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“Independent Lady”
Kristy McCallum
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Bianca Duplo 457 – O coração não se engana – Kristy McCallum
CAPÍTULO I
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saia bem nessa opção. Mas saiba que, se acontecer alguma coisa, pode
sempre contar conosco. Quem sabe se no verão não aparecemos por lá?
— Vai ser ótimo, papai. O único problema de morar tão longe é a
saudade que vou sentir de vocês...
— Como os tempos mudaram... — disse a sra. Porter. — Com a sua
idade eu já estava casada e não pensava em outra coisa a não ser cuidar da
casa e de seu pai.
— Ora, mamãe, vamos deixar o saudosismo de lado — comentou
Lucy, contente por ter a aprovação do pai. — Quem sabe não encontro meu
príncipe encantado por lá, hein?
— Quero só ver se existe alguém capaz de suportar esse seu gênio.
Você está cheia de manias!
Sob os olhares espantados do marido e da filha, Sandra Porter saiu da
sala sem dizer mais nada. A atitude da mãe despertou uma ponta de mágoa
em Lucy.
— Papai, se bem a conheço, a mamãe está muito chateada comigo.
— Pode ser, mas acho que ela está é frustrada. Na semana que passou,
Sandra foi a um chá beneficente e voltou enciumada das amigas que
tricotavam para os netinhos.
— Bem, se for esse o problema, diga a ela para pegar nas agulhas. Eu
providencio o resto.
— Deixe de brincadeiras. Sandra só está preocupada com a sua
felicidade.
— Posso lhe assegurar, papai, que agora que tomei a decisão, estou
mais feliz do que nunca. E também vou estar tão ocupada nos próximos
meses que mal terei tempo para arranjar um marido.
— Você continua brincando com as preocupações da sua mãe.
Lucy lançou um olhar maroto para o pai, antes de abraçá-lo.
— Não me diga que também está preocupado?
— Claro que não, sou possessivo e ciumento o bastante para não
querer vê-la casada.
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podia ver com nitidez a expressão de espanto dos pais quando lhes dissera
que comprara o carro, gastando com isso toda a herança deixada pela avó.
Mas nenhum dinheiro no mundo pagaria a sensação de liberdade que
desfrutava ao dirigir um automóvel conversível como aquele.
Adorava aventuras, e sempre que tinha oportunidade, dirigia em alta
velocidade. Se o tempo na França fosse tão bom quanto o céu azul e límpido
anunciava, então teria a oportunidade de trafegar com a capota baixa e gozar
do prazer de sentir-se flutuar no ar.
Um dos funcionários da balsa orientou os motoristas para que
avançassem ordenadamente, formando diversas filas. Havia muita gente por
ali, querendo pegar carona no barco para chegar cedo ao trabalho. Todos
avançavam lentamente, brecando e acelerando diversas vezes. De repente o
marinheiro estendeu o braço na frente de Lucy, proibindo-a de prosseguir. A
parada brusca fez com que o veículo que vinha atrás não freasse a tempo e
batesse na traseira do conversível.
Furiosa, Lucy puxou o breque de mão e saiu do carro para inspecionar
o estrago e conversar com o motorista causador do acidente. O susto de
deparar-se com um homem muito atraente obrigou-a a engolir por poucos
segundos a raiva que sentia. Diante de si estava uma beldade masculina
cujos olhos azuis e profundos pareciam envolvê-la numa carícia atordoante.
O maxilar forte, o nariz afilado e a boca máscula conferiam ao estranho um
ar nobre, mas que naquele instante expressava apenas aborrecimento pelo
que havia acontecido.
Jimmy O'Donnell passou as mãos pelo jeans desbotado, procurou os
cigarros no bolso da camisa e então encarou Lucy com aparente descaso. Ela
ia explodir com tal atitude quando reparou no carro dele, um conversível
esporte italiano, último tipo, um modelo que ela sempre sonhara em dirigir.
O fato deixou-a ainda mais nervosa.
— Por que você não prestou atenção? — Lucy protestou. —
Estávamos quase parados!
Jimmy sorriu com ironia.
— Sinto muito, mas você parou tão de repente que não tive tempo de
frear.
—Desculpas não vão resolver nada. O que faço com essas lanternas
quebradas?
— Não se preocupe, senhorita. — O marinheiro se posicionou ao lado
deles decidido a assumir o controle da situação. — Foi apenas o espelho das
lanternas, nada sério.
— Mesmo assim acho que você deveria passar num auto-elétrico para
ver se não aconteceu mais nada — acrescentou Jimmy.
Lucy voltou a atenção para Jimmy, que agora a encarava com mais
atenção, devolvendo-lhe a mesma sensação perturbadora de instantes atrás.
— Ah, ótimo! E onde vou encontrar um auto-elétrico por aqui?
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Logo após deixar o carro para consertar, ela decidiu dar uma volta
pela cidade. Precisava espairecer e mais do que nunca se recuperar de tantos
transtornos. Sentada num banco da praça principal, observou as pessoas ao
seu redor que pareciam muito alegres, e a paisagem exótica do lugar.
Do outro lado da rua uma pequena catedral em estilo gótico chamou-
lhe a atenção. Levantando-se, arriscou a visitá-la e não se arrependeu. O
esplendor e beleza do interior da igreja emprestaram-lhe um pouco da paz e
tranqüilidade que ali reinavam.
Ainda encantada com o que acabara de ver e sentir na catedral, Lucy
caminhou em direção a uma brasserie para tomar um lanche. O pequeno
restaurante tinha seus arredores delineados por canteiros de flores, que
separavam do movimento da rua as mesas colocadas na calçada. A conversa
animada das pessoas presentes, o lanche delicioso e o clima descontraído a
fez usufruir de uma deliciosa sensação de bem-estar e felicidade. Tudo ao
seu redor retratava a França, mas, o mais divertido, era observar os
moradores do lugar, que passeavam com seus cachorros. Primeiro passou
por ali uma senhora muito bem-arrumada, com o nariz tão empinado quanto
o de seu cachorrinho poodle. Depois uma jovem bem magra, com um settle; e
logo a seguir uma senhora baixinha e gordinha com um pequinês. Para
completar o quadro, haviam os pequenos prédios em estilo gótico que
circundavam a praça, invadidos em sua maioria por centenas de pombos que
voavam e pousavam em busca de alimentos oferecidos pelos freqüentadores
do lugar.
— Lucy! Mas que surpresa maravilhosa!
Ela olhou na direção que vinha a voz e encontrou uma figura amiga e
conhecida.
— Jean Louis! Mas o que você está fazendo por aqui?
— Ora, estou a caminho de Grande Ferme, claro. Puxa, que sorte
encontrá-la por aqui! Será que posso me sentar?
Ela sorriu em sinal de consentimento e divertiu-se ao notar que antes
de se sentar, Jean Louis examinou a cadeira com cautela.
As manias do primo continuavam as mesmas da época em que
passavam as férias juntos em La Ferme Cerisier.
— Telefonei para convidá-la a vir para cá. Quando sua mãe me disse
que já estava a caminho, arrumei minhas coisas e parti. Será como nos velhos
tempos, não é? Uma viagem ao passado, aos alegres tempos que passamos
juntos. — Jean Louis lançou-lhe um de seus velhos e encantadores olhares. —
Já faz tanto tempo que não nos vemos! Você está mais bonita do que nunca.
Tia Sandra me contou que ainda não existe ninguém especial na sua vida...
mas eu simplesmente não consigo acreditar nisso!
— Você continua o mesmo galanteador de sempre. — Lucy sorriu. —
Mas, por falar em amores, como vai Manuelle?
Jean gesticulou, insinuando que o assunto não tinha a menor
importância naquele momento.
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— Mas por quê, Lucy? Não consigo imaginar uma garota linda e
talentosa como você se enterrando ali, vivendo um dia-a-dia monótono e sem
brilho. O que aconteceu em Londres que a abalou tanto? Alguma desilusão?
Lucy tentou ignorar a irritação que crescia dentro dela.
— Por que todos pensam que sofri alguma espécie de desilusão
amorosa? Ainda não encontrei um homem que me fizesse perder o sono. —
Lucy percebeu que Jean não acreditava no que acabara de dizer. — Vou
tentar explicar. Ultimamente todos os homens com quem tenho saído são
muito possessivos e tampouco se interessam pela minha vida profissional.
Sempre me acharam uma loira bonita, concluindo que eu só poderia pensar
em futilidades. Nenhum deles imagina que levo minha profissão a sério;
imaginam que trabalho apenas por passatempo. Esperam, inclusive, que eu
desmarque compromissos importantes com editores, para aceitar seus
convites para jantar, onde fatalmente sonham em levar-me para a cama!
Pode ser que não sejam todos assim, mas eu cansei! Tenho vinte e cinco anos
e quero viver minha vida do jeito que achar melhor. Tenho certeza de que
aqui conseguirei um pouco mais de paz para realizar meu trabalho.
Sem ser interrompida a toda hora com coisas sem sentido. Preciso
entregar um livro e vou me empenhar para que saia bom o suficiente para
me impor cada vez mais no mercado. — Lucy deu um longo suspiro. —
Sempre fui tão feliz aqui, lembra-se?
—É verdade, Lucy, acho que posso entendê-la. Você está precisando
mesmo de um tempo. Mas acho que se esquece de uma coisa: passar as férias
aqui é uma coisa; viver nesse lugar é outra, bem diferente.
— Oh, Jean Louis, por favor, não vamos começar tudo de novo!
— Está bem, querida, não se fala mais nisso. Garanto que, depois de
passar o verão todo na fazenda, você estará se sentindo outra. Aí então
poderemos retomar esse assunto...
— Mas não tenha esperanças de que vou vender a fazenda. Será que é
muito difícil entender que quero me mudar para cá?
Jean pressionou os lábios, sabendo não ter argumentos que a
convenceriam do contrário.
— Olhe, essa não é a melhor hora para continuarmos com esta
conversa. Espere até chegarmos lá. Acho que vai mudar de idéia quando vir
as mudanças na região.
Lucy assentiu. Na verdade, não conseguia resistir ao sorriso carinhoso
de Jean Louis. Ele sempre recorria àquele gesto amoroso quando queria sair-
se bem de uma situação. Engraçado observar como um menino feio e
franzino, como ele fora na infância, pudesse ter se transformado em um
homem elegante e muito charmoso. Jean Louis seria sempre vaidoso como
seu tio Gilbert, e era difícil não achá-lo atraente.
— Ainda joga tênis? — perguntou, interessada em saber como ele
fazia para manter a boa forma.
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— Sim, mas com bem menos freqüência. Ainda mais agora que fico
preso numa cadeira de escritório o dia todo.
— Quanto tempo tirou de férias desta vez?
— Apenas uma semana. Não se importa de ficar em Cherrytree
sozinha?
— Maria ainda trabalha lá, não é?
Jean Louis fez que sim com um sinal de cabeça.
— Bem, então ela cuidará de mim, como sempre fez. Aliás, a essa
altura, mamãe já deve ter dado um jeitinho de falar com ela.
— Vai seguir viagem direto para lá?
— Não, vou passar a noite em Caen. Nunca tive oportunidade de me
hospedar por lá. Dizem que o hotel é lindo.
— É uma pena, mas não vou poder acompanhá-la. Prometi a Pierre
que chegaria esta noite, e acho melhor manter os planos. Ele já está velho e
quer se aposentar, mas ainda toma conta de tudo para nós. Pelo menos até
que eu resolva o que farei da fazenda. Bem, então, até lá.
