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A Duquesa e a Viúva

Bell Rodrigues
Capítulo Um

Quando os pássaros cantaram aquela manhã Ella saltou da cama


animada, as empregadas ficaram surpresas ao verem a jovem
acordada, sempre era um grande sacrifício tirá-la da cama pela
manhã, todos acreditavam que ela estava animada devido a
apresentação das debutantes a rainha, mas na verdade Ella estava
animada para ver sua amada irmã, as duas não se viam há cerca de
um ano e ela estava muito saudosa.
- Alguma notícia da minha irmã? – Perguntou animada.
- Ainda não temos notícia da Duquesa, Milady. – Tiffany, uma das
empregadas respondeu.
- Era para ela ter chegado ontem, será que está se divertindo
pela cidade?
- Eu acredito que se ela estivesse na cidade todos saberiam
devido a sua aparência peculiar. – Tiffany novamente respondeu,
mas foi repreendida por Edith, que sabia que não deviam comentar
nada sobre a Duquesa de Edimburgo, até porque todos conheciam o
quanto a Rainha gostava da sua sobrinha mais velha.
Do outro lado da cidade uma carruagem estava parada
exatamente na frente de uma das casas que ficava fechada a maior
parte do tempo, por tanto ninguém percebeu quando tarde da noite
uma carruagem chegou e de lá desembarcou a Duquesa de
Edimburgo. Graças a viagem acordou tarde, o que era algo que ela
não aceitava, já que todas as horas de seus dias eram severamente
contadas.
- Vou ao palácio, não devo voltar para as refeições. – Passou
apressada e avisou a Gertrude, governanta da casa. Entrou na
carruagem que lhe esperava. – Para o palácio. – Avisou ao cocheiro
e deu duas batidas com sua bengala no teto da carruagem avisando
que ele podia partir.
As ruas estavam cheias, muitas damas e cavalheiros transitavam
pelas calçadas, era uma das coisas que ela não gostava nas
grandes cidades, haviam pessoas demais e isso para ela era um
grande incômodo. Em algum momento a carruagem balançou
fortemente e Ellen precisou segurar-se firme para não cair no chão,
seu coração estava batendo muito rápido, ela não tinha boas
experiências com carruagens.
- Duquesa, você está bem? – O cocheiro abriu a porta, o homem
estava branco e suando frio, além da carruagem ter quase virado
devido a um buraco na rua ele poderia ter morrido ou machucado
muitas pessoas.
- Eu estou bem, o que houve? – Ellen, mesmo com o corpo
tremendo, levantou-se para sair da carruagem.
- Havia um buraco na rua e devido a chuva, estava coberto por
água e eu não percebi, eu sinto muito, Duquesa. – No rosto do
homem estava estampado o quanto ele estava assustado.
- Está tudo bem, você se machucou? – Ellen ajeitou a peruca do
homem que estava torta. As pessoas que viram o pequeno acidente
começaram a querer se aproximar e tudo que Ellen não queria era
chamar a atenção.
- Não, senhora. Eu vou cuidar da roda, mas pode demorar, eu
vou atrás de um coche para a senhora.
- Não precisa se preocupar, resolva o problema da roda primeiro
e eu vou atrás de uma carruagem alugada. – Ela deu um pequeno
pulo da carruagem, mas não havia reparado na poça de lama que
estava bem abaixo dela, então assim que pousou no chão seus
sapatos ficaram sujos, mas o que ela não esperava era que a lama
acabasse sujando o vestido de uma dama que estava passando
acompanhada de sua irmã no mesmo momento. – Excelente. –
Reclamou ao olhar para os seus sapatos.
- Acredito que não tanto. – Uma voz feminina atraiu sua atenção,
então quando olhou para cima a primeira coisa que notou foi a bela
mulher que estava ali e por um breve momento ficou admirada.
Olhos castanhos, boca carnuda, cabelos castanhos escuros e com
as pontas enroladas, eles estavam devidamente presos, deixando
apenas uma pequena parte solta e o tom de pele um pouco mais
bronzeado, como os espanhóis e portugueses. Logo seus olhos
foram descendo e notou que havia sujado o vestido da mulher.
- Eu sinto muito. – Foi tudo que a Duquesa disse. Ellen sacudiu
suas calças que também tinham lama, o que acabou respingando
mais na mulher, que tentava proteger sua irmã daquele homem mal-
educado.
- Não parece sentir muito, pois continua fazendo e ainda assim
nem perguntou se estamos bem.
- Eu já pedi desculpas, você quem continua parada neste lugar e
se continua falando é porque a lama não causou tantos estragos.
- Causou estragos o suficiente no meu vestido para me tornar a
atração do dia.
- Se o problema é o vestido, há uma modista do outro lado da
rua, vamos até lá. – Ellen sabia que aquela região era frequentada
pela alta sociedade, então provavelmente a modista era responsável
pelos vestidos das ladys.
- Pois bem. Vá na frente, como não tem modos pode tentar sair
correndo e não cumprir com suas obrigações.
- Eu não acredito nisso, acha mesmo que eu sou esse tipo de
pessoa?
- Eu não sei quem é você para saber que tipo de pessoa você é.
– Cruzou os braços.
- Inaceitável. – Ellen resmungou, deu uma breve risada sem
nenhum humor e saiu a passos largos atravessando a rua. A
Duquesa estava irritada com uma série de acontecimentos ruins e
ainda precisava aturar aquela mulher arrogante e mimada. Era
apenas um vestido e não uma facada. A mulher pegou a mão da
irmã e praticamente a puxou para atravessarem a rua a passos
largos para seguir o tão mal-educado homem. – Estamos aqui,
quantos vestidos vai querer? Dois? Três? – A prepotência na voz foi
algo que ela não queria controlar, ela é rica e podia gastar como bem
entendia.
- Dez vestidos.
- Dez vestidos? Você tem ocasião para usar tantas roupas?
- Talvez eu não tenha, mas se um homem prepotente como você
está dizendo que pode comprar três, então por que não dez? Está
acima do limite da mesada do seu papai?
- Sofia... – A irmã tentou alertá-la.
- Um homem? – Ellen riu em deboche, mas não se importava
quando a confundiam, mas naquela situação estava irritada demais
com aquela mulher aproveitadora. Ela então tirou o chapéu e o
soltou o cabelo, que caiu como cascata, era grande e muito bem
cuidado, na luz do sol que entrava pela janela ele parecia
avermelhado, mas a verdadeira cor era castanho. A pele da mulher
era branca, com algumas pintinhas marrons no nariz e na maçã do
rosto, os lábios eram rosados e chamativos, os olhos eram verdes
claros como campinas. – Finalmente calou-se. – Ellen pendurou sua
cartola e sua bengala no lugar apropriado. – Apenas escolha o que
quer, seja dez, vinte ou trinta, mesmo eu sabendo que não terá
ocasiões para usar esses vestidos tão caros.
- Como pode presumir que eu não tenho se nem sabe quem eu
sou.
- Então me diga, quem é você?
- Por que eu deveria dizer quem eu sou para alguém como você?
– Sofia sorriu com deboche enquanto seu olhar parecia desafiar
Ellen. – Por que não me diz quem você é? Mesmo que não faça
nenhuma diferença na minha vida.
- Você é muito petulante. Modista! – Virou-se para a mulher que
estava assistindo as duas e estava se divertindo muito. – Dê o que
ela quiser e manda a conta para a mansão Barker. Está feliz? Agora
poderá desfilar com belos vestidos às minhas custas, mas nunca
mais cruze meu caminho de novo. – Ellen pegou sua cartola e sua
bengala, prendeu o cabelo e colocou a cartola.
- Muito obrigada pelos vestidos, milady, vou fazer muito bom
proveito desfilando por aí. – O tom de deboche de Sofia deixava
Ellen tão irritada que era possível ver seu rosto vermelho e a veia
pulsante na sua testa. – E se depender de mim eu nunca mais quero
ver sua cara sardenta e presunçosa de novo, volte para o bueiro de
onde saiu.
- Petulante! – Esbravejou antes de sair do local e bater à porta.
A Duquesa seguiu a passos largos pela rua a encontro de uma
carruagem para que pudesse alugar, todo aquele acontecimento a
deixou ainda mais atrasada do que já estava, quando finalmente
encontrou uma carruagem disponível pediu para que o cocheiro
corresse, mas chegou depois do brunch.
- Oh! Minha querida afilhada, o que houve com você? – A Rainha
Anne segurou o rosto da afilhada, que estava um pouco sujo e suas
roupas não estavam muito atrás.
- Eu tive muitos infortúnios até chegar aqui, a roda da minha
carruagem quebrou, tive que caminhar por um longo tempo até
encontrar uma carruagem de aluguel, mas o pior de tudo foi a jovem
petulante que eu encontrei, aquela mulher me irritou imensamente.
- Uma jovem petulante? Ela te tratou mal por conta das suas
vestes?
- Não madrinha. – Era assim que Ellen chamava a Rainha
quando as duas estavam sozinhas – Por incrível que pareça o
problema não foram as minhas vestes e sim as dela.
- Você não agiu de maneira imprópria com ela, agiu? – A Rainha
perguntou assustada.
- Eu apenas a sujei com algumas gotas de lama e a mulher me
obrigou a comprar dez vestidos, sem contar na tamanha petulância
dela. Ela me chamou de sardenta e mal-educada, você acredita? – A
Rainha conseguiu contar o riso. Ellen era uma mulher temperamental
e mesmo sendo sua amada afilhada ela sabia dos defeitos da
afilhada e não ser nada gentil e amigável com as pessoas eram
alguns deles, era como uma autodefesa por ser diferente, lutar para
se vestir daquela forma e por simplesmente tomar conta das finanças
de sua família.
- Qual o nome dessa jovem?
- Eu não sei, mas ela era muito atraente... quero dizer diferente. –
Deu um breve pigarro para esconder o que havia dito. –
Provavelmente não faz parte da alta sociedade ela é muito mal-
educada e petulante.
- Minha querida, se essas características forem sinônimos de ser
ou não ser, você também não estaria listada.
- Você está do meu lado ou do dela?
- Do seu, minha querida. – Ellen deitou a cabeça no colo da tia e
ficou reclamando mais um pouco enquanto recebia atenção e
carinho.
Na tarde daquele mesmo dia o evento mais esperado pelas
debutantes estava tendo início, no salão do palácio, todas elas
estavam reunidas com suas famílias. Sofia estava com sua família
acompanhando sua irmã mais nova que iria debutar e seu irmão do
meio, Phillip, que parecia animado esse ano, ela não quis perguntar
ao irmão se ele estava interessado em alguma das jovens, porque
ele era um tanto fechado sobre seus sentimentos, então tinha que ir
com cautela até que pudesse chegar ao assunto.
- Estou nervosa. – Rafaela anunciou, ela seria a próxima a entrar.
- É normal. – Sofia falou com a irmã. – Apenas mostre o quanto
você é excepcional e tudo ficará bem. – Fez um breve carinho no
rosto da irmã, tentando tranquilizá-la.
- Sofia fique a direita da Rafaela, gostaria que entrasse conosco
hoje. – Susie, esposa e então senhora da casa Ybarra, falou.
- Tudo bem, mãe. – Sofia suspirou.
- Você está bem com isso? – A mulher perguntou.
- Sim, estou me preparando há um ano para voltar aos bailes.
- Se você não quiser, não precisa ser agora.
Susie se casou com pouco depois de um ano da morte da esposa
de Rafael, ele já tinha uma filha de três anos, no início foi muito
desafiador para ela cuidar de uma criança, mas quando aquela
menininha linda lhe chamou de mãe pela primeira vez seu coração
se aqueceu de uma forma única e chorou agarrada com a menina,
Sofia era sua filha tanto quantos os outros e não permitia que
ninguém dissesse o contrário nem mesmo seu marido.
- Miladys, preparem-se. – Um dos guardas, que estava parado na
porta, avisou.
- Meninas, postura. - Susie falou.
Rapidamente as três tomaram postura e quando a porta foi aberta
o salão estava cheio e havia uma fila de pessoas criando uma
espécie de corredor, no fim dele a Rainha, atrás seus serviçais, ao
seu lado direito seu filho mais novo, o príncipe Edgar e ao seu lado
esquerdo estava uma outra pessoa desconhecida até então, mas
quando os olhos de Sofia fixaram em quem estava lá, ela trincou o
maxilar por breves dois segundos, já que o sorriso prepotente nos
lábios da mulher e a leve balançada de sobrancelhas que ela deu
fizeram Sofia ferver por dentro numa vontade terrível de chamá-la de
presunçosa.
Capítulo Dois

A mais nova da família Ybarra seguiu na frente e atrás dela a


irmã mais velha e a mãe, a beleza era algo de família e todos os
homens presentes admiravam isso, depois de dois anos a mais velha
continuava linda, ela daria muito trabalho as novas debutantes,
mesmo não estando debutando, muitos homens queriam sua
atenção.
- Vossa Majestade. – Rafaela fez reverência para a Rainha. –
Vossa Alteza. – Fez uma reverência ao Príncipe. Virou-se para a
mulher ao lado, a qual encontrou pela manhã.
- Esta é minha sobrinha, a Duquesa Ellen de Edimburgo.
- Vossa Alteza. – Fez uma reverência para a mulher.
Houve uma breve conversa entre a debutante, sua mãe e a
rainha, era nítido que Rafaela era uma das preferidas da Rainha, já
que a mulher não trocava palavras com as que não tinha simpatia ou
não tinha interesse.
- Senhorita Smith é bom vê-la novamente. – A Rainha falou.
- Interessante. – Ellen murmurou bem baixinho, mas a Rainha
ouviu. Aquilo deixou Ellen um tanto curiosa, a mulher então era
casada, mas como estava entrando com a irmã talvez fosse viúva,
mas tão jovem?
- Obrigada Vossa Majestade. Sou muito grata pelo convite. – Fez
uma breve reverência à Rainha.
- Vossa Altezas. – Fez reverência ao Príncipe e a Duquesa.
Por último a jovem que entrou foi Ella, que estava com um grande
sorriso no rosto, realmente estava feliz por estar ali, aquilo deixou
Ellen feliz, mas ainda preocupada. Os olhos da Duquesa varreram
todas as pessoas presentes e selecionou os pretendentes. Ela
chegou dois dias antes para avaliar cada um dos homens que
julgava bons o suficiente para sua irmã. Na outra parte do salão, ao
lado das irmãs, Phillip Ybarra olhava fixamente para a jovem, o que
não passou despercebido por Sofia.
- Você deveria piscar. – Sofia falou.
- Fui ensinado que não devo tirar os olhos do prêmio. – Phillip
respondeu sem pensar muito.
- Uma mulher não é um objeto, Phillip e você terá concorrência.
O que Phillip não esperava era que mesmo distante, os olhos de
Ellen estivessem sobre sua família, já que ela queria saber mais
sobre a petulante mulher e ela pode ler os lábios do rapaz.
- Rapaz presunçoso. – Ellen murmurou enquanto sua irmã
respondia a sua tia alguma pergunta banal, a Rainha seguiu o olhar
para onde Ellen olhava, sua afilhada era muito transparente e avistou
o filho dos Ybarra, que mal piscava em olhar para sua sobrinha, Ella.
– Será um prazer te acompanhar nesses bailes, minha doce irmã. –
Ellen aguardou o momento propício para falar. A Rainha entendeu
que ela estava mandando um recado e quando viu o sorriso surgir
nos lábios de Sofia Ybarra Smith ligou todos os pontos. Com certeza
aquela seria uma temporada muito interessante.
Quando a apresentação chegou ao fim, Ellen andava a passos
largos pelo salão principal, seu primo lhe acompanhava.
- Para onde você pretende ir?
- Preciso de informações.
- Sobre o quê?
- Não é exatamente sobre o quê e sim sobre quem, mas não
vamos conseguir aqui. – Olhou no relógio. – Em duas horas me
encontre no jardim.
- O que vamos fazer?
- Beber e conversar.
- Sério? – O Príncipe estava animado. - Mas a minha mãe não
pode saber.
- Se ela descobrir eu não estava lá. – Deu uma risada e seguiu
para os aposentos da irmã. – Ella, sou eu, abra a porta.
- Finalmente você decidiu visitar sua irmã mais nova.
- Minha doce irmã, a viagem foi longa.
- Eu não disse sobre ontem e sim sobre todo esse ano, você não
veio me visitar.
- Haviam muitas coisas para serem resolvidas em casa, as
crianças também ficam alvoroçadas em uma viagem longa.
- Seria melhor para eles viverem aqui, eu sinto falta dos meus
sobrinhos, aqui é tão só sem vocês.
- Eles também sentem sua falta, ao fim da temporada poderá
passar um tempo com eles.
- El, eu me preocupo com você.
- Comigo? – Ellen se surpreendeu.
- Você mora numa casa enorme longe de todos da família, em
breve as crianças vão fazer idade suficiente para poder seguir seus
caminhos como eu e você não quer vir morar aqui, não quero que
fique sozinha... Você já pensou em um Mari...
- Nem termine essa frase. – Ellen esbravejou.
- Um marido de aparências, existem homens com preferências
como as suas.
- Eu não vou me casar, aceite isso. Aprenda antes que seja tarde
demais, não criamos filhos para nós, mas sim para o mundo. O meu
único trabalho é criá-los com bons princípios.
- Você ainda é jovem, minha irmã. Mesmo que não seja um
marido, mas uma moça para ficar ao seu lado. Eu não me oporia a
isso e sei que nossa tia também.
- Eu não quero isso, não importa quem seja, eu não quero.
Qualquer uma que viva comigo jamais poderá viver em liberdade,
isso não é vida para ninguém. – Ella abraçou a irmã apertado e
queria dizer algo, mas não sabia o que dizer, na verdade não tinha o
que ser dito. – Agora temos que falar sobre um assunto sério, há
muitos rapazes interessados em você. Você se interessa por algum
deles?
- Você vai tornar a vida dele um inferno?
- Por suposto. – Sorriu.
- El, você não pode ser bondosa só dessa vez.
- Não. Você é minha única irmã e preciso agir cautelosamente
para fazer um bom negócio.
- Meu casamento não será sobre dinheiro, já falamos sobre isso
antes.
- Então você já o ama.
- Eu... Não sei. Eu o vi algumas vezes, ele estava sempre rindo e
acompanhando sua irmã mais nova, nós nunca trocamos nenhuma
palavra, apenas um único olhar.
- Qual o nome dele? – A Duquesa segurou sua bengala com um
pouco mais de força.
- Phillip Ybarra.
- Não tem nenhum outro?
- Não. Poderia me ajudar com isso, sendo boazinha com a família
dele? – Ella pediu.
- Serei educada. É o máximo que posso oferecer.
- É um começo. Agora me conta sobre sua vida, algo
interessante?
Ellen não poderia dizer que o que acontecia de interessante em
sua vida era se deitar com algumas mulheres e ir para certos locais
beber e fumar, os homens de sua região já estavam acostumados
com sua presença em tais locais e já não comentavam mais, mas as
mulheres pareciam ainda gostar de se incomodar com a vida da
Duquesa. Depois de algum tempo conversando e rindo, Ellen decidiu
seguir seu caminho, já que iria precisar descobrir sobre a família do
homem e principalmente sobre a mulher petulante.
- Eu preciso ir agora, tenho alguns assuntos para resolver. – Após
verificar a hora em seu relógio de bolso, se colocou de pé, pegou o
chapéu e com a ajuda da irmã se ajeitou para sair.
- Se encontrá-lo não o amedronte e se for você sabe... tente não
se envolver com uma mulher casada novamente. – Ellen não
conseguiu segurar o sorriso, não se orgulhava do acontecido, mas
não se arrependia. – Eu estou falando sério Ellen, ele poderia tê-la
matado.
- Aquele Lorde mal sabia usar a arma que ganhou ao nascer,
imagina uma arma de fogo. – Ella deu uma breve risada. – Agora
você sabe porque a esposa dele me procurou e me pedia para visitá-
la assiduamente.
- Se comporte, mas admito que te invejo.
- Por quê?
- Gostaria de sair por aí e me divertir dessa forma sem que me
julgassem.
- Aí que você se engana, eles me julgam, mas não podem falar
nada. – Ellen riu e deu um beijo na testa da irmã. – Um dia você verá
que existe uma vantagem de ter uma irmã libertina.
- Espero ansiosamente por esse dia.
No horário exato estava no jardim à espera de seu primo, que
deveria se disfarçar bem para sair e não ser reconhecido para onde
fosse. Estava partindo sem ele quando o jovem apareceu no jardim,
entraram na carruagem e ela anunciou para onde eles deveriam ir.
- Que lugar é esse? – Edgar perguntou.
- Primeiro vamos beber algo e conversar, depois seguiremos para
a casa de um velho amigo.
- Senti falta de suas visitas, prima. – O rapaz riu. – Eu só posso
entrar nessas festas libertinas quando estou com você. As vezes
sinto inveja do seu círculo de amigos.
- Não se esqueça deles quando tiver algum poder, porque eles
vão precisar de você. – Ellen sabia que era privilegiada por ter a
Rainha como madrinha e não só isso, por ter a sorte da mulher
gostar muito dela. Se não obviamente seria mais uma daquelas
pessoas que precisavam matar seus desejos e mostrar quem são
nas tais festas.
Quando Ellen entrou no clube de cavalheiros alguns homens
saíram em repreensão, óbvio que homens mais velhos, os mais
novos apenas continuaram bebendo, fumando e conversando. Ela e
o Príncipe se sentaram em um dos lugares e Ellen passava o olhar
pelo local, o jovem Ybarra não estava presente. Ela começou a
beber e a rir, mesmo seu primo não falando nada de engraçado.
Logo alguns lordes se juntaram a eles e ela conseguiu as
informações que queria sobre os tais Ybarra e não tinha muito o que
reclamar, mas também não tinha muito o que elogiar.
- Já que está interessada na família Ybarra, deveria saber sobre a
filha mais velha. – Lorde Brinston foi o primeiro a tocar no nome
daquela mulher. – Sofia Ybarra é deslumbrante.
- Não é mais Ybarra, agora Smith desde seu casamento.
- Não é um tanto desrespeitoso com o senhor Smith falar da
esposa dele dessa forma? – Ellen falou.
- O homem não está mais entre nós, ela é viúva e já cumpriu seu
luto.
- Me deixa um tanto intrigado o quão boa é aquela mulher a ponto
de matar um homem em dez meses de casamento, o que dizem que
ela é insaciável e o coração dele não aguentou.
- Eu sei que são meros boatos, mas eles me deixam tão...
Animado sobre ela. – O homem mexeu na calça e Ellen quase
revirou os olhos. – Ela deve estar sedenta depois de tanto tempo, já
ouvi dizer que muitas viúvas tentam burlar o luto, mas ela
simplesmente não saia de casa, isso me deixava ainda mais
intrigado e...
- Galudo. – Um dos homens deu um tapa na perna do que falava
e eles começaram a rir.
Um dos muitos pontos negativos de ir a tais lugares era ouvir
esses tipos de coisas, não concordava nem um pouco como eles
falavam sobre as mulheres e como falavam sobre o que fariam com
elas, a maioria fora dali falaria sobre honra e amor, mas Ellen sabia
quantos atos desonrosos esses homens já fizeram.
- Ei! – Deu um tapa no rosto do primo que estava adormecendo
na carruagem. – Mal bebeu e já está desmaiando.
- Eu estou bem. – O homem se ajeitou no assento e passou a
mão no rosto onde a prima havia batido.
- Lembre-se do que eu disse, apenas duas mulheres. – Assim
que a carruagem parou, Ellen desceu.
- Por que só duas?
- Para que elas possam se divertir quando você desmaiar. –
Bateu na porta e ela foi aberta por uma mulher negra usando roupas
coloridas e penas no pescoço. – Olá, Penélope. – A mulher deu
espaço para eles entrarem e assim que a porta se fechou ela pulou
nos braços de Ellen e a beijou ardentemente. – Parece que estava
com saudades.
- Meu marido tem sido muito rigoroso com minhas viagens ao
campo. – Ela praticamente pulou no colo de Ellen.
- Nos vemos mais tarde, primo.
A noite era uma criança, Penélope não seria a mulher que
finalizaria a noite de Ellen, mas com certeza seria a primeira. O
grupo de pessoas que se reuniam ali eram diversos, eles variavam
entre mulheres casadas que diziam ir tomar chá na casa de suas
amigas, mas estavam na verdade beijando e fazendo tudo que
podiam com as tais amigas, alguns artistas, Lordes discretos da alta
sociedade e qualquer pessoa que o grupo achasse digna de ser
acolhida.
- Ahh Ellen... Isso Ma chérie... – Dessa vez quem gemia era
Francesca, filha de um conde francês que estava de casamento
marcado, ela e o noivo se conheceram numa dessas festas e uma
coisa levou a outra.
Desceu do quarto limpando os dedos em seu lenço, a mulher já
havia caído no sono pouco depois da terceira vez, seguiu adentro
pela festa, pegou uma bebida e ia se juntar aos artista, queria pintar
algo, mas antes passou por uma das salas e pela fresta avistou
mulheres sentadas à mesa jogando baralho, o clima era bem
diferente do que acontecia do lado de fora, em um dos assentos da
mesa avistou a jovem viúva Smith. Entrou sem bater e todas
sentadas olharam diretamente para a Duquesa.
- Opa, parece que aqui não é a sala de pintura, mas já que
encontrei em tal local será que posso me juntar às senhoritas?
- Senhoras. – Lady Smith a corrigiu.
- Perdão, senhoras. – Deu uma breve risada. Sentou em uma das
cadeiras vagas e colocou seu copo de whisky em cima da mesa. –
Se importam se eu fumar? – Puxou um porta cigarros de prata de um
de seus bolsos.
- Preferimos que fume em outro lugar... Alteza. – Sofia foi a única
a falar.
- Então para não incomodar as Ladies eu não vou fazer isso. –
Guardou novamente seu porta cigarros.
Elas jogaram cerca de três partidas, quando Sofia anunciou que
era hora de se retirar, obviamente Ellen também anunciou sua
retirada e não passou despercebido para as mulheres no local, que
apenas fingiram que nada aconteceu.
- Posso acompanhá-la, milady? – Ellen andava lado a lado com a
mulher.
- Eu agradeço sua boa vontade, mas não há necessidade. Pode
voltar para seus afazeres. – Ellen sorriu, deu passadas rápidas,
parando na frente Sofia, assim a impedindo de continuar.
- Eu admito que fiquei um pouco surpresa quando a vi. – Pegou
novamente seu porta cigarros e pegou um, colocou na boca e
acendeu. – Uma mulher como você num lugar como esse, para mim
era algo impensado.
- Isso prova que nem todo mundo é exatamente como você
pensa ser. – Pegou o cigarro da mão de Ellen e tragou. A Duquesa
acabou acompanhando o trajeto do cigarro e olhou para os lábios de
Sofia.
- Depois eu refleti melhor e cheguei a conclusão que... Deve estar
muito interessada em minha pessoa para vir a tal lugar em busca de
informações minhas. – Tomou o cigarro em suas mãos e tragou, na
mesma hora a imagem dos lábios de Sofia veio a sua mente e se
sentiu uma adolescente por achar aquilo um beijo indireto.
- Você se acha muito importante para uma pessoa tão pequena. –
Era um fato que a Duquesa era alguns centímetros mais baixa que a
Lady, mas os sapatos eram os responsáveis por isso. – Eu sou uma
mulher viúva, tenho direito a me divertir.
- Está tudo bem admitir, porque eu vim a esse lugar buscando a
mesma coisa. Eu prefiro que declare suas intenções para que
possamos batalhar de maneira honesta.
- Minhas intenções? – Sofia pegou o cigarro novamente e dessa
vez foi ela quem pensou que indiretamente seus lábios estavam se
tocando. – Minhas intenções com você não existem, mas... Meu
irmão é um jovem bom e sei que está se armando contra ele, mas
esse não vai ser um jogo de um único jogador.
Capítulo Três

