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PELOS QUATRO MARES

CAPÍTULO 1

O BAILE DE MÁSCARAS

Mais uma vez os cordões de seu vestido eram puxados, apertando e comprimindo sua cintura.
Sempre que as criadas vinham lhe vestir, a princesa deseja ter nascido em Labréia , um reino
totalmente diferente do seu, moderno, com mulheres livres, ocupando cargos de autoridade,
podendo usar calças, sem essa fissura de se arrumar para homens. Outra puxada nos cordões
trouxeram a princesa para sua realidade, nasceu em Montreal, a antiquada, tradicional e agora
pobre e miserável, Montreal.
Encarando seu próprio reflexo no espelho, pensava se precisava mesmo de tudo aquilo para
impressionar um príncipe que não sentia nada por ela, nada mesmo, nem respeito. Sua mãe dizia
que a beleza podia despertar alguma fagulha de atração no coração dele, tudo isso para não dizer
que o casamento era arranjado. Há seis anos, a lei do Casamento Arranjado foi abolida do
continente de Fiore, instituindo-se como uma abolição de âmbito federal sujeita a penalidade de
prisão, açoitamento dos envolvidos e se fossem nobres, a exclusão do título. Mas lá estavam as
nobres famílias, reis e rainhas de Montreal e Galadar, unindo seus filhos em um casamento
mentiroso em prol da economia de Montreal.
Qualquer idiota perceberia o casamento por interesse, mas o atual reino no poder, o Lanárade,
parecia entretido demais com suas escolas de magia para lidar com a situação. Além do mais,
era difícil provar o amor entre um casal nobre, algo que a lei penou um pouco ao ser quebrada.
Isso não impediria os casamentos arranjados publicamente, mas implicitamente poderiam
acontecer, como agora.
As criadas terminaram de atar os cordões do espartilho da princesa com um laço bem feito.
Espiraram mais um pouco de perfume e a viraram pelo ombro para olharem o trabalho
concluído. Choveram elogios. “Está linda, princesa” “ O príncipe vai adorar” “ A senhora nunca
esteve tão linda”.
A princesa fingiu um sorriso e se voltou para o espelho. Yoohyeon nunca se sentiu tão feia.
Podia estar linda externamente, mas sentia-se um lixo naquele momento. Bateram na porta e o
mensageiro da família entrou anunciando a chegada do príncipe.
Deram os últimos toques finais ao seu vestido de manga curta, era um tom pastel, com pérolas
na gola e um espartilho de mesmo tom pastel marcando bem a cintura e as luvas brancas. Uma
das criadas estendeu uma caixinha marrom aberta à princesa, dentro dela uma máscara de cor
dourada, com detalhes sutis em ouro. Yoohyeon a pegou e amarrou no rosto, preparando-se para
descer.
Saíram pelo corredor em direção a escadaria, uma música clássica mais animada ecoava do
salão. Ao aparecer na escada, Yoohyeon ficou um pouco na ponta dos pés para dar uma olhada
no salão lá embaixo.
Eram poucas pessoas, cerca de trinta, um baile fechado só para a nobreza dos dois reinos. Todos
de máscara, á caráter, dançando, bebendo e comendo. As luzes amareladas do salão iluminavam
a decoração de cores claras, cheia de requinte. Na mesa estreita e comprida do centro do salão,
em cada ponta sentavam os reis e rainhas, na esquerda, Rei Arthur e Rainha Irene de Montreal e
do outro, Asturio e Elizabeth, de Galadar. No meio da mesa estreita, na companhia de outros
nobres, o príncipe Shim Changmin bebia em sua taça de ouro. Yoohyeon suspirou e depois
inspirou e expirou um fôlego de coragem.
A cada degrau descido pensava que não era assim que imaginava seu jantar de noivado. Não era
assim que imaginava seu casamento. Na verdade, não que imaginasse muito um cenário assim,
mas se o fizesse com certeza não era aquele.
