risadinha e corri um pouco mais rápido. Ouvi o som de seus pés
batendo no chão atrás de mim, fazendo meu coração bater mais forte do que já
estava. Eu me desviei para o lado, olhando para ele por cima do ombro. Eu sabia
que, se ele quisesse, poderia me alcançar, pois ele era muito mais rápido do que
eu. Meu passo curto não me levava tão longe quanto o seu passo mais longo.
Pensando que estava sendo esperta, diminuí a velocidade e esperei que ele se
aproximasse o suficiente. No último segundo, mudei de direção e saí do seu
alcance. Eu estava prestes a decolar novamente em uma corrida, mas ele deu
um giro maluco e conseguiu me abraçar. Ele me levantou de modo que minhas
costas ficassem de frente para ele e me ergueu do chão. Eu estava rindo tanto
que meu estômago doía.

— Peguei você! — Disse ele com orgulho.

Entre acessos de riso, eu disse: — Eu tirei sua bola do parque.

Manobrando-me no ar, ele me virou e, pela segunda vez hoje, eu estava


pendurada em seu ombro. — A vanglória não costuma ser uma qualidade muito
atraente, mas, por algum motivo, fica bonito em você, então vou deixar passar.

Deslizei minha mão pela parte de trás de sua calça e me deleitei com a sensação
de sua bunda firme. — Mmm… sei de algo que é mais bonito.

Ele deu um tapa na minha bunda, e eu gritei. Alisando a mão sobre onde ficou
ardendo, ele disse: — Que tal você não começar algo que não pode terminar?

— Quem disse que eu não terminaria?

Eu o ouvi murmurar alguma coisa antes de me colocar de pé. Minhas costas


estavam agora contra a cerca onde estavam nossos pertences, e Camden pairava
sobre mim. — Nunca imaginei que você gostasse do tipo de indecência pública,
mas estou disposto a concordar com isso.

Empurrei seu ombro. — Cale a boca. Você sabe que eu nunca faria isso.

Ele aproximou seu rosto do meu, fazendo com que eu inclinasse a cabeça para
trás e olhasse para ele. Sua boca tocou a minha e seus lábios passaram pelo

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rosto. Sua língua saiu e roçou meu lábio inferior, fazendo com que um suspiro
escapasse da minha garganta. Suas mãos se ergueram e seus dedos se
entrelaçaram no arame, prendendo-me. Meus olhos ainda estavam abertos,
assim como os dele, e eu me sentia como se estivesse me afogando em uma
piscina de chocolate decadente. Seu peito roçava em meus mamilos já doloridos
cada vez que ele inspirava. O desejo estava se acumulando em meu centro, e
tudo ao meu redor girava em torno desse homem. Quando Camden colocou sua
perna entre as minhas e se empurrou contra mim, fechei os olhos e gemi. O
quão ruim seria se eu me esfregasse nele até sentir o alívio que ele estava
acumulando em mim?

— Keegan, olhe para mim — ele exigiu.

Pisquei para abri-los, sem perceber o quanto estava perdida. Ele estava sorrindo
em sinal de vitória. — O quê?

— Você estava dizendo? Nada de fornicação em público?

Revirei os olhos. — O que você está fazendo comigo, Camden?

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer, como é possível que eu me perca em você tão facilmente? É um


pouco assustador, isso nunca aconteceu comigo antes.

— Não é assustador, é uma coisa boa.

— Acho que sim, mas o que vai acontecer quando tudo isso acabar?

Ele inclinou a cabeça para o lado. — Quem disse que isso vai acabar? Acabamos
de começar, Keegan.

— Sim, mas nós nem sabemos o que somos. Você pode optar por ir embora a
qualquer momento, e eu sou a pobre coitada que está se recuperando do cara
ridiculamente gostoso que se arriscou e a tratou bem. — Deus, até eu soava
chorosa para meus próprios ouvidos.

— Você está querendo colocar um rótulo em nós?

— Não. Talvez? — Suspirei. — Eu não sei.

Isso fez com que um leve sorriso enfeitasse sua boca. — O que está causando
essa insegurança repentina?

Balancei minha cabeça para trás. — Isso é repentino? Camden, você está em
uma liga totalmente diferente da minha. Sou insegura desde o início.

199
Ele cerrou a mandíbula, o músculo se contraindo. — Isto não é o ensino médio,
Keegan. Não existem ligas, grupos, panelinhas, seja lá como você queira chamá-
los. Há você e eu, só isso. E isso é tudo o que me importa.

Olhei para baixo, sabendo que precisava lhe perguntar algo, mas sem saber
como dizer isso sem parecer que não confiava nele. — Me desculpe. Estou
arruinando a diversão que estávamos tendo.

— Não, não está. Seu corpo, e sentir suas curvas sutis contra as minhas, é
sempre divertido. — Ele fez uma pausa, esperando minha reação. — Viu? Isso
fez você sorrir. — E fez. — Blue, estou com você. Não estou me preocupando
com mais ninguém. Se definir o que temos aqui é o que o fará feliz, então estou
bem com isso. A palavra ‘namorada’ não me assusta. Já estou pensando em
você dessa forma desde que isso começou.

— Você tem? — Olhei para ele novamente.

— Sim. Foi você quem mencionou não usar rótulos, então eu não usei.

Ele beijou a ponta do meu nariz, e eu relaxei um pouco. Estava na hora de ir


para a matança. — Camden, quem foi que ligou para você mais cedo?

Observei sua reação como um falcão, esperando para ver qualquer mudança
que indicasse uma mentira quando ele falasse comigo. Seus olhos escureceram,
estreitando-se para mim e fazendo-me sentir como se fosse eu quem estivesse
sendo examinada. Vi seus bíceps salientes nas mangas compridas, então sabia
que ele estava segurando a cerca com mais força do que o necessário. — Não foi
ninguém. Houve um problema na academia e a recepcionista não sabia como
lidar com isso, foi só. — Ele fez uma pausa. — Vamos ter problemas de
confiança?

A academia estava aberta no Dia de Ação de Graças? Balancei a cabeça. — Não,


eu só notei que você parecia chateado com alguma coisa, e você não olhou para
mim quando desligou o telefone. Sei que você tem um passado, Camden, e não
sou tão cega para não pensar que esse passado pode querer voltar. — Eu estava
tentando incentivá-lo a se abrir comigo sobre qualquer ex-namorada que
pudesse querê-lo de volta. Principalmente alguém chamada Bree. — Não se trata
de confiança, mas sim de você confiar em mim. Você pode me contar coisas, não
vou julgar.

Houve alguns segundos entre o momento em que falei e quando ele falou. —
Ninguém voltará à minha vida dessa forma. Também não há motivo para você
se sentir insegura. Sei que não falo muito ou que talvez não me abra, mas sei
que você está aqui. E eu agradeço por isso.

Engoli o nó em minha garganta. Ele estava escondendo algo. Cada fibra do meu
ser me dizia que eu estava certa. Mas eu não podia chamar a atenção para isso

200
sem entrar em uma grande briga agora mesmo. Teria de cruzar os dedos para
que, em algum momento, ele quisesse me contar o que realmente estava
acontecendo e quem havia ligado para ele e enviado mensagens de texto.
Enquanto isso, assenti com a cabeça e dei um sorriso fraco.

— Tudo bem — eu disse.

Colocando sua testa sobre a minha, ele me repetiu. — Está bem. — Dando-me
um rápido beijo nos lábios, ele pegou minha mão e me afastou da cerca. —
Vamos voltar para a casa, amiga, meus irmãos já devem ter comido a torta de
abóbora e, se tudo acabar, acho que vou matar alguém.

Eu sorri com seu comportamento agora bobo e o segui de volta para seus pais.

201
CAPÍTULO - 17
DIZER QUE TIVE UMA SEMANA RUIM seria o eufemismo do século! Primeiro,
tudo começou no trabalho, com a mudança de um sistema de papel para um
eletrônico. Digitalizar e inserir os registros de algumas centenas de pacientes
não só consumia tempo como também era entediante. E nem me fale em ter que
arquivar a papelada que ainda estava chegando para que tudo pudesse ser
transferido. Em seguida, tive um teste rápido em A&P para o qual eu não estava
nem perto de estar preparada. Tínhamos falado sobre os diferentes tipos de
células do corpo no dia anterior e eu não tinha tido a chance de olhar minhas
anotações. Sarah me ligou para dizer que mamãe tinha saído e que estava
sozinha em casa. Então, tive que ir buscá-la e levá-la para o apartamento e
depois levá-la de volta quando minha mãe chegasse em casa. Eu a teria deixado
ficar se ela não tivesse escola pela manhã. Foi uma coisa atrás da outra, e eu
estava exausta; mental e fisicamente exausta! Além disso, Camden estava
trabalhando até mais tarde do que o normal, então eu mal o tinha visto nos
últimos dias, e isso estava me deixando irritada. Também notei que, quando ele
estava em casa comigo, ficava distraído. Isso não parecia certo, e eu me
perguntava o que estava acontecendo. Mas depois de nossa conversa no campo
de beisebol, eu sabia que precisava confiar nele.

Era quinta-feira de manhã e eu estava saindo da cafeteria com Macie. Ela sabia
sobre minha conversa com Camden e o que foi dito. Ela me disse que
provavelmente não havia nada de errado, e que era mais do que provável que
ele quisesse lidar com isso sozinho. Concordei e decidi que precisava deixar isso
para lá. Eu estava me estressando por nada e não tinha motivos para não
acreditar no que ele me disse. Quando nos separamos, decidi ir para casa e tirar
um cochilo antes de ir para o trabalho. Quando entrei, notei que o carro de
Camden estava aqui. Ele não tinha vindo para casa a semana toda para almoçar
e vê-lo foi uma boa surpresa.

— Ei, como foi a aula? — Perguntou ele, levantando-se do sofá para me


cumprimentar.

— Boa, eu acho. Você sabia que há duzentos e seis ossos no corpo… e que eu
preciso saber cada um deles e como funcionam? Ugh! Me mate agora! — Eu
praticamente desabei em seus braços.

Rindo, ele disse: — Sim, estou ciente do número de ossos, mas infelizmente não
posso ajudá-lo com todos eles. Você está cansada?

— Mmm... hmm — foi a única resposta que consegui dar a ele.

202
— Que tal nós dois irmos dormir um pouco? Tenho um cliente daqui a duas
horas, portanto, tenho um pouco de tempo para descansar.

— Eu adoraria dormir um pouco. Juro que esta é uma semana que nunca
termina — resmunguei.

— Hmmm, e eu achava que era só eu. Tudo bem, Blue, espere um pouco. — Ele
colocou meus braços em volta de seu pescoço e me pegou no colo, embalando-
me em seu corpo. Levando-me pelas escadas, fomos para seu quarto e ele me
deitou na cama. Ele tirou o short de ginástica e se enfiou debaixo das cobertas
atrás de mim, abraçando-me. — Vou acordá-la antes que você precise sair —
disse ele, beijando minha têmpora.

— Está bem. Obrigado. — Eu bocejei. Seu corpo era como um grande cobertor,
e me confortava de muitas maneiras. Demorou apenas alguns minutos para que
o sono me levasse.

Bip, bip, bip. Que diabos era aquele barulho? Abrindo um olho, olhei para o
relógio, sentindo-me completamente desconcertada e rígida. Será que o alarme
tinha acabado de tocar? Rolando de costas, estiquei os membros e olhei para o
lado da cama de Camden. Estava vazio, mas ouvi o chuveiro correndo ao longe.
Cara, eu devia estar realmente fora de mim, porque nem senti ele se levantar.
Eu tinha pouco mais de trinta minutos para me preparar para o trabalho.

Um segundo bip, bip, bip soou.

Ao me sentar, esfreguei os olhos cansados e olhei para a mesa de cabeceira de


Camden. O telefone dele estava lá e a tela estava acesa. Tentei não olhar para
ele, realmente tentei, mas a curiosidade levou a melhor. Eu não sabia por que
todas as conversas de confiança que tive com Camden e Macie foram por água
abaixo naquele momento, mas eu precisava olhar. Algo estava me atraindo para
ver quem era. Pegando o celular dele, apertei o botão inferior para acender a
tela e vi duas mensagens de texto da Bree. Imediatamente me senti mal. Por que
ela estava mandando mensagens para ele? Eu conseguia ver as mensagens
parciais, mas não conseguiria olhar para elas sem que ele soubesse que eu as
havia lido. Olhei para a porta e escutei o barulho do chuveiro. Ele ainda estava
funcionando, então eu tinha um pouco de tempo. Com as mãos trêmulas, peguei
o telefone e iluminei a tela novamente.

