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E. L. Woods
Adeus.
Isabel Blanchett
A carta datava de quarenta dias atrás. Quarenta dias!
Não precisava fazer contas para saber se Dean já
sabia. E mesmo antes que ela questionasse se algo havia
impedido que a mencionada carta chegasse ao seu destino,
o olhar dele dizia tudo.
Há mais de um mês provavelmente sua irmã estava
morta e só agora ela tinha a chance de prantear e se
enlutar. Por que Dean a privara disso? Com que direito ele
decidira o destino dela? E com que direito Isabel pedia, quer
dizer, sugeria ou esperava o seu perdão quando não havia
se arrependido, mesmo tendo sido ceifada por uma doença
que a castigou fisicamente.
Voltando seu pensamento para Dean novamente, a
raiva ocupou todos os seus sentidos. Nunca o perdoaria.
Estava tão indignada que não queria saber que motivos
levaram ele e sua irmã a se separar. Ela não tinha nada a
ver com isso.
Diferentemente do que a irmã falou a respeito do seu
bom coração, ela não sentia disposição para perdoar
ninguém, nem mesmo Isabel, ainda que pesasse a sua
morte. Enquanto esperava que a irmã aparecesse para
desfazer aquele terrível mal entendido, ela estava morta e
Dean sabia de tudo. Ora, se estava difícil perdoar uma
defunta, imagine ele.
Ela correu à procura do refúgio do seu quarto. Ele não a
impediu e nem procurou se justificar.
Bella trancou-se com a carta amassada nas mãos e
chorou bastante. As lágrimas eram de raiva e tristeza: raiva,
por ter sido traída pela milésima vez; e tristeza, porque
afinal de contas, Isabel era sua irmã. Sua única ligação
familiar, excetuando-se sua sobrinha, não existia mais
ninguém.
E as lágrimas de raiva não eram apenas por causa de
Isabel, pois desde pequena era enganada e atraiçoada por
ela. Mas agora acontecera a mesma coisa com Dean. O
homem que ela admirava e em quem confiava a havia
enganado, deixando o tempo passar e vendo a sua agonia
em viver uma vida que não lhe pertencia.
E o pior era saber que talvez demorasse meses para
que ele lhe contasse. Ou quem sabe nunca o fizesse. O que
ele esperava com isso? Cada dia que passou ali foi se
apegando ao cunhado e à sobrinha e isso poderia ter
acabado bem antes. Por conta dele, seus sentimentos
aumentaram, pois cada hora passada naquela casa a
empurrava para Annie e para... Dean.
Deus, como o amava! Mas ele a enganara. Agora
entendia tantas reticências de frases e palavras, tantos
olhares com mensagens ocultas, tanto pesar na expressão
dele.
Pesar? Ele sofria por enganá-la? Sim, claro! Não era um
monstro e suas atitudes, com exceção do dia em que ela
chegou, demonstravam que ele era um bom homem.
Mas isso não importava. Ela não queria se enternecer.
͠
Dean passou a noite em claro, relembrando todas as
chances que teve de reverter essa situação de um modo
que lhe favorecesse. Mas ele preferiu enganar Bella.
Merecia seu desprezo. Pediria perdão e já sabia que não
obteria. Fizera isso para poder ficar mais tempo perto dela e
foi pior, pois assim só conseguira acrescentar mais alguns
dias ao seu lado e agora ela iria embora para sempre, e com
ódio dele. Se não tivesse escondido a verdade, talvez a
tivesse convencido a ficar. Amava-a. Sim, amava-a mais do
que tudo e aceitaria sua decisão, se assim fosse o desejo
dela.
Ele lhe daria espaço e tempo para chorar a morte da
irmã e curtir sua raiva por ele. Era merecida. Andando de
um lado para outro, ele admitiu que estava mentindo. Não
aceitaria a decisão dela se fosse de ir embora. Ele a
trancaria no sótão, no quarto, no subsolo, cavaria um
esconderijo e a amarraria até convencê-la de que o seu
lugar era ao lado dele e de Annie. Ela não iria embora. A
simples possibilidade de nunca mais ver Bella comprimia
seu coração e sentia uma dor tão profunda que parecia
estar com uma faca enterrada no peito.
No dia seguinte, soube que Bella saíra de casa a
cavalo. Arrasado e preocupado, ele foi procurar no único
lugar aonde sabia que ela poderia ter ido.
Chegando à casa de Ian, o amigo confirmou que ela
estava bem, mas seria necessário um tempo para se
recuperar, e lhe aconselhou a se afastar um pouco.
E o amor dele só aumentou. Em vez de fazer um
escândalo, ela optou por fugir. Sabia que Bella precisava
sair de casa não só para se afastar dele, mas também para
esconder dos empregados a dor e a tristeza, certamente
pensariam que eles tinham tido uma briga de casal, mas
ainda mantinha a promessa que tinha feito de fingir ser a
irmã. Ela era de uma lealdade incrível.
Depois de três dias, Ian lhe fez uma visita e sugeriu
que ele levasse Annie para ver Bella, alegando que isso era
bom para as duas. E seria um ponto de partida para que
eles voltassem a se ver.
Assim, estabeleceu-se uma rotina em que dia sim, dia
não, Dean levava Annie para a casa dos amigos. Lá, ele
ficava em uma sala com Ian, e Bella, Cindy e as crianças
ficavam em outra.
Claro que só ouvir a voz de Bella era gratificante,
depois de tudo o que ele lhe fizera. Mas mesmo tendo
ciência disso, essa situação o deixava aflito e ele já não
conseguia trabalhar, dormir ou comer direito.
Essa aflição angustiava Bella também, que via os dias
passando sem conseguir se aproximar de Dean.
͠
Em um desses dias, Dean foi levar Annie e Ian não se
encontrava. Ele deixou a menina e se dirigiu à biblioteca,
pois, como sempre acontecia, respeitava o espaço de Bella
e esperaria até que estivesse pronta para conversarem.
Colocou uísque num copo e sentou-se numa poltrona,
decidido a ficar ali até o término da visita. Quando deu o
primeiro gole, viu a porta abrir e Bella entrar. Ele levantou-
se depressa e colocou o copo na mesa. Antes de se
aproximar. Ela fez um gesto com a mão para que não
chegasse perto, fazendo-o recuar e voltar a sentar-se.
— Estava esperando por esse momento, Bella.
Precisava lhe pedir perdão pelo que fiz.
Ele percebeu a revolta nos olhos dela. A raiva ainda
estava estampada no seu rosto e parecia tê-la empurrado
para fazer algo que não era típico de seu temperamento
calmo e comedido.
— Você acha que merece perdão? — perguntou ela
com voz ainda muito magoada.
— Todo mundo tem direito a perdão — ele disse com
voz firme.
— Você é o mesmo homem que um dia me disse que
traição não tem perdão. A que tipo de traição se referia?
— Bella, nosso caso é diferente. Você não tem noção do
quanto.
— Aproveite a oportunidade de se explicar — gritou ela.
— Não consigo — disse ele, desesperado.
— Você me privou de ter conhecimento da morte da
minha irmã no momento oportuno.
— Eu errei — admitiu ele humildemente.
— Você pode me dizer por que fez isso? Dê-me uma
razão para tamanho disparate.
— Não conseguiria esconder que foi por egoísmo. Sabia
que você iria embora assim que soubesse.
— Era o que deveria ter acontecido, Dean.
— Mas eu não queria isso. Queria que você ficasse.
— Se queria que eu ficasse mais um pouco, bastava ter
dito.
— Eu queria que ficasse para sempre.
Apesar de tocada pelas palavras sinceras e firmes, ela
ficou chocada.
— Então devo entender que você nunca iria me dizer?
Isso é mais cruel do que eu pensava.
— Claro que ia lhe dizer, Bella. Só precisava me
certificar de algumas coisas para poder fazer isso.
— De quê, em nome de Deus?
— Do seu amor.
— Do meu…
— Eu não queria perdê-la porque a amo. E por mais
que tenha escutado que o verdadeiro amor não é egoísta,
juro que não compreendo desse modo, pois temo que o meu
seja o mais egoísta do mundo. Quero você para mim de
qualquer forma. Tenho fome de você todos os dias, amo sua
risada, adoro sua voz, seu cheiro me fascina e não admito
que vá embora. Eu não consigo viver sem você.
Ela ficou emocionada com essas palavras, ainda que
continuasse chocada. Mas um facho de dúvida veio à tona
em sua cabeça.
— Você está confundindo as coisas. Quando olha para
mim vê a minha irmã numa versão melhorada, a que ama
Annie, trata bem seus empregados e que não seria capaz de
lhe trair. Isso era o que você queria dela e vê em mim.
— Eu nunca esperei nada da sua irmã.
— Esse amor é uma ilusão. Não o quero.
— Não quer meu amor ou a mim?
— Não quero esse tipo de amor.
Uma esperança acendeu no coração de Dean. Ela o
amava também. Todos aqueles olhares trocados nas
inúmeras vezes em que estiveram juntos eram juras de um
amor que não podia ser vivido naqueles momentos, mas ela
não conseguia perdoar, por enquanto, o que ele fizera; e
não estava pronta para aceitar o seu amor, ainda. Todavia o
tempo apaziguaria tudo e por isso ele não podia deixá-la
partir.
— Você não vai embora enquanto eu não puder provar
que é você que eu quero. Sempre foi você. Nós demoramos
a nos encontrar, mas estávamos guardados um para o
outro, Bella. Sinto que tivemos que passar por tudo isso,
mas foi por causa do conjunto dos acontecimentos, de como
nos conhecemos. Pense! Se não fosse por Isabel, talvez não
tivéssemos a sorte que tantos passam anos procurando, e
tantos outros morreram e não encontraram.
— Como ousa falar como se conhecesse meus
sentimentos? — Bella ainda tentou contestar, quase
chorando.
— Eu sei que você também me ama, eu sinto.
Com as lágrimas próximas de descer, Bella não quis
mais continuar o assunto. Não tinha estrutura ainda para
isso. Ela foi em direção à porta, com a intenção de se
retirar, angustiada por ter escutado aquelas palavras
verdadeiras.
Ele levantou-se depressa com a agilidade de um felino
e a agarrou antes que ela abrisse a porta. Quando a puxou,
trazendo-a de encontro ao seu corpo, ela teve de se agarrar
às lapelas do casaco dele para não cair. E mesmo sabendo
que não deveria assustá-la, Dean abaixou a cabeça e
esmagou os lábios dela com fome desesperada. Ela
manteve a boca fechada, trazendo-o de volta à realidade.
Tão rápido quanto a pegara, ele a soltou. Virou-se de costas
para esconder a rápida excitação que lhe tomou ao apertar
aquele corpo amado em seus braços.
— Desculpe-me.
Chegando à porta, ela disse, de costas para ele.
— Nunca mais diga que me ama, pois não acredito. Se
quiser qualquer relacionamento comigo não será nesses
termos.
Então ele teria de procurar outros termos para se
relacionar com ela. Já era uma esperança.
Mas tarde só faltou dar um murro em si mesmo por ter
agarrado Bella daquela forma. Isso só piorava sua situação
perante ela. Por causa disso, o tão sonhado perdão
demoraria mais ainda para acontecer.
Capítulo 11
Não teve um dia em que Bella não se lembrasse do beijo
que Dean lhe dera. O primeiro beijo de sua vida havia
acontecido de forma tão rápida que não houve como colher
na memória mais que um lampejo de lembrança. Mas nem
assim ela conseguia esquecer aquele efêmero momento.
Fora pega de surpresa, graças a Deus, pois do contrário
teria tocado aquela barba que a enfeitiçava e puxado o
rosto lindo para mais perto, a despeito da raiva que estava
sentindo no momento. E isso era inadmissível. Para não
dizer vergonhoso.
Fazia dez dias que recebera a carta que falava da
provável morte de Isabel, e as coisas foram ganhando um
significado menos doloroso. Aos poucos, a situação foi se
ajustando e entrando nos eixos. A dor de Bella foi aplacada
pela convivência, agora diária, com a inocente e
maravilhosa sobrinha, que a cada dia ficava mais apegada a
ela. Pena que agora não moravam mais na mesma casa.
Algo que tinha de ser revisto, pois não podia ficar na casa
dos amigos por muito tempo.
Não sentia saudade da irmã porque já estavam
separadas há muito tempo. Por outro lado, as maldades
dela sobressaíram de um modo benéfico, pois a livraram do
torpor daqueles que perdem um ente querido. Sentia por
ela ter perdido a oportunidade de cultivar a família. Quantas
mulheres queriam encontrar o amor de um homem bom e
honrado, que lhes desse filhos para embalar enquanto
amamentavam. Deus, como ela queria ser mãe e ter um
homem assim. Mas, como sempre, foi Isabel quem teve. E
jogou fora.
Annie não sabia que havia perdido a mãe, o que ela
sentia é que havia ganhado uma desde que Bella aparecera.
E, inexplicavelmente, Bella entendera que precisava estar
naquela casa para dar o suporte que a sobrinha carecia.
Mas agora que tudo acabara, ela não tinha mais razão de
permanecer na Escócia. Por outro lado, sentia muito porque
Annie agora é que ia perder uma mãe.
Ser impostora trouxe benefícios, mas não sabia se
tinham sido maiores do que os malefícios que
acompanhariam a menina a partir de agora, pois quando
teve um vislumbre de uma família, ela ia ruir. E dessa vez
seria pior, porque antes a criança não conhecia o significado
do amor, do carinho e do afago, e agora que conhecera ia
perder. Torcia para que a babá permanecesse se doando
generosamente à sua sobrinha e que Dean continuasse
construindo o relacionamento entre os dois.
Pensar em partir doía mais quando pensava em Annie
do que na própria desventura. Talvez voltasse para
Oxfordshire e aceitasse o convite que tinha recusado das
amigas, até encontrar outra solução.
Também tinha buscado compreender Dean, embora
não acreditasse no motivo alegado por ele, pois achava que
ele estava mesmo equivocado. Não conseguia enxergar
amor numa situação de traição, mas sim de egoísmo.
No entanto, começou a buscar razões que o levaram a
fazer isso. E encontrou duas: proteger a filha e a ela mesma,
que não tinha para onde voltar. Sua irmã dissera que ele era
um homem bom, e ela tinha provado que era.
Seu coração amoleceu, afinal não seria ela se isso não
acontecesse. O tempo apaziguador havia amainado sua dor,
e ela voltava gradativamente ao normal.
Mas jamais voltaria para ele. E essa certeza era
terrível. Nunca mais amaria novamente. Seu primeiro e
único amor era ele. Mas não podia confiar em Dean, por
mais que entendesse seus motivos. Passara a vida inteira
sendo vítima de Isabel e não se via tendo um
relacionamento com alguém que mentira por tanto tempo.
Quem garantia que Dean não voltaria a mentir? Bastava
uma vida inteira vendo e sofrendo isso. Não podia se
permitir viver sob o jugo de mais ninguém que a
manipulasse conforme seus desejos.
Estava pensando nisso enquanto olhava, pela janela,
Annie indo embora com Dean. O seu semblante triste
agoniou Cindy, que sempre fez questão de respeitar os
sentimentos dela. Mas naquele dia a amiga resolveu que
era hora de conversar sobre o delicado assunto.
— Você o ama, Bella? — Cindy sabia que sim, mas
achava que ela precisava se libertar, confessando.
— Contra todo meu bom senso, afirmo que sim. Mas
vou esquecer — disse ela, sem negar ou se esquivar do
assunto.
— Por que você quer esquecer? Eu tenho um bom
julgamento sobre Dean.
— Oh, minha amiga, não percebe como é difícil? Tenho
tantos motivos para querer tirar isso do meu coração,
mesmo que me pareça impossível. Veja a agrura em que me
encontro e que me amargura sobremaneira: amo
apaixonadamente o mesmo homem que foi da minha irmã,
mesmo que ele diga que não sente nada por ela. Como se
não bastasse isso, esse homem me traiu, mentindo sobre
um assunto tão importante, o qual nem preciso mencionar.
Além do mais, toda vez que percebi um olhar diferente da
parte dele, seria hipócrita se dissesse que nunca houve um,
fiquei me perguntando se ele olhava assim para ela. Sempre
me pego imaginando-os se abraçando e se beijando. Isso é
tão inaceitável. Cada sorriso, cada toque inesperado, cada
gesto me trazem à mente a imagem de Isabel recebendo-os
igual. Não consigo lidar com isso. Sinto ciúme de uma
pessoa que já morreu. Da minha própria irmã. Por mais que
ele tenha afirmado que não a amava, já houve algo. A prova
disso é Annie, filha dos dois.
— Meu Deus, vocês nunca conversaram sobre isso? —
Cindy estava espantada que Dean ainda não tivesse aberto
sua vida totalmente para Bella. Por que ele estava
carregando uma culpa que não tinha? Mas ela não tinha o
direito de se meter nisso, se ele mesmo preferia assim.
— Sobre o quê? — perguntou Bella.
— Sobre... sobre esses sentimentos que lhe afligem —
disfarçou Cindy.
— Não há como fugir disso. Não tem nada que possa
alterar o passado amoroso de um casal. Logo, de que
adiantaria uma conversa? Eu só abriria meus sentimentos, e
ele diria palavras para tentar me persuadir, mas seriam
inúteis, pois eu não acreditaria. É muito mais forte do que
eu.
— Afirmo enfaticamente que ele também a ama. E o
amor, longe de ser apenas uma inclinação emocional, é algo
raro. Dessa forma, não pode ser desperdiçado — insistiu
Cindy.
— Estou propensa a acreditar que eu nunca seria feliz
ao lado dele, pois não aguentaria ser comparada à minha
irmã. Como posso ter certeza do seu amor por mim? Será
que não entende como é difícil ser fisicamente igual a outra
pessoa? Quem ele vê quando me olha: eu ou Isabel? Essa
péssima sensação piorou com a morte inesperada dela.
— Para mim isso é de fácil elucidação. Ele ama a sua
alma. E nunca faria comparações, pois não tem parâmetro
— respondeu Cindy, com muita convicção.
— Realmente não tem comparação entre mim e ela —
assegurou Bella, triste.
— Não tem, mas de uma forma que você nem imagina
— disse Cindy, enigmática.
— Cindy, nunca pensei que o amor fosse tão intenso e
doloroso. — Bella estava tão aturdida que nem prestou
atenção no valor da frase que acabara de escutar.
As lágrimas, que escorriam de forma corriqueira
ultimamente, desceram pela sua face outra vez.
— Bella, antes de você tomar qualquer decisão, é de
muita importância que você e Dean conversem. Fale sobre
seus sentimentos, seus anseios, suas dúvidas para que ele
possa lhe esclarecer algumas coisas.
— Você fala como se soubesse de alguma coisa.
— Só posso falar que pode ter mais coisa do que você
imagina nessa história e que somente ele pode lhe dizer.
Bella atribuiu essa conversa a uma tentativa da amiga
de aproximar os dois.
Mais cinco dias se passaram, quinze da morte de
Isabel, Bella os contava diariamente, pois sabia que só com
o passar do tempo suas dores diminuiriam. E estavam
diminuindo gradativamente.
A família Crawford tinha mostrado coisas jamais vistas
em seu lar. Eles se amavam verdadeiramente e a vida
caseira era gostosa de viver. Julia era um doce e encantava
todos ao redor. A rotina deles incluía a menina em quase
todos os momentos e o amor e aconchego eram quase
palpáveis. Ian amava a esposa, que o adorava, e os dois
amavam a filha de forma incondicional e linda. Ela se
imaginava nesse contexto sempre que fechava os olhos,
junto de Dean e Annie, formando uma família parecida.
Durante sua estadia, passou momentos muito
importantes conversando com sua nova amiga, que parecia
ser muito mais sua irmã que Isabel. Cindy era uma mulher
de princípios sólidos e muito verdadeira. Sua amizade,
refletida por meio de conselhos e abraços, foi o remédio
necessários para aplacar a dor de Bella, aplicados sempre
que solicitados. Ou mesmo quando não.
Mas era hora de devolver a privacidade àquela família.
Além do mais, era adulta e tinha de enfrentar seus
problemas.
Bella lhes falou do seu desejo de partir.
— Você vai voltar para a casa de Dean? — perguntou
Ian.
— Não sei ainda. Mesmo que fique uns dias lá, penso
em voltar para Oxfordshire — respondeu ela, sem muita
convicção. Depois desses dias, sua cabeça estava mais
calma e seus pensamentos mais lúcidos.
— Não entenda como reprimenda, Bella, mas é meu
dever advertir que Annie vai sofrer bastante com a sua
partida, uma vez que a traz em elevada afeição. — Dessa
vez quem argumentou foi Cindy, enquanto pegava as mãos
de Bella entre as suas, num gesto de afeto e amizade.
— Nunca confundiria um conselho com uma
reprimenda, minha amiga. Sei que tem razão e não consigo
parar de pensar nisso. Dói tanto.
Bella caiu num pranto. Cindy a abraçou, amparando o
corpo trêmulo da amiga, que chorava inconsolável.
— O que a impede de perdoar Dean? — a amiga
perguntou.
— Poupando-o da mentira que ele levou adiante sem
considerar a minha vontade, tem tanta coisa que me afeta e
afasta dele. Mas percebo que o perdão está perto de
acontecer. Apesar de vez ou outra me lembrar de que ele
fez a mesma coisa que Isabel, minha natureza não me
permite guardar mágoas.
— Sou obrigado a interferir em favor dele. O que fez foi
por motivos bem diferentes dos da sua irmã — alegou Ian.
— Mentira é mentira.
— Compreendo que mentira nunca deixará de ser o
que é, mas pode ser desculpável dependendo das
circunstâncias que a levaram a ser dita. Sua irmã mentia
para lhe prejudicar. O único prejuízo que Dean lhe causou
foi adiar o seu luto. Ele sofreu esse tempo todo por estar
mentindo, muito diferente de sua irmã, que sentia prazer no
que fazia.
— Reconheço a verdade disso.
— Dean fez tudo por amor. Ele não queria perdê-la.
Uma pessoa apaixonada é capaz de muita coisa para
manter o ser amado ao seu lado, Bella. Sei bem o que é
isso. Eu nunca o vi tão apaixonado — disse Ian.
— Uma forma tão estranha de amar — disse ela.
— Bella, sou obrigado a lhe advertir que talvez você
tenha desenvolvido uma negação do amor de Dean para
continuar se impedindo de voltar para ele. Isso é bastante
cômodo se quiser fugir do problema. Entenda de uma vez
por todas que seu problema não é falta de amor, pois os
dois se amam. Não tenha a presunção de achar que o ama
sozinha, pois é notório que isso não é verdade.
Ian foi bastante enfático ao falar essas coisas, mas
sentia que precisava chacoalhar a moça de alguma forma.
Claro que Dean também tinha de ajudar. Custava abrir o
caderno de sua vida para que ela folheasse e conhecesse
toda a sua história? Seria muito mais simples. Oh, homem
obstinado!
No encerramento da conversa, no entanto, ele
amenizou um pouco.
— Do meu ponto de vista, vocês dois foram vítimas de
Isabel. No final de tudo, deve ser considerada a
possibilidade de que era necessária essa fatalidade para
que se encontrassem.
Apesar de chocada com a dureza das palavras do
amigo, Bella, que já estava enxergando coisas que antes se
negava a ver, ficou bastante reflexiva.
Se partisse tinha tanto a perder. E Annie, ah, Annie,
como viver sem sua garotinha? E como deixar sua garotinha
sem ela? Era maldade demais com a menina, que nunca
mais a veria.
Voltar para a casa de Dean era a única solução, já que
não queria abusar da hospitalidade dos bondosos amigos.
A partir daquela conversa, quando Dean trazia Annie,
ela permanecia no mesmo ambiente, embora não lhe
dirigisse uma palavra ou um olhar. Ainda assim, as
esperanças dele foram renascendo e se renovando a cada
dia, apesar de Bella ainda parecer magoada.
Não havia mais dúvidas de que deveria retornar à casa
de Dean. Porém não estava pronta para ter um
relacionamento com ele. E não parava de pensar na
advertência de Ian sobre ela ter desenvolvido uma negação
do amor de Dean. Inconscientemente, estaria fazendo isso?
