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Como se casar com um Duque

Nathy Regina

Editora Mandrágora
1° Edição
Copyright 2022© Editora Mandrágora
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Regina, Nathy

Como se casar com um duque [livro eletrônico] /


Nathy Regina. -- Porto Alegre :Mandrágora Editora,
2022.
ePub
ISBN 978-85-60339-27-3
1. Romance brasileiro I. Título.
22-111118
CDD-B869.3
Índices para catálogo sistemático:
1. Romances :Literatura brasileira B869.3
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Capa:Ann Rose
Diagramação:Jandui Felipe
Revisão:Beatrice Witt
Sumário
Capitulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capitulo 9
Capítulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Capitulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capitulo 26
Capitulo 27
Capitulo 1
Jornal da Manhã de Londres

"Um dos solteiros mais cobiçados de Londres, adivinhem,


está voltando para Londres, com a morte do Duque de Handevell,
seu pai, Lorde Jones acaba de virar Duque de Handevell, não
demorará muito para ver as mães implorando uma dança para suas
filhas, mal posso esperar".

Mary Jhuliet estava lendo o jornal da manhã de Londres,


como faziatodas as manhãs. Estava na casa de Agatha, sua amiga
mais próxima, ou melhor dizendo, sua cunhada.
— Está animada? — perguntou Agatha enquanto bordava
algo, ela realmente tinha um dom, bem diferente de Jhuliet.
— Não, deveria? — questionou Jhuliet em tom
desinteressado, ela realmente não ligava para essas notícias de
casamentos e muito menos dos homens.
— Mas é claro, afinal, um duque é um duque, nunca parou
para pensar em como ele deve ser? — Agatha suspirou só de
imaginar, era uma romântica incurável.
— Nem um minuto sequer, sabe que eu não me interesso por
essas coisas — falou pegando uma fatia de abacaxi e a colocando
inteira na boca, tinha sorte de Agatha não a repreender por seus
péssimos modos.
— Pois devia, você já vai fazer... — Agatha começou, mas foi
interrompida pelo suspiro exasperado de Jhuliet.
— Oh não, por favor, você também não, já basta Huldim me
lembrar disso toda manhã, eu realmente não aguento — disse
levantando e indo para a janela. Huldim era seu irmão mais velho,
marido de Agatha.
— Perdoe-me, Jhuliet, mas meu marido tem razão, ele me
disse que você já tem inúmeros pretendentes. — Jhuliet soltou uma
risada carregada de ironia.
— É claro, todos querendo se candidatar a serem meu avô,
não pode ser verdade — disse esfregando a têmpora.
— Mas e o Sir London, ele parece ser muito gentil — disse
Agatha animada com a possibilidade.
— Ele tem sessenta anos — olhou chocada apenas com a
possibilidade de se casar com alguém com o triplo de sua idade.
— Amor não tem idade — disse Agatha, com um sorriso no
rosto, mas Jhuliet sabia que ela estava brincando.
— Diga por você mesma, você teve sorte de encontrar meu
irmão, ele é velho, mas é bem decente, e claramente te ama muito
— disse suspirando e olhando para Agatha.
— Ele não é velho, Jhuliet. Ele só tem trinta e cinco anos. —
Agatha riu do exagero de Jhuliet.
— E você tem vinte, não pode negar que teve bastante sorte
— disse Jhuliet cruzando os braços. O casamento de seu irmão foi
completamente arranjado por seu pai. Tudo fora armado para que
seu irmão conseguisse o título de conde. Jhuliet se lembrava do
pavor que Agatha tinha de ficar no mesmo cômodo que Huldim,
porém, com o tempo, o amor que sentiam um pelo outro era
completamente palpável. Huldim sempre foi seu irmão favorito,pois
ele sabia como tratar uma mulher, completamente diferentes de
seus pretendentes de setenta anos, fedendo a uísque e charutos.
— Tive mesmo, não é? — disse, com um sorriso no rosto,
Jhuliet riu, ela adorava a cunhada.
— Talvez você tenha a mesma sorte, ou até melhor, não
acha? — disse, a esperança transbordando de seus olhos azuis
gentis.
— Prefiro não ariscar. — Jhuliet não queria um marido, e não
precisava de um, gostava de como sua vida era, gostava de visitar a
cunhada nos sábados de manhã, de sair para buscar o jornal todo
dia, e gostava de seu trabalho no ateliê de Lady Vanussa. Claro que
não era ela quem fazia as roupas, mas ela sabia pregar alguns
botões, e limpar feridas de agulhas nos dedos, isso já era o bastante
para ela estar lá a tanto tempo. Ela tinha certeza que, se casasse,
isso tudo viraria de ponta cabeça e ela teria outras coisas mais
importantes a fazer, como cuidar se seu marido, isso até lhe deu
arrepios, não, nem pensar, jamais iria se casar. — Eu vou indo —
disse pegando uma última fatia de abacaxi.
— Mas já? Ainda são nove da manhã — retrucou Agatha,
parando seu bordado e quase caindo da cadeira tentando ver as
horas no relógio da sala.
— Lady Vanussa precisa de mim, ela está até o pescoço de
encomendas — respondeu Jhuliet suspirando.
— Algum baile que eu não saiba? — perguntou Agatha
confusa.
— Os de sempre, apenas mães desesperadas por belíssimos
vestidos para que suas filhas chamem a atenção de Lorde Jones —
falou com voz fingida.
— Um dia você saberá o sentimento de querer ser a mais
bela para um cavalheiro. — Ela disse, voltando para seu bordado.
— Já desisti antes mesmo de tentar — Jhuliet disse já na
porta da frente.
Percebeu que não tinha se despedido de seu irmão, ela o
veria mais tarde, com toda certeza, ele ainda não a atormentara
tanto assim sobre casamentos. O Ateliê de Lady Vanussa não ficava
tão longe da casa de seu irmão, por sorte só alguns bons cinco
minutos de caminhada. Aquele era um bairro muito sofisticado,
somente condes e viscondes moravam ali, apesar de ser filha de
barões, Jhuliet nunca se permitiu sentir-se inferior perto deles,
afinal, o que lhes separava era apenas um monte de dinheiro, coisa
que ela nunca foimuito apegada. A única mulher de três irmãos, e a
única solteira também, lembrava-se de quando era menor, seus
irmãos a defendiam com unhas e dentes de qualquer garoto que
tentava se aproximar dela, tempos depois ela descobriu algo que
fazia os rapazes temê-la mais do que seus próprios irmãos: a
inteligência. Jhuliet sempre fora muito inteligente, sempre tinha tudo
na ponta da língua e nunca, jamais abaixava a cabeça para
ninguém, sabia mais da economia do país do que qualquer
estudioso formado, sabia ler e escrever e ainda sabia cuidar das
finanças da casa. Ela era responsável por tudo isso quando seu pai
ainda era vivo, deu graças a Deus por ter irmãos preguiçosos
demais, se não fosse o caso, nem teria aprendido tanta coisa no
escritório e reuniões de negócios de seu pai.
Todos os homens corriam quando ela abria a boca e falava
sobre qualquer coisa com destreza, os que não se ofendiam,
acabavam sendo contrariados por ela, ninguém conseguia vencê-la
num jogo de curiosidades, muitos ali não queriam uma sabe tudo,
apenas queriam uma esposa que lhe dessem herdeiros e não se
importassem com suas saídas de madrugada. Mas não
Jhuliet se recusava a se casar com alguém que não conseguisse
conversar com ela por menos de cinco minutos e principalmente
alguém que a via como uma pessoa frágil e indefesa. Até então
ninguém aparecera, para a sorte dela, é claro.
Finalmente chegou ao ateliê. Ela se surpreendeu com a
quantidade de mulheres na porta, o lugar não era pequeno por
dentro, mesmo assim ainda não tinha espaço para o resto das
mulheres entrarem. Ela se esgueirou pelas mulheres e conseguiu,
com muito esforço, chegar até o balcão.
— Um vestido... rodado... com pedras... perdão, perolas...
perdão, diamantes? Não temos isso aqui. — Phippia atendia
aquelas mulheres com muita dificuldade,não sabendo a quem ouvir.
— O que está havendo? — Jhuliet perguntou, já tinham
pisado em seu pé umas mil vezes.
— Eu não sei de onde saiu tanta gente, vá lá para dentro,
antes que Lady Vanussa desmaie e nunca mais acorde — disse
Phippia abrindo espaço para Jhuliet entrar.
Jhuliet correu para dentro e encontrou Lady Vanussa sentada
com três mulheres a abanando, ela estava vermelha.
— Lady Vanussa? — chamou, assustando a mesma, mas
quando a viu, levantou-se no mesmo instante.
— Por céus, finalmente você chegou.
— O que houve? Está uma bagunça lá fora — disse Jhuliet
apontando para a entrada da loja.
— Certamente você leu o jornal hoje de manhã, minha jovem
— murmurou Lady Vanussa tentando se recompor.
— Sim... — retrucou lentamente tentando adivinhar o que
aquilo tinha a a ver com a ninhada de mulheres na porta do ateliê.
Mas então se lembrou, só podia ser. — O duque!
— Exatamente. — Lady Vanussa caiu na cadeira novamente.
— São muitos pedidos, ao que tudo indica, ele virá ao baile de
sexta.
— Sexta? Sexta-feira da SEMANA QUE VEM? — Ela
assentiu tristemente, Jhuliet não sabia se elas dariam conta de
tantos pedidos.
— Estamos falidas, nós...
— Vamos conseguir. — Lady Vanussa levantou a cabeça
para ouvir as palavras de Jhuliet.
— Como?
— Nós iremos conseguir, somos profissionais...quer dizer... a
senhora Lady é uma profissional, tenho certeza que iremos dar
conta de tudo, eu vou pregar botões mais rápido do que jamais fiz
em minha vida toda, vamos ficar aqui até tarde e costurar até
amanhecer, podemos fazerisso, Lady Vanussa — disse-lhe Jhuliet,
segurando as mãos calejadas de Lady Vanussa. Ela lhe deu o
sorriso mais brilhante de todos, levantou-se num pulo e disse.
— Tem toda razão, eu sou dona do melhor ateliê de toda
Londres, podemos fazer isso.

***
Era uma da tarde, e elas ainda não haviam conseguido
terminar nem a borda dos vestidos encomendados. Jhuliet jurava
que tinha botões pregados em todos seus dedos e Lady Vanussa
nunca teve tantos furos de agulha.
— Foi besteira acharmos que daríamos conta — lamentou
Lady Vanussa enquanto Jhuliet colocava o milésimo curativo em
seus dedos.
— Acabamos de começar, olha só. Terminamos o primeiro.
Não deve faltar tantos... — Antes de Jhuliet conseguir terminar,
Phippia entra com uma lista de pedidos na mão.
— Sra. Patino acabou de encomendar um vestido para cada
filha.
— E quantas filhas ela tem? — Jhuliet perguntou, já com
medo da resposta.
— Sete — disse-lhes dando os ombros e voltando para o
balcão.
— Estamos perdidas — disse Jhuliet se sentando com força
na cadeira de madeira atrás de si, Lady Vanussa riu de tudo aquilo,
mas Jhuliet sentiu que não estava feliz.
— Amanhã eu chamo reforços, não se preocupe, nunca
tivemos tantos clientes em apenas uma semana — disse voltando a
bordar as pérolas na saia do vestido.
— Agradeça aos jornais — Jhuliet disse pregando o último
botão nas costas do vestido, coitada da moça para abotoar todos
eles, pensou consigo mesma.
— Agradeça o Lorde Jones, na verdade — corrigiu Lady
Vanussa.
— Inacreditável como um único homem pode ter causado
todo esse alvoroço. — Lady Vanussa riu de seu comentário.
— Francamente também não entendo, que bom que não
tenho mais idade para essas coisas de bailes.
— Eu muito menos. — Ela a olhou com curiosidade. — Eu
nunca gostei de bailes — Jhuliet relembrou, dando de ombros.
— Mas sempre vai em todos — lembrou Lady Vanussa
tossindo para disfarçar a fala.
— Eu sempre sou obrigada a ir em todos, é diferente.
— Mas você precisa frequentá-los, você é nova e precisa de
um...
— Oh não, por favor, não diga marido — disse Jhuliet, já
tampando os ouvidos.
— Companheiro... — Lady Vanussa riu, mas logo ficou séria.
— Só não quero que acabe como eu, tenho uma afeição muito
grande por você, eu e sua mãe éramos ótimas amigas.
Jhuliet sorriu ao se lembrar, ela e sua mãe eram grandes
amigas, ela já sabia, sua mãe morreu quando ela tinha dois anos,
ela nem ao menos conseguia se lembrar dela, então o mais perto de
mãe que teve foi Lady Vanussa. Seu pai não aceitava muito a ideia,
Vanussa abdicou totalmente o matrimonio, os boatos de que ela
traiu seu marido correram por toda Londres claramente não era
verdade, foi uma desculpa esfarrapada de seu ex-marido quando
descobriu as traições dele e ameaçou contar para todos. Porém ele
foi mais rápido e espalhou todos esses boatos, que destruíram a
reputação de Lady Vanussa. Ela tinha apenas vinte e seis anos
quando isso aconteceu. Depois disso ele se mudou de cidade, então
ela ainda era casada com ele, mas faziamuitos anos que eles não
se viam, e ela estava sozinha desde então.
— Não acho tão ruim, e eu adoraria acabar como você, dona
do ateliê mais famoso da cidade. — Vanussa sorriu, foi um sorriso
sincero, que poucos viam naquele rosto marcado pelo passado.
— Você é muito gentil, você conseguirá um marido a sua
altura Jhuliet, e será muito feliz.
— Muito obrigada pelos votos, mas eu já sou feliz.— Jhuliet
lhe assegurou.
— Isso é o que você diz — disse Vanussa. Jhuliet acabou se
espetando com a agulha
pensando no que aquelas palavras podiam significar.
Capítulo 2
Jornal da Manhã de Londres

Nosso mais novo duque já tem data para voltar para Londres,
isso mesmo senhoras
mães e filhas, já podem comprar os vestidos, decorar os passos de
dança. Um baile será dado na sexta-feira, isso mesmo, um baile
para comemorar o retorno de Jones, seu mais novo duque.

Jones jogou o jornal no chão.


— Como podem já saberem que vou voltar para Londres? —
questionou furioso, ele não gostava de ser o centro das atenções, já
sofrera muito por isso quando era jovem.
— Talvez porque você deva voltar, é lá onde está a mansão
Handevell, você tem que assumir o posto — disse Ravel, seu
melhor amigo e fiel companheiro.
— Ou talvez deva simplesmente ficar por aqui e fingir minha
morte — disse Jones, pensando a respeito.
— Com certeza assumir o posto daria muito menos escândalo
— respondeu Ravel pegando o jornal do chão e lendo a manchete
sobre o amigo na primeira folha. — Então você é um
duque agora? — perguntou ele, sorrindo com sarcasmo.
— Não por opção — respondeu Jones, cutucando as
têmporas.
— Se não te conhecesse diria que está muito animado para
assumir o posto — ironizou Ravel.
— Que bom que me conhece, e sabe que nunca quis ser
duque — suspirou Jones.
— Nunca quis ser duque, ou nunca quis ser Duque de
Handevell? — perguntou seu amigo. Jones pensou antes de
responder.
— As duas coisas, acho — Jones disse, confuso. — E não
sei como meu pai ainda me deixou esse título.
— Talvez porque você seja o próximo na linha de sucessão?
Acho que ele não teve muita escolha — disse Ravel devolvendo o
jornal para o amigo.
— Do jeito que aquele homem me odeia, não duvidaria nada
que ele passaria o título para algum primo distante, ou até mesmo
para Vaiolet.
— Vaiolet? Sua irmã Vaiolet de quinze anos? — perguntou
Ravel surpreso.
— Na verdade são dezesseis, seu aniversário foi semana
passada — disse Jones, um pouco triste, há anos ele não era
presente na vida da irmã.
— E o que deu a ela?
— Parabéns? — ele disse, dando de ombros, ele sabia que a
irmã o odiava, e não achava que podia fazer algo a respeito.
— Eu realmente acho que você devia voltar.
— Estou muito bem por aqui — Jones disse, dando mais uma
golada no Whisky, por Deus, ainda eram dez da manhã e ele já
estava no segundo copo.
— Não acha que está na hora de parar de fugir? — Jones
detém o copo antes de chegar à boca, e olha furioso para o amigo.
Antes que ele possa falar algo, Ravel completa: — Sei
que não é da minha conta, mas esse é o meu conselho de amigo.
Estava tudo bem antes, seu pai assumia as coisas por lá, você
recebia o dinheiro aqui, mas seu pai morreu Jones, a partir de hoje
você não está sozinho, você tem o mansão para administrar, a
fortuna da família,e o mais importante, Vaiolet precisa de você. —
Jones olhou para ele ao ouvir mencionar o nome de sua irmã. Por
mais que não quisesse admitir, seu amigo tinha razão, agora era
hora de parar de fugir. Ele viu seu amigo saindo da sala, antes dele
alcançar a porta, disse:
— Tem razão, Ravel. — Ele olhou para trás, esperançoso
com as palavras que viriam do amigo. Jones levantou o copo como
se fosse fazer um brinde e disse. — Não é da sua conta.
Ravel apenas riu e disse:
— Deve ser muito duro admitir que eu tenho razão. — Antes
que Jones pudesse contra-argumentar, ele se foi.
Jones continuou sentado ali, ainda absorvendo as palavras
do amigo. Ele tinha razão, tudo que Jones fez até agora foi fugir.
Quando tinha quinze anos, sua mãe já tinha ganhado Vaiolet, que
estava com um ano, então fezum passeio com ele em volta do lago
do jardim. Desde que ganhara Vaiolet, não tivera muito tempo para
ele. Jones sempre estava tentando impressionar a mãe, quando um
terrívelacidente aconteceu, ele não se lembrava de quase nada, só
de ter sido carregado por vários homens, e logo depois estar no
enterro da mãe.
Seu pai o culpava todos esses anos pela morte da mãe, até
que, com vinte anos, ele se mudou de cidade dizendo que iria
estudar fora. Uma das primeiras pessoas que conheceu foi Ravel, e
eram amigos até hoje.
É claro que seu pai deu glória a Deus por não ter que olhar
mais para a cara do filho, mas abandonar o pai e sua casal natal
também significava abandonar Vaiolet, que na época tinha apenas
cinco anos, e sem nenhuma figura feminina, pois seu pai nunca
mais se casou, e com um pai muito ausente. Vaiolet deixava claro
em suas cartas que não queria mais ver o irmão e que, quando ela
precisou, ele não estava presente. Claro que Jones se sentia mal
por isso, assim que ela aprendeu a escrever começou a enviar
cartas para seu endereço. No início eram só desenhos, depois
palavras, até se tornarem frases dolorosas demais de se ler. Vaiolet
até pedira para ir visitá-lo e até mesmo morar com ele, mas Jones
sabia que ela estaria muito melhor em Londres. Quando ela fez12
anos, ele nunca mais recebeu uma carta sequer dela. E agora ele
estava voltando para Londres, depois de dez anos fora,ele iria fazer
isso, iria fazer isso por Vaiolet e por si mesmo.

***

Ainda era terça-feira,e ele tinha apenas três dias para chegar
em Londres. Muito provavelmente ele já devia ter pegado a primeira
carruagem saindo dali, suas malas já estavam arrumadas, mesmo
não fazendo ideia do que levar. Jones ouviu a porta bater, ele
mesmo foi atender.
— Não adianta insistir — disse Ravel entrando em sua casa.
— Não vou te ajudar a fugir do país.
— O quê? Por Deus, homem, não foipara isso que te chamei
aqui. — Ravel o olhou confuso.
— Então...? — Ravel perguntou, desconfiado.
— Para me despedir. — Ravel o olhou chocado, depois deu
aquele sorriso amigável.
— De verdade, não achei que você iria embora.
— Bom, eu pensei bem e vi que eu não tenho outra opção —
disse Jones sem jeito.
— Quando pretende ir? — disse Ravel olhando suas malas
jogadas pelo quarto.
— Minha carruagem parte em uma hora, meia hora, se eu
tiver sorte — Jones disse, olhando no relógio de bolso que estava
na parte da frente de sua camisa.
— Tente ser discreto, tem uma cidade inteira te esperando,
talvez até um país — riu Ravel.
— Mais discreto do que eu já sou?
— Vou sentir sua falta, amigo — disse Ravel, lhe dando um
abraço apertado. Apesar de seu jeito gentil, Ravel era assustador,
tinha 1,90 de altura e, por incrível que parecesse, ele não era
desengonçado, ao contrário, era o sinônimo da elegância, gentil,
amigável, tudo que Jones devia ser e não chegava nem perto.
Jones o abraçou de volta.
— Eu sei. — Eles se separaram.
— Você precisa de ajuda? — perguntou Ravel. — Eu sei que
você me chamou para te ajudar com as malas.
— Tenho sorte de ter amigos tão inteligentes.
Ravel o ajudou a colocar as malas na carruagem. Seu pai
não lhe mandava muito dinheiro, quase nada na verdade, então ele
teve que se acostumar com o que tinha, porém, onde ele morava, as
coisas eram bem diferentes. Não era uma cidade de casamentos e
bailes casamenteiros, ele se lembrava de como era os bailes. As
mães desesperadas para casar suas filhas,as inúmeras danças por
noite, os vários calos nos pés causados por senhoritas que nem se
davam o trabalho de olhar onde pisavam. Só e pensar que teria que
reviver isso tudo na sexta já era o suficiente para lhe causar
arrepios.
A viagem durou várias horas, mais do que ele poderia contar
ou se lembrar, e não tinha certeza se alguém iria se lembrar dele.
Quando saiu de Londres ele tinha acabado de fazer vinte, e agora
com trinta anos já se sentia diferente. Seus olhos escuros
continuavam os mesmo, seus cabelos pretos agora já tinham fios
brancos visíveis,e também estavam um pouco mais longos. Ele não
estava mais tão branco, o sol era muito mais forte onde ele morava,
em Londres sempre chovia, pelo menos quando ele morava lá.
Minerva, governanta de Vaiolet, tinha lhe sugerido chegar
mais cedo em Londres, dizendo que tinha assuntos de extrema
importância, que eram de seu interesse, mas não revelou nenhum
detalhe.
Quando chegou em Londres, vir que tinha mudando bastante
nos últimos anos. Mais pessoas, mais casarões e mais carruagem
nas ruas. Logo chegou à mansão Handevell.
Era exatamente igual ao que ele se lembrava, as pedras
faltando na entrada, porém, havia algo diferente:o jardim estava
cercado e com uma porta enorme de ferro com cadeado. Jones
preferiu não pensar nisso. Assim que subiu os primeiros degraus da
casa, viu uma garota na porta, ela tinha uma expressão raivosa,
como se estivesse perto de matar alguém. Obviamente era Vaiolet.
Jones se surpreendeu muito. Ela estava a cara da mãe, os cabelos
loiros compridos, os olhos azuis, a pele mais branca que a neve, e o
jeito como olhava quando ficava com raiva. Ele riu, e percebeu que
ela não gostara nada da felicidade dele.
— Olá, Vaiolet, como tem passado? — ele perguntou, já em
frente a ela. Ela o ignorou completamente e voltou para dentro. —
Eu já imaginava.
— O que imaginava? — perguntou Minerva, lhe dando um
susto.
— Nada importante. Então, o que precisava falar comigo? —
ele perguntou enquanto os criados tiravam suas malas da
carruagem.
— Tenho que te deixar a par dos papéis do enterro e da sua
mudança de título.
— Mudança de título?— Jones disse enquanto a seguia pela
casa. — O que tem para resolver? Eu sou o duque agora, certo?
— Errado — revelou Matilde abrindo a porta do escritório de
seu pai. Há anos que não punham o pé ali, nem mesmo quando
ainda morava nesta casa ele entrava no escritório de seu pai.
— Seu pai te deixou alguns critérios para que assuma o título
— explicou la colocando alguns papeis sobre a mesa.
— Por que será que não estou surpreso? — Jones disse,
ironicamente.
— Claro, ele conhecia o filho que tinha — retorquiu Vaiolet,
aparecendo atrás deles. E se sentando na cadeira em frenteà mesa
do pai.
— Lady Vaiolet, isso não é conversa para crianças, por favor,
nos dê licença — pediu Matilde, se sentando a sua frentee pegando
os papéis que estava na gaveta.
— Eu não vou sair, eu tenho direito de participar, eu também
sou a herdeira. E para ser sincera, eu que merecia esse título,
morei aqui mais tempo do que ele — Vaiolet disse como se Jones
nem estive ao seu lado.
— Na verdade, eu fiquei aqui até meus dezoito anos. —
Jones argumentou se sentando ao lado da irmã.
— Esse não é o ponto — disse Vaiolet, cerrando os dentes.
— Então me diga qual é. — ele pediu ainda sabia o que
irritava a irmã.
— O ponto é que você não vai conseguir o título sem se
casar — interviu Matilde. Os dois olharam para ela assustados.
— Se casar? — repetiram os dois ao mesmo tempo.
— Seu pai deixou por escrito que você somente poderá
assumir o títulose se casar em até quatro semanas após sua morte.
— Ou? — Jones perguntou, já com medo da resposta.
— Ou... seu primo Jeffrey assumira o título. — Ele conhecia
bem Jefrey:um bêbado, libertino, que mesmo sendo mais velho que
ele próprio dava em cima de Vaiolet, ela mesma dizia isso nas
cartas, ele quase voltou para casa apenas para arrebentar o sujeito.
— Então foi tudo armado. Meu pai sabia que eu jamais ia
deixar Vaiolet ou a mansão aos cuidados dele. — Mesmo sem olhar,
ele viu Vaiolet suavizar sua expressão.
— Então trate de arrumar uma noiva, e logo — Vaiolet disse e
se levantou para sair da sala. Jones suspirou alto.
— Aonde vou encontrar uma noiva em quatro semanas? —
perguntou para si mesmo, mas Matilde tinha ouvido.
— Duas, na verdade, seu pai morreu há duas semanas. —
Jones jogou a cabeça para trás, quase em desespero, talvez
devesse ter pedido para Ravel lhe ajudar a fugir do pais. — Não
creio que terá dificuldade em encontrar uma esposa, ainda mais
agora que Londres está eufórica com sua chegada.
— Não vou me casar com qualquer mulher — decidiu ele.
— Que bom que pensa assim, porque esta mulher será a
primeira figura feminina para Vaiolet. — Jones nem havia pensado
nisso. É claro que Vaiolet iria morar com eles após o casamento, ela
tinha apenas dezesseis anos, não podia mais ficar sozinha, e agora
que seu pai tinha ido embora, era a função dele fazer o papel de
irmão mais velho agora.
— Obrigada por me deixar mais pressionado — disse Jones
levantando e saindo da sala, mas ainda pode ouvir Matilde.
— Às suas ordens, meu Lorde.
Capítulo 3
"Jornal da Manhã de Londres"

Correm boatos de que o Duque de Handevell já está em


Londres, sim senhoras, seu futuro noivo já está aqui. Tudo indica
que o baile de sexta vai ser um sucesso, preparem seus vestidos
porque hoje é quarta feira, apenas dois dias para encontrar o amor
de suas vidas.

Jhuliet jogou o jornal no lixo perto dela. Vanussa a olhou e


perguntou:
— Más notícias? — disse enquanto terminava o
quinquagésimo bordado do dia.
— Nada importante, somente falaram do duque que
provavelmente já deve ter chegado aqui em Londres. Só
baboseiras.
— Sabe, às vezes parece que você o odeia — disse Vanussa
arqueando a sobrancelha.
— Eu nem ao menos o conheço. Só acho desnecessário
esse alvoroço todo por causa de um homem — Jhuliet disse
enquanto pregava o centésimo botão do corpete.
— Ele não é qualquer homem, é um duque — Vanussa disse
com tom de ironia, Jhuliet sabia que ela também não ligava para
essas coisas.
— Não faztanta diferençapara mim. Enfim,terminei, quantos
ainda faltam? — Jhuliet perguntou, já tinha pilhas e pilhas de
vestidos prontos para a entrega, já era quarta-feira,o baile era dali a
dois dias. Mas as mães queriam os vestidos até o dia seguinte,
pagavam até em dobro por isso. Jhuliet e Lady Vanussa
trabalhavam dia e noite no ateliê, elas receberam, no mínimo,
quinhentas encomendas de vestido para a entrega na mesma
semana, ela já faziaisso tanto, que suas mãos já estavam pregando
botões sozinhas.
— Bem, a boa notícia é que já fizemosquatrocentos vestidos
— disse Lady Vanussa, contente.
— Não me lembro de ter feitos tantos — disse Jhuliet
limpando o suor da testa.
— A má notícia é que chegaram mais encomendas. — Jhuliet
arregalou os olhos.
— Mais quantas?
— Não se preocupe com isso, Diana e Paolut farão estes, elas
são especialistas de confiança, e você, vai para casa — Lady
Vanussa disse, tirando o vestido de suas mãos.
— O quê? Mas nós nem terminamos. — Jhuliet disse, tentando
pegar o vestido de volta das mãos de Lady Vanussa.
— Você tem que ir para casa, já é a terceira noite em que você
dorme aqui, precisa descansar. Aliás, seu irmão disse que quer
conversar com você.
— Não, Lady Vanussa, lhe imploro, não me deixe nessa hora,
eles vão falar sobre casamento pela milésima vez. — Jhuliet
segurou seu braço, mas Lady Vanussa se desvencilhou.
— Acho que você realmente devia pensar no assunto. — Ela iria
dizer algo, mas Lady Vanussa a interrompeu. — Sei que você acha
que consegue viver assim, mas toda mulher precisa de um marido,
um companheiro, alguém para lutar com você, e pode não querer
isto agora, mas com certeza, um dia, vai olhar para trás e perceber
que perdeu tempo demais. Casamento não quer dizer que você vai
virar uma esposa indefesa, incapaz e submissa ao marido, isso
quem escolhe é você. E eu tenho certeza que você será uma
esposa maravilhosa.
— Por que está dizendo isto tudo agora? — Jhuliet a questionou,
bastante preocupada. Vanussa nunca foi de dizer essas coisas,
ainda mais de um jeito tão sério assim.
— Por nada — ela disse, olhando para algo lá fora. — Agora vá.
— Se você insiste — ela disse e foi até o cabide pegar seu
casaco.
— Passa aqui mais tarde, tenho algo para lhe dar — Vanussa
disse, visivelmente muito animada com a ideia.
— O que é? — perguntou Jhuliet curiosa.
— Surpresa, agora vá.
Ela disse e Jhuliet saiu do ateliê. Não tinha quase ninguém no
balcão, apenas cinco mulheres, porém estavam bem calmas.
Vanussa disse que um dos irmãos de Jhuliet queria falar com ela, na
hora ficou em dúvida de qual dos três, mas logo concluiu que era
Huldim, pois Alfrey e Matthew estava fora da cidade, viagem de
negócios, achava ela. Jhuliet foi até a casa dele, que não era longe
do ateliê. Quando colocou a mão na maçaneta da porta, chegou até
mesmo girála, quando ouviu a voz de Alfrey e Matthew lá dentro. Ela
tentou dar meia volta, mas Alfrey foi mais rápido e abriu a porta e
disse:
— Não mova um músculo. — Fui pega, pensou ela. — Entre
agora mesmo, precisamos conversar. — Alfreyera o irmão do meio,
com apenas dois anos de diferença de Huldim, e três a mais que
Matthew. Ele entrou e ela o seguiu, chegando na sala igual uma
criança que acabou de roubar um doce e foi pega.
— Irmãos, quanto tempo. — Mas todos estavam muito sérios,
todos exceto Agatha, a esposa de Huldim, que lhe deu um sorriso
amigável. Quando ninguém respondeu, e não tiveram nem a
intenção de responder, Agatha interveio.
— Alguém quer chá? Eu quero chá — ela disse se levantando.
— Eu te ajudo — ofereceu-se Jhuliet tentando escapar desta
conversa que seus irmãos teriam com ela. Mas antes mesmo dela
se levantar, Alfrey a empurrou para uma poltrona que estava logo
atrás.
— Você não vai a lugar nenhum.
— Certo, o que eu fizagora para a famíliainteira estar reunida?
— ela disse, inocente, como se já não soubesse que era porque...
— Você ainda está solteira — afirmou Huldim.
— Vocês certamente acham que é muito fácil arrumar um
marido... — começou Jhuliet com a mesma desculpa de sempre,
mas foi interrompida por Matthew.
— Com certeza não é quando você não aparece em nenhum
bailes a mais de dez meses. — Ela ficou calada, não tinha contra-
argumentos para aquilo. Seu irmão Matthew continuou: — Fui o
único que fiquei do seu lado, convenci a todos que talvez você não
estivesse pronta para se casar ainda, tínhamos um trato, Mary. —
Todos seus irmãos eram iguais, quando ficavam extremamente
bravos, lhe chamavam pelo primeiro nome. — Que era tudo bem
não se casar por agora, contanto que você continuasse indo aos
bailes de sexta e domingo. Só isso que lhe pedi, mas é claro que
você não fez. — Ele andava de um lado para o outro.
— Não sei por que estão tão furiosos comigo, casamento não é
nada demais. — Huldim suspirou tão forte que o ar da sala ficou
pesado.
— Mary Jhuliet, nosso pai morreu há mais de um ano, todos nós
somos casados, temos nossas famílias, não podemos ficar cuidando
de você...
— Quem disse que preciso de seus cuidados? — ela interviu,
deixando-o mais zangado.
— A questão é que você não tem um emprego, nem me venha
com está história de trabalhar para Lady Vanussa, ela mal te paga,
você precisa de estabilidade, isso com um marido você com certeza
teria. A gente só quer o teu bem, você é nossa irmã mais nova, a
gente só quer que você tenha uma vida melhor do que nós tivemos.
Não estamos te pedindo para se casar com qualquer um, ou agora,
mas que por favor pensasse no assunto, e fosse no baile de sexta.
— De sexta? De jeito nenhum! — ela exclamou cruzando os
braços na frente do corpo.
— Praticamente a cidade inteira estará lá, você até pode
encontrar alguém interessante. — sugeriu Alfrey.
— Eu acho uma boa ideia, aliás você pode me fazercompanhia,
ficosempre muito solitária nesses bailes — sugeriu Agatha entrando
na sala e dando uma xícarade chá para cada um. Jhuliet suspirou,
essa batalha já estava perdida.
— Tudo bem. — Seus irmãos comemoraram. Ela bebericou seu
chá. — Não é como se eu tivesse escolha também. — Seus irmãos
negaram com a cabeça. Abaixar a guarda? Jamais. — Então, como
foi a viagem de negócios?
Isso ajudou a fazertodos conversarem, não tinha nada que seus
irmãos gostassem mais do que falar de si próprios.

***

Depois de muito tempo de conversas sobre como foi


entediante a viagem, Jhuliet finalmente conseguiu ir embora. Ela se
lembrou que ainda tinha que passar no ateliê antes de ir para casa,
o que, no momento, era o último lugar que ela queria ir. Huldim
morava aqui com a esposa, Alfrey e Matthew moravam em outra
cidade desde que se casaram, mas como voltaram só para lhe
darem um bronca, provavelmente iriam ficar na sua casa.
Quando seu pai morreu, todos seus irmãos já estava
casados, e ela era a única que ainda solteira e que morava com seu
pai na casa da família.Quando ele morreu, ela continuou por lá, só
que sozinha. Huldim deixava tudo nas mãos dela, despesas da casa
e da "fortuna" da família,que não era muito. Jhuliet tinha juntado
bastante dinheiro trabalhando para Lady Vanussa esse tempo todo,
então nesse quesito ela nunca se preocupou, conseguia muito bem
cuidar de uma casa sozinha. Porém agora não estava mais sozinha,
seus irmãos com certeza dormiriam lá hoje. Apesar de não tê-las
visto, Jhuliet sabia que Kate, esposa de Matthew, com certeza viria,
e ela era ótima, mas não tinha tanta certeza sobre Sharon, esposa
de Alfrey, que nascera em outra cidade e não saírade lá para nada.
Provavelmente ficariam até o dia do baile, ótimo, a casa cheia
novamente.
Já estava quase escurecendo quando ela finalmente chegou
ao ateliê. Assim que apareceu na porta, Phippe, que estava no
balcão, deu um enorme sorriso.
— Aconteceu alguma coisa? — Jhuliet quis saber, rindo da
felicidade dela.
— Vai acontecer, vem, entra — convidou ela chamando-a
para dentro. Jhuliet foicom um grande medo, certamente algo havia
acontecido.
— Finalmente — disse Vanussa se levantando quando a viu.
— Tapem os olhos dela, depressa — ela pediu enquanto ia no
deposito pegar algo. Phippe vendou seus olhos e Jhuliet ficouainda
mais aflita.
— Mas o que está acontecendo aqui? — Jhuliet indagou. Ela
ouviu Vanussa voltar e abrir algum tipo de caixa.
— Pode abrir. — Quando os olhos de Jhuliet se abriram, ela
não entendeu o que acontecera, mas tinha certeza de uma coisa: o
vestido que estava em sua frente era lindo, de um marrom intenso
cheio de pérolas e pedras no corpete, com um incrível decote.
— Uau, é lindo. De quem é? — ela disse, tocando no vestido.
— Agora é seu, Jhuliet — disse Vanussa, que pode ver o
olhar de espanto que recebeu de Jhuliet. Antes de ela dizer
qualquer coisa, ela complementa: — Sim, é sério. Fiquei sabendo
que este será o seu primeiro baile depois de muito tempo. Quando
fiz esse vestido, eu estava pensando no quão maravilhoso ficaria
em você.
— Vanussa, eu... meus irmãos pediram para você fazerisso?
— Jhuliet perguntou, pegando o vestido, nunca tinha se imaginado
num vestido daqueles.
— Absolutamente não. — Vanussa pegou em sua mão e
disse: — Eu que quis fazer. Vamos dizer que é um presente de
aniversário adiantado.
— Meu aniversário é daqui a dois meses. Mas mesmo assim,
muito obrigada — agradeceu Jhuliet lhe dando um abraço apertado.
— Não tem de que. Agora vá para casa, prove este vestido e
se prepare para o baile.
Então não tinha desculpas, ela tinha companhia e vestido
para o baile, Deus sabia que ela tinha exatamente zero vontade
para aquilo.
Capítulo 4
"Jornal da Manhã de Londres"
Senhoras e senhores, é amanhã o tão esperado dia do baile! O
Duque de Handevell já
foi visto em sua casa, aqui em Londres. Muitas jovens perguntam
como ele é, eu só
posso dizer, minhas ladys, esperem e verão.

Jones acordou cedo naquela manhã. O mais frustrante foi


que ele não podia mexer em nenhum documento pois ainda não era
um herdeiro oficial. Ele pensara muito sobre esse casamento no dia
anterior. Com certeza, não tinha lugar melhor para se arranjar uma
esposa do que no baile, ainda mais se o baile fosse organizado
exclusivamente para sua chegada. Ele não sabia de quem foi a ideia
de dar um baile em seu nome, ele particularmente odiava bailes,
infelizmente ele tinha toda certeza que seria a estrela principal, o
que significavavárias danças, e vários calos em seus pés. Ele sabia
dançar desde pequeno, mas só aperfeiçoou sua dança quando se
mudou para onde havia os melhores bailes.

Vaiolet pelo jeito também estava bastante preocupada com o


casamento, pois havia feito até um lista, que entregara para Jones
no dia anterior.
— O que é isto? — ele perguntou pegando a lista, tinha no
mínimo uma dúzia de nomes de mulheres que ele nunca tinha
ouvido falar.
— São mulheres que eu considero ótimas para o cargo —
disse ela se sentando ao seu lado no jardim.
— Perdão mas, que cargo? — perguntou ele, confuso.
— De sua esposa, é claro. — Jones riu preocupado, não
queria chamar aquilo de emprego, onde selecionaria a mais
qualificada.
— Por favor, não vamos chamar assim. — disse ele dando
uma olhada na lista.
— Como quiser, vamos, leia — insistiu Vaiolet. Jones leu, a
caligrafia impecável de Vaiolet.
— Lady Prycile, Lady Valerie... espera, Lady Valerie tem a
sua idade — constatou ele olhando para Vaiolet
— Você não está na posição de ser exigente, e aliás, seria
ótimo ter uma amiga como
cunhada. — Jones lhe entregou o papel, suspirando alto.
— Não vou casar com uma de suas amigas, Vaiolet.
— Com quem vai se casar então? — questionou ela,
pegando o papel de suas mãos, frustrada.
— Eu não sei. Faça outra lista, com mulheres de no mínimo
vinte anos, por favor.
— Não conheço ninguém de vinte anos.
— Então estamos perdidos — Jones disse, e no mesmo
instante Vaiolet bufou e começou a fazer outra lista no verso da
primeira. Ela escreveu apenas três nomes e parou, ela lhe entregou
o papel.
— Não consegui me lembrar de mais ninguém. — Jones
pegou o papel, viu que não conhecia nenhuma das mulheres ali.
— Duquesa Rosália, Marquesa Marieli e Viscondessa Patylle.
Nunca ouvi falar em
nenhuma delas — ele disse quando terminou de ler.
— Duquesa Rosália da aula de piano na escola de boas
maneiras, tem vinte e três anos, se não me engano, ela é bem gentil
e bonita. Marquesa Marieli dá aulas de literatura inglesa, tem vinte e
seis anos, mas parece trinta, ela não sorri e fica sempre com uma
cara fechada. E Viscondessa Patylle é a mais velha de sete irmãos,
todos a chamam de Paty, ela e a mãe cuidam das finanças da
famíliahá anos. Ela tem vinte e sete, mas realmente aparenta ser
da minha idade, gentil, bondosa, mas dura quando tem que ser. Ela
toca violoncelo em todos os bailes, realmente uma estrela. Acho que
essas são suas melhores opções. — Jones ouvia atentamente cada
palavra de Vaiolet.
— Você acha? — ele perguntou em dúvida. Ela simplesmente
deu os ombros. Jones ficouolhando para as grandes portas de ferro
que davam para o jardim mais antigo da família,ele brincava ali
quando era criança. Vaiolet acompanhou seu olhar.
— Eu tenho a chave — ela disse o tirando de seu devaneio.
— Hum...o que disse?
— Eu disse que tenho a chave, papai sempre escondia, mas
eu sempre achava, se quiser... — Quando não obteve respostas, ela
se levantou e foi para dentro, menos de um minuto e ela havia
voltado. Ela balançou a chave na sua frente e foi até os jardins.
Jones a seguiu, ela já estava na frente do portão, o abrindo. —
Preciso de ajuda para abrir, isso deve pesar uma tonelada.
Jones se levantou a foi ajudá-la. Tinha razão, as portas
eram, além de muito altas, extremamente pesadas, então cada um
empurrou de um lado. Quando as portas se abriram e ele pode ver,
o jardim estava morto, todas as flores estavam murchas, as estátuas
estavam sujas de cocô de pássaros, e as arvores cresceram tanto
que estavam esparramando folhas por todo o jardim. Parecia um
lugar abandonado.
— Eu vinha aqui de vez em quando, quando papai saía eu
tentava jogar um pouco de água nas plantas, mas era difícil,porque
eu tinha que pegar agua no outro jardim, quando chegava aqui, o
pote já estava vazio — ela disse enquanto tirava as folhas de um
banco para se sentar. Jones se sentou ao seu lado.
— Aqui costumava ser lindo, mamãe ela... — ele parou
quando percebeu que tinha falado de sua mãe depois de muito,
muito tempo. Porém, Vaiolet estava atenta em suas palavras.
— Ela o quê? — perguntou ela quando ele não respondeu.
— Ela cuidava daqui sozinha, era o hobby favorito dela.
— Uau, eu nunca cheguei a ver esse jardim desse jeito — ela
disse, segurando as mãos contra o corpo. — Ele sempre esteve
morto para mim. — Jones não disse nada, voltar ali lhe despertou
muitas memorias, desde a morte de sua mãe, ele nunca mais voltou
naquele jardim. — Como ela era?
— Perdão? — disse Jones, voltando à vida real.
— A mamãe, como ela era...? — ela perguntou de cabeça
baixa, Vaiolet não se lembrava dela, tinha certeza.
— Ela era linda, forte, determinada, nada a segurava, ela era
igualzinha a você — ele disse, Vaiolet sorriu sem querer e ele
também.
— Podemos deixar a porta aberta a partir de hoje? — ela
perguntou se levantando, bastante animada.
— Acho uma ótima ideia.

***

Vaiolet, no dia anterior, tinha proposto de deixar os jardins


abertos, Jones concordou. Naquele dia de manhã ele mandou virem
retirar aquele portão e colocar um menor, mais bonito, no lugar do
antigo que parecia ter saídode um cemitério. Jones queria plantas e
algumas flores em seu jardim, ele se perguntou que tipo de flores
Vaiolet gostava, ele percebeu que não conhecia a irmã, nem suas
flores favoritas, nem sua comida favorita, muito menos a hora em
que ela acordava, ele queria que fosseuma surpresa. Martilde disse
que Vaiolet costumava acordar depois das nove da manhã, pois era
a hora em que o sol batia em sua janela. Ela também disse que
suas flores favoritas eram girassóis.

Jones se arrependeu amargamente de ter recusado a ajuda


do senhor que lhe vendeu as sementes e algumas flores pois,
quando colocou a mão na massa, na terra para ser mais exato, ele
viu que não era tão fácil assim. A terra estava suja e cheia de
minhocas e outros insetos, ele cavava pequenos buracos para
colocar as flores, e alguns ainda menores para colocar as sementes.
Ele logo desistiu e começou a varrer, algumas folhas não
desgrudavam do chão, ele logo abandonou isso também e tentou
aparar as arvores, ele queria que elas ficassem bem quadradinhas,
mas no final ficaram parecendo um prato que caiu no chão e foi
colado com cola.

— O que está fazendo?— perguntou Vaiolet lá de baixo, ele


estava no alto da escada, quando olhou para baixo, se desequilibrou
e caiu de costas no chão, sorte que foi num monte de folhas secas.
— Por Deus, você está bem? — perguntou Vaiolet o ajudando a se
sentar.
— Só queria fazer um jardim. Até plantei suas floresfavoritas.
— Ele apontou para os girassóis. Quando os dois se viraram,
perceberam que os girassóis estavam murchos e quase tocando o
chão.

— Acho que não deu muito certo — Vaiolet riu como ele
nunca tinha ouvido, naquele momento, tudo valeu a pena. — Bem,
Sir Victor está a sua espera.
— Oh não, eu prefiro ficar aqui. — Sir Victor era o braço
direito de seu pai, e era o homem mais formal de toda Londres, ele
nunca tinha visto o sujeito dar um sorriso sequer.
— Quanto mais cedo você for, mais cedo ele vai embora. —
Vaiolet lhe ajudou a se levantar, suas costas doíam um pouco.
Assim que Jones apareceu na sala de jantar, Sir Victor não esboçou
nenhuma reação, nada. Apenas disse:
— Quando tempo forade casa. — Antes de Jones responder,
ele disse: — Amanhã é o baile em comemoração a sua chegada,
espero que compareça, é claro, dance com todas que pedirem, e só
vá embora quando todos forem. Você já está ciente que precisa de
uma esposa, escolha até no máximo segunda-feira, sendo que
quarta-feirajá devam estar casados. Escolha com inteligência pois é
para vida toda. Quando você se casar eu volto aqui e te digo tudo
sobre suas obrigações como Duque de Handevell, tenha uma boa
tarde — ele disse e saiu da sala. Jones ficou chocado, ele nem ao
menos conseguiu processar a primeira frase.
— É bom te ver também, Sir Victor — Jones disse quando ele
já tinha ido.
— Bom, ele tem razão — disse Vaiolet se levantando.
— Em qual parte do seu discurso? — Jones disse tentando
se levantar. mas só conseguindo um gemido de dor.
— Na parte de você tem que saber com quem vai casar até
segunda-feira, seria bom
encontrar alguém no baile mesmo.
— Não sei como vou fazer isso.
— Não sei, decore minha lista, faça apostas, a terceira que
eu dançar é a que me casarei, alguém de vestido azul será minha
esposa, esse tipo de coisa — Vaiolet sugeriu ando os ombros.
— Odeio estar nessa situação — ele desabafou bufando.
— Pelo menos uma vez eu fico felizde não ser a herdeira —
disse Vaiolet se levantando. — È, eu também.
Jones sabia que tinha que se casar, e rápido, não pelo seu
próprio bem pessoal, mas pelo de Vaiolet. Ele sabia que ser seletivo
não o ajudaria em nada, o baile do dia seguinte estaria lotado de
pessoas, ele decretou para si mesmo, já que sua vida já estava
arruinada: “eu me casarei com a quinta mulher que dançar, e se ela
não for de meu agrado, então será a sétima”. Parecia besteira, mas
ele sabia que era o jeito mais fácil, daria tudo certo, ele se casaria,
assumiria o título e seria o melhor duque que poderia ser. Só mais
um dia, e tudo irá mudar.
Capítulo 5
"Jornal da Manhã de Londres"
E o dia tão esperado finalmente chegou, Londres está uma
loucura, logo de manhã. O baile será às sete da noite, mas às sete
da manhã várias jovens sapateiam pelas ruas pegando tudo que for
necessário para o baile. Com toda certeza Lorde Handevell é a
estrela principal, e com certeza nós do Jornal estaremos lá ficandoa
par de tudo. Até logo.

Jhuliet lia o jornal, mas já não era de manhã e sim duas da


tarde, e a correria na casa de seu irmão Huldim não parava desde
cedo. Agatha, além de ótima costureira, também era ótima
cabeleireira, e isso fez várias de suas amigas — não várias, só
quatro — irem lá para pedir para que a arrumassem. Jhuliet foi a
primeira, não viu o sentido de se arrumar à uma da tarde para um
baile que era às sete. Agora ela estava lá, pronta e entediada, ao
lado de seu irmão que tinha acabado de voltar de um passeio a
cavalo e ainda estava cheio de feno no cabelo e roupas.
— Não vai se arrumar? — Jhuliet disse, bufando de tédio.
— Quando der sete horas eu vou. Não sei por que mulheres
demoram tanto tempo para se arrumar — disse Huldim tirando a
sujeira de sua roupa.
— Nem eu, eu fiquei pronta em meia hora, mas foram duas
só para arrumar o meu cabelo — ela disse pegando uma mecha
enrolada e a jogando para trás novamente.
— É verdade, está diferente — constatou Huldim, encarando
a irmã.
— O quê? — ela perguntou confusa.
— O seu cabelo, está... fofo— ele disse depois de vários
minutos.
— Fofo? — ela riu arqueando as sobrancelhas.
— Sim, com movimento... parece que você tem mais cabelo,
é isso — ele explicou omo se tivesse resolvido uma advinha.
— É porque eu o soltei — ela disse rindo da cara do irmão. —
Acho que isso foi um elogio, certo? — riu negando com a cabeça.
— Vou ver como Agatha está, com todas aquelas mulheres
ela deve estar ficando louca.
— Aposto que sim — disse Jhuliet antes de seu irmão se
afastar.

Assim que ele saiu, Jhuliet saiu da casa, mesmo com todas
as janelas abertas ela se sentia sufocada lá dentro. Toda essa
história de bailes e casamentos a estava deixando estressada, ela
estava totalmente fora de sua zona de conforto. Ela saiu da
propriedade, ela estava com o vestido que Lady Vanussa lhe havia
dado, ele ficou perfeito em seu corpo, nem justo de menos, e nem
largo demais. Ela poucas vezes soltava o cabelo, pois ele era longo
e ela não gostava muito dele pois ele era bem cacheado, mas
Agatha havia tentado alisá-lo, em vão, e ele acabou ficando
cacheado nas pontas, mas tinha ficado bonito.
As pessoas a ignoravam, estavam ocupadas demais
pensando em seus próprios problemas, ou também estavam se
arrumando para o baile. Jhuliet olhou para o céu e viu que tinha
ficado escuro de repente. Ela não sabia como, mas já estava bem
longe da casa de seu irmão, ela sentiu uma gota em sua testa, não
podia ser.
— Isso e chuva? — ela perguntou para si mesma. No mesmo
momento ela esbarrou em alguém quando se virava, nenhum dos
dois conseguiram se segurar e foram para o chão. Infelizmente foi
Jhuliet que amorteceu a queda do homem, ele rapidamente se
levantou e a ajudou a se levantar. Ela ainda sentada no chão viu o
estado do seu vestido, estava sujo de poeira, nessa hora ela
explodiu.
— Mil perdoes, eu te ajudo — disse o homem com sua mão
estendida para ela. Jhuliet se levantou e gritou com ele.
— Qual é seu problema? Você podia ter me esmagado ali
mesmo, você literalmente, caiu em cima de mim. Espero que a sua
queda tenha sido menos dolorosa — ela disse e se levantou sozinha
tirando a poeira do vestido. De todas as reações que ela imaginou
que ele teria, nenhuma chegou perto da alta risada que ele soltou.
— Pode me dizer, por favor, qual é a graça? — Jhuliet já estava
furiosa com ele, talvez não seja com ele exatamente, mas estava
sim furiosa.
— Perdoe-me, na verdade não foi, minhas costas estão
doendo bastante agora.
— Pois bem merecido, da próxima vez escolha alguém
melhor para cair em cima — resmungou ela tentando limpar o
vestido com as mãos.
— Tem razão, que péssima ideia a minha — ele disse
estalando a língua, aquele ato irritou ainda mais Jhuliet. Mas antes
dela poder dizer algo, a chuva caiu como um balde em cima dos
dois. Ele pegou sua mão e saiu correndo, ela quase tropeça várias
vezes por causa do vestido longo que agora estava completamente
molhado. Ele a solta debaixo de uma fachada de padaria, onde tinha
cobertura da chuva.
— Qual... o... seu... problema? — Jhuliet perguntou ofegante,
ela tinha corrido com aquele vestido pesado.
— Perdão, não achei que você gostasse tanto de chuva
assim — ele disse tirando seu casaco e oferendo a ela, que negou.
— Estou bem, obrigada — Jhuliet disse, dando um passo
para trás.
— Como está, olha para você, tremendo de frio. — Ela
realmente estava tremendo e com os dentes rangendo e não era de
raiva desta vez.
— Já estive pior — ela disse, ainda ficando na defensiva,
afinal, ele era um estranho, e nessas temporadas de bailes as ruas
de Londres ficavam cheias de loucos e pervertidos de outros
lugares.
— Por Deus, mulher, quer deixar de ser tão teimosa? — ele
disse chegando perto, ela deu um passo para trás, mas acabou
ficando na chuva. Ela voltou para frente, para frente demais pois
estava praticamente colada nele. Ele chegou perto, ela fechou os
olhos, mas quando abriu ele já tinha se afastado, contudo seu
casaco estava ao redor dela. Ele estava sentado, ela se sentou ao
seu lado, porém com certa distância.
— Obrigada — ela agradeceu olhando para o outro lado.
— Foi tão difíc
il assim? — ele disse rindo, ela olhou para ele,
que era realmente bonito, será que a chuva deixa as pessoas mais
bonitas? Pensou, com certeza não, se olhando na vitrina da loja, ela
parecia um rato molhado. — Você mora por aqui? — ele perguntou,
a assustando.
— Não...
— É muito longe?
— Um pouco.
— No centro?
— Não exatamente — ela mal o olhava quando respondia.
— Não precisa ficar na defensiva, eu não sou nenhum
assassino ou algo do tipo.
— É exatamente isso o que uma assassino diria, aliás, eu
também não te conheço.
— Já que é assim... meu nome é... — ele pareceu pensar
bem antes de dizer. — John.
— Jhuliet — ela disse o dela, mas ainda na defensiva.
— É um prazer — ele disse sorrindo. — Posso fazer uma
pergunta?
— Pode, mas isso não significa que eu vou responder.
— Não somos mais estranhos, eu até sei seu nome. — Ela
riu ao ouvir aquilo, ela assentiu permitindo que ele fizesse a
pergunta.
— Você sempre se arruma tanto assim para sair de casa?
— Na verdade é para o baile. — Ele faz uma cara estranha
quando ela menciona o baile. — Mas não tenho nenhuma intenção
de ir.
— Por que não? — Ele se surpreendeu
— Não gosto muito de bailes, até porque a intenção de eu ir é
outra.
— Qual?
— Querem que eu me case — bufou ela.
— E você não quer? — Jhuliet negou com a cabeça. — Acho
que eu estou em uma situação parecida — disse ele cruzando as
mãos sobre a cabeça.
— Mas eu não tenho escolha. — Os dois disseram ao mesmo
tempo.
— Isso seria engraçado se não fosse trágico — ele disse.
Mas aparentemente ela não estava ouvindo pois estava olhando
para a rua. — O que houve? — ele perguntou
— Já está de noite — ela olhou.
— Parece que já.
— Já devem ser o quê? Seis da tarde, ou até mesmo sete, eu
tenho que ir. — Jhuliet se levantou para ir embora.
— Espera...você quer que eu te acompanhe ou...
— Eu vou ficar bem — ela disse e correu, não deu ao menos
uma olhada para trás, quando estava quase da esquina ela
percebeu que ainda estava com o casaco dele, mas quando olhou
para trás ele já havia sumido.

***

Jhuliet foi direto para a casa de seu irmão. Quando chegou


encontrou Agatha e Huldim esperando por ela. Quando a viu,
Agatha quase chorou.
— O que aconteceu com você? — ela perguntou pegando
uma mecha encharcada do cabelo de Jhuliet.
— Peguei uma chuva e fiquei presa — disse ela pensando
rápido em alguma desculpa, o que não era necessariamente uma
mentira.
— Pegou mil anos de chuva, por céus, nem choveu tanto
assim — disse Huldim.
— EU estava na chuva, choveu bastante, acredite em mim —
insistiu Jhuliet dando ênfase no “eu” apontando para si mesma.
— Tudo bem, nada que não possamos consertar — disse
Agatha. — Já volto.
— De quem é esse casaco? — Huldim perguntou depois que
Agatha saiu.
— O quê?
— Esse casaco, de quem é? — ele disse se aproximando
para tocar no casaco, mas Jhuliet se desvencilhou dele.
— Meu, ora. — disse Jhuliet o puxando contra seu corpo.
— Nunca vi ele antes — disse Huldim estreitando os olhos.
— É novo.
— Quando comprou?
— Por que esse interrogatório? — ela disse, zangada.
— Está tudo bem, vem, vamos transformar você — disse
Agatha a puxando. — De novo.

***

Uma hora e meia depois todos estavam prontos para sair,


porem já eram nove da noite.
— Acho que estamos um pouco atrasados — Jhuilet disse já
na carruagem a caminho do baile.
— Será por culpa de quem? — disse Huldim.
— Não liga para ele, quem se arruma em dez minutos não
pode ter voz nesses assuntos — Agatha disse rindo, ele riu de volta,
se fosse Jhuliet quem tivesse dito, ela com certeza receberia um
olhar zangado.
— Diz que já chegamos, por favor?— Jhuliet perguntou para
o cocheiro.
— Certamentem senhora. — Ele disse simpático, mas ainda
com os olhos na estrada.
— Finalmente — disse Jhuliet suspirando.
— Animada para o baile? — perguntou Agatha quando já
tinham descido da carruagem.
— Para ir embora? Com certeza — disse Jhuliet fingindo
entusiasmo.
— Vamos — disse empurrando de leve o ombro de Jhuliet. —
Vai ser divertido.

