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Copyright © 2021 Evilane Oliveira

Chama Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos que


aqui serão descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É
proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,
através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Sinopse
Prólogo
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07
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Próximo livro
Agradecimentos
Outras obras
Sempre fui uma boa garota. Eu era uma boa filha, uma boa aluna,
uma boa pessoa. Mas a vida sempre dá um jeito de foder as pessoas boas. Eu
estava cansada de tentar juntar os cacos de quem eu amava, eu precisava que
alguém catasse os meus.

Matteo Trevisan não era essa pessoa.

Ele veio como uma bola de demolição, destruindo o restante dos meus

pedaços.

Matteo era poderoso, não apenas no sentido de ter se tornado dono de


mim tão rápido, e sim por pertencer à família mais poderosa de Chicago. Ser
um dos homens mais poderosos da cidade tinha suas regalias, porém,
principalmente, deveres.

Ele foi o único a me corromper, e mesmo assim, a cada vez que seu
corpo se apossou do meu, eu implorei pela próxima vez como um animal

preso implora pela liberdade. A diferença era que eu queria estar na prisão.

Eu queria pertencer a Matteo.

Eu descobri, tarde demais, que um homem poderoso como ele jamais


rolaria na sujeira ao meu lado. Ele era um príncipe, e príncipes sempre ficam
com princesas, não com plebeias. Certo?
MATTEO TREVISAN

Observei mamãe entregar a bola de futebol que Prince havia pedido


de presente de Natal antes de sentir Romeo se sentar ao meu lado. Meu irmão
era maior que eu uns bons centímetros, mas eu já o estava acompanhando na
altura. Rocco era o maior de nós, mas eu sabia que logo o alcançaria também.

— Você queria uma bola também?

Sua pergunta me fez desviar os olhos do meu irmão mais novo com a
nossa mãe.

— Não.

— Então, por que você está tão irritado? — Romeo me encarou,


completamente sério. Seus olhos eram como os meus e os de Prince. Tão
azuis que pareciam gelo. Porém, diferente de mim e Prince, nele eram
inquietantes.

Suspirei, desviando os olhos dos seus. Eu não podia contar. Era idiota
e bobo. Eu era um homem, não a porra de um maricas.

— Só quero sair. Tem uma festa...

— Tá e eu sou idiota. — Romeo se ergueu e inclinou a cabeça, me


estudando. — Não engula merda, Matteo. Tudo que você pensar, coloque
para fora.

Ele se afastou e eu vi minha mãe se aproximar. Ela não tinha


nenhuma caixa de presente, e isso me deixou ainda mais irritado.

— Ei, garoto crescido. — Mamãe sorriu para mim e seus olhos azuis
ficaram ainda mais límpidos. — Eu não comprei nada...

— É claro. Prince e Lake merecem, Matteo não — resmunguei,

interrompendo-a.

Mamãe passou a mão pelo meu cabelo, completamente calma.

— Tenho um presente para você, mas antes quero conversar. — Ela


sorriu, sem se importar com a minha grosseria, e segurou minha mão. — Um
dia, seus irmãos vão precisar de você. E só você será capaz de ajudá-los.
Você, Matteo. Não Romeo. Não Rocco. — Ela tirou o cabelo escuro do rosto
e sorriu mais uma vez. — E quando isso acontecer, eu sei que você não
falhará. Porque você é meu Matteo.

— Não parece...

— Não duvide do meu amor, filho. — Mamãe deu um sorriso triste.


Eu quis socar meu próprio rosto, odiava deixá-la mais triste. Ettore já fazia
um ótimo trabalho. — Um dia, você terá seus filhos, e essa vai ser a coisa
mais emocionante da sua vida, mas, também, a mais assustadora.

— Não terei filhos.

— O.k. — Ela riu como se não acreditasse em mim e olhou para o


meu rosto pelo que pareceram horas, então tirou uma caixa da bolsa. Era de
veludo, simples. — Este é o seu presente. Quero que leve com você para
sempre.

— O que é? — questionei. Ansioso, abri a caixa.

Dentro tinha um colar fino com um pingente — um crucifixo. E ao

lado estava um anel de ouro branco com um diamante brilhante brilhando no


topo. Era delicado, parecia algo da minha mãe, sem dúvida.

— O que...

— Ele vai te guiar. — Ela segurou a cruz entre os dedos e depois


tocou o anel. — E ele vai ser da sua esposa. Da pessoa mais especial da sua
vida. Alguém que você não consiga se imaginar sem. Aquela que você vai
desejar ter para sempre.
— Mãe. — Gemi, rindo.

— Espere e verá.

Eu não esperava por este presente. Na verdade, eu realmente não o


queria se me perguntasse antes, mas a maneira que minha mãe os encarava os
transformou em mais que joias.

Eles eram tesouros. E eu os tinha para mim.

— Amo você, Matteo.

E eu a amava mais que a mim mesmo.


Você pode fazer isso.

Eu posso, certo?!

Mordi meu lábio enquanto assistia a Carolyn no sofá com um pote de


pipoca. Ela estava bem hoje, e eu queria que continuasse assim. A ligação de
hoje de manhã a deixou nervosa. Estava cansada de me preocupar com ela.

Me sentia culpada por pensar assim, mas era a verdade.

Carolyn vivia em um círculo vicioso que me deixava deprimida.

— Vá logo, Boo. Ficarei bem — minha mãe falou, me fazendo voltar


ao presente.

— O.k.

Saí de casa e andei até onde meu carro esteve há alguns dias. Hoje
não mais. Ele foi mais uma coisa que o vício de Carolyn tinha tirado de mim.

Eu havia ganhado do meu pai quando fiz dezesseis anos. Parecia tanto tempo,

mas não era. Eu estava com dezenove anos, e desde os dezessete morava em
Chicago. Vim fazer faculdade com um sonho bonito de me reconectar com

Carolyn. Uma ilusão boba, mas foi isso que aconteceu.

Em um mês, eu entendi que meus planos foram apenas isso. Planos.

Carolyn era viciada em heroína e qualquer coisa que a deixasse fora


de órbita.

Pensei em voltar para casa depois que descobri. Pensei em ligar para o
meu pai e minha madrasta, C.K., mas não consegui. Meu pai havia ficado
magoado pela minha vinda. Odiava admitir, mas não queria parecer idiota aos
seus olhos.

Papai sempre foi tudo que tive, e depois que C.K. chegou, ambos se
tornaram minha tábua de salvação. Nunca fui uma garota popular ou

amigável. Eu era boa, tentava ser boa, mas nunca consegui a afeição das
pessoas. Sempre me achei uma intrusa. Até hoje.

O Uber me levou até Navy Pier, eu suspirei ao ver o lugar turístico


cheio de pessoas. Hoje seria bom para mim. Tinha que ser. Minha vizinha me
avisou que um dos vários restaurantes em Navy Pier estava contratando,
então, cá estava eu.
— Obrigada. — Entreguei o dinheiro ao motorista e saí do carro,
andando rápido.

Não era exatamente cedo, quase oito horas da noite. Esse foi o horário
que ela me disse para vir, então ainda tinham algumas pessoas no lugar. Eles
fechavam daqui a uma hora.

Entrei na loja com a fachada em neon onde diziam ter os melhores

cafés da região. Eu nunca havia posto os pés no local, mas gostei do que vi.

— Com licença. — Forcei minha voz sobre o barulho dos clientes


assim que cheguei ao balcão.

— Olá, sou Beatriz. Em que posso ajudá-la? — Uma senhora ergueu


os olhos.

— Hum — sorri —, estou à procura de emprego, e soube que estão


contratando...

A mulher me encarou dos pés à cabeça e suspirou.

— Olha, nós estamos, mas preciso saber se você faz o trabalho bem.
— Ela empurrou os óculos para a cabeça repleta de cabelos pretos e fios
brancos.

— Eu posso começar agora — falei, rapidamente. Beatriz abriu a


boca, mas ficou sem fala, então logo voltou a fechá-la. — Eu realmente
preciso do trabalho — insisti, enquanto minhas mãos suavam.
Precisava quitar as dívidas de Carolyn e pagar a minha faculdade que
estava atrasada. Meu pai mandava o dinheiro dela para mim, mas as últimas

parcelas usei para pagar as coisas da minha mãe.

Me sentia estúpida e cansada de tentar consertá-la, mas quem o faria


se não eu?

— O.k., mas isso não é garantia do trabalho. — A senhora me

lembrou e suspirou antes de me dizer o que fazer.

Pela próxima hora limpei mesas, lavei pratos e até servi alguns
clientes. Não era ruim, na verdade, eu achei bom. Esse trabalho me manteria
ocupada. Era o que eu precisava.

Assim que terminei tudo, Beatriz se aproximou. Um homem foi para a


parte da frente fechar tudo, enquanto o rosto da mulher se retorceu com
medo. O que estava acontecendo?

— Sempre fechamos mais cedo aos finais de semana — ela explicou

quando me viu franzir as sobrancelhas.

— Por quê? — Minha voz saiu mais confusa ainda ao ver o homem
olhar para a rua, parecendo nervoso.

— É perigoso. — Ela parou de falar e eu suspirei. O.k. — Enfim,


volte amanhã que falarei se a contratarei ou não. Preciso falar com meu
marido e ele não está aqui hoje. — Beatriz sorriu.
Acenei, engoli em seco e me despedi dela antes de sair. Ouvi carros
ao longe, e mesmo com o aviso de Beatriz sobre o perigo aqui a essa hora, eu

segui pela avenida. Agora passava das nove da noite. Não era tão tarde, mas o
Navy Pier estava fechando, as ruas estavam desertas.

Assim que alcancei a pequena multidão, meu peito deu um salto. Um


carro passou em uma velocidade insana ao meu lado e eu pulei, assustada,

levando a mão ao meu peito.

Vi uma multidão logo à frente e me aproximei. Meu sangue esfriou ao


ver carros lado a lado, apostando corrida. Eu sabia que isso era ilegal aqui,
mas, infelizmente, muitas coisas erradas aconteciam mesmo assim.

— Ei, anda logo. — Alguém me empurrou.

Eu gemi, quase caindo no beco escuro e me virei a tempo de ouvir


gritos. Meus pelos se eriçaram e meus olhos dobraram de tamanho. Um
homem estava de pé sobre outro, enquanto apontava uma arma bem no rosto

dele.

— Então, cara, onde estão suas bolas? — o homem alto de cabelos


escuros gritou, meio rindo e meio sério.

Dei um passo para trás e me assustei quando meu pé deslizou e eu caí.


Minha bunda doeu e o medo me agarrou quando ergui meus olhos.

O homem armado estava olhando diretamente para mim. Com seus


dedos ainda apertados contra a arma, ele atirou enquanto me encarava.

Ele matou o homem olhando dentro dos meus olhos.

Meu Deus.

Gritei enquanto me arrastava para trás. Finquei minhas unhas no chão


para me erguer, ainda ouvindo o tiro. As batidas do meu peito estavam

enlouquecedoras e minha boca completamente seca.

Me ergui com dificuldade e voltei a olhar para o homem. Dessa vez,


vi o cara morto no chão e o homem de cabelos escuros ainda concentrado em
mim.

Ele iria me matar.

Me virei, tentando comandar minhas pernas. O barulho do meu sapato


contra o chão soou tão alto quanto os tiros, e quanto mais eu corria, mais
ouvia os tiros.

Assim que me afastei o bastante, eu me curvei para tentar respirar.


Minha sombra estava sobre a água diante de mim, e quando uma segunda
apareceu, eu quase pude sentir a morte me envolvendo dos pés à cabeça.

Um braço contornou a minha cintura e uma mão foi posta sobre meus
lábios. Tentei gritar enquanto ele me arrastava até o beco escuro entre duas
lojas que já estavam fechadas.

— Por que você correu? — A voz soou assim que ele empurrou meu
corpo contra a parede.

Senti lágrimas encherem meus olhos quando a minha bochecha bateu

na parede fria. Ele vai me matar.

— Eu não vou perguntar de novo, porra. — Sua voz soou próxima ao


meu ouvido. Sua mão já não estava em meus lábios, mas eu ainda não
conseguia falar nada. — Mais uma chance.

— Me assustei. Eu nunca tinha vindo aqui — gritei, tremendo, antes


de senti-lo empurrando seu peito contra a minha coluna.

— E o que diabos você está fazendo aqui? — Sua mão envolveu meu
cabelo e eu funguei.

— Trabalho novo. Por favor, por favor, me deixe ir — implorei.

— Você não deveria estar aqui. — Ele me puxou da parede e me fez


virar.

Sufoquei ao ver seus olhos azuis. Eram tão claros que me deixaram
sem fala, mas não pela cor, e sim pela escuridão que havia ali dentro. Uma
escuridão que me envolveu até a alma.

— Você me ouviu? — ele berrou mais perto.

Estremeci, acenando.

— Obrigada. Obrigada — agradeci assim que ele me soltou.


Ele guardou a arma na parte de trás da calça.

— Não me agradeça. Ainda não. — Seu olhar escureceu mais um tom

enquanto ele deslizava os olhos por mim.

Não era um olhar igual ao dos homens na rua, que me deixavam com
nojo, esse parecia intenso a ponto de desvendar todos os meus segredos.

Dei um passo para o lado e andei devagar.

— Não procure o perigo, Flame, ele pode gostar de você a ponto de


nunca te deixar ir.

Ele se virou e andou em direção à escuridão, me deixando tensa e


completamente confusa.

Não voltei ao Navy Pier. Não podia. O medo me cegou, mesmo que

eu quisesse muito um emprego não podia trabalhar para Beatriz naquele


lugar. Não depois de tudo.

Então, quando dias depois minha mãe me disse que a boate da cidade
estava precisando de meninas, eu relutei muito. Até perder meu carro, dias
atrás. Eu não podia me dar o luxo de perder mais nada, então precisava
trabalhar. Não importava em quê.
— Não tem vaga para garçonete ou só dançarina? — questionei a
chefe das meninas assim que a cumprimentei, ao chegar ao Village.

O lugar era amplo e muito bonito. Apenas homens ricos entravam por
essas portas, segundo minha mãe.

— Você não quer ser prostituta? — Sua voz altiva chegou a mim.

Suspirei ao ver as meninas que estavam conosco se remexerem.

— Eu só... — Minha voz cessou, nervosismo remoendo meu


estômago.

Eu não havia feito sexo ainda, e a ideia de transar com alguém por
dinheiro me nauseava.

— Não temos vaga para garçonete ou apenas dançarina. Os homens


querem ter um gosto do que colocamos na vitrine. — Andy apontou para o
palco. — Decida, querida.

Suspirei, tentando engolir o caroço em minha garganta.

Tudo bem, Blue. Você consegue.

Eu conseguiria?

Eu não tinha tanta certeza.


Meu celular vibrou pela terceira vez em alguns minutos. Eu estava
cansado pra caralho, havia passado a noite separando cargas com Prince e
Travis. Tão cansado, que só me joguei na cama quando cheguei.

Estendi a mão para a mesa de cabeceira e gemi ao ver o nome do meu

irmão.

— Matteo.

— Eu sei que é você. Por que diabos você fala seu nome para alguém
que sabe para quem está ligando? — A voz ruidosa de Prince me fez respirar
profundamente.

— Você está me ligando para falar sobre a porra do que eu falo


quando atendo o celular? É sério isso? Vai comer uma boceta, Prince — rugi,
puxando minhas cobertas.

— Já comi, mas você não pode dizer o mesmo, não é?

Não podia, mas não porque não queria. Eu só não tive tempo para
isso. Precisava focar no que importava. Eu me mudaria em breve para Oak
Park para me tornar um capo. Eu nasci na Outfit, sabia dos meus deveres,
mas depois que Rocco tomou o poder relaxei com isso. Fiz os trabalhos que
me eram ordenados, mas nunca realmente me preocupei com títulos.
— O que você quer, Prince? — questionei, jogando as cobertas para
longe.

Cacei meus chinelos e me aproximei da janela. O lago estava bonito


daqui. Estava chovendo, o que realmente não era uma novidade nessa época
do ano.

— Preciso que venha me buscar. — Sua voz mudou.

Suspirei, apertando meus olhos.

— Onde você está?

— Lago Michigan.

— Porra, Prince.

Me movi em direção à porta, pegando minhas armas e enfiando-as na


calça.

— Estou indo.

Prince estava em um momento bosta da vida. Depois que a nossa irmã


foi embora e nem mesmo nos enviou uma mensagem do caralho, ele havia se
perdido.

Todos nós estávamos preocupados.

Cheguei ao ponto turístico do lago e vi Prince sentado na areia,


encarando a água enquanto a chuva castigava nós dois. Me aproximei
devagar e me sentei ao seu lado.

— Você deve me achar um maricas. — Sua voz soou alta, me fazendo

o encarar. — Não deveria estar perdido assim. Não... por ela.

— Vocês são quase gêmeos, cara. Eu entendo. — Segurei seu ombro


e apertei para dar ênfase. — Perdê-la não está sendo fácil para mim, mas para
você é pior.

Só queria que ela falasse com Prince. Eu não ligava para Lake
Trevisan, eu queria que ela se fodesse, mas eu precisava do meu irmão
inteiro.

Levei Prince para o carro e liguei o aquecedor. Apertei o volante e


suspirei, começando a dirigir para casa.

— Então, quem era a menina no Navy Pier? — Ele tirou a camisa


encharcada e estendeu as mãos para o ar quente.

— Ninguém mantém a boca fechada naquele lugar? — questionei ao


meu irmão, e ele deu de ombros. — Eu não sei quem era, mas nunca a tinha
visto.

— E correu atrás dela por quê?

— Porque ela fugiu, e quando alguém foge é porque deve algo —


expliquei, encarando-o com as sobrancelhas arqueadas. — Acabou o
interrogatório?
Prince olhou para fora do carro em silêncio e permaneceu assim.

A garota de cabelos vermelhos e olhos escuros era um pequeno

enigma para mim. O que ela fazia ali e por que correu? Quando me
aproximei, eu soube que ela apenas não sabia onde tinha se metido.

Flame não fazia ideia de quem eu era ou o que eu representava nessa


cidade.

Eu gostei disso.
As meninas ao redor eram bonitas, na verdade, a maioria parecia ter
saído de uma revista de moda. Meus olhos se arregalaram quando o som
mudou e a luz ficou mais fraca. Uma garota dançou sobre o poste e eu senti
meu batimento cardíaco acelerar.

Não pela garota, mas pelo que ela estava fazendo. Eu seria capaz de

dançar assim?

Meu estômago se retorceu.

— Ei, Blue. — Uma voz ecoou acima da música.

Eu me virei e vi Andy. Seu cabelo preto estava sobre o ombro e seus


olhos eram tão azuis que eu fiquei fascinada.

— Oi, Andy — murmurei em resposta.


Ela se sentou, encarando a menina que fazia o teste.

— Você é a próxima.

Suas palavras me deixaram mais nervosa ainda. Meu pulso acelerou,


mas fiquei de pé. Estava tudo bem. Eu precisava do emprego, era minha
única saída. Carolyn estava com uma dívida do tamanho do Everest e apenas
eu poderia ajudá-la.

Que sorte a minha.

Subi no palco, tremendo levemente. Mesmo que não houvesse


ninguém além das meninas que também estavam buscando o trabalho e
Andy, eu me senti tensa.

— Deixe a música fluir, Blue — Andy falou, com um olhar suave.

A voz melódica de Ariana ecoou e eu fechei meus olhos, sentindo o


poder das palavras. Deslizei pelo poste e arqueei as costas, segurando a barra

de aço entre os dedos. Meus quadris balançaram e eu senti minhas entranhas


se apertarem. Havia alguém me observando, eu sabia, mas é claro que havia
— Andy e as outras meninas —, porém, quando abri minhas pálpebras eu o
vi.

Estava escuro na parte de cima, mas eu podia vê-lo parado com os


braços juntos, focado em mim. Balancei ao som da música e voltei a fechar
os olhos. Quando a música acabou, eu respirava com dificuldade e ele havia
sumido. Quem era ele?

Não sei o motivo, mas meu corpo ficou rígido ao me lembrar do

homem em Navy Pier.

— Porra, você é muito gostosa. — A voz de uma menina loira sentada


no bar ecoou.

Saí do meu transe e a encarei sem graça.

— Desça. Próxima — Andy gritou.

Segui seu comando, sentindo minhas pernas bambas.

Depois que todas fizeram teste, eu respirei aliviada quando ela disse
que eu havia passado para a próxima etapa. Todas as meninas precisavam
falar com o chefe da Outfit, que era também o dono do Village.

Minha mãe e toda a Chicago me deixaram cientes de quem eram os


donos dessa cidade. A Família Trevisan era composta por quatro irmãos que

não seguiam regras. Eles eram mafiosos. Eu estava nervosa sobre trabalhar
para eles, mas eu precisava do emprego.

Enquanto Andy nos levava para o andar das garotas do Village, olhei
ao redor e vi várias meninas rindo e conversando.

— Você, novata. — A voz de uma delas me saudou.

— Ei, sim. Você é a menina que me chamou de gostosa? —


perguntei, querendo me enturmar.

— Raina. — Ela acenou e sorriu.

— Nome diferente... mas muito bonito — me apressei para completar.


Ela sorriu e estendeu a mão. — Sou a Blue.

— E eu tenho um nome diferente? — Ela se virou enquanto ria,

porém parou assim que a porta se abriu e quatro homens entraram no local.

O primeiro deles tinha cabelo loiro e olhos azuis, porém eram tão
rígidos que engoli em seco, com medo. O próximo era da mesma altura, mas
o cabelo era escuro. Ele também tinha um olhar escuro que me deixou
arrepiada.

Meu coração parou assim que o terceiro deu um passo para o lado e se
fez presente. Minhas mãos começaram a tremer e eu respirei com dificuldade.
Ele era o homem do Navy Pier. Oh Jesus.

Na luz do dia eu pude ver cada pedaço dele, sem sombras. Seu rosto
era quadrado, seus olhos também eram azuis como os dos seus irmãos, mas o
que me deixou sem fala foram as tatuagens pulando pela gola da sua camisa.

— Andy, as novas — o loiro resmungou, parando no meio da sala.

— Essas aqui. — Andy segurou duas meninas que estavam ainda há


pouco dançando comigo e me chamou.

Engoli em seco e andei até elas, evitando encarar o homem


inquietante.

— Vocês foram obrigadas a estar aqui? — ele questionou com

firmeza. Nós três negamos rapidamente. — Vocês estão devendo algo a


Outfit?

— Não, senhor — as duas responderam prontamente, mas eu me


calei, engolindo em seco.

— Responda. Não tenho o dia todo — ele gritou e eu pulei em meu


lugar, tremendo.

— Minha mãe deve dinheiro, mas eu vou pagar tudo com o trabalho
— falei rapidamente.

Ele se aproximou, me fazendo encolher.

— Quem vai pagar essa merda é a sua mãe. Não quero mulheres que
só estão aqui porque alguém as obrigou, indiretamente ou não. Saia daqui.

Agora — ele berrou, parecendo furioso.

Engoli em seco pela milionésima vez e olhei para Andy antes de


voltar a encará-lo.

— Eu preciso do emprego... eu... por favor, não me demita...

— Você sabe limpar e cozinhar? — A voz rígida do homem do Navy


Pier ecoou.
Eu o encarei, sentindo meu coração bater contra minhas costelas.

O tempo pausou enquanto eu o olhava e o via me encarando

diretamente. Ele se lembrava de mim? Não parecia, e essa constatação me


deixou aliviada.

O loiro se virou e eu forcei meu peito para respirar.

— Sim, eu-eu sei...

— Qual o seu nome?

Sua pergunta me fez lamber meus lábios secos antes de responder.

— Blue.

— Você está contratada. Pegarei seu contato com a Andy para avisar
quando você começa. — Ele se virou e começou a andar para a porta com o
outro homem que eu não havia olhado.

— Encontre outra menina e mande essa para casa — o loiro gritou

para a Andy, que acenou rapidamente.

— Droga — resmunguei assim que a porta se fechou.

Andy andou até mim e fez uma careta.

— Você seria um prato cheio aqui. É uma pena. — Ela se afastou e


encarou as meninas. — Se alguém quiser indicar outra garota, essa é a hora.

Raina se aproximou e apertou meu ombro.


— Matteo é um Trevisan. Eu diria que o mais calmo daqueles quatro.
Você se sairá bem.

Eu não tinha tanta certeza.

Testei o nome dele em meus lábios. Matteo. Droga, eu estava


tremendo. Me sentei em uma cadeira e esqueci tudo ao meu redor enquanto
pensava na minha decisão de aceitar o emprego.

Eu aceitei de supetão, nem pensei nisso.

Eles eram a máfia, pessoas perigosas. O que eu tinha na cabeça?

Merda!

Raina me ofereceu carona assim que foi dispensada por Andy, que
aceitei de bom grado. Não estava com a cabeça boa.

— Vou ligar, o.k.? — ela avisou assim que parou no acostamento. A


chuva castigava o seu para-brisa e eu sabia que me molharia.

— Não tenho muitas amigas aqui, então, obrigada. — Olhei para ela e
seu sorriso me deixou relaxada.

— Vamos marcar uma bebida.

— Um cinema? — indiquei, tentando afastar a onda de nervosismo


por chegar em casa. — Eu não bebo muito.

— O.k., cinema! Te vejo em breve.


Saí do seu carro, apertando meu casaco e sorrindo ao ver a loira ir
embora. Me virei e suspirei.

O.k., seja corajosa, Blue.

Andei lentamente em direção à porta, ouvindo meu coração batendo


contra os meus ouvidos. Meu casaco já estava completamente molhado e
meus cabelos pingando. O dia realmente estava uma merda. Retirei meus

cabelos do rosto e fiquei parada de frente para a porta. Eu sempre fazia isso.
Era um ritual besta que envolvia medo. Medo de encontrá-la sem vida no
meio da sala. Mordi meu lábio e balancei a cabeça, espantando os
pensamentos horríveis. Apertei a maçaneta e respirei fundo. Estava tudo bem.

— Você conseguiu o emprego? — Ela se ergueu do sofá assim que


me viu entrar.

Seu cabelo tão ruivo quanto o meu estava embolado no alto da


cabeça, seus olhos fundos e o semblante tenso. Não era por mim. Eu já não

mais esperava o seu afeto ou preocupação. Tudo era sobre seus problemas.
Suas dívidas.

— Não. Não o de prostituta, no caso — resmunguei, passando por ela


e entrando na casa pequena e suja. Eu tentava deixar tudo em ordem, mas
Carolyn não era capaz de fazer o mesmo.

— E qual? — Ela me seguiu enquanto eu pegava latas do chão e


enfiava no lixo.

— Eu ainda não sei direito, mas é para um dos Trevisan. — O

sobrenome pesou em minha língua, estremeci ao me lembrar dos olhos dele.

Eram azuis, mas algo escuro em suas íris me paralisou. Ele tinha
cabelos negros como a noite, mas seus olhos pareciam o oceano. Engoli em
seco, balançando a cabeça e encarando minha mãe.

— Trevisan? — Sua voz caiu e ela arregalou os olhos. — Não! Eles


querem me matar...

— Você está devendo a eles. Uma hora eles iriam cobrar, mas não se
preocupe, ninguém está vindo. — Me aproximei da pia e comecei a lavar as
louças que ali estavam.

— Entendi. — Ela começou a se coçar, então desviei os olhos. — Seu


pai ligou. Eu não disse nada a ele.

— É óbvio que não. — Revirei os olhos, cansada. — Vou ligar de


volta depois.

Meu pai não sabia sobre os vícios da minha mãe. Ele morava a quatro
horas de Chicago, e depois que decidi, há dois anos, vir ficar com a minha
mãe, ele ficou magoado e nós só nos víamos em feriados. Ele nunca vinha
aqui, era melhor assim.

Se ele soubesse o que Carolyn fazia... Deus, acho que ele a mataria e
me levaria para casa a reboque.

— Estou aliviada que agora você vai poder quitar nossas dívidas. —

Minha mãe sorriu nervosamente e se abraçou. — Você é bonita, Blue. Linda.


Ganharia mais sendo prostituta, porém, algo me diz que esse Trevisan vai
recompensar você de uma maneira melhor. — Ela riu sozinha, festejando.

Eu apenas me encolhi, engolindo o caroço em minha garganta.

O sobrenome Trevisan nessa cidade fazia qualquer pessoa tremer dos


pés à cabeça, eu não era uma exceção. Porém, Matteo Trevisan me fez mais
que tremer.

Eu o cobicei, isso era imperdoável.

O príncipe da Outfit jamais olharia para mim.

Era a regra básica.

A realeza não se misturava com o lixo.

Raina jogou o balde de pipoca no lixo enquanto saíamos do cinema.


Ela havia me dito que precisava beber algo depois do filme e eu não me opus.

— Você vai gostar de lá. Os meninos são meio doidos, mas você se
acostuma. — Raina riu quando me viu arregalar os olhos. Andamos duas
quadras até chegarmos a Navy Pier.

— Eu... — Minha voz cessou quando vi Matteo parado em frente a

um carro preto e caro.

Meu estômago deu um nó e eu quis ordenar as minhas pernas que se


mexessem, mas nada disso aconteceu. Raina me puxou em sua direção e eu a
assisti se jogar nos braços de um homem loiro que estava ao lado do meu

futuro chefe.

— Ei, Ray. — Sua mão foi para a bunda da minha amiga. Raina se
afastou dele depois do beijo e sorriu para mim e depois para ele.

— Essa é a Blue, minha nova amiga.

Meu coração se aqueceu com sua apresentação. Sorri para ele e


acenei.

— Era você. — As sobrancelhas de Travis se juntaram e ele encarou

Matteo, que estava focado em mim. Arregalei os olhos ao vê-lo tão


concentrado.

— Travis, por que não leva Raina para a pista? — Matteo falou
pausadamente.

Engoli em seco ao ver a minha amiga ficar rígida. Ela me olhou, abriu
a boca, mas voltou a fechá-la. Travis a arrastou sem outra palavra. Ergui
meus olhos para o homem de olhos azuis e ele se ergueu do carro. Matteo deu
um passo em minha direção e eu dei dois para trás.

— Pare. — Sua voz fez minhas pernas ficarem inertes. — Você está

dando um jeito de estar comigo muitas vezes, Flame. Já estou começando a


achar essa merda séria.

— Eu não... eu estava no cinema... Raina quis vir... — Tentei


explicar, enquanto tremia.

— O.k. — Matteo segurou uma mecha do meu cabelo e a levou até o


rosto. — Espero que quando começar a trabalhar, você pare de tremer ao me
ver.

Ele se afastou e meu coração relaxou as batidas ao vê-lo voltar para o


lugar onde estava.

Eu fui embora em seguida.

Duas semanas depois, recebi uma mensagem com um endereço,


horários e um arquivo com o contrato de trabalho. Eu precisaria dormir no
trabalho, mas estava liberada dos afazeres depois das quatro da tarde. Isso era
reconfortante, acho.

No dia seguinte, eu me ergui e corri para o banheiro. Tomei um banho


rápido e peguei as peças de roupas que eu tinha. Separei várias e enfiei em
uma mochila. Peguei carregador, meu Kindle e itens de higiene pessoal.
Quando terminei, saí à procura da minha mãe, mas ela não estava na casa.

Mordi meu lábio enquanto ponderava se ir para outra cidade e deixar


Carolyn aqui era seguro. Porém, balancei a cabeça. Minha mãe sabia se
cuidar.

Peguei o ônibus que me levaria a Oak Park e fui a viagem inteira

lendo. Quando desci em frente ao prédio alto e luxuoso, tentei respirar fundo
e me concentrar.

— Bom dia! — murmurei para o porteiro e ele sorriu para mim. Me


surpreendi ao ver que ele não era muito mais velho que eu. — Eu sou a Blue.
Vou começar a trabalhar hoje no... — Olhei para a mensagem e suspirei. —
Último andar. Matteo Trevisan. Você pode avisar que estou aqui?

— É claro. Eu sou o Aaron. — Ele sorriu, pegou o interfone e


telefonou. Depois de alguns segundos me encarou. — Ele autorizou a sua

entrada. Tenha um bom dia!

— Obrigada!

Andei com rapidez para o elevador e apertei o botão, querendo chegar


lá o mais rápido possível. Eu estava nervosa, não pelo trabalho em si, eu
amava cozinhar e arrumar as coisas, porém, estar na casa de mafiosos não era
algo que eu desejava. Se meu pai soubesse... não queria imaginar a confusão.
Quando o elevador abriu as portas, eu arregalei os olhos. Eu já estava
dentro do apartamento. Ele era enorme e bastante claro por conta das paredes

de vidro. O sofá era branco, como a maioria dos móveis que eu conseguia
ver. A tevê era algo de outro planeta, e eu quase gemi ao ver os livros
amontoados na parede.

— Você vai entrar ou o quê? — A voz rouca estalou.

Ergui os olhos e vi Matteo descendo a escada. Andei para dentro e as


portas do elevador se fecharam, me assustando.

— Eu não imaginei que o apartamento fosse tão grande, então


contratei uma equipe de limpeza. Eles virão uma vez na semana para limpar
tudo. Você só precisa o manter em ordem e cozinhar.

— Tudo bem — falei, apertando a minha mochila. — Eu posso


começar agora, só preciso deixar minhas coisas em algum lugar — murmurei,
encarando-o. Tentei focar em seu rosto, porém, seu peito estava nu e ele só

usava uma calça de moletom.

— Suba a escada. Quarto à direita. — Ele se virou e andou para outro


lugar enquanto eu seguia seus comandos.

Quando entrei no quarto, não consegui acreditar que eu dormiria aqui.


Minha Nossa Senhora. A cama dava duas da minha, e a vista era de tirar o
fôlego. Meu banheiro era perfeito, tinha até uma banheira. Eu nunca havia
entrado em uma banheira.

Excitação correu pelo meu peito e eu suspirei, tentando me conter. Eu

precisava começar a limpar tudo, não relaxar em uma banheira. Joguei minha
mochila no armário e desci a escada, pronta para começar o dia. Andei para
onde Matteo havia sumido e encontrei a cozinha.

Ela era tão linda como todo o apartamento. Preparei café e panquecas

ao ver que a geladeira estava cheia. Estalei ovos e também fritei bacon.
Quando montei a mesa, me questionei se havia mais alguém na casa. Por via
das dúvidas, coloquei dois lugares.

— Porra, que cheiro é esse? — Uma voz soou. Eu me virei e vi o


outro irmão que estava no Village. — Ei, Blue — ele me cumprimentou, mas
seu rosto não demonstrava nenhuma simpatia.

— Oi. Hum, eu vou me retirar — falei, suavemente, e me afastei. Ao


encontrar Matteo na porta, baixei meus olhos e saí.

Voltei para o quarto e fechei a porta, respirando profundamente.

O.k., Blue, tudo vai ficar bem.


— Ela cozinha bem — Prince resmungou enquanto levava mais uma
garfada à boca. Acenei, mordendo o pedaço de bacon. — Romeo falou com
você sobre o Date? Acho que lá será uma boa para expandirmos as corridas
do Navy Pier.

Eu amava correr, e por isso, uma das minhas prioridades dentro de

Chicago, sempre foi o Navy Pier. Porém, com a nossa mudança, Navy Pier
ficou para trás junto com nossos irmãos mais velhos. Não que eles não se
fizessem presentes.

— Podemos conhecer lá primeiro — falei, pegando um bocado de


ovos e enfiando na boca. Merda. — Ela realmente cozinha bem. Nunca comi
uma panqueca tão gostosa.
— Nem me fale. — Prince riu e deslizou o olhar para o celular.

— O que foi? — questionei, apontando com o queixo a tela do seu

telefone.

— Nada. Ainda continuo esperando Lake me responder. — Ele deu


uma risada amarga e eu escondi a mágoa dentro de mim.

— Esqueça essa imbecil — rosnei, irritado.

Prince ergueu o olhar, furioso.

— Não fale assim dela. Ela ainda é nossa irmã!

— Não minha. Foda-se, ela está longe e nem mesmo liga.

— Rocco não a deixa voltar, Matteo. Você sabe disso! — ele gritou e
se ergueu, enquanto eu bebia o suco para tentar me acalmar.

Lake se mudou para uma escola onde o Satanás bate as botas, e desde
então não entrou em contato comigo ou com Prince. Meu problema não era

ela não falando comigo. Foda-se ela. Porém, Prince era ligado a ela de uma
maneira que nenhum Trevisan era.

E ela estava matando-o.

— Lake é egoísta, Prince. Se não fosse, ela já teria ligado para você.
Se acostume a viver sem ela, antes que você faça alguma bosta — pedi,
completamente tenso, e me ergui.
Prince balançou a cabeça antes de eu o deixar sozinho. Subi a escada
e estaquei quando ouvi uma música baixa soando. Parei em frente ao quarto

de hóspedes e semicerrei os olhos. Que porra ela estava ouvindo?

A porta estava meio aberta, então me aproximei enquanto me


questionava o motivo de estar fazendo isso. Essa mulher continuava sendo
um enigma para mim desde o dia em que a conheci no Navy Pier. Sua

inocência me atraía como a porra de um imã.

Suspirei assim que a vi. Blue estava apenas de calcinha e sutiã


enquanto dançava no meio do quarto. Meu pau ficou duro de apenas ver isso.
Ela era pequena em todos os lugares, menos lá.

Antes que ela me visse, me virei e fechei a porta. Deus sabe que foi a
porra de um desafio.

Prince havia apostado com Travis que eu comeria Blue. Ela era o meu
tipo, palavras do idiota. Eu, porra, não iria. Ela era nossa empregada, eu não

podia foder com uma pessoa que ficaria próxima a nós.

Eu só precisava convencer meu pau disso.

O Date não era apenas um bar, atrás dele havia uma pista de apenas
um sentido. Era escondido, não que eu ligasse caso não fosse. A polícia de
Chicago não mexia nos negócios da Outfit. Não depois do que Rocco, Sienna
e Prince fizeram.

— Então, gostou do resultado? — Prince questionou, acendendo um


baseado. Prince nunca foi de beber ou fumar, mas desde que Lake foi para o
inferno, meu irmão estava se jogando.

Já fazia duas semanas que estávamos morando em Oak Park. O Date

estava sendo reformado e agora estava pronto para o trabalho. Blue estava
conosco há mais de uma semana. Ela se escondia pela casa, então eu não a
via muito.

— Está foda. — Segurei meu celular e liguei para Rocco.

— E aí? — ele respondeu no primeiro toque.

— O Date será um bom lugar. Podemos centralizar as corridas e os


negócios — falei, assistindo ao Prince conversar com Travis. — A reforma
foi boa.

— Você decide. Sienna está perguntando se Blue está bem e se ela


está fazendo as coisas direito. Meu Deus, Passarinha. — Ele grunhiu, me
fazendo sorrir. Sua esposa se preocupava mais comigo e Prince do que com
seus próprios filhos. Eles estavam em seu ventre ainda.

— Ela cozinha bem.

E é uma tentação dos infernos.


— Que bom. Chegaremos aí na próxima semana.

— Beleza.

Escondi meu celular na calça e me aproximei dos meus amigos.


Travis vinha de Chicago para abrirmos as corridas aqui. Ele ficaria
responsável pelas apostas.

— Raina está aqui com a garota do Matteo — ele murmurou, e eu


estapeei sua cabeça. — Porra, cara.

— Ela não é minha, idiota — falei, vendo Prince começar a rir.

— Vamos lá. Preciso levá-la de volta. — Ele andou para dentro do


bar.

Eu vi a loira que ele comia regularmente no Village.

— Ei, está pronta? — Travis questionou, mas Raina estava focada em


outra garota.

Blue.

— Começamos agora — Raina gritou sobre a música.

Vi quando Blue virou a cerveja nos lábios e fez uma careta. Que porra
era essa? Quando ela afastou a garrafa, seus olhos se expandiram assim que
me viu.

— Oh...
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, completamente
rígido, me aproximando com Prince.

— Blue, se divertindo? — Meu irmão se sentou ao seu lado.

— Hum, sim — respondeu, visivelmente nervosa. — Raina me disse


que estava na cidade e... — Blue evitou me encarar enquanto explicava e eu
permanecia em silêncio.

— Toma, prova. — Prince estendeu o baseado em sua direção.

— Não, obrigada. — Ela fez uma careta.

— Vamos embora — falei para Prince, porém me lembrei que


precisava esperar Zyon e Saori. Os dois eram soldados da Outfit e estavam
vindo prestar conta. — Vou para o escritório...

— Não, cara, vamos lá. Quero beber. — Travis segurou meu ombro e
pegou um copo, enchendo-o de uísque.

Segurei o copo e o virei, sentindo o líquido descer queimando. Olhei


ao redor e encontrei Hope sentada sozinha a uma mesa mais afastada.

— O que essa puta está fazendo aqui? — Prince seguiu meu olhar e se
ergueu.

Eu o segui em direção à irmã de Cesar, o rato traidor que Prince


matou. Hope nos viu antes que chegássemos até ela, então se ergueu. Seu
corpo ficou rígido enquanto seu olhar derivava de Prince para mim.
— O que sua boceta está fazendo aqui, porra? — Prince questionou,
gritando.

Hope engoliu em seco ao se afastar.

— Na-nada. Já estou indo...

— Você deveria ir embora de Oak Park. Ou quer que eu faça um

buraco na sua testa como fiz com a do seu irmão? — Puxei Prince pelo braço
e me aproximei de Hope, que agora estava branca como papel.

— Saia daqui.

Hope não precisou de outro incentivo, ela correu para a porta. Olhei
para o meu irmão e não o reconheci. Eu odiava encará-lo e não ter ideia de
quem ele era ou o que faria a seguir.

— Que porra é essa, Prince? — questionei, rígido.

— O quê? Você quer mais ratos aqui? — Ele me encarou, confusão e

escárnio dançando em seus olhos. — Foda-se, Matteo.

Ele virou sua cerveja e se afastou. Apertei meus punhos e me virei


para Travis, Raina e Blue.

— Você. Vamos. — Apontei para Travis e me encaminhei para o


escritório, que seria meu a partir de agora.

Depois de duas horas com Zyon e Saori, Travis saiu para ver como
Raina estava. Eu despachei os dois e fui em busca do meu amigo e das duas

mulheres. Quando achei Travis, eu quis socar sua cara. Raina e Blue estavam

dançando sobre o balcão.

— Travis — grunhi, irritado, enquanto ele estava virando um copo e


encarando Raina. — Cara, que merda é essa?

— Deixa as meninas se divertirem. — Ele riu enquanto me encarava.

Eu me sentei, decidindo que deveria fazer isso. Pedi mais uma bebida
e engoli o líquido enquanto observava Blue. Seus quadris balançavam ao som
da música e seu sorriso era destinado a Raina.

— Seu celular, mano — Travis avisou, apontando para a tela acesa.

“Estou aqui.”

Porra. Me ergui e olhei ao redor. Quando vi Charlie na entrada, andei


em sua direção. Ela se agarrou a mim e gemi assim que senti sua língua em

minha boca. Desci minha mão para a sua bunda e apertei. Porra, essa garota
sempre dava um jeito de se meter em encrenca.

— Vamos para casa — ela pediu, mas eu neguei ao me afastar.

— Vamos beber.

Ela fez beicinho e eu ri. Nem fodendo. Andei de volta para o balcão e
encontrei Blue e Raina ainda dançando, rindo juntas. Charlie encarou as duas
e depois a mim. Eu fodia Charlie regulamente há três meses, mas não apenas
ela. Ela sabia, mas se tornava meio louca quando via outra mulher.

— Quem é essa? — Sua pergunta me fez erguer as sobrancelhas. —

Raina trouxe uma amiga para você? — Ela baixou os olhos quando apertei
sua cintura.

— Por que você não mantém a boca fechada? — questionei, irritado.


Odiava perguntas e cobranças, Charlie amava fazer os dois.

— Eu só... — Ela parou de falar quando seu celular tocou. Sorri,


levando meu copo à boca. — Droga.

— Você sabe o caminho para a saída. — Indiquei a porta.

Charlie suspirou, se virou e foi embora.

Fiquei mais uma hora no bar, e depois que Raina sumiu com Travis,
vi Blue sozinha.

O.k., vamos lá, porra.

Agarrei o braço dela e a puxei enquanto as pessoas abriam espaço.

— Você deveria estar em casa — grunhi, entrando no carro depois de


enfiá-la no lado do passageiro.

— Eu disse a você. Raina me chamou... — Ela tentou explicar


enquanto eu pisava no acelerador.

— Eu sei. Eu sei. — Liguei o som do carro um pouco alto, deixando


claro que eu não queria conversar.

— Aquela garota é sua namorada? — Ela não pensava o mesmo.

— Eu não namoro.

Em alguns minutos, entrei na garagem e abri a minha porta. Blue fez


o mesmo e nós andamos até o elevador privado. Quando chegamos à

cobertura, ela andou na direção das escadas sem me encarar.

— Quando você for sair, me avise. — Derramei as palavras.

— Hum, por quê? — perguntou, rígida.

Sim, por quê, idiota?

— É um problema?

— Não, quero dizer... Eu li o contrato que você enviou para mim.


Depois das quatro, eu posso fazer o que eu quiser, não? — Ela se virou e seu
olhar cauteloso me disse que ela estava realmente confusa.

— Preciso saber onde está caso haja algum problema...

Que porra, Matteo? Foda-se.

— Ah, o.k. — Ela acenou e se virou, porém, cessou seus movimentos


novamente. — O meu salário, hum, é aquele valor mesmo? — Suas
bochechas coraram.

— Sim — semicerrei os olhos —, é claro — respondi firmemente.


— O.k. — Ela acenou devagar. — Boa noite, sr. Trevisan.

— Matteo. — Apertei minha mandíbula.

— O quê? — Suas sobrancelhas se juntaram e eu estalei meus dedos.

— O meu nome é Matteo, não sr. Trevisan.

Blue engoliu em seco, porém acenou.

— Boa noite, Matteo.

— Boa noite, Flame.

Blue se virou e subiu a escada enquanto eu caía no sofá, apertando


meus olhos.

— Onde você está? — Gravei um áudio e mandei para Prince. Eu


sabia que ele não estava em casa, suas chaves não estavam na mesa.

Ele visualizou, mas não digitou nada. Em seguida, uma imagem


apareceu. Quando vi Hope dormindo completamente coberta, eu suspirei.

Porra, Prince.

“Não fode, porra.”

“Já fodi.”

Apertei o celular e suspirei novamente. Como diabos eu ia controlar


meu irmão, se nem eu mesmo conseguia me controlar? Estava em nosso
sangue fazer merda todos os dias do inferno.
Subi a escada e parei em frente ao quarto de Blue. Estava começando
a me perguntar se a ideia de trazer a garota para Oak Park foi boa.

Foda-se.
Flame.

Meu estômago esfriou ao me lembrar do dia em que o conheci e ele


me chamou assim. Passei o restante da semana pensando nisso e tentando
ficar fora da vista dos dois homens da casa. No sábado pela manhã não tinha
nenhum sinal dos irmãos Trevisan. Eu limpei a casa e fiz o almoço, e quando

terminei escutei a porta abrir.

— Ei, Blue. — Prince entrou na cozinha e foi para a geladeira.

— O almoço está pronto. Você vai precisar de mim? — questionei a


Prince, evitando encarar seu rosto.

Eu ainda não estava certa se podia me sentir relaxada na presença


deles. Obviamente, os dois não faziam nada comigo, mas a imagem do
Matteo atirando em uma pessoa no Navy Pier me deixava em alerta.

— Não. Você está indo para Chicago, certo? — ele questionou,

enquanto virava uma garrafa de água na boca.

— Sim. Voltarei na segunda de manhã.

— Espere o meu irmão e a minha cunhada. Você volta com eles de

helicóptero.

— Não precisa — resmunguei, engolindo em seco.

— Estou morto de fome. — Matteo entrou sem camisa na cozinha,


então encarei meus pés, me odiando por sentir meu colo e bochechas
começarem a esquentar.

— Posso servir agora — falei enquanto me movia, mas Prince


balançou a cabeça.

— Vá para casa, Blue. Nos viramos.

Eu sorri para ele e acenei. Olhei para Matteo e pedi licença. Subi a
escada com o celular na mão e suspirei ao ver o nome do meu pai na tela.

— Oi, papai — resmunguei ao atender.

— Estou em Chicago. Me passa o endereço da sua casa.

Suas palavras me deixaram rígida. Porra.

— O senhor está onde? Eu posso ir até aí.


— Quero ver sua mãe, Blue.

Respirei fundo e ordenei meus pensamentos.

O.k., tudo bem.

— Vou enviar por mensagem.

— O.k., Boo. Te vejo daqui a pouco.

Assim que desliguei, disquei o número da minha mãe. Ela demorou


para atender, mas o fez.

— Papai está indo aí. Arrume tudo e, por favor, tome um banho —
falei rapidamente, pegando minha mochila.

— O que ele está vindo fazer? — ela berrou, respirando com


dificuldade. Talvez, arrumando suas porcarias.

— Não sei. Coloque um dos seus moletons. Não fode tudo, o.k.? —
implorei, descendo a escada. Vi Travis na sala e sorri. — Estou indo.

— Ei, onde é o incêndio? — o amigo de Matteo e namorado de Raina


questionou.

— Chicago...

