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SÓ SE FOR UM MARQUÊS

PARA SE CASAR COM UM PATIFE, LIVRO QUATRO


TAMARA GILL
Translated by

EVELYN TORRE
TAMARA GILL
CONTENTS

1. Capítulo Um
2. Capítulo Dois
3. Capítulo Três
4. Capítulo Quatro
5. Capítulo Cinco
6. Capítulo Seis
7. Capítulo Sete
8. Capítulo Oito
9. Capítulo Nove
10. Capítulo Dez
11. Capítulo Onze
12. Capítulo Doze
13. Capítulo Treze
14. Capítulo Quatorze
15. Capítulo Quinze
16. Capítulo Dezesseis
17. Capítulo Dezessete
18. Capítulo Dezoito
19. Capítulo Dezenove
20. Capítulo Vinte
21. Capítulo Vinte e Um
22. Capítulo Vinte e Dois
23. Capítulo Vinte e Três
24. Capítulo Vinte e Quatro
25. Capítulo Vinte e Cinco
26. Capítulo Vinte e Seis
27. Capítulo Vinte e Sete
28. Capítulo Vinte e Oito
29. Capítulo Vinte e Nove
30. Capítulo Trinta
31. Capítulo Trinta e Um
32. Capítulo Trinta e Dois
33. Capítulo Trinta e Três
34. Capítulo Trinta e Quatro
35. Capítulo Trinta e Cinco
36. Capítulo Trinta e Seis
37. Capítulo Trinta e Sete
38. Capítulo Trinta e Oito
Epilogue

Também por Tamara Gill


Sobre a Autora
COPYRIGHT

“Só se for um Marquês”


Para se casar com um patife, Livro Quatro
Escrito por Tamara Gill
Copyright © 2021 Tamara Gill
Todos os direitos reservados
Distribuído por Tamara Gill
Traduzido por Evelyn Torre
Design da capa © 2021 Wicked Smart Designs
SINOPSE

É um jogo de instrução e sedução. Mas quem está ensinando quem?

A Temporada de Londres não serve para Lady Victoria Worthingham. Após


um casamento desastroso que não durou mais do que seis semanas, ela
jurou ficar longe dos homens para sempre. Mas não significa que ela não
pode ajudar o melhor amigo do irmão a encontrar o par perfeito. Deve ser
simples... a menos que ela se apaixone por ele primeiro, é claro...

O Marquês Albert Kester é tudo o que as mulheres não procuram em um


marido — um estranho perante a sociedade e desajeitado como debutante
em seu primeiro baile. Escrever aventuras em vez de vivê-las parece ser seu
destino na vida. A menos que ele possa convencer Victoria a parar de vê-lo
como um projeto e começar a vê-lo como um homem, isto é...

Ela está determinada a vê-lo feliz. Tudo o que ele quer é ela. Apenas um
resultado é certo neste jogo.

As regras serão quebradas... e se eles não forem cuidadosos, seus corações


também não serão...
CAPÍTULO UM

V
Londres, 1809

ICTORIA ESTAVA na modista da Rua Bond, o calor em suas


bochechas tão quente quanto o dia ao ar livre. Ela olhou ao
redor do cômodo, as mulheres da alta sociedade, aquelas que detinham o
poder de criar ou arruinar as oportunidades de uma lady durante sua
temporada, olhavam para ela com pena, algumas com diversão e alegria.
A boca de sua mãe não se fechou enquanto a outra filha, Alice, agora a
viscondessa Arndel, lia as últimas notícias do The Times naquela manhã. O
marido de Victoria, o mesmo com quem ela se casou seis semanas antes,
fugira com uma criada da propriedade.
Victoria olhou para o vestido de seda azul que a modista interrompeu a
marcação da bainha, o rosto da moça também demonstrava choque, ou pelo
menos não havia sinal de alegria. A modista sabia muito bem não ser
conveniente ter prazer em tais notícias acerca da filha de um duque.
— Não entendo. — disse a mãe, pegando o jornal das mãos de Alice e
lendo o artigo ela mesma.
Victoria sentiu as bochechas esquentarem de vergonha. Como Paul pôde
fazer uma coisa dessas com ela? Ela pensava que eles eram felizes,
contentes e prontos para começar o próximo capítulo de suas vidas. Na
semana passada, ela se despediu dele quando ele foi verificar uma
propriedade no campo. A fofoca que toda Londres estava devorando saber
mais sobre o estado de seu casamento do que ela mesma, era mortificante.
Como poderia estar tão errada em relação a uma pessoa de quem gostava?
Ela nunca estava errada.
— Passe-me o jornal, mamãe.
A mãe entregou as folhas com pressa, parecia muito feliz por se livrar
do artigo ofensivo. Victoria leu as letras pretas impressas, e com cada
palavra, seu mundo desmoronava acima dela.
Dizia: “Sr. Paul Armstrong, recém-casado com Lady Victoria
Worthingham, foi visto escondendo-se em uma pousada em Dover, com uma
mulher a tira-colo que decerto não era a irmã do Duque de Penworth e
novíssima esposa dele. Que tanto o Sr. Armstrong e sua companhia
anônima embriagaram-se e mostraram-se barulhentos para os habitantes
da cidade também foi mencionado. Só podemos olhar para Lady Victoria
com pena pela união tão infeliz em que ela acaba de entrar”.
Ela fechou a boca, um palavrão na ponta da língua. Paul era um rico
proprietário de terras de Kent. Um cavalheiro adequado para uma mulher
como ela. Seu irmão Josh, o duque de Penworth, garantiu ser um bom
partido, tanto em termos financeiros quanto em relação à reputação do
cavalheiro. Quando o irmão voltasse do exterior, ela decerto teria conversas
acerca de tal avaliação de caráter.
Não que o casamento dela fosse por amor, ao contrário das irmãs, que
encontraram esse amor nos braços dos maridos. No entanto, Victoria jamais
cogitaria que um dia estaria em tal situação. Ela era muito teimosa, um
pouco rude, opinativa e amava cães e cavalos demais para ser um diamante
de primeira qualidade.
Onde as irmãs eram refinadas e elegantes, ela era, bem, um pouco
entalhada. Uma risada chamou sua atenção, e ela se virou para ver a Srta.
Fanny Christi apontando e rindo para o The Times. Victoria olhou para a
alpinista social e largou o jornal, a modista o pegou sem dizer uma palavra.
— Peço desculpas por desperdiçar seu tempo com este vestido, Sra.
DeRose, mas parece que não estou mais com humor para uma prova. —
Victoria estendeu os braços. — Por favor, me ajude a tirá-lo. Voltarei outro
dia para completar as alterações.
— Mas querida, não quer escrever e exigir o retorno do Sr. Armstrong?
O artigo pode estar incorreto. Por que neste exato momento ele poderia
estar retornando do interior para explicar este artigo calunioso.
Victoria se mexeu para fora do vestido, deixando-a apenas de camisola
ao descer do banco de provas na loja, e seguiu para vestir seu vestido
matinal.
— Não é, mamãe. O Sr. Armstrong fez sua escolha. E agora ele deverá
viver com ela. Não serei uma dessas esposas lamentáveis que permitem que
tais insultos se prolonguem. Embora eu não possa mudar meu estado de
casada, não significa que permitirei que ele arruíne minha vida. Se é a
liberdade que ele deseja logo após nossas núpcias, então eu também devo
viver como eu gosto, e Paul que vá para o inferno.
Idiota estúpido por arruinar o futuro deles, e dessa forma. Victoria
entrou no provador, fechou a pequena cortina para escondê-la daqueles que
permaneciam na loja para testemunhar o comportamento dela e sua reação
às notícias como um bando de abutres sobrevoando uma carcaça.
Só então ela se permitiu dar uma respiração profunda, a reação à notícia
de que ela estava se escondendo de todos aqueles olhares curiosos. Ela
desabou na cadeira macia e acolchoada da cabine. Embora soubesse que o
casamento fora um contrato prático, um bom par. Gostava de Paul, mesmo
que não fosse por amor. Ele a fazia rir e era bonito. Ela pensara que os dois
iam se dar muito bem. A propriedade dele era grande. Contava com um
bom estábulo, e ele gostava de cães, afirmou que ela poderia trazer seus
dois cães de caça quando se casassem, o que ela fez.
Ela puxou o vestido matutino do gancho onde estava pendurado. Não
teria se importado se ele quisesse romper o noivado, mas se casar com ela e
depois fugir? No que ele estava pensando? O estúpido poderia ter sido
honesto com ela. Por que não disse a verdade, que amava outra e não queria
se casar? Caso ele amasse mesmo a criada. Até onde sabia, talvez este fosse
o comportamento habitual deste homem. Um cavalheiro sem honra.
Victoria se levantou e deslizou o vestido pela cabeça, voltando para a
loja para obter ajuda com os botões em suas costas. A mãe entregou o gorro
e as luvas e, em poucos minutos, estavam prontas para partir.
— Sinto muito pelo casamento mal sucedido, Lady Victoria. — disse a
Srta. Christi, o sorriso dizia a Victoria que ela não sentia nada. — É uma
união tão recente. Como deve estar sofrendo.
Victoria olhou para ela por baixo do nariz, sentindo o peso do apoio da
mãe e da irmã atrás dela. Uma duquesa e uma viscondessa que nunca
tolerariam tal grosseria por muito tempo, e nem ela.
Victoria deu um tapinha no ombro da Srta. Christi, esperando que a
condescendência fosse espessa e clara em seu toque.
— Não tenha pena de mim, Srta. Christi. Não é minha perda, mas do
meu marido. — ela sorriu, feliz por ver o rosto da Srta. Christi empalidecer
ante as palavras. — Espero vê-la no baile esta noite. É sempre bom ver a
temporada começar com um estrondo.
A Srta. Christi fez uma reverência para a mãe de Victoria enquanto
murmurava:
— Claro. Bom dia, Vossa Graça, Lady Arndel.
Victoria torceu o nariz e saiu da loja. O cocheiro delas abriu a porta e
ajudou-os a entrar. Victoria ouviu a mãe dizer ao rapaz que deveriam voltar
para casa, e não demorou muito para que as rodas da carruagem estivessem
rugindo pelas ruas de cascalho e paralelepípedos, atravessando Mayfair.
Ninguém falou, todas muito perturbadas com o que acabara de
acontecer, não importa se reagiram diante dos presentes na modista.
— Bem, espero que o Sr. Armstrong esteja satisfeito com suas ações.
Irei me esforçar para nunca mais permitir que ele coloque os pés em
qualquer um de nossos eventos no futuro, nem nos dos de meus filhos. Ele
será cortado de nossa família. Morto para todos nós, eu juro.
Alice assentiu, os lábios se estreitando em desgosto.
— Não deveria permitir que ele se safe de a tratar assim, Victoria.
Devemos retribuir de alguma forma. Posso atirar nele se quiser. Minha mira
é incomparável, como você sabe.
Victoria olhou para a irmã, sem saber ao certo o quanto Alice poderia
ajudá-la, já que ela estava nos primeiros estágios da gravidez.
— Creio que Callum possa discordar se eu a fizer percorrer a Inglaterra
atrás de um homem que não quer ser encontrado para atirar nele. Pelo
menos, não ainda.
Victoria olhou para a rua, sem ver nada além de uma cidade que ela
ficaria feliz em deixar. Na próxima semana, na verdade, ela deveria retornar
à propriedade rural de Paul, onde permaneceriam até a próxima temporada.
Algo que não aconteceria mais.
Que desperdício os últimos meses foram. O cortejo, o casamento, as
despesas. Victoria supôs que deveria se sentir mais chateada do que se
sentia agora, contudo não se via capaz de conjurar tais emoções. Tal falta de
reação por si já dizia que, por mais humilhante que fosse perder o marido,
não era o fim da vida.
Aproveitaria a oportunidade que a tolice dele lhe dera e voltaria para
Dunsleigh.
— Faça como considerar melhor, mamãe. Eu, por exemplo, manterei a
cabeça erguida no baile desta noite e, na próxima semana voltaremos para
casa, continuarei como se nada tivesse acontecido. — Victoria se inclinou
para frente, pegando as mãos de sua mãe. — Não pense que estou muito
chateada, pois não estou. Na verdade… — disse ela, encostando-se nas
almofadas. — tenho certeza de que, já que ele decidiu fugir com uma
criada, a sociedade vai puni-lo o suficiente sem que eu adicione mais
desgraça. Entretanto, quanto ao nosso casamento, acabou; e nada, nenhuma
persuasão dele no futuro mudará minha opinião. No que me diz respeito,
considero-me viúva a partir de hoje.
— Creio que possa estar certa. — disse Alice, esfregando a pequena
barriga. — Está destinada a coisas melhores, minha querida. Quem virá esta
noite, mamãe? Precisamos mostrar à sociedade que nos unimos em torno de
Victoria e não toleraremos que ela seja menosprezada.
— Bem, quanto a isso… — disse a mãe, recitando várias famílias, todas
conhecidas de Victoria e consideradas amigas. Não a ofenderiam ou
desprezariam em seu momento de necessidade. Logo, estariam em casa. A
salvo de Londres e da alta sociedade fofoqueira.
Embora não soubesse o que seu futuro reservava, onde ela moraria, ou
que nome usaria, ela era grata por pelo menos uma coisa… O dote ainda era
dela, e não importava para onde Paul viajasse com a amante, ele não
poderia roubar o dinheiro dela. Ela supôs que poderia comprar uma casa em
Londres ou uma pequena propriedade rural perto de Dunsleigh. Todas as
ideias precisariam de uma reflexão considerável e, assim que estivessem em
casa, ela seria capaz de definir o futuro.
Uma coisa era certa, porém, seu futuro não envolveria seu marido.
Nunca mais.

Hampshire, 1811

ALBERT KESTER, Marquês Melvin escreveu as palavras finais em seu


mais recente romance gótico. A pena rabiscou “Fim” — uma pequena
saudação a si que ele sempre inseria quando completava um manuscrito.
Ele se recostou na cadeira, olhando para a noite escura como tinta.
Isolado em Hampshire, perto da fronteira de Surrey, ele deveria se sentir
sozinho, talvez vulnerável, mas não se sentia.
Ele adorava viver no campo. O chalé de caça que agora usava como
oásis de escrita era o cenário perfeito para um homem como ele, um que
não gostava de multidões ou de socialização. Nunca teve a habilidade de
falar bonito com as mulheres ou agir como um patife, jogar e farrear pela
cidade sem se importar.
Todavia, precisaria fazer exatamente isso em breve. Em mais ou menos
uma semana, o vizinho mais próximo e sua família influente voltariam para
Surrey, e ele teria de cavalgar os dezesseis quilômetros entre as
propriedades e aturar a festa e o baile de fim de semana que o duque de
Penworth organizaria.
Sendo assim, ele voltaria a vê-la.
Lady Victoria Worthingham, agora viúva de Sr. Paul Armstrong após o
idiota se envolver com a dama errada, e casada, no exterior e receber uma
bala no crânio por suas peripécias. A única mulher de quem ele tinha
certeza na Inglaterra e talvez no mundo para fazê-lo questionar sua vida. A
maneira como ele vivia. Tão reservado e sozinho.
O convite chegara naquele dia mesmo, e ele enviou a aceitação sem
demora, antes que pudesse mudar de ideia e continuar em Rosedale.
Albert guardou o manuscrito na pasta de couro reservada a este fim e a
trancou em um armário antes de trancar o chalé e voltar para a casa
principal.
Ele não trouxera o cavalo esta tarde, sabendo que ficaria por várias
horas aqui, mas não importava. Sabia o caminho de volta para casa, mesmo
à noite.
Ao menos ele poderia aparecer no baile na propriedade do duque sem a
culpa incômoda que sempre sentia quando o prazo de entrega de um livro se
aproximava. Terminado, ele poderia pelo menos tentar aproveitar melhor o
baile.
As luzes da casa principal piscaram por entre as árvores para logo se
erguerem bem diante dele enquanto ele perscrutava a floresta que cercava a
propriedade. Amanhã ele enviaria o livro para a editora e, caso gostassem
do próximo volume da série, o livro estaria disponível nos próximos 12
meses ou mais.
Pode não ser a ocupação usual de um marquês, mas ele gostava de
escrever histórias, de perder-se nos mundos de seus personagens. O que
começou como um passatempo agora era outra fonte de renda para a
propriedade, e isso o agradava. Ele poderia controlar aquele mundo. Não
conseguia controlar aquele em que vivia.
A mãe, que morava em uma propriedade nos arredores de Bath com o
novo marido, estava sempre escrevendo para ele, perguntando quando ele
voltaria a Londres para outra temporada. Encontrar uma noiva para casar e
ter um herdeiro. Ter o neto que ela ansiava.
Ele sabia que a mãe guardava muito amor para dar. O pai dele fora um
homem cruel, um desgraçado intimidador, e todo o amor que ela nutria pelo
homem secou e morreu poucos anos após o casamento. Agora ela estava
feliz. Ambos estavam, ele supôs, em seus modos discretos e diferentes, mas
ela queria compartilhar o amor que havia engarrafado por tantos anos.
Albert também gostaria de amar. Gostaria de cortejar Lady Victoria,
mas desde o escândalo do marido dela, a fuga dele com uma criada e várias
outras indiscrições, todas escritas nos jornais de fofoca de Londres, Victoria
parecia menos do que interessada em fazer uma nova tentativa de união.
Quem poderia culpá-la por tais pensamentos.
Embora gostasse da ideia de casamento, decerto não fazia ideia do que
fazer com uma esposa depois que a união fosse oficializada. Um problema
que ele vinha tentando resolver com uma extensa pesquisa. Ele comprou
uma coleção de livros sobre a arte de fazer amor, esboços de como as
mulheres e os homens se uniam, desenhos retratando o ato de fazer, alguns
que o deixaram sem fôlego.
Albert entrou em casa, a criadagem estava bem acostumada aos horários
estranhos em que ele ia e vinha. Ele entrou na biblioteca e foi direto
desfrutar do último livro que recebera de Londres: um sobre a história da
vida de Moll Flanders, que deixara na escrivaninha antes de começar a
escrever esta tarde. Um relato divertido e interessante, com alguns contos
obscenos que o divertiram.
Com seus livros apresentando cenas semelhantes às que encontrou no
livro de Daniel Defoe, ele esperava que pelo menos soasse tão verdadeiro e
preciso quanto este autor. A carreira dele terminaria se o público soubesse a
verdade. Que um dos autores de romance gótico mais querido de todos,
sempre a escrever contos de intriga, horror e encontros apaixonados, era tão
virginal quanto uma debutante recém-chegada a Londres. Um marquês
também, ainda mais humilhante. Lordes devem saber como cortejar uma
dama ou vadiar pela cidade.
Ele estava vivendo uma mentira ou, pelo menos, retratando uma. No
entanto, ele supunha que seus livros eram uma obra de ficção, e seus
personagens não tinham nada a provar. Mas logo, ele precisaria procurar
uma esposa para valer. Cortejá-la, tão desajeitado e destrambelhado como
era ao trocar palavras faladas com as mulheres. O pensamento o fez franzir
a testa. Na próxima semana ele veria Lady Victoria, e sua inaptidão seria
ainda mais perceptível. A vivacidade dela pela vida, a confiança que
demonstrava, envergonharam o eu introvertido dele. Durante anos, ele
desejou ter coragem para experimentar algumas das coisas que encontrara
nos desenhos, com ela, seduzi-la para que se casasse com ele.
Um sonho que dificilmente se tornaria realidade. Ele precisava de uma
esposa que, pelo menos, desejasse um marido. Lady Victoria Worthingham,
por mais que ele desejasse que ela preenchesse a posição, era a única
mulher na Inglaterra que jurou jamais voltar a se casar. Todo o mundo sabia
disso, e ele também. Outra pessoa precisaria servir.
CAPÍTULO DOIS

O
Dunsleigh, 1811

S CONVIDADOS para o baile campestre e os curtos festejos


chegaram uma semana após o término da temporada de 1811.
Assim que retornou, Victoria caminhou até o mausoléu da família e prestou
homenagem ao pai, um homem de quem ela sentia mais falta a cada ano
que passava, em especial ao perceber tudo o que ele deixou de testemunhar
ao partir. Os muitos netos nascendo, os casamentos felizes, os bailes e as
festas que ela sabia que ele tanto amava.
Esta noite seria o jantar formal da véspera do baile, e os convidados
poderiam relaxar e desfrutar de um convívio mais íntimo após a viagem a
Surrey. Haveria música e jogos, cartas para os cavalheiros e, claro, os
convidados poderiam passear pelos extensos jardins e desfrutar da sala de
bilhar ou do conservatório, se quisessem.
Parecia que toda Londres estava em Dunsleigh para o baile, inclusive
muitos da nobreza local, alguns que iam a Londres apenas em raras
ocasiões.
Lorde Melvin era um deles.
Depois do jantar, Victoria ficou ao lado de Alice, discutindo sobre quem
estava presente. A irmã estava, com certeza, radiante na segunda gravidez
em poucos anos, e Callum, seu adorável marido, mantinha vigília do outro
lado da sala enquanto conversava com os dois cunhados dela: o conde de
Muir e o duque de Moore.
— Qual sua opinião acerca de Lorde Melvin? Ele parece muito
desconfortável com a Srta. Fletcher, não concorda? Ora… — Victoria disse,
bebericando a ratafia e divertindo-se. — acredito que ele está suando. Olhe.
— ela balançou um pouco o braço de Alice.
A irmã lançou um olhar superficial, não querendo ser óbvia ao avaliá-lo.
— Ó Céus, ele está puxando a gravata. O que será que a Srta. Fletcher
disse para deixá-lo tão desconfortável?
Algo no cavalheiro sempre atraíra Victoria. Ela supôs que, como amante
de animais, em especial de cães e cavalos, ver um homem que parecia tão
oprimido e desconfortável como um cachorrinho rodeado de lobos faria
alguém sentir pena dele.
Sentir pena do infeliz.
Como um dos amigos mais próximos de seu irmão desde a escola, eles
o conheciam bem, e há muitos anos. Nos dois anos desde que o viu pela
última vez, Sua Senhoria parecia ainda mais desconfortável com a
companhia. Como se a sociedade o deixasse fisicamente doente.
Ela se encolheu quando ele tateou o lenço e enxugou a testa.
— Ele está nervoso. Talvez goste da Srta. Fletcher.
Victoria estreitou os olhos ante a ideia de Lorde Melvin tentar cortejar a
jovem herdeira. Do jeito que a Srta. Fletcher controlava a narrativa da
conversa, ela não podia deixar de pensar que o pobre homem nunca falaria
uma única palavra.
No entanto, era improvável que ele trocasse alguma palavra com ela
também, então pronto. Mesmo assim, enquanto o estudava, não pôde deixar
de pensar que ele gostaria de fugir como uma de suas éguas ao deixar os
estábulos após alguns dias presa.
— Será que devo salvá-lo e puxar a Srta. Fletcher para dar uma volta
pelo salão?
Alice a olhou de esguelha.
— Por que o interesse em Lorde Melvin? — ela inclinou a cabeça para
o lado, contemplando o cavalheiro. — Suponho que ele tem uma aparência
muito doce. Um pouco pedante, talvez, mas não é nada se ele tiver outras
habilidades.
Victoria bufou e cobriu o lapso inadequado de maneiras femininas,
cobrindo a boca com a mão. Ela levou vários minutos para parar de rir.
— Nem ouso perguntar o que quer dizer com isso, Alice. Contudo,
deixe-me esclarecê-la, querida irmã. Já flagrei você e o seu marido quando
pensam estar sozinhos, então posso supor muito bem a que “habilidades” se
refere.
Alice não piscou nem corou. Apenas sorriu, e tomou um gole de vinho.
— Suponho que o que não se sabe pode ser ensinado. Inclusive a mim.
Fiquei bastante esclarecida após me casar com Callum.
— E o que devemos fazer se os dois envolvidos forem despreparados?
Não que ela fosse ou pensasse que Lorde Melvin seria tão ingênuo ao se
tratar de sedução e mulheres. Afinal, ele era um homem. Um marquês. Não
poderia ser tão recluso e inocente, não importa que passasse todo o tempo
no interior Talvez contasse com uma série de mulheres dispostas e capazes
de aquecer sua cama em Hampshire.
Ela estreitou os olhos ante tal ideia. Naquele exato momento, Sua
Senhoria desviou o olhar da Srta. Fletcher, a atenção dele colidindo com a
dela. O medo e a confusão desconfortável que demonstrava apenas um
instante antes, desapareceram, e uma luz determinada tomou os olhos dele
como ela jamais vira. O que isso queria dizer?
Alice pigarreou, sorrindo por cima da taça de cristal.
— Ora, ora… ele decerto parece se tornar mais arrojado ao ver você.
Será que…
Victoria voltou-se para os dançarinos, fingindo interesse neles.
— Não seja estúpida, Alice. Não estou nem um pouco interessada em
Lorde Melvin, e nem ele em mim.
— Acredito que o mesmo não pode ser dito de Sua Senhoria.
— Que Sua Senhoria? — a irmã mais velha, Elizabeth, a condessa Muir,
perguntou, juntando-se às duas e beijando-as no rosto.
Victoria agarrou o braço da irmã, não a via há vários meses já que o
casal residia, na maior parte do tempo, em Muirdeen, a propriedade
escocesa deles.
Alice meneou a cabeça para Lorde Melvin.
— Victoria despertou o interesse de um certo marquês. Embora em vez
de um patife, o que tenho certeza de que você concordaria serem os
melhores maridos, ele parece mais virtuoso.
Elizabeth sorriu para Victoria.
— Não há nada de errado com virtude. Henry não era um patife, longe
disso, e é maravilhoso estar casada com ele.
— Exato e, na verdade, suponho que Callum também não era. Não um
canalha, de qualquer forma. Portanto, pode haver esperança para nosso
Lorde Melvin, afinal.
Victoria se afastou das irmãs, fulminando-as com olhares de
desaprovação.
— Esquecem-se de que meu marido era o pior dos homens. Fez fama
pela Inglaterra e pelo continente. Não existe “nosso Lorde Melvin”, e vocês
duas precisam parar de falar assim. Percebi a inquietação dele e apenas
comentei. Estão vendo coisa onde não há nada.
Elizabeth lançou a Alice um sorriso conhecedor.
— Claro, querida, mas não significa que todos os homens são iguais. —
disse ela, com a voz bajuladora.
— Vou atrás de Isolde. Vocês duas são impossíveis. — Victoria se
afastou, localizando Isolde ao lado da mãe.
O marido da irmã, que adorava a esposa ao ponto de uma regularidade
nauseante, piscou para Victoria quando ela se aproximou deles. Ela
acariciou a bochecha dele e a de sua irmã.
— Precisamos renegar nossas outras duas irmãs, elas são impossíveis.
A mãe delas ergueu a sobrancelha, olhando para Alice e Elizabeth que
conversavam e riam entre si.
— O que elas fizeram com você, querida? Quer que eu vá ter uma
conversinha com elas?
Victoria balançou a cabeça, sabendo que as queixas que fazia das irmãs
não eram tão ruins. Debocharem dela devido a um homem que ela mesma
sentia certa curiosidade não ajudava em nada. Não gostava que todos
soubessem seus segredos. Não havia pensado que mencionar a inquietação
de Lorde Melvin causaria tanta curiosidade. Ou que vê-lo com uma mulher
a desarmaria tanto. Após a morte do marido, ela se prometeu uma vida
fazendo tudo o que ela desejasse. Sem mais maridos para fazer as esposas
de idiotas. O desejo de viajar e uma vida de aventura a aguardavam. Ter
filhos e um cônjuge, não.
— Nada de novo, Mama. Não se incomode.
A mãe a estudou por um momento antes de uma de suas amigas acenar
para que fosse até lá, e ela se desculpasse.
— Diga-me que ficará em Dunsleigh por várias semanas. Não creio que
consiga ficar aqui se tiver apenas Alice como vizinha para me fazer
companhia.
A decepção no rosto de Isolde disse a Victoria que ela não ficaria muito
tempo.
— Voltamos para casa na próxima semana, meu amor. Contudo, pode
vir conosco se quiser. Adoraríamos recebê-la se deseja um pouco de
diversão. Wiltshire é bem adorável nesta época do ano.
— É melhor eu ficar com a mamãe. Ela ficará sozinha aqui se eu for a
qualquer lugar, e com Josh no exterior, é melhor eu não ir muito longe, mas
obrigada, talvez mamãe e eu possamos ir visitá-los por uma ou duas
semanas antes do Natal.
— Seria ótimo. — disse Isolde.
Feliz com este plano, Victoria falou com os convidados enquanto
socializavam no salão. A noite era um sucesso e estava a todo vapor quando
o jantar foi servido. Victoria parou na soleira das portas da sala de jantar,
satisfeita em observar aqueles que estavam com fome e decidiram comer.
Ela estendeu a mão e massageou a nuca quando um formigamento de
consciência deslizou por sua pele.
Ela se virou e encontrou Lorde Melvin vários passos atrás dela. A
inquietação dele ante a sala de jantar lotada estava visível em suas feições
contraídas. Victoria teve pena do homem, entrou na sala e selecionou vários
de seus pratos favoritos antes de deixar o cômodo.
— Lorde Melvin, que bom vê-lo esta noite. Servi um prato para o
senhor se quiser comer um pouco.
Ele olhou para o prato de comida e pareceu quebrar o feitiço de
inatividade que o atormentava.
— Ó, Lady Victoria, eu agradeço. Não precisava ter tanto trabalho por
mim.
— Sou uma anfitriã aqui esta noite com minha mãe, meu senhor. É justo
que cada um dos nossos hóspedes seja bem cuidado.
Ele pegou o prato, os dedos roçando os dela no intercâmbio, e Victoria
se assustou ao sentir os dedos enluvados dele contra os dela. Ele estava
quente, as mãos fortes a faziam se sentir um pouco estranha. Um pouco
curiosa demais para seu gosto.
— São rissóis de caranguejo e lagosta com geleia. São minha primeira
escolha em qualquer baile. Espero que goste.
Os lábios dele se curvaram em um meio sorriso. Victoria sentiu que,
quando relaxado, esse homem se abriria como uma flor. Não que ela visse a
maioria dos homens como plantas. No entanto, ali ao lado dela, o medo que
espreitava aqueles orbes azuis escuros havia desaparecido.
— Agradeço. — ele repetiu.
Ela ficou com ele por um tempo, sem nenhum outro lugar para estar,
contente em esperar o jantar terminar e a dança recomeçar.
— Não o vi agraciar o salão de dança esta noite. Não gosta de dançar,
meu senhor? — ela perguntou.
Ele mastigou e engoliu um dos rissóis antes de responder:
— Gosto de dançar, e se não estiver compromissada com outro,
dançaria a próxima música comigo?
— A próxima sessão será aberta com uma valsa. Valsa também, meu
senhor?
— Já fui visto em alguns momentos. — ele falou devagar, a voz
tornando-se um ronronar profundo e rouco que ela não o julgara capaz de
evocar.
Não com o nervosismo que o atormentava. O homem era muito curioso.
Uma sensação de antecipação percorreu sua espinha, e ela gostou da ideia
de estar nos braços dele.
— Então a dança é sua, meu senhor. Venha me encontrar quando
terminar o jantar.
Ele vacilaria ou resistiria? Algo dizia a Victoria que ela estava prestes a
descobrir.
Q
CAPÍTULO TRÊS

UANDO A CEIA terminou, e os músicos se prepararam para o


início do próximo conjunto, Albert quase perdeu a coragem. Uma
coisa era convidar uma mulher para dançar, mas outra era realizar
o feito.
E se ele tropeçasse e caísse, puxando Lady Victoria com ele? E se ele
ficasse mais nervoso do que já estava e começasse a se empapar de suor? A
ideia de pisar nos dedos dela, de machucar seus pés delicados era além de
repreensível e imperdoável.
Ela nunca mais dançaria com ele, e ele queria que ela o fizesse, ainda
mais agora. Agora que ela não estava mais de luto pelo marido. O idiota de
Armstrong perdera um prêmio quando trocou Lady Victoria por uma criada
não muito após o casamento. Seja lá o que o homem pensou! Albert decerto
não conhecia, nem entendia tais motivos.
Ele nunca a abandonaria por outra pessoa. Como poderia, ela era a
perfeição em pessoa.
Como um anjo, ela se materializou diante dele, estendendo a mão, uma
luz travessa em seus olhos.
— Nossa dança, creio eu, Lorde Melvin.
Ele a levou para o salão, esperando que o nervosismo não
transparecesse. As mulheres em geral o faziam se atrapalhar como um tolo,
mas Victoria mais do que qualquer outra. Ele não queria que ela o visse
como um simplório. Queria que ela o visse como muito mais.
Um cavalheiro. Um homem.
Albert a puxou para os braços quando a música começou. Ela era alta
para uma mulher. Os olhos dela ficavam ao mesmo nível do queixo dele. O
corpo dela era macio, feminino e dele, pelo menos por algum tempo.
Ela cheirava divina, como jasmim e sabonete. Ele jamais sentira um
aroma tão doce. Os dedos dela flexionaram no ombro dele, e ela olhou para
cima, para encontrar seu olhar.
— Acredito que esta é nossa primeira dança, meu senhor.
Como ele gostaria que fosse mais do que tão lamentável número. Albert
ansiava por convidá-la para dançar com ele nas temporadas em que ele foi à
cidade. Quis tê-la em seus braços mais vezes do que podia contar, mas o
nervosismo jamais o deixou falar as palavras necessárias.
Ele não estava certo de por que ele era assim, e por mais que tentasse
esconder a ansiedade da alta sociedade, ela estavam sempre lá, sob sua pele
e ameaçando fazê-lo perder a vida.
Ele supôs que talvez os maus tratos do pai para com a família tivessem
algo a ver com tal comportamento.
— Sentimos sua falta nesta temporada na cidade, meu senhor. Diga que
virá no ano que vem.
Ele olhou para baixo e encontrou os olhos de Lady Victoria. Ela sempre
foi tão genuína e gentil. Seria uma ilusão da parte dele que ela olharia para
ele mais do que como um amigo? Se ela desse uma chance de ele provar
seu valor, ele não a decepcionaria.
Não seria uma conquista fácil pelo fato de ela estar determinada a nunca
mais se casar, ou assim as fofoqueiras diziam em meio às risadas
escondidas por leques.
— Talvez eu compareça. Estará lá, minha senhora, ou um cavalheiro já
conquistou seu coração, e você vai se casar?
Albert não sabia dizer de onde as palavras vieram, inapropriadas e
rudes. Ele franziu a testa, desejando ter um filtro na boca às vezes. Se ele
pudesse ter se batido na cabeça, ele o teria feito, sabendo que ela não estava
muito longe do luto.
Victoria riu, aliviando um pouco a tensão dele.
— Não, não estou noiva como tenho certeza de que você já sabe. Ficarei
em casa, em Dunsleigh, pelo futuro próximo, até que meu irmão volte para
casa e me ajude a viajar ao exterior. Minha irmã está em um estado delicado
mais uma vez, como sabe, e eu gostaria de estar perto dela. Josh voltará do
exterior antes do Natal, então será uma época muito boa aqui. Uma que é
extremamente necessária após os últimos dois anos que suportamos.
Albert entendeu as palavras dela, mas não insistiu mais. O escândalo
que o marido dela causou, a dor e o constrangimento que ela deve ter
suportado teriam sido suficientes para incapacitá-lo permanentemente na
sociedade. No entanto, aqui estava ela, erguendo-se das cinzas como a
mulher forte e capaz que ele sabia que ela era. Como ela era sortuda de ter
uma família que a apoiava. Além da mãe, não havia ninguém mais a quem
ele pudesse recorrer, fora um primo distante que ele mal conhecia. Seu pai
havia falecido, e ele não tinha irmãos.
Não era de se admirar que as pessoas o preocupassem tanto. Ele não
estava acostumado a tê-las por perto.
— Gostaria de rever Penworth. Já se passou quase um ano.
— Sim, até que Josh retorne, já terá completado um ano inteiro.
Estamos todos muito animados para revê-lo. — ela olhou para ele, os olhos
arregalados, claros e diretos. Sempre com a habilidade de prender alguém
no lugar com apenas um olhar. — Esqueci-me de que você é amigo de Josh.
Ele tem tantos, mas vocês já foram muito próximos. Ainda são, espero.
Eles ainda eram próximos. Recebia uma carta mensal do duque, outra
pessoa além de Victoria com quem ele se sentia calmo. Não que ele
estivesse muito calmo perto de Victoria agora. Tê-la em seus braços o fazia
querer coisas que jamais imaginara.
O olhar dele mergulhou aos lábios dela, e ele observou enquanto ela
falava sobre isso e aquilo, o baile e os convidados, a comida e como a noite
seria tarde. O tempo todo, tudo em que ele conseguia pensar era se a carne
rosada e carnuda de seus lábios era tão macia quanto parecia ser.
Com certo alarme, ele percebeu que ela havia parado de falar e estava
olhando para a boca dele também. A língua dela saiu, lambendo os lábios, e
o corpo dele ficou tenso.
Ele leu a pergunta dela, surpresa até. Albert pigarreou, quebrando o
feitiço entre eles.
— Com a senhora em casa, e Penworth voltando, posso convidar todos
vocês para jantar em Rosedale noite dessas? Admito que meus funcionários
e suas habilidades culinárias exemplares são bem subutilizadas.
Ela sorriu, e a ação a fez parecer mais bonita do que já era. Albert
sempre considerou Victoria a mais bonita das irmãs Worthingham, alta e
ousada, mas também atenciosa, embora suspeitasse que muito poucos, além
da família, sabiam como ela era gentil.
Com certeza, ela sempre teve pena dele, o fez se sentir bem-vindo.
Marquês ou não, não era nada que todos os seus conhecidos cumprissem.
— Não acredito que já estive em sua propriedade, meu senhor. Soube
que Rosedale é muito bonita.
Não tão bonita quanto você, ele queria dizer.
Se ele fosse um patife, se tivesse a habilidade de palavras bonitas e
olhares sombrios e famintos, ele contaria a Victoria todas essas coisas. Em
vez disso, ele mascarou seus sentimentos e disse:
— Uma das melhores de Hampshire. Embora esteja muito próximo de
Surrey, e muitas vezes se conteste qual condado eu moro.
— Adoraríamos comparecer e ser seus convidados, mas devo dizer, e
por favor, perdoe minha ousadia, mas podemos ficar uma noite? Sei que
fica a alguns quilômetros de Dunsleigh e pode ser uma distância muito
grande para viajar em um dia.
— Ora, claro. São mais que bem-vindos para ficar.
A ideia de Victoria estar em sua casa, dormindo sob o mesmo teto, onde
ele ficaria ainda mais à vontade para poder falar com ela sem a preocupação
de olhares indiscretos era a coisa certa. Se estudasse seus livros sobre o
sexo oposto e o que se esperava dele como homem, talvez pudesse provar a
Victoria que valia mais do que amizade.
Que valia a pena desistir da viuvez para se casar com ele.
— Então iremos assim que Josh voltar, escreva e nos convide.
As notas da valsa começaram a chegar a um final lamentável. Albert
não queria soltá-la, mas ele ainda tinha duas outras danças com ela, mas
nenhuma delas permitiria que ficassem tão próximos.
A noite foi muito agradável após as danças com Victoria, e ele se
contentou em ficar parado assistindo aos convidados. Algumas horas
depois, ele deixou o baile, pedindo licença para o uso da biblioteca.
Felizmente, a duquesa não perguntou por que ele queria usar o cômodo. Um
pouco mais tarde, ele estava rabiscando as palavras de um novo livro. A
heroína, como todas as suas, com semelhanças marcantes a Victoria em
aparência e temperamento.
Ele escreveu por horas, os sons da música terminando, assim como o
baile também. Os primeiros sinais do novo dia romperam o terreno, e a casa
começou a acordar com as palavras sussurradas de criadas e lacaios. Albert
molhou o dedo indicador e apagou a vela. Recostou-se na cadeira, se
espreguiçando. Escreveu uma boa parte do livro ao longo da noite que se
passou, uma cena em que o herói precisava ser salvo. A heroína vindo em
socorro do herói. Ele não gostava de personagens fracos e raramente os
escrevia. Supunha ser devido ao seu próprio jeito de ser assim. Desajeitado,
protegido e nada moderno. Um marquês fraco, como seu pai sempre o
chamava.
Ele recolheu seus papéis, colocando-os em sua pasta de couro, e saiu da
biblioteca. Os convidados demorariam algumas horas para acordar, então
ele descansaria e se despediria esta tarde antes de voltar para Rosedale, na
esperança de que Victoria fizesse o que dissera, e viesse para ficar. O tempo
permitiria que ele se tornasse mundano, um cavalheiro digno da mão dela, a
mão de uma filha e irmã de um duque.
V
CAPÍTULO QUATRO

ICTORIA ENTROU tropeçando na biblioteca no instante em


que o dia após o baile começava seu curso. A noite anterior
havia sido divertida e agradável, mas ela ficaria feliz quando a temporada
terminasse de vez, e Dunsleigh fosse apenas para sua família e ela se
divertirem.
Alguns dos convidados haviam partido cedo, um deles Lorde Melvin,
de quem se despedira logo após o almoço. Ela caminhou até a escrivaninha,
precisava de um pergaminho para escrever para o irmão, quando avistou um
pedaço de papel, a escrita desordenada, forte e corrida, como se alguém
tivesse escrito as palavras depressa antes de esquecê-las.
Ela pegou o papel, leu as palavras e não conseguiu entender o que
estava segurando. Uma história maravilhosa, semelhante em tom e
habilidade a outras que ela havia lido, de um de seus autores favoritos,
Elbert Retsek. A aptidão dele para lançar o leitor em seus romances góticos
parecia um sonho. Muitas vezes, ela fantasiou encontrar o cavalheiro, e que
ele autografaria os muitos livros que ela possuía. Na verdade, ela estava
aguardando, ansiosa, o próximo lançamento, que havia rumores de que seria
lançado no próximo ano.
Ela leu as palavras com rapidez, incapaz de compreender como tal texto
estava ali. Elbert era um dos convidados em sua casa? Ela se sentou na
cadeira, pegou a lista de convidados que a mãe havia verificado diversas
vezes ao longo da semana anterior.
Ela seguiu o nome de cada convidado, deslizando o dedo, e não
conseguiu ver ninguém com aquele nome na lista. Victoria franziu a testa,
caindo para trás na cadeira. Elbert Retsek era um falso nome, um
pseudônimo? Seria surpreendente se ele fosse um convidado. Ela dançou
com ele? Ela esteve, sem saber, nas mãos de um dos escritores emergentes
da Inglaterra, do nível de Horace Walpose ou mesmo de Ann Radcliffe?
Empolgação latejou em suas veias com a ideia de um autor da vida real
estar na presença dela.
Alice entrou no cômodo e, ao avistá-la, fechou a porta.
— Ah, aí está você. Queria vê-la antes de voltarmos para casa.
Victoria acenou para a irmã, e ela apressou os passos.
— Olhe e leia isto. Acredito que podem ser algumas páginas de Elbert
Retsek.
Alice franziu a testa, pegou a amostra e leu de relance. Ela franziu os
lábios.
— Bem, decerto parece ele, mas o que isto está fazendo aqui?
— Entrei aqui esta manhã… — disse Victoria, levantando-se e alisando
o vestido enquanto andava de um lado para o outro até a janela. — e
encontrei este rascunho. Creio que pode ser um de nossos convidados do
baile da noite passada, e deixou aqui por engano.
Nossa, o que significa que ele está perdendo uma parte importante de
sua história, pois parecia que o herói estava em grande perigo, não que
parecesse muito preocupada com o fato.
Uma das razões para Victoria amar tanto as histórias de Elbert. Ela
odiava personagens fracos em qualquer história sendo enganados ou, pior,
mortos.
— Ele quererá de volta. — disse Alice, sentando-se à mesa. — O que
faremos?
Victoria fez questão de olhar para a barriga de grávida de Alice.
— Não faremos nada, mas eu farei. Farei algumas investigações.
— Hm. — Alice disse, olhando para ela. — Ó, sei o que pode fazer.
Verifique as confirmações do baile. Talvez o seu convidado misterioso
respondeu ele mesmo, e a caligrafia pode ser semelhante.
Esperança correu por Victoria.
— Alice, é brilhante. Farei isso agora mesmo.
Não que ela fosse uma especialista em comparar caligrafia, porém, ao
menos, era um caminho a seguir. O que ela faria quando encontrasse o
cavalheiro que compareceu? Ela não tinha tanta certeza. Como se aborda
um autor famoso, se não enrustido, e diz que sabe quem é, e que ele deixou
parte de seu manuscrito na biblioteca de outra pessoa? Ele pode ficar
perturbado sabendo que alguém de sua classe sabia de sua profissão. Não
que ela diria a uma alma, não se ele desejasse continuar anônimo.
Permanecer incógnito seria uma escolha dele, e ela o respeitaria.
Victoria caminhou até o aparador e abriu a gaveta. Era onde a mãe
guardava os convites e respostas para os entretenimentos atuais. Ela
encontrou as aceitações e as pegou, não querendo perdê-las de vista.
— Levarei tudo para o meu quarto e as examinarei. Creio que deverá
me tomar algumas horas.
— Venha me ver quando chegar a um candidato. Gostaria de ajudá-la se
puder. Sabe o quanto eu amo uma boa intriga.
Victoria riu, lembrando-se das muitas intrigas em que a irmã se meteu
enquanto era cortejada por Lorde Arndel. Muitas dos quais Victoria foi
arrastada e transformada em acessório.
— Irei, eu prometo.
Victoria ajudou a irmã a se levantar e a acompanhou até a porta,
acariciando suas bochechas antes de enviá-la de encontro ao marido.
Sua mãe veio ficar ao lado dela, acenando para a outra filha, e Victoria
deu o braço para ela.
— Faltam apenas mais alguns convidados e teremos nossa casa só para
nós de novo.
A mãe a levou de volta para dentro, um pequeno sorriso brincando na
boca. A mãe ainda era uma mulher bonita para sua meia-idade e, desde a
morte do pai, tornou-se muito menos rígida com as regras e a etiqueta. Era
mais despreocupada, deixava que os filhos vivessem como desejassem,
dentro do razoável, e fossem felizes. Victoria não sabia ao certo o que fizera
sua mãe abrandar. Talvez fosse algo vindo com a idade.
— Divertiu-se ontem à noite, minha querida? Pelo que Lucy me disse
esta manhã, você ficou acordada a noite toda dançando.
Isso era verdade.
Ela havia ficado no baile por mais tempo do que de costume, contudo,
era uma despedida para a temporada. Agora, ela poderia desfrutar de
passear pela propriedade, cuidar de seus cães. Alguns, ela sabia, falavam
dela pelas costas, reclamando que ela não nutria respeito o bastante pelo
luto do marido, mas ela o fizera. Havia passado um ano de luto por um
homem que não havia mostrado um pingo de honra durante o casamento de
seis semanas deles. A sociedade iria julgá-la por suas ações aborrecidas.
Essa era uma das razões para ela querer se livrar dos ideais alheios e
permanecer como uma viúva satisfeita pelo resto de sua vida.
— Foi muito gostoso. Vários cavalheiros me convidaram para dançar, o
que foi gentil da parte deles. — ela mentiu para deixar a mãe feliz. —
Consegui conversar com vários amigos, alguns dos quais só voltarei a ver
no ano que vem.
A mãe riu, os olhos brilhavam com diversão.
— Viverei na esperança de que o cavalheiro certo apareça para você,
minha querida. Não pode permitir que tudo o que o Sr. Armstrong a fez
passar manche sua opinião sobre o casamento.
Tarde demais…
— Exatamente. — disse Victoria. — Na verdade, eu queria que
soubesse que peguei emprestado as aceitações do baile. Quero comparar
algumas caligrafias se possível.
Elas subiram as escadas e entraram na sala particular da mãe, onde não
seriam interrompidas pelos hóspedes que ainda estavam na casa.
— Mesmo, por que precisa fazer isso? — a mãe tocou a campainha para
o chá. — Será que um cavalheiro deixou uma nota inadequada para um
encontro com ele? Sendo viúva, deve se proteger contra esses libertinos.
Calor beijou as bochechas de Victoria, embora a ideia de um encontro
pecaminoso com um cavalheiro disposto não soasse tão ruim. Algo a que
ela daria crédito a Paul eram suas habilidades no quarto, e ela havia gostado
do pouco tempo que estiveram juntos. Mesmo que a ideia dele com outras
mulheres agora azedasse essa memória. — Claro que não. Deve saber muito
bem que isso é bastante inapropriado. Não creio que alguém se atreveria a
tentar essas coisas com Josh observando cada passo meu. Acredito que ele
ainda me considera uma donzela.
A mãe levantou uma sobrancelha incrédula.
— Josh, querida, não está aqui para vigiar. Creio que muitos cavalheiros
tentariam tais truques. Você é uma linda mulher, uma herdeira e uma viúva.
— Bem, não é por isso que estou pesquisando caligrafia, mamãe.
Encontrei uma página de um manuscrito na mesa da biblioteca e só queria
devolvê-la ao dono. Após ler, suponho ser muito importante.
Tendo se sentado e retomado a costura, sua mãe olhou para Victoria
ante suas últimas palavras.
— Uma página, você disse? Deixada na mesa da biblioteca durante a
noite?
— Sim. — Victoria afirmou, o estômago revirando-se em pequenos nós
enquanto a mãe meditava.
— Não precisa pesquisar as aceitações, minha querida. Sei quem
trabalhou na biblioteca na noite passada, já que ele buscou minha permissão
para tanto.
Victoria tentou controlar suas feições. A mãe nunca aceitou muito bem
que ela lesse romances góticos ou de terror, e descobrir que um de seus
convidados poderia ser o mais recente desses autores na Inglaterra, e que
chegou a usar a escrivaninha dela nunca seria bem-visto. Ela ficaria
escandalizada.
— Quem foi? — ela perguntou no tom mais entediado que conseguiu
forjar.
A mãe enfiou a linha em uma agulha, a boca comprimida em
concentração.
— Lorde Melvin solicitou o uso do cômodo tarde da noite. Disse
precisar terminar algumas correspondências.
Lorde Melvin!
— Feche sua boca, querida. Está boquiaberta.
Victoria fechou a boca com um estalo.
Lorde Melvin? Como poderia ser ele? Ele era tão quieto, e alguns
diriam um pouco peculiar, mas bonito. Tão bonito que toda vez que ela o
via, um diabinho se sentava em seu ombro, e ela queria provocá-lo, não que
ela alguma vez o fizesse. Na noite anterior, ele a convidou, e a família dela,
para visitar a propriedade dele. Ela poderia esperar até então para
confrontá-lo com tal ideia?
As palavras escritas, dobradas e seguras no bolso de seu vestido,
pesaram muito em sua consciência. Não, ela não podia esperar. Ele pode
precisar dessa parte da história. Se ela não a devolvesse, ele poderia se
perguntar do paradeiro da página. Ele teria que reescrever.
Que horror!
Ela não era escritora, mas pensar em perder qualquer parte de um
manuscrito decerto a fez sentir um arrepio na espinha.
— Isso me lembra, mamãe. Lorde Melvin nos convidou para ficar em
Rosedale quando Josh voltar do exterior.
— Ora, ora, não falei, minha querida? O querido Josh estará em casa na
próxima semana. Recebi uma carta dele esta manhã. Ele está em Paris
agora, mas começará a volta à Inglaterra em um ou dois dias.
Que notícia maravilhosa.
A viagem a Hampshire poderia ser mais cedo do que ela pensava.
— Será que Josh concordaria em viajar e ficar na casa de Lorde Melvin
tão logo após voltar do exterior?
A mãe largou a costura, encontrando seu olhar.
— Não vejo razão para não. A temporada acabou, e agora criaremos
raízes no interior por vários meses. Tenho certeza de que ele concordará.
Victoria se deixou cair em um sofá próximo. E se ela insinuasse a Josh
que Lorde Melvin pode ser um possível pretendente, ela estava certa de que
ele os colocaria na carruagem dentro de uma hora. Não que ela estivesse
olhando para Sua Senhoria como um possível par, mas decerto estava
curiosa acerca da história que guardava no bolso. Ele a havia escrito? Seria
ele o misterioso Elbert Retsek de que toda a Inglaterra estava falando?
Victoria cruzou as pernas, sorrindo. Algo dizia a ela que sim, e que achado
era esse. O que ele teria a dizer sobre a própria vida dupla em sociedade?
Só o tempo diria.
C
CAPÍTULO CINCO

