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Capa: Réserver Editora


Revisão e Diagramação: Carla Santos

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão da autora.
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Biografia
Obras
Notas
Meto outra vez, forte e fundo, fazendo com que a cabeceira da cama
bata na parede do quarto repetidamente. Ela rebola embaixo de mim,
esfregando seu clitóris na minha pele, prestes a gozar. Seguro seu pescoço,
tocando com o polegar de um lado e os outros quatro dedos do outro como
se a estrangulasse e ela grita, tendo um orgasmo, conforme eu sinto meu pau
inchando de excitação, prestes a gozar também, mas o tiro antes de fazê-lo,
retirando a camisinha antes de enfiá-lo em sua boca e ela engasga, segurando
a base ao mesmo tempo que chupa a cabeça, gemendo abafadamente.
Olho nosso reflexo no espelho, nos observo ajoelhados, meu pau
fodendo sua boca, enquanto envolvo minhas mãos em seus cabelos, fazendo
um nó firme, trazendo-a e afastando-a de mim, num ritmo rápido. Espalmo a
lateral do seu rosto com a outra mão e quando ela se inclina, enfiando tudo
dentro da boca, eu gozo em sua garganta, gemendo conforme sinto que estou
prestes a desmoronar. As batidas na porta parecem que nunca vão parar.
E não vão.
Deixo o quarto e me sento no degrau empoeirado que divide a velha
casa e a oficina. O suor escorre sobre minha testa, contornando as
sobrancelhas e caindo pelas laterais do rosto. Faz quarenta graus, o
suficiente para que eu sinta que estou morrendo. Até mesmo respirar é
difícil; por esse motivo, alcanço minha regata pendurada na porta e limpo o
meu rosto, a graxa suja o tecido branco que eu, sem dúvida, enrolarei ao
máximo para lavar, talvez jogue fora se não tiver mais uma casa para fazê-lo.
Não sei o dia de amanhã, não faço ideia do que me aguarda em
Massachusetts, apenas sei que o cara que me achou na rua e me acolheu aos
treze anos, está morto agora.
Minha cliente deixa o quarto, ainda ajeitando o vestido, assisto as duas
garotas que antes estavam batendo na porta, pegarem tudo o que podem, elas
enfiam tudo em uma sacola. Samantha entra no carro que eu acabo de
consertar e pisca para mim, enquanto preenche um cheque de pagamento
pelos meus serviços como mecânico e então dá a ré, deixando a oficina.
A única pessoa que eu podia contar morreu há três dias e seu corpo
sequer esfriou quando suas duas filhas de merda chegam exigindo a casa,
que é o único teto real sobre minha cabeça. Estou enfurecido, claro que
estou. Caralho, aqui estou eu, aos meus 22 anos, regredindo no tempo, de
novo. Um círculo vicioso que insiste em me fazer começar do zero, mas tudo
bem, esse sou eu me refazendo outra vez. Quem sabe na próxima eu tenha
sorte, ao menos agora tenho uma profissão, e graças ao Steven.
Enfio o rosto entre as mãos, sentindo a onda de calor me atingir, mas
não é o sol quente de julho e sim o efeito do sangue correndo como louco
dentro das minhas veias, enquanto eu vejo suas únicas duas filhas
contornando a casa e entrando na oficina novamente, onde eu estou. Nem
um telefonema no mês, sequer um cartão de Natal para seu pai, mas lá estão
elas, sorrindo como se ele não estivesse apodrecendo sob a terra nesse exato
momento, a poucos quilômetros, no pequeno cemitério da cidade. Eu não
consigo engolir direito porque há uma porção de palavras entaladas na
minha garganta. Nenhuma delas é bonita e, sem dúvidas, também não as fará
sentir remorso.
— Você é um imundo! — Uma delas aponta para mim, me observando
sorrir descaradamente.
— Não mais que você! — rebato.
Coloco uma das mochilas nas costas e as outras duas, que contém
roupas e o máximo de ferramentas mecânicas que posso carregar, eu prendo
na parte de trás do banco. Agora eu entendo, ele sabia que estava morrendo e
queria se certificar de que ao menos eu teria algo que pudesse servir como
minha liberdade e o fato dele ter deixado sua Harley, na qual investira muito
dinheiro reformando nos últimos meses, também deixa suas filhas
indignadas, mas eu enfio o documento em suas caras e elas ficam quietas
dois segundos depois.
Agora, subindo na moto, com um endereço em mãos, eu sei exatamente
para onde ir, muito embora eu não saiba realmente o que fazer lá. Suas
últimas palavras para mim, quando o encontrei caído no chão da oficina há
três dias, foram apenas “Eu sinto muito”. E, então, Steven tirou o maldito
papel do bolso e fechou os olhos. E quando vejo, estou atravessando o
estado, em direção a Massachusetts e, provavelmente, gastarei o pouco que
sobrou do funeral, então eu realmente peço que o que quer que me aguarde
lá, faça algum sentido real para mim e que Steven finalmente descanse em
paz desse mundo fodido.
Olho meu reflexo no espelho da porta que separa o closet do quarto de
TJ, contente com o meu decote profundo. As mulheres da minha família
religiosa estão sempre se esforçando para agradar seus maridos e parecerem
respeitosas. “Não corte os cabelos, Lizzie, seu marido não vai gostar”, “Não
use decote, Lizzie, Christopher não se agradará ao ver tanta pele exposta”.
Graças a Deus, minha mãe e meu pai são a ovelha negra da família, o que
faz de mim e minha irmã, as primas desviadas do caminho de Deus. Por isso,
sempre que minhas tias questionam minha irmã Lizzie, ela sorri e tira o peito
para amamentar seu filho Joseph na frente de seus maridos. Eu amo a minha
irmã.
Mas, voltando a mim, encarando meu delineador que nunca, nunca fica
um igual ao outro, eu me pergunto se devo tirar o vestido cinza e me arrastar
para baixo dos lençóis ou calçar minha sandália de salto fino e descer as
escadas para a comemoração do aniversário dos meninos. TJ e Ty, os
gêmeos, provavelmente ficarão bêbados o suficiente para eu ter que arrastá-
los escada acima para suas camas e eu não estou exatamente disposta nessa
noite.
Optando pela segunda opção, que não me fará parecer uma louca
antissocial, eu me sento na cama para fechar as sandálias. Dois minutos
depois, com um suspiro pesado, desço as escadas, ouvindo risadas no andar
de baixo, conforme desço degrau por degrau, desejando que aquela noite
acabe logo, mas não acabará, irá até de manhã e talvez eu consiga escapar de
TJ e dormir cedo se tiver um pouco de sorte.
Eu não sou sempre tão chata, gosto de festas, mas o último semestre me
fez mudar um pouco de ideia com relação a todo aquele caos sem fim, que
sempre resulta em alguma briga, sexo desvairado e um milhão de copos pela
casa. No entanto, eu não posso reclamar, comecei a “namorar” meu amigo
de infância, sei muito bem onde estou metendo minha bunda quando deixo
que ele sorrateiramente se enfie dentro das minhas calças e se quiser que
meu cunhado Tyson e meu namorado Tales me aceitem em suas casas até o
fim do meu curso, eu tenho de aceitar todas as garotas peladas andando pelos
corredores também.
Assim que entro na sala, avisto TJ na ponta da mesa, ele sorri
largamente enquanto leva um copo até a boca após seu adversário acertar a
bola de pingue-pongue enquanto jogam beer pong1. Ele passa o antebraço
sobre os lábios, limpando o líquido que escorre sobre o seu queixo. Tales usa
uma blusa branca com a frase “Assopre minha vela” com uma flecha
indicando o seu pau – não que seja preciso, e eu reviro os olhos, sorrindo
conforme me aproximo.
Seus olhos encontram os meus e então ele sorri ainda mais, os dentes
brancos ganhando destaque à sua pele bronzeada, que contorna e destaca sua
íris verde. Eu sei que é ele, não me confundo mais há muitos anos, porque
muito embora Ty e TJ sejam totalmente iguais, eles se vestem de formas
muito diferentes, e eu sinto vontade de gargalhar ao pensar em Tyson usando
aquela camisa.
— Ei, você está gostosa. — TJ contorna minha cintura com seu braço
direito, me puxando para um beijo. — Pensei que não fosse descer nunca.
— Você não teria essa sorte. — Beijo seus lábios antes de me afastar.
Todos começam a gritar, então me afasto, procurando o motivo de tanto
alarme. É quando percebo que a menina do outro lado da mesa tira seu short,
ficando apenas com a parte de baixo do seu biquíni minúsculo. Sinto minhas
bochechas corarem, mas não é de vergonha. Eu o encaro e ele dá de ombros,
é quando percebo que está sem a sua bermuda também. Sua cueca branca é
justa o suficiente para que seu pau glorioso fique exposto, apesar do pequeno
tecido que o impede de estar à mostra.
— Okay — suspiro antes de me afastar.
— Você quer jogar? — TJ pergunta, enquanto eu caminho para longe
deles.
— Você quer me ver nua na frente dos seus amigos? — Cruzo os braços
sobre os seios.
Odeio quando TJ enche a cara, porque ele faz merda e age
naturalmente, como se fosse normal jogar com uma garota e pedir para que
ela tire sua roupa, quando na verdade o jogo não funciona dessa forma. Por
que tudo tem que envolver pessoas peladas para ele? Qual é a porra do seu
problema, afinal?
— Ah, qual é? Por que você está brava? É meu aniversário!
— Ainda não é meia-noite.
Ele revira os olhos.
— Quando foi que você se tornou tão chata? — ele grita para mim,
conforme eu me afasto.
Eu me faço a mesma pergunta todos os dias, apesar de saber a resposta.
Ficou mais difícil depois que acabamos juntos na mesma cama, porque TJ é
complicado, livre, não gosta de amarras e esteve com seu pau enfiado em
mais buracos que uma bola de golfe. E, mesmo que ele sempre tenha sido
meu melhor amigo e tenha um coração do tamanho do mundo que me faz
amá-lo, ainda assim me deixa irritada por não levar nada a sério.
Assim que entro na cozinha para fazer minha bebida, reconheço cada
rosto que contorna a mesa, o que eu considero a grande merda de ter uma
mansão perto da universidade, todos têm passe livre e apenas quando o Sr.
Jackson aparece para visitar os filhos, a casa se mantém em silêncio e
totalmente limpa. Eu adoro quando ele vem, o problema é que quase nunca
acontece.
— TJ já tem um pau enfiado na bunda? — A voz grave de Tyson
sobressai, apesar da cozinha estar cheia.
— É, ele tem — respondo, encarando-o sobre a borda do copo.
— Talvez você não devesse se estressar com ele. — Ty caminha até a
ilha de mármore, apoiando seus antebraços tatuados sobre a superfície.
Ele sorri para mim, conforme se inclina em busca de um copo limpo.
— É difícil não se estressar quando seu namorado está apostando com
uma garota na qual provavelmente está perdendo apenas para acabar nua em
uma sala cheia de universitários tarados.
— Você precisa relaxar, Tray. — Ele dá um longo gole no líquido.
— Claro, sim, tudo o que eu preciso é relaxar e esse é o ambiente mais
propício para isso — suspiro derrotada, dando outro gole na minha bebida.
— Como conseguem ter vinte e três anos e continuarem agindo como se
tivessem quinze?
Com todo o dinheiro que têm obviamente conseguem, porque são
mimados. Sua risada ecoa por toda a cozinha, me fazendo rir também.
Depois de tantos anos conhecendo os dois, eu ainda me surpreendo com a
forma como se parecem. Como pode duas pessoas nascerem totalmente
iguais? Como seria se eu tivesse uma irmã gêmea? Provavelmente, eu a faria
entrar na sala de aula e fazer as provas por mim enquanto fico em casa
dormindo.
— É simples. Seja gostoso, tenha um pau grande e as mulheres ficarão
tanto atrás de você, que isso vai subir para a sua cabeça; e, quando vir, terá
comido tantas bocetas, que estará agindo como um menino punheteiro de
quinze.
Grunho. É estranho saber o quão grande é o pau do meu cunhado, uma
vez que meu namorado tem um igual.
— Suma da minha frente! — peço entredentes.
— Vá se divertir, Ky, coloque um biquíni branco e pule na água — ele
sugere. — TJ vai estar enfiado em um quarto com você antes da meia-noite
chegar.
Eu lhe mostro o dedo do meio conforme ele deixa a cozinha com um
pequeno sorriso no rosto. Não é dessa forma que eu quero TJ, não é o
subornando com sexo que o terei na linha. Ele tem que aprender que se tem
uma namorada, não pode andar nu – ou quase, pela casa, mas é difícil,
quando a única coisa que ele sabe é ser o centro das atenções; e o pior de
tudo é que, além dele ser um tremendo filho da puta gostoso, o nosso sexo é
incrível.
Depois de dois copos cheios de uma bebida deliciosa com sabor de
cereja, eu volto para onde TJ está, o observando completamente nu, com um
copo plástico vermelho tapando seu membro, enquanto vários celulares o
filmam beber o último copo do jogo. Ty me olha, sorrindo como se eu
tivesse ficado louca por aceitar ficar com seu irmão e suspiro, porque
concordo com meu amigo. Amo Tyson e Tales, mas eles dão trabalho na
grande maioria das vezes. Quando TJ não está se metendo em encrenca, Ty
está se metendo em brigas.
— Desculpe, gata, eu já estou vestindo minhas roupas. — Ele se vira
para mim, ainda segurando o copo.
— Não se acanhe por minha causa, continue, não há ninguém mais em
Massachusetts que ainda não tenha visto o que você chama de pau.
Ouço todos gritarem em êxtase e eu sorrio, não por gostar de chamar
atenção ou precisar de aprovação de alguém e sim por saber que eu consigo
colocar Tales Jackson em uma posição onde ele não costuma estar e que não
tem nada a ver com sexo. E quando TJ abre a boca para dizer algo, que eu
sei que não irei gostar, alguém grita:
— Meia-noite!
E um segundo depois, uma universitária, ou uma stripper, eu nunca
serei capaz de identificar, aparece com um bolo enorme com duas velas
acesas no centro e todos à nossa volta começam a cantar parabéns. TJ se
abaixa para juntar sua cueca e a veste agilmente, revelando suas partes
íntimas por poucos segundos, então ele começa a bater palmas
acompanhando todos nós. Ty permanece em um canto, o copo de bebida nos
lábios, escondendo o pequeno sorriso arrogante, ao mesmo passo em que seu
irmão se curva sobre o bolo, apagando a pequena chama.
A garota caminha graciosamente até Tyson, rebolando sobre os saltos,
vestindo apenas um biquíni dourado e, quando chega até ele, ela dá dois
pulinhos, ansiosa, antes dele apagar a outra vela virando-a de cabeça para
baixo e enterrando-a no bolo. Ele é “durão” demais para soprá-la.
Depois que todos parabenizam os irmãos, eu consigo serpentear pelo
meio da multidão e abraçar meu namorado, ele mantém um sorriso
presunçoso nos lábios e eu sorrio por vê-lo tão feliz, apesar de tudo. Suas
mãos correm pela lateral do meu corpo, enquanto sua boca toca a pele
exposta do meu pescoço.
— Feliz aniversário, TJ.
— Pra você também — ele deseja, mordendo meus lábios.
— Eu não estou aniversariando.
Ele une as sobrancelhas.
— Feliz 4 de julho então.
— Feliz Dia da Independência.
— Eu acho que estou alto.
— Sim, você está.
Uma mão o puxa pelo pescoço e três segundos depois ele some no meio
da multidão e eu sei que vinte segundos é o máximo que eu consigo ficar
perto dele durante uma festa. Caminho até Tyson, que me observa chegar até
ele, então eu sorrio para o meu amigo, abrindo os braços para um abraço,
que eu sei que será estranho. Ty é bom em demonstração pública de afeto,
mas apenas quando envolve uma língua no meio.
— Feliz aniversário, Ty.
— Valeu!
— Fica de olho no seu irmão, eu estou indo dormir.
Ele assente, conforme eu me afasto em direção a cozinha. Abro o
armário e pego um pacote de castanha e o prendo embaixo do braço com
medo de alguém arrancá-lo de mim antes que eu chegue até meu quarto e,
quando dobro o corredor que dá acesso a escada, eu vejo Tyson na porta.
Com uma expressão confusa no rosto e soltando um suspiro cansado, eu
ando até ele.
Ty veste uma camisa diferente, e eu me pergunto como diabos ele havia
arrumado uma camisa tão rápido sem que fosse até seu quarto. Abro meu
pacote de castanha antes de chegar até ele e enfio uma na boca, encarando-o,
confusa. Assim que seus olhos caem sobre mim, seu olhar se arrasta por todo
o meu corpo, desde minhas sandálias, até meus seios e depois, lentamente,
até meu rosto, sinto minhas bochechas esquentarem; e me pergunto o que
inferno está acontecendo, porque ele nunca me olha dessa forma sem que
esteja de gozação.
E ele não está.
— O que você quer?
— É uma bela forma de atender uma porta — ele força um sotaque, que
o deixa ainda mais sexy, apesar de eu não estar entendendo aonde quer
chegar.
— Por que você está parado aí como um idiota?
Ele ergue as sobrancelhas, parecendo animado com minha pergunta,
mas então esboça um sorriso, e Cristo, não é a forma como eu costumo ver
Ty ou TJ sorrirem.
— Vocês estão fazendo aquilo de novo? — pergunto, impaciente. — Eu
não vou mais cair nessa, não tem mais graça. Eu não vou saber identificar
porque um de vocês está fazendo o papel de uma terceira pessoa e aí Tyson
começa a rir e dizer que podia me comer facilmente sem que eu soubesse
que estava dormindo com alguém que não era o meu namorado.
— Então você tem um namorado?
— Quer saber, agora vocês vão se ferrar comigo, porque eu vou beijar
você — anuncio, dando um passo para frente, observando-o unir as
sobrancelhas confuso. — Se você for meu namorado, okay; se não for, então
meu namorado vai sair do primeiro arbusto no qual está escondido.
— Você é louc...
Levo minha mão até sua nuca, e imediatamente ele coloca uma mão na
minha cintura, me puxando com força até que meu corpo esteja colado ao
seu. Sua língua desliza para dentro da minha boca, me fazendo soltar um
gemido involuntário e estar prestes a derreter. Seus braços estão tão firmes
ao meu redor, que mesmo que eu sinta minhas pernas vacilarem, sei que
estou segura. Um sopro de ar frio atinge minha pele quente e eu me arrepio
sob seu aperto, loucamente excitada com a sensação de ter meu corpo contra
o seu. Ele deixa escapar um gemido cruel, enterrando a ponta dos seus dedos
em meus cabelos conforme a palma da sua mão pousa na lateral do meu
rosto.
Quando me afasto, seus olhos ainda permanecem fechados e muito
embora suas mãos não estejam mais em mim, eu ainda posso senti-lo em
cada parte do meu corpo, então dou mais dois passos para trás. Não consigo
tirar os olhos dos dele, a forma como caem sobre minha boca, que eu sei que
está inchada e vermelha, e suspiro, tonta, como se um imã me puxasse em
sua direção.
Não, definitivamente não é TJ, e puta que pariu, eu sinto que estou
fodida, porque não sei como lidarei com o fato de ter beijado Ty e,
principalmente, de achar que seu beijo é melhor que o dele. Por favor, seja o
meu namorado, por favor, seja o meu namorado... Mas, ainda sem dizer
nada e com um pequeno sorriso puxado para o lado, seu olhar cai atrás de
mim e sua expressão muda completamente ao encarar alguém. É quando eu
vejo Tyson parado nos encarando. Graças a Deus!
Deixo um suspiro de alívio escapar, ao mesmo tempo que sinto vontade
de enfiar as mãos em TJ e beijá-lo novamente, seja lá o que ele tenha
tomado, está quente como o inferno e depois desse beijo, eu preciso dele o
mais rápido possível. Mas sinto meu coração bater tão forte, que posso jurar
que estou louca, quando, atrás de Tyson, está TJ, apenas de cueca ainda,
conversando com uma garota. Seus olhos encontram os meus e ele une as
sobrancelhas, antes de arregalar os olhos, assustado.
Olho para a minha direita avistando Tyson e Tales, depois para a minha
esquerda, avistando o cara que eu acabo de beijar e meu cérebro dá pane. Eu
devo ter girado minha cabeça para os lados, conferindo se realmente estou
vendo três, tantas vezes, que me sinto tonta, então ouço o sotaque dele e
realmente começa a fazer sentido.
— Mas que porra...
— Puta merda, que caralho é isso? — Ty murmura, aproximando-se.
— Caralho! — TJ grita, corre até nós e apoia uma mão no ombro do
número três.
— Eu não... — Balanço a cabeça, confusa. — É como se meu cérebro
tivesse parado de funcionar.
— É, puta merda, é... — Aquele sotaque...
— TJ, sobe correndo para o quarto. Eu vou subir com ele em seguida
para que não andemos os três juntos, porque chamaria atenção demais e nós
não quer...
— Mas o que... — Ele parece tão confuso quanto todo o resto de nós,
mesmo assim, ele continua: — Puta merda, gente! Olhem essa porra... Nós
somos três! — Tales grita o mais alto que pode e todos os rostos que nos
rodeiam nos encaram e, em questão de segundos, toda a festa está sobre nós
quatro.
— Que ótimo — o clone número três murmura sem emoção, ainda
aturdido. Pelo visto, ele não sabia o que ia encontrar aqui.
— Porra, TJ, vai se foder, cara! — Ty bate em seu ombro e ele
cambaleia para trás. — Saiam da frente, caralho! — ele grita para a
multidão, empurrando-os com as duas mãos.
Eu me inclino, alcançando a mão do sujeito com uma mão enquanto
com a outra, seguro a de TJ. Caminho em direção às escadas, puxando-os
comigo. Não quero que o desconhecido se perca na casa da qual não conhece
e muito menos que Tales chame ainda mais atenção, então eu sigo atrás de
Tyson, subindo os degraus, ignorando os murmúrios e comentários a nossa
volta, principalmente os que dizem “Que garota sortuda!”, porque
definitivamente dois deles já me dão trabalho o suficiente.
Tyson abre a porta do meu quarto, que eu basicamente uso apenas para
deixar minhas coisas e estudar, uma vez que passo as noites com TJ, e assim
que ele a fecha, atrás de mim, o um minuto de silêncio estrangulador que
fazemos enquanto nos encaramos é quebrado por uma risada animada de
Tales antes dele abrir a boca:
— Puta merda, de onde você saiu?
— Do mesmo buraco que você, pelo visto — o cara responde e eu sou
obrigada a rir.
— Sim, definitivamente do mesmo buraco — afirmo, chamando a
atenção dos três.
Presa no quarto com aqueles três caras igualmente gostosos, é como
estar dentro de um maldito filme pornô.
— Você faz aniversário hoje também? — A pergunta idiota de TJ me
faz grunhir.
— O que você acha, gênio? — Ty responde pelo novo irmão.
— Bom, feliz aniversário, então, já passou da meia-noite. — O abraço
de Tales pega o outro deles totalmente desprevenido.
— Pra você também — ele diz. — Caralho... eu...
— É, eu sei, essa situação me deixou sóbrio em menos de cinco
minutos — TJ constata.
Eu me jogo dramaticamente sobre o pufe redondo e fofo, que fica no
canto direito do quarto, servindo-me de minhas castanhas enquanto observo
o desenrolar dessa história.
— Qual o seu nome, afinal? — Tyson pergunta.
Por favor, não seja um nome quente, por favor, não seja um...
— Max.
Inferno, um nome quente!
— Então você não tem um nome que começa com T? — TJ pergunta,
me fazendo morder a boca para segurar o riso.
— Não que eu saiba, mas, pelo que eu vejo, eu não sei de porra
nenhuma e muito menos vocês.
— Então, a julgar sua cara igual a nossa, parece que você é mesmo
nosso irmão.
Max passa a mão no rosto e esfrega a pele, suspirando pesadamente.
— É como se meu cérebro estivesse com defeito — TJ comenta.
— É o que eu estou tentando dizer... — me intrometo.
— Desde que esteve com a língua enfiada na garganta do seu cunhado?
— o comentário de Ty faz meu rosto corar.
— Do que diabos você está falando? — TJ pergunta entredentes.
E lá vamos nós.
— Eu pensei que pudesse ser o Tyson.
Puta que pariu!
— Oh, claro, agora eu me sinto muito melhor. — Tales passa as mãos
no rosto, enquanto Tyson me olha confuso.
— Eu quis dizer que pensei que fosse um de vocês fazendo seus
joguinhos comigo, e caso fosse Tyson, então recuaria se eu tentasse beijá-lo.
A expressão de TJ suaviza.
— Eu não sabia que tinha um irmão. Desculpe, eu não podia saber que,
além de ter um, ele ainda teria uma namorada, que acabaria me beijando
assim que abri a porta.
— Eu não o beijei sozinha! — Enfio uma castanha na boca.
Seus olhos caem sobre mim com atenção, pela primeira vez desde que
entramos no quarto, e sinto minhas bochechas corando gradativamente
conforme eu me lembro do calor que irradiou de sua pele quando me tocou,
o que me obriga a olhar para TJ.
— Porra, Kyra! — Tales me encara, aparentemente chateado, e eu me
sinto ainda pior por haver gostado.
— Me desculpe, mas você não pode me culpar por isso, uma vez que
vocês dois vivem tentando me confundir.
— Como nos achou? — Tyson pergunta a Max, ignorando minha
pequena DR2 com TJ.
— Eu... Um cara que eu conheço... — Ele faz uma pausa. —
Conhecia... Ele me deixou o endereço dessa casa.
— Quem era ele? — Ty indaga.
— Alguém com quem eu morava na Pensilvânia.
— E por quanto tempo você vai ficar por aqui? — TJ pergunta.
O rosto de Max suaviza um pouco e ele arrisca um olhar rápido em
minha direção antes de encarar seus irmãos.
— Por quanto tempo permitirem que eu fique, na verdade.
— Você não está hospedado em nenhum lugar? — Ty interrompe e
Max deixa escapar um sorriso sem humor.
— Gastei tudo o que tinha com combustível — ele confessa.
— Você mora com os seus pais? — A pergunta de TJ o faz pensar um
pouco, então ele acrescenta: — Caralho, isso quer dizer que talvez você
tenha sido roubado da maternidade ou algo assim?
— Porra... — É a vez de Tyson passar as mãos no rosto.
— Nossa mãe nunca nos contou que éramos três, irmão. — TJ aperta o
ombro de Ty, o que o faz desviar o olhar para os pés.
— Ou talvez ela tenha se dado conta de que não tinha disposição de
cuidar de três — Max informa entredentes.
— Escuta aqui, seu... — Em um movimento ágil, Ty está com as mãos
enroladas no tecido da gola de Max, mas o gesto violento do irmão não o
intimida.
Ele mantém sua postura ereta, conforme encara Tyson com as mãos
nele, prestes a socá-lo, em um claro aviso de que se arrependerá caso o fizer
e, de repente, meu coração bate rápido demais.
— Oh, Oh. — TJ coloca as mãos na cabeça.
— Ei, ei, vamos com calma aí, amigos. — Eu me levanto, colocando-
me entre os dois. — Eu já estou bem ocupada separando Tyson e Tales quase
todos os dias, não vamos me dar mais trabalho, certo? — meu comentário
faz os dois recuarem.
— Aonde ela está, afinal? — Max pergunta.
— Morta — Ty responde e sua resposta faz o rosto viril de Max
suavizar.
— Eu sinto muito — ele diz.
— É, nós também sentimos — Tales interrompe.
E eu sei o quanto os dois ainda sofrem pela perda precoce de sua mãe.
TJ ainda visita seu túmulo sempre que pode e, apesar de Ty não o
acompanhar, eu sei que não é por amá-la menos, e sim por sofrer demais ao
entrar naquele lugar horrível e saber que sua mãe nunca mais irá voltar.
— E o pai de vocês? — pergunta, ansioso.
As pessoas batem na porta o tempo inteiro e Ty está começando a ficar
ansioso, porque ele se mexe demais e seus punhos são mantidos fechados ao
lado do quadril.
— Ele está em um cruzeiro a negócios. — TJ se senta na cama,
encarando Max. — Pelo jeito temos duas semanas antes de saber alguma
coisa específica sobre tudo isso, mas, de qualquer forma, sinto muito que
você não tenha estado aqui por todos esses anos.
Max cruza os braços sobre o peito, desviando o olhar para a janela,
evitando contato físico, o que sugere que ele gosta de falar sobre seus
sentimentos tanto quanto seu irmão Tyson. Ou seja, nada.
— O que foi, caralho?! — Ty enfia a cabeça para fora da porta quando
não aguenta mais ouvir as batidas.
— Que lance é esse que todos estão falando? — Ouço a voz de John,
um de seus amigos, perguntar a Tyson.
— Mantenha todos longe dessa porta! — ele exige.
— Certo — John assente, antes de fechá-la novamente.
— E onde você esteve todo esse tempo? — Ele se vira para Max.
— Pensilvânia. Eu morava com o cara que me abrigou.
— Por favor, não me diga que você é gay? — TJ quase grita ao fazer a
pergunta.
Eu olho para Max, observando seu maxilar marcado, conforme ele
aperta os dentes.
— Pergunte a sua namorada, porra!
— E lá vamos nós — eu interrompo.
Tyson dá uma risadinha e TJ une as sobrancelhas para o irmão.
— Vão se foder vocês dois! — Tales aponta para Tyson e Max e um
segundo depois, os três começam a rir descontroladamente, fazendo meu
coração quase parar.
Puta que pariu!
Eu só tenho uma coisa a dizer.
Um é pouco, dois é bom, mas três é demais.
Ouço quando TJ entra no quarto às seis da manhã, mas não me movo,
não quero que ele veja que estou acordada, porque sei que uma coisa levará
a outra e ele está bêbado o suficiente para vomitar em mim quando tiver um
orgasmo. E, apesar de ter passado a noite inteira me virando de um lado para
o outro, às oito da manhã já estou sentada do meu lado da cama com as
pernas penduradas para fora e mesmo que um terremoto esteja atingindo o
solo de Boston, ele não será capaz de se mover. O cheiro do álcool
impregnado no quarto me diz que ele havia consumido o suficiente pelo
resto do ano e, se eu pegar um fósforo, a casa pegará fogo antes que eu possa
acendê-lo.
Não havia conseguido dormir nada, barulho e informação demais para o
meu cérebro absorver. Ou pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Assim
que pulo da cama, entro no closet de TJ procurando pelo meu top rosa que
eu sei que havia deixado ali, depois vou até o meu quarto para pegar meu
short e tênis de corrida, mas assim que entro pela porta, meu corpo se choca
com uma parede de músculos e eu recuo, usando apenas uma camisa branca
de TJ que chega pouco abaixo da minha bunda, eu praguejo mentalmente
por sair dessa maneira.
— Oh, Deus, me desculpe, Tyson.
Ele se vira para mim e o sorriso que lança na minha direção me faz
perceber na mesma hora que não é Ty, então meus olhos percorrem seu
corpo e eu tenho certeza. Tyson é coberto de tatuagens, assim como Max,
mas não tem sua barriga e costelas traçadas por desenhos tão bonitos como
ele e não, na minha opinião. Não é apenas qualquer tatuagem, é um desenho
que, sem dúvida, pode ter sido tirado das paredes de um museu. Um anjo
resgatando do limbo uma humana completamente nua e eu me vejo
imediatamente curiosa para saber seu real significado.
Eu teria percebido na noite passada qual dos gêmeos era através de suas
tatuagens, mas estava escuro demais e as luzes coloridas dançando sobre os
cômodos limitavam e confundiam nossa visão. Ergo a cabeça em sua
direção, atordoada com o fato de que ainda posso sentir suas mãos em mim,
mesmo que tenha acontecido há horas e por muito pouco tempo. Como ele
havia me deixado transtornada com um único beijo quando, na verdade, ele
era fisicamente como TJ?
— Max — sussurro.
— Sim. — A simples menção ao seu nome o faz sorrir abertamente e
eu relaxo um pouco.
— Max tipo Maximiliano ou tipo Maximum?
— Tipo Maximum — repete o nome de forma arrastada e o sorriso que
deixa escapar é largo o suficiente para eu entender isso como uma piada
sobre o tamanho do seu pau.
— Não se entusiasme, garoto, não há nada aí que eu não tenha visto
antes.
Ele parece pensar por um momento, provavelmente se perguntando em
qual momento entre a meia-noite e aquela manhã, eu havia conseguido
enxergar entre suas pernas, mas então suas sobrancelhas arqueiam e um
sorriso desconhecido brinca em seus lábios.
— É, sem dúvidas você já viu — ele se inclina levemente na minha
direção —, mas não é o tamanho de um pau que faz você realmente gritar
quando está gozando.
Sinto o calor do inferno atingir meu rosto e recuo.
— Eu apenas preciso usar meu quarto.
Maximum sorri satisfeito.
— Desculpe por ter dormido aqui na noite passada, mas era o único
quarto que não havia um casal fodendo sobre a cama e eu precisava dormir
em algum momento.
Assinto.
— Sim, meu quarto é um limite rígido. Nada de sexo, drogas ou os dois
ao mesmo tempo.
— É um bom limite.
Desvio o olhar, porque me sinto imoral apenas de olhar em sua direção.
— Bom... eu... — Levanto as roupas em minhas mãos para que ele
saiba que eu preciso de privacidade. — Estou acima do peso e você está me
fazendo falhar na minha corrida.
— Precisa de companhia? — pergunta, casualmente, e sinto uma leve
pontada de desespero quando ele não discorda sobre meu corpo, mas, ao
analisar brevemente seu abdômen quente como o inferno, eu entendo que
alimentação é o seu grande negócio. Sem dúvidas, Max é o mais sarado dos
três.
— Eu ia perguntar se você costuma correr, mas bem... — Caminho até
a porta do meu banheiro privado, ouvindo sua risada quase silenciosa. —
Tudo bem, desço em dez minutos.
— Até mais — Max se despede, antes de se virar e sair do quarto.
Lavo o rosto, sentindo a água fresca atingir minha pele de maneira
deliciosa e assim que me seco com a toalha e encaro meu reflexo no espelho,
avisto uma mochila preta descansando encostada a minha cama.
Não faça isso.
Não.
Faça.
Isso.
Abro o zíper, lentamente, tentando não fazer ruído. Preciso saber mais
dele, e se descobrir algo que o torne uma ameaça, eu contarei a Tyson e
Tales. É isso que eu digo a mim mesma enquanto vasculho seus pertences
pessoais. Algumas roupas mal dobradas, lâminas de barbear, um par de tênis
gastos, e...
Puta que pariu!
— Você viu a minha moc... — Ele para na porta, com a boca aberta sem
saber o que dizer. Seus olhos caem para as minhas mãos, enquanto ainda
estou em choque.
— Por que você trouxe isso pra cá, Maximum? O que você faz da vida
para ganhar dinheiro?
— Nunca aponte uma arma carregada para uma pessoa, Kyra, não é
seguro.
— Oh, tudo bem, querido, você tem uma arma e não pode apontá-la
nunca para uma pessoa, que grande gênio de merda! Por que você está aqui?
— continuo com ela apontada para ele, segurando-a com firmeza.
— Que porra você está tentando fazer?
— Acredite em mim quando eu digo que poderia acertar seu olho
esquerdo com os meus fechados.
— Estou aqui porque o cara que me acolheu me deu esse endereço.
— Para quê? Assaltar, sequestrar um deles?
— Você está sendo dramática demais.
— Não, eu não estou, apenas estou tentando descobrir por que você
apareceu do nada aqui e carrega uma arma na mochila!
— Se você quisesse saber o que eu carrego comigo, deveria apenas ter
me perguntado. Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas, Kyra.
— Você tem razão, eu não tinha o direito, mas há uma arma em sua
mochila, e agora, qualquer direito que você tinha, foi pelo ralo.
— Você realmente sabe usar isso? — pergunta, com um brilho diferente
no olhar.
— Pode apostar que eu sei. — Mantenho-me firme, omitindo para ele a
parte em que meu pai serviu ao exército por muitos anos e me ensinou a
atirar antes mesmo de limpar minha própria bunda.
— Vamos lá, garota de Boston!
— Eu sou de Oklahoma, idiota! Faço um molho gravy tão bem quanto
disparo uma arma.
O sorriso que Max deixa escapar me faz sentir que eu queimarei no
fogo eterno do inferno.
— Então atire — ele se inclina sobre mim, tocando o cano no próprio
peito —, Oklahoma.
E lá está ela, a adrenalina de ser desafiada pelo desconhecido. Eu amo
isso, amo jogar com o imprevisível. E nenhuma outra palavra ou insulto de
Max me intimida mais do que quando seu olhar cai sobre meus lábios, me
desarmando completamente. Minhas bochechas esquentam, sua respiração
sopra em meu rosto, meu coração dispara, mas eu não recuo.
— Esta arma era do cara que me abrigou nos últimos dez anos. Ele
estava com câncer e, no último ano, se meteu em mais dívidas do que podia
pagar, por isso pegou uma grana com um agiota.
— Que tipo de dívidas ele faria no leito de morte, Max? Isso não parece
real.
— Hospitais, farmácias, tratamentos... Ele queria morrer de forma
digna. O que eu podia fazer se não o apoiar?
Baixo a arma e relaxo os ombros, mas Max sequer se move, indiferente
se eu vou recuar ou apertar o gatilho. Pressiono o botão do retém do
carregador, retirando o pente, então os entrego separadamente para ele.
— Deixe essa merda sem balas. Você não pode simplesmente chegar
aqui com uma arma carregada na mochila sem que ninguém saiba disso.
— Escute uma coisa, Loirinha, há uma razão para eu ter sobrevivido até
aqui.
— Qual? — eu o desafio.
— Eu não costumo fazer o que me mandam. — Ele se aproxima de
mim, inclinando sua cabeça levemente para o lado. — Isso significa que
você não pode me dizer como eu devo viver minha vida.
— Eu vou precisar contar a eles sobre isso — o alerto.
— Eu não esperaria menos de você, Oklahoma.
Sempre sou uma pessoa intuitiva, mas meu corpo e minha mente me
passam sinais confusos nesse momento, então, assim que deixo Maximum
no quarto, eu saio correndo para longe dele como se minha bunda estivesse
pegando fogo. A forma como ele age é diferente de Ty e TJ, por mais que
eles sejam completamente iguais. Mesmo passando, no máximo, uma hora e
meia na presença de Max, posso saber que, diferente dos irmãos, ele é
metódico, enquanto Tyson é explosivo e Tales relaxado.
Minha melhor amiga, Tracy, surtará quando contar a ela sobre o novo
irmão, porque ela vive repetindo em todos os nossos contatos, que ter dois
deles respirando o mesmo oxigênio que nós é desnecessário. E pensar nela,
me faz sentir a sensação de um buraco enorme estar se abrindo em meu
peito, porque ao ser aceita na universidade de Yale e se mudar para New
Haven, nós nos limitamos ao dia de Ação de Graças quando ela vem visitar
sua família. Mesmo assim, ela geralmente não costuma circular muito pelas
ruas apenas para não correr o risco de encontrar Tyson e acabar com suas
férias de fim de ano, embora eu sempre arrume uma forma de mantê-la por
perto.
E eu a compreendo completamente, porque Ty a perseguira durante
todo o nosso último ano do colégio, fazendo com que passasse vergonha a
maior parte do tempo, até o dia em que ela o estapeou na frente de uma festa
lotada de gente e, no dia seguinte, desapareceu em Connecticut. Desde
então, nosso relacionamento é baseado em “falo com você mais tarde, tenho
uma aula para assistir” a “o bar está mais calmo agora, temos dois minutos
antes de aparecer o próximo universitário bêbado procurando uma briga”.
Sim, essa é a grande merda de trabalhar em um bar universitário:
brigas. Tudo é motivo para alguém quebrar uma garrafa e apontá-la como
ameaça, mas eu estou acostumada, talvez até posso trabalhar na polícia,
sendo aquela pessoa que chega no meio de um sequestro e tenta convencer o
sequestrador a não atirar na vítima, porque eu sei ser bem persuasiva quando
quero.
Entretanto, havia escolhido História, porque não me vejo fazendo nada
menos do que dar aulas, como minha mãe, até que simplesmente não me
vejo mais. De qualquer forma, eu ficarei bem, depois talvez me mude para a
Geórgia e viva perto da minha família, ou quem sabe eu vire uma surfista e
vá viver na Califórnia, o problema é que eu não sei surfar, então
provavelmente ficarei com a primeira opção.
Ao pensar nela, meu celular começa a tocar no suporte fixado em meu
braço, interrompendo a música eletrônica na qual Alok cantarola com sua
voz quente, eu escuto conforme meus tênis batem violentamente no chão.
Diminuo o passo, tentando retomar o ar, mas parece impossível conseguir
respirar quando eu sinto meus pulmões prestes a explodir. Eu atendo através
dos fones de ouvidos e a voz estridente de Tracy quase me deixa surda.
— Por que você está correndo como se estivessem tentando enfiar um
pau na sua bunda? — Ela parece ofegante também, mas talvez seja porque
eu me sinto um pouco surda, já que sou capaz de ouvir as batidas erráticas
do meu coração no meu próprio ouvido.
— Se estivessem tentando enfiar um pau na minha bunda, certamente
eu estaria devagar.
A risada da minha amiga ecoa através dos fones.
— Eu sempre soube que você curtia esse tipo de coisa, apenas não
imaginei que pudesse confessar tão alto em público.
Um toque inesperado em minha cintura me faz pular em protesto.
— Mas o quê! — Pulo no colo dela, fazendo com que nossos corpos
caiam para trás e então suas costas se chocam com o tronco rígido da árvore
que nos cerca.
— Porra, você é pesada!
— Eu sei, por isso a corrida. O que você está fazendo aqui? Por que não
me contou que estava vindo a Boston?
— Eu decidi fazer uma surpresa. Surpresa! — Ela abre os braços assim
que nos sentamos no gramado. — Minha mãe comprou as passagens em
cima da hora, foi tudo muito rápido.
— Você volta quando?
— Acabei de chegar, já está me mandando embora?
— Vai se foder! — Eu me levanto, limpando a grama da parte de trás
do meu short antes de esticar o braço, para que ela segure minha mão para
impulsionar seu corpo.
— Hoje à noite. Eu sei, é loucura, mas eu estou completamente
atarefada com os cursos de verão.
— É, Yale, baby.
Ela dá de ombros.
— Eu já tive meu tempo para enlouquecer, vou ficar bem agora.
Eu assinto.
— Eu sei — passo as mãos nos cabelos, amarrando-os em um coque no
topo da cabeça. —, às vezes, eu só quero que tudo acabe logo para que eu
possa me mudar.
— Como está o TJ? — pergunta de forma divertida. — Ainda é
estranho para mim saber que vocês...
— Eu sei. — Dou uma gargalhada. — É estranho para mim também. —
Enrolo os fones e os guardo.
— Que tal umas compras na Target? — Ela arqueia as sobrancelhas,
sugestivamente.
— Um café primeiro e depois compras. Tenho tanta coisa para te contar
que, talvez, você tenha que pegar um voo apenas no próximo final de
semana.

— Parece um filme original da Netflix. — Ela dá uma gargalhada. —


Um filme de terror, claro!
— Nem me fale. — Levo a xícara até a boca, visivelmente arrependida
por ter escolhido café para um dia tão quente.
— E agora? — Tracy se inclina sobre a mesa, erguendo as sobrancelhas
perfeitas.
Seus olhos são tão bonitos, que eu não consigo descrever com clareza
se são azuis ou verdes. Talvez uma mistura dos dois, realçada por seus
cabelos quase negros cortados acima dos ombros. Ela é linda, magra nos
lugares que eu quero e sua inteligência para matemática me faz sentir como
uma mula.
— O que é que tem?
— Você gostou, não foi? — Sorri maliciosamente.
— Eu estou com TJ. Além disso, não é como se fossem duas pessoas.
— É claro que é. — Dá um tapa no ar, dispensando meu comentário. —
Todo o resto é igual, mas são pessoas diferentes, você sabe bem. Apenas
pense pelo lado positivo.
— Qual o lado positivo de saber que seu namorado tem outro irmão
gêmeo?
— Você sabe o tamanho do pau dele antes mesmo de ele estar no meio
das suas pernas.
— Cale a bocaaaa! — Arremesso um pedaço de bagel nela.
— Bom, eu apenas continuo com o mesmo pensamento. Não acho que
sejam necessários dois Jackson respirando o mesmo ar que eu, agora mesmo
nunca estive tão feliz por morar em outro estado.
— Eles não são tão ruins, Tray.
— Nem consigo entender como foi que você acabou naquela casa.
Aquilo era o inferno na Terra no último ano e a faculdade apenas fez com
que se tornasse um pandemônio.
— Eu odeio as festas, mas amo Ty e TJ e a forma como eles cuidam de
mim.
— E como você cuida deles — ela enfatiza.
Dou de ombros.
— Que seja... apenas funciona bem. Pago minhas contas, moro perto do
campus e, em troca, arrasto os dois bêbados para os seus quartos depois da
festa.
— E qual é a melhor parte em morar com eles? — Tray beberica seu
café.
— O metrô, sem dúvida.
Minha amiga me olha por cima dos cílios, sustentando um brilho no
olhar.
— Achei que a melhor parte fosse estar perto do seu namorado, Ky.
Touché!
— Você não trabalha no bar hoje, certo? — pergunta, assim que
percebe que eu não respondo a sua pegadinha.
— Apostei com Beth que ela ganharia menos gorjetas na última sexta-
feira, eu ganhei a aposta, e aqui estou eu. — Encaro as centenas de bandeiras
vermelhas e azuis penduradas por todos os lados tanto na rua quanto no
interior do café.
— Aposto que você usou o truque dos peitos.
— Apenas quando ela não estava olhando — alego.
— Isso diz muito sobre o seu caráter. — Tray arqueia as sobrancelhas.
Dou de ombros.
— Não é como se eu me importasse realmente.
— Target? — pergunta, ansiosa, mudando de assunto.
— Não tem Target em New Haven, porra? — brinco.
— Tem, mas eu não tenho minha melhor amiga lá.
— Eu te amo.
— Eu sei.
— Quando alguém diz que ama você, você deve dizer que a ama
também — brinco.
— Eu sei.

— Nem fodendo que eu vou entrar. — Ela cruza os braços sobre os


peitos.
Pergunto-me quando é que minha melhor amiga certinha havia
começado a falar tantos palavrões.
— Por favor, Tray, Ty e TJ devem estar dormindo ainda, provavelmente
vão acordar apenas perto do meio-dia para grelhar o hambúrguer.
Provavelmente, eu acabe fazendo isso, de qualquer forma.
— Não. — Ela une as mãos em frente ao peito, como se estivesse
rezando. — Não me faça ter que lidar com Ty, por favor. Faz apenas alguns
meses que eu tive que fazer isso aqui, bem nesse mesmo lugar.
— Foi no dia de Ação de Graças, já tem meio ano.
— Meio ano é pouco tempo.
Meus ombros caem em derrota.
— Apenas entre, você pode conhecer Max, aposto que seu cérebro
também vai parar de funcionar quando olhar para os três ao mesmo tempo.
— Eu não preciso conhecê-lo, Ky, ele tem o mesmo rosto que os
irmãos.
— Foi você quem disse que não é porque eles têm o mesmo rosto que
são a mesma pessoa.
Seus ombros caem em derrota e ela grunhe.
— Além disso, você parece uma criança mimada, porra, é apenas o Ty,
ele é idiota de nascença, todo mundo sabe disso.
— A última vez que você insistiu para que eu entrasse aqui, eu passei
uma noite inteira ouvindo sobre peru.
— Era dia de Ação de Graças, Tray, as piadas sobre peru faziam
sentido!
— Sim, mas falar que o molho branco parecia esperma foi
desnecessário. Principalmente porque o Sr. Jackson estava sentado à mesa.
— Foi você quem preferiu jantar aqui porque estava de saco cheio de
ouvir sua mãe reclamar.
— É, mas isso não significa que eu não tenha me arrependido no
mesmo segundo em que botei os pés lá dentro! — Tray aponta para a casa.
Um rugido alto atravessa o interior do carro de uma janela a outra e, por
impulso, Tracy e eu olhamos para fora, onde ao meu lado, um deles está
sobre a moto. Ele usa uma calça jeans justa que talvez seja desconfortável
levando em conta o calor, se ela não tiver tantos rasgos por onde o vento
possa circular. Sua regata é tão cavada nas laterais, que eu sou capaz de
enxergar com exatidão a tatuagem do anjo segurando a humana na qual me
deixa intrigada. É Max, é claro, quem mais pode ser tão cruelmente sexy
como o inferno, afinal?
Sua cabeça vira em nossa direção e um pequeno sorriso surge em seu
rosto, revelando pequenas preguinhas de um lado da boca ao mesmo tempo
que uma covinha se aprofunda em sua bochecha, e eu conheço todos aqueles
detalhes como a palma da minha mão; e mesmo que esteja vendo apenas um
lado de sua face, eu sei que no outro não há covinha, porque TJ e Ty só têm
de um lado também. Mesmo assim, é quase como vê-lo pela primeira vez.
E ele assente para mim, e eu sequer sei como reagir, apenas encaro meu
reflexo deplorável através das lentes de seus óculos pretos formato aviador e
desejo que o chão engula a grande vergonha que eu sou. Minha amiga limpa
a garganta ao meu lado, conforme o portão eletrônico abre a nossa frente e
eu o encaro acelerar à frente do carro, observando o tecido de sua regata
levantar-se minimamente nas costas por causa do excesso de velocidade.
— Meu...
— Deus! — completo a frase de Tray.
Então, ela dá uma gargalhada tão alta que faz com que eu deixe o carro
morrer enquanto passa no meio do portão.
— Abre essa porra, abre logo, Tray! — grito vendo o portão se fechar
dos dois lados enquanto eu ainda continuo com o carro parado.
— Eu... Não está funcionando, liga o carro logo, liga! — ela grita,
colocando as mãos na frente dos olhos, para que não veja o estrago que eu
farei no carro zero de TJ.
— Merda! — Arranco o controle de suas mãos e o aperto tantas vezes
que ele enfim funciona, então eu me afundo no banco do motorista, sentindo
minhas bochechas pegarem fogo conforme o olhar de Maximum cai sobre
mim.
Ele meneia a cabeça, não acreditando no que acaba de ver, ao mesmo
tempo que empurra o descanso da moto para o chão, antes de deslizar sua
perna fora dela, então baixa a cabeça novamente e caminha em direção à
porta de entrada, com um pequeno sorriso, quase que imperceptível no rosto.
Sinto a mão de Tray tocando meu ombro e, em seguida, ela dá duas leves
apertadas, como forma de incentivo.
— É, você está fodida, amiga.
Assim que descemos do carro e entramos na casa, tudo está na mais
perfeita ordem, como se há poucas horas não tivesse sido o cenário de um
pandemônio, mas eu sei que não há apenas dedos, mas mãos inteiras de
Grace e Justine, duas empregadas que aparecem de vez em quando para dar
uma limpada na mansão. Eu frequento esse lugar desde pequena, quando fiz
amizade com os meninos, mas não moro exatamente nessa rua e sim no
bairro, em uma casa que meu pai herdara do meu avô.
Portanto, isso é o mais perto do que eu um dia terei realmente desse
lugar, principalmente depois de eles vender tudo para ir viver na Geórgia
com minha irmã, o que eu considero ter sido uma grande coisa, afinal, nunca
terão dinheiro realmente para reformá-la quando chegar o dia. Não com o
salário de professora que minha mãe possui e muito menos com a pensão
que meu pai recebe por invalidez.
Tracy me segue sem fazer ruídos, como se qualquer barulho atraísse um
dos irmãos para o seu inferno particular, que é ter que suportá-los, mas eu a
compreendo completamente, porque ela é a maldita nerd da nossa sala desde
o elementary school3, enquanto eu sou descolada porque ando com Ty e TJ,
o que faz dela a garota que eles podem tirar sarro, mas os outros não, porque
anda comigo, que ando com eles. É confuso, eu sei, mas ser quem ela é a
levara para Yale e isso ninguém, nem mesmo o idiota do Tyson, pode tirar
dela.
Nós subimos a escadaria larga, Tray revira os olhos para a casa como se
nunca tivesse estado lá e, assim que abro a porta do meu quarto, ela corre até
a cama e se agarra nela como se fosse sua tábua de salvação, enquanto eu
deslizo meu top pela cabeça e ela grunhe ao ficar de frente para os meus
peitos nus e, no mesmo segundo, TJ abre a porta sem bater.
— Oh, uau, começaram sem mim! — Ele sorri maliciosamente,
enquanto eu abro a gaveta em busca de um biquíni.
— Olá, TJ, eu não sou a Tracy.
— A Tracy que eu conhecia era mesmo menos gostosa. O que estão
dando para você comer em New Haven?
— Paus enormes cobertos por xarope de bordo — respondo pela minha
amiga. — Vocês já estão preparando o almoço, TJ?
Ele grunhe, como sempre faz quando alguém pede que faça algo.
— Você veio para o feriado? — ele pergunta a Tray, que responde com
um som estrangulado.
— Hum-hum...
— Não entendo por qual razão você se dá ao trabalho de vir aos
feriados se nunca passa com sua família.
— É realmente muito difícil não vir aqui, TJ, sabendo que estamos no
verão e que você também não costuma se dar ao trabalho de usar roupas.
Você sabe. Não que eu nunca tenha visto isso aí. — Ela aponta para o short
rosa de TJ, que ele visivelmente usa sem cueca por baixo.
— Você nunca se acostuma com isso, gata. — Ele aponta para o próprio
pau usando os dois indicadores e suspiro.
— Feliz aniversário, aliás.
— Obrigado. — Os dois dão pequenos sorrisos, levantando a bandeira
da paz.
— O almoço, TJ.
— Estou indo, estou indo. — Ele se curva sobre o meu corpo, dando
um beijo em meus lábios antes de sair batendo a porta.
— Eu não sei o que é mais estranho: ver o pinto do seu namorado
balançando livremente ou o seu namorado ser o TJ.
— Para de falar sobre isso, eu amo o TJ.
— Eu amo meus pais e amo até mesmo meu peixe, que apenas nada de
um lado para o outro o dia inteiro.
— E mesmo assim, aqui está você, passando o feriado comigo, sendo
que fazia seis meses que não via sua família. — Tiro a calcinha e ela grunhe
novamente, antes de eu deslizar o tecido do biquíni para cima novamente.
— Qual é o seu problema? — Tray joga uma almofada na minha
direção, então enterra a cabeça em um travesseiro e funga dramaticamente.
— Deus, que perfume é esse?
Ela se levanta e eu estico o braço em sua direção, lhe entregando um
biquíni meu, sabendo que vai começar com todo o seu drama sobre ir para a
piscina enquanto TJ grelha hambúrgueres a poucos centímetros de nós.
— Quer saber? Foda-se! — Passa por mim, arrancando o pequeno
tecido de minhas mãos antes de entrar no banheiro e fechar a porta atrás de
si.
Sento-me à cama, espiando pela grande janela ao lado dela e lá está TJ,
preparando a churrasqueira, enquanto bebe cerveja direto do gargalo, seus
músculos refletem no sol, provavelmente pelo uso de bronzeador que faz
com que sua pele fique levemente brilhosa e ele acena para mim, abrindo um
enorme e contagiante sorriso ao me ver espiar e eu lhe mando um beijo antes
de me jogar para frente de novo.
Levo o travesseiro até meu colo e fungo nele também, curiosa com o
comentário de Tray, mas, ao fazê-lo, tudo o que consigo perceber é que
aquele é o mesmo cheiro que eu senti em Max enquanto sua boca devorou a
minha, e é então que eu me lembro de que ele passou a noite na minha cama
e, por impulso, jogo o travesseiro para longe de mim, como se estivesse
contaminado.

