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A condessa bastarda!

por gehpadilha

Summary:

A bela Vitória Mattarazi aprendera muito cedo o significado da


palavra desprezo. Fruto de uma relação ilícita, crescera em um
ambiente hostil. Ela moldara sua personalidade selvagem, arrogante
e indomável com o mais dedicado dos mestres... Até seu caminho se
cruzar com a neta do seu maior inimigo. Maria Clara Duomont
parecia ter saído das histórias de contos de fadas... doce, generosa e
meiga, mas aos poucos ela aprendera que para enfrentar sua maior
rival teria que buscar todas as forças possíveis ou acabaria sendo
tragada pelas trevas da condessa bastarda.

Categoria: Romances Characters: Original


Challenges:
Series: Nenhum
Capítulos: 36 Completa: Sim Palavras: 123577 Leituras: 263793
Publicada: 24/09/2016 Atualizada: 30/01/2017

1. Capitulo 1 por gehpadilha

2. Capitulo 2 por gehpadilha

3. Capitulo 3 por gehpadilha

4. Capitulo 4 por gehpadilha

5. Capitulo 5 por gehpadilha

6. Capitulo 6 por gehpadilha

7. Capitulo 7 por gehpadilha

8. Capitulo 8 por gehpadilha

9. Capitulo 9 por gehpadilha

10. Capitulo 10 por gehpadilha

11. Capitulo 11 por gehpadilha

12. Capitulo 12 por gehpadilha

13. Capitulo 13 por gehpadilha

14. Capitulo 14 por gehpadilha

15. Capitulo 15 por gehpadilha

16. Capitulo 16 por gehpadilha

17. Capitulo 17 por gehpadilha

18. Capitulo 18 por gehpadilha

19. Capitulo 19 por gehpadilha


20. Capitulo 20 por gehpadilha

21. Capitulo 21 por gehpadilha

22. Capitulo 22 por gehpadilha

23. Capitulo 23 por gehpadilha

24. Capitulo 24 por gehpadilha

25. Capitulo 25 por gehpadilha

26. Capitulo 26 por gehpadilha

27. Capitulo 27 por gehpadilha

28. Capitulo 28 por gehpadilha

29. Capitulo 29 por gehpadilha

30. Capitulo 30 por gehpadilha

31. Capitulo 31 por gehpadilha

32. Capitulo 32 por gehpadilha

33. Capitulo 33 por gehpadilha

34. Capitulo 34 por gehpadilha

35. Capitulo 35 por gehpadilha

36. Capitulo 36 FINAL por gehpadilha


Capitulo 1 por gehpadilha
Vitória Mattarazi era a filha mais jovem do conde italiano Vitório Mattarazi V. Fora fruto de uma relação
ilícita com uma das empregadas da casa da esposa, uma jovem brasileira que se apaixonara pelo patrão
garboso.

A pobre mãe enamorada morrera quando trouxera ao mundo a bela ruiva de olhos verdes.

A pomposa condessa fora obrigada a aceitar a criança ou o galante marido abandonaria o "perfeito"
matrimônio. Kassandra permitira que a garota fosse criada junto ao seu filho, Vitor, mas a mulher nunca tivera
nenhum tipo de sentimentos maternais pela menina. Ela representava a traição, representava o fato de ter sido
trocada por uma simples serviçal.

Ao contrário da mãe, o futuro conde amara desde o nascimento a irmã, seis anos mais velho do que ela,
assumira o papel de protetor e amigo da garotinha de cabelos de fogo.

Enquanto isso, Vitório sempre fora um homem forte e inteligente, mas com a perda recente dos pais,
mergulhara em um mundo de luxúria e farras, levando aos poucos a riqueza da família a nada mais do que
menos de um milhão de reais. Tivera que vender a mansão onde morava e se instalar em uma fazenda em
meio ao nada, em terras potiguaras, herdada de sua mãe.

Vitória fora mandada a um colégio interno quando ainda era um bebê, porém quando o dinheiro acabou,
a garota, agora com dezesseis anos, retornara a casa. Em todos esses anos fora, o único que lhe visitava fora o
meio irmão, nem mesmo o conde se dava ao trabalho de saber como estava a jovem. Nem mesmo as férias, ela
passava com a família.

Kassandra a odiava e quando se viu obrigada a tê-la em seu espaço, fizera o possível para humilhá-la,
para mostrá-la qual era o seu verdadeiro lugar, mas a condessa não imaginara que a simples filha de uma
empregada herdara o orgulho e arrogância dos Mattarazis e jamais baixaria a cabeça.

-- O que estás a pensar, bambina?

Vitória virou-se e viu o irmão montado em seu garanhão.

A garota estava sentada sob um enorme pé de mangueira. Havia treinado durante toda manhã, era uma
grande amazona e participava de campeonatos de hipismo.

-- Onde está o Bastardo?

A ruiva apontou para o estábulo, onde o grande cavalo preto pastava.

-- Está descansando. -- Disse sem interesse.

Ficou a observar o verde que se estendia por aquela extensa propriedade. Havia uma calmaria, uma
paz que não se encontrada dentro da casa grande e tampouco dentro dela.

-- Estou apenas a relaxar...

O jovem desmontou e sentou ao seu lado.

-- Brigou com a minha mãe novamente? -- Tocou-lhe o queixo, encarando-a.

-- Não brigo com ela, apenas não aceitarei a forma como a condessa me trata, jamais aceitarei isso de
ninguém. -- Cerrou os olhos.

-- Eu sei e te entendo, mas você precisa compreender que ela está passando por uma fase difícil, na
verdade, todos estão com essa crise. Temo que perderemos até mesmo essas terras. – Observou com tristeza os
escassos empregados que restara.

-- O conde não parece se importar com isso, afinal, ele sai toda noite para farras e até mesmo esbanja
dinheiro como se ainda tivesse. – Comentou com escárnio.

O rapaz tirou o chapéu de abas da cabeça e bateu-o nas pernas.

-- Irei casar com a filha do governador. Acredito que essa é a única solução para nossa situação.

Vitória apenas assentiu.

Sabia que em breve, seria ela a vendida para saldar as dívidas da família, era assim que funcionava. Até
mesmo já fora apresentada a um viúvo, dono de banco, milionário, sabia que seria questão de tempo para subir
ao altar com um homem que tinha um triplo da sua idade.
O casamento do irmão ocorreu como fora planejado, pomposo, fora gasto tudo o que os Mattarazi
possuíam, lógico que eles imaginavam que retomariam o triplo do que investiram, porém nada é como se
aparenta.

Um mês depois do matrimônio, o governador fora preso e acusado de desviar verbas, teve todos os bens
leiloados e ficaram na miséria.

Vitória era agora a única saída para toda aquela desgraça.

A garota agora com dezoito anos, era linda. Não passava despercebida em lugar nenhum. Kassandra
aproveitou bem isso e conseguira um magnata do petróleo para a enteada. A bela bastarda aceitara sem
contestar, sabia que isso era normal e ela também desejava o poder, o dinheiro que o futuro marido possuia.
Tão jovem, contraiu matrimônio com um homem de quase oitenta anos. Porém, ninguém domava a rebelde, ela
era livre e não se deixava controlar por nada e por ninguém.

Levava a vida como solteira. Fazia o que lhe dava prazer e isso incluía competições de equitação. Era uma
das melhores.

Em menos de um ano, depois de contrair núpcias, o marido sofreu um infarto. Não havia filhos, irmãos ou
tio, apenas muito dinheiro que a jovem viúva herdou.

A ruiva vivia a observar o irmão, alguém sempre entusiasmado, se transformara em um homem


amargurado, a esposa tornava a vida de todos um verdadeiro inferno e nem mesmo o nascimento da filha
mudara isso. Vitória usara tudo que herdara para levantar a fazenda da família, mas perdera quase por
completo em investimentos errados do pai e na ambição desmedida da madrasta. O pouco que lhe restara,
investiu naquelas terras tropicais, essa era a verdadeira paixão da garota. Com o tempo aprendera que era ali o
seu lugar e faria de tudo para preservá-lo.

Mas o destino ainda tinha muito para mostrar e surpreender. Um acidente de carro ceifara a vida de toda
a família, restando apenas à filha ilegítima para levar a frente o nome Mattarazi. Vitória, pela primeira vez em
muitos anos, chorara. Mas não o fez pelo pai que nunca lhe demonstrara nenhum tipo de afeto, o fez pelo
irmão, pois fora este quem sempre estivera ao seu lado. Fora ele quem lhe dera seu carinho, fora ele o único
que lhe demonstrara o querer desinteressado.

Então, antes de completar a vigésima primavera, a filha de uma empregada recebera o título de condessa
Mattarazi VI. Tudo que a família tinha fora deixado para si, mas tivera que enfrentar a acusação que a família
de Helena, esposa de Vitor, fizera contra sua pessoa. Eles a denunciaram como sendo a responsável pelo
acidente, porém as investigações comprovaram que não houve nenhum tipo da falha mecânica no veículo, o
que significa que a culpa do que ocorrera foi da velocidade que o motorista conduzira o veículo.

Cinco anos depois...

-- Não há dúvidas que você será eleita a prefeita dessa cidade!

Maria Clara sorriu e bebeu água. Dentro de alguns minutos começaria a competição e precisava estar
totalmente sóbria.

Estavam a comemorar, pois a candidatura da jovem tinha sido bem aceita por toda a população.

A família Duomont temera que houvesse rejeição, pois há alguns anos o avô da jovem, Frederico, na
época governador do estado, fora preso por desvios de verbas. Agora eles estavam tentando se reerguer de tudo
que acontecera, buscando o prestigio e o dinheiro de outrora.

-- Você será bem aceita! -- O velho lobo falava. -- Venceremos aqui e nas urnas. Quando isso acontecer,
teremos força o suficiente para destruir a condessa. -- Socou a palma da mão. -- Ela tirara tudo de nós e nós
tiraremos até o último centavo dela.

Maria Clara lembrou-se da tia que morrera tão drasticamente. Ainda sentia a mesma tristeza quando
relembrava o que se passara. Na época, a jovem estava estudando fora, mas viera para o enterro. Naquele dia
chuvoso, pode ver a mulher vestida de preto, ainda recordava do olhar frio, da falta de expressão que o belo
rosto exibia. Sentiu a nuca se arrepiar quando se lembrou dos olhos verdes se direcionarem para si. Eram como
se fossem feitos de aço.

-- Amor, você será a mais linda prefeita de todo o país. -- O namorado a beijou nos lábios, tirando-a de suas
lembranças. -- E eu seu vice.

Ela sorriu!
Marcos era filho do atual gestor da cidade. O belo rapaz fora escolhido como seu companheiro na chapa.
Sabia que a popularidade do pai não estava em alta, por isso aceitara que a futura esposa ocupasse aquele
lugar. Sabia que ela tinha carisma, além de ser linda. A morena de olhos negros, corpo esguio, rosto de linhas
delicadas conquistaria a todos.

-- Não há dúvidas que sairemos vitoriosos.

A amazona ouviu o chamado e seguiu para seu cavalo.

Ficou parada a observar a competidora que entrava no gramado, montada em um cavalo árabe lindo.
Ficou encantada, porém ao notar o sorriso debochado da mulher que o montava, sentiu o sangue esquentar.

A condessa!

Ficou surpresa ao vê-la. Ninguém a via. Só tivera o desprazer de se deparar com sua pessoa no cemitério.
Nunca falara com ela e jamais a imaginou naquele lugar.

Assassina!

Na época da morte de Helena, tinha apenas dezesseis anos, porém ficara sabendo da participação daquela
cobra.

Recordou de quando a viu. Isso só acontecera uma única vez, mas nunca se esquecera daquele rosto forte,
arrogante e orgulhoso, só não recordava de como ela era jovem e bonita. Poucos viam aquela figura por ali, ela
vivia isolada em sua fazenda, um lugar lindo e bem afastado da pequena cidade.

-- Não sabíamos que ela estaria na competição!

Maria clara fitou o treinador e amigo, mas voltou rapidamente para a apresentação.

Ela era perfeita! Executava tudo com maestria. Parecia fazer parte do animal. Lembrava uma rainha.

Alguns minutos se passaram e chegou ao fim a bela performance. Ela desmontou, retirou o capacete e
sorriu.

Clara percebeu o sarcasmo presente no ato, pois a competidora saudara sua família e em seguida
procurou-a com o olhar por entre os que estavam ali presentes e quando a viu arqueou a sobrancelha em um
quê irônico. A jovem apenas deu de ombros.

Sabia de tudo que aquela mulher já fizera, desde a morte da família até a do próprio marido e só
permanecia impune, devido aos bilhões que possuía. O que mais doía era saber que o crime contra sua tia fora
descartado como um simples acidente.

A bela Duomont balançou a cabeça para impedir os pensamentos que lhe atormentavam e seguiu para a
apresentação.

Tudo estava perfeito, treinara muito para aquele dia e sabia que estaria no pódio. Aquele era o
campeonato estadual de hipismo e ela desejava muito aquele prêmio. Ouvia os gritos de entusiasmo, afinal,
quem estava ali a competir era nora do prefeito e provavelmente a futura administradora daquele município.

Então quando foi saltar o último obstáculo, sentiu a sela solta, seria inevitável a queda, mas antes de ir ao
chão, pode ver o sorriso vitorioso estampado no rosto da condessa Mattarazi.

Fora essa sua última visão antes de cair desmaiada.

Clara seguiu para o quarto.

Há dois meses que sofrera o acidente quando participava do campeonato e necessitava de muletas para se
locomover.

-- Precisa de ajuda, senhorita? -- A empregada abriu a porta para ela.

-- Não, Joana! -- Sorriu. -- Irei descansar um pouco.

Seu corpo ainda sentia as dores do acidente. Talvez, nunca mais voltasse a competir. Seu cavalo teve que
ser sacrificado e isso era o que mais lhe entristecera.

Não pudera salvá-lo... Não tivera essa chance...

Trovão fora presente dos pais. Ele estava com ela desde quando era apenas um potrinho.

Apoiando-se no móvel, conseguiu deitar com muito esforço.


Nada lhe tirava da cabeça que a tal Mattarazi fora a culpada do que aconteceu. Ficara comprovado que a
sua sela fora cortada e não havia outra pessoa que pudesse desejar algo assim.

Fechou os olhos!

Nascera naquele lugar, mas estudara durante muitos anos na Alemanha. Devia muito ao avô que se
comprometera com seus estudos e sempre lhe dera tudo, até mesmo quando passara por momentos ruins. Há
um ano retornara ao Brasil, iria participar das olimpíadas, mas o acidente lhe tirara do jogo. Tivera que ficar no
interior, conseguindo apoio ao lado da família. Os pais e o avô.

Maria Clara Oliveira Duomont sabia o poder que aquele sobrenome tinha em toda aquela região, mas
também sabia que desde a prisão de Frederico, a popularidade política fora esmagada e ela sabia que caberia a
si resgatá-la. Sabia que teria alguns obstáculos em seu caminho. E agora estava segura que a condessa seria um
deles, mas não a temia, estava disposta a lutar com todas as armas contra ela.

Sabia que Vitória Mattarazi dominava grande parte daquelas terras. Mas será que ela se livrara de toda a
família para conseguir aquilo? Muitas coisas na vida daquela mulher era uma incógnita. Uma filha ilegítima se
tornara única herdeira de um pouco que ela transformara em muito em menos de cinco anos.

Pegou o celular e acessou a internet. Ficou a observar a ruiva acompanhada de um belo homem. Ela era
viúva. Casara com alguém que tinha idade para ser seu avô e em menos de seis meses ficara solteira. Herdara
uma boa quantia do marido e soubera fazê-la multiplicar. Era normal vê-la em revistas acompanhadas de belos
rapazes, mas nunca havia uma segunda foto. A ruiva parecia uma caçadora, uma verdadeira predadora.

Observou o olhar forte e recordou do dia que a viu no enterro da tia. Na época, Clara era apenas uma
menina e ficara muito impressionada com a frieza que ela demonstrara.

O que poderia esperar de alguém que tramara a morte da família e até mesmo do marido?

Estaria preparada para o que tivesse que vir. Não baixaria a cabeça jamais e se conseguisse provas de que
ela estava por trás da morte da amada Helena, faria qualquer coisa para colocá-la atrás das grades.

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Capitulo 2 por gehpadilha
Vitória bateu com chicote na escrivaninha. Estava em seu escritório.

-- Como roubaram? -- Falou por entre os dentes.

O capataz a conhecia, mas mesmo assim temia a fúria da mulher. Às vezes ficava a se perguntar como um
ser tão bonito tinha um gênio daqueles.

-- Sim, condessa! -- Falou relutante. -- Cinco das melhores vacas sumiram quando estavam a pastar do
outro lado do rio.

-- Procurem-nas! -- Bateu mais uma vez. -- Para que pago a um monte de incompetentes se eles não
conseguem nem encontrar meus animais.

O rapaz baixou o olhar.

-- O fizemos durante toda a noite, mas é como se os bichos tivessem sido engolidos pela terra.

Ela deu a volta e parou bem próximo a ele.

-- Saia!

O empregado assentiu e sumiu em disparado.

Vitória sentou na poltrona e retirou as botas de couro. Estava cansada. Tinha chegado de uma longa
viagem. Precisara negociar com alguns empresários e isso fora demasiadamente exaustivo.

Encostou-se e apoiou a cabeça.

Ela sabia que esses roubos que estavam ocorrendo em sua propriedade não era algo feito por qualquer
ladrão, tinha certeza que alguém estava fazendo aquilo e suspeitava de Frederico Duomont e sua prole.

Miseráveis!

Por culpa daquele desgraçado, Vitória fora acusada de assassinato e ainda enfrentava o desdém de todos
naquela cidade. Estava cansada de tudo aquilo e não permitiria que eles saíssem vencedores. Enfrentara muita
coisa para chegar até ali e querendo ou não era ela a condessa Mattarazi.

Observou o porta retrato que repousava sobre o criado mudo.

Havia uma única foto ali e era o seu irmão com a filhinha nos braços.

Vitor!

Seu irmão tinha o sorriso mais sincero, o olhar mais gentil que um dia pode ver em um ser humano. Fora
dele o único afeto que recebera durante toda a vida. A sinceridade com que lhe falava, o jeito que demonstrava
o seu amor. Gostaria de tê-lo ao seu lado, gostaria de ter partido com ele. Cada dia que passava, a saudade só
fazia aumentar. Lembrou-se de Helena. Ela destruíra a vida de um jovem sonhador, a mesquinhez e ambição
daquela mulher fora o estopim para a destruição do futuro conde.

No dia seguinte completaria seis anos do acidente que ceifara a vida de todos.

Acomodou-se no sofá, fechou os olhos e acabou dormindo.

Os Duomont mandara rezar uma missa para a alma de Helena. Todo ano a família se reunia na igreja e
chorava pela morte prematura da jovem e da sua filhinha. Aquela era a primeira vez que Maria Clara se
encontrava presente. O recinto religioso estava cheio. Alguns a observavam com curiosidade, não pareciam
interessados nas palavras do padre, mas sim na vida dos que ali estavam presentes.

Olhou o relógio. Quase dez da manhã. Mas o dia estava sombrio, parecia estar se preparando para chuvas.

Remexeu-se no banco.

-- Tudo bem, amor? -- Marcos indagou.

O rapaz e a família estavam presentes. Ele ao lado da amada.

-- Estou com falta de ar... -- Abanou-se. -- Vou lá fora por alguns minutos.

Ele assentiu e a jovem pegou as muletas, saindo vagarosamente.


Observou a rua deserta. Era domingo. Ou as pessoas estavam na missa ou em suas casas dormindo. A
cidade era pequena, acolhedora. Ruas estreitas, praças e algumas lojas ao centro. Ela morava em uma fazenda
dez minutos distante dali. Era um belo lugar e muito grande. Uma verdadeira mansão, sem falar nos outros
atrativos do lar que ocupava uma enorme faixa de terra.

Seguiu caminhando lentamente e acabou chegando ao cemitério. Era um lugar pequeno que ficava um
pouco afastado da área central.

Sentiu dores nas pernas e teve que se apoiar no muro para descansar um pouco. Arrependeu-se de ter ido
até ali, não teria condições de retornar.

Repirou fundo até sentir-se melhor. Sorte que estava com o celular. Ligaria para o namorado ir ao
encontro dela.

Percebeu uma movimentação mais a frente e assustou-se, afinal, o lugar estava totalmente deserto e não
havia casas por ali. Deu a volta no muro e percebeu que havia um enorme garanhão preto amarrado a uma
árvore. Reconheceu-o imediatamente. Era o árabe que a Mattarazi montara no dia da competição.

Encantada, chegou mais perto.

Nunca vira um animal tão lindo. Grande e pomposo, parecia saber a quem pertencia.

Estendeu a mão para tocá-lo, mas o bicho levantou as patas dianteiras, o que fez a jovem se desequilibrar.

-- O que fez com ele?

Maria Clara ouviu a voz firme e depois a mulher vestida em roupa de montaria se aproximar, tentando
acalmar o animal.

Os olhos de um intenso verde a fitaram, estreitando-se, de forma ameaçadora.

A garota tentou levantar-se, mas parecia impossível, pelo menos conseguira sentar.

-- Responda! O que fazia com ele? -- Repetiu se aproximando.

A sobrinha de Helena se encolheu quando a viu bater com chicote na própria bota.

Tentou levantar-se, mas fora mais uma tentativa fracassada. Sentia-se constrangida por estar em tamanha
desvantagem.

-- Poderia ajudar-me? -- Estendeu a mão.

Vitória abriu um enorme sorriso, aproximando-se ainda mais.

Clara observou as botas de couro brilhar de tão bem cuidada. Pela primeira vez pode vê-la de perto. Os
olhos pareciam duas esmeraldas, os cabelos estavam soltos. Pareciam pintados de fogo. Era demasiadamente
linda. O sorriso era enorme, os lábios vermelhos... Cheios... Suculentos...

Sentiu as gotas de chuvas começarem a cair.

-- Não! -- Afastou-se, montando o cavalo. -- Jamais ajudaria uma Duomont e não sujaria minhas mãos
tocando em uma.

Instintivamente, Clara conseguiu desviar das patas do garanhão que passara em disparadas por si.

Sentia as batidas do coração acelerar. Sabia que se não tivesse saído da frente, ela teria passado por cima
de si sem dar nenhuma importância para isso.

Não havia dúvidas sobre a maldade daquela mulher.

Esperou os batimentos voltassem ao normal, em seguida pegou o celular no bolso e discou para Marcos ir
ao seu resgate.

A condessa esporeou ainda mais o animal. Sentia a chuva chicoteando-lhe o rosto, encharcando-lhe as
roupas, mas mesmo assim continuou a correr. Observou o campo aberto, não havia casas, só mato e árvores.
Suas terras já estavam à vista, porém a casa ficava a uma hora dali.

Decidiu parar em um estábulo desativado que ficava a meio caminho. Desmontou e acomodou o animal
em meio aos destroços.

-- Bastardo! -- Afagou a montaria. -- Você é tudo o que me restou. -- Tirou uma cenoura do bolso e colocou
na boca do bicho.
Ganhara aquele lindo animal do meio irmão. Ele era filho do cavalo árabe de Vitor. Lembrou-se de como o
pai e a madrasta se opuseram ao presente, mas o rapaz fora firme e não aceitara a interferência de ninguém.

Viu que a chuva diminuía e decidiu seguir caminho.

-- Iremos passar na delegacia agora mesmo. -- Marcos deu partida no carro.

Ele fora ao socorro da amada e a encontrou caída. Tinha alguns arranhões no rosto.

-- Não acredito que vá adiantar alguma coisa. -- A garota protestou.

-- Como não? -- Fitou-a. -- A maldita condessa quase passou por cima de ti com aquele monstro. -- Tocou-
lhe o rosto. -- Você está toda machucada, meu amor. Não podemos permitir que essa mulher saia impune, não
basta o que ela já fez e nunca fora cobrada por isso.

A jovem mordeu o lábio inferior e acabou assentindo.

O rapaz deu-lhe um beijo rápido e seguiu, estacionando em frente à pequena delegacia. Ajudou a
namorada a sair, entregando-lhe as muletas. Entraram.

-- Bom dia! -- Um policial cumprimentou-os. -- Algum problema?

-- Sim! -- O jovem se antecipou. -- Queremos fazer uma denúncia contra a condessa Vitória Mattarazi.

Vitória retornou a casa e seguiu direto para a usina. Seu maior investimento era cana-de-açúcar. Além de
plantar, ela também produzia etanol e em breve começaria a produzir cachaça.

-- E como estamos indo?

Batista era um homem de meia idade que morava junto com a família nas terras da condessa. Trabalhava
ali desde jovem e desde as mortes da família, assumira o papel de administrador.

-- Com certeza não teria como está melhor. -- O homem lhe entregou as roupas adequadas para entrarem
na sala de química. -- A bebida está pronta. Quero que prove-a.

A ruiva colocou a vestimenta sobre a que já estava a usar.

Seguiram para o lugar, onde muitas pessoas trabalhavam.

Batista pegou a bebida cristalina, colocou no copo e entregou-a.

Vitória degustou lentamente, saboreando a destilada.

Sorriu!

-- Está uma delicia. -- Tomou o resto do conteúdo. – Parabéns! conseguiram o ponto certo.

-- Agora só precisamos de um nome.

A condessa ficou a pensar, até esboçar aquele sorriso irônico de canto de boca.

-- Bastarda! A cachaça da condessa! -- Encheu o copo mais uma vez e levantou-o em um brinde.

A viatura parou em frente a enorme casa de três andares.

A delegada saiu do carro, acompanhada de dois policiais. Já estivera ali algumas vezes, ainda mais
quando houve a denúncia contra a jovem, após perder a família em um acidente de carro. Não tivera mais
contato com ela, raramente ela aparecia na cidade, mas todos falavam daquela figura perturbadora.

Seguiu até a entrada da casa e apertou a campanhia. Em poucos segundos, a mesma senhora de aspecto
maternal abriu a porta.

-- Boa tarde!

Julieta era a esposa de Batista e era ela a responsável de cuidar e administrar a enorme mansão.

-- O que deseja? -- Perguntou meio que assustada.

-- A condessa se encontra?
Antes que a senhora pudesse responder, uma voz firme e rouca foi ouvida.

-- Olá, delegada, que surpresa vê-la...

Valentina fitou a ruiva que descia elegantemente a escadaria.

-- Não me diga que veio para o lanche da tarde? -- Ironizou com um sorriso. -- Pode ir, Julieta, eu atendo a
visita.

A mulher assentiu, deixando-as sozinhas.

-- Vamos ao meu escritório. -- Seguiu na frente.

A delegada conhecia aquele ar sarcástico muito bem. Aquela jovem parecia que tinha sempre aquela
forma de deboche, tanto nos seus atos, como na própria voz. Recordou de quando chegara à cidade, seu maior
desafio fora à condessa.

-- Sente-se!

Valentina observou o lugar que não mudara nada naqueles anos.

A ruiva sentou e ficou a girar na cadeira.

-- E então? Veio me prender pela morte de quem?

Vitória fitou a autoridade sentada a sua frente. A delegada era uma mulher firme, deveria ter seus
quarenta anos e era uma morena muito bonita.

-- Recebemos uma denúncia contra a sua pessoa. -- Entregou-lhe um papel. -- Vim pessoalmente, pois
desejo evitar problemas.

A condessa observou a intimação, em seguida amassou e jogou-a no lixo.

-- Sabe que eu poderia prendê-la por isso, não é?

-- E o que a senhora deseja que eu faça? A família Duomont não me deixa em paz e agora essa garota vem
me acusar de quase tê-la pisoteado e pior, vem me acusar de ter cortado a sela do cavalo no dia da competição?

-- Então, diga-me o que aconteceu. -- Pediu pacientemente.

Valentina era casada com o advogado da condessa e pelo que o marido falava, percebia que Vitória não
era aquele ser insensível que aparentava.

A jovem levantou-se impaciente, surpreendendo-a.

-- Não tenho nada para dizer. -- Estendeu os pulsos. -- Prenda-me, afinal, é isso que todos desejam.

A delegada assentiu.

-- Só preciso que esclareça as coisas. -- Insistiu.

-- E eu repito que não tenho nada para falar. -- Aproximou-se com os pulsos estendido. -- Não vai me
algemar? -- Arqueou a sobrancelha. -- Não esqueça que sou uma assassina fria que, de acordo com vocês, foi
capaz de matar o marido e a própria família em um acidente de carro.

A morena fitou aqueles olhos verdes.

-- Ligue para o seu advogado. -- Retirou as algemas da cintura.

A condessa apenas deu de ombros, relanceando os olhos em sinal de tédio.

Frederico estava em seu escritório.

-- Não pode ficar impune o que essa mulher fez com a minha filha. -- Clarice parecia descontrolada. --
Temo que ela possa fazer o mesmo que fez com a Helena.

Felipe abraçou a esposa.

-- Não permitiremos que isso aconteça, a denúncia já foi feita.

Ouviram o som do telefone.


O ex-governador atendeu prontamente e depois de alguns segundos de conversa, desligou.

-- A maldita condessa está detida na delegacia. Acho que dessa vez o poder dela não foi suficiente para
salvá-la.

Clarice pareceu aliviada com a notícia.

-- Onde está a Mattarazi?

Valentina observou o marido, Miguel, entrar em sua sala.

-- Quem ligou para ti?

-- A Julieta! -- Parou em sua mesa. -- A senhora não tinha o direito de detê-la. A minha cliente não
apresenta nenhum tipo de ameaça a ninguém.

-- Ela quase pisoteou a neta de Frederico Duomont. -- Retrucou firme. -- E ainda tem o agravante de ter
cortado a sela do cavalo da jovem.

-- E quais são as provas que a senhora tem? A palavra dessa moça contra minha cliente?

-- A sua cliente não pareceu interessada em se defender e nem mesmo solicitou a sua presença.

-- Deixe-me vê-la. -- Exigiu. -- Entregou-lhe a autorização.

Valentina assentiu e pediu para o policial levá-lo até lá.

Observou o olhar indignado do marido. Sempre fora contra a ele trabalhar para a condessa, mas passando
por cima de seu desagrado, Miguel se tornara o advogado de Vitória Mattarazi. Sabia que o marido tinha um
carinho paternal por aquela mulher forte e sempre estava disposto a defendê-la. De início pensara que fosse
mais um apaixonado pela ruiva, mas depois de saber a história, entendera o motivo de tanto amor...

O homem aproximou-se da cela e viu a cliente, mesmo diante da escuridão. Ela estava sentada com as
pernas dobradas e a cabeça apoiada nos joelhos.

Sentiu um aperto no peito ao vê-la daquele jeito.

A conhecera quando ela era ainda uma menina. Fora um grande amigo do seu irmão. Ele quem a
defendera da acusação de assassinato da família. Naquele dia, conseguira ver naquele olhar que aparentava
ser duro, algo que o tocara profundamente. Uma tristeza, medo, dor... Uma profunda dor naqueles olhos tão
lindos.

-- Condessa?

-- O que quer? Quem te chamou? – Indagou sem levantar a cabeça.

O homem pediu ao guarda para abrir a cela, mas o rapaz disse que não tinha ordens para aquilo.

O advogado segurou nas barras.

-- Julieta me ligou e avisou o que tinha acontecido.

-- Não a mandei fazer isso.

-- Ela o fez porque se preocupa contigo, estava desesperada. – Respirou fundo. – Deveria ter me ligado logo
que a Valentina aparecera na fazenda.

Naquele momento Vitória levantou a cabeça e fitou-o.

-- Vá embora...

-- Irei, mas te levarei comigo. – Pegou o celular e discou para o juiz.

Alguns minutos se passaram até ele encerrar a chamada.

-- Irei ao fórum atrás do habeas corpus. Mas antes eu quero que me explique o que aconteceu. Por que
estão dizendo que fizeste essas coisas? – Deu uma pausa. – Você não cortou a sela, tenho certeza.

-- Não, não o fiz.

-- Eu acredito! – Miguel parecia aliviado.


A condessa levantou e seguiu pela minúscula cela até ele.

-- Não cortei nada. Sou muito boa no que faço, a melhor amazona de todas, não preciso usar de
artimanhas para vencer ninguém.

-- Não há dúvidas.

-- Mas... – Cerrou os olhos. – Eu quase a pisoteie com o Bastardo. Se ela não tivesse desviado, eu teria feito
um omelete da Duomont.

O advogado respirou fundo. Sabia que aquelas palavras eram verdadeiras. A conhecia o suficiente para
saber que a jovem não temia nada e nem ninguém, então não se importava em dizer o que pensava.

-- Não deveria ter feito isso. – Começou. – Não basta os problemas que tem com aquela família? Tente
ignorá-los.

-- Eles estão roubando meu gado e se eu pegar um deles com os pés nas minhas terras, darei ordens para
atirar. – Disse por entre os dentes.

-- Irei buscar a ordem de soltura.

Vitória apenas deu de ombros, observando-o sumir pelos corredores daquele lugar que lembrava mais
uma masmorra.

Fechou os olhos e sorriu ao recordar da cara de assustada da tal Maria Clara. Ficara surpresa no dia do
campeonato. No passado, só a viu por ali uma única vez, no dia do enterro da família.

Lembrou-se do olhar dela naquele fatídico dia. Aqueles olhos pareciam querer hipnotizar.

Agora ela tinha retornado e pelo que andara ouvindo na cidade, a garota miúda e de traços que a fazia se
lembrar das princesas dos contos de fadas, era a candidata à prefeita do município, mas ela só ganharia e
assumiria a prefeitura passando por cima do seu cadáver.

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Capitulo 3 por gehpadilha
Maria Clara terminou de banhar com a ajuda da mãe e começou a se vestir. Teria que comparecer a uma
reunião do partido.

-- Estou mais tranquila com a prisão daquela louca. – Dizia Clarice, enquanto escovava-lhe os cabelos.

-- Ela foi presa? – Movimentou-se incomodada na cama.

-- Sim, ontem! – Falou, terminando o ato. – Está linda... É a mais linda de todas.

A jovem sorriu tímida.

-- O Marcos disse que assim que terminar as eleições, vocês irão casar. – Entregou-lhe as muletas. – Seu
avô já trouxe o seu carro adaptado. Sei que você precisa da sua independência, não precisará mais que te
levem onde quiseres ir.

A jovem assentiu.

-- Preciso que ligue para o fisioterapeuta, tenho que iniciar as sessões o mais rápido possível. Quero voltar
a montar.

-- Não, filha, por favor, não faça isso. Não entende que é um esporte muito arriscado.

-- E eu o pratico desde os seis anos e nunca tive nenhum problema. Só cai naquele dia porque alguém
cortou a sela. – Retrucou impaciente. – Estou indo ou acabarei me atrasando. – Beijou a mãe e saiu do quarto.

Clarice não via a hora de casar a filha. A menina tranquila e obediente estava criando uma personalidade
forte. Certa rebeldia que só o matrimônio daria um basta.

A condessa estava livre. Pagará fiança e não precisará dormir na delegacia.

Acordou cedo, foi direto para as baias. Encontrou o fiel companheiro lá. Acariciou-lhe e o bicho se
esfregou em sua mão.

-- Vamos dar uma volta? Preciso ver os campos e verificar os animais. – Entregou-lhe uma cenoura. – Se
estiver cansado posso pegar outro.

O garanhão pareceu não gostar da ideia.

Vitória sorriu.

Acabou de selá-lo e saiu em disparada.

Maria Clara seguia por uma estrada de barro muito estreita. A reunião tinha sido transferida para a
fazenda do presidente do partido. O lugar ficava demasiadamente distante, mas se saísse cortando por uma via
toda arborizada conseguiria chegar à metade do tempo.

Decidida, tomou o caminho. Ligou o rádio e ficou a ouvir algumas baladas românticas. Sempre fora seu
estilo de música favorito. Enquanto as amigas se jogavam no pop e até mesmo funk, a única herdeira dos
poderosos Duomont curtia algo mais tranquilo aos ouvidos.

Ouviu o celular tocar e viu aparecer a foto do namorado. Ele já deveria estar desesperado com o atraso
dela.

Tentou discar, mas teve perda de sinal. Acelerou um pouco mais.

Prefeita?

Nunca pensara em entrar na política, mesmo sendo de uma família de políticos. Seu avô não poderia
concorrer a nenhum cargo durante muitos anos, fora declarado inelegível. Seu pai era vereador, mas não
parecia ser popular o suficiente para aspirar à prefeitura, então só restara ela. Frederico disse: Com sua
carinha de anjo poderemos ir longe...

Sorriu!

Bem, aquela era uma boa oportunidade para fazer algo pela população que vivia naquele lugar. Pelo que
ficara sabendo pelos pais e pelo avô, a maioria dos empregos vinham direto da fazenda e da usina Mattarazi e
os empregados tinha a mesma rotina dos escravos. Trabalhavam demasiadamente e ganhavam pouco. Lutaria
com todas as forças para que aquilo acabasse. Traria outras frentes de trabalho para a região, ajudaria àquelas
pessoas a terem dignidade.

Distraída, precisou frear bruscamente ao notar a amazona montada em seu enorme cavalo. O animal
levantou as patas dianteiras, relinchando.

Sentia a adrenalina dominar todo o seu corpo. Por um triz não a atropelara.

O que aquela mulher estava fazendo ali?

Sua mãe dissera que ela tinha sido detida. Lerdo engano! Vendo-a agora, a exibir aquela postura de uma
rainha, sabia ser impossível alguém a detê-la ou controlá-la.

Observou-a para em frente ao seu carro.

-- O que faz em minhas terras? Quem te deu permissão para trafegar por aqui? – Perguntou rispidamente.

-- Isso é uma estrada pública... – Falou meio confusa.

-- Não, aqui já é propriedade dos Mattarazis.

Clara parecia ainda mais desorientada, jamais passara por sua mente que aquela estrada pertencesse
àquela mulher.

-- Eu sinto muito... – Disse com sinceridade. – Não tinha conhecimento desse fato.

Vitória não pareceu acreditar muito naquelas palavras. Ficou a acariciar a crina brilhante do animal.

-- E então, Bastardo? O que devemos fazer com a garotinha da cara assustada?

A Duomont exibiu uma expressão surpresa.

-- O nome do seu cavalo é Bastardo?

A condessa deu de ombros, desmontando da montaria, mas o deixando parado no mesmo lugar para que
não houvesse risco da moça fugir.

Maria Clara observou a roupa que a condessa usava. Ela não era tão alta, deveria ter alguns centímetros a
mais que ela, porém o corpo magro era bem chamativo. A calça de couro, preta, exibia belas pernas longas e
torneadas, a camiseta branca colada, deixava a mostra o abdome firme e os seios médios e redondos. Quando
ela chegou mais perto, pode ver algumas sardas que se espalhava pelo colo. Porém de tudo aquilo o que mais
lhe chamava a atenção era a tonalidade verde dos olhos, que a fazia se lembrar de esmeraldas, e as madeixas
ruivas que lhe davam um ar selvagem.

-- Vou lhe contar uma história. – Agachou-se para poder apoiar-se na janela.

A condutora do veículo pressionou o corpo ainda mais contra o banco para evitar qualquer tipo de
contato com aquela mulher. Fitou-a e observou os lábios exibirem aquela expressão de puro sarcasmo.

-- Bastardo é filho de um garanhão árabe. – O tom baixo era hipnotizante. -- O pai dele faz parte de uma
linhagem nobre, puro sangue. Ele só cruzava com animais da seu estipe, porém um dia ele se interessou por
uma égua sem raça, pertencente a um dos empregados da fazenda... – Ficou alguns minutos em silêncio,
pensativa, distante... Até voltar a fitar a jovem. – Por isso ele é um bastardo. – Sorriu.

Clara fitou o animal e depois encarou a condessa. Não sabia o porquê, mas tinha a impressão que aquele
bicho parecia com sua dona.

Recordou de ouvir da família que a herdeira dos Mattarazis era ilegítima. Fruto de uma relação ilícita.

-- Sabia que eu recebi uma ordem de restrição que diz que devo manter uma distância de noventa metros
de ti. Mas nesse caso você veio até mim e estamos tão coladinhas que consigo sentir o seu aroma de flores. –
Relanceou os olhos tediosamente.

-- Já disse que não sabia que estava em suas terras. – Falou impaciente. – E quanto à ordem judicial, foi
bem merecido. – Ligou o carro. – Tire o seu cavalo da frente ou passarei por cima.

Vitória observou o lampejo de raiva passar por aqueles olhos negros e ficou surpresa. Encarou-a e ficou a
observá-la cuidadosamente. A pele dela era branca, os lábios eram vermelhos e o formato lembrava um
coração. Não sabia o motivo, mas a jovem a fazia lembrar as princesas dos contos de fadas.

Irritou-se por ela ter exibido arrogância e ainda mais pela petulância que usara ao ameaçar atropelar o
Bastardo.

Retirou um pequeno punhal da bota, agachou-se e segundos depois retornou.

É
-- Espero que chegue ao seu destino e não demore muito... – Seguiu até a montaria. Montando. – É apenas
um conselho.

Antes que Maria Clara pudesse falar algo, a condessa saiu em alta velocidade.

Ela tinha furado o pneu do carro! – Constatou furiosa.

Clara preferiu não esperar mais um único segundo, pois temia não chegar à reunião e ficar no prego em
meio aquele campo enorme e vazio.

Marcos olhou o relógio mais uma vez. Discou várias vezes o número da namorada, mas nada de ela
atender. Estava a ponto de sair em sua procura quando viu o carro estacionar em frente a casa.

Desceu os degraus correndo e foi até a amada.

-- O que houve, amor? Você está atrasada. – Retirou as muletas, entregando-lhe.

-- Acabei me perdendo... E acabei entrando nas terras da condessa.

-- Mas como?

-- Olha, não quero falar sobre isso agora, vamos entrar. – Disse impaciente.

O rapaz percebeu que ela parecia muito perturbada, mas decidiu ignorar esse detalhe.

Vitória chegou à cidade. Fora chamada por Otávio, um fazendeiro de meia idade que fora bem próximo de
sua família.

-- Sente-se! – O senhor de cabelos grisalhos pediu.

Havia outro homem presente na elegante sala de estar. Ela o conhecia bem. Alex era um ambicioso
assessor político e também jornalista de uma emissora da cidade. Ele se achava o último bombom do pacote.
Loiro, olhos verdes e corpo atlético, chegara a algumas ocasiões a tentar seduzir a Mattarazi.

-- Diga o que deseja, pois tenho que viajar ainda hoje.

O homem idoso fitou o outro e sorriu. Conhecia muito bem a condessa. Era arrogante e orgulhosa, tinha
infinita sede pelo poder.

-- Amanhã, ocorrerão as convenções do partido e com toda certeza, serei escolhido como candidato a
prefeito.

A ruiva cruzou as pernas, arqueando a sobrancelha direita.

-- E o que eu tenho a ver com isso?

-- Bem, seu pai, toda sua família era afiliada ao partido...

-- E? – Falou impaciente.

O homem levantou-se, seguiu até o elegante bar, preparou drinques e serviu aos presentes.

-- Quero que seja a minha vice na chapa.

A condessa ficou a observar o líquido âmbar, mas não bebeu.

-- Não gosto de política, odeio toda essa hipocrisia.

-- Mas odeia ainda mais os Duomont. – Alex falou sorridente. – Algumas pesquisas mostram que a jovem
Maria Clara é uma imponente forte e temos certeza que você não deseja que a nossa cidade fique nas mãos da
família que vive tentando te destruir.

Otávio se aproximou e sentou ao lado dela.

-- Sabemos que essa garota é apenas um fantoche, pois Frederico quem estará à frente de todas as
decisões. – Encarou-a. – Imagina como você será ainda mais perseguida se isso acontecer.

Vitória levou o copo aos lábios, mas hesitou.

-- E o que te faz imaginar que eu seria uma boa escolha? As pessoas desse lugar me odeiam.
-- De certa forma sim, porém isso pode ser mudado facilmente. Afinal, sua fazenda e sua usina são
responsáveis por grande parte de empregos.

-- Sem falar que com a cachaça que agora você está criando, ainda abrira mais frentes de trabalho. – Alex
Intrometeu-se mais uma vez. – Entenda que os Duomont na prefeitura seriam um risco para você.

Ninguém precisava dizer isso, pois ela sabia muito bem. Aquela família a perseguia desde o terrível
acidente que ceifara a vida dos Mattarazis. Nem mesmo esfriara o corpo dos pais e do irmão e ela fora presa,
acusada de ser a responsável pela morte de todos. Nunca esqueceria aquele dia.

Bebeu todo o conteúdo do copo de uma só vez.

-- Eu aceito, mas com uma condição.

-- Qual?

-- Eu serei a prefeita. – Sorriu ao ver a expressão chocada dos dois. – Não se preocupem, assim, que
vencermos, entregarei o cargo em suas mãos, não quero dinheiro, não quero administrar nada, apenas quero
mostrar para Frederico e para a netinha dele que eu posso mais.

Os dois se entreolharam por alguns segundos, pareciam pensar se valeria a pena correr esse risco.

-- E então, senhores? – Levantou-se. – Não tenho muito tempo e desejo uma resposta agora.

-- Aceito! – Otávio estendeu a mão para ela.

A condessa ignorou o gesto.

-- Nos veremos amanhã na reunião do partido. – Colocou o chapéu na cabeça e saiu.

Os dois homens a observaram partir.

-- Bem, não foi em vão termos sabotado a sela da Maria Clara. Agora temos o apoio da condessa. – Disse
Alex.

-- Assim espero e continuaremos trabalhando para isso.

Na hora do jantar ,na casa da família Duomont, Frederico esbravejava a mesa.

-- Como essa desgraçada foi capaz de rasgar o pneu do seu carro. Irei exigir que aquela delegada tome
providências quanto a isso.

Clarice fitou o marido, parecia exigir que ele também defendesse a filha. Maria Clara não parecia
interessada no assunto, fora Marcos quem falara para seu avô.

-- Eu tinha invadido a propriedade dela, vovô. – Levou uma colher de sopa a boca.

-- Isso não é motivo para ela fazer isso. – A mãe interferiu. – A condessa se acha no direito de fazer o que
quer. Matara o marido e depois a própria família e jamais recebeu punição para tal crime.

A jovem ao ouvir aquelas palavras lembrou-se de Vitória. Ela era tão linda que chegava a ser impossível
imaginar que fosse capaz de tal coisa. Não sabia o motivo, mas algo naquela mulher a incomodava
demasiadamente.

-- Não esqueça que ela tentou contra sua vida no dia da competição. Poderia ter acontecido algo muito
pior. – A mãe continuou. – Temos que destruí-la. Expulsá-la daqui.

-- Calma, querida! – Felipe tocou-lhe a mão. – Iremos proteger a nossa filha, nada acontecerá a ela.

-- Não mesmo, porque antes eu a mato. – O patriarca completou furioso.

-- Vou para o meu quarto. – Levantou-se. – Estou me sentindo cansada.

-- Quer que eu vá contigo? – Clarice indagou, levantando-se.

-- Não, mamãe, eu estou bem, quero apenas dormir. – Apoiou-se nas muletas e despediu-se de cada um
com um beijo.

Chegou ao quarto e deitou-se.

Às vezes, se sentia sufocada com o excesso de cuidados que recebia. Era como se não tivesse capacidade
para se defender sozinha ou buscar algo. Sempre fora tratada como uma criança que não sabia o que era
melhor para si. Até mesmo fora proibida pelo avô de exercer a profissão de veterinária. Formara-se no início
daquele ano, mas de acordo com as ideias de Frederico, uma Duomont não deveria se rebaixar a uma profissão
remunerada.

Sentiu o ar faltar aos pulmões e imediatamente pegou a bombinha que estava ao lado do criado mudo, e
começou a usá-la. Sofria de asmas e sempre que se exaltava tinha crises.

Talvez fosse esse motivo da superproteção, era tão frágil que era como se fosse necessário que alguém
sempre estivesse cuidando de si.

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Capitulo 4 por gehpadilha
Miguel estava saindo do quarto do filho quando a esposa chegou. Passava das dez horas.

-- Boa noite, amor! – Ela o cumprimentou com um beijo rápido nos lábios.

-- Nossa, pensei que fosse dormir na delegacia.

A mulher respirou fundo e sentou na poltrona. O advogado se aproximou e iniciou uma massagem.

-- Frederico Duomont apareceu por lá, quer que eu prenda a condessa novamente.

-- Mas, por quê?

-- Ele disse que ela rasgou o pneu do carro da neta. Parece que a garota se perdeu e acabou entrando por
engano nas terras da Mattarazi.

-- Ele oficializou a denúncia? – Miguel sentou ao seu lado.

-- Não, pois sabe que Maria Clara estava em propriedade privada e todos sabemos como Vitória costuma
receber invasores. – Valentina virou-se para o esposo. – Fale com a sua cliente, diga para ela manter distância
dessa família.

-- A Vitória está sendo perseguida, ela não fez nada do que a acusam.

-- Miguel, eu sei que você era amigo do irmão dela, mas seja realista. A condessa agi impulsivamente e não
mede as consequências. É alguém difícil de lidar. Arrogante, orgulhosa e agora estou a pensar se ela não é
mesmo a culpada de tudo que essas pessoas a acusam.

-- Ela não matou a família e nem o marido, eu a conheço bem, sei do amor que ela tinha por Vitor. Sei
como ela sofreu e como ainda sofre.

-- Sofre? – Indagou incrédula. – Aquela mulher é um poço de frieza e sarcasmo. Acho impossível ela ter
algum sentimento dentro do coração, na verdade, eu duvido que ela tenha um. – Levantou-se. – Vou banhar
para deitar.

O advogado assentiu e ficou sentado, pensando.

Tinha certeza da inocência da cliente e mesmo se assim não o fosse jamais a abandonaria. Nunca faria
isso.

Vitória acordou bem cedinho. Vestiu-se e saiu para se exercitar. Gostava de cuidar do corpo.

Não dormira muito bem. Mais uma vez sonhara com o irmão. Por que não estava junto com ele naquele
dia?

Recordou que eles estavam indo para a cidade e Vitor pedira que ela ficasse cuidando de tudo. Estavam
indo fechar a venda de uma parte das terras, pois a situação financeira estava péssima...

Sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos.

Maria Clara iniciou as sessões de fisioterapia naquele dia. O que mais desejava era não precisar mais das
muletas para se locomover.

Recebeu uma cesta de café da manhã do namorado, acompanhado de um buquê de rosas brancas.

Clarice apareceu entusiasmadíssima, parecia que o presente era para ela.

-- Assim que terminar ligue para ele e agradeça. – Falou suspirando. – Marcos é um verdadeiro gentleman,
vai ser um ótimo marido para você.

A jovem sorriu. Sim, sabia que não tinha no mundo alguém tão perfeito para si do que aquele belo rapaz.

Fora agraciada em conhecê-lo. Ele era maravilhoso, paciente e cuidadoso. Era totalmente apaixonada pelo
garboso cavalheiro.

-- O farei, mamãe, nem precisa dizer.


Como esperado, os membros do partido relutaram em aceitar a condessa como candidata a prefeita na
pré-convenção. Mas parece terem pensado melhor ao vê-la entrar no local onde estava acontecendo o evento.

O vestido preto, solto nos quadris, que chegava um pouco abaixo dos joelhos, davam-na uma elegância e
ao mesmo tempo sensualidade. As alças finas da peça destacavam os ombros magros e o perfeito colo. Os
cabelos estavam soltos, brilhantes, afogueados, usava uma maquilagem discreta, leve, mas que realçavam
ainda mais os olhos cor de esmeralda e os lábios cheios, provocantes.

Todos a olhavam e decerto a pergunta que passava por suas cabeças era: Quem não cairia de desejo por
aquela mulher? Quem resistiria àquela mistura de fogo e gelo?

Algumas damas presentes não pareceram muito felizes com a presença poderosa, com certeza, morriam
de inveja. Outras, mesmo em segredo, admiravam-na demasiadamente. Mas Vitória não se iludia, tampouco se
importava com a opinião alheia.

Conversou com algumas pessoas, sorrindo, porém não se esforçava para perder aquele ar de
superioridade e sarcasmo profundo.

-- Como pode existir em um mundo tão imperfeito, uma mulher tão linda como você?

A condessa estava de pé, prestava atenção em uma banda que se apresentava. Então, ouviu um sussurro
bem junto à orelha e sentiu mãos lhe enlaçar a cintura.

O ambiente estava mergulhado na penumbra, mas havia um show de luzes coloridas.

-- Uns são comparados aos deuses... – A jovem falou sem se mover. – Outros são como você.

O homem gargalhou.

-- Eu sou completamente fascinado por ti. Eu, um mero mortal, apaixonado pela representação terrestre
de Afrodite.

Vitória virou-se, fitando-o com aquele sorriso que brincava no canto da boca.

-- Na verdade, eu sou um misto de Palas Atena e Ártemis. – Entregou-lhe o copo e afastou-se.

Alex tomou o resto de bebida que estava na taça.

-- Um dia descobrirei os seus segredos, condessa.

A noite transcorria com boa música, excelente comida e bebida. Ao final, Vitória Mattarazi era escolhida
como pré candidata a vaga de futura gestora do município. A população que estava presente pareceu surpresa
com a indicação, mas a popularidade negativa do atual prefeito colaborou para uma boa aceitação do poderoso
nome.

No dia seguinte, a pequena cidade fora assolada com a notícia.

Frederico Duomont estava possesso. Rapidamente convocou Marcelo, Marcos, Maria Clara e Felipe. O
desjejum fora substituído pela esbravejamento do patriarca.

-- Maldita... Um milhão de vezes maldita.

-- Acalme-se, vovô, ou acabará tendo uma síncope. – A jovem aparentava serenidade. – Não há motivos
para ficar assim. Sabíamos que o adversário buscava um nome forte para a chapa, então não temos que
superestimar o fato de ser o dela.