Quando entraram viram uma multidão de verdade. Jhuliet não


se lembrava de já ter visto tantas pessoas quanto tinha naquele dia
no salão. Quanto mais adentravam no salão, mais Jhuliet se sentia
tonta, com tanta gente se espremendo e se empurrando. Quando
chegaram no centro do salão, viram que não estava tão cheio. Logo
Jhuliet descobriu que o tal duque não tinha chegado, e já passava
das dez da noite.
— Eu duvido que ele apareça. — Jhuliet ouviu uma voz atrás
de si, olhou para trás e lá estava Miss Paterson. A maior fofoqueira
de Londres, muito melhor que qualquer jornal de fofocas,alguns até
falam que ela trabalha para o jornal.
— Para mim não faz diferença — disse Jhuliet sincera.
— Calma, minha jovem. Sei que está chateada por ele não
aparecer — disse ela colocando a mão em seu ombro. — Isto aqui
está bem entediante na verdade, aceita? — Miss Paterson lhe
ofereceu uma taça.
— O que é isto? — perguntou Jhuliet pegando a taça de suas
mãos.
— Conhaque. Detesto ponche. — Jhuliet aceitou, ela também
estava achando o baile entediante, mesmo tendo chegado há
pouvo. Agatha disse que já voltava, mas até então, nada.
— Obrigada — ela disse bebendo a taça inteira e sentindo o
líquido descer e queimar sua garganta, uma sensação boa na
verdade. Miss Paterson tirou um cantil dos babados do vestido e
encheu a taça novamente.
— Tome, parece que você está precisando. Eu estou mais
preocupada com Frederyne.
— Frederyne? Sua sobrinha? — perguntou Jhuliet
bebericando a taça de conhaque, devagar desta vez, não queria
ficar ainda mais tonta.
— Sim, ela mesma. Tadinha, acho que não irá casar tão cedo
depois disso. — Jhuliet parou de beber e olhou para ela.
— Disso o quê?
— Eu não deveria contar... — Isso significa “vou te contar, se
você pedir”, Jhuliet sabia como funcionava.
— Tudo bem — Jhuliet disse, mas logo Miss Paterson se
aproximou e disse:
— Foi assim: ela é jovem, bonita, e só tem vinte anos. Daria
uma ótima esposa, mas aí surgiu um boato que ela teve um caso
com um marquês aí, que ninguém nunca viu, depois disso, nada!
— O que quer dizer? — perguntou ela, chegando mais perto.
Miss Paterson conseguiu prender sua atenção.
´ — Antes disso, várias cartas anônimas, convites para sair, e
vários querendo dançar com ela nos bailes, mas agora, depois do
boato, nenhuma carta, nenhum convite, nem ao menos um olhar, a
vida dela foi totalmente arruinada. Nem sei se ela conseguira se
casar algum dia.
Na hora Jhuliet teve uma péssima ideia, mas para ela parecia
ótima. Mas ela não conseguiu pensar direito pois alguém no meio do
salão chamou a atenção de todos e disse:
— Err... bem... São onze e meia da noite, acho que o Duque
de Hundevell não vem mais. Porém, podemos remarcar para este
domingo.
Todos deram suspiros de desapontamento. Estavam furiosos,
e Lady Vanussa passou muito aperto com os vestidos por causa
dele, e agora ele não vinha? Jhuliet estava extremamente chateada
e um pouco bêbada que nem pensou nas consequências quanto foi
até Miss Paterson e disse:
— Precisamos conversar. — As duas foram para um canto.
— O que foi, querida?
— Eu não sei se devia contar... — ela estava fazendo um
joguinho para aumentar ainda mais a curiosidade dela.
— Está tudo bem, conte-me.
— Bem, depois que você falou da sua sobrinha, eu queria me
abrir, não aguento mais guardar isso para mim — Jhuliet juntou a
chateação pelo Duque não ter comparecido com a frustração de ter
que se casar, com é claro, a bebida. Foi isso tudo que lhe deu
coragem de dizer:— eu tive um caso com Duque de Handevell. —
A boca de Miss Paterson formou um O perfeitamente.
— Você o quê, minha jovem? — No momento em que essas
palavras saíram, ela se arrependeu amargamente, o que tinha feito?
Nem ao menos o conhecia. Ela ia desmentir tudo, mas Miss
Paterson lhe interrompeu. — Sim, sim, fazsentido. Por isso ele não
apareceu, você o confrontou para que ele se case com você e o
safadodesapareceu, com certeza achou que você estaria aqui e por
isso nem veio.
— Miss Paterson, eu...
— Eu sei, minha jovem. — Disse lhe dando um abraço. —
Deve ser muito difícil ser rejeitada desse jeito.
— Eu não fui...
— Oh, não me diga que está grávida dele?
— O quê? — O rosto de Jhuliet era de puro choque. —
Eu...eu...
— Oh não, minha jovem. Eu sinto tanto.
— Olha, eu... — Jhuliet desistiu antes mesmo de tentar
explicar a situação, ela sabia que Miss Paterson já tinha sua própria
versão. — Precisa me prometer que não vai, em hipótese alguma,
contar a alguém, sem exceções.
— Eu prometo, não irei — ela disse dando um sorriso. — Se
cuide, Jhuliet.
Está tudo bem, disse Jhuliet para si mesma, Miss Paterson
não dirá a ninguém, aliás, quem iria acreditar, mal conhecem esse
duque, quanto mais ela, iria dar tudo certo. Mas, na verdade, foi
como um enxame de abelhas, bem longe, um burburinho aqui outro
ali, mas começou a chegar mais perto, acertando todos ao seu
redor. Só se ouvia "Jhuliet teve um caso com o Duque" por todo o
baile. Ela não podia acreditar que foi tão ingênua a ponto de
acreditar que Miss Paterson guardaria seu segredo, ou melhor, sua
mentira.

— Eu ouvi, mas ainda não posso acreditar, você pode dizer


em voz alta para mim, por favor. — Antes de Jhuliet se virar já sabia
que era seu irmão Huldim. Mas quando finalmente se virou, a visão
foi bem pior, estava não só com todos os seus irmãos e suas
esposas como todo o baile olhando para ela.
— Eu... eu...
— Deixe a garota, Huldim. Pode fazer mal para o bebê —
interviu Miss Paterson. Jhuliet viu seu irmão ficar branco igual um
papel em um minuto.
— Bebê? — ele disse como se estivesse experimentado as
palavras em sua boca. — Você está grávida? — e pelo tom de voz
dele, o gosto delas é horrível.
— Eu não... quer dizer, eu... ah, maldição — ela disse e
correu para a saída.

Apesar de o baile estar cheio, todos abriram caminho para


ela passar, com seus irmãos atrás dela feitos lobos atrás da presa.
Antes de ela chegar a porta se abre, saindo de lá um homem alto,
cabelos pretos molhados, muito bem vestido que ela reconheceu na
hora, todos no salão pararam, inclusive seus irmãos.
— John? — Jhuliet perguntou assim que o viu.
— Jhuliet, é você — disse o homem sorrindo quando a viu.
— Senhoras e senhores, o Duque de Handevell — alguém o
anunciou
Todos ali ficaram paralisados, Jhuliet só conseguia lembrar
de seus irmãos avançando em direção ao Duque antes de cair no
chão.
Capítulo 6
"Jornal da Manhã de Londres"
Pois é, jovem damas, o baile de ontem foi completamente
inesperado, pois na última hora Lorde de Handevell chega. Pois era
melhor não ter chegado, pois tinha uma notícia circulando sobre ele
e a jovem Mary Jhuliet juntos, sim, senhoras e senhores, a ajudante
de Lady Vanussa, melhor costureira do país. Isso foi um choque até
para nós do Jornal, não iríamos publicar isso, mas aqui só
trabalhamos com a verdade, porém, Lorde Handevell ainda não se
pronunciou, então ele ainda está disponível, minhas jovens.

Jones jogou o jornal no lixo da cozinha, esfregando as


têmporas. O dia anterior, sem dúvida, forao pior dia de sua vida, ele
ainda se lembrava de tudo com muita clareza. Ele tinha se atrasado
para o baile, depois de conhecer a jovem Jhuliet, e ter caído em
cima dela, fez suas costas pioraram, mas isso com certeza não foi
desculpa suficiente para faltar ao baile. Sir Victor fezquestão de vir
buscá-lo pessoalmente. Porém nada no mundo inteiro poderia tê-lo
preparado para o que acontecera quando ele abriu as portas do
salão. De tudo que ele imaginava, a última coisa seria encontrar
Jhuliet e três homens furiosos atrás dela.
— Jhuilet... — ele disse quando a viu. Não podia negar que
Jhuliet havia lhe chamado a atenção, pois ele era homem, e quando
caiu em cima dela, conseguiu sentir todo seu corpo debaixo dele, o
que o deixou com uma sensação estranha. Não podia negar que ela
era muito bonita, cabelos longos caindo como cascata pelos braços,
os olhos, mesmo que se recusassem a olhar para os dele, ele tinha
percebido que eram do castanho mais escuro, quase pretos, e tinha
algo nele, algo que ele entendia muito bem. Assim que chegou em
casa ele percebeu que deixara seu casaco favorito com ela, mais
uma desculpa para vê-la novamente, pensou ele. Assim que ele
sibilou o nome dela, ela suspirou confusa e disse.
— John...
Bem, ele havia mentido para ela sobre seu nome, por pura
questão de descrição, não queria ser reconhecido e ainda mais que
estava andando pelas ruas de Londres procurando sua irmã mais
nova. Porém ele nem teve tempo de se desculpar ou explicar toda a
situação, pois os três homens atrás de Jhuliet foram em sua direção.
Ele só viu Jhuliet desmaiar, um deles a segurou a e levou para fora,
ele também fora guiado para o mesmo lugar, eles foram para uma
sala que estava vazia.
— Eu posso saber o que está acontecendo? E quem são
vocês? — Jones perguntou confuso enquanto sentava em um dos
sofás da sala. Jhuliet foi colocada no sofá ao seu lado, ele pode
perceber logo que ela estava fingindo, de vez em quando abria o
olho bem de leve para ver como estava a situação, Jones riu
daquilo.
— Somos os irmãos da Jhuliet.
— Tudo bem... e aonde eu entro nessa história? — Jones
perguntou se servindo de conhaque que tinha na mesa no centro da
sala, com certeza ele sentiu que todos seus movimentos estavam
sendo vigiados pelos irmãos de Jhuliet. Depois de que ele se serviu
e deu o primeiro gole, o irmão dela disse:
— Soube que você teve um caso com minha irmã e eu exijo...
— ele parou ao ver Jones cuspir todo o liquido para fora sua boca,
ele o olhou incrédulo.
— Eu fiz o quê? — Jones disse, completamente chocado
com a afirmação dele.
— Não achei que precisasse lhe lembrar, ou esquece tão
rapidamente assim de suas
amantes? — ele disse, cerrando os dentes.
— Com certeza temos um engano aqui, por Deus, mulher —
Jones disse para Jhuliet
enquanto ela abria um olho. — Você nem está desmaiada de
verdade, e é uma péssima atriz.
— Ela ficou tensa quando o olhar de seus irmãos caiu sobre ela,
finalmente ela se levantou,
como quem acabara de acordar de um ótimo sonho, mas para
Jones, aquilo era um pesadelo.
— Onde estou? — ela perguntou, com voz de sonolenta.
— No purgatório, agora confesseseus pecados antes que eu
seja mandado para o inferno. — Jones disse para ela, porém ela
nem ao menos o olhava nos olhos, só para o chão.
— Eu... Huldim, por favor, vamos embora — ela implorou
para o homem que estava falando com ele, com certeza era o irmão
mais velho, concluiu Jones.
— Não podemos ir embora, não vamos deixar esse canalha
te desonrar e ficar por isso
mesmo.
— Não me lembro de ter desonrado ninguém nesses últimos
dias — disse Jones, até que se divertindo com a situação.
— Você acha isso engraçado, se aproveitar de uma mulher
inocente desta maneira? — trovejou Huldim avançando sobre ele,
mas seus outros irmãos o seguraram a tempo.
— Com certeza, Jhuliet é a inocente da história — Jones
disse duro, a encarando, ela estremeceu ao ouvir seu nome dito por
ele, ela parecia só querer que um buraco se abrisse
no meio da sala para que ela se jogasse nele.
— E se minha irmã estiver grávida? O que pretende fazer? —
disse Huldim, ainda mais furioso dizendo aquelas palavras em voz
alta. Porém tudo que se ouviu foi o som estridente da risada de
Jones, até Jhuliet se virou para ele.
— Conheço muito bem a biologia humana para saber que
seria um milagre se o que tivemos gerasse um filho — disse Jones
olhado para Jhuliet, desta vez ela não desviou o olhar, mas sim o
olhou com fúria nos olhos, ela parecia que iria colocar fogo na sala
inteira, e que primeiro, iria começar com ele.
— Então admite ter tido algo com a minha irmã. Seu cretino...
— rosnou Huldim, faltando pouco para se soltar de seus irmãos,
porem aquela cena toda já estava cansando Jones, ele se levantou
e disse — Juro por tudo de mais sagrado que, a primeira vez que vi
sua irmã foi hoje à tarde. — Jones ficou com medo da cara
pensativa de Huldim, então ele se soltou de seus irmãos, Jones
esperava um avanço de Huldim, mas ele apensar ficou parado no
lugar, ele agora olhava para Jhuliet, que também estava de pé.
— Por isso você sumiu está tarde e só voltou tarde da noite,
por isso chegou com um casaco de um homem alegando ser seu,
como pode ser tão idiota a esse ponto? — Ele já estava gritando
com ela. Por mais que Jones achasse justo ela receber um sermão
por ter inventado uma mentira tão absurda, ele já estava sentindo
pena da mulher, ela estava visivelmente abalava, mas antes de ele
pensar em intervir, a mão de Jhuliet se chocou no rosto do irmão.
Ela não disse nada, nem muito menos olhou para ninguém, só pediu
licença e saiu da sala com passos pesados. Jones podia jurar que
viu o carpete se derreter sob os passos dela.
— Pode apostar, Lorde, essa não vai ser a última vez que
nós vemos — disse Huldim, perto demais dele, os irmãos saíramda
sala, o deixando sozinho.
— Prazer em conhecê-los também — disse Jones suspirando
e tomando mais um gole de conhaque antes de sair da sala.
Quando voltou para o baile, os rostos das pessoas ali
presentes eram uma mistura de confusão, desgosto, e raiva, porém
ainda muitos rostos sedutores o olhando com malícia. Ele concluiu
que todos ali já sabiam da confusão, ele até ousou insinuar que ela
tinha começado muito antes de ele chegar. Muito provável já
passava da meia-noite, ele ficou na porta se despedindo das
pessoas, algumas acenavam e apertavam suas mãos, outras
passavam reto sem lhe dirigir um olhar, e outras faziammais do que
apertos de mãos. No final, se sobraram dez pessoas no salão, era
muito. Jones se sentou perto da saída e tentou seguir a única regra
de Sir Victor que ele ainda não tinha quebrado. Ficar no baile até
todos os convidados irem embora.

***
Jones tomava café nesta manhã apenas querendo esquecer
o que ocorreu no baile da noite anterior, ele havia acordado cedo
demais para quem bebeu tanto na noite anterior. Sua cabeça
latejava, e a luz do sol o estava deixando enjoado.

— Que história é essa? — vociferou Vaiolet gritando a essa


hora da manhã em seu ouvido, ela bateu a mão na mesa, e debaixo
dela estava a primeira capa do jornal de hoje.
— Não, por favor, não vamos falar sobre isso, não agora —
pediu Jones passando a mão nos cabelos.
— Você e essa mulher, o que tiveram? — exigiu saber
Vaiolet. Ela não tinha ido ao baile de ontem, tinha se perdido para
visitar a amiga, quando Jones a encontrou, ela já estava tão exausta
que preferiu não comparecer, foi a melhor decisão que já havia
tomado, pensou
Jones.
— Nada.
— Não é isso que o jornal diz — disse apontando para a
manchete.
— Foi um mal-entendido.
— O que quer dizer?
— Sério? Não vamos falar sobre isso no café da manhã.
Você nem comeu nada ainda. — Vaiolet se sentou à mesa, em
frente ao irmão, e se serviu de uma torrada, a mordeu com
força e disse para o irmão:
— Vamos, me conte tudo. — Jones suspirou. Mulheres,
nunca desistem.
— Ela disse que tivemos um caso. — Ele se sentia muito
estranho conversando sobre isto com sua irmã de dezesseis anos.
— E tiveram? — ela perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Não — ele disso por si só.
— Eu imaginei — ela suspirou aliviada. — Até porque você
não saiu de casa desde que chegou, quer dizer, saiu ontem, mas foi
por muito pouco tempo, não daria tempo para...
— Quer saber, acho que vou dar uma volta — disse Jones se
levantando e saindo da casa antes de aquela conversa tomasse
rumos errados.
Era nove da manhã, mas o sol já castigava Londres, que
sempre fazia frio nessa época do ano, mas não neste ano, justo
quando ele voltou para cá. Ele foi para o jardim. Infelizmente suas
flores realmente haviam morrido, e a árvore que ele aparou já havia
crescido e ficado com um formato mais estranho do que antes. Ele
se agachou e começou a tirar a ervas daninhas que estavam
rodeando o pé das árvores.

O baile havia sido o oposto do que imaginara. Ele chegara


muito tarde, não dançara com nenhuma dama, e ainda se envolvra
em um escândalo que ele tecnicamente, nem tinha se envolvido. Ele
sentiu raiva de Mary Jhuliet, ela chegou e bagunçou todos os seus
planos do dia para noite, porém, à noite, não conseguiu para de
pensar naquela mulher, via seus olhos pegando fogo no sonho, de
alguma forma aqueles olhos o atraíram mais do que gostaria de
admitir, pois tinha algo neles que Jones não conseguia decifrar.
— O jeito mais fácil de aparar a grama é com um cortador,
tirar com as próprias mãos parece muito trabalhoso. — Ele levantou
os olhos e viu Mary Jhuliet, no seu jardim, ele olhou para onde suas
mãos estavam, ele não só, retirou todas as ervas daninhas como
toda a grama
em volta da árvore. Ele se levantou, limpando a mão na calça.
— Sorte minha que eu gosto de desafios — ele disse olhando
para ela, desta vez ela não desviou o olhar, ao contrário, parecia
bem focada nos dele. — Em que posso ajudar, madame? — ele
disse se sentando em um dos bancos do jardim. Ela o seguiu e se
sentou
também, porém com uma distância razoável entre os dois.
— Por favor, só Jhuliet.
— Tem razão, já somos bem íntimos,não precisamos dessas
formalidades. — Pela primeira vez desde que chegou ela desviou o
olhar do dele, ele sorriu em resposta.
— Na verdade... é sobre isto que vim falar.
— Veio falar sobre o nosso caso? Devia ter me avisado que
cair em cima de alguém significava ter um caso, acho que estou
realmente ficando velho. — O olhar de Jhuliet caiu novamente, ela
começou a apertar as mãos sobre o colo.
— Entendo que esteja furiosocomigo, e com razão. — Assim
que ela disse aquelas palavras, Jones se arrependeu de ter sido tão
duro com ela. Ele suspirou alto.
— Por que inventou tudo aquilo?
— Não sei muito bem, estava muito zangada, comigo mesma
por ter bebido, com meus irmãos por se meter tanto em minha vida
pessoal, com você...
— Espera... — ele disse parando o tornado de palavras que
saiam da boca dela rapidamente, quando ela parou e olhou para
ele, percebeu que estava arfando. — Por que comigo?
— Eu não... sei. Foi imaturo da minha parte, apenas acabei
descontando tudo em você, peço perdão. — Jones procurou algo
em seus olhos, mas só encontrou arrependimento e sinceridade.
— De onde você tirou essa ideia de "caso''?
— Foi Miss Paterson, ela disse que a sobrinha dela tinha tido
um caso e aquilo destruiu a imagem dela, provavelmente ela nunca
conseguiria um marido algum dia, então eu pensei sobre, na hora
parecia uma boa ideia.
— Não tinha nada de boa ideia nisso, e Miss Paterson lhe
enganou direitinho.
— Por que diz isso? — ela perguntou, o olhando nos olhos.
— Porque, assim que você e seus irmãos foram embora, eu
vi um monte de cavalheiros rodeando Lady Frederyne. — Ela o
olhou confusa.
— Como conhece...
— Fizemos aulas de piano juntos, ela não mudou nada, só
ficou ainda mais bonita. — Jhuliet enfiou a cara entre as mãos.
— Como fui tola...
— Não... Só uma mulher desesperada para não se casar. —
Os dois riram, mas Jhuliet ficou seria de repente.
— Não consegui contar a verdade para meus irmãos ainda,
mas não se preocupe, eles não vão lhe obrigar a se casar comigo,
nem nada parecido, me prometeram que vão lhe deixar
em paz.
— Por que eu? — Jones perguntou, mudando de assunto.
— Perdão?
— Por que eu? Por que disse que teve um caso logo comigo?
— Eu... eu não sei, não consegui pensar em mais ninguém.
— Jones sorriu com malicia. — Ei, não é o que está pensando.
— E o que eu estou pensando, Mary Jhuliet? — ele disse
chegando perto dela, encarando aqueles olhos castanhos escuros.
— Nada de decente, eu imagino.
— Com certeza, não sou um homem nada decente, você já
deve saber. — Ele conseguiu deixá-la vermelha.
— Não sei de nada a seu respeito, meu Lorde — disse ela
desviando o olhar.
— Mas mesmo assim não conseguiu pensar em mais
ninguém que gostaria de ter um caso...
— Eu não disse isso... — Ela se virou, mas Jones estava tão
perto dela, e ela dele, ele podia sentir seu perfume, delicado de
flores diversas, ele podia não entender sobre as mulheres, mas
sabia reconhecer o perfume de uma. Jhuliet ainda encarava seus
olhos, ela estava ficando vermelha de novo, e ele adorou o fato do
rosto dela expressar tantos sentimentos que ela mesmo não
revelava. Ela se levantou rapidamente, o tirando daquele transe.
— Que jardim... diferente — ela só conseguiu dizer isso.
— Vou aceitar como um elogio, sou eu que cuido dele —
Jones diz, orgulhoso.
— Estou vendo que fez um ótimo trabalho — ela disse em
tom zombeteiro, olhando para os girassóis murchos.
— Um trabalho duro é um trabalho que vale a pena. Aliás,
como sabia que eu estava aqui? — ele perguntou, vendo-a se
abaixar e puxar o girassol murcho do chão e cortando um pedaço de
seu caule e o colocando no buraco outra vez.
— Eu bati na porta da frente, acho que era sua irmã que
atendeu, quando disse meu nome ela me olhou como se eu fosse a
pior pessoa do mundo — ela contou, rindo. — Apesar de que eu não
esteja muito longe disso. Você... acha que eu sou uma má pessoa?
— ela perguntou. Ele se abaixou ao lado dela e disse com
sinceridade.
— Más pessoas não pensam se são más pessoas.
— Isso quer dizer um sim? — ela perguntou, confusa.
— Estou atrapalhando algo? — perguntou Vaiolet, de braços
cruzados atrás dos dois. Eles se levantaram depressa.
— Vaiolet, essa e Mary Jhuliet... — tentou explicar Jones,
mas foi interrompido pela irmã.
— Já nos... vimos. — As últimas palavras foram ditas com
desprezo. — Sir Victor está a sua espera.
— Já irei em um minuto. — Vaiolet deu um sorriso amarelo
para Jhuliet e deu as costas para os dois.
— Ela dá medo, tem certeza que ela é sua irmã e não uma
madrasta malvada? — Jhuliet perguntou, indo para fora do jardim,
Jones a seguiu.
— Às vezes tenho minhas dúvidas. — Eles estavam frente a
frente perto da entrada de sua casa, Jones pode ver a carruagem
parada do lado de fora.
— Ah, antes que eu me esqueça — ela disse e correu até a
carruagem, pegando algo e voltando. — Seu casaco — disse o
estendendo.
— Aposto que ele lhe deu muito trabalho.
— Pelo fato de ser seu, com certeza dificultou as coisas. —
Ela estendeu o casaco e ele o pegou, mas acabou pegando na mão
dela e a trazendo para si.
— Uma mão cheia de calos e machucados, Mary Jhuliet, o
que anda fazendo em seu tempo livre? — Jhuliet puxou a mão de
volta, mas respondeu.
— Não é fácil ser aprendiz de costureira, prego mais botões
em minhas próprias mãos do que nos vestidos. Inclusive o de sua
irmã me deu uma baita dor de cabeça, vinte e dois botões em um
vestido, acho que ela precisa de mais do que dois pares de mãos
para abotoa-los.
— Posso lhe assegurar que tirar sempre é a parte mais fácil.
— Como sabe?
— Um bom cavalheiro entende dessas coisas. — Jhuliet logo
entendeu e seu rosto a traiu novamente.
— Bom, me perdoe pelo mal-entendido novamente, John —
ela disse arqueando as sobrancelhas. — Parece que não fuia única
que menti.
— Não é muito longe da verdade.
— Por que mentiu seu nome, não queria que eu o procurasse
depois?
— Não, não foi por isso, eu só não queria ser reconhecido, e
sair nos jornais. Lorde
Handevell sai pelas ruas de Londres, só queria evitar meu nome nas
manchetes, claro que,
depois de ontem, foi meio impossível.Creio que já leu o jornal esta
manhã.
— Sinto muito, mas meu nome também está lá, não é o único
prejudicado nessa história.
— Você quis ser prejudicada, não devia ter me arrastado
junto.
— Eu já perdi perdão, o que quer que eu faça?
— Pedir perdão não faz toda essa fofoca se acabar
, sabia?
— Vim até aqui, honestamente lhe pedir desculpas, porque
achei que entenderia minha situação, é claro que fui tola
novamente. — Ela lhe dá as costas e entra na carruagem.
Quando Jones vira, encontra sua irmã, Sir Victor e Matilde o
encarando, ele passa reto pelos três.
— Ficar gritando com a amante na entrada de casa não ajuda
em nada sua situação. — disse Sir Victor de braços cruzados.
— Ela não é minha amante — retorquiu Jones suspirando.
— Não é o que dizem. A cada dia que passa sem se casar
você perde seu título para seu primo, imagino que você não queria
isso.
— Não sei com quem me casar, ia decidir isso no baile, mas
como você mesmo viu, foi um desastre.
— Ainda a muitas mulheres querendo se casar com Lorde
Jones — disse Matilde. — Por que não se casa com ela? — Todos
olham para Vaiolet.
— Ela quem? — Jones perguntou.
— Mary Jhuliet. Vocês já estão em um escândalo, e não vão
sair dele tão cedo, é o único jeito de acalmar as coisas, é os dois
saem ganhando. — Todos olham para ela como se fosse louca.
— Jones não irá casar com uma louca que inventa mentiras
sobre ele — disse Sir Victor.
— Tem razão, só achei que fosse o jeito mais fácil — Vaiolet
disse dando de ombros.
— Você... — começou Sir Victor apontando para Jones. —
Tem até quarta-feira para estar casado, e hoje é sábado. Amanhã é
sua última chance, me avise se achar alguém adequado.
Todos os deixaram sozinho ali. Ele começou a pensar na
ideia de Vaiolet, de se casar com Jhuliet, ele não via mal na ideia,
Jhuliet era inteligente, independente e muito atraente, Jones pensou
sobre o assunto. Porem só teve certeza na manhã do dia seguinte,
quando acordou e viu que os girassóis que Jhuliet colocara a mão,
hoje já acompanhavam cada movimento do sol, estavam mais
bonitos do que quando os comprou, ele entrou dentro de casa e
pegou o casaco.
— Não precisa me esperar, não voltarei para o almoço —
avisou quando viu Vaiolet no corredor.
— Aonde vai?
— Irei buscar a minha esposa.
Capítulo 7
"Jornal da Manhã de Londres"
Hoje é domingo, dia de baile novamente. O baile de sexta não foi
nada como esperado, mas hoje será ótimo, Lorde Jones ainda está
na cidade, e ainda está solteiro, mas ainda não sabemos se ele
comparecerá ao baile.

Jhuliet acordou extremamente cedo no domingo. Ainda eram


seis da manhã, por sorte nenhum de seus dois irmãos estavam
acordados e, para piorar, Huldim tinha ido para lá na noite de sexta,
quando ela ficou tão furiosa com o irmão e com, principalmente, ela
mesma, por criar toda essa confusão que acabou lhe dando um
tapa. É claro que ele não deixou assim e foi atrás dela. Jhuliet tinha
passado direto pela carruagem, Agatha estava lá dentro e a viu
passar correndo, ela foi atrás de Jhuliet.
— Jhuliet, espere, por favor. — Jhuliet se surpreendeu ao
atender o pedido da cunhada e parou logo na frente.— Oh, querida,
não chore. Vem, vamos voltar para casa. — disse Agatha com os
braços em seus ombros a guiando para a carruagem.
— Isso não vai ficar assim, nós temos que... — disse Huldim,
furioso ao chegar perto das duas, com seus dois irmãos atrás de si.
— Nós temos que levar a Jhuliet até a casa dela, na verdade,
eu a levarei, sozinha —afirmou Agatha, com tom autoritário.
— Ela nos deve uma explicação.
— Jhuliet não lhes deve nada, agora vamos, querida —
continuou Agatha ajudando Jhuliet a subir na carruagem. — Quando
nós chegarmos, mandarei a carruagem buscar vocês, isso lhes dará
um tempo para esfriar a cabeça. — Nenhum dos irmãos ousou
contrariar Agatha, muito menos seu marido. — Pode ir — ordenou
Agatha para o cocheiro.
Foram uma boa parte do caminho em silencio, Jhuliet já tinha
parado de chorar, ela se perguntou por que até agora Agatha não
havia dito nada nem a repreendido por tal ato
irresponsável.
— Não tem nada a me dizer? — perguntou Jhuliet já se
preparando para ouvir o sermão da cunhada.
— O amor é uma coisa louca, não é mesmo? — Agatha disse
olhando para ela e sorrindo gentilmente.
— Só isso? Não vai me insultar? Me repreender?
— Quem sou eu para julgá-la, Jhuliet, não sei de sua
situação, tudo que sei são boatos, e eles quase sempre são falsos.
— Agatha olhou para ela e sorriu.
— Obrigada, por tudo. — Agatha apertou sua mão ainda mais
forte.
— Homens são irracionais às vezes, mas lembre-se, uma
mulher sempre pode domar seu homem — Agatha garantiu,
sorrindo.
— Não consigo domar meus irmãos — lamentou Jhuliet
suspirando.
— Não se chateie com o que eles disseram, tudo bem se
você teve um...
— Falando nisso... — Jhuliet interrompeu.
— Se não quiser me contar, tudo bem.
— Vou lhe contar, porque confio em você, mas me prometa
que não irá contar a ninguém.
— Tem minha palavra — Agatha prometeu, lhe olhando nos
olhos. Jhuliet confiavaem sua cunhada, sempre gostara de Agatha
porque ela sempre fora honesta.
— Tudo bem — disse ela, respirando fundo. — Eu inventei
essa história de caso com Lorde Jones. — Ela pode ver a cara de
choque da cunhada. — Achei que se minha reputação fosse
arruinada, eu não precisaria me casar.
— Jhuliet... — Ela escutou a risada da cunhada, alta e
divertida. — O que passou na sua cabeça de fazer isso?
— Eu não sei, não estava raciocinando direito.
— Mas como Lorde Jones sabia seu nome?
— Nós encontramos por acidente hoje à tarde, ele me deu
seu casaco e eu acabei esquecendo de devolvê-lo, juro que só foi
isso.
— Tudo bem, eu acredito em você. Mas, se tudo não é um
mal-entendido, então por que não fala a verdade para todos?
— Não quero ser reconhecida como "A mentirosa de
Londres" — explicou Jhuliet se afundando na carruagem.
— E acha melhor ser reconhecida como a amante de Lorde
Jones?
— Foi muito imaturo o que fiz, e agora tenho que arcar com
minhas consequências.
— E Lorde Jones? Como agiu? — perguntou Agatha curiosa.
— Ele ficou... incrédulo. Eu mal consegui encará-lo, mas ele
ficou zombando da minha situação, e eu fiquei ainda mais furiosa.
— Não acredito que não estava lá para ver toda essa cena.
— Nunca passei por algo tão vergonhoso. Eu só quero me
afundar na minha cama e nunca mais acordar — Jhuliet desabafou
quando finalmente desceu da carruagem e foi para a porta de casa.
Ainda do lado de fora, ela viu Agatha falar com o cocheiro e vir em
sua direção enquanto a carruagem partia. — Você não vai com ele?
— perguntou Jhuliet, já bocejando.
— Resolvi ficar por aqui, para evitar que seus irmãos a
estrangulem durante da noite.
— Acho muito provável — Jhuliet suspirou antes de entrar.
— Agora vá se deitar, e amanhã sugiro que vá e peça
desculpas para Lorde Jones, e lhe devolva seu casaco antes que
seu irmão o pique em pedacinhos.
— Eu irei assim que amanhecer, obrigada por tudo Agatha.
— Boa noite.

Jhuliet não precisou dizer que teve pesadelos assim que


colocou a cabeça no travesseiro, ela reviveu aquela noite, de novo e
de novo. Por mais que o sonho fosse horrível, ela não queria
acordar, porque sabia que a realidade seria muito pior.

***

Ainda eram seis e meia da manhã naquele domingo. Jhuliet


não parava de reviver a cena dela e Lorde Jones brigando em sua
propriedade. Ela sabia que tinha sido imatura de novo, e sabia que a
culpa era inteiramente dela, mas mesmo assim se zangou com a
grosseria dele. Ela fora lá de coração aberto lhe pedir desculpas,
estava indo muito bem — Jhuliet não podia negar que achava Lorde
Jones muito bonito —, quando sua irmã, Vaiolet disse que ele
estava nos jardins. De longe ela já havia o visto, seu cabelo preto
brilhava pelo sol, ele estava agachado, arrancando a grama do
chão, mas ela podia ver que seus pensamentos estavam longe.
Quando ela falou com ele, seus olhos azuis a encararam e ela
instantaneamente ficou nervosa, ele vivia a olhando nos olhos,
como se procurasse alguma coisa neles, como se...
— Bom dia. — Jhuliet foi despertada de seu devaneio quando
seu irmão mais novo, Matthew, a chama.
— Bom dia.
— Acordou com os galos hoje? — ele perguntou, se
sentando a mesa e passando geleia na torrada. Ele lambeu a facae
a colocou novamente no pote, irmãos mais novos nunca
crescem.
— Acho que ando dormindo bastante ultimamente.
— Claro, o melhor jeito de fugir dos julgamentos dos irmãos
— disse Matthew a olhando divertido.
— Oh não, por favor, não vamos começar com isso.
— Começar com o quê? — indagou Huldim se sentando ao
seu lado na mesa.
— Nada, só estava tendo uma conversa com minha irmã
favorita — explicou Matthew apontando para Jhuliet.
— Sua única irmã — Jhuliet o corrigiu, ela viu Huldim pegar a
faca no pote e passar no pão, preferiu não avisar nada ao irmão.
Matthew a olhou e riu.
— O que vocês dois fizeram? — perguntou Huldim,
desconfiado.
— Nada, irmão, tenha um ótimo café da manhã — Matthew
disse, dando um tapa nas costas do irmão mais velho o fazendo
engasgar com a torrada.
— Agatha já acordou? — Ela perguntou ao irmão, já se
levantando.
— Às seis da manhã, todo santo dia. Ela disse que ia estar
nos jardins.

Jhuliet saiu da cozinha. Desde que Agatha tinha conversado


com seus irmãos, eles não tocaram mais no assunto, por enquanto.
Bendita seja, ela era mais nova que Jhuliet, mas ela tinha um poder
sobre todo mundo que Jhuliet achava incrível. Ela foi para os
jardins, mas não encontrou Agatha lá.
Ela se sentou nos bancos de ferro. Seu jardim era seu
orgulho, Jhuliet amava mexer com plantas, fora sempre ela quem
cuidava do jardim, desde bem pequena ela já estava com as mãos
na terra, quando ela viu os girassóis murchos de Lorde Jones ela foi
instintivamente tentar ajudar, ela começou a se lembrar da cara de
confuso dele ao vê-la cortar um pedaço dos caules dos girassóis,
ela se perguntou se aquilo tinha dado certo.
— Pensando em alguém especial? — perguntou Agatha
chegando de repente e a assustando.
— O que quer dizer? — Jhuliet perguntou, se levantando
para dar uma olhada nos próprios girassóis.
— Eu cheguei e você estava aí, rindo feito uma boba. Em
quem estava pensando? — Agatha perguntou estreitando os olhos.
— Em ninguém — Jhuliet respondeu desviando o olhar.
— Aposto que era em Lorde Jones — Agatha disse em tom
de piada, mas quando viu o rosto de Jhuliet ruborizar, ela percebeu
que tinha razão. — Você estava pensando nele?
— Não era nada de mais, só estava lembrando de algumas
coisas — ela disse e pegou um balde de água e começou a regar os
vasos de flores.
— Agora que me recordo, ele é bem bonito, não é?
— Se você acha... — Jhuliet disse fingindo tom de
desinteresse.
— Sim, você não? O que ele era, mesmo? Loiro, não, ruivo
com certeza, ou será que era moreno? — Agatha disse, com a mão
no queixo, pensando.
— Seu cabelo era preto, ele é... moreno — ela comentou, já
irritada.
— Ah, então você prestou bem atenção nele.
— Eu não prestei, quer dizer, só o vi uma vez, e ele não é o
tipo de homem que a gente se esquece rapidamente.
— Jhuliet...
— E eu não notei os olhos azuis dele, nem o cabelo preto
que brilha quando está no sol, e eu não sei como isso é possível.
— Jhuliet... — chamou Agatha, mais alto agora.
— Nem o fato dele ser intimidante e... alto...
— Jhuliet!! — repetiu Agatha, bem alto dessa vez.
— O quê? — ela perguntou, e quando o fez viu que Lorde
Jones estava atrás de Agatha, rindo de toda a situação. — O... o
que faz aqui? — ela perguntou, nervosa por ter sido pega falando
sobre ele.
— Precisamos conversar — ele disse, ainda com o sorriso
zombeteiro nos lábios.
— Precisamos? — Ela engoliu a seco, não fazia ideia do o
que Lorde Jones faziaem sua casa, e muito menos sobre o que ele
queria conversar.
— Certamente. Eu não ia chegar sem avisar, mas bati na
porta e seu irmão me disse que estava aqui, mas vocês duas
estavam conversando e não quis atrapalhar, principalmente
porque eu, particularmente, estava adorando o assunto. — Jhuliet
também ouviu Agatha rir
baixinho, ela ficou ainda mais vermelha.
— Por que vocês não conversam lá dentro, é bem melhor, eu
cuido do resto do jardim, apesar de já estar tudo arrumado, mas
vão. — Jhuliet ia na frente, com Lorde Jones atrás, ela não dizia
uma palavra, apenas pisava duro.
— Nunca tinha reparado que meu cabelo brilhava no sol —
Jones comentou em tom divertido.
— Mas uma palavra e eu te enterro aqui mesmo — ameaçou
Jhuliet apontando uma pequena colher de jardinagem a poucos
centímetros do rosto dele. Jones levantou as mãos se
rendendo e disse:
— Não discuto com mulheres armadas.
Eles foram para dentro de casa, quando Jones apareceu na
sala de estar. Todos o olharam feio, menos Matthew, e Jhuliet já
sabia quem tinha atendido a porta.
— Bom dia, cavalheiros, eu gostaria de conversar com sua
irmã. — Essas palavras os
surpreenderam, mas não tanto quanto as próximas. — A sós. —
Jones completou, ficando na frente de Jhuliet. Homem corajoso, ela
pensou.
— Nem por cima do meu cadáver — anunciou Huldim,
fechando os punhos.
— Qual o problema? O pior já aconteceu — indagou
Matthew, sentado no sofá, lendo um livro qualquer.
— Eu só queria conversar com sua irmã — assegurou Jones
a seus irmãos.
— Claro, e por que não pode conversar com ela na nossa
frente? — ironizou Huldim.
— Porque o assunto não interessa vocês, e sim a ela. —
Jhuliet o olhou surpreso, definitivamente, ele era um homem de
coragem.
— Escuta aqui... — começou Huldim, porém Jhuliet o
interrompeu.
— Vamos conversar na sala na música. — disse ela, já se
dirigindo a sala.
— Jhuliet, ele não vai entrar na minha casa e...
— Essa casa não é sua, Huldim, eu morei aqui minha vida
inteira, e quando você se casou, eu continuei aqui, essa casa
também é minha por direito, você não tem voz aqui, agora se me
der licença, eu e Lorde Jones vamos conversar, a sós — ela
exclamou as últimas palavras tão resoluta que seus irmãos não
ousaram a seguir.
— Acho que nem todas as palavras que eu o disse o faria se
calar desse jeito — disse Jones, visivelmente surpreso.
— Por aqui, meu Lorde — Jhuliet disse abrindo a porta para
ele entrar. — Ninguém vai nós ouvir aqui, essa é a sala de música,
foi feita com paredes a prova de som, e portas também — ela
explicou e fechou a porta atrás de si.
— Você toca? — Jones perguntou, passando os dedos pelas
teclas do piano.
— Não muito, só sei algumas músicas. Mas minha mãe
tocava.
— É, minha também. — Antes mesmo de ela poder perguntar
o que ele queria falar com ela, Huldim abriu a porta, com uma
bandeja com duas xícaras de chá.
— Achei que poderiam estar com sede. — Jhuliet deu graças
a Deus por estar a mais de dois metros de distância de Jones
quando seu irmão entrou. Ela pegou a bandeja de suas mãos.
— Muita gentileza sua, obrigada. — Porém Huldim continuou
na porta, encarando Jones com uma expressão mortal, mas Jones
ainda estava virado para o piano. — Mais alguma coisa? — Jhuliet
perguntou, mas ele não respondeu. — Muito obrigada — ela repetiu
e o empurrou para fora, trancando a porta em seguida. Jhuliet
colocou a bandeja de chá na
mesa de centro e pegou uma xícara para si, se sentando na
poltrona.
— Aceita? — ela ofereceu apontando a xícara para Lorde
Jones enquanto ele se sentava à sua frente.
— É seguro? — perguntou ele arqueando as sobrancelhas.
— Muito provavelmente não. Mas... sobre o que queria falar?
— Eu vim lhe pedir em casamento. — Jhuliet cuspiu o chá
com tanta força que até se engasgou, Jones fez menção de se
levantar para ajudá-la, mas ela estendeu a mão dizendo que estava
tudo bem.
— Perdão, o que disse? — indagou e ela colocando a xicara
de chá na mesa.
— Exatamente o que ouviu.
— Mas... mas... você não me ama. — Era mais uma
afirmação do que uma pergunta.
— Não, não amo.
— E nem ao menos... gosta de mim?
— Eu lhe acho uma senhorita... agradável. — Esse é o pior
elogio que ela já havia recebido.
— Ainda não entendi o porquê então — afirmou Jhuliet
confusa.
— Bem, eu preciso me casar até quarta.
— Mas você mesmo disse que não queria se casar — Jhuliet
lembrou.
— Querer e dever são coisas completamente diferentes.
Ouça-me, eu sou o próximo
herdeiro da família, mas meu pai criou uma regra.
— Regra? Para você assumir o título?
— Isso mesmo. Ele disse que eu só poderia assumir o título
se eu me casasse em até quatr semanas depois sua morte.
— Senão...?
— Senão o título vai para meu primo. Eu nem ao menos
queria esse título, mas o problema é que agora, com a morte de
meu pai, Vaiolet, minha irmã mais nova, está sozinha, e meu primo
não é nada confiável para cuidar da propriedade, e muito menos
dela.
— Entendi sua situação... mas por que eu?
— Acho que nós dois poderíamos sair ganhando dessa —
argumentou ele se levantando.
— Perdão, nós dois? O que eu sairia ganhando disso, caso
não tenha me ouvido antes, mas eu não quero me casar.
— Creio que já sabe da confusão em que se meteu, e não
poderá se safar dessa tão
facilmente.
— Um dia as pessoas vão para de falar sobre, não tem
provas de nada, nem ao menos me ouviram falar que eu realmente
tive... um caso — ela pronunciou as últimas palavras bem baixo.
— Você acha que não perceberam você indo em minha casa
ontem? Me entregando meu casaco, gritando comigo na porta de
minha casa como uma amante enfurecida?
— Não foi isso que aconteceu — reclamou ela cruzando os
braços na frente do corpo.
— Não para nós, mas para quem viu de fora é exatamente o
que pareceu, e eu ainda vim visitá-la, isso só vai virar uma bola de
neve ainda maior.
— E você acha que a solução é nos casarmos? Fique
sabendo que eu não ligo para minha reputação.
— Mas as pessoas ligam, o que acha que Lady Vanussa irá
pensar, o que você vai falarpara ela? — Aquilo fezJhuliet vacilar no
seu argumento.
— Eu... Eu...
— Pretende mentir para seus irmãos até quando?
— Eu não sei, está bem?! Me dê... um tempo para pensar no
assunto.
— Eu não tenho tempo, Lady Jhuliet, se você não viu,
amanhã já é segunda — argumentou Jones se aproximando dela.
— Por que eu? Tem um milhão de mulheres em Londres, por
que justo eu?
— Porque você é uma mulher inteligente, corajosa, e não tem
nenhum interesse em minha fortuna, você é gentil e saber cuidar de
um jardim como ninguém, você simplesmente tocou nos girassóis lá
de casa e hoje já estão mais bonitos do que quando comprei. —
Quando Jhuliet não disse nada, ele completou:— E achei que como
nós dois não queríamos nós casar, talvez isso daria certo.
— E se... nós cassássemos e depois, não sei, o casamento
não desse certo e...
— Há uma clausula no documento falando que no mínimo
preciso de cinco anos de casados para ter garantia do título.
— Cinco anos é muito tempo — opinou Jhuliet evitando seu
olhar.
— Ninguém casa pensando em se separar.
— Quando se casa por amor, não. O que não é o nosso
caso...
— A decisão é sua, Lady Jhuliet — disse Lorde Jones, se
levantando e indo até a porta.
— Você irá ser fiel? — ela perguntou, antes dele sair.
— Perdão?
— Eu não quero infidelidade no nosso casamento, mesmo
que não seja de verdade, também não quero você dando ordens em
mim, o meu dinheiro é o meu dinheiro, o seu é o seu...
— Espera, isso quer dizer que... você aceita? — Jhuliet
assentiu com a cabeça, Jones sorriu com felicidade e avançou para
Jhuliet. Ele a abraçou por instinto. Jhuliet levou um susto, mas não
deu tempo de pensar em corresponder pois Jones já havia se
afastado. Ela sentou na poltrona, se sentindo zonza.
— Eu... preciso me mudar para sua casa? — Assim que ela
diz isso, Jones se vira para ela.
— Ninguém se casa e vive em casas separadas
— Mas... não é um casamento de verdade — Jhuliet não
queria sair de sua casa, essa ideia já era absurda, e morar na casa
de um estranho tornava tudo pior.
— O casamento é de verdade. Você vem para mim casa! —
Jhuliet suspirou.
— Não vamos dormir no mesmo quarto, certo? — ela
perguntou receosa.
— É claro que vamos, caso contrário, como vamos consumar
nosso casamento?
— Não vamos — Jhuliet se virou, e enrubesceu só de pensar
no fato de se deitar com um homem que nem ao menos conhecia.
— Como não?
— Não está no documento que precisa se deitar com sua
esposa para receber o título. — Jhuliet disse de braços cruzados,
não ia ceder a isso.
— Mas está na regra do casamento...
— Isso não é negociável, Lorde Jones — Jhuliet estendeu a
mão. — É pegar ou largar.

Lorde Jones a olhou com um olhar que Jhuliet ficou com


medo na hora, seu olhos azuis, agora estavam escuros, quase
cinza. Ele pegou sua mão e deu um beijo nela sem tirar os olhos
dos seus, Jhuliet suspirou mas não retirou a mão.
— Então temos um acordo, Mary Jhuliet — ele afirmou
olhando para ela. Jhuliet apenas assentiu, o que era aquilo? Ela
sentiu um arrepio percorrer seu corpo, eles estavam sozinhos
naquela sala, suas mãos ainda estavam juntas. Jhuliet puxou sua
mão de volta quando ouviu uma batida na porta. Era Agatha.
— Está tudo bem? — ela perguntou quando Jhuliet abriu a
porta.
— Sim, claro, tudo ótimo, perfeito. — Agatha olhou para
Jhuliet, toda vermelha e nervosa. Ela apenas sorriu e disse:
— Acho melhor vocês irem para a sala logo, antes que seus
irmãos arrombem essa porta.
— Ah, claro, já vamos. — Agatha piscou para ela e saiu. —
Meus irmãos, estão a nossa espera.
— Imaginei, eles até que se seguraram bastante. Que bom
que a gente só estava
conversando. — Jhuliet ficou vermelha e Jones riu. — Como você
consegue?
— O quê? — ela perguntou enquanto o seguia pelo corredor.
— Ser tão transparente assim, dá para saber como você se
sente somente olhando para seu rosto.
— Eu odeio sempre ficar vermelha por tudo — ela revelou
indo a frentee olhando pela greta da porta, se seus irmãos estavam
na sala.
— Eu gosto! — disse Jones antes deles entrarem. Como
Jhuliet não teve resposta para aquilo, ela somente entrou; assim
que entraram na sala Huldim se levantou.
— O que estavam fazendo que demoraram tanto? — ele
questionou olhando para os dois.
— Na verdade, eu estava pedindo a mão de sua irmã em
casamento. — Todos na sala ficaram em silencio.
— E eu aceitei... — complementou ela, mas logo se
arrependendo.
— Isso é ótimo, mais um casamento na família— exclamou
Agatha, batendo palmas.
— Felicidades ao casal — desejou Matthew, mal prestando
atenção, logo após dizer isso, já tinha se voltado para o livro.
— Bom... e quando vai ser o casamento? — perguntou Alfrey,
para quebrar o silêncio.
— Quarta-feira. — respondeu Jones.
— Essa quarta-feira? — perguntou Huldim desconfiado. —
Por que a pressa?
— Acho que Lady Jhuliet já esperou tempo demais —
explicou Jones. — Bem, se me derem licença, eu tenho que ir.
— Eu te levo até a porta — Jhuliet ofereceu-se, saindo da
sala onde estava todos seus irmãos de boca aberta. — Isso foi
loucura — ela disse assim que fechou a porta da entrada.
— Já está querendo desistir? — perguntou Jones.
— Não, não... — Ele estendeu a mão para seu coque e o
soltou, ela ia prendê-lo novamente quando Jones segurou sua mão
a impedindo.
— Você fica muito bonita de cabelo solto, acredite. — Ele se
afastou. — Você é minha noiva agora, me chame apenas de Jones.
E eu espero estar permitido de lhe chamar apenas de Jhuliet.
— C-Claro.
— Aliás, você vai no baile hoje à noite.
— Isso foi um pedido ou uma ordem? — ela questionou, o
seguindo até sua carruagem.
— Foram as duas coisas.
— Isso é a regra número um, não ficar me dando ordens.
— Oh, verdade, eu tinha me esquecido, se você puder
escrever todas elas e enviar para mim, eu ficaria agradecido —
ironizou Jones.
— Irei fazer assim que puder — disse Jhuliet lhe dando um
sorriso amarelo.
— Eu fui convidado para fazer um discurso sobre como é
bom estar de volta.
— Que honra, porém sinto lhe dizer que não posso ir, por
motivos de vontade — revelou Jhuliet sorrindo.
— Bom, eu acho que seria muito errado eu ir ao baile, dançar
com lindas mulheres a noite toda e na quarta-feira eu estar casado,
que espécie de marido eu seria?
— Você sempre pode dizer não aos convites — opinou
Jhuliet como se tivesse tido uma ótima ideia.
— Seria muito inadequado da minha parte recusar convites
de belas damas para dançar, que imagem eu mostraria?
— Está bem, estou ficando sem argumentos, eu irei —
decidiu ela levantando as mãos em rendição.
— Ótimo, irei buscá-la às sete — ele disse, e deu um beijo
em sua mão novamente, Jhuliet suspirou.
— Acho que vou ter que fazer uma regra para beijos.
— Acho que está ótimo do jeito que está — ele disse e subiu
na carruagem.
Quando Jhuliet se virou, percebeu que seus irmãos a
estavam observando pela janela, mas, assim que perceberam que
foram flagrados, saíram de seu campo de visão. Quando entrou em
casa novamente, cada um estava sentado no sofá tranquilamente.
— Eu vou ao baile hoje à noite — ela anunciou assim que
entrou, todos a olharam surpresos pela décima vez no dia.
— Assim, por pura e espontânea vontade? — perguntou
Huldim.
— Sim.
— E você vai mesmo se casar com esse homem, como se
chama...?
— Jones... quer dizer, Lorde Jones — respondeu Jhuliet para
Huldim que estreitou os olhos para ela.
— Tudo bem. Não acha esse casamento meio... precipitado?
— Jhuliet colocou as mãos na cintura.
— Era você que sempre dizia que eu deveria me casar, qual
é o problema agora? — ela reclamou, zangada.
— Nenhum... — ele respondeu se assustando com o tom de
voz dela.
— Ótimo.
Jhuliet foi para seu quarto, se deitou na cama e disse para si
mesma:
— Você se tornou o jurou que nunca seria, uma noiva —
murmurou e colocou o travesseiro sobre o rosto.
Capítulo 8
''Fofocas de Londres''
O baile de hoje à noite promete, senhoras de senhores, ainda mais
que Lady Fadell e Sir Huldolph foram vistos passeando, sem uma
governanta ao lado, isso só pode dizer uma coisa: um homem a
menos solteiro. E o Duque de Handevell também foi visto com Lady
Jhuliet aos berros em frente à sua casa ontem, e hoje o Duque foi
visitaá-la. Parece que o boato não seja tão boato assim, nós do
Fofocas de Londres os mantemos atualizados sobre tudo.

Jones se arrependeu na hora de ler a revista de Vaiolet, até


seu nome estava ali no meio. Ele tinha chegado em casa há pouco
mais de uma hora, ele nem sabia se Jhuliet realmente iria aceitar
sua proposta, apesar de ter bons argumentos, para ser sincero, ele
realmente achou que ela não iria aceitar. Ele bem sabia que Jhuliet
não ligava para sua reputação, na verdade ela não ligava para nada,
mas quando tocou no assunto sobre os mais próximos, como Lady
Vanussa e seus irmãos, ela pensou bem. Jones ficou a tarde toda
pensando se tinha feito a coisa certa. Ela parecia ser... boa. Apesar
de muito cabeça dura e insistente, por mais que ele gostasse de
mulheres com opinião, ele sentia que ela iria tirá-lo do sério.

— Oh, já voltou? —perguntou Vaiolet, o vendo sentando no


sofá da sala. Ele assentiu em resposta. — É quem eu penso que é?
— Perdão?
— Sua noiva, é Mary Jhuliet?
— Sim, por quê? Não gostou da ideia? — ele perguntou, se
ajeitando no sofá.
— Ainda não tenho uma opinião formada sobre ela, então
não posso dizer muito, mas ela realmente fezalgo bem grave, estou
surpresa que tenha levado isso em consideração.
— Se me lembro bem, a ideia foi totalmente sua — disse
Jones se virando para ela.
— Não achei que tinha a levado a sério, foi só uma
brincadeira — Vaiolet disse como se fosse obvio.
— Bom...eu já a pedi.
— E ela aceitou? Claro, quem não aceitaria, você é um
Duque.
— Não acho que ela esteja interessada no dinheiro, ou no
título.
— Se não isto, então o que é?
— Temos deveres em comum. Vai ao baile de hoje? —
perguntou ele se levantando e mudando de assunto.
— Depende, ela vai? — Vaiolet perguntou, com um tom
completamente estranho.
— Não está com ciúmes dela, está? — Vaiolet fezum som de
pouco caso.
— Faça— me o favor, não sei por que teria ciúmes. Só
perguntei porque assim terei chance de conhecê-la.
— Sim, eu a convidei, nós iremos às sete.
— Eu vou junto, gosto de chegar cedo.
— Chegar cedo no baile ou para analisá-la?
— Ela irá morar aqui, talvez para sempre, tenho que saber
com quem vou lidar — ela explicou e saiu da sala.
Por mais que ela já tenha aceitado o pedido, Jones ainda a
achava um pouco insegura, e tivera certeza que a reação da família
dela não tinha sido das melhores. Antes de sair para buscá-la,
Jones foi até a cidade para comprar um presente para ela, Deus
sabia que ela era sua última chance.

***

Jhuliet estava na cama há um pouco mais de duas horas,


estranhou que ninguém tinha batido na porta até então, com certeza
aquela notícia teria chocado todos, até ela mesma tinha ficado
chocada, nunca esperaria que Jones viesse até sua casa para pedir
sua mão, até imaginou que ele tivesse vindo se desculpar por
ontem, ou até melhor, continuar a discussão. Ela realmente não iria
aceitar, não sabia nem porque tinha aceitado, é claro que ele tinha
dito todas as palavras certas, ele também estava em uma situação
complicada, perder o título para o primo. Ela começou a pensar nos
prós e nos contras de se casar com ele. Ela anotou tudo em um
papel.
Prós: É bonito, charmoso, gentil (às vezes)
Contra: É uma estranho, sua irmã me odeia, é mais velho (quase
nada), gosta de provocar.