— Até lá. Foi bom encontrá-lo de novo.
CAPÍTULO II
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conseguiu concentrar-se em nada. Jean Louis e seus planos não lhe saíam da
cabeça. Talvez fosse por causa de seu humor que realmente não estava dos
melhores, mas depois de andar por mais algumas quadras, descobriu que
Caen não tinha o charme de Bayneus, mesmo sendo uma das cidades mais
prósperas da Normandia.
A tarde começou a cair e com ela foi-se embora o ar quente, dando
lugar a uma brisa fria. Depois de puxar a capota do carro, Lucy dirigiu-se ao
mais badalado hotel da região. Pelo menos uma vez podia se dar ao luxo de
tal extravagância.
Aproveitaria também para, de lá, ligar para os pais e tranqüilizá-los,
contando que a viagem estava correndo melhor do que o esperado.
No centro da cidade, as ruas estavam cheias e o tráfego intenso.
Vendo aquela agitação toda, Lucy lembrou-se de Londres e em seguida do
que Jean lhe dissera. Se a região estivesse mesmo muito mudada e Grande
Ferme fosse vendida, então os planos de morar ali iriam por água abaixo. De
uma hora para outra toda a animação cedeu lugar à tristeza. Lucy estava tão
distraída que por pouco não passou o prédio do hotel. Dando marcha a ré
para estacionar na frente do hotel, não viu um outro veículo que acabara de
parar também e, numa fração de segundos, colidiu o carro novamente. Que
azar! Duas batidas no mesmo dia!
Mais do que depressa terminou de estacionar e, sentindo-se culpada e
sem jeito, tratou de se desculpar com o motorista.
— Ah, não! Não é possível!
Lucy não acreditou nos próprios olhos, quando viu quem estava à sua
frente: o mesmo homem que batera no seu carro na fila da balsa. O coração
disparou descompassado ao deparar-se, mais uma vez, com aqueles olhos
azuis encantadores.
— Por acaso está querendo se vingar? — Jimmy perguntou,
aborrecido.
Lucy mordeu o lábio, sem graça. Tantos carros naquela cidade e
precisava bater justamente num conversível último tipo?
— Sinto muito — desculpou-se. — Estragou muito?
— Não. Tivemos sorte desta vez. E quanto ao seu carro?
Lucy passou a mão pela lataria.
— Nada. Ainda bem que não aconteceu nada — completou com a voz
trêmula. — Sinto muito, mesmo. Eu realmente não o vi.
— Acho que você deve estar cansada. Foi uma viagem exaustiva, não?
— disse ele, gentilmente, sorrindo.
— Bem... um pouco. — Lucy retribuiu-lhe o sorriso.
— Mas não precisa se preocupar. Não aconteceu nada. — Jimmy
olhou para o pára-choque traseiro do carro de Lucy e acrescentou: — Pelo
que vejo você já consertou o carro. Espero não ter causado nenhum
problema.
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separava. Percebendo o olhar de rendição que lhe era lançado, ele a abraçou,
cobrindo-lhe os lábios num breve e delicado beijo.
— Você é uma mulher especial. Adorei termos jantado juntos. —
Jimmy sorriu mais uma vez, antes de virar o rosto e colocar a chave na porta.
— É melhor você entrar agora, antes que façamos uma loucura pela qual
podemos nos arrepender depois.
Ainda relutante, Lucy entrou no quarto. O sentimento provocado por
aquele breve contato conseguira derrubar as últimas barreiras que ela
construíra em volta do coração.
— Você tem mesmo de ir?
Lucy surpreendeu-se consigo mesma ao convidá-lo para entrar em seu
quarto. Mas não estava preocupada com convenções e sabia que
possivelmente se arrependeria depois. No entanto, deixá-lo partir sem ao
menos uma tentativa era simplesmente impossível, uma vez que homem
nenhum a deixara naquele estado lânguido com apenas um beijo.
— Acho melhor assim. Esta não é hora nem tampouco o lugar certo.
— Ele deu-lhe mais um beijo rápido. — Até a próxima vez, Mary Bear...
Jimmy fechou a porta sem dizer mais nada. Sozinha no quarto ainda
escuro, Lucy sentiu o rosto corar. Nunca em toda sua vida convidara alguém
para passar a noite em sua companhia.
Para piorar a situação, era a primeira vez que tivera coragem o
suficiente e fora rejeitada.
Ainda pensando no que acontecera durante aquela noite, Lucy trocou
de roupa sentindo-se dividida entre o desejo de ver aquele homem
novamente e, ao mesmo tempo, rezar para que ele não mais lhe cruzasse o
caminho. Depois experimentou a vergonha infantil de que Jimmy imaginasse
que costumava convidar qualquer estranho para entrar em sua intimidade.
Por fim, acabou concluindo que quanto mais cedo esquecesse Jimmy
0'Donnell, melhor seria.
No entanto, a razão não lhe serviu como um argumento eficiente. Por
mais que tentasse, não conseguiu pensar em outra coisa a não ser em Jimmy.
Ele não era uma pessoa fácil de esquecer...
CAPÍTULO III
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das redondezas. O que tinha diante de si era uma cena que deixaria qualquer
pintor ansioso por reproduzi-la.
As galinhas, seguidas de perto pelos pintinhos, corriam livremente
pelo pátio atrás da casa. Assustaram-se quando Lucy passou por elas,
reduzindo a velocidade. Depois que o carro parou, as aves voltaram
tranqüilas para sua rotina diária de procurar alimento.
Ela saiu do carro e deixou que a suave brisa lhe acariciasse o rosto. A
sensação de paz e tranqüilidade que a invadiu deu-lhe a certeza de ter feito a
escolha certa, voltando para Cherrytree.
A governanta, ao avistá-la, correu em sua direção, cumprimentando-a
com entusiasmo. Em seguida, as duas entraram pela cozinha e Lucy
percebeu o cheirinho de café fresco e de comida feita em fogão à lenha que
tanto lhe recordava os tempos felizes de infância.
No teto da cozinha, viam-se pendurados vários ramos de flores secas e
algumas ervas. Em volta do fogão, situado bem no meio da cozinha, havia
uma prateleira de madeira rústica presa ao teto, sustentando os suportes de
panelas de cobre de todos os tamanhos e formatos. Assim que percebeu o
movimento estranho na casa, o gato, que estava deitado em frente ao fogão,
levantou-se para espreguiçar-se languidamente.
— Tiger! — exclamou Lucy, alegre. — Você ainda está por aqui?
— Claro, querida — respondeu Marie —, mas ele já está ficando velho
e não sai do meu pé. A única coisa que ainda caça são as galinhas que ousam
violar o seu território.
Lucy abaixou-se e acariciou os pêlos do animal, que respondeu ao
afago com rápidas patadas na mão.
— Você deve ser um velho cavalheiro agora...
— Nem tanto. Como a maioria dos homens, a única coisa que lhe
interessa é comida e conforto.
— Mesmo assim, nem imagina como fico feliz em encontrá-lo por aqui
ainda. — Sentando-se no chão, Lucy respirou mais uma vez o aroma gostoso
da natureza e acrescentou: — Oh, Marie, senti tanta falta de tudo isso! É
como estar de volta ao paraíso. Você arrumou meu quarto?
— Claro que não! Você vai dormir no quarto da madame.
Lucy chocou-se com a simples idéia de substituir a tia, mas Marie
interveio, confortando-a:
— Você só estará fazendo a vontade dela. A fazenda é sua agora. Sabe,
ainda posso lembrar o dia em que d. Mary morreu. Ela não queira nenhum
parente por perto. Além de mim, só havia o médico no quarto, que também
ouviu quando ela disse o quanto desejava vê-la de volta à fazenda como nos
velhos tempos.
Lucy suspirou, recordando-se do rosto meigo da tia querida.
— Suas malas estão no carro? — a governanta terminou com o
momento de melancolia.
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Com o orgulho ferido, ela intuiu que precisava deixar bem claro que aquelas
horas agradáveis que haviam compartilhado juntos não significavam nada, e
que ele não passava de um estranho.
— Olhe, nunca pensei em vender esta fazenda; por isso o senhor não
tem mais o que fazer aqui. Qualquer problema que tiver com Jean Louis, é
melhor que resolva com ele mesmo. Eu não tenho nada a ver com seus
assuntos.
— Ah, não! Você não vai sair dessa situação assim tão fácil, minha
cara. Já coloquei uma quantia considerável neste projeto e não tenho intenção
nenhuma de perder o que investi.
— Sinto muito, sr. O'Donnell, mas sua experiência deveria tê-lo
alertado para não cometer enganos. Além do mais, não tenho nada a ver com
seus problemas.
— Ah, não? Você já esqueceu aquela carta que me escreveu
concordando em vender a fazenda assim que sua tia morresse?
Lucy sentiu as pernas fraquejarem e o encarou com espanto.
— Nunca escrevi carta alguma ao senhor. Aliás, nem ao menos sabia
da existência dessa carta.
— Não me venha com essa! Não sou tão tolo quanto você imagina.
Meus advogados estudaram muito bem todos os detalhes antes que o
investimento fosse feito.
A essa altura, Lucy perdeu a paciência.
— Então acho que seus advogados cometeram um erro bem caro, não?
Escute o que vou dizer com atenção: jamais, nunca...
— repetiu bem devagar — escrevi uma carta para o senhor ou para
alguém das suas relações. Além disso, não gosto do seu jeito, muito menos
da sua educação. Agora, por favor, queira sair da minha propriedade antes
que eu chame alguém para me ajudar.
Lucy virou-se para voltar para a casa, mas não chegou a dar três
passos. Jimmy a alcançou e, segurando-lhe os braços, a fez encará-lo
novamente.
— Não ficará livre disso nem que eu tenha que processá-la em todas
as cortes da França, Mary Bear! Não gosto de gente que falta com a palavra.
— Os olhos de Jimmy assumiram um azul ainda mais intenso. — Vamos, não
se faça de difícil! Você não terá chances se decidir brigar comigo nos
tribunais. Por que não tornamos as coisas mais fáceis?
O fato de Jimmy pensar que podia convencê-la usando de charme e
também por causa do que acontecera entre eles na noite anterior, foi a gota
d'água para Lucy soltar-se e mais uma vez deixá-lo falando sozinho.
Indignado com tal atitude, ele a ameaçou:
— Vai se arrepender, Mary Bear. O tempo se encarregará de lhe dar a
resposta que merece.
Ainda movida pelo ódio, Lucy virou-se e caminhou em direção a casa.
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— Sujeito arrogante! Ah, como fui tola em pensar que estava atraída
por alguém tão petulante!
Lucy levou ainda alguns minutos para se acalmar e perceber então um
fato muito mais importante do que o encontro com Jimmy e a maneira como
ele a tratara.
Quem escrevera a ele dizendo que a fazenda estava à venda?
De repente percebeu que Jean Louis não tinha vindo a Cherrytree
apenas para lhe desejar boas-vindas. Só existia uma pessoa no mundo capaz
de fazer qualquer coisa para obter o queria, nem que tivesse que prejudicar
os outros.
Manuelle sempre deixara claro o desprezo que sentia por Lucy. Para
começar, jamais a perdoara por Jean Louis tê-la pedido em casamento.
Depois, como Lucy o havia rejeitado e ainda assim Manuelle não conseguira
conquistar o homem desejado, preferiu pensar que Lucy queria jogar com o
amor dos dois, e seu ódio se intensificou. Por essas armadilhas e também por
não concordar com a maneira de agir de Manuelle, Lucy preferiu se afastar
dos dois, pois sabia que qualquer disputa com a outra acabaria por magoar
Jean Louis.