Todos os olhares se viraram para ela. Surpresos.

Marcos decidiu intervir ao ver ao ver o velho político ficar cada vez mais vermelho.

-- Clara tem razão! Sem falar que ainda não nada está oficialmente decidido. O pleito ainda está distante e
pode ser que o partido perceba que a escolha feita não é uma das melhores. E não devemos esquecer que ela
não é nenhum pouco bem quista pelos cidadãos de bem.

-- Ok! – O político parecia mais calmo. – Mesmo assim não quero surpresas. Tentaremos fazer um trabalho
discreto para angariar votos, vamos buscar apoio dos comerciantes e fazendeiros da região.

Os presentes assentiram, sabia que não poderiam questionar uma ordem de Frederico.

Maria Clara respirou fundo, pressentia que muita coisa estaria por vir e teria que ter ainda mais
paciência.
Por que a tal condessa não podia simplesmente sumir da vida de todos?

Passara aqueles anos todos ouvindo falar dela. Agora, entendia porque preferira se mantiver longe. Não
conseguia conviver naquele ambiente cheio de rancor e de ódio, não desejava mergulhar naquela atmosfera,
porém agora temia não conseguir continuar imune a toda aquela raiva.

Os dias que se seguiram foram tranquilos. O caminho das duas mulheres não voltou a se cruzar, até uma
bela manhã ensolarada de domingo.

Havia um clube, um pouco afastado da cidade. Um balneário frequentado pela alta sociedade local e por
muitos turistas. O ambiente era pomposo. Havia um campo de golfe, uma quadra de vôlei, piscinas, tudo
cercado por uma reserva de mata atlântica. Ótimo lugar para aproveitar os finais de semana. Vários
restaurantes serviam comidas típicas e também culinária estrangeira, detalhe que agradava a todos que
frequentava o lugar. Havia música ao vivo para embalar os seletivos clientes.

-- Que bom que aceitou o meu convite. – Marcos servia um suco para a amada.

Ambos estavam deitados em uma espreguiçadeira na beira da piscina.

Maria Clara acabara aceitando o convite do namorado e ambos estavam aproveitando um momento a
dois. A bela Duomont estava avançando na recuperação, agora só necessitava de uma muleta canadense e de
acordo com o fisioterapeuta, em breve ela estaria livre desta também.

-- Aqui mudou muito. Quando vinha de férias sempre meus pais me traziam aqui.

-- Fizeram muitas melhorias, ainda mais depois que um empresário italiano se interessou pelo lugar...

O namorado continuava a falar entusiasmado, mas a atenção da herdeira de Frederico estava voltada
para uma figura que acabara de chegar.

A condessa caminhava ainda mais altiva. Estava acompanha de um homem muito bonito, moreno e de
corpo atlético. Deveria ter uns trinta anos. Mas ele não chegava perto da beleza de Vitória. Ela usava um
biquíni na cor branca e uma saída de praia com abertura frontal, chegando até as coxas torneadas. Os cabelos
vermelhos estavam presos num coque frouxo.

Observou-a tocar no ombro do acompanhante e ele parecia enfeitiçado. Será que sabia que ela era
acusada de ser uma viúva negra?

A condessa retirou os óculos escuros e dirigiu o olhar em sua direção. Arqueou a sobrancelha, exibiu os
dentes branquíssimos em um sádico sorriso e depois fez um gesto mostrando que manteria distância.

Clara deu de ombros e voltou à atenção para Marcos.

-- Não acredito que essa mulher está aqui. – O rapaz parecia aborrecido ao vê-la.

-- Vamos ignorá-la, está bem? – Tocou-lhe a face, dando-lhe um beijo rápido nos lábios. – Não desejo que
nada estrague o nosso dia.

O jovem sorriu e tomou-lhe os lábios novamente, aprofundando o contato.

Vitória Mattarazi esteve viajando durante alguns dias. Estivera divulgando sua cachaça. A bebida foi bem
aceita e muito elogiada. Retornara na noite anterior e trouxera consigo um empresário mexicano que parecia
não só interessado na sua destilada, mas principalmente na sua dona.

Sentou em uma das inúmeras mesas, apreciando a companhia do galante rapaz, chamando Juan.

-- Estou encantado com sua cidade, sua fazenda e isso aqui é semelhante a um paraíso. – Tomou-lhe as
mãos nas suas. – Mas você é o melhor de tudo aqui.

A condessa sorriu, mas seus olhos não pareciam presos no conquistador latino, fitou a sobrinha de Helena
e sentiu asco ao vê-la toda derretida com o namoradinho.

Idiota!

Não suporta ver aquela garota. Achava-a ainda pior do que a tia. Dissimulada que exibia carinha de
princesa de contos de fadas. Porém, de áurea encantada não havia nada, bastava lembrar que ela a acusara de
ter cortado a sela do cavalo. Decerto, sabia que iria perder e se jogara propositalmente e depois lhe jogara a
culpa.

Alguns garçons, uniformizados, começaram a servir a todos com bebidas.


Um dos administradores do clube subiu no palco onde uma banda tocava e cumprimentou a todos.

-- Gostaria de chamar aqui o empresário mexicano Juan Bonaventura.

Vitória fitou-o confusa, ele deu-lhe um beijo nos lábios e caminhou até lá.

Maria Clara observava tudo com atenção.

-- Buenos dias a todos. – O latino começava. – Eu patrocinei esse drinque e espero que todos o apreciem.
Apresento a todos a cachaça Bastarda!

As pessoas pareceram confusas, mas apreciaram a destilada.

-- Essa bebida foi produzida pela mais bela mulher. – Continuou sorrindo. – Confesso que estou
enamorado, minha bela e maravilhosa condessa.

A neta de Frederico arqueou os olhos em sinal de tédio, bebendo de uma única vez o conteúdo do copo,
acabou engasgando com o sabor ardente queimando a garganta.

Marcelo recebia em seu gabinete um dos maiores patrocinadores da sua campanha passada.

-- Olá! – O homem cumprimentou.

Bruno Ferraz era um empresário que se envolvia em negócios escusos. Era dono de umas terras ao redor
da cidade.

-- E então? Você pode fazer o que te pedi?

-- Com certeza!

-- Use balas de festim, não quero que o machuque apenas desejo que ela seja responsabilizada por isso.

Maria Clara estava em casa quando recebeu um telefonema, pegou o carro e seguiu direto para a casa do
namorado.

Chegando lá, encontrou o médico o examinando.

-- O que houve? – Preocupou-se ao vê-lo com o ferimento no ombro.

-- A maldita condessa o atacou. – Marcelo falou, entrando no quarto. – Vim agora da delegacia, já fiz a
denúncia.

-- Eu estou bem, amor, não se preocupe. – Marcos a acalmava. – Eram balas de festim.

-- Não, isso é um absurdo! – A jovem parecia descontrolada. – Essa mulher não vai fazer o que quiser e
sair impune.

-- Ela não ficará! – O sogro a acalmou. – Será presa!

-- Dessa vez isso não vai ser suficiente!

Clara saiu da casa sem ao menos se despedir, entrou no veículo e deu partida, deixando todos
boquiabertos com a explosão.

O sol dentro de poucos minutos se poria.

A condessa aproveitara o dia para descansar. Deu folga para todos os empregados. Gostava de ficar
sozinha, de apreciar a tranquilidade daquele lugar que amava tanto.

Seguia para o estábulo, quando encontrou o seu cavalo caído. Desesperou-se imediatamente.

Agachou-se ao lado dele e percebeu que havia um corte em seu dorso. Os olhos do garanhão estavam
abertos, fitando-a intensamente, expressavam a dor que estava a sentir.

Era domingo e naquele horário os funcionários tinham ido para uma espécie de quermesse na fazenda
vizinha.

-- Calma, Bastardo! – Acariciava-lhe a crina, enquanto pegava o celular e discava para o veterinário.
O número só fazia chamar, começou a entrar em desespero. Discou novamente e não obteve nenhuma
resposta.

Praguejou alto!

Percebeu que precisava fazer alguma coisa, pelo menos até conseguir ajuda. Retirou a blusa para tentar
deter a hemorragia, enquanto continuava a ligar, mas ninguém atendia.

-- Maldição!

Ficou o acariciando, temendo o que poderia acontecer se não chegasse ajuda logo. Lembrou que tinha o
número da fazenda vizinha na agenda, no escritório. Ligaria para lá e pediria que alguém fosse buscar o
veterinário.

-- Por favor, espere um pouco, trarei ajuda e você vai ficar bem, meu amigo. – Rasgou a blusa e amarrou
na ferida, saindo em seguida em direção a casa.

Maria Clara sentia uma fúria que nunca imaginara possuir. Quando pensava que o namorado poderia ter
se machucado de forma mais grave sentia vontade de matar aquela mulher. Por que ela não os deixava em
paz? Não havia justiça que fosse capaz de fazê-la parar, não havia punição que a detivesse, pois o que se via era
a poderosa Mattarazi agir como bem lhe convinha, sem se importar se com isso a vida dos outros poderiam
estar em risco.

Estacionou em frente a imponente mansão.

Era um lugar realmente lindo e fascinante. A casa contava com três andares, era toda branca por fora e
gramas cobriam todo o pátio. Havia muitas árvores, palmeiras e tantas outras.

Desceu do carro, apoiada na muleta e já estava a seguir até a entrada quando viu aquela mulher vindo
correndo em sua direção.

Vitória usava apenas um short jeans e sutiã. Parecia se sentir a vontade exibindo-se para todos.

-- O que faz aqui? – Gritou. – Saia da minha propriedade agora mesmo! – Esbravejou.

-- Eu não sairei até que você me ouça! – Clara falou firme. – Estou cansada de você tentar machucar a
minha família.

-- Ah, me poupe! – Tentou passar, mas a mão da Duomont a deteve fortemente pelo braço.

-- Você não irá a lugar nenhum antes de me ouvir.

Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente, mas Maria Clara sustentou o olhar, não parecia temer a
raiva que via queimar nas profundezas verdes.

A neta de Frederico sentia os dedos queimarem na pele macia. Observou os seios mal cobertos pelo
corpete e viu algumas sardas enfeitando o colo firme e redondo.

Alguma coisa despertou dentro de si.

-- Solte-me ou farei você voltar a usar as duas muletas. – Ameaçou exibindo um sorriso sádico.

As palavras duras a tiraram do transe.

-- Dessa vez você não ficará impune, condessa!

Vitória apenas arqueou a sobrancelha em forma de desafio.

A bela bastarda ouviu o relinchar do cavalo, então se desvencilhou das amarras e retornou correndo até o
estábulo.

Maria Clara a seguiu lentamente e ao chegar ao lugar, avistou-a debruçada sobre o cavalo. Ouviu-a falar
com ele e pedir para o animal aguentar firme.

-- O que houve? – Indagou bem próxima.

-- Eu já disse para você sair das minhas terras. – Disse sem se voltar.

Mas a jovem não pareceu ouvir o que ela dizia. Com dificuldade, agachou-se junto ao garanhão,
examinando a ferida coberta e encharcada de sangue.

-- O que houve? – perguntou mais uma vez.

-- Não o toque! – A condessa estava pronta para tirá-la dali pelos cabelos.
-- Eu sou veterinária, deixe-me examiná-lo.

Vitória fitou-a confusa, mas não parecia querer ceder.

-- Não o toque! – Falou pausadamente.

Bastardo relinchou mais uma vez, como se estivesse a gemer.

-- Deixe-me vê-lo! – Maria Clara já retirou a blusa que cobria o ferimento. – Preciso de água quente e gases.
A ferida não é profunda, mas se não for cuidada rápido pode infeccionar. Se tiver um kit de primeiros socorros,
traga-o para mim.

A Mattarazi observou-a por alguns segundos e mais uma vez os olhares de ambas se cruzaram, ela o
sustentou até levantar.

-- Se ele morrer, eu mato você com as minhas mãos! – Disse lhe apontando o dedo indicador.

Maria Clara a observou sair em disparada depois de dizer aquelas palavras.

-- Calma, rapaz, vai ficar tudo bem! – Disse pressionando o corte. – Não acredito que um machucadinho
desses vai lhe nocautear, afinal, pior é aturar a sua amazona.

Bastardo tentou balançar a cabeça, parecia protestar.

-- Calminha, estava só brincando. – A jovem sorriu.

Acariciou-lhe o pelo brilhante. Era realmente um animal muito bonito, decerto herdara apenas as
características paternas, pois era verdadeiramente um puro sangue árabe.

Recordou-se da história que Vitória lhe contara sobre o cavalo. Tinha quase certeza que ela estava a
contar seu próprio enredo...

Alguns minutos se passaram, até a condessa aparecer com tudo que fora pedido. Ela ficou a observar a
sobrinha de Helena cuidar da ferida. Viu-a lavar as mãos e depois o machucado.

O cavalo parecia mais calmo. Dava para perceber que ela era muito cuidadosa no que fazia. Os olhos do
cavalo pareciam fascinados pela moça de pele branca e lábios vermelhos, mas quem não ficaria?

Maria Clara Duomont era muito bonita, os cabelos pareciam ébano, mas não eram lisos, apresentavam
uma ondulação perfeita que adornava ainda mais o rosto delicado. Lembrou-se dos olhos negros, eram
grandes, expressivos... Recordou do sorriso que parecia não abandonar os lábios... A voz baixa e rouca a falar
com o animal era hipnotizante...

-- Ele ficará bem! – Disse terminando o serviço, levantando-se. – Eu dei alguns pontos para fechar, precisa
limpar três vezes ao dia. Precisará comprar alguns remédios para ajudar na cicatrização.

-- Tem certeza que ele não corre risco de morte? – Indagou preocupada.

-- Com certeza que não! A ferida não atingiu nenhum órgão vital. – Encarou-a. – O que houve com ele?

-- Eu não sei! – Passou a mão pelos cabelos. -- Passei o dia em casa e agora à tarde vim vê-lo, encontrando-
o caído. – Pegou um lenço e tentou limpá-la. – Sua roupa está toda suja de sangue.

Realmente a blusa branca estava totalmente destruída.

Maria Clara afastou-se ao sentir os dedos dela lhe roçarem o seio sobre o sutiã. Corou imediatamente.

Ambas se encararam durante alguns segundos, parecia que era a primeira vez que se viam. Havia uma
atmosfera, quase sufocante entre elas.

Vitória estendeu a mão para tocar-lhe à face...

-- O que está acontecendo aqui?

As duas viraram para entrada e viram a delegada as observando com o olhar intrigado.

-- Não acham que estão demasiadamente perto, você tem uma ordem de restrição, Vitória, e não parece a
estar cumprindo.

-- Bem, a culpa não é minha! – A condessa sorriu, retomando o sarcasmo costumeiro.

Valentina observou-as curiosamente. Uma estava toda suja de sangue e com o rosto na mesma tonalidade,
já a outra usava apenas um sutiã em conjunto com um minúsculo short...
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Capitulo 5 por gehpadilha
Valentina fitou-as novamente, desconfiada.

-- O que estava acontecendo aqui? – Repetiu a pergunta.

-- Meu cavalo foi ferido e a doutora estava cuidando dele. – Vitória respondeu altiva.

-- Realmente, foi isso que aconteceu. – Maria Clara confirmou rapidamente.

A delegada assentiu afirmativamente, observando o animal deitado.

-- Preciso que me acompanhe a delegacia, precisa esclarecer algumas coisas.

-- Eu não irei a lugar nenhum, o Bastardo está machucado, não sairei do lado dele. -- Respondeu altiva de
modo arrogante.

-- Não complique mais a sua situação, você está sendo acusada de atirar contra Marcos Ferraz.

A condessa fitou as duas mulheres. Estava surpresa.

-- Eu não fiz nada! – Negou veemente. – Estive em casa durante todo o dia.

Maria Clara observava-a e buscava encontrar a verdade naquelas palavras. Realmente desejava que ela
fosse inocente. Era terrível só em pensar que aquela mulher fez e continua a fazer coisas tão terríveis, porém
sua tentativa foi em vão. A condessa só aparentava total frieza e indiferença.

-- Vamos comigo, lá você esclarece, ligue para o seu advogado.

-- Você é surda? – Aumentou o tom de voz. – Não fiz nada e tampouco irei a lugar algum.

-- Está desacatando a minha autoridade! – Valentina avisou-a. – Isso só vai piorar a sua situação.

A condessa fitou a Clara, dirigindo sua raiva e indignação à garota.

-- Saia da minha frente antes que eu esqueça o que fizestes pelo Bastardo. – Disse por entre os dentes. –
Estou cansada da sua maldita família, do seu maldito namoradinho e de você.

Vitória seguiu a passos largos para a casa, enquanto a delegada observava curiosa a jovem que parecia
estática, observando a Mattarazi se afastar.

-- Acho melhor ir embora daqui, senhorita Duomont. – Aconselhou-a. – Não deveria ter vindo e ainda mais
sozinha.

-- Vim para confrontar a condessa, pois estou cansada de vê-la se livrar de todos os crimes que comete.

-- Bem, não foi isso que a cena aparentava.

Clara sentiu mais uma vez a sangue subir ao rosto.

-- Sou veterinária e jamais deixaria de ajudar um animal que necessitasse dos meus cuidados.

-- Imagino que o animal a quem estar a se referir seja o cavalo... – Arqueou a sobrancelha curiosa.

A jovem observou a colocação, mas preferiu não responder.

-- Passar bem, delegada, e espero que consiga fazer o seu trabalho dessa vez para que ninguém volte a se
ferir.

Valentina a observou se afastar. Não sabia o motivo, mas ao ver as duas mulheres juntas, sentiu que muita
confusão ainda estava por vir.

Maria Clara não deu partida de imediato.

Encostou-se ao banco e tentou controlar a respiração. Sentia uma grande dose de adrenalina passar por
seu corpo, sacudindo-o. Suas mãos estavam trêmulas, nem mesmo conseguia segurar a direção.

Observou pelo retrovisor o olhar da delegada cair sobre si como forma de advertência. Felizmente,
conseguiu ligar o carro, afastando-se o mais rápido possível dali. Não conseguia entender o que se passava
consigo, mas ainda sentia os seios doloridos, desde que a condessa o tocara acidentalmente. Sentiu o rosto
queimar mais uma vez.

Acelerou!
A única coisa que queria naquele momento era chegar a sua casa. Sentiu o cheiro de sangue que sujava a
sua camiseta, porém não fora esse aroma que a perturbou.

Vitória estava possessa. Caminhava de um lado para o outro, lembrando a uma fera enjaulada.

-- Já disse que não atirei em ninguém e ainda mais com balinhas de festim. – Debochou. – Quando eu
atirar em alguém, o farei com balas de verdade.

-- Eu farei de conta que não ouvi isso! – A delegada a advertiu com o olhar. – Acompanhe-me, já perdi
muito tempo contigo.

-- Você é surda? – Apontou-lhe o dedo indicador. – Eu não deixarei o Bastardo sozinho.

Valentina a fitou e viu como aquela mulher era determinada. Não sabia o porquê, mas acreditava que não
fora ela quem atirara no filho do prefeito.

Respirou fundo.

-- Compareça amanhã às dez horas a delegacia ou mandarei uma viatura vir buscá-la. -- Disse vencida.

A condessa deu de ombros e observou a autoridade sair de sua casa.

Seguiu até o quarto, vestiu uma camiseta e retornou para perto do cavalo.

Ele continuava deitado no feno. Agachou-se ao seu lado, acariciando-lhe a crina.

-- Você ficará bom, meu amigo.

Os grandes olhos a fitaram, mas pareciam buscar por outra imagem.

-- Não se preocupe, a talzinha já foi. Perdoe-me por tê-la deixado tocar em você, mas eu estava tão
desesperada. – Observou os pontos que ela deu. – Por que não lhe deu um coice quando a estava pontuando? –
Sorriu. – Você deveria está muito derrubado para ter permitido... Droga! – Levantou-se. – Ela foi embora e não
disse qual o remédio que deveria comprar para ti.

Clara demorou um pouco para chegar ao destino, pois passou por uma casa de pet onde comprou os
medicamentos para Bastardo e pediu que o entregador levasse na fazenda Mattarazi rapidamente, em seguida
dirigiu-se para seu lar.

Entrou pelos fundos. Não desejava que ninguém a encontrasse naquele estado, mas quando estava
adentrando o seu quarto, deparou-se com seu pai no corredor.

-- O que houve? – Felipe indagou, aproximando-se preocupado.

A jovem fez um gesto para ele fazer silêncio e o chamou em seus aposentos.

Seu pai era diferente do seu avô e de sua mãe. Era um homem de fácil trato, carinhoso e muito
brincalhão, coisa que não acontecia quando estava nas presenças de Clarice e Frederico.

-- Diga-me o que houve, filha. – Tocou-lhe a face. – Você está ferida? – O rosto demonstrava preocupação.

-- Não, eu não estou! – Tranquilizou-o. – Esse sangue não é meu!

-- Mas então?

Ela observou o homem a sua frente. Ele sempre a apoiara em tudo e por isso se sentia mais a vontade com
ele de que com qualquer outra pessoa.

-- Esse sangue é de um cavalo que estava machucado e eu cuidei. – Disse de supetão.

Felipe a fitou incrédulo.

Ele conhecia a filha muito bem. Era uma garota doce, obediente e centrada. Sempre fora muito
responsável, desde quando ainda era uma criança. Nunca tivera aquela fase rebelde, típico de adolescente, e
vê-la fazer algo que sabia que lhe era proibido o chocou.

Não entendia o motivo do pai não deixar a neta exercer uma profissão tão bonita. Apenas acatava.

-- Mas como? Você sabe que seu avô não quer que faça isso.

-- Eu sei, papai, mas juro que não tive escolha. O animal estava mal, não poderia deixá-lo entregue a
própria sorte.
-- E de quem era o bicho? – Ficou a andar de um lado para o outro. – Espero que seu avô e nem sua mãe
fiquem sabendo disso.

-- Eles não saberão! – Afirmou com convicção, desconversando da pergunta.

-- Assim espero! Agora tire essa roupa que darei um fim a ela. Não quero nem imaginar a cara da sua mãe
se descobrisse algo assim.

Maria Clara se aproximou para abraça-lo, mas o homem se afastou.

-- Nem ouse, essa blusa foi presente da Clarice e se ela sumir, sua mãe me mata.

Ambos caíram na risada só de imaginar a cena.

Batista e Julieta tinham voltado da festa.

Vitória já mandava o administrador ir à cidade para falar com o veterinário, quando viu uma moto se
aproximar.

-- Boa tarde, senhora condessa. – O jovem a cumprimentou. – Pediram que lhe entregasse essa
encomenda.

A mulher recebeu a bolsa e o rapaz se afastou.

A condessa abriu e viu que havia alguns remédios e um bilhete.

“ Que o Bastardo possa se recuperar...

M.C.D”

Julieta observou os olhos da patroa brilharem e estranhou.

-- Não precisa ir mais a cidade! Podem tornar a descansar. – Seguiu para o estábulo.

Maria Clara banhou e seguiu para a casa do namorado. Desejava ficar junto a ele. Sentia uma necessidade
de tê-lo por perto, parecia que algo a amedrontava.

-- Vou ficar doente mais vezes para te ter assim, pertinho. – Dizia o rapaz.

Eles estavam no quarto, ocupavam um sofá e ele estava deitado com a cabeça sobre o colo da amada.

A jovem acariciou-lhe as madeixas negras e macias.

-- Não diga nunca mais isso, fiquei demasiadamente assustada quando soube que alguém tinha lhe ferido.

-- Não foi alguém, foi a condessa. – Frisou.

Clara sentiu a pele arrepiar só em ouvir a referência àquela mulher.

-- Tem certeza que foi ela?

-- Claro que sim, meu amor! O Bruno a viu. Ela montava aquele cavalo preto.

-- Está certo! Não precisa ficar alterado. A polícia já está tomando providências contra para punir a
culpada.

-- Seria tão bom se ela sumisse daqui, todos viveriam mais felizes.

Ela não sabia o motivo, mas pensar que a poderosa Mattarazi pudesse ir embora parecia incomodá-la.

Algo agora a perturbou: Será que Bastardo se ferira quando ela cometera o ato contra o rapaz?

Vitória aparecera no outro dia na delegacia, acompanhada do advogado. Realmente a denunciaram por
atentar contra o filho do prefeito, mas não havia nenhuma prova quanto à participação dela naquele ato, então
não teriam como detê-la.

-- Estou cansada dessas denúncias! – Falou ao entrar no carro. – Quero que entre com um processo contra
os Ferraz por calúnia.

Miguel ocupou o banco do passageiro.


-- Certo, hoje mesmo entrarei com a petição.

-- Também quero que faça outra coisa. – Deu partida. – Quero uma ordem de restrição contra Maria Clara
Duomont.

O homem a fitou surpreso.

-- Faça o que estou dizendo! – Deu partida. – Estou me sentindo ameaçada. Depois peça para o jornal local
trazer esses dois atos na primeira folha.

Miguel observou o sorriso da cliente e apenas assentiu ao seu comando.

No dia seguinte...

A família Duomont estava reunida para o café da manhã como já era de costume.

-- Clarinha, as pessoas estão entusiasmadas contigo. Acredito que não poderia ter feito melhor escolha
para ser a candidata à prefeitura da cidade.

-- A minha filha será uma ótima gestora! – Completava Clarice orgulhosa.

A empregada entregou o jornal a Frederico. O velho tinha mania de tomar o desjejum enquanto
acompanhava as notícias.

Os presentes se assustaram a ouvir o grito dado pelo político.

-- Que essa mulher seja amaldiçoada! – Praguejava, enquanto levantava-se. – Tenho ganas de matá-la com
as minhas próprias mãos.

Felipe pegou o caderno de notícia e viu o que tinha chocado ao pai.

“ A condessa Vitória Mattarazi está sendo ameaçada por Maria Clara Duomont.”

O homem mostrou a matéria para a esposa e em seguida para a filha.

-- Ela está fazendo isso para sujar sua imagem. – Clarice levantou-se. – É uma desgraçada!

A jovem leu a matéria completa e a cada frase sentia sua indignação aumentar.

Como fora ingênua em pensar que aquela mulher pudesse ter algum tipo de sentimento bom em seu
peito. Agora estava segura de que tudo que sua família falava sobre ela era verdade.

Naquele mesmo dia, a família Duomont recebia a ordem de restrição para um dos seus mais preciosos
membros.

Vitória precisara se ausentar, mesmo não desejando fazê-lo, pois não queria deixar seu cavalo. Mas dois
dias depois do que tinha ocorrido com o animal, Bastardo já estava recuperado.

Ela não fez nenhum tipo de denúncia para descobrir quem tinha machucado o garanhão, mas contratara
alguém para investigar, outra medida que também tomou foi a de contratar seguranças para proteger sua
fazenda. O roubo de suas vacas continuava a acontecer e isso a estava tirando do sério.

Passou a semana no México, hospedara-se na mansão de Juan. Ambos pareciam terem iniciado um tipo de
relacionamento bem peculiar. O empresário se mostrava totalmente apaixonado e enfeitiçado pela ruiva, já ela
não demonstrava que a relação poderia ter algo mais para oferecer do que uma simples satisfação carnal.

Duas semanas depois...

A cidade estava animada. Naquele dia se realizaria a festa da padroeira da cidade. Bandas foram
contratadas. Havia parques de diversões, barracas de comidas e outras que vendiam lembrancinhas,
brinquedos. Também havia barracas de tiros, bingos, roletas, algodão doce e muito mais coisas.

O show pirotécnico era um atrativo a mais do grande evento.

-- Está tudo muito lindo, Marcelo!

Os Duomont tinham chegado à comemoração.

Maria Clara estava linda. Usava uma saia de couro marrom que chegava bem abaixo dos joelhos. Usava
botas de cano alto, pretas, camiseta branca e jaqueta do mesmo material dos calçados e da mesma cor.
A jovem estava de mãos dadas com o namorado.

-- Quando você se tornar a prefeita, sei que seguirá o meu exemplo. – O prefeito disse para a nora.

Havia mesas por toda a praça e era lá que as duas famílias estavam reunidas. Conversavam sobre política,
cumprimentavam as pessoas e recepcionavam alguns deputados que vieram prestigiar o evento e garantir o
apoio ao atual gestor.

-- Mas quem é aquela mulher tão linda?

A pergunta foi feita pelo filho de um dos deputados.

Todos os olhares se voltaram para a ruiva que exibia suas curvas em um vestido preto sem alça, longo,
tendo uma abertura lateral que deixava à mostra a perna longa e bem feita.

Clara a fitou e viu o sorriso desdenhoso aparecer na face perfeita. Observou que ela estava de mãos dadas
com o mesmo homem que se declarou para ela no dia que estava no clube.

Sentiu-se terrivelmente incomodada com aquilo.

-- Acredite, meu rapaz, é uma mulher que não merece ser ao menos cumprimentada. – Frederico falou.

O jovem assentiu, mas não deixou de fitar a ruiva. Nunca virá alguém tão bonito, mas se sentia irritado
por saber que outro já tinha chegado primeiro.

A condessa retornou a cidade com Juan. Ele parecia interessado em manter a relação amorosa.
Aproveitou a companhia para comparecer à festa da padroeira, assim, não se sentiria tão entediada.

Encontrou os membros do partido e decidiu sentar com eles. Há alguns metros de distância estava a
família Duomont e a Ferraz acompanhadas de outras militâncias.

Observou a tal Maria Clara de mãos dadas com o namoradinho e sentiu ânsia. Quando os olhares se
cruzaram, Vitória demonstrou todo o seu sarcasmo.

A conversa fluía à mesma medida que a bebida sumia dos copos, tudo estava muito animado. Havia uma
multidão prestigiando ao evento, crianças brincavam e corria. As músicas eram agradáveis e o ritmo da festa
seguia em um clima gostoso.

-- Vamos comigo dar uma volta? – Clara convidou o namorado.

-- Não posso sair agora, pois papai quer me apresentar a um amigo dele. – Beijou-lhe a face. – Vá indo,
prometo te procurar depois.

Ela assentiu, levantando-se.

Ainda precisava andar com o auxílio da muleta, mas já sentia mais firmeza ao colocar o pé no chão.

Seguiu encantada, vendo as barracas, as luzes que iluminavam as ruas.

Parou para observar as crianças fazerem filas para passearem nos parques. Tudo era tão lindo que a fez
recordar de quando era apenas uma menina.

-- Está perdida?

Ela virou-se instintivamente, deparando-se com a bela ruiva.

Vitória sorria divertida.

-- O que quer? – Clara Indagou encarando-a.

-- Apenas a vi e tive vontade de cumprimentá-la. – Respondeu simplesmente. – Estendeu-lhe a mão.

Maria Clara estreitou os olhos, desconfiada. Deu-lhe as costas e voltou a prestar atenção aos brinquedos.

-- Obrigada por ter cuidado do Bastardo e obrigada pelos remédios. – Sussurrou-lhe ao ouvido.

A jovem sentiu um arrepio percorrer todo o corpo ao ouvir o som rouco tão próximo a si, tentou ignorar.

-- Não vai dizer “ de nada”, “ Disponha”, “ não tem por onde” ? – Debochou.

A Duomont virou-se para ela.


-- Não lhe direi nada, pois o seu agradecimento já foi dado quando me denunciou e me expôs no jornal.

Vitória mordeu o lábio inferior.

-- Bem, vocês sempre estão fazendo denúncias contra a minha pessoa, então decidi ver se esse jogo de
julgar os outros é tão divertido assim.

-- As denúncias foram feitas porque você cometeu os crimes. – Enfrentou-a firme. – Ninguém falaria nada
contra ti se você não procurasse.

A condessa chegou mais perto como se quisesse intimidá-la, mas Clara permaneceu no mesmo lugar,
fitando-a.

-- Eu não atirei contra o idiota do seu namoradinho, pois se tivesse que disparar contra alguém, o faria
contra ti.

-- Isso é uma ameaça, condessa?

A Mattarazi colou o corpo ao dela por alguns segundos e pareceu que uma descarga elétrica percorria
ambas.

Clara sentiu uma pressão no estômago e os seios eriçarem imediatamente. Observou os lábios próximos e
sentiu um desejo enorme de senti-los.

-- Denuncie-me novamente... – Disse próximo a sua boca. – E você verá se é uma ameaça ou um aviso.

Encararam-se por segundos intermináveis. Ambas estavam a medir forças, mas algo a mais pairava sobre
elas.

Vitória foi a primeira a romper o contato.

A neta de Frederico a observou se afastar e precisou se apoiar na muleta ou acabaria indo ao chão.

Passou a mão pelos cabelos, agoniada.

Não, aquilo não poderia estar acontecendo. Seu corpo tinha respondido a presença de uma mulher e para
piorar era a odiosa condessa quem lhe deixara em chamas.

Conseguiu controlar a respiração e retornou para junto da família.

Todos estavam tão animados com a festa que nem pareceram notar a mudança na jovem.

Marcos deu-lhe um beijo rápido e voltou à atenção para a banda que continuava a tocar.

Maria Clara viu que a Vitória já tinha retornado para perto do tal que a acompanhava. Parecia adorar os
paparicos feitos por ele, beijos nas mãos, uvinha na boca...

A jovem relanceou os olhos ao ver a cena patética.

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Capitulo 6 por gehpadilha

Vitória aproveitou a companhia, mas não desejava ficar mais naquele lugar. Alguma coisa tirou-lhe todo o
humor. Nem mesmo a cara de raiva dos Duomont e dos Ferraz a estava divertindo, como era de costume.
Observou Maria Clara ser beijada pelo namoradinho e sentiu tanta raiva que nem mesmo entendeu o porquê.

Tomou todo o conteúdo do copo e sentiu a garganta queimar.

Fitou-a mais uma vez e dessa vez foi encarada. Estreitou os olhos ameaçadoramente, porém a atenção da
outra tinha sido tomada pelo namorado que lhe segurou a mão, levando-a para ver o show pirotécnico.

-- Quero ir embora! – Disse levantando-se.

-- Mas ainda é cedo! – Juan falou. – E está tudo tão bonito!

-- Entenda que precisa ser mais vista, é a nossa candidata e precisa se misturar com o povo. – Alex
interferiu.

-- Se não me viram é porque estão cegos, quanto a me misturar... Estou sufocada com essa atmosfera. –
Saiu apressada.

O empresário mexicano observou-a se afastar, atônito, mas se recuperou rapidamente seguindo-a,


tentando alcançá-la em meio à multidão.

Naquela noite a condessa se jogou ardentemente nos braços do amante latino. Desejava mostrar a si
mesmo que era ela quem dominava o próprio corpo e o desejo. Sempre fora passional, adorava e não tinha
tabus quando se tratava de prazer. Casara ainda muito jovem, mas nunca fora tocada pelo marido, ele a tinha
como um enfeite, alguém a se expor, a se admirar e exibir. Então quando ficara precocemente viúva, se
entregara aos prazeres da carne. Escolhia a dedo o homem que lhe tocaria, pois gostava de dominar, de estar
no controle daquele jogo excitante. Gostava do sexo, porém ele nunca era suficiente, ao final do ato havia
aquela sensação de vazio que sempre perdurava...

Ouvia as palavras enamoradas do rapaz, suas carícias... Fechou os olhos e se assustou ao ter em seus
pensamentos a neta de Frederico...

Ao terminar o ato, percebia que algo parecia ter saído errado e sabia que não fora Juan quem o cometara.

Maria Clara ficou durante alguns minutos sob a ducha. Precisava relaxar os músculos e se livrar daquela
tensão.

Já era quase três horas quando foi deitar.

Chegara bem tarde da festa. Não que não estivesse divertida, mas algo tirou sua paz e a deixara muito
agitada.

Lembrou-se de tudo ter piorado quando viu a condessa deixar o evento, acompanhado com o tal
mexicano. Ficou nauseada só em imaginar que ambos naquele momento deveriam estar fazendo amor...

-- Eu devo estar ficando louca! – Cobriu a face com as mãos.

Desde quando se importava com o que aquela mulher fazia ou deixava de fazer? Então, sua mente a levou
para aquele dia no estábulo, quando sentiu o toque dela e seu corpo pareceu ganhar vida.

Nunca em sua vida acontecera algo assim.

Ela era virgem. Sempre desejara se mantiver casta até o dia do casamento. Queria pertencer apenas a um
homem e essa união duraria para toda a vida. Tivera apenas dois namorados e não se lembrava de ter sentido
uma excitação tão poderosa como aquela que ocorrera naquela noite. Na verdade, nunca tivera essa
necessidade, essa agonia que parecia queimar a carne e tirava-lhe todo o ar dos pulmões.

Sentiu os seios reagirem ao recordar daqueles lábios.

Como uma mulher podia ser tão linda e tão perigosa? Recordou do sarcasmo sempre estampado naquela
face, a boca que se movia sempre com deboche... Os olhos... Esses eram perigosos de mais, ousavam, invadiam
como se fosse a senhora de tudo e de todos...

Levou as mãos a cabeça, parecia desesperada.


Necessitava de que aquela sensação passasse. Precisava sufocar aquele desejo que chegava a sufocá-la.

Mordeu o lábio inferior e sentiu as lágrimas rolarem, banhando-lhe o rosto. Soluçou e pediu a Deus que a
perdoasse pelos sentimentos que pareciam apossar-se de si.

Vitória Mattarazi treinava incansavelmente.

Bastardo já estava totalmente recuperado e ela desejava participar da competição regional de equitação.

Aquela era a sua maior paixão.

O irmão a ensinara a montar quando ainda era uma menininha. Vitório nunca se importara com a filha,
às vezes tinha a impressão que ele a odiava, porém não entendia o motivo de ele ter aceitado cuidá-la. Talvez,
ele tivesse um pouco de consciência ou temesse um escândalo, afinal, a amante morrera porque ele se negara a
ajudá-la...

Engraçado, nunca pensara na mãe. Sempre a viu apenas como um personagem figurinista, a incubadora...

Concentrou-se...

Aproveitaria esse tempo para fazer o que mais gostava, pois no próximo mês começaria a campanha para
a prefeitura da cidade e ela precisaria se empenhar, ao menos que quisesse ver o município nas mãos de
Frederico Duomont.

Não tivera mais contato com Maria Clara e isso lhe devolvera a paz de espírito. Não gostava dela, odiava
as sensações que ela lhe fazia sentir. Era como se fosse um feitiço, uma forma de magia que a deixava frágil.

Pulou mais um obstáculo e mais um.

Sua disciplina e talento já a fizera ganhar muitos campeonatos e o último fora o que mais lhe agradou,
pois vencera a garotinha de cara de princesa de conto de fadas.

Sorriu!

Deve ter sido horrível para aquela família ver sua doce mocinha ser derrotada pela condessa Mattarazi.

Acabou o treino, mas não desmontou, saiu em disparada pelas terras que fazia parte de sua propriedade.

-- Esse rio faz parte da cidade. – Maria Clara falava. – Temos que usá-lo para que nosso povo não sofra com
a falta de água que já é uma realidade de todo o país.

Os membros do partido pareciam satisfeitos com as palavras da candidata.

-- Mas não devemos esquecer que ele se encontra quase totalmente localizado nas terras de Vitória
Mattarazi e que ela nem mesmo permite que os animais passem por lá para tomar água. – Marcelo falou.

-- Deve existir uma solução para isso! – A jovem falou. – Irei dar uma olhada na região para buscarmos
uma forma de usá-lo.

A neta de Frederico fora chamada pelo sogro para uma reunião com o secretário do governador. Eles
discutiam os problemas da falta de recurso hídrico e buscavam uma alternativa para contornar aquele
problema. A população estava a cobrar, pois aquela fora uma promessa do atual prefeito para se eleger e até
agora nada fora feito. E isso era muito ruim para a campanha de Clara e Marcos.

A jovem se despediu e seguiu para o carro. Era quase hora do almoço, mas decidiu não ir para a casa.
Seguiu pela estrada e foi até o rio. Desejava encontrar um jeito para usufruir da água e ajudar aquelas pessoas
que dela necessitavam.

Estacionou o veículo e ficou a observar a correnteza.

Havia cercas no local, e pelo que ficara sabendo, mais para frente havia seguranças armados que não
permitia que ninguém se aproximasse.

Retirou o celular da bolsa e fotografou. Era um lugar realmente lindo. Havia um caminho todo arborizado
que chegava a margem...

Desceu do veículo, encantada, com a paisagem, mas foi tirada do transe quando viu o garanhão preto vir
em sua direção tendo sobre si a amazona ruiva.

Sentiu as batidas do coração acelerarem.


Há dias não via e não pensava nela. Conseguira sufocar aquela agonia e a paz voltara a reinar em seu
corpo, porém agora, vendo-a se aproximar tão imponente, com os cabelos ao vento, sentiu a pele se arrepiar.

-- O que faz em minhas terras? – A condessa perguntou sem desmontar. – Já disse para você não pisar na
minha propriedade.

-- O rio não é sua propriedade, é de todos dessa cidade. – Clara a enfrentou.

A condessa não pareceu gostar das palavras que ouviu e avançou ainda mais com o cavalo.

Clara recuou mais, até se encostar no veículo.

-- Vai tentar me pisotear de novo? – Desafiou-a novamente.

-- Já mandei você sair das minhas terras. – Falou por entre os dentes.

-- Você é surda? Eu já disse que o rio não é seu, ele pode passar por sua propriedade, mas o rio não é seu,
condessa Mattarazi!

Vitória ficou possessa. Desceu do animal e partiu para cima dela, segurando-lhe pelos ombros, pressionou-
a forte contra a porta do carro.

-- Não ouse falar comigo desse jeito! – Apertou-lhe ainda mais. – Eu sou a condessa, a dona de quase toda
essa região. – Os olhos verdes faiscavam de raiva.

Maria Clara tentou se desvencilhar, mas a outra era mais forte.

-- Solte-me! Está me machucando!

-- E machucarei ainda mais se não sair do meu caminho de uma vez por todas.

-- Não tenho medo das suas ameaças! – A encarou. – Você não passa de uma bastarda estúpida que acha
que pode fazer o que bem entender e as pessoas apenas devem se dobrar diante das suas vontades. – Gritou.

A ruiva sentiu o sangue ferver e a fúria dominar todos os seus sentidos. Nunca permitiu e jamais
permitiria que alguém a tratasse tão desrespeitosamente. Ela era a filha do conde Vitório Mattarazi V. Era
descendente e uma das últimas representantes de uma família nobre.

Obsevou os olhos negros a fitarem, brilhantes... Viu-a umedecer os lábios e sua cólera pareceu seguir
outro rumo...

Instintivamente tomou-lhe a boca, esmagando-a, ferindo-a, desejando vigar-se das noites de insônia, mas
ao sentir a receptividade, acabou se rendendo a doçura da neta de Frederico.

Maria Clara não tentou ao menos resistir. Aceitou a investida colérica, pois foi o que ansiara por todos
aqueles dias. Deixou-se explorar e quase desfaleceu ao sentir a maciez daqueles lábios. Aceitou a língua sendo
procurada e gemeu quando a condessa a chupou desesperadamente, como se temesse que o tempo terminasse
e interrompesse o contato.

Os corpos se colaram, roçando-se perigosamente. Clara Seguiu por baixo da camiseta, sentindo a pele
quente e suave. Vitória buscou o contato com os seios e ao tê-los em suas mãos sentiu como se tivesse tomado
todo o vinho da adega.

Embriagadas... A raiva e o desejo se mesclavam...

A condessa introduziu a coxa em meio às pernas da jovem... Sentiu os mamilos intumescidos, apertou-os
até ouvi-la gemer...

Bastardo relinchou e ambas se separaram rapidamente.

Encararam-se por alguns segundos. Pareciam desconhecer o que se passara no momento anterior, como
se uma força superior as suas vontades as tivessem unido naquele momento passional.

Maria Clara foi a primeira a mover-se. Entrou no carro e saiu cantando pneus.

A condessa deixou-se cair no chão, cobrindo o rosto com as mãos.

Sua mente estava a mil. Não se reconhecia, não reconhecia a mulher que agira há alguns minutos.
Passional, descontrolada... Perdida...

Frederico observava as contas.


Sabia que em breve não teria dinheiro para saldar as dívidas. A justiça lhe tomara quase todos os bens e
os que sobraram poucos valiam.

Cometera um erro há alguns anos ao imaginar que os Mattarazis tinham dinheiro. Entregara sua única
filha, pensando que poderia usufruir dos milhões de Vitório, porém a família nobre não tinha nem dinheiro
para pagar a festa do casamento. O que não acontecia agora. A maldita Vitória era milionária. Fizera o pouco
que herdara se tornar uma exorbitante quantia. Era boa para os negócios, do mesmo jeito que era excelente na
arte da sedução.

-- Miserável! – Bateu com o punho fechado na mesa.

Tomaria tudo que era dela e a destruiria.

Observou a foto da filha. Linda! Poderia ter tido um futuro brilhante, mas os erros a levaram aos braços
do homem errado...

Fitou a imagem de Maria Clara. A neta não tinha a personalidade da tia, mas sabia que aquele ar de
menina doce e meiga se escondia uma personalidade forte. O melhor seria casá-la rapidamente com Marcos,
porém temia que assim perdesse o controle sobre ela...

Maria Clara chegou e seguiu diretamente para o quarto. Fechou a porta! Não desejava ver ninguém
naquele momento.

Parou em frente ao espelho e ficou a observar o próprio reflexo. Não se reconhecia. A pele parecia em
brasa. Tocou a testa e percebeu que estava febril. Queimava...

Mirou os lábios e notou o inchaço e o pequeno corte na parte inferior... Fechou os olhos e sentiu o gosto da
boca dela, exigente, dominadora... Ao mesmo tempo suave e apaixonante.

Aquilo fora uma loucura... A condessa era um ser perigoso e poderia destruí-la muito facilmente...

Mas como controlar esse desejo que parecia querer dominá-la?

Bruta!

Falou baixinho ao notar as marcas que ela deixara em si...

Vitória retornou a casa e nem ao menos levou Bastardo para o estábulo. Entregou-o a um peão que estava
no pátio.

Subiu as escadas correndo e seguiu direto para os aposentos. Entrou no banheiro, ligou a ducha e ficou
sob ela sem ao menos se despir. Sentia a água fria lutar contra o calor que lhe queimava.

Escorregou até se sentar com as pernas estendidas.

Recordou do olhar forte, desafiador que Maria Clara lhe dirigiu. Os olhos negros brilhavam numa fúria
cega.

Fechou as mãos tão forte que sentiu as unhas enterrarem-se na palma.

-- Maldita seja, Maria Clara Duomont! Mil vezes maldita! – Sussurrou.

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Capitulo 7 por gehpadilha
Marcos e sua família foram convidados para um jantar na casa de Frederico. Uma pequena recepção fora
oferecida, com bebida e petiscos.

-- Maria Clara vai demorar muito para descer? – O namorado perguntava impaciente à sogra.

-- Não, querido, ela já deve estar vindo. – Clarice lhe entregou uma taça. – Ela chegou no horário do
almoço e apresentou mal estar, ficando no quarto durante toda à tarde, mas já estava se sentindo melhor.

-- Mas o que ela tinha? – Indagou preocupado.

-- O sol não deve ter feito bem. Ela é muito frágil, fora criada na Europa e esse clima tropical não é
benéfico.

-- Por que está com essa carinha, filho?

Ana se aproximou do rapaz.

Era uma loira muito bonita, ainda jovem, mas que raramente saia de casa. Pouco aparecia nos eventos
sociais e as más línguas diziam que ela vivia um casamento de aparência com o prefeito.

-- Boa noite a todos!

A voz melodiosa da neta de Frederico invadiu o ambiente.

O jovem apaixonado levantou-se da mesa e foi ao seu encontro, esperando-a pacientemente descer as
escadas.

A garota recebeu o toque nos lábios e sorriu sem jeito.

Algo pareceu a incomodar, mas tentou disfarçar.

Caminharam juntos e o cavalheiro puxou a cadeira para a amada.

-- Que lindo! – Frederico levantou a taça. – Quero brindar a esse casal perfeito que juntos governarão a
cidade.

Todos acompanharam o anfitrião.

-- Hoje, acordei e pensei que não temos motivos para esperar a eleição acontecer para que minha neta
fique noiva. – Continuava o político. – Anunciaremos o noivado o mais breve possível. Faremos uma grande
festa para angariar ainda mais votos. Mataremos algumas cabeças de gado e oferecemos um churrasco para
esses coitados que vivem na região.

-- A ideia é perfeita! – Marcelo concordava. – Assim, depois do pleito os pombinhos subirão ao altar.

-- Eu aceito desde já! – O jovem segurou a mão de namorada. – E tenho certeza que você também, não é,
meu anjo?

Clara apenas sorriu, assentindo.

Ela sabia que não havia muito para ser dito. Na verdade, fora ela que sempre insistira para que
noivassem antes das eleições, então por que aquela ideia não parecia ser tão atraente naquele momento?

Fitou a família e viu a empolgação presente em seus rostos. Todos desejavam aquela união, desde quando
ainda era uma menina fora orientada e ensinada a ser uma boa esposa, uma companheira que estaria ao lado
do marido para tudo o que viesse a acontecer... Mas...

Enquanto, os Duomont e os Ferraz comemoravam, a jovem levou o copo a boca e sentiu a bebida parar na
garganta...

Recordou do que se passara naquele dia...

A boca da condessa dominando a sua... Seu toque ousado... Sua língua invadindo sem ao menos pedir
permissão... Pior de tudo fora sua reação... Intrépida... Faminta por aquela linda mulher...

-- Você está bem, filha? – Sussurrou ao seu ouvido.

Felipe estava ao lado dela e percebeu uma mudança em seu semblante.

-- Sim, papai. – Sorriu nervosa. – Por quê?

-- Seu rosto está corado!

É
-- É o calor! – Respondeu rapidamente.

O homem assentiu, mas não pareceu acreditar muito na explicação dada.

Há dias percebera certa mudança em Clara, conhecia-a bem e tinha certeza que algo estava a se passar,
mas o quê?

A notícia se espalhara rapidamente.

As pessoas só falavam no noivado do filho do prefeito com a herdeira dos Duomont. Alguns até chegaram
a cogitar que a neta de Frederico deveria estar grávida para que tudo fosse antecipado desse jeito.

Vitória treinava dia a dia para o campeonato que aconteceria dentro de uma semana. Apagou da mente o
último encontro que tivera com Clara. Gostaria que ela sumisse de sua vida, que fosse para bem longe e agora a
notícia de que ela ficaria noiva do tal Marcos só mostrava como aquela mulher era parecida com a tia. Decerto,
tudo não passava de interesses econômicos.

Era uma safada!

Será que ela contara ao noivo sobre seus gostos nada ortodoxos?

-- Condessa...

A Mattarazi estava cuidando do seu cavalo quando o capataz a chamou.

-- O que houve? – Virou-se com as mãos nos quadris. – Qual a novidade?

O homem a fitou e admirou a bela amazona em sua roupa de montaria.

-- Vai falar ou ficará aí parado com essa cara de besta?

-- Perdão, senhora! – Tirou o chapéu. – É que sumiram cinco das suas melhores vacas.

Vitória desferiu um golpe forte com a chibata e por muito pouco não acertou o empregado.

-- Saia da minha frente, pois eu não costumo errar uma segunda vez.

O rapaz nem pensou, saiu em disparada do estábulo.

-- O que aconteceu? – Batista apareceu. – O jovem parecia que tava sendo perseguido pelo demônio, quase
me derruba.

Vitória respirou fundo e voltou a pentear a crina do cavalo.

-- Eu tenho quase certeza que alguém aqui está facilitando os roubos dos meus animais. – Disse sem se
voltar.

-- De quem estás a desconfiar?

A condessa fitou o mais antigo contratado da fazenda. Ele sempre estivera à frente daquele lugar, já
estava idoso, mas mesmo assim era muito ativo, casado com Julieta, sempre foram bons com a menina que era
sempre desprezada pela madrasta.

-- Eu não sei. – Passou a mão nos cabelos. – Preciso de sua ajuda para investigar. – Tirou o capacete. –
Ficarei fora durante alguns dias e necessito que esteja de olho em tudo aqui. De início, consiga outro capataz.
Não acho que o que temos seja muito confiável.

-- O farei, condessa! Pedirei que o senhor Miguel me ajude.

-- É uma boa ideia. – Já estava saindo quando se voltou para ele. – Prepare o Bastardo. Hoje mesmo ele
seguirá para o local da competição.

Batista assentiu e foi providenciar o que fora pedido.

Maria Clara, em companhia do avô, vinha visitando algumas famílias na região. Percebia a necessidade de
investir em escolas, em postos de saúdes que não obrigasse a população que morava tão distante a ter que se
dirigir ao centro da cidade para ter atendimento ou educação.
Outra coisa que acabara percebendo era que deveria ter mais campanhas para controlar a natalidade. Os
casais sempre tinham muitos filhos e isso tornava a situação econômica ainda mais precária.

Sentia-se bem em estar em contato com o povo e se fosse a escolhida por todos, usaria sua gestão para
fazer melhorias.

A semana transcorrera bem, mesmo sendo tão agitada, porém isso servirá para não ficar pensando em
certos olhos verdes.

Tinha acabado de tomar banho, estava secando os cabelos, quando ouviu o celular tocar.

Era seu treinador.

-- Olá, Max! – Disse feliz.

Naqueles anos juntos aprendera a vê-lo como um verdadeiro amigo. O conhecera quando ainda era uma
adolescente, ele a treinara com dedicação por todos aqueles anos. Apesar de quase quinze anos de diferença de
idade, eles tinham uma cumplicidade grande, uma amizade saudável... Laços estreitos.

-- E como você está? Pronta para retomar os treinos?