A lista não mentia, ela podia cancelar tudo agora mesmo,


dizendo que não iria se casar e ponto. Ela olhou para a lista
novamente, o contra era extremamente superficial, afinal, eles se
casariam para se conhecer melhor, e ela não tem tanta certeza
assim que a irmã dele realmente a odiava, ser mais velho era
apenas um detalhe nada importante, mas realmente seu ego
elevado a irritava, e o último item ela viu que seria o seu maior
problema. Ela escutou uma batida na porta, colocou a lista da
gaveta da mesa e disse:
— Pode entrar. — Era Agatha, ela trazia consigo uma xícara
de chá, ela o colocara na mesa ao lado da cama e viera se sentar
ao seu lado.
— Então... — Agatha começou como quem espera alguma
confissão.
— O quê? — ela perguntou, em tom inocente.
— Você o ama? — Agatha perguntou com uma cara
desconfiada.
— Não... mas um dia, não tenho dúvidas — disse com um
sorriso amarelo, não tinha tanta certeza assim.
— E ele gosta de você?
— Ele disse que eu sou... agradável — Jhuliet não conseguiu
pensar em um elogio melhor que ele já havia lhe dado.
— Isso não parece nem um pouco com um elogio.
— Mas também não é um insulto, eu gostei de agradável.
— Ele não... te ameaçou ou nada do tipo, não é mesmo? —
Jhuliet ia rir, mas viu que Agatha falava sério.
— O quê? Claro que não, ele não me forçou a nada, eu aceitei
por livre e espontânea vontade. — Agatha encarava seu rosto toda
vez que fazia uma pergunta, como se estivesse conferindo de
estava falando a verdade.
— Bem... é realmente isso que você quer? — Quando viu a
hesitação da cunhada, acrescentou: — Você sabe que sempre tem
outra saída, não precisa fazerisso porque precisa fazer, ou porque
acha que deve, está tudo bem.
— Como se sentiu quando Huldim a pediu em casamento? —
Jhuliet perguntou, surpreendendo a cunhada.
— Oh, acho que... nunca falamos sobre isso, não é? Pois bem,
você sabe que não me casei com seu irmão por amor, não é? –
Jhuliet assentiu. — Na hora eu não queria, não imaginei assim meu
casamento, com um estranho e mais velho, eu me senti,
desconfortável,fizaté uma lista de prós e contra para me casar com
ele.
— Oh, é mesmo? — Jhuliet riu, pois ela tinha feito o mesmo. —
E deu mais prós ou contras?
— A questão é que, eu me casei com seu irmão porque devia,
mas acabou virando uma das melhores coisas da minha vida, eu
realmente amo seu irmão, mas... nem todo casamento
é assim.
— Eu entendo o que quer dizer.
— Eu só não queria te ver infeliz em um casamento, só
queria que você sentisse o quão incrível é amar e ser amada de
volta, sei que você não acredita que isso vai acontecer com você. —
Agatha sabia de seu medo mais sombrio, Jhuliet evitava pensar
nesse assunto com frequência, mas ela sabia que ele sempre
estava ali. — Mas eu tenho certeza que isso vai acontecer, mas
você tem que ter certeza de onde está se metendo, só queria dizer
que, eu não tive escolha, mas você tem. — Ela começou a pensar
no quão triste foi para Agatha, uma jovem romântica que teve um
casamento arranjado, e a quão sortuda ela fora por ter dado certo.
— Agatha — chamou, segurando as mãos da cunhada. — É
isso que eu quero. — disse, tentando convencer mais ela mesma do
que a cunhada.
— Tudo bem. Venha, quero lhe mostrar uma coisa — pediu
Agatha, saindo de seu quarto e indo para o quarto onde ela e
Huldim estavam.
— O que quer me... — Jhuliet parou quando entrou no quarto
e Agatha estava segurando um vestido de cetim lilás sobre o corpo.
— Uau, é lindo, vai com ele no baile?
— Não, você vai.
— É para mim? — Jhuliet perguntou, o pegando das mãos de
Agatha.
— Vi ele mais cedo, eu pude te imaginar exatamente dentro
dele. É perfeito, não é?
— Oh, não posso aceitar, deve ser custado uma fortuna,
soube que esses panos entraram em alta agora que o...
— É claro que pode, considere como um presente de
casamento. — Jhuliet o pegou e ficou de frente para o espelho com
ele.
— Esse decote não é... demais?
— Por que você não viu as costas. — Ela virou o vestido e
viu que as costas eram abertas até a metade. — É perfeito para a
ocasião. Com certeza ele vai te levar ao segundo andar.
— Onde? — Agatha deu um empurrãozinho em seu ombro.
— Não vou estragar a surpresa. Parece que está
escurecendo, você não quer deixar seu noivo esperando, não é
mesmo?
Assim que disse isso, Jhuliet correu para seu quarto para se
arrumar, o vestido caiu direitinho nela, como Agatha disse, ela só se
sentia um pouco nua demais, ela tentou colocar na cabeça que era
só falta de costume, ela ia prender os cabelos, mas lembrou de
Jones falando que preferia eles soltos.
— Nem nos casamos e já estou eu pensando no que ele
gostaria.
Ela disse para ela mesma enquanto faziauma tiara de tranças
na parte da frente dos cabelos. Como seus cabelos eram
compridos, eles batiam até onde o decote na parte de trás
terminava, fazendo cócegas e suas costas. Jhuliet se olhou no
espelho e se achou bonita, porém ela sabia que aquela estava longe
de ser seu verdadeiro eu. Ela escutou Huldim a chamá-la no andar
de baixo, respirou fundo.
— Você consegue — disse para seu reflexo no espelho e
saiu do quarto.
Ela desceu as escadas do salão, enquanto todos seus irmãos
a olhavam boquiabertos,
inclusive Jones, que estava ainda mais estupefato.Ele foio primeiro
a se aproximar dela. Ele pegou sua mão e a beijou a olhando nos
olhos.
— Está linda essa noite, Lady Jhuliet.
— Igualmente, meu Lorde
— Só Jones para você — ele disse sorrindo, ela ficou tão
hipnotizada com o contato que nem percebeu que seus irmãos
ainda a estava olhando. — Peço sua permissão para levar sua
querida irmã, para o baile hoje à noite.
Jhuliet se sentiu como se estivesse sendo cortejada de
verdade com Jones pedindo autorização de seus irmãos para sair,
ela sabia que ele só estava tentando ganhar a confiança de seus
irmãos, ela se sentiu um pouco triste por isso.
— Como se nossa resposta fizesse alguma diferença —
argumentou Huldim, se voltando para o jornal que estava lendo.
— Ele quis dizer que será um prazer — interferiu Agatha. —
Divirtam-se, lembrem-se: a noite pode ser bem curta, não existe
horário para voltar para casa — ela disse quando Jhuliet e Jones já
estavam na porta.
— É claro que existe horário — opinou Huldim intervindo.
— Não seja estraga-prazeres.
— Com certeza, não quero nenhum prazer com... — Jones
fechou a porta e ela ficou felizpor não ouvir nem mais um segundo
daquela conversa.
— Família difícil... — comentou Jones, lhe dando o braço.
— Não imagina o quanto.
— Espero que não se incomode de Vaiolet ir conosco.
— Eu não me incomodo, já ela não sabe se posso dizer o
mesmo.
— Ainda achando que ela te odeia?
— Você tem alguma dúvida?
— Espere — Jones disse antes de chegar a carruagem. —
Tenho uma coisa para você — ele anunciou tirando uma caixa do
bolso. Ele estendeu para ela, que o pegou e abriu, era um colar com
diamantes do início ao fim, mas no meio havia uma enorme pedra
lilás.
— É lindo. Obrigada — Jhuliet agradeceu sem graça, ela
nunca havia ganhado um presente de alguém antes, quer dizer,
apenas vestidos, mas um colar, jamais.
— Eu posso? — pediu Jones pegando o cordão. Ele foi para
trás dela, ela pegou os cabelos para que Jones conseguisse colocar
o colar, o que ele fezrapidamente, coisa que ela demorava minutos.
Ele colocou a mão em suas costas nuas e ela imediatamente se
arrependeu de ter colocado aquele vestido, ele beijou sua nuca
antes de vir a sua frente e perguntar: — O que achou?
— É, é... é incrível,é lindo, e... eu amei! — ela afirmou ainda
sem fôlego pelo contato das mãos geladas de Jones em suas
costas.
— Ótimo, vamos — ele decidiu lhe ajudando a entrar na
carruagem. Vaiolet já estava lá dentro.
— Ah, olá — cumprimentou Jhuliet, porém Vaiolet só deu um
aceno com a cabeça e olhou para fora.
— Podemos ir — disse Jones para o cocheiro. Foram uma
boa parte do caminho em silencio, Jhuliet via que a cada segundo
Vaiolet parecia lhe olhar de cima a baixo, ela estava sendo avaliada,
ela ficou feliz por estar usando seu melhor vestido. Ela podia ver
que Vaiolet estava encarando seu colar.
— Bonito seu colar.
— Ah, obrigada. Jones que me deu... — Vaiolet levantou as
sobrancelhas ao lhe ouvir chama "Jones". — Eu... eu... amei seu
vestido — disse nervosa, não sabia por que, mas queria causar uma
boa impressão.
— Eu sei. É a mais nova coleção de inverno de Lady
Vanussa.
— Eu trabalho lá e... — começou Jhuliet animada mas logo
Vaiolet interrompeu:
— É, eu sei — ela disse, em tom desinteressado.
— Vaiolet é uma admiradora dos vestidos de Lady Vanussa,
nunca a vi vestindo outra coisa — revelou Jones para tentar aliviar o
clima tenso.
— Como se tivesse me visto tanto assim, você chegou essa
semana — Vaiolet retrucou, em tom amargurado.
— Basta uma olhada no seu guarda-roupa para saber.
— Você entrou no meu quarto? — ela disparou contra ele.
— O quê? Claro que não. Minerva quem me disse.
— Por que está perguntando sobre mim para Minerva?
— Porque você é minha irmã, e queria saber mais sobre
você.
— Tarde demais, você está dez anos atrasado. — Jones não
respondeu, apenas olhou para a janela e Vaiolet fez o mesmo, ela
não sabia por que os irmãos brigavam tanto assim, na verdade ela
não sabia nada sobre eles.
— Isso é cheiro de lavanda... espera... lavanda e alfazema—
disse Jhuliet.
— Como sabe? — perguntou Vaiolet surpresa.
— Eu cuido dos meus jardins desde pequena, meu olfato e
muito aguçado com flores e plantas.
— Bem, eu façomeus próprios perfumes...— revelou Vaiolet,
olhando para as mãos sobre o colo.
— Sério? Isso é incrível,eu acho esses perfumes comprados
muito fortes, nada como o verdadeiro cheiro da planta.
— Tem razão — Vaiolet sorriu, pela primeira vez, desde que a
viu. — Eu ainda tenho um pouco, se quiser. — Jhuliet pegou suas
duas mãos e disse:
— Eu adoraria, de verdade. — A expressão de Vaiolet mudou
quando viu o rosto sorridente de Jones, ela puxou suas mãos com
delicadeza e disse:
— Ótimo.
E ela voltou a olhar para fora. Jhuliet preferiu ficar em
silencio, mas eles logo chegaram, Jones desceu primeiro para as
ajudar a descer, mas Vaiolet a empurrou e desceu na frente, ela
desceu logo depois.
— Encontro vocês lá dentro — Vaiolet disse e saiu pisando
duro para dentro do salão.
— Não ligue para ela, ela só está chateada com tudo —
explicou Jones lhe dando o braço.
— Eu entendo, eu acho. Eu gostei dela, quando não está
com raiva é claro. Por que ela disse que você estava atrasado?
— Eu e ela... é complicado. Enfim, não é assunto para hoje.
Vamos entrar. — Ela assentiu. Quando entrou, todos ali presentes a
olharam, mas ela sabia, não a olharam porque estava bonita, mas
sim porque estava com Jones, até porque todos olhavam para ele, e
depois para ela segurando seu braço. — Vamos lá para cima?
— Para cima? Tem um andar de cima? — Jhuliet perguntou
confusa, enquanto Jones a guiava para as escadas.
— Você não sabia? É um baile para... as classes mais altas...
vamos chamar assim.
— Está explicado por que nunca ouvi falar.
— Ou talvez porque você não vá a bailes.
— Touché.

Assim que chegou no andar de cima, ela viu a diferença do


de baixo. As damas eram muito mais bem vestidas, com
gigantescas joias no pescoço e mãos, vestidos deslumbrantes, e
música de qualidade, era servido ponche de verdade e aperitivos
pelos garçons. Porém, assim que entraram, Jones soltou seu braço,
e ela sentiu falta do calor dele, ali em cima ventava bastante,
fazendo as barras dos vestidos dançarem.
— Eu tenho que cumprimentar umas pessoas... — ele
explicou se afastando dela.
— Certo eu... vou olhar ao redor.
— Tudo bem, tome cuidado por aqui.
Antes mesmo de Jhuliet perguntar o porquê, ele já havia se
afastado. Ela preferiu não se questionar sobre o porquê dele não
querer lhe apresentar a ninguém, então ela pegou uma taça de
ponche e viu que tinha realmente álcool. Ela deu apenas pequenos
goles, não queria exagerar como na última vez. Jhuliet achou aquele
baile muito desanimador, ninguém dançava, só ficavam
conversando, enquanto o meio do salão estava vazio, mas também,
a música, que tinha começado bem quando ela chegara, já tinha
ficado ruim, era tão lenta que ela duvidou que alguém conseguiria
dançá-la.
Ela tentou encontrar Jones no meio de tanta gente. Quando o
achou, não gostou nada do que viu. Uma loira estava na sua frente,
ou até mais que isso, ela estava praticamente grudada nele, ela ria
às vezes e colocava a mão em seu braço a cada risada, ela até
colocava a mão no rosto dele, mas ele não retribuía suas caricias,
mas não foi o suficiente para deixá-la mais calma. Ela não estava
com ciúmes, tinha certeza, ela só achou muito inapropriado, ela viu
que a mulher era linda, loira, alta, coberta de joias e com um grande
sorriso brilhante. Brilhante até demais para ela. Ela saiu daquela
multidão e foipara a varanda do salão. O vento gelado batia em sua
pele fervendo, talvez ela estivesse com ciúmes, apesar de que
Jones não lhe dava tanta atenção, ele a olhava diferente. Talvez
não, definitivamente não era ciúmes, era curiosidade, quem era
aquela mulher, e isso.
Dali a pouco ela iria lá e perguntaria a Jones quem era, em
tom calmo é claro, pois não eram casados ainda. Isso, era isso que
iria fazer, mas ao se virar acabou esbarrando em um vaso e quase
caindo no chão. Foi quando algo, não, alguém a segurou
firmemente. Ele a colocou de pé novamente, quando Jhuliet olhou,
viu que era um homem que ela nunca vira na vida.
— Ah... eu sinto muito...
— Philip, pode me chamar de Philip — ele apresentou-se,
abrindo um sorriso gentil.
— Já que é assim, me chamo Mary, Mary Jhuliet. — Ele
pegou sua mão e a beijou.
— É um prazer.
— O prazer é meu, quer dizer, você me salvou — ela disse
sem graça por ter tropeçado se virando.
— Não é para tanto, só salvei seu rosto de um baque contra
o chão.
— Acho que isso já é bastante coisa. Obrigada de novo,
você... chegou bem a tempo.
— Devo confessar uma coisa — ele começou, se juntando a
ela no parapeito da varanda. — Eu já a estava observando ali de
trás. Isso tornou tudo mais fácil e rápido.
— Oh... — Jhuliet ficou sem palavras diante da confissão. —
Por quê?
— Não sei dizer, você parecia intrigada com algo.
— Você ficou intrigado... por eu estar intrigada?
— É, acho que foi isso. — Eles riram, ele tinha uma risada
jovial, quase de uma criança, ela não podia vê-lo direito por causa
da varanda escura, mas ela notou que ele era bastante alto. — Não
me lembro de tê-la visto aqui antes.
— Não me lembro de já ter vindo aqui — Jhuliet disse
olhando ao redor.
— Veio acompanhada? — Ela olhou para dentro, agora a
loira estava agarrada ao braço de Jones.
— Parece que não — ela disse sorrindo para ele.
— Então vai me dizer que não veio com o Duque de
Handevell? — Seu sorriso murchou na hora.
— Por que acha isso?
— Vocês chegaram juntos. — Ela suspirou e olhou para
dentro. Philip seguiu seu olhar para dentro e viu Jones com a
mulher. — O nome dela é Dionna.
— Ela é muito bonita — Jhuliet disse sem perceber.
— Não sei não, acho que prefiro as morenas — ele disse
sorrindo amigavelmente para ela.
— Você vem sempre aqui? — ela perguntou para puxar
assunto.
— Sim, desde sempre, você não?
— Não aqui em cima.
— Você prefere aqui ou lá em baixo?
— Bom, no primeiro andar é muito mais animado, e a música
é bem melhor também.
— Parece ser divertido, qualquer lugar seria mais animado do
que aqui.
— Bom, se você quiser eu posso te mostrar como é no
primeiro andar.
— Eu adoraria. — Jhuliet tinha gostado de Philip, com boas
intenções é claro, ele parecia amigável, e não tinha chegado tão
perto e foi respeitoso o tempo todo.
— Será que conseguimos sair sem ninguém nós ver? — ela
perguntou, já dentro do salão, Philip estava atrás dela.
— Duvido muito, mas podemos tentar. — Ela e Philip foram
para a saída. Havia outros homens parados ali, e eles olharam para
Jhuliet com um olhar nada apropriado. Foi quando Philip colocou as
mãos em suas costas, a guiando para baixo, e eles na hora
desviaram o olhar, ela não se sentia incomodada com as mãos dele
ali. — Aqui parece ser bem maior.
— Por incrível que pareça, é mesmo. — Eles foram para os
cantos, pois estava muito cheio. — Sinto muito, mas não poderei lhe
guiar por aqui.
— Está tudo bem, eu conheço bem aqui, quer dizer, das
poucas vezes em que eu vim. — Agora que estava mais claro ela
podia vê-lo melhor, ela não dava nem vinte anos para ele, olhos
verdes muito claros, cabelos pretos curtos, acima das orelhas, ele
era bem bonito. Jhuliet sabia que ali já forauma casa, mas
agora era apenas usada para bailes. Eles encontraram uma porta
que dava para um jardim, ele parecia lindo sob a luz da lua, porém
estava fechado.
— Ah, é uma pena — Jhuliet disse segurando as barras do
portão.
— Gosta de jardins, Jhuliet? — Philip lhe perguntou, ele de
um lado da parede, ela de outro.
— Bastante, eu tenho um em casa, cuido dele desde
pequena — revelou ela, animada ao falar sobre seus jardins.
— Minha esposa também tinha um jardim. — Jhuliet se
remexeu ao ouvir a palavra esposa.
— Então você é casado?
— Viúvo, ela morreu fazum ano — ele suspirou e abaixou a
cabeça.
— Oh, eu sinto muito.
— Não precisa se desculpar, eu queria na verdade lhe
agradecer.
— Pelo o quê? — Jhuliet o olhou, confusa.
— Eu estava achando o baile bastante entediante, antes de
conhecer você, é a primeira vez que saio de casa desde a morte
dela. Eu acabei me divertindo. — Jhuliet se sentiu comovida e
pegou a mão de Philip, e sorriu.
— Que bom que ajudei.
— Jhuliet!!
Foi aí que ela ouve a voz de Jones, ele estava a menos de
um metro deles, e não parecia nada feliz.
Capitulo 9
Assim que Jones e Jhuliet chegaram ao baile, Jones se
afastou dela e foi cumprimentar alguns amigos que vira por ali, ele
preferiu não a apresentar agora, ele sabia que ela não gostava
muito de multidões, e quando ele dissesse que era sua noiva, as
pessoas iriam com certeza querer conhecê-la. Ele optou por fazero
anúncio quando o chamassem ao palco. Ele olhava para Jhuliet de
vez em quando, ela parecia muito desanimada, mas toda vez que
ele tentava abordá-la, alguém o pegava de conversa. Até que ele viu
Diana de longe, ele tentou ao máximo se afastar, mas assim que
deu um passo, ela já tinha lhe reconhecido. Ela lhe deu um abraço,
ele apenas segurou seus ombros e a afastou.
— Quanto tempo, não o vejo desde... semana passada. —
Eles realmente tinham se visto semana passada, Diana sempre
dava um jeito de frequentar os mesmos lugares que ele.
— Por que não me disse que vinha para Londres? — ela
perguntou, segurando seu braço, ele estava distraído procurando
Jhuliet entre a multidão.
— Era uma surpresa — Jones fingiu animação.
— Bom, conseguiu, estou realmente surpresa — ela disse,
passando a mão em seu rosto. Jones porem se afastou dela,
devagar sem tentar parecer brusco. — Ouvi falar dos boatos.
— É mesmo? — ele perguntou, totalmente desinteressado,
não achava Jhuliet em lugar nenhum.
— Eu até diria que imaginei que fosse eu, mas quem é
Jhuliet? — ela questionou com a mão na cintura, parecendo uma
esposa ciumenta, mas Diana não era sua esposa, e muito menos
era uma mulher ciumenta, ao contrário, ela que era especialista em
fazer ciúmes.
— Você logo irá conhecê-la — garantiu Jones.
— Soube que você é duque agora. Pelo menos seu pai lhe
deixou algo de bom.
— Tem razão. — Ela não tinha tanta razão assim, porém
preferiu não rebater.
— Será que eu posso conversar com meu irmão? —
perguntou Vaiolet, se aproximando dos dois.
— Oh, que gracinha você é. É a cara de sua mãe, sabia? —
Vaiolet nada a respondeu, ao contrário, se virou para o irmão e
disse.
— Tenho que te contar uma coisa.
— Nós vemos por aí, Diana. — Jones aproveitou a desculpa
para se afastar dela.
— Espero que sim — ela disse segurando seu braço, mas
Vaiolet o puxou para a varanda.
— O que queria me dizer? — ele perguntou, nervoso pela
irmã está sendo tão hostil hoje.
— De nada, por tirar as garras daquela mulher de cima de
você — respondeu ela bufando.
— Fale logo, mulher.
— Eu vi Jhuliet... — Ele nem a deixou terminar.
— Onde? Procurei por ela, mas não achei.
— Ela desceu para o salão de baixo... e estava
acompanhada.
— Achei que ela não conhecesse ninguém daqui.
— Disso eu não sei, mas ela parecia bem íntimade Philip. —
Vaiolet parecia quase com raiva quando dizia aquelas palavras.
Jones ficou ainda mais.
— Para onde foram?
— Pareciam ir para os jardins de baixo, eu também vi...
Jones não a deixou terminar, desceu as escadas e
atravessou aquele monte de gente, alguns o olhavam surpresos,
alguns lhe chamavam, mas ele não atendia. Queria saber porque
Jhuliet estava com Philip, e como se conheciam, ele ouviu a voz
dela no final do corredor, e ficou aliviado, mas logo após viu Jhuliet
segurar a mão de Philip e sorrir para ele, que retribuiu.
— Jhuliet! — Jones chamou, mais alto do que pretendia.
— Oh, como me encontrou? — ela perguntou surpresa.
Quando percebeu, soltou a mão de Philip e olhou para Jones.
— Tem que aprender a se esconder melhor — ele disse,
tentando segurar a fúria diante da cena.
— Eu não estava me escondendo — ela rebateu, revoltada.
— Estava apenas conversando com Philip — ela concluiu,
apontando para Philip.
— Não sabia que eram amigos — ele comentou, se
recusando a olhar para Philip. Depois de tantos anos, seus
caminhos ainda se cruzavam.
— Não somos... quero dizer, não éramos, até hoje —
respondeu Jhuliet, se embolando nas palavras.
— Que bom que se deram bem — Jones disse, na verdade
querendo dizer o contrário. Ele se aproximou dela. — Mas agora
temos que voltar lá para cima.
— Oh, tudo bem, acho que esqueci de apresentá-los, esse
é... — Jhuliet começou, mas Jones a interrompeu.
— Já nos conhecemos muito bem, infelizmente.Agora vamos
— pediu Jones a pegando pela mão e saindo dali o mais rápido
possível. Mas antes de chegar no final do corredor
, ela se soltou.
— O que deu em você? Foi muito rude com Philip.
— Ele merecia mais, agora vamos — ele disse tentando
pegar sua mão novamente, mas ela se desvencilhou.
— Não, você tem que pedir desculpas para ele — ela decidiu,
cruzando os braços na frente do corpo.
— Não vou mesmo, pode esperar sentada.
— O que foi aquilo? Uma crise de ciúmes? — ela perguntou,
sorrindo.
— Claro que não, só não quero que ande com outros
homens.
— Não estamos casados.
— Ainda não, mas estaremos.
— Eu posso mudar de ideia a qualquer momento — ela
lembrou, em tom provocativo.
— Mas não vai, não agora.
— Isso é tão injusto, por que você pode conversar com suas
amigas e eu não?
— Que amigas? — Jones perguntou confuso. Ela cruzou os
braços novamente e só disse uma coisa:
— Diana.
— Ela não é uma amiga — revelou Jones, suspirando.
— Dá para perceber, pelo jeito que ela estava te tocando e se
esfregando em você — ela disse e ficou de costas para ele, parecia
furiosa.
— Olha só, quem está com ciúmes agora.
— Pois sabia que eu também não gosto que você ande com
outras mulheres.
— Não precisa se preocupar com Diana, não temos mais
nada. — Ela continuou de costas para ele, mas ainda sim
perguntou.
— Mas já tiveram? — Quando Jones não respondeu, ela se
virou para ele o confrontando. — Você já teve alguma coisa com
ela?
— Já, mas não mais. — Ela fechouos olhos, como se tivesse
magoada, Jones não entendeu, ele tinha acabado de dizer que ele
tinha mais nada com ela, então qual era o problema?

***

Jhuliet respirou fundo, ela sabia que, pelo jeito como se


olhavam, tinha que ter tido alguma coisa, e realmente tiveram. Ela já
estava nervosa demais por Jones chegar do nada e insultar Philip
na cara dela, agora ela descobria que seu futuro marido tivera um
caso com uma mulher que, aparentemente, ainda queria mais.
— Quando terminou? — ela perguntou, com medo de ouvir a
resposta.
— Não sei, algumas semanas — calculou Jones tentando se
lembrar.
— Antes de você vir para cá? — Ele assentiu, dava para
perceber que aquele assunto não lhe importava muito, mas para ela
sim, é claro que seu futuro marido já tivera... algo com várias
mulheres, afinal, ele era bonito, charmoso e sabia convencer
alguém. O fato de ele já ter tido outras não a incomodou, mas sim o
fato de ter sido Diana, uma que estava tão próxima. Ela se sentiu
insegura pela primeira vez na noite. Diana era muito bonita, quando
passava todos a olhavam. Ela era um tipo diferente de beleza, um
diferente bom, ela sabia que se ela continuasse com as
provocações contra seu futuro marido, Jhuliet não teria chance
contra ela.
— Jhuliet!! — Jones a chamou, ele estava com a mão em
seus ombros. — Você está bem?
— Você não respondeu a minha pergunta — ela lembrou
quando ele a soltou.
— Por Deus, você não para de fazer perguntas.
— Consequência de se casar com alguém que não conhece.
— Ele riu, virou para ela e disse:
— Foi muito depois de vir para cá, não tenho mais nenhum
interesse em Diana, principalmente agora que tenho você. — Ele a
olhou nos olhos quando disse aquilo. Jhuliet se sentiu... especial. —
Já que esse não é um casamento normal, eu prometo, pelo menos,
ser fiel à minha esposa, mesmo sabendo que essa não tinha sido a
intenção da fala dele. Jhuliet assentiu, feliz com a resposta. Em
parte, é claro.
— E por que tratou Philip daquela maneira? E de onde o
conhece? — ela continuou perguntando, dando um passo à frente
enquanto Jones dava mais um para trás.
— Oh não, uma pergunta de cada vez, por favor. Se
voltarmos agora, prometo responder todas as suas perguntas
quando formos embora — ele disse a puxando pela mão antes
mesmo de ela aceitar.
— Como sabia que eu estava aqui? — Jhuliet perguntou,
enquanto estava sendo puxada.
— Outra pergunta, Mary Jhuliet? — Jones suspirou, talvez
pela decima quinta vez essa noite.
— Essa não é tão complicada assim. — Ele pareceu pensar
no assunto.
— Vaiolet.
— Não a vi — comentou Jhuliet olhando ao redor.
— Pois ela te viu. Disse que você tinha descido para cá com
Philip.
— Por que todo mundo o conhece, menos eu? — Jones riu
por um segundo, logo após já estava sério de novo.
— É melhor assim.

Eles logo chegaram ao salão de cima. Jhuliet quase esbarrou


em Miss Paterson, por sorte ela não a viu com Jones, porque com
certeza ela seria capa do jornal, de novo. Jones a puxou até a frente
do palco onde havia vários músicos tocando diversos instrumentos.
— Boa noite, Londres — disse Jones, subindo ao palco e
aumentando o tom de voz para que todos prestassem atenção nele.
— Estou muito feliz de ter voltado para cá depois de tanto tempo
fora, não aguentava mais o sol forte de onde eu estava. Obrigado
por todos que me deram as boas-vindas, e eu queria, pessoalmente,
lhes dar uma notícia muito importante. — Jhuliet pensou consigo
mesmo, ele não iria falar aquilo na frente de tanta gente, realmente
não tinha como. — Eu vou me casar. — Jhulie não acreditou, ele
realmente falou que ia se casar. Os homens comemoraram, e
algumas mulheres ficaram chocadas e tristes, inclusive Diana, que
tinha uma expressão de espanto no rosto. Jones apontou para
Jhuliet e disse: — Venha cá, minha querida. — Não é possível,ele
não queria que ela subisse lá, não é mesmo. Todos olharam para
ela, Jhuliet não sabia de onde tirou forças para pegar a mão de
Jones e subir até o palco. — Essa, senhoras e senhores, é a minha
futura esposa, Mary Jhuliet. —
Algumas pessoas a ficaramolhando com choque, outras com
felicidade, algumas com raiva, mas a maioria só aplaudiu. Ela viu
Diana sair furiosa para a varanda, mas o pior foi que ela viu Philip
ainda mais chocado e surpreso. Jones a ajudou a descer.
— Não acredito que fez isso! — ela sussurrou enquanto
cumprimentava as mãos que chegavam a seu alcance.
— Todos iam acabar sabendo mesmo — ele concluiu no
mesmo tom de voz.
— Que os deixasse descobrir sozinhos.
— Ei, tudo bem. Já acabou — ele disse, colocando a mão
nas costas dela para confortá-la. Mas na verdade o que ela sentiu
foi um arrepio subindo sua espinha e lhe arrepiando toda. Ele
pareceu não perceber, pois não tirou a mão dali. Sua mão que antes
estava geladas, agora parecia feita de fogo em suas costas. Ela
sentiu um calor repentino e começou a suar um pouco, talvez fosse
só a multidão de pessoas ao seu redor, ou talvez fosse Jones
mesmo. Ela percebeu que Jones sorriu ao ver seu desconforto. Ele
a levou para a varanda. — Está tudo bem, Jhuliet? — perguntou
Jones. Ela apenas assentiu e pediu para mudar de assunto.
— Em que dia será o casamento? — ela indagou, se
desviando das provocações dele.
— Na terça.
— Terça? Essa terça? Depois de amanhã? — Jhuliet
perguntou surpresa.
— Este dia mesmo. — Jhuliet ia perguntar por que de tanta
presa, mas ela já sabia.
— Entendo.
— Seus irmãos disseram que iriam cuidar de tudo, então não
precisa se preocupar. — Jhuliet o olhou confusa.
— Meus irmãos? Quando conversou com eles?
— Antes de você descer — ele respondeu tranquilamente.
— Sobre o que falaram? — perguntou, curiosa.
— Ah, é segredo de família— provocou ele, piscando para
ela.
— O quê? Você nem é da família— ela disse rindo, se
permitindo chegar mais perto.
— Ainda não — ele continuou, pegando a mão dela, mas
logo que ela ouviu a voz de Philip, ela puxou sua mão de volta.
— Espero não estar atrapalhando... — disse Philip, na porta
da varanda.
— Na verdade... — começou Jones, mas ela entrou na frente.
— É claro que não — Jhuliet respondeu, sorrindo para ele.
— Eu queria falar com você. Não seria muito incomodo para
vocês dois? — perguntou Philip olhando para Jones pela primeira
vez na noite.
— É claro que não, acho que você ainda tem muitas pessoas
para cumprimentar, não é verdade? — ela disse, mal olhando para
Jones. Ela não estava tentando fazerciúmes nele, pelo modo como
ele tratou Philip, ele bem que merecia.
— Já que você diz, eu também tenho que ir dar algumas
palavrinhas a Diana, você sabe como são os velhos amigos. —
Jones deu um empurrãozinho no ombro dela e saiu. Não precisava
nem dizer que ele estava a provocando também. Ela tentou não se
importar, pois Philip estava em sua frente.
— Impressionante — ele comentou, ficando do lado dela.
— O quê?
— Como não percebi que vocês eram um casal desde o
início. — Jhuliet ficou sem graça, porque ela e Jones não eram,
exatamente, um casal.
— Ah, é mesmo?
— Eu e Vaioline éramos exatamente assim, discutíamos por
tudo, mas nós nos amávamos muito, isso que importava no final —
ele relatou, suspirando, mas ainda estava sorrindo.
— Você deve tê-la amado muito — Jhuliet disse, chegando
mais perto para ver se Philip estava chorando. Era estranho, mas
era reconfortante estar perto de Philip, ela gostava.
— Mais do que minha própria vida. — Ele respirou fundo. —
Mas não vim aqui para falar dela, vim para me desculpar — ele
disse assumindo o tom sério novamente.
— Mas pelo o quê? Na verdade, eu que devia me desculpar
pelo comportamento de Jones.
— Não é necessário, eu já estou acostumado com ele, eu vim
me desculpar porque não sabia que você estava noiva, ainda mais
dele. Peço perdão se passei a impressão errada, mas eu juro que
minhas intenções eram nobres.
— Então quer dizer que você não estava me seduzindo? —
ela perguntou, fingindo desapontamento. Ele riu como uma criança
e disse:
— Talvez eu possa ter pensado nisso uma ou duas vezes,
mas logo desisti.
— Mas por quê? — ela perguntou, se fingindo de curiosa.
— Uma bela dama nunca anda sozinha, talvez eu já sentisse
que a senhorita tinha alguém.
— Por favor, só Jhuliet. E eu não sei o que dizer, obrigada
pelo elogio.
— Amigos? — Ele estendeu a mão para ela, que a pegou na
hora.
— Amigos. — Suas mãos estavam entrelaçadas quando
Jones chegou, sua respiração pesada que os alertou. Philip soltou a
mão de Jhuliet e disse:
— Espero te encontrar logo, Jhuliet — terminou Philip,
fazendo um reverência.
— Não se eu puder evitar — sussurou Jones atrás deles,
mas ela teve certeza que Philip também ouviu.
— Jones. — Philip fez uma leve reverencia com a cabeça e
saiu.
— Já é a segunda vez que os vejo se tocando, espero que
nunca saia das mãos — ele disse, bufando ao seu lado. O clima
descontraído foi embora junto com Philip.
— O que é? Não encontrou sua amiga? — Jhuliet disse em
tom amargo, ela não sabia por que, mas não gostava nada dessa
Diana.
— Eu a encontrei, sim, e ela quer conhecê-la.
— Não quero conhecer sua amante — ela afirmou,bufandoe
tirando o cabelo dos olhos.
— Primeiro, ela não é minha amante, e segundo, eu conheci
o seu agora há pouco, então é bem justo.
— Ele não é meu amante — Jhuliet disse alto demais e
algumas pessoas que estavam ali foraa ouviram e fecharama cara.
— Você viu que somos só amigos.
— Oh, eu estava te procurando. — A voz de Diana era
perfeitamente como Jhuliet imaginara, extremamente irritante.
— Jhuliet, essa e Diana, uma velha amiga. Diana, essa é
Jhuliet, minha futura esposa. — Quando ele disse "esposa" o rosto
de Dianna pareceu se contorcer.
— É um prazer, querida — ela cumprimentou a abraçando,
quase quebrando os ossos de Jhuliet, que começou a desconfiar
que essa era a intenção. — Perdoe-me a surpresa, mas se alguém
fosse se casar, eu nunca imaginaria que fosse Jones — ela disse
rindo e segurando o braço dele. Jhuliet quis tirá-lo de lá ela mesma,
mas ela sabia que era isso que Diana queria, então se manteve
neutra, por enquanto.
— As pessoas mudam, não é? — Jhuliet comentou, rindo.
— Não o meu Jones — ela retrucou, encarando Jones,
porém ele não a encarou de volta.
— Bom, como se conheceram? — Jhuliet perguntou antes de
pensar em avançar contra Diana.
— Oh, querida, ele não te contou? Estudamos juntos, desde
que nos encontramos, não fizemos mais nada separados.
— Parece uma amizade linda. — Jhuliet reforçou a palavra
amizade.
— O que nós tivemos foi realmente lindo.
— Bom, acho que está na hora de ir embora — Jhuliet disse,
puxando Jones, antes dela gastar toda sua dignidade com Dianna.
— Oh, por que você não fica mais um pouco? — Ela estava
se referindo a Jones, é claro, mas antes de Jhuliet retrucar, Jones
disse:
— Muito obrigado, mas vou levar minha noiva para casa. —
Aquelas palavras destruíram o sorriso de Diana. Jhuliet deu um
sorrisinho discreto.
— É claro, mas eu estou convidada para o casamento, certo?
— Diana perguntou, com aquele sorriso branco demais.
— Não vai ser muito grande, só para os amigos mais íntimos
— Jhuliet explicou, a cada palavra ela dava um passo com Jones
para longe daquela mulher.
— Então com certeza estou convidada — Diana disse
piscando para ele. Antes de Jhuliet perder o controle, Jones segurou
seus ombros e a guiou para fora do salão. Ela parecia um robô de
tão dura e tensa que estava, sorte que o ar fresco da noite ajudou a
elevar seu humor.
— Aquela mulher é... agr! — exclamou Jhuliet, não
conseguindo descrevê-la.
— Eu até que gostei do teatrinho de vocês.
— Que bom que achou divertido — ela zombou, cruzando os
braços. Não era ciúmes, é claro que não, ela só estava... só estava
defendendo o que seria seu em breve, é claro, ciúmes de Jones,
faça-me o favor, ela disse para si mesma. Ficou com medo de ter
dito em voz alta, mas, quando olhou para Jones, viu que ele olhava
para a porta do salão.
— Não se preocupe, Diana gosta de provocar. Ela não é uma
ameaça — Jones a assegurou.
— Não tenho tanta certeza.
— Eu já lhe disse que Diana não me interessa nem um
pouco, tenho outros interesses agora.
— Como o quê?
— Você, e o nosso casamento. E a nova mudança de vida, é
claro. — Jhuliet queria ficar feliz ao ouvir aquilo, mas ela também
sentiu um tom de obrigação na voz dele, ela sabia que esse
casamento só aconteceria porque era benéfico aos dois.
— Onde está Vaiolet? — Jhuliet perguntou, vendo que ela
não estava na carruagem.
— Não faço ideia. Talvez ela queira ficar mais um pouco. —
Assim que disse isso, ela apareceu na porta do salão, veio correndo
até eles e não disse uma palavra quando entrou na carruagem.
Jones a ajudou a subir. Ela esperava que o silêncio reinasse, mas
Vaiolet estava muito interessada em sua vida agora.
— Vi você e o Lorde Philip hoje — revelou Vaiolet, a olhado
diretamente nos olhos.
— Ah sim, fiquei sabendo que nos viu — Jhuliet disse,
encarando Jones, porém ele ainda olhava pela janela.
— Vocês pareciam bem íntimos.
— Não somos, acabamos de nos conhecer — explicou
Jhuliet, negando.
— Viraram amigos rápido, não acha?
— Bem... ele é uma pessoa bem fácil de conversar.
— Sim, ele é.
— E de onde o conhece? — Jhuliet perguntou. Vaiolet olhou
para Jones, que negou com a cabeça, então ela se voltou para
Jhuliet e disse:
— Ele e meu irmão eram melhores amigos. — Jones deu um
tapa na testa, provavelmente era um sinal de que a irmã falara
demais.
— Jura? Eles não parecem muito próximos agora.
— É porque...
— Vaiolet... — alertou-a Jones, e ela ficou calada
imediatamente.
— Deixe-a contar. Você me prometeu respostas — lembrou
Jhuliet.
— Eu as darei, não ela.
— Por que não? Acha que vou mentir? — questionou Vaiolet,
alterando o tom de voz.
— Você nem se lembra de nada, era muito nova para isso.
— Tem razão, mal consigo me lembrar de você. — Ela
parecia ter encontrado uma ferida aberta de Jones. Ele abriu a boca,
mas não respondeu, apenas ficouolhando para as mãos. Quando a
carruagem parou na frente da casa de Jhuliet, Jones a ajudou a
descer. Ele lhe ofereceu o braço, mas não disse nada no trajeto até
a porta.
— Está tudo bem? — ele apenas assentiu, beijou sua mão e
disse.
— Obrigada por ter vindo.
— Eu, ah, claro — disse Jhuliet se atrapalhando com as
palavras. Quando viu o olhar triste de Jones, ela se sentiu comovida
e o abraçou, mesmo sem perceber. Ele pareceu estar chocado no
início, mas a abraçou de volta, ele logo lhe deu um beijo no topo da
cabeça e foi embora.
Jhuliet nem conseguia acreditar que iria se casar com ele em
alguns dias.
Capítulo 10
Jones, assim que deixou Jhuliet em casa, entrou na
carruagem. Lá dentro, Vaiolet estava calada, olhando para a janela.
Ele resolveu não tocar no assunto também, talvez tenha se alterado
demais, mas sempre que ouvia o nome de Philip seu sangue gelava
de raiva, e ele sabia que Vaiolet gostava muito de Philip. Eles
costumavam ser grandes amigos, e sabia também que Vaiolet o via
como seu segundo irmão, e quando ele foi embora, com certeza foi
isso que aconteceu.
— Me perdoe — Jones pediu sem ao menos pensar pelo que
estava se desculpando.
— Pelo o quê? — Vaiolet o olhou confusa.
— Por tudo — Jones disse olhando nos olhos da irmã. Ele se
arrependeu tanto por não ver sua irmãzinha crescer, e hoje em dia
ela já era uma mulher. Vaiolet sorriu e apenas assentiu com a
cabeça.
— Eu gostei dela —ela afirmou sem olhar para ele.
— De quem?
— Jhuliet.
— Ah, eu imaginei que iria.
— Você gosta dela? — Vaiolet perguntou, agora o encarando.
Jones não sabia o que dizer, ele gostava de Jhuliet? Eles tinham
acabando de se conhecer, ele podia dizer que gostava da
companhia dela, e a achava muito inteligente, e não podia negar
que a achava bastante atraente, e adorava provocá-la até ela ficar
ruborizada e se irritar com ele, e o fato de ela não abaixar a cabeça
para nada, mesmo estando errado.
— Não sei dizer — só conseguiu responder isso por agora. A
carruagem parou e eles desceram. Assim que abriu a porta, Martilde
veio a seu encontro.
— Tem alguém te esperando na sala.
— Me esperando? Quem?
— Disse se chamar Ravel. — Ela o olha confusa.
— Ravel está aqui? — ele exclamou alto demais e foi até a
sala, e áa estava seu amigo no seu sofá, e estava bêbado, pois mal
o reconheceu e estava com os olhos e nariz vermelhos. Ravel
sempre foi fraco para bebida. — Ravel? O que faz aqui? — Ele se
virou para Jones, abriu um grande sorriso e tentou se levantar, mas
falhou e caiu no sofá novamente.
— Velho amigo!! — ele disse alegre demais. Jones foi a seu
encontro. Vaiolet, que estava bem atrás, olhou para ele bêbado no
sofáe levou um susto quando ele disse:— Vaiolet, oh, Vaiolet, você
está tão grande.
— Perdão? Quem é você? — ela perguntou confusa.
— Eu sou o melhor amigo do seu irmão — afirmoudando um
tapa no ombro de Jones. — Você não me conhece, mas eu te
conheço. — Ele falava embolado por causa da bebida.
— Entendi. É um prazer te conhecer então, tenha uma boa
noite...
— Ravel, pode me chamar de Ravel.
— Ravel, certo — repetiu Vaiolet, indo depressa para o seu
quarto.
— Acho que você bebeu demais — opinou Jones dando um
copo de água para seu amigo.
— Irmão, eu adorei essa bebida, só bebi três copos,
acredita?
— Sim, eu acredito. Mas o que faz aqui?
— Eu... me sinto traído — Ravel revelou, se levantando do
sofá e colocando a mão no peito. — Achei que éramos amigos.
— Tudo bem, me conta o que aconteceu — pediu Jones
tentando fazer Ravel se sentar no sofá novamente.
— Você... vai se casar, e nem, me convidou, nem ao menos,
me avisou. Ei, amigo... eu vou me casar, é isso. Podia ter me
mandado uma carta, nada, nada. Eu, vim para cá, para saber se era
verdade, eu estou, chateado, quantos anos de amizade, cinco?
Sete? Muitos, eu estou... ah, chateado! — Ravel disse tudo com
muita dificuldade, Jones só conseguiu rir.
— Sinto muito, foi tudo... muito rápido. É uma longa história.
— Me conta, eu sou... ouvidos.
— Tudo bem... bem, eu cheguei aqui e... Ravel? Ravel? —
ele o chamou, mas seu amigo já tinha dormido. Ele passou seus
braços pelos ombros e o carregou para o quarto de hospedes. — Eu
sempre achei que você ia se casar primeiro, amigo — refletiu Jones
fechando a porta do quarto onde Ravel estava.

***

Já era tarde, e Jhuliet não esperava encontrar todos os seus


irmãos sentados no sofá da sala. Estavam todos dormindo, um
jogado em cima do outro.
— Ei... venha cá — chamou Agatha. — Seus irmãos
montaram uma vigíliapara te esperar, mas dormiram cinco minutos
depois. — Jhuliet a seguiu até a cozinha, onde tinha duas xicaras de
chá quente, Agatha lhe entregou uma.
— Obrigada — agradeceu se sentando à mesa da cozinha e
tomando seu chá.
— Belo colar — Agatha elogiou enquanto bebericava seu
chá.
— Obrigada, Jones que me deu — ela contou, colocando a
mão no colar e sorrindo.
— Imagino, ele tem bom gosto. — Agatha sorriu. Mas Jhuliet
viu algo no olhar dela que não conseguiu identificar.
— O que foi? Algum problema?
— Seu casamento é amanhã.
— Sim, eu sei — bufou Jhuliet.
— Como se sente?
— Nervosa? Ansiosa? Com medo de dar algo errado? Acho
que os três. — Agatha pegou na sua mão, a olhou nos olhos e
disse:
— Sei que é um casamento por conveniência, mas isso pode
ser...
— Espera, como sabe que... — mas antes de Jhuliet terminar
a pergunta, Agatha a interrompe:
— Você não o ama, o conheceu esta semana, e se envolveu
em um escândalo, e ele também tem problemas para resolver.
— Como sabe dos problemas dele?
— Ele me contou — ela confessou, dando de ombros.
— O quê? Como...
— Jhuliet, eu sou uma mulher muito convincente.
— Sim, eu sei. Então... você não se opõe? — perguntou
Jhuliet, receosa, esperando sua resposta.
— Tudo que eu quero e que você seja feliz. Se você acha
que é isso que você quer, bem, então vá fundo.Lorde Jones parece
ser um bom homem, aliás, e é bastante atraente, se o casamento
não for bom pelo menos você vai se divertir bastante com ele.
— Agatha! — repreendeu Jhuliet, rindo chocada com a fala
da cunhada.
— Falando em se divertir. Seus irmãos querem conversar
sobre sua noite de núpcias.
— Oh, não, por favor. Tudo menos isso — lamentou Jhuliet já
imaginando a cena.
— Eu disse que eu podia conversar com você sobre isso, de
mulher para mulher. Mas eles disseram que tinham que fazer isso
eles mesmos, já que seus pais não estão mais aqui.
— Oh, isso vai ser uma tortura — Jhuliet disse gemendo de
dor.
— Não se preocupe tanto, provavelmente mal vão conseguir
dizer duas palavras sem ficarem constrangidos e desistir.
— Que assim seja. Bem, irei dormir agora.
— Muito conveniente, pois amanhã você acorda às cinco da
manhã para provar o vestido, cabelo, escolher o enxoval e essas
coisas de casamento. Então tenha ótimas... três horas de sono.
Jhuliet terminou seu chá e entrou no quarto, aquele seria sua
última noite de solteira.

***
— Deixa eu ver se eu entendi. Seu pai deixou um papel
dizendo que você só pode assumir o título se estiver casado? —
Jones e Ravel estavam sentados à mesa de jantar, tomando café.
Para o seu azar, seu amigo acordou com mais curiosidade do que
dor de cabeça.
— Isso mesmo — Jones confirmou.
— E depois você simplesmente pediu Judith...
— Jhuliet, o nome dela é Jhuliet — Jones o corrigiu.
— Ah, claro. Jhuliet, e ela simplesmente disse sim? —
perguntou Ravel muito confuso.
— Foi uma ótima proposta, boa para nós dois.
— Oh, com certeza, ela se casa, e com o grande privilégio de
ser com você!
— Impressão minha ou você está sendo sarcástico?
— Não, não.
— Acho bom...
— Não é impressão — Ravel disse com um sorriso
zombeteiro nos lábios. — Mas enfim, quando vou conhecer a
sortuda?
— No casamento, está tudo muito corrido hoje.
— Certo, mal posso esperar.
— Eu poderia esperar um pouco mais...
— Deixe de ser um libertino, e por Deus, sempre achei que
eu quem iria se casar primeiro.
— Nem me fale.
— Eu achei que você tinha dito que os jardins estavam
fechados — lembrou Ravel dando um último gole de chá e se
levantando para olhar pela janela.
— Achei que deveria abri-lo, já faz tanto tempo, estou
tentando arrumá-lo um pouco.
— Com suas próprias mãos? Essa eu preciso ver.
— Pois venha comigo, saiba que eu fizum ótimo trabalho. —
Eles caminharam para os jardins, e a aparência não era a das
melhores, as folhas tinham voado para todos os cantos, teias de
aranha nos chafarizes, um caos total.
— Aquela árvore... é uma...? — Ravel disse apontando para
a árvore que Jones tinha podado, ou tentando, recentemente.
— Ainda não decidi o que são — respondeu Jones
suspirando enquanto olhava para a árvore.
— Pelo menos os girassóis estão bonitos.
— Foi Jhuliet quem os plantou.
— Já a trouxe aqui? Parece que você não perdeu tempo
mesmo — brincou ele dando um empurrãozinho no ombro do amigo
e se sentando no banco próximo. Jones se juntou a ele, os dois
ficaram olhando para o lago, agora já vazio, mas que ainda era
cheio de lembranças ruins para ele.
— Quer conversar sobre isso? — perguntou Ravel
quebrando o silêncio que estava.
— O quê? — A pergunta de Ravel o tirou de seu devaneio,
ele apontou para o lago com a cabeça. Jones negou imediatamente.
— Não há nada a ser dito.
— Se isso te faz se sentir melhor — disse Ravel dando de
ombros.
— Não faz, mas eu preciso seguir em frente — concluiu
Jones olhando nos olhos do amigo. Ele tinha muitas coisas que
ainda não tinha superado, abandonar Vaiolet com certeza era uma
delas.
— O que Vaiolet acha dela? — perguntou Ravel mudando de
assunto.
— De quem? Jhuliet? — Ravel assentiu, Jones pensou
sobre. — Acho que ela não a odeia, então isso é bom.
— Sei que você não escolheria alguém que pudesse fazer
mal a Vaiolet, você é um bom irmão — opinou Ravel dando um
tapinha no ombro do amigo.
— Podia ter sido melhor.
— A gente sempre pode ser melhor, amigo. Então vamos
começar hoje.
Jones olhou para o jardim a sua volta, em menos de vinte e
quatro horas estaria casado, e não sabia o que esperar daquilo.

Capitulo 8

Jhuliet acordou na manhã seguinte, se bem que a palavra


acordar não era nada adequada porque ela praticamente não
pregou os olhos. Sua cabeça doía e ela tinha certeza que tinha
olheiras em seu rosto. Ela foi para a cozinha e viu seus três irmãos
sentando na mesa de jantar. Tentou sair de fininho, mas seu irmão
Huldim a chamou antes disso.
— Jhuliet? — Ela entrou na cozinha com a cara mais próxima
de felicidade matinal.
— Bom dia, irmãos. Todos acordando cedo, que surpresa.
— Precisamos conversar sobre algo. — Jhuliet gelou da
cabeça aos pés. Por favornão seja sobre noite de núpcias, não seja
sobre a noite de núpcias, pensou ela. — Sobre sua... noite de...
noite de núpcias — Huldim disse aquilo tão rápido que Jhuliet mal
ouviu.
— Não precisamos falar sobre isso — explicou ela negando
freneticamente com a cabeça.
— Você sabe o que acontece na noite de núpcias, certo?
— Por favor, não vamos falar sobre isso!
— É a nossa obrigação te alertar sobre...
— Não, não é. Por que não deixam eu... descobrir sozinha, o
que acham? — indagou Jhuliet como se fosse uma ótima ideia.
— Acho uma ótima ideia – concordou Matthew se levantando.
— É extremamente importante que você esteja ciente disso
— alertou Huldim puxando Matthew de volta para a cadeira.
— Tudo bem então, me explique, exatamente, o que
acontece na noite de núpcias, Huldim. — Jhuliet começou a encarar
o irmão, ele não a olhava nos olhos.
— Eu... eu... diz para ela, Matthew — Huldim disso
empurrando o irmão, Matthew suspirou e disse:
— Provavelmente ela já sabe de tudo, e o que ela não sabe
certamente irá descobrir sozinha. Será que podemos terminar isso
logo, temos um casamento para organizar. — Jhuliet sempre soube
que Matthew era seu irmão favorito.
— Matthew tem razão, hoje é o meu casamento, eu devia
estar me arrumando, quer dizer, é o dia mais importante da minha
vida, e eu... — começou Jhuliet fingindo entusiasmo.
— Tá bem, tá bem. Mas conversamos depois — advertiu
Huldim
Jhuliet piscou para Matthew, e ele retribuiu, irmãos mais
novos sempre se entediam.

***

Dez horas depois, cinco vestidos, e uma hora e meia em pé


no altar, Jhuliet estava casada. O casamento em si não fora a pior
parte, não devia ter nem meia dúzia de pessoas. Como o tempo era
curto, os convidados também foram, tudo foi curto, menos as
palavras do padre, que ficoufalandoe falandoe ela só queria sentar
e tirar os vinte nós do corpete que a deixava com uma cintura de
boneca, mas isso tudo não se compara ao o agora. Ela em si não se
lembrava muito de seu próprio casamento, não se sentira
emocionada ao caminhar no altar até Jones, e não fora afetada
pelas palavras do padre. E em comparação ao casamento dos seus
irmãos, nos quais fora em todos, ela não sentira que estava se
casando de verdade, não podia negar que quando acabou, sentira-
se um pouco decepcionada. Dera a desculpa que estava muito
cansada para falar com seus irmãos e logo ela estava sentada ao
lado de seu marido, em uma carruagem, com um silêncio
perturbador. Nem ela nem Jones ameaçaram falar uma palavra
sequer, Jhuliet também não sabia o que dizer.
— Eu adorei a torta. — Jhuliet se lembrou no último minuto,
tinha uma caixa e dentro estava uma torta de morango que ela
comeu a caminho do casamento, isso a ajudou a ficar menos
nervosa.
— Perdão? — Jones a olhou, confuso.
— A torta que estava na carruagem estava... ótima. — Logo
Jhuliet percebeu que não fora ideia de Jones.
— Sra. Matilde quem preparou, ela disse que ajudava no
nervosismo, se gostou da torta, vai gostar da comida dela. Vai
come-la por um bom tempo.
— Falando desse jeito parece que eu vou para uma
masmorra — brincou Jhuliet rindo sem humor.
— É bem semelhante, também temos grades nas janelas. —
Pela primeira vez ao lado do marido, Jhuliet riu, toda a tensão entre
eles tinha desaparecido, felizmente.
— Isso é ótimo, o maior número de morte ultimamente tem
sido devido a quedas das janelas.
— Então você não vai participar desse número. — Eles logo
chegaram, Jones a ajudou a descer. Ela não conseguia dar passos
longos por causa do vestido extremamente apertado. — Vamos
trazer suas coisas para cá amanhã de manhã — avisou ele
enquanto abria a porta. Jhuliet nunca tinha entrado na casa dele
antes, mas ela se surpreendeu com a quão bonita era por dentro.
— Deve estar exausta, hoje foi um longo dia, eu posso te
mostrar a casa amanhã, vou te mostrar o seu quarto... ou se preferir
podemos dividir...
— Eu adoraria ver meu quarto — Jhuliet disse o cortando,
sabia que agora eram marido e mulher, mas ainda não estava
preparada para dividir uma cama com ele.
— Imaginei. Por aqui, os quartos são no segundo andar. —
Ela seguiu Jones pela casa, estava muito escuro, e tudo era
iluminado com luz de velas, o que dificultava sua visão da casa.
— Segunda porta à direta — ele disse parado na frente da
porta, ela mesma empurrou a porta a abrindo. O quarto era no
mínimo enorme, tinha uma cama de casal bem no centro, uma linda
penteadeira. Ela foi até o guarda-roupa, que estava cheio de
vestidos lindíssimos que Jhuliet nunca imaginou ver de perto um dia.
— É lindo... — ela disse suspirando.
— Fico feliz que tenha gostado.
— E... onde fica o seu quarto?
— Muito simples... — Ele atravessou o quarto e abriu uma
porta bem ao lado da cabeceira. — Meu quarto fica atrás dessa
porta. Portanto, se precisar de algo durante a noite, é só entrar.
— Não acho que será necessário — opinou Jhuliet sentada
na cama. Jones a olhou como se quisesse falar mais alguma coisa,
porém desistiu e apenas assentiu com a cabeça.
— Bom... tenha um boa noite — desejou ele passando pelas
portas interligadas em seu quarto. — Só mais uma coisa... — ele
disse colocando a cabeça para fora do quarto.
— Sim?
— Você estava... deslumbrante hoje, de verdade. — Jhuliet
sorriu e disse:
— Você também não estava nada mal.
— Vindo de minha esposa, esse elogio vale muito.
Ele conseguiu deixá-la vermelha. Ele se despediu com um
sorriso fechando as portas atrás de si. Jhuliet sabia que tinha
mentido, quando viu Jones no altar, pensou que nunca tinha visto
um homem tão bonito em toda sua vida.
Capitulo 11
"Jornal da manhã de Londres"
O casamento mais esperado já chegou ao fim, foi uma breve
cerimônia, somente com familiares e amigos mais próximos. Pois é,
jovens damas, um marido a menos em suas listas, porém não
percam as esperanças, o viúvo Conde Philip foi visto no baile de
domingo, será que temos mais um marido disponível?