O primeiro baile foi oferecido pela rainha, então todas as famílias


da alta sociedade foram convidadas, incluindo os Ybarra, o baile
acontecia dois dias após o anúncio das debutantes.
- Estou muito animada, quero dançar e comer. – Ella falou.
- Poderá fazer tudo isso essa noite. – Ellen estava com um jornal
em mãos, como ficaria em sua mansão durante toda temporada
pediu para que a irmã ficasse com ela.
- Podemos dar um baile? – Ella falou.
- Um baile? Você realmente quer isso? Bailes dão trabalho.
- Por favor, El. Queria algo grandioso, cheio de flores, muita
música e fogos de artifício.
- Hum. – A irmã não gostava de atenção, mesmo sabendo que
atraia muito.
- Uma vez em sua vida, faça algo para sua irmã mais nova.
- Eu sempre faço tudo pela minha irmã mais nova.
- Uma mentira deslavada, você chegou a cidade e não foi me
visitar, provavelmente estava com uma de suas amantes que
certamente é mais importante que sua solitária irmã mais nova. –
Fingiu descaradamente que estava magoada, mas deu certo porque
a Duquesa sentiu-se culpada.
- Tudo bem, daremos um baile.
- Obrigada, El. – Sentou-se ao lado da irmã e lotou sua bochecha
de beijos.
Ellen gostava da companhia da irmã mais nova, mas teve que
mandá-la viver com a tia porque ela precisava de contato com a alta
sociedade para que pudesse se casar bem e também precisava de
orientação e a Duquesa sabia que não era a pessoa adequada para
isso.
- Ella, lembra do que conversamos? – Elas estavam na
carruagem que estava esperando na fila para entrar no palácio.
- Sim, mas assim nenhum rapaz vai querer dançar comigo.
- O trato é um ano de cortejo e poderá se casar com o homem
que quiser.
- Mesmo que você não aprove ele?
- Sim, mesmo que eu não aprove, mas você nunca deve dizer a
ele nosso trato, se não ele será cancelado na hora.
- Tudo bem. – Estava muito animada, sempre quis dançar nesses
bailes, mas precisava aguardar sua vez de debutar.
Quando entraram no salão todos os olhos se viraram para as
duas, Ellen varreu o local com o olhar, mas antes que pudesse
oferecer algo para a irmã beber, uma dúzia de rapazes estavam
envolta das duas.
- Ah eu... Não sei, Milorde. – Ella ia respondendo as perguntas
que eram muitas e a jovem estava um pouco sufocada.
- Saiam! – Ellen falou.
- Per-perdão Vossa Alteza? – Um dos homens falou.
- Eu disse para saírem, estão nos deixando sufocadas. – Eles
pareciam assustados. – Não é assim que vão conseguir a atenção
da minha irmã. Agora saiam. – Com sua bengala empurrou os
homens com delicadeza e passou com a irmã.
- Agora mais da metade deles vai desistir.
- Que bom, porque nenhum deles...
- Perdão alteza. – Ellen não conseguiu terminar de falar porque
foi interrompida por um homem muito alto que ela precisou até curvar
um pouco da cabeça para trás. – Gostaria de saber se poderia
dançar com sua irmã?
- Se tivesse perguntado para ela talvez ela dissesse sim, mas
como perguntou para mim a resposta é não. – Puxou Ella para longe
e lhe deu um copo de ponche.
- Ellen, você poderia ser mais gentil.
- Não com eles.
- Por quê?
- Porque eu tenho ouvidos e olhos, ando por locais que você não
pode, então eu sei quem pode ou não dançar com você.
- Mas é só uma dança. Veja a Lady Ybarra, está com o cartão
cheio de nomes. – Apontou para a jovem que dançava com um
homem, os dois pareciam se divertir.
- Não é uma competição.
- Se fosse eu estaria perdendo. El, apenas se afaste por dois
minutos e eu prometo que o resto da noite eu ficarei com você
dispensando todas as possíveis danças.
- Duas danças, espero que escolha bem seus parceiros de
dança. – Ellen ajeitou a roupa e ficou rodeando de longe a irmã, até
que um dos empregados da Rainha disse que sua tia solicitava sua
presença.
- Vossa Majestade! – Fez uma reverência.
- Duquesa Barker, vejo que está empenhada em ajudar sua irmã
a encontrar um bom casamento.
- Meu dever como irmã mais velha é garantir que ela tenha um
bom casamento.
- Talvez devesse se empenhar em encontrar uma amiga para si.
- Eu não preciso disso, tia... Perdão, Majestade.
- Vamos tomar um ar. – A Rainha se levantou e andou até a
Duquesa e passou ao seu lado aguardando que ela a acompanhasse
até o jardim. Quando lá chegaram, poderiam conversar sem a
atenção dos demais.
- Madrinha eu sei que você quer que eu encontre alguém, mas
isso não é possível. Ainda mais que devo focar em minha irmã, meus
sobrinhos e no ...
- Eu só ouço desculpas, subterfúgios para você se colocar em
segundo lugar. - Rainha interrompeu Ellen. – E quando todos saírem
do ninho o que irá fazer? Vai ficar trancada o resto da vida naquela
mansão no campo? Vai viver em festas libertinas e depois voltar para
uma cama vazia e fria todas as noites?
- Eu não posso responder o que farei, mas eu posso dizer o que
eu não farei, eu não irei me casar.
- Minha criança, eu espero de verdade que exista alguém que
mude isso em você, porque você merece ser feliz, tanto quanto
qualquer outra pessoa. – Ela abraçou a sobrinha e queria que a
mesma fosse feliz, mas parecia que a própria havia desistido disso e
acreditado no que tanto falavam, que uma pessoa como ela não
poderia ser feliz.
Nenhuma das duas falou mais nada, apenas seguiram seus
caminhos, Ellen permaneceu no jardim mais um pouco refletindo
sobre a conversa, quando lembrou-se da irmã caminhou
rapidamente para dentro do salão, mas logo na entrada, próximo a
mesa onde ficavam os ponches e as comidas, havia um grupo de
homens conversando com uma mulher, que era nada mais nada
menos que lady Smith. Olhou ao redor e viu que a irmã agora estava
conversando com outras Ladys, ao seu lado estava sua dama de
companhia, decidiu que não atrapalharia a conversa da irmã, era
bom ela fazer amizade com as Ladys.
- Com licença. – Parou atrás dos homens. – Eu gostaria de comer
a sobremesa que está atrás de vocês. Os homens um pouco a
contra gosto abriram caminho, mas fizeram reverência porque
mesmo ela sendo uma pedra no sapato deles naquela noite, ela
ainda era uma Duquesa e sobrinha querida da Rainha. – Milady. –
Fez uma breve reverência.
- Vossa alteza. Sinto ter ficado em seu caminho. – Deu um
pequeno passo para o lado. Ellen se aproximou da mesa e assim
também se aproximou um pouco de Sofia.
- Não sente nada. – Sussurrou apenas para Sofia ouvir e a
mulher sorriu. – Aceita um ponche de limão? – Falou em tom normal.
- Eu agradeço pelo seu apreço, vossa Alteza, mas eu não gosto
de coisas azedas.
- Eu entendo. – Ellen bebeu todo líquido de sua taça de uma vez
e estendeu a mão para a mulher. – Vamos dançar. – Não era um
pedido, era quase como uma ordem.
- Será uma honra, Alteza. – Segurou a mão de Ellen e as duas
foram para a pista de dança. Na mesma hora todos os olhares
seguiram para as duas, alguns murmúrios puderam ser ouvidos. –
Vai se arrepender disso. – Sofia falou baixo e sorriu logo em seguida.
A música começou a tocar e as duas dançavam perfeitamente,
desta vez as duas estavam quase na mesma altura, porque os
sapatos de Lady Smith não tinham saltos longos. No fim da dança,
antes de se separarem e se cumprimentarem, Sofia pisou fortemente
no pé de Ellen, que ficou bastante vermelha, mas não reclamou da
dor.
- Muito obrigada pela dança, Alteza. – Ia se afastar, mas Ellen
segurou sua mão novamente.
- Mais uma dança.
- Desta vez eu vou educadamente negar, estou com sede e
gostaria de descansar. – Sofia sorria porque sabia que Ellen estava
doida para se vingar, mas não esperava que Ellen passasse na sua
frente e enquanto segurava sua mão a guiou até a mesa onde havia
ponche de maçã. – O que você está fazendo? – Soltou a mão das
duas, tentou ser delicada porque sabia que todos estavam olhando.
- Vindo pegar ponche para você, milady. – Entregou a taça para a
mulher.
- E o que vai fazer agora? Derrubar em mim?
- Claro que não, não sou esse tipo de pessoa. Pelo menos não no
baile de sua majestade, minha tia.
- Seu pé ainda está doendo? – Não conseguiu segurar o riso.
- Você sabe que sim.
- Você mereceu, nunca mais me dê ordens de novo. – Sofia
colocou a taça em cima da mesa e pegou um ponche para a
Duquesa. – Deveria beber algo também.
- Hummm está sendo bondosa comigo, está se sentindo culpada?
- Culpada pelo pisão no seu pé?
- Exatamente, já que eu lhe salvei daquele pelotão de homens. –
Ellen pegou o ponche e bebeu.
- Eu não lembro de ter te pedido ajuda e nem de ter dito que
estava incomodada.
- Ah, então gosta da atenção que eles lhe dão.
- Não seja grosseira. – As duas permaneceram em silêncio.
- Você sabe o que eles querem não sabem?
- Não consigo compreender o que quer dizer.
- Aqueles homens, você... – Ellen não pode terminar a frase
porque Ella estava conversando em meio a muitas risadas com o
rapaz que a queria ganhá-la como um prêmio. – Você já não é mais
uma mocinha inocente, deveria saber o que os homens querem
quando e aproximam de você. – Saiu a passos largos para chegar
até a irmã. – Boa noite!
- Vossa Alteza. – O rapaz fez uma breve reverência a Duquesa.
- Irmã, estávamos falando de você.
- Em meio a tantas risadas, eu sou uma piada?
- Não, alteza, não é isso. – O rapaz falou nervoso. – É que eu
derrubei ponche em mim.
- Então você é um rapaz desastrado. Qual seu nome, rapaz?
- Eu sou Phillip Ybarra, é um enorme prazer te conhecer. Eu
soube que você tem grandes investimentos na América. Se algum
dia se sentir confortável, podemos beber algo e conversar sobre
importação e exportação marítima.
- A irmã dele realmente passou as informações corretas. – A
Duquesa pensou.
- Seria ótimo, El. – Ella falou animada, depois de dois anos
finalmente estava falando com quem ela tanto queria.
- Vamos ver se eu terei algum horário livre na minha agenda.
Logo os três ficaram em silêncio, Ella queria que a irmã falasse
algo, já que demonstrou claramente que gostava do rapaz, mas Ellen
apenas o olhava de uma forma intimidadora.
- Bom... Eu... Posso pedir para dançar com você, milady? – Phillip
falou.
- Ela tem um limite de duas danças por noite e já ultrapassou o
limite.
- Mas... – O homem sabia que tentar argumentar só iria piorar a
reação da Duquesa. – Tudo bem, eu entendo. Foi um enorme prazer,
espero que possamos dançar no próximo baile.
- Ellen, por favor.
- No próximo baile eu permitirei. – A Duquesa falou.
- Obrigado, Vossa alteza. Espero que em algum momento
possamos conversar sobre seus negócios. – Ele sorriu para Ella e se
retirou após se despedir formalmente das duas.
- Precisava mesmo disso? – Ella falou.
- Acredite, isso vai te deixar mais interessante para ele. Quem
sabe assim não será o primeiro a vir falar com você no próximo baile.
Vamos para casa, já estou cansada.
Capítulo Quatro

Com os dias passando rápido, Ellen enviou uma mensagem para


sua casa no campo e pediu para prepararem tudo, ela iria dar a irmã
o tão esperado baile, dentro de uma semana. Ao longo desses dias
ela também por acaso encontrou lorde Ybarra que era mais falante
do que ela gostaria, mas pode perceber que o rapaz era esforçado e
queria melhorar de vida. Quando chegou ao Porto naquela tarde uma
cena peculiar lhe deixou intrigada, o rapaz estava carregando caixas
com outros homens.
- Precisamos colocar essas garrafas no navio até a noite. – Um
homem com uma prancheta nas mãos falava. – Precisamos de mais
trezentas caixas.
- Vossa Alteza. – Phillip largou sua caixa no chão e foi
cumprimentar Ellen. – O que lhe trás aqui?
- Já que conheceu mais sobre meus negócios, gostaria de
conhecer sobre os seus.
- Claro, fique a vontade, gostaria de ver a contabilidade?
- Não tem necessidade, sei que está ocupado. Sempre carrega
as caixas?
- Só quando temos algum atraso, alguns funcionários estão
doentes e não conseguimos encontrar outras pessoas para ficarem
em seus lugares, então está um caos. Se esse navio não sair hoje
com todas as mercadorias perderemos muito dinheiro.
- Onde está seu pai?
- Ele geralmente só vem para fazer a contabilidade no fim do
mês.
- Eu não posso ajudá-lo a carregar caixas. – Ellen tirou seu
paletó.
- Eu jamais pediria algo assim a você, alteza.
- Mas vou ajudá-los a colocar as garrafas nas caixas.
- Por favor, não precisa se preocupar com você. - Phillip falou um
tanto nervoso.
- Está tudo bem. Vamos terminar logo e beber algo depois.
Na mesa de jantar dos Ybarra, Susie, a matriarca da família
estava agitada, já que seu filho ainda não havia chegado, o rapaz
não costumava se atrasar. Quando a porta foi aberta, a mulher se
acalmou e anunciou aos empregados a servirem o jantar, mas para
sua surpresa Phillip estava com uma companhia, a Duquesa de
Edimburgo.
- Vossa alteza. – Todos levantaram em surpresa e a
reverenciaram. Susie fez sinal para que colocassem mais um lugar a
mesa. – Eu sinto muito, eu não sabia que viria para jantar hoje.
- Está tudo bem. Eu quem deveria me desculpar por vir tão
abruptamente. Minhas sinceras desculpas, Lady Ybarra.
- Por favor, sente-se. - Fez sinal para que a mulher sentasse.
- Eu pedi para um rapaz entregar a notícia que eu traria a
Duquesa para jantar, mas ele deve ter ficado apenas com dinheiro. –
Phillip lamentou.
Tanto Phillip quanto Ellen estavam um tanto sujos, eles lavaram
as mãos e se sentaram à mesa, Sofia estava lá apenas observando
e pelas risadas do irmão, era notável que ele tinha bebido. Quando
todos terminaram de jantar, o rapaz convidou a Duquesa para beber
mais um pouco e a mesma ia aceitar, mas sua atenção acabou
seguindo para a mulher que foi até a garrafa e se serviu um copo.
- Parece que minha irmã vai nos acompanhar. Então o que me
diz, alteza?
- Vou aceitar mais um drink.
Quatro drinks depois Phillip estava mal, já dormia na cadeira,
Ellen também estava começando a sentir os efeitos do álcool, ainda
mais porque já havia bebido antes de chegar na casa do jovem.
- Onde exatamente você e meu irmão estavam mais cedo?
- No porto.
- Não sei o que pretende, mas meu irmão não é o tipo de homem
que frequenta bares.
- Que tipo de homem ele é?
- Do tipo que chega cedo para o jantar. Não o leve às festas
libertinas que costuma frequentar.
- Tem medo que ele a veja lá?
- Ele é um jovem doce e romântico, aquele lugar não é para ele. –
Sofia serviu mais um drink para Duquesa, que bebeu em um gole,
mas logo em seguida se arrependeu, já que o mesmo desceu
queimando sua garganta.
- Ele quem deve decidir se quer ir ou não. Parece que criou seu
irmão na barra de sua saia.
- Você fala como se não fizesse o mesmo com sua irmã.
- São situações diferentes. – A Duquesa se levantou e pegou o
porta cigarros. – Se importa? Eu sei que não. – Acendeu o cigarro. –
Faz um tempo que eu quero entender que tipo de família é a sua.
Um pai que não é presente nos negócios e nem na mesa de jantar,
mas que está presente nas mesas de jogos. Eu o conheci algumas
noites atrás, mas eu tenho certeza que ele não deve lembrar.
- Você vai usar isso contra o meu irmão? – Sofia pegou o cigarro
da mão de Ellen e tragou, elas novamente estavam bem próximas. –
Seria muito injusto.
- Por mais que eu tenha tentado encontrar algo que me faça
desgostar do seu irmão, eu não consigo, mas eu devo pensar que
minha irmã fará parte da sua família e um escândalo arruinaria a ela
também. Eu sei que tem tomado conta de tudo, investindo dinheiro
nos negócios de sua família, mas me pergunto até quando vai
conseguir estabilizar os negócios com tanta saída de caixa. – Ellen
tomou o cigarro e tragou. – Você é uma mulher interessante, viúva
Smith. Eu odeio sua petulância, mas admiro sua inteligência.
- Devo me sentir honrada por isso? - O tom de Sofia mais parecia
um flerte, mas não foi intencional.
- Deve. Não admiro a qualquer um. Mas se aceita um conselho,
não adianta desperdiçar dinheiro dessa forma.
- Então eu devo parar de ajudar minha família? Se esse for seu
conselho eu recuso.
- Tome a frente, você já é a maior acionista. Retiradas abusivas
de caixa devem ser banidas e junto de seu irmão administre tudo.
Talvez assim eu pense seriamente em permitir que seu irmão
comece oficialmente a cortejar a minha irmã.
- Então as condições são eu tomar a frente dos negócios da
minha família?
- Sim. Seu pai não é apto para isso e seu irmão é muito dócil para
enfrentá-lo. Você se casou contra a vontade dele e sei que ele não
pagou o seu dote. Então sabemos quem é a filha rebelde.
- Agradeço o conselhos, alteza.
- Bom, como seu irmão está descansando eu devo me retirar. –
Ellen olhou seu relógio, talvez tivesse tempo de ir a uma festa de um
de seus amigos.
- Eu também estarei me retirando. – Sofia foi checar o irmão, ele
estava realmente desmaiado.
- Vou acompanhá-la até em casa. - Falou enquanto pegava sua
bengala e seu chapéu.
- Não tem necessidade. - Sofia passou por ela.
- Você ainda não entendeu, não é mesmo. Eu não estou pedindo,
Lady Smith, estou afirmando que vou te acompanhar até em casa. -
Ellen deu passos mais rápidos para chegar a mulher.
- Eu já disse que não precisa.
- Tudo bem, mas ainda assim farei isso. – Sofia saiu a passos
largos e bufando, até esqueceu de pedir para alguém levar o irmão
para o quarto.
- Milady, tenha uma boa noite de descanso. – Ellen fez uma breve
reverência e atravessou a rua, sua casa era exatamente de frente a
casa de Sofia.
- Você não queria me acompanhar, só queria uma carona.
- Eu mandei minha carruagem para casa mais cedo e precisava
de uma carona. – Deu uma piscadela para Sofia. – Boa noite, Milady.
– Tirou o chapéu e passou pelo portão da sua casa em meio a
risadas.
Ellen tomou banho e trocou de roupa, em um determinado
momento bateu um cansaço, mas a noite ainda não havia acabado
para ela, deu um beijo na testa da irmã e saiu, aquele era um dos
poucos dias naquela época que não teria que ir a um baile, então
decidiu que iria a uma das festas de seu amigo Gerrard, um artista,
terceiro filho de um homem muito rico, não havia muitas
responsabilidades sobre suas costas, por isso tinha a vida boêmia
que queria. Quando chegou a festa foi a sala de pintura, lá haviam
mulheres nuas, mas Ellen foi à procura de uma específica, a qual viu
a duas noites. Ficou parada admirando a beleza da mulher que
servia de modelo.
- Você não pinta, milady? – Um dos homens perguntou.
- A minha arte eu faço entre quatro paredes. – Andou até a
mulher estendeu a mão. A mesma nada disse, apenas saiu
caminhando com Ellen.
- Parece que precisamos de uma nova modelo. – Gerrard disse
enquanto via a cena.
Ellen entrou no primeiro cômodo vazio com a mulher, que a
beijava vorazmente em desejo. Primeiro tirou o paletó de Ellen,
depois a gravata e a empurrou para se sentar. A mulher de longos
cabelos castanhos e cacheados, com a pele bronzeada e corpo
esguio, era objeto de desejo de muitos homens ali presentes, mas
ainda assim aguardou paciente pela chegada da Duquesa.
- Não é qualquer tipo de arte que me impressiona. – A mulher
sentou de frente no colo de Ellen. Ela jogou o cabelo da Duquesa
para o lado, abriu alguns botões de sua blusa e abaixou seus
suspensórios, para então começar a beijar seu pescoço, mas logo
Ellen entrelaçou seus dedos em seus cabelos e puxou sua cabeça
para trás, para depois começar a beijar seu pescoço.
- Pode apostar que você vai se impressionar.
Começou a beijar a boca da mulher, enquanto a outra mão
apertava sua nádega, o que fazia a mulher roçar o sexo molhado em
sua coxa, quando desceu sua boca para os seios da modelo, passou
primeiramente o dedão sobre o bico rígido do seio esquerdo, foi
quando decidiu pousar sua boca ali, começando a lamber a chupar.
A mulher gemia em resposta aos movimentos de Ellen e em um
determinado momento, quando a Duquesa desceu seus dedos para
tocar o sexo da mulher, ela cravou suas unhas nos ombros da
Duquesa. Os gemidos tomavam conta daquele quarto, com a boca
agora sugando e lambendo os bicos do seio direito, Ellen diminuía o
ritmo para a mulher não chegar ao ápice tão rápido. Voltou a beijar o
pescoço dela e a puxou para mais perto, para então penetrar seus
dedos na mulher, os movimentos rápidos e a pequena curvatura que
Ellen deixava nos dedos tocavam o local exato, a mulher
acompanhava seus movimentos rápidos e certeiros rebolando
avidamente, enquanto gemidos saiam de sua boca mais altos do que
ela pretendia. Foi cerca de um segundo que a Duquesa desviou sua
atenção e seu olhar foi parar na porta que estava um pouco aberta e
ela pode ver Lady Smith parada um tanto atônita olhando a cena.
- Parece que temos plateia. – Ellen pensou e não pode evitar o
sorriso que brotou em seus lábios, algo nela gostou de ver Sofia ali,
talvez porque inconscientemente aquela mulher em seu colo, com
seus cabelos longos e cacheados nas pontas, olhos castanhos e
pele bronzeada a fazia se lembrar da mulher a qual a deixava
irritada, ao mesmo tempo intrigada, com vontade de tomá-la em seus
braços e dominá-la na cama.
Capítulo Cinco