Ela mirou a perna. Infelizmente ainda não estava totalmente recuperada.

-- Não... – Disse tristemente. – Precisarei de mais tempo.

Recordou das palavras da mãe que praticamente a proibira de voltar a praticar o esporte.

-- Ah, não fique assim, sei que em breve você estará bem, enquanto isso, mate a saudade vendo o
campeonato regional, a Vitória Mattarazi irá concorrer. – Deu uma pausa. – Ela é uma excelente amazona.
Estou fascinado.

Maria Clara sentiu-se incomodada ao ouvir o nome daquela mulher, mas disfarçou bem.

Falaram por mais alguns segundos até desligarem.

Buscou o controle da TV, ligando-a e sintonizando o canal que estava a passar o campeonato.

Será que a condessa já tinha disputado... Então, a câmera focou na ruiva. Sentiu uma pontada no peito ao
vê-la aparecer montada no imponente garanhão.

Como ela poderia estar ainda mais linda?

Observou a performance magnífica. Sentiu o coração bater mais forte e ao final sorriu ao vê-la finalizar
com tanta perfeição. E como já era o esperado fora a vencedora.

Ficou a esperar para que os jornalistas a entrevistassem, mas Mattarazi não falava com a imprensa.

Arrogante!

Torceu o nariz.

Quando ela fora receber o troféu pôde vê-la melhor. As roupas de montaria lhe davam uma aparência
ainda mais altiva. Os olhos verdes brilhavam e um lindo sorriso desenhou-se naquela boca tentadora, porém ao
ver a quem ele se direcionava, sentiu uma irritação enorme. O tal mexicano estava lá e a tomou nos braços,
beijando-a.

Maria Clara desligou o aparelho e deitou-se na cama

Lembrou-se do beijo que trocaram naquele dia. Há mais de uma semana, seu corpo fora tomado por um
desejo insano, que lhe fazia queimar, arder...

Às vezes, ficavam a pensar se aquilo não passara de uma fantasia de sua cabeça... Tocou os lábios e
pensou nos dela...

-- Isso é uma loucura!

Dois dias depois, Miguel fora chamado a fazenda Mattarazi.

-- A condessa o espera no escritório. – Julieta informou.

-- Quando ela retornou?

-- Ontem de madrugada.
O advogado assentiu e seguiu até onde estava a bela bastarda.

-- Pensei que não viria... – Ela falou assim que o viu. – Parabéns pela a apresentação.

Ela estava com uma garrafa de cachaça aberta e bebia confortavelmente sentada na cadeira. Girava de
um lado para o outro.

Apontou para ele sentar.

-- Prove da cachaça! – Entregou-lhe o copo.

Miguel aceitou e bebeu vagarosamente, sentindo o sabor.

-- Agora entendo do sucesso da sua destilada. É deliciosa.

Vitória sorriu e bebeu novamente.

-- Não exagere, a delegada é brava e pode não gostar de vê-lo bêbado. – Ironizou.

O advogado fingiu não ouvir a alfinetada.

-- E você? Deseja embriagar-se?

A jovem deu de ombros.

-- Diga-me, qual é a situação financeira dos Duomont?

O homem a encarou confuso.

-- Repito... Qual a situação financeira dos Duomont?

-- Bem, pelo que sei, Frederico adora mostrar que tem dinheiro, mas a verdade é que seus bens estão
hipotecados há bastante tempo.

-- Interessante! – Ficou a girar a garrafa. – Continue...

-- O que deseja saber mais?

-- Como ele pagou os estudos de Maria Clara na Europa? Pelo que fiquei sabendo ela estudou nos melhores
colégios internos.

-- Empréstimos... Muitos empréstimos mesmo.

-- Mas com que ele pensa em pagar?

-- O casamento da neta é um negócio rentável.

-- Não sabia que Marcelo tinha tanto dinheiro assim... – Falou pensativa.

-- Não, também está falido. Porém Marcos recebera uma grande quantia em dinheiro quando subir ao
altar. A mãe do prefeito deixou tudo para o neto e fizera tudo para que o filho não tocasse nesse dinheiro.

-- Por quê?

-- Acredito que ela sabia o mau administrador que era o prefeito.

A condessa levantou-se. Continuava altiva, nem mesmo parecia que tinha bebido quase toda a garrafa de
cachaça. Caminhou até a janela e observou o sol se pôr.

-- Quero que arrume alguém para investir nas terras de Frederico. – Disse sem se voltar. – Será o meu
dinheiro a ser usado. Quero que ele deva o suficiente para perder tudo e eu quero tudo o que ele possui. –
Completou encarando-o.

-- Por quê?

-- Porque eu desejo destruí-lo e todos daquela família maldita.

Miguel sabia que não adiantava retrucar. Via a determinação presente naqueles olhos e nada que fosse
dito a dissuadiria daquela ideia. Então fez a única coisa que poderia ser feito, assentiu às ordens de Vitória
Mattarazi.

Maria Clara despertou assustada. Ainda estava escuro.


Seu corpo parecia pegar fogo. Ainda podia sentir as carícias ousadas, os beijos selvagens e prazer que a
deixara totalmente entregue ao toque.

Sentia o coração quase sair pela boca.

Sentou-se e tomou um copo de água.

Tentou controlar a respiração e depois de alguns minutos voltou a deitar.

Os seios ainda estavam doloridos de tanta excitação. Sentia aquela pressão incomoda no estômago e tinha
certeza que estava úmida.

Vitória Mattarazi parecia ter lhe lançado um feitiço.

A condessa não ficara feliz com as críticas de Otavio sobre sua falta de interesse para a política. O homem
percebeu o erro e tentou mudar o discurso.

-- Entenda que temos que trabalhar muito para ganhar.

Vitória cruzou as pernas longas.

-- Faça o trabalho, você, já disse que meu dinheiro estará a sua disposição.

Alex sorriu.

-- Sabia que uma das promessas de campanha de Maria Clara é usar o rio que passa por sua propriedade
para abastecer toda a cidade? – Alfinetou-a.

-- Ela nunca conseguirá isso! – Levantou-se irritada. – E ela não ganhará essa eleição, não mesmo.

Os dois homens se entreolharam, sabiam que agora teriam a atenção e dedicação da condessa, afinal, o
ódio pelos Duomont era o combustível perfeito.

Demoraram por mais alguns minutos, até que Otávio encerrou a reunião.

A condessa não estava com o Bastardo. Tinha ido a cidade em seu jipe, deixara o animal descansar, pois
ele se esforçara muito para o campeonato.

Aproveitou que estava ali e decidiu ir ao cemitério.

Aproximou-se do túmulo da família, quando viu a neta de Frederico sentada lá. Colocava flores brancas
nas jarras.

Ficou a observá-la por alguns segundos.

Não sabia o que se passava consigo quando a via. Era um misto de raiva e ao mesmo tempo desejo de se
aproximar...

Maldição! – Praguejou baixinho.

-- O que está fazendo aqui?

Clara se virou, assustada ao ver a condessa.

O cheiro dela invadiu o local. A presença forte e dominadora não tinha como não ser notada.

Tentou agir o mais natural possível

-- A minha tia está enterrada aqui e meu primo também. – Disse simplesmente, continuando o que estava
a fazer.

Vitória caminhou até ela, ficando bem próxima.

-- Helena só está aqui por causa da minha sobrinha, pois se não fosse isso, eu já a teria tirado de perto do
meu irmão há muito tempo. Ela não merece o lugar que ocupa.

A Duomont preferiu não discutir, deu a volta e estava saindo, quando a ruiva a deteve pelo braço.

Maria Clara a encarou e viu o sarcasmo brincar naqueles olhos verdes.

-- Solte-me! – Pediu.
A condessa arqueou a sobrancelha, exibindo um sorriso no canto dos lábios.

-- Soube que em breve ficará noiva e ainda não recebi o convite para a festa.

-- Não será bem vinda, senhora! – Tentou se soltar, mas Vitória apertou ainda mais.

-- Pare de fazer campanha dizendo que usará meu rio para abastecer a cidade. Está iludindo essas
pessoas.

-- O rio não é seu e eu entrarei na justiça para possamos usá-lo.

A irônica Mattarazi fitou os lábios da adversária e mais uma vez sentiu aquela fome de tomá-los para si.
Tocar-lhe a pele tinha despertado seu desejo.

Observou-a minuciosamente.

O vestido florido tinha um decote que deixava a mostra o colo alvo. Notou uma veia pulsar no pescoço
esbelto, o nariz arrebitado, os olhos negros e puxados. Viu-os brilhar...

Mirou a boca... Vermelha... Cheia... Suculenta...

Chegou mais perto. Sentindo a pele da coxa, vestida apenas com um short jeans, roçar na dela.

Arrepiou-se!

-- Não me enfrente, Maria Clara, temo que você não gostará do resultado disso.

-- Não tenho medo das suas ameaças. – Disse altivamente, tentando se desvencilhar.

A ruiva apertou-a ainda mais. Nunca ninguém a enfrentara daquele jeito.

A neta de Frederico sentia o hálito refrescante e a respiração acelerada da mulher. Fitou os lábios
entreabertos e mais uma vez sentiu aquela vontade insana de tocá-los, de mais uma vez provar aquele sabor
que chagava a se assemelhar com a maçã que levou a humanidade ao pecado.

Vitória propositalmente tocou-lhe o seio com o polegar sobre o tecido. Ela o notou excitado e não resistiu
ao desejo de senti-lo. Observou o mamilo eriçado, duro... Raspou-o com a unha, depois o apertou em seus dedos.

Maria Clara mordeu o lábio inferior. Parecia paralisada... Fascinada... Embriagada com a carícia. Seus
olhos não se desviavam daquele lago verdejante. Via-os brilhar...

A condessa observou o desejo brilhar naquele mar negro. Pôde ouvir o pequeno grunhido que saiu
daqueles lábios entreabertos e desejou tomá-la totalmente para si.

-- Por favor... Pare... – Clara pediu.

Vitória cobriu-lhe os lábios com os seus e dessa vez tornou o contato mais íntimo, abraçando-a. Sentindo a
maciez da pele, o corpo se encaixando perfeitamente ao seu. Deliciou-se com aquele perfume floral que se
depreendia dela.

Maria não esboçou nenhum tipo de resistência. Circundou-lhe o pescoço, trazendo-a para junto de si,
permitindo livre acesso.

O beijo que começara bruto, aos poucos foi se aprofundando, como se desejassem viajar naquele ato,
aproveitá-lo por completo. As línguas se roçaram, travando a doce batalha do prazer.

Clara Chupou-a, o fez como se desejasse tomá-la para si. Estava totalmente mergulhada naquele desejo
que apenas fazia aumentar. Os carinhos em seus seios seguiam demasiadamente exigentes. Descontrolada,
tocou-lhe as nádegas, pressionando ainda mais contra si.

Nunca sentirá nada parecido. Nem mesmo em seus sonhos poderia imaginar algo tão delicioso, algo que a
dominava totalmente.

Vitória sentia o sabor daquela boca e travava uma batalha enorme contra aquela força que parecia
querer dominá-la.

A imagem de Helena veio a sua mente... A maldita traiçoeira que tirara o irmão de si...

A condessa interrompeu o ato.

-- Afaste-se de mim! Nunca mais ouse se aproximar! – Passou a mão pelos cabelos.

-- Não fui eu que me aproximei. – Encarou-a. – Você o fez... – Acusou-a altiva.

-- Não, não e não! – Apontou-lhe o dedo em riste. – Você é a culpada! – Estreitou os olhos. – Eu exijo que
você vá embora dessa cidade, ordeno que suma de uma vez por todas do meu caminho.
A bela Duomont balançou a cabeça em negação.

-- A senhora não manda em mim, condessa!

Vitória cerrou os olhos ameaçadoramente.

-- Você se arrependerá de ter cruzado meu caminho, princesinha de contos de fadas.

Maria Clara a observou se afastar, sentindo o rosto em chamas. Precisou segurar na lápide ou acabaria
indo ao chão. Tentou controlar a respiração, pois temia acabar tendo uma crise de asma. Depois de alguns
minutos, conseguiu sentir o oxigênio chegar aos pulmões, ficou aliviada.

Bastarda!

Só havia uma certeza naquele momento... Vitória Mattarazi era realmente uma feiticeira.

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Capitulo 8 por gehpadilha
A condessa acelerava ainda mais na estrada de terra. Sua cabeça não conseguia parar de pensar no que
acabara de acontecer. Seu corpo ainda tremia com a violência do desejo.

Freou bruscamente quando já tinha se afastado o suficiente. Estacionou sob uma mangueira enorme.

Bateu forte no volante, desceu do veículo e começou a socá-lo até perceber o sangue sair dos machucados.

Clarice entrou no quarto da filha.

A jovem passara o dia todo fora e quando retornara parecia um pouco perturbada. Ouviu o som de água e
esperou pacientemente que ela retornasse do banho.

Marcos ligara, pois não conseguira falar com a namorada pelo celular que apenas chamava e ninguém
atendia.

Alguns minutos se passaram até a garota surgir.

Maria Clara assustou-se com a presença da mãe. Não desejava falar com ninguém naquele momento.

-- Seu namorado estava te procurando, disse que você não atendeu o celular.

-- Eu não vi. – Pegou o secador.

Clarice observou a toalha branca presa ao corpo da filha.

-- Que manchas são essas em seus braços? – Aproximou-se para ver melhor.

-- Não é nada! – Desvencilhou-se do toque.

Ela sabia do que a mãe falava. Quando chegara a casa, viu os hematomas no espelho. A condessa o fizera
quando a apertou no momento de raiva.

-- Como não? – Escandalizou-se a mulher.

-- Ora, mamãe, a senhora sabe que minha pele branca se marca por um sutil toque. – Impacientou-se. – Eu
apenas me desequilibrei e bati ao cair.

Clarice não pareceu acreditar nas palavras da filha, mas apenas assentiu.

-- Então, tome mais cuidado e não deixe de ligar para o Marcos. – Beijou-lhe o rosto, deixando os
aposentos.

Clara esperou-a sair e caminhou até a porta, trancando-a. Seguiu a passos lentos até o enorme espelho,
despindo-se. Observou as marcas em seus braços e percebeu que havia também em seu seio esquerdo. A pele
arrepiou-se imediatamente ao recordar do toque grosseiro, mas que a deixara totalmente embevecida...

Fitou a mulher refletida ali e pareceu não reconhecê-la. Havia um brilho diferente naqueles olhos
orientais, sua pele que antes se apresentava tão pálida, apresentava uma coloração intensa...

Balançou a cabeça agoniada.

Aquilo era uma loucura... Deveria evitar encontrar aquela mulher... A condessa era verdadeiramente uma
feiticeira e sabia que seria impossível resisti-lhe.

Alguns dias depois na delegacia...

-- Eu ordeno que a senhora tome um posicionamento sobre os roubos dos meus animais! – Vitória bateu
na escrivaninha da delegada.

Valentina estava a examinar alguns papéis quando foi surpreendida pela entrada explosiva da condessa.
Um dos policiais pareceu tentar detê-la, mas quem conseguiria segurar aquela mulher.

-- Como ousa entrar assim na minha delegacia? Poderia prendê-la por sua petulância.

-- Faça-o! – Desafiou-a. – Afinal, o seu trabalho se resume a deter-me.


A delegada observou os olhos verdes brilharem. A ruiva usava calça jeans, preta, camiseta e botas. Os
cabelos estavam soltos, selvagens...

Se um dia tivesse uma filha, esperava de todo coração que não tivesse aquele temperamento forte...

-- Sente-se! – Apontou a cadeira para ela. – Diga-me o que se passa dessa vez. – Tentou manter a calma.

-- Não, não o farei! – Estreitou os olhos ameaçadoramente. – Os Duomont estão roubando meus animais
descaradamente e nada está sendo feito. – Apontou-lhe o dedo. – Quando eu agir, não me importarei de passar
sobre a sua autoridade.

Valentina observou-a sair do mesmo jeito que entrou, feito um furacão.

Respirou fundo e discou para o marido. Depois de chamar algumas infinitas vezes, ele atendeu.

-- Amor, por favor, tente conversar com a Vitória, ela esteve aqui ainda pouco, mais irascível do que de
costume.

-- Por quê?

-- Queixa-se de que Frederico está roubando seu gado.

-- Investigue, então, deve ter fundamentos o que ela diz.

Valentina impacientou-se.

-- Eu não sei se tem ou não fundamento, pois a sua cliente não faz uma denúncia formal, apenas invade
minha delegacia e começa falar como se mandasse em mim. Hoje, acontece o noivado de Maria Clara com
Marcos, então faça com que a condessa permaneça o mais afastado possível disso. – Irritada, desligou.

-- A ordem é atirar em qualquer um que invada as minhas terras! – Ela dizia.

Os empregados estavam reunidos no pátio e a mulher dava ordens como se fosse um general.

Batista e Julieta trocaram olhares de cumplicidade. Sabiam que algo tinha acontecido com a condessa
naqueles últimos dias. Todos conheciam a personalidade forte da herdeira de Vitório, porém havia algo a mais.
Ela estava mais arredia do que de costume. Irritava-se com coisas que antes não seriam motivos para isso.
Estava mais fechada, ainda mais calada, arisca e mal humorada.

-- Se não o fizerem, eu atirarei em vocês! – Gritava. – Fiquem de olho no rio, não quero ninguém
passeando por lá.

Os empregados sabiam não poder ir contra as ordens da patroa, porém temiam agir da forma ordenada
acabassem os envolvendo em problemas.

Miguel estacionou o carro em frente à casa grande e observou os empregados se dissiparem. Caminhou
até a condessa que o observava com as mãos nos quadris.

-- Sua mulher não perde tempo mesmo, não é? – Provocou-o.

Todos seguiram para seus afazeres, deixando ambos sozinhos.

O advogado parou bem próximo a ela, retirou os óculos e fitou-a.

-- Podemos conversar?

-- Não, não posso e não quero conversar com ninguém.

Miguel a observou se afastar, pisando duro.

-- Ela está assim há alguns dias!

O homem ouviu a voz da bondosa Julieta, virou-se para ela.

-- Mas o que aconteceu?

-- Não sabemos! Simplesmente, ela tinha ido para uma reunião do partido e retornou assim. Nesse dia, ela
embriagou-se e quando o Batista e eu a levamos para o quarto ao ouvimos chamar um nome. – Disse em tom
confidente.

-- Que nome?
-- Maria Clara!

-- Maria Clara? – Indagou arqueando a sobrancelha.

-- Sim, ela o chamou até cair no sono profundo.

O advogado beijou-lhe a face, despedindo-se.

A velha senhora o observou seguir atrás da patroa.

Conhecia-o desde que era um menino, da mesma forma que conhecera sua irmã. Ambos eram órfãos e
viveram em um abrigo até completarem dezesseis anos. A irmã era dez anos mais velha e cuidara dele como se
fosse sua mãe, até conseguir um emprego e cair em total desgraça.

O advogado foi até o estábulo e lá estava ela cuidando do cavalo.

-- Por que estás assim?

-- Pensei que tivesse ido embora, não estou com nenhuma vontade de conversar. – disse sem se voltar.

Miguel conseguia sentir a tensão daqueles ombros. Ela estava apoiada na porteira e fitava o Bastardo.

-- Aconteceu algo?

-- Sim! – Virou-se. – Os malditos Duomont estão a me roubar e a sua mulher não faz nada!

Ele observou os olhos verdes que traziam algo diferente. O homem a conhecia bem, aquele olhar lindo só
exibia sarcasmo, ironia, raiva e sadismo... Mas havia outra coisa ali, só não conseguia decifrar do que se
tratava.

-- A Valentina irá investigar e se Frederico estiver fazendo isso, ela o irá prender. – Deu alguns passos até
ficar bem próxima a ela. – E a Maria Clara?

O advogado pronunciou o nome pausadamente, observando o lampejo diferente naquele olhar que
rapidamente fora substituído por fúria.

-- Essa eu odeio ainda mais!

Miguel a viu sair pisando duro e algo começou a alarmar em seu cérebro. Decerto era coisa da sua cabeça
fantasiosa, aquilo não tinha nenhum fundamento.

Decidiu retornar para a cidade, mas prestaria mais atenção às duas mulheres.

Maria Clara observava da janela do quarto os empregados arrumando o enorme pátio para a festa de
noivado que aconteceria dentro de poucas horas. Tudo estava impecável. Havia mesas e cadeiras. O evento
seria aberto ao público. Aquela seria uma forma para angariar mais votos, de acordo com o avô.

No dia anterior, viu muitos animais indo para o abate, mas não sabia de onde tinham vindos, afinal, a
família tinha poucos, decerto havia comprado ou Marcelo tinha cedido algumas cabeças.

Fitou o vestido estendido sobre a cama. Era um modelo delicado e exclusivo, feito por um grande amigo
da sua mãe, um estilista de renome no badalado mundo da moda. A roupa era branca, chegava quase nos
joelhos. Sobre o busto havia um decote em renda, o que se repetia na cintura, como uma espécie de cinto. Ele
não tinha mangas, deixando os ombros e braços a mostra.

Em breve casaria com Marcos. Tinha certeza que ele seria um marido maravilhoso, porém não conseguia
sentir mais o entusiasmo de antes.

Observou as terras que se estendia ao longe e sentiu um arrepio na nuca ao lembrar-se de lindos olhos
verdes. Há dias não a via e nem sabia nada sobre a poderosa condessa Mattarazi. Melhor que fosse assim, não
deveria se aproximar daquela mulher por nenhuma hipótese.

A noite tinha chegado...

Havia uma multidão reunida nas terras dos Duomont. Toda a cidade fora convidada. Havia muito
churrasco, uma variedade de bebidas e outras iguarias que fora feitas especialmente para celebrar aquele
momento.

O terreno plano e extenso trazia muitas mesas, um palco fora montado e uma banda local se apresentava
cantando baladas animadas.

Os noivos, sorridentes, cumprimentavam todos os que chegavam, Frederico e Marcelo faziam o mesmo.

Valentina observava tudo um pouco afastada. Não estava ali para se divertir, fora praticamente obrigada
pelo prefeito a marcar presença naquele local, a justificativa era que desejava que ela e os policiais cuidassem
da segurança de tudo

Observou o evento. Sabia que era mais uma forma de enganar a população, davam comida ao povo
faminto, ao povo que pouco via tanta carne em suas mesas.

De repente, ouviu o trote de um cavalo e ao olhar em direção à entrada da fazenda, conseguiu ver Vitória
montada em seu garanhão preto.

Não pode detê-la, pois ela passara como um raio por si.

Santo Cristo!

Maria Clara sorria com um elogio que o avô tinha lhe feito, quando viu aquela mulher vestida de preto
sobre sua imponente montaria. Ela vinha orgulhosa, exibindo aquela pose de amazona, aquela arrogância que
a fazia parecer a verdadeira dona do mundo.

Encarou-a e viu o sarcasmo brilhar naquela pupila. Sentiu a pele se arrepiar.

A banda parou de tocar e todas as atenções se voltaram para a invasora.

-- Como ousa aparecer aqui? – Frederico gritou. – A presença de uma assassina bastarda não é bem vinda
em minhas terras e nem nessa cidade.

Vitória exibiu aquele largo sorriso, arqueando a sobrancelha ironicamente.

-- Como não sou convidada? – Indagou ainda mais alto. – Não são os meus bois que estão sendo servidos
para os seus convidados?

O fazendeiro ficou demasiadamente vermelho, então Clara tomou a frente.

-- Saia daqui! – Fitou-a. – Como já foi dito, sua presença não é bem vinda e suas insinuações são maldosas.

O garanhão deu um passo para frente e a garota recuou assustada.

Ela observou-a. Os cabelos ruivos estavam soltos, dando aquele ar selvagem e poderoso.

-- Não estou a falar contigo, princesinha falsificada de contos de fadas.

A jovem sentiu o rosto corar e teve vontade de bater bem forte naquela atrevida até que aquela expressão
debochada saísse de sua face.

-- Vitória, acho melhor você se retirar!

Valentina tomou a frente de nora do prefeito.

-- Exijo que você prenda essa mulher agora mesmo! – Marcelo se posicionou.

A condessa relanceou os olhos tediosamente.

-- Você fica calado, seu idiota, ladrão e prefeito de meia tigela.

As pessoas começaram a rir.

-- Chega, Vitória! – A delegada a repreendeu. – Saia imediatamente daqui.

A imponente amazona fitou a noiva.

-- E você, bonequinha de bolo, não ouse falar assim comigo... Não ouse mesmo...

A jovem Duomont via o verde brilhar perigosamente.

-- A senhora não é bem vinda a minha festa de noivado, condessa Mattarazi! – Falou pausadamente cada
palavra dita.
-- Como não? Se eu já provei até do bolo... – Piscou ousada.

Sem mais, a bela saiu em disparada do mesmo jeito que chegou.

Clara sentiu o rosto pegar fogo com o comentário maldoso feito por ela.

-- Prenda essa mulher, delegada! – Clara estava enfurecida. – A condessa não pode agir como se fosse a
dona de tudo e pudesse fazer o que desse na telha.

Valentina encarou-a e percebeu como ela estava transtornada. Algo que não combinava muito com a
personalidade tranquila da mesma.

-- Chamem um médico, Frederico não está bem. – Clarice gritou.

Maria Clara correu até onde o avô estava.

A delegada seguiu para a fazenda Mattarazi, mas os seguranças barraram sua entrada. Infelizmente, não
tinha como Valentina e dois policiais enfrentarem todos os seguranças da condessa.

-- Chamem a Vitória! – Ordenava.

-- Eu sinto muito, mas as ordens que recebemos foram claras, ninguém tinha permissão de entrar.

-- Isso é um desacato a minha autoridade! – Apontou-lhe o dedo.

-- A senhora tem uma ordem judicial?

A mulher bateu forte no capô do próprio carro.

-- Não, mas amanhã a terei, então avise a condessa que eu virei pessoalmente prendê-la.

Maria Clara esperava pelo médico que ainda estava atendendo o avô.

A festa terminara precocemente. As pessoas foram dispensadas e só ficara a família.

A família do noivo também esperava.

Marcos estava sentado no enorme sofá e aconchegava em seus braços a futura esposa.

-- É um absurdo o que aconteceu. – Marcelo comentava. – Aquela mulherzinha não vale nada. – Encheu
um copo com uísque e tomou de uma vez. – Temos que destruí-la de uma vez por todas.

-- Um milhão de vezes maldita... Assassina... – Clarice completava.

A jovem Duomont sentia a revolta crescer ainda mais em seu peito. Sabia que todos estavam certos e se
culpava por ter se mantido neutra diante daquela situação. Vitória Mattarazi era um demônio, alguém que não
se importava com nada e nem com ninguém, um ser humano que teve coragem de matar o marido e a própria
família para ficar com toda a herança só poderia ser classificada como um monstro.

-- Bem, o senhor Frederico quase sofreu um AVC. – O médico falou logo.

Todos se levantaram.

-- Mas graças ao atendimento rápido, isso pôde ser evitado. Dei-lhe um sedativo forte e com certeza não
despertará hoje.

-- Mas ele vai ficar bem, doutor? – Clara foi até o homem de meia idade.

-- Sim, senhorita, porém não pode haver mais aborrecimentos ou temo por algo pior.

Felipe veio até eles.

-- Obrigada, doutor! – Estendeu a mão. – Agradeço por ter vindo rapidamente quando solicitado.
-- Fiz minha obrigação! – Aceitou a saudação. – Amanhã retornarei para ver como ele acordara. Boa noite
a todos.

-- Acho melhor também irmos embora! – Marcelo levantou-se. – Já está um pouco tarde e devemos
descansar, pois a noite foi muito agitada.

Os demais concordaram e depois das despedidas seguiram para casa.

Clarice beijou a filha e subiu para o quarto.

Felipe tomou um drinque e ficou a observar a jovem que estava com o olhar perdido. Distante... Não só
naquele momento percebera isso, mas também enquanto comemoravam seu noivado. Não havia brilho
naqueles lindos olhos e seu sorriso meigo não exibiam a felicidade de outrora.

Caminhou até ela, agachando-se, segurou-lhe as mãos.

-- O que há, minha linda princesa?

Clara mirou os olhos compreensivos do pai. Ele sempre conseguia saber quando algo estava errado
consigo.

-- Estou preocupada com o vovô. – Desviou o olhar.

-- Ele ficará bem, é um homem forte e ainda tem muito para viver. – Segurou-lhe o queixo, fazendo-a
encará-lo.

-- Mais alguma coisa a incomoda?

A jovem mordeu o lábio inferior.

-- Papai, por que a condessa matou toda a família? Não havia dinheiro, o fez apenas pelo título?

-- Vitória Mattarazi é um mistério e não acho que seja bom você tentar desvendar.

-- Você teve contato com ela antes?

-- Não! Nem mesmo quando a Helena começara se relacionar com o Vítor, poucas vezes a encontrei e nas
vezes que o fiz sempre a achei orgulhosa e arrogante de mais.

-- O senhor acredita que ela é uma assassina fria?

-- Eu não sei. Sempre tive a impressão que ela era uma mulher sem sentimentos, mas não poderia afirmar
algo assim. – Beijou-lhe a testa. – Vou dormir e espero que faças o mesmo.

A garota apenas assentiu.

Vitória bebeu mais uma dose de cachaça.

Desde que retornara da fazenda dos Duomont afogava sua raiva na bebida. Estava deitada no estábulo,
sobre o feno.

Dispensara todos os empregados e até mesmo os que faziam a segurança da fazenda. Desejava ficar
sozinha com seus pensamentos.

Bastardo a observava e parecia não aprovar a postura da dona.

A condessa fechou os olhos e recordou-se de algo que parecia lhe apertar o peito.

-- Maldita, Maria Clara! – Jogou o copo longe.

Lembrou-se de como tivera ganas de passar por cima dela com o cavalo. Queria pisoteá-la para que assim
pudesse expurgar aquela fúria que queimava em si.

-- Quem ela pensa que é para falar comigo daquele jeito? – Gritou.

Que ficasse com aquele idiota do Marcos. Ambos se mereciam.

Nunca odiara tanto uma pessoa em sua vida, como odiava a neta de Frederico. Seu maior desejo era
destruí-la, fazê-la implorar por misericórdia, rastejar aos seus pés... E quando esse dia chegasse, passaria por
cima dela e mostraria que com a condessa não se brinca.

Como ela poderia estar ainda mais linda...


Seu corpo queimava de raiva... e de desejo...

Maria Clara acelerou ainda mais. Esperara que todos dormissem para sair. Sabia que não aprovariam
seus atos, mas quando ligara para a delegada e ficara sabendo que a condessa continuava impune, sentira o
sangue queimar nas veias. Seu avô quase morrera por culpa daquela mulher e dessa vez ela mesma acertaria
as contas.

Pensou que seria interceptada pelos capangas armados que Vitória usava para se defender, mas o
caminho até a casa grande estava vazio. Não havia uma única alma viva por aquelas terras.

Estacionou, descendo.

As luzes estavam acesas, mas o lugar parecia abandonado. Já era tarde, deveriam ter se recolhido...
Pensou que não fora uma boa ideia ir até lá naquele momento...

Vitória ouviu o barulho de automóvel e ficou a imaginar quem poderia estar ali uma hora daquelas.

Tentou caminhar, mas sentiu uma dor forte no ombro e percebeu que fora atingida por um projétil.

Bastardo relinchou.

Maria Clara ouviu o animal e seguiu até o lugar. Ao chegar ao estábulo viu a bela Mattarazi apoiada na
baia. Ela estava de costas para si.

O que ela estaria a fazer naquele lugar tão tarde da noite?

-- Precisamos conversar, condessa! – Disse firme.

Vitória pensou estar sonhando ao ouvir o som daquela voz. Respirou fundo sentindo que perdia as forças.

-- Vá embora daqui! – Disse pausadamente.

-- Não irei. Vim aqui para exigir que deixe minha família em paz, que suma das nossas vidas... – Segurou-a
pelo braço, a virando.

Os olhares se cruzaram...

A neta de Frederico observou o ombro sangrando.

Aproximou-se rapidamente, segurando-a, pois temeu que ela caísse.

-- O que houve? – Indagou preocupada. – Quem atirou em ti. – Tentou estancar o sangue com a mão, mas
fora uma tentativa em vão.

Ajudou-a sentar. Tirou a própria blusa e pressionou sobre o ferimento.

-- Quem fez isso?

-- Você... – Cerrou os dentes de tanta dor que sentia.

Clara a fitou confusa.

-- Preciso te levar ao hospital. Tenho que chamar alguém, pois não terei como te arrastar até o carro. –
Falava desesperada.

-- Não... não há ninguém... Vá embora... – Tentou se desvencilhar do toque. – Deixe-me sozinha.

-- Fica quieta ou vai ficar pior.

Observou a blusa já encharcada.

-- Se você não for atendida logo, sangrará até a morte.

-- E isso te importa... ?

Maria Clara deu de ombros e mesmo contra a vontade dela, deitou-a sobre o feno.

-- Segure! – Colocou a mão dela sobre a ferida. – Já volto.


Vitória a observou se afastar.

A dor estava ficando ainda mais insuportável. Mordeu forte os lábios para não gritar.

Chegou a imaginar que a garota tinha ido embora, até ouvir os passos se aproximarem novamente e
aquele cheiro doce invadir o ambiente.

-- Trouxe o kit de primeiros socorros e o carro para mais perto. Tentarei estancar o sangramento,
enquanto peço por ajuda.

-- Eu achava que você era doutora dos animais... – Gracejou, respirando acelerado. – Será que está a me
confundir com uma égua? – Debochou.

-- Como ousa fazer piada em uma hora dessas? – Repreendeu-a.

Rasgou-lhe a camiseta com a tesoura, retirou-lhe a mão para observar melhor o ferimento.

Não parava de sangrar, preocupou-se.

Rapidamente pegou gases e depois enfaixou, apertando forte para deter a hemorragia.

Tirou o celular do bolso.

-- Diga-me o número de alguém, precisamos de ajuda urgente. – Observou o aparelho e notou que não
havia sinal. – Droga! – Praguejou.

A condessa tentou levantar, mas a dor parecia ter lhe paralisado os movimentos.

-- Leve-me... – Gemeu. – Miguel, na casa da delegada.

-- Melhor seguirmos direto para o hospital.

-- Não...

Clara assentiu.

-- Por favor, me ajude a te levantar... Contarei até três e você impulsiona o corpo...

A condessa conseguiu sentar... Observou aqueles olhos escuros mostrarem preocupação... ou seria culpa?

-- Agora precisa ficar de pé! – Segurou-lhe o queixo, fazendo-a encará-la. – Você consegue... Eu sei que
consegue...

Vitória fez o que lhe fora mandado e sentiu que em breve não teria mais forças. Desmaiaria em breve,
pois seu corpo não obedecia mais os comandos.

Maria Clara, com muito esforço, conseguiu levá-la até o veículo. Observou a tez pálida e sentiu medo de
que algo ruim acontecesse com aquela mulher.

Deu partida no veículo e acelerou, pois sabia que o tempo era seu inimigo naquele momento.

Enquanto estava a caminho, discou para Valentina e explicou o que tinha ocorrido. A delegada parecera
surpresa, mas imediatamente providenciará um médico e avisou ao marido.

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Capitulo 9 por gehpadilha
A condessa fora retirada do veículo desacordada. Uma equipe já a esperava na casa do advogado. Doutor
Ricardo fora informado para manter sigilo do ocorrido e por isso só levara consigo pessoas de sua total
confiança.

Ela fora rapidamente levada ao quarto e o médico pediu que todos saíssem para atendê-la. De início, o
profissional se negara a atender a domicílio, ainda mais sendo ferimento à bala, porém ao saber de quem se
tratava, deixou de argumentar.

Valentina levou a herdeira dos Duomont até seu quarto e lhe entregou uma blusa, pois a mesma estava
apenas de sutiã.

Observava a neta de Frederico e ficava cada vez mais confusa com o que tinha acabado de acontecer.

-- O que houve? – Indagou.

-- Eu não sei, a encontrei ferida no estábulo. – A jovem explicou nervosa.

-- E o que você estava fazendo lá?

-- Fui pedir para que ela se afastasse da minha família, já que a senhora não conseguiu fazer o seu
trabalho. – Respondeu irritada. – Diga-me, está pensando que eu atirei na condessa?

-- Eu não disse isso, me diga você se tenho motivos para pensar assim...

Clara deu de ombros.

-- Convenhamos que isso não seja hora para que você estivesse nas terras de Vitória. – Fitou-a. – Sem falar
que há duas ordens de restrições que obrigam ambas a permanecerem distantes uma da outra.

-- Sim! – Falou com as mãos nos quadris. – Mas isso não parece ter impedido que a condessa invadisse a
minha festa de noivado e a senhora não tivesse feito nada para impedir.

Valentina não pareceu gostar de estar sendo questionada quanto à competência em seu trabalho.

-- Você viu alguém na fazenda? Ouviu o barulho do tiro? – Indagou tentando manter a calma.

-- Não, e isso é o mais confuso, pois a única coisa que ouvi foi o relinchar assustado do Bastardo, isso me
fez ir até o estábulo e quando cheguei, encontrei a Mattarazi apoiada na baia.

-- OK, por enquanto você está liberada. – Disse por fim.

Maria Clara caminhou até a porta do quarto, mas hesitou, virando-se para ela.

-- Estou indo para a minha casa e espero de todo meu coração que a Vitória se recupere e que a senhora,
dessa vez, possa esclarecer o que realmente aconteceu.

A bala fora retirada, mas o médico temia uma infecção. Ela perdera muito sangue, mas graças os
procedimentos tomados por Maria Clara, a hemorragia fora contida.

Miguel a observava dormir.

Ficara demasiadamente assustado quando ficara sabendo o que tinha acontecido. Temeu perdê-la... Sua
sobrinha!

Sim, ele era o irmão da bela jovem que se envolvera com o poderoso conde. Já pensara em contar para a
ela, mas temia sua reação ao descobrir aquele segredo guardado por tanto tempo.

Tocou-lhe a face, estava muito pálida, mas sabia que ela era forte e logo estaria bem.

Sabia por tudo que ela já passara, Vitor sempre lhe falava, o rapaz sabia do laço sanguíneo que ligava o
melhor amigo à irmã. Quantas vezes fora aconselhado pelo rapaz a contar tudo, mas o advogado nunca se
sentira seguro, ainda mais quando percebia a total indiferença que a garota demonstrava pelos laços maternos.

-- Como ela está?

-- O médico disse que ela se recuperara. – Voltou-se para a esposa. – Vai sair? – Indagou ao notar os trajes
que a mulher vestia.
-- Irei até a fazenda, preciso investigar o que se passou lá.-- A delegada observou o semblante preocupado
do marido, abraçou-o.

-- Não fique assim, uma bala não é suficiente para deter a arrogante condessa.

Miguel a fitou.

-- Quem fez isso com ela?

-- Terei que investigar, por enquanto a única suspeita é a Maria Clara Duomont. Esperaremos a Vitória
acordar para que ela possa esclarecer o que realmente se passou. – Tocou-lhe os lábios de leve. – Prometo
descobrir quem atentou contra a vida da jovem Mattarazi.

-- Não acredito que a neta de Frederico tenha feito isso.

-- Bem, caberá à investigação dizer isso.

Maria Clara chegou a sua casa e subiu silenciosamente para o quarto. Seguiu para o banheiro para tirar a
roupa e tomar um banho. Estava toda suja de sangue.

Ficou sob a ducha por alguns minutos, sentindo os músculos relaxarem. Lembrou-se da condessa e sentiu
um desejo enorme de retornar para o lado dela. De protegê-la, tê-la em seus braços e não permitir que nada e
nem ninguém a ferisse.

O que estava acontecendo consigo?

Desligou a água, enrolou-se em uma toalha, seguiu para o quarto, deitou-se na enorme cama.

Vitória Mattarazi...

Quem poderia ter atirado nela?

Pegou o celular e discou o número da delegada. Sabia que já estava quase amanhecendo, mas precisava
saber como a condessa estava.

Já estava desistindo, quando ouviu a voz de Valentina do outro lado da linha.

-- Desculpe-me ligar, mas eu queria saber como está a condessa. – Disse relutante.

Por alguns segundos pensou que não receberia resposta, pois só conseguia ouvir a respiração da mulher.

-- A bala já foi removida... O médico ainda estar tentando controla a infecção.

-- Certo... Obrigada!

Nem mesmo esperou resposta e encerrou a chamada.

Precisava dormir, pois teria muito que explicar a família em poucas horas, porém o sono parecia estar
muito longe naquele momento. Quando fechava os olhos, eram os olhos de Vitória que aparecia para si, a
expressão de dor que viu neles, o brilho sarcástico sendo apagado pela agonia que estava a sentir...

No dia seguinte, Maria Clara pediu ajuda ao pai para limpar o carro. Explicou-lhe o que tinha ocorrido.
Felipe ficou possesso, mas ajudou-a e prometeu não falar para ninguém sobre o acontecido.

Felizmente, apesar de viverem em uma cidade pequena, onde as pessoas estão sempre a comentar sobre a
vida dos outros, o fato ocorrido com a condessa não fora alarmado. Até mesmo a equipe que a atendera
manterá sigilo, temendo uma retaliação por parte de Vitória.

Frederico acordou bem melhor, não parecia nem mesmo ter passado por tudo aquilo na noite anterior.

A neta ficou ao lado dele durante boa parte do dia. O velho político escolheu um livro e pediu que a bela
jovem lesse para ele e assim passaram bons momentos juntos. Não falaram sobre nada desagradável e apenas
curtiram a companhia.

Quase uma semana depois...

Vitória estivera tão fraca que cogitaram a possibilidade de levá-la para outra cidade, o médico, porém,
disse que não era uma boa ideia transferi-la, esperariam por mais alguns dias, talvez a jovem conseguisse
combater a infecção.

Miguel estava na sala. Tinha levado o filho à escola e agora esperava o médico que estava a examinar a
condessa.

Ouviu a campanhia tocar.

Atendeu e se surpreendeu ao ver a neta de Frederico parada na soleira.

-- Bom dia! – Ela cumprimentou timidamente.

O advogado a fitou desconfiado.

-- O que deseja?

Maria Clara permanecia parada, pois o homem não lhe dera passagem.

Sabia que não era uma boa ideia ter ido ali, porém não sabia notícias da ruiva e da última vez que ligara
para a delegada, ela apenas lhe ordenara para manter distância e nada disse sobre Vitória.

-- Gostaria de saber como está a condessa.

O advogado a fitou por alguns segundos.

-- Entre! – Disse por fim, afastando-se para a garota passar. -- Sente-se! – Apontou-lhe uma poltrona.

A jovem fez o que ele disse.

-- O médico está a examinando. Ela teve muita febre durante esses três dias.

-- O organismo deve estar muito fraco. Por que não a levam para um hospital? – Indagou preocupada.

-- O doutor Ricardo não achou que seria uma boa ideia, pois teme que ela possa piorar.

Clara se sentiu desconfortável, seria melhor ir embora, não deveria ter ido à casa da delegada e ainda
mais para saber sobre a maior inimiga da sua família.

-- Eu preciso ir...

-- A condessa acordou!

Os olhares se voltaram para a escada. O médico descia e exibia um sorriso enorme.

-- A febre cedeu e ela acordou. – Repetiu entusiasmado.

A jovem Duomont sentiu uma felicidade enorme se apossar de seu peito. Tinha vontade de pular de tanta
alegria, porém permaneceu quieta.

-- Eu preciso ir atender outro paciente. – Entregou-lhe uma receita ao advogado. – Compre esses remédios,
eles a ajudarão a se recuperar ainda mais rápido. Tentarei pedir a enfermeira para vir fazer a limpeza do
curativo.

-- Certo, irei agora mesmo comprar.

Ricardo se despediu, prometendo voltar o mais rápido possível.

-- Maria Clara, você pode ficar aqui, enquanto vou à farmácia? – Miguel indagou.

A garota sabia que não era uma boa ideia, mas acabou assentindo.

Vitória tentou sentar, mas sentiu uma dor forte e acabou desistindo do intuito.

Nem sabia que horas e que dia era aquele. Sua mente estava turva e não recordava claramente do que
ocorrera.

Viu a porta abrir e bela Duomont entrar.


Fitou-a intensamente. Não entendia o motivo de se sentir tão atraída por aquela mulher.

-- O que faz aqui?

-- Queria saber como você está.

Clara chegou mais perto e percebeu que o curativo estava sujo de sangue.

-- Não deve fazer esforço. – Tocou-lhe a atadura.

A condessa se encolheu ao sentir o contato.

-- Eu só quero ajudar, pois já basta a infecção que teve de enfrentar. – Seguiu para o banheiro e lavou as
mãos, retornando ao quarto. – Trocarei a bandagem. – Fitou-a. – Eu sei fazer isso, não se lembra de como cuidei
bem do seu cavalo. – Provocou com um sorriso.

Vitória apenas deu de ombros, permitindo que ela fizesse o que tinha se proposto. Sentiu a pele queimar
ao toque delicado...

A neta de Frederico observou a ferida que tinha sido muito bem cuidada pelo médico. Limpou-a
cautelosamente e depois a cobriu novamente e só nesse momento percebeu a camisola que a bela mulher
usava. O colo atraente mostrava algumas sardas...

Fitou os olhos verdes e depois os lábios entreabertos e teve ganas de beijá-los...

Afastou-se, sentindo o rosto queimar.

-- Bem, agora está tudo bem!

-- Onde está o Miguel?

-- Ele saiu para comprar alguns remédios que o médico solicitou.

-- E o que você veio fazer aqui?

-- Apenas queria saber como você estava. – Repetiu.

A condessa exibiu um sorriso sarcástico.

-- Será que não veio comprovar que eu estava morta, afinal, assim você sairia livre do seu crime.

-- Que? – Indagou perplexa. – Achas que eu atirei em ti? Ah, então, diga-me por que eu te socorri? Por que
não te deixei lá para sangrar até morrer?

-- Deve ter se arrependido... Não sei...

-- Sabe que você aparenta ser mais inteligente quando não abre a boca para falar idiotices...

Vitória irritou-se com a colocação que ela fez e tentou se levantar, mas gemeu, trincando os dentes ao
sentir o latejar no ombro.

-- Como disse, é melhor ficar quieta.

-- Saia daqui! – Disse irritada.

-- Só irei quando o Miguel retornar, afinal, ele me pediu para ficar aqui e cuidar de ti.

-- E o seu noivinho sabe que estás a cuidar da condessa bastarda? – Provocou-a.

Maria Clara sentou em uma poltrona e ignorou a provocação.

-- Ah, já que estamos a matar o tempo, fale como foi sua festinha de noivado... Deliciou-se muito com a
carne das minhas vacas?

-- Sim, estava deliciosa! – Decidiu entrar no jogo. – Com certeza seus animais comem do bom e do melhor,
pois a carne era muito macia e suculenta... – Sorriu.

A condessa cerrou os olhos, parecia não ter gostado da resposta.

-- Maldita Duomont!

A neta de Frederico foi até ela e ficou a encarando por alguns segundos. Vitória Mattarazi não era só uma
mulher bonita, mas havia algo mais que encantava... Seduzia. Aquela expressão arrogante, o arquear de
sobrancelha, o nariz empinado... Os lábios cheios e macios que pareciam ter aprendido apenas a sorrir
ironicamente...
-- Eu não consigo acreditar que você seja uma assassina...

A ruiva ouviu aquela frase e sentiu algo dentro de si... Um desejo de negar e falar que jamais fizera algo
assim, que nunca atentara contra a vida da família... Não entendia o motivo, mas ouvi-la dizer aquilo não tinha
o mesmo significado de que quando o Miguel, a Julieta ou o Batista diziam... Era muito maior... Mais forte...

Desviou o olhar porque teve a nítida impressão que a neta do seu maior inimigo desejava mergulhar
dentro de si... Sentiu-se despida... Invadida...

-- Você não me conhece, princesinha de conto de fadas... – Falou enraivecida. – E mais uma vez repito, não
volte a cruzar o meu caminho...

Valentina entrou no quarto e observou as duas se enfrentando.

Maria Clara ao notá-la saiu sem ao menos se despedir ou cumprimentá-la.

-- O que ela estava fazendo aqui? – Indagou surpresa.

-- O seu marido a deixou como minha babá. – Debochou.

A delegada se aproximou.

-- Fico feliz que esteja bem, vejo que até o humor ácido já está aflorado. – Puxou uma cadeira e sentou
próximo a ela. – Quem atirou em ti?

-- Eu pensei que a delegada aqui fosse à senhora. – Piscou o olho.

-- Foi a Maria Clara Duomont que atirou em ti, Vitória? – Indagou ignorando o deboche.

-- Não sei, não posso afirmar. O que sei é que não vi ninguém naquele dia a não ser a neta de Frederico.

-- Irá fazer uma denúncia?

-- Não! – Mordeu o lábio inferior. – Tenho outros meios de destruir a garotinha do vovô.

-- Deixe-a em paz, chega de se envolver com essa família. – Valentina se levantou. – Continuarei a
investigar o seu atentado, mas te peço que se mantenha longe dos Duomont.

-- Diga o mesmo para eles, afinal, são eles que sempre cruzam o meu caminho.

Os dias se passaram e a condessa retornou para a fazenda. Os empregados foram readmitidos e o episódio
que ocorreu fora mantido em sigilo. A condessa sabia que quem o fizera poderia tê-la matado, mas tinha a
impressão que aquilo fazia parte de um plano maior.

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Capitulo 10 por gehpadilha
O domingo ensolarado seria festivo para o pequeno município. A cidade estava cheia de turistas, pois
haveria um leilão internacional de cavalos de raças, touros e novilhas.

Os Duomont marcavam presença e ocupava a mesa do prefeito. Todos os presentes seguiam para
cumprimentar o antes poderoso Frederico, talvez por curiosidade, afinal, o velho político já fora muito bem
visto, o que não era o caso da atualidade.

Todos observavam os animais e ambicionavam a chance de adquirir um dos maravilhosos bichos que
vieram de tão longe.

Maria Clara afastou-se do grupo, não estava muito interessada na conversa. Caminhou até o lugar onde
haveria a apresentação de equitação.

Olhava o picadeiro, que fora montado, maravilhada.

Um jovem rapaz estava a se exibir, mas não parecia ter tanta segurança ainda, era desengonçado sobre o
cavalo.

Sentiu uma vontade enorme de assumir o lugar dele. Aquela era sua maior paixão e seu maior desejo era
poder se apresentar novamente.

Entristeceu-se ao recordar de sua perda, o seu fiel companheiro teve que ser sacrificado e sabia que não
seria fácil encontrar outro tão bom quanto ele. Ela mesma o treinara e o fizera um campeão.

Ouviu a voz do locutor, tirando-a de suas ponderações, anunciando a apresentação de Vitória Mattarazi.

Atônita, aproximou-se mais da cerca.

-- É uma louca mesmo! – Sussurrou baixinho.

Não fazia nem quinze dias do atentado que sofrera e já estava a se exibir sobre o poderoso garanhão.

Observou o porte orgulhoso que a fazia lembrar o de uma rainha... Poderosa... Arrogante...orgulhosa...
Bastarda...

Os olhares se encontraram e a neta de Frederico sentiu as batidas do coração se acelerarem.

Apertou forte a madeira, engolindo em seco.

O que acontecia consigo quando aquela mulher estava por perto?

Vitória pulou o primeiro obstáculo e sentiu o ombro latejar. Fora recomendada pelo médico a não fazer
movimentos bruscos, mas não conseguira recusar o convite que recebera para a apresentação.

Saltou o segundo e sentiu um imã lhe atrair...

Maria Clara a encarava!

Conseguia ver os olhos acompanhando cada gesto seu...

Linda... Desgraçadamente bela...

Ela usava uma camiseta na cor preta, uma calça jeans cinza com suspensórios, o traje delineava o corpo
perfeito e as formas delicadas. Os cabelos ondulados estavam soltos e eram levados pelo vento.

Mirou os lábios entreabertos e sentiu a boca seca...

Sorte que o Bastardo estava atento e pulou o último obstáculo, trazendo de volta a realidade sua amazona.

Frederico observava tudo ao redor. Precisara pedir um novo empréstimo ao banco e mais uma vez
assinara uma promissória, comprometendo praticamente toda a fazenda.

Era necessário um maior empenho com a campanha da neta. Se ela ganhasse, todas as dívidas seriam
saldadas, ele sabia que poderia fazer isso.

Observou Marcelo, não permitiria que ele tomasse as rédeas da situação...

-- Os animais são excelentes! – Marcos sentou ao lado deles. Espero poder arrematar alguns.

-- E onde está a Clara? – Clarice olhou ao redor e não viu a filha.


-- Ah, ela ficou vendo a apresentação de hipismo. – Tomou um pouco do suco. – Ela ficou vidrada, acredito
que deseje retornar a praticar o esporte.

-- Isso não vai mais acontecer! – A mulher falou firme. – Não haverá mais competições para ela e espero
que você me ajude a convencê-la sobre isso.

O rapaz apenas deu de ombros continuando a tomar o refresco.

Maria Clara observou a amazona se afastar e percebeu que ela andava lentamente.

Decidiu segui-la de longe e observou-a entrar em um trailer que estava um pouco afastado.

Aproximou-se do garanhão que estava preso em uma árvore.

-- Olá, campeão! – Acariciou-lhe o flanco.

Ficou feliz por ele não parecer tão irritado quanto antes.

– Sabia que você é o cavalo mais lindo que eu já vi.

O bicho a fitou.

-- Não tenho maçãs e tampouco cenouras, mas prometo que da próxima vez que nos encontrarmos trarei
algo para ti.

-- O que está fazendo com o Bastardo? – A condessa indagou rispidamente.

A morena assustou-se.

-- Estava apenas o cumprimentando. – Respondeu simplesmente.

