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Eu: Como você reagiria se tivesse brigado com o Chris e um tempo depois,
o encontrasse conversando com uma menina?
Eu: *Com uma vagabunda.
Corrijo a mensagem.
Lizzie: Furiosa? Não sei se existe uma palavra para descrever como eu
estaria. Lúcifer voltaria a ser visto como um doce e adorável anjo. Talvez a
Netflix até escrevesse uma série sobre mim.
Paro na porta do quarto de TJ, a mão na maçaneta, enquanto dialogo
comigo mesma, pensando na forma como eu me sinto com relação a ele estar
conversando tão intimamente com alguém. Eu não estou furiosa, chateada
sim, mas furiosa? Não... Por quê? Encosto a testa na porta, por dois
segundos, ouvindo pessoas passando pelo corredor atrás de mim o tempo
inteiro. Rostos conhecidos demais, a galera inteira da faculdade, mas eu não
costumo me misturar. Estou mais chateada pelo fato de TJ não estar me
respeitando na frente de todos do que o próprio fato dele não estar me
respeitando.
Afasto-me da porta, decidindo dormir no meu quarto. Não faz sentido
que eu fique ali, sendo que sequer estou falando com ele, tampouco depois
de presenciar a pequena cena de afeto em público. Sendo assim, lá estou eu,
entrando no meu quarto, decidida a dormir sozinha e ter uma conversa com
TJ na manhã seguinte, dando o último gole no meu drink quando de
repente...
— Mas o que... — grito espantada, observando Maximum de pé e nu a
minha frente.
— Deus... — ele murmura, colocando a toalha de rosto, branca, na
frente do seu membro, duro.
Duro.
— Que inferno você está fazendo aqui?
— Eu estou dormindo no seu quarto desde que cheguei.
— Por quê? — pergunto, apesar de saber, apenas acho que se alongar a
conversa, posso tirar a imagem de outra coisa longa da minha cabeça.
— Porque essa casa está em festa desde que cheguei. Isso nunca acaba?
— Parece estressado e eu gosto do fato de ele também não gostar de tanto
tumulto.
— Nunca — suspiro, sendo capturada pelos desenhos em seu corpo,
cada maldito traço parece atraente demais e eu me pergunto por que inferno
eu não vejo Ty dessa forma quando eles são idênticos demais, até mesmo as
tatuagens.
— O que você está fazendo no seu quarto? — pergunta confuso, seus
bíceps marcados pela forma na qual ele segura a toalha.
— Bom, esse é o meu quarto. — Coloco a taça vazia sobre o criado-
mudo e caminho até a cadeira da escrivaninha, pegando um pijama que eu
sei que havia deixado lá.
— Sim, mas você nunca dorme nele — ele acusa, com seus olhos
presos nos meus movimentos, enquanto eu caminho até a minha cama,
sentando-me nela.
— Como você sabe, se acabou de chegar nessa casa? — Às vezes, eu
sinto como se ele estivesse na casa há anos, como se estivesse presente em
todos os malditos cômodos.
— Apenas sei. — Ele caminha até o banheiro, com sua bunda dura
virada para mim, enquanto eu sinto minhas bochechas queimarem.
Não consigo desviar os olhos dele, cada maldito pedaço é igual ao que
eu já estou mais do que acostumada, mas, ao mesmo tempo, é diferente,
como se fosse novo e estivesse sendo visto pela primeira vez. Uma de suas
pernas também é tatuada, os desenhos chegam até sua coxa, espalhados por
toda a parte. Max se abaixa minimamente, apenas para que possa vestir sua
boxer preta, então rolo meus olhos para as suas costas, subindo lentamente
até os ombros e, quando ouço um pequeno risinho, eu subo mais um
pouquinho e meu coração afunda no peito quando nossos olhos se encontram
através do espelho.
Filho da puta!
— Achei que eu não fosse do seu gosto — ele diz divertido.
— Você não é — afirmo.
— Então tire seus olhos de mim, porque eu não sou de ferro. — Max se
aproxima, seu cheiro delicioso se espalha pelo quarto.
Sinto minhas pálpebras pesarem assim que ele fica a minha frente.
Minha respiração deixa de ser automática e natural e passa a ser algo que eu
tento controlar, assim como as batidas do meu coração. O que está
acontecendo? Por que ele precisa ser um filho da puta provocador o tempo
inteiro? E por que eu estou caindo nisso? Maximum se inclina sobre mim,
espalmando a cama, uma mão em cada lado do meu corpo, conforme o sopro
quente de sua respiração atinge meu rosto. Eu não me movo, não só porque
não quero, mas também porque não sou capaz.
— Parece que você está desarmada agora, Oklahoma, e eu não estou me
referindo ao seu spray e nem a minha pistola.
Pisco forte, abrindo a boca levemente, mas não sei o que dizer. Como se
eu tivesse me tornado incapaz de sibilar uma frase coerente. Aperto minhas
mãos, uma na outra, tentando controlar a vontade que estou de tocá-lo, ao
mesmo tempo que praguejo e me sinto péssima por querer fazer isso quando
estou com alguém, mas então me lembro de que TJ está lá embaixo, fazendo
a mesma coisa com uma pessoa que não sou eu.
Não é apenas a sua voz, ou sua aparência, é a forma como ele se move e
o cheiro que exala da própria pele que o torna diferente dos outros dois. É a
química que senti ao beijá-lo pela primeira vez e a atração que eu sei que
temos. Química. Seus feromônios o tornam quem é, a mistura do seu próprio
cheiro, com a forma como ele olha, age, se move e que faz com que minhas
moléculas se comportem de maneira diferente a sua presença, como se meu
corpo tivesse vontade própria.
Maximum se aproxima mais, seu nariz perfeitamente desenhado toca o
meu e eu já não sou capaz de me controlar, posso ouvir meu próprio coração
batendo, o que é uma puta loucura porque eu havia acabado de conhecê-lo.
Como isso pode estar acontecendo? Sua testa empurra a minha, eu a
empurro de volta, e nossos narizes raspam um no outro, algumas vezes,
trocando de lado, ele abre a boca e sua respiração encontra a minha antes
dele erguer o queixo, fazendo sua boca acariciar a pele ao lado da minha, eu
posso sentir meu sexo pulsar, e percebo que não paro de me mexer.
E um pequeno gesto de quase beijo acabou de se tornar a experiência
mais sexual e excitante que tive na minha vida e eu sequer encostei minha
boca a sua, então o empurrei, meus olhos arregalados, minha boca
entreaberta, enquanto respiro com dificuldade, sentindo meus olhos arderem,
assim como meu pulmão, e a batida errática do meu coração faz meu sangue
correr com mais velocidade nas veias, enquanto a única coisa que eu sinto é
que preciso dele dentro de mim o mais rápido possível, por esse motivo, eu
me levanto e saio correndo do quarto.
Isso só pode ser chamado de uma coisa: a maldição dos irmãos Jackson.
Dois dias se passaram desde o meu pequeno deslize com Max e, graças
ao bom Deus, é segunda-feira, o que significa que não haverá uma festa
nessa noite. Por esse motivo, e por estar de folga, eu decido cozinhar. Não é
bem uma ótima ocasião, está longe de ser boa, aliás, com tudo o que vem
acontecendo comigo e com a maldição dos irmãos Jackson. Ty ainda está
distante, TJ sequer olha na minha direção e Max, bom, ele não para de me
encarar, mas eu estou fugindo dele como o diabo foge da cruz.
Mesmo assim, depois de passar os últimos dias comendo apenas
besteiras e congelados, eu decido fazer uma comida caseira, mesmo que for
comê-la sozinha, como também se eu tiver que acordar cedo para correr no
dia seguinte. Acontece que comer carboidrato me faz inchar como um
baiacu, mas, mesmo sabendo, aqui estou eu, preparando-o com bacon e
brócolis. Foda-se também, porque eu nunca serei magra nem se realmente
tentar. Levo a travessa pesada até o forno pré-aquecido, aumentando a
temperatura para 180º.
Assim que termino de lavar o restante da louça, evitando deixar sujeira
demais para Grace e Justine que estão programadas para limparem a casa no
dia seguinte, vou passar uma água no corpo. Odeio tomar banho depois da
janta, porque aprecio a sensação de estar limpa e confortável na hora da
refeição. Assim que deixo o quarto, após o banho, esbarro em algo sólido,
um abdômen definido que não é coberto de tatuagens, o que só pode
significar que TJ quer algo comigo, na porta do meu quarto, enquanto me
observa impaciente. Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso, uma
covinha se aprofunda apenas em um lado do rosto. Observo seus olhos
verdes rolarem sobre todo o meu corpo até encontrarem os meus. Ele aperta
as mãos, estalando os dedos, enquanto se mexe, inquieto.
— Me desculpe. — Ele se aproxima de mim em um movimento rápido,
me prensando na porta do meu quarto.
Pisco rápido, tentando me manter lúcida, então abro a boca para dizer
algo, mas TJ cola seus lábios nos meus antes que eu possa dizer alguma
coisa. Suas mãos enormes seguram as laterais dos meus quadris, me
colocando para cima e eu entrelaço as pernas na sua cintura. Tenho um
milhão de coisas para dizer a ele, mas obviamente não farei. O que há de
errado comigo? Eu me pergunto enquanto ele me arrasta para dentro do
cômodo, batendo a porta atrás de nós, ao mesmo tempo que se inclina sobre
mim na cama pequena e estreita.
— Eu preciso disso agora, Ky — ele murmura.
Por que eu, que quero xingá-lo por agir como um idiota, estou abrindo
minhas pernas para ele? Provavelmente porque ele é um dos fodidos irmãos
Jackson e as garotas fazem isso o tempo inteiro. Ninguém quer nada além de
sexo em primeiro lugar e eu sinto que preciso tanto quanto ele
aparentemente precisa de mim. Seus lábios deixam os meus, correndo
livremente sobre a curvatura do meu pescoço até meus seios, então abocanha
um, enquanto aperta o outro, usando o polegar para brincar com ele.
Seu pau imenso pula fora de sua cueca boxer branca da Calvin Klein
assim que ele se posiciona sobre mim, usando seus joelhos para me prender
no meio dele. TJ se inclina para fora da cama, alcançando uma camisinha no
criado-mudo, então a rasga com os dentes, colocando-a com tanta
praticidade que eu me pergunto, por um segundo, quantas vezes ele fez isso.
Centenas, com certeza, mas o pensamento não me deixa enjoada, pelo
contrário, me excita, porque isso lhe deu experiência. TJ pode ser egoísta e
imaturo às vezes, mas sabe usar seu pau como ninguém e, para mim, isso
basta.
Ele me penetra, fazendo com que eu deixe escapar um gemido
involuntário e conforme estoca, eu me agarro a ele com mais força, sentindo
cada músculo do seu corpo trabalhar. Tales sobrepõe seu rosto ao meu,
abocanhando meus lábios, conforme respira ofegante, roubando meu fôlego
e eu sorrio, correndo os dedos sobre o seu rosto então, por um segundo, eu
não apenas penso, mas desejo que seja Max e meu corpo trava. O que
inferno eu estou pensando?
— Isso não está funcionando. — Ele se afasta de mim, sentando-se na
beirada da cama.
Amo TJ e o simples pensamento de estar com outra pessoa, enquanto
faço sexo com ele, me faz sentir como se eu não o respeitasse como pessoa,
mas não é isso que está rolando ali, entretanto, eu não sei realmente o que
está acontecendo.
— Kyra, eu... — Ele passa as mãos no rosto.
Não sei o que ele está pensando, o que sente realmente por mim,
tampouco o que nosso relacionamento significa para ele.
— Sinto muito, TJ — me desculpo, porque já não sei quem é o mais
errado nessa história.
— Você... Porra, Ky, você me ama? — pergunta, apoiando a cabeça
entre as mãos.
Paro para pensar, por um segundo, apoiando meu queixo em suas
costas. A pele lisa, livre de tatuagens, é o que fisicamente o distingue entre
os irmãos.
— Sim, TJ, claro que sim.
Ele assente, mas permanece em silêncio.
— O que está acontecendo com você? — pergunto.
— Eu não sei — sussurra, antes de se levantar e deixar meu quarto,
ainda nu.
A mesa está posta, pratos, talheres e taças estão distribuídos sobre ela,
mas eu não sei se alguém além de mim irá comer, também não me importo.
A situação mudou, antes TJ e Ty não falavam comigo, agora apenas Ty não
fala, enquanto TJ age de uma forma muito estranha. Mas eu decido parar de
pensar no assunto, sei que, a partir do momento em que começar meu último
semestre na faculdade, eu terei bastante coisa para ocupar minha mente.
Coloco a travessa sobre a mesa antes de ir lavar as mãos na pia uma
última vez, aproveitando para espiar os meninos através da janela. Tales está
sentado em uma espreguiçadeira, enquanto Ty mantém suas costas apoiadas
na parede, uma perna dobrada, os braços cruzados sobre o peito, observando
Max trabalhar no motor do carro de TJ.