- Ellen, você já mandou os convites? – Ella entrou em seu


escritório sem nem ao menos bater.
- Sim, mandei ontem os convites. – Ellen nem desviou o olhar do
livro em suas mãos. – Eu também mandei convite para os Ybarra e a
viúva. – Levantou-se e guardou o livro.
- Viúva?
- Lady Smith.
- Por quê?
- Quero que ela e a família estejam lá um dia antes de todos
chegarem.
- Sério? Vou poder passar tempo com Phillip.
- Você realmente gosta tanto dele assim? Ele nem parece ser um
homem interessante.
- Ele é bondoso e me faz rir, além de ser muito bonito.
- Eu vejo completamente diferente de você, para mim ele é um
bobão, desastrado e que tem um bom alfaiate. – Ellen se ajeitou. –
Preciso de roupas novas, essas não estão em boas condições.
Também mandarei fazer alguns vestidos novos para você.
- Posso ir até a modista escolher os tecidos?
- Pode, vou dar-lhe um bom dinheiro para ela ter suas roupas
prontas para o baile dessa noite. Vamos.
As duas chegaram a modista e Ella estava animada comprando
roupas novas, depois disso partiram para o alfaiate que fazia as
roupas de Ellen, era um antigo amigo que ela conheceu na época
que frequentou Oxford por um tempo até que a impediram de
frequentar as aulas, mas nesse meio tempo fez muitos amigos.
- Arturo Hernand Costa, quanto tempo meu velho amigo. – Os
dois se abraçaram.
- Ellen, quanto tempo querida. – Segurou suas mãos a frente de
seu corpo. – Eu só a vejo uma vez por ano, nas demais vezes
sempre são seus empregados que trazem e buscam seus pedidos.
- Não posso demorar, Minha irmã está na carruagem à minha
espera.
- Traga ela aqui, afinal é mais que bem vinda e se algum dia ela
quiser um terno provavelmente sou o único alfaiate que vai recebê-
la.
- Isso é verdade.
- Na verdade não serei mais o único, esse é meu aprendiz,
Gustav. – Um jovem, de cabelo preto, pele clara e olhos da mesma
cor dos cabelos, apareceu segurando tecidos e fez reverência. –
Gustav essa é a Duquesa de Edimburgo e uma grande amiga, hoje
eu só tenho essa loja graças a ela.
- Não, meu amigo, você só tem essa loja graças ao seu talento.
Aproveite o tempo que irá trabalhar com ele e aprenda tudo que
puder, ele é genial. Com licença. – Ellen foi até a carruagem e
chamou a irmã. – É um velho amigo, o conheci na época de Oxford.
- Das festas?
- Obviamente que sim. Lembre-se minha querida irmã, quase
todos aqueles lordes e Ladies dos bailes frequentam ou
frequentaram as festas que eu participo, a diferença entre eles e eu,
é que eu não aceito usar outra pessoa para mascarar quem eu sou.
A autenticidade às vezes é cara demais e eu não vou viver para
sempre, você precisa se atentar aos meus negócios, eu quero muito
que seja próxima aos meus aliados, assim manteremos o mesmo
círculo de amizade e será bem benéfico a você e a nossa família.
- Não quero que fale sobre morte, eu não sei o que faria se eu
perdesse você.
- Você tem que continuar a viver sua vida. Agora não vamos mais
falar disso, venha. – Ambas entraram na alfaiataria. – Arturo, essa é
minha irmã Ella.
- É um prazer, milady. – Ele fez reverência. – Vocês são idênticas,
Ellen. – Ella sabia que ele era um amigo próximo porque nunca viu
pessoas chamando a irmã pelo nome. – A senhorita vai querer um
traje também?
- Nã...
- Sim, eu gostaria de um. Sempre quis saber como é vestir
calças. - Interrompeu Ellen.
- Para que quer um terno? - A Duquesa perguntou surpresa.
- Para que mais seria? Para vestir... Ou para talvez ir nas suas
famosas festas. – Ellen ficou séria.
- Querida, se ficar cerrando sua mandíbula dessa forma vai ficar
com dor de cabeça. – O homem deu dois tapinhas no rosto de Ellen.
– Venha, meu bem, vou tirar suas medidas.
Arturo é um homem alto, com pele negra, cabelos raspados e um
tipo físico forte, seu rosto era liso, sem nenhum pelo. Por muito
tempo muitas jovens queriam que ele as cortejasse, mas Arturo na
verdade gostava da mesma coisa que elas.
- Eu vou mandar o terno nas cores pedidas e com os ajustes que
pediu, vai ficar lindo com certeza. – Ele falou com Ella.
- Manda outro numa cor neutra, azul, preto ou cinza.
- Certo, anote isso Gustav. – Arturo fez sinal para o jovem.
- Por que dois? – Ella perguntou curiosa.
- Se um dia for a uma das festas um terno discreto é o ideal.
- E para senhora irritadinha, vou fazer os ajustes e Gustav irá
levar seu traje.
- Perfeito. Muito obrigada, Arturo.
- Obrigada, Lorde Costa. – Ella falou.
- Não precisa me agradecer, querida. Sempre que precisar basta
me procurar. – Ella abraçou o homem e o mesmo sorriu para Ellen,
elas eram muito parecidas, quando conheceu Ellen ela já havia
perdido seu irmão e seu pai, mas ainda possuía a essência de uma
jovem animada e amorosa, a necessidade fez com que ela
escondesse esse lado, mas Arturo sabia que ele ainda estava lá.
As duas chegaram em casa e Ella foi tomar banho para quando
suas roupas chegassem ela começasse a se vestir. Ellen decidiu ir
para seu escritório e ficou sentada pensando, talvez fosse melhor
que Ella fosse a uma dessas festas, uma que ela estivesse presente
para ficar de olho no que a irmã pudesse fazer. Outra coisa que
tomava conta de seus pensamentos era Lady Smith, o convite para
que os Ybarras fossem um dia antes do baile que iria organizar não
era por causa de Phillip e sim porque queria saber mais sobre a
mulher.
- Duas danças, já sabe. – Ellen avisou a Ella mais uma vez. As
duas entraram no salão e era como se um pedaço de bife suculento
estivesse num prato e todos os homens presentes pareciam
famintos, aquilo a irritava demais.
- Boa noite, Vossa alteza, milady. – Phillip aparece
repentinamente na frente das duas. – Eu trouxe ponche de maçã.
- Boa noite, milorde. – Ella sorriu.
- Lorde Ybarra. – Ellen o cumprimentou. – Eu não gosto de
ponche de maçã, é muito doce.
- Eu adoro, obrigada.
- Eu volto após duas dança. – A Duquesa já havia encontrado seu
alvo e pegou o ponche de maçã da mão do rapaz. – Mas ainda
assim estarei de olho.
Ellen se afastou e foi em direção a Sofia que novamente estava
rodeada de homens, eles estavam empenhados em conquistá-la,
fora do baile ela recebia muitos convites em geral eles solicitavam
sua atenção para um passeio. A Duquesa passou pelos homens e
sem dizer nada estendeu a taça para a mulher, que pegou.
- Obrigada, Alteza.
- Gostaria de ir tomar um pouco de ar no Jardim, acho que aqui
está muito abafado. – Ellen voltou o olhar para os homens sem
mudar o semblante.
- Eu adoraria. – As duas saíram, mas Ellen ficou próxima a uma
das saídas para que pudesse ficar de olho na irmã. – Sua educação
me admira, nem um boa noite você dá.
- Boa noite, Lady Smith. – Beijou a mão da mulher, que ficou um
pouco desconcertada.
- Pare de zombaria. - Puxou a mão discretamente.
- Pensei que era dessa forma que queria ser cumprimentada.
- Se algum dia você me cumprimentar assim eu não vou beber a
bebida que me oferecer, pois com certeza estará tentando me
envenenar.
- As chances são grandes. Quando você me trata como alteza
também me deixa incomodada.
- Por quê?
- Porque eu sei que você me trata sempre com desdém quando
falo com você.
- E se eu te tratar assim algum dia, o que irá fazer? – Sofia
arqueou uma de suas sobrancelhas enquanto ria com deboche.
- Vou te colocar em seu lugar. – Ellen encarava Sofia bem séria,
mas ela estava sentindo um desejo indescritível, seu olhar desviou
para os lábios de Sofia, foi algo bem rápido e imperceptível. Sofia por
outro lado se sentiu culpada por ter pensado coisas impróprias com
as frases.
- Não esperaria menos de uma mulher controladora como você.
- Você fala como se fosse diferente de mim, você gosta de
controle, gosta de se sentir no poder. – Ellen segurou a mão de
Sofia. – Vamos dançar.
- Não foi o suficiente o pisão da última vez, quer um outro?
- Vou deixar você me guiar, vou te dar a sensação de poder essa
noite.
- Por quê? – Sofia não soltou a mão do contato com Ellen, era tão
macia e quentinha.
- Porque você vai perceber que não me importo dominar em
momentos banais. – As duas chegaram à pista de dança e como
disse, deixou Sofia guiar. O olhar delas não se desgrudaram.
Quando elas terminaram a dança e se cumprimentaram, Ellen se
aproximou um pouco do ouvido de Sofia. – Eu prefiro dominar minha
parceira na cama. – Sussurrou. – Foi um prazer, Lady Smith, agora
preciso ir em busca da minha irmã.
Sofia ficou até sem reação após o que houve, mas quando voltou
a si ficou irritada, Ellen havia percebido sua breve presença espiando
pela porta enquanto ela estava com a outra mulher, não era sua
intenção espiar, mas quando viu quem estava naquele quarto era a
Duquesa, ela não conseguiu se conter. Mas sua maior irritação era
que não conseguia dormir lembrando daquela cena, principalmente
se imaginando no lugar da mulher.
- Sua idiota! – Murmurou baixo.
- Querida, está tudo bem? – Susie, sua mãe, perguntou quando
percebeu o semblante irritado de sua filha mais velha.
- Só estou com um pouco de dor de cabeça. Vou me retirar mais
cedo.
- Tudo bem, querida. Quer que eu te acompanhe?
- Não precisa, mãe. – Se despediu da mãe e foi em direção a
saída junto com sua dama de companhia. – A minha carruagem, por
favor. – Pediu a um dos homens que organizava as carruagens
paradas. Pouco depois uma carruagem parou, Sofia estava tão
desnorteada que nem reparou que aquela não era sua carruagem.
- Perdão, milady. – A voz que havia a deixado irritada se fez
presente. – Essa é a nossa carruagem.
- Me desculpe, Alteza. – Virou-se para a mulher.
- Está piorando sua dor, milady? – Sua dama de companhia
perguntou.
- Está se sentindo mal? – Ella perguntou.
- Não é nada, milady, apenas uma dor de cabeça.
- Venha conosco. – Ellen falou. – Nossa carruagem já está aqui.
- Nã...
- Você sabe que eu não estou pedindo. – Ellen nem deixou ela
terminar a frase. Ella soltou um suspiro, sabia bem como a irmã
podia ser irritante. Sofia respirou fundo e antes que o emprego
pudesse abrir a porta da carruagem, ela tomou a frente e abriu,
batendo a maçaneta na costela de Ellen. – Ah! – Ellen reclamou.
- Mil perdões, alteza. Eu estava com pressa para entrar devido a
minha dor de cabeça. – Entrou na carruagem.
- Eu não sei se faria diferente. – Ella pensou. – Você está bem,
Ellen? – Ella perguntou.
- Estou, podem entrar. – Elas entraram e Ellen foi a última,
sentou-se ao lado da viúva, mas ainda estava com a mão nas
costelas.
A viagem estava silenciosa e quando chegaram a carruagem
parou em frente a casa da Duquesa, então a mulher acompanhou
Lady Smith e sua dama de companhia até sua casa.
- Gostaria de entrar e tomar algo, acho que merece depois do que
eu fiz.
- Não vou entrar. – Sofia ficou com medo, sabia que tinha
passado dos limites, mas esperava que Ellen a desculpasse. – E
gostaria que nem você entrasse.
- O quê?
- Quer me acompanhar para um evento noturno?
- Q-que evento?
- Os que costumamos ir.
- Acredito que amanhã você terá que acordar cedo porque terá
que viajar e eu... Acabei te machucando. – Segurou de leve a barra
do paletó de Ellen.
- Desde quando se preocupa comigo? – Segurou a mão de Sofia
e sorriu. Não era sua intenção, mas deu a entender que debochava
da preocupação da mulher.
- Verdade, eu não deveria. Bom, com licença, alteza, já está tarde
e vou dormir.
- Lady... – Não deu tempo de tentar se retratar porque ela saiu
praticamente correndo. – Merda! – Esbravejou assim que chegou em
casa. – Por que diabos eu tinha que abrir a minha boca? Era só dizer
que estava tudo bem, por que você é assim? – Falou quando se
olhou no espelho.
Capítulo Seis

O dia quente denunciava que o verão estava em seu auge, no


jardim Ella estava jogando arremessos de argola com a irmã e os
sobrinhos, Timothe, Abigail e Edmund, que é filho de Ellen. O mais
novo é Timothe, com nove anos, Abigail tinha dez, mas faria onze em
breve e Edmund com doze.
- Eu sou péssimo nisso. – Edmund resmungou quando errou mais
uma vez, todos os outros estavam com pontos e ele não havia
marcado nenhum.
- Você é mesmo. – Abigail riu do primo.
- Vejam! Carruagens. Receberemos visitas. – Timothe estava
animado, eles não recebiam visitas e poucas vezes saiam de casa,
seu contato com pessoas de fora era quase nulo, mas isso não
excluía que eles eram bem instruídos e tinham uma boa educação.
- Ajeitem-se. – Ellen ordenou, mas os ajudou a ficarem da melhor
forma. – Eu não queria deixá-los ansiosos por isso não falei nada
sobre, mas haverá um baile em nossa casa, esses são convidados
que chegaram antes para que possamos desfrutar de suas
companhias.
- É o futuro marido de nossa tia? – Edmund perguntou. Às vezes
a forma dele falar era muito parecida com a de Ellen, o que deixava
Ella surpresa pela semelhança entre os dois, já que o mesmo era
adotado.
- Ainda não sabemos. - Ellen respondeu.
- Você ainda não o aprovou, mãe?
- Não. – Ella nem se preocupou em retrucar, apenas manteve-se
calada.
- Mãe, podemos convidá-los para jogar? – Abigail falou. Todos
eles chamavam Ellen de mãe, mesmo sabendo que ela era a tia
deles, como cresceram juntos com Edmund virou um hábito que
Ellen não perdeu tempo em corrigir.
- Depois, de início eles devem estar cansados da viagem.
Quando as carruagens pararam a primeira a descer, com a ajuda
de um dos empregados de Ellen, foi Sofia, depois Rafaela, Susie e a
dama de companhia de Sofia. Na carruagem de trás estavam Rafael,
o chefe da família, e Phillip, que estava com um tom amarelado.
- Ele enjoou. – Edmund falou e soltou uma risada discreta, Ellen
não estava atrás.
- Parem vocês dois. - Ella falou firme, mas foi sutil para que os
convidados não percebessem.
- Sejam bem-vindos à nossa casa. – Ellen se aproximou das
pessoas. – Miladys, milordes. É um prazer recebê-los.
- Nós agradecemos o convite, vossa alteza. – Rafael falou.
- A viagem foi longa, venham se sentar, temos limonada e água
fresca, para refrescar esse dia quente. Os quartos também estão
preparados para caso queiram descansar da viagem, sintam-se à
vontade para pedir o que quiserem.
- Somos imensamente gratos, vossa alteza. – Rafael falou.
- Sem mais delongas, gostaria de apresentá-los aos meus
sobrinhos Abigail e Timothe e meu filho, Edmund. – As três crianças
fizeram reverências às pessoas. – Estamos jogando arremesso de
argolas, se quiserem podem se juntar a nós.
Rafaela e Phillip se animaram, o rapaz pediu apenas um copo
d’água para tentar amenizar a sensação de enjoo, Sofia por sua vez
decidiu apenas observar. Ela não comentou nada sobre o fato da
Duquesa ter um filho, mas sabia que os cochichos do pai com sua
mãe eram sobre aquele fato e como era ultrajante, já que ela não era
uma mulher casada, poderia ao menos ter fingido que o menino era
filho da empregada, mesmo dando a ele todas as mordomias.
- Eu perdi de novo! – Edmundo resmungou. – Eu detesto esse
jogo!
- Essa não é a forma educada de se comportar. – Ellen o
repreendeu, mas Edmund sabia que a mulher devia estar da mesma
forma que ele, já que perder era algo que Ellen detestava, entretanto
Edmund perdeu por muito mais pontos, ficou apenas com dois
pontos em seu placar, enquanto vencedor ficou com cinquenta.
- Eu não quero mais jogar. – Ele apenas saiu a passos largos e
sentou-se na tenda com os demais que estavam descansando. Ella
viu o rosto da irmã ficar vermelho, mesmo se só os cincos
estivessem presentes não seria um comportamento aceitável,
estando com mais pessoas era algo que ela não poderia deixar
passar.
- Que tal jogarmos outro jogo? – Sofia que já estava próxima dele
e viu que a Duquesa estava prestes a explodir decidiu intervir. –
Podemos jogar algo que não tenha a ver com ganhar, mas sim se
divertir. Me diga algo que gosta além de arremesso de argolas?
- Gosto de jogos de tabuleiro.
- É uma ótima escolha e podemos ficar aqui na sombra.
- Eu vou buscá-los, só um momento milady.
Edmundo sabia que sua mãe ia lhe dar uma bronca, então antes
de entrar decidiu ir se desculpar com os demais que estavam
jogando, Phillip se ofereceu para ajudá-lo com o jogo, mas o menino
disse que iria jogar algum jogo de tabuleiro com Lady Smith, os
primos logo se animaram e decidiram ir junto, deixando apenas os
quatro jogando. Quando os quatro cansaram de jogar decidiram ir
para tenda onde os outros estavam, no fim até Susie estava
participando do jogo indiretamente, pois ela estava apenas
conversando e se divertindo com as crianças.
- Sofia vai ser uma ótima mãe. – Ella falou enquanto caminhava
ao lado da irmã. – As crianças a adoram, veja como eles riem.
- Ela me impediu de repreender o Edmund mais cedo.
- Se ela não fizesse, eu faria. Você estava muito irritada.
- Ainda assim ele precisa aprender, perder não é agradável, mas
precisamos lidar com nossas frustrações, não se trata só de um jogo
e sim da vida. – Ellen parou e deixou a irmã seguir. – Edmund, venha
cá. – Chamou o menino, caminhou ao lado dele e parou um pouco
mais distante. – Sua atitude mais cedo me envergonhou na frente de
nossas visitas e foi vergonhoso para você também. – O menino
abaixou a cabeça. – Se frustrar, passar por desconfortos e se
decepcionar são acontecimentos quase diários da vida, precisamos
lidar com isso da melhor maneira possível. Espero que consiga
aprender a lidar com suas frustrações da melhor forma, porque hoje
você agiu como um garoto mimado e mal-educado. Não havia
problema em sair do jogo antes dos demais, mas é importante saber
como se retirar e aquela não foi a maneira certa.
- Me desculpe, mãe. – O menino estava quase chorando. Ela se
abaixou ficando da altura do menino e abriu os braços.
- Agora eu quero um abraço. – Ele a abraçou. – Agora vá e
divirta-se.
Edmund saiu correndo porque provavelmente seria sua vez de
jogar, Ellen apenas ajeitou a roupa e caminhava para onde os outros
estavam. De longe Sofia observava a cena e por mais que passasse
uma ideia de que era uma mulher rigorosa, ainda era afetuosa com
seu filho.
- Eu vou dar uma volta, sinto que preciso esticar minhas pernas. –
Sofia falou e informou que não havia necessidade de sua dama de
companhia ir com ela.
Sofia chegou a um lago, ficava um pouco distante da casa, mas
ela havia memorizado o caminho então poderia voltar facilmente.
Sentou à beira, era um local um pouco íngreme, então teve cuidado
ao descer se não poderia cair na água. Passou bastante tempo ali
pensando, desejou ter um livro para que pudesse desfrutar da
paisagem enquanto lia algo. Quando ouviu passos próximos, virou a
cabeça e avistou a Duquesa se aproximando.
- Então você descobriu o lago e veio se esconder aqui.
- Não estou me escondendo, agora há pouco um dos seus
empregados passou por aqui e me viu, deve ter vindo me procurar
devido suas ordem.
- Sim, é verdade. Fiquei preocupada, há locais muito perigosos
por aqui e animais. O jantar será servido em breve e vai começar a
anoitecer, o ideal seria voltarmos para casa.
- Eu gostaria de ficar mais um pouco.
- Vai começar a esfriar, então vamos. - Sofia respirou fundo ao
ouvir novamente aquele maldito tom que denominava que ela estava
ordenando.
- Eu não vou agora, eu já disse.
- Por que você não pode fazer o que eu peço?
- Porque você não pede, você ordena. Eu não sou um dos seus
empregados, ou um dos seus aldeões ou qualquer outra coisa que
você pense ter poder. Não sou seu objeto e nem sua posse,
Duquesa.
- Eu nunca disse isso.
- Mas agiu dessa forma diversas vezes. Sei que está acostumada
a mandar e as pessoas obedecerem, mas eu não vou fazer o que
não tenho vontade.
- Então vai ficar aqui e morrer de frio?
- E se eu quiser ficar? Qual o problema nisso? – Sofia ficou de
pé.
- O problema é que você só está fazendo isso porque eu estou
pedindo para você vir comigo, sua necessidade de me contrariar me
irrita.
- O que me irrita é sua necessidade de querer ter controle sobre
minha pessoa.
- Porque você nunca faz nada que eu peço. – Ellen deu um passo
à frente.
- Talvez se pedisse de uma forma mais educada, eu pudesse te
ouvir.
- Talvez eu fosse mais educada, se você não fosse tão petulante
e rebelde. – Deu outro passo à frente de maneira impensada e foi
cerca de milésimos para sentir seu corpo em queda, ainda tentou se
equilibrar largando sua bengala, mas Sofia estava na sua frente e
acabou caindo junto com a mulher no rio.
- EU NÃO ACREDITO NISSO! – Sofia gritou. – Você fez de
propósito. – Jogou água no rosto de Ellen.
- É óbvio que não, mas eu deveria ter te empurrado na água
antes.
- Está muito fria. – Sofia reclamou.
- Eu disse, está esfriando.
- Esfriou porque você me jogou na água, sua idiota grosseira.
- Está esfriando porque está anoitecendo, mulher teimosa.
Vamos. – Ellen começou a nadar.
- Espere! Meu sapato está preso e eu não estou conseguindo
tirar.
- Faça força ou só tem força na língua. – Ellen já estava na beira
do rio e tinha saído da água.
- Eu não estou conseguindo, sua idiota! – Sofia realmente estava
tentando, mas o pé também parecia preso.
- Parece que serei sua salvadora.
- Quer saber, eu prefiro perder o pé a você vir me salvar. Pode ir
embora, em algum momento eu vou conseguir sozinha.
- Você é inacreditável. – Ellen retirou o paletó, abaixou os
suspensórios e pulou na água, o mergulho foi perfeito, ela sumiu por
um tempo e o rio parecia calmo.
- Duquesa? – Sofia chamou. Depois de chamar mais três vezes
ficou preocupada, a mulher podia ter batido a cabeça no fundo do
lago e estava desmaiada, começou a tentar soltar o pé com mais
vontade, mas algo tocou seu pé. – AHHH! – O grito estridente
escapou de sua garganta, pensou que poderia ser uma cobra, mas
quando a Duquesa emergiu rindo, ela percebeu que caiu numa
pegadinha.
- Pensei que preferia perder seu pé a ter minha ajuda.
Ellen passou as mãos no rosto para retirar o excesso de água,
quando sua visão voltou ao normal ela percebeu que estava bem
próxima de Sofia, que estava com as mãos em seus ombros e
ofegante. Por instinto suas mãos foram para a cintura da mulher e os
olhos foram seguindo em uma linha descendente, que foi dos olhos,
boca e até os seios. Sofia não estava diferente, sua irritação foi
breve, porque a blusa transparente de Ellen a fez até mesmo
esquecer o frio, num ato impensado ela avançou sobre os lábios da
Duquesa, que correspondeu da mesma forma voraz e cheia desejo.
As línguas se tocavam de maneira sincronizada, as mãos de Ellen
apertavam a cintura de Sofia e a puxava para que seus corpos
ficassem colados, já Sofia puxava a nuca de Ellen para que elas não
separassem o beijo. Aos poucos devido a falta de ar o beijo ia
perdendo a velocidade e ficando mais lento, mas o clima estava
muito mais quente antes, Sofia abriu três botões da blusa de Ellen e
passou a mão pelo pescoço da mulher e a parte exposta do busto.
Ellen soltou alguns botões do vestido de Sofia e o desceu um pouco
por seus ombros, para então abocanhar o pescoço da mulher e
descer os beijos e os chupões até o busto que estava um pouco
exposto. Sofia puxou novamente o rosto da mulher e as duas
voltaram a se beijar, Ellen estava louca de desejo e começou a
desabotoar mais botões, foi então que Sofia voltou a realidade.
- Espera. – Segurou as mãos de Ellen. – Temos que voltar. –
Falou ofegante. Ellen por sua vez continuava beijando a mulher, mas
havia parado de tentar abrir seu vestido. Aos poucos foi parando o
beijo, mas permaneceu com Sofia em seus braços por mais um
tempo.
- Estou começando a ficar com frio. – Ellen falou enquanto
ajudava Sofia a chegar à beira do lago.
- Eu também. O que houve com seu sapato?
- Eles ficaram presos no fundo do lago também, só consegui
retirar um. – Sofia começou a rir, as duas voltariam apenas com um
pé. A viúva então começou a fechar os botões da blusa de Ellen,
para no final deixar um carinho delicado no rosto da mulher. – Vire-se
para eu te ajudar. – Ellen pediu. Delicadamente passou a mão pelas
costas da mulher e foi fechando os botões, quando terminou beijou a
nuca da mulher. – Vamos.
Capítulo Sete