— É, meu caro, a sua fama durou pouco — disse Ravel


jogando o jornal na frente de Jones.
— Para mim durou uma eternidade — admitiu Jones sem
nem ao menos olhar o jornal.
— Bom, agora você está casado. Como se sente?
— Ainda não notei nenhuma mudança, não sei o que deveria
estar sentindo.
— Onde está sua esposa? — perguntou Ravel, Jones teria
que se acostumar com a ideia de ter uma esposa.
— Eu ainda não a vi, nós dormimos em quartos separados.
— Oh, amigo, isto deve tê-lo deixado tão triste... — Jones
sentiu o tom de ironia na voz do amigo, porém decidiu ignorar.
— Irei superar. Aliás, quando pretende ir embora? — Ravel
colocou a mão sobre o peito fingindo tristeza.
— Já está me expulsando?
— É claro que não, ficofelizde você estar aqui, assim eu não
me sinto tão... perdido. — ele disse essas últimas palavras como um
certo receio. Vaiolet entrou na sala de jantar, e como se estivesse
vazia, mal olhou para os dois e se serviu de uma xícara de chá.
— Como vai, Vaiolet? — perguntou Ravel a cumprimentando.
— Perdão, ainda não decorei seu nome — ela disse, porém
sem nenhum arrependimento na voz
— Ravel, o melhor amigo do seu irmão — disse ele estufando
o peito.
— Um deles... — ela retrucou, olhando feio para o irmão.
Jones pensou o que aquilo podia significar.
— Você viu Jhuliet hoje? — perguntou Jones, Ainda não tinha
visto a esposa naquele dia, e ele preferiunão entrar em seu quarto.
— Vi ela indo para os jardins mais cedo, bem mais cedo —
relatou Vaiolet dando de ombros.
— Será que ela ainda está lá? — perguntou Jones tentando
olhar pela janela.
— Não sei, eu não a segui pois tenho coisas melhores para
fazer — Vaiolet disse se levantando da mesa.
— Parece que alguém acordou com o pé esquerdo —
comentou Ravel bebendo seu chá.
— Parece que alguém acordou com o pé na casa errada —
respondeu Vaiolet sem ao menos se virar, e ninguém ousou dizer
mais nada.
— Como licença, irei procurá-la. — anunciou Jones se
levantando.
— Eu te acompanho, preciso resolver algumas coisas na
cidade hoje — explicou Ravel se levantando junto com Jones.
— Acabou de chegar e já tem compromissos? — perguntou
Jones estreitando os olhos.
— Sou um homem ocupado, caro amigo, independente de
onde eu esteja — revelou Ravel quando eles já estavam do lado de
fora.
Assim que Ravel se afastou,de longe Jones podia ver Jhuliet
no jardim, ela estava ajoelhada no chão, com um vestido verde que
facilmente se comparava a grama que nascia ali. Ela estava
cavando buracos com uma pequena pá mão, um do lado do outro.
— Não consigo nem imaginar para que servem esses
buracos — Jones admitiu, aparecendo atrás dela. Ela deu um pulo e
colocou a mão no coração
— Que susto, homem, não pode chegar assim desse jeito —
afirmou ela, respirando fundo.
— Chegar assim na minha casa? — Depois de ver a reação
dela ele completou: — Nossa... casa.
— Irrigação — ela explicou enquanto voltava a cavar.
— Perdão? — Jones perguntou, confuso. Jhuliet levantou,
bateu as mãos nos joelhos para tirar a poeira e disse:
— Me diga o que você vê — pediu ela apontando para os
buracos que ela tinha feito.
— Uma linda dama coberta de terra e minhocas, espero. —
Isso conseguiu tirar um sorriso de Jhuliet
— Quis dizer o jardim, o que você vê. — Jones olhou em
volta, mas não conseguiu achar uma palavra para definir o que ele
via. Jhuliet bufoue continuou:— Tudo aqui não parece muito... seco
?
— Sem vida, sem água — ele completa, assentindo. —
Perdão se eu não entendo muito bem de jardinagem.
— Não precisa entender para saber que todos os seres vivos
precisam de água, e é disso que esse jardim precisa. Eu andei por
aqui, e você sabia que tem um enorme lago ali na frente? — Jhuliet
percebeu que, quando disse a palavra lago, Jones ficou
extremamente inquieto e desconfortável.
— É mesmo? — ele disse, coçando a garganta.
— Sim... você não tinha notado? Parece bem fundo,qualquer
pessoa poderia se afogar ali se ele não... — Antes que Jhuliet
terminasse de falar, Jones a interrompeu aumentando o tom de voz.
— Eu já entendi! — Mas quando ele percebeu que isso
assustou Jhuliet, ele suspirou e baixou seu tom de voz. — Ele deve
ter um motivo para estar vazio.
— Eu entendo, mas eu fiquei a manhã toda olhando, e
percebi que era ele que abastecia o jardim. Em baixo de tudo isso
há um... alguém o fezexatamente para ele próprio distribuir a água
para todo o jardim, então, se encher ele novamente, ele pode...
— É melhor deixar do jeito que está, algumas coisas não
podem ser mudadas. — E ela percebeu ele ficarirritado novamente.
— Perdão, não era minha intenção. — Jones suspirou e
disse:
— Me avise se precisar de alguma coisa — e se afastousem
dizer mais nada.
— Qual o problema com esse lago? — perguntou Jhuliet em
voz alta sem perceber.
— Também queria saber — respondeu Vaiolet atrás de
Jhuliet, que deu outro pulo. Essa família ainda iria matá-la do
coração.
— Você e seu irmão são ótimos em chegar de repente.
— Philip veio procurá-la hoje de manhã — informou Vaiolet
em um tom nada agradável.
— É mesmo? — perguntou Jhuliet surpresa
— É claro, ele pediu para te dar um recado — ela disse
cruzando os braços na frente do corpo.
— E qual era? — perguntou Jhuliet depois que Vaiolet não
disse mais nada.
— Na verdade, faz bastante tempo e eu me esqueci, então
da próxima vez, seria melhor você estar acordada quando ele
aparecer — ela disse e foi embora para dentro de casa novamente.
Impressionante, ela é igualzinha ao irmão, pensou Jhuliet
consigo mesma. Ela tinha começado com o pé direito, primeiro em
menos de vinte e quatro horas de casados, ela já discutira com seu
marido e sua cunhada, e pior, os dois foramsem intensão. Será que
não tinha ninguém que gostasse dela nessa casa? Jhuliet preferiu
não entrar na hora, provavelmente seu marido e cunhada não
estavam com o melhor dos humores, até porque ...
— Acho que não fomos apresentados... — disse uma voz
atrás dela, e pela terceira vez naquele dia ela tomou um susto. —
Perdão, não tinha intensão de lhe assustar, e que você parecia estar
divagando — ele disse rindo apontando para ela.
— Acho que eu estava um pouco — comentou Jhuliet
passando a mão pelo rosto.
— Meu nome é Ravel, sou um antigo amigo do seu marido.
— Meu nome é Jhuliet, prazer. — Ravel pegou sua mão e a
ia beijar, mas a viu cheia de terra. Jhuliet puxou a mão de volta.
— Perdão por isso, eu estava tentando dar um jeito nesse
jardim, mas não deu muito certo — Ela explicou, olhando ao redor,
mas viu Ravel a olhar estranho, parecia até preocupado.
— Jones sabe sobre isso?
— Ele parece não gostar muito da ideia.
— É que... bem... esse jardim tem uma história por trás, acho
que ele pode querer desenterrar isso agora — disse Ravel, parecia
estar tentando procurar palavras melhores.
— Por isso ele ficou tão irritado quando falou sobre o lago —
lembrou Jhuliet, entendendo a situação.
— Certos assuntos são complicados de serem abordados.
Enfim, eu ia pedir para o Jones mas como você já está aqui... —
começou Ravel, como quem quer pedir algum favor.
— É claro! — exclamou ela limpando as mão nas costas do
vestido.
— Sou novo na cidade, vim para cá especialmente pelo fato
de que meu amigo iria se casar, eu sei chegar no máximo do outro
lado da rua, e preciso urgentemente entregar uma carta, poderia me
mostrar onde eu posso fazer isso?
— Deixe-me ver... eu só conheço um, no centro da cidade,
acho que pode até ir andando daqui, eu posso te acompanhar se
quiser.
— Adoraria — afirmou Ravel dando um sorriso gentil,
finalmente alguém fácil de se falar nessa casa, pensou Jhuliet.
— Tudo bem, vamos então. — Jhuliet somente deu umas
batidinhas no vestido e saiu do jardim acompanhada de Ravel.
Quando estavam do lado de fora, ela disse: — Hpa quanto tempo
você conhece Jones?
— Desde meus dezoito anos, eu o conheci em uma baile em
outra cidade, sempre foram nós três: eu, Jones e Diana, nós
éramos...
— Perdão, você disse Diana? — perguntou Jhuliet o
interrompendo, com certeza era a mesma pessoa que ela
encontrara no baile.
— Acho que não devia ter tocado no assunto — deduziu
Ravel com uma cara de quem falou demais.
— Vocês eram grandes amigos, vocês três? — indagou
Jhuliet tentando buscar ainda mais informações sobre Diana.
— Bom, sim, Diana ajudou muito a gente, diferente de mim e
Jones, ela havia nascido naquela cidade, seu pai tinha um escritório
na cidade onde foi o nosso primeiro emprego. Ela realmente apoiou
muito a gente, principalmente o Jones porque... na verdade, eu não
devia falar dessas coisas com você, até porque agora vocês são
casados — explicou Ravel coçando a garganta.
— Não vejo problema, afinal, eles eram só amigos, certo? —
perguntou Jhuliet porém com medo do que ia ouvir.
— Bem, ela e Jones tinham um relação, que eu desconfiava
desde que nos conhecemos. Jones nunca me disse nada, só disse
que não era nada demais, e que os dois nunca estiveram
apaixonados pelo outro. — Jhuliet não sabia mais o que perguntar,
ela já sabia que essa mulher e Jones tinham algo, ele mesmo já
confirmou isso para ela. Mas ela não sabia que era uma coisa tão
antiga assim, era por isso que Diana era apaixonada por Jones, eles
haviam tido algo antes mesmo de Jhuliet o conhecer. — Não precisa
se preocupar com ela, eu conheço Jones o suficiente para poder
dizer com certeza que ele é um bom homem.
— Bem, obrigada por ter me contado, você foia única pessoa
até agora que realmente conversei — revelou Jhuliet com um
sorriso triste. Ravel se aproximou um pouco dela para dizer:
— Bom, eu também nunca fui casado, mas saiba que Jones
é um bom homem, e não é porque ele é meu amigo, mas é porque é
a verdade. E você parece ser uma boa pessoa também, e acredite
em mim, eu sei como Jones pode ser insuportável às vezes, mas
ele é uma ótima pessoa quando o conhece melhor, eu garanto. —
Jhuliet sorriu, Ravel era a melhor pessoa que ela tinha conhecido
até então.
— Chegamos! — avisou Jhuliet apontando para o local.
— Muito obrigada, só um minuto, não vou demorar — afirmou
Ravel indo até lá.
Jhuliet viu Ravel atravessar a rua e entrar no correio. Ela se
sentou em um banco de madeira que tinha ali perto, já havia se
passado quinze minutos que Ravel tinha entrado, ou pelo menos
pensava ela, pois ela mesma não havia visto as horas ainda. O
tempo estava muito quente e abafado,Jhuliet tentou se abanar com
a mão mas só piorava a situação. Ela ouviu bem ao longe o som de
vários instrumentos, todos em uníssono formando uma música
suave acompanhada de um coral que mais parecia anjos cantando.
Só podia vir de um lugar, da igreja celestial da cidade. Jhuliet
encarou o local onde Ravel estava, encarou a igreja, acreditava que
teria tempo de ir até lá para dar uma olhada rápida na igreja.
Ela entrou na igreja, o clima ali estava fresco e o som dos
instrumentos invadiam seus ouvidos, o coral era de crianças. Ela se
sentou na primeira cadeira para ouvir o coral, só então que ela
reparou que Philip estava ao piano, tocando de olhos fechados. Ele
estava muito concentrado, nem ao menos olhava para as teclas que
tocava. As vozes tinham sumido, mas o som do piano ainda estava
no ar. Philip tocou mais um minuto e parou, Jhuliet levantou e
aplaudiu o coral, Philip se surpreendeu ao vê-la. Ele abraçou todas
as crianças e disse para elas que já voltava.
— Que surpresa — ele disse quando a viu ali.
— Digo o mesmo, não sabia que tocava piano — comentou
ela apontando para o grande piano perto das crianças que
conversavam animadamente.
— Desde os meus cinco anos, hoje eu dou aulas no coral da
igreja.
— E você canta também?
— Não, só de piano mesmo. Mas não tem muitas crianças
que querem aprender — ele disse dando de ombros
— Eu acho lindo piano, mas eu nunca pude ter aulas.
— Quando precisar, eu estarei aqui. Só um minuto, as
crianças precisam ir embora.
Jhuliet viu Philip se despedir das crianças e cumprimentar os
pais, ele parecia muito feliz com o que fazia. Enquanto ele
terminava, Jhuliet foi até o piano e sentou. Eram tantas teclas que
ela nem sabia por onde começar. Sua famílianão tinha condição de
pagar uma aula de piano para ela, por mais que Jhuliet nunca
tivesse pedido, tinha certeza que seu pai negaria, até porque a
relação dos dois nunca fora boa.
— É só pensar em pais e filhos.
— Perdão? — disse Jhuliet. Philip tinha sentado ao seu lado,
mas não tão próximo
— As duas teclas pretas são os pais, e as três pretas são os
filhos. O Dó vem na frente dos pais e o Mi na frente dos filhos.
— Então quer dizer que esse... é o Dó — deduziu Jhuliet
tocando uma tecla que acreditava ser o Dó, mas Philip negou e
pegou seu dedo e tocou sobre uma tecla.
— Esse é o Dó.
— Já comecei mal — lamentou Jhuliet afastando sua mão.
— Isso requer prática — explicou Philip, gentil como sempre.
Eles ouviram um barulho vindo lá de fora. — Acho que vai chover
— Oh não! Eu preciso ir agora — disse Jhuliet se lembrando
de Ravel. Saiu correndo, mas quando ela saiu para o lado de fora
ela viu que a chuva estava muito forte.
— Acho que vamos ficar presos aqui — deduziu Philip
fechando a porta da igreja. — Se quiser algo para comer, as
crianças nem lancharam, acho que eles estavam sentindo que iria
cair esse temporal. — comentou Philip, lhe oferecendo uma xicara
de chá. — Então, soube que seu casamento foi ontem — disse
Philip somente para puxar assunto.
— Ah, sim, foi... desculpe não tê-lo convidado — desculpou-
se Jhuliet, se virando para ele.
— Não precisa se desculpar, Jones não iria ter gostado de
me ver ali de qualquer forma — deduziu ele rindo.
— Tenho a impressão de que vocês não se dão muito bem.
— Philip sentou ao seu lado no banco, ele suspirou e negou com a
cabeça
— Isso faz muito tempo.
— É verdade que vocês eram melhores amigos?
— Desde que nascemos, estudamos juntos, aliás, até
fizemosaula de piano juntos, porém Jones sempre detestou piano,
e ele nunca foi muito bom nisso mesmo.
— Não entendo, vocês pareciam ser bem próximos, por que
agora mal se falam? — perguntou Jhuliet.
— Tivemos um desentendimento, depois disso ele nunca
mais falou comigo, e quando falava... bem, era daquele jeito, mas foi
minha culpa.
— Mas...
— Acho melhor não entrarmos em detalhes, isso é passado
— sugeriu Philip gentilmente.
— Ela tocava também? — perguntou Jhuliet para mudar de
assunto.
— Minha esposa? — Jhuliet assentiu enquanto bebericava
seu chá. — Não, ao contrário, ela nunca gostou muito de piano,
lembro que ela e Jones faltavam aulas de piano juntos, já eu sempre
gostei.
— Ela também era amiga de infância de Jones? — Jhuliet
perguntou, ficando ainda mais confusa com a história dos três.
— Nós três éramos amigos de infância. Mas para ela o piano
era como uma segunda esposa, ela morria de ciúmes quando eu
tocava — ele disse rindo, mas parecia um sorriso triste.
— Imagino o porquê, eu vi você tocando, foi com sentimento,
muito bonito na verdade — Jhuliet opinou tocando seu braço, mas
quando viu que poderia ser mal interpretada, ela retirou a mão.
— Obrigado, é uma das coisas que eu sou realmente bom,
uma das únicas na verdade.
— Pelo menos você é bom em algo, eu então não achei no
que eu sou realmente boa. — lamentou Jhuliet terminando sua
xícara.
— Um dia você vai descobrir, eu tenho certeza.
— Posso saber o que você está fazendoaqui? — Ela e Philip
se viraram na hora quando Jones apareceu atrás deles, estava
furioso e encharcado.
Jhuliet sentiu que iria entrar em mais uma discussão com o
marido.
Capitulo 12
Jones se sentiu um pouco mal por ter falado daquele jeito
com a esposa, mas ela realmente tinha tocado em uma ferida
aberta. Falar do jardim era como falar do seu pai, e sempre que
falavado seu pai más lembranças surgiram. Ele não falou com seu
pai desde a morte de sua mãe, e ele sabia que seu pai o culpava, e
isso fezcom que ele se culpasse também, e por vários anos seu pai
estava na sua lista negra, e ele imaginava que estava na do seu pai
também.
Ele achou que devia desculpas a Jhuliet, mas quando saiu de
casa de novo não a viu no jardim, e sabia que ela também não tinha
entrado em casa. Jones tentou procurá-la em seu quarto, mas
acabou encontrando Vaiolet do outro lado da cama de Jhuliet. Ela
estava com as mãos atrás das costas, e estava surpresa.
— O que faz aqui? — Ela ficou na defensiva, pensando em
uma resposta.
— Esta também é minha casa.
— Mas não o seu quarto. O que tem aí atrás? — Jones
perguntou se aproximando, mas isso só a fez se afastar ainda mais.
— Não é da sua conta.
— Ah, com certeza é — argumentou Jones conseguindo
pegar a carta das mãos de Vaiolet.
— Se eu fosse você, não leria isso. — Isso só fezJones ficar
ainda mais curioso. Era um envelope em branco apenas com o
nome Jhuliet no verso.
— Por que não? Quem deixou isso aqui? — ele perguntou
encarando a irmã
— Não é nada demais, apenas Philip veio hoje de manhã
para ver sua esposa, mas ela estava dormindo, então ele pediu para
eu lhe entregar esta carta.
— O que ele veio fazer aqui? — De repente Jones ficou
nervoso, o que Philip queira com sua esposa?
— Eu já disse, entregar a carta para sua esposa. O que é
bem estranho, você não acha? — disse Vaiolet sutilmente
— O que está insinuando?
— Nada, e se fossevocê também não leria a carta — sugeriu
Vaiolet saindo do quarto, sabendo que isso só iria deixar o irmão
ainda mais curioso. Jones sentou na cama com a carta em mãos,
ela já estava aberta, com certeza fora Vaiolet que abrira. Jones
sabia que sua irmã sentia algo por Philip, ele foi como um irmão
mais velho para ela quando Jones foi embora, mas sabia que não
era assim que ela o via.
A carta parecia queimar sobre sua pele, por que não lê-la?
Ela já estava aberta de qualquer forma,e agora eles eram um casal,
então não havia segredos entre eles. Jones ouviu os relâmpagos lá
fora, provavelmente iria chover. Jhuliet iria pegar uma chuva se não
voltasse logo. Ele ouviu a porta ser aberta, então deixou a carta
sobre a cama e desceu para ver se era Jhuliet, mas era Ravel, e ele
estava completamente molhado.
— Sua esposa é bem malvada — opinou ele tirando o casaco
e pendurando na sala.
— O que quer dizer? — Jones o olhou confuso
— Ela me deixou sozinho na cidade e voltou para casa, eu
tive que me virar para encontrar o caminho.
— Ela estava com você?
— Sim, por quê? Ela ainda não chegou? — indagou Ravel
olhando ao redor.
— Não a vejo desde de manhã.
— Oh, não — exclamou Ravel passando a mão pelo cabelo
molhado.
— O que foi, Ravel?
— Acho que ela ainda está lá foraentão. — Jones olhou para
fora,estava uma tempestade daquelas hoje, e sua esposa estava lá
fora Deus sabe onde.
— Vou ir buscá-la, onde foi a última vez que a viu? —
perguntou Jones pegando seu casaco e caminhando até o lado de
fora.
— Na cidade, eu irei ir com você, só vou trocar de roupa —
avisou Ravel ameaçando subir.
— Fica aí, tome um banho antes que pegue um resfriado.
— Amigo, você se preocupa demais — comentou Ravel
sorrindo.
— Claro, pessoas doentes são mais difíceis de cuidar
.
— Eu imaginei.

Jones saiu e pegou a carruagem, porém os cavalos estavam


muito agitados por causa da chuva, não teria jeito, ele teria que
pegar um guarda-chuva. Ele pegou seu próprio casaco e colocou
sobre a cabeça. Faltava pouco para chegar onde Ravel a viu pela
última vez. E ele já estava no mínimo, encharcado, e ele ainda
conseguiu ficar preocupado com a esposa, se ele que estava a dois
minutos na chuva já está assim imagina Jhuliet, que estava fora
desde a manhã.
Ele conseguiu chegar, no entanto não tinha ninguém, ou ao
contrário, já estava fechado.Ele viu a porta da igreja sendo fechada.
— Que ela não esteja lá, que ela não esteja lá. — Pois ele
sabia que Philip sempre estava lá pois ele dava aula de piano. Ele
atravessou a rua. Jones acreditava que até sua alma estava
molhada. Ele abriu a porta da igreja devagar, e na hora ele já viu os
cabelos castanhos da esposa. Ela estava de costas, rindo com
Philip. Na hora seu sangue ferveu.
— Posso saber o que está acontecendo aqui? — Na hora
que ele disse isso os dois o olharam surpreso, Jhuliet se levantou e
o olhou chocada.
— Meu Deus o que aconteceu com você?!
— Minha esposa sumiu desde de manhã e eu claramente fui
procurá-la, mas pelo visto ela está muito bem acompanhada —
respondeu Jones olhando furioso para Philip.
— Não está acontecendo nada, Jones — informou Philip se
levantando
— Você não consegue ficar longe de nada que é meu, não é
mesmo? — vociferou Jones pronto para começar uma briga
— Você continua o mesmo, sempre falando da mesma coisa
— disse Philip rindo, o que fez Jones ficar ainda mais bravo.
— Você também! Já que está com a minha esposa
— Não é como se eu tivesse procurado por ela, foi uma
coincidência a gente se encontrar.
— Ah, claro, e você quer que eu acredite nisso? — bradou
Jones se aproximando de Philip, mas Jhuliet estava entre os dois.
— É verdade, eu vim aqui por conta própria, eu ouvi o coral
então eu entrei, mas não que Philip estaria aqui — esclareceu
Jhuliet tentando acalmá-lo.
— E você achou que seria uma ótima ideia ficar aqui sozinha
com ele? — perguntou Jones a ela.
— Eu sei o que parece, mas não é... — continuou Jhuliet se
perdendo em suas próprias palavras. — O que eu quero dizer é que
vocês eram amigos, certo? Eu não sei por que você estaria tão
bravo com isso.
— O que você anda falando para ela? — perguntou Jones,
Philip riu.
— O que mais eu poderia ter dito? A verdade, nós fomos
amigos.
— Nós éramos, não somos mais! E eu não quero você
falando com ele novamente, entendeu? — perguntou Jones para
Jhuliet, que apenas riu e se aproximou dele.
— Você não pode dizer com quem eu posso ou não falar!
Não sem me dar um bom motivo.
— Porque eu não quero, não é um motivo suficiente para
você?
— Não é. Eu não vou discutir por isso, Philip obrigada pelo
chá — agradeceu Jhuliet para Philip. — Eu vou para casa —
anunciou olhando para Jones e se virou.
Depois que Jhuliet saiu Philip riu e colocou a mão em seu
ombro.
— Você está com problemas!
Pela primeira vez em muito tempo, Jones achou que Philip
tinha razão.

Jhuliet saiu da igreja pisando duro, ela odiou o jeito como


Jones falou dela, como se ela fosse um objeto, ela não sabia o que
tinha acontecido entre Philip e Jones mas ela não aceitava ele
dizendo com que ela podia falar ou não.
— Faltou tão pouco para eu ficarviúvo naquela igreja mesmo
— afirmou Jones atrás dela. Ela se virou e disse.
— Que coincidência, eu também. — Os dois estavam
parados na chuva se encarando. O cabelo de Jones estava
esparramado pelo rosto, sua blusa branca estava colada ao corpo, e
ele estava com o rosto tenso. Jhuliet sabia que ele estava muito
irritado, mas essa expressão até que ficou bonita nele, Jhuliet riu de
seus pensamentos numa hora dessa.
— Acha isso engraçado? — questionou Jones se
aproximando. Ele devia ter o dobro da altura dela, ela podia ver sua
veia do pescoço pulsando, mas em vez de ficar com medo, ela
achou aquilo tudo muito... sensual? Até ela estranhou essa reação.
— É desse tipo de coisa que você gosta, não é? De confusão,
colocar lenha na fogueira, faz sentindo lembrando de como nós
conhecemos.
— Só não gostei do jeito como você se referiu a mim — ela
revelou, suspirando.
— Você é minha esposa agora, e eu não quero nenhum
homem se aproximando de você.
— Nenhum homem, ou Philip? — Jhuliet disse e caminhou
rumo a sua nova casa, ela entrou pela porta da sala e a bateu com
força sabendo que provavelmente Jones estava atrás.
— Acho que o casamento vai muito bem. — Jhuliet ouviu
Ravel dizer no andar de baixo. Ela estava ensopada, irritada e com
vontade de nunca ter se casado. Ela era só uma desculpa, ela sabia
que tudo aquilo era por causa do Philip, provavelmente Jones nem
ligava para ela, e ela sabia que corria o risco de Jones nunca gostar
dela de verdade, e ela não sabia por que estava pensando nisso
agora. Ela viu uma carta em cima de sua cama. Estava com seu
nome no verso, e estava aberta.

Jhuliet
Peço perdão se passei uma ideia errada no baile ontem, só queria
agradecer por ter dado uma volta comigo, espero que ainda
possamos ser amigos.
Philip

Era uma carta de Philip se desculpando pelo dia anterior. Ela


sabia que Jones tinha lido essa carta, e talvez por isso que ele
tenha discutido com Philip há pouco. Ela ouviu a porta se abrir e
entrar Jones. Ela achou que ele ia continuar a discussão, mas ele
apenas atravessou o quarto e foi para o dele fechando a porta em
seguida. Ela não sabia que ficava aliviada ou chateada porque
agora ela tinha argumentos muito melhores do que antes.

***

Já devia ser umas duas da manhã. Jhuliet já tinha tomado


seu banho e estava deitada em sua cama, mas desde que ela
colocou a mão no travesseiro ela ouviu Jones tossir, não uma ou
duas mas milhares de vezes. Ela não queria se preocupar,
realmente não devia estar preocupada, ele já era um adulto. E agora
ele estava doente, tossia e espirrava de um em um segundo.
— Maldição!! — praguejou Jhuliet e se levantou da cama.
Desceu até a cozinha e esquentou algumas bacias de água, e fez
com o que tinha nos armários uma canja de galinha, especialidade
de Lady Vanussa. Seus irmãos viviam doentes, e sempre Lady
Vanussa fazia questão de visita-los só para fazer essa canja para
eles. Jhuliet sempre a olhava preparar pois ela era a única que
quase nunca ficava doente. Depois que Jhuliet aprendeu, mesmo
depois de casados, ela continuou fazendocanja para seus irmãos, e
agora estava fazendo canja para seu marido, quem diria.
— O que está fazendoaqui? — Jhuliet se virou e viu que era
Vaiolet de braços cruzados na cozinha.
— Cozinhando — ela disse apontando para a tigela.
— Você devia ter descido para jantar. — Jhuliet não tinha
descido para jantar, Ravel foiquem a chamou, mas não sabia o que
falar quando visse Jones.
— Na verdade, é para o seu irmão — ela explicou, sem
graça.
— Por que está cozinhando para ele? Temos uma cozinheira.
— Ele pegou um resfriado...
— Por sua causa — culpou Vaiolet a interrompendo.
— Sim... acho que era o mínimo que eu podia fazer, é uma
receita de família,era da minha avó, depois para a minha mãe, e
agora é minha. Se quiser eu deixo um pouco para você, já está
pronta.
— Não tomo canja de galinha — ela disse torcendo o nariz.
— Bom, está aqui no prato, se não quiser não precisa comer
— disse Jhuliet deixando em uma tigela perto dela. Vaiolet olhou
mas logo desviou o olhar.
— Não irei — anunciou Vaiolet cruzando os braços na frente
do corpo
— Tudo bem, tenha uma boa noite, Vaiolet.
Jhuliet não a ouviu responder, ela pegou o balde com água
quente com uma mão e a tigela com a canja na outra. Ela colocou o
balde no chão e bateu na porta do quarto do marido.
— Cof... cof... quem é? — tossiu Jones antes de perguntar
.
— Sou eu... Jhuliet.... posso entrar? — Só depois de alguns
minutos que Jones respondeu.
— O que você quer? Cof... cof.
— Eu fiz uma... canja para você.
— Não preciso de canja.
— É claro que precisa, você estava morrendo desde a uma da
manhã.
— E só agora você veio me ver? — Ela ainda pode ouvir o tom
divertido na voz dele.
— Será que você poderia abrir a porta?
— Esta aberta. — Jhuliet entrou e a situação estava pior do que
ela imaginava. Jones estava com as mesmas roupas molhadas, o
cabelo encharcado, mas era de suor, ela colocou a mão sobre sua
testa e ele estava queimando de febre.
— Por que você não trocou de roupa antes de se deitar?
— Eu me esqueci, mamãe. — Jhuliet fechou a cara e ele sorriu,
a guarda dela foi lá no chão.
— Temos que tirar essas roupas molhadas primeiro.
— Sim senhora. — Jhuliet já tinha feito isso milhares de vezes
com seus irmãos, mas com Jones era diferente. Só tinha a luz da
cabeceira acesa, e ela mal via seu rosto, ela começou a desabotoar
a camisa dele, a sua pele estava queimando.
— Você tem que levantar... para eu... entende... — Ela não sabia
por que estava gaguejando. Jones era um homem normal, era
atraente, mas normal. Ele levantou as costas da cama e ficoucara a
cara com ela. Jhuliet só consegui tirar a camisa dele o mais rápido
possívele deixá-lo na cama mais uma vez, e ele já estava delirando
por causa da febre.
— Tome, isso vai ajudar a febrebaixar. — Jhuliet teve que dar na
boca dele porque ele estava deixando a colher cair. — O que
aconteceu entre você e Philip, Jones? — Ele riu e disse:
— É uma longa história.
— Eu gosto de longas histórias.
— Sempre foi nós três, Philip, Vaioline e eu, ela era a garota
mais bonita que eu já vi, para o meu azar Philip achava o mesmo,
então os dois... ficaramjuntos, e eu acabei indo embora da cidade e
nunca mais falando com nenhum dos dois... — ele disse tudo muito
devagar, como se estivesse tentando se lembrar.
— Então é por isso vocês não se dão bem — concluiu Jhuliet,
era mais uma afirmação do que uma pergunta.
— É por isso que você tem que ficar longe dele, Philip sempre
consegue tudo o que eu quero, tudo que eu tenho...
— Por que você acha isso? — Mas já era tarde demais, ele já
tinha dormido. Pelo menos não estava mais tossindo. Jhuliet
suspirou, fechando olhos por um momento. Quando Jhuliet abriu os
olhos, ela estava sentada no chão, ao lado de Jones, que ainda
dormia. Suas costas doíam. Ela se levantou e saiu do quarto dele.
Quando olhou no relógio da sala percebeu que eram cinco da
manhã, quando desceu na cozinha, viu que a tigela de sopa que
tinha deixado para Vaiolet estava vazia.
— Ninguém resiste à canja da mamãe.
Capitulo 13
Jornal de Londres
Depois da chuva de ontem nada melhor que um dia de sol para
comemorar a entrada da primavera. E o novo baile anual da
primavera é hoje, preparem seus vestidos florais e as frutas porque
eu sinto cheiro de maridos à vista.

Jones acordou com o sol da manhã em seu rosto, ele se


sentia muito melhor do que na noite anterior. Ele colocou a mão na
testa e viu que não estava mais com febre e estava com menos
dores do antes, tudo isso graças à sopa de Jhuliet. E quem diria que
uma sopa salvaria sua vida, ele nem teve tempo de agradecer, a
última pessoa que ele achou que fosseajudá-lo seria ela. Depois da
discussão deles dois, que ultimamente parecia que era o que mais
faziam juntos, ele achava que ela queria era matá-lo.
— Bom dia! — cumprimentou Ravel entrando em seu quarto
e abrindo todas as janelas.
— Mas que diabos!! — resmungou Jones quando a luz do sol
foi até em seus olhos.
— Você pretende acordar hoje ou quer um beijinho de bom
dia? — brincou Ravel ao seu lado.
— O que faz aqui?
— Temos muitas coisas para resolver hoje, então arrume um
jeito de levantar e tomar um banho, por favor, e descer em cinco
minutos.
— Que coisas?
— Que coisas, de sua nova propriedade, oras!! Vamos, agora
você tem quatro minutos.
— E você tem dois para sair do meu quarto antes que eu te
esgane — ameaçou Jones se levantando.
— Você acabou de ganhar dez minutos para se arrumar.
— Fora!! — Ravel saiu e fechou a porta atrás de si. Jones
sabia que o amigo era o melhor no que fazia,por isto ele iria ajudar
bastante na organização dos papéis da casa.
Jones tomou um banho, uma das coisas que ele mais
precisava, trocou de roupa e desceu para o andar de baixo. Ele se
impressionou ao ver todo mundo, no caso Jhuliet e Vaiolet, sentadas
à mesa do café.
— Como se sente? Está melhor? — perguntou Vaiolet em
tom preocupado assim que viu ele descendo as escadas
— Hum... você está preocupada comigo por acaso? —
perguntou Jones se sentando à mesa e se servindo de uma xícara
de chá.
— É claro, se você morrer, quem irá cuidar da casa?
— Não se esqueça que Jhuliet está aí para isso — lembrou
Jones apontando para a esposa.
— Nossa, agora sim estou aliviada — ironizou Vaiolet colocando
a mão em seu peito.
— Como se sente? — perguntou Jhuliet ignorando a ironia da
cunhada.
— Melhor, bem melhor, muito obrigado por ontem.
— Não me agradeça, agradeça à canja de galinha — respondeu
Jhuliet sorrindo.
— Diga obrigado a ela por mim
— Direi, com certeza — seguiu Jhuliet se voltando para seu café
da manhã.
— Não me lembro de ter deixado você tomar café da manhã —
brincou Ravel chegando da mesa de café.
— Não me lembro de ter pedido permissão.
— Vamos, estamos atrasados — insistiu Ravel puxando Jones.
— Aonde vão? — perguntou Jhuliet.
— Resolver assuntos da casa — respondeu Ravel.
— Posso ir junto? — pediu Jhuliet já se levantando.
— Por quê? — indagou Ravel rindo em tom de ironia.
— Eu cuidei dessas coisas quando meu pai morreu. Eu posso
ser útil, e eu também estou entediada nessa casa — explicou Jhuliet
procurando uma boa desculpa.
— Por mim tudo bem, contanto que formosagora — disse Jones
pegando seu casaco e comendo uma última fatia de torrada com
geleia.
— Ótimo, vamos levar a famíliainteira então — completou Ravel
rindo com ironia.
— Se for levar a família então está sobrando alguém —
comentou Vaiolet cruzando os braços na frente do corpo. Jones já
sabia aonde isso tudo ia levar
— Senhores? Podemos ir ou querem trocar mais farpas? —
Quando Jones disse isso, cada um foi para um canto diferente da
casa. — Volto em uma hora.
— Não precisa me dar satisfações sobre onde vai — disse
Vaiolet se levantando.
— O que deu em todo mundo? — questionou Jones para si
mesmo. Ele entrou na carruagem e cada um estava sentado no lado
oposto do outro. — Que bom que vocês se deram tão bem.
— Enfim, seu advogado disse que você tem um terreno, a Casa
de Verão se não me engano, e que ela também é sua por direto.
Porém seus tios moram lá há anos e com certeza eles se acham no
direito de ter a propriedade para eles, até marcaram um jantar para
semana que vem.
— Ah, preciso mesmo ir? — Jones gemeu de dor ao lembrar das
vezes que passou as férias na Casa de Verão com seus tios.
— Infelizmente, e é claro que eles querem conhecer sua
magnífica esposa — acrescentou Ravel olhado para Jhuliet.
— Só te convidaram porque sabem que a casa deles está em
suas mãos, vão te tratar igual um rei para te influenciar a abrir mão
do que é seu por direito — opinou Jhuliet como se fosse óbvio.
— Por incrível que parece ela tem razão — concordou Ravel.
— Um passo de cada vez, vamos resolver o que temos para
resolver hoje é o restante para amanhã.
Jones não achou que iria demorar tanto, mas depois de duas
horas com o juiz falando, mais duas ouvindo Ravel e Jhuliet discutir
entre si, e mais uma hora pensando se ele pulasse da janela ele iria
morrer ou ficar gravemente ferido, finalmente acabou e eles
estavam de volta na carruagem para casa.
— Eles estavam falando de um baile hoje à noite? — perguntou
Ravel enquanto organizava alguns papéis em seu colo.
— Sim, é o baile da primavera, para comemorar a chegada da
primavera, todo o baile fica enfeitado de flores, as mulheres usam
vestidos com flores e frutas na cabeça, e muito bonito, mas não
parece nada confortável — lembrou Jhuliet fazendo uma careta.
— Achei ótimo. O que você acha, Jones? — perguntou Ravel
animado.
— Não acho que vou aparecer.
— Como não? Você vai perder outro baile? — Ravel sempre foi
muito animado para bailes, ele nunca vira alguém se divertir tanto
em uma lugar como aquele. — Jhuliet, me ajude aqui.
— Não gosto muito de bailes — revelou Jhuliet dando de
ombros.
— Vocês se merecem — opinou Ravel com desgosto fazendo
Jhuliet e Jones rirem.
Assim que chegaram, Ravel foi para seu quarto se arrumar para
o baile. Jones viu que Vaiolet parecia planejar ir também, pois já
estava arrumada e tinha outras duas garotas com ela. Quando viram
Jones, seus olhos brilharam.
— Hannah, Daphne, esse é Jones, supostamente meu irmão —
disse Vaiolet nem ao menos se levantando para apresentá-lo.
— Prazer, Jones, sou o irmão mais velho, e único, da Vaiolet. —
Jones beijou a mão das duas garotas por educação, e elas ficam
ainda mais encantadas. Jones se surpreendeu porque elas
pareciam ser ainda mais novas que Vaiolet.
— Hannah, o prazer é meu — disse, chegando mais perto.
— Daphne, maior prazer ainda — disse a segunda quase
colando em Jones.
— Essa é Jhuliet, minha esposa — apresentou Jones quando viu
Jhuliet passar, e ele a colou em sua frente. Na hora em que ele
mencionara o "esposa", o sorriso das duas murcharam.
— Prazer, eu sou... — comecou Jhuliet, meio sem graça.
— Certo, prazer — interromperam as duas em uníssono.
— Definitivamente, ninguém gosta de mim nessa casa —
murmurou Jhuliet quando as duas se afastaram.

Jhuliet estava exausta, subiu para seu quarto e tirou o vestido e


colocou um de seda branca, praticamente transparente, já que não
ia mais sair naquele dia. Ela se sentou à janela e viu Ravel, Vaiolet e
suas duas amigas entrarem na carruagem para irem o baile. A noite
estava linda e ela conseguia ver a lua do lado de fora. Uns vinte
minutos depois de todos já terem saído, ela ouviu um barulho no
quarto de Jones. Aparentemente ele saíra do quanto. Ela não ligou
muito, não até ver Jones do lado de fora com uma caixa nas mãos
indo para os fundos da casa. Não que ela estivesse contando, mas
depois de vários minutos ele ainda não tinha voltado, sua
curiosidade foi tanta que ela teve de ir atrás dele.
O vento frio do lado de fora estava congelando sua pele
descoberta, e ela já tinha andando dez minutos sem achar Jones
em lugar nenhum, ela tinha que aceitar que o perdera de vista.
— Procurando alguém? — disse alguém quando ela se virou.
— AHHHH!! — Jhuliet caiu no chão, alguém tentou segurá-la,
porém caiu também e em cima dela ainda.
— Por Deus, mulher!! — Era Jones.
— Por que você sempre tem que cair em cima de mim?!! —
perguntou Jhuliet, zangada, enquanto se levantava
— Se não tivesse me seguido, não estaria nessa situação —
argumentou Jones tirando as folhas de sua roupa.
— E... eu... fiquei preocupada.
— Preocupada ou curiosa? — Jones perguntou estreitando os
olhos
— Talvez os dois. — Jhuliet viu ele se afastar dela. Ele olhou
para trás e disse:
— Você vem ou não? — Jhuliet achou muito melhor ir atrás dele
do que ficar ali no escuro. Ela estava com frio, esfregavaos braços
para tentar se esquentar
— Essa não é uma boa roupa para andar na floresta à noite. —
Jones começou a andar devagar quando viu que ela estava ficando
para trás.
— Vou lembrar disso na próxima vez.
— Está pronta? — ele perguntou olhando para ela, que assentiu.
Jones abriu os arbustos em sua frente e Jhuliet entrou. Ela ficou
sem reação quando viu, e à beira de um córrego, a lua estava tão
perto que Jhuliet achou que se esticasse a mão um pouco ela
conseguiria tocá-la.
— Ainda é exatamente igual a antes — Jones disse olhando ao
redor.
— Como descobriu esse lugar? — ela perguntou, ainda
admirada com a vista.
— Quando eu era mais novo eu detestava a hora do jantar,
porque era a hora que o meu pai saia do escritório, e claro que ele
também me ignorava, mas eu evitava ao máximo estar em casa
nesse horário, então eu saia aqui pra fora. Depois de muita busca,
eu achei esse lugar, foi em uma dia igual a esse, lua cheia, parece
que o lugar estava me chamando para visitá-lo. Parece bobo, eu sei.
— Na verdade, eu entendo — Jhuliet disse o olhando.
Jones tirou da caixa um lençol que colocou no chão e duas taças
e uma garrafa de vinho.
— Parece que você estava esperando mais alguém — avaliou
Jhuliet enquanto sentava no lençol.
— Só uma esposa extremamente curiosa.
— Parece que você me conhece mais do que eu te conheço —
deduziu Jhuliet pegando a taça que Jones lhe entregava e bebeu
um gole. O gosto era divino, o melhor que ela já proara.
— Fique à vontade para me perguntar o que você não sabe —
ele sugeriu, bebendo também.
— Você já se apaixonou antes? — Jhuliet perguntou, Jones não
pensou muito e disse:
— Sim, quem nessa idade nunca se apaixonou? — ele riu e
,quando viu que Jhuliet desviou o olhar, ele a olhou surpreso. —
Você nunca se apaixonou?
— É claro que sim! — Jhuliet disse bebendo sua bebida, que
estava quase no final.
— Então me conte como foi— pediu Jones se aproximando para
ouvir.
— Eu... não me lembro muito bem, faz muito tempo.
— Então não foi amor — concluiu Jones, Jhuliet se virou para
ele.
— Por que acha isso?
— Você nunca se esqueceria daquela pessoa, ela iria te marcar
para sempre — ele argumentou olhando para Jhuliet de volta. —
Mas eu não me surpreendo...
— Com o quê?
— O fato de você nunca ter se apaixonado. Espera... se você
nunca se apaixonou, então você nunca beijou ninguém? — Jhuliet
virou o rosto, dando sua resposta de bandeja. Jones riu e continuou
encarando Jhuliet.
— Isso não é grande coisa — ela opinou, olhando ele de volta.
Eles estavam menos de cinco centímetros de distância, a verdade
era que Jhuliet nunca se sentira tão próxima de alguém para pensar
em beijar essa pessoa. Mas ali, com Jones a sua frente, ela não
pensava em outra coisa, e parecia que Jones tinha notado o que ela
estava pensando. Ele arqueou as sobrancelhas. Jhuliet não sabia
que era de dúvida ou a estava desafiando a fazer aquilo, e ela
aceitou se aproximou ainda mais dele. O mesmo não a afastou, e
quando seus lábios se encontraram foi como se ela soubesse
exatamente o que fazer.
Capitulo 14
Jones se assustou um pouco quando Jhuliet se aproximou e
o beijou, quer dizer, não era como se ele tam ém não tivesse
pensado nisso, mas a última pessoa que ele achou que fosse fazê-
lo seria Jhuliet. Em menos de um minuto ela já estava em cima dele,
ele não sabia como ela fora parar ali, ela estava gelada,
provavelmente por estar usando somente uma fina camisola em
uma noite fria dessas. Quando menos percebeu suas mãos já
estavam nos quadris dela, e o beijo foi ficando mais profundo. Para
quem não tinha muito experiência com beijos Jhuliet estava se
saindo muito bem. E para o bem do seu autocontrole, um barulho
assustou Jhuliet, e ela parou o beijo e olhou para trás.
— O que foi isso? — Ela olhava para todos os lados.
— Talvez um pássaro, ou um esquilo? Pode ser uma
variedade de animais — respondeu Jones. Ele estava imóvel pois
aparentemente Jhuliet não tinha notado que ainda estava em seu
colo.
— Você tem certeza? Acho melhor nós irmos embora! — ela
sugeriu olhando para ele. Suas mãos ainda estavam em seus
ombros. Foi quando ela percebeu que estava em cima dele, então
ela se levantou depressa e passou a mão pelo vestido.
Eles voltaram o caminho todo em silêncio. Jones não sabia o
que ele poderia dizer, então optou pela melhor opção, ficar calado.

***
Jones acordou na manhã seguinte com o sol novamente em
seu rosto, ele abriu os olhos e Ravel estava ao pé de sua cama,
olhando-o.
— Mas que diabos homem?! O que faz aqui?
— Estava pensando se você me mataria se eu o acordasse a
essa hora, mas pelo jeito não precisei pensar muito.
— Eu vou começar a trancar a porta — avisou Jones se
sentando na cama e esfregando os olhos.
— Sem problemas, entrei pelo quarto de sua esposa.
— Maldição, o que quer a essa hora? — Jones não sabia que
horas eram, mas tinha certeza que era muito mais cedo do que ele
pretendia acordar.
— Más notícias, sua tia veio te buscar.
— O que quer dizer?
— Sobrinho!! — disse sua tia Carmen entrando em seu
quarto e o abraçando.
— Tia, o que faz aqui? — perguntou Jones a abraçado de
volta meio sem jeito.
— Eu soube do seu pai, sinto muito, querido.
— Sem problemas, eu...
— Sinto muito por ele não ter morrido antes, homem
desprezívelaquele. — Sua tia Carmen era irmã mais nova de seu
pai, que o odiava com todas suas forças. Segundo ela, ele sempre
fora um péssimo irmão, e depois da morte da mãe de Jones, tudo
ficara bem pior. — Soube que você voltou, e para ficar, e de que
está casado, isso é maravilhoso, conheci sua esposa, um doce, e
Vaiolet está tão grande, achei incrívelela ainda se lembrar de mim,
já fazem tantos anos que eu...
— Tia... tia... — começou Jones segurando seus ombros, em
um minuto ela já tinha falado tudo aquilo. — Respire, certo? Agora
me diz, o que veio fazer aqui?
— Ora essa, vim te buscar! — ela anunciou como se fosse
obvio.
— Para onde?
— Ah, você sabe! — continuou ela se levantando e
acendendo um cigarro. — Posso? — perguntou depois da terceira
tragada.
— À vontade. E eu não irei, obrigado, foi muito bom te ver.
— Não é como se você tivesse escolha, querido. Seu pai era
dono de tudo aquilo, é ele só não nos tirou de lá porque ele tinha
esta casa. Mas em momento nenhum ele passou para nosso nome.
Moramos lá a nossa vida toda, sem pressão querido, mas você
precisa ir lá resolver as coisas. Está tudo no seu nome.
— Como é? Quer dizer que ele colocou tudo em meu nome?
— surpreendeu-se Jones se levantando e andando de um lado para
o outro.
— Sim, senhor, ele jogou a bomba em suas mãos, e seus
outros tios estão loucos para fingir que se importam com você,
treinaram esse teatro a semana inteira — revelou tia Carmen
acendendo outro cigarro. Ela era a tia favoritade Jones, era sincera,
fora dos padrões, e melhor, odiava a própria família,deve ser por
isso que se dão tão bem.
— Não estou com vontade de ver teatro nenhum.
— Voltar sem você não é uma opção, Jones, está na hora de
resolver tudo de uma vez. Você pode pegar a casa para você e
mandar todos embora, eu já tenho minha casa, meu marido e meu
filho.Só ficopreocupada com Barbara e Allec, sabe, aquelas cobras
não vão abrir mão daquilo tudo facilmente.
— Não planejo despejar ninguém — avisou Jones lavando o
rosto no banheiro do quarto. Sua tia estava na janela, já estava no
quinto cigarro, isso o fez acreditar que a teoria de que cigarro
matava era terrivelmente falsa, pois a cada dia sua tia Carmen
ficava mais bonita.
— Então vá lá dizer isso a eles. É uma pena, queria ver eles
tentando se virar sem nada. Te espero lá embaixo, leve roupas
leves, o sol decidiu pousar lá esse mês.
Assim que dia tia Carmen saiu, Ravel entrou novamente.
— Acho que vamos viajar!!
— Preciso de alguém para cuidar da casa...
— Ah, eu sabia, tudo bem, eu fico, o que eu não faço por
você, amigo — ofereceu-seRavel, suspirando com a mão no ombro
de seu amigo. Jones encarou sua mão e depois o rosto do amigo.
— Nada de mulheres aqui dentro — avisou Jones já sabendo
das intenções do amigo.
— Isso não é justo!
— A vida não é justa — argumentou Jones quando seu
amigo saiu igual uma criança birrenta do quarto.

O último lugar que ele queira ir era para a casa dos tios, onde
todos odiavam seu pai e Jones, tirando tia Carmen, ela o adorava, já
seu pai era só ódio mesmo. E só de pensar em ver seus mil primos
e primas interesseiros ficou feliz pelo fato de já ter se casado, não
que isso as impedissem de jogar seus encantos sobre ele, mas ele
queria acreditar que isso seria com menos frequência.
Jhuliet apareceu em seu quarto e o viu arrumando as malas.
— Para onde vamos dessa vez?
— Para o inferno na terra.

***

Jhuliet não sabia o que aquilo significava, só foi para seu


quarto e arrumou as malas. Não sabia quanto tempo ia ficar, então
apenas levou alguns vestidos, achou que aquilo seria suficiente.
Quando desdeu viu uma mulher fumandona entrada de casa, Ravel
tinha dito que era a tia de Jones. Finalmente um familiar, Vaiolet não
era muito com sua cara, então ela tinha que se dar bem com a tia de
Jones.
— Dia quente não é mesmo? — Jhuliet se arrependeu de ter
puxando o assunto falando o tempo. A mulher lhe olhou e deu um
sorriso.
— Onde a gente nasceu chamamos de Morada do Sol,
porque parecia que o sol se punha dentro de casa. — Jhuliet ficou
aliviada por ela ter continuado o assunto. — Não tivemos tempo de
nos conhecemos. Me chamo Carmen, mas pode de chamar de Tia
C, somos quatro:Tio A, que é o Allec, Tia B que, é a Barbara, Tia C,
que sou eu Carmen, e Tio D que é Dimitri, pai de seu marido.
Ninguém sabe que esse é o nome dele, temos milhões de sobrinhos
assim fica mais fácil de que guardar nossos nomes. Oh, perdão
querida, eu falo demais. E você como chama?
— Jhuliet, prazer... Tia C. — Essa foi a única palavra que Jhuliet
conseguiu entender do discurso de Carmen.
— Ah, que linda, me chamando de Tia C, não aconselho a
fazer isso com os outros, são umas cobras, acredite — ela disse e
deu mais uma tragada no cigarro. Jhuliet ficou impressionada
porque esse já era o segundo que ela acendia. — Aceita? — Jhuliet
apenas negou educadamente. — Tem razão, eu tenho que parar
também, já perdi a conta de quantos por dia, dizem que cada cigarro
é um ano a menos de vida. Bom, então eu devo ter muitos anos de
vida pela frente.
— Você ainda está falando, tia? — perguntou Jones com
duas malas na mão.
— Sabe como eu sou, isso são suas malas? — perguntou ela
apontando para as malas que ele carregava
— Na verdade, as duas são de Vaiolet — revelou Jones
suspirando quando as colocou no chão.
— Não consegui me decidir, tia, tenho que ir preparada —
Vaiolet disse como se fosse um doce de pessoa, talvez ela até
fosse, porém não com Jhuliet.
— Ah, querida, eu te entendo, deixa só a gente chegar para
você ver o meu guarda-roupa. Ah, querido, conheci sua esposa, um
doce, porém não conseguimos conversar muito, não é meu bem?
— E de quem será a culpa? — ironizou Jones.
— Ninguém me respeita — reclamou Carmen rindo e
apagando o cigarro na porta.
— Onde estão suas coisas? — perguntou Jones se
aproximando de Jhuliet.
— Bem aqui! — respondeu Jhuliet apontando para a pequena
mala no chão da sala.
— Tem certeza? — Jones perguntou olhando para a mala de
Vaiolet e depois a da esposa.
— Acho que estou levando mais do que o necessário.
— Entendi, acho que entendo — afirmou Jones colocando
uma pequena bolsa com suas coisas no sofá, ele e Jhuliet riram.
— Vamos, crianças, temos uma longa viagem — anunciou
Carmen fingindo animação.
Jhuliet só viu Vaiolet a olhar com cara feia quando ela se
sentou ao lado de Carmen. Ela se sentou ao lado de seu irmão e
ficou emburrada olhando para a janela. No caminho, Carmen não
parou de falar, coisas importantes que Jhuliet devia prestar atenção,
porém ela desmaiou na metade do caminho.
— Certa vez fizemos uma torta de mel e morangos, e o mais
fácil foi tirar o mel da colmeia, quem diria... olhe só, chegamos.
De uma vez só Jhuliet levantou a cabeça do ombro de
Carmen. Ela olhou para o lado e viu Vaiolet e Jones dormindo um
em cima do outro.
— Finalmente!! — comemorou Jones se levantando e saindo
da carruagem.
— Não sinto meu traseiro — lamentou Vaiolet.
— Meu pescoço dói. — E quanto isso Carmen estava ótima,
apenas esticou os braços e assobiou. Na mesma hora surgiram três
homens, que pegaram suas coisas e levaram para dentro.
Vaiolet e Carmen seguiram, mas Jones ficou para trás
somente olhando a casa de longe.
— Pronto para entrar no inferno? — brincou Jhuliet, Jones
sorri e diz:
— Até o inferno seria melhor.
Capitulo 15
Jornal da manhã
Hoje a cidade amanheceu sem um duque. Duque Jones foi visto
saindo às pressas na manhã do dia de hoje, e levou toda a sua
família.Será uma possível lua de mel ou somente uma reunião de
família? Iremos descobrir, pois seu jornal da manhã nunca lhe
decepciona.
Jones caminhava bem devagar até a entrada da casa,
parecia menor do que ele se lembrava, talvez porque a última vez
que viera fora quando tinha dez anos, e uma visita foi o suficiente
para que nunca mais tivesse vontade de voltar. Jhuliet e Vaiolet,
pelo contrário, pareciam bem animadas com a visita, é claro que
Jhuliet era porque não tinha conhecido a família ainda.
— São realmente tão ruins assim? — perguntou Jhuliet
desacelerando o passo para acompanhá-lo.
— Pior, seres desprezíveis, criaturas do subsolo criadas
somente para... — Jones não conseguiu terminar sua frase pois foi
dito em uníssono um...
— Surpresa!!! — Quando ele olhou para dentro, estavam
todos os seus tios, primas e avós bem em frente à porta, todos
tinham um grande sorriso no rosto que claramente era falso.
— Ah, querido, sentimos sua falta — lamentou sua tia
Barbaha vindo abraçá-lo. — Como você está, meu garoto? Sinto
tanto pelo seu pai.
— Obrigado, eu acho — agradeceu Jones sem retribuir o
abraço, pois estava com as malas de Vaiolet em baixo do braço.
— Oh, perdão, eu me empolguei, não vi que você carregava
algo. Falando em carregar, quem é essa bela jovem com você? —
perguntou Barbara olhando para Vaiolet.
— Vaiolet, minha irmã, sua sobrinha — revelou Jones,
surpreso por ninguém tê-la reconhecido, era a cara de sua mãe.
— Meu Deus, como está... crescida. Como vai? — perguntou
Barbara surpresa.
— Vou muito bem, tia, estou feliz em te conhecer —
respondeu Vaiolet dando um abraço em Barbaha, que se assustou
tanto que nem retribuiu o abraço.
— Oh, tudo bem, tudo certo... — continuou Barbaha quase
afastando Vaiolet dela. — Por que não entram? Fiquem à vontade,
afinal, essa também é sua casa — ofereceu, olhando para Jones e
enfatizando a palavra também.
— Não parecem tão ruins assim — opinou Jhuliet quando
entrou na casa.
— São ótimos mentirosos — explicou Jones nem se dando o
trabalho de sussurrar.
— Deve ser coisa de família— disse Jhuliet em tom irônico,
que até fez Jones rir por um segundo.
— Não sabia que trariam uma acompanhante — admitiu seu
tio Allec, olhando para Jhuliet.
— Na verdade, ela é a esposa de Jones — esclareceu
Carmem, sentada no sofá. Surpreendentemente ela não estava
fumando outro cigarro. Na hora que ela terminou de falar, Jones
pode ver os milhares de gotículas de chá voarem pela sala saindo
da boca de seus dois tios.
— Você disse... esposa? — repetiu Allec
— Você é velho, mas não é surdo — provocou Carmem não
dando muita atenção.
— É um prazer conhecer vocês — comentou Jhuliet quase
sem voz.
— Realmente é uma surpresa — continuou Allec, que logo
após levou uma cotovelada de Barbaha.
— O prazer e nosso, só não ficamossabendo de nada, foi há
muito tempo? — indagou Barbaha tentando esconder a surpresa.
— Não, não foi há muito tempo, foi uma coisa simples, você
sabe tia, só para a família— revelou Jones em tom provocativo e
com intensão.
— Ah, entendo. Pois bem, não preciso apresentar mais
ninguém, todos já se conhecem, agora vão para os seus quartos,
pois fizemos um belo jantar em comemoração à sua chegada.
— Ah, não precisa se preocupar tanto assim — disse Jones.
— Você sabe como é a sua tia, sempre se preocupada com a
família— lembrou Carmem já se levantando e subindo as escadas.
— Venham, vou levá-los a seus quartos.
Todos seguiram Carmem e Jones ficou aliviado de ter saído
daquela sala. Além de seus dois tios, ainda tinham suas primas que
o olhavam de cima a baixo e seus primos que mal o olhavam, não
conseguia definir o que era pior.
— Nada como seu lar, não é querido? — comentou Carmem
com ironia.
— Até a rua seria mais conveniente do que aqui — lamentou
Jones suspirando.
— Infelizmente terei que concordar, o melhor dia da minha
vida foi quando eu saí dessa casa.
— Já quero sentir isso de novo — desabafou Jones
suspirando pela quinta vez desde que entrara.
— Não vejo o porquê, foram muito simpáticos e receptivos
com a gente — lembrou Vaiolet cruzando os braços.
— Mentiram bem pelo menos — argumentou Jones.
— Bom, eu também não vi nada demais — opinou Jhuliet um
tanto receosa com a resposta.
— Ainda, fique aqui mais uns quatro dias e não vão lhe faltar
argumentos de que isso é uma selva — revelou Carmem abrindo a
primeira porta virando o corredor. — Você fica aqui, querida, era o
meu quarto, o melhor ambiente da casa — Carmem disse para
Vaiolet. — Vocês ficam no próximo, é o único de casal disponível.
— Vamos dormir no mesmo quarto? — perguntou Jhuliet.
Quando os dois a olharam, ela se recuperou e disse: — Quer dizer,
é claro que vamos, porque somos casados, certo, tudo bem. Eu vou
desfazendo as malas.
— Jones, venha, preciso falar com você — pediu Carmem
saindo do corredor.
— Volto em um minuto — disse para Jhuliet. — O que quer
falar comigo?
— A situação aqui não está boa, não ia te contar isso antes
porque, se eu contasse, vocês não viriam, e quase não veieram,
mas é o seguinte: não vai ter como eles ficarem com a casa.
— Como não? Se está no meu nome, eu posso passar para
eles em qualquer momento, eu não façoquestão daqui, nunca fizna
verdade.
— Bom, você não entende, seu pai era um demônio...
— Disso eu sei.
— Você ainda não viu nada, seu pai deixou essa casa em
seu nome, mas com comunhão de bens, quer dizer, em parte, na
verdade não é bem isso.
— Espera, dá para você ser mais clara?
— Que seja, vou direto ao assunto. Seu pai queria ferrar
todos nós, então fez um contrato falando que você teria que se
casar para assumir o título, e fez outro falando que o proprietário
dessa casa seria sua esposa.
— Como é? — perguntou Jones, mais alto do que pretendia.
— Exatamente como você ouviu. Assim que seu pai morreu,
que Deus não o tenha, pelo seu próprio bem, dois dias depois veio
um advogado aqui, explicou toda a situação para gente, de que
iríamosser despejados, pois o novo proprietário seria a sua esposa.
Então Barbaha teve a péssima ideia de te chamar aqui e fazervocê
se casar com a filha dela, Mermaid.
— Espera, espera. Ela queira que eu casasse com minha
própria prima? — indagou Jones não podendo ver como aquilo
poderia piorar.
— Não fazessa cara de chocado, você conhece sua tia. Mas
a questão era de que era por isso que te queriam aqui, mas quando
cheguei lá e vi sua esposa, eu fiqueitranquila que esse plano não ia
dar certo, e fiquei nervosa porque o plano não ia dar certo, por isso
não te contei antes, porque senão você nem viria.
— Com certeza não viria e também irei embora agora mesmo
— avisou Jones se afastando, mas Carmen segurou seu braço.
— Jones, não, por favor. Fica só até o jantar, só para ver o
que eles vão fazer a respeito disso, descobrir que você está casado
foi um grande choque para o plano deles, que tinha tudo para dar
certo — Carmen pediu revirando os olhos.
— Olha, tia, só irei ficar porque foi você quem me pediu. Mas
não posso ficar aqui por muito tempo, eles são capazes até de me
envenenar dormindo.
— É claro que não, você acha mesmo que eu deixaria isso
acontece? —perguntou Carmem dando um cotovelada em Jones. —
Só fica para o jantar que amanhã vai ser outro dia.
— Tudo bem, você ganhou, só porque eu estou morrendo de
fome.
— Você vai contar para ela? — Carmen perguntou fazendo
um sinal para o quarto onde Jhuliet estava.
— Vamos ver o que vai acontecer nesse jantar primeiro.
— Eu entendo, também acho melhor.
— Estranho, você não fumou um cigarro até agora.
— O ar dessa casa é pior que qualquer nicotina, acredite.
— Não duvido.