— Quer carona? Estou indo para casa. — Ele pegou as chaves e eu


ponderei sua oferta, porém, não podia recusar.

— Sim.
— Estou indo e levando Blue — ele gritou em direção à cozinha
enquanto eu chamava o elevador.

— Ei, você já vai? — Matteo apareceu, sua pergunta era direcionada


a seu amigo.

— Sim. Vejo você amanhã.

— Não vai almoçar? — Me virei e olhei para Matteo, seu olhar duro
mudou do amigo para mim.

— Cara, eu preciso ir. Vou dar uma carona para a Blue.

O elevador chegou e eu entrei quando as portas se abriram. Me virei e


acenei para me despedir de Matteo. Vi sua mandíbula apertar antes que as
portas do elevador se fechassem.

Travis era uma boa companhia. Ele fazia piadas e cantava as músicas
que tocavam na rádio. Eu o agradeci quando cheguei em frente à minha casa.

Ela não era horrível, na verdade, era a única coisa bonita que eu possuía. E só
morávamos nela porque a escritura estava em meu nome. Se estivesse no da
minha mãe, ela já teria sido vendida há muito tempo.

— Boa folga! — Travis sorriu enquanto saía do meio-fio.

Suspirei ao me virar e ver o carro do meu pai na garagem enquanto


caminhava para a porta.

— Ei, Boo. — Papai me envolveu em seus braços assim que entrei.


— Papai, como C.K. está? — questionei, me afastando e procurando
mamãe ao redor e não a encontrando.

— Está ótima. Sua mãe está terminando o almoço. — Assim que ele
respondeu sobre sua esposa, eu respirei aliviada.

— Que bom.

Nós nos sentamos à mesa e meu pai começou a questionar mamãe


sobre o trabalho dela.

— Uma porcaria, mas eu preciso, certo? — Ela sorriu para nós. Ela
trabalhava no posto de gasolina da cidade durante a noite.

— Sim, todos nós. — Papai me encarou e semicerrou os olhos. — E a


faculdade? Como está?

Meu peito ficou dolorido. Odiava me lembrar que eu havia trancado a


faculdade por causa da minha mãe. A última vez que um cara veio cobrá-la,

ele levou todo o dinheiro que eu usaria para pagar a minha mensalidade.

— Está ótima — menti, sentindo meu coração começar a doer.


Odiava mentir para o meu pai, mas era tudo que eu fazia ultimamente.

Por causa da Carolyn.

E ela nem mesmo se sentia mal. Era isso que me deixava com raiva.
Ela não deu a mínima que tive que deixar meus sonhos em stand-by.
— Você será uma fisioterapeuta incrível.

Seria, se eu me formasse.

Estava esperando receber meu salário para pagar a dívida da minha


mãe e minha faculdade. Já havia visto que tinha um campus em Oak Park,
então tudo voltaria ao normal.

— C.K. já conseguiu engravidar? — A pergunta de Carolyn pareceu


um tapa em papai.

— Mãe!

— O quê? Não entendo a demora. Faz tanto tempo que estão juntos.
— Ela deu de ombros enquanto eu ficava rígida.

— C.K. e eu vamos adotar. — Papai deixou a admissão cair dos seus


lábios.

— Ah, meu Deus — sorri —, isso é ótimo! — falei para ele e pulei da

cadeira, abraçando-o com força ao me sentir feliz. — Parabéns, papai. Vocês


merecem.

Ignorei Carolyn e os seus comentários pelo resto do tempo. Papai fez


o mesmo.

— No Dia de Ação de Graças eu vou para casa — disse com firmeza,


então meu pai sorriu enquanto andávamos até seu carro.
— C.K. vai amar.

— Amo você, papai.

— Amo você, Boo. — Ele beijou minha testa e encarou nossa casa.
— Carolyn ainda é a mesma. Espero que ela não esteja colocando você em
problemas.

— Não se preocupe com isso — falei e beijei sua bochecha.

Ele acenou e foi para o seu carro. Mandei beijos até ele sumir pela
rua.

— C.K. é oca por dentro, será? — Carolyn questionou enquanto


pintava as unhas assim que entrei.

— Pare com isso. C.K. é incrível e merece um bebê, não importa se é


pelo meio convencional ou adoção — falei, irritada, antes de subir para o
meu quarto.

Tomei banho e meu celular tocou assim que saí. O nome de Raina
apareceu e eu suspirei ao atender. Estávamos conversando com bastante
frequência, e amei revê-la dias atrás, em Oak Park.

— Ei.

— Você vai sair hoje? Se não for, o que acha de fazermos algo de
meninas? — ela murmurou.
— Você não dança hoje? — Ouvi um barulho ao fundo.

Dança era a maneira mais aceitável de falar que ela iria se prostituir.

— Sim, podemos sair depois disso. Eu posso sair depois da meia-


noite.

— Posso ir para a sua casa, mas sair não é algo que eu deseje hoje.

— Sério? Aquela Charlie falou algo com você aquele dia?

— Não, não. — Neguei, porque Charlie não era um problema. Eu


nem a conhecia. Só a vi aquele dia no bar. Claro que notei que ela e Matteo
eram próximos, mas isso não era da minha conta. — Travis me deu uma
carona. — Mudei de assunto.

— Ele me contou. Olha, então amanhã a gente almoça juntas. Pode


ser?

Desligamos depois que marcamos em um restaurante legal.

Escolhi um vestido simples e saí do quarto. O silêncio me incomodou,


mas pensei que mamãe estivesse dormindo. Infelizmente, ela não estava. Um
homem enorme estava parado na porta enquanto minha mãe tremia e tentava
abrir a calça dele. Que merda era essa?

— Mãe? — chamei, entrando na sala.

Os olhos dele derivaram dela para mim, então senti meu estômago
revirar quando ele observou meu corpo de cima a baixo, faminto.

— Você não, Carolyn. Ela.

Suas palavras me fizeram engolir em seco. Senti o nojo retorcer


minhas entranhas.

— Não. Ela é minha filha. Por favor, Brian...

— Ela te deve quanto? — questionei, pegando meu celular.

— Dois mil. — Ele deu um passo em minha direção enquanto eu


discava o contato, me sentindo tão pequena.

Porra, Carolyn.

— Eu esqueço a dívida se você foder comigo...

Nem morta, porra.

— Ei, Blue. — A voz de Raina soou alegre.

— Eu preciso de ajuda. — Funguei e me odiei por fazer isso.

— O que houve?

Expliquei à minha amiga sobre Brian e a dívida da minha mãe, obtive


o silêncio como resposta.

— Raina? Me desculpe, eu não tenho mais para quem ligar — falei


baixinho, me sentindo completamente envergonhada.

— Eu... espera Blue. — A ligação ficou abafada, mas ouvi vozes ao


fundo por alguns segundos. Me virei e encarei Brian, engolindo em seco ao
vê-lo apoiado na porta. — Matteo quer falar com você.

O quê?

— Raina, não, eu só...

— Você só o quê, Flame? — ele me cortou, com a voz fria e

indiferente.

— Me desculpe, a Raina... ela...

— Passe para Brian. Agora. — Sua demanda me fez começar a


tremer.

— Eu...

— Eu não vou pedir de novo. Se eu pedir, irei aí e eu mesmo matarei


sua mãe do caralho.

Ele era tão mandão, cruel e arrogante.

Estendi o telefone para o Brian e ele o pegou. Vi seu rosto ficar


branco conforme Matteo falava com ele.

— Claro, cara. O.k. — Ele me devolveu o celular e saiu da minha


casa como o diabo foge da cruz.

— Pode descontar do meu salário — afirmei, colocando o celular no


meu ouvido, porém, Matteo já havia desligado.
Respirei profundamente e senti a raiva encher meu peito. Eu não
acreditava que estava nessa posição mais uma vez.

— Que porra é essa, Carolyn? — gritei ao me virar. — Você disse


que devia cinco mil. Cinco mil. E agora tem essa merda de dois mil?

— Eu peguei durante essa semana...

— Você quer me foder? — berrei, indo em sua direção. Parei quando


percebi que iria sacudir seus ombros. — Você me fez trancar minha
faculdade, eu trabalho seis dias da semana e você aproveita para fazer mais
dívidas?

— Desculpa, Boo. — Ela piscou os cílios e as lágrimas começaram a


descer. — Eu me senti sozinha...

— Você é inacreditável. — Balancei a cabeça. — Eu vou pagar os


cinco mil e vou embora...

— Não, Boo, por favor. Eu vou me comportar. — Ela soluçou e me


abraçou. Carolyn parecia uma criança, e eu queria muito ser forte e conseguir
me afastar, mas ela era minha mãe.

Quem abandonava a própria mãe?

Eu a levei para o quarto e só saí de lá quando ela adormeceu. Me


deitei na minha cama e suspirei ao pensar na conversa com Matteo.

Tentei não entrar em contato com ele, mas quando vi já tinha enviado
a mensagem.

“Obrigada e me desculpe.”

Não recebi nenhuma resposta.

— Não sei o que diabos Matteo vê nela. — Raina bufou enquanto


pintava minhas unhas de nude.

— Por que vocês não se dão bem? — questionei, curiosa, sobre sua
relação com Charlie.

— Ela nasceu na máfia e adora dizer que Travis vai me dar um pé na


bunda assim que se casar. — Raina engoliu em seco e eu franzi as
sobrancelhas.

Ela terminou com as minhas unhas e eu a ajudei com o cabelo longo e

loiro. Travis a levaria para sair hoje.

— Raina, desculpa a pergunta, mas como funciona o lance entre


vocês dois? — questionei, mordendo meu lábio enquanto enrolava a mecha
lisa no babyliss.

— Eu gosto dele. Tipo, amor mesmo. — Sua voz baixou e ela evitou
me encarar. — Mas Travis gosta da minha boceta, o resto não.
Meu coração apertou e eu me sentei na sua frente.

— Ele quem perde. Sua boceta deve ser incrível, mas seu coração...

bem, querida, ele é precioso — murmurei com firmeza.

Ela sorriu, jogando os braços a minha volta.

— Sinto como se nos conhecêssemos há anos.

— Eu compartilho o sentimento. — Sorri, encarando-a. — Travis


nunca falou sobre seu trabalho?

Raina engoliu em seco e acenou.

— Ele paga a Andy para eu não transar com os clientes. Apenas


danço.

— Então, como você fala que ele não gosta? — Arqueei a


sobrancelha.

— Ele tem uma noiva, Blue. — Meus olhos se arregalaram e Raina

sorriu. — É da máfia, como ele. Pura e inocente. A esposa perfeita.

— Mas...

— Não se engane. Mulheres fora da máfia só podem ter um gosto. Os


homens dentro dela noivam com as princesas criadas lá dentro, não conosco.

Suas palavras me fizeram ficar deprimida. Odiava traição, mas


quando vi os olhos de Raina percebi o quão machucada ela ficava por Travis
ter alguém além dela.

E eu me coloquei em seu lugar. O que diabos eu faria?


— O.k., Remy. Sorria para a câmera — pedi para o meu sobrinho e
ele piscou, completamente sério.

— Ele só sorri para o Romeo e, em raras ocasiões, para mim —


Lunna falou às minhas costas.

Respirei fundo, pegando o bebê do berço.

— Eu o farei sorrir, espere e verá. — Passei por ela e caminhei para


fora do quarto.

— Aonde você pensa que vai? — Sienna parou diante de mim e


estendeu os braços.

Eu a fulminei enquanto passava Remy para ela.

— Então, o que são os seus? — questionei, seguindo-a escada abaixo.


Estávamos na casa de Romeo para celebrar o aniversário dele.

— Não vou contar até você me dizer quem é C. — Sua mudança

súbita de conversa me fez semicerrar os olhos. — Vi uma mensagem dela


que ela se referia a Blue como... deixa eu ver... puta. Blue é a garota que
contratou, certo? Por que você está deixando essa C falar assim da Blue?

Sienna sempre foi protetora e, naturalmente, ela ocupou o lugar

materno da família, porém, depois que engravidou, seus hormônios estavam


realmente fazendo-a pensar que Prince e eu éramos seus filhos.

— C é uma foda e ela é louca. Não que isso seja da sua conta, claro.

— Matteo, cuidado — Rocco grunhiu do sofá enquanto mexia em um


notebook.

— Diga a ela para respeitar as mulheres. Isso é horrível — minha


cunhada pediu, insultada.

— Como você chamava a Milena? Espera, deixe-me pensar. — Levei


a mão à cabeça, e Sienna me fulminou.

— Ela realmente era uma puta e queria destruir meu casamento — ela
berrou e Remy a encarou. — Desculpe, querido.

— Matteo, você realmente está chateando uma grávida de gêmeos? —


Prince perguntou enquanto jogava com Romeo, então me virei para Sienna.

— Desculpe, mamãe.
Sienna me deu um tapa no ombro e eu caí rindo no sofá.

Quando anoiteceu, eu dirigi para o Village com Prince. Travis já

deveria estar lá. Assim que cheguei, andei diretamente para Brian, que estava
no bar virando o copo.

— Quanto a vagabunda deve? — Me sentei ao seu lado e ele me


encarou.

— Sete mil ao todo, e já veio pedir mais hoje. Eu vendo? — Brian me


encarou sem piscar.

— Venda. Problema dela — respondi firmemente. — Vou quitar os


sete, e tudo que ela pedir agora é por conta dela. — Me ergui, porém voltei a
me sentar. — Eu espero que essa sua tática de foder as viciadas em troca de
mais tempo tenham parado, senão vou levar isso ao Rocco e ele vai cortar seu
pau.

— Cla-claro, Matteo.

Me afastei e pedi uma cerveja enquanto via Raina dançando no poste.


Ela era realmente bonita, e eu entendia por que Travis a mantinha.

— Você realmente está olhando para Raina? — A voz dele ecoou


irritada.

Olhei para ele enquanto bebia minha cerveja.

— Eu e todos os filhos da puta daqui — resmunguei, erguendo as


sobrancelhas.

— Você é meu amigo, Matteo. — Travis apertou o copo.

— Ela sabe sobre Kiara? — perguntei, realmente curioso.

— Sim. — Ele se afastou e eu fiz uma careta. — Posso ter as duas,


certo?

— Pode? — questionei com seriedade, fazendo Travis engolir em


seco. — Escolha a que quer e mande a outra embora...

— Meus pais vão me matar se eu cancelar o noivado, você sabe disso.


— Ele latiu, furioso.

— Então, sua escolha está feita. — Dei de ombros.

Travis não disse mais nada, apenas focou sua atenção naquilo que ele
mais queria, mas não podia ter.

— Ei, Blue. — A voz de Prince me fez virar. Ele estava acenando

para alguém do outro lado, então olhei naquela direção e vi Blue sorrir para
ele.

Essa menina realmente estava aqui?

Quase como se sentisse meus olhos, Blue me encarou. Em dois


segundos ela começou a andar em minha direção. Ela usava um vestido de
alças preto e um casaco sobre os ombros.
— Ei, nós podemos conversar? — ela pediu, mordendo o lábio.

— Sobre o quê?

Seu cabelo caiu em seu rosto, mas ainda vi suas bochechas quentes.

— Minha dívida.

— Sua? — Arqueei a sobrancelha.

— Da minha mãe. — Blue suspirou. — Isso importa? — Sua voz


aumentou, nervosa.

Dei de ombros.

— Fale.

— Ela deve sete mil dólares a vocês e eu quero quitar tudo esse mês.
O salário realmente é incrível e estou um pouco chocada por receber tanto em
um mês, mas vai me ajudar muito...

— Você quer dar seu salário todo para as merdas da sua mãe? —

perguntei, rigidamente.

Blue olhou ao redor de maneira desconfortável.

— Eu preciso ajudá-la...

— Você vai se manter com três mil dólares? Como?

— Eu sou bem simples, se já não percebeu. — Ela apontou para a


roupa.
Deslizei meus olhos, me demorando em seu decote exposto.

— Eu quitei a dívida da sua mãe e dividi em três vezes para descontar

do seu salário. Mas se eu souber que você pagou as drogas da sua mãe depois
disso, vou despedir você.

Blue desviou os olhos e piscou várias vezes.

— Eu não quero que...

— Que o quê, Blue? — questionei, me aproximando. Segurei seu


rosto e me inclinei. — Que eu me meta na sua vida? Tarde demais, Flame. Eu
vou me meter pra caralho.

Blue ficou tensa e me olhou em silêncio. Segurei seu queixo e apertei.

— Você volta comigo hoje. Passaremos na sua casa para pegar suas
merdas. — Me afastei, vendo a pequena plateia que havia nos encarando.

— O quê? Por quê? — Blue gaguejou e eu a encarei em silêncio. —

Tá, o.k.

— Eu vou levar apenas dois minutos — Blue resmungou enquanto


saía do carro onde eu estava. Prince ficou com Sienna e Rocco na mansão e
só voltaria para Oak Park amanhã.
— Vai lá. — Acenei para a casa e a observei enquanto ela andava até
a porta. Seus quadris balançavam e sua bunda era uma tentação dos infernos.

Me imaginei mordendo logo abaixo e meu pau virou pedra.

Imagens de Blue deitada em minha mesa com as pernas abertas se


formaram em minha mente. Sua boceta era rosa e estava molhada, pronta
para mim.

Porra, porra, porra.

Olhei para o relógio e semicerrei os olhos ao ver que se passaram dez


minutos.

Saí do carro e andei até lá. A porta estava aberta quando forcei a
maçaneta, então entrei. Primeiro vi pernas, e depois um choro baixo. Me
aproximei e olhei para o corredor. Blue estava chorando, com a mãe
embalada em seus braços.

— Ela-ela-ela... — Flame tentava falar, mas seus soluços eram mais

altos.

Me aproximei e suspirei ao pegar sua mãe e a colocar no quarto. Os


olhos da sua mãe se abriram quando Blue começou a limpá-la.

— Mãe, o que você fez? — Blue questionou, ainda chorando. Eu me


afastei até a porta. — Você estava caída quando cheguei... preciso levar você
ao hospital...
— Eu usei demais. Desculpa, Boo. Eu só preciso dormir e ficarei
bem. — Sua mãe se virou na cama.

Flame fechou os olhos enquanto abraçava as próprias pernas.

— Você sabe que a culpada dessa merda é ela, não é? — perguntei,


com raiva por vê-la cair por uma idiota viciada que não dava a mínima para
ela.

— Matteo...

— Vamos embora — chamei, saindo do quarto e indo para a sala.

— Eu não posso ir, preciso checá-la... — Blue me seguiu e eu me


virei para encará-la.

— Ela vai dormir até amanhã ou até depois, por causa da heroína.
Você não precisa ficar — resmunguei, seguindo para a porta. — Vamos,
Flame.

— Não, você não entende...

— Se você não for comigo, você está demitida. — Minhas palavras


saíram furiosas, nem eu entendia o motivo. O rosto dela caiu, em choque.

Se Blue queria ficar, esse era um problema dela, não meu. Mas eu não
retiraria minhas palavras.

— Você é inacreditável! — ela gritou, andando para o corredor.


— Entre outras coisas!

Quando ela voltou, estava com a mochila nos ombros e o rosto

completamente raivoso. Segui-a até o carro e eu dirigi, saindo de Chicago.

— E se ela usar mais? — Blue questionou quando já estávamos na


estrada há quinze minutos.

— Você não pode salvar sua mãe, Blue. Não é assim que funciona.

Ela se sentou de lado e me encarou enquanto seus olhos azuis ainda


brilhavam.

— Eu sou a única coisa que restou na vida dela. Eu preciso tentar...

— E você vai se destruir tentando — falei, rapidamente.

— Não foi justo o que fez. — Ela encarou as mãos no colo.

Não foi. Ela estava certa.

— Você deveria ter chamado aquela Charlie para ir com você...

— Deveria, mas ela não estava lá, você sim — respondi, focado na
estrada.

— Eu faço o seu tipo? — Sua pergunta me fez apertar o volante e a


encarar. — Quero dizer, eu...

— Meu tipo é aquele que tem uma boceta. Você tem uma, presumo?
— questionei com seriedade.
Se possível, Flame estava realmente pegando fogo.

— Você é tão... Urgh! — ela grunhiu, se virando para a estrada.

— Quê? Perdeu as palavras? — incitei, diversão nadando em minhas


veias.

Blue me encarou furiosa.

— Explícito. — Ela definiu.

Apertei o botão da garagem do nosso prédio.

— Uau, essa é a primeira vez que alguém me chama assim. — Eu ri


enquanto murmurava.

Segundos depois ouvi pneus derrapando e olhei ao redor. Puxei


minhas armas do porta-luvas e olhei para Blue.

— Calma — resmunguei, mas ela se abaixou e cobriu sua cabeça.

Ficando rígido, vi os homens baixarem os vidros dos carros. A chuva

de balas começou enquanto o carro do Prince recebia todas, se mantendo


intacto.

— O que... — Blue gritou quando acelerei ao ver o portão abrir.

O carro voou pelo portão e eu o fechei antes que os filhos da puta


entrassem também.

— Oh meu Deus! — Blue gritou, olhando para mim.


— Ligar para Rocco — grunhi para o carro. No terceiro toque meu
irmão atendeu. — Tentaram me matar agora.

— O quê? — Rocco gritou, e sua voz reverberou pelo carro enquanto


Blue ainda choramingava. — Onde? Estou indo.

— Na entrada do prédio. Porra, eu sabia que morar nessa merda ia dar


errado! — gritei para ninguém em específico.

— Me explica essa porra direito, Matteo! — meu irmão berrou.


Respirei fundo e expliquei devagar o que havia acabado de acontecer. —
Prince. — Rocco socou algo e eu ouvi quando ele quebrou alguma coisa.

— O quê?

— Eles achavam que era Prince. O carro é dele. Você entendeu?


Merda. — Rocco bateu em uma porta e praguejou.

— Onde está Prince? — questionei enquanto sentia a dor irradiar do

meu peito e fluir pelo meu corpo. — Não o quero em Oak Park. Deixe-o aí.

— Calma, Matteo. Quero vocês de volta em casa. Essa ideia foi uma
estupidez...

— Não. Eu vou ficar.

— Então, estou chamando o helicóptero. Pouso daqui a vinte minutos.

Rocco desligou e eu apertei meu punho. Soquei o volante inúmeras


vezes, só parei quando Blue passou pelo câmbio e envolveu seus braços em

mim. O que ela estava fazendo?

Minha mão doía, meu peito parecia que ia explodir e preocupação


enchia a minha mente.

— Calma. Está tudo bem — Blue sussurrou.

Meu coração ainda batia furioso, e pensar no que aconteceu deixava


ainda mais claro que alguém queria matar meu irmão. Isso estava me
deixando insano.

Blue se remexeu em meu colo. O cheiro de morango me consumiu.

Porra, Flame.

Eu deveria soltá-la, porém continuei tocando no que não era meu.


Deslizei a mão até debaixo da sua bunda e abri minha porta. Me ergui com
ela no colo e andei em direção ao elevador.

— Você está bem? — questionei, sentindo seu corpo tremer enquanto


suas pernas me envolviam e sua cabeça repousava em meu ombro.

— Não sei. Ainda estou escutando os tiros. — Ela fungou enquanto


eu ficava em silêncio no elevador.

Assim que entramos no apartamento, eu me sentei no sofá e afastei


Blue. Ela cruzou as pernas e fungou novamente. Seus olhos estavam
vermelhos e seu cabelo estava em todas as direções.
Porra, como ela podia ser tão linda?

— Se o carro não fosse... — Blue nem conseguiu terminar.

— Mas ele era, e eu vou matar quem fez isso. — Segurei seu pulso
rígido e me inclinei, olhando dentro dos seus olhos tão azuis como seu nome.

— Matteo...

Ela não terminou, porque antes que ela tivesse a chance, empurrei
minha boca na sua. Blue segurou meus ombros enquanto eu lambia seus
lábios, pedindo passagem. Quando tive a chance, suguei sua língua e apertei
sua cintura com minhas mãos. Puxei-a de volta para o meu colo enquanto
minha mente me mandava controlar meu pau e minhas mãos.

Puxei seu cabelo vermelho e mordi sua boca enquanto ela gemia meu
nome de maneira incoerente. Derivei para seu pescoço e lambi sua pulsação.

— Ah meu Deus! — ela gritou quando nos virei e deitei seu corpo no

sofá.

Seu vestido subiu e eu vi suas coxas brancas e a calcinha rendada


preta. Deslizei a mão e me curvei, beijando seus lábios.

Porra, eu precisava foder essa menina.

Mas meu celular tremeu, me dizendo que não seria hoje.

Blue se afastou e eu suspirei ao fazer o mesmo. Ela puxou uma


almofada para o colo e baixou a cabeça. Tirei o celular do bolso e atendi

Prince. Graças a Deus.

— Você está bem? — Sua preocupação era palpável.

— Sim. Está tudo bem — respondi, passando a mão pelo cabelo.

Blue se ergueu e andou até sua mochila que estava no chão.

— Você está vindo?

— Sim, o Enzo estava dormindo. Ele está a caminho. Não fique perto
das janelas. Não sabemos de nada, então é melhor se precaver.

— Eu sei. Vou esperar vocês.

Desliguei o celular e vi Blue mordendo o lábio, ainda sem conseguir


me encarar.
Seus olhos estavam focados em mim e eu quis encará-lo, mas não
conseguia. Estava com medo dos tiros, porém, quando ele surtou socando o
volante, meu corpo reagiu antes que eu pudesse pensar. Em segundos eu
estava em seu colo, abraçando-o como se ele fosse um menino.

Esperei que ele me afastasse, que dissesse que eu era louca, mas ele

não o fez. Pelo contrário, ele me envolveu como se eu fosse uma tábua de
salvação. E eu continuei agarrada a ele até aqui. Continuei, porque mesmo
que eu quisesse, não conseguiria descer.

Os tiros ainda estavam sacudindo meus ouvidos. Achei que eu os


ouviria por um longo tempo. Pelos segundos que sua boca esteve na minha,
eu os esqueci. Tudo sumiu ao meu redor, meu nome, os tiros e o perigo que
era beijar esse homem.

— Suba e descanse. — Ele acenou para a escada enquanto eu mordia

o meu lábio. — Flame.

Eu o encarei e senti meu estômago girar. Oh, Senhor. Por que ele
tinha que ser tão bonito? A camisa preta estava agarrada ao seu peito,
enquanto a jaqueta estava sobre seus ombros.

— Eu posso esperar sua família com você. Vou fazer um café para
eles — murmurei, já andando para a cozinha. Matteo não me impediu e eu
agradeci por isso.

Quando cheguei à cozinha, coloquei água na chaleira e a pus para


ferver. Em poucos minutos preparei o café. Escutei o elevador se abrir e
deixei a mesa posta.

— Blue estava com você? — Ouvi Prince questionar.

Apareci na sala e engoli em seco. Uma mulher loira se jogou nos


braços de Matteo e o apertou contra ela como se o pensamento de o perder
fosse demais.

— Oh meu Deus, você está bem mesmo? — Ela fungou enquanto se


afastava e o checava.

— Estou, Si. Eu juro — Matteo falou.

Sienna acenou, limpando as bochechas. A esposa do Rocco se virou, e


quando me encontrou me encarou por alguns segundos. Fiquei
desconfortável, mas passou assim que ela sorriu e se aproximou.

— Você está bem, querida? — Sienna semicerrou os olhos.

— Sim, obrigada.

— Ela é tão linda — ela falou para os Trevisan, mas estava me

olhando. — Você tem quantos anos?

— Dezenove. — Mordi meu lábio e escutei alguém tossindo.

— Jesus, ela trabalhar aqui não é um crime? — ela perguntou para


Matteo.

— Se for — ele sorriu —, ele é o menor dos crimes que cometemos.


— Sua resposta a fez revirar os olhos.

— Eu fiz café. Posso servir...

— Não, querida, vá dormir — Sienna respondeu, balançando a

cabeça.

— Licença — acenei —, eu vou me retirar — murmurei devagar e vi


os dois irmãos mais velhos de Matteo me encarando. — Foi um prazer,
Sienna.

Ela sorriu e acenou enquanto eu pegava minha mochila velha e subia


a escada com pressa. Me joguei na cama e minha mente me levou até Matteo
me beijando minutos atrás.

Minha calcinha estava úmida e meus seios doíam. Queria que ele

tivesse me tocado. Droga, quem eu queria enganar? Se ele tivesse ido adiante
teríamos transado naquele sofá e eu não teria negado.

Eu dormi depois de um mundo de pensamentos sujos e desejos


indecentes me perturbarem.

— Bom dia — saudei Sienna assim que ela apareceu, tão linda quanto
ontem.

— Bom dia, Blue. Estou bastante enjoada, nenhuma novidade. — Ela


gemeu ao se sentar à mesa e acariciar a barriga proeminente antes de se servir
de suco. — Cadê todos?

— Quando acordei não tinha ninguém aqui embaixo — respondi


enquanto terminava de arrumar os talheres na mesa. — Você precisa de mim
para mais alguma coisa?

— Sim. — Ela suspirou e acenou para a cadeira ao seu lado. — Que


se sente.

Pensei em recusar, pois eu tinha uma pilha de roupa que havia


chegado da lavanderia para guardar em seus lugares, mas obedeci. Sienna
sorriu contente, então relaxei.

— Lunna vai amar você — ela murmurou, pegando o celular e

ligando para alguém.

— Olá! — A voz feminina soou cansada e preocupada.

Eu fiquei apreensiva na hora.

— Quero apresentá-la para a Blue. — Sienna virou o celular e lindos


olhos azuis se fixaram nos meus. Seu cabelo era preto e um bebê estava em
seu colo, mamando.

— Olá, Blue. Queria conhecê-la desde que Sienna falou sobre você.
— Lunna sorriu.

Suspirei, encantada com o bebê.

— Qual o nome dele?

— Remy. — Lunna sorriu e olhou para o filho. — Você é muito

bonita. Não deixe Matteo ou Prince entrar na sua calça. — Ela voltou a me
encarar e eu arregalei os olhos, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. —
Com quem?

— O quê? — gritei, nervosa.

Sienna arregalou os olhos também.

— Oh meu Deus! Foi com Matteo! — ela gritou, enquanto Lunna


sorria largamente. — Graças a Deus. Ele vai se aquietar.

— O quê? Não, vocês entenderam errado...

— Com Prince? — Sienna franziu as sobrancelhas.

— Eu preciso ir. — Engoli em seco. — Desculpa. — Me ergui


rapidamente e me afastei dela, sentindo meu estômago afundar. Matteo vai

pensar que falei algo dele para elas. Ah meu Deus. — Não comentem nada
com Matteo, por favor.

— É claro, querida. Não se preocupe. — Sienna sorriu.

Corri para a escada e passei o restante do dia focada nas tarefas que
eu precisava fazer.

O barulho na porta do meu quarto me despertou. Tentei ficar parada,

mas quando virei o rosto vi Matteo, sem camisa, antes de sentir suas mãos em
meu corpo. Eu gemi quando ele mordeu a minha bunda e suspirei quando
suas mãos grossas separaram as minhas coxas. Pensei em o afastar, mas
quando dedos impiedosos fincaram em minhas carnes, minha boceta latejou.
Oh, droga.

— Oh. — Arqueei quando suas mãos subiram pelas minhas coxas e


seguraram o tecido fino da minha calcinha. Ela foi afastada antes de eu gritar
ao sentir a língua úmida deslizar pelas minhas dobras. Meu coração rugiu,
batendo como um louco, e eu tentei respirar, mas outro gemido alto ecoou

quando lábios sugaram minha boceta.

— Vamos, Flame, goze.

Meu corpo se acendeu como uma árvore de Natal com seu comando.
Enrolei meus dedos e gozei em seu rosto enquanto gritava e gemia,

completamente incontrolável. Matteo puxou minha cintura para me virar e eu


suspirei, ainda mole. Seus dentes morderam minhas coxas e eu tremi ao senti-
lo subir pelo meu corpo até o meu top. Matteo puxou o tecido e suas mãos
agarraram meus seios sensíveis.

— Eu amo seus peitos.

Sua voz rouca me fez gemer. Mas quando sua boca brincou com meus
mamilos, eu me perdi.

Matteo empurrou minhas pernas abertas e eu o assisti brincar com seu

pau na entrada da minha vagina. Era tão imundo, mas tão bom. Ele se tocou
furiosamente, e quando gozou jatos de sêmen atingiram a minha boceta.

Matteo grunhiu ao se libertar e eu o assisti, fascinada, empurrar seu


gozo com os dedos para dentro de mim.

Senti seu corpo já tenso ficar ainda mais rígido. Os olhos azuis que
estavam começando a me enfeitiçar se fecharam como se estivesse
acontecendo uma luta dentro dele. Meu coração quebrou um pouco quando
suas mãos me deixaram.

Matteo se ergueu e eu fiquei em silêncio enquanto o via abrir a boca e


voltar a fechá-la.

— Pode ir — murmurei, depois de alguns segundos.

Matteo passou a mão nos cabelos e respirou fundo.

— Não deveríamos...

— É só sair — pedi, indicando a porta.

Quando ele saiu, eu senti dor em lugares que eu desconhecia. O frio


envolveu minha barriga e eu me curvei na cama.

O que eu havia feito? Por que ele reagiu assim? Ele não queria? Eu
não conseguia entender. E eu queria muito.

Fui para o banheiro e levei meu tempo tomando banho. Coloquei

outra roupa e me deitei, fechando os olhos com força, querendo dormir, mas
não consegui. Não queria chorar, mas logo as lágrimas encheram meus olhos.

Queria entender o que aconteceu, mas eu não entendia.

Peguei meu celular e liguei para Raina. Quando ela atendeu, eu ouvi
seu soluço na linha. Podia apostar trezentos dólares que ela também ouviu o
meu.
— O que ele fez? — perguntamos juntas.

— Fale primeiro — pedi, tentando me controlar.

Raina respirou fundo.

— Ele me deixou. Pedi que me escolhesse à noiva e ele me deixou. —


Suas palavras eram tão cruas quanto o choro em sua voz.

— Sinto muito, Raina. Tenho certeza de que Travis voltará rastejando


— murmurei com firmeza antes de ela choramingar.

— Espero que sim, droga, porque eu não posso viver sem ele. —
Raina respirou fundo. — Agora, conte o que aquele pedaço de lixo fez com
você.

— Quase perdi minha virgindade com Matteo, mas ele surtou e me


deixou sozinha...

— Ah, querida, sinto muito — Raina resmungou. Ouvi farfalhar de

tecido do outro lado da linha. — Você quer vir para a minha casa? Podemos
ficar juntas tomando sorvete e assistindo a filmes ruins — ela ofereceu,
suspirando.

— Não tenho um carro, lembra? — constatei devagar antes de


ponderar. — Mas posso chamar um Uber. Te aviso quando eu estiver dentro
do carro.

Nós desligamos. Eu troquei de roupa e escolhi um casaco, porque


estava bastante frio. Peguei um pijama, meu carregador e saí do quarto.
Quando desci a escada não vi ninguém. Chamei o elevador enquanto entrava

no aplicativo de viagens.

— Que porra você acha que está fazendo?

A voz de Matteo me fez pular. Me virei e o encontrei descendo a


escada, apenas com uma calça escura.

— Raina. Eu vou para a casa dela... — respondi, apertando o botão


mais uma vez.

— Nem fodendo. Volte para o seu quarto!

Sua voz autoritária me deixou confusa e alerta.

— Não sou sua filha, e já falei que fora do meu horário de trabalho eu
posso ir e vir a hora que eu quiser... — afirmei, irritada, enquanto ele
atravessava a sala e chegava até mim.

— Você não vai sair daqui. — Ele segurou meu braço e eu tentei sair
do seu domínio, mas só piorou. Seu braço envolveu minha cintura e ele me
puxou contra si. — Está tarde, não vou deixar você sair, Blue.

— Como se você se preocupasse!

Matteo me ergueu do chão e me colocou sobre o seu ombro. Ele


andou para a escada e eu bati em suas costas.
— Matteo, me põe no chão! — gritei, assustada, antes de ouvir uma
porta abrir.

— Que merda... — Prince murmurou, mas eu não conseguia vê-lo.

— Prince, me ajude! — implorei, enquanto Matteo continuava seu


percurso.

— Fique fora do meu caminho — Matteo grunhiu.

Arranhei suas costas. Assim que uma porta se fechou, ele me jogou
sobre a cama enquanto eu lutava para respirar.

— Você não pode fazer isso comigo! — gritei, furiosa.

Matteo se aproximou, subindo na cama e ficando sobre meu corpo.

— Eu posso fazer o que eu quiser, Flame, e você sabe disso. —


Matteo se inclinou e sua boca deslizou pelo meu pescoço até meu peito.

Sua sentença me deixou com a boca aberta. Matteo mordeu meu

mamilo e se afastou. Ele fechou a porta e eu olhei ao redor, vendo que


estávamos em seu quarto, não no meu.

— Matteo...

— Silêncio. Vamos dormir.

Ele puxou minha calça jeans e se deitou ao meu lado. Meu peito bateu
descompassado quando seu braço ficou sobre mim e sua palma aberta contra
minha barriga.

— Boa noite, Flame.

Fechei meus olhos, lutando contra a minha língua. E antes do que eu


achava possível, adormeci.
— Matteo! — Uma mão empurrou meu ombro e eu abri minhas
pálpebras, encontrando um anjo vermelho possesso me encarando.

Porra, Flame.

— O quê? — grunhi, puxando meu travesseiro para cobrir meu rosto.

— Onde está a chave? — Blue gritou enquanto revirava os meus

bolsos.

— Que horas são? — perguntei ao me virar e ver seu cabelo solto


brilhando com a luz do sol. Merda, as mechas eram como chamas dançando
ao seu redor. Perfeita.

— Seis. Eu preciso começar a trabalhar. Onde está a chave? — ela


explicou.
Envolvi meu braço em sua cintura e a puxei de volta para a cama.

— Nem fodendo vamos nos levantar às seis — afirmei, cheirando seu

cabelo. Blue se afastou até ficar de pé. Eu ainda estava sonolento, por isso
que não me mexi até escutar a porta se abrindo. — Blue! — gritei, mas ela já
não estava no quarto.

Eu quis me erguer, mas seis horas ainda era madrugada, e eu não

consegui.

Duas horas depois encontrei o café da manhã servido, mas Blue havia
sumido.

— Bom dia, Fred Flintstone. — Prince apareceu com a cara


amassada. Franzi as sobrancelhas enquanto pegava bacon e ovos. — O
desenho lá do tempo das cavernas onde o homem colocava a mulher no

ombro...

— Vá se foder — mandei, irritado.

Ele somente ergueu as mãos. Nós comemos em silêncio, e quando


terminamos Prince me encarou.

— Você está bem? — questionei, preocupado. Desde anteontem


estávamos procurando as pessoas que atiraram em seu carro com Blue e eu
dentro.

Rocco já estava rastreando um dos carros, era questão de tempo para

termos um nome.

— Sim. — Prince engoliu o suco e me encarou. — Sabemos que


foram os Zenduryc. E eu vou enfiar minha arma no rabo do que tentou matar
você.

— Não sei se fico lisonjeado. — Nós rimos.

No dia seguinte, eu e Prince fomos convocados por Sienna para uma


festa beneficente ou alguma merda assim. Infelizmente, agora todo mundo
queria os Trevisan socados em algum lugar.

O medo faz isso.

Apertei a gravata e suspirei ao olhar para Prince do outro lado do


salão conversando com alguns caras. Vi Travis se aproximar com Kiara ao
seu lado, tão bonita quanto eu me lembrava. Seus cabelos eram pretos e seu
rosto parecia de uma boneca.

— Matteo, como vai? — ela perguntou, sorrindo.

— Estou bem. — Acenei. — O casamento está chegando. Ansiosos?


— questionei, apenas para fazer Travis ficar puto. Seus olhos semicerraram e
Kiara sorriu radiante.

— Sim, bastante. Travis disse que será o padrinho dele — ela


comentou, olhando entre nós.

— Sim, sim.

Passei os olhos na multidão e suspirei ao ver Blue com Sienna. Eu


não fazia ideia do motivo da minha cunhada estar tão apaixonada por Blue,
mas ela estava. Sienna havia convidado Blue para a festa hoje de manhã,
quando nos visitou.

Flame estava com um vestido azul-claro que apertava em todos os


lugares certos e alcançava o topo dos seus joelhos. Eu queria levantar seu
vestido e a foder. Porra, como eu queria. Seu cabelo ruivo estava solto e em
ondas. Me imaginei segurando os fios e puxando-a para mim.

Santo inferno, eu estava fodido.

— Você ouviu alguma coisa que Kiara falou? — Meu amigo tocou
meu ombro.

Desviei os olhos de Flame e voltei para ele.

— Não — respondi, com firmeza.

Kiara ficou sem graça, mas eu não me desculpei. Os dois saíram de


perto de mim e Prince se aproximou com a minha família. Incluindo Blue.
— Di Castellani — Rocco murmurou, me fazendo erguer minha taça
e bebericar o líquido doce. Encarei o homem de meia-idade, mas que em

nada dizia ter a idade que tinha.

Gideon cumprimentou todos com um aperto de mão, e quando chegou


a minha vez eu vi Charlie ao seu lado ficar rígida.

Ela nunca soube disfarçar. Essa era uma das coisas que eu detestava

nela. Porra, se você quer fazer seu marido de idiota, faça direito.

— Como andam os negócios? — Romeo engrenou na conversa.

Sienna começou a falar com Charlie. Lembrei-me de Blue, então me


virei e vi seus olhos arregalados e sua boca aberta.

Flame me encarou e nojo cobriu suas feições. Eu não a recriminava.

Já dormi com a maioria das mulheres nesse salão, e todas elas tinham
marido.

Quando Charlie e seu marido se afastaram, Sienna me encarou como


todos.

— Isso é sério? — Sua voz era enojada. — Você dorme com essa
mulher?

Rocco colocou a mão na coluna da esposa, tentando conter seu surto.

— Entre outras coisas. — murmurei, honesto.


— Cara, cala a boca. — Romeo pediu virando o copo.

Sienna revirou os olhos e foi cumprimentar outra pessoa com Rocco

ao seu lado. Aproveitei a deixa e me aproximei de Blue. Ela ficou rígida


quando segurei seu braço e a guiei para longe.

— Matteo, você está fazendo uma cena estúpida — ela grunhiu


furiosamente enquanto andávamos entre as pessoas.

— Se você ficar relaxada e sorrir, não vai ser uma cena —


argumentei.

Ela seguiu meus comandos e logo atravessamos o salão. Abri a porta


da biblioteca da mansão e soltei Flame.

— O que está fazendo? — questionei quando ela me empurrou.

— Não se aproxime de mim! — Ela me tirou da sua frente e abriu a


porta. Eu quis pegá-la de volta, mas não o fiz.

Eu não sabia o que diabos estava acontecendo comigo, mas Blue tinha
tudo a ver com essa merda. Tocar nela mexeu comigo de uma maneira errada.

Blue não era apenas uma menina que eu foderia, ela trabalhava para
mim.

Por isso, eu a deixei ir.


Dias depois, cheguei a minha casa e fui direto para o banheiro.
Quando saí, me vesti e parei diante do seu quarto. Porém, ficou claro que ela
não queria falar comigo quando bati inúmeras vezes à sua porta e ela não
abriu. Blue não havia falado comigo desde o dia da festa, e eu tentei pra

caralho.

As lembranças da noite em que a toquei atacaram minha mente e eu


suspirei. Senti meu pau dar o ar da graça assim que me lembrei das minhas
mãos em seu corpo. Merda.

— Flame, dá pra abrir essa droga? — gritei, socando a madeira. — Eu


vou arrombar — avisei, gritando, mas nada aconteceu. Chutei a porta duas
vezes até ela romper.

Procurei Blue pelo quarto e banheiro até constatar que ela não estava

aqui.

Onde diabos ela tinha ido?

Desci a escada e Prince apareceu, já pronto para a nossa inauguração.


O Date abriria hoje para corridas e seria um evento. Eu só queria saber onde
Blue se enfiou antes de sair.

— Vamos? — ele chamou, indo para o elevador.


— Sim.

Assim que nós chegamos ao Date, eu vi Raina. Procurei Blue ao seu

redor, mas ela não estava. Vi Travis se aproximar e seu semblante de merda
continuava o mesmo de dias atrás. Desde que havia deixado Raina, ele estava
com um humor do cão.

— Você viu a Blue? — questionei, sabendo que seus olhos estavam

treinados sobre Raina, e se Blue estivesse aqui estaria na companhia da


amiga.

— Sim, está com Raina e dois idiotas.

Que merda? Cerrei meu punho, mas deixei para lidar com Blue
depois. As primeiras corridas foram fodas, as pessoas estavam eufóricas. A
quantidade de dinheiro que estava entrando era quilométrica e eu queria mais.

— Sucesso, porra! — Prince me olhou, balançando o dinheiro.

Sorri e dei de ombros.

— Volto já — Travis murmurou antes de caminhar em direção a


Raina. Blue estava com ela dessa vez. Observei-a rir e vi um cara próximo a
ela.

— Calma, Fred. — Prince segurou meu ombro, então percebi que eu


estava me movendo.

— Você sabe quem é aquele idiota? — questionei a Prince, mas ele


negou.

— Foco. A última corrida vai começar e você pode pegar Blue. —

Meu irmão se virou para a pista e eu fiz o mesmo.

Quando a corrida terminou, eu entrei em um dos carros e apostei alto


em mim. Sim, eu era um bastardo.

— Você tem certeza? — Prince semicerrou os olhos, só dei de


ombros.

Oak Park era minha e eu faria o que quisesse aqui dentro.

Uma menina andou até a pista e sorriu para mim. Eu sorri de volta e
acelerei quando ela deu a largada. Meu sangue bombeava pelo meu corpo e
eu tremi com a sensação enlouquecedora de estar no controle. Sempre foi
atrás do volante que eu me encontrava.

— Filho da puta! — Prince gritou assim que cheguei em primeiro

lugar.

Nós comemoramos e eu me virei para trás. O olhar de Blue estava


preso em mim, por isso andei em sua direção. Ela engoliu em seco enquanto
encarava Raina e falava algo.

— Blue, você está fugindo de mim? — perguntei, encarando Flame e


o imbecil que a fazia rir momentos atrás. — Matteo Trevisan. Quem é você?
— Estendi a mão e o homem arregalou os olhos ao ouvir meu sobrenome.
Bom, filho da puta, porque eu sou capaz de arrancar seus dentes.

— Ninguém. A gente já está indo — o amigo dele falou e ambos

saíram, deixando Blue e Raina sozinhas comigo.

— Não, eu não estou fugindo de você. Eu não sou o diabo e você não
é a cruz. Porém, nós sabemos quem está mais próximo de ser o capiroto,
certo?

— Aí que você se engana, Flame. — Me inclinei, segurando seu


cabelo na base do seu pescoço e ela me encarou. — Não estou perto de ser.
Eu sou o diabo.

Blue se afastou rapidamente, me fazendo sorrir.

— Vamos comemorar a inauguração. — Prince chegou com um


champanhe.

Eu o encarei e vi o baseado em seus lábios.

— Parabéns! — Raina pegou uma taça cheia e virou, batendo-a na


mesa a sua frente. — Nós já estamos de saída.

— Ray — Travis a chamou e ela o encarou.

— Não fode, Travis, eu não sou a porra do seu balde para você jogar e
ir buscar quando sente vontade. Vá se casar com a sua puritana e deixe a puta
aqui para quem quiser.
— Não fale essa merda! — ele gritou, mas Raina já estava puxando
Blue para a saída.

— Ei, não tão rápido — falei, segurando o braço de Blue. Raina


bufou e seguiu sozinha. — Você quer brincar comigo, Flame?

— Para com isso, Matteo. — Ela bateu em minha mão e tentou se


soltar. Era inútil. — O que diabos você está fazendo? — Blue me encarou

antes de olhar ao redor. As pessoas estavam nos encarando, vendo o show.

— O que foi, porra? — gritei para a suposta plateia e todos desviaram


o rosto rapidamente. — Isso, caralho, foquem suas atenções nas vidas de
merda que vocês têm.

— Matteo — Blue grunhiu, tentando se soltar.

— Vamos para casa...

— Vou ficar com Raina hoje...

— Nem fodendo — falei firmemente e a levei para fora do Date.

Raina estava ali perto com Travis, e os gritos não eram bonitos.

— Por que você está fazendo isso? — Blue perguntou, trêmula,


quando segurei sua cabeça entre minhas mãos.

— Você queria estar com aquele filho da puta, Flame? — Minha


pergunta a fez me encarar com as sobrancelhas juntas. — Você acha que
pode?

— Não sou sua, Matteo. Pare com isso...

— Foi você que escolheu isso, Flame. Não foi uma escolha minha. —
Puxei seu corpo contra o meu e a empurrei contra a parede de tijolos,
prendendo-a com meus braços.

— Eu achei que seria descomplicado, mas você... o que você está


fazendo? — ela perguntou, confusa.

— Vamos para casa. — Descansei minha testa contra a sua.

— Lá não é minha casa! — ela gritou.

Quando vi suas lágrimas, fiquei rígido e me afastei devagar enquanto


ouvia o barulho de música vindo do bar.

O que eu estava fazendo?

— Vai embora. — Rígido, acenei para Raina.