O príncipe limpou a boca e levantou da mesa assim que viu a futura noiva no último degrau da
escada. Sorriu e foi até ela pedir-lhe a mão para beijar as costas.
— Princesa. — sorriu e sinalizou para ela o acompanhar e sentar ao seu lado. Yoohyeon apenas
sorriu e foi até lá.
Shim Changmin era bonito. Bastante bonito. Yoohyeon não podia negar isso, era alto e com um
sorriso cativante e simpático. Seus olhos eram castanhos, a sobrancelha feita e marcada, mas ele
tinha trinta e três anos enquanto Yoohyeon tinha apenas vinte e quatro. Ela se sentia um ratinho,
magra e pequena, perto de um homem alto e com aparência forte, Changmin mais lembrava um
soldado do que um príncipe, até suas mãos eram calejadas. Toda Fiore achava normal casar com
enormes diferenças de idade, mas a princesa estava assustada. Nunca namorou na vida. Deu um
beijo escondido em um garoto na escola e nunca mais. E agora estava ali, com um garfo na mão,
remexendo aquele risoto de camarão para um lado e para o outro, imaginando como seria a vida
de casado. Seus pais pareciam dois estranhos, será que era assim? Mas então quando e como foi
que eles a fizeram? É assim que funciona?! Yoohyeon soltou o garfo com certa brutalidade,
ecoando o som do talher e chamando a atenção de todos para si.
— Desculpe. — riu para disfarçar — Escapou.
Todos riram e voltaram às suas conversas, menos Changmin, que olhava de canto para a noiva
percebendo-a muito quieta.
O rei pediu que iniciassem o baile, já comeram bastante e beberam, precisavam dançar.
Changmin rapidamente virou-se para a princesa, convidando-a. Yoohyeon não deveria negar,
segurou sua mão e se levantou caminhando até o centro do salão. Deixou sua mão no ombro
dele e sentiu a mão esquerda dele encostar apenas o braço em suas costas enquanto a outra
segurava a sua mão enluvada. Changmin dançava bem e era cheiroso, pelo menos isso.
Dançaram uma música lenta e outra animada, trocando poucas palavras sobre a decoração, a
comida, as flores, Yoohyeon gostava de rosas brancas e Changmin das margaridas.
A porta do salão foi aberta, alguém chegou atrasado. Curiosa, a princesa se virou para olhar.
Dois homens de terno, um deles provavelmente o criado já que segurou o chapéu do outro. Ele
era médio, nem tão alto, nem tão baixo, usava um treno bom, caro de cor preta com um casaco
marrom e colete por baixo, em seu bolso um relógio de cordão. Sua máscara era diferente das
outras, mais um estilo de festas de outubro do que um baile real, era preta e possuía um bico
comprido. Cumprimentou algumas pessoas e damas até chegar no Rei. Yoohyeon desviou a
atenção, voltando a dançar com Changmin.
— Deixe-me apresentar, Rei Arthur, — começou o criado do recém chegado — este é Rogue
Frederick, um nobre de Lanárade. — o tal Rogue se curvou juntamente ao criado.
— Este é meu criado e acompanhante, Isaque.
— Não me lembro de nenhuma família Frederick. — o rei franziu as sobrancelhas, mas logo
sorriu — Mas são tantos nobres em Lanárade que eu não poderia conhecer a todos. — riu sem
graça. — Divirta-se Sr. Frederick.
O criado, este com uma máscara comum e uma longa capa com capuz por cima do terno, se
afastou para a mesa de comida e Sr. Frederick caminhou para o salão com as mãos para trás,
sorrindo para as damas e indo à mesa de bebidas.
Em seu ouvido, na escuta, uma voz feminina bem jovial, em tom infantil, sussurrou.
— Me traz algum doce.
— Quieta. — respondeu fingindo cobrir uma tosse no rosto.
— Só um!!!
Ignorou o pedido e deu um gole no vinho seco. Seus olhos percorreram o salão e acharam a
princesa nos braços do futuro noivo. Um sorriso largo estendeu-se naquele rosto delicado.