***

Quando Jhuliet entrou no quarto, percebeu que era ainda


maior do que o da casa de Jones. Uma cama enorme que ela podia
se deitar e esticar seus braços que ela ainda não conseguiria tocar
em Jones do outro lado, perfeito.Jhuliet olhou pela janela e viu Allec
e Barbaha lá foraconversando. Eles pareciam bem bravos, como se
estivessem discutindo.
Jhuliet realmente sentiu um clima estranho quando Carmem
disse que ela era a esposa de Jones, não só ela como também
todas as primas de Jones a olharam com desgosto, mas
principalmente uma. Loira, olhos verdes, cabelos como cascatas
douradas pelo decote do vestido. Não tinha como Jhuliet não ter
reparado nela, e ela sentiu que também não passou despercebida.
Logo de início ela já descobriu que seu marido não se dava
muito bem com sua família.O motivo mesmo ela não sabia, como
ela mesma tinha dito a Jones anteriormente, eles até agora estavam
normais. Ela só esperava que Jones não guardasse tanto rancor da
família,que deixasse de dar a casa para seus tios só por vingança.
Jones entrou e bateu a porta atrás de si e se sentou na cama. Ele
suspirava a cada dez segundos.
— Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Jhuliet
se virando para ele.
— Muita coisa.
— Se quiser me contar... — começou Jhuliet, mas ela mesmo
se impediu de continuar.
— É muita coisa...
— Toda história tem um início...
— Começar do início tudo bem, tudo começou quando meu
pai nasceu, depois disso nada mais deu certo — disse ele nervoso
andando de um lado para o outro no quarto.
— E o que seu pai fez?
— Ele ferrou todo mundo. Como ele sempre fez,sabe o que
é pior? Eu sou idêntico a ele.
— Isso não é verdade! — argumentou Jhuliet se levantando.
— Mas é a verdade.
— Você não é parecido com ele, bom, eu não conheço seu
pai, é fato, mas só pelo que eu ouvi dele. Ele não parecia ser o tipo
de pessoa que tentava consertar as coisas, e você está aqui para
isso, consertar as coisas.
— Ao contrário, eu estou aqui para limpar as sujeiras dele, é
uma obrigação fazer isso.
— Você sabe que não é, você não precisa fazer isso, mas
você quer. E tá tudo bem, se precisar de algo, eu vou fazer o
possível para ajudar. — Jhuliet pegou na mão de Jones, isso o fez
se assustar. — Você não está mais sozinho nessa. — Jhuliet levou
um susto quando Jones a puxou para um abraço, foi tão repentino
que seu coração disparou a mil por hora, e ela sabia que Jones
podia sentir pois ela sentia o dele, e estava calmo como a beira do
mar.
— Eu posso confiar em você? — Ele tinha perguntado, mas
parecia mais uma pergunta retórica.
— Nós temos que confiar um no outro a partir de agora
— Jhuliet, a questão é...
— Desculpa interromper, o jantar está pronto — anunciou
Carmem entrando no quarto. Jones se levantou e foiao banheiro. —
Vista algo leve, sinto que lá em baixo vai pegar fogo hoje.
— Faz tanto calor assim?
— Não, mas hoje, querida, vai fazer— Carmem disse e
fechou a porta atrás de si.
— Eu não entendi o que ela quis dizer — murmurou Jhuliet
quando Jones saiu do banheiro. Ele estava com o cabelo molhado
caindo no rosto, ele ficava tão lindo com o cabelo molhado que
Jhuliet se perdeu olhando ele por um instante.
— É melhor assim. Quer que eu te espere?
— Não, pode ir primeiro.
— Certo, me deseje sorte.
— Boa sorte para nós. — Jones sorriu para ela e saiu do
quarto.
Jhuliet não sabia o que vestir, ela não sabia se a dica de
Carmem forarealmente um conselho ou uma ironia. Em tanto pouco
tempo que conhecia Carmem ela imaginou que fosse ironia e
colocou um vestido de mangas compridas que era de um tecido
bem mais grosso do que os normais. Assim que ela desceu ela
ouviu um burburinho e ela logo adivinhou que vinha da sala de
jantar. Já estavam todos sentados à mesa conversando. Havia
umas quatro garotas sentadas ao lado de Jones, e uma delas era a
loira que a tinha olhado estranho antes. Agora o olhar dela era de
confiança. Jhuliet não gostou daquilo, ela acabou sentando ao lado
de Vaiolet.
— Pelas minhas contas essa é a quarta garota que se
aproxima do meu irmão só nos últimos dez minutos. O que deixa
mais estranho é que todas são primas dele — desabafou Vaiolet
baixinho quando Jhuliet sentou ao seu lado.
— Acha que devo me preocupar...?
— Eu acho, elas são bem bonitas, mais que você, eu diria. —
Essa não era a resposta de Jhuliet esperava receber.
— Atenção, por favor — pediu Barbaha batendo a colher na
taça para que todos olhassem para ela. — É ótimo ver a família
cheia, e principalmente completa. Estamos aqui para
comemorarmos a chegada do nosso sobrinho Jones, de nossa
sobrinha Vaiolet. — Jhuliet viu o olhar que recebeu de Barbaha e
não gostou nada nada. — Aproveitem o jantar.
Barbaha se sentou e os garçons vieram o serviram. Jhuliet
jurava que nunca tinha visto tanta comida em sua vida, e ela queria
provar cada coisa ali, mas antes mesmo de dar a primeira mordida,
a garota loira se virou para Jones e perguntou bem alto:
— Então, em busca de uma esposa? — Parecia que ela
queria ouvir da própria boca de Jones que ele estava mesmo
casado.
— Na verdade, não, já encontrei. Jhuliet o nome dela caso,
não sabia — respondeu Jones ríspido.
— Oh, então é verdade, eu achei que fosse brincadeira,
perdão, porque você sabe como você era, cada dia uma mulher
diferente. — Jhuliet largou o garfo no prato, o que fez todos a
olharem.
— Bom, sim, nós estamos casado s— Jhuliet disse mais para
quebrar o silêncio.
— Eu ouvi, querida, só não acredito até agora, porque você
não parece o tipo de mulher com quem ele se casaria. — Jones
suspirou, mas não disse nada. Jhuliet começou a ficar irritada,
porém se conteve porque ela já percebera que era isso que ela
queria.
— Então...
— Mermaid, meu nome — ela disse rindo
— Mermaid, acho que você estava enganada esse tempo
todo, porque estamos casados. — Isso a fez se calar um pouco,
mas não o suficiente.
— Sabe o que eu acho mais difícil em um casamento?
Fidelidade — opinou Mermaid. Jones suspirou alto.
— Por favor, Maid. — Apesar dele tê-la chamado pelo
apelido, não foi em um tom carinhoso.
— Eu só estou conversando com ela...
— Esposa, ela é minha esposa — Jones a corrigiu e voltou a
comer.
— É você, Vaiolet, o que acha de sua cunhada?
— Ah, é... boa — Ela ficou meio sem graça por ser
questionada tão de repente. Jhuliet jurava que iria sair coisa pior,
mas um "boa" foi ótimo.
— Você deve ter ficado chateada, por ter que dividir seu
irmão.
— Bom, não é como se ele tivesse passado o tempo todo
comigo — disse em um tom amargurado.
— Sim, é isso que ele faz,ele some, mas ele sempre volta, a
questão é com quem.
— Já chega!! — interrompeu Jones se levantando da mesa
— Maid, querida. Venha comigo. — pediu Barbaha se
levantando. Mermaid se levantou furiosa, mas seguiu sua mãe.
— Como é morar fora? — perguntou uma criança com olhos
azuis enormes e um cabelo preto caindo nos olhos.
Jones começou a falar sobre a cidade em que morou, isso o
deixou mais calmo. Logo após Barbaha e Mermaid voltarem,
nenhuma das duas falou nada, mas podia-se ver o ódio nos olhos
de Mermaid, mas ela não disse nada e nem dirigiu o olhar a Jhuliet.
Foi melhor assim, ela pensou. Logo após veio a sobremesa e até
que ali estava parecendo um ambiente familiar, todos conversando e
se divertindo, até Vaiolet estava conversando com um de seus
primos. As sobremesas eram quentes, o que fez Jhuliet suar o
tempo todo, mas não poderia se trocar agora, então ela resolveu
aguentar só mais um pouquinho, pois já estava acabando o jantar.
— Bom, vamos logo ao assunto. — Quando Allec disse isso,
todos o olharam. — Seu pai era um cretino, você não pode nem
negar. E sendo o mais velho, ajudou nosso pai a construir essa
casa, onde ele não passou dos quinze anos dentro. Passamos por
péssimos momentos, noites chuvosas aqui dentro, nada mais justo
que essa casa ficar com a gente.
— Allec, por favor. Só estamos dizendo que esse é o nosso
lar, sempre foi, e que acho que temos um pouquinho de direto de
continuar aqui. Mas provavelmente você não leu o contrato... —
supôs Barbaha, mas foi interrompida por Jones
— Na verdade, eu li, sim, e infelizmentenão há como mudar
isso. Essa casa não está em minhas mãos — revelou Jones
levantando suas mãos.
— Olha aqui, eu sei que essa casa está no nome de sua
esposa, seu pai queria ferrara gente, isso é óbvio — irritou-se Allec.
— O quê? — sussurrou Jhuliet bem baixinho.
— Mas já temos um plano, você se casa com a Mermaid e a
casa fica com a gente, pronto, final feliz para todos.
— Caso você tenha se esquecido, eu já estou casado, e não
tenho planos de me casar de novo, muito menos com Maid —
explicou ele apontando para sua prima.
— Não seria um casamento de verdade, mas sim um acordo
entre a gente — sugeriu Mermaid.
— Você não tem que acordar comigo, você está falando com
o proprietário errado da casa — insistiu Jones apontado para
Jhuliet. Quando todos a olham, ela estava vermelha e suando muito.
— Eu não... — Ela não pode terminar a frase pois a última
coisa que viu antes de desmaiar foi Jones correndo em sua direção.
Capitulo 16
Jones mal teve tempo de segurar Jhuliet, ela estava muito
quente e suando muito, só naquele momento que ele percebeu que
não tinha olhado a esposa em nenhum momento do jantar, pois se
tivesse, teria visto sua situação mais cedo.
— O que houve com ela? — perguntou Carmem, se
aproximando e colocando a mão na testa de Jhuliet. — Ela está
fervendo em febre, será algo que ela comeu, ela tem alguma
alergia?
— Eu... eu... acho que não, quer dizer...
— Ah, você não sabe, imaginei — disse Carmem passando
um dos braços de Jhuliet pelo seu ombro, Jones fez o mesmo. —
Vamos leva-la para o quarto, se nos derem licença é claro, mas se
quiserem discutir mais um pouco, assim que ela acordar eu a trago
aqui novamente, o que acham? — Nem Barbaha nem Allec
responderam, ambos fitaram o chão. — Foi o que eu imaginei,
vamos querido.
Eles levaram Jhuliet para o andar de cima e colocaram ela na
cama.
— Ela está com esse vestido todo coberto, como ela
aguentou? Lá em baixo estava muito quente — surpreendeu-se
Carmen tocando no tecido.
— Talvez esse tenha sido o motivo do desmaio.
— Vou pegar algo para abaixar a febre dela — avisou
Carmen voltando com uma toalha e uma bacia com água. Jones
molhou o a toalha e passou no seu rosto e pescoço devagar.
— Engraçado que, há alguns dias atrás, eu fiquei bem
doente, e Jhuliet cuidou de mim. Uma simples sopa fezcom que eu
me sentisse vivo de novo, e agora que ela está mal, se você não
tivesse aqui, eu não saberia o que fazer — desabafou Jones,
sorrindo para sua tia.
— Tudo questão de costume, eu sempre cuidei de todos aqui,
seu pai principalmente, vivia gripado, morrendo pelos cantos, e
quem diria que iria demorar tanto para morre, realmente é o que
dizem, vaso ruim não quebra. — Jones riu da tia, ele sabia que no
fundo ela realmente amava seu pai, pena que ele não podia dizer o
mesmo. — E vocês? O casamento não é de verdade, certo? —
perguntou Carmem o tirando de seu devaneio.
— Perdão?
— Você me ouviu — disse ela enquanto torcia o pano que
estava na testa de Jhuliet.
— É, sim, de conveniência, eu sei que eu mesmo dizia que
odiava essas coisas, mas... foi preciso. Se fosse só por mim eu não
ligaria de perder o título, pouco me importa, mas tinha Vaiolet no
meio, e eu já a abdiquei demais, chegou a hora de assumir algumas
coisas.
— Bem, parece que alguém cresceu e amadureceu, estou
orgulhosa. E como está indo o casamento?
— Jhuliet é... atenciosa, cuidadosa, gentil... extremamente
cabeça dura e mandona, não obedece regras e não deixa ninguém
mandar nela, e intrometida e adora se meter aonde não é
chamada...
— Uau, descobriu todas essas qualidades em uma semana
de casados? Acho que estão indo bem. Casamentos são dífíceis
mas, mas alguns valem a pena. E ela parece ser boa pessoa, você
sabe, e a sua irmã, o que ela acha de Jhuliet?
— Ela está receosa, mais por mim, por eu ter ido embora e
só voltar agora e casado ainda por cima. Acho que isso foi muita
coisa pra processar. Mas acho que Jhuliet está fazendoela abaixar
a guarda um pouco, fico felizque elas estão se dando bem, porque
duas mulheres me odiando na mesma casa não dá.
— Vai dar tudo certo, sabe, sua mãe ficaria orgulhosa. —
Jones ficou sério e não respondeu mais Carmem. — Jones, você
sabe que foium acidente, não é? — Carmen perguntou tocando em
seu braço
Jones não respondeu, apenas viu os olhos de Jhuliet se
abrirem e se fecharem quando seus olhares se cruzaram. Logo ela
os abriu novamente, e Jones não sabia o quanto ela ouvira da
conversa do dois.
— Como se sente? — perguntou Carmem.
— Bem melhor, obrigada — Jhuliet agradeceu um pouco
rouca.
— Você sabe por que desmaiou daquele jeito? Será que foi
algo que você comeu? — perguntou Carmen.
— Com certeza, e por causa desse vestido, aqui é muito mais
quente do que onde você vive — deduziu Jones apontando para o
vestido de Jhuliet
— Eu acabei interpretando mal as palavras — comentou
Jhuliet se sentando na cama.
— Tudo bem, o importante é que você está melhor — disse
Carmem pegando os panos de volta.
— Verdade, acho que eu levei um tombo e tanto, porque eu
achei ter ouvido dizerem que eu era a dona dessa casa. — Jones e
Carmem ficaram em silêncio. — Ah, não foi impressão...
— Vou deixar vocês conversarem. Jones, quando terminar,
me encontre no jardim. — Jones esperou Carmem sair para pensar
no que iria dizer para Jhuliet.
— Então...? — incentivou Jhuliet, chegando mais perto
— É verdade.
— É verdade? — repetiu Jhuliet devagar. Jones assentiu. —
Mas como eu... não entendo.
— Não tem muito o que entender, só que meu pai realmente
odeia sua famí lia e gosta de deixar isso bem claro, vamos dizer que
ele gosta tanto de seus irmãos que fezum contrato falando de que,
no caso de ele falecer, seus irmãos não iriam ficar com nada e a
propriedade ficaria no nome de minha esposa, que é você.
— No meu nome? Mas por que ele faria isso? — indagou
Jhuliet, confusa
— Talvez ele estivesse torcendo para eu me casar com uma
cobra que fugiria para longe com todos os meus bens.
— Mas... e o que faremos agora?
— A decisão é sua, está tudo no seu nome.
— Por mim eles podem ficar com a casa, ela não me
interessa nem um pouco.
— Eu imaginei que essa seria sua resposta, mas essa não é
a pior parte. Eu adoraria pegar minhas malas e ir embora agora
mesmo mas, segundo o contrato, todos os meus tios terão que
assinar juntos, e você é claro, mas o advogado só poderá vir na
segunda-feira, vamos ter que passar o final de semana aqui.
— Bom, vão ser só mais dois dias. — Por mais que ela tenha
dito aquilo, Jones sentiu que Jhuliet estava muito desconfortável ali.
— Mas você não precisa fazerisso se não quiser, não é sua
responsabilidade, eu sei, vamos voltar para casa, eu dou um jeito
nisso mais tarde — sugeriu Jones, e começou a arrumar suas malas
colocando as poucas coisas que tirara.
— Tudo bem, vamos fazer isso, vão ser como férias — ela
disse forçando um sorriso.
— Vai ser as piores férias de sua vida, te garanto, não
precisa fazer isso.
— Jones, eu te disse que estamos juntos nessa, não disse?
Você me ajudou quando eu precisei, só estou retribuindo o favor.
— Não fiznada pensando em ter algo em troca — ele disse
olhando em seu olhos, Jhuliet apenas assentiu.
— Eu sei, e por isso que eu faço. Eu acho que irei dormir,
preciso estar bem descansada para ver sua famíliaamanhã de
novo.
— Você vai implorar para sua vida acabar logo, logo. Eu vou
falar com Carmem, não me siga.
— Não se sinta tão importante — disse Jhuliet virando para o
outro lado.

***

Jhuliet realmente não tinha intensão de seguir o marido, e


aliás ela ainda se sentia um pouco tonta de antes. Com certeza
foRA uma má ideia usar aquele vestido num dia tão quente, e ainda
mais com toda aquela discussão na hora do jantar. Quem diria que o
pai de Jones colocara essa casa em seu nome... claro que ele nem
chegou a conhece-la, mas mesmo assim foi uma péssima ideia. E o
fato de ela ter que ficar com a famíliade Jones por três dias, eles
não pareciam ter ficado contentes com sua chegada, aliás.
Jhuliet estava muito entediada, então resolveu sair do quarto
e dar uma volta. É claro que não iria atrás de seu marido, não outra
vez, porém ela estava com uma estranha vontade de ir aos jardim
tomar um ar. Contudo, ela já tinha sido intrometida demais, e ela
também não achava que Jones estivesse escondendo algo, ao
contrário, ele até tinha lhe dito a verdade. Mesmo assim ela não
estava indo atrás dele, não, só estava dando uma volta, e parou no
jardim por coincidência, mas também tem o fato de...
— Posso te ajudar? — perguntou uma voz masculina atrás
dela, e ela nem tinha reparado que estava andando de um lado para
o outro.
— Oh, não, quer dizer, não obrigada, eu estava indo para o...
na verdade, não.
— Você parece perdida. Julieta, não é? Esposa do Jones —
disse o homem
— É Jhuliet, na verdade.
— Perdão, se eu puder ajudar em algo...
— Na verdade, pode... Eu preciso de um lugar... para ir —
Jhuliet não sabia o que dizer.
— Isso é bem vago, não acha? — ele disse se aproximando
de Jhuliet, ele tinha os traços de Jones, o cabelo escuro, os olhos
azuis, e a altura, todos da família parecia ter um metro e noventa.
— Não posso ir no lugar que eu quero ir. Então, preciso de
uma sugestão, você...
— Victor, sou o primo de Jones... — apresentou-se ele
estendendo a mão e lhe dando um sorriso simpático.
— Você é filho do...
— Minha mãe é a Carmen...
— Oh, eu não sabia que ela tinha filho... — admitiu Jhuliet,
apertando sua mão de volta.
— Bom, eu sou filho único, depois que nasci ela nunca mais
quis ter outro.
— Você teve sorte, é filho da melhor irmã. Ah, perdão, não
quis falar mal de seus tios, mas é que a Carmem foi a mais
simpática até agora — explicou Jhuliet se arrependendo do que
disse.
— Devo admitir que minha mãe é a melhor. É, eu também
não me dou bem com meus tios — Victor revelou como se fosse
segredo.
— Você realmente parece muito com a sua mãe, só falta
andar com um cigarro.
— Minha mãe disse que, se me pegar com um cigarro, eu
vou ter uma morte bem pior do que a dela.
— Parece uma boa ameaça. — Jhuliet riu, acabara de
encontrar mais uma pessoa legal na casa, que obviamente era filho
da Carmem.
— Com certeza, ela também está louca para eu me formarna
escola e...
— Espera, quantos anos você tem?
— Terei dezoito no final do ano.
— Meu Deus, você aparenta ter a idade de Jones — opinou
Jhuliet surpresa, o garoto era maior que ela.
— O que tem eu? — perguntou Jones atrás de Jhuliet. —
Pelo jeito já conheceu meu primo favorito — disse apontando para
Victor. Ele deu um sorriso de orelha a orelha e ali que Jhuliet viu um
traço de infantilidade nele.
— Ele estava me dizendo que ele tem dezoito anos —
explicou Jhuliet se virando para Jones, ainda chocada.
— Claro que não, esse garoto tem dezessete. Final do ano,
não é? — disse Jones confirmando com o primo.
— Isso que eu disse a ela — revelou Victor piscando para
Jhuliet.
— É, está demorando muito passar, não vejo a hora dele sair
de casa — brincou Carmen chegando e empurrando o ombro do
filho. que tinha o dobro de seu tamanho.
— Mãe... — começou Victor com uma voz cansada. — Já
disse, eu nunca vou sair de casa, vou ficar lá para sempre para te
fazer companhia.
— Ótimo, fiquecom a casa, bom que eu e seu pai vamos tirar
umas férias — respondeu Carmen piscando para os dois.
— De quê? — perguntou seu filho, confuso.
— De ser pais. Bom, vamos indo, boa noite, Jhuliet, seja
bem-vinda à família— terminou Carmen, levando seu filho embora
consigo.
— Foi um prazer, Julieta — disse Victor enquanto sua mãe o
levava embora.
— É Jhuliet — corrigiu ela, porém ele já tinha ido.
— Vamos dormir, Julieta — chamou Jones, a provocando.
Os dois entraram no quarto. Jones foi para o banheiro, e ela
se lembrou que era uma cama de casal. Para os dois. Juntos. Ela
rapidamente pegou vários travesseiros e colocou no meio da cama
para dividir e se deitou em sua parte.
— Sério, Jhuliet? O que você acha? Que eu vou te atacar a
noite? — Jhuliet o olhou com os olhos semicerrados.
— Boa noite, Jones — disse Jhuliet, se virando para o lado.
— Boa sorte tentando não se afogar no próprio mar de
travesseiros.
— Obrigada. — Jhuliet sorriu com a resposta, ela sentiu ele
se deitar ao seu lado, mas mesmo com todos aqueles travesseiros
ela ainda podia sentir o calor de Jones.
Capitulo 17
Jhuliet acordou no dia seguinte com o sol em seu rosto. Ela
tampou os olhos com as mãos, já devia ser tarde, ela olhou para o
lado e Jones não estava mais lá, provavelmente já deveria ter
acordado. Ela ficou com medo de ser muito tarde e já acordar na
hora do almoço, mas olhou para o relógio de canto e marcava
7:30am, ainda era bem cedo, e o sol já invadia seu quarto. Ela se
levantou e foi se arrumar para tomar café. Quando já estava pronta
com a mão na maçaneta, parou. Ela teria que descer sozinha, e se
estivesse todo mundo reunido na sala de jantar para tomar café e
todos a olhassem com cara de desprezo? Ela abriu a porta bem
devagar, como se estivesse armando uma fuga, fechou a porta bem
devagar atrás de si e foi andando de fininho até a sala, desceu as
escadas de madeira que a cada degrau fazia um barulho de
madeira estalando. Ela finalmente estava no andar de baixo, tomou
coragem depois de ficarquase cinco minutos de costas para a porta
de sala, e entrou com toda sua coragem, porém não tinha ninguém
sentado.
— Ninguém toma café da manhã. — Jhuliet deu um pulo no
lugar. Quando ela virou. viu Victor atrás de si, e ele sorria. —
Perdão, não queria asustá-la. É que ninguém toma café da manhã
nessa casa, uma coisa que eu odiava quando vinha aqui.
— Bom, eu também costumo pular essa parte, mas hoje eu
estou particularmente com fome.
— Vem, eu te mostro a cozinha, não se preocupe, já estão
todos acordados.
— E onde estão? — perguntou Jhuliet seguindo Victor pela
casa.
— No jardim, você veio na melhor época, os jogos de família.
Uma semana inteira de competições entre tios e primos. Na
realidade é muito divertido. E essa é Rita, é a cozinheira chefe,
quando eu me mudei, ela foi a pessoa que mais senti falta.
— Ah, não seja bobo, como se você não viesse aqui toda
semana. Meu nome é Ritalian, mas pode me chamar e Rita. E você
deve ser a esposa de Jones... Ju... — começou uma mulher de meia
idade, tinha um sorriso gentil.
— Julieta... — disse Victor, Jhuliet já ia corrigir quando Rita
disse:
— Não, Jhuliet não é? — ela disse animada com a afirmação
— Sim, senhora.
— Um nome desses não é difícilde se lembrar, agora por
favor, faça uma velha cozinheira feliz e me deixem preparar seu café
da manhã.
— Seria uma honra — respondeu Jhuliet, não sabendo onde
ficar, então ficou do outro lado da mesa da cozinha.
— Sabe? Jones é um bom homem, passou por muita coisa,
meu filho. Mas fico feliz que ele tenha encontrado alguém. — Rita
sorri com sinceridade, Jhuliet percebe que tem muitas pessoas de
bem nessa casa.
— Ele... é, sim. — concordou Jhuliet sem graça. Rita fez
torradas com manteiga e omelete com frango e molho branco para
ela, e ainda fez um suco de laranja com algumas frutas que estavam
no armário. — Eu nunca comi nada igual — elogiou Jhuliet. ainda
comendo o último pedaço de omelete.
— Fico feliz de ouvir — agradeceu Rita, já lavando as
panelas.
— Você vai ter mais três cafés da manhã como estes... —
lembrou Victor, mas Jhuliet ficou séria.
— Eu fiquei sabendo da história toda —revelou Rita de onde
estava. — Mas eu sei, que você vai fazer a coisa certa.
— Obrigada, Rita — agradeceu Jhuliet sincera.
— Bom, vamos lá para fora. O campeonato já começou —
sugeriu Victor a puxando para fora.
— E como funciona tudo isso? — Jhuliet perguntou confusa
enquanto era puxada para fora.
— É bem divertido, você vai ver. — Quando os dois
chegaram o jardim, todos estavam divididos em grupos, tinha a
Barbaha provavelmente com seus filhos, o Allec com os seus, e a
Carmen sozinha com Vaiolet.
— Olha quem chegou! — exclamou Carmen, sorrindo quando
viu Jhuliet se aproximando. — Fico feliz em te ver. Seja bem-vinda
ao campeonato, é só uma coisa que meu irmãos fazem todo ano
para não se matarem até o final do ano.
— A questão é o seguinte, vamos começar, todos já estão
com suas equipes — avisou Allec do seu lado.
— Isso não é justo, eu sou a mais sensata que só tem um
filho,isso é contra as regras. — gritou Carmen e onde estava. — Eu
exijo que meus sobrinhos fiquem na minha equipe.
— Nem pensar! Meus filhos não vão sair do meu time —
retorquiu Allec no meio de seus filhos, a maioria eram homens.
— Ninguém quer seus filhos, estou falando do meus
sobrinhos Jones e Vaiollet, e Jhuliet é claro.
— Sim!! — concordou Vaiollet animada.
— Ah, por mim tudo bem — afirmou Jhuliet. — Mas e o
Jones? Onde ele...
— Por aqui está tudo resolvido, podemos começar —
interrompeu Allec, ignorando a pergunta de Jhuliet.
— Ótimo, vamos para o jardim — decidiu Barbaha e todos a
seguiram.
— Jhuliet...? — Carmen a chamou enquanto todos se
afastaram.
— Sim, Carmen?
— Tenho uma missão para você, não é fácil, mas tenho
certeza que você tem mais chance de conseguir do que eu.
— Pode dizer. — Jhuliet percebeu que Carmen estava...
estranha. Quase nervosa.
— Quero que convença Jones de participar do campeonato.
— Ah, certo...
— Sei que parece uma coisa boba, mas... e que ele
realmente não gosta. Provavelmente ele não deve ter te contado,
mas... enfim. Faça esse favor pra mim, tá legal? — pediu Carmen,
segurando seus ombros. — Ele está logo ali, no coreto. Boa sorte.
— Obrigada...? — Jhuliet ficou assustada pelo tom de voz de
Carmen. "Provavelmente ele não te contou"... contar o quê? Do que
ela estava falando? Não foi difícilachar Jones, pois realmente tinha
um coreto enorme no meio do jardim, ele era de frente para um
pequeno lago onde Jones olhava fixamente.Ele estava tão distrato
que nem viu Jhuliet se aproximando.
— Posso sentar aqui? — ela perguntou, ele só assentiu, ela
se sentou ao seu lado, não sabia o que falar.
— Vi você tomando café com a Rita — ele disse desviando o
olhar do lago.
— Ela é uma ótima cozinheira.
— Ela era a melhor parte de vir aqui, não sei se você
reparou, mas ninguém toma café por aqui, e ela ficava muito feliz
em cozinhar para mim.
— Ela parece gostar muito de você.
— Eu também gosto dela. — Ele ficoucalado de novo. Jhuliet
tinha achado fácil demais a missão de Carmen, mas depois que viu
o estado de Jones, percebeu por que tinha mandado ela.
— Então... — Jones olhou para ela, que sentiu um frio na
barriga, era muito estranho ficar nervosa só para perguntar algo
para seu marido. Chamá-lo de marido era mais estranho
ainda, até porque eles ainda eram estranhos. — Carmen me disse
para... quer dizer, eu queria...
— Não, não vou participar do campeonato — ele fechou a
cara e disse.
— Vai ser divertido, e eu nunca participei — argumentou
Jhuliet tentando parecer animada
— Fique à vontade.
— Mas eu quero que você vá comigo.
— Você quer que eu vá ou a Carmen me quer lá? — ele
questionou a olhando, ela o encarou de volta e disse:
— Eu quero você lá. Você é a única pessoa com quem eu
realmente me sinto confortável, e você sabe que sua família não é
muito receptiva, grande parte dela no caso. — Jones olhou nos
fundos dos olhos dela. Jhuliet viu alguma coisa ali, era tristeza,
arrependimento, tudo de ruim estava em seus olhos, Jones desviou
o olhar e suspirou.
— Me desculpe, mas não desde vez.
— Tem algo... que você não está me contando... — deduziu
Jhuliet, procurando seus olhos que se recusavam a olhar para ela.
— Nem tudo você precisa saber.
— Acontece que eu não sei nada, e você também não me
conta nada, e todo mundo nessa casa parece saber mais do que eu.
— Não sei o que você quer saber.
— Qualquer coisa, eu só quero não me sentir casada com um
estranho.
— Infelizmente, é isso que nós somos.
— Não precisa ser assim, se você me falasse mais de você.
— Nessa hora os dois já estavam em pé discutindo.
— Acontece que não tem nada pra você saber, e isso não é
de verdade, eu e você. Você precisava se casar e eu precisava de
um título, ótimo, você conseguiu o que queria, estamos quites. —
Jhuliet ficou sem palavras, quando Jones a olhou, ela estava
chorando, podia ver no rosto dele o arrependimento. — Jhuliet...
— Eu não me importo se é isso que você pensa, mas
estamos casados agora, você querendo ou não, eu só espero que
você não se afogue nesse poço de arrependimento que você
mesmo criou, mas você não vai me arrastar para ele. E eu não me
importo, pode ficar aí, espero que seus segredos te façam
companhia. — Jones não disse mais nada, mas também não a
seguiu. Talvez ela quisesse que ele o tivesse feito. Ela limpou as
lágrimas e correu para onde os outros estavam.
— Ele não vem — anunciou Jhuliet seria para Carmen, que
percebeu que ela tinham chorado.
— Meu bem, me desculpa, eu não devia ter te mandado ir lá,
isso é muito delicado para ele — explicou Carmen afagando as
costas de Jhuliet.
— Jones não vem? — perguntou Vaiolet, e Jhuliet negou com
a cabeça. — Se eu tivesse ido, eu o teria convencido.
— Boa sorte, então — atravessou-se Jhuliet ríspida,que para
sua surpresa fez Vaiolet rir.
— Acho que somos só nós quatro — contou Victor.
— Acha que temos chance? — perguntou Jhuliet.
— É claro que não, você está olhando para os maiores
ladrões da família — revelou Carmen.
— Atenção, já que estão todos aqui, vamos começar com a
corrida em volta dos arbustos — explicou Allec. — E para humilhar
os mais jovens, vamos começar com os melhores tios.
— Essa não! — exclamou Carmen se aproximando também
do meio do jardim.
— Ainda bem que todos nós estamos cheios de saúde, não
é, Carmen? — ironizou Barbaha entrando em posição para começar
a correr.
— É como dizem, a cobra não morre com o próprio veneno
— retrucou Carmen se preparando para correr.
— Preparar!! — começou Mermaid — Três... dois... um... Já!
Nessa hora os três começaram a correr. Barbaha nem
parecia que estava de vestido, pois o colocou para cima e correu,
era tão rápido que até ela até se perdeu de vista. Eles tinham que
chegar do outro lado dos arbustos, pegar a faixada cor de seu time
e voltar pelo mesmo caminho.
Allec chegou primeiro com a faixa verde, logo depois Barbaha
com a vermelha, e depois de bastante tempo chegou Carmen, sem
nada nas mãos.
— Muito engraçado, não tinha nada lá — revelou ela,
voltando com a mão na cintura.
— Tenho certeza que você quem não a encontrou — deduziu
Barbaha, rindo.
— Tio Allec ganhou a primeira prova.
— Agora entendi o "melhores ladrões da família",isso é trapaça
— opinou Vaiollet quando Carmen voltou.
— Tudo bem, querida, isso é um jogo, e para ser divertido.
Vamos acabar com eles na próxima. Vai, amarelo!!! — gritou
Carmen juntando as mãos de todos e jogando para cima, todos
riram dela.
Por enquanto Jhuliet estava gostando bastante, teve o jogo de
acertar a laranja em um cesto há quatro metros de distância, onde
foi a vez de Victor, que toda vez que ia acertar, um dos filhos de
Allec mirava na laranja dele e ele acabava errando. Certa hora um
dos filhos de Allec jogou a laranja e acertou Victor uma na cabeça
dele.
— Desculpa, cesto vazio errado.
Jhuliet percebeu que não era de agora que Vaiolet estava
estranha, estava receosa, olhando para todos os lados, e sempre
olhava bem disfarçado para uma pessoa. Era o filho do Allec, alto,
cabelo castanho, olhos verdes, e ele não parava de olhar Vaiolet
também.
— Vaiolet? — Ela deu um pulo quando Jhuliet a chamou. — Está
tudo bem? Você está inquieta.
— Eu? Não, parece? Não estou, só nervosa se a gente vai
ganhar ou não.
— Vaiollet, se estiver acontecendo alguma coisa, pode me
contar, tá bom? Eu sou uma boa ouvinte, e sei guardar segredos...
— Por um instante, Vaiolet pareceu que ia falar alguma coisa, mas
quando Barbaha anunciou outro jogo, ela se afastou.
— Agora é a hora do labirinto, que não serve para nada, a não
ser para se perder. Dessa vez vai ser um contra um. Jeffrey, sua
vez. É quem ainda não foi? Vaiolet? Vamos?
Vaiolet a olhou assustada, quase em pânico, Carmen a incentiva
a ir, ela olhava para Jhuliet apavorada, era isso, Jeffrey era o
problema, ele fizera algo com Vaiolet, Jhuliet tinha certeza.
— Eu também não fui, então vou com Vaiolet, até porque não é
justa deix- la ir sozinha com ele — Jhuliet afirmouencarando Jeffrey,
que fica visivelmente irritado.
— Você não pode fazeristo, está nas regras que no labirinto só
podem dois de cada vez — argumentou Jeffrey, rangendo os
dentes. Naquele momento Jhuliet sabia que não podia deixar Vaiolet
sozinha com ele.
— Eu posso, eu tenho esse direito, algum problema, Barbaha?
— Jhuliet perguntou olhando para Barbaha que engole em seco.
Eles sabiam que a decisão da casa estava em suas mãos, ninguém
ousou contraria-la.
— Claro que não. Vamos começar. — Jhuliet segurou a mão de
Vaiolet e disse:
— Vamos fazer isso juntas, certo?
— Certo. — Vaiollet parecia muito mais confiante agora.
— Três... dois... um... já!
Nesse momento Jeffreysaiu correndo pelo labirinto, Jhuliet ficou
de mãos dadas com Vaiolet o tempo todo, cada um entrou por uma
entrada diferente.
— Sabe como isso funciona? — perguntou Jhuliet sem saber
para onde ir.
— Tive uma ideia, abaixa.
— O quê?
— Só abaixa. — Jhuilet se abaixou e Vaiolet sentou em seus
ombros. — Agora levanta. — Vaiolet conseguia ver tudo ali de cima,
principalmente a saída.
— Sua espertinha, isso é trapaça, você é igualzinha à sua
família.
— Não se exclua, você também é da família.— Jhuilet sorriu e
Vaiolet a orientou para onde ir.
— Siga em frente, agora entra pela esquerda, vire à direita, vai
reto, isso, isso, eu estou vendo a saída agora, só temos que...
Nesse momento Jhuliet sentiu alguém lhe empurrar e ela caiu no
chão. Ela antes bateu na parede de arbustos, então sentiu muita dor
no braço. Ela tinha caído em cima do próprio braço. Ela escutou o
grito de Vaiolet a chamando, e ele ficava cada vez mais baixo.
Jhuliet viu que estava na frente da saída. Provavelmente Jeffrey já
tinha saído, por isso tinha lhe empurrado. Contudo, ela viu que a
faixa verde do time de Allec ainda estava na frente, então Jeffrey
não tinha corrido para a saída, e sim ele tinha pego Vaiolet. Jhuliet
gritou por Vaiolet, mas ela já tinha parado de gritar. Jhuliet entrou
em pânico e começou a escalar as paredes de arbustos. Seus
braços ficaram todos machucados, no entanto, na adrenalina de
achar Vaiolet, ela nem sentia dor mais. Ela conseguiu subir e viu
Vaiolet no chão logo atrás da parede que ela estava, e em cima de
Vaiolet estava Jeffrey, segurando seus braços. Jhuliet sentiu um
ódio que se jogou lá de cima e voou no pescoço de Jeffrey, que,
com o susto, saiu de cima de Vaiolet, que começou a chorar e ficou
encolhida no canto.
— O que você pensa que está fazendo? — ela disse em cima
dele.
— Isso não é problema seu! — ele respondeu, empurrando
Jhuliet no chão e se levantando.
— Você viu que ela não queria, por que não soltou ela? —
Jhuliet questionou, apontando para Vaiolet, que estava encolhida no
chão
— Você não sabe o que está falando! Ela fica me olhando o dia
todo, ela não é tão inocente assim.
— Se você encostar a mão nela de novo, eu... — ameaçou
Jhuliet, sentindo seu sangue ferver. Vaiolet ainda era uma criança, e
ele parecia ter a idade de Jhuliet, talvez até mais.
— O que você vai fazer? — Antes de Jhuliet pensar em fazer
algo, Vaiolet a segurou forte.
— Jhuilet, para, por favor, não vale a pena — comentou ela
olhando com olhos suplicantes para Jhuliet.
— Isso não vai ficar assim. Não vai... — prometeu Jeffrey indo
embora.
— Se ele voltar, eu... — Jhuilet não conseguiu terminar, pois
Vaiollet a abraçou e começou a chorar. Jhuliet chorou junto porque,
agora que a adrenalina acabava, ela sentia seus cortes pelas mãos.
As duas caíram no chão. Jhuliet ficou abraçada com Vaiolet até ela
se acalmar. — Se quiser me contar o que aconteceu...
— Vamos embora. — pediu Vaiollet se levantando.
— Não, não fazisso, não guarda isso tudo para você, eu sei que
é ruim, mas guardar isso para você é pior. Eu vou contar a minha
história, e se você quiser contar a sua... — Vaiollet parou, mas
também não se virou. — Quando eu era uma garotinha, eu tinha um
amigo mais velho, eu devia ter no máximo meus nove anos, e ele já
tinha dezoito. Ele estudava com meus irmãos, então sempre ia lá
em casa, e meus irmãos nunca me deixaram sozinha com ele, e eu
confiavanele, mas fui muito tola... meus irmãos e meu pai saíram e
me deixaram com a governanta, e ela saiu porque não tinha mais
açúcar, e a venda mais próxima ficava a meia hora de casa. Ela
perguntou se eu ia ficar bem, eu disse que sim e ela foi. Dois
minutos depois alguém tocou a campainha, e eu sabia que jamais
deveria abrir a porta sem ninguém em casa, porém era ele, o meu...
amigo. Ele pediu para entrar... — Jhuilet começou a chorar. Vaiolet
se aproximou e segurou as mãos de Jhuliet. — Ele me comprou um
vestido, e pediu para eu experimentar, mas ele queria... queria que
eu trocasse de roupa na frente dele... mas eu não queria, e ele disse
que ia ficar muito triste se eu não fizesse, então pediu para me
trocar de costas... e eu me troquei, e eu ouvi umas coisas...
estranhas... e quando me virei ele estava com as calças abertas e a
cabeça recostada no sofá,ele estava sorrindo. E disse que eu fiquei
linda. Eu me senti... péssima. Ele disse que era para guardar
segredo, porque ninguém entenderia. Eu não contei pra ninguém,
por muito tempo, mas eu fiquei muito estranha, muito quieta, depois
descobriram, meus irmãos queriam matá-lo, e quase o fizeram, mas
ele foi embora de Londres. Vaiolet, foi horrível, mas contar sobre
isso... é libertador.
— E tudo minha culpa — começou Vaiollet de cabeça baixa.
— Vaiolet, não....
— Ele tem razão, minhas amigas acharam Jeffrey muito bonito, e
eu menti falandoque ele era meu namorado, meu pai me trazia aqui
de vez em quando, tia Carmen que cuidava de mim. Um dia uma de
minhas amigas disse para Jeffreyque eu gostava dele e que queria
ser sua namorada. E uma noite ele entrou no meu quarto, e
começou a me beijar, eu tentei empurrar ele, mas ele disse que era
isso que eu queria, então eu gritei, e... Allec me viu... nos viu ali. Ele
abriu a porta, e disse que era para Jeffreyir embora, e ele disse que
eu devia ter vergonha e foi embora. Foi minha culpa, eu inventei
essa história toda, ele não tem culpa de...
— Vaiolet, Vaiolet, me escuta. A culpa é dele, sim, não importa
se você inventou ou era verdade, se você disse não, ele não devia
ter continuado, e o pai dele é outro pior! Vaiolet, não conviva com
essa culpa, não vale a pena, ninguém tem o direito de te tirar essa
paz. Me escuta... — Jhuilet disse para Vaiolet olhar para ela. —
Você não está sozinha nessa, temos uma a outra, e eu vou te
proteger de tudo que estiver ao meu alcance, e o que não estiver
também.
Vaiolet abraçou Jhuliet. Elas resolveram voltar para fora, em
nenhum momento Vaiolet soltou a mão de Jhuliet. Todos ficaram
preocupados, pois ela estava com seus braços arranhados.
— A gente vai voltar para dentro para cuidar disso — avisou
Vaiolet puxando Jhuliet para dentro. — Por favor, não conta nada
para meu irmão.
— Vaiolet, isso é muito sério, ele é seu primo e mora aqui....
— Por favor, não sei o que Jones poderia fazercom Jeffrey. Por
favor, Jhuliet, me prometa que não vai contar nada — pediu Vaiolet
olhando em seus olhos.
— Eu prometo.
— Meu Deus, o que aconteceu com você....? — perguntou Jones
vendo ela toda arranhada.
Porém Jhuliet notou que ele estava todo molhado.
— E o que aconteceu com você? — ela perguntou se
aproximando dele.
— Eu perguntei primeiro. Vaiolet, tem como nós deixar sozinhos?
— Jones pediu olhando para Vaiolet, que ainda estava de braços
dados com Jhuliet.
— Jhuilet precisa de cuidados, você vai brigar com ela! — disse
Vaiolet se colocando na frente de Jhuliet.
— Eu sei, e eu prometo cuidar muito bem dela — afirmou Jones
olhando para Jhuliet.
— Se ele fizer alguma com você, ele vai se ver comigo —
ameaçou Vaiolet e voltou para dentro. — Alias, Jhuliet, obrigada por
tudo — disse Vaiolet antes de sair.
— O que fez com ela? — perguntou Jones.
— E melhor perguntar, o que ela fez comigo.
— Tem algo para me contar, Jhuliet? — continuou Jones,
estreitando os olhos.
— Não, e você? — ela disse devolvendo a pergunta no mesmo
tom.
— Na verdade, eu tenho. Vem, está na hora de saber algumas
coisas — pediu Jones estendendo a mão para Jhuliet. — Confia em
mim? — Jhuilet pegou a mão dele e disse:
— Jamais. — Rindo, mas sabia que na verdade confiava mais do
que deveria.
Capitulo 18
Jones pegou na mão de Jhuliet e começou a andar, ele não
tinha um lugar específicoaonde queria ir, só queria andar até ter
coragem o suficiente para lhe contar a verdade.
— Estamos no caminho certo? — Jhuliet perguntou, meio
com receio.
— Claro... por que a pergunta?
— Bom, já passamos na frente dessa árvore umas quatro
vezes. — Jones parou e suspirou, então soltou a mão de Jhuliet.
— Vamos ficar aqui mesmo, pode ser? — ele pediu, se
sentando no chão, de costas para a árvore e de frente para o lago.
— Tudo bem — Jhuliet concordou e se sentou em seu lado.
Ele ficou quieto por vários minutos, não tinha um jeito fácil de falar
isso, e ele nunca precisou falar sobre isso. — Olha, eu não queria te
pressionar a contar nada que não queira, eu entendo que tem
coisas que a gente quer esquecer que aconteceu e...
— Não, está tudo bem, é só que... eu nunca contei isso pra
ninguém e...
— Não precisa me contar se não quiser... não, agora... —
disse Jhuliet segurando sua mão, seu olhar era tranquilizador.
— Tudo bem... — Jones suspirou como se um peso tivesse
sido tirado de suas costas.
— Só me responda uma coisa... por que você está molhado?
— Jones estava encharcado desde que encontrou Jhuliet com
Vaiolet.
— Eu estava... no lago.
— Nadando a essa hora?
— Não exatamente... na verdade tudo tem relação com o que
eu devia te contar. Na verdade é sobre a minha mãe...
— Entendo, eu não sei nada dela, pra ser sincera, nem muito
sobre a minha...
— Sim, ela... o que quer dizer? — Jones perguntou confuso.
— Minha mãe morreu quando eu era pequena — Jhuliet
explicou dando um sorriso triste.
— Bom, a minha também. — Jones sorriu por algum motivo
estranho, mas ele estava conseguindo contar de pouco a pouco.
— Quantos anos você tinha? — Jhuliet perguntou, pegando
uma pedrinha que estava do seu lado e jogando no lago de modo
descontraído.
— Não me lembro muito bem, acho que uns catorze...ou
quinze anos.
— Então você se lembra bem dela... — Jhuliet afirmou, mas
ele não disse nada. Infelizmente ele lembrava muito bem dela,
pensou ele consigo mesmo. — Eu mal me lembro da minha. Ela
morreu quando eu tinha dois anos, não foi um choque, todo mundo
já esperava.
— O que quer dizer?
— Bom, você já sabe que eu tenho três irmão homens. Eles
têm pouca diferença de idade. Acontece que minha mãe sempre
quis uma menina, e ela realmente ia parar no Huldim mas... era o
sonho dela, mas, quando ela ficou grávida do terceiro, que foi
Matthew, já foiuma gravidez de risco. Ela ficoumuito arrasada, quer
dizer, era o que Huldin falava, ele é o mais velho, ele viu tudo. Então
ela ficou muito feliz quando descobriu que estava grávida de novo.
Mas o médico disse que ela tinha 80% de chance de não sobreviver
no parto, meu pai não aceitou de jeito nenhum, mas minha mãe
sentia que dessa vez ia ser uma menina. Então ela foi até o fim, e
durante toda a gravidez meu pai a convenceu a mudar de ideia. Mas
é claro que ela estava animada demais para voltar atrás. Então... eu
nasci. E tudo ocorreu bem, minha mãe ficou normal... por uns anos.
Mas... depois que eu fizdois anos, minha mãe piorou, vivia doente,
vomitava, e nunca comia, ela ficou assim por um mês, e depois ela
morreu.
— Eu sinto muito... — lamentou Jones olhando para ela.
— Tudo bem. Mais tarde eu descobri que ela fez uma
escolha, o médico disse, ou ela, ou eu. Bom, se eu estou aqui você
já sabe a escolha. Mas meu pai com certeza teria uma escolha
diferente, ele não falou comigo por anos, só o mínimo, me deixava
cuidar das finanças da casa só para não precisar falar comigo.
Quando ele estava doente, ele se recusava a aceitar que eu
cuidasse dele. Foram tempos difíceis,mas... meus irmãos foram os
melhores pais que alguém podia ter, eles são super protetores, sim,
mas... foi para o meu bem.
— Eu... nem sei o que dizer.
— Quero ver sua história superar a minha — Jhuliet disse
brincando empurrando o ombro de Jones, mas ele ficou sério e
disse:
— Minha mãe morreu quando eu era mais novo, eu estava no
lago, eu era o melhor nadador da família,mas minha mãe nunca
soube nadar. Um dia ela estava no jardim e eu estava nadando no
lago que tínhamos. E eu estava tentando chamar a atenção da
minha mãe, pois desde que Vaiolet nasceu não sobrava muita
atenção para mim. Então eu fingi que estava me afogando, e minha
mãe ficou desesperada e veio atrás de mim, mas ela não sabia
nadar e era muito fundo, e ela estava se afogando... na minha
frente... e eu não consegui tirá-la dali, era muito pesada e eu... era
pequeno. — Jones parou de falar e ficou com a cabeça baixa,
relembrar daquilo depois de tanto tempo era difícil.Jhuliet segurou
sua mão, o encorajando a continuar. — Mas a Carmen me disse
uma coisa: tem pessoas que vão se afogar mas vão te puxar junto,
e por mais que você tente salvá-las, elas só vão te levar para o
fundo do mar. Então eu... saí da água... eu ia buscar ajuda, mas eu
estava assustado e com medo, eu só... vi ela se afogare afundarno
lago. Meu pai chegou e tirou minha mãe dali, eu desmaiei e por
muito tempo não me lembrava de nada. Mas todas as noites eu
tinha pesadelos, meu pai me acusava todos os dias de matar minha
mãe, e de vê-la morrer sem fazer nada. Ele dizia que Vaiolet ia
crescer sem uma mãe por minha culpa. Então eu saí de casa e só
voltei agora... eu nunca mais cheguei perto de um lago... até hoje.
— E como foi...voltar?— perguntou Jhuliet pegando na mão
de Jones.
— Horrível...eu vi minha mãe, lá no fundo, ela pedia ajuda...
e eu nadava, mais fundo e mais fundo ela estava. Chegou um
momento em que eu não consegui voltar para margem, ela disse
que era para eu ficar com ela dessa vez. — Jones olhou para
Jhuliet, que estava com os olhos cheios de lágrimas, mas ainda
segurava sua mão. — Mas aí eu lembrei de você... e eu consegui
nadar de voltar. Jhuliet, você salvou minha vida.
— Eu não fiz nada — ela riu ainda chorando.
— Jhuliet, eu...não tinha motivos para ficar, eu fizisso com a
minha mãe, eu devia estar no lugar dela...
— Jones, não foi sua culpa....
— Não, não, não importa. Nada que você falar vai fazer eu
me perdoar, eu devia ter ido no lugar dela, mas... quando ela me
chamou, eu vi seu rosto, e eu queria... tentar dar certo. Por favor,
Jhuliet, me deixa tentar ser o melhor marido que você nunca teve,
porque eu fui um péssimo filho para minha mãe, um péssimo irmão
para Vaiolet, e um péssimo amigo para Ravel, péssimo em tudo que
eu faço. Mas eu te prometo... — Jones pegou as mãos de Jhuliet e
as levou até a boca. Ele chorava, mas estava o tempo todo olhando
em seus olhos, Jhuliet sentiu o calor daquelas palavras. — Eu
prometo que eu não vou ser um péssimo marido para você. — Ele
não pode terminar pois Jhuliet se aproximou e o beijou, ninguém
nunca a olhou como ele a olhara então, e ela sentiu como se fosse a
coisa mais preciosa do mundo. Ela queria dar tudo de si, toda sua
alma e seu coração para ele, ela sabia que ele só queria se redimir
e acabar com essa culpa que carregava, mas ela estava começando
a ter certeza de uma coisa que não queria admitir para si mesma. O
beijo tinha um gosto salgado das lágrimas de Jones. Ele a segurava
com força e a beijava como nunca fora beijada antes, ao mesmo
tempo que era firme, era delicado. Eles só se separaram porque
faltou ar.
— Eu não... — Jhuliet começou o que nem sabia direito que
ia dizer.
— Não... só vamos ficar aqui... pra sempre.
— Não tem como... — comentou Jhuliet, muito feliz, seu
coração podia sair do peito e dançar valsa na grama.
— Então vamos ficar aqui... pra sempre. Até o dia acabar.
— Quer saber... — começou Jhuliet encostando a cabeça no
ombro de Jones. — Eu acho uma ótima ideia.
Eles ficaram vendo o sol se pôr no lago. Jones podia jurar
que nunca tivera momentos tão especiais ao lado de alguém, e ficou
feliz por ser Jhuliet essa pessoa.
— Quer saber, até que o inferno não é tão ruim — opinou
Jones. Jhuliet riu, e ele podia garantir que não tinha música mais
bonita do que a risada de sua esposa.
Capitulo 19

Jhuliet e Jones só voltaram para dentro à noite, pois ficaram


vendo o pôr do sol e conversando sobre nada importante, e ela
descobriu que seu caféda manhã favoritoeram torradas com geleia
de morango e que ele gostava mais de cachorro do que gato. Sua
comida favoritaera qualquer coisa com macarrão e que ele amava o
verão. Jhuliet ficou feliz com algumas informações sobre marido,
depois daquele dia ela se sentia muito mais tranquila e feliz. Assim
que ela entrou com Jones, Vaiolet olhou para ele com cara feia e
chamou Jhuliet para seu quarto.
— Eu sabia que ele não ia cuidar de você — argumentou
Vaiolet, passando algo no algodão e depois passando nas mãos de
Jhuliet, que arderam na hora da aplicação. — O que vocês fizeram
lá fora?
— Ficamos conversando — respondeu Jhuliet.
— Você ama ele? — Jhuliet engasgou com a pergunta. Ela
amava Jones? Ela sabia que gostava muito dele e de sua
companhia, mas era amor?
— Eu... quer dizer... como saber se a gente ama alguém?
— Ouvi falar uma vez que, quando se ama, você sabe
porque não há dúvidas e nem hesitação.
— Quem te disse isso?
— Philip.
— Vocês parecem ser bastante amigos...
— Somos, ele e meu irmão... bem... é complicado, mas
posso dizer que ele é ótima pessoa.
— Sim, imagino. Você conheceu a esposa dele? —
perguntou Jhuliet, ela ficou quieta por uns instantes, mas depois
apenas assentiu. — É uma pena, você sabe de que ela morreu?
— Ela já estava doente.
— Philip deve ter ficado arrasado.
— Sim, ele não saiu de casa por um ano inteiro, eu não o via
mais, somente daquela vez que você também o viu.
— Deve ter sido horrível.
— Eu posso te contar uma coisa? — perguntou Vaiolet
enquanto passava algo no pulso de Jhuliet
— Claro...
— Bom... tem um garoto... ele é mais velho, mas ele está na
minha classe de música.
— E... você gosta dele?
— Mais ou menos, ele é bem bonito, sabe, e todas as outras
garotas estão também estão interessadas nele, mas ele não dá
atenção pra nenhuma, ao contrário, trata mal todas elas... é
realmente um comportamento péssimo, mas não consigo tirar ele da
cabeça.
— E ele te trata mal também?
— Na verdade nunca nos falamos, mas ele é demais pra mim
de qualquer forma.
— O que quer dizer?
— Bom, ele é bonito, inteligente, ele vai ser um duque um
dia, enfim, acho que ele é demais pra mim.
— Isso não são qualidades suficientes pra não merecer
alguém. Beleza vai acabar, sempre vai ter alguém mais inteligente
que você, e título não define o que você é. Sabe o que é mais
importante? O que supera todas essas coisas? — perguntou Jhuliet,
Vaiolet a olhou curiosa. — Isso aqui — disse e apontou para o
coração de Vaiolet. — O que você é por dentro, como você trata as
pessoas, como você vê o mundo, isso que tem dentro de você
ninguém pode roubar e não acaba com o tempo. Então se ele não é
uma boa pessoa, nada dessas qualidades vale a pena.
— Acho que você tem razão. Obrigada, sabe... eu não tenho
ninguém pra conversar sobre essas coisas...
— Pode falarcomigo quando quiser, como se eu fossesua....
— Irmã mais velha! — confirmou Vaiolet, Jhuliet riu e disse:
— Eu ia dizer amiga, porém fico feliz por você achar isso.
— Pronto, agora vá tomar um banho — pediu Vaiolet,
terminando o curativo na mão de Jhuliet.
— Ah, eu tenho mesmo? — lamentou Jhuliet já pensando na
dor que vai sentir quando a água quente batesse em sua pele.
— Nada vai doer mais do que o bálsamo que eu passei.
— Vou ser obrigada a concordar — afirmou Jhuliet saindo do
quarto.
— Jhuliet? — Vaiolet a chamou quando ela já estava na
porta.
— Sim?
— Boa noite — desejou Vaiolet deitada em sua cama.
Naquele momento Jhuliet se viu ali, com dezesseis anos, na
primeira vez que seu pai lhe disse boa noite, ela respondeu e logo
após ele ficou doente, ela e Vaiolet tinham uma coisa em comum,
ambas cresceram sem a mãe.
— Boa noite, querida. — Jhuliet saiu do quarto de Vaiolet e
levou um susto ao ver Jones recostado na parede. — Por Deus, que
susto!
— Estou arrasado, você é uma melhor irmã do que eu —
confessou ele com a mão no coração fingindo desapontamento.
— Tenho três irmão, eu aprendi a ser. — Ela se recostou ao
seu lado.
— Fico feliz que você está se dando bem com Vaiolet. Pelo
menos ela está se abrindo com alguém.
— Ela é muito especial, me lembra eu mesma menor.
— Porém seus irmãos não te abandonam quando era
pequena.
— Você deve ter tido seus motivos.
— Motivos não são explicações.
— Sabe o que eu acho? — Jhuliet disse se virando para
Jones, ele estava com um olhar bem longe, mas ainda a estava
ouvindo
— Não sei se quero saber.
— Vou falar assim mesmo. Você acha que magoou todo
mundo, que todos têm rancor de você, mas a verdade é que você
que não consegue se perdoar e não acha que merece perdão,
mas... não é você quem decide isso. Eu tenho certeza de que
Vaiolet não te odeia por isso, um dia ela vai te perdoar...
— Mas minha mãe não teve essa chance, eu sei que ela
nunca me perdoou...
— Uma mãe não consegue guardar rancor de um filho. Eu
espero que um dia você possa se perdoar, só assim alguém vai
conseguir perdoar você.
— Eu detesto ter uma esposa tão sincera — ele disse ainda
de olhos fechados.
— Não disse nada que você já não soubesse.
— Não, não disse. Eu vou dar uma volta... eu te encontro lá
dentro
— Precisa de companhia? — perguntou Jhuliet enquanto via
Jones se afastar.
— Não, já estou acostumado.
Jhuliet não queria, porém seu corpo foi atrás de Jones
sozinho. Ele estava no jardim, sentado no banco olhando o céu, que
particularmente estava estrelado e a lua iluminava todo o jardim.
Aparentemente ele não a tinha visto, mas Jhuliet notou que ele
olhava fixamentepara algo em suas mãos: era uma foto. Ela tentou
se aproximar mais para ver de quem era. Era uma mulher, podia ser
a mãe dele, pensou, contudo não parecia com ele. Jhuliet não
acreditou, mas ela parecia muito com Diana, só que morena e mais
nova. Quando ela olhou para o lado viu mais três pessoas na foto,
uma era Diana certeza, outro era Philip, no entanto parecia mais
jovem, Jones no meio, e ele estava de terno, e essa mulher estava
de vestidos de noiva, e segurava o braço de Jones como se
estivessem acabado de se casar. Não era possível, Jones já fora
casado? Assim que ele voltou para o quarto algumas horas depois
ela o viu colocar a fotodentro de um envelope e enfiarna gaveta da
escrivaninha.
Assim que ele deu o primeiro ronco ela se levantou e pegou a
foto lá de dentro, e saiu do quarto para ver melhor. A mulher da foto
de vestido de noiva era muito parecida com Diana, quase como se
fossem...
— O que faz aqui? — Jhuliet levou um susto quando viu
Vaiolet no final do corredor.
— Eu estava sem sono, e você? — perguntou Jhuliet
tentando esconder a foto atrás de si.
— Eu fui na cozinha, o que é isso atrás de você? — Vaiolet
viu a foto em suas mãos.
— Eu achei no chão do quarto, sabe quem são? — perguntou
Jhuliet mostrando a foto para Vaiolet.
— Oh, esse é o Philip, sua esposa, a irmã dela e Jones.
— Não sabia que Philip era casado com Diana.
— Nunca foi. — Vaiolet apontou para a mulher de vestido de
noiva. — Ela é a falecida esposado Philip. E Diana é a irmã dela.
— Espera... e por que a esposa de Philip está de vestido de
noiva? Essa é foto do casamento deles? — perguntou Jhuliet
olhando melhor a foto.
— Ah... Jones vai ficar furioso se eu contar... — Vaiolet
parecia receosa em continuar.
— Por favor, eu não irei contar para ele.
— Bom, ela chama Vaioline, ela foi noiva de meu irmão por
um tempo, se não me engano essa foto foi um dia antes do
casamento dela com meu irmão, como se fosse a prova de vestido,
porém no dia do casamento ela não apareceu... e nem Philip. Eles
tinham fugidopara se casar, é por isso que meu irmão não falamais
com Philip. Eu fui no casamento deles, foi uns anos depois, meu
irmão voltou e apareceu por lá, fezo maior escândalo, que os pais
que Philip tiveram que tirá-lo de lá. Diana é a irmã de Vaioline, ela
também não apareceu no casamento, ela falava coisas horríveis
sobre sua própria irmã, e ela nunca se deu bem com Philip, agora
muito menos. Mas, por favor, não fale nada com Jones, ele odeia
falar sobre essas coisas.
— Obrigada por me contar, eu não sabia que Philip tinha feito
isso, agora entendo por que Jones não me quer ver perto dele.
— Não o leve a mal, Philip se arrepende de ter feitoisso, mas
como ele mesmo diz, o amor mexe com a cabeça da gente, no
fundo sei que ele é uma ótima pessoa. Quando meu irmão foi
embora, Philip sempre vinha me visitar, perguntar como eu estava,
foi como um irmão pra mim, e Philip sempre defendia meu irmão.
— Você... guarda algum rancor de seu irmão?
— Hoje eu entendo que também foi muito difícilpra ele, mais
pra ele do que pra mim, mas eu senti a falta dele, quase o tempo
todo. Só que é mais fácil culpar alguém do que assumir as coisas,
por isso eu o culpo, mas ele mesmo já assume a culpa — ela
confessou rindo e se afastando.
Jhuliet voltou para o quarto e pensou em colocar a foto no
lugar, entretanto vê Jones acordado e a esconde atrás de si.
— Achei que estava dormindo — comentou ela andando
virada contra a parede para Jones não ver a foto.
— Estava... — Ela viu ele mexendo em tudo, e a gaveta onde
estava a foto estava aberta. — Procurando alguma coisa? — ela
perguntou enquanto se sentava na cama e colocava a foto atrás de
um travesseiro.
— Uma coisa, mas acho que coloquei no lugar errado.
— Quer ajuda para procurar?
— Não, não é nada demais.
— Se não fosse você não estaria procurando assim — Jhuliet
disse, já zangada, estava óbvio de que ele não queria que ela
soubesse da foto.
— Quer saber? Tem razão, vou voltar a dormir. — Ele se
deitou ao seu lado e olhou para ela.
— Algum problema? — ela perguntou, nervosa, achando que
ele tinha descoberto a foto atrás de si.
— Sem paredes de travesseiros hoje? — ele perguntou em
tom irônico.
— Hoje você é um homem livre — ela disse se virando
— Oh, quanta consideração — ele respondeu.
Jhuliet se virou pois estava com três travesseiros e sabia que
não ia conseguir tirar um sem a fotoque não devia ser revelada. Ela
não sabia o que iria fazercom ela, mas desconfiavade que, se não
a tivesse descoberto, seu marido não a teria mostrado tão cedo.