— Aqui, baby, muito bem passado como você gosta. — TJ se inclina


sobre mim, àquela altura, estirada na espreguiçadeira, fazendo sombra ao se
enfiar na frente do sol.
— Obrigada. — Faço um gesto para que ele se sente ao meu lado e ele
o faz, inclinando seu corpo para trás, forçando os bíceps para que possa ficar
da direção certa do sol, antes de virar o rosto para o lado, beijando meus
lábios.
Olho para o lado, observando minha amiga devorar o hambúrguer dela
malpassado e faço uma anotação mental de nunca mais fazer isso. Levanto,
deixando TJ na espreguiçadeira, seguindo até próximo onde Tray está à
mesa, logo ao lado da churrasqueira. Ela enfia um pedaço gigante de pão na
boca, enquanto eu levo o gargalo da long neck até a minha.
— Você está realmente tentando manter uma dieta, Ky? — brinca,
enquanto eu a fuzilo com o olhar. — Porque está fazendo isso errado, bagel
com geleia de manga no café da manhã...
— Depois de uma longa corrida — acrescento.
— Hambúrguer, pão e cerveja no almoço... — ela continua.
— Vai se foder, Tray, nem todo mundo tem a porra do seu
metabolismo!
— Não culpe a minha genética.
— TJ! — grito para o meu namorado. — Fala pra ela que eu sou
gostosa.
— Você é gostosa! — ele repete sem sequer mover outro músculo que
não seja do rosto.
— Eu não estou tentando provar que não é, estou tentando fazer você
parar de se preocupar com isso. — Ela aponta para o meu corpo, então
prossegue, com a boca cheia: — Porque você não precisa.
— Sim, e quando eu perceber, estarei chorando na Levi’s por não entrar
em um jeans.
— Não seja dramática. — Aponta para mim enquanto segura um talo
de alface.
— Eu estou no 42. — Sento-me em uma das cadeiras.
— Isso porque você tem uma bela bunda! — TJ grita da
espreguiçadeira e Tray concorda com um aceno.
O ronco do Porsche 911 de Tyson ecoa através de todo o quintal, é
inconfundível, uma vez que se trata de um carro antigo, ele é muito mais
barulhento por ser de 89. Ele puxa o freio de mão antes mesmo de parar
completamente o veículo. Olho para a minha amiga, sabendo que ela deve
estar praguejando por dentro ao saber que Ty está prestes a começar a
atordoá-la com suas piadas, mas continua comendo seu hambúrguer como se
precisasse dele para sobreviver.
Segundos depois, uma cadeira de madeira voa diante dos meus olhos,
acertando a parede à minha frente, partes dela se espalham pelo gramado,
uma delas inclusive, pairando assustadoramente sobre nossa mesa.
Mantenho minha boca aberta, congelada quando levo um pedaço de pão até
ela. TJ já está de pé, as mãos na cintura, encarando o outro lado do quintal,
onde Tyson soca uma parede, deixando marcas de sangue nela, então ele se
vira em nossa direção e suas sobrancelhas se erguem quando seu rosto é
tomado por uma expressão confusa ao encarar Tracy sentada à mesa.
Seus ombros caem em derrota, mas ele não deixa de encará-la, apenas
fica lá, olhando em sua direção por quase um minuto, antes de se abaixar,
pegar uma garrafa de uísque próxima aos seus pés e levá-la até a boca. Ty
desvia o olhar para TJ quando o vê ameaçar ir até o irmão, mas antes que
possa fazê-lo, Tyson entra no carro e sai em disparada, deixando a nós três
de boca aberta olhando para o que acaba de acontecer.
— Que porra foi essa? — Max atravessa o gramado, vindo em nossa
direção.
— É a mesma merda que eu estou me perguntando.
Tracy solta um pequeno suspiro pesado, mas eu a conheço o suficiente
para saber que isso é ela tentando se controlar. Seus olhos encaram os
irmãos, depois rolam para mim e ela dá de ombros antes de dizer:
— É apenas Ty sendo ele mesmo, gente.
TJ parece analisar seu comentário por um segundo, até que ele assente,
sentando-se novamente.
— É, provavelmente.
Encaro o rosto confuso de Max e sorrio para ele, tentando esquecer que
estive com uma arma apontada em sua direção há poucas horas.
— Vocês são todos loucos, caralho — murmura entredentes antes de
sair.
Meu cérebro está mais lento nessa noite, por esse motivo, quando vejo
os três juntos na cozinha, eu congelo por um instante. Corro os olhos entre
eles, revezando de um em um até que possam ser identificados aos poucos
pelos pequenos detalhes. TJ é o mais fácil, porque, além de não possuir
tatuagens, ele nunca está vestido, então, assim que coloco meus olhos nele e
o vejo apenas de cueca, eu sei. Em seguida, olho para os outros dois e sorrio
ao identificar a tatuagem no pescoço de Max. Não é tão difícil assim
identificá-los, porém, a chegada de um terceiro deles prejudicou um pouco o
meu raciocínio.
Forço meus olhos para Ty, reparando que ele havia passado a máquina
no cabelo, então faço um agradecimento mental, porque é algo a mais para
que eu não os confunda. Seus olhos encontram os meus, em pé, em frente à
bancada, segurando uma long neck nas mãos, então ele se vira de costas para
mim e eu sei que é sua forma de me evitar, assim como ele sabe que eu
perguntarei sobre a merda que havia feito no dia anterior porque ele me
conhece melhor do que eu posso apostar.
TJ está sentado, os cotovelos apoiados à mesa, mexendo no celular, sem
piscar e eu não preciso ser um gênio para saber que deve estar desperdiçando
seu tempo em algum aplicativo idiota, assim como eu não ficarei surpresa se
o pegar usando filtro de cachorro àquela hora de novo, então eu apenas sigo
em direção ao armário para pegar um copo para beber um gole de água antes
de sair para o meu turno no bar.
Max permanece de costas para mim, observando o quintal através das
amplas janelas, o sol se põe no horizonte, lentamente, se convertendo em um
espetáculo de cores no céu de forma degradê, unindo o azul, vermelho e um
laranja que, por fim, se transforma em um amarelo claro. As luzes da
cozinha estão apagadas, provavelmente não se deram conta ainda que
começou a escurecer, exigindo que os interruptores sejam ligados, mas eu
não me importo, porque já estou de saída.
Os três permanecem em um silêncio enlouquecedor, quebrado apenas
pelos sons dos vídeos aleatórios que TJ assiste nas redes sociais. Os olhos de
Tales encontram os meus assim que abro a geladeira e um sorriso amplo se
espalha pelo seu rosto, aprofundando a covinha adorável em um lado da
bochecha. Encho meu copo, sorrindo para ele, antes de me aproximar e me
sentar ao seu lado para matar meus dez minutos livres antes de sair.
Ele enterra seu rosto no meu pescoço, fungando de forma dramática,
então geme, suas mãos deslizam sobre minhas costas, até chegarem à
cintura. Apoio minha cabeça na lateral do seu rosto, farejando o seu
perfume, antes de dar um gole na água gelada, sentindo-a descer livremente
dentro de mim, proporcionando uma sensação boa, porém momentânea,
considerando o calor infernal que faz do lado de fora, livre de ares-
condicionados. Ouço Ty grunhir atrás de mim, antes de dizer:
— Por favor, parem com essa porra nojenta.
— O que foi? Está ficando excitado? — TJ rebate.
Desvio meus olhos para Max e um pequeno sorriso brinca em seu rosto.
— Deus... — Ty sussurra, fechando os olhos por um segundo.
— Qual o seu problema, afinal? — pergunto.
— O que te leva a pensar que existe um? — Ele se curva para frente,
cruzando os braços tatuados em frente ao peito.
— Uma cadeira voando em direção à parede me levou a pensar.
TJ suspira ao meu lado, me soltando antes de voltar a usar o celular e eu
sei que está pouco ligando para a minha pequena discussão com seu irmão,
uma vez que eles fazem isso o tempo inteiro.
— Uma cadeira voando na minha casa, porra! — Ele se aproxima de
mim e me surpreendo quando Max dá um passo à frente, de forma
ameaçadora.
— Pega leve, Tyson, essa casa é minha também, caralho! — TJ
interrompe.
— Você não pode trazer a porra de suas amigas para cá como se fosse
sua — diz entredentes e sinto meu rosto arder em chamas, porque Ty nunca
falara comigo dessa forma.
Abro minha boca para respondê-lo, mas não o faço. Meus ombros caem
em derrota e odeio a sensação que sinto ao ouvir aquelas palavras. Desvio os
olhos para TJ, que encara o irmão, porém, ele não diz nada para me
defender; em seguida, olho de relance para Max e seus olhos estão presos em
mim, pronto para dar o bote em Ty e, apesar de sua expressão representar
que ele está tenso, há uma suavidade em seu olhar que me faz acreditar que
ele sente muito por mim.
— Estou indo — aviso TJ e ele assente, com um pequeno sorriso de
pesar.
— Porra! — Ty lança a garrafa de vidro na parede e ela se quebra em
mil partes.
— Que merda é essa? — Max parte para cima de Ty, empurrando seu
ombro.
— Fica na sua — ele responde, antes de sair esbarrando em tudo.
Fico congelada, com as mãos em frente ao rosto, como se os cacos
ainda pudessem me acertar, enquanto Tales se mantém em pé, encarando o
irmão que atravessa a cozinha, furioso.
— Fica de boa — TJ começa. — Ele está bêbado.
Sim, ele está, mas não justifica o que acabou de dizer para mim. A
forma como jogou na minha cara que aquele não é o meu lugar, quando ele
sabe que eu odeio sentir como se estivesse sendo um fardo para alguém. E
desde quando é um problema levar garotas até sua casa? Tyson nunca havia
se importado com isso. Forço minha mente, tentando buscar alguma
lembrança, mas nada vem. Forçando os passos, ainda embaraçada, eu deixo
a cozinha, atravessando o gramado até o carro de TJ, na qual eu tento dar a
partida, mas não obtenho sucesso.
— Droga! — Giro a chave novamente, forçando o motor.
Novamente tento dar a partida, mas o carro faz um barulho estranho,
como se estivesse morto e nada do que eu faça muda a situação, então atiro a
chave sobre o banco do carona, pego minha bolsa no banco de trás e pulo
fora, os pés afundando no gramado. Atravesso o pátio, disposta a ir a pé até
o Coyotes Bar, ligo para Elizabeth peço para que ela me cubra até que eu
chegue e tudo se resolva.
Meus olhos ardem conforme eu corto caminho, tentando chegar o mais
rápido até o bar, mas assim que me vejo sozinha, é tarde, já estou
arrependida por ter decidido fazer aquele trajeto, porque mesmo que ele seja
o mais rápido, também é o mais perigoso, pela falta de iluminação.
Conforme acelero os passos, fico cada vez mais ofegante, até que chega um
momento em que eu estou quase correndo.
Quero esmurrar a cara de Ty, gritar para ele que é um egoísta de merda,
que deve enfiar seus insultos no próprio rabo e que eu estou caindo fora, mas
não posso me dar ao luxo de pagar um aluguel em Boston. Preciso ficar por
mais alguns meses nesse pandemônio antes de dar o pé, mas o engraçado é
que eu sequer sei o que fazer, mesmo depois. Eu não tenho um plano a longo
prazo, sequer sei o que me aguarda no dia seguinte e a única coisa que eu sei
é que não sei de nada. É, eu meio que estou citando Sócrates no meio do
meu surto emocional.
Um ruído alto me faz enfiar a mão dentro da minha bolsa para pegar
meu precioso spray de pimenta e, quando a moto para ao meu lado, eu já
estou pronta para deixá-lo cego, mas, assim que me viro para o lado, avisto
Max. Ele olha para o meu braço estendido em sua direção, o dedo indicador
curvado sobre o dispositivo, prestes a apertá-lo. Seu rosto é tomado por um
pequeno sorriso, os lábios curvados sutilmente para o lado direito, conforme
seus olhos verdes brilham, divertidos.
Seus braços estendidos firmemente até o guidão fazem com que os
músculos fiquem mais evidentes, assim como as veias do antebraço. Sua
regata cortada, cinza, agarra seu corpo de modo que o tecido fique folgado
no quadril, onde beira uma calça jeans rasgada nos joelhos, quase igual à do
dia anterior. Baixo o braço, guardando o spray, então uno as sobrancelhas,
confusa.
— Por que você tem que estar sempre apontando armas para mim,
Oklahoma?
A forma como ele diz meu novo apelido me faz corar, porque, sem
dúvida, está zombando de mim.
— Você é sorrateiro demais para o meu gosto.
Ele sorri.
— Qual é o seu gosto, então? — Max continua me provocando.
— Um que não é você — respondo.
— Disse a garota que namora um cara com o mesmo rosto que o meu.
— Sim, a garota que namora o seu irmão — eu o lembro.
— Mesmo assim, essa garota esteve com a boca na minha há duas
noites.
— Eu não sabia que não era ele.
— Você saberia se fosse minha namorada.
Sinto a chama do inferno alcançar minha bunda. Não é possível que ele
seja tão libertino falando comigo dessa forma quando seus irmãos lhes dão
um teto para morar.
— TJ sabe que você está me perseguindo, Maximum? — Eu me viro e
continuo a andar.
— Não, ele está ocupado compartilhando correntes no Facebook.
Eu quase rio, mas continuo andando, mordendo os lábios para que ele
não veja o meu divertimento.
— Ninguém usa mais Facebook, você deveria saber.
Ele acelera a moto a uma velocidade que me acompanha, a Harley
zumbe ao meu lado.
— Como vou saber se nunca usei essa merda?
Freio meus passos, encarando-o por um segundo, antes de voltar a
andar.
— Você está me zoando? — pergunto, incrédula, observando-o negar
com um aceno.
— Por que eu estaria?
— Porque você sente prazer fazendo isso!
Ele ergue as sobrancelhas.
— Sobe na moto! — exige.
Deixo uma risada escapar, mas ela sai mais alta, quase como se eu
estivesse desesperada.
— Eu não teria subido nem se você tivesse pedido.
— Anda logo! — ordena, ríspido.
— O que te faz pensar que eu faria mesmo isso?
— O fato de você estar correndo perigo me faz pensar.
Merda!
— Posso acompanhar você até seu trabalho se quiser. Eu não tenho
nada para fazer, de qualquer forma.
— Você poderia começar arrumando algo para fazer. — Forço um
sorriso.
— Anda logo. — Identifico uma pontada de divertimento em sua voz.
— Eu não estou dando em cima de você nem nada.
Eu o encaro novamente e ele está rindo como um maldito filho da puta.
— Só porque eu estou completamente atrasada. — Reviro os olhos,
ignorando sua risadinha.
Max para a moto, retirando o capacete, então estica os braços para a
frente, para que possa colocá-lo em mim. Prende o fecho logo abaixo do
meu queixo, enquanto sua boca se mantém em um aperto rígido que oculta
um sorriso. Eu quero dizer a ele que não há nada rolando entre nós, mas
estou incomodada com o fato de ficar repetindo isso na minha mente o
tempo inteiro.
Assim que subo na carona, agarro-me ao seu corpo firmando o interior
das coxas contra ele. Meu coração bate forte, mas não sei se é por estar
fazendo algo que sei que não devo ou por estar sobre uma moto pela
primeira vez na minha vida. Fecho meus olhos, sorrindo como uma idiota,
sentindo o vento ricochetear sobre o meu rosto, os fios dos cabelos,
enlouquecidos, em uma imensa sensação de liberdade que nunca senti na
vida e, conforme Max acelera, costurando entre os carros, eu me sinto ainda
mais eufórica.
Ele diz algo que eu não consigo ouvir, então tira uma das mãos do
guidão, procurando pelo meu braço atrás dele, em seguida, o puxa para a
frente, de modo que eu o abrace, firmemente. Faço a mesma coisa com o
outro braço, apoiando as palmas das mãos em seu abdômen rígido. Nossos
corpos estão colados demais e, de repente, eu me dou conta de que andar de
moto com alguém é quase impróprio.
Eu aponto para onde ele deve seguir e minutos depois, estamos no
nosso destino e, assim que avisto a placa do bar, eu choro internamente por
saber que preciso descer da moto e encarar uma longa jornada de tarados
babando no decote que eu uso intencionalmente para que ganhe uma boa
quantia em gorjetas. Assim que meus pés tocam o chão, eu levo as mãos até
o fecho do capacete, apesar de não fazer ideia de como abri-lo. Depois de
tentar por quase um minuto inteiro, Max se inclina sobre mim, deixando
escapar um risinho, enquanto me ajuda a retirá-lo.
— Obrigada pela carona.
— É sério, você está realmente me agradecendo? — Ele parece
surpreso.
— Você chegou, graças a Deus! — Elizabeth grita da porta, onde fuma
um cigarro no seu intervalo de quinze minutos, então sua expressão
endurece. — Olá, TJ.
Ela acena para ele de forma estranha. Talvez esteja estranhando o fato
dele estar de moto. Só que não é ele. Max sorri diabolicamente, acenando de
volta.
— Oh, não. — Ela semicerra os olhos. — Não, Tyson, nem fodendo. —
Beth joga a bituca no chão e pisa nela com a ponta dos sapatos, antes de
mostrar o dedo do meio e entrar no bar.
— Qual é a da de cabelo roxo? — ele pergunta, se divertindo com a
reação dela.
— É Elizabeth, uma amiga.
Ele assente.
— Não é como se Tyson fosse a pessoa mais fácil de lidar — ele
comenta, colocando o capacete na cabeça.
Deixo escapar um suspiro pesado.
— Não é tão difícil também. Na verdade, ele só... meio que tem um pau
enfiado na bunda.
Meu comentário faz um sorriso enorme se formar em seu rosto e quanto
mais ele sorri, menos parece que eu o conheço.
— Até mais, Oklahoma. — Max dá a partida na moto e sai em direção
às estradas e apenas percebo que estou parada olhando-o partir, quando eu já
não sou mais capaz de enxergá-lo.
— Qual é a da carona com o idiota do Ty? — Beth joga o avental na
minha direção e eu o pego no ar, fazendo um nó firme na parte de trás, sobre
o bumbum.
— Não era o Ty — respondo. — Como foi o feriado?
— Você sabe, enchi o cu de salsicha e tudo mais. — Ela amarra os
cabelos em um coque alto e espeta um palito de metal com uma flor cheia de
strass na ponta para mantê-lo firme.
— Você é nojenta.
— Desde quando TJ tem tantas tatuagens?
— Não era TJ.
Elizabeth para de chacoalhar a coqueteleira e dá uma gargalhada.
— Como assim, porra?
Lavo minhas mãos na pequena pia ao lado do freezer e a seco no
avental, pensando em uma forma rápida de resumir o caos que é aquela
notícia.
— Bom, há outro deles. — Dou de ombros.
— Uísque! — Jason, um dos nossos clientes mais antigos, se aperta em
meio a duas banquetas ocupadas por dois garotos do time de futebol, que
devem ter mais de cem quilos cada.
Sirvo o uísque para ele, ignorando o olhar dos dois idiotas, e quando
Jason dá as costas e eu encaro minha amiga, seus olhos ainda permanecem
em mim, ansiosa por uma explicação.
— Como assim há outro deles?
— Outro, tipo, um terceiro.
— Tipo um clone? — pergunta confusa.
— Não, tipo irmão mesmo, eles são trigêmeos ao que parece.
— Não, não pode ser. — Ela solta um riso incrédulo, enquanto arregala
os olhos conforme se dá conta de que a informação é verdadeira.
— Pode sim. — Pego uma cerveja e entrego para o cara que aponta
para a garrafa dele vazia. — Inclusive, ele apareceu à meia-noite, no dia do
aniversário deles, sem saber que tinha irmãos.
Dou de ombros, pulando a parte que beijei o irmão número três
enganado.
— E como foi que eles acabaram separados? — Ela parece realmente
transtornada, o que me faz pensar novamente no assunto.
TJ e Ty têm um ao outro, mas quem realmente Max tem?
— Eu não faço ideia, na verdade. Tudo ainda é muito novo para todos
nós e o Sr. Jackson está em um cruzeiro, incomunicável.
— Então ninguém faz ideia de nada?
Nego.
— É louco, eu sei. Ver os três juntos ao mesmo tempo é algo que eu
vou demorar para me acostumar.
— Daria um ótimo livro. — Ela sorri.
Quando Beth não está trabalhando, está com a cara enfiada em um livro
e nos últimos tempos, ela passa mais tempo escrevendo histórias do que
saindo de casa e eu sei que tem potencial apenas por ler frases aleatórias que
cria para suas legendas de fotos. Eu espero realmente que ela tenha seu
grande momento como escritora um dia.
— Quem sabe? — Reviro os olhos, pensando que eu serei a
protagonista mais perdida da história.
— Benny vai surtar quando souber disso.
Mordo a boca tentando segurar o riso. Acontece que Benny é o dono do
bar e expulsou Ty e TJ mais vezes do que eu podia contar, e saber que há
outro deles, apenas fará com que a veia pulsante em sua testa fique ainda
mais evidente. Mas, fazer o quê, não é? Esse é o resultado de abrir um bar
em um bairro universitário e, provavelmente, ele sabe onde está metendo sua
bunda.
— É, ele vai — afirmo, pegando outras duas cervejas para os dois
garotos a minha frente. — Tudo bem com os seus olhos? — pergunto para
um deles. — Porque parece que estão perdidos nos meus peitos.
Ouço o risinho de Beth ao meu lado.
— Talvez não devesse mostrar tanto, se você se sente incomodada que
olhem — ele responde, inclinando-se sobre o balcão, sua língua deslizando
sobre o lábio inferior, me fazendo grunhir.
— Pelo amor de Deus, saia daqui! — Aponto para o outro lado. — Não
me faça ter que encarar sua cara imunda durante todo o meu turno.
— Vai se foder, vadia! — Ele pega a cerveja sobre o balcão e segue
para os bancos dos fundos com seu amigo, que murmura alguns palavrões.
— Você está estressada.
— Não estou — nego, chacoalhando uma mistura para um cliente que
está terminando a sua e que eu sei que pedirá outra igual em dois segundos.
— Por que você não foi ao aniversário do TJ?
Beth desvia o olhar, unindo as sobrancelhas, pensativa.
— Você sabe o que eu acho sobre essas festas. — Ela cruza os braços
por um segundo, então um cara ergue sua garrafa vazia. — E não é como se
tivessem sentido minha falta.
— Eu senti sua falta.
Suas sobrancelhas perfeitas suavizam. Ela abre um sorriso, cabreiro,
desviando o olhar novamente. A pele impecável trabalhada com iluminador
nas partes certas me faz morrer de inveja. Elizabeth é linda, de uma forma
natural, limpa. Ela tem um cabelo pintado de roxo agora, mas já havia
passado por outros tons ao longo dos dois anos em que trabalhamos juntas,
mas é a única coisa extravagante nela, porque o resto é simples, é como
olhar para o céu, você vê pouco, mas se encanta com tudo. Entretanto, por
trás de um rosto doce, há uma personalidade tão forte quanto a minha, e por
isso, nós somos tão próximas.
— Você não conta.
— Teria sido divertido se você estivesse lá; em vez disso, eu tive de
dormir logo após a grande chegada de Max, o clone.
Nós duas rimos em uníssono.
— Você não falou com TJ? — pergunto.
— Não, eu acabei esquecendo de dar os parabéns para ele, eu... estive
ocupada aqui e tudo mais.
— Você sempre dá os parabéns para ele, não é como se pudesse
esquecer — eu me refiro ao feriado.
— Ficou lotado ontem.
— Entendi. — Passo um pano sobre a bancada molhada.
— Você anda distante nos últimos meses — confesso.
Eu havia conseguido o emprego no bar depois que TJ pediu a Beth que
conversasse com Benny para me contratar. Os dois se conheceram há alguns
anos e ficaram muito amigos, até que, do nada, as coisas começaram a
desandar e Beth se afastou. Ela não ia mais às festas na mansão, nem
aparecia por lá para uma sessão de filmes ou conversa de garotas. Elizabeth
e eu éramos amigas, muito amigas, embora nos últimos meses eu tenha me
questionado mais do que deveria sobre isso.
— É só a merda de todo dia — ela sussurra, quase que para si mesma.
Ter pais como os dela, sem dúvida, deve ser uma merda.
— Se precisar conversar, você sabe... — Aponto para o meu ombro. —
Se precisar de um encosto, tenho carne de sobra aqui para deixá-la bem
confortável.
Ela assente, antes de desviar os olhos.
— Nada que eu não possa lidar, mas obrigada.
Sigo fazendo o meu trabalho, servindo caras, limpando a bancada,
lavando copos, organizando as bebidas no estoque e perturbando Beth
sempre que tem um minuto livre e, assim que dá o meu horário, eu me vejo
na porta do bar, ciente de que não tenho uma carona. Beth havia ido assim
que o ponteiro deu a volta encerrando o último minuto e permaneço
encarando o celular, enquanto a chamada que eu faço para o meu namorado,
permanece sem resposta.
— Posso deixar você em casa, Ky. — A voz de Jacob preenche o lado
de fora quando ele atravessa a porta, amarrando seu cabelo castanho-escuro
no topo da cabeça.
Inclino meu queixo, tentando encarar seus olhos, mas ele tem quase
dois metros e, por mais que eu tente, meus 1,56m nunca me deixará alcançar
meus objetivos. Não é à toa que Benny o contratara como segurança,
fazendo com que ninguém arrumasse briga por lá no último ano. Bom,
ninguém além dos irmãos Jackson, claro, porque eles continuam agindo
como animais sempre que têm uma oportunidade e nem mesmo Jacob, com
todos aqueles músculos, pode detê-los.
— Eu vou continuar tentando, talvez ele me atenda. — Sento-me no
meio-fio, sentindo o peso de todo o dia me atingir em cheio e o pensamento
de estar começando um novo semestre em breve. — Não quero te dar
trabalho, você mora do outro lado da cidade.
— Não é nenhum trabalho, não seja dramática. — Ele me lança um
amplo sorriso, os dentes parecem ainda mais brancos no verão, uma vez que
sua pele fica mais bronzeada.
— Vou esperar com você então.
— Não precisa se preocupar, sério! — insisto, mas ele ignora meu
pedido, sentando-se ao meu lado.
— É uma hora da manhã, Kyra, seu spray de pimenta é bom, mas não é
letal.
— É, você tem razão. — Disco o número de Tyson, mas apago quando
seus insultos dançam em minha mente.
Ainda estou indignada com ele, muito mais do que isso, eu fiquei
realmente magoada, o que é muito pior. Irrite uma mulher, mas nunca a
magoe. Depois de apagar o número de Ty, eu digito novamente para TJ e
suspiro, cansada, quando a ligação cai na caixa postal.
— Eu levo você, Kyra — Jacob insiste.
Olho para a rua escura à minha frente, praguejando internamente por ter
excluído o aplicativo do Uber do celular uma vez que exige atualização e
não possui mais espaço no meu aparelho velho.
— Você pode chamar um Uber para mim, isso é o suficiente.
Jacob se levanta ao meu lado, antes de estender a mão para que eu
impulsione meu corpo.
— Entra na porra do carro, caralho! — Ele força o andar, como se
estivesse tentando imitar um marginal ou algo assim. — Preciso agir como
um deles para que você me deixe te levar em casa?
Dou uma gargalhada alta, conforme caminho ao seu lado. Não somente
pelo fato de que aquele gingado não combina com o seu tamanho, mas
também porque ele não está tentando imitar um marginal, e sim Ty e TJ.
— Você parece ridículo fazendo isso. — Abro a porta do carona e pulo
para dentro da sua caminhonete, abrindo os vidros para que o vento
refresque o interior do veículo.
— Sério, por quê? — Jacob parece decepcionado, enquanto dá vida ao
motor.
— Você é alto demais para andar assim. — Continuo sorrindo.
— Talvez você quem seja baixinha demais.
Afundo-me no banco, sentindo o vento quente acariciar meu rosto
conforme o carro ganha velocidade, o cansaço do dia me acerta em cheio.
Permito-me fechar os olhos por um instante, apenas para apreciar o alívio
momentâneo que é estar em silêncio, antes de chegar à mansão e desfrutar de
outra festa, porque é nada menos do que sexta-feira e não há nenhuma sexta-
feira que não haja uma festa rolando, por menor que seja, no mínimo dez
pessoas estarão lá, o que eu rezo para que esteja acontecendo. Apenas algo
pequeno.
Jacob respeita meu silêncio, provavelmente por precisar contemplá-lo
também, uma vez que havia passado as últimas seis horas dentro de um bar
lotado onde nada é menos do que música ruim e gritaria e assim que avisto a
mansão, me surpreendo ao encontrá-la vazia. Ou quase. Apenas meia dúzia
de pessoas se amontoam no gramado e assim que TJ avista a caminhonete,
ele atravessa o espaço que o separa de nós.
— Obrigada, Jacke, de verdade.
— Às ordens. — Ele está com um sorriso no rosto quando seus olhos
encaram algo além dos meus ombros e no mesmo instante, TJ abre a porta.
— O que porra você está fazendo com ele? — A veia pulsante em seu
pescoço evidencia seu descontentamento e reviro os olhos para todo o drama
que eu sei que virá a seguir.
TJ usa um short de flamingos e toda a pele que não fica sob ele, está
exposta. Ele passa uma mão em volta da minha cintura, enquanto mantém a
outra segurando a porta, ao mesmo tempo que encara Jacob.
— Eu peguei uma carona. — Assim que as palavras saem da minha
boca, eu me indigno porque não preciso explicar. — Você queria que eu
fizesse o quê? Viesse a pé do bar?
— Você podia ter me ligado. — Seu maxilar cerrado apenas o deixa
ainda mais sexy e viril, mas ele não precisa saber que eu acho isso.
— Eu liguei, você não atendeu. — Deixo um suspiro cansado escapar.
— Até mais, Jacke, obrigada pela carona.
— E então lá estava ele, como um maldito vira-lata esperando seu osso.
Uno as sobrancelhas. Não sei se ele está querendo insultar Jacob ou a
mim.
— Sim, lá estava eu, pronto para fazer o papel que você nunca soube
fazer. Até mais, baby. — Ele acelera a caminhonete com a porta ainda aberta
e ela bate com força, escapando das mãos de TJ.
E é exatamente por esse motivo que ele odeia Jacke, porque além de ele
ser bonito, descaradamente dar em cima de mim, ter quase dois metros de
músculos, ele também tem colhões. É apenas alguém que realmente honra as
bolas no meio das pernas encara os irmãos Jackson como ele faz.
— Que caralho, Kyra! Por que você não pegou uma carona com a
Beth?
Eu paro para raciocinar por um momento, odeio a pressão de estar em
um relacionamento. Tudo é novo demais para mim, talvez por isso eu não
me acostumei ainda a dar explicações. Meus pais confiam em mim, então eu
não preciso esclarecer uma simples carona, porque eles não se importam se o
cara quer ou não estar dentro da minha calcinha. Talvez por esse motivo,
eles são considerados ovelhas negras da família, mas eu não me importo,
porque funciona para mim, o que é exatamente o que não está acontecendo
nesse momento.
— Ela correu para casa depois do turno e obviamente está evitando
você!
— Ela o quê...? — Ele faz uma pausa. — Como você foi ao trabalho
então?
Ele não sabe? Olho para o quintal, procurando por Max, mas não o
avisto em nenhuma parte, então encaro TJ, que aguarda confuso e eu faço a
maior burrada. Eu minto.
— Eu chamei um Uber.
— Certo e por que você não chamou outro para voltar para casa? Por
que não ligou para o Ty?
— Qual o problema de eu pegar uma carona com o Jacob, TJ? Pelo
amor de Deus, pare de agir como uma maldita criança mimada que perdeu o
seu brinquedo. — Passo por ele, entrando no quintal.
— Eu não gosto dele.
— Porque ele enfrenta você — acuso.
— O quê? — Ele parece incrédulo.
— É, esse é o problema de caras como você, TJ, eles realmente só
querem algo quando há uma competição.
— O que quer dizer com isso? — Olho para trás, freando o passo no
gramado, encarando-o cruzar o braço sobre o peito.
— Eu quero dizer que já nem sei mais o que está acontecendo aqui. —
Aponto para ele, depois para mim. — Eu não sei se isso é real ou se é apenas
um passatempo para você.
Ele permanece em silêncio, enquanto as pessoas a nossa volta se
concentram em nosso pequeno show. TJ parece pensar nas minhas palavras,
talvez esteja se dando conta de que eu realmente sou apenas algo
confortável, e fico ali parada, esperando que ele diga para mim, mas não
obtenho uma resposta, em vez disso, ele passa por mim, dando um pequeno
sorriso frio, pegando uma garrafa de uísque sobre a mesa antes de entrar em
casa batendo a porta. Ele não precisa realmente dizer alguma coisa, porque,
lá no fundo, eu sei. E quando eu desvio meu olhar para a esquerda,
encostado em sua moto, está Max, segurando uma cerveja, os olhos presos
em mim e os lábios levemente puxados em um pequeno sorriso.
Acabo de sair do banho, meus cabelos estão molhados e penteados para
trás, caindo até a metade das minhas costas. Depois de passar uma
quantidade generosa de corretivo no rosto para tapar as olheiras, eu aplico o
rímel e um batom rosa claro, visto um vestido e desço. São quase três da
manhã, eu estou cansada e chateada, mas acima de tudo, irritada. E estar
irritada é o suficiente para que eu não consiga dormir, então me poupo de
ficar na cama, virando de um lado para o outro, quando eu sei que não terei
sucesso.
Abro o armário em busca do sal, em seguida, retiro uma taça da
cristaleira, então pego o restante dos ingredientes e preparo uma margarita,
caprichando na tequila. Eu saio da cozinha o mais rápido possível antes que
alguém me peça para fazer um drink. O lado bom de ser uma bartender é que
eu posso preparar as melhores bebidas; e o lado ruim, é que as pessoas
também sabem disso e, se eu disser sim para uma pessoa, dez minutos
depois estarei usando um avental e elas estarão gritando para que eu seja
mais rápida.
Meus pés descalços tocam o gramado antes de tocar o piso que
contorna a piscina, então me sento, afundando as pernas na água, sentindo o
líquido arder a minha garganta ao mesmo tempo que o sal diminui o efeito.
Ty está do outro lado da piscina, segura uma garrafa com uma mão,
enquanto usa a outra livre para levar o cigarro até sua boca. Ele encara o
chão, distante, pensativo, as sobrancelhas unidas evidenciam que se entrega
a um debate interno e suspiro ao lembrar de suas palavras.
Eu não sou uma garota dramática, pelo contrário, odeio o drama, mas
tudo o que ele me disse me deixou realmente chateada e provavelmente é a
insegurança de não estar em casa. Quando você tem para onde ir, apenas vai
quando toda a merda ao redor decide explodir sobre você, mas, quando não
tem, você apenas mergulha nela e espera o momento em que ela deixa de
feder.
Dou outro gole na minha bebida, me obrigando a ir mais devagar se não
quiser ter que levantar-me do meu pequeno momento confortável para fazer
outra dose. É quando ouço uma risada alta e exagerada atravessar o pátio e
meus olhos capturam a figura diante de mim, em reflexo. Uma garota de
curtos cabelos castanhos ondulados, usando um vestido tão transparente, que
eu sou capaz de ler a marca escrita na etiqueta da sua calcinha, conversa com
TJ. As mãos sobre ele o tempo inteiro, mãos no antebraço, risada, mãos no
ombro, risada, mãos na cintura, risada. Nitidamente, ela estará aquecendo a
cama dele em menos de dez minutos.
Ele parece envolvido na conversa, se inclinando sobre ela mais vezes
do que deveria, suas mãos nela o tempo inteiro também, um pequeno sorriso
travesso nos lábios que eu conheço muito bem. TJ também estará em sua
cama no fim dessa noite. Volto a olhar para Ty e ele me encara, esperando
que eu faça algo, talvez, quem sabe, ele queira um show, mesmo sabendo
que eu não darei. Joshua e Cami acenam para mim, entre Ty e TJ, enquanto
compartilham a mesma biqueira do narguilé, introduzindo as mesmas
bactérias. De frente para eles, estão McCarter e Brad, que olham para mim,
acenando também.
Lanço um sorriso para eles, agradecendo o convite e aponto para a casa,
avisando que já estou subindo e eles entendem, sabem que eu gosto de estar
sozinha e que, além disso, trabalhei demais, como sempre. Todo mundo já
está acostumado com minhas rápidas presenças nas festas e ninguém me
acha tapada ou chata demais, apenas sabem que eu sou dessa forma e ponto
final. Sem drama, como gostam. Cami faz um coração para mim, usando a
ponta dos oito dedos e dos dois polegares e pisco para ela.
Aproveito que TJ não me viu para sair dali. Caminho pelo quintal,
segurando minha taça, enquanto assisto meus pés molhados deixar rastro
sobre o piso fosco. Eu não sei descrever exatamente o que estou sentindo,
apenas me sinto como se estivesse cansada demais, só que eu não faço ideia
do que exatamente. Talvez de me sentir cansada, ou cansada de me sentir
confusa ou sei lá o quê. Eu claramente amo o TJ, nós somos amigos desde o
elementary school, mas eu também amo o Ty, e os amo quase da mesma
forma, quando obviamente devia ser diferente.
Não tive outros relacionamentos sérios, nunca havia namorado antes,
nunca havia me apaixonado em nenhum momento, então eu não posso
comparar, apenas sei que, provavelmente, eu devia estar surtando ao ver TJ
tão íntimo de alguém depois de termos brigado. Digito uma mensagem para
a minha irmã, porque ela é a única pessoa que me dará uma boa resposta
sensata e verdadeira e que, ao mesmo tempo, não me julgará por fazer
aquela pergunta e, conforme eu subo as escadas, meu polegar trabalha
sozinho, digitando a pergunta:

Eu: Como você reagiria se tivesse brigado com o Chris e um tempo depois,
o encontrasse conversando com uma menina?
Eu: *Com uma vagabunda.

Corrijo a mensagem.

Lizzie: Eu começaria a mensagem para a minha irmã, perguntando pela


saúde do meu sobrinho.

Ela responde, me fazendo rir conforme dobro no corredor do segundo


andar.

Lizzie: Depois eu o chamaria para conversar, quando ele terminasse o


que quer que estivesse fazendo com a (menina) e não a julgue, porque o
comprometido é ele, não ela, querida.

Eu: Invejo sua maturidade, irmã.

Lizzie: Não inveje, porque, enquanto eu estivesse fazendo isso, estaria


torcendo para que a vagabunda me olhasse torto, apenas para ter um motivo
para cair em cima dela e mostrar quem realmente ele vai foder no fim da
noite.

Eu: Então, você estaria furiosa?

Lizzie: Furiosa? Não sei se existe uma palavra para descrever como eu
estaria. Lúcifer voltaria a ser visto como um doce e adorável anjo. Talvez a
Netflix até escrevesse uma série sobre mim.
Paro na porta do quarto de TJ, a mão na maçaneta, enquanto dialogo
comigo mesma, pensando na forma como eu me sinto com relação a ele estar
conversando tão intimamente com alguém. Eu não estou furiosa, chateada
sim, mas furiosa? Não... Por quê? Encosto a testa na porta, por dois
segundos, ouvindo pessoas passando pelo corredor atrás de mim o tempo
inteiro. Rostos conhecidos demais, a galera inteira da faculdade, mas eu não
costumo me misturar. Estou mais chateada pelo fato de TJ não estar me
respeitando na frente de todos do que o próprio fato dele não estar me
respeitando.
Afasto-me da porta, decidindo dormir no meu quarto. Não faz sentido
que eu fique ali, sendo que sequer estou falando com ele, tampouco depois
de presenciar a pequena cena de afeto em público. Sendo assim, lá estou eu,
entrando no meu quarto, decidida a dormir sozinha e ter uma conversa com
TJ na manhã seguinte, dando o último gole no meu drink quando de
repente...
— Mas o que... — grito espantada, observando Maximum de pé e nu a
minha frente.
— Deus... — ele murmura, colocando a toalha de rosto, branca, na
frente do seu membro, duro.
Duro.
— Que inferno você está fazendo aqui?
— Eu estou dormindo no seu quarto desde que cheguei.
— Por quê? — pergunto, apesar de saber, apenas acho que se alongar a
conversa, posso tirar a imagem de outra coisa longa da minha cabeça.
— Porque essa casa está em festa desde que cheguei. Isso nunca acaba?
— Parece estressado e eu gosto do fato de ele também não gostar de tanto
tumulto.
— Nunca — suspiro, sendo capturada pelos desenhos em seu corpo,
cada maldito traço parece atraente demais e eu me pergunto por que inferno
eu não vejo Ty dessa forma quando eles são idênticos demais, até mesmo as
tatuagens.
— O que você está fazendo no seu quarto? — pergunta confuso, seus
bíceps marcados pela forma na qual ele segura a toalha.
— Bom, esse é o meu quarto. — Coloco a taça vazia sobre o criado-
mudo e caminho até a cadeira da escrivaninha, pegando um pijama que eu
sei que havia deixado lá.
— Sim, mas você nunca dorme nele — ele acusa, com seus olhos
presos nos meus movimentos, enquanto eu caminho até a minha cama,
sentando-me nela.
— Como você sabe, se acabou de chegar nessa casa? — Às vezes, eu
sinto como se ele estivesse na casa há anos, como se estivesse presente em
todos os malditos cômodos.
— Apenas sei. — Ele caminha até o banheiro, com sua bunda dura
virada para mim, enquanto eu sinto minhas bochechas queimarem.
Não consigo desviar os olhos dele, cada maldito pedaço é igual ao que
eu já estou mais do que acostumada, mas, ao mesmo tempo, é diferente,
como se fosse novo e estivesse sendo visto pela primeira vez. Uma de suas
pernas também é tatuada, os desenhos chegam até sua coxa, espalhados por
toda a parte. Max se abaixa minimamente, apenas para que possa vestir sua
boxer preta, então rolo meus olhos para as suas costas, subindo lentamente
até os ombros e, quando ouço um pequeno risinho, eu subo mais um
pouquinho e meu coração afunda no peito quando nossos olhos se encontram
através do espelho.
Filho da puta!
— Achei que eu não fosse do seu gosto — ele diz divertido.
— Você não é — afirmo.
— Então tire seus olhos de mim, porque eu não sou de ferro. — Max se
aproxima, seu cheiro delicioso se espalha pelo quarto.
Sinto minhas pálpebras pesarem assim que ele fica a minha frente.
Minha respiração deixa de ser automática e natural e passa a ser algo que eu
tento controlar, assim como as batidas do meu coração. O que está
acontecendo? Por que ele precisa ser um filho da puta provocador o tempo
inteiro? E por que eu estou caindo nisso? Maximum se inclina sobre mim,
espalmando a cama, uma mão em cada lado do meu corpo, conforme o sopro
quente de sua respiração atinge meu rosto. Eu não me movo, não só porque
não quero, mas também porque não sou capaz.
— Parece que você está desarmada agora, Oklahoma, e eu não estou me
referindo ao seu spray e nem a minha pistola.
Pisco forte, abrindo a boca levemente, mas não sei o que dizer. Como se
eu tivesse me tornado incapaz de sibilar uma frase coerente. Aperto minhas
mãos, uma na outra, tentando controlar a vontade que estou de tocá-lo, ao
mesmo tempo que praguejo e me sinto péssima por querer fazer isso quando
estou com alguém, mas então me lembro de que TJ está lá embaixo, fazendo
a mesma coisa com uma pessoa que não sou eu.
Não é apenas a sua voz, ou sua aparência, é a forma como ele se move e
o cheiro que exala da própria pele que o torna diferente dos outros dois. É a
química que senti ao beijá-lo pela primeira vez e a atração que eu sei que
temos. Química. Seus feromônios o tornam quem é, a mistura do seu próprio
cheiro, com a forma como ele olha, age, se move e que faz com que minhas
moléculas se comportem de maneira diferente a sua presença, como se meu
corpo tivesse vontade própria.
Maximum se aproxima mais, seu nariz perfeitamente desenhado toca o
meu e eu já não sou capaz de me controlar, posso ouvir meu próprio coração
batendo, o que é uma puta loucura porque eu havia acabado de conhecê-lo.
Como isso pode estar acontecendo? Sua testa empurra a minha, eu a
empurro de volta, e nossos narizes raspam um no outro, algumas vezes,
trocando de lado, ele abre a boca e sua respiração encontra a minha antes
dele erguer o queixo, fazendo sua boca acariciar a pele ao lado da minha, eu
posso sentir meu sexo pulsar, e percebo que não paro de me mexer.
E um pequeno gesto de quase beijo acabou de se tornar a experiência
mais sexual e excitante que tive na minha vida e eu sequer encostei minha
boca a sua, então o empurrei, meus olhos arregalados, minha boca
entreaberta, enquanto respiro com dificuldade, sentindo meus olhos arderem,
assim como meu pulmão, e a batida errática do meu coração faz meu sangue
correr com mais velocidade nas veias, enquanto a única coisa que eu sinto é
que preciso dele dentro de mim o mais rápido possível, por esse motivo, eu
me levanto e saio correndo do quarto.
Isso só pode ser chamado de uma coisa: a maldição dos irmãos Jackson.
Dois dias se passaram desde o meu pequeno deslize com Max e, graças
ao bom Deus, é segunda-feira, o que significa que não haverá uma festa
nessa noite. Por esse motivo, e por estar de folga, eu decido cozinhar. Não é
bem uma ótima ocasião, está longe de ser boa, aliás, com tudo o que vem
acontecendo comigo e com a maldição dos irmãos Jackson. Ty ainda está
distante, TJ sequer olha na minha direção e Max, bom, ele não para de me
encarar, mas eu estou fugindo dele como o diabo foge da cruz.
Mesmo assim, depois de passar os últimos dias comendo apenas
besteiras e congelados, eu decido fazer uma comida caseira, mesmo que for
comê-la sozinha, como também se eu tiver que acordar cedo para correr no
dia seguinte. Acontece que comer carboidrato me faz inchar como um
baiacu, mas, mesmo sabendo, aqui estou eu, preparando-o com bacon e
brócolis. Foda-se também, porque eu nunca serei magra nem se realmente
tentar. Levo a travessa pesada até o forno pré-aquecido, aumentando a
temperatura para 180º.
Assim que termino de lavar o restante da louça, evitando deixar sujeira
demais para Grace e Justine que estão programadas para limparem a casa no
dia seguinte, vou passar uma água no corpo. Odeio tomar banho depois da
janta, porque aprecio a sensação de estar limpa e confortável na hora da
refeição. Assim que deixo o quarto, após o banho, esbarro em algo sólido,
um abdômen definido que não é coberto de tatuagens, o que só pode
significar que TJ quer algo comigo, na porta do meu quarto, enquanto me
observa impaciente. Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso, uma
covinha se aprofunda apenas em um lado do rosto. Observo seus olhos
verdes rolarem sobre todo o meu corpo até encontrarem os meus. Ele aperta
as mãos, estalando os dedos, enquanto se mexe, inquieto.
— Me desculpe. — Ele se aproxima de mim em um movimento rápido,
me prensando na porta do meu quarto.
Pisco rápido, tentando me manter lúcida, então abro a boca para dizer
algo, mas TJ cola seus lábios nos meus antes que eu possa dizer alguma
coisa. Suas mãos enormes seguram as laterais dos meus quadris, me
colocando para cima e eu entrelaço as pernas na sua cintura. Tenho um
milhão de coisas para dizer a ele, mas obviamente não farei. O que há de
errado comigo? Eu me pergunto enquanto ele me arrasta para dentro do
cômodo, batendo a porta atrás de nós, ao mesmo tempo que se inclina sobre
mim na cama pequena e estreita.
— Eu preciso disso agora, Ky — ele murmura.
Por que eu, que quero xingá-lo por agir como um idiota, estou abrindo
minhas pernas para ele? Provavelmente porque ele é um dos fodidos irmãos
Jackson e as garotas fazem isso o tempo inteiro. Ninguém quer nada além de
sexo em primeiro lugar e eu sinto que preciso tanto quanto ele
aparentemente precisa de mim. Seus lábios deixam os meus, correndo
livremente sobre a curvatura do meu pescoço até meus seios, então abocanha
um, enquanto aperta o outro, usando o polegar para brincar com ele.
Seu pau imenso pula fora de sua cueca boxer branca da Calvin Klein
assim que ele se posiciona sobre mim, usando seus joelhos para me prender
no meio dele. TJ se inclina para fora da cama, alcançando uma camisinha no
criado-mudo, então a rasga com os dentes, colocando-a com tanta
praticidade que eu me pergunto, por um segundo, quantas vezes ele fez isso.
Centenas, com certeza, mas o pensamento não me deixa enjoada, pelo
contrário, me excita, porque isso lhe deu experiência. TJ pode ser egoísta e
imaturo às vezes, mas sabe usar seu pau como ninguém e, para mim, isso
basta.
Ele me penetra, fazendo com que eu deixe escapar um gemido
involuntário e conforme estoca, eu me agarro a ele com mais força, sentindo
cada músculo do seu corpo trabalhar. Tales sobrepõe seu rosto ao meu,
abocanhando meus lábios, conforme respira ofegante, roubando meu fôlego
e eu sorrio, correndo os dedos sobre o seu rosto então, por um segundo, eu
não apenas penso, mas desejo que seja Max e meu corpo trava. O que
inferno eu estou pensando?
— Isso não está funcionando. — Ele se afasta de mim, sentando-se na
beirada da cama.
Amo TJ e o simples pensamento de estar com outra pessoa, enquanto
faço sexo com ele, me faz sentir como se eu não o respeitasse como pessoa,
mas não é isso que está rolando ali, entretanto, eu não sei realmente o que
está acontecendo.
— Kyra, eu... — Ele passa as mãos no rosto.
Não sei o que ele está pensando, o que sente realmente por mim,
tampouco o que nosso relacionamento significa para ele.
— Sinto muito, TJ — me desculpo, porque já não sei quem é o mais
errado nessa história.
— Você... Porra, Ky, você me ama? — pergunta, apoiando a cabeça
entre as mãos.
Paro para pensar, por um segundo, apoiando meu queixo em suas
costas. A pele lisa, livre de tatuagens, é o que fisicamente o distingue entre
os irmãos.
— Sim, TJ, claro que sim.
Ele assente, mas permanece em silêncio.
— O que está acontecendo com você? — pergunto.
— Eu não sei — sussurra, antes de se levantar e deixar meu quarto,
ainda nu.

