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~1~

Bella Jewel
#2 Amore

Série Amore

Revisão Inicial: Sil

Revisão Final: Bia B.

Leitura Final: Nai

Data: 11/2016

Amore Copyright © 2016 Bella Jewel

~2~
SINOPSE

Fugir.

Ele me disse para fugir. Então eu fugi.

Só que, só porque você foge de alguma coisa, não significa que


essa coisa não pode te encontrar.

Ele está vindo para mim.

Ele quer o que eu tenho mais próximo.

Ele quer mentir, manipular e me usar.

Ele quer que eu o traia.

Rafael.

Líder da máfia italiana.

Amor da minha vida.

Pai do meu filho.

Ele vai me fazer fazer o impensável.

Não há saída.

Estou presa e prestes a cometer o maior erro da minha vida.

Eu estou correndo em direção a um acidente de trem, e não há


uma única coisa que eu posso fazer para detê-lo.

Eu vou me tornar o que eu mais temia.

Um monstro.

Mas regras foram feitas para ser quebradas... certo?

~3~
A SÉRIE

Série Amore – Bella Jewel

~4~
Prólogo
O suor frio escorre na minha testa. Minhas pernas estão acima
nos estribos. Mama está ao meu lado, segurando minha mão. As luzes
borram minha visão e minhas costas doem. Tudo em meu corpo parece
doer, estou cansada e desgastada. Estou exausta. Eu não posso parar.
Meus olhos desviam à minha esquerda. Mama está olhando para mim,
sua boca em uma linha apertada, seus olhos vermelhos. Ela está
cansada também.

— Continue, Julietta, — a parteira me diz, com as mãos em mim.

— Você vai ficar bem, — Mama me acalma, levantando a mão e


esfregando uma toalha fria sobre a minha testa úmida.

— Empurre! — Grita a famosa parteira de meia-idade.

Eu faço força para baixo e empurro. Uma dor diferente de tudo


que eu já senti em toda a minha vida, explode através do meu corpo,
apertando minha barriga como uma prensa. Isso dói. Isso machuca
muito. Provavelmente tanto quanto meu coração entorpecido e
quebrado. Eu suspiro, um pouco de saliva voa de minha boca. Meus
gritos ecoam pela sala, mas há apenas um pensamento em minha
mente.

Por favor.

— Empurre, — ela chora novamente.

Por favor.

Deus. Por favor.

— Temos uma cabeça.

Por favor.

— Mais um grande impulso.

Por favor.

~5~
O som de um grito de bebê enche a sala, forte e saudável.

— Parabéns, Julietta. Você teve...

Menina.

Menina.

Por favor.

— Menino.

Meu peito parece que vai explodir e as lágrimas correm pelo meu
rosto. Dor e medo diferente de tudo que eu já senti, se alojam no meu
coração.

Não. Não pode ser.

Um pequeno, pacote de cabelo escuro é colocado no meu peito e


eu olho para baixo, vendo as feições de Rafael. Todo ele. Todo italiano.
Eu o alcanço com os dedos trêmulos. Minha mãe está chorando ao meu
lado. Recentemente eu descobri que eu não sou quem eu pensava que
era, mas alguém com sangue muito mais poderoso. Com o pai deste
bebê sendo quem é, isso significa que eu vou passar os próximos
dezoito anos da minha vida fazendo tudo que posso para proteger este
pequeno bebê.

Porque eu acabo de dar à luz ao menino próximo na fila para


assumir a máfia italiana.

E eles virão até ele.

~6~
Capítulo um
— Não o deixe entrar aqui, — eu digo, minha voz sem emoção e
quebrada.

Meu filho dorme ao meu lado em um berço de plástico duro. Eu


posso ver através das laterais. Ele está envolvido em um cobertor azul
macio, cabelos escuros escapam para fora na parte de cima. Ele tem
muito cabelo. Um cabelo italiano muito grosso. Como o do seu pai. Seu
pai, que não sabe nada sobre ele. Seu pai, que roubou meu coração.
Seu pai, que eu tenho que conspirar contra, não só por um monstro,
mas por mim mesma.

Falando daquele monstro... Eu olho para a minha mãe. — Não,


mãe.

— Você sabe que não pode impedi-lo, — diz ela em voz baixa, com
os olhos tristes e torturados. Possivelmente mais do que os meus.

Afinal de contas, isso é culpa dela. Ela dormiu com o monstro de


pé do lado de fora e então eu nasci, foi aíque ela começou a mentir para
mim, por toda a minha vida. Agora ele está usando isso contra mim. Ele
está usando o erro dela contra mim. E ela está deixando isso acontecer.
Como se ela estivesse com muito medo de se defender dele. Como se ela
tentasse proteger sua filha, seu mundo fosse desabar.

E o meu mundo?

O mundo do meu filho?

— Eu preciso de mais um minuto com o meu filho, — eu digo,


com a minha voz gelada, — antes que ele venha até aqui e o use em seu
plano doentio.

— Ele não vai machucar o bebê. Ele pode ser um selvagem, mas...

— Não, — eu assobio.

— Julietta, por favor.

~7~
Raiva e mágoa brigam no meu peito e eu assobio, — Se você quer
fazer algo por mim, mamãe, você tem que levá-lo para bem longe e me
deixar proteger o meu filho por um maldito segundo a mais!

Ela balança a cabeça e seus olhos ficam vidrados. Eu sei que


estou sendo uma pessoa horrível, eu sei disso, mas nos últimos nove
meses a minha vida tem sido um pesadelo. Não só estou trabalhando
com este homem para destruir o pai do meu filho, mas eu estou vivendo
com as mentiras que me contaram por toda a minha vida. Se eu
soubesse naquela noite no clube, que dormir com Rafael Lencioni iria
estragar tudo, eu teria me virado e corrido na direção oposta.

Minha mãe sai e eu levanto da cama, dolorida pelo longo trabalho


de parto. Eu chego perto e pego meu filho pequeno do berço. Ele
reclama, se remexendo em seu cobertor. Eu o trago para o meu peito
onde ele se encaixa tão perfeitamente. É como se ele fosse feito para
estar lá, como se Deus o tivesse criado para mim, o ajustando ao meu
corpo como se fôssemos peças de quebra-cabeças, criando uma bela
imagem. É assim para todas as mães? Meus olhos queimam enquanto
eu olho para ele.

Perfeito.

Eu ainda não lhe dei um nome. Mama sugeriu muitos, todos eles
italianos, todos eles se encaixam em um líder. O próprio pensamento
faz meu peito se apertar. Meu bebê não merece isso. Talvez eu pudesse
fugir e protegê-lo para sempre, em algum lugar onde os monstros não
podem tocá-lo. No fundo, eu sei que nunca vai acontecer. Eles sempre
vão nos encontrar. Não tenho opções.

Estou presa.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto e pinga no rosto gordinho do


meu filho. Eu sei então como eu vou chamá-lo. Vem a mim como um
flash, correndo pela minha cabeça. Lembro-me de um menino que eu
conheci na escola que tinha esse nome, e aparentemente significa —
guerreiro forte, — o que meu filho terá de ser. Ele vai precisar ser um
guerreiro para passar pelo o que a vida vai jogar em seu caminho. Por
minha causa. Por causa do meu erro.

Eu acaricio seu cabelo. — Bem-vindo ao mundo, Ajax.

A melhor parte.

É originário da Grécia.

Vamos vê-los tremer de medo por causa disso.

~8~
~*~*~*~

— Você não vai chamar a criança de Ajax.

Riccardo anda para cima e para baixo ao longo da minha cama de


hospital, com os punhos cerrados. Não posso acreditar que Rafael
confie neste homem tão fortemente. Tantas vezes eu quis dizer a ele que
ele está sendo traído pelo homem que ele pensa que é leal, mas se eu
fizer isso, minha vida vai acabar, a vida de minha família vai acabar, e
meu filho vai ser deixado nas mãos de monstros. Eu amo Rafael, mas
eu amo o meu filho mais.

Eu olho para ele. — Você tem controlado cada parte da minha


vida por nove meses. Você não vai conseguir controlar isso.

— Ele é italiano!

— Você terminou?

Seus olhos fuzilam os meus. Eu me pareço com ele. Não era óbvio
à primeira vista, mas quanto mais eu olho para ele, mais eu me vejo.
Que peculiar é a ironia, não? Eu era amante do mafioso italiano mais
poderoso deste lado do estado e o homem era casado com a minha
irmã. Só que eu não sabia que ela era minha irmã.

Ao ver seu rosto em minha mente meu coração dispara.

É minha culpa que ela esteja morta. Minha.

— Tenha muito cuidado, Julietta, — Riccardo alerta, seus olhos


endurecem.

— Ou o quê? — Eu desafio.

Ele dá um passo para frente, descendo e enrolando a mão no meu


cabelo, puxando até eu choramingar. — Ou eu vou fazer você desejar
não ter nascido. Você quer proteger o seu filho? Eu vou te dar essa
proteção. Se você me desafiar, eu vou fazer o seu mundo desabar.

— Ele é seu neto, — Eu assobio.

Seu rosto permanece duro com pedra, inabalável. — Ele não é


nada mais do que um peão.

Eu recuo.

— Como você, — ele continua. — Agora, mude o nome.

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— Não, — eu digo desafiando-o. — Seu nome está escrito em
pedra. Eu não vou mudar.

Ele faz um som baixo, tipo um rosnado vindo de sua garganta. —


No segundo em que o registro do nascimento for processado, você vai
pedir um recurso para que o seu nome seja alterado.

— Não. Eu não vou.

Ele estala os dentes para mim e se vira, seus olhos se fixando em


Ajax que dorme no berço, seus pequenos punhos fechados com força
contra seu peito. Ele dá um pequeno sorriso feio.

— O filho de Rafael. Eu nunca pensei que veria o dia. Ele é igual


ele, você não acha?

A maneira como ele diz, faz a minha pele se arrepiar. — Eu vou


fazer o que você quiser, mas você não vai tocar no meu filho.

Ele ri e olha de volta para mim. — Nós tínhamos um acordo. Eu


irei honrá-lo.

Eu engulo.

Eu acredito nisso.

Exceto que eu confio este homem, tanto quanto confio em um


asteróide vindo em direção à Terra.

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Capítulo dois
— Quietinho meu bebezinho, — eu canto baixinho, acariciando a
cabeça do Ajax.

Ele resmunga e se vira no seu cobertor fofo. Eu o trago mais perto


do meu peito. Não importa o quão perto eu fique dele, é como se ele
nunca fosse realmente estar seguro. Eu desejo às vezes que eu pudesse
colocá-lo de volta dentro de mim, pelo menos lá ele estava protegido.

Uma batida suave na porta faz a minha cabeça virar, e Celia anda
cautelosamente através da janela até a porta. É minha primeira semana
de volta em Chicago. Ela está no processo de se mudar comigo para
facilitar as coisas, então por enquanto eu ainda estou sozinha.

Antes de Ajax nascer, eu fiquei longe. Foi assim que Riccardo


queria. Sem o risco de Rafael me ver. Eu só posso imaginar como isso
teria se desenrolado. Rafael não é o tipo de homem que pode se
despistar, e apenas deixar algo assim passar despercebido.

— Oi, — ela diz baixinho, os olhos caindo para o Ajax. — Puxa,


ele é adorável.

Eu acaricio o rosto do meu filho. — Sim, ele é.

— Como você está, querida?

Eu encontro seus olhos e mantenho enquanto ela entra e se senta


ao meu lado na cama. — Estou apavorada, Celia.

Ela é a única pessoa com quem eu posso ser verdadeira. A única


pessoa. Com o resto eu uso uma máscara, uma máscara impenetrável
que protege o meu coração e na sua maioria, a minha alma.

— Você não tem que fazer isso.

— Diga-me como, — eu digo, deslizando Ajax em seus braços


quando ela estende os braços para ele. Eu me sinto vazia sem ele, mas
eu confio nela, e ela o ama quase tanto quanto eu. Ele é o único

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conforto que tenho agora. A única coisa que faz minha vida miserável
parecer melhor.

— Eu não sei, mas tem que haver uma maneira.

— É da máfia que estamos falando. Eu posso fugir, mas não


haverá nenhum lugar do mundo que eu possa me esconder. Riccardo
vai me encontrar.

— Mate-o então.

Eu olho séria para ela. — Você acha que ele é o único metido
nisso? Ele provavelmente já se antecipou e tem um assassino pronto
para atirar em mim ou no meu filho se algo acontecer a ele. Essas
pessoas não jogam de acordo com as regras. Elas jogam sujo. Acredite
em mim quando eu digo que não há como escapar.

— Então você lida com Rafael e faz uma ruptura limpa. — Seus
olhos estão esperançosos, mas eu sei que a sua alma não. Ela sabe tão
bem quanto eu que não há nenhuma maneira de sair disto.

— Você realmente acha que ele vai me deixar sair dessa, uma vez
que ele tiver o que quer?

Ela encolhe os ombros. — Eu não sei, mas temos que ter um


pouco de fé.

Eu olho para o Ajax. — Ele é um Lencioni. Eventualmente, Rafael


irá descobrir.

O medo obscurece sua visão, o mesmo medo que eu sinto todo


dia. — Não necessariamente. E, no final, não importa, porque se
Riccardo conseguir o que quer, Rafael não será mais o chefe da máfia.

Meu coração bate forte em meu peito com esse pensamento, mas
eu não demonstro. Eu disfarço. Este homem não merece uma única
dose da minha simpatia. Se eu quebrar, se eu desistir, então eu vou
colocar o meu filho em risco e nada, absolutamente nada vale mais para
mim do que ele. Ainda assim, a ideia de algo acontecendo com Rafael
me dói. Irracionalmente assim.

— Eu vou fazer o que eu tiver que fazer e rezar para achar uma
maneira de sair disso, — eu digo, passando a mão pelo meu cabelo.

— O que exatamente ele quer de você?

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— Ele está convencido de que Rafael está apaixonado por mim.
Ele quer que eu volte para ele, e que eu consiga uma informação
privilegiada. Ele quer destruir Rafael.

— Por que ele não o mata? — Pergunta ela, acariciando o cabelo


de Ajax.

— Ele vai persegui-lo, sem dúvida. Ele está sendo cuidadoso. Ele
está se certificando de que ninguém desconfie, fazendo Rafael parecer
um líder de merda. Basicamente, ele está trabalhando para tirá-lo da
jogada e, em seguida, sem dúvida, ele será morto por uma fonte
externa.

— Deus, que porco.

— Sim. — Eu aceno. — Ele é o pior tipo. Ele realmente acha que


vai ganhar, e talvez ele ganhe. Eu não me importo, desde que o meu
filho esteja seguro.

Seu rosto se contorce de medo. — Você acha que ele virá atrás de
Ajax, porque por direito de sangue, ele é o próximo líder?

Eu balanço minha cabeça. — Ele sabe que eu não quero o meu


filho envolvido. Eu vou fazer de tudo para me certificar de que isso não
aconteça. Eu não acho que ele esteja preocupado. É uma coisa que eu
deixei muito claro.

Deus. Espero que ele não esteja preocupado. Eu não poderia


suportar ele fazer Ajax sofrer, por causa do medo ou do direito dele ser
o próximo líder. Essa é a última coisa que eu quero para o meu filho e
eu irei até os confins da terra para mantê-lo longe dele. Só posso
esperar e rezar para que Riccardo acredite em mim quando digo isso.

— Julietta. — o latido de Riccardo viaja pelo corredor do meu


pequeno apartamento de dois quartos. Eu endureço e Celia traz Ajax
mais perto de seu peito, virando-se e olhando para a porta. Riccardo
entra de repente, com o rosto vermelho, bufando com frustração. —
Estive ligando para você. Por que você não atendeu?

Eu endureço a minha voz. — Eu tive um bebê há uma semana.


Estou cansada. Meu telefone está desligado.

— Bem, ligue-o!— Seus olhos pressionam levemente Celia. Ele


não diz nada, mas o olhar que ele dá a ela é frio o suficiente para
congelar até mesmo a pessoa mais forte. — É hora de você fazer uma
aparição na vida de Rafael novamente.

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Minhas entranhas se contorcem.

Eu mantenho o meu rosto neutro. — Tudo bem.

Ele parece surpreso que eu não tenha discutido com ele ainda.
Ele claramente não me conhece muito bem. — Ele vai a um evento de
caridade em alguma tentativa patética de mostrar uma boa imagem. Eu
não posso levar você lá sem suspeita, mas eu sei exatamente a hora que
ele vai sair, e você só vai estar passado na hora certa.

Pouco convincente.

Talvez seus planos pouco convincentes o atormentem.

— Seja como for, Riccardo.

— Não ceda facilmente. Rafael é um homem inteligente, e ele vai


ficar desconfiado. Você irá se virar e correr para o outro lado se for
preciso, ou jogue alguma coisa nele. Qualquer coisa. Mas não ceda
muito facilmente.

Eu resmungo. — Eu estava pensando em me lançar em seus


braços na calçada e pedir-lhe para me aceitar de volta tateando sua
virilha.

Ele olha para mim. — Diminua o tom.

— Tanto faz. Você terminou?

— Eu vou enviar mais informações. Certifique-se de estar lá,


Julietta.

Seus olhos piscam para Ajax. A ameaça está lá, em silêncio para
que eu faça o que ele está pedindo.

Ele tem o controle e sabe disso.

~*~*~*~

— Não pareça muito desesperada, — Riccardo me agarra.

Eu me viro no banco, olhando para fora da janela do carro


enquanto nós vamos para o clube, onde irei ver Rafael novamente pela
primeira vez em nove meses. Eu estou tentando ignorar meu coração
batendo forte, mas o fato da questão é essa, e isso não vai parar. Meu

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corpo inteiro está em alerta máximo, meus nervos, vibrando. Como vou
lidar com ele? Será que vai ser fácil? Será que eu irei querê-lo? Será que
vou odiá-lo? Eu vou apenas congelar? Como vou lidar com o meu
coração longe de Ajax?

— Você está me ouvindo? — Late Riccardo.

Eu recuo e olho para ele. — Estou ouvindo. Não pareça muito


desesperada, mas não seja muito legal. Pareça surpresa. Fique puta.
Tanto faz. Eu não vou estragar tudo e você sabe disso.

Seus olhos piscam de felicidade. — Bom. Ligue-me depois que ele


se for embora e eu vou mandar um carro levá-la para casa. Ele está
programado para deixar o evento exatamente oito e meia, depois ele tem
uma reunião. Certifique-se de que você estará lá.

— Eu estarei lá.

Ele estaciona a três quarteirões do local e eu saio do carro.

— Não me decepcione, Julietta. Seu filho está em casa com a sua


mãe agora, e ambos sabemos que ela tem uma queda por mim.

Meu corpo enrijece, e eu me inclino na janela. — Eu não vou te


decepcionar, mas se você tocar no meu filho, eu vou me certificar de
que você sofra as consequências.

Ele sorri e fecha a janela automática, forçando-me a saltar para


trás para me conter.

O carro preto se afasta e eu sou deixada na calçada. Eu olho para


os meu jeans e minha blusa. Sexy, mas não muito óbvio. Apenas uma
roupa casual que vai fazer com que ele queira mais. Homens
repugnantemente espertos e seus planos. Eu corro a mão pelo meu
cabelo e meus dedos deslizam através dos cachos soltos. Droga. Eu não
sei se eu posso fazer isso.

Dois grandes olhos castanhos brilham na minha mente, e eu sei


que não tenho escolha.

Ajax. Isto é por Ajax.

Eu olho para o meu relógio. Cinco minutos.

Eu começo a andar. Eu me movo lentamente, mas não lento


demais. Eu quero ser vista como se estivesse apenas de passagem
quando ele sair. Quando eu chego mais perto do local da festa de
caridade, eu vejo algumas pessoas se movimentando na frente. Eu olho

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para o meu relógio novamente. Está na hora. Quando eu olho uma
segunda vez, eu paro de repente. Ele caminha para fora das portas da
frente com a mesma graça e dominância de sempre.

Minha respiração sufoca em meus pulmões.

Isto é pior do que eu jamais poderia ter imaginado. Muito pior.

Minha reação não precisa ser fingida. É real, tão terrivelmente


real.

Seu smoking se encaixa o seu corpo como uma luva, e seu cabelo
escuro está penteado para trás em sua cabeça. Sua mandíbula,
esculpida, está tensa quando ele olha esquerda, e depois à direita. Em
seguida, ele para. E seu olhar é firme. E eu não posso mover. Eu não
posso. Eu tento, mas meu corpo se recusa a cooperar. Eu fico lá, meus
joelhos tremendo, meu corpo vibrando. Aqueles olhos intensos
castanhos me capturam, e eu sou sua escrava mais uma vez. Meu
corpo se transforma temporariamente em uma confusão patética.

Ajax.

Pense em Ajax.

Deus, ele se parece com o pai. Exatamente como ele. Meu coração
bate contra o meu peito, lembrando-me da dor, lembrando-me de por
que eu estou fazendo isso. Eu endireito meus ombros, olho para ele, e
depois me viro e começo a caminhar em outra direção.

O som de seus passos pesados ecoam do chão. Como se esperava,


ele me segue. Claro que ele me segue. Ninguém consegue escapar de
Rafael Lencioni, especialmente eu.

— Julietta! — O som de sua voz faz a minha pele formigar.

Eu ando mais rápido. Meus passos rápidos e um pouco instáveis


nos saltos altos que me foi dito para usar.

— Pare. — Uma ordem. Um comando naquele tom mortal, feroz


que costumava me colocar de joelhos.

— Agora.

Meu corpo derrapa até parar, como se ainda se lembrasse o que é


suposto fazer. Meu cérebro entra em ação um segundo depois, me
castigando por fazer o que ele pediu. Eu me viro lentamente, ofegante, e
ele está a apenas alguns passos de mim. Um flash pisca em seus olhos,
e eu posso jurar que ele recua.

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Ele passa o olhar por mim, lentamente. Ele pode dizer que a
forma do meu corpo mudou? Que eu ganhei um pouco de peso? Será
que ele sabe que eu tive um bebê?

— Julietta, — diz ele, com a voz em um tom baixo.

Meus joelhos tremem mais uma vez. Fraca. Patética.

— Rafael, — eu digo, e minha voz não sai tão forte como eu


gostaria.

— Onde você esteve?

Eu recuo. — Você honestamente me fez essa pergunta?

Seu olhar não desvia e ele acena com a cabeça em entendimento.


— Como você está?

Como você está? Ele está falando sério? Que maldito fracasso.

— Bem.

Ele cerra os olhos e range a mandíbula. — Você sabe como eu me


sinto sobre mentiras.

— Aqui está a coisa engraçada sobre isso, — eu digo, dando um


passo mais perto. — Eu não lhe devo nada, então eu realmente não dou
a mínima como você se sente.

— Tenha cuidado, — ele adverte.

— Ou o que? Você vai acabar com a minha vida? — Eu bato meu


queixo com o dedo. — Oh, espere, você já fez isso.

Eu posso jurar que seus olhos piscam com mágoa, mas eu


escondo qualquer simpatia. Ele não merece isso. Nenhum desses
bastardos merece.

— Eu vim aqui para ver se você estava bem.

— Eu não estou, — eu estalo. — Mas isso também não é da sua


conta.

Ele faz um som baixo, gutural em seu peito. — Pode não ser da
minha conta, mas eu ainda sou muito capaz de bater a minha mão na
sua bunda por ter essa atitude comigo.

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Meu corpo treme. Traidor. — Estou partindo agora. Não tenho
nenhum interesse em falar mais com você, Rafael. Nós terminamos,
lembra? Essa foi a sua escolha.

Ele abre a boca, mas uma voz feminina ressoa. — Raf?

Eu olho para trás para ver uma ruiva linda correndo. Ela é jovem.
Ela é linda. Ela é tudo o que eu não sou. Ela chega a ele e enrola o
braço no dele, olhando para ele com olhos de corça. — Aí está você,
querido. Eu não conseguia encontrá-lo.

Querido.

Meu coração estúpido dói, e parece que um punho de ferro me


bate direto na barriga. — Eu vejo que você seguiu muito bem em frente,
— eu digo, com a minha voz forte.

Os olhos de Rafael examinam o meu rosto. Será que ele está


apreciando a minha dor? Provavelmente.

— Quem é essa? — A ruiva pergunta.

Eu olho para ela. — Eu sou a última. Seja cuidadosa; ele não tem
nenhum problema jogar o lixo para fora quando fica cheio, o que, em
um bom tempo, só leva cerca de um mês ou dois.

Os olhos da menina se incendeiam com raiva, mas eu já me virei


e começo a me afastar.

Foda-se, Rafael Lencioni.

Droga.

Foda-se.

~ 18 ~
Capítulo três
Leva tudo dentro de mim para controlar minhas emoções na hora
que eu ando três quarteirões até o carro esperando por mim. Eu entro e
olho para frente. Riccardo está fumando um charuto, e eu quero
vomitar por causa do cheiro. Então eu quero estender a mão e perfurar
seus olhos por me obrigar a fazer isso. Ele olha para mim, mas eu não
olho para ele. Eu não posso. Ele vai ver na minha cara, a dor, a
fraqueza, e tudo isso por um homem que não merece isso.

Ele se vira rapidamente.

— Você está errado sobre algo, — eu digo para o encosto de


cabeça na minha frente.

— O que? — Pergunta Riccardo.

— Ele não está apaixonado por mim.

O carro fica em silêncio enquanto se afasta do meio-fio. — Por


quê? O que ele disse?

— Não foi o que ele disse, era com quem ele estava.

Mais silêncio.

Então uma risada. — Ele é um Lencioni. Ele irá parecer fraco, se


não tiver uma mulher em seu braço. Você poderia ter morrido em seus
braços na noite anterior e ele teria uma substituta no dia seguinte. Ele
deve ser frio como pedra, e sem emoção. Ele foi assim para a minha
Maria, mas eu vejo isso em seus olhos quando se trata de você. Ele é
apaixonado por você. Ele só está fazendo o que tem que fazer.

Eu engulo o caroço na minha garganta. Seja forte. — Qualquer


coisa que você diga.

— O que ele disse?

Eu dou de ombros. — Ele me perguntou onde eu estive.

~ 19 ~
Mentira.

— Ele perguntou como eu estava.

Verdade.

— Eu soltei alguns insultos, porque é assim que eu falo com ele, é


por isso que ele gostava de mim. Ele mordeu a isca, reagiu. Então, sua
namoradinha apareceu.

— Ah, — Riccardo cantarola enquanto se vira para examinar o


meu rosto como se estivesse procurando a verdade em meu rosto. —
Você está com ciúmes?

Eu atiro-lhe um olhar sujo. — Eu prefiro esfaquear meu olho com


um garfo do que chegar perto de Rafael Lencioni novamente.

Ele sorri.

Não posso acreditar que este homem é meu pai. — Eu fiz o que
você queria. Isso é o fim da conversa.

Ele me estuda por uma fração de segundo, e eu me viro


desconfortavelmente. — Muito bem. Sua curiosidade vai ser despertada.
Vou me certificar de que você esteja em outro local em breve, mas não
muito em breve. Eu vou lentamente introduzir você até que o tenhamos
pedindo para você estar em seus braços novamente.

— Eu não vou dormir com ele.

— Você vai fazer o que for preciso.

Eu não sei se eu tenho forças para dormir com ele e apenas ficar
bem com isso. Sem emoção, fodidamente fria. Eu não sou assim. Sou?

Ajax.

Lembre-se de Ajax.

— Há uma chance de que ele queira ter você como sua esposa.

— Eu não sou de sangue, — murmuro, — tanto quanto ele sabe.

— Isso é um bom ponto, — diz ele, esfregando o queixo. — Ainda


assim, ele é apaixonado por você.

— Tanto faz.

— Boa noite de trabalho, Julietta. Você pode ter um pouco de


mim em você depois de tudo.

~ 20 ~
Meu sangue fica frio, e eu assobio, — Eu não tenho uma única
fodida coisa de você.

Ele ri novamente.

Eu olho para fora pela janela até chegar à casa da minha mãe. Eu
saio, sem olhar para ele quando bato a porta. Ouço-o murmurar, —
Diga Olá para a sua mãe por mim.

Meu pai, bem o pai que me criou, ainda não tem conhecimento da
situação. Isso era parte do acordo. Meu pai e meu filho seriam
protegidos se eu cooperasse. Mama sabe só porque eu não pude conter
a minha raiva quando descobri que ela tinha feito. Reviver aquele
momento, faz meu peito apertar.

— Como você pôde? — Eu grito, jogando o meu telefone através do


quarto. Estou coberta de sujeira. E, provavelmente, um pouco de sangue.
Provavelmente, ambos. Provavelmente mais.

— Julietta, por favor. Eu sei que isso parece ruim...

— Você mentiu para mim toda a minha vida. Você mentiu para o
papai. Você é uma mentirosa!

— Julietta...

— Ele está me chantageando. Você tem alguma ideia do que você


fez?

— Eu...

— Meu filho, meu precioso bebê, — eu esfrego a minha barriga —


vai ser usado porque você mentiu!

— Eu não sabia que você estava envolvida com Rafael. Julie, por
favor. Eu não sabia. Se eu soubesse, eu teria lhe avisado.

— Avisado de quê? Suas mentiras? Seus segredos? Me avisado


que meu verdadeiro pai é um pedaço violenta de merda que usa a mim e
ao meu filho para conseguir o que quer?

— Eu sei que ele parece ser um monstro frio, mas...

— Pare de ser tão ingênua, mãe. Ele é um monstro frio. Ele é a


escória da terra, e hoje eu descobri que ele é meu pai. Meu pai.

— Eu sinto muito, — ela sussurra, deixando cair a cabeça.

~ 21 ~
Lágrimas rolam pelo meu rosto. — Isso simplesmente não é o
suficiente.

— Por favor, não diga ao seu pai.

— Eu não vou dizer ao papai, mas não é para protegê-la, é para


protegê-lo e ao meu bebê. Se algo acontecer com qualquer um deles, é em
você que vai recair a culpa.