Atravesso a porta dos fundos, presa na imagem à minha frente,
Maximum está debruçado sobre o carro, suas costas tatuadas livres de
qualquer tecido. Sua regata branca, está enfiada no bolso de trás e, ao ouvir
meus passos, ele se vira para mim, retirando-a do bolso e passando ela no
rosto, limpando a graxa que cobre sua pele. Tales e Tyson me observam em
silêncio conforme me aproximo.
— Eu acabei de preparar algo.
— O que você fez? — TJ pergunta, ansioso.
— Macarrão com bacon e brócolis.
Os dois grunhem em uníssono.
— Por que você tem que pôr algo saudavelmente ruim no meio de algo
tão bom?
— Brócolis não é ruim.
— É sim — Ty concorda com o irmão, fazendo com que eu o encare,
surpresa por estar falando comigo. — Eu queria falar com você, Ky — ele
confessa.
Desvio meus olhos para os outros dois irmãos, TJ recebe uma ligação,
então ele ergue o dedo indicador, pedindo um minuto para mim, antes de se
afastar. Max parece um pouco descabreado com o pedido de Ty e eu me
pergunto por um momento, como ele foi criado. Ele é protetor demais,
esteve pronto para atacar quando Ty gritou comigo e depois me seguiu de
moto com medo de que eu andasse a pé nas ruas escuras a caminho do bar.
— Pode falar. — Cruzo os braços, ansiosa.
— Será que a gente podia...
— Fale logo, não é como se Max se importasse com a merda que você
vai dizer, afinal. — Faço minha melhor cara de tédio e Ty revira os olhos.
— Me desculpe.
— Uau! Alguém aprendeu uma nova palavra hoje — gracejo.
— Por favor, não me faça mandá-la se foder porque eu não quero me
sentir um idiota de novo.
— Você é um idiota, Tyson.
Ouço uma risada abafada e encaro Max, sustentando um pequeno
sorriso.
— Fora, Max. — Ergo as sobrancelhas, encarando Max deixar o pátio
com as duas mãos erguidas em um gesto de paz.
— Eu sinto muito, de verdade, Ky, eu...
— O que está acontecendo com você, Ty?
— Eu não sei... — Ele passa uma mão sobre a cabeça raspada, então a
desliza até sua nuca. — Eu... Porra, eu sinto que tô me afundando cada vez
mais.
Seus olhos verdes brilham, me encarando com intensidade, antes dele
desviá-los para o chão. Ty leva as mãos até o bolso da bermuda, retirando
sua carteira de cigarros, acendendo em seguida. Ele enche os pulmões de
fumaça, erguendo a cabeça e soltando-a em direção ao céu, enquanto nós
permanecemos em silêncio.
— Você conheceu alguém.
— Não... — ele responde.
— Não é uma pergunta, Ty. É uma afirmação.
Seus olhos encontram os meus novamente.
— Eu já a conhecia — confessa, desviando o olhar para o capô aberto
do carro.
Ergo as sobrancelhas, surpresa. É estranho ouvir Tyson falar de uma
garota.
— Vocês estão juntos?
Ele nega, mas há algo nessa resposta que me fez perceber que está
arrasado.
— É complicado — responde, jogando o cigarro no chão.
— É, sempre é.
— E o que vocês estão fazendo, afinal? — Ele aponta para mim e em
direção a casa e meu coração quase para de bater com a possibilidade de ele
estar citando Max, mas, quando olho para trás, percebo que TJ está na porta
de entrada e Ty se refere a ele.
— Nós estamos bem.
— Claro que estão. — Seus lábios se contraem em um pequeno sorriso.
— Se sua definição de bem é ficar sozinha na maior parte do tempo
enquanto seu namorado está pendurado em várias mulheres.
— Você está fazendo um péssimo papel de irmão.
— Você também é como uma irmã, Kyra. — Ele me dá um tapinha na
cabeça, sua forma mais carinhosa de expressar seus sentimentos.
— Então você está sendo um péssimo irmão para mim também.
— Eu sinto muito, Kyra, eu já falei... tenho estado...
— Se você precisar conversar, eu estou bem aqui, Tyson, mas a
próxima vez que falar comigo daquela forma, ou apenas pensar em jogar na
minha cara que eu estou aqui de favor e tudo mais... — atropelo as palavras,
ficando furiosa conforme me lembro da nossa pequena discussão. — Eu
apenas vou pegar minhas coisas e cair fora.
— Eu nunca deixaria você fazer isso.
— Você não tem que deixar nada. Pare de agir como um idiota e se
concentre em não tentar foder as coisas com a sua garota. — Viro as costas,
ignorando o fato de que ele mantém um maldito sorriso no rosto.
Passo por TJ, que ainda está no celular, entrando na cozinha e me
surpreendo com a cena à minha frente. Max está sentado à mesa, os
cotovelos sobre ela, o garfo cheio em frente à boca, enquanto o macarrão
desce como cascata até seu prato e ele tenta sugá-lo. Max me olha sobre os
cílios, seus olhos verdes brilham de excitação e um pequeno sorriso se forma
em seus lábios, o que o faz ficar ainda mais bonito.
— Por que está me olhando assim? — sussurro, entredentes.
Preciso acabar com isso que está acontecendo o mais rápido possível.
Depois de correr de Max por dois dias, preciso estar no mesmo ambiente que
ele e mostrar que sua presença não me causa ansiedade. Se conseguir provar
a Maximum que eu não sinto nenhuma atração por ele, talvez me deixe em
paz. Sento-me à mesa, à sua frente, me servindo de uma porção generosa.
— Por isso está correndo como uma maluca — diz com a boca cheia e
grunhe, fazendo uma expressão exagerada para sua falta de modos.
— Pelo amor de Deus, eu consigo ver o brócolis mastigado dentro da
sua boca!
Ele dá de ombros.
— Talvez devesse pegar leve no carboidrato antes de dormir.
Filho da puta!
— Eu não estou pedindo a sua opinião, Max.
— Okay, mas... — ele faz uma pausa, buscando as palavras certas — se
você controlasse a quantidade de calorias e massas que ingere, talvez
pudesse ter um pouco menos de gordura nas pernas e bunda.
Paro com o garfo no ar, a boca ainda aberta, conforme sinto meu rosto
ficar vermelho de raiva. Ele está tentando chamar a minha atenção; já que
não pode ser sexualmente, então está me fazendo ficar com raiva dele. E
olha só, está conseguindo, porque, por pouca coisa, eu já estou sentindo
vontade de cravar meu garfo em seu pescoço. Sorrio para ele, enfiando o
macarrão todo na boca, então falo, imitando-o:
— Dizem que apenas os maricas se preocupam com a gordura das
mulheres.
TJ entra na sala, rindo do meu comentário.
— Concordo — ele começa. — Homens gostam de carne, uma bela
bunda grande para bater.
Seu comentário exagerado me faz grunhir, mas eu estou contente com a
expressão de Max.
— Vocês são nojentos. — TJ aponta para nós dois, enquanto tira uma
lasanha congelada do congelador.
— O que é isso que você está pegando aí? — Ty entra na cozinha.
— Gordura trans — interfiro.
— Ótimo, também quero. — Ele aponta para o micro-ondas.
— E eu é que sou a nojenta.
Max concorda, fazendo um ruído com a garganta, enquanto come como
um morto de fome.
— Seja lá que substância cancerígena tenha aqui, é muito mais gostoso
do que brócolis — TJ comenta e reviro os olhos.
— Isso porque Deus foi generoso com suas genéticas. Vão se foder por
isso. — Mostro o dedo do meio com a mão livre, enquanto levo outro garfo
até a boca.
Ao elogiar a genética do meu namorado, esqueci-me de que Max
contém a mesma, cada traço e o maldito metabolismo que não o deixa
engordar, então praguejo internamente. Maximum se serve de outra
escumadeira cheia, ao mesmo tempo que bebe um copo de suco de laranja.
— E então, TJ, nada do seu pai? — pergunto.
Ele nega com um aceno.
— Ele volta em uma semana. Havia comentado sobre vir direto para cá
— responde, retirando a lasanha do micro-ondas.
Ty pega um garfo na gaveta e se senta ao lado do irmão.
— Vai se foder, Tyson! Faça sua própria comida. — Ele puxa a lasanha
para o lado na mesma hora em que Ty estica o braço na direção dela.
— Filho da puta! — Ty se levanta, indignado, abrindo o freezer para
pegar sua própria lasanha.
— É um inferno não saber o que realmente aconteceu — TJ comenta,
enquanto Ty se mantém de costas para o micro-ondas enquanto ele cozinha
seu jantar.
— Sim — concordo.
Conversamos sobre isso em outros momentos, mas não conseguimos
pensar em nada que justifique Max ter sido separado dos dois. A mãe deles
nunca teria feito isso, mesmo se tivesse achado que não daria conta deles,
porque quem cria um, cria dois, é o que ela sempre disse e eu tenho certeza
de que teria dito “Quem cria dois, cria três, se fosse o caso”, mas, então,
como ela não sabia que havia outro irmão? Talvez, quem sabe, Helena tenha
sido enganada por alguém.
Quem sabe alguém tenha mentido sobre um deles ter ido a óbito para
que pudesse roubá-lo. Não tem como saber disso enquanto o Sr. Jackson não
voltar, mas todos nós pensamos em um milhão de justificativas. E o mais
injusto, além do fato dele ter sido afastado dos irmãos e crescido sem o
contato que merecia, é saber que Helena morreu sem conhecê-lo. E, sempre
que eu me pego pensando nisso, minha mente vaga para outro caminho e eu
fico curiosa para saber mais sobre Max, porque até então, não contou muito
sobre ele.
— E como foi viver em orfanatos?
A pergunta de TJ faz meu peito se apertar, porque eu não sabia que
Maximum havia vivido em orfanatos. Nossos olhos se encontram, há algo
neles que eu não sou capaz de identificar. Talvez seja vergonha. Eu quero
apertar sua mão e dizer a ele que tudo ficará bem, mas apenas desejo que
interprete meu olhar e encontre nele o consolo que tento dar.
— Tão bom que eu fugi aos meus treze anos.
— Você o quê? — De repente, eu não sinto mais nenhuma vontade de
comer. — E você foi morar aonde?
— Na rua — Max responde, há tanto controle em sua voz que me
pergunto se ele ensaiou.
Ele leva outra escumadeira cheia até seu prato e eu me pergunto para
onde vai tanta comida. Será que gosta tanto de comer por causa do que
acabou de contar? Agora eu sei de onde vem tanta simplicidade. Ele recusa
protetor solar quando está na piscina, usa a mesma toalha de banho há seis
dias e come qualquer coisa que esteja sendo servida, enquanto Ty e TJ vivem
apenas do bom e do melhor.
— O que você comia? — Talvez minhas palavras tenham saído
estranguladas, eu não sei, mas já não enxergo Max da mesma forma.
— Eu me virava. — Ele permanece me olhando, sem expressão.
— Aos treze. — Minha voz é quase um sussurro.
— Sim. — Ele desvia o olhar quando percebe que eu não o farei.
— Sinto muito por isso, Max. — TJ coloca a mão em um ombro dele e
seu corpo enrijece, porque é muito provável também que não esteja
acostumado a ter pessoas se preocupando com ele.
— Tudo bem — responde.
Encaro Ty, comendo em pé em silêncio em frente ao micro-ondas, com
uma expressão séria, concentrado em seus próprios pensamentos. Me
fazendo querer ir até ele e lhe dar um tapa para que tire a cabeça que está
enfiada no seu próprio rabo e preste atenção em seu irmão perdido. Ele come
rápido, seus olhos fixos em sua comida, então joga o recipiente vazio sobre a
bancada e deixa a cozinha, sem que ninguém, além de mim, perceba. Sei que
algo está errado, só não faço ideia do quê.
Ela mal olha em minha direção achando que isso fará com que eu
acredite que não sente nenhuma atração por mim, mas é exatamente por isso
que eu sei que a estou afetando. Por seus olhos incrivelmente azuis como
uma maldita piscina estarem fugindo dos meus. Por ela corar todas as vezes
que eu a deixo com vergonha, o que parece ser todas as vezes em que eu
abro minha boca. Mesmo que um milhão de idiotices saia dela e depois eu
pragueje por agir como um idiota.
Ainda não sei o motivo dela agir dessa forma, quando na verdade eu
sou odioso como ele, o seu namorado. Não é nenhum tipo de atração pela
imagem em si, senão ela agiria dessa forma com Ty também, até mesmo
com TJ, na verdade. Suas pálpebras não se fecham involuntariamente
quando ele beija seu pescoço. Seus pelos não se arrepiam quando toca sua
cintura e não parece excitada nem mesmo quando suas mãos estão nele
também.