A mesa está posta, pratos, talheres e taças estão distribuídos sobre ela,
mas eu não sei se alguém além de mim irá comer, também não me importo.
A situação mudou, antes TJ e Ty não falavam comigo, agora apenas Ty não
fala, enquanto TJ age de uma forma muito estranha. Mas eu decido parar de
pensar no assunto, sei que, a partir do momento em que começar meu último
semestre na faculdade, eu terei bastante coisa para ocupar minha mente.
Coloco a travessa sobre a mesa antes de ir lavar as mãos na pia uma
última vez, aproveitando para espiar os meninos através da janela. Tales está
sentado em uma espreguiçadeira, enquanto Ty mantém suas costas apoiadas
na parede, uma perna dobrada, os braços cruzados sobre o peito, observando
Max trabalhar no motor do carro de TJ.
Atravesso a porta dos fundos, presa na imagem à minha frente,
Maximum está debruçado sobre o carro, suas costas tatuadas livres de
qualquer tecido. Sua regata branca, está enfiada no bolso de trás e, ao ouvir
meus passos, ele se vira para mim, retirando-a do bolso e passando ela no
rosto, limpando a graxa que cobre sua pele. Tales e Tyson me observam em
silêncio conforme me aproximo.
— Eu acabei de preparar algo.
— O que você fez? — TJ pergunta, ansioso.
— Macarrão com bacon e brócolis.
Os dois grunhem em uníssono.
— Por que você tem que pôr algo saudavelmente ruim no meio de algo
tão bom?
— Brócolis não é ruim.
— É sim — Ty concorda com o irmão, fazendo com que eu o encare,
surpresa por estar falando comigo. — Eu queria falar com você, Ky — ele
confessa.
Desvio meus olhos para os outros dois irmãos, TJ recebe uma ligação,
então ele ergue o dedo indicador, pedindo um minuto para mim, antes de se
afastar. Max parece um pouco descabreado com o pedido de Ty e eu me
pergunto por um momento, como ele foi criado. Ele é protetor demais,
esteve pronto para atacar quando Ty gritou comigo e depois me seguiu de
moto com medo de que eu andasse a pé nas ruas escuras a caminho do bar.
— Pode falar. — Cruzo os braços, ansiosa.
— Será que a gente podia...
— Fale logo, não é como se Max se importasse com a merda que você
vai dizer, afinal. — Faço minha melhor cara de tédio e Ty revira os olhos.
— Me desculpe.
— Uau! Alguém aprendeu uma nova palavra hoje — gracejo.
— Por favor, não me faça mandá-la se foder porque eu não quero me
sentir um idiota de novo.
— Você é um idiota, Tyson.
Ouço uma risada abafada e encaro Max, sustentando um pequeno
sorriso.
— Fora, Max. — Ergo as sobrancelhas, encarando Max deixar o pátio
com as duas mãos erguidas em um gesto de paz.
— Eu sinto muito, de verdade, Ky, eu...
— O que está acontecendo com você, Ty?
— Eu não sei... — Ele passa uma mão sobre a cabeça raspada, então a
desliza até sua nuca. — Eu... Porra, eu sinto que tô me afundando cada vez
mais.
Seus olhos verdes brilham, me encarando com intensidade, antes dele
desviá-los para o chão. Ty leva as mãos até o bolso da bermuda, retirando
sua carteira de cigarros, acendendo em seguida. Ele enche os pulmões de
fumaça, erguendo a cabeça e soltando-a em direção ao céu, enquanto nós
permanecemos em silêncio.
— Você conheceu alguém.
— Não... — ele responde.
— Não é uma pergunta, Ty. É uma afirmação.
Seus olhos encontram os meus novamente.
— Eu já a conhecia — confessa, desviando o olhar para o capô aberto
do carro.
Ergo as sobrancelhas, surpresa. É estranho ouvir Tyson falar de uma
garota.
— Vocês estão juntos?
Ele nega, mas há algo nessa resposta que me fez perceber que está
arrasado.
— É complicado — responde, jogando o cigarro no chão.
— É, sempre é.
— E o que vocês estão fazendo, afinal? — Ele aponta para mim e em
direção a casa e meu coração quase para de bater com a possibilidade de ele
estar citando Max, mas, quando olho para trás, percebo que TJ está na porta
de entrada e Ty se refere a ele.
— Nós estamos bem.
— Claro que estão. — Seus lábios se contraem em um pequeno sorriso.
— Se sua definição de bem é ficar sozinha na maior parte do tempo
enquanto seu namorado está pendurado em várias mulheres.
— Você está fazendo um péssimo papel de irmão.
— Você também é como uma irmã, Kyra. — Ele me dá um tapinha na
cabeça, sua forma mais carinhosa de expressar seus sentimentos.
— Então você está sendo um péssimo irmão para mim também.
— Eu sinto muito, Kyra, eu já falei... tenho estado...
— Se você precisar conversar, eu estou bem aqui, Tyson, mas a
próxima vez que falar comigo daquela forma, ou apenas pensar em jogar na
minha cara que eu estou aqui de favor e tudo mais... — atropelo as palavras,
ficando furiosa conforme me lembro da nossa pequena discussão. — Eu
apenas vou pegar minhas coisas e cair fora.
— Eu nunca deixaria você fazer isso.
— Você não tem que deixar nada. Pare de agir como um idiota e se
concentre em não tentar foder as coisas com a sua garota. — Viro as costas,
ignorando o fato de que ele mantém um maldito sorriso no rosto.
Passo por TJ, que ainda está no celular, entrando na cozinha e me
surpreendo com a cena à minha frente. Max está sentado à mesa, os
cotovelos sobre ela, o garfo cheio em frente à boca, enquanto o macarrão
desce como cascata até seu prato e ele tenta sugá-lo. Max me olha sobre os
cílios, seus olhos verdes brilham de excitação e um pequeno sorriso se forma
em seus lábios, o que o faz ficar ainda mais bonito.
— Por que está me olhando assim? — sussurro, entredentes.
Preciso acabar com isso que está acontecendo o mais rápido possível.
Depois de correr de Max por dois dias, preciso estar no mesmo ambiente que
ele e mostrar que sua presença não me causa ansiedade. Se conseguir provar
a Maximum que eu não sinto nenhuma atração por ele, talvez me deixe em
paz. Sento-me à mesa, à sua frente, me servindo de uma porção generosa.
— Por isso está correndo como uma maluca — diz com a boca cheia e
grunhe, fazendo uma expressão exagerada para sua falta de modos.
— Pelo amor de Deus, eu consigo ver o brócolis mastigado dentro da
sua boca!
Ele dá de ombros.
— Talvez devesse pegar leve no carboidrato antes de dormir.
Filho da puta!
— Eu não estou pedindo a sua opinião, Max.
— Okay, mas... — ele faz uma pausa, buscando as palavras certas — se
você controlasse a quantidade de calorias e massas que ingere, talvez
pudesse ter um pouco menos de gordura nas pernas e bunda.
Paro com o garfo no ar, a boca ainda aberta, conforme sinto meu rosto
ficar vermelho de raiva. Ele está tentando chamar a minha atenção; já que
não pode ser sexualmente, então está me fazendo ficar com raiva dele. E
olha só, está conseguindo, porque, por pouca coisa, eu já estou sentindo
vontade de cravar meu garfo em seu pescoço. Sorrio para ele, enfiando o
macarrão todo na boca, então falo, imitando-o:
— Dizem que apenas os maricas se preocupam com a gordura das
mulheres.
TJ entra na sala, rindo do meu comentário.
— Concordo — ele começa. — Homens gostam de carne, uma bela
bunda grande para bater.
Seu comentário exagerado me faz grunhir, mas eu estou contente com a
expressão de Max.
— Vocês são nojentos. — TJ aponta para nós dois, enquanto tira uma
lasanha congelada do congelador.
— O que é isso que você está pegando aí? — Ty entra na cozinha.
— Gordura trans — interfiro.
— Ótimo, também quero. — Ele aponta para o micro-ondas.
— E eu é que sou a nojenta.
Max concorda, fazendo um ruído com a garganta, enquanto come como
um morto de fome.
— Seja lá que substância cancerígena tenha aqui, é muito mais gostoso
do que brócolis — TJ comenta e reviro os olhos.
— Isso porque Deus foi generoso com suas genéticas. Vão se foder por
isso. — Mostro o dedo do meio com a mão livre, enquanto levo outro garfo
até a boca.
Ao elogiar a genética do meu namorado, esqueci-me de que Max
contém a mesma, cada traço e o maldito metabolismo que não o deixa
engordar, então praguejo internamente. Maximum se serve de outra
escumadeira cheia, ao mesmo tempo que bebe um copo de suco de laranja.
— E então, TJ, nada do seu pai? — pergunto.
Ele nega com um aceno.
— Ele volta em uma semana. Havia comentado sobre vir direto para cá
— responde, retirando a lasanha do micro-ondas.
Ty pega um garfo na gaveta e se senta ao lado do irmão.
— Vai se foder, Tyson! Faça sua própria comida. — Ele puxa a lasanha
para o lado na mesma hora em que Ty estica o braço na direção dela.
— Filho da puta! — Ty se levanta, indignado, abrindo o freezer para
pegar sua própria lasanha.
— É um inferno não saber o que realmente aconteceu — TJ comenta,
enquanto Ty se mantém de costas para o micro-ondas enquanto ele cozinha
seu jantar.
— Sim — concordo.
Conversamos sobre isso em outros momentos, mas não conseguimos
pensar em nada que justifique Max ter sido separado dos dois. A mãe deles
nunca teria feito isso, mesmo se tivesse achado que não daria conta deles,
porque quem cria um, cria dois, é o que ela sempre disse e eu tenho certeza
de que teria dito “Quem cria dois, cria três, se fosse o caso”, mas, então,
como ela não sabia que havia outro irmão? Talvez, quem sabe, Helena tenha
sido enganada por alguém.
Quem sabe alguém tenha mentido sobre um deles ter ido a óbito para
que pudesse roubá-lo. Não tem como saber disso enquanto o Sr. Jackson não
voltar, mas todos nós pensamos em um milhão de justificativas. E o mais
injusto, além do fato dele ter sido afastado dos irmãos e crescido sem o
contato que merecia, é saber que Helena morreu sem conhecê-lo. E, sempre
que eu me pego pensando nisso, minha mente vaga para outro caminho e eu
fico curiosa para saber mais sobre Max, porque até então, não contou muito
sobre ele.
— E como foi viver em orfanatos?
A pergunta de TJ faz meu peito se apertar, porque eu não sabia que
Maximum havia vivido em orfanatos. Nossos olhos se encontram, há algo
neles que eu não sou capaz de identificar. Talvez seja vergonha. Eu quero
apertar sua mão e dizer a ele que tudo ficará bem, mas apenas desejo que
interprete meu olhar e encontre nele o consolo que tento dar.
— Tão bom que eu fugi aos meus treze anos.
— Você o quê? — De repente, eu não sinto mais nenhuma vontade de
comer. — E você foi morar aonde?
— Na rua — Max responde, há tanto controle em sua voz que me
pergunto se ele ensaiou.
Ele leva outra escumadeira cheia até seu prato e eu me pergunto para
onde vai tanta comida. Será que gosta tanto de comer por causa do que
acabou de contar? Agora eu sei de onde vem tanta simplicidade. Ele recusa
protetor solar quando está na piscina, usa a mesma toalha de banho há seis
dias e come qualquer coisa que esteja sendo servida, enquanto Ty e TJ vivem
apenas do bom e do melhor.
— O que você comia? — Talvez minhas palavras tenham saído
estranguladas, eu não sei, mas já não enxergo Max da mesma forma.
— Eu me virava. — Ele permanece me olhando, sem expressão.
— Aos treze. — Minha voz é quase um sussurro.
— Sim. — Ele desvia o olhar quando percebe que eu não o farei.
— Sinto muito por isso, Max. — TJ coloca a mão em um ombro dele e
seu corpo enrijece, porque é muito provável também que não esteja
acostumado a ter pessoas se preocupando com ele.
— Tudo bem — responde.
Encaro Ty, comendo em pé em silêncio em frente ao micro-ondas, com
uma expressão séria, concentrado em seus próprios pensamentos. Me
fazendo querer ir até ele e lhe dar um tapa para que tire a cabeça que está
enfiada no seu próprio rabo e preste atenção em seu irmão perdido. Ele come
rápido, seus olhos fixos em sua comida, então joga o recipiente vazio sobre a
bancada e deixa a cozinha, sem que ninguém, além de mim, perceba. Sei que
algo está errado, só não faço ideia do quê.
Ela mal olha em minha direção achando que isso fará com que eu
acredite que não sente nenhuma atração por mim, mas é exatamente por isso
que eu sei que a estou afetando. Por seus olhos incrivelmente azuis como
uma maldita piscina estarem fugindo dos meus. Por ela corar todas as vezes
que eu a deixo com vergonha, o que parece ser todas as vezes em que eu
abro minha boca. Mesmo que um milhão de idiotices saia dela e depois eu
pragueje por agir como um idiota.
Ainda não sei o motivo dela agir dessa forma, quando na verdade eu
sou odioso como ele, o seu namorado. Não é nenhum tipo de atração pela
imagem em si, senão ela agiria dessa forma com Ty também, até mesmo
com TJ, na verdade. Suas pálpebras não se fecham involuntariamente
quando ele beija seu pescoço. Seus pelos não se arrepiam quando toca sua
cintura e não parece excitada nem mesmo quando suas mãos estão nele
também.
E só de pensar como ela reagiu ao nosso quase beijo, eu fico duro como
uma rocha. Porque, a cada passo em sua direção naquela noite, a fiz se
mexer ansiosa sobre o colchão, fiz sua respiração perder o ritmo, seus olhos
se fecharem em um piscar de olhos lento, arrastado, como se flutuasse, se
perdendo em mim, sem sequer estarmos nos tocando. Por isso eu sei, ela não
ama TJ, não como deve.
Mas, por que diabos eu estou tão obcecado em uma garota? Não faço
ideia, nunca tive um relacionamento e nunca desejei estar em um. Não faz
sentido para mim que uma garota me atraia tanto. Talvez o fato de nossas
bocas terem sido feitas uma para a outra faz com que eu a deseje tanto. Ou
quem sabe foi sua puta má educação atendendo a porta naquela noite. Não
tenho como saber, apenas sei que ela não é qualquer garota, além de fazer
um ótimo macarrão com bacon e brócolis.
De qualquer forma, eu ainda não sei como me sentir com relação a tudo
o que aconteceu nos últimos dias, desde a morte repentina de Steven – que
eu sinto uma puta falta –, o beijo de recepção da Kyra e o fato de agora ter
uma família. Eu ainda não posso fazer julgamentos, não sei o que aconteceu
para que eu parasse em um maldito abrigo, mas meu peito aperta por saber
que minha mãe está morta. Não há nenhum conforto em saber que eu nunca
a conhecerei, que eu fui o bebê que foi abandonado.
Podia ter sido Tyson, Tales, mas fui eu. Eu fui a criança desgraçada,
fadada a todo o sofrimento que passei, pulando de lares adotivos, sendo
enganado, iludido. Eu sou a porra dos três que não sabe pegar em um garfo,
segurar uma taça ou escolher uma roupa. Eu apenas sou quem sou. Alguém
que vive às sombras de outra pessoa, sempre. Tanto nos lares, quanto depois,
com Steven e, naquele momento, com meus irmãos Ty e TJ.
Eu vivo às suas sombras, às suas custas, não sei o que fazer, para onde
ir. Sequer sei quem eu realmente sou. Parte minha quer seguir em frente,
todos os dias. Pegar minha Harley e partir, sem olhar para trás, mas a outra,
que me deixa atormentado, é composta por um cara que eu não conheço e
por sentimentos que não lhes são comuns. Esse cara quer ficar, criar raízes e
ter uma família. E a sensação me causa desconforto, porque eu odeio criar
expectativas.
As expectativas me transformaram em um cara frustrado; cada novo
maldito casal indo me visitar, sorrindo para mim, me levando para passear,
apenas para depois escolher alguém que ainda não tinha memórias, que
podia começar no zero, alguém muito mais novo do que eu. Até o dia em
que parei de desejar aquilo, já não me importava se era perseguido por outras
crianças que não iam com a minha cara, por regras demais que não faziam
sentido, pela falta de amor e o vazio que era dormir em um quarto cheio e
mesmo assim se sentir vazio.
Então fugi, e dez anos depois, lá estou eu, dentro de uma casa, que
supostamente é minha, vivendo com duas pessoas que são a minha família e
mesmo assim, sendo o filho da puta que eu sou, desejando a garota do cara
que abriu as portas para mim, que me deu um teto e uma cama para dormir.
Mas eu não consigo, sinto culpa por querer beijá-la de novo, mas não tem
nada a ver com o fato de termos química. Um puta beijo perfeito que durou
apenas dez segundos.
Estou me confortando com meus falsos diálogos internos que dizem
que eu não estou fazendo nada de mais, porque ainda não fizemos nada de
errado, mas então minha consciência salienta o ainda e eu reavalio a
situação até me dar conta de que eu realmente sou um merda. Não é nada
novo para mim, afinal, mas é a primeira vez que me faz sentir como se eu
realmente estivesse agindo da forma errada. Mesmo assim, ainda não é o
suficiente para que eu pare, então solto um pequeno risinho quando ela passa
por mim, usando um top que mal cobre seus seios fartos, um short que
arrebita ainda mais sua bunda e um tênis de corrida.
Ouço seus passos cessarem imediatamente e sorrio satisfeito, sem que
ela possa ver meu rosto.
— Do que está rindo, idiota? — ela resmunga entredentes, passando a
mão nos pequenos fios curtos que seu rabo de cavalo não foi capaz de
prender.
— Sempre cordial — comento, virando-me para continuar trabalhando
no motor do carro de um amigo de Ty, que quebrou.
— Por que é que você tem de estar sempre enchendo a porra do meu
saco?
Eu não consigo desmanchar o sorriso em meu rosto e aquele negócio de
estar sempre rindo ou morrendo de raiva quando estou com ela me deixa
alucinado.
— Nada — respondo, fingindo não estar prestando muita atenção nela,
enquanto também finjo que estou concentrado no meu trabalho.
— Certo, então pare de ficar com esse maldito sorriso no rosto — ela
diz após me contornar, encostando seus quadris na lateral do carro, os braços
cruzados sobre os seios fartos.
Ela limpa a garganta exageradamente chamando a minha atenção do
que há por trás do tecido do seu top de corrida.
— Okay, tudo bem. — Aponto com uma chave de roda em direção ao
caminho que ela faz até o portão. — Pode ir para a sua corrida.
Kyra grunhe de raiva, enquanto seu rosto branco como a neve cora
como o vermelho do fogo do inferno.
— Sim, é isso que eu vou fazer — afirma, entredentes antes de se virar
para sair, mas torno a chamar sua atenção.
— Você ainda está tentando se livrar de todo aquele carboidrato com
brócolis?
Ela para de andar e se vira para mim, pegando-me com os olhos
grudados em sua bunda e um pequeno sorriso satisfeito se forma em seus
lábios.
— Parece tão ruim para você que eu esteja acima do peso?
— Parece — respondo, mesmo sabendo que ela sabe que eu estou
mentindo.
— É por isso que não tira os olhos dos meus peitos e da minha bunda?
Por que você acha que é resultado do excesso de carboidrato e tudo mais?
O que ela não sabe é que eu não sou capaz de tirar os olhos dela por
completo e não somente desses dois lugares. Seus olhos são adoráveis,
naquele tom de azul que faz parecer que reflete o oceano. Dos seus lábios
grossos e bem desenhados, das maçãs do seu rosto que são marcadas de
modo que a faz parecer ainda mais sexy e do seu nariz arrebitado que a deixa
com um ar de briguenta, o que combina muito com sua personalidade.
— Sim, é exatamente por isso — respondo. — E porque você é gostosa
com tudo isso que está tentando se livrar com uma única corrida por semana.
— Eu não tenho tempo! — Eu não sei se estou surpreso por ela ter
ignorado meu comentário ou por estar gritando comigo.
— Eu não estou dizendo que você tem.
— Como você consegue ser tão irritante? — Passa as mãos pelos
cabelos novamente, mas eu não sei se é porque realmente a estão
incomodando ou porque está estressada comigo.
Prefiro a segunda opção.
— Sabe... — Kyra cruza os braços novamente. — Eu quase senti pena
de você, por tudo o que passou e tal.
Sinto os músculos do meu rosto murcharem e o pequeno sorriso que eu
sustento deixou de existir. Viro-me novamente para o motor do carro, sem
lembrar exatamente o que devo fazer, apenas porque sei que ela permanece
atrás de mim. Eu odeio o sentimento de pena. Posso dizer que quem me
conhece realmente sabe o quanto eu odeio, o problema é que ninguém me
conhece de verdade.
— Pena é o pior sentimento que você pode sentir por alguém. — Jogo a
chave de roda na caixa de ferramentas e o barulho que ela faz ao se chocar
com as outras, corta nosso silêncio agonizante.
— Desculpe, Max, eu... não quis dizer isso.
— Sim, você quis, mas tudo bem. Apenas continue. — Aponto para o
portão novamente.
Por que eu estou tão puto? Por que eu me sinto tão ansioso e agitado
perto de uma garota? Foda-se, em poucos dias estarei pulando fora e Kyra,
aquecendo minha cama ou não, será apenas uma na porra da minha lista.
— Max, eu sinto muito. Eu sei que você realmente passou por muita
coisa e...
— Não — interrompo-a. — Você não sabe.
Passo a minha regata branca surrada sobre o rosto, limpando a sujeira,
antes de jogá-la sobre a caixa e, pela primeira vez, seus olhos não correm
sobre minha pele desnuda, eles se mantêm fixos no meu rosto. Kyra abre a
boca para dizer algo, mas a fecha em seguida. Posso sentir seu pesar apenas
olhando em sua direção por cinco segundos, mas eu odeio aquela expressão.
As sobrancelhas levemente arqueadas, a linha proeminente entre elas. Os
lábios apertados, o olhar de piedade. Um pacote completo de falsa
compaixão.
Ouço o movimento do seu corpo, conforme ela se afasta de mim e
praguejo mentalmente por ser um cara que fode qualquer diálogo, qualquer
pequena coisa boa que conquisto, mas o problema maior nem é aquele, é
que, na verdade, não há nenhuma conquista ali, porque ela não é uma garota
livre, eu não posso flertar com ela, nem desejar fodê-la loucamente como
estou fazendo, porque ela é a porra da namorada do meu irmão.
Eu estou ansiosa, nervosa e com raiva, mas não tem nada a ver com a
garota que está pendurada em TJ, que, aliás, é a mesma do final de semana
passado, mas sim porque Max está com alguém. Eu estou com tanta raiva
que sou capaz de sentir meu rosto inteiro arder, pinicar, enquanto meu
coração bate rápido demais por causa do meu nervosismo desenfreado e sem
sentido.
É a primeira festa que ele participa e interage realmente. Maximum está
sentado de lado em uma espreguiçadeira, as pernas para baixo, enquanto a
garota permanece sentada entre elas, no chão. Ele parece alheio, olhando
para o nada, bebericando sua cerveja, mas os movimentos despercebidos que
faz enquanto pressiona o pescoço da garota é tão quente e íntimo que me faz
aquecer por dentro. Seus dedos longos correm pela pele desnuda dela,
erguendo seu queixo de forma sexy e eu me pergunto o que ele é capaz de
fazer com suas mãos quando estiver desperto e prestando realmente atenção
em seus atos.
Quando o rosto da garota se vira em minha direção, eu a odeio pela
primeira vez. Nunca tive nenhum problema com Cami, pelo contrário, gostei
dela desde a primeira vez que a vi, mas, naquele momento, entre as pernas
de Max, eu sinto vontade de arrancá-la de lá aos socos e pela maldita
primeira vez também, a mensagem de Lizzie faz sentido para mim, o que
parece ser uma puta loucura por dois motivos: o primeiro, é que ele é meu
cunhado; e segundo, é que eu o conheço há apenas dez dias.
Ela acena para mim e os olhos de Max encontram os meus, mas ele não
sorri para mim, nenhum maldito sorriso irritante, nem sequer convencido;
ele apenas me encara por três longos segundos antes de voltar a movimentar
sua mão, agora correndo sobre o ombro de Cami, fazendo-a olhar para cima
e dar um pequeno sorriso íntimo demais, que é retribuído. Ele sorri para ela,
mas não da forma irritante que faz para mim, é outro tipo de sorriso, um
gentil, complacente.
É humilhante saber que TJ está tão concentrado em outra garota que
não seja eu, mas humilhante pelos motivos errados e outra vez, eu cogito
voltar, mas eu me vejo acenando de volta para Cami, conforme me aproximo
de todos eles. McCarter se vira para trás, acompanhando o sorriso de
Camille e Joshua o acompanha, sorrindo para mim também. E mesmo que eu
esteja cansada por ter acabado de chegar do bar, e tenha feito planos que
envolvem um cobertor e um ar-condicionado, eu sigo caminhando até eles,
sentindo o calor me atingir, conforme eu sinto o suor escorrer em minhas
costas e seios.
TJ se vira para mim, se afastando da garota na qual conversa, de forma
abrupta, como se acabasse de ser descoberto e odeio ouvir Brad soltar um
risinho logo ao lado dele. O que eu realmente sou para aquelas pessoas? De
fato, nunca me perguntei até aquele momento, mas estou fazendo a cada
novo passo em suas direções. Pulo uma grande ponte que divide meu eu
popular que todos amam, e meu eu reservado que se afastou dos amigos
depois do high school4 e que todos passaram a tolerar.
Porém, o que eu realmente gosto mais? Ser o centro das atenções ou
não ser notada por ninguém? Provavelmente a segunda opção, mas por que
eu me sinto dessa forma? Como se além de estar fazendo algo errado,
também não estou me encaixando naquele lugar, nem em qualquer outro. TJ
caminha em minha direção, passando seu braço pesado sobre os meus
ombros, enquanto beija minha bochecha e eu me pergunto por que diabos ele
não me beijou na boca, como sempre faz. O que fizemos com nossa
amizade? Nós somos unidos, abertos e espontâneos e agora nos tornamos um
casal, no mínimo, esquisito.
— Ei — TJ me cumprimenta. — Essa é a Jenny, ela é prima do
McCarter.
— Oi, é um prazer conhecê-la. — Ela estica a mão, as unhas compridas
em um tom perfeito de vermelho.
Olho para ela, tentando avaliar se estendo minha mão e a cumprimento
e passo por idiota, ou se a ignoro e passo por idiota também. O que me fará
menos idiota, afinal? Não faço ideia, então estendo a mão em sua direção.
Minhas unhas curtas, pintadas de preto, descascam pelo uso excessivo da
água no bar.
— Oi. — Puxo minha mão o mais rápido que posso e limpo na lateral
do meu vestido canelado sem que ninguém perceba.
— Olá. — Os outros me saudam em uníssono, e ergo a mão no ar,
tentando cumprimentar a todos de uma única vez.
Maximum sequer olha na minha direção.
— Sobre o que estão conversando? — pergunto de forma natural, mas
TJ me conhece melhor do que isso.
Ele é meu melhor amigo. Sabe que eu estou prestes a ser uma filha da
puta e mandar os dois se foderem – ou foderem um ao outro – na frente de
todo mundo.
— Sobre tudo.
— Nada de mais.
Os dois falam ao mesmo tempo e ergo as sobrancelhas.
— Decidam.
— Sobre tudo e nada ao mesmo tempo — TJ se adianta.
— Legal. — Caminho até a roda de amigos, pegando uma cerveja no
cooler. — Continuem. — Sento-me ao lado de Max e Cami, e aponto para
TJ e sei lá como diabos ela se chama.
— E então, McCarter, qual é a do sorrisinho? Está se divertindo
também com meu namorado egoísta ou você só é um idiota?
Ouço Max suspirar ao meu lado, mas não o encaro. Dou alguns goles
na minha bebida e ela se mistura ao drink com vodca que eu fiz antes de
deixar a casa.
— Não me mete nessa, Kyra.
Ugh!
— Você realmente está se divertindo, não é? Por que não conta ao TJ
que tentou entrar nas minhas calças há dois meses?
— Que porra você está falando? — TJ pergunta entredentes.
— Então agora você se importa? — solto uma risada incrédula,
desejando internamente que eu pare de fazer isso, mas não consigo.
— Saia da minha casa, porra! — meu namorado grita para o seu amigo.
— Não me faça esmurrar sua cara de merda!
— TJ — a garota o policia, segurando seu ombro.
— Isso, escute ela, Tales — incentivo-o, odiando-me por estar dando
vexame.
— Kyra, não faça isso — Cami sussurra no meu ouvido e eu a ignoro.
Não sou capaz de encará-la, uma vez que ela parece a pessoa mais
sensata desse círculo.
— Saia. — Ty puxa McCarter pelo colarinho e eu me pergunto de qual
buraco ele saiu. Ele acerta um soco no nariz perfeito do amigo e eu pulo na
direção deles.
— Porra, Ty! — resmungo. Eu realmente não quis começar uma briga.
— Eu não estava realmente dando em cima dela — Gregori McCarter
se defende.
— Você está chamando a Ky de mentirosa, porra?
— Deixe-o ir, Ty — peço e ele finalmente o larga e o ato repentino faz
com que seu corpo magro cambaleie para trás.
— Filhos da puta... — Gregori murmura, enquanto caminha em direção
a saída.
Ty respira profundamente por um segundo, então me encara. Eu o
conheço o suficiente para saber que ele está se certificando de que eu ficarei
bem e, ao encontrar um pequeno sorriso no meu rosto, ele assente e sorri de
volta, antes de voltar para onde diabos saiu. Tento controlar minha
respiração, segurando a garrafa de cerveja como se minha vida dependesse
dela, então me afasto deles.
— Kyra? — A voz de TJ atravessa o espaço que nos separa, mesmo
que o som esteja alto.
Viro-me para ele, ergo a minha garrafa e grito em sua direção:
— Você está livre, Tales. Boa noite.
Eu conheço todas as suas expressões, quando está furioso, cansado,
estressado, feliz, zangado e enciumado. Portanto, eu não preciso estudá-lo
por muito tempo para saber que o sentimento que o domina naquele
momento é de alívio. TJ está se sentindo aliviado por ter rompido com ele.
Então, por que eu não me sinto derrotada ao constatar isso? Devia estar aos
prantos, gritando com ele no meio da festa, mandando-o se foder ao mesmo
tempo que desejo que vá para a cama comigo. Mas não. Eu não quero TJ,
apenas desejo estar debaixo dos meus lençóis e descansar para o meu turno
no dia seguinte.
Subo as escadas, soltando o coque apertado que fiz no topo da minha
cabeça, conforme sinto meus cabelos caírem até o meio das minhas costas,
agradecendo o fato de que não preciso parecer melhor do que ninguém,
melhor do que isso, de não me sentir obrigada e estar bem, pela primeira
vez. Seco a lágrima solitária que corre sobre o meu rosto. Não estou
exatamente triste por Tales, e sim, por nossa amizade. A grande merda de
arriscar estar em um relacionamento com um de seus melhores amigos é
que, se não der certo, você perde em dobro.
Esfrego o rosto, não me importando com a bagunça causada pela
mistura das lágrimas com o rímel. Provavelmente eu dormirei dessa forma,
uma vez que não quero perder mais nem um minuto dessa noite de merda,
então é muito provável que eu não passe um tempo com meu removedor de
maquiagem. Mas, ao chegar em frente à primeira porta do corredor, onde é o
quarto de Max, uma mão segura meu antebraço e me arrasta para dentro.
Ele não parece ter um segundo plano enquanto me prensa contra a porta
fechada do seu quarto. Suas sobrancelhas se unem confusas e sua boca se
curva em um pequeno sorriso, uma covinha se aprofunda graciosamente na
bochecha. Segura o meu rosto com a ponta dos dedos, passando o polegar
sobre minha pele, juntando uma lágrima solitária.
Desvio meus olhos para baixo, em seu pescoço, tentando evitar o
pacote de perfeição que é seu rosto, mas acontece que eu não estou longe de
sentir atração por aquela região do seu corpo também, uma vez que ela é
coberta pelo desenho de uma flor de lótus que escondem uma pele perfeita.
Vejo-me totalmente perdida quando ele me surpreende com um abraço
apertado, sua mão direita segura minha nuca, enquanto a esquerda aperta
minha cintura. Posso senti-lo por toda parte, nossas pernas entrelaçadas, os
quadris, minha barriga colada à sua, meu rosto em seu peito, sua boca em
meus cabelos.
Meu coração bate forte demais, e o dele não está tão diferente. Sou
capaz de ouvi-lo bater tão rápido e forte quanto o meu. Deslizo minhas mãos
até a bainha da sua camiseta e enrosco meus dedos nela. Sinto que estou
prestes a desmoronar, mas não é por ter rompido meu relacionamento com
TJ.
— Me desculpe pelo que eu disse a você...
— Tudo bem, Oklahoma. — Seus olhos verdes brilham de uma forma
surreal.
Um pequeno sorriso se forma em meus lábios ao mesmo tempo que eu
luto para me afastar dele, sentindo a sua falta iminente.
— Realmente não quis agir como uma cretina.
Seus olhos estão presos aos meus e um sorriso dança em seu rosto,
fazendo-o parecer um menino.
— Você já apontou uma arma e um spray de pimenta para mim, então
acho que vou superar um comentário idiota.
Eu rio.
— Às vezes, algumas palavras ferem mais do que um ato de violência.
— Apenas quando elas são ditas para realmente ferir alguém, o que eu
sei que não é o seu caso. Você não é essa pessoa.
— Você sequer me conhece, Max. Você chegou há tão pouco tempo e...
— Às vezes, eu sinto que a conheço desde que nasci.
— É como me sinto também, mas no meu caso faz mais sentido.
— Por quê? — pergunta, curioso.
Max se senta na beirada da minha cama, as pernas abertas, os ombros
um pouco caídos, sentindo-se confortável trancado no quarto comigo
enquanto uma festa acontece lá embaixo.
— Porque cresci com Ty e TJ, então é como se também fosse você. Não
sei se faz sentido.
Ele desvia o olhar.
— É estranho descobrir que outras duas pessoas são idênticas a você —
confessa, passando a mão na bagunça que está seu cabelo mal cortado.
— Nem consigo imaginar.
Ele cruza os braços sobre o peito, e a única coisa que eu consigo pensar
é que os quero em volta de mim, mas o pensamento de estar com Max me
deixa louca. Ele faz meu estômago se contorcer e minha respiração
desregular apenas em olhar na minha direção. Como é possível que em tão
pouco tempo ele possa ser capaz de me fazer odiá-lo e adorá-lo com tanta
força? Talvez eu esteja mesmo vivendo uma maldição.
— Olha só para nós, nem estamos brigando. — Ergo as sobrancelhas,
sugestivamente.
— Isso porque estamos conversando há três minutos.
— Talvez.
— E porque você nem está me fazendo fugir de você. — Meu rosto
aquece.
Eu me viro de costas para que ele não me veja corar, então caminho até
o banheiro, sentindo meu estômago se contorcer com a imagem dele nu.
Deus, por que ele mexe dessa forma comigo? Acendo a luz e quase morro de
vergonha ao ver meu rosto todo manchado pelo rímel. Só pode ser
brincadeira que Max viu isso.
Inclino-me sobre a pia, lavando o rosto, retirando toda a maquiagem e
depois o seco na toalha jogada sobre o mármore. Tudo cheira a ele, assim
como cada metro quadrado desse quarto. Aproveito para passar o olho sobre
cada maldito detalhe. Não é exatamente como se ele morasse ali, tudo está
organizado, sua pasta de dente ao lado de um barbeador, ao lado de um
xampu que não fica dentro do boxe. Como se a qualquer momento ele fosse
enfiar tudo na mochila e sumir. Por que o pensamento de Max partindo me
causa uma sensação tão ruim?
Arrasto o pufe similar ao que eu tenho no meu quarto até a frente da
cama e me deito sobre ele. Ainda não estou disposta a deixar o quarto,
mesmo que pareça errado estar lá com ele. É estranho estar sendo consolada
por uma pessoa que tem exatamente o mesmo rosto daquela que me magoou.
Não que eu culpe apenas TJ pelo nosso relacionamento fracassado, eu
também tenho culpa, e não é por ter acabado, é porque nem devia ter
começado.
— Você fica muito melhor sem todas aquelas coisas. — Sua voz corta o
silêncio que preenche cada espaço do quarto.
— Ninguém além da Blanca Suarez fica linda com rímel escorrendo em
seu rosto.
— Não estou falando sobre aquela coisa preta, estou falando sobre a
maquiagem que usa todos os dias.
Eu o encaro curiosa.
— Claro, você já bebeu sua cota de álcool para não enxergar meus
poros gigantes. Além disso é de noite, está escuro aqui.
— Posso acender a luz e olhar você perto o suficiente e sei que não vou
mudar de ideia.
— Não, é melhor você ficar bem aonde está — atropelo as palavras.
Não posso deixá-lo se aproximar demais, mas também não consigo me
afastar. Max solta uma risadinha, que me faz sorrir de volta. Ele usa uma
bermuda jeans rasgada na bainha e uma regata preta, cavada, que quase
nunca tira. Suas duas pernas são cobertas por desenhos, mas está escuro o
suficiente para que eu possa enxergar com exatidão o que são. Também não
quero perguntar demais, quero saber sobre ele tanto quanto sinto que não
posso.
Ele está com os cotovelos sobre as coxas firmes, a cabeça inclinada
para mim. Uma mecha de cabelo cai sobre a sua testa, de modo que é capaz
de tocar a ponta do seu nariz. Tudo nele é perfeito, intacto, mesmo que seja
tão bruto. Seu maxilar é marcado, másculo, suas sobrancelhas escuras e
grossas, mas sua pele é tão limpa e suave que me causa inveja. Max é igual
aos seus irmãos, mas há algo que o torna muito diferente, como se ele fosse
o mais bonito dos três.
— Você não pode ficar correndo seus olhos sobre mim dessa forma e
depois pedir para que eu não chegue perto. — Seu sotaque é tão foda e
bonito como ele.
— Eu estou com a cabeça longe — minto.
— Entendi.
Ele não ficaria tão decepcionado se lesse mentes.
— Você o ama? — Sua voz corta o silêncio que preenche cada espaço
do quarto.
— TJ? — pergunto desesperada. Afinal, quem mais era?
— Sim, o TJ.
— Sim.
Ele assente enquanto parece avaliar minha resposta.
— Você o conhece desde o elementary school, certo?
— Hum-hum... Isso.
Então ele sorri, revelando seus dentes perfeitos, contornados por uma
boca que também é um pecado de tão perfeita. Tão grossa e bem desenhada
que eu posso jurar que foi moldada.
Deus era tão injusto.
— Você está confusa, se agarrou ao que acha que sente por ele.
— Você é psicólogo agora?
— Não, sou apenas a porra de um mecânico fodido e sem cliente.
Eu me obrigo a rir.
— Talvez você seja um péssimo mecânico.
— Ou talvez eu tenha abandonado todos os meus clientes para estar
aqui.
Por um momento, eu me esqueci de que Max havia mudado de estado.
Deve ser difícil para ele ter deixado sua vida para estar aqui.
— Eu amo o Tales, nós tivemos um bom momento juntos, nos
apaixonamos, ou sei lá o quê, mas não rolou.
— Talvez você acredite que estava apaixonada, mas era apenas a
imagem em si e tudo mais, você sabe, ele é muito gostoso e tal.
Dou uma gargalhada tão alta que parece um animal sendo estrangulado.
— Você só pode estar brincando. É fácil para você dizer isso já que é
nada menos que seu irmão gêmeo.
— Obviamente. Só estava esperando o momento em que você confirma
que ele é gostoso.
— Para que possa olhar para mim com um ar de arrogância por eu ter
confessado que acho você gostoso.
— Você acha? — insiste, com um sorriso enorme.
Nem mesmo TJ sorri tanto como ele o faz naquele momento.
— Eu acho que você é insuportável. Apenas. — Cruzo os braços sobre
os seios, me afundando ainda mais no pufe.
— Mas estou certo sobre TJ. — Ele deixa de sorrir. — E sobre eu ser
gostoso.
— Sim, você está — confesso.
Um sorriso diabólico corre sobre seu rosto.
— Está certo sobre o que disse sobre meu relacionamento com TJ.
Talvez eu tenha confundido tudo.
Ele assente.
— Ele era um namorado de merda, de qualquer forma.
— Apenas porque não me amava da forma correta — o defendo, apesar
de tudo.
— Você é leal. Eu gosto disso. — Sua voz se torna um pequeno
murmúrio pesado e arrastado.
— É, eu sou — reforço.
— Então por que não disse a eles sobre o que eu carrego na mochila,
Oklahoma?
Está aí uma boa pergunta. Eu não sei exatamente o que me fez omitir
aquele pequeno detalhe. Confio suas seguranças em Max, posso sentir que
ele não está lá para ferir ninguém, por isso não vejo problema em fazê-lo,
mas não consigo saber por que havia escondido isso deles.
— Não acho que seria necessário fazer um alarme por pouca coisa.
— Falou a garota que apontou a arma no meu peito e ameaçou atirar.
Sorrio, lembrando-me da cena. Mal posso imaginar que fiz isso.
— Me desculpa por isso.
Max puxa meus pés para seu colo e meu coração acelera, ele começa a
massageá-los fortemente e eu quero gemer, mas me contenho. Não quero
deixar isso sugestivo. Um gemido involuntário pode ser um grande problema
entre nós.
— Eu já superei. — Max parece tão concentrado nos meus pés que
agradeço o fato de estar com as unhas feitas e limpas.
— E então, o que me diz sobre ter mentido sobre a carona?
— Como sabe que eu menti?
Ele sorri, ainda observando suas mãos massagearem meus pés.
— Tenho uma puta audição, mas você deve saber sobre isso também,
uma vez que conhece cada traço meu.
— Sim eu conheço. — No desespero de desconversar sobre a carona,
acabo me metendo em responder uma pergunta ainda pior.
Meu rosto cora. Obviamente eu levo aquela questão para o lado
pessoal, pensando no belo pau que eu sei que ele tem.
— Eu não estava falando sobre Maximum.
— É estranho você apelidar seu membro com o seu nome.
— Não quando faz sentido. — Um pequeno sorriso surge em seu rosto,
enquanto diminui o aperto, até que ele para, as mãos apoiadas nos meus pés.
Eu não quero que ele pare.
— Boa noite, Max. — Eu me levanto.
É minha hora, eu sei, está ficando estranho demais, ou estranhamente
bom demais. Mas eu não posso fazê-lo, não posso dar margem àquilo. Não
faz sentido que esteja deixando TJ e iniciando um lance esquisito com Max,
que é igual a ele. Eu estou partindo em poucos meses, afinal, então a única
coisa que deve me manter ocupada nos próximos dias são os planos que eu
estarei fazendo para o futuro.
— Kyra?
A voz de TJ penetra meu quarto através da porta fechada e, pelo seu
tom brando, ele quer conversar. São sete da manhã e há apenas uns cinco
minutos que todas as vozes cessaram e soube que a festa acabou. Eu mal
preguei o olho até então. Arrasto meus pés para fora da minha cama de
solteiro, respirando fundo. Não sei como ter aquela conversa com TJ, mas
sei que preciso dela. Sinto demais por ter deixado tudo isso chegar aonde
está, sinto por mim, por ele, por nossa amizade.
— Entre! — grito de volta.
A porta se abre, ele parece péssimo, não pessimamente bêbado, apenas
péssimo e ponto. Um pequeno sorriso cauteloso surge conforme se aproxima
e sua aproximação moderada me faz ter certeza de que ele havia
compreendido o nosso término. Mesmo assim, ele esperou a festa acabar
para termos nossa conversa. Eu nunca havia de fato estado em primeiros
planos, não sei por qual razão ainda estou surpresa.
— Eu apenas sinto que precisamos ter uma conversa — confessa,
passando a mão no pescoço.
— Sim, desde a hora que nós tivemos nosso pequeno momento ou você
começou a sentir quando todos partiram e se viu só?
Ele une as sobrancelhas, avaliando o que eu acabo de dizer.
— Eu não sabia o que dizer exatamente. — Ele se senta no chão, bem à
minha frente, as pernas cruzadas, então inclina seu queixo para mim.
— E o que mudou? Sua prostituta lá embaixo foi embora?
As palavras saem amargas da minha boca. A quem eu quero enganar?
— Deus, Kyra, ela é apenas uma amiga!
— Sim, nós também éramos.
Ele deixa escapar um suspiro pesado.
— Sim, e fodemos tudo.
— Claramente. — Cruzo os braços sobre os seios, me sentindo
incomodada por estar sem sutiã, mesmo que ele esteja cansado de me ver
nua.
— Você está bem com isso? — pergunta e eu assinto. — Tudo bem,
apenas para verificar.
— Tudo bem...
— Sabe, quando eu perguntei se você me amava, você disse sim, mas,
apenas quando eu tive meu momento para refletir a respeito, eu percebi que
nos amamos loucamente, mas não mais do que como amigos.
— Eu sei — sussurro, desviando meu olhar. — Eu sei, TJ. Eu amo
você, e realmente não quero que o que tivemos estrague tudo o que éramos.
Sinto uma lágrima escorrer sobre minha bochecha e ele se levanta,
ficando de joelhos à minha frente, pronto para secá-la. Tales segura meu
rosto com as palmas de sua mão e sorri para mim, colando sua testa a minha.
Seguro seus punhos e deixo que o choro escape, em uma mistura de alívio,
medo e pesar.
— Eu amo você.
— Eu também amo você.
Puxo-o para um abraço apertado, agradecendo ao fato de nenhum de
nós dois sairmos feridos disso.
— Essa casa vai ser um inferno quando você for embora — confessa e
meu coração afunda.
— Minha vida vai ser um inferno sem vocês dois, TJ.
Assim que as palavras deixam minha boca, eu percebo que não são
apenas dos dois que eu sentirei falta.

Eu estou na minha terceira xícara de café, prestes a ir para um longo


turno de trabalho, mas não consigo mover meus pés. Em pé, na cozinha,
olhando através da janela, a única coisa que eu consigo fazer é manter meus
malditos olhos em Max, sem camisa, debruçado sobre o capô de um carro.
Queria que Deus tivesse me dado metade da beleza que deu aos irmãos
Jackson, mas, em vez disso, ele fez três deles.
Depois de passar uma água na xícara, ainda com os olhos presos na
imagem à minha frente, me obrigo a deixar a cozinha, preciso ir logo se não
quiser chegar atrasada e com Ty e TJ sabe Deus onde, eu não tenho um
carro, por isso estou saindo meia hora antes. Não que eu me importe com
isso, afinal, tenho tudo o que eu preciso a minha disposição e o fato de não
ter um carro não é algo que me faz querer chorar.
Sigo em direção à rua, nos vimos três vezes ao longo desse dia, mas em
nenhum momento trocamos mais do que duas palavras. Não sei explicar,
mas me sinto como uma trapaceira por sentir algo por ele, como se fosse
algo que eu posso evitar. Mas não é, eu gosto de Max, de quem eu sou
quando estou com ele. Gosto, sobretudo, de sua simplicidade.
E, a cada novo passo, eu me sinto mais ansiosa, embora ele sequer
tenha percebido minha presença até aquele minuto. Max ainda permanece
com o abdômen apoiado na lataria quando me encara entre suas costelas e
braço e muito embora a imagem de seu rosto esteja limitada devido a sua
posição, eu posso perceber um pequeno sorriso brincar em seu rosto.
— Por que está rindo? Eu nem estou usando um tênis nem nada, não é
como se eu estivesse saindo para correr.
— Olá, Oklahoma. — Ele se vira para mim, apoiando a curvatura das
costas no carro, os braços cruzados sobre o peito.
— Você vai mesmo continuar me chamando assim? — Enfio as mãos
nos bolsos traseiros do meu short jeans.
— Isso incomoda você?
Não...
— Sim.
Seu sorriso alarga e me pergunto o que ele ganha tirando sarro de mim.
— Vai começar com nosso lance de novo? Achei que ontem à noite
você tivesse erguido a bandeira da paz.
— Eu gosto desse nosso lance.
Uma mecha grande cai sobre seu rosto e ele não a retira. Eu me
pergunto se a mantém apenas porque sabe que o deixa ainda mais sexy.
— Fique aí brincando de carrinhos, porque alguém precisa trabalhar de
verdade.
Suas sobrancelhas se erguem em diversão. Ele gosta quando eu entro no
jogo porque é um tremendo filho de uma puta! Que Deus tenha a senhora
Jackson!
— O que acha que estou fazendo aqui? — Coça o queixo, deixando
graxa onde toca.
Ergo a mão por impulso, limpando o local. Posso sentir sua pele em
toda a extensão dos meus dedos, como se houvesse uma eletricidade sob a
palma da minha mão, algo que acontece sempre que nos tocamos. Um
sorriso largo se forma em seus lábios, me obrigando a dar dois tapinhas na
lateral do seu rosto antes de me afastar.
— Confessa, Kyra, você não consegue manter suas mãos longe de mim.
— Acredite, eu estou cansada de tudo isso. — Uso meu indicador para
contorná-lo. — Nada aí é mais surpresa para mim.
O sorriso de Max é capaz de ser a pior das respostas que ele pode me
dar.
— Quer uma carona para o trabalho? — ele me surpreende, fazendo
com que eu abra minha boca para responder, mas a feche em seguida. — O
que foi?
— O que está tentando fazer?
— Nada. — Ele realmente parece confuso. — Apenas oferecendo uma
carona.
Eu paro por um segundo, pensando.
— Está tudo bem, eu posso ir andando, ainda tenho um pouco de
tempo.
— Eu levo você, Kyra. Sério, eu posso fazer isso.
— Sei que você pode, mas... eu apenas estou bem.
— Não posso obrigar você a vir comigo.
— Não, não pode. Boa noite, Max.
— Boa noite, Oklahoma.
Continuo caminhando em direção ao portão. Uma parte minha quer
subir em sua garupa e enlaçar as pernas ao seu corpo, sentir a sensação da
liberdade, o vento quente tocando o meu rosto; mas a outra parte, a racional,
que não sabe quem ele realmente é e o que esconde do passado, grito para
mim que ele é nada menos do que o irmão gêmeo do meu ex-namorado.
— Ei, Beth.
— Oi. — Ela coloca uma mecha roxa da franja para trás da orelha. —
Você está suada.
— Vim andando. — Entro no banheiro e vou até a pia, jogar uma água
no rosto.
— É meio longe para vir andando. — Ela se apoia no batente da porta.
— Nah... Eu gosto de caminhar.
— Sim, mas usando tênis de corrida e não sandálias.
Sorrio, um pouco cansada devido ao calor excessivo.
— TJ e Ty não estavam, eu não tinha como vir e não quis gastar
dinheiro com Uber. — Dou de ombros. — De qualquer forma, eu ainda
quero emagrecer — gracejo.
— Certo. — Ela parece estranha. — E então, tudo certo com todo o
resto?
Paro para pensar um pouco, não quero ter sua atenção sobre mim o
resto da noite e ainda não me sinto pronta para falar sobre aquele assunto
com ela.
— Sim, por quê? Nos falamos ontem, não é como se eu tivesse várias
novidades.
Ela para de roer o canto da unha.
— Claro, não é como se algo pudesse acontecer da noite para o dia. —
Dá de ombros.
— E então, o carinha que você está conhecendo, vocês saíram ontem?
Ela revira os olhos.
— Ele é um idiota, na verdade. Me propôs um ménage no primeiro
encontro.
— Não! — Cubro a boca com a mão, sorrindo.
Beth apaga a luz do banheiro e fecha a porta assim que eu saio.
— Eu não teria feito nem se fosse nosso décimo encontro. De qualquer
forma, então eu apenas saí fora desse negócio... que... bom, que eu achei que
tínhamos.
— Parece confuso.
— Na verdade foi meu relacionamento mais simples.
— Você está falando como se tivesse outro complicado. — Ela pega
seu avental e joga o meu na minha direção.
— Todo mundo tem ou terá um relacionamento complicado um dia,
Kyra. Não é algo que possamos evitar.
Sim, não há como evitar.
— Uma cerveja da casa! — um cara grita sobre o balcão e Beth o
atende.
— Me fale mais desse seu relacionamento complicado.
Ela para para pensar um pouco. Está agindo tão diferente nos últimos
meses, que quase não parece a mesma pessoa; e por mais que eu pergunte
sempre, Beth acaba desconversando e dizendo que é coisa da minha cabeça.
— Não é nada de mais. — Ela passa um pano úmido sobre o balcão que
já está limpo.
— Você sabe que pode confiar em mim, não sabe? — Eu a observo
assentir.
Alguma coisa a impede de ser cem por cento aberta comigo. Eu a
adoro, somos amigas há bastante tempo e nunca brigamos. Beth me cobre no
bar quando eu preciso, já assumiu a culpa por mim mais vezes do que posso
contar e ela apenas é uma boa amiga, de verdade, mas algo... algo nunca se
encaixa. Como se escondesse um pequeno detalhe de mim, mas eu não sei o
que é, apenas observo-a gaguejar e desconversar quando o assunto é
namorado, estar apaixonada ou sobre o meu sexo com TJ.
— Eu sei, Ky. — Ela pisca para mim e observo a linha perfeita do seu
delineado gatinho se mover.
— Certo, apenas para deixar bem claro.
Jacob, na porta, fazendo segurança, olha sobre os ombros. É seu sinal
para nos avisar que alguém que gosta de problemas está prestes a entrar e
dois segundos depois, três rostos iguais atravessam o bar, indo direto até a
mesa de bilhar, fazendo com que todos os ruídos e murmúrios se dissipem,
enquanto todos os observam. É bonito de ver, mas ao mesmo tempo Benny,
o dono do bar, preserva suas cadeiras e tacos de sinuca que ele havia trocado
recentemente depois que os dois se meteram em uma briga.
— Deus, onde estão meus remédios de pressão? — Benny abre a porta
do seu escritório no qual observa tudo pela parede revestida de vidros, que
são apenas vistos de dentro para fora. — Minha pressão deve estar alta
demais, eu estou vendo dobrado. Ou quase. Dois viraram três, ou é apenas
um e eu estou vendo três.
— Oh, desculpe, a gente acabou esquecendo de contar sobre isso.
— Sobre o quê? — Ele está mesmo falando sério?
— O gêmeo número três é Max, ninguém sabe ainda o que aconteceu,
mas ele apareceu agora e... bom... não há outra explicação a não ser outro
irmão ou clone.
— Você só pode estar brincando, porra! — Ele se apoia no balcão.
— Ele é tranquilo, Benny.
— Você disse que TJ também era.
— Aquele dia foi um deslize — Beth o defende.
— As pessoas tropeçam, elas deixam uma garrafa cair por um deslize,
mas ninguém quebra dois tacos de uma vez nas costas de um cara por um
deslize.
— Foi a única briga dele aqui, Benny. O Ty é que é o problema dos três,
mas ele prometeu se comportar por mim.
— Eu vou lá falar com eles, de qualquer forma. — Ele pega um dos
tacos reserva que ficam do lado de dentro do balcão e segue até eles.
Observo Benny chegar e os três se viram imediatamente para ele. TJ
mantém um pequeno sorriso, ao mesmo tempo que gesticula e move a
cabeça para ambos os lados, provavelmente prometendo coisas que sabe que
não pode cumprir. Ty apenas se mantém de braços cruzados, as costas
encostada em uma parede, enquanto seus olhos observam atentos tudo o que
Benny diz, sem nenhuma maldita expressão. E Max parece confuso, com
suas sobrancelhas erguidas enquanto Benny está prestes a explodir.
Seus olhos encontram os meus e seu pequeno sorriso divertido se alarga
no rosto, a covinha fica tão profunda que eu sou capaz de ver mesmo com a
falta de iluminação do local. Apenas um pendente central da mesa ilumina
aquele canto onde estão e as sombras que se formam em seu rosto faz com
que seu nariz fique ainda mais perfeito, tão bem desenhado que qualquer
outra pessoa naquele lugar terá inveja se parar para analisá-lo com atenção.
Seu cabelo está penteado para trás, mas algumas mechas teimam em cair
sobre o seu rosto, o deixando ainda mais bonito.
— Realmente eu sinto como se fosse minha pressão também — ela
sussurra.
— Hum-hum...
— Uau, é apenas... bonito de ver, não é? — Cami se senta em uma das
banquetas a minha frente, batendo suas unhas longas e perfeitas sobre o
balcão.
Por que é que eu a adorava e agora quero matá-la com suas próprias
unhas?
— Sim, é bonito... O que vai querer?
Abro o freezer, desejando que ela saia logo de lá antes que comente
meu pequeno show com TJ na beira da piscina na frente de Beth.
— O que Max está tomando? — pergunta com um sorriso que diz bem
onde ela gostaria de acabar naquela noite.
— Ele ainda não fez nenhum pedido. — Observo Benny marchar até
sua sala, fazendo um sinal de positivo para mim antes de fechar a porta.
— Então me dê duas cervejas.
— Então agora você paga bebidas para os caras? — Beth brinca e ela
sorri.
— Ele não é qualquer cara.
Sinto meu estômago se contorcer e me pergunto o quanto ela tem ido
além com ele.
— Qual o lance de vocês? — pergunto, tentando mostrar desinteresse.
— Nada sério, por enquanto estamos nos conhecendo.
— É, eu vi vocês juntos ontem — meu comentário foi a maior burrice.
Agora estamos com margem aberta para falar da noite passada.
Que merda!
— Oh, sim, mas ele não estava se sentindo bem, foi deitar assim que
você e TJ... bem, assim que vocês discutiram.
Arrisco olhar para Beth, mas ela se mantém sem expressão alguma, os
olhos fixados no pano que passa novamente sobre o balcão limpo.
— Falando nisso, vocês se acertaram?
Olho através dos ombros de Beth, observando os meninos. Ty não tira
os olhos do celular, uma coisa que ele não faz tanto e que agora parece fazer
o tempo inteiro. TJ olha para mim e me lança um pequeno sorriso amigável,
desviando seus olhos para Beth rapidamente antes de voltar sua atenção para
Max, que ao observar TJ me encara novamente. Eu posso sentir o peso do
seu olhar sobre mim enquanto me dirijo a Cami novamente.
— Ele não para de olhar para mim — comenta, corando, esquecendo da
pergunta que me fez há um minuto.
— Sem dúvidas. — Conheço Beth o suficiente para saber que ela está
sendo irônica. — Ele não tira os olhos de você.
Sinto minhas bochechas esquentarem e dou graças a Deus quando um
cara ergue sua cerveja e eu me viro, indo até o freezer pegar outra.
— Até mais, Kyra.
— Até.
Entrego a bebida para o cara e sorrio gentilmente para ele, antes de
recolher alguns copos sobre o balcão ao seu lado, mantendo meus olhos em
Max. Não consigo evitar, preciso ver a que nível estão. Cami ergue uma das
cervejas e joga a cabeça para o lado, brincando com ele, com sua bunda
redonda e perfeita, apertada dentro de uma saia jeans que eu usaria se não
estivesse acima do peso. Ele sorri para ela, sua covinha aprofunda
minimamente, mesmo assim, ainda perceptível.
— O que está acontecendo entre vocês?
Tudo.
— Nada — respondo.
Ela toca meu ombro e desvio os olhos dos dois, apenas por um
segundo, porque não sou capaz de deixar de prestar atenção nos
movimentos. Na forma como ele se curva para beijar seu rosto, e em como
ela vira levemente, beijando sua boca. Minhas bochechas esquentam, meu
coração bate forte e rápido pra caralho! Puta merda! Eu o conheço há quase
duas semanas. Como posso me sentir tão desesperada dessa forma?
— Parece que você está prestes a pular no pescoço da Cami.
— O quê? Não... nada a ver. — Eu a dispenso com um gesto.
— O que realmente está acontecendo entre você e TJ e você e Max?
Eu olho mais uma vez, fazendo uma promessa para mim mesma que
será a última. O braço de Max está sobre o ombro de Cami, sua mão
fechada, apoiada quase sobre o seio esquerdo dela, enquanto seu polegar se
mantém fora, tracejando o tecido de sua blusa apertada. Aparentemente é
algo normal, que eu vejo o tempo inteiro de onde eu estou, mas há algo tão
quente naquele gesto que torna o simples toque em algo extremamente
sexual.
E eu sei, sei o que é ser beijada por Max, sei que é capaz de ter meu
corpo pegando fogo apenas por ter suas mãos sobre algum pedaço da minha
pele. Sua mão na minha cintura, no meu ombro, na minha mão ou em
qualquer lugar faz com que eu me torture internamente dizendo para mim
mesma que eu estou fazendo algo errado. E eu estou?
— TJ e eu terminamos hoje cedo. Decidimos parar o que quer que
estávamos fazendo. Estamos bem um com o outro.
Ela não parece surpresa, mas sua expressão me diz que há algo por trás,
quase como se ela estivesse... eu não sei descrever.
— E Max? — Beth pergunta, observando-o cochichar no ouvido de
Cami.
— Max é meu relacionamento complicado.
Passo a noite inteira tentando não olhar para Max, cedi ao aperto de
Beth e contei a ela sobre quando abri a porta naquela noite e o beijei
pensando que era TJ. Sinto falta da minha melhor amiga Tracy, porque sinto
que preciso desabafar com alguém; e, mesmo que esse alguém não seja cem
por cento aberto comigo, eu também sinto que não preciso que seja, apenas
quero vomitar o que estou sentindo naquele momento, e aproveito que ela é
a pessoa que quer ouvir.
— Então você o beijou pensando que pudesse ser uma brincadeira entre
Ty e TJ...
— Sim.
— E o beijo dele foi tão bom e quente que você não soube como reagir.
— Eu realmente não soube...
— E vocês estão dividindo o mesmo teto.
— Isso.
— E você e TJ se deram conta de que se amam como amigos.
— Nós somos bons na cama e...
Ela levanta a mão no ar, os cinco dedos esticados para cima, em um
sinal de parada exagerado.
— Por favor, me poupe dos detalhes. — Ela desvia o olhar para os três.
Ty beija uma garota, as mãos enterradas em seu cabelo, a mantendo em
um aperto tão sexual que aquece nossas bochechas apenas por ficar
encarando. Beth suspira ao meu lado e sorri, maliciosamente. Olho para TJ e
ele desvia os olhos no mesmo segundo, está olhando demais em nossa
direção, mas eu não sei o motivo de estar agindo tão estranhamente.
Ele apoia o queixo na ponta do taco e cutuca Max para a sua vez de
jogar, fazendo com que ele tire seu foco de Camille. Ela não desgruda dele,
as mãos na bainha da sua camiseta naquele momento, puxando-o para ela,
enquanto seu corpo forte flexiona sobre a mesa, mirando uma bola e
encaçapando um segundo depois. Ela bate palmas como uma idiota, fazendo
com que ele dê um pequeno sorriso de lado, com uma mecha deslizando
novamente sobre seus olhos.
— Desde quando você se poupa a detalhes?
Ela revira os olhos, enquanto sacode a coqueteleira.
— Desde agora. — Beth despeja a batida em um copo e eu abro a
gaveta para que ela pegue um guarda-chuva decorativo.
— Okay. — Ela entrega para a cliente, que sai satisfeita. — Voltando
para o nosso resumo.
— Nosso resumo superdetalhado — complemento.
— Isso. E aí você pegou uma carona com ele na semana passada.
— Apenas porque insistiu muito.
— Então ele está insistindo muito para dar uma carona para você?
Paro para pensar, unindo as sobrancelhas.
— Bom, ele insistiu na semana passada, mas hoje apenas ofereceu;
recusei e ele continuou trabalhando no motor do carro.
— Mecânico... Me parece a melhor versão dos três.
Sorrio por dentro, mas não demonstro que concordo com ela.
— Você está dizendo, não eu.
— E tirando seu pequeno momento com ele na noite passada, depois
que você e TJ terminaram, seus encontros se resumem a brigas, armas e
sprays de pimenta?
Assinto, observando seu sorriso radiante.
— Isso daria um bom livro.
— Pare de sonhar com histórias e personagens, Beth, isso não daria um
bom roteiro para você.
— Claro que daria, eu poderia inclusive lançá-lo, fazer uma noite de
autógrafos. Quem sabe não seria meu divisor de águas entre isso aqui — ela
aponta para todos os lados — e meu futuro em Paris.
Dou uma gargalhada.
— Preciso fazer xixi — comento, enquanto abro o freezer e pega uma
cerveja para o cliente, que se mantém com o braço levantado como se eu não
tivesse a capacidade de entender que ele queria outra. — A tintura em
excesso está afetando seus neurônios, além disso. — Me refiro ao seu
cabelo.
— Quem sabe? — responde, um segundo antes de seu rosto ser tomado
pelo pânico. — TJ está vindo — comenta e sorri para ele.
— Tudo bem, estamos bem — tranquilizo-a, mas continua com a
mesma expressão. — É sério, continuamos amigos, de verdade, Beth, foi
natural para nós.
Ela assente, mas algo em seu rosto me diz que continua insegura.
— Oi. — Ele sorri, apenas me encarando.
— Olá, TJ. — Passo um pano no balcão antes dele apoiar seus
cotovelos.
— Por que está se mexendo tanto? — Ele une as sobrancelhas,
enquanto brinca com um sorriso.
Os três podem ter o mesmo rosto, o mesmo corte de cabelos e ser
coberto pelas mesmas tatuagens e mesmo assim eu sou capaz de identificá-
los apenas por seus sorrisos. Ty se mantém sempre com uma expressão séria
no rosto, e quando sorri, é algo quase vulgar, como se estivesse vendo uma
mulher nua em sua frente; sua cabeça se inclina para um lado, enquanto seu
olhar permanece o mesmo e sua boca se contorce em um sorriso obsceno.
Já TJ sempre sorri com os olhos, desde pequeno, como se seu sorriso
pudesse contagiar quem quer que esteja perto. Todos a sua volta riam, por
isso todos sempre o amaram no elementary school, depois no médio e,
agora, na faculdade. Seu sorriso o fez o garoto mais popular do colégio e eu
sempre amei a forma como ele sorria. Todos os dentes brancos e alinhados à
mostra, as preguinhas ao lado dos lábios se curvando para cima, enquanto
seus olhos verdes ficam apertados e brilhantes. Capaz de fazer até mesmo
uma discussão terminar. TJ faz suas merdas, eu brigo com ele, então ele sorri
e eu apenas sorrio junto.
— Por que você está se contorcendo tanto? — ele pergunta, unindo as
sobrancelhas.
— Eu estou apertada. — Jogo o pano na pia.
— Vá logo então, eu não sou paga para limpar seu xixi do chão do bar.
— Beth abre o freezer e pega a cerveja que TJ está bebendo.
— Um minuto — peço, correndo até o banheiro.
Sento-me no vaso sanitário, mas só consigo pensar no quanto eu
conheço do sorriso de Max que conheço há tão pouco tempo. Seu sorriso
alcança os olhos, mas não é largo como o de TJ e sim contido como o de Ty.
Quando Max sorri, apenas um lado de sua boca se curva, algo erótico
também, mas que alcança seus olhos. Um pouco dos dois irmãos que o torna
único. Maximum sempre vira o rosto, como se não quisesse ser percebido,
como se estivesse fazendo algo errado. Como se rir pudesse ser ilegal.
Surpreendo-me ao pensar nele de novo, na forma como eu gosto
quando ele sorri, como eu pareço conhecê-lo tanto, sendo que não conheço
nada. Em como tento correr dele, mas ao mesmo tempo desejo os nossos
pequenos encontros. Talvez eu esteja obcecada, quem é que sabe? E mesmo
que eu saiba que é perda de tempo, há algo em mim que me faz desejar
perguntar sobre ele. Saber mais, me aprofundar tanto até estar
completamente enterrada.