Bree: Ei, estou na cidade. Precisamos conversar…

Bree: Encontre-me na Fastfreddys @…

203
Isso foi tudo o que consegui ver das mensagens sem realmente abri-las. A bile
estava subindo em minha garganta, e tive que engoli-la de volta. Coloquei o
telefone de volta exatamente como estava antes e me sentei na cama em estado
de choque. Por que ela estava mandando mensagens para ele? Ele realmente
iria se encontrar com ela? A pergunta mais importante seria se ele me contaria
sobre isso? Nada disso estava me parecendo bom. Eu não era uma pessoa
ciumenta, pelo menos não achava que fosse, mas também nunca havia
namorado alguém que me fizesse sentir ciúmes. Eu sempre soube, sem sombra
de dúvida, que eu estava com eles e eles estavam comigo. Então, agora vem a
pergunta se eu perguntei a ele do que se tratava, ou se me dei ao trabalho de
contar que vi as mensagens? Eu queria muito, mas achei melhor esperar para
ver se ele falaria sobre isso.

Ouvi o chuveiro sendo fechado e Camden voltou para o quarto alguns minutos
depois. Ele tinha uma toalha enrolada na cintura e gotas de água ainda estavam
grudadas em sua pele. Ele me viu olhando para ele e um pequeno sinal de um
sorriso apareceu em seus lábios perfeitos.

— Dormiu bem? — Perguntou.

Eu o queria. Apesar do que eu estava sentindo há apenas alguns segundos, eu


o queria. Achei que jamais deixaria de desejá-lo. — Sim, eu precisava de um
cochilo. Acho que não tenho dormido o suficiente à noite.

— Acho que você também não. Você tem se revirado bastante e tem
resmungado.

— Estou? O que estou dizendo?

— Sim. Mas nada disso é coerente. Você está apenas fazendo pequenos ruídos.

— Oh. Hmmm… desculpe se isso o tem mantido acordado.

Ele foi até o armário e tirou algumas roupas. Quando largou a toalha, ele estava
de costas para mim, e eu não conseguia tirar os olhos de sua bunda tonificada
e de como os músculos de suas costas se moviam. Acho que estava salivando.

— Você não está. Você se acalma um pouco quando eu o coloco de volta em


mim.

Meu coração se derreteu. — Você me abraça mais?

— Mhmm. — Ele puxou o short de ginástica para cima dos quadris, e eu fiz
beicinho por não conseguir mais vê-lo por inteiro.

Cobri minha boca para abafar um bocejo, e ele sorriu para mim. Caminhando
em direção à cama, ele se abaixou e me beijou com ternura nos lábios. Eu queria

204
puxá-lo para baixo e fazer o que eu quisesse com ele, mas nós dois precisávamos
ir. A inquietação ainda me percorria enquanto eu o via pegar o celular na
mesinha de cabeceira e verificar. Tentei perceber se havia alguma diferença em
seu comportamento ou se ele iria me contar o que estava acontecendo, mas ele
se conteve. Não houve mudanças em sua expressão, e ele não mencionou as
mensagens. Senti-me afastar um pouco, sem querer revelar que estava me
matando por não saber.

— Vou descer para preparar minhas coisas, quer que eu prepare algo para você
antes de sair? — Ele ofereceu.

Eu balancei a cabeça. Eu definitivamente não estava sentindo fome com aquele


buraco no meu estômago e queria gritar com ele para que me dissesse o que
estava acontecendo.

— Não, estou bem. Acho que vou escovar o cabelo e os dentes e já vou.

Ele me olhou um pouco estranho, mas assentiu. — Está bem.

Ele se virou e desceu as escadas. Levantei-me, me arrumei e fui atrás dele para
me despedir. Tudo em nossos movimentos estava completamente normal… até
que ele me disse que trabalharia até tarde. Os alarmes começaram a soar em
minha cabeça e eu estava cambaleando. Eu precisava sair daqui e ir embora
para tentar clarear as ideias. As palavras nem se formaram em meus lábios e
eu simplesmente acenei para ele e me dirigi à porta. Antes de sair, olhei de volta
para ele e o vi me encarando de forma estranha. Ele disse — tchau — e eu não
tive resposta, não houve nada. Ao sair pela porta da frente, eu meio que
esperava que ele me seguisse, que perguntasse qual era o meu problema, mas
ele não o fez. Achei mais perturbador o fato de ele não ter feito isso. Agora, quem
estava agindo de forma diferente?

Quando cheguei ao trabalho, não conseguia me concentrar. Minha mente não


parava de repassar o texto que eu tinha visto e a tal Bree que queria conhecer
meu namorado no FastEddy's. Eu estava há apenas trinta minutos no meu
turno e não conseguia mais lidar com isso. Você já tentou se concentrar no
trabalho quando cada pensamento estava sendo consumido por outra coisa?
Sem sentir que estava mentindo, fui até a minha chefe e disse que estava doente
e precisava ir para casa. Ela olhou para mim com simpatia e disse que esperava
que eu melhorasse. Ao sair do escritório, um pensamento me ocorreu. Eu
precisava ver por mim mesma. Eu não tinha ideia do horário que ela disse a
Camden para encontrá-la, mas sabia onde. Havia outro restaurante pequeno,
do outro lado da rua do FastEddy's, onde eu poderia me sentar e não ser vista.
Decidida, fiz a curta viagem e estacionei meu carro na esquina. Eu só esperava
que a pessoa que me atendesse não se importasse com o fato de eu planejar
ficar ali até ter certeza de que Camden não apareceria no outro restaurante.

205
Eu estava sentada há apenas dez minutos e estava bebendo minha água quando
me dei conta do que estava fazendo. Será que eu havia perdido tanta fé em meu
relacionamento com Camden a ponto de sentir a necessidade de recorrer à
espionagem, ou será que eu não tinha fé em primeiro lugar? Ele nunca havia
me dado um motivo para não confiar nele. E em que momento eu me tornei essa
pessoa louca? Eu queria ir embora, para provar a mim mesma que não precisava
estar aqui e que podia deixar de lado minhas dúvidas. Não, eu precisava ir
embora. Só que toda vez que eu ia chamar o garçom para pagar minha conta,
eu me impedia. Minha cabeça estúpida estava girando em círculos e a cada
minuto que passava eu ficava mais irritada comigo mesmo.

Pouco mais de uma hora depois, olhei para o outro lado da rua, para o pátio
externo do FastEddy's, e vi uma garota de cabelos escuros de aparência familiar
se sentar. Como eu a conhecia? Eu estava examinando os rostos em minha
memória, tentando identificar exatamente onde eu a tinha visto, mas nada me
lembrava. Hmmm… talvez eu a conhecesse da aula ou algo assim. Eu ia dar de
ombros, mas então o carro de Camden chegou ao meu lado da rua e estacionou
paralelamente. Eu me abaixei em meu assento como se ele pudesse me ver,
quando, na verdade, as janelas estavam muito escuras para que ele pudesse
ver. Meu coração disparou, eu estava prendendo a respiração quando ele saiu
do carro e olhou para o outro lado da rua. A garota fez um pequeno aceno e foi
então que me dei conta. Puxa vida, era a garota da foto. A que estava pendurada
no corredor da casa de seus pais. Não, não, não, isso não estava acontecendo!
Senti que meus olhos estavam me enganando. Tonta, olhava dela para ele,
depois dele para ela. Eu estava prestes a vomitar. Camden se virou na minha
direção, mas estava olhando para o outro lado do seu veículo. A porta do lado
do passageiro se abriu e Dodger saiu. Que diabos ele estava fazendo aqui
também? Os dois atravessaram a rua e entraram no restaurante até chegarem
ao pátio. A mulher se levantou e eu fiquei olhando enquanto ela abraçava
Dodger e beijava seu rosto. Oh, Macie teria um prato cheio com as bolas dele se
ela o tivesse visto fazer isso. Quando Camden a cumprimentou, ela sorriu muito,
como se estivesse mais feliz por vê-la. Ela foi para seus braços abertos, e ele a
abraçou com força. Ele estava falando em seu ouvido, e ela assentiu com a
cabeça enquanto ele falava. Quando ele se separou, ela segurou sua mão
enquanto se sentavam.

Ele estava mentindo para mim. Ele veio se encontrar com uma garota, mas
nunca me contou sobre isso e, por qualquer motivo, Dodger estava envolvido.
Sem pensar, me sentei e observei enquanto eles conversavam e riam um pouco.
Eu não sabia por que tinha ficado ali, deixando que todo o respeito por Camden
se dissolvesse em nada, mas fiquei. Chame de tortura, chame de aflição, chame
do que quiser, eu estava imóvel em minha cadeira enquanto tudo se
desenrolava. Todas as emoções que se pode sentir, repulsa, mágoa, dor, raiva,
estavam passando por mim como uma tempestade violenta.

Eu me arrebentei.

206
Peguei minha carteira, joguei algum dinheiro na mesa e me levantei. A fúria
estava me estimulando a seguir em frente. Do lado de fora, fui até o carro de
Camden e olhei para os três por cima do capô. Tudo o que eu dizia a mim mesmo
era: ‘ele me disse que estava trabalhando até tarde’. Quando ouvi o som de sua
risada flutuando no ar, acho que foi aí que eu me arrepiei. Lágrimas brotaram
em meus olhos, turvando minha visão, mas não o suficiente para fazer o que fiz
em seguida. Arremessei minha bolsa contra a porta do passageiro com toda a
força que pude. O som da batida me estimulou a fazer isso de novo, várias vezes.
Algumas pessoas pararam e observaram o que eu estava fazendo, mas ninguém
disse nada para mim. Bem, talvez tenham dito, mas eu não ouvi. Eu estava em
minha própria bolha. Eu esperava que isso me desse algum alívio, algum tipo
de alívio da necessidade de ir até lá e machucá-lo. Eu nunca disse que o que
estava fazendo era certo, mas todo o senso de razão havia deixado meu corpo.
Quando isso não foi suficiente, larguei minha bolsa e comecei a usar meus pés.
Enquanto minha destruição continuava, olhei para cima a tempo de ver Camden
atravessar a mesa e colocar a palma da mão na bochecha da mulher. Você já
ficou tão irritada a ponto de ficar vermelha? Seu gesto me causou repulsa.
Chutei tudo em que pude colocar os olhos: o para-choque, a porta, o capô. Eu
estava correndo em volta do carro como uma louca. Uma pequena multidão
estava se formando ao meu redor, murmurando sobre chamar a polícia. Eu
queria dizer: ‘sim, chame a polícia, porque se ele vier até aqui, serei acusada de
assassinato’. Quando meus pés não eram mais suficientes, comecei a usar
meus punhos, batendo nas janelas na tentativa de quebrar o vidro. Era como
se Camden fosse o carro, e eu estava chutando-o como se quisesse matá-lo.

De repente, braços se fecharam ao meu redor e fui levantada no ar para longe


do objeto de minha atenção. Eu gritei: — Não! Me coloque no chão!

Camden ficou de pé na minha frente, com o peito arfando. — Keegan? Que porra
você está fazendo?

— Eu odeio você. EU ODEIO VOCÊ! — Eu cuspi. — Quem é ela, seu filho da


puta? Você mentiu para mim.

Não percebi quem estava me segurando por trás até ouvir a voz de Dodger no
meu ouvido. — Keegan, se acalme. Jesus Cristo, pode se acalmar?

— Vá se foder, Dodger! Não acredito que você sabia que ele estava com outra
pessoa e não disse nada. — Eu grunhi.

Chutei contra ele para tentar me libertar. — Merda! — Eu o acertei na canela.


A garota com quem eles estavam sentados abriu caminho entre a multidão e me
viu. Sua boca se abriu em choque, mas então uma coisa engraçada aconteceu,
ela olhou para mim… em aprovação? Mas que diabos?

207
Camden deu dois passos em minha direção e segurou meus braços, afastando-
me de Dodger. — Sério, Keegan, você poderia se acalmar, você vai se machucar
ainda mais se não parar.

Tentei usar meus braços para erguê-los e contorná-los para quebrar o aperto,
mas eu deveria saber melhor. Camden era como uma casa de tijolos, e eu não
tinha a menor chance. Ele me puxou para dentro, prendendo-me em um abraço
de urso, e seu rosto se aproximou do meu. Seus olhos estavam mortalmente
sérios, e tudo o que vi foi o preto de suas pupilas. — Chega! — Ele ordenou.

— Ah, vá se danar! Há quanto tempo está me traindo, hein? Há quanto tempo,


Camden? Ou devo perguntar à sua putinha ali?

Eu ainda estava me contorcendo e dei-lhe um chute forte no joelho. Ele grunhiu,


mas não vacilou em seu controle. Em vez disso, empurrou-me contra o carro e
envolveu-me com uma das pernas, impedindo-me de movimentar meus
membros.

— Eu disse, chega — ele disse com os dentes cerrados. — Se você parasse por
um segundo e me deixasse explicar, saberia que não estou te traindo. Na
verdade, não estou nem perto disso.

Eu estava começando a sentir dor em minha mão, mas ignorei. — Do que diabos
você está falando? Eu vi você! Eu vi você beijá-la no rosto, eu vi você segurando
a mão dela.