OMO ESPERADO, o irmão dela chegou à entrada da residência,


na carruagem do duque, vários dias depois. Victoria e a mãe
saíram para a frente da casa para cumprimentá-lo. A carruagem estava
salpicada de lama, e os dois condutores e lacaios que acompanhavam Josh
pareciam cansados, exaustos.
Victoria voltou-se para a governanta, de pé atrás dela, e solicitou uma
refeição leve e bebidas para o duque e os criados cansados da viagem.
Josh saltou da carruagem, e Victoria mal o reconheceu. O menino que
ela e as irmãs sempre provocaram enquanto cresciam não estava mais ali.
Único menino da família, era justo que sofresse um pouco. Não que fossem
cruéis, mas ele era o futuro duque, e sempre era divertido lembrá-lo de que
embora estivesse destinado a cuidar de todas elas um dia, naquela época,
ele ainda era o mais jovem.
Victoria correu até ele, envolvendo os braços em volta de sua cintura,
abraçando-o.
— Está em casa. Finalmente.
Ele beijou o topo da cabeça dela, e puxou a mãe para se juntar a eles
neste abraço. Eles entraram de braços dados. Eram uma família unida, e ela
sabia que Alice estaria por perto hoje, quando recebesse a notícia de que ele
estava em casa. Isolde e Elizabeth haviam voltado para suas propriedades,
mas Josh sem dúvida iria visitá-las em breve.
— Ah, Dunsleigh. Como senti falta de nossa casa e de todos que moram
nela. Contem-me tudo o que aconteceu enquanto estive fora.
Josh se virou e olhou para ela, e Victoria ficou maravilhada com o quão
homem ele parecia. Ele estava mais alto, os ombros mais largos, os cabelos
mais claros pela viagem, um pouco comprido demais para o que estava na
moda. Seus olhos estavam brilhantes e alegres, e ele precisava se barbear,
os bigodes um pouco longos.
Se as ladies em Londres o tivessem visto na temporada passada,
Victoria sabia que ele teria sido perseguido. Como seria divertido no
próximo ano quando ele voltasse para a cidade.
— Vejo que ainda não está casada. — ele brincou, acariciando o topo da
cabeça dela mais uma vez ao entrarem no saguão. — Lembre-me de colocar
outra bala em Armstrong, embora outro marido tenha chegado primeiro.
— Não se preocupe, Paul não passa de uma fase do meu passado, e
preciso lembrá-lo de que, ao contrário de você, me casei e cumpri meu
dever, mesmo que o final tenha sido ruim. Eu esperava que pudesse trazer
de volta uma princesa russa ou uma herdeira italiana para ser nossa
duquesa. Como suas histórias serão enfadonhas de suportar, agora que
sabemos que não é o caso. — ela provocou, arrancando uma risada do
irmão.
Ele piscou.
— Havia muitas beldades, mas nenhuma que eu possa lhe contar, Lady
Victoria Worthingham. Sendo a senhora que é, não seria apropriado.
— Venham, meus queridos. Tomaremos chá na minha sala de estar, lá
em cima. — disse a mãe.
Eles subiram as escadas, o irmão observando a casa, ao que parecia,
assimilava a beleza da casa. Era o mesmo para todos eles quando viajavam,
mesmo que apenas para a cidade por vários meses. Dunsleigh era o lar
deles, a residência dos duques de Penworth, e eles adoravam a casa e a
propriedade. Era um lar, não importa para onde suas vidas os levassem.
Victoria permitiu que a mãe se sentasse ao lado de Josh. Ela se sentou
em frente a eles, animada para ouvir tudo o que ele teria a dizer.
Conversaram acerca da viagem dele, as pessoas que ele conheceu e aqueles
ingleses com quem ele se encontrou durante uma viagem. Os lugares,
pontos turísticos e países pareciam incríveis, e Victoria ansiava por fazer
uma viagem semelhante. Supondo que ela pudesse convencer Josh a ajudá-
la, isso sim. Com a mãe determinada a vê-la casada de novo, ela nem
cogitava que viagens estava em seu futuro, a menos que fosse com um
marido.
Lorde Melvin flutuou em sua mente enquanto Josh contava detalhes
divertidos, e muito úmidos, de uma queda que sofreu de uma gôndola em
Veneza. Ela sorriu, mas apenas entreouviu, enquanto pensava em uma
forma de mencionar o convite para ficar na casa de Lorde Melvin. Caso ela
mesma trouxesse o assunto, sua mãe ficaria bem curiosa e começaria a ter
ideias que não tinha o direito de ter.
— Fomos convidados para vários festejos no interior. O primeiro é o
mais próximo, logo depois da fronteira com Hampshire. Lorde Melvin nos
convidou para ficar lá.
Josh ergueu a sobrancelha, um olhar de confusão cruzando suas feições.
— Não sabia que Albert gostava de receber convidados. Tem certeza de
que é uma festa?
A mãe deles olhou para Victoria, e ela encolheu os ombros.
— Ele convidou a nós três para ficarmos com ele assim que você
voltasse do exterior. Foi tudo o que disse. Não sei se haverá outros
presentes.
— Hm. — disse Josh, uma luz travessa aparecendo nos olhos. — Talvez
meu velho amigo tenha voltado o olhar para minha irmã. Uma viagem para
Hampshire seria bem-vinda, e eu não vejo Melvin há algum tempo.
Victoria não queria parecer tão desesperada, mas também estava ansiosa
para viajar para a propriedade dele. Se ele era de fato o autor famoso,
alguém que ela adorava ler, bem, ela queria saber com certeza. Discutir as
obras publicadas e as que ainda não foram escritas.
— Escreverei para ele esta semana, para descobrirmos uma data que
seja conveniente para ele.
Victoria não pôde deixar de sorrir ante a ideia. O que Sua Senhoria diria
quando ela o confrontasse com a página do manuscrito? Ele negaria? A
ideia de talvez não ser um texto saído das mãos dele atenuou a ideia de
viajar para a propriedade dele, entretanto, ele não era tão ruim assim.
Decerto não era ruim de se olhar. Se ele não fosse tão estranho e reservado.
— Existe uma razão para Melvin nos ter convidado? Ele está de olho
em Victoria? — Josh perguntou para a mãe com toda a seriedade, o olhar
deslizando para a própria Victoria.
Ela gemeu, revirando os olhos.
— Dancei com ele em nosso baile, na semana passada. Ele nos
convidou enquanto dançávamos uma valsa. Tenho certeza de que era apenas
para puxar conversa, e não dançarmos em silêncio.
A mãe a estudou por um momento antes de se sentar mais perto do filho
e pegar a mão dele.
— Ora, estou tão feliz que todos os meus filhos estão de volta em solo
inglês. Sentimos sua falta, querido Josh. Diga-nos, conheceu alguém
adequado para o meu filhinho?
Um leve rubor tomou conta das bochechas dele, antes que ele
balançasse a cabeça.
— Não, mamãe. Ninguém a quem mencionar ainda, contudo, no
próximo ano, prometo procurar uma duquesa. Apenas uma Lady servirá
para o nome Penworth.
— Você, querido irmão, é um esnobe, mas sentimos sua falta.
A porta se abriu, e Alice correu para dentro. Josh se levantou e puxou a
irmã para seus braços. Beijou-a nas bochechas.
— Como sabia que Josh estava de volta, minha querida? — a mãe
perguntou. — Nem mandei a missiva ainda.
Alice se sentou do lado oposto de Josh, esmagando todos os três no
sofá.
— Meu jardineiro, voltando de Penworth, falou ter visto a carruagem
ducal viajar pela cidade. Vim assim que consegui preparar nossa carruagem.
Lorde Arndel e as duas filhas deles logo chegaram, dando as boas-
vindas a Josh. A agradável tarde se transformou em jantar e uma noite
diante da lareira, desfrutando da companhia um do outro. Victoria se
deliciava com o conforto de ter uma família por perto, de ser tão sortuda por
ter tudo o que ela tinha. Pensar em Lorde Melvin em Rosedale, sozinho,
sem família e poucos amigos, a deixou inquieta. Ela não queria sentir pena
do homem, mas era muito difícil não sentir quando ele estava tão remoto,
tão isolado, tanto pessoal quanto fisicamente.
Talvez ela pudesse induzi-lo a ser mais aberto, mais solícito às pessoas.
Se ele fosse o famoso autor Elbert Retsek, ter uma vida mais sociável
apenas beneficiaria sua carreira.
Ele se beneficiaria das habilidades dela, ela estava certa disso. Agora,
apenas precisavam viajar para lá para que ela pudesse começar.
A
CAPÍTULO SEIS

LBERT ANDAVA de um lado ao outro do vestíbulo de Rosedale,


esperando ouvir o som da carruagem do duque de Penworth. O
mesmo veículo que traria Victoria para sua propriedade. Eles concordaram
em ficar vários dias, não exatamente uma semana, e ele não conseguia
esconder a empolgação por revê-la.
Que ele iria se esquecer de como falar, de como agir perto dela, ele
decidiu se preocupar com isso em outro momento. No entanto, ele esperava
ansioso pela chegada segura dela, e por ver não apenas Victoria, mas
também o irmão dela, seu bom amigo, o duque.
— Os quartos estão prontos para os hóspedes, meu senhor. — disse sua
governanta, desviando a atenção dele, até então focada na janela, na
tentativa de localizar qualquer carruagem aproximando-se.
— Excelente, obrigado, Sra. Wigg.
A governanta, satisfeita, assentiu e se dirigiu para os fundos da casa.
Ele havia planejado tudo para a estada de Victoria, os jantares, todos
com pelo menos cinco pratos. Nada era demais para a filha de um duque.
Passeios a cavalo pela propriedade e passeios de barco, se ela quisesse. Seu
lago era um dos maiores do condado, sem falar nas ruínas romanas que
ficavam em uma ilha no centro, um local que seus hóspedes sempre
gostaram de explorar.
Ou gostariam, caso ele convidasse alguém.
O som de uma carruagem no cascalho puxou-o de volta para a janela, e
ele se virou a ponto de ver a carruagem preta e muito polida com o brasão
de Penworth na porta parar.
Albert olhou para as próprias roupas, verificando se o traje estava em
ordem antes de sair. Ele os encontrou na carruagem no mesmo instante em
que um lacaio ajudava a duquesa a descer antes que a única pessoa capaz de
fazê-lo perder o fôlego ao ver aparecesse. Victoria colocou o pé adornado
pela sapatilha no degrau da carruagem, segurou a mão do lacaio e desceu
para o chão coberto de cascalho. Ela se voltou para a casa e a observou com
o que ele esperava ser prazer antes de aquele olhar direto e doce descer para
encontrá-lo.
Ele sentiu o ar sumir ao revê-la, e calor floresceu em suas bochechas.
Ele engoliu a inquietação, o medo de rejeição, e afastou a preocupação que
ameaçava revirar o estômago, dando um passo em direção a todos eles e se
curvando.
— Suas Graças, Lady Victoria, permitam-me desejar boas-vindas a
Rosedale.
A mãe de Victoria ofereceu a mão, sorrindo.
— Lorde Melvin, é adorável nos permitir ficar aqui enquanto viajamos
por Hampshire. Estamos ansiosos para nossa estada e, por favor, me chame
de Sarah.
Albert pigarreou, sem saber se deveria seguir tal desrespeito à etiqueta e
às formas de tratamento que deveriam ser seguidas com uma duquesa. Seu
amigo, Penworth, deu um passo à frente, apertando sua mão.
— Melvin, que bom revê-lo. Faz muito tempo.
Albert assentiu em concordância. Eles eram amigos desde os tempos de
escola, desde Eton para ser exato, e por mais que Penworth tivesse tentado
fazer com que ele fosse mais extrovertido, exuberante e encantador para
qualquer ser em uma saia de seda, Albert nunca fora capaz de fazer parte do
clube dos meninos. O nervosismo sempre presente jamais permitiu que ele
ficasse à vontade, então, no fim, ele assistia seus amigos saírem para
passeios e ficou para trás. Aprendera a se contentar com a própria
companhia.
Não queria mais tal forma de existência. Queria uma esposa. Ele queria
Victoria se ela o aceitasse.
A mulher em questão se materializou diante dele, um sorriso largo e
olhos brilhantes o deixando um pouco sem palavras.
— Lorde Melvin, obrigada pela hospitalidade.
— É um prazer. — disse ele, virando-se e gesticulando para a casa. —
Venham, os quartos de todos estão prontos, caso queiram se refrescar. O
almoço será servido dentro de uma hora.
Entraram na casa e ele os levou para cima sem demora, apontando os
cômodos visíveis da escada, que eram muitos, a biblioteca, e seu escritório,
que ele gostava de manter separados apenas no caso de convidados como
agora. A sala de jantar, a sala de estar no térreo, a sala de jogos e o salão de
baile.
Chegaram ao patamar do primeiro andar, e ele os conduziu até a ala de
hóspedes, onde duas criadas esperavam para ajudar a duquesa e Lady
Victoria. Albert então conduziu Penworth em direção ao seu quarto.
— Espero que se sinta confortável aqui.
Penworth analisou o cômodo, um dos maiores e mais opulentos da casa,
e assentiu, parecia satisfeito.
— Claro. Sempre fico feliz em ficar com um dos meus amigos mais
antigos, mas há algo que gostaria de discutir com você, caso esteja livre
antes do almoço.
— Claro. — disse Albert, incapaz de pensar no que poderia ser, embora
estivesse curioso. — Encontre-me na biblioteca quando estiver pronto.
Albert não precisou esperar muito. Em vinte minutos, já com camisa e
gravata limpas, calças de pele de gamo e botas polidas até os joelhos, o
duque entrou na biblioteca com o paletó dobrado, despretensioso, sobre um
braço.
— Rosedale está maravilhosa. — Penworth foi até o mantel, antes que
Albert tivesse chance de oferecer a bebida, e pegou a garrafa de uísque de
cristal. — Bebe? — ele perguntou.
— Sou eu quem deveria oferecer uma taça, mas sim, obrigado.
— Não se preocupe. Viajei tanto no ano passado, que deixe-me dizer a
você, aprendi a ser bastante autossuficiente, o que nunca é uma coisa ruim,
eu diria.
Albert pegou o copo e deu um gole.
— Não poderia estar mais de acordo. — o duque caminhou pela
biblioteca por alguns minutos antes de se sentar em frente a Albert,
prendendo-o com o olhar. — Queria falar com você acerca do convite que
encaminhou para minha família. Não posso deixar de refletir que há um
propósito para o fazer. Está querendo cortejar minha irmã?
Albert, após dar um gole, sorveu o uísque e se engasgou. Tossiu por
vários momentos enquanto recuperava o equilíbrio. Deveria contar a
verdade a Penworth? Não há nada que gostaria mais do que cortejar
Victoria, ver se a afeição dela por ele era mais profunda do que mero
carinho benigno.
Ele supôs que teria que obter a aprovação de Penworth se quisesse se
casar com a irmã dele, então honestidade era sempre melhor.
— Embora eu não tenha ilusões de me casar com Lady Victoria,
agradeço a oportunidade de conhecê-la melhor. Sempre gostei da sua irmã e
gostaria de esperar para ver se combinamos, caso concorde.
O estômago de Albert deu um nó.
Se Penworth discordasse e não desejasse que ele cortejasse a irmã, ele
não sabia ao certo o que faria. Iria contra um dos pares mais bem colocados
na Inglaterra? Cortejaria Victoria do mesmo jeito? Coragem subiu por sua
espinha, e Albert soube a resposta para a própria pergunta. Sim, ele iria.
— Somos amigos há muitos anos, e eu ficaria contente com sua
aproximação. Victoria, entretanto… — Penworth fez uma careta. — está
decidida a nunca mais se casar. Após Armstrong, estou certo de que não
preciso explicar que ele a feriu com deveras gravidade, tanto o coração
quanto perante a sociedade. Ela se tornou mais franca desde o escândalo, é
animada e tem muitos passatempos. Ela tem cachorros, sabia disso?
Albert sabia que ela tinha um, mas não pensara que seriam mais.
— Tive a impressão de que ela tinha um.
Penworth riu, deixando a cadeira para se servir de outro copo. Ele
ofereceu a Albert que negou com a cabeça, ainda bebendo o primeiro.
— Ela tem dois lebréis irlandeses e parece considerar apropriado que
ambos durmam em casa. Sem mencionar os cavalos. Ela tem seis desses.
Seus estábulos são grandes o suficiente para abrigar os animais dela e os
seus?
Seis cavalos. Dois cachorros. Albert sentiu a boca abrir e fechar várias
vezes antes que uma visão dela entrasse em sua mente, e os números não se
tornassem mais uma preocupação para ele.
— Sempre posso construir estábulos maiores e, quanto aos cães, posso
reservar um quarto só para eles caso ela deseje que durmam dentro de casa.
Penworth ergueu a sobrancelha, um sorriso largo erguendo os lábios.
— Deixe-me assegurá-lo de que os cães são treinados para se
comportarem em casa. Mesmo assim, o que dizer de Victoria? Não gostaria
que ela ficasse escondida no campo, longe da cidade todas as estações,
apenas porque você prefere sua própria companhia. Sei que somos amigos e
entendo que nem sempre se sinta confortável em grandes multidões, mas
ela fica. Não tentaria mantê-la aqui, isolada apenas com você como
companhia.
— Tolerarei a cidade se é o que ela espera, mas suas suposições estão
indo um pouco longe demais. Não declarei nenhuma intenção em relação a
Victoria, e ela não demonstrou nenhum grau de interesse romântico por
mim. Tratarei do assunto com ela, mas não até ter certeza de que pode haver
alguma esperança para mim.
— O que fará se ela não pensar em você com alguma inclinação
romântica? Armstrong a enganou perante toda a sociedade. Casou-se com
ela e fugiu semanas após dizer “sim”. Temo que tal tratamento possa
dificultar que outros a cortejam. — afirmou o duque, terminando a segunda
dose de uísque.
— Ficarei contente em ser amigo dela, como sempre fui, embora
ausente.
Não que Albert quisesse ser um cavalheiro tão inocente com Victoria,
mas ela era tão vivaz, tão diferente de seu caráter, que pensar neles juntos
até fazia sua cabeça girar às vezes.
Eles se dariam bem? Isso ele não sabia e não poderia dizer, mas com ela
aqui para alguns dias, ele poderia avaliar se havia uma possibilidade para
eles. Ele decerto esperava que fosse esse o caso.
Penworth se levantou, foi até a mesa e estendeu a mão. Albert a sacudiu
por sua vez.
— Então, desejo-lhe tudo de bom, meu amigo, e ficaria muito feliz se
você garantisse o afeto de minha irmã. Victoria é uma irmã maravilhosa e
será uma esposa excelente. Não poderia ter escolhido melhor para si.
Armstrong foi um tolo por deixá-la ir.
Albert sorriu, a esperança tomando conta dele ante as palavras de
Penworth. Agora, ele só precisava baixar a vozinha que lhe dizia que ele
estava fantasiando tal casamento, e aprender como cortejar uma dama. Não
qualquer dama, apenas a única que serviria para ele: Lady Victoria.
N
CAPÍTULO SETE

O DIA SEGUINTE, Victoria caminhava pelo terreno de


Rosedale, em direção ao lago onde Lorde Melvin estava
preparando dois barcos para entrar na água. O dia estava quente, o ar
perfumado, sem dúvida pelo belo jardim que crescia no terraço. Ela olhou
para trás, para a casa, e viu que a mãe estava confortável, acomodada em
uma pequena cadeira de ferro forjado à sombra das glicínias, bebendo chá e
lendo o jornal da manhã.
— Lorde Melvin. — ela gritou, acenando.
Ele se levantou, acenou de volta e, por um momento, ela o estudou. Ele
estava com calças de couro de veado e botas hessianas muito bem polidas.
A camisa e a gravata estavam muito bem engomadas, mas a jaqueta parecia
fazê-lo parecer casual devido à falta de um colete.
Victoria há muito o considerava atraente, mas vê-lo fora de Londres,
fora da grande casa de todos, havia algo diferente nele. A aparência casual,
o sorriso de boas-vindas dele a fez questionar mantê-lo apenas como um
amigo. Ela o conhecia há vários anos, a amizade do irmão dela com ele
permitia, mas ela nunca olhou para ele com nada além de banalidade.
Ela esperava descobrir se ele era o famoso escritor Elbert Retsek. Não
estava aqui para tentar ganhar um marido, Paul havia acabado com essas
noções absurdas, mas não significava que não houvesse outras coisas que
ela pudesse fazer. Opções que se abrem para viúvas…
— Lady Victoria, espero que tenha dormido bem e apreciado seu café-
da-manhã.
Victoria dormira até tarde e decidiu fazer o desjejum no quarto mesmo,
e não vira ninguém pela manhã.
— Sim, obrigada. As camas de hóspedes são muito confortáveis. Quase
me esqueci de onde estava dormindo.
Ele sorriu ao colocar dois remos no barco.
— Pensei que poderíamos ir passear de barco hoje, se quiser. Já
perguntei à sua mãe, e ela disse que eu poderia acompanhá-la até a ilha.
Victoria olhou para a ilha, agradecida por não ser muito longe, jamais
gostou muito de águas profundas. Decerto não quando usava o vestido e
espartilho que usava no momento.
— Não precisa pedir permissão para minha mãe. Sou viúva, meu
senhor. Você se esqueceu?
Lorde Melvin pigarreou, um rubor subindo pelas bochechas.
— Não, claro que não. Eu estava apenas sendo educado.
Ela sorriu, divertida.
— Eu te perdoo. Agora, o que você gostaria que eu fizesse?
— Ah. — ele gaguejou. — Devo ajudá-la a entrar no barco, se quiser.
Ela caminhou até a embarcação, empurrando-a na água. Ela saltou antes
que fosse muito longe da costa.
— Vem? — ela perguntou.
Lorde Melvin riu, o som grave e profundo, e Victoria decidiu gostar do
som. Era caloroso e honesto. Tão diferente de como a alta sociedade e os
membros dessa elite costumavam se comportar. Sempre houve algo na
risada de Paul em que ela nunca confiou, nunca pensou que fosse genuína.
— Bem atrás de você, minha senhora. — disse ele, e saltou para dentro
do barco, que balançou com perigo por um ou dois momentos.
Victoria agarrou-se aos lados, não estava muito afoita para nadar, pelo
menos não enquanto usasse um de seus vestidos novos. Sua mãe ficaria
zangada por uma semana se ela fizesse uma coisa tão escandalosa. Lorde
Melvin sorriu ao pegar os remos, e logo estavam remando pelo lago em
direção à ilha.
— O que há por aqui? — ela perguntou, olhando por cima do ombro
para a ilha cheia de árvores.
As margens eram gramadas e parecia que o jardineiro de Sua Senhoria
também mantinha os terrenos da ilha bem cuidados.
— Ruínas romanas, na verdade. Um belo achado de anos atrás, quando
meu avô plantava carvalhos. Eles escavaram o local e decidiram deixar as
ruínas expostas. As árvores, é claro, foram plantadas ao redor do local para
não atrapalhar a história.
— Que maravilha. Estou ansiosa para vê-las.
Algumas remadas adiante, e o barco raspou ao longo da costa, e eles
atracaram na ilha. Lorde Melvin ajudou Victoria a descer, surpreendendo-a
quando a ergueu nos braços, levando-a para a margem gramada.
Victoria arfou, não havia esperado que ele fizesse tal coisa. Nenhum
cavalheiro jamais a segurou de maneira assim, além do marido, e ele só a
tocou por seis semanas antes de passar para outra pessoa. Ela se sentiu
vibrar pela doçura dele.
Lorde Melvin era mais imprevisível do que ela pensava, mas não
deveria surpreendê-la, não de verdade. Se ele era mesmo o autor de
romance gótico que ela tanto adorava, então ele era bem versado em como
fazer uma dama sair do chão, protegê-la do perigo.
— Obrigada. — disse ela quando ele a colocou no chão.
As mãos dela deslizaram pelos braços dele, fortes e, para sua surpresa,
musculosos. Ele tinha mãos masculinas também, alguns dedos calejados
como se segurasse uma pena por longas horas. Ela não gostava muito de
homens com mãos macias, sempre a lembravam dos dândis de Londres.
Paul fora um dândi. Nunca deveria ter se casado com ele.
Ela olhou de volta para a casa e viu Josh agora conversando com a mãe.
— Pode me chamar de Victoria, Lorde Melvin. Como mamãe permitiu
que a chamasse de Sarah, não vejo mal em deixar de lado os títulos,
enquanto estivermos descansando no interior.
Prazer cruzou o rosto dele antes que ele controlasse suas feições.
Mesmo assim, ela vira a alegria. Que cavalheiro estranho ele era, talvez um
dos mais inteligentes e espertos que ela conhecia, e ainda assim ele corava,
tropeçava nas próprias palavras e evitava eventos sociais: um enigma.
— Gostaria que me chamasse de Albert também, Victoria. — disse ele,
falando de seu nome de batismo e fazendo o coração dela perder um
compasso.
Ela sorriu e pegou o braço dele, deixando-o conduzi-la para a pequena
floresta e para as ruínas. Através das árvores, agora ela conseguia ver. As
fundações foram mesmo tudo o que restou. Uma parede de pedra aqui e ali,
piso de paralelepípedo, mas nenhum mosaico. Que pena que o ladrilho
antigo não sobreviveu aos séculos.
— Chegamos. — ele os deteve ao lado das ruínas. Eram retangulares
em tamanho e grandes.
— A família que morava aqui deve ter sido poderosa. A casa é bastante
grande e, sem dúvida, haveria outras ainda enterradas, eu presumo.
— Tem razão. Meu avô deixou alguns enterrados, e pode ver que as
árvores estão plantadas longe das ruínas para mantê-las preservadas. Ele, no
entanto, não considerou o sistema de raízes do carvalho, e sofremos alguns
danos nos últimos anos.
— Bem. — Victoria disse, descendo para as ruínas. — Pelo menos
tentou o seu melhor. É tudo que qualquer um pode fazer.
Eles caminharam pelo espaço por alguns minutos. Victoria ajoelhou-se
e passou a mão sobre uma pedra, esfregando com cuidado, de forma
circular, seu centro, como se fosse usada para moer farinha ou alimentos
diferentes. Que maravilha que tais coisas fossem possíveis de ver mesmo
agora, depois de todo esse tempo.
— Isso me faz querer viajar e ver todos os maravilhosos locais
históricos ao redor do mundo. Ela se levantou, indo ficar perto de Albert,
que estava encostado em uma das paredes, contente em deixá-la explorar.
— Eu gostaria de viajar um dia. O mundo está cheio de aventuras, se
alguém for capaz de entrar no desconhecido.
Ela pensou nas palavras dele por um momento, sem saber se ele
realmente era sincero. Ele decerto não parecia ser uma pessoa que gostasse
de viajar, conhecer novas pessoas, a confusão de tudo isso.
— Tem certeza de que isso é verdade? — ela ignorou a sobrancelha
dele, erguida em surpresa. — Posso ser franca, meu senhor?
Ele assentiu, os olhos cautelosos.
— Por favor. — pediu ele.
Victoria juntou as mãos diante dela. Será que Sua Senhoria estava
dizendo tudo o que ela queria ouvir, mas não acreditava em nada? Com
Paul e todas as suas mentiras, seria difícil confiar em alguém fora de sua
família. Acreditar apenas na palavra de uma pessoa.
— Nos últimos anos, creio que posso contar em uma única mão o
número de vezes que o vimos na cidade. São raras as suas participações em
eventos quando está em Londres, e o presente festejo tem uma quantidade
enorme de convidados, totalizando três. Sendo que um deles é seu amigo
desde que usavam calças curtas. Não posso deixar de me perguntar… —
continuou ela. — que fica nervoso quando está perto de multidões. Que a
temporada de Londres é um alvoroço demasiado, é caótica demais para
você suportar. Além de que, também, não posso acreditar que viajar pelo
mundo seria algo de que você gostaria. Minha especulação está correta?
A boca dele se abriu e fechou várias vezes antes de dizer:
— Você é muito astuta, Victoria. Meu desconforto na sociedade é tão
óbvio?
— Nada disso. É um cavalheiro muito procurado quando vai a eventos,
mesmo que às vezes tropece. Gosta de ficar em Rosedale, e posso ver por
que gosta de estar aqui. A casa e os jardins são espetaculares, mas para
deixar tudo, por meses a fio, viajar e se misturar como se faz no exterior,
creio que você odiaria.
— Ah, não. — ele argumentou. — Eu gostaria de viajar. Quem não
gostaria? No entanto, vejo por que pensaria isso de mim.
— Quando alguém começa a conhecer outra pessoa, como eu a você,
por pouco que seja, não se pode deixar de perceber as nuances. Quero
ajudá-lo se me permitir.
— Quer me ajudar? De que forma?
— Sou viúva e, com esse infeliz acontecimento, também me concede
um pouco de liberdade que outras mulheres solteiras não têm. Embora eu
não queira me casar de novo, acredito que você gostaria de ter uma esposa.
Correto?
— Sempre tive o desejo de me casar, de ter uma família, encher minha
casa de amor. Considera-me um tolo romântico, não?
Ela nunca pensaria que ele era assim. Se ao menos ela tivesse se casado
com um homem como Lorde Melvin e não com Paul. Que erro desastroso,
um que ela nunca poderia repetir.
— Com minha orientação e ajuda, com minhas conexões, acredito que
poderia estar casado antes do final da próxima temporada. Encontrar a
noiva perfeita. Está disposto a permitir que eu o treine na arte do namoro?
Também pode ajudar a aumentar sua confiança, para que você também
possa viajar algum dia.
Lorde Melvin olhou para as ruínas por um momento, meditando acerca
das palavras dela. Seus lábios se contraíram em uma carranca pensativa. Os
lábios dele eram adoráveis, macios, e a sombra da barba por fazer ao longo
do queixo chamava a atenção. Ora, sim, as mulheres cairiam a seus pés,
ofegando de desejo assim que ela terminasse com ele.
— Muito bem, temos um acordo.
— Excelente, então devemos começar com as lições de como o tornar
um libertino desejável.
Ele franziu o cenho.
— Não deveria ser um “cavalheiro” desejável?
Victoria dispensou as palavras dele com um aceno.
— Não importa, seja o que for, nós o deixaremos no ponto para a
próxima temporada em pouco tempo. Mesmo que não consiga encontrar
uma esposa, ficará mais confiante na multidão e aberto a conversar com
pessoas que acabou de conhecer.
— Só ficarão aqui por alguns dias. Temo não ser o bastante, creio eu,
para me ajudar.
— Deixe isso comigo. Posso pedir mais tempo. Se mamãe pensar que
estou me apaixonando por você, ela vai querer ficar. Não que eu esteja. —
ela o lembrou, querendo que as regras estivessem claras antes de
começarem. — Não se preocupe. Teremos tempo suficiente.
Victoria envolveu o braço no de Albert, pronta para retornar a Rosedale
e começar as aulas. Ele se virou para ela com um olhar conhecedor e já
parecia mais atrevido do que ela jamais o vira. Ela sentiu um rebuliço
começar por dentro.
— Venha, vamos voltar para a casa. Temos muito que fazer.
— De fato. — ele falou devagar. — Temos.
A
CAPÍTULO OITO

LBERT ESPEROU que Victoria o encontrasse no conservatório na


manhã seguinte. Após o jantar na noite anterior, ela disse que
gostaria de encontrá-lo naquela sala específica para começarem com
algumas sugestões sobre como tornar uma mulher mais propensa a
desmaiar em seus braços.
Seja lá o que isso significasse.
Ele esperou no assento de ferro forjado encostado a uma cadeira que
fazia par com uma pequena mesa redonda. Seu conservatório estava repleto
de flores, aromas e até mesmo algumas laranjeiras, uma fruta de que ele
mais gostava.
O som de sapatilhas ecoou no corredor, e ele se levantou, curvando-se
quando Victoria entrou na sala.
Ela parecia tão doce e natural quanto as plantas que os rodeavam. Seu
vestido de musselina rosa suave acentuava sua figura, e ele não era tão
desprovido de maneiras libertinas para não notar que ela preenchia o
vestido da maneira mais vantajosa. Ele poderia ser um homem nervoso e
desajeitado, mas ainda gostava de ver seios em uma mulher, e Victoria
possuía um belo punhado. Ele suspirou. Se ele fosse um homem de sorte
para ganhar aquele coração.
Ele concluiu que, ao receber sua ajuda, ele ao menos estaria próximo
dela e poderia haver alguma chance de ele ganhar o afeto dela. Não que ela
o visse como algo além de um palhaço que precisava de orientação para
encontrar uma esposa. Obter mais habilidades sociais e viajar sem precisar
que alguém o leve pela mão.
— Bom dia, Victoria. — ele pegou a mão dela e a beijou. Ela não usava
luvas hoje, e ele se deleitou com a suavidade da pele e o doce rubor que
tomou conta das bochechas dela.
— Bom dia, Albert. — respondeu ela, retirando a mão e sentando-se na
cadeira vazia da mesinha em que ele estava antes. — Já está mostrando uma
melhora em suas artimanhas de cavalheiro.
Ele se juntou a ela, com um sorriso fácil, enquanto suas entranhas
continuavam a se retorcer. Ela é que o fazia sentir-se assim. Deixava-o
nervoso como uma virgem na noite de núpcias. O que ela diria se soubesse
que ele nunca havia dormido com uma mulher? Ele odiava pensar em tal
reação. Ela acreditaria nele? Ou pior, riria?
— Estou tentando. — respondeu ele, pronto para a aula.
— Pensei que poderíamos ter nossa primeira aula esta manhã, enquanto
mamãe ainda dorme. — ela acenou com a mão em torno do conservatório.
— Este cômodo, não só tem um cheiro divino, mas também pode ser um
lugar para um encontro entre casais. Não que eu tenha tido algum. O Sr.
Armstrong, antes do nosso casamento, era bastante respeitável, devo
acrescentar para esclarecimento, mas os aromas deliciosos, a bela paisagem,
o som calmante das fontes, que você tem a sorte de ter, todos ajudam a criar
uma atmosfera simplesmente perfeita para sedução.
Albert se mexeu na cadeira, sem perceber que com toda essa conversa
de sedução da própria mulher que ele amaria ter em sua cama fez seu corpo
se comportar mal. Victoria decerto sabia do que estava falando e poderia
ajudá-lo. Afinal, ela havia se casado. Não a ganhar outra mulher, mas em
ganhá-la. Se ele descobrisse do que ela gostava, o que a fazia desmaiar
quando um cavalheiro aparecia, havia uma chance de que ele pudesse
cortejá-la, convencê-la de que o casamento com ele seria muito diferente do
primeiro.
— Continue. — ele pediu, querendo saber mais.
— Caso esteja em um baile e aconteça de passear com a mulher com
quem pretenda se casar; enfatizo essa parte, não deve passear por aí e
seduzir qualquer uma que o agrade. Nunca daria certo. Não tolerarei tais
ações desleais e cruéis para com uma donzela solteira.
— Eu nunca faria uma coisa dessas. — ele prometeu, fazendo o sinal da
cruz na esperança de que ela acreditasse nele.
Ela o estudou por um instante, seus dentes perfeitos e retos mordendo o
lábio inferior. Albert engoliu em seco.
Querido Deus, essas aulas seriam uma tortura.
— Muito bem. Estou feliz que concorde. Agora, se entrar em uma sala
assim, pode colher uma flor, dar para a dama, dizer que ela é tão doce
quanto a rosa que entrega para ela, ou qualquer planta que desejar.
Albert não conseguia pensar em ninguém com quem preferisse passear
à mulher à sua frente.
— Vamos tentar? — ele sugeriu. — A prática leva à perfeição, não
concorda?
Victoria se levantou, puxando-o para se juntar a ela.
— Sim, você está certo.
Eles deram vários passos, os braços de Victoria entrelaçados aos dele.
— Finjamos que deseja que eu seja sua esposa. Que estamos em um
baile, e você está me cortejando há várias semanas. Fale comigo o que
acredita que um pretendente pode dizer à mulher que ele adora.
Albert controlou a vibração nervosa de ter que dizer qualquer coisa
romântica, ainda mais para Victoria, que ele, de fato, queria como esposa
dele. E se ela percebesse que o que ele disse foi sincero? Ele nunca
superaria a vergonha se ela não quisesse o mesmo. O que de conversas
anteriores e rumores que circulavam a cidade, ela queria.
Ele limpou a garganta.
— Uma linda noite para um passeio. Obrigado por me acompanhar aqui
esta noite. Sei que se arrisca muito ao vir.
Ela olhou para ele, alerta.
— Hm, muito bem, Albert. E para ser sincera, gostei bastante de como
sua voz soou uma oitava mais baixa que o normal. Uma qualidade sedutora
que você mesmo não sabia possuir, presumo.
Ela estava correta. Ele não percebeu que baixou a voz uma oitava.
— Mencionei como está linda esta noite? — ele continuou, cada palavra
uma verdade.
Mesmo que Victoria não estivesse adornada com joias ou um opulento
vestido de seda, tê-la aqui em Rosedale e nos braços dele, ela era a dama
mais perfeita que ele já conhecera.
— Obrigada. Você também está muito bonito. — ela parou e se virou
para encará-lo.
Victoria estendeu a mão para agarrar a lapela da jaqueta dele, a mão
quente mesmo através da camisa e colete dele.
Ela podia sentir o coração dele batendo como louco? A mente dele
girava com o que ela estava fazendo. Era parte das aulas, ou as palavras
dele tiveram mais efeito nela do que ele pensava? Droga, ele não sabia.
— Uma dama pode tocá-lo assim, caso a esteja cortejando há várias
semanas. Mesmo assim, ajudaria se você não cedesse aos seus impulsos.
Permaneça sempre como um cavalheiro, deixe a mulher decidir o ritmo do
namoro.
Albert observou os lábios dela se moverem, mas ouviu muito pouco. O
corpo dele sentia vontade própria, e tudo em que conseguia pensar era
beijar aqueles doces lábios que tentavam ajudá-lo.
— Ela pode até tentar se inclinar e beijar você. O que você vier a fazer
em seguida… — Victoria disse, inclinando-se na ponta dos pés e
colocando-a a apenas um sopro de distância dele.
O olhar dele mergulhou nos lábios dela, e ele percebeu que a segurava
pelos quadris.
— Eu a beijaria de volta.
— Você poderia. — Victoria disse, saindo de seu domínio, toda
profissional e como uma professora mais uma vez. — Caso a estivesse
cortejando e a desejasse como esposa. Se não, deve se desculpar e sair do
cômodo antes que se envolva em um escândalo.
A ideia de terem aulas, do que mais ela ensinaria, o fez desejar mais.
Dane-se o escândalo. Ele a queria de volta nos braços, aqueles doces lábios
tentando os dele.
— Diga-me o que mais devo saber ao cortejar uma mulher. Devo saber
todos os segredos se vou me casar com uma mulher e mantê-la contente.
Eles voltaram a caminhar, e Victoria pegou uma rosa, entregando-a a
ele.
— Isto é para você — disse ela. —, como um símbolo do meu afeto.
Pode dizer algo semelhante. Entretanto, não pode enviar uma carta ou
presente, apenas flores. Sugiro manter seu tempo a sós com qualquer dama
o mínimo, mesmo que haja uma acompanhante, a menos que realmente
deseje se casar com ela.
— Estou sozinho com você agora, sem uma acompanhante. — ele não
pôde deixar de acrescentar, perguntando-se se ela havia percebido tal coisa.
— Ora, não significa nada. Fui casada, e não há nada que vá chocar ou
insultar minha sensibilidade. Penso ser bem imune a qualquer coisa desse
tipo depois de Paul.
Albert abriu um meio sorriso, mas por dentro, a decepção o apunhalou.
Ele adoraria nada mais do que beijá-la, chocar a sensibilidade dela para o
desejar. Estar tão perto dela, o desejo e a necessidade que ela produzia eram
insuportáveis.
— Deve saber que para mim, cortejar uma mulher é difícil. Não sou
dotado de maneiras naturais, as palavras que muitos cavalheiros usam
quando flertam com uma dama. Temo que todas as suas aulas, sua ajuda em
si, serão em vão, Victoria.
Ainda mais porque ele não queria nenhuma outra mulher em seus
braços, exceto aquela ao lado dele, preciosa em sua tentativa de torná-lo
mais adequado para o sexo oposto.
— Não serão em vão. — disse ela, seus olhares se cruzando. — Estou
determinada a fazê-lo estar em seu ápice, mostrar às outras mulheres o que
vejo em você. Um amável cavalheiro, gentil e atraente, que está pronto para
entrar em uma vida de bem-aventurança doméstica. Um homem capaz e
confiante. Não falharei nesta missão.
Albert abriu um sorriso tranquilo ao saírem do conservatório, mas um
peso pairava em seus ombros. Ele precisava descobrir uma maneira de usar
as lições de Victoria para seu próprio benefício, não com outras, mas com
ela.
M
CAPÍTULO NOVE

AIS TARDE NAQUELE DIA, Victoria estava sentada na


sala que Lorde Melvin cedeu à mãe dela, no andar de cima,
para usar durante sua estada. Ela estava desenhando um de seus cães de
caça, Pickle, de memória, mas sua mente continuava vagando para Lorde
Melvin.
Por mais que ele estivesse interessado nas aulas com ela, ela não podia
deixar de sentir que o coração dele não estava investido. Ele não queria se
casar? Ou, talvez ele tivesse amado outra, vários anos atrás, e a perdido
para outro cavalheiro. Que terrível se fosse esse o caso, e ele estivesse de
coração partido todo esse tempo, e ela não sabia disso.
Com certeza, isso explicaria a heroína em seu primeiro livro, caso ele
fosse Elbert Retsek, que ficara abatida pela morte do noivo.
— Querida, está com uma carranca daquelas, enquanto olha para esse
pergaminho. O desenho não pode ser tão terrível a ponto de encará-lo desta
forma. — mencionou a mãe, chamando-a por cima do tricô.
Ela estava fazendo pequenas luvas para o bebê de Alice que nasceria em
alguns meses.
Victoria colocou o bloco de desenho no colo.
— Sabe que devo ajudar Lorde Melvin a se preparar para cortejar uma
lady na próxima temporada. Ele é deveras tímido e desajeitado em situações
sociais, e pretendo ajudá-lo neste quesito. Entretanto, sinto que ele está um
pouco distraído, não acredita que funcionará.
— Embora eu acredite que suas motivações são honrosas, lembre-se que
sendo viúva ou não, estar sozinha com Lorde Melvin durante essas aulas
não a coloca sob uma luz benéfica.
Victoria suspirou, perguntando-se quando a mãe a veria como uma
mulher que se casou e enterrou um marido.
— Mamãe, nada de desagradável acontecerá, e eu não sou uma
senhorita virginal. Pare de agir como se eu fosse uma.
— Falo sério, Victoria. A maneira como você fala me deixa em dúvida
quanto às aulas de etiqueta que tomou na infância.
Ela sorriu, sabendo que sempre fugia quando havia aulas. Albert passou
por sua mente mais uma vez. Se ela estivesse procurando um par adequado
depois de Paul, poderia não ter uma segunda vez. Confiar e estar tão errada
em dar este passo não era nada que ela gostaria de fazer. O constrangimento
que ela suportou pelos casos de Paul era um sentimento que ela jurara
jamais se submeter de novo. E ela cumpriria esse juramento.
Não que ela pensasse que Lorde Melvin seria tão cruel com a esposa
como Paul fora. Ele era gentil, honesto em situações em que Paul mostrou-
se enganoso e pouco cavalheiresco. Um desgraçado completo.
No conservatório esta manhã, por mais estranho que fosse, a ideia de
beijá-lo flutuou em sua mente. Ele era um cavalheiro alto, ajustava-se bem
à altura dela. O casaco superfino feito sob medida, caía com perfeição em
seus ombros largos. As maçãs do rosto dele eram marcantes, os olhos
escuros e nublados que a encaravam com tal significado que ela sentiu-se
aquecer e vibrar.
Ela afastou os pensamentos. Ele não era para ela. Não era por isso que
ela estava aqui. Ele estava destinado a estar com outra pessoa, alguém que
realmente queria uma esposa.
— Já considerou que Lorde Melvin não está interessado em nenhuma
outra lady? Ele, em particular, convidou você e sua família para sua
propriedade.
O sorriso conhecedor da mãe enquanto continuava a tricotar era
preocupante.
Victoria franziu a testa, pensando que o convite era devido à amizade,
nada mais profundo. Que agora estavam engajados em aulas, ideia sugerida
por ela mesma, não, sua mãe estava errada. Ela balançou a cabeça,
rejeitando a ideia.
— Não, ele não está me considerando como possível candidata à futura
marquesa Melvin. Não seja irracional, mamãe.
— O que há para ser irracional? Você é filha de um duque, irmã de um.
É Lady Victoria Worthingham. Não há muitos homens em Londres que não
procurariam tal arranjo.
— Exceto que você se esquece de que sou viúva de um homem que a
maioria da Inglaterra despreza, já que ele dormiu com metade das esposas
de nossos conhecidos. Odeio que o casamento seja tão estéril e formal. Se
eu permitir que um cavalheiro me corteje de novo, eu só serei induzida a me
entregar a ele diante de Deus pelo amor mais forte e inquebrável.
Todas as coisas que nunca aconteceriam, pois Victoria estava
determinada a nunca se permitir ser seduzida uma segunda vez para um
casamento ruim.
Sua mãe ergueu uma sobrancelha desagradável.
— Você tem lido muitos romances, ou ouvido demais suas irmãs.
Embora eu deseje que todas vocês façam casamentos por amor, isso nem
sempre é possível. E nem todos os homens são libertinos e violam suas
noivas. Não deve falar dessa maneira.
Victoria bufou, sabendo que não havia nenhum homem assim na
Inglaterra. As irmãs se casaram com os melhores homens da Inglaterra,
todos eles.
Ela descartou o pensamento assim que o teve, sabendo da falsidade que
era. Lorde Melvin era um homem bom, bonito e gentil, e embora ele não
pudesse arrebatar uma dama, fazendo-a curvar os dedos dos pés em suas
sapatilhas de seda, ele decerto possuía a habilidade para tal, se soubesse o
que fazer…
— Desculpe, mamãe. — disse ela, odiando discordar da mãe. —
Contudo, estou certa de que está errada. Lorde Melvin está apenas querendo
companhia e pensou em convidar um de seus amigos mais antigos para
visitar sua propriedade. Não que fiquemos aqui tempo por suficiente para
eu treiná-lo na arte do namoro. Partimos em menos de uma semana.
— Ah, sim. Lembrou-me de algo, querida. — a mãe largou o tricô. —
Seu irmão quer prorrogar a visita por mais um mês. Lorde Hammilyn, um
vizinho próximo de Lorde Melvin, dará um baile tradicional, e haverá um
baile rural em Camberley na semana anterior. Seu irmão deseja participar
de ambos os eventos, e Lorde Melvin nos deu as boas-vindas com algumas
semanas extras.
A notícia não poderia ser melhor, e Victoria mascarou o pequeno grito
de alegria ao saber que ficariam ali, que teriam eventos para comparecer
também. Este seria o momento perfeito para Lorde Melvin praticar tudo o
que ela ensinou da arte do namoro. Ela teria que dobrar seus esforços se
quisesse deixá-lo pronto para um baile em questão de semanas.
Assim que ela tivesse a confiança dele, e ele a visse como uma amiga
próxima, tão próxima quanto ele via o irmão dela, ela poderia perguntar da
vida de autor, se ele era o homem que ela esperava que fosse.
— Estou mais do que feliz em ficar aqui em Rosedale, mamãe. A casa e
os jardins são lindos. Esta tarde, Lorde Melvin concordou em me
acompanhar em um passeio pela propriedade.
— Hm, concordou, é, minha querida? — os lábios de sua mãe se
contraíram em outro olhar daqueles “eu falei”, antes de pegar o tricô mais
uma vez. — Lembre-se de levar um cavalariço com vocês.
Victoria se levantou, fechando o caderno de desenho e caminhando até a
porta.
— Preciso me trocar para o almoço. — disse ela, ignorando a lembrança
da mãe de ter um acompanhante mais uma vez. — Nos vemos em breve, no
andar de baixo.
Ela saiu da sala, balançando a cabeça e de cara com Lorde Melvin. Ela
foi de encontro ele, os seios pressionando com força contra o peito dele,
enviando uma sensação estranha barriga abaixo.
Os braços dele a envolveram, ou ela teria caído.
— Por favor, me perdoe, Lady Victoria.
Ela voltou a se equilibrar, ignorando a sensação das mãos dele, uma em
suas costas, e outra em seu quadril. Ou ter gostado da sensação que as mãos
dele provocavam. Ela balançou a cabeça, dando um passo para o lado, para
longe do toque dele. Lorde Melvin era um amigo, talvez seu autor favorito
em toda a Inglaterra. Ele não era candidato à marido. Nenhum cavalheiro
seria quando se tratava dela.
— Sou eu quem deveria pedir desculpas. Não estava olhando para onde
estava indo.
— Está indo a algum lugar? — ele perguntou, o olhar preso nos lábios
dela.
Incapaz de se conter, ela os lambeu e viu os músculos da mandíbula
dele se contraindo e se abrindo.
Nossa. A mãe estava certa?
Lorde Melvin gostava dela mais do que apenas como uma amiga?
Nutria sentimentos por ela? Ela esperava que não. Por mais que gostasse
dele, ela não estava procurando por um marido. A ideia a enojava após a
vida com Paul, mesmo que as irmãs parecessem tão incandescentes de
felizes o tempo todo. Ela não teve tanta sorte no amor quanto elas.
— Estou indo me trocar para o almoço. Ainda sairemos para cavalgar
esta tarde? — ela perguntou, esperando que fosse assim.
Fazia vários dias que ela não andava a cavalo, e era sempre revigorante
cavalgar por terras agradáveis como as de Lorde Melvin.
— Claro, se ainda quiser.
Ela assentiu, animada com a perspectiva de ficar livre por uma ou duas
horas.
— Sim.
Ele recuou, parecia incapaz de conjurar mais palavras. Victoria sorriu e
deu a volta nele, indo em direção a seu quarto. Ele estava tão inseguro de si
o tempo todo. Precisariam trabalhar nisso. Por que ele era assim, ela não
conseguia entender. Ele tinha amigos. Ela sabia disso porque Josh havia
mencionado anos atrás. Entretanto, para todos os efeitos, ele não fizera
muito para socializar com eles. Era um homem com tudo a seus pés, no
entanto, para Victoria, parecia solitário. Ela não gostou dessa verdade. Era
hora de ele sair da concha em que se encasulou e viver. E ela estava
determinada a realizar tal feito.
E
CAPÍTULO DEZ