Frederick caminhou até eles e se curvou em cumprimento.
— Seria muito audácia da minha parte pedir uma dança a Srta. Yoohyeon? — dirigiu-se a
princesa. Yoohyeon espantou-se, mas abriu um sorriso. Changmin deu de ombros e olhou para
ela.
— Yoohyeon?
— Tudo bem. Uma dança vai ser legal. — disse gentilmente. Changmin passou a mão da garota
a Rogue e deu uns passos para trás e se virou indo a mesa de bebidas. — Conheço o senhor? —
Yoohyeon perguntou assim que ele a abraçou também sem encostar as mãos nela, apenas o
braço.
— Sou de Lanárade, acredito que foram tantos convites que não deve saber meu nome. — ele
sorriu. Yoohyeon sentiu o corpo arrepiar de repente, sua voz era extremamente delicada, era até
estranho. Seu rosto também era pequeno. Ele era bem mais baixo que Changmin, igualmente
cheiroso e bem vestido, seus ombros não eram nada fortes como o dele, mas pouco definidos,
ela conseguia sentir alguns músculos ali. — Sou Rogue Frederick.
— Não conheço mesmo... — disse baixinho como uma desculpa e continuou a dançar.
— E então, a senhorita irá se casar? Como se sente?
Yoohyeon foi pega de surpresa novamente. Olhou pelo salão e depois para o Sr. Frederick de
novo.
— Bem. Apreensiva. Nervosa, mas bem.
— Deve estar. A vida de casado é um pouco assustadora, comandar um reino mais ainda. — seu
tom de voz era compreensivo, quase que amigável. Yoohyeon apenas assentiu. Depois de um
tempo, perguntou curiosa.
— Você é casado?
— Ah não. — Rogue riu — A vida de casado não é para mim.
— Não? — Yoohyeon questionou inocentemente — Como sabe? Eu gostaria de saber se é para
mim também.
— Você é uma princesa em um reino tradicional, a vida de casado é imposta a você. Eu
prefiro... aproveitar as minhas noites com muitas damas diferentes, não ter muitas
responsabilidades familiares. — Rogue sorriu de um jeito muito sacana e a princesa ficou
extremamente vermelha.
— Isso é desrespeitoso...
— A você? Desculpe, princesa.
— Não, não, digo... Não é certo. — ela desviou o olhar do dele.
— Não é certo no seu reino e na sua religião, no meu é normal. — Rogue a trouxe um pouco
mais para perto.
Yoohyeon queria sair correndo daquela pista de dança. Alguma coisa em seu interior começava
a esquentar, era uma sensação muito estranha. Talvez estivesse caindo sua pressão ou subindo
demais. Sua mente era tomada por aquele cheiro bom que vinha do recém chegado, era muito
gostoso mas perigosamente viciante. Yoohyeon mal notou quando seu queixo encostou no
ombro dele. Estava se sentindo... atraída. Enfeitiçada?
— Sente-se bem senhorita? — sua voz soou extremamente perto de seu ouvido causando-lhe
arrepios na nuca.
— Sim... Claro que sim. — ela se desencostou e passou a mão direita que estava até então no
ombro do rapaz no rosto. Quente como se estivesse com febre. — Rogue é um nome bem
incomum, eu nunca o ouvi. — disse para disfarçar o assunto.
Do outro lado do salão, o criado de Frederick, Isaque caminhava segurando sua capa longa para
que ninguém pisava no tecido, enquanto fazia isso, agilmente jogava passava um fio de nylon
pelas pernas dos soldados parados, indo calmamente até Changmin fazer o mesmo. Bebia um
copo de conhaque quando seus olhos encontraram os do Sr. Frederick e uma piscadela lhe foi
lançada. Isaque soltou a capa e com a mão esquerda que segurava a capa, apertou o tecido entre
os dedos indicador e o dedo médio, sentindo o tecido esquentar.
— Nunca ouviu? — perguntou a princesa com um tom zombeteiro — Talvez seja incomum
mesmo... Sabe o que significa?