Ele disse que a razão de ter feito o que fez foi porque a
amava e ela negou-se terminantemente a aceitar isso,
inclusive dizendo-lhe que nunca mais se declarasse daquela
forma. Será que ainda a queria como esposa, ou estava
providenciando a anulação do casamento, depois de ter sido
repelido com veemência por ela durante todos esses dias?
E o empurrão de que precisava para voltar aconteceu
na manhã de uma quinta-feira, quando os amigos disseram
que retornariam a Londres para o início da temporada. Não
se ofereceram para levá-la junto, porque sabiam que não
era o certo a fazer.
Assim, naquele mesmo dia à tarde, Ian anunciou a
Dean que ela voltaria para a sua casa até decidir o que
fazer.
Essa foi a primeira vez que ela lhe dirigiu o olhar, para
deixar evidente que o amigo estava falando em seu nome.
Na manhã da terça-feira, Dean foi buscá-la. Eles
seguiram calados.
Para os empregados, a briga tinha passado e agora a
patroa estava de volta.
Dean não a forçava a uma convivência com ele, mas
passaram a jantar juntos, embora ainda sem se falar.
Depois, cada um se recolhia em seus respectivos aposentos.
Porém, longe de se acostumarem com isso, eles sofriam.
Com o tempo, tudo seria remediado e a ferida sarada,
mesmo que a cicatriz perdurasse, talvez para sempre.
Com o passar dos dias, os diálogos surgiram tímidos,
depois foram aumentando gradativamente, à medida que
as mágoas davam lugar à compreensão. Mas ainda não
tinham conversado sobre o que fazer com as informações
obtidas com as cartas enviadas por Isabel.
͠
Bella estava sentada na pequena sala que havia
adotado como seu lugar preferido na casa. Era uma sala
estreita e nas paredes da direita e da esquerda havia
prateleiras que iam do chão até o teto, repletas de livros. As
prateleiras começavam no início da sala e se estendiam até
a janela de vidraças transparentes, que também iam até o
teto. O que tornava o ambiente mais intimista era uma
poltrona de couro bege, encostada na janela, que tinha a
largura total da sala, com almofadas quadradas e fofas.
Assim, a pessoa pegava um livro, deitava-se e o lia
desfrutando da visão espetacular do jardim e, se quisesse,
ainda podia tirar um cochilo, bastando fechar a cortina para
diminuir a claridade. Era um deleite.
Estava tão compenetrada lendo um livro, que não
percebeu quando Dean entrou.
— Você aprecia bastante este lugar, não é?
— Bastante. — Ela levantou-se e ficou em pé, olhando
para ele, com aqueles olhos límpidos e desprovidos de
qualquer dolo.
— Bella, desde que você voltou para casa não falamos
mais sobre o que aconteceu. Precisamos fazer isso.
Voltou para casa.
— A opinião que tive logo depois que descobri o que
me fez foi equivocada. Eu acho que compreendi os motivos
que o levaram a fazer isso — ela respondeu.
— Compreendeu? — ele perguntou, admirado.
— Algumas coisas ainda estão confusas, mas creio que
o tempo vai resolver, de uma forma ou de outra.
Dean apenas a escutou, sem desviar os olhos dela, o
que a fez se arrepiar toda. Ele tinha uma capacidade
enorme de desestabilizar sua razão. Ela cruzou os braços,
para que ele não visse que sua caixa torácica estava se
insinuando para a frente devido às batidas tempestuosas do
coração. As coisas realmente estavam voltando ao que
eram antes.
— Você está providenciando a anulação do casamento?
— perguntou Bella, com medo da resposta.
Ele ficou tentado a dizer que sim para ganhar tempo.
Mas havia decidido que nunca mais mentiria para Bella.
— Ainda não falei com os advogados.
Afastando-se de Bella, Dean foi até a janela do outro
lado da pequena sala, onde ficou uns minutos, antes de se
virar novamente para ela, que ficara muda. Não achou
necessário dizer que esse último mês tinha sido o pior da
sua vida; que esperou dias seguidos por uma menção de
sorriso dela; que sonhou desesperadamente pelo seu
perdão e que não ia de forma alguma providenciar a maldita
anulação. Ela ia ser dele, por mais que demorasse.
— Não somos obrigados a anular o nosso casamento.
Continue sendo minha esposa — disse ele, retornando para
perto de Bella.
— Sua esposa? — A voz dela saiu trêmula.
— Sim. Qual a surpresa? Já tínhamos falado sobre isso.
— Quando havia possibilidade de nossos problemas
não serem resolvidos — disse ela.
— Ainda acho que é a melhor opção para ambos —
rebateu ele.
— Não seria conveniente, minha irmã praticamente
acabou de morrer.
Ainda bem que a única objeção agora parecia ser as
regras do luto, pensou Dean. Mas não aceitava isso. Isabel
não merecia meio dia de luto.
— Nunca é demais lembrar que ela abandonou a filha
por outro homem. E todos nós sabemos quem é minha
esposa realmente, Bella.
— As coisas não são bem assim, e nós sabemos.
— Continuarmos casados é um sacrifício tão grande?
— Não. Mas é um sacrilégio. Sua esposa, que por sinal
era a minha irmã, morreu faz tão pouco tempo!
— Você sabe que ela não era minha esposa.
— Era sim. O meu nome no papel não anula o fato de
terem sido casados perante um sacerdote e as pessoas. Por
isso seria um escândalo.
— Não me importo com escândalos e sua irmã já me
expôs a uma cota considerável de alguns, de modo que
estou calejado. De qualquer forma, teremos de contar a
nossa situação toda, com todos os detalhes, para que
consigamos a anulação. A diferença é que depois de toda a
exposição continuaríamos casados.
— Por quê? Se quer que eu fique, basta me deixar ficar
hospedada, afinal sou tia de Annie. E depois de algum
tempo podemos voltar a falar sobre isso.
— Por dois motivos: o primeiro é que não acreditarão
que não somos amantes se permanecer aqui; e o segundo é
que quero tudo que envolve um casamento. Quero uma
mulher em todos os sentidos.
— Por favor, Dean, ainda não estou preparada para
falar sobre esse assunto.
Bella sabia que era hora de enfrentar os problemas,
mas via que esse ponto ainda a incomodava. Desejava de
uma forma desvairada amar e ser amada por ele, mas o
amor seria suficiente para apagar outros sentimentos? Por
outro lado, ela sempre disse que o amor é o maior vínculo
afetivo do mundo. Se isso era verdade, por que essa
aflição? Sentia-se presa a algo invisível, mas muito forte.
— Mas eu não poderei deixar de falar sobre isso. O
motivo principal da minha proposta é o meu amor por você.
Sempre foi. Eu não consegui esquecê-la e a quero para mim
de todas as formas possíveis.
Ela o fitou, perguntando-se se seria capaz de aceitar
esse amor, sem que houvesse dúvidas incomodando sua
mente.
— Espero sinceramente que não fique escandalizada
com o que vou lhe dizer. Eu a quero como minha mulher
para dividirmos nossas vidas, nossos problemas, nossa
cama. Quero fazer amor com você todas as noites e acordar
ao seu lado todos os dias, até que a morte nos separe. E
ainda assim, ela não conseguirá apagar o amor que sinto
por você. E eu sei que você sente o mesmo por mim.
Ela ficou muda. Não havia mais como esconder a
verdade.
Dean ficou desnorteado pelo silêncio de Bella. Ela
parecia resolvida a não ficar mais com ele, mesmo que já
estivesse perto de perdoá-lo completamente. Mas lutaria
até o fim. Agora que tinha começado a falar não podia
voltar atrás. Tinha de falar tudo o que fosse necessário para
que ela soubesse onde estava pisando.
— Nunca mais me peça para calar o meu amor, pois
não o farei. Eu a amo e quero trazer a paixão e a fidelidade
para nosso casamento.
Uma luz se acendeu dentro de Bella ao ouvir a última
frase.
— Você tem uma amante? — ela perguntou, entrando
num terreno perigoso, que não conhecia ainda, mas que
fora adentrado quando ele falou sobre fidelidade.
Ele sorriu. Deus, como aquele homem era
diabolicamente lindo! Ela afastou as vistas logo.
— Geralmente um homem normal tem ou visita
periodicamente lugares próprios para aplacar seus desejos,
Bella.
— Desejos — repetiu ela.
— Todos nós temos, Bella. As mulheres, da mesma
forma que os homens, possuem desejos sexuais, sabia?
Sabia. Claro que sabia. Ultimamente vinha sentindo
desejos que só podiam ser sexuais de acordo com os
sintomas que seu corpo apresentava quando ele estava por
perto.
— Há algumas necessidades no corpo tão profundas,
que, quando despertadas por mãos habilidosas, precisam
ser satisfeitas. Sensações que se transformam em urgência
no corpo do parceiro e é quase desesperador senti-las pela
metade.
Essas palavras despertaram a curiosidade dela. Ele
percebeu.
— Você não faria jus à condição de mulher se não
tivesse ficado curiosa depois do que acabou de escutar. —
Ele tossiu. – Posso fazer uma pequena demonstração, se
você permitir.
Ela abaixou a cabeça envergonhada. Fez uma pergunta
que não devia e recebeu uma resposta direta e sem floreios.
— Não foi isso que eu quis insinuar — ela refutou com
voz baixa.
Ele riu novamente, e ela paralisou.
Deus, quem era esse homem, que fazia sua cabeça
virar de ponta-cabeça? Ela estava quase esquecida de que
ele fora de Isabel, sua irmã gêmea, e que teve uma filha
com ele. Ela não passava de uma substituta. Mas saber que
ele precisava de amantes para se saciar acendeu um
sentimento bastante incômodo nela.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e a olhou com
uma mistura de admiração e satisfação. O corpo alto, com
peso bem distribuído, e o ar elegante paralisavam
parcialmente os pensamentos de Bella. Quer dizer,
paralisavam a capacidade de escutar, pois terminava se
ocupando de imaginar coisas pouco decentes.
Principalmente quando sabia que ele tinha a tendência de
falar sobre assuntos nem um pouco convencionais para uma
dama.
— Você alguma vez já teve algum tipo de intimidade
com um homem? — ele perguntou, mas já sabia que a
pergunta era retórica.
— Não — ela respondeu sem se voltar.
— Já foi ao menos beijada?
Ela se voltou e o olhou, como se não estivesse
compreendendo a pergunta, já que ele mesmo a havia
beijado.
— A... acho que sim — disse, virando-se novamente
para a janela.
Bella respondeu com tanta inocência que ele chegou a
se arrepender da proposta despudorada que lhe fizera. Mas
agora era tarde e não voltaria atrás. Agora era questão de
honra ser o primeiro na vida dela em tudo. Seria um prazer
enorme fazer daquela menina uma mulher. Senti-la vibrar
em seus braços a cada toque. Ele respirou fundo.
— Vire-se!
Ela voltou-se e deu de cara com ele.
— Aquilo não foi um beijo.
Dean pegou suas mãos e as beijou. Depois as virou e
beijou as palmas. Trêmula, Bella ficou olhando aquilo como
se estivesse no corpo de outra pessoa observando aquela
cena erótica de longe, mas se sentiu dentro da cena quando
ele pegou delicadamente o seu queixo e, puxando-a pela
cintura, encostou seu corpo no dele. Depois, com muita
calma, ele ajeitou a cabeça de modo que seus lábios se
uniram aos dela, que, por causa da surpresa ou da
curiosidade, não se mexeu. Ele a beijou devagar. Apenas
encostando os lábios e mexendo-os sem pressa. Ela
manteve a boca fechada. E os olhos que estavam abertos
de repente sentiram um certo conforto na escuridão que as
pálpebras ofereciam e se fecharam. Mas não só por isso. As
sensações a que ele se referia pareciam aflorar de forma
mais sensível com os olhos mergulhados no breu. Mas o que
fazer com a boca?
— Não sabe beijar ou não quer me beijar? — desafiou
ele, com a voz rouca.
— Eu...
— Deixe-me descobrir.
Ele tornou a beijá-la. Passou a língua molhando os
lábios fechados dela, e, dessa vez os abriu, pois entendeu
que deveria abrir a boca depois da pergunta de Dean. E o
fez, timidamente, abrindo um pouco os trêmulos lábios. Foi
o suficiente. A língua dele se interpôs naquela abertura e
começou a fazer coisas que ela jamais imaginou que
pudessem ser feitas. A língua sedosa avaliou a dela,
vasculhou a intimidade da boca inocente e arrastou a língua
dela para a sua boca, a fim de chupar e mordiscar
suavemente. Jesus, aquilo era algo impensável de ser feito.
Mas mesmo assim era maravilhoso. A ponto de ela ter se
sentido obrigada a encostar o corpo todinho ao dele para
colar o que fosse possível. A teoria das necessidades a que
ele se referiu momentos atrás estava se provando
verdadeira.
O beijo tornou-se mais íntimo. Ela segurou-se nos
ombros de Dean, crendo que, se não o fizesse, despencaria.
As sensações tomaram conta de seu corpo a ponto de ela
perder a noção até do lugar em que estavam. Quando ele
recuou um pouco o beijo, Bella alcançou e tocou de leve a
sua língua. O corpo dele estremeceu. Dean agora tinha
dúvidas de quem ficaria com alguma necessidade
insatisfeita. Quer dizer, nenhuma dúvida. Pelo menos, ela
não sabia até aonde aquilo podia chegar e nem como a
culminação era prazerosa. Mas ele... ah, como sabia. E
como queria!
Ele voltou a se preocupar com o beijo. Gemendo,
segurou-a pela cintura e tateou com a outra mão uma
parede onde pudesse encostar o corpo dela. E quando
encontrou, teve de fazer um esforço supremo para não se
esfregar em Bella até encontrar um alívio para uma
particular parte do seu corpo. Precisou de muita força de
vontade para se ater apenas ao beijo. Era o primeiro de
Bella e tinha de ser inesquecível. Ela estava abandonada
em seus braços. Os lábios abertos e desejosos, sendo
manipulados por lábios experientes, lascivos e afoitos. Ele
deslizou a língua novamente para dentro de sua boca,
insinuando movimentos sensuais que fizeram o corpo dela
estremecer.
– Ah... – ela gemeu indefesa.
Ele já estava terminando o beijo, mas, incentivado por
esse som dos céus, moveu o corpo, quase fundindo-o no
dela novamente. Mas um lampejo de consciência o alcançou
e ele teve de abandonar aqueles lábios macios, pois se
permanecesse naquele ato louco, a coisa não ia ficar boa.
Ele desceu a boca e mordiscou o queixo delicado dela,
depois subiu e beijou as maçãs do rosto, as pálpebras
cerradas e a testa. Precisava acalmar a ambos.
Quando se afastou, segurou o rosto de Bella entre as
mãos e, olhando-a profundamente, disse:
— Não sabia.
— O quê? — ela perguntou, confusa e trêmula.
— Eu lhe perguntei se você não sabia ou não queria me
beijar.
Ela abaixou a cabeça envergonhada.
Dean passou as mãos nos cabelos, e disse: — Basta me
dar a resposta amanhã.
Então ele saiu, deixando-a atordoada e com uma
sensação de que faltava algo para concluir o que haviam
começado. E agora já tinha mais ou menos uma noção do
que vinha a ser.
Ficou ali por muitos minutos com a mão na boca. E
agora, o que faria? Como olharia novamente para ele,
depois de ter se derretido em seus braços?
Algo lhe chamou a atenção: pelo menos enquanto
estavam se beijando, ela esqueceu de Isabel. Dean
conseguia aprisionar seu corpo e sua mente quando a
tocava. Mas será que durante momentos mais íntimos seria
assim também?
Capítulo 12
A noite foi longa para Bella. A sombra de Isabel, de suas
palavras e de suas risadas a incomodou tanto que teve
pesadelos terríveis de madrugada. Assim, no dia seguinte
perdeu a primeira refeição do dia. Estava tão envergonhada
que pediu que o almoço fosse servido em seus aposentos.
Mas ficou mais envergonhada ainda em se recusar a jantar
com Dean, afinal era adulta e devia enfrentar a situação
com coragem. Já havia analisado a proposta e tinha de falar
sobre ela com maturidade. Isabel não a deixaria ser feliz
nem depois de morta. Não tinha estrutura emocional para
isso, por mais que houvesse amor envolvido.
Dean também não dormiu de forma satisfatória, pois
não tirava da cabeça o beijo. O primeiro de Bella. Se sua
proposta fosse recusada, ele enlouqueceria. Provar aqueles
lábios o instigara a querer o banquete todo. Ele não tinha
dúvida de que os manjares a serem experimentados eram
deliciosos e não via a hora de se fartar degustando-os. Ficou
duro só de imaginar.
Somente no jantar Dean conseguiu ver Bella, que
desceu parecendo um anjo, envolta em um vestido de
tecido esvoaçante verde, combinando com seus olhos. Um
decote suave deixava antever os dois montes imaculados
dos seios, divididos por um delicado cordão de ouro com um
pingente simples. Os cabelos caíam em cascata sobre os
ombros, em um penteado que deixava o rosto à vista, e
pequenos brincos de pérola enfeitavam as orelhas perfeitas.
Ela era absolutamente deslumbrante e, apesar de ser igual
à irmã, era tão diferente, em uma representação exata de
uma verdadeira dicotomia: uma representava o escuro da
noite, a outra, a resplandecência de um dia claro de verão;
uma era o mal em pessoa, a outra, o bem, simples e puro
como tem de ser; uma era a lua, a outra, o sol; uma era o
inferno e a outra, o céu. Ainda bem que tudo que
representava a maldade foi extinto com a morte prematura
de Isabel, restando apenas a bondade daquela mulher linda
sentada à sua frente.
Apesar da constituição física pequena e da compleição
delicada do rosto, não havia nela nenhuma fraqueza.
Precisava convencê-la a ficar.
Dean a levou à biblioteca para que pudessem
conversar sem o perigo de serem escutados.
— Já pensou na minha proposta?
— Sim. E cheguei à conclusão de que você tem tempo
hábil para resolver a questão do testamento.
Se não fosse a imagem de Isabel, que teimava em
aparecer todos os dias e quase todos os momentos...
— Para isso eu teria de arranjar outra esposa, como
você bem sabe.
De repente, ela sentiu uma dor lancinante no peito ao
imaginar aquele homem dormindo com outra mulher. Ele
tinha pertencido a Isabel e a outras mulheres, não queria
nem saber quantas. Precisou de todo o seu autocontrole
para esconder o quanto essa ideia a incomodava. Mas a
madrugada lhe disse tanta coisa.
— Acho que está tão pouco interessada que talvez até
me ajudasse a encontrar uma, não é? — ele disse, com um
timbre de voz que sugeria desgosto.
— Dean, não é isso. Confesso que não me sinto capaz
de ficar no lugar que pertenceu a ela.
— Então, outra mulher no lugar dela seria bem melhor
e confortável para você— ele afirmou, quando poderia ter
dito que Isabel nunca teve lugar na vida dele, o que talvez
tornasse mais fácil conquistá-la.
— Não se trata de conforto, mas de paz. Minha paz.
Mais uma oportunidade para Dean. Mesmo assim...
— Não vejo razão para que não seja eu a lhe
proporcionar essa paz. O tempo vai provar muita coisa.
— Dean, não é necessário que seja eu a lhe dar o
herdeiro de que precisa.
Como doía dizer aquelas palavras!
— Mas eu só quero você como a mãe do meu herdeiro.
— Sua proposta é boa, mas não sei se conseguiria…
sabe…dormir com o homem que dormiu com a minha irmã
— ela começou a ceder, diante da insistência dele.
Dean enrijeceu o corpo e respirou fundo.
— Posso ter paciência e esperar o tempo necessário.
Fique comigo, Bella. Seja minha esposa e se dê a chance de
me perdoar completamente, enquanto faço o mesmo.
Podemos fazer isso juntos. Não me deixe.
Dean devia lhe dizer toda a verdade. Bastava tão
somente dizer que nunca tinha dormido com Isabel. Mas ela
saberia que Annie não era sua filha. Ele não se sentia
confortável com essa perspectiva. Se Isabel tivesse
confessado na sua carta, tudo bem. Mas se até ela parecia
ter querido resguardar a filha dessa maldição, por que tinha
de ser ele a falar? Sabia que faria isso, afinal, ela era Bella.
Mas não estava pronto. Em vez disso usou um argumento
quase mesquinho.
— Pense em Annie. Ela sofrerá muito com sua partida.
O argumento podia ser mesquinho, mas surtiu efeito.
— Eu penso e sei o quanto ela vai sofrer. Penso em
como a cabecinha dela vai ficar confusa se eu for embora e
outra mulher tomar o meu lugar.
Ele viu uma luz iluminando suas esperanças. Tomar o
meu lugar... Sim, o lugar era dela, não de Isabel.
— A minha resistência reside nas dúvidas que me
acometem quando a imagem de Isabel me vem à mente. E
isso ocorre mais do que você imagina. Mas quando vejo as
coisas de outra perspectiva, a que inclui Annie, repenso.
Um clarão pareceu explodir na cabeça dela. Pagaria o
preço pela menina. E por ela. E por ele. Seria um preço alto,
pois seus dias e principalmente suas noites restavam
prejudicadas, pois Isabel a assombraria pelo resto da vida.
Mas era o certo a fazer.
— Estou certo ao imaginar que você está considerando
aceitar a minha proposta?
Ela ficou calada. Ele exultou por dentro.
— Está fazendo isso só por Annie?
— Por causa de Annie e porque você depende disso
para manter seu patrimônio. O testamento do seu pai não é
justo.
Deus, que mulher era aquela! E ia ser sua. Sua mulher.
Na prática. Por muito pouco ele não deu um grito alto o
suficiente para ser escutado pelos habitantes ao redor de
toda propriedade. Ela não precisava pronunciar as palavras.
Ia ficar. Ele sabia.
É certo que gostaria de ouvir Bella admitir que o amor
por ele era o motivo de estar tomando essa decisão, mas
por enquanto não precisava que ela confessasse o que
estava em seu coração. Sabia que era amado. Por isso,
também tomou uma decisão.
— Vou aguardar você, Bella, porque não posso
pertencer a outra mulher.
Antes de falar, ela o olhou de um modo que ele
compreendeu sua resposta. Então, ela assentiu,
timidamente, quase o sufocando de emoção.
Bella não queria que ele fosse de outra mulher. Não
queria que tivesse sido de sua irmã. Não conseguiu dizer
que sua decisão também tinha sido baseada no imenso e
incontestável amor que lhe dedicava. Muito menos que
acreditava que era alvo do dele. Estava cedo para isso.
Tinha de dar um passo de cada vez.
Jesus, agora que implicitamente aceitara a proposta,
não tinha certeza se conseguiria se entregar ao homem que
teve Isabel nos mesmos braços. Ficara com o sobejo dela.
Mas ao mesmo tempo, Bella o queria só para ela. O que
fazer com aquele turbilhão de emoções?
͠
Dean estava passeando com Annie nos braços na
manhã seguinte, quando Bella resolveu acrescentar uma
ressalva à resposta que dera no dia anterior.
— Eu aceitei a sua proposta, Dean, mas ainda não
estou pronta para dormir com você.
— Não tem problema. Eu terei paciência. Não precisa
explicar os sentimentos que estão se contrapondo dentro de
você, Bella. Não sou louco para pensar que vai ser fácil lidar
com sensações tão contraditórias. Eu esperarei até que
esteja pronta, já lhe disse.
Mas eu não quero que você durma com mais ninguém,
pensou ela. Agora que ele tinha lhe explicado e lhe
mostrado como os desejos deixam um corpo aceso e afoito
por satisfação, sabia que não tinha como evitar que ele
procurasse isso nos braços de outra mulher. A não ser que o
aceitasse na sua cama ou fosse para a dele. Mas ainda tinha
de buscar um caminho que a levasse a ele sem pensar em
Isabel quando estivessem juntos intimamente. Claro que se
não encontrasse esse caminho, teria de sofrer as
consequências de sua decisão, amargando as duras
emoções cada vez que lhe pertencesse.
Parecendo adivinhar a inquietação de Bella, ele
completou:
— Dou-lhe a minha palavra que não dormirei com outra
pessoa até que possa tê-la — garantiu ele.
— Eu agradeço.
Aquelas palavras sinceras demonstraram que ela não o
queria nos braços de ninguém, o que o alegrou
sobremaneira.