— Você parece estranha — digo a Beth assim que terminamos de


fechar o bar.
— Cansada. — Ela aponta para o seu rosto. — Pareço disposta para
você?
— Talvez não devesse acordar cedo para escrever todos os dias...
— Em algum momento eu devo fazê-lo, não?
Algo me diz que não é isso exatamente o que a está deixando chateada,
mas então o quê?
— Foi algo que eu falei?
Seus ombros caem em derrota. Ela me encara, com os olhos marejados,
prestes a me dizer algo, mas sua boca se fecha, formando uma linha rígida e
não faz.
— Eu... apenas estou cansada, Ky. — Ela pega sua bolsa. — Boa folga
amanhã. — Beth me dá um pequeno sorriso antes de sair pelas portas do
fundo.
Eu não sei exatamente o momento nessa noite em que ela mudou, mas,
de uma hora para outra, a garota radiante e empolgada com a minha vida
sexual deixou de fazer perguntas e se limitou a apenas responder as minhas.
Suspiro, enviando uma mensagem para Elizabeth dizendo que não importa o
que esteja acontecendo com ela, ela pode contar comigo para o que precisar.
Não que ela não saiba, mas a vi tão deprimida que senti que precisava deixar
ainda mais claro.
Deixo o bar, sentindo o vento frio atingir meu rosto. Durante o dia faz
tanto calor que eu nunca me lembro de levar um casaco para usar no fim do
expediente. Havia excluído outros aplicativos do celular e instalado o do
Uber, uma vez que sei que preciso dele mais do que nunca agora. É
complicado ter que pagar todas as noites, mas as gorjetas sem dúvidas me
ajudarão. Não é algo que me deixa de cabelo em pé, porque ainda é mais
seguro do que pegar metrô àquela hora e mais econômico do que comprar
um carro.
Sei que se eu der uma melhorada no decote ainda ganharei umas
gorjetas extras que me farão ir para casa em segurança. Escrevo o endereço
de casa e a contagem de motoristas perto de onde eu estou começa a ser
feita, forçando minha internet ruim e exatamente quando eu vou apertar o
botão de confirmação do local de partida, uma voz que eu conheço muito
bem ecoa atrás de mim:
— Oklahoma.
E lá está ele, encostado a sua Harley, comuma perna cruzada sobre a
outra, a calça jeans rasgada que eu amo, enquanto ele se apoia com uma mão
no banco e outra no guidão. Se ele souber que pensei em seu sorriso
enquanto fazia xixi, certamente não estaria sorrindo dessa forma naquele
momento. Seu cabelo está mais bagunçado do que em qualquer outro
momento. Ele vira o rosto minimamente para o lado, deixando sua covinha
perfeita virada para mim.
— Que susto, Max. — Ele se endireita na moto, mas ainda parece estar
se exibindo para mim. Eu posso compará-lo a Damon Salvatore e ainda
afirmar que ele é mais arrogante quando quer ser.
— Onde está o seu casaco? — pergunta, retirando o dele.
— Eu esqueci.
Max me contorna, colocando sua jaqueta de couro sobre meus ombros,
fazendo o mínimo contato aquecer todo o meu corpo e sentir que já não
preciso de nenhum tecido extra sobre mim. Ele dá um aperto forte, juntando
as duas pontas em frente aos meus seios, fechando bem.
— Você está tremendo. — Sim, eu estou, mas já não sei o porquê.
— Obrigada, não imaginei que estivesse ventando tanto.
Seus olhos verdes encontram os meus e desvio o olhar.
— Talvez se não andasse assim não passe tanto frio.
— Defina assim — murmuro, sentindo minhas bochechas pegarem
fogo.
Quem ele pensa que é?
— Você se veste como uma... — Ele semicerra os olhos e dou um passo
para trás, sentindo-me nua sob seu olhar minucioso.
— Prostituta?
Max ergue as sobrancelhas, surpreso.
— Não, eu ia falar stripper. — Ele sorri como o grande filho da puta
que é. — Uma que não cobra por sexo...
— Vai se foder, Max, achei que tivéssemos passado dessa fase. — Ligo
a tela do celular, colocando minha senha para desbloqueio.
— Nove, nove, nove, que grande senha, Einstein.
— O que você quer, Maximum?
Sinto que estou regredindo com ele o tempo inteiro.
— Eu? — Ele parece surpreso. — Nada, eu não quero nada.
Parece haver tanto peso nessa resposta que eu me sinto ofendida por ele
não querer nada.
— Então o que está fazendo aqui? Onde está Camille? Você poderia
estar ganhando um boquete agora se não estivesse ocupado sendo um cuzão.
Meu comentário o faz abrir o maior sorriso que já vi nele, emitindo um
som que acho irritante. Adoravelmente irritante.
— Nunca conheci nenhuma garota como você na Pensilvânia. — Sua
voz é grave, mas há divertimento contido nela.
— Provavelmente estava com sua cabeça enfiada na própria bunda.
Ele arranca o celular das minhas mãos e eu dou um passo para frente,
mas Max o ergue no alto, me impossibilitando de pegá-lo. Meu rosto fica tão
colado ao seu peito que o perfume que escapa de sua pele acerta meu olfato
de uma forma que me deixa desesperada.
Malditos feromônios do inferno!
— Me dê meu celular, Max, eu preciso ir.
— Aonde você vai?
— Para casa, onde mais eu iria às duas da manhã?
— Que coincidência! — Finge surpresa. — Estamos indo para o
mesmo lugar. — Ele enfia meu celular no bolso do jeans. — Eu te dou uma
carona.
— Eu não vou com você! — Afasto-me dele, mas não sei o que fazer
sem meu celular.
— Boa sorte, então! — Ele sobe na moto um segundo antes de dar a
partida, o barulho da Harley ecoa pelo estacionamento vazio, me deixando
ansiosa para subir novamente nela.
Maximum me contorna, ficando ao meu lado conforme acelera no
mesmo ritmo em que eu ando em direção à rua.
— Vamos lá, Oklahoma, não se faça de difícil. — Ele parece realmente
estar se divertindo.
Claro que está!
— Onde está Cami, afinal? Por que diabos você não está com ela? —
Há realmente tanto interesse por aquela resposta que eu me obrigo a
demonstrar naturalidade ao fazer a pergunta.
— Por que você está tão interessada em Camille, afinal?
— Eu não estou interessada nela. Não foram as minhas mãos que
estiveram nela a noite inteira.
Merda! Eu posso ouvir seu riso provocativo mesmo sob o som do motor
ligado.
— Você está deduzindo demais. Nós somos amigos.
— Amigos não se beijam, Max.
Penso no meu namoro com TJ. A quem eu quero enganar afinal?
— Bom, você e TJ se beijavam.
— E olha no que deu.
— Você está sugerindo que eu não devo mais beijá-la? — Apenas a
palavra beijar deixando seus lábios é erótico demais para mim.
— Eu não estou sugerindo nada, Max. Apenas gostaria que você usasse
esse acelerador com mais força, quem sabe o máximo dele...
— Se eu conhecesse melhor você, poderia jurar que está com ciúme —
continua me provocando.
— O que você ganha me provocando? — Paro de andar e Max pisa no
freio.
— Ganho isso. — Ele ajusta seu retrovisor, virando o espelho na minha
direção. — Você fica ainda mais bonita quando está brava.
Eu posso ver meu rosto corar enquanto encaro meu reflexo e, como
resposta ao meu rubor e para que Max pare de me atormentar, eu enfio meus
braços dentro das mangas e subo no banco, me segurando a ele em um
aperto forte. Posso sentir seu abdômen ficar rígido sob minhas mãos
esticadas e agradeço por não ser a única a estar tensa. Ele se vira para trás,
fazendo meus dedos escaparem, então coloca o capacete na minha cabeça,
me encarando tão de perto que pode me beijar se quiser.
— Segurança em primeiro lugar, Loirinha — ele diz antes de se virar e
acelerar a moto.
Os carros de Ty e TJ não estão quando chego e um frio percorre minha
espinha ao saber que estarei sozinha com Max àquela hora da noite. Deslizo
para fora da moto, meus músculos das pernas ainda tremem e meu corpo
inteiro vibra, assim como eu também ainda sou capaz de sentir o calor que
mesmo com o ar gelado, emana de seu corpo. Observo Max sair da moto,
parte minha quer subir nela de novo, apenas para mantê-lo sob meu aperto.
Dou um passo para trás quando ele se aproxima novamente, Maximum
me surpreende quando estica seus braços em direção ao meu rosto com a
mesma frequência que me decepciona ao perceber que ele apenas está
abrindo o fecho do capacete. O que está acontecendo comigo? A música
Love me like you do toca na minha cabeça como quando Anastácia voa no
helicóptero ao lado de Grey, enquanto eu experimento o vento ricochetear
meu rosto sobre a moto de Max.
A luz automática da entrada acende, iluminando meu rosto patético
enquanto eu abro a porta. São duas e meia da manhã, e eu não estou cansada.
Posso passar a noite inteira em claro e sequer bocejar alguma vez. Tenho
certeza de que é a adrenalina de estar com ele, algo que eu nunca havia
sentido correr em minhas veias. Até ele. Há duas semanas, eu repito em
minha mente, mas algo me diz que eu o conheço uma vida inteira. Sem
dúvida é a relação que eu tenho com seus irmãos que me faz acreditar que
conheço Max de verdade.
Mas eu não o conheço.
— O que foi? — Max pergunta assim que chegamos à sala.
Continuo andando, sentindo-o atrás de mim enquanto eu sigo em
direção as escadas.
— Nada — respondo, ainda usando sua jaqueta.
Eu simplesmente não quero tirá-la. Há um cheiro tão peculiar nela que
me faz acreditar que é o mesmo que emana de sua pele. O maldito cheiro
que ficara entranhado no meu travesseiro e lençóis, mas que a máquina de
lavar fez um ótimo trabalho acabando com a minha tortura.
— Você está agindo estranhamente. — Ele pula uns degraus e me
contorna, ficando a minha frente e muito mais alto do que eu.
— Só estou cansada, Max — minto, desviando para o lado antes de
continuar subindo.
Entro no meu quarto.
— Então você está de volta nesse quarto? — Ele se deita na minha
cama, colocando uma almofada minha sobre a barriga, enquanto cruza as
pernas e seus pés com botas sobre meu lençol.
— Ei, folgado! — Ando até ele, segurando sua perna para retirar uma
bota. — Sua mãe não te deu educa...
Paro no final da frase, com os olhos arregalados, enquanto seguro um
dos pés de meia, naquele momento. Seu rosto se mantém sem expressão, e
eu não faço ideia do que está pensando.
— Bom, se você falar um dia com ela, avise que foi uma mãe de merda.
— Sinto muito que você nunca vá conhecê-la, Max. Ela era uma mulher
incrível.
Ele assente.
— Tudo bem... não sei o que estou perdendo, de qualquer forma. Nunca
tive pais, não é como se tivessem tirado isso de mim.
Tiro a jaqueta e me sento na cama, encostando as costas na parede,
enquanto puxo suas pernas para o meu colo. Desamarro as botas de Max e
ele as tira com o pé livre. O barulho que elas fazem ao tocar o chão quebra o
silêncio instalado entre nós.
— Mesmo assim, não é justo que você não possa conhecê-la.
— Sim, é uma merda. Mas vou sobreviver. Eu sempre sobrevivo no fim
das contas.
Minha mente viaja na imagem de um garotinho de olhos verdes
vagando pelas ruas sem nenhuma expectativa, correndo tanto risco. Eu não
consigo falar. Minha garganta parece estar arranhada e meu coração pesado
demais para continuar batendo no mesmo ritmo.
— Tá tudo bem, Kyra. — Ele se senta, ficando tão perto que o peso é
arremessado para longe, fazendo agora ele bater tão forte a ponto de me
fazer perder o ar.
— Não, não está, Max. Você não precisa ser forte o tempo todo. Afinal,
é humano, ninguém vai julgá-lo por surtar de vez em quando.
Ele parece prestes a me beijar quando se aproxima ainda mais, sua mão
desliza até uma mecha solta sobre o meu rosto. Eu devo estar péssima depois
de um turno no bar, fedendo a cerveja velha e suor, mas ele não parece ligar.
Minha respiração ofegante pode ser ouvida e se nos concentrarmos um
pouco, muito possivelmente o meu coração também. As sobrancelhas de
Max se unem e ele se afasta um pouco, sua mente parece estar trabalhando
demais.
Sem dizer nada, ele gira seu corpo, colocando a cabeça em meu
estômago e os pés com meias brancas sobre meus travesseiros. Eu me
surpreendo ao ver aquele homem tão grande parecendo tão pequeno em meu
colo. Ele não olha para mim, e sim para um ponto fixo na parede branca e
perfeitamente pintada. Pensativo. Meu coração ainda bate rápido demais,
absorvendo Max em meu colo, tão lindo e tão perto, na sua melhor forma.
Vulnerável.
Surpreendo-me quando minhas mãos tocam seus cabelos, fazendo um
pequeno gemido, tão mínimo que quase não pode ser ouvido, escapar de
seus lábios. O verde em seus olhos se torna mais escuro antes dele fechá-los
por completo. Corro meus dedos sobre seus cabelos, acariciando-o,
brincando com algumas mechas caídas sobre seu rosto. Ele parece tão em
paz que eu gostaria de congelar o tempo e mantê-lo dessa forma para
sempre.
É então que percebo o quanto eu gosto de estar com as mãos nele, perto
dele, qualquer coisa que o envolva. Eu ouso correr meus dedos para trás de
sua orelha, descendo o polegar na maçã do rosto enquanto os outros quatro
dedos correm sobre a pele de sua nuca. Ele geme baixinho novamente, mas
não abre os olhos. Parece tão calmo que, por um segundo, eu o invejo,
desejando estarmos invertidos, suas mãos correndo sobre minha pele. Um
pequeno e tão sutil sorriso se curva em seus lábios, lindo e breve o suficiente
para me fazer desejar outro.
— Eu conheci alguém parecida com você um dia. — Ele deixa escapar
e meus dedos congelam entre seus cabelos bagunçados.
— Achei que tivesse dito que não havia garotas como eu na
Pensilvânia.
— Eu me referia a minha vida adulta. — Ele faz uma pausa, ainda com
os olhos fechados. — Eu a conheci na minha infância.
— Ela era sua amiga?
— Sim. — Ele abre os olhos, as pupilas aumentando antes de
diminuírem novamente, Maximum mantém seus olhos fixados na parede.
— E como ela era? — pergunto curiosa, querendo conhecer cada
detalhe do seu passado.
— Bonita, engraçada, inteligente, altruísta e diferente.
— Devo agradecer você por me elogiar citando uma amiga sua?
Ele sorri tão abertamente que meu coração para de bater.
— Sim, você deve — responde, deixando de sorrir, sua voz atinge uma
rouquidão que eu nunca havia ouvido anteriormente.
— Obrigada.
Por que eu me sinto com ciúmes de uma criança que Max conhecera na
sua infância?
— Ela era... ela não era como as outras meninas.
— Como assim? — pergunto curiosa.
— Ivy vivia com seus joelhos ralados, ela não gostava de pentear os
cabelos e escalava mais alto do que ninguém. — Ele volta a sorrir, mas é um
sorriso triste demais para observar por muito tempo. — Costumávamos pular
o muro do orfanato para nos aventurar pela mata ao lado. Fomos melhores
amigos por muitos anos. Eu sentia que podia lidar melhor com a minha raiva
quando ela estava lá comigo, até o dia em que não esteve mais.
— O que aconteceu? — Tenho medo da resposta.
— Ela foi adotada. — Ele faz uma pausa. — Nem sempre a tempestade
antecede um dia bonito para você dar valor ao sol. Às vezes, os dias
nublados e sombrios são realmente tudo o que você sempre terá.
Suspiro. Há tanto peso e poder nessas palavras que me faz sentir
inexperiente, imatura e ingrata. Eu tenho pais ótimos, uma irmã que eu amo
e uma família que, mesmo sendo distorcida, sei que posso contar se precisar.
Ouvir Max falando de sua vida faz com que minha consciência aponte um
dedo na minha cara me julgando por estar uma semana sem ligar para os
meus pais.
— Quantos anos vocês tinham?
— Doze... — Ele fecha os olhos novamente e enterro meus dedos mais
fundo entre seus cabelos, empurrando os fios para trás. Até mesmo sua testa
é linda.
— E você nunca mais a procurou? Você sabe onde e como ela está
agora?
Morro de medo da resposta. Não quero ouvir que Max procurou por ela
e que eles se apaixonaram. Não quero nenhum trauma ou romance passado.
Quero apenas um caminho livre, mesmo que eu não esteja pronta ou saiba
realmente se seguirei por ele.
— Ela... o carro onde ela estava... — ele suspira, pesadamente. — Seus
pais adotivos e ela sofreram um acidente no dia em que a buscaram no
orfanato. Ela morreu na hora...
As lágrimas se acumulam em meus olhos imediatamente, escorrendo
sobre minha bochecha.
— Eu... Isso é horrível, eu sinto muito — consigo pronunciar, mas
minha voz parece estrangulada.
— A vida sabe ser difícil com quem ela escolhe foder, Oklahoma.
— Eu queria poder dizer ou fazer algo que mudasse tudo o que você
viveu, Max, mas não posso.
Ele abre os olhos novamente, um pequeno sorriso de gratidão no rosto.
Maximum puxa minha mão de seus cabelos e a leva até sua boca, beijando-
a. Meu estômago se contorce com o calor que emana de sua pele. Como um
contato tão contido pode ter se tornado minha maior experiência sexual?
Não é possível que eu esteja derretendo apenas por tocar em seus cabelos ou
por sentir seus lábios contra minha pele.
— Eu sei.
— E... sobre amanhã... — arrisco tocar no assunto do Sr. Jackson. —
Como acha que vai ser?
Serpenteio até seu lado, ficando frente a frente com ele. Seus olhos
verdes me encaram, mas sua mente parece estar longe demais. Max deixa
um suspiro escapar e olho para a sua boca. Tão perfeitamente desenhada,
que me faz querer beijá-la. Deus, como eu quero! Como nunca quis nada
mais na minha vida. Maldito rosto perfeito...
— Sinceramente, Ky — ele me chama pelo meu apelido. — Uma parte
minha acredita que vai dar tudo errado, mas uma parte maior deseja que,
pela primeira vez, algo dê certo.
Ele me puxa para mais perto, meu rosto toca seu peito, ouvindo seu
coração bater pesado. Fecho meus olhos, desejando que Max tenha o que
quer. Orando para que alguém lá em cima ouça suas preces ao menos uma
vez. Ele beija o topo da minha cabeça e me aperta forte em seus braços. Eu
me aninho nele, surpresa com a forma como nossos corpos se encaixam tão
bem, então digo:
— Vai ficar tudo bem. — E apago.
Ao abrir os olhos, o primeiro pensamento que vem em minha mente é
ele. Ainda visto a mesma roupa da noite passada, mas um lençol que eu não
peguei, cobre o meu corpo. Sento-me na cama, arrastando minhas pernas
para fora dela, enquanto minhas lembranças me deixam ansiosa. Eu havia
apagado, não sei quando exatamente, mas adormeci enroscada nele.
Minhas bochechas coram com o pensamento. Eu não sou o tipo de
garota que cora por causa de homens, mas Max faz meu corpo se aquecer em
todos os lugares e sinto que estou fervendo nessa manhã. Ainda sou capaz de
sentir os fios de seus cabelos entre os meus dedos e o cheiro adocicado e
peculiar na minha roupa de cama.
Caminho até o banheiro, ligo o chuveiro e retiro minha roupa, jogando-
a no cesto onde há muitas outras e que eu aproveitarei para lavar no meu dia
de folga. A água morna cai sobre o meu rosto e eu o esfrego, tentando me
livrar do rubor que sinto ao pensar na linha que cruzei com Max. Ele é a
única coisa que eu consigo pensar nessa manhã. E, por mais que eu esteja
curiosa para saber sobre ele, também estou apavorada por querer saber ainda
mais.