Blue ficou parada me olhando e suspirou. Ela cruzou os braços e


ergueu o queixo enquanto as lágrimas ainda brilhavam em seus olhos.

— Onde está Charlie? — Sua pergunta soou tão ciumenta, que eu


realmente quis dizer que iria pegar Charlie, mas não o fiz. Não sei por quê.

— Não sei, Flame.

— Ela é casada, Matteo. — Seu rosto se retorceu. — Qual é o seu


problema? — Suas palavras eram recheadas de nojo. — Você gosta disso?

Faz isso com frequência?

— Que merda, Blue? — gritei, apertando seus pulsos.

— Onde está ela, aliás? Por que não liga para ela e vocês vão foder
nas costas do marido dela? — Seu queixo se projetou para cima e eu quis
sacudir seus ombros.

— Eu estou chamando-a para ir para casa? — gritei, me sentindo um


lixo.

Porra. Por que eu estava encurralando Flame? Que merda era essa?

— Você é impossível.

— Foda-se, Blue. Vai embora.

Ela foi.

E eu não a vi por dias.


Minha mãe passou três dias questionando por que eu estava em casa e
não em Oak Park trabalhando. Eu ignorei seus questionamentos. Eu estava
irritada comigo mesma e decepcionada. O que eu fiz? Meus olhos arderam
com lágrimas quando vi o dinheiro na minha conta. Matteo havia transferido
mais de vinte mil dólares.

Funguei e disquei seu número enquanto apertava meus dedos contra


meus olhos.

Eu ainda não podia acreditar que Charlie era casada. Que Matteo e ela
ficavam escondidos do marido dela. Eu sentia nojo só de me lembrar.

— Matteo — ele respondeu com rispidez.

O que havia acontecido conosco? Por que brigamos? Cristo, por que
eu o havia deixado me tocar daquela maneira? Foi uma estupidez minha, e

agora eu havia perdido meu emprego.

— Você está me despedindo? — questionei, tentando controlar a


emoção em minha voz.

— Por que a pergunta? — Sua questão soou sem paciência.

— Você transferiu vinte mil dólares para a minha conta — expliquei.

— É o seu salário.

O.k. Meu salário. Piada dos infernos.

— Eu não vou há três dias, Matteo — lembrei-o, virando na cama e


fechando os olhos.

— Você quer pedir demissão? Se for, vou avisar quem lida com isso.

Ouvi um barulho ao fundo e engoli em seco. Onde ele estava?

— Não. Não quero — respondi, por fim. — Chego aí em uma hora.

— O.k.

E desligou.

Eu precisava ficar longe de Matteo. Ele era meu patrão e esse era um
bom motivo para não haver nenhum envolvimento entre nós, se já não tivesse
um ótimo motivo — Matteo era um mafioso. Um homem perigoso que não
gostava de ser contrariado. Eu precisava me afastar. A partir daquele
momento, eu evitaria estar com ele. Era melhor assim.

Eu não sabia o motivo da dor que irradiou pelo meu coração, e era

melhor não saber.

Assim que entrei no prédio, Aaron sorriu para mim e eu o


cumprimentei.

— Você estava doente? — ele perguntou, rindo, enquanto me


entregava a correspondência dos meninos.

— Algo assim.

Até parece. Doente? Só se for de vergonha.

Subi para o apartamento e encontrei o lugar todo bagunçado. Caixas


de pizza nas mesas e algumas garrafas de refrigerante. Meu Deus.

— Merda. Bem-vinda de volta, Blue. — A voz de Prince chegou a


mim e eu o vi descer a escada. Uma menina estava ao seu lado com o cabelo
desgrenhado preso em um coque feito às pressas.

Ela era loira e mais alta que eu alguns centímetros. Ela passou
andando rápido e sumiu no elevador. Me virei para Prince e ergui as
sobrancelhas.
— Ela.. Ah, eu não... — ele começou a coçar a cabeça. — Ela estava
com Matteo. — Prince entregou o irmão, fazendo uma careta.

— O.k. — murmurei lentamente enquanto tentava me lembrar de


como andar.

Meu peito estava dolorido e eu detestei sentir isso.

Por favor, coração, não faça isso.

— Vou deixar a minha mochila no quarto e desço para começar a


arrumar essa bagunça — falei, tentando não encarar Prince para que ele não
visse que suas palavras me magoaram.

— Eu ajudo...

— Não. Não precisa — interrompi, andando rapidamente.

Voltei do quarto em tempo recorde e comecei a limpar tudo. Quando


terminei a sala, fui para a cozinha e preparei o almoço. Já era tarde, então eu

apostava que eles já haviam tomado café.

Assim que finalizei a parte de baixo fui para os quartos. O meu estava
arrumado, já que eu não dormi nele, mas o do Prince era um terror. Meus
dedos tocaram em uma trouxa na sua cômoda e eu suspirei ao ver a maconha.
Nas vezes em que estive no Date, eu o vi com um baseado na boca. Em casa
não, mas realmente nunca prestei atenção.

Deixei o pacote no mesmo lugar e finalizei a limpeza. Quando


cheguei ao quarto do Matteo, tentei focar na limpeza, mas minha mente me
levou a imaginá-lo com a moça que eu vi saindo do apartamento. Nem

percebi que estava parada até ver meu reflexo em um dos espelhos.

Meu Deus, Blue.

Troquei seus lençóis e coloquei na pilha de roupa suja com as do


Prince. A lavanderia passaria para pegar em breve. Quando terminei, entrei

em seu closet para arrumar e me peguei segurando uma das suas camisetas
entre os dedos. Levei-a ao nariz e inspirei, sentindo o cheiro fresco de hortelã.

— Pare com isso, Blue. Você vai se machucar e sabe disso —


murmurei para mim mesma e saí do quarto.

Uma semana depois eu ainda não havia visto Matteo. Quando eu


acordava, ele já não estava na cama, e quando eu ia dormir ouvia apenas seus

passos. Eu estava cansada de tentar ver seu rosto.

No almoço, não era uma surpresa ver apenas Prince à mesa.

— Eu preciso ir ao campus — avisei a ele enquanto levava uma


garfada da salada à boca.

— Eu te levo lá. — Sua oferta era apreciada, porque eu não sabia qual
ônibus pegar.
— Obrigada.

— Mas antes me conte uma coisa. Qual seu curso? — Prince ergueu a

sobrancelha.

Comecei a falar sobre minha profissão com entusiasmo e paixão.

Desde criança, eu sabia que queria ajudar as pessoas a ultrapassarem

suas privações. Meu sonho era ver alguém recuperado com a minha ajuda.

Estávamos saindo da garagem do prédio depois das duas da tarde,


quando Prince encarou, por trás dos óculos estilo aviador que descansavam
em seu rosto, o carro preto estacionado no meio-fio.

— Merda. — Ele manobrou o carro e pisou no acelerador, voando


pela via.

Meu coração bateu descompassado quando olhei para trás e vi que


estávamos sendo seguidos. Me virei e olhei para Prince.

— São os mesmos? — questionei, tremendo.

— Sim. — Ele me encarou, tenso. — Vou tentar dirigir para casa. É o


único lugar seguro...

Acenei enquanto o carro deslizava pela pista. Apertei meu cinto de


segurança e vi Prince ligando para alguém.

— Estão me seguindo — ele resmungou, segurando o volante com


força.

— Onde está? — A voz de um homem estalou, imaginei que fosse

Romeo, seu outro irmão.

— Saindo de Oak Park. Eles vão começar a atirar. — Prince gritou


enquanto olhava pelo retrovisor, então me abaixei instintivamente.

— Calma. Vamos pegar esses desgraçados.

A linha ficou muda e Prince continuou dirigindo. O barulho dos tiros


começou a soar e eu fechei meus olhos, apavorada. Pensei em meu pai e o
quão puto ele ficaria se eu fosse morta em um confronto entre homens tão
perigosos.

— Vai ficar tudo bem, Blue — Prince murmurou para mim, só então
percebi que estava soluçando quando ele tocou minhas costas.

O trajeto que levaria quase meia hora, foi feito em dez minutos.

Prince derrapou na avenida de Chicago e eu vi carros amontoados. Um fuzil


estava nas mãos de dois homens e vi Rocco, Romeo e Matteo também com
armas.

O carro parou e Prince apertou o meu joelho.

— Ei, tudo bem. — O irmão do Matteo me puxou para os seus braços,


então solucei em seu peito, morrendo de medo. — Estamos bem.

— Eu sinto muito — murmurei sobre os soluços.


Prince sorriu e limpou a minha bochecha.

Os disparos começaram e cessaram rapidamente. Quando Prince saiu

do carro, eu continuei onde estava, com muito medo de ser pega. Me virei e
vi o carro que nos seguia parado e os homens fora com as mãos na cabeça.
Jesus Cristo.

— Vamos para a mansão da minha família, à noite voltamos para Oak

Park.

— Por quê? — perguntei a Prince quando ele entrou e fechou a porta.

— Vamos conversar com aqueles filhos da puta.

Respirei fundo com o olhar no rosto dele. Conversar seria a última


coisa que fariam, presumi ao encará-lo.

Prince estacionou minutos depois, e eu só saí do carro quando ele


abriu a porta. Vi Romeo adiante com Rocco, então procurei por Matteo ao

redor, logo ele saiu do seu carro. Ele estava sem camisa, apenas com uma
calça baixa.

— Ele está puto porque você estava comigo, então apenas relaxe,
o.k.? — Prince avisou enquanto me guiava para dentro da mansão.

Meu peito apertou quando Matteo nem mesmo me olhou.

O que diabos eu havia feito para merecer isso?


Sienna apareceu na escada, mas o cachorro enorme ao seu lado me fez
parar de andar.

— Oh, Blue! Você está bem? — Ela se aproximou e mandou o


cachorro ficar. — Está ficando corriqueiro. — Sienna me abraçou e eu
devolvi o gesto. Limpei meu rosto e me afastei para encará-la. — Desculpe,
não quis soar...

— Está tudo bem. Eu sou um imã para coisas horríveis, pelo visto —
falei, lutando contra as lágrimas, então ela me abraçou novamente com mais
força.

— Eu imagino seu medo. Vamos subir, Lunna está aqui com Remy.

Enquanto ela me guiava escada acima, olhei para trás e vi Matteo


encarando Prince.

Assim que chegamos a um quarto iluminado, vi Remy. Ele estava na


cama, brincando com suas mãos. Relaxei e sorri ao ver Lunna sorrindo ao

lado dele.

— Ei. — Sentei-me na poltrona, ainda sorrindo.

— Blue, você está bem? Sienna me contou que estava com Matteo
aquele dia, e hoje com Prince. Sinto muito. — Ela pegou Remy da cama e o
embalou nos braços.

— Sim, fiquei muito assustada, mas estou bem — falei devagar e ela
me olhou com simpatia.

Sienna e Lunna ficaram comigo por horas, e quando anoiteceu eu já

estava preocupada. Haviam pedido pizza e eu comi duas fatias com as


cunhadas de Prince.

— Será que eles estão prontos para ir? — questionei, mordendo meu
lábio.

— Rocco está subindo. Vá encontrar com eles lá embaixo. — Sienna


sorriu e eu encarei sua barriga redondinha.

— Você já sabe o sexo? — perguntei, me erguendo.

— São dois homens. — Ela sorriu. — Amo e Rhett. — Sienna


acariciou a barriga e eu arregalei os olhos. — É isso aí! São gêmeos.

— Nossa, desejo uma gestação esplêndida a você — falei com


firmeza.

Quando ela me convidou para aquela festa eu tentei recusar, mas


Lunna me enviou uma mensagem pedindo que eu acompanhasse a sua
cunhada, já que ela não poderia ir por causa de Remy.

Me arrependi de ceder quando vi Matteo com Charlie.

Me despedi dela e saí do quarto. Lunna já havia ido para casa há


alguns minutos, com Romeo e seu bebê. Eu estava apaixonada pelo garoto,
porém, não pedi para pegá-lo, pois estava com medo. Ele era tão pequeno.
Quando desci a escada escutei um grito, então andei para uma sala ao
lado. Assim que entrei vi Travis, Matteo e Prince jogando videogame.

— Prince — chamei e ele ergueu a cabeça. — Eu vou para casa.


Amanhã chego cedo no apartamento, prometo...

— Vou pegar uma bebida. — Travis saiu da sala.

Franzi a testa ao ver um bar ali ao lado.

— Esqueci meu celular no quarto, espera um minuto. — Prince se


ergueu.

Quando abri a boca para falar algo, ele já havia sumido.

— Estou indo — avisei a Matteo antes de caminhar para a porta com


pressa.

Ele não me impediu.

Disquei o número da Raina e mordi meu lábio.

— Você está bem? — Sua voz soou e eu suspirei aliviada.

— Você pode vir me buscar na casa do Matteo? Em Chicago — pedi,


sentindo minha garganta apertar.

— Estou perto. Chego em cinco minutos.

— Obrigada. — Desliguei a chamada e olhei para a fonte na entrada


da casa.
O leão estava com a boca aberta e a água jorrava por ela. A
construção era linda, porém perturbadora.

— Vamos para o Village.

A voz de Matteo soou e eu ouvi Travis responder algo.

— Quer carona, Blue? — Prince apareceu na minha linha de visão e

eu neguei, abraçando meu próprio corpo.

— Raina está vindo. — Com isso, ele acenou e se aproximou.

— Você está bem mesmo, não é?

— Sim... — Parei de falar quando Raina estacionou. — Tchau. Te


vejo amanhã.

Prince se afastou enquanto eu andava para a porta do carro, então a


abri e entrei. Minha amiga ficou rígida quando Travis passou dirigindo.

— Ei, tudo bem? — perguntei, apertando sua mão.

— Sim, e você? Fiquei sabendo dos tiros. Que loucura.

Nem me fale.

— Para onde você está indo? — questionei quando ela virou na


avenida que levava ao Village e não para a minha casa.

— Andy está com problemas e me ligou. Sairemos rápido, prometo


— ela murmurou com firmeza e eu suspirei.
A boate estava lotada. Hoje era folga de Raina e por isso ela me
resgatou. Ela me puxou pela mão e eu me espremi entre as pessoas. Quando

chegamos ao bar, vimos a Andy.

— Vanessa quebrou a porra da perna e Amanda está... você não vai


acreditar... — Andy gritou acima da música enquanto andava para uma porta
e nos enfiava dentro. — Grávida! Aquela estúpida. Jesus, quem engravida

por acidente hoje?

— Mas ela não veio por isso ou está passando mal? — Raina
questionou, preocupada.

Andy esfregou os dedos nas têmporas.

— Passando mal. Você precisa cobrir Vanessa. E você — Andy


apontou para mim e respirou fundo — você vai dançar. Eu vou pagar mil
dólares, e você vai ganhar uns cinco quando eles a virem.

— Andy, ela não está nisso. Eu fico no lugar da Vanessa.

— Sem sexo. Travis ainda paga por isso. Não se preocupe — Andy
falou, fazendo Raina ficar rígida.

— Com sexo — minha amiga falou com firmeza.

— Raina. — Eu a encarei.

— Foda-se. Ele não vai controlar isso. — Raina me olhou e meus


ombros cederam quando vi a certeza em seu olhar.
— E você? Vai me ajudar?

Ponderei seu pedido por alguns segundos e decidi recusar, mas pensei

melhor e cheguei à conclusão que poderia muito bem aceitar. Foda-se. Eu


podia dançar na merda do poste.

— O.k. Se mexam e vistam-se.

Com o coração batendo na garganta, eu segui Raina para os


bastidores. Ela pegou duas roupas e colocou diante do meu rosto. Escolhi
uma e ela sorriu ao me puxar para a cadeira.

— Você vai ficar linda.

Eu estava com medo disso, mas mesmo assim a deixei me montar


como se eu fosse sua boneca. Quando ela terminou, eu me virei e suspirei.
Caramba.
Prince fumou a merda dele diante de mim e eu tentei não o encarar
como se quisesse chutar sua bunda. O que ele estava fazendo com a Blue? A
questão me atormentou por horas, mas eu não iria perguntar.

Primeiro, eu estava dando um tempo de olhar para aquela garota.

Segundo, meu irmão queria que eu perguntasse.

Nem fodendo.

— Que caralho... — Travis berrou ao meu lado, então segui seu olhar.

Raina havia acabado de descer do palco e estava levando um cara


para a parte dos quartos da boate. Travis pagava para que ela não trepasse
com outros homens. Ele seguiu o casal enquanto eu escutava uma música
lenta começar e via as luzes baixarem. Eu contava nos dedos de uma mão as
mulheres do Village com quem já fiquei, porque elas realmente não eram

interessantes para mim, mas algo me fez girar.

A luz focou nas pernas claras e depois subiu até focar nos seios
grandes empurrando o sutiã branco. O conjunto era indecente, mas as asas de
anjo em suas costas me fizeram semicerrar os olhos. Quando o cabelo ruivo
apareceu, o sangue foi para o meu pau e eu encarei seu rosto. Ela estava sem

máscara e com os olhos fechados.

Lembrei-me da primeira vez que a vi. Nesse mesmo palco, dançando


essa mesma música. Deus, eu vou estrangular essa garota. Olhei ao redor e
apertei meu copo ao ver cada maldito com a atenção fixa nela. Vários
jogavam dinheiro nela e outros faziam fila na frente da Andy, pedindo para
fodê-la.

Eu assisti a sua dança com tanta fúria, que o copo se quebrou entre
meus dedos. Quando a luz se apagou, eu marchei até Andy e a encarei.

— Quero ela no três agora. E isso não é um pedido — ordenei,


gritando.

A mulher arregalou os olhos, porém acenou freneticamente.

Entrei no quarto com lençóis vermelhos e me servi de uísque. Quando


a porta se abriu, eu me sentei e encarei Blue. Seus olhos azuis estavam
nervosos e seu corpo estava coberto pelo casaco grosso que usava quando a
vi descer do carro do Prince mais cedo.

— Matteo...

— Que porra é essa? — Ergui o queixo em direção ao palco.

— Andy pediu, porque uma das meninas não pôde vir...

— E você apenas sobe lá e dança para dezenas de filhos da puta? —

perguntei, furioso.

— Não ouse. Eu faço o que eu quiser — ela afirmou, empurrando os


ombros para trás. — Você não fala comigo há dias. Hoje, eu quase fui morta
com seu irmão, e você nem mesmo olhou para mim...

— Se aproxime.

— Não. — Blue ficou tensa e eu me ergui. Ela deu passos para trás
até eu a encurralar. — Matteo...

— Não? — questionei, deslizando a mão pela gola do seu casaco. Eu

o abri e vi o sutiã de antes. Tirei o casaco enquanto Blue tentava segurá-lo. —


Você é minha, Flame.

— Não sou. Eu não sou sua, Matteo! — ela gritou em meu rosto
enquanto eu tocava suas costas. Abri o sutiã e Blue segurou a frente para que
ele não caísse. — O que você está fazendo?

— Solte.
— Não.

Eu puxei seus braços e arranquei o sutiã. Blue gritou quando ergui

seus braços e a prendi contra a parede. Seus mamilos rosa fizeram minha
boca encher de água.

— Me peça para sugar — falei com a voz rouca, mas Blue balançou a
cabeça. — Flame.

— Eu quero sair, Matteo.

— Sério? — questionei e toquei a calcinha pequena e branca. Ri


quando senti a umidade. — Sua boceta quer outra coisa.

— Miserável! — Blue gritou, com as bochechas pegando fogo, como


seus cabelos.

Sorri e me inclinei.

— Peça, Blue, você sabe que quer — sussurrei na sua orelha e lambi

o lóbulo, fazendo-a gemer. Ela parou assim que percebeu o que fazia. — E eu
quero lamber você. Seus mamilos, sua boceta, porra, até sua bunda. Você só
precisa pedir e eu te darei.

— Peça você — Blue falou e eu me afastei. — Tanto quanto minha


boceta quer você, seu pau também a deseja, então, por que você não pede,
Matteo? — Suas palavras foram firmes, e eu a admirei. Porra, como admirei.
Porque Flame estava certa. Meu pau desejava sua boceta.
— Eu posso lamber sua boceta, Flame? — Me inclinei e lambi seu
pescoço. — Posso sugar e morder seus mamilos?

Me afastei, e quando olhei para o seu rosto soube que ela estava
lutando.

— Apenas meus mamilos e você vai me deixar ir — Blue negociou.

Sorri e mordi meus lábios.

— Como quiser, Flame.

Me curvei e assoprei os montes rijos. Blue estremeceu e juntou as


coxas.

— Mordo, lambo ou sugo?

— Os três. — Sua voz falhou.

Deslizei minha língua sobre o ponto rosa e Blue gemeu. Fiz o mesmo
no outro seio e ela pulou, fazendo os dois balançarem. Apertei o esquerdo

entre os dedos e suguei o direito enquanto ainda segurava os braços dela


contra a parede.

— Oh, Matteo — Blue gemeu meu nome quando mordi seu peito.

Brinquei com os dois, dando atenção devida a cada um, e quando


soltei seus braços, juntei seus seios e chupei os mamilos juntos. Blue soltou
um grito ao gozar, então lambi mais uma vez seus seios antes de me afastar.
Blue estava vermelha das bochechas aos seios, que subiam e desciam
com a respiração alterada. Notei os arranhões da minha barba por fazer

espalhados pelos seus peitos e um líquido brilhando em sua coxa.

— Vá — murmurei rouco. Blue me olhou e engoliu em seco. — Juro


que se não sair daqui agora eu vou foder você, Flame. E nós dois sabemos
que não podemos. Não mais.

Ela respirou fundo, pegou o casaco e o vestiu. Quando a porta se


fechou, levei minhas mãos à cabeça e chutei uma garrafa que estava no chão.

Porra. O que essa garota estava fazendo comigo?

Quando apareci do lado de fora, encontrei Blue com Prince e Travis


havia sumido.

— Estou indo — avisei ao meu irmão e comecei a andar em direção à


saída, mas ele me puxou.

— Leve Blue. Raina sumiu com Travis e eu... bem, vou cuidar da
minha vida. — Meu irmão me encarou e eu semicerrei os olhos. — Não é
nada de mais.

— Cara, se você se enfiar em merda...


— Relaxa. Zyon está vindo.

O.k. Foda-se.

— Vamos — rosnei para Blue.

Ela simplesmente respirou fundo e começou a andar. Quando ela se


sentou no carro, abraçou a si mesma. Dirigi até em casa com o som ligado

para que não precisássemos conversar. Blue aceitou numa boa.

— Vou para o quarto — Blue avisou enquanto atravessava a sala


assim que entramos no apartamento.

Eu a segui depois de jogar as chaves na mesa. Assim que passei por


seu quarto, ouvi um soluço e parei, vendo pela fresta da porta Blue sentada
com as mãos no rosto. Porra.

Fechei meus olhos e pensei se não deveria entrar em seu quarto,


porém, eu sabia que não era o certo. Eu tinha que parar de brincar com essa

menina, porque logo eu estaria fodido como meus irmãos mais velhos.

E eu não queria nada disso.

Uma semana depois, cheguei a minha casa à noite depois de um dia


fodido no Date. Rocco estava satisfeito com o trabalho, ainda mais com as
corridas. Eu subi a escada, mas parei quando percebi o silêncio.

— Prince — chamei meu irmão que havia vindo para casa antes. Ele

apareceu com um fone no ouvido. — Onde está Blue?

— Quê? Na faculdade, cara. — Ele me encarou como se eu fosse


estúpido por não saber disso.

Respirei fundo, apertando meu nariz.

— Faculdade?

— Sim, ela transferiu do campus de Chicago para de Oak Park.


Começou há alguns dias, chega tarde, no entanto. Pensei que soubesse —
esclareceu e desapareceu dentro do seu quarto.

Peguei meu celular, pesquisei onde ficava e, depois de tomar banho,


saí.

Permaneci dentro do carro enquanto via estudantes irem e virem pelo


campus. Não foi difícil descobrir qual era o curso de Blue e onde o prédio
ficava quando enviei os dados dela para um amigo e pedi para ele verificar.

Meus dedos batiam no volante, seguindo a melodia de uma música,


mas parei quando vi Blue. Ela sorria enquanto segurava a mesma mochila
que trazia de casa e dois livros nos braços. Um cara estava ao seu lado,
falando freneticamente sobre algo.

Continuei onde estava e notei que Blue pareceu desconfortável


quando o cara se aproximou dela. Seu rosto girou, como se procurasse
alguém ao redor, mas não havia mais ninguém. O homem tocou seu cabelo e
ela deu um passo para trás. Abri a porta do meu carro ao mesmo tempo em

que o cara empurrou Blue contra a parede.

Meu sangue estava fervendo, minhas costas rígidas e eu só conseguia


enxergar vermelho diante de mim. Quem esse desgraçado achava que era,
porra?

— Me solta! — Blue gritou, apavorada.

Puxei o homem pela blusa e segurei sua cabeça. O sangue respingou


quando empurrei seu rosto contra o muro onde ele encurralava Blue. O cara
gritou e ouvi seu nariz quebrar na terceira vez que colidi o seu rosto contra o

concreto. Satisfação encheu meus sentidos.

— Matteo! — Blue gritou atrás de mim enquanto eu puxava o homem


e o jogava no chão. Minha bota foi empurrada contra suas costelas diversas
vezes, mas eu desejava mais. Fazer muito mais. — Por favor, pare. — Blue
segurou meu braço. Respirei com dificuldade enquanto ela chorava e tentava
me afastar do homem. — Por favor.
— Eu sei que você está me ouvindo. — Me abaixei até ficar próximo
ao rosto completamente machucado do cara. — Eu vou te deixar vivo para se

lembrar que não deve mexer no que me pertence. Sei que ela é perfeita, mas é
minha.

Blue fungou acima de mim, então me ergui e segurei seu braço. Ela
não conseguia falar de tanto soluçar, e quando a sentei no banco do

passageiro com o cinto de segurança afivelado, eu respirei fundo.

— Você... oh meu Deus... — Blue pegou o celular com os dedos


trêmulos e ligou para a emergência, chamando uma ambulância para o
desgraçado. — Ele vai morrer...

— Eu o mataria se você não estivesse comigo — falei, pausadamente.

Blue balançou a cabeça veementemente.

— Não faria...

— Você não faz ideia do que sou capaz, Flame. E por você, porra, eu
posso multiplicar minha crueldade. — Minhas palavras a fizeram engolir em
seco. Elas me deixaram completamente certo de que eu fodi tudo, cada
grama.

Dirigi para longe da sua faculdade com os dedos apertados ao redor


do volante.

— Você estava esperando alguém? — Blue questionou depois de


alguns minutos.

— Sim. Não sabia que estudava aqui — menti, sem encará-la.

— Comecei há alguns dias. — Sua voz ficou baixa. — Minha aula foi
uma das últimas a terminar. Você deve ter desencontrado da garota.

— Não, não desencontrei — murmurei, cansado, e a encarei. —

Agora me conta quem diabos é aquele cara.

Blue abriu a boca e voltou a fechá-la.

— Eu o vi na aula. Conversei com ele uns dias, mas... eu não sei o


que fiz. Será que dei alguma brecha? — Sua voz falhou.

Reprimi a vontade de dizer que era por ela ter dado atenção a ele. Mas
era mentira.

— Você não fez nada. Homens como ele pensam com o pau. São
doentes de merda.

Blue me encarou e acenou, respirando fundo.

— Você sempre volta sozinha a essa hora? — A irritação em minha


voz não passou despercebida.

Blue mordeu o lábio e me encarou, ainda com o rosto vermelho e


molhado.

— Ônibus. Tem muita gente nesse horário...


Blue parou de falar enquanto eu dirigia pelas ruas.

— E a menina que veio buscar? — Flame pressionou, olhando para o

colo.

— Eu vim buscar você. Não gosto que ande esse horário sozinha.
Então virei buscá-la todos os malditos dias.

Blue me olhou e eu a desafiei a falar algo. Para o próprio bem dela,


ela manteve os lábios colados um no outro.

Blue era diferente de todas as mulheres com quem já fiquei. Ela era
inocente demais, mas também sabia me seduzir como ninguém. Blue era a
junção do que eu mais amava. Submissão e safadeza.
Matteo dirigiu por longos minutos, eu sabia que ele não estava indo
para a casa.

— Para onde estamos indo? — questionei, vendo seus dedos baterem


contra o volante.

— Você vai ver.

Não demorou muito para o carro parar. Encarei o chalé bonito e


suspirei. Matteo saiu do carro e eu estremeci ao ouvir a porta batendo. Saí
também e o segui até a cabana.

Assim que entramos, eu suspirei ao ver o quanto o lugar era bonito.


Matteo ligou a lareira elétrica e o lugar começou a esquentar. Fiquei parada,
querendo questionar o que estávamos fazendo aqui, porém as palavras
ficaram presas.

— Você está bem?

Sua voz soou atrás de mim quando Matteo afastou meu cabelo do
ombro. Sua boca deslizou pelo meu pescoço, me fazendo estremecer.

— Sim-sim — respondi, tremendo.

As mãos de Matteo entraram por baixo da minha camisa e tocaram


minha barriga. A ponta dos dedos roçou os meus seios e meus mamilos
ficaram rígidos. Desejei sentir sua boca neles novamente.

Matteo segurou minha cintura e me fez girar. Seus olhos estavam


escuros e sua boca a poucos centímetros da minha. Engoli em seco, lambi
meus lábios e senti Matteo puxar minha cintura em direção a ele.

— Você me pertence, Flame.

As palavras, o tom da sua voz, a maneira como ele me segurava... me

fizeram perceber que eu estava apaixonada por ele, não exatamente por causa
delas, mas pela minha reação a elas.

Eu gostei.

Eu quis pertencer a Matteo Trevisan.

E eu sabia que era um erro.

Sua boca desceu sobre a minha e eu segurei seus ombros, tentando


permanecer de pé. Sua língua era faminta, suas mãos impiedosas, e eu caí em

um redemoinho de paixão. Mordi seu lábio e suspirei quando Matteo desceu

para o meu pescoço. Ele chupou a pele clara e eu gemi quando ele me ergueu.
Envolvi minhas pernas ao seu redor enquanto o sentia se mover.

Ele se curvou assim que me deitou sobre um lugar macio ao lado da


sala. Suspirei ao sentir suas mãos puxarem meu vestido pela minha cabeça. O

calor ainda irradiava da lareira e beijou minha pele nua.

Matteo tocou minha cintura e seus dedos brincaram com minha


entrada. Gemi quando sua boca capturou o meu mamilo. Ele trocou os dedos
pelo seu pênis e eu tentei relaxar enquanto o sentia entrar dentro de mim. Ele
era grosso, e eu me senti ser rasgada enquanto seus quadris empurravam.

— Porra, Flame, você é tão apertada. — Matteo gemeu e segurou meu


pescoço. Ele não apertou, apenas manteve seu domínio sobre mim enquanto
lágrimas se formavam em meio a dor e prazer.

Matteo me fodeu lento e depois rápido, com carinho e depois como se


não pudesse ter o suficiente de mim. Quando seus lábios sugaram meu
mamilo mais uma vez, a dor diminuiu e eu gozei, ainda sentindo a ardência
horrível.

— Porra, você... — Matteo parou de falar quando o beijei.

Abracei seus ombros e enfiei minhas unhas em sua pele, marcando-o.


Eu o queria para mim. Droga, eu realmente o queria.

Queria Matteo de uma maneira que nunca quis nada.

— Sua boceta é o paraíso. — Ele gemeu enquanto se movia


novamente dentro de mim. Tentei afastar a dor, porém, eu estava realmente
dolorida. Gemi de dor e ele parou. — Flame?

— Ei — murmurei, tentando relaxar. Me inclinei para beijar seus


lábios e me afastei.

— Você... — A voz dele cessou e eu o senti se retirar de mim,


lentamente.

Matteo se ergueu e eu puxei a colcha grossa que havia ao lado para


me cobrir. Seus olhos quase saíram do rosto quando olhou para os lençóis.
Sangue estava nos panos brancos.

— Você era virgem? — A voz de Matteo soou apavorada.

— Sim — respondi rapidamente, tentando entender o seu medo.

— E você não pensou em me dizer? — Seu grito me fez pular na


cama.

— Eu... — As palavras sumiram quando vi que ele caçava suas


roupas. — Matteo, não é nada de mais...

— Você tem dezenove anos e era virgem. Com certeza, tinha algo
demais nisso. — Matteo continuou se vestindo.

— Eu nunca namorei... eu... Só não tive chance, entende? — Me ergui

e senti o seu sêmen deslizar pela minha perna enquanto eu tremia


suavemente. — Matteo, por favor, calma — pedi ao me aproximar, ainda
com a colcha contra meu peito, mas ele se afastou.

— Eu não consigo nem olhar para você.

Suas palavras foram como lâminas. Droga, eu não estava pedindo-o


em casamento. Longe disso, inferno! Sabia que isso era impossível. Por que
ele estava assim?

— O.k. — Acenei, vendo-o se afastar.

Droga, droga.

Encontrei Matteo depois de tomar banho. O lugar era realmente


bonito, mas além disso, havia tudo aqui. Até comida. Eu desejei saber de
quem era o local, mas não queria perguntar a ele. Não depois de tudo.

— Estou pronta. — Suspirei e mordi o lábio.

— Vou tomar um banho e depois saímos. — Ele não me olhou, nem


nada do tipo, apenas passou por mim como se eu fosse um móvel na sala.
Não a mulher com quem ele havia acabado de dormir.

Não a menina que estava com o mundo completamente abalado por

causa dele.

Matteo nem fazia ideia do que tinha acontecido.

Ele não demorou no banho, então logo estávamos em seu carro.

Calados. Eu odiei isso e quis chorar, mas me segurei o quanto pude.

Pelo menos, até cair na minha cama.

Duas semanas depois

Eu sabia que tinha cometido um erro ao transar com Blue. Mesmo

antes de a tocar eu sabia, mas depois de ver o sangue nos lençóis, foi como se
o diabo tivesse subido apenas para dizer que tinha avisado.

— O que está fazendo? — Blue perguntou assim que me viu na sala.

Ela estava segurando seus livros e eu havia acabado de pegá-la na


faculdade. Eu cumpri com a minha promessa. Eu a buscava todas as noites,
mas não nos falávamos. Isso era o certo.
— Limpando. — Indiquei minhas armas sobre a mesa.

Blue as encarou como se elas fossem monstros aterrorizantes. E elas

eram. Pelo menos para os que já matei usando-as.

— Você quer algo para comer? — ela questionou ao se sentar no sofá


e puxar as pernas para cima.

— Sim. Pizza de pepperoni — murmurei, voltando a desmontar e


limpar minhas belezinhas.

Blue ficou digitando no celular por um tempo e depois ficou em


silêncio, me olhando.

— Quem ensinou você a atirar?

A pergunta dela me fez elevar o rosto. Blue olhou para longe de mim
assim que nossos olhos se encontraram.

— Sei desde os nove anos. Romeo me ensinou antes que meu pai o

fizesse — falei devagar e senti um gosto amargo na boca ao me ouvir chamar


Ettore de pai.

Um pai não mataria minha mãe. Não ela, não depois de tudo.

— Como assim? — Blue franziu as sobrancelhas acobreadas.

— Meu pai nos ensinou tudo. A matar, mutilar e torturar — falei


lentamente, fazendo Blue arregalar os olhos a cada palavra. — E a aula
também era seu divertimento conosco.

— Ele ma-machucava você? — Sua voz falhou.

Sorri ao me lembrar das sessões de tortura.

— Era o que ele fazia de melhor.

Os olhos dela ficaram suaves e eu vi o brilho de lágrimas lá.

— Eu sinto muito.

— Não se desculpe pela merda que outra pessoa fez — resmunguei


firmemente. Flame acenou duas vezes e fungou. — Eu tive minha vingança.
Não se preocupe. Eu me diverti como a porra de uma criança quando come
doce.

Blue desviou os olhos dos meus rapidamente.

— Foi ele que te ensinou a machucar as pessoas? — Sua questão me


lembrou do homem a agarrando no campus.

— Ele me ensinou tudo que sou. Ele e meus irmãos — respondi, com
honestidade.

Rocco e Romeo fizeram tudo antes que nosso pai pudesse. Eles nos
empurraram em direção à escuridão de maneiras diferentes das que foram
feitas com eles. Eles me ensinaram a ser insano, antes que Ettore pudesse.

— Como está o seu peso morto? — perguntei, mudando de assunto.


— Peso morto? — Ela franziu as sobrancelhas.

— Aquela que diz ser sua mãe. — Sorri.

— Não ouse, Matteo — Blue grunhiu, apertando as mãos. Peguei


minha flanela do bolso e limpei o cano da minha arma. — Eu a amo, apesar
de tudo, então não fale assim, por favor.

— Ela não merece você — afirmei antes que eu pudesse me parar. —


Brian falou que pagou tudo a ele. Eu já tinha pagado, então o dinheiro veio
para mim, agora eu quero saber quando o viu.

Blue desviou o olhar e eu inclinei a cabeça.

— Minha mãe o chamou no dia que você me pagou.

— É claro que ela chamou — falei, balançando a cabeça.

— Eu pedi, Matteo. — Ela se alterou e respirou fundo. — Eu paguei


logo tudo. Havia algumas contas atrasadas da casa, então quitei tudo.

— E a sua faculdade?

— Eu paguei as parcelas que estavam atrasadas também. Está tudo


pago. — Blue se apressou para responder uma pergunta que eu nem sabia de
fato que era real.

— Ela pegou o dinheiro da sua faculdade para drogas? — perguntei,


nervoso.
— Eles iam matá-la...

— Teriam feito um favor a você! — gritei.

Blue se encolheu, seu rosto caiu e ela tentou segurar o choro, mas
falhou.

— Você... ela é minha mãe! Eu nunca a deixaria para morrer... —

Blue soluçou e se ergueu, eu fiz o mesmo, porém coloquei-a para se sentar


novamente. — Me deixa!

— Não. — Segurei seu cabelo próximo ao pescoço e a fiz me encarar.


— Eu entendo seu amor por ela, mas na próxima vez que eu souber que
pagou dívidas que ela fez, eu mesmo vou enfiar uma bala na cara dela.

— Você é horrível — Blue murmurou, com o queixo tremendo.

— Eu sou um demônio, Flame. E o demônio ama suas chamas.


O interfone tocou e eu me soltei de Matteo para atender. Minhas
pernas estavam bambas e meu coração batia freneticamente. Por suas
palavras agora, e por tudo que passamos. Lembrar da nossa noite juntos ainda
estava me deixando confusa e deprimida. Estávamos afastados, mas era o
certo. Não era?

Aaron avisou que o entregador estava aqui, então autorizei a subida.


Peguei refrigerantes que Prince estocava e voltei para a sala.

Peguei as pizzas do entregador e me sentei longe de Matteo enquanto


suas palavras ainda zumbiam em meus ouvidos como grilos insistentes.

— Ela não é a melhor mãe do mundo. — Deixei as palavras saírem.


Matteo ergueu o rosto para me olhar. — Mas é a única que tenho. Talvez,
você entendesse...

— Mas eu não tenho mãe. Era isso que você ia dizer? — Matteo me

interrompeu, apertando os punhos.

— Não! — Balancei a cabeça rapidamente. — Pare de colocar


palavras na minha boca, Matteo — gritei, indignada. — Talvez, você
entendesse se estivesse em meu lugar. Se sentisse a culpa que sinto. — Meus

olhos se encheram de lágrimas. Matteo me olhou sem expressão. — Eu vivi


longe dela por toda minha vida. Quando meus pais se separaram e ela me
perguntou se eu iria com ela, eu corri para o meu pai. Eu a deixei, não o
contrário. Só vim morar com ela no último ano, a vida dela já estava essa
bagunça.

— Você não tem culpa...

— Então, sim, eu tento limpar a lambança que ela faz — eu o


interrompi. — Eu não sei fazer diferente. E você não pode dizer que não devo

ajudá-la. Não me chantageie com isso, porque não é justo! — berrei,


incontrolável. Agora as lágrimas deslizavam pelas minhas bochechas.

— Flame...

— Meu nome é Blue! — rosnei, de repente, irritada pelo apelido


enquanto eu chorava.

Matteo se aproximou, e antes que eu entendesse o que faria, já estava


em seu colo. Eu me enrosquei nele como se ele fosse um copo de água no
meio do deserto.

— Não faça isso comigo. Por favor.

— Não estou fazendo nada — ele respondeu meu murmúrio. Me


afastei para o olhar, então ele segurou minha bochecha e sorriu. Eu odiava
seu sorriso. Suas covinhas eram perfeitas e eu tinha vontade de beijá-las. —

Você quer que eu dê um estoque de heroína a ela?

Meu coração parou com sua pergunta, franzi as sobrancelhas


enquanto Matteo segurava meu rosto com ambas as mãos.

— Você quer que eu dê a porra de um estoque a ela? Eu faço a


ligação agora. Você quer?

— Você não entendeu. — Balancei a cabeça.

Ele respirou fundo, ainda preso a mim.

— Ela vai morrer de overdose. Você sabe disso tão bem quanto eu. A
questão não é se, é quando. Então, se você acha que sua culpa vai amenizar
pagando as drogas dela, foda-se, Flame, você está errada. — Matteo apertou
o seu domínio sobre mim quando tentei me afastar. Ele me olhou
profundamente nos olhos e eu odiei deixá-lo ver o quão machucada eu estava.
— Agora, se você quer salvá-la, enfie-a numa clínica de reabilitação.

O meu queixo tremeu e eu mordi meu lábio. Matteo era um idiota.


— Ela não quer...

— Tente, eu pago.

— Não quero seu dinheiro, Matteo — falei com firmeza e puxei meu
rosto das suas mãos. — Vou pagar com meu salário. Pare. Você acha que não
percebi que me pagou o dobro do que ganho?

— Eu pago o quanto eu quiser. Prince também está pagando — ele


rosnou, irritado, enquanto eu balançava a cabeça. — Você não pode me
impedir.

— Quando Charlie e outras pessoas souberem, vão dizer que você


está me bancando. Eu não quero nada disso. Não quero seu dinheiro, Matteo.

Ele franziu as sobrancelhas e sorriu.

— Charlie te incomoda mesmo, não é? — questionou. Quando tentei


sair do seu colo, suas mãos seguraram meus quadris. — Não se mexa, Blue.

Você está acordando meu pau.

Minhas bochechas ficaram vermelhas e Matteo se inclinou para beijar


minha pulsação.

O dia em que ele me pegou dançando no Village voltou para a minha


mente, deixando-me arrepiada e trêmula. Nunca gozei tão forte como naquele
dia, e Matteo nem ao menos tinha me tocado, fora meus seios.

— Não vamos fazer isso. — Deixei minha voz sair, mas Matteo
segurou as pontas da minha camisa e puxou, tirando-a. — Matteo —
protestei, mas saiu mais como um gemido.

— Porra, Prince vai descer para comer — ele rosnou, descansando a


cabeça em meu ombro. — Vista. Vamos para o quarto.

Eu não falei nada, não conseguia formular palavras para dizer que
ficarmos mais uma vez era um erro, então Matteo me puxou pela escada.

Quando chegou ao corredor, gritou avisando a Prince que havia pizza na sala.

Assim que ele fechou a porta do quarto, engoli em seco ao olhar ao


redor. Minha pulsação acelerou e eu me virei. Matteo puxou a camisa e eu
mordi meu lábio quando vi as tatuagens que iam do seu braço até seu
pescoço.

— Flame.

Era assim que eu me sentia. Em chamas. Por ele, droga, acho que
nunca me senti tão atraída por ninguém, além de Matteo Trevisan.

— Matteo.

Ele sorriu e parou na minha frente, então inclinei a cabeça para o


olhar.

— Preciso que diga, Flame.

— Não sou sua...


— Você assinou sua sentença sujando meu pau com seu sangue. O
jogo começou e eu não gosto de perder. — Ele segurou meu pescoço,

deslizando o dedo pela minha pulsação. — Agora, diga.

Eu não pertencia a ele. Nunca o faria, porque ele não pertencia a mim.
Matteo Trevisan era algo que eu poderia apenas ter em momentos fugazes,
nunca quando eu quisesse. Isso me deixou doente.

— Diga você — desafiei, semicerrando os olhos.

Matteo parou de sorrir e seu corpo ficou rígido. Então eu soube que
não teria diversão.

— Não sou de ninguém, Blue.

Suas palavras não deveriam me magoar, mas o fizeram, porque aos


poucos eu sabia que Matteo estava se infiltrando na minha corrente
sanguínea. Me intoxicando, me fazendo desejar não só em pequenos
momentos, mas sim ele por inteiro.

Até ele, eu nunca havia experimentado a abstinência de algo. A ânsia


de ter apenas um pouco. Até Matteo, eu nunca soube o que era ser viciada.

Igual a minha mãe.

— Então estamos quites, porque eu também não pertenço a ninguém.

Passei por ele e abri a porta. Matteo não me seguiu e eu agradeci,


porque eu sabia que se ele tivesse feito, eu não o pararia. Deus sabe que eu
nunca resistiria àquele homem.

Na manhã seguinte fiz meu trabalho e me tranquei no quarto para


estudar. Eu havia voltado para a faculdade há pouco tempo, mas estava
animada e muito feliz. Não tinha feito muitos amigos, mas conheci algumas

pessoas bem legais. Fora Ryan. Ainda não acreditava que ele tinha tentado
me agarrar à força. Nunca mais o vi pelo campus, e agradeci a Deus por isso.

— Ei. — Atendi o número da minha mãe quando vi seu nome na tela.

— Boo, eu estou com problemas.

Suas palavras foram como um balde de água fria sobre minha


felicidade.

— Quanto? — perguntei, soltando a caneta na escrivaninha. Apertei

minhas têmporas e esperei ela me dizer.

— É pior... — Essa palavra. Porra, essa palavra me fez parar de


respirar. — Brian me pegou comprando da Bratva.

Meu Deus.

— Onde você está? — questionei, tremendo.

— Estou no porta-malas dele. — Minha mãe fungou. — Ele está me


levando para o Rocco. Eles vão me matar, Blue. Eu sei...

Meus olhos embaçaram com as lágrimas e meu peito doeu.

— Vou resolver.

Mas eu não sabia nem mesmo se podia.

Matteo ia matá-la dessa vez. Eu sabia.

Saí do quarto com o celular na mão e o procurei pelo apartamento.


Não o encontrei, então chamei um Uber e fui para o Date. Ensaiei minhas
palavras no caminho, tentei pensar na melhor maneira de falar e trazê-lo para
o meu lado, mas eu não fazia ideia.

Só quando desci em frente ao Date percebi que eu ia implorar pela


vida dela a ele. E ontem ele havia dito que a mataria se eu pagasse suas
dívidas. Ele não ia me ajudar, eu sabia, mas precisava tentar.

— Matteo — murmurei para um homem alto e negro que estava na

entrada. Era Zyon, pelo que me lembrava de Raina falando.

— Venha.

Zyon me guiou pelo local vazio, totalmente diferente da lotação que


ficava à noite. Quando paramos em frente a uma porta grande, ele acenou
para que eu entrasse. Matteo estava sentado quando coloquei os pés dentro do
escritório.
— O que está fazendo aqui? — Ele estalou, me encarando com os
olhos semicerrados.

— Eu sei que não posso pedir isso a você. Sei que é errado e você vai
me odiar, mas eu preciso.

As palavras o fizeram se erguer. Eu abracei meu próprio corpo e o


encarei.

— Brian está com a minha mãe. Ele a pegou...

— Por que ele está com sua mãe? — Matteo ergueu as sobrancelhas.
Senti minhas lágrimas molharem minha bochecha. — Blue.

— Ele a pegou comprando drogas da Bratva. — Deixei as palavras


saírem.

Matteo me encarou sem se mexer, seus olhos nem piscaram.

— Ela o quê?

— Eu sei. É horrível...

— Horrível? Isso é uma sentença. Rocco não vai perdoar. Ele


arrancou o rosto de dois traficantes ano passado. Eu sei que você deve ter
ouvido essa história.

Sim. Eu ouvi. O Navy Pier ficou com manchas de sangue por


semanas.
— Você quer que eu a livre. — Matteo cruzou os braços e se encostou
na mesa.

— Por favor, Matteo. Eu faço o que quiser, juro. Eu só preciso dela


viva para levá-la para uma casa de reabilitação — implorei, me aproximando
e segurando sua camisa.

— Não posso.

Duas palavras malditas e eu estava me sentindo despedaçada.

— Matteo...

— O que eu vou dizer para o meu irmão, Blue? — Matteo balançou a


cabeça e passou a mão no cabelo. — Que ela é mãe da garota que contratei e
nas horas vagas fodo? Que merda é essa?

A maneira que ele colocou, me reduzindo, me fez tropeçar para trás.

Meu Deus, era assim que ele me via? Era só isso?

— Eu pago. Diga que pagarei por ela...

— Eu disse a você que mataria aquela mulher se você pagasse alguma


dívida dela, Blue! — ele gritou, enfurecido.

— Não tenho mais ninguém. — Balancei a cabeça.

— Eu não posso. Não posso.

Eu poderia implorar por horas, mas o olhar de Matteo me dizia o


suficiente — ele não me ajudaria. Por ele, Rocco mataria minha mãe hoje e

fodam-se as consequências.

Eu me virei e corri para fora enquanto chorava tanto que meu corpo
tremia. Minhas pernas perderam a força e eu quase caí se não tivessem me
segurado.