Quando as duas chegaram em casa, todos ficaram extremamente


chocados e curiosos com o que aconteceu, mas ambas apenas
seguiram para seus respectivos aposentos. Ellen tirou as roupas e
entrou na banheira, iria precisar lavar o cabelo também, então uma
empregada a ajudou com isso, assim que ela saiu Ellen decidiu
relaxar um pouco, mas não conseguia esquecer o beijo no lago,
então seu corpo parecia estar em chamas de tanto desejo.
- Ellen, estou falando com você. – Despertou de seus
pensamentos quando a irmã falou. Ela não percebeu a presença de
Ella que estava a perguntar o que aconteceu.
- Me desculpa, eu não ouvi, estava com a cabeça em outro lugar.
- Na Lady Smith?
- Não seja grosseria, Ella. – Tentou disfarçar.
- Você pode tentar não estragar tudo, eu já percebi como você
olha para ela.
- E como eu olho para ela?
- Como se fosse um leão faminto.
- Ela foi casada com um homem, Ellen.
- Isso não significa nada. – Ellen pendeu sua cabeça para trás e
fechou os olhos.
- Então vocês...?
- Não. Caímos no lago e o sapato dela ficou preso, eu tentei
ajudar e o meu também ficou preso, essa é a história.
- Só isso?
- Sim. O que mais poderia acontecer entre aquela mulher e eu?
Eu a odeio e ela me odeia. – Ellen tentou disfarçar.
- O ódio e o amor andam bem próximos.
- Eles são opostos.
- Não, a indiferença é o oposto do amor. – Ellen abriu os olhos e
encarou a irmã. – Eu não quero te impedir de nada, só fiquei curiosa
com a situação.
Em outro quarto Sofia também enfrentava os questionamentos da
mãe e da irmã, que ficaram preocupadas pelo seu estado.
- Ela realmente não tentou nada? – Rafaela perguntava mais uma
vez.
- Eu já disse que não, a Duquesa foi muito cordial e ainda me
ajudou, eu já disse que estava com o pé preso, e a Duquesa também
é uma mulher.
- Mas todos sabem seus gostos.
- Rafaela! – Susie repreendeu a filha mais nova. – Sua irmã já
disse que a Duquesa não fez nada.
- Talvez pela posição dela possa intimidar...
- Rafaela, eu já disse que nada aconteceu. A Duquesa mesmo
sendo irritante jamais faria algo contra a minha vontade.
- Tenho certeza que sim. – Susie tentou amenizar, porque Sofia
estava começando a se irritar, ela já havia conversado sobre a
Duquesa com a filha mais velha porque percebia que as duas
pareciam realmente se odiar, mas estavam sempre juntas, mas Sofia
confirmou que entre as duas só havia o dia recíproco.
Rafaela e Susie saíram pouco depois da conversa, deixando
Sofia sozinha no banho. Seus pensamentos começaram a vagar
para quando elas se beijaram e as mãos da Duquesa apertaram sua
cintura. Enquanto se secava havia uma pequena marca em seu
busto e ela sabia que a mulher foi a culpada, mas não sentiu
irritação, apenas passou a mão no local e sorriu.
- Eu preciso tomar cuidado, esse jogo está ficando perigoso. –
Sofia murmurou enquanto se enrolava numa das toalhas.
O jantar passou rápido, devido à demora, alguns já estavam
cansados e foram se deitar. Sobraram apenas Ellen, Ella e Sofia,
eles continuaram conversando e jogando cartas.
- Aceitam algo para beber? – Ellen ofereceu.
- Eu aceito o conhaque que vai se servir. – Sofia respondeu.
- Eu não, estou com sono e vou me retirar. – Ella sentiu o clima
mudando, algo como se aquele momento fosse apenas das duas. –
Boa noite, milady. – Caminhou até a irmã e lhe deu um beijo no
rosto. – Comporte-se. – Sussurrou em seu ouvido.
- Boa noite, irmã.
Ellen serviu o conhaque para Sofia e sentou-se em sua poltrona,
retirou seu porta cigarros, que agora era dourado, do bolso do paletó
e tirou um cigarro de lá.
- O que houve com o outro? – Sofia se aproximou de Ellen, pegou
o cigarro de sua mão e esperou a mulher acender.
- Acho que ele caiu no rio, não sei realmente o que aconteceu. –
Ellen pegou o fósforo e acendeu o cigarro, Sofia deu uma tragada e
depois lhe entregou o cigarro.
- Podemos voltar lá amanhã para procurar. – Sofia caminhou para
perto da lareira e ficou observando o fogo. Ellen se aproximou por
trás da mulher e tocou seu braço.
- Está tudo bem, não tem importância. Você fica ainda mais linda
com a luz da lareira refletindo em você. – Ellen beijou o ombro de
Sofia.
- Eu não sabia que você era do tipo que dizia tais coisas?
- Eu sou do tipo que diz a verdade.
Sofia se virou e colocou sua mão direita no rosto de Ellen e se
aproximou para beijar a mulher, as duas iniciaram um beijo calmo. As
duas foram para a poltrona pouco depois, Sofia sentou-se de lado no
colo da Duquesa e as duas permaneciam se beijando.
- Quer ir para o meu quarto? – Ellen separou o beijo.
- É melhor irmos mais devagar. – Sofia respondeu ofegante.
- Tudo bem, mas o meu quarto é o último do corredor, a porta é a
da direita. – Voltou a beijar a mulher, que acabou rindo.
As duas permaneceram se beijando por um longo tempo, as
mãos de Ellen já estavam apertando as coxas de Sofia por baixo do
vestido. As duas estavam deitadas no sofá maior, a Duquesa estava
por cima beijando o pescoço de Sofia, que estava tirando seu paletó
com um tanto de desespero. As duas pararam abruptamente quando
ouviram passos no corredor, elas se arrumaram e cada uma ficou em
um lado da sala, Ellen pegou seu conhaque e fingiu beber. Três
batidas na porta se fizeram presentes e ela logo foi aberta.
- Com licença, eu vi as luzes por baixo da porta e vim verificar se
está tudo bem. – Era Susie, mãe de Sofia.
- É culpa minha, milady, acabei alugando sua filha com conversas
chatas.
- Está tudo bem, mamãe. Estava terminando a conversa com a
Duquesa para dormir. – Sofia andou até próximo de Ellen e colocou
seu copo ali. – Boa noite, vossa alteza.
- Boa noite, Lady Smith.
Mãe e filha caminhavam pelo corredor e Susie fez questão de
levar Sofia até o quarto, o cheiro de bebida estava um pouco forte,
mas a mulher estava longe de estar embriagada pelo álcool, mesmo
estando bastante sorridente e com as bochechas vermelhas.
- Espero que saiba o que está fazendo, Sofia.
- Eu sei o que eu estou fazendo, mamãe e não pretendo parar por
recriminações alheias. – Susie puxou a filha para o quarto.
- Poderia ser seu pai descendo as escadas e ouvindo vocês lá.
- O que ele faria? Eu já me casei para pagar as dívidas dele,
mesmo ele fingindo ser contra para não pagar o dote, já que estava
falido. Ele não tem o direito de me recriminar e sei que a Duquesa
não deixaria barato.
- Não haja com atitudes impensadas, Sofia. Você sabe se ela
quer algo mais que um relacionamento casual? A fama dela é
conhecida por todos. Eu não me importo com quem se deita, só
quero que se cuide e cuide da sua imagem. Lembre-se que seu
irmão e sua irmã podem ser prejudicados com isso.
- Tudo bem, eu vou ser mais cautelosa.
- Eu te amo, você sempre será minha pequenina. – Abraçou a
filha.
Sofia não conseguiu dormir aquela noite pensando em muitas
coisas, mas dessa vez não tinham a ver com seus momentos
quentes com a Duquesa, já Ellen ficou esperando que Sofia entrasse
por sua porta e se entregasse aquela noite, acabou pegando no sono
sem perceber. Durante a manhã, todos se preparam para receber os
convidados que chegariam, Ellen saiu bem cedo, foi conversar com
alguns aldeões porque eles estavam tendo problemas com os
animais ficando doentes.
- Quase não volto a tempo. – Comentou com seu emprego que a
acompanhava a passos largos contando todo o acontecido da
manhã. – As crianças estão prontas?
- Essa gravata está pinicando. – Timothe reclamou mexendo na
gravata mais uma vez.
- Se você se bagunçar a mamãe vai brigar. – Abigail falou.
- Ele não gosta daquele tecido, ele tem alergia como o Elliot. -
Ellen comentou, já que era um traço em comum entre seu sobrinho e
seu irmão.
Antes que Ellen pudesse chegar ao menino, Sofia se abaixou na
frente dele e soltou a gravata, e constatou que ele estava realmente
incomodado. Ela tirou a gravata do menino e desabotoou um botão,
pegou um pouco de água fresca e molhou em seu lenço, foi
colocando na região vermelha do menino até aliviar a coceira.
- Está melhor?
- Está sim.
- Deixe-o sem gravata, se não a coceira vai piorar. - Sofia falou.
- Mas a mamãe... – Ele parou de falar assim que viu Ellen. O
menino se abraçou na perna de Sofia esperando a bronca que
levaria da tia.
- Está tudo bem, ela não vai brigar com você. Não é mesmo
Duquesa?
- Não, hoje será uma exceção, poderá ficar sem gravata. – Ellen
se abaixou na frente do menino. – Ainda está coçando muito? – Ele
negou. – Tragam a pomada dele.
- Não seria melhor levar o menino para dentro, já que ele não
está bem. – Rafael falou.
- Ele está bem, só tem alergia ao tecido da gravata. – Ellen
explicou. – Meu irmão Elliot tinha o mesmo problema que ele.
Edmund também tem alergia a esse tipo de tecido.
- Levem essa gravata, por favor. Tirem todos os tecidos parecidos
com esse, não queremos que o pequeno sofra de novo. – Sofia
pediu as empregadas. – As carruagens estão chegando, vamos
recebê-los. – Sofia falou animada.
- Nunca recebemos tantas visitas assim. – Abigail falou.
- Nunca recebemos visitas. – Edmund murmurou.
A recepção as pessoas foi rápida, os quartos foram divididos e os
pedidos de roupa de cama e outras coisas estavam sendo
direcionados a governanta e ao mordomo da casa. Num determinado
momento da tarde Sofia buscou pela Duquesa, mas não a encontrou.
- Lady Barker, você sabe onde sua irmã está? – Sofia perguntou.
– Ela saiu cedo, não comeu nada e agora está desaparecida,
gostaria de levar algo para ela comer.
- Ela está no escritório, já deve ter se cansado das pessoas, ela é
assim e meu sobrinho Edmund não é diferente. – Apontou para o
menino que estava sentado lendo, enquanto as outras crianças
corriam. – É incrível como eles são parecidos. Obrigada por hoje,
minha irmã é muito controladora e perfeccionista, você tornou tudo
mais fácil.
- Tornei? – Realmente não entendia o que tinha feito.
- Sim, ela precisou sair mais cedo e cuidar de alguns problemas,
eu tentei organizar o que faltava, mas como pode ver eu não sou boa
nisso, sempre fizeram tudo para mim, a verdade que eu sou mimada,
mesmo antes do meu pai e do meu irmão... – Fez uma pausa. –
Falecerem, Ellen sempre me mimou. Todos me mimavam na
verdade, acho que tentavam compensar o fato que a mamãe morreu
ao me dar a luz. Depois fui morar com minha tia no palácio e lá
também eu não precisava me preocupar com nada. Você tomou a
frente e organizou tudo e ainda cuidou para que meus sobrinhos
estivessem prontos. Ellen os cria a punho de ferro, mesmo me
mimando fazia a mesma coisa comigo. Sem visitas, sem sair de
casa, até ir para Londres eu não sabia o que era vida fora dessa
casa. Estudo, leitura, etiqueta, idiomas e todo tipo de coisa ela fez
questão que eu aprendesse. Ela não aceitaria um marido que me
podasse, por isso está sendo tão rígida com seu irmão.
- Meu irmão não é perfeito, mas eu acredito que ele não seja o
tipo de homem que sua irmã teme.
- Eu sei disso, vejo como ele trata você, sua mãe e sua irmã. A
forma que ele fala de você e como respeita sua opinião em tudo me
faz pensar que ele é um bom homem.
- Eu... não deveria falar isso, mas... Você realmente quer se casar
assim?
- Assim?
- Eu sei que a única forma de se conhecer melhor é se casando,
mas... Talvez devesse esperar um pouco, conversar mais.
- É curioso você dizer isso, você acha que eu não sou boa o
suficiente para o seu irmão?
- Eu acho que vocês são perfeitos um para o outro, mas talvez
precisem de conversas mais profundas.
Ella não contou que Ellen queria que o rapaz a cortejasse por um
ano e acreditava que a irmã também não havia dito nada sobre isso
a Lady Smith. Aquilo só a fez acreditar ainda mais que Lady Smith
era a outra metade de Ellen.
- Não estrague tudo, irmã. – Pensou quando viu a mulher se
afastar.
- Com licença, alteza. – Sofia bateu na porta e aguardou um sinal
para poder abrir.
- Pode entrar. – A voz abafada da Duquesa pode ser ouvida.
- Eu trouxe algo para você comer. – Fechou a porta atrás de si. –
Você saiu cedo e quando voltou não comeu nada.
- Eu estou vendo algumas anotações e até me esqueci da fome.
– Sofia deixou o prato com sanduíches em cima da mesa e um copo
de suco.
- Não pode negligenciar sua alimentação.
- Obrigada por se preocupar. – Ellen fechou seu livro e encarou a
mulher. – Eu estava conversando com seu irmão mais cedo, eu
autorizei que ele cortejasse a minha irmã, mas que o cortejo deveria
durar um ano, acordei também o dote, você não o ensinou a
negociar muito bem, não é mesmo?
- Ele aceitou um dote menor do que deveria?
- Dois zeros a menos.
- Não acho que ele se importe com dinheiro.
- Mas ele deveria, não deveria?
- Em partes sim, mas estou providenciando em seguir seu
conselho.
- Finalmente está começando a me escutar. – Ellen riu.
- Só porque o que você falou tinha sentido.
- Eu estou sem energias para brigas hoje, será que posso ao
menos ganhar um beijo?
- Será que você merece?
- Com certeza eu mereço. – Fez biquinho e Sofia começou a rir.
- Certo. – Sofia se aproximou e deu um selinho em Ellen.
- Te esperei ontem no meu quarto.
- Eu não disse que iria aparecer.
- Eu sei. Mudando de assunto, hoje você foi excelente
organizando tudo, parece a senhora desta casa.
- Você já é a senhora desta casa.
- Você entendeu o que eu quis dizer. Parecia minha esposa. Isso
me fez refletir sobre algumas coisas, principalmente sobre as
crianças e como você trata elas, eu gosto disso e gosto como
organiza tudo, mesmo passando por cima das minhas ordens.
- Pensei que fosse ficar irritada, por isso eu fiz. – Sofia brincou e
as duas riram. Ellen a puxou para sentar de lado em seu colo. – Eu
não queria ser invasiva.
- Está tudo bem, você não foi. Agiu corretamente de acordo com
a situação. Pensando nisso, eu gostaria de dizer que quero passar
mais tempo com você.
- Como assim?
- Eu quero que possamos compartilhar coisas simples, hoje mais
do que nunca desejei que essa casa estivesse vazia, apenas você,
eu, minha irmã e meus filhos, queria preparar um piquenique, levar
vocês até o lago, me divertir, ler algo e deitar a cabeça no seu colo.
Ter uma refeição com minha família e deitar ao seu lado. Consegue
compreender?
- Sim, mas... O que exatamente você sente por mim, Duquesa? –
Aquela pergunta fez Ellen refletir, ela não sabia exatamente o que
sentia, mas precisava tomar cuidado com a forma que se expressaria
se não poderia magoar Sofia sem querer.
Capítulo Oito