A ruiva estreitou os olhos, analisando-a.

Estava descansando quando sentiu um cheiro que parecia embriagá-la e por isso foi ver de quem se
tratava.

-- Não esqueça que há uma ordem de restrição... – Arqueou a sobrancelha esquerda. – Poderia denunciá-
la, branca de neve.

-- E por que não o fez quanto ao tiro? – Provocou-a, continuando a mirar o cavalo.

Vitória gemeu ao fazer um movimento brusco.

A Duomont foi até ela.

-- Você é louca! – Observou o sangue manchar o traje de montaria. – Não deveria ter se apresentado hoje,
ainda está convalescendo. – Repreendeu-a.

A condessa a fitou confusa, afastou-se, entrando no trailer. A outra a seguiu e ficou maravilhada com o
lugar.

Havia poltronas, uma TV, um frigobar e uma rede... Tudo bem acolhedor.

-- O que você quer? – Vitória indagou impaciente com as mãos na cintura. – Quem pensa ser para se
intrometer em minha vida?

-- Deixe-me ver seu machucado? – Pediu, ignorando a grosseria. – Você pode ter uma infecção.

-- E desde quando isso é da sua conta? – Perguntou irritada. – Não preciso que finjas que se preocupa
comigo. – Caminhou até ela, ficando praticamente colada. – Deveria temer, afinal, não esqueça quem eu sou e
do que sou capaz.

-- Acho que essa guerra não tem mais motivos para acontecer. – Balançou a cabeça negativamente.

-- Ah, não diga! – Debochou. – Enquanto um maldito Duomont tiver vida essa guerra nunca irá acabar...—
Apontou-lhe o indicador ameaçadoramente. -- Seu maldito avô e sua tia desgraçada destruíram o que eu tinha
de mais importante...

-- Não Fale assim... – Protestou.

-- Falo como eu quiser! – Gritou. – Saiba que terei o maior prazer em destruir toda a sua família e com
você ainda farei pior... – Segurou-lhe pelos braços. – Eu avisei para que saísse do meu caminho, mas você
continua a cruzá-lo, continua me perseguindo e se eu tiver a certeza de que foi você que atirou em mim
naquele dia, uma bala será o mínimo que vai receber.

Clara se desvencilhou abruptamente do toque.

-- Acredite que se eu tivesse atirado, não teria me arrependido depois...

Vitória a viu se afastar e teve ganas de ir atrás dela.

Odiava-a...

Odiava aquela sensação de angustia, de fraqueza que estava a se apossar de si... Odiava quando não
conseguia controlar as próprias emoções, quando sentia que a qualquer momento perderia o controle da
situação, odiava o desejo de tomá-la nos braços...

Respirou fundo, tentando controlar as batidas do coração.

A jovem Duomont sentia a raiva tomar proporções enormes. A cada passo que dava, percebia as lágrimas
lutando para se libertarem.

Encostou-se a uma árvore para tentar se acalmar, não poderia retornar para junto da família tão abalada
emocionalmente.

Como podia ser tão burra ao pensar que Vitória Mattarazi teria como romper com aquele círculo vicioso
de ódio?

Precisava manter distância daquela mulher... Mas não conseguia, era como se houvesse uma maldita
necessidade de tê-la, de senti-la...

Massageou as têmporas, sua cabeça estava a latejar de dor.

Vitória limpou o ferimento que realmente estava a sangrar. Observou o reflexo no espelho. Havia um
brilho diferente em seus olhos... Ódio?!

Maria Clara a estava tentando de uma forma bastante perigosa. Seu corpo ainda estava a arder só por tê-
la tocado. Era a primeira vez que sentia um desejo tão devastador. O cheiro dela impregnava sua pele. O sabor
daqueles lábios, as formas macias do seu corpo...

Bateu com o punho fechado no espelho e nem ao menos sentiu a dor dos cortes em seus dedos

-- Mil vezes maldita...

O leilão já tinha iniciado.

As pessoas estavam eufóricas para adquirir os belos espécimes, mas a égua anunciada no momento não
fizera muito sucesso. Apesar de ser puro sangue e muito bela, a potra branca não tinha lances tão
entusiasmados, tudo porque quem a levasse, teria o trabalho extra de domá-la, pois o animal era tão selvagem
que nunca fora montado.

Frederico e Marcelo não se interessaram, mas Clara observava o bicho apaixonada. Estava encantada pelo
equino, porém sabia que não teria como arrematá-lo, pois o preço era muito alto.

Clara sentiu o magnético olhar cair sobre si e quando a fitou, encontrou a expressão cínica. Percebeu que
ela tinha trocado a blusa, agora estava de camiseta, calça jeans colado ao corpo, botas de couro, combinando o
marrom do cinto. Os cabelos estavam soltos.

A mão esquerda estava enfaixada?

Antes não estava ou ficara tão distraída que não havia percebido?

Os passos firmes caminharam e ocuparam uma mesa que ficava ao lado da sua.

-- Essa mulher não tem mesmo vergonha! – Clarice torceu o nariz ao ver a condessa.

-- Um dia a expulsaremos dessa cidade e não teremos que sentir o cheiro podre que ela exala. – Frederico
comentou.

-- Mattarazi é muito rica... – Marcelo comentou pensativo. – Quem sabe não ficamos com esse dinheiro
todo. – Levantou o copo em um brinde.
Clara fitou o sogro.

-- Vocês não cansam de falar sobre ela? – Indagou irritada.

Todos os presentes miraram a jovem, surpresos.

A nora de Frederico não gostou do tom usado pela filha, repreendeu-a com o olhar.

A condessa notou o olhar de encantamento que a sobrinha de Helena direcionou para a égua que estava
sendo apresentada.

Decidida, deu o lance alto e ninguém teve como cobrir e acabou comprando o animal.

Não se interessara pelo bicho, mas o brilho nos olhos de Maria Clara fora o maior incentivo para a
compra.

-- Posso ter o prazer de sentar ao seu lado? – Alex a cumprimentou com um beijo rápido nos lábios.

Vitória o encarou, irritada e ele se fez de desentendido, sentando.

-- Vai domar a égua?

A condessa bebeu um pouco de água e continuou a fitar a adversária. Estreitou os olhos ao ver Marcos
beijar e abraçar a jovem.

-- Otávio está do outro lado, trabalhando para ganhar a eleição. – Piscou. – Você está cada dia mais linda!

Ela apenas deu de ombros.

-- Essa mulher é uma desavergonhada! – Marcos comentou.

Clara seguiu o olhar do noivo e viu o loiro sentado bem próximo a condessa. Observou que o jornalista a
estava quase beijando.

Sentiu letárgica ao ver a cena.

-- Com certeza, ela já retornou aos braços do seu principal amante.

-- São amantes? – Indagou sem desviar o olhar do casal.

-- Sim, desde quando ela era casada. Os dois são cúmplices no assassinato do marido dela.

-- Mas... – Abriu a boca, mas preferiu não continuar.

Miguel se aproximou.

-- E como está indo?

Alex não gostava do advogado, então ao vê-lo sentar, pediu licença e disse que iria falar com um
conhecido.

-- Quero que resolva a parte burocrática das compras. – O encarou. – Onde está a delegada?

-- Está de plantão!

-- E seu filho?

Valentina e o advogado eram pais de um garoto de quatro anos. A condessa não era muito maternal, mas
sentia um carinho especial pela criança.

-- Ele está um pouco gripado, então o deixei com a babá.

Maria Clara se sentia mentalmente cansada, não estava mais a suportar estar naquele lugar, ouvir o nome
de Vitória e vê-la estava acabando com seus nervos.

-- Vai onde? – Marcos perguntou ao vê-la se levantar.


-- Irei dar uma volta. – Disse pegando a bolsa. – Acho que darei uma passada em casa, estou com dor de
cabeça.

-- Irei contigo! – Prontificou-se.

-- Não! – Beijou-lhe. – Fique, ainda tem muita coisa para ver e já que não estarei presente, você tem que
nos representar.

O jovem assentiu, concordando com os argumentos que a jovem usou.

Os demais não prestaram atenção, pois estavam tão entretidos que nem perceberam a saída da Duomont.

Clara dirigiu pela estrada até chegar ao rio.

O lugar estava deserto. Seguiu por entre as árvores e caminhou até a margem.

Havia pedras naquela parte, pedras grandes que davam um ar encantador ao cenário.

A água estava tão convidativa.

Rapidamente, livrou-se das roupas, ficando apenas de calcinha e sutiã.

Sabia que era uma loucura, mas não havia ninguém por ali. Dentro de pouco tempo, o sol se poria.

Caminhou até a água e esticou as pernas.

Era um lugar bonito e se a condessa não vivesse a brigar judicialmente, todo aquele líquido poderia ser
bem utilizado por pessoas que estão a viver a escassez hídrica. Muitos criadores estavam desistindo da
pecuária, pois não tem como se manterem sem os recursos básicos.

Pelo que ficara sabendo, aquela postura arrogante, não era só de Vitória, o pai dela também vivia a
proibir o uso do rio, mas se conseguisse sair vitoriosa daquela eleição faria de tudo para vencer na justiça e
ajudaria aquela gente.

Vitória agora estava sendo apresentada a algumas pessoas por Otávio. O político se empenhava ao
máximo para ganhar aquele pleito e sabia que o poder da condessa seria decisivo para sair vitorioso.

A ruiva ouviu o celular tocar, pediu licença para atender.

-- O que houve?

Ela ouvia e sua raiva começava a vir à tona rapidamente.

-- Estou indo para lá.

Nem mesmo se despediu dos que estavam presentes. Caminhou até o carro e saiu em disparada.

Clara observou os pássaros tentando pescar e sorriu.

Aconchegou-se mais a pedra, fechando os olhos. Havia uma sensação de paz naquele lugar...

Até ouvir um barulho... Abriu os olhos e viu aquelas botas diante de si, o olhar duro da ruiva. Seguiu a
direção e viu que a poucos centímetros de si, havia uma cobra e um punhal enterrado em sua cabeça.

Levantou-se rapidamente, afastando-se do lugar.

Vitória caminhou até o réptil, retirou a lamina e seguiu até o rio para limpá-la.

O ato foi feito lentamente e nenhuma palavra fora dita. A neta de Frederico ainda continuava estática ao
observar o animal que jazia morto ali.

A condessa terminou o que estava a fazer e recolocou o punhal na bainha que ficava na lateral de sua
bota, depois encarou a garota.

Ao ser informada por um de seus seguranças que o carro da Duomont tinha invadido suas terras, não
pensara duas vezes e seguiu direto para lá. Estava furiosa com a ousadia da jovem, mas ao se aproximar viu a
cobra quase a atacando e precisou pensar rápido para que Clara não fosse picada.

Poderia ter deixado acontecer, afinal, não teria como ser penalizada por isso, mas agira instintivamente e
jamais admitiria, mas temeu pela vida da inimiga.
-- O que está fazendo aqui? – Mirou-lhe os olhos assustados.

Maria Clara parecia ainda em transe.

-- Esse... Essa... Se você não tivesse chegado... Eu teria sido mordida... – Parecia falar mais para si e não
para a outra.

A condessa deu de ombros e sentou sobre a enorme pedra.

Fitou-a e seus olhos não puderam evitar passear por aquele corpo que estava praticamente todo exposto.

O lingerie na cor branca moldava perfeitamente o corpo magro. Os seios redondos estavam poucos
cobertos, o abdome liso, o quadril arredondado era agraciado por uma calcinha que apesar de não ser tão
provocante, era por demais tentadora.

Cruzou os braços e tentou se concentrar em sua raiva.

-- Você é surda ou o que?

A neta de Frederico pareceu sair do transe ao ouvir o tom raivoso.

-- Eu... Só queria apreciar a vista... Relaxar...

Vitória seguiu até ela, lhe segurando fortemente pelos ombros.

-- E se você tivesse sido atacada por esse bicho eu seria a culpada mais uma vez, não é?

-- Eu não sabia que corria esse risco...

-- Olha para os lados e veja que há praticamente uma reserva florestal, então deveria imaginar que tais
bichos vivem aqui. – Apertou-a mais. – Ou será que fez isso para depois me acusar?

A morena ficou tão irritada com as palavras proferidas que se desvencilhou abruptamente das amarras
que a prendiam, perdendo o equilíbrio, caiu sentada.

Vitória riu debochada, até o olhar da jovem encarar o seu, percebendo o lindo rosto com uma expressão
de dor... Tristeza...

Imediatamente, a condessa agachou-se junto a ela.

– Afaste-se de mim! – Gritava a garota com as palavras sendo sufocada pelo choro. – Deixe-me em paz...

A ruiva tentou segurar os punhos que lhe desferia golpes, mas fora preciso abraçá-la para poder
imobilizá-la.

Clara continuou a socá-la, mas pareceu perder as forças e acabou se aconchegando ao corpo da inimiga,
tentando conter os espasmos de agonia e raiva...

A bela Mattarazi a ouvia e algo dentro de si se manifestava selvagemente.

Nunca se sentira tocada por rompantes emocionais, na verdade, sempre considerara as lágrimas como
um mecanismo de manipulação usado pelos covardes. Ela jamais chorava, o fizera, depois de crescida, apenas
uma vez, quando perdera o irmão tragicamente.

Acariciou-lhe os cabelos sedosos e aspirou àquele cheiro floral que se depreendia deles. De repente, seu
corpo começava a ter noção da posição que se encontrava. Sua pele começava a queimar ao senti-la tão
intimamente. Tocou-lhe as costas, descendo até chegar às nádegas bem feitas... A calcinha deixava boa parte à
mostra. Automaticamente, apertou-a mais, necessitando de muito mais...

Maria Clara sentiu o desejo assumir o lugar que antes pertencia a outro sentimento... Não sabia explicar o
que se passava e não desejava fazê-lo, não naquele momento...

Escondeu o rosto sobre o pescoço esguio... Mas ao sentir o toque sobre o sutiã, fitou-a...

Vitória a mirou e viu face tingida de vermelho... Seria das lágrimas... ou... Perdeu o raciocínio ao ver
aquela boca entreaberta... Sentia a respiração tão próxima a sua...

Os lábios se encontraram sutilmente... A condessa segurou-lhe o rosto e aprofundou mais a carícia...

A neta de Frederico precisou se apoiar ainda mais para que não viesse a perder o equilíbrio.
Timidamente, passou a língua pelos lábios de Vitória, antes de invadir-lhe em um ímpeto delicioso...

A condessa gemeu diante das investidas, deu livre acesso e se deliciou ao ter a língua chupada pela
jovem...
Abriu o fecho frontal do sutiã de Maria Clara e segurou os seios em suas mãos. Eles eram redondos, não
grandes e tampouco pequenos, mas do tamanho adequado... Arranhou o mamilo com a unha e depois ficou a
brincar com eles.

A morena quase rasga a camiseta da poderosa mulher, desejando manter o contato com a pele quente.
Deixou-a nua da cintura para cima, sentindo todos os pelos se arrepiarem com o contato tão íntimo.

Abandonou a boca, mordiscando o pescoço, desceu até o colo bem proporcional. Beijou-lhe as sardas que
o enfeitava e em seguida passou a língua pelo mamilo rosado. Lambeu-o, em seguida começou a devorá-lo,
sugando-o, chupando-o... Arqueou os olhos e encontrou o olhar da condessa, a face não exibia mais aquele ar
sarcástico, tampouco a expressão de raiva, mas aparentava uma fragilidade... Decerto fora o prazer que
escurecera aqueles lindos olhos verdes...

Desconhecendo a si mesma, Clara desabotoou a calça de Vitória, tocando a calcinha... Seu corpo doía, seu
ventre contraia...

-- Não... – A condessa sussurrou contra o ombro da arqui-inimiga.

A neta de Frederico não pareceu ouvir ou não tinha forças de parar... Seus dedos invadiram a pele sob o
tecido... Parecendo se deliciar com os pelos... Mas foi além...Deslizou até senti-la pegajosa... Molhada...
Escorregadia...

Gemeu ao tê-la úmida em seus dedos...

Vitória percebeu a carícia e teve que morder o lábio inferior para não gritar... Jamais sentira algo tão
poderoso... Seu corpo estava sendo assolado por um desejo primitivo...

Movimentou o quadril no ritmo imposto pela garota...

Cravou as unhas em seus braços... e teve um lampejo de consciência.

A condessa parece ter acordado do transe, empurrou-a, levantando-se.

-- Você é louca! – Acusou-a.

Maria Clara a observou vestir a roupa e se afastar rapidamente. Ouviu o som do motor do carro...

Mordeu o lábio inferior, passou a mão pelos cabelos desalinhados.

-- Sim, condessa, estou louca...Completamente doida por você. – Cobriu o rosto com as mãos.

Seu corpo estava dolorido, louco para saciar a paixão que a dominava.

Trôpega, levantou e seguiu até o rio. Necessitava de um banho para esfriar o intenso calor que lhe
queimava intimamente a pele.

O sol já tinha sumido no horizonte quando Maria Clara seguiu para a casa.

Tivera sorte de chegar e a família não ter aparecido ainda. Uma jovem que trabalhava cuidando da casa
avisou que o namorado havia ligado a sua procura.

Ela assentiu e seguiu para o quarto, não desejava ver ou falar com qualquer pessoa, queria apenas deitar
e recordar o que se passara no rio.

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Capitulo 11 por gehpadilha
A condessa não conseguia conciliar o sono. Virava de um lado para o outro.

Desde que retornara do rio, banhara e seguiu para o quarto. Miguel ligou algumas vezes, mas ela não
atendera. Não desejava falar com ninguém, apenas ficar quieta, adormecer...

Sua mente não parava de pensar no que acontecera à tarde. Seu corpo ainda reagia ao se lembrar do
toque, dos beijos, do cheiro daquela mulher...

Maria Clara Duomont era uma feiticeira e com aquela carinha de princesa de contos de fadas a seduzira
miseravelmente.

Levantou e caminhou até a enorme varanda do quarto. Ficou observando a noite, cujo céu estrelado
forrava um manto sobre aquelas terras.

O ventou sacudiu o roupão, preto, de seda, que estava aberto frontalmente.

O que estava a acontecer ?

Mesmo sendo uma mulher ativa sexualmente, jamais sentira atração por mulheres e nem mesmo quando
se deitava com seus amantes, perdia o controle como acontecia sempre que estava na presença da Duomont.

Retornou para a cama... Precisava descansar e esquecer o que havia passado.

Marcelo chamara o filho ao escritório. Estava irritado, algo não o estava agradando nos últimos dias.

Apontou a cadeira para que o rapaz sentasse, em seguida fez o mesmo.

-- Que o que ocorreu ontem não volte a acontecer! – Disse por entre os dentes. – Maria Clara sumiu e não
retornou para o seu lado.

-- Ela não estava se sentindo bem, papai... – O jovem tentava justificar.

-- Isso não importa! – Bateu com o punho fechado sobre o móvel. – Você não pode agir como um idiota
apaixonado, deve dominá-la, afinal, quando essa eleição for ganha, você quem assumirá o meu lugar e não a
neta de Frederico.

-- Não esqueça que será ela a prefeita... – Disse calmamente.

-- Não, ela é apenas um adorno que está sendo usado para angariar votos.

Marcos se levantou irritado.

-- Ela é a mulher que eu amo e não a verei como um enfeite.

O prefeito observou o filho sair e bater a porta. Esperava retomar o controle da situação, pois não estava
em seus planos aceitar que Frederico fosse o único beneficiado com aquela eleição.

Clara despertou com as cortinas sendo abertas e a luz invadindo o quarto.

-- É um absurdo o que fizestes ontem, Maria Clara Duomont!

A jovem ouviu a voz estridente da mãe e abriu os olhos.

-- Sumiu do evento, quando deveria ficar ao lado do seu noivo, quando deveria estar conversando com as
pessoas para conquistar os seus votos.

-- Eu não estava me sentindo bem, mamãe. – Disse calmamente.

-- Que tomasse remédio e depois retornasse para junto da sua família e do seu futuro marido.

Maria Clara apenas assentiu, sabia que seria impossível vencer uma discussão com Clarice.

-- Prometo que não voltará a acontecer.

-- Assim espero! – Seguiu até a porta, mas parou. – Levante-se, pois o Marcos ligou e disse que viria te ver.

Balançou a cabeça afirmativamente e soltou a respiração ao vê-la sair.

Massageou as têmporas. A dor de cabeça que tinha passado parecia que agora retornara com força total.
Observou o relógio e percebeu que já era quase meio dia. A noite anterior não fora nada tranquila. Quase
não consegue pegar no sono e quando o fez tivera sonhos sexuais com a condessa.

Cobriu o rosto com o travesseiro.

Não queria levantar e tampouco desejava ver o noivo. Como iria encará-lo depois do que passara nos
braços de Vitória. Sentiu um arrepio na espinha só em recordar do que tinha ocorrido entre elas.

Marcos não merecia aquela traição. Ele era um homem íntegro, atencioso, apaixonado, um verdadeiro
cavalheiro.

Deveria dizer-lhe o que estava a se passar?

Não!

Seria horrível se ele chegasse saber que ela estivera com a condessa de forma tão íntima. Deveria
continuar seguindo em frente e manter total distância daquela mulher. Aquilo era um desejo passageiro, algo
que seria destruído com o tempo e com a distância.

Descobriu o rosto!

Fechou os olhos e viu a imagem da ruiva a sua frente.

-- Deus, como uma simples mortal pode ser tão linda... ?!!!!!!!!

Mesmo depois do longo banho da noite anterior, ainda podia sentir o cheiro dela em seu corpo. Sua boca
trazia o sabor dela...

Irritada, levantou-se e seguiu para o banheiro.

-- Te liguei inúmeras vezes e você não atendeu! – Falou ao ver o marido de Valentina.

A condessa estava na usina. Acompanhava de perto o processo por qual a cana estava a passar.

Dava ordens aos empregados e seu humor parecia estar ainda pior do que de costume.

-- Vamos ao escritório!

O advogado ficou parado, observando-a se afastar a passos longos. Encarou Batista buscando uma
resposta para a irritação de Vitória, mas o bom senhor apenas deu de ombros.

Mattarazi tirou o chapéu, sentou-se.

-- O que houve? Por que a demora de vir até aqui? – Disse assim que o homem entrou.

Miguel apenas se acomodou, sabia que sua resposta seria motivo de guerra.

Observou o local bem arrumado. A condessa fizera aquele espaço para poder tratar dos problemas da
usina ali mesmo. O escritório era todo pintado de branco. Havia uma enorme mesa, um computador, cadeiras
giratórias de couros e um sofá grande que servia para ela descansar quando o dia era muito corrido. Apenas
um porta retrato descansava sobre a madeira, ela ao lado do irmão quando era apenas uma adoelescente.

-- Os animais serão trazidos hoje, apenas a égua foi transportada ainda ontem.

Vitória o encarou.

-- O que podes me dizer sobre as finanças de Frederico?

O homem ficou surpreso com a mudança de assunto, mas respondeu a indagação.

-- Fui informado pelo gerente do banco que ele pedira outro empréstimo.

-- Idiota! Vai perder tudo rapidamente e eu serei a dona de tudo que ele mais ama! – Sorriu. – Diga-me, o
que você acha que o Duomont daria para não perder a sua preciosa propriedade?

O advogado a fitou confuso.

-- Como assim?

-- Duomont venderia a alma dele ao demônio para não perder tudo? – Arqueou a sobrancelha de forma
sarcástica.

-- Bem, pelo que conheço de Frederico, sei que o orgulho dele o faria barganhar com qualquer um. – Deu
uma pausa. – Por quê?
-- Nada que precise ser dito agora! – Levantou-se. – Vamos ao curral? Quero ver se essa égua é tão
selvagem como disseram.

-- Vai montá-la? – Preocupou-se com a possibilidade.

-- O que você acha? – Sorriu pegando o chicote.

Clara tinha saído para almoçar com o amado, em seguida foram ao clube jogar tênis.

-- Ah, você só ganhou porque ainda estou convalescendo e não consigo me movimentar tão rápido.

O rapaz a abraçou.

-- Eu sei! – Beijou-lhe os lábios. – Vamos tomar um sorvete?

A jovem assentiu e eles caminharam de mãos dadas até a lanchonete, sentando-se.

-- Sabe, eu não vejo a hora de nos casarmos! – Segurou-lhe a mão. – Quero poder chegar a casa e tê-la
sempre me esperando.

Maria Clara desviou o olhar e depois o encarou.

-- Eu não quero ficar apenas a esperá-lo, quero também trabalhar. Se ganharmos as eleições, serei a
prefeita e gostaria de poder exercer a minha profissão de veterinária.

-- Amor. – Beijou-lhe os dedos. – Não precisará trabalhar, eu a sustentarei, desejo que se dedique apenas a
cuidar do nosso lar e dos nossos filhos.

Aquelas palavras incomodaram a jovem, mas ela preferiu não retrucar, pois não desejava discutir.

-- Comprou algum animal no leilão? – Perguntou mudando de assunto.

A garçonete serviu-os e rapidamente se afastou.

-- Não! – Provou o gelado. – Estavam todos bem caros e o advogado da condessa parecia querer arrematar
todos.

Maria Clara sentiu um arrepio na espinha ao ouvir a referência.

-- Ela sumiu do evento, acho que foi ao encontro de um dos amantes.

A Duomont levou a colher a boca e não pareceu sentir o sabor do sorvete.

-- Por que diz isso? – Tentou não mostrar interesse.

-- Ah, meu anjo, você é muito inocente para imaginar o que se passa na mente perturbada daquela
mulher.

A jovem apenas assentiu incomodada.

A égua levantou as patas dianteiras.

Vitória estava no cercado e tentava se aproximar do animal, mas como fora dito pelo vendedor, o bicho
era selvagem ao extremo.

Passou a mão na testa para limpar o suor.

Os peões observavam tudo do lado de fora da cerca. Miguel parecia apreensivo ao lado de Julieta.

A condessa chegou mais perto, entendeu a mão e lhe acariciou, dando-lhe uma maçã.

O equino parecia desconfiado, mas não partira para cima da amazonas daquela vez. A ruiva aproveitou a
oportunidade e tentou montá-la, segurou-se na crina brilhante, enquanto o animal pulava.

As pessoas gritavam entusiasmadas.

A condessa se manteve por alguns segundos, até pular, temendo ser jogada violentamente.

-- Bem, demos o primeiro passo, meu amor! – Piscou-lhe o olho.

Caminhou orgulhosa e com um sorriso estampando na face.


-- Você é louca, menina, esse bicho quase te matou. – Julieta e repreendeu. – Só pode ter um parafuso a
menos.

A empregada a olhou mais uma vez com ar irritado e seguiu em direção a casa.

-- Ela está certa! Você poderia ter se machucado seriamente tentando domar esse animal! – O advogado
também pareceu não ter gostado.

-- Não tenho medo de nada e nem de ninguém! – O fitou. – De nada e nem de ninguém! -- repetiu se
afastando.

Miguel observou-a seguir em direção à mansão e preferiu permanecer no mesmo lugar. Às vezes ficava a
pensar de quem a condessa herdara o gênio tão difícil, afinal, a mãe da jovem era um doce de pessoa e o pai era
um fraco...

Viu um carro se aproximando e depois Alex e Otávio seguiram para o interior da casa grande.

Não gostava de nenhum dos dois. Tinha a impressão que eles viviam a armar e não confiava nessa
história de eleição. Pediria para Valentina ficar de olho, pois acreditava que eles estavam a tramar algo.

Vitória estava na sala quando Julieta abriu a porta e avisou sobre as visitas.

A condessa seguiu para o escritório e os esperou lá.

Otávio e Alex observava o luxo e ficava a pensar como seria interessante poder ter um pouco do que a
anfitriã dispunha.

-- Não estava esperando pela visita! – Apontou a cadeira para que ambos sentassem.

-- Eu sei e não é nossa intenção irritá-la. – Adiantou-se o jornalista. -- Mas gostaríamos que visse os
projetos da campanha e combinar para ser feita a foto. – Entregou-lhe uma pasta.

A condessa respirou lentamente, aceitou a encomenda e sentou.

Analisava tudo com atenção, mas sabia que tudo aquilo era apenas ilusão. Quando ganhassem, decerto,
não se preocuparia em cumprir nada que ali estava escrito.

-- Não se preocupe que não iremos concretizar a proposta do rio. – Otávio se adiantou. – Sabemos que está
fora de cogitação.

-- Eu já disse que nada disso me interessa. – Devolveu a folha. – Apenas estou participando disso para que
Frederico não assuma o controle da cidade.

-- Entendemos, mas precisamos que participe de algumas coisas.

-- Certo, Alex.

Vitória ouvia cada palavra dita e nada daquilo fazia sentido. Não tinha nenhum interesse na vida
daquelas pessoas.

Dias depois...

-- Se conseguirmos o controle do rio será muito bom para nós. – Frederico falava.

Estavam reunidos com Marcelo, Clarice, Marcos e Felipe.

Era final de tarde e a família discutia as melhores estratégias para conseguirem vencer aquela disputa.

Maria Clara parecia incomodada com o rumo da conversa.

-- Em nenhum momento eu vi vocês se preocuparem com as pessoas que estão necessitadas desse líquido.
– Levantou-se. – Nós estivemos em distritos onde a situação está cada vez pior. O senhor viu, vovô. – Fitou-o.

Os presentes se entreolharam.

-- Querida, política não foi feita para salvar a vida de ninguém. – O prefeito sorriu.

-- E é o que? – O fuzilou com o olhar. – Usar as pessoas para conseguir o que se deseja? Enriquecer ainda
mais?
Marcelo ficou vermelho.

-- Chega, Maria Clara! – Clarice se adiantou. – Acho desnecessárias suas palavras.

A garota fitou a todos.

-- Eu não sei se desejo participar dessa sujeira!

Felipe observou a surpresa nos rostos de todos os presentes, afinal, àquela era a primeira vez que via a
filha agir contra o interesse da família e ainda pior, enfrentar a todos tão destemidamente.

-- Como ousa falar assim? – Frederico foi até ela, rubro de raiva.

-- Eu entrei nessa história pensando que poderia fazer alguma diferença para essas pessoas que estão a
sofrer, mas o que vejo é que serei apenas uma marionete usada por vocês. – Acusou. – Fico a pensar se nós não
somos piores do que a condessa Mattarazi...

A jovem não terminou de completar a sentença, pois fora atingida por uma tapa na face que a jogou ao
chão.

-- Nunca mais ouse nos comparar com aquela perdida!

Felipe foi até a filha, levantando-a.

Todos pareciam chocados com o que se passou.

Marcos observava tudo e não fazia nenhuma menção de interceder pela futura esposa.

Clara se desvencilhou dos braços do pai e saiu do recinto.

Frederico viu a neta se afastar e sentiu a necessidade de seguir até ela. Aquela fora a primeira vez que
encostara na jovem, apesar de tudo, a amava muito, mas a ouvi-la comparar todos à condessa o deixara fora de
si.

O silêncio incômodo caia sobre a sala.

Felipe também se retirou.

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Capitulo 12 por gehpadilha
Maria Clara entrou no veículo, ligando-o, saiu em alta velocidade.

As lágrimas lhe embaraçavam a visão. Não pela dor física, mas por seu desacreditar naqueles que amava
tanto. Entendia que havia muitos interesses escusos na política, porém não percebera que estava apenas sendo
usada para alcançar tais vantagens. Era apenas um peão naquele jogo pelo poder.

Em que eles eram melhores do que a condessa?

Fora esse o motivo da raiva do avô, porém eram eles que agiam de forma pior do que Vitória.

Bateu forte na direção do veículo!

Seu avô só desejava destruir a Mattarazi, era esse o único desejo de sua família. Ele estava obcecado por
essa maldita ideia e não havia nada que pudesse ser feito quanto a isso.

E o noivo?

Que papel ele estava executando em todo aquele teatro?

Decerto, ele assumiria a prefeitura e ela em nada participaria. Lembrava-se das pessoas que visitara em
todos aqueles dias e recordava do olhar esperançoso que eles lhe dirigiam.

Educação, saúde, segurança, empregos...

Sorriu amarga e acelerou ainda mais vendo pelo retrovisor a poeira da estrada.

Não sabia para onde ir, só não desejava voltar para casa naquele momento.

Batista observou o empregado trazer o jipe da patroa.

Estranho, ela só vivia para cima e para baixo com o Bastardo. Viu-a sair da casa grande. Usava roupas de
montaria.

-- O que houve com o cavalo? – O homem perguntou ao vê-la entrar no carro.

-- Está descansando e não irei longe. – Ligou o automóvel. – Cuide de tudo!

O administrador nem pode concluir os pensamentos e a viu se afastar.

Levou o chapéu a cabeça e ficou observando o veículo sumir em alta velocidade.

Ultimamente a condessa estava mais calada do que de costume e ainda mais intolerante. Demitira alguns
funcionários da usina por motivos irrelevantes. Ninguém podia falar nada, até a maior sutileza era motivo para
ser mandado embora.

Vitória seguiu em direção ao rio.

Aqueles dias estavam sendo bem cansativos e entediantes. Não pudera viajar, pois precisara se entrosar
mais com a campanha. Não entendia como as pessoas viviam daquele jeito. Os políticos só visavam os próprios
interesses.

Respirou fundo!

Se não fosse por causa de Frederico não teria aceitado se submeter àquilo. Precisaria se esforçar mais,
pois percebera que a princesinha de contos de fadas estava sendo muito bem vista pela população.

Teria como ser diferente?

Eles enxergavam em Maria Clara a salvadora da pátria, aquela que mudaria o destino daquele lugar e
levaria a paz e a bonança para a vida de todos.

Idiotas!
Clara parou o carro e desceu.

Sentou no capô do automóvel e ficou a fitar o rio que parecia ainda mais fascinante naquele dia.

Em breve o sol se poria e ela ficaria ali a observá-lo se esconder no horizonte.

Fora para ali por coincidência. Rodara por algum tempo sem saber que rumo tomar, de repente se dera
conta que seguia pelo estreito caminho que dava até aquelas águas. Ainda pensara em dar marcha ré e
retornar para casa, mas não o fizera.

Lembrou-se das inúmeras chamadas que tivera no celular e nenhuma delas atendera. Seus pais ligaram
insistentemente e o Marcos, porém não desejava falar com nenhum deles, pelo menos não naquele momento.
Sua cabeça fervilhava, desejava apenas permanecer sozinha...

Viu um veículo se aproximando e lá estava Vitória Mattarazi vindo em sua direção.

Por que sempre a encontrava?

Era como se houvesse um imã que as atraiam...

Não desejava brigar... Queria ficar quieta em seu canto.

Desde o último encontro que ocorrera naquele mesmo lugar, não a viu mais e isso fora ótimo para sua
sanidade mental.

Voltou a observá-la se aproximar.

Os cabelos de fogo estavam soltos e acariciados pelo vento. Usava óculos pretos, o que impedia de ver seus
olhos. Usava calça de montaria preta, bota de cano alto até os joelhos, marrom, camisa de mangas longas,
combinando com a calça, com alguns botões abertos.

Desviou o olhar e voltou a fitar o rio.

Vitória avistou o carro e ao se aproximar viu de quem se tratava. Será que seria preciso arrancá-la de suas
terras por meios mais violentos?

Não a queria ali, não a deseja perto de si, nem mesmo desejava vê-la em qualquer lugar.

Odiou a sensação que passou por todo seu corpo quando ela a olhou.

Irritada, seguiu até a jovem para expulsá-la de uma vez por todas dali.

Parou diante dela.

-- Saia daqui agora mesmo ou chamarei meus seguranças para tirar-te e acredite que eles usarão de toda
violência para isso.

Clara simplesmente a ignorou. Já esperava por aquilo, mas não moveu um único músculo.

-- Está surda? – Segurou-lhe a face, fazendo-a fitá-la. – O que houve? – Indagou surpresa ao avistar o
machucado.

-- Nada que seja de sua conta, condessa. – Afastou-lhe a mão.

A outra não pareceu satisfeita com as palavras.

Retirou os óculos e observou-a cuidadosamente.

-- Quem te bateu?

A Duomont encarou aqueles olhos verdes. Ela estava muito próxima de si e parecia ainda mais linda do
que a última vez que a viu.

-- Não é da sua conta! – Desceu e já seguia para o carro, quando foi detida pelo braço.

-- Fique! – Falou firme.

Por um segundo, Clara viu algo diferente naquele olhar.

-- Isso é uma ordem ou um pedido? – Arqueou a sobrancelha. – Não acredito que vai dividir essa
imensidão de água comigo. – Ironizou.

A condessa esboçou aquele meio sorriso.

-- Não, mas a deixarei aproveitar esse paraíso, assim vai doer mais quando pensar que nunca será seu.
A morena sorriu. Afastou-lhe a mão que prendia seu braço e seguiu até uma enorme pedra e sentou,
encostando-se a ela.

Observou Vitória seguir até o carro e imaginou que ela fosse embora, mas não, a mulher simplesmente
pegará uma garrafa e caminhou até ela.

-- Cuidado para nenhuma cobra lhe picar. – Colocou a bebida junto a ela.

A neta de Frederico levantou os olhos e a viu se livrando das roupas, até ficar apenas de lingerie.

Sentiu a pele aquecer instantaneamente, conseguia ouvir as batidas do próprio coração que parecia
desejar sair por sua boca.

Viu-a se afastar e se jogar no rio.

As peças íntimas na cor preta era a verdadeira imagem da perdição.

Tentou controlar a respiração, fazendo-o lentamente, pois temia que o oxigênio não chegasse aos seus
pulmões.

Passou a mão pelos cabelos.

Se tivesse um pouco de bom senso, iria embora naquela mesma hora daquele lugar. Não era uma boa
ideia permanecer tão próximo da condessa, ainda mais quando não conseguia controlar as reações do seu
corpo.

Pegou a garrafa que estava ao seu lado: “ Bastarda!”

Retirou a tampa e levou o vasilhame até a boca, tomando uma boa dose.

De início a sentiu queimar a garganta, mas depois se acostumou com o sabor forte e quente da bebida.

-- A Maria Clara atendeu? – Frederico perguntou ao filho.

-- Não! – Felipe se levantou do sofá. – Irei procurá-la.

-- Acho melhor esperar, não sabemos para onde ela foi. – Clarice tocou o braço do marido.

-- Irei para o quarto, qualquer coisa, avisem. – O político subiu as escadas até o andar superior.

-- Daqui a pouco vai anoitecer e nada de notícia da nossa filha. – O homem insistia. – Papai foi longe de
mais batendo nela.

-- Ela pediu isso! – A mulher falou firme. – Afinal, desde quando ela desafia o avô e ainda por cima nos
compara àquela mulher.

Felipe não quis discutir, pois sabia que a esposa tinha o mesmo jeito de tratar que Frederico.

Pegou as chaves do carro e seguiu em busca da jovem.

A condessa saiu do rio e seguiu até onde estava a neta de Frederico, sentando ao lado dela.

-- A água está uma delícia! – Fitou-a. – Vejo que andou provando da cachaça. – Pegou a garrafa. – Cuidado
para não se embebedar.

Clara a fitou e tentou não olhar para o colo que exibia algumas sardas.

-- Às vezes fico a pensar se você tem amigos ou se algo ou alguém tem alguma importância em sua vida.
Agi sempre com sarcasmo... – Parecia falar mais para si.

Vitória tomou uma grande quantidade da bebida e ficou a observar o sol aos poucos ir sumindo no
horizonte.

Respirou fundo.

-- A única pessoa que teve importância em minha vida não está mais aqui... – Mordeu o lábio inferior.

Maria observou o perfil forte, o nariz empinado e orgulhoso.

-- Seu pai?
A condessa a encarou e deu um largo sorriso.

-- O conde??????? Vitório Mattarazi fora um grande hipócrita, fraco, mesquinho... Acho que só falei com
ele durante toda a minha vida duas vezes. Jamais nos encontrávamos... Ele estava sempre na cama de alguma
vagabunda... Esbanjando o que não tinha...

A noiva de Marcos a observava em busca de alguma demonstração de sentimento naquele lindo rosto,
mas tinha a impressão que só havia frieza, indiferença...

-- E sua madrasta?

-- A orgulhosa condessa? – Pegou uma pedrinha e jogou no rio. -- Ela me odiava! Quando eu ainda era um
bebê me mandou para longe e quando o dinheiro acabou, teve que conviver com a minha presença. – Voltou a
beber. – Ela me fazia dormir no estábulo e não me deixava entrar na mansão. – Sorriu. – Até que um dia eu
mostrei que tinha o sangue dos Mattarazis e a enfrentei. Só não bati ainda mais nela porque o Batista me
segurou. Depois desse dia, ela nunca mais ousara agir assim comigo.

A Duomont olhou-a mais uma vez e ficou a imaginar uma linda criança de cabelos ruivos e olhos verdes
passando por todas essas coisas. Não conseguia encaixá-la naquela imagem. Ela sempre exibia aquele ar
arrogante, superior a tudo e a todos.

-- Só existira alguém em minha vida e talvez eu não tenha demonstrado o meu amor por ele. – Mirou os
olhos negros. -- Vitor fora o único que se preocupara comigo, que cuidara e estivera ao meu lado por todo o
tempo. Jamais me julgara ou torcera o nariz para o meu jeito difícil de ser.

Clara estendeu a mão e tocou-lhe o rosto. Viu as lindas esmeraldas brilhar. Por um lapso de segundo pode
ver a emoção naquele olhar.

Vitória repeliu o carinho.

-- Até a sua maldita tia aparecer e destruir a vida dele, levando-o a decadência e depois a morte.

Agora foi a vez de Maria Clara beber.

Era difícil manter uma conversa com aquela mulher, na verdade, era impossível, pois sempre vinha
aquelas palavras recheadas de ódio contra sua família.

-- E então, Branca de neve, quem te bateu? – Fitou-a.

Maria Clara levantou-se abruptamente, sentindo a cabeça girar, Vitória a imitou, segurando-a
rapidamente, antes que ela fosse ao chão.

-- Acho que você exagerou na bebida! – Sorriu. -- É melhor sentar.

-- Quero ir embora! – Tentou inutilmente se soltar. – Deixe-me, estou cansada de ti.

-- A é? -- Apertou-a mais contra si.

A lua já podia ser vista, grande, majestosa, iluminando a noite escura.

-- Solte-me! – Espalmou as mãos, tentando se livrar do abraço.

A condessa sentia o corpo todo em brasas. Desejava tocá-la, senti-la... Tentou beijá-la, mas a Duomont
virou o rosto para evitar o contato.

-- Não se atreva a beijar-me. – Conseguiu soltar-se, mas com o esforço, acabou se desequilibrando, caindo
ao chão e levando consigo a Mattarazi.

Maria Clara lutou para sair de debaixo da jovem, mas Vitória apenas gargalhava de forma debochada.

A neta de Frederico conseguiu arranhá-la no rosto e dessa vez, a condessa não pareceu gostar da
brincadeira.

Conseguiu lhe segurar os pulsos sobre a cabeça, posicionando entre suas pernas para evitar uma nova
agressão.

-- Bastarda! – Gritou.

-- Vou te mostrar a bastarda!

A condessa esmagou-lhe os lábios com os seus. Sentiu-a fechar a boca, então forçou a entrada, até senti-la
ceder. Invadiu os recantos e a raiva deu lugar ao desejo. Deliciou-se com o sabor mesclado ao álcool. Gemeu ao
ter a língua sugada.
Maria Clara desejava matá-la, rasgá-la, mas ao sentir o gosto daquela boca, a paixão ocupou o lugar da
fúria.

Afastou as pernas para tê-la mais intimamente.

Seu sexo chegava a vibrar de tanta excitação.

Protestou quando Vitória se afastou, mas quando a viu se posicionar em meio suas pernas e começar a lhe
retirar o short, ajudou-a imediatamente no intuito.

A neta de Frederico apoiou-se no cotovelo e ficou a observar a outra ajoelhada entre suas coxas. Viu-a
afastar a calcinha e precisou morder o lábio inferior para não gritar alto ao perceber o toque dos dedos em sua
carne.

-- Não! – Deteve-lhe o movimento.

Clara viu o sorriso torto. O luar a iluminava e a deixava ainda mais bonita. Observou-a se levantar e
chegou a pensar que ela iria embora, mas ao vê-la se livrar do restante das roupas, sentiu o desejo correr ainda
mais forte por suas veias.

A visão parece ter deixada sóbria. Seguiu até a condessa, fitando-a intensamente. Como uma mulher
poderia ser tão linda?

Os seios redondos, não eram grandes, mas tinha o tamanho perfeito, os mamilos, claros, se insinuavam
como dois botões. Baixou o olhar pela cintura fina até chegar ao lindo triângulo que ficava entre as coxas...

Ambas se encararam e naquele momento não havia sarcasmo no olhar de bela Mattarazi.

A jovem estendeu a mão e tocou-lhe o colo... Sentiu a maciez em seu tato...

A condessa a trouxe para si, colando os corpos.

Clara a puxou pela nuca, trazendo a boca dela para colar na sua. Sentiu o beijo quente, os lábios macios e
foi em busca da língua, encontrou-a, parecia querer devorá-la...

Vitória a livrou da blusa e começou a soltar o fecho do sutiã. A outra não protestou ou não pareceu notar
o que a ruiva fazia. A jovem a fez deitar, em seguida tirou a última peça que a cobria.

Ajoelhou-lhe mais uma vez diante dela. Observou-a com os lábios entreabertos. Deitou sobre ela,
arrepiando-se ao sentir a pele quente ao encontro da sua.

Maria Clara parecia maravilhada e extasiada.

Valentina estava se arrumando para deixar a delegacia quando um dos policiais veio lhe avisar que Felipe
Duomont desejava vê-la.

Relutou antes de deixá-lo entrar, afinal, já estava na hora do seu descanso e a única coisa que desejava
naquele momento era encontrar o marido e o filho.

Mas o que teria levado o vereador até ali? Raramente o via e desde o último incidente com a condessa,
tudo parecia ter voltado à paz.

Curiosa, mandou que o deixasse entrar.

Observou o homem que depois de alguns segundo parou diante de si. Era possível ver como ele estava
preocupado.

Apontou a cadeira para que ele sentasse e fez o mesmo.

-- Boa noite, delegada! – Cumprimentou-a.

-- Boa noite, senhor, em que posso ajudá-lo?

-- Preciso que ajude a encontrar a minha filha.

Valentina o fitou e notou o nervosismo presente em seu olhar.

-- A Maria Clara sumiu? – Indagou surpresa.

O homem meneou afirmativamente a cabeça.

-- Houve um problema em minha casa e ela saiu. – Disse simplesmente.

-- Perdoe-me insistir, mas preciso saber o que realmente houve para que ela saísse de casa.
Felipe cobriu o rosto com as mãos e depois voltou a fitá-la.

-- Ela se desentendeu com o meu pai.

-- Ela não está com o noivo?

-- Não, ninguém sabe onde ela está. – Mexeu-se na cadeira, parecia desconfortável. – Ela não tem amigos e
não teria para onde ir, mas parece que ela sumiu, foi tragada pela terra.

-- O senhor a procurou em todos os lugares?

-- Bem, levando em conta que a cidade é pequena, sim, só não a procurei na propriedade de Vitória
Mattarazi.

Valentina sentiu algo alarmar em seu cérebro ao ouvir a menção à ruiva.

Inúmeras vezes, Maria Clara seguira para as terras da condessa e isso era uma possibilidade que a
deixava preocupada.

-- Está certo! – Disse levantando-se. – Eu irei a busca da sua filha. Vá para sua casa e entrarei em contato
assim que tiver notícias.

Felipe levantou-se e apertou a mão da morena.

-- Obrigado, delegada, não sabe como estou mais tranquilo em saber que terei o seu auxílio.

Valentina sorriu simpática, mas algo naquele momento a perturbava demasiadamente.

Clara observou a jovem sentar sobre seu sexo e meneou o quadril para sentir o desejo ainda mais forte.

Uma deusa banhada pelo luar...

Estendeu a mão e sentiu a umidade do desejo...Acariciou-o com o polegar e a viu fechar os olhos,
pressionou mais, até tê-la sobre seus dedos, devorando-os, ora engolindo-os, ora expelindo-os.

Ouviu o grunhido alto... e o aumentar do movimentos... Seu próprio corpo gritava por muito mais...

Delicadamente interrompeu o contato e sorriu ao escutar o protesto manhoso da ruiva. Deitou-se sobre
ela, sussurrando ao seu ouvido.

-- Calma, poderosa condessa... Eu quero muito mais...

Vitória tomou-lhe os lábios, mordiscando-os, dominando-os...

-- E eu quero você... – Dizia com voz rouca. – Eu quero...

A linda morena mais uma vez se deliciou com a textura dos dois montes em suas mãos, arranhando-o com
sua unha, até tê-lo pronto para os seus lábios... Acariciou o esquerdo com a língua, enquanto massageava o
outro... A ruiva a encorajou mais, até sentir-se sugada...

Maria Clara naquele momento não conseguia pensar em nada, só na maravilhosa sensação de mamá-la,
chupar aqueles seios de bicos rosados...

Vitória fitou aqueles olhos a lhe encarar e a cada segundo que passava sabia que não poderia controlar
durante muito tempo aquele desejo que ameaçava explodir dentro de si...

Curiosa, observou-a abandonar o colo e seguir distribuindo beijos, acariciando-lhe as coxas, demorando-
se na parte externa da mesma...

Mordeu o lábio inferior ao sentir os lábios doces tocar sutilmente seu sexo...

Apoiou-se no cotovelo, fitando-a e imaginando que a qualquer momento a princesinha perceberia o que
estava a fazer e saísse correndo para os braços do avô... Atônita, viu-a afastar suas pernas ainda mais, em
seguida a viu inspirar o cheiro de sua feminilidade...

A morena não sabia o que fazer, mas sabia o que seus instintos lhe diziam e foi isso que seguiu...

Embriagou-se ainda mais com o cheiro que parecia deixá-la mais excitada... Sentiu a umidade na pele e
desejou sentir o sabor daquele mel...

Abriu-a ainda mais, depositando seus lábios... Sorveu... Sua língua pareceu ganhar vida... A pontinha
tocou o clitóris, chupou-o como se fosse uma cereja... Sua fome parecia apenas aumentar ainda mais...
Aumentou a pressão...
A condessa gritou ao sentir o poderoso orgasmo lhe dominar... Os espasmos sacudiram seu corpo... Sentiu-
se frágil... Sentiu-se dominada e isso não fora bem aceito por sua personalidade forte, tentou empurrar Clara,
mas a tímida garota parecia ter sido substituída por uma verdadeira mulher...

A jovem Duomont deitou-se sobre ela mais uma vez, encaixando-se entre suas pernas...

-- Solte-me! – A condessa tentou se desvencilhar, arranhando-a.

Maria Segurou-lhe os pulsos sobre a cabeça, contendo a fúria que a outra inesperadamente apresentava...

Tentou beijá-la, mas sentiu os dentes da outra cravar em sua carne...

-- Calma, égua selvagem!

-- Solte-me... Exijo que me solte agora! – Dizia ainda mais brava.

Clara sorriu, mas não acatou o que estava sendo exigido. Movimentou os quadris, sentindo o próprio sexo
molhado colado ao dela... Esfregou... Rebolou, mesmo diante dos protestos não parou e intensificou mais e
mais... Sentiu o momento que ela cedia e tomou-lhe a boca... Beijando-a... Encontrou a língua ferina, chupando-
a... Aumentou os movimentos até sentir seu corpo tomado por uma força inexplicável... Um prazer jamais
imaginado sacudiu-a violentamente, fazendo-a gritar alto, desabando nos braços da condessa...

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Capitulo 13 por gehpadilha
Valentina estacionou em frente à casa grande.

As luzes iluminava o bonito lugar...

Não desceu, mas viu Batista vindo em sua direção.

-- Boa noite, delegada! – Cumprimentou-a tirando o chapéu.

-- Boa noite! – Sorriu. – Gostaria de falar com a condessa. – Pediu, torcendo para que ela estivesse ali.

-- Algum problema? – O homem indagou preocupado.

-- Não, apenas queria fazer umas perguntas a ela.

A expressão do idoso pareceu mudar.

-- Ela não se encontra, saiu faz um bom tempo e ainda não retornou.

Valentina meneou a cabeça afirmativamente.

-- Tem ideia de onde ela possa ter ido?

-- Bem, eu acredito que esteja no rio, ela gosta de ir nadar em noites de lua cheia.

A delegada não entendia o motivo, mas tinha uma intuição...

Despediu-se do homem e decidiu seguir em direção indicada.

Marcelo chamou o filho ao escritório.

O político parecia preocupado com o rumo que se seguiu a reunião na casa dos Duomont. Não gostara de
rebeldia que viu nos olhos de Maria Clara e ficara surpreso quando a jovem, meiga, enfrentara arrogantemente
o avô.

-- Sim, papai! – O jovem entrou, sentando-se. – O que deseja?

-- Falou com sua noiva?

-- Não, ela não atende e ao ligar para a casa dela, me disseram que ela não se encontrava.

-- Como não se encontra? – Levantou-se, apoiando-se no tampo da escrivaninha. – Está tarde e ela deveria
estar em casa e não na rua.

-- Ela saiu quando discutiu com o Frederico e não retornou. – Disse simplesmente.

-- E você fala assim? Calmamente? – Irritou-se. – Quero que vá a procura dela e também exijo que tente
falar com ela e a acalme, faça-a entender o quão louca é essa ideia de abandonar a campanha.

Marcos pareceu não gostar das palavras que ouviu, porém não poderia questionar ou desobedecer às
ordens.

Lembrou-se da noiva e ainda não conseguia acreditar que ela enfrentara o poderoso político, algo que
poucos faziam. Sentia-se mal por não ter intercedido e a defendido, mas não era tão destemido assim.