Desço as escadas correndo, sentindo um cheiro delicioso de café. Será


que o Sr. Jackson chegou antes do horário? Não estou acostumada a ter
alguém passando café àquela hora da manhã e certamente Justine também
não, uma vez que, quando estamos de férias, ela espera os meninos
acordarem às onze para fazê-lo e é tão sorrateira arrumando a mansão, que
nós quase não a vemos. Freio meus passos e acabo escorregando quando
vejo... Ty ou Max... Olho para os cabelos grandes e para a tatuagem na
costela.
— Ei, Max. — Meu coração acelera.
— Bom dia, Loirinha. — Ele abre a porta do armário aéreo e retira uma
segunda xícara, que deduzo ser para mim.
Maximum coloca a xícara na mesa, à minha frente, enchendo-a de café
em seguida. Deslizo a tela do celular, tentando parecer calma com sua
presença depois do passo que demos na noite passada. Busco o número da
minha irmã e digito uma mensagem para ela, depois faço o mesmo com
meus pais, que são tão bons com tecnologias quanto eu. Minha mãe visualiza
a mensagem na mesma hora e eu sorrio, o pequeno contato aquece o meu
coração. Ela me liga no mesmo segundo.
— Chega de mensagens, Bruxinha. — A voz de minha mãe atravessa
os alto-falantes e Max ergue as sobrancelhas.
Ótimo, agora ele terá um novo apelido para me atormentar.
— Oi, mãe.
— Oi, querida! — Ela parece tão animada.
— O que está fazendo de bom? — Sopro meu café e sorrio ao ouvir
meu pai resmungar no fundo.
— Estou plantando algumas rosas novas — murmura.
Seguro o riso quando meu pai grita:
— Põe no viva-voz, Amélia!
— Olá, papai.
— Oi, minha pequena bruxinha. — Reviro os olhos, posso ouvir o riso
provocativo de Max enquanto eu cubro o rosto com minha mão livre.
— Mais rosas, mãe?
— Estamos tentando trazer um pouco de Oklahoma a Geórgia, querida,
além disso... — ela começa a sussurrar — aquele nosso vizinho... Moretti,
ele deu a ré na caminhonete e passou por cima da nossa roseira.
Gargalho baixinho.
— O italiano irritado? Já ouvi falar dele...
— Sim, aquele filho da p...
— William! — minha mãe o policia.
Eu sou capaz de ver seu olhar o repreendendo mesmo através do
telefone.
— Italianos não deveriam gostar de flores?
— Ele não é um bom motorista, filha, tenho certeza de que não foi de
propósito.
— Ninguém engata a ré a quinhentos metros adentro de um quintal por
engano, Amélia, francamente.
Bom, agora eu sei que os dois começarão uma discussão, porque são o
casal que mais implicam um com o outro.
Ora, que coincidência!
— E como vocês estão? — pergunto com a saudade esmagando o meu
peito.
— Ande, conte a ela seu novo costume.
Ergo as sobrancelhas, curiosa. Max é capaz de escutar cada palavra,
principalmente depois que se senta à mesa e curva seu corpo para a frente.
— Esvaziei o escritório e fiz um quarto para mim.
— Você o quê? — grito.
— Seu pai ronca demais e é muito orgulhoso para buscar um médico...
Eu não conseguia mais dormir.
— Você dorme tão mal que até mesmo sua tia surda em Tulsa pode
ouvir seu ronco.
Max dá uma gargalhada que eu nunca ouvi. É o poder da minha família
agindo, e nem éramos bruxos. A discussão do outro lado da linha é tão
intensa que eles sequer prestam atenção na risada dele.
— Ah, querido, todo mundo sabe que aquele escritório só servia para
você acessar sites pornôs enquanto fingia estar trabalhando.
— Okay, informação demais, mamãe, até a próxima, beijos.
Encerro a ligação, enquanto observo Max gargalhar sem parar, suas
bochechas estão levemente avermelhadas enquanto seus olhos verdes
brilham com lágrimas acumuladas.
— Seus pais são ótimos.
Sim, eles são, mas ouvir Max falando deles faz meu estômago se
contorcer de uma forma diferente, como se o fato dele conhecê-los muda
algo entre nós.
— Sim, eles são.
— Bruxinha, sério? — Max se apoia nos cotovelos e me encara,
ansioso por uma explicação.
— Você já não acha que tem apelidos demais para mim?
— Não, bruxa loirinha de Oklahoma, eu não acho.
Dou uma gargalhada tão alta que, sem dúvida, havia acordado Ty e TJ.
Por que eu estou tão entusiasmada? Como Max consegue me deixar tão
feliz?
— Em um de nossos passeios à Tulsa — beberico meu café. —, nós
visitamos a Cave House...
— O que é isso? — Ele parece realmente interessado nessa história.
— Bom, Cave House é uma casa estilo caverna, ela foi projetada em
1920 para ser um restaurante de frango, se eu não me engano.
— Eu não comeria frangos de uma caverna, parece nojento.
— Você parece o TJ falando. — Digito no Google e centenas de fotos
surgem como resultado. — Isso é a Cave House.
— Que louco! — Ele pega o celular de minha mão e o simples toque de
nossos dedos me fazem estremecer.
— Há um monte de lendas sobre o lugar, uma delas é que os clientes do
restaurante se esgueiravam por túneis apertados que davam acesso a uma
área restrita onde faziam o que queriam sem ter a polícia de Tulsa em seus
pés.
— Parece interessante. Até posso imaginar o que os clientes faziam
nessa... — ele ergue as sobrancelhas, enquanto brinca com um pequeno
sorriso trapaceiro — área restrita.
— Cale a boca, Max! — grito em meio aos risos.
— Claro, prossiga...
— Depois que a Cave House deixou de ser um restaurante, ela passou a
ser um lar de verdade. Dezenas de inquilinos passaram por lá, e há quem
diga que é mal-assombrada. Hoje, ela tem uma nova dona, uma mulher
muito simpática, conhecida como Dama da Vara, uma vez que há várias
criações usando galhos, inclusive uma cama igual a um ninho.
— A parte da Dama da Vara eu posso imaginar o motivo, mas não
envolve uma cama de ninho... apenas uma cama normal.
— De tudo o que eu contei até agora, eu sabia que você absorveria
apenas a palavra vara.
— É mais forte do que eu. — Ele dá de ombros, passando as mãos nos
cabelos, tirando-os dos olhos. — Continue, quero saber como tudo isso
resultou em um apelido ridículo.
Assinto.
— Eu fui vestida de bruxa. — Termino a história, levando a xícara até
meus lábios.
— Meu Deus, você é péssima contando histórias, que grande decepção
do caralho!
— O que você queria que eu dissesse? — Dou de ombros.
— Sei lá, você me contou todos os detalhes da casa mal-assombrada e
da mulher que gosta de varas, eu só achei que o final seria engraçado ou
mais surpreendente pelo menos.
— Era apenas um passeio com meus pais, Max, e eu era uma criança.
— Sorrio sobre a xícara, observando-o se divertir.
Seus olhos rolam sobre a minha boca e o sorriso diminui em seu rosto,
me fazendo aquecer. Ele une as sobrancelhas, pensativo, e por um segundo
eu quis poder ler mentes. Gostaria de entender o que se passa dentro da
cabeça de Max.
— Preciso ir correr. — Eu me levanto, colocando minha xícara na pia.
— Você ainda está nesse lance? Relaxa, há coisas piores do que ter uma
bunda grande. — Ele ergue as sobrancelhas, sugestivamente.
— Ter um pinto pequeno? — Eu já estou de costas, mesmo assim ouço-
o se levantar.
— Você sabe que está mentindo. — Sua voz é provocativa.
— Tamanho e beleza são concepções. Às vezes, o que é algo para uma
pessoa, não é para outra. — Eu paro na porta, olho para trás e digo antes de
sair correndo: — Obrigada pelo café, Max.
É um grande dia, não apenas por ele realmente parecer ser grande,
devido ao calor infernal que faz, mas também por saber que o Sr. Jackson
chegará de viagem. Ou pai, eu realmente não sei como me referir a ele,
apenas sei que é meu doador de esperma. Mas eu ainda não posso julgá-lo,
não faço ideia do que aconteceu comigo, conosco, então não posso
simplesmente acusá-lo de ter me abandonado.
Vivi aqueles dias contando que tudo acabará quando ele chegar. Ele me
contará que fui roubado na maternidade, que nunca haviam contado aos seus
filhos porque queriam lhes poupar da dor de ter um irmão que sequer sabiam
se estava vivo. E acima de tudo, que ele ainda me procurava, mesmo que sua
esposa não estivesse ao seu lado fazendo aquilo junto a ele. Como se meu
pai tivesse feito uma maldita promessa de nunca parar até me encontrar.
Eu não sei o que exatamente acontecerá, mas é mais ou menos dessa
forma que eu espero, ou acredito que seja. Então eu me sento e espero,
observando pela janela do quarto que eu ganhei e que aprendi a trancar à
chave se não quisesse que metade da universidade de Boston trepasse sobre
minha cama. Contemplando tudo o que eu nunca tive: um quintal enorme,
portões eletrônicos, um gramado verde e bem cuidado, similar a um campo
de futebol. Luminárias por todos os lados, uma piscina que deveria ter no
mínimo vinte metros e, Deus do céu, uma garota como Oklahoma.
Kyra é incrivelmente sexy como o inferno, tem curvas que faz um cara
gozar nas calças apenas se olhar para ela por muito tempo e um sorriso que
puta merda... Mas não é isso que a torna o tipo de garota que vale a pena
correr atrás, como um maldito cachorrinho. É a forma como cuida dos
meus... irmãos. Da forma como ela os ama, como me olha, como sente muito
por mim.
Kyra mal me conhece, mas minha conexão com ela é maior do que com
qualquer outra pessoa que eu conheci. Ela me faz lembrar de Ivy, da forma
como nos conectamos apenas com um maldito olhar. Eu sinto que estou
ficando louco. A pressão de saber que terei meu pai comigo em pouco
tempo. Como se ele colocar os pés nessa casa fosse mudar toda uma vida de
merda que eu tive.
A expectativa não é apenas perigosa para um cara como eu, mas
também algo inevitável. Disse a Kyra o que penso, sinto e desejo, e me sinto
um merda por esse motivo. Nunca sou de falar demais, não gosto que as
pessoas saibam o que eu quero, porque não quero seus olhares de pena
quando eu não conseguir realizar meu desejo.
No começo, quando criança, eu contava o quanto queria ser adotado por
pais engraçados, queria fogueiras, marshmallows e piadas, noites em
barracas, queria meias de Natal na lareira, presentes na árvore, queria minha
janela sendo fechada antes de dormir, minha luz sendo apagada e minha
coberta ajustada por alguém. Queria ir à escola, ter meus cadernos
supervisionados, queria que chamassem minha atenção por algo perigoso
que eu fiz. Queria andar de bicicleta pelo bairro, ter amigos, queria uma mãe
gritando na porta para que eu não me atrasasse para o jantar.
É angustiante como coisas pequenas se tornam grandiosas, por isso,
quando dei minha jaqueta a Kyra, eu me vi desesperado da mesma forma
quando enchi sua xícara com café. Foi algo grandioso para mim e ela não
fazia ideia, apenas sorriu, daquela forma que era capaz de me enlouquecer
em silêncio. E, se há uma coisa que eu não posso evitar, é a química que nós
dois temos.
Química pura, nossa conversa, nosso humor negro, a forma como
somos provocativos e a puta atração sexual que paira no ar sempre que
estamos na mesma sala. Algo capaz de ser palpável, consistente e visível até
mesmo para alguém cego. E eu estou viciado. Quero mais, quero estar perto
dela sempre que posso, descer as escadas enquanto ela sobe, passar cafés
quando sei que ela os tomará, estar trabalhando em um carro sabendo que
passará por mim para uma maldita corrida.
Quero Oklahoma enroscada em mim sobre a minha moto, sobre a
minha cama, sobre a cama dela, em qualquer lugar e nada menos do que o
tempo todo. Vício. Sou um maldito viciado e um tremendo filho da puta. O
que minhas atitudes dizem de mim? Dizem que eu sou um cuzão de merda
por saber que ela é a garota do meu irmão e mesmo assim estou desejando
estar no meio das pernas dela.
Desço as escadas, a casa está vazia graças a Ty e TJ que não podem
parar com seus paus guardados nas calças. Não que eu seja muito diferente,
é claro, quero foder Oklahoma como nunca quis foder outra garota. Mas ela
não é fácil como as outras, ela é um tremendo pau enfiado na bunda e assim
que eu a avisto mergulhar, me jogo na piscina também, com um maldito
sorriso, como o grande maricas que eu sou.
Kyra emerge, os cabelos para trás como uma maldita sereia, ela abre
levemente a boca para respirar, tirando a mão do nariz, e eu sorrio
silenciosamente, enquanto ela ainda permanece com os olhos fechados. Ela
passa a mão no rosto, retirando o excesso de água, e então, abre a porra dos
olhos. O azul contrasta com o mesmo tom da piscina. Seus cílios molhados e
grossos piscam para mim antes de dar um tapa na água.
— Que susto, Max!
Eu adoro que Kyra seja a única pessoa que não nos confunde. Ela olha
para mim e sorri, sabendo imediatamente quem eu sou.
— Por favor, não me diga que você precisa segurar o nariz para
mergulhar.
Ela realmente parece envergonhada. Certamente não faz ideia do quão
adorável eu acho isso.
— Não há praias em Oklahoma — ela justifica.
— Você não teve sua infância e adolescência em Boston para
compensar isso?
— Não se aprende a mergulhar depois dos sete, Max.
Dou uma gargalhada, algo que eu estou fazendo demais ultimamente.
— Não há um prazo de validade para isso, Bruxinha.
Ela se vira, nadando desajeitadamente até a borda.
— As pessoas nascem sabendo mergulhar, nadar e boiar. Não é algo
que se aprende. — Ela parece realmente acreditar nisso.
— Como não? Não é para isso que as pessoas vão a natação?
Ela dá de ombros. Eu realmente gosto de irritá-la, quem sabe eu a deixe
brava o suficiente para ela sair da piscina usando as escadas. Adoraria ver
sua bunda rebolar naquele biquíni vermelho com pingos pretos. Até passei a
gostar de melancia.
— Não enche, Max. — Ela levanta a mão no ar e eu desejo senti-la
novamente entre os meus cabelos.
Talvez eu tenha gemido apenas por lembrar da sensação de ter suas
mãos em mim. Inferno, eu estou mesmo ficando louco!
— Você não sabe mesmo boiar? — pergunto surpreso.
Boiar é algo natural, porra, como assim?
— Não. — Ela parece envergonhada. — Pare de sorrir assim. —
Aponta para o meu rosto.
Eu sequer sabia que sorria.
— É apenas...
— Patético — ela me interrompe.
— Eu ia dizer adorável. — Kyra cora, como sempre faz.
O que está acontecendo comigo? Eu fodo garotas, as chamo de gostosas
e não... adoráveis.
— Sim, para uma criança de cinco anos, não uma mulher de vinte e
dois.
Passo a mão no meu cabelo molhado que escapa para a frente do meu
rosto, seus olhos correm livremente sobre o meu braço erguido e, como o
puto que sou, sorrio maliciosamente para ela, fazendo-a ruborizar. Eu não vi
Kyra corar nenhuma vez para TJ, então estou contente com o resultado do
meu esforço em mantê-la desconcertada.
— Vem, eu te ajudo com isso. — Estico meu braço, mas ela não segura
minha mão, em vez disso, une suas sobrancelhas, pensativa.
— Você vai me afogar ou algo assim? — Ela parece com medo.
Você deveria perguntar se eu vou comer você ou algo assim.
— Quantos anos você acha que eu tenho, porra?
Ela dá de ombros.
— A mesma idade dos seus irmãos, e eles sem dúvidas me afogariam.
— Eu não sou meus irmãos, Kyra.
Suas feições suavizam e um pequeno sorriso de desculpas se forma em
seu rosto quando ela estica o braço e deixa que eu a puxe até mim. E lá
estamos nós de novo, enlaçados um no outro. Que porra de novidade, não?
Relaxo, enquanto a deito sobre a água, uma mão em sua lombar e outra em
sua nuca. Seus seios explodem no biquíni apertado e meu pau contrai dentro
da minha bermuda.
Péssima ideia, Max.
— Pare de olhar para os meus peitos ou eu vou morrer afogada. — Ela
passa uma mão por trás das minhas costas.
— Porra, desculpa, mas você está esfregando-os na minha cara.
— Estou apenas tentando boiar.
Deus, ela é quente até mesmo quando não está tentando ser!
— Então você está fazendo isso errado, porque se eu largar, você
afunda.
— Eu sei, apenas não me larga...
Comprimo os lábios, em uma nova oportunidade para irritá-la.
— Tem razão quanto às corridas, eu acho que é seu excesso de peso que
não permite que você boie.
— Ha-ha-ha, eu não vou mais cair nessa, idiota.
Ah...
— Preciso arrumar outra coisa então para pegar no seu pé.
— Claro, porque você não tem nada para fazer. — Ela estica o outro
braço, com seus cabelos loiros se espalhando pela água como uma maldita
sereia.
Meu pau furará minha bermuda em muito pouco tempo.
— Claro que não — sussurro, sequer presto atenção na sua última frase,
porque estou concentrado o suficiente tentando não a beijar como um
maníaco.
— Aquele carro com o capô aberto na garagem não irá se consertar
sozinho, Maximum.
Sim, é o meu nome, e ele nunca pareceu tão bonito. Ela abre os olhos, o
azul se misturando a todo o resto. Deitada, sobre minhas mãos, enquanto
fingimos que o que estamos é tentando fazê-la boiar, ela parece a coisa mais
linda que meus olhos viram em toda a minha vida. Quase intocável para um
cara como eu.
— Max. — TJ... não, é Ty, eu posso reconhecê-lo pelas tatuagens, me
chama da borda da piscina.
Seus olhos nos estudam com atenção, silenciosos, como sempre. Um
mar de calmaria que esconde um grande tsunami. Eu me sinto um merda,
como se estivesse fazendo algo errado. Sim, e eu estou. Mas não tenho
tempo para remoer minhas más decisões dentro da minha cabeça, porque em
pé, atrás dele, há um homem que eu nunca vira antes, e eu quero muito ouvi-
lo se explicar.
Meu coração bate rápido demais, mas tento me manter calma, não
quero que Ty me julgue, tampouco o Sr. Jackson, que parece me analisar
como o filho. Meu Deus, eu me sinto uma vaca imunda! Com as mãos
trêmulas, eu pego a toalha sobre a espreguiçadeira e me enrolo, me sentindo
nua diante dos quatro. TJ acaba de estacionar na garagem e acena para que
todos nós entremos.
— Uau! — Jimmy Jackson murmura, encarando Max.
Estico a toalha extra que havia trazido para os meus cabelos e ele a
pega, mas sequer arrisca a olhar no meu rosto e eu me sinto ainda pior.
Sinto-me seu segredo sujo. A garota do seu irmão. Ele não quer estragar sua
imagem com o pai, mostrando a ele o tremendo filho da puta que é.
— Com licença. — Sorrio para Jimmy e ele me dá um pequeno sorriso
e um aceno enquanto eu quase corro para dentro da casa, subindo as escadas
em seguida.
É um momento dos quatro e muito embora eu esteja morta de
curiosidade, também sei que não me encaixo naquele contexto. Eu serei
apenas a intrometida no meio da história e eu já chamei atenção demais. A
porta da frente bate e eu sei que eles entraram na casa, então freio meus
passos antes de entrar no meu quarto. Posso ouvir ao menos o começo da
história...
— Ainda estou em choque. — O pai deles parece realmente em choque.
Não pode ser diferente. Nós quatro também passamos por isso.
— Eu te falei, pai, é assustador. — TJ parece animado, até que a voz de
seu pai o interrompe:
— Eu preciso que sente, TJ. Eu tenho algo para contar a vocês.
E, de repente, eu estou tão envolvida na história quanto os três.
— Eu estou bem aqui — ele responde.
Eu me concentro no cômodo onde apenas as duas vozes falam. Não
posso ouvir TJ e Max e eu me sinto ansiosa para saber o motivo dos dois
estarem tão quietos.
— TJ, eu... Deus... eu ensaiei tantas vezes esse diálogo na minha
mente... Antes que você saia por aquela porta e se vire contra mim, apenas
ouça com atenção o que eu vou dizer a você...
— Fale logo! — ele exige.
— Sua mãe Helena não conseguia engravidar.
— Uau, que ótimo! — ouço Max murmurar, deduzindo todo o resto da
história antes mesmo que o Sr. Jackson possa terminar.
Isso é o que acontece com pessoas como Max, pessoas que estão
acostumadas a terem o tapete puxado sob seus pés sempre que levantam de
um tombo.
— Nós realmente tentamos de tudo, de verdade. Helena desejava muito
uma criança, nós dois desejávamos na verdade. Nos amávamos muito e
queríamos construir nossa própria família.
Se há algo incontestável nessa história é o amor entre Helena e Jimmy.
Eles haviam construído uma família tão bonita e sólida de causar inveja em
qualquer um.
— Nós tínhamos um casal de amigos na época, pessoas que
conheciam... — ele faz uma pausa antes de se corrigir — pessoas envolvidas
com adoção.
— Não, por favor, não... — Eu não preciso olhar para TJ para saber que
ele está esfregando o rosto.
Quero abraçá-lo naquele momento, assim como Ty e Max também,
porque eu sei o quanto os dois podem estar confusos e desesperados, mas
são orgulhosos demais para dizer algo.
— Eu sinto muito, Max. — Eu sou capaz de ouvir a voz consistente de
Jimmy se transformar em um sussurro desesperado. — Me perdoem por não
contar antes.
— Porra! Não contar antes? Você teve apenas vinte e três anos para
fazer isso! — TJ parece desesperado.
— Tales, eu sinto muito, filho. Helena e eu queríamos contar isso
quando vocês fizessem dezoito anos, mas... quando ela partiu, eu não podia
fazê-lo sozinho.
— Eu... — TJ não sabe como responder àquela confissão.
Eu também não saberia.
— Como você consegue estar tão calmo, porra?! — Tales grita para
Tyson.
Sim, eu também quero saber, porque seu silêncio não condiz com suas
atitudes. Normalmente Ty já teria arremessado todas as cadeiras da sala e
quebrado todos os vasos de flores e eu não me surpreenderia se ele saísse no
soco com o pai. Não que já tivesse o feito alguma outra vez, mas faria mais
sentido do que seu silêncio.
— Você sabia? — TJ pergunta.
— Claro que não. — A voz do pai deles responde em bom som.
— Você ainda mantém contato com o casal? Acha que pode descobrir
quem são nossos pais biológicos? — TJ insiste.
— Eu sinto muito, eles estão mortos.
— Mortos? — ele insiste.
— Eles nos compraram — Max finalmente se pronuncia.
Puta que pariu!
— Como você sabe? Meus pais nunca fariam isso! — TJ grita.
Ele parece estar prestes a enlouquecer.
— Ele está certo — Jimmy responde. — Eu sinto muito.
— Quanto você pagou pelos dois? Cinquenta mil? Cem mil? Três
crianças eram demais para vocês, porra?!
— Ei, fica de boa, Max! — A voz de Ty é ameaçadora e meu coração
quase para de bater.
— Fica de boa você, porra! — ele grita em resposta. — É fácil falar
quando se é mimado pra caralho!
— Vai se foder! — Ouço um barulho alto e passos que me fazem
acreditar que um dos dois agora está sendo pressionado na parede. Apenas
não sei qual deles.
— Você não sabe o que é precisar procurar comida no lixo, um lugar
onde não vai chover sobre você e o único pensamento na sua cabeça ser que,
em algum momento, seus pais biológicos te encontrarão na rua e te
reconhecerão apenas pelo seu olhar. — Ele faz uma pausa.
— Não, você está certo, Max, eu não sei — Ty responde, e eu soube
que havia recuado.
— Sinto muito por tudo o que passou. Tivemos pais filhos da puta que
nos venderam, mas temos um ao outro agora e isso nunca vai mudar.
— Eu preciso de ar — Max responde segundos antes de eu ouvir o
barulho da porta de entrada abrindo e o motor da sua Harley gritar na
garagem.
Deus, será que ele havia partido para sempre? Meu coração bate tão
rápido que eu sou incapaz de me controlar, então me levanto, andando de um
lado para o outro. Vou até meu quarto e jogo um vestido sobre o biquíni,
enquanto olho pela janela. As coisas de Max estão em seu quarto, mas eu sei
que ele não tem nada de valor que o faça voltar. Eu sei que ele pode
simplesmente desaparecer, muito embora eu saiba que ele não tem para onde
ir.
Abro a porta do meu quarto e me surpreendo ao ver Ty subindo as
escadas, ele me encara, seus olhos estão marejados e tento me lembrar a
última vez que o vi chorar foi no velório de sua mãe. Ele para por um
segundo. Quero abraçá-lo, mas Tyson Jackson não gosta de ser abraçado por
ninguém, então eu apenas dou a ele um pequeno sorriso que diz que estou lá
por ele, e Ty me surpreende quando responde:
— Não se preocupe, ele vai voltar. — E, dizendo isso, ele entra em seu
quarto, batendo a porta ao passar por ela.
Desço os degraus da escada em direção a sala e meu coração se parte
com a imagem de TJ sentado no sofá, a cabeça enterrada entre as mãos, ao
lado de um copo de uísque. Ele inclina a cabeça para mim quando me ouve
chegar e caminho até ele, me ajoelhando em sua frente para abraçá-lo. Seus
braços fortes me contornam e eu o aperto forte, minha mão subindo e
descendo em suas costas.
— Eu sinto muito, TJ.
— Eu me sinto tão idiota. Como se tudo o que eu tivesse vivido até
aqui... fosse a porra de uma mentira.
— Olha aqui. — Espalmo a mão nas laterais do seu rosto e o levanto
até que seus olhos estejam nos meus. — Você foi bem cuidado, teve uma
infância linda e tudo o que viveu foi verdadeiro e se, houvesse apenas uma
verdade no mundo, essa verdade seria que Helena e Jimmy Jackson amaram
vocês.
Uma lágrima corre sobre a bochecha de TJ e eu a seguro com o polegar.
Eu amo o coração desse garoto.
— Ele disse que não sabia sobre Max. Ele jurou por minha mãe.
— Eu realmente não acho que ele seria capaz de mentir sobre isso.
— Você acha? — Um misto de esperança dança sobre seus olhos. —
Você realmente acha, Kyra? Ele nos comprou!
Sim, eu acho, mas ainda assim eu também não posso acreditar que
Helena pode ter comprado os gêmeos. Eu não consigo visualizar uma cena
onde ela pega os bebês enquanto Jimmy conta o dinheiro. Parece horrível
demais.
— Não sei o que pensar sobre isso, TJ, mas eu realmente acho que eles
não sabiam sobre Max.
— Obrigado por isso. — Ele encosta sua testa a minha por dois
segundos, antes de se afastar novamente. — Eu sinto tanto por Max, que não
faço ideia de como ajudá-lo.
Falar de Max com TJ é estranho para mim.
— Ele foi abandonado, Ky, teve uma vida de merda. Eu... eu não
consigo lidar com isso, desde que ele saiu por aquela porta, eu só pude
pensar em todas as datas. Dia de Ação de Graças, Natal, nossos aniversários,
no quanto tínhamos enquanto ele não tinha nada. No que comíamos
enquanto ele não comia nada. — Ele faz uma pausa, alcançando o uísque,
tomando tudo em um único gole. — Você estava ouvindo? — ele pergunta e
assinto. — Ele comia do lixo, porra!
As lágrimas de TJ começam a cair ao falar de Max e meu coração
afunda. Não fazia ideia do que se passava em sua cabeça até aquele
momento. Eu sei que ele havia recebido o irmão de braços abertos, mas não
fazia ideia do quanto ele pudesse amá-lo em tão pouco tempo; e quando vi,
eu estava chorando junto, fungando como uma louca.
— Não culpe seu pai por querer uma família, TJ.
— Nem sei o que dizer, eu apenas... Max é tudo o que eu consigo
pensar.
— Eu sei, talvez seu pai tenha cometido um erro enorme ao ter
comprado vocês e não ter feito da forma correta, mas, pensa bem... Talvez o
que ele fez tenha sim sido a coisa certa.
— Me explica como comprar duas crianças parece certo, Kyra?
— Como você acha que teria sido, Tales? Acha que essa mãe de merda
que vocês tinham teria criado os três juntos? Você e Tyson tiveram uma vida
incrível juntos ao lado de pais que amaram vocês.
— E quanto ao Max? Talvez nós três pudéssemos ter vividos juntos em
orfanatos. Poderíamos ter tido uma infância, nós três. Nós somos três, porra!
— Sim, vocês podiam ter sido criados juntos, quem é que sabe? Ou
talvez alguém tivesse adotado cada um de vocês separadamente. Talvez você
sequer teria o Ty. — Seus olhos encontram os meus. — Quem é que sabe,
afinal?
Ele assente, pensativo.
— Isso é tão fodido... eu... não sei como Tyson consegue lidar tão bem
com isso.
— O fato dele não ter quebrado nada, não significa que ele está lidando
bem, TJ.
— Nem sei se Max vai voltar. — Ele se joga para trás, tocando as
costas no encosto do sofá. Eu me arrumo no chão, sentando-me com as
pernas cruzadas, minhas mãos tocando sua panturrilha. — Ele nem tem uma
porra de celular!
— Talvez você devesse dar um a ele quando ele voltar.
— Se ele voltar, Kyra. — Seu comentário me causa pânico. — De
qualquer forma, ele é orgulhoso demais para aceitar.
— Apenas dê um celular usado para ele e diga que você não o usa mais
e está jogando em algum canto pegando poeira. — Dou de ombros. — Se ele
souber que não faz diferença para você é mais fácil para ele aceitar. Diz que
é bom poder falar com ele quando precisar.
— Faz sentido — murmura, esfregando o rosto. — Que caralho! Eu
apenas estava bêbado e pelado jogando beer pong e agora eu tenho pais
adotivos que me compraram, pais biológicos que estão mortos e um irmão
imprevisível.
— Outro irmão imprevisível. — Eu o lembro e, pela primeira vez, um
sorriso lindo surge em seus lábios.
— Pelo menos, não fodemos com o que tínhamos.
Sorrio, assentindo. É verdade e aquele momento com ele é a prova de
que permanecemos como éramos antes.
— Quer dizer... nós fodemos. — Ele dá um sorriso que alcança os
olhos. — Só que não fodemos com o que tínhamos.
— Cale a boca, TJ! — Encosto minha cabeça em sua perna e fecho os
olhos, desejando que Max volte para casa.
Meu coração bate como um louco quando invado o quarto de
Maximum às duas da manhã e me deito em sua cama, vazia. O cheiro de seu
perfume deixa ainda mais presente a realidade. A realidade que me deixa
acreditar que estou ficando louca. A expressão “borboletas no estômago”,
que sempre achei ridícula, agora faz sentido para mim e eu me sinto ansiosa,
tanto como quando bebo três xícaras de café preto seguida da outra.
Como uma amiga.
Minha cabeça repete diversas vezes. Eu esperarei por Max acordada
como uma amiga. Então nós conversaremos e, quem sabe, eu possa fazê-lo
se sentir melhor, como fiz com TJ mais cedo. Uma amiga. Max não tem
ninguém, afinal. O problema é que, quando a gente acredita em uma coisa,
essa coisa não precisa ser repetida até que grave em nossa memória, porque
quando se acredita em algo, isso vai além do cérebro, está no peito. O
coração não precisa ser lembrado de algo.
Ainda estou furiosa pela forma como Max agiu comigo na piscina,
como se suas mãos tivessem tocado algo sujo ou imoral, mas eu apenas não
consegui me afastar, mesmo que isso fizesse de mim o tipo de pessoa que
temia. Ele pisou na bola, mas eu permaneci, como quando fazia com TJ ou
até mesmo com Ty. Talvez isso fosse um grande defeito meu, afinal,
continuar, insistir, permanecer mesmo quando você sente que pisam sobre
você. Mas eu costumo pensar que é a mesma qualidade que mais admiro em
meu pai: sua consistência.
Fecho meus olhos, dizendo para mim mesma que esperarei apenas mais
alguns minutos e se Max não atravessar a porta à minha frente, eu voltarei
para o meu quarto e nós conversaremos no dia seguinte. Mas eu sinto que
preciso estar no seu quarto, temo que ele entre na casa sorrateiramente,
pegue seus pertences e suma no mundo. Sem um aparelho celular, sem um
endereço fixo. TJ nunca o perdoará se o fizer. Ficar acordada por mais
alguns minutos é o grande plano, mas o grande problema é que eu apago.
Ouço um pequeno ruído no quarto e lentamente abro meus olhos para a
escuridão que me recebe. O perfume peculiar que sinto é um convite bem-
vindo que eu adoro receber, mas que minha consciência gradativamente me
lança um sinal urgente. Eu me movo na cama, olhando para o pequeno facho
de luz que atravessa o quarto até tocar a parede a sua frente, iluminando um
quarto que não é meu.
Piscando forte, tentando me encontrar na penumbra, enquanto meu
cérebro volta a funcionar, a realidade me atinge como um sopro quente nessa
noite de verão. Não é o meu quarto e o corpo que eu encaro sentado no chão,
com a cabeça enterrada sobre as mãos, é nada menos que Max. Arrasto
minhas pernas para fora da cama, passando a mão em meu rosto para que eu
possa despertar e encarar alguém que ainda não conheço: Max bêbado.
— Você está fedendo. — Aponto para o seu corpo, como se ele
precisasse saber que eu estou falando dele.
— Você tem uma forma sutil... — ele enrola a língua — de sempre
começar uma conversa, Oklahoma.
— Max, quanto você bebeu?
Ele parece realmente pronto para vomitar.
— Não interessa.
— Você está tentando se matar? — Eu me levanto, cruzando os braços
sobre os seios.
Mas que merda!
— Ah, talvez... — Ele dá de ombros, com a fala tão arrastada e
inconsistente que me faz acreditar que, por um pouco mais, ele estará em
coma alcóolico. — Quem é que liga, afinal?
— Seus irmãos ligam, eu ligo!
Um sorriso de escárnio se forma em seus lábios e meu coração dói pela
centésima vez nessa noite.
— Oh, que grande coisa! Duas semanas foram o suficiente para vocês
três me amarem!
— Max...
— Me diz, Kyra! — ele grita, erguendo os braços no ar. — Como você
é capaz de suprir vinte e três anos de convivência em duas malditas
semanas?
— Vocês possuem uma conexão, são trigêmeos. Ficaram juntos por
nove meses antes de nascerem.
Max sorri amargamente.
— Nove meses dentro da barriga de uma vagabunda viciada. — Ele
joga seu corpo para trás, sua cabeça tocando o pufe. — Que porra de mãe
afinal faria o que ela fez se não fosse uma?
— Você não sabe seus motivos, talvez tivesse uma doença, talvez fosse
pobre, ou...
— Você teria vendido seus filhos se estivesse em uma dessas
condições? — ele grunhe quando eu não respondo. — É claro que não.
— Você precisa esfriar sua cabeça.
— Não preciso esfriar porra nenhuma, eu vou embora.
— Embora? — de repente, eu estou gritando desesperada. — Você nem
tem para onde ir!
— Foda-se! — Ele bate no peito. — Eu sou feito de recomeços.
Eu me sinto prestes a desmoronar. As palavras de Max são tão pesadas
a ponto de me fazerem sentir sufocar. Eu estou em um barco e, de repente,
alguém me lança no mar, com uma grande e pesada pedra amarrada ao meu
tornozelo, fazendo-me afundar cada vez mais.
— Você está bêbado, não pode sair assim.
— Nunca segui regras, Loirinha. — Max se senta novamente,
balançando seu corpo para frente e para trás.
— Max, por favor...
— No orfanato, nas ruas, com o cara que me acolheu. Em lugar algum.
Apenas eu e a forma como eu escolhia viver. — Ele se levanta,
cambaleando. — Então, se eu estou dizendo que vou embora, é porque eu
vou.
Estou tão desesperada que pensei na arma que havia dentro da sua
mochila.
— Você não precisa fazer isso... Você é bem-vindo aqui.
— Bem-vindo, Kyra? — Ele se inclina para a frente e tudo o que eu
quero fazer é abraçá-lo.
— Seus irmãos o amam e TJ está péssimo porque acha que você foi
embora.
— Ele vai superar depois de algumas festas.
Aponto com o indicador em seu peito. Odeio a forma como falou do
irmão.
— Se você insultar TJ outra vez, eu juro que uso a máquina de choque
que você ainda não viu.
— O que foi, Oklahoma? Você não suporta que eu fale do seu
namoradinho? Ainda quer o pau dele entre suas pernas?
Eu sei o que ele está tentando fazer, é outra grande semelhança com Ty.
Insultar e ofender pessoas para que elas se afastem, e eles tenham o que
querem. Isso é uma forma de sabotagem.
— E daí, se eu estiver? Posso ter quem eu quiser entre minhas pernas.
— Eu sorrio. — Sou uma mulher livre e apenas homens que suprem a falta
de um pau grande dizem o contrário.
Ele sorri, mas não é um sorriso forçado ou rancoroso, ele parece...
orgulhoso, embora tente esconder.
— Foda-se tudo isso, Kyra... eu estou indo nessa. — Ele abre seu
armário e alcança suas malas feitas.
— Uau, você deixou suas malas prontas?
— Deixei, eu só não imaginei que você estaria na porra do meu
caminho!
— Você mal consegue falar, Max, se quiser ir, okay, mas faça isso
quando estiver sóbrio. — Coloco-me à sua frente quando ele cambaleia
tentando chegar até a porta.
— Saia da minha frente! — ele rosna para mim, com seu rosto quase
colado ao meu.
— Eu não vou sair.
Estufo meu peito, como se fosse me deixar mais ameaçadora, o
problema é que eu tenho menos de um metro e sessenta e ele deve ter no
mínimo um e oitenta e cinco. Maximum sorri, como se eu fosse patética e
aproveito o momento para arrancar a chave da moto das suas mãos.
— Eu não vou deixar você se matar, Max.
— Me devolve essa porra de chave! — Ele estica o braço, mas eu me
esquivo. — Qual é o problema se eu estiver morto, afinal? Você tem outros
dois iguais a mim, caralho! — Dá outro passo e o impacto de nossos corpos
me lança na porta.
— Vocês não são a mesma pessoa, e eu estou fazendo isso por todos
vocês. Por favor, Maximum, apenas espere até amanhã.
Ele une as sobrancelhas.
— Olha só como você é hipócrita... eu não posso ir agora porque, se eu
estiver morto, vou machucar seus amiguinhos, mas posso ir amanhã porque
minha partida não fará alguma diferença.
— Não, claro que não!
— Xeque-mate, Loirinha.
Abro os braços, desesperada por não estar conseguindo fazê-lo mudar
de ideia.
— Não, o que eu estou fazendo é tentando mantê-lo seguro, Max. Não
posso deixar você passar por essa porta e subir em uma moto do jeito que
você está. Não posso! Como você não consegue ver que seu lugar é aqui? —
começo a chorar e sequer me preocupo com o fato de estar parecendo uma
louca desesperada. — Estou tentando ajudar você, Max.
— Como? Se exibindo para mim em seus biquínis minúsculos?
Enlaçando seu corpo ao meu sobre a minha moto? Dormindo enroscada em
mim? Me diz, como isso me ajuda?
Sinto como se um soco acertasse meu estômago.
— O quê? — pergunto enfurecida. — Você... eu...
— Parece que você está tentando foder ainda mais comigo. Ou foder
comigo, eu ainda não sei, você é confusa demais.
Levanto meu braço, acertando um tapa em seu rosto. Max arregala os
olhos e cambaleia para trás, sua sobriedade dá um pequeno passo.
— Você fica aí todo na moral falando de hipocrisia, mas não enxerga
que entrou no meu quarto naquela noite, você me ofereceu carona e você...
— eu toco seu peito com o indicador — entrou naquela maldita piscina atrás
de mim. É sempre você, Max!
Ele fecha os olhos e apoia um braço ao lado da minha cabeça, contra a
parede. Seu corpo levemente curvado para a frente. Meu coração bate forte
demais conforme sinto o sopro pesado e eufórico da sua respiração. Ele une
as sobrancelhas, parece tão confuso, mas... tão lindo e perdido. Como eu
posso estar querendo abraçá-lo e beijá-lo depois de tudo o que me disse?
— Eu não posso ficar na casa que aquele filho da puta pagou! Eu não
posso...
— Dê a ele uma chance, Max, por favor...
Quando um fio de lágrima corre sobre sua bochecha, eu sinto que uma
faca está me atravessando, acertando minhas entranhas e me abrindo como
um peixe fresco. Não é o pesar que eu sinto por Ty e a falta de intimidade
que eu tenho para lhe dar um abraço, tampouco é como o peso no peito que
eu sinto por ver TJ sofrendo pelo irmão perdido. O que eu sinto por Max
naquele momento é desesperador, eu quero me ajoelhar aos seus pés e
agarrar suas pernas para que ele não vá embora.
— Você confia em mim? — Seus olhos se abrem e o verde repleto de
lágrimas golpeia meu rosto.
— Sim! — Max rosna a contragosto e pela primeira vez, desde que ele
entrara no quarto, meu corpo relaxa.
Ele confia em mim.
Seguro seu rosto, passando o polegar para juntar a lágrima que alcança
seu queixo. Maximum inclina levemente a cabeça, afundando sua bochecha
na palma da minha mão. Um suspiro pesado deixa seus pulmões, enquanto
ele permite se perder no nosso pequeno contato.
— Então dê ao Sr. Jackson apenas uma chance. — Faço uma pausa. —
Por mim, porque eu confio nele...
Ele parece relutante, mas me surpreendo quando diz:
— Por você, Oklahoma.
Por mim. Ele está ficando por mim. Não por Ty, não por TJ, não por
sua curiosidade, mas por mim. Eu devia estar furiosa com as coisas que me
disse, com a forma como me insultou, mas, em vez disso, eu estou feliz por
ele ter apenas ficado. O que há de errado com o meu orgulho, afinal? Bom, a
verdade é que a palma da minha mão ainda arde pelo tapa que dei, então, se
estamos mesmo falando em orgulho, eu penso que talvez tenha manifestado
o meu, de uma forma única. Da minha forma.
— Você tem a porra de uma mão pesada do caralho!
Ele passa a palma da mão em sua bochecha.
— Seu vocabulário é ainda mais bonito quando está bêbado.
Ele ri.
— O seu não fica longe mesmo quando está sóbria.
Eu rio.
— Beijos, armas, spray de pimenta, máquinas de choque e um belo
tapa. — Ele abre um sorriso tão pervertido que eu posso ter molhado minha
calcinha. — Parece que você é mesmo para se casar, Oklahoma.
— Você deveria tomar um banho frio. — Ainda estamos na mesma
posição; eu ainda permaneço colada à porta e ele ainda está inclinado sobre
mim.
— Posso lidar com o calor que está acontecendo dentro das minhas
calças.
Ruborizo, apesar de manter minha postura. Pensar no que há dentro de
suas calças me deixa animada.
— Não estou falando sobre isso o que chama de pau, estou falando
sobre sua embriaguez.
— Eu me sinto embriagado, Ky, mas não é de álcool.
Como foi que nossa briga havia se transformado nisso?
Maximum se curva ainda mais sobre mim, eu posso sentir o sabor de
uísque em seus lábios sem que esteja tocando-os. Seu nariz roça no meu e
sua cabeça se inclina levemente para o lado. Eu estou tão molhada que tenho
certeza de que posso sentir através do algodão da calcinha. Um gemido
involuntário escapa dos meus lábios e ele grunhe, empurrando minha cabeça
com a dele, as mechas de seus cabelos sobre os meus olhos.
Eu quero tanto beijar Max naquele momento que o desejo dói, meu
couro cabeludo e dedos dos pés formigam e a pressão que sinto pulsar sobre
o meu sexo me enlouquece. Eu estou pronta para ele e sequer o beijei ainda.
Ele geme tão baixinho que eu posso jurar que é um canto sagrado escapando
dos céus, sua mão se perde em minha nuca, seus dedos enterram dentro dos
meus cabelos e gemo novamente.
Como pode um quase beijo ser tão sexual a ponto de fazer com que eu
pense que posso gozar apenas por ser tocada no rosto por Max? Sua boca
toca a minha, tão quente e sólida que eu me sinto desmanchar, ele suga meu
lábio inferior, mordiscando-os, eu posso sentir a calmaria antes da
tempestade se formar, aquele momento em que tudo fica silencioso antes do
primeiro raio rasgar o céu antecedendo o som do trovão.
Sua língua toca a minha e seu quadril esmaga o meu contra a parede,
sua enorme ereção toca minha barriga. Max enfia outra mão nos meus
cabelos e me segura com tanta força que eu sinto que a terra para de girar.
Apenas nós dois no mundo inteiro. Max e eu, eu e Max, e sua língua
explorando minha boca deixando um leve gosto de uísque que eu sei que
nunca serei capaz de esquecer.
— Deus... — ele sussurra quando se afasta apenas para que possamos
retomar o ar.
— Pensei que não fosse um cara religioso. — Eu sorrio, tão perto dele
que meus lábios roçam nos seus.
— Eu não sou.
Suas palavras caem tão pesadas sobre mim que eu me sinto afundar na
areia movediça. Ele não é religioso, mas está chamando por Deus enquanto
me beija. Deve significar alguma coisa, não? Pelo menos, eu quero que
signifique. Quero que Max esteja tão perdido, alucinado e enlouquecido
quanto eu me sinto naquele momento.
Ele desce suas mãos pela lateral do meu corpo e depois as desliza até
minha bunda, apertando-a enquanto me pressiona ainda mais contra seu pau.
Talvez esteja esfregando na minha cara que é bem-dotado depois de me
ouvir fazer diversas piadas sobre isso, mesmo que saiba que eu o estou
apenas provocando. Ele cambaleia um pouco para a frente, mas eu não sei se
ainda está muito bêbado ou se eu o estou deixando tonto.
Max me puxa para o seu colo e eu entrelaço minhas pernas sobre sua
cintura, enquanto meus dedos percorrem seus cabelos, puxando-os para trás
enquanto mordisca seus lábios a caminho da cama. Eu não me importo que
ele tenha bebido, que tivemos uma briga e tampouco que iremos transar
quando sequer nos beijamos de verdade até aquele momento.
— Por favor, me peça para parar, Kyra... — murmura em meus ouvidos
quando minhas costas encontram o colchão macio.
— Não... — gemo, erguendo meus quadris para que ele deslize meu
vestido para cima. — Não pare...
— Você é tão linda...
Ele retira a minha peça de roupa e a joga no chão. Eu não me sinto
acima do peso enquanto Max olha para mim como se eu fosse algo raro. Sei
que minha satisfação com meu corpo não tem que estar relacionada a um
homem, só que, ao mesmo tempo, eu sei que ele não é qualquer homem.
Maximum corre suas mãos sobre a pele do meu pescoço, deslizando até
meus seios antes dele abocanhá-lo, me fazendo quase gritar. Sua mão direita
continua descendo, até que as pontas dos seus dedos estejam no elástico da
minha calcinha.
Desço minha mão alcançando a sua, levantando o tecido sob a palma
dele, liberando espaço. O gemido que Max deixa escapar é assustador,
porque ele parece instável. Sua mão desce sobre o meu sexo e eu afundo
minha cabeça no travesseiro, sentindo seu dedo médio traçar uma linha entre
meu clitóris e minha abertura. Maximum faz outra vez o movimento,
enterrando dois dedos em mim enquanto seu polegar pressiona meu ponto G.
— Porra, como você pode estar tão molhada?
Sorrio, apesar de meu pensamento estar um pouco mais abaixo naquele
momento. Como eu posso estar tão molhada? Eu certamente não responderei
que ele me deixa dessa forma e que estar sendo fodida pelos seus dedos é o
melhor sexo que eu havia feito durante a minha vida inteira e ele sequer
havia usado seu pau ainda. O nome disso? Química! Eu estou molhada dessa
forma porque nós podemos passar metade do nosso tempo brigando um com
o outro, mas não podemos negar a química que temos juntos.
— Eu preciso de você dentro de mim agora, Max... por favor.
Ele pressiona toda a palma da sua mão cobrindo todo meu sexo, eu
posso sentir pulsar sob seu toque. Pulsando, pulsando, pulsando. Eu preciso
dele dentro de mim ou irei gozar. Max se curva sobre meu corpo e morde
minha orelha, enquanto desliza para dentro de mim novamente, seu polegar
faz círculos em meu clitóris. Eu sorrio como uma idiota, agradecendo o fato
dele saber exatamente o que fazer.
Começo a rebolar, me contorcer em sua mão, enquanto ele me fode
com seus dedos mágicos. Max está apoiado em um cotovelo, sua boca
tocando minha orelha quando ele ofega, abafando qualquer ruído que eu
possa ouvir fora desse quarto. Sua mão livre pressiona o meu pescoço, seus
quatro dedos de um lado e o polegar no meu queixo, tão sexy e dominador
que eu sinto que estou chegando lá.
A ereção de Max dentro de sua calça apertada toca minha coxa, mas
àquela altura eu sei que não o terei dentro de mim. Tento deslizar minhas
mãos para dentro de suas calças, mas ele afasta seu quadril, forçando ainda
mais seu polegar, me fazendo gemer, rebolar, me contorcer e enterrar minha
boca na sua para que ninguém ouça meu gemido enlouquecido enquanto eu
gozo em seus dedos.
— Goze pra mim, Oklahoma...
Eu não posso me expressar com nada que não seja um palavrão ou um
nome religioso, então fico em silêncio para não parecer desesperada,
deixando que a voz de Maximum continue sendo sussurrada no silêncio
estrangulador, mesmo que ele não esteja dizendo mais nada. Como um eco
que se repete na minha mente.
Goze pra mim, Oklahoma.
Pra mim, Oklahoma.
Oklahoma.
Finalmente gozo, sou capaz de sentir minhas bochechas quentes, meu
couro cabeludo suado, minhas pernas moles e meu corpo inteiro trêmulo
enquanto Max desliza seus dedos para fora de mim, fazendo eu sentir sua
falta iminente, como se eles fossem feitos para estarem lá. Eu estou ficando
louca, mas saber não me faz desejá-lo menos e eu estou encrencada, porque
não há nada em Max que o torne seguro, estável e certo para mim.
— Me conte alguma coisa sobre você — ele pede, traçando o dedo
indicador no ossinho da minha clavícula.
— Você não acha que tem apelidos demais para mim?
Ouço seu riso manso, até parece que ele quem havia acabado de gozar.
— Eu acho que não... — Ele desce seus dedos até meu braço, ainda me
acariciando e eu me lembro da forma sexual como ele posicionou o braço
sobre os ombros de Cami na noite em que TJ e eu terminamos.
— São cinco da manhã, Max — bocejo. — Eu acho que devo ir para o
meu quarto e dormir, porque amanhã eu trabalho.
— Eu sei...
Ele parece vago, mas eu sei o que estou fazendo. Max está tentando
anular seu confronto com Jimmy quando descer para o café, ou para o que
quer que o faça sair do quarto. Ele sabe que, quando acordar, terá que pôr os
pingos nos is e tomar uma decisão sobre o seu futuro, o problema é que ele
não tem opções. Eu quero poder fazer algo por ele.
— Eu tive um cachorro quando era criança, o nome dele era Salem.
Não deixo de sorrir como uma idiota quando o rosto de Max é tomado
por um enorme sorriso.
— Tipo o nome do gato de Sabrina, a bruxa?
Assinto, feliz por ele conhecer.
— Sim, só que era um cachorro.
— Você é uma mulher surpreendente, Bruxinha.
Reviro os olhos.
— Não enche, Max.
— Continue... — ele exige, enrolando uma mecha do meu cabelo loiro
entre seu polegar e indicador.
— Uma vez, Tray pulou a janela da minha casa enquanto meus pais
estavam dormindo. — Dou uma risada mansa, me lembrando da expressão
da minha melhor amiga. — Ela queria mostrar umas provas e não percebeu
que ele dormia em uma almofada logo abaixo dela. Quando seus pés pisaram
em seu rabo, ele a mordeu na bunda. Ela ainda tem uma pequena marca lá.
— Uma bunda pela outra é justo. — Ele parece se divertir.
— Tyson passou a infância inteira rindo dela por isso. Foi um erro ter
contado aos irmãos no dia seguinte na escola, mas eu juro que a intenção não
era magoá-la. Só que... sempre houve uma coisa entre os dois, uma
rivalidade que nunca acabou.
— Talvez os dois sempre estiveram apaixonados um pelo outro.
Semicerro os olhos. Dizer que os dois são apaixonados porque vivem
brigando é uma indireta para o nosso lance ou ele realmente acredita nisso?
De qualquer forma, eu sorrio e nego com um aceno.
— Nãooo, impossível. Ele não faz o tipo dela.
— Bom, Ty é um homem muito bonito. Ele deve fazer o tipo de
qualquer uma. — Ele sorri diabolicamente.
Forço um riso que sequer precisa ser forçado.
— De qualquer forma, mesmo que ele não tivesse mordido sua bunda,
Ty teria provocado ela. Afinal, quem pula uma janela no meio da noite para
mostrar uma maldita nota alta?
— Era um A+, pelo menos?
Assinto.
— Ela nunca tirava menos do que isso. Sinto falta dela.
É naquele momento que a realidade sopra em meu rosto, fazendo meus
cabelos balançarem com a verdade que ela traz. Eu tenho Ty, TJ e Beth, mas
faz muito tempo que alguém não me ouve de verdade. Eu estou sempre
pronta para ouvir e disponível para despejar meus conselhos, mas ninguém
nunca mais me perguntou como eu me sinto de verdade tendo minha família
morando na Geórgia e minha melhor amiga em New Haven.
Como eu me sinto? Como estou lidando um ano longe de meus pais,
sem a casa onde morei os últimos quinze anos? Vazia. É assim que eu estou
me sentindo. Meus pais são maravilhosos, eu sinto falta deles. Minha irmã
está sempre pronta para me ouvir e disposta a me chantagear para que eu
lave a louça por um mês em troca dela guardar um segredo, mas eu a amo.
É tão bom conversar com alguém.
— Quanto tempo você está nessa casa?
— Um ano. Meus pais se mudaram para a Geórgia para a chegada do
meu sobrinho, Joseph.
— Irmão ou irmã? — pergunta, interessado.
— Uma irmã mais velha, ela se chama Lizzie.
— Legal. — Max coloca a mecha entre seus dedos para trás da minha
orelha. — O que ela fazia na Geórgia afinal?
— Ela se apaixonou por um cara pela internet.
— Parece arriscado demais.
— Ela gosta de aventuras. — Dou de ombros. — E Chris é um cara
legal, de verdade, ela engravidou poucos meses depois de ficarem juntos.
— Uau!
— Sim... De qualquer forma, não é fácil que meu relacionamento com
meu sobrinho seja baseado em chamadas de vídeos.
— Às vezes, você está rodeado de pessoas, mas nenhuma delas te
enxerga de verdade. Joseph vai entender que o que importa é que ele pode
contar com sua tia quando precisar.
Sinto minha garganta fechar.
— É como eu costumo pensar...
— O que vai fazer depois que se formar?
Deixo escapar um suspiro pesado, havia pensado tanto nisso sem
chegar a alguma conclusão que ouvir uma frase na qual as palavras “fazer” e
“formar” se relacionam me faz querer vomitar.
— Sinceramente? Não sei. Eu sinto que fiz tudo errado, mas que, ao
mesmo tempo, apenas devo continuar fazendo até que entenda o motivo.
— Então seu lema é fazer errado até que chegue ao lugar certo? — Ele
parece confuso.
Bom, tecnicamente eu estou cometendo outro erro estando deitada em
sua cama, mas certamente, parte minha também quer saber aonde isso
chegará.
— É mais ou menos isso.
— Consigo entender então o que você faz na minha cama às cinco da
manhã, Loirinha. Você gosta de cometer erros.
— Parece que você lê mentes, Max.
— E você quer ir para a Geórgia depois? — Ele está tão interessado na
minha vida, que até mesmo eu começo a me empolgar com meu futuro
incerto.
— Honestamente?
— Sempre. — Seus olhos verdes me analisam minuciosamente.
— Eu não faço ideia.
— Então você está prestes a se formar e não sabe o que vai querer ser
ou aonde vai querer viver? Você parece tão perdida quanto eu.
— Não vejo um futuro na Geórgia.
Também não me vejo longe de Ty e TJ, mas minha família vem em
primeiro lugar.
— Eu gosto de Boston, mas apenas não sei... É como se eu não
conseguisse me encontrar em nenhum lugar por onde estive.
— Talvez você devesse se casar comigo em Vegas, nós poderíamos
viajar sobre minha Harley, vender nossa arte na praia para ganhar uma grana.
Sorrio, apesar de meu coração bater forte.
— Parece tentador, talvez eu não achasse você louco se nos
conhecêssemos mais do que duas semanas.
— Conexões não têm nada a ver com dias, assim como ela também não
tem prazo de validade.
— Você parece muito sábio para um cara que passa metade do seu
tempo criando apelidos para mim.
— Eu gosto do seu rosto quando ele está vermelho. — Max se inclina
levemente e mordisca minha boca.
Seu cheiro está em toda a parte.
— Sua jaqueta ainda está comigo — confesso.
— Agora eu tenho um pretexto para bater a sua porta amanhã à noite.
— Então você pretende ficar até amanhã à noite?
Minhas palavras parecem pesar sobre ele, assim como sua ausência
pesará sobre mim. Eu não quero que Maximum deixe aquela casa, assim
como também não quero ir para a Geórgia em alguns meses após concluir a
faculdade.
— Não sei o que eu quero na verdade, eu apenas sei que não gostaria de
falar sobre isso agora.
— Então você faz eu me abrir e é isso que eu ganho em troca?
Um sorriso pervertido se curva em seus lábios.
— Tecnicamente você quem ganhou algo em troca por se abrir para
mim.
Que ótimo, agora estamos falando das minhas pernas.
— O que quer que eu diga, Ky? — Dá de ombros. — Eu não tenho para
onde ir, não tenho uma conta bancária com economias, não tenho parentes
vivos que eu conheça, sequer sei quem eram as merdas de pais que me
largaram em um orfanato.
— Você deveria pesquisar por eles, talvez tenha algum parente vivo.
— E o quê? — Ele parece furioso. — Me instalar em suas casas?
Dormir em suas camas? Você acha que, se eles tivessem parentes, eles não
saberiam sobre nós?
— Desculpa, eu não havia pensado nisso.
— De qualquer forma... eu não sei ainda o que sinto em relação a Ty e
TJ, mas uma parte minha gostaria de descobrir.
Um sorriso enorme se forma em meu rosto.
— Gostaria que você desse uma chance a eles.
— Eu não posso prometer o que vou fazer, eu não faço ideia de como
será amanhã, e honestamente?
— Sempre — imito suas palavras.
— Estou cansado de não saber.
— Eu gostaria que você não tivesse passado por tudo isso. — Meus
dedos correm até sua bochecha e ele fecha os olhos.
— Eu sei — Max sussurra, e depois de um longo tempo quando acho
que pegou no sono, ele continua: — Você sente falta das pessoas que tem,
mas que não estão perto de você agora... — Concordo com um aceno,
sentindo seu murmúrio se instalar em um lugar novo dentro do meu peito. —
Mas, pelo menos, você tem alguém para sentir falta. Eu nunca tive ninguém.
Eu ainda não posso acreditar no quão fodido sou capaz de ser. Arruinei
com a única coisa boa que eu tenho e, por mais que eu esteja acostumado a
me sabotar, dessa vez eu sinto medo de verdade. Não fazia ideia de que
íamos acabar juntos naquela noite, mas o fato de eu desejar com todas as
minhas forças que sim, devia ter me feito fazer escolhas diferentes enquanto
estive fora por um tempo, pensando no que fazer antes de voltar para a casa.
O problema é que, mais uma vez, eu pensei com a cabeça errada e fodi
tudo, e agora só preciso esperar que a merda toque o ventilador. Eu sei que
virá rápido, afinal, nunca sou feliz por muito tempo, mas é a primeira vez
que eu não posso culpar um Deus ou ao sistema e sim a mim mesmo. A hora
que a pequena verdade vier à tona, eu perderei a única coisa boa e verdadeira
que tenho depois que Evy morreu: Kyra.
Como o louco filho da puta e egoísta que eu sou, eu a fiz gozar em
meus dedos, e, como se não bastasse, havia feito com que se abrisse para
mim. Informações que me torturarão quando ela se afastar. Eu quero poder
ajudá-la com suas questões, quero ver seus olhos azuis brilharem mais vezes.
Eu sinto que a quero o tempo inteiro e nada mais. Acredito que a parte
minha que vicia rápido demais em coisas que me fazem sentir melhor havia
me tornado dependente dela, cigarros, álcool e Kyra.
Eu venci todo o resto, mas, ainda assim, sinto que nunca serei capaz de
superá-la quando me deixar. Eu sou um fodido e não temos nenhum futuro
juntos, eu sei, e devia estar me afastando em vez de arrastá-la comigo para o
meu drama, mas eu não consigo, como um imã maldito que nos atrai sempre
que estamos perto demais. Eu não consigo evitá-la.
— Você deve estar com uma puta fome. — TJ aponta para o micro-
ondas. — Deixei seu almoço ali, é só aquecer.
Eu me surpreendo com suas palavras. TJ é um cara legal, ele está
sempre perto demais e, na maioria das vezes, tentando me fazer sentir à
vontade, enquanto Ty se mantém em silêncio, observando demais e me
avaliando.
— Eu não estou com fome, obrigado.
Ele aperta o botão e o micro-ondas começa a funcionar.
— Foda-se, você precisa comer, brother.
Sinto meu estômago se contorcer, porque TJ acabou de me chamar de
irmão. Eu sempre quis ter irmãos, uma família, mas nunca tive ninguém
além de mim mesmo. Se ele souber que estive prestes a me enterrar em sua
ex-namorada será que ainda estará lidando comigo dessa forma? Ele não faz
ideia do filho da puta que eu sou e eu desejava que Kyra não tivesse tido um
passado com ele, embora eu saiba que sou o parasita nessa história.
— Fico feliz que tenha ficado. — Ele coloca o prato na mesa e aponta
para que eu me sente.
— Eu ainda não decidi nada.
— Mesmo assim, aqui está você.
— Não é como se eu tivesse realmente para onde ir.
Eu realmente não quero agir como um filho da puta com... meu irmão,
mas me sinto como se eu tivesse sido jogado aos lobos enquanto os dois
foram escolhidos a dedo para terem uma vida digna. Qual era o meu
problema? Eu chorava demais? Era um bebê diferente dos outros?
— Pode parecer egoísta, mas eu fico feliz que não tenha. — Ele cruza
os braços sobre o peito nu.
Ele está sempre praticamente nu.
— Qual o seu problema com roupas, afinal?
TJ deixa escapar um suspiro pesado, ele parece aliviado.
— Elas me apertam demais. — Ele sorri largamente. Eu posso entender
o motivo de todos amá-lo e de Kyra ter acabado em sua cama.
Ele caminha até a porta que dá acesso ao quintal e se apoia, enquanto
usa o celular, me dando tempo para que eu coma. TJ parece impaciente, não
que ele seja calmo demais, mas parece nervoso. Assim que termino a minha
refeição, eu lavo meu prato e talheres e coloco no escorredor, que parece
mais caro do que tudo o que eu tenho ao mesmo tempo. Não que eu tenha
muita coisa, mas, ainda assim, minha Harley vale algo.
— Você parece um fodido cão de guarda.
— Eu não quero que você suma, Max. — Ele enfia as mãos nos bolsos
do short que é curto demais para que eu use um dia.
— Você ser meu irmão não é o bastante para você?
— Eu não sei o que é ter um irmão, TJ.
Ele me encara, com suas sobrancelhas unidas.
— Eu estou pedindo que se dê a chance de saber, então.
Um sorriso de escárnio se forma em meu rosto.
— O que vai fazer quando eu pisar na bola? — Abro os braços. —
Quando se der conta do cara fodido e egoísta que a vida formou?
— Eu vou chutar sua bunda e continuar ao seu lado, porque, sobretudo,
você vai continuar sendo o meu irmão.
— E quando cansar de chutar minha bunda?
Ele sorri, apesar de tudo.
— Você tem ideia de quantas vezes eu chutei a de Ty? E olha onde
estamos.
— Vocês foram criados para estarem juntos, é diferente.
— Sim, você tem razão. Nós dois fomos criados para estarmos juntos,
mas nós três fomos gerados para isso.
Faz sentido.
— Eu não faço ideia de quem era a nossa mãe, mas agora nossas
personalidades de merda fazem mais sentido.
— Você não é como ela.
— Talvez minha boa situação financeira me dê a chance de não acabar
atrás das grades, Max, mas eu não sei como seria se o cenário fosse outro,
porque, mesmo com tudo o que tenho e a forma na qual eu fui educado e
criado, ainda assim eu vivo me afundando nas minhas más decisões.
Se ele soubesse sobre as minhas más decisões, suas mãos não estariam
em seus bolsos agora e eu teria um nariz quebrado. Ele se aproxima de mim,
sua mão segura minha nuca enquanto me encara de perto. Eu não posso
desviar meus olhos dele, admiro sua força e a forma como me acolheu. TJ é
extraordinário.
— Você é um cara legal... — começo.
Ele sorri, com seus olhos quase fechados.
— Eu sei e cale a boca, apenas me deixe falar. — Ele dá dois tapinhas
em minha nuca enquanto eu assinto. — Você pode sair por aquela porta e
nunca mais olhar para trás, pode esquecer do tempo em que esteve aqui e
viver sua vida como sempre viveu. Você não precisa de nós, é a pessoa mais
forte e corajosa que eu já conheci, Max.
Caralho, eu estou mesmo querendo chorar como um maricas?
— Ou você pode simplesmente ouvir o que meu pai tem a dizer e ficar,
e então você terá uma família de verdade, pessoas que te amam e que
apoiam você, mesmo que sua bunda seja realmente chutada algumas vezes.
Nós podemos nos ajudar, nos defender, ser uma família de verdade, Max.
Não é como se estivéssemos te fazendo um favor. Isso não é apenas sobre
você, é sobre mim, sobre Ty, sobre nós três, caralho, você é nosso irmão,
porra!
— Eu não sei...
— Se você quiser sair por aquela porta e sumir no mundo, porque é isso
que estará te fazendo feliz, okay, eu apoio sua decisão, mesmo que queira
amarrar você no porão. Mas se você quiser fazê-lo, apenas por orgulho ou
qualquer outra merda que seja maior do que acha que deve ter... então você é
um maldito filho da puta. Você será egoísta com Ty e comigo não dando a
chance de sermos três.
Passo a mão no rosto, não consigo respirar direito com tanta
informação. TJ me quer por perto, ele me quer na casa, como seu irmão. E
eu também quero isso, quero estar perto dos dois mais do que já quis algo na
vida. Mas eu também quero não me sentir dependente de alguém novamente.
Uma casa, dinheiro, comida. Eu passei tudo isso com Steven depois que ele
me acolheu das ruas.
— Você não quer isso?
Sim, eu quero, porra.
TJ se afasta de mim com um pequeno sorriso e seus olhos caem sobre
meus ombros. Eu posso ouvir passos de mais de uma pessoa, então me viro,
avistando seu pai e Ty logo atrás. Eu sabia que eles chegariam juntos, sabia
que Tyson estaria de guarda para o caso de eu perder a linha, mas eu nunca o
faria. Nunca levantaria um dedo para o Sr. Jackson por respeito ao que meus
irmãos haviam feito por mim.
— Oi, filho. — Ele não está olhando para TJ, mas para mim.
Eu imploro novamente para o Deus que eu não acredito. Por que é que
eu estou fazendo isso de novo, afinal? Quando foi que eu me tornei um cara
que recorria ao Divino? Eu sei o que estou perdendo quando o ouço se
referir a mim como seu filho. Eu esperei duas semanas criando expectativas
para que isso fosse verdade, mas não é.
— Eu não sou o seu filho.
— Não, não é, mas é uma pena, porque eu realmente gostaria que fosse.
— Talvez você pudesse ter me comprado também. Não havia um
desconto na compra de três?
TJ suspira atrás de mim.
— Eu não sabia sobre você, nunca teria o deixado, Max.
— São apenas palavras de um homem que mentiu para seus dois filhos
por vinte e três anos.
Seus ombros caem em derrota.
— E o que eu diria? Que lhes comprei de uma mãe viciada?
Sinto suas palavras como se fossem uma enorme mão me dando um
tapa no rosto. Minha mãe era uma viciada. Que grande coisa, agora meus
antigos vícios fazem mais sentido para mim.
— Eles tinham uma mãe carinhosa, uma vida boa e estável e eu não
tinha motivos para lhes dizer que não éramos seus pais, mesmo assim, minha
esposa queria que contássemos em seus aniversários de dezoito anos.
— Eu já conheço essa história.
— Sim, porque ela é tudo o que eu tenho. Eu faria tudo de novo, daria
todo o dinheiro do mundo mesmo que isso me tornasse uma pessoa ruim,
porque eu os tenho. Dois filhos que amo, que constituíram a minha
felicidade e que realizaram o sonho da minha esposa de ser mãe. Ela os
amava e ela o teria amado assim que pusesse seus olhos sobre você.
Fecho meus olhos por três segundos. Uma parte minha sente vontade de
sair por aquela porta, mas outra parte, muito maior, acredita nele, em suas
palavras. No fundo, eu realmente não sou capaz de imaginar que ele sabia
que eram três e mesmo assim tenha deixado um para trás.
— Lamento muito por não ter prestado mais atenção, talvez eu pudesse
ter descoberto, mas... — ele passa as mãos pelo rosto, os olhos cheios de
lágrimas — eu estava com medo. Era algo ilegal, mas que eu estava disposto
a fazer por ela. Para realizar seu sonho. Você já amou alguém, Max?
Evy e Oklahoma vêm à minha cabeça e meu coração bate forte por
pensar nela naquele momento. Eu só posso estar ficando louco.
— Eu amei uma pessoa um dia, mas ela morreu.
Sinto a mão pesada de TJ apertar o meu ombro me mostrando o que é
ter uma família. Ele está sentindo muito por mim e a sensação de ter alguém
com quem posso dividir algo é totalmente incrível. Não é a primeira vez que
ele fica ao meu lado, mas é a primeira vez que eu vejo com clareza o que é
ter um irmão. Eu quero abraçá-lo. Eu quero ficar.
— Talvez não sejamos tão diferentes então.
— O que sabe sobre os meus pais biológicos?
— Não muito. — Ele faz uma pausa, dando um passo para frente. Sua
mão toca meu ombro, enquanto TJ mantém a mão apertada no outro. — Eles
estão mortos e eu realmente sinto muito, Max. Isso é tudo o que eu tenho —
revela a todos.
— Isso é uma merda — TJ murmura. Observo Ty, que se mantém em
silêncio desde que chegou e eu me pergunto se ele realmente também era
dessa forma quando ninguém sabia de mim. Talvez toda aquela postura aflita
seja apenas tudo o que ele sabe ser.
Meus pais, Steven e Evy estão mortos. Eu quero rir de como o destino
gosta de me pregar peças.
— Todos mortos, que ótimo. Do que ela morreu? — Sorrio, mas não
estou achando graça. — Ela cheirou todo o dinheiro dos bebês?
— Ela teve insuficiência pulmonar — responde. — Seu pai teve câncer
e morreu há duas semanas.
— Uau, que ótimo! Nossa genética é fodida também!
TJ, Ty e eu suspiramos em uníssono. Suas mãos ainda se mantêm em
meus ombros e eu me sinto bem. Sinto-me seguro pela primeira vez.
— Apenas fique, não pense a longo prazo, filho.
Encaro o chão.
— Não consigo sequer imaginar como foi ter sua vida, passar por tudo
o que passou, mas você está aqui agora. De alguma forma, o caminho de
vocês se uniu, colocando os três juntos de novo. Onde sempre deveriam ter
estado. Vocês são irmãos, são trigêmeos. — Jimmy seca suas lágrimas com a
mão livre. — Vocês conseguem imaginar o quão grande é isso?
— É, isso é fodido, mas é incrível — TJ murmura e eu deixo escapar
um sorriso, derrubando outro tijolo da parede que construí entre nós.
— Você pode continuar ganhando seu dinheiro arrumando seus carros,
e, embora não precise, você pode ajudar financeiramente se isso for fazer
você se sentir melhor.
Assinto, pensando no assunto.
— Sei que pode ser tarde para algumas coisas, mas nunca é tarde para
um recomeço, Max, e você parece saber disso melhor do que ninguém. Eu
gostaria que você ficasse com seus irmãos, que pudesse me perdoar pelo que
fiz, e que, mesmo que pareça tarde demais, me dê a chance de ser um pai
para você.
Ty assente para mim, me reconfortando e incentivando, sua mão agora
segura o ombro de seu pai, que segura o meu, da mesma forma que TJ o faz.
Ligando cada um de nós por um toque, que é capaz de fazer qualquer
passado de merda desaparecer em busca de um novo começo. Sinto-me
desesperado pela forma como suas palavras são capazes de atravessar meu
peito, como se uma espada me perfurasse. Eu estou caindo, até que fico de
joelhos e olho para um céu nublado. Eu sei que perdi essa batalha.
— Eu vou ficar — respondo, ouvindo seus suspiros de alívio iminentes.
Talvez eu não tenha perdido e sim ganhado, é tudo um ponto de vista.
— É sério, Max, eu não o uso mais. — Eu não preciso conhecer muito
sobre celulares para saber que o que TJ está balançando no ar é um iPhone.
— Eu não preciso de um celular.
— Não havia redes de internet e linha telefônica na Pensilvânia? — Ty
se joga no sofá e recolho minhas pernas antes que caia sobre elas.
— Como você fazia para trepar? — TJ pergunta.
— Você mete seu aparelho celular nas garotas ou o seu pau? — Eu
realmente quero saber.
— Geralmente o meu pau, o celular apenas quando elas pedem que eu
meta. — Ele dá de ombros.
— Isso não é higiênico, porra! — Ty comenta me fazendo rir.
— Me explica o motivo de eu precisar de um celular para conseguir
relaxar um pouco.
— Você precisa de todo um... — ele gesticula enquanto busca a palavra
certa — processo de preliminares, conversas, emojis de apaixonado e tudo
isso antes de conseguir algo com uma garota.
— O que diabos são emojis?
Os ombros de TJ caem em derrota.
— São bonequinhos, alguns com grandes sorrisos, outros com
pequenos corações no lugar dos olhos...
— Parece uma coisa de maricas — interrompo.
— Sim — Ty interfere.
— Você nunca teve um celular de verdade? — Ele realmente parece
surpreso.
— Não, nem de brinquedo.
— Uau, eu achei que estivesse fodendo com a minha cara! — Ele joga
o celular na minha direção como se fosse um pedado de pau ou qualquer
outra merda e eu me atrapalho tentando não o deixar cair no chão. — Ainda
tô esperando para saber como você conseguia garotas.
Eu sorrio, passando a mão no rosto.
— Elas iam arrumar seus carros e eu as fodia sobre o capô enquanto
preenchiam os cheques de pagamento. — Dou de ombros, não estou
mentindo.
— Certo... — TJ abre um sorriso tão largo, que contagia a Ty e a mim.
— Graças a Deus, um irmão no qual me orgulhar! — Ty comenta,
mexendo brevemente em seu celular, enquanto eu encaro o que está em
minhas mãos.
— Já está funcionando, há um chip nele, cheio de contatos antigos
meus, na verdade. O número da Cami está aí, caso queira... consertar o carro
dela.
Mantenho os olhos grudados no aparelho, pensando que a primeira
coisa que farei é excluir o número dela dos contatos. Não é uma boa ideia.
— O que está rolando entre vocês? — TJ pergunta, erguendo as
sobrancelhas, sugestivamente.
— Nós transamos, mas já acabou.
— É isso, aí, nada de amarras. — Tales tira seu celular do bolso e o
levanta no ar, virando a tela para nós.
Não, eu não quero estar amarrado com alguém no qual não sinto nada
além de tesão.
— Vamos tirar nossa primeira foto juntos, porra! — Eu posso ver o
sorriso largo dele através da tela, então mostro o dedo do meio quando ele
aperta o botão e, percebendo que Ty fez o mesmo, TJ protesta com um
palavrão, enquanto se senta no tapete, colocando os pés sobre a mesa de
centro.
— Vocês são dois fodidos! — Ele continua mexendo no celular, então
me olha empolgado. — Você precisa criar um Instagram, você vai conseguir
muito sexo lá. Quer bater uma foto para o perfil agora? Vamos lá, brother,
sorria.
Eu posso ver que ele está zoando apenas olhando a tela apagada de seu
celular, mesmo assim eu escondo meu rosto, sorrindo como um idiota.
— Coloca uma foto sua no meu perfil — murmuro. — Nenhum idiota
vai saber distinguir, afinal.
— É como se minha cabeça não estivesse funcionando corretamente, eu
queria que Helena pudesse ver vocês três juntos.
Jimmy Jackson entra na sala, segurando sua mala pesada em uma mão.
Meu corpo contrai por alguns segundos, até que meu cérebro me lembra de
que ele não é o inimigo, então volto a relaxar.
— Porra, eu sinto tanto a falta dela! — TJ olha para o porta-retratos
sobre a lareira, capturando a imagem da sua mãe sentada na mesma poltrona
que mantém no canto da sala, com um bebê em cada joelho.
— Eu também, todos os dias — responde.
Mantenho-me em silêncio, como Ty também o faz, sinto-me mais
acolhido por TJ, mas ainda assim me acho mais parecido com Tyson. Nós
não ficamos confortáveis expondo nossos sentimentos. Jimmy caminha até
os filhos e lhes dá um abraço de despedida, enquanto diz algumas coisas a
eles sobre dinheiro, próximos passos, empresa na qual trabalha, auxiliando-
os até sua próxima visita, depois ele acena para que eu o siga até a rua.
— Eu sei que você ainda está confuso, Max. É mais fácil para os
meninos saberem que há outro irmão, do que para você saber que são mais
dois. Eles já estão acostumados a terem um ao outro, você não. — Ele aperta
meu ombro, sorrindo. — Apenas não os magoe. Eles podem agir... como diz
a Kyra... como se estivessem com um pau enfiado na bunda. — Ele dá um
pequeno sorriso novamente. — Mas são leais, honestos e possuem o maior
coração do mundo dentro de seus peitos.
— Sim, senhor. Obrigado por me acolher aqui. — Aperto seu ombro
como resposta. — Eu vou ajudar como puder, eu prometo.
— Talvez até seja estranho para você me ouvir, Max, mas é como se eu
o tivesse ao meu lado uma vida inteira. Você tem o mesmo rosto das duas
pessoas que eu mais amo no mundo.
— Obrigado, Sr. Jackson. — Eu me sinto realmente grato por ele.
— Sei que você já é um homem formado, mas há mais futuro em sua
vida do que passado, então, se você permitir, se ficar, eu posso ser o pai que
achou que encontraria aqui.
— Eu ficaria feliz se fosse.
Ele me puxa para um abraço tão apertado, que é como se eu acabasse
de encontrar tudo o que procurei por anos. Jimmy não é meu pai biológico,
nem meu pai de criação, mas está me dizendo que gostaria de ser, apesar de
tudo.
— Você quer as informações sobre os seus pais? Posso pedir para que
alguém lhe envie pelo correio.
Uno as sobrancelhas, pensativo, mas acho que não preciso me
atormentar com algo que não mudará em nada a minha vida. Eram viciados
que não puderam amar seus próprios filhos, então eu tenho certeza de que
não encontrarei nada que seja bonito lá.
— Não, não acho que eu precise disso.
Um sorriso de pesar curva em sua boca.
— Coloque um pouco de juízo na cabeça de Ty, porque ele parece... eu
não sei, ele apenas não está em um bom juízo.
— Tudo bem.
— E quanto a Ky...
A simples menção ao seu nome faz meu coração saltar no peito.
— Não há nad...
— Ela é uma boa menina. O que teve com TJ, eu sempre soube que era
carnal... Mas se você... como vocês dizem hoje... — ele une as sobrancelhas.
— Se você estiver mesmo na dela, seja honesto com o seu irmão. Ele vai
entender.
— Tudo bem.
— Até mais, filho.
Sinto-me pequeno, mesmo com quase 1,90m de altura e encolhido e
fraco, mesmo com meus noventa e cinco quilos. Talvez isso se chame
vulnerabilidade. Eu nunca tive que respeitar ninguém que não fosse eu
mesmo, pensar em outra pessoa em primeiro lugar. Eu não sei o que é ter
irmãos. Simplesmente caio fora quando o negócio começa a ficar tedioso,
regrado ou pilhado demais. Nunca tive amarras, nunca gostei delas, mas,
naquele momento, olhando as costas de Jimmy Jackson enquanto ele se
afasta de mim, eu me sinto amarrado a outras quatro pessoas de uma única
vez, e nunca senti tanto medo na vida, quanto sinto de perdê-los.
— Então vocês... estão juntos como um casal? — Beth arqueia as
sobrancelhas três vezes.
Não, ele apenas usou seus dedos mágicos em mim.
— Não — respondo, revirando os olhos. — Foi apenas um beijo, Beth.
E que beijo... Eu ainda posso sentir sua boca sobre a minha.
— Certo... e... você contou algo a TJ? — Ela me encara de uma forma
estranha.
— Não...
— Por quê? Você acha que ele sente algo ainda por você?
— Tales e eu somos amigos que confundiram as coisas. Não acho que
ele sinta algo por mim. — Passo um pano úmido no balcão. — Só que nós
terminamos no sábado e Max e eu nos beijamos na madrugada de domingo.
— Oh... é verdade. — Ela desvia os olhos.
— Eu sei, eu me sinto uma vadia por isso. E, além disso, há todo o
drama rolando entre os irmãos Jackson.
— O Sr. Jackson está na cidade, certo?
— Como sabe?
Ela se vira de costas para usar a pia para lavar as mãos.
— Eu devo ter ouvido alguém comentar.
— Oh, sim, ele está. — Apoio meu quadril no balcão. — Eles precisam
resolver algumas coisas, estão se conhecendo ainda e eu não quero ficar no
meio deles.
— Entendi, sim, claro, você está certa, Ky.
— Foi um erro deixar que as coisas com Max esquentassem tanto.
— Mas ao mesmo tempo você acha que não é capaz de evitar.
— Parece que está falando sobre você.
Ela dá uma risada estrangulada, se afogando com a própria saliva, seus
olhos lacrimejam. Dou dois tapinhas em suas costas. O rosto de Beth está tão
vermelho quanto a regata que eu uso e ela ergue as duas mãos até seus olhos,
limpando o rímel borrado pelas lágrimas.
Seu celular apita sobre o balcão e meus olhos correm até ele, é uma
mensagem de TJ. Beth enfia o aparelho no bolso de trás e se inclina sobre a
bancada, retirando alguns copos de lá e os colocando na pia. Ela parece
desconcertada, estranha, atrapalhada, mas eu não sei, não entendo como do
nada Elizabeth começa a agir de forma duvidosa.
— Vocês estão bem de novo? — pergunto e ela me encara.
— Nós... sei lá, é apenas TJ, Kyra. — Ela dá de ombros. — Estamos
bem até ele fazer a próxima merda.
— O que ele mandou para você? Será que deu tudo certo com seu pai?
Meu coração bate rápido demais, porque eu sinto que estou prestes a
surtar com a falta de notícias. Eu sei que havia dado tudo certo entre eles na
parte da tarde quando os quatro tiveram uma conversa, mas deixar a casa
para vir trabalhar enquanto eles se mantêm lá, cheios de testosterona e uma
tendência a brigas e a foderem com tudo, me faz pensar em Max subindo em
sua Harley e se mandando.
Beth pega seu celular do bolso de trás e abre a mensagem, então seu
rosto cora gradativamente e ela o vira para mim, me mostrando uma foto dos
três. TJ segura o celular, um sorriso tão grande nos lábios que seus olhos
verdes se fecham um pouco. Atrás dele estão Ty e Max, ambos com o dedo
médio em frente aos seus rostos.
Eu quero sorrir, porque é a foto mais bonita que eu havia visto, apesar
de tudo. Porque eu estou muito feliz por eles. Mas uma parte minha só
consegue pensar na quantidade de mulher que esquentará a cama de Max
agora que ele decidiu ficar e pensar nele com outra pessoa me faz querer
quebrar coisas.