— Mas desta vez vai ser diferente, Manuelle — Lucy murmurou. —
Você vai me pagar!
Já era quase fim de tarde quando Jean Louis apareceu na fazenda e foi
encontrar-se com Lucy na biblioteca. Assim que ouviu os passos na escada,
ela levantou-se pronta a colocar tudo em pratos limpos. No entanto, a
expressão de descontentamento no rosto do primo desarmou-a.
— Oh, Jean, o que aconteceu? Por acaso Jimmy O'Donnell decidiu não
comprar mais sua fazenda?
Jean limitou-se a menear a cabeça e não encará-la de frente.
— Sinto muito, Lucy. Que bela recepção você teve, não? Se eu
soubesse que iria dar tanta confusão...
— Mas... o que aconteceu? Vamos, conte logo!
— Manuelle! Rompi o noivado...
Lucy puxou-o pela mão, fazendo-o sentar-se ao seu lado no sofá perto
da janela.
— Oh, não! Você não devia ter feito isso!
— Como não? Não posso me casar com alguém que falsifica a
assinatura de outra pessoa só para conseguir o que quer. — Jean virou-se
para encará-la. — Eu sei, não precisa me olhar assim. Tenho uma parte de
culpa também. Não devia ter deixado as coisas chegarem a este ponto. Achei
que dando tempo a ela, Manuelle acabaria mudando, mas foi tudo em vão...
Lucy não resistiu e perguntou o que tinha em mente desde o começo
daquela história.
— Você acha que ela está apaixonada por Jimmy O'Donnell?
— Para ser sincero, não sei, mas é uma hipótese. Contudo, isso já não
importa. Ela agiu tão mal com você que me envergonhou. — Jean levantou-
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gesto exagerado, mostrando como o programa prometia ser bom. Lucy não
conteve o riso sincero.
— Está bem, como posso resistir a um convite como este? Mas acho
que deveria descer e conversar com Marie. Ela, com certeza, tinha outros
planos para o meu jantar.
— Sem problemas! — Jean levantou-se e consultou o relógio. — Volto
para buscá-la em duas horas. Hoje vamos afogar as nossas mágoas no melhor
vinho francês e esquecer que existem outras pessoas no mundo, ma belle.
Lucy permaneceu ali sentada, observando o sol morrer atrás das
dunas. Mais uma vez seus pensamentos se detiveram na agradável noite que
passara com Jimmy. Tentou em vão convencer-se de que ele era um estranho
e que seria melhor esquecer o impacto daquele encontro. No íntimo se
recusava a acreditar que o acaso lhe pregara uma peça colocando em seu
caminho um homem tão charmoso e sensual como Jimmy O'Donnell.
Embora soubesse que aquele homem que a cativara era o mesmo que queria
comprar sua fazenda, não conseguira esquecer o beijo trocado quase à
surdina.
Jean Louis veio apanhá-la pontualmente, como tinha prometido. Lucy
não se preocupara muito com sua aparência, mas o olhar de aprovação dele a
deixou constrangida. O vestido de lã preto conferia-lhe uma elegância sem
igual, além de lhe marcar bem o físico esbelto e harmonioso.
— Você está ótima, Lucy. Já pegou o gosto dos franceses em se vestir
bem!
— Não me venha com essa, Jean. Só é preciso um pouco de bom gosto
e dinheiro para se vestir bem.
— Você continua com aquela sua falsa modéstia de sempre, não é?
— Nem tanto... — ela deu de ombros.
— Só sei de uma coisa: vou ser o homem mais invejado da noite.
— Pelo que vejo, você também continua o galanteador de sempre.
Manuelle não sabe o que perdeu.
No mesmo instante em que acabou de pronunciar aquele nome, Lucy
arrependeu-se. O sorriso de Jean logo cedeu lugar à seriedade.
— Venha, reservei uma mesa para as oito horas. Se não corrermos,
chegaremos atrasados.
Durante todo o trajeto a Granville os dois trataram de colocar as
novidades da família em dia. Chegaram ao restaurante de braços dados,
como velhos e queridos amigos.
Lucy fez uso de seu charme e elegância ao entrar. Estava precisando
mesmo ser notada pelas pessoas para lembrar que existiam outros homens
no mundo, não só Jimmy O'Donnell. Além
disso, ajudava a elevar o moral de Jean Louis, que àquela altura já era
objeto de comentário em todas as rodas. O rompimento do noivado correra
de boca em boca pela cidade.
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Feliz por estar com Jean Louis, Lucy sentou-se à mesa graciosamente
e, com discrição, observou ao redor. Não demorou muito para notar a
presença perturbadora de Jimmy, que a encarava friamente e, ao lado dele,
lançando-lhe um olhar fulminante, estava Manuelle. Tentando se refazer da
surpresa, voltou-se para encarar Jean Louis.
— Jean, não olhe agora, mas bem atrás de você estão Manuelle e
Jimmy O'Donnell.
Jean surpreendeu-a quando sorriu calmamente, apesar de seus olhos
expressarem exatamente o contrário.
— Eu sei, também os vi quando entramos. Tente ignorá-los, querida, e
concentre toda a atenção em mim. Você está tão deslumbrante que não será
difícil para mim manter minha atenção em você...
Lucy corou, sem jeito. Apesar dos esforços de parecer indiferente,
podia sentir o olhar penetrante de Jimmy queimar-lhe o rosto. Durante todo
o jantar tentou agir naturalmente, mas era cada vez mais difícil manter o
controle da situação. Quando, disfarçadamente, olhou para Jimmy, ele ainda
a encarava. Para seu desespero, levantou-se e veio em sua direção. Tentando
disfarçar o tremor que tomou conta de seu corpo, Lucy começou a falar com
Jean Louis a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
— Ainda não lhe contei que vou vender minhas ilustrações para uma
companhia de papel de parede, para decoração de quartos Infantis. Acho que
desta vez vou ficar rica.
Jean não entendeu direito a atitude da prima, mas limitou-se a
responder:
— Você sempre foi muito inteligente, ma belle. Mas devo confessar que
nunca achei que daria certo como escritora.
Lucy tentou prestar atenção no que o primo falava, mas todos os seus
sentidos estavam concentrados na aproximação silenciosa de Jimmy. Quando
parou diante da mesa, respirou fundo.
— Manuelle Rethel acaba de confessar seus pecados. Ao que tudo
indica, devo-lhe minhas desculpas...
— Não se preocupe com isso, sr. O'Donnell. — Lucy interrompeu,
esforçando-se para parecer fria e indiferente. — Enganos acontecem...
— Eu insisto em me desculpar. Posso me sentar com vocês?
Sem esperar uma resposta, Jimmy puxou uma cadeira e sentou-se ao
lado de Lucy. Manuelle, que o seguira, acomodou-se ao lado de Jean Louis.
— Creio que Manuelle pecou por excesso de zelo aos meus negócios...
Jimmy não desviou o olhar de Lucy um segundo sequer. Ainda assim,
ela manteve a postura de total indiferença ao que estava acontecendo. Jean
Louis controlou bem os sentimentos, mas Lucy sabia o ódio que devia estar
sentindo pela petulância de Manuelle em sentar-se à mesma mesa. Ele se
levantara para ajudá-la a sentar-se, mas era evidente a sua indisposição de
ver sua noite estragada por companhia tão indesejada.
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— Acho que nada justifica o erro de Manuelle. Para mim o que ela fez
foi crime. No entanto, não estou disposta a denunciá-la ou tampouco
continuar discutindo um assunto que realmente não me diz respeito. Se o
senhor perdeu muito dinheiro com esta transação, devia tomar mais cuidado
ao escolher seus funcionários da próxima vez. Pois de uma coisa o senhor
pode estar certo: não tenho nenhuma intenção de vender a fazenda.
Jimmy quase fuzilou Lucy com o olhar, mas ela não se intimidou,
enfrentando-o da mesma forma. Percebendo a batalha que os dois travavam,
Jean Louis resolveu interferir.
— Sr. O'Donnell, acho melhor conversarmos amanhã em minha casa.
Talvez com mais calma possamos chegar a um acordo sobre este impasse.
Mas preciso esclarecer que não vou tolerar nenhuma outra artimanha para
forçar minha prima a vender suas terras.
Jimmy deu de ombros, tentando demonstrar que não estava muito
preocupado.
— Está bem, se prefere assim, para mim será melhor mesmo. Venha,
Manuelle, já é hora de voltarmos para o hotel.
Jimmy saiu da mesma maneira impetuosa que havia se aproximado.
Manuelle olhou para Jean como que procurando apoio, mas tudo o que
encontrou foi a indiferença de um homem que já sofrerá bastante por sua
causa. Mais uma vez os olhos de Manuelle se encheram de lágrimas e ela
saiu atrás de Jimmy.
— Sinto dizer isto, Jean — Lucy comentou, assim que os dois
deixaram o restaurante, — mas sua ex-noiva não presta.
— Sei disso há tempos. Mas pode deixar por minha conta. Amanhã
resolvo esta história de uma vez por todas com Jimmy O'Donnell.
— Faça como achar melhor! Para mim, quanto maior a distância
daquele homem, melhor. — Lucy reuniu todas as forças para ignorar seu
inconsciente que teimava em desmenti-la. — Como pôde ter a audácia de
imaginar que me convenceria a vender Cherrytree com meia dúzia de
palavras bonitas? E dizem que ele é um dos homens de negócios mais
inteligentes do país...
— Mais uma vez ficou provado que Manuelle consegue fazer com que
todos acreditam no que ela quer.
— Acho que Jimmy está apaixonado por ela; caso contrário não
admitiria que agisse tão impunemente.
— Não creio, Lucy. Aliás, tenho certeza. Só sendo cego para não
perceber que Jimmy não tirara os olhos de você.
— De mim?
— Exatamente! Ele não desviou a atenção de você durante toda a
noite... Tenho de admitir que fiquei um tanto intrigado. Por acaso vocês já
tinham se encontrado antes?
Lucy sentiu o rosto corar enquanto contava como conhecera Jimmy,
sobre as batidas de carro e finalmente o jantar.
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CAPÍTULO IV
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lhe o corpo por inteiro. Fechando os olhos, ofereceu seus lábios, ansiosos por
serem tocados.
A partir daquele instante, sentiu-se transportada para outro mundo. A
única coisa que importava naquele momento era estar com aquele homem,
ter seu corpo colado ao dele, como se fossem um só. A princípio, foi apenas
um beijo terno, mas o seguinte foi longo e apaixonado. E, aos poucos, as
carícias se intensificaram, aumentando o desejo que os unia.
Mas, aos poucos, Lucy tomou consciência do que estava acontecendo
e afastou-se, quebrando o clima de paixão.
— Não me toque nunca mais — pediu com a voz ainda trêmula.
— Sinto muito, mas não pude resistir. Você parecia tão frágil...
A fúria que a invadiu foi tamanha que as palavras morreram-lhe na
garganta. Ansiosa por fugir o mais rápido possível dali, Lucy saiu em
disparada pela praia, como se estivesse sendo perseguida por um ladrão,
prestes a roubar-lhe os sentidos.
Como Jimmy podia conhecer Jean Louis e Manuelle tão bem?
De certa forma, aquele homem estava invadindo sua privacidade,
entrando na vida de seus amigos. Ela bem sabia que Jean Louis e Manuelle se
mereciam, mas poderia ouvir aquilo de qualquer um, menos de Jimmy
O'Donnell.