Ellen segurou a mão de Sofia, a colocou em seu rosto e sentiu o


calor aconchegante, ela sabia que não podia dar a resposta que
talvez a mulher quisesse, mas podia dar a ela a verdade.
- Seria mentira se eu dissesse que meus sentimentos por você já
é amor. Eu me sinto muito bem na sua presença, gosto de como é
responsável e principalmente me sinto muito atraída por você. Eu
gostaria de continuar com o que estamos fazendo, porque eu sinto
que seja algo bom, mas se você espera que eu diga que te amo e
que é por isso que eu pretendo continuar, isso seria mentira.
Sofia pensou exatamente da mesma forma de Ellen, não era
amor, era como um desejo, uma paixão seria o sentimento que
definiria, tão quente e tão devastador que mal podia perceber.
- Eu gosto da sua sinceridade, só... Me diga quando não se sentir
mais da mesma forma. – Sofia mesmo aceitando os sentimentos de
Ellen ainda sentia medo, a mulher era decidida e se sentia
interessada quando era desafiada, em algum momento outra mulher
apareceria e por mais que não devesse pensar nisso, o medo e a
insegurança era algo em seu coração.
- Serei sempre sincera com você e gostaria que fizesse o mesmo.
– Ellen beijou a mão de Sofia, que apenas concordou. – Agora
precisamos voltar a festa porque eu tenho um anúncio a fazer.
- Vai anunciar que a permissão para o cortejo dos dois? – Ellen
concordou. – Mas... Ele terá que me mostrar que apto nesse ano que
vai cortejá-la, na próxima temporada de casamentos ele poderá se
casar com ela.
As duas voltaram a festa e Ellen decidiu conversar um pouco
mais com as pessoas, mesmo distante vigiava Sofia, que vez ou
outra era cercada por homens que tentavam ter sua atenção. Por
mais que se sentisse descontente com aquilo também fazia seu ego
ficar inflado, ter a atenção de uma mulher tão desejada quanto Sofia
a fazia se sentir especial de alguma forma.
- Eu gostaria de pedir um minuto da atenção de todos. – Phillip
bateu com uma colher na sua taça para atrair a atenção de todos. –
Acredito que todos estejam se divertindo hoje e ainda iremos nos
divertir muito mais com o jantar seguido de um outro baile. Tudo isso
graças a Vossa alteza Barker e sua família, que são muito receptivos
e nos deixam muito confortáveis em sua linda casa.
- Tudo pelo bom dote e um bom decote. – Sofia mesmo distante
ouviu dois homens sussurrarem um para o outro. Deu dois passos
para trás e fingiu de desequilibrar e jogou sua bebida nos homens.
- Me desculpa, milordes, eu sou tão desastrada.
O pequeno alvoroço não passou despercebido por Ellen que se
aproximou para saber se estava tudo bem.
- Está tudo bem? – Ellen falou com Sofia.
- Sim, vossa alteza. – A atenção especial da Duquesa a Sofia não
passou despercebido aos demais. – Obrigada por ser tão atenciosa.
- Continue, Lorde Ybarra. – Ellen falou.
- Bom... – Pigarreou. – Eu gostaria de pedir a senhorita Ella
Barker em casamento. – O homem se aproximou da jovem, se
ajoelhou e tirou uma caixa de veludo verde de seu bolso, assim que
abriu havia um anel lindo ali. – Você quer se casar comigo?
Ella sentiu uma corrente elétrica passar por seu corpo, o
momento que estava esperando chegou, sua mão estava suando,
sua boca estava seca e sentiu uma leve falta de ar. Ela olhou para
Ellen, estranhamente buscava a validação da irmã diante daquele
pedido, quando ela concordou levemente com a cabeça Ella se
sentiu mais segura.
- Aceito.
Durante todo aquele dia o assunto foi o noivado, Ellen apenas
passeava pelo o lugar observando tudo, mas já estava sem vontade
de socializar com as pessoas, dessa vez Sofia quem acompanhava a
mulher de longe enquanto conversava com outras Ladys.
- Vocês não acharam estranho a Duquesa ter um filho escondido?
– Sofia teve sua atenção na conversa atraída novamente.
- É isso que você acha estranho? – Uma outra começou a falar. –
Ela mais parece um homem, como alguém pode ter sentido atração
por ela desse jeito?
- Eu acredito que isso seja de interesse apenas dela. – Sofia
cortou as mulheres. – Não se esqueçam, que além de estarmos na
casa dela, a rainha também tem muito apreço por ela. Não sei qual
punição poderiam receber aqueles que falam sobre sua amada
afilhada.
As mulheres estavam querendo tirar informações de Sofia, já que
perceberam que a Duquesa e a viúva estavam próximas, mas o tiro
saiu pela culatra. Quando Sofia se afastou delas estava um pouco
estressada, mas tentou disfarçar.
- Uau, nunca vi essa expressão sem que eu tivesse causado ela.
– Ellen parou ao lado dela. – Há outro que seja tão irritante quanto
eu?
- Ou outra. – Sofia deu uma risadinha.
- Outra? Enfim... O que aconteceu?
- Nada.
- Hum... O que falaram? Sobre nossa proximidade? Sobre seu
irmão estar interessado no dote? O que foi?
- Nada, não tem que se preocupar com isso.
- Hummm... Tentaram perguntar sobre o Edmund? – A expressão
de Sofia mudou. – Entendi... Eu sabia que isso aconteceria, sinto
muito por ter ouvido as coisas que ouviu. Você tem curiosidade sobre
como...?
- No início sim, mas agora eu entendo que não faz diferença.
- Gostaria de conversar sobre isso mais tarde... No meu quarto. –
Sussurrou para Sofia antes de sair.
Aquelas palavras ecoaram na cabeça de Sofia durante toda a
noite, os pensamentos pervertidos e como queria dominar e ser
dominada por Ellen povoavam sua mente.
- Eu vou me retirar mais cedo, mãe. – Avisou a mãe. – Estou com
dor de cabeça.
- É isso mesmo ou tem outros motivos.
- Eu tenho outros motivos, mas realmente vou me deitar. Pode
passar em meus aposentos quando for se deitar ou até mesmo
depois. – Sofia estava ficando cansada de ter seus passos sendo
seguidos por sua mãe. – Lembre-se o quão injusta está sendo.
- Eu só quero o seu bem e da nossa família.
- Então não é comigo e com quem me faz feliz que deveria se
preocupar e sim com quem gasta nosso dinheiro e quase nos deixou
na miséria. – Olhou para o pai que já parecia estar alcoolizado. - Não
seremos paciente para sempre com os atos dele.
Sofia sabia que seu irmão também estava bem descontente com
os atos do pai, que por mais que no início ele só desse crédito a
Duquesa por conta de ser irmã da mulher que ele amava, começou a
admirar e respeitar a mulher como uma excelente empresária e
investidora, isso abriu os olhos dele de que eles estavam perdendo
muito dinheiro em retiradas desnecessárias e em contabilidades
completamente mal feitas. A mãe não foi verificar se ela estava
dormindo, mas quem chegou ao seu quarto foi Ellen, que foi avisada
por um de suas empregadas que Sofia estava se sentindo mal por
isso e retirou. Sofia estava deitada, mas não estava dormindo, Ellen
sentou ao seu lado na cama e acariciou seus cabelos longos.
- Está dormindo? – Falou baixo.
- Não. – Sofia respondeu no mesmo tom. Ellen acendeu a vela
que estava no móvel ao lado da cama de Sofia, que se sentou. – O
que está fazendo aqui?
- Eu vim te ver é claro, me contaram que você estava se sentindo
mal e eu vim até aqui. Eu sinto por ter demorado.
- Eu estou bem, só não estava muito bem para continuar
socializando.
- Continuaram falando coisas desagradáveis para você?
- Não, só que... Eu queria estar a sós com você. Talvez seja um
sentimento egoísta.
- Não é um sentimento egoísta, é o mesmo que eu sinto. – Ellen
selou seus lábios nos da mulher.
- Todos já foram dormir? – A Duquesa concordou. Sofia saiu da
cama, caminhou até a porta e a trancou. Quando chegou até Ellen,
segurou sua mão e puxou de leve para que ela ficasse de pé. –
Gostaria de dormir esta noite comigo, Alteza?
- Seria petulância dizer que gostaria de dormir todas as noites
com você, milady?
- Um pouco, mas não me sinto diferente de você.
As duas começaram um beijo calmo, as línguas se tocavam e
dançavam num ritmo lento, elas tinham a noite inteira, não precisam
se apressar. Quando Sofia separou o beijo Ellen segurou firme sua
cintura, pois não queria deixar de sentir o corpo da mulher junto ao
seu. As mãos de Sofia foram para a gravata, depois lentamente foi
abrindo botão por botão do paletó, para depois tirá-lo. O ato de se
despir não era o preferido de Ellen já que não se sentia muito bem
ficando nua na frente de outra pessoa, mas Sofia estava fazendo tão
bem que Ellen estava cogitando em todo dia em que fosse se
banhar, Sofia teria que despi-la. A mulher seguiu para os
suspensórios e os tirou dos ombros da Duquesa, fazendo com que
eles caíssem em sua cintura, foi para a gola da blusa e desabotoou
botão por botão até que ela caísse no chão. Ellen usava uma faixa
para prender os seios pois não gostava de usar espartilho, Sofia de
leve com a ponta do dedo indicador tocava a pele de Ellen seguindo
o caminho do botão da calça. As duas já estavam ofegantes e
queimando de desejo. A Duquesa segurou o queixo de Sofia e se
aproximou a beijando gentilmente, com delicadeza a deitou na cama
e deitou seu corpo por cima do dela, inconscientemente Sofia abriu
as pernas e deixou Ellen se encaixar ali. Os dedos da viúva se
encaixaram nos cabelos da Duquesa e soltaram o coque, os cabelos
caíram como cascata e Sofia se afastou para observar a cena,
enquanto segurava o rosto dela entre suas mãos.
- Você é linda. – Sofia falou.
- Está vendo seu reflexo nos meus olhos? – Sofia foi até a faixa
que prendia os seios de Ellen e soltou.
- Estou vendo a linda mulher que está entre as minhas pernas. –
Voltaram a se beijar. Ellen começou a beijar o pescoço de Sofia e a
subir sua camisola. As mãos macias, mas firmes apertavam as coxas
da jovem mulher que já estava em chamas e com o sexo molhado.
- Sente-se. – Ela ordenou e assim Sofia fez.
A Duquesa foi levantando sua camisola até retirar por completo, o
corpo ficou completamente nu, a luz da vela fazia com que o corpo
parecesse uma pintura e Ellen permaneceu sem piscar encarando a
mulher nua por longos segundos, o que deixou Sofia muito
envergonhada.
- É a primeira vez em toda minha vida que a realidade supera
minhas expectativas. – Ellen estava ofegante. – Eu... Estou sem
palavras para tamanha beleza.
- Eu estou envergonhada. – Sofia escondeu os seios com os
braços num ato de timidez.
- Não tem porque se sentir envergonhada. – Se aproximou e deu
leves beijos no rosto, clavículas, depois na pequena parte exposta
dos bustos, para então retirar delicadamente cada braço e dar um
beijo em suas mãos. – Posso? – Timidamente Sofia concordou. Ela
imaginou diversas vezes como seria aquele momento com a
Duquesa e em nenhum deles ela ficava envergonhada, mas foi tão
bom ter Ellen cuidadosa e carinhosa que não teria mudado de
comportamento mesmo se pudesse voltar no tempo.
Com beijos castos e pequenos sorrisos de felicidade, Ellen seguia
pelo corpo de Sofia. De início queria algo mais selvagem, mas
estava amando Ellen ser delicada e carinhosa. A Duquesa sentiu sua
boca salivar ao chegar mais perto dos seios fartos da mulher, com a
mão direita começou a massagear o seio esquerdo de sua
companheira e a boca seguiu para o bico rígido e convidativo do seio
direito. Sofia sentiu um frio na barriga e seu sexo ficar ainda mais
molhado, não impediu o gemido que saiu de sua boca, que serviu
como incentivo para Ellen continuar seu trabalho. Depois de dar a
devida atenção para o outro seio, ela foi descendo os beijos pela
barriga até chegar ao local que tanto almejava. Sua boca alcançou o
sexo de Sofia, que estava completamente molhado, ela começou a
beijar e a lamber.
- Continue Duquesa... – Gemeu alto suficiente para que Ellen
pudesse ouvir. Isso incentivou Ellen a continuar no mesmo ritmo,
mas aos poucos foi diminuindo, não deixando que Sofia chegasse
em seu ápice. – Você só pode estar brincando comigo. – Resmungou
ofegante. – Tudo bem, podemos fazer de outro jeito. – Ela empurrou
Ellen para o lado e ficou por cima, pegou os dedos da Duquesa e
colocou dois em sua entrada. Ellen estava apenas olhando a mulher
enquanto estava explodindo de tesão. Sofia foi sentando em seus
dedos lentamente até sentir eles completamente dentro dela. –
Isso... Assim...
Em movimentos lentos de subir e descer ela sentia os dedos de
Ellen dentro de si. Depois de acordar do transe que Sofia a deixou, a
Duquesa segurou forte sua cintura e a deixou de joelhos, foi então
que começou seus movimentos de estocar seus dedos com precisão
e velocidade dentro dela. Em um determinado momento, Sofia se
colocou de quatro e aquilo levou Ellen a loucura, distribuiu tapas e
puxou o cabelo da mulher algumas vezes, ela não se importava até
mesmo gostava.
- Oh Ellen, eu vou... Eu vou... – Escondeu seu rosto no
travesseiro para poder gozar sem fazer barulho. Seu corpo tremeu e
suas pernas foram perdendo as forças, até que ela deitasse de
bruços. Os dedos da Duquesa estavam completamente molhados e
o líquido escorria por sua não, chegando até seu braço. Pegou a
primeira coisa que encontrou para limpar, era sua camisa, mas ela
não se importava, deitou e antes que pudesse fazer algo, Sofia se
aconchegou em seus braços. Ainda estava ofegante e um pouco
suada.
- A partir de hoje deve me chamar pelo nome. – Ellen falou e
atraiu o olhar curioso de Sofia. – Ele fica muito mais bonito quando
sai da sua boca. – Sofia sorriu e apoiou sua cabeça no peito de
Ellen.
- Foi melhor do que imaginei. – Sofia admitiu.
- Seria estranho se fosse ruim, já que eu faço tudo muito bem. –
Ellen falou num tom soberbo e Sofia beliscou sua barriga. – Ai! Eu
estou brincando, mulher. Eu... Estava insegura.
- Por quê? – Sofia levantou o rosto para olhar para a mulher.
- Porque pela primeira vez em muito tempo a opinião da minha
parceira conta e eu queria que você conseguisse se sentir bem. –
Sofia voltou a pousar o rosto no peito de Ellen.
- Você foi muito bem, tão bem que eu quero fazer mais algumas
vezes...
- Você ainda tem ânimo?
- Só fizemos uma vez, eu aguento muito mais. Você já cansou,
Ellen? – Ellen sorriu e rapidamente trocou de posição com Sofia.
- Eu estou apenas começando. – Beijou ardentemente a mulher e
levantou uma de suas pernas, para então sua mão novamente tocar
o sexo dela. As duas sabiam que aquela seria uma longa noite de
prazer.
Capítulo Nove

Com a decisão de aceitar que o homem cortejasse sua irmã,


Ellen decidiu se mudar para Londres nesse período de um ano, o
que deixou Sofia bastante feliz e aos seus filhos também. Sofia se
tornou uma presença quase que integral na vida da família Barker e
Ella era de total apoio, ainda mais porque a mulher colocava rédeas
bem curtas em sua irmã. Muitos começaram a comentar a
proximidade das duas, mas poucos realmente falavam na frente
delas ou de algum familiar, Susie, por sua vez não se colocou contra
o que estava acontecendo, apenas pedia para filha ser cautelosa,
porque a Duquesa era a sobrinha preferida da Rainha, mas ela era
apenas uma Lady que poderia facilmente perder seu posto e seu
prestígio diante da sociedade.
- Como ficou o prejuízo das mercadorias roubadas? – Ellen
perguntou a Sofia enquanto lia o jornal, a notícia dizia que alguns
galpões do porto haviam sido roubados e que um galpão cheio de
mercadorias vindas da américa era um deles. A família Ybarra
estava tendo um grande prejuízo com isso.
- Complicado, devolvemos o dinheiro dos compradores, mas
agora perdemos a confiança deles. – Sofia lamentou.
- Eu posso ajudar vocês com...
- Não! Já conversamos sobre isso. – Sofia prontamente negou.
Ela pediu para que as duas não envolvessem o relacionamento e os
negócios, só assim poderiam viver bem.
- Então me deixe resolver isso com isso seu irmão.
- Se até sexta não conseguirmos novos carregamentos você
pode ir conversar com ele.
- Bom dia! – Ella se juntou as duas à mesa do desjejum. – Está
tudo bem, cunhada? – Ella chamava Sofia dessa forma, óbvio que
apenas dentro de sua casa.
- Sim, apenas alguns problemas com trabalho.
- Phillip me disse.
- Phillip? – Ellen falou sem desviar o olhar do jornal.
- Lorde Ybarra, melhor assim irmã?
- Sim, só poderá chamá-lo pelo nome apenas quando se
casarem.
Sofia percebeu que as crianças estavam demorando mais do que
o normal, então decidiu ir atrás delas, levantou-se da mesa sem dizer
nada, já que Ellen e Ella começaram uma discussão sobre os limites
que a irmã mais velha estava impondo serem ridículos e com o
tempo ela percebeu que não era para se meter naquelas tais
discussões.
- Timothe você precisa se vestir. – O menino estava pulando na
cama, enquanto ria acompanhado de sua irmã Abigail. Já Edmund
estava sentado na cadeira do quarto, ele já estava vestido, seu
semblante demonstrava impaciência. – Abigail, você também
precisa, a Duquesa vai ficar irritada se vocês se atrasarem ainda
mais. - Gertrude, a governanta falou.
- Como podem ser tão parecidos? – Pensou ao olhar o menino. A
origem do menino ainda era um mistério, mas não havia dúvidas ele
era parente de sangue de Ellen, as semelhanças eram muitas para
ele não ser.
- O que está acontecendo aqui? – Sofia passou pela porta e as
crianças pararam de pular, elas acharam que era Ellen, mas quando
viram Sofia elas voltaram a pular.
- Tia, podemos passear no parque hoje? – Timothe falou. Sofia
amava quando eles a chamavam assim, amava tanto que não
conseguia segurar o sorriso.
- Senhora eu sinto muito, estou tentando vesti-los para o
desjejum. - Gertrude, a governanta, falou.
- Está tudo bem. – Ela tranquilizou a mulher. – Edmund pode ir na
frente, diga a sua mãe que eu pedi para que fosse assim. – Ellen
queria que os três criassem laços fortes, assim acabava fazendo
com que eles fizessem tudo juntos, como estudar, refeições, saídas e
etc.
- Tudo bem. – O menino se levantou da cadeira e foi até a porta.
– Mas... nós vamos ao parque hoje? – Sofia concordou e ele abriu
um enorme sorriso.
- Agora vocês dois, parem de pular na cama e vão se vestir para
descer. – Eles rapidamente pararam. – Precisam obedecer a senhora
Gertrude.
- Sim, senhora. – Eles responderam ao mesmo tempo. Sofia deu
um beijo na cabeça de cada um deles.
- Depois iremos ao parque e quem sabe não fazemos um
piquenique.
- Eba! – Começaram a comemorar.
Os dias de verão haviam chegado ao fim e o outono, a época
favorita de Sofia, havia chegado. Ela gostava de sair e observar as
folhas caindo e para ela tinha algo de poético naquela estação, era
como se uma mudança de ciclo estivesse acontecendo,as folhas
caiam e após os galhos secos e gélidos do inverno viria a primavera,
renovando as folhas para elas ficarem ainda mais brilhantes e
bonitas no verão. Quando ela chegou a sala de jantar com as
crianças, Ellen estava prestes a chamar a atenção deles, mas foi
impedida pela mão de Sofia pedindo para que ela não fizesse.
- Demoraram. – Foi a única coisa que disse.
- Acho que sem mais delongas vamos tomar o desjejum. – Tentou
mudar de assunto. – Podemos ir ao parque depois do desjejum? –
Sofia falou com Ellen.
- Foi o que ofereceu para que eles se vestirem? – Ellen perguntou
olhando para os dois mais novos que apenas se encolheram na
cadeira.
- Eu estou cansada de ficar em casa e você está me devendo
vestidos novos. – Sofia encarou a mulher. Ellen deu uma risada de
canto lembrando da noite anterior onde estava tão tomada pelo
desejo que acabou rasgando o vestido de Sofia, mas aquela não era
a primeira vez que uma das duas rasgava a roupa uma da outra.
- Ainda estou esperando uma camisa nova. – Ellen comentou
enquanto ria, o clima mudou, mas Ella pigarreou tentando alertar as
mulheres, ela pescou o assunto e aquele não era um assunto
apropriado com crianças à mesa.
- Eu posso ter um vestido novo, tia? – Abigail falou. Ellen
começou a perceber que as crianças se dirigiam a Sofia quando
queriam coisas que ela poderia negar.
- Claro, vamos mandar fazer um muito bonito para você.
- Eu também quero roupa nova. – Timothe também pediu. O
único que permaneceu calado foi Edmund.
- Vou comprar roupa nova para os três. – Sofia falou e Edmund
arregalou os olhos olhando para a mãe, quase que dizendo que ele
não pediu nada. – Não precisa ter medo Edmund, sou eu quem vou
dar para vocês.
Ella viu que Ellen não estava gostando nada daquilo, mas
permaneceu calada enquanto comia, não era muito de discordar da
irmã na criação dos sobrinhos, ainda mais porque sabia que eles
tinham roupas e sapatos novos quase todos os meses, mas também
acreditava que ela era muito rígida, eles precisavam de um meio
termo e tinham isso com Sofia.
- Ah não é só a Sofia que vai ser a tia legal, eu vou dar sapatos
para vocês.
- Parem de mimá-los. – Ellen falou o que estava entalado em sua
garganta.
- Não é como se fossemos dar presentes todos os dias. – Sofia
respondeu.
- Não digo só sobre presentes. Eles precisam se tornar adultos
que entendem o valor das coisas que eles têm, não é só sobre
preço.
- Então comece a dar coisas valiosas para eles ao invés de
ordens sem explicações. – Sofia rebateu e logo suspirou, quando
Ellen se retirou da mesa.
- A mamãe está brava com a gente? – Timothe perguntou.
- Não querido, é comigo. – Sofia respondeu. – Eu já volto, podem
terminar o desjejum.
Sofia foi até o escritório onde Ellen a esperava, a mulher estava
tamborilando os dedos na mesa de maneira impaciente, quando viu
Sofia entrar caminhou até ela e fechou a porta.
- Você faz isso para me irritar? Ainda mais na frente das crianças.
- Não. – Sofia respondeu. – Eu já te disse um milhão de vezes
que não concordo como trata as crianças. Edmund tem medo, ele
age como se não pudesse pedir nada, não pudesse fazer nada... Eu
tento não imaginar as situações, mas parece que você disse algo a
ele.
- O quê? Você está dizendo que eu destratei meu filho?
- Não, mas ele parece se sentir diferente dos outros. Tem que ter
um motivo.
- Você viu o motivo na festa, como as pessoas o tratam e ficam
falando de mim, ele se sente mal, se sente deslocado, ainda mais
quando elas falam que ele não é um herdeiro legítimo. Edmund pode
não ter nascido de mim, mas eu o criei, ele é meu filho e é tão digno
quanto qualquer outro de receber os títulos e os bens dessa família..
– Foi a primeira vez que Sofia viu Ellen como uma leoa protegendo
seu filhote e se sentiu uma idiota por ter pensado tais coisas.
- Me desculpa por ter sido uma idiota dizendo que talvez você
possa ter o tratado diferente. Eu me precipitei e agi de maneira
irracional. O deixaram na sua porta? – Ellen concordou. – Você é
muito rígida Ellen, principalmente com Edmund, ele tem medo de
falhar ou de tentar ser outra pessoa que você quer que ele seja. Ele
é inteligente, sensível, mas ao mesmo tempo ele se coloca em
segundo lugar para ser aquilo que você quer que ele seja. Os
menores ainda conseguem agir mais naturalmente, mas se você
continuar assim eles vão viver sob amarras, tendo que guardar o
verdadeiro eu deles dentro de um armário. Você melhor que ninguém
sabe o que é isso. – Ellen desviou o olhar de Sofia, aquelas palavras
doeram nela, não porque eram coisas ruins, mas porque era
verdade. Talvez por sofrer tanto julgamento ela tinha medo que os
filhos passassem pelo mesmo, então ela queria que eles fossem os
mais adequados possíveis a sociedade a qual eles iriam pertencer
no futuro, o mesmo acontecia com sua irmã Ella. – Você só precisa
mostrar o caminho a eles, depois eles seguem sozinhos e eu
acredito plenamente que eles vão ser adultos maravilhosos, assim
como Ella. Não estou dizendo para deixar de querer que eles sejam
os melhores que eles podem ser, mas estou dizendo para que você
consiga equilibrar sua rigidez com afeto e um pouco de mimos.
- É para isso que você está aqui. – As duas riram e logo se
abraçaram. – Só me prometa uma coisa?
- O quê?
- Vamos tomar decisões juntas quando eles te pedirem algo.
- Tudo bem, mas hoje não conta, porque eu já disse que daria
roupas novas a eles. – Sofia riu e Ellen revirou os olhos. –
Reclamona. – Sofia beijou docemente os lábios de Ellen. As duas
pararam o beijo e se separaram quando ouviram duas batidas de
leve na porta.
- Pode entrar. – Ellen falou.
- Ellen, esse convite acabou de chegar. – Ella entregou para a
irmã o papel.
- Vossa Majestade convida, você e sua família para tomar o chá
da tarde em seu palácio. – Ellen leu em voz alta.
- Leia atrás. – Ella falou.
- Isso inclui sua amiga, Lady Smith. – Ellen sorriu quando viu o
olhar assustado da amada. Todos sabiam do apreço da Rainha com
sua afilhada e provavelmente chegou aos ouvidos dela a natureza do
relacionamento das duas. – Parece que hoje teremos muitas saídas,
está animada querida? – Ellen não conseguiu segurar a risada que
saiu logo em seguida.
Capítulo Dez