Jones não podia acreditar que era seu último dia naquela
casa, três dias pareciam três anos, e tanta coisa aconteceu que ele
realmente achou que tivessem sido anos que estava lá. Primeiro
que ele falousobre sua mãe com Jhuliet, sendo que ele nunca tinha
conversado sobre isso com ninguém. Depois. Jhuliet estava se
dando muito bem com sua irmã, até melhor que ele, e agora ele
tinha acordado super estressado, pois havia perdido a única foto
que ele tinha de Vaioline. Não faziaideia de onde tinha colocado, e
ele também não queria questionar Jhuliet sobre a foto porque não
saberia explicar o porquê de ainda ter aquela foto, e nem explicar
todo o resto. Mas com certeza, conhecendo sua esposa, ele sabia
que se ela quisesse saber se algo, ela perguntaria, e se ela
estivesse encontrado com certeza ela já teria vindo questioná-lo
sobre ela.
Porém, seu comportamento naquela manhã o fezquestionar
isso. Ela estava super irritada com tudo, mal olhava para ele e muito
menos lhe dirigia a palavra. Ele achou que era culpa dos hormônios
femininos, todavia, quando viu ela conversando normalmente com
todos da casa, ele percebeu que o problema era com ele. Assim que
ele conseguiu ficar sozinho com ela na mesa de jantar, ele
perguntou:
— Aconteceu alguma coisa? — Ela nem ao menos o olhou
para dizer....
— Não.
— Então definitivamente aconteceu algo.
— Por que acha isso?
— Porque você nem me olha para falar comigo e qualquer
coisa que eu digo parece que explode algo dentro de você. —
Jhuliet o olhou, mas logo após fixou os olhos em seu café da
manhã.
— Não sei o que quer dizer.
— Achei que você queria sinceridade nesse casamento.
— Eu quero, mas será só eu que não estou sendo sincera?
— Ah, ótimo. O que eu fiz dessa vez? — perguntou Jones
largando os talheres no prato.
— Por quê? Você fez alguma coisa?
— Por que não paramos com os joguinhos e me diz logo o
que você quer saber? — Jhuliet ficou em silêncio por um bom
tempo, como se estivesse pensando no que perguntar.
— Por que eu não posso andar com Philip? — Jones ficou
furioso só de ouvir o nome de Philip.
— Por que você quer andar com ele?
— Eu perguntei primeiro!
— Não temos um bom passado juntos — disse somente.
— Você não tem um bom passado com ninguém. — Jones ia
falar algo, porém desistiu, não tinha como argumentar. — O que
exatamente aconteceu entre vocês?
— Você não pode simplesmente... ficar longe dele? —
perguntou Jones passando a mão nos cabelos, sempre fazia isso
quando estava começando a ficar nervoso.
— Eu preciso de um bom motivo, e não simplesmente porque
meu marido mandou. — Ela repetiu a palavra "mandou" com ironia.
— Nós tivemos um desentendimento no passado, e eu achei
melhor não nos vermos mais.
— Só isso?
— Só isso que você precisa saber, eu não me importo se
você quiser conviver com ele, não posso te obrigar a se afastar de
alguém, só quero que saiba que eu não concordo e não apoio, ele
não é uma pessoa confiável.
— Sua irmã não acha isso. — Jones sabia que ela o estava
provocando, e ele também sabia que ela estava conseguindo.
— É complemente diferente, Vaiolet é como uma irmã pra
ele.
— Então o problema é comigo?
— Não vou discutir isso com você. Meu passado importa
tanto assim pra você? É tão difícilgostar do que eu sou hoje?
Porque se o que eu sou hoje não te agrada, eu duvido que meu
passado vá te fazer mudar de ideia.
— Não... não foi isso que eu quis dizer...
— Você devia arrumar suas malas, os advogados vão chegar
em breve, quanto mais rápido você terminar com eles, mais rápidos
vamos ir embora.
— Jones... — ela o chamou porém ele não se virou. — Eu
não quis dizer que eu não gosto de quem você é agora...
— Está tudo bem, é difícil fazer alguém gostar de você
quando você mesmo se odeia, não se preocupe com isso.
Jhuliet disse algo, mas Jones já tinha saído da sala.
Enquanto ele arrumava as malas, Carmen entrou em seu quarto,
sem bater é claro.
— Parece que é o fim — ela anunciou, se sentando na beira
da cama.
— Finalmente, não aguentava ficar nem mais um minuto
nessa casa.
— Ah, por favor, não foi tão ruim assim.
— Tem razão, foi pior. — Ele e Carmen riram.
— Eu vi você e sua esposa discutindo.
— É o que fazemos de melhor. O quanto você ouviu?
— Eu cheguei no início, e fiquei até o final.
— Adoro a privacidade que temos aqui.
— Ela parece realmente gostar de você. — Quando Jones
não respondeu, ela contou. — É tão difícilassim achar que alguém
gosta de você, Jones?
— Precisa que eu responda?
— Quer um conselho?
— Na verdade não, mas você vai dar assim mesmo.
— Você devia ser mais sincero com sua esposa. Você devia
mostrar todos os seus lados, se depois de tudo ela ainda quiser ficar
ao seu lado, eu recomendo nunca deixar ela ir. Boa viagem, e seja
feliz— Carmen disse dando um beijo na testa do sobrinho e saindo
do quarto.
Jones ficou pensando no que ela disse enquanto arrumava
as malas. Assim que ele arrumou, Jhuliet entrou no quarto e
começou a arrumar as coisas dela. Ele percebeu que ela sempre se
virava para ele para falar algo, mas sempre desistia e voltava a
arrumar as malas.
No final, Jhuliet assinou um contrato informando que deixava
tudo que estava em seu nome, mas deixou tudo no nome de
Carmem, foi uma condição que ela estabeleceu. Jones percebeu
que sua esposa era muito mais corajosa do que ele. Na hora de ir
embora, todos se despediram deles, Vaiolet foi em uma carruagem
com Carmen, que precisava resolver algumas coisas na cidade,
então ele e Jhuliet foram juntos em uma carruagem individual. Ela
ficou olhando para o vidro sem dizer nada, Jones respirou fundo e
disse:
— Eu e Philip éramos melhores amigos na escola, fazía
mos
tudo juntos. Um dia conhecemos uma garota, ela se chamava
Vaioline, e aí começamos a andar juntos. Eu percebi que ela
gostava de Philip, mas ele nem tinha percebido, e eu fiquei com
medo de que eles ficassem juntos e acabei tentando conquistar
Vaioline, mas estava óbvio que ela gostava de Philip. Com o tempo
ela acabou aceitando e ficamos noivos. No ensaio de casamento,
Philip veio até mim e disse que não poderia ir no meu casamento
pois ele estava apaixonado pela minha noiva. Bessa hora Vaioline
ouviu, e no dia do nosso casamento, bom... ela não apareceu, na
verdade ela é Philip fugiramjuntos. Eu fiqueiarrasado. Foi aíque eu
me aproximei de Diana, que é a irmã mais nova de Vaioline, e a
gente realmente teve algo, mas não foi nada em comparação à
Vaioline, eu a amei de verdade, como nunca amei ninguém, mas eu
desde o início sabia que ela gostava de Philip, e deixei ela acreditar
que ele não sentia o mesmo. Depois eles se casaram, mas Vaioline
ficou doente. Eles ficaram juntos por dois anos, e eu e ele ficamos
por três anos juntos. Eles podiam ter ficado mais tempo juntos, mas
eu estraguei tudo pra eles. E eu ainda tenho coragem de ficar com
raiva de Philip, e ele é tão bom amigo que até hoje se sente culpado
de ter se casado com Vaioline. — Jhuliet ficou quieta por vários
minutos. — Por favor, fala alguma coisa. — Jhuliet pegou em sua
mão e disse:
— Fico feliz que tenha me contado — ela confessou e
encostou a cabeça em seu ombro. Jones sorriu e olhou para fora.
— Dessa vez vai ser diferente — afirmou e beijou o topo da
cabeça de sua esposa.
Capitulo 20
Jornal de Londres
Duque Jones foi visto voltando de algum lugar com a esposa,
acreditamos firmemente que se trata de uma lua de mel, porém ele
levou a irmã, o que torna tudo muito improvável. No entanto, seu
jornal nunca lhe deixa na mão.

A viagem de volta foi bem cansativa, mesmo jhuliet tendo


dormido boa parte dela. Chegaram de manhã e encontraram Vaiolet
de mãos cruzada sobre o corpo. Parecia ter chegado há muito
tempo.
— Enfim, Jhuliet, seu irmão está aqui te esperando desde
cedo.
— Qual deles? — Perguntou Jhuliet, não se lembrava se ter
deixado nenhum assunto
pendente.
— Como eu vou saber? — indagou Vaiolet entrando
novamente na casa.
— Não pode culpá-la por isso — disse Jones rindo.
— Vou ver do que se trata, precisa de ajuda com as malas?
— perguntou Jhuliet quando viu todas as malas de Vaiolet caírem no
chão, pela segunda vez.
— Pode ir, eu dou conta.
Assim que ela entrou viu Huldim sentado no sofá. Ele estava
bebendo e rindo com Ravel. Quando ele a viu, se levantou e sorriu
para ela. Jhuliet correu para abraçá-lo, e ele levou um susto, mas a
abraçou de volta. Ela percebeu que faziadias que não via o irmão,
não imaginava que iria sentir tanta falta, o máximo de dias que não
vira seu irmão fora dois dias quando ele fora para fora da cidade
para visitar Matthew.
— Parece que alguém sentiu me falta — disse Huldim a
soltando.
— Mais do que eu queria admitir.
— Eu juro que estou cuidando muito bem dela — afirmou
Jones chegando na sala com duas malas debaixo do braço, uma
nas costas e uma entre as pernas, é claro que todas caíramno chão
quando ele chegou.
— Vem, amigo, eu te ajudo. Huldim, foi um prazer, venham
mais vezes — disse Ravel pegando as malas do chão e indo para o
quarto de Jhuliet.
— E desde quando vocês estão tão próximos? — perguntou
Jhuliet se referindo a Huldim e Ravel. Seu irmão somente deu de
ombros. — Então, aposto que não veio somente ver como eu
estava, o que houve? — Huldim pareceu ter ficado chateado com
isso, pois ele ficou em silêncio por um tempo.
— Não é nada de mais. Mas e você? Como vai? — ele se
sentou no sofá e voltou a beber.
— Estou bem, obrigada — agradeceu Jhuliet, bebendo um
gole do copo de Huldim e logo o devolvendo, pois tinha gosto de
morte.
— Soube que você e seu marido estavam em uma viajem
romântica... — Isso a fez cuspir tudo que ainda não tinha engolido.
— O quê? Quem te disse isso? — Huldim apontou para o
jornal, estava na primeira folhasobre sua “viagem romêntica”, o que
claramente não foi o que aconteceu. — Não foi uma... viagem
romântica. Aliás, como está sua esposa? — Jhuliet disse tentando
mudar de assunto.
— Bem, sentindo sua falta, até demais, tem certeza que ela
não se casou comigo por sua causa?
— Talvez tenha sido um dos motivos, sim — Jhuliet riu, mas
viu que Huldim estava sério, logo ele falou:
— Vamos perder nossa casa.
— O quê? Como assim?
— Aparentemente nosso pai devia muita coisa
— Não é possível, nós olhamos tudo, cada papel, não tinha
nada.
— Não foi o que nos mostraram nos papeis, dinheiro com
jogos, bebidas, cassinos. Várias prioridades sem pagar impostos.
Não sei como ele escondeu isso da gente.
— Certo, e só irmos no escritório dele e procurar os papéis...
— É melhor você não se envolver nisso, Jhuliet
— Por quê? — Jhuliet estava andando de um lado para o
outro, então ela parou quando seu irmão falou com ela.
— Você tem seus próprios problemas agora, eu só vim avisar
porque eu não queria que você descobrisse pelos jornais primeiro,
nós vamos resolver isso.
— E vocês esperaram que eu fique aqui esperando uma
resposta enquanto a casa onde moramos toda a nossa vida pode
ser vendida? — Huldim suspirou e se levantou.
— Eu sabia que não devia ter te contato.
— O que mais você esconde de mim, Huldim? — E Jhuliet
pode ver que por um momento seu irmão ficou nervoso, mas logo
Jones interrompeu os dois:
— Espero não estar atrapalhando.
— Nós iremos resolver isso, voltamos às seis, nós te
encontramos em casa.
— Às seis. — Huldim a abraçou.
— Fique bem, qualquer coisa pode falar comigo — disse,
olhando para Jones.
— Tudo bem — aceitou Jhuliet, suspirando.
— Até a próxima, cuide bem da minha irmã — falou Huldim
apertando a mão de Jones.
— Ela sabe que eu cuido muito bem dela — respondeu
Jones, o que fez Huldim bufar e ir embora.
— O quanto você ouviu? — Jhuliet quis saber, se sentando
no sofá.
— Desde o início, ela é a casa onde você morou?
— Eu nasci lá, antes de eu me casar, eu não achava que
realmente iria me casar um dia, então eu planejava arrumar aquela
casa para eu morar lá para sempre, eu até desenhava como eu
queria que ela ficasse.
— Você ainda tem esse desenho?
— Deve estar no ateliê da Lady Vanussa, o fato é que... vão
vender minha casa — revelou Jhuliet voltado a andar de um lado
para o outro.
— Não tem nada que vocês possam fazer pra impedir?
— Não sei o quão endividados estamos, mas também não
temos dinheiro pra pagar. Eu não entendo, eu acompanhava tudo,
nunca teve nada, eu achava meu pai um grande chefe, mas agora
eu vejo que ele era um grande mentiroso.
— Bom... — começou Jones, pegando um casaco e vestindo.
— Só tem um jeito de descobrir.
— Aonde você vai?
— Aonde vamos? Vamos para sua casa descobrir o que seu
pai fez, ou o que ele não fez no caso.
— Você está falando sério?
— Jhuliet, a gente pode ter se conhecido agora, mas eu sei
que você iria de qualquer forma, então eu prefiro ir com você. —
Jhuliet sorriu para ele e disse:
— Eu desço em cinco minutos.
E em vinte minutos eles já estavam na casa de Jhuliet. Ela
não tinha certeza se o irmão realmente falara a verdade sobre ter
ido resolver, pois se era, então não iria ter ninguém em casa, mas
ela sabia que ele tinha certeza de que ela iria até lá antes, talvez até
um minuto depois de ele ter saído, que foi o que ela fez, e o mais
surpreendente foi que a ideia era de Jones.
— Estou vendo um de seus irmãos lá dentro — informou
Jones, eles estavam agachados no jardim, parecia até que iam
assaltar a casa.
— É Matthew, vamos, eu falo com ele. — Jhuliet tocou a
campainha e era Agatha.
— Jhuliet!!! — Ela deu um abraço bem grande em Jhuliet,
que teve certeza que ficara sem respirar por uns minutos, mas
também estava com saudade de Agatha. — É bom te ver... e trouxe
seu marido junto — disse Agatha para Jones.
— Você continua encantadora como antes — elogiou Jones,
fazendo uma reverencia para Agatha.
— Ah, seu marido é um galanteador, sabia? — disse Agatha,
rindo.
— Você está sozinha? — perguntou Jhuliet.
— Matthew está aqui também
— Ótimo, vou falar com ele. Jones, pode fazer companhia
para Agatha? — pediu Jhuliet entrando na casa. Quanto menos
gente para convencer, melhor.
— Você sabe que eu adoro andar com lindas mulheres, será
uma honra — respondeu ele beijando a mão de Agatha, e ela sorriu
encantada. Eele é muito bom, pensou ela. Ele piscou para ela,
falando para ela ir.
Matthew estava no corredor para o escritório de seu pai,
lendo um livro como sempre, sempre o mesmo, Jhuliet queria saber
qual livro era esse, porém ia deixar isso para outra ocasião.
— Matthew, que surpresa você estar aqui... — Jhuliet disse,
Matthew a olhou de cima a baixo e riu.
— Mas não é surpresa nenhuma você estar aqui.
— Deixa eu adivinhar... eu não posso entrar? — perguntou
Jhuliet, suspirando.
— Eu nunca disse isso... mas se entrar e ver o que não
deveria, não me culpe — avisou Matthew abrindo espaço para ela
entrar.
— Do que você está falando, Matthew? — Ele só deu de
ombros e foi para a sala.
Fazia mais de anos que não entrava ali, e seu pai não
gostava que ela entrasse, e, quando ele morreu, o escritório ficou
uma bagunça. Agora era estranho sem pai ali dentro.
— Seu irmão me pediu para vir aqui, por Deus, isso já foi um
escritório? — espantou--se Jones, aparecendo atrás dela e olhando
ao redor.
— Meu pai nunca me deixava arrumar — Jhuliet explicou,
pegando um quadro com a foto de sua mãe do chão e a colocando
em cima da mesa.
— Aposto que ele se arrependeu.
— Não tenho tanta certeza.
— É a sua mãe? — ele perguntou segurando seus ombros.
Jones era incrivelmente alto, ela sempre achou isso muito atraente.
— É, sim.
— Ela era linda, agora tudo faz sentido. — Ele a estava
elogiando, porém ela não se achava nem um pouco parecida com a
mãe.
— Aposto que você já viu pessoas mais bonitas do que eu.
— Talvez, mas nenhuma delas é a minha esposa. — Jhuliet
riu, Jones sempre sabia o que dizer. — E o que exatamente
estamos procurando? — perguntou ele se afastando,ela sentiu falta
de suas mãos em seus ombros.
— Dívidas, contas, aviso de despejo? Qualquer coisa —
respondeu Jhuliet já suspirando ao ver a bagunça que estava.
Eles começaram a procurar. Jhuliet achou o contrário do que
ela procurava: declaração de imposto, tudo certo, consulta de
dívidas, nada, imposto da casa, quitado. Não tinha nada!
— Jhuliet? — Jones a chamou. Ela olhou para ele, que
estava olhando para o quadro da famíliana parede, a única foto em
que estavam todos juntos, e Jhuliet ainda estava na barriga da mãe.
— Quantos anos seu pai tinha?
— Nem sessenta quando morreu, por quê? — Ela o olha
confusa.
— Ele era muito jovem para esconder cofres atrás de
quadros — deduziu Jones tirando o quadro da parede com
facilidade.
— Como sabia disso? — indagou Jhuliet, se aproximando do
cofre.
— Meu pai tinha um igual, também tinha uma senha, mas eu
nunca soube qual, você tem alguma ideia?
— Meu pai era ótimo com número, mas péssimos com
senhas, ele sempre colocava datas de nascimento, até onde eu me
lembro.
— Será que era a dele mesmo? — Jhuliet tentou colocar a
senha, porém não alcançava. — Eu te ajudo, tem quatro números,
deve ser o dia e o mês — sugeriu Jones, entrando em sua frente e
esticando os dedos para girar a combinação de números.
— Tenta.... vinte de outubro.
— Não foi! Que bom, ia ser muito egocêntrico. Talvez o da
sua mãe?
— Minha mãe... doze de janeiro.
— Nada... seus irmãos?
— Doze e zero cinco, trinta e onze e zero um e zero quatro?
— disse Jhuliet, andando de um lado para o outro enquanto falava
os números.
— Nem se mexeu.
— Não falta mais ninguém! Talvez não seja o aniversário.
— Jhuliet? A gente não tentou o seu aniversário — lembrou
Jones como se fosse óbvio.
— Não acho que seja. Não é uma data que ele queria se
lembrar — opinou Jhuliet, suspirando.
— Não custa tentar. — Jhuliet se abaixou no chão para pegar
as folhas de papel espalhadas em baixo deles.
— Zero cinco e zero quatro. — Na hora o cofre abriu e mil
pilhas de folhas de papel voaram em cima dela.
— Você está bem? — perguntou Jones se abaixando ao seu
lado.
— Eu não acredito que era... aviso de dívida? — ela disse
lendo um papel que caiu em seu colo. — Dívidas do banco,
impostos atrasados, conta do cassino?
— Parece que achamos tudo — comentou Jones olhando ao
redor.
— Então todos aqueles papéis eram falsos, e aqui estão os
verdadeiros.
— Tem o valor da dívida? Talvez não seja muito — supôs
Jones, se aproximando dela para ler.
— Oitocentos e cinquenta mil... mais impostos? — respondeu
Jhuliet, quase perdendo o ar. Ela nunca tinha visto todo esse
dinheiro em sua vida, imagina estar devendo ele.
— Bom, é bastante coisa...
— O que vamos fazer? Eu não sei como ele chegou a esse
ponto.
— Jhuliet? — Jones a chamou, ele estava com um envelope
nas mãos, porém, quando seus irmãos apareceram na porta, Jones
o colocou dentro do casaco.
— O que você está fazendo aqui? — questionou Huldim,
olhando ao redor e para o cofre aberto. Pela sua expressão, não
parecia surpreso.
— Eu descobri tudo, quando iam me contar? — Estavam
todos ali, todos seus irmãos, Agatha estava ao fundo. E todos
conseguiram ficar sem palavras.
— Jhuliet, podemos explicar, o papai não queria que você
visse as cartas que a mamãe deixou pra você e nós... — começou
Huldim, logo Jhuliet o parou.
— Espera, cartas da mamãe?
— Droga, não era sobre isso que você estava falando?
— Estava falando sobre as dívidas do papai... como assim,
cartas?
— Mamãe escreveu umas cartas pra você antes de morrer,
uma pra cada aniversário até os seus dezoito anos, se deixassem,
ela iria escrever até seus cem anos, mas ela morreu logo depois —
revelou Matthew. Huldim o encarou, zangado. — O que foi? Ela
precisava saber.
— Olha, a gente só queria... — começou Huldim.
— Me proteger? É sempre essa a desculpa, como você pode
esconder as cartas da nossa mãe por tanto tempo? Sabe o quanto
eu precisei dessas cartas? Sabe quantas noites desejei trocar duas
palavras com ela? Huldim... como você pode... — Jhuliet não estava
zangada, ela estava triste, triste e extremamente decepcionada com
o irmão, ela nunca se sentiu próxima de verdade de sua mãe.
— Então... você não viu as cartas? — Huldim perguntou
olhando em suas mãos.
— Eu não as achei, E pelo jeito, se depender de você, eu
nem vou. Com licença.
Jhuliet saiu do escritório e ninguém ousou falar nada para
impedi-lá. Jones estava atrás dela, começou a chover, contudo para
ela a tempestade já tinha começado a muito tempo.
— Vem comigo. — Jones pegou em sua mão. Ela não sabia
aonde estava sendo levada, porém só o seguiu. A chuva ficou mais
forte,de repente ela achou que tinha parado de chover, mas eles só
estavam em uma cobertura, de uma padaria. Ele se sentou e ela se
sentou ao seu lado. — Sabe onde estamos? — Ele parecia uma
criança esperando um doce. Ela sabia que era o lugar onde ele a
levou quando se conheceram, não tinha como esquecer, porém ela
preferiu dizer:
— Não faço ideia. — Ele fez uma cara decepcionada. —
Onde você me levou quando nos conhecemos, mas não tenho
certeza...
— E você achou que eu era um assassino ou um
sequestrador.
— Ainda tenho minhas dúvidas, John — ela o chamou pelo
que ele tinha inventado.
— Tudo bem, eu mereço — admitiu levantando as mãos em
sinal de rendição.
— Me desculpa por mais cedo, você não tinha nada a ver
com isso e eu....
— Jhuliet, está tudo bem, famíliassão complicadas, ontem foi
a prova viva disso — ele disse colocando sua mão sobre a dela.
— Obrigada...
— Pelo quê? — perguntou, confuso.
— Por... sempre estar aqui quando algo de ruim acontece —
respondeui Jhuliet, mas não conseguiu olhar para ele.
— Ou talvez eu quem puxasse energia negativa para sua
vida.
— Nesse caso, eu retiro as desculpas.
— Faça um favor pra mim, lê essa carta, esqueci meus
óculos em casa — Jones pediu, entregando um pacote cheio de
cartas.
— Mas você não usa... — Jhuliet ficou calada quando viu o
envelope, estava escrito "Para Jhuliet " com uma caligrafia
impecável, e dentro do envelope tinha várias cartas com os números
de três a dezoito. — C... Como você...
— Achei que isso era seu, eu achei dentro do cofre, quando
seus irmãos chegaram só escondi.
— Não sei se consigo ler... quer dizer, eu... será que você
pode ler pra mim?
— Tem certeza? — Ela assentiu. — Tudo bem, eu esqueci
meus óculos, mas vou tentar. — Jones abria as cartas devagar
como se tivesse medo de rasgá-las. — Essa se chama "três". Minha
pequena Jhuliet, você não sabe a felicidade que eu tive ao te pegar
nos braços quando nasceu, daqui a poucos meses é o seu
aniversário, espero estar aqui para comermos seu bolo favorito... —
Jhuliet ficou em silêncio e Jones parou de ler.
— Continue.... — ela disse, olhando para o chão.
— Essa acabou. Carta "quatro": Como quatro anos eu já ia à
escola, você deve estar indo para a escola agora, eu odiava, espero
que você não chore, porque se chorar eu terei certeza de que é
minha filha.
— Eu não fui na escola por uma semana, a professora dizia
que eu parecia um instrumento musical — ela disse, rindo ao
lembrar.
— Carta "cinco": Eu não sei o que dizer, quando tinha 5 anos
eu ganhei uma boneca, eu a chamei de Kelly, seu pai já deve tê-la
te dado, mas eu odiava esse nome.
— Meu pai me deu uma boneca quando eu tinha cinco, não
sabia que era de minha mãe.
— Carta "seis": eu te amo muito. Carta "sete": eu te amo a
cada dia mais. Carta "oito": Eu já disse que te amo muito? Sua mãe
era bem criativa — disse Jonas olhando para ela, Jhuliet riu, mas
fez sinal para ele continuar. — Carta "nove": Aos nove anos eu
conheci seu pai, ele era alto, bonito e charmoso, igual ao seu
marido... — Jhuliet olhou para Jones confusa. — Desculpa, eu
inventei essa parte. Enfim:ele era muito gentil, mas não gostava de
mim, fazíamos aulas de piano juntos, mas ele era péssimo, espero
que você seja melhor nisso do que ele.
— Meu pai era realmente péssimo no piano — revelou
Jhuliet, se lembrando das músicas que seu pai estragava tocando.
— Carta "dez":Fico imaginando se nessa idade você já tenha
se apaixonado por alguém, tenho certeza que seus irmãos irão
evitar isso a todo custo, mas sabia que eles só querem te proteger.
— Na verdade meus irmãos não precisaram se preocupar
muito com isso.
— Carta "onze": Você deve ter começado suas aulas de
valsa, eu sinto muito por isso. Carta "doze":Aos doze anos eu e seu
pai demos nosso primeiro beijo atrás dos jardins dessa casa, foi um
dia mágico. Espero que o seu tenha sido especial assim. Carta... —
Depois de uma longa pausa Jones disse: — Que estranho.
— O quê?
— Não tem uma carta treze, catorze,quinze... somente
dezoito. É a última, ela parece ser um pouco grande, tem certeza
que quer continuar?
— Por favor.
— Carta "dezoito": Me perdoa, filha, mas eu não escrevi o
resto das cartas, sinto que essa vai ser minha última carta destinada
a você, você deve ter dezoito anos quando seu pai te entregar isso,
ou mais, pois tenho certeza que ele não vai te entregar porque
estará muito chateado. Mas você é só um bebê, não tem culpa de
nada, e saiba que eu faria tudo de novo, morreria mil vezes só por
ter a oportunidade de ver esses seus olhinhos negros olhando para
mim. Sei que toda mãe sente isso, e você vai sentir também. Com
dezoito eu casei com seu pai, eu o amava, e ainda o amo, talvez
agora você já esteja casada e olhe para o seu marido do mesmo
modo que eu olho para o seu pai. Saiba que o casamento é difícil,
filha, mas amor não é só dizer eu te amo, é quando alguém se
preocupa com você, é quando cuida de você como ninguém, é
quando tenta fazer dar certo, é quando te deixa ver o seu pior lado.
Se você for pensar, isso vale mais do que mil eu te amos. Eu te amo
filha, nunca se esqueça, você não me vê, mas eu vou estar sempre
aqui, cuidado de você, de sua mãe que sempre vai te amar.
Jones acabou de ler e percebeu que Jhuliet chorava. Ele a
puxou para si, e assim ficaram, ele sussurrava para ela um "está
tudo bem" a cada um minuto. Quando ela parou de chorar, ela olhou
para Jones e disse:
— Ela me amava, ela realmente me amava. — Jones olhou
para ela e sorriu.
— É claro que sim, não tem como não amar você. — Jhuliet
não teve tempo de perguntar o que ele quis dizer pois ele a beijou.
Aquilo foi tudo que ela precisava, porém, quando ela ia
corresponder, ele se afastou. — É melhor a gente ir.
— Por quê? Eu fiz alguma coisa?
— Claro que não, eu só não quero sair na primeira página
amanhã, de novo. — Eles andaram até a carruagem, a chuva já
tinha parado, Jones lhe disse que tinha que fazeralgo e que depois
voltava. — Você vai ficar bem?
— Vou sim, obrigada. — Jones lhe entregou o pacote com as
cartas de sua mãe, ela o abraçou contra o corpo. Ele lhe deu um
beijo na testa e fechou a porta. E foi nesse momento Jhuliet teve
certeza que amava Jones.

Jones estava procurando o Ateliê de Lady Vanussa, o que


não foi difícil pois era no centro da cidade. Estava cheio de
mulheres, é claro, ele era o único homem lá. Quando chegou, foi o
centro das atenções, algumas até o chamaram, mas no momento a
única mulher que tinha na cabeça era sua esposa. Ele logo
conseguiu chegar no balcão.
— Boa tarde, em que posso te ajudar? — perguntou a mulher
do balcão, que parecia que estava falandocom ele e mais duzentas
mulheres.
— Eu quero falar com Lady Vanussa. — Nesse momento
todas o olharam. — Por favor.
— Quem quer falar com ela? — perguntou uma mulher ao
fundo.
— O marido de Jhuliet. — No mesmo instante a mulher saiu
de trás das cortinas.
— Por que não disse antes? O próprio duque em meu ateliê,
a que devo a honra? Vamos, deixem-no entrar — pediu Lady
Vanussa fazendo sinal para ele se aproximar.
— Por favor, só Jones — pediu ele quando o deixaram
passar. Ele foi atrás de Lady Vanussa para dentro do ateliê.
— Já que é assim, me chame somente de Vanussa.
— Oh, não sei se devo, você é uma celebridade —
respondeu Jones olhando ao redor, ali onde tudo acontecia.
— Oh, por favor, eu insisto. E me diga, a que devo a visita?
— indagou ela se sentando e apontando para ele se sentar também,
quando já estavam afastados o suficiente.
— Só estava passando por aqui. Ouvi falar muito bem de
você, tanto de minha irmã, que é uma grande admiradora dos seus
vestidos, ainda mais de minha esposa, que te considera como uma
mãe.
— Fico felizde ouvir isso. Que tipo de vestido sua irmã mais
gosta?
— Devo dizer que não entendo muito de vestidos.
— Os Mocans são de babados e os Aluis são os difíceisde
colocar, assumo.
— Entendo mais sobre tirar do que colocamos na verdade.
— Oh, Jhuliet escolheu bem seu marido, eu digo, e como se
conheceram? — ela perguntou servindo duas xícaras de chá e
empurrando uma na direção de Jones.
— Tenho certeza que você já ouviu falarda nossa história. —
alegou Jones, aceitando a xícara de chá.
— Certamente, porém como conheço Jhuliet e sei que não é
verdade — revelou ela, bebendo seu chá com elegância e o olhando
com certa dúvida.
— Nos conhecemos nessas ruas, e depois teve vários mal
entendidos.
— Entendo, se casaram muito rápido, deviam estar muito
apaixonados, certo?
— Para que esperar? Será que eu teria a honra de conhecer
este ateliê?
— A honra seria minha, venha comigo. Aqui é onde tudo
começa, seleção de vestidos, aqui que ele ganha curvas, e aqui é
onde Jhuliet ficava, botões e corpetes.
— Impressionante, não parece ser tão grande do lado de
fora.
— Essa é a ideia. Faça um favorpara mim, já que Jhuliet não
vem mais me visitar, ela deixou muita coisa aqui, entregue para ela
— ela o pediu entregando vários papéis.
— O que é isso? — perguntou ele, pegando o papel que caiu
no chão. Já sabia o que era, mesmo assim queria ter certeza.
— Ah, essa é a casa dos sonhos dela, mas fiquei sabendo
que vão colocar à venda, ela deve estar arrasada, mas nem se eu
vendesse todo o meu ateliê eu conseguiria ajudá-la.
— Ainda há esperança.
— É isso que você procurava, não é? — Lady Vanussa disse,
sorrindo para ele.
— Você é uma mulher muito esperta, agora sei a quem
Jhuliet puxou.
— Vai ser difícil, são muitas dívidas.
— As coisas difíceissão as melhores. Vou dar o seu recado,
até a próxima.
— Você a ama? — Vanussa perguntou. Jones iria mentir, não
podia dizer a verdade sobre seu casamento.
— Lady Vanussa, eu faria qualquer coisa por aquela mulher.
— Isso tirou um sorriso dela.
Jones saiu do ateliê. Quando estava na carruagem ele
percebeu que estava falando sério.
Capitulo 21
Assim que Jones saiu do ateliê de Lady Vanussa, ele foi
direito para a casa dos irmãos de Jhuliet. Ele sabia que era a última
pessoa que eles queriam ver. Assim que bateu na porta recebeu um
olhar fulminante de Huldim, que se surpreendeu por seu casaco não
ter pegado fogo.
— O que faz aqui? — perguntou Huldim quando viu Jones
em sua porta.
— Esqueci algumas coisas no escritório de seu pai.
— Não imagino o que possa ser.
— Pois eu sei, com licença — pediu Jones, passando por
Huldim para entrar na casa. Ele sabia que o cunhado podia voar em
seu pescoço a qualquer momento, mesmo assim, resolveu arriscar.
— Jones, que bom vê-lo novamente — exclamou Agatha, se
levantando quando o viu.
— Sempre um prazer revê-la. Peço perdão por vir sem avisar,
mas esqueci algumas coisas no escritório, será que eu poderia...?
— Saia logo daqui — ordenou Huldim, ainda com a porta
aberta, mas ninguém lhe deu atenção.
— Mas é claro, venha, eu te acompanho — convidou Agatha, se
levantando e o levando até o escritório. — Fique à vontade,
estarei na sala tentando acalmar meu marido.
— Sou eternamente grato.
Foi fácil pois Jones sabia onde tudo estava. Pegou o que tinha
que pegar e guardou no bolso do casaco e esperou o cunhado o vir
buscar. Ele só pegou uma coisa na mesa a tempo antes de ele
chegar.
— Não sei quem você pensa que é, ou se já acha que é da
família,porém isso não lhe dá o direito de invadir minha casa... —
trovejou Huldim, mas Jones levantou uma mão para o interromper.
— Primeiro, eu sou Duque Jones, você deve me conhecer muito
bem, e segundo, a minha família é minha irmã e minha esposa, não
quero entrar em mais nenhuma, e por último, você está certo, é sua
casa, que bom que eu pedi por favor antes de invadir.
— Me diga, Jones, o que você quer? Quer ser o herói? Essa
casa não é sua, então não se meta...
— Essa casa é sua, tem razão, mas por pouco tempo.
Engraçado como você sabia das cartas da mãe de Jhuliet, mas não
sabia das dívidas, que estavam no mesmo lugar. Você não sabe
como sua irmã ficou arrasada com tudo. Quer um conselho?
Provavelmente não, mas vou dar assim mesmo. Quer proteger ela?
Então conte toda a verdade, sempre que puder, já tem mentirosos
demais no mundo. — Jones já ia embora, contudo, viu Huldim se
sentar na cadeira próximo a porta e encarar o chão.
— Eu sei o que vai fazer... — afirmou Huldim, suspirando.
— Não, Huldim, você não sabe de nada.
— Você acha que um dia ela vai me perdoar? — perguntou ele.
Nessa hora ele viu um garoto de cinco anos que fez besteira
tentando consertar as coisas, na verdade ele viu a si mesmo.
— Todo mundo merece uma segunda chance.
Jones saiu daquela casa sem se despedir de ninguém, ele
entrou na carruagem, mas ainda não ia para casa, tinha muita coisa
para resolver.

Jhuliet abraçou as cartas da mãe com tanta força que elas já


pareciam ter virado parte de si. Ela não podia expressar a quão
nervosa estava com seu irmão, como ele pode lhe esconder uma
coisa dessas por tanto tempo? Se Jones não as estivesse pegado e
escondido, ela jamais teria lido as cartas de sua mãe. E falando em
Jones, ela não conseguia esquecer o que ele lhe dissera mais cedo.
"Não tem como não amar você ", o que isso deveria significar?
Pensou ela, talvez ele só disse para ser gentil ou talvez... não,
era melhor não pensar nisso agora. Quando Jhuliet chegou em
casa, não tinha ninguém. Procurou por Vaiolet, mas Mathilde disse
que ela tinha saído para sua aula de piano. E que pediu para que a
fosse buscá-la às cinco. Jhuliet disse que ela mesma podia fazer
isso, foi até seu quarto e guardou as cartas de sua mãe na
escrivaninha, aproveitou e colocou a foto da esposa de Philip, que
não tinha devolvido para Jones, dentro do envelope também.
Parecia muito que ia chover, Jhuliet entrou na carruagem a
caminho de onde Vaiolet fazia suas aulas. Ela olhou para a janela,
precisava se acalmar, agora mais do que nunca pensava em sua
mãe, ela não guardava nenhuma foto,todas que tinham estavam no
escritório do seu pai...
— Ah, não... — Ela se lembrou das dívidasde seu pai. Eles não
tinham mesmo como pagar, nem mesmo com todo o dinheiro que
ela tinha juntado daria para pagar uma dívida. Era verdade, iriam
perder a casa. Todos os seus planos iriam por água abaixo graças
aos vícios de seu pai. Ela segurou as lágrimas pois estava
chegando na igreja, segundo Mathilde, era ali que Vaiolet tinha
aulas. Ela podia ouvir o piano já do lado de fora, ela abriu a porta
sem que a vissem. Philip estava tocando e Vaiolet apenas o olhava
com atenção.
— Quer se juntar a nós? — Philip perguntou, ainda tocando, o
que fez Jhuliet se assustar ao ser descoberta encarando os dois.
— O que faz aqui? — perguntou Vaiolet se virando.
— Vim te buscar, já são cinco e meia — explicou Jhuliet
apontando para o relógio de canto na igreja.
— Não vi a hora passar, Philip é um ótimo professor, você
realmente devia se juntar a nós — convidou Vaiolet, se levantando e
ajeitando o vestido amassado.
— Na verdade, Jhuliet já é uma pianista, devo supor que seja até
melhor do que eu — disse Philip.
— Impossível — disseram as duas em uníssono, o que o fez .rir
— Vou pegar minhas coisas e podemos ir. — Vaiolet foi até a
porta do lado dos bancos e a fechou atrás de si.
— Vaiolet me disse que vocês foram visitar os tios de Jones —
comentou Philip.
— Você os conheceu? — perguntou Jhuliet.
— Eu só me lembro da Carmen, como ela mesma falavaque era
para chamá-lá de...
— Tia C!! — os dois disseram juntos. — Você devia ser bastante
amigo de Jones, para conhecer até sua família— deduziu Jhuliet,
mesmo já sabendo sobre toda a história.
— Sim, a gente era.
— O que aconteceu? Por que vocês não se falam mais? —
Jhuliet sabia a resposta, mas queria ouvir a versão de Philip. Não
que achasse que Jones estivesse mentindo, mas queria ter o outro
lado da história também.
— É... uma longa história... — Ela teve a impressão de que ele
não iria contar nada.
— Foi por causa da Vaioline...? — Philip olhou para ela confuso,
mas depois sorriu.
— É claro, uma mulher pergunta já sabendo a resposta. É por
causa dela, sim, foi um erro na verdade, mas acabou se tornando o
melhor erro da minha vida. Eu perdi um ótimo amigo, mas ganhei o
amor da minha vida.
— Vocês ficaram pouco tempo juntos, não foi?
— Nem se eu passasse a minha vida inteira com ela seria tempo
suficiente.
— Deve ser muito bom — deduziu Jhuliet, no fim suspirando.
— Perdão?
— Amar alguém assim, tão... intensamente. Deve ser ótimo
— Todos conhecem o amor um dia, nem que seja para vida toda
ou por uma fração de segundos. No final, você querendo ou não,
sempre acontece.
— Você amou ela assim... à primeira vista? — perguntou Jhuliet
se sentando no banco de madeira, e Philip se juntando a ela com
certa distância entre os dois.
— Na verdade não, eu fico muito surpreso de Jones ter te
contado isso. Mas enfim, éramos amigos e um dia eu caí, e me
machuquei feio.Jones riu de mim e foibuscar ajuda, e eu comecei a
chorar. Vaioline disse que estava tudo bem em chorar, ela cuidou de
mim, me ajudou a andar até em casa. Eu acabei quebrando a perna.
Ela morava bem longe de minha casa, mas todos os dias ela vinha
me ver, e foi aí que eu soube que amava ela, e foi aí que eu também
descobri que amor não é só eu te amo, amor são pequenas ações
que, juntas, demonstram um amor maior que qualquer palavra no
mundo. — Jhuliet ficouem silêncio por um tempo. — Me perdoe, eu
acabo falando demais e não percebo...
— Não, é que... minha mãe me disse coisas parecidas.
— Ela é muito sabia. Certas coisas a gente só descobre com o
tempo.
— Podemos ir? — perguntou Vaiolet, voltando e parando na
frente dos dois.
— Claro, foi bom falar com você — disse Jhuliet para Philip.
— É sempre um prazer. Até semana que vem, minha aluna
favorita.
— Sou sua única aluna de piano.
— Não deixa de ser minha favorita. E Jhuliet, mande um olá para
Jones por mim — pediu Philip sem graça.
— Pode deixar.
Assim que Jhuliet e Vaiolet chegaram em casa, Jhuliet disse:
— Preciso te contar uma coisa!! — anunciou Jhuliet muito
animada abrindo a porta da sala.
— Diga!
— Eu encontrei cartas da minha mãe, ela escreveu para mim
para cada aniversário.
— Sério? Isso é muito legal, e como você encontrou?
— Ah, longa história.
— Irei tomar um banho e você irá me contar tudo, sendo longa
ou não — avisou Vaiolet, subindo as escadas.
— Você viu se Jones já chegou? — perguntou a Ravel quando
entrou na sala.
— Não, achei que ele estivesse com você, vocês saíram juntos
hoje de manhã, não foi? — comentou Ravel tirando seu casaco.
— Sim, mas não nos vemos faz algumas horas, ele disse que
tinha coisas para resolver e eu voltei sozinha.
— São só oito da noite, ele já chegou muito mais tarde do que
isso. Aceita? — ofereceu Ravel enchendo seu copo de whisky e
oferecendo a Jhuliet, que apenas negou com a cabeça. — Se isso
te deixa mais tranquila, se der onze da noite e ele não voltar, eu saio
para procurá-lo. Não acho que tenha necessidade, mas eu vou.
— Não, você tem razão. Estou exagerando, só tive um longo dia
— bufou Jhuliet, se jogando no sofá.
— Sou todos ouvidos. — Jhuliet ficouencarando Ravel, como se
estivesse pensando se realmente devia falar algo. — Aproveite que
ainda estou sóbrio.
— Tudo bem, tem a casa da minha família,acho que vou perder
ela.
— Defina perder.
— Meu pai morreu e esqueceu de levar as dívidas com ele. Já
recebemos um aviso de despejo.
— Bom, é só falar com Jones, ele resolve isso num estalar de
dedos — opinou Ravel estalando os dedos.
— Não acho que ele consiga, é muito dinheiro.
— Acho que você não entende o quão rico seu marido é.
— Eu consigo resolver isso sozinha — deduziu Jhuliet negando
com a cabeça, aquilo era muito dinheiro para se dar a alguém,
mesmo que sejam casados.
— Você tem o dinheiro? — perguntou Ravel.
— Ah, bem, não... mas eu tenho um valor que posso dar de
garantia e não sei... quem sabe dividir o resto em... cinco vidas, não,
é muito dinheiro mesmo — disse ela enterrando o rosto entre as
mãos.
— Você se tortura sem necessidade. Seu marido pode resolver
isso com uma assinatura.
— É muito dinheiro, eu não conseguiria pagar isso de volta, e eu
também não estou aqui pelo dinheiro dele. Eu vou pensar em algo.
— Sua casa vai ser posta à venda...
— Eu posso comprar ela.
— ...pelo dobro do valor original — Ravel continuou sua frase.
— Aquela casa tem muito mais valor sentimental. Eu não
consigo pensar em alguém que compraria ela com tantas dividas, eu
não acho que valha a pena.
— Tem razão, é só uma casa com duzentos mil metros
quadrados, localizada bem no coração da cidade, com pedras que
provavelmente nem existam mais, toda em madeira com uma torre
que dá para ver toda a cidade. Certamente não vale muito.
— Será que você poderia me deixar sozinha, por favor?— pediu
Jhuliet com um olhar mortal.
— Que bom que eu moro aqui, assim eu posso ir somente para o
meu quarto. Não fique chateada, a solução dos seus problemas
começa com J — disse ele, apontando para ela.
— Jogar você pela janela? Sim, você tem razão — retrucou
Jhuliet, suspirando.
— Estou indo, boa noite. — Ravel subiu as escadas correndo, e
com razão,
Que ideia absurda, pensou Jhuliet, pedir dinheiro para Jones
para quitar a casa? Não, impossível,isso era sua responsabilidade.
Ela ia dar um jeito, Jhuliet sabia que iria.

Ela acordou com o sol em seu rosto e uma grande dor em suas
costas por ter dormido no
sofá. Jones estava em sua frente. Jhuliet não consegui afastar a
imagem de que ele parecia um anjo iluminado pelo sol, porém ela
sabia que ele não tinha nada de anjo.
— Sempre quis saber se esse sofárealmente era confortável,
mas pela sua expressão, eu acho que não — deduziu Jones,
suspirando e se levantando.
— Quando você chegou? — perguntou Jhuliet, ainda
despertando. Tentou passar a mão pelos cabelos, pois sabia que
estava péssima.
— Ah... agora há pouco — ele respondeu, mas não olhou
para ela.
— Você dormiu fora? — perguntou Jhuliet, se sentando no
sofá e ajeitando seu vestido.
— Já tomou café da manhã, posso pedir para prepararem
alguma coisa para você?
— Você não me respondeu — continuou Jhuliet, chamando
sua atenção.
— Eu estava ocupado, tive que resolver algumas coisas.
Aliás, alguém acabou de comprar sua casa.
— O quê? Mas não nos falaram nada e eu...
— O comprador parece já ter conversando com seus irmãos.
Eles vão assinar os documentos hoje, eu posso ir com você, se
quiser.
— Eu não posso acreditar! Eu não pude fazer nada para
impedir. — Jones se aproximou dela, segurou sua mão e fez ela
olhar para ele.
— Nós vamos dar um jeito.
— Como? — indagou Jhuliet respirando fundo.
— Vamos para o cartório primeiro, lá nós pensamos em um
plano.

Em vinte minutos já estavam no cartório. Todos os seus


irmãos estavam lá, menos Huldim. Agatha dissera que não o
encontrara naquela manhã, mas ele havia deixado um bilhete
falando que não iria. Todos deixaram ela entrar primeiro, Jones
disse que já voltava, mas o advogado já tinha chegado e nada dele.
— Bom, vamos ser direitos. Seu pai deixou muitas dívidas,
incluindo a da casa, encontramos um comprador que... — começou
o homem de meia idade, porém Jhuliet se levantou e o interrompeu.
— Eu posso pagar — anunciou Jhuliet. Nessa hora todos os
seus irmãos e o advogado a olharam confusos.
— Perdão?
— Eu tenho o dinheiro da dívida! — Jhuliet disse e colocou
um envelope de dinheiro em cima da mesa.
— Bom, eu não sei se toda a dívidadele estaria ai dentro —
comentou o homem sem nem pegar no envelope.
— Eu juntei esse dinheiro por anos, ele é uma entrada, nós
podemos fazer um acordo com o que resta, é uma casa antiga,
ninguém vai querer pagar mais do que isso.
— Eu sinto muito, mas... o novo comprador se dispôs a pagar
toda a dívida, inclusive os juros.
— Isso não é possível! — irritou-se Jhuliet ,se sentando na
cadeira novamente. Ela iria perder sua casa, todas as suas
memorias estavam lá, ela achava que tinha tudo sob seu controle,
mas no final tudo desabou em suas mãos.
— Acho que você vai querer conhecer o comprador —
continuou o homem se levantando e indo abrir a porta atrás deles.
Jhuliet ainda estava com a cabeça baixa, não estava acreditando no
que iria acontecer.
— Bom, acho que eu não preciso me apresentar. — Jhuliet
reconheceu a voz no mesmo minuto. Ela levantou a cabeça e viu
Ravel em sua frente. Ele empurrou uma folha de papel em sua
frente, era uma planta da casa, a sua planta da casa, mas dessa
vez ela estava pronta. — Eu acho que essa casa velha ficaria muito
melhor desse jeito, não acha? — Jhuliet piscou várias vezes, estava
muito confusa. Ela se levantou e olhou para Ravel.
— Eu não entendo! Você é o comprador?
— Não, eu só dei alguns conselhos, mas a ideia foi toda dele
— revelou Ravel apontando para alguém atrás de Jhuliet. Ela viu
Jones passar por ela.
— A ideia foi toda minha, eu não podia assistir você perder
sua casa sem fazer nada. — explicou Jones, sorrindo para ela.
— Isso foi tão generoso da sua parte, Jones — admirou-se
Agatha, apertando a mão de Jhuliet, que ainda estava em pé.
— Eu sabia que você ia fazer a coisa certa — disse Matthew,
e lá estavam todos olhando para Jhuliet, esperando sua reação.
— Eu não... eu preciso de um minuto — pediu Jhuliet, saindo
da sala o mais rápido que conseguiu, mas ela pode ouvir Jones
atrás dela. Ele segurou seu braço, mas Jhuliet não olhou para ele.
— Acho que eu esperava uma reação diferente sua.
— Por que você fez isso? — perguntou Jhuliet, confusa.
— Eu achei que você precisava de ajuda — Jones disse como
se fosse o óbvio.
— Você disse que a gente ia dar um jeito. Mas você resolveu
tudo sozinho, eu estaria mais felizse você tivesse me apoiado e não
somente ter feito tudo pelas minhas costas —desabafou Jhuliet,
suspirando.
— Eu não entendo por que você está brava. Apoio não ia trazer
sua casa de volta — Jones argumentou a soltando.
— Então você não achou que eu ia conseguir recuperar a casa?
— Você nem ao menos tinha um plano, eu já tive que oferecer o
dobro do valor para o comprador que estava na minha frente —
explicou Jones rindo, ele parecia nervoso.
— Você pagou o dobro? Jones, isso é... é muito dinheiro —
impressionou-se ela, olhando para ele. — Sei que pode não ser
nada para você, mas para mim isso é... é demais!
— Isso não foinada, é só mais uma propriedade que eu compro.
— Jhuliet riu e olhou para ele.
— Isso é muita coisa, Jones. Eu nunca vou conseguir te pagar
todo esse dinheiro.
— Eu não estou te pedindo para pagar nada! Jhuliet, é só uma
casa e eu...
— Não, Jones! Você não pode fazer grandes atos e dizer que
não são nada de mais, eu não...
— Eu juro que eu tive uma das melhores intenções — admitiu
Jones, se aproximando de Jhuliet, mas ela se virou para ele e
parecia ter mágoa nos olhos.
— Eu só queria que você tivesse confiado em mim primeiro. Eu
vou para a casa.