A escuta no ouvido de Isaque compreendeu o sinal. O criado baixou a taça em uma bandeja
vazia e esperou. Yoohyeon apenas ouviu um clique na sua mão, ao olhar viu uma algema presa
em seu pulso esquerdo.
— Significa trapaceiro.
Isaque soltou a capa com força. O vento proferido apagou as luzes do salão. Tudo ficou em um
breu denso. Os convidados soltaram sons de espanto e questionamento. Rogue puxou Yoohyeon
virando-a de costas para ele e segurou seu corpo com um braço enquanto o outro descia no
bolso da calça e tirava uma adaga, encostando a lâmina no pescoço da princesa.
O criado subiu na mesa chutando as comidas dos ricos e soprou na mão direita. Algumas
chamas saíram de seus dedos e foram acender as velas do local. Shim Changmin tirou a espada
da bainha assim que virou Yoohyeon nos braços daquele patife fingido.
— Não tentem nada. — disse Rogue mais alto. Sua voz subiu uma oitava nesse processo e ficou
ainda mais fina do que antes. — Não queremos que esta festa vire um enterro, não é mesmo?
Fez-se um silêncio mortal. Reis e Rainhas permaneciam aflitos, convidados mantinham-se nos
cantos da parede, alguns evitando olhar, e Changmin não tirava os olhos da princesa, quase
rosnando de raiva.
— Abram as portas do castelo. — disse Rogue dando alguns passos para trás trazendo a
princesa junto.
— O que quer com ela?! — gritou o príncipe.
— Com ela nada. Quero o dinheiro de vocês. — riu de um jeito ácido — Vinte barras de
talentos de ouro e devolvo a princesa antes do por do sol de amanhã.
— Nós temos esse dinheiro! — alegou o rei Arthur, pai da princesa.
— Vocês realmente não têm, mas Galadar... — Rogue apontou a adaga para Changmin —
Galadar tem dinheiro. Pense bem príncipe. Você tem até o pôr do sol.
As portas se abriram com um vento forte. Por ela entraram três mulheres, todas de máscaras à
caráter para o baile. Uma delas usava um chapéu largo na cabeça de cor preta, terno e um colete
verde militar por cima, sua máscara era simples de cor preta. Ao lado dela, uma de vestido
perolado curto, justo, usando meias e cinta liga, botas de salto e uma capa longa como o criado
Isaque, na sua mão direita um revólver. A última, tinha o cabelo curto azul, roupas de couro,
corpete por cima de uma camisa bufante e duas adagas longas e finas nas mãos.
Isaque enrolou o restante do nylon na mão direita e saiu correndo pela mesa puxando as linhas
que amarrou nos pés dos soldados, derrubando todos junto com Changmin, suas costas bateram
com força contra o chão, caindo desajeitados.
Assim que desceu da mesa em um pulo, tirou do bolso um saco de tecido e atirou no chão. Uma
explosão de fumaça preta cegou a todos, deixando tudo no breu de novo, apagando as velas e
derrubando os castiçais.
Rogue tirou a faca do pescoço de Yoohyeon e pegou a princesa no colo jogando-a sob os
ombros. Yoohyeon gritava e batia nas costas dele, tentando escapar.
Os cavaleiros lá fora armados, não tinham ordens para atirar, afinal podiam atingir a princesa.
Alguns armados com espadas tentaram vir para cima dos delinquentes. A dona do chapéu foi a
única que parou de correr, tirou do colete militar duas granadas e puxou os pinos com os dentes.
Os cavaleiros tiveram um tempo precioso de desacelerar antes que ela jogasse as granadas nos
pés deles. Que para a surpresa de todos explodiram em confetes vermelhos.
Saindo pelo portão do castelo, subiram nos cavalos, Yoohyeon ainda se debatia muito, mas nada
que soltasse sua algema. Partiram dali com os cavalos até a praia, onde uma garota com duas
chiquinhas rosas na cabeça e um enorme sorriso puxava a âncora como se não pesasse nada para
ela. Desceram dos cavalos e correram até a água, a garota do cabelo curto foi primeiro subindo
nas cordas agilmente, passando as pernas para dentro do navio, enquanto a garota das
chiquinhas jogava outras cordas. Rogue pegou a ponta de uma delas e começou a passar na
cintura de Yoohyeon dando um nó.