Nesse quesito, ele não tinha paciência coisa nenhuma,
mas não havia outro jeito. Além do mais, era hora de voltar
para casa, em Londres, e isso ia distrair a esposa um pouco.
Esposa, que doce palavra. Seu coração estava
enlevado.
— Voltaremos esta semana para Londres — ele
comunicou.
— Meu Deus, novos desafios me aguardam.
— Irei ao magistrado, levando a confissão de Isabel, a
fim de que todos saibam que ela morreu, e a verdade sobre
o nosso casamento. Depois, diremos a todos os amigos o
que aconteceu e anunciaremos que resolvemos continuar
casados pelo bem de Annie. Conheço algumas figuras cujas
línguas espalham notícias como labaredas em plantação
seca. Vou me encarregar de lhes dar a notícia e dentro de
poucos dias, quiçá horas, toda a Inglaterra saberá. Depois é
só se preparar para responder a uma infinidade de
perguntas. Não será simples, mas estamos perto de acabar
com essa farsa. Uma coisa boa da fofoca é que, quando
surge outra nova, ela perde o valor e as pessoas logo
esquecem. A cada nova fofoca, a nossa vai ficando para
trás.
— Vou me sentir bem melhor depois que todos
souberem de tudo, apesar das implicações.
— Eu sei.
Annie empertigou-se nos braços de Dean para descer.
Ele se abaixou e a colocou no chão. A menina segurou a
mão dele e procurou, desajeitadamente, a de Bella. Os dois
riram e saíram de mãos dadas com a menina com a brisa
suave soprando deliciosamente em suas costas. Annie ainda
andava tropegamente, mas a cada dia seus passos
adquiriam mais segurança e firmeza.
Chegando a um velho balanço em um robusto carvalho,
Annie apontou, indicando o que queria. Dean tratou de
verificar se o balanço oferecia algum risco. Vendo que era
seguro, pegou a menina e colocou-a em cima, começando a
balançar em seguida. Tão rápido quanto subira, ela quis
descer, já procurando alguma coisa diferente para fazer.
Assim, passaram minutos agradáveis em família até que a
babá veio avisar que era hora de ela tomar a mamadeira.
Dean atreveu-se e entrelaçou os dedos nos de Bella.
Ela aceitou.
O primeiro toque de mãos depois de tanto tempo.
Como era bom sentir a maciez da mão dela! Como era bom
sentir a firmeza da mão dele!
Chegando à sala, ele beijou sua testa e retirou-se,
deixando-a com a sensação de que o lugar perdera toda a
graça. Sentia um misto de antecipação do papel de uma
esposa.
Entre os dois não houve flerte, namorico, compromisso
ou nada que sugerisse um casamento, no entanto estavam
casados, devido a uma ação impensada de Isabel. Ela, com
sua inconsequência, havia providenciado uma nova vida
para Bella, um pacote completo: marido, filha e um lar. Mas
isso em vez de atenuar o fardo de Bella, a extenuava, pois
não conseguia parar de pensar que estava pegando as
sobras de uma relação construída anteriormente pela irmã,
que sempre se antecipava e colhia as melhores
recompensas.
Por outro lado, pensar em sobejo também a fazia ver
outro significado para a palavra que estava se tornando tão
relevante em sua vida. Sobejo também significava algo que
supera o primordial, que excede o necessário. Logo, não era
de todo ruim ficar com as sobras quando as coisas eram
colocadas nesse contexto.
Com relação ao comando da mansão, ela já se sentia
como se fosse a sua senhora, uma vez que era procurada
frequentemente para que indicasse o cardápio do dia,
principalmente do jantar, e também para outras coisas que
o mordomo ou a cozinheira principal achavam que ela
deveria dar a última palavra. Isso ocorria, principalmente,
porque Dean não levou a governanta de Londres e não
arranjou uma na Escócia, uma vez que tinha intenção de
permanecer naquele país poucos meses. Na ausência dela,
quem comandava o cardápio era a cozinheira principal e os
demais assuntos pertinentes à casa era o mordomo que se
encarregava de cuidar. Até Bella começar a se insinuar em
áreas nas quais achava interessante dar a sua opinião. E,
para isso, vinha agindo como a dona da casa. Coisa que
vinha agradando Dean além da conta. Quanto mais ela se
sentisse parte da sua vida, mais se envolveria com ele.
O mordomo começou a ensaiar uma cara mais
simpática, sem, no entanto, abandonar a característica
principal que acompanha todos que desempenhavam
aquele papel: discrição e moderação.
Mesmo assim, eles já se entendiam com um simples
olhar. Algo que só acontecia entre a senhora da casa e o
empregado que ocupa aquele papel específico quando
existe um grau de compreensão do gosto de quem está no
comando. No caso, ele parecia entender os desejos de Bella
antes mesmo que ela falasse. E estava muito feliz. Todos
estavam, pois de uma hora para outra, ela mostrou-se uma
pessoa diferente, amável, cordata, educada e humilde.
Imagine, a esposa de um dos homens mais ricos da
Inglaterra se metendo em coisas de cozinha, de limpeza e
de administração dos empregados, sem suscitar a ira de
nenhum deles.
Todos percebiam que Bella fazia isso simplesmente
porque queria compreender o mundo deles, sem a
presunção dos que tiveram a sorte de fazer parte de uma
camada superior na sociedade. Além do mais, ela não
desgrudava de Annie. Fato notadamente curioso, pois
outrora a menina era relegada à babá e não havia a
demonstração do afeto que hoje permeava a relação das
duas. Inclusive, todos os dias ela fazia questão de colocar a
filha para dormir, com direito a canção de ninar e
historinhas. Fato relatado pela babá, que se encontrava
muito feliz no posto, uma vez que fora autorizada a também
proceder com demonstrações de carinho com a doce
menininha.
Por causa dessa mudança de comportamento, ela
seguia arrebanhando a todos na sua rede de fãs. Quem diria
que chegaria um dia em que todos a admirassem, e alguns
até a amassem, como era o caso das criadas que cuidavam
da sua higiene pessoal.
Bella ignorava que era o centro dos rumores entre a
criadagem. Mas percebia o quanto as coisas haviam
mudado desde que chegara ali.
Ninguém sabia, talvez Dean soubesse, mas ela estava
procurando uma forma de viver na qual desconfianças e
incertezas fossem descartadas, pois, se tinha decidido se
tornar a esposa de Dean, deveria lhe proporcionar felicidade
e ser feliz também. Só que compreendia que seria um
caminho sinuoso.
A raiva que sentiu por Isabel ter transformado a sua
vida começou a perder fôlego. Todavia, seu maior
aborrecimento era saber que por toda a sua existência a
sombra da irmã pairaria sobre ela e Dean. Bella sempre se
perguntaria se, quando ele olhava para ela, era para ela
mesma; se todas as vezes que a beijasse, faria
comparações com o beijo de Isabel; e se aconteceria o
mesmo quando tivessem intimidade. Nos dois últimos
quesitos, passaria vergonha, pois certamente a irmã tinha
muita prática. Jesus, não poderia adiar por muito tempo o
dia de se entregar a Dean, mas temia demais essa hora,
pois ele inevitavelmente se decepcionaria dada a sua falta
de conhecimento.
Quanto mais pensava no assunto, menos vontade tinha
de se deitar com o marido, apesar de sentir um desejo louco
de fazer isso. Se na cama ela fosse descobrir outras formas
de prazer da mesma forma que sentia quando ele a beijava
e até mesmo quando pegava suas mãos, tinha certeza de
que seria maravilhoso. Tão somente se ele nunca houvesse
estado com sua irmã.
Um dia antes de partirem, Cecile trouxe a irmã, pela
qual havia intercedido diante de Bella para que trocasse a
atividade de lavadeira, que a moça odiava. Ela se chamava
Celia e parecia muito delicada realmente para executar
tarefas grosseiras. No afã de provar que estava à altura de
um serviço menos desgastante, acabou fazendo alguns
penteados delicados, do jeito que Bella gostava, enquanto
era entrevistada. Bella achou um desperdício aquelas mãos
de fada serem usadas para lavar roupas; no entanto, já
tinha duas criadas de quarto. Depois de a garota
desmanchar e refazer três penteados que ela adorou,
prometeu falar com Dean sobre uma possível permuta de
atividades. Garantiu, pelo menos, que a garota não
precisaria mais lavar roupas, o que a deixou extremamente
feliz.
Quando Celia saiu com a irmã, uma das criadas se
aproximou de Bella, mas antes que ela falasse algo, ela lhe
garantiu que nenhuma das duas seria dispensada.
— Sra. Hughes, a senhora está esquecida de que,
assim que voltássemos para a Inglaterra, eu seria
dispensada para poder cuidar da minha mãe que não está
bem de saúde? — disse a criada mais nova, já preocupada.
— A senhora não me deixou ficar quando viemos, mesmo eu
tendo explicado a situação e implorado, mas achei que
agora...
Claro que ela jamais se lembraria de algo que não
acontecera com ela. Mas teve de disfarçar.
— Tenho tido alguns lapsos de memória, mesmo —
disse ela, enquanto alisava a saia e fingia uma cara de
preocupação. — Nesse caso, contratarei Celia para ficar no
seu lugar. Está resolvido o meu problema e o seu.
Quanto mais Bella sabia sobre como a irmã tratara
aquelas pessoas, menos falta sentia dela.
͠
Retornaram para Londres em várias carruagens, umas
com os criados, umas com bagagens e outra com Dean e
Bella. Annie e a babá foram em uma carruagem menor,
munida com brinquedos e preparada para que a menina se
distraísse durante a longa viagem. De vez em quando,
paravam para que a Annie se juntasse aos pais. E em
algumas ocasiões, ela passou para a carruagem deles, a
pedido do próprio Dean.
Eles pararam para pernoitar e para a troca de condutor
e de cavalos. Dean fez de tudo para garantir uma viagem
mais rápida, apesar de cansativa.
Chegando a uma gigantesca propriedade próxima a
Londres, Bella teve a sensação de que tinham dado voltas e
mais voltas e estavam novamente na Escócia. As duas
residências eram idênticas. Bella colocou as mãos na boca,
paralisada pela surpresa. Surpresa boa, já que começava a
sentir saudade da mansão deixada para trás.
Dean riu, olhando a expressão de genuíno espanto.
Entrando na imensa sala de estar, Bella ficou zonza,
pois se tivesse algo diferente eram pequenos detalhes, já
que não conseguia se lembrar de tudo.
— Percebo que está surpresa.
— Temo não termos saído da Escócia — disse ela, rindo.
— Esta casa foi construída por meus antepassados e
meus pais fizeram benfeitorias, mas não permitiram que as
estruturas fossem alteradas, pois queriam que as histórias
das pessoas que moraram aqui fossem preservadas.
Sempre fui apaixonado por esse amor que eles
demonstravam por nossos antecessores e, quando
comprava uma nova propriedade, cada uma guardava
histórias que não eram nossas. Então, decidi fazer a réplica
desta casa na Escócia, pois de todas as propriedades, esta é
a que mais gosto. Sempre achei que aqui seria o local onde
as histórias da minha família seriam construídas e
acrescentadas às demais. Quando me casei com a sua irmã,
confesso que não queria mais isso. Mas agora, temos uma
vida a construir, eu, você e Annie, além de outros filhos que
teremos.
Bella gostaria de lhe dizer que adoraria ter sido a
primeira a lhe dar um filho, mas ficou calada. Na verdade,
queria que Annie fosse dos dois.
— Bem, se tivesse prestado atenção, teria percebido
que na Escócia a construção é bem mais nova. E vale
salientar que todas as obras e retratos de lá são réplicas das
verdadeiras que estão aqui.
— Nunca vi coisa parecida.
— Julga que o meu comportamento não seja adequado
a uma pessoa com juízo? — ele perguntou, enquanto batia a
luva da mão direita na esquerda, e parecia estar se
divertindo.
— Não. Claro que não. Admiro o comportamento de
uma pessoa que preza os laços familiares, desde o mais
remoto antepassado, e as lembranças deixadas por eles,
mesmo que você não as tenha vivido. Acho incrível
conservar coisas tão preciosas. Se não houvesse pessoas
assim, a história da humanidade teria sido varrida do
mundo. As casas, os móveis, os jardins, e até mesmo os
escombros, remontam a um tempo vivido por pessoas que
tiveram seus costumes e suas parcelas de contribuição
quando em vida. Ter uma história é uma dádiva.
Ela era perfeita.
Quando chegaram à Escócia, Isabel riu e debochou
dele, dizendo que as recordações devem ser enterradas
junto com os mortos e que ele perdera uma excelente
oportunidade de ter uma mansão moderna e muito mais
bonita.
— Você acha que toda família tem uma história que
deve ser lembrada? — perguntou Dean, depois de alguns
segundos.
— Acho que sim. Muito embora reconheça que algumas
histórias devam ser esquecidas.
— Seria o caso de pessoas que não possuem família,
que são abandonadas e criadas em orfanatos, por exemplo?
— ele continuou a instigá-la.
— Essa é a triste história delas, mas são suas origens.
Origens não devem ser esquecidas, para que, recordando
delas, nos lembremos do caminho que tivemos que
percorrer para chegar aonde chegamos.
— Tem gente que não chega a lugar nenhum — rebateu
Dean. Era bom conversar com uma mulher inteligente.
— Sempre existirão exceções, mas vivemos por regras.
Gosto de crer que a maioria das pessoas sempre chega a
algum lugar.
— Eu também.
Questão fechada. Dean compreendeu que para ela as
histórias que deveriam ser esquecidas não eram as que se
reportavam à origem das pessoas, mas as que reportavam
os casos berrantes como o de sua irmã.
Capítulo 13
Quando Sra. Lane, a governanta, viu os patrões chegarem
com semblantes felizes ficou sem entender nada. Ninguém
parecia estar de mau humor, muito menos a patroa, que
antes vivia colocando fogo pelas narinas.
Todos na casa sabiam que os patrões levavam um
casamento de faz-de-conta — embora não entendessem o
motivo —, pois não dormiam no mesmo quarto e nunca
fizeram uma refeição juntos. Eles achavam um mistério ela
ter conseguido engravidar. Mas, como Annie nasceu oito
meses depois do casamento, imaginaram que ele comera o
fruto antes das bodas e por isso deve ter se sentido
obrigado a pagar com a própria liberdade o mal que fizera à
moça: ter-lhe tirado a liberdade também. A liberdade de ela
se casar com outro. Afinal, seria quase impossível algum
homem lhe propor casamento, sendo ela uma mãe solteira.
A sociedade não reparava nos filhos bastardos que são
gerados pelos homens, mas não perdoava uma moça que
engravidasse. Ainda mais se fosse abandonada. Toda culpa
recaía sobre ela, que não deveria ter caído na armadilha de
um libertino. No entanto, os libertinos eram caçados
sistematicamente para tornarem-se genros.
Pouco tempo depois que ela chegou, tiveram a má
sorte de conhecer o seu temperamento terrível. A isso
atribuíram a falta de entrosamento do casal e o
consequente afastamento de Dean. Enquanto a barriga
crescia e ele continuava o mais distante possível dela,
continuaram a compreendê-lo, pois Isabel se mostrava cada
dia mais insuportável e irritadiça.
Mas quando a criança nasceu e ele nem ao menos foi
vê-la, todos começaram a julgar o patrão da forma que
queriam: uns achavam que a filha não era dele; outros, que
ele ficou decepcionado porque esperava um herdeiro
homem. E até hoje, nunca chegaram a uma conclusão. Fato
é que ficaram bastante tristes ao ver a menina crescendo
sem amor de nenhum dos genitores. Eles viam que a mãe
de vez em quando fazia uns acenos para a criança, mas
nunca passava mais de meia hora com ela.
E agora ela estava ali, diante de todos, comportando-se
como uma boa esposa e cuidadosa mãe. Até segurou a
menina nos braços e a acalentou quando ouviu seu choro,
dizendo que ela estava irritada por causa da viagem. E
espanto maior foi escutar de Dean algo inédito:
— A Sra. Hughes ocupará o quarto contíguo ao meu e
Annie deve continuar no segundo andar.
Bella se esforçou bastante para não demonstrar
nenhuma reação. Os nervos pareciam estar em frangalhos.
Mas tinha de admitir que ele já fora muito paciente.
Bem, a governanta tinha muito o que conversar com o
mordomo logo mais.
A surpresa foi grande ao escutar o seguinte:
— A Sra. Hughes parece outra pessoa. Quer dizer, é
outra pessoa. Não me pergunte como é possível. Depois de
ter viajado sozinha por algum tempo, ela retornou
completamente diferente.
— Só acredito vendo. Nunca acreditei em milagres.
— Confesso que eu também não acreditava, mas fui
surpreendido.
Sem crer no que escutara, a Sra. Lane ficou matutando
o que ela estava planejando. Todos sabiam que aquela
mulher era má. Também comentavam que tinha casos. Os
rumores saíam dos salões de baile diretamente para as
cozinhas das casas das famílias, cujos serviçais tinham
parentescos com os que trabalhavam nessas festas.
Mas nunca houve prova disso e, assim, não passavam
de boatos. Se bem que nunca inventavam boatos desse tipo
com mulheres de vergonha.
O patrão não parecia se importar com nada disso.
Todas as noites, invariavelmente, ausentava-se. E muitas
delas dormia fora, dando toda a liberdade de a megera sair
sozinha. E agora estava se comportando como se tudo, para
os dois, fosse passar a ser diferente.
͠
Bella entrou no quarto e ficou extasiada com a beleza
que ele ostentava. Tudo sugeria riqueza, do piso de
mármore às cortinas de organdi; do mais simples enfeite de
decoração aos lençóis de seda imaculadamente branca. No
toucador, um requintado gomil e uma bacia de louça
trabalhados em nuances rosa denotavam o luxo do qual só
as classes mais educadas e ricas dispunham.
Ela seguiu para uma porta que lhe chamou a
atenção, antes de averiguar todos os detalhes do quarto.
Era um pequeno quarto de banho. Ali, a sensação de
riqueza continuava latente. Uma banheira de porcelana
branca, apoiada em pés de garra de ferro fundido na cor
bronze não deixavam dúvida de que Bella estava casada
com um homem muito rico. De cada lado da banheira, havia
dois bancos de madeira cinzelada. Em cima de um, via-se
vários tipos de sabonetes de banho, bem como um caneco
de prata, que certamente servia para a criada ajudar no
banho; e em cima do outro, toalhas cor de creme estavam
dobradas de forma padronizada. Quem quer que tomasse
conta daqueles aposentos, tinha uma noção de como fazer
os olhos dos donos se encherem de admiração.
Bella retornou para o quarto e olhou para a cama.
Era enorme e muito alta, mas ainda assim, ela não
precisaria usar um banquinho para subir.
Mas a admiração por tudo aquilo perdeu a graça
quando ela pensou que logo mais seu marido ia requisitar o
seu corpo. Afinal, eles tinham um acordo.
E quando Dean entrou, pela porta de acesso, ela se
virou bruscamente, assustada e demonstrando todo o seu
receio nos olhos.
— Bella, não vou forçá-la a dormir comigo hoje —
disse ele, demonstrando que parecia saber o que se
passava com ela.
— Bem... como você escolheu o quarto anexo ao seu
para que eu ocupasse, pensei que...
— Não a quero desse jeito. Prefiro esperar o tempo
que for necessário — disse ele, com calma. — A propósito, a
escolha do quarto não é definitiva. Quando você se tornar
minha mulher realmente, dormirá comigo todas as noites.
Você poderá usar esse aqui para se vestir ou para qualquer
outra coisa.
Acabando de falar, ele se retirou.
Entre o quarto dela e o dele havia uma sala em
comum. Ou seja, para passar de um para o outro, tinha de
atravessar essa sala e alcançar a porta de ligação. A sala
era muito confortável, ampla e bastante clara, pois a parede
lateral era quase que totalmente emoldurada por janelas de
vidro transparente, dentro de padrões quadrados de
madeira, de onde os lindos jardins eram vistos. Na parede
oposta, enormes molduras completavam o ambiente. Mas
era uma sala íntima, já que só era possível entrar nela por
um dos dois quartos. Ali existia uma enorme longue chaise
caramelo estilo rococó, com fofas almofadas bege
parecendo pedir para as pessoas se deleitarem em cima.
Havia ainda uma mesa redonda com quatro cadeiras e, em
cima dela, um jarro de porcelana com uma cena campestre
desenhada, cujas bordas arrebitadas com motivos vazados
acolhia um ramalhete de rosas virginalmente brancas.
Eles jantavam nessa sala, quando Dean avisou que
no dia seguinte, a levaria ao Vauxhall Gardens. Foi um
começo bastante promissor para os dois, pois, enquanto ela
ficou encantada porque finalmente conheceria o famoso
jardim, ele precisava inventar mil coisas para fazer, a fim de
esquecer o que mais queria no momento: dormir com
ela.
No dia seguinte, a Sra. Lane procurou os empregados
que chegaram da Escócia, a fim de escutar um prognóstico
negativo a respeito de Bella. Mas todos estavam encantados
com a patroa. A ponto de nem se lembrarem do passado.
Parecia que uma varinha mágica tinha apagado todas as
humilhações e palavras grosseiras proferidas a cada um
deles.
Era como se um mundo novo e imaginário tivesse
sido implantado na mansão: novo, porque era impossível
que uma pessoa trocasse de personalidade, como se fosse
uma roupa; imaginário, porque aquilo só podia existir na
cabeça de pessoas sem cérebro. Cabia a ela a tarefa de
descobrir o que aquela megera maldita estava tramando.
Até o seu patrão tinha caído no ardil dela! Com toda a sua
experiência, ela não faria parte da lista de seguidores
cegos.
͠
À noite, Bella apareceu com um vestido lindo, tão
imaculadamente branco que atiçou todos os sentidos
sexuais de Dean: toda vez que a olhava lembrava-se que
ela era pura como aquela cor e que estava ansioso para
desbravar cada pedacinho daquele corpo, até que não
sobrasse nada mais a desvendar. Se é que nesse campo os
homens conseguem dissipar todas as possibilidades que um
corpo feminino apresenta para dar e sentir prazer. As
possibilidades eram infinitas, pois eram sempre
reinventadas. Mas era preciso se lembrar de que não podia
ficar matutando sobre isso, pois as evidências de
pensamento desse tipo logo se mostravam visivelmente.
Ao deparar com o Vauxhall Gardens, situado na
margem sul do rio Tâmisa, Bella percebeu que, por mais que
descrevessem e falassem sobre a grandiosidade daquele
empreendimento, ninguém conseguia captar aquilo tudo
senão com as próprias vistas. Era tudo muito lindo e
grandioso.
Eles seguiram em meio a um caminho, cujos olmos
se agrupavam de forma a guiá-los no sentido reto até
entrarem no jardim. Além desse caminho, avenidas
transversais eram formadas por essas árvores e por
sicômoros, nas quais as pessoas das mais diferentes classes
sociais passeavam: homens ou mulheres, jovens ou velhos.
Todas as conexões se misturavam naquele ambiente,
mesmo que separadas em grupos conforme seus vínculos
de conhecimento.
Dean gastou alguns xelins para proporcionar à
esposa os entretenimentos que achava que a agradariam,
mas os artistas de circo ganharam uma atenção especial
dela, que mais parecia uma criança diante de seres
sobrenaturais. Seu rosto brilhava com um sorriso que não
saía dos lábios. A noite se avizinhava, mas o sol continuaria
a resplandecer naquele riso.
Antes de escurecer totalmente, ouviu-se um apito de
comando para que os isqueiros acendessem a chama de
milhares de lamparinas. O efeito amarelado das luzes foi
mágico e Bella se viu observada por Dean, que tinha os
olhos fitos e curiosos no seu rosto. Enquanto ela se divertia
com tantas novidades, o marido parecia se divertir com a
cara de felicidade dela. Os efeitos daquele jardim já eram
seus conhecidos há muito tempo, mas o efeito que ela
causava nele era algo novo, forte e completamente
apaixonante.
Já se aproximava das vinte e uma horas e eles
seguiram para uma das caixas de jantar localizada dentro
da colunata próximo ao Grove, onde seria servida a comida.