Jhuliet se virou e dessa vez Jones não foi atrás dela. Ela entrou
na carruagem e foi até o ateliê de Lady Vanussa, talvez ela
estivesse almoçando a essa hora, mas ia correr o risco. Estava
vazio, até porque não tinha nenhum baile à vista. O balcão estava
vazio, ela entrou e Lady Vanussa estava nos fundos, ela apenas a
olhou de costas, sentiu tanta falta dela, sua vida mudara
completamente em poucas semanas. Ela desejou voltar como era
antes, mas ela sabia que ela não era a mesma. Foi Vanussa que a
viu, ela sorriu e veio abraçá-la.
— Achei que tinha esquecido de mim — disse ela, passando a
mão pelos cabelos de Jhuliet.
— É mais fácileu esquecer de mim mesma. Ah, senti tanto a sua
falta.
— Vem, senta aqui, me conta as novidades enquanto eu façoum
chá para a gente. — Jhuliet se sentou no mesmo banco em frente a
Vanussa. — E como vai seu casamento?
— Bem, vai bem. — Ela a olhou com uma cara de quem sabia
que estava mentindo. — Na verdade, não tão bem assim.
— Casamentos são complicados.
— Alguém devia ter me avisado antes.
— Não achei que precisasse, achei que fosse a última pessoa a
se casar, e olhe pra você agora — comentou Vanussa, a olhando de
cima a baixo.
— Bom, foi uma surpresa para mim também.
— O que quer dizer?
— Vou lhe contar, pois não consigo esconder nada. Não é um
casamento de verdade, quer dizer, foide verdade, mas os motivos...
— Casamento de conveniência — concluiu por fim.
— É, foi por isso.
— Jhuliet, você sabe que isso é... — começou Vanuss, mas
Jhuliet interviu.
— Eu sei. Foi uma escolha, imatura, inconsequente e
irresponsável.
— Ele veio aqui ontem...
— O quê? — perguntou Jhuliet, confusa.
— Ele é bem bonito, eu soube que você sempre teve bom gosto.
E é bem gentil, dá pra ver que ele se preocupa com você.
— Então agora eu sei como ele conseguiu aquela planta da
minha casa — concluiu Jhuliet, suspirando.
— Ele já veio aqui procurando isso, estava determinado.
— Ele acabou de comprar a minha casa.
— E você não parece muito felizcom a ideia, querida, eu tenho
certeza que ele só queria ajudar.
— Eu queria que ele tivesse me falado antes de simplesmente
resolver tudo com o dinheiro dele, eu tinha ficado feliz porque ele
tinha dito que iríamos resolver aquilo juntos.
— Eu sempre soube que você era uma pessoa orgulhosa, mas
às vezes nós temos que saber aceitar a ajuda.
— Eu sei, você tem razão, é que...
— Tem algo além te preocupando, não é?
— É o jeito como ele fezisso, como se... não fosse nada. É um
grande gesto, mas quando ele diz, é como se não significasse nada
para ele, como se ele pudesse comprar milhares de casas todos os
dias, talvez eu tenha ficado um pouco decepcionada.
— Oh, não! Eu entendi tudo! Você está apaixonada por ele —
revelou Vanussa, olhando para ela e segurando suas mãos.
— Não, não... — Jhuliet disse mais para si mesma do que para
Vanussa.
— Não tente mentir para mim. Está nos seus olhos...
— Meus olhos mentem...
— Querida, está tudo bem, é normal estar apaixonada...
— Não em um casamento por conveniência — argumentou
Jhuliet, suspirando.
— E você acha mesmo que ele não gosta de você?
— Ele pode sentir algum afeto por mim, mas o que eu sinto, é
diferente...
— Eu acho que talvez você possa ter entendido as coisas
erradas.
— Do jeito que você fala parece que conversaram bastante —
retrucou Jhuliet olhando para Vanussa de cima a baixo.
— O suficiente.
— Você podia nos visitar algum dia, você vai adorar Vaiolet, a
irmã de Jones, ela é uma grande admiradora dos seus vestidos —
Jhuliet disse, mudando de assunto e limpando as lágrimas.
— Mas vamos concordar, quem não ama meus vestidos?
— Tem razão. — Jhuliet olhou pela janela e já estava de noite,
ela passou a tarde toda conversando com Lady Vanussa, como ela
sentia falta disso. — Acho melhor eu ir, mas eu falei sério, espero
sua visita.
— Pode ser amanhã após o almoço?
— É claro.
— Agora vá, já está tarde, e você tem que falar com seu marido.
— Acho que sim. Até amanhã então.
Jhuliet se despediu dela e começou a caminhar para a casa.
Jones morava bem longe do ateliê, de tarde o caminho parecia mais
curto, mas à noite ela viu que era bem longe. Quando estava
chegando, a chuva que ela não pegou no dia anterior caia naquela
noite com tudo, ela já estava ensopada e ainda faltava bastante
para chegar em casa. Ela acabou escorregando nas pedras do
caminho e caiu de bunda no chão, Seu vestido estava sujo de lama
e tinha rasgado a barra, pois não o tinha levantado para andar. O
estado em que ela chegou em casa foi pior que lastimável. Ravel
estava no sofá e lhe deu um olhar rápido e voltou a ler seu livro,
mas logo a olhou novamente e disse:
— O que aconteceu com você?
— Peguei chuva.
— Mas não é possível que...
— Onde está Jones? — ela disse, curta e grossa.
— No escritório.
Jhuliet subiu bem nervosa, mas quando se aproximava
resolveu passar em seu quarto primeiro. Em cima da cama estava
seu pacote com o dinheiro que ela, provavelmente, esqueceu no
cartório. Quando ela o pegou viu uma foto embaixo dele. Era a foto
de sua mãe, com ela no colo, devia ter um ano no máximo, era a
foto que estava no escritório de seu pai.
Sua mãe tinha um sorriso no rosto e ela também sorria com seus
pequenos dentinhos. Provavelmente Jones tinha pegado essa foto
também. Ela pegou o pacote e foi até o seu escritório, ela chegou
abrindo as portas, Jones estava assinando alguns papéis e levou
um susto com sua entrada repentina. Ele estava apenas com uma
camisa fina, e seus cabelos estavam molhados, ele parecia ter
acabado de sair do banho. Jhuliet odiava o fato dele ser tão bonito.
— O que aconteceu com você? — perguntou Jones a
olhando de cima a baixo.
— Isso é para você. — Jones olhou o envelope que Jhuliet
colocou em sua mesa e depois olhou novamente para ela.
— Eu não quero seu dinheiro, Jhuliet.
— Eu também não quero o seu.
— Eu sei, você deixa isso bem óbvio sempre que possível—
lembrou Jones, suspirando. — Ainda estamos falando sobre sua
casa, não é? Por que é tão difícil aceitar?
— Por que para você é tão fácil? Isso é tudo que eu posso te
dar por agora, mas no futuro eu irei conseguir mais — afirmou
Jhuliet apontando para o envelope em cima da mesa, nenhum dos
dois tocou nele.
— Eu não vou te vender sua própria casa, eu estou te dando
ela — explicou Jones se levantando e indo até ela.
— Sinceramente, o que você quer de mim? — perguntou
Jhuliet bem alto; Jones só se afastou e a olhou confuso. — Por que
está fazendo isso tudo? Você não precisa fazerisso. — Jhuliet não
sabia que resposta esperar, mas sabia o que queria ouvir, que era o
mesmo que ela estava sentindo agora.
— Porque eu quero. Não vai fazer nenhuma diferença para
mim. — Essa com certeza não foio que esperava ouvir. Jhuliet tinha
certeza, estava apaixonada por Jones, mas ele só estava sendo
gentil, ela não sabe o que doeu mais. Ela apenas assentiu e disse:
— Tudo bem, obrigada. — Ela se levantou e saiu dali, ouviu
Jones chamá-la, porém ela não queria olhar para ele. Ela se deitou
e, umas horas depois, Jones veio também, ele dormia ao seu lado,
mas Jhuliet sabia que ele nunca seria seu de verdade, não do jeito
que ela queria.
Capitulo 22
Assim que Jhuliet saiu de sua sala sem discutir ou pestanejar,
Jones sabia que tinha dito algo de errado. Não levou um minuto
para Ravel entrar em sua sala e negar com a cabeça.
— Irmão, fico felizque você tenha se casado primeiro, assim
dá mais tempo de eu desistir do meu — disse Ravel se sentando em
sua frente.
— Não sei do que você está falando — revelou Jones,
voltando para atrás de sua mesa.
— Dessa... discussão de vocês, foi duro de ouvir —
continuou Ravel, cutucando suas próprias têmporas.
— Você estava espionando nós dois?
— Não, é claro que não, meu quarto é aqui do lado, ouvi os
gritos, mas era somente vocês dois discutindo... de novo.
— Ela não lidou muito bem com o fato de eu ter comprado
sua casa, disse algo sobre eu não ter acreditado nela.
— E você acreditou? — Jones pensou na resposta, porém
abriu a boca para responder e logo a fechou.— Parece que ela tem
razão.
— A questão é que eu não quis colocar tudo a perder
esperando-a conseguir dar um jeito, então eu fiz o que estava ao
meu alcance. Se eu soubesse que ela iria reagir assim, não tinha
feito.
— Homens, sempre trocando os pés pelas mãos.
— Afinal, o que significa esse ditado?
— Você fez besteira, irmão. Errou comprando a casa sem
avisá-la e errou ainda mais falando que ajudou porque “não ia fazer
falta”. Só faltou um “eu faria isso por qualquer um”.
— Não entendo, mas realmente não ia fazer falta...
— Mas não era isso que ela queria ouvir — revelou Ravel
como se fosse óbvio.
— Como sabe o que ela queria ouvir? — Jones perguntou,
ainda confusosentado em sua cadeira, ele viu o amigo se levantar e
andar em círculos pelo escritório.
— Pensa comigo, ela se preocupa muito com você, ontem se
ela pudesse sair para te procurar, ela iria, e você estava fora a
menos de cinco horas.
— Talvez ela tenha ficado preocupada. — Ele ouviu o amigo
bufar e continuar andando em círculos.
— A casa dos seus tios, você disse que ela foi e te ajudou a
seguir o contrato, por que você acha que ela continuou lá com uma
família que não gostava dela?
— Ela é muito prestativa.
— Por Deus, Jones, por que você acha que ela saiu daqui
chateada por você dizer que não ia fazerfalta comprar a casa para
ela? — Jones apareceu pensar na resposta.
— Porque ela realmente queria resolver tudo sozinha...? — O
amigo fez uma careta de dor e se sentou em sua frente.
— Já pensou que ela pode estar apaixonada por você? —
Jones soltou uma risada que assustou o amigo.
— Ela, apaixonada por mim? Nos casamos há... menos de
um mês. Ravel, isso não é
Possível.
— Não para um sem cérebro como você. Como você acha
que uma mulher se sentiria se você, primeiro, a pedisse em
casamento...
— Era um acordo, eu já lhe contei...
— Mas por que ela? Justo ela?
— Ela era perfeita, já tinha todo um escândalo entre nós, e
ela parecia um bom exemplo para Vaiolet, o que eu tive razão pois
elas agora se dão muito bem...
— Não tem mais nada envolvido?
— É claro que o fatodela ser muito bonita ajudou na seleção.
— Segundo, você a leva para conhecer seus tios, lhe conta
seus segredos mais profundos, a trata como membro da familia,
compra a casa dela em menos de vinte e quatro horas, admita
Jones, até você estaria apaixonado depois de tanta atenção.
— Você está delirando! — presumiu Jones e voltou a mexer
nos papéis em cima da mesa.
— Então me diz. Por que você comprou a casa?
— Porque eu queria ajudar...
— Jones, por que você comprou a casa? — Ravel perguntou
dessa vez mais alto.
— Certo! Jhuliet já perdeu coisas demais, não merece perder
a casa em que nasceu, eu já a tirei de lá, lhe afasteide todo mundo,
por puro ego. Não é que eu não acredite que ela poderia conseguir
recuperar a casa sozinha, mas só de pensar na possibilidade de vê-
la triste, partiu meu coração...
— Agora estou em dúvida, qual dos dois está mais
apaixonado pelo outro? — comentou Ravel negando com a cabeça.
— Você devia parar de beber, amigo.
— Você devia se ver olhando para ela — disse Ravel e se
levantou para ir embora. — Mas você tem sorte... — Jones olhou
para ele, esperando que concluíssea frase.– Ela te olha do mesmo
jeito.
Assim que o amigo saiu, Jones não parou de pensar sobre o
que ele tinha dito. Jhuliet apaixonada por ele, não era possível,ela
só viu seus piores lados, seus piores momentos, ela estava com ele.
Não podia negar que achava Jhuliet bonita, não, ele achava ela
maravilhosa! Naquela vez, no lago, o pôr do sol deixando o cabelo
dela ainda mais escuro, quando eles viram a lua no seu lugar
favoritoe ele a beijou pela primeira vez... quando realmente sentiu o
corpo dela sobre o seu... ele balançou a cabeça para afastar esses
pensamentos. Ele foi para o quarto, não tinha travesseiros os
separando dessa vez. Jhuliet estava virada para o outro lado, Jones
sabia que ela não estava dormindo, pois quando ele se deitou ao
seu lado, sua respiração, que quando dormia ficava calma, agora
estava acelerada, como se ela tivesse acabado de correr.
— Sei que não está dormindo — ele informou, já deitado ao
seu lado, ela suspirou e disse:
— Estou sim. — Isso fez Jones rir.
— Não sabia que era sonâmbula.
— Tem muita coisa que você não sabe sobre mim.
— Como o quê? — Ela se virou de barriga para cima, como
ele, seus ombros quase se tocaram.
— Como eu sou péssima em agradecer, e como posso ser
muito orgulhosa às vezes. — ela disse devagar.
— Também tem coisas que você não sabe sobre mim.
— Como?
— Sobre como eu acreditei que você conseguiria, porém não
queria nem imaginar se você não conseguisse, e fui imaturo agindo
pelas suas costas e eu sinto muito. — Jhuliet ficou um tempo em
silêncio.
— Fico feliz de saber isso sobre você.
— Se você não quiser aceitar tudo bem, eu acredito que você
vai dar um jeito.
— Obrigada pela ajuda, sem você eu não conseguiria —
disse Jhuliet, admitindo que a ajuda do marido fora muito bem-
vinda.
— Conseguiria, sim, uma mulher, no final, sempre consegue
o que quer.
— Nem sempre. — Jones se virou para ela
— O que você ainda não conseguiu, Mary Jhuliet?
Jhuliet se virou para ele também, estava escuro, todas as
velas estavam apagadas, e não tinha lua lá fora.Jones queria poder
ver o rosto de Jhuliet, mas ele, mesmo no escuro, sabia que ela o
estava encarando de volta.
— Você... — Aquilo saiu tão repentino que ele mal a ouviu
dizer, ele esperou o resto da frase,porém não veio de imediato, logo
após ela completou. — ...nunca me disse seu nome completo.
— Jones Willian Handevell. — Jhuliet repetiu seu nome em
voz alta como se estivesse vendo que som teria. Jones achou que
seu nome ficava muito mais bonito quando ela falava.
— O meu, caso não sabia, é Mary Jhuliet Choles. — Jones
fez o mesmo e repetiu seu nome em voz alta.
— Eu devia te chamar somente de Mary — provocou Jones.
— Só se eu te chamar de Will.
— Minha mãe me chamava de Will quando eu era menor...
pequeno Will. Quando fizdez anos, ela me chamou de Jones, dizia
que era o nome de um grande homem, forte e justo, era meu avô,
Jones Ville Felpold, ele era um grande músico.
— Sua mãe também tocava? — perguntou Jhuliet, surpresa.
— Sim, ela ensinava na igreja. Logo após teve Vaiolet, ela
tocara durante toda a gravidez, deve ser por isso que Vaiolet gosta
tanto de piano e... eu sinto falta dela — Jones disse isso pela
primeira vez em anos. Ele não sabia se estava chorando, só sabia
que já estava nos braços de Jhuliet. Ela passava a mão em seus
cabelos enquanto sussurrava uma música de ninar em seu ouvido.
Jones riu, estava se sentindo como uma criança de novo.
Quando acordou de manhã, estava sozinho na cama. E foi
nessa hora que começou a achar que Ravel tinha razão.
Jhuliet acordou e estava dormindo com Jones, realmente
como um casal, ela só acordou quando alguém bateu na porta. Ela
tirou o braço de Jones de cima dela para poder se levantar, e
quando foi até a porta, viu Mathilde.
— Bom dia, alguém veio te ver hoje: Lady Vanussa.
— Sério? Mas a essa hora da manhã...
— Já são uma da tarde. — Jhuliet se surpreendeu, nunca havia
dormindo até tão tarde, mas também não se lembrava de ter
dormindo tão bem, porém nunca tinha dormido abraçada a algo
diferente de seu travesseiro.
— Eu desço em um minuto.
— Direi a ela.
Jhuliet consegui se vestir sem acordar Jones, que ela realmente
esperava que estivesse dormindo e não a espiando. Quando
desceu, na sala estavam Lady Vanussa e Vaiolet conversando
animadamente.
— Acho que nem preciso apresentá-las — deduziu Jhuliet,
chegando atrás delas.
— Eu só lamento de não a ter me apresentado antes —
confessou Vanussa, se levantando para abraçar Jhuliet.
— Ela trouxe um vestido para mim, acredita? — comentou
Vaiolet já com o vestido no corpo dando giros para mostrar a Jhuliet.
— Ficou perfeito em você.
— E o melhor — começou Vanussa chegando perto, como quem
conta um segredo. — Ele é único, ninguém mais tem um igual, é
exclusivo para você.
— Nem sei o que dizer. Bom, vou deixar vocês a sós, muito
obrigada novamente — agradeceu Vaiolet saindo saltitando da sala.
— Você sabe como agradar as pessoas — disse Jhuliet,
sorrindo.
— Infelizmente não trouxe um para seu marido.
— Bom, ele é mais masculino mesmo.
— Você parece bem melhor hoje — opinou Vanussa, sorrindo.
— Bom, eu me sinto melhor.
— Fez as pazes com seu marido?
— Eu resolvi aceitar a ajuda dele. Foi bem imaturo de minha
parte fazer esse alarde todo.
— Não posso negar.
— Oh, perdão, não queria atrapalhar — disse Ravel, entrando na
sala.
— Esse é Ravel, o amigo de Jones — Jhuliet o apresentou
— Melhor amigo — corrigiu ele e se aproximou para beijar a mão
de Lady Vanussa. — É um prazer finalmente conhecer a melhor
estilista da cidade.
— Jhuliet tem sorte de estar rodeada de belos cavalheiros.
— Que sorte a minha, não é? — disse Jhuliet em tom irônico.
— Lady Vanussa, é um prazer vê-la novamente — cumprimentou
Jones no topo da escada. Jhuliet odiava o fato de o marido ser tão
bonito, não sabia o que brilhavam mais, seu cabelo ou o seu sorriso.
Na mesma hora ela se sentiu muito nervosa pela noite passada, seu
marido, ao contrário, era o poço da tranquilidade.
— O prazer é todo meu. Conheci o seu amigo, é tão galanteador
como você — opinou Vanussa apontando para Ravel.
— O que posso dizer? Estudamos na mesma escola. — Jhuliet
se virou quando Jones chegou perto, mas ela podia sentir que ele
estava bem atrás dela. — Bom dia para você — Jones disse
somente para ela ouvir e deu um beijo no topo de seu cabelo.
— B... bom dia para...você também. — Jhuliet se perdeu nas
palavras e se odiou por isso.
— Espero que você fique para almoçar com a gente — continuou
Jones para Vanussa.
— Quem diria? Eu cheguei bem na hora no almoço, sorte a
minha. — Vanussa e Ravel foram na frente, porém Jhuliet puxou
Jones para perto dela.
— Não precisa fingir que somos um casal perto dela, ela já sabe
da verdade — explicou ela sussurrado para ele, que a olhou confuso
e falou no mesmo tom.
— Jhuliet, eu só disse bom dia — ele disse e piscou para ela e
foi até a cozinha enquanto ela ficou parada processando o que ele
havia dito. Então ele queria brincar de provocá-la?
Quando ela chegou na cozinha todos já estavam sentados e
Mathilde já estava servindo o almoço. Jhuliet sentou bem à frentede
Jones, Vanussa e Ravel se sentaram nas laterais, também um a
frente do outro.
— Fico feliz que Jhuliet esteja sendo bem alimentada, ela
quase nunca comia quando trabalhávamos no ateliê — revelou
Vanussa.
— Sim, sorte a minha que meu marido nunca me deixa
passar vontade. — Pelo jeito a única pessoa que viu outro sentido
na frase foi Jones, que a olhou arqueando as sobrancelhas. Ela
somente respondeu com um sorriso.
— É uma pena que minha esposa seja insaciável, quer
dizer... em alguns momentos é realmente apropriado. — O
comentário de Jones fez os dois olharem para Jhuliet.
— Fico feliz de saber disso — disse Jhulite, piscando
surpresa.
— Sua felicidade é a minha! — afirmou Jones, brindando.
Jhuliet sabia que estava num jogo perigoso, Jones era homem,
estava acostumado a flertar com cada frase que saía de sua boca,
mas Jhuliet também não ficava para trás.
— Lady Vanussa, só queria agradecer pelos vestidos que
você me deu antes de me casar.
— Não tem por que agradecer, são difíceisde colocar, mas
tenho certeza que Jones pode te ajudar nisso — disse Vanussa
piscando para Jones
— Ah, com certeza ele é ótimo nisso — Jhuliet retrucou,
olhando para ele, que a encarou de volta e rebateu.
— É claro, porém Jhuliet só me chama quando quer tirá-los,
porque é muito difícilfazerisso sozinha. — Nesse momento Jhuliet
ficouvermelha pois imaginou a cena e acabou olhando para o prato,
mas não antes de ver o sorriso vitorioso do marido.
— O almoço estava ótimo — elogiou Lady Vanussa quando já
estava indo embora.
— Espero que volte mais vezes — convidou Jones, beijando
sua mão e se afastando para Jhuliet se despedir dela.
— Com certeza, irei roubar sua esposa por um minuto se não
se importa — avisou Vanussa, levando Jhuliet até a saída.
— Contanto que a me trague de volta depois... — brincou
Jones.
— Irei cuidar muito bem dela.
Vanussa segurou o braço de Jhuliet enquanto ela a
acompanhava até a saída.
— Era impressão minha ou...vocês dois estavam flertandono
almoço?
— Sim... foi impressão sua — respondeu Jhuliet, rindo.
— Eu sou velha, mas não sou boba. Vocês estavam
flertando, não achei que você estivesse aproveitado o casamento
desse jeito...
— Ei, não é isso que você está pensando, nós não estamos.
— Tenho duas perguntas:por que não e como não? Sinto lhe
dizer, mas seu marido é maravilhoso, se eu fosse mais nova...
— Lady... — Jhuliet a repreendeu, rindo. — É só... bem.. .não
é uma decisão que depende só de mim
— Querida, se você visse o jeito que ele te olhou, eu até me
questionei qual era o prato principal.
— Você é terrível!— disse Jhuliet a levando até a carruagem.
— Vou sentir sua falta, já sinto...
— Fico feliz que você está bem... acompanhada. Qualquer
coisa sabe onde me encontrar.
Jhuliet se despediu de Lady Vanussa e voltou para dentro.
Jones estava servindo um drinque para ele, que a ofereceu e ela
apenas negou com a cabeça.
— Tenho um baile para ir hoje — ele anunciou enquanto
colocava o gelo no copo.
— Que tipo de baile?
— De negócios. Eu gostaria que você fosse...
— Sério? — Jhuliet não podia negar que tinha ficado felizcom o
convite.
— Sim, eles querem conhecer minha nova esposa, estão muito
surpresos de eu ter me casado.
— Que tipo de reputação você tinha? — perguntou Jhuliet, rindo.
— Não era uma das melhores, confesso.
— Bom, e a Dia vai estar lá? — Jhuliet perguntou, e pela cara de
Jones ela sabia que iria.
— Se isso te fazse sentir melhor, Philip também vai estar lá —
revelou ele a provocando.
— Não ajudou muito.
— Não precisa ir se não quiser, é realmente uma reunião de
negócios, só que com música.
— Tudo bem, eu vou, não tenho nada na minha agenda, mesmo.
— Jones sorriu e disse:
— Não sabia que tinha uma agenda.
— Eu precisei, pois agora eu sou uma mulher ocupada.
— O baile é às sete, mas eu vou para lá daqui a cinco minutos. É
uma tradição, a gente resolve as coisas antes e depois o baile e só
para reunir todo mundo.
— Ah, tudo bem, eu irei sozinha, então?
— Vaiolet foi dormir na casa de uma amiga e Ravel, bem... Ele
tem outros compromissos. Realmente não precisa ir se não quiser.
— Não, eu irei. às sete em ponto.

***
Jhuliet estava, às sete em ponto, presa na estrada. Um dos
cavalos machucou a pata e estavam parados no caminho. O
cocheiro disse que faltava menos de cinco minutos até o lugar do
baile. Jhuliet resolveu ir a pé, o que foi um erro, pois ela já tinha
andado dez minutos e nada. Ela ouviu uma carruagem se
aproximando, ela literalmente se jogou na frente e esperou que
alguém parasse e não passasse em cima dela. Por sorte a
carruagem parou, Jhuliet não acreditou na sua sorte ao ver Philip
saindo lá de dentro.
— Jhuliet? O que faz aqui, aconteceu alguma coisa?
— Eu estava indo para o baile e o cavalo machucou a pata, e
eu vim andando, ele falou que eram cinco minutos, mas acho que
estou andando a meia hora.
— Bom, realmente são cinco minutos... de carruagem. Vem,
eu te levo lá — Philip disse enquanto ajudava Jhuliet a subir. — Por
que você está sozinha? Jones não vem?
— Acho que ele já está lá há muito tempo, disse que era
reunião de negócios.
— Ah, verdade, eu também tinha que estar lá, mas não faz
muito sentido aparecer depois de dois anos sem frequentar uma só
vez. Mas eu acabei vindo.
— Bom, eu também realmente não iria vir... mas eu não tinha
mais nada para fazer, então...
— Esses bailes de negócio são completamente chatos, só
queria avisar.
— Pelo menos eu conheço alguém, você no caso. — Philip
riu e disse:
— Bom, chegamos. — Ele a ajudou a sair da carruagem. —
Aliás, você está fabulosa essa noite.
— Muito obrigada, você não está nada mal também. — Ele
lhe ofereceu o braço e ela aceitou, Jhuliet não sabia explicar a
expressão das pessoas ao vê-la com Philip. Jhuliet não tinha
pensado que as pessoas podiam achar que ela era acompanhante
dele, que foi o que acharam, então ela soltou o braço de Philip e
disse:
— Irei procurar Jones, muito obrigada pela carona.
— Disponha.
Jhuliet saiu andando pelo baile, aquele salão ela nunca tinha
vindo antes. Para uma reunião de negócios estava bem cheio. Ela
logo viu Jones, era difícilnão tê-lo visto, Jones era muito alto e seu
sorriso brilhava, ele sempre chamava a atenção. Porém, quando ela
chegou perto, viu que ele estava acompanhado, e era Diana. Ela
falava algo que ele ria, ela colocava a mão no ombro dele e lhe dava
alguns empurrões de leve em seu ombro, ela bebia com ele e
sempre com seu sorriso perfeito quando ele falava algo.
— Eles são um casal perfeito — disse uma moça loira que
estava atrás de Jhuliet.
— Realmente eles combinam, como eu tenho inveja... —
Dessa vez foi a vez da moça morena.
— De qual dos dois?
— Dela, por ter um homem como ele só para ela, e dela
também por ser tão perfeita, chega a ser irritante. — As duas
mulheres grunhiram.
Naquele momento Jhuliet quis ir embora, realmente os dois
pareciam um lindo casal, ela
poderia ir embora e fingir que nunca tinha saído de casa, mas ela
respirou fundo e disse para as mulheres atrás dela:
— É uma pena que ele já seja casado com outra pessoa —
Jhuliet disse e se aproximou de Jones. Ele já a tinha visto antes de
ela chegar perto. Ele sorriu e parou de dar atenção para Diana, que,
quando a viu, só faltou seus olhos pegaram fogo.
— Não achei que viria, já são dez horas — ele disse já em
sua frente, e fazendo todos prestarem atenção nela também.
— Eu tive alguns imprevistos...
— O importante é que você está aqui, venha, vou te
apresentar algumas pessoas.
— Jones? Nós não terminamos de conversar — lembrou
Diana de braços cruzados.
— Daqui a pouco, preciso apresentar minha esposa para
algumas pessoas.
— Foi um prazer rever você, Diana — disse Jhuliet enquanto
Jones a puxava para longe dela.
Ele deve tê-la apresentado para, no mínimo, todos do baile.
Ela não aguentava mais apertos de mãos de beijos no rosto.
— Me dê um minuto? — pediu Jones enquanto se afastava
para conversar com dois homens que o chamaram.
— Estava enganada, eu tenho inveja de você por ser casada
com ele — disse a loira que estava atrás de Jhuliet anteriormente.
— Ele deve ser ótimo na cama — comentou a morena.
Jhuliet não soube o que responder, então apenas sorriu.
— Está tudo bem em contar, mesmo que você não conte, a
gente imagina do que ele é capaz. Meu nome é Bethy, aliás, e essa
é Sussy. — Bethy era a loira e Sussy, a morena.
— Queria que minha vida matrimonial estivesse assim, porém
meu marido só deita para dormir — revelou Sussy, bebendo um
grande gole de sua taça.
— Vou te dar uma dica, coloque uma roupa bem bonita, de
preferência que mal cubra o corpo, deite na cama como se fosse
uma coberta e só espere. Fiz isso com meu marido semana
passada, foi a melhor noite de todo o mês. Não tem jeito melhor de
provar que um homem gosta de você, se ele apenas te olhar e não
fazerou dizer nada, o seu casamento é uma mentira. Mas você não
precisa disso — disse Bethy para Jhuliet. — Aquele lá deve só
levantar da cama para comer.
— Com licença — pediu Jhuliet, se afastando delas e indo
até Jones. — Desculpa interromper.
— Não precisa se desculpar, nós que roubamos seu marido,
aliás, é um prazer conhecê-la — afirmou um dos homens que
estavam com Jones.
— O prazer é todo meu. Jones, acho que já vou embora.
— Tem certeza? Aconteceu alguma coisa? — perguntou
Jones olhando para ela, preocupado.
— Não, não. Eu só estou cansada, pode continuar se quiser.
— Não, eu irei com você. Me desculpem, senhores, irei levar
minha esposa para casa.
— É claro.
— Você acabou de me salvar de duas horas sobre política e
religião, muito obrigada. – Quando viu que Jhuliet não respondeu,
ele perguntou assim que entraram na carruagem: – Jhuliet, o que
foi?
— Não é nada, só fiquei cansada — ela disse suspirando,
não aguentava mais ouvir comentários sobre sua vida, até porque
todos estavam errados.
— Tem certeza?
— Claro, até que não foi tão ruim.
— Bom, que bom que pensa assim, essa a reuniões são
horríveis — opinou Jones, abrindo dois botões da sua camisa e
respirando fundo.
— Philip disse quase a mesma coisa. — Na mesma hora ela
se arrependeu quando disse. Jones respirou fundo e nem a olhou
ao perguntar.
— Então vocês se viram? — Ele não parecia estar nervoso,
como das outras vezes em que eles falavam sobre Philip, parecia
quase desinteressado.
— Ah, hoje no baile.
— Não o vi por lá.
— Sabe como é Philip, sempre fugindo da multidão —
comentou Jhuliet, mas sentiu que era uma péssima resposta.
— Não, eu não sei como ele é. Pelo jeito você deve saber.
— Não precisa sentir ciúmes de Philip — avisou Jhuliet,
brincando.
— Não é ciúmes.
— Então o que é? – ela perguntou chegando mais perto e
empurrando o ombro dele.
— Deve ser o mesmo que você sente quando vê Diana
comigo. — Na hora o sorriso de Jhuliet se desfez.
— Não, não é a mesma coisa, pois são situações
completamente diferentes.
— Pra mim parecem perfeitamente iguais.
— Eu e Philip nunca tivemos nada — argumentou Jhuliet,
olhando para Jones.
— Eu também não tenho nada com Diana.
— E é aíque vocês tem um diferencial,vocês já tiveram algo.
— Não era nada de mais, não chegava perto do que nós
temos agora. — Jhuliet queria acreditar que tinha alguma confissão
secreta naquelas palavras, mas ela só viu a diferença de Diana era
que ela e Jones não foram casados.
— Não tenho certeza, não temos um casamento de verdade.
— Jhuliet tentava se lembrar disso toda vez em que começava a
achar que um dia poderia ser um casal de verdade.
— Eu sei, Jhuliet, fui eu quem te propôs tudo isso, lembra?
Mas você podia parar de pensar nisto e aproveitar. Você às vezes
fica muito tensa quando está comigo, e às vezes você é
simplesmente você, eu sinto falta da Jhuliet que não ligava para
nada e fazia o que queria.
— Não tem como eu voltar a ser como eu era.
— Por que não? Olha, se você não está mais de acordo com
isso, está tudo bem, pode me dizer, e a gente termina isso tudo,
porque eu realmente sinto que eu te forcei a se casar comigo.
Acontece que eu era quem mais precisava me casar, e acabei te
levando junto, mas eu não quero que você fiqueinfeliznisso, porque
eu... realmente me importo com você, Jhuliet.
Ele olhou para ela tão profundamente que ela teve que
desviar o olhar. Ele tinha razão, ela não estava feliz, porque não
estava sendo sincera consigo mesma. Ela estava distante pois
queria que a distância diminuísse o que ela sentia por ele. Mas
agora Jhuliet sabia, descobrira o que já sabia há muito tempo.
Estava apaixonada por Jones, e devia contar para ele, e se ele não
sentisse mesmo, pelo menos ela teria sido sincera.
— Jones, eu preciso te confessar uma coisa. — Assim que
Jhuliet disse isso, a carruagem parou em frente à casa e ela ouviu
duas pessoas discutindo. Jones a ajudou a sair da carruagem. Era
Ravel e Diana discutindo na porta de casa.
— O que está acontecendo aqui? — Jones perguntou, o que
fez com que os dois se assustassem com seu tom de voz.
— Eu disse que ela não podia entrar — explicou Ravel.
— Eu só queria conversar com você — revelou Diana, se
aproximando de Jones.
— Sobre o quê? — perguntou Jones, vendo ela se aproximar.
— Algo... muito importante. Por favor, Will, me deixa entrar.
Jhuliet se surpreendeu ao ouvi-la chamá-lo de Will, seu
apelido de infância. Jones olhou para Jhuliet, que agora abraçava os
próprios braços e se aproximou dela e segurou sua mão.
— Está tarde, Dinna — Jones disse, ele parecia confuso.
— É muito sério, por favor. — Jones respirou fundo, mas
antes de responder olhou para Jhuliet e disse:
— Tudo bem por você? — Jhuliet assentiu. — Vamos, entre
— Jones disse ainda segurando a mão de Jhuliet. Dianna, pela
primeira vez, não a olhou com olhar de fúria, mas sim de tristeza.
Eles entraram e Diana se sentou no sofá da sala, ela se movia
tranquilamente pela casa, como se não fosse a primeira vez que
entrava ali. Jones se sentou em um sofá em frente a ela.
— Bom, eu vou para o meu quarto. Boa noite — anunciou
Jhuliet, se virando para sair da sala.
— Precisamos terminar aquela nossa conversa — lembrou
Jones, sorrindo. Jhuliet sorriu em resposta, mas seu corpo não
conseguiu ir para o andar de cima, então ela somente se escondeu
atrás de uma coluna da sala.
— Vocês não combinam — Diana opinou, negando com a
cabeça.
— O que você tem para dizer, Diana?
— Eu sinto sua falta.— Jones apenas respirou fundoe disse:
— Era só isso?
— Como só isso? Você não sente falta das nossas
aventuras? Não vai me dizer que você vai se contentar com essa
vida chata que você vive agora! — perguntou Diana, rindo e
apontando para o ao redor.
— Isso é passado.
— Passado? Só faz alguns meses desde a última vez.
— Eu estou casado agora, caso ainda não tenha percebido.
— Não me venha com desculpas de casamento, você não
gosta dela.
— Eu gosto muito dela. — Pela cara de Diana, ela parecia ter
levado um soco no estômago. Jones nem sequer pensou antes de
responder.
— Nós ainda podemos nos encontrar escondidos como antes
e...
— Eu preferiria atirar em mim mesmo do que fazeralgo para
machucar minha esposa. — Jones disse rindo, mas falava sério.
— Jones, você não nasceu para ser casado, nós não somos
assim — Diana disse como se tudo aquilo fosse um grande absurdo.
— As pessoas mudam...
— Eu duvido que ela te dê as noites que já passamos juntos,
eu não entendo, o que ela pode ter que eu não tenha! — exclamou
Diana se levantando, mas Jones ainda estava sentado, ele respirou
fundo e se virou para ela.
— Jhuliet me dá muito mais que isso, ela me dá paz,
confiança, e ela me dá uma coisa que nem se você tentasse muito
iria conseguir... ela me dá amor. — Nesse momento, Jhuliet espirrou
devido ao pó da coluna em que estava escondida.
— Você estava nos espionando? — indagou Dianna, se
levantando e vendo ela escondida.
— Na verdade, eu preciso falar algo urgente com meu
marido, mas não queria atrapalhar vocês.
— Jhuliet? O que houve? — Jones a olhou preocupado,
Jhuliet sabia que amava esse homem, e depois de tudo que ele
dissera a Diana, ela não podia ter mais certeza.
— Jones, eu estou...
— Eu estou grávida. — Jhuliet foi interrompida pela frase de
Dianna. — E o filho é seu, Jones.
Nessa hora Jhuliet só viu tudo ficar branco.
Capitulo 23
— Eu estou grávida. E o filho é seu, Jones.
Era uma frase que Jones não esperava ouvir tão cedo, ainda
mais de Diana. Porém, quem ficou mais surpresa foi Jhuliet, que
desmaiou. Jones conseguiu pegá-la a tempo, ele a coloco no sofá,
Diana não disse uma palavra.
— Por favor, me diz que é mentira — implorou Jones,
fechando os olhos.
— Por que eu mentiria sobre isso?
— Eu não sei, não pode ser possível. Como você sabe?
— Eu estou com enjoos e muito tonta, e esse mês você sabe,
não veio... eu fui ao médico, hoje de manhã, no baile ela me deu os
parabéns.
— Não, não, não... — Jones estava sentado no sofá olhando
para as mãos.
— Se não acredita em mim, vamos no médico comigo, isso
também não é fácil para mim... eu não tenho um título, nem marido,
eu não estaria aqui se realmente não precisasse de ajuda... achei
que você devia saber...
— Como sabe... que é meu?
— Eu não acredito, quem você pensa que eu sou? —
vosciferou Diana, se levantando, furiosa.
— Diana, vamos conversar melhor sobre isso de manhã, por
enquanto, você dorme aqui, vou pedir para Mathilde preparar um
quarto para você. — De repente ouviu jhuliet se mexer ao seu lado.
— Jones? — Ela sorriu ao abrir os olhos e ver ele em sua
frente.
— Ei, como está se sentindo?
— Eu tive um péssimo sonho... — começou Jhuliet, mas
quando viu a expressão de Jones e ela viu Diana parada na sala,
ela sabia que era real. — E... Eu vou para o meu quarto. — disse
Jhuliet, se levantando.
— Jhuliet, por favor, espera.
— Jones, eu... — começou Diana, indo atrás dele.
— Diana, nós conversamos amanhã — decidiu Jones e subiu
atrás de Jhuliet. Ela estava no quarto, andando de um lado para o
outro. — Jhuliet, eu posso explicar...
— Fique à vontade! — disse Jhuliet, olhando furiosa para
Jones.
— Eu... na verdade eu não sei muito bem como aconteceu,
quer dizer, sei como aconteceu, mas...
— Diana está esperando um filho seu. Um bebê seu... —
Jhuliet respirava com forçae continuava andando de um lado para o
outro.
— Por favor, fala alguma coisa — pediu Jones, dando um
passo até ela.
— O que eu deveria dizer? Meu marido vai ser pai... do filho
de outra mulher, eu... não consigo... — Jhuliet se sentou na cama e
respirou fundo. — O que você pretende fazer?
— Eu... não sei.
— Bom plano!
— Isso é... Jhuliet, eu realmente não sei o que te dizer. Mas
eu te juro, desde que te conheci, eu nunca mais encontrei com
mulher nenhuma, muito menos Diana, se isso aconteceu, foi muito
antes de eu voltar, muito antes da gente se conhecer. — Jhuliet
olhou para os olhos de Jones, ela viu um medo ali, mas não sabia
de quê.
— Eu acredito em você.
— Diana vai dormir aqui essa noite, e amanhã vem cedo nós
vamos dar um jeito, eu prometo que eu...
— Eu estou apaixonada por você. — Isso sim deixou Jones
sem palavras. — E eu não consigo mais guardar isso para mim. Eu
não estava sendo sincera com você, muito menos comigo, e eu sei
que tem pouco tempo que nos conhecemos e que você não me ama
de volta, mas tudo bem, eu não me importo, só saber que você
sabe... já é suficiente e eu...
Jhuliet não conseguiu terminar pois Jones a beijou. Dessa
vez não foi como as outras, foi apressado, desesperado, como se os
dois precisassem muito daquilo, o que era verdade. Jhuliet estava
sentada na cama, Jones estava com uma mão em seu rosto e outra
em suas costas, mesmo sem ar o beijo continuou, Jhuliet sabia, ela
faria qualquer coisa por Jones.
Ele parou o beijo e olhou em seus olhos.
— Você é uma mulher incrível, Mary Jhuliet.
— Eu não quero ser incrível, eu só quero ser alguém que
você goste. — E lá estava Jhuliet, estava completamente vulnerável,
como jamais ficara com ninguém.
— Você é melhor... muito melhor. — Alguém bateu na porta,
era Matilde.
— Diana já está no quarto de hóspedes.
— Eu quero falar com ela — disse Jhuliet, olhando para
Jones.
— Jhuliet, melhor não...
— Confie em mim. — Jhuliet estava diferente, ela se sentia
diferente, mais leve. Jones apenas assentiu e sorriu. Ela bateu na
porta antes de entrar. Diana levou um susto ao vê-la em sua porta.
— Esperava outra pessoa?
— Na verdade, sim...
— O que você acha que é? — Jhuliet perguntou, mas Diana
a olhou confusa. — O bebê, acha que é menina ou menino?
— Ah, não sei, espero que seja menina, eu acho. — Diana
parecia nervosa, ela não olhara nos olhos de Jhulietb nenhuma vez.
— Eu vou ser breve, Diana. Eu amo o Jones. Ele é casado
comigo, se você acha que vai atrapalhar meu casamento eu sinto
muito informar de que não vai conseguir — avisou Jhuliet com os
braços cruzados na frente do corpo, não sabia onde tinha tirado
tanta confiança. Diana não conseguiu pensar em uma resposta.
— Vocês estão bem? — perguntou Jones chegando na porta
do quarto e olhando para as duas, para ter certeza de que ainda não
tinham se matado.
— Claro, boa noite, Diana — desejou Jhuliet dando um
sorriso amarelo. Jhuliet voltou para seu quarto. Quando chegou, viu
Jones indo para a janela e ficando lá por um tempo.
— Jones? — ela o chamou e ele levou um susto ao ouvi-la.
— Está tudo bem?
— Não acho que vou conseguir dormir — ele disse lhe dando
um sorriso fraco. Jhuliet sorriu e Jones a olhou, confuso.
— Eu estava imaginando como seria seu filho,se ele parecer
com você, vai ser tão cobiçado — imaginou Jhuliet, olhando para
Jones, mas ele lhe encarava, sério.
— Não precisa fazer isso.
— Fazer o quê?
— Fingir que isso não é grande coisa. — Jhuliet sorriu sem
graça, ela estava tentando digerir tudo, seu marido ia ser pai da
antiga amante.
Ele se sentou ao seu lado, respirou fundoe segurou sua mão
com força.
— Nós estamos juntos nessa? Como em todas as coisas
vezes, certo? Eu não vou abandonar você. — Jhuliet disse, séria.
— Não pode prometer o que não pode evitar.
— Então não me faça quebrar essa promessa.
— Eu não faria nada para magoar você.
— Eu sei, é por isso que eu vou sempre ficar do seu lado. —
Jhuliet deitou a cabeça no ombro de Jones. — Porque eu amo você.
— Jones não respondeu, apenas respirou fundo e beijou o topo de
sua cabeça. Quando Jhuliet foi deitar, Jones não a abraçou dessa
vez, ele apenas se virou para o outro lado. Ela fechou os olhos
desejando que tudo tivesse sido um sonho.
Quando Jhuliet acordou, Jones não estava ao seu lado,
estava sozinha com somente o sol iluminando o seu lado da cama.
Ela se levantou, não tinha dormido muito bem, teve pesadelos com
o novo filho de Diana, via Jones a trocando pela Diana, segurando
um garoto nos braços. Ela ficou feliz por ter acordado. Quando
desceu, viu que tinha muita gente na sala, reconheceu que um era o
melhor doutor da cidade, ela já o tinha visto.
Diana estava sentada no sofá, Jones estava dando voltas na
sala, Ravel estava tentando acalmá-lo e Vaiolet olhava furiosamente
para Diana.
— Acho que só eu estava dormindo — deduziu Jhuliet, a
única que a olhou foi Vaiolet.
— Como disse, muito repouso e sem bebidas por favor... —
disse o doutor a Diana.
— Certo... — concordou ela timidamente.
— Acho melhor já ir preparando algumas coisas... você sabe.
— Tudo bem...
— Bom, eu vou indo. Jones, qualquer coisa me avise, tudo
bem?
— Muito obrigado, doutor, vou te deixar informado. — Jones
o acompanhou até a porta. Diana se levantou para falar com Jones.
Quando ele voltou, ele apenas passou direto por ela e foi para a
cozinha. Ela se sentou no sofá novamente e encarou os pés com a
cabeça baixa.
— Você podia falar com ele? Ele não quer me ouvir — pediu
Ravel atrás de Jhuliet.
— O que eu falo? — perguntou Jhuliet, nervosa.
— Não sei, só faça ele falar, ele vai explodir a qualquer
momento.
— Vou tentar. — Jhuliet estava nervosa enquanto ia até a
cozinha. Jones estava de costas para ela, ele estava com as mãos
apoiadas no balcão da cozinha, ele olhava para baixo e respirava
fundo, ela não sabia como abordá-lo. Então apenas colocou a mão
em seu ombro e ele se assustou e saiu de perto. Quando viu que
era Jhuliet, respirou fundo e se apoiou no balcão, ela não sabia o
que dizer, e nem precisou, pois ele mesmo quebrou o silêncio.
— Ele não sabe de quantas semanas ela está, mas sente
que talvez seja de vinte e seis semanas.
— Bom, é bastante tempo.
— Sinceramente, não sei o que fazer... — Jhuliet segurou sua
mão e olhou nos seus olhos.
— Eu também não. — Jones riu pela primeira vez no dia.
— Que bom que estamos de acordo.

Vaiolet começou a disparar perguntas para Jones, ela não


queria ficar ali para essa conversa, ela esqueceu o quão estranha
era a situação de seu marido estar prestes a ser pai... e o filho não
ser seu. Ela saiu da cozinha e foi para fora de casa, ela não achou
que um dia iria passar por isso. Ela foi para o jardim e se sentou no
único banco que tinha ali. Ela se lembrou de que sua primeira
conversa de verdade com Jones fora naquele banco. Jhuliet se
levantou e pegou uma vassoura de jardim e começou a varrer o
passeio do jardim, tirou as ervas daninhas das árvores e regou as
plantas. Ela não sabia, mas tinha lavanda no cantinho. Ela pegou
algumas e fez um arranjo com outras plantas perfumadas, ela queria
colocar em seu quarto, mas ela era sensívela cheiros, então entrou
em casa. Não tinha ninguém na sala, então ela foi para o quarto
onde Diana estava. Ela não sabia o que dizer caso Diana estivesse
lá, mas por sorte não estava.
O quarto estava uma bagunça. Jhuliet também não sabia por
quanto tempo Diana iria ficar ali, mas mesmo assim colocou
algumas flores do seu arranjo no vaso ao lado da cama de Diana.
— O que está fazendo? — perguntou alguém atrás de Jhuliet.
Eram Diana e Jones.
— Aqui estava uma bagunça, como conseguiu dormir? —
Diana abriu a boca para responder, mas logo a fechou.
— Aquilo são jasmins? — perguntou Jones aprontando para
o vaso na mesa de cabeceira.
— Na verdade são lavandas com erva doce, parece uma
combinação estranha, mas tem uma otima fragrância.
— Será que eu posso falar com você? — perguntou Jones,
sem nem esperar ela responder para sair do quarto. Jhuliet ia sair
também quando Diana a chamou.
— Jhuliet... obrigada. — Ela parecia arrependida, um olhar
que ela nunca vira em Diana antes.
— Dianna... são só flores. — Pela primeira vez Jhuliet viu
Diana sorrir com sinceridade.

Jones estava no quarto esperando Jhuliet chegar, ele andava


de um lado para o outro, coisa que ele mais fazia ultimamente.
— Queria falar comigo? — perguntou Jhuliet, chegando no
quarto e trazendo com ela o cheiro das flores que colocara no
quarto de Diana.
— O que foi aquilo?
— O que quer dizer? Eu só coloquei flores, se ficou com
ciúmes, tudo bem, eu colho umas para você também.
— Você está se torturando, não precisa se forçar a ser boa
com ela.
— Eu não tenho nada contra ela, ao contrário, ela que deve
me odiar por ter roubado o amor da vida dela.
— Eu não sou o amor da vida dela. Diana não é assim...
— Não é assim como...? Não se apaixona? Nunca pensou na
possibilidade de ela estar apaixonada por você? — indagou Jhuliet
como se fosse óbvio.
— Ah... já é a segunda vez que eu ouço isso essa semana.
— E já é a terceira vez que você muda de assunto!! —
reclamou Jhuliet de braços cruzados, ela estava passando muito
tempo com Vaiolet.
— Acontece que nós estávamos juntos por interesse em
comum.
— Como nós estamos? — perguntou Jhuliet.
— Não foi isso que eu disse. Nós somos diferentes...
— Defina diferente...
— Vamos dizer que são interesses diferentes. — Jhuliet não
entendeu no primeiro momento, mas, depois que entendeu, ela não
disse mais nada. — Eu não quero discutir por você, eu vou levar
Diana para a casa, você vem comigo?
— Como quiser.
— Te espero la fora. — E Jones sabia que agora ela estava
zangada, e com razão, ele também estava... ele iria ser pai,
inacreditável, e da criança de Diana ainda por cima. Ele não queria
acreditar, mas também sabia que não tinha por que Diana inventar
uma coisa dessas.
Ele saiu de casa e entrou na carruagem. Jhuliet já estava lá,
e por incrível que parecesse, Vaiolet também estava.
— O que está fazendo aqui? — perguntou Jones quando
encontrou três mulheres em sua carruagem.
— Tenho aula de piano com Philip, pensei que podia
aproveitar e ir com vocês.
— Não conte nada a ele sobre isso — pediu Jones,
suspirando.
— Eu não faria isso.
— Vaiolet... estou falando sério!
— Eu sei, não direi nada. — Assim que chegaram ela disse:
— Até mais tarde.
— Será que podemos parar em um lugar primeiro? —
perguntou Diana, Jones somente assentiu. Quando chegaram, os
três desceram da carruagem. Parecia ser uma clínicamédica, Diana
olhou para os dois. — Eu só preciso tirar uma dúvida. Jones?
Poderia vir comigo?
— Eu espero aqui fora — decidiu Jhuliet e viu os dois
entrarem. Ela respirou fundo, eles iriam dar um jeito de...
— Jhuliet? — Assim que ela se virou, viu Agatha vindo em
sua direção.
— Agatha? O que faz aqui? — perguntou Jhuliet, suspresa.
— Que bom que te encontrei. Assim posso te contar uma
grande novidade, eu estou grávida! — Os olhos se Jhuliet se
encheram, dava para ver que ela estava muito feliz.
— Sério? Isso é incrível — exclamou Jhuliet, lhe dando um
abraço não muito apertado.
— Sim, faz dias que não me sinto bem, achei que fosse
somente estresse pois esses dias têm sido difíceis.Huldim achou
melhor chamar um médico, ele confirmou, estou grávida!
— Estou muito feliz por você, de verdade — afirmou Jhuliet,
mas ela tinha um sorriso triste, Agatha olhou em seu rosto.
— Não se preocupe, eu tenho certeza que o seu também não
está muito longe. — Nessa hora Jones saiu da clpínica sozinho. Ele
ficousurpreso quando viu Agatha. — Oh, Jones! Estávamos falando
de você — comentou Agatha, fazendo sinal para ele se aproximar
das duas.
— Estavam? — perguntou Jones, curioso.
— Eu estava contando a ótima notícia para Jhuliet, eu estou
gravida! — E então Jones entendeu a expressão no rosto de Jhuliet.
— Ah, isso é ótimo, meus parabéns!
— Eu disse a Jhuliet que o de vocês também está bem
próximo, vocês querem ter filhos, certos? — perguntou Agatha,
Jhuliet apenas suspirou e disse:
— Eu vou te esperar na carruagem, meus parabéns
novamente, Agatha. — E Jhuliet se afastou dos dois sem ao menos
dizer mais nada, ela subiu sozinha na carruagem e abraçou o
próprio corpo.
Depois de vários minutos, Jones voltou à carruagem, ele não
disse nada no caminho para a casa.
— Eu acho que o filho de Agatha vai ser uma menina. O que
você acha? — Apesar de Jhuliet estar sorrindo, Jones podia ver que
ela estava magoada.
— Eu sinto muito, Jhuliet, você não merece passar por isso
tudo... — começou Jones, mas logo foi interrompido por Jhuliet.
— Eu também iria querer uma menina. — Ela olhou para ele.
— Assim como minha mãe sempre me quis. — Ela fechou os olhos
com força e voltou a olhar pela janela. Naquele momento, Jones
queria lhe dar todas as bebês meninas do mundo. Jones olhou para
Jhuliet e soube, mas ele achou muito injusto lhe dizer isso agora,
então apenas disse:
— Chegamos. — Jhuliet não aceitou sua ajuda para descer e
muito menos o esperou descer para ajudá-la. Ela entrou na frente.
Quando entrou, viu que Diana estava lá, não sabia por que ela
estava lá e como tinha chegado primeiro que eles. Jhuliet se sentou
e viu Jones e Diana conversando sobre algo, ela passava a mão
pela barriga e ria, Jones riu também. Jhuliet se sentiu invisível,
sentiu como se estivesse atrapalhando os dois.
— Vou deixar vocês conversarem. — Jhuliet subiu as
escadas.
— Jones! Eu acho que ele se mexeu — disse Diana,
surpresa, atraindo toda a atenção dele.
— O quê? — Ela pegou sua mão e colocou em sua barriga,
na hora ele não sentiu nada, mas depois sentiu uma pontada em
sua mão. — Meu Deus, isso realmente... parece um chute. — Ele e
Diana riram. E quando Jhuliet já não estava mais ali, Diana respirou
fundo e disse:
— Jones, eu sempre achei que te amava...
— Diana...
— Não, me deixa terminar. Eu achei que te amava, mas a
verdade era que... você sempre estava lá para mim, e eu não tinha
mais ninguém, mas vendo Jhuliet, eu percebi que eu nunca vou
conseguir te amar tanto assim, ela faria qualquer coisa por você,
Jones. Isso sim é amor.
— Eu...
— O que está esperando para dizer que a ama? Eu vou para
a casa.
Jones sabia que esse era o momento certo. Ele subiu as
escadas correndo e foipara o quarto, mas Jhuliet não estava lá. Ele
procurou na casa toda, mas nada dela em lugar nenhum. Então ele
foi para o quarto e se sentou na cama, e viu a porta do guarda-
roupa aberto.
— Não, não, não. — Ele foi até o guarda-roupa e não tinha
nenhuma peça ali, foi na cômoda, nada, no banheiro só tinha suas
coisas. Ele foi até a escrivaninha e encontrou uma carta, ele a
pegou, mas só tinha quatro palavras:Jones, eu sinto muito.
Quando ele desceu as escadas, Diana o olhou preocupada.
— Jones? O que aconteceu?
— Jhuliet... ela foi embora.
Capitulo 24
Jhuliet andava depressa, ela estava com uma grande bolsa
ao seu lado na carruagem, mas elas ainda estavam mais leves do
que carregar o fato de que seu marido iria ser pai. Jhuliet realmente
tentou ser compreensiva, e, por incrível que parecesse, estava
conseguindo, até sair com Jones e ver Agatha. É claro que estava
muito felizpela cunhada, mas estava triste por si mesma, talvez ela
não tivesse um bebê, talvez ele nunca fosse capaz de ama-lá de
verdade, e ela realmente achou que somente o seu amor era
suficiente, mas... não era. Ela queria ser amada de volta, queria se
sentir em casa, queria tudo que achou que nunca fosse querer,
nunca se importou com isso antes, mas agora só a possibilidade de
não ter já a deixava extremamente triste.
E a gota d’água foi quando ela viu Jones e Diana sentados
juntos, ele com a mão na barriga dela e um grande sorriso no
rosto... não foi fácil arrumar suas coisas e ir embora daquele jeito,
mas se despedir seria muito pior. E tentar explicar o motivo seria
impossível... pois nem ela mesma conseguia. No caminho, ela
pensou no que dizer caso Jones a alcançasse, mas não precisou,
pois ele não foi atrás dela. Ela pensou em dizer que estava fazendo
isso por Diana, que no momento ela precisava mais dele do que ela,
mas sabia que não era verdade. Ela foi embora porque não
conseguia ficar na casa sabendo de tudo que estava acontecendo, e
ela não queria pedir para ele escolher, pois tinha medo da resposta
e também não seria justo com Diana.
Quando chegou em sua casa, ela sabia que não estaria
sozinha, seus irmãos estavam lá para arrumar algumas coisas da
casa. Ela tocou a campainha e foi Agatha quem a atendeu.
— Jhuliet? O que faz aqui? — disse ela confusa, porém lhe
dando um abraço que no mesmo momento Jhuliet teve vontade de
chorar.
— Eu vou passar a noite aqui — anunciou Jhuliet, fingindo
seu melhor sorriso.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Agatha,
preocupada.
— Não... só senti falta de casa.
— Sabe que pode falar qualquer coisa comigo, não sabe? —
Não isso, pensou ela.
— Eu sei, posso entrar?
— Essa casa é sua, do que está falando? Vem, eu te ajudo
— pediu Agatha lhe ajudando a entrar com as bolsas.
— Não devia carregar tanto peso, faz mal para o bebê —
comentou Jhuliet, tirando suas coisas da mão de Agatha. — Onde
está Huldim?
— Ele já volta, disse que tinha algumas coisas para resolver.
— Eu vou para meu quarto, se precisar de algo.
— Claro, eu te aviso.
Jhuliet subiu com tudo para cima e colocou em seu quarto.
Ela preferiu não desfazeras malas, não por agora. De repente, ela
entrou em pânico. Jones com certeza viria atrás dela, e o que ela
diria? Estava desistindo do casamento? Não iria mais voltar?
Perguntas que ela fazia para si mesma e que também não sabia
responder. Ela tinha que ir embora, ali seria o primeiro lugar onde
Jones iria procurá-la. Ela desceu as escadas para o andar de baixo,
porém, quando estava no meio do caminho, alguém bateu na porta
e Agatha se levantou para atender. Jhuliet se escondeu no corredor.
— Jones, que surpresa — disse Agatha, abrindo as portas
para ele entrar.
— Ah... boa noite... eu... Jhuliet está aqui? — Ele parecia
confuso e desnorteado, olhava para todos os lados, ele estava todo
encharcado, seus cabelos caindo pelo rosto do jeito que ela mas
gostava.
— Ah, sim ela acabou de chegar, vou chama-lá. — Antes de
Agatha se mover, Jhuliet saiu do corredor e entrou na sala.
— Estou aqui. — Assim que Jones a olhou o desespero
tomou conta de si, suas pernas fraquejaram, mas agora era tarde
demais.
— Eu posso falar com você? — Jones disse bem sério, ele
também parecia estar furioso.
— Claro, vamos para a sala de música — Jhuliet concordou e
nem ao menos o esperou, ela estava tendo um déjà vu sobre a sala.
Ela entrou e deixou a porta aberta atrás de si. Jones demorou um
pouco entrar, ele fechou a porta logo em seguida. — Sobre o que
queria falar comigo?
— Você sabe muito bem — ele afirmou furioso e bem alto,
mas depois respirou fundo e disse calmamente: — Quero saber por
que você foi embora...
— Eu queria... ir para casa — respondeu Jhuliet, pensando
em uma resposta.
— Aquela é a sua casa...
— Essa é a minha casa, Jones.
— Foi por causa da Diana, não foi?
— Ela foi só um dos motivos.
— Tudo bem... acho que realmente você devia passar a noite
forapara pensar um pouco sobre tudo e depois você volta e a gente
pode...
— Jones, eu preciso de um tempo — Jhuliet disse tão decida
que até ela se surpreendeu.
— Um tempo? — Jhuliet assentiu, ela podia ver a tristeza nos
olhos do marido. — Tem algo que eu possa fazerpara você mudar
de ideia?
— Eu não acho que você consiga, acontece que me machuca
te ver com ela, eu tentei aceitar, mas eu não consigo, estou me
sentindo uma intrusa lá dentro, e não importa quanto tempo passe
juntos, agora você sempre vai ter um vínculo com ela.
— Olha, eu entendo que...
— Não, Jones você não entende, eu não consigo e não quero
te dividir com ela, e seria extremamente injusto te fazer escolher,
então eu facilitei as coisas para você, eu fui embora.
— Você disse que a gente ia fazeras coisas juntos, e agora é
você que está decidindo as coisas pelas minhas costas.
— Jones, eu te amo, e é extremamente difícilpra mim passar
por isso, se você me amasse de verdade, você entenderia. — Aquilo
deixou Jones calado por um minuto
— Eu não queria te machucar... Jhuliet, eu... — Naquele
momento, Jones na sua frente, todo molhado e pedindo para ela
não ir embora, Jhuliet se deu mais uma chance, ela precisava ter
certeza de uma coisa antes de se jogar de cabeça e enfrentar tudo
que viesse. Ela precisava saber se Jones também a amava, e se ele
dissesse que a amava também e que não era para ir embora, ela
iria tentar de novo, iria doer, mas ia valer a pena, pois estava com
ele. Porém Jones levantou a cabeça e disse: — É isso mesmo que
você quer? — E naquele momento Jhuliet viu que ele não sentia o
mesmo.
— Sim, é o que eu quero. — Ele pode não ter percebido, mas
Jhuliet disse aquilo com um aperto no coração. Jones se virou para
ir embora, no entanto parou no meio do caminho e se virou para ela.
— Você prometeu que nunca ia me abandonar. — Jhuliet
respirou fundo e disse:
— Nós dois prometemos o inevitável. — Aquilo foi como um
soco em Jones, Jhuliet pode ver no seu olhar, ele apenas assentiu e
saiu da sala.
Jhuliet nunca chorara tanto antes de dormir quanto naquela
noite, e naquela mesma sala onde tudo começou, e agora onde tudo
estava acabado.
Ela acordou no dia seguinte se sentindo péssima, havia
dormindo muito mal e sentia que faltava alguém, obviamente era
Jones, como ela pode se acostumar com a companhia dele em tão
pouco tempo? Agatha havia batido em sua porta umas três vezes só
naquele dia, o sol não batia mais em sua janela, ela presumiu que já
era tarde. Na terceira batida, Jhuliet se levantou para atender. Era
seu irmão e ele parecia zangado, mas quando viu seu estado ele
assumiu um tom preocupado.
— Você está bem? — ele perguntou, tentando olhar dentro
de seu quarto, procurando não sabia o quê.
— Por quê?
— Você nunca foi de dormir até tarde... — lembrou Huldim,
ele estava visivelmente preocupado.
— Veio até aqui para isso? — Jhuliet sabia que estava mais
ranzinza do que o normal.
— Não... tem um homem lá em baixo, ele está lhe esperando
faz um tempo.
— Não quero falar com Jones...
— Não é seu marido, é outra pessoa, disse que era o amigo
dele, ele está te esperando nos jardins.
Jhuliet respirou fundo e fechou a porta. Tinha certeza de que
se tratava de Ravel, mas sobre o que ele queria falar com ela?
Jhuliet se vestiu e desceu as escadas, todos seus irmãos estavam
na sala, mas nenhum se pronunciou. Ela foi até os jardins, Ravel
estava em pé olhando as plantas na mini estufa. Olhando de longe
ele parecia bastante com Jones, mas ao mesmo tempo não, quando
ele a viu sorriu amigavelmente.
— Desculpe estragar seu sono de beleza — disse ele, a
olhando de cima a baixo.
— Queria falar comigo? — Ravel se sentou no banco atrás
de si e deu um tapa ao seu lado para Jhuliet se sentar, e foi o que
ela fez. Ele demorou alguns minutos para perguntar.
— Aconteceu algo entre vocês? — perguntou Ravel, sem
olhar para ela.
— O que quer dizer?
— Ele está um tanto estranho, eu diria. Primeiro, ele chegou
ontem todo molhado e não disse uma palavra. Hoje ele está super
doente, porém não sai do quarto, não foi tomar café da manhã, que
é a refeição favorita dele, e você não dormiu em casa.
— Nós tivemos uma discussão.
— Foi tão ruim assim?
— Pior...
— Foi pela Diana, não é? Nem precisa responder, isso tudo
está sendo muito confuso para ele também, e eu não estou falando
que você não tem o direto de estar brava, é claro que tem e eu
super concordo. Mas Jones... ele não é uma pessoa fácil, mas ele
realmente gosta muito de você, e ele não é de lidar bem com
perdas. Quando a mãe dele morreu, alguns anos depois ele foipara
a faculdade, que aliás foi lá aonde nos conhecemos, e ele era uma
pedra dura, ele se fechoue não deixou ninguém abrir. Foi assim por
anos, até que ele ficou mais à vontade, mas Jhuliet, eu nunca vi o
Jones olhar para alguém como ele olha para você.
— Ravel, eu não consigo voltar para lá agora, realmente não
consigo.
— Eu entendo, Jhuliet, não vim aqui te forçar a voltar, isso é
escolha sua. Eu só fico preocupado com Jones, não acho que ele
está preparado para perder alguém... de novo. E eu tenho medo de
ele se fechar de novo. – Ravel se levantou e foi caminhando até a
entrada da casa, Jhuliet foi atrás dele.
— Ravel, você acha que ele me ama? — Ravel sorriu e
perguntou:
— O que é amor para você, Jhuliet?
— Bom... amor é quando a pessoa diz que te ama, e não te
deixa ir embora...
— Jhuliet, quando você descobrir o que é o amor... você não
vai encontrar alguém que te ame tanto quanto Jones. Pense nisso...
Assim que Ravel saiu, Jhuliet entrou em casa. Seus irmãos
estavam obviamente lhe espiando, ela entrou em seu quarto e se
deitou na cama pensando no que a frase de Ravel significava.

3 semanas depois...