E só de pensar como ela reagiu ao nosso quase beijo, eu fico duro como
uma rocha. Porque, a cada passo em sua direção naquela noite, a fiz se
mexer ansiosa sobre o colchão, fiz sua respiração perder o ritmo, seus olhos
se fecharem em um piscar de olhos lento, arrastado, como se flutuasse, se
perdendo em mim, sem sequer estarmos nos tocando. Por isso eu sei, ela não
ama TJ, não como deve.
Mas, por que diabos eu estou tão obcecado em uma garota? Não faço
ideia, nunca tive um relacionamento e nunca desejei estar em um. Não faz
sentido para mim que uma garota me atraia tanto. Talvez o fato de nossas
bocas terem sido feitas uma para a outra faz com que eu a deseje tanto. Ou
quem sabe foi sua puta má educação atendendo a porta naquela noite. Não
tenho como saber, apenas sei que ela não é qualquer garota, além de fazer
um ótimo macarrão com bacon e brócolis.
De qualquer forma, eu ainda não sei como me sentir com relação a tudo
o que aconteceu nos últimos dias, desde a morte repentina de Steven – que
eu sinto uma puta falta –, o beijo de recepção da Kyra e o fato de agora ter
uma família. Eu ainda não posso fazer julgamentos, não sei o que aconteceu
para que eu parasse em um maldito abrigo, mas meu peito aperta por saber
que minha mãe está morta. Não há nenhum conforto em saber que eu nunca
a conhecerei, que eu fui o bebê que foi abandonado.
Podia ter sido Tyson, Tales, mas fui eu. Eu fui a criança desgraçada,
fadada a todo o sofrimento que passei, pulando de lares adotivos, sendo
enganado, iludido. Eu sou a porra dos três que não sabe pegar em um garfo,
segurar uma taça ou escolher uma roupa. Eu apenas sou quem sou. Alguém
que vive às sombras de outra pessoa, sempre. Tanto nos lares, quanto depois,
com Steven e, naquele momento, com meus irmãos Ty e TJ.
Eu vivo às suas sombras, às suas custas, não sei o que fazer, para onde
ir. Sequer sei quem eu realmente sou. Parte minha quer seguir em frente,
todos os dias. Pegar minha Harley e partir, sem olhar para trás, mas a outra,
que me deixa atormentado, é composta por um cara que eu não conheço e
por sentimentos que não lhes são comuns. Esse cara quer ficar, criar raízes e
ter uma família. E a sensação me causa desconforto, porque eu odeio criar
expectativas.
As expectativas me transformaram em um cara frustrado; cada novo
maldito casal indo me visitar, sorrindo para mim, me levando para passear,
apenas para depois escolher alguém que ainda não tinha memórias, que
podia começar no zero, alguém muito mais novo do que eu. Até o dia em
que parei de desejar aquilo, já não me importava se era perseguido por outras
crianças que não iam com a minha cara, por regras demais que não faziam
sentido, pela falta de amor e o vazio que era dormir em um quarto cheio e
mesmo assim se sentir vazio.
Então fugi, e dez anos depois, lá estou eu, dentro de uma casa, que
supostamente é minha, vivendo com duas pessoas que são a minha família e
mesmo assim, sendo o filho da puta que eu sou, desejando a garota do cara
que abriu as portas para mim, que me deu um teto e uma cama para dormir.
Mas eu não consigo, sinto culpa por querer beijá-la de novo, mas não tem
nada a ver com o fato de termos química. Um puta beijo perfeito que durou
apenas dez segundos.
Estou me confortando com meus falsos diálogos internos que dizem
que eu não estou fazendo nada de mais, porque ainda não fizemos nada de
errado, mas então minha consciência salienta o ainda e eu reavalio a
situação até me dar conta de que eu realmente sou um merda. Não é nada
novo para mim, afinal, mas é a primeira vez que me faz sentir como se eu
realmente estivesse agindo da forma errada. Mesmo assim, ainda não é o
suficiente para que eu pare, então solto um pequeno risinho quando ela passa
por mim, usando um top que mal cobre seus seios fartos, um short que
arrebita ainda mais sua bunda e um tênis de corrida.
Ouço seus passos cessarem imediatamente e sorrio satisfeito, sem que
ela possa ver meu rosto.
— Do que está rindo, idiota? — ela resmunga entredentes, passando a
mão nos pequenos fios curtos que seu rabo de cavalo não foi capaz de
prender.
— Sempre cordial — comento, virando-me para continuar trabalhando
no motor do carro de um amigo de Ty, que quebrou.
— Por que é que você tem de estar sempre enchendo a porra do meu
saco?
Eu não consigo desmanchar o sorriso em meu rosto e aquele negócio de
estar sempre rindo ou morrendo de raiva quando estou com ela me deixa
alucinado.
— Nada — respondo, fingindo não estar prestando muita atenção nela,
enquanto também finjo que estou concentrado no meu trabalho.
— Certo, então pare de ficar com esse maldito sorriso no rosto — ela
diz após me contornar, encostando seus quadris na lateral do carro, os braços
cruzados sobre os seios fartos.
Ela limpa a garganta exageradamente chamando a minha atenção do
que há por trás do tecido do seu top de corrida.
— Okay, tudo bem. — Aponto com uma chave de roda em direção ao
caminho que ela faz até o portão. — Pode ir para a sua corrida.
Kyra grunhe de raiva, enquanto seu rosto branco como a neve cora
como o vermelho do fogo do inferno.
— Sim, é isso que eu vou fazer — afirma, entredentes antes de se virar
para sair, mas torno a chamar sua atenção.
— Você ainda está tentando se livrar de todo aquele carboidrato com
brócolis?
Ela para de andar e se vira para mim, pegando-me com os olhos
grudados em sua bunda e um pequeno sorriso satisfeito se forma em seus
lábios.
— Parece tão ruim para você que eu esteja acima do peso?
— Parece — respondo, mesmo sabendo que ela sabe que eu estou
mentindo.
— É por isso que não tira os olhos dos meus peitos e da minha bunda?
Por que você acha que é resultado do excesso de carboidrato e tudo mais?
O que ela não sabe é que eu não sou capaz de tirar os olhos dela por
completo e não somente desses dois lugares. Seus olhos são adoráveis,
naquele tom de azul que faz parecer que reflete o oceano. Dos seus lábios
grossos e bem desenhados, das maçãs do seu rosto que são marcadas de
modo que a faz parecer ainda mais sexy e do seu nariz arrebitado que a deixa
com um ar de briguenta, o que combina muito com sua personalidade.
— Sim, é exatamente por isso — respondo. — E porque você é gostosa
com tudo isso que está tentando se livrar com uma única corrida por semana.
— Eu não tenho tempo! — Eu não sei se estou surpreso por ela ter
ignorado meu comentário ou por estar gritando comigo.
— Eu não estou dizendo que você tem.
— Como você consegue ser tão irritante? — Passa as mãos pelos
cabelos novamente, mas eu não sei se é porque realmente a estão
incomodando ou porque está estressada comigo.
Prefiro a segunda opção.
— Sabe... — Kyra cruza os braços novamente. — Eu quase senti pena
de você, por tudo o que passou e tal.
Sinto os músculos do meu rosto murcharem e o pequeno sorriso que eu
sustento deixou de existir. Viro-me novamente para o motor do carro, sem
lembrar exatamente o que devo fazer, apenas porque sei que ela permanece
atrás de mim. Eu odeio o sentimento de pena. Posso dizer que quem me
conhece realmente sabe o quanto eu odeio, o problema é que ninguém me
conhece de verdade.
— Pena é o pior sentimento que você pode sentir por alguém. — Jogo a
chave de roda na caixa de ferramentas e o barulho que ela faz ao se chocar
com as outras, corta nosso silêncio agonizante.
— Desculpe, Max, eu... não quis dizer isso.
— Sim, você quis, mas tudo bem. Apenas continue. — Aponto para o
portão novamente.
Por que eu estou tão puto? Por que eu me sinto tão ansioso e agitado
perto de uma garota? Foda-se, em poucos dias estarei pulando fora e Kyra,
aquecendo minha cama ou não, será apenas uma na porra da minha lista.
— Max, eu sinto muito. Eu sei que você realmente passou por muita
coisa e...
— Não — interrompo-a. — Você não sabe.
Passo a minha regata branca surrada sobre o rosto, limpando a sujeira,
antes de jogá-la sobre a caixa e, pela primeira vez, seus olhos não correm
sobre minha pele desnuda, eles se mantêm fixos no meu rosto. Kyra abre a
boca para dizer algo, mas a fecha em seguida. Posso sentir seu pesar apenas
olhando em sua direção por cinco segundos, mas eu odeio aquela expressão.
As sobrancelhas levemente arqueadas, a linha proeminente entre elas. Os
lábios apertados, o olhar de piedade. Um pacote completo de falsa
compaixão.
Ouço o movimento do seu corpo, conforme ela se afasta de mim e
praguejo mentalmente por ser um cara que fode qualquer diálogo, qualquer
pequena coisa boa que conquisto, mas o problema maior nem é aquele, é
que, na verdade, não há nenhuma conquista ali, porque ela não é uma garota
livre, eu não posso flertar com ela, nem desejar fodê-la loucamente como
estou fazendo, porque ela é a porra da namorada do meu irmão.
Eu estou ansiosa, nervosa e com raiva, mas não tem nada a ver com a
garota que está pendurada em TJ, que, aliás, é a mesma do final de semana
passado, mas sim porque Max está com alguém. Eu estou com tanta raiva
que sou capaz de sentir meu rosto inteiro arder, pinicar, enquanto meu
coração bate rápido demais por causa do meu nervosismo desenfreado e sem
sentido.
É a primeira festa que ele participa e interage realmente. Maximum está
sentado de lado em uma espreguiçadeira, as pernas para baixo, enquanto a
garota permanece sentada entre elas, no chão. Ele parece alheio, olhando
para o nada, bebericando sua cerveja, mas os movimentos despercebidos que
faz enquanto pressiona o pescoço da garota é tão quente e íntimo que me faz
aquecer por dentro. Seus dedos longos correm pela pele desnuda dela,
erguendo seu queixo de forma sexy e eu me pergunto o que ele é capaz de
fazer com suas mãos quando estiver desperto e prestando realmente atenção
em seus atos.
Quando o rosto da garota se vira em minha direção, eu a odeio pela
primeira vez. Nunca tive nenhum problema com Cami, pelo contrário, gostei
dela desde a primeira vez que a vi, mas, naquele momento, entre as pernas
de Max, eu sinto vontade de arrancá-la de lá aos socos e pela maldita
primeira vez também, a mensagem de Lizzie faz sentido para mim, o que
parece ser uma puta loucura por dois motivos: o primeiro, é que ele é meu
cunhado; e segundo, é que eu o conheço há apenas dez dias.
Ela acena para mim e os olhos de Max encontram os meus, mas ele não
sorri para mim, nenhum maldito sorriso irritante, nem sequer convencido;
ele apenas me encara por três longos segundos antes de voltar a movimentar
sua mão, agora correndo sobre o ombro de Cami, fazendo-a olhar para cima
e dar um pequeno sorriso íntimo demais, que é retribuído. Ele sorri para ela,
mas não da forma irritante que faz para mim, é outro tipo de sorriso, um
gentil, complacente.
É humilhante saber que TJ está tão concentrado em outra garota que
não seja eu, mas humilhante pelos motivos errados e outra vez, eu cogito
voltar, mas eu me vejo acenando de volta para Cami, conforme me aproximo
de todos eles. McCarter se vira para trás, acompanhando o sorriso de
Camille e Joshua o acompanha, sorrindo para mim também. E mesmo que eu
esteja cansada por ter acabado de chegar do bar, e tenha feito planos que
envolvem um cobertor e um ar-condicionado, eu sigo caminhando até eles,
sentindo o calor me atingir, conforme eu sinto o suor escorrer em minhas
costas e seios.
TJ se vira para mim, se afastando da garota na qual conversa, de forma
abrupta, como se acabasse de ser descoberto e odeio ouvir Brad soltar um
risinho logo ao lado dele. O que eu realmente sou para aquelas pessoas? De
fato, nunca me perguntei até aquele momento, mas estou fazendo a cada
novo passo em suas direções. Pulo uma grande ponte que divide meu eu
popular que todos amam, e meu eu reservado que se afastou dos amigos
depois do high school4 e que todos passaram a tolerar.
Porém, o que eu realmente gosto mais? Ser o centro das atenções ou
não ser notada por ninguém? Provavelmente a segunda opção, mas por que
eu me sinto dessa forma? Como se além de estar fazendo algo errado,
também não estou me encaixando naquele lugar, nem em qualquer outro. TJ
caminha em minha direção, passando seu braço pesado sobre os meus
ombros, enquanto beija minha bochecha e eu me pergunto por que diabos ele
não me beijou na boca, como sempre faz. O que fizemos com nossa
amizade? Nós somos unidos, abertos e espontâneos e agora nos tornamos um
casal, no mínimo, esquisito.
— Ei — TJ me cumprimenta. — Essa é a Jenny, ela é prima do
McCarter.