— Você vai se arrepender disso! — gritou a princesa e logo seu corpo começou a ser içado.
— Tchau, princesa! — acenava Rogue de lá debaixo. O homem andou até a corrente da âncora
e passou a perna nelas tirando do bolso uma balestra.
Na praia, Changmin e outros soldados começavam a tentar atirar, mas nenhum dos tiros
acertavam o tal Rogue, estava longe demais e ele era pequeno para a âncora. Changmin era o
mais próximo e o único que continuou correndo até estar com a água até os joelhos enquanto a
âncora ainda subia o navio enorme se afastava.
— Dez talentos de ouro Shin Changmin! — gritou Rogue e riu tombando a cabeça para trás.
— Sirens malditas... — Changmin vociferou da praia e chutou a água. — Sirens, malditas!!
A âncora foi totalmente guardada, Rogue saiu da corrente pulando na borda do navio. As seis
pessoas ali ainda permaneciam mascaradas. Yoohyeon estava agora no chão, molhada,
amarrada e algemada. Já ouvira falar daquele grupo de piratas tantas vezes, diziam ser o mais
temido de Fiore, outros diziam que era um dos, mas não importava agora, era uma tragédia. Um
a um as máscaras foram sendo desamarradas.
— Onde estão os modos... Devo apresentar vocês! — Rogue pulou no convés. — Ou não. Já
que vai voltar amanhã, não deve saber nossos nomes, apenas pode saber o que todos sabem, nós
somos as Sirens. — ele sorriu. Andou até a princesa abaixando na sua frente — Espero que se
divirta nesse um dia de viagem, princesa. Este é nosso navio, — ele apontou os braços para o
navio — onde eu sou capitã das Sirens.
As sobrancelhas de Yoohyeon relaxaram e ela abriu a boca levemente, espantada.
— Ca-capitã?
A mão direita do rapaz puxou o cordão em seu cabelo que prendia o coque, soltando os fios
negros longos até a lombar e retirou a máscara com o bico longo do rosto, revelando uma
mulher de traços delicados, ao mesmo intensos e absurdamente lindos, simétricos e
encantadores. Seu sorriso se abriu revelando os caninos pontiagudos.
— Bem-vinda ao Trevo Azul, Yoohyeon de Montreal, pode me chamar de capitã.
A mulher se levantou. Todas as outras a seguiram para dentro do navio, no convés, inclusive o
criado de capuz que agora Yoohyeon tinha plena certeza que também era uma mulher, uma
siren.
— Meu pai vai matar todas vocês esperem só. — gritou a princesa com a voz chorosa.
— Ah, me poupe princesa. Já estamos mortas. — a capitã gritou da escada, deixando suas
meninas passarem na frente. A princesa se assustou um pouco com a revelação. — Seu papai
pode tentar se quiser, nós acharemos divertido de qualquer forma.
— E-ele vai conseguir o dinheiro. — Yoohyeon disse a si mesma querendo chorar. — Ele vai
sim...
Do convés, a princesa conseguia ver a praia de Montreal cada vez mais longe, cada mais, mais
dentro do Mar Profundo. Não queria a vida de casamento forçada, mas não era assim que se
imaginava, cercada de piratas perigosas e no meio do mar. Na verdade, Yoohyeon não
imaginava muito de nada dessas coisas, nunca teve uma perspectiva de vida, mas um sequestro
por mulheres bonitas e de personalidade duvidosa não era algo comum de se pensar. A princesa
encostou no mastro e respirou fundo, tentando se acalmar.
Na praia de Montreal, Irene chorava abraçada a Arthur, orava aos céus para que não
machucassem sua filha. Na água, Changmin cutucava a areia, seu pai se aproximou e pousou a
mão em seu ombro apertando.