Ela cai no chão, com um soluço.

Eu me viro e corro para fora, sem olhar para trás.

Eu subo os degraus da frente e entro na casa. Mama está sentada


no sofá, meu pai ao seu lado, o braço em torno do ombro dela enquanto
eles assistem a um filme em preto e branco antigo. Se ele soubesse, se
ele tivesse alguma ideia do que as mentiras dela estavam fazendo
conosco, ele não estaria sentado lá tão feliz rindo da televisão. Meu
coração se revira com raiva e pesar. Eu sei que ela o ama. Eu sei que
ele a ama. Se não fosse por isso, eu teria dito a ele.

Mas não é só isso.

Riccardo prometeu proteger meu pai de Rafael, se eu cooperasse.


As pistas não levam mais até ele, e ele não está mais sob suspeita. Ele
está seguro. Riccardo se certificou de arranjar isso. Ele só fez o meu pai
ser o maior suspeito, para ter o que queria. Ele não precisa fazer isso
agora. Ele tem muito mais.

— Oi, — eu digo com a voz trêmula.

Ambos se viram.

— Oi Julie,— papai diz, ficando de pé e vindo até mim,


envolvendo-me em seus braços. — Como foi a sua noite fora com Celia?

Ele acha que eu saí com Celia. Se ele ao menos soubesse a


verdade fria, amarga e feia.

— Ela não se sentia bem, então teve que ir cedo. Como Ajax
ficou?

— Ele foi perfeito. — Ele sorri, orgulhoso. — Assim como seu avô.

Meu estômago se contorce novamente. Eu forço um sorriso. —


Fantástico. Eu vou pegá-lo e ir para casa. Ele está dormindo?

~ 22 ~
— Você pode ficar, — diz Mama com a voz esperançosa.

— Eu adoraria, — eu digo com uma falsa simpatia. — Mas ele


dorme melhor em casa.

Mama acena, mas seus olhos são tristes. Eu a amo. Eu amo


mesmo. Mas eu não estou pronta para perdoá-la ainda. Ainda assim,
dói vê-la sofrendo. Infelizmente, eu tenho que me colocar em primeiro
lugar agora.

— Eu vou pegá-lo, — papai diz, seguindo para o corredor.

— Julie, você está... -— Mamma começa depois que ouve papai


sumir pelo corredor.

— Por favor, não, — eu sussurro. — Eu estou segura. Isso é tudo


que você precisa saber.

Ela balança a cabeça.

Meu pai retorna com Ajax enrolado em seus braços. Eu estendo


as mãos e ele o entrega para mim.

Meu filho.

Meu menino.

A única coisa que me mantém forte.

~*~*~*~

— Tem sido um longo tempo, Julie,— Jacob diz, olhando para


mim.

Eu não posso acreditar que tenho que lidar com esse idiota
novamente. Já se passaram três semanas desde que Ajax nasceu, e eu
tive que voltar para o trabalho. Isso significa lidar com Jacob de novo
diariamente, o que não é uma coisa boa para o meu temperamento
agora.

— Olha, Jacob, eu tive que sair devido a uma emergência familiar,


e não lhe diz respeito. Eles me deixaram voltar, fim da história.

Ele cruza os braços. — O que aconteceu com você?

— Não é da sua conta, lembra?

~ 23 ~
— Você ainda está vendo aquele — ele olha ao redor — homem?

— Não, não estou. Agora, se você não se importa, eu tenho um


trabalho a fazer. — Eu me viro apressadamente, ajustando meu
uniforme, que parece estar demasiado apertado. Deixei Ajax com meus
pais. Eu não tive escolha. Eu tenho que voltar ao trabalho para manter
minhas contas pagas, Deus sabe que Riccardo não terá nenhum
problema em me deixar me tornar uma sem-teto. Contanto que ele
consiga o que quer, ele não poderia se importar menos com o que
acontece comigo.

Eu vou direto para o trabalho, pegando de onde parei. O dia é


longo, e por volta das cinco da tarde eu estou exausta e ansiosa para
chegar em casa e me aconchegar ao meu bebê. Eu bato o ponto,
dizendo adeus a todos, e pego o meu telefone para me certificar de que
não há chamadas não atendidas. Eu estou olhando para ele quando
saio pela porta da frente do hospital.

— Olá Julietta.

Eu recuo e olho para cima para ver Rafael olhando para mim,
com os braços cruzados, encostado a um SUV preto brilhante.

— Posso ajudá-lo? — Eu murmuro, colocando meu celular de


volta no bolso.

— Eu queria ver você.

Meu coração se agita, mas eu continuo com minha expressão


pétrea.

— Você está me perseguindo? — Eu estalo, colocando as mãos


nos quadris.

— Ouvi dizer que você conseguiu seu emprego de volta.

— Você está me perseguindo.

— Eu não te persigo, — diz ele, desencostando do carro e


andando em minha direção. — Venha dar uma volta comigo.

Eu balanço minha cabeça. — Não, obrigada. Eu tenho lugares


para ir.

Seus olhos endurecem. — Você está saindo com alguém?

Eu levanto minhas sobrancelhas. — Oh, você quer dizer como


você?

~ 24 ~
— Ela era só um encontro, — ele murmura, passando a mão pelo
cabelo. Porra. Ele parece tão malditamente bonito. — Não que isso seja
da sua conta.

— Assim como com quem eu namoro não é da sua conta, — eu


indico.

— Eu tenho uma para oposta para você.

— Não estou interessada, — eu digo, procurando as chaves do


carro e dando um passo na direção do meu carro estacionado. Ele não
perde tempo me seguindo pela calçada movimentada.

Meu coração começa a bater forte e eu paro, olhando para o


quarteirão seguinte onde o meu carro está estacionado. Há um assento
de bebê lá dentro; se ele me seguir até lá e vê-lo, ele vai perguntar, e eu
não serei capaz de responder a ele. Se se eu me virar e sair, certamente
ele vai me seguir, e considerando que ele sabe como meu carro é, não
posso fingir que eu vim caminhando para o trabalho.

— Vou lhe dar cinco minutos, — eu digo. É a única maneira de eu


mantê-lo longe do meu carro.

— Entre, — diz ele, acenando para o SUV.

Eu entro quando ele abre a porta para mim, e o ouço instruir o


motorista para nos levar para um passeio. Quando saímos, eu me
afasto tanto dele quanto eu posso, mas neste pequeno espaço, sua
presença é cada vez mais dominante e eu não consigo escapar.

— O que você quer? — Eu pergunto, olhando para fora pela


janela.

— Olhe para mim.

Eu endureço e me viro, olhando para ele. — Você pode apenas


dizer tudo o que você precisa dizer e me deixar ir?

Com um aceno ele concorda. — Eu quero você de volta na minha


cama.

— Sim, — eu me controlo. — Isso não vai acontecer.

Difícil. Eu tenho que jogar duro para conseguir. Riccardo


provavelmente vai ficar sabendo que eu estou vendo Rafael sem o seu
agendamento perfeito.

— Não superamos o que aconteceu?

~ 25 ~
— Sua esposa morreu apenas o que, há dez meses? Como você
pode sequer pensar nisso?

Seu rosto endurece. — Isto não tem nada a ver com a perda de
Maria. Isto é sobre você e eu.

— Não existe você e eu, você deixou isso muito claro quando eu
lhe disse que tinha sentimentos por você. Oh, e então houve o tempo
que você me usou para obter informações...

— Julietta...

— Então você prometeu que eu nunca seria tocada pelo seu


mundo, mas foi o que justamente aconteceu.

— Julietta...

— Então, sem ofensa, mas eu não tenho interesse em saltar de


volta para sua cama de mentiras.

— Julietta, — ele ruge tão alto minha boca se fecha.

Eu fico olhando para ele com olhos arregalados. Ele está


chateado. Bom. Espero que minhas palavras provoquem cortes
profundos. Eu cruzo meus braços, mas minhas mãos tremem. É difícil
não ter uma reação quando ele usa esse tom. Ele é aterrorizante.

— Agora que eu tenho a sua atenção, — ele rosna. — Eu entendo


seus problemas, mas eu ainda estou pedindo para você considerar
aquecer a minha cama novamente.

— O quê? — Eu digo com petulância. — Você não é capaz de


encontrar ninguém para fazer as coisas que eu fiz para você?

— Há muitas mulheres que podem foder do jeito que eu preciso


ser fodido.

Meu rosto cai.

Ouch.

Isso doeu muito mais do que eu estou disposta a admitir.

— Mas nenhuma delas me faz sentir como você.

A expressão genuína em seu rosto faz meu coração bater forte,


mas eu me seguro. Ele não se importa. Ele está apenas me usando.
Certo?

~ 26 ~
— Eu não estou interessada, Rafael.

— Tire algum tempo para pensar sobre isso. As mesmas regras se


aplicam como da última vez. Eu vou fornecer tudo para você e cuidar de
você.

Meu estômago se contorce. Eu sei que, eventualmente, eu vou ter


que aceitar sua oferta, porque Riccardo vai exigir, mas isso significa que
há uma chance de que ele vá aparecer na minha casa um dia, ou me
verá na rua, e ele irá fazer perguntas sobre Ajax. Não há nenhuma
maneira que ele possa olhar para ele e não perceber que é seu filho.

— Eu vou pensar sobre isso, mas não alimente suas esperanças.

Seus olhos seguram os meus e ele estende a mão, pegando uma


mecha do meu cabelo e girando-a com o dedo antes de colocá-lo
suavemente atrás da minha orelha. Meu corpo todo dói, e meu coração
também. Eu mantenho a minha expressão neutra, mas é quase
impossível. Seu dedo trilha do meu ouvido, pelo meu rosto e cai para a
curva do meu pescoço. Minha pele se arrepia, e eu quero gritar com o
meu corpo por ser tão fraco contra este homem.

— Você pode, por favor, me levar de volta para o hospital agora?


— Eu digo, abandonando seu toque.

Seus olhos caem para a minha boca. — Leve-nos de volta para o


hospital, — ele ordena ao motorista.

Nós não dizemos nada enquanto voltamos. Quando paramos, eu


abro a porta sem olhar para trás, para Rafael. — Pense sobre a minha
oferta, Cara.

A maneira como ele diz, o ronronar de sua voz...

Meu corpo treme. — Boa tarde, Rafael,— murmuro, saindo e


batendo a porta.

Eu honestamente não sei se sou forte o suficiente para lidar com


isso.

~ 27 ~
Capítulo quatro
— Você não me disse que viu Rafael.

Já se passaram dois dias desde que Rafael me puxou para o seu


carro e pediu para me tornar sua amante novamente, mas eu tinha
decidido não contar a Riccardo. Ele não precisa conhecer cada parte da
minha vida.

Aparentemente, porém, ele sabe de qualquer maneira. Ele está


sentado na minha sala, as pernas cruzadas, o charuto nublando minha
área de estar com fumaça.

— Eu tenho um bebê, — Eu rosno. — Apague isso.

Ele dá mais um sopro, soprando um anel de fumaça. Então ele o


esmaga em uma caneca de café sobre uma mesa próxima.

— Responda-me, — ele ordena.

Eu dou de ombros. — Ele foi até o hospital, me pedir para eu me


tornar sua amante de novo, foi isso. Nada importante.

— Tudo o que Rafael diz é importante, e cada interação precisa


ser imediatamente comunicada a mim.

Eu cerro meu queixo, mas não digo nada.

— Ficou claro?

— Como cristal, — eu assobio. — Agora saia do meu


apartamento.

— Ele vai a um jogo de pôquer a cada quinta-feira à noite em um


clube local. Você vai estar naquele clube com a sua amiga Celia quando
ele sair. Você vai flertar com um homem, eu não me importo com quem.
Eu preciso ver o seu sangue ferver um pouco antes de você finalmente
aceitar sua para oposta.

— Sério? Rafael é muito elegante para ficar com ciúmes.

~ 28 ~
Riccardo sorri. — Você está errada. Ele leva muito a sério o que
acredita ser seu.

Eu bufo.

— Faça o que lhe mando Julietta. Eu vou mandar um assistente


para levá-la às comparas para comparar algo um pouco... mais sexy do
que o seu traje atual, bem como algo que vá embelezar o seu corpo pós
gravidez.

Eu cruzo meus braços. — Eu tenho uma abundância de roupas


sexy.

— Bem, agora você vai ter mais.

— Você é um idiota arrogante.

Ele dá de ombros. — Eu vou enviar os detalhes. Tenha um bom


dia.

Deus, eu o odeio.

Eu espero que ele saia e em seguida, pego o meu telefone e disco


para Celia. — Parece que você e eu vamos a um clube.

Isso deve ser interessante.

~*~*~*~

O clube que vamos é sofisticado, sem bêbados em volta, há


pessoas dançando na pista de dança. É todo cheio de classe. As pessoas
estão bem vestidas. Os drinks são sofisticados. Celia e eu vamos direto
para o bar onde tomamos um assento. Riccardo me garantiu que Rafael
seria persistente e me veria, mas que eu precisava evitar olhar ao redor.
Ele honestamente acha que eu sou estúpida.

— Eu não posso acreditar que ele está fazendo você fazer isso, —
murmura Celia, bebendo a taça de Cosmo que está na frente dela, que
acabaram de servir para nós.

— Eu sei, — murmuro. — Como se eu já não estivesse bastante


tempo longe do meu filho, fui enviada aqui para perseguir Rafael
Lencioni como uma prostituta desesperada.

~ 29 ~
Ela ri, e nós brindamos com as taças. Conciliar a difícil tarefa de
amamentar com as exigências erráticas de Riccardo, foi mais fácil dar a
Ajax leite em pó. Outra coisa que esse idiota tirou de mim e do meu
bebê.

— E então? Você só tem que escolher algum pobre coitado e


flertar com ele?

Eu franzo a testa. — Pelo visto. Deus, eu fui horrível em flertar


antes de Rafael, eu só posso imaginar o quão terrível eu sou agora.

— Você acha que ele vai se importar? — Ela pergunta, fixando


seus lindos olhos em mim.

Eu mantenho a minha expressão dura, apesar de um pequeno


pedaço de mim esperar que ele vá se importar, mesmo que só um
pouco. — Eu não ligo se ele se importa ou não. Eu estou apenas
fazendo o que tenho que fazer.

— Justo. Bem, vamos encontrar o homem de sorte.

Ela olha ao redor e seus olhos param em alguma coisa atrás de


mim. Eu estou de frente para ela no meu banco do bar, então eu giro e
engasgo com, o que é, sem dúvida, um dos mais incríveis espécimes do
sexo masculino que eu já coloquei meus olhos. Fora Raf, é claro. Ele
tem o mesmo domínio forte e traços duros. O tipo de homem que você
pensa duas vezes antes de mexer.

Ele está ostentando um terno caro, mas sem o paletó. A camisa


branca de botão está com as mangas enroladas, e ele está usando uma
gravata vermelha. Sua pele tem o tipo mais suave de oliva e seu cabelo
é escuro e bagunçado. Ele tem barba em seu rosto, indicando que faz
alguns dias desde que a fez.

Quando ele olha para mim, meus olhos ficam maiores. Uau. Ele
tem os olhos mais incríveis que eu já vi. Eles são mais escuros do que
Raf, o que quer dizer algo. Eu poderia jurar que são negros.

Eu tremo.

Ele me estuda, e de repente eu me sinto extremamente


autoconsciente. O meu vestido está no lugar? O meu cabelo está
arrumado? Eu pareço bem? É como eu venho me cuidando? Eu não
estou aqui para encontrar um homem; Estou aqui para fazer ciúmes.
Este homem certamente pode me ajudar. Oh. Sim. Ele pode.

— Oi, — eu sussurro.

~ 30 ~
Seus olhos digitalizam o meu rosto, e ele se inclina para mais
perto em seu banco bar. — Marcus.

— Perdão?

— Marcus. E você é?

Marcus. Esse é o seu nome. Quente.

— Ah, Julietta.

Seu olho pisca, e ele concorda. — Você se importaria de ter uma


palavra comigo lá fora, Julietta?

Meu coração bate. — O que?

— Do lado de fora. Uma palavra.

Estou completamente perdida, por isso eu me faço de insolente,


porque é a única coisa que eu sei com certeza que sou boa quando uma
situação fica estranha.

— Você vai me matar? Porque eu posso parecer pequena, mas eu


sou uma excelente lutadora.

Seus lábios se contorcem. — Se eu fosse matá-la, eu não iria falar


com você em primeiro lugar.

— Tecnicamente, — eu aponto, — você não me disse nada. Você


me pediu para ir lá fora e isso pode significar muitas, muitas coisas. Até
um assassinato.

O lábio dele se contorce. — Eu quero ter uma palavra sobre


Rafael.

Eu pisco. — Como?

— Você é a Julietta dele, estou correto?

A Julietta dele.

Dele.

— Eu não sou de ninguém. — eu estalo.

Ele sorri agora. Deus. Estou prestes a cair da cadeira com sua
beleza. — Eu posso ver porque ele está com você. Uma palavra?

Viro-me para Celia, que está olhando para ele com olhos grandes.
— Eu não vou demorar. Se eu não voltar em dez minutos, seu nome é

~ 31 ~
Marcus...? — Dirijo-me de volta para ele e aceno com a cabeça,
esperando por ele para preencher os espaços em branco.

Ele sorri e murmura, — Tandem.

Eu olho para trás para Celia. — Seu nome é Marcus Tandem, e se


eu não voltar em dez minutos, ele provavelmente me assassinou. Você
deve chamar a polícia.

Seus olhos ainda estão arregalados. Ela balança a cabeça.

Eu saio e aceno uma mão na direção das portas. — Depois de


você.

Ele fica de pé.

Ele é alto. Realmente grande.

E musculoso.

Sexy.

— Não, — ele diz, com a voz baixa e profunda. — Depois de você.

Oh cara.

Eu dou um passo instável para frente.

É isso, faça isso ou acabe com tudo de uma vez.

~ 32 ~
Capítulo cinco
— Então,— eu digo quando Marcus e eu chegamos ao lado de
fora, — o que é tão importante que você não podia falar comigo dentro
do clube?

Marcus inclina-se contra a parede e puxa um cigarro, acendendo-


o. Ele está ficando cada vez mais sexy. Isso devia ser ilegal. Alguém tem
de estragar seu rosto um pouco. É injusto para o resto do mundo.

— Eu ouvi você e sua amiga conversando lá dentro.

— Espionar não é legal, Sr. Tandem. Você não sabia?

Ele sorri. — Estou plenamente consciente. Mas Rafael é um velho


amigo, muito leal, e eu não pude deixar de ouvir quando seu nome foi
mencionado.

Meu coração bate forte quando eu tento me lembrar de cada


palavra minha na conversa com Celia. Não posso arriscar Rafael
descobrir, caramba, eu não posso. Quanto Marcus ouviu?

Eu tenho que jogar com calma. Talvez ele só tenha ouvido alguns
trechos.

— Você disse que estava fazendo o que tinha que fazer, e algo
sobre deixá-lo com ciúmes. Importa-se de me dizer do que se trata?

— Você vai me matar se eu disser?

Seus olhos piscam para mim. — Talvez.

Eu cruzo meus braços. — Saiba que eu tenho um chute muito


bom e eu não tenho medo de usá-lo.

— Deus, — ele murmura. — Você se daria muito bem com a


minha esposa.

Ele tem uma esposa.

~ 33 ~
É claro que ele tem uma esposa.

Ela é provavelmente incrível.

— Será que ela te chutou muitas vezes?

Seus olhos dançam com humor. — Você está evitando o assunto.

— Olha, eu e Celia estávamos apenas sendo... malcriadas. Tenho


certeza que você sabe quem eu sou. Tenho certeza que você sabe o que
eu e Rafael éramos, e por causa disso, você saberia que eu fodidamente
me apaixonei por ele. Ele me largou. Eu só queria uma pequena
vingança.

Marcus me estuda. Ele acreditou na minha mentira?

— Então você pensou em fazer ciúmes?

Eu dou de ombros casualmente.

— Você é uma péssima mentirosa. Alguém já lhe disse isso?

Eu recuo.

Seu rosto suaviza. — Alguém está mandando você fazer algo que
você não quer?

— Não, — eu digo, minha voz é forte e severa. — Eu só disse a


verdade.

Ele cerra os olhos. — Olha, eu vejo quando uma garota está em


perigo, acredite, eu já vi muitas. Eu também sei as coisas que as
pessoas podem usar contra outra pessoa para forçá-los a manter a boca
fechada. Eu só quero que você saiba, que quem está chantageando você
com certeza está encrencado com Rafael.

— Eu não tenho ideia do que você está falando.

Ele exala e puxa para fora um cartão do bolso. — Eu não acredito


em você. Espero que você não esteja colocando meu amigo em perigo.
Eu também espero que quem tenha colocado esse medo todo em você
não a coloque em perigo. Se você quiser ajuda ou proteção, me ligue. Eu
posso colaborar.

Com os dedos trêmulos, eu pego o cartão. — Obrigada, mas eu


estou bem. Eu estava apenas sendo imatura.

~ 34 ~
Ele sorri, mas não a ponto de alcançar seus olhos. — Você
sempre usa sabão de bebê, ou simplesmente decidiu que esse seria bom
para hoje?

Leva tudo dentro de mim para não chegar até o meu vestido e
respirar o cheiro de sabão de bebê que tenho usado para lavar todas as
roupas. Possui um odor característico. Como flocos suaves de talco de
bebê e lavanda. Qualquer um que já teve uma criança conhece o cheiro.
Qualquer pessoa que não teve uma criança simplesmente não iria
reconhecê-lo. Eu nem sequer sabia o que era até Ajax nascer.

Abro a boca.

Não sai nada.

Ele sabe.

— Você não está sozinha, Julietta. Quem está te machucando, ele


ou ela pode ser descartado. Pense nisso. — Ele se vira, caminhando
para a escuridão, mas para e se vira antes que desapareça
completamente. — Qual é o nome do bebê?

Meu lábio inferior treme e uma lágrima rola pelo meu rosto. —
Ajax, — eu sussurro.

Ele ri. — Menina inteligente. Fique bem, Julietta.

Em seguida, ele se vai.

Assim, sem mais, nem menos.

~*~*~*~

Eu bebo cinco Cosmos. Muito rapidamente.

Eu não preciso de coragem para flertar; meu comportamento


bêbado faz o suficiente por mim. Depois do meu encontro com Marcus,
eu precisava aliviar o pânico sobre toda a situação. Porque eu fiquei em
pânico. Ele percebeu a situação. Agora ele sabe, ele vai dizer algo para
Rafael? Se ele disser, eu estou ferrada. Minha família será posta em
perigo. Meu bebê. Eu não posso nem pensar nisso.

Eu sinto que posso confiar nele. Eu só espero que eu esteja certa.

— Você é uma menina bonita.

~ 35 ~
Eu olho para o homem com quem estou dançando. Suas mãos
estão em meus quadris e, honestamente, eu quase não tomei
conhecimento dele. Eu sou grata por ele ser atraente. Ele poderia ser
um maldito animal, e no meu estado de espírito, eu não teria notado.
Rafael nunca teria acreditado em mim se visse isso.

Ótimo, peguei um homem que está totalmente ao meu alcance, eu


sorrio para ele. — Qual é o seu nome?

Ele pisca. Sim, ele provavelmente nunca conheceu uma garota


como eu. — Chris.

— Certo, — murmuro. — Chris. Eu não estou interessada em


levá-lo para casa. Para ser honesta, eu só estou dançando com você
para fazer ciúmes para alguém.

Ele pisca novamente.

— Desculpe, eu sou atrevida, eu sei disso. — Eu rio, mais para


mim do que para ele. — É exatamente como eu sou. Mas ei, considere-
se afortunado. Você tem a oportunidade de colocar suas mãos em meus
quadris e dançar comigo, certo?

Ele só olha para mim. Sim. Chris pode ser bonito, mas ele
certamente não é tudo isso.

— Como você está, querida? — Celia dança com um homem ao


meu lado. Ela conseguiu chegar perto o suficiente para eu ouvi-la.

Eu sorrio para ela. — Além de deixar o pobre Chris aqui confuso,


muito bem.

Ela balança a cabeça. Eu rio.

Chris mantém as mãos nos meus quadris até que uma voz
potente irradia através da multidão, acima da música, fazendo Chris e
eu parar de se mover.

— Mãos fora dela, agora.

Chris olha por cima do meu ombro. Seu rosto empalidece, e suas
mãos caem. — Você está tentando fazer ciúmes para Rafael? — Ele
suspira. — Rafael Lencioni?

Eu bufo. — Não faça tempestade em um copo de água. Ele não vai


fazer nada.

~ 36 ~
Chris vira e se afasta depressa antes de eu dizer outra palavra.
Covarde.

Eu olho para Rafael que surge no meio da multidão, que


felizmente se abre para ele.

— Julietta, — ele rosna, em voz baixa.

Celia olha para ele com um olhar atônito. Sim, eu costumava


olhar para ele assim também.

— Rafael, — eu digo, meu corpo confortavelmente entorpecido


pelo álcool.

— Existe uma razão para você estar aqui se jogando toda em


outro homem?

Eu dou de ombros. — Eu estava entediada.

— Entediada, — diz ele, com a voz como um chicote de gelo.

— Sim, Rafael, entediada. Eu não lhe devo mais explicação do que


isso. Agora, se você me der licença... — Eu dou um passo a frente, mas
ele se abaixa, pressionando seu ombro em meu estômago, me lançando
para cima sobre o ombro. Eu engulo um leve gemido da dor da pressão
contra o meu corpo dolorido pós-gravidez. Em vez disso, eu guincho
enquanto ele me leva sem esforço. Meu corpo minúsculo paira sobre
seu ombro como se eu não fosse nada mais do que um saco de penas.
Ele caminha para a parte traseira do clube e as pessoas param e olham,
com suas bocas abertas.

Chegamos a uma sala e ele abre a porta. Há um grupo de homens


jogando pôquer lá dentro, e ele late, — Saiam.

Eles se levantam, correndo para fora sem hesitação. Quando já


não estão mais lá, Rafael fecha e tranca a porta antes de me jogar sobre
a mesa de pôquer, baixando seu corpo sobre o meu. Oh cara. Toda a
minha estrutura está de volta à vida e ele está bem ali, no meu espaço,
com um cheiro incrível.

— Que tipo de jogo você está jogando? — Ele rosna.

Eu fico olhando para ele, porque o que mais eu deveria fazer


quando sua boca está tão perto? Eu provavelmente poderia lambê-lo,
ele está tão próximo.

— Responda-me! — Ele late.

~ 37 ~
Minha boca se abre.

Não sai nada.

Ele pega minhas mãos em uma das suas e prende acima da


minha cabeça, deslizando seu pau duro contra o meu sexo. Droga. Esta
não é a posição mais favorável.

— Agora, Julietta, — ele ordena.

— Eu estava, eu, ah...

Ele gira os quadris, e o atrito faz meu sexo rugir para a vida. Ele
pulsa sob seu toque.

— Eu estava apenas dançando, — eu falo.

— Ninguém, — ele rosna, inclinando-se para perto, — Ninguém


toca o que é meu.

— Eu não sou sua, — eu cuspo.

Ele se esfrega em mim novamente, e um gemido desliza pelos


meus lábios. Isso é tão bom. Não era para ser assim. Droga. Eu não
deveria sentir nada.

Minha mente entra em ação e eu estalo, — Saia de cima de mim.

— Não.

— Agora, Rafael.

Suas sobrancelhas se atiram para cima, e ele mói contra mim


novamente. Se ele continuar assim, eu vou gozar, o que não vai ser
nada bom para nós. — Desde quando você dá as ordens?

— Desde que você não é nada para mim, e eu sou uma mulher
livre. Agora saia de cima de mim.

— Eu disse — Ele se inclina perto, tão perto que eu posso prová-


lo se eu lamber meus lábios, — Não.

— Droga, Rafael, — eu choro, exasperada. — Pare de ser tão


idiota.

Ele sorri.

Tão perfeito.

— Eu vejo que o álcool te deixou insolente.

~ 38 ~
— Saia.

— Não.

— Sim.

— Não.

— Eu juro...

Ele mói contra mim novamente, e eu gemo. Eu gemo. Como uma


fêmea, patética.

— O quê? — Ele murmura, girando seus quadris.

Droga.

Vou gozar assim.

— Sai. Fora, — eu ordeno.

— Em um minuto, — diz ele, com a voz baixa e sexy.

Ele gira novamente.

Isso é tão bom.

Deus.

Ele faz isso de novo, e novamente, e novamente.

Eu não posso pará-lo. Tem sido muito tempo, eu estou bêbada, e


isso é tão malditamente bom. Eu gozo com um suspiro de ar soprando
para fora pelos meus lábios e um gemido que eu sinto bem abaixo em
minha barriga. Rafael solta um rosnado satisfeito e, em seguida,
cuidadosamente me libera.

Uma vergonha diferente de tudo que eu já senti antes, sobe para


minhas bochechas, e eu olho para qualquer lugar, menos para ele.

— Não tente me fazer ciúmes com outros homens, — diz ele, com
a voz rouca. — Você é minha. Quanto mais cedo você perceber, melhor.
Vou ter você na minha cama novamente, Julietta. E nós dois sabemos
que é exatamente onde você quer estar.

Eu continuo olhando para longe.

— Eu vou dizer a Celia onde você está.— Com isso, ele sai.

Uma lágrima rola no meu rosto.

~ 39 ~
Eu não sou forte o suficiente para isso.

Droga, eu não sou.

~ 40 ~
Capítulo seis
— Funcionou?

— Deus, você tem uma casa? — Eu estalo.

Riccardo veio direto quando voltei na manhã de pegar Ajax da


casa dos meus pais. Eu abraço meu filho mais perto do meu peito e ele
resmunga, se aconchegando mais em mim.

— Responda a minha pergunta.

— Você pode me deixar em paz por um maldito dia?

Ele levanta da cadeira que claramente reivindicou como sua e


chega perto de mim. — Me responda.