Dean gostaria de poder desfrutar da refeição apenas com a
esposa, mas aqueles lugares foram projetados para
acomodar pelo menos seis pessoas. A mesa era grande e
rodeada por bancos fixos. Vendo que mais cinco pessoas
iriam fazer companhia aos dois, Dean nem entrou, procurou
uma das mesas que ficava no bosque. Não podia passar a
mão no corpo dela, mas podia pelo menos pegar sua mão e
entrelaçar os dedos, que ansiavam por tocar.
E foi o que fez em todos os momentos em que teve
oportunidade durante a refeição. Foram servidos de carne
fria e salada, regados a vinho e ponche. Em seguida,
comeram um bolo de creme delicioso.
Os fogos de artifício foram um show à parte, que a
encantou ainda mais. Tudo naquele lugar a fazia parecer
uma criança feliz e ela se sentia como se estivesse numa
terra de fantasia. Talvez aquele lugar tivesse sido criado
com esse propósito.
— Dean, esse lugar é mágico — disse uma Bella
totalmente maravilhada.
— Pena que hoje não haverá concerto na Rotunda.
— Não importa. Acho que me diverti em uma noite o
que não fiz em minha vida inteira.
— Quando você viajava com sua tia não se divertia?
— ele perguntou, encantado com a voz maviosa dela.
— Nada do que já vi e vivi se aproxima disso aqui.
— Viremos sempre que você quiser — ele lhe disse,
aproveitando para colocar a mão em cima da dela mais uma
vez, que baixou o olhar e as ficou fitando. Quando levantou
os olhos, os dele pareceram penetrar na sua alma. Ela
suspirou, abrindo a boca para tomar ar e ele fitou os seus
lábios, ciente de que ela sabia o que ele acabara de desejar.
Mas não havia como esconder o desejo que lhe
consumia. E quanto a isso, ela não podia fazer nada para
evitar.
Depois do jantar, eles ainda foram ver o espetáculo
de uma dançarina de corda chamada Madame Saqui. Bella
colocava as mãos nos olhos cada vez que a mulher fazia
movimentos com o corpo em cima de uma corda esticada
no alto. Aquela dançarina ficara famosa por sua ousadia,
cujas acrobacias eram tão disputadas pelos presentes
quanto o espetáculo dos fogos de artifício.
Antes que Bella analisasse a questão de dormir com
Dean, ele já estava se despedindo dela na porta do quarto.
Era de imaginar que fora um dia totalmente feliz para
ela. Mas não. Faltava-lhe algo que ela sabia que faltava
muito mais a Dean. Ela ansiava por ele. Durante a maior
parte da noite teve de usar de todo o autocontrole para não
derrear a cabeça no peito dele, enquanto passeavam, ou
levantar as mãos e alisar aquela barba de pelos finos e
meticulosamente aparados. E quando chegaram à
carruagem e ele entrelaçou os dedos e seguiram até a porta
do quarto, por pouco ela não o segurou. Mas os sentimentos
ainda eram confusos e estranhos.
͠
Dois dias depois que chegaram, parecia que toda
Londres soubera, pois os convites começaram a surgir. E o
primeiro ao qual deveriam comparecer seria naquela noite.
Devido ao cansaço provocado por uma longa viagem, Dean
ainda nem tivera tempo de tomar as precauções referentes
à situação deles. Mas não podia deixar de comparecer ao
baile dos Timberlain, pois era amigo de longa data daquela
família. Além do mais, a mansão era extraordinária com sua
decoração gótica, e Bella iria adorar. Sair com ela também o
distrairia daquela vontade desenfreada de possuí-la. Fazia
dias que esperava que a esposa se entregasse a ele e cada
dia acrescido era um tormento.
Por mais que a governanta procurasse uma forma de
desmascarar a patroa, tudo o que via e escutava ia de
encontro ao que conhecia da antiga pessoa que ela
conhecera, de modo que ela pensou que tinha um mistério
acontecendo dentro da mansão. Sra. Lane, então, começou
a observar os modos e a voz de Bella. E o que viu ficou
somente para si.
Apesar de receosa por se apresentar em um baile de
amigos antes de terem resolvido a questão do casamento
deles, Bella alegrou-se por poder participar de uma festa,
depois de todos os percalços vividos nos últimos meses.
Não colocara roupas de luto pela irmã, assim como não o
fizera por seus pais, pois foi ensinada por eles mesmos a
não dar importância a isso, visto que os próprios nunca
usaram a cor preta — luto completo — ou cinza — meio luto
— por ninguém. E quanto a Isabel, dispensava qualquer
comentário porque ela não deveria se fechar num tom
deprimente.
Assim, à noite ela desceu resplandecente num vestido
azul claro, com os cabelos entremeados por fitilhos de ouro,
presos acima da cabeça e cujos cachos grandes caiam em
cascatas suaves pelos ombros. Os únicos enfeites eram um
simples par de brincos de ouro branco e uma corrente
também de ouro branco, com um pingente delicado e
translúcido. Quando ela apontou na escada, viu um Dean
boquiaberto e ficou muito satisfeita pelo efeito causado,
embora se perguntasse se naqueles momentos ele a
comparava com a irmã. Mas dia de festa não era para
questionamentos inoportunos.
O serviçal esperava com a capa dela, mas Dean a
retirou de suas mãos e ficou esperando que ela descesse
para ele mesmo colocar em seus ombros. Estava com as
mãos coçando para tocar Bella. Ele deu sinal para que o
serviçal se retirasse.
— Você está linda — disse Dean, colocando a capa nas
costas dela, que retribuiu o sorriso, exibindo uma alegria
diferente naquela noite. Se ele fosse um homem movido
somente a esperança, pensaria que havia promessas para
aquela noite naquele sorriso. Mas procurou afastar qualquer
possibilidade de desfrutar da intimidade que ansiava há
tanto tempo.
Dentro da carruagem, o perfume suave de Bella
invadiu suas narinas, e por pouco ele não passou para o
banco dela e enfiou a cabeça no seu pescoço para sentir a
plenitude daquele aroma.
Quando foram anunciados, Bella jurou que ouviu vários
tipos de murmúrios e sabia que estavam todos relacionados
a ela. Ou seja, a Isabel. Mas ergueu a cabeça e, apoiando-se
na fortaleza dos braços do marido, entrou chocando todos,
que esperavam ver um rosto maquiado, penas na cabeça e
roupas extravagantes. Mesmo assim, foi o centro das
atenções por todo o tempo em que esteve no baile.
Encontrou, ou seja, foi encontrada por várias pessoas
conhecidas e teve de fazer um esforço supremo para
manter um mínimo de conversa sem demonstrar que nada
sabia sobre ninguém. Eles a confundiam com Isabel e, como
Dean ainda não havia decidido o momento certo de
anunciarem a verdade, não houve jeito a não ser fingir.
Cada dia acrescentado àquela farsa tornaria a situação pior
depois.
Infelizmente, não era adequado o esposo ficar grudado
na mulher durante todo o baile e por isso tiveram de seguir
separados em algumas situações.
Dean a observava pelo canto dos olhos enquanto
conversava com alguns conhecidos. Não a perdia de vista
um momento sequer, acompanhando com olhos espertos e
rápidos cada movimento de Bella. Parecendo entediada, ela
seguiu para uma parte mais reservada da varanda, mas,
ainda assim, ficando em um lugar que lhe possibilitava
continuar de olho nela.
Ele viu quando Sir Mondevale aproximou-se de Bella,
mas de onde estava não dava para escutar e nem ver a
expressão do rosto dele.
͠
Bella viu um homem aproximando-se e pensou que
talvez fosse amigo do esposo, por isso manteve um sorriso
sereno no rosto, mas qual foi a sua surpresa quando as
primeiras palavras foram pronunciadas.
— Vamos ao nosso lugar favorito?
Ela olha para trás para identificar com quem aquele
homem estava falando. Mas logo entendeu que era com ela
mesmo. Certamente, era um dos casos da irmã, deduziu.
— Temo que não poderei acompanhá-lo.
— Percebi que você não olhou para mim em nenhum
momento hoje. O que está acontecendo? Nós sempre nos
divertíamos juntos.
O desconhecido se aproximou dela e a puxou
rapidamente para uma ala da varanda desprovida de
claridade. Com medo de provocar um escândalo, Bella o
seguiu a contragosto, mas em determinado momento,
parou e se negou a continuar.
— O que o senhor pensa que está fazendo? Não irei a
lugar nenhum.
— Senhor? Desde quando me trata formalmente
quando estamos sozinhos?
— Desde hoje — respondeu Bella de cara feia.
— Acompanhe-me agora, ou vai se arrepender. Não
tenho nada a perder, ao passo que você...
Um sentimento de autopreservação a invadiu, e ela o
seguiu. Mas andou muito devagar, como se assim desse
tempo de ser salva por Dean, que certamente tinha
observado aquele homem importunando-a. Chegaram a
uma sala repleta de livros, cujas cortinas cobriam todas as
janelas, o que tornava o ambiente muito reservado. Ela se
negou a sentir medo. O que ele podia fazer com ela? Mas as
sensações afloraram quando o homem fechou a porta e
colocou a chave dentro do bolso da casaca.
— O que o senhor pretende fazer? — Com profundo
temor, ela entendeu o que ele estava determinado a fazer,
já que a estava confundindo com Isabel.
— O de sempre, começando por um drinque. Qual você
prefere? — ele perguntou com um sorriso torto no rosto.
— Nenhum, quero sair daqui. Abra a porta agora! —
Dessa vez ela tentou imprimir mais energia na voz.
— Antes de completar nossa diversão? Nem pensar.
Você não imagina como senti saudade de sentir sua carne
se abrindo para…
— Pare de dizer essas coisas. Eu não o quero. — Ela o
interrompeu assustada e chocada com aquelas palavras
sugestivas.
Ele deu dois passos em direção a Bella, que deu alguns
para se afastar. Mas ele a alcançou com movimentos
decididos, pegando-lhe o braço e puxando-a para ficar de
frente a ele.
— Cansou de mim? Mas eu não me cansei ainda,
portanto…
— Portanto você vai deixar a minha mulher em paz e
nunca mais vai se aproximar dela, Mondevale — falou Dean,
com uma calma assustadora, enquanto puxava a perna que
tinha ficado enganchada na cortina de uma das portas que
davam para a varanda, e onde ele estava aguardando a
entrada dos dois, assim que os viu se afastando minutos
atrás. Como Bella havia parado no corredor, deu tempo de
ele chegar antes.
O homem largou o braço de Bella, alvoroçado por
aquela falsa calma.
Dean deu um passo à frente e o homem recuou dois
com o medo estampado no rosto.
Chegando à porta, voltou-se e, olhando para Bella,
provocou-a:
— Aproveite e conte tudo ao seu marido.
Dean caminhou rápido em direção ao homem que,
abrindo depressa a porta, desapareceu imediatamente. A
cena seria hilária, se não fosse tão incômoda.
Voltando-se para Bella, Dean viu que ela segurava as
duas mãos em frente ao coração. Ele a abraçou
carinhosamente e a guiou ao jardim pela mesma porta por
onde havia entrado. Chegando a uma espécie de labirinto,
levou-a a um banquinho escondido, no qual sentou com ela
e esperou que se acalmasse.
— Ele era um caso dela – informou Bella,
desnecessariamente.
Dean apenas assentiu com a cabeça.
— Ele a forçou a alguma coisa? — Dean teve medo de
Mondevale ter tocado Bella no trajeto entre o corredor e a
biblioteca.
— Não.
Dean rangeu os dentes. Nunca se importou com os
casos de Isabel, mas se importava, e muito, que Bella fosse
obrigada por ele mesmo a passar por aquela vergonha. Ele
roçou as costas dos dedos na face dela.
Não deveria tê-la trazido. Era uma exposição
dispensável que só a colocava em situações
constrangedoras.
— Como você soube onde nós estávamos?
— Eu percebi quando Mondevale se aproximou e
quando os vi saindo, nitidamente contra a sua vontade;
peguei um atalho que dava acesso a um lugar onde deduzi
que ele a levaria. Biblioteca são os lugares favoritos para
essas coisas. Acontece que minha perna estava enroscada
naquela maldita cortina e não consegui sair antes.
Então ele tinha escutado tudo.
— Tenho vergonha diante de você, por ter tido a má
sorte de se casar com uma mulher que o fazia passar por
isso.
Uma má sorte que trouxe você para a minha vida deve
ser relevada, pensou ele. Mas não foi o que disse.
— Não me importo. Fique sabendo que isso é muito
mais comum do que se pensa. De ambos os lados.
— O quê? — perguntou Bella, com inocência.
— Homens e mulheres possuírem amantes. Isso se
tornou comum até entre as mocinhas ingênuas que
chegaram aqui com a firme decisão de serem fiéis aos seus
esposos. Ao se virem traídas por eles, decidem devolver na
mesma moeda e, assim, perdem a pureza. Ou o interesse
pelo homem com quem se casaram. Somando-se a isso,
depois que geram o primeiro herdeiro, alguns homens
perdem o interesse pela esposa, jogando-as nas garras de
aproveitadores, prontos para ocupar, convenientemente, as
lacunas deixadas por eles.
Dean a olhava intensamente enquanto falava,
deixando-a ao mesmo tempo sem graça e perplexa.
— Se não fosse pelo comportamento de Isabel, você
seria como esses homens?
— Não — ele respondeu, olhando profundamente para
Bella. Se tivesse casado com você, nunca a trairia, pensou,
mas calou-se. Ele tinha a vida inteira para reconquistar sua
confiança.
Queria conquistar outra coisa hoje. Achava que estava
na hora.
— Por falar nesse assunto, temos uma pendência para
resolver — falou Dean, depois de um tempo
consideravelmente longo.
Sim, eles tinham. Há muito tempo. Porém ela não sabia
se estava pronta ainda. O som da orquestra levou uma
música especialmente bonita aos ouvidos dos dois e Bella
foi salva de ter de falar sobre isso, quando ele se levantou e
ficou em posição de dançar, ainda que continuasse sério.
Ela acomodou-se nos braços dele, que a trouxe o mais
próximo do corpo e começaram a dançar. Bella deitou a
cabeça no peito largo e firme, e fechou os olhos. Uma dama
jamais faz isso. Mas era o seu marido, ora!
Dean encostou o queixo na cabeça dela e suspirou
fundo. Não ajudava em nada colar o corpo ao dela, pois só
fazia o louco desejo aumentar e suas calças apertarem-se.
Mas a cada minuto, ele a trazia para mais junto de si,
enquanto passava as mãos nas suas costas. Quando notou
que Bella se retesou ao aperceber-se do seu evidente
desejo, ele afastou-se e tossiu, dando-lhe as costas.
— Vou levá-la para casa, pois vou passar a noite fora.
Além do mais, você já enfrentou sua cota de surpresas
desagradáveis por hoje.
Bella não era ingênua a ponto de ignorar a excitação
de Dean. Se ele ia dormir fora, significava dizer que ia
passar a noite com alguém. Além do mais, ele parecia muito
nervoso.
— Por… por quê?
Dean estava tão compenetrado em esconder seu
estado lastimável de desejo, que não entendeu de imediato
a pergunta. Mas assim que compreendeu, não se absteve
de dizer a verdade.
— Bella, homens têm apetite sexual quase todos os
dias. E quando esses apetites não são satisfeitos, ficam
nervosos e capazes de fazer coisas insanas. Uma delas é
invadir o quarto de uma mulher que ainda não está pronta
para ele e fazer tudo que vem fantasiando ao longo do
tempo.
Fantasiando. Ela gostaria de saber o quê.
— O que vem fantasiando? — perguntou ela, bastante
curiosa.
— Coisas terrivelmente lascivas, portanto
completamente impróprias para os ouvidos de uma mulher
ainda pura na intimidade.
Capítulo 14
Chegando à mansão, ele a acompanhou até a sala e lhe
deu as costas para sair imediatamente. Mas ela o tocou no
braço, fazendo-o voltar-se.
— Não quero que você vá. Fique, por favor!
— Em que termos devo ficar?
Ela engoliu em seco e não conseguiu pronunciar as
palavras, que pareciam estar atravancadas na garganta.
— Escute, Bella, hoje eu preciso realmente passar a
noite fora.
Desvencilhando-se da mão que o segurava, Dean
encaminhou-se novamente para a porta com passos largos.
Vendo que ele estava decidido, Bella logo encontrou as
palavras, mesmo que não tenha conseguido correr atrás
dele, pois os pés pareciam estar colados no chão.
— Eu não quero que você procure uma amante.
Ele parou ao escutar as palavras cruas dela.
— Bella, eu nunca faria isso — disse Dean, sem se virar.
— Mas você falou sobre a frustração dos homens
quando têm seus apetites sexuais insatisfeitos. Pensei...
Você me fez entender dessa forma.
— Não quis dizer que ia sair para arranjar uma mulher
para me dar qualquer tipo de satisfação. Nunca mais serei
de outra mulher, Bella. Já lhe disse isso. Eu ia sair para
aplacar minhas frustrações no jogo. Ia ao Brooks’s jogar
com meus amigos.
Ela respirou, aliviada. Ele aproveitou a circunstância.
— E qual era a sua intenção ao me impedir de sair de
casa?
— Eu ia lhe dizer que preferia ser a mulher a lhe
satisfazer em vez de ver você saindo para se encontrar com
outra.
Coragem era uma coisinha perigosa quando resolvia
dar as caras. Era o inverso do medo e tornava a pessoa
atrevida. Bella não se lembrava de algum dia ter tido tanta
ousadia na vida. Mas aquela noite a despertou como nunca.
Ele havia dito que vinha fantasiando “coisas terrivelmente
lascivas”. Ela ficou curiosa.
Dessa vez, Dean respirou fundo, colocou as mãos nos
bolsos e se virou para uma Bella estupefata consigo mesma
por ter conseguido proferir palavras que a chocavam
demais. Embora soubesse que sentimentos torturantes a
consumiriam no dia seguinte, as palavras que proferira não
voltariam atrás e nem ela queria que voltassem. Além do
mais, o dia seguinte era amanhã. Não se preocuparia com
ele agora.
Dean aproximou-se devagar, como se estivesse lhe
dando tempo para se arrepender. Mas não tinha perigo de
isso acontecer. Bella faria qualquer coisa para não passar a
noite rolando na cama imaginando-se nos braços dele.
Chegando a apenas um palmo de distância dela, ele
falou com voz rouca, antevendo o que estava prestes a
provar. Ele a queria muito. Como nunca quisera ninguém em
toda sua existência. Prendeu seus olhos escurecidos pela
paixão aos dela.
— E agora que já sabe que eu não ia procurar uma
mulher, em que termos devo ficar? — Ele precisava saber se
ela ia voltar atrás. Não volte atrás, por favor!
— Nos seus termos — respondeu ela, decidida.
— Você tem certeza?
— Absoluta.
— Então preciso ser sincero com você sobre uma
relação entre um homem e uma mulher. As mulheres,
diferentemente dos homens, sentem dor na primeira vez
em que fazem amor.
— Ainda assim, eu quero.
— Bella, se está fazendo isso porque tem medo que eu
acabe procurando esse tipo de coisa fora, posso fazer o
sacrifício de ficar em casa e me satisfazer sozinho.
— So... sozinho?
Dessa vez um sorriso despontou no canto da boca de
Dean. Ela não tinha adquirido ainda a capacidade de
esconder seus sentimentos. Como queria que ela nunca
mudasse! Aquela transparência era inebriante. Por causa
disso, ele ficou duro novamente, quando já tinha
conseguido acalmar o faminto corpo.
— Você tem tanta coisa para aprender nessa área,
Bella.
— Desculpe-me! — disse ela, baixando a cabeça,
envergonhada.
Ele levantou o seu queixo, antes de falar.
— Não se desculpe por sua falta de experiência, pois a
inocência é uma de suas melhores virtudes. Mas se você
quer saber, um homem só se satisfaz sozinho quando não
tem opção. Todavia, se não for um desejo seu dormir
comigo, opto por isso com todo prazer.
— Não me importo com a dor, se tenho a esperança de
sentir pelo menos parte do que senti enquanto você me
beijou.
Bella ficou tão envergonhada pela própria ousadia, que
abaixou os olhos, já que ele estava segurando seu queixo e
não pôde abaixar a cabeça.
— Olhe para mim, Bella.
Quando ela o fez, ele desceu os olhos para os lábios
dela como se estivesse sedento para mergulhar e se afogar
neles. Aquilo acendeu sensações que já estavam ficando
conhecidas por Bella, de modo que ela entreabriu a boca,
desejosa por ser tocada. Dean não conseguiu se segurar. Se
ela queria se entregar a ele naquela noite, ia ser a partir
daquele momento. Ele a puxou pela cintura e lhe deu um
beijo ousado. Somado a isso, esfregou descaradamente seu
corpo no dela, demonstrando sua excitação. Bella pensou
que ia desfalecer, mas ele continuava segurando firme em
sua cintura, descendo as mãos para os quadris, quase se
fundindo nela. Depois de alguns minutos nesse prelúdio
delicioso, ele afastou apenas o rosto.
— Vamos para o quarto. Estou louco para ter você.
As palavras dele, longe de escandalizá-la, agitavam
suas entranhas e faziam seu coração disparar enlouquecido.
Pegando-a pelo braço, ele a levou para o quarto.
Mas achou o caminho muito longo. Na metade dele,
tomou-a novamente nos braços, encostou o corpo dela na
parede, prendendo-o com o seu, e lhe deu outro beijo, dessa
vez mais ousado.
Ciente de que era a primeira vez de Bella, tinha de
arrefecer um pouco a paixão da carne, pois precisava
assegurar o prazer dela antes do seu. Estava inflamado de
desejo há tanto tempo que tinha medo da reação do próprio
corpo.
Chegando ao quarto, ele a olhou com adoração,
virando-a delicadamente para desabotoar o vestido. Não foi
preciso muita imaginação para deduzir que dentro dele, um
corpo absolutamente maravilhoso e puro o esperava.
Quando terminou de despi-la, ele passeou os olhos por cada
pedacinho, enquanto ela mantinha os olhos fechados,
envergonhada. Mas isso era normal e esperado e não era
motivo para deter a sua admiração visual.
— Do jeito que eu sempre a imaginava. — Ele tocou os
mamilos dela delicadamente, como se fossem cristais. Ela
sentiu um prazer tão grande que quase pulou.
— Esperei tanto por esse momento — sussurrou ele.
— E… e… em que momento eu vou… vou sentir dor?
— Não se preocupe com isso. Agora tudo que você vai
sentir é prazer.
Acabando de falar, Dean a tomou nos braços e levou à
cama, na qual a deitou e afastou-se para tirar a casaca. Em
pé, ele não tirou os olhos dela, que puxou um lençol para
cobrir a sua nudez. Dean despiu o colete, abriu a camisa até
a altura do umbigo e parou, para que ela não se assustasse,
pois certamente nunca havia visto um homem nu.
Sentando-se na cadeira, tirou as botas, depois, seguiu para
o console da lareira e apagou todas as velas. A despeito das
incertezas que povoavam a cabeça de Bella, ela não
conseguiu deixar de admirar a elegância daquele andar.
Agora o quarto contava com a iluminação apenas de duas
velas, que repousavam em altos castiçais nas laterais da
cama.
Deitando-se ao seu lado, Dean a descobriu devagar. Ela
não se opôs. Com uma sequência enlouquecedora de
carícias, ele seguiu o instinto natural de homem e os
suspiros da esposa, detendo-se em alguns afagos que
nitidamente a excitavam de forma mais forte. Ela não
disfarçava o prazer e seus suspiros eram inebriantes.
Quando percebeu que vez ou outra ela se pegava
pensando no momento em que sentiria a mencionada dor,
ele disse:
— Você deve relaxar, pois por enquanto não vai sentir
outra coisa além de prazer. Eu não farei nada antes de
avisá-la.
Percebeu que aquelas palavras foram mágicas, pois a
partir daí, ela se derreteu em suas mãos, retesando-se
apenas quando o prazer foi tão forte que ela teve medo de
perdê-lo ou de consegui-lo na sua plenitude.
— Deixe ir até o fim, meu amor — ele sussurrou,
enquanto seus dedos a levavam ao extremo.
E quando ele tomou um dos mamilos e sugou, ela se
desmanchou, gritando o seu nome e remexendo o corpo
alucinadamente, tomada pelo deleite que nunca pensou
existir.