No entanto, não era o ciúme que sentia por Jean e Manuelle que mais
a incomodava naquele momento e sim que o fato de Jimmy estar tão
consciente quanto ela da atração que os unia. Se mal ò conhecia, então como
seu corpo reagia de forma tão incontrolável à presença dele?
A tarde já caía quando Jean Louis encontrou-a deitada na rede da
varanda de sua casa. Lucy desenhava as galinhas que bicavam inquietas o
milho que Marie lhes jogara no chão.
— Lucy, querida, estes desenhos estão incríveis. Eles parecem tão
reais...
Ela divertiu-se ao perceber que o primo não conseguia encontrar as
palavras adequadas para expressar seu entusiasmo.
— Se gostou tanto, pode levá-los.
— Sério?
— Claro! São apenas rascunhos. Estou tentando criar uma nova
história e começar a trabalhar logo.
— Quem diria! Vou mandar colocá-los num quadro e guardar com
todo carinho.
— Ora, não exagere! São apenas rabiscos. Nada de importante.
— Nada disso, essas galinhas são muito divertidas. Obrigado, chérie,
adorei o presente.
— Isso não é nada, Jean Louis. Desenho um pouco para ilustrar
minhas histórias, mas conheço gente que pode fazer um trabalho com
nanquim bem melhor do que o meu.
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— Mas não é só isso, querida. Para mim, galinhas nunca foram mais
do que simples aves que botam ovos. Depois de ver estes desenhos, parece
que ganharam vida, transformando-se em personagens reais.
Lucy riu e pegou os desenhos de volta para reavaliá-los.
— Sabe, não pensei que estivesse criando uma coisa tão fora de série...
Jean abraçou-a num gesto carinhoso.
— Estão prontos, ou precisam de mais algum retoque?
— São seus.
— Bem, então vamos conversar um pouco. Tenho uma porção de
coisas para contar.
Lucy sentiu os músculos tensos, mas predispôs-se a ouvir os planos
do primo mais uma vez. O encontro com Jimmy, naquela manhã, a
aborrecera muito e agora Jean Louis traria à tona a mesma história. Abatida,
deixou escapar um longo suspiro.
— Não tem com que se preocupar, ma belle. Vai dar certo.
Lucy bem sabia que a simples menção do nome de Jimmy O'Donnell
lhe significava preocupação, mas como seria praticamente impossível
explicar a Jean suas razões, preferiu ficar em silêncio.
— Jimmy manteve a proposta! — Jean informou, animado.
O brilho intenso no olhar do primo deu a Lucy a certeza de que havia
sido muito ingênua, subestimando o poder do dinheiro sobre as pessoas. —
Depois de havermos concordado sobre os últimos pontos da transação,
Jimmy e eu fomos à fazenda do velho Plouhec, que concordou em vender a
propriedade.
Lucy ficou boquiaberta com a novidade. O esforço que empreendera
em convencer o sr. Plouhec do contrário fora em vão.
Mas, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, Jean riu de sua
expressão de espanto.
— Sei que está assustada, mas precisava ver como Jimmy O'Donnell é
habilidoso para negociar. No princípio, o velho queria nos colocar para fora,
dizendo-se contra qualquer tipo de exploração por aqui. Mas Jimmy levou
alguns desenhos sobre o que pretendia fazer em Grande Ferme e, logo que os
mostrou, o velho ficou empolgado. Em segundos, os dois trocavam idéias
como se fossem amigos há muito tempo, ainda mais depois que Jimmy
explicou que não construiria nenhuma obra suntuosa.
— E o que o sr. O'Donnell está pretendendo construir se não um hotel
enorme?
— Bem, claro que será um hotel, mas não tão faraônico quanto
pensávamos. — Jean abriu a maleta que carregava e espalhou sobre a mesa
algumas plantas e desenhos. — Veja! É isto o que ele pretende fazer em
Grande Ferme. A construção toda não terá mais do que um andar, assim não
afetará a paisagem.
Lucy não estava disposta a continuar ouvindo aquela história, mas,
mesmo contra a vontade, admitiu que o projeto era muito bom.
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— Como "não é bem assim"? Sabe de uma coisa? Por que não volta
para Paris e me deixa resolver este assunto sozinha?
Se Jimmy quiser minhas terras, ele que venha falar comigo
pessoalmente.
— Lucy!
Ela ignorou-lhe os protestos e continuou:
— É o que você ouviu. Volte para Paris e trate de reatar seu noivado
com Manuelle. Agora que você fechou negócio com Jimmy não será muito
difícil tê-la de volta. Afinal, é o que você sempre quis, não é?
— Pensei que me quisesse por perto. Por que está me mandando
embora tão de repente?
— Você sabe muito bem que vim para cá para concentrar-me apenas
no meu trabalho. Além disso, se continuar por aqui vai acabar perdendo
Manuelle. Ela é capaz de se casar com o primeiro que aparecer.
Jean Louis baixou a cabeça, e Lucy chegou a sentir pena por ter sido
tão dura, mas sabia que ele precisava ouvir aquelas verdades para finalmente
tomar a atitude certa.
— Nós dois sabemos que você ainda a ama, que nunca deixou de amá-
la. Manuelle, sendo como é, pode cometer uma loucura só para chamar sua
atenção. É melhor não deixá-la sozinha por muito tempo.
Jean Louis deixou-se cair na rede, abatido.
—Você tem razão. Amo Manuelle e sempre serei um apaixonado
incorrigível.
— Vocês serão felizes depois de casados, tenho certeza.
— Fiz tudo errado. Manuelle sempre teve muito ciúme de você e eu
não fiz outra coisa durante estes anos todos senão provocar ainda mais tal
sentimento.
— Não é sempre que a gente acerta, Jean. Bem, só me falta agora pedir
que a perdoe.
— Você me faria muito feliz, ma belle. Manuelle age assim com você
porque morre de medo. — No instante seguinte a expressão
de Jean mudou totalmente. — Quer dizer que minha mocinha vai
complicar a vida de Jimmy O'Donnell?
— Não será mais do que ele merece.
Jean Louis forçou uma expressão séria, mas não demorou muito a
soltar o riso.
— Pelo que vejo, vai ser uma temporada e tanto. Acho que devo voltar
a Paris mesmo. Como o ditado diz: dois é bom, três é demais... — Jean
inclinou-se e beijou-lhe o rosto. — Bem, vou partir esta noite, mas logo
estarei de volta com Manuelle, já que temos de resolver quais as mobílias que
vamos vender e quais as que continuarão conosco.
Lucy acompanhou o primo até o portão, depois ficou pelo jardim,
pensando em tudo que acontecera naqueles últimos dias.
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CAPÍTULO V
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um sinal bem claro de que Jimmy garantira seu romance com ela a despeito
de todas as falcatruas que praticara.
Furiosa, Lucy deu partida no carro e voltou para casa. Sem falar com
Marie, trancou-se no quarto e só saiu de lá no final da tarde, quando decidiu
andar pela praia para repensar no que acontecera.
Tudo parecia-lhe muito claro agora. Jimmy não a procurara durante
todo aquele tempo porque certamente tinha coisas muito mais importantes a
fazer. Comprar Cherrytree não lhe era mais tão fundamental quanto
conquistar um amor praticamente impossível, uma vez que Manuelle ainda
nutria esperanças de reatar o noivado com Jean Louis.
Analisando a situação com frieza, sentiu-se magoada por ter sido
relegada a um plano tão inferior, e decidiu dificultar ainda mais as
negociações para a venda de sua propriedade. Agora não estava em questão
apenas o seu orgulho ferido, mas a felicidade de Jean Louis também.
O sol começava a sumir, a enorme esfera de fogo, mergulhando no
azul-escuro do mar. Molhando os pés no mar, Lucy admirou a paisagem e
suspirou melancólica. Nunca se sentira tão só e abandonada como se
flagrava naquele momento.
Porém, decidida a não deixar-se abater tão facilmente, virou-se
abruptamente para voltar para casa e quase tropeçou num cãozinho que a
seguia em silêncio.
— Olá, bichinho. Quem é você? — ela acariciou-lhe o pêlo. — Está
perdido?
O animalzinho simpático logo retribuiu o carinho pulando no colo de
Lucy. Era branco, com uma mancha preta num dos olhos e o rabo curvado,
lembrando exatamente a alça de um bule de chá.
Lucy estendeu o olhar por toda a praia, à procura do dono do animal,
mas não viu ninguém. Pelas pegadas deixadas na areia, percebeu que o
bichinho a seguia há bastante tempo. Procurou por algum sinal que o
identificasse, mas nada conseguiu; sequer tinha coleira.
— Está bem, amiguinho, você venceu — disse ela, acariciando-o mais
uma vez. — Vamos para casa.
Marie quase morreu de susto e Tiger correu para esconder-se debaixo
do armário, quando Lucy entrou em casa com o cachorrinho no colo, mas
fingiu não perceber a reação da governanta.
— Você conhece este cachorrinho, Marie?
— Imagine! Isso aí é um vira-lata, mademoiselle Lucy. Olhe só para
ele!
— Bem, foi isso o que pensei. Se ninguém vier reclamar, acho que vou
adotá-lo.
— Adotar uma coisinha feia dessas? — questionou Marie,
horrorizada.
— E por que não? Diga-me, sobrou um pouquinho daquele frango que
comemos ontem?
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— Não me diga que vai dar para ele o prato que fiz com tanto carinho!
Lucy sorriu diante da indignação da velha senhora.
— Claro que vou! Não vê que ele está morrendo de fome? Vou dar o
frango e muito leite. Não posso exagerar muito, não sabemos quando foi a
ultima vez que ele comeu. Vamos, Marie, preciso de um cobertor velho!
Já no chão, o animalzinho procurou aconchegar-se perto do calor do
fogão, as patinhas trêmulas de frio.
— Acho que ele precisa de um banho, mas não hoje. Talvez fosse
melhor colocá-lo para dormir comigo...
— Você tem um coração mole, igualzinho a sua tia.
Mesmo resmungando, Marie ajudou a alimentar o cãozinho, dando-
lhe inclusive leite quente com aveia.
Para Lucy, cuidar do Teapot, como ela o chamou, foi o melhor
remédio para esquecer Jimmy O'Donnell. A cada dia que passava, o
animalzinho engordava e ganhava mais vida.
Já fazia três dias que Teapot se tornara seu amigo inseparável, quando
chegou uma carta de Jimmy convidando-a para jantar dentro de dois dias. A
primeira reação que teve foi recusar o convite, mas depois de refletir um
pouco, achou que não seria a melhor saída. Afinal, tinha de encontrá-lo.
Pretendia dificultar as coisas ao máximo, mas deixaria que Jimmy pensasse
que tinha a situação sobre controle até que ela o surpreendesse recusando
qualquer proposta.
Pelo endereço no envelope, Lucy soube que ele já se instalara em
Grande Ferme e sentiu uma certa emoção de tê-lo tão perto. Respirando
fundo, procurou conter as emoções relembrando a cena no café e apagando,
assim, qualquer esperança que pudesse ter.
Por sorte, a raiva que sentiu por ter se emocionado tanto com o
convite de Jimmy fez com que sua criatividade brotasse a toda carga. Teapot
já estava mais gordo e tinha uma maneira peculiar de andar e agir. Sem
demora, Lucy, com lápis e papel na mão, precipitou-se a desenhá-lo em
diversas posições, deixando que sua imaginação lhe contasse como fora a
vida daquele animalzinho antes de ser encontrado na praia.