— Sim, funcionou. Ele ficou muito irritado e me disse que eu sou


sua, é isso.

Ele sorri. Perverso. Mal. — Perfeito. Eu acho que é hora de você


trabalhar para voltar para a vida dele agora. Você irá até a casa dele,
chateada e angustiada. Ele irá convidá-la para ficar, e você vai dar a ele
exatamente o que ele quer.

Eu fico boquiaberta. — Você não pode estar falando sério.

Ele dá de ombros. — Ele nunca irá acreditar se você só chegar


nele. Se ele, no entanto, acreditar que se você está chateada com
alguma coisa, irá funcionar.

— Você é doente.

— Eu sou um gênio. Você vai ter uma semana de folga, e então


será hora de colocar o plano em ação.

— Você já pensou no fato de que uma vez que eu estiver saindo


com de novo, ele irá saber onde eu moro, porque Rafael sabe tudo?

Seu olhar vacila. — Ele não sabe tudo.

~ 41 ~
Eu aconchego Ajax mais perto.

— E isso não importa, — ele continua. — Diga-lhe que você quer


privacidade. Diga-lhe que você vive com seus pais. Eu não me importo.

— Ele vai me seguir.

— Não, se ele não suspeitar de nada.

— Se ele descobrir sobre Ajax...

— Diga a ele que o bebê é de Celia.

Eu endireito minha coluna. — Você já olhou para Ajax


ultimamente? Ele é a cara de Rafael. Nem mesmo eu iria acreditar
nessa mentira.

— Não vai chegar a esse ponto, — rosna Riccardo. — Agora pare


de ser tão malditamente chata e apenas faça o que eu digo.

— Tanto faz. Você pode sair agora? Eu gostaria de passar algum


tempo com o meu filho, porque parece que você está se desdobrando em
me separar dele.

— Um pequeno sacrifício para salvar sua vida.

Minha pele se arrepia, e eu atiro um olhar maligno para o homem


mais velho. — Saia, Riccardo.

Ele sorri. — Oh, a propósito, você já mudou o nome dele?

— Fora! — Eu estalo.

Ele ri todo o caminho até a porta.

Quando ele foi embora eu olho para Ajax. Sua cabeleira escura
está caindo. Mama diz que vai cair antes de voltar ficar ainda mais
espesso. Seus olhos são os maiores olhos castanhos que eu já vi. Ele é
maravilhoso. Absolutamente perfeito.

— Eu senti sua falta, bebê, — eu digo, passando um dedo sobre


sua bochecha. Ele olha para mim. — Vamos tomar um banho?

Eu o levo para o banheiro e dou um banho nele, então eu o tiro


da água e o levanto apoiando-o contra o peito. Ele adora isso. Parece
que a única vez que estamos juntos, onde o mundo não está contra nós.

~ 42 ~
Eu canto baixinho para ele até que seu pequeno corpo amoleça
em meus braços. Ele está dormindo. Quando ele está tendo uma noite
agitada, eu faço isso, e funciona.

— Eu te amo, Ajax,— eu sussurro no topo da sua cabeça. — Farei


tudo o que puder para protegê-lo. Tudo.

— Julie?

Eu suspiro ao som da voz da minha mãe chamando pelo meu


apartamento.

Eu saio do banheiro, tentando não perturbar Ajax. Eu o envolvo


em uma toalha e vou para a porta do banheiro, olhando para fora.

— Eu estou no banho. Você pode pegar Ajax?

Ela aparece na porta e pega Ajax. Ele se mexe, mas não acorda. —
Vou vesti-lo e colocá-lo na cama.

Eu aceno com a cabeça, me seco, me visto e depois me junto a


ela. Ajax está vestido e na cama, confortável. Eu sigo a minha mãe para
a sala de jantar e ambas nos sentamos.

— O que foi? — Eu pergunto, secando meu cabelo com uma


toalha.

— Eu só queria ver como você está. — Seus olhos estão grandes,


e fixos em mim.

— Eu estou bem, mãe.

— Você está segura? Bem?

— Quer dizer se Riccardo ainda me atormenta? Então a resposta


é sim.

Seu lábio inferior treme.

— Por favor, não, — eu imploro. — Eu não aguento.

— Eu só quero voltar para como éramos, Julie.

— Eu não sei se nós podemos. Minha vida inteira está uma


bagunça agora, e eu tenho a minha parte nisso, eu juro, mas eu não sei
se estou pronta para perdoar você.

Ela balança a cabeça. — Eu sei, e eu entendo que vai levar tempo.


Mas eu sinto sua falta.

~ 43 ~
Eu sinto falta dela também. Mas agora meu foco é apenas Ajax. —
Quando isso acabar, vamos conversar, mas por agora eu preciso fazer o
que puder para proteger meu filho.

Ela balança a cabeça e se levanta. — Eu fiz uma lasanha. Eu


coloquei na geladeira para que você não tenha que cozinhar.

— Obrigada, — eu digo com a voz fraca.

— Eu amo você, Julie. Por favor, lembre-se disso.

— Eu também te amo, — eu digo, com a minha voz trêmula.

Ela sorri fracamente e sai.

Eu deixo cair a minha cabeça em minhas mãos.

Isso pode ficar mais difícil?

~*~*~*~

Eu estou na frente da casa de Rafael, meu corpo vibrando de


nervoso, no meu rosto escorrem lágrimas. Lágrimas falsas. Bem, não
inteiramente falsas. Tudo que eu tive que fazer foi pensar sobre a minha
situação e a possibilidade de perder meu filho, e bam, lá estão elas.
Riccardo me garantiu que Rafael estaria em casa e me disse para contar
alguma história besta sobre estar indo a pé para casa do trabalho e ser
assediada por um grupo de homens. E, em seguida, ainda por cima,
quando cheguei em casa, eu tive uma briga com Celia.

Blá. Blá. Blá.

Riccardo está me fazendo parecer fraca na frente de Rafael,


porque sabe, ele apenas sabe, que a natureza superprotetora de Rafael
irá garantir que ele me aceite. É exatamente como funciona.

Eu não posso acreditar que estou aqui, prestes a me expor a um


homem que eu jurei que nunca iria deixar entrar na minha vida
novamente. Mas, eu não tenho escolha. Isso tem que ser feito. Eu me
aproximo dos portões da frente, onde dois homens de terno e armados
estão de pé.

— Posso ajudá-la?— Um deles diz, estudando-me com uma


expressão desconfiada.

~ 44 ~
— Pode dizer a Rafael que Julietta está aqui?

Ele cerra os olhos e puxa para fora um telefone, discando.

— Senhor, eu tenho uma Julietta aqui querendo te ver. Ela está,


ah, chateada. — Ele balança a cabeça. Desliga o telefone. Vira-se para
mim. — Eu vou precisar te verificar, mas ele me disse para deixá-la
entrar.

Eu interiormente reviro os olhos, mas quando os portões se


abrem, eu passo para dentro e levanto minhas mãos, deixando o
homem me revistar. Deus.

Quando acaba, eu ando até a porta maciça da frente da casa de


três andares. Ele claramente não está precisando de dinheiro, tendo
uma casa enorme e amplos jardins que a rodeiam. Eu nunca estive
aqui. Rafael nunca me deixou ser parte de sua vida antes.

Antes que eu possa bater, a porta abre e Rafael está de pé,


vestindo apenas calças. Seu corpo longo, forte está bem ali na minha
frente, lindo para caralho que até dói. Eu tento conter as lágrimas. Eu
fico pensando em como isso vai acabar para ele. Ele provavelmente vai
ser morto. Isso parece estimular meus soluços, o que me confunde,
porque eu não devo merda nenhuma a esse homem.

— Julie, — diz ele, sua voz é suave e reconfortante. Eu quero me


jogar em seus braços. — O que aconteceu?

— Sinto muito, — eu soluço. — Eu não sei por que eu vim aqui,


mas eu só...

— Venha, entre.— Ele me pega pelos ombros e me puxa para


dentro da casa. Eu não vejo muito em meio as minhas lágrimas e a
sensação de suas mãos quentes no meu corpo.

Nós nos sentamos em um sofá de couro e ele se vira para mim,


afastando uma lágrima do meu rosto com o polegar. Droga. Por que ele
tem que fazer isso? Eu choro mais. Eu não posso parar. Eu tenho sido
forte por muito tempo. Isto já não é uma cena. Minhas lágrimas são
reais. Minha dor é real.

Meu coração está quebrado.

— Diga-me o que aconteceu? — Pergunta ele, tirando outra


lágrima.

~ 45 ~
— Eu estava andando para o meu carro depois do trabalho, — Eu
soluço. — E alguns caras me assediaram. Me cercaram; Eu fiquei
assustada. Um casal estava passando e eles foram embora, mas eu
fiquei com medo. Então eu cheguei em casa e tive uma briga enorme
com Celia. As coisas estão exatamente assim... fodidas.

— Quem eram eles? — Ele exige.

— Eu não sei, — eu digo, esfregando os olhos. — Eu não sei, mas


eu estava com medo. Eu não sabia mais para onde ir. Eu só... você me
faz sentir segura e...

— Você sempre pode vir aqui, — diz ele, pegando meu queixo. —
Sempre, baby.

Baby.

Eu choro mais forte.

Como posso me separar desse homem quando ele significa tanto


para mim? Estou tentando, realmente estou, mas é realmente difícil
quando meu coração tem outras ideias.

Penso no meu filho e fecho bem os olhos. É melhor assim. Estou


protegendo ele. Estou protegendo a minha vida. Talvez eu devesse dizer
a Marcus? Talvez eu possa conseguir a ajuda dele? Não. Droga. Não. Se
eu contar para alguém, eu estou arriscando meu filho, e eu não posso
fazer isso.

— Sinto muito, eu realmente só... Eu deveria ir. — Eu me afasto e


endireito as costas.

— Sente-se, Julietta.

Eu balanço minha cabeça, girando e correndo em direção a porta


da frente.

— Você veio aqui por uma razão, e nós dois sabemos disso, — ele
grita atrás de mim.

Eu paro, esfregando uma mão sobre meu rosto, mas sem me virar
e olhar para trás.

— Você quer isso tanto quanto eu. Você pode fugir, mas nós dois
sabemos que isso vai acontecer eventualmente.

— Rafael, — eu sussurro.

— Vamos, Cara. Fique comigo.

~ 46 ~
Meus joelhos tremem.

— Por favor. — Sua voz é um sussurro abafado. Meu coração


racha. Eu tenho que fazer isso, mas eu não sei se posso. Como posso
traí-lo assim? Como posso ser a razão da morte do pai do meu próprio
filho? Nunca pensei nisso dessa forma antes, mas quanto mais eu
penso, mais eu percebo que pode chegar um momento em minha vida,
quando Ajax descobrir e ele vai querer saber o porquê.

Droga.

— Julietta.

Dê sua cara para bater, Julie. Você tem que fazer isso. Você não
tem outra escolha. Me viro devagar, engolindo minha emoção e
tentando colocar um bloco sobre o meu coração. — Eu não estou pronta
para dormir com você ainda.

Meu corpo está lentamente voltando ao que era antes de Ajax,


mas eu ainda estou tendo algum sangramento desde o seu nascimento
e minha barriga parece... estranha. Eu sei que ele vai fazer perguntas, e
eu não posso dar-lhe respostas, então eu tenho que ter certeza que ele
não entre nas minhas calças até que eu esteja certa de que possa
explicar a mudança no meu corpo e o ganho de peso.

Isso é importante; ele pode recusar, e os planos de Riccardo vão


por água abaixo.

— Ok, — ele diz, com os olhos nos meus. — Vamos esperar.

— Também preciso... de espaço. Celia não vai ficar bem com você
comigo; ela não gosta de você e ela vive comigo agora. Minha casa está
fora dos limites. Eu irei até você.

Ele balança a cabeça, sem me questionar. — Se é o que você quer.

— Eu preciso ir devagar com isso, Rafael. Eu ainda não estou


totalmente certa de que estou pronta.

Ele dá um ligeiro aceno de cabeça e se vira para mim com a


compreensão de olhos. — Ok, Cara.

Droga.

Por que ele tem que ser tão bom?

Ele está deixando isso muito mais difícil para mim.

~ 47 ~
Capítulo sete
— Eu não gosto disso, — murmura Celia, balançando Ajax em
seus braços.

— Nem você, nem eu, — eu digo, tomando meu chá me inclinando


para trás no sofá.

— Você vai se machucar novamente.

Meus olhos encontram os dela. Ela foi a minha rocha quando eu


corri de Riccardo para me esconder enquanto estava grávida. Ela me
manteve sã. Ela me abraçou através da minha dor de cabeça. Ela fez
com que eu ficasse bem. Sem ela, eu não teria sobrevivido, é tão
simples. Agora, ela está me vendo passar por tudo novamente.

— Eu estou mais forte; Eu sei no que eu estou metida. Eu tenho


que fazer isso.

Ela olha para Ajax. — Não é justo. Eu gostaria que houvesse algo
que pudéssemos fazer.

— Olha... pode haver alguma coisa.

Seus olhos atiram para cima. — Explique-se. Agora mesmo.

— Então, você se lembra de Marcus, que eu conheci na outra


noite no bar?

Ela balança a cabeça.

— Ele é um bom amigo de Rafael, e acontece que ele é


extremamente inteligente, porque ele descobriu que alguém estava me
chantageando e que eu tinha um bebê.

Ela pisca. — Por que você não me disse isso?

— Porque eu não queria que você me olhasse como você está me


olhando agora.

~ 48 ~
Ela acena uma mão. — Continue.

— Ele disse que poderia me ajudar.

— Você acredita nele? — Pergunta ela, acariciando a bundinha de


Ajax quando ele se mexe.

— Eu não sei. Eu honestamente não vejo uma maneira que ele


possa me ajudar, sem alguém que eu amo se machucar.

— Pode dar certo. Você não vai saber com certeza a menos que
pergunte a ele.

Eu fico olhando para Ajax. — Eu não sei se vale a pena o risco.


Como eu disse, Riccardo provavelmente tem alguém pronto para acabar
comigo e com a minha família se algo vier a acontecer com ele. O que
poderia Marcus possivelmente fazer que eu não posso?

— Eu não sei, — Celia diz suavemente. — Mas eu sei que isso


está te matando. Está me matando. Isso está matando a sua família.

A culpa bate no meu peito. — Eu estou fazendo o melhor que


posso, Celia. Eu estou aterrorizada.

— Eu sei que você está, — diz ela suavemente. — Mas você é tão
forte. Você está tão determinada a passar por isso por causa deste
rapaz, — ela balança Ajax de leve — mas você é apenas uma pessoa,
Julie, e você está prestes a entrar no mundo de Rafael novamente. Eu
sei que você diz que está bem com isso, mas o fato da questão é que
você ainda está sofrendo por ter perdido ele, e eu honestamente não
acho que você pode apenas ser sua namorada falsa sem qualquer
apego.

Ela me conhece muito bem. Isso me assusta.

— Eu sei, — eu digo suavemente. — Mas eu simplesmente não


consigo ver como posso sair dessa sem alguém se machucar.

— Fale com Marcus.

Eu dou de ombros. — Eu deveria. Eu ainda não decidi. Nesta


fase, eu só tenho que jogar o jogo.

A decepção cintila nos olhos dela, mas ela esconde. — Eu não


quero ver você sofrendo daquele jeito novamente.

Eu posso ver a dor na profundidade do seu olhar, e eu sei o


momento exato que ela está falando. Eu tremo só de lembrar.

~ 49 ~
Eu me enrolo na banheira, meus joelhos contra o peito, minha
barriga ligeiramente inchada contra as minhas pernas. A dor em meu
coração cresce a cada dia que passa. Não só fui enganada pela minha
própria mãe, mas tudo o que eu achava que sabia, é mentira. Eu estou
presa em uma espiral. A única segurança que eu tenho agora é o bebê
crescendo dentro de mim. O bebê de Rafael. No momento em que ele ou
ela nascer, eu sou deles. Eles virão atrás de mim, e eles vão me obrigar a
fazer coisas indizíveis ao homem que eu amo para proteger o meu bebê.

Eu estudo a navalha que seguro com força no meu punho. Eu


poderia fazer isso? Para salvar a todos nós, eu poderia acabar com isso?
Parece a única saída. Se eu fizer isso, Riccardo não terá mais nada
contra mim. Mas ele ainda irá atrás da minha família só porque ele pode?
Ou ele desistiria e continuaria com seu plano? Será que isso protegeria a
mim e meu bebê?

A ideia de tirar a minha própria vida, faz meu estômago se


contorcer e meu peito apertar. Isso não é o que eu quero. Não é. Mas eu
sinto como se eu estivesse me afogando e não importa o quanto eu nade,
não há nenhuma maneira de eu conseguir ar.

Eu aperto meu punho em torno da lâmina e o sangue começa a


vazar. Uma dor atira através da minha palma, e eu choramingo. Isso dói.
Tudo isso só dói. Algo tremula contra a minha perna. Eu deixo cair a
navalha. E fico quieta. Aquilo... foi o meu bebê?

Outra vibração. Tão real. Muito real.

— Querida? — A voz de Celia viaja através da porta e antes que eu


possa responder, ela abre.

Eu sei o que ela vê. Me vê nua no banho, o sangue escorrendo pelo


meu braço. Seu rosto empalidece, e ela corre para frente. — Não, Julie.
Não.

— Está tudo bem, — eu sussurro, ainda com lágrimas escorrendo


pelo meu rosto. — Não é o que você pensa.

Mas era. Não era?

Até que o meu bebê chutou.

Celia entra completamente vestida na banheira atrás de mim,


envolvendo os braços em volta de mim. Eu começo a soluçar
incontrolavelmente. Isso dói. Eu só quero que isso pare. Eu quero fazer
isso ir embora, mas nada que eu faço parece aliviar a dor no meu peito. O
medo pela minha vida. O medo pela vida do meu bebê.

~ 50 ~
— Vai ficar tudo bem. Nós vamos sobreviver a isso.

— O bebê mexeu, — Eu sufoco entre lágrimas.

— Nosso bebê se mexeu? — Ela diz suavemente, sua voz cheia de


lágrimas.

— Sim.

— Um lutador. Um verdadeiro campeão. Eu sempre soube disso.

Ela coloca a mão contra a minha barriga, e nesse momento eu sei


que não serei capaz de sobreviver a nada disso sem ela.

— Eu vou ficar bem, — eu digo, minha voz firme enquanto a


memória desaparece.

Celia acena com a cabeça, com um sorriso fraco. — Eu espero que


sim, querida.

Eu também.

~*~*~*~

Que diabos eu estou fazendo aqui?

Sério. Preciso me virar e ir para casa. Estou correndo um grande


risco. Se Riccardo descobre que eu estou aqui, ele vai me matar. Ele vai
acabar com tudo. Mas na noite passada, quando eu estava segurando
Ajax perto do meu peito, eu tinha que saber. Eu tinha que saber se este
homem realmente poderia me ajudar.

Eu não tenho que dar qualquer informação. Eu só preciso saber o


que ele pode oferecer.

Então, eu estou de pé na frente de sua casa enorme, olhando


para os portões de ferro. Ele me disse que eu poderia vir e vê-lo a
qualquer momento, mas, honestamente, eu ainda não estou cem por
cento certa de que ele quis dizer isso. E se ele não for realmente amigo
de Rafael, mas um inimigo tentando me usar também? Eu balanço
esses pensamentos do meu cérebro hiperativo e levanto a mão, tocando
a campainha.

~ 51 ~
— Sim, eu posso ajudá-la? — Uma voz masculina vem através do
interfone.

— Ah, sim, — eu digo em voz alta. — Estou aqui para ver Marcus.

— Você tem hora marcada?

— Ah, não, mas ele me disse que eu poderia vir e vê-lo a qualquer
momento. Meu nome é Julietta.

— Um momento.

Certo.

Eu espero mais um tempo. Eu espero cerca de dez minutos


absorvendo os raios do sol da manhã.

Finalmente, o homem fala novamente. — Por favor, entre.

O portão faz um rangido alto e se abre. Eu espero ele abrir mais,


o suficiente para eu passar, e deslizo para dentro. Ele imediatamente
começa a fechar. Não é assustador em tudo. Eu ando até a casa
enorme, esmagada por seu tamanho. Ela supera a casa de Rafael, e isso
quer dizer algo.

Chego à porta da frente, que se abre antes que eu possa bater, e


lá está o próprio deus, Marcus Tandem, vestindo um terno e parecendo
tão delicioso como ele parecia na outra noite. Eu levanto a mão sem
jeito e digo: — Eu pensei em aparecer.

Aparecer.

Meu Deus.

Me mate agora.

Marcus sorri. Bem, pelo menos ele não acha que eu sou uma
aberração. Isso tem que contar para alguma coisa, certo?

— Estou feliz que você decidiu... — ele se inclina — aparecer.

Ahhh. Eu sorrio. Eu não posso evitar. Eu gosto deste homem. Ele


é um dos bons.

Eu acho.

— Entre, Julietta. Você está sozinha?

Eu concordo.

~ 52 ~
— O bebê?

Eu recuo.

Seus olhos ficam mais suaves. — Entendo. Bem, além do


segurança de plantão, é só você e eu então, entre.

Eu entro em sua casa enorme e o sigo até a cozinha, onde ele


abre a geladeira e se vira, olhando para mim. — Alguma coisa em
particular que você gostaria de beber?

— Vodka? — Eu faço piada.

Seus olhos dançam com diversão. — Eu não estou totalmente


certo de que você deva beber... — ele olha para o seu relógio — às dez
horas

— Provavelmente é verdade. Só água está bem.

Ele pega duas garrafas de água e empurra a cabeça no corredor.


— Meu escritório é aqui embaixo.

Certo.

Eu o sigo para baixo, nervosamente. Chegamos a seu escritório,


que é praticamente do tamanho de todo o meu apartamento. Jesus. Tão
rico assim?

— Você tem uma bela casa, — eu digo, me sentando na cadeira


perto de sua mesa, enquanto ele se senta do outro lado em uma grande,
cadeira de couro.

— Obrigado. Diga-me, o que a trouxe para minha casa hoje?

Eu me atrapalho por um momento antes de dizer: — Eu gostaria


de saber como você pode me ajudar.

— Isso depende do que está acontecendo com você.

Eu mordo meu lábio.

— Você não está disposta a me dizer?

— Nesta fase, não. Você precisa entender que a minha família


está em jogo. Você tem filhos, Marcus?

Ele balança a cabeça, os olhos brilhando de amor.

— Então você entende o meu medo.

~ 53 ~
— Eu posso te proteger, Julie, — diz ele. — Eu posso jurar isso.

Eu sorrio, mas é fraco. — Acredite em mim, eu quero colocar a


minha fé nisso, mas você tem que entender que é muito difícil para mim
agora. Eu não sei em quem confiar.

— Você pode pelo menos me dizer o que estão mandando você


fazer, para que eu possa dar conselhos?

Eu mordo meu lábio novamente.

Contar-lhe poderia fazer com que ele descobrisse. Se ele


descobrisse, ele poderia dizer algo para Rafael.

— Você está hesitando porque ainda não tem certeza de confia em


mim, não é?

Eu encontro seus olhos. — Todo homem que já confiei me feriu,


Marcus.

Algo pisca através de seus olhos. — Eu entendo isso muito bem.


Ouça, você não tem que me dizer, mas eu posso garantir que, se você
fizer isso, eu farei tudo que posso para ajudá-la.

— Incluindo finalmente dizer a Rafael sobre o meu filho?

Ele balança a cabeça. — Isso não é da minha conta. Rafael é um


amigo muito leal meu, mas não vou arriscar a vida de uma criança.

Meu coração dispara contra a minha caixa torácica. — Eu não


posso me esconder. — Minha voz é baixa, com medo mesmo.

— Você pode ficar aqui, — diz ele. — Eu também tenho outros


lugares... pessoas...

— Pessoas?

— Como o Joker’s Wrath Motorcycle Club.

Eu pisco, e então chio, — Um clube de motoqueiros?

Ele balança a cabeça. — Eu tenho muito bons amigos lá. Eles me


devem uns favores. Eles protegeriam você e o seu filho, até que
pudéssemos analisar este problema.

Eu já estou balançando minha cabeça. — Não. De jeito nenhum.

— Escute, Julietta, eu sei como soa, mas eu prometo a você que


eles são boas pessoas.

~ 54 ~
Como se isso fosse acontecer. — Olha, Marcus, — eu digo em pé,
— obrigada, mas eu não deveria ter vindo.

— Julietta, — diz ele quando eu me viro e saio correndo de seu


escritório.

Eu bato em uma pequena estrutura, uma mulher, mas uma


mulher forte. Eu passo para trás e olho para uma das mulheres mais
bonitas que eu já vi.

— Oi, — ela diz, seus olhos correndo para o escritório de Marcus,


em seguida, de volta para mim, confusa. — Eu conheço você?

— Katia.— Marcus sai do seu escritório. — Esta é Julietta. Ela


está... com Rafael.

Os olhos de Katia piscam para mim, e ela me dá o maior sorriso, o


mais bonito que eu já vi. — Bem, é um prazer conhecê-la. Marcus me
disse que Raf tinha uma nova mulher. Uau, você é linda. Sou Katia,
esposa ou a melhor metade de Marcus, dependendo de como você olha.
É um prazer conhecê-la.

Eu pisco novamente. — Ah,— murmuro. — Oi. Julietta.

Ela ri. — Eu sei.

— Desculpe, — eu digo, nervosa. — Eu estava de saída.

— Você está bem? — Ela pergunta, com uma preocupação


genuína em seus olhos.

Ela é uma boa pessoa, isso é certo. Ela não me conhece, mas ela
está mais do que disposta a perguntar como eu estou.

— Claro, eu estou bem. Eu só tenho que ir para casa.

Ela balança a cabeça.

— Por favor, ah, não diga Raf eu vim aqui. — Com isso, eu corro
para a porta da frente.

— Julietta, — Marcus diz, me seguindo.

Eu tenho a minha mão na maçaneta e minhas lágrimas estão


prontas para estourar, quando sua mão repousa sobre meu ombro. —
Eu sei que você não me conhece. Eu sei que você provavelmente não
confia em mim. Eu entendo tudo isso. Mas eu prometo a você, eu não
iria colocá-la em perigo. Posso proteger você e o seu filho, mas não vou
forçá-la. Rafael nunca vai saber que você esteve aqui.

~ 55 ~
Eu aceno e ele solta o meu ombro.

Eu dou o fora de lá.

~*~*~*~

— Droga!— Riccardo grita, entrando no meu apartamento


naquela noite, depois de eu ter colocado Ajax para dormir.

Meu coração bate contra a minha caixa torácica, porque ele


parece irritado. Ele sabe sobre Marcus?

Eu não fui cuidadosa o suficiente. Eu não...

— Alguém está tentando derrubar Rafael.

Eu me levanto e dou uma respiração instável. Eu endireito minha


postura para assumir uma atitude indiferente.

— Você pode ficar quieto? — Eu digo forçando minha irritação


habitual. Eu não posso deixá-lo ficar ainda mais desconfiado. — Ajax
está dormindo.

Ele para a poucos centímetros na minha frente. — Você me


ouviu?

— Eu já sabia, — eu digo, — e você também. Seu clube foi


explodido. E eu descobri que não foi você.

Ele pisca para mim. — Você é mais esperta do que parece. Não,
não fui eu, mas nada mais aconteceu desde então. Hoje aconteceu
outra coisa.

Meu coração martela contra o meu peito. Boom. Boom. Boom. —


O que?

Rafael está bem?

Deus.

Eu não posso lidar com mais nada.

— Mais mercadorias desapareceram. Eu estava por trás disso. Eu


preparei tudo. Então eu recuei quando você foi embora para ter esse
bebê. Agora começou novamente, mas desta vez eu não sou o
responsável.

~ 56 ~
Porcaria. — Alguém sabe que você não está jogando limpo, então?

Seus olhos incendeiam. — Por quê você diria isso?

— Se você era a pessoa que estava orquestrando isso antes, então


isso faz sentido, alguém sabe que foi você, e está fazendo isso para
culpá-lo.

— É você? — Ele sibila, dando um passo para frente.

Eu rolo meus olhos. — Supere isso. Eu não tenho tempo para


esse tipo de porcaria. Como diabos eu ia organizar algo assim?

Ele me estuda, com seus olhos desconfiados. — Então quem?

— Como diabos eu deveria saber? Estou aqui para manter meu


filho e manter segura a minha família e nada mais.

Ele bufa com raiva. — Vá até ele agora. Consiga mais


informações. Eu preciso saber o que está acontecendo.

Eu me oponho. — Eu não posso simplesmente ir até ele.

— Você pode. Você irá.

— Não.

Ele dá um passo para frente, com seu corpo grande ameaçando o


meu. — Você vai, Julietta.

— Droga. Ele não vai me dar informações, e você sabe disso.

— Ele vai; agora é diferente.

— Como? Eu sou apenas uma amante. Ele não dizia nem a Maria
sobre seus negócios.

Riccardo recua. Eu não me sinto mal. — Você vai lá e vai


descobrir o que puder. Você me entendeu, porra?

Ele está com raiva. Ótimo. Eu não tenho tempo para instigar
ainda mais ele agora. — Tudo bem, eu vou. Eu só preciso de alguém
para cuidar Ajax.

— Eu vou fazer isso.

Minha coluna se endireita. — Sobre o meu cadáver.

Ele sorri. — Isso pode ser arranjado.

~ 57 ~
— Vá se foder, Riccardo. Eu vou, mas você vai me deixar
encontrar alguém para cuidar do meu filho.

Ele acena uma mão. — Faça à sua maneira. Eu espero um


relatório completo, Julietta. Esta noite.

Com isso, ele desaparece do meu apartamento.

Eu realmente preciso mudar a fechadura.

~ 58 ~
Capítulo oito
— Julietta, — Rafael diz, com os olhos nos meus. — O que você
está fazendo aqui?

— Eu queria ver você, — eu digo com uma voz suave.