São duas da manhã quando entro no meu quarto e encontro Max


deitado sobre a minha cama. Suas longas e torneadas pernas estão cruzadas,
seus cotovelos tocam o meu colchão e ele segura um livro aberto nas mãos,
seus olhos presos nas páginas à sua frente e apenas uma luz fraca do abajur
sobre o criado-mudo ilumina o quarto.
Sexy, quente e inteligente como o diabo. Que grande coisa! Não é de
admirar que eu permiti seus dedos em mim na madrugada passada. Seu
cheiro está por todo o lado, eu posso sentir, mesmo que ainda esteja na porta.
Eu a fecho, encarando-o em busca de uma explicação. O que é tão urgente
que não pode esperar até a manhã seguinte? Seu rosto vira em minha direção
e um pequeno sorriso se curva em seus lábios. Deus, por que ele precisa ser
tão quente, afinal?
— Ei, Oklahoma. — Ele se ajeita na cama. — Vim pegar minha
jaqueta.
— Claro que veio. — Reviro os olhos, porque eu sei que ele está
arrumando um pretexto.
— Ela estava embaixo do seu travesseiro. — Seu sorriso se amplia. —
Você estava cheirando-a enquanto dormia nessa manhã?
— Não seja convencido, Max. — Jogo minha bolsa no pufe.
— Couro não parece confortável apenas para servir de apoio.
— O que você quer? — Coloco as mãos na cintura, meus olhos correm
para sua regata cinza, o buraco para colocar o braço é tão grande que eu
posso ver os músculos tatuados sobre suas costelas.
— Pare de me olhar assim, Bruxinha. — Ele ergue o livro no ar. — Eu
estou com as mãos ocupadas agora.
Eu sinto a chama do inferno alcançar minha bunda.
— Eu preciso dormir, Max. — A quem eu quero enganar, afinal?
Maximum fecha o livro com força o suficiente para fazer barulho ao
chocar as páginas divididas, então ele o coloca no criado-mudo e grunho
internamente ao me dar conta que é o meu livro. Oh, Deus!
— Não achei que curtia ménage, você é bem... safadinha.
— Cale a boca, Max! — Eu quero enterrar a cabeça na minha própria
bunda.
— Esse negócio de preencher todos os buracos... Quando começou a
curtir? — Ele joga suas pernas para fora da cama e sorri.
— Esse livro nem é meu, Beth me emprestou tem algum tempo...
— Oh, sei... Claro, a Beth... — Ele parece se divertir.
— Pegue sua jaqueta e se manda daqui. — Caminho até a cama e me
inclino sobre ele, pegando sua jaqueta embaixo do travesseiro.
Eu a empurro em seu peito e Max segura meu punho, mantendo minhas
mãos nele. Sua cabeça inclinada, seus olhos encarando os meus. Eu só
consigo pensar no que ele é capaz de fazer comigo e na forma desesperada
na qual ajo na sua presença, até mesmo nossos insultos são excitantes para
mim. Seus lábios se mantêm em um aperto firme e sua mão livre toca minha
lombar, me puxando até ele. Eu largo sua jaqueta em seu colo.
— Kyra... — Ele toca sua testa em meus seios, mas não de forma
sexual. — Isso que estamos fazendo...
— Eu sei. — Passo as mãos em seus cabelos, os puxando para trás.
— Mas é tão bom. — Ele beija minha barriga e eu o topo da sua
cabeça.
É, é muito bom.
— Eu sei.
Ele inclina levemente a cabeça até que nossos olhos estejam conectados
novamente. O verde iluminado pela pouca luz do abajur o deixa ainda mais
bonito e faz sombras no lado direito do seu rosto. Corro meus dedos sobre
sua pele, uma mão em cada lado de seu pescoço, a ponta do meu polegar
tocando sua bochecha. Max parece ainda mais bonito em minhas mãos,
sendo meu, mesmo que minimamente.
Suas sobrancelhas se unem enquanto ele parece lutar pelo próximo
passo, mas sua boca se curva em um pequeno sorriso e seus olhos se fecham
em seguida, quando sua mão me puxa com força até que nossas bocas colem
uma a outra. Eu estou fedendo a cerveja outra vez, mas de novo eu não me
importo, porque Max parece igualmente faminto.
Sua língua toca a minha com tanta fome que todo o diálogo interno que
diz que não devemos continuar fazendo isso, é calado momentaneamente.
Quando eu estou longe de Max, eu penso nele o tempo inteiro, mas também
sei que, além de não haver futuro, ainda é algo no qual prejudicará seu
relacionamento com seus irmãos, mas, quando eu estou perto dele, eu só
desejo ter um pouco mais de tempo.
Eu quero ao menos uma pequena coisa, uma mão na mão, uma mecha
atrás da orelha, uma cotovelada num momento de piada, uma graxa no rosto
que deve ser removida. Qualquer coisa, sobretudo suas mãos em mim, e
naquele momento eu tenho. Tenho Maximum em sua melhor forma, me
beijando como o louco que parece quando está perto demais de mim.
Suas mãos apertam minha bunda com força o suficiente para arroxear
minha pele branca, mas eu gosto. Seus lábios sugam os meus, seus dentes
eventualmente prendem meus lábios inferiores. Monto sobre ele, uma perna
em cada lado do seu corpo, o joelho afundando no colchão. O aperto forte de
Max em minha bunda me arrasta sobre o volume que seu pau forma e eu me
delicio sentindo cada centímetro dele.
Então ele para de repente, usando tanta força para nos separar que meus
cabelos balançam para frente e depois para trás. Ele olha para os meus lábios
vermelhos, depois para os meus olhos confusos e deixa que sua respiração
escape pesada e barulhenta, até que finalmente se torne um sopro longo e
silencioso contra o meu rosto.
— Kyra...
Apenas duas semanas, Kyra, respire.
— Eu sei o que você vai dizer, Max.
Sim, eu sei, ele está colocando seu irmão em primeiro lugar e eu
respeito sua atitude.
— Eu não queria ter que fazer isso, Ky. — Suas sobrancelhas se unem
em confusão. — Não estou acostumado a pensar em ninguém em primeiro
lugar, mas realmente não quero foder tudo. TJ confia em mim, eu não quero
que ele me veja de forma diferente, Kyra, eu realmente não quero que ele
caia em si e veja o filho da puta que sou por chegar em sua casa e tomar sua
namorada.
Ele diz como se eu fosse uma mercadoria e meu peito se racha
conforme ele continua falando:
— Eu beijei você quando cheguei, apesar de não saber sobre nada, mas
continuei desejando beijar quando eu soube de tudo. — Ele passa as mãos no
rosto e eu dou outros dois passos para trás. — Cada maldito segundo eu quis
estar com minhas mãos em você e se isso não é ser um filho da puta egoísta,
então eu não sei o que é. Ele é meu irmão, mesmo que ainda seja difícil de
acreditar, mas é.
— Nós somos duas pessoas que não fazem ideia do que esperar do
futuro. — Dou de ombros. — Não havia como fazer funcionar de qualquer
forma.
— O quê? — pergunta furioso. — Por que eu não tenho a porra de
dinheiro que vai garantir você?
Arregalo meus olhos e afasto minhas mãos dele.
— Você sabe que eu não sou essa pessoa. — Agora eu quem estou
furiosa.
Eu sinto como se estivéssemos em uma montanha-russa; quando
estamos seguros e plenos, nós descemos os trilhos incertos em velocidade
máxima, apenas para impulsionar uma nova subida. Subir, estabilizar e
descer. Brigar, conversar, brigar.
— Eu não sei o que pensar... É tudo novo pra mim, Kyra, você precisa
entender.
— É melhor você ir, Max.
— Eu sinto muito, Oklahoma.
Dou um passo para trás e ele recolhe sua jaqueta do colo antes de se
levantar, o couro rugindo entre seus dedos, o perfume alcançando meu olfato
e o calor emanando da minha pele conforme ele se afasta de mim em direção
a porta. Sim, eu entendo, entendo mesmo, mas não sei se entenderei quando
o vir com alguém porque eu me sinto desesperada apenas por pensar nisso.
Há um mês eu estou evitando Maximum. Entrando em silêncio em casa
depois do turno no bar, indo à cozinha em momentos que eu tenho certeza de
que ele não está e usando o portão da frente para sair enquanto ele trabalha
em seus carros no fundo. Mesmo assim, não é o suficiente, porque eu o sinto
presente em cada molécula que compõe meu corpo, em cada centímetro de
parede da casa, toda vez que eu saio do meu quarto.
Minha irmã Lizzie está certa quando ligo para ela em um dia de folga e
despejo toda a merda acumulada e reprimida: ela diz que nós devíamos ter
transado. Nós não fizemos, e agora eu sinto que preciso dele dentro de mim
todos os malditos dias. Talvez se nós tivéssemos terminado na cama, eu
pudesse saber qual era a sensação de estar com Max e então a curiosidade, o
desejo, tudo o que eu sentia por ele poderia sumir.
E mesmo o evitando na maior parte do tempo, ainda assim, nós nos
esbarramos o tempo inteiro. Quando eu abro minha porta e ele está
passando, quando estou preparando algum alimento e ele entra na cozinha,
quando o maldito passa seu café e enche a minha xícara ou quando eu chego
à sala de estar para um filme com os meninos e o único lugar vago no sofá é
ao seu lado.
Tudo o que eu faço, cada passo, embora calculado, me atrai a ele e
nossos pequenos momentos, nossas pequenas trocas de palavras, apenas
serve como um lembrete de como eu me sinto ao seu lado. O destino esfrega
na minha cara o quanto somos compatíveis, tudo funciona entre mim e Max,
menos nós, é claro. E, embora eu sinta muito, e eu realmente sinto, eu sei
que ele está tentando ser honesto com seus irmãos e o respeito ainda mais
por isso. Eu o respeito, até aquela noite.
— É a primeira festa que você participa depois que ele...
— Sim, eu realmente não queria estar nisso, mas apenas aconteceu e
agora estou aqui, com os pés enfiados na piscina, enquanto o vejo conversar
com uma garota linda.
Omito a parte em que digo para ela que havia passado da meia-noite e
que eu estou fazendo vinte e três, mas eu sei que ela lembrará em algum
momento. Ela tem a mente de Einstein, mas se esquece do meu aniversário
todos os anos.
— E como se sente a respeito?
— Sinceramente, Tray?
— Hum-hum... Sinceramente, Ky.
— Eu nunca me senti tão mal por qualquer outra coisa.
— Oh, Deus, apenas... UAU! — Eu posso ouvir o entusiasmo em sua
voz.
— Não é engraçado, realmente, eu nem sei o que pensar.
— Você está apaixonada por ele, Kyra, é simples.
— Naaah. — Uno as sobrancelhas, observando as mãos de Cami
tocarem seu bíceps, o tirando da sua conversa com outra garota.
Ele não está fazendo nada de mais, mesmo assim eu sinto que estou
prestes a vomitar.
— Sim, você está. Você não se importava realmente quando TJ
conversava com outras garotas.
Não, eu não me importava.
— Por que diabos os irmãos Jackson precisam estar sempre com uma
garota pendurada neles? — Há um silêncio na linha e então eu prossigo: —
Há três deles na minha frente e há seis garotas em volta, uma em cada braço
de cada irmão.
— Certo... — Sua voz é um sussurro. — Eu acho... que... bom,
desculpe, eu preciso ir, Ky.
— Não, espera! Quando você vem de novo pra cá, Tray?
Ela suspira do outro lado da linha.
— Ação de Graças, talvez, eu não sei. Talvez eu não vá esse ano. Tô
realmente cansada de drama.
— Há algo de errado com você? — pergunto, preocupada.
— Não.
Eu a conheço o suficiente para saber que ela está mentindo.
— Não? Então por que eu sinto que devo me preocupar?
— Eu sinto falta de casa ao mesmo tempo que sinto que não estou em
casa quando estou aí.
— Por que a vida é tão complicada?
Eu posso vê-la dar de ombros.
— Eu também gostaria de saber.
Jogo meu corpo para trás, os pés ainda na água, então encaro o céu
estrelado.
— Está tão quente nessa noite que o calor pode derreter as bolas de um
Buda de bronze — murmuro, sacudindo os pés na água.
— Oh, meu Deus! Me desculpe, Ky, eu realmente me esqueci!
Dou um sorriso.
— Você sempre esquece, Tray, que bela amiga de merda.
— Eu quase senti pena de você por isso.
— Vinte e três é a idade da crise existencial?
Ela dá uma gargalhada do outro lado da linha.
— Eu aposto que é, porque me sinto tão afundada na minha merda
pessoal quanto você. Feliz aniversário!
— Obrigada.
O corpo de TJ, Ty e Max se curvam sobre mim, três rostos iguais, mas
com diferentes expressões.
— Você está estranha demais. — TJ pula na água e emerge entre
minhas pernas, enquanto puxa meu braço para que eu me sente. — Com
quem está falando? É seu aniversário, você não pode passar ele pendurada
em uma ligação!
— Dá essa porra aqui! — Ty o puxa de meus dedos e leva o aparelho
até sua orelha. — Espero que seja uma amiga gostosa de Ky — diz para
Tray, sem saber que se trata dela.
Ele fecha os olhos e o sorriso que brinca em seus lábios se torna um
aperto rígido.
— Tracy — ele murmura e imediatamente o olhar de Max cai sobre
mim. — Vai se foder você também.
Reflito sobre aquele momento, várias cenas antigas dançam em minha
mente. O feriado de quatro de julho e a cadeira que Tray arremessou na
parede, lembro-me do nosso último dia de Ação de Graças e a forma como
Ty parecia perdido e estranho. A pequena conversa que nós dois tivemos no
dia em que ele se desculpou por agir como um idiota ao me repreender por
trazer minhas amigas para casa. Ele nunca havia se importado com aquilo,
mas ficou puto por ser justamente Tray a estar lá. Eu perguntei se ele
conheceu alguém e ele respondeu que já a conhecia, o que só podia
significar uma coisa...
Oh, meu Deus!
Max sibila silenciosamente a frase “eu te disse” para mim, enquanto TJ
me puxa para a piscina sem se importar que eu ainda esteja de roupa. Ele me
contorna com um abraço molhado e apertado o suficiente para estalar
minhas costas. Eu ainda estou em choque e provavelmente estarei pelo resto
da vida. Como eu pude ser tão cega? Desde quando isso acontecia? Ela
evita estar na cidade, me visitar na casa e, principalmente, Ty como o diabo
evita a cruz.
O sorriso estampado no rosto de Max é vitorioso e eu me obrigo a
fechar a boca ainda aberta. TJ se afasta de mim e eu encaro Ty, que aperta
meu celular entre os dedos como se sua vida dependesse disso, seu olhar em
minha direção só me diz apenas uma coisa: ele sabe que eu sei. Tales me
encara confuso, enquanto Max me lança um olhar apreensivo. Pulo fora da
piscina e aponto o dedo no peito de Tyson.
— Kyra... — Max murmura uma súplica que deixa TJ e Ty confusos.
— Então é isso... — começo.
Ty inclina sua cabeça e dá um passo para frente, tão ameaçador que
quem não o conhece de verdade, pensa que está disposto a me agredir.
— O que porra está acontecendo? — TJ pergunta confuso.
— Qual o seu problema? Você tem um milhão de vadias aos seus pés,
por que não deixa ela em paz?
Ele não responde, apenas continua me encarando como o maluco que é.
— Fala alguma coisa, Tyson! — Esmurro seu peito e ele sequer se
move um centímetro.
— Kyra... o que está acontecendo? — TJ indaga, baixinho, quase no
meu ouvido.
Eu o encaro antes de responder:
— Tá acontecendo que eu acabei de descobrir que as pessoas vivem
mentindo pra mim, isso que tá acontecendo. Você sabia, TJ?
Ele parece apavorado.
— Não me envolva nisso, por favor. — Ele ergue as duas mãos no ar.
— Se não está disposto a ter algo decente com ela, então não foda com
a sua mente.
— É o que eu estou fazendo, Kyra. — O cheiro de álcool é forte o
suficiente para eu saber que ele já passou do seu limite, mas sua voz é um
murmúrio e a instabilidade dela me pega desprevenida. — Você sabe tão
bem quanto eu como esse negócio de se manter afastado pode se tornar
fodido. — Seus olhos verdes caem sobre Maximum e eu solto um gemido
estrangulado, enquanto Max sibila a palavra porra.
— Você é doente! — digo entredentes, voltando minha atenção para Ty.
— Do que vocês estão falando, porra?! — TJ intervém, sua cabeça
parece prestes a explodir.
A minha também.
— Por que você não esquece um pouco de mim e não conta a TJ que
esteve na cama de Max antes mesmo de vocês terminarem?
As pessoas começam a nos contornar, metade delas estão em silêncio
tentando escutar tudo o que dizemos e a outra metade, cochicha. Eu estou
perto o bastante para ouvir Camille dizer um palavrão. Que ótimo, de
alguma forma, Ty espera para jogar sua merda sobre mim e me tornar
culpada. É o que ele sabe fazer de melhor, afinal.
— Do que caralho ele tá falando? — TJ me encara e eu me encolho.
— Você não sabe de nada, Tyson! — Eu o empurro novamente e, dessa
vez, seu corpo cambaleia para trás.
— Eu tenho um bom ouvido. Acho que você se esqueceu disso,
Oklahoma. — Ele me chama pelo apelido que Max me deu e a voz de Ty é
tão acusatória que eu me sinto imunda ao encarar TJ.
— Nós precisamos conversar — diz, mas seus olhos estão presos em
Maximum.
— Você fodeu com ela? — ele pergunta, com seus punhos se fechando
ao lado do quadril.
— Fala direito... — Max dá um passo para a frente. — Ela não é uma
vadia, porra!
Sua frase me defendendo respondeu à pergunta e, então, o primeiro
soco parte de TJ.
O soco de TJ acerta o nariz de Max e ele cambaleia para trás; tentando
se equilibrar, sua mão procura por algo consistente, mas não encontra,
fazendo com que caia no chão, batendo suas costas contra o piso que
contorna a piscina. Ele fecha os olhos e grunhe ao se contorcer de dor e
quando os abre, o verde parece negro encarando o irmão.
— Por favor, TJ, não faça isso... — suplico.
— Não se envolva nisso, Kyra.
Quando TJ dá outro passo em sua direção, Max nos surpreende ao não
reagir, ele não tenta se levantar, apenas fica lá, deitado, e eu me pergunto se
ele se sente bem ou se havia se machucado gravemente. Tales monta nele,
seus joelhos tocam o chão, enquanto ele segura o colarinho de sua regata
trazendo o irmão para mais perto.
As pessoas gritam a nossa volta, Camille pede para TJ ir em frente, eu
para que pare e Ty apenas se mantém imóvel sem saber o que fazer, sua
expressão não é de felicidade e sequer parece saber como agir. O punho
acerta exatamente o mesmo lugar e seu rosto vira para o lado, as mechas dos
cabelos balançando, enquanto o sangue escorre livre. O que ele está
fazendo? Ele não está reagindo.
— Meu Deus, TJ, pare! — Toco as costas de TJ e seu punho se ergue
contra mim por reflexo, e pela primeira vez, Max reage, pegando-o no ar.
— Eu dei a porra de um teto para você — TJ murmura para Max, mas
ele fala tão baixinho que me surpreendo por conseguir ouvir.
— Sim, você deu — responde, soltando os punhos do irmão quando
percebe que não é mais uma ameaça.
O sangue escorre por suas bochechas e corre por trás de suas orelhas até
alcançar o piso claro e se misturar às mechas de seus cabelos espalhadas
nele. As mãos de Ty me contornam, me puxando para trás e me vejo longe
demais para poder ajudar em algo. Eu me debato entre seu aperto e o
empurro para trás, enquanto ouço o som de outro soco acertar o rosto de
Max.
— Arrume essa merda! — grito para ele.
Vi Ty e TJ brigarem desse jeito a minha vida inteira, mas eu nunca fui o
motivo de suas brigas. Eu me sinto perdida, nervosa e a única coisa que eu
quero é colocar minhas mãos em Max e ter o poder de tirá-lo disso, muito
embora eu saiba que ele se mantém por livre e espontânea vontade.
— Max! — grito desesperada. — Apenas saia daí! — Posso sentir as
lágrimas correndo livremente sobre o meu rosto.
Ty tenta tirar TJ de cima do irmão, mas ele se desvencilha do seu
aperto. Os olhos de Max encontram os meus apenas por um segundo, então
ele se vira para TJ novamente e sussurra algo que faz com que seu corpo
enrijeça. A mão de TJ segura no ar um soco, que nunca chegou no rosto do
irmão, e finalmente recua, me fazendo soltar o ar preso em meus pulmões.
Tales sai de cima do irmão, com uma expressão confusa e atormentada
no rosto, ao mesmo tempo que Max fica de pé. Ty, TJ e Max se encaram,
mas nenhum deles diz nada, porque um está concentrado em massagear os
nós dos seus dedos, outro a limpar o sangue que corre de seu nariz e o
último, na merda que fez. Todos à nossa volta fazem silêncio, esperando o
momento em que TJ voltará a bater no irmão, ou talvez um gatilho que faça
Ty começar a esmurrar coisas, mas apenas a voz de McCarter ruge em meio
ao caos silencioso.
— Você é um filho da puta de merda, Max. — Ele ergue o copo no ar e
lança um sorriso bêbado. — E TJ? Você é um otário!
Outros três garotos o contornam, como se ele fosse um maldito rei, o
problema é que ele está tentando reinar no castelo errado e meu coração para
de bater quando Ty, TJ e Max se posicionam um ao lado do outro, encarando
McCarter e os outros idiotas. Todos prendem a respiração, esperando pelo
momento em que os trigêmeos começarão o grande show. A briga com Max
se tornara apenas uma abertura.
— Você cometeu um grande erro entrando aqui. — TJ dá um passo para
frente, pronto para atacar McCarter, mas a mão de Ty toca seu peito, o
policiando por algum motivo.
— Vamos em frente, maricas! — provoca.
— Qual o seu problema, McCarter? — grito para ele. — Vá para casa e
se poupe de um vexame público.
— Está ansiosa para o seu ménage à trois hoje à noite? — ele pergunta.
Eu sou capaz de ouvir a respiração trêmula de Max.
— Seu problema é que você quer isso aqui. — Ty aponta para a casa,
depois para os irmãos e finalmente para mim. — Você quer ter carros e
motos, uma puta casa onde tudo acontece, quer ter pessoas que estão por
você na morte e quer ficar com a garota. Mas você não tem, McCarter,
porque é um merda!
Eu posso ver o sangue subindo para o seu rosto.
— Você nunca terá essas coisas, as pessoas não vão as suas festas
porque é um cuzão. — Todos à nossa volta começam a rir e ele dá um passo
ameaçador para a frente.
— Vai se foder, Jackson! — ele grita para Ty e então parte para cima
deles. É rápido o bastante, mas, ainda assim, eu vejo o sorriso satisfeito no
rosto dos três irmãos, afinal agora eles estão se defendendo.
Tudo começa, o punho de McCarter vai na direção de Ty, mas Max pula
na frente, baixando sua mão e o golpeia no rosto. Tyson encara o irmão, com
uma breve expressão de gratidão, antes de fazer o mesmo por ele quando
outro garoto segue em sua reta. A briga fica ainda mais feia a cada segundo,
as pessoas se afastam gradativamente por medo de serem atingidas, mas eles
estão apenas se aquecendo.
Eu já não consigo identificar quem é quem no meio de toda aquela
confusão, mas há um dos garotos de McCarter se contorcendo no chão. Eu
continuo gritando que parem, mas nenhum deles me ouve. O nariz de Max é
atingido outra vez e sinto que está prestes a desmaiar ao ver a quantidade de
sangue jorrar. TJ acerta o garoto que atinge o irmão, seu punho bate no rosto
dele inúmeras vezes até que finalmente cai.
Nesse momento, há apenas McCarter e outro na luta, mas os dois já não
dão mais conta de Ty, TJ e Max. Tyson dá um soco certeiro no rapaz, que cai
como uma pena no chão, provavelmente sua mente lhe diz que agiu como
um idiota quando entrou nisso com os trigêmeos. Eu peço para que parem,
os três contra apenas um é injusto, mas aparentemente eles sabem, porque
estão se encarando há tempo demais para eu saber que se perguntam quem
ficará com ele, então Max dá um pequeno passo para a frente, seus lábios
curvados em um pequeno sorriso satisfeito.
— Sou todo seu, McCarter — Maximum murmura, mas por um bem
maior seu oponente ergue as mãos no ar.
— Eu tô indo nessa — alega entredentes.
— Já? Estávamos nos divertindo tanto. — Max esfrega o maxilar.
— Se colocar os pés nessa casa de novo, eu vou até a polícia! — grito
encarando suas costas. — Babaca!
E então, todo mundo começa a gritar, murmurar, guardar seus celulares
e dar pequenos toques de incentivo nos ombros dos garotos. Um bando de
idiotas apoiando atitudes idiotas. Eu me viro e sigo em direção a casa,
minhas mãos tremem tanto quanto minhas pernas. Caminho até a cozinha e
encho um copo de água, tentando me acalmar, sei que essa noite ainda não
acabou.
— Porra, foi mal, Max — Ty murmura e eu me concentro na conversa
que começariam.
— Você agiu como um idiota, Tyson! Eu nunca estive com ela quando
estava com TJ.
Meu coração, de repente, parece prestes a explodir.
— Eu sei, eu acredito, mas... — ele solta o ar dos pulmões — eu
costumo... agir como um idiota quando não sei como responder a uma
pergunta.
— Falar a verdade é um grande começo — Max diz, impaciente.
— Se gosta tanto da verdade, por que não diz a ela como se sente? —
Ele parece desafiador.
— Ela sabe como eu me sinto, Ty, e sabe como me sinto também com
relação a TJ. Mesmo que ele nunca a tenha amado dessa forma, ainda assim
me acho um maldito cuzão por estar com sua garota.
— Eu ouvi o que disse a ele, você sempre soube, não é?
— Juntei um olhar, uma mensagem, um comportamento, uma forma de
agir e cheguei a uma conclusão. Ele parecia tão otário quanto eu
ultimamente me sinto.
Ouço a risada de Ty. Não sei se fico feliz por Max tê-lo desculpado ou
brava por estarem falando de mim.
— Isso acontece há anos — ele sussurra. — Mas de uma forma que não
chega a acontecer realmente...
Do que estão falando, afinal?
— Não conte a ela antes dele, apenas.
— Não é uma coisa minha, Ty, eu nunca o faria.
Meu coração bate muito rápido, Ty e Tray terem algo já é novo demais
para mim e eu sequer consegui digerir isso e odeio a ideia de estarem
debatendo sobre outro segredo. Eu odeio que escondam as coisas de mim,
quando eu sempre estive pronta para ouvi-los. Dou um passo à frente,
decidida a intervir e dizer que estou bem ali e que não precisam falar pelas
minhas costas, mas a voz alarmada de TJ me faz frear.
— Porra, Max... caralho!
É uma ótima frase para iniciar uma briga ou um pedido de desculpas,
não tenho como saber.
— Eu posso pegar minhas coisas agora e dar o fora daqui se você quiser
— Max se apressa em dizer e sinto minha garganta arranhar com o grito de
protesto que nunca vou dar.
— Então vai, porra! — ele grita.
— Sim, eu vou. — Sua voz é consistente, um lembrete escrito com
letras gritantes que ele diz a verdade.
Há um silêncio enlouquecedor por algum tempo.
— Eu não sei como me sinto sobre isso ainda — afirma entredentes.
— Você não sabe, mas a sua primeira reação é foder com o meu nariz?
— Ele faz uma pausa. — De onde eu vim, as pessoas conversavam antes de
saírem no soco.
— De onde você veio, as pessoas também apunhalavam sua família
pelas costas?
— Eu não sei o que é ter uma família, porra! — grita tão alto que eu me
pergunto há quanto tempo Max quer dizer isso.
— Foda-se, Max, eu nem consigo julgar você! — Ouço um movimento
rápido e, em seguida, algo se quebrando.
Meu estômago se contorce, eu estou prestes a vomitar.
— Você não precisa fazê-lo, TJ, porque eu estou indo nessa.
— Porra, não! — TJ me surpreende ao protestar. — Você tem que ficar.
— Eu não posso fazer isso, Tales. Admiro você, mas eu não posso, eu
não sei fazer isso sem foder com tudo.
— E você vai ficar onde? Vai morar na rua? — Ty interrompe os
irmãos.
— Já fiz uma vez e sobrevivi.
— Você não tem mais treze anos, Maximum, e não está mais sozinho
no mundo, porra! — Tyson está gritando quando chega no fim da frase.
Meus batimentos cardíacos fazem com que minha respiração deixe
meus pulmões com dificuldade e eu tento me concentrar em não deixar de
respirar.
— Eu fiquei puto, quem não ficaria? Que merda você teria feito? —
Posso ouvir seus passos de um lado para o outro.
Diferente de Ty, TJ sempre fica eufórico depois de uma briga.
— Eu teria feito mais do que foder o seu nariz — Max responde
calmamente e Ty ri baixinho.
— Me sinto melhor com essa informação — ele diz ao irmão.
— Eu... — TJ para de falar, soltando um suspiro pesado, eu sei que ele
está pensando em como se expressar e não arruinar tudo.
— Eu não estive com ela, TJ, para o caso de estar se perguntando.
E, de repente, eu me sinto um objeto que os dois jogam um para o
outro.
— Nos beijamos, isso é tudo, mas não houve nada enquanto vocês
estavam juntos. — Max solta um suspiro alto. — No começo, eu sequer
tentei ficar longe dela. Nunca tive de pensar em outra pessoa que não fosse
eu, mas, quanto mais você se aproximava, mais eu tentava me manter
afastado dela e no último mês, depois que decidi ficar... nós nos mantivemos
cem por cento longe um do outro.
— Eu não sei o que dizer — Tales admite baixinho.
— Eu sempre soube que vocês não tinham nada sério, você agia como
um otário com ela, de qualquer forma.
— Porra, eu sei! Sexo, só sexo? — indaga, quase sussurrando.
— Nós não tivemos isso... Eu tentei evitar, TJ, mas com ela nunca vai
ser só isso pra mim.
Oh, Deus!
— Caralho, você gosta realmente dela!
— Sim, porra, ele gosta — Ty murmura. — E vocês precisavam ter essa
conversa, porque eu sentia que estava enlouquecendo. Vá atrás da sua garota
antes que seja tarde demais, Max.
— Eu não sei se posso fazer isso, Tyson, eu estive sozinho por tempo
demais.
— Mas agora você não precisa mais estar.
— E, Max — TJ murmura —, eu vou contar a ela quando eu tiver uma
oportunidade.
— Você deveria contar agora, porque, às vezes, a oportunidade surge
num momento de merda e você acaba como eu. Com o nariz fodido e sem a
garota.
Tento controlar minha respiração pelo máximo de tempo que posso.
Minha visão àquela altura está turva, minha adrenalina no pico e eu me sinto
como se estivesse sendo apunhalada pelas costas. Eu preciso perguntar,
preciso saber. Sinto-me patética por estarem falando de mim, apesar de meu
coração estar batendo apressado demais por Max declarar que sou mais do
que sexo para ele. Um misto de sentimentos e emoções que me confundem.
— O que você deveria contar, TJ? — Talvez minha voz não tenha saído
tão forte e estável quanto ensaiei na minha mente.
— Porra... — Ty murmura, passando as mãos no rosto.
Deslizo meus olhos em Max. Seu rosto inchado, seu nariz vermelho e o
sangue espalhado por sua bochecha me fazem sentir vontade de passar
minhas mãos em volta dele e trazê-lo para mim. Seus olhos se arregalam em
confusão, antes dele baixar a cabeça e encarar seus pés descalços.
— Nós já tivemos muito por hoje, Ky. — TJ dá um passo à frente e eu
dois para trás.
Sim, nós tivemos demais por um ano inteiro.
Primeiro Tracy e Tyson, depois Max e eu, em seguida, a briga de
McCarter com os três, e agora o quê?
— Nós já estamos afundados na merda, TJ, fala logo o que tem a me
dizer já que meu aniversário foi arruinado quando vocês três me
contornaram na piscina.
— Eu posso ficar a sós com você? — pergunta.
— Não acho necessário, uma vez que todos sabem o que você está
escondendo de mim.
— Eu... conheci uma garota há muitos anos — ele começa e sinto
vontade de puxar uma cadeira e me sentar. Parece uma longa história de
merda. — No começo, nós vivíamos brigando, brigávamos o tempo inteiro,
na verdade.
— Parece familiar — Max murmura.
— Para mim também — Ty sussurra, me fazendo pensar por um
momento na relação que ele tem com minha melhor amiga. Isso não chega
nem perto do que eu tenho com Maximum.
— Nós brigávamos o tempo todo que passávamos juntos. Opiniões,
gostos e pessoas muito diferentes. Você sabe como eu era, Kyra, vivia com
minha cabeça enfiada na minha própria bunda. — Ele dá de ombros.
Sim, ele vivia. TJ ainda é um idiota, mas ele faz mais sentido agora.
Seu ego no high school sendo o quarterback era o suficiente para se sentir
um Deus e ter todas as garotas em meio as suas cobertas. Não que seja
diferente agora, mas ele é o tipo de cara que vê todas as cabeças virarem em
sua direção quando ele atravessa o corredor dos armários. Ele era o garoto
mais popular da escola, assim como ainda é da faculdade.
— Ela era a menina que tinha uma vida dura, pais de merda e
responsabilidade demais para a sua idade e eu era o garoto mimado, que
tinha o mundo e estava sempre com o pau enfiado em algum buraco.
— Você ainda é essa pessoa — respondo e Ty solta um risinho.
— Não, Kyra, você sabe que eu não sou — ele reafirma, não está
brincando ou tentando ser engraçado, TJ está falando sério e isso chama
minha atenção para algo que eu sei que é importante. — Eu me apaixonei
por ela, nós ficamos juntos e eu fodi com tudo. Eu não queria estar em um
relacionamento sério, era novo demais e tinha um mundo de possibilidades.
Eu realmente fodi com tudo.
— Já sou capaz de sentir pena dela.
Seus olhos desviam dos meus e eu sei que a grande bomba ainda vai
estourar.
— Depois disso, eu sempre estive correndo até ela sempre que faço
merda e ela continuou estando lá, como uma amiga. Eu me metia em
encrencas e ela abria seus braços generosos para mim. Ela foi meu segredo
por algum tempo, eu não queria que ninguém a enxergasse porque era
egoísta demais para querer que fosse apenas minha. — Ele faz uma pausa,
passando as mãos no rosto. — Nunca falei dela para você até que a
apresentei um dia, como uma amiga, mas eu nunca falei o quanto eu amei
aquela garota.
— Okay... — Eu estou realmente assustada com a forma na qual TJ fala
de amor. Seja ela quem for, merece meu respeito por ter aturado suas merdas
por tanto tempo.
— Antes de tudo, Kyra. Eu só queria dizer que nada acontece entre nós
há muito, muito tempo, e que ela sempre te respeitou, de verdade. Nós nunca
fizemos nada pelas suas costas. Hoje, nós somos apenas amigos.
De repente, eu estou nervosa demais com tanta informação jogada
sobre mim. Eu ainda não consigo raciocinar, juntar as peças desse quebra-
cabeça mesmo que estejam todas lá. Uma amiga? Como? Como eu pude ser
tão cega a ponto de não ver TJ apaixonado por alguém? A ponto de não
enxergar o que acontecia entre Ty e Tracy? Talvez eu não seja tão esperta
quanto penso que sou.
— De quem você está falando, TJ? Você só tem a Beth e eu como
amigas.
Seus ombros caem em derrota como se nada mais precise ser dito e eu
me sinto uma completa idiota. Oh, meu Deus, como eu pude...
— Desculpe por manter isso longe de você, Ky, eu realmente... deveria
ter contado.
Oh, meu Deus, meu Deus, meu Deus! Eu não sei o que dizer ou como
agir. Meus últimos anos passam em minha mente como um filme. Todas as
vezes que falei de TJ para ela, que contei sobre ele estar com uma garota, ou
chateado por alguma coisa, ou até mesmo como ele era na cama, todos os
segredos que confidenciei a ela, os detalhes em estar com ele. Eu passo a
mão no rosto, respirando com dificuldade, pensando em como a mente dela
deve estar fodida com imagens que não pediu para ter.
— Ela ama você ainda? — Eu não sei se é uma pergunta ou uma
verdade jogada sobre ele, mas minha fala o surpreende.
— Hã, eu... — ele gagueja. — Eu... não sei... nós apenas paramos de
falar sobre isso há muito tempo.
— Merda! Eu não fazia ideia.
Estou surpresa comigo mesma por não estar surtando por TJ ter agido
pelas minhas costas. Mas eu não o amo, não dessa forma, eu o amo como
uma amiga, e amo Beth, apesar de ela estar sempre escondendo algo de mim.
Agora faz sentido, ela não escondia algo, escondia o que sentia por TJ.
Agora sim faz sentido uma pessoa que escreve sobre sexualidade, não querer
falar sobre sexo. Ela não se importa de falar sobre isso, se importa de falar
sobre Tales, por quem ainda é apaixonada.
— Ela ama você — murmuro, com as imagens e conversas com Beth
repassando em minha mente.
— Não é algo que vá acontecer, de qualquer forma.
— Deus, você é tão babaca, Tales! Deus, como você consegue ser tão
idiota?!
— Eu sinto muito por não ter contado, Ky.
— Não estou falando sobre isso, estou falando sobre você fazer o que
fez com ela. Ela ama você. Como acha que ela se sente sendo sua amiga?
Você deveria ter se afastado dela.
— Eu não conseguia — confessa.
— E por isso decidiu agir como um egoísta e compartilhar com uma
garota que ama você, sobre suas transas de uma noite? Como acha que ela se
sentia?
— Ela sempre quis contar a você, Kyra, mas tinha medo de como você
iria lidar com isso, tinha medo das coisas ficarem feias no trabalho e ela ter
que sair de lá. Você sabe o quanto ela precisa daquele emprego. Você não
está com raiva dela? — pergunta confuso.
— Não, quer dizer, é claro que eu me sinto uma idiota por não ter
enxergado, mas, porra, é a Beth, TJ, eu gosto realmente dela e consigo
enxergar com clareza porque você também gosta.
— Obrigado. — Ele parece aliviado.
Eu quero me sentir dessa forma com relação a Tracy também, mas o
problema é que eu vejo como TJ apoia e está sempre lá para Beth, como um
amigo, quando na verdade Ty age como um filho da puta sempre que está na
presença de minha melhor amiga.
— Você a ama? — Eu me viro para Ty, com meu coração batendo
rápido demais.
Ele arregala os olhos por um segundo, então dá as costas para mim
enquanto diz entredentes:
— Eu não vou falar de amor com você, Kyra. — E depois disso, o som
da porta é alto o suficiente para que eu tenha uma resposta.
— Há mais algum segredo que eu devo saber? — pergunto.
— Nada — TJ se apressa em dizer.
Meus olhos encontram o verde confuso e Max desvia o olhar para os
pés, ele parece nervoso demais.
— Há algo, Max? — pergunto, meu estômago se contorce com a
possibilidade de haver algo a mais.
— Não — ele nega, mas eu não estou cem por cento certa de sua
resposta. Talvez seja apenas trauma pela última hora infernal que vivi.
— Tudo bem, então — assinto. — Eu estou indo dormir.
— Eu estou indo nessa — TJ se despede ao perceber que Max e eu nos
encaramos por tempo demais. — Resolvam suas merdas. — Ele aponta para
nós dois antes de sair.
— Eu gostaria de desejar um feliz aniversário, Oklahoma, mas acho
que é tarde demais para usar a palavra feliz no meio de tanta merda.
“Eu gostaria que você me abraçasse”, penso.
— Eu acho que a gente deveria começar limpando tudo isso. — Aponto
para o seu rosto e ele assente.
Eu só não sei se estou preocupada com seus ferimentos ou se é uma
desculpa para ter minhas mãos sobre ele depois de tanto tempo. Sinto que
são as duas coisas, mas a segunda opção grita mais alto nesse momento.
Passo um pano úmido sobre seu rosto, as pontas dos meus dedos
deslizam em sua pele. O cheiro de metal do sangue se mistura a um perfume
passado há muito tempo. Seus olhos acompanham cada movimento meu e eu
sinto que estou fazendo tudo errado, mas não estou, limpei os ferimentos de
Ty e TJ mais vezes do que eu jamais poderei contar. Max abre levemente a
boca, uma pequena lufada de ar escapa entre seus lábios aquecendo a pele do
meu rosto.
Tento me concentrar no que estou fazendo, mas meu único desejo é
correr minhas mãos sobre ele e beijá-lo, Deus, eu quero tanto senti-lo outra
vez. Sinto-me desesperada por estar com Max, por conhecê-lo melhor, e já
nem me importo mais se não teremos um futuro juntos, ou qualquer outra
coisa que me faça pensar que não dará certo. Eu apenas quero... tentar.
— Como você se sente? — ele pergunta, sua voz é tão baixa que levo
três segundos para compreender as palavras.
— Melhor do que você, aposto.
Ele curva os lábios minimamente para cima, em um pequeno sorriso
que me faz querer sorrir também. Seus cabelos caídos sobre a testa me faz
desejar empurrá-los para trás e eu o faço. Meu coração bate tão rápido a
ponto de me deixar desconcertada. Eu estou apaixonada por Maximum, puta
merda, eu estou, porque não quero fazer nada além de tocá-lo, beijá-lo e
desejar estar com ele o tempo inteiro.
— Por que você está me olhando assim, Oklahoma?
Eu sempre me considerei uma garota corajosa, mas lá estou eu
deixando o medo engolir palavras que certamente não terei coragem de
dizer.
— Nada... — Que grande idiota, Kyra!
— Parece que você quer tirar um pedaço meu.
Não, eu quero você inteiro, Max.
— Dói? — pergunto, pressionando a curvatura do seu nariz e ele recua
com um gemido que me faz dar um passo para trás, então sorri.
— Eu estou brincando. — Sua mão posiciona na minha lombar e ele me
puxa em sua direção, meus seios na altura do seu rosto, entre suas pernas,
enquanto se mantém sentado na cama do seu quarto.
— Eu me assustei.
De repente, parece que as palavras estão presas em nossas gargantas,
mas apenas as erradas escapam por ela. Nossos olhos dizem que nos
queremos, mas nossas bocas falam coisas sem significado algum. O rosto do
meu pai surge na minha mente, ele teria vergonha de mim se me visse
reprimindo meus sentimentos. Fui criada para gritar ao mundo o que eu
realmente quero, mas me vejo afundada em um curso que não gosto e
apaixonada por alguém que não faz ideia sobre o que eu sinto.
— Odeio meu curso de História, eu estive apaixonada por um tempo,
me vi obcecada por conhecer sobre tudo, em uma época, mas agora não me
vejo ensinando sobre isso. Nem sequer trabalhando na área, de nenhuma
forma. Não estou feliz. — Mantenho minhas mãos no pano que continuo
esfregando em seu rosto e observo sua expressão confusa. — Eu tenho medo
de magoar meus pais, eles estão felizes falando sobre sua filha em Boston
prestes a se formar. E eu não quero viver na Geórgia, não gosto dessa cidade,
não vejo um futuro lá e me sinto uma idiota, irresponsável e desnaturada por
não querer estar perto do meu sobrinho. Quer dizer, eu o amo e gostaria de
estar perto dele, mas não na Geórgia. — As palavras escapam de minha boca
e eu me sinto aliviada. — Eu não sei o que gosto de fazer de verdade. —
Dou de ombros.
— Uau — ele murmura.
— Fica quieto, eu ainda não terminei. — Eu o observo assentir, com
um sorriso. — Nunca comentei com ninguém sobre essa merda, todos acham
que estou feliz e prestes a me formar, nem mesmo Tray sabe. Eu não consigo
enxergar um futuro para mim, não sei o que fazer ou para onde ir.
— Você não deveria largar a faculdade.
— Não é um conselho que eu esperaria de você.
— Eu mal sei usar um celular, mas não sou um idiota. Você está quase
alcançando seu diploma, apenas se certifique de que tenha uma garantia para
o futuro; e depois que se formar, você pensa sobre um curso novo ou sobre
qualquer outra coisa que tenha vontade de fazer, seus pais irão entender, eles
são incríveis.
Abro o maior sorriso que eu posso dar.
— Sim, bem, eu acho que você está certo.
— É claro que estou. E sobre a Geórgia, você não precisa ir. Pode
visitar sua família sempre que estiver com saudades.
— Eu me sinto mal por isso.
— Então não sinta, você não pediu por isso, Ky. Seus pais se mudaram
para outro estado porque sua irmã conheceu um cara e se mandou para lá.
Você definitivamente não tem que ir.
— Não? E eu vou morar aonde? Porque eu tenho um emprego de merda
em um bar onde preciso mostrar meus peitos para ganhar um extra em
gorjetas. Seria complicado pagar um aluguel.
— Tenho certeza de que Ty e TJ não se importariam que você vivesse
aqui.
— Não, eles não se importariam, mas... eu não quero vê-los vivendo
suas vidas como adultos formados em algo que realmente gostam,
trabalhando em empresas grandes onde seu pai é sócio ou proprietário, ou
qualquer outra coisa, enquanto eu moro de favor em sua casa e trabalho em
um bar.
— Você precisa se descobrir.
— Como? Parece tão simples para você, Max, mas não é. Você nunca
teve que tomar essa decisão.
Assim que as palavras saem da minha boca, eu praguejo por ser tão
insensível e egoísta.
— Eu sinto muito, não quis dizer realmente isso.
— Eu não tive boas oportunidades na vida, Kyra, minha maior vitória
foi ter sido encontrado na rua e acolhido por um cara aos treze anos.
Meu coração de repente parece pesado demais e congelo minhas mãos,
segurando as laterais do seu rosto, sentindo o toque de uma mão na parte de
trás da minha coxa.
— Eu sei, eu sinto muito.
— Eu não entraria em uma faculdade nem que viessem me buscar na
porta todos os dias, apenas não é para mim, não por quem eu fui, por quem
eu sou hoje ou por tudo o que eu nunca tive ou terei um dia, mas apenas
porque eu amo o que eu faço. Eu conserto carros, trabalho em motores e
faria isso pelo resto da minha vida.
— Eu gostaria de pensar assim sobre alguma coisa, mas não me vejo
em nada.
— Você precisa de um tempo. Precisa parar de pensar nisso. Às vezes,
as coisas chegam até você quando deixa de procurar por elas.
— Eu vou parar de correr ou me preocupar com meu peso desde que eu
esteja saudável. Eu não quero estar sempre preocupada se vou entrar em um
jeans ou não, quero apenas experimentar um número maior e ficar tranquila
com isso.
Suas sobrancelhas se erguem e ele sorri, compreendendo que eu estou
me abrindo com ele acerca de tudo. Jogando minhas verdades sobre a mesa e
esperando que ele as acolha.
— Concordo com você, não acho que uma bunda grande seja um
problema. Você tem um corpo que eu gostaria de foder o tempo inteiro.
Prendo o ar dos pulmões, sentindo meu rosto pegar fogo com o
direcionamento que aquela conversa tomou. Max sorri como um filho da
puta e eu quero beijá-lo novamente.
— E eu nunca havia andado de moto até aquela vez que você me deu
uma carona em sua Harley — solto outra verdade e Max arregala os olhos, o
sorriso se alargando no rosto.
— Fico feliz em ser seu primeiro. — Ele parece tão dono de si quanto
realmente é.
— Eu amei, gostei de verdade de estar sobre ela e de sentir o vento no
meu rosto e da liberdade em saber que eu poderia ir para onde eu quisesse.
— Sim, talvez eu lhe compre uma jaqueta de couro no seu próximo
aniversário, quem sabe no Natal?
Eu estou ansiosa por isso e o fato de Max estar fazendo planos que me
envolva em seu futuro, me deixa ainda mais.
— Certo, eu realmente gostaria disso — respondo, um pouco sem jeito.
Eu sinto que estou respondendo a ele sobre querer estar com ele no Natal, ou
em um ano, no meu próximo aniversário.
— Okay. — Ele encara meus lábios, parece faminto.
— E eu gosto de você, Max. — Minha última confissão faz seus olhos
encontrarem os meus. Meu coração bate rápido demais e considerando sua
respiração pesada e desregulada, eu sei que o dele também. — Eu sinto que
não o conheço realmente, tanto quanto sinto vontade de conhecer. Quero
saber tudo sobre você: o que suas tatuagens significam, conhecer seus medos
e suas fraquezas, como foi sua vida; quero detalhes, dos bons e maus
momentos. Quero saber seus gostos, provar suas coisas preferidas, eu
realmente quero passar meu tempo com você, Maximum. — Faço uma
pausa, retomando o ar, encarando seus olhos verdes que parecem brilhar
nesse momento. — Porque no meio de tudo o que sinto que está errado, você
é a única coisa que parece ser certa para mim.
— Seu macarrão com brócolis foi minha primeira refeição de verdade
depois de muito tempo.
Verdades. Ele está me dando suas verdades.
— Você tem um gosto tão doce que eu me senti viciado quando abriu a
porta e me beijou quando cheguei aqui há um mês e meio. — Ele deixa sua
boca se contorcer em um sorriso e uma covinha se aprofunda em sua
bochecha. — Gosto do seu biquíni vermelho, e de encher sua xícara de café
de manhã porque faz eu me sentir seguro de uma forma que não sei explicar.
Prendo o ar nos pulmões.
— Eu quero pegar minha Harley, criar uma rota e seguir viagem; quero
não ter pressa e aproveitar cada momento. Eu realmente queria conhecer as
Carolinas do Sul e do Norte, quem sabe dar um pulo na Geórgia e passar
sobre a roseira do Sr. Moretti como vingança.
Dou uma gargalhada alta e cubro a boca com as mãos.
— Meu pensamento inicial era ir até a Flórida, mas confesso que estou
tentado a seguir pelo Oeste, atravessando o Alabama, Mississippi,
Arkansas...
— A Oklahoma! — grito, terminando sua frase. — Você é louco!
— Eu fiquei curioso quanto a Cave House, confesso.
— Você não está perdendo nada. De qualquer forma, não acho que sua
moto chegue até lá.
Ele parece ofendido.
— Você acha que minha Harley não aguenta umas trinta horas de
viagem? Estou realmente ofendido por ela. — Ele une as sobrancelhas,
pensativo. — Eu poderia cortar para o sudeste, confesso que sempre quis
conhecer a vida noturna de Nova Orleans e, quem sabe, eu pudesse seguir
para a Flórida depois.
Sorrio, satisfeita com o pensamento de Max conhecendo todos esses
estados.
— Nova Orleans realmente está na minha lista.
— Então você tem uma lista? — Maximum parece verdadeiramente
interessado.
— Nada por escrito, apenas uma lista mental que eu costumo acreditar
que farei um dia, embora eu tenha certeza de que não.
— Por que não?
— Realidade, Max.
— Se você viver apenas para a realidade, então, quando estiver velha
demais, vai olhar para trás e apenas enxergar uma vida regrada e vazia. Você
irá querer poder voltar para o início, apesar de saber que jamais irá
conseguir. Vai estar velha e arrependida.
Meu coração erra uma batida. Ele está certo.
— Você está certo. Quem sabe, eu compre uma Harley para mim e faça
isso.
— Ou talvez você monte a minha e vá comigo.
Mais uma vez, ele está me colocando em seu futuro.
— Talvez.
Ele beija a ponta do meu nariz.
— Mais verdades? — pergunta e eu assinto, ansiosa.
— Eu gosto do seu cabelo preso em um rabo de cavalo e de vê-lo se
mexer com força para os lados quando você está brava por algo que eu disse
e sai marchando para uma corrida, que eu sei que não quer fazer. — Seu
sorriso se abre de uma forma que eu nunca serei capaz de descrever,
alcançando seus olhos. — Eu gosto que você saiba manusear uma arma, que
ande com spray de pimenta e que me desafie.
— Posso colocar uma maçã sobre sua cabeça e acertá-la se quiser.
— Eu realmente gostaria de tentar isso.
Deus, eu realmente estou apaixonada por ele!
— Eu gosto como você pode ser audaciosa e mesmo assim corar por
um elogio pequeno, e ainda mais de tirar você do sério. E eu realmente gosto
do fato de você também gostar dos apelidos que dou para você.
— Eu não gosto não — minto, aturdida com a quantidade de verdades
que ele joga sobre mim.
— Senti inveja do que vocês tinham aqui, eu realmente quis não ser eu,
quis ter sido um deles. Saber que por um impulso alguém os pegou no colo e
não me escolheu para entregar para o Jimmy. Saber que por um único ato
impensável, alguém definiu meu futuro, me deixou enlouquecido, mas
quando TJ e Ty estiveram por mim, eu realmente não quis que isso
acontecesse, porque não quis que um deles tivesse o meu passado.
Eu não sou capaz de dizer nada, apenas fico encarando Maximum,
cheia de pesar e com muito mais vontade de beijá-lo nesse momento.
— E tudo o que eu quis desde que cheguei aqui, foi estar com você, em
cada maldito momento meu. Toda vez que nos esbarrávamos, meu único
desejo era parar você e enfiar minhas mãos em qualquer parte do seu corpo,
apenas para sentir que eu a tinha, mesmo que por um segundo, Oklahoma.
Eu também gosto de você. Eu realmente gosto muito.
Eu não posso dizer quem está sorrindo mais, porque ele se move tão
rápido que, em menos de um segundo, seus lábios cobrem os meus. Suas
mãos correm sobre a lateral do meu corpo, até alcançarem minha bunda e ele
me puxa para o seu colo. Eu me sinto desesperada e louca por ele, apenas
ele. Minhas pernas contornam sua cintura e eu as cruzo, apertando meu
corpo contra o dele ao passo que sinto seu membro crescer embaixo de mim.
Nunca desejei nada na vida como desejo Max nesse momento. Um mês
tentando evitá-lo havia apenas trabalhado em intensificar o desejo que sinto
por ele. Sua língua encontra a minha e roubo sua lufada de ar, minhas mãos
deslizam sobre os seus cabelos, e eu me mexo ansiosa em seu colo. Tudo tão
rápido e tão bom que me faz desejar mais. Mais, eu quero muito mais.
— Deus... — ele murmura.
— Oh, sim.
— Kyra, apenas não me peça para parar... — Seus lábios fazem um
rastro no meu pescoço até minha orelha.
— Nunca.
Em um ato preciso, ele me gira, me colocando por baixo, minhas mãos
alcançam a bainha da sua regata e eu a puxo para cima, jogando em um
canto no chão. Abro sua bermuda e ele afasta seu quadril para que eu possa
empurrá-la para baixo, seus pés terminam o trabalho por mim. Ele retira
minha roupa, seus dedos percorrem sobre minha pele, causando-me arrepios.
Max apenas de cueca e eu apenas de biquíni, uma imagem que daria um
belo quadro pintado à mão, que eu gostaria de ter pendurado sobre a
cabeceira da minha cama. Ele segura as laterais do meu rosto pondo tanta
cautela e precisão no toque que até mesmo eu penso que eu posso quebrar.
Seus lábios brincam com os meus de forma tão particular que me faz sentir
única entre suas mãos.
— Você não tem ideia do quanto eu quis isso — murmura, parecendo
tão perdido quanto eu realmente me sinto.
Max estica seu corpo até o criado-mudo, retira um pacote metálico de
lá, ele o abre usando os dentes e se ajoelha em minha frente, me fazendo
observá-lo em sua melhor forma. Talvez aquela imagem sobre minha cama
seria mais interessante, afinal. Ele posiciona o látex sobre a cabeça do seu
pau e sua mão forte e grande desce sobre a base, envolvendo toda a sua pele
ao material emborrachado.
Ele parece tão quente que eu posso passar horas olhando-o fazer,
mesmo que leve apenas alguns segundos para isso. Max deixa escapar um
sorriso de lado, tão convencido que eu me pergunto com quantas garotas ele
esteve e o pensamento me apavora. Enciumou-me de uma forma que nunca
estive. Seus olhos não deixam os meus por nenhum segundo enquanto seu
corpo grande me engole por completo.
Após posiciona seu pau no meio das minhas pernas e eu prendo a
respiração, preparando-me para o que eu acho que será tê-lo me
preenchendo, mas nada na vida jamais me preparou para isso e eu me vejo
desesperada. Nós dois congelamos, meu peito infla e quero gritar eu te amo,
mas dizem que os eu te amo ditos durante o sexo não são verdadeiros, então
não faço.
— Caralho — murmura e eu sorrio, mesmo apavorada.
Nós dois soltamos o ar juntos, cautelosos em nos mexer. Ele me
observa por um momento, como se estivesse registrando aquele momento
em sua mente, sem pressa, me torturando. Quero perguntar a ele se sentiu
isso, mas não sei como reagirei positivamente a um não, portanto me
mantenho em silêncio, apreciando a sensação de tê-lo me preenchendo
completamente.
Max começa a se mover lentamente, enquanto murmura, se lamentando
por não termos feito antes. Eu também gosto de saber, parece um mês
perdido nesse momento. Seu quadril bate contra o meu e o contato de nossas
peles grita no silêncio, tornando a realidade mais presente. Contorço-me sob
ele, sentindo sua mão pesada descer sobre o meu estômago até meu clitóris
inchado, pressionando seu polegar com força sobre ele, fazendo com que eu
me engasgue com um gemido.
— Apenas não pare — suplico.
— Nem se eu quisesse, Oklahoma.
Eu me sinto fundida a ele, como se houvéssemos nos tornado uma
pessoa só e eu gosto dessa sensação. Max geme e sussurra com a boca
encostada a minha bochecha, nosso suor se mistura um ao outro de uma
forma particular. Seguro os lençóis entre os dedos, arqueando o corpo em
sua direção.
— Caralho, você está tão molhada...
A pressão que ele faz no lugar certo é tão boa que chega a doer e meu
corpo está prestes a desmoronar sob ele, da mesma forma que sei que Max
está quase lá também. Ele mete tão forte que a cama se mexe em direção à
parede, fazendo-me gemer ansiosa para o orgasmo que vem. Eu estou na
beira de um prédio e me jogo dele, mas não estou caindo, eu flutuo em
direção ao chão, lentamente até que...
— Max! — Eu o aperto, as pernas em sua cintura, uma mão em sua
nuca o puxando para mim e outra em suas costas, enterrando as unhas em
sua pele.
— Oh, porra, isso é... — Ele dá uma última estocada e sinto seu pau se
contrair dentro de mim. — Bom pra caralho.
Rio, sentindo-me feliz a ponto de querer gritar para o mundo que fiz
sexo com Maximum. Seu corpo desmorona para o lado, ele me puxa para
um abraço e me aninho nele, nossos corpos se encaixam da melhor forma,
como se tivessem sido moldados para estarem juntos. Ele beija o topo da
minha cabeça e passo a mão em seu abdômen, apoiando a cabeça em seu
peito.
— Sim, isso é... — Meus dedos traçam suas tatuagens, enquanto a
observo subir e descer em um ritmo lento conforme Max recobra o fôlego.
— É um anjo resgatando uma humana do limbo, ela significa redenção
— ele começa. — Fiz aos dezoito.
— O que aconteceu aos dezoito?
O riso amargo que Max deixa escapar apenas me faz desejar pegá-lo no
colo e nunca mais soltá-lo.
— Foi quando eu parei de me importar.
— Eu sinto muito — murmuro, a boca colada na pele do seu peito,
sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos.
— Eu estou bem agora. — Ele coloca meus cabelos para trás e eles
caem pelas minhas costas. — Porque eu tenho você. — Eu posso ouvir seu
coração bater mais forte e sorrio ao contar em segredo que está sendo
verdadeiro comigo.
— Sim, você me tem.
Ele puxa meu queixo para um beijo, que inicialmente começa terno,
mas cinco segundos depois estamos novamente ofegantes. Minha perna
desliza sobre sua cintura e eu o monto. Sua ereção toca minha bunda e eu
deslizo mais para baixo, me esfregando nele com força o suficiente para que
eu possa gozar apenas dessa forma. Max coloca as mãos na minha cintura,
me empurrando para frente e para trás, mas prendo seus braços contra a
cama, impossibilitando de se mover.
— Agora sou eu no comando.
Ele abre um sorriso tão largo que me faz derreter.
— Pode usar minha arma se isso a deixar mais excitada.
— Talvez eu a use — brinco.
— Foi por isso que eu me apaixonei por você.
Suas palavras me fazem parar, eu prendo o ar, meu coração para de
bater e meu rosto congela em uma expressão de espanto. Max está
apaixonado por mim? Eu escutei bem? Deus, sim, ele está no mesmo ritmo
que eu e eu sinto que estou prestes a explodir.
— Continue, Oklahoma — ele brinca, se contorcendo sob meu aperto e
eu acordo. Minhas mãos largam as suas e tomo seu rosto com elas, o
puxando para um beijo.
— Oh, sim... — Sorrio, como a louca por ele que eu sou.
Dou uma última olhada em Max e saio da cama antes que ele acorde e
me arraste para ela novamente. Passamos a noite inteira acordados e não foi
conversando. Meu corpo inteiro dói e eu sinto fiz um treino pesado na
academia. Talvez eu não precise mais correr se Max continuar fazendo seu
belo trabalho comigo.
Ainda são oito da manhã, por esse motivo eu me surpreendo ao ver Ty
no corredor, ele olha para trás, seus olhos têm bolsas grandes e arroxeadas ao
redor dele e dou um passo em sua direção, mas ele bate a porta do seu quarto
em minha cara, fazendo-me frear. Suspiro forte, desejando que tudo se
resolva logo. Max foi o primeiro passo, mas eu preciso ter uma conversa
com TJ sobre nós, com Beth sobre TJ, com Tray sobre Ty e com Ty sobre a
Tray.
Minha cabeça faz um nó com o tanto de conversas que eu preciso ter.
Não quero que Beth se sinta mal por mim, então eu realmente preciso falar
com ela. E, sobre minha melhor amiga, eu definitivamente quero saber como
ela se sente em relação ao Ty. Eu não sou nenhuma “santa casamenteira”,
mas ao menos gostaria de entender mais e poder ajudar de alguma forma,
nem que fosse dando o meu ombro para ela chorar.
Entro no meu quarto e me surpreendo ao encontrar um presente sobre a
minha cama. Sorrindo ao caminhar até ele, eu estico o braço e me curvo
sobre o colchão, puxando a fita amarela bem presa. O laço se desmancha
entre meus dedos e espio dentro do pacote, observando um tecido dobrado
dentro dele. Puxando-o para fora, eu dou o maior sorriso que jamais sei que
poderei dar. Oh, meu Deus! Eu estou chorando enquanto visto minha camisa
com mangas raglan.
As mangas azul-marinho gritam em contraste para o cinza mescla da
parte da frente e costas e o nome Oklahoma Thunder estampa o peito dela, o
nome do time de basquete de Oklahoma City com o número oito5 nas costas.
Olho-me no espelho, secando minhas lágrimas enquanto giro para ambos os
lados encarando meu reflexo e a forma como ela se encaixa perfeitamente
em mim.
Depois de passar uma água no meu corpo, escovar os dentes e me
vestir, usando minha nova camiseta preferida no mundo e um short jeans, eu
passo no quarto de Max novamente apenas para me despedir dele antes de ir
até a casa de Beth conversar com ela. Ele mexe em seu celular, as
sobrancelhas unidas em confusão formam duas linhas fundas entre elas.
— Eu gostava quando as pessoas se comunicavam por cartas. Até
mesmo quando amarravam um recado em um pombo.
Dou uma gargalhada e Max vira o rosto para mim. Um largo sorriso se
forma em seu rosto.
— Oh, uau! Eu gostaria de comer você usando apenas isso. — Ele me
puxa pelo tecido e cai sobre ele.
— Não amasse minha camisa, Maximum. Ou eu posso apelidar você de
Pensilvânia também?
Ele grunhe.
— Não, por favor, apenas chame meu pau de sino da liberdade6 e
estamos quites.
— Obrigada pela camisa, Max, eu amei. — Beijo seus lábios e me
afasto.
Ele grunhe em protesto, tentando me puxar para si novamente.
— Feliz aniversário, Oklahoma!
— Obrigada. — Rebolo até a porta, enquanto ele se lamenta. — Vejo
você depois.
E eu já estou morrendo de saudades.