LES SE ENCONTRARAM nos estábulos onde Albert selava um


cavalo baio, de boas dezesseis mãos, um cavalo estável,
exatamente como Victoria pedira durante o almoço.
Ele gostou que ela sabia cavalgar, era competente e corajosa, não era
uma senhorita afetada. Que ela havia pedido, quando a mãe estava ocupada
pedindo uma xícara de chá para uma criada, que ela não queria montar de
lado, mas uma sela tradicional, ainda por cima.
Albert engoliu um xingamento, pensando estar preparado para vê-la
vestida assim. Ele não estava. Fechou a boca com um estalo, mas não
conseguiu desviar os olhos como deveria. A figura feminina em exibição, as
pernas longas e magras fizeram uma parte de seu cérebro pensar no livro de
posições sexuais que ele estava estudando. Ele nunca conheceu uma lady,
uma filha de um duque que fosse tão ousada. Ela era maravilhosa.
Ele se curvou, reprimindo o sorriso de apreciação.
— Minha Senhora. Seu poderoso corcel espera por você.
Ela passou por ele, e ele se virou para observá-la passar. O que um
homem devia fazer quando uma mulher vestia calças? Ele não pôde deixar
de apreciar a redondeza de suas curvas.
Victoria não usou um bloco de montagem. Em vez disso, ela estendeu a
mão para segurar as rédeas e a sela, levantou o pé alto o suficiente para se
encaixar no estribo e se levantar.
Era uma montaria impressionante que, por vezes, até ele considerava
difícil de controlar.
— Vamos em frente? — ele perguntou, ao assumir sua posição.
— Onde vamos? Existe algum lugar específico na propriedade que
deseja me mostrar? — ela perguntou, o casaco de montaria parecia
confortável e a camisa branca por baixo acentuava sua figura. Parecia
perfeita, pura e simples assim. Ele sentiu-se revirar por dentro pelo
nervosismo de tê-la para si por uma hora ou mais.
— Existem vários campos que dão uma boa perspectiva da casa, e sebes
se quiser saltar.
— Eu adoraria, obrigada. — disse ela, toda polidez.
Albert saiu para a frente do pátio, subiu em direção ao lado oeste da
propriedade e aos pontos mais altos de suas terras. Eles cavalgaram em
silêncio por um tempo, não porque estivessem perdidos em seus próprios
pensamentos, pelo menos não ele, e sim porque ele não conseguia fazer a
língua formar as palavras certas para dizer o que fosse a Victoria.
Ele suspirou, odiando ser incapaz de expressar tudo o que queria para
ela.
— Agora que ficaremos aqui por algumas semanas, espero que me
deixe continuar com nossas lições para que consiga uma esposa adequada
para você. Uma mulher que inspirará doces sonetos de suas mãos. — ela
lançou um olhar curioso. — Escreve algo, meu senhor? O caminho para o
coração de uma mulher às vezes é por meio da palavra escrita
Ele a observou, sabendo que poderia escrever vários sonetos, notas
doces e cartas de páginas longas para Victoria, se ela o deixasse. Palavras
que varreriam o equilíbrio de seus pés delicados.
— Gosto de escrever e ler. É uma leitora, Victoria? — ele perguntou,
querendo afastar-se de ser o assunto.
Um pequeno sorriso conhecedor ergueu os lábios dela, enquanto ela
olhava para frente.
— Adoro ler. Romances góticos são meus favoritos.
À menção do gênero que ele escrevia, Albert controlou o semblante
para que ela não pensasse que ele engoliu a própria língua.
— Algum em particular? — Albert rezou para que ela não tivesse lido
seus romances.
Pensar que a mulher que ele queria como esposa teria lido suas obras o
fez experimentar um novo conjunto de emoções turbulentas. Medo e
orgulho, porém, acima de tudo, a preocupação de que ela odiasse seus
livros. Querido Deus, e se ela detestasse o autor que ele era? Mesmo que
assim fosse, ele seguiria com o plano deles sabendo o tempo todo que ela
odiava seus livros? Eles eram como extensões dele… seus filhos escritos.
— Adoro todas as obras de Elbert Retsek, mas em especial, o terceiro
livro da série Beuroguard. O capitão é merecedor de suspiros e, ainda
assim, é um personagem assustador e enérgico. Eu adoraria conhecer o Sr.
Retsek um dia, contudo, duvido que algum dia o encontrarei. Por ele ser tão
recluso e desejar permanecer anônimo.
Albert a ouvia e lutou para não gritar. Ela gostava dos livros dele. Lady
Victoria Worthingham era uma entusiasta de seu trabalho. Essas verdades
eram dignas de alguns gritos e acenos de braço. Em vez disso, Albert sorriu,
concordando de todo o coração.
— Também gosto do trabalho do Sr. Retsek. — ele admitiu.
Sendo o Sr. Retsek, como ele poderia não concordar com a afirmação de
Victoria? Foi agradável que ela gostasse de sua escrita. Ele se esforçava
para tornar cada livro melhor, mais cheio de ação, suspense e mais sombrio
do que o anterior, então ouvir um leitor dizer que seus livros eram alguns de
seus favoritos aquecia sua alma.
— Se ao menos ele saísse da escuridão e se revelasse. Compartilhar a
alegria que ele dá aos seus leitores e saborear os elogios de que é digno.
Não concorda? — ela perguntou, observando-o com intensidade.
Albert gostaria de poder “se revelar” como ela disse, mas sabia que não
podia. Levou toda a consideração e esforços dele, apenas para manter uma
conversa com Victoria. A ideia de entrar em uma livraria, de conversar com
os leitores, e Deus o proteja, ler as palavras em voz alta enviou um arrepio
de terror pela espinha dele. Ele era incapaz de tal ato.
— Talvez um dia ele o faça. Nós dois teremos que viver com esperança.
Por mais que tal pensamento o assustasse, ele gostaria de ser mais
extrovertido e tranquilo com as pessoas. Ele não estava certo de por que era
daquele jeito, mas era possível que alguns de seus problemas viessem da
intimidação de seu pai para com ele e sua mãe. A morte do pai foi uma
bênção no final. Os anos de abuso verbal terminaram quando ele deu seu
último suspiro.
— Teremos sim, eu concordo.
Victoria ficou em silêncio por um instante, enquanto subiam ao topo de
uma colina que fornecia uma grande perspectiva da casa.
— Será que, se surgir a oportunidade, você conseguiria cavalgar no
Hyde Park com uma lady de sua escolha? Sua conversa comigo parece
muito fácil. Acredito que se relaxasse, você poderia fazer o mesmo com
outra pessoa.
Não que ele quisesse fazer algo assim com outra pessoa além da dama
com quem ele estava cavalgando agora. Como fazê-la vê-lo como um
pretendente em potencial se ele considerava tão complicado reunir
palavras? Ele supôs que sempre poderia escrever um soneto para ela. Uma
carta de amor…
— Seria complicado, ainda mais se ela mostrasse pouco interesse no
que eu teria a dizer, ou se considerasse minha companhia aborrecida e, de
qualquer maneira… — disse ele, lembrando-se das palavras dela na aula de
ontem. — pensei que bilhetes de amor fossem malvistos na sociedade?
— A sociedade não precisa saber tudo. — ela balançou as sobrancelhas
antes de apreciar suas terras com prazer. — Além disso, você não é nada
chato, Albert. — declarou ela, lançando um olhar de repreensão. —
Qualquer dama da sociedade ficaria muito feliz em ter seu afeto.
Você não é uma delas, ele quis acrescentar ao próprio pesar.
Ele duvidava que muitas mulheres soubessem da existência dele,
marquês ou não.
— É porque você é minha amiga. Eu a conheço desde que conheço seu
irmão. É fácil falar com você, e eu gosto da sua pessoa, mais do que gosto
da maioria.
Ela riu, e ele gostou do som da risada. Ele gostaria de ouvir com mais
frequência.
— Você se sairia muito bem, tenho certeza, se tivesse um pouco de
apoio moral, e é para isso que estou aqui. Haverá um baile campestre em
Camberley e um baile tradicional na residência de Lorde Hammilyn.
Participaremos de ambos e espero que você também vá. Afinal, é um baile
no seu condado. Seria rude não comparecer.
Ele sabia do baile campestre em Camberley de que ela falava.
Acontecia todos os anos, ele era convidado e nunca comparecia. Embora ele
garantisse que os melhores músicos viessem de Londres para tocar para os
vizinhos e moradores da cidade.
— Como eu poderia recusar se terei você ao meu lado?
Talvez, se ele conseguisse reunir um pouco de coragem, pudesse pedir
outra valsa e começar a cortejar uma mulher com seriedade. Não apenas
qualquer senhorita educada ou de berço, mas Lady Victoria Worthingham.
V
CAPÍTULO ONZE

ICTORIA PAROU no topo da colina e avistou a propriedade de


Lorde Melvin. A propriedade era muito bonita, quase tanto
quanto Dunsleigh, e ela podia se ver feliz se morasse em tal lugar.
A propriedade do falecido marido ficava perto de Blackpool, no
noroeste da Inglaterra. A casa era adequada e grande, bem conservada, mas
a paisagem era tão diferente de Surrey que Victoria sabia que raramente iria
visitá-la. Hampshire, entretanto, poderia capturar o coração de qualquer
pessoa, como fez com o dela.
A estrada matrimonial não fora um sucesso para ela, mas não
significava que Albert teria o mesmo azar. Ela queria que ele encontrasse
amor, amizade e paixão para sua vida. O baile permitiria que ela o ajudasse
a escolher algumas damas adequadas, talvez o incentivasse a dançar com
elas. Não havia motivo para ele se preocupar com o evento. Ela não
permitiria que nada acontecesse com ele.
— Farei com que algumas senhoritas o bajulem até o final da noite,
Albert. Ficará satisfeito com os resultados. Eu prometo.
O rosto dele parecia um pouco incrédulo e inseguro, e ela se perguntou
por que a ideia de vivenciar tal noite o deixava tão desconfortável. Ela
procuraria Josh e perguntaria se ele sabia algo de Sua Senhoria, um
pequeno vislumbre do passado dele pode ajudá-la a dar perspectiva ao
futuro dele.
— Conte-me que outras particularidades de cortejo irá me ensinar para
conquistar o coração de uma dama.
Victoria refletiu por alguns segundos.
— Insisto na necessidade de ser confiante, meu senhor. Falarei com
clareza, por mais grosseiro que seja, mas algumas coisas precisam ser ditas.
— ela lançou um olhar por cima do ombro e assimilou a distância que o
cavalariço deles estava. Com sorte, longe o bastante para não ouvir. — Você
é um cavalheiro atraente, um marquês. Mantenho minha promessa de fazê-
lo noivar antes da próxima temporada.
Albert saltou do cavalo, e caminhou para ficar sob um grande carvalho.
Victoria o seguiu, esperando não o ter chateado com as palavras agressivas.
Às vezes, ela podia ser um pouco presunçosa e até mandona. Ela não queria
ofender.
— Forcei um pouco demais, não é? — ela chamou a atenção dele,
estendendo a mão para agarrá-lo pelo braço para fazê-lo olhar para ela. —
Está zangado comigo, Lorde Melvin?
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos e deixando-os em pé. A
visão dele um pouco desgrenhado a fez perder uma respiração. Como este
homem já não estava casado? Era impossível entender.
— O que devo fazer se a lady em questão, em algum lugar e hora, tentar
me beijar? — ele perguntou.
O alívio a percorreu por ele não estar preocupado com a ajuda dela, mas
com os detalhes do namoro.
— Beijei o Sr. Armstrong na noite em que ele me pediu em casamento.
— não que tivesse sido um divisor de águas. Na verdade, foi terrível de tão
rápido e muito úmido. Um arrepio de repulsa percorreu a espinha dela ante
a lembrança. — Contudo, antes desse dia, não o fiz. Não é adequado. — ela
mordeu o lábio em pensamento. — Digo uma coisa, meu senhor. Minhas
irmãs revelaram que todas beijaram seus maridos antes de se casarem, e
dizem ser muito esclarecedor e agradável. Suponho que possa roubar um
beijo ou dois, se estiver decidido a se casar com uma lady em particular.
Os lábios dele se estreitaram em uma linha de descontentamento.
— Seu marido a beijou?
Ela piscou, sem saber para onde a conversa estava indo.
— Claro. Fui casada com ele por seis semanas, antes de ele fugir com a
amante.
— Ele deveria sofrer mil mortes por a machucar dessa forma. Se eu
pudesse beijá-la todas as noites, ninguém seria capaz de me arrancar do seu
lado.
O ar nos pulmões dela ficou em suspenso ante as palavras dele. A voz
de Albert caíra uma oitava ou duas, e por alguma razão, o som da voz dele a
deixou estranha e dolorida. — É uma coisa muito doce de se dizer.
Ele se virou para ela, havia uma luz sombria e faminta naqueles olhos
que ela estava incerta do que significava… — Nunca beijei ninguém. Sou
lamentável, não sou?
— Gostaria que eu fosse seu primeiro beijo, Albert? Praticar comigo
antes de outra dama, uma com quem você deseja se casar, apareça diante de
você? — ela acrescentou como uma reflexão tardia, lembrando-o de que ela
era a professora aqui, nada mais.
— Não presumiria que seria uma participante voluntária dos meus
beijos. — ele se aproximou, e o calor do corpo dele a aqueceu.
Ela ergueu a sobrancelha, desejando que ele não tivesse dito isso.
— Jamais voltarei a me casar, meu senhor. Minha situação de vida,
felizmente, não indica que devo. No entanto, eu gostaria de beijá-lo, não
importa o que possa pensar. Você é meu amigo, e estou aqui para ajudar. Se
quiser me beijar, eu não o recusaria.
A ideia de beijar este homem bonito, que se elevava acima dela, era
atraente.
— Diga ao cavalariço para se virar e me beije, Lorde Melvin.
— John. — ele chamou. — Por favor, vire-se por um instante.
O cavalariço fez o que Albert pediu sem questionar.
Ela observou, paralisada, enquanto Albert parecia reunir coragem para
beijá-la. Victoria podia sentir-se tremendo. Era estranho, ela estava um
pouco nervosa em beijá-lo. Depois do noivado, o marido a beijava com
frequência. Ela nunca sentiu o borbulhar de expectativa como sentia agora.
Havia algo diferente neste homem parado diante dela, ganhando coragem
que seu marido nunca teve.
Você quer beijar Albert. A ideia de beijar Paul nunca foi emocionante.
Ele passou o braço em volta da cintura dela, puxando-a contra ele. Ela
arfou, não esperava que ele fosse tão ousado.
— Última chance, Lady Victoria. — disse ele, baixando a cabeça.
Victoria podia sentir-se encostada nele, desejando que aqueles lábios
tocassem os dela. Calor correu por suas veias como fogo ao primeiro toque.
Os lábios hesitantes dele incitavam e a convidavam para que ela o beijasse.
Não foi nem molhado, nem rápido, apenas uma sedução lenta que a fez
sentir uma espiral crescendo pelo corpo, ao vento.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele, tocando os cabelos
sedosos na base da nuca, gostou de senti-los escorregando por seus dedos.
As mãos dele flexionaram, segurando com mais força nas costas dela, e ela
sentiu suas entranhas se apertarem de necessidade. Uma dor familiar que
ela reconheceu como desejo. Para felicidade dela, as poucas ocasiões em
que Paul se deitou com ela após o casamento, ele mostrou-se muito mais
hábil na cama do que com beijos.
Albert aprofundou o beijo, a língua se enredando na dela. Victoria se
jogou no abraço, querendo mais beijos, se era assim que deveriam ser.
Pecaminosos e deliciosos. Era de se admirar que as irmãs parecessem
coradas e saudosas perto de seus maridos.
Ele gemeu, estendendo a mão para embalar o rosto dela, e o beijo
mudou. Não era mais lento e persuasivo, mas profundo e exigente. Victoria
o beijou com tudo que podia, deleitando-se com a sensação dele, a
respiração difícil, a necessidade árdua. A mão dele espalmou em seu
cabelo, enviando várias agulhadas por todo o corpo dela.
Ela não se importava com mais nada. Tudo em que conseguia pensar era
nesse beijo, o primeiro beijo dele. Que maravilha que ela pudesse ter o
primeiro beijo de verdade e apaixonado da vida dela com um amigo, um
homem que ela admirava e gostava mais do que qualquer outra pessoa. Ela
eliminou o espaço entre eles, seus seios, seus mamilos, pequenos bicos
duros sob a camisa e jaqueta de montaria. A sensação do peito dele era
provocativa e zombeteira, mas ela não conseguia parar. Ela queria mais.
Muito mais do que beijar, e isso por si, deveria fazê-la hesitar, mas não o
fez.

ALBERT NÃO CONSEGUIRIA se cansar de Victoria. Inferno, ele queria


beijá-la quase desde o primeiro segundo em que a conheceu, e foi há vários
anos, quando ele ainda usava calças curtas em Eton.
A mulher em seus braços, esguia e ainda feminina, alta sim, mas baixa o
suficiente para ele precisar se inclinar um pouco para beijá-la. Os cabelos
longos e macios, louros com toque de ruivo, sedosos entre seus dedos. A
pele macia, a boca flexível, disposta e certa neste instante, levando-o ao
ponto da loucura.
Ele nunca havia beijado uma mulher, e não soube o que fazer quando
ela sugeriu que ela fosse a primeira. Pensaria menos dele se soubesse todos
os seus segredos? Que ele não só nunca beijou uma mulher, mas também
nunca dormiu com uma. Observando os poucos amigos que ele teve ao
longo dos anos, que se casaram, as esposas deles sempre pareceram
bastante satisfeitas com os talentos do marido.
Ele não teve nenhuma experiência libertina como eles. Claro, ele
conhecia os detalhes. Afinal, lera muito, mas praticar o ato sexual era uma
tarefa hercúlea diferente.
Entretanto, agora, ao beijar Victoria, algo o dizia que não era nada para
temer, mas ansiar. As mãos dela, agarrando seus cabelos, os gemidos
ofegantes quando ele brincava com os lábios macios dela com pequenas
mordidelas e beijos curtos o levaram ao ponto da loucura.
Se ele fosse um libertino, um homem do mundo, saberia como seduzi-
la, levá-los a uma conclusão prazerosa. Sendo ela viúva, tal interlúdio
poderia ser uma possibilidade. Todavia, ele não sabia como fazer nenhuma
dessas coisas, nem mesmo como proceder para iniciar tal progresso.
Albert a beijou com intensidade, forçando as mãos a permanecerem nos
quadris dela, quando ela se lançou contra o pênis dele, duro. Estrelas
explodiram atrás de seus olhos, e ele fez menção de se distanciar. Victoria
fez um barulho de aborrecimento, segurando-o firme no lugar.
— Não me negue. — disse ela entre beijos.
Albert se esqueceu de tudo, de onde estavam. Que o irmão dela, o
duque, também poderia estar cavalgando pelos jardins e encontrá-los
emaranhados. Que o cavalariço estava a apenas alguns metros deles. Tudo
esquecido após as palavras sussurradas dela.
O beijo se tornou selvagem. O corpo dele estava em chamas de
necessidade, o pênis tão duro que ele estava certo de que gozaria se ela
continuasse o que estava fazendo.
Eles precisavam parar. Um deles precisava acabar com essa loucura
antes que caíssem no chão, e ele se alvoroçasse para a tomar ali mesmo no
topo da colina, com apenas a grama às costas dela.
Ele interrompeu o beijo.
— Precisamos parar. Agora. Antes que seja tarde demais.
Ela o analisou, os olhos arregalados e vidrados de desejo. Ela piscou
várias vezes antes de voltarem a ter foco, e a mulher em seus braços era
mais uma vez a Victoria, sensível e inteligente, que ele sempre conheceu.
— Claro, sim. — ela sussurrou e se afastou.
Ela verificou as calças de montaria e jaqueta antes de estender a mão e
prender o cabelo para trás.
— Bem, essa decerto foi uma lição muito boa, não concorda?
A frustração o percorreu que, após tal beijo, um beijo de partir a alma
como o que compartilharam, receberia o nome de lição. Ele ficou mudo por
um segundo, incapaz de formar as palavras para responder.
— É melhor voltarmos para Rosedale. — Victoria caminhou até o
cavalo e se acomodou sem ajuda.
Albert se livrou da melancolia que ameaçava seu bom humor e montou
também.
— Vamos por aqui, é um caminho mais curto, mas a vista é tão boa
quanto a daqui do topo da colina.
Ela assentiu, virando o cavalo e começando a descer a colina. Albert
girou na sela e notou o cavalariço, aguardando, com certa discrição, atrás
deles sem nenhum sinal no rosto de que os julgava pelo que haviam
acabado de fazer.
O que, pela aparência de Victoria, não era nada. Como diabos ele
deveria cortejá-la, mesmo que ela não soubesse dessa intenção, se era tão
inflexível a ponto de um casamento não ser uma opção considerável.
Ele não queria nenhuma outra dama a quem ela o treinaria para cortejar.
Era ela quem ele queria, porém, mesmo ele sabia que ela não seria uma
mulher fácil de conquistar. Exigiria todo o esforço, paciência e habilidades
de cortejo que ele possuía.
Que, infelizmente, não eram muitos.
Ele deu um chute leve na montaria, seguindo Victoria de perto enquanto
serpenteavam colina abaixo de volta à Rosedale. A mente dele era um
zumbido de pensamentos em torno de como conquistar uma dama que não
queria ser conquistada.
V
CAPÍTULO DOZE

ICTORIA DEITOU-SE mais tarde naquela noite, olhando para


a pintura ornamentada no teto. Ela havia deixado as cortinas de
algumas de suas janelas abertas para esta noite amena, permitindo que a
brisa refrescante do lago entrasse em seu quarto.
Sua mente não se acalmava, e não era de admirar depois do beijo que
ela compartilhou com Albert naquele dia. Ela não sabia ao certo como agir
agora, então descartou o beijo como uma boa primeira tentativa de ensiná-
lo a ser um libertino.
Ela nunca havia beijado um cavalheiro dessa maneira, nem mesmo seu
marido enquanto ele se deitava com ela. Poderiam ser suaves e lentos, uma
sedução dos sentidos? Ou profundo e exigente, tirando seu fôlego e
deixando-a estupefata como este que compartilharam? Os beijos de Paul
foram horríveis, nada como os de Albert.
Victoria suspirou. Albert a beijara como se ela fosse preciosa, como se
quisesse beijá-la, não para fins de ensino, mas por a querer.
Ela bateu na cama com as mãos, odiando não saber qual opção era a de
Albert. Não que ela devesse estar ruminando sobre o interlúdio, fez questão
de se lembrar. Ela não se casaria com Albert ou qualquer outro cavalheiro.
O beijo não foi nada especial, e ela estava sendo uma idiota ao cogitar que
fosse para Albert.
Nesse ritmo, ela nunca dormiria. Jogando a roupa de cama para trás, ela
pegou o roupão no final da cama e se dirigiu para a porta. Uma boa xícara
de leite quente bastaria para ela. Ela sempre podia chamar uma criada, mas
a casa toda já estava na cama havia horas, não seria justo acordar todos só
porque ela não conseguia dormir.
Victoria verificou o corredor e, não vendo ninguém por perto, usou sua
vela para encontrar o caminho até a escada de serviço, sabendo que essa
escada sairia bem em frente à cozinha.
A esta hora da noite, ela não encontrou ninguém por perto. O forno
iluminava a cozinha, as brasas brilhantes iluminando-a. Ela colocou a vela
na mesa comprida de madeira e se virou para a grande cômoda,
encontrando o leite coberto com um pano para impedir a entrada de insetos.
Ela despejou um pouco na panela, o suficiente para uma xícara, e a
colocou em cima do fogão. Um banquinho estava ali perto, e Victoria
sentou-se, esperando que seu leite esquentasse.
— Não pensei que a filha de um duque saberia se virar na cozinha.
A voz masculina, familiar e bem-vinda como a xícara de leite, a rodeou,
e Victoria se levantou, reprimindo a reação absurda e entusiástica ao
surgimento de Albert na porta.
Ele estar vestido com calças bege e uma camisa, a gravata desamarrada
e pendurada frouxa no pescoço, só o fazia parecer mais bonito do que ela
precisava para fazê-lo flutuar em sua imaginação.
Ele não era para ela. Nenhum homem era, nunca mais ela seria feita de
tola por um cavalheiro. Paul a curou de qualquer ideia de casamento pela
forma como a tratou. Ela era uma herdeira, uma viúva que podia cuidar da
própria vida, ir e fazer o que quisesse, sempre que quisesse. Ela não
precisava de um marido a acompanhando, ou pior, dizendo que ela não
poderia ir a algum lugar, ou fazer algo.
No entanto, meu Deus, ele estava muito bonito, todo desgrenhado e
amarrotado. Seus cabelos pareciam ter sentido a mão dele passar entre os
fios diversas vezes desde o jantar. Será que ele também estava pensando no
beijo, no erro em que poderiam cair?
Victoria acalmou as preocupações, determinada a ser o mais confiante e
profissional possível com ele. Ele era seu amigo. Fizeram um acordo. Ela o
ajudaria a conquistar uma esposa, e ele confessaria ser o autor, Elbert
Retsek, se casaria com outra, e ela iria para casa com a mãe e começaria sua
viuvez para valer.
— Não conseguia dormir e esperava que um copo de leite pudesse me
ajudar. Gostaria de um? — ela ofereceu.
Ele puxou uma cadeira e sentou-se em frente a ela.
— Não, obrigado. Ouvi barulho a caminho da cama e pensei em vir
investigar. Estou feliz por estarmos sozinhos. Quero falar com você do beijo
desta tarde.
Victoria desejou que o calor se dissipasse de suas bochechas ante a
menção do momento deles. Em vez disso, ela culpou o fogo.
— Não há necessidade de discutir o beijo, meu senhor. Foi apenas a
orientação de uma amiga de como você beijaria uma esposa. Admito que
fez um ótimo trabalho.
Ele limpou a garganta, os olhos se arregalando. Ela o chocou mais uma
vez? A família sempre a criticou por falar o que pensava, por ter opiniões
que nem todos queriam ouvir na maior parte do tempo, e ainda assim, tal
desaprovação nunca a deteve. Ela apenas persistia com suas manias.
— Espero que nosso beijo não o tenha desencorajado de me ajudar a
conquistar uma esposa. Ainda gostaria de sua ajuda se estiver disposta a
continuar.
O alívio a invadiu como um bálsamo.
— Claro que ainda estou disposta a ajudar. Na verdade, podemos
continuar as aulas após o café-da-manhã, se quiser. Talvez possamos nos
encontrar na sala de música. Há um pianoforte lá, e eu gostaria de orientá-lo
acerca do que dizer e como agir quando a jovem por quem se interessa se
sentar para tocar para os presentes.
A cabeça dele se inclinou de maneira pensativa, e ela esperava que eles
pudessem continuar a partir de hoje. Afinal, eram amigos. Decerto homens
e mulheres poderiam permanecer assim, mesmo após compartilharem um
ato tão íntimo.
— Seria demasiado útil.
O leite no fogão começou a ferver, e Albert se levantou, pegando uma
luva próxima antes de pegar a panela. Ele derramou o leite na caneca que
ela segurava, com cuidado, nem uma gota derramou.
— Gostaria de açúcar no leite? — ele perguntou, colocando a panela na
pia.
— Não, obrigada. O leite me basta. — ela tomou um gole da bebida,
observando-o. — Tem certeza de que deseja se casar, Albert? Não quero
forçar tais lições se você não estiver pronto para se estabelecer.
Ele sentou-se de novo em frente a ela, cruzando as mãos no colo, as
pernas um pouco abertas demonstrando tranquilidade.
— Estou pronto para me casar. Aqui em Hampshire, não há muito o que
fazer na maior parte do ano, e a companhia seria ótima. Também anseio que
crianças façam a casa cantar com risos e gritos. Mal posso esperar por esses
dias.
Victoria ficou encantada com as palavras, os ideais dele. O futuro
imaginado por ele parecia muito agradável, e uma vez, talvez, houve um
tempo em que ela também quis tais coisas. Seus primeiros dias de
casamento foram adoráveis, mas não demorou muito para que a desilusão
invadisse seu mundo. Os sussurros em torno de Paul e de onde ele passava
as noites, os gastos, o fato de não vê-lo por dias a fio. Nunca mais ela seria
propriedade de um homem, negligenciada e tratada como lixo. Agora ela
desejava aventura, independência acima de tudo, uma vida própria, por
conta própria.
— Espero que seu desejo se realize e que, com a minha ajuda, talvez
mais cedo do que mais tarde. Posso não ensinar tudo o que precisa saber
para ganhar uma esposa. Certas coisas, como o beijo de hoje, jamais devem
voltar a acontecer. No entanto, posso ajudar na maior parte da etiqueta e das
habilidades de conversação adequadas. E minhas conexões, é claro,
enquanto estivermos aqui com você em Hampshire, ajudarão a atrair
mulheres adequadas para o seu lado.
Ele estendeu a mão e pegou a dela. Não usava luvas, e a atenção dela se
voltou para os braços dele, as mangas da camisa arregaçadas concediam
uma visão vantajosa dos braços musculosos. Os dedos dele eram longos e
quentes, fortes, e ela estremeceu, lembrando-se de como era a sensação
deles em suas costas, segurando-a firme contra o peito.
Os olhos encontraram os dela e, como se estivesse em câmera lenta, a
boca dele baixou para a mão dela e beijou seus dedos. Ela respirou fundo,
sentindo aqueles lábios, o toque da boca contra sua carne como se ele a
tivesse beijado uma segunda vez nos lábios. Seus mamilos enrijeceram, e
ela percebeu o quão pouco ela estava vestindo.
Ó, querido Senhor, o que estava acontecendo com ela? Ela não podia
reagir a este homem. Albert era seu amigo, talvez seu autor favorito em
todo o mundo. Ela não podia cobiçá-lo.
Nunca terminaria bem.
— Devo ir. — disse ela, arrancando-se do domínio dele e fugindo do
cômodo. — Boa noite. — disse ela na porta, sem esperar para ouvir a
resposta dele.
Lorde Melvin estava começando a ser um perigo, e ela precisava se
acalmar antes de revê-lo. A resposta dele, rouca e baixa, fez o desejo rasgá-
la. Maldição, esse plano dela pode ter sido um dos bem ruins, afinal, e ela
nunca teve ideias ruins. Jamais.
C
CAPÍTULO TREZE

ONFORME ACORDADO, eles se encontraram na sala de música


na manhã seguinte. Albert entrou na câmara e se preparou para
passar algum tempo com Victoria.
Sozinhos.
Ela era o epítome da perfeição. Ela estava arada, graciosa, ao lado de
uma janela aberta, as cortinas transparentes flutuando além da parte inferior
de seu vestido, seus cabelos arrumados em cachos, vários soltos e saltando
contra seu ombro delgado. Quanto ao vestido, caía contra sua forma da
maneira mais lisonjeira, revelando as curvas deliciosas e seios fartos.
Albert deveria desviar o olhar, não deveria estar se torturando com
intenções para uma mulher que não queria um marido, mas ele não podia
evitar. Ela era tudo o que ele queria. Ele jogaria o jogo de instrução dela,
apenas para ganhar seu coração com a sedução, se necessário.
Ele limpou a garganta, e ela se virou, a expressão pensativa e reflexiva
logo substituída por uma de boas-vindas, o sorriso dela aquecendo a sala
ainda mais do que o sol.
— Bom dia, Lady Victoria. Espero que tenha dormido bem.
Ela assentiu uma vez, partindo para o piano, onde se sentou no
banquinho de couro.
— Sim, obrigada. Espero que esteja pronto para sua próxima lição.
Ele se juntou a ela, inclinando-se sobre o pianoforte, que estava em sua
família desde que ele conseguia se lembrar.
— No que você deseja me instruir hoje?
— Bem, quanto a isso. Gostaria falar com você sobre o que poderia
fazer para oferecer ajuda, mostrar interesse quando a lady que estiver
cortejando tomar parte de uma noite musical ou de um concerto
improvisado após o jantar.
Albert já sabia o que deveria fazer. Ele sabia de tudo se fosse verdadeiro
com ele mesmo. Só com Victoria ele poderia ficar relaxado o suficiente
para fazer o que deveria como um cavalheiro. Havia algo nela que a alma
dele achava reconfortante, o suficiente para interromper a gagueira ou a
incapacidade de falar. As mulheres o deixavam ansioso, exceto Victoria. Ela
o deixava nervoso. Há uma grande diferença entre os dois.
— Se sua dama for chamada para tocar uma música, pode acompanhá-
la ao pianoforte, oferecer-se para ajudá-la com a partitura enquanto ela toca.
Se souber, pode até se oferecer para cantar um dueto com ela.
Todas eram sugestões razoáveis, não que ele alguma vez tivesse sido
capaz de fazer tais coisas. Durante a primeira temporada dele, ele tentou
fazer o papel de um marquês em busca de uma esposa, sendo todo
cavalheiro e correto. Ele se ofereceu para virar as páginas da música, se
embaralhou com as folhas e a partitura acabou nas mãos da moça antes de
cair no chão.
Ele havia parado de tentar fazer o papel de um lorde saudável depois
disso.
Até Victoria, isso sim.
— Joguemos um jogo. Ficarei aqui e escolherei uma música para tocar,
um dueto. Deve vir, oferecer ajuda e cantar comigo. Deixe-nos praticar até à
perfeição para quando tal oportunidade surgir para você.
— Muito bem. — Albert se afastou e esperou que Victoria se
acomodasse ao piano. A partitura posicionada diante dela. Ele se voltou
para ela, curvando-se. — Posso virar as páginas para você, Lady Victoria?
— perguntou, e seu corpo se contraiu ao vê-la mordendo o lábio inferior,
fingindo ser uma tímida senhorita, não tendo esperado que um lorde pedisse
para ajudá-la.
— Obrigada, Lorde Melvin. Seria muito gentil. — ela olhou para ele,
por baixo dos cílios, e ele quase podia imaginar ser real, que ele era tão
suave e capaz de realizar tal triunfo.
— Nada disso. A senhorita é uma pianista maravilhosa. É uma honra
ajudar.
Ela baixou a cabeça, mas não antes de ele ver o pequeno sorriso surgir
nos lábios dela.
Victoria começou a tocar For Tenderness Form'd in Life's Early Days, a
música fluindo de seus dedos como se o piano forte fosse uma parte de seu
corpo, fluido e perfeito a cada tecla. Por um tempo, Albert se perdeu na
música antes que a voz dela começasse a cantar, e ele entendeu o que era
ouvir a perfeição.
Ele se juntou a ela, um barítono do mais profundo fundindo-se à
perfeição com a oitava superior dela. Seus olhos encontraram os dela, e ele
leu a surpresa dela sem saber que ele sabia cantar. Ele sabia fazer diversas
coisas. A incapacidade de fazê-los bem quando estava na companhia de
outras pessoas era o único problema.
Os lábios dela se abriram em um sorriso quando ambas as vozes se
misturaram a um som harmonioso e delicioso. Ele estava grato por poder
cantar, pois eram dias como aquele que ele guardaria para sempre. Estar
aqui com Victoria, aproveitando a companhia dela, virando as páginas e
cantando juntos como se ele fosse o epítome do comportamento
cavalheiresco e da educação, fazia com que valesse a pena suportar a tutoria
desonesta.
No livro que estava escrevendo, ele incluiria uma cena como esta, talvez
o vilão da história entrasse e arruinasse a harmonia de tocar e cantar entre
dois amantes.
Victoria adivinharia, quando lesse o romance, que a cena era baseada
neste mesmo dia? Ele nunca quis ser proeminente. A ideia o deixava
nauseado de verdade, pensando em conhecer todas as pessoas que
desejavam fazê-lo. No entanto, seria tão ruim se uma mulher específica
soubesse quem era seu pseudônimo?
A música terminou e, com a virada da última página, Albert não
conseguia desviar os olhos de Victoria. Os olhos dela fixaram-se nos dele,
luminosos e grandes. Os lábios ligeiramente separados, como se ela não
pudesse entender como estavam em sincronia.
— Possui uma bela voz, Albert. — os dedos deslizaram das teclas de
ébano, acomodando-se em seu colo.
Ele queria dizer que embora ele pudesse cantar dessa maneira, ela era a
única bonita em todos os sentidos. A mulher entrando em seu coração.
Inferno, no que ele estava pensando? Entrando em seu coração? Ela o havia
capturado há muito tempo. Se ele pudesse fazer o mesmo.
— Meu canto não é nada comparado ao seu e ao seu jeito de tocar. Você
é proficiente no piano.
Ela se levantou, colocando-se mais perto dele. Albert não se mexeu,
apenas a encarou. Ele sentiu-se apertar por dentro, calor rondando suas
entranhas. Ele queria beijá-la de novo. Inferno, ele queria fazer muito mais
do que beijar, mesmo que o corpo virgem dele não soubesse a totalidade do
que seria.
A atenção dela desviou para os lábios dele, e ela se inclinou ainda mais
perto. Estava a apenas um suspiro dele. Ela queria que ele a beijasse de
novo? Ele desejou ser um libertino, capaz de fazer uma escolha, pegar o que
queria, mas a vozinha da incerteza sussurrava em seu ouvido, impedindo-o
de tomar os lábios dela outra vez.
— Que maravilhoso que toquem tão bem juntos. — o som da voz da
duquesa de Penworth na porta da sala de música afastou todos os
pensamentos de beijar Victoria.
Albert deu um passo para trás, curvando-se, enquanto a decepção o
atingia por uma oportunidade perdida.
— Bom dia, Vossa Graça. Não sabia estar ouvindo.
Ela sorriu, mas seus olhos se voltaram para a filha. Victoria ficou em
silêncio, um rubor beijou suas bochechas.
— Não pensei que sabia que eu estava aqui.
A duquesa sorriu.
— Você me acompanharia lá em cima, filha? Desejo que me ajude a
escolher um vestido para nossa viagem por Hampshire amanhã. Suponho
que ainda faremos o piquenique.
— Claro. — disse Albert, lembrando-se de que havia se oferecido para
levá-los a um piquenique, durante o jantar na noite anterior. — Não parece
que haverá tempestade tão cedo. O piquenique será possível, tenho certeza.
— Muito bem. Victoria? — a duquesa repetiu, prendendo a filha com
um olhar de siga-me.
Albert as observou partir, sem saber se a duquesa vira tudo o que
acontecera após o dueto. Deve ter visto, ou pelo menos comentara ter
ouvido a música, mas interveio quando percebeu a proximidade.
Droga, ele não queria colocar Victoria em uma discussão nem queria
que eles partissem mais cedo devido ao descuido dele.
Ele era tão pouco instruído na arte da libertinagem que nem mesmo se
lembrara ou pensara em fechar a porta da sala de música quando entraram.
Idiota.

VICTORIA FECHOU a porta do quarto da mãe, preparando-se para a


conversa que viria, que ela estava certa de que teria algo a ver com o quase
segundo beijo entre ela e Albert.
A mãe foi até a janela e olhou para o terreno.
— Por favor, me diga que eu não vi você e Lorde Melvin quase se
beijando agora há pouco. A mãe se virou para ela, prendendo-a no lugar.
Victoria estremeceu, se perguntando se deveria mentir ou dizer a
verdade e admitir seu erro. O segundo que ela estivera prestes a cometer,
não o primeiro. A mãe não precisava saber de tudo.
— Sabe que estou ajudando Sua Senhoria a conquistar uma esposa.
Estava apenas tentando ajudá-lo a navegar em uma noite musical, como
cortejar uma lady enquanto a ajuda a tocar piano. Apoiá-la enquanto ela
toca. Você nos viu no final, sei o que deve ter parecido. Contudo, não íamos
fazer nada, mamãe. Não seja boba.
Então, parecia que ela mentia à mãe. Melhor que fosse assim do que se
suas malas fossem colocadas na carruagem e retornassem a Dunsleigh antes
que as orientações de Lorde Melvin estivessem completas. Ou que ela
descobrisse a verdade da vida dele.
— Se seu irmão os tivesse flagrado, ele exigiria o anúncio do noivado.
Foi o que me pareceu. Não seja atrevida, Victoria. Após as negociações que
tivemos para casar suas irmãs, e seu casamento que tenho certeza que a
sociedade irá discutir nos próximos anos devido ao comportamento
abominável do Sr. Armstrong, não acredito que suportaria outro escândalo.
Por favor, se está considerando Lorde Melvin como um amante, permaneça
acima de reprovação e assegure-se de que tais encontros não sejam vistos
ou descobertos por ninguém.
A culpa picou a consciência de Victoria, e ela foi até a mãe, segurou
suas mãos.
— Prometo, mamãe, não farei nada que possa colocar a mim ou o nome
da família em risco. Sou amiga de Lorde Melvin, só isso. Com a amizade
vem um pouco de intimidade, creio eu. Não serei pega em uma posição
comprometedora.
Victoria cruzou os dedos atrás das costas, sabendo que ela teria que ter
muito zelo depois de hoje. O pior é que ela não fazia nada além de pensar
no beijo compartilhado. Dos lábios dele tomando os dela. O que aconteceria
se repetissem?
O som do gongo do almoço ecoou pelos corredores, e Victoria estendeu
a mão e beijou as bochechas de sua mãe.
— Vejo a senhora na hora do almoço, mamãe.
Ela fugiu da sala, não bem convencida de que a mãe acreditara em suas
palavras. Entretanto, ela tentaria, não importa o quanto ela reagisse a Lorde
Melvin quando na presença dele. Ela tentaria domar aquela parte dela que
queria pressioná-lo um pouco. Ver se ele poderia ser um libertino com ela
tanto quanto com sua futura noiva de preferência. Ela seria uma mentirosa
se declarasse que um pequeno flerte com um cavalheiro bonito não era uma
maneira adorável de passar o dia.
Após o almoço, ela procuraria Albert para mais aulas. Faltava menos de
quinze dias para o baile campestre, e ele ainda não estava pronto. Contudo,
estaria. Ela se certificaria disso, mesmo que tivesse que se usar como
adereço de ensino.
Contanto que a mãe nunca mais os pegasse.
M
CAPÍTULO QUATORZE

AIS TARDE NAQUELA NOITE, Albert encontrou Victoria


sozinha na biblioteca, um cômodo que ele cedia aos
convidados, quando os recebia, ou seja, para usarem em seu próprio lazer.
Não era onde ele escrevia, nem havia nenhum manuscrito de identificação
que os convidados pudessem ver e vincular a ele.
Ele franziu a testa, pensando na página que perdera enquanto estava em
Dunsleigh. Ele a havia deixado na escrivaninha da biblioteca? A duquesa
sabia que ele havia usado o cômodo. Decerto saberia que pertencia a ele,
mas saberia o que continha no papel esquecido? Isso ele não podia dizer.
Ele entrou na biblioteca, tirando a consideração de Victoria do livro em
que ela estava curvada, alguns fios de seu cabelo loiro avermelhado
cobrindo sua bochecha. Quando ele se aproximou, percebeu que ela não só
tinha cabelo sobre o rosto, mas mordia a ponta de um cacho.
Seu corpo endureceu ao ver seus lábios sugando a mecha dourada. Ó,
meu Deus, ela o mataria antes que ele tivesse a chance de usar as
orientações dadas em uma noiva em potencial.
Não que ele quisesse ninguém além dela, mas este assunto em particular
ainda precisava de trabalho. Primeiro, ele precisava aprender a ser um
libertino, então poderia usar tais habilidades para ganhar a mão dela.
— Lady Victoria, o que você está lendo?
Os olhos dela se arregalaram e pulou no sofá, olhando além dele como
se para garantir que eles estivessem sozinhos.
— Feche a porta e tranque-a, Lorde Melvin. Minha mãe não sabe que
estou acordada, ela acredita que fui dormir há uma hora, mas não fui. Entrei
aqui às escondidas.
Albert fez o que ela mandou, e voltou para a cadeira.
— O que está lendo? — ele perguntou mais uma vez ao sentar-se.
Ela ergueu o livro, e ele sentiu o sangue sumir do rosto. Ela havia
encontrado as gravuras eróticas que o pai dele havia comprado em uma
grande viagem que fez ao se formar na universidade. O mesmo que ele leu
há alguns meses. Por um momento, ele não conseguiu falar. Será que ela
pensava que esses desenhos eram dele? A ideia de tal suposição fez seu
coração parar, e a humilhação o transformou em uma ameixa seca.
— Que maravilha você ter este livro. Veja, as fotos nele são incríveis, e
tenho certeza de que se você estudá-las, poderá aprender a tratar uma
mulher. Tornar-se um amante maravilhoso.
Ele limpou a garganta, estupefato com a imagem que ela estudava. Um
homem e uma mulher, entrelaçados, não cabeça a cabeça, mas da cabeça
aos pés, exceto que eles não estavam chupando os pés um do outro, e sim
seus órgãos genitais.
Ele conhecia o livro, havia o analisado antes da primeira temporada que
teve e o considerou maravilhoso, não que ele tivesse a habilidade de se
tornar libertino como os homens no livro retratados.
— Era do meu pai. Ele tem desde que era jovem.
O que supõe que eles estão fazendo? — ela perguntou, virando o livro
para um lado e para o outro.
— Sexo sem penetração. — disse ele sem rodeios.
Ela olhou para ele, o brilho nos olhos era de curiosidade, e ele se
obrigou a não perguntar se ela gostaria de fazer tais coisas com ele. Nunca
havia experimentado com o marido? Talvez não, já que o idiota encontrava
conforto na cama de todas, exceto da esposa.
Droga, ele adoraria tê-la assim.
Ele deveria estudar mais o livro e aprender como funciona o corpo de
uma mulher, saber o que fazer com a boca e o pênis quando chegar a hora.
A ideia de deixar uma mulher insatisfeita era quase tão ruim quanto não
saber o próprio nome.
Ela virou a página, e a imagem a fez ofegar, um som doce que foi direto
para seu pênis latejante. O homem, desta vez, estava agachado em uma
mulher que mantinha as pernas bem abertas, o rosto contorcido em uma
visão de prazer. Os braços dela apertando a roupa de cama, enlouquecendo
até mesmo apenas de olhar.
— Bem, eu digo… — ela sussurrou, se mexendo um pouco no sofá. —
O que será que a mulher ganha com essas interações com o amante?
Albert já havia se tomado com a mão, conheceu o prazer, mesmo que
nunca o tivesse encontrado com uma mulher.
— Ela chegaria ao clímax por ele beijá-la lá. Ele a sugaria e beijaria
com lábios e a língua, levando-a a um pico de prazer que é um dos maiores
presentes da vida.
— Mesmo tendo sido casada, não sabia ser possível. — ela olhou para
ele, a língua disparando para lamber os lábios. — Já encontrou tal
gratificação desta forma com uma mulher?
Ele fechou os olhos, desejando forças.
— Não.
Ela estreitou os olhos.
— Sozinho então?
Ele assentiu, sem saber o quanto deveria dizer para ela. A conversa em
si já era escandalosa, e se o irmão dela ouvisse uma única palavra, viúva ou
não, os dois estariam diante de um padre antes do raiar do dia.
O que, na opinião de Albert, não seria tão ruim. Quanto a Victoria, ela
se sentiria amarrada, pressionada e o odiaria por isso. Se ela viesse se casar
com ele, teria que ser por vontade própria.
— Sim, é possível para homens e mulheres.
A respiração, que saiu ofegante, foi quase inaudível, e ele sentiu-se
apertar por dentro, a necessidade de provar os lábios dela, de sugar a boca
tanto quanto ele queria fazer com outras partes do corpo dela, o consumiu
como fogo. Como homem, decerto não seria tão difícil aprender como
seduzir uma mulher. Ele sentia-se confortável com Victoria, inferno, eles já
haviam se beijado, e parecera tão natural quanto respirar.
Ele queria mais do mesmo. Entretanto, como poderia fazê-la ver que ele
era mais do que apenas um amigo com quem ela podia ser honesta e aberta.
O homem certo para ela, se ela olhasse para ele.
Victoria voltou a prestar atenção no livro, virando a página para um
novo desenho. Albert engoliu em seco. A imagem era de uma mulher,
apoiando-se nos joelhos e mãos, o homem empurrando-se nela por trás.
Mais uma vez, o rosto da mulher se contorcia de prazer, o do homem
também, mostrando alegria.
— Não pode me dizer que esta é uma posição que um casal se atreveria.
— Victoria estudou a imagem, virando o livro para um lado e para o outro.
— Não creio que seria muito agradável.
Ela o estava matando, literalmente. Sendo um homem que nunca havia
transado com uma mulher, querendo uma tanto quanto ele queria Victoria,
ouvi-la falar de sexo, estudar imagens do ato era uma tortura.
Seu pênis estava ereto, precisando de atenção, e maldição, ele queria
que ela o tocasse. Queria curvá-la no sofá onde estava sentada e tomá-la de
tal forma até que ambos encontrassem a liberação.
— Pelo que entendi, esse ato é possível e agradável para ambos.
Ela olhou para ele, olhos arregalados.
— Fala como se não tivesse certeza. — ela olhou para ele, estreitando
os olhos. — Você é virgem, Albert?
Será que deveria contar a verdade para ela? Algo dizia para ele que
Victoria valorizava muito a verdade, e não faria nenhum favor se ele
mentisse. E não havia vergonha em ser virgem. No mínimo, ele deveria se
orgulhar do fato de não ter espalhado sua semente por toda Londres com
abandono.
— De fato, sou virgem. Isso a choca?
Ela mordeu o lábio mais uma vez, e a atenção dele voltou-se para os
lábios dela. Eles estavam sentados tão próximos que ele podia sentir o calor
do corpo dela, o doce perfume floral nos cabelos. Ele queria passar os dedos
por eles. Inferno, queria fazer muitas coisas. Beijar a pele macia e flexível
dela, ao longo de suas costas, enquanto a tomava assim como a imagem
diante deles mostrava.
— Não. — ela respondeu, balançando a cabeça. — Gosto que seja.
Albert se inclinou para frente, precisando prová-la, desejando-a com
uma necessidade que superava o nervosismo que, em geral, o acompanhava
sempre que falava com uma mulher. Com Victoria, conversa, silêncio, tudo
era mais fácil, e ele queria beijá-la de novo. Assim o quis desde que o beijo
anterior se findou.
V
CAPÍTULO QUINZE

ICTORIA SE LEVANTOU do sofá. O tomo que descreve


várias posições sexuais bateu no tapete Aubusson. Ela se
afastou de Albert e do livro, precisava de espaço.
— Devo voltar para o meu quarto. Nos veremos no café-da-manhã. Boa
noite, Albert.
Ele a olhava com tanto desejo, tal necessidade que ela sentiu-se apertar
por dentro, e com uma expectativa deliciosa. Enquanto estavam discutindo
o livro, seu corpo não era seu. Uma batida enlouquecedora entre suas
pernas a torturou, um desejo que ela nunca sentiu com Paul.
Ideias estranhas dele beijando-a no ápice de suas coxas, de ela o
segurando pelos cachos escuros enquanto ele lhe dava um prazer que não
diminuía.
Ele se levantou e se curvou.
— Boa noite, minha senhora. — ele se abaixou e pegou o livro, sempre
um cavalheiro. Não a pressionava pelo que ambos desejavam. Deus a
ajudasse, ela queria que ele a beijasse mais uma vez. Algo que era
demasiado desconcertante, já que ela estava determinada a continuar
sozinha pelo resto de sua vida. Aproveitar a herança, a viuvez, viajar e
viver.
Mas o que seria a vida sem prazer? — uma pequena voz provocou.
Ela fez uma rápida reverência e saiu da sala. Albert havia dito que uma
mulher pode se dar prazer. Ele estava correto? Paul nunca havia falado de
algo assim, mas quando se tratava do falecido marido, ele com frequência a
mantinha no escuro.
Victoria parecia não conseguir chegar ao quarto com rapidez o bastante
e trancou a porta ao chegar, para garantir privacidade. O que ele quis dizer
com tal afirmação? Ela nunca se viu muito interessada nela mesma, não
dessa forma, pelo menos.
Ela puxou a roupa de cama e subiu sob os lençóis, deitando-se e
olhando para o teto escuro. Mais pesquisas eram necessárias quanto ao
assunto antes que ela pudesse determinar se era verdade.