— Agora não é realmente um bom momento.

Droga. Ele vai me expulsar.

Dou um passo para frente e coloco a mão na sua mandíbula. Eu


me inclino na ponta dos pés e o beijo.

Eu não o beijo por quase um ano. Algo explode dentro de mim e o


fogo reacende em minha alma. Ele geme. Eu gemo. Eu me pressiono
mais perto dele, trazendo meu corpo contra o dele. Eu esqueci o quão
bom ele é. Eu esqueci o quanto eu amo beijá-lo. Eu apenas esqueci o
quanto eu preciso dele.

Nosso beijo se aprofunda, nossas línguas dançam, nossos corpos


estão esmagados juntos. Sua mão emaranhada no meu cabelo e ele
sacode a cabeça para trás, beijando-me tão forte, que meus lábios
queimam.

Alguém faz barulho.

Nos separamos e viramos para ver Vincent em pé no corredor,


com os braços cruzados. — Chefe?

— Julietta, você pode entrar, mas eu estou lidando com algo


agora. Você precisa ir para a sala e esperar por mim.

Ele não vai me chutar para fora. — Ok, — eu digo, minha voz
ainda firme.

Seus olhos piscam para os meus lábios. — Eu estarei no meu


escritório. Não vai demorar muito, — ele rosna.

— Bom.

~ 59 ~
Ele aponta para a sala principal e eu obedientemente vou em
direção a ela. Ele e Vincent desaparecem pelo corredor.

Quando eles se vão, eu fico de pé e silenciosamente me movo em


direção ao seu escritório, onde eu sei que ele vai estar. Eu odeio isso.
Eu poderia ser pega a qualquer momento e então eu vou estar em
grandes apuros. Com o coração na garganta, eu paro fora da porta. E se
ele tiver câmeras e me ver ouvindo? Merda.

Eu olho ao redor. Não parece haver nada. Isso não significa que
não há.

Tarde demais agora.

Eu me inclino novamente e ouço.

— Eu não sei de quem foram os bombardeiros, — murmura


Rafael. — Eu ainda estou investigando isso. Mas quem quer que seja
não é a mesma pessoa ou operação que fodeu com os embarques.
Vamos nos preocupar com isso agora.

— Então, temos duas pessoas tentando nos foder de novo? — Diz


Vincent.

— Parece que sim, — resmunga Benito.

— Ok, então temos certeza que um deles é um duplo agente.

Meu corpo formiga. Traidor? Eles sabem sobre Riccardo? O


pânico se apodera do meu peito.

— Tenho certeza que quem mexeu com essas transferências


estava do nosso lado, sim. Agora eu vou jogar até expulsá-lo. Os
embarques desaparecidos vão foder quem está querendo foder com a
gente, levando-os a um frenesi, e eles vão fracassar.

Oh. Meu. Deus. Homem inteligente.

— Tem certeza que isso vai funcionar? — Pergunta Vincent.

— Tenho certeza que isso vai fazer quem quer que seja, surtar, no
mínimo. Esperemos que ele perca um passo em algum lugar. Agora, eu
pretendo passar o tempo com a mulher linda sentada lá fora. Vamos
manter isso entre nós, entenderam?

— Você quer que eu chame Riccardo? — Pergunta Benito. — Quer


que ele saiba?

~ 60 ~
— Não, — diz Rafael. — Riccardo provavelmente não vai
concordar. Isso fica entre nós por enquanto. Vou informá-lo se for
necessário. Ele está ocupado tentando descobrir quem são os
responsáveis pelos bombardeiros.

— Um aviso.

Viro-me e corro pelo corredor e derrapo na sala de estar, me


jogando para baixo no sofá. Meu coração está acelerado. Rafael é
esperto e pode suspeitar. Ele já sabe que alguém está agindo
duplamente, mas, tanto quanto eu posso dizer, ele não tem ideia de que
é Riccardo. Posso dizer a ele? Ou eu uso isso como a oportunidade
perfeita para levar Riccardo a ser pego? Talvez então eu possa ficar
livre.

Meu coração ainda está vibrando contra o meu peito no momento


em que Rafael e os dois homens aparecem na sala de estar. Eu ajo,
casualmente, como posso, mas um milhão de perguntas estão passando
pela minha cabeça, como o que exatamente eu vou fazer. Posso usar
isso para minha vantagem? Posso dizer a verdade? Droga. Eu não sei, e
minha mente é uma confusão maldita. Eu preciso falar com Celia, com
alguém.

Os olhos de Rafael encontram os meus, e os meus pensamentos


desaparecem. Estou acenando para os outros dois caras. — Oi.

— Eu acho que nós nunca oficialmente fomos apresentados, —


Benito diz, dando um passo para frente. — Sou Benito.

Eu o estudo. Eu o vi de longe, é claro, mas de perto ele é muito...


adorável. Eu não costumo usar essa palavra para um homem,
especialmente um homem da máfia, mas Benito apenas é isso.
Adorável. Ele tem o cabelo escuro e suave e penteado para o lado,
caindo sobre a testa um pouco. Seus olhos são do mesmo castanho
italiano que os outros dois homens, mas ele tem um sorriso lindo. Ele
parece doce.

— Julietta, — eu digo, pegando sua mão estendida. — Prazer em


conhecê-lo.

Ele sorri novamente. Bonito, de fato. — Você também. Vou deixá-


los.

Ele acena para Rafael antes de desaparecer pela porta.

Olho para Vincent, que está sorrindo para mim. — É bom ver você
de novo, Julie. Como você vai torturar o meu irmão hoje?

~ 61 ~
Eu não posso evitar o sorriso que se estende por todo o meu
rosto. Eu gosto do lado insolente de Vincent. Ele parece ser um cara
bom. — Isso vai depender de quão bom ele for para mim.

Ele bate nas costas de Rafael. — Ouviu, irmão? Melhor ser legal
com ela.

— Eu sempre sou, —Raf diz, com os olhos apaixonados e


segurando os meus.

— Bem, — Vincent diz, rindo: — Eu vou sair daqui antes que eu


testemunhe vocês tirarem as roupas.

Eu faço um som chiado e Rafael sorri. Homens.

Vincent sai, e eu me volto para Raf. — Lamento aparecer assim


essa noite.

Ele dá um passo em minha direção.

Merda.

Eu dou um passo para trás. — Eu só queria, ah, vê-lo.

Outro passo. Ele se parece com um tigre prestes a atacar.

— Então, ah, sim.

Outro passo.

Eu engulo. — Eu espero que eu não tenha interrompido.

Outro passo.

Seu braço se estende e ele me pega pela cintura, puxando-me


contra seu corpo. Oh cara.

— Raf, — eu respiro, quando os lábios dele passam pela minha


mandíbula.

— Eu fodidamente senti falta do seu gosto, Cara.

Deus.

— Eu... Eu ah, — Pense Julie. Pare de apreciar o quão bom ele é.


— Eu ainda... Eu ainda não estou pronta para, ah...

— Ser fodida? — Ele ronrona, deslizando a língua sobre o meu


lábio inferior. Droga. Qual é a razão pela qual eu não posso transar com
ele de novo?

~ 62 ~
Certo. Eu recentemente tive um bebê.

— Sim, — eu digo, minha voz ofegante.

— Eu posso te beijar, embora.

Nenhuma pergunta.

Então eu não respondo.

Ele me beija, longa e profundamente. Ele tem gosto de uísque e


Rafael. Perfeição. Eu me derreto contra dele, tão desesperada por
atenção, desejando o que ele tem a oferecer. Só um segundo. Só mais
um segundo. Meus dedos se emaranham em seu cabelo grosso e eu o
beijo profundamente, e por muito tempo, isso é fodidamente incrível.

Depois de um momento, meu cérebro entra em ação e empurra


meu coração de volta para baixo em seu lugar, e eu me afasto.

— Eu devo ir. Eu só queria te ver.

Seus olhos piscam com decepção, mas ele concorda. Rafael


Lencioni não implora para ninguém ficar.

— Eu vou te ver em breve, Cara, — diz ele, com a voz baixa e


rouca.

É preciso toda a minha força para sair, mas eu saio.

~*~*~*~

— Bem? — Riccardo exige dois dias depois.

Eu tenho evitado suas chamadas. Eu não fui para casa.

Eu não sei como responder a ele. Eu não sei como jogar. Se eu


não contar a ele, eu poderia usar Marcus e conseguir a ajuda que
preciso, talvez usar contra Riccardo, mas há um risco enorme para a
minha vida. Se eu disser a ele, ele vai se aproveitar e tirar Rafael da
jogada, o que poderia acabar com o homem que eu estou tentando
muito fortemente não amar. De qualquer forma, alguém que eu me
importovai se machucar.

Isso me assusta.

~ 63 ~
— Bem, o que? — Eu estalo, entrando na cozinha, com Ajax em
meus braços. Ele é tão incrivelmente lindo. Parece que está crescendo
diante dos meus próprios olhos a cada dia. Eu poderia jurar que ele
sorriu para mim esta manhã. Ele parece ainda mais com Rafael a cada
segundo. Perfeição na forma de um menininho.

— O que foi que você descobriu na casa de Rafael?

Eu não sei o que fazer ainda. Eu não estou pronta para


responder. Posso mentir? Deus.

— Julietta, — ele chama minha atenção.

Ajax se mexe e eu decido que ele não precisa ser exposto a isso,
então desvio de Riccardo e o coloco em sua cadeira de balanço. Eu
empurro uma chupeta em sua boca, e ele rapidamente cai no sono.
Então eu caminho de volta para a cozinha e enfrento Riccardo. — Não
grite comigo na frente do meu filho.

— Diga-me o que você ouviu.

— Nada.

Seus olhos brilham com raiva e ele pisa para frente, efetivamente
prendendo-me no canto da minha cozinha. — Você está mentindo para
mim.

— Eu não estou.

Vou dizer a ele mais tarde, talvez. Eu vou dizer o que eu ouvi em
outro momento. Ele não precisa saber disso agora. Não até que eu
decida o que vou fazer...

Um tapa ressoa na minha bochecha, me pegando completamente


desprevenida. Em seguida, a mão está emaranhada no meu cabelo e ele
está me empurrando para frente. Uma dor explode no meu rosto e no
meu couro cabeludo e eu gemo, tentando puxar para trás. Que diabos?

Seu punho se aperta no meu cabelo. Acho que ele está


arrancando meus cabelos. Eu grito e tento empurrá-lo, mas ele só
aperta ainda mais. — Não minta para mim.

— Eu não ouvi nada, — eu imploro. — Você é um psicopata


fodido. Vincent e Benito estavam lá quando cheguei. Eu interrompi o
uma reunião deles. Falei com Rafael, perguntei como estavam as coisas.
Ele não me disse nada, porra. Você o conhece, então você sabe que é

~ 64 ~
verdade. Eu não tive a oportunidade de ouvir nada, porque eles
pararam logo que eu cheguei.

Riccardo me puxa para mais perto. Mais dor. Meus olhos


lacrimejam. — Não mexa comigo, Julietta. Se você está pensando duas
vezes em me dar informações, pense novamente. Se alguma coisa me
acontecer, eu tenho pessoas prontas para cuidar de você, e não no bom
sentido. Então, se você está pensando em tentar me tirar de cena,
esqueça. Só quando eu conseguir o que quero eu vou cancelar as visitas
ao você, ao seu filho e ao seu pai.

Meu sangue corre frio. Meus piores temores foram confirmados.

Eu não tenho nenhuma maneira de me livrar.

— Eu estou dizendo a verdade, — eu sussurro.

Ele me solta dando um passo para trás, endireitando o paletó.

Meu rosto está latejando, mas eu mantenho a calma, olhando


para ele.

— Coloque gelo. Rafael vai fazer perguntas. — Com isso, ele sai.

Eu afundo no chão e choro.

Sento-me no chão até Ajax começar a chorar. Lentamente, eu fico


de pé e caminho em direção a ele. Meu rosto está inchado de chorar e
do tapa forte de Riccardo.

Eu pego o meu filho, respiro fundo, e o aconchego em meus


braços. As coisas parecem ir de mal a pior. Era uma coisa quando
Riccardo estava fazendo exigências, e outra quando ele coloca suas
mãos em mim. Isso foi para um nível totalmente novo agora.

— Ei querida!

Eu estremeço ao ouvir o som da voz de Celia e hesito em me virar.


Se ela me vir assim, ela vai surtar.

Quem estou enganando? Eu não posso esconder isso dela. Não há


uma única coisa que possa fazer para evitar isso.

Eu tomo uma respiração instável e me viro.

Seu rosto cai e ela corre, agarrando meus ombros. — O que


aconteceu?

— Não é nada... Eu estava chateada.

~ 65 ~
— Tão chateada que você se deu um olho roxo?

Eu recuo e pressiono os dedos na minha bochecha. Será que vai


ficar roxo? Ele me bateu forte, com certeza, mas eu não acho que a
pancada foi tão forte, que vai deixar marca. Droga. — Eu não estou com
o olho roxo.

Que resposta patética.

— Seu olho vai ficar roxo, se você não colocar gelo, — Celia diz,
pegando Ajax dos meus braços. — Agora venha aqui para a cozinha e
deixe-me fazer alguma coisa.

— Está tudo bem, Celia, honestamente. Eu preciso alimentá-lo.

Ela acena para o banco, me ignorando. — Então eu vou pegar sua


mamadeira, enquanto você coloca gelo no seu olho.

Ela entrega o meu filho de volta para mim e eu o acaricio. Ele é


perfeito. A única coisa que me mantém sã. Eu o seguro, sua pele suave
contra o meu rosto, até que Celia prepara sua mamadeira. Ela o tira
dos meus braços e me dá um saquinho com gelo. — Agora, você vai
colocar isso em seu rosto e me dizer quem colocou as mãos em você.

Eu suspiro. — Riccardo.

— Aquele cachorro. Eu vou matá-lo. Eu vou cortar seu pinto fora


e enfiar no rabo dele.

Eu abro um sorriso. Eu não sei onde eu estaria sem ela. — Ele


ficou com raiva porque pensou que eu estava mentindo para ele.

— Você estava? — Ela pergunta.

Eu engulo, em seguida, aceno com a cabeça. — Sim, eu estava.


Bem, eu omiti a verdade. Algo aconteceu e eu percebi que eu poderia
ser capaz de usar a meu favor, então eu não lhe disse. Ele suspeitou
que eu estava mentindo, me bateu, me ameaçou, e então eu inventei
uma besteira qualquer e ele saiu.

— Então, — diz ela, os olhos arregalados, ainda furiosos, — o que


exatamente você ouviu?

Eu suspiro.

Então eu digo-lhe tudo.

~ 66 ~
Capítulo nove
— Não surte.

Eu olho para Marcus, que está em pé na minha porta da frente.


Ele chegou pouco depois de perguntar onde eu morava, ele me disse
que íamos sair hoje à noite, e então passou para me informar para que
eu não pirasse. Eu não tenho ideia de porque ele não quer que eu surte,
mas seja o que for, faz meu peito ficar apertando com o constante
estado de preocupação que se tornou minha vida. — Ah ok.

Ele cerra os olhos e se inclina para perto, como se estivesse


vendo-me pela primeira vez. Ele usa seu polegar para deslizar sobre a
minha bochecha, e eu recuo. Seu dedo sai coberto de base. Seus olhos
se estreitam e ele recua. — Quem fez isso?

Eu realmente fiquei com um olho roxo depois do tapa de Riccardo


de ontem. Eu coloquei maquiagem alguns minutos atrás, já que eu
estava prestes a sair para trabalhar. Obviamente, não cobri tão bem
como eu pensava, isso ou Marcus tem visão de raio-X e pode ver através
de minha tentativa patética de cobri-la.

— Como você...?

— Seu olho está um pouco inchado, e as duas vezes eu te vi, você


não usava maquiagem. Não é preciso ser um gênio. Agora, eu lhe
pergunto, quem fez isso?

Abro a boca e fecho. — Eu caí.

Sua mandíbula se aperta. — Eu posso lidar com um monte de


coisas, Julietta. Eu posso lidar com o seu segredo, sua necessidade de
manter a sua família segura, mas não posso lidar com abusos.

— Não é o seu problema, Marcus.

Ele faz um som grunhindo, mas acena com a cabeça. — Por


agora. Qual a hora que você sai do trabalho?

~ 67 ~
— Eu estou no turno do dia, por isso geralmente saio por volta
das cinco horas. Quer me dizer o que é que vamos fazer?

— Eu só quero que você veja uma coisa. Sem pressão.


Completamente seguro. Eu vou passar por aqui e pegá-la às sete horas
Traga sua amiga, se quiser.

Eu bufo. — Eu não tenho realmente uma escolha, eu tenho?

Ele balança a cabeça. — Não.

Ajax choraminga na sala ao lado, e os olhos de Marcus piscam


naquela direção. — Eu posso...?

Seu olhar segura o meu, questionando. Ele quer conhecer o filho


de Rafael. Claro que ele quer. Eu provavelmente sentiria o mesmo se
fosse comigo.

Eu expiro e aceno, saindo do caminho e deixando-o entrar. Ele


entra na sala de estar, onde Ajax está em sua cadeira de balanço,
brincando com um brinquedo pendurado acima dele, com baba
escorrendo pelo queixo.

— Ele é um Lencioni, completamente, — murmura Marcus,


agachando-se e passando a mão sobre a cabeça de Ajax. — Ele é
fodidamente perfeito.

Orgulho incha no meu peito. — Ele é, não é?

Marcus olha para mim, sorrindo. — Você já sabia disso, é claro.

— Claro. — Eu sorrio.

Eu me inclino e tiro Ajax da cadeirinha. — Ajax, conheça o seu tio


Marcus, Marcus, esse é Ajax.

Marcus estende um dedo e Ajax enrola sua pequena mão em


torno dele.

— Forte. Definitivamente um Lencioni.

Eu estremeço, mas não digo nada.

Às vezes eu desejo mais do que qualquer coisa que ele não fosse
um Lencioni. Isso faria minha vida muito mais fácil. Mas meu filho é
quem ele é, e eu o amo muito mais por isso.

Marcus libera o dedo e olha para mim. — Às sete, ok?

~ 68 ~
Eu concordo. — Eu não posso... Eu não posso ser vista. Este local
é seguro?

Marcus acena com a cabeça. — Eu juro.

— Ok, Marcus. Eu vou aceitar.

Ele balança a cabeça, olha para Ajax novamente, e então se vira e


vai embora.

Eu suspiro.

O que eu estou fazendo?

~*~*~*~

Rafael - Eu não consigo parar de pensar em te comer em seu


uniforme.

Eu olho a mensagem de texto no meu telefone. É hora do meu


intervalo, e eu estou sentada com meu café e um sanduíche,
percorrendo as mensagens do meu telefone.

Julie - É mesmo?

Rafael - É sim. Não me faça esperar muito tempo. Eu não sou


um homem paciente.

Eu sorrio.

Julie - Então talvez seja hora de você aprender.

Rafael - Minha cara, esqueceu quem eu sou.

Julie - Você não deixa ninguém esquecer quem você é,


Lencioni.

Rafael - Bom. Então você sabe que eu gosto que você faça o
que eu mando.

Julie - Estou mais do que ciente, exceto que você não me


disse para fazer nada.

Rafael –Lá fora. Agora.

Eu pisco, em seguida, leio a mensagem novamente.

~ 69 ~
Julie - O quê?

Rafael - Venha aqui fora. Agora, Julietta.

Eu sou obediente, meu corpo reage muito antes da minha mente


entrar em ação. Eu coloco meu sanduíche na geladeira e termino o meu
café antes de sair do hospital e sair pelas portas dianteiras.

Rafael está contra uma parede de tijolos, com os braços cruzados


sobre o peito, o terno perfeito, como sempre. Meu coração palpita
enquanto eu me movo em direção a ele, incapaz de parar o sorriso que
se espalha na minha cara.

Ele dá um passo para frente, me pega pela cintura, e me puxa


contra ele. Sua boca cai para baixo na minha sem hesitação. Ele me
beija longa e profundamente, e é bom pra caralho. Eu emaranho meus
dedos no cabelo dele e o beijo com a mesma força e paixão. Sua mão vai
para baixo, deslizando e esfregando a minha bunda. Ele faz isso
enquanto me puxa contra ele.

Bom.

Depois de alguns momentos dele acariciar minha bunda e me


moer contra ele, eu me afasto e pressiono um dedo nos meus lábios
inchados. — Bem, — eu respiro. — Essa foi uma grande pausa para o
almoço.

Ele sorri, tocando seu dedo nos lábios, também. Ele estuda meu
rosto, estreitando os olhos. Ele pode ver o meu olho roxo?

— O que aconteceu com seu olho?

— Eu tive uma reação alérgica a algum alimento; Está um pouco


inchado. Está melhorando.

Ele balança a cabeça, em seguida, segura minha mandíbula. —


Eu não posso esperar muito mais tempo, Julietta. Eu preciso do meu
pau dentro de você de novo.

Eu coro, depois desvio o olhar.

O sangramento parou. Não há nenhuma razão para eu não estar


com ele, só que eu tenho pavor que ele veja a diferença e eu vou ter que
explicar isso.

— Em breve, eu prometo. Estive, ah, com problemas.

~ 70 ~
Seus olhos brilham. — É algo que eu deveria ficar preocupado?

— Não, eu vou ficar bem em algumas semanas. — Meus olhos


caem para a sua ereção. — Até então, eu tenho certeza que podemos
encontrar outras maneiras de lidar com isso.

Ele rosna. — Cuidado com o que você tem a oferecer, eu vou levá-
la para trás do edifício e deslizar meu pau em sua boca sem hesitação.
Minha paciência está acabando.

Eu me inclino na ponta dos pés e beijo seus lábios suavemente.


— Como eu disse, alguma paciência vai lhe fazer bem. Eu tenho que
voltar.

Com isso, eu me viro e caminho a passos largos, com um sorriso


no meu rosto.

Eu senti saudade de brincar com Rafael Lencioni.

~ 71 ~
Capítulo dez
— Então, alguma ideia de onde estamos indo? — Pergunta Celia.

Nós acabamos de deixar Ajax na casa dos meus pais e voltamos


para o meu apartamento para esperar por Marcus.

Eu dou de ombros. — Nenhuma ideia.

— Hmmm. Você acha que é seguro?

Eu concordo. — Eu não acho que Marcus nos colocaria em


perigo.

Ela sorri. — Bem, eu estou animada.

— Senhoras.

Nós duas nos viramos na calçada para ver Marcus caminhando


em nossa direção, e ao lado dele um homem extremamente bonito,
extremamente assustador. Eu engulo à medida que se aproximam e
vejo que ele está usando uma jaqueta de couro. Há patches nessa
jaqueta. Um diz... presidente.

Ele é um motoqueiro.

Ele é um motoqueiro muito sexy.

Seu cabelo é escuro, bagunçado, e como ele, fora da lei. Seus


olhos são de um azul suave e ele é esculpido na forma mais masculina,
da testa até ao queixo. Ele também é enorme, um corpo de puro
músculo e força bruta.

— Este é Maddox; ele é presidente do Jocker’s Motorcycle Club.


Eles estão há algum tempo em Chicago. Eu queria que você os
conhecesse, — explica Marcus.

Então.

Então.

~ 72 ~
Esses são motoqueiros que ele estava falando. Não.

— Marcus você disse... — eu digo, dando um passo para trás. —


Eu te disse... não.

— Não surte, Julietta, — Marcus diz, sua voz cuidadosa, mas


firme. — Apenas me dê essa noite. Eu garanto sua segurança.

Maddox olha para mim, e sorri. Ele parece tão genuinamente


assustador. Ele ainda não falou nada, é claro; ele pode ser um idiota
absoluto.

— Eu entendo a sua percepção de mim e de caras como eu, — diz


ele, e sua voz é baixa, profunda e rouca. Deus. — Mas eu prometo a
você, que não é como você pensa, e nós podemos oferecer uma
proteção, impenetrável.

— Eu não estou tentando te ofender, Maddox, — eu digo com a


minha voz trêmula. — Mas... minha vida está uma bagunça agora, e eu
não preciso de mais complicações.

— Eu respeito isso, — diz ele. — Basta ir conosco esta noite. Juro,


pelo menos, você vai se divertir.

Eu olho para Marcus, que acena com a cabeça.

Eu olho para Celia que já tem as mãos juntas em acordo. — Eu


juro que vou cuidar do bebê o resto da minha vida se você me deixar ir
e ver como são os motoqueiros.

Maddox ri.

Eu rolo meus olhos. — Tudo bem, nós vamos.

— Yay! — Ela grita, batendo palmas. — Sou Celia. Diga-me há


membros solteiros no seu clube?

Seus olhos estão esperançosos sobre Maddox.

Ele sorri. — Bom te conhecer, querida, e há uma abundância de


solteiros no meu clube.

— Você ouviu como ele disse ‘querida’? — Ela respira. — É de


desmaiar.

Maddox ri. Marcus sorri.

Eu rolo meus olhos novamente.

~ 73 ~
— Vamos fazer isso, — eu digo, agarrando a mão da minha
melhor amiga.

Deus, no que estamos nos metendo?

~*~*~*~

Marcus nos leva a um enorme armazém fora da cidade, parecido


com o que eu fui levada quando Maria foi morta. Este é mais agradável,
mais limpo, e há motos e homens em todos os lugares. Eu engulo meu
nervosismo quando vejo os motoqueiros circulando, alguns com
mulheres do lado, outros de pé, em grupos ou sozinhos. Todos eles
usam o mesmo estilo de jaqueta de couro como a de Maddox, sem a
insígnia ‘Presidente’.

Eu tomo uma respiração profunda, e Celia faz um som satisfeito.


Marcus para o carro, e todos nós saímos. Uma mulher, uma mulher
muito bonita e borbulhante, vem correndo em sua direção, com toda
velocidade. Ela lança-se em seus braços e grita: — Marcus Tandem. Seu
maldito. Como você está? Faz tanto tempo! Trouxe Katia?

— Jaylah,— Marcus diz, abraçando-a com força antes de colocá-


la de pé. — Bom te ver.

— E quem são essas adoráveis senhoras? — Diz ela, seus olhos


encontrando os de Celia e os meus.

— Estas são Julietta e Celia. Minhas amigas.

— Quaisquer amigos seu, são meus amigos. Oi, eu sou Jaylah.

A mulher, que tem, possivelmente, a nossa idade ou próximo a


isso, sorri tão brilhantemente que é viciante. Eu não posso deixar de
sorrir para ela. — Prazer em conhecê-la, Jaylah, — eu digo.

— Ok, eu pensei que os homens fossem bons, — diz Celia. —


Mas, se todas as meninas são tão agradáveis como você, eu vou ficar.

Jaylah ri e joga o braço em torno do ombro de Celia. — Se você


está à procura de um homem, eu tenho um que apenas se encaixa.

Elas desaparecem para dentro, e eu chego mais perto de Marcus.


Ele coloca a mão no meu braço e diz: — Vamos lá. Eu quero que você
conheça algumas pessoas.

~ 74 ~
Nós nos movemos mais perto do armazém, e eu coro conforme
alguns homens assobiam para mim. Nós vamos em direção a um grupo
de pessoas, uma mistura de homens e mulheres, e todos eles param de
conversar quando chegamos. — Marcus Tandem!— Outra mulher linda
diz.

— Santana. — Acena Marcus.

Um homem nativo americano, que está a poucos passos, e é


absolutamente de tirar o fôlego, bate no ombro de Marcus. — Há quanto
tempo.

— Mack.

— Aconteceu alguma coisa com Katia? — Mack pergunta,


apontando para mim.

— Não. Esta é Julietta. Ela é uma amiga de Rafael.

Todas as cabeças giram na minha direção, e eu aceno sem


convicção. — Ah, oi.

— Não sabia que Rafael tinha uma nova 'amiga', — diz outro
homem. Ele é um pouco assustador, mas igualmente lindo com seu
cabelo escuro bagunçado e suas tatuagens.

— É uma longa história, — diz Marcus. — Julietta, estes são bons


amigos meus, e os principais membros do clube. Você conheceu
Maddox, bem, este é o seu vice-presidente, Krypt. — Ele aponta para o
tatuado assustador, que acena para mim. — E este é Mack e Tyke.

Aceno para os outros dois homens. Ambos sorriem para mim.

— Estas são as suas melhores metades. Santana. — Ele aponta


para a mulher linda que o cumprimentou. — Ela está com Maddox.
Jaylah fugiu com sua amiga, mas ela está com Mack, e estas são Pippa
e Ash.

Olho para as outras duas mulheres deslumbrantes. Ambas


acenam e dão o mesmo sorriso brilhante que Jaylah me deu.

— Prazer em conhecê-los, — eu digo, minha voz ainda cansada.

— Entre nós, — Marcus diz: — Julietta está metida em alguns


problemas e, possivelmente, à procura de proteção. Eu a trouxe aqui
porque ela ficou um pouco receosa quando eu mencionei vocês.

~ 75 ~
Santana vem para o meu lado. — Uma menina que não tem medo
da máfia, mas tem medo de nós.— Ela sorri calorosamente. — Você é
linda.

Eu rio; Eu não posso evitar. — Eu não estava com medo. Eu só...


Eu nunca conheci, ah, motoqueiros antes.

— Confie em mim, nós somos muito menos assustadores do que


Rafael Lencioni e seu grupo.— Ela pisca. — Vamos, senhoras. Vamos
levar Julietta para dentro e pegar uma bebida para ela.

As meninas todas saem do grupo e me levam para dentro, onde


há até mesmo mais motoqueiros circulando. Celia está no bar com
Jaylah e outro homem. Eles estão todos rindo. Bem, ela claramente não
está preocupada.

Talvez eu precise relaxar um pouco, também.

Certo?

~ 76 ~
Capítulo onze
Eu jogo minha cabeça para trás e rio. — Vocês são todos loucos.

Jaylah ri e faz um som bufando. — Nós costumávamos fazer esse


tipo de coisa o tempo todo. Antes dos bebês, é claro.