Sofia quase nem conseguiu aproveitar o passeio em família


porque não conseguia parar de pensar no chá que tomaria com a
Rainha e como deveria se portar para a mulher gostar dela o
suficiente para então a considerar uma boa pessoa para se
relacionar com sua amada sobrinha.
- Como eu estou? – Sofia perguntou pela terceira vez para Ellen.
- Linda como sempre. – Ellen estava terminando de se vestir.
- Você falou isso para todos os vestidos. – Sofia foi até ela
começou a ajudar, fez o nó da gravata, ajeitou o paletó e foi buscar a
cartola enquanto ela prendia o cabelo.
- Porque você fica linda em qualquer roupa, porém principalmente
nua. – Segurou a cintura da amada quando ela foi colocar seu
chapéu e se aproximou de seu pescoço dando um beijo de leve.
- Comporte-se, a Rainha está nos esperando. – Sofia a empurrou
de leve.
- O que devo dizer a ela? - Ellen perguntou.
- Como assim?
- Sabe, ela vai querer saber que tipo de relacionamento nós
temos, mas até o momento não rotulamos nada. Como eu deveria te
rotular para minha tia?
- Eu... não sei. Como você gostaria de nos rotular? – Sofia estava
insegura. Praticamente morava ali, mesmo tendo uma casa do outro
lado da rua. Ellen não a impedia de fazer o que quisesse dentro da
casa, mesmo se ela quisesse reformar tudo, as duas estavam
dividindo despesas, mesmo Ellen sendo contra e querendo pagar por
tudo. Sofia convidava a mãe e a irmã para irem tomar café na casa,
mesmo a casa sendo da Duquesa. Se ela fosse rotular, seria esposa
de Ellen e vice-versa.
- Esposa. – Ellen prontamente falou. – Não consigo imaginar em
nenhuma posição diferente dessa. – Sofia sorriu de maneira boba e
suas bochechas coraram. – Mas... preciso saber como você vê
nosso relacionamento, porque eu sei que fui um tanto ambígua no
início sobre meus sentimentos e eu não sou o tipo de romântica, mas
meus sentimentos desde o nosso primeiro beijo só estão
aumentando, dia após dia. – Sofia não se sentia diferente.
Quando elas chegaram ao palácio Sofia estava claramente
nervosa, ela sentia que precisava da aprovação da Rainha para que
elas pudessem realmente dar certo, Ellen por sua vez estava
imensamente feliz, que não conseguia parar de sorrir.
- Eu nunca vi tantos dentes em sua boca, irmã. – Ella brincou
quando elas estavam descendo da carruagem. – Mas por outro lado
minha cu... lady Smith está um pouco quieta demais. – Era a forma
de Ella alertar a irmã que talvez precisasse tranquilizar a amada.
- Vocês podem ir na frente, por favor. – A Duquesa pediu para a
irmã levar os sobrinhos. Ela segurou a mãe de Sofia e a levou para o
jardim. – Eu não sei exatamente o que está passando na sua cabeça
ou no seu coração, mas eu gostaria de saber.
- Eu estou preocupada... e se ela não me aprovar.
- Te aprovar? – Ellen franziu o cenho. – As únicas que precisam
aprovar qualquer coisa somos nós.
- Além de ser a Rainha ela é sua madrinha.
- Exatamente por isso não vamos precisar nos preocupar com
isso. Quando ela ver o quanto eu estou feliz e o quanto te amo, vai
saber que você é a pessoa certa.
- Você me ama? – Os olhos de Sofia se encheram de lágrimas e
algumas até começaram a cair. Ellen as secou com seu lenço.
- Sim, eu te amo e eu sinto muito em não ter dito isso antes.
- Eu também te amo, já amo há muito tempo. – As bochechas de
Ellen ficaram coradas e os olhos levemente marejados mostraram
sua emoção diante da confissão amorosa de sua amada. Para ela
aquelas palavras que acreditava que jamais ouviria algum dia eram
seu combustível para lutar dia após dias por aquele amor.
- Depois dessas palavras eu lutaria até contra o exercito real pelo
nosso amor. – Mesmo sabendo que não era certo, Sofia abraçou
Ellen, um abraço apertado e mesmo sem dizer uma palavra, a
Duquesa sabia que Sofia também lutaria pelo amor delas da mesma
forma.
De uma janela do segundo andar do palácio, uma pessoa
observava a interação das duas, não podia ouvir pois estava longe,
mas conseguia sentir a transmissão de sentimentos pelos olhos,
pelos toques e pelo sorriso no lábio da sua afilhada quando elas
voltaram a caminhar de mãos dadas para dentro do palácio. Quando
chegou a sala onde tomaria chá com seus sobrinhos, eles pareciam
animados conversando, mas se calaram assim que ela entrou. Todos
a cumprimentaram formalmente, mas ao fim Ellen e Ella foram a seu
encontro e a abraçaram, a rainha teve apenas uma filha menina, mas
esta morreu com apenas poucos meses de vida e talvez por isso
fosse tão apegada as duas.
- Fico feliz pela presença de todos os meus sobrinhos e a sua,
Lady Smith.
- Sou muito grata pelo convite, Vossa Majestade. – Fez uma
breve reverência.
- E como estão os mais novos? Vocês estão estudando bastante?
- Sim, Vossa Majestade. – Edmund foi o que respondeu.
- Faz muito tempo que não o vejo, Edmund, assim como a seus
primos. Os três estão divinamente lindos, Abigail, não quer vir morar
comigo? – Sofia olhou para Ellen de canto de olho, obviamente que
ela não queria que nenhum deles deixasse o ninho.
- Acredito que ainda é muito cedo, madrinha. – Ellen respondeu.
- Eu acho que gostaria de morar num palácio enorme desse igual
a tia Ella.
- Eu amei morar aqui, tia, mas... eu sentia falta de vocês todos os
dias. – Ella falou. Ellen começou a se sentir culpada, ela amava a
irmã por isso optou para que ela fosse morar com a tia, porque se ela
ficasse isolada talvez não conseguisse um bom casamento.
- Eu não iria querer morar aqui. – Timothe falou enquanto
degustava um pedaço de bolo.
- E por que, meu jovem? – A Rainha perguntou.
- Eu ia me perder e me atrasar para todas as refeições, ai a
mamãe ia brigar comigo todos os dias. – Os adultos riram.
- Ela já briga com você todos os dias. – Abigail falou.
- Mas a tia Sofia sempre me defende, e a mamãe tem medo dela.
– Sofia riu e fez um breve carinho nos cabelos do menino.
- A que ponto chegamos. – Ellen comentou, não tinha muito o que
dizer.
- Elas sempre brigam por sua causa, isso sim. – Abigail disse.
- Não, isso não é verdade, não brigamos por causa de vocês. –
Sofia mediou a situação. – Só temos alguns pensamentos diferentes.
- E como pessoas com pensamentos diferentes conseguem
conviver bem? – A Rainha perguntou.
- Fazemos as pazes na cama. – Ellen respondeu sem pensar.
- Ellen! – Sofia e Ella a repreenderam ao mesmo tempo, foi só
então que percebeu o que havia dito.
- Por que na cama? – Edmund perguntou confuso. – Não podem
fazer as pazes em outro lugar?
- Em todos os locais da casa, filho. – Ellen pensou.
- Bom, filho, é que vamos para o quarto conversar como boas
amigas e acabamos sentando na cama e nos resolvendo. Por isso
eu disse que fazemos as pazes na cama.
Depois de mais um pouco de conversa, o fim do chá da tarde se
aproximava, Ella foi mostrar o palácio para Sofia e os sobrinhos,
deixando a Rainha com a irmã, para que as duas pudessem
conversar melhor.
- Então realmente estão vivendo como marido e mulher? – A
Rainha falou.
- Não há marido nesse relacionamento, madrinha.
- Você me entendeu.
- Sim. Aos demais continuamos sendo amigas próximas, mas ela
é minha esposa e eu sou a dela.
- Então está tudo acertado?
- O que quer dizer, com tudo acertado? – Ellen perguntou
confusa.
- Antes de qualquer casamento é preciso saber se as intenções
do noivo e da noiva são as mesmas para que no futuro não haja
rupturas.
- Conversamos sobre não nos metermos nas finanças uma da
outra e acredito que isso seja a única coisa que precisamos acordar.
- Você já perguntou a ela se pretende ser mãe algum dia? Ela é
uma mulher jovem e parece ter um instinto materno bem forte, os
três vão crescer e sair do ninho e como vai ser para vocês duas?
- Eu não sei exatamente se ela quer uma criança, mas ao aceitar
estar num relacionamento comigo ela entende que não posso dar
isso a ela, então acreditei que isso não precisasse de conversa.
- Existem formas...
- Ela não vai se deitar com outro homem, nunca mais.
- Essa é uma decisão dela.
- Enquanto estivermos juntas essa também é uma decisão minha.
- Minha querida sobrinha, eu sei que amar é assustador e muito
complicado, porque quando amamos alguém e decidimos passar a
vida ao lado dessa pessoa começamos a entender que o mundo em
que antes era apenas um Eu acaba se tornando um Nós. Algumas
pessoas resistem a isso e acabam continuando vivendo como antes,
sem se importar com a vontade do outro e como ele vai se sentir
diante das decisões que tomamos ou da forma que agimos. Você
deve saber quais são seus limites, mas não pode impor seus limites
a ela, porque os limites dela podem ser diferentes dos seus, vocês
precisam conversar e chegar a um acordo do que é melhor para a
vida das duas. Diferente de muitos casais vocês escolheram estar
juntas, por quê?
- Porque nos amamos. – Ellen ficou pensativa diante do que a tia
estava falando. – E se ela quiser ter um filho com um homem? Eu
não tenho direito de não aceitar isso?
- Tem, mas você tem que entender seus limites e não impor eles.
Você terá duas escolhas se ela decidir isso, a escolha de ficar ao
lado dela enquanto cria a criança ou a escolha de ir embora, porque
isso te fere mais do que te deixa feliz.
Por mais responsável que fosse Ellen acabou se precipitando em
alguns pontos, realmente ela e Sofia deixaram de conversar sobre
muitas coisas, coisas que poderiam impactar de maneira
considerável no relacionamento delas. Ellen se via com a mulher até
o fim da vida, mas será que ela se via da mesma forma? Já que as
duas não tinham um documento concreto que formalizava o
casamento delas, ela poderia partir de uma hora para outra e as
inseguranças que antes não existiam começaram a aparecer, a falta
de controle era sem sombra de dúvidas o maior medo de Ellen.
Capítulo Onze

As coisas que foram conversadas com Rainha ficaram na cabeça


de Ellen, ela por mais que quisesse conversar com Sofia preferiu que
sua inquietação passasse para que não falasse as coisas da maneira
errada, mas depois de três dias sua inquietação estava pior, assim
se tornando perceptível até por Sofia.
- Ellen, você está se sentindo mal? – Sofia perguntou depois da
Duquesa se virar na cama pela quinta vez. Ela se sentou e acendeu
a vela para que pudesse iluminar o quarto.
- Estou bem, só não estou conseguindo dormir.
- Essa é a terceira noite, você está assim desde que voltamos do
chá com a Rainha. Ela falou algo que está te incomodando ou foi
algo que eu fiz? – Acariciou o rosto da amada. O olhar de Ellen
vagou e ela percebeu que não adiantaria continuar guardando, teria
que falar.
- Você não fez nada, mas teve uma conversa com a Rainha que
vem me incomodando.
- O quê?
- Ela comentou que você é muito atenciosa com as crianças e
que parece ter um desejo materno, perguntou se nós conversamos
sobre isso. Você quer ter filhos?
- Bom... eu gostaria de ter...
- Você sabe que se casando comigo isso não é possível não é
mesmo? – Ellen acabou impedindo Sofia de terminar de falar, pois
estava muito ansiosa.
- Estar com você não me impede de ter um filho...
- Se você quer se deitar com homens para engravidar eu jamais
vou aceitar isso, é uma ideia inconcebível para mim. A menos que
você queira simplesmente terminar nosso relacionamento e desistir
de tudo que falamos sobre nossa vida no futuro. - Ellen se precipitou
a falar, já que aquilo estava poluindo sua mente, acabou deixando
escapar.
- Espera... o quê? Me deitar com um homem enquanto estamos
num relacionamento? Você realmente acha que em algum momento
eu pensei isso? Que tipo de pessoa você acha que eu sou? – Sofia
começou a sair da cama.
- Eu não quis dizer que você é uma qualquer... Eu só... sinto
muito... – Ellen tentou se desculpar.
- É impressionante como você sempre supõem as coisas da sua
maneira, como sou eu quem vou me deitar com um homem
enquanto estou com você, como sou eu quem vou embora ou fugir,
já que não temos um contrato formal de casamento. Eu sempre sou
a pessoa que desiste de nós, que faz as coisas erradas ou quem
simplesmente sai fugida na primeira oportunidade nas suas
fantasias. Já que é assim que você me vê talvez você devesse
repensar o porquê está comigo, já que sou tudo de ruim. – Sofia
pegou a vela e ia se dirigir a outro quarto, já que não seria bom sair
tarde da noite e ir para sua casa, mesmo sendo do outro lado da rua.
- Sofia, volte para a cama, vamos terminar a conversa.
- Quem não quer mais conversar sou eu. – Ela abriu a porta.
Ellen saltou da cama, correu na direção da mulher e segurou seu
braço, sabia que não podia deixar as coisas daquela forma, se não a
briga só se estenderia.
- Por favor, vamos terminar a conversa.
- Eu estou muito ofendida e triste. Eu sinto vontade de ter um
bebê em meus braços assim como você teve o Edmund, mas
diferente disso, eu imaginava que teríamos essa criança juntas, eu
não me importo a origem dela, se eu a criar ela será minha... nossa
criança, mas você preferiu pensar o pior do que imaginar o melhor
cenário dessa situação, como você sempre faz. Ao seu lado eu não
vejo um futuro nublado e cheio de cacos de vidro no chão, eu vejo
um céu ensolarado e um lindo gramado que eu posso caminhar
confortavelmente. Se você só espera o pior, talvez eu não seja a
pessoa certa para você. Boa noite, Duquesa Barker.
Sofia soltou seu braço e saiu do quarto, caminhou até o primeiro
quarto vago que sabia que tinha no corredor e entrou, como era o
quarto que deixavam arrumado para parecer que ela dormia em um
quarto separado de Ellen, ele já estava perfeitamente limpo e pronto
para que uma pessoa realmente dormisse ali. Ela passou a chave na
porta, apagou a vela e se jogou na cama, com as mãos no rosto e
chorou. Ela amava Ellen e por mais assustador que fosse ter um
relacionamento que não era visto como correto diante da sociedade,
as personalidades diferentes e todos os outros obstáculos da vida,
ela nunca imaginou nem por um segundo coisas ruins sobre sua
amada.
Ellen também chorou aquela noite, tudo aconteceu exatamente
como ela temia que acontecesse, mas sabia que a culpa era sua, em
momento algum queria dar a entender que Sofia era uma qualquer
ou que seus medos eram como ela via a mulher. Ellen ficou
esperando o dia amanhecer para ir atrás de Sofia, mas a mulher foi
mais rápida e já havia voltado para sua casa.
- Ela falou mais alguma coisa com você depois de ir embora? –
Ellen perguntou pela décima vez a Ella, que estava sentada na sala
de estar.
- Eu já disse que ela me pediu apenas para levar as crianças para
jantar na casa dela mais tarde, mas que você não está convidada.
- Você está do lado dela?
- Não, mas ela precisa de um tempo, apenas respeite isso. – Ella
falou.
Ellen entendia o que devia fazer, mas ainda assim era assustador
pensar que se ela fizesse mais um movimento errado significava...
- Xeque-mate. – Arturo falou. – Querida, você está com a cabeça
em qualquer outro lugar, menos aqui.
- Chega de jogos, eu acho que preciso de uma bebida. – Se
levantou da cadeira
- Tem certeza que é uma boa ideia? – Arturo tentou alertá-la.
- Sim.
Andou pelo corredor cheio de pessoas e acabou esbarrando com
uma mulher, quando virou-se viu Sofia ali, seu coração errou a
batida, ela imediatamente segurou a mão da mulher e a puxou para
mais perto, se a mão fria da mulher não tivesse tocado em seu
pescoço enquanto as duas estavam próximas, Ellen não teria
percebido que aquela mulher não era Sofia. Ela imediatamente
soltou a mulher e se afastou, nenhuma mulher lhe interessava além
de sua amada, a saudade era implacável e havia se passado apenas
um dia, queria dar espaço para Sofia, mas queria se resolver com
ela, tudo bem ela ficar em sua casa, mas que elas ao menos
fizessem as pazes. Pegou suas coisas e seguiu para rua, foi a pé
mesmo, não era distante, mas devido a escuridão das ruas e sua
bebedeira, pisou em algumas poças. Quando se deu conta já estava
no portão da casa de Sofia e não resistiu ao instinto de gritar.
- SOFIA! – No primeiro grito uma das janelas foi aberta. – AS
COISAS NÃO PODEM FICAR ASSIM! – Gritou mais uma vez. A
bebida e o amor estavam lhe deixando completamente fora de si,
aquela era uma cena que jamais imaginou fazendo. Quando a porta
principal da casa foi aberta, de lá saiu um dos empregados correndo
e Ellen ficou decepcionada, mas ainda assim não desistiria.
- Vossa Alteza, está tarde, por favor volte para casa. Lady Smith
está dormindo.
- Eu não vou embora até ela falar comigo. – Ela olhou para a
janela que era do quarto de Sofia. – EU NÃO VOU EMBORA ATÉ
VOCÊ VIR FALAR COMIGO!
- Por Deus, Vossa Alteza, pare de gritar. Vai acordar a todos. – O
homem falou preocupado.
- Abra o portão.
- Eu não posso.
- Abra agora! – Ordenou.
- Eu sinto muito, ela me enviou sem chave porque sabia que você
pediria isso.
- Pois bem, ela quer assim. – Tirou o paletó, o chapéu e jogou a
bengala no chão com as demais coisas, para então começar a
escalar o portão.
- Vossa alteza não faça isso, você pode se acidentar. Ela está
tentando escalar o portão. – O homem falou mais alto para avisar
Sofia.
- Pare com isso, Ellen! – Sofia ordenou assim que saiu de casa. –
Desça desse portão. – Ela obedeceu e desceu do portão. – Pode
entrar, eu vou resolver isso. – O empregado rapidamente entrou.
- Eu vim te buscar para irmos para nossa casa. – A Duquesa
colocou seu rosto entre as grades do portão.
- Você está bêbada, vá para casa e amanhã conversamos.
- Não! – Esbravejou. – Não vou para casa sem você, se não vier
comigo dormirei no seu portão. Por favor, me perdoa.
- Pare de fazer drama.
- Eu não quero passar outra noite brigada com você. Eu errei em
falar aquilo, mas não posso mudar o que eu disse. O que falamos
tem peso diante de Deus e dos homens. E só Deus sabe o peso que
essas palavras tiveram para você, mas eu estou aqui, implorando por
perdão. Você quer que eu me ajoelhe, quer que eu grite que te amo,
eu faço qualquer coisa, basta me pedir. – Sofia queria ceder e
realmente ir com Ellen, mas naquele estado não podiam se resolver,
as coisas tinham que ser feira da maneira correta.
- Eu quero... que vá para casa. Eu estou falando sério, você já me
envergonhou demais essa noite. – Quando as lágrimas da mulher
começaram a cair, Sofia se sentiu mais fraca em continua com a
pose.
- Tudo bem. – Engoliu a seco e secou as lágrimas rapidamente. –
Eu vou embora. – Pegou as coisas no chão e deu uma última olhada
para Sofia. – Vou te dar o espaço que você quer.
Sofia interpretou como uma ameaça de bêbado, voltou para casa,
mas não dormiu, esperava que nenhum vizinho falasse nada sobre a
situação que aconteceu naquela noite, pela manhã viu uma pequena
movimentação na casa da frente, mas ignorou, tomou seu desjejum
e com toda calma se vestiu para seguir então para casa da Duquesa.
Tocou o sino e foi atendida por Gertrude, a governanta da casa.
- Bom dia, Milady. – Abriu o portão para ela. – Eu posso ajudar
em algo?
- Eu vim ver a Duquesa.
- Vossa Alteza viajou essa manhã. Saiu bem cedo.
- Então ela voltou para a casa de campo?
- Sim, ela disse que iria caçar e voltava dentro de um mês.
- Um mês? – Perguntou assustada. Esperava alguns dias, mas
um mês era bastante tempo.
- Sim, milady.
- Ela deixou as crianças? – A mulher concordou. – Ela foi
acompanhada?
- Eu... não sei dizer.
- Era uma mulher? – A governanta olhou para os lados para
verificar se não havia ninguém, não queria se comprometer.
- Sim. – Sussurrou. – Acho que uma velha amiga que ela
reencontrou há pouco mais de uma semana.
Sofia buscou na memória alguma saída para ver uma amiga e
lembrou-se de uma amiga de Ellen que havia chegado da Escócia,
as duas foram jantar juntas e Ellen chegou bem tarde e com um
perfume forte que ela passou a odiar, as duas até acabaram se
desentendendo porque Sofia ficou enciumada, já que se o perfume
estava forte daquele jeito a mulher provavelmente ficou agarrada no
pescoço de Ellen a noite inteira.
- Se ela quer agir assim, tudo bem. – Sofia falou. – Diga as
crianças e a Ella que mandei lembranças. – Deu um sorriso sem
mostrar os dentes e saiu a passos largos para casa.
- Falou exatamente como eu pedi? – A porta foi aberta atrás da
governanta e de lá surgiu Ella.
- Sim, senhorita, mas eu acho que ela não irá para casa de
campo atrás da Duquesa.
- É claro que ela vai, ainda mais acreditando que Ellen está com
uma mulher.
- Não vamos criar problemas para a Duquesa?
- Não, quando ela chegar lá e ver que não tem ninguém vai se
acalmar, depois eu tomo a responsabilidade pela pequena mentira
que você contou. No amor e na guerra vale tudo, não é mesmo?
Naquele mesmo dia Sofia foi para casa de campo de Ellen, ela
não pretendia manter a distância por muito tempo, mas também não
podia ceder tão fácil e ainda assim a Duquesa estava bêbada, saber
que ela foi para uma festa enquanto as duas estavam com
problemas também a deixou chateada. Depois de algumas horas de
viagem, mesmo estando cansada, quando chegou desceu da
carruagem e seguiu para dentro da casa, não esperou convite e nem
que os empregados a anunciassem.
- Onde ela está? – Perguntou ao mordomo da casa.
- Ela saiu para caçar com...
Não esperou o homem terminar e seguiu para a floresta onde
Ellen caçava, enquanto estavam na casa a mulher lhe mostrou seus
locais preferidos e onde caçava era um deles. Em geral ela ficava
apenas observando os animais, nunca deu um tiro neles. Em um
determinado momento quando Sofia viu seus sapatos sujos de lama
e o estado em que estava, percebeu que estava agindo de maneira
impensada e dominada por seus impulsos. Mesmo que ela estivesse
com uma mulher, o que ela faria quando as visse? Talvez fosse
melhor ficar sem saber a verdade, mas será que seu coração ficaria
em paz.
- Eu devo estar ficando louca. – Soltou um longo suspiro. Quando
começou a voltar para casa ouviu um barulho na mata, começou a
ficar assustada pois poderia ser um animal selvagem. Dito e feito,
era um servo correndo, o mesmo quando a viu também se assustou,
logo em seguida um tiro foi ouvido e ecoou pela floresta,
afugentando os pássaros e os animais que estavam por perto.
Capítulo Doze