Na manhã seguinte, Victoria pediu um banho e mandou a criada descer para


passar o vestido pela segunda vez. Ela trancou a porta e pediu para não ser
incomodada, determinada a aprender mais sobre o próprio corpo, antes de
confrontar Albert acerca de sua reivindicação.
Entrou na banheira, suspirando ao sentir a água quente e perfumada.
Encontrando o pedaço de sabão, Victoria se lavou, ensaboando os seios.
Eram grandes, e ela não conseguia fechar as mãos em torno deles. Os
homens costumavam perceber o tamanho de seu busto, mas ela sempre
ignorou os olhares de admiração. Assim foi, até que Albert a olhasse. O que
havia no homem que fazia seu corpo questionar todas as escolhas que
fizera? Seus planos para o futuro.
Seu polegar e indicador deslizaram sobre os mamilos. Atingiram o pico
sob a água, e ela apertou um pouco, imaginando a mão de Albert tocando-a.
Calor lambeu entre suas pernas, e ela deitou a cabeça para trás, fechando os
olhos.
Apesar de todo o constrangimento, não havia ninguém presente na
biblioteca na noite anterior. Se ela não o conhecesse tão bem, ela o teria
considerado um libertino, tentando seduzi-la.
Ela deslizou uma das mãos pela barriga lisa, acalmando a necessidade
que latejava entre as pernas. A massa de cachos fez cócegas em seus dedos,
e ela se tocou ali. O que deveria fazer?
Victoria franziu a testa, colocando as mãos na borda da banheira e
batendo os dedos ao longo da lateral. Aborrecimento a percorreu por sentir
que precisava fazer algo, mas o quê? Todas as interações que teve com Paul
foram rápidas e no escuro. Muita respiração ofegante da parte dele, um ou
dois gemidos e tudo acabava. Ele decerto nunca a acariciou com as mãos,
ou com a boca, como o desenho retratava.
Terminando o banho, ela se levantou e se enxugou, deixando a criada
entrar para ajudá-la a se vestir. Ela escolheu um vestido leve de musselina
lilás antes de descer as escadas, determinada a encontrar Lorde Melvin e
discutir esse prazer que alguém poderia ter sem um companheiro de cama.
Se ela permanecesse solteira pelo resto de seus dias, ter satisfação seria
uma bênção que ela precisava ter.

ALBERT OUVIU os passos determinados de Victoria muito antes de


avistá-la. Seu coração tropeçou com a visão que ela representava, o vestido
lilás acentuando a forma deliciosa, perfeita para se acariciar e beijar. O
busto voluptuoso que ele queria para si, para sugar e festejar.
Como ela poderia querer permanecer solteira quando ele poderia tornar
a vida dela tão gratificante e agradável se ela se permitisse se apaixonar?
Colocar a confiança em outro, mas desta vez, em um cavalheiro genuíno
como ele.
Ele estava trabalhando em uma pequena sala, nos fundos da casa, que os
hóspedes, em geral, ignoravam. Foi o quarto de costura da mãe devido às
grandes janelas, mas agora ele o havia transformado em uma sala para
fumar, embora nunca tivesse participado dessas atividades. Preferia se
sentar e ler ou esboçar seus livros quando a musa o atacava.
Como aconteceu esta manhã após a noite passada com Victoria na
biblioteca. Seu próximo lançamento seria muito mais quente do que o
anterior, e sem dúvida, deixaria os corações das mulheres vibrando, e as
gravatas dos homens muito apertadas.
— Aqui está você. Estive o procurando por toda parte.
Ele sorriu para ela, gesticulando para que ela se sentasse.
— Bom dia, Victoria. Espero que tenha dormido bem.
Ela fechou a porta, o som do trinco alto no cômodo. O corpo dele ficou
tenso com a determinação escrita nas feições dela.
— Não, não dormi bem. Preciso saber que prazer é esse que você fala,
que uma mulher pode alcançar. Sei ser um tanto inapropriado, mas nada do
que tentei esta manhã me trouxe tal coisa. Paul com certeza não me
excitava de tal forma, então a ideia de se levar à satisfação é questionável.
Você deve me mostrar o que quer dizer.
Albert se engasgou com o chá que estava tomando. Ele tossiu,
curvando-se para frente para tentar recuperar o fôlego e os sentidos.
— Quer que eu faça o quê? — ele ofegou, tentando livrar os pulmões do
líquido intruso.
— Precisa me mostrar o prazer que posso ter sozinha. Tenho certeza de
que estou fazendo algo errado.
Ele sentiu a boca afrouxar enquanto o pênis se apertava.
— Sabe que não posso fazer isso.
— Não sei de nada disso. — disse ela, levantando uma sobrancelha
desafiadora. — Quero que me toque e me mostre. Não sou uma virgem,
nem uma debutante em sua primeira temporada, preciso lembrar a você.
Estou bastante determinada.
E frustrada se ele pudesse lê-la. Quanto ela se acariciou no andar de
cima para se colocar em tal estado? Para grande vergonha dele, ele havia se
tomado nas mãos quando chegou à cama, a imaginou em cima dele,
montando nele, tomando seu próprio prazer.
Ele jamais gozou tão rápido e tão forte na vida.
— E se formos pegos, aceitará as consequências de flertarmos um com
o outro? Significaria casamento, Victoria. Significaria que sua vida de
independência estaria terminada.
Ela caminhou para diante dele, debatendo as palavras ditas por ele por
vários momentos antes de se virar para olhá-lo.
— Estou disposta a assumir esse risco, e imagino que casamento com
você pode não ser tão chato se me permitir fazer o que eu quero.
Ele soltou uma risada, mas o tempo todo sabendo que ele faria o que ela
quisesse se significasse que poderia tê-la como esposa.
— Por onde deseja começar? — as palavras escaparam da boca dele.
Ele não poderia estar prestes a fazer isso. Era um comportamento
escandaloso.
Ela se aproximou dele, puxando-o da cadeira. Ele a observou, surpreso
por seu sangue acelerar só de estar ao lado dela.
— Por onde quiser, contanto que eu encontre a liberação.
Albert não conseguia acreditar no que ela dizia. Não poderia ser
verdade. A única mulher por quem ele ansiava, que queria na cama, que
queria como esposa, havia acabado de pedir que ele a levasse ao clímax.
Ele gostaria muito de saber com certeza como agir para realizar o desejo
dela, mas não era o caso. Nem poderia perguntar a seu amigo mais próximo,
pois era o irmão dela.
Dane-se tudo. Ele estava vivendo um pesadelo real, causado pela
própria inaptidão.
— Que tal começarmos do início? Temo que se fizermos muito, e cedo
demais, você pode fugir.
Ela balançou a cabeça, o queixo se erguendo em desafio.
— Nunca fugiria de algo que quero.
Albert engoliu em seco, pensando nos livros que havia lido. Beijar era
um bom começo, e os dois já se beijaram, provando-se ser um ato
agradável. Ele começaria por aí, para então prosseguir.
Ele roçou os lábios nos dela, e ela suspirou no abraço, suave e disposta.
A língua dela brincou com os lábios dele, e ele aprofundou o beijo,
enredando a própria língua na dela, gravando a sensação de tê-la, para
sempre em sua mente. As mãos dela o agarraram pelas lapelas, sem medo
do que estavam prestes a fazer, apenas paixão.
Eles decerto se uniam com uma facilidade extraordinária. Como ele
controlaria os próprios desejos se queria tudo o que havia nela? Casamento
e um futuro. Inferno, ele gostaria que fossem pegos se significasse que se
tornariam marido e mulher.
Qualquer pensamento racional se dissipou quando ele sentiu a mão dela
na dele, puxando-a da cintura e colocando-a nos lugares mais privados dela.
Albert sentiu-se enrijecer, interrompendo o beijo.
— Victoria, isso é demais. Cedo demais.
Ela balançou a cabeça. Os lábios dela estavam vermelhos e inchados
pelo beijo.
— Toque-me, Albert. Toque-me aqui, onde me dói. — ela sussurrou.
Nada mais era necessário. O apelo dela bastou, e ele se perdeu.
V
CAPÍTULO DEZESSEIS

ICTORIA NÃO TINHA CERTEZA do que havia acontecido


com ela, mas o que sabia era que queria Albert. Ela precisava
do toque dele, ansiava por essa liberação tão procurada que as imagens
provocavam. Se ela pudesse encontrar alívio, aprender a trazê-lo sozinha, a
vida seria muito mais doce.
Era escandaloso da parte dela. A mãe nunca a perdoaria se ela trouxesse
a desgraça sobre todas as suas cabeças, mas ela não conseguia reunir os
cuidados necessários para parar.
O beijo exigente de Albert roubou seu juízo. Ele era muito diferente de
como ela sempre o vira.
Em uma palavra, ele era… Delicioso.
Beijava como um homem faminto. Os pequenos murmúrios dele: de
prazer, de necessidade, estimularam-na a imitá-lo, retribuir o beijo com tudo
o que ele a fazia sentir.
E ela sentia bastante.
Seu corpo estava em chamas. Seu núcleo molhado e desejoso. Ela tirou
a mão dele da cintura dela e a pousou no seio. A sensação fez seus joelhos
tremerem e, antes que percebesse o que estava acontecendo, Albert a pegou
nos braços e se sentou em um sofá próximo, posicionando-a, com firmeza
sobre as pernas.
As línguas dos dois continuaram uma dança de desejo, procurando,
provocando. Os dedos dele correram ao longo da parte de cima do vestido
dela, provocando sua carne. Pequenos arrepios subiram pela pele dela antes
que ele mergulhasse um dedo sob o corpete.
Ela arfou, agarrando-se a ele enquanto a ponta de um dedo dele roçava
o mamilo dela: tenso e ansiosos por um toque. A sensação era maravilhosa,
e ela queria mais.
O termo ganância combinaria muito bem com ela agora.
— Isso é maravilhoso. — ela se apertou contra a mão dele, corajosa,
como um gato após um afago.
— Anseio por tocá-la. — ele beijou-a na bochecha, pelo queixo, antes
de descer pelo pescoço, e seguir para sugar o lóbulo da orelha. Fez cócegas
e ela riu, ondulando no colo dele.
— Mais, Albert. — ela admitiu, encontrando os olhos dele por uma
fração de segundo antes que ele baixasse a cabeça em seu pescoço, os
lábios dele enviando um arrepio de prazer pela espinha dela.
— Sei que sim. — ele deixou uma trilha de beijos acima do corpete, as
mãos nas costas dela, trabalhando os botões de seu vestido.
Em um ou dois minutos, o vestido se abriu na frente, e Albert
aproveitou a oportunidade para empurrar o corpete para baixo, expondo os
seios dela.
Calor beijou-a nas bochechas, embora quisesse que ele a visse. Queria
que ele beijasse onde um dedo acabara de provocá-la. Contudo, ela nunca
estivera com um homem com quem não fosse casada. Por mais libertadora e
assustadora que fosse essa verdade, ela não o impediu. Em vez disso, ela se
forçou a relaxar e aproveitar o que estava por vir.
Albert curvou-se sobre um seio, a língua movendo-se para provocar o
mamilo rosado e frisado. Victoria envolveu o rosto dele com as mãos,
mantendo-o cativo para que ele nunca parasse.
— Ah, sim, Albert. Mais…
A língua dele sacudiu a protuberância enrugada antes de a cobrir com a
boca e a sugasse. A sensação aumentou a necessidade entre suas pernas, e
ela mal reprimiu um gemido. Ela se contorceu no colo dele, enquanto a
boca dele se fechava e a provocava até que ela não aguentou mais.
— O outro, por favor. — ela implorou.
Ele a empurrou para baixo no sofá, cobrindo-a. Albert demorou pouco
para puxar o vestido até a cintura, expondo-a por completo.
— Já faz algum tempo que admiro seus seios. Poderia beijá-los para
sempre. — admitiu.
Victoria gostou da admiração, estendeu a mão e segurou o braço do
sofá, exibindo-se para ele com pouco embaraço.
Não havia tempo para constrangimento, não mais, não quando ela sabia
que ele conseguia fazê-la se sentir viva. Algo que ela não sentia há anos.
— Sou sua para fazer o que quiser. — ela declarou, a voz mais rouca do
que já ouvira.
Albert gemeu, aproximando-se dela. Os lábios dos dois se encontraram,
seguraram-se, e ele tomou sua boca em um beijo exigente e punitivo. As
línguas se entrelaçaram, dentes colidindo conforme o beijo se tornava
lascivo.
E então ele se afastou, a boca em seu segundo seio, e a mão livre
provocava e massageava o outro.
Victoria gemeu, seu corpo parecia alheio. Ele a provocou de uma forma
que ela jamais havia experimentado. Permanecia distante, perto, mas não
exatamente lá.
— Melvin? Você está aí? Estou procurando Victoria, mas não consigo
encontrá-la. Você a viu pela casa? — a maçaneta da porta sacudiu quando
Josh tentou a trava várias vezes. — Melvin? Você me ouve?
Ambos pararam ao som da voz do irmão dela. Albert moveu-se
primeiro, arrancando-a de cima e arrastando-a do sofá antes que ela pudesse
entender o que estava acontecendo.
— Vire-se. Seu vestido precisa ser corrigido. — ele sussurrou, virando-a
e puxando o vestido, seus dedos trabalhando loucamente nos botões.
— Não me demoro! — ele gritou para Josh.
Ele a virou de costas, encolhendo-se ao notar o cabelo dela. Victoria
estendeu a mão e percebeu que vários grampos haviam caído.
— Você precisa se esconder. — ele olhou em volta. Victoria também,
mas ela não conseguia ver nenhum lugar onde pudesse permanecer
escondida.
— Na janela, há uma pequena saliência. Sente-se ali, e eu a cobrirei
com a cortina.
Ela olhou para a janela. A saliência, se é que se podia chamá-la, era
extremamente estreita.
— Não creio que caibo ali.
Ele a conduziu até lá, prendendo o último de seus botões enquanto o
fazia.
— Caberá. — ele puxou a cortina para o lado, ajudando-a a se sentar no
recuo, antes de puxar a cortina para tapar o rosto dela, bloqueando sua visão
do cômodo.
Victoria soltou um suspiro irritado, tanto porque estava sendo
escondida, mas também porque quando ela entrou ali, ela precisava de
Albert. Agora que o irmão dela os interrompera, ela estava ainda mais
necessitada, pois não haviam terminado o que começaram.
Ela olhou para o vestido, corrigindo-o mais quando ouviu a fechadura
da porta ceder antes de ser aberta.
Victoria reconheceu os passos do irmão, prendendo a respiração
enquanto ele entrava e caminhava pela sala, seus passos chegando muito
perto da janela. Ela prendeu a respiração, esperando a qualquer momento
que a cortina fosse puxada de lado, o rosto desapontado do irmão a
encarando.
— Creio que vi Lady Victoria sair para os jardins depois do café-da-
manhã. Vamos lá fora para ver se ainda está aproveitando o ar fresco, ou
talvez descansando no terraço?
Para um homem que se orgulhava da própria honestidade e não havia
falsidades quando se tratava de Albert, ele decerto sabia mentir muito bem.
Se ela não soubesse a verdade, até ela teria acreditado em tais histórias. O
irmão dela não respondeu de imediato, mas continuou a andar pelo cômodo
com uma indiferença que fez as axilas dela ficarem úmidas. Ele suspeitava
que ela estava ali? Por isso ainda não tinha ido embora?
— O jardim, você disse? — Josh perguntou, os passos tornando-se
determinados mais uma vez, e se dirigiu para a porta. — Vamos buscá-la
então. Mamãe deseja partir logo para o piquenique.
— Claro. — disse Albert, fechando a porta e deixando-a sozinha.
Victoria mordeu o lábio, havia se esquecido que iriam dar um passeio de
carruagem antes do almoço para fazer um piquenique em algum lugar da
propriedade de Albert.
Passos recuando soaram pelo corredor, e Victoria aproveitou a
oportunidade para escapar: saiu pelos fundos da casa e usou as escadas de
serviço para alcançar o quarto dela, bem a tempo de a mãe chegar para
buscá-la.
— Ah, você voltou da sua caminhada. Muito bem, vamos? Creio que a
carruagem será trazida em breve.
Victoria pegou o gorro e o cardigã, renunciando ao xale, e seguiu a mãe.
Ela deu um suspiro de alívio enquanto desciam as escadas, para o foyer
quando seu irmão e Albert entraram pela porta da frente.
— Ah, aí está você, irmã. Eu a procurei por toda parte.
— Não muito bem. — disse a mãe, dando um sorriso caloroso para o
único filho. — Ela estava no quarto.
O irmão dela abriu a boca como se fosse dizer algo, mas pensou melhor,
estendendo o braço para acompanhá-las até a carruagem.
— Não devo ter procurado muito bem. Podemos? — ele perguntou
lançando um olhar penetrante à Victoria.
Ela não ousou olhar nos olhos do irmão, nem na direção de Lorde
Melvin por medo de se entregar.
Ela, no entanto, sentiu o calor do olhar de Albert queimando sua
espinha enquanto saíam para o veículo que os esperava.
Aquilo a queimava assim como o toque.
E
CAPÍTULO DEZESSETE

LES VIAJARAM por um quilômetro e meio propriedade adentro e


pararam no lado oposto do lago da propriedade Rosedale. Esta era
uma localidade pitoresca que garantia uma melhor visão das ruínas romanas
que ficavam na ilha à beira do lago.
Dois lacaios estavam ao lado de vários cobertores dispostos na grama
sob a sombra de um carvalho. O dia estava quente, com apenas um leve
vento. Enquanto caminhavam para os cobertores, Victoria sentiu-se grata
pela sombra que o velho carvalho proporcionava.
Albert e o irmão dela se engajaram uma longa conversa sobre Londres,
propriedades e as melhorias que ambos desejavam fazer nos próximos
meses longe da cidade. Não que Albert devesse ter problemas para
providenciar os reparos em sua propriedade ou nas fazendas dos inquilinos,
pois ele quase não saía de Hampshire. Um cavalheiro sempre estava
acessível a sua equipe e aos agricultores.
Victoria sentou-se em frente a Albert, o observando, e sabia que a mãe a
observava, mas não se importava mais. O homem a intrigava, e após os
beijos e carinhos de hoje cedo, ela percebeu que ele a fazia sentir-se viva
como nenhum outro antes dele.
Ela se voltou para o criado que abriu a porta da carruagem, ajudando-a a
descer. Caminharam até os cobertores e se sentaram, Victoria demorando a
arrumar o vestido. Outra coisa estranha para ela fazer. Nunca quis
impressionar nenhum cavalheiro, porém, mais uma vez, Lorde Melvin a fez
se aprumar.
Era um tanto ridículo, já que ela havia se prometido um futuro que não
incluía maridos. Sem gravatas ou crianças penduradas em suas saias.
Paul a vacinou quanto a esse absurdo, não importava o quão adorável
Lorde Melvin estivesse se revelando ser. Ou quão pecaminosos seus beijos
fossem.
Ela reprimiu um sorriso quando Albert veio e se sentou ao lado dela, o
calor e presença dele fazendo-a se sentir revirando por dentro. Ela
direcionou o olhar para ele, e o encontrou observando-a, um olhar quente
que a aquecia junto.
O irmão dela pigarreou, passando uma taça de champanhe para ela,
antes de se sentar com todos eles. Os criados passaram pratos de comida de
carnes frias e queijo, pão e tortas.
— Há um campo de morangos logo adiante, e um olival que minha mãe
plantou durante seus primeiros anos de casamento. Ela viajou para a Itália
quando criança e gostava das pequenas frutas. Podem explorar, se
desejarem.
A mãe estendeu a mão para o irmão.
— Ajude-me a ficar de pé, meu querido. Eu gostaria de ver os olivais.
Sempre ouvi sua mãe falar deles em bailes e festas, e há muito tempo quero
ver como são.
Albert riu, o som profundo e grave. Ele sempre soou tão bonito? Uma
voz poderia ser denominada dessa forma? Após hoje, Victoria precisava
admitir ser possível.
— Gostariam de se juntar a nós? — Josh perguntou.
Victoria balançou a cabeça, colocando outra torta de limão na boca.
— Não, prefiro ficar aqui na sombra. Continuem. Vamos observá-los
daqui.
Josh olhou para Albert, estreitando um pouco os olhos antes de se virar
e acompanhar a mãe em direção às oliveiras. Era um aviso o que passou
entre seu irmão e Albert? Talvez Josh tivesse suspeitado dela na sala de
fumantes hoje cedo, afinal. Ela se assustou quando sentiu a mão de Albert
cobrir a dela, entrelaçando seus dedos.
— Lamento não termos conseguido terminar o que começamos. — os
olhos azul-escuros dele fixaram-se nos dela, e ela foi incapaz de desviar.
No entanto, deveria negá-lo a si, sendo ele tão desejável? Essa era uma
complicação que ela não havia planejado para a vida. Desejava continuar
como viúva, jamais como esposa, e sabia que Albert não toleraria serem
amantes.
— Desejo ficar a sós com você. — ele sussurrou.
Victoria respirou fundo para se acalmar. A memória das mãos dele, do
que ele fazia antes de serem interrompidos, zombava de sua necessidade.
Havia, com certeza, algo de errado dentro dela. Ela não poderia se tornar
uma devassa. Apenas mulheres da noite agiam assim, mas aqui estava ela, a
filha de um duque e não conseguia pensar em nada além de ter a boca
esperta de Lorde Melvin em seus seios, beijando e acariciando sua carne
dolorida.
— Hoje à noite, onde devemos nos encontrar?
Ela moveu a mão dele para ocultá-la sob as saias, olhou para trás para
ver onde os lacaios estavam, feliz em ver que estavam perto da carruagem
fazendo seu repasto de almoço.
Os olhos dele escureceram, o músculo da mandíbula tenso quando ela
deslizou a mão dele pela perna dela até o núcleo dolorido, empurrando-a
contra ela. O vestido dela escondia a maior parte do que estavam fazendo,
mas não conseguia esconder seu rosto, nem o de Albert. A respiração
irregular de ambos, a necessidade que brilhava nos olhos dele, uma que ela
sabia mostrar nos próprios olhos também.
Ele investiu nela, e ela arfou, fechando os olhos. Seu corpo doía,
latejava, ela faria qualquer coisa para ficar a sós com ele. Estava animada
para ver o que mais fariam quando assim estivessem. Ela desejava ficar
longe de olhos curiosos para que ele pudesse dar o que ela queria.
— Ó. — ela arfou.
Ele a provocava com um movimento circular. Ela ansiava por se deitar
nos cobertores, se abrir para ele, deixá-lo fazer com ela o que quisesse.
Então era isso que ela deveria estar fazendo com a mão na banheira…
Quão pecaminoso e maravilhoso seria quando pudessem terminar o
interlúdio.

ALBERT NÃO CONSEGUIA PARAR, nem afastar a mão da fenda dela.


Droga. Ele decerto iria para o inferno por tocar uma lady dessa maneira, a
irmã de seu amigo. O duque iria desafiá-lo, e com razão caso os flagrasse.
Eles estavam caminhando em uma linha tênue de escândalo e desejo. Ele
observou Victoria com algo semelhante a temor. Ela era tão linda, tão
inocente e totalmente imprudente. Ele sempre soube haver um pouco de
rebelião no sangue dela, mas isso… Pegar a mão dele e colocá-la contra seu
sexo o derrubou.
Ela o enfeitiçou por completo, e ele a queria.
Pode ser virgem, mas ao estar perto dela, ele começou a pensar que
fazer sexo, ter prazer um com o outro não seria tão difícil afinal. Era mais
natural do que antinatural, ainda mais quando com uma mulher que ele
desejava mais do que qualquer outra pessoa no mundo.
O som do duque rindo no olival o trouxe de volta aos sentidos, e ele se
afastou, colocando as mãos em punhos no colo. Não apenas para mantê-los
longe da pessoa dela, mas para impedir que alguém notasse seu pênis ereto
digladiando contra as calças.
— Encontre-me na sala para fumantes esta noite, como fez hoje. — foi
tudo o que ele disse quando a mãe de Victoria, a duquesa e o irmão dela se
juntaram a eles.
Felizmente, não voltaram para a carruagem por algum tempo, satisfeitos
por terminar o almoço e as duas garrafas de champanhe que a cozinheira
resfriou e embalou para eles. Victoria levantou-se e, pegando no braço da
mãe, caminhou pelo gramado, indo conhecer, ela mesma, o olival.
Josh estudou o champanhe em sua mão, uma carranca interrogativa na
testa. Albert controlou o semblante, esperando não deixar transparecer estar
ultrapassando os limites com a irmã dele. O que ele decerto estava fazendo.
E esta noite, iria ainda mais longe.
— Como está progredindo seu namoro com Victoria? Parece que ela
gosta mais da sua companhia do que da maioria. Ora, antes de eu deixar
Londres, quando o namoro com Armstrong havia acabado de começar, ela
nunca demonstrou muita emoção com o sujeito. — o duque deitou-se na
manta, observando a irmã e sua mãe passearem. — Com você ela é toda
sorrisos e risos. Uma pena que Armstrong não foi capaz de manter o pênis
nas próprias calças. Que joia ele perdeu no dia em que ultrapassou os
limites.
Ser filha de um duque e ser trocada por uma criada não é algo que se faz
com alguém tão alto na hierarquia. Victoria não merecia tal tratamento.
Ninguém merece.
— Ela me vê como um projeto, creio eu, mais do que um possível
marido. Continuarei a tentar dissuadi-la desse ideal nas próximas semanas.
— Contanto que sua persuasão seja casta, desejo-lhe boa sorte em seus
esforços. No entanto, não permitirei que a use para seus próprios erros,
Melvin. Victoria é minha irmã, e eu vou protegê-la dos outros a qualquer
custo.
Albert engoliu em seco.
Amigo ou não, o duque não ficaria bem se descobrisse o que eles já
haviam feito durante a “tutoria”. A situação não era um jogo para ele,
porém, para Victoria, ele não tinha tanta certeza. Para ela, ele acreditava que
ela ainda o via como uma fonte de diversão, um cavalheiro para ajudá-la a
obter desejos e vontades, e nada mais.
Mesmo sabendo disso, ele queria que ela tivesse sentimentos por ele,
tanto físicos quanto emocionais. Ela era uma mulher forte e independente e
seria uma dama que seria um prêmio valioso a se ter se ele assegurasse seu
coração.
— Minhas intenções são honrosas, eu prometo, Vossa Graça. — disse
ele, sendo sincero em cada palavra.
Quanto às intenções de Victoria, ainda eram incertas a esta altura.
Contudo, o tempo diria, e ele terminaria por ter ao lado dele a mulher que
adorava, ou ostentaria um coração partido que temia nunca se curaria.
V
CAPÍTULO DEZOITO

ICTORIA BANHOU-SE e vestiu-se para dormir mais tarde


naquela noite, desejando boa noite à mãe e ao irmão antes de se
trancar no quarto. Ela havia corrido um risco bobo esta tarde no piquenique.
Quando refletiu acerca do que fizera, ainda não conseguia acreditar que
pegara a mão de Albert e o levara a tocá-la. Não em qualquer lugar de seu
corpo, mas entre suas pernas.
Ela desabou no sofá diante da lareira do quarto e encarou as chamas
lambendo a madeira. Era tudo culpa de Lorde Melvin quando ela parou para
pensar no assunto com mais cuidado. Ele a deixara em um estado de
necessidade, mais do que quando se encontrou com ele naquela tal sala de
fumantes.
Quando não conseguiu encontrar este pináculo sozinha, bem, ela teve
pouca escolha a não ser fazer com que ele o encontrasse por ela.
Ela franziu os lábios, perguntando-se se era tarde o bastante, se sua
família já estaria dormindo. Josh partiu para a cidade nos arredores para
conhecer a taverna e tentou persuadir Albert a se juntar a ele. Felizmente, o
marquês se esquivou, afirmando precisar pôr em dia a papelada, mas
desejou uma boa noite ao irmão dela.
Victoria se levantou e foi até a porta, a impaciência incomodando-a.
Vestiu um roupão e os chinelos e abriu um pouco a porta. O corredor estava
escuro. Nenhuma vela acesa em nenhum dos castiçais ou candelabros.
Apenas uma pequena luz bruxuleante era lançada de debaixo da porta de
seu irmão. Victoria percorreu a casa, a memória guiando-a desta vez até
chegar à porta da sala de fumantes. Verificando mais uma vez se estava
sozinha, vasculhou de cima a baixo no corredor e não viu ninguém. Com
uma entrada furtiva no cômodo, ela fechou a porta depressa e nada
encontrou. Nem mesmo Albert.
Ela franziu a testa.
Onde ele estava? Não havia fogo na lareira, e o cômodo estava escuro,
exceto por um pequeno luar entrando pelas janelas.
Victoria chamou por Albert, ou sussurrou para ser mais exato, mas não
houve resposta.
Ele havia renegado seu próprio plano e decidido não vir ao encontro
dela?
Ela bufou, refazendo seus passos até o quarto, não encontrou ninguém
no caminho. Para onde ele desaparecera? A decepção apunhalou-a enquanto
subia na cama. Lorde Melvin precisaria de um bom motivo para a deixar a
ver navios, no entanto, de alguma forma, ela sabia que ele não teria. Sem
dúvida, o irmão dela o persuadiu a ir à taverna. A ideia de ele estar naquele
lugar, rodeado por mulheres procurando um pouco de diversão junto a um
lorde, a deixou inquieta. Ela encarou a escuridão de seu quarto, atenta ao
retorno deles, para o som de cavalos, qualquer coisa para ela poder usar
para confrontá-lo acerca de seu paradeiro.
No que ela estava pensando! Ele não era seu marido. Não devia nada a
ela. Ainda assim, ela levou várias horas para adormecer.

ALBERT ESTAVA BÊBADO. O salão da taverna, fedorento de fumaça,


suor e da podridão da cerveja rançosa, rasgava o ar e, ainda assim, não era
tão terrível quanto ele pensava que uma noite fora em uma taverna seria.
Vários senhores proprietários de terras juntaram-se a ele e ao duque,
bebendo, alguns se engalfinhando noite adentro no andar de cima. Por mais
ou menos uma hora, Albert perdeu Josh de vista, mas logo ele voltou, com a
gravata menos ajustada, e os cabelos bagunçados.
O duque afundou na cadeira ao lado dele, sorrindo de orelha a orelha.
— Adorável companhia aqui. Estou surpreso por você não passar por
essas portas com mais frequência.
Com mais frequência?
Albert nunca pisara no local. Ele estar perdendo seu encontro com
Victoria porque o irmão dela não aceitaria um não como resposta também
não ajudava seu humor.
Mesmo assim, a cerveja era refrescante, a companhia divertida, e se
sentar e assistir às pessoas se divertindo fora bem agradável. Como escritor,
captar as nuances e maneirismos das pessoas sempre era útil.
— Olhe, aquela mulher ali. Ela o está observando com atenção. — disse
o duque, bebendo da cerveja e sorrindo.
Albert balançou a cabeça, não tendo nenhum interesse na senhora.
— Se eu quiser ganhar a mão de sua irmã, deve saber que ela não
aprovaria nem minha presença aqui, nem que eu dormi com qualquer uma
dessas mulheres que se vendem esta noite. Pensei que saberia melhor, Vossa
Graça.
O duque riu, recostando-se na cadeira.
— Ah, sei que não, porém, e quando há diversão à espreita? Não está
casado ainda. Que mal faria?
Albert não gostou dessa conversa, nem da ideia de tocar outra mulher,
não quando ele queria Victoria mais que tudo.
— Estou contente em beber cerveja com você, meu amigo, mas é tudo.
Não espalharei minha semente aqui esta noite.
O duque o observou por um momento antes de dar um tapinha nas
costas do amigo.
— É muito bom então, meu amigo. Fico feliz que permaneça fiel ao seu
objetivo, sendo minha irmã. Gosto de você ainda mais agora do que antes.
— Estava me testando? — perguntou ele, sem ter certeza se gostava de
ser testado. A sala girou, e ele agarrou a mesa para se equilibrar.
— Sim, mas você passou. Agora, outra bebida? — perguntou o duque,
ao ordenar mais cerveja.
Albert tentou dissuadir Sua Graça da ideia de mais álcool, mas,
convenhamos, era uma bebida muito boa, então por que não?

VICTORIA ACORDOU com o som de portas se abrindo antes de fechar


com o mesmo barulho. Foi verificar no corredor, seus olhos se arregalando
com a visão que a contemplava.
Seu irmão não estava à vista, mas Lorde Melvin estava parado diante de
sua porta, os olhos vítreos e desfocados, o corpo fedendo a cerveja e
fumaça.
— Senti sua falta esta noite. — disse ele, mais alto do que deveria.
Ela o silenciou, puxando-o para dentro do quarto dela, fechando e
trancando a porta atrás dele.
— Fique quieto. Acordará a mamãe.
Ele tropeçou até a cama, deitando-se com um “humpft”. Victoria não
sabia bem o que deveria fazer. Deveria chamar sua criada? Ou tentar
carregá-lo de volta ao quarto dele sem que ninguém visse?
Por mais que ela quisesse que ele a tocasse, não queria ser esposa de
ninguém. Não importa o quanto ser esposa de Lorde Melvin estivesse se
tornando mais e mais atraente a cada dia. Ele era gentil e doce. Como o
coração de alguém poderia permanecer imune a tal cavalheiro?
Ele a encarava com olhos que lutavam para permanecer abertos.
— Senti sua falta esta noite.
Victoria cruzou os braços, mantendo uma boa distância dele.
— É, eu sei. Encontrei a sala de fumantes vazia quando desci lá, e você
não podia ser encontrado em lugar nenhum. — disse ela com sarcasmo. —
Entretanto, posso ver o que andou fazendo esta noite. Espero que tenha
gostado, meu senhor.
Ele gemeu, lutando para se sentar. Quando enfim conseguiu, estendeu a
mão para ela, mas ela disparou para fora de seu alcance.
— Não fique com raiva, Victoria. Eu quis ficar em casa. Seu irmão não
aceitou um não como resposta.
Tudo compreensível, e Josh tendia a conseguir o que queria quando
estava focado em algo.
— Bem, tenho certeza de que as mulheres da taverna eram muito mais
habilidosas do que eu. Não o culpo por sair. Afinal de contas, é um homem,
e homens quase nunca agem de forma que se justifique um comportamento
cavalheiresco. Meu falecido marido não foi exceção. Você não parece
diferente.
Ele bateu a mão no coração.
— Você me magoa, minha querida Victoria. Não dormi com ninguém.
Inferno — ele murmurou, caindo de volta na cama. — Nunca dormi com
ninguém, e não começarei com uma prostituta exercendo seu ofício.
As palavras a confortaram e a fizeram gostar dele ainda mais.
— Deveria sair do meu quarto antes que seja pego aqui sozinho comigo.
Ele tapou os olhos com os braços, gemendo.
— Ó, sim, é melhor não ser pega comigo, ou será obrigada a se casar
comigo, e que terrível desastre seria. — ele se sentou, apoiando-se nos
joelhos. — Se eu a tivesse em minha cama todas as noites, Lady Victoria,
deixe-me a assegurar, seria tudo menos terrível.
Um arrepio percorreu a espinha dela antes as palavras dele, inebriantes
como eram. O olhar dele queimou a camisola dela, de cima a baixo, e ela
cobriu os seios, percebendo que não estava usando um roupão.
— Precisa ir agora, Albert. — sussurrou ela, com um último apelo para
que ele fizesse o que ela pedia antes que fosse tarde demais.
A
CAPÍTULO DEZENOVE

LBERT NÃO SABIA DIZER por que estava no quarto de Victoria,


mas o que sabia era que o cômodo estava girando em um ritmo
alarmante, e ele deveria ir embora. Ele estava embriagado, fedia, até ele
podia sentir o cheiro das roupas que usava, mas não conseguia reunir forças
para se levantar e sair como Victoria pediu.
Em vez disso, ela continuou falando, e ele respondendo da maneira mais
inadequada. O álcool não era um bom componente para uma conversa
apropriada. Era o que parecia.
Ela apertou a mão dele, puxando-o. Ele a puxou para perto, e ela caiu
sobre ele. Seu pênis se contraiu, a respiração em seus pulmões pareceu
rarear. Inferno, ela era bonita, tão doce que fazia o queixo dele doer.
Ele estendeu a mão, deslizando os cachos dourados dela para trás de
uma orelha, precisava ver aquele rosto.
— Você é tão linda, Victoria. Sabe o quão bonita você é para mim?
Ela mordeu o lábio, balançando a cabeça.
— Você está bêbado, Albert. Pode ao menos enxergar direito, meu
senhor?
— Não me chame de “meu senhor”. Sou Albert para você. Sempre
Albert. — ele se inclinou, fechando o pequeno espaço entre eles, e a beijou.
Ela o encontrou no meio do caminho, suas bocas se fundindo, se
separando um do outro em um beijo que roubou o pouco de juízo que
restava nele. Que, em seu estado atual, não era muito.
Ela ondulou em cima dele, as pernas dela deslizando nos quadris dele, e
ele baixou a mão, apertando-a contra o pênis dolorido. A bunda dela era
firme e pequena e o deixou duro de uma só vez. Ela arfou com o beijo,
gemeu o nome dele.
Em seguida, ela se moveu e girou os quadris sobre o pênis dele, as
calças de pele de gamo que ele usava. A fina camisola branca não
representava uma barreira para as necessidades de ambos. Ele a manteve
ali, ajudando-a a provocar os dois.
O pênis dele doía, tenso contra os botões. Ele queria se libertar, tomá-la,
levá-los a alturas ainda a serem exploradas, mas não podia. Decerto, não
esta noite. Ele era um bêbado idiota, quase incapaz de caminhar sozinho, no
quarto dela. Ele não se rebaixaria tanto a ponto de tomá-la aqui, assim.
— Ó. — ela suspirou contra os lábios dele. — Albert. A sensação…
Ele deslizou contra o núcleo dela, o calor entre seus corpos, escaldante.
— É uma sensação boa. — ele murmurou, lutando contra o desejo de
gozar.
— Você está tão duro, e ah… anseio por você. Diga-me, é isso o que
acontece quando se tem prazer sem relação sexual?
— Sim. — ele sussurrou, rolando para se acomodar entre as pernas dela.
— Prometo não a penetrar, mas preciso estar mais perto.
Ela assentiu, dando permissão, e ele puxou a camisola dela, expondo
seu monte. Ela brilhava de desejo, o cheiro de necessidade preenchendo as
narinas dele. Como a imagem no livro, ele queria colocar os lábios contra a
carne, beijá-la, provocar sua doce protuberância com a língua até ela gritar
o nome dele.
Ela tentou empurrar a roupa para baixo. As bochechas dela adquiriram
um tom rosado.
— Não se envergonhe. Você é linda para mim. Toda você.
Albert se inclinou, beijando-a, de maneira profunda e longa, até que a
sentiu relaxar sob ele. Ele interrompeu o beijo, ajoelhando-se entre as
pernas dela, e abriu os botões de suas calças. Seu pênis saltou livre, grosso e
longo, e os olhos dela se arregalaram.
No entanto, a corajosa e curiosa Victoria que ele adorava estendeu a
mão e deslizou o dedo ao longo do comprimento dele. Albert engoliu um
xingamento, desejando que o dedo fosse a mão dela, enrolada em torno
dele, puxando-o para a liberação.
Ele fechou os olhos, deleitando-se com o toque dela. Não, ele desejou
que fosse a boca, sugando-o, levando-o fundo na garganta.
Ele gemeu.
— Permita-me dar prazer a você. — ele implorou, sem saber o que faria
se ela dissesse não.
Ela se deitou e o deixou fazer o que quisesse.
— Confio em você. — disse ela, seus olhos queimando como piscinas
de necessidade observando cada movimento seu.
Albert guiou o pênis contra o calor dela. Era tão bom, bom demais para
ser ruim, mesmo que escandaloso. Ele deslizou contra ela, provocando a
protuberância inchada até que ambos estivessem respirando com
dificuldade, as pernas de Victoria enroladas na cintura dele, os braços o
mantendo perto enquanto ele a beijava, a provocava. Ele queria que ela
gozasse, planasse sob seu toque.
Ela gemeu, ofegando e empurrando, esticando-se e ondulando contra ele
com ferocidade crescente. A sensação dela contra ele, molhada e devassa, o
enviou em uma espiral.
Ele estava tão perto. Apenas mais algumas passadas, e ele se desfaria.
— Albert. — ela arfou, seus olhos se arregalando, maravilha cruzando
suas feições quando ela atingiu o clímax. Os dedos dela deslizaram nas
costas dele, as unhas arranhando a pele.
Ele gemeu e se juntou a ela, derramando sua semente sobre monte e
estômago dela. Um tanto quanto grosseiro, mas ele não se importava. Eles
encontraram a liberação, juntos, e não havia nada mais maravilhoso.
Ficaram assim por um tempo. Ambos se perderam na euforia do que
haviam feito antes que ele rolasse e caísse ao lado dela. Sem instigar, ela se
virou de lado, olhando para ele.
— Foi totalmente inesperado. Não fazia ideia de que isso era possível.
Pode me achar ingênua, mas Paul nunca fez nada parecido em nosso quarto.
Quando ele se preocupava em estar lá.
Albert odiava o desgraçado ainda mais por como tratou Victoria. Ele a
puxou para mais perto.
Ele também não sabia que poderia ser assim. Das vezes que se
masturbou, nunca se sentiu tão bem como agora pouco com Victoria.
Apenas pensar nela já fazia seu pau estremecer, e ele a queria de novo.
Ele sorriu, encontrando o olhar maravilhado dela.
— Nunca me senti assim também. É melhor que se cuide, minha
senhora, ou ficarei viciado em você e não haverá como escapar de mim
então.
Ela riu, espreguiçando-se na cama.
— É você, Lorde Melvin, que deve ter cuidado, ou eu o farei meu
senhor.
Ele soltou uma risada e, ainda assim, ante tais palavras, um pouco de
esperança cresceu dentro dele. Como ela conseguia compartilhar o corpo
com ele, com tanta intimidade, e ainda vê-lo sem qualquer conexão
emocional? Ele decerto queria mais do que quer que estivessem fazendo,
ensinando-o a ser um bom marido. Ele não queria ser um bom marido para
ninguém, a menos que essa pessoa fosse Victoria.
— É você quem deve ter cuidado, ou se tornará minha esposa. — um
pequeno grunhido de satisfação gritou na mente dele quanto ela fez uma
pausa ante as palavras dele.
Ele não consideraria esta noite uma ação equivocada e de todo
repreensível de sua parte, mas sim um passo para fazê-la ver que
combinavam como luvas. Talvez, ela ainda não percebesse, mas veria. Ele
ainda ganharia sua Victoria, e esta noite fora o primeiro trampolim oficial
ao longo desse caminho.
NA MANHÃ SEGUINTE, Victoria sentou-se à mesa para o café-da-manhã
e lutou para não pensar no que o marquês, que estava sentado à cabeceira da
mesa comendo bacon, ovos, seu café preto fumegante ao lado, fizera com
ela.
O que fizeram juntos, na noite anterior, no quarto dela.
Ela sentiu um nó se formar por dentro, pela memória de sua libertação.
O tempo que passara com Paul havia sido bem diferente. A intensidade foi
maior com Albert, até o mero pensar nisso a fazia se contorcer. Seu corpo
se libertou naquele momento. Ela se tornou uma mulher livre de restrições,
de deveres de esposa. Foi apenas uma mulher encontrando prazer com um
homem, e foi Lorde Melvin quem a levou até lá.
Ela mexeu o chá, perguntando-se como poderiam prosseguir após tal
evento, como ela iria orientá-lo na busca de uma esposa em vez de
encontrar um quarto vago na casa e persuadi-lo a fazer amor com ela.
— Querida, creio que seu chá já está bom. — disse a mãe, tirando-a de
seus pensamentos.
Ela deixou cair a colher que bateu no pequeno prato em que a xícara
estava.
Calor subiu por seu pescoço, e ela olhou para onde Albert estava
sentado e, para enlouquecê-la, o encontrou com o rosto no jornal, ignorando
a comoção que ela havia causado.
— Perdão. — disse ela sob o olhar atento do irmão. Victoria pegou o
chá e tomou um gole, um sorriso agradável nos lábios. — O que faremos
hoje? Será que devemos ir à cidade dar uma olhada nas lojas?
— Parece uma ideia adorável, minha querida. Mandarei prepararem
nossa carruagem assim que terminarmos o café.
— Posso me juntar a vocês? — Albert perguntou ao dobrar o jornal e
deixá-lo sobre a mesa. — Sinto como se não tivesse saído de casa há muito
tempo.
— Mesmo? — Victoria perguntou com doçura. — Pensei ter saído com
meu irmão ontem à noite.
A mãe dela lançou um olhar curioso para Josh, antes de se virar para
Lorde Melvin.
— Meu filho o carregou para fora de casa ontem à noite, Lorde Melvin?
Espero que ele não tenha sido uma má influência. — ela provocou.
Josh bufou, ultrajado.
— Jamais seria má influência para meu amigo mais antigo. Tomamos
uma cerveja na taverna local, foi uma noite agradável em termos gerais.
— Foi mesmo. — Albert disse, o olhar dele prendendo-a por um
instante.
Desejo, quente e sem sentido, a atravessou, e ela desejou que estivessem
sozinhos. Victoria engoliu em seco, controlando as próprias feições.
— Estaremos em busca de uma modista, meu senhor. Tem certeza de
que gostaria de nos acompanhar nesta busca?
Os lábios de Albert se contraíram.
— Eu as acompanharei, mesmo que para ser apenas companhia, como é
meu dever de anfitrião. No entanto, eu as deixarei sozinhas na modista.
— Será que encontraremos vestidos adequados para o baile campestre,
mamãe? Não quero parecer enfeitada demais para o ambiente.
A mãe ergueu a sobrancelha.
— Mesmo, Victoria? Seus vestidos são adoráveis e novos. Mesmo que
estejamos indo dar um passeio, não vejo como pode precisar de um guarda-
roupa novo.
Victoria olhou pela janela da sala de café-da-manhã. Ela não estava
procurando um novo guarda-roupa, apenas um vestido que fosse menos
opulento do que os que ela possuía. Ela se destacaria em meio aos
habitantes da cidade e da pequena nobreza local e, por mais que adorasse a
família, às vezes se misturar ajudava um pouco. Tornava a noite muito mais
agradável, e ela queria estar acessível para as noivas em potencial de Lorde
Melvin. Se ficassem com medo de falar com ela, ela não poderia examiná-
las para a posição de esposa dele.
A
CAPÍTULO VINTE