— Ei, aonde vai com tanta pressa? — Prince sorriu, mas parou

quando viu meu estado. — Ei, Blue, o que houve?

Prince me guiou para fora do Date enquanto eu mais soluçava que


contava sobre minha mãe. Ele me ouviu atentamente e, quando finalizei, seus
dedos deslizaram pelas minhas bochechas.

— Eu vou tentar. Rocco, raras vezes, me escuta. — Prince tirou o


celular do bolso e se afastou.

Eu não conseguia ouvir nada do que ele dizia, mas quando ele se
virou e sorriu, eu soube que ele conseguiu. Corri para ele e o abracei tanto

que meus braços doeram. A vibração da sua risada me fez chorar mais ainda.

— Vá esperá-la em casa, Blue. — Ele acenou para o seu carro e


enfiou as chaves na minha mão.

— Obrigada. Prince, vou ser grata a você para sempre — murmurei,


emocionada. — Não importa o motivo, dia ou momento, se você precisar, me
ligue.
— Eu farei. — Ele beijou minha testa e me soltou, então corri para o
seu carro.

Dirigi para casa ainda chorando, e quando estacionei corri para


dentro. Minha mãe estava encolhida no sofá, soluçando.

— Ei, mamãe — chamei ao me aproximar.

Ela gritou e correu para os meus braços.

— Nunca senti tanto medo, Boo. Obrigada por não desistir de mim —
mamãe murmurou entre soluços, então me sentei no sofá e a abracei tanto
quanto eu podia.

— Nunca, mãe. Eu nunca vou desistir de você.

Não importava quantas vezes eu precisasse pisar no fogo, eu nunca


abriria mão dela.

Depois que a ajudei a tomar banho, levei-a para o quarto e ela

adormeceu. Me sentei no sofá e respirei fundo para ligar para a clínica que eu
havia encontrado há alguns meses, mas que eu não tinha tido coragem de
ligar. Mamãe nunca quis, então eu só deixei a ideia de lado.

— Olá. Eu quero internar minha mãe.


Minha mãe não falou muito sobre a internação quando propus. Ela
parecia cabisbaixa, triste e seus olhos não encontravam os meus. Porém, ela

não foi contra também, e isso foi o que me aliviou.

No dia seguinte, eu já havia arrumado suas malas e elas estavam no


carro. Observei-a olhar para a casa e senti meu peito doer.

— Vou ficar bem, Boo. — Ela me olhou e segurou minha bochecha.

Eu sabia que ela iria.

Quando a deixei na clínica, fiquei aliviada ao ver tanta gente


simpática a recepcionando. Saí de lá me sentindo bem e eu queria continuar,
por isso, quando fiz minhas próprias malas, não me permiti chorar.

Era hora de voltar a ser cuidada.

Era hora de voltar para casa.


Rocco recebeu Prince e eu no escritório no Village. Eu estava com
raiva, furioso comigo mesmo. Saber que Rocco havia deixado Carolyn ir
depois que Prince pediu por Blue, me deixou ainda mais furioso.

Não com ele. Essa merda era a coisa certa a se fazer, e eu era grato ao
meu irmão por ter feito. Minha fúria era em relação a mim. Eu deveria ter

ajudado Blue.

— O.k., quem vai começar a falar? Você que pediu pela mãe dela ou
você que estava fodendo-a? — Rocco enfiou a mão no bolso da calça
enquanto fumava. Apertei minha mandíbula. — Ou eram os dois? Porra, é
isso? Vocês dividiam a mesma garota?

— Cara, relaxa. — Prince se jogou no sofá. — Matteo estava


dormindo com ela, não eu.

— Sério? Porque se eu me lembro bem, quem pediu pela mãe dela foi

você, não ele. — Nosso irmão apontou o charuto em nossa direção.

— Não que eu não quisesse, você já viu Blue? Ela é gosto... — Prince
não terminou a frase, porque soquei seu rosto. — Que porra, Matteo!

— Cala a maldita boca, Prince. Desde que começou a ficar chapado


vinte e quatro horas por dia, você não cala mais a boca — gritei, com o corpo
rígido. Meu irmão se ergueu, mas antes que ele me empurrasse, Romeo nos
separou.

— Calma, porra! — ele pediu, enquanto eu me virava para Rocco.

— Não pedi porque a mãe dela se aproveita do dinheiro dela e de


tudo. Ela é uma drogada, e se ela morresse seria um favor quilométrico para
Blue.

Rocco me observou por um longo tempo antes de puxar a fumaça do


charuto.

— E se fosse Violetta? — Sua pergunta me fez trotar para trás. — Se


fosse sua mãe, Matteo, você a deixaria?

— Que porra? — perguntei, confuso. — Você ia matá-la ou sabe-se lá


o quê, e está tentando me dar sermão?

— Não. Não estou. — Rocco negou com firmeza e me encarou mais


sério ainda. — Eu estou fazendo você pensar. Minha mãe também era uma
drogada e, porra, ela era horrível, mas eu não a deixaria morrer!

Suas palavras reverberaram pela sala. Rocco nunca falou sobre sua
mãe conosco. Por isso, todos estavam calados, em respeito.

— Você pode achar o que quiser, é sua mente. Porém, querer impor
essa merda na cabeça de uma menina de dezenove anos é um pouco sujo,

você não acha?

Eu fiquei em silêncio. Eu não tinha resposta para isso. Rocco não me


pressionou, quando acabamos saí do seu escritório e encontrei Raina na
boate.

— Blue mandou entregar as chaves.

Suas palavras soaram e ela passou a chave do carro para Prince.

— Obrigado. — Meu irmão foi para o bar e Raina saiu andando em

direção à saída.

— Onde ela está? — perguntei, seguindo a loira.

— Não sei — Raina respondeu firmemente.

Segurei seu braço e me inclinei em sua direção.

— Eu juro que se você não falar essa merda...

— Eu não sei, Matteo. Ela me deu as chaves e foi embora. Eu não


perguntei nada, foi rápido. — Soltei o braço de Raina e ela se afastou. A

amiga da Blue me encarou com irritação.

— Eu sei que você vai falar com ela, e quando o fizer avise que vou
caçá-la até no inferno. — Me afastei dela e andei para o meu carro, sentindo
raiva e medo sacudirem meu peito.

Onde diabos você está, Flame?

Quando cheguei a minha casa, subi a escada e fui direto para o seu
quarto. Não havia mais nada dela em nenhum lugar. Suas roupas sumiram e
seus itens de higiene também. Ela veio aqui enquanto eu estava em Chicago.

Voltei para a sala e Prince me encarou, sentado no sofá.

— O que está rolando?

— Nada — respondi, me jogando na poltrona.

— Eu conheço você. Se fosse nada você não teria me socado. — Ele


apontou para o próprio rosto para dar ênfase.

— Eu não sei é melhor? — perguntei, com sarcasmo.

— Aquela menina não é para você. Na verdade, você não é para ela.
— Ele ergueu os braços quando o encarei. — Não me leve a mal.
— Por que você não cala a maldita boca? — questionei, frustrado, e
peguei meu celular. O nome de Lake apareceu na minha agenda, senti um

aperto no peito.

Eu não falava com ela há meses. Ainda estava sem acreditar que ela
realmente foi capaz de sumir, sem ligações ou mensagens. Lake havia sido
protegida por nós por anos, e quando ela tinha a oportunidade de ser grata,

era isso que recebíamos.

— Essa idiota já mandou alguma mensagem para você?

Enquanto esperava por sua resposta, silenciosamente implorei para


que não. Se ela não havia falado comigo, eu queria que não tivesse falado
com ninguém mais. Sim, eu era um idiota.

— Não e estou pouco me fodendo para ela. Você deveria fazer o


mesmo.

Prince saiu da sala e eu fechei meus olhos, querendo estar frente a

frente com Lake e desentalar algumas coisas bem na cara dela.

Meu pai me recebeu na porta de casa com um sorriso tão grande, que
mal cabia em seu rosto. Abracei-o com força e me permiti relaxar. Eu estava
segura.

— Boo, o que houve?

Sua pergunta ficou sem resposta, porque C.K. apareceu com os braços
abertos e chorando.

— Nem acredito que voltou para casa. Fiquei tão feliz com sua
ligação. — Ela fungou e eu beijei sua bochecha.

— Também estou feliz, C.K.

Ela e papai me levaram para dentro, e depois de conversar sobre


coisas bobas subi para o meu antigo quarto. Minhas coisas ainda estavam do
mesmo jeito que deixei. Me virei e vi os dois parados na porta.

— Igual, hum? — falei, sorrindo. Ambos deram de ombros. — Amo


vocês. Estou bem cansada da viagem, então no jantar eu conto tudo, o.k.?

Meu pai abriu a boca, mas voltou a fechá-la quando a morena


baixinha deu uma cotovelada nas costelas dele. Eu ri e meu pai revirou os
olhos.

— É claro, Boo. Descanse.

Quando fiquei sozinha, subi em minha cama e abracei meu


travesseiro. Meu celular tremeu e eu abri a imagem da minha mãe sorrindo
para a câmera enquanto andava no jardim. Meu coração ficou leve
instantaneamente.

A foto de Raina apareceu na tela em seguida, então atendi sua ligação.

— Deixei o carro com Prince — ela avisou. Agradeci em uma lufada


de ar. — Agora, você vai me dizer o que houve?

— Eu voltei para casa. Para o meu pai — expliquei, olhando para o

teto do meu quarto. — Não diga a ninguém isso, por favor.

— E Matteo?

Matteo Trevisan morreu para mim.

— O que é que tem? — desconversei, cansada. Fiz círculos na minha


colcha de cama enquanto aguardava.

— Ele me perguntou onde você estava. Como eu não sabia, não


menti. Essa é a parte boa. — Raina riu. — Sua mãe está bem?

— Sim, eu a internei antes de vir. Obrigada por tudo, Raina. Vou

dever a você para sempre. — Funguei, passando a mão no rosto, irritada com
as minhas lágrimas.

— Não foi nada de mais, querida. — Ela suspirou. Esperei que ela
falasse algo, mas quando ouvi, quis ter desligado antes que ela pudesse. —
Ele vai caçar você até no inferno, Blue. Ele disse.

— Ele não vai me achar.


Mas era mentira. Se ele quisesse, me encontraria em um segundo.
Mas ele não queria e era bom assim. Eu não precisava dele para nada.

Não mais.

— Você se envolveu com a pessoa errada, Blue. Você sabe disso, não
sabe?

Eu sabia.

— Sim e me arrependo amargamente.

Raina suspirou e depois de um silêncio reconfortante, nos


despedimos.

Se Matteo achava que eu era um peão no seu jogo doentio, ele estava
enganado. Eu tinha sentimentos, era um ser humano. Ele não iria me ferir
novamente.

Os dias foram passando tão lentos quanto uma tartaruga, e quando fez
três semanas que eu estava em casa, decidi ir visitar minha mãe. Meu pai
ainda não sabia que ela estava em reabilitação. Eu não queria preocupá-lo,
pelo menos era isso que eu dizia para mim mesma.

— Você vai a Chicago? — C.K. questionou enquanto colocava


panquecas diante de mim.

— Sim. Papai falou que estão tentando adotar. — Sorri ao mudar de

assunto e ela se acendeu como uma árvore de Natal.

— Sim. Nós estamos há um ano na fila... — C.K. começou a contar


sobre a decisão dos dois, senti-me muito bem enquanto conversava com ela.

Saí de casa no carro da C.K. Meu pai ainda não havia perguntado
sobre o meu, e eu tinha que pensar em um motivo para vender que não
fossem as dívidas da Carolyn.

— Ei. — Me aproximei da minha mãe no jardim da clínica e ela


ergueu os olhos. Fiquei apreensiva com seu semblante tenso. — Você está
bem? — Franzi as sobrancelhas.

— Eu quero ir para casa.

Meu estômago afundou.

— Mamãe, mas...

— Não preciso estar aqui, Blue. — Ela me encarou e as lágrimas em


seus olhos me deixaram triste. — Eu vou me controlar, eu sei que consigo.

Sua mão pegou a minha de repente, gemi quando ela a apertou,


fincando as unhas em minha pele. Uma enfermeira se aproximou e
gentilmente fez Carolyn tirar as mãos de mim.
— Carolyn, calma. Você não quer machucar sua Blue, certo? — A
voz dela soou suave. Mamãe balançou a cabeça, negando. — Que tal ir pintar

agora? Será divertido.

Carolyn acenou rapidamente e me encarou.

— Desculpa, Boo. — Ela se afastou com a moça de branco.

Nervosa, fiquei sentada no banco por alguns segundos. Meu estômago


girou quando vi as marcas das suas unhas em meu braço. Me virei e vomitei
meu café da manhã na lixeira. Minha barriga doeu e meus olhos se encheram
de lágrimas. Me ergui e caminhei até o banheiro mais próximo enquanto
imagens da minha mãe voltavam. Ela não estava bem.

Lavei meu rosto e as mãos, sentindo a náusea me deixar gelada.


Quando me olhei no espelho, suspirei ao ver meu semblante cansado.

— Você está bem? — Raina perguntou assim que abriu a porta para
mim. Havia marcado com ela um almoço enquanto estava na cidade.

— Sim.

— Não parece, você está pálida. — Ela me seguiu até o sofá.

Suspirei quando abracei meus joelhos.


— Estou cansada da viagem. — Dei de ombros, bocejando.

— O.k., tudo bem. Você quer se deitar enquanto termino o almoço?

Comprei sorvete. — Raina se ergueu e me deu a mão, então a peguei e


agradeci.

Eu me senti aliviada quando me deitei em sua cama e me aconcheguei


em seus lençóis. Adormeci rapidamente, e nos meus sonhos Matteo retornou.

Não sabia que sentia tanto a falta dele até aquele momento.

Quando Raina me acordou, meu peito estava dolorido pela saudade e


seu semblante apreensivo me deixou nervosa. Me sentei devagar e suspirei
enquanto olhava para ela.

— O que foi? — questionei, franzindo as sobrancelhas e esfregando


meus olhos.

— Travis está aqui e ele avisou a Matteo de você. Eu tentei impedir,


mas ele é um idiota.

Suas palavras me fizeram respirar fundo. As batidas do meu peito


duplicaram e eu encarei minha amiga. Me sentei rapidamente e calcei meus
sapatos. Eu realmente não estava com ânimo para discutir com Matteo. Eu
ainda me sentia cansada e apostava que tinha pegado um resfriado.

— Podemos sair antes dele — murmurei, me erguendo.

Ela acenou e pegou sua bolsa.


— Podemos ir ao cinema. Travis está lá fora, então ele não vai nos
ver até estarmos dentro do carro.

Nosso plano era bom, mas foi por água abaixo quando um Bugatti
preto estacionou. Era Matteo. Borboletas voaram no meu estômago quando o
homem vestindo um casaco preto saiu do carro e marchou até mim. Seus
olhos azuis estavam furiosos.

— Até que enfim, porra! — ele gritou ao me alcançar.

Raina ficou rígida, porém a toquei pedindo que se acalmasse. Esse


problema era meu.

— O que você quer? — falei, entredentes.

— Onde você estava? — Seus olhos estavam mais frios ainda. —


Como diabos você some assim? — Matteo segurou meu braço e me puxou
em direção ao seu carro.

— Não é da sua maldita conta, Matteo! — gritei, puxando meu braço.


— Não me procure, não fale comigo. Porra, não me olhe! — berrei,
tremendo.

Matteo riu. O filho da puta riu!

— Você vai para casa comigo...

— Eu não vou. Não me obrigue a isso — rosnei, me soltando e o


encarando enquanto lutava contra as lágrimas. — Não quero estar no mesmo
local que você. Não posso. Não depois do que fez.

— Eu tentei proteger você, Blue!

— Não, você me magoou!

Matteo passou a mão pelo cabelo enquanto eu cruzava meus braços.

— Blue, eu não queria...

— Olha... — Olhei ao redor e vi Raina parada com Travis. — Não


estou mais morando em Chicago, estou bem e realmente quero esquecer o
tempo que estive aqui, então, viva sua vida. Não me procure.

Matteo acenou e deu um passo para trás. Eu me senti perdida quando


o assisti se virar e ir embora.

Levando um pedaço de mim com ele.

Meu coração. Admiti, derrotada.


Se eu dissesse que estava bem, seria uma mentira do caralho. Eu
estava irritado com o mundo, e ficar no mesmo local que eu era um teste de
coragem. Pelo menos foi o que meus irmãos estavam dizendo quando voltei
da casa de Raina.

Blue não queria mesmo estar comigo. Nem na porra da minha

presença.

Sentado no cais, encarei o lago e joguei pedras nele. Me senti


sufocado ao me recordar das vezes em que minha mãe trazia Prince e eu para
brincar aqui. Ela era sempre tão sábia em suas palavras... eu sabia que ela me
falaria algo inteligente nesse momento.

Não deixe sua raiva guiar seus passos e decisões. Você está no
controle, não ela.

Não parece que estou no controle, mãe.

Ela está. Aquela ruiva que apareceu como um anjo, agora parecia o
demônio, me perturbando e tirando meu foco. Eu estava cansado disso.

— Eles chegaram — Prince gritou de casa.

Eu me ergui, jogando as pedras que ainda estavam em minhas mãos.


Quando entrei no escritório do meu irmão, eu sabia que algo estava errado.
Rocco estava sentado, enquanto Sienna estava afastada de braços cruzados
olhando para longe.

— O que o Bellini queria? — perguntei ao me sentar com Prince ao


meu lado.

Rocco havia saído para uma reunião com um dos seus capos mais
antigos que o tinha apoiado em sua ascensão, e ontem ele ligou pedindo por

uma reunião com o Don, então Rocco foi até ele.

— Bellini está doente. — Rocco respirou fundo e virou o uísque na


boca, parecendo preocupado. — O filho vai ocupar seu lugar, mas ele quer
uma troca mais significativa.

— O quê? — Prince semicerrou os olhos e eu fiz o mesmo.

— O que o velho quer? — questionei e olhei para Sienna. — Si, você


está bem?
Ela se virou ao me ouvir e acenou sorrindo, mas sem falar.

— Ele quer que você se case com a filha dele. — Romeo derramou as

palavras quando Rocco encarou a esposa e me esqueceu.

— O quê? — perguntei, rindo, mas nenhum dos meus irmãos estava


achando graça. — Você está pensando nisso — afirmei, olhando para o meu
irmão mais velho.

— Você está com vinte e três. Pense sobre isso, é o mais fácil...

— Desde quando você orquestra casamentos, cara? — perguntei,


irritado. Rocco ficou em silêncio. — Você aceitou, não foi?

Ele não negou. Eu me ergui e Sienna se aproximou com o semblante


preocupado.

— Matteo, às vezes o casamento traz felicidade. Veja eu e Rocco,


Lunna e Romeo... — Si murmurou, tentando me acalmar, mas eu balancei a

cabeça.

— Muita merda rolou para vocês estarem bem hoje — lembrei-a,


furioso.

Ela desviou os olhos, sabendo que eu estava certo.

— Bellini é um dos poucos aliados fiéis que temos. Preciso que se


case com a filha dele. Ela tem dezoito anos, é bonita e... Cara, eu não sei mais
o que falar. — Romeo se aproximou e eu ergui a mão, mandando-o parar.
— Não fala, então — rosnei, tenso. — E Oak Park? — perguntei a
Rocco.

— Continua igual depois do casamento. — Ele se ergueu e se


aproximou.

Casamento. Porra.

— Mexa suas cordas, Don. Eu sou seu discípulo. — Me curvei para


ele e me afastei quando vi o fogo em seus olhos.

Saí da mansão, sentindo mais peso sobre os meus ombros do que


quando entrei. Inferno. Chutei o pneu do meu carro e entrei, socando o
volante em seguida. Ainda não conseguia acreditar que Rocco aceitou um
casamento em meu nome.

Eu sabia que ele fazia o que era preciso em nome da Outfit, que
possivelmente esse casamento seria importante, mas por que diabos eu?

No dia seguinte fui para uma das corridas do Date depois de falar com
Romeo. Ele queria que eu visitasse a minha noiva. Piada do caralho. Ele já
havia comprado um anel e disse que eu precisava estar lá amanhã.

— Ei, mano, Prince contou sua merda. — Travis franziu as


sobrancelhas e Zyon nos encarou, confuso. — Matteo ficou noivo.
Que merda.

— Nossa, chefe. Eu digo parabéns ou o quê? — Zyon questionou e eu

até ri com sua confusão.

— Diga que me fodi e tudo certo — murmurei, mas ele não o fez.

— Pense pelo lado positivo, você vai ter uma boceta para se enfiar

todas as noites — Prince resmungou ao nosso lado.

— Você sabe que eu tenho qualquer boceta na hora que eu quiser,


certo? — Virei minha cerveja e fuzilei meu irmão com os olhos.

Ele riu e desviou os olhos dos meus.

Menos uma.

Meu subconsciente me lembrou e eu o mandei se foder.

As corridas começaram e eu as assisti com eles. As pessoas estavam


animadas, o lugar ficava mais cheio a cada dia que passava.

— Eu preciso ir, cara — Zyon me avisou.

Acenei e o observei caminhar entre as pessoas.

Zyon era um soldado em que confiávamos muito. Foi por ele que
descobrimos as merdas que o antigo capo de Oak Park, Cesar, havia feito.

— O que ela está fazendo aqui? — Prince rosnou, ficando rígido.

Eu me virei e vi Hope com duas garotas.


— Cara, deixe essa menina — Travis murmurou gemendo, enquanto
eu arqueava a sobrancelha. — Ele está sendo um perseguidor do caralho.

— Quer compartilhar, Prince? — perguntei, semicerrando os olhos.

— Você pode perseguir Blue e eu não posso perseguir Hope? — Meu


irmão cuspiu com o sarcasmo pingando da sua língua. Antes que eu pudesse
responder, ele caminhou em direção à loira.

— Fica de olho nele — pedi a Travis enquanto entrava no carro que


eu dirigiria hoje.

— Deixa comigo — ele respondeu ao se afastar e eu relaxei no banco.

Corri com um dos caras da cidade, e quando ganhei não comemorei


nada. Eu queria beber. A porra da cerveja não tinha feito efeito algum.

— Onde está Prince? — perguntei, entrando de volta no bar.

Peguei um copo de uísque e Travis apontou para a mesa onde Prince

estava com Hope e as outras garotas, mas ele estava beijando a amiga dela. E
Hope não parecia contente. Deus, o que diabos estava havendo com Prince?

— Ei, vamos lá. — Cheguei na mesa e apertei o ombro dele.

— Senta aí — ele pediu, sorrindo. Deslizei na cadeira depois de


Travis. — Miley, Brittany e, claro, Hope — Prince apresentou as meninas,
enquanto Hope segurava seu olhar.
— Olá, querida. — Travis passou o braço pelos ombros de Brittany
enquanto Prince estava focado em Miley.

Eu encarei Hope e a vi engolir em seco.

— Você gosta dele? — perguntei próximo ao seu ouvido e seus olhos


se arregalaram. O.k., sim. — Prince está com muita merda na cabeça
ultimamente, então, conselho de amigo, corra.

Alguém deveria ter aconselhado Flame antes de entrar em meu


caminho.

A sensação de aperto na garganta voltou, então virei o copo com


bebida, querendo tirar a ruiva da minha cabeça. Esquecer que a magoei, que
ela disse na minha cara, com todas as malditas palavras, que queria esquecer.

Eu odiava saber que estava tão irritado com isso, com seu afastamento
e... por quê, porra? Ela não era ninguém. Blue Dawson era a lama que eu
pisava e eu não deveria sentir sua falta. Não deveria me sentir mal por ser

honesto.

— Eu tento, mas seu irmão é um perseguidor. — A voz de Hope me


fez voltar ao presente. — Espero que Miley tire o foco dele de mim — ela
falou entredentes.

Encarei meu irmão. Ele estava entretido com Miley, realmente.

— Sorte sua. Parece que ele está focado nela.


Hope não respondeu e eu foquei minha atenção na minha bebida,
afastando todo o resto. E resto significava Hope, Prince e, principalmente,

Blue.

Romeo enfiou a caixa de veludo entre meus dedos e eu apertei minha

mandíbula. Sienna estava próxima, ainda parecendo miserável. Eu não


precisava que ela me dissesse que estava com raiva disso. Mas não tanto
quanto eu.

— Só entregue a ela. Lunna comprou-a com a ajuda de Sienna —


meu irmão me falou.

Acenei e respirei fundo.

— Eu entendo, o.k.? — murmurei, olhando para minha família.

— Eu sabia que entenderia. — Rocco segurou meu ombro.

A porta se abriu e Rocco cumprimentou Dario Bellini. Nós fomos


encaminhados para dentro da casa e eu fiquei próximo a Prince.

— Antonella Bellini. — A voz de Dario ecoou.

Ergui meus olhos e vi uma menina descer os degraus da escada. Seus


cabelos eram pretos e seus olhos castanhos. Ela tinha uma pele branca, mas o
conjunto era realmente algo espetacular.

— Antonella, é um prazer. Esse é meu irmão Matteo — Romeo nos

apresentou e eu dei um passo à frente, pegando a mão dela.

Seus olhos se prenderam aos meus quando beijei o dorso da sua mão.
Me afastei rapidamente e ela sorriu.

— É um prazer.

Nós fomos jantar, e quando finalizou Antonella e eu ficamos sozinhos


em sua biblioteca. Eu vi que seu pai não queria, mas Rocco foi firme ao dizer
que eu queria falar a sós com ela.

— Você é bonita, Antonella — murmurei, me servindo com a bebida


que havia ali.

— Você também...

— Você quer se casar comigo? — Minha pergunta foi direta, e

enquanto esperava sua resposta engoli o uísque.

— Eu... — Ela abriu e fechou os lábios diversas vezes. Quando ergui


a sobrancelha, ela desviou os olhos dos meus. — Não. Não quero, mas isso
não é sobre meus desejos. É sobre meu dever.

— Concordamos — falei em um fôlego e me aproximei. Tirei a caixa


de veludo do meu terno e a abri, pegando o anel de diamante. — Vamos fazer
isso.
— Vamos. — Ela acenou suspirando, então entreguei o anel a ela.

Antonella colocou o anel sozinha e mordeu o lábio.

— Ella.

— O quê? — perguntei, confuso.

— Me chamam de Ella. Não Antonella. — Sua explicação me fez

acenar.

— O.k., Ella.

Nós saímos da biblioteca e Ella sorriu, mostrando o anel para todos.


Sua mãe a abraçou, enquanto Sienna e meus irmãos estavam com os olhos
em mim.

— Ao casamento. — Sorrindo, ergui meu copo de uísque.

Assim que saímos da casa dos Bellini, minha família me olhou como
se eu fosse uma bomba prestes a explodir. Eu não era. Na verdade, eu estava

aliviado. Ella não esperaria deveres de mim quando nem ela mesmo queria os
fazer.

— O casamento será daqui a sete meses — Sienna me avisou quando


entramos na mansão. Eu dormiria aqui hoje por quê... bem, porque eu queria.

— Temos tempo para Lake voltar — Rocco falou ao se sentar no


sofá. Sienna arregalou os olhos. — Para o casamento.
É claro.

Prince saiu sem falar nada, eu me sentei e liguei o Xbox.

— Se for por mim não precisa — falei, rispidamente.

Rocco e Sienna me olharam.

— Não fale isso — Si implorou. Só dei de ombros. — Lake está

longe, sem nós, sem Prince... Para ela, deve ser mil vezes pior.

— Eu quero que ela se foda! — murmurei entredentes, deixando


Sienna rígida. — Não preciso dela e não a quero nessa porcaria de
casamento, então, não a traga.

Sienna abriu a boca para retrucar, mas Rocco a parou.

Bom, porque falar sobre a caçula dos Trevisan me deixava com ódio.

Os dois se retiraram e eu fiquei jogando sozinho. Meu celular tremeu


com uma notificação, então abri a mensagem de Travis.

“Raina está indo para o Bloomington.”

“E eu com isso?”

“Raina nunca saiu de Chicago para tão longe. Junte dois mais
dois.”

Foda-se. Flame.

“Mande a localização de Raina quando ela parar.”


“O.k.”

Apertei meu celular entre os dedos e fechei os olhos, jogando o

controle para o lado.

— Olhe pelo lado bom, Antonella é bonita. — Rocco se aproximou,


segurando um copo cheio de uísque.

— Sim, ela é.

Mas não era ruiva, não tinha peitos fodíveis e, porra, não tinha
aqueles olhos azuis que me fascinavam.

— Sienna está chateada com tudo isso. Ela quer que você, Lake e
Prince se apaixonem e essa besteira toda que ela e Lunna andam alimentando.
— Meu irmão se sentou no sofá ao lado e me encarou. — Poderia ter
escolhido Prince, mas não quis, Matteo.

— Se eu estivesse em seu lugar, também não o escolheria — falei

com firmeza. Ele ficou em silêncio, esperando que eu concluísse. — Prince


anda fumando e bebendo mais. Desde que Lake foi embora, ele está perdido.

— Isso vai passar. Eles têm uma ligação muito forte... É normal ele
estar perdido. Lake deve estar também. — Rocco esfregou o rosto e me
olhou. — Não me arrependo de ter enviado Lake para a escola depois que
descobri que ela havia matado Salvatore...

— O quê? — gritei, de maneira rígida. Rocco pareceu surpreso por


alguns segundos, mas se recuperou. — Que merda é essa, Rocco?

— Dias depois da morte dele, entramos nas filmagens e vimos que ela

estava com Salvatore e Giulio. Conversamos com ele e ele escreveu o nome
dela. — Ele passou a mão pelo cabelo e me encarou. — Quando a confrontei,
ela assumiu.

— Que porra... você acreditou? — rosnei, me erguendo. — Lake,

Rocco! Estamos falando dela...

— Eu sei, eu sei. Descobri recentemente que ela havia mentido.


Giulio matou Salvatore depois que ele pediu. — Suas palavras eram firmes,
mas não faziam sentido para mim.

— Cara, Prince sabe disso? — questionei, apavorado com a reação do


meu irmão.

— Sabe. Todos sabem.

Menos eu. Todos sabiam, menos eu.

O barulho do meu coração era alto. A culpa corroeu meu estômago e


eu quis ligar para ela. Quis pedir que voltasse, quis viajar até ela e a trazer de
volta.

— Você a deixou lá depois de tudo. Qual é o seu problema? — gritei,


ficando de pé.

— Ela não quer voltar.


— Talvez seja porque quem deveria confiar nela a mandou para o
quinto dos infernos!

— Eu sei dos meus erros, Matteo! — Rocco gritou.

Sienna apareceu de pijama, com a barriga à mostra. Os gêmeos já


estavam dando as caras.

— Por que não me contou? Por que ninguém me contou? — berrei,


furioso.

Si me encarou com os olhos arregalados.

O silêncio deles me deixou cego de raiva quando saí pela porta e


ninguém me parou.
Eu não melhorei da minha indisposição, os enjoos estavam ainda mais
frequentes. Acordar todas as manhãs estava sendo um terror.

— Ei, tudo bem? — A batida na porta me fez fechar os olhos


enquanto meus braços estavam agarrados ao vaso.

— Estou morrendo. — Gemi e me afastei, encostando minhas costas

na parede fria. — Entre, C.K. — pedi, passando a toalha úmida em meu


rosto.

Quando a esposa do meu pai apareceu, eu sorri.

— Acho que estou com uma intoxicação alimentar — falei, quando


ela se sentou ao meu lado. — Porém, não lembro de ter comido nada
diferente.
— Pode ser outra coisa. — Ela sorriu devagar e eu franzi as
sobrancelhas. — Há quanto tempo está sem menstruar?

Não entendi sua pergunta... então a ficha caiu quando ela sorriu e
passou a mão pelo meu cabelo. Meu Deus. Não podia ser...

— Não sei... — Minha voz parecia de outra pessoa, não minha. —


Mas não pode ser... Eu só transei uma vez quando perdi minha virgindade...

— falei, sentindo minhas bochechas queimarem.

C.K. suspirou e me puxou para os seus braços.

— Não precisam de muitas vezes para engravidar, Blue. — Fechei


meus olhos enquanto ela limpava meu rosto. — Eu tenho alguns testes
guardados. Sabe, eu tentei por muito tempo. — Sua voz ficou emocionada e
eu congelei.

Oh meu Deus. Ela tentava há muito tempo ter um bebê e eu podia


estar grávida.

— Eu sinto muito, eu...

— Blue, não se desculpe. — C.K. segurou minhas bochechas e beijou


minha testa. — Vai ficar tudo bem, querida.

Ela saiu do banheiro e voltou com três testes na mão. Depois de me


ensinar a usar, C.K. me deixou sozinha e disse que esperaria do lado de fora.

Assim que terminei, eu a chamei enquanto meus dedos tremiam.


— Ah, querida. — C.K. me abraçou, segurando os três testes
positivos enquanto eu soluçava. Eu estava grávida. Eu tinha um Trevisan no

ventre. — Está tudo bem, Blue.

Não estava. Nunca ficaria bem novamente.

Não com um filho do Matteo crescendo dentro de mim.

— Você tem o contato do pai do bebê ainda?

Sim. Não.

— Meu pai vai me matar — falei, fungando. Minha madrasta riu e


balançou a cabeça de um lado para o outro. — Minha faculdade... meu Deus,
eu sou um desastre.

— Blue, não seja dura consigo mesma. — C.K. me levou para o


quarto.

Trêmula, suspirei. Eu estava grávida. Dele.

— Não quero contar a ninguém. Não posso... — murmurei, sentando-


me na cama.

Matteo ia me matar. Eu sabia disso. Lembrei-me das suas palavras


quando falou que não pertencia a ninguém. Ele acharia que engravidei para
prendê-lo. Eu conhecia aquele homem há pouco tempo, mas sabia do que ele
era capaz.
— Você está abalada. Descanse, baby. Amanhã falamos sobre isso.
— C.K. me ajudou a deitar.

Quando minha madrasta saiu, eu senti minhas lágrimas descerem. Me


imaginei contando a Matteo, mas não consegui. Não consegui, porque eu
temia sua reação. Eu estava apavorada com a possibilidade da sua rejeição.

A tela do meu celular acendeu, e como se fosse um truque do destino,

havia uma mensagem dele. Abri, sentindo meu peito bater descontrolado.

“Desce.”

Desce? Meus olhos se arregalaram e meu coração parou. Me ergui


rápido e andei até a minha janela. O carro dele estava estacionado na frente
da casa. Me afastei da janela e comecei a respirar com dificuldade.

Oh meu Deus, como ele me achou?

Raina.

Ela veio hoje aqui, mas foi tudo tão rápido. Como ele descobriu? Ela
não falaria. Apertei minhas têmporas enquanto pensava, mas nenhuma
explicação apareceu.

“Vou tocar a campainha.”

Droga.

“Estou indo.”
Enviei enquanto saía do meu quarto, puxando meu robe. Meu pai já
estava dormindo, cansado do trabalho. Apenas C.K. estava acordada comigo,

assistindo a um filme. Isso antes de eu correr para o banheiro vomitar.

Saí de casa andando rápido até seu carro. Abri a porta e entrei, me
sentando no couro macio e quente. Relutei em o encarar, quis entender o que
estava acontecendo entre nós. O que eu sentia e, o mais importante, o que ele

sentia.

O que Matteo estava fazendo aqui? Por que viajou mais de três horas
de carro?

— Como você me achou? — perguntei depois de um silêncio


angustiante.

Meu coração pediu que eu o encarasse, implorou, e eu segui seu


pedido. Me arrependi assim que o fiz. Seu rosto estava tomado pela tristeza.
Meu peito afundou e eu quis saber quem o havia magoado.

— Travis rastreou Raina — Matteo explicou sem me encarar. Ele


ergueu a cabeça e fechou os olhos. — Eu dirigi por mais três horas até aqui e
não sei o porquê.

Suas palavras pareciam facas afiadas perfurando meu peito. E só esse


homem podia fazer isso comigo. Só ele era capaz de me rasgar inteira e me
costurar de volta em segundos.
— Então o que houve, Matteo? — questionei, me virando e
descansando minha cabeça contra o banco. — Quem fez isso com você? — A

raiva em minha voz me atordoou e a ele também.

— Eles. Todos. — Matteo apertou o volante e seus dedos ficaram


brancos. — Eu sempre sou o último a saber de tudo. A escolher qualquer
merda. Eu sempre fico no escuro...

— Ei, tudo bem. — Toquei sua nuca e acariciei seus cabelos. Matteo
me encarou e esticou a mão, tocando minha bochecha. — Sua família é bem
complicada...

— Fodida, você quer dizer. — Ele se virou mais e agora eu estava


segurando sua bochecha.

— Você quer entrar? — perguntei de repente.

Matteo acenou no mesmo segundo. Saímos do seu carro e andamos


para dentro de casa. Subimos para o meu quarto e eu fechei a porta devagar,

temendo acordar meu pai. Quando me virei, Matteo estava olhando cada
canto do quarto.

— Você era líder de torcida, que surpresa. — Ele sorriu, pegando um


porta-retratos de cima da minha mesa. Na foto eu estava com o uniforme
vermelho e branco.

— Uma das melhores — falei, andando para a minha cama.


Matteo deixou a inspeção de lado e veio para a cama comigo. Eu me
virei para o encarar, mas ele me puxou para o seu peito. Respirei seu cheiro

fresco e me senti em casa. Me senti como se todos os meus caquinhos


tivessem sido colados.

— Senti sua falta, Flame. — Sua voz rouca me fez o encarar. Seus
olhos estavam presos em mim.

— Não duvido em nenhum momento — murmurei com firmeza e


toquei seu rosto. — Eu não sei o que estava acontecendo com a gente,
Matteo. Mas eu sei que não era bom. Nem para você e nem para mim...

— Era?

— Nós somos uma bagunça de cinzas e faíscas.

Parei de falar quando ele nos girou e ficou sobre mim. Seus quadris
espalharam minhas pernas e eu ofeguei ao sentir seus lábios nos meus.
Famintos, buscando alívio de algo que eu não fazia ideia, mas queria ajudá-lo

a escapar. Segurei seus ombros e aprofundei o beijo, chupando sua língua e


mordendo seus lábios. Suas mãos seguraram meus quadris e ele empurrou
contra mim, lento, mas fazendo com que uma necessidade doentia começasse
a crescer.

— Tire isso. — Sua demanda foi firme, então obedeci.

Não pensei nos motivos para não o fazer, apenas tirei meu robe,
depois minha camisola e, por último, a calcinha. Matteo desceu pelo meu
corpo enquanto apertava meus seios e eu tremi ao sentir sua língua sacudir

sobre meu clitóris. Era tão íntimo, tão bom.

— Sua boceta é a porra do céu. — Sua voz me fez gemer seu nome.

Matteo mordeu, lambeu e sugou minha boceta como se ele não


pudesse viver sem. Eu chorei em meio ao prazer quando o clímax varreu meu

corpo. Minha respiração se alterou, meus pensamentos ficaram brancos.


Matteo subiu, beliscando meu mamilo e deslizando para dentro de mim. Me
senti cheia e molhada enquanto seus quadris empurravam.

— Flame... Deus... você é perfeita. — Ele gemeu, abocanhando meu


seio enquanto sua mão maltratava o outro mamilo, esfregando e beliscando.

— Matteo... — Gemi sem ar.

Ele me girou, e quando fiquei sobre meus joelhos na cama, Matteo me


fodeu com rapidez, meu ventre apertou e eu mordi meu travesseiro, querendo

gritar, mas sem poder.

— Isso, Flame, quietinha. Você não quer que seu pai me escute
fodendo sua boceta, certo?

Sua boca suja me deixou arrepiada. Eu corei envergonhada enquanto


minha vagina ficava mais úmida.

— Matteo... — implorei, sem conseguir me conter.


Seus dedos encontraram meu clitóris e eu gozei com os toques rápidos
dele. Gritei contra o travesseiro e estremeci quando Matteo gozou dentro de

mim.

De novo.

Só que dessa vez, eu já estava grávida.

Ele me puxou para o seu peito e eu lutei contra mim mesma. Eu


queria falar agora, dizer que estava grávida e que era dele, mas estava com
medo. Temia sua reação. Ele assumiria o filho? Ficaria comigo?

— Estou noivo, Blue.

O tempo pareceu parar. Meu coração perdeu batidas e meu estômago


rodou, me fazendo sentar na cama. Puxei o lençol e o encarei, enquanto
lutava contra as lágrimas e o desespero.

— O quê? — Minha voz saiu fina, apavorada.

— Vou me casar — Matteo murmurou e se sentou, ficando de costas


para mim.

— Então... — As palavras sumiram, meu peito doía e eu não


conseguia pensar na dor que estava me consumindo. — O que você fez? Por
que veio aqui? Qual é o seu problema? — Minhas perguntas saíram
frenéticas enquanto eu tentava controlar o volume da minha voz.

— Eu não sei. — Ele puxou o cabelo, ainda de costas.


Abracei o travesseiro, me sentindo frágil como nunca.

— Eu tento fugir da sua vida, do seu jogo doentio, mas você tem

prazer em me encontrar. Tem prazer em me ferir... por quê, Matteo? O que eu


fiz para você? — implorei por uma explicação.

— Eu não sei, Blue! — Ele se ergueu e começou a se vestir. —


Quando percebi, eu já estava aqui. Quando percebo, eu já estou com você.

Sempre é assim. Suas chamas me atraem... — Matteo passou a blusa pela


cabeça e pegou suas chaves.

— Se você sair, eu juro que nunca mais quero te ver — prometi,


implorando com os olhos para que ele me escolhesse, optasse por mim e
nosso bebê.

— É a última vez que nos vemos. — Matteo se aproximou e beijou


minha testa.

Eu não me mexi, apenas fiquei parada enquanto era puxada para o

redemoinho que era Matteo Trevisan.

Ele saiu pela porta e eu nem mesmo me mexi para acompanhá-lo. Eu


o deixei sair da minha vida pela última vez, prometendo a mim mesma que
Matteo Trevisan nunca mais me faria implorar por nada. Nunca.
Na manhã seguinte eu desci para tomar café e encontrei meu pai e
C.K. juntos. Dei bom-dia aos dois e me sentei.

— Pai... — Comecei a falar, mas fui interrompida.

— Quem era o homem naquele carro ontem?

Sua pergunta me fez engolir em seco. Ele não estava dormindo, pelo

visto.

— Ninguém — respondi com firmeza.

— Blue. — Papai parou e respirou fundo. — Você pode me contar


tudo. Qualquer coisa. Quero que confie em mim. Eu sempre vou fazer o
melhor por você.

Meu queixo tremeu com suas palavras e eu enxuguei meus olhos.

— Eu sei e eu quero realmente dizer algo que descobri ontem. —


Mordi meu lábio e segurei sua mão. — Estou grávida, pai.

Seu rosto se transformou. Um segundo calmo e, no outro,


completamente assustado.

— O quê?

— Eu sei, fui burra. Irresponsável e tudo que estiver pensando —


afirmei rapidamente. — E estou morrendo de medo. Apavorada.

Papai se ergueu e me abraçou. Me senti bem, amada e protegida como


sempre acontecia quando estava em seus braços.

— Vai ficar tudo bem, Blue. Você é jovem, mas é esperta, estudiosa.

— Ele segurou meu rosto e beijou minha testa. — C.K. e eu vamos ajudá-la.

— Obrigada, papai. — Abracei-o com força e ele riu quando se


afastou.

— Agora, você precisa colocar o endereço do canalha aqui. — Papai


colocou um bloco de papel e caneta na minha frente. — Eu vou lá fazê-lo
casar-se com você.

Suas palavras me fizeram ficar rígida.

— Pai, não. Eu não quero isso — menti, engolindo em seco. — Eu


não vou contar a ele sobre o bebê.

— Blue. — Meu pai se afastou e me encarou como se não me


conhecesse. — Você não pode fazer isso...

— Pai...

— Blue, ele tem direitos. — Sua voz ficou firme. Olhei para C.K.,
que estava calada até agora. — Querida, pode me ajudar?

— Blue está assustada, Benjamin. Deixe-a digerir tudo, o.k.? — Sua


esposa veio até mim e beijou meus cabelos. — Tome seu café da manhã.
Marquei uma consulta para você.
Agradeci a Deus por C.K. naquele momento como jamais fiz.

Quando chegamos à consulta, segurei a mão de C.K. e pedi que


entrasse comigo. Ela poderia me achar patética e medrosa, mas eu não
conseguiria fazer isso sozinha. Jamais.

A médica me fez tantas perguntas que fiquei tonta. Respondi tudo o


mais detalhado possível, então ela me pediu alguns exames e receitou
vitaminas que eu precisava tomar.

— Vamos ver o seu bebê? — A doutora sorriu e eu suspirei,


apertando a mão da minha madrasta. — E... aqui está ele ou ela. Não consigo
ver ainda.

Encarei a tela preta e branca, tentando distinguir meu bebê. A médica


passou o dedo na tela e me mostrou enquanto sorria. Meu peito bateu como o

dele, forte e poderoso, enquanto lágrimas embaçavam a minha visão.

— Vou imprimir algumas fotos e você pode levar.

— Posso ter o vídeo?

— Claro. — Ela continuou medindo meu bebê, e quando finalizou me


limpou e me ajudou a sentar.
Segurei as imagens e sorri em meio a lágrimas.

Você será a razão da minha vida.


MESES DEPOIS

Eu aprendi duas coisas sobre Ella. Um, ela era simples — tudo estava
bom para ela, nada a incomodava. Dois, ela amava o lago Michigan.

— Sei que parece que o inferno subiu, mas não acho uma boa ideia —
avisei, andando até alcançá-la no cais. Tínhamos almoçado juntos e eu a

trouxe para a mansão.

Estávamos em pleno verão, e a umidade da cidade estava deixando


qualquer um com a camisa encharcada de suor.

— Desejo não me falta, mas... não o farei. — Ella sorriu e eu me


sentei no cais.

— Que bom.
Ela se sentou ao meu lado e balançou as pernas acima do lago, agora
completamente fresco.

— Qual o nome dela? — Virei o rosto para encará-la, confuso. — Eu


sei que tem. Vamos lá, estamos noivos há meses e você nunca me beijou. —
Ella sorriu castamente e eu senti como se seus dedos estivessem esmagando
meu peito.

— Não existe outra garota — menti rapidamente, tentando não pensar


em Blue.

Deus e o diabo sabiam que desde que a deixei naquela cama, em


Bloomington, eu lutava para não voltar lá e trazê-la de volta. Ella não
merecia isso e, principalmente, Blue.

— Então, por que...

Bati meus lábios nos seus antes que ela continuasse. Abri minha boca
e chupei seu lábio inferior. Ella não retribuiu o beijo, por isso, me afastei.

— Okay... — Ela virou o rosto para o lago e eu sorri.

— Pensei que queria me beijar — falei, rindo.

— Não — ela sorriu, seu rosto vermelho —, quero dizer, meu Deus,
você me deixa confusa. — Ela franziu as sobrancelhas e passou a mão no
rosto. O diamante em seu anel brilhou com os reflexos do sol.

— Ei, casal, vamos jogar ou não? — Prince gritou e Ella ficou rígida
por um segundo.

— Vamos lá. Vou jogar duas partidas e te deixo em casa.

Ela acenou e a gente se ergueu.

Antonella se sentou no sofá, mexendo em seu celular enquanto eu e


Prince jogávamos. Depois de quase uma hora, meu celular tocou.

— Matteo.

— Ei, cara. Preciso de você aqui. — A voz de Zyon me fez suspirar.

— O que houve? — Me ergui rapidamente e Ella me encarou.

— Encontramos outro carro em frente ao seu apartamento. Peguei o


desgraçado e quero brincar.

É claro que ele queria.

— Estou a caminho. — Desliguei o celular e encarei Prince. — Leve-


a para casa e me encontre em Oak Park.

— Matteo... — Ella se ergueu e me acompanhou em direção à saída.


— Você pode me deixar no caminho...

— Contramão, querida. Prince vai deixá-la. Você está segura com ele
— afirmei, pegando minhas chaves. — Te vejo em alguns dias.

Pensei em beijá-la, mas não o fiz. Não parecia certo.


Assim que entrei no Date meu sangue já estava quente e eu queria
quebrar alguns ossos. Entrei na sala onde Zyon havia colocado um dos dois
idiotas. O outro era do Prince.

— Teremos que matar todos vocês? — questionei, puxando uma

cadeira. Me sentei enquanto encarava o homem de barba grande e olhos


escuros.

— Algo assim.

— Não é um problema. Só tem uma coisa que eu gosto mais do que


foder, é matar. — afirmei, sorrindo. Ele olhou para Zyon. — Por que você
não me conta mais sobre esse plano de vocês?

— Não é um plano — ele rosnou, começando a mostrar as garras. —


Vamos matar seu irmão. É apenas questão de tempo... Porra! — ele gritou

quando chutei seu rosto.

— Você vai morrer, e o bom é que você sabe que essa merda é mais
certa que o Dia de Ação de Graças.

Ele engoliu em seco e eu sorri ao me erguer. Me virei, andei até a


mesa de mogno e tirei minhas facas de uma das gavetas.

— Para a sua sorte, hoje eu quero me divertir, porém, não manuseio


tão bem quanto meu irmão. Prince realmente sabe como infligir dor com
eficiência.