— Verdade ou desafio traz uma boa diversão.— Ri Celia. — Quero


dizer, você pode imaginar brincar com estes caras quentes?

Eu rio com ela. — Você faria qualquer coisa pelo amor de um cara
bonito.

Ela mexe as sobrancelhas. — É verdade, e eu não tenho


vergonha.

— Reconheça isso, namorada.— Ri Ash.

— E você, Julietta? O que você faz para se divertir? — Pergunta


Pippa.

— Neste momento, não muito. Eu, uh... Eu tenho um bebê.

— Ohhhhh, — canta Ash. — Um bebê!

— Sim. Ele é maravilhoso.

— Ele realmente é, — Suspira Celia. — Tão perfeito.

— Ele é de Rafael, então? — Jaylah pergunta, jogando as pernas


no colo de Santana.

Eu olho para longe.

— É uma longa história, — Celia diz para mim. — Mas ele não
sabe sobre isso e, por enquanto, deve permanecer assim.

— Você não tem que nos dizer duas vezes, — diz Santana. — Nós
entendemos completamente.

~ 77 ~
— Marcus mencionou que você está em apuros, — diz Pippa. —
Qualquer coisa que possamos ajudá-la?

Eu dou de ombros. — Eu acho que é por isso que estou aqui. Eu


acho que ele quer que eu aceite a ajuda de seu clube, mas agora eu não
estou inteiramente certa se alguém pode me ajudar.

— Se alguém puder, — Ash diz, — será este clube e estes homens.


Eles são incríveis. Não hesite em confiar neles a sua vida e a vida do
seu filho.

— A bagunça em que estou metida é muito mais profunda do que


apenas precisar de proteção, — eu digo, olhando para Celia.

— Bem, você sabe que nós oferecemos cobertura se você precisar,


— Santana diz: — E, se tudo mais falhar, temos babás incríveis.

Eu rio. — Vou manter isso em mente. Falando nisso, eu


realmente deveria ir para casa. Eu mal tenho tempo suficiente com o
meu bebê. Foi tão adorável conhecer a todos vocês.

Nós todos trocamos números, e as meninas prometeram manter


contato. Celia me diz que vai ficar, então saio sozinha e encontro
Marcus sentado com os homens do grupo. Todos param de falar e
olham para cima quando eu chego mais perto.

— Tudo bem? — Pergunta Marcus.

— Sim, eu só queria ver se eu poderia pegar uma carona para


casa. Eu não quero deixar Ajax a noite toda.

— Sim. — Marcus acena e olha para os caras, — É bom ver todos


vocês.

— Não se torne um estranho, Marcus, — diz Krypt.

Marcus acena com a cabeça, e eu faço o mesmo. — Obrigada por


me receber.

— Lembre-se, nós podemos oferecer proteção se você precisar, —


diz Maddox. — Nós podemos cuidar de você, Julietta.

Eu sorrio, e é genuíno. — Obrigada, Maddox.

Os outros homens sacodem a cabeça em concordância.

Celia e eu entramos no carro de Marcus. — Bem? — Diz ele,


quando também entra.

~ 78 ~
— Bem, eu estava errada. Eles não são o que eu esperava.

— Essa é uma coisa engraçada sobre as pessoas, — diz ele, se


afastando. — Elas nunca são.

Ele está certo sobre isso.

~ 79 ~
Capítulo doze
— Onde diabos você estava?

Eu passo pela minha porta da frente com Ajax dormindo em meus


braços, que se mexe com o som da voz irritada de Riccardo. Ótimo.
Apenas é o que eu preciso agora. Eu tive uma noite incrível e agora eu
tenho que aturar Riccardo e suas idiotices.

— Eu estava com Celia. Não há nenhuma regra contra eu ter uma


vida, Riccardo.

— Você trabalha para mim, Julietta. Eu precisei de você hoje à


noite.

— Bem, eu estava ocupada.

Eu ando até quarto de Ajax e coloco-o no berço. Ele se mexe um


pouco, em seguida, cai no sono. Eu fecho a porta suavemente e saio,
cruzando os braços sobre o peito e olho um homem com a desculpa
patética que teve parte na minha criação.

— Algo está errado. Você vai descobrir o que é, — diz ele, em pé e


andando em minha direção.

— Qual é o problema agora?

— Mais cargas foram roubadas. Alguém está brincando comigo;


Eu quero saber quem. Eu acho que é muito possível que Rafael saiba
mais.

Eu me mantenho educada. — Eu não sei. Ele não disse nada para


mim, mas eu vou passar por lá amanhã e ver o que posso descobrir.

— Bom. É hora de você começar a passar mais tempo com ele.

— Eu tenho um filho, lembra?

Sua mandíbula estala. — Sim, estou plenamente consciente


disso. Consiga uma babá. As coisas estão aquecendo; Eu vou bolar um

~ 80 ~
plano para deixar Rafael mal e quando isso acontecer, a vida vai ficar
mais agitada. Você precisa estar pronta. É hora de começar a levá-lo
abaixo.

— Ele tem fiéis seguidores, eu não vejo como você vai conseguir
faze-lo parecer ruim, e tira-lo da sua posição.

— Confie em mim, eu só preciso que ele irrite as pessoas erradas


e eu não precisarei fazer nada e nem seus seguidores.

Eu recuo. — Como o quê?

— Como os membros do cartel que o pai dele teve contato. Se eu


fizer parecer que Rafael está mexendo com seus negócios, eles não vão
hesitar em tirá-lo do caminho. Eles podem fazer o trabalho para mim,
então eu posso assumir, limpar tudo, e ninguém nunca vai saber.

Ele diz — limpar tudo, — como se eles não fossem nada mais do
que sucata. Não um cartel.

— E se o seu pequeno plano não funcionar?

— Irá funcionar. Mas, por agora eu preciso descobrir quem está


mexendo com os meus carregamentos. Alguém sabe, mas, tanto quanto
eu sei, quem quer que seja não sabe que sou eu ou eu estaria morto.
Eu preciso ser mais cuidadoso. Você precisa ir até lá e descobrir mais.

— Maria estava fazendo isso por você, não é? — Eu sempre quis


fazer essa pergunta, mas nunca realmente tinha conseguido.

— Minha filha era boa e leal. Ela sabia que o lugar dele era meu.
Ela sabia que poderia viver a vida que ela quisesse se eu assumisse. Ela
era inteligente. Ela era boa para mim. Ao contrário de você.

— Sim, bem, eu estou muito conformada, — eu digo


sarcasticamente.

Ele balança a cabeça para mim. — Faça o seu trabalho, Julietta.


Minha paciência com você está se esgotando.

— Minha paciência com você já acabou. Agora saia da minha


casa. Estou cansada.

Ele me olha feio, depois se vira e vai embora.

Eu expiro e esfrego a minha mão sobre meu rosto. Rafael vai ser
morto. Só de pensar, meu peito se aperta. Faz-me sentir tão mal eu
tenho que me inclinar para ter uma respiração estável. Ele merece um

~ 81 ~
monte de coisas, mas eu não quero vê-lo ferido. Eu pensei que poderia
lidar com isso; Eu pensei que eu pudesse fazer de tudo, a fim de
proteger o meu filho, mas o fato da questão é que eu não sei se eu
consigo ver Riccardo acabar com Rafael.

Droga.

Que diabos eu vou fazer?

~*~*~*~

— Senti sua falta.

Rafael fala no meu pescoço enquanto me puxa para dentro de sua


casa duas noites mais tarde.

— Eu também senti sua falta. — Não é mentira, e isso me


assusta.

— Estou feliz que você veio hoje à noite.

— Eu também, — eu admito.

Seus lábios se movem do meu pescoço e deslizam até a minha


mandíbula. Ele para na minha bochecha e se afasta, me acariciando
com seu polegar sobre a contusão, agora quase inexistente.

Sua ereção pressiona contra a minha barriga, e eu esqueço o que


estamos falando.

Eu o quero. Nós dois sabemos que eu vim até aqui para que
pudéssemos foder. Eu desço a mão entre nós e tomo posse de seu
pênis, enrolando meus dedos em torno dele através de suas calças. Ele
assobia e empurra seus quadris, empurrando-o mais na minha mão.
Eu aperto e dou um passo para trás, forçando-o a dar um passo,
também. Eu desato o cinto. Então eu fico de joelhos, olhando para ele
através dos meus cílios.

— Nós dois esperamos por isso, — murmuro.

Seus olhos piscam e sua mão emaranha no meu cabelo,


empurrando minha cabeça apenas ligeiramente. — Sim, nós dois, — ele
rosna. — Agora me chupe, Cara. Eu não posso esperar mais.

— Sim chefe, — murmuro.

~ 82 ~
Seu belo pau surge livre quando eu abaixo as calças dele. Eu
senti falta disso. Oh tanto. Eu abaixo a minha boca, deslizando minha
língua entre meus lábios e deslizando-a sobre a sua cabeça. Ele
assobia, e seus dedos apertam no meu cabelo. — Não brinque, Julietta.

Um aviso.

Eu sorrio e lambo novamente, desta vez girando minha língua


antes de deslizar para baixo em seu eixo. Ele faz um som baixo, gutural
na garganta e empurra a cabeça para frente, forçando seu pênis contra
meus lábios. — Abra para mim.

Eu não abro.

Ele empurra mais forte.

Eu fico molhada. Molhada pra caralho.

— Agora, Julietta, — ele rosna.

Eu abro meus lábios obedientemente, e ele desliza seu pau na


minha boca. Rafael gosta mais áspero. Ele gosta de força. Ele gosta
rápido. Isso é exatamente o que eu vou lhe dar.

Eu suavizo os lábios apenas um pouco para que ele possa


trabalhar dentro e fora da minha boca livremente, mas mantenho a
pressão suficiente para levá-lo onde ele precisa ir. Então eu seguro sua
bunda com as minhas duas mãos e o deixo assumir a liderança.

Ele fode minha boca. Forte. Ele empurra seu pênis


profundamente. A saliva o ajuda a deslizar para dentro e para fora.
Tento abrir minha garganta, tanto quanto eu posso, para deixá-lo ir tão
fundo quanto ele precisa. Ele vai. Seu pênis atinge o fundo da minha
garganta, os dedos puxam meu cabelo, e ele fode a minha boca com
uma ferocidade que eu nunca senti antes.

Ele joga a cabeça para trás e rosna quando goza, atirando seu
esperma na minha garganta. Eu levo tudo, engolindo freneticamente até
que a última gota desapareça.

Ofegante, ele desliza seu pau da minha boca e me libera. Ele olha
para mim, soltando o meu cabelo enquanto eu limpo minha boca com
as costas da minha mão. — Você está perfeita assim de joelhos.

Eu tremo.

Ele se abaixa e me ajuda. — Vinho?

~ 83 ~
— Claro, — eu digo, com a minha voz rouca.

— Vem.

Ele me leva para a cozinha e nós sentamos em um par de


banquetas de frente para o outro. Ele serve um copo de vinho. É neste
momento exato em que eu percebo que senti falta de Rafael mais do que
eu estava disposta a admitir. Nunca foi apenas sexo. Sempre teve
alguma coisa a mais. Há sempre alguma coisa entre nós. Nós somos
ligados. Somos conectados. Nós sentimos isso.

— Posso lhe fazer uma pergunta? — Pergunto bebendo meu


vinho.

— Sempre, Cara.

— Como você está desde a morte de Maria?

Ele recua. — Eu posso não ter amado minha esposa, mas eu a


respeitava. Não foi fácil perdê-la. Ela era boa para mim. Ela não merecia
isso.

Meus dedos tremem em torno da taça de vinho, e eu olho para


baixo. Meu rosto cora. Meu coração dói. É minha culpa ela estar morta.
Eu a perturbei. Se eu não tivesse feito isso, ela não teria explodido do
jeito que fez e provocado a pessoa errada.

— Ei,— Rafael diz, deslizando o dedo embaixo do meu queixo e


inclinando a cabeça para trás. — O que está errado?

Uma lágrima desliza para fora do meu olho e corre pela minha
bochecha. — A culpa é minha, — eu sussurro.

— Olhe para mim, Julietta.

Eu encontro seus olhos, e ele mantém a preensão no meu queixo.


— Fale comigo.

— Nós estávamos discutindo, — eu digo, minha voz tremendo. —


Ela ficou chateada comigo por ser sua amante. — Mentirosa. Mentirosa.
Mentirosa. — E ela começou a gritar e gritar. Em seguida, um homem
entrou e disse-lhe para parar. Ela não parou, então ele atirou nela. Ele
apenas atirou nela. Se não fosse por eu ser quem eu sou para você, ela
não teria sido morta.

— Isso é completamente errado. Meu mundo é arriscado, Julietta.


Não só ela se casou comigo, mas o pai dela era parte disso, também. Ela

~ 84 ~
ficou em uma situação ruim. Ela sabia que não era para reagir, e ela
reagiu. Não havia nada que pudesse ter sido feito.

Sim, havia.

Eu poderia não ter dito a ela que estava grávida de seu marido. —
Talvez.

— Não importa o que aconteceu entre vocês duas, não foi culpa
sua.

— Você chegou a descobrir quem nos levou? — Eu pergunto,


redirecionando a conversa.

Ele balança a cabeça. — Não.

O fato de que ele não está me perguntando se eu me lembro de


alguma coisa, me diz que ele sabe quem nos levou. Se não o fizesse, ele
estaria fazendo perguntas. A verdadeira questão é se ele sabe que
Riccardo me levou depois que Maria foi morta?

— Você não estava lá quando eu cheguei,— Rafael pergunta


gentilmente.

— Eu fugi e corri. Eu não olhei para trás. Eu estava tão brava


com você, tão horrorizada com o que vi.

Seu polegar acaricia minha pele, calmante. — É uma coisa difícil


de testemunhar.

— Isso é um eufemismo, — murmuro.

— Por que você fugiu?

Eu pisco. — Você sabe porque. Você prometeu que seu mundo


não iria me tocar e ele chegou até mim, da pior maneira. Eu estava
apavorada. — E você estava desconfiando do meu pai pelas minhas
costas. Você estava mentindo para mim.

Meu coração aperta.

— Eu sinto muito por isso. Se eu pudesse voltar atrás...

— Bem, você não pode, — eu digo, puxando o queixo de suas


mãos. — Podemos falar de outra coisa?

Ele balança a cabeça, mas seus olhos estão sobre os meus,


preocupados. Eu gostaria que ele não olhasse para mim assim. Eu
gostaria que ele não se importasse comigo.

~ 85 ~
Eu gostaria de não me importar com ele.

Mas caramba, eu me importo.

~ 86 ~
Capítulo treze
— Alguém está de sacanagem comigo!— Riccardo grita, abrindo a
porta do meu apartamento de repente.

Acabei de colocar o Ajax para dormir e estou com espuma até


meus cotovelos lavando as mamadeiras quando eu me viro e vejo
Riccardo com o rosto vermelho, avançando até mim. Dou um passo
vacilante para trás, porque ele parece chateado, e a última vez que ele
estava chateado, eu sofri por causa disso.

— O que você está falando? — Eu pergunto, esfregando os braços,


porque, de repente, fica frio aqui.

— Alguém está brincando comigo. Alguém acabou com um dos


meus homens, um dos meus mais confiáveis. Eu acho que Rafael está
nisso. Eu preciso saber.

— Ele não disse nada sobre você, — eu digo, falando a verdade.


Rafael sabe que alguém trabalha como agente duplo, mas eu não acho
que ele saiba que é Riccardo. Eu não diria isso. Talvez Riccardo precise
ter medo. Talvez ele estrague tudo por conta própria. — Essa é a
verdade.

— Ele não iria te falar nada — Riccardo ruge, — é por isso que
você vai estar na casa dele hoje à noite, e você vai invadir seu escritório.
Eu preciso saber o que está acontecendo.

Meu sangue corre frio. Ele não pode estar falando sério. — Não há
nenhuma maneira que eu faça algo tão completamente estúpido!

Os olhos de Riccardo piscam para mim. — Ele confia em você. Ele


provavelmente nem o trancará. Você entra quando ele estiver dormindo,
e vê o que pode encontrar. Eu sei as senhas do seu computador, mas
não posso entrar lá sem ele ficar desconfiado.

— Não. — eu estalo. — Não. Se ele me pegar...

~ 87 ~
— Não é problema meu. Meu problema é ter certeza que ele não
está desconfiado de mim. Se ele descobrir que eu sou a pessoa por trás
do sumiço das cargas, ele vai fazer coisas muito piores do que me
matar. Se ele me pegar, eu vou dizer a ele sobre você estar me ajudando
e você vai morrer de qualquer maneira. Se você quiser manter o bebê
seguro, você vai fazer o que eu estou pedindo.

Minha pele se arrepia.

Ele não está me dando alternativa.

— Eu estou lhe dizendo isso que vai estragar tudo. Se Rafael me


pegar...

— Se Rafael pegar você, você se faz de boba.

Eu balanço minha cabeça. — Você é realmente estúpido, não é?


Oh, sim, Raf, eu só estava bisbilhotando através do seu computador,
sem qualquer razão.

Riccardo me dá um tapa.

Minha cabeça gira para o lado, e as lágrimas escorrem sob


minhas pálpebras. Minhas bochechas queimam com raiva, traição, dor
e frustração, meu peito arfa e uma tristeza sobe pela minha garganta.
Eu explodo, e me viro pegando a coisa mais próxima que eu vejo. Uma
faca do balcão da cozinha. Eu a balanço para ele e ele dá passos para
trás, os olhos piscando com o choque. — Você nunca coloque a mão em
mim novamente, ou eu vou passar essa faça direto no seu pau. Posso
não matá-lo, mas com certeza isso vai deixar o resto de sua vida muito
fodidamente miserável. Você pode apostar; Eu aprendi uma coisa com
você, eu não tenho medo de usar, e eu não tenho medo de fazer a sua
vida tão terrível como você está fazendo a minha.

Ele dá mais um passo para trás. — Entendido.

Poder.

Uma pequena fração poder, mas me dá confiança. Me faz sentir


como se eu pudesse ser capaz de sair dessa.

Eu abaixo a faca, mas eu a mantenho na minha mão.

— Largue isso. Nós vamos continuar nossa discussão, — ele


ordena mas seu tom não é nada duro como era antes.

— Eu acho que vou continuar com ela na mão.

~ 88 ~
Sua mandíbula aperta, mas não ele discute. — Eu preciso saber
se eles estão em cima de mim. A única maneira de fazer isso é você
entrar no escritório de Rafael e ver o que você pode descobrir.

— Em primeiro lugar, você e eu sabemos que Rafael nunca iria


manter informações como essas em seu escritório ou em seu
computador para qualquer um encontrar.

— Sim, ele iria, — ele argumenta. — Ele mantém todos os seus


registros e informações nesse escritório. Tudo que eu preciso é de
alguns nomes, ou um local, ou um número. Algo para eu começar a
tentar descobrir o que diabos ele sabe.

— Isso é muito perigoso. Se ele me pegar...

— Se você é inteligente, — ele rosna, — ele não vai te pegar.

— Você está me pedindo para entrar em seu escritório, fuçar em


seu computador, e basicamente invadir cada milímetro de espaço
pessoal que ele tem. Se ele me pegar, eu nunca vou ser capaz de
explicar. É muito arriscado.

— Ele não vai pegar você.

— Ele pode pegar!

— Se você for cuidadosa, ele não vai. Mas, para ser mais
garantido, você irá drogá-lo.

Eu pisco. — Você perdeu sua maldita cabeça?

Seus olhos piscam para a faca. — É uma boa ideia. Você vai até
lá, come com ele, derruba um comprimido para dormir em seu vinho, aí
você o leva para a cama. Quando ele estiver desacordado, você vai até
seu escritório.

— Ele provavelmente tem câmeras lá, — eu tento.

— Ele tem, mas eu vou te dizer como desativá-las.

— Não, — eu insisto. — Não, eu não vou fazer isso.

— Você vai fazer sim! Ou eu vou mandar alguém fazer uma


visitinha para o seu pai.

Eu estremeço, e meu peito aperta. — Por favor, não me peça para


fazer isso.

~ 89 ~
— Eu não estou pedindo, — diz ele. — Estou mandando. Amanhã
à noite, Julietta. Eu vou enviar tudo que você precisa antes de você ir.

Abro a boca para discutir com ele, mas como sempre, ele se vira e
sai do meu apartamento.

Eu tenho um péssimo pressentimento sobre isso.

~*~*~*~

Eu não posso fazer isso.

Eu não posso.

Isso parece tão errado.

Eu acho que vou vomitar.

Pego meu telefone e mando uma mensagem para minha mãe pela
centésima vez, me certificando que Ajax está bem. Não consigo remover
o mal-estar da minha barriga. Parece perigoso. Eu sinto como se algo
muito ruim fosse acontecer. Riccardo me assegurou que se eu seguisse
cada instrução sua nada vai dar errado, mas eu não acredito nele. Eu
não posso. Droga.

— Julietta.

Eu olho para cima. A porta da frente está aberta e Rafael está de


pé olhando para mim com aqueles belos olhos castanhos. Eu não
posso. Eu não posso. Deus. Eu não posso. Tudo o que posso pensar é o
que vai acontecer a Ajax se eu for pegaesta noite. Será que ele vai estar
seguro? Riccardo vai levá-lo, arruinar sua vida, vendê-lo? O vômito sobe
na minha garganta.

— Cara, o que está errado?

Uma lágrima cai pela minha bochecha.

Rafael dá um passo para frente, puxando-me em seus braços.

Deus o que eu estou fazendo? Que tipo de monstro sou eu? Ele
não merece isso. Não importa o que ele fez, ele não merece isso. Talvez
eu deva ir buscar o meu filho e voltar. Vou trazê-lo para cá. Rafael vai
nos manter seguros.

~ 90 ~
Mas não o meu pai.

E minha mãe.

E Celia.

Riccardo irá se certificar que alguém se machuque. Estou certa


disso. Eu não posso protegê-los, e ele sabe disso. Ele me tem sobre um
barril e sua mão está firmemente plantada nas minhas costas, me
mantendo lá. Eu não posso rolar para frente ou para trás. Eu só
consigo ficar no mesmo lugar, implorando por alguém para me salvar
antes que eu apodreça lá.

— Eu apenas estou tendo um momento muito difícil, — eu


sussurro.

Rafael me abraça com força, com tanta força que eu quase


acredito que ele pode me colocar de volta no lugar, mas eu estou no tipo
de merda que não pode ser corrigida. — Entre.

Ele me puxa, através do batente e fecha a porta. A casa está


tranquila, as luzes estão apagadas, e uma música suave toca ao fundo.
Rafael me leva para a sala e me solta apenas para pegar um copo de
vinho tinto da garrafa sobre o balcão. Ele entrega a bebida para mim,
levantando a mão depois de eu pegá-lo, acariciando uma lágrima
solitária da minha bochecha. Por que ele tem que ser tão perfeito? Por
que ele não pode simplesmente ser um idiota e fazer isso mais fácil para
mim?

Eu saboreio o vinho; quase queimando quando desce pela minha


garganta. Eu desejo que isso tudo vá embora.

Rafael tira o copo da minha mão e o coloca na mesa ao nosso


lado, então ele pega a minha mão e me leva para o meio da sala,
trazendo-me perto, colocando as mãos nos meus quadris. Apesar da
falta de música, ele quer dançar. Droga. Eu levanto as mãos trêmulas e
coloco em volta do pescoço dele, encontrando seus olhos. Eu o amo.
Estou tão incrivelmente apaixonada por ele. Como diabos eu vou passar
por isso?

Como eu poderia viver comigo mesma?

Eu encontro seus olhos e eu posso sentir, eu posso sentir o


quanto ele me ama. Eu posso sentir como seu corpo irradia direto em
minha alma. Ele é o único. O amor da minha vida. O pai do meu filho.
E eu estou a ponto de esmagá-lo como um inseto.

~ 91 ~
Eu fico na ponta dos pés e o beijo, porque se eu tiver que olhar
nos olhos dele um segundo a mais não vou saber lidar. Ele recebe o
beijo como sempre faz, me puxando para mais perto.

Eu quero ele. Só uma vez.

— Raf, — eu respiro contra seus lábios. — Eu quero você.

— Porra, — ele murmura. — Finalmente.

Eu me afasto, meus dedos se enredam em seu cabelo. — Eu estou


nervosa... Porque... bem...

Ele me estuda. — O que?

— Eu ganhei um pouco de peso e... Eu acho...

Ele para e pressiona o dedo aos lábios. — Não faça isso. Você é a
mulher mais linda que eu já vi, Julietta. Você poderia estar cinquenta
quilos mais pesada do que estava quando você me deixou, e eu ainda
acharia isso. Nunca se esconda de mim. Você é perfeita.

Maldito seja ele. — Ok, — eu sussurro.

Ele se inclina e me leva em seus braços como se eu não tivesse


ganhado um único quilo e me leva para o quarto. Eu tive um parto fácil
o suficiente, sem problemas, então eu espero que ele não perceba.

Esse pensamento some no segundo em que ele me coloca na


cama e traz seu corpo firme sobre o meu, beijando cada pensamento
ruim da minha mente. Eu abro minhas pernas, deixando-o se
embaralhar entre elas, e então eu o beijo com tudo que tenho.

Ele tem um gosto tão bom.

Ele parece ainda melhor.

Ele me beija até que minha cabeça está girando e meu corpo fraco
por ele, então ele empurra e, lentamente, levanta meu vestido sobre a
minha cabeça. Minhas mãos instantaneamente vão para o meu
estômago. Ele joga o vestido, me dá um olhar severo, e rosna, — Tire
suas mãos daí, Julietta.

— Não.

— Esta pode ser a primeira vez depois de um tempo, mas


prepare-se, vou bater em você. Agora tire as mãos.

— É apenas... não estou tão bem...

~ 92 ~
Suas mãos batem nas minhas, tirando-as de lá. Seus olhos caem
para o meu estômago e eu estou apavorada. O que ele pode dizer?

Seus olhos piscam de volta para o mim. — Você está ainda mais
bonita.

Ele sempre sabe o que dizer.

Eu engulo em seco que ele chega perto, soltando meu sutiã. Ele o
remove e olha para os meus seios mais cheios. Meu leite secou, mas
eles ainda estão um pouco inchados por causa da gravidez e do
nascimento. — Eu certamente não estou reclamando sobre isso,— ele
rosna, inclinando-se e pegando meu mamilo na boca. — Perfeito.

Eu choramingo quando fogos de artifício disparam através do


meu corpo e se estabelecem em meu núcleo. Eu preciso dele. Duro e
profundo.

— Raf, — eu respiro.

— Diga isso de novo, — ele rosna, movendo-se pelo meu corpo.

— Raf, — eu sussurro quando ele desliza minha calcinha.

— Mais uma vez, — ele ordena, forçando os meus joelhos e


abrindo as minhas pernas.

Eu fecho os olhos. Ele pode dizer que eu passei por um parto?

— Mais uma vez, — ele rosna, deslizando o dedo pela minha


carne.

— Raf.

— Foda-se, eu senti falta disso isso.

Ele abaixa o seu belo rosto e captura meu clitóris em sua boca,
sugando-o profundamente. Eu suspiro me arqueando. Ele o leva mais
profundo com uma ferocidade que eu não senti dele antes. É quase
doloroso. Tão perfeito. Eu grito, meus dedos enrolados nos lençóis. Seus
dedos encontram minha abertura, e ele empurra para dentro. Eu gozo
com tanta força, que arqueio minhas costas e grito seu nome. Faz tanto
tempo.

Ele tira sua roupa em segundos. Ele agarra meus quadris e me


arrasta para o final da cama onde toma minhas pernas e as lança sobre
os ombros. Eu fico olhando para seu lindo peito, bronzeado e cheio de
músculos. Eu senti muito a falta dele. Seu pênis pressiona a minha

~ 93 ~
entrada e me viro para olhar seus olhos. Ele se parece com um animal
solto prestes a explodir.

Com um impulso rápido, ele está dentro de mim. Eu suspiro. Ele


geme.

Então ele me fode. Ele não vai devagar. Ele me fode com uma
ferocidade que nós dois precisamos. Ele me mostra o quanto ele
também sentiu a minha falta.

— Raf— Eu lamento, meus dedos segurando os lençóis com tanta


força, que estão bancos.

— Porra, você é tão fodidamente perfeita, — ele rosna. — Eu senti


saudades da sua boceta.

Oh Deus.

— Eu gozar, — eu choramingo, minha cabeça caindo para trás,


meus olhos se fechando.

Sua mão solta uma das minhas coxas e cai entre as minhas
pernas, encontrando meu clitóris. Ele esfrega em círculos suaves
enquanto seu pau continua a trabalhar na minha boceta. Eu gozo com
uma explosão, meu corpo salta, meu sexo pulsa. Ele rosna, os dedos
apertando em torno de minhas coxas, e então ele sussurra meu nome
enquanto encontra a sua libertação também.

Isso foi incrível.

Mas no mesmo segundo minha empolgação desaparece, meu


coração parece uma centena de vezes mais pesado.

Eu sou uma pessoa terrível, terrível pelo que estou prestes a


fazer.

~ 94 ~
Capítulo catorze
— Vou pegar um pouco de vinho para a gente, — eu digo,
levantando a cabeça do peito de Rafael e me empurrando para fora da
cama.

— Eu posso pegar,Cara, — diz ele, me estudando por esses lindos


cílios grossos.

— Não. — Eu sorrio. — Eu vou. No balcão, sim?

Ele balança a cabeça, seus olhos caindo para os meus lábios. Eu


me levanto e viro, vestindo a camisa dele e nada mais. Eu caminho para
fora do quarto e no momento em que a porta se fecha atrás de mim,
meu coração bate forte. Eu engulo a ansiedade e ando pelo corredor
entrando na cozinha, onde a minha bolsa, o vinho, e as taças estão. Eu
pego duas taças e o vinho, então eu olho para a minha bolsa.