— Que péssima hora para um sequestro... — suspirou pesadamente — Uma pena, nós não
termos esse dinheiro. Uma pena o rei e a rainha estarem tão abalados... não acha filho?
— Abalados o suficiente para baixar as defesas, meu pai. — Changmin riu. — Dez talentos de
ouro... Elas podem ficar com aquela princesa sem sal e nem açúcar, nós vamos tomar Montreal
após do por do sol.
— É dessa convicção que eu gosto. — Asturio sorriu — mas agora, tente chorar, tente
demonstrar compaixão e saudade pela sua amada, vamos ao menos fingir que estamos
conseguindo o dinheiro. Nunca achei que fosse agradecer às Sirens, talvez o universo esteja do
nosso lado.
— Ele está, pai. Ele está. Prometo ao senhor, até o fim deste mês... Montreal será nossa.
CAPÍTULO 2
Na parte debaixo do navio, aos fundos, junto ao carvão e suprimentos, a princesa Yoohyeon
sofria sua primeira noite de insônia. Tentando dormir em cima de sacos de batatas, ao ritmo do
sacolejar das ondas no navio, o mar estava calmo, mas não calmo para uma princesa
acostumada com o conforto de uma cama e travesseiros espalhados. A princesa não pegou no
sono por mais de meia hora. Quando não era o balançar, era o som de ratos correndo pela
madeira e baratas.
A porta da escada foi aberta, uma das garotas de ontem, a com longos cabelos rosados de
chiquinhas desceu sorridente carregando uma bandeja de prata e deixou no chão ao lado de
Yoohyeon. A princesa encarou o conteúdo com indiferença e até desprezo. Pão, biscoitos
salgados e um pedaço de queijo.
— Não estou com fome. — disse se encostando na parede e cruzando os braços.
Gahyeon era a pequena de madeixas rosas, sentou-se a frente da princesa e empurrou um pouco
a bandeja para ela. Na sua altura, Yoohyeon pode perceber que diferente das outras, Gahyeon
era bem mais nova, não deveria ter mais que quinze anos.
— É melhor você comer. Não vamos voltar tão cedo a terra firme.
— Não estou com fome. E acha que isso mata a fome de alguém? — riu balançando a cabeça.
— Mata, a nossa. — Gahyeon suspirou e se levantou — Você está acostumada com um
banquete, logo vai querer um pedacinho de queijo.
— Não irei. Até amanhã, estarei salva. — a princesa abriu um sorriso.
Para a surpresa da nobre, Gahyeon gargalhou se contorcendo para frente e se abanou depois.
— Você é ingênua. — e se virou, saindo pela porta da escada. Deixando a princesa desfazendo
o sorriso confusa.
No convés, Siyeon afiava as adagas na roda, organizando suas facas, adagas e punhais na mesa
de madeira coberta com pano vermelho, apreciando e cuidando da sua coleção. Bora esfregava
o chão junto a Dami, em silêncio e Handong manejava o mastro.
— Ela não vai comer.
Um coro de murmúrios e repreensões passeou pelo convés. Nada além disso. Deixe que morra
de fome então, era o que pensavam se comunicando em conjunto. O dia estava lindo. O sol a
pino. Sem nuvens. Dia quente refletindo a temperatura nas águas cristalinas. Ótimo para um
mergulho.
Enquanto isso, em terra firme, a rainha de Montreal se mantinha inconsolável pela perda da
filha. O Rei permanece na sala do trono, sentado escutando os planos que o Príncipe Changmin
e seu pai tentando orquestrar junto a guarda real para salvar sua filha.
O ambiente está pesado, o Rei permanecia em silêncio, poderia muito apenas pagar a quantia,
não eram nada vinte talentos ao reino de Galadar. Algo não estava certo, Changmin relutava
muito na questão financeira, que homem não renunciaria a vinte talentos pela futura esposa. Ele
terá um reino inteiro depois...