— Keegan, olhe para ela. — Eu estava olhando para ele. — Olhe… para… ela.
— Meus olhos se voltaram para onde ela estava no meio da multidão. — Veja.
Alguma coisa nela lhe parece familiar?

É claro que ela me era familiar. Ela era a garota da foto, era meu pior pesadelo
que se tornou realidade. Eu a odiava. Eu a odiava tão severamente que só de
vê-la me dava vontade de dobrar a cintura e vomitar. Mas, por alguma razão,
Camden não me deixava mover até que eu lhe desse o que ele queria. Olhei para
a garota, observando suas belas feições. O cabelo preto e os impressionantes
olhos verde-mar. Ela estava me observando como se quisesse que eu fizesse
uma conexão, que visse algo que estava bem na minha frente. E então
aconteceu. O rosto, as bochechas esculpidas, que se tornaram mais femininas
porque ela era uma mulher, o cabelo… Olhei de volta para Camden, confuso.

— Você está vendo agora? — Perguntou ele, com o tom mais suave.

Balancei a cabeça. — Quem… quem é ela?

Eu a vi dar um passo à frente com o canto do olho, e ela veio para ficar ao meu
lado. — Keegan, esta é minha meia-irmã, Breslin. — Ele me disse em uma forma
de apresentação.

208
— Meia-irmã — eu disse como uma afirmação, enrolando as palavras em minha
língua, saboreando-as e deixando-as penetrar.

— Sim.

— Mas você não tem uma irmã — eu quase sussurrei.

— Eu tenho. E juro que vou lhe explicar tudo, mas será que posso confiar que
você não vai sair batendo em outra coisa se eu te soltar?

Espera, o quê? É claro que eu não bateria em nada, eu não fiz isso. Ok, bem,
na verdade parecia que eu tinha feito, mas esse não era um comportamento
normal. Minha adrenalina estava diminuindo e minhas emoções estavam me
dominando.

— Está bem. — Eu disse a ele, embora isso não tenha realmente respondido à
sua pergunta. Eu estava olhando para Breslin, e meu cérebro estava tentando
fazer a conexão. — Irmã — repeti, como se fizesse mais sentido se eu dissesse
novamente.

— Você acha que ela está em choque? — Ouvi Dodger perguntar.

— Não sei, mas deveríamos ir para um lugar onde não estivessem nos encarando
— respondeu Camden.

— Certo — Dodger respondeu. — Vamos lá.

E, sem mais nem menos, estávamos voltando para o apartamento. Mal me


lembro da viagem de carro, ou de como entrei no veículo. Só sei que nunca tirei
os olhos dela, a pessoa que fez meu coração ficar partido.

209
CAPÍTULO - 18
— KEEGAN, sinto muito que você tenha sido enganada e acreditado que eu era
outra pessoa — me disse Bree. — Sério, Cam? Você não se incomodou em contar
para sua namorada?

Ele olhou para ela. Jesus, suas feições eram semelhantes. — Você me disse para
não falar com ninguém sobre isso. O que diabos você queria que eu fizesse?

— Ah, não sei, talvez contasse a ela para que uma merda como essa pudesse
ter sido evitada? — Respondeu ela sarcasticamente.

Sentei-me no sofá, ainda um pouco confusa, enquanto Camden limpava os nós


dos meus dedos de sangue e sujeira. Aparentemente, eu havia feito um estrago
nelas, que estavam inchadas e abertas.

Ele estava agachado na minha frente, olhou para ela e disse: — Bree, você não
queria que eu contasse a ninguém sobre a sua situação, nem mesmo a Dodge.
Só que agora você está me dizendo que eu deveria explicar para alguém que
nem sabia que você existia: 'ei, minha irmã, que você não conhecia, me ligou em
pânico porque ficou grávida de um cara qualquer e eu preciso ajudá-la a sair
dessa confusão'.

Ela jogou as mãos para o alto. — Argh! Você é impossível, sabia?

Bree entrou na cozinha para falar com Dodger, que estava colocando gelo na
canela. Hmmm… acho que não dei um chute forte nele.

Eu estava olhando para baixo, para o que Camden estava fazendo, meus olhos
se recusando a encontrar os dele, embora eu soubesse que ele estava me
observando. — Então, uma irmã? Quer me contar como isso aconteceu?

Ele deu de ombros. — Meu pai teve uma namorada de longa data durante o
ensino médio e a faculdade. No primeiro ano do ensino médio, ela engravidou.
No início, ela não queria ficar com o bebê, mas meu pai é contra o aborto e
achou que deveria ter uma palavra a dizer sobre a gravidez. Antes de se
separarem, ela lhe disse que teria o bebê, mas que não queria ter nenhuma
responsabilidade. É claro que, durante a gravidez, ela acabou mudando de ideia
e quis ficar com o bebê. Meu pai conseguiu obter a custódia parcial da Bree e,
dois anos depois que ela nasceu, meu pai conheceu minha mãe.

210
Uau! Essa não era a história que eu estava esperando. — Então, por que o
segredo? Vocês dois são próximos?

— Mais ou menos. De todos os meus irmãos, é a mim que ela recorre. A Bree
sempre teve dificuldades para se encaixar na minha família. Meu pai sempre a
apoiou e participou da criação dela. Minha mãe a tratava como se ela fosse sua
própria filha. E, é claro, todos nós crescemos com ela nos meses de verão e em
alguns feriados, mas, por qualquer motivo, Bree parou de aparecer. Ela sabe
que fazemos jantares em família e que ela sempre fará parte disso. Acho que ela
está tentando descobrir qual é o seu lugar. Sua mãe nem sempre está presente.
Quanto ao sigilo, bem, eu ia tentar lidar com isso sem que ninguém soubesse,
mas Dodger, de alguma forma, descobriu e exigiu que ele viesse comigo para
que Bree soubesse que estávamos aqui por ela.

Fazia sentido, realmente fazia, mas eu estava perplexa com o fato de ele nunca
ter mencionado a Bree até agora. Porque eu tinha que descobrir sobre ela dessa
forma, agindo como um psicopata e fazendo uma cena.

Flexionei a mão, com a dor subindo pelo braço. — Você deveria ter me contado.

— Eu sei.

— Não, acho que você não sabe. Você deveria ter me contado. — Eu me esforcei
ao máximo para enfatizar essa afirmação.

— Keegan — ele inclinou meu queixo para cima. — Eu sei — disse ele, olhando-
me diretamente nos olhos.

Minha visão ficou turva e as lágrimas brotaram. Seu rosto se suavizou e ele
percebeu que eu estava prestes a desabar. Em vez de fazer isso na frente da
Bree e do Dodger, ele gentilmente me pegou e me levou para cima. Levando-me
para o banheiro, ele me colocou no balcão e foi até a torneira para abrir o
chuveiro. Voltando para perto de mim, ele levantou a bainha da minha camisa,
erguendo-a sobre a minha cabeça e jogando-a de lado. Tirou meus sapatos e
meias e ofegou quando viu meu tornozelo inchado. Seus olhos se voltaram para
os meus, e eu simplesmente dei de ombros.

Balançando a cabeça, ele disse: — Quando você dá uma surra, não bate apenas
no que está na sua frente, mas também em si mesma. Jesus, olhe para os dedos
de seus pés, eles estão vermelhos.

Eu disse a ele, fungando: — Eu estava imaginando que era o seu rosto.

Ele sorriu. — Legal, mas, falando sério, vou ter que ensiná-la a dar um soco.
Você poderia ter quebrado a mão batendo do jeito que estava. E para que você
saiba, vamos ter que falar sobre meu carro também. Não vou simplesmente
esquecer isso ou varrer para debaixo do tapete.

211
Suspirando, eu lhe disse: — Tanto faz. Eu lhe darei dinheiro para consertá-lo
quando você descobrir quanto custa.

Camden cerrou os dentes. — Não, você não vai. Mas não é com isso que estou
preocupado. Blue, eu nunca vi você tão irritada com alguma coisa, e não tenho
certeza de como me sinto por você ter destruído meu carro em vez de me abordar
no restaurante.

Fechei a boca, recusando-me a lhe dar uma resposta quando eu mesmo não
tinha uma. Ajudando-me a descer do balcão, ele rapidamente se despiu e
entramos no chuveiro. O calor em minha pele me fez sibilar. A dor era
avassaladora e minha cabeça não deixava de lado o fato de ele ter escondido
algo importante de mim.

— Dei uma olhada no seu celular — anunciei.

— O quê?

Encontrei o marrom de seus olhos. — Mais cedo, eu vi as mensagens enquanto


você estava no chuveiro. Foi assim que eu soube onde você estaria.

Ele me olhou por um momento antes de dizer: — Eu gostaria de dizer que estou
chateado com isso, mas não estou.

— Você deveria estar.

— Por quê?

— Porque, Camden, foi uma invasão de sua privacidade e eu não tinha o direito
de mexer em suas coisas. Se eu tivesse uma pergunta, deveria ter ido até você
e conversado sobre isso.

— Não estou dizendo que gostei de você ter feito isso, mas não estou com raiva
de você por isso. Eu deveria ter lhe contado sobre a Bree desde o início.

— Sim, você deveria ter contado, mas pare de me dar uma saída fácil, isso está
me irritando!

Ele passou as mãos pelo cabelo úmido, fazendo com que ele ficasse espetado
para todos os lados. — O que você quer que eu faça, hein? Gritar com você,
dizer que você obviamente não confia em mim? Porque eu não vou fazer isso.
Keegan, o que seu instinto estava lhe dizendo? — Olhei para baixo. — Não, você
não pode fugir de mim. O que seu instinto lhe disse?

Minha respiração se acelerou e cerrei os punhos, apesar da dor. — Isso me disse


que você estava escondendo alguma coisa, certo? Foi por isso que olhei.

212
— E isso é algo que você normalmente teria feito?

— Não.

— Então não estou chateado com você por isso.

— Argh! — Joguei minhas mãos para o alto. — Em parte, é por isso que tudo
isso é tão foda. — Eu me afastei dele e fiquei de frente para o chuveiro. O jato
de água estava batendo em mim e fechei os olhos enquanto deixava a água lavar
meu corpo. Ele permaneceu em silêncio, deixando que eu resolvesse o que
estava em minha cabeça por conta própria. — Eu perdi o controle hoje, perdi
completamente o controle. Nunca me senti tão fora de controle em toda a minha
vida. Você sabe qual é a sensação? — Minhas palavras saíram apenas como um
sussurro.

Eu o ouvi respirar atrás de mim. — Sim.

— Eu nem sei como entender o que está acontecendo na minha cabeça.


Camden, até hoje, eu não tinha percebido o quanto você significava para mim,
o quanto eu realmente me importava com você.

— Keegan, acredite em mim, eu sei.

Balancei a cabeça novamente, virando-me para encará-lo e enxugando a água


que se misturava com minhas lágrimas. — Não, acho que você não sabe. Até
hoje, eu tinha deixado de lado qualquer sentimento que fosse mais do que
apenas ‘gostar’. Achei que se não me permitisse sentir o que realmente sinto,
isso não me afetaria. Ignorância é felicidade, certo? Então eu vi você. Pensei que
estava vendo você com outra garota, e isso me deixou arrasada. Eu não
conseguia suportar a ideia, mas foi quando aconteceu.

Suas sobrancelhas se juntaram e ele estava concentrado apenas em mim. — O


que aconteceu?

Engoli com dificuldade e joguei minhas cartas na mesa. — Eu percebi que estou
perdidamente apaixonada por você, Camden. Sei que não deveria estar. E que
você não é o tipo de pessoa para ter um relacionamento sério como esse. Para
ser sincera, nem sei há quanto tempo estou me sentindo assim, mas agora estou
ciente e acho que não posso ignorar isso. Deixei que você se colocasse em cada
cantinho do meu coração e não conseguiria parar isso nem se tentasse.

Tantas emoções passaram por seu rosto, e eu tentei ler cada uma delas. — Por
que você faria isso? — Sua voz soou tímida, o que era completamente fora do
normal para ele.

213
— Porque estou caindo em direção ao solo e estou a 20 mil pés de altura, sem
rede de segurança. Esse não é o tipo de controle do qual estou disposto a abrir
mão. O dia de hoje me mostrou algo que vem sendo mostrado na minha cara há
semanas e, quando finalmente estou vendo, não consigo processar. Preciso de
um pouco de tempo.

— Blue, o que você quer dizer com tempo? — Ele se aproximou e segurou minha
bochecha. Coloquei minha mão sobre a dele e senti sua compaixão se infiltrando
em mim. Por que ele parecia que eu estava prestes a esmagá-lo?

Lágrimas escorriam pelo meu rosto e eu deixei escapar um pequeno soluço. —


Você escondeu algo importante de mim, Camden. A honestidade poderia ter
evitado que tudo isso acontecesse. Não apenas o que você fez, mas o que eu fiz
também. Eu amo você, e não há nada que eu possa fazer a respeito. Mas preciso
de um tempo para descobrir como isso me faz sentir, como tudo isso pode
funcionar.