Ellen sentia que precisava se afastar para pensar com clareza,


ficou chateada pela recepção de Sofia noite passada, mas não
achou que ela estivesse errada. A cena que ela causou era
realmente digna de pena e de repreensão, tomada pela vergonha
decidiu tirar um tempo em sua casa de campo, deixou os filhos com
a irmã, seria bom que a deixaria ocupada e ela não pensaria em
outras coisas. Assim que se sentisse menos envergonhada e que
sentisse que Sofia já teve tempo suficiente para pensar e tentar
perdoá-la sobre a situação, ela voltaria.
- Eu estou indo caçar. – Já estava com sua arma nas mãos. –
Peça para que o George venha comigo.
- Sim, senhora. – O mordomo concordou.
Ellen saiu cedo, voltou para comer algo e saiu novamente, queria
ocupar a cabeça e ficar em casa não ajudaria, por isso pensou em
passar o dia inteiro fazendo alguma coisa.
- Vossa Alteza, aquele ali está perfeito. – Comentou George.
- Sim, está bem na mira. – Ellen ficou admirando o animal. – Mas
eu não vou fazer nada. Mesmo que eu o matasse, não temos tantas
pessoas para comer a carne e seria desperdício.
O homem percebeu que os dois ficaram apenas olhando os
animais e os pássaros, ela não parecia querer caçar realmente,
apenas observar os animais.
- Vamos voltar, já vai começar a escurecer. – Ellen levantou e o
homem a seguiu, o servo quando viu os dois se assustou com o
barulho e saiu correndo, algo normal para espécie dele.
Eles foram caminhando, mas devido ao acúmulo de folhas ela
acabou caindo num local que havia um buraco, assim ela acabou
torcendo o tornozelo e dando um tiro para o alto. Um grito estridente
atraiu atenção dos dois.
- É... a Sofia. – Ellen mesmo sentindo dor andou rapidamente
enquanto apoiava-se em sua arma. – Sofia! – Falou assim que viu a
mulher. Ela largou a arma e correu até ela, Sofia estava no chão
encolhida. – Você está bem? – Se ajoelhou ao lado do corpo da
mulher.
- Eu... Eu estou. Tinha um servo e depois um tiro, eu me assustei
e me joguei no chão.
- Graças a Deus você está bem. – Ellen abraçou a mulher. – Eu
fiquei com medo de ter te atingido com o tiro. – O abraço apertado só
foi quebrado pelo pigarro do empregado.
- Vossa Alteza, eu sinto muito interromper, mas... está
começando a escurecer.
- Certo, vamos voltar logo. – Ellen ia ficar de pé, mas a dor forte
no tornozelo a impediu. – Ah! – Caiu com a mão no local.
- Ellen, o que houve? – Sofia foi de encontro a mulher.
- Eu acho que torci meu tornozelo. – Ela tirou o sapato e estava
com o pé super inchado. – Me ajude a levantar.
- Eu posso carregá-la. – O homem falou.
- Não tem necessidade. – Com a ajuda de Sofia e George, Ellen
ficou de pé. Com dificuldade ela ia caminhando.
- Está escurecendo, deixe que ele te carregue. – Sofia também
não gostava muito da ideia, mas era necessário. – Está ficando cada
vez mais escuro.
- Tudo bem, só para andarmos mais rápido.
- Com licença, Vossa Alteza. – O homem pegou Ellen no colo e
não pareceu ter muita dificuldade. – A senhora é mais leve do que
aparenta.
- Você não tem porquê fazer comentários, George. – Sofia falou.
Quando chegaram em casa houve um pequeno alvoroço diante
dos acontecimentos, mas não levou muito tempo para se acalmarem
e Ellen ser tratada pelo médico. As duas estavam sozinhas no quarto
e o silêncio imperava no lugar.
- Vamos ter a conversa na cama? – Ellen tentou cortar o clima
estranho e funcionou, acabou tirando uma risada de Sofia.
- Como você está? – Sofia chegou mais perto de Ellen.
- Agora que você está aqui, estou bem. – Segurou a mão de
Sofia. – Eu pensei que tinha estragado tudo, mas agora que você
está aqui eu me sinto melhor porque significa que ainda tenho uma
chance de corrigir o meu erro.
- Eu... Eu preciso ser sincera com você, mas antes de contar isso,
eu quero dizer que eu voltei para casa hoje de manhã e queria
conversar com você para resolvermos tudo.
- Você foi?
- Fui, ontem eu não achava certo conversarmos, além de você ter
bebido eu estava irritada porque você provavelmente foi para alguma
festa. – Sofia admitiu. – Eu comecei a pensar mil coisas e estava
magoada, foi um misto de sentimentos e eu preferi que você fosse
embora, acabei falando algumas coisas de maneira mais dura do
que queria.
- Eu me senti envergonhada pelo meu comportamento noite
passada. Eu estava com medo de que se te desse espaço você
descobriria que sua vida pode ser melhor sem eu estando nela.
- É difícil eu imaginar minha vida sem você... E sem tudo que
acompanha a sua vida. Eu tive medo de te perder. - Sofia admitiu.
- O quê? Por quê?
- Quando eu estava voltando para casa, Gertrude falou que você
havia saído bem cedo, que tinha vindo para casa de campo e que...
– Sofia soltou um suspiro. – Você tinha vindo acompanhada de uma
mulher, não uma mulher qualquer, mas aquela sua amiga que você
foi jantar com ela e voltou quase no dia seguinte.
- Então você veio porque achou que eu estava com uma mulher?
– A decepção estampada no rosto de Ellen fez Sofia ficar assustada.
- Eu queria resolver as coisas, por jsso eu fui para casa para
resolvermos tudo. Ellen, me perdoe porque o que me trouxe aqui foi
uma situação errada, mas eu vim por você e por nós.
- O que esperava ver?
- Eu não sei, quando me dei conta da situação um servo pulou na
minha frente, eu ouvi um tiro e pensei que ia morrer. Mas hoje eu
estou feliz que estou aqui, porque eu vou poder cuidar de você. –
Fez uma carinho no rosto de Ellen. – Eu sei que não foi certa a
minha motivação, mas eu estou feliz por estar aqui e quero
esclarecer as coisas entre nós.
- Acho que nesses últimos dias fizemos muitas coisas que
pensamos ser o certo.
- Eu pensei seriamente em tudo que você me falou naquela noite,
realmente eu amo crianças... Durante o tempo em que estive casada
eu tentei engravidar diversas vezes. – Ellen fez uma careta. – Não
faz essa cara, você teve um passado e eu também, acha que eu não
sei que metade das mulheres que você fala que são suas amigas
você provavelmente transou com todas elas.
- Não sou tão popular como você pensa.
- Seu nome é famoso nas festas, quando eu estava procurando
informações sobre você a maioria das coisas que eu ouvi foram
sobre como sua cama nunca fica vazia ou que uma mesma mulher
nunca passava duas noites seguidas com você. Como muitas
mulheres casadas te procuravam e como você gostava delas...
- Certo, eu entendi que você soube de algumas coisas. – Ellen
impediu que Sofia continuasse.
- A questão é que eu não consegui engravidar e eu fiquei
seriamente pensando se iria, porque eu não queria mais me casar e
você me deu algo que eu achei que nunca teria, você me deu três
crianças, uma delas extremamente parecida como você. – Sofia
tocou no rosto de Ellen, que colocou sua mão sobre a de sua amada
e fechou os olhos sentindo o calor.
- Eu fui uma idiota... Mas mesmo sendo uma idiota faria qualquer
coisa para te fazer feliz. Eu não posso te engravidar e engravidar de
você, mas... Há muitas crianças que podemos criar.
- Muitas crianças?
- Quantas você quiser.
- Vamos com calma. – Sofia começou a rir e se sentou de frente
no colo de Ellen. – Eu acho que podemos começar com uma, mas
vamos esperar um pouco. – Sofia capturou os lábios de Ellen de
maneira voraz e sedenta. – Como você está machucada hoje eu vou
fazer tudo sozinha.
- Isso é injusto.
Sofia se afastou e sorriu, desceu os beijos pelo pescoço, apertou
os seios de Ellen por cima da camisola, fazendo a Duquesa soltar
um gemido. Sofia foi descendo os beijos, enquanto levantava a
camisola. Não perdeu tempo em colocar sua boca no sexo molhado
de sua amada.
- Você é tão boa nisso. – Ellen falou entre os gemidos. Não era
fácil chegar ao ápice, por isso ela preferia tocar ao invés de ser
tocada, mas com Sofia era tudo tão natural que ela se sentia à
vontade. Com mais um pouco de estímulo alternando entre língua e
dedos, Sofia fez com que Ellen chegasse ao ápice de uma forma tão
gostosa que ela sentia as pernas tendo uma leve tremedeira. – É
injusto apenas você se divertir.
- É claro que não. – Começou a dar beijinhos no rosto da
Duquesa. – E você está machucada.
- Fica por cima, você adora essa posição. Eu não vou precisar me
mexer muito e você vai gemer como eu amo.
- Até parece que só eu adoro. – Sofia tirou a camisola e voltou a
sentar no colo de Ellen.
- Precisa trancar a porta.
- Precisa mesmo ou você só quer me ver andando nua por aí?
- Eu preciso mesmo responder essa pergunta? – Sofia caminhou
até a porta e a trancou, tudo ao olhar atendo de Ellen.
- Feliz? – Sofia voltou a se sentar no colo de Ellen.
- Só se você desfilar nua para mim todos os dias.
- Vou pensar no seu caso.
As duas voltaram a se beijar, mas não durou muito porque Ellen
migrou os beijos para uma de suas partes preferidas do corpo de
Sofia, os seios.
- Isso... Ellen. – Gemeu quando a mulher tocou seu sexo e
começou a massagear enquanto chupava e massageava seus seios.
Quando dois dedos de Ellen a penetraram, Sofia gemeu mais alto e
pendeu a cabeça para trás. Colocou as mãos nos ombros da
Duquesa e começou a se movimentar nos dedos dela. Estava tão
molhada que seu líquido escorria pela mão de Ellen.
- Eu gosto quando você fica assim. – O tapa inesperado que a
Duquesa lhe deu a fez colocar a mão na boca se não iria gemer mais
alto do que deveria. – Não... Eu quero ouvir. – Tirou sua mão da
boca.
Quando chegou ao ápice, Sofia se jogou nos braços da amada e
ficou ali ofegante enquanto recebia carinho de Ellen, que aos poucos
foi deitando abraçada com a mulher.
- Eu já estive em muitos lugares, mas nenhum lugar fez com que
eu me sentisse tão bem quanto seu abraço. – Ellen falou no ouvido
de Sofia, que não aguentou de emoção e deixou uma lágrima cair,
ela se sentia da mesma forma e saber que era retribuída na mesma
intensidade fazia com que ela se sentisse tão feliz a ponto de se
emocionar.
Capítulo Treze

Com o passar do tempo ficava mais nítido que as duas estavam


tendo uma relação, faltando apenas dois meses para o casamento
de Ella, Ellen pediu para que lorde Phillip viajasse para América, num
ato de ajudar a família Ybarra de diversas dívidas acumuladas por
Rafael. O rapaz pediu para que ela não contasse a Ella o real motivo
pois ele estava se sentindo envergonhado por seu pai. Com a
ausência do rapaz Sofia assumiu completamente os negócios,
excluiu completamente o pai dos negócios da família e controlava
todos os gastos.
- Precisamos mesmo fazer um baile? – Sofia perguntou a irmã
mais nova.
- Como você quer que eu me case? – Rafaela esbravejou. – Eu
não tenho vestidos novos e nenhum rapaz chega perto de mim.
- Não é por conta dos seus vestidos. – Sofia falou. - Precisamos
economizar para o seu dote, se não aí mesmo que você não vai
casar.
- Por que não pede dinheiro a Duquesa?
- Porque não é certo e ela já está nos ajudando bastante.
- Era o mínimo que ela poderia fazer já que você dorme com ela.
- Rafaela! – Sofia a repreendeu.
- Todos sabem da natureza do seu relacionamento, por que você
fica fingindo que são apenas amigas?
- Não importa qual seja a natureza, o que importa é que eu não
vou pedir dinheiro a ela e pronto. Contente-se de ter um teto sobre
sua cabeça e comida em seu prato, porque até recuperarmos tudo
que nosso pai perdeu e as dívidas que fez, vamos viver assim.
- Vamos não, você não vive como nós. Sua amada Duquesa te dá
muitos vestidos e festas extravagantes.
- Eu não vou repetir, sem despesas desnecessárias, pode
comprar um vestido, mas apenas um.
A garota soltou um gritinho e saiu batendo os pés, na porta
acabou dando de cara com Ellen, mas ignorou a mulher e saiu
bufando, a mesma entrou com um semblante de confusão e Sofia
estava com as mãos na cabeça.
- Eu sinto muito pelo comportamento mal educado dela. – Sofia
se antecipou nas desculpas.
- Mas o que aconteceu? – Ellen tirou a cartola e colocou a
bengala no canto, para então dar um selinho em sua amada.
- Ela quer um baile e garante que se não tiver um não vai arrumar
um marido. Com a situação como está se dermos um baile podemos
declarar falência logo em seguida e não, nós não queremos seu
dinheiro.
- Tudo bem. – Ellen sentou-se na cadeira à frente da esposa e
pegou um dos cadernos que eram livros caixas. – Ela quer tanto
casar assim? Eu posso conversar com alguns lordes com filhos que
precisam de uma esposa...
- Não, ela não quer tanto casar, ela quer me irritar.
- Talvez você devesse ser transparente com ela, bem ou mal as
finanças da família deveriam ser de interesse de todos vocês.
- Eu não quero mais pessoas preocupadas, já me sinto mal por
estar envolvendo você nessa situação.
- Eu me sentiria muito magoada se não me envolvesse. Hoje eu
recebi correspondências do seu irmão, parece que os negócios na
América estão promissores, as parcerias vão funcionar.
- Finalmente boas notícias, algo mais?
- Ele vai ficar mais um mês na América. Ella ficou um pouco
decepcionada e sei que ela me culpa. Quando soube que ele ficaria
mais tempo se trancou no quarto, você pode conversar com ela
quando chegar em casa? - Ellen sabia que a esposa e a irmã se
tornaram boas amigas e até mesmo confidentes.
- Não acha melhor dar espaço para ela pensar e lidar com os
sentimentos de frustrações?
- Acredito que ela precise de uma amiga agora, para desabafar e
me xingar, por isso você vai ser a pessoa perfeita. – A mulher sorriu.
- Tudo bem, vou te xingar bastante para ela se sentir melhor.
- É por isso que te amo. – Beijou a mão de Sofia.
Ao terminarem o dia de trabalho Ellen foi pagar os empregados e
depois iria para casa. Para os que ficaram durante o período difícil
ela ofereceu um aumento e com os lucros entrando pouco a pouco,
ela conseguia ir aumentando o salário dos homens gradativamente
até chegar ao aumento que ela prometeu.
- Eu não gosto de receber das mãos dela. – Ela ouviu um dos
homens comentar. – Todos sabem como ela vive.
- Pare de falar besteira, os negócios estão melhorando com ela
aqui. – Outro empregado falou.
- Isso é verdade, a mulher é boa para os negócios.
- Temos mais trabalho, isso sim. – O que iniciou os comentários
falou.
- Se não quer trabalhar, vai para casa, tem muita gente querendo
seu emprego. – Ellen chegou e todos ficaram de pé.
- Vo-vossa Alteza eu não quis dizer isso... É que... Antes não
tinha tanto trabalho...
- Então fazemos assim. – Ela deu o envelope com dinheiro para
ele. – Você pega seu salário e não volta amanhã, assim vai poder
trabalhar menos em casa. – O homem apenas ficou calado. – Aqui
estão o de vocês. – Estão liberados. Os mesmos começaram a sair.
- Vossa Alteza, eu sinto muito incomodar, mas... minha filha, ela
está doente e... Eu... Preciso de um empréstimo para comprar os
remédios... Eu não queria pedir, mas estamos realmente
desesperados.
- Você está com a receita do médico aí?
- Sim, senhora.
- Vamos. – Mandou o homem entrar na carruagem. – Siga para a
botica mais próxima. – Falou com o cocheiro.
Quando saiu do local o homem quase aos prantos agradeceu a
ela, além de comprar os remédios ainda lhe deu dinheiro para ajudar
o homem com uma alimentação melhor para a menina. Decidiu que
compraria presentes, se sentiu afortunada com sua família e por
todos estarem bem. Pelos tempos difíceis também decidiu
presentear Rafaela e Susie, por mais que concordasse com Sofia
sabia que a irmã estava sofrendo com os cortes. Passou na modista
e comprou vestido para as duas, para a esposa um luxuoso anel e
para irmã uma pulseira, para os menores comprou jóias também.
Primeiro foi a casa de Lady Susie, já que era a mais próxima.
- Vossa Alteza, não tinha porque se incomodar. – Susie falou. –
Rafaela está trancada no quarto desde que chegou.
- Espero que isso a anime, eu não posso dar um baile porque
Sofia ficaria brava, mas acredito que não tenha problemas dar
vestidos, mas não conte a Sofia por enquanto, tudo bem? – As duas
riram.
- No início eu fiquei preocupada com a amizade de vocês, mas eu
vejo o quanto minha filha é feliz. Obrigada por tudo, Vossa Alteza.
- Não tem porque agradecer, eu quem sou imensamente grata
por ter sua filha em minha vida, ela sem sombra de dúvidas trouxe
alegria para minha vida. E pode me chamar de Ellen, somos família
agora. – Susie segurou sua mão num contato de cumplicidade e
felicidade, se um dia imaginou um genro, este seria como Ellen,
comprometida, amorosa e completamente apaixonada por sua filha.
Nem tudo era como ela queria que fosse, mas entendia que Deus
havia um plano para cada pessoa e talvez o delas fossem ser o amor
uma da outra.
- O que é isso? – Rafael entrou na sala de estar e avistou as duas
com as mãos dadas e sorrindo. Ele estava embriagado como sempre
e aquilo deixou Susie assustada, sabia como o marido ficava violento
nesse estado. – Você... Primeiro minha filha, agora minha esposa.
- Milorde não é nada disso, eu apenas vim conversar e trazer
presentes... – Ele não a deixou terminar, deu um soco em seu rosto,
fazendo com que ela caísse no chão.
- Rafael! – Susie ficou na frente do homem.
- Está tentando comprar minha família? Você quer um harém de
pecado? Sua miserável. Eu vou as autoridades te denunciar, sua
nojenta.
- Rafael, chega! – Empurrou o homem que tentava avançar em
Ellen. A mesma se colocou de pé, estava com a boca sangrando.
- Amanhã nos resolvemos. – Ellen saiu a passos largos.
- Vossa Alteza, por favor ele está bêbado. – Susie tentou correr
atrás dela, mas era tarde demais. – Você sabe o que você fez!
- Como você pode... – Ela deu um tapa no rosto do homem que
ficou perplexo.
- Você não cansa? Já destruiu nossa família e agora quer
terminar de nos enterrar. Como você chegou a esse ponto? Se
tornou um homem medíocre. Quando Phillip voltar e se casar eu vou
embora com Rafaela. Amanhã você vai na casa da Duquesa e vai
implorar de joelhos por perdão... – Ela pegou a jarra que estava com
água gelada e jogou no homem, para ver se assim acabava com sua
embriaguez. – Sofia nunca vai te perdoar. – Foi a última coisa que
falou ao sair.
Quando Ellen chegou em casa foi recebida pela governanta que
se assustou com o ferimento em seu rosto, a mesma correu para
pegar água e limpar, um dos empregados foi avisar Sofia do
ocorrido, a mesma estava conversando com Ella.
- O que houve? – Perguntou esbaforida por ter descido correndo
as escadas.
- Um bêbado me bateu na rua. – Ellen tentou omitir que havia
sido seu pai.
- Você sabe quem foi ele? Vou mandar chamar a polícia...
- Não tem necessidade.
- Quem foi Ellen? – Sofia há poucas semanas havia recebido a
visita de seu pai, mas manteve em segredo, ele estava violento e
falando muitos desaforos principalmente sobre Ellen.
- Um bêbado qualquer.
- Então por que não quer chamar a polícia?
- Porque vai ser criado um alvoroço maior do que realmente
precisamos.
- Foi o meu pai?
- Foi um bêbado.
- Eu sinto muito, Ellen. De verdade eu sinto muito. – Ela começou
a chorar. – Eu não esperava que ele chegasse a isso.
- Não se desculpe pelo o que outra pessoa fez. – Ellen segurou
seu rosto e secou suas lágrimas.
- O que você vai fazer?
- Eu pensei seriamente em tomar medidas drásticas, mas eu sei
que isso vai magoar você e outras pessoas que eu também tenho
apreço. – Soltou um longo suspiro. – Eu não vou fazer nada.
- Talvez... Devesse fazer algo. Ele anda descontrolado.
- Ele fez algo com você? – Ellen saltou da cadeira, só de imaginar
que ele poderia ter machucado sua amada, seu sangue ferveu. – Se
ele fez algo eu juro que ele vai pagar muito caro por isso.
- Não, ele não fez nada. Apenas gritos...
- Ele gritou com você? – Falou surpresa. – Quem ele pensa que
é? Como ele pôde gritar com você.
- Está tudo bem, não é como se fosse algo que ele já não tivesse
feito. Venha, se acalme. – Sofia tentou fazer a amada se acalmar.
- O que você quer que eu faça?
- Eu não sei, sinceramente. Eu só queria que ele fosse para bem
longe. Primeiro aquele roubo que eu tenho certeza que ele planejou
e agora isso, eu estou cansada dele e tenho certeza que minha mãe
também.
- Se eu fizer algo sua família vai acabar sendo afetada. – Ellen
falou. – O melhor seria apenas ignorar.
- Ele vai continuar fazendo porque ele simplesmente vai ver que
não tem consequências.
Ellen suspirou e abraçou a esposa, ficou pensando seriamente
sobre o ocorrido e como se posicionaria sobre isso. Quando o dia
seguinte chegou no primeiro horário a Duquesa recebeu uma visita
que já esperava.
- Lorde Ybarra se encontra à sua espera, Vossa Alteza. –
Gertrude falou.
- Obrigada, Gertrude. – Levantou-se da mesa do café da manhã
em silêncio ao olhar atento de todos a mesa, Sofia por sua vez
largou o que estava comendo para ficar a postos e pediu para os
empregados homens estivessem por perto também. – Bom dia,
Lorde Ybarra. – Ellen começou a falar.
- Bom dia, Vossa alteza. – O homem fez uma breve reverência. –
Eu acredito que não precisamos de rodeios, já que sabemos
exatamente para o que eu vim. Eu gostaria de pedir desculpas por
meu comportamento ontem, eu estava sob efeito do álcool e não
estava raciocinando com sabedoria.
- Eu não vou aceitar suas desculpas. – O homem arregalou os
olhos. – Eu refleti sobre isso e percebi que não devo aceitar porque
você não merece.
- Vossa alteza, por favor, entenda que eu sou um homem
desesperado pela situação da minha família...
- Se estivesse realmente desesperado não estaria gastando
dinheiro em bebida. Você tem colocado a culpa de tudo o que
acontece em todos da sua família, mas não toma uma atitude
decente para resolver isso. Grita e ofende a todos que tentam te
ajudar, principalmente Lady Smith.
- Então é por isso? Uma vingança barata porque Sofia te contou
que eu disse que ela queimaria no inferno por estar com você?
- Ela não havia me contado. - O homem ficou surpreso e estava
ficando nervoso, era só ela aceitar as malditas desculpas e pronto,
por que estava dificultando tanto? – Eu vou aceitar suas desculpas,
mas você terá que trabalhar para mim. Receberá um salário
adequado a sua posição, receberá uma casa, que terá que pagar
aluguel, já que a casa me pertence, e não poderá beber uma gota de
álcool durante os dias de trabalho e se descumprir com suas ações
vou mandar prendê-lo e se ainda assim continuar a pregar falsas
acusações sobre sua filha, que é uma querida amiga, que está tão
triste com a sua viuvez que não pretende se casar novamente com
um homem, e sobre minha pessoa, vou mandar enforcá-lo, tudo isso
com apoio da minha amada madrinha, a Rainha, acho que você sabe
exatamente quem é ela. – Ellen apontou para o papel e a caneta que
estavam em cima de uma pequena mesinha. – Esse é um contrato
de trabalho, assine as duas vias, o tabelião já se encontra presente
para autenticar.
- Então sua punição é me mandar para uma vilazinha remota
para eu poder pagar por tudo?
- Vilazinha? – Ellen sorriu.
- Não senhor, o senhor vai para América, ficar responsável por
administrar meus campos de colheitas e minhas mercadorias, mas
não se engane, estará sob o atento olhar de meu sócio.
- Sofia concordou com isso?
- Eu não entendi sua pergunta.
- Sofia concordou com o que você vai fazer com o pai dela?
- Diante da situação não tomei a decisão baseada na minha
amizade com ela e sim em como a Duquesa de Edimburgo se
comportaria. Pela apreço a amizade que tenho com sua filha não o
denunciei pelo roubo aos galpões do porto, mas só porque ela
sofreria muito ver o pai sendo morto em praça pública e toda sua
família seria rebaixada, mas apenas por isso. O seu erro foi ter
achado que eu deixaria passar seus atos imprudentes tão fácil.
O homem assinou o papel e saiu a passos largos, nem se quer
falou com sua filha, que estava no cômodo ao lado escutando tudo.
Quando ele saiu ela foi até a esposa e a abraçou.
- Obrigada. – Agradeceu. Ellen não pretendia fazer nada apenas
aceitar as desculpas do homem, mas Sofia sabia que só iria piorar o
comportamento dele.
- Eu espero que esteja certa disso. Sua mãe vai ficar chateada.
- Acho que depois do comportamento dele com você ela deve
estar querendo distância dele, não foi a primeira vez que ele bateu
em alguém da nossa família. Vou pedir para que ela venha aqui
tomar chá da tarde.
- Eu espero que ele consiga se corrigir.
- Eu acho bem difícil, mas acho melhor ele fazendo essas coisas
bem distante de nós.
- Você sabe o que vai acontecer, não sabe? Você vai ganhar
novos irmãos.
- Não é como se eu não tivesse um ou dois irmãos bastardos por
aí. – Sofia suspirou.
Aquele era um triste relato vindo de Sofia, quando descobriu
sobre o primeiro irmão ela já era casada, talvez por isso conseguiu
se acalmar, já que não precisava ver o pai todos os dias, mas desde
então ela ficava imaginando se sua mãe sabia sobre isso ou não.