Vou até ela e retiro o comprimido já esmagado em um pacote


pequeno. Eu fecho meu punho em torno dele e caminho de volta para o
balcão, derramando vinho nas duas taças, então eu esvazio o pacote no
copo de Rafael e espero dissolver. Felizmente, o vinho é um tinto escuro
e uma vez que se dissolve, nada pode ser visto. Eu me viro depois disso
e caminho de volta pelo corredor com as duas taças.

Quando eu volto, Rafael ainda está na cama, mas ele tem seu
telefone na mão. Ele o larga quando eu entro e me encara. Seus olhos
estão sombrios, misteriosos, e um pouco desconfiados. Será que alguém
acabou de ligar para falar alguma coisa?

— Tudo bem? — Eu pergunto, entregando-lhe a taça.

Ele pega e diz: — Só negócios.

Deve ser difícil ter que lidar com isso constantemente. Eu deslizo
para a cama e ele me puxa em seus braços, me apoiando contra ele. Eu
tomo meu vinho, também, e eu saboreio. Eu não posso ver se ele está
tomando o seu pela forma como ele está me segurando, mas eu sei que
o ele tem na mão, então isso é tudo que eu preciso.

~ 95 ~
Meu coração ainda está batendo forte, e eu me pergunto se ele
pode sentir isso.

— Como está o trabalho? — Ele pergunta, com a voz


estranhamente desconfiada.

— O mesmo de sempre.

— E aquele homem, James, ele ainda a incomoda?

— Jacob, e não, não depois que você o assustou.

— Bom.

Eu coloco a minha taça no criado mudo e viro meu corpo,


olhando para ele. Seus olhos descem para encontrar os meus. — Tem
certeza que está tudo bem?

— Sim.— Ele balança a cabeça.

Eu chego mais perto e acaricio sua mandíbula. É tarde, eu sei,


porque eu fiz questão de vir aqui depois de nove horas para que não
parecesse estranho se eu pedisse para dormir aqui.

— Você se importa se eu ficar? — Pergunto.

— Não, Cara, não mesmo.

Eu me aconchego de volta nele, terminando o meu vinho, e


pressionando o meu rosto contra seu peito. Ele é quente; ele é tão bom.
Estou distraída quando sua mão acaricia meu ombro gentilmente.

Ficamos assim por um tempo, ele me acariciando, meus olhos


ficando pesados. Eu me afasto dele quando começo a lutar com o sono.
Ele se estica e apaga a luz antes que eu possa ver a taça de vinho.

— Vamos dormir um pouco, — ele murmura, me arrastando


contra ele e envolvendo seus grandes braços ao meu redor. Ele parece
sonolento.

Eu luto contra o sono ainda, o que é muito difícil quando seu


hálito quente aquece a parte de trás do meu pescoço e ele está tão
quente e firme contra mim. Eu quero cair no sono. Na verdade, eu não
queria estar em nenhum outro lugar, a não ser em seus braços.

Eu não tenho escolha.

Então eu mantenho meus olhos abertos.

~ 96 ~
~*~*~*~

Só quando o seu corpo está em sono profundo é que eu


cuidadosamente me desvencilho dos seus braços. Eu não posso ver
nada, o quarto está tão escuro, então eu escorrego para fora do lado da
cama e espero para ver se ele se mexe. Ele não se mexe. As pílulas
parecem ter feito efeito.

Ele não se move quando eu procuro meu vestido e puxo sobre a


minha cabeça, em seguida, visto a minha calcinha. Uma ânsia de
vômito sobe na minha garganta quando a culpa assume. Eu não quero
fazer isso com ele. Eu não quero, mas eu não tenho escolha. Eu tenho
que proteger minha família. Meu filho.

Com as pernas trêmulas, eu saio do seu quarto. Eu permaneço do


lado de fora por alguns minutos, e quando ele não sai, eu sigo pelo
corredor, que ainda está um pouco iluminado Eu vou até a minha bolsa
e leio as instruções sobre como desativar as câmeras. Há um painel de
dentro da sala de estar que tem uma caixa de controle. Eu a encontro
facilmente, mas tenho um ataque de pânico vendo todos aqueles botões.

Eu respiro tremendo e leio as instruções.

Eu sigo cada passo e oro com tudo dentro de mim que isso
funcione.

Então eu vou para o escritório de Rafael.

Não está trancado, então eu cuidadosamente empurro a porta e


entro. É frio, maciço, e cheira a ele. Lágrimas queimam sob minhas
pálpebras, e eu vou para sua mesa. Há papéis espalhados, e eu os
folheio rapidamente. Nada de interesse em qualquer um. Eu sento na
cadeira de Rafael e abro seu laptop, usando o código de Riccardo me
deu para desbloqueá-lo.

Nada acontece.

Eu tento de novo. Ele me diz que há um erro. A senha está


errada, o que significa Rafael deve ter mudado recentemente. Droga.
Meu coração dispara tão rápido que eu mal posso respirar enquanto eu
tento pensar no que fazer. Eu não posso ligar para Riccardo; ele não vai
saber a senha se Rafael a mudou. Eu certamente não vou tentar e

~ 97 ~
mexer em seu computador, porque, bem, eu não sou boa com
tecnologia.

Eu fico frustrada, e começo a vasculhar os papéis do outro lado


da mesa. Eu tropeço em alguns números e nomes escritos em um Post-
It. Há um que diz 'Stanley Walter, Explosivos’. Eu não sei o que isso
significa, mas considerando que o clube sofreu uma explosão, eu acho
que poderia ser um bom começo. Eu me levanto quando uma voz fria e
dura viaja através do cômodo, me batendo bem no estômago.

— Não se mexa, porra.

Rafael.

Eu olho para cima e o vejo de pé na porta com uma arma


apontada para mim, vestindo apenas um par de jeans desabotoado.

Tudo no meu mundo para por um minuto, e eu não posso fazer


nada a não ser ficar ali com um som peculiar nos meus ouvidos.

Ele me pegou.

Tudo acontece lentamente, depois disso, como se o mundo tivesse


pressionado o botão de slow sobre a situação.

Rafael entra em cena.

Eu deixo cair o Post-It e grito: — Não é o que você pensa.

Mas é.

É o que ele pensa. E ele sabe disso.

— Você me drogou. — diz ele, sua voz tão gelada que me apavora.
Nunca o ouvi assim, nunca. — Você realmente acha que eu sou tão
estúpido? Você realmente acha que eu iria confiar em você caminhando
pela minha casa sem qualquer segurança? Eu vi você colocar a droga
em meu vinho.

Não.

Não.

Não.

— Agora, eu vou perguntar uma única vez, o que diabos você está
fazendo?

~ 98 ~
— Eu estava... Eu estava apenas... -— Eu não posso nem falar.
Eu não posso mentir. Tenho tanto medo, estou tão incrivelmente
aterrorizada, que eu mal posso pensar. — Eu estava procurando por
um, ah, telefone.

— Mentirosa! — Ele ruge tão alto, que meus joelhos bambeiam, e


eu me seguro no fim da mesa para evitar de cair.

— Você está sendo uma agente dupla. Tem sido você o tempo
todo.

O que?

Não.

— Não, — eu choro. — Não. Nunca fui eu.

Seus olhos brilham. — Você sabe quem é. — Parece como se eu


tivesse arrancado seu coração e quebrado com minhas próprias mãos.
— E você está trabalhando para eles.

Isto é ruim.

Muito ruim.

Não digo nada; Eu não posso. Se eu falar, meu filho vai morrer.
Eu não posso chegar até ele. Eu não posso. Rafael não vai me deixar
sair agora, e no segundo que Riccardo descobrir que eu não voltei, ele
vai chegar na casa dos meus pais antes de mim. Oh Deus. Ajax.
Lágrimas explodem e correm pelo meu rosto.

— Para quem diabos você está trabalhando? — Ele rosna,


mantendo a arma apontada para mim.

Eu não falo. Eu só choro.

— Responda-me, — ele grita tão alto que eu recuo.

Eu não posso.

— Se você não me responder, então você não tem nenhuma


serventia para mim.

Eu puxo minha cabeça para cima, e medo diferente de tudo que


eu já senti, esmaga meu peito. — Você não pode me matar, — eu
imploro. — Por favor, Rafael, eu não fiz...

— Diga para quem você está trabalhando, ou, de qualquer forma,


você vai morrer. Você sabe quem eu sou. Você escolheu mentir, me

~ 99 ~
enganar e me trair. Você vai ter o mesmo destino de todos aqueles que
fizeram o mesmo comigo.

— Você não pode me matar! — Eu grito.

Ele aponta a arma para mim. — Responda a minha pergunta.

— Rafael, por favor, se você...

— Um, — ele rosna, dando um passo mais perto.

— Por favor, — Eu imploro, minhas pernas tremendo, lágrimas


encharcando minhas bochechas. — Por favor.

— Dois. — Outro passo, a arma apontada diretamente para o meu


peito.

— Rafael...

— Três.

Ele engatilha a arma, e eu grito: — Eu tenho um filho seu.

Eu fecho meus olhos, à espera da bala no peito, esperando ela me


rasgar e acabar com a minha vida, mas nunca ela vem.

Eu abro os olhos e vejo o Rafael me encarando. — O que você


disse? — Sua voz é um chicote estalando irritado.

— Eu deixei você, porque eu estava grávida. Eu tive um filho, seu


filho.

Suas mãos começam a tremer. Seus olhos brilham. Ele parece


devastado, irritado, e magoado. — Onde? — Ele ordena.

— Eu não posso dizer,— eu digo, meu tom arranhado. — Eu


tenho que protegê-lo.

— Onde?! — Ele grita.

Eu deixo cair a minha cabeça e não digo nada.

Ele abaixa a arma e dá um passo à frente, me pagando pelo braço


e me puxando em direção a ele. Ele me puxa para fora do escritório
para o corredor.

— Por favor. Ele precisa de mim. Não me mate, não me tire dele!

~ 100 ~
Ele não diz nada; apenas abre uma porta no final de um corredor.
É um quarto totalmente seguro. Com trancas pesadas. Portas
reforçadas. Janelas gradeadas, protegido. Não.

— Rafael, por favor, ele está em...

— Se você não vai me dizer o que eu preciso saber, eu vou


encontrá-lo eu mesmo. — Com isso, ele bate e tranca a porta, comigo lá
dentro.

— Rafael!— Eu grito. — Por favor!

Eu bato meus punhos naquela porta até sangrar.

Em vão.

Ele se foi.

~ 101 ~
Capítulo quinze
— Levante-se.

Eu olho para cima da minha posição no chão. Minhas juntas


pulsam, meu rosto está coberto de lágrimas secas, e eu estou
paralisada da cabeça aos pés. Vincent está de pé, olhando para mim.

— Vincent, — eu sussurro.

— Levante-se.

Eu me forço a ficar de pé e com os membros instáveis, diante


dele.

— Vire-se.

— Eu não...

— Agora, Julietta.

Com uma dor no meu coração que eu nunca poderia ter


imaginado sentir, eu me viro. Ele dá um passo para frente, empurrando
minhas mãos atrás das costas e fechando algemas sobre elas. O metal
frio morde contra a minha pele e quando elas são presas, ele me gira ao
redor para encará-lo novamente com uma mão dura no meu ombro. —
Mexa-se. Você sabe que se tentar correr, eu vou atirar em você.

Onde foi parar aquele Vincent divertido? O que aconteceu com


ele?

Ele praticamente me empurra pelo corredor para a sala de estar,


onde Rafael e Benito estão. Rafael parece tão diferente. Não se vê
qualquer suavidade, qualquer amor ou afeto. Ele olha para mim com
puro ódio.

Eu quero morrer. Ele não está com Ajax, o que significa que ele
não o encontrou. Minha mãe ficaria com ele até meia-noite, então Celia
disse que ia levá-lo para casa e cuidaria dele até o dia seguinte.

~ 102 ~
Ele deve ter ido depois da meia-noite procurá-lo. É a única
explicação dele não estar com o meu filho. Ele não sabe onde Celia e eu
moramos.

— Onde está a criança? — Rafael exige, sua voz tão dura e fria
que me assusta.

Eu cerro os lábios e não digo nada.

— Você tem duas opções, Julietta, — ele rosna, chegando mais


perto. — Você me responder por vontade própria ou eu vou torturar
você.

— Vá para o inferno, — eu assobio.

Seus olhos incendeiam e ele dá um passo para trás, com os


punhos cerrados. — Faça à sua maneira. Como posso começar a
tortura? Eu acho que sua mãe é um bom começo.

— Não, — eu choro antes que eu possa evitar.

Seus olhos encontram os meus, frios, vazios, torturados. — Então


você vai me dizer onde a criança está.

— Por favor, — eu sussurro. — Ele é meu filho; ele é apenas um


pequeno bebê. Não lhe faça mal.

— Eu não sou uma porra de monstro, — ele ruge. — Eu não sou


você. Eu não vou machucar a criança.

Eu não sou.

Não. Ele é como eu.

Eu sou um monstro.

— Não, — eu digo com a voz baixa. — Mas, você vai me


machucar?

— Nós não estamos discutindo sobre você. Eu vou encontrar uma


maneira de trazer essa criança aqui, Julietta, com ou sem a sua ajuda.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto.

— Suas lágrimas não me dizem nada, — diz ele em um silvo


zangado.

Eu não tenho escolha. Meu filho estaria mais seguro aqui do que
com Celia. No segundo que Riccardo ficar sabendo que eu fui pega, ele

~ 103 ~
vai atrás de qualquer coisa que possa ter certeza que me faria ficar de
boca fechada, Ajax seria o primeiro. Minha mãe nunca iria falar. Sua
culpa sobre a situação é sufocante. Ela faria qualquer coisa para não
tornar as coisas pior, mas eu tenho que proteger o meu filho.

— Ele está com Celia, — eu sussurro, então eu dou o endereço.

Rafael se vira e sai da sala, latindo, — Descubra com quem ela


está trabalhando, e faça o que for preciso para arrancar isso dela.

Em seguida, ele se retira.

Olho para Vincent, que olha para Benito, então os dois se


voltaram para mim.

— Por favor, não me machuquem, — eu digo com a voz fraca. —


Eu sei o que parece, mas vocês não têm ideia.

— Você traiu a máfia. Isso é bastante grave, — Benito diz, sua voz
sem qualquer tom. — O que obviamente nos faz perceber que você está
fazendo isso por uma boa razão. Eu suponho que a razão seja o que
Rafael está indo pegar agora.

Meu rosto cai, e ambos acenam.

— O que queremos saber é quem está usando isso para forçar


você a fazer o seu trabalho sujo.

— Por favor, — eu digo. — Você não entende.

— Faça-nos entender, — Vincent diz em um tom cortante. —


Rafael vai matá-la, Julietta. Com criança ou sem criança.

Isso é o que me assusta mais.

— Eu N-n-n-na não...

Benito suspira e Vincent diz, — Uma palavra?

Vincent puxa outro conjunto de algemas de sua jaqueta e


caminha para mim, me puxando e me arrastando até um grande
aquecedor na parede na sala de estar. Ele me algema nele.

— Eu não preciso lembrá-la mais uma vez que se você tentar


fugir, eu vou te matar.

— Onde diabos eu poderia ir? — Murmuro. — Não há nenhum


lugar que eu possa ir, que ele não fosse me encontrar.

~ 104 ~
— Garota inteligente. É uma pena você não usar esse cérebro
antes de trair Rafael.

Eu olho para os meus pés.

Vincent desaparece conversando com Benito.

Provavelmente não é pena, mas eu fecho meus olhos e rezo.

Por um milagre.

Pelo meu filho.

Por tudo.

~*~*~*~

RAFAEL
Eu bato na porta do endereço que Julietta me deu. Uma raiva
diferente de tudo que eu já senti, pulsa em minhas veias. Raiva e
traição. Ela mentiu para mim. Ela fodidamente me usou. Ela fez um
papel duplo. Foi ela... Ao longo de todo tempo que estávamos fodendo. A
mulher por quem eu me apaixonei. A mulher a quem eu dei meu
coração.

É exatamente por isso que eu não queria amar, porra. A dor em


meu peito é diferente de tudo que já experimentei.

Celia abre a porta, mantendo a tranca. — Rafael? — Diz ela, e eu


posso ouvir o pânico em sua voz. Ela sabe.

— Você tem exatamente três segundos para abrir esta porta ou eu


vou derrubá-la, — movendo o meu casaco ligeiramente para o lado para
mostrar-lhe a minha arma.

Seus olhos se arregalam, e ela cuidadosamente abre a porta,


dando um passo para trás. Eu faço a varredura do apartamento. É mais
agradável do o antigo de Julietta, mas ele ainda não é nada bom. Eu
vejo uma mamadeira no balcão da cozinha, e algo acontece dentro do
meu peito. Ele se contorce. Ela vem fazendo isso, o que quer que seja,
para proteger um bebê. Nosso bebê.

Isso não importa.

~ 105 ~
Ela me traiu.

— Onde está o menino?

Os olhos de Celia se arregalam. — Eu não sei o-o-o que você está


falando.

— Você gaguejou, e há uma mamadeira sobre a mesa. Me dê a


criança ou eu vou atirar em você.

Ela respira fundo e deixa os ombros caírem. Ela é dura. — Atire


em mim, então, mas você não vai levar Ajax.

Ajax?

Eu quase rio em voz alta. Ela deve está brincando comigo? Ela
colocou o nome do nosso filho, o primeiro filho da minha linhagem de,
Ajax?

— Dez segundos, Celia. Eu não estou de brincadeira. Eu estou


com Julietta, e eu vou matá-la se você não entregá-lo. Ela sabe que eu
vim até aqui para levá-lo.

— Você está com Julie? — Ela respira.

— Sim, estou com ela. Eu sei o que ela fez. Ela é por minha conta
agora, e esse garoto é meu. Agora, entregue-o para mim.

— Ela teve que fazer isso, — diz ela freneticamente. — Ela não
tinha escolha. Ele ia machucar seu bebê, e seu pai, e...

— Quem? — Exijo, cortando-a.

Seus olhos se arregalam, e ela fecha a boca.

— Para quem diabos ela estava trabalhando? — Eu exijo.

— Eu n-n-não sei. Eu só sei que era um homem e ele a estava


ameaçando.

— Mentirosa, — eu assobio.

— Eu não estou mentindo, — ela se diz. — Eu não tenho


nenhuma razão para mentir.

Dou um passo mais perto. — Você tem todos os motivos para


mentir.

Ela olha para mim, inabalável.

~ 106 ~
— Me dê a criança.

— Eu não vou simplesmente entregá-lo. Eu posso ser pequena e


você pode ter uma arma, mas vou lutar com você até eu morrer antes
de entregar o bebê. Se você o quer, então me leve com você. Eu quero
saber se Julie está bem, e quando e somente quando ela me disser que
você pode ficar com ele, eu deixarei.

Forte, atrevida, confiante. Eu gosto dela.

Eu ainda olho para ela. — Se você quiser vir, eu não vou impedir.
Agora pegue a criança.

— Ele tem um nome, — ela exige.

— Eu ouvi. É terrível.

Ela vira os olhos para mim. — Não é horrível; ele simplesmente


não é italiano. Julietta não é estúpida.

O som de seu nome faz meu coração apertar, e eu rosno, —


Minha paciência está se esgotando. — O bebê. Agora. — Ela me traiu. E
uma raiva selvagem borbulha no meu peito.

Ela murmura algo sob a respiração e sai andando pelo corredor.


Eu espero com a respiração suspensa. Eu não sei como será ver esta
criança, esta criação fruto da minha relação com Julietta. Filhos são
algo que eu sempre quis, mas não dessa forma. A raiva em meu peito é
algo que não posso evitar no momento. Eu duvido que um bebê vá
mudar isso.

Celia sai com um pacote nos braços, envolto em um cobertor azul.

Eu me esqueço de como respirar.

Ela para na minha frente e eu olho para baixo. O cabelo é escuro,


muito escuro. Ele está dormindo, mãos pequenas para caralho,
fechadas em punhos. Eu posso dizer, mesmo sem os olhos estarem
abertos, que ele é meu filho. Ele parece exatamente como eu, quando eu
era bebê. Dor, confusão, pesar, e uma bolha de raiva se alojam em meu
peito. Uma mistura de emoções que eu não possa lidar.

— Rafael, conheça o seu filho, Ajax.

Não.

Deus! Porra, caralho.

~ 107 ~
— Vamos, — Eu rosno, minha voz ainda afiada. — Agora! — Eu
exijo quando pego a cadeirinha de carro do bebê ao lado da porta da
frente.

Viro-me e saio.

Eu não posso. Năo posso fazer isso.

~ 108 ~
Capítulo dezesseis
— Celia!— Eu choro do meu lugar na sala de estar, onde eu ainda
estou algemada.

Celia tem Ajax em seus braços e ela entrou na casa de Rafael,


seguida por ele. Eu salto para cima, mas Vincent pega meu braço e me
empurra para baixo.

— Solte ela, seu animal,— Celia grita para Vincent. — Ela não é
um cão.

Ele olha para ela. Ela passa por ele como se ele não fosse nada
mais do que uma mosca. Ela se senta ao meu lado e traz Ajax para
perto. Seus olhos sonolentos vibram e ele começa a se mexer. Ele vai
ficar com fome.

— Solte ela. Ela precisa ficar com seu filho, — exige Celia,
olhando por cima para Rafael, que está olhando para Ajax com uma
expressão vazia.

— Ela não vai a lugar nenhum, — rosna Rafael.

— Eu não estava dizendo para deixá-la sair, eu estava dizendo


que você a soltasse para que ela pudesse cuidar do seu filho. Tenho
certeza que você tem seguranças suficiente para se certificar de que ela
não fuja.

Rafael olha para Vincent e assente. — Experimente correr.

— Você vai me matar. Eu já ouvi, — eu estalo.

Vincent tira minhas algemas, e eu pego Ajax das mãos de Celia.


— Oi bebê,— eu digo suavemente, acariciando seus cabelos. — Eu sinto
muito.

— Porra, se não é um Lencioni... — Vincent murmura para si


mesmo, em seguida, olha para Rafael que olha para ele. — Chefe.
Desculpe.

~ 109 ~
— Você trouxe suas coisas? — Pergunto a Celia.

— Somente as mamadeiras. Rafael não me deu chance.

Eu olho para Rafael. — Se você quiser manter-nos aqui, você


precisa pegar as coisas dele.

Ele olha para mim, seu rosto está tão branco e preocupado. —
Você não pode dar merda de ordem nenhuma. Você tem sorte de estar
viva.

— Então me mate, — eu assobio, encontrando minha coragem. —


Ou pare de se opor a isso.

Vincent sibila e Benito bufa, virando-se.

Rafael investe para cima de mim, mas não chega, pois Ajax
começa a chorar.

— Pulmões de Lencioni, também. — Vincent estremece,


levantando-se.

— Não me diga, — murmura Benito.

— Vincent, — ordena Rafael. — Saia e consiga tudo o que Julietta


precisa. Leve-a para o quarto com a tranca.

— Eu não sou uma prisioneira! — Digo, ficando de pé. Ajax chora


e eu o embalo para tentar acalmá-lo, mas ele está com fome.

— Faça essa criança parar de chorar — Rafael ruge para mim.

Eu recuo e dou um passo para trás. — Essa criança é o seu filho,


— eu sussurro. — Seu porco.

— Essa criança é uma mentira, — diz ele, com a voz vacilante. —


Assim como você.

Ele se vira e sai da sala. Celia tira uma mamadeira de sua sacola
e vai em direção a cozinha adjacente à sala de estar, mas Vincent a
para. — Mostre-me essa mamadeira.

— Não é uma bomba seu psicopata. É uma mamadeira. Gostaria


de dar a porra de um gole, também?

Ele cruza os braços.

— Você acha que me assusta? — Diz ela. — Porque você não me


assusta nem um pouco.

~ 110 ~
— Eu não estou tentando te assustar. Se eu fosse, você estaria
com medo.

Celia bufa. — Como se isso fosse possível. Como eu disse ao seu


irmão, eu posso ser pequena, mas eu vou te foder, se você tentar chegar
perto de mim.

Os lábios de Vincent se curvam, mas ele mantém os braços


cruzados. Eu acho que ele encontrou alguém a sua altura. — A
mamadeira, garota.

— Meu nome é Celia, não que você vá ter um motivo para gritar
isso. — Ela o olha de cima a baixo. — Uma pena.

Juro que parece que Vincent vai cair na gargalhada ou talvez ele
só vai pegá-la e comê-la viva. De qualquer maneira, a careta em sua
face agora é inestimável.

— Mamadeira, — ele reforça.

Ela a empurra para ele e ele se assusta, se virando. Em seguida,


ele abre, e estremece com o cheiro. — Porra. Isso é nojento.

— Não é para você, idiota,— avisa Celia. — Ajax acha incrível.

Vincent empurra a mamadeira de volta para ela e olha para mim.


— Ajax? Sério?

Eu empurro meu queixo e mantenho a mão batendo na bundinha


de Ajax. — Ajax. Não gostou? Eu não me importo.

Vincent balança a cabeça. — Mulheres.

Ele caminha, mas para olhando para baixo, para o sobrinho. —


Ele é bonito, apesar de tudo.

Com isso, ele volta para o centro da sala de estar para continuar
de guarda. Celia aquece a mamadeira e volta, entregando-me. Sento-me
e seguro Ajax em meus braços enquanto eu o alimento. Ficar acordado
até tão tarde vai estragar todo o seu horário de sono, e vai ser difícil
voltar depois.

Mas, por agora, nós dois estamos vivos.

Agora eu só preciso me preocupar com os meus pais.

~*~*~*~

~ 111 ~
— Para quem você está trabalhando? — Exige Rafael.

Meus olhos estão sobrecarregados, e eu estou cansada.

Eu não durmo. Ajax ficou acordado a noite toda, mesmo depois


de Benito pegar o seu berço portátil. E Rafael ainda está de pé aqui,
exigindo respostas que eu não posso lhe dar agora. Eu não sei o que é
seguro e o que não é, e se isso vai me matar ou ao meu filho. Para não
mencionar o meu pai e minha mãe, que eu não sei se estão seguros.
Riccardo terá um plano na manga para uma situação como esta, isso é
certo.

— Responda-me!— Rafael ruge, socando a mesa.

Estamos sentados em seu escritório. Celia está dormindo com


Ajax em seus braços, e eu estou aqui, sem dizer uma palavra maldita e
irritando o homem que eu amo ainda mais.

— Não falar não vai nos levar a qualquer lugar, Julietta. Eu vou
descobrir, porra e você vai sofrer por isso.

Eu mantenho meus lábios cerrados e olho para ele.

— Droga, — ele late, varrendo tudo fora de sua mesa. Seu laptop
bate na parede e se parte em dois. Papel se espalha por todo o chão. —
Pelo menos me diga por quê.

Se eu lhe disser porquê, eu vou dizer muito. Eu mantenho o


silêncio.

Ele bate a mão no peito dele. — Será que isso significa qualquer
coisa para você, porra?

Eu recuo. — Claro que sim, — eu digo, sem ser capaz de manter o


meu silêncio. — Era tudo para mim.

— Você é imunda, mentirosa, patética. Eu deveria ter acabado


com você quando descobri o que você estava fazendo.

Isso machuca.

Ele está com raiva, eu sei, mas isso dói.

— Então por que você não fez?

— Porque você tem informações que eu preciso.

~ 112 ~
— E depois de obter essas informações? — Eu seguro seus olhos,
o desafiando.

— Eu não sei.

— Eu tenho um filho. Nós temos um filho. Se você me matar, você


tem que viver sabendo que tirou uma mãe de seu filho, pelo o resto da
sua vida. O que faria de você a escória na terra.

Rafael vem em minha direção, e eu escorrego para trás na


cadeira. Ele se inclina para baixo, batendo as mãos sobre os braços de
cada lado do meu corpo. Em seguida, ele se inclina para perto. — Não
faça isso. Você não nunca me pinte como algo que não sou, porra. Você
é a mentirosa aqui. Você é a traidora. Você é a escória.

Se segure, Julie. Seja forte. — Fique longe de mim, — eu


sussurro.

— Não até que você me diga para quem diabos você está
trabalhando.

— Eu nunca vou te dizer, — eu grito. Eu me estico, empurrando


seu peito. Ele não se move. — Eu não confio em nenhum de vocês. Eu
não confio em nada. Eu não estou segura...

Seus olhos piscam, e seu rosto suaviza por uma fração de


segundo antes de ficar duro novamente. — Você está segura comigo.

— Você é a razão de eu estar nessa confusão!— Eu grito. —


Droga, eu queria nunca ter te conhecido, Rafael Lencioni, porra!

Parece como se eu lhe dei um tapa. Ele se endireita e olha para


mim. — Você e eu.

Ele se vira e sai da sala, e um segundo depois Vincent entra. —


Levante-se, Julie.

Eu fico trêmula, com as pernas bambas e eu o sigo pelo corredor


até o quarto. Ele o destranca, eu entro sem uma palavra, e ele tranca
novamente. Celia se senta na cama, parecendo cansada também.
Nossos olhos se encontram e eu desmorono, caindo de joelhos. Ela se
levanta e corre, envolvendo os braços em volta de mim. — Está tudo
bem. Vai ficar tudo bem.

— Não vai. Nada está bem. Eu estou com medo, Celia.

— Diga-lhes a verdade, Julie. Eles podem protegê-la. Aquele idiota


não pode continuar fazendo isso com você. Eu o teria matado meses

~ 113 ~
atrás se tivesse tido chance, mas eu não sou da máfia. Eles são. Deixe-
os ajudar.

Eu pisco-lhe um olhar e depois olho para cima, empurrando


minha cabeça. Ela segue os meus olhos e vê as câmeras. Ela suspira e
se inclina, sussurrando: — Ele pode estar com raiva, magoado, e traído,
mas se ele quisesse matá-la, já teria feito. Confie nele. Diga-lhe a
verdade.