Jhuliet não achou que conseguiria ficar tanto tempo longe de


Jones, porém já faziatrês semanas que não o via, nem teve notícias
sobre ele, não havia um dia em que não pensasse nele. Na primeira
semana ela passava em frente à sua casa, mas nunca chegou a
entrar. Certa vez o viu na janela e voltou correndo para casa. Ela
voltou a frequentar o ateliê de Lady Vanussa, não podia negar que
sentira falta, Vanussa não a obrigou a contar nada, e ela achou
melhor assim, pois nem ela mesma sabia direito o que havia
acontecido.
No mesmo dia, Lady Vanussa pediu para Jhuliet buscar
algumas encomendas de pano no centro, e ela foi a pé mesmo,
mas, quando estava chegando, viu Philip na porta da igreja. Ele
parecia desesperado, quando a viu, veio até ela.
— Philip? O que aconteceu? — Jhuliet perguntou,
preocupada.
— Vaiolet... ela não está se sentindo bem, ela precisa ir para
casa.
— Meu Deus, o que houve com ela?
— Ela está com muita febre... reclamando de dores... você
pode levar ela para casa?
— E... eu... — Jhuliet disse indecisa, levar Vaiolet para a casa
não era o problema e sim de quem era a casa.
— É melhor eu não me encontrar com Jones. Eu chamo uma
carruagem e você leva ela, tudo bem?
— E... eu... — Antes que Jhuliet pudesse contestar, Philip
voltou para a igreja e trouxe Vaiolet para fora, ela estava muito
pálida e suava bastante.
— Jhuliet? — ela disse quando a viu.
— Ela vai te acompanhar até em casa, por favor me dê
notícias dela mais tarde — pediu Philip, a ajudando a subir na
carruagem, Jhuliet foi logo atrás.
— Desculpe, não queria te preocupar — desculpou-se
Vaiolet, com a cabeça encostada na janela.
— O que aconteceu? Parece que você está resfriada —
comentou Jhuliet, colocando as costas de sua mão em sua testa e
vendo que ela realmente ardia em febre.
— Aconteceu muita coisa, eu acabei pegando chuva semana
passada, mas hoje eu me senti mal... — ela explicou, porém foi
interrompida por um espirro. — Jones disse que iria preparar algo
muito bom para a gripe quando eu chegasse.
— Entendo... e... como ele está? — indagou Jhuliet, receosa.
— Em comparação a ele dias atrás, está ótimo. Vocês
brigaram, não foi?Ele não quis me falarnada, na verdade, ontem foi
a primeira vez que o vi saindo do quarto.
— Ele ficou doente ou algo do tipo? — perguntou ela,
preocupada.
— Sim... muito doente, se chama amor. — Vaiolet sorriu para
ela que sorriu de volta.
— Vaiolet, eu amo mesmo seu irmão... — Vaiolet apenas
assentiu. — Mas aconteceram coisas que... me fizeram questionar
se eu amava ele o suficiente para passar por isso.
— E você encontrou a resposta?
— Sim, desde o início, mas acho que ele não sentia o
mesmo...
— Jhuliet, você está muito enganada, Jones, ele te...
— Vaiolet? Você está bem? — Era Jones, na porta da
carruagem. Jhuliet respirou fundo, ele não a tinha visto pois Vaiolet
estava na frente, e ele a ajudou a sair.
— Eu passei mal na aula, Philip achou melhor eu ir para
casa. — Jhuliet não queria descer e ver Jones agora. Ele mesmo
levou Vaiolet para dentro de casa. Jhuliet conseguiu sair da
carruagem, ela podia sair correndo dali ou subir na carruagem de
novo, contudo Vaiolet a condenou.
— Encontrei Jhuliet no caminho, ela me acompanhou até
aqui. — No mesmo momento Jones se virou para ela e abriu um
grande sorriso, isso deixou Jhuliet no chão. Como ele pode ficar
ainda mais bonito em apenas três semanas?, pensou ela. Sua barba
havia crescido, no entanto seu cabelo estava mais curto.
— Ah... obrigada por trazer ela aqui. — Jhuliet somente
assentiu.
— Jhuliet? Você pode ficar? — Vaiolet pediu, tossindo no final
para dramatizar.
— Não acho uma boa ideia... — opinou Jhuliet, olhando para
Jones
— Se você quiser ficar, tudo bem por mim — ele disse e entrou
em casa. Eela foi atrás dele não sabia por que, ela torceu para não
ver Diana na sala ou em outro lugar da casa. — Eu vou estar na
cozinha, se precisar... — avisou Jones timidamente indo para a
cozinha. Vaiolet a puxou para seu quarto, ela tirou os sapatos e se
deitou na cama. Tinha uma tigela de sopa pela metade em sua
penteadeira.
— Isso são tentativas fracassadas da sopa milagrosa dele —
explicou Vaiolet, revirando os olhos.
— Sopa milagrosa? — Jhuliet perguntou enquanto olhava para a
tigela.
— Ele disse que tomou essa sopa uma vez e no outro dia já
estava melhor, porém acho que ele não tem a receita certa. —
Jhuliet sorriu ao ouvir, Jones estava tentando fazer a sopa que ela
fezpara ele quando ficaradoente. — Será que você pode levar isso
para a cozinha? Eu estou me sentindo um pouco...
— Ah... claro. Eu já volto.
— Não precisa ser rápida, eu vou ficar bem — afirmou Vaiolet,
sorrindo. Estava claro que ela queria que eles dois ficassem
sozinhos. Jhuliet caminhou até a cozinha, Jones estava de costas,
ela achou que conseguia colocar a tigela na mesa sem ser vista,
mas, quando se virou, esbarrou em uma taça que caiu no chão
fazendo um grande estalo.
— Me desculpa... eu pego — ela disse se abaixando e Jones se
juntando a ela para pegar os cacos de vidro do chão.
— Cuidado para não se... aii! — exclamou Jones dando um
aviso, mas acabou se cortando com um caco.
— Parece que alguém se cortou. — Jhuliet terminou de juntar os
cacos e os colocou de lado. Jones foi para a pia e colocou o dedo
que tinha feito o corte sobre a água corrente. — Bom, Vaiolet disse
algo sobre uma sopa milagrosa... — Jones sorriu sem graça
— Bom... é a sua sopa na verdade, pensei em fazerpara Vaiolet.
mas... descobri na décima tentativa que eu não sabia fazê-la —
revelou ele, suspirando
— Não é difícil,o que você está colocando ai? — indagou
Jhuliet, espiando o caldeirão com legumes flutuantes no fogo.
— Tem alho, cebola... e água.
— Bom, está faltando bastante coisa...
— Se você puder me ajudar... eu ficaria muito grato,
principalmente Vaiolet.
— É uma receita de família, entende...
— Olha, eu prometo não olhar! — prometeu Jones tampando os
olhos.
— Tudo bem, você fica de costas, e eu faço a sopa.
— Sim, senhora — concordou Jones com um sorriso infantil no
rosto fazendo Jhuliet sorrir também. Demorou um pouco, porém
meia hora depois a sopa estava pronta, parecia até melhor do que
da última vez.
— Acho que é isso — anunciou Jhuliet, limpando o suor da testa
depois de ter ficado mexendo a sopa.
— Posso provar?
— Por favor — disse Jhuliet mergulhando a colher na sopa e
levando até a boca de Jones.
— Exatamente como eu me lembro, eu não ia conseguir sem
você — afirmou Jones, olhando para ela, Jhuliet tentou desviar o
olhar.
— Um dia você iriá conseguir sozinho. — Quando ele não
respondeu, ela levantou o olhar para ele. Naquele momento Jhuliet
podia adivinhar o que ele queria dizer.
— Eu sinto sua falta, Jhuliet... — Aquilo foi como um tapa em
seu rosto.
— Jones, não faz isso...
— Eu sinto sua falta, eu senti na primeira semana e eu senti
agora e vou sentir amanhã também, por favor, Jhuliet... volta pra
mim — implorou ele segurando suas mãos.
— Jones, eu...
— Jhuliet, eu faço qualquer coisa! — E então. quando Jhuliet
sentiu que estava cedendo, ela olhou para trás e viu Diana ali, ela
se surpreendeu ao vê-lá também.
— Jhuliet! Que surpresa — Diana disse, mas não tinha nenhuma
provocação em sua voz.
— É realmente uma surpresa! Desculpe atrapalhar, eu já vou
embora. — Jhuliet se virou para sair, mas antes mesmo de
conseguir chegar na metade do caminho para a carruagem, Jones
segurou seu braço.
— Jhuliet, espera! Não é o que você está pensando. — Tinha
desespero em sua voz e em seu olhar.
— Você não sabe o que eu estou pensando! Você ao menos me
ama de verdade, Jones? — Ele se surpreendeu com a pergunta. —
Você nunca disse que me amava!! — Jhuliet disse se virando para
ele quase chorando. Jones respirou fundo e disse:
— Achei que você melhor do que ninguém iria entender que
ações valem mais que palavras, tudo bem se você quiser ir embora,
não é o que eu quero, mas eu também não sei mais o que eu posso
fazer ou dizer para te fazer ficar, Jhuliet. Mas eu não vou discutir
mais, não vou te pedir para ficar de novo, se você sair por aquela
porta...v ocê não vai mais ter notícias minhas...
— Eu estou confusa... — disse Jhuliet, agora realmente
chorando.
— Só... fica comigo — pediu Jones, se aproximando e
segurando seu rosto, colando sua testa na dela. Porém Jhuliet se
soltou e disse:
— Eu preciso pensar... — Ela viu o rosto confuso de Jones ao
sair da casa, ela correu pelo jardim, mas se sentou ali mesmo.
Aquilo era muito confuso, ela queria muito de todo coração voltar,
mas Jones não a amava, certo?
Jhuliet começou a lembrar de todas as conversas de eles já
tiveram.
Quando ela foi se desculpar em seu jardim, um dia depois do
escândalo do baile...
— Por que eu? — Jones perguntou, do nada.
— Perdão?
— Por que eu? Por que disse que teve um caso logo comigo?
— E... Eu não sei, não consegui pensar em mais ninguém. –
Jones sorriu com malicia. — Ei, não é o que está pensando.
— E o que eu estou pensando, Mary Jhuliet?
Naquele momento, Jhuliet achou que ele iria beijá-lá.
Quando Jones a levou no baile e ficou com ciúmes quando a
viu com Philip...
— Impressionante — disse Philip, ficando do lado dela.
— O quê?
— Como não percebi que vocês eram um casal desde o
início.
Quando ones a beijou pela primeira vez em seu lugar secreto
nos jardins sobre a luz da lua. Ou quando na casa dos tios de Jones
ele lhe contou o que aconteceu com sua mãe e lhe disse no final...
— Por favor, Jhuliet, me deixa tentar ser o melhor marido que
você nunca teve, porque eu fui um péssimo filho para minha mãe,
um péssimo irmão para Vaiolet, e um péssimo amigo para Ravel, e
péssimo em tudo que eu faço. Mas eu te prometo... — Jones pegou
as mãos de Jhuliet e as levou até a boca, ele chorava, mas estava o
tempo todo olhando em seus olhos, Jhuliet sentiu o calor daquelas
palavras. — Eu prometo que eu não vou ser um péssimo marido
para você.
Quando voltando para casa Jones lhe contou sobre seus
desentendimentos com Philip...
— Dessa vez vai ser diferente — disse e beijou o topo de sua
cabeça.
Quando Jones pegou as cartas que sua mãe havia escrito
para ela e as leu em voz alta no lugar em que se conheceram...
— Ela me amava, ela realmente me amava.
— É claro que sim, não tem como não amar você.
Quando ele comprou sua casa quando ela estava prestes a
perdê-la...
— Jhuliet, por favor, me deixa te ajudar.
Enquanto eles brigavam no caminho para casa...
— Por que não? Olha, se você não está mais de acordo com
isso, está tudo bem, pode me dizer, e a gente termina isso tudo,
porque eu realmente sinto que eu te forcei a se casar comigo.
Acontece que eu era quem mais precisava se casar, e acabei te
levando junto, mas eu não quero que você fique infeliz nisso, porque
eu... realmente me importo com você, Jhuliet.
E por fim, quando Jhuliet disse que estava apaixonada por
ele, quando descobriu que ele ia ser pai e prometeu que nunca o
abandonaria...
— Você é uma mulher incrível, Mary Jhuliet.
— Eu não quero ser incrível, eu só quero ser alguém que
você goste.
— Você é melhor... muito melhor.
Era isso, ele sempre demonstrou que a amava, não com
palavras, porque ele nunca de fato chegou a dizer, mas sempre foi
com ações, se preocupando com ela, cuidando dela, sempre
estando lá para ela. E naquele momento a frase de Ravel nunca
fizera tanto sentido.
— Jhuliet, quando você descobrir o que é o amor... você não
vai encontrar alguém que te ame tanto quanto Jones. Pense nisso...
— Ele me ama. Me ama de verdade. — Jhuliet se levantou e
sorriu, parecia que tinha tirado um peso de seu coração, ela ia voltar
para dentro e dizer que também o amava e que o queria de volta.
Mas Diana estava na sua frente, e ela estava séria.
— Preciso falar com você — anunciou Diana tão baixo que
Jhuliet não teve certeza se ouvira direito.
— Depois, preciso fazer algo urgente.
— É sobre o bebê...
— Diana, eu sei que você está grávida de Jones, mas eu
não...
— O bebê.... não é dele! — Diana disse, o que fezcom que
Jhuliet se calasse no mesmo momento.
Capitulo 25
Quando Jones voltou para casa naquele dia ainda chovia, do
mesmo jeito de como estava quando foi buscar Jhuliet, ele estava
realmente furioso com ela, porque ela tinha ido embora? Pensou
ele, mesmo tendo um milhão de respostas para essa pergunta. Ele
caminhou na chuva, de um certo modo o tempo estava em sintonia
com seu estado de espírito, continuou caminhando debaixo da
chuva até chegar em casa. Estavam todos na sala, Ravel estava
andando de um lado para o outro, Vaiolet estava sentada no sofá.
— Jones? Aconteceu alguma coisa? Onde está Jhuliet? —
perguntou Ravel.
— Ela não vai voltar
Ele apenas disse e subiu para seu quarto. Jhuliet não ia
voltar, ela mesmo disse em sua frente. Sinceramente, ele não sabia
o que sentir, nos primeiros dias sem ela ele ficou furioso, depois de
uma semana começou a se odiar, e depois de duas semanas ele
nunca tinha sentido tanta falta de alguém. Sua cama agora estava
muito grande, ele sentia falta até da parede de travesseiros que ela
construira. E ele sabia, é claro, agora não tinha como negar, estava
apaixonado por Jhuliet, e isso o deixou assustado, ele nunca havia
se apaixonado.
Ele realmente achava que o que sentia por Vaioline era amor,
mas depois de Jhuliet ele percebeu que não chegara nem perto.
Quando Jhuliet disse na cara dele que ele não a amava, ele
realmente quis gritar de que a amava com certeza, mas ele sabia o
que essa palavra significava. Era como uma corda, uma palavra
mágica, quando você dizia que amava alguém, era como dizer, eu te
amo de volta, agora você não pode me abandonar, e era assim que
ele se sentiu. E se ele falasse que a amava, ela iria perdoar ele, iria
esquecer todos os poréns e iria ficarcom ele... e era isso que Jones
queria...
Mas não era o que Jhuliet merecia, ela estava magoada, e
decepcionada com ele, era uma certeza que o bebê que Diana
esperava iria destruir seu casamento e ele iria perder a coisa mais
valiosa que já tivera:Jhuliet. Não podia a submeter a isso, esse era
seu fardo, ele teria que lidar com isso sozinho, já que não pode ser
o marido que Jhuliet esperava, então ele iria ser o melhor pai que
poderia ser.
Somente depois de três semanas que Jones conseguiu, e
essa era extremamente a palavra certa, sair de seu quarto. Vaiolet
estava em seu próprio quarto, já era o terceiro espirro que ele ouvia
em um minuto.
— Você está resfriada? — ele perguntou, entrando em seu
quarto.
— Só estou um pouco... — Só depois que ela percebeu quem
tinha perguntado. — Meu Deus, você saiu do quarto...
— Já tomou alguma coisa?
— Como você está? Ravel achou que você ia morrer lá
dentro, depois de um tempo eu comecei a acreditar.
— Eu vou preparar algo para você.
— Volte aqui e me responda!! — exigiu Vaiolet, de braços
cruzados sentada na cama com o nariz vermelho, Jones somente
riu.
— Também senti sua falta, irmã. — Isso arrancou um sorriso
dela, quando ele desceu, Ravel o olhou incrédulo. — O que foi?
Parece que viu um fantasma.
— Sim, um fantasma que há um mês não sai do quarto, qual
o seu problema? — disse Ravel, se levantando e adotando a
mesma posição que Vaiolet.
— Bom te ver também.
— Não me venha com essa, estávamos na mesma casa.
— Eu sinto muito... — desculpou-se Jones com sinceridade,
às vezes ele se esquecia que tinha pessoas que realmente se
importavam com ele.
— Posso falar com você lá fora? — perguntou Ravel, já indo
para os jardins. Jones o seguiu. Ele se sentou no banco bem à
frente do lago, que já não tinha mais água há bastante tempo.
— Este jardim... está bem morto, não acha? Ele era melhor
quando sua esposa cuidava dele.
— Por que você não pergunta logo o que quer saber? —
disse Jones, suspirando.
— O que aconteceu entre vocês?
— Não ficou sabendo? Eu vou ser pai.
— Eu já sei disso, mas não sei o que isso tem a ver com seu
casamento.
— Tem a ver que esse fato... estragou meu casamento.
— Eu não diria estragou...
— Chame como quiser, arruinou, desfez,destruiu, tem muitos
verbos...
— E você simplesmente a deixou ir? — E aquilo fezJones se
calar por um momento.
— Não era uma escolha só minha...
— Jones, eu fui vê-la...
— Quando? — ele perguntou, querendo soar desinteressado,
porém queria muito saber como ela estava.
— No dia seguinte em que ela foiembora. Dava pra ver... que
ela estava confusa, se você estivesse insistido um pouco mais...
— Não era justo com ela...
— E com você? É justo esconder os próprios sentimentos só
pra poder proteger outra pessoa?
— Se essa pessoa for Jhuliet, não vejo problema...
— Ela perguntou se eu acho que você a ama... Jones, ela
ainda não tem certeza se você ama ela, e provavelmente você não
disse isso a ela.
— E... eu queria...
— Não me venha com desculpa, você não consegue dizer,
não é verdade? Nem mesmo quando é verdade. Tudo por causa da
Vaioline...
— Você não entende, quando tem amor envolvido, os dois
ficam muito vulneráveis, e a chance de se machucar é...
— Mas para ficar com o outro, vale a pena. Jones, se você
não lutar por ela, você vai perdê-la para sempre.
— Nada que eu já não esteja acostumado.
— Só que desta vez, amigo, e só dessa vez, você poderia ter
evitado, então por que não diz a verdade e passa o resto dos seus
dias ao lado dela e não se lamentando por ter desistido tão fácil?
Ravel se levantou e o deixou sozinho ali no jardim.
Antigamente era reconfortante ficar sozinho, somente consigo
mesmo, mas agora Jones não conseguia ficar sozinho em qualquer
lugar sem se perguntar por que Jhuliet não estava com ele.
— O bebê.... não é dele! — Diana disse, o que fezcom que
Jhuliet se calasse no mesmo momento.
— O que você disse?
— Primeiro, você vai ter que me prometer que não vai contar
nada ao Jones...
— Eu não vou prometer nada, como você pode mentir sobre
isso? — Jhuliet aumentou o tom de voz.
— Para de gritar, ele pode ouvir! Vem, vamos conversar no
jardim — diana disse e foi andando para dentro do jardim. Depois
que estava bem longe, ela se sentou em um banco.
— Sugiro que se sente.
— Não me diga o que fazer. — Jhuliet estava, no mínimo,
muito furiosa, como ela pode inventar uma coisa dessas?
— Antes de tudo, eu tenho meus motivos...
— Devem ter sido ótimos, para você chegar a esse ponto.
— Entendo que esteja nervosa...
— Que bom que compreende. — Quando Diana não disse
nada, Jhuliet se arrependeu de ter sido tão ríspida, apesar de ela
merecer, se sentou ao seu lado e respirou fundo. — Não consigo
pensar em um bom motivo para mentir sobre isso...
— Bom... eu e Jones, nós realmente... você sabe, tivemos
algo, mas realmente terminou quando ele veio para cá, nós não nos
encontramos mais, quer dizer, não para essa finalidade.
— Certo... — concordou Jhuliet, não querendo saber de
tantos detalhes assim.
— Certo dia conheci um homem, ele não tem título algum,
era apenas um décimo quinto filho de um baronete que já havia
falecido. Enfim, ele era diferente, era gentil porque queria, era
amigável porque gostava e era muito bonito. Enquanto eu estava
com Jones, eu estive com ele também, e foram noites maravilhosas
de... bem, essa parte não é importante. Quando Jones voltou, ele
terminou tudo comigo, disse que tinha obrigações e que era para eu
procurar alguém que pudesse me dar algo sério e duradouro. Eu
obviamente fiquei muito nervosa, passei mal por vários dias, achei
que era meu emocional, mas... naquele baile que eu descobri que
estava grávida. Não sei se você sabe, mas eu não tenho família,
meu pai morreu quando eu e Vaioline éramos pequenas, meu único
sustento é o dinheiro que Philip manda todo mês e...
— Espera, Philip lhe manda dinheiro?
— Bom, sim. Ele fazmais isso por Vaioline, ele sabia que ela
era tudo que eu tinha, então ele simplesmente começou a entregar
envelopes com dinheiro na minha porta todo mês. Mas só esse
dinheiro não dá para cuidar de uma criança. E então eu vi Jones e
pensei: ele seria um ótimo pai, e daria tudo que meu filho
precisasse. Sei que foi uma decisão horrível e desonesta, mas eu
estou fazendo isso pelo meu filho...
— Como você sabe que realmente não é de Jones?
— Eu e ele saímos, fomos para um lugar mais privado,
chegamos completamente bêbados. Jones dormiu assim que caiu
na cama, eu sai do hotel e fui me encontrar com... o outro. Depois
disso eu e ele nunca mais...
— Por que você não conta para esse homem? Ele tem que te
ajudar a cuidar do bebê, a responsabilidade também é dele.
— Tem um motivo para eu ter parado de me encontrar com
ele. Semanas depois descobri que ele era casado, e tinha duas
meninas de seis anos. A minha única solução era Jones, mas,
quando cheguei, ele estava casado com você. Achei que iria ser
fácil, até porque temos uma história juntos, mas não foi bem assim.
— Por que resolveu me contar isso tudo? — questionou
Jhuliet, a olhando desconfiada.
— Eu conheço Jones desde pequena, e eu nunca vi ele olhar
alguém como olha para você, eu podia mentir para o resto da minha
vida, mas nada ia fazer ele te esquecer, e você, mesmo com toda
essa situação, consegue colocar o coração na frente e ainda se
preocupar comigo. Você é especial, Jhuliet, eu realmente sinto muito
mesmo por tudo...
— Diana, o que você vai fazer agora? — perguntou Jhuliet,
suspirando. Estava brava com ela, mas não podia deixar de se
sentir preocupada com o bebê.
— Eu vou embora da cidade, mas eu te admiro, Jhuliet. Se
eu estivesse em seu lugar, eu teria avançado em mim mesma
morrendo de ódio, e mesmo depois de tudo você ainda consegue
ficar preocupada. Acho que você era o que o Jones precisa.
— Você vai contar para ele?
— Eu vim aqui para contar a verdade, desde que você foi
embora, eu não vi mais Jones.
— Diana, eu devia estar furiosa, mas eu na verdade estou
externamente aliviada — confessou Jhuliet, sendo sincera.
— Me desculpa por toda essa confusão, você não merecia
isso. Eu me sinto extremamente culpada por ter afastado vocês
dois...
— Em parte é sua culpa, sim, mas isso mostrou que o nosso
casamento não era forte o suficiente para aguentar qualquer coisa.
Mas agora eu não vou desistir dele tão fácil.
— Só mais um último favor... eu gostaria de não contar nada
para ele...
— Diana, ele precisa saber que não é o pai...
— Você podia contar para ele?
— Não acho que eu quem deveria contar.
— Não sei se consigo...
— Mentir é mais fácil que falar a verdade. — Diana ficou
calada porque sabia que era a verdade.
— O que vocês estão conversando? — perguntou Jones,
aparecendo atrás das duas, porém ele não olhou para Jhuliet.
— Não é nada, eu precisava falar algo para você, mas você
parece ocupado — respondeu Diana, se levantando.
— A gente pode conversar no meu escritório — convidou
Jones, e pela primeira vez naquele momento ele a olhou. Meu Deus,
pensou Jhuliet, como era apaixonada por ele.
— Certo, eu te espero lá. — Diana lançou um último olhar
para Jhuliet antes de sair.
— Eu não queria que as coisas acabassem assim... — Jhuliet
disse assim que Diana foi embora.
— Estranho, porque você disse algo diferente a alguns
minutos atrás — lembrou Jones sem olhar para ela. — Se não quer
ficar comigo, por que ainda está aqui?
— Eu jamais disse isso! Será que podemos parar de brigar
por um segundo?
— Não tem como, é o que fazemos de melhor. — Jones se
aproximou dela. Jhuliet respirou fundo,já era difícilver ele de longe,
e quando ele se aproximava assim ficava impossível. — Era... no
caso. — Ele se afastou e entrou em casa.
— Jones, espera...
Mas ele já estava lá dentro. Jhuliet entrou também, mas
assim que passou pela porta de Violet. ela lhe chamou.
— Sim? Como se sente? — perguntou Jhuliet, entrando em
seu quarto.
— Bem melhor, na verdade eu devia te agradecer, já fazem
quinze minutos que não dou um espirro, tudo graças à sua sopa.
— É uma receita infalível de família.
— Você vai ter que compartilhar conosco... pois agora nós
somos uma família.— Jhuliet sorriu e pegou na mão dela. — Você e
meu irmão ainda não se entenderam, não é? — Jhuliet apenas
negou a cabeça. — Não entendo, se vocês se amam, então por que
não voltam?
— Não dá para viver só de amor, eu tinha ficado muito
chateada quando descobri que ele ia ser pai, mas agora é
diferente... — Jhuliet se calou quando percebeu que tinha falado
demais.
— O que quer dizer? — Quando ela suspirou, Vaiolet insistiu.
— Jhuliet?
— Promete que não vai contar para seu irmão?
— Mas o que...
— Só prometa.
— Tudo bem, eu prometo.
— Certo, o filho não é Jones.
— O quê? — disse Vaiolet bem alto.
— Sim, Diana me disse, é uma longa história, mas o
importante é que ela tem certeza que não é de Jones.
— Não acredito, ela mentiu sobre tudo. Eu sempre soube!
Jones vai ficar furioso quando descobrirl
— A gente precisa falar isso com ele — disse Ravel, entrando
no quarto.
— Você estava nos ouvindo? — perguntou Jhuliet, levando
um susto com a chegada repentina dele.
— Estava, nós temos que contar para ele — repetiu Ravel.
— Não, não era para vocês ficarem sabendo. Diana que
mentiu, ela que tem que falar a verdade — decidiu Jhuliet, olhando
para os dois.
— Não podemos mentir para ele — opinou Vaiolet. — Ele vai
ficar furioso com a gente também.
— Por favor. Deixem Diana resolver isso — pediu Jhuliet.
— Isso não vai ter um bom final, já estou dizendo — disse
Raevel, saindo do quarto.
— Acho que ele tem razão — concluiu Vaiolet.
— Confie em mim, tudo vai dar certo a partir de agora —
disse Jhuliet, beijando a testa de Vaiolet e saindo do quarto dela. Ela
entrou no quarto de Jones, ainda estava do mesmo jeito, ela viu que
tinha um pacote em cima da escrivaninha. Era o seu dinheiro, ela
não lembrava de tê-lo deixado nessa casa.
— Você esqueceu isso — afirmou Jones, entrando no quarto.
— Bom, eu deixei bastante coisa para trás... eu senti sua falta
também, aliás — ela disse, Jones deu um meio sorriso.
— Você parecia ótima.
— Agora eu realmente estou. — Jhuliet se aproximou dele.
Ela estava nervosa, Jones era muito mais alto do que ela, ele a
encarou até ela chegar perto. — Jones, será que eu posso voltar
para casa? — Jhuliet não podia descrever o tamanho do sorriso de
Jones ao ouvir aqui.
— Então foisó da casa que você sentiu falta?— ele indagou,
colocando uma mexa de cabelo sua para trás.
— É uma bela casa, sim, mas eu senti mais falta do dono
dela.
— Você não se incomoda com todo o resto? O fato de que
em alguns meses eu vou ser pai?
— Vamos esquecer isso — pediu Jhuliet, negando com a
cabeça.
— Não tem como ignorar isso, preciso saber se isso não te
incomoda mais.
— Jones, vai dar tudo certo, tudo vai se acertar. — Jones
ficou confuso, mas a abraçou, Jhuliet não queria estar em nenhum
outro lugar.
— Muito obrigado, Jhuliet — agradeceu Jones, ainda com
Jhuliet em seus braços.
— Pelo quê? Por ter voltado? Ou por ser muito compreensiva
ou por sempre te apoiar?
— O quê? Não, pela sopa, é claro. — Jhuliet sorriu e disse:
— Como eu senti sua falta.
— Quer saber? Você tinha razão.
— Eu sei.
— Não vai perguntar sobre o quê? — perguntou ele, a
trazendo para a cama. Ele se sentou e ela ficou em sua frente.
Jones, ali sentado, estava exatamente do tamanho de Jhuliet.
— Sobre?
— Quando você disse que fizemos promessas que não
podíamos cumprir...
— Me desculpa por aquilo...
— Não, era verdade, não tem como eu te prometer que
nunca vou te magoar, porque aparentemente eu sou muito bom
nisso, e você também não pode prometer que nunca vai me
abandonar, porque você não sabe o dia de amanhã. Mas tem uma
promessa que eu tenho certeza que nunca vou quebrar — Jones
revelou, segurando suas mãos.
— Qual?
— Eu sempre... irei te amar, Mary Jhuliet. — Ela sorriu
imensamente, ele nunca tinha dito que a amava, e agora ali estava
ela, com o homem que amava, sendo amada de volta.
— E eu sempre irei te amar, Jones William.
Jones a beijou suavemente pela primeira vez depois de dizer
que a amava.
— Eu vou lá embaixo avisar que eu quero um jantar especial
hoje à noite.
— Não é necessário... — informouJhuliet, tentando puxar ele
de volta.
— Você... — começou Jones, apontando para ela. — Merece
o melhor.
Jones estava diferente, estava com um ar jovial, e ela se
permitiu achar que era por sua causa. Jhuliet pegou o dinheiro e foi
para o andar de baixo, mas encontrou Diana ainda no escritório de
Jones, ela parecia assustada ao vê-la.
— Achei que era Jones!
— Vai esta noite mesmo? — Ela apenas assentiu. — E como
vai contar para ele?
— Eu escrevi uma carta, várias, na verdade, acabei sendo
direita e só escrevi "eu menti, o bebê não é seu, sinto muito".
— Ainda acho que devia contar e ele pessoalmente, mas a
decisão é sua. Já sabe para onde vai?
— Eu tenho uma tia... em outro pais. Estava pensando em
passar uns tempos por lá.
— E como você vai chegar lá? — Diana deu de ombros,
Jhuliet estava acreditando no que iria fazer, mas estendeu o
envelope para Diana, que o abriu e arregalou os olhos.
— Não posso aceitar, não mesmo.
— Eu juntei esse dinheiro por muitos anos, eu queria fazer
algo grande com ele, mas agora eu tenho tudo o que eu quero,
coisas que esse dinheiro jamais iria comprar, considere um presente
para seu filho.
— Jhuliet, eu não sei o que dizer...— Diana a abraçou, ela
estava chorando. — Muito obrigada por tudo e mil perdões, do fundo
do coração. — Naquela hora Jones entrou no escritório e viu as
duas se abraçando.
— Diana, você ainda está aqui?
— Eu já estou indo, na verdade.
— Você gostaria de ficar para o jantar? Se Jhuliet não se
importar, é claro.
— É uma boa ideia — concordou Jhuliet, sorrindo.
— E... eu... certo — aceitou Diana, nervosa.
Durante o jantar, Jones conversava animadamente sobre
algo, seus olhos brilhavam, ele parecia outra pessoa. O jantar
estava divino, Diana não falava muito, estava extremamente
nervosa. Quando a comida terminou já era bem tarde, todos foram
para suas camas. Assim que se deitou, Jhuliet ouviu um estalo na
sala, e um grito feminino. Parecia Diana. Jones disse que era
melhor ela dormir ali aquela noite e que amanhã ela iria embora.
— Ouviu isso? — perguntou Jones, se levantando.
— O qu? Não deve ser nada — deduziu Jhuliet, se
lembrando do plano de Diana.
— Vou ver o que é.
— Jones, melhor não.
— Por quê? — Ele perguntou confuso, já na porta do quarto.
— Pode ser perigoso. — Ravel e Vaiolet acordaram também.
— É melhor ficar aqui, eu desço e olho o que foi — disse
Ravel, entrando na frente de Jones.
— Provavelmente foi algum animal lá fora — supôs aViolet.
— Qual o problema de vocês? — perguntou Jones e desceu
para a sala. Quando ele acendeu a luz, Diana estava no chão, ao
lado de um vaso que quebrou em mil pedacinhos. — Diana? O que
está fazendo aqui em baixo a essa hora? — Ele a olhou confuso.
— Jones, eu posso explicar... — disse Diana, se levantando.
— Por que você está indo embora a essa hora?
— Jones, o filho não é seu. — Aquilo o fez se calar
totalmente. — Nunca foi, eu menti porque precisava de dinheiro
para cuidar dele, sinto muito — Diana disse aquilo como se
estivesse preso em sua garganta por muito tempo, e realmente
estava. Por vários minutos Jones ficouem silencio, mas logo depois
ele respirou fundo e disse:
— Sinto muito? — Jones perguntou rindo. — Você sente
muito? Você quase destruiu meu casamento, entrou na minha casa,
olhou nos meus olhos e jurou que estava falando a verdade. —
Jones deu passo ameaçadores em sua direção. Ravel tentou
segurar o amigo, mas ele se soltou com facilidade.
— E... eu não... — gaguejou Diana.
— Você não vai a lugar nenhum até me explicar isso tudo —
Jones afirmou, segurando o braço de Diana.
— Isso é tudo, Jones, o filho não e seu. — Diana puxou o
braço com força que a bolsa que estava em seu ombro caiu e o
pacote de dinheiro que Jhuliet havia lhe dado se esparramou pelo
chão.
— Esse é o dinheiro de Jhuliet! Diana você roubou isso? —
questionou Jones, a olhando surpreso.
— Não!! Eu não roubei nada.
— Eu dei para ela — informou Jhuliet, dando um passo para
frente.
— Você o quê? Não me diga que você sabia dessa farsa! —
Jones perguntou ainda mais surpreso.
— Eu queria te contar, mas não podia...
— Como não podia? Achou que eu não tinha direito de
saber? — Jones olhou para Ravel e Vaiolet, os dois estavam de
cabeça baixa. — Vocês também sabiam? Todo mundo sabia, menos
eu, que ótima família eu tenho!
— Jones, eles não têm culpa, eu pedi para eles não
contarem, se vai culpar alguém, que seja eu — pediu Diana,
segurando seu braço.
— Diana, eu quero que você pegue esse dinheiro e nunca
mais volte a pisar aqui. — No mesmo instante, ela juntou tudo e
disse um "sinto muito" antes de sair. Jones respirou fundo.
— Pelo menos tudo... acabou — consolou Jhuliet, tentando
melhorar a tensão do ambiente.
— Você voltou porque sabia que o filho não era meu? —
Jones perguntou baixinho.
— O quê?
— Você não voltou por mim, porque valia a pena passar por
tudo para ficarmos juntos, você voltou porque sabia que eu não era
o pai, então ficou muito fácilvoltar, sem fardonenhum para carregar.
— Não, Jones! Isso não é justo!
— Ah, você quer falar de justiça então? É justo você ficar do
lado de alguém que mentiu estar grávida? É justo você dar dinheiro
para ela ir embora? Envolver minha irmã e meu melhor amigo nas
suas mentiras e pior, pedir para não contarem para mim? Você fez
tudo isso nas minhas costas. Eu não quero mais olhar para você.
— Jones, por favor, não foi assim que aconteceu. — Ele
olhou para ela do topo da escada. Para Jhuliet, ele não precisava
falar mais nada, só aquele olhar já fez com que ela se sentisse a
pior pessoa do mundo.
— Eu te amo, Jhuliet, e nunca ninguém fezeu me arrepender
tanto de ter amado.
Aquilo foi como um soco no estômago, em um momento
estava tudo bem, e no outro Jones estava arrependido de tê-la
amado.
— Ele nunca vai me perdoar — lamentou Jhuliet, se sentando
no sofá e se desmanchando em lágrimas.
— Dê um tempo para ele, está com a cabeça quente,
ninguém sabe o que diz nessas horas — comentou Ravel, se
aproximando e colocando a mão no ombro dela.
— Espero que tenha razão.
— Vem, vamos dormir no meu quarto — convidou Vaiolet, a
puxando para o andar de cima.
Quando Jhuliet estava deitada na cama de Vaiolet, ela se
perguntou como sua vida foi do céu ao inferno em apenas algumas
horas.
Capitulo 26
Quando Jones se deitou em sua cama naquela noite, não
parou de pensar em sua mãe, por algum motivo, depois da morte
dela, tudo ficoumuito difícil.No começo ele achava que seu pai não
falavacom ele por não saber o que dizer ou até mesmo por estar de
luto, mas a verdade era que seu pai o culpava, e ele sabia que, no
fundo,não foide propósito, mas foia pior decisão imatura que ele já
tomara, fingirque estava se afogando,e claro que qualquer mãe iria
pular de cabeça para salvar o filho, até mesmo se não soubesse
nadar.
Na época Jones se sentia como um peixe, por mais estranho
que essa frase parecesse, ele adorava nadar, ficava horas no lago
que era do outro lado de sua casa. Até que seu pai resolveu fazer
um jardim para sua mãe, e junto com ele fezum lago, que era bem
fundo, aonde ele poderia nadar o quanto quisesse e ainda estaria
dentro de casa. Mas, depois que sua mãe morreu, ele perdeu a
vontade de nadar, e também não teve oportunidade, pois seu pai
fechouo jardim, talvez porque doía-lheolhar para lá, provavelmente
era por isso.
Vaiolet chorava todas as noites, ela sentia falta da mãe, e ela
não era a única. E assim passaram anos de silêncio e sofrimento.
Jones finalmente foi para a faculdade, e ele achou que tudo aquilo
iria passar, mas, quando ele voltou para casa, cada parte dela
lembrava sua mãe, inclusive enquanto estava na casa de seus tios,
ele a viu...
Algumas semanas antes...

Jones andava de um lado para o outro em volta do lago, o


mesmo que ele adorava nadar quando tinha na casa dos tios no
verão, e agora só o fato de olhá-lo lhe dava pânico. Ele não nadara
desde a morte da mãe, e agora ele estava ali, cogitando a ideia de
apenas molhar os pés, e foi o que fez.
Tirou os sapatos e colocou os pés na água, estava super
gelado, e a satisfação foi imediata. Ele teve que entrar, assim como
estava, com todas suas roupas. Jones caminhava como se pudesse
andar sobre as águas, a cada passo ficava ainda mais fundo, ele
parou quando a água bateu em seus ombros, ele podia ver o fundo
o lago de onde estava, e ele deu um mergulho, e foicomo se nunca
tivesse parado de nadar, suas mãos e pernas sabiam exatamente o
que dizer. E foi aí que ele viu... sua mãe no fundo do lago, ela
estava de olhos fechados, os cabelos loiros como algas indo para
cada vez mais fundo.
Automaticamente Jones foi atrás dela, mas estava ficando
cada vez mais fundo que ele não conseguia mais alcançá-la, e já
estava escuro, ele não conseguia mais ver a luz do sol devido ao
quão profundo ele estava. E aí sua mãe abriu os olhos e sorriu para
ele.
— Mãe... eu vou te salvar — ele pensou consigo mesmo, e
ela apenas negou com a cabeça.
— Você não pode me salvar, pequeno Will, você não pode
me salvar agora e nem podia antes.
— Eu tentei...
— Você tem duas escolhas... se juntar a mim... — sua mãe
disse e lhe estendeu a mão, mas Jones ouviu uma voz, vinha da
superfície,era Jhuliet lhe chamando, ele podia ver a silhueta dela
iluminada pelo sol. — Ou me deixar partir e seguir com sua vida.
— Eu... tenho algumas coisas para resolver... não posso me
juntar a você agora... me perdoa.
— Eu não tenho nada para perdoar. A partir de hoje... você
está livre.
E foi aí que sua mãe fechou os olhos e afundou no lago a
ponto de Jones não a conseguir ver mais. Nessa hora Jones
começou a tossir e engolir água, ele nadou com força para a
superfície.Jhuliet gritava dizendo que ele ia conseguir. Quando
chegou na beira o lago, ele colocou a cabeça para fora e tossiu
várias vezes. Porém, depois de quase ter se afogado, ele nunca
tinha respirado tão aliviado. Ele sempre achou que a mãe o culpava
e nunca iria perdoá-lo, mas não, ela só queria que ele a deixasse
ir... e foi o que aconteceu. Jones sabia que tudo podia ser apenas
um delírio seu por estar sem ar debaixo d'água. Mas de uma coisa
ela sabia, Jhuliet era real, e era isso que importava.

Já era de manhã, o sol batia em sua janela, um dia antes ele


acordara pensando se ele seria um bom pai, e naquela manhã ele
acordou sabendo de que não seria mais. Ele não sabia se ficava
aliviado ou irritado, e ele estava as duas coisas. Jhuliet havia
mentido para ele, não exatamente mentido, mas ela sabia e iria
deixar ele continuar acreditando, e como Diana pode mentir olhando
em seus olhos e afirmando de que estava grávida? Ela conseguiu
estragar seu casamento, e depois estragar novamente quando tudo
parecia certo, mas ele não podia deixar de amar Jhuliet, já era tarde
mais para isso. Contudo ele estava decepcionado com ela, depois
de tudo, ela ainda ficou do lado de Diana.
Ele se levantou e desceu as escadas para o andar de baixo.
Vaiolet e Ravel estavam sentados na sala, quando o viram os dois
ficaram calados.
— Bom dia... — Jones disse. Eles pareceram surpresos, mas
responderam. Ele foi na cozinha, Jhuliet estava recostada na mesa
com uma xícara na mão.
— B... bom dia... — ela disse, mas ele não respondeu. Jones
foi até o bule para pegar café. — Eu fizcafé hoje de manhã. — Ele
largou o bule no mesmo momento. — Então é assim, não vai falar
comigo?
— O que quer que eu diga? — ele perguntou, se virando para
ela.
— Eu já pedi desculpas...
— Não, você não pediu. — Ela parou para pensar e respirou
fundo.
— Me perdoa...
— Certo — Jones disse colocando café em sua xícara, não
podia negar que estava muito bom.
— Então estamos bem?
— Não é assim que funciona...
— Eu pedi perdão!
— Isso não apaga o que você fez.
— Isso não é justo, eu não fiz nada tão terrível assim.
— Esse... é exatamente seu problema — Jones disse. Ele
estava calmo, no entanto não olhava para ela. — Tudo que você faz
é certo, tudo era "porque eu tive um bom motivo", e quando é
comigo eu não tenho direito de ficar bravo?
— Eu não disse isso.
— É sempre assim, você nunca diz você só faz, mesmo
estando certa ou não, mesmo sabendo que vai magoar alguém,
você é impulsiva e imatura.
— Eu não sou imatura!!
— Você parece uma criança de sete anos agora.
— Me desculpa, senhor correto, que nunca está errado...
— E essa é a diferença. Jhuliet, eu erro, mas eu assumo e
não coloco a culpa nos outros.
— Você fala como se nunca tivesse errado, então você não
tem direito de me julgar.
— Sabe, Jhuliet, deve ser muito bom...
— O quê?
— Ser tão perfeita como você. — Isso fezela se calar, Jones
tomou todo seu café e saiu da cozinha.
— Tem planos para hoje? — perguntou Ravel quando viu
Jones entrar na sala.
— Tenho que olhar na minha agenda.
— Você não tem agenda — lembrou Ravel, o olhando
confuso.
— Vou precisar de uma.
— Tivemos uma ideia!
— Você e quem? — perguntou Jones.
— Eu e sua esposa — respondeu Ravel, revirando os olhos.
— Sou todos ouvidos — disse Jones, se sentando no sofá.
Nesse momento Jhuliet entrou na sala, porém ficou de cabeça
baixa.
— Você conta? — perguntou Ravel para Jhuliet.
— Faça as honras — pediu ela sem olhar.
— Então... vamos reformar o jardim.
— Certo...— concordou Jones, não entendendo muito bem o
que o amigo queria dizer. — E onde eu entro nessa história?
— Bom, como eu te conheço bem, eu sabia que você não
acordaria antes do meio dia...
— Já é meio dia? — surpreendeu-se Jones, olhando no seu
relógio de bolso.
— Na verdade já está pronto, mas não nos pergunte como.
— Impressionante... — murmurou Jones, se levantando.
— E foi tudo ideia da Jhuliet! — revelou, empolgado.
— Bom... ela é ótima em fazer as coisas pelas minhas
costas. — Todos ficaram em silêncio.
— Vamos lá ver? — convidou Vaiolet, saindo e indo para o
jardim.
Jones ficou surpreso, o jardim estava exatamente como ele
se lembrava quando era pequeno, as flores, as árvores e até os
mesmos bancos. E tinha o lago... que antes estava vazio, agora
estava com acabamento no fundo e um chafariz no meio.
— Uau... — Foi somente o que Jones disse.
— Ficou incrível,não é mesmo? — perguntou Vaiolet. — Foi
Jhuliet quem planejou tudo, ela é muito talentosa.
— E agora tem a melhor parte — anunciou Ravel, indo até a
beirada no lago onde tinha uma espécie de caixa de metal no chão.
— Agora gire isso o máximo de vezes que conseguir.
Todos se aproximaram e Jones no meio girou uma, duas,
três, quatro, cinco... várias vezes até que não girou mais, os quatro
se levantaram e olharam para o chafariz.
— Era para acontecer alguma coisa? — estranhou Jones.
— Com licença — pediu Jhuliet, entrando na frentede Jones.
Ela fechou a caixa com o pé e deu chutes nela várias vezes. No
mesmo momento o chafarizcomeçou a despejar água. — Homens,
nunca fazem o trabalho direito.
— O que seria da gente sem o toque feminino? — Jhuliet riu
para ele, e Jones já tinha esquecido por que estava zangado com
ela.
— Agora é só esperar — disse Ravel. Eles se sentaram um
do lado do outro, mas Jhuliet e Jones na ponta e Ravel e Vaiolet no
meio. Já tinha se passado meia hora e a água não tinha nem
coberto o fundo.
— Acho que vai demorar um pouco, podíamos esperar lá
dentro — sugeriu Vaiolet, se levantando.
— Mas por que não esperamos aqui? — indagou Ravel, mas
Vaiolet olhou com raiva apontado para Jones e Jhuliet com a
cabeça. — Oh, tem razão, está tão quente aqui fora — concluiu
Ravel, se levantando junto com Vaiolet, fazendo Jones rir.
— Bem... você estava certo — Jhuliet disse, olhando para o
chão.
— Sobre o quê?
— Sobre tudo...
— Não, eu quero ouvir você dizer.
— Sobre eu ser imatura, impulsiva, egoísta, hipócrita,
irritante...
— Não me lembro de ter dito isso tudo...
— Não... mas eu sou. E eu não vou dar desculpas sobre isso,
eu realmente sou isso tudo, eu sinto muito de verdade por mentir
para você, por ser imatura a ponto de simplesmente ir embora em
vez de te dizer o que estava me incomodando, ser egoísta por só
pensar em mim, e ser hipócrita a ponto de te exigir coisas que eu
mesma não consigo cumprir. Isso é muito novo para mim... amar
alguém, é a minha primeira vez, e é assustador, parece que
qualquer coisa errada que eu disser ou fizer vai me fazer perder
você. E eu tento fazer tudo certo, mas quanto mais eu forço as
coisas, mais tudo dá errado. Eu quero que a gente dê certo, eu
nunca quis tanto fazer algo dar certo. Eu não posso prometer que
não vou mais agir assim, mas prometo que vou tentar mudar, por
você, eu não achei que a gente devia mudar por alguém, mas tem
pessoas que valem a pena. E você, Jones, vale muito. E você pode
me odiar para sempre ou nunca mais olhar ou falar comigo, mas eu
não vou sair correndo dessa vez, está me ouvindo? Eu vou ficar
aqui até você me perdoar ou me expulsar dessa casa, eu vou lutar
por nós, porque eu te amo. — Nessa hora Jones começou a rir, mas
rir bem alto. — Eu não acredito, eu abri meu coração e você vai ficar
aí rindo?
— Perdão, é que... desde a primeira vez que eu te vi, que
você caiu sobre mim, eu sabia que teria problemas...
— Como você ousa...
— Você foio melhor problema que já apareceu na minha vida
— Jones disse, segurando o rosto de Jhuliet, a olhando nos olhos.
— Isso foi um elogio?
— Entenda como quiser, meu amor.
— Então você não me odeia?
— Nem se eu quisesse, eu não poderia, eu amo você,
Jhuliet. Soube desde a primeira vez que veio no meu jardim brigar
comigo que eu te queria na minha vida, brigando comigo, gritando
comigo, seja como for. Só quero que você esteja aqui, comigo.
E nesse momento Jhuliet o beijou, e esse foi diferente de
todos os outros, foi melhor, pois tinha amor, amor de verdade. E
Jones sabia, não existia ninguém como Mary Jhuliet.
— Pretende ficar me beijando até quando? — perguntou
Jhuliet, ainda em seus braços.
— Ainda não parei para pensar nisso.
— Até o lago encher? — Nesse momento Jones chutou a
caixa na grama novamente e o chafariz parou de emitir água.
— Combinado.
— Eu já disse que te amo? — perguntou Jhuliet, rindo.
— Já, mas diz de novo.
— Eu te amo, Jones William.
— Você, Mary Jhuliet, é uma mulher com bom gosto.
E Jones soube que tinha achado a pessoa que mais amava
no mundo.
Capitulo 27
Pela primeira vez em sua vida, e desde que se casara com
Jones, Jhuliet viveu momentos de paz. Fazia uma semana que não
brigavam, quer dizer, às vezes discutiam por coisas bobas, como
deixar uma flor do jardim sem regar ou mexer na cama demais à
noite, mas não era uma super discussão, como eles tinham antes.
Mas acontecia que Jones estava mais ocupado do que o normal, às
vezes até dormia no escritório e teve dias que não saíra nem para
tomar café.Ravel disse que estava com um problema nos negócios,
por isso que ele ficava tão focado.
Mas Jhuliet estava sentindo falta dele mais do que o normal,
e nesse momento desejou ter um bebê, pois quando Jones
estivesse ocupado, ela teria companhia e...
Ela queria mesmo ter um bebê? Sim, ela queria. Mas ela
sabia que para ter um bebê ela precisaria dormir com o marido.
Engraçado que no início de seu casamento só a ideia de dormir ao
lado de Jones já lhe dava arrepios, mas agora.. .a ideia lhe soava
bem atraente, e parecia que Jones sempre lhe dava espaço, não a
forçava a nada, e quando as coisas entre eles esquentavam, ele
logo se afastava. Será que ele não queria? Ou achava que ela não
queria? Essa era a segunda noite em que seu marido dormia no
escritório, já era tarde, umas duas da manhã? Jhuliet não sabia, ela
estava deitada em sua cama olhando para o teto, ela se levantou e,
como estava de camisola, só colocou um robe por cima e saiu do
quarto.
Ela estava na porta do escritório de Jones, não sabia se batia
ou só entrava, ela estava nervosa, mas não sabia o porquê. Ela
decidiu fazeros dois, bateu e abriu a porta em seguida. Quando ela
entrou, percebeu que Jones não a tinha visto, ele parecia super
cansado, porém estava lindo, ele estava sem o paletó, a gravata
estava quase saindo da gola da camisa que também estava meio
aberta.
— Estou atrapalhando? — Jones quando ouviu sua voz a
olhou, ele sorriu para ela e na hora ela ficou mais tranquila.
— Claro que não, sinto que eu vou enlouquecer a qualquer
segundo — desabafou ele, enterrando o rosto nas mãos.
— Você devia fazer outra coisa, para se distrair.
— Tem alguma sugestão? — ele perguntou, voltando a mexer
nos papéis em cima da mesa.
— Podia começar saindo desse escritório — sugeriu ela,
cruzando os braços na frente do corpo.
— Ainda tenho muito o que fazer.
— Eu sinto sua falta na nossa cama, sabia? — Isso o fez olhar
para ela e sorrir.
— Devia ter aproveitado quando nós podíamos dormir juntos e
você fazia aquela parede de travesseiros.
— Aquilo foi antes...
— Antes de quê?
— Antes que eu ficar apaixonada por você.
— Ahm meu amor, você sabe que sempre foi louca por mim —
disse ele, rindo e saindo de trás da mesa e ficando de frente para
ela. — Você só foi muito resistente.
— Como seu ego cabe dentro de você? — perguntou Jhuliet, se
aproximando dele, que sentou na ponta da mesa.
— Você sabe que eu tenho razão.
— Como se eu também não tivesse notado os olhares que você
me dava — lembrou Jhuliet, apoiando as mãos nas coxas dele. Ele
olhou para as mãos dela e depois para ela.
— Sempre deixei claro que eu queria você na minha cama.
— E você não tem vergonha de dizer isso assim em voz alta?
— Não, pois eu sei que você também queria... — ele disse em
seu ouvido, e começou a beijar seu pescoço até chegar em seu
queixo. Ela apoiou as mãos em seu peito, mas ele as segurou com
força, ela queria que ele a beijasse, precisava que a beijasse, mas
ele apenas parou a centímetros da boca dela e olhou em seus
olhos. — Só uma pergunta, você me quer Jhuliet? — Ela apenas
suspirou como se não estivesse óbvio. — Eu disse que não ia tocar
em você... só se você pedisse.
— Por favor, Jones.
— Por favor o quê?
— Me beije, me toque, faça qualquer coisa...
— Seu pedido é uma ordem. — E com agilidade Jones a pegou
no colo e a colocou em cima da mesa. Ele a deitou na mesa, suas
pernas estavam abertas e ele estava no meio delas.
Ele começou beijando seu pescoço e foi descendo até a corda de
seu robe, ele desfez o nó e o tirou de seu corpo, e lá estava ela,
somente com uma camisola fina mal tampando as coxas. — Você é
a coisa mais linda que eu ja vi, Jhuliet — disse e continuou a
beijando, agora ele estava em suas coxas, ele beijou o interior de
suas coxas com suavidade, e o tempo todo olhando para os olhos
dela. — Você é perfeita.
— Jones... por favor — ela pediu, e ele voltou para ela e
disse em seu ouvido:
— Eu não consigo esperar mais. — Ele a pegou no colo e
saiu do escritório com ela em seus braços.
— E se alguém nos ver? — Perguntou Jhuliet rindo.
— Eu não me importo com mais nada, só com você, amor. —
Apesar de ele estar sendo romântico, quando ele chegou no quarto,
ele a jogou na cama com força. Quando ela o viu, já estava tirando a
calça. E a última coisa que se lembrou foi de ter dito que o amava
quando ele já estava dentro dela.
No dia seguinte, Jhuliet acordou feliz pelo fato de Jones ainda
estar do seu lado. O sol estava batendo nele, da cintura para cima
ele estava descoberto. Meu Deus, Jhuliet pensou, ele era o homem
mais lindo que ela já havia visto.
— Espero que você nunca se canse de me ver dormir —
disse Jones, abrindo os olhos.
— Acho impossível — respondeu ela, o beijando. — Eu te
amo.
— Percebi isso na noite passada, você gritou pela casa
inteira que me amava.
— Eu não... gritei tão alto — disse Jhuliet, dando um tapa
nele.
— Eu amo quando você grita comigo, principalmente dessa
última vez.
— Você é horrível, sabia?
— Eu só sou um cara perdidamente apaixonado pela minha
esposa.
— Você tem bom gosto — disse Jhuliet, se levantando e
levando o lençol com ela.
— Realmente, eu escolhi muito bem — afirmou ele, puxando
o lençol e tirando um grito da esposa.
E mais tarde eles estavam tomando café da manhã... ao meio
dia.
— É a primeira vez nesse mês que eu te vejo tomar café da
manhã — comentou Ravel, se servindo de uma xícara de café.
— Senti falta de uma xícara de café. Eu precisava mesmo
sair do escritório.
— E conseguiu terminar o que tinha começado? — perguntou
Ravel.
— Ah, com certeza eu terminei — respondeu Jones, olhando
maliciosamente para Jhuliet.
— Certo... eu não precisava saber disso, mas fico feliz de não
ver vocês brigando a cada segundo — continuou Ravel, apontando
para os dois.
— Eu até que sinto falta — brincou Jhuliet, sorrindo para o
marido.
— Eu também, porque sempre terminava em uma coisa.
— Vou deixar vocês flertarem em paz — decidiu Rave,l
saindo da casa, mas logo Vaiolet chegou, e ela colocou a mão no
peito fingindo surpresa.
— Tinha esquecido que tinha um irmão! — disse ela, rindo
enquanto se sentava.
— O tempo só te traz senso de humor.
— Só você para tirar ele do escritório — afirmou Vaiolet para
Jhuliet enquanto pegava uma torrada.
— Não foi tão difícil — Jhuliet disse sorrindo.
— É tão estranho não ver vocês discutindo...
— A gente não brigava tanto assim! — disse Jhuliet, olhando
para Jones, ele riu e segurou sua mão por cima da mesa.
— Meu amor, a cada cinco palavras, seis era gritando um com o
outro.
— Não é possível.
— Era até pior, acredite. Meu irmão deve te amar muito —
deduziu Vaiolet.
— Eu realmente amo muito — Jones confessou, beijando a mão
da esposa.
— Tudo bem, eu estou indo — avisou Vaiolet, também se
levantando.
— Estamos ficando insuportáveis, sabia? — comentou Jhuliet,
se levantando. Jones se juntou a ela e segurou sua mão e a puxou
para si.
— Pois eu prefiro assim.
— Sabe? Até que eu posso me acostumar com isso — disse
Jhuliet, sorrindo.
— Que bom, porque eu não pretendo te dar outra escolha.

Alguns meses depois...

Estava tudo uma correria, Jhuliet era uma mãe super


despreocupada, e Jones achava que o bebê era de vidro, ela estava
grávida de talvez sete meses, segundo o médico. Ela já tinha
preparado tudo, o quarto do bebê ia ficar aonde estava o escritório,
e o seu escritório iria ser em qualquer lugar que estivesse uma
mesa. Quando Jhuliet disse que estava grávida ela nunca viu um
homem mais felizdo que ele, só seria mais felizse ela não tivesse
descoberto quando vomitou na mesa de jantar de reuniões de um
de seus sócios. Ele queria que ela tivesse cuidado, se pudesse
amarrá-la no quarto, ele faria.Porém ele conhecia sua esposa. Uma
semana depois ela já estava ajoelhada no jardim plantado um
árvore, pois, segundo ela, tinha energia em dobro agora.
Vaiolet o ajudou durante esses últimos meses a arrumar o
escritório de seu pai. Tinham tirado tudo do lugar, mas o tempo todo
Vaiolet estava inquieta, sempre que ele encontrava algum papel no
chão ela ficava ainda mais nervosa.
— Tudo bem, pode me contar o que foi? — pediu Jones,
entrando na frente da irmã.
— O que quer dizer?
— Você está escondendo algo!
— Está tão óbvio assim?
— Te conheço desde que nasceu.
— Certo... mas você tem que me prometer que não vai ficar
zangado.
— Já sei que não é coisa boa.
— Bem...
— Fale logo, Vaiolet.
— Papai te escreveu uma carta antes de morrer — ela disse
rápido, Jones a olhou incrédulo.
— Uma carta para mim? Ele me odiava.
— Você sabe que não é verdade.
— E onde está essa carta?
— Boa pergunta, por isso eu estou te ajudando a arrumar,
também queria encontrá-la — afirmou Vaiolet, olhando ao redor.
— Faz um favor para mim, pegue um copo de água para Jhuliet,
ela estava reclamando de dor. Quando você voltar a gente volta a
procurar.
— Certo, já volto.
Aquilo era só para tirar Vaiolet dali. Jones sabia que o pai era
muito previsível, e que ele sempre guardava tudo no cofre, ele
também sabia que a senha era o aniversário de sua mãe... zero
nove... doze. O cofreabriu. Jones se chocou por não ter quase nada
ali, apenas algumas fotos de sua mãe, fotos dele pequeno, Vaiolet
recém nascida, e uma única carta. Ela estava amassada, Jones não
sabia se lia ou não, ele realmente não se importava com o que o pai
achava dele e...
— Você ainda está aqui? — indagou Jhuliet, entrando no
escritório.
— Ainda tem muito a fazer. Como se sente?
— Respondendo a mesma pergunta que você fezdez vezes só
hoje: grávida.
— Isso é bom — Jones disse, escondendo a carta atrás de si.
— O que é isso? — ela perguntou antes mesmo de ele ter tempo
de esconde-la melhor, ele respirou fundo.
— Uma carta do meu pai — respondeu ele, se sentando na
única poltrona que restava.
— Sério? Mas como você...
— Eu achei por acaso...
— O que está esperando para abrir? — Depois que viu a reação
dele ela concluiu. — Você não quer saber o que ele disse?
— A opinião dele não importa, nunca importou.
— Talvez ele queria te dizer algo importante.
— Você parece mais interessada do que eu.
— Você quer que eu leia para você? — Jones sorriu, ele a
chamou para se aproximar, ela se sentou no braço da poltrona e ele
abraçou sua cintura.
— Por favor... — pediu ele lhe entregando a carta, ela coçou a
garganta antes de começar.
— Filho, não faço ideia do que lhe escrever, na verdade estou
completamente arrependido de ter começado, eu sei que você deve
me odiar, na verdade nem o seu ódio eu mereço. Quando sua mãe
morreu eu sabia que tinha alguém que precisava mais dela do que
eu, e era você. E eu não fui o pai que deveria... me perdoa se em
algum momento você se sentiu culpado pelo que aconteceu, você
era uma criança, na verdade eu me culpo por não estar lá, e por não
estar aqui por você. A verdade era que eu não sabia o que te dizer,
isso não é desculpa, eu sei, poderia ter dito qualquer coisa... mas eu
sei que você se tornou um grande homem... tenho certeza que você
vai ser um pai muito melhor do que eu, vai saber perdoar melhor do
que eu, principalmente si mesmo. Mas, filho, eu só quero que você
seja tudo que eu nunca fui, eu quero que você seja igual a mim em
uma coisa: amar alguém tão intensamente como amei sua mãe. De
seu pai que te ama...
Nesse momento os dois ficaram em silêncio.
— Uau... — disse Jhuliet.
— Concordo. — Ela riu. Jones a olhou, e ele soube que em pelo
menos uma coisa ele era parecido com o pai. — Eu te amo, Mary
Jhuliet.
— Também te amo, Jones William. — Alguém bateu na porta.
Jhuliet se levantou correndo e foiatender. Jones foiatrás e viu Philip
do outro lado, ele estava receoso ao entrar.
— Seja bem-vindo! Vem, entra — convidou Jhuliet, animada.
Philip entrou, ele estava nervoso. Quando viu Jones ele apenas o
cumprimentou com a cabeça. — Espero que não se importe,
convidei Philip, ouvi dizer que música faz bem para o bebê, e eu não
conheço pianista melhor...
— Vou ter que concordar — disse Jones, cruzando os braços.
— Eu vou trocar de roupa, estou coberta de poeira, já volto, se
comportem vocês dois. — Philip riu e foi para o meio da sala.
— Essa casa não mudou nada.
— Reformas gastam muito dinheiro — comentou Jones,
cruzando os braços.
— Claro, é um dinheiro que você não teria — continuou Philip,
indo se sentar no piano.
— Se alguém tivesse me falado que músicos chamavam a
atenção das garotas eu não teria faltado as aulas de música.
— Como se você precisasse de ajuda com as mulheres —
retrucou Philip.
— Philip, você gostaria de ser o padrinho do meu filho?— Aquilo
o deixou paralisado.
— Você está falando sério?
— Esse é o meu pedido de desculpas... por tudo. Estou te dando
a honra de ser o padrinho do meu filho, eu não desperdiçaria essa
chance se fosse você.
— Eu senti sua falta, amigo — desabafou Philip, rindo.
— Sério que vocês não estão brigando? — surpreendeu-se
Jhuliet, descendo as escadas.
— Na verdade, eu acabei de perguntar se Philip gostaria de ser
o padrinho do nosso filho. — revelou Jones, ajudando a esposa a
descer.
— O quê? O que eu perdi? — perguntou Jhuliet.
— Estou igualmente surpreso. E eu aceito, a propósito —
respondeu Philip.
— Isso é uma ótima notícia — afirmou Jhuliet, sorrindo.
— Fico feliz que tenha gostado — continuou Jones para a
esposa.
— Você... é um homem cheio de surpresas — disse Jhuliet, o
beijando.
— E você é a mulher da minha vida.
— É muito estranho não ver vocês brigando — opinou Philip.
— Não acredito, até você — exclamou Jones enquanto Jhuliet
ria.
Enquanto olhava para a esposa, Jones sabia, não faltava mais
nada...

FIM
Biografia

Nathaly Regina nasceu dia 30 de novembro de 2000 na


cidadezinha de Santos Dumont Minas Gerais. Desde pequena

adorava contar histórias, começou publicando seus livros na

plataforma digital Wattpad onde descobriu o que realmente gostava:

escrever. Teve como sua grande inspiração Julia Quinn para os

romances de época, onde escreveu sua primeira ficção histórica:

Como se casar com um Duque


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