Seu rosto ficou apertado e eu sorri. Droga, eu estava ansioso.

Quando saí do quarto, havia tanto sangue no chão que o piso estava
coberto. Zyon me acompanhou até um dos banheiros e eu lavei minhas mãos,
completamente tenso.

— Cara, aquilo foi animal — ele resmungou, limpando as mãos


também.

— Realmente foi. Precisamos entrar neles. Continuarão vindo se não


nos sentarmos e conversarmos — resmunguei, irritado.

— Sim, essa merda vai continuar. — Zyon acenou.

— Eles não tiveram sorte nas duas vezes, mas quem sabe na próxima?
Preciso tirar Prince de Oak Park. — Respirei fundo e sequei minhas mãos.

— Você sabe que tem sangue até na cueca, certo?

Porra. Era verdade.

Deixei Zyon e, grunhindo, fui tomar banho.

Assim que saí, esperei Prince terminar com o seu cara no corredor.
Algo estava apertando meu estômago quando percebi que muito tempo tinha

se passado. Bati à porta e abri. Meu estômago retorceu quando vi a bagunça

que ele havia feito. Porra.

Procurei meu irmão e o encontrei de pé, respirando com força,


enquanto seus ombros subiam e desciam. Voltei a olhar para o homem, ou o
que restou dele. Ele estava com a barriga aberta e sua boca estava rasgada

como a do Coringa. Seus dedos tinham ido embora.

— Cara, vamos. — Andei até ele e o puxei pelo braço.

— Ele... — Prince lutou contra sua respiração enquanto o puxava com


mais força. — Ele...

— Calma — pedi, fechando a porta e o levando até o banheiro.

— Ela... ele falou...

Seu corpo começou a tremer e eu o enfiei debaixo do chuveiro,

sentindo meu coração bater contra a minha garganta. O que Prince tinha?

— Prince, respire fundo — mandei, enquanto via a água descer sobre


seus cabelos e molhava não apenas ele, mas eu também.

— Ele falou sobre ela. Onde ela está. Eles sabem dela. — Sua voz
ficou mais forte.

— Ela quem? — Segurei sua cabeça com força.


— Lake.

Meu coração parou e eu entendi a bagunça naquela sala.

— Vamos trazê-la de volta — falei, com firmeza. — Termine seu


banho. Vamos voltar para Chicago. Precisamos falar com Rocco.

Prince acenou e eu saí do banheiro, já pegando meu celular.

— Precisamos conversar.

Quando entrei na mansão com Prince ao meu lado parecendo mais


atormentado que os dias anteriores, eu me deixei ficar alerta. Prince era uma
bomba e eu estava esperando-o explodir, porém, cuidando e tentando
amenizar estragos.

— Ele não vai querer trazê-la. — Ele assoprou a fumaça da maconha

na minha cara e meu rosto se retorceu.

— Cara, pare de ficar chapado — pedi, irritado.

Prince me olhou.

— A erva me deixa calmo, Matteo. Você não quer me ver sem ela.

Foda-se.

Entrei no escritório do Rocco e o encontrei com Romeo.


— Os Zenduryc sabem onde Lake está.

— Que merda? — Rocco se ergueu.

Acenei e contei o que eu sabia antes de Prince completar com tudo


que havia acontecido ontem.

— Precisamos trazê-la para casa — afirmei.

Ele engoliu em seco enquanto passava a mão pelo cabelo e o puxava.

— Estou tentando trazê-la para o casamento do Matteo e já está


difícil. Não sei o que aconteceu, mas ela não quer vir. — Rocco respirou
fundo.

— Você sabe o porquê. — Apertei meu punho. — Ela não quer vir
por causa de vocês. Por mentirem e não confiarem nela — argumentei,
irritado, fazendo Romeo desviar os olhos. — Eu vou buscá-la e juro que eu a
trarei para casa nem que seja amarrada.

E eu cumpriria essa promessa.

Ir até a Suécia deveria ser fácil, mas nada com o nome Trevisan era. O
jato levou um dia para estar pronto, pois estava em manutenção e Rocco
estava conversando com pessoas importantes de lá para que nada desse
errado no meu pouso.

— Estou ansiosa para conhecê-la — Ella resmungou enquanto

andávamos pelo jardim da casa dela. Eu não queria vir aqui, porém Romeo
disse que era o certo. Foda-se.

— Você vai gostar dela. Lake é incrível — falei com firmeza e a


ajudei a descer a escada que levava a um campo de rosas.

— Sim, Prince não gosta de falar dela, mas aposto que sim. —
Antonella sorriu para mim.

Acenei, não querendo entrar nesse assunto. Prince e Lake eram duas
peças de quebra-cabeça. Ninguém conseguia decifrá-los.

— Escolhi o vestido hoje. — Suas palavras me fizeram acenar, mas


nada além disso. Ella encarou meu peito e eu segui seu olhar em direção ao
colar que minha mãe havia me dado. O anel brilhava com a luz do sol. —
Que lindo. — Sua mão ergueu para tocar a joia, mas eu dei um passo para

trás.

Aquele anel era sagrado. Ella não podia tocá-lo. Não era dela. Nunca
seria.

— Então, o nome dela? — Minha noiva mudou de assunto e eu fiquei


rígido.

— De novo isso? — rosnei, irritado. Ella arregalou os olhos,


assustada. — Você não está errada, Antonella. Existe outra mulher, mas você
e ela nunca vão se encontrar. E eu nunca vou falar sobre ela com você, então

pare com essa merda.

Antonella desviou os olhos e se afastou depois de acenar.

— Preciso ir. Te vejo quando voltar.

Deixei-a sozinha e andei rápido para o meu carro.

Meu celular tocou e eu respirei fundo ao ver o nome de Brian na tela.

— O quê? — perguntei, tenso, enquanto entrava em meu carro.

— Carolyn está aqui.

Meu punho se enrolou no volante e eu balancei a cabeça, furioso.


Essa vagabunda não estava em reabilitação, porra?

— Não venda nada a ela e a coloque em um quarto. Estou a caminho.

Desliguei a chamada e pisei no acelerador. Fúria encheu meus

sentidos e, ao mesmo tempo, satisfação. Eu veria Blue.

Eu colocaria meus olhos na minha Flame depois de meses.

Assim que cheguei ao Village, Brian acenou para o corredor que


levava aos quartos. Ouvi os gritos de Carolyn antes mesmo de chegar lá.

— Brian, me tire daqui! — a mãe da Flame gritou antes de eu abrir a


porta.
Carolyn se afastou ao ver que era eu. Sua roupa estava limpa, seus
cabelos bem-feitos, ela parecia bem. Muito bem.

— O que você está fazendo aqui? — rosnei, irritado.

Ela mordeu o lábio e olhou para qualquer lugar, menos para mim.

— Eu-eu... — Sua boca se abriu, mas ela não conseguiu formular

nada.

— Eu vou enfiar minha arma na sua boca. É isso que quer? — Me


aproximei com o corpo rígido e ela balançou a cabeça rapidamente. — Então,
Carolyn, o que diabos você está fazendo aqui? Você não estava na
reabilitação?

— Blue não pagou a clínica e eles me liberaram. Eu... ela não sabe
ainda. Eu só... — Seus olhos se encheram de lágrimas e eu respirei fundo. —
Eu tentei me controlar, mas quando vi já estava aqui.

Porra fodida dos infernos.

— Vamos. — Acenei para fora e ela ficou parada. — Agora.

Carolyn me seguiu e eu andei para fora do Village com ela. Quando


entramos em meu carro, dirigi para fora do estacionamento.

— Não conte para ela... por favor...

Seu desespero me fez apertar o volante.


Eu queria ver Blue. Porra, nem que fosse de longe. Eu precisava vê-
la.

— Não vou.

Quando paramos em frente à clínica de reabilitação que ela fazia


parte, Carolyn me encarou confusa.

— Você quer ficar bem? — questionei e ela acenou rápido. — Então


nós vamos entrar nessa merda, eu vou pagar o resto do seu tratamento e vou
voltar a ver você quando estiver limpa.

Ela começou a chorar e eu saí do carro. Andei com ela para dentro e
fomos para a recepção. A atendente sorriu para a mãe de Blue e abriu a boca.

— Carol, Blue está louca de preocupação. Onde estava? — ela


perguntou, preocupada, mas eu só ouvi a parte do nome da Blue. Ela estava
aqui?

— Passe todo o valor do tratamento dela nesse cartão. Agora. —


Empurrei meu cartão nas mãos dela e logo seu foco mudou para profissional.

— Eu vou te pagar — Carolyn falou ao meu lado, mas eu a ignorei.


Sabia que ela não teria como pagar, e tudo bem.

— Fique bem, Carolyn. Esse é o meu pagamento — afirmei rígido e


olhei para o relógio, vendo que estava tarde. Eu viajaria logo.

— Mãe! Meu Deus, onde você estava? — A voz da Flame soou assim
que a atendente me devolveu meu cartão.

— Ei, Boo. Eu estou bem. — Carolyn se afastou de mim.

Eu fiquei de costas, tentando juntar minha merda e me virar.

— Ma-Matteo? — Blue chamou e o tom das suas palavras eram


aterrorizadas.

Me virei devagar e deslizei os olhos por ela. Blue estava de tênis e um


vestido azul. Seu cabelo estava em ondas que caíam pelo seu colo. Ela estava
perfeita, mas não foi isso que me acertou no peito.

— Que porra é essa? — gritei ao ver a barriga enorme diante de mim.

— Sam, você pode levar minha mãe? — Blue pediu a atendente e ela
se afastou com Carol.

— Você está grávida? — Minha voz soava desacreditada.

Ela estava grávida. Minha Flame estava grávida.

— Sim... — Blue mordeu o lábio e seus olhos se encheram de


lágrimas.

— É meu?
É meu?

O suor deslizou pelas minhas costas, minhas mãos começaram a


tremer e minha respiração se alterou. Se isso não era um ataque cardíaco,
certamente era algo parecido.

Passei meses longe dele, meses lutando contra o que eu sentia por ele

com minha gravidez de pleno risco, meses mais no hospital que em casa.
Tudo isso enquanto tentava esquecê-lo. Esquecer que ele nunca seria meu.
Que ele era noivo de alguém. Tentei lutar contra meu lado racional que dizia
que eu devia ligar e contar para ele. Nunca consegui.

Eu não tinha coragem, porém sentia medo. E foi esse medo que me
paralisou.
Meu bebê estava bem, eu cuidei dele, não precisava de Matteo ou do
seu mundo sujo. Nós dois éramos livres e eu poderia cuidar dele sozinha.

Como fiz durante todos esses meses.

— Não.

Matteo apertou a mandíbula enquanto me olhava com tanta

intensidade que me assustou. Ele estava de camisa preta simples e calça jeans
que moldava seu quadril e coxas. Tudo era simples, mas essa palavra nunca
faria jus a esse homem.

— De quem é?

Sua pergunta me fez ficar gelada.

— Você não o conhece — murmurei com firmeza e olhei sobre o


ombro, vendo Sam levar mamãe para os quartos. — Ei, Sam. Eu vou levá-la.

As palavras pareciam fel em meus lábios. Eu tentei o quanto pude

continuar pagando a clínica, mas, juntando com as contas do hospital, eu não


consegui. A culpa corroeu meu estômago por isso. Mamãe estava melhor. Ela
parecia mais feliz e alegre. A clínica estava fazendo bem, mas nem tudo era
do jeito que eu esperava.

— Blue, Matteo pagou pelo resto do tratamento. Ele é um homem


muito bom — mamãe falou animadamente.

Arregalei os olhos. Que merda!


Sam levou mamãe e eu fiquei sozinha com Matteo.

— Eu vou devolver tudo — falei ao me virar.

Ele riu, coçando a barba por fazer.

— Se preocupe em sustentar seu filho. Não quero de volta. — Ele


apontou para a minha barriga com ironia.

Semicerrei os olhos, desacreditada.

Matteo se virou e andou para fora sem esperar por uma resposta
minha. Bem, ele podia se foder com seu sarcasmo, mas do meu filho ele não
falaria assim.

— Nunca mais fale com esse tom sobre ele. Nunca — gritei,
alcançando-o e empurrando seu peito.

Matteo me olhou com frieza e eu quis bater em seu rosto e depois o


beijar.

Deus, eu estava uma bagunça.

— Quanto tempo? — Ele quis saber, parando meus movimentos. Ele


segurou minhas mãos e se aproximou até ficar cara a cara comigo.

— Não é da sua conta! — gritei, furiosa, mas ele segurou meu rosto.

— Fique feliz por não ser meu, Blue, porque eu o tiraria de você
assim que nascesse. — Meu coração bateu rápido com o sorriso cruel que
delineou seus lábios. — E o levaria para a minha esposa cuidar. Você sabe...

Suas palavras se perderam, porque soquei seu peito com tanta força

que até me surpreendi. Mas não ele. Matteo riu do meu desespero. Da minha
agonia. Ele me prendeu dentro dos seus braços e se inclinou.

— Nunca. Você nunca vai tirá-lo de mim! — gritei, antes que ele
pudesse falar algo. — Ele é meu. Meu. Você não é pai dele e nunca vai ser!

Matteo parou de sorrir.

E eu percebi o que tinha feito. Idiota.

Ele segurou meu cotovelo e começou a me guiar para fora da clínica,


longe de todos.

— Pare! — pedi, puxando meu braço da sua posse, mas Matteo não o
fez.

Ele abriu o carro e me colocou dentro. Bati no vidro, pedindo para

sair, mas Matteo apenas correu para o lado do motorista e entrou. Minha
garganta estava doendo, minha cabeça parecia explodir e meu peito estava
dolorido.

— Me deixe ir — pedi, tentando me acalmar.

— Eu nunca vou te deixar ir. — Matteo prendeu os olhos nos meus ao


falar. — Nunca mais. Eu juro, Blue, que quando você ousar sair de perto de
mim, eu estarei morto.
— Ele não é seu... — Tentei reforçar minha mentira enquanto
lágrimas enchiam meus olhos. — Me deixe ir...

— Ele é meu, Blue! — Matteo gritou, saindo do estacionamento. — E


eu prometo que você vai se arrepender de ter escondido isso de mim.

— Matteo, ele não...

— Pare de mentir! — ele berrou, agarrando o volante. Fechei meus


olhos, apertando minhas mãos contra meu rosto. — Eu te odeio tanto, Blue.
Tanto.

— Matteo. — Choraminguei, perdida, enquanto ele me olhava com


nojo.

— Eu esperei isso, essa porra de segredo, qualquer segredo, da minha


família, mas nunca de você! Nunca.

Meu coração parou ao ver seus olhos brilharem com mágoa.

— Você me enganou. Você me afastou do meu filho, meu sangue, e


para quê? — Matteo gritou, nervoso, enquanto eu olhava para a avenida e o
via acelerar mais.

— Eu estava com medo — confessei, tremendo e começando a


fungar. — Pare o carro, por favor.

— Medo? — Matteo balançou a cabeça e respirou fundo. — Você


deveria estar com medo agora, não antes. Antes eu a levaria para a minha
casa e assumiria você. Hoje, porra, hoje eu vou fazer você sentir o mesmo
que eu.

Eu não consegui responder. Ele parecia fora de si, nervoso.

Me virei e agarrei minha barriga. Senti chutes começarem e suspirei.


Estava com quase seis meses e tinha começado a sentir meu bebê mexer há
pouco tempo. Era mágico, eu me sentia uma pessoa muito abençoada.

Matteo parou o carro e eu olhei para fora, vendo que estávamos no


aeroporto. Franzi as sobrancelhas e o encarei. Ele saiu e abriu minha porta,
ainda calado.

— O que estamos fazendo aqui? — questionei, tremendo. Ele pegou


minha mão e me tirou de dentro do carro. — Matteo, você está me deixando
nervosa.

— Vamos viajar.

O quê?

— Matteo, eu não vou para lugar algum! — gritei, enquanto ele me


puxava. Acompanhei-o a passos rápidos com medo de cair. — Você vai me
machucar! — berrei, cansada.

Ele parou na frente da escada para o jato.

— Vamos. — Ele acenou para a escada e eu balancei a cabeça.


— Vamos conversar, por favor — pedi, fungando e limpando meu
rosto.

— Eu tenho que subir nesse jato agora, e avisei que você não sairia de
perto de mim até eu estar morto, então comece a subir essa escada. — Matteo
estalou, furioso.

Respirei fundo, decidindo escolher minhas batalhas. Essa era uma que

estava perdida.

Subi a escada e me sentei em uma poltrona, agarrando minha bolsa.


Graças a Deus eu havia colocado meus remédios na bolsa ao sair para buscar
minha mãe na clínica.

Matteo se sentou na poltrona do outro lado do corredor e focou sua


atenção na janela. Eu sabia que havia errado com ele. Esconder que ele era
pai do nosso bebê foi baixo até para mim, mesmo que tudo tenha sido levado
pelo medo.

Infelizmente, eu estava cansada de lágrimas e discussão. Queria me


acalmar e tomar meu remédio. Descobri a hipertensão em uma das minhas
consultas. Desde então, eu me medicava e tentava controlar minha comida.

Uma mulher elegante passou e eu sorri quando ela se aproximou de


mim.

— Com licença, você pode me dar um copo de água? — pedi,


tentando parecer calma e não a louca desesperada que eu estava sendo
segundos atrás.

— Claro. Um segundo.

Quando ela voltou, eu segurei a taça com gelo e água e agradeci. Tirei
meu porta-comprimidos e peguei minhas vitaminas e o medicamento para a
pressão. Engoli tudo com a ajuda da água e suspirei. O.k. Vai ficar tudo bem.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem à minha médica


perguntando se eu podia viajar. Se ela dissesse que não, eu não saberia o que
fazer, porque Matteo não me escutava. Segurei minha respiração quando ela
visualizou e respondeu.

“Pode. Tome sua medicação e não se estresse.”

Fale isso para o pai dele. Pensei, suspirando. Me virei e o vi com a


atenção no celular. Ele estava falando com a esposa? Meu peito apertou com
o pensamento.

A mulher voltou e pediu para que colocássemos o cinto. Eu pus o meu


e depois que decolamos, o sono começou a me assolar. Senti uma manta
sobre mim e agradeci a moça com um sorriso. Bocejei enquanto lutava contra
o sono por minutos, mas desisti e me virei, adormecendo em seguida.
Meu estômago roncou assim que acordei. Minha poltrona estava
reclinada e a manta me mantinha aquecida. Me virei devagar e vi Matteo de

pé, com o celular no ouvido.

— Diga a ela que eu não ligo, porra. — Sua voz reverberou pelo jato.
— Voltarei amanhã cedo, então diga a ela isso.

Era sua esposa? Quis saber como ela era. Seu nome, se era bonita.

Onde eles moravam. Era no apartamento? Se mudaram?

Quis me torturar imaginando a vida dos dois.

— Olá. Pousaremos em meia hora. Você quer comer? — A aeromoça


apareceu, tampando a visão de Matteo.

— Sim, por favor. Você tem frutas, proteína e salada? — perguntei,


mas fiz uma careta. — Não estou de dieta, quero dizer, sim, mas não por
mim, é pelo meu bebê — expliquei devagar e ela riu.

— Temos sim. Trarei para você em um minuto. Vou arrumar sua


poltrona.

— Muito obrigada.

Ela se afastou e eu me ergui, olhando para a porta que dizia ser o


banheiro. Matteo estava parado com o celular na mão, me olhando. Ignorei-o
e fui para o banheiro. Fiz xixi, me limpei e saí.

— Faça essa merda acontecer. Passe no meu cartão. — Matteo


desligou o celular e guardou no bolso. — Você dormiu bastante — ele
murmurou, sem me olhar, enquanto voltava a se sentar.

— Os remédios e os hormônios — resmunguei, voltando para o meu


lugar.

— Por que os remédios? — ele questionou assim que a simpática


Sidney voltou com minha comida.

— Obrigada.

Ela saiu e me deixou diante de uma bandeja com um jantar incrível.

— Minha gravidez é de risco — falei devagar e Matteo franziu as


sobrancelhas. — Tenho hipertensão. Se eu não me cuidar, meu bebê pode
nascer com problemas. Eu posso ter problemas. — Um caroço cresceu em
minha garganta. Talvez seja isso o que ele queira. Que eu morra no parto e
ele possa ter meu filho para si e sua esposa.

— A dieta é por isso também? — Ele apertou o nariz.

Acenei enquanto enchia meu garfo com alface.

Matteo ficou em silêncio pelo resto da minha refeição. Quando


terminei, olhei pela janela e suspirei ao ver as nuvens. Era tão bonito.

— Onde estamos? — perguntei quando vi a neve cobrir o solo.

— Irlanda — Matteo respondeu e eu percebi que ele havia se


aproximado. — É bem frio nessa época do ano. Mandei comprar roupas para

você.

Me virei e encarei seu rosto perfeito, tentando acalmar meu coração.

— Para que me trouxe aqui? — perguntei, engolindo em seco.

— Vim buscar Lake. Será rápido. — Ele se afastou até sua mala e

tirou um casaco grosso e preto. Uma touca e luvas. — Deixe-me vestir você.

Acenei e me ergui, então ele colocou o casaco sobre meus ombros. A


touca e as luvas eu coloquei sozinha. Voltei a me sentar quando Sidney
pediu, avisando que iríamos pousar.

Matteo me ajudou a descer a escada enquanto eu apertava o casaco


contra mim. O frio não era algo de outro mundo, ou tão diferente do de
Chicago, mas minhas roupas não eram as mais adequadas.

Matteo me enfiou em um carro preto que estava próximo e eu olhei

pela janela enquanto o carro deslizava pela pista. Estava amanhecendo, e


Dublin era linda. Queria ver mais dela, porém o carro estacionou.

— Você está cansada, com sono? — Matteo questionou, ainda dentro


do carro.

Balancei a cabeça, havia descansado bastante no avião e estava sem


sono.

— Estou bem.
— Vou para a escola onde Lake está. Você quer ir ou ficar no hotel?
— Ele não me encarou quando perguntou, então ponderei um pouco.

Se Matteo veio dos Estados Unidos até aqui, algo tinha acontecido,
então era melhor eu não o deixar sozinho. Sabia como sua família tinha a
tendência a machucá-lo, e por mais que eu quisesse não dar a mínima, eu
ainda o fazia.

— Vou com você.

Levou dez minutos para chegarmos a uma construção bonita e


enorme.

— Lake Trevisan — Matteo respondeu ao homem que nos recebeu


quando questionou o que desejávamos. — Agora, de preferência.

O homem acenou rápido e eu assisti a Matteo andar de um lado para o


outro no escritório enquanto esperava pela sua irmã. Ele parecia tenso,
preocupado e, Deus o ajudasse, eu esperava que a conversa com a caçula da

família dele fosse boa.


Blue me observou por longos minutos, mordendo a boca. Seu corpo
estava coberto pelo casaco grosso, mas eu ainda podia vislumbrar o ventre
inchado. Deus, eu queria tocar. Sentir que era real.

Eu seria pai.

Santo Inferno, eu teria um filho.

— Você está bem? — Blue se ergueu da cadeira e parou ao meu lado,


tocando minhas costas. Com apenas um toque, ela foi capaz de me acalmar.
Como diabos isso tinha acontecido era a grande questão.

— Sim. Aliás... — Olhei para seu rosto e engoli em seco. — Quando


você fala do bebê, você diz “ele”. É um menino? — questionei, sentindo meu
coração apertar.
— Eu não sei. — Ela mordeu o lábio. — Vou saber na próxima
consulta.

— O.k. — respondi na mesma hora que abriram a porta.

Uma garota apareceu. Seu cabelo era preto, seus olhos azuis, mas ela
não parecia minha Lake. Não parecia minha irmã.

— O que... ah, meu Deus! — Seus olhos se encheram de lágrimas e


ela correu para os meus braços. Segurei-a contra mim enquanto a confusão
desaparecia e o meu peito era recolocado no lugar.

Minha Lake estava em casa.

— Ei, baby — murmurei, segurando sua cabeça enquanto abraçava a


sua cintura. Ela soluçou contra minha camisa e me encarou com os olhos
bonitos e brilhantes que herdou da nossa mãe. — Você está linda — falei
quando ela se afastou.

— Onde ele está? — Lake olhou sobre meu ombro.

Eu não precisava que ela dissesse o nome para saber de quem ela
estava falando.

— Prince ficou em Oak Park. Trabalhando.

— Oh... — Ela desviou os olhos e eu vi que estava magoada. —


Rocco falou sobre seu casamento. Ela é a Antonella? — Lake sorriu, dando
um passo em direção a Blue. — Meu Deus, você engravidou alguém? —
minha irmã gritou, surpresa.

— Oi, Lake. Eu sou a Blue. — Flame estendeu a mão para a Trevisan

mais nova.

— Blue... — Lake me encarou confusa, mas pegou a mão dela. —


Você é linda. Então, hum, o que você é do meu irmão?

— Lake? — Gemi, balançando a cabeça.

— Nada — Blue falou de maneira firme e me olhou. — Eu não sou


ninguém.

— Mãe do meu filho. É isso que ela é — rosnei, irritado pelas suas
palavras. — Você terá mais um sobrinho em breve. — Me virei para a minha
irmã.

— O.k... — Lake olhou entre nós e suspirou. — Olhe pelo lado bom,
você vai ter um filho lindo. Blue é fantástica. — Lake sorriu e eu relaxei.

— Sim, ela é — confirmei e me movi para o sofá. A sala era enorme e


muito bem mobiliada. Rocco escolheu uma escola boa para Lake, não
tínhamos dúvida disso.

— Adorei ver você, mas o que está fazendo aqui? — Lake se


aproximou e eu bati no lugar ao meu lado, pedindo-a para se sentar. Quando
ela o fez, comecei a falar.

— Vim buscar você.


Ela se ergueu ao me ouvir, com o corpo completamente rígido. Eu já
previa sua reação, por isso apenas a encarei.

— Lake...

— Não posso voltar... — Seu rosto ficou escuro e eu me ergui. — Ele


disse que eu não deveria voltar... Eu fiz algo horrível e ele está me punindo...

— Inimigos descobriram seu paradeiro e podem usar isso contra nós.

— Não... — Seus olhos se arregalaram e eu acenei. — Mas não posso


voltar...

— Olhe para mim — pedi, com firmeza, e segurei seu rosto. — Você
precisa voltar. Não apenas pelo motivo que vim. Por ele.

— O que ele fez? — Sua preocupação me deixou mais leve.

Porque no jogo de preocupação, Prince e ela eram as únicas pessoas


no mundo que brigavam um pelo outro com a mesma garra.

— Ele está perdido — falei, sentindo minha garganta fechar. Odiava


falar dele como se eu não o conhecesse mais. — Ele machuca as pessoas,
usa-as e, porra, ele está a maior parte do tempo drogado. Ele não é mais
nosso Prince. Ele é outra pessoa.

Lake levou as mãos ao rosto e soluçou. A culpa estava refletida em


seus movimentos.
— Eu fiz isso com ele. — Seu choro ecoou pela sala. Segurei seus
ombros, puxando-a para mim. — Eu o deixei, não respondi suas mensagens,

não fui uma boa irmã.

— Você pode mudar isso — afirmei, afastando seu corpo para encarar
seu rosto. — Vamos para a casa e conserte isso.

Lake acenou, tremendo, e eu a puxei de volta para mim, respirando

aliviado.

Porra, graças a Deus.

Lake levou uma hora para arrumar suas coisas, enquanto Blue ficou
me ignorando por todo o tempo fodido. Nós fomos para o hotel e eu deixei as
duas tomando banho e descansando enquanto pegava meu celular e ligava
para Rocco.

— E aí? — Ele apareceu com o rosto cansado.

— Você está bem? — Franzi as sobrancelhas.

— Sienna está tendo contrações desde ontem, então não, eu não estou
bem.

— Espere, ela já vai ter nossos garotos? — questionei, ansioso.


— São de treinamento ou alguma merda assim. Agora me conta,
como foi? — Ele se jogou em um sofá.

— Lake aceitou voltar. — Respirei fundo. — Não conte a ele — pedi,


sabendo que se ele soubesse que ela estava indo para casa ia se enfiar em
maconha.

— Não vou. Conversei com ele sobre voltar para casa. — Rocco

passou a mão pelo rosto e balançou a cabeça. — Ele não quer, principalmente
agora que a chance de ela voltar é real.

— Preciso falar algo e não quero que você surte, o.k.? — murmurei,
andando até a porta e verificando se estava fechada.

— Desembucha. — Rocco semicerrou os olhos.

Ignorei seu rosnado e respirei fundo.

— Blue está gravida.

— Que porra é essa, Matteo? — ele gritou, se erguendo. — Você está


noivo.

— Eu sei, cara...

— Você não sabe usar camisinha?

Sei, mas não quis. Em nenhuma das vezes que entrei em seu corpo, e
se eu fosse entrar novamente, porra, não usaria novamente.
— Eu sei. Eu sei, porra, mas com ela... — Parei de falar e me sentei,
passando a mão na cabeça. — Ela escondeu de mim — falei, suspirando.

— Como diabos? — Rocco arregalou os olhos. — Foi antes de você


ficar noivo.

— Sim, antes. — Apertei meu punho e o mordi, preocupado. — O


que vou fazer?

— Você vai assumir seu filho e vai se casar com Antonella. — Sua
firmeza ao falar me fez respirar fundo. — Ou você está pensando em desistir?

Sua pergunta ficou na minha mente, brincando comigo. Porém, eu não


podia fazer isso. Blue havia me enganado, Ella nunca saiu do meu lado.

— Não. Vou seguir com o casamento.

Eu me odiei ao pronunciar as palavras.

— Bom. Espero por vocês. Se cuidem.

Desliguei a chamada e me deitei na cama, encarando o teto.

O que você diria, mãe? Questionei em pensamento enquanto segurava


o colar e apertava os olhos.

Blue dormiu no voo de volta, enquanto Lake ficou lendo e eu


tentando não enlouquecer. Queria falar com Blue, não sabia o que dizer, mas

tinha certeza de que na hora as palavras viriam.

— Meu Deus, eu estou dolorida. — Flame gemeu, descendo a escada


do jato. Observei-a em silêncio enquanto Lake colocava o par de óculos no
rosto e jogava os casacos.

— Esqueci como é quente aqui nessa época do ano. — Ela sorriu para

mim e eu dei de ombros. — Não vejo a hora de ver Remy.

— Ele é lindo. — Blue entrou na conversa, sorrindo.

— Você conhece as meninas? — Lake questionou, interessada. Blue


acenou. — Hum. — Ela me olhou e eu me afastei. — Então, hum, como é o
lance do casamento dele e o bebê de vocês...

— Lake — rosnei, furioso. — Entrem no carro.

As duas bufaram, mas seguiram meus comandos. Blue evitou me

encarar no trajeto até a mansão, e quando chegamos ela ficou rígida dentro do
carro.

— Eu quero ir para a casa da Raina. Podemos conversar mais tarde —


ela falou quando abri sua porta.

— Blue, saia. Você não vai ficar longe de mim — afirmei, apertando
a porta. — Não vou dar oportunidade para fugir com meu filho, então saia da
porra do carro.
Ela balançou a cabeça, respirando fundo para controlar as lágrimas
que já enchiam seus olhos.

— Ei, tudo bem. — Lake a encarou e suspirou. — Preciso de você,


Blue. Me dê um pouco de força, por favor?

Blue era como uma babá pronta para limpar a bagunça dos outros e
cuidar deles, por isso, não me surpreendi quando ela saiu do carro ao lado de

Lake.

Me virei e entramos na mansão. Tudo estava silencioso, até entrarmos


na sala de jogos. Lake parou de respirar quando viu Remy deitado em seu
tapete, brincando com bonecos.

— Oh. — Ela foi surpreendida por duas mulheres a agarrando, uma


com dois bebês ainda na barriga. — Eu senti tanta falta de vocês. — Lake
choramingou, fungando e abraçando as cunhadas.

— Você está tão linda. — Lunna se engasgou com o choro e tocou o

cabelo de Lake. — Olhe isso aqui. — Ela pegou a mecha rosa do cabelo dela
e sorriu.

— Você está linda, nem parece que deu à luz recentemente, e você...
Jesus, nunca vi você tão grande. — Ela riu para Sienna e beijou o ventre da
esposa de Rocco.

— Eu não vejo a hora de chutar os dois daqui. — Si gemeu para dar


ênfase.

Olhei para os meus irmãos e foquei em Prince. Ele estava sentado no

sofá, mexendo no celular, mal vendo que Lake estava em casa. Rocco pegou
o celular dele e Romeo o puxou para ficar de pé.

— Ei. — Lake se aproximou e ficou parada, sem saber o que fazer. —


Eu...

— Preciso sair — Prince falou de repente e passou por ela como se


fosse um raio.

Ninguém falou nada por alguns segundos. Dei um passo em direção a


Flame.

— Eu preciso conversar com Blue, então volto já — avisei a minha


família.

Sienna se virou junto com Lunna.

— Meu Deus, você está tão linda. — Lunna se aproximou e sorriu,


abraçando Blue. — Parabéns pela gravidez.

— Espero que seja ruivo como você — Sienna afirmou, também


agarrando-a.

— Obrigada. Eu também quero que ele nasça ruivo.

Eu a guiei para longe das mães corujas Trevisan e subi a escada com
ela. Assim que fechei a porta do meu quarto, Blue se virou.

— Deita — pedi, engasgado.

— Não vamos transar, Matteo! — Blue arregalou os olhos.

— Deita. Não é isso — falei, me aproximando da cama.

Ela se sentou depois de alguns minutos ponderando. Eu a fiz deitar-se

e fiquei de joelhos ao lado da cama.

— Não se assuste — avisei a ela antes de subir seu vestido até seu
peito. Respirei fundo ao colocar a minha mão sobre seu ventre. Sua pele clara
contrastou com a tinta escura que manchava a minha.

Senti uma movimentação e acariciei. Minha garganta fechou e eu não


consegui engolir.

— Ele está agitado — Blue murmurou, encarando o teto.

— Estou vendo — resmunguei, enquanto ainda segurava sua barriga.

Beijei-a e respirei fundo novamente. — Eu quero que more comigo — falei,


com firmeza.

Blue se apoiou nos cotovelos para me encarar.

— Eu vou cuidar de vocês, Blue. Para sempre, eu juro.

— E Antonella? — Sua voz diminuiu.

Eu me afastei, sabendo que esse ponto iríamos discutir.


— Antonella não vai ficar em seu caminho ou você no dela.

— Meu caminho? — Blue se sentou e desceu o vestido. — Você vai

se casar, Matteo.

— Sim, mas ainda quero você e ele — afirmei, me aproximando


enquanto Blue se esquivava e se erguia da cama.

— E quando se casar? Você quer que eu e meu filho moremos com


vocês? — Sua voz soou magoada e eu quis entender por quê.

— Sim... não. Eu não sei, mas não vou ficar longe dele — afirmei.
Blue desviou os olhos lacrimosos. — Flame...

— Não me chame assim! Esse não é meu nome e eu o escondi de


você por isso! — Blue gritou, chorando. — Pela sua vida, pela sujeira e
maldade que eu sei que habitam em você. Porém, mais ainda, e eu me sinto
uma imbecil confessando, por saber que você nunca seria nosso. Você será
dela, dos filhos que vão ter juntos, não meu e dele.

— Blue...

— Meu filho vai ser considerado um bastardo.

— Nunca! — gritei, me aproximando e tentando segurar seu rosto,


mas ela se esquivou de mim. — Eu juro, eu vou fazer até o impossível para
que ele nunca se sinta assim.

— Você não pode jurar. — Blue fungou e mordeu o lábio, sem me


encarar. — Deus, como eu me arrependo...

— O quê? — confuso, perguntei enquanto ela erguia o queixo.

— De você! De ter aceitado aquele emprego, de ter deixado você me


ter! Eu deveria ter transado com qualquer pessoa, menos com você. — Suas
palavras me acertaram mais do que eu um dia admitiria para ela ou qualquer
pessoa. — Amo meu filho, mas eu sei que você vai fazer da minha vida um

inferno.

— Blue.

— Você mesmo disse. Eu sou o diabo, lembra? Eu fui tão estúpida!

Blue andou pelo quarto e fechou os olhos, tremendo, enquanto


tampava os lábios.

— Eu não vou fazer você sofrer. Eu juro! — argumentei, querendo


me aproximar, mas seu estado estava me deixando alerta.

— Eu estou sofrendo desde o dia que me disse que estava noivo,


Matteo. — Blue limpou as bochechas e andou para a porta.
Estava magoada, mas eu não deveria. Matteo nunca me prometeu
nada, nunca disse nada além de palavras de posse ditas na cama. Eu sempre
soube que nunca o teria, porém hoje eu me permiti sentir um pouco de
esperança.

Tola.

— Abre a porta — pedi, batendo na madeira. Tentei abrir, mas estava


trancada.

— Diz que vai ficar comigo em Oak Park — ele ordenou,


completamente frio.

Por que diabos eu gostava dele? O que eu vi nesse homem, e por que
não conseguia esquecê-lo?
— Você esqueceu quem é? Você mexe seus pauzinhos de merda e eu
estou a sua mercê! — gritei, enfurecida, ao me virar. — Você adora fazer

isso. Adora controlar meus passos, minha vida. Você acha que desde o dia
que descobri minha gravidez eu não sabia que você me arruinaria?

— Eu nunca vou fazer mal a você. — Ele inclinou a cabeça, como se


apenas pensar isso o machucasse.

— Seu nome é como uma maldição — falei, respirando fundo. —


Ninguém se aproxima por vontade própria, porque tem medo de se queimar.
Você me chama de Flame, mas o único capaz de me queimar é você.

— Eu te chamo de Flame porque você é luz. Você é perfeita. —


Matteo se aproximou e tocou meu rosto. — Eu posso ser o diabo ou filho
dele, mas o insultei quando toquei em você. Porque você, Flame, é tudo que
ele mais odeia. Eu gosto e não deveria.

— Pare de falar essas coisas — pedi, sem fôlego e querendo fugir

daqui. — Não fale essas coisas quando você vai se casar com outra.

Matteo se virou e chutou o abajur. Ele puxou a tevê e ela caiu no


chão, rachando. Levei as mãos aos lábios, abafando meus gritos. Matteo
continuou seu ataque quebrando computador, videogame e o que estivesse
em seu caminho até alguém abrir a porta.

Tropecei para fora e vi Lake. Não sei por que fiz isso, mas eu me
agarrei a ela.

— Matteo! — Rocco gritou com o irmão enquanto eu apertava

minhas pálpebras.

— Calma, Blue. Pense em seu bebê. — Sienna tocou minha coluna e


eu funguei.

— Pare com isso. Olhe o que fez com a mãe do seu filho! — Romeo
berrou no quarto enquanto eu ainda não conseguia olhar para ninguém.

— Quero ir para a minha casa — falei, soluçando.

Lunna segurou minha mão.

— Não! — Matteo gritou e eu me virei, vendo Rocco o segurar. —


Vamos para a casa.

— Não. Não, por favor, não o deixe me levar — implorei a Sienna. —


Não quero.

Meu corpo sacudiu com soluços. Eu queria sair daqui, queria Raina,
minha mãe, papai ou C.K. Eu queria minha vida simples de volta. Sem
Matteo me deixando louca.

— Blue, você precisa se acalmar. Pense em seu filho.

Ela estava certa. Meu bebê precisava que eu estivesse bem. Matteo
não tiraria isso de mim.
— Matteo não vai levar você para onde não quer ir — Lunna afirmou
me encarando, mas eu sabia que era mentira. Ele poderia fazer o que

quisesse, ninguém o pararia.

— Lunna. — A voz de Romeo estalou e ela ergueu o rosto.

— Você vai permitir? — ela questionou ao marido, confusa.

— Matteo é adulto. Ele faz as escolhas dele, ninguém vai interferir


nisso — Rocco disse e Sienna ergueu o rosto. — Não ouse, Sienna.

— Blue vai ficar conosco. Se Matteo quer apenas o filho por perto,
tenho certeza de que ela aqui vai ser o suficiente. Certo, Matteo? — Ela me
olhou sem esperar por ele. — Tudo bem, Blue?

Nada estava bem, mas tinha que servir por enquanto.

— Sim.

Sienna, Lake e Lunna me levaram para outro andar, e pelo rosto da


caçula, aqui deveria ser seu quarto. Era iluminado e muito chique.

— Está igualzinho. — Ela sorriu, olhando para todos os lugares


enquanto Sienna e eu nos sentávamos.

— Não mexemos em nada. — Sienna sorriu e a encarou, seus olhos


encheram-se de lágrimas. — Nem acredito que está em casa.

As duas se abraçaram e Lunna se sentou, segurando Remy, que

parecia bem quieto em relação a tudo. Deslizei meu dedo em sua bochecha e
suspirei. Ele era lindo.

— Obrigada por me ajudarem — falei devagar. Remy me deu os


bracinhos, então Lunna o empurrou em meu colo e ele deslizou as mãos em

meu rosto molhado.

— Você gosta do Matteo? — Lake se sentou no chão diante de nós.

— Sim, mas queria que não.

Era a primeira vez que eu assumia que realmente sentia algo por ele.
Ninguém além de Raina mensurava o amor que eu sentia por aquele homem.
Matteo sempre foi o meu segredo mais secreto.

— Eu sinto muito, Blue. — Lunna sorriu tristemente. Funguei,

limpando meu rosto. — Queria que Antonella não existisse.

— Não fale isso. Ela é uma vítima disso tanto quanto fomos —
Sienna falou com firmeza. — Ella não é uma menina ruim.

Não importava. Eu a odiava. Odiava Antonella por ela ter o anel dele
em seu dedo.

— Eu a odeio e nem a conheço — Lake disse firmemente e me


encarou. — Blue é perfeita para Matteo. Eles terão um filho.
— Eu sei. Eu também quero que fiquem juntos. — Sienna suspirou
tristemente.

Eu também queria. Por mais idiota que isso soasse, eu ainda o queria.
Eu o queria para mim e para o nosso filho.

— Você tem certeza sobre eu ficar aqui? — questionei à esposa de


Rocco, sentindo meu peito apertar.

— É claro. Logo terei Amo e Rhett, então preciso de ajudantes — ela


falou séria e depois riu. — Estou brincando!

— Não está não. — Lunna riu e Lake também.

Me senti mais leve com elas, como se meu peito tivesse sido libertado
de um peso enorme. Não havia sido, mas a companhia e apoio me ajudaram.

Meu pai estava irritado e eu não o culpava. Pedi que enviasse minhas
coisas por um Uber. Quem diabos faz isso? É claro que conversei com ele,
expliquei que estava ficando em Chicago, mas ele obviamente não estava
bem com isso.

— Ele está irritado? — Raina se sentou na cama do quarto onde eu


estava hospedada na mansão dos Trevisan.
— Magoado e irritado. — Mordi meu lábio, jogando o celular na
cama e me virando para ela me ajudar a colocar o biquíni vermelho.

Sienna amanheceu querendo entrar na piscina e Rocco não deixou,


porém ela estava satisfeita com a banheira de hidromassagem que faria
maravilhas para as dores que ela sentia. Raina veio me visitar e Sienna a
convidou também. Emprestei um dos meus biquínis para ela, porém haviam

ficado um pouco grande.

— Ele vai superar. — Ela bateu em minha bunda e eu acenei.

A casa estava deserta, apenas com as meninas. Os homens estavam


trabalhando e os soldados ficavam mais fora que dentro da residência.

— Você já a viu? — Ray quis saber.

Eu neguei.

Estava na mansão há quatro dias, e nenhum sinal de Antonella. Não

sei por que eu queria tanto vê-la, mas estava ansiosa pelo dia.

— Eu também não a conheço — minha amiga murmurou quando


descemos a escada. — Sorte sua. Quando vi Kiara desejei nunca ter visto.

— Por quê? — questionei, segurando meu roupão.

— Porque ela é uma maldita Barbie.

Eu sorri, revirando os olhos.


— Você é uma Barbie e ninguém te odeia.

— Ela me odeia — Raina resmungou, me olhando com uma careta.

— Travis ainda me liga e insiste. Não sei o que eu faço, Blue.

— Você o manda se foder — afirmei, mas balancei a cabeça. — Não


faça isso. É horrível. Apenas diga que não pode ser a segunda opção dele e,
por favor, não acabe grávida como eu.

— Nem fodendo, querida — ela falou rápido, e eu ergui as


sobrancelhas. — Sem ofensas.

— Vocês são umas lesmas — Lake gritou dentro da piscina e eu dei


de ombros.

Entrei pelo lado raso e andei pela rampa até a água bater em meus
seios. Me virei e vi Sienna na hidro, sorrindo e bebendo um suco.

— Você está bonita daqui — murmurei, sabendo que ela estava

tentando se manter firme. Sienna estava com quase oito meses e os bebês
poderiam chegar a qualquer momento.

— E você também. — Ela sorriu e ergueu o copo.

Nós ficamos na piscina por um tempo, aproveitando que o clima


estava quente o bastante para isso, e quando estávamos prestes a sair os
homens chegaram.

Rocco ajudou Sienna a sair da hidro e a levou para dentro enquanto


ela ficava vermelha a cada vez que ele se aproximava e falava algo em seu
ouvido.

— Ray. — Travis apareceu com Romeo.

Suspirei. Matteo deveria estar por perto. Era sábado, e eu sabia que
ele viria aqui. Ele fazia isso quando eu morava com ele.

— Cadê o meu convite? — Raina perguntou a ele enquanto nadava. O


casamento dele seria essa semana.

— Você realmente quer ir? — Seu rosto ficou rígido.

— Quero. Eu quero. — Ray sorriu.

Eu saí da piscina e Lake fez o mesmo. Lunna já havia saído com


Remy para o almoço e cochilo da tarde. Andei para dentro da casa e vi
Romeo sumir escada acima.

Entrei na cozinha colocando meu roupão e parei ao ver uma mulher

morena presa a parede com um homem a sua frente. Meu peito deu uma
cambalhota quando vi que era Matteo. A tatuagem era inconfundível.

— Sua... — Ray parou de falar quando me viu quieta.

Matteo se virou e então eu pude ver o rosto da menina. Ele estava


vermelho.

— Oi. Eu sou Antonella. — Ela estendeu a mão.


Eu pisquei, querendo não ter visto os dois juntos.

— Merda. Com licença. — Raina me puxou para fora da cozinha

enquanto meus lábios estavam selados e meus olhos ardendo.

Oh meu Deus, ela era perfeita.

— Também não queria ter visto ela — falei a Raina assim que

chegamos no topo da escada. — Você viu? Ela é linda.

— Que linda o quê? Ela é ridícula. Você é linda. — Minha amiga me


puxou para o quarto e fechou a porta.

— Eu... — Parei de falar quando ouvi batidas.

Era ele?

Meu coração flutuou e eu me recriminei. Eu não deveria querer


Matteo na minha porta quando era óbvio que ele escolheu ficar com ela.

— Eu vou me trocar lá embaixo e vou embora. Andy quer que eu

ajude a mudar alguns móveis de lugar.

— Eu vou com você! Me espere — falei com urgência.

Ela acenou antes de abrir a porta e sair de vista.

Vi Matteo parado e andei até a porta. Não ficaria presa em um quarto


com ele.

— Você precisa de algo? — questionei, tentando ficar bem. Soar sem


ser ansiosa, irritada ou ciumenta. Nada disso. Só a mãe do filho dele.

— Antonella veio sem me avisar. — Suas palavras me fizeram franzir

as sobrancelhas.

— Essa casa é da família dela.

— Não. Minha família. — Matteo se inclinou em minha direção. —

Sua, depois que nosso bebê nascer.

— Não, minha não. — Balancei a cabeça e cruzei os braços. — A


única família que tenho está em Bloomington, que é onde eu deveria estar.
Não estou aqui porque quero. Longe disso.

Matteo engoliu em seco e bateu o punho na parede ao meu lado.

— Por mim você estaria comigo. Eu cuidaria de você...

— O que Antonella acha disso? — perguntei, erguendo a sobrancelha.

— Ela não acha nada, porque ela não importa! — Ele tocou meu rosto

e se aproximou, descansando sua testa na minha. — Você importa, Flame.


Nosso filho.

Suas palavras eram lindas, mas eu acreditava em ações.

— Se eu importasse, você estaria comigo — afirmei sem titubear.

Ele fechou os olhos.

— Matteo? — A voz suave da cozinha fez com que nos afastássemos.


Antonella nos encarou, com o semblante preocupado.

— Ela está bem? — Sorrindo, a noiva dele se aproximou.

— Sim, está. — Matteo se afastou de mim e eu senti meu coração


diminuir.

— Matteo contou agora de você. — Antonella suspirou e colocou as

mãos nos quadris. — Não sei como vamos fazer para a Outfit pensar que o
bebê é meu, uma vez que você já está com bastante tempo.

— O quê? — gritei, sufocada, e encarei Matteo. Ele parecia tão


confuso quanto eu. — Você acha que eu vou dar meu filho a você?

Antonella arregalou os olhos e olhou para Matteo.

— Eu pensei...

— Você definitivamente pensou errado — rosnei, balançando a


cabeça. — Eu nunca vou deixar meu filho a um metro de você. Nunca. Então

se acostume com a ideia de o Matteo ter um filho fora do casamento.