Eu viro a minha cabeça e sussurro: — Riccardo vai matar a mim


ou alguém que eu amo. Você sabe que ele vai. Se eu disser qualquer
coisa, alguém vai se machucar.

— Eles vão descobrir, — ela sussurra. — Você sabe que eles vão.
Diga-lhes, Julie.

Eu fico de pé, cortando a conversa. Eu não vou fazer isso. Eu não


vou. Eu caminho até o berço e olho para dentro. Ajax está dormindo. Eu
me viro para Celia. — Eu preciso dormir.

Ela balança a cabeça. — Eu também. Eu não ia conseguir até que


eu soubesse que você está bem. Vamos lá, vamos descansar um pouco.

Nós vamos para a cama juntas, e eu quase podia jurar que estava
dormindo antes da minha cabeça bater no travesseiro.

Finalmente, posso desfrutar de um segundo longe dessa loucura.

~ 114 ~
Capítulo dezessete
RAFAEL
O meu copo voa pela sala e bate na parede. Um barulho alto, e a
raiva é arrancada do meu peito. Eu lanço meu abajur ao lado,
quebrando-o em mil pedaços de merda.

Não só a mulher que eu amo me traiu, mas alguém está forçando-


a fazer isso. Ela não diz a porra de uma palavra. Ela não me dá nada.
Isso não foi real para ela?

— Chefe.

Eu me viro para ver Vincent de pé na porta, me estudando. — Sai


fora, Vin, — Eu lato.

— Não. Você é meu irmão. Você esta bravo. Você vai estragar
tudo, se eu não tiver perto de você. Eu não vou sair.

— Ela me traiu, porra. — Eu grito.

— Ela está com medo.

Eu estalo com os olhos irritados para ele, mas como sempre, ele
não recua. — Que porra você sabe?

Ele cruza os braços. — Ela ama você.

— Ela é uma artista, porra, e você está sendo enganado, também.

— Não fale comigo assim, Rafael, — ele rosna. — Eu sou um


monte de coisas, mas não sou estúpido. Essa menina te ama. Eu posso
ver a dor pura, crua em seu rosto. Ela está assustada. Ela não está
fazendo isso porque quer prejudicá-lo, ela está fazendo isso porque não
tem outra escolha.

— Mentira, — eu lato.

~ 115 ~
— Se você não pode ver isso, então você é o único estúpido de
merda aqui.

Bolhas sobem na minha garganta, mas eu não digo nada. Eu só


olho para ele.

— Quem a está usando é inteligente. Uma mãe vai fazer de tudo


para proteger seu filho. Algo que você vai aprender um dia.

— E você é a porra de um especialista... — Eu resmungo para ele.

— Sim, eu sou, porra porque a nossa mãe teria morrido por nós.

Isso é como um soco no estômago. Ele me bate onde dói, e sabe


disso. — Não importa por que ela esteja fazendo isso; ela ainda está
traindo a máfia, caralho.

— Talvez, mas você não sabe a extensão disso.

— Porque ela não fala, porra.

— Não, — diz Vincent. — Mas eu sei que vai.

Meus olhos piscam para os seus. — Fale.

Ele levanta a mão e aponta para a gravação de uma de minhas


câmeras. Eu caminho e ligo em minha televisão. Celia e Julietta estão
no quarto que nós a trancamos. Elas estão conversando e Celia diz: —
Diga-lhes a verdade, Julie. Eles podem protegê-la. Aquele idiota não
pode continuar fazendo isso com você. Eu o teria matado meses atrás
se tivesse tido a chance, mas não sou da máfia. Eles são. Deixe-os
ajudar. — Então Julietta aponta para o teto e elas começam a
sussurrar.

— Celia sabe, — diz Vincent.

— Celia me disse que sabia que era um homem, e isso é tudo, —


murmuro, esfregando o queixo.

— Então ela mentiu. Eu apostaria minha vida que ela sabe quem
é.

— Ela é uma mulher forte, não recuou quando eu a confrontei. O


que faz você achar que vai fazê-la entregar tudo?

Os olhos de Vincent encontram os meus. — Todo mundo tem


uma fraqueza, Raf. Ela não tem um bebê para proteger. Vai ser mais
fácil arrancar isso dela.

~ 116 ~
Eu expiro e esfrego minha testa. — Deixe-as dormir, então vamos
interrogá-la.

— O bebê vai acordar em breve, e elas não vão conseguir dormir.

Eu olho para ele. — E?

— Ele é seu filho, Rafael. Ele é um Lencioni.

Eu olho para longe.

— Faça da sua maneira. Eu vou levar o bebê. — Ele sai, batendo


a porta.

Porra. Que diabos eu estou fazendo?

~*~*~*~

JULIETTA
Ele está bêbado.

Eu sei no segundo que sou empurrada em seu escritório por


Vincent.

A porta se fecha atrás de nós e eu olho para ele encostado em sua


mesa, a camisa desabotoada, o cabelo uma bagunça. Ele se parece com
um anjo caído. Quebrado.

— O que você quer, Rafael? — Eu digo, cruzando os braços.

Ele dá um passo em minha direção. O gelo no copo faz um ruído


quando ele engole o resto de seu uísque. Ele joga o copo, que se
estilhaça no chão com o resto dos destroços de seu último ataque de
raiva. Isso não é bom.

Eu esfrego meus braços e dou um passo hesitante para trás. Ele


continua avançando até que eu não tenha para onde ir. Minhas costas
estão pressionadas contra a porta e ele está bem ali, no meu espaço,
olhando para mim.

— O que eu te disse sobre mentir para mim? — Ele diz, sua voz
suave, quase suave demais para se ouvir.

Eu engulo e encontro seus olhos. — Raf...

~ 117 ~
— É a única coisa que eu não posso lidar. Você poderia ter feito
qualquer outra coisa, Julietta, mas você tinha que mentir.

A dor em sua voz parte o meu coração. Eu gostaria de poder


explicar tudo, dizer-lhe que está tudo bem, que eu o amo, mas eu não
posso fazer isso. Riccardo está, provavelmente, perdendo a cabeça
agora, e no segundo em que eu falar para Rafael sobre ele, ele vai estar
pronto para começar uma guerra. Então eu tenho que manter tudo
comigo, e isso é a última coisa que eu quero fazer.

— Eu te amei, porra — ele murmura, passando o dedo pelo meu


ombro. — Muito.

Deus.

Droga.

Não chore.

Seus dedos mergulham para baixo, entre meu decote. — E você


me fodeu de novo.

Eu quero gritar que eu não posso, mas eu mantenho minha boca


fechada. Minha respiração sai em arfadas curtas quando seus dedos
caem mais para baixo, pegando a base do meu vestido, levantando-o.

— O que você está fazendo? — Eu respiro.

— Eu vou te foder. Vou tomar o que é meu.

Eu tremo. — Eu não acho que...

Ele me cala com a sua boca, me dando um beijo faminto, forte.


Eu não posso evitar a reação do meu corpo. Eu me estico, enredando os
dedos em seus cabelos e beijando-o com tanta profundidade quanto
posso. Suas mãos descem entre nós e ele desabotoa o seu cinto,
deslizando-o para fora. Ele se mantém entre nós e rosna, — Mãos.

Eu lhe dou minhas mãos. Ele as empurra nas minhas costas e


usa o cinto para amarrá-las. — Isto não é para você, — diz ele,
desabotoando suas calças. — Você não vai me tocar.

— Rafael, — eu sussurro.

— Se você não quiser, diga não. Eu não vou força-la.

Não digo nada. Eu quero isso.

Eu quero tudo isso.

~ 118 ~
Ele pisca os olhos, e libera seu pênis antes de empurrar o meu
vestido para cima.

— Eu vou te foder com força, — diz ele, acariciando seu pau para
cima e para baixo, devagar, preguiçosamente. — Vai doer.

Eu engulo. Eu ainda não digo nada. Quero que a dor me distraia.

Rafael levanta a minha perna, envolvendo-a em seu quadril, e


então ele pressiona seu pênis na minha entrada e empurra. Queima
quando o meu corpo tenta desesperadamente relaxar em torno da
invasão. Eu suspiro, ele sibila, e então ele faz o que prometeu. Ele me
fode. Ele me fode com força e profundo, uma mão emaranhada no meu
cabelo, com raiva empurrando minha cabeça para trás, enquanto a
outra descansa no meu quadril, controlando meu corpo, me dobrando
como ele me quer.

É uma sensação boa de modo estranho.

— Rafael — Eu suspiro.

— Não diga a porra do meu nome.

— Por favor, — Eu gemo.

— Não fale, porra — ele ordena com sua voz rouca. — Isso é meu.
Isto é para mim.

Seu pau está duro, ele me estica enquanto bate em mim. O cinto
queima contra os meus pulsos, mas eu não me importo. Congratulo a
dor.

— Você é uma mentirosa, — ele me fode.

Impulso.

— A porra de uma traidora.

Impulso.

— Você arrancou a porra do meu coração.

Lágrimas irrompem e correm pelo meu rosto. Eu não posso


mantê-las por muito tempo. Rafael ignora, me fodendo mais forte até
que eu não posso segurar o orgasmo explodindo através de mim. O seu
vem logo atrás, mas ele não faz um som. Todo o seu corpo fica tenso e
sua mandíbula aperta, mas ele continua silencioso.

~ 119 ~
Ele me solta desfazendo o cinto e puxando as calças para cima. —
Saia.

Meu coração se quebra em dois. Eu mereço isso. Eu sei que


mereço. Mas eu não tinha percebido o quanto isso machuca. — Raf...

— Cai fora, Julietta. Eu estou deixando você viver apenas pelo


bem do nosso filho, mas você não vale nada para mim.

Meus joelhos tremem, e as lágrimas escorrem pelo meu rosto


enquanto eu me viro e abro a porta do escritório. Vincent está no final
do corredor e quando ele me vê, seus olhos amolecem um pouco.

— Vamos. Vou levá-la para o seu quarto.

Eu não digo nada. Nem ele. Mas ele estende a mão e pega a
minha mão no meio do corredor.

Eu serei eternamente grata por essa pequena quantidade de


conforto.

~ 120 ~
Capítulo dezoito
RAFAEL
— Ouça, — Celia diz, se jogando para baixo no sofá na minha
sala. — O que quer que você pensa que vai arrancar de mim, você não
vai conseguir.

Eu a estudo de braços cruzados. Vincent está por trás dela no


sofá, fazendo o mesmo que eu.

— O seu silêncio não me assusta, — ela continua. — Então


desista.

— Alguém já lhe disse que você tem uma boca inteligente? — eu


murmuro.

Ela sorri. — O tempo todo. Obrigada.

Eu balanço a cabeça com um suspiro. — Podemos fazer isso da


maneira mais difícil ou o da maneira mais fácil, Celia, mas vamos fazer
isso.

— Você pode me dar duas opções para que eu possa decidir qual
maneira eu prefiro ser torturada hoje? — Ela suspira, cruzando as
pernas.

Vincent tenta abafar sua risada, mas um chiado escapa, e eu


atiro-lhe um olhar mortal.

— Eu não vou torturá-la. Há mais de uma maneira de esfolar um


gato.

Ela torce o nariz. — Que declaração terrível.

Eu levanto minhas sobrancelhas para ela, mostrando a minha


impaciência.

— Eu não vou dizer nada, Rafael. Então não me peça para fazer
isso.

~ 121 ~
— Como está a sua irmã, Celia? — eu pergunto casualmente.

Ela se encolhe, e seus olhos se atiram nos meus. Um nervo foi


atingido, e é exatamente o que eu preciso. — Não se atreva a tocá-la.
Você não chegue perto dela.

— Ela tem plena confiança na bolsa de estudos que tem, não é?


Eu me pergunto como ela se sentiria se isso fosse tirado dela.

O rosto de Celia se contorce em desgosto. — Seu pedaço de


merda. Ela não fez nada para você.

— Não, ela não fez. Mas você se esquece quem eu sou? Vou fazer
o que eu tiver fazer, para descobrir para quem Julietta está
trabalhando.

Ela cruza os braços e olha para baixo. — Você está me pedindo


para escolher entre a minha melhor amiga e a minha irmã.

— Sua irmã pode viver uma vida normal, sem interrupção.


Julietta não. De uma forma ou de outra, o mundo dela vai desmoronar.
Se você a ama, diga-nos o que precisamos saber e iremos protegê-la.

— Você não vai protegê-la! — Ela cospe. — Se fosse esse o caso,


ela teria vindo até você. Ela não tem ninguém do lado dela exceto eu.
Então, se você acha que eu vou desembuchar, pense novamente.

— Eu posso e vou protegê-la por causa de Ajax.

Celia balança a cabeça. — Eu não acredito em você. Eu acho que


no segundo em que você souber para quem ela está trabalhando, você
vai fazer de vida dela um inferno, e se você não fizer isso, ele vai. Julie
não é uma má pessoa, e, acredite ou não, ela te ama. Ela passou por
mais do que você pode imaginar para manter seu bebê seguro.

Eu recuo. Ela me ama?

Não. Se ela me amasse não teria me fodido dessa forma.

— Bem, se é assim que você se sente, eu não tenho nenhuma


serventia para você. Vincent, faça uma ligação e acabe com bolsa de
Jade.

Celia pula e se vira. — Se você der um passo para o telefone eu


vou perder minha cabeça.

~ 122 ~
Vincent puxa o seu telefone do bolso. Celia se lança sobre o
encosto do sofá. Ele dá um passo para trás, mas não antes que ela
bater na mão dele e arrancar seu telefone. Mulher impressionante.

— Me dá a porra do telefone, — Vincent rosna, pegando-a pela


cintura e puxando-a para perto dele.

— Fodido, — ela grita, jogando o telefone do outro lado da sala,


batendo na parede quebrando em pedaços.

Eu retiro o meu telefone enquanto os dois fazem brigam. Eu disco


para a empresa responsável pela bolsa, que pesquisei anteriormente;
Acontece que eu conheço alguém lá que me deve um favor. Eu posso
acabar com a bolsa de Jade em questão de minutos.

Eu sei que Celia não vai permitir que isso aconteça. Sua família
luta muito, e Jade vai perder tudo sem a ajuda financeira.

— É Rafael, — eu digo ao telefone. — Coloque Henry na linha.

Celia se vira e olha para mim com os olhos arregalados. — Rafael,


por favor.

— Sim, eu quero falar com você sobre Jade. Eu liguei mais cedo.
Eu preciso que você acabe com essa bolsa de estudos como discutido.

— Não, — Celia chora, correndo em minha direção.

Eu afasto a mão, e ela derrapa até parar.

— Quero que seja imediatamente revogada, — eu continuo.

— Rafael! Você não pode. Ela vai morrer sem isso. Isso é tudo
para ela. Por favor.

Eu a ignoro. Ela está andando na minha frente derramando


lágrimas. O olhar em seu rosto é tão apavorado quanto seus passos.

— Sim. Você me deve isso, Henry, por isso, certifique-se que isso
aconteça. Hoje.

— É Riccardo!— Grita Celia.

Tudo no meu corpo para. Por um segundo, eu acho que o que eu


escutei dela está errado. Não há nenhuma maneira dela ter dito que é
Riccardo. De maneira nenhuma.

— Não importa mais, Henry,— eu consigo falar com os dentes


cerrados. — Vamos manter o apoio financeiro de Jade.

~ 123 ~
Eu desligo o telefone e olho para Celia, que está chorando e
sacudindo a cabeça.

— Não, — ela soluça. — O que eu fiz?

Olho para Vincent, que deve estar tão chocado quanto eu. No
entanto, seu rosto está em branco e não revela nada.

— Diga-me tudo o que você sabe, Celia,— eu exijo. — Agora


mesmo.

Ela cobre o rosto com as mãos. Pobre garota. Eu a fiz trair sua
melhor amiga.

Mas tinha que ser feito.

— Agora, — eu exijo, mas minha voz não soa tão dura.

Ela se senta no sofá, e com os olhos no chão, ela me diz tudo.

~*~*~*~

JULIETTA
Riccardo vai perder a cabeça, especialmente porque Celia se foi
assim como todas as coisas de Ajax, e eu sei que ele vai assumir o pior.
Ele vai assumir que eu saí da cidade, ou que fui até Rafael e disse-lhe
tudo. Ele vai enlouquecer e quanto mais tempo eu ficar presa aqui,
mais eu vou enlouquecer. Eu não posso avisar meus pais. Eu não posso
ter certeza de que eles estão bem.

Vincent levou Celia cerca de quatro horas atrás, o que só


aumentou meu estresse. O que eles querem com ela? Eles vão exigir
que ela conte tudo? Ela não iria fazer isso. Celia é como um cofre. Ela
nunca faria isso comigo.

Eu ando pelo quarto, balançando Ajax em meus braços. Meu nível


de estresse ultrapassou qualquer coisa tolerável, e todo o meu corpo
está em alerta máximo. Eu simplesmente não me sinto bem.

A porta se abre, e eu sou arrancada dos meus pensamentos. Viro-


me e vejo Rafael, Vincent, e Celia de pé na porta. Celia soluça, seus
braços em volta de si mesma, e Vincent parece... quase triste. Como ele
se sentisse pena de mim. Os olhos de Rafael encontram os meus e não

~ 124 ~
há raiva neles, apenas piedade. Minha pele se arrepia e meu corpo
começa a tremer. Algo está errado. Algo está muito errado.

— O que foi? — Eu sussurro.

— Sinto muito, Julietta, — Rafael diz, sua voz cuidadosa. —


Acabamos de ser informados de que o seu pai faleceu.

Meus joelhos cedem. Vincent se joga na frente e pega Ajax das


minhas mãos. No segundo que ele faz isso, eu caio, minhas mãos
batendo contra o tapete, a agonia rasgando através do meu corpo. Não.
Não. Não.

— Não, — eu grito no tapete. — Não!

— Eu sinto muito, — chora Celia. — Sinto muito, Julie.

Eu olho para ela, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, meu


corpo vibrando com uma dor que eu nunca imaginei. Não pode ser real.
Não o meu pai. Ele não está morto. Eles estão mentindo.

— O que aconteceu? — Eu sussurro.

— Ele foi baleado cerca de duas horas atrás, — diz Rafael. — Sua
mãe está bem, e nós a levamos para um local seguro até que possamos
encontrar Riccardo e acabar com isso.

Meus olhos voam para Celia, e tudo se encaixa. — Você disse a


eles? — Eu digo, minha voz grossa e descrente.

— Sinto muito, Julie. Eles ameaçaram tirar a bolsa de Jade e...

Eu salto para os meus pés. — Como você se atreve? — Eu grito.


— Você sabia... você sabia o que ele faria se descobrissem. Meu pai está
morto por causa de você.

— Vincent, — ordena de Rafael. — Leve Celia e Ajax do quarto.

— Como você pôde? — Eu lamento quando Vincent arrasta Celia


chorando para fora.

— Julietta, — começa Rafael.

— Não, — eu grito, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Não


fale comigo. Isto é tudo culpa sua. Se eu nunca tivesse te conhecido, ele
ainda estaria vivo. Isto é tudo culpa sua.

Meus joelhos começam a tremer novamente. Papai. Meu pai. Não.

~ 125 ~
Eu começo a cair antes que eu possa ter a chance de me conter.
Rafael dá um passo e me pega antes de eu bater no chão. — Isto é tudo
culpa sua, — eu choro em seu peito, segurando o casaco.

— Sinto muito, Julietta.

— Eu te odeio, — eu choro. — Eu odeio você, Rafael Lencioni.

Ele não diz mais nada. Ele apenas me segura enquanto eu grito e
choro. E ele me segura quando eu paro. Ele me segura quando a
exaustão toma conta de mim e eu adormeço em seus braços.

Ele apenas me segura.

~ 126 ~
Capítulo dezenove
Sinto-me entorpecida, apertando a mão da minha mãe chorando.
Rafael pediu para um de seus motoristas trazê-la discretamente, cerca
de uma hora atrás, para sua casa.

Rafael, Vincent, e Benito têm conversado nas últimas doze horas


sobre o que eles vão fazer. Riccardo sabe que eles sabem; ele vai fugir
ou ele vai fazer alguma tentativa imprudente para conseguir o que ele
está trabalhando. Ninguém sabe para que lado ele vai. Nenhum de nós
se sente seguro.

Me sinto vazia. Partida. Fiz tudo o que podia para proteger a


minha família, mas o fato da questão é que eu nunca deveria ter me
envolvido com a máfia. A culpa é minha, meu pai está morto. A culpa é
minha e só minha. Ele me avisou para ficar longe, Celia me avisou para
ficar longe, mas eu ainda fiz isso, ingenuamente acreditando que este
mundo não iria me tocar. Agora tudo ruiu sobre mim, e meu pai está
morto por causa disso. Eu chorei tanto, não há mais nada, só um vazio
buraco amargo, dormente onde meu coração é suposto estar.

Por minha causa.

— Você gostaria de uma xícara de chá? — Celia pergunta a minha


mãe.

— Não, — ela diz, com a voz quebrada junto com seu espírito. —
Eu só vou me deitar.

Ela se levanta e caminha pelo corredor. Eu a vejo sair, meu


coração quebrando com ela a cada passo. Ela amava meu pai, sua vida
nunca mais será a mesma sem ele.

— Ele tinha que estar trabalhando com alguém, — diz Benito. —


Ele não teria agido sozinho. Não podemos confiar em ninguém.

Celia senta ao meu lado, mas eu me afasto. Estou muito zangada


com ela, mas ao mesmo tempo eu sei por que ela fez o que fez. Eu sei
porque eu fiz a mesma coisa nos últimos meses para proteger aqueles

~ 127 ~
que eu amo. Ela fez o que tinha que fazer, a fim de proteger sua irmã.
Eu nunca deveria ter pedido a ela para manter o meu segredo. Eu sei de
tudo isso, mas eu não posso evitar o vazio que estou sentindo para com
todos no momento.

— Qualquer ideia de quem poderia ser? — Vincent me pergunta.

Eu olho para eles e falo com uma voz monótona. — Eu não sei
quem, e essa é a verdade. Tudo o que sei é que os bombardeios não
foram a mando dele, porque ele estava pirando que alguém fosse
interromper seus planos. Os carregamentos - foi ele. Ele fez tudo isso.

— Qual era o plano, exatamente? — Pergunta Rafael.

Eu olho para o chão. — Ele não queria simplesmente matá-lo,


porque sabia que ia parecer suspeito. Então ele queria fazer parecer que
você estava derrotado. Ele estava querendo, basicamente, foder as
coisas para parecer que você é incompetente. Eu acredito que ele ia
tentar irritar membros do cartel fazendo parecer que era você, na
esperança que isso fosse tirar você do comando.

A mandíbula de Rafael cerra e ele olha para o chão.

— Por que ele te usou? — Vincent pergunta em guarda


permanente no canto, com os braços cruzados no peito. Nós todos
olhamos para ele e ele dá de ombros. — Eu preciso saber.

— Ele me usou, porque descobriu que eu estava grávida de


Rafael.

— Como? — pergunta Benito.

— Eu não sei. Eu acho que Maria pode ter ligado quando fomos
levadas. É a única maneira que eu acredito que ele possa ter
descoberto.

— Maria sabia? — Rafael pergunta.

Eu olho para ele. — Sim. Foi por isso que ela surtou.

Seu rosto endurece, e ele olha para longe. Eu não sinto nada.

Vincent continua falando. — Então ele usou você e Ajax para


conseguir o que queria?

— Sim. Ele me disse que se eu não fizesse o que ele queria, ele
iria se certificar de que Ajax se machucaria, ou a minha família. Ele
também me disse que se eu contasse a alguém e ele fosse morto, que

~ 128 ~
tinha alguém de olho em mim para me matar. Eu estava de mãos
atadas.

— Merda, — murmura Vicente. — Outra coisa que precisamos


fechar. Julietta não estará segura se não descobrirmos quem ele
contratou para matá-la quando ele fosse derrubado, porque vamos
acabar com esse filho da puta.

— Você está malditamente certo,— rosna Rafael. — Eu preciso de


um minuto para pensar.

Ele se vira e sai de repente pelo corredor.

Todos nós o vemos sair.

Nenhum de nós tenta impedi-lo.

~*~*~*~

JULIETTA
Um som me acorda, um som alto, que só aumenta.

Eu saio da cama e olho ao redor, tentando descobrir o que está


acontecendo. Um alarme toca, e depois a porta se abre e Rafael corre
para o quarto, com uma expressão frenética em seu rosto. — Levante-
se! — Ele ordena.

Celia e eu saltamos para cima, quando outra explosão rasga


através da casa. Eu grito e me viro, correndo em direção ao berço de
Ajax. Ele está chorando, suas pequenas mãos agitadas. Rafael me
sacode se inclina para baixo, pegando seu filho. Ele o coloca perto de
seu peito, e eu não perco a expressão fugaz da ternura em seu rosto
quando ele percebe que é a primeira vez que ele lhe tocou.

— Mexam-se, — ele rosna.

Corremos para fora do quarto e eu vejo mamãe, Vincent, e Benito


todos de pé na sala de estar. Uma nuvem de fumaça entra através da
casa, enchendo-a rapidamente com uma névoa escura. Eu tusso, e
meus olhos voam para o meu filho. — Precisamos tirá-lo desta fumaça!

Outra explosão, e a casa realmente treme. Celia grita, e eu corro


para o lado de Rafael e Ajax. — Agora!

~ 129 ~
Ele olha para Vicente e ordena, — Leve as meninas até o abrigo
seguro. Nós vamos lidar com isso.

— Eu vou com você, — rosna Vincent.

— Vou levá-las, — Benito diz, tentando tirar Ajax dos braços de


Rafael. Rafael hesita, mas acaba cedendo.

Então nós corremos atrás de Benito, algumas salas abaixo, e


saímos para o quintal. Ele se vira, puxando a arma e olhando ao redor.
Outra explosão balança a casa; eles estão vindo pela frente. —
Corram!— Ordena Benito quando a fumaça enche o quintal. Eu não
posso ver. Eu não posso ver nada.

— Benito!— Chamo, tossindo quando a fumaça enche meus


pulmões.

— Continue andando, Julietta, — ele grita.

— Celia? Mãe? — Eu choro.

— Estamos aqui. Estamos bem, — minha mãe grita atrás de nós.

— Basta seguir a minha voz, — chama Benito. — Estamos quase


lá. — Ele chama por nós e continuo a seguir o som de sua voz. Meus
olhos queimam por causa da fumaça, e meus pulmões arfam. Eu não
posso respirar. Eu continuo correndo em direção ao som da voz de
Benito, mas uma mão dura sai do nada e passa torno de minha boca.
Sou puxada para trás contra um corpo duro, alto.

— Grite e eu estouro seus miolos.

Riccardo.

Não.

Eu me contorço e luto, mas eu não posso vê-lo, e meu corpo está


fraco pela inalação da fumaça. Ele se vira e me puxa na direção oposta.

— Julietta? — Chama Benito.

Tento gritar por trás da mão de Riccardo, me contorcendo e


chutando, mas ele me bate com algo duro. Meu corpo cai flácido e sinto
uma dor atrás da minha têmpora. Meus pés saem de debaixo de mim, e
eu sou levada sobre o ombro de Riccardo. Eu acho que vou vomitar. Eu
não posso respirar. A voz de Benito fica cada vez mais longe, e conforme
o tempo passa, minha cabeça gira ainda mais.

Finalmente, a escuridão me leva.

~ 130 ~
Capítulo vinte
JULIETTA
Tapa.

— Diga-me o que você disse a ele.

Minha cabeça gira para o lado, e eu pisco através de olhos


inchados para o homem que é suposto ser o meu pai, de pé em frente
de mim.

Tapa.

— Agora, sua puta fodida.

Eu recuo.

— O que você esperava que acontecesse? — Eu assobio, cuspindo


sangue nele. — É Rafael Lencioni. Você me enviou para a casa dele.
Você realmente acha que ele não seria inteligente o suficiente para
descobrir? Honestamente, ás vezes eu me questiono sobre sua
inteligência.

Tapa.

Uma dor se irradia através do meu queixo, mas eu mantenho a


boca fechada. Não devo nada a este homem agora. Nem uma única
coisa maldita.

— Meu plano não mudou. Ele virá até você. Ele não será capaz de
evitar e quando ele chegar, eu vou acabar com isso.

Eu olho para ele com os olhos turvos. — E então o que, gênio?


Você vai assumir a máfia que agora sabe que você os traiu?

Sua mandíbula cerra. — Eu vou começar novamente. Metade


deles são leais a mim. Eu tenho o poder. O sangue.

— Você está delirando.

~ 131 ~
Tapa.

— Você vai pagar por cada tapa que você está dando no meu
rosto, — eu digo com os dentes cerrados. — De uma forma ou de outra,
você vai pagar.

— Como seu pai pagou?

Eu recuo e uma dor explode no meu coração. Culpa,


principalmente. É minha culpa. Se não fosse por mim, se eu não tivesse
me envolvido no mundo de Rafael, meu pai não estaria morto. A culpa é
minha que sua vida tenha sido interrompida. Todas as terríveis coisas
que eu fiz, foram por nada. Ele perdeu a vida no final, de qualquer
maneira. Eu nunca vou ser capaz de me perdoar por isso.

Sinto muito, papai.

— Atingi um ponto fraco? — Riccardo sibila, olhando para a


janela.

Nós estamos em um velho armazém um pouco fora da cidade. Ele


me trouxe aqui, por isso, eu não sei onde é exatamente. Dificilmente
parece que possa conter ninguém, muito menos um grupo de membros
da máfia irritados.

— Ele provavelmente está morto, — Riccardo murmura para si


mesmo. — Ninguém poderia ter sobrevivido àquela explosão.

Meu corpo formiga e um medo aperta meu coração. Rafael está


bem? Será que ele escapou? Eu mal tive tempo para pensar sobre isso,
por meio de todos os abusos. Meu estômago torce. E meu filho, está
bem? Eu confio que Benito o tenha tirado de lá com segurança, mas e
se houve outra explosão? Eu sinto que vou vomitar, e minha cabeça
está martelando.