Levantando-se devagar pela perna ferida, o rei caminha até a mesa onde os planos de
salvamento são repassados, observando as miniaturas que representavam seus barcos, seus
homens. Era arriscado. Montreal não tinha nenhuma experiência em lutas marítimas.
— São apenas sereias senhor. Não pode ser difícil. — Changmin pousou a mão pesada no
ombro do rei. — Deixe que cuidemos disso.
Aquelas palavras feriram um pouco o ego daquele rei, Arthur encarou o príncipe e ajeitou o
manto real nos ombros.
— Por que fala como se a última palavra fosse sua aqui, príncipe?
O tom de voz do rei fez os guardas se afastarem, deixando a conversa para eles. O pai de
Changmin, não gostou do tom e do mesmo modo que os guardas se afastaram, ele trouxe os dele
para cuidar dos flancos do filho, o que deveria intimidar o velho Rei Arthur.
— E não é? — Changmin riu — Estou planejando tudo, colocando meus homens em alto mar...
— Nossos homens. Montreal e Galadar estão indo juntos nesse navio.
— Nossos, senhor. Ainda assim, o senhor não está em condições de opinar, está falando como
pai e não como líder. — Rindo, o príncipe ofereceu uma taça de água ao rei, para acalmá-lo, os
dedos leves abrindo o conteúdo em seu anel e despejando ali. — Beba. Acalme-se, entendo sua
aflição, mas precisamos ser racionais.
O Rei pegou a taça a conta gosto e virou o conteúdo inteiro na garganta.
— Estou em plena condições. E digo que essa luta, essa missão é desnecessária, pague apenas a
quantia as Sirens e traga minha filha de volta! — bateu a taça na mesa.
— Sua filha e minha esposa, futura rainha. — Changmin sorriu colocando as mãos para trás. O
rei gargalhou alto e limpou a barba úmida, coçando sua garganta. Aproximou de Changmin
deixando seus rostos bem próximos um do outro.
— Eu ainda sou Rei. — sussurrou abrindo um sorriso que não durou muito, uma tosse seca o
acometeu, tossindo sangue na roupa branca do príncipe, este sim, abriu um sorriso largo
pousando as mãos no ombro do Rei.
— Não mais. — e o empurrou levemente deixando o corpo tombar no chão duro e paralisado.
Os soldados próximos correram para acudir o rei. A respiração travada, paralisado, olhos e boca
roxo enquanto espuma branca sai de sua boca, espumando enquanto o rei convulsionava. Eram
apenas três soldados de Montreal como testemunhas. Três que não demoraram a ter as cabeças
cortadas pelos soldados de Galadar que vieram por trás.
O sangue espirrou na sala, manchando o piso laminado refletindo o teto de ouro.
— Avisa a rainha. O Rei... infartou de tanta preocupação. — Changmin repassou ao seu serviçal
enquanto sorria para um pai orgulhoso do príncipe. — E que ela deve ficar nos seus aposentos...
Por tempo indeterminado.
Está é Siyeon, — ele apontou a garota das facas finas que sorria. Seu cabelo e seus olhos eram
azuis e ela era incrivelmente linda, seus olhos eram um tanto, felinos. — Kim Bora,arcanista
mais velha — a moça das granadas tirou a máscara, seu cabelo era comprido e preto e sua
expressão facial dura e fria. — Gahyeon, arcanista mais jovem. — apontou a garota de
chiquinhas rosas sentada na parte alta do convés balançando as pernas animada — Handong, a
pistoleira — era a do vestido curto e botas, ela parecia uma boneca de porcelana — Isaque, ou
quer dizer, — Rogue puxou o capuz que cobria o rosto do criado — Dami, arcanista mais nova,
e eu! — ele riu e se abaixou na frente de Yoohyeon assustada, tirou a máscara do corvo de seu
rosto revelando um rosto feminino, sorridente e com caninos extremamente aparentes. Seus
olhos tinham heterocromia, um castanho e outro verde. A mulher soltou o coque que amarrava
seu cabelo soltando os fios loiros longo. —

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