LBERT CUMPRIMENTOU alguns dos habitantes da cidade que


lhe desejaram um bom dia enquanto ele passeava diante da janela
da modista, à espera de Victoria e a duquesa.
O cavalariço segurava os cavalos enquanto o cocheiro ainda se sentava
na baia, esperando por todos com muita paciência. Ele não era tão paciente.
Precisava falar com Victoria, e ficar a sós com ela, caso fosse possível fazê-
lo antes de morrer. Ele quase não fez mais nada além de pensar nela, e esta
noite ele precisaria se esforçar para cavalgar até o chalé de caça e escrever
algumas palavras de seu próximo manuscrito. A musa estava bem viva em
sua mente, Victoria dava-lhe muitas ideias e material para o enredo que
colocaria no papel. Também ajudaria a manter as mãos longe da pessoa em
si, o que ele tendia a fazer em qualquer oportunidade que surgia.
Ele começou a voltar pelo caminho de seixos antes das lojas e gemeu
por dentro quando avistou a Srta. Nancy Eberhardt, filha única e herdeira de
um cavalheiro local, cuja mãe faleceu durante o nascimento. A jovem era
bonita e doce, todos os elementos que um cavalheiro desejaria em uma
esposa, mas para a infelicidade de Nancy, ele nunca teve olhos para ela.
A única mulher que ele notara estava, neste exato segundo, examinando
luvas colocadas próximo das janelas da modista.
A srta. Eberhardt o avistou e sorriu com afeição. Ele fez uma curta
reverência quando ela parou diante dele, o sorriso largo e olhos brilhantes o
colocando em guarda. A criada dela, uma criaturinha doentia, recuou,
recatada e quieta como sempre.
— Lorde Melvin, que maravilhoso vê-lo por aqui. Outro dia eu estava
dizendo a papai que os moradores da cidade não veem você o suficiente. O
que o traz aqui hoje? Para ser honesta, parece estar vagando.
Ela riu.
Ele sorriu, apontando para a loja.
— Estou apenas acompanhando minhas hóspedes à modista.
O rosto da Srta. Eberhardt perdeu um pouco do brilho ao ouvi-lo.
— Ó, você tem hóspedes? Eu os conheço?
Albert não sabia se ela conhecia Victoria ou se era associada ao duque
de Penworth.
— Meu bom amigo, o duque de Penworth está me visitando na
companhia da irmã e mãe.
— Lady Victoria está aqui? — ela sorriu, olhando para as vitrines.
Albert fez o mesmo e não podia mais ver Victoria.
— Ela está, sim.
A Srta. Eberhardt bateu palmas com as mãos enluvadas, o sorriso de
volta ao rosto bonito.
— Eu adoraria encontrá-la. Como sabe, papai adoeceu nas últimas
semanas da temporada e precisamos voltar para casa mais cedo. Não a pude
rever antes de partirmos.
— Não sabia disso. Espero que o Sr. Eberhardt esteja melhor agora. —
perguntou ele, gostava do cavalheiro idoso, de conversa franca e sem tempo
para bobagens, semelhante a si nesse aspecto.
— Ele está muito melhor, obrigada.
Só então, a porta da modista se abriu, e Victoria saiu. A atenção dela
deslizou dele para a Srta. Eberhardt.
— Nancy? — ela perguntou. — Não sabia morar em Camberley. Como
eu não sabia? Victoria disse, puxando a Srta. Eberhardt para um abraço
rápido.
Albert observou com interesse, sem saber que as duas damas eram
conhecidas e pareciam ser amigas íntimas.
— Estamos a menos de um quilômetro daqui e da propriedade de Lorde
Melvin. Não sabia estar hospedada nas proximidades, ou a teria visitado. —
a Srta. Eberhardt pegou a mão de Victoria, apertando-a. — Como está?
Sinto que temos muito para colocar em dia.
Victoria riu, os olhos brilhando de prazer.
— Estou muito bem, e ainda mais feliz por reencontrá-la.
— Vejo que está visitando nossa modista local. — afirmou a Srta.
Eberhardt. — Conseguiu comprar algo na loja de seu gosto?
— Um vestido para o baile campestre. Você comparecerá?
Os olhos da srta. Eberhardt brilharam, e ela quase saltou onde estava.
— Sim. Que maravilha que você estará lá. Poderemos colocar a
conversa em dia.
— É mais do que bem-vinda a me visitar em Rosedale. Eu ficaria feliz
com uma companhia feminina diferente de mamãe.
Albert sorriu ante a provocação. Como ele a admirava. Ela era tão
amigável e calorosa, tão diferente de outras damas que ele conhecia, e de
posição inferior, quando falava com outras pessoas. E a Srta. Eberhardt, não
importa quão rica fosse, não trazia nobreza alguma na família, nenhum
título ou ligações elevadas, e ainda assim, Victoria a tratava como uma
igual. Uma amiga.
Ele estava maravilhado com ela. Admirava-a ainda mais por seu calor e
bom coração.
— Se estiver de acordo, meu senhor. — ela o consultou.
Albert sorriu para as duas, sabendo que faria qualquer coisa que
deixasse Victoria feliz.
— Claro, é bem-vinda para nos visitar.
— Obrigada, meu senhor. — a Srta. Eberhardt o observou por mais
tempo do que ele consideraria apropriado antes de voltar-se para Victoria.
Ele esperava que ela não tivesse projetos românticos para ele. Por mais
que gostasse da jovem, ela nunca mexeu com ele. Ele sempre a viu como
uma conhecida afável, mas não para ele.
— Ficaremos em casa depois de amanhã, se quiser almoçar conosco. —
ele ofereceu.
— Eu gostaria muito. — a atenção da srta. Eberhardt passou por ele, e
ele se virou para ver o pai dela esperando em uma carruagem. Albert deu
um aceno breve para o cavalheiro.
— Devo ir, mas estarei em Rosedale depois de amanhã.
— Foi ótimo revê-la, Nancy. — Victoria disse, sinceridade ecoando em
suas palavras.
— E eu a você. Os dois. — disse a Srta. Eberhardt, lançando um último
sorriso para Albert antes de partir.
Ele ignorou o olhar de Victoria, e o sorriso conhecedor naqueles lábios,
que ele pôde discernir pelo canto do olho. Abriu a porta da carruagem,
ajudando-a a se levantar, Logo a seguiu, sentando-se ao lado dela.
— Está muito bonita hoje. Senti sua falta. — disse ele, pegando-a pela
mão.
Os dedos dela se entrelaçaram aos dele, os olhos escurecendo com uma
necessidade que ele também sentia. Seria sempre essa loucura, esse desejo
inegável que chiava entre eles? Se estivessem sozinhos, se a mãe dela não
estivesse na loja, a meros metros deles, ele ficaria tentado a puxá-la para um
abraço e um beijo profundo.
— Pensei que não se lembraria da noite passada. Não estava em um
estado passível de reter uma memória tão clara.
— Talvez eu estivesse bêbado. — ele pegou a mão dela e beijou os
dedos enluvados. — No entanto, eu me lembro de tudo o que fizemos.
— Mesmo? — ela provocou, franzindo os lábios. — O que fizemos?
Pode me lembrar?
Ele ignorou a necessidade que correu selvagem e quente em seu sangue
ante as palavras dela. Memórias dela gritando enquanto ele a fazia gozar,
enquanto seu pênis deslizava contra a vagina dela, o deixou duro e dolorido.
Ele se inclinou para ela, os lábios a apenas um sopro de seu ouvido.
— Eu a fiz gozar. Quero fazê-la gritar meu nome, talvez até mesmo um
dia em uma carruagem.
Ele a sentiu estremecer, o pequeno suspiro de choque pelas palavras
dele.
A porta da loja tilintou com a sineta, avisando-os de que a duquesa
havia saído. Albert recostou-se quando o cavalariço abria a porta para a
duquesa.
Ele ofereceu a mão a Sua Graça.
— Deixe-me ajudá-la. — ele sugeriu.
A duquesa segurou a mão dele e se acomodou em frente a eles, dois
pequenos pacotes colocados ao lado dela pelo cavalariço.
— Seu vestido será entregue amanhã, não que eu acredite que você
precise de outro, mas agora que vi o que eles têm, o melhor para um baile
campestre como o que iremos, entendo sua colocação.
— Obrigada, mamãe. — disse Victoria.
A resposta de Victoria não revelou nem um grama de como fora afetada
pelas palavras dele, pelo toque segundos antes. Como ela conseguia
permanecer tão calma e não afetada?
Ele não poderia estar mais longe de tal postura.
— Estou ansiosa para o baile. Faz muitos anos desde que compareci a
um evento similar, desde minha apresentação à sociedade, aliás.
As palavras da duquesa eram calorosas com a lembrança.
— Encontrei a Srta. Eberhardt, mamãe. Ela mora perto e irá ao baile, e
nos visitará depois de amanhã. — Victoria considerou Albert por um
momento, e ele lutou para não se inquietar sob o olhar dela. — Ela é uma
adorável mulher de posses e fará uma boa esposa. Embora, como o pai dela
é viúvo, creio que ela ficaria feliz se ficasse perto de sua casa.
Albert gemeu por dentro, já prevendo para onde os pensamentos de
Victoria a estavam levando, e quem ela considerava perfeita para se tornar a
futura noiva dele.
Ele não comentou as palavras dela, não querendo ser rude, mas a Srta.
Eberhardt, por mais agregada que fosse, não era para ele.
— Não concorda, Lorde Melvin? — Victoria perguntou, seu sorriso
inocente escondendo uma mente casamenteira tortuosa que ele não gostou
nada.
— A Srta. Eberhardt é uma mulher gentil e atenciosa. Desejo
felicidades junto a quem ela vir a se casar. Tenho certeza de que ela o fará
muito feliz.
Entretanto, não seria ele.
Os olhos de Victoria se estreitaram, e ele ignorou a ira ali, decidindo
que aquela conversa havia acabado, e que a vista fora da janela da
carruagem era muito mais de seu agrado.
CAPÍTULO VINTE E UM

—O QUE HÁ DE ERRADO com a Nancy, Albert? Ela é perfeita para


você. É de Hampshire, o pai mora perto, e é uma herdeira. Se me permite a
ousadia, diria que ela é a resposta às suas orações. Deveria cortejá-la no
próximo baile, ver se têm algo em comum além de riqueza e educação
semelhante. Pode ter uma agradável surpresa e descobrir que gosta muito
dela.
Ao encontrá-lo abrigado ali após o retorno da cidade, Victoria desabou
no sofá da biblioteca de Albert. Ele caíra em uma quietude estranha no
caminho de volta para Rosedale e, embora ela e a mãe tivessem mantido
uma conversa, ela não pôde deixar de se perguntar se ele estava irritado
com ela de alguma forma.
Não ergueu os olhos de onde estava sentado à escrivaninha, examinando
uma pilha de cartas e livros de contabilidade de suas propriedades. Talvez o
estivesse interrompendo, mas não poderia deixá-lo agora. Não quando
estavam tão perto de encontrar a mulher perfeita para ele, para ocupar o
cargo de esposa nesta bela casa. Ele seria um grande tolo se deixasse uma
oportunidade tão maravilhosa como Nancy escapar por entre os dedos.
Victoria não conhecia uma mulher melhor ou mais doce em Londres.
Além de suas irmãs, é claro.
Ele suspirou, jogando a pena no livro-razão aberto diante dele com mais
força do que o necessário, derramando um pouco da tinta.
— Já declarei que não estou interessado na Srta. Eberhardt em um
sentido romântico. Se eu estivesse, morando tão perto, já a teria cortejado
para ver se o afeto era correspondido, Victoria. Por favor, saiba que eu não
irei cortejá-la.
Victoria se aproximou da mesa, encostando-se nela. Ela estreitou os
olhos para ele, sem entender por que ele era tão alheio a tudo.
— Queria minha ajuda para encontrar uma esposa para você. Que o
ensinasse a cortejar uma dama, a ser menos desajeitado e tímido com elas.
Saiu-se muito bem esta manhã com a Srta. Eberhardt. Melhora a cada dia.
Não entendo o que estamos fazendo se não seguirá meu conselho quando
uma moça elegível aparece na sua frente.
Ele se recostou na cadeira, passando a mão pelos cabelos. Ela ignorou a
agitação que sentiu por dentro, ou o quão rude e perturbadora a beleza dele
pareceu naquele momento. Como alguém poderia não querer se casar com
ele?
Albert era uma joia escondida entre todas as pedras ásperas da
sociedade, por todo seu nervosismo em relação às mulheres.
Então por que você não o tem para si?
Victoria afastou o pensamento. Seu futuro estava garantido, definido, e
ela já havia começado a planejar a primeira viagem que faria ao exterior.
Viagem essa que não incluía um marido e um bando de bebês a impedindo.
Casamento era um erro que ela nunca mais cometeria.
— Preciso sim de sua ajuda para navegar no mundo dos cortejos com
uma mulher. Eu me saí bem hoje porque conheço a Srta. Eberhardt há
muitos anos e, embora não goste dela de maneira romântica, ela é uma
amiga. É a única razão pela qual me saí tão bem. Coloque-me em Londres,
e verá como ainda sou estranho.
Victoria se mexeu para se sentar na mesa dele, amassando alguns dos
papéis sob a saia.
— Não há ninguém que você já conheça e pense que seria uma boa
escolha? Deve estar aberto a conhecer novas pessoas, fazer conexões para
que funcione.
— Estou aberto a essa possibilidade, mas a Srta. Eberhardt não é uma
delas. Lamento desapontá-la se ela nutre sentimentos por mim. Os meus são
o que são, Victoria. Você não gostaria de ser forçada a casar-se com um
cavalheiro que só vê como amigo, gostaria?
— Bem, não. — ela admitiu.
— Se eu… — disse ele, levantando-se e para ficar diante dela. —
seguisse você a cada baile, impusesse meus afetos a você se não os
corresponde, você não gostaria muito. O meu caso não é diferente.
Ela supôs existir racionalidade no que ele dizia, no entanto, uma
pequena preocupação mesquinha continuava cutucando sua mente, que
Albert a via como futura esposa, a mulher que ele queria e não deveria. O
coração dela não era mais capaz de tanta confiança, nem com Albert, nem
com ninguém. Ela pensava conhecer seu falecido marido, mas não, nem de
perto. Albert queria filhos, uma esposa e morar no campo. Ela não queria
nenhuma dessas coisas. O mundo se abriu para ela como uma viúva. Não
podia se jogar no altar para repetir um erro que a humilhara mais do que até
mesmo a família sabia.
— Muito bem, tentarei ajudá-lo a dissuadir a Srta. Eberhardt de pensar
que há um futuro entre vocês dois, mas deve me prometer que tentará com
alguém.
O lábio dele se contraiu em um sorriso bonito e diabólico. Victoria
pegou as lapelas da jaqueta, puxando-o para perto. Percebendo o erro, ela
deixou as mãos caírem, castigando-se por dar ideias erradas a ele.
— Obrigado. — disse ele, antes de caminhar para a porta e deixá-la
sentada na mesa, vendo-o partir.
Ela franziu a testa, sem saber se estava chateada ou aliviada com a
partida dele. Tola estúpida que ela era, não sabia discernir.
Mais tarde, naquela noite, quando todos estavam na cama, Albert saiu
às escondidas para os estábulos, selou o cavalo castrado e cavalgou para seu
chalé de caça. Ele estava em débito com a escrita, e precisava escrever
várias páginas antes que seu prazo se esgotasse.
O chalé estava silencioso e escuro, e ele demorou alguns instantes
avivando o fogo e acendendo quase todas as velas que tinha ali, primeiro,
precisava de luz. Em geral, ele viria durante o dia e partiria antes do
anoitecer ou logo em seguida, mas devido a seus convidados, a rotina
comum estava em conflito.
Ele se sentou à escrivaninha, as palavras fluíram de seus dedos por
várias horas, a mente transportada para as ruas escuras e úmidas de
Londres, a história tomando um rumo ameaçador em que a heroína estava
em busca do herói, sequestrado por ladrões.
O som do chilrear dos pássaros o tirou das páginas, e ele ergueu os
olhos para ver o beijo do amanhecer na paisagem lá fora. Ele se recostou na
cadeira, espreguiçando-se e bocejando, imaginando como iria passar o dia
bancando o anfitrião se precisava dormir.
— Albert? Você está aqui?
Ele praguejou ao som da voz de Victoria, jogando as páginas do
manuscrito em uma pasta de couro e trancando-a na estante atrás dele.
Ele foi até a garrafa de uísque, bebeu dela mesmo para refrescar a boca
assim que a porta se abriu. Victoria colocou a cabeça na moldura de
madeira, um sorriso caloroso se formando nos lábios.
— Ah, então é aqui que se escondeu a noite toda. Tentei encontrá-lo
para termos mais aulas, mas não consegui localizá-lo. Um criado me disse
que saiu à cavalo para o chalé de caça.
O que ele deveria dizer para ela? Que ele escrevia os livros que ela tanto
gostava naquele mesmo espaço? Que ele era seu autor favorito? Albert não
escolheu nenhum dos dois.
— Eu precisava verificar o chalé. Houve relatos de caçadores furtivos e
ladrões na área. — ele mentiu, nunca se importou se pessoas de fora
andassem por seus terrenos e usassem da vida selvagem dali para alimentar
suas famílias.
Ela fechou a porta atrás de si, caminhando pelo chalé e observando os
grossos tapetes Aubusson sob suas botas de couro. Ela estava de calças de
novo, e aquela jaqueta de montaria apertada que acentuava sua figura. O
beijo que compartilharam da última vez que ela estava vestida dessa
maneira surgiu na mente dele, e ele respirou fundo para se acalmar, resfriar
o desejo.
Ele acompanhou o progresso dela com algo semelhante a um homem
faminto de sustento. Estava começando a pensar estar um pouco obcecado
em ganhar o amor dela.
Ela se jogou em um sofá, tirando as botas e desabotoando a jaqueta de
montaria, jogando-a de lado. Vestia uma camisa de linho branca por baixo,
com uma belíssima bainha de renda.
— Este é um lugar tão bom quanto qualquer outro para mais aulas. —
ela enfiou a mão em uma bolsa que ele não percebeu que ela carregava no
ombro, e puxou o livro de esboços de posições sexuais.
Ela o abriu na última página que viram.
— Pensei que devíamos começar aqui, Albert. Discutir o que gostei
quanto ao que fez comigo na outra noite, e talvez o que poderá fazer com
sua esposa quando chegar a hora.
Ele gemeu por dentro, mas se juntou a ela, perto, deleitando-se com o
cheiro fresco dela. Já havia se banhado tão cedo esta manhã? Ele queria
beijá-la, beijar a pele e ver ele mesmo se ela era tão doce quanto cheirava.
— Muito bem. — ele concordou. Sentindo-se ousado, ele apontou para
o ato sexual em que o homem beijava a mulher entre as pernas. — Gostaria
de saber se minha esposa gostaria de tal toque. Seria corajosa o suficiente
para me deixar praticar em você, Victoria?
Ele prendeu a respiração, sabendo ser errado pedir algo assim para ela.
Ele deveria ser chicoteado. O irmão dela deveria enfiar uma bala no crânio
dele e, mesmo assim, ele não recuou. Apenas esperou que ela respondesse.
O queixo dela se ergueu, desafiador, e ele soube a resposta antes que ela
a pronunciasse. De todos os irmãos, Victoria era a única a jamais desistir de
um desafio, decerto não de um feito dessa forma.
— Claro. Disse que iria ajudá-lo e irei. Devemos começar agora?
Desejo líquido quente correu pelas veias dele, e ele se levantou,
puxando-a para ficar de pé.
— Deixe-me ajudá-la com isso. — afirmou ele, desamarrando os botões
das calças dela.
Por Deus, ela era magnífica, e a ideia do que estavam prestes a fazer
estava além de seus sonhos. Ele só esperava conseguir executar tão bem
quanto ela esperava. Ele odiaria decepcionar sua futura noiva.
Q
CAPÍTULO VINTE E DOIS

UE DIABOS ela estava fazendo? Não deveria permitir atos tão


íntimos com um cavalheiro com quem não pretendia se casar.
Entretanto, o olhar escuro e faminto de Albert afastou seu
nervosismo e permitiu uma ousadia que nunca pensou que teria em assumir
o comando.
Mesmo que ela fosse conhecida pela família como ousada e franca, não
era uma mulher de moral frouxa. Não até Albert Kester entrar em seu
mundo. Ser viúva a fez perder o senso de moral.
Com um esmero que a deixou tremendo, ele abriu o último botão das
calças dela e deslizou a peça por suas pernas. Victoria observou enquanto
ele respirava para se acalmar, um músculo em sua têmpora em sintonia com
cada batida de seu coração.
O dela bombeava feroz quando ela o deixou lidar com os laços na gola
de sua camisa. Havia apenas três antes que ele a erguesse de seu corpo, e
ela ficou com nada além de um espartilho e uma camisola.
— Pode se sentar. — ele sugeriu, a voz profunda e rouca como se as
palavras fossem difíceis de falar.
Ela fez o que ele pediu, ofegando quando ele se ajoelhou entre suas
pernas, abrindo-as com uma determinação que ela não esperava dele.
Victoria mordeu o lábio, imaginando como seria. Como diabos ela estava
permitindo tais liberdades com seu corpo? Albert havia confundido sua
mente de mais maneiras do que ela pensava.
As mãos grandes e dedos fortes dele deslizaram por suas pernas,
massageando os músculos enquanto ele deslizava cada vez mais perto de
seu sexo. O corpo dela doía, os sentidos estavam vivos e necessitados.
Percebeu com grande choque que queria ver a boca dele nela, vê-lo
fazê-la alcançar o prazer como na outra noite.
As mãos dele agarraram a parte de trás dos joelhos dela e ele a puxou
para a beira do sofá. O olhar de pálpebras pesadas dele se fixou em seu
núcleo, e ele lambeu os lábios. Victoria soltou um suspiro, não tendo
esperado gostar tanto da reação dele a ela.
— Você é tão linda, Victoria. Anseio provar você.
Os olhos dela espiaram o livro, aberto na página do ato sexual que
estavam prestes a realizar, e ela estremeceu.
Ele beijou-a na perna, golpes lentos e torturantes, e Victoria gemeu de
necessidade. Ela estava tão aberta para ele que um arrepio de
vulnerabilidade a invadiu, esperando que ele aprovasse o que via, que não
se esquivasse dela após terminarem o que estavam prestes a fazer.
Embora não quisesse se casar, gostava da companhia de Albert, gostava
muito dele. Ela queria ajudá-lo, mas algo dizia a ela que nada seria o
mesmo assim que fizessem o que queriam fazer.
Ela seria capaz de se afastar dele, ficar parada e vê-lo se casar com
outra? Sabendo que ele faria amor com outra lady noite após noite, uma
mulher que não seria ela?
Ele a beijou ao longo da perna, seu hálito quente marcando a pele dela.
Os dedos dele flexionaram nas coxas dela, empurrando-as para abrirem
mais. Ele pareceu maravilhado, por um momento antes de baixar a cabeça.
Ela arfou, mordendo o lábio quando os lábios dele a tocaram, e então a
língua dele saiu, acariciando sua carne mais privada.
Victoria se recostou, fechando os olhos, deleitando-se com o toque. Ele
a beijou, sacudiu seu botão dolorido e latejante com a língua antes de sugar
e fazê-la perder o juízo de vez. A boca dele a devorou, tomou seu fôlego.
Os gemidos abafados de prazer dele alcançaram os ouvidos dela, e ele
beijava seu núcleo com abandono.
Era avassalador. Maravilhoso demais. Ela nunca soube com o marido
que tais atos eram possíveis. Apesar de todas as artimanhas libertinas de
Paul, ele sabia muito pouco. Ou não queria fazer essas coisas com ela.
Ela afastou os pensamentos inúteis e prejudiciais, erguendo-se em
direção à boca dele. Ignorando a devassidão dos próprios atos. Ele apoiou
as pernas dela nos ombros, tomando-a com uma necessidade que
ultrapassava qualquer uma que ela já conheceu.
Victoria se abaixou e passou os dedos pelos cabelos dele, segurando-o
contra ela, esfregando-se em seu rosto como uma mulher fora de si. E talvez
ela estivesse um pouco louca de necessidade.
O prazer provocava seus sentidos. Ela estava quente, úmida e queria se
despedaçar em um milhão de partes. Albert passou a língua em um lugar
sensível e, enfim, ela se deixou cair no precipício. Estrelas explodiram atrás
de seus olhos, e ela ondulou contra ele, não se importando com as
aparências, o quanto ela gemia, o nome dele como um coro de prazer.
Ele a manteve contra ele enquanto os últimos tremores da liberação dela
ecoavam por todo o corpo antes de terminar como começou, beijando-a ao
longo das pernas, o olhar pesado que queimava com necessidade própria.
Victoria não conseguia se mover. Cada músculo parecia frouxo e pesado
como uma caixa de ouro. Albert estendeu a mão, tirou um tapete do sofá e
colocou-o sobre as pernas dela ao se sentar ao lado dela, pegando o livro
que estava no chão.
— E então, Victoria? Não decepcionarei minha futura esposa?
Victoria se livrou do prazer confuso que a impedia de entender o que
Albert dizia. Desapontar a esposa? A ideia fez o gelo correr por suas veias.
Ela se sentou, pegando o livro e virando as páginas, qualquer coisa era
melhor que dissecar por que as palavras dele a aborreceram tanto.
— Creio que sua esposa ficará muito satisfeita, e hoje, quando
voltarmos para casa, vamos sentar e jogar cartas, aprender como interagir
nesse ambiente. Não é apenas na arte de fazer amor em que precisa de
tutela. Também precisa se sentir confiante e seguro ao ser anfitrião, e ao
cortejar durante a temporada. Não podemos nos perder assim quando ainda
há muito a aprender.
— Em vez de cartas, que tal se participamos de uma competição de arco
e flecha? Ou jogos no gramado. Há uma chance na próxima temporada de
que eu ofereça uma festa aqui em Rosedale, e eu sei que as mulheres
gostam desses entretenimentos.
— Podemos fazer isso também. Temos alguns dias para preencher antes
do baile campestre, mas esta noite acredito que cartas sejam a melhor
escolha.
— Como quiser. — disse ele.
Victoria se arrastou para fora do sofá e se vestiu depressa. Ela não
conseguia olhar para ele, era perceptível e doloroso que ele observava cada
movimento seu. Assim como ela também estava ciente dele e de sua
presença. A memória do clímax, uma ocasião que ela duvidava que jamais
se esqueceria.
Albert estava ocupando muito da mente dela, mas ela não conseguia se
conter. Sempre que o via, queria estar perto dele, mesmo que apenas para
conversar e ver o tempo passar. Se essa conversa e esse tempo levassem a
interlúdios agradáveis, melhor ainda.
Era algo incomum para ela, e não ajudava em seus planos.
Ela puxou as botas, amarrando-as depressa antes de procurar pela
jaqueta de montaria. Ela se acalmou, engolindo a necessidade que corria por
seu sangue quando viu Albert segurando-a no alto com um dedo, um
pequeno sorriso brincando nos lábios.
Ele era um demônio e sabia disso. Também estava se tornando um belo
libertino. Bem, o que ela presumia ser um. Homens dessa espécie seduziam
mulheres em chalés de caça durante o dia.
O que a lembrou que se não voltasse para a casa principal logo, sua
ausência seria notada no café-da-manhã, e a mãe ficaria preocupada ou
desconfiaria.
Victoria se aproximou dele, pegando a jaqueta e a vestiu.
— Obrigada. Nos vemos Rosedale.
— Só isso? — ele perguntou, as sobrancelhas levantadas.
Ela sentiu-se vibrar de nervosismo.
— O que mais quer?
Ele rosnou, puxando-a para perto.
Tomou os lábios dela, e toda a intenção de sair dali, ir para longe dele,
desapareceram. Victoria correspondeu o beijo, sentindo o gosto ácido dela
mesma em seus lábios. Não era desagradável. Na verdade, a fez desejar
mais do que haviam começado a explorar juntos.
Ele interrompeu o beijo, os olhos escuros e tempestuosos de
necessidade.
— Quero tudo, Victoria.
Victoria riu, mas sentiu-se contrair de pânico por dentro. O que tudo
significava? Ele queria um futuro, casar-se com ela, para que ela tivesse
filhos dele, uma vida juntos? Ela não queria nenhuma dessas coisas, não
depois do primeiro casamento desastroso. A ideia de ser propriedade de
alguém, de ser tratada sem respeito, revoltava sua sensibilidade. Ela
balançou a cabeça, uma impossibilidade que ela jamais se permitiria.
No entanto, uma vida com Albert seria diferente. Você é diferente perto
dele.
Victoria saiu do abraço, caminhou até a porta, para a liberdade que o
exterior acenava.
— Também quero muitas coisas, mas nem sempre as ganho. Eu o verei
na casa. — ela gritou por cima do ombro, fechando a porta em seu rosto
bonito, se não decepcionado.
O pequeno jogo de tutoria estava saindo do controle. As emoções já
estavam complicadas, terríveis e alarmantes, Victoria não estava certa de
que era só Lorde Melvin quem as estava sentindo.
A
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

LBERT VOLTOU para o saguão de Rosedale e esbarrou no duque


de Penworth. Penworth o cumprimentou animado antes de
seguirem para a sala de visitas no andar de cima.
— Vi Victoria mais cedo no café-da-manhã. — afirmou Sua Graça. —
Ela mencionou que promoveria uma noite de cartas hoje. Você se importaria
se eu convidasse alguns amigos locais, membros da pequena nobreza que
conheço nesta área, e você também, eu imagino?
Albert tocou a campainha do chá quando entraram na sala, aquecendo-
se diante do fogo, pois o dia esfriara mais do que o esperado. — Pode
convidar quem quiser. Alguém em particular?
— Lorde e Lady Hammilyn estão em casa, perto o suficiente para
comparecer. Eles vão, é claro, querer trazer a filha. Espero que seja
adequado.
— Tem minha permissão para usar minha mesa para escrever para eles.
Peça para um cavalariço ir até lá e entregar. Creio vão comparecer.
Penworth sentou-se em uma cadeira próxima, cruzando as pernas
quando um lacaio entrou com chá e biscoitos.
— Vou servir, obrigado. — disse Albert ao criado, dispensando-o.
Ele serviu uma xícara a Penworth, serviu-se e se sentou no lado oposto
ao amigo.
— Não posso deixar de me perguntar se o seu interesse por Lorde
Hammilyn tem algo a ver com a filha dele, que pelo que ouvi é uma beleza
que muitos jovens estão ansiosos para ver na próxima temporada na cidade.
Penworth encolheu os ombros, sorvendo a bebida.
— Nunca vi a menina e nunca me casaria com uma mulher tão jovem.
— Ah, mas lembre-se, Lady Sophie não é tão jovem. Ela passou vários
anos no exterior com o irmão, que mora na Espanha com a esposa. Voltarão,
é claro, quando ele assumir o título, mas até lá, creio que continuarão em
Cádiz.
Penworth franziu a testa ante a informação, a confusão clara.
— Quantos anos ela tem? — ele perguntou, incapaz de mascarar a
curiosidade em suas palavras.
— Creio que vinte e dois anos.
— Idade perfeita para você, Lorde Melvin. Talvez deva competir com
meu irmão e cortejar Lady Sophie você mesmo.
Albert tossiu, se engasgando com o chá, não sabia que Victoria estava
ouvindo a conversa. Ela valsou para dentro da sala. O cheiro de sabonete de
lavanda e seu perfume usual de jasmim flutuavam no ar. Albert lutou para
não respirar de maneira ruidosa, a memória do que haviam feito, apenas
horas antes, clara em sua mente.
Penworth sorriu, mas não fez comentários enquanto a irmã se sentava.
— O que mais vocês dois cavalheiros estão discutindo além das
senhoras que vão cortejar?
— Nada de interessante, apenas os jogos de cartas a serem jogados esta
noite. Pensei em convidar Lorde e Lady Hammilyn e a filha, que Melvin me
disse que voltou do exterior. Conhece Lady Sophie, Victoria? — o irmão
perguntou.
Ela balançou a cabeça, recostando-se no sofá, agarrando um travesseiro
próximo e segurando-o no colo. A cena lembrava uma família caseira
aproveitando a manhã juntos. Albert podia imaginar essa visão de Victoria
juntando-se a ele para tomar chá, discutindo eventos futuros em Rosedale
com visitantes como seu irmão. Ele a observou, bebericando a bebida e
desejando poder convencê-la de que se casar com ele não seria uma tarefa
árdua. Que ele faria tudo ao alcance dele para fazê-la feliz e contente,
mesmo que significasse que viajariam por anos antes de começar uma
família. Convencê-la de que ele jamais partiria seu coração.
— Não a conheço de jeito nenhum. Embora eu acredite que Elizabeth a
tenha conhecido alguns anos atrás.
Josh terminou o chá, colocando a xícara na mesa diante deles.
— Escreverei para eles, espero que compareçam. Você iria gostar de
Lorde Hammilyn, Victoria. Ele tem lebréis irlandeses como você.
Ela sorriu para o irmão, os olhos brilhando com a menção de sua raça
favorita de cachorro. — Ora, bem, gostarei muito dele, e sempre terei
assunto para conversarmos se o pior acontecer, e um terrível silêncio se
instalar entre nós.
— Muito bem. — disse Penworth, levantando-se. — Voltarei logo.
Entretanto, quero despachar essa missiva antes que seja tarde demais.
Albert ouviu enquanto o duque descia o corredor, dirigindo-se à
biblioteca no andar de baixo.
— Algo aconteceu? — ele perguntou ante o silêncio dela, esperando
que não tivesse ido longe demais no chalé de caça.
Quando ela apareceu na porta lá, ele não esperava que progredissem
para tais atos, mas agora que haviam chegado a tanto, ele não se
arrependeria.
Ele a queria como esposa. Ele iria seduzi-la para tornar-se esposa dele
com ações semelhantes ao que já haviam feito. Não havia vergonha
nenhuma em fazê-lo. Não, a menos que ela o recusasse quando ele ganhasse
confiança suficiente para mencionar assunto tabu que ela parecia detestar.
Ela balançou a cabeça, mas a preocupação nublou seus olhos esmeralda.
— Não em particular, mas creio que deva considerar Lady Sophie como
esposa. Esta noite, se ela comparecer, deve tentar usar as ferramentas que
ensinei, para ver se há uma conexão.
— E se o seu irmão estiver interessado na lady?
— Então, os dois devem tentar, e todos veremos quem é o vencedor.
Contudo, não precisa se casar com ela esta noite, apenas veja se ela é
agradável e adequada ao seu caráter. Suponho que possam conversar sem
que fique com a língua presa ou ansioso. Estarei lá ao seu lado. Não o
deixarei falhar.
Uma pedra fria e dura alojou-se onde o coração dele batia.
— Está determinada, como sempre, a me casar antes do final da
próxima temporada. Nem toda mulher que conheço é alguém com quem eu
quero transar para o resto da minha vida.
As bochechas dela ruborizaram, e ele ficou feliz com isso. Ele franziu a
testa, começando a não gostar de ser empurrado para mulheres que não
eram de interesse algum dele. Ele sabia a quem se adequava, a quem
adorava e queria ao seu lado pelo resto da vida, e era a mulher à frente dele,
e que dizia para ele se casar com outra.
— Eu sei. Estou apenas tentando ajudar. Concordou com minha ajuda.
— Claro. — ele reconheceu. — No entanto, não posso nem dizer que
preferiria encontrar uma mulher que desperte meu interesse e, em seguida,
dar início ao plano? Esta lógica de me jogar em qualquer mulher disponível
que cruze minha frente está se tornando cansativa.
— Apenas começamos, e estamos usando essas mulheres apenas como
prática. Não seja tão irritadiço, Lorde Melvin. Estou apenas tentando ajudá-
lo.
— Suponho que ainda está determinada a morrer velha e sozinha, a
nunca se casar para não ter o coração partido por um asno.
Ela arfou, e ele se arrependeu das palavras duras assim que as proferiu.
— Victoria, eu…
— Certo, a carta foi enviada para Lorde Hammilyn. Creio vão
comparecer. Quando eu o encontrei ontem na aldeia, ele não estava fazendo
nada além de servir de decoração para a casa.
— Parece maravilhoso. — Albert murmurou, observando Victoria, que
estava sentada encarando-o. — Pedirei à cozinheira que faça um jantar leve
esta noite, em vez de uma refeição completa.
— Parece certo. — disse Penworth, sentando-se na cadeira que
desocupara minutos antes, sem nenhuma pista de que a irmã e o amigo
estavam em desacordo.
— Anime-se, Victoria. Lady Sophie será uma boa companhia para você.
Ela a manterá ocupada, pois sei que tende a ficar entediada.
— Não estou entediada. — disse ela na defensiva, lançando um olhar
rápido na direção de Albert.
Ele se serviu de outra xícara de chá, desejando que fosse algo mais
forte, como uísque ou conhaque. Ele poderia usar um pouco de fortificação
agora. Victoria ficar entediada não era um bom presságio para seus planos e
esperanças. Ela encontraria vida aqui em Rosedale além de sua resistência?
Nunca se acomodaria ou sempre desejaria aventura?
Ele adoraria viajar se encontrasse a mulher certa com quem ir, mas não
podia se ausentar com frequência. Sua propriedade e a escrita exigiam que
ele estivesse na Inglaterra várias vezes por ano. A ideia deles juntos, de ser
marido dela, foi ficando cada vez menor em sua mente, um pouco mais
longe do alcance.
— Poderia ter me enganado. — brincou Josh, sorrindo. — Talvez
enquanto você está tentando juntar Melvin, ou a mim, com Lady Sophie,
possa pensar sobre seu próprio futuro. De quem mais em Londres serviria
para você agora que você está disponível mais uma vez.
— Ninguém me serve. — ela saltou da cadeira, caminhando para a
porta, o vestido balançando em torno das pernas, seus passos vigorosos a
levavam para longe. — Morrerei velha e sozinha, sem família. É isso o que
farei. Para o inferno com os homens e suas necessidades de família e
companheiras de cama. Prefiro ter amor-próprio, confiar apenas em mim do
que em qualquer outra pessoa.
— Victoria, isso foi desnecessário. — disse Josh, levantando-se,
carrancudo para a irmã, que voou para o corredor antes de uma porta bater
em algum lugar nas profundezas da casa. A porta do quarto dela, Albert
supôs.
— Peço desculpas, Melvin. Estava apenas brincando com ela. Não sei o
que poderia estar chateando-a tanto.
Albert sabia o que havia desencadeado o mau temperamento, mas não
podia se arrepender. A verdade às vezes doía, e ela repetia a negativa, que
não o queria, por mais prazer que pudessem dar um ao outro. Por mais que
se dessem bem. Em algum momento, ele teria que aceitar essa verdade e
seguir.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que ela estará de volta a si esta
noite. Todos nós temos direito a um ou dois momentos de revolta.
— Creio que sim. — disse Penworth, franzindo a testa para a porta que
sua irmã havia deixado. — Contudo, fiquei curioso quanto a esta suposta
beldade, Lady Sophie. Esperemos que ela tenha um temperamento
agradável, compatível com o que dizem de seu rosto.
Albert sorriu, mas por dentro, agitou-se, odiando que Victoria estava
com raiva e chateada. Não era para acontecer dessa forma. Ele nunca
desejou que ela ficasse desse jeito.
— Suponho que ficará satisfeito, Penworth. Talvez não seja eu quem vai
casar-se primeiro, após todas as minhas aulas, mas você.
Penworth deu uma risadinha, balançando a cabeça.
— Ela teria que ser uma joia rara para me tentar, mas veremos.
— Veremos. — Albert concordou. — Esta noite.
A
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

LBERT CERTIFICOU-SE de dar atenção aos convidados, em


especial à Lady Sophie, cuja beleza o pegara de surpresa. Ela havia
crescido em altura e beleza desde a última vez que a vira. Certo, ela estava
bem distante dele quando ele a viu.
Mesmo assim, Penworth continuou, para diversão dele, calado quando
perto da mulher. O que, se algo, tornava divertido estar perto dela. Não que
ele quisesse a garota para si. Ele só conversava com ela com mais graça que
o normal porque Victoria pedira.
Victoria estava ao lado da mãe, observando cada palavra dela. Ele
estudou Victoria por um momento, incapaz de perceber se o semblante era
de curiosidade ou desprazer.
Ele esperava que fosse o último. Que o ver conversando com Lady
Sophie, que no próximo ano decerto seria um sucesso em Londres, a
aborrecia. A verdade estava mais para ela estar reunindo as falhas do
discurso dele e estava analisando como corrigi-las quando estivessem
sozinhos.
— Está ansiosa para a próxima temporada, Lady Sophie? Soube que
será a apresentação da senhorita à Sociedade. — disse Albert, surpreso com
o próprio tom confiante. Talvez as lições de Victoria estivessem trabalhando
a seu favor.
— Não muito. Se estivesse no meu lugar, Lorde Melvin, gostaria de ser
leiloado pelo maior lance? Creio que não.
Ele mordeu a língua, lutando para conter a risada que queria borbulhar e
sair dele.
Penworth não teve tanto sucesso em esconder a diversão ante as
palavras da lady. Se Albert fosse um homem de apostas, ele diria sem
rodeios que o interesse do duque foi despertado.
— Eu não daria importância a isso, não. Suponho que seja por isso que
raras vezes apareço na cidade.
— Não aparece? — a lady o estudou por um momento. — Bem,
suponho que seja porque está sempre ocupado demais rabiscando aquele
seu livro.
Albert se engasgou com a bebida, procurando ver quem havia ouvido
Lady Sophie. Penworth estreitou os olhos e, em um instante terrivelmente
ruim, Lady Victoria se juntou a eles.
— Parece que a conversa está muito divertida aqui. Qual o assunto?
— Estávamos discutindo por que Lorde Melvin não vai à cidade.
Apenas mencionei os livros que ele está sempre escrevendo.
— Mesmo? — Victoria disse, o tom interessado. — E que livro é esse,
Lorde Melvin?
Ele deu de ombros, não querendo contar a ninguém, muito menos a
Penworth e Lady Sophie, em que livro estava sempre rabiscando. Como
diabos Lady Sophie saberia dizer tal coisa estava além dele. Os
funcionários haviam falado dele na aldeia? Ele não ligava para essas coisas,
se fosse esse o caso, e poria um fim nisso sem demora.
— Meu pai me disse que muitas vezes o vê cavalgando para o chalé de
caça. Ele o visitou uma ou duas vezes lá, mas sempre estava de cabeça
baixa em sua mesa, rabiscando, por isso ele não o incomodou. Nossa
propriedade, veja bem… — Lady Sophie explicou a Victoria e Penworth.
— fica muito perto do chalé de caça de Lorde Melvin. Papai por vezes
atravessa a fronteira das nossas terras, e foi nessas vezes que o notou, meu
senhor. Por favor, não pense que ele está perseguindo você, pois ele não
está. — ela deu uma risadinha, uma risada tilintante que irritou Albert.
— Que interessante… — Victoria o observou por um momento antes de
dizer: — e o que faz seu pai suspeitar que seja um livro que Sua Senhoria
está rabiscando?
Lady Sophie encolheu os ombros, a atenção se deslocando para outras
partes do salão e mostrando que ela estava perdendo o interesse na
conversa.
— Ora, são apenas palpites. É um livro, meu senhor? Ou apenas uma
carta?
Albert pigarreou.
— Uma carta. Eu deveria ser mais inteligente para escrever um livro.
Victoria refletiu as palavras por um momento antes de dizer:
— Lorde Melvin, agora que os outros convidados estão ocupados
jogando cartas, pensei que deveríamos ter um pouco de música e dança.
Tocarei o pianoforte, se quiser, e Josh pode dançar com a Srta. Eberhardt,
que parece um pouco solitária perto do fogo.
Todos se viraram para olhar para a senhorita, apenas para vê-la
mexendo no corpete do vestido.
Albert pigarreou outra vez.
— Claro. Uma melodia animada, por favor, Lady Victoria.
Ela fez uma reverência, dirigindo-se ao piano. Ele observou enquanto
Penworth seguia a irmã e discutia algo antes de cruzar a sala e convidar a
Srta. Eberhardt para dançar. A jovem pareceu um pouco surpresa por ser
convidada para dançar por um duque.
Dançaram vários minutos uma Carretilha, e Albert descobriu que não
era tão ruim ser sociável, participar da conversa e ouvir a vida das pessoas.
Era tão frequente que ele se fechasse em seu mundo que era difícil se
afastar das vidas que criava e viver aquela em que nascera.
Albert avistou Victoria que tocava o pianoforte, as costas retas, o sorriso
aberto para os dançarinos enquanto tocava. Tão proficiente que não
precisava olhar as partituras para saber as notas. Ele esperava que ela não
tivesse ouvido muito o que Lady Sophie havia dito sobre as atividades dele
no papel. Esse lado dele era tão pessoal, um elemento que ele não
compartilhava com ninguém. Para contar a Victoria sobre sua personalidade
literária, seus livros, ele precisava ter certeza de que ela era a mulher a ser
sua esposa. Ninguém além de sua noiva poderia saber. Fazia parte do
segredo, do mistério de Elbert Retsek, do desconhecido. Ser conhecido,
mesmo que por uma pessoa, era sério e não era uma decisão a ser tomada
com descuido.

VICTORIA TOCOU um minueto e observou o irmão conduzir a Srta.


Eberhardt pelo salão. A jovem já parecia meio apaixonada pelo irmão, e a
dança estava apenas começando. Pobre moça, não conseguiria nada do que
sonhava em relação a seu irmão. Os constantes olhares do irmão para Lady
Sophie diziam a Victoria que ele ficara um tanto fascinado pela beleza da
mulher.
Albert parecia estar progredindo bem. Com certeza, a conversa entre ele
e Sophie não havia parado, nem mesmo quando o irmão idiota dela ficou
mudo e não conseguiu falar por cinco minutos inteiros após as
apresentações iniciais.
Josh nunca agiu como um idiota. Talvez ele estivesse apaixonado.
Ela cantarolava com a música, a mãe e os outros convidados presentes
na sala contígua continuavam jogando cartas, as risadas e o som
murmurante de conversas notificando a noite um sucesso para Albert.
Orgulho cresceu nela pela conquista dela para Sua Senhoria. Ele era
capaz e, quando estimulado, estava disposto a fazer sua parte como um par
do reino, entreter e fazer corar as mulheres bonitas.
Lady Sophie estendeu a mão para segurar o ombro de Lorde Melvin, e
Victoria perdeu uma nota. Ela verificou sua posição no piano e continuou,
esperando que ninguém percebesse seu deslize.
A música continuou por vários outros compassos, e a cada um deles,
assim como a música tornava-se mais animada, também cresciam as
façanhas de Lady Sophie. Ela estava sorrindo para Lorde Melvin com um
pouco mais de alegria? Por que ele estava rindo?
Ela sentiu-se revirar por dentro. Ela não teria ciúmes de Lorde Melvin
ter encontrado outra pessoa para conversar e companhia para desfrutar. Ele
também apreciava a companhia dela e precisava encontrar uma esposa. Ela
disse muitas vezes que não voltaria a se casar.
Uma pequena dúvida se instalou no fundo da mente dela, de que estava
com ciúmes de Albert e Lady Sophie. Vê-los juntos despertou nela um
descontentamento que ela não imaginou que surgiria.
Ela não o queria.
Traçara planos. Países para visitar, uma herança para gastar. Uma vida
para viver sem ser ridicularizada por um marido fugitivo. Não era?
A música terminou, e ela sorriu aos curtos aplausos dos convidados
antes de sair apressada da sala. Engoliu em seco, indo para os fundos da
casa, para as escadas de serviço, não querendo encontrar nenhum
convidado. Não conseguia respirar, o espartilho muito apertado, o vestido
restritivo.
Uma mão se estendeu e a girou, exatamente quando ela limpava as
bochechas, horrorizada por estar chateada.
Por que ela estava tão inquieta? Ela estava sendo uma tola que precisava
se lembrar de tudo o que queria da vida. Decerto não era o homem a
encarando com tanta bondade nos orbes de um azul tão escuro que alguém
poderia se perder. De boa vontade, na verdade.
— Deixe-me ir, Albert. — disse ela, odiando a voz lamuriosa que
pronunciara aquelas palavras.
Ele estendeu a mão, embalando o rosto dela, os polegares enxugando as
lágrimas de seu rosto.
— O que houve? Saiu como se cães do inferno estivessem beliscando
suas sapatilhas de seda.
— Enxaqueca, nada mais. Creio que me retirarei de vez.
Ele não a soltou.
Victoria lutou para não se deleitar com a sensação provocada por ele ir
atrás dela. O cuidado que brilhava nos olhos dele, e o que ele a fazia sentir
sempre que estava perto dele. Bem-aventurança, diversão, segurança, todas
essas coisas.
— Suponho que nos conhecemos bem o suficiente para que saiba que
eu sei quando você está mentindo. Ainda está com raiva de mim após nosso
desentendimento?
Victoria já quase se esquecera da discordância, mas assentiu de qualquer
maneira, precisando ir embora. Precisava acalmar seu coração acelerado e
ciumento. Pois isso era o que ela era. Uma vira-lata ciumenta pronta para
arrancar os olhos da bela e rica Lady Sophie, que parecia mais do que
satisfeita por estar nos braços de Albert.
— Sim, e preciso de tempo para superar meu descontentamento para
com a sua pessoa. Por favor, me solte.
Ele recuou no ato, e ela sentiu falta do toque quase que de imediato. Ela
fechou os olhos, odiando que fosse um caleidoscópio de emoções e
necessidades misturadas.
— Claro. — ele proferiu, a voz carregada de preocupação.
Victoria olhou para cima e encontrou os olhos dele, odiou a dor que
estava causando nele. Ele merecia coisa melhor do que ela. Mais do que
como ela ficava nos braços dele, quando ele a tocava e a fazia ansiar. Mais
do que a forma como ela agia agora. Fria e indiferente. Zangada com ele
por fazê-la sentir muito, quando ela jurou nunca mais sentir nada. Se
alguém não pudesse sentir, não poderia se machucar.
Ela se virou e fugiu para o quarto, uma covarde, além de uma idiota.
N
CAPÍTULO VINTE E CINCO

O CAFÉ-DA-MANHÃ SEGUINTE, Albert observou Victoria


mexer na comida, mas comer muito pouco do que estava em
seu prato. O vestido de musselina azul-claro estava passado com tanta
perfeição que nenhum vinco ousava estragar o tecido. Seus cabelos não
mostravam nenhum cacho deslocado. Os pequenos brincos de diamante em
suas orelhas o provocavam. Para Albert, ela era uma joia perfeita,
impecável em todos os sentidos, nobre, rica e culta e, ainda assim, ele a
conhecia na intimidade. Ela era a mulher com quem ele queria se casar, a
mulher a quem ele deu prazer. Nunca quis que ela fosse embora.
Victoria não olhava para ele. Na verdade, não participou de nenhuma
parte da conversa no café-da-manhã. Apenas empurrava porções de ovos
mexidos pelo prato. Ela estava fazendo alguma careta com a comida?
— Lamento o atraso, entretanto, devo pedir que adiemos quaisquer
convites ou planos para o dia. Estou com uma terrível enxaqueca e não
consigo entender por quê. — disse a duquesa, sentando-se à mesa e pedindo
chá a um lacaio.
Albert escondeu o sorriso por trás da xícara de café, sabendo muito bem
que pode ter sido o excesso de champanhe que a duquesa bebeu na noite
anterior que a deixou tão indisposta hoje.
— Talvez café seja melhor, mãe. — disse o duque, lançando um sorriso
astuto a Albert antes de chamar um lacaio para servir o café à duquesa.
Ele limpou a garganta.
— Não acredito que tenhamos nada planejado hoje que não possa ser
alterado, Vossa Graça.
Albert voltou-se para Victoria, que continuava desinteressada na
conversa em torno dela.
— Lady Victoria, não concorda?
Ela olhou para ele em seguida, e ele lutou contra a vontade de ir até ela.
Ela parecia péssima. Também estava doente? Havia alguma doença na casa
que ele não conhecia? Talvez a duquesa não estivesse sofrendo as
implicações de tanto vinho.
— Perdão? — ela perguntou, buscando a mãe com o olhar para
esclarecimentos. — O que eu concordo?
A duquesa fez uma careta.
— Que hoje, creio que devamos adiar quaisquer convites ou visitas.
Não estou me sentindo bem, minha querida.
— Ó. — seus olhos se arregalaram, como se só agora percebesse a
palidez da mãe. — Escreverei à Srta. Eberhardt assim que terminarmos o
café-da-manhã e pedirei que venha amanhã. — Victoria largou o garfo,
sinalizando ter terminado sua refeição. — Gostaria que eu lhe fizesse
companhia hoje, mamãe? Ficarei mais do que feliz em fazê-lo.
Albert supôs que, se Victoria estivesse ocupada cuidando da mãe, ele
iria até a cabana de caça e escreveria o dia todo. Ainda estava várias
páginas atrasado de onde gostaria de estar, e havia deixado sua heroína em
uma situação muito complicada e que precisava escrevê-la.
— Não é necessário, querida. Estarei melhor após uma tisana e um
pouco de paz e sossego.
O café-da-manhã foi silencioso após a curta conversa. Victoria tomou
um gole de chá, perdida em sua própria contemplação. O duque declarou
estar de partida para Camberley, e a duquesa terminou o chá e algumas
torradas antes de subir.
Albert sentava-se à mesa, tentando formar as palavras para perguntar a
Victoria o que a estava incomodando. Não queria pressioná-la e assustá-la.
Até onde ele sabia, poderia já tê-la assustado após o que fizeram juntos.
Sem mencionar a discordância dele quanto a ela continuar a escolher
mulheres e jogá-lo na direção delas.
Na noite passada, ela mostrou-se chateada após a dança dele com Lady
Sophie, mas Victoria não queria um marido. Ela estava lutando com as
próprias convicções? As próprias esperanças e sonhos?
— Se me derem licença. — disse ela, fugindo mais uma vez da presença
dele. Ele olhou para a porta vazia que ela quase que correu e franziu a testa,
caindo para trás na cadeira.
O que diabos ele deveria fazer?
Albert empurrou a cadeira para trás. Pediu o chapéu e bengala e se
dirigiu ao pavilhão de caça. Sua mente era um caos de ideias e pensamentos
tentando descobrir o que fazer para consertar o que era óbvio ter se
estilhaçado entre eles.
No entanto, talvez ela não quisesse consertar o problema. Era esta a
maneira dela de deixá-lo, deixá-lo seguir a vida sem ela ao seu lado? Sem a
orientação dela na suposta busca dele de uma esposa.
Ele arrancou uma flor no campo, fazendo com que o botão amarelo
voasse pelo chão. Ele não queria nenhuma outra mulher além dela. Toda
aquela farsa de esposa já durava tempo demais. Ele precisava dizer a
verdade, de como se sentia por ela. Que ele a queria e a mais ninguém,
deixá-la decidir o destino dele como só ela poderia.
Ela cairia nos braços dele ou o deixaria para sempre.
Ele passou a mão pelos cabelos, perdido, o estômago embrulhado.
Droga, ele esperava que fosse a primeira opção. Ele não tinha certeza se
poderia viver se fosse a última.