Quase sem perceber, tinha na mente toda a série de histórias que
escreveria dali em diante: O cãozinho Teapot e suas aventuras. A fazenda,
Manuelle, Jimmy e todo o resto foram esquecidos quando começou a
trabalhar com afinco no projeto. Seu novo companheiro a cada dia perdia
aquele ar de abandonado, assumindo sua nova condição de mascote. Tiger e
Teapot haviam estabelecido uma espécie de pacto de honra: enquanto um
não invadisse o território do outro, não haveria brigas.
Foi Marie quem entrou no estúdio inesperadamente, para lembrá-la
de que tinha um jantar com Jimmy aquela noite e que deveria largar o
trabalho se quisesse chegar a tempo. Mais relaxada para o encontro do que
poderia imaginar, Lucy entrou no banho. A atividade intensa dos últimos
dois dias e o rascunho pronto para a próxima história, serviram-lhe como
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válvula de escape para toda a sua tensão. Imaginou que seria até divertido
estar com Jimmy e poder analisá-lo friamente. Mesmo assim, acabou
demorando mais do que o necessário para escolher a roupa apropriada,
embora intimamente acreditasse que nada aconteceria entre ela e Jimmy
O'Donnell. Escapar para o mundo da fantasia fora uma pobre alternativa de
solução para o problema que teria de enfrentar dali a pouco: a sedução
daquele homem.
Maio na França era um dos meses mais adoráveis do ano. As tardes
eram quentes e raros os dias em que não havia sol ou noites que não fossem
estreladas. Por isso, Lucy optou por um vestido simples de algodão creme e
completou a elegância da roupa com uma bela echarpe de seda em tons
vibrantes.
Marie fora instruída para levar Jimmy ao estúdio assim que chegasse.
Lucy estava regando as violetas quando os dois entraram no salão,
acompanhados de perto por Teapot, ansioso por checar o estranho.
Como sempre, Jimmy estava irresistível, o charme presente no simples
cumprimento reverente. Quando sentiu a mão quente apertar a sua, Lucy
desejou esquecer todas as convicções e render-se à incrível atração que sentia
por ele. No entanto, Jimmy demonstrou-se cauteloso, como se não tivesse
tanta certeza de ser bem recebido.
Impassível, esforçando-se ao máximo para não demonstrar o turbilhão
de emoções que a afligiam, Lucy serviu dois cálices de vinho. Embora
procurasse parecer indiferente, não deixou de notar o olhar penetrante de
Jimmy estudando-lhe as formas delicadas do corpo oculto sob o tecido fino
do vestido. Respirou aliviada, quando Teapot chamou a atenção dos dois.
— Ora, ora, quem é este aqui?
— Eu o encontrei perdido na praia outro dia.
Lucy sentiu um ciúme incontrolável quando Teapot aproximou-se
carinhosamente de Jimmy, fazendo-lhe festa e oferecendo-lhe a barriga para
ser acariciada.
— Vejam só! Você é um cãozinho muito simpático, sabia? —
comentou Jimmy, sem notar a aflição de Lucy.
— Teapot! — repreendeu ela, de repente.
Jimmy ergueu-se e lançou-lhe um olhar divertido, antes de aceitar o
cálice de vinho que lhe era oferecido. Levantando o cálice, fez uma saudação
em silêncio.
Teapot, temendo ter magoado a dona, sentou-se a seus pés à procura
de proteção. Lucy permitiu que o cãozinho pulasse no sofá e acariciou-lhe a
cabeça, dando-lhe a certeza de que tudo estava bem.
— Parece ser um animalzinho muito amigável e manso para ser um
vira-lata — comentou Jimmy. — Já averiguou se ele tem dono?
— Marie foi até a delegacia e deixou um aviso. Se você o tivesse visto
na primeira noite em que o encontrei, não teria dúvidas de que ele não tem
dono.
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— Está agindo como uma criança mimada, Lucy Porter! Você não
gosta de admitir que está errada, não é mesmo? Está tão acostumada a ter
todos os homens a seus pés que não pode suportar a idéia de que um deles
seja diferente. Não sou mais um colegial para me deixar envolver por sua
beleza e talento, e nunca permiti que alguém me tratasse de maneira tão
insolente. Deve ter esquecido que é humana como qualquer um de nós, com
todos os defeitos e qualidades.
Lucy ficou tão perplexa com aquele desabafo que foi incapaz de dizer
qualquer coisa.
— Você é uma mulher adorável, Lucy — ele continuou. — Se soubesse
reconhecer os erros, então, seria perfeita! Mas não se preocupe em me
encontrar de novo, pois eu mesmo não estou nem um pouco interessado em
revê-la.
Jimmy saiu batendo a porta, quase que ao mesmo tempo em que uma
taça de vinho estilhaçava-se contra o batente.
— Que raiva! — exclamou ela, sentindo as lágrimas escorrer-lhe pelo
rosto.
Instantes depois, Marie entrou no estúdio, procurando saber a razão
de tanto barulho. Lucy acabou por descontar na governanta toda sua raiva.
— Nunca mais deixe este homem entrar nesta casa, entendeu?
— Mas por quê, mademoiselle Lucy? Ele me pareceu tão simpático...
— Pode ser simpático, mas é também uma cobra venenosa!
Lucy saiu furiosa, deixando Marie e Teapot para trás.
— Oh, Ia la! Que gênio, ma petite! — Marie exclamou, pegando Teapot
no colo e voltando para a cozinha. — Mesmo assim, não mudei de opinião
sobre o monsieur.
Lucy sabia que a melhor terapia para se acalmar era correr, por isso
trocou o vestido por um agasalho confortável e saiu em direção à praia.
Depois de ter corrido bastante, o corpo todo pulsando de cansaço, sentou-se
na areia e analisou as acusações de Jimmy.
O que mais a aborrecia era a petulância dele. Afinal, se não a
convidara para jantar a fim de tratarem de negócios, por que então fizera o
convite? Não estava saindo com Manuelle? Sempre soubera que executivos
de sucesso às vezes lançavam mão de certos artifícios para obterem seus
objetivos, mas Jimmy estava abusando...
Por sorte, não caíra na armadilha. Mas também tinha consciência de
que precisava esforçar-se ao máximo para resistir ao charme dele, à maneira
como a encarava, desnudando-a por inteiro, desvendava-lhe as emoções.
Depois de refletir mais um pouco, percebeu que Jimmy tinha razão ao
acusá-la de não ligar muito para as pessoas que a rodeavam. Mas, também, o
que fazer se os homens que conhecera haviam cedido a todos os seus
caprichos?
Percebendo que não conseguiria chegar a nenhuma conclusão sobre
Jimmy e muito menos por que sentia-se tão atraída por ele, Lucy decidiu
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voltar para casa. Tinha esperanças de envolver-se mais uma vez com o
trabalho e esquecer aquele homem e tudo o que ele significava.
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sabendo que Jimmy estava lá com Manuelle. Será que ele temia que Jimmy
rompesse o contrato que lhe renderia milhões de dólares?
Assim que chegou à árvore ouviu um assobio familiar e sorriu. Jean
Louis não perdera o hábito de infância. A areia ainda estava quente do sol e
Lucy tirou os sapatos para poder sentir melhor a sensação gostosa contra sua
pele delicada. Quando erguia o corpo, alguém enlaçou-a pela cintura.
— Jean Louis, seu maluco!
Lucy voltou-se sorrindo, mas não teve chance de dizer mais nada, pois
seus lábios foram cobertos por um beijo longo e apaixonado. Foi então que
percebeu que fora enganada. Quem a estava beijando não era Jean Louis,
mas sim Jimmy. A razão lhe mandou afastá-lo, mas seu corpo a surpreendeu
respondendo cada vez mais àquele simples carinho. Percebendo que ela
cedia à pressão de seus lábios, Jimmy aprofundou ainda mais a carícia,
envolvendo-a num êxtase profundo. O último pensamento racional a passar
pela mente de Lucy foi que ninguém jamais a tocara de forma tão sensual e
arrebatadora. Deixou-se aconchegar mais ao corpo viril de Jimmy, sentindo
um a um os botões de sua blusa serem abertos. O contato das mãos fortes
transmitiu-lhe uma sensação de calor que se espalhou por todo o seu corpo,
fazendo-a ansiar por livrar-se da única barreira que a impedia de sentir por
completo o peito másculo de encontro ao seu.
Sem demora, a blusa de Lucy ficou esquecida na areia. Ansiosa por
estreitar aquele contato, Lucy ajudou-o a livrar-se da camiseta. O desejo que
os consumia foi se intensificando, levando-os ao delírio. Enquanto ela gemia
de prazer, alheia a tudo que pudesse quebrar aquele momento mágico,
Jimmy beijou-lhe a pele alva do pescoço, marcando com a língua uma trilha
de fogo e prazer até os seios nus.
De súbito, Jimmy aprisionou-a sob seu corpo, tomando o cuidado de
apoiar-se nos cotovelos para apreciar a escalada alucinante de prazer que se
delineava no rosto de Lucy. Ela ainda o atraiu mais uma vez para um beijo,
na ânsia de explorar cada centímetro daquele corpo másculo pressionando o
seu, Jimmy respondeu ao apelo com um beijo longo e apaixonado, depois
afastou-se, fitando-a com um sorriso.
Lucy tomou aquele atitude como uma agressão e não um carinho. Aos
poucos foi recobrando a consciência, um cruel retorno à realidade. O sorriso
de Jimmy era de triunfo, como se quisesse mostrar o quanto seu fascínio
podia dominá-la.
Lucy caíra numa armadilha, e nada faria mudar essa verdade!
CAPÍTULO VI
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— Por acaso Jean Louis não lhe contou nada quando ligou ontem à
noite?
— Não, só disse que tinha boas notícias.
A voz de Lucy tornou-se ainda mais fraca. Jimmy percebeu que o
orgulho abandonara aquele corpo frágil, deixando-o ainda mais
desprotegido. Não resistindo ao encanto de uma figura tão meiga à sua
frente, abraçou-a com ternura.
— Solte-me, por favor. Sinto muito se o julguei mal, mas isso também
não muda nada entre nós.
— O que quer dizer? — Jimmy olhou-a indignado.
— Quero ir para casa, Jimmy, estou cansada.
— Está bem, então vou acompanhá-la.
Lucy deu de ombros.
— Não precisa se incomodar.
Ela começou a andar e Jimmy, ao seu lado, colocou o braço em seu
ombro, amparando-a. Com esforço, Lucy disfarçou o tremor que percorreu-
lhe o corpo assim que ele a tocou.
— Quero saber por que está tão ressentida comigo.
— Pensei que a única coisa que o interessava era ir para a cama
comigo — ela respondeu, na sincera intenção de esclarecer todos os
desencontros.
Jimmy abraçou-a com mais força.
— E se estivesse mesmo, o que importa isso?
— Para mim importa, e muito. Todos os homens que conheci só se
interessavam por sexo, mais nada. Nunca consegui um amigo sincero, ou
mesmo um companheiro que quisesse me acompanhar num programa sem
estar pensando no que ganharia em troca.
— Por acaso você já se entregou a alguém?
— Oh, sim. Eu era muito jovem ainda. Pensei que com isso estaria
resolvendo todos os meus problemas de relacionamento. Como me enganei!
— Já se apaixonou, Lucy? Pelo menos uma vez?