— Oi, é um prazer conhecê-la. — Ela estica a mão, as unhas compridas
em um tom perfeito de vermelho.
Olho para ela, tentando avaliar se estendo minha mão e a cumprimento
e passo por idiota, ou se a ignoro e passo por idiota também. O que me fará
menos idiota, afinal? Não faço ideia, então estendo a mão em sua direção.
Minhas unhas curtas, pintadas de preto, descascam pelo uso excessivo da
água no bar.
— Oi. — Puxo minha mão o mais rápido que posso e limpo na lateral
do meu vestido canelado sem que ninguém perceba.
— Olá. — Os outros me saudam em uníssono, e ergo a mão no ar,
tentando cumprimentar a todos de uma única vez.
Maximum sequer olha na minha direção.
— Sobre o que estão conversando? — pergunto de forma natural, mas
TJ me conhece melhor do que isso.
Ele é meu melhor amigo. Sabe que eu estou prestes a ser uma filha da
puta e mandar os dois se foderem – ou foderem um ao outro – na frente de
todo mundo.
— Sobre tudo.
— Nada de mais.
Os dois falam ao mesmo tempo e ergo as sobrancelhas.
— Decidam.
— Sobre tudo e nada ao mesmo tempo — TJ se adianta.
— Legal. — Caminho até a roda de amigos, pegando uma cerveja no
cooler. — Continuem. — Sento-me ao lado de Max e Cami, e aponto para
TJ e sei lá como diabos ela se chama.
— E então, McCarter, qual é a do sorrisinho? Está se divertindo
também com meu namorado egoísta ou você só é um idiota?
Ouço Max suspirar ao meu lado, mas não o encaro. Dou alguns goles
na minha bebida e ela se mistura ao drink com vodca que eu fiz antes de
deixar a casa.
— Não me mete nessa, Kyra.
Ugh!
— Você realmente está se divertindo, não é? Por que não conta ao TJ
que tentou entrar nas minhas calças há dois meses?
— Que porra você está falando? — TJ pergunta entredentes.
— Então agora você se importa? — solto uma risada incrédula,
desejando internamente que eu pare de fazer isso, mas não consigo.
— Saia da minha casa, porra! — meu namorado grita para o seu amigo.
— Não me faça esmurrar sua cara de merda!
— TJ — a garota o policia, segurando seu ombro.
— Isso, escute ela, Tales — incentivo-o, odiando-me por estar dando
vexame.
— Kyra, não faça isso — Cami sussurra no meu ouvido e eu a ignoro.
Não sou capaz de encará-la, uma vez que ela parece a pessoa mais
sensata desse círculo.
— Saia. — Ty puxa McCarter pelo colarinho e eu me pergunto de qual
buraco ele saiu. Ele acerta um soco no nariz perfeito do amigo e eu pulo na
direção deles.
— Porra, Ty! — resmungo. Eu realmente não quis começar uma briga.
— Eu não estava realmente dando em cima dela — Gregori McCarter
se defende.
— Você está chamando a Ky de mentirosa, porra?
— Deixe-o ir, Ty — peço e ele finalmente o larga e o ato repentino faz
com que seu corpo magro cambaleie para trás.
— Filhos da puta... — Gregori murmura, enquanto caminha em direção
a saída.
Ty respira profundamente por um segundo, então me encara. Eu o
conheço o suficiente para saber que ele está se certificando de que eu ficarei
bem e, ao encontrar um pequeno sorriso no meu rosto, ele assente e sorri de
volta, antes de voltar para onde diabos saiu. Tento controlar minha
respiração, segurando a garrafa de cerveja como se minha vida dependesse
dela, então me afasto deles.
— Kyra? — A voz de TJ atravessa o espaço que nos separa, mesmo
que o som esteja alto.
Viro-me para ele, ergo a minha garrafa e grito em sua direção:
— Você está livre, Tales. Boa noite.
Eu conheço todas as suas expressões, quando está furioso, cansado,
estressado, feliz, zangado e enciumado. Portanto, eu não preciso estudá-lo
por muito tempo para saber que o sentimento que o domina naquele
momento é de alívio. TJ está se sentindo aliviado por ter rompido com ele.
Então, por que eu não me sinto derrotada ao constatar isso? Devia estar aos
prantos, gritando com ele no meio da festa, mandando-o se foder ao mesmo
tempo que desejo que vá para a cama comigo. Mas não. Eu não quero TJ,
apenas desejo estar debaixo dos meus lençóis e descansar para o meu turno
no dia seguinte.
Subo as escadas, soltando o coque apertado que fiz no topo da minha
cabeça, conforme sinto meus cabelos caírem até o meio das minhas costas,
agradecendo o fato de que não preciso parecer melhor do que ninguém,
melhor do que isso, de não me sentir obrigada e estar bem, pela primeira
vez. Seco a lágrima solitária que corre sobre o meu rosto. Não estou
exatamente triste por Tales, e sim, por nossa amizade. A grande merda de
arriscar estar em um relacionamento com um de seus melhores amigos é
que, se não der certo, você perde em dobro.
Esfrego o rosto, não me importando com a bagunça causada pela
mistura das lágrimas com o rímel. Provavelmente eu dormirei dessa forma,
uma vez que não quero perder mais nem um minuto dessa noite de merda,
então é muito provável que eu não passe um tempo com meu removedor de
maquiagem. Mas, ao chegar em frente à primeira porta do corredor, onde é o
quarto de Max, uma mão segura meu antebraço e me arrasta para dentro.
Ele não parece ter um segundo plano enquanto me prensa contra a porta
fechada do seu quarto. Suas sobrancelhas se unem confusas e sua boca se
curva em um pequeno sorriso, uma covinha se aprofunda graciosamente na
bochecha. Segura o meu rosto com a ponta dos dedos, passando o polegar
sobre minha pele, juntando uma lágrima solitária.
Desvio meus olhos para baixo, em seu pescoço, tentando evitar o
pacote de perfeição que é seu rosto, mas acontece que eu não estou longe de
sentir atração por aquela região do seu corpo também, uma vez que ela é
coberta pelo desenho de uma flor de lótus que escondem uma pele perfeita.
Vejo-me totalmente perdida quando ele me surpreende com um abraço
apertado, sua mão direita segura minha nuca, enquanto a esquerda aperta
minha cintura. Posso senti-lo por toda parte, nossas pernas entrelaçadas, os
quadris, minha barriga colada à sua, meu rosto em seu peito, sua boca em
meus cabelos.
Meu coração bate forte demais, e o dele não está tão diferente. Sou
capaz de ouvi-lo bater tão rápido e forte quanto o meu. Deslizo minhas mãos
até a bainha da sua camiseta e enrosco meus dedos nela. Sinto que estou
prestes a desmoronar, mas não é por ter rompido meu relacionamento com
TJ.
— Me desculpe pelo que eu disse a você...
— Tudo bem, Oklahoma. — Seus olhos verdes brilham de uma forma
surreal.
Um pequeno sorriso se forma em meus lábios ao mesmo tempo que eu
luto para me afastar dele, sentindo a sua falta iminente.
— Realmente não quis agir como uma cretina.
Seus olhos estão presos aos meus e um sorriso dança em seu rosto,
fazendo-o parecer um menino.
— Você já apontou uma arma e um spray de pimenta para mim, então
acho que vou superar um comentário idiota.
Eu rio.
— Às vezes, algumas palavras ferem mais do que um ato de violência.
— Apenas quando elas são ditas para realmente ferir alguém, o que eu
sei que não é o seu caso. Você não é essa pessoa.
— Você sequer me conhece, Max. Você chegou há tão pouco tempo e...
— Às vezes, eu sinto que a conheço desde que nasci.
— É como me sinto também, mas no meu caso faz mais sentido.
— Por quê? — pergunta, curioso.
Max se senta na beirada da minha cama, as pernas abertas, os ombros
um pouco caídos, sentindo-se confortável trancado no quarto comigo
enquanto uma festa acontece lá embaixo.
— Porque cresci com Ty e TJ, então é como se também fosse você. Não
sei se faz sentido.
Ele desvia o olhar.
— É estranho descobrir que outras duas pessoas são idênticas a você —
confessa, passando a mão na bagunça que está seu cabelo mal cortado.
— Nem consigo imaginar.
Ele cruza os braços sobre o peito, e a única coisa que eu consigo pensar
é que os quero em volta de mim, mas o pensamento de estar com Max me
deixa louca. Ele faz meu estômago se contorcer e minha respiração
desregular apenas em olhar na minha direção. Como é possível que em tão
pouco tempo ele possa ser capaz de me fazer odiá-lo e adorá-lo com tanta
força? Talvez eu esteja mesmo vivendo uma maldição.
— Olha só para nós, nem estamos brigando. — Ergo as sobrancelhas,
sugestivamente.
— Isso porque estamos conversando há três minutos.
— Talvez.
— E porque você nem está me fazendo fugir de você. — Meu rosto
aquece.
Eu me viro de costas para que ele não me veja corar, então caminho até
o banheiro, sentindo meu estômago se contorcer com a imagem dele nu.
Deus, por que ele mexe dessa forma comigo? Acendo a luz e quase morro de
vergonha ao ver meu rosto todo manchado pelo rímel. Só pode ser
brincadeira que Max viu isso.
Inclino-me sobre a pia, lavando o rosto, retirando toda a maquiagem e
depois o seco na toalha jogada sobre o mármore. Tudo cheira a ele, assim
como cada metro quadrado desse quarto. Aproveito para passar o olho sobre
cada maldito detalhe. Não é exatamente como se ele morasse ali, tudo está
organizado, sua pasta de dente ao lado de um barbeador, ao lado de um
xampu que não fica dentro do boxe. Como se a qualquer momento ele fosse
enfiar tudo na mochila e sumir. Por que o pensamento de Max partindo me
causa uma sensação tão ruim?
Arrasto o pufe similar ao que eu tenho no meu quarto até a frente da
cama e me deito sobre ele. Ainda não estou disposta a deixar o quarto,
mesmo que pareça errado estar lá com ele. É estranho estar sendo consolada
por uma pessoa que tem exatamente o mesmo rosto daquela que me magoou.
Não que eu culpe apenas TJ pelo nosso relacionamento fracassado, eu
também tenho culpa, e não é por ter acabado, é porque nem devia ter
começado.
— Você fica muito melhor sem todas aquelas coisas. — Sua voz corta o
silêncio que preenche cada espaço do quarto.
— Ninguém além da Blanca Suarez fica linda com rímel escorrendo em
seu rosto.
— Não estou falando sobre aquela coisa preta, estou falando sobre a
maquiagem que usa todos os dias.
Eu o encaro curiosa.
— Claro, você já bebeu sua cota de álcool para não enxergar meus
poros gigantes. Além disso é de noite, está escuro aqui.
— Posso acender a luz e olhar você perto o suficiente e sei que não vou
mudar de ideia.
— Não, é melhor você ficar bem aonde está — atropelo as palavras.
Não posso deixá-lo se aproximar demais, mas também não consigo me
afastar. Max solta uma risadinha, que me faz sorrir de volta. Ele usa uma
bermuda jeans rasgada na bainha e uma regata preta, cavada, que quase
nunca tira. Suas duas pernas são cobertas por desenhos, mas está escuro o
suficiente para que eu possa enxergar com exatidão o que são. Também não
quero perguntar demais, quero saber sobre ele tanto quanto sinto que não
posso.
Ele está com os cotovelos sobre as coxas firmes, a cabeça inclinada
para mim. Uma mecha de cabelo cai sobre a sua testa, de modo que é capaz
de tocar a ponta do seu nariz. Tudo nele é perfeito, intacto, mesmo que seja
tão bruto. Seu maxilar é marcado, másculo, suas sobrancelhas escuras e
grossas, mas sua pele é tão limpa e suave que me causa inveja. Max é igual
aos seus irmãos, mas há algo que o torna muito diferente, como se ele fosse
o mais bonito dos três.
— Você não pode ficar correndo seus olhos sobre mim dessa forma e
depois pedir para que eu não chegue perto. — Seu sotaque é tão foda e
bonito como ele.
— Eu estou com a cabeça longe — minto.
— Entendi.
Ele não ficaria tão decepcionado se lesse mentes.
— Você o ama? — Sua voz corta o silêncio que preenche cada espaço
do quarto.
— TJ? — pergunto desesperada. Afinal, quem mais era?
— Sim, o TJ.
— Sim.
Ele assente enquanto parece avaliar minha resposta.
— Você o conhece desde o elementary school, certo?
— Hum-hum... Isso.
Então ele sorri, revelando seus dentes perfeitos, contornados por uma
boca que também é um pecado de tão perfeita. Tão grossa e bem desenhada
que eu posso jurar que foi moldada.
Deus era tão injusto.
— Você está confusa, se agarrou ao que acha que sente por ele.
— Você é psicólogo agora?
— Não, sou apenas a porra de um mecânico fodido e sem cliente.
Eu me obrigo a rir.
— Talvez você seja um péssimo mecânico.