Ele se inclinou para frente e encostou a testa na minha. — Podemos conversar


sobre isso, não é necessário tempo.

— É. — Eu não tinha mais nada a dizer. Afastando-me dele, sua mão saiu do
meu rosto e eu abri a porta do chuveiro. Ao sair, enrolei-me em uma toalha e
caminhei para o meu quarto, retirando-me para o meu próprio espaço.

Camden não me seguiu naquela noite. Ele me deixou sozinha para mergulhar
em meus pensamentos e resolver a bagunça em que minha cabeça havia se
transformado. Nem sequer deixei que ele respondesse à minha revelação de
última hora. Eu não tinha a menor ideia se os sentimentos eram mútuos, mas
duvidava. Era como se, nas últimas semanas, eu tivesse compartimentado os
sentimentos que havia estabelecido por Camden e os guardado porque achava
que ele não estava pronto para isso. Eu não estava pronta para isso. E o
problema com a Bree? Eu teria sido compreensiva, realmente teria. Não havia
motivo para ele esconder isso de mim. Mas, obviamente, ele não achava que
éramos próximos o suficiente para que ele pudesse compartilhar algo assim.
Essa foi a parte que mais doeu.

Hoje de manhã, na escola, encontrei Dodger, e ele se desculpou muito por não
ter me contado sobre a Bree, mas como ele mesmo tinha acabado de descobrir,
eu o perdoei. Eu lhe fiz algumas perguntas sobre ela, que ele respondeu com
prazer. Acho que ele temia qualquer repercussão negativa por parte da Macie.
Ele confirmou que ela sempre gostou mais de Camden do que dos outros três
irmãos, mas principalmente porque ele era o protetor e achava que Camden a
fazia se sentir segura. Aparentemente, quando você contava algo a ele, esse
segredo ficava em segredo e ele não dizia uma palavra. Sim… sem brincadeira!
Quando perguntei sobre a gravidez, ele não parecia saber muito mais do que

214
eu, exceto que ela aparentemente teve um caso de uma noite com um barman
na cidade onde morava e agora não sabia o que fazer. Eu podia entender por
que ela estava hesitando sobre isso. Não saber se o cara ia ficar com você
quando você não tinha planejado um relacionamento de longo prazo com ele e,
depois, o simples fato de que sua própria mãe tinha considerado abortá-la; ela
tem muita coisa para resolver no momento. Gostei de Breslin e do pouco que
sabia sobre ela agora. E, afinal, ela se divertiu muito com minha surra no carro
de Camden e me aprovou naquele momento. Ela disse que, se eu sempre lidasse
com as merdas do Camden daquela maneira, eu sobreviveria nessa família. Isso
me fez sorrir pela primeira vez em vinte e quatro horas.

Eu tinha acabado de chegar em casa do trabalho e me deitei no sofá. Pensei em


pedir uma pizza e assistir a um filme até que Camden chegasse em casa e então
poderíamos conversar. Meu celular estava ao meu lado quando tocou. Mãe
apareceu na tela.

— Alô?

— Keegan! Oh, Deus, Keegan, não consigo encontrá-la.

— Não consigo encontrar quem, calma, mãe. Onde está a Sarah? — Meu coração
começou a bater no peito.

Ela parecia frenética. — Sarah. Ela não está aqui. Eu a peguei na escola e achei
que ela tinha subido para o quarto, mas quando a chamei para jantar, ela não
respondeu. Oh, meu Deus, não consigo encontrá-la em lugar nenhum!

Levantei-me abruptamente e dei uma olhada em minha sala de estar. Ok, ok…
não entre em pânico. Onde eu coloquei minhas malditas chaves? — Você
verificou lá fora?

— Sim!

— Você deu uma olhada no parque do outro lado da rua? Às vezes ela gosta de
se esconder embaixo do escorregador.

— Sim, sim… Keegan, oh Deus, ela estava brava comigo.

Encontrei minhas chaves no balcão, perto da minha bolsa, e saí em direção ao


meu carro. — Vocês brigaram?

— Eu disse a ela que pediria ao seu tio para buscá-la na escola amanhã, porque
eu tinha que trabalhar até tarde, e ela ficou chateada. Ela me disse que eu
nunca estava em casa, então eu disse que ela estava sendo dramática demais.
— Sua voz tremeu.

215
— Mãe! Você nunca está em casa! Ela sente sua falta. Ela estava tentando falar
com você sobre isso, e você a dispensou. — Eu estava furiosa e aterrorizada com
a possibilidade de algo ruim ter acontecido com minha irmãzinha.

— Não grite comigo, você não está ajudando.

— Cale a boca, mamãe, cale a boca! Estou indo ai. Juro que se algo aconteceu
com ela, nunca vou perdoar você! — Desliguei o telefone, não querendo ouvir
mais nada do que ela tinha a dizer. Liguei para a Macie no caminho e contei o
que estava acontecendo. Ela tentou me acalmar, mas eu estava muito nervosa.
Ela disse que me encontraria em casa e faria algumas ligações telefônicas para
lugares da cidade para perguntar se a tinham visto e depois avisaria Dodger.
Eu precisava de Camden. Tudo o que eu queria era que ele me abraçasse e me
dissesse que tudo ia ficar bem e que nós a encontraríamos. Eu ia ligar para ele,
mas estava chegando à casa da minha mãe e não o fiz porque queria entrar e
procurar Sarah.

Quando entrei pela porta da frente, minha mãe estava sentada no sofá,
inclinada para frente, com os cotovelos nos joelhos e lágrimas escorrendo pelo
rosto. Ela estava ao telefone com alguém, mas disse que tinha de ir quando
entrei.

— Diga-me onde quer que tenha procurado — exigi.

Ela colocou o telefone ao seu lado e começou a listar todos os lugares em que já
havia estado. Quanto mais ela falava, mais irritada eu ficava com ela. Parecia
que ela não parava de falar, e estávamos perdendo tempo que poderíamos estar
procurando.

— O que vamos fazer? Liguei para a polícia e eles disseram que estão enviando
alguns policiais para a vizinhança para procurar, mas e se não a encontrarmos?

Levantei minha mão. Eu estava acabada. Meu sangue ferveu e eu não sentia
mais nada além de ódio puro e simples pela minha mãe agora. — O que vamos
fazer se não a encontrarmos? Isso não vai acontecer. Ela vai ser encontrada e,
quando for, você vai precisar de ajuda. Você não vai mais sair, não vai mais se
divertir, não vai mais encontrar caras aleatórios, não vai mais beber, você vai
ficar em casa com sua filha de oito anos e vai ser a mãe responsável que deveria
ser. Estou farta de ficar pegando no seu pé, mãe. Não me importa se você tiver
que fazer terapia ou largar seu emprego para ficar em casa com ela — Eu tinha
marcado cada ponto em meus dedos. — Já chega!

— Você acha mesmo que me repreender agora vai resolver alguma coisa?

Eu me curvei e fiquei cara a cara com ela. — Você PERDEU, a Sarah! Desça do
seu maldito pedestal e seja humilde de uma vez por todas. — Ouvi a porta da
frente se abrir e Macie entrou na sala de estar. — Vou sair para procurá-la.

216
Fique aqui até ter notícias minhas ou da polícia. — Sua boca se abriu e fechou
como um peixe. Juro que se ela dissesse mais alguma coisa para mim, eu ficaria
muito tentada a esbofeteá-la.

Macie olhou para mim com simpatia e fomos até a porta da frente. — Vamos,
podemos ir até a escola e ver se ela está por lá.

— Você acha que devemos nos separar e cobrir mais terreno? — Meu queixo
tremeu e lágrimas se acumularam em meus olhos. O medo estava me atingindo
em ondas.

— Não acho que você não pode dirigir agora. Entre no meu carro e nós a
encontraremos. Tenho certeza de que ela está bem — disse ela, reconfortante.

No carro, Macie tentava me tranquilizar dizendo que Sarah estava apenas sendo
uma típica criança de oito anos e que as crianças fugiam de casa o tempo todo.
Pode ser que sim, mas a maioria só o faz por rebeldia. Sarah provavelmente
fugiu porque estava cansada de ser ignorada. Nada poderia aplacar minha
culpa.

— Contei ao Dodger o que estava acontecendo, e ele disse que verificaria as


estradas entre a sua casa e o apartamento.

— Está bem. — Mantive meus olhos nas calçadas e nos pátios por onde
passávamos, rezando para qualquer ser superior que eu pudesse imaginar que
ela estivesse bem. Estava anoitecendo e a escuridão se aproximava a cada
minuto que passava. Eu me sentia como se estivesse à beira da histeria.
Estávamos procurando há mais de uma hora quando eu disse a Macie para
passar no apartamento para ver se Camden estava procurando e para verificar
se Sarah estava na área.

Quando paramos, eu disse a Macie que já estava saindo. Subi as escadas, duas
de cada vez. Ao abrir a porta da frente, fui imediatamente recebida por uma
Sarah com os olhos cheios de lágrimas e Camden sentado à sua frente
conversando com ela. Minhas pernas ficaram fracas e quase desmaiei de alívio.
Ela olhou para mim e se levantou do sofá. Correu até mim, e eu me ajoelhei a
tempo de ela cair em cima de mim soluçando. Eu chorei. Meu único pensamento
era que ela estava segura, pois eu a estava abraçando. Apertei-a com força em
meus braços e passei as mãos por seus cachos rebeldes. Camden se levantou e
olhou para nós, encostado no balcão do café da manhã.

— Onde você estava? Você tem alguma ideia de como eu estava assustada?
Como mamãe estava assustada?

— Mamãe não se importa.

217
Eu a puxei de volta, segurando seus braços. — Ela se importa sim, Sarah. Sei
que ela pode não demonstrar isso como deveria, mas ela se importa. Nós duas
estamos muito preocupadas com você. Por que você foi embora assim? Você
sabe que não pode ir a lugar algum sem um adulto com você. Como você chegou
até aqui?

Ela levantou os ombros. — Vim de bicicleta.

— Você o quê!? — Eu gritei.

— Eu estava com meu capacete, estava segura.

— Não, Sarah, você não estava segura. Em nenhum momento é aceitável que
você saia de casa sem alguém com você e vá a qualquer lugar, muito menos que
ande de bicicleta a vários quilômetros de distância. Não me importa se você
estava de capacete ou não.

— Sinto muito. — Meu tom de voz a estava irritando novamente, mas eu não
me importava. Eu queria que ela ficasse chateada, queria que ela sentisse nem
que fosse um pouquinho do medo que eu estava sentindo nas últimas duas
horas.

Inspirando profundamente, tentei acalmar meus nervos em frangalhos. —


Ouça, não precisamos falar sobre isso agora, mas quando chegarmos em casa,
mamãe, você e eu vamos nos sentar e conversar. Acho que precisamos fazer
novos arranjos.

Ela assentiu e limpou o nariz com as costas da mão. — Ok.

Eu me levantei e encarei Camden. Estreitando os olhos, cerrei os dentes: — Há


quanto tempo ela está aqui?

Ele inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse confuso com meu tom de
confronto. — Faz talvez quinze minutos. Ela bateu na porta, eu a deixei entrar
e tentei acomodá-la antes de ligar para você.

Meus dedos se flexionaram e depois se cravaram nas palmas das mãos. — Você
não acha que essa é a primeira coisa que deveria ter feito? Pode me chamar de
louca, mas todos nós estamos dirigindo, por aí tentando encontrá-la, e você
poderia ter me tirado do meu sofrimento quinze minutos atrás?

— Keegan, acho que você precisa se acalmar e respirar um pouco. Ela está
bem, está segura, está tudo bem.

— Não, Camden! Não está tudo bem! — Eu gritei. Lágrimas escorriam dos meus
olhos em um ritmo constante, e eu queria torcer o pescoço dele. — Você não

218
está entendendo? Todos estavam procurando por ela: eu, Macie, Dodger… a
polícia! Você deveria ter me chamado.

Ele estreitou os olhos e sua postura ficou rígida. — Você está chateada, e se
quiser descontar em mim, tudo bem. Mas eu fiz o que achei melhor, então sugiro
que se acalme e não fique ainda mais irritada.

Vi Sarah olhar para mim com o canto do olho. Se ela não estivesse aqui, eu
estaria vasculhando as gavetas da cozinha em busca de uma arma agora
mesmo. Em vez disso, resolvi me controlar. Voltando-me para as escadas,
comecei a subir para o meu quarto. No meu armário, peguei uma sacola e
comecei a jogar todas as minhas roupas dentro dela, sem me importar se
estavam bem dobradas.

— O que está fazendo? — Camden perguntou da porta.

— Saindo.

Eu o sentiu entrar no meu quarto e se aproximar por trás de mim. — Por quê?
— Ele parecia confuso.