— Julguei que sim, mas ele era imaturo demais. Não conseguíamos
manter uma conversa que não fosse sobre carros, motos, ou coisas assim.
— Lucy... Por que me convidou para entrar em seu quarto aquela
noite, em Caen?
Surpresa com a pergunta, Lucy quis fugir à resposta, mas ponderou
que seria desonesto de sua parte.
— Para ser sincera, nem eu mesma sei por quê. Nunca agi daquela
forma antes... Acho que, no fundo, você me impressionou bastante!
— Foi esse o motivo, então...
Lucy esquivou-se dele rapidamente.
— O que não significa que tenha o direito de recuperar o tempo
perdido.
— Eu sei, Lucy...
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— Não se zangue comigo, Lucy. Sei que sou agressivo às vezes, mas
não tive intenção de ofendê-la. Você está fugindo de mim, não está?
— Já que está mais afirmando do que perguntando, então é verdade,
mestre — respondeu ela ironicamente.
— Não a culpo por agir assim. Só gostaria de evitar que acabasse
cometendo os mesmos erros que eu.
— E o que sugere que eu faça?
Lucy tentou fingir-se submissa, mas Jimmy não se deixou enganar tão
facilmente.
— Bem, se você tiver um tempinho sobrando neste verão, talvez
pudesse me ajudar. Agora que Manuelle largou o emprego, preciso de uma
assistente que conheça bem a área. Montei um escritório provisório em
Grande Ferme. Quem sabe se, ficando mais tempo juntos, você possa apontar
meus erros. Prometo que tentarei melhorar. Isto, é claro, desde que eu possa
apontar seus
defeitos também.
Lucy não conseguiu evitar o sorriso. Era óbvio que ele estava usando
uma artimanha para ficarem mais tempo juntos.
— Não vai ser tão difícil. Posso enumerar seus defeitos agora mesmo.
Você é autoritário, arrogante e muito prepotente.
— Posso dizer o mesmo de você — Jimmy respondeu, procurando
provocá-la, mas ela limitou-se a suspirar.
— Você é o sujeito mais irritante que já encontrei na vida. Parece que
sente prazer em me provocar! Tenho certeza de que se passarmos mais de
uma hora juntos acabaremos brigando feito cão e gato.
— Pois acho que está enganada. Para brigar é preciso que os dois
estejam com vontade de discutir. Mas, está bem, eu me rendo e prometo não
criticá-la. Então, que tal almoçarmos amanhã?
— Você não devia prometer o que não pode cumprir. Tenho certeza,
pelo que acabo de ver, de que você não vai agüentar muito tempo sem me
dizer o que tenho que fazer. — Jimmy fez menção de responder, mas ela
continuou falando: — Está vendo, já ia quebrar a promessa! Quanto ao
convite, acho que seria uma boa idéia almoçarmos aqui amanhã. E já que me
pediu ajuda, vou cobrar a recíproca. Gostaria de que lesse minhas novas
histórias e desse sua opinião.
— Fechado! — Jimmy sorriu e abaixou-se para acariciar Teapot. — É
uma idéia excelente!
— Ah, quase ia me esquecendo... — Lucy completou. — Fui até o canil
da Prefeitura com Teapot e notifiquei que o tinha achado. O oficial me disse
que há muito ninguém procura por um animal perdido.
— Você tem razão, fui muito grosseiro a noite passada. Sabe, acho que
nunca agi daquela forma em toda minha vida. Daí porque fiz com que
acreditasse que Jean Louis estava à sua espera na praia. Depois do que
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aconteceu ontem à noite, tinha certeza de que não ia querer nem ouvir meu
nome. Bem, vou embora agora. Até amanhã.
Jimmy virou-se e deixou Lucy ali parada, sem saber ao certo como
agir e muito menos como definir o que estava sentindo.
Depois de vê-lo sumir na escuridão, Lucy entrou, ainda refletindo
sobre aquela oferta de amizade; mesmo depois de ter comprovado os efeitos
mágicos que ele lhe causava. Tinha certeza de que Jimmy também sentira da
mesma forma que a atração que os unia era muito forte. Então, por quê, de
repente, ele acatara a idéia de afastar-se tão rapidamente? Seria maravilhoso
poder acreditar que estava interessado em construir um relacionamento mais
duradouro, mas a idéia era fantástica demais para ser verdadeira... Contudo,
ao menos soubera naquela noite que, apesar de todas as provas em contrário,
Jimmy O'Donnell se preocupava com os outros. A união de Jean Louis e
Manuelle servia como boa prova. Nenhum outro homem na posição de
Jimmy teria admitido o erro da amiga. Ele já perdera dinheiro demais
naquela brincadeira toda.
Lembrando-se disso, Lucy subitamente sentiu um arrepio percorrer-
lhe a espinha. Jimmy não mencionara mais o fato de comprar Cherrytree.
Uma curiosidade imensa tomou conta dela.
Precisava descobrir o que tinha acontecido. Será que ele acreditava que
ela ainda poderia ceder vendendo a casa? Não, claro que não. Àquela altura,
era óbvio para todos que não tinha intenção nenhuma de mudar-se dali. Por
via das dúvidas, antes de adormecer, resolveu que a primeira coisa que
tentaria descobrir, durante o almoço do dia seguinte, seriam os planos de
Jimmy a respeito de Cherrytree. Podia usar como desculpa o desejo de gastar
o dinheiro da venda dos lotes com a redecoração da casa. Ainda não
esquecera a beleza da decoração do quarto do hotel em Caen.
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— Não acredito!
— Juro! Não cheguei a competir em Fórmula Ford.
— Mesmo assim, deve ter sido uma experiência emocionante.
— Bem, eu era meio louco naquela época... Hoje, não sei se teria
coragem para tanto.
— E por que não? Se gosta tanto de dirigir, seria uma oportunidade e
tanto!
— Pode ser, mas meus reflexos já não são tão bons. Tentei participar
desse tipo de provas duas vezes e acho que foi o suficiente.
— Pois eu se tivesse uma chance de participar de um rali, por
exemplo, não deixaria a oportunidade escapar de jeito nenhum.
— Por que não tenta, então? Existem muitas mulheres pilotando hoje
em dia e são boas motoristas.
— É uma idéia...
Jimmy estacionou o carro em frente ao portãozinho de madeira da
casa de Lucy.
— Vamos ver seus trabalhos e depois, se sobrar tempo, podemos ir
andar na praia, que tal?
— Para mim está ótimo, mas você não tem nenhum compromisso?
— Não, nada de importante. Além do mais, tirei o dia de folga.
Lucy aguardou em silêncio enquanto ele estudava os desenhos de
Teapot e lia os textos. Depois de quase meia hora, ele abriu um sorriso.
— E então? — perguntou aflita.
Lucy estava sentada numa banqueta alta, com os cotovelos apoiados
na prancheta. A calma e serenidade estampadas naquele rosto de traços tão
marcantes deram a ela a resposta positiva que desejava; esperou que Jimmy
se manifestasse.
— Se dependesse de mim, você ganharia o prêmio Nobel de literatura
infantil.
— Como assim? Não tem nenhuma crítica? Não há nada a ser
melhorado?
O clima no ambiente era tão intenso, que ela sentiu-se como que
envolvida numa onda de ternura. Suas reações fugiam ao seu controle;
estava totalmente à mercê daquele olhar profundo que lhe estudava o rosto
com atenção.
— Quem sou eu para julgar uma mulher tão inteligente e talentosa?
Jimmy cobriu-lhe os lábios num longo beijo apaixonado. Sentindo que
Lucy se entregava totalmente, Jimmy a abraçou com força, unindo os corpos
num só, os corações batendo em uníssono.
Aos poucos as carícias tornaram-se mais exigentes e Lucy não colocou
qualquer resistência, deliciando-se com a incrível sensação de ter seu corpo
entregue aos afagos. Roçando-lhe os lábios na pele macia, Jimmy procurou o
lóbulo da orelha para mordiscá-lo de leve, e, em seguida, tocou os seios
rígidos, sequiosos de mais carinho.
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— Não! Não era nada disso! Jimmy, você não entendeu nada...
Conversava com as paredes, enquanto ouvia o ronco do motor do
carro sumindo ao longe.
CAPÍTULO VII
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pouco, mas como todo o projeto teria de ser mudado caso ela recusasse,
acabou por ceder sem colocar mais impedimentos. A única exigência que fez
foi uma distância considerável entre sua casa e a construção. Como não
houve qualquer discordância, Lucy assinou os papéis encerrando, assim, o
assunto.
O segundo compromisso que agendara se referia à nova decoração da
casa. Já que aquele seria mesmo o seu lar dali para frente, trataria de
transformá-lo no cantinho mais aconchegante do mundo. Por sorte,
encontrou uma loja especializada na pequena cidade vizinha que se
encarregou de elaborar o projeto e executar os trabalhos.
Mesmo com tantos planos em mente, Lucy não conseguia conter a
ansiedade. Nem mesmo o começo de um novo livro conseguiu entretê-la
muito tempo. Por fim, acabou ligando para os pais de Jean Louis e combinou
um fim de semana prolongado em companhia deles.
A semana passou voando com a perspectiva de viajar para Paris,
cidade que lhe trazia muitas boas recordações. Quando lá chegou, as ruas
transmitiam o calor humano de sempre com a promessa de um verão quente
e gostoso.
Lucy surpreendeu-se ao receber um convite de Manuelle para jantar
logo na primeira noite de sua permanência em Paris. Tentou imaginar como
a velha amiga a trataria depois de tudo o que acontecera, mas sem querer
magoar o primo aceitou a gentileza.
Depois de uma noite agradável e um jantar delicioso, Lucy percebeu
que se preocupara em vão. Manuelle se comportou muito bem, fingindo não
ter acontecido nada. Jean Louis, porém, questionou-a sobre seu
relacionamento com Jimmy.
— Não sei por que está agindo dessa maneira, Lucy — ele questionou,
depois dos comentários evasivos da prima. — Tenho certeza de que Jimmy a
adora.
Lucy quis desmentir, mas por causa da presença de Manuelle,
resolveu continuar reticente a respeito.
— Jimmy é um homem intrigante...
— Você já me perdoou por tê-lo deixado tomar meu lugar tão
facilmente? — Jean Louis brincou. — Parece que sim... Desde o princípio,
percebi que também se impressionou com ele.
Agora Jean estava indo longe demais! Lucy decidiu que colocaria um
ponto final naquela conversa antes que terminasse por perder a paciência.
— Pelo que sei, Jimmy deve estar muito bem, mas não o vejo há
tempos.
Jean Louis calou-se diante da resposta fria, mas Manuelle deu a última
palavra, recuperando sua ironia.
— Jimmy sempre teve um batalhão de mulheres a seus pés. Ainda
bem que você descobriu que ele se enjoa rápido e teve tempo de safar-se sem
terminar magoada.
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— Quase cinco. Não vejo a hora dos dois estarem na escola por
período integral. Oh, não se preocupe, não sou a mãe cruel que pareço. Mas
se você os conhecesse, saberia por que tenho cabelos brancos tão cedo. Acho
que eles herdaram toda a energia do tio: só ficam quietos na hora de dormir e
ainda assim preciso contar pelo menos três histórias para se acalmarem. —
Vicky alcançou a mão de Lucy, apertando-a carinhosamente. — Eu sei que
você é Mary Bear, e tenho todos os motivos do mundo para lhe agradecer. Só
as suas histórias são capazes de acalmar meus meninos na hora de dormir.
Além disso, eu também leio todos os seus livros, sabia?
Lucy sorriu.