— Ou talvez eu tenha abandonado todos os meus clientes para estar
aqui.
Por um momento, eu me esqueci de que Max havia mudado de estado.
Deve ser difícil para ele ter deixado sua vida para estar aqui.
— Eu amo o Tales, nós tivemos um bom momento juntos, nos
apaixonamos, ou sei lá o quê, mas não rolou.
— Talvez você acredite que estava apaixonada, mas era apenas a
imagem em si e tudo mais, você sabe, ele é muito gostoso e tal.
Dou uma gargalhada tão alta que parece um animal sendo estrangulado.
— Você só pode estar brincando. É fácil para você dizer isso já que é
nada menos que seu irmão gêmeo.
— Obviamente. Só estava esperando o momento em que você confirma
que ele é gostoso.
— Para que possa olhar para mim com um ar de arrogância por eu ter
confessado que acho você gostoso.
— Você acha? — insiste, com um sorriso enorme.
Nem mesmo TJ sorri tanto como ele o faz naquele momento.
— Eu acho que você é insuportável. Apenas. — Cruzo os braços sobre
os seios, me afundando ainda mais no pufe.
— Mas estou certo sobre TJ. — Ele deixa de sorrir. — E sobre eu ser
gostoso.
— Sim, você está — confesso.
Um sorriso diabólico corre sobre seu rosto.
— Está certo sobre o que disse sobre meu relacionamento com TJ.
Talvez eu tenha confundido tudo.
Ele assente.
— Ele era um namorado de merda, de qualquer forma.
— Apenas porque não me amava da forma correta — o defendo, apesar
de tudo.
— Você é leal. Eu gosto disso. — Sua voz se torna um pequeno
murmúrio pesado e arrastado.
— É, eu sou — reforço.
— Então por que não disse a eles sobre o que eu carrego na mochila,
Oklahoma?
Está aí uma boa pergunta. Eu não sei exatamente o que me fez omitir
aquele pequeno detalhe. Confio suas seguranças em Max, posso sentir que
ele não está lá para ferir ninguém, por isso não vejo problema em fazê-lo,
mas não consigo saber por que havia escondido isso deles.
— Não acho que seria necessário fazer um alarme por pouca coisa.
— Falou a garota que apontou a arma no meu peito e ameaçou atirar.
Sorrio, lembrando-me da cena. Mal posso imaginar que fiz isso.
— Me desculpa por isso.
Max puxa meus pés para seu colo e meu coração acelera, ele começa a
massageá-los fortemente e eu quero gemer, mas me contenho. Não quero
deixar isso sugestivo. Um gemido involuntário pode ser um grande problema
entre nós.
— Eu já superei. — Max parece tão concentrado nos meus pés que
agradeço o fato de estar com as unhas feitas e limpas.
— E então, o que me diz sobre ter mentido sobre a carona?
— Como sabe que eu menti?
Ele sorri, ainda observando suas mãos massagearem meus pés.
— Tenho uma puta audição, mas você deve saber sobre isso também,
uma vez que conhece cada traço meu.
— Sim eu conheço. — No desespero de desconversar sobre a carona,
acabo me metendo em responder uma pergunta ainda pior.
Meu rosto cora. Obviamente eu levo aquela questão para o lado
pessoal, pensando no belo pau que eu sei que ele tem.
— Eu não estava falando sobre Maximum.
— É estranho você apelidar seu membro com o seu nome.
— Não quando faz sentido. — Um pequeno sorriso surge em seu rosto,
enquanto diminui o aperto, até que ele para, as mãos apoiadas nos meus pés.
Eu não quero que ele pare.
— Boa noite, Max. — Eu me levanto.
É minha hora, eu sei, está ficando estranho demais, ou estranhamente
bom demais. Mas eu não posso fazê-lo, não posso dar margem àquilo. Não
faz sentido que esteja deixando TJ e iniciando um lance esquisito com Max,
que é igual a ele. Eu estou partindo em poucos meses, afinal, então a única
coisa que deve me manter ocupada nos próximos dias são os planos que eu
estarei fazendo para o futuro.
— Kyra?
A voz de TJ penetra meu quarto através da porta fechada e, pelo seu
tom brando, ele quer conversar. São sete da manhã e há apenas uns cinco
minutos que todas as vozes cessaram e soube que a festa acabou. Eu mal
preguei o olho até então. Arrasto meus pés para fora da minha cama de
solteiro, respirando fundo. Não sei como ter aquela conversa com TJ, mas
sei que preciso dela. Sinto demais por ter deixado tudo isso chegar aonde
está, sinto por mim, por ele, por nossa amizade.
— Entre! — grito de volta.
A porta se abre, ele parece péssimo, não pessimamente bêbado, apenas
péssimo e ponto. Um pequeno sorriso cauteloso surge conforme se aproxima
e sua aproximação moderada me faz ter certeza de que ele havia
compreendido o nosso término. Mesmo assim, ele esperou a festa acabar
para termos nossa conversa. Eu nunca havia de fato estado em primeiros
planos, não sei por qual razão ainda estou surpresa.
— Eu apenas sinto que precisamos ter uma conversa — confessa,
passando a mão no pescoço.
— Sim, desde a hora que nós tivemos nosso pequeno momento ou você
começou a sentir quando todos partiram e se viu só?
Ele une as sobrancelhas, avaliando o que eu acabo de dizer.
— Eu não sabia o que dizer exatamente. — Ele se senta no chão, bem à
minha frente, as pernas cruzadas, então inclina seu queixo para mim.
— E o que mudou? Sua prostituta lá embaixo foi embora?
As palavras saem amargas da minha boca. A quem eu quero enganar?
— Deus, Kyra, ela é apenas uma amiga!
— Sim, nós também éramos.
Ele deixa escapar um suspiro pesado.
— Sim, e fodemos tudo.
— Claramente. — Cruzo os braços sobre os seios, me sentindo
incomodada por estar sem sutiã, mesmo que ele esteja cansado de me ver
nua.
— Você está bem com isso? — pergunta e eu assinto. — Tudo bem,
apenas para verificar.
— Tudo bem...
— Sabe, quando eu perguntei se você me amava, você disse sim, mas,
apenas quando eu tive meu momento para refletir a respeito, eu percebi que
nos amamos loucamente, mas não mais do que como amigos.
— Eu sei — sussurro, desviando meu olhar. — Eu sei, TJ. Eu amo
você, e realmente não quero que o que tivemos estrague tudo o que éramos.
Sinto uma lágrima escorrer sobre minha bochecha e ele se levanta,
ficando de joelhos à minha frente, pronto para secá-la. Tales segura meu
rosto com as palmas de sua mão e sorri para mim, colando sua testa a minha.
Seguro seus punhos e deixo que o choro escape, em uma mistura de alívio,
medo e pesar.
— Eu amo você.
— Eu também amo você.
Puxo-o para um abraço apertado, agradecendo ao fato de nenhum de
nós dois sairmos feridos disso.
— Essa casa vai ser um inferno quando você for embora — confessa e
meu coração afunda.
— Minha vida vai ser um inferno sem vocês dois, TJ.
Assim que as palavras deixam minha boca, eu percebo que não são
apenas dos dois que eu sentirei falta.
Toco a campainha, mas ela não funciona, então bato na porta e uma
menina de cabelos ondulados a atende. Seus olhos rolam por todo o meu
corpo, dos pés a minha cabeça, ela se curva indiscretamente para olhar
minha bunda, suas sobrancelhas arqueando para cima, então diz:
— Oi, eu sou a Mackenzie e você é a Kyra, não é?
— Por favor, não me diga que me reconheceu pela minha bunda.
Ela sorri, revelando duas janelas nos dentes.
— Minha irmã Beth disse que você tinha uma... bela comissão de trás.
— Ela dá de ombros e gargalho.
— Você tem um belo negócio aí. — Aponto para os seus dentes e ela
enfia a língua entre o buraco.
— Um amigo da minha irmã os arrancou.
Eu me pergunto se foi TJ.
— Você é a namorada do Tales. — Ela parece cautelosa, como se
estivesse fazendo algo errado.
— Não mais.
— Vocês romperam! — Mackenzie está gritando, eu posso até mesmo
dizer que ela parece feliz.
— Sim, nós éramos amigos e acabamos confundindo as coisas.
— Oh. Certo. — Ela esfrega a ponta do seu sapato para um lado e
depois para o outro, encarando seus pés.
— Quem é, Kenzie? — A voz de Beth vem de algum canto da casa.
— É a ex-namorada de Tales.
A forma como Mackenzie cita a nova informação me faz acreditar que
ela quer chamar a atenção da irmã para esse fato e eu me sinto ansiosa,
talvez um pouco chateada com a forma como elas parecem falar sobre mim
na minha ausência.
— Oh, oi. — Beth usa luvas amarelas, seus cabelos estão presos em um
coque alto e ela veste um avental desfiado na bainha pelo tempo.
— Oi.
Sua expressão é de espanto, portanto sei que TJ já lhe informara sobre
nosso show de horrores da noite passada.
— Feliz aniversário, Ky — deseja-me com cautela.
Elizabeth parece estar participando de um debate interno onde se
pergunta se deve me abraçar ou não, então dou um passo para a frente e ela
também, envolvendo-me em um abraço que eu sei que significa muito mais
do que uma simples felicitação.
— Obrigada — ela murmura.
— Era para eu estar agradecendo, não você.
Elizabeth sorri sem graça.
— Vamos dar uma volta. — Ela tira as luvas e o avental e os joga
dentro de casa.
— Claro. — Enfio as mãos no bolso do meu short.
— Kenzie, fica de olho na mamãe, eu volto em cinco minutos.
Os protestos de sua irmã são abafados quando Beth fecha a porta.
— Como vão as coisas em casa?
— Na mesma, meu pai ainda continua se afundando na sua merda e
minha mãe está em crise.
Ela não gosta de falar sobre sua vida pessoal, tem uma vida difícil e diz
que reclamar só torna tudo ainda pior, por isso ela evita entrar em detalhes.
Um dia de cada vez. A única coisa que eu sei é que seu pai bebe demais e
bate nela, em sua mãe e irmã, até que Beth o enfrentou uma vez. Outro
detalhe que ela comenta comigo, em um momento, é que sua mãe sofre de
alguma doença mental, e que ela não deixa a casa por causa da irmã ainda
menor de idade, além disso, sua mãe precisa de ajuda quando está em crise.
Ela está presa onde está.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, se a vida fosse uma pessoa, ela seria alguém que nasceu
com um cabo de vassoura enfiado na bunda.
Eu sorrio.
— Parece que você está descrevendo o TJ.
— Oh, sim. — Ela sorri, envergonhada. — Eu sinto muito por ter
enganado você, Ky, mas eu... apenas aconteceu.
— Deus, eu sei. Eu... sinto muito por todos os detalhes que você teve
que ouvir de mim. — Arranco uma folha de Hera7 que cobre o muro no qual
nós passamos em frente.
— Achei que você surtaria, Kyra. Eu nunca podia esperar essa reação.
— Talvez eu tivesse surtado se tivesse ficado sabendo há um mês e
meio.
— Antes de Max — ela murmura.
— Sim.
— Parece que vocês se acertaram.
— Sim, fizemos. — Sinto meu rosto corar. — TJ sabe sobre nós agora.
— Ele me falou.
É estranho não sentir como se fosse mais a melhor amiga de TJ. Saber
que sempre estive um passo atrás de onde eu achava que estava, saber que
Beth sempre foi muito mais para ele, que sempre esteve à minha frente,
sempre soube muito mais do que eu. Eu pareço ter sido enganada, mas
misteriosamente compreendo. Eles certamente se amavam, e não da forma
como nós dois o fazíamos.
— Certo...
— Eu... — ela começa, mas certamente não sabe como dizer. — É
estranho falar sobre Tales com você.
— Eu sei, me desculpa, você não precisa dizer nada. Não vim atrás de
detalhes, Beth.
— Não? — Ela parece confusa.
— Eu só não queria um clima estranho hoje no bar. — A compreensão
parece ter passado pelo seu rosto. — Nós não teríamos tempo para conversar
sobre isso e eu falaria que estou de boa com tudo e você não acreditaria,
então nós não deixaríamos tudo em pratos limpos e agiríamos por uma noite
inteira como duas loucas desconhecidas.
Ela dá uma risada alta.
— Sim, parece exatamente como eu achei que seria.
— Ao menos nós podemos começar no zero então. — Ergo as mãos no
ar. — Você está livre para o TJ e eu posso experimentar o que quer que seja
que esteja acontecendo com Max.
— Oh. Não! — Ela passa as mãos no rosto e nós contornamos uma
lixeira, voltando para sua casa.
— Por que não? — pergunto confusa.
— Tales e eu somos amigos, Ky. Eu o amo, mas nós dois não fizemos
bem ao outro quando estávamos juntos, acredite.
— Bem, vocês sabem de suas merdas melhor do que ninguém.
— É complicado — afirma com um sorriso culpado.