Toco a campainha, mas ela não funciona, então bato na porta e uma
menina de cabelos ondulados a atende. Seus olhos rolam por todo o meu
corpo, dos pés a minha cabeça, ela se curva indiscretamente para olhar
minha bunda, suas sobrancelhas arqueando para cima, então diz:
— Oi, eu sou a Mackenzie e você é a Kyra, não é?
— Por favor, não me diga que me reconheceu pela minha bunda.
Ela sorri, revelando duas janelas nos dentes.
— Minha irmã Beth disse que você tinha uma... bela comissão de trás.
— Ela dá de ombros e gargalho.
— Você tem um belo negócio aí. — Aponto para os seus dentes e ela
enfia a língua entre o buraco.
— Um amigo da minha irmã os arrancou.
Eu me pergunto se foi TJ.
— Você é a namorada do Tales. — Ela parece cautelosa, como se
estivesse fazendo algo errado.
— Não mais.
— Vocês romperam! — Mackenzie está gritando, eu posso até mesmo
dizer que ela parece feliz.
— Sim, nós éramos amigos e acabamos confundindo as coisas.
— Oh. Certo. — Ela esfrega a ponta do seu sapato para um lado e
depois para o outro, encarando seus pés.
— Quem é, Kenzie? — A voz de Beth vem de algum canto da casa.
— É a ex-namorada de Tales.
A forma como Mackenzie cita a nova informação me faz acreditar que
ela quer chamar a atenção da irmã para esse fato e eu me sinto ansiosa,
talvez um pouco chateada com a forma como elas parecem falar sobre mim
na minha ausência.
— Oh, oi. — Beth usa luvas amarelas, seus cabelos estão presos em um
coque alto e ela veste um avental desfiado na bainha pelo tempo.
— Oi.
Sua expressão é de espanto, portanto sei que TJ já lhe informara sobre
nosso show de horrores da noite passada.
— Feliz aniversário, Ky — deseja-me com cautela.
Elizabeth parece estar participando de um debate interno onde se
pergunta se deve me abraçar ou não, então dou um passo para a frente e ela
também, envolvendo-me em um abraço que eu sei que significa muito mais
do que uma simples felicitação.
— Obrigada — ela murmura.
— Era para eu estar agradecendo, não você.
Elizabeth sorri sem graça.
— Vamos dar uma volta. — Ela tira as luvas e o avental e os joga
dentro de casa.
— Claro. — Enfio as mãos no bolso do meu short.
— Kenzie, fica de olho na mamãe, eu volto em cinco minutos.
Os protestos de sua irmã são abafados quando Beth fecha a porta.
— Como vão as coisas em casa?
— Na mesma, meu pai ainda continua se afundando na sua merda e
minha mãe está em crise.
Ela não gosta de falar sobre sua vida pessoal, tem uma vida difícil e diz
que reclamar só torna tudo ainda pior, por isso ela evita entrar em detalhes.
Um dia de cada vez. A única coisa que eu sei é que seu pai bebe demais e
bate nela, em sua mãe e irmã, até que Beth o enfrentou uma vez. Outro
detalhe que ela comenta comigo, em um momento, é que sua mãe sofre de
alguma doença mental, e que ela não deixa a casa por causa da irmã ainda
menor de idade, além disso, sua mãe precisa de ajuda quando está em crise.
Ela está presa onde está.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, se a vida fosse uma pessoa, ela seria alguém que nasceu
com um cabo de vassoura enfiado na bunda.
Eu sorrio.
— Parece que você está descrevendo o TJ.
— Oh, sim. — Ela sorri, envergonhada. — Eu sinto muito por ter
enganado você, Ky, mas eu... apenas aconteceu.
— Deus, eu sei. Eu... sinto muito por todos os detalhes que você teve
que ouvir de mim. — Arranco uma folha de Hera7 que cobre o muro no qual
nós passamos em frente.
— Achei que você surtaria, Kyra. Eu nunca podia esperar essa reação.
— Talvez eu tivesse surtado se tivesse ficado sabendo há um mês e
meio.
— Antes de Max — ela murmura.
— Sim.
— Parece que vocês se acertaram.
— Sim, fizemos. — Sinto meu rosto corar. — TJ sabe sobre nós agora.
— Ele me falou.
É estranho não sentir como se fosse mais a melhor amiga de TJ. Saber
que sempre estive um passo atrás de onde eu achava que estava, saber que
Beth sempre foi muito mais para ele, que sempre esteve à minha frente,
sempre soube muito mais do que eu. Eu pareço ter sido enganada, mas
misteriosamente compreendo. Eles certamente se amavam, e não da forma
como nós dois o fazíamos.
— Certo...
— Eu... — ela começa, mas certamente não sabe como dizer. — É
estranho falar sobre Tales com você.
— Eu sei, me desculpa, você não precisa dizer nada. Não vim atrás de
detalhes, Beth.
— Não? — Ela parece confusa.
— Eu só não queria um clima estranho hoje no bar. — A compreensão
parece ter passado pelo seu rosto. — Nós não teríamos tempo para conversar
sobre isso e eu falaria que estou de boa com tudo e você não acreditaria,
então nós não deixaríamos tudo em pratos limpos e agiríamos por uma noite
inteira como duas loucas desconhecidas.
Ela dá uma risada alta.
— Sim, parece exatamente como eu achei que seria.
— Ao menos nós podemos começar no zero então. — Ergo as mãos no
ar. — Você está livre para o TJ e eu posso experimentar o que quer que seja
que esteja acontecendo com Max.
— Oh. Não! — Ela passa as mãos no rosto e nós contornamos uma
lixeira, voltando para sua casa.
— Por que não? — pergunto confusa.
— Tales e eu somos amigos, Ky. Eu o amo, mas nós dois não fizemos
bem ao outro quando estávamos juntos, acredite.
— Bem, vocês sabem de suas merdas melhor do que ninguém.
— É complicado — afirma com um sorriso culpado.
Nós paramos em frente à sua casa e sorrimos ao avistar Mackenzie
espiando pela janela.
— Eu não posso arrastar Tales para isso. — Ela aponta para a casa.
— Que engraçado — comento. — Porque parece que ele está afundado
inteiramente nisso.
— Eu sinto muito — Tray murmura.
— Se eu ganhasse um real por todas as vezes que ouvi ou disse essa
frase nas últimas vinte e quatro horas eu estava rica.
— É complicado — ela lamenta.
— Beth dizia a mesma coisa sobre TJ e eu sequer sonhava com isso.
Sim, eu atualizei minha melhor amiga e agora ela sabe cada maldito
pedaço de merda que me afundo.
— Quis contar pra você um milhão de vezes, mas fazê-lo só tornaria
ainda mais real e eu não queria que fosse.
— Estamos falando de anos, Tray.
— Eu ainda nem consigo pensar muito sobre isso. É como se eu
estivesse me pregando uma peça.
Ela solta um suspiro pesado do outro lado da linha.
— Todas as vezes em que você o evitou, que não quis vir aqui por
causa dele, no feriado de quatro de julho... O que houve?
— Ele soube que eu estaria na cidade. Ty não lida bem com o fato de
estarmos perto demais.
— Isso parece quente.
— Parece doentio para mim — desdenha, mas eu a conheço o
suficiente para saber que há muito mais.
— Você o ama.
— Ele não faz bem para mim.
— Não foi uma pergunta, Tray.
Ela se mantém em silêncio e sua falta de diálogo apenas responde ao
meu comentário.
— Nós tivemos um lance e acabou, Tyson não é pra mim.
Uma parte minha não gosta da forma como ela fala sobre ele; mas a
outra parte também não quer minha amiga com alguém como Tyson. É
confuso, afinal os dois são meus melhores amigos.
— Não parece realmente que acabou, Tracy.
— Acabou pra mim — afirma entredentes e eu sei que cutuquei sua
ferida. — Estarei de volta a Boston em meio ano e apenas desejo não cruzar
mais o seu caminho.
Oh, uau, bem... parece certamente que está longe de acabar.
— Porra... — Passo a mão na minha testa e empurro meus fios presos
ao meu suor para trás. — Você e Tyson, onde diabos estavam enfiados os
meus olhos...
— No seu próprio rabo — responde e eu sorrio.
Maldita mentirosa!
— Tudo bem — suspiro. — Beth e TJ e você e Ty sabem o que é
melhor para vocês, afinal. Eu não tenho nada com suas vidas, não é
realmente da minha conta, mas apenas não esconda mais nada de mim se
ainda me quiser por perto.
— Uau, você está ameaçando não ser mais minha amiga? Quantos
anos você tem? Dez?
— Eu estou falando sério.
— Okay, Ky. Eu sinto...
— Não desperte o inferno fora de mim outra vez.
Ela dá uma risadinha, que me faz rir de volta.
— Jamais, Oklahoma.
— Adeus, Tray. — Desligo antes que ela possa continuar pegando no
meu pé.
Assim que tiro meus pés da piscina, Tyson me surpreende ao tocar
meus joelhos, empurrando minhas pernas de volta para onde estavam. Ele
enfia seus pés na água e os balança, observando o brilho do sol refletir nela
ao criar pequenas ondas.
— Era ela, não era? — ele pergunta, sua voz é diferente de tudo o que
eu conheço.
— Sim.
Acho que fará algum comentário sobre Tray, mas ele apenas solta um
suspiro estrangulado e me surpreende ao dizer:
— Eu sabia que éramos adotados e conheci nosso pai biológico no
nosso aniversário de dezoito anos.
Meus olhos se arregalam a ponto de eu acreditar que saltarão do meu
rosto. Não é possível que ele esteja falando a verdade.
— Por isso eu agi como um idiota depois que Max chegou a nossa
porta. Não que eu não aja como um na maior parte do tempo, de qualquer
forma.
— Co-mo... como? — gaguejo.
— Eu não soube como dizer a TJ, eu não queria foder com a imagem
que ele tinha da nossa família. — Ty passa as mãos no rosto e grunhe, como
se sua cabeça estivesse pegando fogo. — Você o conhece, Kyra. Dizer ao TJ
que eles não eram nossos pais, aos seus dezoito anos... não era uma boa
ideia.
Sim, TJ aos dezoito anos estava afundado em sexo e álcool e
provavelmente se perderia nesse caminho. Pensando sobre esse assunto, é
fácil afirmar que é muito provável que ele não fosse a mesma pessoa hoje,
talvez sequer teria ido à faculdade.
— Eu não sei o que dizer.
— Eu sinto que tô me afundando cada vez mais, porra! — Ele começa a
balançar seu corpo para frente e para trás. — Eu fiz para protegê-lo, mas
tudo isso apenas vai acabar comigo sendo um egoísta filho da puta.
— Ele contou sobre haver outro irmão? — pergunto, rezando para que
não.
— Não, é claro que não! Que tipo de pessoa você acha que eu sou,
porra? — Ele parece realmente ofendido com a minha pergunta.
— Desculpa, Ty, eu precisava perguntar.
Coloco minha mão em sua coxa, tentando mostrar a ele que eu estou
com ele nisso e Tyson me surpreende ao colocar sua mão sobre a minha.
Seus olhos estão fixos nela e ele a segura em seu colo, ainda se balançando.
Aquele pequeno gesto é grandioso demais, porque ele sequer deixa que eu o
abrace, é sempre algo muito desconfortável e, de repente, ele parece estar
sem suas armaduras, deixando que eu o veja nu e cru.
— Ele nos procurou e disse que era nosso pai, no começo eu não pude
acreditar, mas, quando eu olhei para o meu pai, eu vi seu rosto calmo, como
se ele estivesse esperando por aquele momento sua vida inteira. Então, olhei
para o cara e, puta merda, nós tínhamos o mesmo tom de verde nos olhos e
nossos cabelos eram da mesma cor. Até mesmo o nariz, tudo era parecido
demais.
— Uau...
— Meu pai... o Jimmy, perguntou o que ele queria.
— E aí?
— Ele respondeu que estava nos procurando há algum tempo e que
gostaria muito que fôssemos viver com ele, então meu pai começou a gritar
sobre o tipo de pai que vende dois bebês e o choque passou pelo seu rosto.
Ele parecia não saber que envolvia dinheiro. Ele não estava junto com a...
nossa mãe biológica na época. Fiquei tão chocado quanto ele, eu não fazia
ideia de que, além de Jimmy não ser nosso pai, ainda havia nos comprado.
— Parece tão confuso, Ty... eu... não sei o que dizer. Por que ele não
falaria sobre haver outra criança?
— Eu não sei, mas... realmente acreditei sobre ele achar que nós
tivéssemos sido adotados legalmente. Nossa mãe era uma viciada, ele
também teve sua cota de drogas, pelo que eu sei, então parece que nosso
fraco pelas bebidas e todas as merdas que já usamos tem a ver com um
passado de merda.
— Vocês não são como eles.
— Não importa com quem somos ou não parecidos. Ele veio nos
procurar, eu acabei com o punho em seu nariz e ele nunca falou sobre outro
filho. Talvez fosse sua forma de se vingar de nós.
— E você nunca mais o procurou?
Ele nega.
— Ao sair da nossa casa naquele dia, meu pai pediu para que seu
motorista na época o seguisse, mas foi alguns tantos quilômetros até que ele
acabou na Pensilvânia, apenas para constar que morava em uma casa velha.
Um cara sozinho, sem esposa, sem filhos, ou seja, não temos mais irmãos.
— Eu sinto muito, Ty, que você tenha guardado isso por tanto tempo.
E eu realmente sinto, sequer consigo imaginar o quão duro fora para
Tyson ter que guardar esse segredo do seu irmão. Saber que eram adotados,
que haviam sido vendidos quando bebês, que o pai que amava e que o havia
criado com amor, na verdade, o havia comprado. Como ele diria isso a TJ?
Não havia forma alguma que não resultasse nele fazendo um monte de
merda. Agora eu entendo o comportamento estranho de Ty no último mês,
após a chegada de Max.
Não tem apenas a ver com o fato dele estar escondendo Tray de mim,
tem a ver com ele saber da história toda. Enquanto eles aguardavam seu pai
por duas semanas, para que contasse a eles a história que Tyson sabia de cor,
ele devia se sentir como um grande pedaço de merda por ter mentido para o
irmão, enquanto Jimmy respondia por ele que ele não sabia de nada. Deus,
eu nem sequer era capaz de juntar todas aquelas peças do quebra-cabeça.
— Como eu posso dizer que, graças a mim, nós perdemos os últimos
cinco anos com Max? Imagina o quanto nós poderíamos tê-lo ajudado, Ky!
Ele poderia ter feito faculdade.
— Ele não estava passando fome, Ty. Ele foi acolhido por alguém. O
cara deu a ele um teto, comida e uma profissão. Ele está bem, e está aqui
agora.
E eu me apaixonei por ele.
— Eu... Eu não sei como contar.
— Não há motivos para contar.
Meu comentário o faz arregalar os olhos e prender o ar.
— Você deu um soco nele, okay, ele mereceu, porra! Ele vendeu vocês!
Tanto Max ou TJ fariam a mesma coisa. E quem é que garante que ele não
contou que vocês eram três apenas porque você bateu nele? Talvez ele não
soubesse, ou talvez ele tivesse um motivo, quem é que sabe?
— Eu não sei...
— É claro que não, e contar não fará com que saibam. Vocês estão bem
agora, não estão?
Ele assente, esfregando as mãos no rosto. Ele parece prestes a
enlouquecer.
— Sim, porra, sim, nós estamos.
Aperto sua perna e dou dois tapinhas nela.
— Então é isso, garoto. Não há mais passado para vocês, apenas um
futuro, portanto, é perda de tempo olhar para trás.
— Se TJ estivesse aqui, ele diria que quem vive de passado é museu.
Eu rio.
— Sim, ele é um idiota, mas é um idiota sábio. Você fez isso para
protegê-lo, de qualquer forma, seu pai tinha o direito de contar a ele. O que
acha que teria acontecido se você tivesse contado? TJ teria duas semanas de
imaginação livre e estaria condenando seu pai por ter comprado vocês.
— É, faz sentido.
— Claro que faz. As coisas apenas acontecem da forma que deveria ser.
— Dou de ombros.
— Tray discordaria.
O fato dele estar falando sobre ela com tanta propriedade me faz pensar
no quanto a conhece.
— Sim, ela discordaria, mas apenas porque acha que há um cálculo
para tudo. Os melhores conselhos vêm de pessoas de Humanas.
— Você sempre esteve perto o suficiente para que eu soubesse que
tinha alguém, Ky — ele murmura, eu sabia que era difícil para ele falar
sobre sentimentos. — Eu sinto muito por não ter contado sobre ela. E sinto
ainda mais por contar tudo isso a você e fazê-la carregar esse segredo de
merda comigo.
— Nós vamos ficar bem.
— Eu realmente espero que sim, porque eu tô cansado pra caralho! —
Ele apoia a mão em cada lado do seu quadril e se levanta. — Feliz
aniversário, Kyra — murmura, então se afasta sem dizer mais nenhuma
palavra.
Um segredo. Que belo presente de merda, Ty!
— Ei, Benny, eu só acho que deveria existir uma lei que obriga o
empregador a liberar o funcionário no dia do aniversário dele.
A cabeça de Benny fica tão roxa quanto o cabelo de Beth.
— Você não é paga para achar nada. — Ele entra no escritório, batendo
a porta atrás dele.
— Ele fica muito agitado quando os meninos estão aqui. — Elizabeth
encara o pano em suas mãos.
— Quem, em nome de Deus, não ficaria? Olha só para aquilo. —
Aponto para os três, em frente ao espelho que fica ao lado da mesa de bilhar.
— Três deles, olha bem para aquilo. Eu sinto que estou dentro de um filme
pornô e eu sinto muito por ter apenas três buracos.
A risada de Beth é tão alta que os três olham sobre os ombros, fazendo
sua cabeça quase explodir com o rubor. Eu sequer me importo em olhar para
os outros dois irmãos, porque tudo o que eu consigo ver é o sorriso tímido no
rosto de Max. Um leve curvar de lábios envergonhado.
— Ele está muito na sua.
É a minha vez de corar. Sim, eu espero que ele realmente esteja.
— Você deveria dar uma chance ao TJ — comento e ela desvia o olhar.
— Eu não quero falar sobre TJ.
— Algumas coisas nunca mudam, afinal.
Beth dá de ombros. É mais fácil para ela escrever sobre sentimentos do
que falar sobre eles e eu me pergunto se é um lance de escritores.
— Sim, também por isso — ela se refere ao comportamento de Tales.
— E sobre o seu aniversário, Oklahoma? — Ela inclina o corpo em
minha direção e ergue as sobrancelhas duas vezes. — O que pretende fazer?
— Pretendo acabar com Max arrancando meu presente de aniversário
com os dentes.
Encaro seu sorriso se transformar em um “O” enorme.
— Certo, informação desnecessária.
— Ah, vamos lá, Beth, fala sério. Eu li os textos eróticos que você
escreveu. Eles são baseados no que você já teve com o TJ?
Ou, quem sabe, eles são baseados no que ela quer ter com ele. Quem
sabe?
— Por que diabos você sempre leva o assunto até mim novamente?
— É automático, me desculpa. — Encosto o quadril no balcão,
observando o bar quase vazio para um sábado.
Talvez houvesse rolado o boato que os três estão juntos, afinal,
ninguém quer uma briga nessa noite. Quem é que sabe?
— Tudo bem... — Seu rosto se contorce em um sorriso quando ela olha
para a frente. — Eu acho que devo ir ao banheiro agora.
— Ei, Oklahoma. — A voz de Max acerta exatamente nas minhas
partes cobertas. — Como está sendo o seu aniversário?
— Ainda estou esperando para apagar alguma vela.
Seu sorriso alarga.
— Certo, ficaria feliz se apagasse a minha hoje.
O meu sorriso se alarga.
— Acho que gosto dessa ideia.
Ele se debruça sobre o balcão, os olhares curiosos caem sobre todos nós
e eu não me importo. Eu não me importo porque estou apaixonada por ele,
porque ele parece significar o mundo para mim e eu sequer me importo que
tudo isso tenha acontecido em menos de dois meses, porque eu me encontrei
em Max.
Seus olhos caem sobre os meus lábios, o verde deles brilha de desejo e
ele sorri de uma forma sensual que faz com que minhas pernas amoleçam.
Max estica sua mão sobre o balcão e segura minha nuca, me fazendo inclinar
até a metade da bancada, enquanto ele se inclina até a outra metade, nosso
rosto se encontra na linha de chegada.
— Eu quero foder você hoje tão gostoso, Oklahoma, que será o melhor
aniversário da sua vida.
Sinto-me desmanchar sob sua mão; somente o pensamento de Max me
fodendo, como promete, já torna aquele dia mais do que especial e eu posso,
inclusive, me contentar com a minha imaginação. Ele se inclina
minimamente, sua boca pressiona a minha com tanta força que meu sexo se
contrai em desespero. Não me importo que estamos dando um belo show,
porque tudo o que eu quero é que meu turno termine para que eu possa
finalmente ter meu presente.
— Oh, uau! — A voz de Camille faz com que Max se afaste de forma
abrupta e eu cambaleie de volta para o meu lugar novamente. — Que
tocante.
— Camille — Max sussurra e eu não sei exatamente se ele a está
saudando ou suplicando para ela.
— Max — ela responde. — Kyra.
— Oi.
— Ei — Beth cumprimenta Camille logo atrás de mim, fazendo-me
sentir um pouco mais segura, embora eu ainda não saiba explicar o porquê.
— Oi, clone número três — ela diz após olhar as tatuagens e os cabelos e
perceber que não é Ty.
Ninguém ri de sua piada, o que apenas acentua o drama.
— Beth — ela cumprimenta, sentando-se em uma banqueta ao lado de
Max.
— Bom, me vê algo forte o bastante para esquecer um cara aí que
transou comigo e me chamou de outro nome quando estava gozando.
— Oh, uau! — Beth respira fundo. — Tenho algo para você, garota.
Eu não consigo me mexer.
— Certo — Camille começa, encarando Max por um segundo. — Traga
duas, Max também vai precisar de algo forte esta noite.
— Eu acho que você já está bêbada o bastante, Camille.
— Como você estava naquela noite? — Ela se debruça sobre o balcão e
sorri para mim, embora eu não encontre humor no ato.
— Qual noite? — a pergunta deixa minha boca sem que eu perceba.
— Oh! — Ela finge espanto. — Por que não conta a ela, Max? Achei
mesmo que você estivesse na minha... Mas aí, ontem... Toda aquela briga
com TJ sobre você ser um otário.
— Vamos conversar. — Ele segura seu braço, disposto a levá-la até um
canto privado.
— Fiquem à vontade para falar na minha frente — digo entredentes.
Beth coloca as bebidas sobre a bancada e segura a minha mão ao lado
do meu quadril. Ela finalmente entendeu que há uma verdade não dita em
algum lugar e me mostra que está ao meu lado. Meus olhos rolam sobre os
ombros de Ty e TJ quando sinto que eles se aproximam, então novamente
encaro Camille, suas unhas vermelhas batendo no balcão. Ela dá um gole na
bebida e empurra o copo cheio na direção de Max.
— Tome! — ela ordena.
— Eu não quero beber essa porra! — alega. Há tanta raiva em sua voz
que eu posso confundi-lo com Tyson no seu pior momento.
— Eu acho que já deu. — Ty segura o punho de Camille, mas ela
parece certa de que não sairá de lá.
— Apenas fale o que tem para falar e saia daqui. — Eu a encaro,
cruzando os braços sobre os seios.
A mão de Beth toca meu ombro e agradeço o fato de que ela está lá por
mim.
— Eu não tenho nada a dizer. — Ela se inclina ainda mais em minha
direção. — Max apenas esteve entre minhas pernas e chamou o seu nome
quando estava chegando lá e, então, ele montou sua Harley, bêbado como o
inferno, e provavelmente se arrastou para você depois.
Eu sei que os dois estiveram juntos, mas finalmente estou começando a
entender o que ela está querendo dizer. O momento exato no qual ela se
refere. O sangue parece estar parando de circular pelo meu corpo e eu sinto
que estou prestes a desmaiar. Apenas uma única vez que ele esteve bêbado e
eu me lembro muito bem daquela noite.
— Kyra, venha comigo. — Seu olhar parece uma súplica, mas eu
decido ignorar.
— Porra, Camille! — TJ exclama, contornando seu ombro com o braço,
tentando tirá-la de lá, mas ela se mantém firme.
— Qual a porra do seu problema, idiota? — Ty pergunta, erguendo os
braços no ar.
Eu me sinto afundada na maldição dos irmãos Jackson.
— Você não foi rastejando para ela, Max? — Cami pergunta. — Eu
tenho certeza de que sim, porque você nunca mais me procurou depois
daquela noite, e bom, pelo show de ontem, e a forma como parecem estar
juntos... parece que você apenas esteve me usando.
Eu encaro Max. O momento exato em que Camille se refere estala em
minha mente. Como se ela estivesse no escuro e minha consciência houvesse
apertado o interruptor, revelando toda a merda na qual eu estou afundada.
Oh, que ótimo! Max esteve com seus dedos em mim, minutos depois de tê-
los enfiado nela. Que grande otário!
— Vá para casa, eu cubro você pelo resto da noite. — Beth sussurra nos
meus ouvidos sem que ninguém ouça.
Olho para os três olhos verdes iguais e, embora por trás deles houvesse
três personalidades diferentes, todos se mantêm arregalados da mesma
forma. Eles também parecem estar prendendo a respiração, esperando o
momento no qual eu explodirei. Ty e TJ me conhecem o suficiente para
saber que eu posso jogar a bebida no rosto de Max, enquanto seguro os
cabelos de Cami e levo seu rosto com força até o balcão.
Então os dois se viram surpresos ao me ver imóvel, eu estou respirando
apenas porque é natural, porque não consigo me mexer. Beth toca minha
lombar e me acompanha até a porta do estoque; e quando a porta se fecha
atrás de nós, ela segura meus ombros e me sacode, fazendo-me sair do transe
de decepção em que estava envolvida.
— Escute aqui — ela diz confiante. — Pule a janela, pegue o meu carro
e vá até a minha casa. A janela do meu quarto está aberta, então pule ela.
Ninguém vai saber que você foi embora por um bom tempo. Se Kenzie ouvir
você chegar, peça silêncio a ela e fique por lá até eu chegar. — Beth entrega
as chaves do seu carro. — Eu pego uma carona com TJ no fim do
expediente.
Assinto e Elizabeth seca as lágrimas que eu não sei que estão
escorrendo. A maçaneta gira e a voz de Max suplica abafada do outro lado
da porta que eu sequer percebo que foi trancada por minha amiga.
— Por favor, Ky, me deixa falar com você.
Fecho os olhos por um momento e respiro fundo, engolindo a vontade
que tenho de deixá-lo se explicar. Uma parte minha quer ouvir que ele não
fez, mas a outra, oh, a outra, tem certeza de que ele me fez de tola.
— Obrigada, Beth — murmuro antes de subir em uma cadeira e cair
fora.
Toda vez que o olhar decepcionado de Kyra vem em minha mente, eu
me pergunto como, em nome de Deus, um dia que começou tão bem, pode
ter acabado de forma tão drástica. Como um gráfico de uma escala que
marca no topo uma das vezes em que mais me senti feliz e que agora cai em
queda livre para o zero, marcando o momento exato em que minha vida se
tornou miserável.
Eu sei que não posso julgar um Deus que eu mal acredito,
principalmente pelas minhas más decisões. Não tem nada a ver com Ele o
fato de eu ser um filho da puta idiota, e eu sei muito bem que Kyra é esperta
o suficiente para não acreditar em minhas desculpas. O que eu posso dizer?
Eu estou errado, afinal de contas. Falar com ela sobre aquela noite, só me
tornará ainda mais culpado, não? Eu não faço ideia, porra, eu nunca estive
em um relacionamento.
— Cuzão! — Ty dá um tapa na minha nuca após nós três nos darmos
conta de que ela pulou a janela e que Cami desapareceu.
— Falou o cara que é apaixonado pela mesma garota desde a infância.
— Você fodeu as coisas com a Kyra, seu idiota! Eu deveria estar
chutando a sua bunda agora! — ele esbraveja.
— Como você conseguiu cagar tudo em tão pouco tempo, porra? — TJ
interfere.
— Tá bom, Hitch conselheiro amoroso8. Sua garota está bem ali
esperando você deixar de agir como um idiota. — Aponto para Beth. — Já
tem alguns anos, inclusive.
Tyson ri ao fundo e passo a mão no rosto.
— Me dê uma merda forte. — Aceno para Elizabeth.
— Um chute em seu traseiro com meu sapato bico fino preferido? —
Ela me empurra o copo que Camille havia pedido em minha direção com
tanta força, que o uísque derrama sobre a bancada. — Tome o uísque que sua
garota pediu para você, idiota!
Eu me viro para TJ apenas para vê-lo encarar Beth como se fosse a
única mulher na face da Terra. Trigêmeos apaixonados, mas nenhum deles
mantém sua garota. Será que é azar compartilhado ou uma tendência
genética a fazer merda? É uma boa pergunta, afinal de contas.
— Aonde ela está? — TJ pergunta a Beth.
— Não interessa, Tales! Você já não tem problemas o bastante? Deixe
que Max resolva suas próprias merdas sozinho.
— Você a deixa falar com você assim, TJ? — Tyson ergue as
sobrancelhas, com um sorriso perturbador. — Como eu pude perder anos
disso?
— Você também já não tem problemas o bastante com a melhor amiga
dela, Tyson? Fiquei sabendo sobre os seus segredos também.
Tyson dá um passo em direção a Beth, mas TJ se coloca entre eles.
— Tô caindo fora — aviso ao colocar o copo sobre o balcão.
— Não vá atrás dela, Kyra não merece você. — Ela coloca as mãos na
cintura.
Ela é bem ousada para o seu pouco tamanho, eu confesso.
— Ela não merece nenhum de nós, Elizabeth.
Antes que ela possa responder, a voz do segurança nos interrompe:
— Algum problema por aqui, Beth? — Ele parece tão pronto para uma
briga quanto Ty e TJ ficam ao vê-lo.
— Se ela estivesse com algum problema teria chamado por alguém que
pudesse resolvê-lo, não você — TJ responde.
— Por que não volta lá para a frente e finge que está fazendo o seu
trabalho? Quem sabe, eu poupe você da humilhação — Ty interrompe,
entredentes.
Fico quieto, tudo o que eu menos quero é estar em outra briga com
meus irmãos como na noite passada. Como eles podem gostar tanto de uma
confusão, afinal?
— Nós estamos bem, Jacob, eles estão de saída.
— Não, nós não estamos — TJ responde e eu vejo o rosto de Beth se
contorcer com o medo de uma nova briga.
— Sim, estamos sim. — Eu toco um ombro de cada com minhas mãos
e contorno seus pescoços com os braços. — Vamos, porra, nós já temos
problemas demais.
Tenho de usar muita força para arrastá-los comigo, mas quando seus
pés tocam o chão do estacionamento e eles respiram ao ar livre, posso ver
em seus rostos que a certeza de que fizemos a coisa certa.
— Porra, eu estava pronto para foder com o resto do dia. — Tyson
passa a mão no rosto.
— O carro da Beth não está no estacionamento. — TJ coloca as mãos
na cintura, olhando em volta. — Kyra deve ter ido à casa de Beth com ele.
O celular de TJ apita e ele encara a tela.
— Ela precisa de carona, eu vou ficar por aqui.
— Eu sei aonde a Beth mora, eu posso ir até lá com você. — Tyson
cruza os braços em frente ao peito e o encaro.
Sequer faço ideia do que diabos fazer.
— O pai dela é um fodido, então é melhor não irem até lá. — TJ parece
saber do que está falando. — Ele vai chamar a polícia antes mesmo de você
desligar o motor da Harley.
— Eu vou para casa — aviso entredentes, indo em direção a moto. —
Kyra precisa de um tempo para pensar sobre isso.
— Que porra de maricas! — Ty rebate e eu o repreendo com o olhar.
— Ele está certo, Tyson. Pedir desculpas a uma mulher, quando se está
errado, é como colocar lenha na fogueira.
Eu teria rido se não me sentisse tão deprimido.
— Porra! — Passo as mãos no rosto.
Se eu rebobinar aquela noite em minha mente, posso reavaliar a
quantidade de erros que cometi. Não devia ter saído de casa depois da minha
discussão com Jimmy, não devia ter procurado por Camille e ter bebido com
ela, tampouco acabar em sua cama; e depois de uma cota considerável de
erros, não devia ter deixado as coisas irem tão longe com Kyra.
Eu ainda não entendo a grandiosidade que acontece entre nós, apenas
acho que o que sinto por ela é sexual, mas não, Deus, não, Oklahoma é
muito mais para mim do que apenas sexo e um mês tentando evitá-la me deu
a certeza de que eu a amo. E, desde que fiquemos juntos, eu sequer me
importo que pareço com um maldito perdedor.
— Eu me sinto como um idiota.
Meus irmãos me encaram com um pequeno sorriso.
— Bem-vindo ao clube, parece que ser um idiota é um requisito para
participar dele. — TJ parece orgulhoso.
Deslizo minha perna sobre o couro do banco da Harley e giro a chave, o
motor ruge no estacionamento silencioso. Tyson abre o vidro do carro e
acende um cigarro, a ponta alaranjada brilha na escuridão. Ele coloca seu
braço para fora, ainda sorrindo como o maldito filho da puta que é.
— Foda-se! — Ty ergue as mãos no ar. — Eu já tenho merda demais
pra uma pessoa. — Ele dá uma tragada no cigarro, soltando a fumaça em
direção ao céu escuro. — Resolva as suas sozinho, irmão.
Sim, é o que eu farei, apesar de não fazer ideia de como.
— Eu sinto muito, muito mesmo, Beth.
Ela dispensa meu pedido de desculpa com um gesto no ar.
— Tranquilo, Ky, não se preocupa com isso. — Ela se senta em um
pufe cor-de-rosa e coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Além do
mais, eu quem ainda deveria estar me desculpando com você.
Respiro fundo. Sim, ela mentiu para mim, não exatamente mentiu, mas
ocultou um grande detalhe: é apaixonada pelo cara que eu “namorava” e me
ouvia falar sobre nosso sexo incrível, enquanto eu sequer fazia ideia do que
ela sentia por ele. No final das contas, eu me senti egoísta, porque sei que
teria surtado com ela se não estivesse apaixonada por Max.
— Está tudo bem.
E está mesmo. Eu provavelmente nunca perdoarei Beth e TJ por
estarem agindo pelas minhas costas, mas uma parte minha havia sentido
certo alívio por saber que eu estaria livre para seguir em frente com outra
pessoa. Agora, minha amiga, que é apaixonada pelo meu ex-namorado e
melhor amigo, me ouve falar sobre o irmão dele, por quem eu estou
apaixonada. Que maldita confusão eu me meti, afinal?
— Deus, eu sinto muito que seu aniversário tenha acabado dessa
forma...
— Está tudo bem — respondo, sentada em sua cama, sentindo-me
totalmente perdida em um quarto desconhecido.
Eu quero apenas a minha cama e que Max não tenha mentido para mim.
— Você não tem que ficar repetindo isso, Kyra. Tudo bem não estar
bem. — Ela sorri, cautelosa.
— Eu... apenas não sei o que fazer.
— Apenas respire fundo até lá.
Assinto, encarando as mãos sobre os joelhos, descascando o esmalte
preto da minha unha.
— O que você realmente quer? — ela insiste, inclinando-se para mim.
O que eu quero? Bom, eu quero tantas coisas... Não me sentir perdida
onde quer que eu esteja é uma delas.
— Eu não sei, Beth. Eu queria saber o que quero, mas não sei.
— Você usou alguma droga enquanto estive fora? — ela sussurra, me
fazendo rir pela primeira vez.
— Talvez eu tenha achado seus cogumelos mágicos.
Ela tapa a boca para abafar o riso.
— Bem, falando sério, Ky. Eu já passei por isso com TJ mais vezes do
que jamais poderia contar, foi um círculo vicioso que nunca chegou ao fim,
por isso eu não pude mais fazê-lo, mas Max não é o TJ e você não sou eu,
portanto, dê a ele a chance de se explicar.
Eu não sei quando estarei pronta para falar com Max.
— Não posso falar com ele, Beth, porque eu vou ceder a partir do
momento em que o vir na minha frente. Eu não me sinto forte quando ele
está perto de mim.
— Você se sente dependente dele. — Ela toca meu joelho. — Sente que
o mundo está desmoronando e você sequer se importaria de morrer desde
que estivesse segurando a mão dele.
Ela me dá um pequeno sorriso compreensivo.
— Deus, Beth... você...
— Sim, eu sou completamente louca pelo TJ e não há um maldito dia
em que eu não acorde e não pense em como seria se o tivesse na minha cama
ao meu lado.
— Eu sinto muito.
— Não sinta. Foi a minha decisão, eu me escolhi em primeiro lugar
depois de ter minha cota de desilusão amorosa com ele. Mas isso não
significa que você terá de fazer as mesmas escolhas, Kyra. Você pode ouvi-
lo, tudo entre vocês ainda é recente.
— Sim, eu sei, mas não é apenas Max e eu, é todo o resto. Eu não sinto
que estou fazendo algo útil da minha vida.
Ela dá uma risada amarga.
— Kyra, você está falando com uma pessoa que cuida de uma mãe
doente, um pai alcoólatra, sustenta uma casa, cria uma criança, trabalha em
um maldito bar e que é apaixonada pelo seu melhor amigo. — Ela ergue as
mãos no ar. — O que você acha que eu estou fazendo da minha vida?
— Eu acho que a gente deveria pegar Kenzie e dar o fora de Boston.
Toco seu joelho, o peso de sua vida me afunda na vergonha que se
tornou a minha.
— Eu não posso deixar minha mãe com ele. Eu não tenho como ir a
lugar algum, estou amarrada no inferno que é a minha vida.
— Deus, eu só espero que um dia a gente olhe pra tudo isso e ria.
— Sim, e eu realmente gostaria de rir disso em Paris.
Eu me sinto mais leve depois de rir com Beth, mas há um peso no meu
coração que eu não sei o que significa.
— O que foi exatamente que aconteceu? — Ela amarra os cabelos no
topo da cabeça e cruza suas pernas.
— Ah... no dia em que ele conversou com Jimmy pela primeira vez...
Ela força os olhos, buscando em sua mente, algumas informações que
eu havia lhe dito.
— Aquela vez que você pediu para que ele ficasse? Quando ele chegou
bêbado?
Um ponto para Elizabeth, porque ela realmente presta atenção nas
nossas conversas.
— Sim. — Assinto, aquela noite ainda está tão viva em minha
memória.
— E o quê? Qual o problema? Você já tinha falado comigo sobre esse
dia. — Ela parece confusa. — Ele estava com Cami e então beijou você
quando chegou?
Teria ficado igualmente enfurecida se nós apenas tivéssemos nos
beijado naquela noite? Porque ainda assim, devia ter significado a mesma
coisa para mim.
— Nós não apenas nos beijamos.
— Oh, sua vadia! Você mentiu para mim. — Suas bochechas coram.
— Eu não menti, apenas omiti essa parte. — Ergo as sobrancelhas e seu
rosto é tomado por um vermelho escarlate.
Ela deve ter se lembrado dos últimos dois anos no qual passou omitindo
detalhes apenas grandiosos para mim.
— Não foi sexo, não exatamente. Ele... usou seus dedos em mim.
— Oh, meu Deus!
— Amém. — Passo a mão no rosto. — Porque provavelmente ele tinha
acabado de tirá-los de Camille e agora eu me sinto uma merda.
Ty, TJ, Max e eu estamos envoltos a um emaranhado de mentiras. Eu
não sou hipócrita, transei com TJ desejando estar com Max, mas Tales
sequer foi até o fim naquela noite. Nas últimas vezes em que estivemos
juntos em uma cama, provavelmente ele estava pensando em Beth, que
trabalhava comigo, era minha amiga, mas omitia que o amava.
Enquanto isso, naquele mesmo dia, Tyson confessou para mim que
havia uma garota, mas escondeu a parte em que era a minha melhor amiga; e
depois, enquanto jantamos como uma família feliz e Max contou sobre sua
vida maldita, Ty jantou em um canto na cozinha e não se envolveu na
conversa, apenas porque ele já sabia da adoção e foram comprados.
Mentiras.
E quase uma semana depois, após eu estar oficialmente livre de Tales,
eu estava disponível para Max, que ocupava minha mente cada maldito
segundo do dia, mas ele estava saindo com Cami, que até aí tudo bem para
mim, porque eu estava com TJ, de qualquer forma. Mas então ele a
procurou, naquela noite, quando já significava demais para mim, para que eu
não sentisse por ele estar com outra pessoa. Foi rápido demais e eu sabia,
mas apenas não conseguia controlar o que sentia por ele, era natural como
respirar.
Eu teria aceitado o fato dele ter procurado ela naquela noite se Max não
tivesse enfiado seus dedos em mim minutos depois, era recente demais e nós
não estávamos juntos de qualquer forma, mas ele havia pensado apenas em
si mesmo quando foi até o fim comigo. Ele não tinha me respeitado.
Ninguém naquela casa parecia fazê-lo, afinal. Nem eu. Éramos todos errados
para começo de história.
Acordo no meio da noite, Beth e eu dividimos um travesseiro, seus
cabelos roxos cobrem o meu rosto, suas pernas se espalham por toda a cama
e seus braços forçam o meu estômago. Deus, como uma pessoa tão pequena
pode ocupar tanto espaço na cama, afinal? Por um segundo, eu imagino o
corpo espaçoso de TJ e Beth dormindo na mesma cama, talvez por esse
motivo os dois nunca tenham acabado juntos. Não havia como dar certo.
Minha cabeça lateja com o lembrete da minha noite de merda, eu
preciso me mandar antes que amanheça, então, com muito trabalho, eu
levanto seu braço e retiro minhas pernas debaixo das dela, saindo da cama.
Minha bolsa está em seu cabide de bolsas que parece ser usado por uma
adolescente de quinze anos, considerando o tanto de penduricalhos e coisas
cor-de-rosa nele e eu faço um tremendo barulho ao tirá-la de lá.
— TJ? — pergunta e eu quase caio dura com o susto.
O que diabos TJ estaria fazendo em sua casa no meio da noite?
— Sou eu — sussurro. — Estou indo nessa.
Ela se senta na cama e passa as mãos no rosto.
— Que horas são agora?
— Quase quatro.
— Você quer o meu carro? — pergunta.
— Não quero acordar o seu pai, vou chamar um Uber.
— Você pode ir com o meu carro, Ky, não é seguro entrar no carro de
um desconhecido no meio da noite.
— Eu não quero dar mais trabalho para você. — Apoio a bolsa no
ombro e amarro os meus cabelos.
— Cale a boca! — ela esbraveja e sinto as chaves acertarem os meus
peitos. — Apenas se mande logo depois que ligar o carro, porque ele anda
bêbado o suficiente para pensar que é um ladrão e tem uma arma.
— Jesus Cristo, eu estou indo nessa! — Abro a janela. — Vocês são
loucos!
Assim que as palavras saem da minha boca, eu me lembro do problema
de sua mãe e o rubor toma o meu rosto quando eu digo:
— Oh, Deus, me desculpe!
— Apenas vá logo — murmura, mas eu sei que estamos bem.