Ele subiu o corpo sofrido pela vontade de se satisfazer
e a beijou longamente. Passou minutos seguidos, até que
ela recomeçasse a respirar com normalidade. Depois, sua
língua traçou movimentos persuasivos e a invasão passou
para o estado erótico. Ele queria reacender o corpo de Bella
para que o recebesse com o mínimo de dor possível. Seus
dedos passearam pela intimidade dela, buscando suas
entrâncias, suas dobras e sua abertura.
— Fique de olhos fechados.
Ele levantou-se e tirou o resto da roupa rapidamente.
Depois, invadiu-a novamente com os dedos e usou a palma
da mão para tocar o seu ponto intumescido. Ela abriu mais
as pernas. Estava tão pronta que o colchão ficou molhado
com o seu líquido. Ele a levou a ultrapassar o limite do
prazer, fazendo-a tremular em suas mãos outra vez. Aquilo
foi demais e ele ficou em posição de substituir os dedos e
entrar nela. Quando a olhou para lhe dizer que o momento
chegara, ela se ergueu para a frente e o olhou determinada.
— Eu estou pronta.
Dean deslizou centímetro a centímetro, até encontrar a
barreira que só seria invadida com um pouco mais de vigor.
Olhando aqueles olhos límpidos e brilhantes, ele empurrou o
membro com força. Bella não desviou o olhar. Limitou-se a
morder o lábio inferior, como se tentasse suportar aquela
dor sem chorar. Ele entrou mais um pouco, suado de tanto
segurar o próprio êxtase. Até que conseguiu ir até o fim.
Então, suspirou, colando a testa na dela, saboreando a
sensação extraordinária que o invadiu por estar, finalmente,
dentro de Bella.
— Não doeu tanto.
— Vou começar a mexer. Se incomodar, fale-me
imediatamente.
Bella foi invadida por um sentimento de carinho
enorme, ao notar a preocupação de Dean. Mesmo que
permanecesse sentindo dor, não teria coragem de pedir
para ele parar, pois percebia nitidamente o seu estado de
excitação. Ao lembrar do prazer que acabara de sentir,
desejou que ele também o experimentasse, mesmo que o
alcançasse à custa de seu padecimento.
Quando começou a se movimentar no interior molhado
e quente, Dean rogou a Deus que ela não pedisse para
parar, pois não sabia se conseguiria. Parece que Bella havia
entendido que ele estava por um fio, pois aceitou com
coragem todos os movimentos dele, até mesmo quando
ficaram mais impetuosos.
— Não suporto esperar mais um minuto, meu amor.
Ela passou as mãos no rosto dele, alisou aquela barba
como tanto imaginou, e o tocou no peito intumescido. O
prazer de Dean disparou e ele se retirou com pressa urgente
de dentro dela, esvaindo-se em cima de sua barriga,
enquanto emitia um urro forte e alto.
O líquido viscoso e quente escorreu pela cintura de
Bella, enquanto Dean se jogou ao seu lado com os braços
em cima do peito. Ela ficou quieta, sem saber como se
comportar e nem o que fazer. Depois de alguns segundos, e
aparentemente refeito, Dean levantou-se e saiu sem pudor
nenhum para pegar uma toalha úmida. Voltando, limpou-a
com calma e em silêncio. Terminando tudo, ele apoiou-se no
cotovelo e passou os dedos sobre a face rubra dela. Os
lábios, ainda inchados pelos beijos ardentes, entreabriram-
se, provocando uma nova onda de excitação nele. Será que
um dia esse desejo diminuiria?
Bella até queria sair dali para pensar sobre tudo o que
acontecera, mas o corpo amolecido e satisfeito permaneceu
inerte, enquanto os dedos do esposo passeavam pelo seu
rosto. E já que não conseguiria sair imediatamente, resolveu
tirar uma dúvida.
— Por que você fez assim? — perguntou ela, apontando
para a própria barriga.
— Bella, eu sei que você ainda não está pronta para
aceitar ser minha esposa de verdade, ainda que seja tarde
para fugir disso depois desta noite. Somos, inevitavelmente,
marido e mulher.
Franzindo a testa, ela continuou sem entender,
percebeu ele.
— O que foi derramado aqui — disse ele, passando a
mão na barriga dela — tinha a semente de um filho, que
podia ou não ter resultado.
— Ah, meu Deus, como sou boba — disse ela, cobrindo
o rosto com as mãos.
Dean a achou adorável. Mais do que nunca. Quanto
mais descobria pontos importantes sobre ela, mais gostava.
Ele afastou as mãos de Bella e conectou o olhar ao
dela, o corpo já se inflamando novamente. Há quanto tempo
não dormia com uma mulher e há quanto tempo esperou
por esse momento! Talvez a vida inteira tenha esperado por
ela.
— Você não é boba, apenas está descobrindo um
mundo totalmente novo para donzelas: o sexual. Tem tanta
coisa que eu quero lhe ensinar, agora que você é minha.
— Você tem de ter um herdeiro. Não entendo por que
perdeu essa chance hoje.
— Agora que tenho esposa, posso esperar mais um
pouco. Não quero que o meu filho seja gerado apenas por
essa razão. Espero, sinceramente, que ele seja o fruto de
tudo que você mais deseja.
— Eu desejo um filho.
— Quero que você deseje meu filho, nosso filho.
Ele voltou a lhe acariciar. O corpo dela respondeu
imediatamente.
— Agora que você me pertence, não há razão para
querer menos que isso.
Da mesma forma que Isabel lhe pertenceu, pensou
Bella. E todo o prazer que estava voltando a sentir, esfriou.
Percebendo a mudança no olhar e no corpo da esposa, Dean
soube imediatamente que algum pensamento
inconveniente estava tentando lhe roubar a sua segunda
oportunidade. Então, desceu a boca e tomou a dela, que
não correspondeu ao beijo dele do mesmo modo que antes.
Mas ele a prendeu na cama com os dois braços levantados
acima da cabeça e insistiu no beijo. Como ela se mostrava
ainda reticente, ele desceu a boca sobre um dos mamilos e
o tomou entre os dentes, mordendo suavemente, lambendo,
sugando, trazendo a excitação novamente ao dominado
corpo. Sentindo que ela suspirava e gemia, completamente
alquebrada pelo prazer, ele soltou-lhe os braços, e as mãos,
que antes seguravam os braços de Bella, substituíram a
boca e começaram a acariciar os mamilos duros, enquanto
ele desceu a cabeça até o umbigo. Depois continuou a
descer até a barriga e mais abaixo. Ela foi pega de surpresa
e quando pensou em fazer algo para impedir aquela doce
invasão, Dean já estava lá, naquele lugar onde jamais ela
pensou que alguém pudesse fazer o que ele estava fazendo.
Deus, era bom demais. Tão bom que ela não teve coragem
e nem forças para interromper. Que todos os anjos do céu o
mantivessem exatamente ali, fazendo exatamente aquilo
até que ela... que ela... ah, o juízo foi substituído por uma
loucura instantânea. Ela segurou o lençol da cama e tentou
manter as mãos afastadas dele, pois sentia vontade de
segurar sua cabeça para mantê-la ali, fazendo loucuras com
a língua.
— Meu Deus, Dean, eu não vou aguentar isso. — Sem
suportar tamanho prazer, suas mãos seguraram o cabelo
dele, mantendo-o onde estava.
Quando escutou essas palavras e sentiu as mãos dela,
ele sugou com mais força e ela estremeceu violentamente
sob sua boca. Ele a lambeu até que ela se acalmasse.
Depois, penetrou-a e seguiu o mesmo rito que o levou a seu
segundo êxtase.
Satisfeitos e cansados, dormiram abraçados e Bella não
teve mais força para pensar sobre dúvida ou coisa parecida.
Mas no dia seguinte, Bella se sentia a pior das
criaturas. Havia pertencido ao mesmo homem que dormira
com a sua irmã e experimentou um sentimento indescritível
por si mesma. Deus, será que conseguiria um dia ter uma
relação com ele sem se lembrar que sua irmã fizera a
mesma coisa? Ele podia ter tido milhares de mulheres,
menos Isabel. As outras, ela não conhecia e, mesmo que
conhecesse, não eram seu sangue. Muito menos uma irmã
idêntica a ela. Tinha de dar logo o herdeiro de que ele tanto
precisava, pois achava que talvez fosse ficar louca, então
era melhor cumprir logo sua promessa. Ele não merecia
perder seus bens por causa de uma cláusula tão radical
num testamento ridículo.
Dean nem sonhava que sua esposa estava enfrentando
uma crise emocional, para não dizer existencial. Só
conseguia se lembrar de cada detalhe da noite passada,
pois ela era irresistível e já a queria de novo. Ele a queria
todos os dias e várias vezes por dia. Se alguém precisava
fechar os olhos para sonhar, ele o fazia de olhos abertos. O
dia todo, ele se viu imaginando a esposa em seus braços.
Resumindo: passou o dia excitado e louco que a noite
chegasse para sonhar de olhos fechados, dentro dela.
Não esperava que nos três dias seguintes a esposa o
ignorasse e, pior, inventasse desculpas para não jantar com
ele. Tudo para evitar ir para a cama dele. Isso foi tão
inesperado quando decepcionante. Dean sabia que Bella
tinha gostado de fazer amor, que lhe deu tanto prazer
quanto era possível, a ponto de várias vezes, durante as
quatro em que se fundiu nela durante a noite do baile,
escutá-la dizer que aquilo era demais, que não ia aguentar.
E isso se referia ao prazer enorme que estava sentindo e ela
se achando incapaz de suportar. Então, por que aquilo
agora?
A única coisa que Bella respondeu quando ele
perguntou o que estava acontecendo foi que não queria
sentir essas coisas com ele. E quando ele quis saber que
coisas, ouviu a inacreditável palavra: prazer.
Sua esposa estava renunciando ao prazer que ele
nunca tinha se preocupado em dar a mulher nenhuma.
E os dias demoradamente se transformaram em uma
semana. Ela o evitando, e ele evitando forçá-la a dormir
com ele.
Mas certa noite, ele não aguentou e entrou no quarto
dela.
— Por que não quer sentir prazer comigo? — ele
perguntou, pegando-a de surpresa.
— Porque...
Bella não conseguiu dizer que todas as vezes que ele
terminou de fazer amor com ela, a imagem de Isabel vinha
à sua mente e a raiva e o ciúme a corria. Que ficou se
perguntando se ele tinha feito as mesmas coisas com ela,
pois, na realidade, queria tudo aquilo somente para si.
Então, estava difícil conciliar a razão com o coração.
Também não lhe disse que desde aquele dia, suas noites se
transformaram num inferno, repleto de pesadelos terríveis.
Vendo que ela não ia responder e, se respondesse,
talvez a resposta não saísse a contento, ele disse:
— Então sinta-o sozinha.
— Sozinha?
— Sim. Dispa a roupa e se deite. Vou lhe ensinar.
— Não consigo.
— Faça o que estou dizendo.
O timbre de voz dele era imperativo e tinha algo de
urgente, como se quisesse proporcionar algo maravilhoso a
ela. Bella sabia que ia se arrepender, mas quando se deu
conta já estava obedecendo.
Deitando-se, olhou para ele muito envergonhada. Ele
trincou os dentes, olhando o corpo nu diante de si, lânguido,
com uma cor absolutamente homogênea, as panturrilhas
perfeitas e aqueles pelos cobrindo o que ele mais queria.
Seu membro latejou e as calças perderam todo o espaço.
Com muito custo, ele afastou-se e sentou-se em uma
cadeira de onde pudesse observar cada movimento que ia
comandar.
— Feche os olhos enquanto faz isso.
Ela fez exatamente o que ele mandou, até porque tinha
realmente que fechá-los, ou vestiria a roupa.
Sentado, Dean colocou a mão no membro, sobre a
roupa, e começou a instruir Bella.
— Seus seios estão carentes, toque-os com a ponta dos
dedos agora.
Ela levantou as mãos, timidamente, e quando os
alcançou, os dedos trêmulos começaram uma carícia leve,
acanhada.
— Aperte-os, torça-os e puxe-os, como você se lembra
que fiz.
Ela obedeceu, sentido os bicos endurecerem e a
excitação aumentar. Deus, como aquilo era bom! Mas era
melhor com ele fazendo.
Dean desabotoou os botões da calça e tirou o membro
latejante, segurando-o com a mão direita e começou a fazer
movimentos de vai e vem.
— Continue acariciando os seios com a mão esquerda e
desça a direita até sua entrada. Veja como está molhada.
Isso é desejo, vontade de ser invadida. Penetre um dedo.
Ela o fez e Dean teve medo de gozar antes do tempo.
Ele tirou um lenço do bolso e continuou os movimentos mais
espaçados, pois estava por um triz.
— Coloque outro dedo.
Quando ele viu aqueles dois dedos sendo introduzidos,
teve de se segurar no braço da cadeira, pois a vontade que
tinha era de substituí-los pelo membro, que estava
estalando de prazer.
— Agora toque o lugar onde você sente mais prazer.
Ela vacilou.
— Faça. — A voz dele soou autoritária e estranhamente
rouca.
Ela obedeceu e subiu os dedos molhados, que
começaram a fazer movimentos tímidos. Mas a excitação
estava tamanha que ela logo se esqueceu de tudo.
Precisava se aliviar. Ela se contorceu, seus dedos ganharam
vigor e aos poucos, eles entraram em sincronia com os de
cima, provocando movimentos simultâneos, enquanto ela
arfava, entregue à luxúria.
Em poucos minutos, ela gritou, encontrando o pico do
prazer.
A visão de Dean embaçou e, tremendo, ele expeliu o
líquido quente no lenço.
Quando Bella abriu os olhos, ele tinha terminado de se
limpar e estava acabando de fechar a abertura da calça. Ela
suspeitou que o grito que ouvira do esposo tinha ocorrido no
momento em que ele conseguira a satisfação.
Dean foi em direção à porta, mas antes de sair, disse-
lhe com voz grave:
— Eu nunca mais a tocarei, sem que me peça.
Ela ficou parada, com a sensação de que lhe devia
algo. E a mágoa na voz dele a tocou profundamente.
Não conseguia resistir ao marido, mas não se
entregava totalmente a ele. E esse era o motivo da tristeza
de Dean, pois conseguia vencê-la na cama, mas depois ela
escapava.
Tinha um dever a cumprir. Tornara-se sua esposa e se
incomodava ao ver o tempo passar e se perder sem que lhe
desse uma chance de ter um herdeiro. Como ele era
paciente! Se fosse outro, todas as noites a requisitaria, até
que ela engravidasse.
Mas Dean era um cavalheiro e já havia dito que queria
que o filho dele fosse desejado, antes de gerado. E agora
avisava que não a tocaria novamente. Sabia que, pelo
caráter dele, cumpriria a palavra.
Bella se levantou e começou a vestir a camisola.
Quando se lembrou do que tivera coragem de fazer na
frente de Dean, ficou tão nervosa que começou a rir. Como
fora capaz? Será que outros casais faziam isso?
Eu nunca mais a tocarei, sem que me peça.
͠
Para Dean aquela situação estava insuportável. E antes
que se tornasse insustentável, precisava conversar com
alguém. Foi à casa de Ian.
— Então é isso. — Dean respirou fundo quando
terminou de contar a saga em que o seu casamento havia
se transformado.
— O sentimento de comparação nesses casos é
traiçoeiro e inevitável. Mesmo diante de tudo que Isabel fez
a ela, já pensou que sua esposa sente-se culpada
por estar casada com o marido da irmã que acabou de
falecer? Ou talvez não consiga lidar bem com o fato de fazer
coisas tão íntimas com o homem que fez as mesmas coisas
com a sua irmã.
— Eu nunca fui marido de Isabel nesse sentido, você
sabe.
— Ela não sabe disso.
— Não, não sabe.
— Talvez a solução seja lhe contar a verdade.
— Não gostaria de lhe contar sobre Annie.
— Isso é vaidade. Você não será menos homem por não
ter dormido com Isabel.
— Não é por vaidade, Ian. Não estou pronto para dizer
que Annie é bastarda.
— E que mal há nisso?
— As únicas pessoas que sabiam disso eram a tia de
Isabel e uma amiga, que morreram naquele terrível
acidente no Tâmisa na noite do nosso casamento. Não
queria que mais ninguém soubesse disso.
O acidente a que ele se referia foi um marco em
Londres, tratado como o caso de maior comoção da
Inglaterra, em se tratando de acidentes de pequeno porte.
Além da tia, da amiga e do seu noivo, outras dez pessoas
morreram.
— Bella não passará esse segredo adiante pelo que
conheço dela.
Dean continuou pensativo.
— Deixará que os conflitos que ela sente a acometam
indefinidamente? Se não estiver preocupado com ela, faça-o
por você.
— Não entendi.
— Pelo que percebi, você sente falta da sua
mulher. Você a ama, amigo.
— Não nego isso, mesmo que ela nunca tenha
confessado seus sentimentos. Além do mais, recebeu bem
minhas carícias e gostou.
— Mulher é muito emocional e, com sua experiência,
sei que deve ter se esmerado para satisfazê-la na cama.
Mas é impossível que ela não o imagine fazendo o mesmo
com a Isabel. Aqui para nós, acho que eu não me sentiria
confortável fazendo amor com a mulher do meu irmão.
Mesmo que ele tivesse falecido. Deve ser muito estranha
uma situação dessas.
— Pensando por esse lado, é compreensível a atitude
dela. Mas ainda não me sinto preparado para abrir a vida de
Annie para alguém — disse Dean.
— Sei, mas devo lhe advertir que a solução do
problema está em suas mãos. Não pense que persuadi-la
com carícias até levá-la para a cama vai resolver a situação
definitivamente. Você pode conseguir isso algumas vezes,
mas só vai desgastar a relação de vocês e afastá-la cada
vez mais.
— Não farei mais isso — assegurou Dean.
Conversaram mais um pouco sobre outros assuntos e
beberam um brandy, para que Dean se acalmasse um
pouco.
Ele saiu desolado da casa de Ian, pois via a realidade
de suas palavras sinceras. Se não abrisse seus segredos
para Bella, e, consequentemente, a vida de Annie,
provavelmente a perderia aos poucos, até perdê-la
totalmente.
Enquanto o cavalo o levava, pois tinha deixado de
guiar o cavalo assim que deixou a casa, ele se perdia em
divagações.
Todas as vezes que escutou que o amor era uma
escolha, nunca achou que isso pudesse ser empregado
quando se tratava de relacionamento entre um homem e
uma mulher. Sempre achou que, nesse sentido, o amor
ainda era um mistério. Sempre seria. Como entender por
que o coração bate mais forte por uma pessoa e não por
outra que, às vezes, é a que gostaríamos que batesse?
Como compreender por que a razão quase sempre é
aniquilada por esse sentimento forte que nos arrebata e nos
conduz por caminhos nem sempre traçados por nós
mesmos, quando deles, não queremos sair? Pelo contrário,
queremos continuar andando para ver até aonde ele vai nos
levar. Tudo isso é um mistério. E por causa disso, o amor
desperta tanto o interesse da humanidade. Uns o desejam
em sua vida e nunca vão encontrá-lo; outros o têm e o
desperdiçam; e outros não sabem que o desejam. São
poucos os que fogem desse rol. O fato é que quem o
encontra dá a vida por ele, porque sem o amor, a vida perde
o sentido.
Ele nunca mais conseguiria ser de outra mulher. O
amor era muito interessante, quando analisado do ponto de
vista da alma. Era realmente um enigma, pois não havia
como explicar por que um coração elege uma única pessoa
entre dezenas, centenas, milhares de pessoas. Seu coração
tinha escolhido Bella e a vida inteira não seria suficiente
para se esquecer desse amor.
Havia-se tornado até um poeta, sorriu ao admitir,
quando sentiu que já tinha terminado de apear.
Seguiu esquadrinhando na mente tudo o que pensava
do amor. Se o quisesse em sua vida — e queria — tinha de
abrir mão de algumas coisas.
Capítulo 15
Dean já chegara a passar trinta dias sem dormir com
uma mulher, mas, depois de uma semana sem ter feito isso
com Bella, estava inquieto. Sentia uma vontade louca de
arrebatar a esposa com beijos e carícias até convencê-la de
que não tinha nada que os impedisse de ser felizes na
cama, que nada mais era do que a extensão do lar. Uma
extensão que comportava uma pitada de ousadia entre
quatro paredes. Sentia o desejo tão latente que algumas
vezes teve de se recolher antes, ou se demorar a sair do
recinto para esconder o estado em que se encontrava.
Em vez de forçar a esposa a um relacionamento íntimo,
como tinha direito, decidiu esperar até que o desejo dela a
empurrasse para seus braços. Aí, sim, ele a faria chegar
novamente ao céu. Sua única estratégia era essa.
Mas os dias foram passando e, mesmo quando algumas
vezes o ar crepitava quando seus dedos se tocavam, ela se
mantinha resoluta e pensativa.
Mas havia algo de que Bella não conseguia fugir: do
olhar cobiçoso do marido, que, quando prendia o seu,
mantinha-o sob seu jugo e ela não conseguia ou não queria
se desvencilhar. Aquilo tornou-se um hábito diário entre os
dois. Um hábito não, um duelo. E Bella sentia que estava
perdendo a batalha cada dia que o marido não a
requisitava, pois isso só aumentava o seu desejo por ele,
que cumpria a palavra de não tocar em seu corpo.
Com sua vasta experiência, Dean entendia o recado
que o corpo dela lhe dava, mesmo que ela fizesse de tudo
para esconder. Esse jogo de gato e rato estava ficando
interessante, contudo ele estava cansado de esperar.
Enquanto o corpo ardia de desejo, ele tentava apaziguar a
parte principal dele, para não causar escândalos, quando
alguém olhasse para suas partes inferiores.
E naquela noite, Dean estava desejoso, como sempre.
Era quase insuportável. Queria amar a esposa uma noite
inteira. Só de relembrar a noite em que a viu se derretendo
sozinha na cama, começou a ficar excitado. Saiu do quarto
em busca de um livro para lhe fazer companhia. Quando
passou pela porta do quarto dela, teve de resistir ao ímpeto
de adentrar e tomá-la para si contra sua vontade. Mas
jamais faria isso. Conhecia homens que não respeitavam a
vontade da esposa e nunca admirou esse tipo de
comportamento. Em vez de descer o outro lance de escada,
imediatamente, olhou para os lados, para ver se algum
empregado estava passando, e encostou o ouvido para
ouvir qualquer barulho que indicasse os movimentos dela.
Nada escutando, seguiu para a biblioteca.
Ao entrar, deu de cara com Bella, sentada no largo
parapeito da janela.
— Boa noite. — A voz grave tirou-a dos pensamentos.
— Boa noite — ela respondeu, virando o corpo de
frente para ele, sem, contudo, descer do parapeito.
Ele aproximou-se dela com passos calmos. As mãos
dentro do bolso tinham a finalidade de não tocar o corpo
delicioso da esposa. Estava ficando cada vez mais difícil
manter a palavra de ficar longe.
Quando ela levantou os olhos e sorriu timidamente
para ele, as palavras saíram antes que Dean pensasse duas
vezes.
— Você tem praticado?
Algo na voz de Dean fez Bella entender a que ele se
referia.
— Não.
— Por quê?
— Porque não gosto sozinha.
O coração dele palpitou, descompassado.
— Por Deus, Bella, o que você pretende me dizendo
isso?
— Dizer a verdade. Só é bom com você fazendo.
Não, aquilo já era demais. A mensagem que ela
passara havia sido clara e se ele estivesse enganado, que
se danasse a razão.
As mãos que estavam colocadas no bolso, contra a
vontade, voaram e a abraçaram pela cintura, enquanto ele
buscou a boca e depositou um beijo sôfrego. Ele encaixou o
corpo entre as pernas dela e se esfregou enquanto
consumia cada suspiro dela.
Sem suportar a crescente excitação, ele abaixou o
corpete dela e os seios empinaram e apontaram para ele,
túrgidos. Ele os olhou com devoção, antes de devorar
primeiro um, e depois o outro, sem delicadeza. Ela gritou,
puxando-o para si. Era simplesmente impossível voltar
atrás. Ele desabotoou com muita pressa a braguilha e,
retirando o membro, só esperou os segundos de desamarrar
a pantalona dela para, então, penetrar a carne úmida. Ela o
enlaçou com as pernas e correspondeu à ansiedade dele
com a própria ansiedade. Ela o queria e não conseguia mais
esconder.