Nós paramos em frente à sua casa e sorrimos ao avistar Mackenzie
espiando pela janela.
— Eu não posso arrastar Tales para isso. — Ela aponta para a casa.
— Que engraçado — comento. — Porque parece que ele está afundado
inteiramente nisso.
— Eu sinto muito — Tray murmura.
— Se eu ganhasse um real por todas as vezes que ouvi ou disse essa
frase nas últimas vinte e quatro horas eu estava rica.
— É complicado — ela lamenta.
— Beth dizia a mesma coisa sobre TJ e eu sequer sonhava com isso.
Sim, eu atualizei minha melhor amiga e agora ela sabe cada maldito
pedaço de merda que me afundo.
— Quis contar pra você um milhão de vezes, mas fazê-lo só tornaria
ainda mais real e eu não queria que fosse.
— Estamos falando de anos, Tray.
— Eu ainda nem consigo pensar muito sobre isso. É como se eu
estivesse me pregando uma peça.
Ela solta um suspiro pesado do outro lado da linha.
— Todas as vezes em que você o evitou, que não quis vir aqui por
causa dele, no feriado de quatro de julho... O que houve?
— Ele soube que eu estaria na cidade. Ty não lida bem com o fato de
estarmos perto demais.
— Isso parece quente.
— Parece doentio para mim — desdenha, mas eu a conheço o
suficiente para saber que há muito mais.
— Você o ama.
— Ele não faz bem para mim.
— Não foi uma pergunta, Tray.
Ela se mantém em silêncio e sua falta de diálogo apenas responde ao
meu comentário.
— Nós tivemos um lance e acabou, Tyson não é pra mim.
Uma parte minha não gosta da forma como ela fala sobre ele; mas a
outra parte também não quer minha amiga com alguém como Tyson. É
confuso, afinal os dois são meus melhores amigos.
— Não parece realmente que acabou, Tracy.
— Acabou pra mim — afirma entredentes e eu sei que cutuquei sua
ferida. — Estarei de volta a Boston em meio ano e apenas desejo não cruzar
mais o seu caminho.
Oh, uau, bem... parece certamente que está longe de acabar.
— Porra... — Passo a mão na minha testa e empurro meus fios presos
ao meu suor para trás. — Você e Tyson, onde diabos estavam enfiados os
meus olhos...
— No seu próprio rabo — responde e eu sorrio.
Maldita mentirosa!
— Tudo bem — suspiro. — Beth e TJ e você e Ty sabem o que é
melhor para vocês, afinal. Eu não tenho nada com suas vidas, não é
realmente da minha conta, mas apenas não esconda mais nada de mim se
ainda me quiser por perto.
— Uau, você está ameaçando não ser mais minha amiga? Quantos
anos você tem? Dez?
— Eu estou falando sério.
— Okay, Ky. Eu sinto...
— Não desperte o inferno fora de mim outra vez.
Ela dá uma risadinha, que me faz rir de volta.
— Jamais, Oklahoma.
— Adeus, Tray. — Desligo antes que ela possa continuar pegando no
meu pé.
Assim que tiro meus pés da piscina, Tyson me surpreende ao tocar
meus joelhos, empurrando minhas pernas de volta para onde estavam. Ele
enfia seus pés na água e os balança, observando o brilho do sol refletir nela
ao criar pequenas ondas.
— Era ela, não era? — ele pergunta, sua voz é diferente de tudo o que
eu conheço.
— Sim.
Acho que fará algum comentário sobre Tray, mas ele apenas solta um
suspiro estrangulado e me surpreende ao dizer:
— Eu sabia que éramos adotados e conheci nosso pai biológico no
nosso aniversário de dezoito anos.
Meus olhos se arregalam a ponto de eu acreditar que saltarão do meu
rosto. Não é possível que ele esteja falando a verdade.
— Por isso eu agi como um idiota depois que Max chegou a nossa
porta. Não que eu não aja como um na maior parte do tempo, de qualquer
forma.
— Co-mo... como? — gaguejo.
— Eu não soube como dizer a TJ, eu não queria foder com a imagem
que ele tinha da nossa família. — Ty passa as mãos no rosto e grunhe, como
se sua cabeça estivesse pegando fogo. — Você o conhece, Kyra. Dizer ao TJ
que eles não eram nossos pais, aos seus dezoito anos... não era uma boa
ideia.
Sim, TJ aos dezoito anos estava afundado em sexo e álcool e
provavelmente se perderia nesse caminho. Pensando sobre esse assunto, é
fácil afirmar que é muito provável que ele não fosse a mesma pessoa hoje,
talvez sequer teria ido à faculdade.
— Eu não sei o que dizer.
— Eu sinto que tô me afundando cada vez mais, porra! — Ele começa a
balançar seu corpo para frente e para trás. — Eu fiz para protegê-lo, mas
tudo isso apenas vai acabar comigo sendo um egoísta filho da puta.
— Ele contou sobre haver outro irmão? — pergunto, rezando para que
não.
— Não, é claro que não! Que tipo de pessoa você acha que eu sou,
porra? — Ele parece realmente ofendido com a minha pergunta.
— Desculpa, Ty, eu precisava perguntar.
Coloco minha mão em sua coxa, tentando mostrar a ele que eu estou
com ele nisso e Tyson me surpreende ao colocar sua mão sobre a minha.
Seus olhos estão fixos nela e ele a segura em seu colo, ainda se balançando.
Aquele pequeno gesto é grandioso demais, porque ele sequer deixa que eu o
abrace, é sempre algo muito desconfortável e, de repente, ele parece estar
sem suas armaduras, deixando que eu o veja nu e cru.
— Ele nos procurou e disse que era nosso pai, no começo eu não pude
acreditar, mas, quando eu olhei para o meu pai, eu vi seu rosto calmo, como
se ele estivesse esperando por aquele momento sua vida inteira. Então, olhei
para o cara e, puta merda, nós tínhamos o mesmo tom de verde nos olhos e
nossos cabelos eram da mesma cor. Até mesmo o nariz, tudo era parecido
demais.
— Uau...
— Meu pai... o Jimmy, perguntou o que ele queria.
— E aí?
— Ele respondeu que estava nos procurando há algum tempo e que
gostaria muito que fôssemos viver com ele, então meu pai começou a gritar
sobre o tipo de pai que vende dois bebês e o choque passou pelo seu rosto.
Ele parecia não saber que envolvia dinheiro. Ele não estava junto com a...
nossa mãe biológica na época. Fiquei tão chocado quanto ele, eu não fazia
ideia de que, além de Jimmy não ser nosso pai, ainda havia nos comprado.
— Parece tão confuso, Ty... eu... não sei o que dizer. Por que ele não
falaria sobre haver outra criança?
— Eu não sei, mas... realmente acreditei sobre ele achar que nós
tivéssemos sido adotados legalmente. Nossa mãe era uma viciada, ele
também teve sua cota de drogas, pelo que eu sei, então parece que nosso
fraco pelas bebidas e todas as merdas que já usamos tem a ver com um
passado de merda.
— Vocês não são como eles.
— Não importa com quem somos ou não parecidos. Ele veio nos
procurar, eu acabei com o punho em seu nariz e ele nunca falou sobre outro
filho. Talvez fosse sua forma de se vingar de nós.
— E você nunca mais o procurou?
Ele nega.
— Ao sair da nossa casa naquele dia, meu pai pediu para que seu
motorista na época o seguisse, mas foi alguns tantos quilômetros até que ele
acabou na Pensilvânia, apenas para constar que morava em uma casa velha.
Um cara sozinho, sem esposa, sem filhos, ou seja, não temos mais irmãos.
— Eu sinto muito, Ty, que você tenha guardado isso por tanto tempo.
E eu realmente sinto, sequer consigo imaginar o quão duro fora para
Tyson ter que guardar esse segredo do seu irmão. Saber que eram adotados,
que haviam sido vendidos quando bebês, que o pai que amava e que o havia
criado com amor, na verdade, o havia comprado. Como ele diria isso a TJ?
Não havia forma alguma que não resultasse nele fazendo um monte de
merda. Agora eu entendo o comportamento estranho de Ty no último mês,
após a chegada de Max.
Não tem apenas a ver com o fato dele estar escondendo Tray de mim,
tem a ver com ele saber da história toda. Enquanto eles aguardavam seu pai
por duas semanas, para que contasse a eles a história que Tyson sabia de cor,
ele devia se sentir como um grande pedaço de merda por ter mentido para o
irmão, enquanto Jimmy respondia por ele que ele não sabia de nada. Deus,
eu nem sequer era capaz de juntar todas aquelas peças do quebra-cabeça.
— Como eu posso dizer que, graças a mim, nós perdemos os últimos
cinco anos com Max? Imagina o quanto nós poderíamos tê-lo ajudado, Ky!
Ele poderia ter feito faculdade.
— Ele não estava passando fome, Ty. Ele foi acolhido por alguém. O
cara deu a ele um teto, comida e uma profissão. Ele está bem, e está aqui
agora.
E eu me apaixonei por ele.
— Eu... Eu não sei como contar.
— Não há motivos para contar.
Meu comentário o faz arregalar os olhos e prender o ar.
— Você deu um soco nele, okay, ele mereceu, porra! Ele vendeu vocês!
Tanto Max ou TJ fariam a mesma coisa. E quem é que garante que ele não
contou que vocês eram três apenas porque você bateu nele? Talvez ele não
soubesse, ou talvez ele tivesse um motivo, quem é que sabe?
— Eu não sei...
— É claro que não, e contar não fará com que saibam. Vocês estão bem
agora, não estão?
Ele assente, esfregando as mãos no rosto. Ele parece prestes a
enlouquecer.
— Sim, porra, sim, nós estamos.
Aperto sua perna e dou dois tapinhas nela.
— Então é isso, garoto. Não há mais passado para vocês, apenas um
futuro, portanto, é perda de tempo olhar para trás.
— Se TJ estivesse aqui, ele diria que quem vive de passado é museu.
Eu rio.
— Sim, ele é um idiota, mas é um idiota sábio. Você fez isso para
protegê-lo, de qualquer forma, seu pai tinha o direito de contar a ele. O que
acha que teria acontecido se você tivesse contado? TJ teria duas semanas de
imaginação livre e estaria condenando seu pai por ter comprado vocês.
— É, faz sentido.
— Claro que faz. As coisas apenas acontecem da forma que deveria ser.
— Dou de ombros.
— Tray discordaria.
O fato dele estar falando sobre ela com tanta propriedade me faz pensar
no quanto a conhece.
— Sim, ela discordaria, mas apenas porque acha que há um cálculo
para tudo. Os melhores conselhos vêm de pessoas de Humanas.
— Você sempre esteve perto o suficiente para que eu soubesse que
tinha alguém, Ky — ele murmura, eu sabia que era difícil para ele falar
sobre sentimentos. — Eu sinto muito por não ter contado sobre ela. E sinto
ainda mais por contar tudo isso a você e fazê-la carregar esse segredo de
merda comigo.
— Nós vamos ficar bem.
— Eu realmente espero que sim, porque eu tô cansado pra caralho! —
Ele apoia a mão em cada lado do seu quadril e se levanta. — Feliz
aniversário, Kyra — murmura, então se afasta sem dizer mais nenhuma
palavra.
Um segredo. Que belo presente de merda, Ty!
— Ei, Benny, eu só acho que deveria existir uma lei que obriga o
empregador a liberar o funcionário no dia do aniversário dele.
A cabeça de Benny fica tão roxa quanto o cabelo de Beth.
— Você não é paga para achar nada. — Ele entra no escritório, batendo
a porta atrás dele.
— Ele fica muito agitado quando os meninos estão aqui. — Elizabeth
encara o pano em suas mãos.
— Quem, em nome de Deus, não ficaria? Olha só para aquilo. —
Aponto para os três, em frente ao espelho que fica ao lado da mesa de bilhar.
— Três deles, olha bem para aquilo. Eu sinto que estou dentro de um filme
pornô e eu sinto muito por ter apenas três buracos.
A risada de Beth é tão alta que os três olham sobre os ombros, fazendo
sua cabeça quase explodir com o rubor. Eu sequer me importo em olhar para
os outros dois irmãos, porque tudo o que eu consigo ver é o sorriso tímido no
rosto de Max. Um leve curvar de lábios envergonhado.
— Ele está muito na sua.
É a minha vez de corar. Sim, eu espero que ele realmente esteja.
— Você deveria dar uma chance ao TJ — comento e ela desvia o olhar.
— Eu não quero falar sobre TJ.
— Algumas coisas nunca mudam, afinal.
Beth dá de ombros. É mais fácil para ela escrever sobre sentimentos do
que falar sobre eles e eu me pergunto se é um lance de escritores.
— Sim, também por isso — ela se refere ao comportamento de Tales.
— E sobre o seu aniversário, Oklahoma? — Ela inclina o corpo em
minha direção e ergue as sobrancelhas duas vezes. — O que pretende fazer?