VICTORIA FICOU em seu quarto o máximo que pôde antes que as quatro
paredes e os móveis, por mais bela que a decoração fosse, começassem a
lhe dar nos nervos. Ela tocou a campainha para chamar a criada e ordenou
que o cavalo que Lorde Melvin havia designado para sua estada fosse
selado para um passeio.
Seu medo era infundado. Durante dias, ela ficou preocupada em se
importar mais com Albert do que deveria. Que ela o queria para si, mas não
era o caso. Havia muito para ela ansiar do futuro, não havia necessidade de
se preocupar com a forma como um amigo a fazia se sentir.
Ele a deu prazer. Haviam dado prazer um ao outro, nada mais. Ficar
preocupada com a satisfação que equivale a emoções mais profundas era
uma coisa boba a se fazer. Mulheres mantinham amantes o tempo todo em
Londres. Ela sabia de várias viúvas que gostavam de procurar a companhia
de homens após a morte do marido. Nenhuma delas estava se declarando
tão apaixonada a ponto de querer se casar outra vez.
Ela poderia ser como aquelas mulheres. Não no sentido de ter muitos
amantes, mas de que ela gostaria de estar com Lorde Melvin enquanto ele
permanecesse solteiro.
Sua criada entrou no quarto quando pegava o chicote, avisando-a de que
o cavalo estava selado e esperando nos estábulos.
Victoria caminhou até os estábulos, dispensando a necessidade de um
cavalariço. Ela galopou para fora do pátio, para a floresta circundante em
direção do chalé de caça.
De alguma forma, ela sabia que Albert estaria lá, rabiscando como Lady
Sophie havia dito. Em algum lugar daquela construção, ele escondia sua
persona de autor, seus manuscritos. Se houvesse algum sentimento mais
profundo entre eles, Albert teria revelado esse pequeno segredo. Não havia
sido declarado, e apenas acrescentava outra camada de fortalecimento ao
fato de ela estar errada em se preocupar que Lorde Melvin sentisse mais do
que ela gostaria que ele sentisse.
Que ela sentia mais do que deveria. O ciúme que ela sentia era porque
não queria compartilhá-lo nesse momento. Não com ninguém, não quando
ele podia proporcionar tanta satisfação a ela, enquanto estivesse hospedada
ali.
Contudo, era injusto com ele e com a lady que acabaria por se tornar a
esposa dele. Ela precisava ser mais imune a vê-lo com outras pessoas.
Assim que Albert se casasse com outra, ela sobreviveria. Continuaria com a
vida e seria feliz.
— Eu vou! — ela gritou em voz alta.
Victoria diminuiu a velocidade da montaria ao se aproximar do chalé.
Fumaça saia da chaminé, e ela soube que Albert estava lá. Querendo ver ela
mesma se ele estava escrevendo um livro, ela amarrou o cavalo em uma
árvore um pouco longe da cabana e seguiu pelo caminho restante.
Sentindo-se uma ladra no meio da noite, ela foi na ponta dos pés até o
chalé, sem querer fazer barulho. Albert não veio até a porta, e ela esperava
que significasse que ele não a ouvira. O mais devagar que pôde, ela espiou
pela janela de vidro e o observou por vários minutos.
Ele estava curvado na mesa, diante do fogo, as mangas da camisa
arregaçadas, expondo seus antebraços musculosos. A mão estava mesmo
movendo-se com uma velocidade no papel, o que dizia que ele estava
longe, em outro mundo e contando as histórias de lá.
O coração dela deu um pulo porque seu Albert Kester, o marquês
Melvin, precisava ser Elbert Retsek. Não que importasse se ele não fosse.
Contudo, a página que ela encontrou, e o esgueirar-se dele a qualquer hora
do dia e da noite para escrever parecia muita coincidência.
Ela mordeu o lábio, se perguntando como ela iniciaria essa conversa.
Ela era uma pessoa franca. A melhor abordagem talvez fosse ser direta e
sem demora.
Ele recostou-se, espreguiçando-se, e ela saltou para trás, desaparecendo
de vista. Lutou consigo mesma para entrar, para quebrar a concentração
dele quando ele parecia tão envolvido com as palavras.
No entanto, ela precisava falar com ele, longe da mãe e do irmão. Dizer
que ela o decepcionou na noite anterior, e que a perda de concentração dela
não voltaria a acontecer. Que ela não jogaria mais mulheres no colo dele, a
menos que ele quisesse ser apresentado a moça. Ela era amiga dele. Seria
um apoio e não um obstáculo, até o dia que assistisse o casamento dele.
Contudo, ela não conseguia se obrigar a bater na porta. Em vez disso,
ela o observou por vários minutos antes de escapar. Falaria com ele depois
do baile em Camberley. Não havia sentido em falar do assunto agora,
quando Albert estava tão perto de dar prosseguimento à vida, e sem ela para
complicar ainda mais as coisas. Além disso, ele estava ocupado com seu
trabalho. Ela usaria todas as desculpas possíveis para conseguir adiar o
inevitável.
A
CAPÍTULO VINTE E SEIS

LGUNS DIAS DEPOIS, o baile campestre no vilarejo local estava


em pleno andamento quando a carruagem parou em frente à porta
do salão. Várias outras carruagens alinhavam-se na rua. Outros nobres da
área aguardavam a vez de parar diante das portas duplas do corredor para
poderem desembarcar.
A atenção da mãe dela estava fixa no lado de fora da janela da
carruagem, observando os convidados que passeavam pelas ruas de
paralelepípedos, fazendo notas dos vestidos e joias, quem trouxera
companhia, e quem passeava com acompanhantes mais velhas. Várias
jovens usavam vestidos da belle assemble do ano passado, o que pareceu
chocar tanto sua mãe que ela mencionou várias vezes antes de chegar a vez
de eles se acenderem.
— Tenho certeza de que se as moças tivessem oportunidade, mamãe,
teriam garantido que seus vestidos estivessem no padrão londrino. — disse
Victoria, uma das muitas coisas que a irritavam quando se tratava do beau
monde. Eles eram muito eloquentes quando alguém era infeliz o bastante
para usar um vestido da temporada anterior. — Não se esqueça que estamos
em Hampshire. Tenho certeza de que tentam se manter atualizados com as
últimas tendências da moda da melhor maneira possível.
Albert, que estava sentado ao lado de Josh, sorriu para ela do outro lado
da carruagem. Por outro lado, Josh parecia menos do que satisfeito por ter
que esperar a vez para sair.
— Por que está demorando tanto, o que acha? Talvez o salão esteja
lotado, e estão mandando as pessoas embora.
— Improvável. — disse Albert, ajustando a gravata e verificando o
cabelo. — Este salão é um dos maiores do país.
O homem estava nervoso? Era a primeira vez que se exporia na
sociedade desde que as aulas dela começaram. E embora tivessem coberto
várias situações que Sua Senhoria poderia encontrar durante um possível
cortejo, a maioria não serviu para evitar que terminassem nos braços um do
outro. Uma situação muito peculiar que Victoria precisava lidar com
cuidado.
Gostava muito de Lorde Melvin, e magoá-lo com a própria escolha de
futuro, uma que não envolvesse um segundo marido, era a última coisa que
ela desejava fazer.
— Tenho certeza de que chegaremos em breve, e então poderemos
encontrar os moradores, dançar até que nossos pés fiquem machucados e
beber até estarmos felizes.
— Deve fazer apenas duas dessas coisas, Victoria. — a mãe repreendeu.
— Beber até ficar alegre não é um passatempo que deve se engajar.
Victoria deu uma risadinha quando a carruagem avançou vários metros
e foi a vez de eles pararem diante das portas.
— Que maravilha. Chegamos. — declarou ela, sem se importar em
responder à mãe, que às vezes acreditava que todos os filhos, mesmo as
casadas, ainda não haviam atingido a idade de conhecer os limites.
Dois jovens correram para a porta da carruagem, um abriu a porta
enquanto o outro desceu os degraus com toda a pressa. Ela supôs que o
brasão ducal na lateral da carruagem atraía não apenas a atenção deles, mas
vários convidados que se demoravam do lado de fora.
A música, animada, o salão cheio de risos e conversas, flutuou até a rua.
Victoria desceu do veículo e ajustou o vestido enquanto esperava pela mãe.
Albert e Josh estavam por perto, ambos observavam os convidados do lado
de fora, examinando cada movimento deles.
— Venha, mamãe. — disse Victoria, pegando-a pelo braço e subindo a
curta distância até as portas.
Albert assentiu e falou com várias pessoas, apresentando-os ao duque e
a família dele antes de entrarem no salão.
Era um prédio grande, de fato. Albert não estava errado. Uma orquestra
acomodava-se em uma varanda do andar de cima, presenteando a sala com
música sem ocupar o espaço do salão de baile. O ambiente era uma mistura
de pessoas de todas as classes sociais. Um criado os chamou para a sala, e
várias famílias se dirigiram até eles, entre eles a Srta. Eberhardt.
Infelizmente, a única mulher que Josh parecia quase desesperado para
encontrar outra vez, Lady Sophie, estava longe de ser vista.
As apresentações e a conversa duraram vários minutos. Ainda assim,
pareceram ser horas quando se posicionaram no meio do caminho salão
adentro, observando os dançarinos despreocupados, curtindo a noite de
folia.
— Veja, Lorde Melvin, não é tão ruim ser sociável. Está se divertindo,
não está?
Ele estava ao lado dela, batendo palmas no ritmo da música.
— Considero tudo muito charmoso, e ainda mais porque a tenho ao meu
lado. — ele provocou. — Dançará comigo?
Victoria sorriu, não vendo nenhum mal em um conjunto. Ela pegou a
mão dele, sem se importar com o quão ousada a ação pudesse parecer.
Albert era um amigo, e ela seguraria a mão dele se quisesse.
— Eu adoraria dançar. Não pensei que fosse pedir.
Sem aviso, ele a arrastou para a multidão de foliões para participar. Eles
riram, giraram, rodaram, dançaram e valsaram várias canções. O salão
estava embaçado de fumaça, suor e uma infinidade de perfumes.
Victoria estava satisfeita por ter escolhido um vestido de meios menos
evidentes. Se tivesse usado um de seus vestidos da temporada passada,
teriam parecido intocáveis e inacessíveis. Por assim dizer, vários
convidados não viriam conversar, nem mesmo para desejar bonança.
Contudo, a nobreza local pareceu encantada por não terem se elevado tanto
a ponto de renunciar a tal evento.
Também foi bom para Albert. Ele precisava aprender a interagir com
outras pessoas, mesmo após o retorno dela para Dunsleigh.
— Deve convidar várias jovens para dançar esta noite. Insisto, ou
pensarei que todas as minhas aulas foram em vão.
Ele balançou a cabeça, parecendo menos do que satisfeito por ser
incitado a fazer tanto.
— O que diria se eu dissesse que só quero dançar com você, minha
senhora? Você me negaria?
Ela seria tão eficaz em negar algo a ele quanto seria ao tentar negar-se
os doces que ela amava ter de sobremesa.
— Não, não o farei, mas, por favor, Albert. Faça por você mesmo, se
não por mim. Deve praticar. E as pessoas aqui gostam de você. Não se verá
privado de parceiras de dança dispostas. Tenho certeza.
Ele a girou durante um minueto, parando atrás dela. A respiração dele
sussurrou em seu ouvido, e ela lutou para não se recostar nos braços dele, e
deleitar-se com a proximidade.
— Quem devo escolher para agradá-la, minha senhora? Se é seu desejo,
dançarei com que quiser.
Victoria olhou ao redor do salão o melhor que pôde. Várias jovens os
observavam, e ela podia ver a admiração, um pequeno grau de ciúme nos
olhares direcionados ao marquês, o lorde local dançando com uma mulher
que não era uma delas.
— Que tal a Srta. Thompson, a quem fui apresentada no início da noite?
Ela me pareceu adorável e nada hostil com alguém, nem mesmo aqueles
que são menos afortunados do que a herdeira.
O pai da jovem fizera fortuna com carvão e, por mais suja que fosse
essa indústria, o dinheiro ainda impactava tão bem na sociedade quanto um
título.
— Vou convidá-la para dançar na próxima sessão, se isso a agradar.
Agora, por favor, aproveite o que resta do nosso tempo? Ou será necessário
que eu a convide uma segunda vez esta noite?
Dançar com Lorde Melvin era uma honra, mas ela sabia que não
poderia monopolizar o tempo dele. Ele estava aqui por um motivo, e apenas
um. Conhecer moças adequadas e qualificadas para assumir o papel da
marquesa Melvin. A ideia deixava um gosto amargo na boca, mas ao final
da dança, ela fixou um sorriso nos lábios e observou enquanto Lorde
Melvin conduzia a Srta. Thompson para uma valsa.
Ela era uma mulher alta, semelhante em altura a Victoria. Entretanto,
onde Victoria era loira, a Srta. Thompson mostrava madeixas escuras como
a noite. Os cílios longos e escuros se espalharam acima dos olhos brilhantes
e amendoados.
A mulher era impressionante, e Lorde Melvin pareceu envolvê-la em
uma conversa animada que os dois estavam gostando.
— Vai deixá-lo dançar ao pôr-do-sol com outra jovem? Não está nem
um pouco com inveja, irmã? — Josh a cutucou, também observando o
amigo. — Quando fugiu do piano na outra noite, imaginei que não gostava
de ver Lorde Melvin nos braços de outra pessoa.
Victoria suspirou, controlando as feições para mostrar uma expressão de
orgulho em vez da inquietação que sentia borbulhando em sua alma.
— Lorde Melvin deseja se casar, e eu não. Seria errado da minha parte
mantê-lo longe de seus desejos quando somos apenas amigos.
— Amigos, você disse? — o irmão indagou, esfregando o queixo em
pensamento. — O homem está apaixonado por você, e são apenas amigos?
A palavra “apaixonado” girou em sua mente. Lorde Melvin não estava
apaixonado por ela. Luxúria, sim. Amor? Não. Eles não sentiam essas
coisas. Seria impossível. Ele sabia que ela era amiga dele, que estava
ajudando-o. Ele não seria tão tolo de se permitir apaixonar-se. Josh estava
confuso e nada mais.
— Não seja absurdo. Lorde Melvin está, enquanto falamos, colocando
em prática tudo o que eu ensinei. Por que sugeriria tal coisa sobre seu
amigo? É cruel.
— É mais cruel, minha irmã, conduzir um homem ao afeto e arrancá-lo
como se não fosse correspondido. Quando todos que veem vocês juntos
sabem que é.
— Eu adoro Lorde Melvin. Ele é meu amigo.
O irmão balançou a cabeça.
— Agora é desonesta consigo mesma, o que é ainda pior do que ser
falsa com Melvin. É melhor não se elucidar tarde demais, Victoria, e se
arrepender de seus teimosos projetos de vida. Faça isso, e pode lamentar
essa escolha e nunca se recuperar dela.
— O que está dizendo? — ela exigiu, embora uma pequena parte dela
soubesse a que Josh estava se referindo. Que ela estava tão determinada em
seu curso predefinido que poderia perder a maior oportunidade que já se
apresentara.
Josh olhou para ela com um sorriso paciente.
— Sei que deseja ficar sozinha. Não a culpo por se proteger após tudo
com Armstrong. Seus desejos de viajar pelo mundo e permanecer viúva a
protegem da vida. Entretanto, pense nessa vida por um momento, muitos
anos a partir de agora, quando for idosa, seus familiares todos casados,
ocupados com a própria família. O que você terá então? Temo que se sentirá
solitária. Não quero que seja infeliz na velhice.
— Eu não vou ser infeliz. Terei todos os seus filhos para me fazer
companhia e os de nossas irmãs.
Victoria amava o irmão por sua bondade e preocupações, mas eram
infundadas. Não importava o que seu futuro reservasse, de uma coisa ela
estava certa, e era de sua decisão de nunca ter filhos. Apenas não estava nas
cartas para ela, não era nada que ela desejasse. Ela esperava que a família
aceitasse tal fato e deixasse de pressioná-la.
— Não terá família ao seu redor o tempo todo, Victoria. Por favor, seja
racional neste assunto.
Victoria lutou para não olhar para o irmão. Voltou a observar a área de
dança a tempo de ver Albert se inclinando enquanto a Srta. Thompson
sussurrava algo no ouvido dele. Ela estreitou os olhos. A lady estava
mesmo interessada em Albert? Ela supôs que estaria. Qualquer uma estaria.
Não deveria surpreendê-la que, assim como os homens perseguiam as
mulheres pela cidade, as mulheres também mostrassem seu interesse.
Ela respirou fundo para se acalmar, controlando as emoções que se
agitavam dentro dela ao vê-lo tão perto de outra. Era uma reação que ela
precisava prestar atenção e reprimir.
Não gostava de se sentir excluída e, com o irmão repreendendo-a por
seus desejos para o futuro, a diversão da noite diminuiu um pouco.
— Se me dá licença. Creio que mamãe está gesticulando para eu me
aproximar. — Victoria se afastou, sem olhar para onde estava indo, apenas
sabia precisar de ar.
Ela avistou a mãe e garantiu que fosse na direção oposta. Se Josh viu o
desvio, ela não notou.
As portas da frente do salão acenaram e, sem olhar para trás, ela saiu,
dando uma volta pela lateral do prédio. Lá fora, a noite enluarada banhava o
parque circundante e a grama com uma luz salpicada de manchas. Vários
grupos de pessoas se misturavam do lado de fora, tomando ar. Victoria
avistou um assento um pouco mais ao longo da parede, bem onde a sombra
de um olmo bloqueava a luz da lua.
Ela se sentou, olhando para o parque além, pensando nas palavras do
irmão, pensando em Albert.
Esta noite deveria ser tão fácil. Ela deveria ajudá-lo a se casar, mas
pensar nele com outra a deixou desconcertada. Ela não gostou de ver a Srta.
Thompson nos braços dele, feliz e muito confortável após uma apresentação
tão recente.
— Victoria?
Ela pulou ao som do próprio antes que calor líquido fluísse através de
seu ser ao ver Albert parado a apenas alguns metros dela. Ele era tão alto e
largo, e incrivelmente bonito. Ela suspirou por dentro, odiando que
acabasse por magoá-lo. Talvez não esta noite, mas em breve.
— Vi você sair correndo e pensei que algo poderia estar incomodando-
a.
Ele deu alguns passos e se sentou ao lado dela, colocando o xale, que
ele fora gentil o bastante de reivindicar, nos ombros dela.
— Estou bem. Meu irmão insiste em que cumpra meu dever pela
segunda vez e me case. Chegou a dizer que você está apaixonado por mim e
que eu deveria considerá-lo como um marido. Se é que pode se acreditar
nisso. — disse ela, esperando que ele a dissuadisse dessa ideia.
Ele soltou uma risada, mas mesmo para ela soou tão vazia quanto as
próprias palavras.

ALBERT PENSAVA com fúria em como responder a Victoria. O que dizer


a uma mulher que declarava o que ele estava sentindo. Ele a queria como
esposa, amava-a com o máximo de fervor, e nada, não importa quantas
damas valsassem em seus braços, mudaria isso.
Mesmo enquanto dançava com a Srta. Thompson, ele sabia o paradeiro
de Victoria, com quem ela estava conversando e quando ela partiu. — Sua
família está vendo uma possibilidade para nós porque estamos passando
muito tempo juntos, isso é tudo. Suponho que me conheçam, e é normal que
pensem que combinamos. — disse ele, mantendo o plano original deles de
aulas de como um homem desajeitado como ele era, conquistar uma mulher.
Ele havia se saído muito bem esta noite. A conversa com a Srta.
Thompson foi distinta, e ele não fez papel de bobo nenhuma vez.
— Ficaria satisfeita comigo se estivesse dançando com a Srta.
Thompson e eu. Perguntei acerca dos gostos e desgostos, flor e dança
favoritos. Como é a casa ancestral dela, e se ela vai a Londres na próxima
temporada. Fiz tudo isso sem engasgar com as palavras ao temer a resposta.
— E ela respondeu? — Victoria perguntou, encontrando seu olhar.
Ele estendeu a mão, alisando a pequena linha de preocupação entre as
sobrancelhas dela. — Ela contou. Na verdade, foi mais do que direta com as
respostas.
— Pensa que gostaria de cortejá-la na cidade no próximo ano? — ela
perguntou, mordendo o lábio.
Albert verificou a localização dos outros convidados e, com prazer,
encontrou este lado da propriedade agora deserto. Ele se inclinou,
encurtando o espaço entre eles, e beijou-a, impedindo-a de morder o lábio
doce e carnudo dela.
Ela se derreteu contra ele, estendendo a mão para passar as mãos nos
cabelos dele. Ele amava a sensação dela reivindicando o que queria,
mantendo-o perto para poder beijá-lo de volta com tanto ardor quanto ele.
O beijo se transformou em um instante, exigente e quente. A língua dele
se enredou com a dela, os corpos empurrando um contra o outro, buscando
contato e satisfazendo uma necessidade que queimava tão quente quanto o
sol. Ela trazia o sabor de champanhe, um sabor inebriante que intoxicava a
mente dele.
— Victoria, devemos parar. Seremos pegos. — disse ele, tomando os
lábios dela mais uma vez, querendo agarrá-la e colocá-la no colo.
Droga, ele queria fazer muito mais com ela. Ele a queria na cama, agora
e para sempre.
— Será que a Srta. Thompson o beijaria assim? Ou que Lady Sophie
iria satisfazê-lo como eu?
— Não, não acredito. Nem penso nelas dessa forma. — admitiu, embora
soubesse que não deveria.
Ele não poderia permitir que Victoria acreditasse que ele também, assim
como o irmão dela, desejava que eles fossem mais do que amigos. Por
enquanto, precisavam manter a relação professor-aluno em que haviam se
estabelecido, nem que fosse apenas para ganhar tempo e conquistá-la.
— Você me faz questionar minhas decisões, Albert. Não sei o que fazer
quando você me olha como faz agora.
Ele a encarou.
Para ele, Victoria era a mulher mais bonita que ele já conheceu na vida.
Ele havia baseado vários personagens nela e a desejava com tamanha
intensidade que às vezes o seguia até os sonhos.
— Não pretendo tornar sua vida um desafio. Sei o que deseja para o
futuro, e temos um acordo para aulas de etiqueta e namoro. Gostaria de
continuar com essas. Venha. — disse ele, puxando-a para se levantar. —
Entre e dance comigo. Em breve haverá uma segunda valsa. Não quero
dançar uma com ninguém além de você.
Ela sorriu, permitindo que ele a puxasse para se levantar. Ela colocou a
mão acima da dele, e começaram o retorno ao salão.
— Também gostaria de dançar com você. — ele a ouviu dizer, e a
esperança tomou conta da alma.
Talvez houvesse uma possibilidade para eles caso ele tivesse cuidado ao
redor de Victoria. O risco decerto valia a pena correr.
A
CAPÍTULO VINTE E SETE

LBERT DESLIZOU com Victoria na valsa, movendo-se sem


esforço em torno dos muitos dançarinos que participavam da
dança. Ela o observava, o rosto doce e bonito, adorável de se contemplar e
admirar.
Um dilúvio avassalador de emoções tomou conta dela com o quanto o
adorava. A amizade e honestidade dele, a natureza doce e compreensiva.
Ele a fez questionar os próprios sonhos. Se ao menos ele a tivesse cortejado
antes de Armstrong. A dor da decepção daquele homem nunca teria
acontecido. Talvez hoje ela não fosse tão cautelosa em relação ao
casamento. Ou que não importa o quanto se pense conhecer alguém, tudo
pode ser uma máscara, uma mentira.
No entanto, algo dizia para ela que o casamento com Albert seria
diferente, pois ele era diferente. Contudo, como ela poderia ser fiel a si,
desistir do que desejava só porque o homem que a guiava pelo salão a fazia
querer outras coisas também?
Ela fechou os olhos por um momento, forçando os pensamentos a
clarear. Ela não iria debater a vida agora, neste instante. Em vez disso, ela
se jogaria no baile de Camberley, nessa valsa, e se divertiria até o sol nascer
no horizonte.
Albert puxou-a para perto para darem um giro, a mão dele roçando as
costas dela. O polegar dele resvalou na espinha dela, e ela estremeceu,
saboreando o toque. O homem possuía uma habilidade incrível de atraí-la,
um presente perigoso para uma mulher como ela, decidida a seguir um
caminho determinado e se recusando a desviar.
— Irá me encontrar mais tarde esta noite? Poderíamos repassar sua
avaliação da minha conduta no baile de hoje. Oriente-me acerca dos pontos
que podem melhorar, se quiser.
Ela sorriu, ansiosa pelo retorno para casa, para que ela pudesse ficar a
sós com ele. Fazer o que queria fazer com ele agora mesmo, com desespero.
Beijá-lo, provocá-lo, aprender coisas diferentes do livro de figuras.
— Acredito que já está muito bem, meu senhor. Poderia até, suponho,
me segurar um pouco mais perto.
O olhar dele queimou no dela, e calor subiu pela espinha.
— Assim? — ele perguntou, puxando-a um pouco mais perto dele.
Os seios dela roçaram as lapelas do casaco dele. Ela respirou fundo,
ficando mais perto ainda, para provocar o corpo dela do jeito que ela
gostava.
— Sim, desse jeito.
Um músculo ficou tenso na mandíbula dele. Victoria queria estender a
mão e agarrar seu rosto, beijá-lo, não importava que escândalo surgisse em
seguida.
— Tem estudado o livro? — ele sussurrou, inclinando-se ao ouvido
dela, o hálito quente dele a fez sentir cócegas, e ela estremeceu. — Há algo
em particular que a atraiu e que gostaria de tentar? Que pense que minha
futura noiva iria gostar?
Havia um desenho que ela observou e estudou por muitas horas. O de
uma mulher, beijando o eixo ereto de um homem. Ilustrações menores
mostravam a mulher levando o homem à boca, inteiro. A memória dos
beijos dele entre as pernas dela a fez ansiar, e ela supôs que seria o mesmo
com ele. Ou pelo menos é o que ela presumia.
— Há algo que parece ser seguro de se tentar.
E ela supôs que, quando ele se casasse, ele poderia pedir à sua esposa
para realizar algo semelhante se ela quisesse.
Os lábios dele se torceram em um sorriso malicioso.
— E o que é?
Victoria empurrou os quadris para roçar nas calças de pele de gamo
dele. Os olhos de Albert se arregalaram, mas ele não disse nada, apenas a
encarou de um jeito que a fez querer sair do baile naquele mesmo instante.
Ela analisou o entorno, verificando se estavam tão sozinhos quanto
poderiam estar durante uma valsa.
— Quero beijá-lo. Entretanto, não nos lábios. Quero beijá-lo aqui. —
ela admitiu, movendo-se contra ele mais uma vez.
Albert soltou um suspiro entrelaçado com um gemido.
— Não pode fazer isso, por mais que eu adorasse tal aula.
Victoria deu de ombros, determinada a conseguir o que queria. Ela
lambeu os lábios, já imaginando o que ele faria quando ela o pegasse e o
guiasse para a boca. Ele gemeria o nome dela, agarraria seus cabelos como
ela agarrou os dele? Quando chegasse ao ponto de expelir a semente, o que
ele faria? Iria se derramar na boca, ou ele a faria parar?
— Ora, vou começar e terminar a lição, meu senhor. Faz parte do
acordo, não? Para nós dois aprendermos enquanto podemos.
Ele a girou na dança, e ela riu, avistando a mãe, que os fitava com um
olhar caloroso, mas calculista.
— Mamãe está nos observando, e se consigo ler minha mãe tão bem
quanto acredito conseguir, atrevo-me a dizer que ela pensa que estamos nos
cortejando.
Ele ergueu as sobrancelhas, colocando Victoria a uma distância
respeitável outra vez.
— Suponho parecermos confortáveis o suficiente na companhia um do
outro que as pessoas cheguem a tal conclusão. Entretanto, sua mãe sabe que
você está me ajudando a navegar no mercado do casamento. Estou certo de
que ela apenas se sente satisfeita por estarmos nos divertindo.
— Eu estaria me divertindo mais se estivéssemos sozinhos em
Rosedale.
Albert errou um passo na dança, mas corrigiu a rota antes que notassem.
— Não diga essas coisas, Victoria.
Ela deixou a mão deslizar pelo ombro dele, o dedo traçando a nuca.
— Quero ver você se desfazer sob o meu beijo, Albert. Assim como eu
me desfiz sob o seu.

ALBERT LUTOU para manter a calma, o corpo mostrava-se uma profusão


de desejos e necessidades. Queria arrastá-la para longe do baile, fugir para a
carruagem e possuí-la de todas as maneiras imagináveis. E mais se ela
concordasse.
Do jeito que estava, ele estava feliz que ainda faltavam vários minutos
para a valsa devido ao seu pau furioso nas calças que, se alguém olhasse de
perto, sem dúvida notaria.
Ele queria ver os lábios carnudos e macios dela, envolvendo seu falo.
Queria vê-la se engajar nele, chupá-lo com força até que ele se derramasse
naquela boca. A ideia de que ela queria fazer exatamente aquilo com ele o
deixou incapaz de se acalmar.
— E se você não gostar?
Ela ergueu um ombro delicado, olhando para ele sob os cílios longos e
escuros. Ela era tão bonita que o fazia sentir dor só de estar perto dela. Com
uma necessidade que ia além do físico, ele queria que ela fosse dele, queria
tê-la em sua cama todas as noites para poderem se dar prazer. Observá-la se
desfazer sob seu toque, uma e outra vez.
— Eu gostarei. Sei que sim. E não há perigo no que devemos fazer. Não
há como eu ficar grávida dessa forma.
Não, ela não podia.
Todavia, não significava total segurança para ela. Para ele, pelo menos,
cada vez que ficavam juntos, seja assim, conversando sozinhos, ou dando
prazer um ao outro, seu coração ficava menos capaz de ser independente
dela.
Ele era apaixonado por ela há anos, se fosse sincero consigo mesmo.
Como ele a veria partir assim que se cansasse das aulas e pensasse que ele
estava preparado para o mundo, para a temporada de Londres. Uma vida
sem ela?
As aulas não poderiam continuar por tempo indefinido. Em algum
momento, ela voltaria para casa, e ele a teria perdido.
A dança chegou a um final lamentável, e ele a conduziu até a mãe.
— Creio que já tive o bastante do baile, meu senhor. — observou
Victoria, enquanto se juntava à mãe e ao irmão, que falava com Lorde
Hammilyn a apenas alguns passos de distância.
— Concordo, minha querida. Devo dizer a Josh que estamos prontas
para partir?
Victoria assentiu no instante em que gritos altos e o som de madeira se
partindo soou perto do fundo do salão.
— Depressa, para a carruagem. — disse Josh, conduzindo-as em
direção às portas. — Dois moradores começaram a brigar.
Albert se virou para onde ocorria a comoção e notou que vários outros
homens haviam entrado na briga, e a cena representava mais um dia no
Gentleman Jackson do que um baile campestre.
— Devemos partir. — ele concordou, ajudando o duque a separar as
mulheres do perigo.
Albert ajudou o duque enquanto procurava a carruagem da família.
Felizmente, não estava bloqueada, e logo estavam voltando para Rosedale.
— Bem, preciso dizer. Esta noite estava indo tão bem. Vários jovens
quiseram dançar com você, Victoria. Suponho que teremos que esperar o
baile de Lorde e Lady Hammilyn para pedirem sua mão.
— Mamãe, espero que não tenha cantado meus louvores a todos que
passaram na sua frente. Sabe o quão desagradável considero tal
interferência.
— Falo sério, querida. De que outra forma encontrarei um marido para
você, se não faz nada para atraí-los? Se eu precisar conversar com os
rapazes em seu lugar, enumerar seus talentos, então o farei. Quando estiver
casada e feliz, eu paro.
Albert observou Victoria revirar os olhos antes de encontrar o olhar dele
do outro lado da carruagem escura. Ele fechou as mãos ao lado do corpo. A
ideia de Victoria ser cortejada, de ter palavras doces e vazias sussurradas
em seus ouvidos, o fazia querer causar dano físico a qualquer um que
ousasse cortejá-la.
Ela não poderia querer mais ninguém. Decerto, pelo que ela mesma
disse, ela não queria nenhum homem. O desejo de estender a mão, puxá-la
para o colo dele e começar a noite que ela havia prometido o oprimiu.
— Em qualquer caso, suponho que não será esta noite. — a duquesa
bocejou, cobrindo a boca com o pequeno leque de seda pendurado em seu
pulso. — Irei direto para a cama quando voltarmos para casa.
— Farei o mesmo. — Victoria disse, uma luz travessa em seus olhos.
Albert sabia que ela não faria tal coisa. A expectativa latejava em suas
veias, e ele contaria os segundos até ela estar nos braços e cama dele.
Mais tarde…
A
CAPÍTULO VINTE E OITO

O VOLTAR PARA CASA, Victoria pediu que água morna fosse


levada ao seu quarto e tomou um banho rápido. Após a dança, a
fumaça e os aromas da noite a deixaram precisando de um banho. A criada
a ajudou, escovando seus cabelos e prendendo-os em um longo nó que
escorregava por cima de seu ombro.
Victoria dispensou a criada para a noite antes de entrar sob as cobertas
da cama. A casa logo se aquietou, o som dos últimos criados percorrendo os
corredores e quartos, apagando as velas e recolhendo todos os pratos que
possam ter sido usados na sala de estar no andar de cima.
Victoria se esgueirou para fora da cama, abriu a porta para verificar o
corredor, e ficou satisfeita em vê-lo envolto em escuridão, apenas lascas de
luar se infiltravam pelas janelas recuadas em cada extremidade do corredor.
Ela verificou a porta do irmão, não viu nenhuma luz vindo por baixo
dela e saiu furtiva do quarto, fechando a porta com o máximo de silêncio
que pôde antes de ir, na ponta dos pés, para a suíte de Albert.
Sem bater, ela entrou e se viu congelada no lugar. Albert estava diante
da pia, totalmente nu. O traseiro dele, tonificado e com uma adorável forma
muscular a saudava.
Victoria lembrou-se de fechar a porta e virar a fechadura, não perdendo
tempo em ir até ele. Ele se curvava acima da tigela, em um estado um tanto
imperturbável por ela o estar vendo em toda a sua glória.
E que visão gloriosa ele era para se contemplar. Com maridos como
Albert para voltar para casa depois de um baile ou festa, seria de se
perguntar por que alguém iria optar por sair.
Ou viajar para o exterior sendo viúva, quando um homem desses
poderia aquecer sua cama.
Victoria parou detrás dele, passando a mão em seu traseiro. Arrepios
subiram pelas costas dele, e ela o beijou ali, ao longo da coluna, desejando-
o com uma necessidade que a assustou.
Ela não deveria estar ali, nem iniciando um encontro, mas dane-se a
mente dispersa, ela não conseguia sair. Não conseguia fazer o certo pelo
homem diante dela.
— Você é adorável de se ver, meu senhor.
Sentindo-se corajosa, ela passou uma das mãos pela lateral do corpo
dele, e correu o dedo ao redor da parte inferior de seu eixo. A
masculinidade dele se projetava, ereta e ansiosa. Ela o sentiu e o provocou,
e o ventre dela se contraiu, desejando-o com uma loucura que não seria
saciada.
Ele se virou, encarando-a. A atenção dela se voltou para o peito
musculoso, e ela o observava com interesse e sem indiscrição. A cada
respiração, o peito dele subia e descia, se apertava e brilhava com os
resquícios de água do banho.
— Você faz meu coração parar. — ele murmurou com a voz rouca.
Albert a pegou nos braços, tomou os lábios dela em um beijo que a fez
se esquecer de todos os problemas. Seu futuro e as decisões que precisou
tomar derreteram quando ele a carregou para a cama, e a deitou.
Ele se juntou a ela, e ela o empurrou para se deitar de costas, uma
pergunta pairava nos orbes azuis quanto ao que ela estava fazendo.
— Esta noite, meu senhor, é minha vez de aprender o que você gosta.
Desfrutar de você tanto quanto eu quiser.
Victoria passou a mão pelo peito dele, o foco deleitando-se com a
masculinidade dele. Uma veia azul-púrpura corria ao longo do
comprimento, o eixo era grosso e longo.
Sempre que Paul ia ao leito nupcial, o ambiente estava escurecido, e ela
mal viu a masculinidade dele nas seis semanas em que durou o casamento.
Decerto, nunca haviam se conhecido com tanta intimidade quanto ela estava
começando a conhecer Albert.
Ele colocou os braços sob a cabeça, observando-a, uma luz divertida
cintilou nos orbes azuis.
— Gosta do que vê, minha senhora?
Ela sorriu, mordendo o lábio enquanto descia pela cama para ficar
frente a frente com o eixo dele. Victoria o tocou de leve, maravilhada com a
maciez sedosa.
— Amo o que vejo, Albert. Vou beijá-lo lá agora. — ela admitiu para
ele.
Ela o ouviu respirar fundo para se manter calmo, mas ele não se mexeu,
nem tentou impedi-la. O primeiro gosto dele que sentiu, terroso e um pouco
salgado não foi desagradável, se poderia dizer algo era que gostou da
essência. Ela beijou a ponta da masculinidade, sorrindo quando saltou ao
seu toque. Com cuidado, ela envolveu a cabeça com os lábios, sugando.
— Está certo? — ela o consultou.
Os dedos dele cravaram nos cabelos dela.
— Sim. — ele disse engasgado.
Victoria podia sentir cada músculo do corpo de Albert se contrair. Uma
pequena parte dela gritava que poderia deixá-lo louco de desejo.
Em seguida, ela o colocou por inteiro na boca. A sensação dele, duro,
mas aveludado, era diferente de qualquer sensação que já experimentara.
Ele estremeceu cada vez que ela o levou mais longe na boca.
— Sim, assim, minha querida. — ele sussurrou com a voz trêmula.
Victoria o observou enquanto dava prazer, os olhos dos dois se
encontraram, os dele em chamas com uma necessidade que acordou o calor
em seu núcleo.
— Tenho outra ideia. — ele gemeu, sentando-se e mantendo-a distante.
Ela sentou-se de cócoras, sem saber qual seria a ideia.
— Conte de uma vez.
Albert pegou na camisola, puxando-a do corpo dela com um único
movimento. Ela estava sentada na cama dele agora, tão nua quanto ele. O ar
frio da noite beijou-a na pele, e ela sentiu os mamilos enrugarem sob a
inspeção dele. Ele traçou a carne rosada, colocando um beijo doce em cada
um dos seios.
Ela suspirou, segurando-o perto.
— Enquanto me toma com a boca, deixe-me levá-la ao clímax. Deixe-
me provar você também, ao mesmo tempo.
— Isso é possível?
Seu corpo zumbia com a ideia de Albert beijando sua vulva enquanto
ela dava prazer a ele. Umidade inundou seu núcleo com a ideia de tal
travessura.
— Está no livro. Acredite em mim, é possível.
Ela mordeu o lábio, balançando a cabeça.
— Estou disposta, se você estiver.
Albert riu, puxando-a para perto.
— Sabe que estou mais do que disposto. Agora, venha.
Victoria estremeceu na expectativa de que ele falasse tanto literal
quanto figurativamente.

ALBERT DEITOU-SE na cama e respirou fundo várias vezes para se


acalmar enquanto Victoria montava em seu corpo, colocando aquela doce
vagina diante do rosto dele. Ele nunca experimentara tal posição sexual,
mas havia admirado o desenho no livro em várias ocasiões.
Pensar que Victoria confiava nele o suficiente para permitir tais
liberdades com o corpo dela o deixou honrado. Ele agarrou-a pela bunda,
deslizando-a contra o rosto e a beijou.
Lá…
Ela estava quente e úmida, um suspiro de prazer quando ele beijou a
carne chorosa, o que fez seu pênis ficar duro. Sem inibição, ela ondulou
contra a língua dele, obtendo prazer, os suspiros e gemidos dele o
empurrando ao limite.
Ela chupou o pau dele com vigor, se divertindo tanto quanto ele. Ele
brincou com ela, sacudindo a protuberância com golpes implacáveis. Ela
não se esquivou, se perdeu no próprio prazer, mas o levou mais fundo na
boca, aceitando o desafio. Ele apertou a bunda dela, segurando-a contra o
rosto e a fodeu como ela merecia, empurrando-a em direção ao clímax.
Ela gemeu em torno do pênis dele quando ele sentia os primeiros
tremores do clímax vibrando pelo corpo. Saber disso aumentou a urgência
da liberação, e ele gozou, sem ressalvas e forte, bombeando semente até que
ele estava exausto.
Por um tempo, ficaram como estavam, a respiração de ambos irregular,
os corpos úmidos de suor e sexo. Victoria rolou para o lado dele, e ele
sorriu ante a risada satisfeita dela.
— Bem, devo admitir que essa posição pode ter se tornado uma das
minhas favoritas, meu senhor.
Ele deu um tapa na bunda dela, arrancando um grito dela.
— Albert, nada de meu senhor. Não depois disso. — ele gesticulou
entre eles.
— Verdade. — ela sorriu, encontrando o olhar dele. — Que outras
posições deliciosas existem nesse seu livro? Se forem tão boas quanto o que
acabamos de experimentar, contarei as horas até que estejamos sozinhos de
novo.
Ele também contaria as horas.
No entanto, um pequeno ressoar de desespero arrepiou-o na alma. Ele
não queria ter que esperar a casa cair na cama. Precisar esperar para que
escapem para quartos desocupados. Ele queria ser capaz de fazer amor com
Victoria sempre que desejassem. Queria que ela fosse a esposa dele, sua
para amar e cuidar para sempre.
— Existem outras que podemos tentar. — ele se pegou dizendo. —
Encontre-me aqui amanhã à noite, e exploraremos mais do que podemos
fazer juntos.
Ela se virou na cama, deixando-se cair no peito dele. Ela o beijou, um
beijo lento e inebriante que fez o coração dele doer.
— Esta noite, foi minha escolha. Amanhã, deixarei que escolha o que
faremos.
Case-se comigo, então.
Albert quis perguntar. Em vez disso, ele ergueu a sobrancelha, dando
um sorriso malicioso.
— Um jogo perigoso, Victoria. Tem certeza de que deseja continuar
jogando?
— Ó, sim, gosto deste jogo. — disse ela, antes de beijá-lo com vontade
mais uma vez, e eles se perderam por mais várias horas de prazer.
Albert perdeu um pouco mais de seu coração para a mulher em seus
braços.
O
CAPÍTULO VINTE E NOVE

DIA SEGUINTE amanheceu um dos mais quentes do ano, embora


os meses de verão estivessem dando lugar ao frio de agosto.
Victoria usava um vestido de musselina branca e pediu limonada no terraço
enquanto pegava a correspondência da irmã.
Ela contou a Alice de seu tempo aqui, a diversão e o baile da cidade,
mas não contou tudo o que acontecera na propriedade de Rosedale.
A mãe se sentava à frente dela, agitando o leque de seda diante do rosto
enquanto olhava para o gramado.
— Você e Lorde Melvin parecem ser amigos próximos. Há alguma
possibilidade de o ajudar a se firmar na sociedade sem que você decaia?
A pergunta da mãe a tirou dos próprios devaneios e ela olhou para cima,
notando o semblante sério da mãe.
— Claro que não. — ela mentiu, sabendo que isso estava longe de ser
verdade.
Ela passara a não apenas desfrutar da companhia de Albert, mas
também a desejava. A ideia de partir, viajar pelo mundo sem ele por anos, a
deixava fria em vez de animada.
Foi uma mudança nos eventos que não imaginara que aconteceria, e ela
não poderia se dizer feliz ante tais pensamentos confusos. Todas as emoções
conflitantes poderiam ser colocadas na conta do desgraçado do falecido
marido dela. A crueldade e estilo de vida escandaloso dele seriam o
suficiente para mandar qualquer uma correndo para as colinas, a nunca mais
querer se casar. Ela não era diferente, embora Albert não fosse nada
parecido com Paul.
— Somos amigos. Nada mais, mamãe.
A mãe soltou um pequeno suspiro irritado.
— Por favor, minha querida. Posso ser mais velha do que você, e minha
primeira temporada pode ter acontecido há alguns anos, mas esta não é
minha primeira incursão em um salão de baile. Sei quando duas pessoas são
mais do que amigos.
Victoria continuou a rabiscar palavras para a irmã, porém, quanto ao
que estava escrevendo, ela não sabia dizer. As palavras da mãe a deixaram
demasiado distraída.
— Lorde Melvin deseja uma esposa. Esquece-se de que eu não desejo
outro marido.
A mãe estalou a língua em aborrecimento.
— Não pode viajar pelo mundo sozinha, minha querida. Mesmo sendo
viúva e herdeira, filha e irmã de um duque. Terá a reputação de ser liberal e
nossa família será desprezada. É o que você quer?
Ela se recostou na cadeira, jogando a pena no chão.
— Como assim ganharei uma reputação? Farei o que quero, e ninguém
vai me impedir. Casei-me com o homem que todos consideravam fabuloso
e vejam como acabou. Ele fugiu com uma criada seis semanas após o início
do nosso casamento e continuou a se prostituir pela Europa antes que um
marido atirasse nele. Ninguém vai me censurar por querer ficar sozinha, não
depois de Paul.
— Acredito que seu irmão pode querer que reconsidere seus planos.
— Não quando ele sabe o quão importante é para mim. — Victoria
argumentou, odiando a ideia de qualquer um dizer o que ela deveria fazer,
até mesmo sua família. Esta era sua vida, dela para viver e aproveitar. O que
seria da vida se odiasse tudo o que ela englobava? — E eu posso fazer o
que eu quiser. Não sou mais uma debutante, mamãe. Sou viúva, como você.
Por favor, tente se recordar desses fatos.
Quando Paul fugiu, e passado o choque inicial, raiva substituiu qualquer
tristeza que ela pudesse ter sentido. Como homem, ele era livre para fazer o
que quisesse, dormir com várias mulheres sem pensar na esposa. Ela se
prometeu que nunca se colocaria à disposição de outro homem. Nunca daria
a um deles o poder de machucá-la, humilhá-la da forma que o falecido
fizera.
O mundo era grande e ficava maior a cada dia. Tanta coisa para ver
além dos campos ingleses, grandes propriedades e a temporada de Londres.
Mudar seus planos apenas porque havia encontrado prazer nos braços de
outro homem era ilógico. Não importa o quanto ela se importasse com
Albert, a vida que ele queria era tão diferente da que ela cobiçava.
Ela não poderia se acomodar outra vez.
— Sei que o Sr. Armstrong causou dor e constrangimento, mas Lorde
Melvin não. Não tem nada a temer ao se casar com Sua Senhoria.
— Nada além de que ficarei presa aqui em Hampshire para o resto da
minha vida. Colocando no mundo uma criança por ano para manter a
família feliz, desde que pelo menos uma delas seja do sexo masculino.
— Fala como se fosse uma égua de cria.
— Não sou? — ela argumentou. — Não é isso que esperam de todas
nós "damas em formação"? Mulheres privilegiadas. Casar-se com homens
de igual valor, tolerar todos os vícios e amantes que eles têm em Londres
enquanto parimos seus filhos, colocando nossas vidas em risco cada vez
que o fazemos. Não quero esse tipo de vida. Não quero filhos nem um
marido, mamãe.
Pronto, ela admitiu.
O rosto da mãe empalideceu, e qualquer um pensaria que a mulher
havia visto um fantasma. A mãe não falou por um momento, embora a boca
se abrisse e fechasse várias vezes.
— Não pode estar falando sério. — ela por fim murmurou.
Victoria se levantou, guardou as cartas que estava lendo e escrevendo na
caixinha que trouxera do quarto.
— Falo sério cada uma das palavras. Você não precisa que eu tenha
filhos também. Nem que eu volte a me casar. Tem três outras filhas já
casadas e com filhos. Josh será o próximo e cumprirá seu dever para com a
família. Não vejo por que deveria fazer o mesmo. É injusto me pedir tal
sacrifício quando sabe o quanto sou contra. Não posso confiar meu coração
a ninguém, mamãe. Não vou colocá-lo em risco de se partir uma segunda
vez.
— Victoria, querida, não será assim. — a mãe tentou suavizar, mas
Victoria não ouvia.
Ela se virou, desceu as escadas do terraço e partiu para o lago.
Murmurou palavrões, odiava discutir com a mãe, mas também não gostava
do que se esperava dela, mesmo após tudo o que acontecera com Paul. Era
uma injustiça das piores. A determinação a atingiu, e ela soltou um suspiro.
Não era nada suportável, e ela não o faria. Nunca mais.