Capítulo Quatorze

Quando Phillip chegou em Londres ele esperava uma recepção


calorosa de Ella, mas o que recebeu foi desprezo, ela estava
chateada com o rapaz e com a irmã, portanto se recusava a falar
com ela.
- Ele chegou ontem e ela ainda nem sequer tocou no nome dele.
– Ellen falou preocupada. – Quanto tempo ela vai ficar assim?
- Não sabemos.
- Finalmente eu estou feliz com um rapaz para se casar com ela e
ela começa a agir dessa maneira. Por que ela não pode finalmente
se casar com ele agora que ele voltou?
- Ela está chateada pelo tempo que ele ficou fora, mas acredito
que quando se acalmar vai conversar com ele. – Sofia estava lendo
um panfleto sobre os bailes daquela temporada.
- Eu disse para ele lhe comprar um presente caro...
- Como sempre você dando ótimos conselhos de relacionamento,
meu amor.
- O que eu deveria fazer? Ele estava desesperado e agora eu
também estou. – Ellen andava de um lado para o outro.
- Deveria não se meter e aconselhar que ele diga a verdade.
- Eu entendo o rapaz, ele não quer passar inseguranças para ela.
- Então você preferia que eu não te contasse? – Sofia a encarou.
- Não, eu ficaria chateada.
- Então agora você entende como ela se sente.
- Eu odeio isso! – Ellen suspirou.
- Não ter controle?
- Sim! Eu vou falar com ela. – Ellen abriu a porta do quarto e saiu.
- Péssima ideia. – Sofia levantou e foi atrás de Ellen. – Ellen,
espera. – Sofia a impediu. – Amor, eu sei que você tem necessidade
das coisas saírem como você quer, mas nesse caso você não tem
que se meter.
- Isso vai ficar assim até quando?
- Até quando ela sentir vontade.
- Eu só preciso fazer uma pergunta. – Desviou rapidamente de
Sofia e entrou no quarto. – Ella... – As duas ficaram surpresas que
ela não estava no quarto. – Ela não está aqui, você sabe para onde
ela foi?
- Não!
- Você não está encobrindo ela?
- Não, claro que não. Estou tão surpresa quanto você.
- Venha. – Pegou a mão da esposa e caminhou rapidamente com
ela, desceu as escadas e foi até seu escritório. – Achei. – Pegou um
pequeno envelope que tinha o lacre de cera aberto.
- Por que você guarda os convites de festas que não vai?
- Foi apenas o acaso, em geral eu leio e jogo na lareira. – Sofia
ficou a encarando. – Estou sendo sincera e sempre que vou a festas
levo você comigo.
- Eu sei das suas escapulidas, só para deixar claro.
- Apenas drinks com amigos, não tem nada a ver com as festas. –
Sofia continuou a encarando, então Ellen se aproximou e lhe deu um
selinho. – Sério que vai ficar brava porque sai com dois amigos,
homens – Enfatizou a palavra. – Para beber?
- Não vou.
- Que bom, agora temos que ir buscar a Ella. – Segurou Sofia
pela mão novamente.
- Espere, eu preciso me trocar.
- Por quê?
- Porque eu não vou sair assim. – Ellen olhou para o vestido da
amada e não tinha nada de errado. – Nem pense em dizer nada,
apenas me espere e deixe tudo preparado para sairmos.
Ellen estava impaciente e sua perna balançando demonstrava
isso, quando saltou do sofá para gritar por Sofia mais uma vez a
mulher vinha descendo as escadas.
- Por Deus mulher, que demora.
- Eu estava em dúvida sobre qual vestido usar.
- Agora podemos ir?
- Sim.
As duas partiram para festa e quando chegaram lá, elas se
separaram para encontrar Ella, quem encontrou primeiro foi Sofia, a
mulher estava fumando um cigarro, com um copo de whisky ao seu
lado, enquanto estava sentada numa mesa jogando cartas.
- Ella, graças aos céus. – Sofia falou. – Sua irmã e eu estávamos
preocupadas.
- Eu precisava sair um pouco e como Ellen sempre vem a essas
festas, achei que também poderia vir. – Respondeu num tom áspero.
- Miladys, poderiam nos dar licença por alguns minutos? – Sofia
pediu.
- Seria grosseria pedir isso a elas, Sofia.
As mulheres que já eram conhecidas de Sofia, as
cumprimentaram e saíram. Ella também iria levantar, mas foi
impedida por Sofia, que segurou seu braço e a fez sentar
novamente.
- Sua irmã está vindo e vocês precisam conversar.
- Não precisamos.
- No início eu acreditava que você precisava de espaço, mas
agora eu sei que você precisa conversar e se acertar com ela. Pare
de fugir e fazer birra. – Ella arregalou os olhos. – Se não quer mais
se casar, tudo bem, mas precisa parar de agir assim.
Não levou tempo para que Ellen passasse pela porta e Sofia
apenas deixasse o recinto para que as duas pudessem conversar. A
Duquesa nada disse, foi até a uma garrafa de bebida, cheirou o
líquido e constatou que era conhaque, serviu dois copos e entregou
para Ella.
- Desde quando você foge? – Puxou a cadeira e sentou-se de
frente para sua irmã mais nova.
- Eu não me sinto surpresa com você não saber, já que me
mandou para longe por todos esses anos.
- Isso não é justo.
- É justo tudo que faz comigo, El?
- Eu sei que parece que eu não tenho sido razoável com você,
mas eu tomei as decisões pensando no seu melhor.
- Não, você tomou as decisões baseadas no que você achava
melhor para você. Precisava mandar meu noivo para tão longe só
para testar a fidelidade dele?
- Testar a fidelidade dele? – Ellen tomou o resto do liquido num
único gole.
- Sim. – Ella levantou da cadeira. – Você precisa desse controle,
precisava saber se a fidelidade dele a você seria maior que o amor
dele por mim. – Gesticulava bravamente.
- Eu só quero que... ele seja um bom marido e te ame mais do
que qualquer outra coisa nessa vida. Meu bem mais precioso é
minha família.
- Então por que o mandou para longe de mim? Você sabe o
quanto eu o amo.
- Foi porque eu pedi. – A porta foi aberta e lá estava Lorde Phillip.
O tempo que Sofia levou para trocar de roupa também foi o tempo
que pediu para mandarem uma mensagem para ele ir até Ella, ela
torceu para que ele chegasse antes delas, mas parece que o rapaz
acabou se atrasando. – Eu tenho muito respeito pela Duquesa e sim,
ela tem minha fidelidade também, mas eu só fui para América porque
eu quis e precisava.
- Com licença. – Ellen se retirou e deixou os dois conversando,
mas permaneceu do lado de fora a espera deles. – Foi por isso que
você demorou tanto? – Sofia deu um sorrisinho e deu de ombros. –
Obrigada, meu amor. – Deu um beijo na têmpora da amada.
- Se sente mais aliviada?
- Acredito que agora tudo irá se ajeitar.
Ellen suspirou pesadamente em alívio, mas ainda haviam
algumas coisas para acertar com o jovem rapaz antes do casamento,
mas nada muito absurdo, só falaria abertamente com ele sobre seu
relacionamento com Sofia, mas não queria deixar Sofia preocupada
com isso.
- VAMOS NOS CASAR! – Phillip saiu daquela sala gritando e
comemorando. Ellen e Sofia riram da animação do rapaz. Logo atrás
saiu Ella, estava com o rosto vermelho, não falaria sobre o que
aconteceu ali com a irmã, mas com certeza falaria com a cunhada
todas as novas sensações que teve ao receber um beijo mais
ardente de Phillip.
Capítulo Quinze

O tão esperado dia havia chegado, Ellen não se opôs para que o
casamento acontecesse duas semanas depois do confronto entre ela
e sua irmã mais nova. Sofia tomou a frente da organização junto com
Ella e quando houve algumas inserções da Rainha, ficou a cargo de
Ellen fazer todas as mulheres conseguissem ter exatamente o que
queriam.
- Vossa Alteza, o Lorde Phillip chegou. – A governanta falou.
- Peça para que ele entre. – Ellen olhava para a lareira pensativa.
Ela precisava falar, sentia que era o mais honesto a ser feito.
- Boa tarde, Vossa alteza.
- Pode me chamar só de Alteza, já que vou ser sua cunhada. –
Ellen começou a rir e logo foi seguida pelo rapaz. – Me chame de
Ellen, a partir do momento em que se casar. – Ela deu dois tapinhas
no ombro do rapaz. – Eu pedi para que viesse por alguns motivos,
ambos importantes. A primeira é você realmente ama minha irmã?
- Eu sabia que perguntaria isso e pensei até em ensaiar algo bem
bonito para dizer, mas então eu percebi que não há palavras
suficiente para descrever o quanto eu a amo. Eu sei que não é
garantia, mas eu quero provar meu amor em atos. – Phillip sorriu,
estranhamente ao pensar em Ella ele se sentia feliz, era como se ela
pudesse transformar mesmo o dia mais turbulento em calmaria.
- Por que você se apaixonou pela minha irmã? Vocês só se viram
poucas vezes antes de iniciarem o cortejo.
- Eu não sei explicar isso, era como se meu coração finalmente
tivesse encontrado o lugar onde ele pertence. – Ellen ficou um pouco
assustada e começou a rir. Era exatamente como se sentia com
Sofia.
- É bem impressionante ouvir isso. – Ellen suspirou. – Porque eu
me sinto da mesma maneira. – Phillip ficou quieto, ele sabia do que
se tratava, mas era um pouco estranho falar abertamente sobre. –
Por muito tempo eu achei que amor era algo inalcançável para uma
pessoa como eu. Eu sei que você sabe a natureza do
relacionamento com sua irmã e eu... – O rapaz concordou – Eu sei
que não sou o tipo de pessoa que você poderia querer para ela, mas
eu sou o tipo de pessoa que vai fazer o possível e impossível para
fazê-la feliz.
- Eu sempre me perguntei, quais garantias tal relacionamento
pode ter para ela.
- Eu não sei como responder isso, mas eu posso dizer que não
vou deixar sua irmã desamparada. – Ellen estendeu ao homem uma
pasta de couro preta, muito bonita e com o brasão da família Barker
em alto relevo e ele a abriu.
- Isso é... – Estava surpreso. – Uma certidão de casamento?
- Não, isso é um contrato. Não que casamento não seja, mas é
um contrato diferenciado, o qual as cláusulas serão comprimidas,
seja em minha morte ou durante nossa separação. Sua irmã jamais
ficará desamparada ou sem garantias, vou cuidar dela até meus
últimos dias e ela fará o mesmo por mim, não devido ao contrato,
mas sim devido ao nosso amor.
- Como acha que as outras pessoas vão encarar isso? – Phillip
entregou o documento a Ellen.
- Com discrição, como eles têm feito durante esse ultimo ano,
mas não é algo que vamos esfregar na fuça deles, mas eu precisava
te contar e mostrar todas as minhas intenções e pedir honrosamente
a mão de sua irmã, Sofia. Você me aceita como a pessoa que fará
de tudo para fazer sua irmã feliz? – Ellen estendeu a mão.
- Bom, primeiro eu tenho umas perguntas para você. A primeira é
você realmente ama minha irmã? – O rapaz sorriu e foi seguido por
Ellen que abaixou sua mão.
- Amo.
- Quanto?
- É um amor pobre aquele que se pode medir. – Ellen respondeu.
- Ellen estamos atrasadas... – Sofia passou pela porta e parou ao
perceber a presença do irmão. – Eu não sabia que você estaria aqui,
está tudo bem? – Perguntou preocupada.
- Está sim. – O rapaz a tranquilizou.
- Sua gravata está torta. – A mulher foi até o irmão e o ajudou. –
Pronto, perfeito. – Virou-se então para sua amada Duquesa e sorriu,
não era intencional, ficava feliz na presença da mulher e teve seu
sorriso retribuído por Ellen. – A sua gravata está perfeita, como
sempre. – Colocou a mão no rosto de Ellen, foi um ato inconsciente,
estavam em casa e era normal elas trocarem carinho daquela forma.
– Ah... – Retirou a mão quando lembrou da presença do irmão. –
Você deveria ir, sua noiva estará saindo em breve.
- Eu já estou indo. – Antes de sair ele se aproximou da irmã e a
abraçou. – Eu só quero que você seja feliz, seja ele ou... ela. – Na
última palavra ele olhou para Ellen, soltou o abraço da irmã e
estendeu a mão para a mulher, que a apertou. – Cuide bem dela. –
Saiu após tais palavras.
- Contou a ele? – Sofia perguntou.
- Sim e mostrei nosso contrato.
- Não podia ter esperado para contar outro dia? Hoje é o
casamento dele.
- Não achei justo ele não saber.
- Ele sabia.
- Não gosto de meias palavras.
- Eu sei, é uma das coisas que mais amo em você. – O pequeno
sorriso nos lábios de Ellen surgiu e Sofia a beijou docemente. – Está
pronta? – Ellen concordou.
- Mas antes de ir tenho algo a dizer. – Segurou de leve o queixo
de Sofia e a beijou novamente. – Você está linda.
As duas saíram do escritório e na sala de estar estavam as três
crianças perfeitamente vestidas e comportadas, o coração de Ellen
se aqueceu com a cena, ela então pegou a mão da sua amada e
seus olhos marejaram, a atenção de todos foi voltada a escada, pois
o som dos sapatos de Ella na madeira anunciaram que a noiva
estava descendo. Por cerca de cinco segundos Ellen perdeu o ar, a
irmã estava linda, com certeza era a noiva mais linda de toda a
temporada. Seus cabelos castanhos e longos estavam soltos e em
sua cabeça havia uma tiara de flores linda que segurava o véu em
sua cabeça, o vestido caído em seus ombros os deixavam expostos,
as mangas feitas de renda com pequenos detalhes de flores nelas e
por fim a parte de baixo longa com os detalhes da manga caídos por
cima do tecido branco e liso. Ellen caminhou até a irmã e lhe
estendeu a mão para ajudá-la a descer, Sofia em seguida lhe
entregou o buquê de Lisianto que ela ajudou a escolher para a
ocasião.
- Você está linda. – Ellen falou. – Nossos pais e nosso irmão
estão extremamente felizes onde quer que estejam. – Os olhos de
Ella ficaram marejados. – Eu estou muito feliz por você. – A mais
nova não conseguiu segurar sua emoção e pulou nos braços da
irmã.
- Obrigada por tudo.
- Faria tudo de novo para que você pudesse ser feliz. – Beijou a
testa da irmã. – Agora precisamos ir.
Quando chegaram ao palácio, o qual a Rainha ofereceu
pessoalmente, Ellen deixou Sofia com as crianças e foi atrás do tio
que iria entrar com Ella, era um homem distante, mas precisava ser
um homem para levar a noiva no altar. Quando ela organizou tudo
para a entrada seguiu para se despedir de Ella.
- Na próxima vez que nos vermos você será a Lady Ybarra. – Deu
uma piscadela para a irmã e ia se afastando.
- Ellen espera! – Ella correu até ela e segurou fortemente seu
braço. – Não é justo.
- O quê?
- Que não seja você a me entregar naquele altar. Tudo que você
passou, tudo que ouviu e provavelmente o medo que sentiu quando
teve que cuidar de todos nós. Você não precisava, mas você fez e se
não fosse por você eu não estaria aqui hoje. Você foi a minha mãe e
depois que nosso pai e nosso irmão morreu, você foi meu pai
também, como construiu um futuro estável e seguro financeiramente
para mim é uma prova de amor também. Por tanto, quem vai me
levar ao altar é você, a menina que precisou crescer mais rápido do
que devia e a mulher que é o maior exemplo de força que eu poderia
ter. – Ellen secou as lágrimas e mesmo com um pouco de dificuldade
retomou a calma. – Agora precisamos ir, meu noivo me espera.
Quando a porta do salão real abriu todos ficaram em silêncio, lá
estava a noiva de braços dados com sua irmã mais velha, que
trajava uma roupa digna de inveja aos lordes presente, seu paletó
verde escuro, com botões dourados e o brasão de sua família do
lado esquerdo de seu peito, um relógio de bolso dourado podia ser
notado devido a corda do mesmo ficar para fora do bolso, sua
gravata estava presa por um broche dourado com uma pedra
vermelha, uma rubi verdadeira, as abotoadoras não estavam
diferente, eram do mesmo conjunto do broche. Sua calça era preta,
perfeitamente passada e esticada, em seus pés sapatos brilhantes,
polidos com muito afinco para que brilhassem daquela forma naquele
dia especial. Dessa vez ela não estava com sua costumeira bengala,
que Sofia descobriu a pouco tempo que havia uma adaga disfarçada
para caso ela precisasse se proteger de um Lorde raivoso ou alguém
que pudesse querer lhe fazer mal. Óbvio que houve um pequeno
murmúrio, mas ambas ignoraram e continuaram seguindo seu
caminho.
- Quem entrega a noiva ao noivo? – O padre falou.
- A irmã mais velha dela, a Duquesa de Edimburgo. – Os
murmúrios cessaram para saber qual seria o posicionamento do
padre, mas o mesmo já havia sido avisado pela rainha que aquela
situação poderia acontecer.
Phillip esticou a mão e segurou a mão de Ella, seu coração errou
a batida e ele sorriu, havia muitas dúvidas no futuro para os dois,
mas haviam muitas certezas também, uma delas era que ele não iria
soltar a mão de Ella nunca mais e partilhava do mesmo sentimento
da Duquesa, agora então sua cunhada, que faria o possível e
impossível para que Ella fosse feliz.
Com o fim da cerimônia todos foram guiados a uma recepção,
havia comida, bebidas e música, mas nada muito extravagante já
que os noivos partiriam em lua de mel antes da noite.
- Eu queria ser capaz de te dar algo assim. – Ellen falou.
- Sabe o que você foi capaz de me dar? – Sofia puxou Ellen para
que fossem em direção a pista de dança. – Amor... – Fez uma
reverência a amada. – Família... – As duas iam fazendo os passos
de dança e cada vez que se cruzavam Sofia falava uma palavra. –
Felicidade... – Quando elas finalmente chegaram a parte da dança a
qual precisavam dançar próximas. – Deu um lar para o meu coração
e me deixou ser o lar do seu coração. Uma festa dessas não é nada
comparada a tudo que eu ganhei e por tudo que irei ganhar por estar
com você. – Ellen abraçou fortemente a amada, não se importou
com os demais, estavam todos dançando nem sequer iriam
perceber, mas ela se enganava, de longe uma pessoa olhava as
duas, a Rainha deu um sorriso discreto, mas em seu olhar estava
escrito o quanto ela estava feliz e orgulhosa por suas amadas
sobrinhas acharem seus amores.
Epílogo

Três anos depois

Um choro estridente ecoou pelos corredores da grande casa de


campo da família Barker, Ellen tentava ler seu livro, mas era
impedida pelo choro. Ela se levantou e foi seguindo o som, quando
chegou ao quarto Sofia estava com uma menina no colo e com os
olhos cheios de lágrimas, estava chorando junto com ela.
- Ela não para de chorar, eu não sei mais o que fazer, precisamos
chamar o doutor. – Falou entre soluços, Ellen apenas sorriu, já havia
passado por aquela situação com Edmund.
- Me dê ela aqui. – Apertou de leve o ouvido da menina e ela não
parecia ter chorado mais do que já estava chorando, depois olhou a
garganta e a língua, aproveitando que ela estava chorando com a
boca aberta. – Tudo bem, já sei o que é. – Deitou a menina na cama,
a enrolou bem apertadinha na manta e a colocou bem próxima de
seu corpo. Aos poucos ela ia parando de chorar e ficava apenas
reclamando. – Pronto. – Foi acalmando a pequena. – Ela está com
cólicas, peça para preparar chá de camomila. – Pediu a Sofia.
A pequena Margareth chegou pouco mais de um mês, Sofia não
podia estar mais feliz e Ellen não estava atrás, as duas curtiam seu
tempo com bebê, mas Sofia acabava ficando mais grudada na
pequena, em momentos críticos como estes Ellen acabava intervindo
e pedindo a menina para que pudesse cuidar da situação.
- Eu nunca a vi chorar assim. – Sofia sentou ao lado de Ellen e
ficou acariciando os cabelos da filha.
- Eu também nunca te vi chorar assim. – A Duquesa riu da
esposa.
- Eu estava assustada, fiquei com medo de ser algo grave.
- Está ficando frio e pode ser o motivo para as cólicas, mas vou
pedir para ao médico vir vê-la. – Sofia concordou. Ellen sabia que
era normal bebês terem cólica, mas queria que Sofia ficasse mais
tranquila. – Ela dormiu. – Quando Ellen ia colocar a pequena Meggie
em seu berço ela começou a se mexer.
- Acho que ela não quer te largar. – Sofia sorriu. – Eu sei como
ela se sente. – Abraçou a amada também.
As duas resolveram deitar com a filha no meio delas, só assim a
menina não dava sinais de que iria acordar. Ficaram cerca de uma
hora ali, fazendo carinho na filha e trocando alguns beijinhos, quando
outro choro de criança, um pouco mais distante dessa vez se fez
presente. O choro ia se aproximando e Ellen levantou da cama, ela
sabia que era sua irmã e como era mãe de primeira viagem também
precisava acudi-la. Abriu a porta e lá estava Ella chorando como
Sofia, como as crianças estavam com cólica constatou que era algo
na alimentação de Ella, que era ama de leite de sua filha também. O
choro fez com que Margareth acordasse e chorasse, ainda mais
porque viu a mãe com o primo.
- O que ele tem? – Ella estava sentada ao lado de Sofia que
estava rindo, mas porque sabia que poucas horas antes não estava
tão diferente da cunhada.
- Ele está com cólica. – Ellen pegou a filha e ficou com as duas
crianças no colo. – Pronto... Passou meus amores.
- Como consegue ser tão boa com bebês? – Ella perguntou.
- Porque eu praticamente cuidei de quatro. Eu amo esses
pequeninos.
As duas ficaram encarando a mulher com as crianças no colo,
jamais imaginariam que ela teria tal aptidão com bebês.
- Eu fico com eles, podem se preparar para o jantar. – Ellen falou.
– Seu marido volta hoje, certo? – Perguntou a Ella.
- Sim, deve chegar pouco antes do jantar. Pedi para que fizessem
a sobremesa preferida dele.
- Perfeito. Espero que Edmund não tenha dado trabalho a ele.
- Pelo o que li na carta Edmund está se saindo muito bem, ele
com certeza herdou o tato para os negócios de você. – Ella falou.
- Eu disse que não precisava ficar preocupada. Nosso menino vai
ficar bem assumindo os negócios que vai dar a ele. – Sofia falou. –
Todos eles estão se saindo muito bem nas tarefas que você
denominou, até mesmo o Tim está gostando de cuidar dos cavalos.
O que eu achei que seria bem difícil de acontecer.
- Foi bem surpreendente, mas em breve cavalos será apenas um
de seus hobbies, porque ele deverá se juntar ao primo nos negócios
da família.
- E a Aby? Ela não vai se sentir excluída? – Sofia falou. – Ela tem
cuidado das coisas da casa enquanto os irmãos estão fazendo
grandes negócios e viagens.
- Meus planos para ela não vão mudar, vai ajudar os irmãos e ter
voz nas negociações, tudo é dividido igualmente entre eles, mas não
poderei dar a ela viagens e talvez a mesma liberdade que os irmãos
terão, mas pretendo levá-la para conhecer o mundo antes de se
casar.
- Você nem se quer pensou em fazer isso comigo? – Ella deu um
tapa de leve no braço da irmã.
- Você ficou viajando por um ano com seu marido. Não foi o
suficiente?
- Não. – Cruzou os braços e revirou os olhos.
- Quando o pequeno Thomas estiver menos apegado a você
poderá viajar novamente.
- E deixar meu filho com você? Quando voltarmos ele vai estar
falando sobre trabalho, fazendo investimentos e pensando quando
poderá fazer uma viagem para América para avaliar os preços das
terras. – As mulheres riram.
- A prós e contras de deixá-lo comigo. – Ellen olhou para o
rostinho redondo do sobrinho e sorriu, deu um cheirinho no pequeno
neném e depois fez o mesmo com a filha. – Eu não sei se já falei
isso, mas eu sou muito grata por ter convencido seu marido para
virem morar conosco.
- Realmente isso nos deixou muito felizes. – Sofia abraçou o
braço de Ella.
- Eu não sei se poderia morar em outro local além daqui. Afinal,
só assim posso ter notícias da minha irmã.
Ellen nunca imaginou que no fim seria daquela forma, que teria
um amor, que a amaria pelo o que ela é, que seus filhos também
gostassem dela, que sua irmã continuaria morando com a família e
principalmente que estaria tão feliz podendo viver da maneira que ela
queria sem precisar fingir ser quem não é ou se casar com quem não
amava para criar aparências. Ela estava realmente feliz por ter
sujado aquela viúva petulante de lama.
Agradecimentos

A todos que acreditam e me apoiam com a escrita, aos meus leitores


que são bastante pacientes esperando novos conteúdos, as minhas
amigas autoras que me ajudam a perseverar e a não desistir de
escrever e a todas que me ajudaram direta e indiretamente com esse
livro.
Sobre o autor
Bell Rodrigues

Carioca, 29 anos, ariana, incialmente publicitária e hoje


desenvolvedora de software, divido minha vida entre trabalho,
estudo, lazer e fazer o que mais amo, escrever. Escrevo desde meus
quinze anos e tento a cada dia me tornar uma pessoa melhor e uma
escritora melhor.
Livros deste autor
A amante do meu marido
Julia é uma mulher casada, ama seu marido e sua família,
independente dos seus problemas conjugais. A sua vida começa a
desmoronar de vez quando descobre uma traição do marido, mas
Julia não é uma mulher qualquer, ela é capaz de tudo para
reconquistar Carlos, inclusive pedir ajuda a da amante do seu marido
para mantê-lo dentro de casa, mas a vida adora pregar peças e Julia
acaba se envolvendo com a mulher.

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