— Pretendo acabar com Max arrancando meu presente de aniversário
com os dentes.
Encaro seu sorriso se transformar em um “O” enorme.
— Certo, informação desnecessária.
— Ah, vamos lá, Beth, fala sério. Eu li os textos eróticos que você
escreveu. Eles são baseados no que você já teve com o TJ?
Ou, quem sabe, eles são baseados no que ela quer ter com ele. Quem
sabe?
— Por que diabos você sempre leva o assunto até mim novamente?
— É automático, me desculpa. — Encosto o quadril no balcão,
observando o bar quase vazio para um sábado.
Talvez houvesse rolado o boato que os três estão juntos, afinal,
ninguém quer uma briga nessa noite. Quem é que sabe?
— Tudo bem... — Seu rosto se contorce em um sorriso quando ela olha
para a frente. — Eu acho que devo ir ao banheiro agora.
— Ei, Oklahoma. — A voz de Max acerta exatamente nas minhas
partes cobertas. — Como está sendo o seu aniversário?
— Ainda estou esperando para apagar alguma vela.
Seu sorriso alarga.
— Certo, ficaria feliz se apagasse a minha hoje.
O meu sorriso se alarga.
— Acho que gosto dessa ideia.
Ele se debruça sobre o balcão, os olhares curiosos caem sobre todos nós
e eu não me importo. Eu não me importo porque estou apaixonada por ele,
porque ele parece significar o mundo para mim e eu sequer me importo que
tudo isso tenha acontecido em menos de dois meses, porque eu me encontrei
em Max.
Seus olhos caem sobre os meus lábios, o verde deles brilha de desejo e
ele sorri de uma forma sensual que faz com que minhas pernas amoleçam.
Max estica sua mão sobre o balcão e segura minha nuca, me fazendo inclinar
até a metade da bancada, enquanto ele se inclina até a outra metade, nosso
rosto se encontra na linha de chegada.
— Eu quero foder você hoje tão gostoso, Oklahoma, que será o melhor
aniversário da sua vida.
Sinto-me desmanchar sob sua mão; somente o pensamento de Max me
fodendo, como promete, já torna aquele dia mais do que especial e eu posso,
inclusive, me contentar com a minha imaginação. Ele se inclina
minimamente, sua boca pressiona a minha com tanta força que meu sexo se
contrai em desespero. Não me importo que estamos dando um belo show,
porque tudo o que eu quero é que meu turno termine para que eu possa
finalmente ter meu presente.
— Oh, uau! — A voz de Camille faz com que Max se afaste de forma
abrupta e eu cambaleie de volta para o meu lugar novamente. — Que
tocante.
— Camille — Max sussurra e eu não sei exatamente se ele a está
saudando ou suplicando para ela.
— Max — ela responde. — Kyra.
— Oi.
— Ei — Beth cumprimenta Camille logo atrás de mim, fazendo-me
sentir um pouco mais segura, embora eu ainda não saiba explicar o porquê.
— Oi, clone número três — ela diz após olhar as tatuagens e os cabelos e
perceber que não é Ty.
Ninguém ri de sua piada, o que apenas acentua o drama.
— Beth — ela cumprimenta, sentando-se em uma banqueta ao lado de
Max.
— Bom, me vê algo forte o bastante para esquecer um cara aí que
transou comigo e me chamou de outro nome quando estava gozando.
— Oh, uau! — Beth respira fundo. — Tenho algo para você, garota.
Eu não consigo me mexer.
— Certo — Camille começa, encarando Max por um segundo. — Traga
duas, Max também vai precisar de algo forte esta noite.
— Eu acho que você já está bêbada o bastante, Camille.
— Como você estava naquela noite? — Ela se debruça sobre o balcão e
sorri para mim, embora eu não encontre humor no ato.
— Qual noite? — a pergunta deixa minha boca sem que eu perceba.
— Oh! — Ela finge espanto. — Por que não conta a ela, Max? Achei
mesmo que você estivesse na minha... Mas aí, ontem... Toda aquela briga
com TJ sobre você ser um otário.
— Vamos conversar. — Ele segura seu braço, disposto a levá-la até um
canto privado.
— Fiquem à vontade para falar na minha frente — digo entredentes.
Beth coloca as bebidas sobre a bancada e segura a minha mão ao lado
do meu quadril. Ela finalmente entendeu que há uma verdade não dita em
algum lugar e me mostra que está ao meu lado. Meus olhos rolam sobre os
ombros de Ty e TJ quando sinto que eles se aproximam, então novamente
encaro Camille, suas unhas vermelhas batendo no balcão. Ela dá um gole na
bebida e empurra o copo cheio na direção de Max.
— Tome! — ela ordena.
— Eu não quero beber essa porra! — alega. Há tanta raiva em sua voz
que eu posso confundi-lo com Tyson no seu pior momento.
— Eu acho que já deu. — Ty segura o punho de Camille, mas ela
parece certa de que não sairá de lá.
— Apenas fale o que tem para falar e saia daqui. — Eu a encaro,
cruzando os braços sobre os seios.
A mão de Beth toca meu ombro e agradeço o fato de que ela está lá por
mim.
— Eu não tenho nada a dizer. — Ela se inclina ainda mais em minha
direção. — Max apenas esteve entre minhas pernas e chamou o seu nome
quando estava chegando lá e, então, ele montou sua Harley, bêbado como o
inferno, e provavelmente se arrastou para você depois.
Eu sei que os dois estiveram juntos, mas finalmente estou começando a
entender o que ela está querendo dizer. O momento exato no qual ela se
refere. O sangue parece estar parando de circular pelo meu corpo e eu sinto
que estou prestes a desmaiar. Apenas uma única vez que ele esteve bêbado e
eu me lembro muito bem daquela noite.
— Kyra, venha comigo. — Seu olhar parece uma súplica, mas eu
decido ignorar.
— Porra, Camille! — TJ exclama, contornando seu ombro com o braço,
tentando tirá-la de lá, mas ela se mantém firme.
— Qual a porra do seu problema, idiota? — Ty pergunta, erguendo os
braços no ar.
Eu me sinto afundada na maldição dos irmãos Jackson.
— Você não foi rastejando para ela, Max? — Cami pergunta. — Eu
tenho certeza de que sim, porque você nunca mais me procurou depois
daquela noite, e bom, pelo show de ontem, e a forma como parecem estar
juntos... parece que você apenas esteve me usando.
Eu encaro Max. O momento exato em que Camille se refere estala em
minha mente. Como se ela estivesse no escuro e minha consciência houvesse
apertado o interruptor, revelando toda a merda na qual eu estou afundada.
Oh, que ótimo! Max esteve com seus dedos em mim, minutos depois de tê-
los enfiado nela. Que grande otário!
— Vá para casa, eu cubro você pelo resto da noite. — Beth sussurra nos
meus ouvidos sem que ninguém ouça.
Olho para os três olhos verdes iguais e, embora por trás deles houvesse
três personalidades diferentes, todos se mantêm arregalados da mesma
forma. Eles também parecem estar prendendo a respiração, esperando o
momento no qual eu explodirei. Ty e TJ me conhecem o suficiente para
saber que eu posso jogar a bebida no rosto de Max, enquanto seguro os
cabelos de Cami e levo seu rosto com força até o balcão.
Então os dois se viram surpresos ao me ver imóvel, eu estou respirando
apenas porque é natural, porque não consigo me mexer. Beth toca minha
lombar e me acompanha até a porta do estoque; e quando a porta se fecha
atrás de nós, ela segura meus ombros e me sacode, fazendo-me sair do transe
de decepção em que estava envolvida.
— Escute aqui — ela diz confiante. — Pule a janela, pegue o meu carro
e vá até a minha casa. A janela do meu quarto está aberta, então pule ela.
Ninguém vai saber que você foi embora por um bom tempo. Se Kenzie ouvir
você chegar, peça silêncio a ela e fique por lá até eu chegar. — Beth entrega
as chaves do seu carro. — Eu pego uma carona com TJ no fim do
expediente.
Assinto e Elizabeth seca as lágrimas que eu não sei que estão
escorrendo. A maçaneta gira e a voz de Max suplica abafada do outro lado
da porta que eu sequer percebo que foi trancada por minha amiga.
— Por favor, Ky, me deixa falar com você.
Fecho os olhos por um momento e respiro fundo, engolindo a vontade
que tenho de deixá-lo se explicar. Uma parte minha quer ouvir que ele não
fez, mas a outra, oh, a outra, tem certeza de que ele me fez de tola.
— Obrigada, Beth — murmuro antes de subir em uma cadeira e cair
fora.
Toda vez que o olhar decepcionado de Kyra vem em minha mente, eu
me pergunto como, em nome de Deus, um dia que começou tão bem, pode
ter acabado de forma tão drástica. Como um gráfico de uma escala que
marca no topo uma das vezes em que mais me senti feliz e que agora cai em
queda livre para o zero, marcando o momento exato em que minha vida se
tornou miserável.
Eu sei que não posso julgar um Deus que eu mal acredito,
principalmente pelas minhas más decisões. Não tem nada a ver com Ele o
fato de eu ser um filho da puta idiota, e eu sei muito bem que Kyra é esperta
o suficiente para não acreditar em minhas desculpas. O que eu posso dizer?
Eu estou errado, afinal de contas. Falar com ela sobre aquela noite, só me
tornará ainda mais culpado, não? Eu não faço ideia, porra, eu nunca estive
em um relacionamento.
— Cuzão! — Ty dá um tapa na minha nuca após nós três nos darmos
conta de que ela pulou a janela e que Cami desapareceu.
— Falou o cara que é apaixonado pela mesma garota desde a infância.
— Você fodeu as coisas com a Kyra, seu idiota! Eu deveria estar
chutando a sua bunda agora! — ele esbraveja.
— Como você conseguiu cagar tudo em tão pouco tempo, porra? — TJ
interfere.
— Tá bom, Hitch conselheiro amoroso8. Sua garota está bem ali
esperando você deixar de agir como um idiota. — Aponto para Beth. — Já
tem alguns anos, inclusive.
Tyson ri ao fundo e passo a mão no rosto.
— Me dê uma merda forte. — Aceno para Elizabeth.
— Um chute em seu traseiro com meu sapato bico fino preferido? —
Ela me empurra o copo que Camille havia pedido em minha direção com
tanta força, que o uísque derrama sobre a bancada. — Tome o uísque que sua
garota pediu para você, idiota!
Eu me viro para TJ apenas para vê-lo encarar Beth como se fosse a
única mulher na face da Terra. Trigêmeos apaixonados, mas nenhum deles
mantém sua garota. Será que é azar compartilhado ou uma tendência
genética a fazer merda? É uma boa pergunta, afinal de contas.
— Aonde ela está? — TJ pergunta a Beth.
— Não interessa, Tales! Você já não tem problemas o bastante? Deixe
que Max resolva suas próprias merdas sozinho.
— Você a deixa falar com você assim, TJ? — Tyson ergue as
sobrancelhas, com um sorriso perturbador. — Como eu pude perder anos
disso?
— Você também já não tem problemas o bastante com a melhor amiga
dela, Tyson? Fiquei sabendo sobre os seus segredos também.
Tyson dá um passo em direção a Beth, mas TJ se coloca entre eles.
— Tô caindo fora — aviso ao colocar o copo sobre o balcão.
— Não vá atrás dela, Kyra não merece você. — Ela coloca as mãos na
cintura.
Ela é bem ousada para o seu pouco tamanho, eu confesso.
— Ela não merece nenhum de nós, Elizabeth.
Antes que ela possa responder, a voz do segurança nos interrompe:
— Algum problema por aqui, Beth? — Ele parece tão pronto para uma
briga quanto Ty e TJ ficam ao vê-lo.
— Se ela estivesse com algum problema teria chamado por alguém que
pudesse resolvê-lo, não você — TJ responde.
— Por que não volta lá para a frente e finge que está fazendo o seu
trabalho? Quem sabe, eu poupe você da humilhação — Ty interrompe,
entredentes.
Fico quieto, tudo o que eu menos quero é estar em outra briga com
meus irmãos como na noite passada. Como eles podem gostar tanto de uma
confusão, afinal?
— Nós estamos bem, Jacob, eles estão de saída.
— Não, nós não estamos — TJ responde e eu vejo o rosto de Beth se
contorcer com o medo de uma nova briga.
— Sim, estamos sim. — Eu toco um ombro de cada com minhas mãos
e contorno seus pescoços com os braços. — Vamos, porra, nós já temos
problemas demais.
Tenho de usar muita força para arrastá-los comigo, mas quando seus
pés tocam o chão do estacionamento e eles respiram ao ar livre, posso ver
em seus rostos que a certeza de que fizemos a coisa certa.
— Porra, eu estava pronto para foder com o resto do dia. — Tyson
passa a mão no rosto.
— O carro da Beth não está no estacionamento. — TJ coloca as mãos
na cintura, olhando em volta. — Kyra deve ter ido à casa de Beth com ele.
O celular de TJ apita e ele encara a tela.