— Porque preciso sair, preciso me afastar para dar um tempo de tudo. — Voltei
ao meu armário e peguei mais coisas.

Seu braço se estendeu e ele agarrou meu pulso. — Você poderia parar por um
minuto e falar comigo?

Eu o encarei. — Sobre o que você quer conversar, hein? Quer falar sobre o fato
de não ter pensado em mim novamente quando havia algo que era obviamente
importante? Ou que tal o fato de você convenientemente não ter me contado
sobre a Bree, quando saber que você tem uma irmã é algo muito importante.
Ou talvez até mesmo o fato de eu ter dito que o amava pela primeira vez e você
não ter nada a dizer sobre isso. — Meu peito pesou quando o ar saiu de mim e
eu comecei a soluçar.

Ele tentou me aproximar dele, mas puxei meu braço para longe. Isso o irritou.
— Então você está apenas fugindo. Nem sequer vai me dar a chance de falar
com você, é isso?

— Você já teve muitas chances de me contar as merdas que escondeu de mim.


Claramente, não sou uma pessoa vital em sua vida. Você dá valor a outras
coisas, e eu estou muito abaixo na sua lista de ‘coisas com as quais Camden se
importa’ para que você se importe comigo.

Ele se moveu rapidamente. Arrancando as roupas de minhas mãos e jogando-


as contra a parede, ele agarrou minha nuca e me fez olhá-lo nos olhos. Eu nunca
o tinha visto tão irritado em todo o tempo em que o conheci. Não havia como

219
confundir a intensidade de suas palavras quando ele falou. — Se você voltar a
dizer algo assim para mim, posso lhe prometer que isso está acabado. Você
nunca esteve em baixa na minha lista de prioridades e, se estivesse, acredite,
você saberia disso. Eu faço as coisas do meu jeito. Você precisava de um tempo
para processar o que sentia por mim. Tudo bem, eu estava lhe dando esse
tempo. Mas de forma alguma isso foi um reflexo de meus sentimentos. Eu estava
errado por não ter lhe contado sobre Breslin? Claro que sim, eu estava errado e
me arrependo. Eu deveria ter ligado para você quando a Sarah bateu na porta
hoje à noite? Sim, provavelmente. Mas tudo o que faço, Keegan, faço do meu
jeito. Não é porque estou tentando ser maldoso, brincalhão ou descaradamente
ofensivo. Já estou farto de ver você me atacar porque está irritada. Se você ainda
não percebeu, não sou um homem muito tolerante. Isso acaba agora. Portanto,
ou você aceita e lida com a minha maneira de ser, e tentarei fazer um esforço
concentrado para ser mais aberto com as merdas que surgem em meu caminho,
ou você vai embora. Não vou ficar aqui e deixar que você me acuse de não me
importar quando, na verdade, eu me importo mais do que você pode imaginar.

Seus dedos estavam cravados em meu cabelo, e eu estava ofegando tanto que
meus lábios estavam secos. Eu me sentia tão desnorteada com suas palavras
que nem sabia ao certo como responder a ele. Em vez disso, fiquei em silêncio,
analisando cada palavra, processando cada uma delas para que fizessem
sentido. Aparentemente, foi a coisa errada a fazer, porque Camden me soltou
abruptamente e deu um passo para trás. Seus olhos se moviam para frente e
para trás entre os meus. A única emoção que era tão fácil de ler nele era a dor.
De alguma forma, em meu silêncio, eu o havia esmagado e agora era ele quem
estava se afastando. Meu coração disparou e eu não queria nada mais do que
dizer: ‘Espere, eu o amo. Não vamos fazer isso, podemos começar de novo?’ Mas
eu não disse. Meus pés estavam parados no lugar enquanto eu o observava
fechar os olhos e respirar fundo. Quando ele os abriu novamente, balançou a
cabeça para mim e saiu. Sem me importar que Sarah estivesse no andar de
baixo ou que Macie ainda pudesse estar no carro, me joguei na cama, me enrolei
em posição fetal e chorei.

Camden me deixou.

220
CAPÍTULO - 19
NA MANHÃ SEGUINTE, EU ESTAVA DEITADA em minha cama, olhando para
as paredes amarelas. Paredes que Camden havia pintado para mim porque
estava tentando fazer algo bom, algo que mostrasse que ele se importava. O fato
de que eu tinha uma mala pronta ao lado da cama pesava muito sobre mim,
mas a ideia de sair do apartamento sem saber quando voltaria me fazia querer
me jogar de um penhasco. Se eu abandonasse Camden, seria o fim. Ele não me
perdoaria, e não haveria volta. Houve uma leve batida na porta antes que ela
fosse aberta e entrasse uma Bree lavada e revigorada. Pensei que ela já tivesse
deixado a cidade, mas aparentemente não. Que sorte a minha.

— Ei, posso entrar? — Ela perguntou.

Me desenrolando, subi na cama e coloquei meu cabelo atrás das orelhas. —


Entre. — Eu realmente não estava com vontade de falar com ninguém, e
certamente não com ela. Eu poderia saber quem ela era agora, mas isso não
significava que meu cérebro ainda estivesse computando que ela não era o
inimigo. Mas eu deveria conhecê-la melhor. Camden a protegia, ele a amava e
era parte dela, pois compartilhavam o mesmo DNA. E tudo o que era Camden,
eu amava.

Ela veio e se sentou ao meu lado, esticando suas longas pernas tonificadas e se
sentindo confortável ao meu lado como se me conhecesse a vida inteira. — Como
você está?

— Bem, eu acho. Apenas feliz por minha irmã estar a salvo.

Ela acenou com a cabeça. — Sim, eu soube disso. Deve ter sido muito
assustador.

— Sim, foi, mais do que você imagina. — Eu estava mexendo em meus


cobertores.

Havia um silêncio constrangedor entre nós, e nenhuma de nós estava falando.


Ela deu uma olhada no meu quarto e sorriu. — Gosto do seu quarto. Tenho as
mesmas cores no meu.

Eu não sabia o que achava de compartilharmos os mesmos gostos. Talvez tenha


sido por isso que Camden escolheu o que escolheu. — Obrigado — foi a única
resposta que dei a ela.

221
— Então isso não é nada estranho — disse ela sarcasticamente.

Eu tinha que lhe dar crédito, ela estava tentando. Eu sorri para ela. — Desculpe-
me, mas não estou muito a fim de conversar agora.

— Já imaginava, e é por isso que este pode ser o momento perfeito para eu
conversar um pouco, se você estiver disposta a ouvir.

Intrigada, eu me sentei um pouco mais ereto. — Está bem.

Ela começou me contando sobre sua mãe, como ela nunca estava por perto e
como fazia a Bree se sentir como se não a quisesse. — Mas não era assim o
tempo todo. Havia momentos em que ela chegava em casa com todos os
ingredientes para fazer biscoitos e queria passar um tempo comigo. Ou
acampávamos na sala de estar e assistíamos a um desenho animado atrás do
outro, rindo. Era como se ela quisesse me amar, só não sabia como. Paul, meu
pai, não sabia que ela estava deprimida quando o tribunal lhe concedeu a
guarda compartilhada. Ele me disse que, se soubesse, nunca teria me deixado
morar lá. O Paul é um bom homem. É de onde Camden tira isso. Na verdade,
toda aquela família é boa gente.

— Eles também são sua família. — Eu disse o óbvio.

— Sim, mas à medida que você envelhece, você questiona as coisas que lhe
foram feitas e como uma vida diferente poderia tê-lo levado a uma direção
diferente. Não culpo Paul ou Donna por minha infância. Eles tentaram fazer
com que eu fosse morar com eles, mas, por algum motivo, eu simplesmente não
conseguia deixá-la. Eu me tornei o pai, e ela era a criança que eu criei.

Uau, eu não conhecia esse sentimento? Sentada aqui ao lado dela, parecia que
cada palavra que saía de sua boca era uma palavra que eu deveria ouvir, com a
qual eu deveria me identificar. Nossas histórias de infância eram tão parecidas
que você pensaria que vivíamos lado a lado no mesmo mundo. Só que eu não
tinha um pai que me quisesse. Se eu tivesse tido um que fosse como Paul,
provavelmente teria muito mais perguntas sobre minha vida e como ela poderia
ter sido diferente.

— Bree, sinto muito pela forma como a tratei e pelas coisas que disse fora do
restaurante no outro dia. Eu não tinha ideia de quem você era e meio que passei
dos limites. Isso nunca havia acontecido comigo antes — disse.

— Está tudo bem. Ele deveria ter te contado. Eu sabia que ele estava namorando
alguém, embora não soubesse o quanto vocês dois eram sérios, mas eu deveria
saber que ele não contaria a você, a menos que eu lhe desse permissão para
contar. Veja, esse é o problema do Camden, ele é leal até demais. Ele nunca
revela segredos, mesmo que isso possa arruinar todos ao seu redor. Sei que
tenho três outros irmãos que largariam tudo por mim se eu pedisse, mas

222
Camden sempre foi o único que se aproximou de mim. Ele é o único que age
mais como o irmão mais velho do que como o irmão mais novo. Eu confio demais
nele e gostaria de não ter pedido sua ajuda. Isso causou uma tempestade de
merda, e eu sinto muito por isso.

Balancei a cabeça. — Não, não se culpe. Ele deveria ter me contado, assim como
deveria ter me contado sobre muitas coisas. Mas acho que você tem razão
quando diz que Camden não fala muito sobre as coisas. É que, com ele, a
palavra é ‘mamãe’ o tempo todo, e tudo o que eu quero é que ele se sinta
confortável o suficiente para falar comigo.

Ela se aproximou e segurou minha mão. Quando olhei para ela, tive vontade de
explodir em lágrimas. Ela era tão parecida com Camden que eu não conseguia
entender. Como eu não vi isso na foto? Bem, acho que se eu não estava
procurando por isso, como poderia ter visto?

— Ele se sente confortável o suficiente com você. Ele ama você, Keegan. — Eu
estava prestes a argumentar, mas ela me impediu. — Não, apenas me escute.
Eu o vi crescer e sair com garotas aqui e ali. Você sabe quantas ele já trouxe
para casa?

— Não.

— Zero. Sabe com quantas ele ficou durante todo o tempo em que esteve com
você?

— Huh-uh.

— Zero. E você sabe a quantas ele disse que as amava?

Lágrimas vieram aos meus olhos e eu disse: — Não.

— Nenhum, Keegan. Ele nunca disse isso a outra garota.

— Mas ele também nunca me disse isso.

— Você acha que ele precisa dizer? Camden vê algo em você que é claramente
especial, e eu também vejo. Você é diferente das outras garotas. Ele pressiona e
testa as que ele deixa entrar, porque quer saber se elas lutarão por ele, como
ele lutará por elas. E você lutou mesmo. — Ela riu. — Ele precisa de alguém
como você, que o desafie. Eu sabia que Camden nunca se contentaria com uma
garota que fosse superficial ou vaidosa. Ele gosta de outras qualidades…
qualidades que sejam reais. Dê a ele outra chance, Keegan, ele merece uma, e
você também.

Os cantos dos meus olhos estavam cheios de lágrimas secas e agora estavam
úmidos novamente. — Obrigado por conversar comigo. Seu irmão é muito

223
especial para mim, e acho que você também é muito boa. — Fiz uma pausa. —
Espere, o que você vai fazer, você sabe, sobre a coisa toda do bebê?

Ela exalou ruidosamente. — Essa é a pergunta do ano, não é? Acho que vou
voltar para casa para avisar o cara e tomar uma decisão a partir daí. Nunca
pensei que estaria nessa situação, mas estou, então acho que é melhor
enfrentar.

Apertei sua mão. — Boa sorte, Bree. Sei que você tem outras pessoas com quem
conversar, mas estou aqui se você precisar de alguém.

— Obrigada — disse ela ao se levantar da cama. Antes de sair pela porta, ela
me encarou. — Mantenha ele alerta, slugger. Ele merece você. — Então ela saiu.

Deixei minhas malas prontas, mas não fui embora. Repassei em minha cabeça
algumas coisas que Camden havia dito. Ele me disse que eu precisava me
entender com ele, que ele era rígido em suas atitudes. Camden nunca tinha tido
relacionamentos, especialmente aqueles em que sua namorada já estava
morando com ele. Em que momento eu não dei uma folga para o homem por
causa disso? Foi um grande ajuste para nós dois. Aos vinte e cinco anos, ele já
fazia as coisas sozinho há algum tempo e agora estava tendo que fazer ajustes
em quase todas as partes de sua vida para que eu me encaixasse. Se ele não
achasse que eu valia a pena, ele não teria feito isso. Em meu coração, eu sabia
disso, mas esperar que meu cérebro se atualizasse não era tão divertido. Meus
instintos estavam gritando para que eu lhe desse a chance que ele merecia. Se
eu fosse embora, seria o fim para nós. Decidi que ficaria e lutaria por isso, por
nós, porque merecíamos. Eu o amava. Camden me consumia e, por mais
assustador que fosse, ainda era a melhor sensação que eu já havia sentido.