Desanimado, levantou-se e foi fazer o que lhe fora ordenado.

A delegada encontrou o carro da condessa estacionado próximo ao de Maria Clara.

Rapidamente, desceu e caminhou, não estava escuro e pode vê-las...

-- O que está acontecendo aqui?

Clara levantou-se rapidamente, enquanto a condessa fitava a delegada.

A jovem Duomont cobriu o corpo com as roupas. Sentia o rosto pegar fogo.

Vitória não pareceu se importar em estar totalmente despida diante da autoridade.

Levantou-se com a arrogância costumeira e fitou a delegada.


-- Acho que precisarei contratar mais seguranças, pois agora virou moda invadirem minhas terras.

-- Vitória Mattarazi! – Valentina falou exasperada. – Diga-me o que houve aqui e eu espero que não seja o
que estou pensando.

A ruiva fitou a neta de Frederico e estreitou os olhos furiosamente.

-- Pergunte a princesinha de contos de fadas, porque eu não devo nenhuma explicação a você e nem a
ninguém.

Maria Clara se sentiu magoada, vendo-a se vestir e em seguida caminhar altiva até o veículo.

A ruiva voltou-se antes de entrar no carro.

-- Deveria prendê-la por ela ter se aproximado de mim, por ter entrado sem pedir... Por ter invadido algo
que jamais fora profanado, afinal, há uma ordem de restrição...

A jovem Duomont a mirou mais uma vez, entes de vê-la seguir sem mais palavras. Teve um desejo enorme
de chorar, mas não o faria, não daria esse prazer a poderosa condessa.

-- Vista-se! – Valentina lhe entregou as roupas e virou de costas.

Sabia que sua intuição não a enganaria, mas nunca pensara que as coisas tivessem ido tão longe.

Desde a primeira vez que as viu juntas teve a sensação que havia uma atmosfera diferente, mas tentara se
convencer de que aquilo eram apenas coisas da sua cabeça, até se deparar com aquela cena.

Sentia um frio na espinha ao imaginar a guerra que ocorreria se aquilo chegasse aos ouvidos de
Frederico.

-- Pronto!

Ouviu a voz da jovem e se voltou para ela.

-- Sabes que cometeu a maior loucura de sua vida, não sabes?

Maria Clara a encarou por alguns segundos, parecia sem palavras, havia uma nó em sua garganta.

-- A condessa usará o que aconteceu aqui contra ti, não pense que há algum sentimento por parte dela. –
Falou duramente. – Vitória Mattarazi irá te destruir e ela já sabe a arma a usar.

-- Eu não tenho medo, delegada. – Arqueou a cabeça orgulhosa. – E quanto a ter sido usada, bem, eu a usei
para o meu prazer. – Disse desafiadoramente.

Valentina a fitou surpresa, mas preferiu não argumentar.

-- Seu pai está desesperado a sua procura. – Seguiu até o carro. – Vamos embora que já está muito tarde.

Clara ainda voltou a olhar o lugar onde há pouco tempo teve a poderosa mulher nos braços.

Estreitou os olhos, mas preferiu fazer o que fora dito por Valentina.

Entrou em seu veículo e seguiu devagar.

Seu corpo ainda estava em choque por tudo que havia se passado. Não tinha nenhum sentimento de
arrependimento pelo o que tinha feito. Sabia que se deixara dominar, mas não só por seu desejo, mas por
aquele sentimento que há tempos criara morada em seu coração. Sim, poderia negar para o mundo, mas para si
não, estava completamente apaixonada por Vitória Mattarazi, apesar de todos os esforços que fizera, não tivera
êxito em sufocar àquele sentimento.

Respirou fundo ao ver as luzes da casa grande ao longe.

Não tinha falsas ilusões em relação à ruiva. Percebera o arrependimento nos olhos verdes e depois o asco,
sim, ela tinha também perdido o controle, mas decerto não o fizera pelo mesmo motivo da outra.

Ouviu o celular tocar e ao fitar o aparelho viu a foto do noivo.

Não desejava falar com ninguém naquele momento, apenas chegar a sua casa e se trancar em seu quarto.

Batista viu a patroa estacionar em frente à mansão.

Ele a conhecia desde que era uma menina e sabia que algo não estava bem. O perfil forte aparentava
fragilidade, medo...
Aproximou-se.

-- Está tudo bem, condessa? – Abriu a porta do carro para ela sair.

A ruiva parecia distraída.

-- Estou! – Caminhou até a casa, mas pareceu mudar de ideia.

-- A delegada esteve a sua procura.

Vitória o mirou por alguns segundos.

-- Eu quero que a vigilância no rio seja redobrada e qualquer um que aparecer por lá tem que ser
imediatamente retirado. – Disse firme. – Estou cansada dessas malditas invasões.

O administrador assentiu.

-- Mais alguma coisa?

Ela maneou negativamente a cabeça.

-- Vou para o meu quarto e não desejo ser incomodada por ninguém.

O velho assentiu mais uma vez e a observou se afastar.

Frederico estava na janela do seu quarto quando viu o carro da neta estacionar.

Sentiu-se aliviado, pois pensara que algo ruim tinha acontecido com a jovem. Controlou o desejo de ir até
ela. Precisaria continuar sendo enérgico, pois não poderia permitir nenhum tipo de rebelião por parte da
mesma.

Engraçado como Maria Clara era diferente, sua justiça e dignidade não permitiam que ela se importasse
com valores monetários. Tão diferente da tia!

Voltou a deitar, apagando as luzes.

Precisava convencê-la de continuar a disputar o pleito, teria que fazer tudo para que ela não desistisse ou
tudo estaria perdido.

Não havia mais dinheiro e até as roupas que eles usavam pertenciam ao banco e se não resolvesse
imediatamente todo esse problema, perderia tudo.

Não!

Jamais conseguiria viver com essa vergonha!

Ele era Frederico Duomont, o homem mais respeitado de toda a região, o governador mais bem votado e
ilustre que o estado tivera. Não sofreria nenhuma humilhação, nem que para isso precisasse vender a própria
alma ao Diabo.

-- O que houve, amor? – Miguel indagou ao ver a esposa entrar no quarto.

O advogado seguiu até ela, cumprimentando-a com um beijo.

-- Pensei que você tinha dito que viria cedo.

Ela passou as mãos por suas madeixas longas e respirou fundo.

-- O que houve? Problemas?

Valentina caminhou até a cama e sentou.

-- Eu estava vindo para casa quando o pai de Maria Clara me procurou, parece que a garota tinha tido um
problema familiar e saíra de casa e não tinha voltado.

-- Nossa! – Ajoelhou-se, pegando-lhe as mãos. – Mas ela está bem?

A delegada apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Então, está tudo bem, meu amor! – Sorriu.


A morena encarou o marido. Não gostava de falar sobre os problemas do trabalhou ou os casos com ele,
mas verdadeiramente necessitava de compartilhar com alguém o que se passou e quem melhor que o tio da
Mattarazi.

-- Miguel... – Deu uma pausa. – A neta de Frederico estava nos braços da condessa! – Disse de supetão.

O homem arregalou os olhos, perplexo.

-- Que?

Valentina cobriu o rosto com as mãos.

-- Elas estavam transando!

O advogado levantou-se e ficou a caminhar de um lado para o outro.

-- Não, não, isso é uma loucura. Primeiro, a Vitória odeia a garota e segundo, a Vitória não é lésbica.

-- Bem, a minha tese é que ela fez para poder destruir a família Duomont.

O homem parou, mirando-a.

-- Não, isso é uma loucura! Você tem certeza do que está dizendo? Pode ter sido engano, afinal, ás vezes,
interpretamos errado as coisas.

-- Não, acredite, tudo o que eu falei é a mais pura verdade e agora estou a pensar o que acontecerá se a
sua sobrinha usar isso contra a Clara. – Levantou-se. – A condessa Mattarazi não tem limites.

Miguel a observou seguir até o banheiro e ficou lá, parado, pensando à proporção que um pequeno
problema tomaria depois desse fato.

A condessa banhou e depois se deitou, sentia-se esgotada.

Ficou a olhar a escuridão do quarto, talvez parecida com a própria escuridão que ela trazia dentro de si.

Tentara inutilmente não pensar no que havia se passado, mas agora sua mente parecia ter vencido a
batalha.

Mordeu o lábio inferior ao recordar dos beijos, dos toques, do cheiro da bela Duomont. Irritou-se ao se
lembrar de que a garota não ouvira seus protestos e continuara com suas carícias.

Tinha sido desgraçadamente dominada pelo desejo de tê-la para si, e mesmo que odiasse admitir, seu
corpo clamava por tudo novamente.

Não, não e não, Vitória Mattarazi não era lésbica!

Nunca em sua vida sentira atração por mulheres e mesmo não sendo preconceituosa, sempre se
envolvera com homens, tivera alguns amantes, mas jamais se sentira totalmente frágil em seus braços, nunca
se deixara possuir de forma a assumir o lugar de dominada, o que não ocorrera naquele dia, fora subjulgada
por aquela garota, possuída e mesmo que odiasse admitir, se a delegada não tivesse aparecido, decerto se
entregaria mais uma vez nos braços da inimiga.

Maria Clara não explicou onde estava, apenas, dissera ao pai que precisava ficar sozinha.

Seguiu para a varanda do quarto, deitou-se na rede e ficou a mirar a enorme lua que banhava e iluminava
a noite fria.

Ouviu a porta sendo aberta e notou a presença de Clarice.

-- Um absurdo o que você fez hoje! – A mulher já chegou esbravejando. – Como ousou enfrentar o seu avô
na frente de todos? – Indagou com as mãos na cintura.

A garota sentou-se.

-- Eu sinto muito, não quis agir daquele jeito, amanhã me desculparei com o vovô.

Mesmo na escuridão, sentia o olhar perscrutador da matriarca.


-- Ok! – Disse por fim. – Nunca mais saia e nos deixe desesperados a sua procura. Marcos ligou inúmeras
vezes.

Clara maneou afirmativamente a cabeça em concordância.

-- Onde você estava? Seu pai virou a cidade a sua procura.

-- Eu... – Pigarreou. – Fiquei... Fiquei dirigindo sem rumo, nem mesmo lembro onde estava indo.

-- Certo, mas que isso não aconteça mais.

Aproximou-se da filha, beijando-a na face.

-- Deve ir dormir, já está tarde.

-- Irei, mamãe, daqui a pouco.

A mulher se despediu, deixando-a sozinha.

Como dormiria se sua mente estava a mil?

Voltou a se acomodar.

A última coisa que desejava era pensar na condessa, mas seu cérebro parecia buscá-la automaticamente.

Umedeceu os lábios e teve a impressão de que o gosto daquela mulher estava impregnado em si. O cheiro
não lhe abandonara, mesmo tendo passado um bom tempo sob a ducha, persistia o aroma embriagante,
delicioso.

O que faria agora de sua vida?

Como continuaria mantendo o noivado, quando suspirava por Vitória Mattarazi?

Recordou-se das palavras da delegada, Valentina estava certa, a condessa jamais se envolveria
emocionalmente com ninguém e menos com a neta do homem que mais odiava.

Lembrou-se da forma fria que fora tratada na presença da autoridade, teve a sensação de estar sendo
humilhada, rebaixada a uma qualquer.

Não iria se entregar ao desespero e chorar, daquela vez agiria como a própria condessa o fez, indiferente,
porém jamais permitiria que acontecesse novamente ou que a ruiva descobrisse o amor que sentia por ela.

Vitória acordou mais cedo do que de costume, na verdade, nem mesmo conseguira dormir e se cansou de
ficar rolando na cama.

Vestiu-se e seguiu para o haras, ordenando que lhe trouxessem a égua.

Caminhava de um lado para o outro, impaciente.

Notou Julieta e Batista a observando. Odiava aquela preocupação que via no olhar deles, ela não
necessitava daquilo, realmente não suportava quando alguém demonstrava esse tipo de afeto, afinal, ela não
retribuiria e nem mesmo se importava com isso.

Bateu com a chibata na madeira.

Observou os empregados se aglomerando e viu outros trazendo a linda árabe para si.

Era um animal de beleza excepcional, tão branco que seu pelo chegava a brilhar, a crina grande e macia
era prateada.

Sorriu ao ver os peões correndo ao ver o bicho levantar as patas dianteiras.

Tirou uma maçã do bolso, aproximou-se.

-- Olá, garota. – Estendeu a fruta. – Como dormiu?

A égua parecia desconfiada, agitada, mas o tom baixo da condessa pareceu acalmá-la.

-- Sabe, não precisa ficar tão arredia, eu te entendo. – Sussurrou. – A pior sensação que pode existir é
alguém tentar te domar. – Sorriu quando o animal aceitou a maçã. – Acho que já tenho um nome para ti. –
Acariciou a cara dela. – Branca de neve.

Vitória aproveitou a distração da égua e montou rapidamente, sentiu-a se rebelar, segurou firme, pois
sabia que ela não se entregaria sem lutar, apertou as pernas no flanco do bicho, ouviu-a relinchar e levantar as
patas em protesto, mas se manteve firme, até senti-la ceder aos poucos...

Ouviu os gritos de entusiasmos de todos e depois apenas a dor de ser arrematada para longe.

Sorte que o lugar tinha areia ou teria se machucado.

Batista correu até ela.

-- A senhora está bem? – Ajoelhou-se.

A ruiva passou a mão pelos cabelos.

-- Estou! – Gargalhou. – Só meu orgulho está ferido!

O homem ajudou-a levantar.

-- Vai acabar se machucando sério, deixe esse bicho, é um animal selvagem que não se renderá tão
facilmente.

-- Parecemos-nos muito nesse quesito.

Batista a viu se afastar e pediu para que levassem a égua para o estábulo.

Frederico estava em seu escritório quando ouviu batidas na porta.

-- Entre! – Ordenou.

O homem observou a neta se aproximar e apontou a cadeira para que ela sentasse.

-- Bom dia, vovô! – Cumprimentou-o.

O político não respondeu.

-- Eu queria que me desculpasse por ontem, não quis lhe desrespeitar. – Encarou-o.

O poderoso Duomont a fitou por intermináveis segundos, em seguida, deu a volta na mesa, agachando-se
diante dela, segurou-lhe as mãos.

-- Meu anjo, eu que devo pedir perdão por tê-la machucado. – Disse com lágrimas nos olhos. – Não deveria
ter agido tão brutalmente. – Tocou-lhe a face ainda avermelhada. – Descontrolei-me quando me comparou com
a condessa.

Maria Clara viu as lágrimas banhando o rosto daquele homem tão poderoso e sentiu um aperto no peito,
abraçou-o.

-- Nunca mais falarei novamente aquilo e acatarei tudo que me disser. – Disse entre prantos.

-- E eu prometo que lhe apoiarei em seu projeto de ajudar essas pessoas.

A garota sorriu ao ouvir aquelas palavras e mirou os olhos tão parecidos com os seus.

-- Ganharemos, vovô, e o senhor retomará o prestígio de outrora.

Vitória seguiu para a cidade. Precisava falar com o veterinário sobre a vacinação do gado. Resolvendo o
problema, decidiu não retornar ainda para a fazenda. Havia um barzinho bem frequentado, decidiu parar lá e
comer algo, pois já eram quase quatro da tarde e ainda não tinha almoçado.

Pediu um sanduíche e um suco e ficou a observar a movimentação das pessoas. Havia uma mulher, de
idade avançada, sentada na praça com uma bacia vendendo cocadas. Observou que havia crianças pequenas
junto a ela, quatro garotinhos sujos e uma garota que não deveria passar dos quatro anos.

Percebeu que eles não deixavam de olhá-la, ou melhor, o lanche que ela comia.

-- Que surpresa maravilhosa!

Ela observou Alex sentar ao seu lado, cumprimentando-a com um beijo rápido nos lábios.

-- O que faz aqui? – Indagou irritada.

O jornalista sorriu.

-- Estava passando e tive essa maravilhosa visão, então não resisti e vim até ti, condessa.
Ela continuava a fitar as pessoas que continuava na praça tentando vender alguma coisa inutilmente.

-- Conhece aquelas pessoas? – Alex perguntou seguindo o olhar.

-- Não, só fiquei curiosa em vê-los. Não sabia que a cidade estava tão cheia de mendigos.

-- Bem, você vive viajando, então não deve ter conhecimento que muita gente sobrevive de ajuda do
governo e isso não é suficiente.

-- E o prefeito?

O rapaz gargalhou.

-- Bem, você tem certeza que deseja falar sobre isso? Desde quando isso te interessa?

Ela deu de ombros, levando o copo a boca e tomando o suco lentamente.

-- Apenas fiquei curiosa, realmente isso não me interessa mesmo.

O jornalista também pediu algo e ficou esperando a atendente anotar o pedido.

A condessa ouviu o som do celular e observou a mensagem que tinha chegado.

Miguel!

Ignorou.

-- Olha a princesinha dos Duomont!

Vitória fitou na direção que Alex apontava e se deparou com a jovem indo ao encontro da senhora.

Sentiu aquele descontrole emocional ao vê-la, um desejo enorme de ir até ela. Viu-a sentar e as crianças
ficarem ao redor dela, embevecidas com sua beleza.

Ela estava linda, usando short e camiseta branca.

-- Será que ela já fez as pazes com o avô?

Vitória o encarou curiosa.

-- Ontem a garotinha foi esbofeteada tão forte que foi ao chão. – O homem falou.

-- O quê?

-- Pelo que fiquei sabendo ela não gostou de saber que estava sendo usada e se desentendeu com
Frederico.

A condessa voltou a fitar Maria Clara.

Então, fora isso que ocorreu, sentiu uma raiva insana daquele maldito velho, como ele fora capaz de ser
tão miserável e bater em alguém tão frágil fisicamente.

De repente o olhar da Duomont encontrou o dela. Mesmo a distância, pôde sentir o magnetismo daqueles
olhos negros em sua direção.

Clara estava passeando de carro quando viu a mulher vendendo as cocadas. Conhecia-a bem, já estivera
em sua casa. Ela era viúva e criava sozinha os netos, já que a filha abandonara os pequenos e seguira para
longe junto com um namorado.

Desejava ajudá-los e esse era um dos motivos de se empenhar tanto naquela campanha.

Sentou-se e observou as crianças brincando, então seu olhar foi atraído por alguém do outro lado da rua.

A condessa Mattarazi!

Não estava pronta para vê-la tão cedo, ainda sentia os efeitos da noite anterior em seu corpo. Ainda sentia
o cheiro dela em sua pele.

Desviou o olhar quando viu quem estava ao lado de Vitória.

Não gostava daquele homem, não o suportava e ainda ficava mais furiosa ao imaginar que eles tinham
um caso amoroso.

Sentiu uma vontade enorme de ir até lá e falar um monte de coisas, mas sabia que não poderia agir assim.
-- E então, mocinha, vai querer?

Clara fitou a mulher e percebeu que ela a fitava curiosamente.

-- Sim, quero. – Disse sem graça.

-- A condessa é uma bela mulher. – A vendedora dizia enquanto colocava as cocadas em uma sacola. –
Meu marido trabalhou para o pai dela durante muito tempo, até que foi demitido por estar velho. – Completou
tristemente. – A condessa já era uma mocinha e meu Antônio dizia que ela sofria muito naquele lugar.

A jovem Duomont recordou do que ela falara sobre o pai e a madrasta. Como alguém poderia agir tão
miseravelmente com a própria filha?

-- Bem, aqui está. – Entregou-lhe a sacola. – Agora preciso ir, pois tenho que preparar o jantar.

Maria recebeu e lhe entregou uma nota com o triplo do valor dos doces, ela não tinha muito, mas sabia
que aquele pouco que tinha seria bem vindo para aquela grande família que não tinha outra renda.

Ela continuou sentada observando alguns jovens se aglomerar, era hora da saída da escola, então aquele
era o lugar preferido dos adolescentes.

Não gostava de ver Alex junto com Vitória, mas que direito tinha de se intrometer naquele assunto?

Na noite passada não conseguira conciliar o sono, as cenas que vivera nos braços da condessa povoavam
sua mente, em alguns momentos chegava a imaginar que aquilo fora um sonho, que nada daquilo ocorrera
realmente.

Sentiu o rosto queimar ao se lembrar da forma como chegara a agir, nunca pensara que tinha um lado tão
passional, atrevido, dominador... Mas quando voltava a fitar a Mattarazi todo aquele desejo poderoso lhe
queimava e a ousadia retornava a si.

Passou a mão pelos cabelos que estavam soltos.

-- Tudo bem, senhorita Duomont?

Clara se assustou ao ver o marido da delegada parado a sua frente.

-- Posso me sentar? – O advogado indagou.

Ela apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, até que a jovem pareceu incomodada.

-- O que deseja?

-- Bem... – Pigarreou. – A Valentina me contou o que aconteceu.

A garota se levantou, não gostou das palavras que ouviu.

-- Bem, eu não acho que isso seja da sua conta ou da conta da sua mulher, então eu me nego a conversar
sobre isso com o senhor.

Miguel também se levantou.

-- Não quero que me leve a mal. – Tocou-lhe o ombro. – Apenas não desejo que você se machuque, não
temos nenhum tipo de intimidade ou amizade, mas eu sei que você é uma pessoa maravilhosa e não merece
sofrer.

Maria Clara o encarou por alguns segundos e percebeu que ele estava sendo sincero.

-- Obrigada! – Disse simplesmente se desvencilhando do toque.

O advogado a observou se afastar e depois caminhou até onde estava a condessa.

Não gostou de vê-la com Alex, não achava que ele fosse uma pessoa boa, mas sabia que não poderia ir
contra a vontade de Vitória.

-- Boa tarde! – Cumprimentou aos dois e se sentou sem esperar pelo convite.

-- Bem, eu me disperso. – O jornalista se levantou. – Nos vemos depois. – Disse ignorando Miguel.

A condessa continuou a tomar o sorvete sem falar uma única palavra. Tinha visto quando o advogado
falara com a neta de Frederico e sentiu vontade de ir até eles, na verdade, desejara ir atrás de Maria Clara. A
vontade de tê-la por perto estava ficando incontrolável.
-- Bem, eu já estou esperando pelo sermão. – A mulher disse por fim. – Comece o discurso. – Encarou-o
sarcástica.

-- Eu só acho que a Maria Clara não é sua inimiga.

Vitória o fitou por alguns segundos até que desviou o olhar.

-- Eu a odeio!

-- Por quê? O que ela fez para ti? – Observou o arranhão em sua face. – Pensou que a garota não tinha
garras foi?

A ruiva não respondeu, apenas se levantou e seguiu até o carro. Não desejava falar sobre aquele assunto,
como poderia admitir que odiava Maria Clara Duomont porque seu corpo reagia a ela, porque desejava tê-la
para si, porque estava totalmente apaixonada por aquela mulher...

Deu partida no veículo e seguiu a caminho da fazenda. Sabia o que precisava fazer e naquele mesmo dia o
faria. Iria viajar, há dias não viajava para a Itália para cuidar dos próprios negócios e era isso que faria.
Necessita de se afastar, precisava retomar o controle de sua vida, de suas emoções... Nunca passara por algo
assim, em nenhum momento de sua vida se sentira daquele jeito e isso era totalmente assustador, era como se
fosse um animal selvagem sendo invadido... Violada...

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Capitulo 14 por gehpadilha

Otávio se empenhava ainda mais na reta final da eleição. Dentro de um mês, aconteceria o pleito.
Precisara inventar uma desculpa pela ausência da candidata principal, ligara inúmeras vezes para ela e
nenhuma resposta fora lhe dada. Cada dia que passava tinha mais certeza que perderia a disputa e isso não era
algo que lhe agradava.

Alex tentava lhe acalmar, mas em alguns momentos não tinha como conter a fúria do fazendeiro.
Também tentara entrar em contato com a Mattarazi, mas ela apenas dizia que tinha muitos problemas para
resolver.

Maria Clara continuava empenhada em sua candidatura, agora corria de um lado para o outro em busca
de maiores adeptos a sua causa. Ao seu lado estava sempre seu avô e o seu noivo, as coisas se acertaram entre
eles, não houve mais problemas e todos pareceram chegar a um denominador comum.

A jovem Duomont não estava disposta a abrir mão daquela paixão que a política pareceu tomar na sua
vida. Agora entendia o avô e o pai e naquele momento tinha certeza que não se negaria de estar à frente da
prefeitura daquela pequena cidade, faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar e mudar a vida
daquelas pessoas que pareciam acreditar tanto em si.

Naquele dia chegou a casa quase meia noite. Estava cansada, seguiu direto para o quarto.

Jogou-se na cama e ficou olhando para o teto por alguns segundos.

A penumbra envolvia o ambiente, deixando-o mais acolhedor.

Em breve aquela correria acabaria e todos saberiam quem administraria aquele lugar durante os
próximos quatro anos.

Pegou o celular e acessou a galeria de fotos e encontrou aqueles lindos olhos verdes. Tirara aquela
imagem de uma revista onde a bela condessa saíra acompanhada do tal mexicano.

Há tempos não sabia nada dela, nem mesmo estava a participar da campanha.

Quando a viu ao lado do latino sentiu uma raiva enorme, furiosa por saber que depois do que tinha
ocorrido entre elas, Vitória ainda se entregava nos braços de outro.

Boba!

Decerto, era realmente uma princesa de contos de fadas que imaginava as coisas tão romanticamente,
quando na verdade, Vitória Mattarazi apenas sentia uma atração por si, um desejo que não conseguia
controlar, porém agora que já a tivera em seus braços tudo mudou.

Ainda doía a forma como tudo acabou naquela noite, o jeito que fora tratada depois que ambas tinham se
perdido no próprio desejo, a forma depreciativa que se dirigira a si diante da delegada.

Como poderá se apaixonar por alguém tão insensível?

Não havia espaço naquele coração para o amor, na verdade, duvidava que dentro daquele peito pulsasse
algo que não fosse uma pedra. Todos estavam certos a respeito dela, todos tinham razão quando falavam da
terrível falta de caráter que acometia a herdeiro de Vitório.

Não se importou quando sentiu as lágrimas lhe molhar o rosto. Precisava chorar, tirar de dentro de si
aquela agonia que chegava a lhe tirar o fôlego.

Frederico caminhava de um lado para o outro no enorme quarto.

Estava desesperado, pois em menos de vinte dias venceria a parcela da hipoteca e não teria como pagar,
acabara gastando mais do que o necessário nos últimos dias, tinha apostado tudo na campanha da neta e corria
o risco de não ter nem mais para pagar os empregados.

Falara com o Marcelo, mas ele disse que não tinha como ajudar daquela vez, pois também enfrentava
problemas econômicos.

Não havia mais nada para se desfazer, tudo estava nas mãos do banco. Pensara em Felipe para que
pedisse um empréstimo, mas seria muito visível naquele momento e com certeza negariam ao menos que...
Maria Clara poderia conseguir se ele conseguisse falar com as pessoas certas. Mas não poderia ser na
cidade, tinha alguns amigos na capital, poderia pedir que eles emprestassem a neta, afinal, ela seria a prefeita e
não haveria problema de quitar essa dívida.

Caminhou até a enorme varanda e ficou a observar a noite estrelada. Ao longe podia ver as luzes da
fazenda Mattarazi. Se pelo menos tivesse conseguido provar que a maldita condessa era culpada pela morte da
família, teria conseguido herdar boa parte da fortuna que ela conseguira, porém fora inútil suas tentativas.

-- Mil vezes maldita Vitória!

Mas as coisas mudariam em breve, estava mais do que certo que a neta sairia vencedora daquela disputa,
então, ele poderia lutar de igual para com ela e dessa vez a destruiria sem nenhuma clemência.

A condessa ouvia o som alto e se entregava aos prazeres da noite.

Decidira não retornar para a fazenda. Ao retornar da Itália, decidira ficar na capital e curtir à noite
badalada da cidade grande.

Não havia problemas em sua vida, na verdade, tinha que comemorar seu sucesso empresarial. Havia
dinheiro, poder, prazer... Então o que poderia lhe faltar?

Sentiu as mãos do amante em seu quadril acompanhando seu ritmo louco, deleitou-se com a sensualidade
da música, bebeu e bebeu, até ver um olhar feminino lhe despindo maliciosamente.

Aquilo não a impressionava, ela sabia o quão bela era e naquela noite estava ainda mais arrebatadora,
usava calça de couro preta, camisa folgada, branca, com alguns botões abertos, deixando amostra o sutiã no
mesmo modelo da calça, os cabelos vermelhos estavam soltos completando o estilo Mattarazi.

Desvencilhou-se dos braços do latino e se aproximou da loira que a fitava tão intensamente.

-- Não sabia que é falta de educação olhar tão insistentemente para as pessoas? – Sussurrou em seu
ouvido.

A garota sorriu.

-- Nem me lembrei dessa regra, afinal, nunca tinha visto uma mulher tão maravilhosamente linda em
carne e osso.

A condessa piscou um olho e retornou para a pista, queria aproveitar intensamente os dias que se
seguiam.

Os lábios foram capturados pelos de Juan. Correspondeu ao beijo com paixão, mesmo que seu corpo não
reagisse a nenhuma carícia do rapaz, ela aprendera a fingir bem as emoções nos últimos dias.

Miguel andava de um lado para o outro.

-- Você vai acabar tendo um ataque. – Valentina disse ao sair do banheiro.

Era de manhã cedo e o advogado tinha passado a noite tentando entrar em contato com a condessa, mas
suas tentativas foram inúteis.

-- E o que você queria? – Ele fitou a mulher. – Vitória deveria ter chegado aqui, pois deixara Roma há
alguns dias.

-- Por favor, Miguel, a sua sobrinha já é bem grandinha para que você fique tão preocupado.

A delegada caminhou até a cama e começou a secar as madeixas.

-- Com certeza deve ter encontrado alguma diversão na capital. Acho até bom que ela se mantenha longe,
assim, não tenho problemas com os Duomont.

O advogado fitou a esposa com uma expressão irritada e deixou o quarto.

Ela sabia que tinha sido dura, mas não gostava de ver o marido tão atormentado por alguém que nem
mesmo se importava com ele. A condessa agia como bem lhe dava na telha, nunca levava em conta a opinião de
ninguém e aquilo não mudaria, nem mesmo quando ela viesse a saber o laço sanguíneo que tinha com o fiel
escudeiro.

Sentia-se aliviada com aquela ausência, nem mesmo gostaria de imaginar os problemas que surgiriam se
o que ocorrera entre ela e Maria Clara voltasse a acontecer. Estranhara era não ter exposto o ocorrido para
desmoralizar a neta do maior inimigo, tinha quase certeza que aquilo que ocorrera entre ambas fora uma
armação da parte da condessa para continuar seu plano de vingança, porém agora tinha dúvidas sobre o fato,
mesmo assim, era melhor que Mattarazi continuasse afastada de todos para que a paz pudesse reinar.

-- Você entendeu, filha?

Clara estava no escritório com o avô. Ela estava sentada, enquanto ele lhe dava as instruções para
resolver o problema na capital.

-- Eu já falei com o meu amigo, não haverá problemas em você contrair esse empréstimo. Tudo será feito
de forma a não prejudicar sua campanha.

A jovem não parecia muito entusiasmada com aquilo, porém ao ouvir Frederico dizer sobre as
dificuldades que estavam enfrentando, não titubeou e aceitou a tarefa.

-- Está certo. – Levantou-se. – Irei arrumar minhas coisas para seguir para a capital. Se sair agora, decerto,
ao meio dia estarei chegando lá.

O homem seguiu até ela, abraçando-a.

-- Obrigada, meu anjo! – Beijou-lhe a face. – Isso ficará apenas entre nós.

Ela assentiu e seguiu para o quarto.

Vitória despertou com o insistente toque do celular.

Estendeu a mão e encontrou o aparelho.

Miguel!

Silenciou a chamada. Há dias ele ligava e em nenhuma das vezes, ela atendeu. Não tinha interesse em
falar com ninguém, sentia-se bem, tranquila e no controle das próprias emoções.

Observou o relógio e viu que já era quase quatro da tarde. Bem, fora para cama às dez da manhã, virara a
noite na boate e quando o sol nasceu seguiu para uma festa exclusiva que a loira lhe convidara.

Sofia!

Esse era o nome da mulher sensual que tentara lhe seduzir.

Sorriu!

As janelas do quarto permaneciam fechadas, deixando mais aconchegante o lugar.

Levantou-se, abrindo-as, deixando a luz penetrar na escuridão.

Não fora para seu apartamento como era de costume quando estava na capital, decidira se hospedar em
um hotel, assim, ninguém lhe localizaria.

Viu um bilhete sobre o criado mudo.

Juan!

Ele precisara retornar para o México, pois tivera um problema em uma de suas empresas.

Que pena!

Ele era uma ótima companhia, gostava de tê-lo por perto, de sua forma atenciosa de lhe tratar, suas
gentilezas.

Espreguiçou-se e seguiu para o banheiro.

A hidromassagem estava pronta, como todos os dias. Decerto, a camareira entrara e fizera aquilo.

Despiu o roupão e emergiu na água espumante, sentindo cada parte do corpo relaxar. Sabia que precisava
retornar para a casa. Havia a maldita eleição, havia os negócios que também requeriam sua presença. Não
desejava regressar, seus dias estavam sendo maravilhosos, tudo seguindo o rumo perfeito, tudo planejado, sem
interferência de nenhuma ordem.

Fechou os olhos e viu aqueles olhos negros que pareciam persegui-la. Há dias não pensava na princesinha
de contos de fadas, mas agora, sua mente a traiu miseravelmente, fazendo-a recordar da Maria Clara.

Como ela estaria?


Com certeza feliz com o noivinho...

Sentiu uma raiva grande ao imaginá-la nos braços dele...

Maldição!

Por que aquela maldita garota surgiu em sua vida? Por que quando se tratava dela seu autocontrole não
funcionava?

Não, não e não!

Não estava apaixonada coisa nenhuma, isso fora uma besteira que chegara a pensar, mas não era isso,
tudo não passava de um desejo poderoso, louco, insano... Algo que o tempo e a distância sanaria.

Os Duomonts era uma verdadeira praga em sua vida.

Maria Clara achou desnecessário se hospedar em um lugar tão caro, mas o amigo do avô disse que
custearia a despesa, então não teve como se negar.

Bem, pelo menos ficaria apenas até o dia seguinte, pois assim que assinasse os papéis o empréstimo seria
liberado.

Colocou a bolsa sobre a cama e ficou encantada com o requinte e luxo daquele lugar. Já frequentara
hotéis chiques, mas aquele tinha algo a mais, devia ser aquela decoração inglesa, sóbria.

Ligou para o avô para avisar do andamento das coisas e depois para o noivo. Marcos insistiu em saber o
que ela tinha ido fazer na capital e ela teve que inventar uma desculpa, mas Frederico deixou bem claro que
deveria manter sigilo.

Depois de alguns minutos desligou.

Pensou em ligar para o amigo e treinador, mas se lembrou de que ele estava fora do país participando de
um campeonato.

Uma pena, seria bom revê-lo depois de tanto tempo.

Decidiu tomar um banho e seguir para o restaurante do hotel. Assim, se distrairia, antes de deitar para
dormir.

A condessa recebeu um telefonema de Sofia. A bela loira disse querer vê-la, mas Vitória se queixou de
estar com uma terrível dor de cabeça e assim, ambas decidiram se encontrar no restaurante do hotel.

A ruiva não se sentia muito bem, mas decidiu aceitar o convite. Não desejava ficar sozinha, pois sempre
que ficava só sua mente a traia.

Vestiu um vestido de mangas longas, branco, que chegava até o joelhos, colocou um cinto que combinava
com o sapato preto, deixou os cabelos soltos e aplicou uma leve maquiagem.

Ao chegar ao restaurante, Sofia já estava lá e parecia ainda mais bela do que no dia anterior.

Cumprimentou-a com um beijo no rosto e depois sentaram.

-- Fico feliz que tenha aceitado meu convite. – A loira começou dizendo. – Estava morrendo de vontade de
te ver.

Na noite passada não houve nada entre elas, mas a condessa sabia que o interesse da jovem não era
apenas amizade, afinal, ela flertara consigo abertamente.

-- Confesso que ainda cogitei recusar, não estou muito bem, ontem eu exagerei na bebida.

-- Tomou algo para aliviar a dor? – Sofia lhe segurou a mão. – Se não estiver se sentindo bem, não me
chatearei que suba para descansar.

-- Não se preocupe, não estou tão mal assim. – Sorriu. – Bem, ontem você me contava que é psicóloga,
achei super interessante.

-- Sim, e olhe que uma das melhores, se quiser uma ajudinha? – Piscou maliciosa.

Vitória sorriu, mas seus olhos foram atraídos por uma figura que entrava no estabelecimento e sentava a
poucos metros de si.

De repente aquele olhar doce seguiu em sua direção e ela teve certeza que não estava a sonhar.
Maria Clara Duomont!

Aquilo não poderia ser real, aquela mulher não poderia estar ali.

A jovem seguiu por entre as mesas. O restaurante não estava cheio e por isso não teve problema em
encontrar um bom lugar para sentar.

O hotel era realmente muito requintado. Ficara fascinada com cada detalhe que via e ficara sabendo por
uma das camareiras que havia quadras esportivas, além de uma enorme piscina.

Ao acomodar-se sentiu aquele olhar forte em sua direção e na mesma hora o coração começou a bater
descompassado.

A uma distancia curta de si, estava a poderosa e insensível Mattarazi, ainda mais linda do que a última
vez que a viu.

Enfrentou o olhar duro que ela lhe dirigia, não baixaria a cabeça diante de sua arrogância, jamais faria
aquilo.

Notou a presença feminina ao seu lado e percebeu que havia certa intimidade entre elas.

Felizmente, um homem bem vestido veio até si para anotar o pedido. Sentiu vontade voltar ao quarto,
mas não o faria, não fugiria da situação.

Pediu algo leve, pois a fome já havia lhe abandonado.

-- Você está bem?

Vitória fitou a loira.

-- Sim, estou. – Tentou disfarçar. – Apenas como disse não estou muito bem, mas daqui a pouco passa. –
Sorriu.

-- Bem, eu adoraria que passasse, pois tinha planos para a noite. – Falou sedutora. – Nunca tinha visto uma
mulher tão linda como você. – Trocou de cadeira ficando ainda mias perto. – Eu poderia me apaixonar
rapidinho. – Falou em tom baixo e sensual.

A ruiva mirou os lábios que estavam tão próximos dos seus. Sofia era inegavelmente uma mulher de
beleza ímpar, tinha sensualidade nata e não seria difícil se interessar por ela.

Maria Clara observava a intimidade entre as mulheres. Só um cego não saberia o que estava acontecendo
ali.

Sentiu tanta raiva que nem mesmo terminou a refeição e seguiu para o quarto. Aquilo era muito para
aguentar, seu sangue era muito quente e se descobrira muito ciumenta.

Esperou o elevador impacientemente. Se pudesse ir embora naquela mesma noite, o faria, sem dúvida.
Por que teve que encontrá-la? Estava tudo tão bem, tão tranquilo em sua vida, até a condessa reaparecer e
bagunçar tudo novamente.

Entrou na suíte e jogou-se na cama.

Precisava apenas dormir para que amanhecesse rapidamente e pudesse resolver o problema, assim,
retornaria para a casa.

Decidiu ligar para o noivo para se distrair, assim, ocuparia a mente com outra coisa.

O jantar de Vitória transcorreu tranquilo. A condessa estava ansiosa para se livrar da convidada, pois algo
naquele momento lhe agoniava muito mais.

Usou a desculpa da enxaqueca para não se demorar tanto e Sofia decidiu se despedir, mas com a
promessa de que se encontrariam no dia seguinte.

Assim que se livrou da loira, seguiu até a recepção para saber em qual quarto estava hospedada a neta de
Frederico, sabia que o melhor era deixá-la em paz, mas algo dentro de si não aceitava tal coisa.

Conseguiu a informação que necessitava e seguiu direto para lá.


Clara conversou com o noivo durante quase uma hora, depois tomou um banho e seguiu para a cama.

Ouviu a campanhia e imaginou que fosse o serviço de quarto trazendo o lanche. Vestiu o roupão e seguiu
até a porta, abrindo-a.

O sorriso simpático foi desfeito ao ver de quem se tratava.

-- O que quer? – Indagou ríspida.

A ruiva tentou entrar, mas a jovem interceptou a passagem.

-- Bem, vim apenas lhe cumprimentar. – Sorriu provocante. – Afinal, faz um bom tempo que não nos
vemos, então pensei que seria falta de educação não vir até aqui.

-- Bem, então, a senhora já fez a cortesia do dia. – Tentou fechar a porta, mas foi detida.

-- Deixe-me entrar. – Pediu. – Desejo lhe falar.

Clara fitou os olhos verdes e dessa vez não encontrou o sarcasmo.

Afastou-se, dando-lhe passagem.

-- Diga logo o que deseja, pois já estava indo dormir.

Vitória a mirou dos pés a cabeça, demorando-se nos seios que não pareciam tão escondidos como
deveriam estar.

-- O que faz aqui? – Perguntou, aproximando-se. – Não deveria estar se dedicando a sua campanha?

-- Bem, eu não acho que isso seja da sua conta. – Encarou-a, cruzando os braços. – E levando em conta que
não há nenhum tipo amizade entre nós, acho desnecessário a sua presença aqui.

-- Calma, Branca de Neve. – Sorriu. – Não precisa dessa raiva toda não. – Chegou ainda mais perto. – Como
disse, quis apenas ser educada. – Tocou-lhe a face.

A morena se desvencilhou do toque, mantendo distância.

-- Bem, você poderia ter usado toda a sua educação com a sua amiga loira e quanto a mim, nem mesmo
desejava o seu cumprimento.

Vitória gargalhou debochada.

-- Não me diga que está com ciúmes? – Caminhou até ela. – Está com ciúmes, princesinha de contos de
fadas? – Provocou. – Bem, a Sofia é uma mulher linda, mas deixei para outra ocasião, porque agora eu tenho
outros planos.

-- Você pode ir ao inferno que eu nem mesmo vou me importar. – Disse por entre os dentes.

A condessa a segurou forte pelos ombros, abraçando-a para não correr o risco de ser arranhada como da
última vez.

-- Mentirosa! Está com ciúmes sim, está bravinha porque me viu com outra mulher.

Maria Clara tentou se livrar das amarras, mas a ruiva a segurou ainda mais forte contra a parede.

-- Não quero brigar. – Tentou beijá-la, mas a outra desviou a cabeça. – Não tenho nada com a Sofia...
Nenhuma outra me interessa. – Depositou o beijo em seu pescoço. – Vai dizer que não está com saudades de
mim? – Piscou sarcástica.

-- Eu te odeio, Vitória Mattarazi! – Pronunciou cada sílaba pausadamente.

-- Deixa eu sentir o sabor desse ódio, deixa...

Clara sentiu a boca da condessa se apossar da sua, mas não permitiu que ela aprofundasse o toque.
Cerrou os lábios para evitar a invasão, porém isso não impedira que a outra lhe acariciasse com a língua e foi
isso que ela fez, desenhando a boca rosada pacientemente, até senti-la ceder, então a penetrou delicadamente,
sentindo o sabor doce da jovem.

A bela Duomont se entregou e ficou em êxtase ao sentir o beijo delicado se tornar exigente, apaixonado,
dominador. Sentiu o roupão deixar seu corpo e as mãos que antes lhe prendiam, acaricia-lhe os seios,
apertando-os.

Gemeu quando os dedos longos lhe apertaram os mamilos.


Fitou os olhos verdes e percebeu como estavam escuros. Sentiu aquela poderosa força lhe dominar.

Viu a boca se aproximar do colo e gemeu alto. A língua acariciava, enquanto os dentes os prendiam num
misto de dor e prazer.

Notou a camisola ir ao chão, ficando apenas de calcinha.

Os olhares pareciam presos, surpresos... Desejosos...

A condessa acariciou-lhe a pele sedosa, sentindo a maciez em seu tato, o aroma de rosas...

-- Peça para eu parar. – Encostou a testa na dela. – Diga que não quer... Por favor...

A neta de Frederico sentia a hesitação e agonia em cada palavra que ela pronunciava. Sabia o que ela
estava a pedir e agora tinha certeza que a poderosa Mattarazi também estava assustada com o que se passava
com ambas. Deveria aceitar a chance que estava sendo lhe dada, afinal, Vitória não tinha nada para lhe
oferecer, naquele coração havia apenas espaço para ódio, rancor, então por que não a mandava embora e
recuperava a paz para sua alma? Sentia a tensão dela, sentia o pesar, o medo? O que temia aquela poderosa
mulher?

Contrariando o certo a ser feito, Clara lhe enlaçou a cintura.

-- Poderíamos apenas esquecer quem eu sou e quem você é... – Mirou-lhe. – Hoje, agora, eu desejo que me
tome para si, como sou, apenas uma mulher que a deseja mais do que tudo...

Vitória a encarou por alguns segundos, parecia ainda digerir o que lhe fora dito.

A ruiva fechou os olhos e continuou com a tez encostada na da jovem.

A doce Duomont ouvia a respiração pesada e chegou a imaginar que ela tivesse desistido, sentiu um peso
em seu peito e uma vontade incontrolável de chorar, até ver as lindas esmeraldas lhe fitarem profundamente.

A condessa mais uma vez lhe tomou a boca possessivamente, enquanto as mãos tocavam ousadamente o
corpo esbelto. Retornou aos seios, agora eram explorados com cautela, sentindo a textura da carne, a maciez
dos belos montes.

Mais uma vez Clara foi pressionada contra a parede, quando Vitória buscava estreitar ainda mais o
contato. Abandonou os lábios, tocando agora o pescoço esguio, mordiscando. Tocou o sexo sobre a calcinha,
apertando, fazendo a amada cerrar os dentes para não gritar. Atrevida, introduziu a mão sob a peça íntima,
deliciando-se com a umidade que lhe lambuzava o tato.

Maria inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Sentia a mão hábil explorando sua intimidade.

A poderosa Mattarazi lhe tirou o tecido, deixando-a totalmente em pelo.

Sussurrou-lhe rouca:

-- Amar-te-ei como se não houvesse amanhã...

A condessa observou os mamilos arrebitados como botões de rosas... Tocou-os com o polegar, em seguida
com a pontinha da língua, degustando com a delicadeza do colo, chupando-os.

A Duomont abriu os olhos e viu a cabeleira vermelha, gemeu quando Vitória aumentou a intensidade e
mais uma vez teve o sexo explorado. Sentia os dedos pressionando e o prazer foi mesclado por um desconforto.

Deteve-lhe a carícia.

Mattarazi a fitou confusa.

-- Dispa-se, também desejo senti-la. – Clara pediu.

A condessa se afastou, exibindo aquele sorriso meio de lado. Sem deixar de encará-la, retirou lentamente
peça por peça.

O quarto não estava às claras, mas a penumbra não impedia que Maria Clara pudesse admirar e beleza do
corpo da maior inimiga da sua família.

Linda!

Deliciosamente bela.

Aproximou-se, estendendo os braços, trazendo-a para si.

-- Quero-te como jamais quis algo em toda minha existência...

O beijo foi doce, leve, cheio de esperança e mesclado de saudades...


A Duomont estava tão distraída que só percebeu que tinha sido conduzida até a cama quando esbarrou no
móvel.

A condessa a acomodou no leito, deitando sobre ela, descobrindo a maravilhosa sensação das peles se
roçando. Os corpos pareciam terem sido moldados, completando-se, unindo-se.

A Duomont sentia os beijos de Vitória, pareciam sem pressa, inicialmente na face, nos seios onde se
demorou, mamando... No abdome firme sentiu as lambidas.

Cravou as unhas em seus ombros.

-- Vitória... – Sussurrava o seu nome. – Por favor...

A Mattarazi sorriu e continuou.

Clara tremeu ao tê-la entre suas pernas.

Sentiu os beijos em suas coxas, as leves mordidas...

Corou quando os olhos a fitaram...

A condessa beijou-lhe a virilha... Acariciou os ralos pelos e aspirou o aroma feminino. Curiosa, massageou
cuidadosamente a carne molhada. Abriu-a, depositando um beijo no centro do seu prazer.

Clara desviou o olhar, sentia-se invadida, mas quando teve o primeiro contato da boca rosada em seu
sexo, mirou-a. Via o olhar faminto da ruiva, a sua língua deslizar vagarosamente de baixo para cima, enquanto
seus dedos pareciam analisar o novo cenário.

Tentou se desvencilhar, mas a outra não lhe permitiu.

Cobriu os olhos com o braço.

Vitória sorriu ao vê-la tão constrangida, afinal, ela se mostrara tão ousada, mas agora parecia uma
garotinha assustada. Lambuzou todo o dedo e depois levou aos lábios...

-- Como pode ser tão gostosa?

A boca sedenta não se conformou com tão pouco, então decidiu explorar melhor a fonte.

Maria jamais imaginara que pudesse existir um prazer tão intenso, abriu-se mais para tê-la mais
intimamente. Sentiu-a chupar forte, sugar, lamber...

Balançou os quadris para acompanhar o ritmo. Sabia que em breve não iria conseguir segurar, pois seu
corpo já antecipava o êxtase que estava por vir. Mexeu ainda mais, gemeu, pediu que ela continuasse... até seu
corpo explodir em um orgasmo mesclado a uma lancinante dor.

A condessa só percebeu quando já não tinha como voltar, deitou-se sobre ela, mirou os olhos fechados e
uma solitária lágrima deslizar por sua face rosada.

-- Por que não me disse que era virgem?

Clara a encarou e percebeu como havia perturbação naquele rosto.

-- Perdoe-me, não quis machucá-la... –Acariciou-lhe a face com as costas da mão.

A jovem Duomont beijou-lhe a mão.

-- Não me machucou, minha linda condessa... – Exibiu aquele doce sorriso. – Não o fez. – Beijou
lentamente cada um dos longos dedos. -- E quanto a minha virgindade, entreguei-a a única pessoa que eu
desejei que a tomasse. – Tocou-lhe os lábios com os seus. – Sou sua...

Vitória ainda tentou protestar, mas um delicioso beijo lhe dissuadiu do intuito.

Sabia que aquilo estava errado, mas naquele momento não tinha mais forças para retrucar, pois seu
desejo já reagia às carícias que a jovem lhe proporcionava.

Acomodou-se entre as pernas da amada, sentindo os sexos se tocarem.

Entre sussurros e palavras desconexas, as duas mulheres se entregaram àquele momento único, amando-
se, esquecendo que eram inimigas, esquecendo que eram adversárias no enredo daquela história. Naquele
momento só importava o fato de estarem juntas e em poucos minutos seus corpos foram sacudidos pelo ápice
do prazer, levando-as ao patamar maior do amor.
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Capitulo 15 por gehpadilha

Vitória despertou, tentou se mexer, mas algo a impediu. Clara Jazia com a cabeça em seu peito e a longa
perna sobre a sua.

Ouviu a respiração lenta e sorriu, abraçando-a.

Olhou pela janela que permanecera aberta e percebeu que dentro de poucas horas estaria amanhecendo.
Há pouco tempo adormecera, ficara pensando em tudo que se passou naquela noite. Sabia que aquilo deveria
ter sido evitado, mas como poderia tê-lo feito? Ainda tentara não seguir em frente, mas o desejo de tomá-la em
seus braços foi incontrolável, tanto que nem mesmo fora sensível o suficiente para perceber a pureza da jovem.

Tocou-lhe as madeixas e ficou a se deliciar com a maciez dos fios perfumados.

Por que teve que se encantar logo pela neta de Frederico?

Sabia que jamais poderiam ficar juntas, pois havia muito ódio e rancor presente entre ambas. Aquele
pensamento era perturbador, ainda mais quando sentia uma felicidade tão grande por estar ali, tendo a bela
princesinha nos braços. Pensou em levantar e sair, fugir novamente, mas decidiu aproveitar um pouco mais
aquela sensação única de contentamento que jamais experimentara em toda sua vida.

Ouviu-a resmungar e achou engraçado.

-- Xiiii! – Embalou-a. – Estou aqui, Branca de neve. – Falou baixinho. – Não irei embora dessa vez.

As palavras pareceram tranquilizar a moça que se aconchegou ainda mais nos braços da amante.

Fechou os olhos, dormiria mais um pouco.

Frederico lia o jornal matutino. Estava esperando o filho e a nora para o desjejum.

-- Bom dia! – Clarice o cumprimentou com um beijo na face e sentou-se. – Felipe não descerá, pois não está
se sentindo muito bem. – Avisou comendo uma torrada.

-- O que ele tem? – O político deixou o periódico de lado. – Não é melhor chamar o médico?

-- Não, ele apenas comeu algo que não lhe fez bem, mas já lhe dei algo e daqui a pouco já estará melhor.

-- Se você diz... – Tomou um pouco de café.

Clarice precisou servir, pois das quatro empregadas que tinham, apenas uma restou, pois as outras
decidiram sair, devido ao atraso dos pagamentos.

-- Meu sogro... – A mulher começava. – Precisamos resolver essa situação financeira, daqui a pouco não
haverá mais ninguém para nos servir.

-- Isso já está sendo resolvido. – Voltou a ler o jornal. – Clara saíra vencedora do pleito e isso resolverá
todos os nossos problemas.

-- Bem, sendo assim, fico muito feliz por isso, só em pensar em não ter pessoas para cuidar do
funcionamento da casa chega a me dar nos nervos. – Completou arrogante.

Maria Clara despertou, sentindo os braços lhe enlaçarem a cintura.

Fechou os olhos e se deliciou com aquele toque possessivo.

A mente recordava de cada detalhe da noite passada. Dos corpos se buscando, das bocas se unindo...

Sentiu um arrepio na espinha!

Virou-se lentamente para não acordar a condessa e ficou a observando. Como poderia estar ainda mais
linda?