Bati a porta na cara dos dois e agarrei minha barriga, respirando


fundo.
Antonella estava com os olhos arregalados e abrindo e fechando a
boca como a porra de um peixe. Minutos atrás eu estava falando sobre Blue
para ela na cozinha, e sua irritação foi palpável quando avisei que Blue estava
aqui.

— Eu... — Antonella tentou falar, mas eu ergui a mão.

— Pare. Você a ouviu? — perguntei, com firmeza, e Ella acenou. —


Então estamos na mesma página. O filho é dela, não seu. Ela vai criá-lo.

— Mas... mas... — Ella franziu as sobrancelhas e me encarou. — É


uma vergonha. Ele será um bastardo, um filho fora do casamento...

— Seu Don é um bastardo. Você já viu alguém sobreviver depois de


falar isso? — rosnei, tenso. — Cuidado, Ella.
— Desculpe, não foi minha intenção. Eu só queria ajudar — afirmou,
com os olhos arregalados.

Eu sabia que sim, mas agora Flame estava mais irritada do que antes,
e se eu quisesse que ela fosse comigo para Oak Park, eu precisava amansar a
fera.

— Você pode voltar para casa com seu segurança? — perguntei,

passando a mão no cabelo. Ella demorou para responder, mas logo


confirmou. — Bom.

— Eu já vou. — Ela se aproximou e se ergueu, quase batendo seus


lábios nos meus, porém desviei antes.

Ella não falou sobre isso, mas a mágoa estava visível em seu rosto.
Havíamos nos aproximados nos meses que passaram, mas nunca a toquei de
maneira diferente. Apenas um beijo.

— Flame, abre a porta — pedi assim que Ella sumiu.

O silêncio foi minha única resposta e eu quis chutar a porta, porém


não o fiz. Eu esperei por um longo tempo, até ela mesma abrir a porta.
Quando me viu, Blue tentou fechar, mas eu enfiei meu pé, impedindo.

— Eu vou sair agora — ela disse ao se afastar, mas entrei no quarto e


fechei a porta.

— Para onde? — questionei, me aproximando.


Ela cruzou os braços e eu aproveitei para ver seu corpo. Ela estava
com um short jeans e um moletom. Perfeita, porra.

— Não interessa. — Flame me fulminou com os olhos azuis.

— Você sabe que não vai sair até me dizer... o que me faz lembrar
que preciso designar algum soldado para fazer sua segurança a partir de hoje.
— Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Dick. Ele era o

responsável pelos soldados da mansão.

— Não se atreva, Matteo...

— Prontinho.

Encarei Blue e ela estava com os olhos fechados, balançando a


cabeça.

— Não quero isso. Não quero nada disso. — Ela se sentou na cama e
tocou a barriga, acariciando-a. — Nunca imaginei que engravidaria na minha

primeira vez. Eu fui tão burra.

— Ei. — Me aproximei alguns passos, mas parei quando a vi ficar


rígida. — Nós dois fomos imprudentes. Mas tudo bem, porque vamos ter um
filho, Blue.

— Eu sei e o amo mais que a mim — ela me encarou e mordeu o


lábio —, mas não podia ser com você, Matteo. Não quando eu sabia quem
você era, de onde vinha e o que fazia para viver. Eu fui mais que imprudente.
Fui tola.

Ela já havia falado que se arrependia de me ter como pai do nosso

bebê, e a cada vez parecia que ela estava enfiando a mão dentro de mim e
brincando com meus órgãos.

— Eu sei que não sou fácil, droga, Blue, eu sou terrível, mas... —
Parei de falar, porque realmente não havia desculpa para dar. Blue e nosso

filho mereciam viver uma vida sem a máfia, sem as regras, crimes e sangue.

— Mas o quê? — Blue se ergueu e ficou esperando.

— Mas eu sou o pai dele. E eu vou ser para sempre, então pare de
jogar o quanto sou sua pior escolha na minha cara.

Flame se encolheu e desviou os olhos dos meus. Dei um passo para


trás e engoli em seco.

— Eu vou me manter longe daqui para evitar seu estresse — afirmei

antes de me virar e sair do seu quarto.

Desci a escada e encontrei Prince parado enquanto assoprava a


fumaça para cima. Peguei seu baseado e saí para a parte de trás da mansão.
Traguei a droga tranquilizante e assoprei. Fiz isso várias vezes enquanto
estava sentado no cais para me sentir bem.

— Essa merda é boa — falei para Prince.

Ele riu e lambeu o papel para enrolar um novo.


— Eu sei, cara. — Meu irmão acendeu o baseado e nós fumamos
juntos. — Blue está sendo uma dor na sua bunda, hum?

— Queria que fosse na bunda e não no coração. — Semicerrei os


olhos, mas meu peito sacudiu, e quando vi estava gargalhando junto com
Prince.

— Os dois maconheiros estão o.k.? — A voz de Lake ecoou.

Ergui o rosto e a vi de braços cruzados. Prince tentou se erguer, mas


ela empurrou seu ombro, fazendo-o se sentar novamente.

— Pare com essa merda. Cheguei há dias e você sequer olha para
mim. — Sua voz ficou furiosa e ela se sentou diante dele. — Eu sei que
machuquei você, droga, eu me machuquei fazendo isso. Mas não me
arrependo, porque você sabe, eu nunca poderia mentir para você. Nunca.
Você e eu somos diferentes. Nós dois somos ligados. E eu amo isso e não
posso perder você, Prince.

Prince tragou o baseado encarando-a e soltou a fumaça diante do rosto


dela, parecendo tão calmo. Eu não o reconhecia.

— Você deveria ter pensado nisso antes de sumir e me ignorar por


meses. — Ele empurrou as mãos dela e se ergueu. — Não me toque
novamente.

Assisti ao meu irmão sair andando em direção à mansão enquanto


Lake mordia o lábio, lutando contra as lágrimas. Passei meu braço pelos seus
ombros e a trouxe para mim. Isso foi o suficiente para ela soluçar e deixar o

choro fluir.

— Dê tempo a ele.

— Ele é um idiota. Eu o odeio. — Ela soluçou e eu comecei a rir. —


Você está muito chapado. Idiota. — Lake me empurrou e eu ri ainda mais.

— Desculpa — falei, tentando parar de rir. — Diga a Blue que ela


deveria morar comigo — pedi, me virando para minha irmã. Ela semicerrou
os olhos e eu dei de ombros. — Preciso estar de olho nela.

— Essa é a forma bonita de dizer que quer controlá-la. Não vou dizer
nada.

— Você é uma péssima irmã.

— Sou, não é? — Ela me encarou e eu vi, por baixo do divertimento,

a tristeza.

— Ele vai te perdoar. Dê tempo a ele.

— Eu espero que sim. — Ela fungou e me abraçou. — Vou dizer a


Blue que você a ama. — Lake se ergueu.

Eu me virei e a vi andar em direção à casa.

— Ei, eu não pedi isso! — gritei, mas ela apenas me ignorou.


Pestinha.

Quando retornei para a casa, Blue havia realmente saído. Raina não
estava em lugar nenhum, então liguei os pontos. Procurei Travis na sala de
jogos e o encontrei com Prince.

— Para onde Raina foi? — questionei, me aproximando.

— Senta aí, cara. — Prince bateu no lugar vazio ao seu lado no sofá,
mas eu neguei, concentrado em Travis.

— Travis.

— Ela não me disse — ele rosnou, com os olhos na tevê.

— Eu sei que você a rastreia, por que diabos não faz isso agora? —
grunhi, fervendo de raiva. Queria pegar Blue longe de todos. Sei que falei

que pararia de aparecer e causar menos estresse nela, mas agora era uma
ótima oportunidade para levá-la comigo. Eu precisava dela em Oak Park
comigo.

— Você o quê? — Prince o encarou enquanto nosso amigo tirava o


celular do bolso e entrava no aplicativo de rastreio. — Cara, você e Matteo se
merecem. Vocês vão se casar e estão atrás de outras mulheres...
— Volte a fumar seu baseado — pedi, passando para o Travis.

— Ela está no Village.

O.k., porra.

Saí de casa e encontrei Dick do lado de fora. Ao invés de entrar no


carro e ir até Blue, eu me dirigi a ele. Dick era um cara grande, com tatuagens

por todo lugar, que era bom no que fazia.

— Quem você designou? — perguntei, passando a mão pelo meu


cabelo.

— Giulio — Dick falou e eu semicerrei os olhos. — Sei que ele é um


soldado ainda em processo de confiança, mas ele é um dos melhores que
temos. Você me pediu o melhor, é ele.

— Ele a acompanhou agora? — perguntei, tirando o celular do meu


bolso.

— Sim. — Dick me encarou, semicerrando os olhos.

Eu me aproximei, ficando cara a cara com ele.

— Aquele filho da puta não é confiável. Eu não o quero próximo da


mãe do meu filho. Você me ouviu? — rosnei, apertando meus punhos e ele
acenou. — Se algo acontecer a ela, eu vou matar você.

Me virei e caminhei para o meu carro. Pisei no acelerador e dirigi até


o Village enquanto apertava o volante.

O carro nos seguindo estava me incomodando muito. Será que era o

segurança que Matteo falou? Olhei para Raina e sobre o ombro.

— Você está vendo o carro escuro? — perguntei, engolindo em seco.

— Há algum tempo. — Ela soou preocupada. Toquei meu ventre,


engolindo em seco. — Fique calma. Vamos descer no Village, não é como se
alguém fosse nos atacar no território da Outfit.

Ela estava certa.

Quando estacionamos, o carro deslizou e parou. Um homem moreno


desceu do carro e eu engoli em seco ao vê-lo. Ele era bonito, mas parecia

incerto. Saí do carro e ele me encarou.

— Eu me chamo Giulio. Fui designado para ser seu guarda-costas ou


algo desse tipo. — ele falou, com o corpo ereto.

Respirei fundo, percebendo seu sotaque.

— Você é de onde? — questionei, curiosa.

Raina começou a andar para o prédio enorme e eu a segui, porém ele


também o fez.

— Itália.

Oh.

— Entendi. Então, Giulio, eu não preciso de segurança. Matteo está


exagerando — falei séria. Giulio abriu a porta para mim e Ray. — Obrigada.

— Infelizmente eu não posso me dar folga. Então vou tentar ser


discreto. Você vive sua vida e eu faço meu trabalho — ele murmurou e nós
entramos no elevador.

— Discreto? Sei — murmurei abafado e olhei para Ray, que parecia


querer um buraco para se enfiar. — O que foi? — perguntei, franzindo as
sobrancelhas.

— Depois falamos...

— Raina — Giulio a cumprimentou e eu abri a boca, chocada.

O elevador se abriu e Ray balbuciou um cumprimento e correu para o


apartamento da Andy. Segui-a e nós entramos enquanto Giulio ficava no
corredor.

— Meu Deus, você já ficou com ele! — gritei, arregalando os olhos.

Ray tampou minha boca.

— Você quer ligar para a rádio e anunciar? — ela perguntou


entredentes. Neguei para ela me soltar. — Foi quando cheguei aqui, ano

passado. Ele é bonito.

— Ele é lindo — falei, encarando-a. — Sua vaca sortuda. — Nós


rimos até ouvir uma tosse.

— Estão atrasadas. — Andy fulminou a gente e eu sorri. — Vejo que


está grande. — Ela acenou para minha barriga e eu me aproximei.

Andy era jovem para sua idade. Com cabelo negro como a noite, ela
poderia ter sido uma modelo, sem dúvidas.

— Ela está grávida de um Trevisan. — Raina compartilhou a


novidade.

Andy me encarou por segundos até suspirar.

— O diabo teria sido um genitor melhor.

Suas palavras me deixaram sem fala.

— Andy — Ray alertou, franzindo as sobrancelhas.

— Não me levem a mal. — Andy andou em direção ao corredor. —


Sua vida será um inferno tão perto daquela família.

Me senti mal por suas palavras. Eu sabia dos defeitos daquela família,
mas eles também eram fiéis a quem amavam, as meninas eram amigas e me
acolheram.
— Não acho — falei, mordaz. — Meu filho será amado e muito feliz.
Mas, obrigada pelo seu comentário.

— O.k. — Andy suspirou e olhou para dentro da porta. — É um


quarto velho com milhares de tranqueiras. Jill está vindo morar comigo e eu
preciso liberar o quarto. Andem, vamos começar.

Raina me deu uma máscara para a poeira e colocou uma em si

mesma. Minha amiga tirou a maior parte do lixo acumulado e depois fomos
desfazer as gavetas, separando lixo das coisas importantes. Tirei vários
boletos vencidos e amassei, jogando-os no saco preto.

— Que lindo — Ray murmurou e ergueu uma fotografia velha e


desgastada.

— É a Jill, Andy? — perguntei, tirando os olhos do bebê na foto e


focando em minha própria gaveta.

— Não. — Ela pegou a foto e sorriu. — Esse é meu Roman. Não era

lindo? — Orgulhosa, ela guardou a foto em uma pasta azul.

— Muito lindo. — Sorri.


Não aguentei ficar sentada por muito tempo. Eu deixei Raina e Andy
juntas e fui pegar água. Quando engoli o líquido gelado e refrescante,
lembrei-me de Giulio. Droga, será que ele queria água?

Andei até a porta com um copo cheio e o encontrei de braços


cruzados, de frente para a porta.

— Ei, trouxe água para você. — Saí para o corredor e entreguei o


copo em suas mãos. — Você já viu um verão mais horrível que esse? Jesus,
queria ter engravidado no inverno. — Gemi, rindo, enquanto Giulio
permanecia sério.

— Obrigado. — Ele engoliu tudo e me devolveu o copo.

— De nada. Aliás, deixa eu perguntar. — Voltei a ficar de frente,


encarando-o. — Se você é italiano, você conhecia Sienna antes? —

questionei, curiosa.

Giulio engoliu em seco, demorou, mas ele acenou.

— A Itália é linda. Um dia gostaria de ir visitar...

— Acho bem complicado. — Sua voz soou divertida, me fazendo

inclinar a cabeça em confusão.

— Por quê?

— Você é a Outfit, nós somos a Cosa Nostra. — Giulio arregalou os


olhos, me deixando ainda mais confusa. Ele olhou para os lados e depois
relaxou.

— Eu não sou a Outfit — murmurei baixinho ao me aproximar. — Eu


sou a Blue.

— E eu o Giulio. — Ele falou sério, mas eu acabei rindo.

— Desculpe — pedi, levando a mão à boca sem conseguir parar. —


Ficou engraçado, não acha? — perguntei, rindo, e apertei meus lábios.

— Eu acho que você é doidinha da cachola.

Me curvei enquanto gargalhava, sentindo meu peito zumbir.

— Desculpe, é sério.

— Fique parada. — Giulio ficou rígido e eu franzi as sobrancelhas.


Ele se aproximou perigosamente e bateu a mão em meus cabelos. Um bicho

voou e eu arregalei os olhos.

— O que é isso?

A voz de Matteo me fez virar e levar a mão ao peito. Ele estava de pé


a dois metros de mim e Giulio. Seus olhos foram para o segurança e ele
andou reto, pronto para brigar.

— Ei — falei, entrando na sua frente.

— Eu vou arrancar os malditos dentes dele — Matteo rosnou,


tentando me tirar do caminho, mas eu segurei seus braços. — Que porra você
está fazendo com ela? — ele gritou por cima de mim.

— Dick me enviou. Estou seguindo ordens — Giulio respondeu


firmemente. Admirei-o por isso. Com a raiva que Matteo estava, eu duvidaria
que eu conseguisse abrir a boca.

— Saia, Blue. — Matteo me olhou e eu neguei. — Você ia beijá-lo?

Sua pergunta me fez arregalar os olhos. Que merda?

— Pare. Por favor — implorei de maneira rígida, enquanto ele


continuava a tentar passar por mim. — Vamos para casa. Vamos, por favor
— pedi, colocando a mão sobre seu peito. Matteo parou e me encarou. —
Vamos lá.

— Tá. — Ele acenou, mas seu olhar foi para Giulio. — Não quero
você próximo a ela.

Não vi a resposta de Giulio, porque Matteo segurou minha mão e nós

fomos para o elevador. Ficamos em silêncio enquanto estávamos no Village,


mas depois que entramos em seu carro, eu o encarei.

— O que foi aquilo? — questionei, enquanto ele saía do


estacionamento e entrava na avenida.

— Você não respondeu a minha pergunta. — Ele apertou o volante.

— Eu não ia beijá-lo. E ele não estava fazendo nada.

Matteo balançou a cabeça, mas ficou em silêncio.

— Você não pode agir assim...

— Assim como, Blue? — Ele reagiu, furioso. Seus olhos azuis


brilharam e eu ignorei, inflamada.

— Como se eu fosse sua! — gritei, cansada. — Você é tão hipócrita.

Tão imbecil, estúpido e idiota. Você é tudo isso e mais.

— Uau, fale mais, Flame. Desabafe — ele pediu, rindo, então soquei
seu braço.

— Estava beijando-a quando entrei na cozinha, e agora surta por um


homem estar próximo a mim — rosnei, parando de agredir seu braço. — Eu
odeio você — falei, sentindo como se minha vida fosse um eterno looping.
Tudo se repetia. Matteo irracional, eu magoada. Matteo irracional, eu

magoada.

Estava cansada disso.

— Eu não estava beijando-a. — Sua voz ecoou e eu olhei pela janela,


sufocada.

— Mas já beijou, certo? — questionei, me virando.

Por favor, não. Por favor, não.

Mas seu rosto me disse o bastante. Ele havia beijado Antonella. Será
que ele a tocou como fez comigo? Ele adorou o corpo dela como se ele fosse
perfeito como fez com o meu?

Deus, no que eu havia me transformado?

— Eu a beijei uma vez, e nunca a toquei de outra maneira. — Ele


correu para se explicar, mas eu me perguntei do que adiantava. Ele o faria em

breve, depois de enfiar uma aliança de ouro no dedo dela.

— Esqueci que vocês seguem os costumes da igreja — ironizei,


irritada.

Matteo passou a mão pelo cabelo e apertou.

— Blue, não faça isso — ele pediu, na verdade, implorou. — Quero


parar de brigar, quero que fique saudável para nosso filho.
Suas palavras me fizeram engolir minhas objeções. Ele estava certo.
Eu deveria focar em meu filho, não no pai dele ou com quem ele dormia.

— Você está me levando para Oak Park? — questionei ao ver que


estávamos saindo de Chicago. — Você é impossível. — Apertei meus olhos e
respirei fundo.

Matteo não respondeu. Seu silêncio nos seguiu até a sua casa. Parecia

que fazia tanto tempo desde a última vez que estive aqui. Parecia um século
atrás. Olhei ao redor ao me lembrar das duas vezes que um carro nos alvejou
com balas.

— Estamos mais protegidos agora — Matteo falou enquanto


entrávamos na garagem subterrânea. Não quis saber como. Alguma coisa me
dizia que ele usou os meses longe para trabalhar muito.

Entramos no elevador e eu arregalei os olhos ao perceber que eu


estava sem minha bolsa.

— Esqueci minhas coisas na Andy — falei, preocupada. Matteo me


olhou, confuso. — Minhas vitaminas, documentos, dinheiro.

— Vou pedir a Prince para trazer. Mas não se preocupe, tenho seus
medicamentos aqui.

As portas se abriram e eu suspirei ao entrar no apartamento. Senti


saudades daqui, admiti internamente.
Matteo subiu a escada e eu o segui, pois estava na hora de uma das
minhas vitaminas. Entrei no meu antigo quarto e suspirei ao ver que tudo

estava do mesmo jeito. Fui para o banheiro e franzi as sobrancelhas ao ver


meus produtos de higiene aqui. Eu tinha levado tudo.

Engoli em seco quando percebi que compraram e colocaram de volta


aqui. Abri o armário e peguei minhas vitaminas, estudando-as. Até meu

remédio para a hipertensão estava aqui.

— O que estamos fazendo, Matteo? — questionei, sozinha.

Coloquei a banheira para encher e despejei sais, querendo ficar nela.


Tirei minha roupa, prendi meu cabelo e entrei, suspirando.

— Ei, você acordou, hum? — murmurei quando senti um chute na


minha barriga. Descansei minha mão sobre ele e respirei fundo. — Mamãe
está fazendo muita bagunça. Desculpe. Seu pai me deixa louca, mas não é de
todo culpa dele. Eu deveria me acalmar, pensar em você antes de mim.

Ele chutou mais uma vez e eu sorri.

— Vou me comportar, prometo. — Inclinei minha cabeça, pousando-


a na toalha atrás de mim e fechei os olhos.

Senti mãos por baixo das minhas coxas e suspirei quando me pegaram
no colo. O sono era bem-vindo, e eu estava tão confortável que nem abri
minhas pálpebras. Me colocaram sobre a cama e senti secarem minha pele

com um pano felpudo.

Me virei e agarrei meus travesseiros, suspirando e voltando a dormir.

Quando acordei, eu me virei na cama e abri meus olhos. Lembrava


vagamente de voltar para a cama. Olhei para baixo e minhas bochechas

coraram quando percebi que estava nua. Matteo me tirou da banheira.

Droga.

Me sentei na cama e olhei ao redor, vendo que não tinha ninguém


aqui. Saí da cama e andei até o armário. Quase chorei ao ver que nada aqui
me servia mais. Eu havia deixado algumas roupas na lavanderia, mas elas
estavam pequenas. Vislumbrei uma camisa masculina no fundo e a peguei.
Ela era grande e alcançava o topo das minhas coxas, mas teria que servir.

Minha barriga roncou quando escovei os dentes e penteei o cabelo

com os dedos. Saí do quarto mordendo o lábio e ouvi murmúrios no andar de


baixo. Não queria descer e dar de cara com os amigos do Matteo e Prince,
mas estava com fome.

Quando alcancei o final da escada, Travis, Prince, Zyon e Matteo se


viraram. Quando me viram, os amigos do pai do meu bebê se viraram rápido
mais uma vez. Okay. Andei para a cozinha pensando no que preparar.
— Volto já — Matteo murmurou para os amigos.

Abri a geladeira e franzi as sobrancelhas ao ver cerveja e pizza.

— As compras estão subindo — ele avisou próximo, então me virei,


peguei ovos e andei para o fogão.

Sorri ao sentir um chute do bebê.

— Calma. Vamos comer daqui a pouco — falei com ele, ligando o


fogo. Então ele me chutou mais uma vez. — Ei, esfomeado!

Fritei meus ovos e coloquei queijo. Peguei água e me sentei à mesa


enquanto Matteo continuava por perto.

— Não vou fugir. Pode ficar com seus amigos — falei, dando uma
garfada.

— Eles estão de saída. Tem corrida no Date — Matteo murmurou ao


se sentar também. O sinal sonoro das portas se abrindo o fizeram ir até lá.

Ele voltou com sacolas de supermercado e minha bolsa. Matteo


colocou perto de mim e guardou as coisas, deixando o suco verde fora.

— Tome. Isso faz bem. — Ele deixou a garrafa perto de mim e eu fiz
uma careta. — Prove.

Peguei a garrafa e me servi. Quando coloquei na boca, fiz de tudo


para não fazer careta e empurrei a taça na mão dele.
— É ótimo, tome aí.

Matteo semicerrou os olhos, mas pegou a taça. Ele levou aos lábios, e

quando provou cuspiu no chão, sujando tudo. Eu arregalei os olhos e ri.

— É horrível — ele grunhiu, pulando a lambança para lavar a boca na


pia.

Engoli minha água e tirei o gosto verde da minha língua.

— Não compre essa merda novamente — falei.

Ele ergueu a mão com um sinal positivo.

— Nem fodendo.

Matteo pegou papel toalha e limpou o chão. Terminei de comer ao


mesmo tempo que ele deixou o piso limpinho.

— Você quer assistir a um filme? — Matteo me seguiu até a sala de


onde os meninos haviam sumido.

Me deitei no sofá e agarrei as almofadas.

— Que horas são? — perguntei enquanto ele colocava no aplicativo


de filmes e séries.

— Quase sete.

— O.k.

Matteo escolheu um filme horrível e eu tive que aguentar duas horas


de uma baboseira sem fim. O próximo eu escolhi enquanto ele fazia pipoca.

Nós ficamos juntos no sofá e suspirei quando ele começou a fazer massagem

em meus pés.

— Qual nome vamos dar a ele? — questionei quando os créditos do


meu filme começaram a subir. Ele era incrível, aliás. Deslizei a mão em
minha barriga, sentindo nosso filho mexer.

— Você nunca diz ela — Matteo resmungou, apertando meu


tornozelo esquerdo.

Era verdade.

— Se for uma menina ela vai ficar chateada por termos ficado
chamando-a de ele por meses — avisei. Franzi a testa, mordendo meu lábio.
— Eu pesquisei alguns nomes italianos — falei, suspirando. Matteo me
encarou, parecendo surpreso. — Eu gostei de Vito se menino, e Nina se for
menina. E você? — Ergui meus olhos e ele se aproximou, colocando minhas

coxas em cima das suas.

— Não precisa ser italiano. Quero que ele ou ela tenha o nome que
você amar.

E lá se foi mais um pedacinho do meu coração.

— Eu realmente amei esses, você gostou?

— Sim. Eu gostei. Quer pensar em mais algum?


— Eu amei Enrico também.

— O.k., ficamos com Vito. — Ele me interrompeu, rindo.

Fiquei confusa até ele explicar que Enrico era o nome do Don da Cosa
Nostra.

— Vito e Nina — murmurei, suspirando.

Matteo se inclinou, tirando meu cabelo do meu rosto.

— Eu também espero que ele ou ela nasça com seu cabelo, Flame.
Você é perfeita.

— Não fale essas coisas — pedi, desviando os olhos dele.

— Eu sei que gosta. — Matteo segurou minhas bochechas enquanto


estava curvado sobre mim no sofá. — Vou fazer as coisas direito, Flame. Eu
juro.

O que ele quis dizer com isso?

Não tive chance de perguntar, pois as portas do elevador se abriram e


nós nos separamos rapidamente. Me levantei e suspirei quando vi Travis,
Raina e Prince.

— Ei... — Me ergui olhando para minha amiga, mas parei ao ver suas
lágrimas. — O que diabos você fez? — gritei com Travis.
Blue andou até a amiga e a arrastou para o quarto enquanto eu
encarava Travis em busca de resposta.

— Eu não... — meu amigo parou de falar e puxou o cabelo. — Estou


de saco cheio disso. Não quero me casar. Raina é minha garota, vocês sabem
disso. — Travis se sentou e apertou o punho, tremendo. — Se eu desistir

disso meu pai vai me matar.

Realmente. Theodore queria um casamento para fortalecer os vínculos


com a família Bonnucci. Kiara era perfeita para isso. Filha única de um
homem poderoso que era aliado a Rocco.

— Por que não fala com Rocco? Às vezes meu irmão sabe as escolhas
certas a serem feitas — Prince murmurou enquanto fumava.
— Arrume um noivo melhor para Kiara. — Encarei Travis e
murmurei, dando de ombros e sentando-me a sua frente.

— Quem, idiota? — Prince semicerrou os olhos.

— Você — Travis falou com firmeza e se ergueu. — Porra, você seria


perfeito. A família dela desistiria e meu pai não poderia me culpar.

— Eu ainda não peguei a onda, mas a erva deve ser da boa. — Meu
irmão olhou para o baseado e riu.

— Ele está falando sério. Apaga essa merda. Não é para fumar perto
da Blue — resmunguei, irritado.

Prince apagou e se dirigiu a Travis.

— Cresça suas bolas, mano. Não vou me casar com ninguém.

— Cara... — Travis gemeu e eu suspirei.

— Enfrente seu pai, fale com Rocco. Faça algo. Não me envolva

nisso.

Prince se afastou do Travis e se jogou no sofá. Meu irmão podia estar


chapado, mas estava certo. Se Travis não queria se casar, ele precisava lidar
com a situação.

— Você precisa fazer isso, cara. Se você quer Raina, vá até seu pai e
fale a ele. — Segurei os ombros dele e baguncei seu cabelo. — Vá armado,
caso isso dê merda.

— Preciso falar com a Ray. Você pode pegar Blue? Ela estava irritada

quando chegamos — ele pediu.

Acenei e caminhei para a escada. Me aproximei do quarto de Blue e a


ouvi pela porta.

— Giulio é legal. Ele me fez rir. Eu não me lembrava da última vez


que tinha gargalhado. — Blue parou de falar e eu senti algo pesar sobre meu
peito. — Ele era legal, então, se eu pudesse voltar no tempo... sim, eu o
escolheria a Matteo.

Me apoiei na porta e puxei a gola da minha camisa. Que conversa do


caralho era essa? Eu sabia que Blue não gostava de mim a ponto de se
vangloriar por ter um bebê meu, mas isso? Porra, isso era demais.

— Mas você nunca sentiria isso — Raina murmurou, fungando.

— Nunca, porque só aquele desgraçado dos olhos azuis me tira o


chão. Só ele é capaz de me fazer ir da fúria ao amor em segundos. — Flame
fungou também. — Eu o amo e ele vai se casar com outra. Isso dói como o
inferno.

Seu soluço e confissão tiraram o peso e colocaram angústia em meu


peito. Eu precisava de Blue. Não era mais o desejo avassalador, era muito
mais. Eu queria acordar com ela e a beijar antes de dormir. Eu queria que ela
tivesse orgulho de me pertencer.

— Fale mais sobre como dói. — Ironia pingou das palavras de Raina.

— Somos duas idiotas. — Blue riu.

— Duas idiotas apaixonadas e estúpidas.

— Seria o título de um livro incrível — Flame comentou.

Bati à porta e forcei a maçaneta. As duas se viraram na cama para


ficarem de frente para mim. O cabelo de Flame estava preso no alto da
cabeça e ela usava uma das minhas camisas. Perfeita.

— Travis quer conversar com a Raina. Vamos para o nosso quarto —


chamei, abrindo mais a porta.

— Seu. — Blue estalou, encarando as mãos.

— O quê?

— Seu quarto, Matteo. — Ela ergueu o rosto e eu suspirei.

— Vamos — chamei, apressado.

Blue abraçou a amiga e avisou que logo estaria de volta. Por mim,
nem fodendo.

Nós fomos para o quarto e eu fechei a porta. Blue andou até a cama e
se deitou, segurando a barriga.

— Preciso descansar. Não quero brigar e nem conversar, que é o


mesmo que brigar, porque você nunca fica calmo o suficiente, então não fale

nada. Me deixe descansar.

Encarei-a sem reação e andei para a cama, tentando controlar minha


boca. Queria falar sobre o que ela disse de Giulio. Isso ainda estava fodendo
minha cabeça. Eu precisava que Blue me dissesse que era mentira. Me deitei
ao seu lado e fiquei de frente para ela, encarando seu rosto.

— Pare. Estou falando sério... Matteo. — Ela semicerrou os olhos e


bateu em mim. — Pare.

— Estou em silêncio, como pediu.

— Sei... Que porra...

Blue gritou quando fiquei sobre ela e tampei seus lábios. Seu olhar
azul se expandiu quando ela me encarou sobre si.

— Fale novamente como você preferia que Giulio fosse pai do nosso

bebê — ordenei enquanto meu coração batia rápido. Com sua barriga
imprensada contra meu estômago, empurrei suas coxas abertas, fazendo a
camisa subir, porém, não o bastante. Tirei minha mão dos seus lábios e puxei
o tecido, desnudando seus seios.

— Matteo.

— Fale, Blue — rosnei, furioso por apenas me lembrar disso. Apertei


seu mamilo rosa e maior que a última vez que coloquei meus olhos nele e ela
suspirou. — Você preferia Giulio te fodendo e manchando o pau com o seu
sangue? É isso?

— Você não deveria ter ouvido... — Ela parou de falar quando apertei
mais.

— Eu quero que diga na minha cara, porra. Fale e eu vou me casar


com Antonella feliz. — Minha voz saiu apertada, rígida, e Blue entendeu.

Seus olhos ficaram úmidos e ela empurrou minhas mãos dos seus
seios.

— Não fale o nome dela quando estiver me tocando! — Blue gritou,


me empurrando.

Segurei seu cabelo na base do seu pescoço, fazendo-a parar.

— Você o queria fodendo você aquela noite ou não? A pergunta é


simples! — gritei, sentindo mais que fúria ao imaginar os dois fazendo o que

eu fiz com ela. O que só eu fiz com ela. — Diga.

— Sim.

Deus, foi como se ela tivesse me atingido com um bastão de beisebol.

Me afastei de Blue, respirando com dificuldade. Ela puxou sua camisa


para se cobrir. Eu encarei o chão enquanto tentava respirar e não quebrar
tudo, como fiz na mansão. Tentei me lembrar da maneira que minha mãe me
ensinou a respirar para não surtar e bater em todo mundo.
Violetta era capaz de me acalmar como ninguém.

Mas ela não estava aqui.

Nunca mais estaria.

— Prince vai levar você de volta para a mansão amanhã cedo —


avisei, suspirando e pegando minhas chaves da mesa.

Saí do quarto a passos pesados, sem olhar para trás.

As lágrimas estavam descendo por meu rosto como se não houvesse


um fim. Segui-o, tentando pensar em algo para acalmá-lo. Para desfazer o
que acabei de fazer, mas não havia nada.

— Você me trouxe para Oak Park — falei nas suas costas, descendo a
escada. — Você!

— E eu estou levando você de volta a Chicago — ele falou, pegando


sua carteira e o celular que estava tocando de cima da mesa. Vislumbrei o
nome de Antonella e fiquei rígida. — Matteo. O.k. Te vejo em meia hora.

Não! Ele não faria isso.


— Tchau. — Ele guardou o celular, andou para a porta e apertou o
botão com pressa.

— Você vai fazer isso? Você vai me deixar aqui para ir para ela? —
questionei, mesmo me odiando por deixá-lo saber o quanto estava me
machucando. — Matteo, eu juro que se fizer isso...

— O quê, Blue? — ele gritou, virando-se para mim. — O que você

vai fazer?

— Matteo...

— Você se esqueceu que eu sou o diabo? Que eu manipulo as coisas


para serem como eu quero? É por isso que queria Giulio a mim, certo?
Porque você sabe que o dia em que dormiu comigo, você assinou sua
sentença. Eu posso estar casado no próximo mês, mas você ainda será minha.
Sempre.

Meu peito doeu ao ter a verdade dolorosa jogada em meu rosto por

ele.

Matteo estava certo, não adiantaria negar. Como não adiantaria me


descabelar quando ele controlasse a minha vida. Nada ia acontecer, porque
ele estava certo.

Eu sempre seria dele.

O bebê em meu ventre só selou isso.


— Eu não quero te ver nunca mais. Nunca mais. Eu vou para
Chicago. — Engoli em seco, acenando. — E vou sair cada vez que você

entrar. Vou sumir cada vez mais. Nem depois do nascimento dele, eu quero te
ver. Eu juro a você.

— Foda-se, Blue — ele grunhiu assim que as portas se abriram. —


Com suas palavras, agora estou repensando se tiro ou não ele de você.

Obrigado por me esclarecer.

— Eu te odeio! — gritei, enquanto as portas se fechavam e levavam


meu sono com ele.

— Que gritaria é essa? — Prince perguntou da escada enquanto eu


chorava com as mãos presas ao rosto. — Ei, Blue. — Ele me puxou para os
seus braços e eu solucei.

— E-ele disse que vai ti-tirar o meu fi-filho de mim. — Tentei


explicar em meio ao choro enquanto Prince me puxava para o sofá.

— Sente-se, vou pegar água para você. — Fiz o que ele pediu e logo o
vi retornar. Segurei o copo entre meus dedos e suspirei, tentando me forçar a
parar de chorar. — Matteo não vai tirar seu filho de você, Blue. Ele jamais
faria algo assim.

— Para me machucar, ele faria.

Do mesmo jeito que o machuquei hoje.


— O.k., vamos dizer que sim, mas Rocco nunca permitiria. Sienna,
então... — Prince acariciou meu joelho e apertou, me fazendo suspirar. —

Matteo está perdido.

— Eu quero que ele se foda! — falei, com raiva, e balancei a cabeça.


— Não, eu só quero que ele se case e me esqueça.

Que mentira.

A verdade era que eu queria que ele me amasse. Me amasse a ponto


de não se casar com Antonella. Me amasse a ponto de se impor a Rocco. Mas
era uma ilusão dolorosa.

Prince me ajudou a ir para o andar de cima, mas Raina e Travis ainda


estavam no meu quarto, então fui obrigada a voltar para o de Matteo. Puxei
as cobertas e funguei, tentando sonhar com um lugar onde eu e Matteo
ficaríamos bem, sem discussões ou brigas.

Não existia lugar assim.

Prince me levou para Chicago, como Matteo disse. Quando acordei,


ele já estava me esperando com café da manhã na mão. Saí daquele
apartamento desejando que fosse a última vez. Mas eu sabia que não era.

Matteo e eu sempre estaríamos nessa gangorra. Ele puxando, eu


cedendo. Era uma vergonha admitir, mas era a minha realidade.

Quando chegamos à mansão, Lake estava na sala jogando sozinha

enquanto ria e tomava achocolatado.

— Você foi péssimo — ela disse, e só então percebi o fone de ouvido


que usava. — Nunca mais. Não voltarei novamente. — Lake ergueu os olhos
da tevê e viu Prince e eu parados. — Preciso ir, beijos.

— Bom dia — murmurei, me aproximando e me sentando ao seu


lado.

— Bom dia. — Ela olhou de mim para Prince e ele se virou, subindo
a escada. Lake suspirou e forçou um sorriso para mim. — Não esperava por
você. Matteo avisou ontem que você estava ficando lá.

— Algumas coisas mudaram desde ontem. — Acariciei minha


barriga.

Lake colocou a mão. Meu bebê se remexeu para a tia e eu sorri,


vendo-a se iluminar.

— Ele será ruivo como você, mas muito fodão igual ao seu pai e tios
— Lake previu e eu sorri, escondendo minha apreensão sobre o legado
Trevisan.

— Oh meu Deus! — O grito estridente de Sienna fez a mim e Lake


pularmos do sofá. Subimos a escada para encontrá-la parada, segurando a
barriga. Tebow latiu e eu vi a poça de água aos pés dela. — Minha bolsa
estourou!

— Eles estão vindo — Lake gritou enquanto me aproximava de


Sienna e sorria.

— Você vai conhecer os amores da sua vida.

— Oh meu Deus, sim! — Ela riu em meio a lágrimas e segurou


minhas mãos com uma força surpreendente.

Lake pegou o celular e avisou à família e a Rocco. Em segundos,


Prince desceu a escada e bateram à porta. Ajudamos Sienna a descer
enquanto Lake foi buscar as bolsas dos bebês.

— Passarinha! — O grito de Rocco deve ter sido ouvido a léguas.

— Rocco, eles estão vindo. — Ela sorriu e chorou ao mesmo tempo,


enquanto o seu marido a ajudava a se mover para fora.

— Sim, Passarinha. Eles estão vindo.

Rocco levou Sienna em seu carro, enquanto Lake e eu fomos com


Prince.

O hospital estava calmo quando chegamos. Sienna foi encaminhada


para a sala de parto e nós ficamos amontoados na sala de espera, tão ansiosos
que nenhum de nós estava parado. Eu roía minhas unhas e Lake batia o pé,
incontrolável.
— Você está bem, certo? — Prince questionou enquanto andava de
um lado para o outro.

— Estou — respondi com firmeza.

Porém, quando as portas da sala de espera se abriram, eu duvidei


fortemente se continuaria. Matteo entrou com a mesma roupa de ontem, e ao
seu lado, Antonella.

Meu estômago caiu aos meus pés e eu me forcei a olhar para o outro
lado. Ao sentir a mão de Lake segurar a minha eu sorri, tentando permanecer
forte, mas eu não conseguia parar de pensar que ele dormiu com ela. Que ele
a tocou como me tocava.

Minha barriga girou e eu me ergui, andando às pressas para o


banheiro próximo. Mal deu tempo de eu abrir a tampa do vaso e cair de
joelhos. Vomitei todo o meu café da manhã. Me ergui e me curvei sobre a
pia, limpando meus lábios. Quando parei, me olhei no espelho e ergui o

queixo. Eu estava com medo, raiva e tristeza ao mesmo tempo, e tudo estava
refletido em meus olhos.

Foda-se, Matteo Trevisan.

Estava cansada de amar você.


Bateram à porta assim que terminei de lavar as mãos e limpar meu
rosto. Não queria que ninguém me visse cair por Matteo, então fiquei em
silêncio esperando quem quer que fosse ir embora. Estava cansada de todo
esse drama, cansada de tentar lutar contra meus sentimentos, cansada desse
embate estúpido que minha vida havia se transformado.

Eu queria Matteo, queria sobre seus erros, quis perdoar cada uma das
vezes em que ele me machucou. Quando me negou ajuda, quando me forçou
a ficar ao seu lado. Todas elas. Me questionei, sentindo-me doente, se eu
estava em uma relação doentia.

Por que eu o amava? Ele me arruinou. Continuava me machucando.

Então, pelo amor de Deus, por quê?


— Eu vi você entrar, então por que não sai? — A voz grossa e
divertida de Giulio soou pela porta e eu respirei fundo. Droga.

— O que está fazendo aqui? — questionei, ainda sem me mexer.

— Eu atropelei uma mulher e a trouxe para a emergência. Ia passando


quando vi você correndo. O que está fazendo aqui? — Sua voz suave parecia
estar contando como uma folha caiu da árvore, e não que ele quase matou

alguém com seu carro.

— Sienna está tendo os gêmeos — expliquei e me aproximei da porta,


ainda fechada.

— Ah... — Giulio não falou mais. — Você pode sair daí? As pessoas
já estão me encarando.

Eu ri, forçando a maçaneta. Giulio estava com calça jeans preta e uma
blusa branca que se estendia por seus ombros. Seu olhar encontrou o meu e
eu sorri.

— A mulher está bem? — perguntei, me afastando do banheiro.

— Quem? — Ele franziu as sobrancelhas enquanto andávamos.

— A mulher que atropelou.

— Sim, ela quebrou o braço, mas vai ficar bem — ele explicou assim
que chegamos perto da sala de espera.
— Não sei se posso ficar aqui — falei, olhando por cima do ombro.

— Por quê? — Ele continuou andando e eu suspirei quando a

conversa na sala de espera parou. — Ah, olá. — Giulio franziu as


sobrancelhas para a família Trevisan enquanto eu ainda permanecia
escondida. — Atropelei uma moça e a trouxe.

— Giulio! — Lake se ergueu assim que dei alguns passos e entrei na

linha de visão de todos.

Matteo estava de pé ao lado de Antonella sentada. Prince cruzou os


braços, encarando Giulio como se ele fosse o diabo. Seu irmão fez o mesmo.

— Ei, Lake... — Giulio ficou rígido.

Olhei entre ele e Lake, achando isso estranho, mas deixei de lado.

— Eu vou para casa e retorno quando os gêmeos nascerem —


expliquei a Lake e olhei para Giulio. — Vamos?

Giulio pareceu confuso, mas logo acenou.

— Você acha que vai a algum lugar com esse desgraçado? — A voz
irada fez meus olhos rolarem.

— Não apenas acho, eu vou — afirmei entredentes e me virei.

— Matteo, Giulio é de confiança — Lake interveio rapidamente,


encarando o irmão, confusa.
— Confiança? Quando ele matou Salvatore foi um ato confiável? —
Prince gritou.

Arregalei os olhos, totalmente surpresa. Salvatore era irmão de


Sienna, eu sabia pois já a tinha ouvido falando sobre ele.

— Não faça isso. Você não estava lá. Não sabe o que isso fez a ele. —
Lake soou quase doente, então toquei seu ombro.

— Estou indo. — Giulio saiu andando e eu encarei a irmã Trevisan


mais nova.

— Você está bem? — questionei, realmente preocupada.

— Sim. — Ela forçou um sorriso e apertou meu braço. — Vá para


casa.

Eu acenei e me virei, indo embora.

Encontrei Giulio na saída e o silêncio nos acompanhou enquanto

andávamos até o carro. Me abracei e Giulio ligou o rádio, deixando bem claro
que não queria conversar. Por mim, o.k.

Assim que ele estacionou o carro, eu o vi olhar para a casa e o seu


olhar não era bom.

— Você não gosta de morar aqui, não é? — questionei, engolindo em


seco.
— Eu amo meu lar. — Sua voz saiu firme.

— Então, por que não volta para casa?

— Você realmente não faz ideia no que se meteu, não é, Blue? —


Giulio riu, sem humor. — Suas lágrimas são como o oxigênio para Matteo.

Suas palavras me acertaram.

— E ele nunca te deixará partir. Porque você pertence a ele. — Ele


afastou o olhar e respirou fundo. — Eu pertenço a Outfit. Sou a máquina de
matar deles e nunca serei capaz de ver meu pai outra vez.

— Eu... eu... — Tentei falar, mas nada se formou.

— Boa sorte, Blue.

Eu sabia que precisaria.

Quando entrei na mansão, meu celular tocou. Tirei-o da bolsa e o


levei ao ouvido. Meu pai me saudou e eu sorri, porém, parei ao ver Matteo de
pé na parte inferior da escada.

— Oi, papai — murmurei, fechando a porta e parando no corredor.

— Ei, Boo, estou em Chicago, na sua casa. — Suas palavras me


deixaram tensa. — Onde está sua mãe? Não tem ninguém aqui, já chamei.
— Pai, eu... — Meu coração bateu com força e eu evitei encarar
Matteo. — Estou a caminho.

— Espere. — Papai tampou o fone do celular e sua voz ficou longe.


— A vizinha disse que sua mãe está na... reabilitação? Blue, o que está
acontecendo?

A confusão em sua voz me deixou em desespero. Oh meu Deus.

— Estou indo.

— Blue, o que diabos está acontecendo? — ele gritou e eu escutei sua


respiração alterada. — Boo, me diz que isso é mentira.

Andei de volta para a porta enquanto escutava papai pedindo para que
eu falasse que era mentira o que a vizinha disse. Vi Giulio ainda em seu
carro, então entrei e fechei a porta.

— Dirija — pedi, sem fôlego.

— Blue! — meu pai gritou na linha.

— Estou chegando pai. — Respirei fundo.

Desliguei a chamada e expliquei a Giulio para onde me levar. Olhei


sobre meu ombro e mordi meu lábio ao ver Matteo de pé me encarando.
— Obrigada. Não precisa me esperar — resmunguei rapidamente e
saí do carro assim que ele estacionou.

— De nada.

Giulio dirigiu para longe e eu me virei, encontrando papai sentado na


varanda da minha casa, com as mãos na cabeça, parecendo completamente
perdido. Meu coração latejou.

— Pai...

— Dois anos trabalhando para pagar as drogas dela ao invés de


estudar e focar em seus sonhos. Dois anos limpando vômito dela e cuidando
dela depois de crises. E agora, você está grávida, Blue. — Meu pai não me
olhou enquanto falava, e quando me encarou, desejei que não tivesse feito.
Havia tanta decepção nas suas íris que me deixaram sem ar. — O que você
fez com a sua vida, Blue? O que você deixou Carolyn fazer com a sua vida?
— ele gritou, se erguendo. — A vizinha acabou de me contar tudo. Tudo.

— Pai, eu tentei ajudá-la...

— Ela não merece ajuda! — Sua voz cortou o ar e eu dei um passo


para trás. — Ela te abandonou não só uma vez, mas três. Todas as vezes por
homens que encontrava. Então, ela chegava, me olhava nos olhos e dizia que
ia embora com eles. Três malditas vezes ela te deixou chorando nos meus
pés, Blue.
— Ela quis me trazer...

— Sim, na última vez, porque eu pedi. — Arregalei os olhos, sem ar.

— Eu sabia que você ficaria, mas pedi que ela o fizesse para você pelo menos
sentir que ela te queria. Que ela te deu opção.

— Pai...

— Carolyn ama a si mesma. Sempre foi assim. — Meu pai balançou a


cabeça e puxou o cabelo castanho. — Agora, eu descubro isso? Que você
quitou as dívidas de droga dela, que cuidou dela enquanto se drogava e
pausou seus sonhos por causa disso... como você acha que estou me sentindo,
Blue?

— Eu sei, me desculpe...

— Você só voltou para casa porque havia internado a Carolyn. Você


me enganou por ela...

— Eu só quero que ela fique bem. Eu não queria preocupá-lo. — Me


aproximei, sentindo meu queixo tremer. Papai fechou os olhos, enquanto
negava. — Eu sinto muito, papai. Não queria decepcioná-lo.

— Quem é o pai do seu filho, Blue? Quero conhecê-lo, hoje — papai


afirmou rigidamente, então arregalei os olhos. — Você vai mentir
novamente?

— Não. Eu só... Matteo só é pai do bebê. Ele não está comigo...


— Meu Deus, Blue. — Papai apertou as têmporas. — Ligue para ele e
peça para vir aqui. Isso ou você volta comigo hoje para Bloomington.

Peguei o celular enquanto papai subia a escada. Abri a casa e nós


entramos. Graças a Deus tudo estava em ordem. Liguei para Matteo e deixei
minha bolsa na mesa para me distanciar do meu pai.

— Você realmente está ligando para mim, porra? — A voz de Matteo

soou furiosa. — Depois de sair do hospital, e depois daqui com aquele


desgraçado, você ainda tem coragem de me ligar?