— Fico contente que gostem do meu trabalho. Espero que os meninos
se divirtam com a nova série que estou criando.
Enquanto colocava a mesa e servia a todos, Vicky não parava de falar.
Lucy imaginou se ela costumava ter sempre aquela energia. Pelo menos uma
coisa ficara clara: Jimmy na certa falara muito bem a seu respeito; caso
contrário, a outra não se esforçaria tanto para agradar.
— Ainda bem que seu primo decidiu vender a fazenda mobiliada —
continuou Vicky —, senão estaríamos sentados no chão.
Jimmy nunca se preocupou com estes detalhes, e confesso que me
imaginei passando férias numa casa onde não teriam mesas, cadeiras e nem
mesmo camas...
Jimmy sorriu, mas Lucy percebeu o quanto ele estava distante.
—Já percebeu que Vicky não para de falar nem para tomar fôlego? —
brincou ele.
— Ora, mas que malcriado! Lucy, você não acha que é um dom fazer
amizades e deixar que elas se sintam à vontade na sua presença?
— Não tenho tanta certeza...
— Está bem, está bem, Jimmy. Prometo que ficarei calada pelo resto
da refeição.
— Esse seria um milagre que gostaria de presenciar. Como é que
Tommy agüenta?
— Fique sabendo que ele gosta. Sabia que Tommy se preocupa
quando estou muito quieta?
— Claro, na certa acha que está doente...
Apesar de estarem discutindo, Lucy percebeu o carinho que existia
entre os irmãos e sorriu com ternura.
— Vocês têm mais irmãos, ou são apenas os dois? — quis saber.
— Você quer me matar, Lucy! Uma irmã já é mais do que suficiente!
— Isto sem falar nos irmãos — Vicky respondeu quase que no mesmo
instante.
— Não se esqueça de que me deve um enorme favor...
— Sabe por que ele diz isso, Lucy? Porque foi ele que me apresentou
ao meu marido.
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deixara claro que passaria ali pelo menos uma semana. Se os convidasse para
jantar, talvez tivesse uma boa chance de esclarecer mais alguns pontos, sem
falar que seu ato seria interpretado apenas como uma cortesia de boa
vizinhança.
Entretanto, apesar de todos os planos para encontrar-se de novo com
Jimmy, sabia que precisava preparar-se melhor, para não expor demais o
coração. Afinal, Jimmy nunca lhe falara de amor, apesar de saber e sentir que
a atração que os unia era mais forte do que qualquer sentimento que pudesse
existir.
CAPÍTULO VIII
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— Lucy...
— Não! Não diga mais nada. Vou sair deste lugar; já chega de
falsidades.
— Está bem, fique com a suíte. Vou providenciar para que tenhamos
chaves separadas.
— Será que não entendeu ainda? Não quero mais ficar aqui!
— Está bem, Lucy. Calma! Pense um pouco. Já imaginou que poderá
se atrasar para o casamento se sair agora atrás de outro hotel?
Lucy o encarou, sem saber ao certo que atitude tomar.
— Está bem, como sempre, você tem razão!
— Vou fingir que não ouvi esta última provocação. — Jimmy
aproximou-se, segurando-a pelos ombros. — Agora, escute: vou sair, e
prometo não me aproximar mais antes que tenha tempo de refletir e ver
como está distorcendo as coisas. Aí, sim, poderemos discutir a situação. Ah,
não se esqueça de pedir o café. Já pensou que vexame se acabar desmaiando
em plena cerimônia?
Lucy limitou-se a sorrir timidamente, enquanto o observava recolher
as roupas pelo quarto e sair, fechando a porta atrás de si.
Durante o resto da manhã, apesar de estar se preparando para o
casamento, Lucy refletiu muito sobre a conversa que tivera com Jimmy.
Frases como "amor e confiança não constam em seu dicionário", ou "você é
incapaz de ter um relacionamento normal com um homem" faziam seu
sangue ferver. Mesmo assim, considerou o fato de nem sequer ter dado a ele
a chance de defender-se. Talvez não soubesse mesmo confiar, mas só agia
daquela forma por estar com muito medo. Medo de se entregar totalmente
sem antes saber se ele também a amava.
A atração física que sentiam um pelo outro era muito forte; então, por
que não considerar aquilo como uma forma de amor? Por que teimava tanto
em se retrair ao invés de se entregar de corpo e alma à paixão que a
consumia?
Ainda não chegara a conclusão alguma quando, por fim colocou o
vestido de seda, que delineava as curvas perfeitas do corpo escultural. Com
muita prática, enrolou os longos cabelos no alto da cabeça e ajeitou o chapéu
de aba larga do mesmo tom do vestido. Depois de acertar a maquilagem,
olhou-se no espelho demoradamente e concluiu estar pronta para ir ao
casamento.
Na igreja, não foi muito difícil localizar Jimmy. Ele era o mais atraente
de todos os convidados. Enquanto Lucy se posicionou do lado da família de
Jean Louis no altar, ele ficou do lado oposto, como padrinho da noiva.
Durante toda a cerimônia, procurou não encará-lo, mas curiosamente todas
as vezes que lançava-lhe um olhar, ele, também, a estava observando.
Por sorte, havia muitos conhecidos na festa, amigos de infância. Seria
fácil não ficar sozinha e com isso até divertir-se um pouco. No entanto, o que
mais a perturbava era o fato de Isabella estar o tempo todo ao lado de Jimmy.
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A festa já não estava tão agradável para Lucy, e ficou ainda pior
quando decidiu cumprimentar os noivos. Manuelle abraçou-a:
— Lucy, querida, você precisava ver como Isabella ficou chateada de
tê-la incomodado tão cedo esta manhã.
— É mesmo? — Lucy fingiu surpresa. — Sabe que eu nem sequer ouvi
o telefone?
Manuelle ficou sem jeito por alguns instantes, mas não demorou
muito a recuperar a arrogância de sempre.
— Não imagina como é divertido brincar de princesa, nem que seja
apenas por um dia. Você devia experimentar, Lucy.
— Um dia, talvez, mas acho que ainda não estou preparada para o
casamento.
Por sorte a conversa terminou ali mesmo, pois Jean Louis se
aproximou, abraçando Lucy efusivamente.
— Minha prima querida! Pelo menos hoje vou poder beijá-la sem que
minha mulher fique com ciúme.
— Ora, deixe disso! — respondeu Manuelle.
— Sabe de uma coisa, querida? Acho que teremos que casar Lucy para
torná-la feliz de verdade.
— Ah, mas Lucy sabe que não é tão fácil achar um marido —
provocou Manuelle.
— Oh, não certamente — Lucy retrucou com cinismo. — Mas não se
preocupe, Manuelle: quando chegar a hora, virei pedir seus conselhos.
Lucy ocupou um lugar junto aos pais de Jean Louis, perto o suficiente
para notar Isabella que, ao lado de Jimmy, se esforçava para monopolizar a
sua atenção.
Mais tarde, quando todos estavam no jardim, Jimmy aproximou-se de
Lucy. Ela sentiu as pernas fraquejarem, já que as lembranças da noite
anterior ainda estavam muito vivas em sua memória. Pela maneira como ele
a encarou e sorriu, parecia evidente que também não esquecera um instante
sequer daquela noite de loucuras e prazer.
— Você está linda!
— Você também não está nada mal.
— Por acaso notou a pulseira que Isabella está usando?
Lucy procurou a outra com o olhar e notou a linda pulseira de ouro no
braço delicado. No mesmo instante, sentiu o sangue ferver, mas não teve
tempo de fugir ou dizer qualquer coisa.
Jimmy roubou-lhe as palavras.
— Aquilo era realmente um presente de "obrigado", mas só isso. Além
disso, foi a maneira que encontrei para agradecer todo o trabalho que ela
teve durante os últimos meses com o novo empreendimento em Grande
Ferme.
— Eu...
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— Não, não diga nada, por enquanto. Mais tarde, vou bater na porta
do seu quarto e convidá-la para sair. Temos muito o que conversar. Claro
que você tem o direito de recusar, mas acho que não deveria.
Lucy temeu que ele percebesse o domínio que exercia sobre ela e sobre
todas as suas atitudes.
— Prometo que vou pensar — respondeu antes de sorrir para Jean
Louis e seguir naquela direção.
Jimmy observou-a afastar-se conduzida pelo primo, mas o sorriso
ainda brincava em seus lábios. Ergueu, então, a taça de champanhe num
brinde silencioso e recebeu uma piscadela em resposta.
Uma hora mais tarde, Lucy pegou carona com um dos primos de Jean
Louis para voltar ao hotel. Na recepção, contudo, recebeu um recado de
Marie que a deixou transtornada.
— Será que alguém pode me levar de volta para casa, na Normandia?
— Claro, mademoiselle. É alguma coisa urgente?
— Sim, quero partir o quanto antes.
— Não há problema. Chame o baggagiste assim que suas malas
estiverem prontas. — O recepcionista checava o computador enquanto falava
com ela. — Sua conta já está paga pelo sr. O'Donnell...
Sem perder mais tempo, Lucy correu para o quarto para se trocar.
Chegar o quanto antes em casa era a única coisa que importava naquele
momento.
CAPÍTULO IX
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Dois meses mais tarde, Lucy recebeu um convite, impresso com letras
douradas. Jimmy estava oferecendo uma recepção para os vizinhos e amigos
na Grande Ferme, para que todos pudessem constatar, antes da inauguração
oficial, os progressos que fizera na região.
Durante aquele período, Lucy não mais o procurara. Na verdade,
poderia ter tentado marcar um encontro em Londres, mas tivera receio de
não ser recebida. Aquele convite, no entanto, era a oportunidade que
esperava para o reencontro. E tinha um forte motivo para desejá-lo
ardentemente: precisava contar-lhe que estava grávida. Sabia que a notícia o
abalaria, mas deixaria bem claro que não queria nada; estava disposta a criar
o filho sozinha, dentro de suas posses e com todo carinho.
A única coisa de que precisava assegurar-se era o sigilo. Não queria
que ninguém soubesse a verdade. Até mesmo seus pais, que haviam passado
uma semana em Cherrytree, haviam partido sem saber. Por sorte, não estava
sentindo nenhum dos sintomas típicos de gravidez, o que a ajudava a
enfrentar a situação com mais calma. Passado o pânico que tivera ao ler o
resultado, sabia que sua decisão estava tomada. Aquela criança representaria
um elo distante de uma época feliz de sua vida.
Jimmy, no entanto, precisava saber que seria pai. Pensou se teria
coragem de dizer depois da maneira como fora tratada no último encontro.
Nunca conseguira entender por que Jimmy a recebera de forma tão fria e
impessoal. Durante aqueles longos dias, Teapot fora seu companheiro
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inseparável, o que a ajudara bastante, pois tê-lo por perto, além de distrair-
lhe um pouco, estimulava a criatividade e ajudava a esquecer as mágoas,
afogando-as no trabalho. Agora o encontro quebraria o silêncio... Talvez
fosse aquela a última oportunidade de ver Jimmy O'Donnell.
Jean Louis e Manuelle chegaram à tarde para a festa. A notícia de que
Manuelle estava grávida beliscou a ironia de Lucy, embora não lhe contasse
sobre seu estado.
Naquela noite, enquanto se trocava para a recepção, Lucy sentiu-se
mais sozinha e abandonada do que nunca. Apesar de estar com um vestido
magnífico, não conseguia disfarçar o coração machucado. O único
sentimento que lhe apaziguava a dor era o orgulho e a determinação de
parecer, principalmente naquela noite, a mulher mais bonita e elegante do
mundo.