Fitou o semblante e ficou encantada com algumas sardas que repousavam perto do nariz. Os cabelos
avermelhados, desgrenhados, lhe deixava ainda mais bela.

Mirou os lábios bem desenhados e a tez arrogante.


Como foi se apaixonar tão loucamente por aquela mulher?

O resmungar de Vitória lhe tirou de seus devaneios.

Fitou o relógio e percebeu que eram quase sete da manhã. Decidiu tomar um banho e seguiu para o
banheiro.

Algum tempo depois...

Retornou aos aposentos e ficou a fitar a bela ruiva deitada entre os lençóis de seda.

Linda!

Seu coração acelerava só em olhá-la. Havia uma expressão de tranquilidade naquele rosto que só parecia
saber exibir sarcasmo.

Sorriu encantada!

Poderia passar a eternidade ali, eternizando aquela figura perfeita.

Ouviu o som da campanhia.

Amarrou o roupão e seguiu até a porta.

Pedira que trouxessem uma bandeja com café da manhã e no centro havia uma rosa branca.

Agradeceu e retonou para perto da amada. Deixou o desjejum sobre a mesinha de cabeceira, em seguida
se aproximou de Vitória, beijando-a sutilmente.

Os olhos verdes lentamente foram se mostrando, de início pareciam confusos, mas ao ver a jovem que lhe
saudava com um lindo sorriso, as cenas da noite passada voltaram a fazer sentido.

-- Bom dia, senhora condessa!

Vitória sentiu o toque rápido nos lábios e depois a viu se afastar.

Clara pegou a bandeja e sentou na cama de pernas cruzadas.

-- Bom dia, princesinha! – Espreguiçou-se demoradamente, em seguida se acomodou encostada na


cabeceira. – Nossa, quanto capricho.

A neta de Frederico a viu puxar o cobertor para cobrir a nudez, sentiu o desejo reviver.

Corada, entregou-lhe a rosa.

-- Para que sempre se lembre de mim.

A bela Mattarazi hesitou antes de receber o mimo. Algo dentro de seu peito parecia se agitar. Sempre
recebera presentes, buques de flores, as mais belas, então por que aquele gesto singelo lhe tocava tanto?

Encarou-a.

Os olhos negros brilhavam.

-- Por que uma rosa branca? – Indagou, recebendo e observando o presente delicado.

-- Não sei...

A condessa tocou as pétalas delicadas, em seguida aspirou o aroma...

-- Bem, Branca de Neve, acho que já sei a resposta. – Colou os lábios nos dela em uma carícia lenta, cheia
de emoção. – Bem, quanta comida. – Sorriu. – Quer me engordar? – Arqueou a sobrancelha divertida.

-- Não, não... Mas não sabia o que pedir, então tive a ideia de pedir um pouco de tudo, espere que algo lhe
agrade.

Vitória observou e ficou encantada com o cuidado que a jovem sempre demonstrava. Havia um
verdadeiro suprimento de comida. Torradas, leite, suco, geleia, queijo, biscoitos, pães, uvas, morango...

-- Teria como não gostar?

Clara a observou tomar leite e depois a imitou, comendo por alguns segundo em silêncio.
-- E então, o que está fazendo na capital? – A ruiva levou uma uva à boca da amada. – Não diga que veio
atrás de mim. – Gracejou.

A morena ao comer a fruta, capturou os dedos da ruiva, sugando-os...

Notou os olhos verdes se estreitarem, escurecendo...

-- Já te disseram que és muito convencida, condessa? – Soltou-lhe.

-- Algumas tantas vezes, nada que me atinja. – Brincou. – Afinal, fofoca de oposição não se dar muito
crédito. – Piscou o olho, desdenhosa.

-- Sei!

A poderosa Mattarazi a observou passar geleia na torrada e levar a boca. Viu-a se sujar e não resistiu ao
desejo de provar mais uma vez daquele sabor.

Afastou a comida para o lado, em seguida, segurou-lhe a nuca e a trouxe para bem perto de si. De início,
apenas limpou-lhe o canto da boca com toques rápidos, em seguida desenhou-lhe os lábios com a língua.

-- Não há mulher mais linda do que você em todo o universo... – Sussurrou. – Ainda mais quando fica
corada, parece uma princesinha...

Clara umedeceu os lábios.

-- Por que me chama de princesa de contos de fadas?

-- Porque você é uma...

A jovem Duomont nem teve tempo de retrucar, pois sua boca foi tomada apaixonadamente. Cheia de
perícia, Vitória explorava cada canto, capturou-lhe a língua, chupando demoradamente.

Introduziu a mão por entre o roupão de Maria e tomou os seios em suas mãos, Apertou-os, arrancando
gemidos da garota.

A condessa parecia estar faminta por outra coisa, pois se reencostou na cabeceira da cama e trouxe a
amada consigo, sentando em seu colo em posição de amazonas.

A neta de Frederico permitiu que ela lhe afastasse o robe, não havia nada por baixo, apenas a sua pele
arrepiada e sedenta por carícias.

Relanceou a cabeça para trás para permitir que a boca da ruiva lhe mamasse os seios. Sentiu as mãos
descendo, afagando-lhe a barriga, massageando-lhe as coxas e parando em seu sexo.

-- Vitória... – Pronunciou o nome dela baixinho.

-- É isso que você quer...

Clara sentiu os dedos lhe acariciando, enquanto a boca retornava ao colo. Sentia-a delicada, enquanto o
polegar lhe tocava o clitóris, apertando-o, incitando-o mais e mais, até invadi-la.

-- Ainnn... – A morena sentia a paixão ficar mais forte.

Cravou as unhas na palma da mão e esperou, mas Vitória apenas a fitava. Seu corpo se adequava a
dominação, mas aquilo não era o suficiente. A sensação de tê-la parada dentro de si a estava deixando louca,
então começou a movimentar o quadril, imperando o ritmo e vendo a condessa segui-lo deliciosamente,
penetrando-a com mais ímpeto, aumentando as estocadas, tirando-lhe o fôlego.

A ruiva ouvia os gemidos e isso a estava deixando ainda mais excitada, tocava-lhe com um único dedo,
pois temia machucá-la, mas ao tê-la tão predisposta, aumentou ainda mais a pressão.

As mãos da Duomont chegou ao corpo de Vitória e ao lhe notar tão molhada, a invadiu forte.

Ouviu-a gritar seu nome e rebolar cada vez mais rápido, sentiu-a lhe prender os dedos e depois soltar, a
invadiu mais e mais, ao mesmo tempo que sentia que não aguentaria por muito tempo... As duas mulheres
gritaram em um orgasmo arrebatador, cheio de paixão e de desespero pelo que sabiam não poder mais
controlar.

Frederico andava de um lado para o outro no escritório. Ligara inúmeras vezes para o celular da neta e
não obteve nenhuma resposta.

O amigo banqueiro lhe informara que a jovem não tinha ainda aparecido e o combinado tinha sido nove
horas.
O que poderia ter acontecido?

Impaciente, ligou para o hotel e ficou sabendo que ela não tinha saído do quarto até àquela hora, porém
nenhuma das ligações era atendida.

Decidiu tentar mais uma vez o celular de Maria Clara.

Clara repousava nos braços da amada quando ouviu um som. Parecia vir de tão longe que de início nem
se preocupou, mas a insistência era tão grande que sabia que não deveria fazer parte de sua imaginação.

Abriu os olhos e tentou se concentrar melhor.

O celular!

Levantou da cama em um pulo e seguiu em busca do aparelho, o encontrou sob a pila de roupas,
rapidamente atendeu.

-- Vovô!

Vitória sorriu do jeito atrapalhado da jovem. Decidiu ir tomar um banho para deixá-la mais à vontade.

Miguel chegou à fazenda Mattarazi, recebera uma ligação de Batista que parecia preocupado.

Estacionou e seguiu para o interior da casa grande. Encontrou o homem no escritório da condessa, sua
expressão estava um pouco carregada.

-- O que houve? – O advogado já foi falando. – Vim assim que recebi o recado.

-- O cavalo da condessa sumiu. – Disse cheio de pesar. – O procuramos por todos os lugares e não há sinal
do bicho.

-- Mas como isso pode ter acontecido? Essas terras estão cheias de seguranças. – Passou a mão pelos
cabelos. – A Vitória vai enlouquecer quando souber disso. Já estão procurando o animal?

-- Sim, mas parece que ele foi tragado pela terra.

-- Batista, isso não tem explicação. Todos sabemos como aquele cavalo é arredio. Só a condessa consegue
lidar com ele.

-- Eu sei, por isso acho que ele fugiu. Não tinha como alguém conseguir pegá-lo, ao menos que...

-- Não ouse pensar isso... Vitória é capaz de matar por seu cavalo. – Colocou a mão no ombro do idoso. –
Vamos encontrá-lo, eu prometo!

Maria Clara ficou parada no meio do quarto olhando para o celular.

O avô estava possesso, pois ela deveria estar no banco há mais de uma hora.

Como fora se esquecer disso?

Tivera que inventar uma desculpa para Frederico. Não gostava de mentiras, mas como poderia dizer que
tinha passado a noite nos braços da condessa e por esse motivo tinha esquecido o compromisso tão
importante?

Ouviu o som do chuveiro.

Vestiu o roupão e esperou. Viu Vitória aparecer enrolada em uma toalha.

Respirou fundo!

Cada vez que via aquela mulher, mais seu corpo a desejava.

-- Algum problema? – A ruiva indagou.

Clara caminhou até ela, maravilhada. Os cabelos vermelhos estavam mais escuros por estarem molhados.

-- Eu preciso resolver um problema... – Disse relutante. – E depois já retorno para casa.

Vitória a encarou por alguns segundos. Por um instante foi possível ver a decepção naqueles olhos verdes,
mas depois reinou a indiferença.
-- Certo! – Disse arrogante. – Vou me vestir e já estou saindo.

A Duomont a deteve.

-- Por favor... – Pediu. – Não quero que fiquemos assim.

A condessa estreitou os olhos, retirando-lhe a mão que lhe prendia.

-- E como você quer que fiquemos? Nós sabemos o que somos e sabemos que fazemos partes de lados
separados.

-- Eu não faço parte de lado algum. – Negou. – E foi tão maravilhoso ontem, estivemos juntas, fizemos
amor... Eu me entreguei para ti... – Completou em um fio de voz.

-- Acho melhor você se arrumar para ir resolver os seus problemas, não acredito que seu avô vai gostar
dessa sua demora.

Maria Clara a encarou por alguns segundos e por fim assentiu.

Observou-a por um instante, viu-a se vestir...

Não desejava ir embora, o que mais queria era fica ali, junto à condessa, porém sabia que não poderia,
tinha suas obrigações a cumprir e havia sua família...

-- Vitória... – Chamou baixinho.

A ruiva acabou de se vestir e se virou para ela.

-- O quê? – Perguntou ríspida.

A morena caminhou até ela, ficando por alguns segundo olhando-a.

Maria Clara a abraçou surpreendendo a condessa.

Mattarazi ficou com os braços caídos ao lado do corpo, enquanto a jovem a estreitava forte.

-- Não me odeie... – Clara sussurrou ao seu ouvido.

Permaneceram naquela posição por instantes intermináveis, até a bela Duomont se afastar e seguir em
direção ao banheiro, sem nem mesmo olhar para trás.

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Capitulo 16 por gehpadilha

Maria Clara seguiu para o banco.

Mais uma vez teve que inventar uma desculpa ao amigo do seu avô. Porém o que importava naquele
momento era que conseguira o empréstimo que o Frederico necessitava.

Seguiu até o carro e ficou parada por alguns minutos ali, observando a correria costumeira dos grandes
centros.

Precisava retornar, mas não era isso que o seu coração gritava para fazer. Desejava se jogar nos braços
da condessa e fingir que só havia elas naquele mundo tão grande.

Quando saiu do banho naquela manhã, Vitória tinha ido embora. Ainda tivera a ilusão de encontrá-la ali,
esperando, dizendo que a queria para si e que não permitiria que ela partisse, porém mais uma vez sonhara
com algo que jamais aconteceria.

Não se arrependia de ter se entregado, como falara, não haveria outra pessoa que desejasse que lhe
tomasse. Não conseguira controlar aquele sentimento que parecia querer explodir em seu peito...

O celular tocava insistentemente lhe tirando de seus pensamentos.

Ainda pensou em não atender, mas preferiu não arrumar ainda mais problemas com o namorado.

Marcos parecia irritado, exigindo que ela voltasse o mais rápido possível para casa, não parecera nada
feliz com o fato de ela ter viajado. Na noite passada ao conversarem, ele já mostrava essa chateação, porém
agora parecia bem pior.

Respirou fundo e tentou não ser grossa.

-- Dentro de algumas horas estarei em casa. – Disse simplesmente finalizando a chamada.

A condessa retornou para o próprio quarto. Sua mente fervilhava, vários pensamentos lhe deixava cada
vez mais perturbada.

Deitou-se de costas e ficou olhando para o teto por intermináveis segundos. Sentiu os dedos tocarem a
maciez da rosa branca. Fitou-a e em seguida aspirou o delicado aromara primaveril.

-- Porque dentro de mim só há inverno, doce Branca de Neve...

Fechou os olhos e sua mente retornou há muitos anos.

O primeiro Natal que passara fora do internato. Chegara à fazenda e imediatamente aprendera qual era o
seu lugar.

Victor estava viajando e só chegaria no dia vinte e cinco.

Vestiu-se e seguiu para o grande salão onde as pessoas se reuniam. Mesmo com a situação financeira
decadente, os Mattarazis ostentavam algo que não mais tinham.

Conseguia se recordar bem do olhar desdenhoso que a madrasta lhe dirigia, não disfarçando o total
desagrado pela presença da garota.

Victorio àquela altura da festa já flertava abertamente com todas as mulheres presentes ali, não se
importava se fosse um relés empregada ou a filha ou até esposa de um dos convidados.

Vitória recordava que passara toda a ceia de Natal na enorme varanda que circundava a casa grande,
apenas observava a todos e não havia ninguém que se importasse com ela.

Quando amanheceu o dia e todos os convidados já tinham ido embora. A ruiva retornou para o salão,
então encontrou Kassandra, a esposa do pai.

-- Limpe tudo! – A odiosa mulher ordenou. – E nunca mais apareça aqui quando tivermos convidados.

A jovem a encarou.

-- Não sou sua empregada! – A garota respondeu altiva.

A risada da condessa ecoou por toda a sala.


-- Você é uma bastarda. – Frisou bem o adjetivo. – A filha de uma empregadinha, uma prostituta que
achou que poderia ter algo com o patrão, mas sabe, você e sua mãe não passam de um lixo, jamais poderá ser
vista como algo além de uma maldita bastarda... Uma mancha nos bons costumes, uma erva podre que veio ao
mundo para desgraçar a vida de todos.

Vitória se virou para sair e viu o conde encostado no topo da escada, em seu semblante havia
consentimento para a atitude da esposa. Depois daquele dia, a jovem percebera que precisaria ser forte se
desejasse sobreviver a toda aquelas humilhações. Com o tempo, passara a se tornar tão insensíveis que chegou
a imaginar que não havia um coração dentro de si.

Uma lágrima solitária lhe molhou a face...

Miguel passara o dia percorrendo toda a extensão de terra da fazenda Mattarazi, pedira ajuda a polícia,
mas não encontrara uma única pista do animal. Logo cedo, retornou para as terras de Vitória e estava quase
desistindo do intuito quando ouviu o relinchar bem característico. Avisou aos empregados que estavam consigo
e seguiram até onde vinha o som.

Andaram por alguns metros e lá estava o poderoso animal. Sentiu um alívio em seu peito, temera tanto
que algo terrível tivesse ocorrido com o garanhão. Sabia que alguém fizesse algo com o Bastardo, nada
impediria a condessa de usar de violência para castigar os culpados.

O animal parecia ainda mais arisco e não permitiu que ninguém se aproximasse.

-- Esse bicho está possuído, doutor. – Um dos peões falava assustado.

Miguel não acreditava nessas crendices, mas sabia que algo não estava bem, pois Bastardo não permitia
que ninguém se aproximasse.

-- Vão buscar o veterinário. – Ordenou.

-- Ele não está na cidade, ontem estive lá e fiquei sabendo que ele tinha viajado e ficaria uma semana fora.
– Batista se adiantou.

O advogado retirou o chapéu e limpou o suor que cobria a tez.

-- Temos que levar esse bicho para a fazenda.

-- Como? – O administrador o fitou. – Só a condessa poderá se aproximar dele.

Miguel respirou fundo.

Não sabia onde estava a patroa, ligava para o celular e não recebia respostas, então decidiu mandar uma
mensagem para ela falando sobre o problema com o cavalo. Gostaria de ter resolvido aquele empecilho
sozinho, mas percebeu que não teria como fazê-lo.

Clara retornara para a casa no dia anterior.

Frederico ficou feliz por ter conseguido o empréstimo, não era muito, mas por enquanto, serviria para
saldar algumas dívidas.

A jovem nem pode descansar e já retornava para sua rotina. Faltavam poucos dias para as eleições e não
poderia relaxar na altura do campeonato.

Depois do almoço, seguiu para a casa do noivo, encontrou-o na sala, esperando-a.

-- Essa é a última vez que você viaja e não me explica o motivo disso. – Foi falando assim que a viu.

A garota o encarou por alguns segundos.

Estava exausta e a última coisa que desejava era entrar em uma discussão com o rapaz.

-- Também tenho minhas próprias coisas para resolver. – Disse calmamente.

Marcos não pareceu feliz com a explicação e seguiu até ela com passos firmes.

-- Suas coisas ou do seu avô? – Indagou. – Tenho certeza que Frederico te fez viajar em busca de dinheiro.
Ele não tem mais a quem recorrer e está usando você como fez com... – Parou bruscamente.

-- Fez com quem? – Perguntou arqueando a sobrancelha. – De quem estás a falar?

O jovem passou a mão pelos cabelos.


-- Apenas não desejo que nossa campanha que está quase ganha seja prejudicada. – Estendeu a mão lhe
tocando a face. – Em poucos dias, você será eleita prefeita dessa cidade e precisamos tomar cuidado com nossas
ações, pois a condessa não aceitará nossa vitória de bom grado.

Maria Clara sentiu um arrepio na nuca ao ouvir à menção à Mattarazi.

Ainda sentia os efeitos dos momentos de amor em seu corpo. Ainda doía não ter permanecido com ela,
seu peito ainda sangrava por não ter encontrado-a quando saiu do banho.

Mirou o homem parado a sua frente e sentiu a culpa ficar ainda maior. Estava a trair o futuro marido, não
só em suas ações, mas em seus pensamentos que vivia constantemente a buscar por lindos olhos verdes.

Até quando conseguiria sustentar àquela situação?

-- Perdoe-me por ter falado assim, não quero que briguemos, meu amor.

A jovem sentiu o toque nos lábios e permaneceu estática, fria ao beijo.

-- Acho melhor irmos. – Interrompeu o contato.

-- Certo, irei buscar minhas coisas.

Clara assentiu e permaneceu esperando.

O dia dos políticos fora bem atribulados e só retornaram para a casa quando já passava da meia noite.

A condessa não deixara o hotel. Com a partida da Duomont, ela não sentira vontade de sair, nem mesmo
quando recebera o convite tão sugestivo da loira.

Tinha acabado de tomar banho quando ouviu o bip do celular. Viu a mensagem de Miguel e na mesma
hora ligou para saber o que estava ocorrendo. Ficou louca ao saber do que aconteceu com o cavalo. Praguejou
alto, em seguida encerrou a chamada e discou para o piloto, não retornaria de carro, iria no helicóptero, pois
assim não perderia tempo.

Era quase meio dia, quando viram o carro da condessa se aproximar.

Ela parecia furiosa.

-- O que houve com o Bastardo? – Bateu com o chicote na própria bota. – Eu saio por alguns dias e um
monte de incompetentes não conseguem nem ao menos cuidar do meu cavalo. – Gritava. – Demitirei todos,
estou cansada de vocês.

Miguel preferiu ficar quieto. Batista baixou a cabeça, enquanto os peões pareciam ainda mais assustados.

Vitória caminhou a passos firmes até onde estava o garanhão, mas ao se aproximar foi atacada e acabou
indo ao chão.

O advogado correu até ela.

-- Você está bem? – Ajudou-a a levantar.

-- Solte-me, seu idiota! – Empurrou-o. – Tudo isso é culpa de vocês. – Apontava o dedo acusadoramente. –
Estou cercada de incompetentes, idiotas!

Miguel preferiu não discutir. Conhecia bem aquele gênio terrível e sabia que se falasse alguma coisa, ela
ficaria ainda mais furiosa. Retornou para junto de Batista e ficaram a observar as inúmeras investidas da
condessa para se aproximar do cavalo, todas fracassadas e ela ficava cada vez mais fora de si.

Todos temeram quando viram Vitória se aproximando em passos largos.

-- Dê-me a droga dessa corda!

O empregado rapidamente fez o que fora ordenado.

Mattarazi tentou laçar o bicho, mas a tentativa fora mais uma vez em vão.

-- Que merda, Bastardo! – Praguejava passando as mãos pelos longos cabelos. – Não me obrigue a usar
métodos mais doloridos.

O garanhão levantou as patas relinchando, parecia desafiar a dona.

Ela caminhou até os presentes.


-- Vá buscar o veterinário! – Ordenou com as mãos na cintura. – Diga-lhe para vir urgentemente aqui.

Os presentes se entreolharam, pareciam temerosos, baixaram a cabeça.

-- Estão surdos? – Gritou.

-- Ele não está na cidade. – O administrador falou tomando a frente de todos.

A condessa socou a palma da mão.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Nunca tivera problemas com o cavalo. O criara desde que era
apenas um potro quando fora rejeitado por todos, ela o acolheu e o tornou seu.

Ele era tudo o que ela tinha e agora estava sendo rejeitada.

Agachou sobre os calcanhares e ficou o observando.

Percebia o olhar impetuoso do animal, parecia irritado, mas por quê?

O advogado sentiu um aperto no peito. Era visível a decepção no semblante da condessa. Sabia bem o que
ela já passara na vida, e talvez para muitos, aquilo fosse apenas drama, porém fora o Bastardo quem sempre
estivera ao seu lado durante tanto tempo.

Sabia o que devia fazer e não hesitou, bem, já tinha sido demitido, então esse risco não correria mais.

Discou o número e depois de alguns minutos foi atendido.

Maria Clara ainda estava na cama. Fora dormir tarde e o cansaço lhe dominavam todo o corpo.

Ouviu o som do celular, visualizou o número e não reconheceu, mas mesmo assim atendeu, poderia ser
algo relacionado à campanha.

Ficou surpresa com as palavras que foram ditas a seguir.

-- Isso é um absurdo!

Frederico estava verificando os animais quando se virou ao ouvir a voz do filho.

-- Do que você está falando?

-- Achas que não sei que mandou a Maria Clara para a capital em busca de empréstimo com o seu amigo
banqueiro?

-- Isso não é da sua conta! – Falou se afastando.

Felipe foi até ele e o segurou.

-- Não permitirei que envolva a minha filha nas suas sujeiras. – Apontou-lhe o dedo acusadoramente. – O
senhor está devendo tudo que temos e ainda está envolvendo a própria neta com agiotas.

-- Não se meta nas minhas coisas! – Frederico disse por entre os dentes.

-- Não permitirei que faça com a Clara o que fez com a minha irmã!

O político observou o filho se afastar a passos largos e decidiu não ir atrás dele.

Não haveria nenhum risco de ter problemas, tudo já fora totalmente planejado. A neta ganharia a
campanha e ele conseguiria arcar com todas as dívidas. Logo, logo recuperaria o prestígio de outrora e se
vingaria da condessa Mattarazi.

Clara nem mesmo falou com os pais. Após receber a ligação, seguiu direto ao destino que lhe esperava.

Não hesitou em momento algum, as palavras do advogado a fizeram pular da cama e seguir direto para o
banho, coisa que fizera rapidamente.

Ao chegar ao local indicado ficou surpresa ao ver a condessa. O advogado não falara que ela tinha
retornado.

Pensou em dar ré e voltar para a casa.


Ficou por alguns minutos parada a distância. Sua presença não parecia ter sido notada pelos presentes.

Observou a ruiva tentar se aproximar do cavalo e viu quando ele levantava as patas dianteiras,
enfrentando-a.

Rapidamente deixou o veículo e caminhou até onde ela estava.

-- Você o está deixando mais estressado, Vitória!

A ruiva se virou e pareceu não gostar de ver a neta de Frederico ali.

-- Ora, quem você pensa ser para se meter onde não foi chamada? – Encarou-a com as mãos nos quadris. –
Saia imediatamente daqui, eu não a chamei.

Clara respirou fundo.

Odiava aquele gênio arrogante, chegava a perder toda paciência quando a condessa exibia aquele lado
estúpido.

Fitou os olhos verdes e notou que pareciam soltar chispas de raiva.

-- Eu a chamei! – Miguel interferiu.

-- E com que permissão você o fez? – Gritou. – Você não tem nenhum direito de tomar decisões. Eu sou a
dona, eu quem ordena aqui. – Apontava o indicador.

A jovem Duomont relanceou os olhos.

-- Você está sendo muito infantil, condessa... – Disse caminhando até o cavalo.

Vitória tentou detê-la, mas ficou surpresa quando o garanhão aceitou de bom grado o carinho que
recebeu na tez. Observava tudo e parecia ficar ainda mais descontrolada. Ouviu os peões os comentarem sobre
como Maria Clara obtivera sucesso ao domar o garanhão.

-- Saiam daqui, estão todos demitidos, não quero vê-los mais na minha frente.

A condessa caminhou até o carro, sentou no capo e ficou observando o desenrolar da cena.

Não conseguia conter a raiva e temia que a qualquer momento perdesse a cabeça.

Batista falou com os trabalhadores e pediu para que eles seguissem para a fazenda, prometeu que depois
falaria com eles.

-- Já não sei se foi uma boa ideia trazer a senhorita Duomont aqui. – O administrador falou ao notar onde
estava a patroa. – Ela parece possuída por uma força maligna.

Miguel deu de ombros.

-- Era necessário um veterinário, então está aí, uma veterinária.

Maria Clara seguiu até onde estava a condessa.

Observou que a outra não a fitava diretamente, nem entendia o motivo de tanta raiva.

-- Posso montá-lo e levá-lo para a fazenda? – Indagou relutante.

-- Como é que é? – Vitória foi até ela. – Você quer montar o meu cavalo? – Indagou com as mãos nos
quadris. – Não achas que está avançando muito não?

A morena respirou fundo, não queria brigar.

-- Estou aqui como veterinária. – Disse chutando uma pedrinha. – Não como sua inimiga e tampouco como
sua amante.

Mattarazi sentiu um arrepio na nuca só em ouvir a última palavra, então só naquele momento notou
como a jovem parada a sua frente estava ainda mais bonita. Ela usava short jeans, curto, camiseta e botas de
cano alto. Os cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo.

-- O que ele tem? – Apontou para o animal.

-- Não tenho certeza, mas chutaria que ele está com raiva de ti.

-- De mim? – Indagou surpresa, fitando-a. – Não fiz nada para o Bastardo.

-- Bem, essa é uma das explicações para o comportamento dele.


A condessa a encarou por alguns segundos.

-- Vou lá com ele novamente.

Clara lhe deteve pelo braço.

-- Não o faça ou vai estressá-lo ainda mais. – Afastou a mão ao sentir o corpo reagir. – Deixe-me levá-lo até
a fazenda. Ele ficará seguro lá.

-- Quem você pensa ser? Só porque tem um diplominha acha que pode invadir as minhas terras e dar uma
de salvadora? – Bateu com a mão fechada no carro. -- Faça como você quiser, princesinha!

Vitória parecia ainda mais exasperada ao entrar no veículo e sair em alta velocidade.

Miguel se aproximou.

-- E então?

-- Irei lavá-lo para a fazenda! – Disse convicta.

-- Quer que vá buscar uma sela?

-- Não, se ele não me derrubar, não tenho problema em montar em pelo.

Caminhou até onde estava o animal e voltou a tocá-lo.

-- Calma, rapaz, acho que você precisa perdoar a sua dona, seja lá o que ela tenha feito com você. – Deu-
lhe uma cenoura. – Será que vais me derrubar? – Sorriu. – Por favorzinho, não faça isso, a sua condessa vai rir
muito de mim se isso chegar a acontecer.

Delicadamente, impulsionou o corpo e ficou sobre o poderoso cavalo. Esperou a queda, mas o bicho
permaneceu calmo, sendo assim, ela seguiu em trotes lentos até a sede das terras de Vitória Mattarazi.

Miguel chegou com Batista e esperaram por Maria Clara.

O advogado veio trazendo o veículo da jovem, enquanto o administrador trouxe o dele.

Ela falou para que eles seguissem na frente, pois temia que pudessem assustar o garanhão.

Desceram e perceberam que o carro da condessa ainda estava em frente a casa, não o tinham levado para
a garagem.

Esperaram em silêncio até verem Maria ir até eles.

-- O que aconteceu? – Falou baixo. – A patroa chegou cuspindo fogo.

-- Onde ela está? – Miguel indagou.

-- Trancou-se no escritório, mas antes esbravejou com os empregados e mandou todos saírem daqui.

Os dois homens se olharam por alguns segundos.

-- Por que ela está assim? – Então a empregada viu Maria Clara se aproximando, montada no garanhão. –
Virgem santíssima, é hoje que o mundo acaba.

A mulher seguiu imediatamente para dentro.

A jovem Duomont seguiu até o estábulo e deixou o animal em sua baia. Quando já estava saindo viu a
égua branca, aquela que se encantara tanto no dia do leilão. Bastardo também a notou e pareceu ficar agitado.

-- Está com ciúmes... – Disse para si mesma.

Caminhou até onde estava os dois homens.

-- Obrigada, Clara! – Miguel estendeu a mão. – Quanto lhe devo?

A garota aceitou o cumprimento e sorriu.

-- Pensei que a Mattarazi quem fosse pagar.

-- Nem brinque, pois até demitido todos já estamos.

-- Eu preciso vê-la. – A moça falou.


-- Você só pode estar louca. – Batista se intrometeu. – Do jeito que ela está, pode lhe jogar da escada.

Clara gargalhou divertida.

-- Eu apenas que falar pra ela o que se passa com o Bastardo. Acho que descobri.

Os dois não pareceram muito convencido, porém diante da determinação da neta de Frederico, o
advogado decidiu acatar o pedido.

-- Venha comigo!

Batista os observou se afastarem e ficou ainda mais preocupado.

-- Santo Cristo, não permita que ocorra uma tragédia.

Vitória estava sentada, com a cabeça virada para trás e com os olhos fechados. Naquele momento deseja
apenas relaxar, pois estava muito irritada.

Massageou as têmporas, tentando controlar a respiração.

Levantou-se e caminhou até o pequeno bar, serviu-se de uma dose de cachaça, sentindo-a arder em sua
garganta.

Clara ficou extasiada com a decoração do interior da mansão. Era um lugar realmente muito bonito e
dava para ver que os móveis eram italianos, outros rústicos, causando uma contraditória harmonia.

-- Bata, se ela atender você entra, mas se ela esbravejar, acho melhor não insistir. Ficarei esperando aqui.

A jovem viu a enorme porta e mesmo diante da fera que estava do outro lado, não hesitou.

A condessa ouviu a batida delicada.

-- Já disse que não desejo ver ninguém! – Falou brava.

-- Preciso lhe falar sobre o Bastardo...

Vitória não acreditava que aquela mulher estava em sua casa, como era capaz de tamanha ousadia?

Fechou as mãos fortemente.

Sentou na pontinha da mesa e ficou a mirar a porta.

Aquela garota não sabia o quanto estava se arriscando, não tinha ideia de como estava correndo perigo
naquele momento...

Bebeu mais um pouco.

Clara já estava desistindo, quando viu a porta se abrir.

Observou o lugar mergulhado na penumbra, mas mesmo assim entrou, viu a porta se fechar e lá estava a
condessa, sentada, ereta, com aquela pose de rainha.

-- Eu acho que sei o que o Bastardo tem. – Adiantou-se entusiasmada.

Vitória arqueou a sobrancelha.

-- Tenho quase certeza de que ele está com ciúmes da égua branca. – Falou entusiasmada. – Você a esteve
montando esses dias?

-- Sim! – Levou o copo a boca. – Estou a domar a Branca de Neve, então necessito de montá-la
constantemente.

-- Branca de Neve? – Perguntou confusa.

-- Sim, esse é o nome dela.

Clara tentou não se irritar, mesmo ao ver os olhos verdes brilharem em provocação.
-- Bem, então tente ver como pode resolver o problema, pois o seu amado Bastardo não parece interessado
em dividir a dona. – Respirou fundo. – Era só isso o que eu tinha para falar. Passar bem. – Caminhou até a porta
e tentou abrir, em vão. – Poderia me deixar sair? – Pediu sem se voltar.

-- Não!

A bela Duomont sabia o jogo de Vitória, mas tentaria não perder a cabeça discutindo com ela.

Voltou-se.

-- Tenho certeza que não foi isso que quis dizer, senhora condessa, então repetirei, abra a porta. – Sorriu.

Vitória caminhou lentamente até ela, ficando a apenas alguns centímetros de distância. Encarou-a, fitou
aqueles olhos negros intensamente.

-- Não deveria ter vindo aqui... – Deu mais um passo. – Na verdade, você não deveria ter entrado na minha
vida.

Mesmo estando escuro, Maria conseguia visualizar bem os olhos da mulher parada a sua frente,
brilhavam friamente.

-- Vim porque o Miguel me chamou. – Respondeu. – Como já disse antes, volto a repetir, não tenho nada
contra você, não sou sua inimiga.

-- Mas eu sou sua inimiga! – Pressionou-a forte contra a madeira. – Eu quero ser sua inimiga, eu quero te
odiar, quero te destruir, quero que sofra... – Dizia por entre os dentes. – Quero que sinta a mesma dor que eu
sinto.

Clara espalmou as mãos em seu peito para impedir o contato.

-- Deixe-me sair... – Tentava continuar calma.

-- Por que veio aqui? Para me provocar? É isso que você pretendia?

-- O Miguel me chamou. – Repetiu. – Se ele não tivesse me ligado, eu não teria vindo.

A condessa aspirou o cheiro que se depreendia do corpo dela. Aproximou-se mais.

A neta de Frederico sentia as reações do corpo, tentou se concentrar em qualquer outra coisa que não
fosse o desejo que começava a se rebelar dentro de si.

-- Acho que seu short é muito curto. – Sussurrou em seu ouvido. – Não deveria andar por aí vestida assim.

Clara mordiscou o lábio inferior.

-- Está tremendo? – Tocou-lhe o seio esquerdo. – Está com medo, Branca de Neve? – Provocou-a.

Vitória sentia os seios dela reagirem e isso a deixou em brasas. A única coisa que desejava naquele
momento era possuí-la mais uma vez.

-- Não... – Negou com voz rouca. – Não tenho medo da rainha má...

-- Nem se ela fizer isso... ?

Maria sentia os dedos lhe abrindo o short e lhe tocando a calcinha.

Mordeu o lábio inferior.

A condessa sentiu o tecido molhado...

Impetuosa, deslizou a mão sob a lingerie, sentindo o quão escorregadia estava.

-- Tenho ganas de devorá-la, de tomá-la... de comê-la... – Sussurrou ao seu ouvido.

Clara gemeu ao sentir a carícia exigente, os movimentos circulares...

Segurou-lhe a mão, cessando a tortura.

-- Deixe-me ir...

Vitória se afastou, mas retornou para ela, puxando-a para si, calando os protestos com um beijo.

A Duomont precisou se apoiar nela para não cair. Abraçou-a, enquanto tinha a boca dominada, enquanto
sentia a língua sendo sugada, chupada com sofreguidão.

Da mesma forma que começou, muito rápido o beijo terminou.


-- Vá, antes que eu faça uma loucura.

A condessa contornou a escrivaninha, sentando-se na cadeira.

Clara a encarou por alguns segundos, seguiu até a porta e se voltou para ela.

-- Posso te pedir uma coisa?

A ruiva fez um sutil gesto afirmativo com a cabeça.

-- Não demita os seus funcionários, eles não tiveram culpa do que ocorreu, pense que eles precisam desse
trabalho para sustentar a família, quanto ao Miguel, ele só quis ajudar.

Antes que Mattarazi pudesse falar algo, Maria Clara foi embora.

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Capitulo 17 por gehpadilha
A condessa fitou a porta por onde Clara tinha saído.

Mordeu o lateral do lábio inferior, maneou a cabeça negativamente e sorriu.

Por que permitia àquela garotinha estúpida tais liberdades?

Ninguém nunca a enfrentara daquele jeito, ninguém nunca ousara tanto.

Encostou-se a cadeira, passou as mãos pelos cabelos. Umedeceu os lábios com a língua e teve a impressão
que o gosto dela ainda estava lá.

Seu corpo ainda estava em chamas, poderia tê-la tomado novamente, possuído-a ali, em seu escritório.

-- Ah, Branca de Neve... – Sussurrou. – Você vai acabar me deixando louca...

Quem diria que por trás daquele sorriso meigo havia uma personalidade tão forte e tão passional?

Precisava esquecê-la, mas como faria isso?

Mesmo que nunca pudesse admitir, adorava tê-la por perto, mesmo quando era enfrentada, mesmo
quando estavam brigando, desejava-a para si...

Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.

-- Entre! – Falou exasperada.

O advogado caminhou e parou diante da mesa.

-- O que quer agora? Será que não basta aquela pirralha idiota? Não já me encheram o suficiente por hoje?

-- Só vim dizer que amanhã trarei todos os documentos para que entregue ao seu novo representante
legal.

Vitória relanceou os olhos, entediada.

-- Não precisa, você continua sendo meu advogado, afinal, não tenho tempo para ficar procurando um
novo.

-- Só ficarei se todos os outros ficarem. – Sentou. – Você não pode demitir todo mundo, Vitória, eles não
tiveram culpa, o Bastardo é muito esperto, ele fugiu.

-- Ninguém será demitido, agora me deixe em paz.

Miguel pareceu surpreso com as palavras. Conhecia muito bem a ruiva e sabia que ela não voltava atrás
quando dizia algo, então se surpreendia com o que acabava de ouvir, ainda pensou em questionar, porém era
melhor não afrontá-la ainda mais.

Levantou-se e foi embora, era melhor não brincar com a sorte.

Maria Clara seguia pelo caminho da fazenda.

O celular tocava, era o seu pai, decerto, já estava preocupado com sua saída. Preferiu não atender,
seguiria direto para a casa e lá falaria com ele.

Sabia que não deveria ter ido à fazenda Mattarazi, mas quando Miguel lhe contara sobre o problema, não
resistira ao desejo de ir. Lógico que não sabia que encontraria a condessa, não imaginou que a veria tão
rapidamente, não estava pronta para aquilo. Seu corpo ainda tremia ao recordar do seu toque, das suas carícias
ousadas, seus beijos exigentes.

Estava apaixonada... Completamente louca por aquela mulher...

Precisava acabar com aquilo, estava noiva e em breve casaria com o Marcos, porém não o amava. Tinha
certeza disso, estava convicta que não desejava aquele relacionamento, porém como colocaria um fim assim?

-- Vitória... Feiticeira...

Otávio caminhava de um lado para o outro na enorme sala de sua casa. Alex estava sentado e observava
tudo com calma.
-- Não entendes que vamos perder essa campanha por causa da irresponsabilidade dessa maldita
condessa. – Esbravejava. – Como tive a louca ideia de convidá-la para ser a candidata à prefeita.

-- Relaxe! – O jornalista levantou e preparou um drinque. – Como já disse, a maioria dessas pessoas
trabalham para Vitória, estamos indo pelo caminho certo, eles não se voltarão contra a maior empregadora da
região.

-- Como pode ter tanta certeza?

-- Eu tenho meus contatos. – Entregou-lhe o copo. – Hoje mesmo percorreremos essas casas, basta uma
sutil ameaça e a nossa bela ruiva será a vencedora.

-- Eu serei o vencedor. – Corrigiu, brindando. – Serei eu o prefeito. – Sorriu.

A morena seguiu direto para o quarto, teve a sorte de não encontrar ninguém na sala.

-- Onde você estava, Maria Clara?

A jovem assustou-se ao ver o pai sentado sobre sua cama.

-- O que faz aqui? – Indagou.

-- Estava a sua procura e soube que saiu cedo e não avisou a ninguém.

A jovem tentou controlar a respiração, há tempos não tinha aquela sensação de lhe faltar o ar nos
pulmões.

Felipe levantou e imediatamente pegou a bombinha na gaveta e entregou à garota.

Ela sentou e aos poucos foi recuperando a respiração.

-- Está melhor? – Ele perguntou preocupado.

Clara fez um gesto afirmativo.

-- Agora me diga onde você estava?

A moça sabia que não poderia mentir para o pai, na verdade, jamais mentia, mas nos últimos dias o fazia
com frequência.

-- Estava na fazenda Mattarazi! – Disse de supetão.

-- O que você estava fazendo lá? – Ajoelhou-se diante dela. – Não sabe que aquela mulher pode lhe fazer
mal?

-- Fui cuidar do cavalo. – Levantou-se. – Papai, eu desejo exercer a minha profissão. – Falava
entusiasmada. – Não sabe como me sinto feliz em fazer isso, não tenho outro desejo, adoro estar em contato
com os animais.

Felipe sabia disso, via os olhos da jovem brilhar. Desde muito novo aquele fora o desejo dela e era injusto
que não tivesse permissão para fazê-lo.

Seguiu até ela, abraçando-a.

Ele fora manipulado durante toda a vida, sempre seguira à risca às ordens de Frederico. Perdera a mãe
quando ainda era um adolescente, mas sempre esteve preso as vontades do pai e não desejava que filha
passasse por aquilo.

-- Quando você ganhar a eleição terá independência para fazer o que desejar. – Segurou o rosto querido
entre as mãos. – Poderá ser a veterinária, será a melhor de todas.

-- E se eu não ganhar? – Indagou temerosa.

Clara temia. Não tinha a segurança de Frederico, tampouco a do noivo e do sogro. Apesar de tudo, de todo
o apoio recebido, tinha medo dos resultados.

-- Mesmo que não ganhe, eu ainda estarei aqui para lhe apoiar, vamos montar o seu consultório e você vai
se encher de bichos.

Ambos riram.

-- Clara, não quero que se aproxime da condessa. – Disse sério. – Não desejo que ela lhe faça nenhum mal.

A jovem apenas concordou com um gesto de cabeça.


-- Vitória Matarazi é uma mulher misteriosa e mesmo que não exista provas sobre as coisas de que ela foi
acusada, temos provas suficiente do caráter perturbador que ela apresenta.

Maria pensou em retrucar, mas sabia que seu pai estava certo. O Melhor a ser feito era não permitir essa
aproximação da condessa.

O tempo passava de forma agitada. Clara se dedicava dia após dia para que conseguisse sair vencedora do
pleito. Todos estavam confiantes de sua vitória, enquanto isso a condessa não fazia nenhum esforço para
agradar ao eleitorado, nem mesmo se pronunciara durante toda a campanha, apenas se deixara ver em alguns
raros momentos ao lado de Otávio.

Dentro de dois dias seria a tão esperada eleição e o destino daquela cidade estava em jogo.

A noite estava fria. A condessa não se sentia bem, estava agitada, irritada, impaciente mais do que o de
costume.

Caminhou até o estábulo e sentiu os olhos do garanhão negro voltados para si. Ele continuava rebelde,
exibindo o comportamento possessivo, mas não a jogou da última vez que ela o montou. Lógico, que isso só
acontecera depois que Vitória não tinha voltado a montar a Branca de Neve.

Ela lhe entregou uma cenoura e lhe acariciou as orelhas.

-- Vamos dar uma volta, campeão? Que tal? Nós dois cavalgando por essa noite negra?

Bastardo pareceu gosta da ideia e se comportou, enquanto sua dona lhe preparava para o passeio.

Alguns minutos depois, saíram por entre a escuridão, cavalgando... galopando...

Clara ouvia as palavras do avô.

Aquele era o último comício. Aquela seria a última vez que ela falaria com aquelas pessoas antes das
eleições. Estava nervosa. Observava os olhares voltados para si, conseguia visualizar a esperança brilhar
naqueles olhos que a fitavam.

Cada dia que passava tinha mais certeza dos propósitos de estar ali, de ter entrado naquela disputa. Não,
jamais permitiria que suas promessas fossem esquecidas, concretizaria tudo, mesmo que tivesse que ir contra
todos.

Frederico a convidou para assumir o seu lugar ao microfone. Marcos lhe beijou a mão e a levou até lá.

Todos aplaudiram o gesto galante do rapaz e pareceram mais entusiasmados quando o futuro vice-
prefeito a beijou nos lábios.

A condessa acabou seguindo até a cidade e ficou surpresa ao ver o aglomerado de pessoas em praça
pública, então percebeu o palco montado.

Os Duomont!

Praguejou ao ouvir as palavras de Frederico.

Dissimulado!

Aproximou-se pela lateral, onde podia ter uma ótima visão do que se passava lá. Seus olhos foram
atraídos por uma figura que jazia um pouco mais atrás, então ouviu o nome dela ser anunciado. Sentiu o
estômago embrulhar quando o filho do prefeito em um gesto galante, beijar-lhe a mão e depois os lábios.

Teve um desejo enorme de ir até lá e falar um monte de coisas para aquela garota que adorava exibir
aquele rostinho de anjo, aquela expressão doce, mas que no fundo ela era igualzinha à tia.

Decidiu ir embora, antes que fizesse uma loucura, mas as palavras de Maria Clara a deteve.

-- Eu sei que tudo o que eu falar aqui hoje pode soar falso, oportunista, afinal, eu desejo sim ganhar a
eleição. – Deu uma pausa. – Mas, não é apenas vencer, isso aqui não é uma competição, a eleição que ocorrerá
dentro de dois dias é o futuro de todos e dos que ainda estão por vir. – Aproximou-se mais. – Confesso que
tenho medo de não ser a escolhida, porém isso não vai me fazer parar. Continuarei lutando por vocês e para
tornar esse lugar onde nasci mais feliz. Obrigada a todos e saibam que cada um ocupam um espaço em meu
coração.
Vitória ouvia os aplausos e os gritos entusiasmados das pessoas. Sabia que eles acreditavam em cada
palavra dita pela neta de Frederico, mas ela não! Tinha certeza que aquela garota mimada só desejava assumir
o poder e depois nem se lembraria de nenhuma daqueles rostos esperançosos que estavam ali.

A condessa a observou descer do palco que fora montado, enquanto o noivo assumia seu lugar com
palavras fúteis e promessas ainda mais vazias.

-- Fique aqui, Bastardo, eu já volto!

Mattarazi usava uma capa preta e se utilizava do capuz para não ser reconhecida. Deixou o garanhão um
pouco afastado e seguiu por entre a multidão.

Maria Clara recebeu o abraço da mãe, Clarice parecia emocionada com as palavras da filha.

-- Tenho tanto orgulho de você, minha pequena. – Beijou-lhe a face.

-- Obrigada, mamãe. – Sorriu. – Volto rapidinho, preciso respirar um pouco, estou me sentindo sufocada.

-- Quer que eu vá contigo?

-- Não, volto rápido.

Frederico se aproximou da nora.

-- O que houve com a Clarinha?

-- Foi tomar um pouco de ar, sabe como ela fica quando está em meio a tanta gente.

O político apenas assentiu.

Observava o povo presente ali e tinha certeza que a neta seria eleita.

Maria Clara se apoiou nas armações do palco. Sorte sua que não havia ninguém naquele lugar. Sentia aos
poucos o ar retornar aos pulmões. Estava muito emocionada, feliz, satisfeita com a aceitação e carinho que
recebeu.

Ela sentiu um cheiro que sempre mexia com seus sentidos.

Ao se virar, a jovem se deparou com alguém vestido de preto. O lugar estava na penumbra.

Os olhos dela brilharam ao ver a condessa retirar o capuz e os cabelos vermelhos brilharem diante de seu
olhar assustado.

Há dias não se viam, há dias evitavam até os pensamentos...

-- O que faz aqui, condessa? – Indagou empertigada

Mattarazi se aproximou mais,

-- Estava passeando e vi o circo que tinham montado e fiquei curiosa para ver de perto. – Esboçou um
meio sorriso debochado.

-- Não tenho tempo para os seus sarcasmos.

Clara tentou se afastar, mas Vitória a deteve pelo braço.

-- Sua consciência não dói ao iludir essas pessoas?

-- Não estou iludindo ninguém!

Os olhos se fitavam e pareciam que estavam a falar de outra coisa.

Passaram-se alguns segundos.

-- Você não vai ganhar a eleição e esse seu mundinho de fantasias vai vir abaixo rapidinho.

-- Se você ganhar o que fará por essas pessoas?

A ruiva gargalhou.

-- Para mim essas pessoas podem ir para o inferno.


Maria se desvencilhou do toque da outra.

-- Como pode ser tão insensível? Não se importa com nada, além de si mesma. – Maneou a cabeça com
desgosto. – As pessoas temem a condessa e elas têm razão para isso. – Constatou triste.

-- Você teme a condessa? – Arqueou a sobrancelha.

-- Não! Eu tenho pena do que você é.

Clara viu o maxilar de Vitória contrair, mas não recuou.

-- Você não passa de uma garota mimada. Acha que pode ser melhor do que todo mundo, pensa que todos
irão te obedecer ou mesmo serem seus brinquedos nesse joguinho de dona do mundo.

A Duomont não se intimidou quando Vitória partiu para cima dela, segurando-a pelos ombros e a
pressionando rusticamente contra o veículo.

-- Você não passa de uma idiota. – Pressionou-a mais. – Uma garotinha estúpida que vive em um mundo de
contos de fadas. Uma menininha que corre para debaixo das asas da família quando as coisas não estão bem. –
Mirou-lhe os lábios. – É uma sonsa que exibe esse sorriso meigo para manipular as pessoas.

-- Manipular, condessa? O seu tom está ficando muito pessoal, espero que não esteja se referindo a si
mesma. – Provocou-a com um sorriso doce.

Vitória afastou-se, foi como se sua pele tivesse sido queimada.

-- Você vai perder a eleição! – Apontou-lhe o indicador. – Os Duomont perderão tudo, aí vamos ver se você
ainda levantará esse nariz para me enfrentar.

Clara a viu se afastar e só naquele momento percebeu que estava prendendo a respiração.

Era impressionante o poder que emanava daquela mulher, a arrogância e o sarcasmo. Chegava a pensar
se realmente existia a Vitória a quem se entregara de corpo e alma dias atrás ou era apenas invenção de sua
cabeça.

Dias depois...

A pequena cidade estava em uma agitação só. Todos entusiasmados para ver quem seria o novo gestor
daquele município. Marcos acompanhou a amada até o seu local de votação e ambos foram recebidos com
carinho por todos que encontravam ao caminho. Os rostos esperançosos faziam questão de dizer a Maria Clara
que acreditavam nela e depositaram na jovem a sua total confiança.

Marcelo já comemorava junto com Frederico.

A fazenda do velho político estava lotada de amigos, fossem eles políticos ou empresários que aderiram à
campanha. Havia bebidas e muito churrasco.

Clara jazia na varanda a observar a imensidão de terra que pertencia a sua família.

Sentiu mãos lhe enlaçar a cintura e o beijo na nuca não teve nenhum poder em seu corpo. Permaneceu
ereta, tensa.

-- O que estás a pensar, minha linda prefeita?

Ela virou-se para fitar o belo rapaz.

-- Ainda não sou a prefeita, ainda temos uma hora para saber o resultado.

-- Lógico que serás a escolhida. – Sorriu. – Quem em sã consciência escolheria Vitória Mattarazi? Quem
escolheria para administrar um município à assassina da própria família?

Aquelas palavras incomodaram intensamente a jovem.

-- Nunca se provou isso, então acho que não se deve sair por aí falando.

-- Não se provou porque ela é muito rica e conseguiu comprar a justiça. – Rebateu com ódio.

-- Não acho que ela tenha feito isso, apesar de tudo, acredito que a condessa não seria capaz de algo assim.

-- Você é muito ingênua, minha noiva. – Acariciou-lhe a face. – Acho que todo mundo é bonzinho. Não se
esqueça de que ela atirou em mim, não se esqueça de que ela quase te pisoteou com aquele cavalo
amaldiçoado.
Por um momento em sua mente pode reviver aquele momento. Aquela poderosa mulher montada em seu
garanhão lhe encarando com aqueles lindos olhos verdes. Recordou da fúria que viu naquele rosto lindo, os
cabelos acobreados ao vento.

-- Você vem?

Ela fitou o namorado e viu a impaciência presente nele, decerto aquela não fora a primeira vez que falara
com ela.

-- Não! – Apressou-se a dizer. – Ficarei aqui um pouco mais.

A condessa permanecia em seu escritório. Saíra cedo para votar e não falara com ninguém, nem ao menos
aceitou o convite de Otávio para passar o dia em sua casa. Odiava ficar em meio a tanta gente. Não suporta a
hipocrisia e ela sabia o seu lugar em tudo aquilo.

Ouviu batidas na porta e ordenou que entrasse.

Miguel a cumprimentou, sentando-se.

Fora chamado por Vitória ainda ao amanhecer, mas só naquela hora tivera tempo de chegar até ali.

-- Pensei que só viria no próximo ano. – A mulher o provocou.

-- A Valentina está de plantão e precisei resolver algumas coisas antes de vir. – Defendeu-se.

Ele viu a garrafa de cachaça quase vazia sobre a mesa.

-- Não deveria estar mais composta? Afinal, você é a candidata à prefeita. – Provocou-a.

A condessa gargalhou alto.