— Meu pai quer conhecer você — falei, ignorando suas merdas


estúpidas.

— Como?

— Ele está na cidade e quer saber quem é o desgraçado filho da puta


que engravidou a filha dele. Quer que eu desenhe para você? — gritei,
enquanto meu queixo tremia. E antes que eu pudesse me deter, solucei.

— Estou a caminho.

Ele desligou e eu me virei, vendo papai de pé atrás de mim.

— Por favor, não peça para ele se casar comigo. Ele já é noivo —
afirmei rapidamente e me aproximei.

— Noivo? — Meu pai arregalou os olhos e eu acenei, suspirando.


— Me envolvi com ele antes. Porém, hoje ele é de outra pessoa. Não
posso ver o senhor pedir isso a ele, porque a resposta para isso está clara. Se

ele quisesse ficar comigo e nosso filho, ele estaria, então, por favor, não peça.

— Ah, Blue. — Papai suspirou e passou as mãos pelo cabelo. — Que


confusão você se meteu... — Ele tocou seu peito e me olhou com amor. —
Você saberá cuidar do meu neto. Você sempre foi essa menina educada e

maravilhosa. Seu filho terá orgulho de ser seu.

— Eu te amo e quero ser metade da pessoa incrível que você é para o


meu filho. Me desculpe por mentir e esconder os erros da Carolyn. Eu pensei
que poderia ajudá-la. Consertá-la...

— Você pode, Blue. Ela está em reabilitação, lembra? — Papai me


puxou para os seus braços e eu o abracei com força. — Você será uma mãe
incrível, Blue.

— Espero que sim.

Nós fomos para o sofá e eu me aconcheguei em seu peito.

— Esse Matteo é um idiota se escolheu outra pessoa a você. — Suas


palavras me fizeram rir. — Você é linda, simpática, um ser humano incrível.
O que esse idiota tem na cabeça? Merda.

— Pai, por favor... — pedi, rindo.

Ele acariciou meu braço e depois minha barriga.


— Ele vai se arrepender.

— Como você sabe? — Ergui a cabeça e apoiei meu queixo nele.

— Porque, às vezes, os homens fazem coisas estúpidas e erradas. Nós


nos arrependemos em seguida. Sempre.

— Tem certeza?

— Sim. — Meu pai sorriu. — Agora, vamos nos divertir com o


palhaço.

Eu ri, porém, sabia que Matteo era tudo, menos palhaço.

E papai, bem, papai nunca o assustaria.


“E aí?”

Enviei a mensagem para Prince pela décima vez desde que saí do
hospital. Sienna ainda estava em trabalho de parto. Estacionei o carro e parei
em frente à casa de Blue. Eu estava nervoso pela primeira vez na minha vida.
Não conseguia entender o motivo, mas eu estava inquieto desde que ela disse

que o pai queria falar comigo.

Inferno, eu havia engravidado a menina dele. Se eu estivesse em seu


lugar... porra, eu mataria o infeliz.

Saí do carro e andei a passos largos até a porta. Antes que eu


apertasse a campainha, Blue apareceu. Seu rosto estava inchado e seus olhos
vermelhos. O que havia de errado? Desde que a vi reagir ao telefonema com
o pai, eu sabia que estava acontecendo algo, mas até ouvir seu soluço na

ligação eu ainda queria acreditar que ela estava bem.

— Ignore tudo que ele falar e, por favor, fique calado. Apenas acene.
— Sua voz ainda estava quebrada.

— O que diabos ele fez a você? — Apertei meu punho.

— Ele? — Blue franziu as sobrancelhas e riu. — Ele é a única coisa


boa na minha vida, e eu juro por Deus que se você agir como um maldito
mafioso com ele, vou matar você.

Porra, ela parecia realmente amar o cara.

— O.k., Flame...

— Entre, Boo. Deixe o garoto entrar. — Uma voz forte soou e ela
suspirou, abrindo a porta.

Entrei na casa e vi um homem maior que eu alguns centímetros,

parado no meio da sala. Ele tinha cabelo escuro e olhos iguais. O pai da
minha Flame estendeu a mão para mim.

— Benjamin Dawson. — Seu rosto era fechado, porém eu não iria


deixar sua mão no ar.

— Matteo Patrick. — Estendi a mão e omiti meu sobrenome. Alguma


coisa me dizia que Benjamin não ficaria feliz ao pesquisar e encontrar
algumas coisas sobre mim e meus irmãos.
— Sente-se, Matteo. — Ele estendeu a mão, indicando o sofá, então
me sentei ao ver Flame ao seu lado, quase como se fosse pular em cima de

mim para o proteger a qualquer momento. — Blue me contou sobre a


situação de vocês.

— Sério? — perguntei com firmeza e encarei o rosto bonito de Blue.


Ela ficou rígida e encarou o pai.

— Sim. Você é noivo.

Bom, porra, obrigado, Flame.

— Era.

— O quê? — A voz de Blue sobressaiu a do pai quando ambos


fizeram a mesma pergunta.

— Eu era noivo. Não sou mais — expliquei sem a encarar, focando


minha atenção em seu pai.

A raiva de ouvir Blue dizer que Giulio seria uma escolha melhor
como pai me magoou e eu estaria mentindo se dissesse que ainda não queria
quebrar algumas coisas.

Mas, quando saí do apartamento, me senti sufocado. Blue tinha


motivos para falar isso. E apesar de tudo, ela ainda me amava. Escutá-la
dizendo isso apenas selou nosso destino.

Não haveria Giulio ou qualquer outro.


Não haveria Antonella ou qualquer outra.

Éramos nós dois.

Seria um longo caminho, eu sabia, mas também sabia que nós sempre
dávamos um jeito. Sempre daríamos.

Ontem mesmo eu havia conversado com Antonella sobre o arranjo em

que estávamos, e mesmo ela odiando a ideia de encerrar o casamento, não se


opôs quando avisei que conversaria com Rocco hoje. Bom, eu ainda não
havia conversado, mas era questão de tempo.

Amo e Rhett só precisavam nascer.

— Tudo bem. Acho que assim as coisas ficam melhores — sr.


Dawson falou sério.

Olhei para a Blue, que estava se movendo.

— Pai. — Ela suplicou com os olhos.

— Eu quero que se case com minha filha. Hoje.

— Pai! — Blue gritou, arregalando os olhos enquanto eu continuava


encarando o homem diante de mim. Ele tinha cabelo castanho e olhos
escuros. Eu podia ver o nariz de Blue nele. E ele a amava.

— É o melhor, Blue. Você está sozinha e em breve terá um bebê. Isso


é algo que um homem honrado faria, e eu espero que Matteo seja um.
Compreende, Matteo? — Seus olhos procuraram os meus, e eu vi uma

rigidez nele que eu compartilhava.

— Não posso me casar com Blue — respondi firmemente e vi minha


garota fechar os olhos e virar o rosto enquanto seu lábio tremia.

— O quê?

— Pai, por favor. — Ela implorou enquanto o olhava. — Pare. Você


está me magoando...

— Estou tentando entender...

— Não posso ainda. Não namoramos, não noivamos, não fomos a um


encontro. Eu quero fazer essas coisas antes do casamento. Blue merece isso...

Os dois se viraram para mim, e enquanto seu pai acenava parecendo


satisfeito, Flame queria me matar. Era compreensível.

— Fico feliz que pense assim, Matteo. — Sr. Dawson se ergueu e eu

fiz o mesmo.

— Nós o avisaremos sobre o casamento.

O pai de Blue conversou com ela e logo tratou de se despedir. Eu


fiquei parado, esperando enquanto Flame fechava a porta e se virava para
mim.

— O que foi isso? — ela gritou, se movendo em minha direção.


— O quê? — Cruzei os braços, encarando-a.

— Você é tão... egoísta. — Blue piscou, engolindo em seco. — Suas

palavras, o jeito que fala sobre deixar um casamento... você faz tudo parecer
tão simples... E não é!

— Flame.

— Eu não vou a um encontro dos infernos com você, não vou


namorar e muito menos me casar com você — Blue gritou, e eu semicerrei os
olhos.

— Por quê? — questionei, ficando rígido.

— Porque eu não sou a segunda opção de ninguém. E eu, com


certeza, não sou estúpida. Você estava com ela há uma hora! Dormiu com
ela. — Flame bateu em mim quando me aproximei muito. — Não me toque.

— Você disse que queria que nosso filho fosse daquele fodido. Você

queria que eu reagisse como, Blue? — gritei, furioso, e segurei seu pulso,
mantendo-a perto de mim.

— Eu falei da maneira simples que seria. Ele não é herdeiro de uma


máfia. As coisas seriam simples. Foi isso que falei — Blue afirmou
rapidamente.

— Você acha que serei menos pai por isso? Foda-se! As minhas
responsabilidades, um dia serão dele. Você sabe disso. — Semicerrei os
olhos, rígido.

— Isso conforta você? Porque, a mim, não!

— Eu não tenho tempo para isso, Blue. — Me afastei dela e andei em


direção à porta.

— Mas já? — Ela riu sarcasticamente e eu balancei a cabeça. — O

quê?

— Você é uma hipócrita. Reclama das minhas ações, mas as suas não
são melhores. — Abri a porta e bati a madeira, descendo a escada.

Quando entrei em meu carro, soquei o volante. Como diabos Blue


voltaria para casa?

Voltei, furioso, e abri a porta. Meu peito sacudiu ao vê-la curvada no


sofá com seu corpo balançando. Os soluços me deixaram doente. Era isso que
eu fazia com Flame.

Eu a desestabilizava, tirava o seu pior e saía, deixando-a para lidar


com suas lágrimas.

Eu me odiei.

— Vai embora! — ela gritou quando ergueu a cabeça e me viu.

Me aproximei rapidamente depois de fechar a porta e me sentei,


puxando-a para mim.
— Flame — chamei seu nome enquanto ela tentava se afastar.
Envolvi seu corpo e a coloquei em meu colo. Envolvi meus braços em sua

cintura e beijei seus cabelos. — Porra, baby — resmunguei, me sentindo


sufocado. — Não chore...

— Você me faz chorar. Você sempre faz isso e eu odeio. Odeio deixar
você me afetar dessa maneira. Odeio, Matteo. Eu odeio.

A palavra se impregnou em mim como fogo. Me incendiou.

Não como quando a vi a primeira vez dançando naquele poste.

Ela flutuava ao redor e parecia tão... minha. Como se ela me


pertencesse.

Quando a vi na sala com as meninas e percebi que Rocco não


permitiria que ela ficasse no Village, me senti dividido entre dor, por não a
ver dançar mais uma vez, e prazer, por saber que ninguém a veria daquele
jeito. Nunca.

Agora, no entanto, eu não me sentia queimando de necessidade e


posse.

Parecia que algo dentro de mim estava sendo arrancado, tirado do


meu peito.

— Me desculpe.

Nunca peça desculpas.


— Me perdoe.

Nunca peça perdão.

— Por favor, Blue.

Nunca implore.

Você é um Trevisan.

Blue ergueu o rosto e eu segurei suas bochechas. Deslizei meus dedos


por suas bochechas e beijei seus lábios rapidamente.

— Não vou fazer isso outra vez. Eu prometo. Diga que me desculpa
— pedi, sufocado, enquanto suas mãos se apoiavam em meu peito.

— O que está fazendo? — Seus olhos estavam em confusão e eu a


compreendia.

— Eu quero que isso dê certo — falei, sem fôlego. — Preciso de


você.

— O quê? — As íris azuis se expandiram.

— Eu quero você, Blue. — Assenti, respirando fundo. — Quero pra


caralho. — Segurei a base do seu pescoço e a encarei. Seus lábios molhados,
seus olhos brilhantes e seu rosto angelical, que deveria ser considerado um
perigo para os demônios.

Blue Dawson deveria ser considerada um perigo.


— E a Antonella? — Sua voz ecoou suave, mas firme.

— Não a quero — dei de ombros —, nunca quis. — Suspirei e toquei

seu ventre. — Vocês são tudo que eu quero. Tudo.

— Não brinque comigo — ela pediu, rígida.

Sorri, desviando os olhos dos seus. Enfiei minha mão na gola da

minha camisa e puxei o colar que minha mãe havia me dado anos atrás. Abri
a corrente e tirei o anel bonito que minha mãe me fez jurar entregar apenas a
minha esposa. A pessoa que eu jamais deixaria escapar.

Eu nunca deixaria essa garota escapar.

— Blue, você aceita se casar comigo? — perguntei, sentindo tanto


medo quanto o dia em que Rocco desceu a escada com nosso pai e disse que
ele havia matado minha mãe.

— Não faça isso — Blue pediu, respirando com força.

— Faço. — Acenei, sem titubear. — Não enlouqueço por sua causa


por posse, Blue. Eu sei que me pertence, mas quero que deseje me pertencer.
Diga a palavra, me deixe saber.

Blue olhou para o anel por longos segundos e o segurou entre os


dedos.

— Por que estava com ele no colar? — Blue ergueu o olhar.


— Minha mãe o deu a mim — falei rapidamente e a vi arregalar os
olhos. — Ela me disse para dar a alguém especial. Alguém que eu desejasse

ter para sempre em minha vida. Não há ninguém que eu ache mais especial
que você, Blue.

— Você não pode fazer isso. — Ela fungou, limpando o rosto.

— Por que não?

— Não pode me deixar chorando em um segundo e no próximo me


pedir em casamento. Isso não é normal.

— Flame, eu sou um Trevisan. Não somos normais.

Blue se afastou até que eu a deixei se erguer. Ela andou de um lado


para o outro com sua barriga bonita enquanto seu cabelo estava espalhado
pelo seu peito. O vestido azul era colado ao seu corpo e deixava pouco para a
imaginação.

— Dois meses. — Blue parou e se virou para mim enquanto abraçava


o próprio corpo.

— O quê?

— Vou responder em dois meses. — Ela suspirou, andando de volta


para mim e me entregando o anel. — Se em dois meses não fodermos tudo
mais uma vez, eu me casarei com você.

— Você está brincando, certo? Em dois meses eu quero já estar


casado com você.

— Pise no freio. — Blue mordeu o lábio e suspirou. — Vamos aos

poucos.

— Você está falando sério — constatei, confuso.

— Somos horríveis juntos — Blue me lembrou e respirou fundo,

tocando nosso filho. — Mas eu quero mudar isso. Eu quero me casar com
você, mas...

— Sem mas. — Me ergui rapidamente e segurei sua mão. Deslizei


meu anel em seu dedo e beijei sua bochecha. — Você acabou de dizer “eu
quero”. Você perdeu, baby.

Blue abriu a boca para rebater, mas eu empurrei meus lábios nos seus.
Ela segurou meus ombros e eu segurei sua bunda perfeita. Flame gemeu ao
sentir minha língua deslizar pela costura dos seus lábios. Mordi sua boca e
beijei o caminho dela até sua clavícula. O decote do vestido estava exposto e

eu enfiei meu rosto em seus seios, tocando-os com posse.

— Estão doloridos, Matteo.

— Estão combinando com meu pau.

— Porco. — Ela riu enquanto eu empurrava seu vestido para fora.

Lambi o mamilo tenro e mordi a carne enquanto minha mão segurava


e apertava. Blue suspirou e eu envolvi meus lábios no mamilo rosa e chupei
devagar, levando meu tempo.

— Oh meu Deus.

— Diga meu nome. Eu estou te fodendo, não ele.

Ela bateu em meu ombro e eu a guiei pela casa enquanto beijava seu
colo e seu pescoço. Quando chegamos ao seu quarto, Blue se sentou na cama

e segurou o vestido no lugar.

— O quê? — questionei, sem fôlego, enquanto tirava minha camisa e


ia para a calça.

— Eu... — Ela fechou a boca e engoliu em seco. — Não sou mais do


jeito que se lembra.

— Como assim? Você está com nosso filho na barriga. Se possível,


está mais perfeita que antes. Qual o problema? — questionei, me
aproximando e esquecendo minha calça.

— Eu sei, mas a gravidez me deu mais curvas e bem, estrias...

— Você é perfeita do jeito que é. Eu fodo minha mão todo maldito


dia pensando em você. Meu pau ama você, querida. Não se esconda de mim
— falei entredentes a ponto de explodir.

— O.k., mas desligue a luz.

— Flame, eu quero e preciso ver sua boceta. — Soei torturado e,


porra, eu estava sendo.

Blue mordeu o lábio e eu me movi, deitando-a na cama. Puxei sua

calcinha pelas coxas e cheirei o tecido, vendo-a molhada. Porra.

— Abra as pernas, Flame — ordenei, tenso, e tirei meu pau da minha


calça.

Bombeei meu pau algumas vezes e suspirei quando Blue abriu suas
coxas e eu vislumbrei sua boceta molhada. Deslizei meus dedos dentro dela e
suspirei quando os coloquei na boca. Perfeita do caralho.

— Goze na minha boca, baby — pedi, me ajoelhando. Lambi suas


dobras e chupei seu botão inchado em meus lábios. Blue gritou enquanto eu
sorria, comendo sua boceta como se eu não tivesse tomado café da manhã.

— Matteo! — ela gritou assim que adicionei um dedo em seu canal


apertado. Juro que nunca entrei em uma boceta tão boa quanto a dessa
mulher.

Depois que ela gozou em meu rosto, me ergui e apertei meu pau
algumas vezes, e quase me envergonhei quando aproximei meu pau da sua
entrada e gozei em suas dobras.

— Como da primeira vez.

Sorri para a minha obra de arte e Blue gemeu quando espalhei meu
sêmen e enfiei dentro dela.
— Vamos levar um tempo aqui — avisei, deslizando dentro da sua
boceta.

Blue sorriu como se a ideia não fosse apenas boa, mas, sim, excelente.

Porra, eu me casaria com a mulher nem que eu a forçasse.


Matteo realmente levou um tempo me fodendo, e eu juro que amei
cada segundo.

— O que vamos falar? — questionei quando estávamos próximo à


casa da sua família. Sienna estava em casa com os gêmeos depois de poucas
horas desde o parto. Perguntei a Matteo se isso não era arriscado, ele disse

apenas que não ficavam muito tempo em hospitais.

Eu não entendi.

— Não precisamos falar nada. — Matteo apertou minha mão


enquanto me guiava para dentro da casa. Ele estava com a mesma roupa de
ontem, enquanto eu usava uma das roupas que havia deixado para trás
quando me mudei.
— Matteo! — resmunguei, contrariada.

— O.k., Flame, fale o que quiser. Eu não devo satisfação a eles. Eles

nunca me contam nada. — Sua voz soou magoada, então toquei sua coluna,
triste. — Não se sinta mal. O filho do meio sempre é esquecido.

— Eles amam você — falei, tentando aliviar seu ressentimento.

— Eu sei. — Matteo segurou meu rosto e se aproximou. — Mas eu


não espero mais muita coisa dessa relação. Eu tenho você e isso me basta.
Você e nosso filho.

— Sempre vamos estar ao seu lado, mas eles são sua família...

— Minha família. — Matteo se afastou e acenou, mordendo a boca.


— Eu espero que essa família pare de me esconder coisas.

Ele entrou na sala de jogos me puxando atrás de si, sorri ao ver Lake e
Prince juntos. Será que fizeram as pazes? Eu esperava que sim.

— Ei, como vocês estão? — questionei, sorrindo, então os dois se


viraram.

— Bem... o que estão fazendo... juntos? — Lake foi a primeira a falar


enquanto encarava minha mão envolvida pela do Matteo.

— Noivos. — Matteo ergueu nossas mãos e o diamante brilhou com a


luz.
— Que porra... é o anel da mamãe? — Lake se ergueu e seus olhos
começaram a lacrimejar.

— Sim. — Matteo me soltou e andou até o sofá. Ele bateu ao seu


lado, mas fiquei parada enquanto via Lake se recompor.

— Ele é lindo e combina com você, Blue. — Ela sorriu e me puxou


para os seus braços. — Eu sabia que ficariam juntos — a irmã mais nova de

Matteo sussurrou e se afastou.

— Obrigada, Lake. — Sorri ao me virar para Prince e o encontrei


folheando fotos. Me aproximei e me sentei na poltrona. — O que é isso tudo?

— São fotos. Parabéns, aliás. Matteo demorou para tirar a cabeça da


bunda. — Prince sorriu para mim e eu ri quando Matteo o acertou com uma
almofada.

— Tem do Matteo? — perguntei, sorrindo e me curvando sobre a


mesa. — Nosso bebê pode ser parecido com ele e ruivo como eu, vocês

sabem...

— Esse é ele. — Lake me entregou uma e eu franzi as sobrancelhas


ao ver o bebê bonito naquela foto. Ele parecia o mesmo da foto que vi na casa
de Andy. Parecia a mesma foto, o mesmo lugar...

— Não sou eu. — Ele se aproximou e encarou por cima do meu


ombro. — É Prince.
Encarei Prince e depois a foto. Relaxei, balançando a cabeça. Talvez
Andy apenas tenha tirado uma foto de Roman bem parecida com essa.

— Aqui. Esse sou eu. — Matteo me entregou uma foto e eu deixei a


outra sobre a mesa. O bebê dessa foto era gordinho, tinha olhos azuis lindos e
sorria.

— Com certeza, é você. — Sorri o olhando e Matteo bateu sua boca

na minha. — Ei!

— Parem com isso. — Lake enfiou o dedo na garganta enquanto


Matteo sorria.

— Vou ver Rhett e Amo. Vamos, Blue. — Ele se ergueu e eu fiz o


mesmo.

Nós subimos a escada, deixando os meninos para trás. Matteo me


guiou até o seu quarto para trocar de roupa antes e eu o esperei, mexendo em
algumas fotos espalhadas.

— Mova sua bunda, baby. — Ele acenou para a porta e nós saímos.

— Então, hum, como você acha que eles são? — questionei, sorrindo
enquanto subíamos mais um lance de escada.

— Loiros e olhos azuis. Aposto dez mil dólares.

— Eu não tenho dez mil dólares, idiota.


Matteo riu e bateu à porta. Fiquei surpresa quando Rocco abriu e uma
sala apareceu. Não era apenas um quarto, era uma ala. A decoração era linda

e parecia que Sienna havia decorado.

— Que surpresa ver os dois juntos. — Rocco mediu a mim e depois


Matteo. — Álcool em gel nas mãos e cotovelos. Não respirem perto do rosto
deles. Se não está apto a seguir minhas regras, se vire e saia.

— Rocco! — O gemido veio do corredor.

Matteo deu de ombros, pegando o álcool em gel e enchendo as mãos e


me dando também. Rocco nos guiou até o quarto onde Sienna estava numa
poltrona amamentando dois bebês.

— Pare de assustá-los — Sienna grunhiu para o esposo e sorriu para


mim. — Blue.

— Parabéns, Sienna — murmurei, me aproximando, mas antes olhei


para Rocco. Ele estava de braços cruzados, parecendo incomodado.

— Rocco, eu juro por Deus...

Me virei e encarei os bebês. Matteo acabou de ganhar os dez mil que


eu não tenho para pagar. Amo e Rhett tinham cabelos loiros quase brancos e
os olhos como os dos pais. Azuis. Eles mamavam juntos e as mãos dos dois
estavam entrelaçadas.

— Eles são perfeitos — falei, emocionada, antes de deslizar a mão em


meu ventre. — Não vejo a hora de ter o meu em meus braços também.

— Passa rápido, você vai ver.

Matteo passou por mim e se ajoelhou próximo aos dois bebês.

— Rhett, Amo, Remy e Vito serão um pequeno exército. — Ele


sorriu, tocando na mão dos dois e eles envolveram seus dedos com força.

— O.k., pare com isso. — Sienna riu, afastando sua mão. O seu
desconforto era compartilhado por mim. Não queria que Vito se envolvesse
com o mundo obscuro que o pai e seus tios viviam.

Porém, seria inevitável.

Saímos do quarto tempos depois e Matteo me levou para o seu. Ele


tirou a camisa e eu levei a mão aos lábios ao ver o estrago que eu fiz com
minhas unhas. Passei os dedos e ele olhou por cima do ombro.

— Minha noiva tem garras — ele brincou e seus lábios se esticaram.

A covinha que se formou em seu queixo era imperceptível vista de longe,


mas eu conseguia ver com clareza de onde estava. Meu peito sacudiu
enquanto eu o delineava com a ponta dos meus dedos.

Deus, como eu o amava.

Amava-o acima dos nossos erros, dos seus defeitos e das nossas
decisões. Eu o amava acima de tudo isso.
— Ei, o que foi? — ele questionou, segurando meu rosto.

— Nada — menti e sorri, fazendo-o relaxar.

Não me sentia segura para dizer que o amava, e odiava saber o motivo
disso.

Matteo beijou minha boca e eu relaxei em seu peito. Nos deitamos

juntos e eu suspirei quando nosso baby chutou. Matteo riu ao colocar a mão.

— Você nunca falou sobre sua mãe antes de hoje — murmurei


devagar, pensando sobre isso.

— Não gosto de falar sobre ela. — Ele suspirou, ainda acariciando


meu ventre.

— Por quê? — Empurrei a questão, tentando entrar pelas frestas dele.

Matteo era fechado demais, e se eu quisesse conhecer o homem que


eu amava, precisava ser persuasiva.

— Ela tinha cabelo escuro como todos nós. — Matteo cheirou meus
cabelos. — Ela amava fazer café da manhã, mesmo tendo mais empregadas
que um ser humano comum. Prince sempre foi seu preferido. Ela o amava
mais que o ar.

— Nenhuma mãe tem filho preferido.

— Falou a filha única. — Ele riu. — Violetta Trevisan era a calmaria


numa tarde chuvosa, o arco-íris depois de uma tempestade. — Sua voz ficou

suave e ele trouxe seus olhos para mim. — Como você.

— Eu? — Engoli em seco, mexida com sua comparação.

— Você é tudo que eu nunca quis, mas sempre precisei. — Ele tirou
meu cabelo do meu rosto e suspirou. — Minha mãe sabia disso.... — Encarei
seus olhos, apaixonada. — Não vejo a hora de me casar com você.

Eu derreti. Eu também não via a hora.

Matteo ficou em Chicago só aquela noite. No dia seguinte, ele me


ajudou a arrumar minhas coisas e as levou para o seu carro. Eu realmente não
queria voltar para Oak Park, mas ele tinha trabalho e não queria me deixar
aqui.

— Ei, garota. — Giulio apareceu ao lado do carro e eu sorri.

— Ei, como você está? — perguntei, encarando o seu rosto franzido.

— Bem. Hum, vejo que se acertou com Matteo. — Giulio sorriu e eu


acenei, tentando não me sentir estúpida. — Fico feliz. Eu não entendia bem o
ciúme dele comigo, já que nunca olhei para você de maneira diferente. — Ele
pareceu genuinamente confuso.
— Os ciúmes de Matteo são incompreensíveis. — Sorri.

— Enfim, fique bem. — Giulio se afastou e, segundos depois, Matteo

saiu da mansão segurando seu carregador.

— Você estava conversando com Giulio? — Matteo questionou


rigidamente.

— Sim. — Toquei seus braços. — Ele é um bom amigo, e eu nunca


olharia para ele de maneira diferente...

— Isso foi antes ou depois de dizer que queria que ele fosse pai do
meu filho? — Matteo se afastou e entrou no carro.

Fiquei parada, tentando pensar em como arrumar essa bagunça.

Matteo buzinou e eu abri a porta, deslizando para dentro em seguida.


Me virei para ele depois de colocar o cinto e o vi focado em dirigir. Toquei
sua coxa e engoli em seco.

— Me desculpe. Eu não deveria ter dito aquilo. Nunca. Foi horrível.

— Não se desculpe pelo que sente — ele rebateu, sem me olhar.

— Não quero que Giulio seja pai do nosso bebê. Se eu pudesse voltar
atrás faria tudo do mesmo jeito, porque minhas decisões me trouxeram até
aqui. Até você e nosso filho — falei com firmeza e apertei sua coxa. — Você
será um pai incrível e seu filho vai amar você. Eu nunca duvidei disso nem
por um segundo.
Matteo apertou o volante, ainda em silêncio.

— Vito terá sorte de ter você como pai e eu de ter você como marido

— resmunguei por último e me virei.

— Flame — Matteo chamou e eu me virei, ansiosa. — Eu sou o único


sortudo por ter vocês dois. — Ele me olhou por alguns segundos e voltou
para a pista.

— Prince ficou? — questionei, mudando de assunto. Saber que eu o


havia magoado me sufocava.

— Ele vai viajar — Matteo falou e eu franzi as sobrancelhas. —


Rocco e um dos nossos primos decidiram fazer algumas viagens para lugares
próximos. Prince quer ir.

— Como assim? — questionei, confusa.

— Queremos território, Blue. — Matteo me olhou de lado e suspirou.

— Estamos expandindo, e para isso precisamos conhecer esses lugares.

— Então, Prince vai para um lugar que não é de vocês? Isso não é
perigoso?

— É, mas ele está decidido. Não podemos fazer muito.

Não gostava muito de pensar em Prince longe porque, convenhamos,


ele já tinha muita coisa para lidar. Eu sabia que ele tinha seus problemas, mas
nunca perguntei a Matteo e nem a ele.
— Você não acha que ele anda fumando muito? — perguntei,
nervosa.

— Sim e já falei com ele. — Matteo suspirou e bagunçou o cabelo. —


Prince tem muitas merdas, Flame. Não tente entendê-lo.

Eu não o faria.

Arrumei minhas coisas no closet ao lado das de Matteo e suspirei. Eu


realmente não queria desfazer as malas, mas Matteo acordou e me perguntou
por que elas ainda estavam arrumadas. É claro que eu não falei que era por
temer que brigássemos.

— Já vai! — gritei para o interfone e atendi.

Quando o Aaron falou que havia uma Antonella pedindo para subir,

eu fiquei nervosa, porém, o que poderia acontecer?

Pedi para deixá-la subir e me arrependi assim que me olhei. Droga.


Tentei desamassar a blusa do Matteo e arrumei meus cabelos, colocando-os
para o lado.

O elevador se abriu e eu me senti pior quando vi o salto preto, as


pernas longas cobertas por uma calça, e blusa de seda. Seus cabelos estavam
em ondas bem-feitas e seu rosto estava impecável.
— Matteo não está — murmurei rapidamente e indiquei a sala.

— Oh, eu não sabia. — Ela mordeu o lábio e se sentou numa das

poltronas.

— Eu queria dizer que sinto muito por tudo isso...

— Pelo quê? — Antonella franziu as sobrancelhas. — Eu já me

conformei com o bebê de vocês. Matteo e eu podemos ter os nossos.

Suas palavras me deixaram confusa.

O quê?

— Matteo me pediu em casamento — falei, sentindo meu estômago


girar impiedosamente.

— Oh meu Deus! — Ela abriu a boca, chocada. — Eu... meu Deus,


ele fez isso antes do Rocco negar seu pedido de anulação do noivado ou
depois? — Suas palavras me nausearam.

Rocco negou? Como assim?

— Eu não estou entendendo — falei, sem fôlego.

— Matteo ainda vai se casar comigo — Antonella afirmou, me


fazendo levar a mão à boca. — Me desculpa, você está bem?

Não, eu não estava.

Minha visão começou a embaçar e a dor forte na parte inferior da


minha cabeça me disse que eu precisava ir para o hospital. Rápido.

— Hospital — murmurei, tentando me acalmar e pensar em meu

bebê.

Por favor, por favor.


Não podemos cancelar o casamento.

Por que você quer se casar com Blue?

Estacionei meu carro enquanto meu sangue bombeava pelas minhas


veias e me deixava insano. Eu estava há um dia com a conversa que tive com
Rocco na cabeça. Era, palavras fodidas do meu irmão, impossível desfazer

meu noivado com Antonella.

— Bom dia...

Não respondi Lake, apenas continuei andando até parar na porta de


Rocco. Eu sabia que ele estava aqui.

— O que...

— Você me perguntou semanas atrás se eu queria desistir do


casamento — rosnei as palavras, tremendo e apertando minha nuca. — Você

me perguntou! O que mudou, porra?

Meu irmão ficou me olhando em silêncio, completamente impassível.

— Não quero me casar com Antonella. E eu precisei vir a Chicago


para falar isso olhando no seu olho, porque eu sei que você nunca vai me
obrigar a fazer isso. Não quando você sabe o que Blue significa para mim.

Você não é ele e nós dois sabemos disso! — berrei, inconformado.

— Então — ele se levantou —, por que você não respondeu à


pergunta, Matteo? — Sua voz fria, rígida e perigosa me deixou inquieto.

— Que porra é essa, cara? — questionei, sem entender. — Não


precisamos do pai de Antonella. Nós somos a Outfit, não aquele velho
imbecil, então me fala, que porra é essa? — gritei novamente e ouvi a porta
abrir. Não olhei para trás, porque só poderiam ser duas pessoas, e as duas
ficariam do lado dele.

— Fechamos um acordo, Matteo. Um acordo dos infernos. Dei minha


palavra. O que você quer que eu faça? — Rocco gritou, socando a mesa.

— Me escute. Fique do meu lado, pela primeira vez na vida! —


respondi de maneira ácida.

— Que merda? — Rocco teve a audácia de parecer confuso.

— Vocês sempre me fodem, me excluem. Lake só foi mais uma das


coisas. Então, por que diabos você não me escuta e me apoia uma única vez,
porra?

— O que houve? — A voz da sua esposa soou e ela tocou meu


ombro. — Ei, o que houve?

— Eu não quero me casar com Antonella — falei, apelando para ela.


Eu sabia que Sienna era a única pessoa no mundo capaz de mudar a opinião

de Rocco.

— Matteo, seu filho da puta... — Rocco começou, mas Sienna o


interrompeu.

— Então, não se case. — Ela foi sucinta ao falar e se virou para seu
marido. — O que houve?

— Sienna — Rocco falou entredentes.

Ela bateu o pé como uma criança, mas sua voz ecoou como uma

rainha.

— Nem pense nisso. Blue está esperando o filho dele, ninguém além
dela deveria se casar com ele. Você sabe disso. Então, qual o problema? —
Ela quis saber, irritada.

— Antonella quer Prince. — Arregalei os olhos ao ouvi-lo. — Ela só


vai desistir do casamento se casar com ele. Ela fez a cabeça do Dario e ele
concordou. Isso nem é o pior. — Rocco apertou o punho. — Prince tirou a
virgindade dela atrás de um carro, enquanto estava chapado.

— Meu Deus... — Sienna levou as mãos aos lábios.

— Não acredito nisso — falei, completamente tenso.

— Acredite. Ele confirmou. — Rocco passou a mão pelo cabelo rente


à cabeça. — Não quero casar Prince. Ele é muito jovem e está passando por

merdas...

— Se Prince tirou a virgindade dela, ele deve ter responsabilidade e se


casar com ela, não Matteo — Sienna falou depois de alguns segundos. —
Vocês fazem cada coisa. — Ela balançou a cabeça e se sentou. — Onde ele
está?

— Em Oklahoma.

Porra fodida dos infernos.

Meu celular começou a tocar e o nome de Antonella me fez respirar

fundo.

— Matteo.

— Blue passou mal e eu a trouxe para o hospital. — Suas palavras


saíram apressadas e apavoradas. — Eu juro que não fiz nada...

— Estou a caminho. — Desliguei e olhei para Rocco. — E


respondendo a sua pergunta, eu vou me casar com Blue porque a amo. Agora,
eu vou até a minha noiva, que está no hospital.

Saí da mansão rápido e, correndo como nunca, dirigi para Oak Park.

Assim que entrei no hospital, fui encaminhado para uma sala onde

Antonella estava andando de um lado para o outro. Ela me olhou quando


cheguei e segurei seu braço, puxando-a para a parede.

— Eu juro que vou matar você se tocou em um fio de cabelo dela.

— Eu não fiz. Juro. A pressão dela subiu. — Ella negou com firmeza.
Suspirei, balançando a cabeça. — Falei sobre Rocco não ter permitido
cancelar o casamento e ela...

— Eu não vou me casar com você — falei pausadamente e a soltei. —


Volte para Chicago e encontre meu irmão. Foi ele que se sujou com seu

sangue, não eu.

Antonella arregalou os olhos e suas bochechas pegaram fogo. Eu me


afastei e andei diretamente para o quarto onde me informaram que eu
encontraria Blue.

— Ei — chamei quando a vi deitada na cama. — Você me assustou.


— Me aproximei e me sentei enquanto seus olhos bonitos se ergueram.
Toquei seu ventre e o movimento me aliviou.
— Estamos bem. — Ela colocou a mão sobre a minha.

— O que aconteceu? — perguntei, preocupado.

— Antonella disse que ainda se casará com ela. — Blue desviou os


olhos e eu levei minha mão até sua bochecha. — Eu disse a ela que me pediu
em casamento...

— Não vou me casar com outra mulher além de você. Porra, Flame,
eu disse a você. — falei, com firmeza.

— Mas ela disse que Rocco...

— Rocco vai lidar com isso — respondi, interrompendo-a.

Blue se jogou em meus braços e eu beijei seus cabelos, suspirando.

— Tem algo que quero que faça. — Blue se afastou e eu foquei em


seus olhos. — Eu quero que a gente se case hoje.

— O quê? — perguntei, rindo, mas ela parecia tão séria.

— Eles não poderão te tirar de mim. — Blue tocou meu rosto. — Da


gente. — Ela colocou minha mão sobre seu ventre e eu suspirei.

— Você tem certeza? E sua festa? Cerimônia?

— Não sou uma garota convencional.

Ela não era.

Achar um juiz de paz foi o mais difícil de fazer, mas depois de


algumas ligações, eu consegui. Blue estava com minha camisa e segurando

flores que Sienna havia mandado desejando melhoras. Para mim, ela estava

perfeita.

— Você tem certeza? — perguntei, respirando fundo.

— Absoluta. — Blue sorriu e eu perdi tudo ali.

— Prontos? — o juiz perguntou ao lado de duas enfermeiras que


estavam chorando. Eu achei que alguém tinha morrido, mas quando ia
perguntar, Blue me deu uma cotovelada.

— Sim! Não! — falamos juntos e eu sorri ao ver a cara de frustração


da minha Flame.

— Matteo! — ela grunhiu, irritada.

Eu a puxei para o banheiro, trancando a porta em seguida.

— Estamos fazendo isso pelos motivos certos? — questionei devagar

e ela me olhou confusa. — Você quer se casar hoje, em um hospital, usando


minha camisa? Sem seu pai?

Blue abriu a boca, mas voltou a fechá-la.

— E tudo porque tem medo de eu ser obrigado a casar com Antonella


— murmurei devagar. Blue desviou os olhos dos meus. — Não. Não posso
fazer isso com você, Flame. Você merece se casar à sua maneira, com seu pai
ao seu lado. Você merece um buquê de verdade e um vestido. E eu vou dar
tudo isso a você. Cada uma delas. Eu não seria merecedor de você se eu não
o fizesse.

— Matteo...

— Nós temos um laço maior que um papel. Temos nosso Vito —


falei em um fôlego. Ela sorriu, depois começou a gargalhar e, de repente,
havia lágrimas em suas bochechas. — O que foi?

— É uma menina.

— O quê? — Arregalei os olhos, surpresa e confusão bombardeando


minha mente.

— Fiz uma ultrassom de emergência. A médica não sabia que eu não


sabia do sexo. Ela falou “sua filha está bem”. É uma menina. — Blue riu,
limpando as bochechas, e eu comecei a rir junto.

— Ela deve estar muito puta com a gente chamando-a de ele e Vito o

tempo todo. — falei, enquanto Flame gargalhava e batia em meu peito.

— Nina, perdoe a mamãe e o papai — Blue pediu, se acalmando.

— Sim, minha Nina — implorei, acariciando o ventre inchado da


minha Flame.

Algo me dizia que ela nunca nos perdoaria.

— Ainda vão se casar? — o juiz perguntou pela porta.


Blue me encarou.

— Não. Nos desculpe por fazê-lo perder tempo — Blue gritou para a

porta enquanto eu segurava seu rosto bonito.

Eu me casaria com ela, mas faria do jeito certo.

Quando voltamos para casa, Blue foi para a banheira e eu a ajudei,


massageando seus ombros e coluna. Em meio a toques, minha mão encontrou
sua boceta e brinquei com ela, fazendo Blue descansar contra meu peito,
arfando.

— Matteo. — Ela gemeu, gozando em meus dedos.

— Cansada? — questionei, beijando seu pescoço, e Flame acenou.

Levei-a para a cama depois de enxugá-la e puxei a coberta sobre nós.

— Matteo? — Blue chamou, sonolenta.

— O quê? — Bocejei.

— Nina amará você.

Sua voz suave me fez sorrir. Me curvei, beijando sua boca bonita.

— Eu vou amá-la também, Flame.

— Eu amo esse apelido.


— Eu também.

Ela sorriu ao se aconchegar em mim. Suspirei, sabendo que eu estava

no melhor lugar do mundo. Com ela e nossa filha.

Nossa Nina.

Cheguei à mansão com Blue depois de alguns dias longe de tudo. Eu


estava finalizando a compra de uma casa mais segura que o apartamento, e
esperava que ela estivesse pronta antes que Nina nascesse.

— Prince vai se casar mesmo? — Blue questionou, enquanto


descíamos do carro.

— Acho que não. Rocco não permitiria. Porém, ainda não falei com
ele.

Nós entramos em casa e eu suspirei ao ver todos reunidos na sala.


Menos Prince.

— Onde ele está? — A voz de Lake ecoou. Ela estava em frente ao


nosso irmão mais velho.

— Eu não sei! — Rocco gritou para ela, parecendo preocupado. Ele


levou o celular à orelha e apertou o punho contra a boca.
Romeo estava ali com Lunna, ambos parados enquanto Sienna e Lake
pareciam desesperadas.

— O que houve? — perguntei, me aproximando.

— Prince sumiu. — Lake soluçou, levando as mãos ao rosto. — Oh


meu Deus...

— Como assim? — questionei, olhando ao redor. Todos me


encararam e respiraram fundo. — Que merda está havendo?

— Ele estava em Oklahoma com Zyon. Encontraram Zyon em um


hospital torturado. Prince não estava com ele.

Porra. Porra. Porra.

— Matteo. — Blue tocou meu peito enquanto eu caía no sofá e lutava


para respirar.

— Ele está bem. Prince é esperto. Vocês sabem disso! — Romeo

grunhiu, enquanto eu apertava meus punhos contra meus olhos.

— Ele não deveria ter ido — Rocco murmurou e socou a parede.

Não deveria... mas ele foi.

— Precisamos encontrá-lo. Eu o quero em casa! — Sienna afirmou ao


longe antes de soluçar.

— Ele está bem — Lunna murmurou, mas um soluço também cortou


sua respiração.

Onde ele estava? Pense, Matteo, pense.

— Peça ajuda a Enrico. Ele tem poder sobre Oklahoma — falei, me


erguendo.

Rocco se virou ao mesmo tempo que sua esposa.

— Mandamos Salvatore morto para casa. Enrico nunca nos ajudará —


Romeo falou ceticamente.

— Prometa Lake a Juliano. Uma nova oferta de paz. Ele fará —


murmurei com firmeza, fazendo Lake se virar com os olhos arregalados.

— O que diabos há de errado com você? — ela gritou, furiosa.

— Você quer Prince de volta? Bom, comece a preparar seu


casamento! — rugi de volta, sentindo meu coração bater incontrolavelmente.
— Prince pode estar sendo torturado. Meu Deus, não quero pensar nisso. —

Apertei meus punhos e me movi pela sala.

— Devolva Giulio — Sienna falou baixo e todos nós nos viramos. —


Enrico vai aceitar. Ele quer Giulio.

— Você está de sacanagem? — Rocco gritou.

Sienna se ergueu e o encarou.

— Escolha, Rocco. Seu irmão ou o seu orgulho. — Ela saiu da sala e


subiu a escada rapidamente.

— Ela está certa — Romeo falou ao se aproximar.

— Eu sei e odeio isso. — Rocco apertou a mandíbula.

Eu não ligava se precisava orquestrar um casamento com a Cosa


Nostra ou enviar um rato miserável de volta para a Itália. Eu queria meu

irmão.

— Calma — Blue pediu, segurando meu braço. Eu a puxei para mim,


respirando em seu cabelo. — Estou aqui. Prince logo estará também.

— Espero que sim, Flame.


Sienna levou Blue para o andar de cima enquanto eu segui Rocco e
Romeo para o escritório. Lake não me encarou mais, e eu estava muito
preocupado com Prince para pensar nisso.

— Não pensamos direito. — Romeo se serviu de uísque e cheirou a


borda do copo.

— Como assim? — perguntei, semicerrando os olhos.

Rocco encarou nosso irmão e levou o cigarro à boca.

— Estamos em guerra direta com os Zenduryc. Não com a Cosa


Nostra. — Romeo se aproximou e se sentou na poltrona. Fiz o mesmo
enquanto Rocco pensava. Merda.

— Eles o pegaram — Rocco confirmou, pegando o celular. — Você


estava com ele. Sabe dos passos dele. O que diabos houve?

Tentei me recordar quem andava ao redor de Prince, um amigo novo

ou companhia. Porém, nada ficou claro. Pelo menos até me lembrar da loira
que parecia se desintegrar quando ele beijou sua amiga.

— Hope — falei, suspirando e apertando meus punhos, socando a


mesa em seguida.

— Quem? — Romeo se virou e eu olhei dele para Rocco.

— Ela era irmã de Cesar. Prince estava dormindo com ela...

— Ele estava dormindo com a irmã do cara que ele matou? — Rocco
perguntou entredentes.

— Sim. — Acenei, tentando respirar devagar para pensar. — Eu disse


que era uma loucura, mas vocês sabem como ele está. Prince não ouvia
ninguém — expliquei enquanto meus dedos batiam freneticamente na

madeira. — Você acha que já o mataram?

A ideia me deixou nauseado e eu quis vomitar em meus próprios pés.


Não podia sequer imaginar Prince morto. Não era possível para mim.

— Não fale essa merda — Rocco grunhiu enquanto Romeo apenas


encarava seus próprios pés.

— Eu não sei. — Ele apertou o próprio pescoço e olhou para Rocco.


— Vamos atrás dessa garota. E eu vou matá-la caso tenha participação nisso.
E vocês não vão me impedir.

Romeo se ergueu e eu fiz o mesmo ao ver Rocco ainda envolto em

seus pensamentos.

— Ele sumiu nessa madrugada. Eles vão nos contatar...

— Vão? — questionei, cético. — Se eles querem vingança, não vão

falar nada. Apenas fazer Prince pagar.

— Matteo está certo, Rocco. — Romeo se aproximou. — Vamos


atrás dela. Matteo fica cuidando das meninas e nossos filhos.

— Sim, tudo bem. — Rocco andou até mim e encarou meus olhos. —
Não diga nada a elas. Nada. Sienna está por um fio...

— Não direi.

Meus irmãos saíram e eu subi a escada procurando por Blue.


Encontrei-a segurando um dos gêmeos. Eu não conseguia distingui-los.

— Amo — Sienna falou para mim enquanto estava sentada com o


outro.

— O.k. Blue, dê Amo para Lake — pedi, apoiado na porta. Minha


irmã me ignorou e eu respirei fundo. — Lake, eu espero que você esteja
compreendendo o motivo de eu ter proposto aquilo. O desespero nos faz falar
e agir como jamais pensamos.
— Me dar a um desconhecido é um pouco trágico, você não acha? —
ela rebateu mordazmente.

— Trágico é o que devem estar fazendo com seu irmão. — Passei a


mão no cabelo. — Mas, para que pensar nele, certo? É melhor pensar em um
casamento que não aconteceria até alguns anos — respondi, irritado.

Lake desviou o rosto e eu mudei minha atenção para Blue. Ela se

ergueu, entregou Amo e me seguiu. Quando chegamos ao meu quarto, eu me


sentei e descansei meus cotovelos nos joelhos, pondo as mãos em minha
cabeça.

— Ele está bem. — Blue se aproximou e eu abracei sua cintura.

— Ele deve estar tão chapado que nem está sentindo os ferimentos —
falei devagar, mas me arrependi. — Prince está com problemas desde que
Lake foi embora. Nunca pensei nisso, nunca me passou que eu devesse exigir
que ele se abrisse...

— Ele não o faria. — Blue se afastou e se sentou ao meu lado. —


Prince luta contra demônios, mas isso é dele. Não é seu. Ele precisa querer
inserir vocês na luta dele.

— Eu sei...

— Ele voltará para casa, em breve. Você sabe disso — Flame


afirmou, segurando meu rosto. Seus olhos azuis estavam brilhando e eu
percebi que não era apenas eu caindo.

Toda a família Trevisan estava desmoronando.

— Preciso visitar mamãe esse final de semana. Você quer ir comigo?


— Blue mudou de assunto.

— É claro. — Beijei sua testa e abracei seus ombros.

Blue me fez deitar, e enquanto ela adormecia, eu ficava em alerta


pensando em meu irmão e em como as pessoas do nosso mundo poderiam ser
cruéis. Nós éramos, quem dirá eles.

Rocco retornou quase cinco horas depois. E ele trazia Hope.

— Eu vou falar com ela — avisei assim que eles a enfiaram em uma
sala no Village.

— Boa sorte. — Romeo acenou e eu abri a porta.