Para fazer uma chegada ainda mais triunfal, Lucy tomou o cuidado de
chegar atrasada. E seus planos deram certo, pois quando entrou na sala
repleta de convidados, não houve quem não olhasse para a porta. Foi Jean
Louis quem veio recebê-la:
— Lucy, você está magnífica!
— Obrigada. Você é um eterno galanteador, primo. Jean Louis a
conduziu para o grupo de amigos com quem ele e Manuelle estavam
conversando. Jimmy não demorou muito a aparecer e assim que a viu foi
tirá-la para dançar.
— Você está linda, Lucy.
—Obrigada, Jimmy. Quero que saiba que não vim somente para
cumprimentá-lo pela obra que acabou de concluir, mas sim para contar-lhe
uma novidade, sem rodeios: você vai ser pai.
Jimmy parou de dançar e afastou-se um pouco para pode fitá-la
melhor.
— Não é preciso pânico; não quero nada. Pretendo criar esta criança
sozinha. Apenas achei que você tinha o direito de saber.
A dor que lhe apertava o coração era tanta, que Lucy duvidou que
teria forças para chegar até o carro sem antes cair em lágrimas. Por isso, antes
mesmo que ele pudesse dizer qualquer coisa, respirou fundo e deu-lhe as
costas.
— Lucy!
Ela ouviu os protestos, mas, ignorando-os, atravessou a sala
rapidamente.
— Oh, minha querida, você está linda!
Lucy virou-se para encontrar Vicky de braços abertos para abraçá-la.
Os olhos azuis que a estudavam eram tão parecidos com os do irmão...
— Tom! Tom! — chamou Vicky. — Venha até aqui, quero que conheça
Lucy.
Um homem alto, loiro e bem atraente, desculpou-se perante os amigos
e aproximou-se das duas.
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— Ora, ora... Agora entendo por que seu irmão decidiu passar o verão
aqui.
Lucy corou diante do comentário.
— Querido! Onde estão seus modos? Lucy, quero que conheça meu
marido.
Ela sorriu, cumprimentando-o, no mesmo instante em que Jimmy
parou logo atrás dela. Sentiu o sangue ferver, mas não viu outra saída a não
ser ficar ali, caso contrário, acabaria por chamar a atenção de Vicky e do
marido. Foi Tom quem a socorreu.
— Vá embora, Jimmy. Quero ter o prazer de conhecer melhor esta
jovem.
E, antes de pedir a permissão de Lucy, pegou-a pela mão conduzindo-
a até o terraço, onde todos dançavam.
— Espero que perdoe meus modos — desculpou-se Tom, enquanto a
embalava ao ritmo da música suave —, mas agora entendo por que meu
cunhado a escondeu por tanto tempo.
Lucy procurou responder às perguntas tentando ser o mais delicada
possível, mas sua atenção estava voltada para Jimmy, que dançava perto dali
com Vicky. Tudo indicava que ele não queria perdê-la de vista. As coisas
haviam se tornado mais difíceis do que imaginara. Fora ingênua demais ao
imaginar que poderia ficar na mesma casa que Jimmy e não sentir nada. A
estranha magia que a prendia àquele homem estava mais forte do que nunca.
Quando finalmente percebeu que Jimmy se ocupara com o prefeito da
cidade, aproveitou a chance para escapar sem ser notada. Jimmy estaria
preso àquela conversa por um longo tempo e não conseguiria livrar-se
facilmente.
Lucy sorriu carinhosamente para Tom.
— Queira me desculpar um instante, Tom. Preciso da minha bolsa e
acabo de lembrar que a esqueci no carro.
— Oh, sim, mas prometa-me que vai voltar ou que nos encontraremos
em breve. Sabe, esta foi a primeira vez que Vicky acertou no julgamento de
alguém. Será ótimo tê-la na família. — Tom percebeu a mágoa estampada no
rosto de Lucy. — Desculpe-me, Lucy, não queria me intrometer onde não
sou chamado.
Esforçando-se ao máximo, ela conseguiu dar outro sorriso tímido.
— Não se preocupe. Foi um prazer enorme conhecê-lo. Vicky falou
muito bem a seu respeito e sobre os meninos.
Tom acompanhou-a até a porta.
— Vicky fala demais, mas garanto que às vezes consegue ser uma boa
ouvinte.
— Tenho certeza de que sim. E agora, se me dá licença...
Tom continuou ali parado, vendo-a sumir na escuridão do pátio, sem
entender por que ela partira com tanta pressa.
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Bianca Duplo 457 – O coração não se engana – Kristy McCallum
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é? Pois deixe-me dizer uma coisa, sr. O'Donnell, não estou mais interessada
no senhor! Eu apenas lhe contei sobre o bebê porque achei correto, mas não
significa que permitirei que minha vida seja guiada e muito menos que me
diga o que fazer. Não preciso da sua proteção! Sou capaz de cuidar de mim
mesma sozinha. Por isso, pode voltar para sua festa e para sua vida
atribulada e me deixe em paz!
Lucy percebeu o quanto suas palavras o haviam afetado. Em parte,
sentiu-se vitoriosa. Afinal, por que era sempre a única a sofrer?
— Lucy, sei que não agi corretamente. Será que não pode me perdoar?
Não pensei que a tivesse magoado tanto...
Em vez de responder, Lucy deu-lhe as costas e subiu correndo para o
quarto. Quando teve a certeza de que ele não voltaria mais, caiu na cama e
chorou até sentir-se um pouco aliviada da dor que lhe ardia no coração.
Lucy foi a última a levantar-se na manhã seguinte. Na verdade, só
saiu da cama quando ouviu Manuelle e Jean Louis se preparando para partir.
Fazia muito calor e aquela foi uma das únicas vezes em que não se
preocupou em parecer bem-disposta e animada. Ao entrar na cozinha,
desejando ficar sozinha com sua dor, encontrou Jean Louis, terminando o
café.
— Você saiu cedo ontem da festa. Aconteceu alguma coisa?
— Não estava me sentindo bem.
— Ao que parece, ainda não melhorou, não é?
— Sei disso, não precisa me lembrar.
— Ei, o que houve? Que bicho te mordeu?
— Por favor, Jean Louis, realmente não me sinto muito bem.
Como Jean Louis estivesse curioso demais sobre a origem de seu mau
humor, Lucy decidiu verificar se Manuelle não precisava de ajuda com a
bagagem. Estava ansiosa por ficar sozinha com seus próprios pensamentos.
Não demorou muito e estava tudo pronto. Marie ajudou Manuelle
colocar as últimas malas no carro e aproveitou a carona até a cidade para
fazer compras da semana.
Sozinha, decidiu dar uma volta na praia com Teapot. A brisa e o
perfume do mar naquela manhã quente só poderiam lhe fazer bem. Estava
diante de um novo dilema: estaria mesmo disposta a se isolar em Cherrytree
se Jimmy estivesse tão próximo, em Grande Ferme?
Sentada no galho de sua árvore favorita, no alto das pedras, de onde
podia observar o horizonte, Lucy fechou os olhos, mas a tentativa de
descansar foi em vão. A imagem de Jimmy insistia em voltar-lhe à mente.
Será que conseguiria esquecer tamanha paixão? Ora, claro que não, Lucy
sabia que jamais amaria outro homem.
Mais uma vez lembrou-se do que haviam conversado na noite
anterior. Será que ele realmente a amava ou a teria pedido em casamento
apenas por causa do bebê? A única maneira de saber seria enfrentá-lo
novamente, mas tinha de controlar-se para não chorar ou implorar o seu
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Bianca Duplo 457 – O coração não se engana – Kristy McCallum
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amor. Não! Embora estivesse magoada e ferida, ainda lhe restava o orgulho.
Se Jimmy a amasse, teria de provar seu sentimento.
De repente Teapot começou a latir, trazendo-a de volta à realidade.
Foi então que viu Jimmy se aproximando e não teve outra reação se não
esperar e ouvir o que ele tinha a dizer.
— Bom dia — cumprimentou ele, com sua voz grave habitual.
Lucy endireitou o corpo, ciente de que sua aparência não era das
melhores.
— Bom dia, Jimmy. Sinto muito sobre ontem à noite, mas você me fez
perder a calma.
Quando ele se aproximou mais, sentando-se ao seu lado, Lucy
percebeu que também não parecia disposto. Os olhos, sempre brilhantes,
estavam agora fundos e sem expressão. Estava visivelmente abalado e Lucy
comoveu-se. Sem pensar muito, tomou-lhe a mão.
— Sou uma tola mesmo... — disse, os olhos claros expressando toda a
mágoa. — Cometi tantos erros nestes últimos meses...
Quando Jimmy a abraçou, fazendo-a repousar a cabeça em seu peito,
Lucy não conteve mais as lágrimas. Tomando rapidamente o lenço que ele
lhe oferecera, escondeu o rosto e deixou-se chorar copiosamente, até que aos
poucos foi recobrando o controle.
— Estou parecendo uma criança chorona...
— Não fale assim, querida. Você está linda... A menininha mais linda
que já conheci em toda a minha vida. — A voz de Jimmy trouxe o carinho tão
esperado. — Lucy, eu te amo! Talvez, por não saber lidar com este
sentimento tão novo, tenha feito coisas que não queria. Não consigo pensar
racionalmente quando estou perto de você, e quando estamos longe mal
consigo dormir... Naquela tarde, quando a tratei tão mal em Grande Ferme,
quase fiquei maluco ao vê-la partir, mas, entenda, eu estava tão machucado...
Não conseguia entender por que você havia fugido depois de tudo o que
houve entre nós. Estava morrendo de medo de lhe confessar meu amor e ser
desprezado. Você é uma mulher tão independente que achei que não
precisasse de ninguém ao seu lado.
— Oh, engano seu, querido. Preciso de você tanto quanto do ar que
respiro. Será que não percebe que toda esta independência cai por terra
quando estou ao seu lado?
Jimmy tomou-lhe o queixo com uma das mãos e beijou-lhe os lábios
delicadamente. Lucy amoldou-se a ele, deixando-se envolver por aquela
carícia. Teapot pulou no meio dos dois com ciúme da dona, mas Jimmy
afastou-o carinhosamente.
— Sinto muito amiguinho, mas desta vez você não é bem vindo. Lucy
agora será minha para sempre.
Teapot afastou-se, e sentou-se perto de Jimmy abanando o rabo.
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Bianca Duplo 457 – O coração não se engana – Kristy McCallum
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Uma história
de paixão e amor!
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Edição 458
Amor na Grécia
Brittany Young
"Você não deveria ter retornado justamente agora em minha vida, Melina."
As palavras de Aristo ainda martelavam-lhe a cabeça enquanto observava as
luzes da ilha Kortina, a bordo do Calypsa. Por que fora apaixonar-se por
aquele grego misterioso? Qual o motivo de ele não poder entregar-se ao
amor? Tinha quase certeza que existia outra mulher em sua vida...
Uma história
de paixão e amor!
Edição 458
Núpcias de mentira
Lucy Gordon
"Você deve estar feliz por saber que nosso casamento não durará para
sempre", disse Steven sorrindo, ao erguer a taça de champanhe. Gail
controlou-se para não revelar seu desaponto. Aquela declaração em plena
noite de núpcias lhe dava a noção exata do que a esperava nos próximos
meses. Apesar de amá-lo com desespero, ela seria capaz de fazer o amor
renascer no coração amargurado do marido?
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