— Ela precisa de carona, eu vou ficar por aqui.
— Eu sei aonde a Beth mora, eu posso ir até lá com você. — Tyson
cruza os braços em frente ao peito e o encaro.
Sequer faço ideia do que diabos fazer.
— O pai dela é um fodido, então é melhor não irem até lá. — TJ parece
saber do que está falando. — Ele vai chamar a polícia antes mesmo de você
desligar o motor da Harley.
— Eu vou para casa — aviso entredentes, indo em direção a moto. —
Kyra precisa de um tempo para pensar sobre isso.
— Que porra de maricas! — Ty rebate e eu o repreendo com o olhar.
— Ele está certo, Tyson. Pedir desculpas a uma mulher, quando se está
errado, é como colocar lenha na fogueira.
Eu teria rido se não me sentisse tão deprimido.
— Porra! — Passo as mãos no rosto.
Se eu rebobinar aquela noite em minha mente, posso reavaliar a
quantidade de erros que cometi. Não devia ter saído de casa depois da minha
discussão com Jimmy, não devia ter procurado por Camille e ter bebido com
ela, tampouco acabar em sua cama; e depois de uma cota considerável de
erros, não devia ter deixado as coisas irem tão longe com Kyra.
Eu ainda não entendo a grandiosidade que acontece entre nós, apenas
acho que o que sinto por ela é sexual, mas não, Deus, não, Oklahoma é
muito mais para mim do que apenas sexo e um mês tentando evitá-la me deu
a certeza de que eu a amo. E, desde que fiquemos juntos, eu sequer me
importo que pareço com um maldito perdedor.
— Eu me sinto como um idiota.
Meus irmãos me encaram com um pequeno sorriso.
— Bem-vindo ao clube, parece que ser um idiota é um requisito para
participar dele. — TJ parece orgulhoso.
Deslizo minha perna sobre o couro do banco da Harley e giro a chave, o
motor ruge no estacionamento silencioso. Tyson abre o vidro do carro e
acende um cigarro, a ponta alaranjada brilha na escuridão. Ele coloca seu
braço para fora, ainda sorrindo como o maldito filho da puta que é.
— Foda-se! — Ty ergue as mãos no ar. — Eu já tenho merda demais
pra uma pessoa. — Ele dá uma tragada no cigarro, soltando a fumaça em
direção ao céu escuro. — Resolva as suas sozinho, irmão.
Sim, é o que eu farei, apesar de não fazer ideia de como.
— Eu sinto muito, muito mesmo, Beth.
Ela dispensa meu pedido de desculpa com um gesto no ar.
— Tranquilo, Ky, não se preocupa com isso. — Ela se senta em um
pufe cor-de-rosa e coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Além do
mais, eu quem ainda deveria estar me desculpando com você.
Respiro fundo. Sim, ela mentiu para mim, não exatamente mentiu, mas
ocultou um grande detalhe: é apaixonada pelo cara que eu “namorava” e me
ouvia falar sobre nosso sexo incrível, enquanto eu sequer fazia ideia do que
ela sentia por ele. No final das contas, eu me senti egoísta, porque sei que
teria surtado com ela se não estivesse apaixonada por Max.
— Está tudo bem.
E está mesmo. Eu provavelmente nunca perdoarei Beth e TJ por
estarem agindo pelas minhas costas, mas uma parte minha havia sentido
certo alívio por saber que eu estaria livre para seguir em frente com outra
pessoa. Agora, minha amiga, que é apaixonada pelo meu ex-namorado e
melhor amigo, me ouve falar sobre o irmão dele, por quem eu estou
apaixonada. Que maldita confusão eu me meti, afinal?
— Deus, eu sinto muito que seu aniversário tenha acabado dessa
forma...
— Está tudo bem — respondo, sentada em sua cama, sentindo-me
totalmente perdida em um quarto desconhecido.
Eu quero apenas a minha cama e que Max não tenha mentido para mim.
— Você não tem que ficar repetindo isso, Kyra. Tudo bem não estar
bem. — Ela sorri, cautelosa.
— Eu... apenas não sei o que fazer.
— Apenas respire fundo até lá.
Assinto, encarando as mãos sobre os joelhos, descascando o esmalte
preto da minha unha.
— O que você realmente quer? — ela insiste, inclinando-se para mim.
O que eu quero? Bom, eu quero tantas coisas... Não me sentir perdida
onde quer que eu esteja é uma delas.
— Eu não sei, Beth. Eu queria saber o que quero, mas não sei.
— Você usou alguma droga enquanto estive fora? — ela sussurra, me
fazendo rir pela primeira vez.
— Talvez eu tenha achado seus cogumelos mágicos.
Ela tapa a boca para abafar o riso.
— Bem, falando sério, Ky. Eu já passei por isso com TJ mais vezes do
que jamais poderia contar, foi um círculo vicioso que nunca chegou ao fim,
por isso eu não pude mais fazê-lo, mas Max não é o TJ e você não sou eu,
portanto, dê a ele a chance de se explicar.
Eu não sei quando estarei pronta para falar com Max.
— Não posso falar com ele, Beth, porque eu vou ceder a partir do
momento em que o vir na minha frente. Eu não me sinto forte quando ele
está perto de mim.
— Você se sente dependente dele. — Ela toca meu joelho. — Sente que
o mundo está desmoronando e você sequer se importaria de morrer desde
que estivesse segurando a mão dele.
Ela me dá um pequeno sorriso compreensivo.
— Deus, Beth... você...
— Sim, eu sou completamente louca pelo TJ e não há um maldito dia
em que eu não acorde e não pense em como seria se o tivesse na minha cama
ao meu lado.
— Eu sinto muito.
— Não sinta. Foi a minha decisão, eu me escolhi em primeiro lugar
depois de ter minha cota de desilusão amorosa com ele. Mas isso não
significa que você terá de fazer as mesmas escolhas, Kyra. Você pode ouvi-
lo, tudo entre vocês ainda é recente.
— Sim, eu sei, mas não é apenas Max e eu, é todo o resto. Eu não sinto
que estou fazendo algo útil da minha vida.
Ela dá uma risada amarga.
— Kyra, você está falando com uma pessoa que cuida de uma mãe
doente, um pai alcoólatra, sustenta uma casa, cria uma criança, trabalha em
um maldito bar e que é apaixonada pelo seu melhor amigo. — Ela ergue as
mãos no ar. — O que você acha que eu estou fazendo da minha vida?
— Eu acho que a gente deveria pegar Kenzie e dar o fora de Boston.
Toco seu joelho, o peso de sua vida me afunda na vergonha que se
tornou a minha.
— Eu não posso deixar minha mãe com ele. Eu não tenho como ir a
lugar algum, estou amarrada no inferno que é a minha vida.
— Deus, eu só espero que um dia a gente olhe pra tudo isso e ria.
— Sim, e eu realmente gostaria de rir disso em Paris.
Eu me sinto mais leve depois de rir com Beth, mas há um peso no meu
coração que eu não sei o que significa.
— O que foi exatamente que aconteceu? — Ela amarra os cabelos no
topo da cabeça e cruza suas pernas.
— Ah... no dia em que ele conversou com Jimmy pela primeira vez...
Ela força os olhos, buscando em sua mente, algumas informações que
eu havia lhe dito.
— Aquela vez que você pediu para que ele ficasse? Quando ele chegou
bêbado?
Um ponto para Elizabeth, porque ela realmente presta atenção nas
nossas conversas.
— Sim. — Assinto, aquela noite ainda está tão viva em minha
memória.
— E o quê? Qual o problema? Você já tinha falado comigo sobre esse
dia. — Ela parece confusa. — Ele estava com Cami e então beijou você
quando chegou?
Teria ficado igualmente enfurecida se nós apenas tivéssemos nos
beijado naquela noite? Porque ainda assim, devia ter significado a mesma
coisa para mim.
— Nós não apenas nos beijamos.
— Oh, sua vadia! Você mentiu para mim. — Suas bochechas coram.
— Eu não menti, apenas omiti essa parte. — Ergo as sobrancelhas e seu
rosto é tomado por um vermelho escarlate.
Ela deve ter se lembrado dos últimos dois anos no qual passou omitindo
detalhes apenas grandiosos para mim.
— Não foi sexo, não exatamente. Ele... usou seus dedos em mim.
— Oh, meu Deus!
— Amém. — Passo a mão no rosto. — Porque provavelmente ele tinha
acabado de tirá-los de Camille e agora eu me sinto uma merda.
Ty, TJ, Max e eu estamos envoltos a um emaranhado de mentiras. Eu
não sou hipócrita, transei com TJ desejando estar com Max, mas Tales
sequer foi até o fim naquela noite. Nas últimas vezes em que estivemos
juntos em uma cama, provavelmente ele estava pensando em Beth, que
trabalhava comigo, era minha amiga, mas omitia que o amava.
Enquanto isso, naquele mesmo dia, Tyson confessou para mim que
havia uma garota, mas escondeu a parte em que era a minha melhor amiga; e
depois, enquanto jantamos como uma família feliz e Max contou sobre sua
vida maldita, Ty jantou em um canto na cozinha e não se envolveu na
conversa, apenas porque ele já sabia da adoção e foram comprados.
Mentiras.
E quase uma semana depois, após eu estar oficialmente livre de Tales,
eu estava disponível para Max, que ocupava minha mente cada maldito
segundo do dia, mas ele estava saindo com Cami, que até aí tudo bem para
mim, porque eu estava com TJ, de qualquer forma. Mas então ele a
procurou, naquela noite, quando já significava demais para mim, para que eu
não sentisse por ele estar com outra pessoa. Foi rápido demais e eu sabia,
mas apenas não conseguia controlar o que sentia por ele, era natural como
respirar.
Eu teria aceitado o fato dele ter procurado ela naquela noite se Max não
tivesse enfiado seus dedos em mim minutos depois, era recente demais e nós
não estávamos juntos de qualquer forma, mas ele havia pensado apenas em
si mesmo quando foi até o fim comigo. Ele não tinha me respeitado.
Ninguém naquela casa parecia fazê-lo, afinal. Nem eu. Éramos todos errados
para começo de história.
Acordo no meio da noite, Beth e eu dividimos um travesseiro, seus
cabelos roxos cobrem o meu rosto, suas pernas se espalham por toda a cama
e seus braços forçam o meu estômago. Deus, como uma pessoa tão pequena
pode ocupar tanto espaço na cama, afinal? Por um segundo, eu imagino o
corpo espaçoso de TJ e Beth dormindo na mesma cama, talvez por esse
motivo os dois nunca tenham acabado juntos. Não havia como dar certo.
Minha cabeça lateja com o lembrete da minha noite de merda, eu
preciso me mandar antes que amanheça, então, com muito trabalho, eu
levanto seu braço e retiro minhas pernas debaixo das dela, saindo da cama.
Minha bolsa está em seu cabide de bolsas que parece ser usado por uma
adolescente de quinze anos, considerando o tanto de penduricalhos e coisas
cor-de-rosa nele e eu faço um tremendo barulho ao tirá-la de lá.
— TJ? — pergunta e eu quase caio dura com o susto.
O que diabos TJ estaria fazendo em sua casa no meio da noite?
— Sou eu — sussurro. — Estou indo nessa.
Ela se senta na cama e passa as mãos no rosto.
— Que horas são agora?
— Quase quatro.
— Você quer o meu carro? — pergunta.
— Não quero acordar o seu pai, vou chamar um Uber.
— Você pode ir com o meu carro, Ky, não é seguro entrar no carro de
um desconhecido no meio da noite.
— Eu não quero dar mais trabalho para você. — Apoio a bolsa no
ombro e amarro os meus cabelos.
— Cale a boca! — ela esbraveja e sinto as chaves acertarem os meus
peitos. — Apenas se mande logo depois que ligar o carro, porque ele anda
bêbado o suficiente para pensar que é um ladrão e tem uma arma.
— Jesus Cristo, eu estou indo nessa! — Abro a janela. — Vocês são
loucos!
Assim que as palavras saem da minha boca, eu me lembro do problema
de sua mãe e o rubor toma o meu rosto quando eu digo:
— Oh, Deus, me desculpe!
— Apenas vá logo — murmura, mas eu sei que estamos bem.
CONTINUA EM:
TRÊS VEZES ELE
Formada em Letras com habilitação em espanhol, F. Locks mora em
Florianópolis com o marido e a filha, a quem se dedica integralmente.
Apaixonada por séries, filmes e livros, ela tenta conciliar as mamadeiras e
um milhão de fraldas sujas com sua escrita, redigindo algumas páginas cada
vez que sua filha dorme por alguns minutos. Entre um capítulo e outro, ela
realiza seu maior sonho, que é dar vida aos seus personagens.
JAVIER
PASSADO
Livro 1
PEQUENA ARIEL
Como ser uma assistente pessoal perfeita para Théo?
SÉRIE IMINENTE
(Amor Iminente, Desejo Iminente, Atração Iminente, Tragédia Iminente)