— Nem mesmo ele poderia escapar.

Meus olhos piscam para Riccardo. — Esse homem é mais forte do


que qualquer um que eu conheço. Se alguém saiu de lá, foi ele.

Riccardo está nervoso. Seu plano deu errado, e ele sabe disso,
mas ele ainda está se apegando em alguma esperança patética que pode
descobrir uma maneira de escapar disso. Ele vai morrer. Disso eu tenho
certeza. Eu só quero saber, quem mais vai morrer junto com ele? Só
Deus sabe que tipo de plano que ele tem. Ele provavelmente tem um
plano B sendo executado nesse exato momento.

~ 132 ~
Alguém está seguro?

Acho que não.

~*~*~*~

RAFAEL
— Ela tem uma pulseira de rastreamento, — eu digo, andando
pela sala, balançando Ajax em meus braços.

Ele é perfeito.

Tão fodidamente perfeito.

— Uma pulseira de rastreamento? — Vincent pergunta, olhos


passando por Benito que está sentado no sofá, parecendo devastado.

Ele se culpa por não ter conseguido cuidar de Julietta.

Não é culpa dele, mas eu sei que essas palavras não irão ajudá-lo
agora, então nós apenas o deixamos sentado refletindo.

— Eu coloquei um chip de rastreamento em sua pulseira quando


ela estava dormindo, depois que eu descobri o que ela tinha feito. Eu
queria ter certeza de que poderia encontrá-la se ela fugisse.

Vicente acena. — Gênio. O problema é que não sabemos onde


estamos nos metendo. Riccardo não é estúpido, ele é um dos homens
mais inteligentes que conhecemos, o que significa que ele
provavelmente tem um plano B. Se formos vistos, nós certamente
seremos mortos na mesma hora.

Ele tem razão.

Riccardo não é estúpido, o que significa que ele vai ter algo no
lugar para se certificar de que seremos mortos assim que chegarmos.
Ele nos conhece. Ele sabe como nós trabalhamos. Ele vai antecipar
cada movimento. Eu tenho que pensar fora da caixa, e o tempo está se
esgotando.

Porra.

Julietta.

~ 133 ~
Ajax se mexe e começa a chorar em meus braços. Em primeiro
lugar, ele precisa de proteção.

— Celia, — eu a chamo no sofá ao lado da mãe de Julie.

Ela olha para cima. — O quê? — Ela se endireita.

Ela está com raiva de mim. Ela tem todo o direito de estar. Isto é
minha culpa. Eu deixei Julie ficar nessa posição, e é por isso que cabe a
mim corrigir as coisas.

— Tome Ajax, dê-lhe uma mamadeira. Eu vou manter vocês três


seguros em um local seguro até que eu tenha certeza que vocês não vão
se machucar.

Ela se levanta e caminha, tirando-o dos meus braços. Ela não diz
nada, o rosto está duro. Ela se culpa pela morte do pai de Julietta. Não
é culpa dela. Isso também é por minha conta.

— Vamos, bebê, — ela cantarola para Ajax. — Vamos levá-lo para


lá.

Ela desaparece na cozinha do apartamento de Vincent, e a mãe de


Julie a segue. Quando elas saem, eu me volto para Vicente e Benito. —
Nós não temos muito tempo para agir. Só Deus sabe o que ele está
fazendo com ela agora. Ele vai estar nos esperando. O que ele não
espera, é Maddox.

A cabeça de Benito se ergue em um estalo. — Do Jocker’s Wrath


MC?

Eu concordo. — Exatamente. Eles são conhecidos meus, mas


amigos de Marcus Tandem. Eles lhe devem um favor. Ele me deve um
favor. Estamos prestes a ganhar com esse favor.

— Você acha que um grupo de motoqueiros vai assustar


Riccardo? — Indaga Vincent.

— Se formos espertos sobre isso, — eu digo, retirando o telefone


do gravador que eu tenho, apenas no caso de o meu telefone estar
sendo rastreado. — Eles têm números; o tipo de números que não pode
ser rastreado. Riccardo nunca poderia ter uma quantidade igual de
homens à sua volta.

— É arriscado, — diz Vincent.

— Vale a pena, — eu murmuro. — Nós estamos correndo contra o


tempo.

~ 134 ~
Eu disco o número de Marcus.

— Rafael, fale.

— Nós precisamos da sua ajuda, e dos Joker’s. Você pode fazer


isso?

— Claro que eu posso fazer isso, porra. Quando e onde?

Eu olho para os dois únicos homens em quem confio.

— Agora, na casa de Vincent. Traga Maddox.

Os olhos de Benito caem de volta para o chão.

Vincent esfrega as têmporas.

Isso vai funcionar, ou explodir na nossa cara.

De qualquer maneira, vou trazer Julietta de volta.

Mesmo que eu tenha que morrer para isso.

~ 135 ~
Capítulo vinte e um
— Que porra você quer dizer com ‘eles ainda estão na casa de
Vincent’? — Riccardo ruge, andando de um lado para o outro.

Eu continuo mexendo com a corda que prende minhas mãos


atrás das costas.

— Por que diabos não ele veio atrás dela? Que tipo de jogo ele está
fazendo? Você ainda está rastreando o telefone dele?

Eu estou ouvindo enquanto torço meus pulsos, uma dor ardente


sobe em meus braços quando a corda machuca a minha pele. Vale a
pena se isso significa que eu possa sair daqui. Faz oito horas, e Rafael
ainda não veio até mim. Ele ainda está na casa de Vincent, de onde,
aparentemente, não se moveu.

— Alguém entrou ou saiu? — Riccardo exige a quem está do outro


lado do telefone. — O que quer dizer que você não pode ver, porra?

Eu tomo uma respiração profunda, e torço meu pulso novamente,


empurrando as cordas. Elas estão afrouxando. Esta é a minha única
chance de dar o fora daqui. Riccardo está distraído, o que não
aconteceu muito nas últimas horas. Meus olhos estão queimando e
inchados depois de tantos golpes, meu rosto arde, meu lábio está
machucado. Mas eu vou fugir.

Vou correr com tudo que eu tenho dentro de mim.

— Qual é a dele, porra?

Rafael é inteligente.

Ele está tramando algo.

Eu não sei o quê, mas eu tenho que confiar que ele tem um plano.
Eu estou simplesmente grata por ele estar vivo. Eu não sei o que eu
faria se algo acontecesse com ele. Com qualquer um deles. Eu puxo o
braço novamente, sibilando enquanto uma das minhas mãos se

~ 136 ~
desvencilha das cordas. Eu a mantenho nas minhas costas enquanto
eu tiro a outra, sacudindo-a e tentando soltá-la, também. Continua
presa A cabeça de Riccardo se mexe e eu paro de me mover, olhando
para ele.

Ele me estuda por um momento, antes de virar as costas para


mim para continuar a conversa.

— Ele vai vir atrás dela, porra. Eu sei que vai. Eu o conheço
muito bem.

Eu nunca achei que Rafael não viria até mim, mas a dúvida
insiste em apertar o meu peito. E se ele ainda estiver irritado e não vier?
E se ele levar Ajax e me deixar aqui? Será que ele vai me deixar morrer
aqui? Será que ele realmente me ama? Ou será que ele me odeia agora?

Eu mexo no meu pulso, sentindo um fio quente de sangue correr


pela minha mão. Eu tomo uma respiração instável e estremeço,
liberando o meu segundo pulso. Meu coração bate forte, eu posso sentir
na minha cabeça, mas eu me concentro na minha respiração e tento me
acalmar. Se Riccardo suspeitar que algo está errado, eu nunca terei a
chance de sair daqui.

Eu olho para a porta, que está provavelmente a uma boa


distância. Eu teria que correr para chegar perto o suficiente, mas depois
há sempre a possibilidade de que ela esteja trancada, o que não seria
nada de bom para mim. Eu olho para Riccardo novamente. Ele ainda
está sibilando para alguém do outro lado do telefone. Que tipo de
reforço ele tem lá fora? Homens com armas? Segurança? Ele não estaria
aqui sozinho, e ele esteve lá fora algumas vezes.

— Eu tenho proteção. Ninguém pode vir até aqui sem que eu


saiba. O carro de Rafael está grampeado. Se ele se mover, eu vou saber.

Ele tem proteção.

Que tipo?

— Tenho vinte homens do lado de fora, todos guardando este


lugar. Se ele chegar perto, será um homem morto.

Minha pele se arrepia.

Vinte homens.

Vinte fodidos homens.

Como diabos eu vou passar por esses homens sem ser morta?

~ 137 ~
Eu olho ao redor. Tem que haver uma maneira.

Eu espio um abajur em uma mesa, perto cadeira que eu estou


sentada. Eu poderia acertá-lo com ele, nocauteá-lo, e usar seu telefone
para avisar Rafael. Mas, mesmo assim, não poderia funcionar. Seria, no
mínimo perigoso escapar sem Rafael, e se seus homens vierem até aqui,
seria a opção mais segura.

Eu olho para trás, para Riccardo.

Ele se vira e está olhando para a parede novamente. Vislumbro a


arma em suas calças. Quando eu nocauteá-lo, eu vou pega-la. Vai me
dar uma pequena chance. No mínimo isso vai me fazer sentir mais
segura. Eu cuidadosamente puxo as mãos para frente e fico com as
pernas trêmulas. Se ele vira para a direita agora, e está tudo acabado.
Meu coração bate enquanto eu avanço para o abajur. Ele vai ser pesado
o bastante para derrubá-lo.

Possivelmente dois.

Espero que dois.

Ele merece dois.

Chego ao abajur e olho para trás, para Riccardo. Tenho segundos.


Minhas mãos tremem enquanto eu pego e rezo para o universo que não
esteja ligado à tomada. Eu levanto-o cuidadosamente, rezando para que
ele não faça um som. É pesado. Realmente pesado. Perfeito. Viro-me e
caminho em direção a Riccardo, engolindo o medo no meu peito. Eu
tenho uma chance com isso. Se eu não fizer isso direito, eu estou em
apuros.

Pense em Ajax.

Eu levanto o abajur assim que Riccardo se vira. Eu nunca vou


esquecer o momento em que ele me nota - seus olhos se arregalam,
boca se abre, e o telefone cai de sua mão. Eu não hesito. Eu soco o
objeto na sua cabeça. Isso acontece em câmera lenta. A base bate na
sua têmpora, um estalo alto enche a sala, e ele tropeça para trás. Seu
corpo atinge o chão com tanta força que salta um pouco, antes da sua
bate cabeça cair para trás e bater contra o chão.

Então ele não se mexe.

Eu estou ofegante quando o abajur desliza de meus dedos e cai


no chão com um baque. Com um coração em fúria, eu corro para longe
e caio de joelhos. Há sangue escorrendo de sua cabeça, mas ele ainda

~ 138 ~
está respirando. Por agora. Eu uso todas as minhas forças para chutar
sua barriga, e então eu puxo a arma da parte de trás da calça dele. Eu
a seguro, e fico de pé. Eu preciso respirar. Está tudo bem. Vai ficar tudo
bem.

Eu posso fazer isso.

A porta da frente destrava e um homem entra com a arma


levantada.

— Riccardo o que está...

Ele para quando me vê e eu não penso em nada. Eu levanto a


minha arma e puxo o gatilho. Eu o acerto na perna. A arma voa de sua
mão e ele tropeça para trás com um rugido. Eu não tenho tempo para
me preocupar, eu preciso dar o fora daqui. Eu corro para fora, pulando
seu corpo. Meu coração bate acelerado enquanto eu tropeço nos
degraus da frente. Eu pressiono as costas contra a grade, tentando ver
onde estão todos os outros homens.

Estamos fora da cidade.

A única coisa boa é que há um monte de árvores grossas cerca de


dez metros de distância.

Eu só tenho que me afastar, e então eu terei certa proteção.

A tiro ressoa e uma bala passa pela minha cabeça. Com um grito,
eu caio no chão e começo a rastejar em direção a uma enorme pilha de
carros antigos à minha esquerda. Mais balas voam em minha direção e
eu fecho os olhos por um segundo, fazendo uma oração silenciosa para
conseguir sair dessa. Alguém começa a gritar e mais balas voam em
minha direção. Eu alcanço os carros e me enfio entre eles, usando-os
para me proteger.

Eu não posso respirar.

Estou suando e tremendo.

Aperto a arma junto a mim, e me levanto para olhar para fora


através de uma das janelas dos carros velhos. Eu posso ver através do
outro lado, existem cinco homens correndo em minha direção. Merda.
Eu olho para o outro lado. As árvores são a minha única opção. Droga.
Me levanto novamente, me inclino no carro e disparo contra o grupo.

Eu acerto um deles.

Não é suficiente, mas é um a menos para eu me preocupar.

~ 139 ~
Então eu começo a me mover novamente.

Eu rastejo por baixo dos carros e passando para o outro lado.


Balas voam, mas eu ziguezagueio como uma louca, para que nenhuma
bala me acerte. Minhas orações são respondidas quando eu chego à
primeira fileira de árvores. Eu me enfio através delas. Isso me faz
desacelerar, mas pelo menos fornece proteção. Eu me movo tão rápido
quanto eu posso, mas quanto mais embrenho na floresta, mais difícil
fica.

Ouço passos atrás de mim, estão próximos.

Droga.

Eu paro e me viro, levantando a minha arma. Um homem


aparece, se lançando para cima de mim antes que eu possa puxar o
gatilho. Nós batemos no chão com um baque, o seu corpo enorme me
esmaga no chão. Eu grito e me contorço, tentando me livrar dele. Ele
levanta a arma, quando eu finco o meu joelho em suas bolas. Eu bati
nele com toda a minha força e ele gira para fora com um berro, e sua
arma voando de sua mão.

Eu me coloco de joelhos para continuar correndo, mas ele rola e


pega meu tornozelo, com o rosto vermelho com dor.

Imbecil teimoso.

Eu uso o meu outro pé e chuto o seu rosto. Seu nariz faz um


barulho e o sangue jorra diante de mim. Levanto-me enquanto ele rola
no chão, gritando de dor. Mais passos estão vindo. Eu corro mais
rápido, pegando a arma dele também, então eu continuo correndo.

Eu não sei se vou sair daqui viva.

Mas se eu não sair, eu vou morrer tentando.

~*~*~*~

Eu não posso correr mais.

Eu não posso.

O sol começou a se pôr, e eu estou orando a cada segundo que ele


se apresse.

~ 140 ~
Eles estão em toda parte. Estou cansada. Dolorida. Receosa.

Estou correndo faz tempo, e minhas pernas queimam. Elas


queimam. Meus pulsos doem. Meu corpo está dolorido. Meu rosto foi
espancado.

Eu não sei quanto mais eu posso andar.

Um farfalhar atrás de mim me faz virar. Pensei que os tinha


despistado.

Riccardo sai, com arma apontada para mim. Meu corpo inteiro
paralisa. Como diabos ele me encontrou? Como é que ele ainda está
vivo? Meus joelhos tremem. Minhas mãos tremem. Tento levantar a
minha arma, mas ele sibila, — Se mexa, e eu explodo a porra dos seus
miolos.

Não.

Não.

Não.

Eu estava tão perto.

Ele tem um hematoma enorme na cabeça, e sangue seco em seu


rosto. Eu fiz um bom trabalho. Mas não foi o suficiente.

— Você pensou que poderia fugir? Honestamente?

Eu mudo de pé para me firmar.

Se eu me mover rápido o suficiente, se eu levantar a arma e...

— Não faça isso, — ele rosna, como se estivesse lendo minha


mente. — Pense nisso e eu te mato.

— Você não vai vencer essa, — eu digo com a minha voz áspera.

Ele ri. — Eu vou ganhar. Eu já ganhei. Rafael está morto.

Meus joelhos tremem.

Não.

Não, ele está mentindo.

Rafael não está morto. Ele não está.

Não.

~ 141 ~
A minha visão começa a borrar e os meus dedos tremem na arma.

— Ele pensou que poderia passar por mim, mas ele não
conseguiu. Um dos meus homens o acertou mais cedo, um tiro limpo
na cabeça, ele não sofreu. Então veja, querida filha, eu já ganhei.

Não.

Raf.

Meu peito se aperta e os meus joelhos cedem. Eu caio no chão e a


arma cai da minha mão. Uma dor diferente de tudo que eu já senti na
minha vida rasga através do meu corpo. Isso dói. Não. Tudo dói. Tudo.
E ele se foi. Eu o derrubei. Droga, eu falhei com ele. Isto é tudo culpa
minha.

Riccardo ri.

— Pobre Julietta. Se você tivesse ficado longe, teria sido capaz de


viver uma vida plena e feliz. Você deveria ter ouvido os avisos. Rafael
sempre vai quebrar seu coração, de uma forma ou de outra.

Meu corpo treme e lágrimas correm pelo meu rosto.

— Eu achei que você ia ter mais de mim em você, apesar de tudo.


Sentada aí soluçando. Eu esperava que você fosse mais forte. Pelo
menos, que você fosse lutar mais um pouco.

Raiva borbulha no meu peito e eu levanto a cabeça, olhando para


ele. — Você vai sofrer por isso.

Ele bufa. — Como? O que você vai fazer?

— Não é o que vou fazer, é o que vamos fazer.

Eu estremeço ao ouvir a voz e me viro para ver Maddox entre as


árvores. Como se um milagre tivesse acontecido, todo o seu clube de
motoqueiros aparece, como se tivessem sido colocados lá perfeitamente.
Meu choro se transforma em lágrimas de alívio enquanto o rosto de
Riccardo empalidece.

— Você honestamente não achava que Rafael era estúpido, não é?


— Maddox diz, puxando uma arma de suas calças.

Os olhos de Riccardo incendeiam e passam para Mack, que está


correndo os dedos ao longo de uma faca enorme.

~ 142 ~
— Eu me pergunto como devemos acabar com ele? — Krypt diz,
dando um passo para frente com um sorriso enorme no rosto. — Eu
voto cortar seu pau em primeiro lugar.

Alguém chega perto, e uma calorosa mão passa ao redor do meu


braço. Eu olho para cima em meio a lágrimas para ver Tyke. Ele sorri,
calorosamente, e me ajuda a ficar de pé. Enfiando um braço em volta de
mim.

— Julie, — gagueja Riccardo. — Você não vai deixá-los fazer isso,


vai? Eu sou seu pai!

Eu quero rir histericamente com isso, mas estou exausta.

E meu coração está quebrado.

— Claro que eu vou, — eu coaxo. — Espero que eles arranquem


seu pau fora e enfiem na sua bunda antes de acabar com tudo.

Seus olhos incendeiam. — Eu não iria machucá-la, era apenas


uma forma de assustá-la, — ele tenta.

— Eu acho hilário o quão patético você é, agora que você não tem
saída, — eu digo, pendurada em Tyke porque eu honestamente não sei
se eu posso me segurar. — Eu nunca deveria ter dado o que você
queria. Eu nunca deveria ter dado. Eu sei disso agora.

— Como você quer que ele termine, querida? — Maddox pergunta,


balançando os olhos para mim.

— Uma facada direto no coração? — Sorri Krypt.

— Bala na cabeça? — Mack acrescenta, olhando para Riccardo.

— O que você quiser, nós vamos fazê-lo, — diz Tyke, segurando-


me mais perto.

— Eu não quero que você faça nada,— eu digo e todas as suas


cabeças viram para mim.

Riccardo exala.

Eu solto Tyke e me inclino para baixo, pegandominha arma. Eu


dou cinco passos vacilantes em direção a Riccardo. Seus olhos
incendeiam quando eu paro na frente dele. Maddox e Krypt

dão um passo à frente, segurando seus braços para que ele não
possa se mover.

~ 143 ~
— Vai ser por mim o fim dele, — eu digo com minha voz forte e
determinada.

Riccardo olha para mim. — Você não pode. Você não faria isso.
Eu sou seu pai, certamente você não poderia matar seu próprio pai?
Você não é um monstro.

Eu levanto a arma e pressiono no seu coração. — Você está


errado sobre isso. Você esteve errado sobre mim o tempo todo. Eu sou
mais forte do que você jamais imaginou. Você nunca vai ganhar. E você
também estava errado sobre outra coisa.

Sua boca se abre para argumentar, mas eu o interrompo.

— Você me subestimou. Eu tenho muito de você em mim. É


exatamente por isso que eu posso fazer isso. Eu espero que você
apodreça no inferno. Isto é por Rafael.

Eu puxo o gatilho.

Seu corpo se contrai, seus olhos rolam, e os dois homens o


soltam.

Ele cai no chão, já sem vida.

— Droga, — murmura Mack. — Fodona.

Eu exalo com alívio e um pouco de horror por ter matado um


homem tão facilmente. Ele mereceu. Ele mereceu cada segundo disso,
mas eu ainda gostaria de nunca ter que chegar a este ponto. Mas
cheguei. E eu faria de novo, para manter aqueles que eu amo seguros.

— Eu sempre soube que você tinha isso em você, Cara.

Rafael?

Eu me viro, perdendo meu equilíbrio e caio em um peito duro,


familiar. Braços grandes se colocam em torno de mim e eu olho para
cima em meio a lágrimas para ver o meu homem bonito, olhando para
mim.

Eu p-p-p-p-pensei que você estivesse morto, — eu coaxo.

Ele sorri. —Máfia baby. Nós os deixamos acreditar no que eles


queriam. Eu sabia que Riccardo estaria me esperando, eu também
ameacei um de seus homens para dizer que ele tinha atirado em mim.
Ele não estava disposto a arriscar minha ira quando descobriu que

~ 144 ~
Riccardo estava prestes a ir abaixo, de modo que fez o que eu mandei.
Funcionou perfeitamente. Ele abaixou a guarda.

Meus joelhos cedem e ele me puxa contra seu peito. Ele suporta o
meu peso enquanto eu me derreto nele. Eu não digo nada. Eu apenas
soluço. O abraço ele e soluço.

Acabou.

Finalmente acabou.

— Sim, — diz ele gentilmente enquanto me ergue em seus braços.


— Eu também te amo, baby.

~ 145 ~
Epílogo
— Ohhhhhh, — Jaylah canta saltando Ajax em seus braços. —
Ele é tão lindo! Mack! Eu quero outro.

— Não vai acontecer, querida, — ele murmura, dando-lhe um


sorriso.

— Ele é tão perfeito, que vai continuar assim quando ficar mais
velho, — Santana suspira, acariciando o cabelo macio de Ajax.

— Ele vai ser de parar o trânsito, mesmo com esse nome, — ri


Celia.

Eu rolo meus olhos e me aproximo tomando a mão de Celia. Ela


sorri para mim. Ela está perdoada. Ela nunca mereceu a minha raiva.
Ela nunca mereceu levar o meu segredo sobre seus ombros.

— Esse nome vai me assombrar para sempre, — murmura Rafael,


entrando na sala e inclinando-se para baixo, acariciando com o polegar
a cabeça de Ajax.

—Com certeza, — suspira Ash.

Eu rio.

— O nome dele é épico, — eu sorrio para Rafael. — ÉPICO.

Ele balança a cabeça. — O próximo líder da máfia com o nome de


Ajax.

— Ele não é o próximo líder, — eu aponto.

— É.

— Não é.

— Tenha cuidado, Cara,— Rafael me avisa, com a voz rouca. —


Você sabe o que eu poderia fazer com seu traseiro.

Eu coro.

~ 146 ~
— Deus, eu pensei que motoqueiros fossem ruins, — ri Jaylah. —
A máfia é pior.

Pippa ri e se recosta em Tyke.

— A máfia é apenas pretensiosa, — Marcus diz, sorrindo para


Rafael.

Rafael levanta as sobrancelhas, sempre frio, calmo e discreto.

— Você resolveu bem com o cartel? — Ele pergunta, mudando de


assunto.

Os homens voltam ao seu bate-papo em volta da mesa sobre o


cartel bombardear o clube de Rafael. Eles estão levando, com cuidado,
pelo menos, é isso que eu tenho sido capaz de entender da conversa.
Pobre Raf, tendo dois inimigos atrás dele. Pelo menos ambos estão sob
controle agora.

— Como você lida com esse homem? — Suspira Santana.

Eu olho para Rafael. — Não é difícil. Ele é tão...

— Surpreendente, — aponta Ash.

— Quente, — Pippa acrescenta.

— Um grande garanhão, — ri Jaylah.

— Totalmente ‘fodível’, — Celia joga.

Eu rolo os olhos para elas. — Você são todas animais.

Eu peço licença, indo para a cozinha para pegar uma bebida. A


minha mãe está de pé, bebendo um copo de vinho. Tem sido duas
semanas desde o calvário com Riccardo, e nós enterramos meu pai há
uma semana. Foi um dia duro. Ela não está lidando bem. Eu passo ao
lado dela, e coloco minha mão sobre a dela. Ela precisa do meu perdão
agora mais do que nunca.

— Sinto muito, — eu digo suavemente. — Quero me desculpar


pela maneira de como eu lidei com tudo isso.

— Foi culpa minha, Julie, — diz ela, deixando cair a cabeça. —


Eu nunca deveria ter mentido. Seu pai sofreu por minha causa.

— Nós podemos nos culpar, nós duas temos razão para isso, ou
podemos esquecer, porque isso é o que o papai teria desejado. Ele não

~ 147 ~
ia querer isso. Se ele estivesse aqui, ele diria que somos muito
delicadas.

Ela ri baixinho. — Ele diria: 'meninas, onde estão os modos?'.

Eu rio. — Então ele abraçaria nós duas, porque ele nunca


realmente quis dizer isso.

— Eu sinto muito, minha menina bonita, — diz ela, puxando-me


para perto.

— Eu te perdoo, se você me perdoar.

Eu viro-me e a abraço com força.

— Sempre, minha querida.

— Então vamos fazer o papai orgulhoso.

Ela beija minha testa. — Vamos fazê-lo orgulhoso.

E nós vamos.

Vamos fazê-lo orgulhoso.

~*~*~*~

— Mmmmmmm, — Rafael geme quando minha cabeça balança


para cima e para baixo em seu pênis. — Foder com você, é tão
malditamente bom.

Eu deslizo minha língua pelo seu eixo, rodando na ponta, antes


de afundar de volta para baixo e tomando-o profundamente.

— Suba, — ele rosna, enfiando as mãos debaixo dos meus braços


e me puxando para cima.

Seu pênis desliza da minha boca com um estalo e eu estou no seu


colo, montando-o antes mesmo de ter a chance de protestar. Ele
estende os braços enredando as mãos nos meus cabelos e me trazendo
para um beijo. Eu o beijo por muito tempo, profundo e com vontade. Ele
geme e sua mão desliza para baixo pelas minhas costas nua, trazendo-
me para mais perto. Eu me esfrego contra seu pênis, esfregando minha
umidade contra o comprimento dele.

— Continue assim, e eu vou gozar agora mesmo.

~ 148 ~
Eu me levanto um pouco, descendo entre nós e tomando seu
pênis, trazendo-a para a minha entrada e então lentamente afundo
nele. Nós dois gememos. É uma sensação incrível. Eu me estico em
torno dele e, lentamente mexo meus quadris dando o atrito que
precisamos. O prazer explode dentro de mim e eu meus braços circulam
seu pescoço, trazendo-o para perto e pressionando nossos corpos
juntos.

— Você é tão gostoso, — eu sussurro.

— Baby, sim, — ele geme.

Eu me movo lentamente, seus braços estão em volta de mim, me


segurando apertado. Os meus estão em torno dele, segurando-o com
força, e é nesse exato momento que eu percebo que nós estamos
fazendo amor.

Realmente fazendo amor.

— Eu te amo, — eu sussurro, pressionando minha boca contra o


pescoço dele.

— Porra eu também te amo, Cara, — ele geme, apertando-me com


mais força.

Com essas palavras eu gozo. Eu libero um suspiro e explodo ao


redor dele, meu corpo voltando à vida e prazer explodindo através do
meu núcleo. Eu tremo ao seu redor, mas continuo balançando meus
quadris.

— Sim, — ele geme. — Porra. Sim.

Ele goza poucos segundos depois, sibilando meu nome enquanto


empurra seu corpo e ele pulsa dentro de mim.

— Você é incrível, — murmuro, me aninhando em seu pescoço.

— Só com você, Julietta, — ele rosna, puxando a cabeça para trás


e travando os olhos nos meus.

Ele chega perto e acaricia meu rosto, correndo o polegar para


baixo. — Me desculpe, se eu te machuquei, minha linda menina.

— O passado é passado, só podemos olhar para frente a partir de


agora, — eu digo, passando meus lábios contra os dele.

— E o primeiro passo é mudar o nome do nosso filho.

Eu rio. — Não vai acontecer.

~ 149 ~
Ele dá um tapa minha bunda. — Está acontecendo.

— Não.

— Sim, Cara.

— Não vai acontecer, bonito.

Ele rosna e me puxa para mais perto. — Você esqueceu quem é o


chefe aqui?

Eu rolo meus olhos.

— Não me conteste, você sabe que eu vou puni-la por isso, — ele
avisa.

Eu o beijo novamente. — Você fala muito, Rafael Lencioni. Nosso


filho vai ficar com esse nome.

— Ele não vai.

— Ele vai.

— Não, Julietta.

— Sim, Rafael.

Ele rosna.

Eu rio.

— Você pode dar a ele um nome do meio italiano, se isso vai fazer
você se sentir melhor, — eu sorrio, beijando seu nariz.

— Eu já fiz isso. Há dois dias. A partir de agora, o nosso filho vai


ser chamado de RJ. Rafael Junior.

— Você colocou o nome do nosso filho de Ajax Rafael Lencioni? —


Eu digo, levantando uma sobrancelha.

Ele sorri.

Eu rolo meus olhos. — Maldita máfia.

Ele ri. — Eu te amo, Julietta.

Eu seguro seu rosto em minhas mãos. — Eu também te amo, Raf.

Ainda assim

Maldita Máfia.

~ 150 ~
Quem estou enganando, eu não seria quem eu sou sem eles.

Sem ele.

FIM

~ 151 ~

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