Aperto o botão do controle e o portão se abre. A casa está escura, todas


as luzes estão apagadas, não há nenhuma festa acontecendo lá e agradeço a
Deus por isso. Não preciso de uma plateia enquanto faço a minha marcha da
derrota até o meu quarto. Tampouco acho que necessito de uma conversa
dramática com Ty e TJ bêbados. Oh, não! Eu não preciso disso.
Após constar que a porta da frente está fechada, eu caminho até os
fundos em direção à porta que eu possuo uma cópia da chave, mas me
surpreendo ao avistar um deles sentado em uma das espreguiçadeiras que
contorna a piscina. Todas as luzes estão apagadas, não há como identificar
qual deles é sem que eu me aproxime mais e não quero fazê-lo.
Não me importo em ignorar quem quer que seja, tive minha cota de
merdas ultrapassando a linha que marca perigo e sei que estou prestes a
explodir. Tento fazer silêncio ao caminhar até a porta, mas ele coloca seus
pés para baixo da espreguiçadeira e a garrafa de bebida em suas mãos tilinta
contra o piso quando a coloca no chão.
— Não é seguro dirigir a essa hora.
Oh, que ótimo, Max! Tudo o que eu preciso é que ele veja o quão
miserável eu pareço àquela altura. Abro minha bolsa, procurando pelas
minhas chaves, com minhas mãos trêmulas e suadas em meio a um milhão
de coisas que eu carrego nela, mas que nunca uso, praguejando minha falta
de organização e a confiança que eu não tenho quando estou perto dele. Por
favor, não continue falando comigo...
— Kyra... — Sua voz parece tão deprimida como eu me sinto, mas não
posso ouvi-lo. — Ky... — Ele toca no meu braço e sinto minhas pernas
amolecerem.
Deus, como eu posso sentir que estou desmoronando apenas por ter
suas mãos em mim? Sinto meu peito se rasgar, como um maldito peixe tendo
suas entranhas puxadas para fora. Eu sei a sensação agora, porque Max está
fazendo isso comigo nesse momento, sua palma quente toca apenas o meu
antebraço, mas eu sinto que ele tem meu coração em suas mãos.
— Ouça, Kyra, eu não estou te pedindo nada além de me ouvir.
Ele está tão perto que suas palavras fazem cócegas em minha nuca. O
cheiro do álcool é um lembrete de que talvez eu não deva acreditar no que
sairá de seus lábios a partir desse momento, mas não consigo me mover.
Então fecho os olhos, ainda de costas para ele, segurando a chave com tanta
força entre os meus dedos que elas marcam a minha pele.
— Seja rápido! — peço entredentes e o suspiro de alívio que deixa
escapar me surpreende.
— Eu tinha um endereço em mãos, nenhum dinheiro na carteira e
minha gasolina estava acabando. Quando eu cheguei nessa casa, não fazia
ideia do que me aguardava, apenas sabia que, por algum motivo, eu deveria
estar aqui.
— Já conheço sua história, Max. Ela não é bonita, no entanto, eu não
vejo você fazer nada para mudar isso.
— Kyra... — ele faz uma pausa, seus dedos deslizam do meu antebraço
a palma da minha mão. — Ainda me pergunto como diabos o cara com
quem eu vivo tem esse endereço, como em nome de Deus ele pode saber
sobre isso aqui, mas minha cabeça está prestes a explodir e eu sequer
consigo chegar a uma conclusão. Ele pausa para respirar fundo. — Eu não
fazia ideia de que alguém como você abriria aquela porta, tão explosiva e
determinada que segurou minhas bolas entre os dedos e a manteve lá, onde
está até agora.
— Não, você nem faz ideia do que eu gostaria de fazer com as suas
bolas agora, Maximum.
Seus ombros caem em derrota.
— Não há mais como culpar minha história de vida de merda pelas más
decisões que tomei. Você conhece meu discurso de cor, está cansada de saber
o quão fodido eu sou. — Ele dá de ombros. — Então não vou criar
justificativas. TJ e Ty tiveram uma vida que eu não tive e mesmo assim
agem como se suas cabeças estivessem enfiadas no próprio rabo.
— É esse seu discurso, então? Dizer que não se arrepende porque esse é
você? — Eu rio, apesar de não haver humor.
— Eu não disse que não estou arrependido.
Puxo minha mão e cruzo meus braços sobre o peito. Minha pele ainda
formiga no lugar onde ele havia tocado.
— Eu estou bem, Max, nós estamos bem.
— Não, você não está. Você foi enganada por Tray, por Tyson, por
Tales, por Beth e por mim e está bem com todos nós? Você consegue se
ouvir?
— O que quer que eu diga? Quer que eu pegue minhas coisas e dê o
fora? Você quer me ver surtar com todos vocês por agirem como idiotas?
— Não! Eu quero que você faça o que tem vontade de fazer e não o que
acha que seria certo.
Eu ainda não sei aonde ele quer chegar.
— Certo, eu quero atirar nas suas bolas e depois me sentar e assistir
você.
— Oh, uau, eu não... — Ele une as sobrancelhas, pensativo. — Você
quer realmente isso? — Max parece estar falando sério, então respiro fundo
e tento me virar novamente, mas ele me puxa de volta.
— Aonde você quer chegar?
— Não sei o que me trouxe aqui, mas estou feliz de ter vindo. Não
sabia quem eu era no mundo, agora tenho uma família, tenho você e eu
posso passar o resto da minha vida me redimindo por ter agido como um
idiota.
— Eu posso te poupar desse trabalho. Você não precisa tentar se
redimir, Maximum, eu estou bem. Não é como se eu fosse morrer se não
fosse ficar com você.
Que grande mentirosa que eu sou, porque sou exatamente como me
sinto, como se estivesse morrendo, enquanto desejo apenas estar com ele
novamente. Parece doentio, e contra todos os meus princípios.
— Eu saía com ela porque precisava de uma pessoa que pudesse me dar
o que eu queria.
— Sexo — murmuro.
— Sim, como você e Tales faziam.
Sinto minhas bochechas corarem.
— Era conveniente, ela estava disponível quando eu precisava e eu
apenas ia. Funcionou por uns dias, embora eu só conseguisse pensar em
você, Ky.
— Você é nojento!
— Eu sou realista! — Ele passa as mãos no pescoço e esfrega o local,
fazendo meus olhos rolarem em sua pele. — Você não pensava em mim
quando estava com ele? — Suas palavras são sussurradas, mesmo assim eu
sinto que estão sendo anunciadas em um megafone.
— Eu... eu preciso entrar, Max.
— Kyra, por favor... apenas me deixe acabar...
Respiro fundo, sinto a necessidade de correr para o meu quarto, mas
meus pés estão pregados no chão.
— Eu estive com ela poucas vezes, e naquela noite... Deus, todas as
minhas expectativas e esperanças foram arrancadas de mim. Eu havia
perdido tudo o que achava que tinha: um lar; pais de verdade, que não
sabiam sobre mim. Eu realmente não esperava que Jimmy fosse chegar aqui
e dizer o que disse, então apenas caí fora e procurei algo que iria me fazer
sentir melhor.
— Sexo.
— Álcool — ele me corrige. — Só que ele me levou ao sexo.
— Então agora suas desculpas não são mais o passado de merda e sim o
álcool? Certo, qual será a próxima coisa que você irá culpar quando foder
com tudo outra vez?
— Eu não estou pedindo você em namoro nem nada, Ky, apenas est...
— Oh! — Suas palavras são como um belo tapa no meu rosto. — Você
não está tentando consertar as coisas, está apenas fazendo eu perder o meu
tempo?
— Deus, não! — Max passa as mãos no rosto. — Tudo o que eu queria
era que você sorrisse pra mim e dissesse que me entende e que, mesmo
sabendo que sou idiota, sabe que eu nunca faria isso novamente se
estivéssemos juntos, então eu poderia enfiar minhas mãos em você e dormir
em paz.
— Max...
— Mas sei que você é mais do que isso, Oklahoma, e foi por isso que
eu me apaixonei por você em tão pouco tempo.
— Você estava apaixonado por mim quando enterrou seu pau em
Camille? — pergunto entredentes.
— Sim, eu estava — ele responde com sinceridade e seus olhos presos
nos meus. — E eu sinto muito.
— Estou cansada demais, Max, eu preciso ir.
— Me desculpe por ser um idiota — sussurra, uma súplica que faz meu
coração errar uma batida.
Com um gesto rápido, ele me puxa para um abraço que não tenho
tempo de evitar. Seus braços me prendem com tanta força que eu jamais
poderei me desvencilhar, e, mesmo que uma parte minha grite para eu correr
para longe, eu sinto conforto em seu toque. Um toque que esfrega em minha
cara o que eu estou perdendo.
Não posso deixá-lo ir, mas também não posso deixá-lo ficar. Entendo
naquele momento, que não há como me achar em um relacionamento
quando na verdade eu não me achei na vida, então eu preciso fazer uma
coisa que eu sei que será dolorosa demais, entretanto, será o certo a fazer.
— Eu amo você, Max, eu me apaixonei por você tão rápido que me vi
desesperada quando me dei conta do quanto dependia de você. — Paro para
retomar o ar, ainda sob seu aperto, então ele dá um passo para trás, seus
olhos suplicam para que eu não diga o que ele sabe que eu vou falar. — Eu
me vi dependente até mesmo sobre pequenas coisas: um olhar, um toque, um
sorriso. Você é viciante pra mim.
— Não faça isso... — Ele encosta sua testa na minha e eu quero beijá-
lo, mas não posso fazê-lo, eu preciso ter um tempo só meu.
— Eu não posso me meter em um relacionamento agora, mesmo que eu
sinta que não posso respirar se não o tiver por perto. Você cometeu um erro...
— suspiro, tentando buscar as palavras certas. — E eu sou famosa por
perdoar rápido. Preciso aprender que essas pequenas coisas fazem mal para
mim. Preciso descobrir o que quero fazer, aonde eu quero ir, do que eu quero
viver...
— Sim, porra... — Ele espalma meu rosto, roçando seu nariz no meu.
— Você precisa.
— Eu sinto muito, queria que pudéssemos ter feito as coisas do jeito
certo, mas nós começamos da forma errada, nós pulamos todas as etapas.
— Sim, fizemos. — Ele ri, seu hálito toca o meu rosto, eu fecho os
olhos desejando que tudo tivesse sido diferente.
— Você cometeu um erro, mas, entre todos, você foi a única pessoa que
me enxergou de verdade, você... me ouviu, Max, e eu estou certa de que
estaria afundada em algo que não gostava pelo resto da minha vida se não
tivesse conhecido você.
Ainda estou usando a camisa que ele me deu e isso faz eu me sentir
ainda pior, porque ela lembra de como eu pensei que acabaria aquela noite e
não comigo terminando o que sequer havia começado com Max.
— Pode parecer loucura, porque um mês e meio é pouco tempo para se
amar alguém, mas eu sinto com tudo o que eu tenho, por tudo o que eu sou,
que sou completamente louco por você, Ky.
— Eu sei. — Deslizo as mãos sobre sua cintura e enrosco meus dedos
no tecido de sua camisa.
— Realmente espero que você se encontre e que seja feliz. — Ele
parece verdadeiro, embora aparente estar desesperado dizendo isso.
Eu quero ser feliz com Maximum, mas preciso encontrar minha
felicidade em primeiro lugar, depois poderei compartilhá-la com alguém,
com ele, se o destino permitir. Eu quero que fiquemos juntos, porque eu
também sou louca por ele. Mas nós dois precisamos desse tempo; eu sei que
ele também precisa. Max tem um passado de merda para superar, anos de
convivência perdida com os irmãos que precisa recuperar e um futuro para
construir.
— Também espero que você tenha tudo o que nunca teve. Eu vou estar
sempre por perto caso você precise de um ombro amigo, mas apenas estou
fazendo algo que uma amiga me ensinou essa noite. — Eu o abraço pela
última vez, com meu peito em chamas, enquanto reprimo toda a vontade que
tenho de beijá-lo e apagar tudo o que havia dito. — Eu estou me colocando
em primeiro lugar, Max.
Depois da noite em que conheci meus irmãos, aquela é a segunda noite
mais louca da minha vida. Quando tudo mudou entre nós. Forço minha vista,
tentando enxergar através dos vidros embaçados, o carro que Ty não guardou
e que agora está atolado na neve. Santo idiota, provavelmente sobrará para
mim o trabalho de retirá-lo de lá, porque o fato de eu saber lidar com
motores me transformou em um manobrista e lavador de carros também.
Não que uma coisa tenha a ver com a outra.
Eu estou tão nervoso, que me sinto ridículo, segurando uma xícara
fumegante de café e olhando a neve cair através das amplas janelas da sala
de estar. Faz dois meses que vi Oklahoma pela última vez e o fato dela estar
na cozinha, a poucos metros de mim, faz meu coração bater ansioso, porque
uma coisa é trocar mensagens, como fizemos nos últimos meses; mas outra,
muito diferente, é estar no mesmo lugar que ela.
É bom, mas deprimente que Kyra saiba como eu me sinto.
Concordamos em nos afastar para nos encontrar, mas não conseguimos fazê-
lo cem por cento, por isso nos concentramos em mensagens, embora nunca
nos víssemos pessoalmente. Eu acho que, depois de um tempo, o que eu
sinto por ela irá se dissipar até que deixe de existir, mas acontece que eu
penso nela todos os malditos dias.
Oklahoma deixou a casa, alugou um apartamento com a ajuda dos pais
no primeiro mês e, a partir do segundo, estava tirando de letra a vida em
liberdade. Ela se afastou de Ty e TJ também, quase nunca aparecia e, embora
eu também estivesse sofrendo, era engraçado vê-los se afundando sem ela.
Eles se sentiam perdidos, como dois malditos cachorros trilhando pela casa
quando seus donos saíam de viagem.
Ambos suplicaram algumas vezes para que ela voltasse, mas Kyra se
manteve firme em sua decisão, sobre sua busca por ela mesma. Ela
perguntava sobre mim, mas não falava sobre ela, e eu não fazia ideia de
como se sentia com relação a sua nova vida, embora não fosse por falta de
pergunta. Eu estava feliz ao vê-la indo bem, mas minhas bolas latejavam por
estar há mais de cem dias sem sexo, não que eu não tivesse usado as mãos
algumas dezenas de vezes, mas depois de senti-la de verdade, eu sabia o que
diabos estava perdendo.
— Você parece um maricas, ela nunca vai querer você de volta se
continuar assim. — TJ despeja o uísque do seu copo dentro da minha xícara
fumegante de café e suspiro.
— Eu estou tentando não me jogar aos pés dela e suplicar — confesso.
É outra novidade sobre mim, afinal. Eu falo agora. Falo sobre o que
sinto, como me sinto, reclamo, tenho minhas próprias opiniões, tomo minhas
decisões e me manifesto sempre que quero. Aprendi a falar de verdade e TJ
foi crucial para que isso acontecesse, porque ele insistia e me cutucava até
que eu despejasse minhas merdas sobre ele. Foi estressante e cauteloso no
começo, mas depois falar ficava cada vez mais fácil.
— Acredite, suplicar não vai adiantar. — Ele provavelmente se refere a
Beth.
— É claro que não, além disso, eu não quero que alguém esteja comigo
porque eu tive que suplicar por isso.
— Foda-se! — Ele toca o fundo da minha xícara, a empurrando até meu
rosto. — Se Beth ficasse comigo apenas por pena, eu já estaria feliz.
— Por isso você é o mais idiota de nós. — Bebo a mistura de líquidos e
gosto do sabor.
— Eu fazia isso quando meu pai estava em casa e queria ficar doidão
no café da manhã. — Ele dá um sorriso que revela todos os seus dentes. —
Por que ele está olhando tanto pra você, afinal?
Eu não preciso encarar Jimmy para saber que seus olhos estão sobre
mim, porque posso sentir. Acontece que ele está insistindo para que eu deixe
a oficina na qual estou trabalhando para abrir minha própria. Ele preencheu
um cheque com mais dinheiro do que eu posso gastar e deixou sobre minha
cama, como se fosse apenas um maldito pedaço de papel. No entanto, eu o
recusei. Não foi por esse motivo que decidi ficar. Eu não queria seu dinheiro.
— Ele ainda está insistindo para eu aceitar o cheque.
— O quê? — Ele arregala os olhos, dramaticamente. — Você ainda não
aceitou? É só dinheiro, Max.
Só dinheiro...
— Só dinheiro? — eu rio, não há mais o que dizer.
— Ele quer ajudar você, irmão. — Dá um gole em sua bebida. —
Pensei que tivesse mudado de ideia depois de conversarmos.
— Eu não estou aqui por isso.
— Todos nós sabemos, porra!
— Você já está bêbado e o peru ainda nem está pronto.
Ele ri.
— Eu não estou bêbado, seu idiota! Eu... apenas, porra, aceita essa
grana e seja feliz. — Ele contorna meu ombro com o braço.
Eu pensei muito sobre isso, e confesso que parte minha ainda pensa,
mas não consigo fazê-lo. É mais fácil para mim recusar e continuar como eu
estou – o que não é ruim –, a aceitar e me sentir mal por tê-lo feito. Eu estou
bem vivendo com eles e trabalhando na oficina, de qualquer forma.
— Por que as gazelas estão se abraçando a uma hora dessas? — Ty se
aproxima, olhando através da janela seu carro coberto pela neve. —
Ninguém sequer está bêbado o suficiente para demonstrar afeto em público,
afinal. E, porra, meu carro está afundado na neve, Max!
— Foda-se, minha Harley está na garagem!
TJ se vira de frente para nós dois, sentando-se em um pequeno banco de
madeira.
— Eu pensei que você fosse buscar a Kyra com ele, por isso deixei lá.
— Ela ligou avisando que não era mais preciso, Tyson, você teve tempo
de sobra para guardá-lo.
— Foda-se também. Ninguém vai a porra de lugar algum com a
tempestade que está se aproximando. — Ele se senta em uma das poltronas,
apoiando seus pés com coturnos no peitoril baixo da janela.
O fato dele citar a tempestade me faz pensar em Kyra dormindo na casa
nessa noite e, de repente, eu começo a suar frio com a possibilidade de
passar mais tempo com ela.
— Você deveria aceitar o dinheiro — Ty comenta.
— Você estava ouvindo a nossa conversa? — pergunto, ignorando o
sorriso travesso em seu rosto.
— Sim, a parte sobre se rastejar também. E achei vergonhoso.
— E todas as vezes em que sumia, Ty — TJ o provoca. — Às vezes que
passou noites fora. Aposto que estava em New Haven se rastejando para
alguém.
O rosto de Tyson se contorce em desgosto e ele afunda na poltrona,
puxando o capuz do seu moletom para cima. Eu sorrio, observando a forma
como ele age quando, de repente, vira o centro das atenções. Ty não foi o
mais receptivo dos dois quando cheguei, mas eu sinto que ele está nessa
tanto quanto TJ. Nós apenas temos três personalidades diferentes e estamos
tentando lidar com elas.
— Será que ela vai aparecer hoje por aqui? — ele continua. — Fiquei
sabendo que está na cidade.
O problema é que Tyson é uma bomba relógio quando Tray está por
perto.
— Foda-se, eu já caí fora dessa! — Ele enfia as mãos no bolso do jeans
e retira uma carteira de cigarros e um isqueiro de lá.
— Eu vivo repetindo isso também — TJ graceja. — E você deveria
parar de fumar.
Tyson ignora o irmão, com sua atenção inteiramente em mim.
— Max. — Ele se levanta, ficando cara a cara comigo. — Todo mundo
aqui sabe que você não quer o dinheiro, estamos juntos nessa. Esse dinheiro
é seu também, apesar de tudo. — Coloca a mão no meu pescoço e dá um
aperto firme. — Nós somos uma família, você é nossa família — diz antes
de sair e eu apenas encaro o chão.
— Filho... — Jimmy nos contorna, chamando minha atenção.
A forma como ele sempre me chama de filho faz com que eu saiba
ainda mais o que estou perdendo, entretanto, também faz me sentir acolhido
por ele. Jimmy nos visita constantemente, algumas vezes apenas liga para
mim, para saber como eu estou, ele vive repetindo sobre eu ser o mais
sensato e a forma como lida comigo, como me recebera de braços abertos,
faz com que eu realmente me sinta em casa.
— Ei, pai, aceita um café? — TJ brinca com ele, fazendo um sorriso se
formar em seu rosto.
— Todo mundo sabe o que tem em seus cafés, Tales.
— Por que você não vai ver se Kyra precisa de uma ajuda na cozinha?
— Ele ergue as sobrancelhas, esperançoso. — Ela está fazendo tudo sozinha.
Sim, ela está. O fato de ser a única mulher na casa dá a ela algum
trabalho, embora haja mais machismo nesse pensamento do que eu posso
contar. Seguro minha xícara com força, observando os nós dos meus dedos
ficarem brancos. Eu sequer sei como agir em sua presença. Dois meses, Max,
você não a vê há dois meses. Meu estômago se contorce, eu estou ansioso
por aquele momento.
— Você parece prestes a desmaiar. — TJ começa a rir. Eu teria rido
também se não fosse eu.
— Sim, ele está — Jimmy confirma.
— Merda, foda-se! — murmuro entredentes, enquanto deixo a sala de
estar.
Paro na porta da cozinha e a avisto. Kyra está de costas para mim, seus
cabelos loiros caem em ondas sobre o tecido vermelho do vestido que usa.
Sua pele não é mais tão bronzeada como no verão, mas a falta de cor dela
me faz lembrar um anjo. Sua testa está apoiada na janela e ela olha a neve
cair lentamente, enquanto segura uma taça de vinho quase no final.
Não me importo se não conversarmos ou qualquer outra coisa, porque
eu estarei feliz se apenas puder ficar olhando para ela dessa forma. Tão linda
e doce e, ao mesmo tempo, tão forte e determinada. Kyra muda o peso do
seu corpo para outra perna e meus olhos caem sobre seus sapatos de salto.
Eu posso fodê-la facilmente usando apenas eles.
— Você pode dizer alguma coisa se quiser — ela murmura, ainda de
costas.
Bem, eu poderia começar dizendo que gostaria de beijar você.
— Eu... não sei o que dizer — confesso, como o maricas que me tornei.
Seu riso manso atravessa o cômodo e chega aos meus ouvidos como
música clássica.
— Pode começar dizendo oi. — Kyra se vira.
Sua boca perfeita se transforma em um sorriso e então ela dá de
ombros, seus olhos correm sobre todo o meu corpo. Como ela pode ser como
é? Tão... perfeita? Deus, eu a amo como um louco ainda!
— Olá, Oklahoma. — Tento controlar minha respiração, para que eu
não pareça um idiota.
— Olá, Max. — Dou um pequeno sorriso tímido e eu quero abraçá-la.
Eu preciso de mais do que uma porra de “olá”.
— Como você está?
— Bem. — Ela desvia o olhar.
— Você está linda. — E não é nenhuma surpresa, mas porra... ela
parece tão confiante.
— Você também não está nada mal. — Kyra se concentra em tirar
pelinhos que não existem em seu vestido.
— Como está a faculdade?
Larga sua taça sobre a bancada de mármore e cruza os braços sobre os
seios, pensando em uma resposta. Ela havia decidido terminar a faculdade e
ter seu diploma, para só então, pensar em algo que possa fazer, talvez um
novo curso que realmente goste. Ky não quer perder anos de faculdade e a
chance de uma garantia. Ela está certa e eu a admiro muito por isso. Seus
pais também haviam aceitado bem sua decisão, ambos queriam apenas que
ela estivesse feliz.
— Caminhando para o fim.
— Já pensou no que fazer depois? — pergunto ansioso.
O pensamento de Kyra vivendo na Geórgia me mata lentamente. Eu
não estou pronto para vê-la partir.
— Eu vou para a Geórgia.
Não. Não. Não.
Tento buscar as palavras certas, mas elas não existem. Não há nada que
eu possa falar e, de repente, o lance sobre suplicar começa a passar pela
minha cabeça. Ela me encara, sem desviar o olhar, está tão perto de mim que
eu me pergunto quem de nós deu os passos que diminuem a distância entre
nós, porque me sinto imóvel. Estarrecido, como um maldito covarde. Vamos
lá, Max, diga a ela que você ainda a ama... Eu teria dito, talvez, mas ela me
surpreende ao abrir um sorriso do tamanho do mundo.
— Você fica lindo quando está pensativo. — Ela inclina a cabeça para o
lado. — Eu não podia deixar essa passar.
Porra, seu idiota!
— Você é uma sacana, Bruxinha!
Dou um passo para frente e a puxo para um abraço. Ela tropeça nos
saltos, mas se endireita quando nossos corpos estão colados um ao outro,
então Kyra finalmente relaxa em meus braços, suas mãos deslizam sobre
minhas costas. Enterro minha cabeça na curvatura do seu pescoço e fungo
como um louco viciado. Ela ainda tem o mesmo maldito cheiro. Deus, como
ela parece perfeita ali, sob o meu aperto.
— Eu senti sua falta, Max — sussurra, e eu apenas desejo beijá-la mais
uma vez.
Só que um abraço e uma confissão não significam que ela quer estar
comigo. Ela sente a minha falta, mas, provavelmente, sente também a falta
de Ty e TJ, então eu não posso criar muitas expectativas. Nós permanecemos
por um bom tempo dessa forma. Dois fodidos meses desejando estar com as
mãos nela e eu não posso fazer nada além de abraçá-la.
— Porra, eu senti a sua também.
Quando ela solta a barra do meu moletom, eu me afasto, correndo as
mãos até sua nuca, meus polegares erguendo seu queixo, enquanto eu a
encaro como um doente. Seus olhos não deixam os meus e suas bochechas
vermelhas me mostram que eu ainda surto o mesmo efeito nela. Mas ela
parece tão bem que eu sinto pânico de ser a pessoa que irá mudar isso.
Pressiono minha boca em sua testa e a beijo.
— Como você realmente está, Kyra? — insisto.
— Eu... Não é fácil me desapegar de vocês, droga! — Sua voz é
chorosa, mas eu não deixo de sorrir. — Os meninos... eles me sugavam a
vida, mas eu amava o que tínhamos.
— Eles agem como cães que se perderam dos donos.
Ela sorri, secando uma lágrima que escapa.
— Fui eu quem esteve perto demais quando Helena partiu e, desde
então, nunca fiquei longe.
— E como se sente? — Coloco uma mecha para trás da sua orelha,
porque eu apenas quero ficar tocando nela o tempo inteiro.
— Eu estou bem, é libertador viver minha própria vida — confessa. —
Eu me formo em breve, quem sabe eu trabalhe na área, em algo que
realmente me encontre, enquanto começo outro curso, eu não sei, eu nem
faço ideia, e sabe...
— Diga — peço ansioso, quando ela para de falar.
— Eu nem me importo. — Kyra dá de ombros. — Não me importo de
levar uns dois anos tentando me encontrar. Eu não tenho pressa.
Eu sorrio.
— A vida é curta demais para desperdiçá-la com algo que não a deixa
feliz. — Ela se afasta um pouco, pegando sua taça e dando um longo gole no
vinho tinto. — Eu estou orgulhoso, de você, Oklahoma.
— Você mudou a minha vida, Max. — As palavras deixam sua boca
com imensa certeza. — Você me fez enxergar tudo de outra forma. Eu
achava que estava progredindo apenas por estar prestes a me formar em
algo, mas me sentia estagnada.
— Só porque uma pessoa está fazendo coisas certas, não significa que
elas são certas para aquela pessoa.
— Sim, eu sei disso agora. — Ela passa a língua sobre os lábios e meus
olhos se perdem neles por um momento.
— Como seus pais estão lidando com o fato de você passar outro
feriado de Ação de Graças longe deles?
Ela sorri.
— Eles ficarão bem, porque sabem que vocês precisam de mim aqui.
Sim, eu preciso de você.
— Além disso, eu estou indo para o Natal.
Eu me sinto ansioso apenas por saber que ela estará em outro estado em
poucas semanas.
— Eles estão lidando bem com tudo isso, são boas pessoas... Mandaram
um “oi” para você, aliás.
Sinto a chama do inferno em meu estômago apenas por saber que seus
pais sabem sobre mim.
— Você está branco demais, o que foi? — indaga, divertindo-se. —
Minha mãe sabe sobre nossa aventura noturna, mas meu pai ficou com os
outros detalhes, entretanto.
Graças a Deus! Sua mãe... O quê...
— Deus, eu nem quero saber o que ela pensa de mim por isso.
— Ela não pode julgá-lo e, quem sabe, eu possa trabalhar com você em
sua nova oficina. — Kyra ergue as sobrancelhas, brincando. — Quem é que
sabe? Talvez o que eu ame realmente seja trabalhar em motores como você.
— Eu não aceitei o dinheiro.
Talvez, se ela tivesse levado um tapa, teria reagido de forma menos
dramática.
— Porra, Max! — Suas mãos agora estão em sua cintura e seus seios
empinados para mim.
E é por esse motivo que eu adoro irritá-la, porque ela é muito mais
gostosa quando está brava. Meu corpo é tomado pelo calor de estar perto
demais dela, minha respiração já não é mais a mesma e eu me pergunto
quanto tempo aguento sem beijá-la. Tiro meu moletom e o jogo sobre uma
banqueta.
— Eu não preciso de dinheiro.
— É claro que você precisa. Deus, por que você tem que ser tão
orgulhoso? — Ela parece enfurecida.
— Eu não sou orgulhoso, Kyra!
— Claro que você é! Aceite o dinheiro, abra seu próprio negócio. Eu
estou aqui para ajudá-lo com o que precisar.
— Você me ajudaria com o quê? — O pensamento de estar com ela no
futuro me deixa animado.
— Nome para uma oficina, os móveis, a decoração, a primeira compra
de peças. — Ela dá de ombros. — Com o que você precisar.
Eu sorrio, como um maldito.
— Eu não sei...
— Pare de pensar e comece a agir. — Quando as palavras deixam sua
boca, ela se dá conta do que elas realmente podem significar naquele
contexto.
— Eu estou tentando não ser um idiota. — Uso uma frase que se
encaixa em qualquer uma das duas situações.
Sim, porra, eu estou tentando.
— Nós... precisamos conversar, eu acho que realmente chegou a hora...
— Ela realmente parece nervosa. — Eu estive pensando muito na gente.
— Deus, sim, eu... eu também acho que precisamos.
Ela enrosca seus braços em mim novamente e eu desejo que fiquemos
bem.
Ele nunca pareceu tão bem, seus cabelos foram cortados, as laterais
mais baixas, de modo que o topo fosse contornado por fios longos; fios que
tocam seu nariz, quando ele abaixa a cabeça, e eu adoro como ele parece
quente com os cabelos longos. Sua pele está mais clara por causa do inverno
e seus olhos verdes parecem mais doces por isso.
Max veste roupas quentes, um moletom grosso, jeans e botas pesadas, o
que o faz parecer muito com Ty, apesar de ele parecer único para mim. Ele
parece tão à vontade na casa que meu peito se enche de orgulho por perceber
que havia se encontrado com os irmãos.
Eu sei que tomei a decisão certa quando parti. Os três não queriam,
Max inclusive pegou suas coisas e disse que estava saindo, que eu podia
ficar, mas insisti, porque não era por ele que eu estava indo, era por mim.
Eu precisava saber como era a vida sem meus pais, sem os irmãos, sem
outra garantia que não fosse eu mesma. Precisava saber que conseguia
sozinha, que podia alugar um espaço e viver do meu salário no bar e eu estou
indo muito bem. Gosto do sossego e, principalmente, do fato de não haver
festas todos os finais de semana, entretanto, eu confesso que, às vezes, sinto
que estou prestes a enlouquecer.
Algumas vezes, eu sou capaz de ouvir a voz de TJ caçoando de mim ou
Ty mandando alguém se foder, às vezes também posso sentir a presença de
Max, como se ele estivesse me observando, mas eu sei que é apenas a
maldição dos irmãos Jackson e que eu ficarei bem. Por esse motivo, ignorei
os dois por algum tempo, precisava que eles entendessem que eu não estava
brava com Maximum apesar de tudo, que eu só queria poder estar por conta
própria, até que chegou a hora que finalmente entenderam.
Foi mais fácil depois disso, apesar de eu sentir suas faltas até em meus
ossos. No entanto, eu ocupei meu tempo mantendo mais contato com minha
família nos últimos meses, ligando para a minha mãe sempre que possível e
acompanhando meu sobrinho por chamadas de vídeos, que agora eu podia
fazer por causa do silêncio a minha volta. Lizzie e mamãe sabiam sobre
Max, cada detalhe – que não envolvia sexo, e elas entendiam a minha
decisão, apesar de acharem que eu havia deixado passar tempo demais.
Eu me afastei um pouco de Tray também, havia aceitado fácil demais
seu segredo sobre Ty e, quando finalmente caí na realidade, eu percebi o
quão longe aquela história ia, o quanto de coisas que ela deveria ter
escondido de mim, sua melhor amiga, por isso eu decidi dar um tempo;
precisava esvaziar minha mente, pensar no que eu sentia de verdade e não
apenas no que achava que sentia, porque eu perdoava rápido demais e
precisava saber se aquilo era uma característica da minha personalidade ou
se eu apenas estava acostumada àquilo.
E tudo isso, todo o tempo que tirei para mim, para pensar, para viver a
minha própria vida, estava relacionado a Max e a forma como ele havia
mudado minha vida em tão pouco tempo. Sim, eu o amo, sou louca por ele;
e, mesmo que, às vezes, eu sinta que estou morrendo, eu sei que ficarei bem,
porque minha felicidade não depende de homem nenhum, de ninguém além
de mim.
E aqui está ele, tão lindo quanto há dois meses, na última vez que o vi,
encarando-me como se eu fosse a última mulher na face da Terra enquanto
eu apenas desejo no meu íntimo, que ele ainda sinta alguma coisa por mim.
Meus olhos rolam sobre seu rosto, cada maldito detalhe dele é lindo de uma
forma única, desde o pequeno sorriso torto que tenta esconder as pequenas
gracinhas que faz mesmo ainda um pouco retraído ao fazê-las. Seus olhos
encontram os meus e ele sorri, como se tivesse me pegado roubando algo.
— O que acha, Ty? — Jimmy pergunta e percebo que sequer faço ideia
do que estão falando.
— Ele não pode falar agora, pai. Está com o peru na boca.
Cuspo o vinho de volta na taça e todo mundo me olha.
— Desculpe.
A piada do peru sempre acontece no dia de Ação de Graças, eu devia
estar acostumada, afinal.
— Isso é molho branco sobre a cabeça do peru? — ele continua e
Jimmy grunhe.
— Desde quando a cabeça do peru é assada junto, porra? — TJ
reclama.
Seu pai sorri por trás do copo de uísque. Ele geralmente esconde o fato
de achar graça desse tipo de linguajar, embora em alguns momentos eu tenha
ouvido as palavras “pau”, “enfiado” e “bunda” na mesma frase.
— Controlem suas bocas sujas, há uma dama na mesa.
Até mesmo eu caio na gargalhada ao ouvir Jimmy pedindo para que não
falem palavrão por minha causa; Deus, eu xingo mais do que um maldito
marinheiro. Observo os irmãos, a cabeça de TJ parece prestes a explodir,
enquanto Ty seca uma lágrima dos olhos, rindo baixinho e Max... parece
estar se divertindo tanto quanto os irmãos e, provavelmente, ele deve estar se
lembrando da vez em que apontei uma arma para ele. Nossa, que bela dama!
— Do que porra estão rindo, caralho? — brinco, levando minha taça até
a boca. — O peru está uma delícia, com cabeça ou sem.
Eles continuam rindo e eu sinto o peso da saudade de momentos como
aquele, quando estávamos todos reunidos falando bobagens e sendo quem
éramos de verdade. Tolos que funcionam bem juntos, apesar de todos os
segredos e brigas. Os olhos de Max encontram os meus sempre que eu o
olho, como imãs. Eu sei o que sinto por ele, mas estar naquele jantar dissipa
qualquer resto de dúvidas. Nós precisamos de fato conversar.
— Me passa a salada, Oklahoma?
Max estende o braço sobre a mesa e eu lhe entrego a travessa, é então
que o mundo desaba aos meus pés. Eu não sou capaz de parar de olhar
aquele pequeno pedaço de pele tatuada.
— Puta merda! — murmuro, sentindo meu rosto arder. Sinto que não
sou capaz de respirar.
— Está tudo bem? — Jimmy pergunta e eu assinto. — Apenas preciso
ir ao banheiro.
— Vá falar com ela — ouço TJ sussurrar.
Acelero meus passos, sinto falta de ar, como se todo aquele oxigênio
não me fosse suficiente. Minhas mãos suam quando eu toco a maçaneta e, ao
girá-la e empurrá-la, sinto o corpo de Max me arrastar para dentro do
banheiro. Eu o encaro, como se ele fosse um maldito louco, enquanto puxa
seu antebraço para mim, encarando os traços tatuados no pouco espaço livre
que ele ainda tem de pele, mas que agora está preenchido.
— Oh, meu Deus! Isso é...
— O estado de Oklahoma. — Sua voz é tão suave que eu me obrigo a
olhar para os seus lábios.
— Deus... eu... — Eu estou prestes a chorar.
— Eu ainda amo você — ele murmura, enquanto eu ainda encaro sua
boca, por isso tenho tanta certeza de suas palavras.
— Max... eu... Deus, isso é permanente?
Ele me surpreende ao dar uma gargalhada.
— Eu disse que amo você e é apenas isso que tem a me dizer? — Ele
corre seus dedos até meu pescoço, tocando meu queixo com o polegar. — O
que mais seria se não fosse permanente, Ky?
— Deus, eu nem sei o que dizer.
— Diga que gostou. — Ele dá de ombros, encarando a tatuagem em seu
braço. — E que me ama também.
O Estado desenhado com traços delicados e o nome OKLAHOMA
dentro dele. Tão perfeito não apenas por ser bem feito, mas pelo significado
que carrega. Eu estou gravada em sua pele.
— Você... Eu pensei que...
— Eu não estive com mais ninguém — confessa e eu sinto como se
tivesse levado um soco no estômago.
— Você não precisava fazer isso, Max.
Claro que precisava. Sim, claro que sim!
— Eu... apenas não queria mais ninguém além de você, não fazia
sentido.
Minhas pálpebras de repente parecem tão pesadas enquanto o encaro.
Eu estou cansada de lutar contra isso, de tentar me manter longe.
— Deus, Max, eu ainda amo tanto você... — sussurro.
Maximum deixa escapar um suspiro estrangulado. Sua testa toca a
minha e mesmo que ele pareça cauteloso ao me tocar, eu sei que está se
controlando, porque sua respiração nada sutil me mostra o quanto também se
sente desesperado por mais.
— Então é realmente hora de conversarmos sobre isso, Oklahoma,
porque porra... eu ainda amo muito você.
Sorrio, ouvindo aquelas palavras como se elas fossem músicas tocadas
apenas para mim. Eu não tenho uma tatuagem sobre ele, mas sinto que Max
está gravado em cada pedaço meu.
— Finalmente eu sei quem sou, Max, agora eu gostaria de saber quem
sou quando estou com você.
O que acontece em seguida é tão rápido que eu nunca serei capaz de
descrever. Sua boca toca a minha, faminta, enquanto suas mãos correm
livremente pelo meu corpo, apertando minha bunda com força e me
colocando sobre o mármore da pia. Ele me devora como um louco e gemo
de prazer ao sentir nossos corpos trabalhando no mesmo ritmo. Nós somos
perfeitos juntos, temos química; funcionamos e nos encaixamos
perfeitamente quando estamos juntos.
— Deus, Kyra, você não sabe o quanto eu desejei isso — murmura com
seus lábios colados aos meus, enquanto rouba minha respiração.
Max me segura entre suas mãos, como se eu fosse me quebrar se ele me
largasse; e eu amo como me sinto segura em seus braços. Amo como eu me
encontro nele, como sinto que estou realmente completa, muito embora
agora eu saiba que não preciso de ninguém além de mim mesma para ser
feliz. Como se ele fosse um bônus extra de felicidade. Eu sou feliz sozinha,
mas consigo ser ainda mais com Max.
— O que você acha de um novo começo? — Eu me contorço, sentindo
seus lábios tocarem a pele do meu pescoço, fazendo um caminho quente até
meus seios.
— Eu acho que começamos muito bem com aquele beijo.
Sim, se eu não o tivesse beijado naquela noite, nunca saberia o que
estava realmente perdendo.
— É, bem... — um gemido involuntário escapa de mim. — Mas talvez
nós precisemos começar da forma certa.
Ele se afasta com um sorriso pervertido se curvando nos lábios.
— Prazer, eu me chamo Maximum.
Cristo, como ele é lindo e perfeito...
— O prazer é meu, Maximum. Eu me chamo Kyra.
Ele contorna minha pele, subindo outra vez até meu pescoço, deixando
outro rastro de beijos até minha orelha, então sussurra:
— Eu gostaria de comer você agora, Kyra.
Desejo estar em sua cama, ou na minha, tanto faz, mas em um lugar
onde eu posso me entregar para ele de uma forma que eu nunca havia feito
antes. Eu quero estar com ele, muito, Deus, como eu posso desejar tanto
alguém como o desejo? Parece desesperador, mais de três meses de desejo
reprimido e eu sinto que estou prestes a explodir.
— Eu gostaria que você me comesse agora — sussurro de volta.
— Max? — TJ bate na porta e eu me afasto, assustada.
— Porra, TJ, o que você quer?!
— Você apenas precisa vir aqui — ele responde cauteloso. — Agora.
— O que porra vocês estão fazendo aqui? — Max pergunta a duas
garotas na porta. Elas devem ter entre dezoito e vinte e dois anos, talvez.
Elas são tão lindas que eu me sinto ofendida apenas em olhar em suas
direções. Os olhos em um tom impecável de verde e os cabelos loiros são tão
claros quanto os meus, mas parecem muito mais bonitos nelas. O rosto de
uma delas está vermelho, como se tivesse chorado por horas, enquanto a
outra parece relutante. Eu ainda não sei como me sinto, não faço ideia de
quem são, o que querem, mas não consigo imaginar Max com uma delas,
não depois de ver meu apelido tatuado em sua pele.
— Max... — A mais velha dá um passo para a frente e o abraça.
Observo Maximum confuso, as mãos para baixo, sem saber o que fazer.
Enquanto a mais nova, encara os três, aturdida, os olhos arregalados, com
uma expressão de quem parece prestes a ficar louca.
— O que diabos... Por que caralho você está me abraçando, Maeve?
Você está louca, porra? — pergunta, dando um passo para trás.
Ela seca as lágrimas, encarando os outros irmãos e Jimmy, que parece
tão confuso com tudo quanto todos nós.
— Deus, eu... — ela continua chorando. — Max... eu nem sei por onde
começar.
— Comece pelo começo, filha. — Jimmy aponta para a sala. — Parece
uma longa história, então eu acho melhor todos nós nos sentarmos.
Maeve seca as lágrimas e segue até a sala, com a mão do Sr. Jackson
em seu ombro. Ela parece prestes a desmoronar e seu toque a lembra que ele
está lá para o caso disso acontecer. Eu o amo por isso. Ela se senta no braço
da poltrona, enquanto eu seguro a mão de Max, TJ e Jimmy se sentam no
sofá a sua frente e Ty e a menina mais nova escolhem um canto mais
escondido para ouvir a história.
— Bom, eu vou começar do início então... — Ela encara Jimmy, ao
passo em que seca as lágrimas do seu rosto. — Minha mãe é reverenda em
uma cidade onde moramos na Pensilvânia. A religião é meio que uma...
coisa da nossa família. É passada a cada nova geração e todos nós “fomos”
— ela faz aspar no ar — criados para seguir o caminho de Deus.
Eu já sinto pena dela apenas pela forma como diz aquelas palavras
como se fossem um fardo.
— Minha mãe conheceu meu pai há alguns anos, ele estava perdido e
buscou a igreja para... tentar se encontrar no caminho Divino.
Ty murmura algum palavrão no canto de onde está e eu o repreendo
com o olhar. Ele é ainda menos religioso que Max.
— Funcionou no início, eles se apaixonaram. Ela era tudo o que ele
nunca teve: centrada, determinada, vinha de uma família religiosa e andava
no caminho certo. Ela lutou por ele, lutou contra a família até que eles o
aceitaram.
— Por que você veio até aqui falar do seu pai? Você sequer o conhecia
e agora ele está morto. Você não acha que é tarde demais?
— Max, me desculpe ter tratado você como eu tratei, eu... — Ela solta
o ar com força. — Apenas me escute...
Max se inclina no meu ouvido e sussurra que seu pai é o cara que o
havia encontrado na rua e eu aperto sua mão, lhe mostrando que estou bem
ali e não vou a lugar algum.
— Todos entenderam que ele estava mudando e lhe deram uma nova
chance. Ela engravidou de mim em seguida, eles estavam apenas se
conhecendo, mas ela estava feliz. Ele realmente parecia estar mudando,
afinal, todo o passado, as drogas, o álcool, tudo estava sendo abandonado. —
Ela seca uma lágrima solitária e cruza os braços. Parece realmente nervosa.
— Quando eu nasci, ele começou a parecer mais... agressivo. Não
exatamente agressivo, eu não sei, minha mãe diz que ele era muito...
impaciente.
— Bom, sim, ele era meio estranho as vezes — Max sussurra para que
apenas eu ouça. — Mas eu não sei em que porra ela quer chegar.
— Dois anos depois, veio Glenda. — Ela aponta para a irmã, encolhida
ao lado de Ty. — Dali para a frente, ele apenas se afundou, retornando aos
seus pecados, o álcool era o pior deles.
— Eu vou queimar no inferno então — TJ comenta, inclinando-se para
a frente para prestar mais atenção na conversa no qual estava tão envolvido.
— Bom, você teve uma criação, eu tive outra, embora eu ache tudo
muito radical. Eu não sigo... todas as regras, mas também não... extravaso.
Respeito minha família, mesmo que, às vezes, a minha vontade seja
simplesmente desaparecer.
— Continue com o que quer que seja isso, Maeve — Max murmura.
— Sim, claro... Bom, depois de Glenda, ele se afundou em
autodepreciação, sua tendência era se afundar cada vez mais, e isso
aconteceu até meu décimo aniversário, quando Carrie bateu a nossa porta.
Ela era uma mulher bonita, apesar das marcas roxas que contornavam seus
olhos. Parecia cansada, parecia que estava quase morrendo, e estava.
— Deus! — Jimmy comenta. — Oh, meu Deus! — Ele passa a mão no
rosto e todos nós o encaramos. Ele parece ter juntado as peças antes de
todos.
— Ela tinha insuficiência pulmonar.
Oh, Deus, eu havia ouvido um deles comentar que a mãe havia morrido
da mesma coisa, e eu tentei juntar um mais um, mas a soma final não dava
certo.
— Espera... — TJ parece confuso. — Nossa mãe morreu da mesma
coisa.
— Sim. — Ela dá um pequeno sorriso amoroso. — Eu sei.
— Então... ela era... A nossa mãe bateu em sua porta? — ele pergunta.
— Sim. E nos contou sobre sua gestação de trigêmeos, e contou o que
fez com eles. Com... vocês.
Max dá um passo para trás, Ty murmura um porra e TJ enfia o rosto
entre as mãos.
— Quando eu penso que tudo está indo bem... — ele murmura. Eu só
não quero que isso acabe com outra briga.
Eu me aproximo de Max e seguro seu antebraço com as duas mãos,
encostando meu queixo em seu ombro e ele enterra seu rosto em meus
cabelos por um segundo.
— Ela vendeu dois deles e o outro... — ela encara Max com pesar. —
Ela deixou em um orfanato porque o outro comprador deu para trás.
— Oh, meu Deus! — Eu estou chorando. Eu nunca consigo controlar
minhas emoções quando tocam nesse assunto. Eu desejava com todas as
minhas forças, que os três pudessem ter tido uma infância juntos, como se o
fato de eu desejar, fosse capaz de mudar tudo.
É uma novidade: Max ter sido entregue a um orfanato vem do fato de
um segundo comprador ter dado para trás.
— Por que ela procurou vocês, o que ela queria? Consertar as coisas
com Deus? — Ty me surpreende ao perguntar.
— Não. Ela não parecia muito arrependida, na verdade. Eu sinto
muito... como você se chama?
— Tyson — responde a contragosto.
— Ela era viciada em álcool e drogas ainda.
— Porra! — TJ passa as mãos no rosto novamente.
— O que ela queria? — Max pergunta, ansioso. Suas palavras foram
ditas em um tom que me faz acreditar que as peças estão sendo montadas por
ele também.
— Ela queria falar com meu pai.
— O que o Steven tem a ver com a nossa mãe, porra? — Max está
quase gritando.
— Ela queria contar a ele a verdade sobre seus três filhos.
Eu encaro TJ, que ainda está confuso, então olho para Jimmy, que
encara Ty, que tem uma expressão atordoada. Eu leio seus lábios quando ele
sussurra para o pai a frase “como ele sabe de Steven?” e ele nega, como se
não soubesse. Tudo é muito confuso, mas quando o choque da realidade me
acerta, é como se eu tivesse a peça final do quebra-cabeças.
Se Steven é o pai delas e o cara que encontrou Max nas ruas, então ele é
o pai dos três. Pai dos cinco. Elas são suas irmãs. Max havia sido criado
desde os treze anos pelo próprio pai sem que ele realmente soubesse disso.
Eu me sinto confusa, e a cada novo segundo, informações antigas fazem
sentido. E Ty? Ele conhecera seu pai há alguns anos e havia acertado um
soco nele, mas sequer fazia ideia de que naquela época Max estava com ele.
Por que então ele não contou a Ty e ao Jimmy sobre o seu outro filho
que vivia com ele? Por que ele não havia dado a chance deles se
conhecerem aos dezoito anos? Encaro Tyson com um olhar acusatório, me
perguntando se ele sabia que Steven, o cara que conheceu como seu pai, era
o mesmo com quem Max havia passado os últimos dez anos e, como se lesse
minha mente, ele nega com um gesto.
Eu não me lembro de Maximum ter mencionado o nome Steven alguma
vez antes, e se o tivesse feito, eu dificilmente lembraria. Max se livra do meu
toque e, nesse momento, caminha de um lado para o outro, como se estivesse
prestes a enlouquecer. Maeve permanece em silêncio, havia dado a eles um
momento para se concentrarem em seus pensamentos e juntassem as peças
por si só.
— Eu sinto muito, Max, eu não fazia ideia... — Jimmy comenta. —
Quando Steven me procurou no aniversário de dezoito anos dos meninos, ele
não o mencionou. Apenas falou sobre os dois, mas não sobre você. — Ele
parece não entender o porquê disso.
— Isso não faz sentido — Ty murmura. — Se ele estava procurando
por nós, por que não contaria sobre Max? Por que ele não daria a chance de
nos conhecermos?
— Porque tinha medo, ele foi até você... — Maeve olha para Jimmy —
para contar sobre Max e se aproximar dos dois, mas... ele viu que vocês
estavam sendo bem-criados, que tinham uma vida boa, um pai ótimo e que
nunca seria melhor do que isso, e se ele contasse sobre Max, talvez ele
deixasse a Pensilvânia para conhecer os irmãos e ele acabaria sozinho.
— Faz sentido agora. — TJ se encosta no sofá. — Espera... Porra!
Vocês são... Deus. Eu tenho duas irmãs?
Maeve sorri, com o rosto tomado por lágrimas.
— Sim, somos suas meia-irmãs, filhas de Steven, que é o pai de vocês e
o cara com quem Max viveu os últimos dez anos. — Ela encara Max e ele
tenta controlar sua respiração, caminhando de um lado para o outro. — Eu
agia como uma idiota com você porque não entendia como nosso pai havia
nos deixado de lado para criar outra criança que havia encontrado na rua.
Não fazia sentido para nós.
— Como foi que ele me achou? — ele pergunta.
— O orfanato achou um contato dele, eu acho que sua mãe procurou
por você e deu o contato de Steven quando soube que estava morrendo. Ele
te procurou pelas ruas depois disso, até que o encontrou.
— E no meio de tudo isso, quando foi que ele abandonou a família que
havia construído? — Jimmy pergunta. — Eu mandei que o seguissem depois
que veio aqui, mas apenas constatamos que ele vivia em uma simples casa e
cuidava de uma pequena oficina.
Ela dá de ombros.
— Talvez essa pessoa apenas não teve a sorte de esbarrar com Max por
lá... E sobre o relacionamento de nosso pai com a minha mãe, bom, ela
nunca o perdoou quando soube do que ele fez. Ela sabia que ele não fazia
ideia sobre a venda, ela soube por nosso pai e pela mãe de vocês, que ele
apenas achava que os três estavam indo para a adoção, mesmo assim ela
nunca o perdoou por abandonar três filhos.
Glenda, que ainda não havia se manifestado, diz:
— Ele foi embora depois disso, e nunca mais voltou. Max foi
encontrado algum tempo depois, e ele nunca olhou para trás. Nós nunca
tivemos o seu amor, afinal. Ele era... eu não sei... apenas era quem era. Um
belo pai de merda!
— Glenda! — Maeve repreende a irmã.
Olhando-a bem, eu posso ver que ela tem a personalidade mais próxima
a Tyson.
— Vocês têm uma parte de tudo o que ele deixou. Não é muita coisa,
mas há uma casa, uma oficina e dois terrenos que ele comprou quando
esteve casado com a nossa mãe.
— Eu não quero nada daquilo, Glenda. Vocês podem ficar com tudo.
— Não estamos aqui por dinheiro, de qualquer forma. — Maeve se
levanta. — Eu acabei de descobrir que tenho três irmãos. — Ela sorri, um
sorriso tão grande que me faz lembrar do sorriso de TJ. — Eu vim porque
quero conhecer vocês.
— Eu nem consigo acreditar nisso... — Tales murmura se levantando.
— Mas porra! — Ele abre os braços para Maeve. — Me dê um abraço, irmã.
Ela dá dois passos em sua direção e se afunda em seus braços, como
uma boneca Barbie sendo engolida por um urso de pelúcia. TJ está
emocionado, Jimmy seca seus olhos, orgulhoso pelo filho, e Ty,
surpreendentemente, contorna os ombros da irmã mais nova com um braço,
apenas mostrando a ela que ele está lá. Max encara Jimmy, que lhe dá um
pequeno aceno para que siga em frente e seja forte por elas, e ele acena de
volta.
— Eu sinto muito pela forma como eu tratei você, Max — Maeve diz,
arrependida.
— Você me despejou daquela casa, mesmo sabendo que eu não tinha
para onde ir — ele responde entredentes.
— Estava cansada de ter minha mãe nos meus ouvidos falando sobre o
filho perfeito que ele tinha enquanto eu sequer recebia um maldito cartão. Eu
não sabia que ele estava doente, nossa mãe nunca nos contou.
— Você poderia tê-lo procurado. — Ele aponta.
— Eu o fiz, mas ele estava ocupado demais para nos atender. Ele foi um
pai apenas para você, Max. Para nós, ele era apenas um estranho, até mesmo
quando morávamos juntos. Ele não era a mesma pessoa, apenas isso. Eu
sinto muito — ela se desculpa novamente e ele assente.
TJ caminha até a irmã mais nova e a envolve em seus braços, dando um
pequeno beijo no topo da sua cabeça.
— Dezoito anos? — ele pergunta e ela assente. — Porra, eu sinto que
vou explodir minha cabeça tentando manter as mãos dos caras longe de
você.
Ela gargalha baixinho antes de dizer:
— Eu espero que você me deixe em paz, porque eu fui aceita na
universidade de Boston e vou ficar por perto por algum tempo.
— Porra! — ele diz animado. — Isso é legal pra caralho!
— Sim, isso é. — Ela sorri de volta para ele, os olhos brilhando como
um anjo, que parece.
— E como você ficou sabendo sobre tudo isso? — Ty pergunta, agora
ao lado do pai, com sua mão posicionada em seu ombro.
— Eu achei isso esvaziando o sótão. — Ela estica o braço em direção
ao Max. — Acho que isso é seu, irmão. — Maeve lhe entrega uma carta. —
Tudo o que eu disse aqui está aí. Eu... só queria que você entendesse o
porquê de eu ter agido dessa forma... E... só quero poder... tê-los por perto.
— E você terá. — Ele a surpreende quando a puxa para um abraço e
meu coração se enche de orgulho.
Sorrio como uma idiota, sentindo as lágrimas correrem livremente
sobre o meu rosto. Ele esteve sozinho no mundo por muito tempo e agora
tem a TJ, Ty, Jimmy, Glenda, Maeve e a mim. Uma puta família enorme,
afinal, e eu sinto que o que quer que vier dali para frente, poderá ser
resolvido facilmente, porque temos um ao outro e mais, estamos todos
felizes sendo quem realmente somos.
Max se afasta da irmã e me encara, com um sorriso no rosto, antes de
me puxar para os braços e murmurar em meus ouvidos que me ama. Fecho
os olhos, afundando-me em seu peito. E, apesar de ainda carregar o segredo
de Tyson sobre ele ter conhecido seu pai e saber da adoção, eu me sinto leve,
porque tudo foi esclarecido e nós todos ficaremos bem. Eu havia me
apaixonado por quem Max era, mas agora eu amo quem ele se tornou.
— Eu te amo, Max, e teria escolhido três vezes você.
Dois anos e meio depois...

— Oklahoma? — Max murmura deslizando embaixo de um carro onde


ele acaba de sujar a blusa que usará na viagem.
Eu me inclino sobre o balcão.
— Oi. — Respiro fundo e tento não me importar com a graxa no tecido
branco que eu sei que terei que deixar de molho.
— Você fez aquele pedido de pneus? Nós precisamos repor o estoque
antes de sairmos de viagem.
Eu assinto.
— Sim, Max, eu fiz na semana passada. Você já perguntou outras três
vezes.
Max aceitou o cheque de Jimmy no dia seguinte a Ação de Graças e
agora tem sua própria oficina na qual eu também trabalho. Depois de me
formar, deixei de lado a ideia de procurar por algo na minha área para ajudar
Maximum por um tempo e acabei apaixonada pelo que fazemos. Nós não só
consertamos carros como também customizamos eles, e essa é a minha parte
favorita. Fabricamos peças para carros customizados e vendemos nossa
própria marca. Estamos crescendo a cada dia e nosso nome já foi citado por
grandes colecionadores ou corredores.
— Eu não vejo a hora de você se mandar! — Glenda, sua irmã mais
nova, grita de costas para ele enquanto olha no relógio de pulso.
Depois que Glenda ingressou na universidade de Boston, onde eu me
formei, ela teve seu quarto na casa dos irmãos Jackson, embora a maior parte
do seu tempo ela reveze entre a oficina e a faculdade. Sua outra irmã, no
entanto, ainda vive na pequena cidade da Pensilvânia, onde sua mãe a tenta
convencer a trilhar o caminho de Deus, muito embora todos nós esperamos o
momento no qual ela mandará sua família se foder e virá embora para
Boston.
— Não se esqueça de que há câmeras por todas as partes. — Ele suspira
dramaticamente. — Eu não quero ter nenhuma surpresa ao acessá-la pelo
meu celular durante a viagem.
Glenda pisca para mim, com um pequeno sorriso selvagem no rosto.
— Eu não prometo nada, maninho.
Ele grunhe, fazendo-me sorrir. Glenda dá aos irmãos a maior dor de
cabeça que eles já ganharam. O fato dela ter vinte anos não significa nada
para eles, o que faz com que nenhum garoto com o qual ela esteja seja bom o
bastante. Ty é o menos paciente, ele acaba saindo no soco com todos eles,
mas não é algo que deixa a todos nós surpresos, afinal, é de Tyson Jackson
que estamos falando.
— Um mês. — Ela suspira. — Parece um sonho.
— Vai ser um pesadelo quando eu chegar — ele murmura, entredentes.
— Estamos dando férias para os funcionários, mas vocês terão serviço extra
quando voltarem. Não fiquem animados.
Um dos garotos que está trabalhando na customização de um Porsche
abre um largo sorriso, caminhando até a porta e acendendo um cigarro.
Glenda abana a mão na frente do nariz e revira os olhos, corando quando ele
pisca para ela. Dimitry é um tremendo filho da puta, talvez por isso ele se dá
tão bem com os trigêmeos, afinal, o problema é que ele tira ela do sério tão
facilmente quanto Max faz comigo, o que eu sei o que significa, no entanto,
eu ainda sou a única.
— Eu não me importo, será compensado — continua provocando-o. —
Vão logo. Há outros mecânicos que podem fazer isso quando você sair,
maninho, você não é tão especial.
— Eu só preciso passar em nosso apartamento. — Ele caminha até
mim. — Para trocar de blusa.
No início, Max e eu passávamos mais tempo arrumando nossas
mochilas para estarmos ou na casa dos irmãos, ou no apartamento no qual eu
vivia, até que nos vimos cansados demais de ficar nos locomovendo quando,
na verdade, passávamos todo o nosso tempo livre juntos. Unimos o útil ao
agradável e conseguimos muito sexo extra quando decidimos comprar um
apartamento juntos onde moramos agora. Estamos felizes dessa forma, ele
mantém suas mãos na graxa durante o dia e em mim durante a noite e todo
mundo acaba feliz.
— Use a do Dimitry, ela está limpa. Não temos tempo para passar em
casa.
— Use a minha. — Dimmy tira a blusa pela cabeça, sem hesitar, e eu
ouço a respiração de Glenda tremer ao avistar o pacote de oito gomos.
— Valeu, cara! — Ele veste a camisa de seu funcionário, que agarra
seus músculos nas partes certas. — Estamos indo nessa! — Ele beija a testa
da irmã, que enlaça os braços em suas costas.
— Boa viagem, fiquem bem.
— Nós vamos ficar — tranquilizo-a.
— Estamos levando o chapéu de bruxa para a Oklahoma tirar a foto na
Cave House.
Grunho. Todo mundo sabe aquela história agora.
— Apenas cuide para não cair. — Ela pisca para mim antes de eu
abraçá-la.
— Use a chave extra no nosso apartamento se TJ e Ty estiverem agindo
como se estivessem com um pau em suas bundas.
— Sim, obrigada. — Ela me abraça e então se afasta.
— Dirija com cuidado. — Max e Dimitry dão um toque de
cumprimento enquanto eu visto minha jaqueta de couro que ganhei de
Maximum no meu último aniversário.
A viagem na qual Maximum sempre teve vontade de fazer de fato está
se tornando realidade, nós passaremos na Geórgia para visitar meus pais,
minha irmã e matar a saudade que estou do meu sobrinho, e, quem sabe,
destruir a roseira do Sr. Moretti. Depois, seguiremos o plano de ir para o
oeste, gostaremos de conhecer o Alabama, Mississippi e Arkansas, em
seguida iremos a Oklahoma apenas para visitar a Cave House e dormiremos
na casa de uma tia minha por uma noite para descansarmos antes de voltar a
nossa rota, em direção a Nova Orleans. Nós somos loucos, sabemos disso,
mas estamos muito animados e mais do que merecemos essa viagem.
— Me liguem se precisar de algo.
Max contorna o banco da sua Harley e eu o aprecio por um segundo
antes de me juntar a ele, envolvendo minhas pernas em torno de seu quadril
e minhas mãos em sua cintura. Ele puxa uma mão minha até seus lábios e a
beija, antes de colocar seu capacete. Eu amo tanto aqueles pequenos gestos
que, às vezes, sinto-me uma adolescente apaixonada quando olho para ele.
Aceno para Glenda e Dimitry e o motor canta dentro da oficina trazendo
música aos nossos ouvidos.
— Pronta, Oklahoma? — Ele coloca a mão sobre o meu joelho e vira a
cabeça para o lado para ouvir minha resposta.
— Pronta, Max — respondo, e um segundo depois estamos em
movimento, rumo a nossa liberdade.

CONTINUA EM:
TRÊS VEZES ELE
Formada em Letras com habilitação em espanhol, F. Locks mora em
Florianópolis com o marido e a filha, a quem se dedica integralmente.
Apaixonada por séries, filmes e livros, ela tenta conciliar as mamadeiras e
um milhão de fraldas sujas com sua escrita, redigindo algumas páginas cada
vez que sua filha dorme por alguns minutos. Entre um capítulo e outro, ela
realiza seu maior sonho, que é dar vida aos seus personagens.
JAVIER

Quando Javier, o menino novo da turma, entrou pela porta, Milena se


viu encantada pelo garoto extraordinário, envergonhado, perdido e falando
outro idioma. Em um par de dias, os dois se tornaram melhores amigos e
conforme cresciam, o sentimento o fazia ao mesmo passo.
Drogas, álcool e uma família abusiva. Javier presenciava tudo isso
dentro de sua própria casa desde sua infância, até que, aos quinze anos, ele
precisou assumir todas as responsabilidades e cuidar de sua mãe viciada.
Tudo o que conhecia sobre o amor era feio e deturpado.
Até que finalmente ele se entregou ao que sentia por Milena, mas a
maior tragédia que poderia ter acontecido, aconteceu. E, de repente, Javier
era o culpado. Seis anos depois, ele estava de volta, livre, mas sua vida
estava estagnada no mesmo ponto antes da tragédia; enquanto Milena havia
seguido em frente e escondia dele um segredo que podia destruí-lo ou
reerguê-lo de vez.

PASSADO
Livro 1

Marcada por traumas do passado, Lara Knop se vê desolada ao ter que


vender tudo o que tem para pagar suas dívidas com o hospital. Em busca de
um novo começo, ela encontra uma casa que é perfeita para recomeçar, mas
imagine só sua surpresa ao perceber que já está sendo habitada.
Com um recibo de pagamento adiantado, ela não tem o que fazer senão
dividir o mesmo teto por 60 dias com um garoto, que é capaz de fazê-la
andar sobre uma linha tênue entre o amor e o que a destruiu.
Uma história que conta como a vida pode ser cruel com uma garotinha
e como o amor é capaz de consertar uma mulher.

PEQUENA ARIEL
Como ser uma assistente pessoal perfeita para Théo?

Levar cafezinho: confere.


Pegar seu cão infernal no veterinário: confere.

Quando o telefone toca no meio de sua fracassada ceia de Natal, Ana


agradece aos céus por seu chefe não se importar em ligar a qualquer hora,
porque naquele momento ela estava prestes a surtar com sua irmã. Mas o que
ela nunca imaginou era que essa ligação vinda de seu chefe bonitão viesse
com um pedido absurdo que a envolvesse a um bebê.

SÉRIE IMINENTE
(Amor Iminente, Desejo Iminente, Atração Iminente, Tragédia Iminente)

A série Iminente mostra como cada atitude pode mudar os trilhos da


história de cada um, levando-os para rumos diferentes e como cada um está
destinado a encontrar exatamente a pessoa que o destino escolheu.
Entre tapas e beijos, erros e acertos, cada casal corre contra o tempo,
luta contra sentimentos e supera traumas do passado que são capazes de
arrastá-los para o mais fundo e escuro abismo. Eles mostram como o amor
pode consertar até o mais quebrado dos corações.
Cada livro conta uma história diferente sobre amizade, dor e como
somos capazes de superar e conviver com a perda de um grande amor.
1)
Beer pong: Também conhecido como Beirut, é um jogo de mesa em que os jogadores jogam
uma bola de pingue-pongue numa mesa com a intenção de enfiar a bola num copo com cerveja
ou outro líquido na outra extremidade do móvel. O jogo consiste tipicamente em equipes de
duplas ou individual. Não há regras oficiais e as regras podem variar amplamente, embora
geralmente há seis (individuais) ou dez (duplas) copos de plástico dispostos em um triângulo de
cada lado. ↵
2)
DR – Abreviação para “Discutindo Relacionamento”. ↵
3)
Ensino fundamental nos Estados Unidos. ↵
4)
Ensino médio nos Estados Unidos ↵
5)
Ano de fundação do time. ↵
6)
Referência a história da Pensilvânia. ↵
7)
Planta usada para revestir fachadas de casas e muros. ↵
8)
Filme de comédia romântica americano de 2005, dirigido por Andy Tennant. Estrelado por Will
Smith e Eva Mendes ↵
Table of Contents
Folha de Rosto
Créditos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Biografia
Obras
Notas

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