Ele tinha ido embora há dois dias. Eu havia mandado uma mensagem para
Dodger depois da primeira noite para perguntar se ele tinha visto o irmão, e ele
respondeu que estava em sua casa e não sabia quanto tempo ficaria lá. Eu me
senti mal por Camden querer ficar longe de mim. Se era assim que seria não tê-
lo por perto, eu não gostava nem um pouco. Eu mal estava funcionando, mas a
cada hora que passava, meu coração gritava para que eu corresse até ele. Já
era quase meia-noite da segunda noite, quando eu desmaiei no sofá. Acordei
com o som da fechadura da porta da frente e com a visão de um Camden muito
desarrumado entrando. Seu cabelo estava desarrumado, sua camiseta estava
amassada e, se eu tivesse que adivinhar, diria que ele provavelmente tinha
vestido a mesma coisa dois dias seguidos. Meu coração pulou uma batida ao
vê-lo. Ele olhou para a sala de estar como se estivesse procurando por mim. No
momento em que nossos olhos se encontraram, foi como se eu pudesse respirar
novamente. Levantei-me do sofá e fui até ele. Sem hesitar, ele abriu os braços
para mim, e foi como se estivesse me recebendo de volta em casa. Encostei meu

224
rosto em seu peito duro e deixei que ele me envolvesse com seus braços enormes
como se fosse um presente. Seu cheiro invadiu meus sentidos, e fiz de tudo para
não subir em seu corpo e me agarrar a ele como um macaco. Ele enterrou o
nariz em meu cabelo e apertou um punhado de meus cabelos. Ficamos assim,
sem falar, sem nos movermos, simplesmente sentindo, por um bom tempo.
Poderia facilmente ter passado trinta minutos abraçados daquela maneira
quando senti que era hora de conversarmos.

— Por favor, não me deixe — murmurei em seu pescoço.

— Nunca — disse ele, apertando-me com mais força.

— Você ficou fora por um tempo. Eu não tinha certeza se você voltaria ou se
queria que eu fosse embora antes de você voltar.

— Você é ridícula. Eu só precisava resolver algumas coisas em minha cabeça,


só isso. Tudo deu errado muito rapidamente e, antes que eu tivesse a chance
de consertar alguma coisa, algo mais aconteceu.

— E você resolveu as coisas em sua cabeça?

— Na maior parte. Mas ver você está melhorando as coisas. Esses últimos dias
têm sido difíceis.

— Para constar, acho que nunca conseguiria me afastar de você, Camden. Você
é mais ou menos a minha pessoa. Eu até gosto de você.

Eu o ouvi dar uma risada sonolenta. — Ótimo, porque tenho certeza de que
também gosto de você. Mas temos muito que conversar sobre Keegan.

Afrouxando meu controle sobre ele, eu disse: — Vem comigo lá em cima?

Ele assentiu, pegando minha mão e subindo as escadas. Em seu quarto, nós
dois nos despimos e subimos em sua cama. Quando nos acomodamos,
estávamos deitados um de frente para o outro, com os pés entrelaçados e nossos
rostos a poucos centímetros de distância.

— Me desculpe por ter gritado com você, Camden. Você não merecia a forma
como o tratei, nem que eu não o deixasse se explicar para mim. Não tenho sido
muito compreensiva ultimamente, e acho que fiquei com medo de que você se
aproximasse demais e percebesse que eu não valia a pena.

— Isso nunca vai acontecer. Foi só depois de conhecê-la que eu soube que algo
que valia a pena existia. Acho que nós dois vamos ter que trabalhar em uma
curva de aprendizado. Como já vivemos juntos, temos que fazer as coisas de
forma diferente. Eu nunca mudaria a gente ou a nossa situação, mas nós dois
ainda estamos fazendo ajustes. Desde que você saiba que estou nessa com você

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e que não vou embora, tudo ficará bem. Eu disse que você seria a garota que
poderia me arruinar, e falei sério. — Ele levantou uma de minhas mãos e a
colocou sobre seu coração. — Você sente isso?

— Sim.

— É seu. Não está batendo para mais ninguém, apenas para você. Eu também
amo você, Keegan. Não tive a chance de lhe dizer isso de volta, porque acho que
fiquei mais chocado quando essas palavras saíram de seus lindos lábios do que
qualquer outra coisa. Nunca em minha vida pensei que encontraria uma garota
que me virasse de cabeça para baixo e mudasse a maneira como faço as coisas
ou como penso. Então você entrou, essa garota de cabelos loiros com os olhos
azuis mais brilhantes, e você me tirou do eixo desde então. Nosso mundo gira
de uma maneira diferente, e eu gosto disso.

Meu coração tropeçou em meu peito. Bree estava certa. Mas eu já não sabia
disso? Camden Brooks acabou de me dizer que me amava. A mim. A garota que
nunca ousou sonhar além de se formar em enfermagem e ter um ambiente
estável. Eu dei o maior sorriso que acho que meu rosto já teve, e ele retribuiu.
Alguém me belisque porque achei que estava sonhando.

— Chega de não confiar, chega de segredos, chega de se esconder. Prometo lhe


contar tudo, até mesmo os segredos sujos e feios sobre mim, mas quero saber
o mesmo sobre você. Saber tudo o que há para saber sobre uma pessoa é uma
coisa poderosa.

— Concordo.

Suspirando profundamente, eu disse: — Vou precisar de sua ajuda em uma


coisa.

— Diga, você tem toda a minha atenção.

— Preciso falar com minha mãe sobre a Sarah, e tenho a sensação de que não
vai ser nada bonito. Vem comigo?

Ele acariciou minha bochecha enquanto se segurava com um braço. — Claro.

Meu coração se derreteu. — Ok. Iremos amanhã à tarde, enquanto Sarah estiver
em uma festa de aniversário.

— Sem problemas, quando quiser. — Ele mordeu o lábio, e eu reconheci aquele


olhar brincalhão em seus olhos. — Que tipo de segredos escuros e feios você
tem? Compartilhe um!

Eu ri. — Ok, bem, não é realmente um segredo sujo, mas eu sou muito estranha
com M&M's de amendoim. Eu os como em três. Um vai para cada bochecha

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para ficar quente e derretido, enquanto chupo o terceiro para tirar a casca do
doce. Depois, eu simplesmente os giro enquanto os como.

— Você é estranha. — Ele me cutucou na lateral, e eu me contorci.

— Pare com isso, não sou tão ruim assim. O que você esperava que eu dissesse,
que gosto de mastigar as unhas dos pés e que as guardo em um saco plástico
no meu armário?

Seus olhos se arregalaram. — Merda, você faz isso?

— Você não faz?

Ele ficou quieto, e eu caí na gargalhada. — Ok, essa é uma ofensa que pode ser
quebrada. Só estou dizendo. Se suas unhas dos pés estiveram em sua boca em
qualquer idade após a infância, teremos problemas. Não posso beijar uma
garota que pode ter fungos nos pés em sua língua.

Dei um empurrão em seu ombro. — Cale a boca.

Ele segurou meu pulso e o prendeu acima da minha cabeça, fazendo com que
ele se inclinasse sobre mim. A leveza se intensificou instantaneamente.

— Você vai me afastar de novo?

— Provavelmente, mas é o que eu faço.

Ele me deu um meio sorriso. — Espertinha. Você confia em mim?

— Sem sombra de dúvida. — E eu confio

Ele aproximou seus lábios dos meus e me beijou com reverência. Eu o absorvi
como se estivesse tomando sol depois de um longo e rigoroso inverno. Ele era
meu calor, meu conforto, meu lar. A maneira como ele me tocava enquanto nos
dedicávamos a nos amar foi uma experiência nova. Não estávamos fazendo isso
apenas por paixão gananciosa, era porque tínhamos passado para o próximo
nível juntos. Eu sabia que amaria Camden até que eu não existisse mais nesta
terra. Ninguém jamais me faria sentir como ele.

Liguei para minha mãe para avisá-la que estávamos indo conversar com ela. Ela
havia concordado que algumas coisas precisavam ser resolvidas, então eu
esperava que ela mantivesse a mente aberta sobre tudo isso. Quando
estacionamos, parei por um momento para me preparar para qualquer tipo de

227
tempestade de merda em que eu estivesse prestes a entrar. Imaginei que mamãe
estaria na defensiva, mas tudo bem, eu estava preparada para lidar com isso.

Camden saiu do carro e veio para o meu lado. Abrindo a porta, eu saí e ele
colocou os dois braços em cada lado de mim, me aninhando. — Você está bem?

Acenei com a cabeça.

— Uma coisa precisa ficar clara, Keegan, se ela levantar a voz para você, vou
intervir e dizer alguma coisa. Não vou conseguir ficar de boca fechada de jeito
nenhum.

Olhando em seus olhos castanhos, vi que ele estava falando sério. — Está bem.

— Ok.

Largando os braços, caminhamos até a porta da frente e eu deixei os dois


entrarem. Era estranho que, quando eu voltava agora, essa casa não parecia
mais o meu lar. Era apenas o lugar onde eu costumava morar. Caminhando
pelo corredor, vi minha mãe sentada na sala de estar, esperando por nós.

— Oi, mãe — eu disse, caminhando até o sofá para me sentar e ficar confortável.

Ela me deu um sorriso apertado. — Keegan, Camden, estou feliz por vocês terem
vindo. Gostariam de beber alguma coisa?

Por que ela estava sendo tão formal? — Não, estou bem, mamãe. Eu só quero
conversar e depois temos algumas coisas para fazer. — Ela inclinou o queixo
para baixo e esperou. — Tudo bem, você já sabe o que eu acho de você deixar a
Sarah sozinha, mas preciso que você me olhe nos olhos e diga que ficará em
casa com ela quando ela estiver aqui. Ela é muito jovem para que você a deixe
aqui para ir para a casa do seu namorado.

— Eu não tenho namorado.

— Bem, tanto faz. Eu realmente não sei para onde você vai, mas isso precisa
parar. Se precisar sair, pelo menos me ligue para saber o que estou fazendo. É
provável que Sarah possa vir e ficar no apartamento até você ir buscá-la.

Seus lábios se afinaram. — Achei que era por isso que você tinha se mudado.
Para se separar de nós.

Minha testa se enrugou. — O quê? Não! Eu saí porque precisava me separar de


você, desta casa, de tudo. Estar aqui estava atrapalhando meu progresso na
escola.

— Então você queria mesmo se afastar de nós.

228
— Não, não de nós, mãe, de você.

Ela me encarou. Camden segurou minha mão e entrelaçou seus dedos com os
meus. Era sua maneira silenciosa de me avisar que ele estava aqui.

— E o que fiz de tão terrível para você sentir a necessidade de fugir?

Revirei os olhos e rosnei de frustração. — Você está me ouvindo? Eu fui embora


porque você estava confiando em mim para ser a mãe dela. Era eu que fazia o
jantar todas as noites, era eu que me certificava de que ela fazia a lição de casa
e era eu que a colocava para dormir à noite. Onde você estava? Ah, é isso
mesmo, você estava tendo outra noite de trabalho. Isso era demais para mim.
Meus trabalhos escolares estavam sendo prejudicados, e você sabia o quanto
esse diploma era importante para mim. Sarah tem uma mãe… não sou eu. Seja
a mãe. — Uau, foi bom dizer isso.

Sentada, ela cruzou os braços. — Por que só agora você está me contando isso?

— Não estou dizendo. Já lhe disse várias vezes, mas você nunca me ouviu. Mas
depois desse último incidente com a fuga de Sarah, estou farta disso. Algo
precisa acontecer aqui ou terei de fazer algo drástico. — Eu não sabia o que
fazer, mas achei que deveria dizer.

— Não sei o que você quer de mim.

— É simples. — Me inclinei para a frente e comecei a marcar meus dedos um


por um. — Estar em casa quando Sarah estiver em casa. Certifique-se de que
ela esteja pronta para a escola no dia seguinte. Alimente-a e vista-a. E faça com
que ela saiba que você a ama. As crianças não são criaturas complicadas, mãe,
se ela souber que você a ama e que quer passar um tempo com ela, ela a
perdoará por tudo o que já aconteceu. Esse é o tipo de criança que ela é.

Lágrimas brotaram em seus olhos e ela fechou a boca. Eu esperava que ela
estivesse entendendo. Ela deveria saber que esse não era um comportamento
aceitável para uma mãe responsável. Depois de algum tempo, ela finalmente
respondeu: — Ok.

Soltei um suspiro, acho que não era isso que eu esperava ouvir, mas, de
qualquer forma, eu estava bem. — Além disso, não estou dizendo que você não
pode sair ou que não merece sair. Mas, por favor, me avise. Vou reorganizar
minha agenda e ela poderá ir lá em casa.

— Está bem.