Hope estava no meio da sala, encolhida numa cadeira. A mesa a sua


frente prendia suas mãos em uma algema. Quem projetou a sala pensou em
uma sala de interrogatório da polícia. Ela servia para a mesma finalidade.

— Matteo. — Hope respirou fundo e seu lábio começou a tremer.

— Onde ele está? — questionei, me sentando.


— Eu não sei. Nós dormimos juntos há alguns dias, mas ele saiu sem
me dizer nada, como sempre — Hope falou e, em segundos, suas lágrimas

começaram a deslizar. — Estou tão preocupada quanto você...

— Nós estamos com a sua filha, Hope — avisei, soando malditamente


frio.

— Eu estou falando a verdade — ela gritou, então vi o desespero

refletir em seus olhos.

— Ele matou seu irmão — falei, entredentes. Hope desviou os olhos


dos meus. — Prince matou Cesar. Que porra você está fazendo ao foder com
o assassino do seu irmão?

Hope fechou os olhos e soluçou.

— Eu não sei! — Ela balançou a cabeça freneticamente. — Um dia


ele estava me encurralando numa festa, em outro eu já não conseguia ficar
longe dele. Você acha que eu queria me apaixonar por ele? — Hope gritou,

desesperada. — Eu me odeio por isso.

Fiquei em silêncio, tentando pensar em algo. Porém, a porta foi aberta


antes e Rocco entrou. Ele andou diretamente para trás de Hope. Ela ficou
rígida, o medo se espelhando por seu corpo.

— Eu não mexo com mulheres — Rocco sibilou perto do ouvido dela.


— Eu não mexo com crianças. Eu as envio para fora de Illinois e escrevo sua
sentença se ousarem entrar no meu território mais uma vez.

Rocco se curvou e tirou o cabelo loiro de Hope de cima do seu ombro.

— Mas eu vou matar você se sua boca não falar onde meu irmão está.
— Sua voz alcançou uma crueldade que eu nunca tinha visto. — Eu vou
pegar a sua filha e vou mandá-la para um lugar tão longe, que ninguém nunca
vai encontrá-la.

— Oh meu Deus...

— Eu sei que você armou isso. — Rocco jogou um celular sobre a


mesa.

Li as mensagens, sentindo meu peito bater com força.

“Ele está em Oklahoma.”

O endereço onde Prince estava seguia abaixo. Apertei o celular e


encarei Hope. Seus olhos estavam arregalados e a minha paciência tinha ido

para o espaço.

— Fale onde ele está — Rocco gritou e puxou o cabelo dela, fazendo-
a berrar.

— Eles o mataram.

Eles o mataram.

O ar sumiu do meu peito e eu arregalei os olhos, com tanto medo


como jamais o tive. Nunca na minha vida. Escutei meu coração batendo em

meus ouvidos e um som furioso ao fundo. Tentei respirar, mas era uma luta

injusta.

— Mentira. — Rocco empurrou o rosto dela contra a mesa e apertou.


— Ele não morreu. Onde ele está? — Sua voz parecia diferente, ele estava
apavorado e tentando não deixar aparente.

— Ele está morto, como meu Cesar. Eles o enterraram em Oklahoma


— Hope gritou enquanto o sangue escorria da sua testa e pingava na mesa. —
Eu não queria. Eles me obrigaram...

Rocco a soltou e deu passos para trás. Hope continuou falando


mentiras, enquanto eu queria sacar minha arma e matá-la. Queria rasgar sua
garganta e enforcá-la.

— Põe o endereço. — Tirei uma caneta do bolso e a coloquei com um


papel diante dela. Hope não se mexeu, então finquei a caneta na palma da sua

mão, tremendo e rezando. Implorando para que essa puta estivesse errada.

Prince estava vivo.

Ele tinha que estar.

Hope gritou e a porta foi aberta. Romeo deslizou para dentro e olhou
para Rocco e depois para mim e Hope. Ele se aproximou e empurrou a caneta
ainda cravada na mão dela.
— Escreva o endereço antes que eu arranque seus olhos, sua puta do
caralho!

Hope gritou enquanto tentava tirar a caneta. Eu fiz isso enquanto


Romeo ia até Rocco. Hope escreveu o endereço e se curvou, soluçando.

— Eu espero que você tenha se despedido da sua filha — falei


entredentes.

Travis entrou quando chamei e a tirou da minha frente.

— Eles o mataram. — Rocco socou a parede diversas vezes e seus


punhos se abriram. O sangue pingava no chão, eu podia ouvir as gotas se
chocarem contra o concreto. — Eles mataram o Prince.

Rocco se curvou e olhou para o chão, completamente derrotado.


Nunca o vi assim.

— Não acredito... — Romeo disse, com firmeza.

— Ela disse que o fizeram. Ela mentiria por quê? — Rocco o encarou.

Hope não mentiria. Ela seria morta por uma mentira? Nem fodendo.

— Vamos até lá. Vou desenterrá-lo — falei, tentando encontrar minha


voz.

Meus irmãos acenaram e nós saímos da sala. Me surpreendi ao ver


Lake parada no corredor. Ela estava abraçando a si mesma, de olhos
fechados.

— Lake — chamei com cuidado.

Ela ergueu o rosto e piscou enquanto olhava entre nós.

— O que ela disse? — Ansiedade gotejava de sua voz.

— Ela não disse nada — Romeo resmungou rapidamente e Lake me

olhou. Algo em mim a fez se encolher.

— Você mente. E eu odeio a facilidade com que você as pronuncia.


— Ela encarou Romeo como se ele fosse insignificante. — Agora, me diga.
Onde ele está?

— Ele continua em Oklahoma — eu falei, engolindo em seco.

— Eles o mataram, Lake. — Rocco deixou a verdade flutuar entre


nós.

Lake ficou sem reação no primeiro momento. Suas pernas

amoleceram e ela caiu para frente, desabando sobre seus joelhos. Sua boca se
abriu, mas ela não pronunciou nada.

— Prince está morto, Lake — Romeo confirmou, apertando os


punhos.

— Não está, não. — Ela balançou a cabeça e ergueu o queixo. — Ele


está vivo e eu vou encontrá-lo. Eu!
— Lake.

— Calem a boca. — Ela se ergueu e respirou com dificuldade. —

Prince é meu elo e se ele estivesse morto, eu saberia. Eu saberia, porque nós
temos uma ligação que nenhum de vocês experimentou na vida. Então, parem
de falar merda. Ele está vivo. — Lake respirou fundo e pegou a arma que
estava no cós de Travis.

— Lake! — Rocco gritou quando ela ergueu a arma.

— Onde ela está? — Sua pergunta soou rápida. Ela andou enquanto
saíamos do seu caminho. Ela parou na porta onde Travis havia colocado
Hope e chutou.

Nós a seguimos e eu me perguntei quem era essa garota e onde estava


minha irmã de dezesseis anos.

— Você brincou demais, Hope. Você sabe disso. — Lake se


aproximou da mulher sentada em uma cama e segurou o cabelo dela. — Eu

disse a você. Se afaste. Quem diabos você acha que é? — Lake se curvou e
ficou com o rosto rente ao de Hope. — Onde ele está?

— Ele está morto.

O som da trava da arma deixou Rocco rígido e eu quase dei um passo


em sua direção, mas não o fiz.

— Nunca achei que mataria alguém na minha vida, mas para tudo tem
uma primeira vez. — As palavras de Lake antecederam o tiro ensurdecedor.

Eu vi o corpo de Hope cair para trás, com um buraco em sua testa e os

olhos arregalados de medo.

O silêncio era excruciante. O corpo de Lake tremia levemente, então


me aproximei e coloquei minhas mãos em seus ombros. Abracei seu corpo
pequeno e a ouvi soluçar. A arma caiu no chão e suas mãos foram para o seu

rosto enquanto chorava.

— Ele não pode estar morto. — Ela choramingou e se virou para me


abraçar. — Traga-o para mim. Por favor, Matt. Por favor.

Eu queria. Eu daria minha vida para isso.


Matteo voltou para casa com Lake, Rocco e Romeo. Todos pareciam
doentes, mas Lake... ela parecia a um passo de sucumbir. Eu me ergui do sofá
e me aproximei de Matteo, tocando seu peito.

— Ei... — Beijei seu pescoço.

Ele respirou em meus cabelos enquanto me abraçava.

— Acharam? — Sienna se ergueu segurando Rhett, enquanto Amo


estava dormindo.

Rocco se aproximou e pegou Rhett. Enquanto segurava o filho, ele


tocou o rosto de Sienna. Ele parecia lutar contra ele mesmo durante os
próximos segundos. Suspirei quando ele começou a falar.

— Enquanto conversávamos, acabamos por perceber que talvez


Prince não tenha sido levado pela Cosa Nostra, e sim pelos Zenduryc.

— Então ele está bem? — perguntei, ansiosa.

— Prince estava saindo com a irmã do homem que matou há meses.


Ela se chama Hope...

— Ele o quê? — Lunna gritou, arregalando os olhos.

— Encontramos ela. — Rocco engoliu em seco. — Hope disse que o


mataram.

Suas palavras me acertaram. Meu peito se contraiu e eu senti lágrimas


encherem meus olhos. Matteo me segurou com firmeza enquanto eu queria
me curvar e chorar. Não vi o rosto de Sienna, mas seu grito doloroso me fez
fungar.

— Não, não. — Ela choramingou enquanto Lunna segurava Remy


nos braços e Romeo a abraçava. — Ele está bem. Ela mentiu...

— Ela mentiu. Eles devem estar com ele...

Sienna acenou contra Rocco, tentando ficar forte. Matteo me puxou


para o sofá e eu me sentei, enquanto lágrimas embaçavam a minha visão.

— Ele morreu? — perguntei, tremendo ainda mais.

— Eu espero que não, Flame. — Matteo limpou meu rosto e eu parei,


prestando atenção nele. Seu olhar era aflito, seu coração estava despedaçado.
Prince era seu irmão. Seu melhor amigo.

— Eu sinto muito — murmurei, abraçando-o com tanta força que

meus braços doeram.

Todos se espalharam pela mansão depois de alguns minutos, envoltos


no próprio sofrimento. Andei até a janela do quarto e vi Matteo com seus
irmãos próximos aos carros.

Peguei meu celular e olhei para as mensagens acumuladas. A de


Raina foi a que mais me chamou atenção. Em alguns dias, Travis iria se
casar.

“Você está bem?”

“Sim e você?”

Esperei por sua resposta e ela logo apareceu.

“Bem. Travis disse que Prince sumiu. Sinto muito, querida.”

Eu também sentia. Se fosse apenas o sumiço não estaria doendo tanto,


mas a possibilidade de ele estar morto estava acabando comigo.

“Vocês precisam de algo?”

“Não, Ray. Obrigada.”

Ela me enviou beijos e eu guardei o celular.

Me virei ao ouvir minha porta abrir e suspirei quando vi Lake parada.


— Entre, querida — pedi, me aproximando.

— Não quero incomodar. — Lake empurrou uma mecha do fio negro

para trás da orelha e deu passo, deitando-se na cama e se aconchegando nos


travesseiros. Me sentei ao seu lado e tirei seu cabelo do rosto. — Eu odeio o
que estou sentindo.

— O que está sentindo? — perguntei, segurando sua mão.

— Solidão. — Lake engoliu em seco e suas lágrimas brilharam. —


Lunna tem Remy e Romeo. Sienna tem Rocco e os gêmeos. Você, Matteo. —
Ela mordeu o lábio e suspirou. — Eu tinha Prince. E agora, não o tenho mais.

— Você não está sozinha. Sua família ama você e todos estão
sentindo muito a dor por Prince. Nós o queremos em casa...

— Ele está morto. — Lake soluçou e eu me curvei, abraçando-a. —


Tiraram o Prince de mim.

— Não sabemos, e se não vir o corpo dele... não vou afirmar isso —
respondi, com firmeza.

Ela me encarou, esperançosa.

— Estou com medo. — Sua voz falhou e eu limpei suas bochechas.


— Tenho medo de acreditar que ele está vivo e ele não está.

— Mas precisamos — afirmei com o coração dolorido. — Essa é a


única maneira de nos agarrarmos a ele.
— Meus irmãos estão me olhando diferente... acho que os perdi
também. — Ela se sentou, abraçando as pernas. Inclinei a cabeça, confusa. —

Matei Hope, Blue.

Meus olhos se arregalaram e ela desviou os olhos dos meus, vergonha


refletindo em suas feições.

— Eu não tive medo. Eu apenas atirei. — Lake fungou, com os olhos

presos à janela. — Ela é mãe. Há uma garotinha que só tinha ela na vida e eu
a tirei dela.

— Lake...

— Eu sou tão má quanto meus irmãos. Sou a escuridão tanto quanto


eles. Está em nosso sangue... Ser um Trevisan é como nascer dentro da
escuridão, no lugar de sangue temos rastros escuros e uma maldade
impregnada em nossas almas.

— Eu sei que sua família é complexa, mas, querida, você foi movida

pelas emoções e pior, pela sua criação. — Segurei sua bochecha e beijei sua
testa. — Não direi para não se sentir culpada, porque, Lake, a culpa nos torna
humanos. Quando você não a sentir é realmente um problema.

— O pior é que eu faria de novo, e se Prince estiver morto, eu pediria


para voltar no tempo e a torturar antes da morte. — Lake arrumou a postura e
me encarou. O mesmo vazio que havia nos olhos dos irmãos Trevisan, agora
estava refletido nas íris da irmã mais nova.

Lake tinha vestígios da menina bondosa que eu sabia que ela era,

porém, cada vez mais a face da menina dava lugar a uma mulher que seria
impiedosa.

Encontrei Sienna e Lunna na cozinha. Ambas estavam com a babá


eletrônica dos meninos nas mãos. Eu me sentei e suspirei. O rosto delas
estava inchado e os olhos vermelhos.

— Lake está dormindo no quarto do Matteo — avisei, suspirando.

— Eu estava tão envolvida com minha dor que esqueci da dela. —


Com o queixo tremendo, a esposa de Rocco fungou e apertou a mesa entre os
dedos. — Não acredito que estamos passando por isso. Primeiro Rocco
naquela bomba dos infernos e agora Prince...

— Romeo disse que eles estão a caminho de Oklahoma. Estou


rezando para não encontrarem nada. Odeio dizer isso, mas eu prefiro que ele
esteja sendo mantido preso do que morto. Não posso imaginar o Prince
morto, não consigo — Lunna falou, com os olhos presos nas mãos.

— Eu também, por mais que eu sabia que ele estaria sofrendo. Prince
é forte, ele aguentaria. É egoísta, mas, foda-se, estou cansada de perder quem
amo. — Sienna soluçou e eu segurei sua mão.

— Queria ficar com Hope algumas horas para ensinar algumas lições

a ela. — Lunna suspirou.

Fiquei em silêncio ao perceber que ambas ainda não sabiam que Lake
havia matado Hope.

Um choro suave encheu o ambiente e Sienna se ergueu.

— Amo acordou. Vou lá.

Ela sumiu pela porta e Lunna me encarou, triste.

— Sienna é como uma mãe cuidando dos seus filhotes. No caso,


Matteo, Prince e Lake. — Lunna suspirou e passou a mão pelo cabelo. —
Espero que Prince esteja bem.

— Eu também.

Nós fomos para nossos quartos e eu parei no corredor ao sentir meu

celular começar a tocar. Sorri ao ver o nome de C.K.

— Ei — murmurei, andando em direção à sala de jogos que havia no


andar de Matteo.

— Nós conseguimos. — Seu grito entusiasmado me fez arregalar os


olhos. — Conseguimos um bebê. Eu nem acredito, Blue. Parece um sonho.
— Seu soluço me fez sorrir.
— Você e papai merecem. Quando vou poder conhecê-lo? —
questionei, andando pela sala. Me aproximei da janela e suspirei ao ver um

jardim que eu ainda não conhecia.

— Logo. A assistente me enviou fotos. Vou mandar para você. — Ela


suspirou na linha e eu acenei, porém, lembrei-me que precisava falar. Abri a
boca, mas a fechei quando vi cabelos pretos voando no jardim.

— Estou ansiosa — falei, franzindo as sobrancelhas.

Lake andou até ficar parada, e quando entendi que ela estava apenas
passeando, Giulio apareceu. Ele ficou longe dela, mas eu podia sentir o olhar
dele sobre ela. E esse olhar...

— Você precisa vir no dia, o.k.? Traga Matteo. Quero conhecê-lo


direito — C.K. falou, então me recordei que ainda estava em ligação.

— É claro.

Vi Lake se jogar nos braços de Giulio, então levei a mão à boca,


surpresa. Nunca imaginei que eles eram próximos. Inquieta, me afastei da
janela e me despedi da minha madrasta.

Matteo me ligou quando chegaram a Oklahoma. Porém, ainda não


estavam no lugar exato que Hope passou para eles. Eu estava nervosa e
ansiosa. Queria que ele dissesse que Prince não estava lá.

— Você precisa ficar calmo, o.k.? — pedi, rolando na cama. Já eram

duas da madrugada, mas Nina não estava me deixando dormir.

— Estou calmo, Flame. — Matteo respirou fundo e eu ouvi o barulho


do vento. — Duas horas de carro e nós chegaremos.

— Queria estar com você — falei, sem fôlego.

— Eu não. — Ele rebateu e eu ofeguei, insultada. — Não quero que


me veja assim. Perdido. Eu sou o seu noivo, pai da nossa filha, vou proteger
vocês para sempre. Não quero que me veja quando estou fraco.

— Eu amo todas as suas partes, Matteo. A frágil, a perdida, a insana...


todas. E quero que ame as minhas também. Então, não diga isso.

— Eu sei, Flame. Eu só... — Matteo parou de falar e respirou fundo.


— Estarei de volta em breve e levarei Prince comigo.

— Estarei esperando vocês.

— Eu sei, Flame.

Ele desligou e eu suspirei, apertando o celular contra meu peito.

Tentei ficar acordada e esperar por seu chamado, mas acabei


adormecendo.
— Bom dia! — resmunguei, descendo a escada com o celular na mão.

Parei na sala ao ouvir vozes. Procurei Matteo, sentindo meu coração


dar um salto, bailando como se ele fosse a pessoa mais importante do mundo.

Era exatamente isso que ele era.

— Ei... — Dei um passo na direção da sala, mas antes vi Romeo perto


da janela, parecendo focado em algo. Rocco não estava tão longe. — Hum,
onde está Matteo? — questionei, nervosa.

— No lago — Rocco respondeu sem me olhar, então me virei e corri


para fora.

Abri a porta e vi meu noivo no cais, sentado de frente para o lago. Me


aproximei e toquei seu ombro ao me sentar.

— Ele não estava lá. — Matteo respirou fundo e eu senti seu corpo
tremer. — Havia uma cova, mas ele não estava lá.

— Ele pode ter fugido... — Abracei-o.

— Mas ele deveria estar aqui. Se isso aconteceu, ele já deveria estar
aqui! — ele rebateu depressa e eu acenei, compreendendo.

— Eu sinto muito, amor — falei, sem conseguir pensar em mais nada.


Ele me abraçou e Nina empurrou sua mão, parecendo saber que o pai
dela precisava de carinho. Ela continuou e Matteo sorriu, se curvando e

beijando meu ventre coberto por uma camisa sua.

— Você o amaria, Nina. — Sua voz sussurrou para nossa filha, senti
lágrimas encherem meus olhos.

Queria Prince, precisava dele.

Porém, a cada hora e dia sem notícias, as pessoas já não viam mais
esperança. Nem mesmo a família Trevisan.

— Você está linda — mamãe murmurou para mim assim que cheguei
à clínica.

— Obrigada, mãe. — Sorri, segurando sua mão. — Você está linda

também — falei, orgulhosa.

— Estou tentando. Me arrumar virou uma das coisas mais legais aqui.
— Carolyn sorriu, com os lábios tingidos de vermelho. — Você parece
preocupada. É algo com Nina? — Ela franziu as sobrancelhas, seu olhar indo
para minha barriga.

— Não. Ela está ótima — murmurei, acariciando minha filha. —


Papai e C.K. conseguiram adotar. Eles conheceram o bebê ontem — contei,
tentando tirar o foco de mim.

— Seu pai é um bom homem. Estou feliz que C.K. o ame — mamãe

afirmou com felicidade em seu rosto.

— Logo você sairá daqui e encontrará alguém que a ame.

— Na verdade... — Carolyn suspirou e sorriu. Suas bochechas

ficaram coradas e eu arregalei os olhos. — Estou conversando com outro


paciente. Nada aconteceu... ainda. — Carolyn engoliu em seco e mordeu o
lábio, rindo.

— Eu quero que seja feliz. Esse sempre foi o meu desejo — afirmei,
sorrindo e pegando suas mãos. — Eu amo você, mãe.

— Eu também te amo, Boo.

Ela me abraçou e meu coração ficou leve. Eu sempre a amaria. O


amor vai além dos erros e defeitos, ele consome e não se esvai. Podemos nos

retirar, fazer escolhas diferentes, mas nunca, jamais, esse sentimento acaba.
Encontrei Matteo encostado no carro fora da clínica e sorri ao me
aproximar dele. Suas mãos seguraram meus quadris e eu o abracei. Fazia
duas semanas desde o sumiço de Prince. Estávamos tentando pensar positivo,
mas o tempo não estava a favor de nenhuma notícia boa.

— Ela está bem? — Sua voz me alcançou e eu acenei em seu peito.

— Ótima. — Me afastei um pouco e encarei seus olhos. — Podemos


ir — falei.

Matteo sorriu e acenou para o carro.

— Vamos lá, Flame.

A gente entrou em seu carro pequeno e eu gemi.

— Você precisa trocar de carro — alertei, colocando o cinto. — Esse


carro não é seguro para Nina e é muito baixo. Não tem espaço para uma

cadeirinha...

— Tenho vários carros na nossa garagem. Você não os viu? —


Matteo pisou no acelerador, saindo do estacionamento da clínica.

— Presunçoso.

— Eu só respondi você.

Revirei os olhos e nós seguimos para casa. Quando chegamos a Oak


Park, Zyon ligou. Ele havia se recuperado há alguns dias e hoje tinha voltado
a trabalhar. Matteo disse que ele não sabia muito sobre o que aconteceu. Ele e
Prince haviam sido pegos em Oklahoma e eles o levaram até um lugar
deserto. Eles o machucaram, mas o deixaram para morrer sozinho. Então,
levaram Prince.

Zyon disse que nunca mais viu o irmão Trevisan.

Os Zenduryc haviam feito isso. Zyon confirmou.

— Preciso passar no Date — Matteo avisou, virando à direita na


avenida principal.

— O.k.

Assim que chegamos, Matteo me pediu para ficar no carro. Não


entendi o porquê.
— Por quê? — perguntei, semicerrando os olhos.

Matteo suspirou e olhou para a fachada da boate. Eu segui seus olhos

e encontrei Charlie parada de braços cruzados. O que ela estava fazendo


aqui?

— Que merda...

Matteo grunhiu quando abri a porta do carro e andei em direção a ela.


Se ele achava que eu ficaria no carro enquanto conversava com ela, ele estava
errado.

— Oi, Charlie — murmurei, inclinando minha cabeça.

Os olhos dela focaram em minha mão e eu girei meu anel de noivado.

— Uau. Você conseguiu, hum? Engravidar para prender Matteo é


baixo até para você — ela sibilou venenosa.

Nós nunca realmente conversamos, mas eu sabia do seu envolvimento

com Matteo, eu via seus olhares. Tudo isso era o bastante. Charlie queria
Matteo.

Dei um passo em sua direção.

— Você não vai me fazer perder a compostura. Preciso me manter


calma. Você tem sorte, Charlie — falei devagar, enquanto Matteo me puxava
contra seu peito.
— Charlie, baixa a bola. O que você quer? E fale rápido — ele
mandou, encarando-a. Charlie sorriu, mordendo a boca. Essa puta realmente

estava fazendo isso? — Flame. — Matteo me apertou e eu percebi que estava


me movendo.

— Preciso de um emprego. Você pode me arrumar um aqui? — Ela


respirou fundo, sem me encarar.

Só por cima do meu cadáver.

— Não. Ouviu? Ene. A. O. Til. Nem fodendo — respondi por Matteo


tão rápido, que Charlie ficou rígida.

— Flame.

— Agora você é mandado por uma mulher? — Charlie riu e Matteo


ficou rígido. — Isso é sério?

Eu sabia que Matteo era um mafioso. Que mulheres eram submissas

aos seus homens dentro da Outfit. Desejei ser menos impulsiva, mas eu não
aceitaria Charlie trabalhando no mesmo lugar que Matteo.

— Somos um casal agora. Se a Blue não gosta de eu estar tão perto da


mulher que eu fodia antes, eu realmente não posso culpá-la — Matteo
respondeu firmemente. — Onde está Gideon?

Charlie ficou rígida com a menção do seu marido. Ela olhou para
longe e suspirou.
— Ele me deixou. Ele descobriu sobre nós e os outros. — Sua voz era
baixa, envergonhada. Meu Deus.

— Tenho certeza de que Andy precisa de novas garotas. — Matteo


indicou rápido.

— Não sou prostituta, Matteo. — Ela arregalou os olhos.

— Então, você veio pedir ajuda a pessoa errada. A Outfit lida com
prostituição, drogas e assassinatos. — Matteo passou por ela e me puxou para
dentro do Date.

Charlie ficou do lado de fora e, por um momento, me senti mal por


ela. Se ela queria um emprego, era porque precisava. Voltei para fora e a vi
no mesmo lugar.

— Eu posso ver com Andy para você só atender as mesas — falei,


engolindo em seco. Eu não gostava de Charlie perto de Matteo, mas não
odiava a menina.

— Sério? — Ela riu, revirando os olhos e cruzando os braços.

— Sim. Se quiser.

Charlie respirou fundo e acenou.

— Peço a ela para te ligar — falei, me virando e ouvindo sua resposta


baixa.
— O.k. Obrigada.

Encontrei Matteo parado. Seus braços me rodearam e ele beijou

minha testa. Me aconcheguei em seu peito e sufoquei com as palavras.


Queria dizer que o amava. Que amava o modo que ele me protegeu momento
atrás.

— Sua bondade cega é uma das coisas que mais amo em você. —

Suas palavras me fizeram erguer os olhos e ofegar. — O quê? Você não sabia
que eu a amava? — Matteo sorriu e a covinha que eu amava apareceu em sua
bochecha.

— É bom ouvir. — Respirei fundo e segurei seu rosto. — Eu te amo.


Amo que coloque Nina e eu em primeiro lugar em sua vida. Eu sempre vou
escolher você. Sempre.

Matteo encostou sua testa na minha e respirou. Eu me inclinei e beijei


seus lábios.

— Você é a coisa mais importante que tenho, Blue.

— Idem — respondi, sorrindo e beijando sua boca.

Uma tosse seca fez nos separarmos. Olhei para Zyon e me encolhi.
Seu rosto bonito havia sido marcado. Ele tinha um Z na bochecha esquerda.
Lágrimas encheram meus olhos.

— Ei, Blue. Não chore. Estou vivo.


Suas palavras me fizeram me mover. Toquei sua bochecha e o
abracei.

— Sinto muito — falei, tentando me recompor. Zyon não me tocou


em nenhum momento do abraço, por isso o soltei. — Desculpe.

— Não se desculpe. Eu só quero continuar vivo. — Ele piscou,


acenando na direção de Matteo.

Eu me virei e vi meu noivo tenso. O.k., esqueci que meu futuro


marido é ciumento.

— Nunca mais faça isso — Matteo falou assim que parei em sua
frente e Zyon se afastou. — Nunca.

— Tudo bem — respondi para acalmá-lo.

Eu sabia quais batalhas lutar, e brigar com o ciúme de Matteo era


tempo perdido. Eu nunca ganharia isso.

Nós passamos a semana em Oak Park, mas no domingo fomos a


Chicago. Matteo me guiou para a sala de jantar onde aconteceria o almoço,
mas franzi as sobrancelhas ao não ouvir nada.

— Aqui — ele chamou, saindo para o lago e eu o segui.


Meus olhos se arregalaram quando vi meu pai de pé. Meu peito
sacudiu ao ver C.K. com Nick, seu bebê, nos braços. Respirei fundo e senti

lágrimas encherem meus olhos ao ver mamãe. A família Trevisan estava


reunida, e o caminho até um altar me fez ofegar.

— Matteo... — chamei, segurando seu braço a ponto de dor. —


Prince...

— Quando ele voltar, ele vai entender. Não posso mais esperar para
ser seu marido, Flame. Nem um segundo.

Balancei a cabeça, me sentindo doente e culpada.

— Mas ele... todos vão pensar... — falei, gaguejando, mas Lake


apareceu ao meu lado.

— Ele vai entender. Vamos. Eu preciso deixar você pronta.

Eu tentei negar mais uma vez, mas logo C.K., Sienna, mamãe, Raina

e Lunna se aproximaram também. Todas elas me levaram para o quarto de


Matteo, onde havia um vestido. Ergui-o da cama e meus olhos já com
lágrimas se encheram mais.

— Como ele sabia que eu queria me casar ao ar livre? — questionei,


passando a mão pelo tecido leve e caído. As alças eram finas e o decote era
exposto. Havia uma fenda por baixo da renda. Sorri quando vi pequenas
flores pregadas ao tecido.
— Você sempre dizia isso. — C.K. deu de ombros, como se não fosse
nada de mais.

Era verdade.

Elas se dividiram em me arrumar e eu suspirei enquanto Sienna


esfumava uma sombra clara em meus olhos. O batom era em tom nude e ela
passou gloss em cima. Quando parei em frente ao espelho, mamãe tocou

meus ombros.

— Nunca imaginei que a veria se casar. — Seus olhos se encheram de


lágrimas, então toquei suas mãos. — Você está linda, Boo.

— Obrigada, mamãe. Eu amo você.

Ela me abraçou e puxou C.K. Sorri ao ser mimada pelas duas mães
que a vida havia me dado.

— O.k. O.k. Vamos lá! — Lunna pediu enquanto Raina me ajudava a

segurar a barra do vestido.

Quando cheguei à cozinha, papai segurou minhas bochechas e sorriu.

— Você é a noiva mais linda que já vi.

— Não exagere. — Ri, tocando meus cabelos que estavam ondulados.


Sienna havia colocado uma tiara linda e delicada, enquanto Lunna prendia
alguns fios para deixar meu rosto livre.
— Eu amo você, Boo. Espero que aquele Patrick faça você feliz.

Eu quase ri do sobrenome idiota que Matteo disse ao meu pai, porém

me contive.

— Ele me faz plenamente feliz. Eu juro.

Papai sorriu e beijou minha testa.

— Então, vamos lá.

Eu estava nervoso, não apenas porque estava me casando, mas por


compartilhar do sentimento confuso de Blue. Eu estava feliz por estar me
casando, mas triste por meu irmão não estar aqui.

— Relaxa. Sua mulher vai chegar aqui em um segundo. — Romeo

apertou meu ombro e eu suspirei, acenando. — Prince vai entender, Matteo.


Ele sabia que você não poderia manter as mãos longe dela.

Ele sabia. Ele entenderia.

Mas isso não tirou o peso da culpa.

— Ela está vindo! — Raina gritou ao se colocar em seu lugar de


madrinha perto de Lunna, C.K., Lake e Sienna.
Travis sorriu para ela e eu me senti bem por ter feito pelo menos uma
coisa boa. O casamento dele e Kiara foi adiado por Prince, porém, conversei

com Rocco e solicitei que ele escolhesse outro homem para Kiara Bonnucci.

Uma merda para Giulio. Ele foi o escolhido.

Meus pensamentos foram para longe de qualquer pessoa e focaram


apenas na minha Flame quando ela apareceu e a música soou. Seus cabelos

vermelhos estavam espalhados pelo seu colo e sua barriga estava visível pelo
vestido bonito que usava. Blue estava incrível.

— Cuide da minha filha, Matteo — Benjamin pediu, apertando minha


mão, mas eu não conseguia parar de olhar para minha Flame.

— Com a minha vida.

Flame sorriu parando ao meu lado e eu me inclinei para beijar sua


boca.

— Ei. — Ela riu ao se afastar.

— Pronta para se tornar uma Trevisan? — questionei, ansioso.

— Mais que pronta.


OITO MESES DEPOIS...

Eu odiava funerais.

Quando mamãe morreu, eu fiquei na cama tanto tempo quanto pude.


Prince foi me chamar e eu ainda nem tinha vestido o terno. Ele se aproximou
da cama e riu, olhando para fora da janela.

— Vamos. Precisamos nos despedir dela. — Sua voz era tão firme,
ninguém poderia dizer o quanto ele estava sofrendo. Prince sempre foi assim.
Camadas e camadas para encontrar seu verdadeiro sentimento.

Eu nunca pensei que um dia precisaria me despedir dele.

A mão suave de Blue descansou sobre a minha coluna e eu a olhei.


Seus olhos bonitos estavam cheios de lágrimas e raiados de sangue, como de
todas as mulheres Trevisan. Lunna estava ereta e de óculos como a princesa
da máfia que ela era. Sienna não estava tão diferente. Seu cabelo estava preso

e seu rosto era uma máscara de frieza.

Lake, surpreendendo a todos nós, estava calma e olhando para o


caixão vazio como se isso fosse totalmente errado.

— Hoje estamos nos despedimos de uma pessoa cuja passagem foi

ligeira. Jovem e cheio de vida, Prince Trevisan está saindo do plano terrestre
e se elevando...

Deus, que merda.

— Respire fundo — Blue pediu e eu o fiz.

Quando a cerimônia acabou, desceram o caixão vazio. Jogaram


punhos de terra e logo foi minha vez. Parecia tão idiota fazer isso quando eu
sabia que ele não estava ali.

Não havíamos encontrado seu corpo. As buscas foram infrutíferas, e


depois de oito meses Rocco decretou luto na Outfit e nós estávamos
sepultando a imagem do nosso irmão.

— Eu sei que você está vivo — sussurrei, jogando a areia e me


afastando para ficar ao lado da minha esposa. Ela me deu um sorriso triste e
eu quis pegar ela e nossa Nina e sumir. Correr para longe, porém, desisti no
segundo seguinte. Jamais faria isso.
Nunca deixaria meus irmãos.

Estava ansioso, não me sentia vingado totalmente pela suposta morte

de Prince.

Os Zenduryc, hoje, eram história. Nós matamos todos, nem mesmo


poupando mulheres. Todos foram aniquilados e eu queria matar mais
pessoas. Queria vê-los sangrar aos meus pés enquanto ainda me sentia vazio.

Quando as flores foram postas sobre a sepultura, eu me virei e guiei


Blue para o estacionamento do cemitério.

Eu não chorei. Não estremeci.

Porque eu sabia.

Prince estava vivo.

Blue cumprimentou as várias pessoas ao redor do salão que tinham


alugado para fazer uma recepção estúpida depois do funeral. Todos os nossos
soldados e associados estavam aqui. E isso queria dizer Dario Bellini.

— Sua esposa é linda. — O pai de Ella parou a nossa frente.

Blue segurou meu braço com mais força.

— Sim, ela é — respondi, virando meu copo de uísque. Olhei para


sua filha ao lado e acenei. — Ella.

— Sentimos muito, Matteo. — Antonella fungou.

— Nós também. — Bonnucci se aproximou, trazendo Kiara ao seu


lado. O casamento dela e Giulio ainda não havia acontecido. Seu pai estava
tentando fazer Rocco mudar de ideia. Nem fodendo.

— Obrigado. — Me afastei, puxando Blue.

Assim que saímos para o jardim, Blue se afastou devagar e cruzou os


braços. Seu cabelo vermelho estava preso em um coque baixo e seu vestido
era longo e preto. Ela estava linda, como diabos ela conseguia era a questão.

— Por que precisamos fazer sala para todos em funerais? Eu não


entendo. Estamos magoados, tristes e ainda precisamos sorrir e agradecer aos
outros? — Blue se virou e seu lábio tremeu. — Quero ir para a casa, pegar
nossa Nina e chorar até adormecer.

Eu também queria.

Nossa Nina chegou numa tarde de outono enquanto eu estava em uma


missão e Blue estava em Chicago, com Sienna, Lake e Lunna. Levei meia
hora para voltar, e foi esse o tempo que levou para Nina vir ao mundo. Assim
que entrei na sala, me aproximei da minha Flame e segurei sua mão. Blue
gritou e nossa menina nasceu, chorando a plenos pulmões.

— Então, vamos para casa.


— O quê? Matteo! — Blue resmungou enquanto eu a levava em
direção ao nosso carro. Havíamos comprado uma casa enorme em Oak Park,

mas ficávamos mais em Chicago. Todos os dias eu ia e voltava de uma


cidade para a outra. — Matteo, seus irmãos...

— Vão entender — falei com firmeza e abri a porta do carro. Blue


olhou para o salão de festas e suspirou, dividida. — Nina deve estar sentindo

sua falta...

Isso foi o suficiente para ela se sentar no banco. Fechei a porta e corri
para o meu lado.

A viagem até a mansão foi rápida, e quando chegamos Raina estava


na sala com Nina, Remy, Amo e Rhett. Ela sorriu assim que nos viu.
Observei os meninos assistindo a algo na tevê enquanto Nina dormia no colo
da amiga de Blue.

— O que você usou? — perguntei a Ray, semicerrando os olhos.

— O quê?

— No feitiço. Eles não ficam quietos — respondi rapidamente


enquanto Blue pegava nossa menina.

— Riri e Madeleine querem me matar por eu ter colocados os


meninos para assistirem tevê — Raina falou enquanto as duas babás estavam
de cara feia, sentadas mais afastadas.
Peguei Nina dos braços da Flame e andei até a escada.

— Oi, Principessa — murmurei devagar e cheirei seu cabelo

vermelho. Seus olhos azuis se abriram e eu me senti agarrado. Nina tinha esse
poder, ela me pegava apenas me olhando. Eu nunca podia negar nada.

Entrei em nosso quarto e a coloquei na cama. Blue fechou a porta


segundos depois e se juntou a nós. Seu rosto estava tenso.

— Você acha que vamos ficar bem? Todos nós?

Levei um tempo pensando em sua pergunta.

— Não — respondi, tocando as bochechas de Nina. Ela pegou meu


dedo e o apertou — Mas vamos fingir que sim.

E foda-se, nós fingiríamos bem.

Flame tocou meu braço e eu olhei em seus olhos bonitos.

— Eu amo você e sempre estarei ao seu lado.

— Eu sei — falei com firmeza. — E eu nunca a deixaria ir.

Isso era a porra de uma promessa.

Nina choramingou e Blue se sentou, pegando-a. Ela tirou o vestido e


enfiou o mamilo rosa nos lábios da nossa filha, Nina sugou imediatamente.
Eu me ergui, tirando meu blazer e jogando na poltrona. Tirei as armas do
coldre e as enfiei na gaveta. Desde que Nina nasceu, eu as mantinha longe e
fora de vista. Não sabia o motivo, apenas parecia o certo.

— Parece que foi ontem que ele sumiu — Blue murmurou.

Eu me virei e a vi segurando o dedo pequeno da nossa menina.

— Eu sinto o mesmo. — Suspirei, passando a mão pela cabeça.

Ainda podia vê-lo procurando minhas fotos dentro daquela caixa para

que Blue a visse. Mas fazia oito meses e alguns dias.

Onde ele estava? Eu não sabia, mas daria minha vida para saber.

Voltei para a cama e Blue colocou nossa filha entre nós. No dia que
Nina nasceu foi a primeira vez na minha vida que eu me senti inteiro. Blue
me fez ser forte, mas Nina me fez ser invencível.

— Sua mãe está bem? — questionei, para conversarmos sobre outra


coisa.

— Santiago a levou para Nova York. Ela me enviou várias fotos.

Deixe-me te mostrar...

E ela mostrou. Cada foto onde sua mãe recuperada estava sorrindo,
com o namorado que havia conhecido na clínica de reabilitação. Blue estava
feliz por ela e, automaticamente, eu também. Seu pai ainda não gostava muito
de mim e isso não mudaria, nunca, mas tínhamos um relacionamento onde
ignorávamos um ao outro.
— Ela está bem. — Blue sorriu e me olhou. — Obrigada por levá-la
de volta à clínica aquele dia. Nunca pedi, mas você me fez amá-lo mais um

pouco ao tomar essa decisão. — Sua mão tocou minha bochecha.

Eu apenas encarei seu rosto, cada centímetro dele.

— Fiz por você, Flame. Não houve bondade, pena ou algo benéfico.
Foi por saber que ela fora de lá acabaria com você.

— Não importa, você fez. Isso sempre significará o mundo para mim.
— Blue empinou seu pequeno nariz e eu sorri. Porém, meu sorriso sumiu
quando me lembrei da outra vez em que ela precisou de mim.

— Não me agradeça, Flame. Eu não a ajudei na primeira vez. Magoei


você. Deixei sua mãe nas mãos de Rocco, nem sequer tentei ajudar —
lembrei-a, sentindo um gosto amargo na boca. Ainda me odiava por isso.

— Eu sei, mas ela está bem. — Blue me olhou e suspirou. — Ainda


dói me lembrar disso, Matteo, mas precisamos deixar ir.

Eu sabia que sim.

Nossa conversa pausou quando meu celular começou a tocar. Me


ergui e suspirei ao ver o nome de Zyon.

— Matteo.

— Cara, vem para o Village. — Sua voz pausada me deu um nó no


estômago. Caminhei até as roupas que eu havia descartado minutos atrás.
— É ele?

Meu coração parou por meio segundo, esperando por sua resposta.

Imaginei Prince chegando ao Village machucado, corri pegando minhas


armas e enfiando-as no coldre. Flame se sentou, preocupação moldando suas
feições.

— Venha, Matteo. Rápido.

Zyon desligou e eu encarei Blue.

— Preciso sair. Volto em breve — falei, indo até o closet e pegando


uma camiseta preta. Tirei a calça do terno e vesti uma jeans. Quando saí,
Blue estava de pé e Nina na cama, dormindo.

— O que houve? — Seu rosto esperançoso foi como uma luva


envolvendo meu peito. Eu não podia sequer imaginar falar que era Prince,
porque se não fosse, eu estaria deixando-a pior.

— Não sei. Zyon me mandou ir.

Me aproximei e segurei seu rosto com ambas as mãos. Blue piscou e


me encarou, o medo visível em suas íris.

— Cuide da nossa Nina, não vou demorar. — Me inclinei e beijei sua


testa.

— Cuidarei dela, eu juro. Vou esperar por você.


Blue se ergueu nas pontas dos pés e beijou minha boca. Segurei seus
quadris e a puxei contra mim. Flame suspirou e apoiou a cabeça em meu

peito enquanto suas mãos seguravam meus braços.

— Amo você. Volte para mim.

Rocco deslizou na minha frente pela entrada do Village e Romeo


parou atrás de mim quando vimos Zyon parado. As prostitutas estavam nos
seus apartamentos lá em cima e o lugar estava deserto, menos ele.

— Eu não sei qual a lombra dele... — Zyon falou e deu um passo para
o lado, mostrando Prince.

Eu dei um passo em sua direção, mas o olhar de Zyon me parou.

— Prince? — Rocco se aproximou rapidamente e segurou os ombros

dele enquanto eu e Romeo pensávamos.

— Eu não sou esse cara — Prince falou com firmeza. Franzi minhas
sobrancelhas, confuso. — Eu não sou esse cara. Onde minha mãe está? — O
cara era tão parecido com Prince, que me assustou e me deixou enjoado.

— Podem ter dado alguma merda a ele — Rocco falou, se afastando e


passando a mão pelo cabelo. O que deram a ele?
— Ele perderia a memória? — questionei, fazendo meus irmãos
ficarem rígidos.

— Qual o nome da sua mãe? — Romeo passou por mim e parou


diante dele.

Ele tinha os olhos de Prince, o cabelo... tudo.

— Andy.

No mesmo instante, Andy apareceu correndo pelo corredor. Seu rosto


estava em pânico. A mulher de cabelo escuro e olhos azuis deslizou até onde
o homem estava enquanto eu sentia alguém apertar minha garganta.

— Sr. Trevisan — ela balbuciou, se colocando na frente do homem e


o empurrando sutilmente para trás.

— Quem diabos é esse cara? — Rocco gritou, fúria nadando em seu


corpo. — E fale rápido. Por que ele é a cara do meu irmão? — Seu berro saiu

ao mesmo tempo que ele pegou a arma.

Andy gritou, levando as mãos à boca enquanto seu filho arregalava os


olhos.

— Ele é meu Roman. Meu filho.

— Por que ele é a cara do Prince? — Me aproximei, tremendo.

Porra, não era o meu irmão. Não era o Prince. Quem diabos era esse
cara?

— Eles...

— Eles o quê, Santo Inferno? — Rocco ergueu a arma e colou na


testa dela. — Fale a porra da verdade antes que eu faça um buraco em sua
cabeça.

— Eles são irmãos.

O silêncio que se seguiu parecia catastrófico.

Uma agulha poderia cair e nós ouviríamos cada batida fina do


alumínio no chão.

Eu não me mexi e muito menos os meus irmãos. Todo mundo estava


chocado demais para entender o que diabos isso queria dizer.

E o mais importante, se Roman não era Prince...

Onde meu irmão estava?

FIM!
LEALDADE DISTORCIDA

Seu rosto duro me fez engolir em seco e estremecer. Não eram todos
os homens que me faziam tremer. Na verdade, o único deles era meu pai. Eu
o amava muito, mas ele sabia ser um carrasco quando queria. Agora, esse

homem diante de mim... Deus, parecia que ele havia saído do inferno e estava
em chamas.

— Você gosta dela. — Consegui falar mesmo sentindo medo em cada


célula do meu corpo. Eu não o conhecia bem e não sabia do que ele era
capaz.

Eu nunca o havia visto nas festas da Outfit. E o motivo disso era claro
— ele não era bem-vindo.

Giulio Conti era um soldado letal, mas não confiável.

— O quê? — Ele virou a cabeça para mim enquanto apertava o


parapeito da janela, fazendo seus dedos ficarem brancos.

Seus olhos eram negros e eles me deixaram inquieta.

— Eu vi você conversando com ela no jardim. — Minha boca parecia


cheia de ácido quando falei. Odiei vê-los juntos, odiei mais ainda perceber
que isso me incomodou.

— Você está me seguindo? Me vigiando? — Suas perguntas saíram


raivosas.

Então me lembrei que ele havia ficado assim depois de brigar com um
dos seus amigos.

— Não. — Balancei a cabeça. — Eu saí para pegar um ar.

— Não nos casamos porque eu quis. Não me obrigue a lembrá-la


disso — ele falou entredentes.

Desviei meus olhos dos seus. Eu sabia que ele não queria se casar
comigo. Travis era meu noivo, meu futuro marido, mas ele se apaixonou por
outra mulher. Eu o compreendia, e quando ele me disse isso eu quis cancelar
o casamento. Como eu poderia? Uma noiva dizer que não quer se casar é
considerado uma bobagem dentro da máfia.
— Você deveria ter pedido ela em casamento — afirmei, apertando o
lençol entre meus dedos.

— Você está de sacanagem? — Ele inclinou a cabeça, me olhando


profundamente. — Ela tem dezesseis anos.

— Então é pela idade dela? — questionei, sentindo meu ventre


revirar.

— Meu Deus, Kiara, você é enervante — Giulio grunhiu, andando


para mim. Ele parou a minha frente e segurou meu queixo entre os dedos em
um aperto. — Pare de fazer perguntas que fazem você se sentir mal. A
resposta pode ser pior.

Giulio me olhou nos olhos enquanto eu lutava com meus pulmões. Eu


toquei sua barriga e senti os músculos duros. Ele engoliu em seco, tremendo,
então abri o botão da sua calça e zíper. Quando achei que Giulio cederia, suas
mãos agarraram as minhas e ele se afastou.

— Lembre-se, Kiara — meu marido rosnou. — Você não deve ser


minha.

Giulio virou de costas e andou em direção ao banheiro, enquanto meu


coração batia duas vezes mais e minhas mãos suavam.

— Por quê? — perguntei, sem fôlego.

Giulio parou. Pensei que ele se negaria a falar, mas ele o fez.
— Porque quando eu voltar para a Itália, você vai se casar com a
pessoa a quem pertencerá para sempre.

Giulio bateu a porta do banheiro, me deixando em um mar de dúvidas


e com um medo horrível das suas palavras.
Blue me ensinou algumas coisas em Chama Distorcida que eu sem
perceber tirei de mim e coloquei nela. Eu não desisto de quem eu amo. Se ela
tem meu amor, ela o tem porque merece e, certamente, esse sentimento não
vai sumir de repente. Amo isso em Blue e estou feliz com o resultado dela.

Matteo e ela lutaram muito contra os sentimentos deles. Lutaram

porque sabiam que eram melhores separados do que juntos. E eu concordo,


mas quem pode culpar uma autora que adora finais felizes? E Nina? Ah, meu
Deus, prevejo muita dor de cabeça, hein kkk

Brincadeiras à parte, gostaria de agradecer a todos que tiram um


tempo do seu dia e leem meus livros, me apoiam e surtam comigo.

Giulio está vindo! E Prince (olha o spoiler do bem para vocês


dormirem tranquilas) logo após ��

Com gratidão,

Evilane Oliveira
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