— Deus, como eu te amo!
Dean exclamou quando afastou só um pouco os lábios
dos dela. Em seguida voltou a beijá-la. Era o amor que o
impulsionava a manter uma esposa que se negava a sentir
prazer com ele; era o amor que lhe dava a certeza de que
jamais a deixaria, mesmo que só a pudesse ter algumas
vezes, quando o desejo dela não suportasse mais e a
empurrasse para seus braços. Mas o amor era assim,
suportava tudo com a esperança de um futuro promissor.
Quando ele tentou se afastar, para não derramar o seu
líquido dentro dela, Bella o segurou com as pernas e não
deixou.
E quando ela o olhou, ele percebeu que algo grandioso
ia ser pronunciado. Ele teve de se conter para permanecer
dentro dela sem se derramar.
— Eu te amo, Dean. Eu te amo desesperadamente.
Ele sabia que ela o amava, mas ouvir da sua boca não
tinha preço. Era a primeira vez que ela confessava o seu
amor. Milhares de estrelas pareceram reluzir no local e ele
se viu no meio das luzes imaginárias, com a mulher da sua
vida nos braços.
Bella sentiu as entranhas se fecharem e o prazer
acumulado em seu ventre desceu, invadindo-a
completamente. Ela o trouxe para mais perto, fundindo seus
corpos ainda mais e sentindo o prazer do marido, que
acabara de se esvair dentro dela. A explosão foi dupla e
duplamente perfeita.
Suados, eles continuaram um bom tempo abraçados,
saboreando as palavras libertadoras de um amor lindo,
porém sofrido.
— Dean...
— Não fale nada agora, meu amor, por favor! Não diga
nada negativo, por enquanto. Deixe-me pensar que o nosso
amor é maior que tudo, nem que seja por poucos minutos —
implorou um homem extremamente apaixonado.
Ela se calou e ficou observando enquanto ele colocava
os seios dela dentro do corpete e depois limpava os
resíduos da intimidade dos dois. Depois, ele a pegou nos
braços e a levou à chaise longue, onde se deitou com ela ao
seu lado.
— Eu vou beijar você até que me peça para parar —
disse ele, passando os dedos nos lábios dela.
— Devo lhe advertir que teremos de ser interrompidos
por alguém — respondeu Bella, intoxicada pela intimidade
do toque.
Descendo a boca, ele deu longos beijos, molhados,
apaixonados, sensuais. Estava duro novamente, mas não
tinha pressa. Bella o amava e tinha deixado claro que não o
impediria de beijá-la quantas vezes ele quisesse. Enquanto
sugava seus lábios, ia abrindo calmamente os botões do
vestido, que logo foi puxado e jogado no chão. Sem pressa,
ele tirou a pantalona e a sapatilha. Sem se desprender dela
e com uma eficiência surpreendente, conseguiu tirar a
própria roupa, que logo fez companhia à dela.
Mergulhados um no outro, eles se amaram devagar
dessa vez, olhando-se com carinho e devoção, até
estremecerem ao encontrar o prazer mais perfeito de suas
vidas.
Depois de tudo terminado, ele encostou a testa na dela
e entrelaçou as mãos de ambos.
— Eu te amarei até meu último suspiro, Bella. Nunca
esqueça disso. Prometa que não vai voltar atrás — ele lhe
pediu humildemente.
— Prometo nunca mais me negar a dormir com você,
dar o herdeiro que você precisa, ser uma boa mãe para
Annie e para o nosso filho. Mas vai demorar um pouco para
eu achar normal dormir com o homem que dormiu com a
minha irmã e que ela um dia esteve no lugar onde hoje
estou. É difícil aceitar isso porque o amo com todas as
minhas forças. Eu nunca havia amado na vida e a força
desse sentimento é tão grande que não há mais como fugir.
Almejo ouvir a sua voz todos os momentos do dia, sinto seu
perfume por mais distante que esteja, pois meu coração o
conserva perto de mim. Só encontro a completa alegria
quando estou perto de você. Mesmo assim, sei que não será
fácil, pois quando temos intimidade fico imaginando que
comparações entre nós duas são inevitáveis, pois,
infelizmente, eu sou idêntica a ela. Mas eu farei o possível...
Dean tapou carinhosamente seus lábios com um beijo
suave. Não podia mais suportar o sofrimento dela. Somente
a verdade a libertaria. E somente assim ele também seria
libertado.
— Meu amor, Isabel nunca teve lugar na minha cama.
Ela franziu a testa, demonstrando confusão.
— Mas certamente você teve na dela.
Ele fechou os olhos e suspirou, antes de confessar:
— Nunca dormi com sua irmã, Bella. Seria impossível
eu fazer comparações entre você e ela, já que nunca tive
nenhuma intimidade com Isabel. Eu só conheço você,
intimamente.
— Não estou compreendendo. E Annie? — A confusão
de Bella era notória.
— Não é minha filha.
— Não é sua filha? — ela repetiu, atordoada.
— Não.
— Meu Deus, Dean! Por isso você não sabia de nada
sobre a menina. Eu estranhei tanto, mas achava que era só
um pai desligado.
— Você sabe como a sociedade é cruel com filhos
bastardos, ainda mais sendo uma garotinha. Ela não merece
isso.
Bella o olhava, vidrada e admirada.
Dean levantou-se, vestiu a calça e entregou o vestido
dela, que o colocou na frente do corpo, sem no entanto
vesti-lo. Depois puxou uma cadeira e colocou de frente a
ela, na qual sentou, pronto para abrir a sua vida.
— Conheci sua irmã num baile em Londres. Ela havia
acabado de chegar de Paris e logo se tornou a sensação de
todas as programações sociais promovidas pelas amigas da
tia. Vivia nas altas rodas e se mostrava uma promessa de
boa esposa.
Bella até imaginou como ela fingiu bem para conseguir
fisgar um marido.
— Bem, como eu não estava pensando em me casar
nem me aproximei dela para não atrapalhar, afinal muitos
amigos meus estavam suspirando por Isabel.
— E você não suspirou por ela?
— Não. Eu a achei muito bonita, mas não a ponto de
sequer pensar em largar a vida de solteiro. Eu estava feliz
daquele jeito.
— Dos seus amigos, quem era o mais rico?
Ele riu, e ela compreendeu.
— Pois bem, ela resolveu investir todo o seu charme
em mim. E como não funcionou, armou uma cilada. A
tradicional cena da varanda com um casal se comportando
de forma totalmente inconveniente, sendo flagrado. Eu
tinha experiência suficiente para não cair, mas ela era
muito persuasiva.
Bella até imaginou a cena, e sentiu uma sensação
desagradável no estômago.
— A maior intimidade que tive com sua irmã foi apenas
alguns beijos, que ela soube muito bem como usar para me
levar a querer algo mais, a ponto de escorregar as mãos em
partes do corpo feminino que só podem ser tocadas depois
do casamento.
— Não precisa me contar todos os detalhes.
— Não houve tempo para maiores detalhes, pois a cena
estava armada e a tia dela apareceu, junto com outras
matronas para armar o flagrante. Ali minha vida mudou
totalmente. Depois ela me explicou que não era uma moça
desfrutável, como dera a entender, e que eu a levei a
querer algo que ela nem sabia que existia. O resto você já
pode imaginar. Como um cavalheiro, eu não podia deixar
uma moça naquela situação. Então, pedi a sua mão e em
menos de trinta dias estávamos unidos por um casamento
que eu nunca havia planejado.
— Um casamento planejado por ela. Mas ainda não
estou entendendo o resto da história. Onde Annie entra
nisso tudo?
— Bem, na noite do nosso casamento, eu escutei uma
conversa da sua irmã com uma amiga, quando ela
confessava que seu plano tinha dado certo, pois havia
conseguido um marido e um pai para a filha dela. Ela estava
grávida de um rapaz que morrera e precisava urgentemente
se casar antes de a barriga aparecer. Foi aí que eu entrei na
história.
— E também o motivo de realizar um casamento tão
rápido. Pois deduzo que foi ideia dela a data.
— Sim. Você a conhecia o bastante para saber do que
era capaz.
— Eu não a coloquei para fora de casa porque já era
noite. Então, no dia seguinte sua tia morreu e ela acabou
me convencendo a deixá-la ficar aqui até a criança nascer.
Felizmente, eu deixei.
— Felizmente? – Bella não compreendeu o que ele quis
dizer.
— Valeu a pena tudo que passei, pois só assim eu te
conheci. Mesmo que nós tivéssemos nos conhecido depois
da morte dela, como eu acho que aconteceria por causa da
troca de identidade de vocês duas, as circunstâncias seriam
outras e talvez perdêssemos a chance de encontrar o que
temos.
— Dean, meu amor. Eu não queria que você tivesse
passado por isso, mas penso que você tem razão.
— E tem a questão da Annie. Eu passei a amar a
menina como se fosse minha.
— Ela é sua.
— É. Ela é minha — ele concordou, emocionado.
— Não gosto de mentiras, mas não vejo necessidade
de dizer que ela não é sua filha. Pelo menos por enquanto.
Lá na frente, pensaremos melhor sobre a questão. Quem
mais sabe disso?
— Com exceção de Ian e Cindy, as únicas pessoas que
sabiam, ironicamente, morreram no mesmo dia, a tia e a
amiga, em um acidente terrível no Tâmisa, no qual todos se
afogaram. Foi uma comoção que foi estampada em todos os
jornais importantes.
— Eu me lembro. Recebemos uma carta de Isabel
relatando sobre o casamento com você e sobre a morte da
nossa tia.
— Pois bem, não acredito que haja alguém que saiba
disso. Até o pai de Annie está morto, pois escutei Isabel
falando isso para a amiga.
— Dean, você é o pai dela. O destino ou qualquer outra
coisa o elegeu.
— Eu gostaria de ter sido antes, quando ela certamente
precisou de mim. Mas nunca lidei bem com essa questão.
Uma coisa é gerarmos um filho, e outra, bem diferente, é
escolher um que pertence a outra pessoa.
— Isso não é motivo de se sentir culpado. Ela precisa
mais de você agora, que está crescendo.
— Sim. Ela terá os pais que merece: você e eu.
Eles se beijaram, dessa vez com suavidade. Estavam
satisfeitos em todos os aspectos. Eles se amavam, não
havia mais segredos e agora já tinham dado o passo inicial
para que o herdeiro viesse ao mundo a tempo. Mas, de
repente, Bella se lembrou de algo.
— E se nascer uma menina?
— Tudo o que preciso está em minha família.
Conseguiremos sair bem dessa, de uma forma ou de outra.
— E se você perder tudo?
— A minha esposa já está tão acostumada com o luxo
que não se vê mais vivendo de uma forma mais simples? —
ele brincou, mas no fundo estava preocupado.
Não gostaria de ver Bella passar por dificuldade. Por
isso, tinha dois problemas para tratar com o advogado
agora: a questão da identidade real de Bella e buscar
aspectos jurídicos para que ele pudesse ficar, pelo menos,
com uma parte da herança. Como não tinha estudado de
forma mais apurada o testamento, podia ser que algo
houvesse passado despercebido ao pai e um bom advogado
encontrasse uma brecha na qual pudesse entrar. Todo
mundo sabia que advogados são cheios de espertezas.
— Meu amor, se tivesse toda a riqueza do mundo e não
tivesse você, de nada adiantaria. Se, no entanto, for
necessário passar por alguma dificuldade, desde que esteja
com você, estou preparada.
Ele a beijou com um amor profundo. Amava e era
amado.
Isabel, a megera, tinha-lhe dado uma família completa.
Começava a crer que perdoar não era tão difícil. O bem que
fizera acabara sendo maior que o mal.
Já vestidos, eles saíram e foram dormir juntos. E todos
os dias seguintes e para sempre seria assim.
Naquela mesma semana, Dean falou com o advogado e
levou Bella ao Vauxhall Gardens novamente, onde
assistiram a um concerto na Rotunda.
Enquanto as coisas iam sendo encaminhadas pelo
advogado, a paixão que estavam desfrutando era tamanha
que conseguiam não pensar sobre problemas, por incrível
que isso pudesse parecer. As noites eram repletas de
atividades íntimas e Dean era insaciável quando se tratava
de Bella. E ela o amava desse mesmo jeito.
Naquele dia, tinham outro convite para um baile.
Todavia um sentimento inexplicável começou a
incomodar Bella. Ela jamais conseguiria definir, mas sentia
que algo naquela noite parecia estar prestes a acontecer
para lhe roubar a felicidade alcançada há tão pouco tempo.
Quisera fosse apenas uma impressão, mas o coração estava
tão apertado que até começara a se lembrar da irmã.
Quando eram pequenas, ela sentia essa mesma sensação
toda vez que Isabel se machucava.
Estava tão aflita que, pela primeira vez, descera antes
do marido e tomou um pouco de champanhe, o que causou
admiração em Dean.
— Comemorando? — brincou ele, quando desceu para
que partissem para o baile.
— Devo confessar que estou sentindo uma aflição
incompreensível.
— Nesse caso, deveria ter experimentado uísque — ele
continuou brincando. Mas enxergou no fundo daquele olhar
algo que se assemelhava a medo.
— Meu amor, nesta semana mesmo vamos resolver
nossa vida.
A fim de distraí-la, assim que chegou ao baile, ele
levou-a para dançar.
De repente, uma grande comoção fez com que todos
os olhares se voltassem para a escadaria, quando uma
figura, provavelmente importante, acabara de entrar sem
ter sido anunciada.
A pessoa que acabara de chegar tinha a barra de um
vestido vermelho e extravagante, e quando Bella ergueu os
olhos e alcançou a cintura fina, sentiu um calafrio. Um
calafrio que fez os joelhos amolecerem quando subiu os
olhos e encontrou outros idênticos aos seus. Dean a
susteve, porque ela ia desabar. Ele pensava que estava
sendo enganado por uma visão catastrófica do inferno, pois
o próprio demônio encarnara e estava indo em direção a
eles. Bella trincou os dentes e teve de segurar o braço do
marido com força. À vista de todos, Isabel se postou diante
deles com um sorriso lindo e apresentando uma presença
de espírito que sempre lhe fora típica. Bella encolheu-se.
Não estava pronta para enfrentar 6a irmã, pois se sentia
uma pedra de tabuleiro no jogo armado por ela. Mais uma
vez. Sempre seria assim. Ela desaparecera, fingira estar
morta, levara uma vida promíscua até agora e se achava no
direito de voltar para estragar a sua felicidade, conquistada
a tanto custo.
A expressão de Dean denotava o ódio que exalava
pelos poros. Ele sentia vontade de pular no pescoço de
Isabel e fazer picadinho daquela vadia, que tinha uma
capacidade incrível de fazê-lo perder a cabeça.
Com uma taça de champanhe na mão, levantada em
gesto de brinde a Dean e Bella, Isabel ostentava um sorriso
irônico e cruel.
— Quem é essa, meu amor? — perguntou, levantando
uma das sobrancelhas e continuando, com perversidade: —
Ah, é a minha irmãzinha querida que está usurpando o meu
lugar. — A voz carregada de cinismo atingiu Bella em cheio.
— Isabel, vamos para casa. Não a exponha a isso —
disse Dean, usando um tom de voz baixo.
— Não exponha a sua amante? Pela mão segurando a
cintura dela, certamente, tomou meu lugar na cama
também.
Dean aproximou-se de Isabel e torceu o seu braço para
trás, enquanto falava entredentes, olhando ferozmente
dentro dos seus olhos e sem dar a mínima para os curiosos.
Bella estava inerte, observando a cena com olhos
vidrados.
— Vamos para casa agora, seu monstro. Temos muito o
que conversar.
Afastando-se dela e amparando novamente a esposa,
ele lhe deu as costas esperando que Isabel os seguisse. Se
não o fizesse, torceria o pescoço dela na frente de todos
aqueles curiosos. Olhando para os demais, avisou:
— O show acabou. Amanhã teremos novidades
suficientes para fofocarem um mês inteiro.
Quando Isabel se dirigiu à mesma carruagem em que
ele e Bella iam voltar, Dean fechou a porta, deixando-a de
fora.
— Eu a aconselho a procurar uma carruagem de
aluguel. Com a raiva que estou, corro o sério risco de
cometer um assassinato.
Ele fechou a cortina com raiva e bateu duas vezes com
força no teto da carruagem para que o cocheiro saísse o
mais rápido possível. Depois que eles partiram, o sorriso
cínico desapareceu dos lábios de Isabel e ela foi procurar
uma carruagem.
— Eu fico me perguntando quando ela vai parar de me
surpreender? — perguntou Bella, por fim.
— Acredito que quando morrer, o que infelizmente não
aconteceu ainda.
— E agora, o que faremos?
Dean puxou a esposa para o peito, onde ela derramou
as lágrimas mais dolorosas de toda a sua vida.
Estavam tão transtornados e surpresos que seguiram
calados o restante do caminho.
Assim que chegaram, Dean pediu ao cocheiro que
fosse à casa do seu advogado e o trouxesse imediatamente.
Apesar da hora tardia, advogados são iguais a médicos: a
natureza do trabalho deles é como suporte para algum tipo
de necessitado.
Capítulo 16
Exatos cinco minutos depois que chegaram, Isabel entrou.
Com uma mala.
— Queria descobrir uma forma de fazer você
desaparecer da minha vida para sempre — disse Dean,
assim que se viu diante dela.
Ele não quis nem perguntar por que Isabel continuava
viva. Nada disso importava, além do fato de que ela o
estava surpreendendo novamente. Só que, dessa vez, de
uma forma infinitamente mais negativa, pois agora havia
Bella, a sua esposa.
— Devo esclarecer que não quero mais desaparecer.
— Mas vai. Por bem ou por mal.
— Vai dar cabo da minha vida?
— Não me tente, pois faria isso com muito prazer. Se o
preço que eu tenho de pagar para me livrar definitivamente
de você for a forca, talvez o pague.
— Por que você mentiu, Isabel, fazendo-se passar por
morta? — Bella, parecendo restabelecida da surpresa,
perguntou.
— Ora, Bella, pensei que já estivesse acostumada. Mas
o fato é que não quero mais mentir e vim reconquistar
minha família. Cansei de mentira.
— Não é verdade. Uma pessoa não muda de natureza
de uma hora para a outra — disse Bella, com voz trêmula
de raiva.
— Ah, a pombinha resolveu se apaixonar? Sim, porque
só um sentimento muito forte a faria falar dessa forma.
Desista, ele é meu.
Isabel se afastou, ficando a uma distância segura, que
não desse para Dean lhe tocar, pois viu o olhar assassino
dele.
— Eu nunca fui seu — gritou ele, atraindo a atenção
dos empregados que estavam por perto.
Quando eles viram as duas iguais, ficaram surpresos e
alguns correram para chamar os demais. Aquilo era uma
coisa inédita, que deveria ser presenciada nem que fosse às
escondidas, atrás das cortinas e das portas.
— Mas naquela noite, no jardim, você me quis e gostou
quando me derreti em seus braços.
As lágrimas de Bella escorreram. Não conseguiria
suportar aquilo. Havia se entregado a um homem que agora
não podia mais ser seu. Mesmo que não o fosse de Isabel,
não havia mais saída para os dois. Não com as duas vivas.
Depois de tudo que estava prestes a perder, Bella queria
morrer.
Não. Pela primeira vez, desejou que a irmã morresse. E
isso era terrível. Era inegável que seus sentimentos não
eram nobres naquela noite. Mas compreensíveis.
— Eu nunca a quis. Você sabe o que me levou à
varanda naquele maldito baile — Dean falou com dentes
cerrados, com a paciência esgotada. Ódio era pouco para
expressar o que se passava dentro dele.
— Você pode esclarecer onde estava e que encenação
de morte foi essa? — Bella lembrou-se de perguntar.
— Oh, mas eu estive a um passo da morte, sim. As
cartas foram verdadeiras, mas, milagrosamente, melhorei.
— É com grande desgosto que descubro que os
milagres também acontecem com os demônios — disse
Dean.
— Sei que preferia que eu estivesse morta, contudo...
— Contudo ainda não explicou como ressuscitou, uma
vez que o portador daquelas cartas me disse que você tinha
falecido dias antes de ele viajar para Londres. – Interrompeu
Dean com brusquidão.
— Pobre rapaz! É um descompensado do juízo. Só
posso crer que ele me confundiu com uma vizinha que
também estava doente. Ela morreu poucos dias depois que
entreguei as cartas para que ele trouxesse — disse ela,
respirando pausadamente, enquanto revirava os olhos
pintados com algum tipo de pintura escura que Dean
odiava. Ela brincava com uma situação tão séria. Será que
não conseguia mensurar a encrenca em que estava metida?
— Mas tem alguém aqui que também precisa se
explicar. Ainda não consegui entender o que você está
fazendo com o meu marido, Bella.
Isabel estava tentando virar o jogo.
— Muito me admira que esteja procurando explicação
para algo tão evidente. Você sabe de quem ele é marido,
Isabel. Você nos casou, ou está esquecida? — Bella usou
uma ironia que nunca imaginou ser capaz. A irmã estava
despertando o que ela tinha de pior dentro de si.
Dean conseguiu se aproximar de Isabel e, pegando-a
pelo braço, falou rispidamente:
— Por que você voltou?
O timbre de voz não dava chance de ela sequer pensar
em deixá-lo sem resposta.
— Bem, quando eu estava na Irlanda, comecei a
emagrecer assustadoramente e, por fim, peguei uma febre
terrível. Aquele idiota — estava se referindo ao amante —,
imaginando que eu morreria, abandonou-me e ainda levou
todas as poucas joias que eu tinha.
— Então, é como eu pensava. Voltou porque para se
abastecer, antes de se lançar em outra aventura. Precisa de
dinheiro.
— Não quero mais aventura, meu amor. Quero o meu
lar de volta. Vim para dizer a verdade diante de todos e
implorar o seu perdão. Suportarei todos os seus rompantes
de raiva, até que me perdoe.
Dean a empurrou com força, quase derrubando-a,
como se brasas tivessem lhe tocado, e afastou-se com uma
expressão de asco.
— Se me chamar novamente de meu amor, vai perder
todos os dentes. Nunca me imaginei batendo em uma
mulher, mas você é um ser inumano.
Isabel virou-se para a irmã.
— Bella, desista. Eu sempre venço e você sabe disso,
lembra? Você é sem graça e sempre viveu à minha sombra,
pois não tinha brilho próprio.
Ela usou a fórmula que sempre deu certo com a irmã.
Estava decidida a fazê-la desistir de Dean.
— Você sempre viveu à minha sombra, Isabel. Como
eu não percebi isso antes? Você sempre roubou o que eu
tinha de melhor quando se fingia passar por mim. Você
nunca se mostrava como realmente era. E por quê? Porque
as pessoas gostavam mais de mim do que de você. Então
era muito mais fácil ser aceita como eu, não é? Mas acabou.
Não vou deixar mais que faça isso comigo.
Bella, enfim, conseguiu enxergar que nunca foi o que
a irmã plantou exaustivamente em sua cabeça. Era o seu
renascimento.
Os olhos de Isabel escureceram e encararam Bella
com ódio.
Enfim, sua personalidade estava sendo descortinada da
forma mais realista possível. Bella continuou falando tudo o
que estava engasgado, enquanto Dean a admirava cada vez
mais. Ela era forte e determinada e só parecia estar
descobrindo isso nesse momento. Se era necessária a volta
de Isabel para que sua esposa se desvencilhasse de uma
vez da sombra dela, bendito retorno!
— Você não vai mais comandar minhas ações. A vida
inteira fiz o que você queria, escutei palavras que me
rebaixavam, acreditando que o seu temperamento era
responsável por isso, mas hoje compreendo que isso não é
questão de temperamento. Conheço pessoas de gênio difícil
que são bondosas. O seu defeito está no coração. Ele é
mau.
— E agora você decidiu ser igual a mim? — Isabel
tentou puxar a corda para seu lado, mas foi inútil.
— Nunca seria igual a você. Somos quase idênticas,
mas nossos corações não têm nada de parecido. Eles não
são gêmeos.