Sentindo que as coisas precisavam terminar aqui antes que algo mais surgisse
e nos fizesse recuar, me levantei e fui até ela. Abaixando-me, passei os braços

229
ao redor de seus ombros e a abracei o melhor que pude. — Eu te amo, mamãe.
Sei que ter filhos mudou sua vida, mas estamos aqui. — Senti seu aceno de
cabeça contra meu cabelo e me afastei. Ela me deu um pequeno sorriso, e tomei
isso como minha deixa para sair. Olhando para Camden, ele se levantou do sofá.
Quando mamãe nos seguiu até a porta da frente, meu homem sombrio e mal-
humorado não conseguiu se conter. Ele se virou e se dirigiu à minha mãe.

— Rowan, eu sei que você ama suas filhas porque, bem, quem não amaria? Mas
vou lhe dizer isso uma vez, e espero que leve isso a sério. Keegan lhe deu
diretrizes simples para ajudar a manter a irmã dela em segurança. Se em algum
momento você não conseguir cumpri-las, saiba que viremos buscar a Sarah, e
ela viverá conosco.

A boca de mamãe se abriu. Acho que a minha também. Ele acenou com a cabeça
para ela antes de colocar a mão na parte inferior das minhas costas e me levar
até o carro. Oh! Camden, você é cheio de surpresas. Mas eu não poderia estar
mais apaixonada por ele por ter me defendido e pela pessoa mais importante da
minha vida. Ao entrar no carro, sorri para ele.

— Você é um filho da mãe corajoso, sabe disso, não sabe?

— Sim.

— Você falou sério?

— Cada palavra. — Ele me deu o peso de seus olhos castanhos e piscou para
mim antes de sairmos da entrada da garagem.

Deus, ele me faz feliz.

230
EPÍLOGO
— Alexis Peabody. — Batendo palmas

— Miranda Pearl. — Palmas

— Keegan Phillips. — Palmas

Me levantei da minha cadeira e atravessei o pequeno palco montado do lado de


fora. Apertando a mão do reitor, ele me entregou meu diploma. Quando me virei
para a plateia, vi toda a minha família acenando com cartazes e tirando fotos.
Todos que eu amava estavam aqui, toda a família de Camden, minha mãe,
minha irmã e Macie. Eu finalmente tinha conseguido. Depois de quatro anos de
trabalho intenso, mais de cem horas de aulas clínicas e muitas noites sem
dormir, eu finalmente havia recebido meu diploma de bacharel em enfermagem.
Esse deve ter sido um dos momentos de maior orgulho da minha vida. Procurei
Camden no meio da multidão. Ele estava de pé, com as mãos nos bolsos, e
parecia absolutamente encantador em um par de bermudas cargo e camisa
branca de botões. Mas a expressão em seu rosto não tinha preço; exalava
orgulho, me admirando. Ele não precisou bater palmas nem torcer por mim.
Não, aquele olhar dizia tudo. Ele sabia o que eu tinha passado para conseguir
isso, ele esteve comigo nas piores partes. Eu o vi piscando antes de me sentar e
esperar o resto da cerimônia.

No ano passado, decidi me inscrever em um programa acelerado que quase


dobrou minha carga horária, mas que me ajudaria a me formar na metade do
tempo. Era algo novo que a faculdade estava fazendo, e nós éramos uma espécie
de cobaia. Eu estava hesitante em fazer isso, porque sabia que teria de deixar
meu emprego. Minha vida inteira giraria em torno da escola. Camden foi o fator
decisivo para mim. Ele sentou comigo depois que fui aceita no programa e disse
que eu precisava fazer algo por mim, para provar a mim mesma que eu era
capaz de coisas maiores. Naturalmente, eu lutei contra ele porque… bem, era o
que eu fazia. E, claro, ele ganhou, como sempre. Eu não estava feliz por não
pagar mais a minha parte do aluguel, mas Camden me garantiu que não se
importava e que eu poderia pagá-lo de outras formas. Eu não sabia bem o que
ele queria dizer até que, mais tarde naquela noite, ele me mostrou exatamente
do que estava falando. Foi inesquecível.

Quando o discurso final foi proferido e a cerimônia terminou, abri caminho entre
a multidão até o meu homem. Assim que encontrei os olhos de Camden, ele
começou a se mover em minha direção, passando por grupos de pessoas que
estavam me afastando dele. Era como se ele estivesse abrindo um caminho para

231
eu andar. As pessoas o viram chegando e saíram de seu caminho. Eu pulei em
seus braços e ele me levantou do chão em um abraço esmagador. Até mesmo o
cheiro dele, aquele aroma fresco e ensaboado de sua pele, me fez sentir como se
estivesse em casa e me confortou. Levantando minha cabeça, encostei minha
testa na dele.

— Parabéns, Blue.

— Obrigado. — Eu sorri.

Ele me segurou no ar, meus pés balançando por algum tempo enquanto as
pessoas caminhavam ao nosso redor. Estávamos vivendo um momento e
ninguém iria interrompê-lo. Ele me beijou no nariz e depois nos lábios com
ternura. Foi um beijo doce e demorado que me deixou toda derretida.

— Você finalmente tem o diploma pelo qual trabalhou tanto, o que vai fazer
agora?

Puxei minha cabeça para trás e coloquei o dedo no queixo. — Hmmm... entrar
para o circo?

Ele deu uma risadinha. — Sempre o espertinha.

— Sempre. — Eu sorri para ele. Beijando-o rapidamente, eu me contorcia para


que ele me colocasse no chão quando percebi que o resto da família estava vindo
me cumprimentar.

Quando me coloquei de pé, fui rapidamente levantada de volta em outro abraço


sufocante do Dodger… e depois outro do Turner. O pobre Wrigley não teve a
menor chance quando Camden entrou na frente dele e simplesmente disse: —
Não — Eu dei uma risada e dei um tapa em seu braço.

Macie abriu caminho entre todos os meninos como uma chefe. — Saiam da
frente, vocês todos, ela foi minha amiga primeiro. — Nós nos abraçamos e eu
aproveitei cada grama de amor e apoio que estava recebendo. Sério, uma garota
poderia ter mais sorte?

— Ah, cara, eu tenho que parar ou vou chorar. — Falei em seu cabelo.

— Aguente firme, seu bebê grande! — Ela deu um tapa na minha bunda, e ouvi
Wrigley dar um grito. — Estou orgulhoso de você, Keegan. Você mereceu isso.

Eu disse, fungando, — Obrigado. Amo você, Mace.

— Também amo você.

232
O restante da família se aproximou, me dando palavras de sabedoria e
expressando o quanto achavam que eu era incrível. Quando pensei que meu
coração iria explodir de felicidade, minha mãe se aproximou de mim. Na maior
parte do tempo, resolvemos nossas diferenças. Sarah estava satisfeita e
recebendo a atenção que merecia, e isso era tudo o que realmente importava
para mim. A tensão em nosso relacionamento estava diminuindo lentamente, e
eu podia ver que ela estava fazendo um esforço genuíno para consertar as
coisas. Eu não sabia se foram as minhas palavras ou as de Camden que lhe
deram o alerta de que ela precisava, mas fiquei satisfeita por ela estar tentando.
Olhando para ela agora, eu sabia que tudo ficaria bem. Nós ficaríamos bem.

Mamãe segurou meu rosto com as mãos e sorriu para mim. Era o mesmo sorriso
que eu tinha. — Você se saiu bem, filhinha. Não consigo acreditar que fui
abençoada por ter uma filha como você. — Uma lágrima rolou por sua bochecha.
— Você cresceu e se tornou uma linda jovem, Keegan. Tenho orgulho de você.

A represa se abriu, e meus olhos derramaram lágrimas. — Amo você, mamãe.


Somos sempre você e eu, sempre. — Eu a abracei, sabendo que me lembraria
desse momento pelo resto da minha vida.

Camden colocou sua mão na parte inferior das minhas costas, indicando que
era hora de irmos embora. Estávamos indo para a casa dos pais dele para um
almoço comemorativo e depois jogar uma partida de beisebol. O que seria de
uma reunião na casa dos Brooks se não houvesse beisebol? Fui até uma das
minhas colegas de classe, de quem me aproximei ao longo do ano, e a avisei que
estávamos indo embora. Descobri que Annabelle Keaton era uma pessoa
solitária. Não que ela não tivesse amigos. Na verdade, ela tinha muitos amigos,
mas na metade do semestre ela me contou que seus pais haviam falecido em
um acidente de carro e que ela estava sozinha desde os dezesseis anos. Talvez
fosse por isso que nos dávamos tão bem. Nós duas tivemos que ser
independentes muito antes do que uma criança deveria ser. De qualquer forma,
eu queria que comemorássemos nosso dia juntas, com uma família que eu sabia
que a receberia. Annabelle me disse que ia pegar sua bolsa e que nos seguiria
em seu próprio carro. Assenti e partimos para a casa.

Donna já tinha comida pronta quando chegamos lá, então colocamos nossos
pratos e nos sentamos para comer. O bate-papo estava a todo vapor, e
estávamos todos nos divertindo, conversando e provocando uns aos outros,
como normalmente fazíamos. Eu sorri ao ver que Annabelle estava conversando
com todos como se nunca tivesse perdido uma refeição com esse grupo.

— Então, Annabelle, em que tipo de enfermagem você está interessada? —


perguntou Turner.

Ela olhou para ele como se estivesse confusa. Ele não havia falado uma palavra
com ela desde que eu os apresentei, e o interesse repentino dele a pegou de

233
surpresa. Limpando a garganta, ela disse: — Possivelmente medicina esportiva,
ou trabalho de parto.

— Esses dois não poderiam ser extremos mais diferentes do espectro. Por qual
delas você está mais interessada?

Por algum motivo, ela olhou para mim antes de responder. — Na verdade, não
tenho muita certeza. Eu estava esperando me candidatar a qualquer lugar onde
o Keegan estivesse.

A lateral de sua boca se inclinou para cima e, pela primeira vez desde que
conheceu o Turner, seus olhos brilharam. — Não é como duas garotas que se
levantam e vão ao banheiro juntas. Vocês não precisam trabalhar em duplas,
então me diga qual delas se encaixaria melhor?

Annabelle franziu a testa para ele, obviamente frustrada com sua pergunta. —
Bem, se você for apontar uma arma para a minha cabeça e me dizer qual
escolher, eu diria medicina esportiva. Mas ouvi dizer que haverá várias vagas
em L&D, então é provável que eu vá para lá.

— Hmmm — foi tudo o que ele disse em resposta.

Os dois se encararam por alguns instantes antes que Turner desviasse o olhar
e se juntasse à conversa na mesa. Annabella parecia completamente confusa.
Ela me procurou para ver o que eu achava de toda aquela conversa, mas eu
simplesmente dei de ombros. Não tinha ideia do que pensar sobre isso. Pensei
brevemente se Turner estava interessado, mas rapidamente tirei esse
pensamento. Turner era um namorador, e Annabelle definitivamente não era
seu tipo. Ela era uma beldade no quesito aparência, mas era doce; nunca era
de colocar as cartas na mesa cedo demais, que era o que ele esperava dela.

— Hora de entrar em campo, senhoras e senhores! — Wrigley anunciou ao se


levantar de seu assento e estalar os dedos.

— Você não vai dirigir o carrinho de golfe, Wrig. Sei que é isso que você quer. —
interveio Paul. — Você e seus amigos estragaram alguma coisa no motor e juro
que vai custar uns 200 dólares para consertar. O que vocês estavam fazendo?
Correndo?

Ele olhou para o pai como se fosse óbvio. — Bem, sim.

— Você vai trabalhar para pagar isso, garoto.

— Sim, senhor — disse Wrigley. Todos os meninos riram da idiotice do irmão


mais novo.

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Quando estávamos todos no campo, escolhemos os times. No fim das contas,
acabou sendo um jogo de meninos contra meninas. Pode não parecer justo para
alguns, mas, do meu ponto de vista, as meninas eram menores e mais rápidas,
e eu convenientemente deixei de fora as mais inteligentes também. Não queria
começar uma guerra total dizendo o óbvio. O jogo começou e estávamos em
nossa segunda entrada. Os meninos estavam ganhando por dois, e eu podia
dizer que Macie estava ficando irritada. Eu estava arremessando, como de
costume, quando Dodger se aproximou da base. Macie estava como
apanhadora, e eu sabia que ela ia começar com a distração.

Preparando-se, Dodger ficou em posição e eu estava lançando a bola quando


Macie disse: — Você sabia que quando uma garota olha para um homem pela
primeira vez, seus olhos vão automaticamente para a virilha dele? — Dodger
balançou muito baixo e não acertou a bola. — Primeiro strike — disse ela com
um sorriso.

Ele olhou para ela com um olhar de reprovação. Infelizmente, logo depois que
Camden e eu resolvemos nossos problemas, Macie e Dodger terminaram. Ele
não estava indo tão rápido quanto ela gostaria e não estava disposto a se
submeter às regras dela. A relação entre eles tem sido muito feia, mas a tensão
sexual poderia afogar uma pessoa se ela se aproximasse demais.