ALBERT OUVIU VICTORIA vindo por entre as árvores antes de vê-la. Os


resmungos para si, palavras como família irritante, coisas e absurdos,
expectativas eram apenas alguns termos que lançava ao mundo para
ninguém em particular.
Ele se sentou na pequena doca, com os pés descalços e balançando na
água neste dia quente.
Ela apareceu e derrapou ao parar quando o avistou. Ele acenou,
sorrindo, e os ombros dela caíram antes de se juntar a ele, tirar as sapatilhas
de seda e puxar as meias sem se importar, para balançar os pés também na
água.
— Algo aconteceu? — ele perguntou, sabendo que sim.
Ela balançou a cabeça, olhando para a água escura do lago.
— Nada que eu não saiba lidar. — ela fez uma pausa. — Direi que se eu
nunca tivesse me casado com Paul, meus problemas seriam escassos. — ela
brincou, lançando um sorriso autodepreciativo. — O que está fazendo aqui
no lago sozinho?
Ele apontou para o equipamento e a vara atrás dele.
— Eu estava pescando. Seu irmão estava aqui, mas queria dar um
passeio antes que ficasse muito quente.
Victoria ergueu o rosto para o céu, dando a ele uma visão perfeita de seu
perfil. O coração dele deu um pequeno surto com o quanto ele gostava dela.
Quanto desejava que Victoria sentisse o mesmo.
O sonho dele para os dois era uma fantasia? Inferno, ele esperava que
não.
— Está ensolarado hoje. Deve ser por isso que minha mãe está tão
irritante. Ela não gosta do calor. — ela admitiu.
Albert não a pressionou para descobrir o que havia acontecido e, em vez
disso, ofereceu uma ideia para agradar.
— Gostaria de nadar? A água não está fria.
Os olhos dela se arregalaram, e ela olhou para trás em direção à casa.
— Ninguém pode nos ver aqui. — ele explicou quando ela pareceu
prestes a recusar. — Avisei aos meus servos para não me perturbarem.
Um sorriso malicioso apareceu nos lábios macios dela.
— Pode me ajudar com meu vestido? — Victoria se virou, dando-lhe as
costas.
Albert desabotoou os botões minúsculos em suas costas, admirando a
pele cremosa e macia sob a camisola.
— Tem costas muito beijáveis. Ele acariciou-a no pescoço, aninhando-
se logo abaixo da orelha.
Ela se empurrou contra ele, estendendo a mão para agarrar os cabelos
dele.
— Venha, vamos nadar.
Victoria se levantou, o vestido escorregou para seus pés antes que ela
corresse e pulasse do final do cais, arrancando um grito quando atingiu a
água fria. Albert arrancou o colete e puxou a gravata antes de jogar a
camisa no cais com todas as roupas. Ele deixou as calças, e então se juntou
a ela, pulando ao lado dela.
Ela riu, nadando até ele e envolvendo os braços em volta do pescoço
dele. Por um momento, ela o olhou fixamente, as gotas d'água caindo pelos
longos cílios. Os olhos verdes estavam ferozes com o lago ao redor deles, e
então ela o beijou. Albert puxou as pernas dela para rodear a cintura,
segurando-se no cais para mantê-las flutuando.
O beijo foi tão selvagem e exigente quanto a mulher em seus braços.
Indomável e perversa. Amor crescia dentro dele. Ela era a vida dele, e ele
precisava que Victoria percebesse que ele era a dela. Que ser casada com
ele não significava que teria que desistir de seus sonhos, apenas deixá-lo
fazer parte deles. Ele se comprometeria se significasse que eles se casariam.
Até então, ele jogaria este jogo para desembaralhar os próprios
pensamentos, perdoasse o passado e recebesse o futuro de braços abertos.
Victoria precisava de tempo, e ele não estava com pressa. Ele esperaria
para sempre se precisasse.
O
CAPÍTULO TRINTA

S DIAS PASSARAM, seguidos de noites de despertares


escandalosos. Victoria não se lembrava de ter se divertido tanto
em nenhuma viagem de férias ao interior, como dessa vez, desde que
começara a comparecer a tais eventos.
Mas Albert era um anfitrião muito especial e deu atenção especial a ela.
Aos desejos e vontades dela. Ele era totalmente viciante e perverso, e ela
saboreava cada momento nos braços dele.
A carruagem parou diante da propriedade da casa de Lorde e Lady
Hammilyn. A casa não era tão grande quanto Rosedale, era um quarto do
tamanho de Dunsleigh. Mesmo assim, a propriedade do conde era grande e
muito bonita, com paredes de arenito, janelas brilhantes e lanternas que
alinhavam a trilha de carvalho até a casa.
Esta noite, Josh parecia um tanto elegante, e ela se perguntou se ele
estaria apostando suas fichas em Lady Sophie e se vestido para
impressionar a herdeira. Ela era muito bonita, mas fria, Victoria não pôde
deixar de pensar. Josh precisava de uma lady gentil e alegre como ele, e
Victoria não estava certa de que ela se encaixava nesse perfil.
Sua mãe falava muito pouco. Ainda estava um pouco chateada após a
discordância entre elas há vários dias. Ela supôs que teria que fazer as pazes
com a mãe, mas como o fazer se ela estava determinada a viver como bem
entendesse?
— Chegamos. — disse Josh, deslizando a cartola na cabeça.
Ele saltou primeiro, ajudou a mãe a descer e, em seguida, Victoria.
Albert se juntou a Victoria e pegou-a pela mão, colocando-a em seu braço
enquanto subiam o curto lance de escadas para a casa.
Vários amigos de Londres estavam no salão de baile e após as
apresentações juntaram-se a eles. Por algum tempo, Victoria conversou
sobre moda, Londres, quem havia voltado para as propriedades rurais e que
escândalos estavam fermentando na cidade. Felizmente, ela não era mais
um dos assuntos desse tópico. Albert, ao seu lado, mantinha uma boa
conversa com pessoas de sua esfera social. Ele havia percorrido um longo
caminho desde as primeiras aulas. O próximo ano seria esplêndido para ele.
Ela o puxou de lado, sorrindo para ele. — Sei que não quer que eu o
apresente à nenhuma lady, mas vejo que a Srta. Marigold Scottsdale chegou
com o irmão, e ninguém se juntou a eles. Por ser um dos cavalheiros mais
graduados do condado, talvez possa ir conversar e fazer com que se sintam
mais bem-vindos.
— O Sr. Scottsdale não se envolveu em algum escândalo no ano
passado? — Albert perguntou, sem se afastar dela.
Victoria franziu a testa, pensando na temporada anterior.
— Não creio, contudo, não circulo no grupo de amigos deles. De
qualquer forma, por serem convidados hoje, tenho certeza de que tudo o
que ouviu não é digno de preocupação.
Ele passou a mão pelo queixo, um olhar incerto cruzando as feições.
Victoria se preparou para observá-lo com a Srta. Scottsdale. Era isso que ele
precisava fazer se quisesse seguir com o plano de conseguir uma esposa.
Era o que ele queria da vida. Ela não podia ficar no caminho dele apenas
por gostar da companhia e das delícias que compartilhavam em privado.
— Vá falar com eles, Albert. Ficarei muito bem aqui com meus amigos.
Ele assentiu e, com relutância, começou a caminhada até os dois recém-
chegados.
Victoria voltou ao grupo, movendo-se um pouco para o lado para poder
observar as interações de Albert. O alívio do Sr. Scottsdale foi evidente ante
a presença do marquês, e Victoria não pôde evitar sentir pena do casal. A
alta sociedade, quando alguém sai da linha, pode ser muito dura em suas
críticas. Talvez o Sr. Scottsdale tivesse tido um pequeno problema e ainda
não tivesse sido totalmente perdoado. Ela sabia muito bem como era ser
uma pária, embora tivesse sido a parte inocente do adultério do marido, a
nobreza não via dessa forma.
— Lady Victoria, a senhora está aqui com Lorde Melvin e seu irmão, o
duque, é claro. É gentileza sua juntar-se à nossa pequena sociedade aqui em
Camberley. Sei que não está acostumado a eventos tão humildes.
Victoria se virou para Lady Sophie, assentindo em boas-vindas.
— Não há nada de humilde em Camberley. Eu me diverti muitíssimo
durante minha estada.
Lady Sophie levantou uma sobrancelha cética.
— Mesmo? Lorde Melvin e sua propensão para a privacidade, um tipo
de pessoa caseira. Não imaginei que se adequaria à sua personalidade, ou ao
seu calendário social.
— Lorde Melvin é amigo de meu irmão há alguns anos, e mamãe e eu
não havíamos marcado nada, então pensamos em nos juntar ao duque para
visitar o amigo após a temporada. — Victoria fixou um sorriso. — Não
pensei que se interessaria pelo meu calendário social.
— Meu pai sabe do paradeiro de todos, ou pelo menos daqueles que ele
escolhe saber. Papai, veja, tem planos de me casar com um lorde ou um
duque. Ainda estou para decidir qual eu quero.
Victoria estreitou os olhos, um pinicar estranho subindo pela pele.
— Ainda não teve sua temporada. Escolheria antes mesmo de ir a
Londres?
Lady Sophie encolheu os ombros com delicadeza.
— Meu pai está decidido a me casar, e assim o farei. Se eu me casar,
não desejo me ver em situação inferior à atual, então creio ter duas opções
para satisfazer os meus desejos, e os de meu pai.
— E o que seria? — Victoria não pôde deixar de perguntar, embora
soubesse que não gostaria da resposta.
— Ora, escolherei entre Lorde Melvin e seu irmão, o duque. Dois dos
homens mais ricos da Inglaterra. Embora o duque tenha sido mais direto em
seu interesse, Lorde Melvin decerto está curioso, não concorda? E bonito, o
que um marido deveria ser se alguém puder ter tanta sorte.
Victoria engoliu a bola de fogo que se alojou na garganta.
— Gosta de Lorde Melvin?
Não que Victoria costumasse fazer uma pergunta tão pessoal, mas
Albert merecia uma dama que o amasse, o adorasse em todos os sentidos.
Nunca permitiria que Albert se casasse com uma mulher que não se
importasse com ele, apenas com o dinheiro, mesmo que ela mesma não
quisesse se casar.
— Não importa se eu não gostar. Ele se casaria comigo pelo meu dote e
para ter filhos. O amor não é um requisito.
— E quais são os seus pensamentos quanto ao meu irmão?
Um pequeno sorriso brincou na boca de Lady Sophie, e Victoria decidiu
que não gostava dela. A mulher era calculista e, na próxima temporada,
quem quer que acabasse casado com a garota precisaria de toda a sorte do
mundo para fazer esse casamento funcionar. Ela não seria uma mulher fácil
de amar.
— Serei uma duquesa. Não há nada mais a acrescentar.
Victoria pigarreou, forçando as palavras que precisava falar.
— Entende que eu sou a irmã do duque, e que Lorde Melvin é um
amigo da família? Após ouvir suas palavras, me pergunto se é adequada
para algum dos homens.
— Mesmo? — Lady Sophie riu.
Victoria a observou, perplexa e sem acreditar que a mulher considerava
suas palavras tão divertidas.
— Por que está rindo?
Lady Sophie acenou com a mão diante do rosto, a divertida farsa
demasiado demorada.
— É divertida, minha senhora, e considero surpreendente que se
importe com minha visão de um casamento como um acordo vinculativo. A
senhora que renunciou ao matrimônio após passar por um casamento
desastroso. Era de se pensar que concordaria comigo e me exortaria a
guardar meu coração contra qualquer cônjuge que tenha pouco respeito
pelas esposas. O casamento é um contrato, e sem amor ninguém pode ser
ferido. Se eu tivesse a infelicidade de me casar com um homem como seu
falecido marido, bem, se eu não o amasse, não me importaria se ele fosse
baleado em terras estrangeiras.
Victoria olhou ao redor do salão, desconcertada pelas palavras de Lady
Sophie. Ela estava com razão? É assim que a sociedade a via agora? Como
uma mulher que renunciou aos homens, ao casamento como se fosse uma
instituição suja a ser lamentada e ridicularizada por quem escolheu esse
caminho?
Para sua vergonha, havia verdade nas palavras de Lady Sophie. O
casamento não era algo que ela desejasse suportar pela segunda vez. Nem
os filhos que se seguiriam ao dia do casamento. No entanto, quando olhou
para um salão de baile como aquele onde estava agora, observando Lorde
Melvin, as pequenas rugas no canto dos olhos se intensificando quando ele
sorria e ria, ela não conseguia imaginar não ver seu rosto todos os dias. Não
ter futuro ao lado dele.
— Não a vejo como uma inimiga, Lady Sophie. Apenas quero mais
para meu irmão e para Lorde Melvin do que uma esposa fria, incapaz de
amar. Embora eu talvez não esteja procurando por um marido, não significa
que eu não acredite que o amor seja real e que possa ser encontrado entre as
pessoas. Minhas irmãs são a prova de que tal resultado existe e pode ser
cultivado.
— Entretanto, ainda não o quer para si.
Não com homens como o falecido marido, aí ela não queria mesmo. No
entanto, com homens como Lorde Melvin, bem, essa era uma questão
irritante que ela vinha debatendo há semanas. Não que ele tivesse a pedido
em casamento, embora a insinuação tenha sido feita uma ou duas vezes de
que estaria disposto a viajar com ela. Dar a liberdade que ela desejava.
Ela estreitou os olhos. Será que ele o faria? Os homens eram muito
agradáveis durante o noivado e, após o casamento acontecer, mudavam de
caráter e de opinião. O verdadeiro caráter de Paul, uma cobra traidora, não
demorou muito para sair do buraco e apanhar qualquer pessoa de saias.
Victoria não acreditava que Albert fosse esse tipo de homem, mas ela já
se enganara uma vez. A vida dela estava uma bagunça, escolhas surgindo,
decisões que ela não estava pronta para fazer. Ela precisava pensar. Apenas
isso.
— Desejo boa sorte na próxima temporada, Lady Sophie.
Victoria desejou boa noite e foi procurar a mãe, ou melhor ainda, uma
garrafa de uísque. Ela precisava de um pouco de um fortificante antes de
continuar este baile. Poucos minutos depois, ela se viu indo para a
biblioteca e, felizmente, deu as boas-vindas à paz longe do salão
movimentado. Assim que acalmasse o coração acelerado e parasse de
imaginar que todos ainda falavam dela da maneira que Lady Sophie
mencionou, tudo ficaria bem.
A
CAPÍTULO TRINTA E UM

LBERT OBSERVOU os convidados que circulavam pelo salão de


baile e não conseguiu encontrar Victoria. Ele estava ao lado mãe
dela, esperando que ela voltasse e pudessem dançar, mas após vários
minutos sem que ela aparecesse, preocupação o dominou e não cedeu.
Deixou a duquesa conversando com um grupo de matronas, todas
observando as protegidas como falcões. Moveu-se pelo salão, tomando
cuidado para não ser puxado para uma conversa de que não poderia se
afastar.
Penworth estava conversando com Lady Sophie perto da porta da sala
de jantar, e algo no rosto do amigo o fez se perguntar se o duque estava
gostando da conversa com a jovem tanto quanto gostaria.
Ele continuou, saindo dali, passando pelo banheiro feminino e pelo
salão masculino que seria usado durante o baile. Victoria não foi vista perto
de nenhum desses espaços, e ele ficou no corredor por vários minutos,
perguntando-se onde ela estava.
Estava em segurança? Sentia-se mal?
Ele começou a descer as escadas, caminhando em direção à parte dos
fundos da casa, e derrapou diante das portas da biblioteca. Estavam um
pouco entreabertas. Lá dentro, ele conseguiu ver Victoria parada ao lado de
um aparador onde ficava a garrafa de uísque, ela servindo-se de um copo.
— Victoria? O que faz aqui? — ele perguntou ao entrar no cômodo e
fechar a porta atrás de si.
Ela girou, um pouco do líquido espirrando no chão.
— Precisava de um tempo longe do baile. — ela deu um gole na bebida.
— Ah, e Lady Sophie não é uma boa escolha de dama para você. Acredite
em mim, se vier a se casar com ela, seu casamento será tão miserável
quanto o meu primeiro.
A vida dele seria miserável, não importa com quem ele se casasse, se a
mulher a dizer o sim não fosse a que estava diante dele.
— Não quero me casar com Lady Sophie. Suas preocupações são
discutíveis.
Ela suspirou, deu alguns passos e recaiu contra a mesa.
— Bem, graças a Deus por isso. Suponho que agora só preciso me
preocupar com meu irmão.
Albert não acreditava que ela fosse sincera. Penworth parecia ter
formado opinião própria acerca da lady na última hora desde a chegada
deles. Ele estendeu a mão e pegou o copo de uísque, engolindo o que
restava da bebida.
— Nunca beba sozinha. — ele a provocou, aproximando-se dela para
esticar o braço e colocar o copo na mesa.
Seu corpo, perto do dela, disparou de desejo. Sem cautela, ele estendeu
a mão, tocando a mesa. Os olhos dela escureceram, uma luz pecaminosa
chegou aos orbes de jade. Ela não se esquivou do toque dele, mas estendeu
a mão para ele, acomodando-o entre as pernas.
— Eu a quero tanto. — ele admitiu, e prosseguiu com um beijo longo e
profundo.
Victoria suspirou, pegando tudo o que ele podia dar. O beijo exigente
roubou seu fôlego e juízo, e ele sabia precisar senti-la.
Provocar a doce carne até que ela se desmoronasse em seus braços.
Ele ergueu o vestido de seda dela, juntando-o na cintura. A pele macia
das coxas dela o fizeram queimar, seu pau duro e dolorido para tomá-la.
— Toque-me, Albert. — ela implorou. — Por favor, me toque.
Ele não conseguiria negar.
Deslizou a mão entre as pernas dela, provocando o botão, querendo
fazê-lo florescer. Ela estava molhada, latejante. Sentindo-se ousado, ele
deixou o dedo brincar no núcleo quente dela. Ela se agarrou a ele, fazendo
estrelas brilharem diante dos olhos dele.
Ele gemeu, desejando que fosse o pênis que a estivesse invadindo.
— Ah, sim, me toque, me provoque.
O pênis dele doía, e ele podia se sentir à beira do orgasmo apenas pelos
apelos ofegantes dela. Ele a fodeu com a mão, empurrando-a em direção ao
clímax que ambos apreciariam. Ela agarrou-o pelos ombros, a cabeça caiu
para trás, estava perdida em prazer. Ele beijou o belo pescoço, deleitou-se
com o perfume, os suspiros ofegantes e súplicas por mais. Ela montou a
mão dele, tomando tudo o que ele a fazia sentir antes que os primeiros
tremores de liberação atingissem o dedo dele.
O corpo dele ordenhou o dedo, e ele esfregou a protuberância, enquanto
o último dos tremores a deixavam.
Quando a névoa de prazer diminuiu, e Victoria voltou ao presente, ele
sorriu, sabendo que nunca se cansaria de vê-la durante o clímax.
— Isso foi incomum, mas acredito que acabamos de cobrir outro ato em
nosso livro de imagens. — declarou ele, ajudando-a a se sentar.
Ela sorriu, os olhos turvos pelas consequências do prazer. Ela realinhou
o vestido e ajeitou a saia sobre as pernas. As bochechas estavam cobertas
por um tom rosado, ela parecia uma senhora satisfeita.
— Hm, acredito que esteja certo, meu senhor.
Ele deu um passo para trás, e ela deslizou para fora da mesa, estendendo
a mão para verificar o cabelo.
— Gostaria que o mesmo serviço fosse executado em você, Albert?
Estou mais do que disposta a tocá-lo aqui. — sugeriu ela, colocando a mão
no pênis dele.
Ele gemeu e passou as mãos nos cabelos. Queria o toque dela. Ansiava
por tal ato com grande constância, mas aqui e agora não era o momento. Do
jeito que estava, eles arriscaram a reputação de Victoria por estarem aqui
sozinhos.
Se fossem pegos, ela seria forçada a se casar com ele, e ele não queria
que a união começasse dessa forma. Ele queria que ela se casasse de boa
vontade com ele ou não se casariam. De todas as vezes em que estiveram
sozinhos, ele se surpreendeu que já não estivessem diante de um padre.
— Aqui não. Mais tarde. — ele sugeriu, pegando a mão dela e saindo da
sala.
Felizmente, não encontraram ninguém e voltaram para o lado da mãe de
Victoria assim que o jantar foi anunciado.
A refeição foi agradável, com pratos que rivalizariam com os melhores
bailes de Londres. Albert falou e contribuiu para a conversa, mas não
conseguia evitar a preocupação mesquinha de que Victoria não mudaria de
ideia.
Ela estava tão determinada a desistir do casamento, de uma vida com
outra pessoa devido à experiência desastrosa com Armstrong, a ponto de
que ele nunca poderia conquistar seu coração?
Eles já eram íntimos há algum tempo. Decerto, ele se importava mais
com ela do que com qualquer outra pessoa no mundo. Ele a amava do fundo
do coração e a queria como esposa.
Ela sentia o mesmo agora? Ela o queria como marido? Ou estava tão
firme como sempre fora? Como ele queria quebrar em um milhão de
pedaços o túmulo de pedra que ela havia fechado em torno do próprio
coração.
— Não se esqueça de dançar uma vez com a Srta. Scottsdale, Lorde
Melvin. Ela passou o jantar todo sem conseguir desviar a atenção de você.
Creio que já a conquistou com seu charme.
A duquesa se voltou para a filha antes de olhar para a Srta. Scottsdale.
— Tem certeza de que Lorde Melvin quer dançar com a Srta.
Scottsdale? Deve ter certeza de que o pareamento é desejado antes de forçá-
lo. — disse ela, um olhar de desculpas no rosto ante as palavras da filha.
— Lorde Melvin sabe que não quero nada além do melhor para ele.
Albert praguejou por dentro, tendo a resposta à pergunta entregue sem
fazer a pergunta embaraçosa em tudo.
Como ele desejava que Armstrong estivesse vivo para que pudesse
esmurrar o desgraçado até virar uma polpa. Punir o libertino pela dor que
causou a Victoria, e pela dor dele, caso ele não conseguisse ganhar a mão
dela após tudo o que compartilharam devido aos modos infames do canalha.

VICTORIA OUVIU as palavras saindo da própria boca, mas não conseguiu


evitá-las, por mais que tentasse. A Srta. Scottsdale era uma jovem doce,
verdade, e parecia bastante encantada com Albert. Mesmo assim, após tudo
o que haviam feito juntos nas últimas semanas, e apenas meia hora antes na
biblioteca, como ela poderia pedir isso a Albert?
Ela era a pior das pessoas. Ele deveria afastá-la, mandá-la sumir e
deixá-lo em paz. No entanto, ele nunca o fez.
Ele era bom demais para ela, não pelos padrões da sociedade, mas pelos
padrões morais. Ela era uma megera, uma provocadora, alguns podem
dizer. Era a mãe dela, certo? Ela se tornaria escandalosa e teria um nome de
má fama? Quando ela decaiu tanto?
Cada vez que sugeria uma lady para Albert, ela via a dor nos olhos dele.
O desapontamento contínuo que as palavras dela produziam dentro dele.
Ela o estava magoando, e odiava isso.
O resto do baile correu muito bem, considerando que seu coração não
estava mais com vontade de dançar ou conversar. Tudo o que ela desejava
era voltar para Rosedale, ou talvez até mesmo para Dunsleigh.
O jogo que eles estavam jogando já durava tempo demais, e ninguém
sairia vencedor. Ela precisava falar com Albert e, pela manhã, ela o faria.
Não podiam continuar juntos, e tão íntimos, sem consequências. Ela não
estava pronta para dar o coração para ele. Talvez nunca estivesse. Victoria
ficou parada ao lado de Josh, ouvindo-o falar de Lady Sophie, com quem
ele parecia estar desapontado por qualquer motivo, e observou Albert
dançar com a Srta. Scottsdale.
Para Albert encontrar uma esposa, para seguir com a vida, ela não
poderia mais estar perto dele. Ele precisava criar um vínculo com outra, e se
não conseguiam manter as mãos longe um do outro, os desejos físicos
sobrepujando as regras de etiqueta, então ela precisava ir.
Ela precisava deixar Hampshire. A Inglaterra, se possível.
Mais cedo do que tarde.
A
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

LBERT NÃO TEVE TEMPO para esconder as páginas que estava


escrevendo quando uma batida soou na porta do chalé de caça na
manhã seguinte. Victoria colocou a cabeça para dentro da porta de madeira,
um pequeno sorriso em seus lábios macios. Mesmo assim, havia certa
preocupação no ar, uma nuvem de inquietação nos olhos dela que o fez
parar.
Ele ficou sentado lá, incapaz de se mover e sem saber o que fazer se o
movimento apressado das folhas que trabalhava despertasse o interesse
dela. Fazê-la questionar o que ele fazia no chalé todas as horas do dia e da
noite.
Em vez disso, ele se levantou, aproximou-se dela e levou-a para longe
da mesa e das palavras que um leitor interessado e amante de Elbert Retsek
distinguiria.
— Victoria, não pensei que viria aqui hoje. Imaginei que ainda estaria
na cama após a noite que todos nós suportamos em decorrência do baile.
Ela lançou um olhar curioso para a escrivaninha dele, mas não
perguntou, apenas deixou que ele a conduzisse até o sofá, o mesmo que em
que ele a fizera sentir prazer. Ele afastou tal memória, sentindo que ela não
havia vindo para encontrar alívio nos braços dele, a busca era diferente. Ela
estava prestes a admitir ter sentimentos por ele? Ele decerto esperava que
fosse esse o caso. Não queria nada mais do que ser dela, de agora e para
sempre. A ideia de não ter Victoria na vida dele era insondável.
Ela se sentou nas muitas almofadas e mantas, parecendo perdida e um
pouco insegura de si.
Ele se sentou ao lado dela, em silêncio e esperando.
— Devo desculpas a você, Albert. Agi de forma atroz na noite passada.
Após o que fizemos na biblioteca, incitá-lo a dançar com a Srta. Scottsdale
foi imperdoável. Desde que começamos com nossas aulas eu venho jogando
todas as moças elegíveis no seu colo. Enquanto isso, atrapalho todo o seu
progresso ao sermos íntimos. Espero que seja capaz de perdoar meu
comportamento abominável, e que consiga realizar seu desejo de
casamento, mas com alguém de sua escolha, não minha.
Albert afundou na cadeira, olhando para o teto, rezando por paciência.
Como ele permitiu que essa farsa continuasse por tanto tempo? Como ela
poderia não ver que ele a queria, não a Srta. Scottsdale, a Srta. Eberhardt ou
Lady Sophie. Nenhuma delas.
— Victoria, por mais que eu goste de nossas aulas, Deus sabe que como
são agradáveis. — acrescentou ele, lançando um sorriso triste. — Concluí
que não desejo me casar com qualquer pessoa que se enquadre no papel de
marquesa.
— Perdão? — ela o encarou, sem compreender as palavras.
Albert decidiu que já bastava. Não podiam continuar com esse jogo, não
quando seriam pegos e forçados a se casar, ou ela iria embora, e ele estaria
um estilhaço dele mesmo para o resto da vida, por perder a única mulher
que amou.
— Albert, o que você quer dizer? — ela perguntou após o silêncio
contínuo.
— Venho mentindo para você, Victoria, e eu deveria ser chicoteado por
isso. Na verdade, entenderei se não quiser mais nada comigo, mas se
escolher esse caminho, saiba que seria uma dor insuportável para eu
aguentar.
Ela balançou a cabeça. Um cacho se soltou e ricocheteou no ombro. Ele
estendeu a mão, colocando-o atrás da orelha, um pequeno diamante
brilhando ao sol da manhã.
— Permiti que suas aulas continuassem porque elas me permitiram estar
perto de você. Eu a quero desde que posso me lembrar.
— Por que nunca disse? Por que não tentou me cortejar quando o Sr.
Armstrong se fez presente? — ela perguntou, um olhar assombrado nos
olhos.
— Porque você era irmã de Penworth, e eu sabia que só poderia cortejá-
la se eu estivesse pronto para o casamento. Eu não estava naquela época.
Outras coisas estavam ocupando minha mente. — a escrita, os contratos de
publicação que ela ainda desconhecia, a morte do pai. — No entanto, estou
pronto agora. Quando sugeriu me ajudar, tudo que eu queria era aceitar sua
oferta. Acreditei que poderia seduzi-la a se casar comigo. Que por estar
comigo, mudaria de ideia acerca de casamento, cresceria em afeição por
mim e se casaria comigo, afinal.
Sua boca abriu e fechou várias vezes, mas o silêncio contínuo dela
ecoou como uma sentença de morte. Droga. Ela ainda era, após tudo o que
haviam feito, contra o casamento.
Decerto não!
— Ó, Albert, não sei o que dizer além do que digo desde o início. Não
quero voltar a me casar. — ela estendeu a mão, pegou a dele quando ele
estremeceu ante as palavras dela. — Embora eu goste muito de você, e estar
com você me faz sentir maravilhosa, tenho planos e sonhos. Um segundo
casamento, marido e filhos impediriam que todos se tornassem realidade.
Embora ele não quisesse estragar os sonhos dela, poderia haver espaço
para ele neles?
— Poderíamos viajar juntos, ver o mundo pelo tempo que quiser, desde
que visitemos a Inglaterra a cada poucos meses. Seria pedir demais?
Ela assentiu com a cabeça, olhando para o chão coberto com uma
abundância de tapetes Aubusson para manter o frio longe do piso de laje.
— É, sim. Viajar com você parece tão maravilhoso e livre, mas é
inevitável que as crianças venham. Elas sempre chegam, e eu não creio ser
algo que quero na vida. — ela fez uma pausa, encontrando o olhar dele que
desmoronou com as palavras dela. As lágrimas não derramadas nos olhos
dela diziam que ela fora sincera em cada palavra. — Não posso ser a razão
de você não ganhar tudo o que deseja na vida. Uma esposa, seus próprios
filhos. Sei ser o que quer, mas eu não. Você me odeia, não é? Considera-me
má por querer o que quero.
— Não a considero má. — ele nunca poderia pensar assim dela, porém,
não era fácil de aceitar. Maldito Armstrong e seus meios dissimulados, a
falta de respeito pela noiva. — Eu apenas acredito que está perdendo uma
oportunidade que pode se transformar em uma das maiores aventuras da sua
vida. Entretanto, não a forçarei. Não revelarei a Penworth tudo o que
fizemos apenas para me casar com você. Contudo, saiba que desejo que
você seja minha. Agora e sempre.
— Albert… — ela implorou. — por favor, não torne isso mais difícil do
que já é.
Não havia nada mais difícil do que perder a mulher que ele amava.
— Amo você, Victoria. Ao menos isso eu preciso dizer antes que me
deixe.

VICTORIA NÃO sabia o que dizer. Albert estava sendo tão honesto, tão
aberto com ela, mas ainda assim, ela não podia dar o que ele queria. Partia
seu coração não poder. Ela decerto iria para o inferno por ser uma mulher
tão perversa.
— Não sei o que dizer. — o pânico a assaltou ante a decepção dele. O
que ela poderia dizer? Nada ajudaria na situação em que se encontravam. —
Nossas aulas devem terminar e devemos parar o que estamos fazendo.
Ele balançou a cabeça devagar, absorvendo as palavras dela.
— Nossas aulas precisam terminar, antes que não haja como parar o que
acontece entre nós. Tivemos sorte até agora de não sermos vistos, mas essa
sorte durará pouco tempo.
Ela encontrou o olhar dele, a necessidade e o desejo que leu naqueles
olhos esmagou a alma dela. Ela era uma pessoa terrível. Albert era um dos
melhores cavalheiros que ela conhecia. Um dos melhores que sua família já
conheceu. Qualquer dama da sociedade gostaria de se casar com o marquês,
no entanto, ela não podia.
Não importa quanto prazer eles deram um ao outro, não valia a pena
desistir de todos os sonhos, nem ele dos dele. Um dia Albert perceberia que
o amor nada mais era do que paixão. Quando a mulher certa entrasse na
vida dele, ele saberia que ela fazia a coisa certa por ele hoje, por mais difícil
que fosse acreditar nisso agora. Ele teria filhos para trazerem riso para os
muitos quartos em Rosedale e saberia que Victoria deu este presente para
ele.
— Não o quero machucar, Albert, mas não posso me casar de novo.
Cada vez que penso que posso querer considerar o estado em meu futuro,
minha garganta se fecha e meu estômago me dói de pavor. Morei seis
semanas com um homem antes de ele fugir com uma das minhas criadas.
Ele me fez parecer a maior idiota da Inglaterra. A sociedade teve pena de
mim durante meses e falou de meu marido em bailes e festas com desprezo,
esquecendo-se de que eu estava lá, ouvindo cada palavra dita. Que eu não
poderia me divorciar dele, que estava à mercê dele sendo que Paul não
nutria um grama de misericórdia, eu sabia que nunca mais suportaria tal
constrangimento.
— Não sou Paul, Victoria. — ele afirmou, a voz cheia de emoção.
Ela estendeu a mão, apertando as mãos dele.
— Sei que não é nada como ele, e isso é crédito seu, de verdade.
Todavia, eu apenas não posso me casar com você, nem com qualquer outra
pessoa.
Ele balançou a cabeça, um músculo saltando na mandíbula.
— Posso dar um beijo de adeus? — ele perguntou.
Ela encontrou o beijo dele sem hesitação.
Os lábios dele esmagaram os dela, as línguas se enredando. Calor
líquido bombeou pelas veias dela, desceu pelo estômago, e se estabeleceu
entre as pernas.
Ela sentiria falta desta sensação. Dessa fome que ele a fazia sentir cada
vez que se tocavam. Albert seria o último homem com quem ela seria assim
na vida, e ela o beijaria, se fartaria dele até que não houvesse nada além de
lembranças afetuosas e deliciosas do que tiveram para mantê-la aquecida à
noite.
Você é uma idiota, Victoria. — uma vozinha em sua mente provocou.
Ela ignorou a voz, no momento em que Albert se afastou, levantando-
se, caminhando até a mesa e colocando vários papéis em uma bolsa de
couro.
— Deveria ir embora, Victoria. Vá agora, antes que sejamos pegos, seja
forçada a se casar comigo. Não a aceitarei dessa forma.
Ela se levantou, as pernas um pouco instáveis. A rejeição dele apertou
seu coração, mas ela fez o que ele pediu, e caminhou em silêncio para a
porta.
— Sinto muito mesmo, Albert. Pedirei a mamãe para irmos embora.
Direi que recebi uma carta de Alice implorando que voltemos para casa.
Algo a ver com o bebê. Concorda com este plano?
Ele assentiu, a mandíbula tensa, e não se virou para olhá-la. Em vez
disso, ele permaneceu focado nos papéis em sua mesa, os olhos
excessivamente brilhantes e vítreos. Horror apertou o coração dela de que
ele estava magoado, mais do que ela jamais pensou ser possível.
Partiu o coração dele?
Ela respirou fundo para se acalmar, forçando as pernas a se moverem
para fora da porta e em direção ao cavalo. Não olhou para trás.
Victoria encontrou a mãe no quarto, ainda sofrendo com o remorso por
tomar muito champanhe no baile. Sentou-se ao lado da cama, sacudindo um
pouco o braço da mãe para acordá-la.
— Mamãe, estou de volta do meu passeio à cavalo, e recebi uma carta
de Alice solicitando que voltássemos para casa. Não há nada de errado, mas
ela gostaria que estivéssemos perto, o bebê nasce em apenas algumas
semanas.
A mãe se ajeitou nas inúmeras almofadas às costas, piscando para
afastar a sonolência.
— Alice escreveu de novo? Recebi uma carta ontem informando que
tudo estava bem.
Victoria deu de ombros, não gostando do fato de estar mentindo para a
querida mãe, mas sabendo ser necessário.
— Não sei da carta que recebeu. Só sei da que chegou hoje. — ela se
levantou, indo até a cordinha da campainha. — Devo chamar sua criada
para começar a fazer as malas? Já instruí a minha a preparar meus
pertences.
A mãe afastou os cobertores, e Victoria soube estarem indo para casa.
Se havia algo de que a mãe se orgulhava bastante era do papel de mãe, e se
um filho precisasse dela, maquiada ou não, ela voltaria para casa e seria a
mãe coruja por semanas.
— Claro, toque a campainha, querida. Devemos partir hoje. Ainda não é
meio-dia, e se nos apressarmos, estaremos em casa logo após o anoitecer.
Victoria tocou a campainha, mais do que pronta para voltar para casa,
para Dunsleigh.
Ora, a quem estava enganando. Ela não voltaria para Dunsleigh. Fugiria
como a covarde que era. E não apenas sabia, mas estava certa de que Albert
também o sabia.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

—A LGUÉM PODE me explicar por que a carruagem está sendo


preparada para partir para Dunsleigh? Vi nosso condutor ajeitando os baús
no bagageiro. — Josh perguntou, entrando no quarto dela.
Victoria ergueu os olhos da mesa onde estivera sentada na última meia
hora, esperando que a fuga de Rosedale ocorresse antes que Lorde Melvin
voltasse do chalé de caça.
Era rude da parte dela partir sem uma despedida formal, mas a troca no
chalé já era ruim o suficiente. Ela não poderia encará-lo outra vez.
— Mamãe e eu estamos voltando para Dunsleigh. Alice solicitou que
voltássemos para casa.
Ela só esperava ser capaz de falar com a irmã antes de chegar à porta de
Dunsleigh, e Alice revelar a mentira pelo que era. A mãe nunca a perdoaria
por tê-las feito fugir de Rosedale sem uma razão válida para isso. Mesmo
que Lorde Melvin soubesse da justificativa, a mãe nunca poderia saber a
verdade.
Nunca poderia saber que a filha esteve tendo relações escandalosas com
um homem que não era o marido. E não somente, mas partir sem se casar
com ele como ele desejava.
— Não tem nada a ver com você e Lorde Melvin tem, Victoria? Sei que
ele está cortejando você. Ele pediu minha permissão para cortejar e propor
quando chegasse a hora. Dei minha bênção a ele, é claro. Ele é um homem
de honra e boa reputação. Não está fugindo, está?
Como diabos o irmão sabia da vergonhosa verdade?
— Não desejo me casar com Lorde Melvin, e é indelicado que eu
permita que ele acredite que eu queira. Enquanto eu o instruía na arte de
encontrar uma esposa, e trabalhava o nervosismo dele frente a mulheres e
multidões, ele de alguma forma me viu, em meio ao processo, como uma
futura noiva e não outra. Isso não pode acontecer.
O irmão cruzou os braços, uma carranca pronunciada entre as
sobrancelhas.
— Por que não pode acontecer? Ele é um cavalheiro gentil e honrado.
Mais do que Armstrong jamais foi, ou até mesmo eu. Ele tem um título e
não é um apostador ou um homem violento, um bom par para você, a quem
amo. Não deveria ser tão rápida em rejeitar as afeições dele.
Victoria respirou fundo para se acalmar, sabendo de tudo aquilo, havia
travado uma guerra consigo mesma a manhã inteira. Ela pensou nas irmãs,
em seus casamentos felizes. Queria saber se fez a coisa certa. Se estava
agindo como uma tola.
— Voltará para casa conosco, Josh? — ela perguntou, ignorando a
defesa contínua dele ao amigo.
Como ela poderia não tentar mudar de assunto? Não havia defesa contra
as palavras do irmão, pois tudo o que ele dizia era verdade.
Albert era maravilhoso, e ela estava fugindo.
— Ordenei que a carruagem fosse devolvida ao estábulo. Partiremos
amanhã, não fugiremos como salteadores de estrada à noite. — o irmão
suspirou, aproximando-se da mesa e olhou para ela com algo semelhante à
pena. — Armstrong fez mal a você, irmã, porém, tal ocorrido não torna
todo cavalheiro que aparecer depois dele inelegível ou incapaz de parar no
final de um altar para se casar com você e ser sincero a cada palavra que
disser. De honrar e amar. Você é Lady Victoria Worthingham, filha de um
duque e irmã de um. Não deixe aquele desgraçado do seu falecido marido
arruinar seu futuro, assim como seu passado. Você não merece viver
sozinha e sem amor. — ele estendeu a mão e deu um tapinha no queixo
dela. — Deixe Melvin amar você. Sei que ele não vai decepcioná-la.
Os olhos de Victoria queimaram ante as palavras do irmão, e ela piscou
para clarear a vista. Engoliu o nó que se formara na garganta.
— Mesmo que o que você diga seja verdade, Albert quer filhos. Não é
mais um desejo dentro de mim. Quero viajar. Ele tem uma propriedade em
Hampshire que precisa ser supervisionada. Não somos compatíveis, mesmo
que eu desejasse.
— Quer tanto assim uma vida solitária, Victoria? De verdade, porque
temo que se partirmos amanhã, Lorde Melvin se casará ao final da próxima
temporada graças às aulas sobre como cortejar uma dama. Ele é um partido
e tanto. Está disposta a ficar no canto, ao voltar de suas viagens, e vê-lo
feliz e casado?
A ideia de ver Albert assim a fez perder o fôlego, mas era o melhor.
— Estou disposta a deixá-lo em paz e se casar com outra. — ela se
ouviu dizer.
E enquanto a mente dela se acalmava, o coração reagia no extremo
oposto. Torcia-se a um grau doloroso, e ela se encolheu, perguntando-se se
algum dia se desenredaria para voltar a bater normalmente.
Algo dizia a ela que nunca aconteceria.

ALBERT VOLTOU a Rosedale tarde naquela noite, decidido a perder o


jantar e continuar escrevendo. Então, ficou surpreso quando entrou no
saguão e encontrou o mordomo esperando por ele.
— Meu senhor, a duquesa e Lady Victoria partirão pela manhã. Sua
Graça queria que você fosse informado assim que voltasse.
— Claro. Obrigado. — disse ele.
Havia pensado que partiriam hoje, assim que Victoria voltasse para a
casa, e a culpa o atingiu por ele não ter retornado como anfitrião para jantar
com os convidados.
Ele supôs que teria que se desculpar no desjejum, pela manhã.
A casa estava silenciosa, e ele pediu o jantar na biblioteca. O fogo
brilhava com intensidade ao entrar na sala, e ele ficou aliviado ao ver que
Penworth não esperou para falar com ele. Sem dúvida, ele gostaria de saber
por que o namoro clandestino com a irmã dele não funcionou.
Ele se deixou cair em uma cadeira, tirando as botas e aquecendo-as
antes do fogo. A noite estava mais fria do que o normal, e seu estômago
roncou quando o mordomo entrou com a bandeja de cordeiro assado,
legumes e o molho delicioso de sua cozinheira.
Ele dispensou a equipe, mandando-os para a cama a esta hora tardia, e
fez sua refeição. Aproximando-se da garrafa de uísque e servindo-se de
uma dose robusta, ele bebeu, decidindo que, em vez de servir outro, levaria
a garrafa até onde estava acomodado e beberia o quanto quisesse.
O álcool anestesiava a dor que percorria seu coração. Ele esperava e
pensava que, com o que acontecera entre ele e Victoria, ela sentiria algo por
ele. Mais do que amizade benigna. Que as emoções dela não foram tão
prejudicadas pelo casamento anterior que ela poderia vir a sentir algo por
ele.
As mulheres conseguiam esconder seus sentimentos tão bem? Ele havia
sido ensinado que não, que eram criaturas emocionais, com probabilidade
de ter um ataque de raiva ou uma abundância de lágrimas.
Mas agora, ele já não pensava assim. Victoria era o oposto dessas
mulheres.
Ele terminou a refeição e os biscoitos de baunilha que foram deixados
em um prato, antes de se servir de outro copo do líquido âmbar e opaco.
Recostou-se no sofá, observando as chamas na lareira, tomando um gole
da bebida. Bem, pelo menos ele havia tentado, o que era mais do que
costumava fazer. Victoria o havia dado esse presente, pelo menos. Poderia
aceitar o que ela lhe ensinara, a confiança recém-adquirida que trabalharia
para se fortalecer nos próximos meses antes da temporada de Londres no
ano que vem. Ele voltaria para Londres e tentaria encontrar uma mulher que
despertasse seu desejo e desafiasse sua mente. Uma joia rara, que não seria
Lady Victoria Worthingham. Sem dúvida, ela nem estaria lá.
Estaria realizando o sonho de viver no continente, vendo e encontrando
todos os tipos de pessoas enquanto protegia o próprio coração de sentir de
novo o que fosse por alguém.
Ele serviu outro copo, a sala girando enquanto ele bebia, até que ele não
visse nem sentisse nada.
V
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

ICTORIA ESTAVA BÊBADA. Um ato vergonhoso de que ela


não se orgulhava. Mesmo assim, ela bebeu muito vinho no
jantar, seguido por proclamar que iria para a cama cedo, apenas para se
esgueirar para a sala do andar de cima, onde encontrou outra garrafa de
conhaque que se mostrara doce e tentadora.
Ela vagou pela casa, não se importando mais com quem a veria ou o que
o irmão e a mãe diriam se soubessem que ela estava mais para lá do que
para cá. Albert não ter vindo para o jantar era culpa dela. Ela o fez se sentir
indesejado e sozinho em sua própria casa. Ao saber dos desejos dela e ter o
coração partido, ele não conseguiu encará-la. Ela o fez se sentir um tolo,
indigno dela.
Ele a perdoaria?
Albert era doce, charmoso e a fazia ter sentimentos que nenhum outro
homem jamais a fez ter. Afastá-lo não foi uma escolha fácil. Ela odiava ter
ferido seus sentimentos. Na verdade, ele nunca deveria perdoá-la pelas
ações insensíveis.
A memória do toque dele a provocou. Os beijos, o corpo quente contra
o dela, tocando-a, fazendo-a gritar. A risada e sorriso. Ela estremeceu,
sabendo que sentiria falta dele, mesmo com todas as aventuras que estavam
diante dela. Aventuras que ela teria sozinha, apenas criados como
companhia. Quilômetros de viagem e nada de interlúdios íntimos para
encurtar a distância. Nada de passeios românticos ou jantares em praias
estrangeiras.
Sozinha. Sozinha. Sozinha.
Ela bebeu mais conhaque da garrafa, apenas para descobrir que não
havia nada além de uma gota. Ela ergueu a garrafa contra o luar que entrava
pelas grandes janelas do saguão e percebeu ter bebido tudo.
Ó, Deus, ela pagaria por seus atos amanhã, e teria uma viagem de
carruagem para suportar.
Victoria tropeçou na biblioteca, a única luz iluminando a sala vindo do
fogo que queimava na lareira. O coração dela parou ao ver o único ocupante
sentado sozinho, um olhar pensativo em seu perfil.
Albert…
Ela sentiu o estômago dar um pequeno salto, uma risadinha nervosa por
ele não querer vê-la. Que o não comparecimento ao jantar fora proposital.
Que agora, ele desgostava dela mais do que de qualquer outra pessoa no
planeta.
Ele deveria. Ela era uma pessoa terrível.
Esperava que não fosse o caso. Gostava muito dele, mesmo que os
desejos dos dois para o futuro fossem diferentes. Ainda podem ser amigos.
Ele permitiria que ela se atrevesse a perguntar?
Victoria fechou a porta e tropeçou até o sofá. Tendo pensado em ficar
sozinho, Albert pulou com a aparição menos que própria dela, sem aviso,
antes que seu rosto se fechasse como um livro.
Fechado e lido até o fim.
— Vá embora, Victoria. Não há mais nada a dizer entre nós. Ainda
preciso lembrá-la, se formos pegos sozinhos em uma sala fechada, você
será minha esposa, e não importa o quanto queira sua liberdade, isso não
acontecerá mais.
As palavras dele eram um pouco lentas em comparação com sua fala
normal. Ela caiu ao lado dele, ignorando o aviso, e encontrou seu olhar. Os
olhos dela estavam vidrados e desfocados.
— Também está bêbada. Parece que nós dois afogamos nossas mágoas
em uma garrafa esta noite.
Ele se afastou dela, e ela odiava que ele não quisesse ficar perto dela.
Uma vozinha a lembrou de que isso era bom. Ela não o queria para si.
Mesmo assim, o movimento perfurou seu orgulho.
— Não desejo que sejamos inimigos, Albert.
Victoria percebeu que ainda segurava a garrafa de conhaque contra o
peito. Ela a colocou no chão. Albert a observou com uma calma silenciosa.
Mais do que ela poderia dizer dela mesma. Estar perto dele de novo,
sozinha e no meio da noite, a deixou faminta por receber o toque dele.
Havia algo estranho em querer um homem pelo que ele poderia fazer
com ela, mas não querer o compromisso da ação. Talvez um dia as
mulheres pudessem viver assim, mas ela não podia, e estando aqui, ela
estava arriscando seu futuro sozinha.
Deveria ir embora como ele ordenou, mas ela não conseguiu se mover
um centímetro.
— Por favor, não me odeie. Não conseguiria suportar. — ela sussurrou.
Ele deitou a cabeça na parte de trás do sofá, olhando para o teto. A
garganta dele se moveu enquanto ele engolia, e ela seguiu as linhas da
mandíbula dele, as linhas fortes de seu rosto bonito, a barba por fazer
devido a um dia sem se barbear. Ele parecia desgrenhado e bonito. E estava
mandando-a embora.
— Eu não a odeio, Victoria, mas você não me quer. Não seja pega aqui
e, em seguida, seja forçada a uma união que você não deseja. Eu não
aguentaria se considerasse nosso casamento tão ruim quanto o primeiro.
Ela entendeu tudo o que ele disse, mas ainda assim, não se mexeu.
Ninguém estava acordado. Eles estavam muito bem seguros. E, embora ela
não quisesse ser a esposa dele, ela não queria ser esposa de ninguém. Não
significava que ela não desejava o toque dele. Os beijos doces e inebriantes
dele a deixavam sem fôlego, beijos que a manteriam aquecida à noite pelos
muitos anos que viriam quando ela estivesse sozinha.
Essa palavra de novo… sozinha.
— Podemos passar algum tempo juntos, antes de eu partir amanhã,
Albert.
Um grunhido de desaprovação saiu dele. Se ele pretendia dissuadi-la,
enganava-se. O som apenas a fez desejá-lo mais.
— Não diga tais coisas. São injustas.
O desespero que ela ouviu na voz dele doeu em seu coração. Ela não
queria que ele ficasse triste e desiludido com a situação, mas também não
queria deixá-lo sozinho. Entretanto, ela era injusta. As ações tomadas nas
últimas semanas, todas eram.
Talvez você deseje ser esposa dele e ter aventuras com ele, e não com
estranhos em lugares estrangeiros?
Ela encontrou o olhar dele, e o tempo parou. O corpo dele estremeceu
de desejo, vivo pela falta dele. Os olhos dele ardiam com uma fome que
deveria assustá-la, mas não o fez. Victoria respirou fundo para se acalmar,
firmando-se o máximo que pôde, enquanto Albert a observava com um
desejo que ela nunca vira.
— Mesmo depois que me negou, eu ainda quero você. Sou egoísta o
suficiente para querer ter você, mesmo se eu tiver que deixá-la ir ao
amanhecer. — disse ele, um apelo profundo e grave.
Ele estendeu a mão e traçou o queixo dela com o dedo, deslizando o
polegar no lábio inferior. Ela beijou o dedo dele antes que ele puxasse a
mão, forçando-a a manter-se ao lado dele.
As palavras, um apelo, clamaram a uma parte dela que não estava mais
disposta a seguir as regras. Ela queria o homem diante dela, mas sem as
restrições do casamento. O que havia de errado nisso?
Nada.
Victoria encurtou o espaço entre eles e beijou Albert. Ela suspirou
quando os lábios dos dois se tocaram, misturados a uma conflagração de
emoções. A necessidade crua dele combinou com a dela, e ela o agarrou
pelos ombros, movendo-se para se sentar no colo dele. A masculinidade
dele se projetava contra seu núcleo. Ela ondulou contra ele, provocando-os
até que ambos estavam ofegantes.
Ele gemeu, uma das mãos agarrando-a com firmeza pela bunda,
apertando-a contra ele. A sensação era magnífica, e ela queria mais.
O ar frio beijou o topo das pernas dela, e ela não tentou impedir Albert
quando ele se atrapalhou com o vestido, tirando-o do caminho. A mão dele,
forte e grande, deslizou pela perna, flexionando contra os músculos dela,
fazendo cócegas na parte interna da coxa. Ela prendeu a respiração quando
os dedos dele chegaram tão perto de seu sexo que a fazia doer.
— Toque-me. — ela implorou, precisando dele ali. — não apenas as
mãos, mas precisando de tudo dele. — Eu quero você, Albert.
Ela o queria sim, de sua própria maneira estranha. Poderia não querer se
casar e ter filhos, mas ela o queria. Quem não iria querê-lo? Ele era tudo o
que uma mulher como ela esperava de um marido, um parceiro na vida.
Nada parecido com Paul.
Ele roçou os cachos do ápice dela antes de deslizar mais fundo,
provocando a carne dolorida. Ela prendeu a respiração, esfregando-se
contra a mão dele. A sensação, muito deliciosa para parar.
Victoria se recostou, atrapalhando-se com a abertura das calças dele,
precisava dele mais perto, queria-o dentro dela.
— Victoria. — Albert se engasgou.
Ele acalmou a mão dela trabalhando nele, ele estava mais duro do que
ela já o sentira. O pênis se projetou e empurrou contra a palma da mão dela,
mesmo enquanto ele tentava puxar-se para longe.
— Não precisamos fazer isso. Há riscos. Se está tão certa de que não se
casará comigo, não deve fazer isso.
Victoria considerou as palavras. Pensamentos que correram na própria
mente nos últimos minutos. No entanto, ela não conseguiria parar o que
faziam na mesma medida que não conseguiria impedir o sol de nascer pela
manhã.
— Quero dar isso a você. A nós dois.
Os olhos dele brilharam ante as palavras dela, mas ele estendeu a mão,
agarrando-a pelos cabelos, na nuca, e puxou-a para um beijo.
— Apenas lembre-se de que me ofereci para parar.
Ela sorriu, levantando-se um pouco e colocando-o em seu centro.
— Vou me lembrar de tudo. — disse ela, descendo sobre ele em um
movimento rápido, tirando a virgindade dele. E se Victoria fosse honesta
consigo mesma, perdendo o próprio coração.
A
CAPÍTULO TRINTA E CINCO