— Sua ordinária! Quem você pensa que é para falar
assim comigo? Você, que mentiu se passando por mim esse
tempo todo? Sei de tudo o que aconteceu durante a minha
ausência.
Um estalo soou seco e no instante seguinte o rosto de
Isabel mostrava a mudança de tonalidade.
Bella a esbofeteou com tanto ímpeto, que segurou a
mão doída devido à violência com que fora usada. Nada
mais ia ser como antes. Até ela. Nunca mais ela deixaria
que Isabel a magoasse sem que houvesse uma reação de
sua parte.
Foi tudo muito rápido, porém certeiro. Anos seguidos
de humilhação, de felicidade roubada, de brincadeiras de
mau gosto, pareciam ter feito emergir outra pessoa de
dentro de Bella. Uma que ela não sabia que existia e que
era capaz de sentir ódio. Já conhecia o poder da mágoa, da
tristeza, da decepção e do desamor. Mas o poder do ódio,
era a primeira vez.
Enquanto Isabel, estarrecida, passava a mão no rosto,
Bella já estava de volta ao jogo, refeita.
— Eu não me passei por ninguém. Se realmente
estivesse sabendo o que aconteceu aqui na sua ausência,
saberia disso — Bella respondeu com frieza.
— Você quer continuar mentindo? — perguntou Isabel.
— Eu é que pergunto: você quer continuar a ser eu?
Quer continuar a usar meu nome? O que se passa nessa sua
cabeça oca? Será que ainda não percebeu o quanto está
encrencada? Entre outras coisas, você será denunciada por
falsa identidade.
— Por que está fazendo isso? — O som da voz de Isabel
mudou. Passou para algo parecido com suplicante. O que
era muito perigoso, pensou Dean. Mas tinha de esperar para
ver se Bella estava totalmente curada das garras da irmã.
— Mesmo que sejam casados no papel, Bella, quem
esteve com ele diante do pároco e fez os votos fui eu. —
Agora ela estava apelando para a Bella de antigamente.
— Fizeram os votos diante de um pároco, não diante de
Deus, pois Deus não estava presente, visto que aquilo tudo
era uma farsa — respondeu uma mulher decidida, que se
mostrava mais segura a cada momento, conforme as
situações lhe eram apresentadas.
— Nada muda o fato de que quem viveu maritalmente
e teve uma filha com ele fui eu.
— Não existe esse fato, Isabel. Você sabe que nunca
dormiram juntos. Annie não é filha dele.
— Tão ingênua! Ele mentiu para você, Bella. A filha é
dele — disse a descarada.
Ela afirmou tão categoricamente que se Bella não
tivesse adquirido confiança no marido, teria ficado em
dúvida. Mas deixou que Dean fizesse a sua parte. Pois isso
dizia respeito a ele. Ela lhe dirigiu um olhar confiante.
— Sim, Annie é minha filha. Infelizmente, não da forma
que eu gostaria, pois seu genitor é outro. Mas ela é minha e
já vou lhe avisando que você não vai se aproximar mais
dela. Nós somos os pais dela — disse Dean, olhando para
Bella, agradecendo com o olhar a confiança demonstrada
por ela naquele momento crucial.
— Ora, ora. Então os dois estão apaixonados. Agora
está melhor de negociar. — Enfim, ela viu que não
adiantava manter a máscara. – Pois bem, não quero filha e
não quero voltar a viver em uma prisão. Se me oferecer
uma boa quantia, sairei da vida de vocês para sempre.
— Com licença, Sr. Hughes, o seu advogado o aguarda
na sala — o mordomo anunciou.
— Mande-o entrar.
— Advogado? — Isabel perguntou, começando a temer.
— Você sairá da nossa vida para sempre, mas por
meios legais. Aprendi que não se deve deixar pontos soltos
no passado, pois eles se soltarão no futuro. Resolveremos
tudo diante de um magistrado. Tudo preto no branco.
— Dean, eu prometo...
— Não prometa, pois vai perder tempo.
O advogado entrou com uma pasta preta nas mãos e
um ar de quem sabia a solução para todos os problemas.
Afinal, zelar pelo cumprimento da lei era o que amava fazer
e, mesmo que alguns se desviassem dessa função tão
especial, aquele homem fazia jus ao título de cumpridor fiel
dos preceitos legais.
Sr. Riley era o melhor advogado da Inglaterra. Homem
honrado, cujos serviços eram requisitados por todos aqueles
que queriam ganhar causas estritamente dentro da
legalidade. Incorruptível, ficou conhecido por cuidar dos
direitos dos contratantes que a ele confiavam suas
pretensões e dificuldades. O serviço que prestava era caro,
mas isso era o resultado da quantidade de casos que ele
ganhava em juízo: até agora, quase todos.
— Sr. Riley, como pode observar, as coisas sofreram
alterações desde a última conversa que tivemos sobre o
nosso casamento — disse Dean, trazendo Bella para junto
de si.
— Posso notar, Sr. Hughes. Um caso abstruso, difícil
para alguns, mas de fácil resolução para um magistrado,
por menos experiência que tenha. Terei que alterar o teor
da petição, mas não tenho sombra de dúvida de que a
sentença do magistrado será em seu favor. Claro que temos
de passar pelos trâmites necessários, mas as provas das
quais dispomos e os testemunhos que certamente vão ser
solicitados serão suficientes para que vençamos a causa.
Além do mais, é causa justa — concluiu o orgulhoso
advogado, olhando diretamente para Isabel, como se
avisando de que ela estava perdida.
Isabel achegou-se a ele, batendo as pestanas sem
parar. Estava muito nervosa. Enfim, parecia enxergar que
aquilo tudo ia além de uma simples complicação.
— Dr. Riley, eu quero entrar num acordo.
— Só em juízo, Srta. Blanchett — respondeu o homem,
sem se deixar comover pela atitude de Isabel. Estava
acostumado a todo tipo de artimanhas quando pegava uma
causa. E artimanhas eram, em sua totalidade, intimamente
ligadas a um dos lados das questões judiciais: o daquele
que estava errado. Uma pessoa que está certa luta com
armas legais e espera que a justiça prevaleça.
Isabel piscou mais rápido ainda, quando se viu sendo
chamada pelo sobrenome de solteira.
— Quero resolver isso o mais rápido possível, para
recomeçar minha vida longe daqui e... — ela começou a
falar nervosamente.
— Acho muito difícil a senhorita sair dessa situação em
liberdade. O seu delito foi muito grave. Dependendo do
magistrado, o mínimo que pode acontecer é o cárcere
perpétuo, quando não a pena de morte. A não ser que ele
se valha do degredo perpétuo. Mas acho muito difícil.
O advogado falava como se estivesse dando uma
explicação em uma aula sobre um assunto do qual ele era o
mestre. Ele tinha algo de cruel na fala, mas já estava
acostumado a lidar com pessoas que não tinham jeito. E
sabia quando estava diante de uma dessas. Se existia algo
que odiava, e não fazia questão de esconder, era pessoas
que se valiam de astúcia para prejudicar dolosamente
alguém. E quando soube do caso de Dean e Bella, gostou de
ter sido escolhido para resolver uma questão de fácil
deslinde. Mas agora que o caso se complicara, adorou. Pois
o maior prêmio de um advogado é colocar na cadeia o
transgressor. Se antes a causa seria apenas o ajuste de
nomes, para alocar uma pessoa no seu devido lugar, agora
era isso e a prisão daquela que fez a confusão. Sua
profissão era simplesmente apaixonante.
— Vou voltar para o hotel, então, até resolvermos a
questão — Disse Isabel, pegando a mala.
— Acho melhor não, Isabel. Não serei feito de bobo
novamente. Você vai ficar hospedada aqui até o Sr. Riley
resolver isso.
— Amanhã mesmo providenciarei as devidas alterações
no processo. Creio que será pedida a prisão da Srta.
Blanchett, para evitar a sua fuga, até que todos os trâmites
legais sejam cumpridos, culminando na sentença.
O advogado falava naturalmente como se nada daquilo
fosse afetar radicalmente a vida de todos da família, e
muito mais a de Isabel, que a essa altura estava a ponto de
gritar de pavor. Mas o orgulho era grande demais e ela já
esboçava planos mirabolantes na cabeça. Não seria difícil
fugir de madrugada.
Depois que o advogado saiu, Dean mandou chamar
alguns empregados de bom porte físico. Como tinha certeza
de que aquela mulher tinha parte com o demônio, achou
por bem não arriscar.
Vendo-se sem saída diante daqueles homens,
impensadamente Isabel tentou fugir. Mas algo
extraordinário aconteceu. A maldita foi derrubada, caindo
com força no chão.
Dean e Bella só viram quando a Sra. Lane passava uma
mão na outra, como se fosse um desses garotos que chama
outro para a briga.
— Desculpe, Sr. Hughes, mas eu não podia perder a
oportunidade de vingar pelo menos parte da maldade que
esse monstro fez com meus subordinados! Sem falar no que
fez com a nossa patroa. — Ela dirigiu um olhar afetuoso
para Bella.
— Todos vocês vão me pagar — disse Isabel, já refeita e
se dirigindo à escada.
— Não se atreva a subir um degrau dessa escada, ou
não me responsabilizo pela sua integridade física — disse
Dean.
— E onde eu vou passar a noite? — ela perguntou.
— No subsolo.
— No... você está louco? Eu...
— Sra. Lane, arranje um quarto para essa mulher. De
preferência um que não tenha janela, para que não
gastemos mão de obra dos meus homens vigiando-a.
— Bella, por favor, deixe-me dormir no quarto de
hóspedes! — ela apelou.
Bella simplesmente lhe virou as costas.
— Você vai acompanhar a Sra. Lane aos seus
aposentos ou prefere ser levada à força? — perguntou um
impaciente Dean.
Ela permaneceu onde estava.
Dean fez um sinal e os homens a arrastaram dali,
seguindo a governanta, que já tinha em mente um lugar do
qual ela jamais conseguiria fugir. Um sorriso despontou nos
seus lábios.
Tudo o que Isabel planejou para sair daquela situação
não funcionou, pois os dois empregados que a levaram
fizeram guarda na porta do quarto — que não tinha janela
—, e quando tentou fugir na madrugada, foi empurrada sem
nenhuma delicadeza para dentro.
A noite de Bella e Dean não seria das melhores. Saber
que Isabel se encontrava no mesmo lugar que eles, ainda
que totalmente separada e fortemente vigiada, não trazia a
paz que Bella precisava para dormir. Além do mais, ela não
conseguiu se deitar na mesma cama que ele. Uma sensação
desconfortável e estranha tomou conta dos seus sentidos,
de modo que ela nem quis conversar com o marido depois
que a irmã foi retirada.
Se antes a situação dos dois era esquisita, agora piorou
e muito. Antes era só a questão da troca de identidade, da
mentira que estavam vivendo, de esperar que todo o
processo de reconhecimento da pessoa dela acabasse.
Agora, era muito mais que isso. Um crime, cometido por sua
irmã e passível de uma pena que não parecia ser branda,
estava para ser apurado. Ou seja, para ser comprovado,
pois tinham todas as provas necessárias para a condenação
de Isabel. E Bella estava muito abalada com tudo isso. O
que incomodava Bella realmente era o fato de enxergar
outros sentimentos, despertados nessas últimas horas, que
eram muito mais fortes. Ela tinha sede de justiça. Sua
piedade não era suficiente para perdoar a irmã, se para isso
ela saísse ilesa de suas maldades. Tinha consciência de que
o pagamento pelo que ela fizera era imperioso e urgente.
Mas não era fácil pensar e desejar isso a uma irmã.
Sobretudo uma irmã gêmea.
Sentando-se em frente à penteadeira, olhou-se no
espelho e relembrou de momentos lá atrás, quando Isabel
ainda não acordara para a maldade. A brincadeira predileta
delas era fazer penteados com os longos cabelos e brincar
de esconde-esconde. E quando alguma amiga encontrava
uma delas, uma fingia que era a outra, confundindo até
mesmo os pais. Tempos áureos e inocentes, mas tão curtos.
Logo que a irmã despertou o instinto mau, as coisas se
transformaram assustadoramente. Mas Bella demorou tanto
para perceber que se sentia culpada. Talvez se tivesse dado
um basta na irmã, ela não tivesse levado adiante aquelas
brincadeiras e hoje não estivesse nessa situação.
Por outro lado, foi retirando uma boa parcela de culpa
da sua cabeça, pois a própria Bella nunca sequer pensou em
usar a irmã para ludibriar alguém, muito menos para
prejudicá-la. Tudo o que fizera nesse sentido nunca passou
de brincadeiras. Logo, era a essência de Isabel que
destoava da de todas as pessoas que conhecia.
Dean entrou no quarto, olhando-a com ar cansado.
Como Bella, aquele homem tinha sido vítima de Isabel por
muito tempo. Mas bem menos do que ela, que foi a vida
inteira.
— Temo que não queira dormir comigo hoje.
— Prefiro ficar aqui, se você permitir.
— Bella, faça o que for melhor para você.
— Nesse momento, só posso desejar o menos ruim.
Ele a abraçou gentilmente, depositou um casto beijo na
sua esposa e retirou-se. Tinha medo que as coisas entre os
dois nunca mais voltassem a ser como antes. Foi tão difícil
chegar e enfim aportar e ele esperou tanto tempo, para
agora, em apenas algumas horas, tudo ser destruído. Seria
um novo recomeço e ele não sabia o quanto isso ia afetar a
cabeça de Bella, que se mostrara tão corajosa e
determinada. Mas ele sabia que marcas do passado têm um
poder invisível muito grande, principalmente, no que se
refere a mágoas. Feridas são difíceis de ser cicatrizadas
quando provocadas dentro do seio familiar. Mas só o tempo
diria o tamanho do estrago que aquela mulher medonha
tinha feito.
Sr. Riley apareceu na manhã seguinte para dar as
últimas notícias.
Bella pediu que trouxessem a irmã para que ouvisse o
que o advogado tinha a dizer. Isabel, então, ficou sabendo
que seria oficialmente interrogada dentro de três dias e, em
seguida, seria formalmente acusada. Como ela não era
detentora de nenhum título de nobreza, era certo que ficaria
encarcerada na prisão até o julgamento, que seria realizado
no tribunal Old Bailey.
Ele aproveitou para avisar que ela precisava de um
advogado. Como não tinha dinheiro, e sabendo que
ninguém lhe ofereceria, ela disse que ficaria nas mãos da
justiça, conforme a lei determinava nos casos em que uma
das partes não podia pagar honorários advocatícios.
Antes de ele sair, Isabel quis saber a gravidade do seu
caso. Como era uma pessoa que pouco se importava com
algum tipo de leitura e que nunca teve interesse em
nenhum assunto que não envolvesse roupas, joias, última
moda e homens, não tinha ainda atinado de que tudo o que
o advogado dissera no dia anterior podia lhe acontecer.
O advogado não perdeu a oportunidade de lhe dar mais
uma aula.
— A senhorita parece não ter prestado atenção à breve
explanação feita ontem por mim. Pois bem, explicarei em
minúcias. A pena mais severa para crimes considerados
graves nesse país é a pena de morte, desde 1707. É sabido
que a nossa legislação é muito rígida e talvez não haja na
terra um país que se esmere em punir com tanto rigor, pois
permite que um simples batedor de carteira seja condenado
à pena capital. Logo, a senhorita pode observar que o seu
crime é muito mais grave e importante.
Isabel arregalou os olhos, amedrontada, mas isso não
pareceu suficiente para que o advogado desistisse de
continuar a explicação.
— Por outro lado, quando o 1º Marquês de Halifax,
George Saville, disse que “Os homens não são enforcados
por roubar cavalos, mas os cavalos não podem ser
roubados”, quis dizer que o ladrão não seria enforcado se
não tirasse o cavalo da propriedade do dono que o comprou,
e a quem pertence legalmente. E a simplicidade desse
conceito aplica-se a todos os ilícitos praticados, posto que
obter algo ilicitamente é cometer ato proibido por lei. Se os
crimes fossem praticados de modo contrário à moral e ao
direito e não fossem punidos, o mundo viraria uma baderna,
em que todos os seres humanos seguiriam intentos que lhes
conviessem. Há que se interromper ações desse tipo com
corretivos suficientes para que o infrator pare de cometer os
erros e para que as demais pessoas entendam pelo exemplo
e se desviem desse caminho.
O advogado, feliz por ter conseguido uma plateia
admirada, não se deu por satisfeito.
— Acredito que a senhorita deva ter esperança, pois,
dependendo do juiz que pegar o caso, a pena pode ser
comutada pelo degredo. Ou seja, a sua deportação para
outro país — disse ele em minúcias, ao perceber a
pequenez intelectual de Isabel.
— Meu crime não foi tão grave, pois não tirei a vida de
ninguém.
— Depende do ponto de vista do juiz. Ele pode
entender que a senhora roubou a vida de sua irmã, mesmo
por um curto tempo. O que pode reverter, em parte, a sua
culpa, é o resultado do delito, uma vez que sua irmã no final
das contas resolveu ficar de fato com o marido que não teve
o direito de escolher. Mas volto a dizer que isso pode,
dependendo do juiz, reverter também contra a senhorita,
pois ele pode questionar se ela não encontraria uma pessoa
mais qualificada para si, o que não acredito que
aconteceria, já que o casal parece tão bem entrosado.
Tossindo, como se desculpando por sua opinião, ele
continuou:
— Não há como negar a intencionalidade do seu crime,
pois a senhorita pegou o documento da sua irmã e se valeu
dele para se fazer passar por ela sem se preocupar com as
consequências que viriam sobre a vida dela e do Sr. Hughes,
que também foi enganado.
— Mas eu peguei o documento dela por engano.
Quando percebi já estava em Londres — Isabel tentou se
justificar.
— Isso só piora sua situação, pois, em vez de voltar
para trocar os documentos, valeu-se dele para lograr um
casamento vantajoso e enganou todos ao redor, se fazendo
passar por sua irmã, à revelia dela. Usou de má-fé e elevou-
a à condição de mulher casada, privando-a, dessa forma, da
liberdade. A sociedade exige punição severa em virtude das
consequências de delitos cometidos, principalmente, os
premeditados pelo criminoso. Mesmo que tenha pegado o
documento por engano, suas atitudes posteriores foram
todas planejadas de forma a conseguir benefício próprio,
sem se importar com a vida de outras pessoas. Isso é algo
muito sério e será levado em consideração pelo juiz com
toda certeza.
Ele ficou mais próximo dela, como se fosse importante
ela entender de uma vez por todas que não tinha saída.
— Toda punição depende do grau da ofensa. E nesse
caso é gravíssimo, e não há como se esquivar de suas
consequências. Mesmo que o juiz entendesse sua situação e
tendesse a uma pena mais suave, o clamor da sociedade
fala mais alto. Dessa forma, prepare-se para o pior.
Acabando de falar, como se tivesse acabado de fazer
um lindo discurso sobre a importância das quatro estações
do ano, ele saiu, deixando a pequena plateia espantada
com tanta informação.
— Eu. Odeio. Você. — Pontuou Isabel, olhando
diretamente nos olhos da irmã.
— Leve-a daqui! — disse Dean, já se alterando.
Era inacreditável: como é que uma pessoa tinha
acabado de escutar que a sua vida estava por um fio e a
única preocupação que teve foi declarar o seu ódio por
outra que nada fizera para merecer aquilo?
Os dois homens a levaram, novamente arrastada e
gritando frases de ódio a plenos pulmões. Isabel não media
palavras para machucar. Era absolutamente estafante lidar
com ela.
Bella, visivelmente abatida, chamou a governanta e
ordenou:
— Sra. Lane, leve a mala da minha irmã para o quarto
e cuide para que ela se alimente e se banhe todos os dias,
enquanto estiver aqui.
— A senhora tem um coração muito bom. Sua irmã só
merece pão e água, na melhor das hipóteses — disse a
governanta.
— Talvez se a senhora estivesse no meu lugar fizesse a
mesma coisa.
— Sra. Hughes, desconheço uma pessoa que fizesse
isso, depois de tudo o que escutei que ela lhe fez. E ao seu
marido.
Ela se afastou, deixando os dois sozinhos.
A história do baile, tendo como protagonistas Dean e
suas duas mulheres, ganhou destaque, não só na boca dos
fofoqueiros como também nos jornais de Londres na tarde
daquele mesmo dia. Nenhum jornalista perderia a chance
de contar a narrativa, mesmo que desfalcada dos relatos
dos verdadeiros envolvidos na trama. Era mais fácil e
lucrativo inventar uma narrativa cujo teor chamasse mais
atenção e, assim, produzisse os efeitos financeiros maiores
para os tabloides.
Dessa forma, a partir da edição do jornal, Bella e Dean
se viram cercados por pessoas desconhecidas, atraídas por
qualquer tipo de notícias do tipo efervescente. E o deles
parecia ser o escândalo do ano. Quiçá do século.
Capítulo 17
Dois dias se passaram e o clima entre Dean e Bella ficava
cada vez mais estranho. Não conversavam mais e faziam as
refeições cada um no respectivo quarto. Ele entendia os
sentimentos dela e se esforçava para tomar atitudes
altruístas, que a beneficiassem. Sabia que tudo isso ia
passar e eles seriam muito felizes, desde que o devido
tempo amenizasse as cicatrizes, já que algumas jamais
podem ser apagadas.
A babá e a governanta se desdobraram para
minimizar a falta que os pais faziam na vida de Annie,
mimando-a e fazendo o máximo para afastar a criança
daquele contexto catastrófico que se abateu na mansão. Era
o mínimo que podiam fazer para ajudar aos patrões.
Nesses dias, os repórteres se comportaram como aves
de rapina afoitos por notícias bombásticas, e como não
obtinham informações, por mais que tentassem conseguir
através de algum criado, começaram a “reproduzir”
histórias estapafúrdias. A governanta proibiu a entrada de
qualquer jornal na mansão. Entendia que eles precisavam
de um pouco de paz e ficar lendo conjecturas de jornalistas
irresponsáveis não ajudava em nada. Apesar de ter
percebido a manobra dela, Dean não a recriminou. Pelo
contrário.
No dia marcado, Isabel seguiu em uma carruagem com
seus dois “sentinelas” ao tribunal, enquanto Bella e Dean
seguiram em outra. Apesar de não terem dormido e nem
feito nenhuma refeição juntos nesses dias, algo os ligava e
eles sabiam que precisavam enfrentar unidos mais essa
intempérie. Os jornalistas, que já viviam de prontidão,
aguardavam com seus caderninhos em mãos, a fim de fazer
perguntas relevantes e irrelevantes. Principalmente,
irrelevantes. Mas foram prontamente ignorados por todos os
ocupantes das carruagens, inclusive os cocheiros, que se
retiraram tão logo os deixaram no destino.
De repente, no meio da multidão, uma correria tirou a
atenção deles. Um batedor de carteira se valeu do tumulto
para desempenhar o seu ofício, no que foi prontamente
pego. No meio da confusão, Isabel aproveitou e saiu em
disparada, sob o olhar maravilhado dos curiosos que, em
vez de ajudar a pegar a criminosa, abriram caminho para
que o espetáculo começasse. No entanto, a fuga não teve o
desfecho desejado. Um grito terrível se fez ouvir e um
relincho de cavalo se misturou às vozes de surpresa de
todos os presentes.
Isabel encontrava-se no piso de cascalho,
protagonizando uma cena terrível. Uma grande carruagem a
tinha acertado em cheio e ela caíra com a cabeça na quina
da calçada. O sangue escorria abundante atrás de sua
cabeça.
Bella sentou-se e agarrou a irmã nos braços, tentando
trazer à tona algo que sabia estar perdido para sempre. Ela
sentia.
Não estava preparada, talvez nenhuma pessoa do
universo estivesse para escutar o que a irmã lhe disse.
— Esse mundo é pequeno demais para nós duas. Eu
nunca me conformaria em ver você se dando bem. Nunca!
E fechou os olhos para sempre, deixando Bella estática,
segurando-a no colo. As lágrimas rolavam copiosamente e
os ombros tremiam de modo incontrolável. Parecia que
agora, enquanto agarrava o corpo inerte da irmã, a
realidade de suas palavras penetrava no seu cérebro. E era
tão difícil admitir mais uma vez que Isabel tinha razão. Não
haviam nascido para viver no mesmo mundo, por maior que
fosse, pois a inveja e o ódio de Isabel sempre a
encontrariam. Com ambas vivas, nenhuma das duas seria
feliz.