-- Só falta dizer que votou em mim.

-- Não, não votei. – Respondeu altivo. – Sabe do grande carinho que tenho por ti, porém sei que você não
se importa com nada que se passe nessa cidade, então não acho que você ser eleita é uma coisa boa, afinal,
Otávio irá assumir o seu lugar e já imagino o desastre.

Vitória levou o copo à boca e bebeu lentamente o conteúdo.

-- Então você acha que a idiota da Maria Clara Duomont é melhor do que eu? – Exibiu aquele sorriso de
canto. – Não esqueça que quem paga a você, sou eu. – Ficou a observar o líquido transparente. – Fez o que eu
pedi?

-- Sim! – O advogado maneou a cabeça. – Só não sei se fiz bem em fazê-lo. – Abriu a pasta e lhe entregou
um documento.

Mattarazi abriu o envelope e ficou a observar o conteúdo que estava em suas mãos.

-- O que fará com isso?

-- De acordo com esse papel, Frederico deixou de pagar a hipoteca. – Balançou a cabeça negativamente. –
Eu resgatei as promissórias e agora ele deve a minha pessoa.

-- E você acha que isso é certo?

A condessa levantou e bateu forte na mesa.

-- E você acha que ele está certo ao se envolver com agiotas e dá a neta como garantia das dívidas? Você
acha que ele conseguiria pagar tudo isso? Diga-me se acha.

-- Só acho que você não fez isso por sentimentos nobres.

-- Digamos que estou salvando a Maria Clara de um destino nada agradável.

-- Só falta você dizer que faz isso por ter um bom coração. – Ironizou.

-- Não! Faço isso porque se alguém vai destruir os Duomont esse alguém serei eu.

Miguel apenas assentiu e saiu do escritório. Não conseguia aceitar a forma como a sobrinha agia, nada
justificava aquele ódio pela neta de Frederico.

Entendia que ela sentia raiva por tudo que passou, ainda mais com o fato de ter sido acusada
injustamente da morte da pessoa que mais amava no mundo, entretanto isso não era a solução para o seu
sofrimento.
A pequena cidade estava eufórica com os resultados que ainda não tinha sido divulgado, mas ao anoitecer
a população pareceu surpresa quando a condessa Vitória Mattarazi fora eleita à prefeita do município. Não
vencera com grande diferença, porém ela ganhara deixando boa parte das pessoas assustadas, afinal, todos
temiam àquela mulher.

-- É mentira! – Frederico esbravejava. – Aquela maldita roubou, não tinha como ela vencer.

Todos estavam reunidos no grande salão.

-- Amanhã mesmo entraremos com um processo para impugnar essa eleição! – Marcelo intrometeu-se. –
Aquela mulher não irá governar!

-- Isso mesmo, papai! – Intrometeu-se Marcos. – Com certeza teve fraude.

-- Maldita condessa! – Praguejou Clarice.

Enquanto a discussão parecia não ter fim, Maria Clara jazia sentada em uma poltrona. Ela parecia aérea,
sem acreditar no que estava acontecendo. Apesar de receosa, ela acreditara que ganharia. Não seria hipócrita,
desejara muito aquela vitória, sonhara com o momento em que assumiria a administração do município e com
todas as coisas que iria fazer para melhorar a vida de cada pessoa que morava ali.

Felipe se ajoelhou diante dela, tomando-lhe as mãos nas suas.

-- Minha linda princesa, não haveria melhor prefeita para essa cidade do que você, porém disputas
sempre nos surpreendem e dessa vez, infelizmente não foi o seu momento, porém, nós sabemos que você foi a
grande vencedora dessa eleição, pois deu seu próprio coração a todos que lhe apoiaram.

Os olhos da linda Duomont brilhavam, até uma solitária lágrima molhar sua face, trazendo tantas outras
que foram consoladas por um carinhoso abraço do único que parecia se importar com sua dor.

Vitória não pareceu se importar em ter sido eleita, nem mesmo permitira a entrada de Otávio e Alex em
sua fazenda, deixara ordens expressas que ninguém tinha permissão de entrar em sua propriedade.

A comitiva do partido parecera chocada, mas o vice-prefeito sabia que a condessa não se interessava
por aquele cargo, fato mais do perfeito para si, pois ele assumiria sozinho a administração daquela cidade.

Batista observou a patroa pegar o carro e sair.

-- Será que ela foi comemorar por ter ganhado? – Maria se aproximou.

Ambos observavam tudo da grande escadaria que dava acesso à mansão.

-- Eu não votei nela. – Confessou a senhora. – Não acho que a menina seria uma boa escolha.

O administrador circundou-lhe os ombros com o braço.

-- Fico a pensar o que acontecerá agora. – Suspirou. – Vitória Mattarazi precisa ser salvo de si mesma.

-- E quem fará isso, meu velho? Essa menina parece que não tem alma.

Batista a abraçou.

-- Pobre poderosa condessa, pobre poderosa condessa...

Frederico continuava inconformado.

Todos estavam na sala, menos Maria Clara que seguira para o quarto. O velho político gritava, enquanto
Marcelo e Marcos se despediam, sabiam que naquele momento não podiam fazer nada, mas no dia seguinte,
eles contatariam os advogados para anular o pleito.

-- O senhor precisa se acalmar, meu pai, entenda que a condessa ganhou. – Felipe se intrometia. –
Engraçado que o senhor só pensa em si e em nenhum momento se preocupou com a sua neta.

-- Eu estou lutando para ela assumir o lugar que é dela! – Esbravejava. – Não posso perder tempo com
sentimentalismo...
Clarice se preparava para interceder, pois seu marido se levantou para enfrentar o pai, quando um
empregado entrou esbaforido na sala.

-- Como ousa? – A mulher começava indignada.

-- Perdão, senhora, mas a condessa está aqui. – Falava e gesticulava nervoso.

-- Como? – Gritou O chefe da família.

Ouviram alguns protestos, até Vitória entrar.

Não havia seguranças, os empregados que sobraram não tinham como deter aquela mulher.

-- Boa noite! – Mattarazi cumprimentou com um enorme e sarcástico sorriso.

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Capitulo 18 por gehpadilha

Notas do autor:

Capa nova, graças à Charlotte :)

Vitória encarou cada membro da família Duomont que ali estavam presentes. Observou a expressão de
asco exibida por Clarice, à surpresa de Felipe e o ódio que os olhos de Frederico denotavam. Não se importava
com aquelas pessoas, tirando o filho do velho que não parecia ter tanta personalidade, todos os demais eram
meras peças em seu precioso jogo de xadrez.

Cruzou as pernas, abrindo os braços sobre o encosto do sofá, exibia o sorriso sarcástico, a altivez e
arrogância que faziam parte de sua personalidade forte e temível.

-- Saia imediatamente da minha propriedade, antes que eu te mate com as minhas próprias mãos. – O
patriarca ameaçava.

-- Ligarei agora mesmo para a polícia. – Clarice seguiu até o aparelho telefônico, mas as palavras da
condessa a detivera.

-- Sua propriedade? – Arqueou a sobrancelha esquerda em deboche. – Acho que não!

-- O que estás a insinuar, senhora? – Felipe se adiantou.

-- Não escute o que essa assassina está dizendo. – Gritou o político, tirando uma pequena arma da
cintura e apontando para a inimiga. – Vou matá-la de uma vez por todas, ninguém ousará me julgar, pois estou
me defendendo de sua invasão.

Maria Clara passou alguns minutos sob a ducha. Estava exausta e queria relaxar os músculos. Sentia-
se triste e naquele momento só desejava deitar em sua cama e dormir, dormir muito até que aquela sensação
em seu peito saísse.

Estava muito brava, furiosa com a condessa, afinal, ela não desejava ser a prefeita, só se candidatara
por vingança e não havia nenhum sentimento nobre quanto àquela eleição. Vitória não se importava com as
pessoas e não se daria o trabalho de fazer nada por eles.

Por que a vida tinha que ser tão injusta?

Vestiu o roupão e secou os cabelos com uma toalha.

Sentou na cama, cobrindo o rosto com as mãos.

Não desejava sentir raiva, não desejava alimentar aqueles sentimentos horríveis, porém não sabia
como se livrar deles.

-- Meu Deus, por favor, ajude-me... – Pedia em uma prece.

De repente, ele ouviu o som de um tiro e imediatamente correu, parando na escada, estática.

Viu o avô apontar uma arma para a condessa, enquanto a ruiva parecia impassível, não
demonstrando nenhum tipo de receio.

-- Vovô, não faça isso pelo amor de Deus! – Gritou chamando a atenção de todos.
Mattarazi relanceou os olhos e fitou a bela jovem. Observou o terror presente naqueles lindos olhos
negros, mesmo assim, estava linda com o roupão preto e os cabelos molhados...

-- Fique fora disso, Clarinha! – Frederico ordenou. – Volte para o seu quarto.

-- Papai, a Clara está certa! – Felipe se aproximou. – Vamos resolver isso de outra forma.

Maria Clara desceu e se aproximou.

-- O que faz aqui, condessa? – Encarou-a com as mãos na cintura. – Não consegue deixar as pessoas em
paz?

-- Por isso irei matá-la, ela invadiu minha propriedade!

Vitória fuzilou a jovem Duomont com o olhar.

-- Sua propriedade? – Abriu a bolsa e mostrou um documento. – De acordo com o que está escrito aqui,
você não tem mais nada.

Felipe se adiantou e pegou o revólver antes que acontecesse algo pior. Quando viu a arma disparar
pensou que tivesse atingido a condessa, mas se sentira aliviado ao ver que não a atingiu, porém o mais
impressionante de tudo aquilo é que a Mattarazi nem piscou, parecia não temer nada e nem ninguém.

Frederico tomou o papel da mão da ruiva e ficou paralisado ao examinar.

-- Adianto que o que você tem é uma cópia!

Clarice se aproximou altiva.

-- Saia daqui agora mesmo, sua bastarda!

-- Quem vai sair daqui e bem rapidinho é a senhora e todos os outros. – A condessa levantou-se. – Até
amanhã eu quero tudo desocupado, mandarei dedetizar para sair o cheiro podre de todos vocês. – Retirou-se
pomposamente.

Clara a observou a expressão do avô ao ler o documento que tinha em mãos e saiu atrás da Vitória
para que ela lhe desse uma explicação.

-- O que é isso, papai? – Felipe indagou.

O político estava pálido e precisou sentar, pois parecia que iria cair.

-- Maldita seja Mattarazi...

Clara se apressou e encontrou a condessa já abrindo a porta do carro.

Puxou-a pelo braço.

-- O que veio fazer aqui?

A ruiva a encarou irritada.

-- Não é da sua conta! – Respondeu pausadamente.

-- Não basta ter ganhado a eleição, ainda veio aqui provocar a minha família.

Vitória puxou o braço violentamente, se livrando da mão que a prendia.

-- Não ouse falar assim comigo, sua idiota! – Apontou-lhe o indicador. – Está doída porque perdeu é? –
Sorriu debochada. – Eu disse que eu venceria, nem você e nem ninguém podem me enfrentar.

-- Você nem se importa com essas pessoas. – Constatou.

-- Para mim, elas podem morrer que não moverei uma palha para ajudá-las.

A morena se descontrolou ao ouvir aquelas palavras, segurando a condessa firme pelos ombros,
empurrando-a forte contra o veículo.

A ruiva tentou se soltar, mas Maria a mantinha presa.

-- Você não merece ser a prefeita.

-- Que pena! – Fingiu se importar, mesmo exibindo uma expressão irônica. – Mas as pessoas
preferiram a mim.
O pátio estava escuro, mas mesmo assim era possível ver o sarcasmo dançar naquela íris verde.

-- Saia daqui antes que eu perca a minha paciência. – Soltou-a.

-- Tadinha da princesinha estava crente que sairia vencedora dessa disputa, pobre Branca de Neve. –
Provocou.

-- A senhora é digna de pena, condessa! – Maneou negativamente a cabeça.

-- Pena? – Vitória repetiu a palavra como se fosse fogo a queimar sua boca. – Guarde sua pena pra
você, te garanto que irá precisar e muito.

-- Saia daqui e não volte nunca mais! – Ordenou. – Deixe a minha família em paz.

-- Como você é ingênua. – Entrou no veículo. – Volte lá para o seu avô e veja o que ele diz. – Ligou o
carro. – Vamos ver se quando ficar sabendo ainda mostrará toda essa segurança.

Clara ficou observando o automóvel se afastar. Nunca se sentira tão irritada, tão descontrolada como
naquele momento.

Frederico seguiu cabisbaixo para o escritório e não falou uma única palavra.

-- O que têm naqueles papéis? – Clarice indagou. – E o que aquela maldita insinuou ao sair?

Clara adentrou a sala.

-- Onde está o vovô?

Felipe sentou, respirando fundo.

-- Ele não disse nada. – Apontou para a direção que ele seguiu.

A morena assentiu e caminhou em busca de Frederico.

Bateu na porta do escritório e ninguém respondeu. Repetiu o ato, mas como não recebeu resposta,
decidiu entrar assim mesmo.

Encontrou o avô sentado no chão olhando fixamente para aquelas folhas.

Correu para levantá-lo, ajudando-o a sentar no sofá. Recolheu os papéis que caíram no chão e ficou a
examinar o que estava escrito em cada uma daquelas linhas. Cada frase a deixava cada vez mais perplexa.

Ajoelhou-se diante do patriarca.

-- O que significa isso?

Frederico a fitou intensamente.

-- Apostei tudo na sua campanha, eu tinha certeza de que você ganharia. – Cobriu o rosto com as mãos.
– Fiz por ti, por seu futuro.

Clara lhe tocou o rosto.

-- O que perdemos?

-- Tudo...! – Falou em um fio de voz.

-- Mas e onde foi parar todo esse dinheiro?

A jovem não duvidava das palavras do avô, porém não sabia e nem mesmo viu toda essa quantia,
afinal, a fazenda valia muito e tempos antes o apartamento que ela vivia na capital fora vendido para sanar
dívidas.

-- Gastei para pagar as coisas... – Levantou-se. – Não é fácil manter esse lugar, sem falar em sua mãe
que sempre só quer o que há de melhor. – Gesticulava nervoso. – Quando você se feriu com o cavalo foi preciso
comprar um carro especial e tantas coisas a mais.

Clara abriu a boca para retrucar, afinal, o veículo especial fora ideia de Frederico e de Clarice, de
início ela achara um exagero, mas não tinha como discutir com pessoas de personalidades tão fortes.

-- Como ela ficou sabendo? – O homem insistia. – Não tem lógica... – Falava pensativo.

-- Não acho que isso vem ao caso. – Clara deu de ombros. – Precisamos conseguir um prazo maior para
podermos pagar essa dívida. – Passou a mãos pelos cabelos.
-- Como? Aquela maldita não vai deixar, ela vai nos expulsar daqui, mas antes eu a matarei. – Bateu
forte na mesa.

-- Não, vovô! – Tocou-lhe o ombro. – Assim vai ser pior, o senhor precisa falar com ela, tentar
negociar...

A jovem observou o político se empertigar e sair pisando duro.

Ela sabia que a situação não seria fácil, tinha certeza que a condessa usaria todo o poder para
humilhar a sua família.

Sentou.

O que seria agora de todos?

Pelas palavras do avô, não havia nada mais, tudo tinha sido dado como garantia do pagamento da
dívida: Carros, animais, móveis...

Deveria existir uma solução, um prazo, um acordo para que não perdessem tudo.

Mesmo sendo tarde, pegou o telefone e discou o número de um amigo que era advogado, rezando para
que ele atendesse, pois pela primeira vez em sua vida, não conseguia acreditar que as coisas seriam resolvidas.

A condessa retonou para a fazenda.

Maria veio até ela avisar que Otávio ligara inúmeras vezes e Alex também.

A ruiva nem ao menos respondeu nada, seguiu direto para as escadas em direção do quarto.

Ao chegar lá, deitou-se, sem se dar o trabalho de acender as luzes.

Estava feito!

No dia seguinte sua vingança seria totalmente concretizada. No dia seguinte destruiria e humilharia
Frederico Duomont e sua prole diante de toda a cidade.

Tentou não se lembrar da neta do inimigo, mas não tinha como não fazê-lo.

Os olhos de Maria Clara... Conseguiu ver a fúria, mas também a dor... Quando a fitou no topo da
escada, percebeu o medo presente naquele rosto tão lindo...

Por que seu corpo a desejava tanto?

Queria tocá-la, tê-la para si...

-- Não! – Levantou abruptamente, sentando. – Ela é uma Duomont e irá pagar igual a todos. –
Caminhou até a varanda do quarto e ficou observando o céu estrelado. – Eu vingarei a sua morte, meu irmão!

Maria Clara não conseguiu dormir naquela noite, rolara de um lado para o outro pensando como faria
para resolver os problemas. Infelizmente, o advogado com quem ela falou foi bem claro e disse que nada
poderia impedir que a condessa colocasse todos pra fora dali. Bem, ela poderia trabalhar, tinha uma profissão,
poderia alugar um apartamento pequeno e todos morariam lá. Seu pai não conseguira se reeleger, mas ele
também poderia arrumar um emprego.

Frederico acordou cedo e seguiu para o escritório. Tinha muitos amigos e decidiu pedir ajuda a alguns.

Depois de uma hora de conversas, percebeu que não teria jeito de manter a fazenda, ao menos que
pudesse convencer a maldita condessa a isso. Porém, sabia que seria impossível.

Miserável!

Amaldiçoava o momento em que se envolvera com aquela família desgraçada.

Ouviu batidas na porta e em seguida a nora entrou esbaforida.

-- A condessa está aí e disse que quer desocupemos a fazenda.

-- Diga pra ela vir até aqui. – Disse firme.

Clarice o fitou confusa, mas seguiu para fazer o que foi pedido.
Alguns minutos se passaram até passos filmes serem ouvidos.

-- Não tenho tempo para esperar, desejo que saiam o mais rápido possível.

Frederico odiou ter que fazer aquilo, mas não seria humilhado em público, não passaria aquela
vergonha...

-- Eu acho que temos como negociar... – Disse engolindo o orgulho.

Vitória sorriu, deu a volta e foi sentar na imponente cadeira do escritório.

-- O que você poderia me oferecer que interessaria?

O político sentiu ganas de matá-la, mas não poderia fazer nada, não naquele momento.

-- Eu não sei! Mas pense em algo.

-- O senhor não tem nada que me interesse... – Pensou por alguns minutos.

-- Dê-me um prazo e quito a dívida.

-- Como?

-- Eu tenho contatos, posso pagar tudo.

A condessa arqueou a sobrancelha, se inclinou na cadeira levando as pernas até a parte superior da
mesa, cruzando-as.

Frederico ficou vermelho de tanta raiva.

A porta foi aberta abruptamente dando entrada para Marcos e Marcelo.

-- Posso saber quem deu permissão a vocês para entrarem em minha propriedade assim?

-- Você é uma doente, condessa! – Marcelo esmurrou forte a mesa. – Kassandra deveria tê-la matado.

Vitória gargalhou alto.

Marcos precisou segurar o pai para que ele não partisse para cima da ruiva.

-- Você é uma doente! – O rapaz falou. – Não se preocupe, seu Frederico, Clarice nos avisou o que está
acontecendo, viemos buscar todos para nossa casa.

-- Ótima ideia! – Mattarazi levantou. – Vá viver de favores na casa desses dois idiotas.

Ela pegou uma foto onde estava presente toda a família Duomont. Viu uma garotinha de cabelos
negros e olhos grandes, a pele era ainda mais branca.

Branca de Neve!

-- Em breve me casarei com a Maria Clara, vou levá-la para viver comigo e todos também.

A condessa aplaudiu.

-- Estou tão emocionada que só não choro para não borrar a maquiagem. – Debochou.

Clara entrou e ficou surpresa com todos que se encontravam ali. Pensara em falar com o avô sobre sua
ideia de arrumar um emprego e alugarem um apartamento, mesmo sendo algo pequeno, pelo menos viveriam
dignamente.

De todos ali naquela sala, apenas a condessa lhe chamava a atenção. Conseguia ver naqueles olhos
lindos o sarcasmo, a arrogância exibida por sua postura sempre altiva.

Ela conseguia ser ainda mais linda usando aquela jaqueta de couro e com as madeixas soltas. Eles
estavam menores, estava ainda mais maravilhosa.

-- Não se preocupe, meu amor. – Marcos se adiantou a beijando. – Você irá viver comigo, casaremos o
mais breve possível.

Vitória sentiu o sangue correr mais forte em suas veias ao ver o carinho que a jovem recebeu. Queria
matar aquele garoto idiota e depois fazer aquela estúpida sofrer tanto que se arrependeria de ter cruzado o seu
caminho.

-- E então, Frederico, vai descer ao nível de viver de esmolas, sendo visto como um fracassado que
você é e sempre vai ser?
-- Não, não! – O homem se adiantou. – Dê-me o tempo que lhe pedi, eu pagarei.

A condessa voltou a sentar, exibindo aquele sorriso irônico.

Todos a olhavam curiosos.

-- Eu lhe darei um prazo de oito meses. – Girava lentamente na cadeira.

-- Será o suficiente, eu pagarei e recuperarei a fazenda. – Duomont disse entusiasmado.

Clara ficou surpresa com o que ouvia, mas não teve tempo de expressar isso em palavras.

-- O prazo será dado, mas em troca eu desejo algo... – Mirou despudoradamente a neta do inimigo.

A jovem percebeu o olhar e sentiu o rosto em brasas.

-- Darei o que pedir!

Levando em conta que Frederico não tinha nada, soara estranho o que fora dito.

Vitória encarou cada rosto presente ali e sentiu o prazer antecipado pelo que viria a seguir.

-- Desejo que a sua netinha seja a minha empregada... – Deu uma pausa para prolongar a pequena
vingança. – Na verdade, uma escrava que fará tudo o que eu desejar, alguém que limpará, lavará...

-- Você só pode estar louca! – Marcos se adiantou indignado.

Maria precisou segurar o noivo, pois ele praticamente partiu para a cima da ruiva.

Marcelo fitou o político.

-- Essa mulher precisa ser internada, só pode. – O prefeito disse.

A jovem Duomont fitava Vitória, buscando em seu olhar algo que denunciasse que aquilo era apenas
uma brincadeira, porém percebeu que estava enganada e que aquilo que ouvia era realidade.

-- Em que consiste essa proposta? – Frederico indagou interessado.

Os presentes pareceram ainda mais chocados com a pergunta feita pelo patriarca.

-- Uma escrava em tempo integral... – A ruiva disse simplesmente.

Dessa vez foi Marcelo a segurar o filho, pois Maria Clara não tinha forças suficientes para aquilo.
Retirou o rapaz do escritório, antes que ele fizesse uma loucura.

-- Você está louca, condessa! – A jovem a enfrentou.

A ruiva arqueou a sobrancelha, mas ignorou a moça.

-- E então, Frederico? Não tenho tempo para esperar. – Levantou-se. – Se disser não, agora mesmo
mandarei meus seguranças jogarem vocês para fora sem levar nada, afinal, tudo é meu.

Frederico fitou Marica Clara e nesse momento a morena percebeu que seu avô aceitaria.

-- Será apenas oito meses, eu recuperarei tudo. – Tocou-lhe a face. – Eu já estou idoso, não suportaria
essa humilhação, sem falar na sua mãe...

Vitória ficou enojada.

Não lhe surpreendia o que estava ouvindo, sabia como o Duomont era manipulador, como usava cada
pessoa ao proveito próprio. Viu os olhos da doce princesinha brilharem, notou a decepção presente neles.

Desviou o olhar, aquela mulher conseguia tocá-la profundamente.

Maria Clara desejou se negar ao que estava sendo pedido, porém quando recordava de tudo que o avô
fizera por si, não conseguia se rebelar.

Mirou a condessa, percebeu que o que ela mais desejava era destruir a sua família, separá-los e aquilo
era com certeza uma forma de jogá-los um contra o outro, mas não daria esse gosto a ela, sairia vencedora
daquela batalha e não cairia naquele jogo sujo da poderosa e insensível Mattarazi.

Vitória viu a jovem Duomont se empertigar, enfrentando-a, surpreendendo-a com as palavras que
foram ditas.

-- Aceitarei, condessa, farei isso por minha família, coisa que a senhora nunca teve e não sabe o que
significa. – Chegou mais perto. – Farei isso pelo amor que tenho a cada um deles... Ah, esqueci que a senhora
não sabe o que é amor.

A ruiva estreitou os olhos ameaçadoramente

Frederico colocou a mão no ombro da neta.

-- Bem, temos um acordo?

Vitória apenas assentiu.

-- Miguel acertará os detalhes do acordo. – Seguiu até a porta. – Amanhã mesmo quero minha escrava
em minha casa.

Notas finais:

Acho que preciso dizer algo sobre a condessa... A escolha para ela
ser a vencedora não foi fácil viu, afinal, a merecedora era a Maria
Clara, a jovem tinha planos, tinha verdadeira vontade de fazer
mudanças para aquelas pessoas, porém, eu acredito que a Vitória
precisa chegar ao auge de tudo, assim ela perceberá que a vida não
se resume a apenas vingaças e sua sede de poder... Espero que eu
realmente consiga...

Beijão a todas!

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Capitulo 19 por gehpadilha
Miguel ouvia, horrorizado, cada palavra proferida pela condessa.

Ele estava em seu escritório, atendendo a um cliente quando foi informado pela secretária que Vitória
desejava vê-lo e não parecia muito disposta a esperar.

Imediatamente, livrou-se do homem, prometendo uma ligação o mais breve possível, em seguida,
ordenou que permitissem a entrada da sobrinha.

Ela nem ao mesmo o cumprimentou e já veio dizendo a barbaridade que deveria ser feito.

-- Isso é um absurdo! – O advogado falava indignado. – Eu me nego a participar de algo tão sujo, nego-
me a compartilhar disso.

Mattarazi estreitou os olhos ameaçadoramente, depois suspirou e começou a caminhar de um lado


para o outro na pequena sala.

-- Eles me obrigaram a fazer isso! – Passou a mão pelos cabelos. – Eu só queria que eles saíssem da
minha fazenda, só desejava rebaixá-los. – Sentou.

Miguel apesar de conhecê-la tão bem, ficava confuso com aquelas explosões, pois percebia que havia
mais do que raiva e frieza naqueles olhos verdes, havia calor, havia aquele tormento que não lhe era natural.

O homem puxou uma cadeira, sentando de frente para a cliente.

-- Por que vai submeter a Maria Clara a tanta humilhação? Você pode não reconhecer, mas bem lá no
fundo, eu sei que você sabe que ela não merece isso, ela não merece sua raiva.

Por uma fração de segundo, a condessa desviou o olhar, porém depois voltou a encará-lo e trazia a
determinação em sua face.

-- Faça o contrato! – Sentenciou. – Ninguém está sendo obrigado a assinar.

Miguel maneou a cabeça, decepcionado.

-- Você está sendo cruel, pois sabe que se existir esse contrato, ele será assinado.

A ruiva se levantou altiva, arrogante.

-- Bem, aí já não é problema meu! – Com um gesto de cabeça, ela se afastou.

Maria Clara seguiu para o quarto.

Precisara ouvir acusações feitas pelo noivo e ainda tivera que presenciar a discussão acalorado entre o
pai e o avô.

Deitou-se.

Se a condessa estava pensando que se regozijaria com a sua dor, ela estava muito enganada. Não
baixaria a cabeça diante dela, jamais.

Ouviu a porta se abrir e Felipe entrar esbaforido, tendo Clarice bem atrás de si.

-- Eu te proíbo de se submeter a essa sujeira proposta por seu avô e por aquela mulher.

Clara o fitou confusa. Aquela era a primeira vez em toda sua vida que o viu enfrentar o próprio pai.
Ele sempre era tão quieto, tão obediente às regras ditadas por Frederico.

Sentou-se.

-- Papai, isso é o que deve ser feito agora.

-- Eu disse a ele, minha filha. – Clarice se adiantou. – Afinal, é pouco tempo e antes do esperado seu avô
arrumará o dinheiro e pagará a dívida.

Felipe fuzilou a esposa com o olhar.

-- Você é igualzinha ao meu pai. Uma egoísta que só pensa em si e em sua maldita comodidade.

A nora do político pareceu chocada com as palavras que o marido lhe dirigia, nunca fora tratada assim
por ele.
-- Por que não vai você lá servir de escrava para Mattarazi? – Provocou-a.

A jovem decidiu tomar a frente, pois temia que o pai fosse violento.

-- Por favor, a mamãe está certa, isso vai passar logo.

Felipe gargalhou, estava histérico.

-- O seu avô não tem como arrumar tanto dinheiro. – Constatou tristemente.

As duas mulheres observaram o homem se retirar do quarto.

Clara desejou ir atrás dele, porém sabia que não teria como acalmá-lo, pelo menos, não naquele
momento.

-- O seu pai só pode ter ficado louco. – Dizia a outra escandalizada, chorosa.

A garota a fitou e depois a acolheu em um abraço.

Sabia que Clarice não tinha culpa de ser assim e não tinha nada do que reclamar dela, afinal, sempre
lhe fora dado o melhor do melhor, excesso de cuidados, de mimos, tudo o que uma criança desejava ter.

Vitória estava em seu quarto, fazia tempo que tinha chegado.

Almoçou e depois foi ver alguns papéis referentes à sua cachaça, em seguida subiu, tomou um banho e
agora estava vestindo a roupa de montaria.

Abriu a gaveta e algo caiu de dentro.

A rosa branca!

Agachou, pegando-a. Estava murcha, mas ainda exibia a beleza de outrora. Por um momento, ficou ali,
recordando daquele dia, lembrando-se dos momentos mais maravilhosos que já tivera em sua vida.

Levantou-se e guardou a rosa dentro de um livro que tinha na cabeceira da cama.

Não podia se deixar levar por essas fraquezas, nem mesmo deveria ter se envolvido com aquela
garota e o que deveria fazer era manter uma boa distância dela, coisa que não aconteceria se ela aceitasse
realmente o que fora proposto.

Acabou de calçar as botas, quando ouviu batidas na porta.

-- Condessa!

Respirou fundo antes de explodir mais uma vez com a empregada. Nem sabia o motivo de Maria ter
contratado tanta gente, odiava ter que lidar com aquelas pessoas.

Abriu a porta.

A mulher ficou rubra. Deveria ter uns quarenta anos e parecia assustada sempre que a via.

-- O que foi agora?

-- O senhor Felipe Duomont deseja vê-la. – Disse rapidamente.

-- E quem permitiu que ele entrasse em minhas terras?

Nem permitiu que a mulher respondesse e já saiu furiosa dos aposentos.

Encontrou o filho de Frederico esperando-a no topo da escada.

-- Quem permitiu a sua entrada? – Indagou enquanto descia. – Nenhum Duomont é bem vindo em
minha casa.

Felipe a fitou por alguns segundos.

-- Vim me oferecer para ficar no lugar da Maria Clara. – Falou corajoso. –Faça o que quiser comigo,
pode me humilhar, limparei seu estábulo, qualquer coisa para que sua sede de vingança seja aplacada, porém
deixe minha filha fora disso.

Vitória o encarou, parecia confusa com o que acabava de ouvir, pois sempre achara que nenhum
daquela família prestava, mas ao ver aquele homem que sempre era tão calado, tão capacho de Frederico se
oferecer para ficar no lugar da jovem, deixou-a surpresa.
-- Ela pediu? – Arqueou a sobrancelha desconfiada.

-- Não! Ela jamais pediria algo assim, a Clara está sempre disposta a se sacrificar por todo mundo e
dessa vez não seria diferente.

-- Bem, então eu não posso fazer nada. – Disse dando as costas.

-- Por que odeia tanto a minha filha? O que ela lhe fez?

A ruiva parou e voltou-se mais uma vez para ele.

-- Convença-a a não aceitar, afinal, não estou obrigando.

-- Ela vai aceitar, por isso desejo que a sua exigência se volte para mim, acredite, eu posso fazer o que
a senhora desejar, não me importarei.

A condessa o fitava, parecia querer decifrar se aquilo que ele dizia era verdadeiro, afinal, jamais
imaginara que Felipe Duomont se sacrificaria tanto, sempre o viu como um fraco, alguém que fazia tudo que
Frederico ordenava.

-- Deixe a Maria Clara decidir. – Disse cruelmented.

O homem a viu se afastar, encostou-se ao corrimão e sentiu as lágrimas banharem o rosto.

Sentia-se culpado por tudo aquilo, afinal, ele fora culpado, pois sempre permanecera omisso a todas as
decisões que se referiam a sua família. Jamais enfrentara o pai, mesmo quando o via fazendo coisas
reprováveis. Agora o seu maior tesouro seria entregue as mãos de uma mulher cruel e que não parecia ter
coração.

Miguel chegou à casa dos Duomonts e pediu para falar em particular com Maria Clara. Tentaria
dissuadi-la de aceitar aquela loucura, faria o possível para isso, pois desejava salvá-la das garras da condessa.

-- Boa tarde! – A jovem estendeu a mão em cumprimento.

-- Boa tarde! – Ele sorriu. – Preciso falar contigo, posso?

-- Sim, com certeza. Vamos para o escritório, lá teremos mais privacidade.

Ele a seguiu, sentando no lugar que ela indicou, mas só o fez quando ele executou a ação de se
acomodar ao seu lado.

-- Eu trouxe o documento que a Vitória mandou. – Observou os olhos da garota brilharem. – Mas eu
venho lhe pedir como alguém que aprendeu a lhe admirar muito, alguém que tem o maior respeito por sua
pessoa. – Segurou-lhe as mãos entre as suas. – Não aceite o que está sendo proposto, não permita que isso seja
levando a diante. Eu não sou rico, mas posso lhe ajudar a conseguir um bom emprego e você poderá se
sustentar.

Clara sorriu e mesmo com tudo que se passava, seu semblante demonstrava paz e felicidade.

-- Não sabe como me sinto grata por lhe ouvir, porém não poderia fazer isso, não poderia virar as
costas para a minha família.

-- Sabe que Vitória fará tudo para destruí-la, humilhá-la...

-- Não se preocupe, eu sei o que esperar dela.

-- Sabe mesmo? – Miguel insistia. – A condessa pode ser pior do que você imagina.

-- A condessa ainda não me conhece, ao contrário de mim, pois sei o que esperar dela, porém ela não
sabe o que esperar de mim.

O advogado ainda pensou em insistir, mas percebia que seria inútil, pois aquelas duas mulheres
tinham algo em comum: A teimosia!

Então, um Frederico sorridente assinou o contrato, sem se importar de que entregaria a sua neta a
maior inimiga.

Naquela noite, a condessa recebeu o telefonema do advogado dizendo que tudo tinha sido feito
segundo sua vontade.

Ela não falara nada, simplesmente desligou depois de ouvir o que Miguel tinha dito.
Caminhou até o estábulo e seguiu direto para a baia da Branca de Neve. A égua estava inquieta,
provavelmente por estar por muito tempo presa e sem fazer exercícios. Na verdade, não havia ninguém que
pudesse exercitar o animal que era tão arisco e para completar o Bastardo não era muito amigável.

O melhor seria vendê-la, quem sabe tivesse alguém que pudesse cuidar dela.

-- Branca de Neve... – Acariciou-lhe o flanco. – O Bastardo deveria gostar de ti, você é uma boa menina,
apesar dessa rebeldia. – Sorriu. – Acho que ele tem medo de eu deixar de amá-lo...

Seguiu até a baia de Bastardo e lhe fez um carinho, em seguida caminhou para fora.

Mais a frente podia ver as luzes das pequenas casinhas onde alguns empregados viviam com suas
famílias, voltou para a própria casa e ficou sentada em um dos muitos degraus que dava acesso à mansão
Mattarazi.

Ficou a observar o céu estrelado, a pompa que cercava sua propriedade. Trabalhara muito para
recuperar tudo o que fora perdido pelo pai, empenhara-se dia e noite para que conseguisse reerguer aquele
lugar e conseguira fazê-lo prosperar.

A sua maior dor era seu irmão não estar ali para desfrutar de tudo aquilo.

Às vezes ficava a pensar que deveria ter sido ela a morrer naquele acidente, teria sido tão mais fácil.
Victor merecia viver, merecia ter sido feliz, algo que ela sabia que jamais seria.

Fechou os olhos e se recordou da última conversa que teve com o irmão, fora na manhã do fatídico
acidente.

-- Vamos conseguir fazer essas terras prosperar. – Dizia ele ao encontrá-la no estábulo. – E eu quero
que você fique ao meu lado, quero seja não só a minha irmã, mas a pessoa que irá cuidar de tudo em minha
ausência.

Lembrou-se do abraço que ele lhe dera naquele dia. Em sua vida toda, fora o único a abraçá-la, o único
que se importara consigo...

Sentiu uma mão em seu ombro e se voltou.

-- Não é melhor entrar, menina? Já está tarde e está frio aqui fora.

Só naquele momento ela percebeu quão frio estava, mas nem se comparava a frieza que repousava
em seu peito.

Simplesmente assentiu e entrou.

Na manhã seguinte, Miguel foi à fazenda dos Duomonts. Ao chegar lá, Maria Clara já estava pronta
para o destino que lhe esperava.

Observou-a se despedir da família e pode perceber que o único que realmente demonstrava estar
abalado com o que se passava, era Felipe. Conseguia ver em sua expressão a dor e o medo pelo que poderia
ocorrer.

O trajeto até as terras da condessa fora feita em total silêncio.

Clara observava o caminho e via que não demoraria a chegar. Não sabia o que aconteceria ou o que
Vitória faria consigo, porém esperava o pior. Lembrou-se do noivo, ele estivera em sua casa na noite anterior,
pedira que antecipassem o casamento, porém ela não aceitara e o rapaz ficara muito nervoso, indo embora sem
ao menos se despedir.

Encostou a cabeça na janela do carro.

Quase meia hora depois veículo estacionava em frente a imponente casa dos Mattarazis.

Vitória tinha acordado cedo e saído para cavalgar. Nem mesmo conseguira dormir direito, fora uma
noite difícil, pesadelos lhe assombraram mais do que já era de costume.

Retornava quando viu o advogado descer do automóvel e em seguida seus olhos se encontraram com
a jovem Duomont.

Bastardo levantou as patas dianteiras, relinchando, parecia dar as boas vindas.

Seguiu bem perto dela, ainda montada no animal.


-- Bom dia! – Retirou o chapéu. – Seja bem vinda, Branca de Neve.

Clara a fitou e a condessa conseguiu ver a determinação naquele belo rosto.

-- Bem, Vitória, qual o próximo passo? – O advogado interviu.

-- O próximo passo é você ir embora. – Desmontou. – Seu trabalho já está encerrado, agora eu assumo.

Miguel ainda abriu a boca para retrucar, mas foi o olhar de Clara que o impediu de fazê-lo.

Ele abraçou a jovem e entrou no veículo indo embora.

A condessa estendeu a mão para tocá-la, mas a garota desviou do toque.

-- Diga quais são as minhas funções de escrava, pois estou ansiosa para começar.

A ruiva não pareceu gostar muito do tom que fora usado consigo, mas tentou não perder a paciência.

-- Por que não experimenta ser mais cordata? – Provocou-a. – Não esqueça que agora sua vida me
pertence.

Maria observou aquele sorriso de canto de boca que ela sempre exibia, viu a ironia brilhar naqueles
olhos de verdes tão intensos.

-- Quais as minhas funções, senhora condessa? – Insistiu, enfrentando-a.

Vitória deu um passo, praticamente colando-se a ela.

A neta de Frederico amaldiçoou o próprio corpo por reagir àquela proximidade

-- Servir-me da forma que eu desejar, princesinha.

Clara sentiu a pele arrepiar ao ouvir o tom baixo e rouco.

-- Farei qualquer coisa... Menos servi-la em sua cama...

A condessa estreitou os olhos ameaçadoramente. Não gostara do tom usado pela moça, nem mesmo o
desafio que via em seu olhar.

Só Deus sabia como era difícil resistir aos sentimentos, o desejo de tomar aquela mulher para si era
cada vez maior e ouvir e ver a rejeição tão explicita lhe feria.

-- E quem disse que a desejo em minha cama? – Gargalhou. – Já a tive e acredite, não foi tão bom
assim... Você é muito... – Hesitou, se deliciando com a expressão de fúria que surgia no rosto da jovem. –
Princesinha de contos de fadas.

Clara fechou as mãos ao lado do corpo, sentiu as unhas lhe ferindo a palma, sentia o sangue correr
mais rápido em suas veias...

-- Precisa de alguma coisa, patroa?

Batista chegou ao momento exato, pois a tensão entre as duas mulheres aumentando
demasiadamente.

-- Leve-a para o estábulo e a faça cuidar da Branca de Neve. – Caminhou para a casa, mas parou. –
Leve o Bastardo para a baia dele e peça para alguém vir buscar a mala da princesinha.

O administrador assentiu, mas se voltou para a condessa novamente.

-- Mas a égua é muito selvagem, senhora. – Falou preocupado.

-- Ah, então se darão muito bem! – Ironizou subindo os degraus.

Batista balançou a cabeça, preocupado. Ele já tinha sido informado sobre o fato da jovem Duomont ir
morar na fazenda e trabalhar, porém não imaginou que a ruiva fosse tão longe.

-- Eu vou matar Vitória Mattarazi. – Marcos falou ao entrar no escritório do pai. – Vou matar aquela
maldita com as minhas mãos.

Marcelo foi até ele.

-- Não seja idiota, não podemos agir assim. – Repreendeu-o. – Frederico quem aceitou o acordo.
-- Ele está vendendo a Maria Clara como fez com a Helena. – Esbravejou. – E mais uma vez para um
maldito Mattarazi.

O prefeito ficou quieto, mas em sua cabeça a imagem de uma bela mulher surgia, alguém que se
apaixonara logo que viu, alguém que quase destruíra seu casamento e que lhe dera um filho... A esposa de
Victor fora sua muito antes do casamento...

Clara agradeceu a preocupação demonstrada por Batista, mas não se amedrontou diante do lindo
animal que estava a lhe encarar.

Era a égua do dia do leilão, aquela que lhe fascinara demasiadamente, que lhe deixara totalmente
apaixonada.

Seus pelos brilhavam, a crina cheia, o olhar assustado parecia examiná-la.

-- Você é muito linda! – Tentou tocá-la, mas o bicho se afastou. – Calma. – Falou baixo. – Não irei
machucá-la. – Sorriu. – Pelo menos o meu trabalho é cuidar dos animais.

Vitória precisou passar todo o dia na usina. Teve que falar com alguns empresários, depois precisou ir
até uma cidade vizinha para comprar uma peça da máquina da produção da cachaça.

Quando retornou para a fazenda já era noite e estava exausta.

Estacionou o carro em frente a casa e seguiu para dentro.

-- A menina chegou! – Batista entrou na cozinha apressado.

Clara estava sentada na mesa da cozinha, mesmo tendo insistido, Maria não permitira que ela fizesse
nenhum tipo de trabalho.

-- E como está o humor dela? – A mulher indagou, mexendo a comida que estava no fogo. –
Ultimamente ela está cada vez pior. – Fitou a neta de Frederico. – Não me conformo com o que ela está fazendo
com a senhorita.

A jovem Duomont preferia não falar sobre isso. Sentia-se feliz, pois Batista e Maria estavam a tratando
muito bem. Ele a ajudara a cuidar do estábulo.

-- Deve se manter longe dela, viu.

Batista adiantou-se.

-- Bem, eu não sei se ela vai conseguir, pois a patroa mandou que você fosse até o quarto dela.

Clara observou o rosto dos dois, principalmente o da boa senhora que denotava temor.

-- Não se preocupem. – Levantou-se. – Não tenho medo dela. – Sorriu. -- Onde fica o quarto?

-- O primeiro à direita. – Batista informou.

Vitória ouviu batidas na porta, então amarrou o roupão na cintura e abriu.

Afastou-se para dar passagem a jovem.

-- Boa noite, senhora condessa! – Cumprimentou-a friamente.

A ruiva sorriu, observando-a detalhadamente. O short jeans e a camiseta deixavam seu corpo ainda
mais atraente.

Balançou a cabeça para espantar os pensamentos.

-- E como foi o seu dia?

-- Bem. – Respondeu simplesmente.

Clara a observou caminhar até a enorme janela e aproveitou para dar uma olhada no quarto. Era
grande, tinha uma enorme cama, alguns quadros e tinha uma porta que com certeza dava para varanda e outra
que decerto era um adjacente dos aposentos.
-- Quero que se responsabilize por cuidar dos animais.

-- Hoje limpei o estábulo.

A ruiva se virou para ela, sorrindo.

-- Não sabia desse seu talento extra. – Debochou. – Na verdade, estou falando em você ser a
veterinária.

A neta de Frederico tentou não demonstrar o entusiasmo que sentia com as palavras que ouvia.

-- Eu não tenho os materiais para exercer a profissão.

-- Não seja por isso. Amanhã mesmo irei mandar trazer tudo o que for necessário e também pedirei
para que construam um espaço para que os atendimentos possam ser feitos. Tenho muitos animais e desejo que
eles sejam bem cuidados.

-- Certo! – Clara respondeu.

Na verdade, estava com vontade de gritar de tanta felicidade, pois apesar de tudo, estava
imensamente feliz, afinal, não havia um desejo maior em seu coração do que exercer a sua profissão.

A condessa sentou-se em uma poltrona, cruzando as pernas longas.

A Duomont desviou o olhar ao ver as lindas coxas aparecerem pela abertura do roupão.

Os cabelos dela estavam molhados, a pele branca estava corada. Observou os lábios vermelhos e
aquela expressão de sarcasmo que sempre estavam presentes neles.

-- E então? – Arqueou a sobrancelha esquerda. – O que achou da minha égua?

-- É um animal esplêndido! – Não conseguiu conter a alegria. – Nunca vi um espécime tão maravilhoso,
decerto, se for bem treinada, ele vai se igualar ao seu Bastardo.

-- Bem, é uma pena, mas não ficarei com ela. – Fitou-a. – O que você acha de eu vendê-la?

Vitória conseguia visualizar e decepção presente em seu olhar.

-- Bem, você é a dona, então deve saber o que é melhor.

-- Gostaria de ficar com ela?

-- Está brincando? – Indagou surpresa. – Não tenho dinheiro para comprá-la.

-- Se você conseguir domá-la, ela será sua.

Clara mirou os olhos verdes e buscou desvendar se havia deboche presente neles, porém pareciam
sinceros.

-- E então, você aceita?

-- Sim! – Maneou a cabeça afirmativamente. – Agora posso ir?

-- Para onde?

-- Acho que já está um pouco tarde, gostaria de me recolher ao mau quarto e descansar.

A condessa deu aquele sorriso enorme que chegava a seduzir até o mais cético mortal.

-- Esse será o seu quarto... E será a minha cama que irá ocupar. – Disse cada palavra pausadamente.

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Capitulo 20 por gehpadilha

Vitória se deliciava com a expressão furiosa de Clara. Não conseguira resistir à vontade de provocá-la
mais um pouco, afinal, ela estava exibindo uma superioridade incompatível com a posição que estava a ocupar
naquele momento.

Ajeitou-se na poltrona e pode sentir a respiração pesada da Duomont.

-- Você disse que eu não teria que dividir a cama contigo. – Falou tentando controlar o tom.

-- Não, não... Você falou em sentido sexual. – Levantou-se se espreguiçando lentamente. – Realmente
quanto a isso nem precisa se preocupar, não vamos ter nenhum contato íntimo.

Clara sentiu a face arder só em imaginar o que ela estava insinuando naquele momento.

Será que ela ousava a pensar que essa era a sua vontade?

-- Por que eu preciso dormir aqui? Isso não estava no contrato.

-- Não se preocupe, é por pouco tempo. – Chegou mais perto dela. – Os quartos estão fechados desde o
acidente, de toda a casa, só esse é aberto.

Realmente aquilo era verdade. Os cômodos não eram usados há muito tempo, pois Vitória não
permitia, até os móveis tinham sido retirados, apenas os aposentos de Vitor permanecia intacto.

-- Posso dormir no escritório ou sei lá, na sala, tem espaço. – Tentou negociar.

-- Não! – Seguiu para a varanda. – Suas coisas estão no armário junto com as minhas, irá usar esse
quarto, irá dormir aqui e não se preocupe que sua “ pureza” não será maculada.

A jovem Duomont ainda abriu a boca para retrucar, mas sabia que seria impossível dialogar com
aquela mulher.

Sentou pesadamente sobre a enorme cama e ficou parada, observando tudo com olhar perdido.

Vitória Mattarazi era o ser mais odioso que deveria existir em todo o mundo. Agia sempre com aquela
imponência, arrogância e egocentrismo.

Examinou melhor o ambiente. Tudo ali era muito impessoal, nada denunciava a presença da
condessa. Não havia fotos, só alguns quadros de artes abstratas. Alguns livros enfeitavam a pomposa cabeceira
da cama. Os temas eram compatíveis com a ruiva.

Sorriu!

“ Dez passos para domar uma égua”

Em poucos segundos, o riso que veio manso, tomou proporções de gargalhadas.

Quando o folheava, algo caiu de dentro.

Uma rosa!

Seria a mesma que lhe dera em outrora?

Tocou-lhe as pétalas, levou-a ao nariz e inspirou.

Será?

A condessa deitou na enorme rede que estava armada na varanda do quarto. Raramente se dava o
luxo de ficar ali, porém sentiu uma necessidade de se acomodar e ficar observando o céu.

A enorme casa dos Mattarazis contava com dois andares e o quarto da ruiva ficava no pavimento
superior o que lhe dava uma maravilhosa vista de suas terras.

Ultimamente, tinha praticamente adotado aquele lugar para viver, antes estava sempre viajando e
raramente parava ali, porém algo a prendia, melhor, alguém que estava a poucos metros de si.

Respirou fundo!

Estava brincando com fogo, sabia bem disso, mas na verdade, nunca tivera medo de se incendiar.
-- Isso é um absurdo! – Valentina foi logo dizendo ao entrar no quarto.

Miguel estava deitado, examinava alguns papéis.

-- Por que não me disse o que a sua sobrinha estava aprontando? – Indagou com as mãos na cintura. –
Não acredito que você a apoiou em algo tão sujo.

O advogado retirou os óculos, colocando-o na mesinha.

-- Amor, eu tentei dissuadi-la disso, porém foi impossível. – Falava calmamente. – Por favor, não
esqueça que esse é o meu trabalho. – Tentou se justificar.

-- Seu trabalho? – Falou por entre os dentes. – Você entregou a Maria Clara nas mãos da condessa. Não
dói a sua consciência ao pensar o que ela capaz de fazer com aquela menina? Não te deixa perturbado essas
atitudes tomadas por ela? – Maneou a cabeça negativamente. – Ela é um milhão de vezes pior do que Vitório
Mattarazi.

O conde não era bem visto na região.

Todos conheciam o caráter duvidoso que ele apresentava, sem falar no seu total desrespeito por
mulheres. Para ele não havia negativas, bastava se interessar por uma e a tomava para si como se fosse um
objeto. Sem falar em seus negócios escusos, sua irresponsabilidade diante de pessoas que necessitavam de si.

-- Não, ela não é. – Levantou-se. – Saiba que se não fosse pela Vitória, a família Duomont estaria em
maus lençóis.

-- Pior do que está? – A mulher ironizou.

-- Para sua informação, se não fosse por minha sobrinha, os agiotas teriam cobrado as dívidas de
Frederico de forma diferente. – Deu uma pausa para estudar o choque presente no rosto da esposa. – Isso
mesmo que está ouvindo. Agiotas não seriam tão pacientes como a condessa está sendo.

Valentina parecia perplexa com o que ouvia, mas pareceu se recuperar rapidamente.

-- E você acha que a condessa foi altruísta? – Debcohcou.

-- Amor, por favor, eu não quero que briguemos. – Tentou se aproximar.

-- Vou tomar um banho.

Miguel suspirou.

Odiava quando aconteciam essas discussões desnecessárias, pois sabia que eles nunca se entenderiam
quando o assunto era Mattarazi.

Decerto, não estivera de acordo com o que fora feito, mas quando pensava no que Frederico Duomont
tinha se envolvido, imaginava que Vitória dos males era o menor.

Já era um pouco tarde quando a ruiva decidiu voltar para o quarto.

Estava se preparando para uma nova discussão com a neta de Frederico, sabia que não seria fácil
aquela convivência, a princesinha se mostrava ser bem petulante, mesmo com aquela carinha de encantada.

Abriu a porta e teve que se segurar para não rir.

Maria Clara estava dividindo a cama com travesseiros e parecia tão empenhada que nem percebeu a
chegada da outra.

-- Posso saber o motivo disso? – Apontou para a barreira improvisada.

A jovem Duomont, assustada, interrompeu o que fazia. Encarou a mulher. Vitória estava parada no
meio do quarto com os braços cruzados.

-- Já que você diz que preciso dormir aqui, estou fazendo o possível para evitar um contato maior
entre nós.

-- Ah não diga! – Debochou, relanceando os olhos. – Chega de gracinhas, Branca de Neve, não estou
com paciência para essas besteiras.

A ruiva seguiu até o leito, tentando destruir a barreira, mas a morena tentou detê-la, segurando-lhe os
braços, o que as levou a se enrolar nos cobertores, deixando Maria sobre a Mattarazi.
-- Como ousa? – A ruiva indagou furiosa, tentando se livrar dela.

-- Ora, foi à senhora quem começou. – Segurou-lhe os pulsos. – Não tinha nada que mexer no que eu
estava fazendo.

A empresária estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- Não preciso do muro de Berlin dentro do meu quarto, afinal, eu já disse que não tenho nenhum
interesse na sua pessoa.

-- E eu nenhum interesse em dormir tão próxima da senhora.