LBERT NÃO CONSEGUIA recuperar o fôlego. Manteve-se


imóvel, um pouco parvo quando Victoria o guiou para dentro dela.
Ele não conseguia fazer nada além de observá-la. Os olhos dela se
fecharam, os longos cílios abanando as bochechas coradas. Os lábios
carnudos se abriram em um suspiro de satisfação que foi direto para a alma
dele. Ele estremeceu, lutando contra o desejo de dominar, de tomar tudo o
que pudesse depois do presente que ela o proporcionara.
Por muito tempo, ele a quis desta forma, fazer tudo que as imagens do
livro que eles estudaram mostravam. As últimas semanas, as posições, o
prazer que eles proporcionaram um ao outro os trouxeram até aqui. A
confiar e se doar um ao outro por completo. Como ele iria deixá-la partir
agora? A ideia de anos sem a mulher em seus braços, de ter o calor dela na
cama, estendeu-se ao infinito e o deixou em pânico.
Como ela permaneceu imune ao amor dele? Ele não conseguiria odiar
mais Armstrong pelo dano que causou.
— Você está bem? — ele conseguiu perguntar.
Ela o agarrou pelo queixo e o beijou.
— Estou mais do que bem.
As línguas dos dois se entrelaçaram, os dentes rangeram, e todos os
pensamentos desapareceram quando ela começou a se mover. Com a
paciência que ele mesmo não possuía, ela subia e descia sobre ele, golpes
tortuosos e lentos que o deixavam louco.
Os suspiros ofegantes dela sopravam contra seus lábios durante o beijo
enquanto ela caía em um ritmo agonizante. Exigindo mais dele a cada
minuto.
— Albert. — ela ofegava entre beijos, trabalhando-o com seu corpo.
Era avassalador. Muito bom, e ele queria mais. Ele puxou o corpete para
baixo, levando um seio à boca enquanto ela o fodia. Tomava o próprio
prazer do pênis dele.
Albert gemeu, estava perto, mas não queria que acabasse. Ele a apertou
contra si, virando-a de costas e empurrando com força seu doce corpo em
cima do sofá.
— Me possua. — ela mordeu o lábio, os olhos nublados de desejo, o
encarando. — Mais forte. — ela o incitou.
Ela agarrou a borda do sofá, empurrando-se contra ele enquanto ele
empurrava dentro dela, instigando-o a um passo febril.
Ele não conseguia respirar.
A sensação dela era boa demais. Tão apertada e disposta. Uma pequena
devassa nos braços dele. Ele não poderia ter pedido mais da primeira vez
que se entregou ao prazer.
— Eu preciso provar você.
Ela apertou os ombros dele, choramingando em aquiescência enquanto
ele deixava uma trilha de beijos, peito abaixo, aproveitando a oportunidade
ele girava em sua fenda molhada e brilhante. O mesmo gosto de que ele
lembrava, terroso e doce. Ele sugou o pequeno botão de prazer, fodendo-a
com a língua. Ela o agarrou pelos cabelos, ondulando contra o rosto dele,
ofegando o nome dele uma e outra vez.
Ele a empurrou para perto do limite, mas não queria que a noite
acabasse. Queria que nunca mais parassem. Albert se recostou, observando
enquanto a visão dela clareava, e uma pergunta surgia em seus olhos.
— O que está fazendo? — ela perguntou, um sorriso sedutor nos lábios.
— Diga-me se gosta disso, minha querida.
Ele correu um dedo sobre o monte, circulando a pequena protuberância
que provocava, implacável, com a língua. Ele empurrou um dedo em seu
calor, e o prazer inundou as feições dela. O corpo dela balançava-se para
obter mais satisfação do toque dele.
— Eu amo isso, Albert.
Ele a provocou dessa forma por vários minutos, às vezes mergulhando a
cabeça e passando a língua na carne. Ela tapou a boca com um braço para
impedir que os gritos se tornassem muito altos.
Albert não se importava com quem os pegasse a essa altura. Se a família
dela os descobrisse, ela seria dele. Por mais egoísta que fosse, ele a queria
mais do que tudo. Talvez, até mais que os próprios desejos dela.
— Albert, vou gozar. — ela choramingou, impulsionando-se contra a
mão dele.
Ele parou, abrindo um sorriso diabólico quando ela o xingou.
— O que está fazendo? Por favor, não pare. Não me provoque assim. —
ela implorou.
Ele se aproximou dela, beijando-a no pescoço, lambendo a pele delicada
sob a orelha e sentiu um arrepio a atravessar.
— Quer tentar outra posição no livro? Tenho uma em mente, se estiver
disposta.
Os olhos dela encontraram os dele, curiosos.
— Qual?
Em um movimento rápido, ele se afastou, virando-a de barriga para
cima.
— Coloque-se de joelhos. Segure-se no encosto e arqueie as costas.
Ela fez o que ele pediu, sem dúvida se lembrando da posição a que ele
se referia. — Será agradável, acha?
Ele deslizou o vestido por cima da bunda dela, demorando-se para
admirar o traseiro redondo, a boceta pulsando que o tentava.
— Ah, creio que sim. — disse ele, aproximando-se dela por trás,
guiando-se para o calor úmido.
Albert engoliu em seco. Inferno, desse jeito era bom, talvez melhor do
que ele esperava. Com certeza, ele chegava mais fundo, e ainda assim ela o
apertava com força, ordenhando-o em direção ao clímax.
Ela se empurrou de volta contra ele e arrancava o próprio prazer dele
assim que ele trabalhava o dela. Ele estendeu a mão, provocando a fenda,
sacudindo a pequena pérola entre as pernas dela, querendo que ela se
desfizesse em seus braços.
Empurrou com força, deliciando-se em ver o pênis entrar e sair. Apertou
a bunda dela, lutando contra o desejo de derramar sua semente dentro dela.
Ela gemeu em uma almofada, o nome dele soava como um canto enquanto
transavam. Esse ato não era amor de forma alguma. Eles estavam tomando
para si o que queriam, dando um ao outro o que ambos precisavam.
Victoria gritou seu nome. Os gemidos de prazer abafados nas almofadas
diante do rosto. O corpo dela convulsionou, os músculos em torno do pênis
dele se contraíram e o lançaram cada vez mais perto de se juntar a ela na
liberação.
Mas ele não podia. Ele a tomou por tanto tempo quanto pôde,
bombeando forte e sem parar, dando o que ela queria, deixando-a cavalgar
ao clímax usando o pênis dele. No último minuto, ele se retirou,
derramando a semente nas costas e bunda dela. Uma solução caótica, mas
se Victoria não queria filhos, era algo que ela precisaria aceitar caso viesse
a se deitar com outro homem.
Por um momento, eles permaneceram como estavam, ambos perdidos
no êxtase, antes de Albert afundar no sofá, ajudando Victoria a endireitar o
vestido e se sentar ao lado dele.
Dada a respiração irregular dos dois, Albert só poderia imaginar a
aparência dos dois. Victoria havia perdido vários grampos, os cabelos
caindo em cascata acima dos ombros. As bochechas dela mostravam um
tom rosado intenso, e seus lábios estavam inchados pelo toque dele.
Ele encontrou o olhar dela, o olhar sombrio o privando de qualquer
esperança. Ele entendeu o que significava de imediato. Um adeus. Uma
despedida entre amigos e amantes. Lágrimas se acumulavam nos olhos
dela, e ele a puxou contra ele, segurando-a perto.
— Viverei na esperança de que um dia seu coração se cure, e você volte
para mim, Victoria.
Ele a sentiu assentir contra seu peito seguido de um fungar mostrando
sua tristeza.
— Sentirei sua falta também. — disse ela, e então se foi, saindo da sala
e da vida dele.
Ele só podia esperar que não durasse para sempre.
E
CAPÍTULO TRINTA E SEIS

LES ESTAVAM EM CASA, em Dunsleigh, há uma semana


quando a irmã pediu a Victoria que fosse visitá-la. Alice ficara um
pouco chateada por Victoria ter mentido acerca da razão de querer voltar
para casa, mas sendo a boa irmã que era, permitiu que o estratagema
seguisse. Victoria selou o cavalo e foi para Kester, tentando reunir coragem
suficiente para falar com Alice do que havia acontecido entre ela e Albert.
Desde o retorno a Dunsleigh, suas ideias de futuro vinham sendo
perturbadoras e confusas, para dizer o mínimo. Uma razão pertinente para
seus problemas era o fato irritante de que ela sentia muita falta de Albert,
mais do que pensava que sentiria.
Outra noite, enquanto passeava pela casa já tarde, após não conseguir
dormir, ela foi até a biblioteca e chorou em um copo de uísque: as
memórias, a diversão e o prazer que ela encontrara nos braços de Albert
eram difíceis de suportar.
Se não se controlasse logo, começaria a pensar estar com um problema
com a bebida.
Lady Victoria Worthingham não era uma beberrona, então havia algo
muito errado em sua vida. Ela chamou Picles e Repolho, os dois lebréis que
a acompanhavam no passeio de hoje. Trotavam ao lado dela, ansiosos pela
corrida e um carinho de Alice.
A Residência Kester não ficava longe de Dunsleigh, e a visão da
propriedade, aninhada em um vale arborizado, sempre trazia um sorriso ao
rosto dela. Era uma casa tão deslumbrante, e Callum fizera muito para
torná-la perfeita para a irmã.
Ela encontrou Alice no sofá da sala de estar lendo a última La Belle
Assemblée.
— Escolhendo seus vestidos para a próxima temporada já, eu vejo. —
ela brincou, entrando na sala e acariciando a irmã nas duas bochechas.
Alice riu, mexendo um pouco os pés na cadeira.
— Ó, estou tão feliz por me visitar. Considero que já a puni o suficiente
por sua mentirinha.
Victoria disse aos cachorros para se sentarem, e eles caíram diante do
fogo, contentes agora que Alice havia acariciado suas cabeças.
— Mamãe está desapontada por deixar Rosedale. Vem bastante aqui.
Peço desculpas por isso.
Alice balançou a mão para afastar as preocupações da irmã.
— Não tem problema. Só está aqui para garantir que estou bem, e a
companhia me agrada. É muito chato estar esperando um bebê chegar, e
vocês duas longe. Senti saudades de vocês.
Victoria sorriu, puxando o sino para o chá, não tendo pensado nas
consequências da desculpa dela para a mãe delas. O único pensamento na
época era fugir dos problemas que ela mesma causara. Era uma covarde.
— Lamento a dificuldade. Falarei com mamãe hoje, para dizer que você
melhorou muito e apenas precisava de descanso. Tenho certeza de que vai
diminuir a frequência das visitas.
Victoria assim esperava.
Alice amava a família, mas estar tão perto de Dunsleigh, às vezes
significava serem raras as ocasiões em que a família não estava em seu
encalço.
Alice a observou por um momento, os olhos se estreitando antes de
dizer:
— Lorde Melvin era quem você acreditava que ele fosse? Ele é o
famoso escritor Elbert Retsek?
Victoria sentou-se em frente a Alice e colocou as pernas sob o vestido,
acomodando-se em uma posição confortável na cadeira.
— Acredito que sim, e suspeito que ele escreve no chalé de caça. Ele
fugia para lá com frequência e, quando o vi um dia, ele estava rabiscando
como um louco. Acredito que seja um escritor, e que é Elbert Retsek, mas
nunca perguntei, e não é por isso que estou em casa.
— Que intrigante. — disse Alice, uma luz travessa entrando em seus
olhos.
Um lacaio entrou na sala e fez uma reverência.
— Com licença, minha senhora, o chá que pediu está pronto.
— Obrigada. — Alice respondeu. — Traga, mas vamos servir, e não
seremos perturbadas. — Alice esperou o lacaio partir antes de voltar a
atenção para Victoria. — Devolveu a página do livro dele?
— Após tudo o que houve entre nós, não tive coragem de perguntar. Só
quis fugir. Tudo parecia tão confuso, e eu agi de forma atroz, Alice. Eu não
estava com a cabeça no lugar, nem agi como eu mesma.
Alice se inclinou para frente na cadeira.
— Sabia que fugiu. Eu disse isso a Callum. O que aconteceu em
Rosedale, Victoria? O que fez?
O que ela não fez seria uma pergunta mais apropriada. Victoria ocupou-
se servindo o chá, demorando a preparar as tortinhas de amêndoa antes de
admitir suas ações, a conduta que era repreensível. Ela entregou uma xícara
para a irmã, forçando as palavras de admissão de culpa a saírem da boca.
— Sabe que somos amigos de Lorde Melvin há anos. Bem, devido a
essa confiança, eu me ofereci para ajudá-lo a conseguir uma esposa, dei
aulas de etiqueta, habilidades de conversação, como cortejar uma lady
enquanto eu estava hospedada na casa dele.
— Se ofereceu? — os olhos de Alice se arregalaram de surpresa. —
Como foi, se me permite perguntar?
Victoria tomou um gole de chá, balançando a cabeça enquanto a
vergonha a inundava.
— Terrível. Bem… — corrigiu ela. — não foi terrível, ele aprendeu e se
tornou mais confiante em bailes e festas campestres. Eu o ensinei a ajudar
uma senhorita a tocar piano em uma noite musical. Como falar enquanto
caminha ou toma ar no jardim. Contudo, isto não é o pior.
— Qual é o pior? — Alice exigiu, olhando para ela, inclinando-se um
pouco ao falar.
— Eu me entreguei a ele. — ela admitiu por fim. — Não sei como
aconteceu. — embora ela soubesse exatamente como aconteceu e por
incitação dela. — Expliquei que eu não me casaria, que não queria um
marido, não após o inferno que Paul me fez passar. Quero minha liberdade,
de viajar e não ter filhos, tanto quanto adoro todas as minhas sobrinhas e
sobrinhos. Todavia, quando o encontrei na biblioteca em nossa última noite,
a dor nos olhos dele, a saudade, bem, não conseguiria partir sem estar com
ele. Eu o queria com tanta força que até agora… — ela declarou, se
levantando e andando de um lado para o outro diante do fogo.
— Ainda o quero. Penso nele dia e noite. Nos beijos, no sorriso, nas
maneiras idiotas dele de me fazer rir, e não pode ser. Eu não quero um
marido. Cometi tal erro de julgamento com Paul, e se eu cair no mesmo
erro? — ela se recostou no sofá, segurando as mãos da irmã. — Precisa me
ajudar. Diga-me o que devo fazer.
O sorriso conhecedor da irmã não ajudou em nada.
— Não farei tal coisa, Victoria. A escolha deve ser sua, mas acredito
que está apaixonada por ele. Já admitiu isso para si?
— O quê? — ela arfou. — Não seja absurda. Claro que não o amo.
Luxúria, sim. Paixão, sim. Mas amor? Não. Está enganada.
Alice levantou uma sobrancelha.
— Luxúria? Você é uma Worthingham. Não desejamos homens, a
menos que estejamos apaixonadas por eles. Nós nos casamos para sempre, e
amamos apenas uma vez. Se você o cobiça, se está ligada a ele a nível
emocional, é mais do que jamais teve com Paul.
— Pensei estar apaixonada por Paul. Temo que suas crenças sobre nossa
família e amor sejam doentias.
Alice sacudiu a cabeça.
— Paul não era sua alma gêmea. — ela cruzou as mãos no colo. — Por
que você deixou Rosedale após se entregar a ele? Como Sua Senhoria
recebeu sua partida?
Victoria fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás na cadeira. A
imagem de Albert parado na porta enquanto a carruagem seguia seu
caminho. A decepção naquele rosto bonito. A dor crua e desmascarada.
— Creio ter partido o coração dele.
— Hm. — Alice murmurou, fazendo o coração dela bater em pânico
renovado. — Ouça o que eu acredito que deva fazer antes de tomar
quaisquer outras decisões. Nossa irmã Elizabeth e Henry estão se
preparando agora para viajar para o sul e partir para Paris. Estarão de volta
antes do início da próxima temporada. Creio que deveria ir com eles, ver
um pouco do mundo como quer. Nessa ausência, suponho que sua decisão
acerca do futuro pode ficar mais clara do que agora.
O plano da irmã tinha mérito, e Elizabeth nunca negaria sua companhia.
Um pouco de distância e tempo poderiam ajudá-la a conhecer seu próprio
coração? O que ela realmente queria? — Mesmo se eu decidir que desejo
me casar com Albert, o que devo fazer quanto ao desejo dele de ter filhos?
Nunca tive esses instintos maternais que são tão naturais para você e nossas
irmãs. Ele vai querer um herdeiro.
— Você perguntou a ele? — Alice a estudou por um momento, os olhos
se estreitando. — Precisa saber se é algo que ele viveria sem para ter o seu
amor.
Para sua vergonha, ela não havia dado chance a ele de decidir se aquele
era um futuro que ele poderia tolerar. Ela deveria ter perguntado, em vez de
fugir como fez.
— Não perguntei. — ela encontrou os olhos de Alice e viu apenas
compaixão e compreensão neles. Graças a Deus. Não sabia se suportaria a
vergonha.
— Não concorda que deveria? Ainda mais com a possibilidade de estar
carregando um filho dele.
Victoria balançou a cabeça, sabendo que pelo menos com aquela
situação não havia problema algum. Não, meus cursos começaram no dia
em que chegamos a Dunsleigh.
Alice deu um suspiro de alívio.
— Certo, isso é o que você deve fazer. — disse ela, revigorada. —
Quando Elizabeth chegar nos próximos dias, deve ir com ela para Paris.
Tenho certeza de que não se importarão. Se levar sua criada pessoal, poderá
fazer os próprios passeios turísticos e dar privacidade a eles, e tenho certeza
de que Josh garantirá que você tenha acomodações privadas.
— Não quero ser um incômodo para eles.
Alice balançou a mão para afastar as preocupações da irmã.
— Ora. É Elizabeth, a irmã simpática, lembra? Ela fará isso por você,
mas em troca, deve fazer algo por você mesma.
— Que seria? — ela perguntou, sem saber se confiava na luz calculista
nos olhos de Alice.
— Que voltará para a Inglaterra com uma decisão tomada antes da
próxima temporada. Tenho poucas dúvidas de que Lorde Melvin estará
presente. Após as aulas que decidiu dar para ajudá-lo, ele estará pronto para
dar o ar da graça e escolher uma noiva. Mas precisa ver, entender mesmo a
escolha que está fazendo se decidir deixá-lo ir. Se olhar para Lorde Melvin
e não sentir nada além de amizade, então a escolha é fácil. Pois seria apenas
luxúria e nenhum dano foi causado.
— E se eu não sentir apenas luxúria?
— Se não o fizer, então precisa encontrar uma maneira de reconquistá-
lo. Se ele for o tipo de cavalheiro que acredita que ele seja, honrado e
gentil, ele estará esperando que você volte a si.
Esperança cresceu dentro dela. Ela poderia viajar, ver um pouco da
Europa, e então decidir seu destino. Vivenciar a liberdade após conhecer as
delícias de estar nos braços de Albert, e então ela escolheria o que desejaria
ter para sempre.
Ela só esperava que Albert estivesse lá para permitir a escolha dela. Por
mais difícil que fosse o resultado, ela teria que correr um risco, em especial
se ele se casasse antes de ela voltar, e tomasse a decisão por ela.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

A
A Temporada, 1810

LBERT NÃO via ou recebia notícias de Victoria há vários meses,


desde que ela se separou dele em Rosedale na manhã seguinte à
noite que passaram juntos.
Mesmo agora, após todo esse tempo, tudo em que ele conseguia pensar
era em como conquistar o amor dela. O que poderia ter feito para fazê-la
ficar. Amá-lo como ele a amava. Ele estava certo de que ela gostava dele.
Uma mulher como Victoria, uma Worthingham, não se entregava a pessoas
aleatórias. Apenas não era da natureza deles. Nenhum dos irmãos.
Não, Victoria se importava com ele, mais do que ele acreditava que ela
poderia admitir para si. Admitir significaria que ela teria que escolher entre
ele e a vida que sonhava em viver. Uma onde o coração dela estaria para
sempre trancado longe do perigo.
Ele avistou o irmão mais novo do falecido marido dela, notando-se à
sociedade libertina e embriagada sem a esposa ao seu lado. Ele estreitou os
olhos, a semelhança tanto na aparência quanto no caráter era profunda, ao
que parecia.
O mordomo continuou a anunciar os nomes dos convidados quando
chegavam. Albert permanecia parado na lateral do salão, um copo de uísque
na mão, precisando acalmar os nervos. Embora não tivesse certeza se
Victoria compareceria esta noite, ele esperava, torcendo para que ela o
fizesse. Sentira saudades dela e, durante o tempo que se separaram, também
teve muitos dias e noites para pensar no que queria da vida. O que ele
amava mais do que tudo, com o que poderia viver com e sem ter a única
pessoa que amava.
Fizera tudo o que Victoria pediu dele após ela partir. Compareceu a
vários bailes na região de Hampshire e participou de todas as festas
campestres onde a presença dele foi solicitada. Ele chegou a passar o Natal
com Lorde e Lady Hammilyn. Embora a lembrança daquela festa de Natal
fosse algo, ele preferia se esquecer dela, já que a Srta. Eberhardt também
foi convidada.
Ela havia sido um tanto descarada durante os festejos que duraram uma
semana. Quase nunca saía do lado dele. Com certeza, se ele quisesse
cortejar qualquer outra jovem, o que ele não queria, ele não teria sido bem-
sucedido porque ela não o deixara sozinho.
Sua única fuga foi quando ele se retirava para dormir e, mesmo assim,
ela manteve o hábito de levá-lo até as escadas como se estivessem
namorando. Ele não poderia voltar para Rosedale rápido o suficiente.
Os nomes do duque de Penworth e da irmã, Lady Victoria
Worthingham, ecoaram pelo ambiente, e vários suspiros e risinhos de
conversa se voltaram para a família da alta sociedade que havia chegado.
Albert olhou para as portas, seu estômago apertando ao ver Victoria
prestando seu respeito aos anfitriões. O sorriso genuíno, a risada generosa o
acertando bem no peito.
Um punho apertava seu coração. Como ele permitiu que os meses
passassem sem vê-la? Ele deveria tê-la perseguido pela Inglaterra e pelos
mares para conquistar seu amor. Mostrar que ela poderia ter tudo o que
sonhou, desde que permitisse que ele fizesse parte de suas aventuras
também.
Ela era tão bonita quanto ele se lembrava. As longas mechas
esvoaçantes amarrados em um penteado cacheado, um fio de diamantes
entrelaçado nos fios de cabelo com deveras delicadeza. As longas luvas de
seda branca e o vestido bordado de prata a faziam parecer da realeza,
intocável e elevada.
Ela não era nem um, nem outro, ele sabia em seu âmago, não importa
como ela pudesse deixar transparecer. Quando ela cumprimentou as pessoas
na multidão enquanto abriam caminho, o sorriso e cordialidade eram
genuínos, e ele se perguntou o que ela teria pensado da viagem à França.
Gostara do tempo passado com a irmã e o marido dela?
Ela experimentou tanta liberdade que as chances dele de ganhar a mão
dela eram impossíveis? Ele depositou todas as suas esperanças em
comparecer a esta Temporada e mostrar que faria qualquer coisa que ela
quisesse.
Ele poderia ser o homem por quem ela ansiava, se ela desse outra
chance de ele provar seu valor.
Muitas vezes, o medo se apoderou dos pensamentos dele, de que a
viagem ao exterior pudesse ter solidificado a decisão dela de permanecer
viúva, mas maldição, ele esperava que não fosse o caso.
Ele a amava. Muito mesmo.
O duque de Penworth o avistou e começou a aproximação, trazendo a
irmã na direção dele, embora ela ainda não o tivesse notado. Quando ela o
notou, foi como um golpe físico no estômago.
Ela sorriu, as pequenas rugas nas laterais de seus olhos se mostrando.
— Lorde Melvin. — ela disse, fazendo uma reverência. — Não sabe
como é maravilhoso vê-lo aqui esta noite. Soube estar na cidade, mas eu
disse que não acreditaria até que eu mesma colocasse os olhos em você.
Ele fez uma reverência.
— Vossa Graça, Lady Victoria, estou realmente aqui. Suas lições de
como me comportar foram bem-sucedidas, e estou na cidade procurando a
mulher com quem quero me casar.
O duque pigarreou, reprimindo um sorriso.
— Melvin, estou feliz em ter pelo menos você como companhia esta
noite. O baile de Lettingham nunca foi conhecido pela emoção.
— Ah, mas você se esquece. — Albert baixou a voz para que apenas
Penworth pudesse ouvir. — Lady Sophie está presente.
A atenção do duque voltou-se para a multidão diante deles.
— Está? Sabe dizer onde? Não a vejo desde o baile em sua propriedade
e não me importo de dizer a você, preferiria que continuasse assim.
Albert apontou para as portas da sala de jantar.
— Acredito que ela está ali. — ele gesticulou. — Falando com a Srta.
Eberhardt. — Albert se mexeu um pouco, para que a pegajosa Srta.
Eberhardt não o visse e o perseguisse pelo salão a noite toda.
O duque se encolheu.
— Creio que falarei com Lorde Clifford. Vejo que ele está tentando
chamar minha atenção. — o duque fez uma reverência. — Se me derem
licença um momento.
Albert se curvou em troca.
— É claro. — disse ele, querendo ficar sozinho com Victoria de
qualquer maneira.
Victoria veio ficar ao lado dele e puxou uma das luvas, que havia
escorregado. Ele a observou, lembrando-se dela em seus braços. O desejo
de tê-la de novo lambeu cada poro dele, e ele respirou fundo para se
acalmar, não querendo assustá-la.
Se não estivessem em um salão de baile cheio de convidados, ele a
abraçaria e a beijaria até que percebesse que ele era perfeito para ela e que
ela deveria se casar com ele.
— Disseram que compareceu à festa de Natal de Lorde e Lady
Hammilyn. Gostou? Nossas aulas o ajudaram em algo?
Os lábios dele se contraíram em um sorriso perplexo.
— De quais aulas está falando, Lady Victoria? — ele perguntou sem
pestanejar. Duas manchas vermelhas brilhantes apareceram nas bochechas
dela, e ele riu. — Vejo que entende o que quero dizer, minha senhora.
Ela o silenciou, reprimindo um sorriso.
— Não diga essas coisas, meu senhor. — ela agradeceu a um lacaio que,
ao passar, entregou uma taça de champanhe para ela. — Não deve lembrar
uma senhora dos comportamentos inadequados que teve.
Ele encolheu os ombros, bebericando o uísque.
— Não foram inadequados para mim. De forma alguma. Na verdade…
— continuou ele. — a memória deles me fez companhia por todos os meses
em que esteve fora.
Victoria balançou a cabeça ante a provocação dele.
— No entanto, agora estou em casa e estamos de volta a Londres.
Espero que possamos continuar amigos, Lorde Melvin.
A frustração o dominou.
Victoria fizera uma escolha? De evitar o casamento, manter-se à
distância do amor?
— Seremos sempre amigos. As palavras eram grossas e quase o
sufocaram enquanto ele as falava. — ele terminou o uísque, engolindo-o de
um só gole. — Diga-me, como foi a viagem para a França? Soube que
partiu não muito após voltar de Hampshire.
— De fato, viajei para o exterior e foi tudo o que eu esperava. Paris foi
divina, e Elizabeth e Henry fizeram de tudo para tornar minha estada lá
agradável. Quando voltamos, Alice já dera à luz uma filha, então foi o final
perfeito para um ano adorável.
Ele havia terminado o livro mais cedo e se trancou em Rosedale durante
os meses de inverno, planejando o próximo lançamento e esperando que os
editores gostassem do último manuscrito enviado. Ele queria contar a
Victoria seu segredo, mas não sabia onde encontrar as palavras.
Se ele pensou que ela iria contatá-lo, escrever para ele, ele se enganou.
Não que ele não tivesse pensado em escrever para ela, mas não queria
parecer tão desesperado quanto se sentia no momento.
— Parabéns por voltar a ser tia. Espero que Lady Arndel esteja bem.
— Ela está muito bem, obrigada. — Victoria se aproximou. — Lamento
não ter escrito para você, Albert. Pensei em você muitas vezes e senti
muitas saudades. Sei que após tudo o que eu disse, eu não deveria estar
dizendo tais coisas agora, mas são a verdade.
O estômago dele se apertou, e uma pequena centelha de esperança se
acendeu.
— Também quis escrever para você — ele murmurou. —, mas não
mandei nenhuma das minhas cartas. Não pensei que teria tempo de sentir
minha falta com tudo o que estava vivenciando.
— Minha irmã me encarregou de viajar para o exterior e estar em
Londres nesta temporada para determinar meu futuro.
— Tem certeza do que quer? — ele não pôde deixar de perguntar,
embora as possibilidades de resposta pudessem despedaçá-lo.
— Não mais.
Ele se virou para encará-la e parou ao ver o cunhado de Victoria, Gerald
Armstrong, caminhando bêbado até eles. A luz alegre nos olhos do homem
arrepiou os cabelos da nuca de Albert.
— Ó Céus. — ele ouviu Victoria dizer, assim que Gerald se curvou,
quase caindo em cima deles.
O canalha merecia uma punição como a que o falecido irmão nunca
recebeu, e Albert estava com vontade de pagá-la.

VICTORIA OLHOU por baixo do nariz para Gerald o melhor que pôde,
considerando que o homem era vários centímetros mais alto do que ela, não
foi uma proeza fácil. Mesmo assim, Albert ao seu lado, um pilar de força, a
fazia se sentir segura e acima do incômodo de um homem que ela
costumava chamar de família. Após a traição de Paul, ele debochou dela, a
provocou dizendo ser culpa dela o irmão dele ter fugido para a Europa.
Como ela odiava o homem tanto quanto aquele com quem se casou.
A antipatia de Albert por Gerald irradiava dele, e ela ficou surpresa que
o homem não fugiu.
— Sr. Armstrong. — disse ela, dando-lhe a mão. — Onde está Bertha
esta noite? Eu não a vejo com você.
— Gerald, minha querida. Afinal, somos família.
— Éramos família, senhor. Não mais. — ela respondeu, o tom
entediado. — Não respondeu minha pergunta. Onde está sua esposa? Está
tão desiludido por ser casado como seu irmão que já a trancou no campo?
As bochechas do homem ficaram vermelhas, e ela ficou feliz com isso.
Ele a envergonhou por meses antes de Paul ser morto em um duelo. Ela não
devia nenhuma amizade ou respeito para com ele.
— Ela não queria comparecer à Temporada. Tem poucos motivos para
estar aqui.
— Mesmo? — Victoria sorriu. — Por favor, transmita meus
cumprimentos da próxima vez que a vir.
Os olhos do Sr. Armstrong estreitaram-se. Albert riu e encobriu a risada
com uma tosse.
— Lorde Melvin. Vejo que passou a grudar nas saias da minha cunhada.
Não é um imbecil que não pode falar com uma dama sem, é… — disse ele,
dando um tapa na testa. — eu me esqueci. Não fala nada para começar, para
fazer papel de bobo ainda mais. — Gerald soltou uma gargalhada berrante e
falsa, atraindo a atenção dos outros convidados.
Victoria cerrou os dentes, não querendo que a pequena doninha
escapasse com tal grosseria.
— Seu irmão foi um tolo por deixar uma pedra preciosa tão rara para
trás, e estou feliz em vê-lo aqui esta noite para que eu reconheça a loucura
de seu irmão na sua cara. — disse Albert, inclinando-se para o Sr.
Armstrong para que apenas ele ouvisse as últimas palavras. — Sua presença
aqui não é bem-vinda. — ele adicionou, seu tom mortal.
Gerald olhou entre eles, e Victoria podia ver o olhar calculista captando
tudo o que ele via. Então, como Paul, sempre querendo causar problemas e
contendas.
— Não irá muito longe com esta aí. — disse Gerald, gesticulando para
ela. — Ela é espinhosa, fria, ausente e uma péssima trepada, foi o que meu
irmão declarou. Teria que fazer crescer pelos, latir e relinchar para ela
gostar de você.
O barulho de osso batendo em osso soou antes que Victoria tivesse
qualquer ideia do que havia acontecido. Ela olhou para o local vago à sua
frente que até instantes antes era ocupado por Gerald.
Ela olhou para baixo, vendo-o esparramado no chão, com o nariz
sangrando para transtorno dele. Ele gemeu, mas fez pouco mais. Victoria
olhou para trás, para Albert, não tendo esperado que ele agisse de maneira
tão heroica.
Não esperava que seu ato fizesse o pulso dela disparar.
— Você o acertou. — ela riu, cobrindo a boca com a mão.
Nunca era educado rir da desgraça de outra pessoa, mas para Gerald ela
abriria uma exceção.
— Faria mais do que isso se ele ousar falar com você de novo. — disse
Albert, virando-se para ela. — Eu mataria qualquer um que maltratasse ou a
maldissesse.
Victoria olhou para Albert, e os meses pareceram sumir, e eles estavam
mais uma vez sozinhos em Rosedale. A doçura dele tocou uma parte dela
que ninguém mais havia tocado, e era hora de ela admitir essa emoção, pois
tinha um nome. E uma vez falado, não havia como desdizer.
Sem arrancá-la do homem para quem ela falasse tais palavras.
Nunca.
V
CAPÍTULO TRINTA E OITO

ICTORIA PUXOU Albert para longe de Gerald, que continuou


deitado no chão de parquete do salão de baile, gemendo devido
ao nariz sangrando e do desafio de enfrentar Lorde Melvin ao amanhecer.
— Não vai duelar com o Sr. Armstrong, nem pense nisso. — disse ela,
levando-os para longe da confusão e para o terraço.
A área do terraço ao ar livre não havia sido utilizada para o baile, e não
havia nenhuma lanterna pendurada nas glicínias crescendo sobre o espaço
pavimentado para iluminar o caminho dos convidados, caso desejassem
respirar um pouco.
Victoria puxou Albert pela lateral da casa, ainda mais na escuridão,
precisando ficar sozinha com ele, querendo-o só para ela.
— Creio estarmos longe o suficiente. — disse ele, fazendo-a parar.
Victoria verificou os arredores, garantindo estarem sozinhos. Ela
respirou fundo para se acalmar, esperando que o que precisava dizer fosse
bem recebido.
Que ele a teria perdoado por destruir seus desejos no ano passado em
Rosedale. Que ele ainda a queria.
— Albert, há algo que preciso contar.
Ele franziu a testa, um músculo tenso na testa, enquanto a olhava
fixamente.
— Não precisa dizer nada. Sei que não deseja voltar a se casar. Gostou
de suas viagens ao exterior e deseja continuá-las, e deveria. Ver Gerald esta
noite me lembrou de como deve ter sofrido um casamento horrível. Não
atrapalharei o seu caminho de evitar ser propriedade de outro homem.
Ela balançou a cabeça, sabendo que ele não entendia. Não entendia
nada.
— Não, Albert, me entende mal. Quero viajar, é verdade. Adorei Paris e
quero explorar mais o mundo, mas não é tudo. Durante todo o tempo em
que estive fora, não fiz nada além de pensar em você. Ao descer de barco o
Sena, fiquei imaginando o que pensaria disso e daquilo, de Notre Dame, do
Louvre, dos restaurantes pequenos e pitorescos e das pessoas. Caminhei
pelas ruas, e o tempo todo quis você ao meu lado. Explorando o mundo
comigo.
Ele franziu a testa de novo, confusão marcando-a.
— O que está dizendo?
— Estou dizendo… — disse ela, dando um passo para perto e
envolvendo os braços em volta da cintura dele. — Cometi um erro quando
saí de Rosedale. Eu adoro você, Albert. Senti sua falta a cada momento,
todos os dias, desde a época em que deixei Hampshire. Estou dizendo que,
embora eu não queira filhos, quero você. Quero uma vida com você,
explorar o mundo com você ao meu lado.
Victoria engoliu o medo. Ela estava pedindo muito a este homem, um
lorde com responsabilidades, mas ela sabia precisar ser sincera com ele.
Permitir que ele tome a própria decisão acerca de se uma vida com ela é a
certa para ele.
— Quer se casar comigo? — ela perguntou, sustentando o olhar dele e
rezando para que dizer sim.
Que ela bastasse para sustentar uma vida juntos, e que não precisassem
de tudo que costuma vir em um casamento.

ALBERT ENCAROU Victoria. A força, beleza e vulnerabilidade dela ao


pedir que ele fosse dela, uma força que não se encontra em todos. As
palavras acalmaram a alma dolorida dele que a envolveu nos braços,
segurando-a perto.
Ele nunca mais a soltaria.
— Senti sua falta, minha querida Victoria. Quando foi embora, pensei
que nos veríamos em bailes e festas, duas pessoas que compartilharam tanto
por um tempo, mas apenas um período. Tão fugaz quanto uma estrela
cadente. Eu me casarei com você e a amarei até o dia em que eu morrer. —
ele fez uma pausa, sabendo que ainda havia uma confissão a ser feita antes
de a noite terminar. — Também há algo que eu preciso contar.
Ela o observou, os olhos brilhantes e cheios de esperança e felicidade.
— Você me contará ser o famoso autor, Elbert Retsek? Sei que já sabe o
quanto eu amo seus livros.
Ele riu. Quão sortudo ele era por tê-la.
— Como sabia? Ninguém na Inglaterra, exceto meu editor, sabe.
— Bem… — disse ela, levantando uma sobrancelha, uma inclinação
travessa nos lábios. — Você deixou uma página do seu manuscrito em
Dunsleigh, eu encontrei. Eu estava certa de que era a mesma voz e tom de
Retsek, mas quando mamãe me disse que você usou a biblioteca, para
colocar em dia sua correspondência durante a estada em nossa casa, me
perguntei se era você. Lady Sophie provocando-o sobre ficar rabiscando
naquele chalé de caça, dia e noite, solidificou minhas suspeitas.
— Por que nunca me perguntou? — ele a questionou, curioso.
— Sabia que me contaria quando estivesse pronto. Sou uma mulher
paciente. Creio ser inevitável, já que sou a mulher mais jovem da minha
família. Eu esperaria para sempre por você também. — ela disse, passando
a mão na bochecha dele.
— Todas as minhas heroínas são imitações suas. É minha musa, minha
razão e a inspiração por trás das minhas palavras.
— Mesmo? — neste instante, o sorriso dela se abriu mais. — Que
adorável, e como me deixa feliz. — Victoria encontrou o olhar dele, uma
luz pensativa nos olhos. — Por favor, me assegure, Albert, que não se
importa que eu esteja pedindo que seja apenas nós dois. Não acredito poder
sobreviver à culpa caso se ressinta de mim por não querer filhos.
Ele balançou a cabeça, mais do que feliz por serem apenas eles pelo
resto de suas vidas. Se fosse o que Victoria queria, ele não a mudaria para
atender às próprias necessidades.
— Tenho um primo casado, um bom homem e de bom coração, ele
pode gerar herdeiros muito bem. Não precisamos ter filhos se você não
quiser.
— Contudo, tenho cães e cavalos. Não se importaria se eu os levasse
para Rosedale?
Ele riu, beijando-a na testa, embalando-a nos braços, esperança e alívio
derramando-se por ele como um bálsamo.
— Não, não me importo. Pode levar o que quiser para Rosedale. Um
gato, pássaros, coelhos, o que quiser.
— Albert. — disse ela, passando as mãos pelo pescoço dele. — ela
brincou com o cabelo na nuca dele, sentiu falta de tê-la nos braços, de sentir
o cheiro doce de jasmim sempre que ela estava por perto. — Sinto muito
por demorar tanto para entender o que eu queria. Deve saber que, se eu não
estivesse tão determinada a fazer o que queria, teria reconhecido o que sinto
por você meses atrás. Eu estava com medo de confiar em mim. Medo de
confiar no que sentia por você após cometer um erro tão grave com Paul.
— O que você sente? — ele perguntou, esperando ouvir as palavras que
ainda seriam ditas.
— Eu também amo você. Quero você e nenhum outro no mundo.
Albert se inclinou, tomando os lábios dela em uma lenta dança de
sedução. Ele sonhou por tanto tempo tê-la ao lado dele, aquecendo sua
cama. Agora, ela estaria lá para o resto de suas vidas. Como esposa dele.
Dona de seu coração.
— Eu a amo, Victoria. — respondeu ele, abraçando-a. — Quero ter
aventuras ao seu lado. Tudo o que a faz feliz é bom para mim.
Ela mordeu o lábio, os olhos brilhantes ao extremo.
— Como vim merecer você? Um homem que está disposto a renunciar
a tanto para amar minhas peculiaridades e ideais.
Ele encolheu os ombros, tomando os lábios dela em um abraço curto e
suave.
— Eu a quero há tanto tempo. Se ao fazê-lo significa conquistar seu
coração, também me afasto do que é esperado de mim. Estou disposto. Com
você como minha esposa, o sacrifício não é difícil.
— Obrigada. — ela se inclinou, beijando-o de novo, e ele aprofundou o
abraço, precisando dela com uma fome sentida por tantos meses.
Ele a guiou até que as costas dela se chocaram com a parede coberta de
hera da casa. Ela murmurou em aquiescência, e ele a beijou com vontade. O
abraço se tornou lascivo, e eles jogaram a cautela e a decência de lado,
descartando a própria localização ou o baile em pleno andamento nas
proximidades.
Ele puxou o vestido dela, levantando-a para que se apoiasse nos quadris
dele. Albert abriu a frente das calças, precisava tê-la.
Ela o ajudou, guiando-se ao pênis dele com uma segurança que o deixou
sem fôlego. Ele a segurou com força contra a hera, sem muito cuidado.
Victoria agarrou-o pelo pescoço, movendo os quadris para aumentar seu
prazer.
Os suspiros sem fôlego e as palavras murmuradas de elogio o
incentivaram, continuando ao longo do caminho para o prazer. Não
demorou muito para que as primeiras contrações da liberação dela
sugassem seu pênis.
Albert não cedeu ao próprio prazer até ela estar exausta. Logo ela seria
dele, e não precisariam se esgueirar e se apegar a interlúdios como o que
acabaram de ter.
— Terei os primeiros proclamas anunciados no domingo, e em quatro
semanas a partir de agora, você será a marquesa Melvin.
Ele a ajudou a se levantar, garantindo que o vestido estivesse bem
ajustado antes de voltarem ao salão.
— Falaremos com Josh agora? Creio que ele ficará satisfeito por eu me
casar com o amigo dele.
Albert sorriu.
— Também penso que o duque ficará satisfeito. — quanto mais cedo
Victoria fosse declarada dele, melhor ele dormiria. A ansiedade de perdê-la
às vezes era muito difícil de suportar nos últimos meses. — Vamos. Um
brinde com champanhe para comemorar nosso casamento é necessário antes
que a noite acabe.
— Albert. — ela o fez parar quando ele se mexeu. — Obrigada por ter
pensamentos tão modernos. Não creio que eu poderia encontrar um homem
mais adequado para mim.
Ele sorriu.
— Sou um autor de romances góticos, minha querida. Está certa de que
não está pensando em mim de forma moderna?
O sorriso dela aqueceu a alma dele.
— Somos um bom par então, não somos?
Albert a puxou para um novo abraço, beijando-a profundamente.
— Nós somos os melhores, e passarei todos os dias, pelo resto de nossas
vidas, provando isso a você. Não precisa temer ter o coração partido de
novo. Eu o protegerei com o meu.
— Mal posso esperar. — ela riu quando ele a pegou pela mão e a puxou
de volta para o baile.
Era necessário um anúncio para declarar as intenções dele. Lady
Victoria Worthingham, irmã do duque de Penworth, não era mais uma viúva
cobiçada na cidade, pois havia dito sim.
A futura marquesa Melvin.
Como isso soava bem.
EPILOGUE

V
O Grande Canal, Veneza 1817

ICTORIA INCLINOU-SE na varanda da casa que Albert havia


alugado para eles passarem os meses de verão em Veneza. Ela
respirou o ar fresco e salgado do Mar Adriático. Ainda incapaz de
compreender que esta seria a casa dela por enquanto, ou como a cidade era
bonita, uma das melhores que ela visitara durante os muitos anos de viagens
deles.
Ela olhou para cima e para baixo do canal, observando turistas e
moradores locais nas gôndolas, pendurando roupas lavadas ou fazendo
compras para o jantar noturno em barracas de comida locais.
Deveriam ficar aqui por várias semanas antes de retornar à Inglaterra
para uma revista às propriedades de Albert, passando por Roma. Outra
cidade que ela mal podia esperar para voltar e explorar mais.
Victoria soltou um suspiro de satisfação. Como ela era sortuda. Não
apenas por sua situação de vida, mas sentia-se abençoada por se casar com
Albert. Por encontrar seu grande amor no segundo casamento.
Como prometido, ele a encheu de amor e devoção e nunca pediu que
mudasse de ideia e desse filhos a ele.
Muitas vezes ela se preocupava por estar sendo egoísta. Felizmente, o
primo de Albert tivera um filho homem e, se o pior acontecesse, a linhagem
estava assegurada primeiro pelo primo de Albert e, em seguida por seu
filho.
— O que está fazendo aqui, meu amor? — ele disse, vindo por trás dela
e envolvendo os braços em volta da cintura dela.
Ele apoiou o queixo em seu ombro, balançando-a de leve.
Victoria apertou os braços dele contra a barriga.
— Observando as pessoas e lembrando o quão maravilhoso tem sido
nosso tempo no exterior. Não apenas aqui em Veneza, mas a cada ano desde
nosso casamento. Creio que não digo com frequência o quanto adoro e amo
você. — disse ela, olhando por cima do ombro para ele.
Podia sentir o sorriso em seu rosto.
— Não é difícil ser casado com você, minha querida. Não há
necessidade de agradecimento.
Victoria girou, ainda no abraço dele. Passaram a tarde na cama, fazendo
amor delicioso. Albert se juntou a ela vestindo apenas as calças, o abdômen
tonificado, bronzeado e musculoso após anos de viagens ao exterior para
desfrutar.
Ela passou a mão na barriga esculpida dele, a dela vibrava de desejo.
— Mas é a verdade. Não desejo que nossa vida encantada acabe nunca.
Ele a beijou com suavidade, e a respiração dela descompassou. Ela o
amava mais hoje do que no dia em que pediu que ele fosse marido dela. A
ideia de perdê-lo por vezes a deixava em pânico, por mais que o adorasse.
— Não deve, minha querida. Ainda há muito mais aventuras a serem
vividas. — os olhos dele escureceram, pecado iluminando os orbes azuis.
— Mais aventuras no nosso quarto. — disse ele, puxando-a da varanda
devagar.
Victoria permitiu que ele a persuadisse, rindo das palavras.
— Não deveríamos nos aventurar ao ar livre e ver um pouco desta
maravilhosa cidade?
Ele continuou a conduzi-la em direção à cama.
— A cidade está aqui há centenas de anos. Pode esperar mais um dia.
Na verdade, esperou por dois dias. Contudo, a espera valeu a pena,
assim como todas as aventuras que viveram juntos.
Sempre.
TAMBÉM POR TAMARA GILL

Traduções portuguesas

Liga dos Cavalheiros Incasáveis


Tente-me, Sua Graça
Travessa de Coração
Ouse Ser Escandalosa
Pecaminosa com você
Beije-Me, Duque
O Marquês é Meu

Para se casar com um patife


Só se for um conde
Só se for um duque
Só se for um visconde
Só se for um Marquês

Lordes de Londres
Como Atormentar um Duque
Como Enlouquecer um Marquês
Como Tentar Um Conde
Como Confundir um Visconde
Como Desafiar uma Duquesa
Como se Casar Com uma Marquesa

Viagem no tempo
Uma Temporada Roubada
SOBRE A AUTORA

Tamara é uma autora australiana que cresceu em uma antiga cidade mineira no sul da Austrália, onde
seu amor pela história surgiu. Tanto que ela fez seu querido marido viajar para o Reino Unido em sua
lua de mel, e o arrastou por diversos monumentos históricos castelos.
Seus três filhos, dois cavalheiros em formação e uma futura lady (ela espera), e um emprego de
meio período a mantêm ocupada no mundo real, mas sempre que consegue um momento de paz ela
adora escrever romances em uma gama de gêneros, incluindo o período regencial, medieval e livros
do gênero paranormal.
Tamara adora saber de seus leitores e outros escritores. Você pode contatá-la através de seu site, e
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