Os transeuntes se aglomeraram e um homem, se
identificando como médico, aproximou-se para tomar o
pulso de Isabel. Mas Bella não precisava ouvir da boca dele
o que sentira no seu peito há alguns minutos. Ela devia ter
sabido que Isabel não havia morrido da primeira vez, pois
aquela dor no coração era o sinal quando alguma coisa ruim
ocorria com a irmã. E a dor naquele momento era tanta.
Apesar de tudo.
O que mais doía em Bella agora não era tristeza pela
morte da irmã. Não. Foram as derradeiras palavras
pronunciadas por ela que a magoaram sobremaneira. O
mundo era enorme e nele caberia as duas com facilidade se
tão somente se amassem.
Nunca mais o sorriso, nunca mais o choro, nunca mais
a alegria, nunca mais a presença, nunca mais... A morte é a
desesperança total.
Nesse caso, a morte era a esperança, o sorriso e a
alegria de volta, a felicidade. O mundo agora era de Bella.
Mas ela tinha de entender isso. E, no momento, seu mundo
estava nublado e confuso.
Dean a levou para casa, e ela começou um processo de
limpeza da alma. Era doloroso recomeçar depois de tantas
quedas. Principalmente, depois de algo tão intempestivo e
desprovido de preparação. E não houve como ele não se
lembrar da frase que escutara de Isabel, ao falar sobre o pai
natural de Annie, chamando-o de burro: Onde já se viu
morrer atropelado por uma carruagem?
Acontecera a mesma coisa com ela. Mil vezes burra por
ter desperdiçado sua curta vida com inveja, ódio, intriga e
todas as coisas contrárias a uma boa virtude.
No funeral, os amigos Cindy e Ian fizeram as vezes de
melhores amigos, como sempre e os conhecidos, aos
poucos, começaram a conhecer a história macabra em que
Dean e Bella foram envolvidos.
Os dias seguintes foram intensos para o advogado, que
teve de se esmerar para transformar novamente o teor da
causa ajuizada. Mas quando as cartas de Isabel e os
documentos de identificação foram entregues e Bella e
Dean foram ouvidos, tudo se resolveu de forma
completamente satisfatória. O pesadelo havia acabado.
No entanto, sair de casa era um suplício para Dean e
ele se tornou um perito em se esconder dos jornalistas que
esperavam mais uma pitada de escândalo. Como não
conseguiram e perceberam que as notícias não eram
escabrosas o suficiente para render uma boa venda de
jornais, emitiram uma nota simples, descartando aquele
caso. Afinal, precisavam encontrar algo que chamasse
atenção para sobreviverem.
E assim, foi “esclarecida” a situação:
“Jovem usurpadora não chegou a ser
ouvida, pois preferiu cometer a insanidade do
suicídio. Para quem estava acompanhando o
caso, foi apurado que Isabel Blanchett usou o
documento da irmã gêmea idêntica e,
passando-se por ela, enganou – pasmem – um
dos homens mais ricos da Europa, Dean
Hughes, vindo a casar-se com ele. Insatisfeita
com a vida que considerava mediana, fugiu
com um amante – todos sabiam da predileção
da jovem senhora por uma vida paralela – e
deixou o lugar vago que foi imediatamente
ocupado por sua irmã. Quanto a isso, nunca
saberemos se ela também usou algum ardil
para enganar o cobiçado homem. Fato é que
nada mais poderá ser comprovado referente
ao caso, uma vez que os envolvidos na
questão se fecharam em sua mansão, onde
vivem rodeados por empregados e criados
totalmente fiéis. Haja vista, não obtivemos
êxito ao procurá-los para esclarecer os fatos
de modo satisfatório”.
Depois que a curiosidade dos fofoqueiros foi satisfeita,
pelo menos em parte, a casa respirou um pouco de paz,
visto que os jornalistas já tinham apurado toda a verdade na
delegacia.
Mas não era interessante para os tabloides contar tudo
de uma vez. Assim, decidiram soltar aos poucos tudo o que
tinham descoberto. Afinal, era importante manter os leitores
curiosos por uma pitada que fosse da inusitada história de
duas mulheres idênticas que se envolveram, ou melhor
dizendo, envolveram o rico e poderoso Dean Hughes. E, a
partir dali, cada nota que saía nos jornais assim terminava:
Aguardem as próximas novidades do caso das gêmeas.
Seria preciso mais tempo do que Dean imaginava para
se livrar de uma vez por todas desses carniceiros.
Um mês não foi suficiente para Bella se desintoxicar de
uma vida de veneno. Ela ainda não conseguia fechar os
olhos sem ver Isabel morrendo em seus braços. Sempre que
tentava dormir, sentia a respiração da irmã se esvaindo e
era como se a própria Bella ficasse sem ar. E todas as noites
era uma verdadeira luta até conseguir dormir um pouco. Já
não suportava mais aquilo. Pensava, inclusive, que ia perder
o juízo. A única pessoa na companhia da qual sentia paz era
Annie. E apesar de não ter se afastado de Dean, as coisas
simplesmente não voltaram a ser como antes. Ela, inclusive,
não conseguia mais dormir com o esposo e as conversas
eram escassas.
Dean continuava acreditando que o estado emocional
de Bella mudaria, era só uma questão de tempo. Mas a
consciência disso não tornou sua vida mais fácil. Sentia falta
de sua mulher, de sua companheira, de sua amiga. E de sua
amante. Não era possível que Isabel continuasse a
atormentá-los até depois de morta.
͠
Certa noite, Bella estava dormindo e, como sempre,
sonhou com a irmã. Mas dessa vez, algo diferente
aconteceu. De um lado de Isabel, uma sombra escura se
movia e falava: Eu te odeio. Do outro lado, uma luz
resplandecia e alternava as palavras: Viva, ame, perdoe e
se perdoe. Ela não existe mais. Uma sombra e uma luz. Uma
opção.
Bella abriu os olhos e fitou o teto, com o coração
palpitando. O problema não eram as palavras que Isabel
dissera antes de morrer, mas o efeito que ela quis produzir
em Bella. Ela queria, e quase conseguiu, que ela se
mantivesse cativa do ódio. Claro que quis dar sua última
cartada, para tirar a chance de felicidade da irmã. Um véu
invisível foi descortinado diante de si, quando compreendeu
toda a trama de uma mente doente. Nenhuma pessoa com
sentimentos negativos como a irmã podia ser considerada
normal. Ela era doente e Bella a perdoaria.
Levantando-se, afastou a cortina e viu o sol nascer. O
lindo sol clareou o dia e clareou sua vida. O amor pelo
próximo não deve ser condicionado a nada, nem mesmo à
reciprocidade. Perdoaria e amaria a sua irmã para sempre,
mesmo que nunca tivesse sido amada por ela. Sentiu a
alma leve e solta. Sentiu fome e vontade de sair correndo
pelas campinas com os braços abertos para abraçar a
liberdade da vida. Uma vida que, sabia, se tivesse
escolhido, não o teria feito tão bem. Esse crédito, apenas
esse, era de sua irmã. E isso a tornaria inesquecível.
Somente isso. As demais coisas, ela faria de tudo para
guardar no fundo do baú emocional que cada pessoa tem
dentro de si.
Começou a sentir outro tipo de fome. De Dean
enquanto homem. A saudade dele, que estava camuflada
por outros sentimentos negativos ao longo desses dias,
apareceu de um modo doloroso. Seu marido era o melhor
homem que conhecera na vida: o mais especial, o mais
paciente, o mais amoroso e o mais... ardente. Jesus, que
saudade de tudo que ele lhe proporcionava!
Chamou as criadas e iniciou sua higiene matinal mais
cedo do que nos outros dias. Estava fervendo.
E o fogo apagou.
Enquanto se arrumava, soube que seu marido tinha
viajado para tratar de assuntos importantes. Assuntos que
ela nem quis saber quais eram.
Sem saber o que se passava com a sua esposa e que
seu tormento tinha chegado ao fim, Dean chegou de uma
jornada de reuniões de negócios a noite e foi direto para
seus aposentos, onde vestiu um robe depois do asseio. Fazia
muitos dias que não fazia amor com Bella. Tinha tanta
saudade dela, que estava à beira de um ato desesperado.
Descobrira-se muito paciente. Foi até a janela e fitou o
horizonte, lembrando-se que foram tão poucos dias de uma
felicidade plena ao lado dela.
Seus pensamentos foram interrompidos por um leve
rumor da porta de ligação entre os quartos sendo aberta.
Ele voltou-se e viu Bella. O objeto dos seus pensamentos e
de todo tipo de desejo, do mais puro ao mais lascivo, estava
diante dele. Parecia diferente. Seu olhar estava luminoso, o
que acendeu esperança no coração dele.
Ela aproximou-se. Linda. Usando uma camisola branca,
transparente ao ponto de ele perceber que não havia outro
tipo de roupa por baixo. Teve medo de estar sonhando. Mas
mesmo assim se aproximou dela. Quando tocou o lindo
rosto, viu que era real. Bella inclinou a face para o lado
direito e fechou os olhos.
Ele não fez nenhuma pergunta. Tudo o que precisava
estava ali. O seu amor, a sua vida estava de volta.
Pegando-a nos braços, ele a levou para a cama, e
acariciou o ávido corpo dela, detendo-se enquanto sugava
os mamilos duros. Depois a beijou com beijos molhados e
sensuais, enquanto descia a mão e a penetrava, primeiro
com um dedo, depois com dois. Ela suspirou, remexendo-se
embaixo dele, ele recuou os dedos e enfiava seguidamente
dentro dela. Quando a palma encostou no pontinho
intumescido, um suspiro foi ouvido e ela ficou a um
milímetro de dar um grito. Ele sentiu suas partes íntimas
apertarem seus dedos. Continuou a empurrá-los dentro
dela, provocando e induzindo ao gozo que, sabia, estava
muito próximo.
— Que saudade do seu cheiro, do seu corpo, de ter
você — disse ele.
Abaixando a cabeça, ele lambeu e mordiscou os
mamilos dela, que, não suportando mais, agarrou-se no
lençol e se lançou num profundo abismo que a engolfou,
experimentando um prazer tão grande que não houve outra
saída senão dar um grito.
Dean afastou o robe e a penetrou depressa. Depois de
afundar na umidade quente dela, arremeteu com força e
rapidamente se despejou dentro dela, depois de um gozo
feroz, que o fez se arrepiar todo e se agarrar a ela como se
fosse um porto no qual tinha de se segurar para não cair no
mar.
Mas não havia saída: se segurasse, estava agarrado a
ela; se caísse, ela era o mar. Tudo era ela, e ela era tudo.
— Não vou mais suportar um dia sem você, meu amor
— Dean falou, emocionado.
— Nunca mais nos separaremos — disse Bella entre
lágrimas. Tinham tanto para conversar, depois de tantas
ponderações que ela havia feito. Mas agora era hora de
amar, de ser feliz e de fazer feliz.
Sem sair de dentro da esposa, ele depositou beijos no
rosto dela até secar todas as lágrimas.
— Sabe qual foi o melhor dia da minha vida? —
perguntou Dean, olhando profundamente em seus olhos e
mergulhando mais um pouco nela, que estava encharcada,
o que provocou um barulho excitante e exalou um cheiro do
ato que haviam acabado de ter.
— Desejo muito saber — Bella conseguiu perguntar,
com muito custo.
— Quando você apareceu.
E o ritual de amor recomeçou.
͠
Agora que tudo fora resolvido e juridicamente as coisas
haviam sido esclarecidas, eles decidiram fazer uma
cerimônia íntima de casamento, cujos convidados não
passaram de Ian, Cindy e os empregados. Estes últimos,
enfim, compreenderam que a antiga patroa nunca teria
condições de apresentar uma mudança de caráter tão
drástica. A bondade que eles encontraram em Bella jamais
poderia ser despertada em uma pessoa de natureza má
como Isabel.
Os meses seguintes foram tão maravilhosos que às
vezes eles esqueciam o que passaram para chegar ali.
Dean e Bella ainda não haviam decidido se contariam a
verdade para Annie. Tinham tempo para resolver isso. A
cada dia a menina crescia em beleza e sabedoria e estava
encantada ao ver que uma barriga podia esticar tanto. Bella
fazia questão de lhe dizer que ali dentro crescia um
irmãozinho e que, quando ele viesse ao mundo, seria seu
melhor amigo e um protegeria o outro. Como ela era a mais
velha, seria a primeira a proteger o irmãozinho — que Deus
os ajudasse a ser um menino —, mas quando ele crescesse,
seria o seu protetor. E assim, ela e Dean tentavam estimular
um amor verdadeiro na menina.
Bella se lembrou de que seus pais nunca incentivaram
o amor entre ela e a irmã. Pelo contrário, sempre
promoviam disputas entre as duas. Como o terreno do
coração de Isabel era fértil no sentido ruim, a maldade
germinou e se desenvolveu. No caso de Bella, ela sempre
foi afeita ao amor. Para ela, tudo era uma questão de
essência. E cada um parecia nascer com a sua. Esse era um
dos mistérios da vida. Mas ela estava longe de querer
entender coisas que lhe tirassem a felicidade encontrada.
Dean, devido aos tormentos e preocupações
promovidas por Isabel, tinha esquecido que sua chance de
continuar detendo toda a sua riqueza era o nascimento de
um herdeiro. Agora que estava experimentando a calmaria,
recomeçou a pensar sobre o assunto.
E o esperado dia chegou. Bella acordou de madrugada
sentindo dores terríveis. Ia dar à luz a qualquer momento.
As parteiras foram chamadas e, ao contrário de outros
homens que ficam andando de um lado para outro no
corredor ou saem para beber no escritório enquanto
escutam os gritos desesperados de suas esposas enquanto
parem, Dean entrou no quarto onde o parto estava sendo
conduzido e o acompanhou do início ao fim, segurando a
mão de Bella e passando uma toalhinha em sua testa
suada. Cada grito era um aviso de que a dor era terrível e
ele se contorcia junto com ela. Como gostaria de evitar
aquele sofrimento! Mas, milagrosamente, o parto não
demorou e logo a cabeça da criança irrompeu, e em seguida
o corpo pareceu dar um pinote, doido para vir ao mundo.
Uma das parteiras, que já estava esperando com um pano
limpo, pegou o bebê que chorava alto.
Esquecendo-se de ver o sexo da criança, uma vez que
estivera totalmente envolvido no parto com a esposa, ele a
abraçou e enxugou seu rosto, agora livre de dor. Sorrindo
ela lhe disse:
— Espero ter-lhe dado o seu herdeiro.
— Se não for um menino, não tem problema. Nós
sairemos dessa situação, meu amor. Eu lhe garanto.
Ela acreditava que sim.
Beijando de leve seus lábios frios, pelo esforço recém-
feito, ele se levantou.
A parteira entregou o pequeno pacote a Dean, que o
pegou trêmulo. Mas não por ter medo de se decepcionar se
não fosse um menino, mas por ter em suas mãos uma
pessoa gerada por ele e Bella. O fruto do amor. Ele segurou
o bebê com uma mão e, com a outra, descobriu a parte da
frente do minúsculo corpo, sob o olhar preocupado de Bella.
Voltando a cobrir o bebê, ele o apertou no peito e se voltou
para a esposa, com um sorriso estampado no rosto.
— Que nome daremos ao nosso herdeiro? — Dean
perguntou, com uma expressão para lá de feliz.
Ela começou a rir entre lágrimas. Dean aproximou-se,
com o filho nos braços e o depositou nos de Bella, que o
olhou com a vista embaçada e fungando. Dean abraçou os
dois e mandou trazer Annie imediatamente.
A menina entrou apressadinha, mas quando viu o
pequeno embrulho e o chorinho, deduziu que o irmãozinho
acabara de chegar ao mundo. Ela correu para os pais e foi
incluída naquele abraço de amor e proteção.
O bebê foi levado para ser limpo e vestido, e Bella
começou a ser asseada.
Dean saiu de mãos dadas com a filha, tentando lhe
explicar que ia demorar um tempinho antes de o irmãozinho
poder correr com ela pela casa.
Aprouve a eles vencer a batalha. E fizeram por
merecer.
Quando se trilha por caminhos corretos, existe uma
grande possibilidade de as coisas darem certo.
Deixando a filha aos cuidados da babá, Dean retornou
para perto da esposa, que agora estava envolta em lençóis
alvos e travesseiros macios e altos.
— E quanto ao nome do nosso filho? — voltou a
perguntar Dean.
— Nathan é um bom nome. Significa dádiva, presente.
O que você acha?
— Eu concordo — ele respondeu, extasiado.
Bella começava a dar sinais de cansaço. O esforço de
ter um bebê era muito grande, reconhecia um esposo
apaixonado, encantado com a visão de uma mulher linda e
corajosa. E não seria agora que discutiria com
ela.
— Às vezes, penso que estou sonhando, Bella.
— Desde que eu seja a fada do seu sonho, não vejo
problema nenhum nisso.
— Você é a fada do meu sonho e da minha realidade.
Você é a minha vida.
— Você é a minha — disse Bella, com a voz embargada
de felicidade.
— Não vamos brigar por causa disso. Nós somos a vida
um do outro — encerrou Dean.
Eles riram. Ela adormeceu.
Fim
Sobre a autora
E. L. Woods é formada em Letras, especialista em Gestão de
Pessoas, servidora pública federal, mãe de três filhos e mora em
Maceió com o esposo, seu maior incentivador, com quem é
casada desde 1984.
Apaixonada por leitura desde a adolescência, sempre
gostou de modificar o roteiro de filmes e livros, por isso resolveu
escrever o seu primeiro romance e não parou mais.
Obras da autora
Amor Impossível
(Primeiro livro da Trilogia Viúvos)
Romance que tem como principais personagens Andrew Clark e Melise
Evans. O ano é 1815 e Hamptonshire, cidade campestre da Inglaterra, é o
cenário fascinante onde ocorre a narrativa.
Andrew é um viúvo de 33 anos, rico e cético em relação ao amor. Já
Melise é uma linda jovem, de apenas 21 anos, que perdera os pais e o único
irmão num trágico acidente, bem como todos os bens que pertenciam à família.
A história começa narrando a dor e a solidão de Melise, saindo de suas
terras, dois meses após a morte dos seus familiares, antes que o herdeiro
daquele lugar que fora o seu lar durante toda sua vida chegasse e tornasse as
coisas mais difíceis.
Melise estava a caminho de Kinsley House, onde seria a preceptora da filha
de Andrew. Quando chegou e teve um vislumbre da beleza daquelas terras,
pensou que poderia ser feliz novamente. Mas não esperava apaixonar-se pelo
lindo patrão... Que também foi surpreendido pela beleza e simplicidade daquela
jovem.
Poderia ela esconder esse amor por aquele homem que, aos olhos de toda
uma sociedade era proibido para ela, e que não tinha a menor intenção de
casar-se novamente?
Amor Impossível é uma história leve, que retrata cenas de perda e dor,
mas, principalmente, o amor entre duas pessoas, que, apesar de possuírem
concepções diferentes de sentimentos, vencem barreiras, à medida que se
libertam dos preconceitos da sociedade da época e entendem que, às vezes, é
necessária uma mudança radical na vida para encontrar a verdadeira felicidade.
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Amor Especial
(Segundo livro da Trilogia Viúvos)
Viúvo há três anos, Josh ainda não concebia a ideia de se casar novamente,
mas sabia que teria de fazê-lo, se não quisesse deixar sua fortuna nas mãos de
parentes distantes. Apesar de ter amado a esposa infinitamente, era hora de
recomeçar. Mas os lugares por onde andou não lhe deram nenhuma convicção
de que existia uma pessoa certa para ele. Até parece que tinha vivido para amar
tão somente Caroline. Depois de uma última tentativa para encontrar alguém
que ocupasse o lugar dela, num desses bailes londrinos, o vazio apenas
aumentou. Josh percebeu que tinha de fugir dali para adquirir a paz de que
necessitava, antes de encontrar uma mulher que lhe desse um herdeiro. O
destino o leva a Derbyshire, onde conhece e se apaixona pela família Donovan.
É nessa família que sua prima Julie começa a despertar o seu coração para,
quem sabe, nascer o sublime e tão esperado segundo amor. Mas um terrível
segredo do passado pode destruir a esperança de felicidade que ele tanto
almejou e que pensava estar próximo de alcançar.
Amor Especial é o segundo livro da trilogia sobre viúvos escrita pela autora.
Esse romance descreve de uma forma sutil e emocionante a delicada transição
do primeiro para o segundo amor.
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Amor ou Vingança
(Último livro da Trilogia Viúvos)
Victoria Clark é uma linda jovem, que não sonha com um grande amor. Mas
simplesmente por entender que as melhores coisas da vida ocorrem de forma
inesperada. Por isso, quando ela conhece William Keaton, mesmo que a princípio
o encontro tenha sido totalmente desastroso, apaixona-se completamente, pois
acha que ele se enquadra no papel do mocinho do “felizes para sempre”. Mas
descobre que para encontrar o seu final feliz terá de lutar bravamente.
Enquanto as pessoas buscam conhecer e viver um grande amor, William o
despreza. E tem motivos de sobra para isso. No passado ele perdeu a mulher
que amava para o pai de Victoria Clark; e sua falecida esposa traiu a sua
confiança da forma mais vil. Assim, ele não esquecia de seus dois inimigos.
Quanto ao primeiro, William vê na ingênua moça a oportunidade para atingi-lo,
só não contava com a atração insuportável que sentia por ela. Quanto à mulher
que o traiu, a única coisa que pode fazer é desprezar o filho que ela lhe deu.
William será capaz de ir até o fim nos seus objetivos, deixando de lado tudo
o que Victoria e o seu filho têm de bom para lhe oferecer?
Amor ou Vingança é o último livro da Trilogia Viúvos e retrata a luta do
amor para vencer a barreira do ódio e da indiferença.
Quem vencerá essa batalha, pontuada por percalços, mas também repleta
de momentos marcantes, emoção e sensualidade?
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Seu Amor me Protege
Para fugir de um casamento indesejado, arranjado por seus pais, Elizabeth
foge de casa e se esconde na propriedade de Edward Harrison, homem forjado
na guerra e isolado de familiares e amigos. Ele vive num mundo em que não
cabe um relacionamento, pois suas culpas não lhe permitem que seja feliz.
Quando conhece a moça, Edward se vê totalmente envolvido por um desejo
há tanto esquecido e a vontade de proteger aquela desconhecida.
Elizabeth parece ter surgido diretamente do céu para lhe mostrar que
pouca coisa é mais poderosa do que o perdão, principalmente aquele que
damos a nós mesmos.
Um herói de guerra, ferido no corpo e na alma.
Uma moça ingênua, fugitiva da própria família.
Ela precisa de proteção, ele de se perdoar.
Será que um ao outro salvará?
O quarto livro da autora relata uma história de amor genuíno, de
segredos que aprisionam e do perdão que liberta. Tudo, claro, temperado com
uma boa dose de sensualidade, marca registrada em seus livros.
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A Aposta da Minha Vida
Há dezoito anos Luke Taylor se prepara para reaver o
que foi usurpado de sua família por meio de uma aposta
controversa. Ele sabia que para que sua vingança fosse
completa, pessoas inocentes também sofreriam. Suas
razões começam a desabar quando conhece a neta do
homem que causou toda a confusão.
Laura aguardava ansiosa o seu debute, queria
aproveitar os benefícios após sua apresentação. Inocente,
só pensava que a partir dali poderia marcar presença em
bailes, saraus e outros eventos que compunham as
temporadas londrinas. Além do mais, seus pais sempre lhe
garantiram que só se casaria por vontade própria, o que era
considerado um luxo, suas amigas não tiveram a mesma
sorte.
Quando Luke se envolve com Laura, logo percebe que
a melhor coisa a fazer é se afastar, pois ela nem imagina
que, por causa dele, sua família caiu em desgraça. Mas quis
o destino que eles ficassem juntos, mesmo que Luke tenha
que enfrentar o ódio daquela que, por um desatino do
rapaz, tornou-se sua esposa.
Com uma escrita sensual, E. L. Woods nos guia pela
incrível história de perdão, amor e recomeços de Luke e
Laura. Será ela capaz de entender todos os motivos que os
uniram?
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