Eu não dei a segunda bola, e Macie falou alto. — Aparentemente, os lábios de


um homem também são da mesma cor de sua ponta. — Bufei com a tentativa
flagrante dela de fazer com que ele errasse… o que, na verdade, estava
funcionando. — Segundo strike.

— Macie, juro por Deus, se você não calar a boca…

Ele desviou o olhar antes de ver o sorriso diabólico estampado em seu rosto.
Sacudi meus ombros para me preparar para o terceiro arremesso. — Sabe, as
pilhas do meu vibrador acabaram pela segunda vez em um mês. Talvez eu
precise encontrar um substituto. Como um pau de verdade. — O taco soou no
ar quando ele balançou pela terceira vez e bateu para fora. Macie se levantou e
tirou a poeira dos joelhos. Ao passar por ele, bateu em seu ombro. — Boa sorte
da próxima vez, campeão.

Se olhares pudessem matar, eu suspeitaria que Dodger teria adorado esganá-la


naquele momento. Batendo o taco na cerca, ele saiu do campo para dar uma
volta. Ah, cara, aqueles dois precisavam se resolver antes de nos reunirmos
assim novamente. A família não deveria ter que lidar com o drama deles, quando
estamos tentando nos divertir.

— Mace, qual é? — Eu repreendi.

— O quê? — Ela decidiu se fazer de inocente. Eu apenas balancei a cabeça e


continuamos com o jogo.

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Em nossa última entrada, as meninas foram para o bastão. Annabelle estava
no home plate se preparando para rebater a bola. No primeiro arremesso, ela
conseguiu uma rebatida sólida. A bola caiu no chão entre a segunda e a terceira
base e foi para o campo externo. Ela saiu correndo enquanto todos nós
gritávamos e aplaudíamos. Precisávamos que ela marcasse para empatar o jogo.
Paul estava jogando a bola de volta quando ela se aproximou da terceira base.
Sem conseguir parar seu impulso, seu pé ficou preso na borda da base, ela
tropeçou e caiu para frente. Ao aterrissar com força, ela imediatamente agarrou
o tornozelo e ficou se contorcendo de dor. Contornei a cerca para chegar até
minha amiga, mas Turner estava correndo ao lado dela para ver o que podia
fazer. O que Annabelle não sabia é que Turner estava terminando a faculdade
de medicina e era médico praticante de medicina esportiva na UGA Medical. Ele
estava ajoelhado ao lado dela enquanto eu corria para ver se podia ajudar.

— Você pode rolar para este lado? — Perguntou ele enquanto a observava tentar
movê-la.

A careta em seu rosto dizia que estava doendo muito. — Oh, meu Deus, que
vergonha! Sinto muito por ter estragado o jogo.

— Calma. Você não estragou nada. Acidentes acontecem o tempo todo, além
disso, você está usando chinelos, então isso não ajudou em nada.

— Turner, dar um sermão nela não está ajudando ninguém. Você pode pelo
menos dizer se está quebrado? — Argumentei.

Sua mandíbula se cerrou e observei quando ele se abaixou e pegou o pé dela


com cuidado, como se fosse um pássaro com a asa quebrada. Com ternura, ele
apalpou o pé delicado antes de dizer: — Não parece que há algo quebrado, mas
você terá de ficar de fora do resto do jogo. Na verdade, acho que você precisa
voltar para casa e colocar um pouco de gelo antes que comece a inchar.

Ela engoliu e acenou com a cabeça para ele. — Keegan, peço desculpas,
normalmente não sou tão desastrada.

Balancei a cabeça. — Não se preocupe. Só espero que você esteja bem. —


Olhando para Camden, perguntei: — Você pode vir buscá-la para que ela não
tenha que andar, e nós a colocaremos no carrinho de golfe para levá-la de volta?

Ele estava se aproximando quando Turner se encarregou de levantá-la em seus


braços e fazer a caminhada até o veículo. — Eu a peguei — foi tudo o que ele
me disse. Então, tudo bem. Os dois foram embora, e eu anotei para perguntar
mais tarde por que ele estava agindo de forma tão estranha. Depois Annabelle
saiu, decidimos encerrar o assunto antes que algo mais importante pudesse
acontecer. Donna queria ir ver se podia ajudar a levar Annabelle para casa,
Wrigley tinha uma festa para ir, mamãe e Sarah estavam indo para casa porque

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estava ficando tarde, e Macie e Dodger precisavam de um pouco de espaço antes
que um enterrasse o outro no quintal.

Eu também estava pronta para ir, pois tinha sido um dia muito longo e eu queria
descansar um pouco. Todos tinham ido embora, e ficamos apenas eu e Camden.
Ao encontrá-lo no monte do arremessador, ele me puxou para os seus braços e
me abraçou. A força desse homem nunca deixou de me surpreender. Não havia
lugar mais seguro do que aqui mesmo, em seus braços. Ele beijou minha testa,
e eu inclinei a cabeça para trás para olhá-lo. O chocolate quente de seus olhos
me sugaram como uma forte correnteza, eu estava me afogando em um mar
dele. Esse era o meu lugar favorito para estar.

— Você teve um bom dia? — Ele perguntou.

— Tive um ótimo dia. Não consigo acreditar que já terminei. Agora vamos para
a próxima parte da minha vida… ser adulta.

Ele deu uma risadinha. — E quanto a mim, estou em algum lugar nesses
planos?

— Não tenho certeza.

— Keegan — disse ele em tom de advertência.

— Quer dizer, você é meio mandão e deixa suas meias de ginástica suadas no
meio do chão para eu pegar.

— E isso é uma coisa ruim?

Enruguei o nariz. — Está brincando? Você já cheirou suas próprias meias?

— Claro que sim.

— Ok, eu estava meio que brincando, e eca! — Eu disse, rindo.

— Você gosta.

— Se você acha que sim…

— E quanto ao restante? O que você pretende fazer pelo resto da sua vida?

Sua pergunta me pegou de surpresa. — Eu realmente não sei. Obviamente, vou


me candidatar à UGA Medical e acho que quero trabalhar em L&D, mas veremos
onde o hospital pode me colocar. Acho que não estou em posição de ser exigente
quanto ao lugar…

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Camden me interrompeu. — Não, quero dizer, o que você pretende fazer pelo
resto da sua vida?

Inclinei a cabeça para o lado e o senti passar os dedos pelas minhas longas
ondas loiras. Tentei entender o que ele estava me dizendo, então me dei conta.
Todo o ar foi sugado dos meus pulmões e percebi que ele estava me lendo como
um livro e viu a realização em meus olhos. Camden me soltou com um de seus
braços e colocou a mão no bolso. Ele procurou e acabou tirando um anel que
era lindo de morrer. Era de corte almofadado, com diamantes em torno de um
quilate inteiro no centro. Era pequeno e feminino. Enquanto as lágrimas
brotavam em meus olhos, Camden segurou minha mão esquerda e a encostou
em seu peito. Eu podia sentir o ritmo constante de seu coração quando ele
começou a falar.

— Não dá para dizer o quanto estou orgulhoso de você, Blue. Você alcançou
suas metas e realizou o primeiro de muitos sonhos. Você me inspira todos os
dias a lutar por mais e fazer melhor. Não apenas em minha própria vida, mas
em nossas vidas. — Seus olhos brilhavam com humor e amor. — Acho que eu
estava esperando por esse momento desde que você entrou no meu apartamento
pela primeira vez. Você era a garota, aquela que me fez ver tudo de forma
diferente. Você tem sido desafiadora, teimosa, difícil e, no geral, uma grande
chata. — Dei uma risadinha e limpei meus olhos cheios de lágrimas. — Mas…
você também foi desafiadora, linda, aberta e a pessoa mais incrível que já
conheci. Você foi feita para mim, Blue. Você é a minha pessoa. Case-se comigo,
deixe-me mostrar como você deve ser amada pelo resto de sua vida.

Oh, meu Deus, isso era real? Camden Brooks acabou de me pedir em
casamento, eu me senti como se estivesse vivendo em um universo alternativo.
Coisas como essa simplesmente não aconteciam comigo. Acenando
vigorosamente com a cabeça, fiz a única coisa que sabia que poderia fazer. Gritei
a plenos pulmões e disse: — SIM! Oh, meu Deus, mil vezes, sim!

Colocando a aliança no meu dedo, Camden me pegou e me girou em um círculo.


Seu rosto estava enterrado no meu cabelo e eu estava rindo. Nunca em minha
vida pensei que responder a um anúncio para um colega de quarto me levaria
ao resto da minha vida. Camden me preencheu, todos os dias, mostrando-me
amor, compaixão e humildade. Há mais de um ano, pensei que meu propósito
na vida seria ajudar a criar minha irmã, tentar me formar com minha turma e
tentar encontrar a felicidade por conta própria. Tive a bênção de encontrar um
homem que me apoiou abnegadamente em todas as aventuras que empreendi.
Era um passeio e tanto com Camden. Ah, sim, ele era cheio de surpresas, mas
eu não mudaria isso por nada no mundo.

Encostando seus lábios nos meus, ele introduziu a língua em minha boca e
engoliu um gemido baixo. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos e eu
fiquei nas pontas dos pés, permitindo que ele me consumisse de todas as formas

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possíveis. Sorri contra sua boca quando ele me beijou, e ele também sorriu.
Acariciando meu nariz do jeito que ele sempre fazia, ele olhou para mim.

— Eu amo você.

— Eu também amo você. Muito mesmo — eu disse.

— Que bom, fico feliz.

— Hmmm… — Eu disse contente. — E agora?

— Bem, agora parece que temos um casamento para planejar.

— Sim, parece que sim.

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agradecimentos
Para minha família. Vocês já conhecem meu discurso de sempre. Amo todos
vocês e agradeço por aturarem minhas bobagens rotineiras!

À minha editora Jenny, que lidou com minhas reclamações e prazos estendidos,
acho que fiz um grande sucesso com você. Você me provou que sabe o que faz,
e este livro é o melhor que já escrevi, e definitivamente acho que isso se deve a
você. Obrigado por me ajudar a levar este livro para o outro patamar. Eu não
poderia ter feito isso sem você.

Shawn, você entrou em minha vida como um tornado e me surpreendeu com


tudo o que é você. Você ajudou a tornar este livro o que ele é, e espero tê-lo
deixado orgulhoso. Ainda me surpreende o fato de eu ter encontrado alguém
que se encaixava no personagem que eu havia imaginado em minha cabeça
antes mesmo de saber quem você era. Você moldou e moldou Camden para mim
à medida que eu avançava. Obrigado por ser tão incrível, por me dar palavras
edificantes quando eu queria desistir, por ser um apoio que eu nunca esperei
de uma modelo de capa. Você foi uma grande surpresa e espero tê-lo em minha
vida nos próximos anos. Você é especial, Sr.! Eu o amo muito!

Bayli, gah... não há palavras para o que você significa para mim. Sua amizade
é muito importante para mim, pois viajei pelo mundo independente e fora dele.
Você criticou esse livro e me ajudou a lembrar de me manter no ponto quando
eu começava a me desviar. Adoro o fato de vocês amarem meus personagens
tanto quanto eu. Melhores amigos, parceiros de crítica e parceiros de mesa para
toda a vida.

Aos meus leitores beta... vocês sabem, todos os seis. Obrigado por tirarem um
tempo de suas famílias e lerem enquanto eu lia. Alguns de vocês receberam o
Bender em capítulos, outros receberam o livro quando ele estava pronto.
Agradeço cada uma de suas palavras gentis e por apontarem coisas que eu não
conseguia ver enquanto escrevia. Os leitores beta são a espinha dorsal dos meus
livros, e eu adoro cada um de vocês.

Para Golden, seu gênio louco. Adoro a maneira como trabalhamos juntos. Nas
três vezes em que nos reunimos, você pegou minhas ideias e as usou. Agradeço
por ter me deixado entrar em seu espaço e fazer pequenos ajustes nos modelos
quando algo novo me ocorreu. Seu brilhantismo me proporcionou algumas das
melhores fotos que eu, como autora, poderia desejar. Você é a melhor nesse
ramo, e mal posso esperar para ver o que mais podemos criar juntos.

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Para Kassi, você, senhora, é a mente mestra dos meus teasers. Que pessoa
incrível você é para ter ao meu lado. Você não apenas lida com minhas
exigências de ser criativa para mim, mas também formata meus livros, cria uma
capa para meus outros romances e eu a torturo olhando as fotos dos meus
modelos. Um brinde a mais trabalhos juntos.

Aos blogueiros e leitores que deram uma chance ao Bender e me ajudaram a


divulgá-lo. OBRIGADO! Eu sou uma pessoa e só posso chegar até certo ponto.
Sem a ajuda de vocês, o Bender pode acabar nas mãos de umas 10 pessoas. rs.
Seu apoio contínuo é sempre bem-vindo.

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