Os olhos verdes escureceram ainda mais quando percebeu que estava presa sob o corpo da neta do
inimigo. Tentou controlar suas reações diante de tamanha proximidade, mas levando em conta que estava
totalmente nua debaixo do roupão, isso não parecia uma tarefa simples, ainda mais quando a outra estava em
meio as suas pernas, mantendo-a cativa com a coxa.

Clara observou o lábio superior da jovem. Nunca viu em toda sua vida uma boca tão rosada e tão
linda.

Levantou-se antes que cedesse a tentação e acabasse a beijando.

-- Acho melhor eu ir dormir em outro lugar.

Vitória se apoiou no cotovelo.

-- Você vai dormir aqui e é minha última palavra.

A jovem Duomont batia o pé no chão de forma impaciente.

-- Ok, condessa! – Disse por fim. – Sua vontade será feita.

A ruiva a observou deitar e se encolher.

Sorriu ao perceber a calça de moletom branca com florzinhas e a camiseta branca colada ao corpo. As
formas femininas eram por demais tentadoras.

Respirou fundo para tentar conter o tesão.

Seu corpo tinha respondido tão rapidamente que sabia que estava molhada.

Apagou as luzes, retirou o roupão, seguiu até o banheiro e logo retornou vestindo uma camisola preta.

Acomodou-se no enorme leito e ficou ali de olhos fechados e sentindo aquele doce cheiro invadindo
suas narinas. Sentiu uma vontade imensa de abraçá-la, de tocar aquela pele delicada com seus lábios...

Clara a ouviu praguejar.

Tentou não se importar com aquilo, mas sabia que aquela noite seria terrível.

Ao dia seguinte, Frederico seguiu até a capital. Ele conseguira falar com alguns amigos e estava
confiante que conseguiria o dinheiro para pagar a Vitória Mattarazi. Um conhecido lhe indicara um empresário
que sempre estava disposto a fazer generosos empréstimos.

Quando Clara despertou, estava sozinha.

Banhou e se vestiu, seguindo rapidamente para baixo, dormira muito, na verdade, só conseguiu
conciliar o sono quando já era madrugada, pois não era fácil ter aquela mulher ao seu lado.

-- Bom dia! – Beijou Maria. – Estou atrasada, preciso seguir para ver os animais antes que a condessa
me mande para o tronco. – Gracejou.

-- Sente que vou lhe servir algo para comer.

-- Não posso! – Negou-se. – Estou atrasada.

A empregada colocou as mãos na cintura roliça.

-- Sente-se, pois vai ficar doente se não se alimentar.

A garota assentiu.
Então sentiu o cheiro delicioso do café e dos pãezinhos quentes, sua barriga roncou.

-- Não se preocupe com a menina Vitória. – Sentou-se. – Ela saiu cedo e disse que não sabia quando
retornaria.

A Duomont levou um biscoito à boca. De repente, perdeu a fome.

-- Foi para onde? – Indagou sem querer demonstrar interesse.

-- Itália, bem, eu acho. Ela não explicou muito bem. Acordou cedo e pediu que Batista pegasse a mala e
levasse para o carro.

Clara se sentiu decepcionada por isso, mas fez o possível para não mostrar.

-- Bom dia, senhorita Duomont. – O administrador tirou o chapéu, cumprimentando-a.

-- Bom dia! – Ela sorriu. – Não precisa me chamar assim, basta Clara ou se preferir Maria Clara.

O velho senhor maneou a cabeça em gesto afirmativo.

-- Quando terminar, quero que venha comigo para lhe entregar algo.

A morena assentiu.

Com certeza alguma tarefa deixada por Vitória.

Felipe estava se arrumando para sair quando foi interceptado pela esposa que entrava no quarto.

Clarice tentou beijá-lo, mas o homem desviou da carícia.

-- Está indo aonde?

-- Ver minha filha, porque ao contrário de ti, eu me preocupo com ela.

A nora de Frederico ainda abriu a boca para retrucar, porém o vereador já tinha saído.

A mulher sentou e ficou a pensar no que estava acontecendo.

Não sabia por que o marido a culpava, quando na verdade era Frederico e a condessa quem
inventaram toda aquela história. Se tivesse dinheiro, com certeza não teria permitido que a filha fosse
envolvida em algo tão sujo.

Pegou o telefone, iria ligar para Marcos, pediria para ele tentar conversar com o sogro para tentar
explicar aquilo.

Clara estava maravilhada com as coisas que estava no escritório da Vitória.

Todos os materiais que necessitaria para exercer sua profissão estavam ali diante dos seus olhos.

-- A condessa disse para que a senhorita escolhesse o lugar para construir a pequena clínica.

A garota o fitou, entusiasmada, apenas assentiu.

-- Ah, ele deixou isso aqui. – Entregou-lhe um bilhete.

Ao abrir, um lindo sorriso iluminou o belo rosto.

“ Agora você tem tudo para cuidar dos meus animais, faça-o com carinho, Branca de Neve, caso
contrário será castigada... “

A condessa bastarda

Só ela para assinar usando aquele nome. Como alguém podia ser feita de pura provocação, deboche,
arrogância e beleza?

-- Algum problema? – Batista indagou preocupado.

-- Não! – Respondeu saindo do transe. – É, traga a égua branca para o centro de treinamento. – Pediu.

-- A Branca de Neve? – Perguntou perplexo.

A Duomont precisou morder o lábio inferior para não gargalhar.


-- Sim, a Branca de Neve.

-- Olhe, menina, ninguém mexe com aquele bicho a não ser a condessa. Ela é um animal selvagem,
acho melhor não se meter com ela.

-- Não se preocupe. – Colocou a mão em seu ombro. – Eu sou uma exímia amazona, sem falar que
também sou veterinária.

Batista assentiu, mas ainda se pode ouvir o resmungar dele.

“ Tão cabeça dura quanto a condessa.”

Felipe procurou Miguel, pois sabia que sua entrada não seria liberada facilmente, então os dois se
dirigiram para lá.

Quando chegaram, foram informados que Maria Clara estava no centro de treinamento, então
seguiram diretamente a direção indicada.

Sentaram na cerca de madeira e ficaram observando a perícia que a jovem tinha ao lidar com a égua.

Clara entregou uma maçã para o animal. Não a montaria naquele dia, pois sabia que seria jogada
longe, tentaria ganhar a confiança dela, conquistando-lhe pouco a pouco.

Acariciou-lhe a crina brilhante. Nunca viu uma égua tão linda e suntuosa. Domaria e assim a teria
para si.

Deixou-a lá e seguiu até onde estava o pai e Miguel.

Recebeu um abraço apertado de Felipe e foi bombardeada com inúmeras perguntas.

-- Calma, papai, eu estou ótima, não tem motivos para se preocupar. – Apertou a mão do advogado. –
Obrigada por tê-lo trazido até aqui, mas não quero que tenha problemas.

-- Não se preocupe, sei que a condessa está viajando. Ela me ligou cedinho pedindo para ficar de olho
em ti. – Sorriu.

-- Para onde ela foi? – Indagou sem conseguir conter a curiosidade.

-- Eu não sei, deve tá resolvendo problemas ou se divertindo nas boates de Roma.

Felipe teve a impressão de ver no rosto da filha algo parecido com tristeza e decepção ao ouvir as
palavras do advogado, porém achou que era apenas coisas da sua cabeça, pois depois começou a ouvir Clara
falar entusiasmada sobre o fato de poder cuidar dos animais.

Preferiu não contar sobre Frederico ter ido viajar. Quando a jovem perguntou por Clarice, ele deu de
ombros e desconversou, não desejava falar sobre a esposa, estava decepcionada com ela, decepcionado com a
mesquinhez que via em seu jeito de agir.

Os dias passavam rápidos.

Maria Clara não tinha o que reclamar, pois até um clínica fora montada em uma área da fazenda.
Tudo muito moderno e com materiais de última geração.

A cada dia que passava, obtinha mais sucesso com a Branca de Neve e em breve tentaria montá-la.

Tomou banho e deitou na enorme cama.

Ia fazer um mês que a condessa tinha partido. Realmente, deveria tá fazendo algo muito bom para
demorar tanto para retornar, porém de acordo com a Maria, Vitória era acostumada a passar muitos dias longe
de casa, às vezes ficava meses em Roma, onde tinha um apartamento.

Virou para o outro lado, estava inquieta.

Vitória estacionou em frente à mansão Mattarazi.

Eram quase duas da madrugada. Chegara cedo, porém decidiu ficar na cidade e teve que ir falar com
Otávio e com Alex, demorara mais do que o necessário e só agora pode chegar a casa.
Teve dificuldades para sair do veículo, tinha bebido mais do que o suficiente, raramente ficava
bêbada, mas dessa vez tinha exagerado.

Conseguiu entrar e subiu as escadas até o quarto. Desejava apenas deitar, pois sua cabeça parecia não
parar quieta.

Clara assustou-se com o baque sobre o leito.

Levantou rapidamente, acendeu a luz e ficou surpresa ao ver a condessa ali.

-- Você está bem? – Indagou preocupada.

Observou-a para ver se tinha algum machucado, porém ao mirar o rosto corado, sentiu o cheiro de
bebida.

Os olhos verdes se abriram e era possível ver neles a embriaguez que assolava seu cérebro.

-- Branca de Neve... – Falou com dificuldade.

-- O que faz aqui? E olhe o estado que se encontra. – Sentou-se na cama. – Precisa de um banho. Como
veio até aqui nesse estado?

Vitória tentou se apoiar no cotovelo, mas era um esforço demasiado para suas forças naquele
momento.

Clara ouviu a gargalhada que a ruiva deu ao tentar levantar e não conseguir.

-- Como pode ter ficado tão porre? – Levantou-se. – Não irei dormir contigo nesse estado.

Pensou em chamar Batista e Maria para ajudá-la a banhar a condessa, porém era muito tarde e não
desejava incomodá-los.

Cruzou os braços e ficou a observá-la.

Usava uma calça de couro marrom, camiseta e jaqueta combinando com a calça. As botas estavam
sujas.

O melhor a fazer era ir dormir no corredor ou no escritório, pois ali seria impossível com aquele
cheiro de bebida.

Tinha decidido pegar o lençol para sair, quando viu que a ruiva conseguiu sentar e para piorar, ela
conseguiu ficar de pé, mesmo trôpega.

Imediatamente a amparou para que não fosse ao chão.

-- Está doida? – A morena a repreendeu. – Quer cair e quebrar a cabeça?

-- Não, eu quero fazer amor contigo... – Sussurrou.

Maria a encarou e ficou ainda mais brava.

-- Você precisa de um banho, precisa tirar esse cheiro podre de bebida. – Desviou os lábios de um beijo.
– Comporte-se, condessa.

-- Eu quero você sob meu corpo... Quero chupar sua...

-- Chega! – A Duomont corada a interrompeu. – Vou te jogar naquele banheiro e só vai sair de lá
quando esse álcool sair do seu sangue.

Com muito esforço, chegaram até o banheiro. Clara conseguiu sentá-la na banqueta, em seguida lhe
tirou a roupa, deixando-a apenas de calcinha e sutiã. Tentava não se distrair com as palavras ousadas e
obscenas que ouvia, sem falar que precisava se desvencilhar das carícias.

-- Seus seios são lindos... – Tentou tocar a camiseta da garota. – Você é a mulher mais bonita que já vi...

Clara a fitou, ajeitando-se entre as pernas dela, temendo que ela pendesse para frente e acabasse
caindo.

-- Sou? – Arqueou a sobrancelha esquerda. – Abriu-lhe o sutiã, livrando deles.

Mordeu o lábio inferior ao ver os dois montes redondos e de bicos rosados. Precisou de toda força
interior para não ceder ao desejo de tocá-la.
-- Te quero pra mim... Quero que seja só minha, quero amá-la todos os dias... Não sabe como isso dói,
como queima aqui. – Apontou para o peito. – Mas você é uma maldita Duomont e eu a odeio por isso. – Disse
entre lágrimas.

-- Xiii. – Tentava acalmá-la. – Vamos banhar e tudo isso vai passar.

Nunca em sua vida vira tanta fragilidade ao fitar a ruiva. Abraçou-a e depois tocou-lhe os cabelos
afogueados.

Ajudou-a e conseguiu colocá-la sob a ducha, teve que ficar lá, abraçada a ela, pois Vitória parecia
ainda mais embriagada e não acreditava que ela conseguisse se sustentar sozinha. Sentia a água molhar seu
corpo, mas também havia as lágrimas da poderosa mulher, ouvia os soluços e sentia um desejo enorme de
cuidá-la, tomá-la em seus braços para sempre e não deixá-la sofrer...

Desligou a água, pegou a toalha, enrolando-a, em seguida, livrou-se das próprias roupas, vestiu o
roupão, levou-a de volta a cama, deitando-a.

A linda condessa caiu em um profundo sono, enquanto a princesinha de contos de fadas ficou
acordada, velando seu descansar e pensando em tudo que ouvira naquela noite. Sabia que não seria fácil a
convivência, porém o seu amor por aquela arrogante criatura só fazia cada vez mais crescer...

Abraçou-a.

-- Eu te amo, condessa... Eu te amo mais do que qualquer coisa, Vitória Mattarazi.

Os olhos verdes se abriram ao ouvir as palavras, mas pareceram se entregar mais uma vez aos
encantos de Morfeu.

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Capitulo 21 por gehpadilha
Clara a aconchegou em seus braços, sentindo a respiração leve, tranquila. Acariciou-lhe as madeixas,
sentindo a maciez dos fios deslizarem por seus dedos. Era estranho aquele sentimento que habitava dentro de
si, parecia fogo a lhe queimar, mesmo quando tentava criar barreiras de gelo.

Fechou os olhos e tentou dormir. O dia seguinte requereria muito mais da sua paciência.

A condessa despertou com uma terrível dor de cabeça. Tentou abrir os olhos, mas parecia sem forças
para efetuar tal tarefa.

Praguejou ao sentir a claridade invadir o quarto.

-- Bom dia, minha senhora!

Cobriu os olhos com o braço, tentando se acostumar com a luminosidade que agora se apossava do
espaço.

-- Como ousa? – Indagou furiosa.

Estreitou os olhos, fitando-a.

Viu que ela deveria ter acabado de tomar banho. Estava lindamente vestida com calça jeans azul,
colado ao corpo, camiseta preta e os cabelos ainda estavam úmidos.

-- Você deveria sair da cama, o dia está lindo, afinal, seu cavalo precisa de exercícios. – Terminou de
abrir as janelas. – Pronto, assim, a senhora aproveita o rei solar e cura essa ressaca.

Vitória se levantou tão bruscamente que sentiu tontura, sem falar que a toalha que fora colocada em
seu corpo na noite anterior já não estava mais lá.

Clara a fitou e viu o olhar desafiador da ruiva, mesmo estando totalmente despida, não parecia perder
seu infinito orgulho. Mirou as coxas torneadas, o triângulo tentador, o abdome liso...e os seios... Encarou-lhe os
lindos e perigosos olhos verdes.

-- Não esqueça quem eu sou. – Levantou a cabeça. – E não me desafie ou poderei destruí-la.

-- Primeiro. – Jogou-lhe a toalha. – Cubra o seu pudor. – Sorriu. – Afinal, uma mulher que pertence a
nobreza não pode aparecer nua diante de sua escrava.

Quando a jovem virou as costas para ir embora, sentiu-se puxada pelos ombros e fortemente
pressionada contra a porta.

-- Não me desafie, Branca de Neve. – Disse por entre os dentes.

-- Mas e eu fiz o quê? – Fingiu-se de inocente. – Apenas fui educada e gentil a lhe cumprimentar e lhe
desejar um bom dia.

A condessa esboçou um perigoso sorriso, depois se aproximou do seu ouvido.

-- Não brinque comigo... – Beijou-lhe a face demoradamente. – Eu posso esquecer meus bons
sentimentos referentes à sua pureza.

A Duomont viu o desejo estampado em sua face, espalmou as mãos em seu peito, tentando afastá-la,
mas ao sentir a maciez do colo alvo seu corpo tremeu.

Desvencilhou-se do toque antes que perdesse a cabeça.

-- Está assustada, princesinha? – Provocou-a ao vê-la corada. – Me vestirei, pois sei que não resistirá a
mim por muito tempo.

Clara a viu caminhar até o banheiro e retornar vestindo um roupão preto.

-- Sentiu minha falta?

-- Não, pra mim, poderia ter ficado os oito meses viajando.

Vitória sorriu, aquele sorriso preguiçoso que era sua marca registrada.

-- Você me banhou?

-- Sim, afinal, você estava fedida, parecia que tinha tomado banho de álcool puro. – Torceu o nariz.
-- Não se aproveitou de mim, não é? – Atormentou-a.

Clara sentiu o rosto em chamas. Deixou o quarto, mas ainda pode ouvir no corredor a gargalhada
debochada da condessa.

Saiu pisando duro, porém teve vontade de retornar ao quarto e fazê-la parar de rir, mas ela sabia que
seria inútil uma discussão naquele momento.

Marcos seguiu até a casa dos Duomont, pediu para falar com Frederico.

-- Bom dia, meu rapaz.

O político foi até ele, abraçando-o.

-- O que o traz aqui?

Ambos sentaram no sofá da enorme sala.

-- Desejo que o senhor coloque um fim no trato que fez com a condessa. – Disse firme. – Me casarei
com sua neta e com o dinheiro que receberei de herança, quito a dívida com a maldita Mattarazi.

O fazendeiro levantou-se, seguiu até o pequeno bar, preparou dois drinques, entregou um ao rapaz,
voltou a sentar.

Bebericou lentamente.

Sua viagem à capital não tivera ainda um resultado concreto, pois recebera apenas promessas.

-- Não sei, afinal, estou contando com mais do que essa fazenda. – Fitou-o. – Você poderia me ajudar a
reerguê-la?

-- Sim. – Marcos bebeu todo o conteúdo do copo. – Eu farei qualquer coisa para retirar a Maria Clara
daquele lugar.

Frederico pensava se isso era um acordo rentável, pois conhecia Marcelo e sabia que ele era muito
ambicioso para permitir que o filho cedesse tanto da sua herança que não poderia ser tão grande assim.

Qualquer passo em falso e a condessa lhe tomaria tudo.

-- Qual o montante da sua herança? – Foi direto ao ponto.

-- Mais de quinhentos mil. – Respondeu orgulhoso.

O político levantou-se irritado.

-- Isso não chega nem perto do que estou devendo àquela miserável. – Falou alterado. – Preciso muito
mais do que essa quantia irrisória.

Marcos também se levantou.

-- Não quero saber do que o senhor precisa, o que estou a dizer é que agora mesmo irei à fazenda e
tirarei a minha noiva de lá à força.

Vitória seguiu até a pequena clínica e ficou encantada com tudo o que viu, depois caminhou até o
estábulo, selou o garanhão, montou-o e seguiu a trotar pelos pastos verdejantes. Foi em direção ao centro de
treinamento, parando lá, ficou a observar a linda veterinária junto a égua.

Realmente a garota tinha jeito. Era confiante e parecia saber bem o que estava fazendo. Viu-a entregar
uma maçã ao animal e depois acariciá-la, apesar de ainda rebelde, percebeu que o bicho estava menos arredio
e para sua surpresa, viu princesa montar na Branca de Neve e não ser atirada longe.

Clara tocou carinhosamente no animal e depois a montou. Era a primeira vez que ela fazia aquilo,
ainda não se sentia segura, mas o bicho não a arrematou, então, ela ficou por alguns segundo sobre ela,
tentando criar um maior laço.

Ao senti-la inquieta, desceu.

-- Boa menina! – Deu-lhe outra maçã.

Virou-se e viu a condessa parada sobre seu poderoso garanhão.


Caminhou para fora do setor de treinamento, ignorando-a, seguiu para a clínica, mas conseguia ouvir
o cavalo seguindo-a de perto.

Ao perceber que ela estava muito próxima, voltou-se pra fitá-la, mas foi surpreendida sendo puxada
para sobre o cavalo.

Gritou assustada.

-- Você está louca!?

-- Calma, bonequinha. – Acomodou-a a sua frente. – Vamos dar uma volta, quero que me diga como
estão meus animais.

Clara permaneceu ereta, não desejava ter nenhum contato físico com aquela mulher.

-- Você poderia perguntar isso em qualquer lugar e não precisava quase arrancar meu braço para
obter essas informações.

-- Ah, não foi essa a minha intenção. – Acariciou-lhe o ombro e depois o beijou. – Daqui a pouco não
sentirá mais nada.

Vitória incentivou o garanhão a ir mais rápido e o perfeito trote poderia ser ouvido e apreciado.

As terras da condessa eram bem cuidadas, o verde parecia um carpete a forrar os vales cheios de
árvores.

A Duomont sentia os cabelos sendo embaraçado pelo vento, mas fazia tanto tempo que não se
deliciava sobre um animal que nada importava, nem mesmo a companhia que não era uma das melhores.

-- Você está fazendo um bom trabalho com a Branca de Neve. – Disse bem próximo ao seu ouvido. –
Você é boa em domar feras.

Maria inclinou o pescoço, encarando-a.

-- Você conseguiria me domar? – Provocou-a, piscando.

Clara mordeu a lateral do lábio inferior.

-- Nem me daria a esse trabalho.

A condessa sorriu, fez Bastardo diminuir o trote.

-- Eu não valo a pena? – Soltou as rédeas, fingindo ter sido afetada por tais palavras.

-- Não, não vale um mínimo esforço da minha parte. – Enfrentou-a.

Ousada, a ruiva colocou as mãos por baixo da camiseta da jovem e soltou o fecho dianteiro do sutiã.

A morena segurou-a, tentando deter o toque. Sorte que não havia ninguém por ali para presenciar
algo assim.

-- Eu gosto dos seus seios. – Mordeu-lhe o lóbulo da orelha. – Gosto de senti-los na minha boca. – Pegou-
lhe as mãos e a fez segurar as rédeas. – Controle o cavalo ou ele nos levará até onde os peões estão trabalhando.

Clara nem mesmo soube qual reação ter, pois não imaginara algo tão atrevido da parte da ruiva.

-- Chega, Vitória... – Falou sem fôlego. – Imagina se alguém ver isso.

A condessa pareceu não se importar com as palavras ditas, pois estava tão embriagada de desejo que
apenas se deliciava com o cheiro daquela mulher em seus braços. Colou os lábios em seu pescoço, levou uma
das mãos até o cois da calça.

Clara sentiu quando os dedos da poderosa tocava sua calcinha, estava excitada com aquela situação,
mordeu a língua para não gritar quando os longos dedos tocaram seu sexo úmido.

-- Quero fazê-la minha de tantas formas... – Sussurrava. – Quero que seja minha...

A Duomont sentiu o garanhão parar e isso a acordou do transe. Rapidamente livrou-se das carícias,
pulando do Bastardo.

-- Sinto muito, condessa, mas não estou muito a fim.

Mattarazi a fitou sem entender o que tinha ocorrido, estava ainda envolvida pelo desejo que castigava
seu corpo.

Passou a mão pelos cabelos, esporeou o cavalo e saiu galopando.


Fez o animal ir mais rápido, tentando assim dissipar a vontade de tomar aquela garota para si, mesmo
que precisasse usar a força para isso.

Sabia que ela não era imune, pode sentir a excitação que ela demonstrara, sentiu o cheiro, a libido...
Tinha a prova em seus dedos.

-- Maldita Branca de Neve... – Gritou alto.

Clara passou todo o dia sem ver a inimiga.

Já era noite quando estava a sair da clínica, ouviu o celular tocar, atendeu.

-- Preciso te ver, amor.

A jovem ficou surpresa ao ouvir a voz do noivo.

No último mês ele não a procurara uma única vez, sem falar que quando conversaram, ele deu a
entender que tudo estava terminado entre eles.

-- Eu não posso sair.

-- Eu estou aqui dentro, no estábulo da condessa mais precisamente.

-- Mas como você conseguiu entrar? – Indagou surpresa.

Havia muitos seguranças naquele lugar e tinha certeza que não permitiriam a entrada dos inimigos da
dona.

-- Venha, não tenho muito tempo.

-- Pelo que vi tudo está tranquilo.

Vitória deu a volta e sentou em sua mesa.

Estava na usina, passara o dia verificando a produção da cachaça.

Uma bela mulher, morena, alta e de quase seus trintas anos, sentou cruzando as pernas torneadas.

-- A senhorita foi uma ótima aquisição para a empresa. – Elogiou-a.

-- Fico feliz, mas realmente sou uma das melhores engenheiras químicas da região.

-- Bem, espero que não ocorram atrasos com as entregas, pois precisamos respeitar os prazos.

-- Não se preocupe, eu mesma me certificarei disso.

-- Bem, Larissa, assim eu não me preocuparei com nada. – Observou a garrafa que estava em sua
mesa. – Tenho a impressão que não me arrependei de tê-la ao meu lado.

-- Presente meu, essa está bem concentrada.

A condessa teve a nítida impressão que aquela bela mulher estava flertando consigo. Os olhares que
ela lhe direcionava não pareciam nada discretos.

Retirou dois copos da gaveta, abriu a garrafa, colocou nos copos e entregou um a morena.

--Acompanhe-me, veremos se você é tão boa como dizem.

-- Eu posso mostrar isso com o maior prazer, condessa. – Pisou sedutora.

Clara chegou ao estábulo e encontrou Marcos apontando uma arma para o Bastardo.

-- O que está fazendo? – Segurou-lhe o braço.

-- Vou matar esse maldito animal para me vingar da desgraçada da condessa.

-- O animal não tem culpa de nada, por favor, não faça isso. – Fitou-o.

O rapaz pareceu pensar por alguns segundos e depois guardou o revólver.


-- Quero que volte comigo, quero me casar contigo amanhã mesmo. – Segurou-lhe as mãos. – Com o
dinheiro que receberei de herança poderemos ter uma vida maravilhosa, bem longe dessa psicopata.

-- As coisas não funcionam assim. Precisa-se de tempo para que as papeladas fiquem prontas. – Tentou
explicar. – Vamos esperar, oito meses passa rápido.

-- Não entende que te quero. – Segurou-lhe o rosto, beijando-a.

-- Que cena mais linda!

Clara se afastou abruptamente do namorado. Mirou Vitória que estava apoiada na baia da Branca de
Neve com os braços cruzados. Parecia tranquila, mas seus olhos estavam tão escuros que nem era possível ver
o verde.

-- Vim buscar a minha mulher e não sairei daqui sem ela. – Marcos a enfrentou.

-- Sua mulher? – Estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- Sim! Minha! – O jovem pomposo afirmou orgulhoso.

A Duomont percebeu que a condessa estava a ponto de voar sobre eles, então decidiu ficar entre os
dois.

-- Vá, Marcos, por favor, vá embora.

-- Embora? – A ruiva cuspiu a palavra. – Esse desgraçado invade as minhas terras e você diz pra ele ir
embora.

Vitória em passos rápidos se aproximou, mas a morena ficou entre ela e o noivo.

-- Venha, maldita. – O filho do prefeito lhe apontou a arma. – O meu maior desejo é matá-la.

Clara precisou abraçar Mattarazi para impedi-la de tentar voar sobre o rapaz.

-- Por favor, saia daqui Marcos. – Pediu. – Não faça uma loucura dessas. Por favor. – Pediu, pois sabia
que não conseguiria segurar aquela mulher por mais tempo.

Marcos a fitou por mais um momento e saiu em disparada.

A condessa tentou se desvencilhar, porém a neta de Frederico foi mais forte, segurando-a pela cintura,
conseguiu levantá-la e jogá-la em uma baia vazia.

-- Acalme-se! – Maria gritou.

A ruiva parecia possessa e partiu para cima da jovem novamente. Clara, nem mesmo sabia de onde
tirou a força para detê-la, jogando-a novamente no feno.

-- Por favor, pare. – Pediu, passando as mãos pelos longos cabelos. – Eu não quero machucá-la.

Vitória fechou as mãos com tanta força que sentiu as unhas ferirem a palma da mão.

-- Maldita vagabunda. – Gritou. – Miserável. – Levantou-se. – Deitou-se com aquele desgraçado,


enquanto também se entregava pra mim.

O maxilar da Duomnt enrijeceu. Como ela era capaz de falar tais coisas, pois desde que se envolveram,
nem mesmo conseguia beijar Marcos sem que sua mente automaticamente chamasse por outra...

Naquele momento ela sentiu que toda sua raiva viria à tona e não faria nenhum esforço para mantê-la
presa.

-- Estou cheia de você e de sua maldita arrogância. – Apontou-lhe o indicador. – Estou cheia das suas
acusações, desse seu nariz empinado como se fosse melhor do que todo mundo. – Chegou mais perto. – Você
não passa de uma amargurada, uma estúpida que faz o que quer e não pensa se isso vai ferir os outros.

Vitória ainda teve a audácia de mostrar aquele sorriso sarcástico.

-- Eu sou a condessa, princesinha de contos de fadas.

Clara bufou.

-- Eu vou te mostrar a princesinha de contos de fadas.

A ruiva a fitou.

Viu suas narinas abrirem, mas mesmo assim tentou sair, desafiadora, porém a garota a empurrou
forte contra a madeira, segurando-a.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, teve sua camiseta rasgada.

-- Está louca...?!

Maria pegou um pequeno punhal que estava na bota, mostrou-o à ruiva, depois lhe rasgou a calça.

-- Só pode ter enlouquecido... – Falou receosa.

-- Sim! – A neta de Frederico a mirou de cima abaixo de forma despudorada. – Estou louca desde o dia
que meus olhos cruzaram com os seus... – Respirou fundo. – Não estou falando do momento que você quase me
pisoteou com o Bastardo, porém foi no dia do funeral da minha tia... – Arrancou-lhe o sutiã. – Desde aquele
momento, eu estou louca por sua causa.

A condessa abriu a boca para falar algo, mas teve os lábios tomados por tamanha violência que
chegou a sentir o gosto de sangue... Seu ou dela? Seus seios foram apertados, seus mamilos pareciam implorar
por mais...

Gemeu ao sentir os lábios tomarem os montes redondos tão bruscamente... Cravou as unhas em seus
ombros...

Sentia a língua brincar ao redor de sua aureola, prendendo-o nos dentes, depois, mamou...e o fez com
tanta perícia que deixou a outra ainda mais excitada.

-- É isso condessa, é isso que você quer... – Apertou-lhe o sexo sobre a calcinha. – Deixe-me senti-la... –
Sussurrou em seu ouvido. – Não foi isso que queria ontem quando estava bêbada... Foi isso que quis hoje
enquanto cavalgávamos...

Vitória a encarou e parecia não reconhecer a moça que estava diante dos seus olhos.

Tentou detê-la, porém seu corpo queimava de paixão...

A Duomont levantou sua perna, fazendo-a prender em sua cintura.

-- Já que eu sou a Branca de Neve... – Colocou a mão dentro do tecido. – Vou querer comer a maçã... –
Lambuzou os dedos e depois os levou a boca. – Será que também está envenenada?

Mattarazi pareceu hipnotizada ao vê-la lamber os dedos, via a língua fazendo os atos languidamente e
sentiu a boca seca.

Clara levou a mão até o sexo pulsante, esfregando-o.

A ruiva gritou ao sentir o ímpeto com que foi penetrada...

-- Ain...

Os olhos negros encontraram os verdes... Eles brilhavam perigosamente, cheios de ira, mas também
cheios de lascívia.

A condessa sentia as invasões e mesmo enraivecida pela forma que estava sendo tratada, não tinha
como resistir ao prazer de estar sendo tomada daquele jeito.

Clara penetrou mais um dedo, mas retirou-os e levou à boca da inimiga.

-- Sinta... – Ordenou-a. – Veja como seu sabor é delicioso... Inebriante...

Vitória chupou-lhes, mas precisava de muito mais... Segurou-lhe a mão, levando-a novamente ao
centro do seu prazer.

-- Você quer? – Mordiscou o lóbulo da orelha. – Peça... Implore e eu verei se você merece...

A ruiva era muito orgulhosa, mas parecia enfeitiçada... Totalmente entregue a vontade de ser tomada
por completo.

-- Faça...

-- Não, não... – Beijou-lhe.

A língua invadiu sua boca e parecia não ter muita pressa, pois explorava cada canto, lambendo-a,
buscando a sua, chupando-a, puxando-a...

Baixou as mãos, tomando mais uma vez os seios, seduzindo-a, torturando-a com uma perícia nunca
imaginada.

Parou abruptamente.

-- Peça... – Insistiu.
-- Tome-me, faça-o...

-- Não, peça... Se continuar usando esse tom de autoridade... – Começou a massagear seu clitóris. –
Sairei daqui e a deixarei sozinha...

A ruiva abraçou-a, escondendo o rosto na lateral do seu pescoço.

Nunca em toda sua vida sentira um prazer tão intenso, insistente, firme, sedutor... Rebolou os quadris,
mas percebeu que ela tinha cessado os movimentos.

Mirou-a.

-- Eu sou a herdeira de uma das famílias mais tradicionais da Itália, sou a última descendente de uma
linhagem nobre. – Empinou o nariz. -- Sou a condessa Vitória Elizabeth Fiaccadori de Mattarazi VI e nunca em
minha vida me humilharia a uma Duomont.

Clara sorriu, já esperava aquilo, era muita arrogância para um ser humano.

Jogou-a sobre o feno, encantada com a beleza que ela exibia.

A ruiva chegou a pensar que ela iria embora, mas quando a viu despir cada peça de roupa, seu sangue
ficou ainda mais quente.

Mirava embevecida, desejava-a mais de que qualquer coisa que quisera em sua vida, mesmo que
passassem mil anos, continuaria a aspirar por aquela jovem de rosto doce, mas que se mostrava cada vez mais
determinada, mais dona de si, mais sedutora.

Ao vê-la totalmente despida, foi até ela, tentou tocá-la, mas não lhe foi permitido.

A neta de Frederico lhe pôs de costas, apoiando-a na cerca de madeira que separava a baia. Colou o
corpo em suas costas, sentindo o próprio sexo roçar as nádegas bem feitas da fazendeira.

A ruiva apoiou a perna na madeira, abrindo-se mais, acolhendo a mão que lhe acariciava
possessivamente. Rebolou, sentindo lambuzar seu bumbum.

-- Então eu sou uma princesinha de contos de fadas? – Invadiu-a. – Então você não gostou de fazer
amor comigo... – Meteu mais forte.

A condessa vibrava a cada estancada, ouvia as palavras e depois só os seus gemidos poderiam ser
audíveis.

-- Então, é você a poderosa condessa... – Falava sem fôlego. – Não... – Tomou-a com força... – Você é
minha... – Acelerou ainda mais. – E será sempre minha.

A ruiva sabia que não aguentaria por muito tempo, os impulsos e o manear dos seus quadris aos
poucos foram substituídos por um grito de satisfação total.

Clara se encostou a ela tentando recuperar o fôlego, sentia que aos poucos o ar voltava aos seus
pulmões.

Vitória se virou, abraçando-a, sussurrando em seu ouvido.

-- Eu estou perdidamente apaixonada por ti e sinto que morrerei se não te ter ao meu lado.

Naquele momento apenas o relinchar do Bastardo cortou o silêncio profundo da noite de lua cheia.

A bela Branca de Neve sentiu os lábios sendo tomados em um beijo doce, sublime, cheio de amor e
temor.

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Capitulo 22 por gehpadilha
Maria Clara a estreitou mais forte em seu abraço. Pensava estar sonhando ou talvez não tenha ouvido
direito as palavras ditas pela condessa. Seu coração ainda batia acelerado e sentia o mesmo ritmo no peito de
Vitória.

Segurou-lhe o rosto amado, fitando aqueles lindos olhos que brilhavam tão intensamente.

-- Repete o que você falou... – Pediu baixinho, encostando a fronte a dela.

A condessa hesitou. Naquele momento parecia assustada, perdida, temerosa do que poderia acontecer
consigo depois de se entregar tão loucamente. Sentia que suas armaduras tinham sido retiradas e isso lhe
mostrava algo que jamais deixara transparecer para qualquer outra pessoa, fragilidade.

Desviou o olhar, pois se sentia invadida por aquela expressão doce, então ao perceber que sua linda
princesa estava trêmula, viu a decepção sombrear sua face linda.

Mirou-a determinada.

-- Eu estou perdidamente apaixonada por ti e sinto que morrerei se não te ter ao meu lado. – Falou alto
para que daquela vez não houvesse dúvidas.

O medo de Vitória foi recompensado por um enorme sorriso, por aquele jeito que lhe seduzira desde o
dia que se encontraram pela primeira vez.

-- E eu estou muito mais do que perdida, estou louca por ti. – Disse com os lábios colados aos seus. –
Estou te amando como jamais pensei em amar alguém em toda minha vida.

A ruiva a puxou pela nuca, beijando-a delicadamente, sentindo seu corpo desejá-la mais uma vez.

Tocou-lhe o colo, tomando-os em suas mãos, se deliciando com o fato de eles caberem tão
perfeitamente em seu toque. Redondos, cheios... Seus dedos os exploraram, fazendo-a gemer baixinho.

Maria reclinou a cabeça para trás, permitindo um acesso maior ao seu corpo. Quando sentiu a boca da
poderosa Mattarazi tomar seus seios pensou que acabaria perdendo as forças e caindo, então sentiu as costas
sendo apoiadas na madeira da baia.

A condessa circundava os mamilos, o fazia sem pressa, lambia, brincava e chupava ora bruscamente,
ora delicada.

-- Eu poderia morrer fazendo isso... – Sussurrava.

-- Se continuar assim, ain... Eu que morrerei...

Vitória voltou a fitá-la.

-- Não quero isso... – Baixou o braço, tocando o sexo molhado. – Só se for de prazer.

A jovem viu aquele sorriso charmoso, preguiçoso... Depois, levantou a perna, apoiando no quadril da
empresária.

Sentia os dedos explorando-a, mas o fazia de forma tão delicada, cuidadosa... Mexeu o quadril para
incentivá-la...

-- Calma, meu amor... Não quero machucá-la como da última vez... Quero que seja gostoso...

Clara achou tão fofa a preocupação demonstrada por aquela mulher tão bruta que sentiu vontade de
chorar.

-- Você não vai me machucar, linda condessa, eu a quero tanto, meu corpo a quer dentro de mim... –
Segurou-lhe a mão, levando-a ao centro do seu prazer.

A ruiva se deixou conduzir, sem deixar de olhá-la, penetrou-a, e ficou extasiada ao senti-la tão
receptiva, tão excitada... Sentia o mel lambuzar-lhe a mão.

Maria escondeu o rosto em seu pescoço.

-- Eu quero mais... Muito mais... – Pedia rouca.

A bela Mattarazi ouviu o protesto quando cessou os movimentos, mas lhe calou com um beijo.
Conduziu-a até o feno, deitando-a.

Clara abriu-se para acolhê-la entre suas pernas, se deliciando com o contato tão intimo dos sexos.
Ambos estavam molhados, escorregadios... Vibrantes...
-- Abra-a para mim... – Vitória pediu, sentando-se sobre ela.

A linda princesa fez o que lhe fora pedido e gemeu alto ao sentirem tão presas... Encaixadas
perfeitamente...

-- Ah condessa... – Falava e rebolava mais rápido.

A ruiva ditou um ritmo gostoso, lento, como se estivesse a ensina-lhe um novo passo de dança... Um
tango perfeito aos seus sentidos...

Os sons das fricções poderiam ser ouvidos, junto aos gemidos roucos da Branca de Neve e as palavras
desconexas da fazendeira.

Porém, Vitória parou, ela sabia que se continuasse assim, rapidamente seria dominada pelo prazer
supremo e não era aquilo que desejava naquele momento.

-- Por favor, amor... – Clara choramingou.

-- Calma, Branca de Neve... – Deitou-se sobre ela novamente. – Eu também desejo comer a sua maçã...

Clara parecia prestes a protestar, mas ao sentir o beijo entre suas pernas, pareceu rever sua raiva e
frustração...

A ruiva sorriu... Em seguida abriu-a para si, mesmo com a penumbra, poderia ver a doce flor que se
mostrava tão delicada para si.

Lambeu a virilha... Tentando não se aproximar tanto daquele prazer que a chamava... Beijou a parte
internas das coxas... Com o polegar massageou a doce e rosada maçã...

-- Vitória...

A veterinária estava ficando louca de tanto desejo...

A condessa obedeceu prontamente... Colando os lábios no sexo molhado, chupando o mel que escorria,
sugando toda a essência de sua fêmea... Invadiu-a com a língua e ouviu o grito da amada... Não parou...
Começou a invadi-la incessantemente, sentindo-a cada vez mais descontrolada...

Quando pensou que sua princesa seria dominada por um gozo poderoso, foi empurrada, enquanto a
jovem Duomont sentava, trazendo-a para si, encaixando-se num emaranhado de pernas, até que os sexos
estivessem em total harmonia.

-- Eu quero seu prazer dentro de mim... Eu quero que seu desejo domine o meu...

O manear dos quadris, o roçar dos corpos foram ganhando um ritmo maior, até ambas serem
dominadas por um orgasmo tão poderosos, deixando-as totalmente entregues ao grande amor que se rebelava
em uma explosão de prazer.

Clara deitou, trazendo-a para sobre seu peito, acariciando os cabelos afogueados, sentindo as batidas
dos seus corações se acalmarem.

Marcelo observou o filho entrar esbaforido pela porta.

-- Onde você estava? – Indagou preocupado.

O rapaz não respondeu.

-- Onde você estava? – Segurou-lhe pelo braço. – Frederico me ligou e disse que você esteve lá, pois
queria casar com a Clara e doar sua herança para salvar a fazenda. – Apertou mais. – Sua herança não será
usada para isso, temos nossos próprios problemas para resolver.

O jovem se desvencilhou do toque.

-- Seus problemas, pois a única coisa que quero é ter a Maria Clara.

-- Não seja idiota. – O homem a repreendeu. – Sua mãe foi embora e disse que vai dar entrada no
divórcio e pior, ela quer me tirar tudo.

-- E o que o senhor queria?

-- Eu não quero saber, quero que você vá comigo até nosso advogado e peça para antecipar sua
herança. – Exigiu.

Marcos gargalhou.
-- Eu só posso receber quando me casar e eu só caso se for com a Maria Clara Duomont.

O prefeito o viu subir as escadas.

Precisava fazer algo para conseguir aquele dinheiro, tinha muita coisa para resolver e agora com essa
história de separação, tudo ainda estava pior.

Preparou uma dose de uísque, em seguida sentou no sofá e ficou bebericando pensativo.

Se seu plano tivesse dado certo, naquele momento ele estaria com a fazenda Mattarazi nas mãos e a
bela Helena ao seu lado, mas tudo saíra errado e sua amante entrara naquele carro e sua vida fora ceifada
precocemente.

Agora mais uma vez a condessa estava em seu caminho. Aquela família parecia amaldiçoada, estava
sempre atrapalhando seus planos.

Começou a girar o copo.

Só havia uma solução, tirar a bela Vitória do seu caminho. Pensara em seduzi-la, mas aquela mulher
parecia feita de gelo, então só tinha um jeito, matá-la. Lógico que seria um desperdício, afinal, a ruiva era muito
bonita e ele não gostava de macular obras de artes, porém ela insistia em atrapalhar seus planos.

Bebeu de uma vez o conteúdo do copo.

-- Condessa...

Clara despertou ao ouvir a voz de Batista que parecia muito próxima.

Depois de fazerem amor, acabaram dormindo.

Vitória abriu os olhos, parecia confusa.

-- Condessa...

-- Estou aqui, Batista. – Adiantou-se, tentando impedi-lo de vê-las ali.

A ruiva segurou Maria Clara, pois ela parecia desesperada em busca de suas roupas.

-- Calma. – Sussurrou em seu ouvido.

-- Algum problema, Batista? – Indagou, sentando-se.

Os passos do homem cessaram, deixando a jovem Duomont aliviada.

-- Apenas fiquei preocupado porque vi o seu carro e não a vi, e aqui está escuro... – Deu uma pausa. –
Também já é tarde e não vi a senhorita Clara.

A condessa lhe deu um beijo rápido.

-- Não se preocupe, ela deve estar por aí.

-- Tá certo. – O home disse por fim. – Vou para casa.

-- Vá, pode ir descansar.

Quando Clara percebeu que o administrador tinha saído, ela tentou levantar, porém a ruiva segurou
pela cintura, fazendo-a sentar em seu colo.

-- Não, precisamos sair antes que alguém nos pegue aqui. – Tentou se livrar dos abraços.

-- Ninguém vai vir... – Beijou-lhe os lábios.

-- Não me arriscaria a tanto...

A condessa suspirou.

-- Está bem. – Beijou-lhe o nariz.

Ajudou-a levantar, recolheram as roupas, se vestiram em silêncio, mas a ruiva a abraçou antes que ela
saísse do estábulo.

-- Encontro você em nosso quarto? – Perguntou.


Maria Clara sorriu.

-- Com certeza, minha senhora.

Vitória a observou se afastar.

Encostou-se a baia, passou a mão pelos cabelos.

Não tinha mais como negar. Estava claro seus sentimentos pela bela Duomont. Amava-a tanto que
chagava a doer, desejava-a ao seu lado, queria tê-la não só em sua cama, mas em sua vida, porém temia que o
passado estragasse tudo aquilo, temia que seu ódio fosse maior do que seu amor, temia sofrer mais uma vez.
Não era acostumada a baixar a guarda e isso a estava assustando.

Maneou a cabeça para espantar aqueles pensamentos que agora começavam a incomodar.

Clara banhou, em seguida desceu para jantar, porém não encontrou a condessa.

-- Tudo bem, menina? – Maria indagou a jovem.

-- Estou sim. – Sorriu.

-- Parece distraída... – Disse observando-a com atenção.

A Duomont levou a colher de sopa a boca e tentou evitar que o vermelho tingisse seu rosto.

-- Está uma delícia...

Não sabia o motivo, mas tinha a impressão que a empregada sabia de tudo que tinha se passado
algumas horas antes.

-- A condessa está uma fera. – A mulher dizia e a fitava. – Está em seu escritório com os seguranças,
parece que alguém permitiu a entrada do filho do prefeito.

A jovem apenas assentiu, sem falar nada.

Maria sentou e lhe segurou as mãos.

-- Não quero que se machuque, menina, tome cuidado com a Vitória.

-- Ela é tão má assim? – Indagou preocupada.

A boa senhora negou com um gesto de cabeça.

-- A menina de cabelo de fogo não é má, ela foi apenas uma vítima das circunstâncias. – Deu uma
pausa. – Eu me lembro de quando ela chegou aqui, era uma princesa. – Sorriu. – Aqueles olhinhos verdes, a pele
corada...

-- O que houve com a mãe dela? – Deixou a comida de lado, interessada em saber sobre a mulher que
amava.

-- Morreu... – Disse tristemente. – O parto foi muito difícil, ela não conseguiu... – Passou a mão nos
olhos. – Era uma jovem tão linda, tinha toda a vida pela frente...

-- Você a conheceu?

-- Sim...

-- Ela não tinha família? Por que a Vitória fora criada pelo conde, pelo que sei a esposa dele odiava a
filha bastarda.

Maria parecia pensativa, perdida em suas cogitações.

-- O conde foi pressionado por sua mãe a criar a garota. A senhora Mattarazi temia que a neta
crescesse e levasse o nome da família para a lama.

-- Então, ninguém a queria... – Constatou chocada.

-- Apenas o menino Vitor a quis. – Sorriu. – Ele a amava, a protegia e não permitia que ninguém a
ferisse.

-- E a esposa do conde?

Maria torceu a boca.


-- Eu nunca vi uma mulher tão sem coração como aquela. O seu passatempo preferido era espancar a
enteada. – As lágrimas não puderam ser controladas. – A Vitória era apenas uma criança... – Soluçava. – Não
tinha como se defender.

Clara deu a volta e abraçou os ombros da senhora.

Ouvir cada palavra só a fazia pensar como fora triste a vida da condessa. Seu coração doía por ela,
doía por tudo que ela passara quando não tinha como se defender.

-- E o conde?

-- Esse era um demônio que nunca se importara com a filha, apenas vivia com suas tantas mulheres.

A condessa estava possessa.

Esbravejava com os seguranças, demitiu a todos. Sabia que um ou mais deles deixaram o filho do
prefeito invadir suas terras e isso ela não admitiria.

Bateu com o chicote na mesa.

-- Exijo que todos saiam agora mesmo das minhas terras. Não desejo ver a cara de nenhum de vocês.

Um dos homens se aproximou.

-- Eu não fiz nada, senhora, juro pela vida dos meus filhos que jamais a trairia, necessito do trabalho...

-- Saiam! – A mulher falou determinada.

Todos assentiram e deixaram o escritório.

Batista a fitou.

Ele ficara em silêncio durante todo o tempo, ninguém contradizia ou questionava aquela mulher, mas
agora o bom homem não conseguia aceitar aquela decisão, pois sabia que aquilo era injusto.

-- Eu não acho que seja necessário demitir todos...

Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- Acho melhor não defendê-los. – Falou por entre os dentes.

O homem correu tão rápido que nem parecia já está em idade avançada.

Clara esbarrou com Batista.

-- O que houve? Você está bem? – Indagou preocupada.

-- A menina está uma fera. – Disse por fim. – Acho melhor evitá-la.

-- O que houve?

-- Ela demitiu todos os seguranças, está furiosa porque o seu noivo entrou na fazenda.

A Duomont observou o administrador se afastar e ficou ali parada, pensando se entrava ou não no
escritório. Não desejava uma discussão, ainda mais agora que tudo estava bem entre elas, porém não conseguia
ficar indiferente àquele problema, pois se sentia culpada.

Decidida, entrou.

A condessa estava sentada em sua cadeira, as pernas repousavam sobre a mesa.

Os olhares se cruzaram.

A ruiva a fitou, respirou fundo.

-- Algum problema?

Clara seguiu até onde ela estava, ficando de pé.

-- Não vai jantar? – Perguntou receosa.

Mattarazi a examinou de cima abaixo.


A jovem usava uma camiseta justa e um short jeans que deixava as longas pernas de fora. Os cabelos
estavam presos em um elegante coque.

Sentiu a fome retornar ao seu corpo.

A morena observou o sorriso surgir em sua bela face, exibido, safado. Sentiu o rosto tingir de
vermelho ao imaginar o que se passava na mente daquela mulher.

-- Você fica ainda mais linda com esse rostinho corado. – Umedeceu o lábio superior com a língua. –
Sente-se, senhorita. – Apontou-lhe a cadeira. – Sei que está para não segurar a vontade de falar.

Maria respirou fundo e soltou o ar lentamente, em seguida, sentou.

-- Eu só acho que não deveria demitir toda aquela gente.

Vitória fez um gesto para que ela prosseguisse.

-- Eu não sei como o Marcos conseguiu entrar, porém acredito que pelo erro de um ou dois todos
devam ser punidos. – Deu uma pausa. – Eles têm filhos, famílias para sustentar...

A condessa se levantou, batendo forte sobre a escrivaninha, assustando Maria.

-- Ninguém me trai. – Falou baixo, encarando-a.

A veterinária maneou a cabeça em afirmação.

-- Na sua concepção, se um trai, todos serão condenados?

A ruiva mirou os lindos olhos negros e se sentiu tocada.

-- Eu não quero falar sobre isso, não desejo brigar contigo. – Deu a volta, ajoelhando-se diante dela e
segurando suas mãos.

-- Minha Branca de Neve. – Beijou-lhe cada um dos longos dedos. – Tem ideia de como estou entregue a
ti? Tens ideia do poder que tem sobre mim?

Não, Clara não sabia, porém sabia o quão estava apaixonada por aquela mulher. Amava-a tanto que
temia que seu coração não aguentasse, temia que o que a condessa sentia fosse passageiro, temia que chegasse
o momento que enjoasse de si.

Mirou os lábios rosados, o superior era um pouco mais carnudo... Tocou-os com a língua e depois,
tomou-os para si em um beijo cheio de urgência, mas ao ver a outra tão eufórica, afastou-a.

-- Está tarde... – Levantou-se. – Amanhã preciso acordar cedo porque preciso cuidar dos animais.

Vitória a viu sair e ficou frustrada, pensou em ir até ela, mas o telefone tocou, era seu amante Juan.

Clara tomou um banho e deitou.

A condessa não fora para o quarto.

Mirou o celular e viu que já era quase dez horas. Notou que havia inúmeras ligações de Marcos em seu
aparelho.

Teria que por um fim naquele relacionamento o mais rápido possível, pois sabia que seria impossível
continuar com aquele noivado. Há tempos devia ter tomado aquela decisão e agora seria preciso fazê-lo.

Marcos era uma pessoa maravilhosa, tiveram momentos lindos juntos. Conhecia-o desde quando eram
crianças e ele sempre lhe protegera e cuidara de si, pois ambos foram criados na capital e na maioria do tempo,
só havia o rapaz para apoiá-la.

Resolveria isso o mais rápido possível, mesmo não sabendo qual seria o rumo que seu relacionamento
com a condessa seguiria.

Vitória demorara mais do que o necessário. Precisara resolver alguns problemas com Juan sobre a
exportação da cachaça e isso lhe atrasara muito.

Ao entrar no quarto, o ambiente se encontrava em total penumbra.

As janelas estavam abertas e as luzes da noite faziam sombras nas paredes. Conseguiu visualizar a
jovem deitada em sua cama, encolhida em seu canto.
Aproximou-se e ouviu o som suave da sua respiração.

Como aquela garota se tornara tão rapidamente sua maior fraqueza?

Seguiu para o banheiro. Precisava de um banho. Tirou as roupas, ligou a ducha, pondo-se sob ela,
sentindo o líquido lhe relaxar os músculos.

Havia uma confusão tão grande dentro de si. Sentimentos e sensações pareciam em confrontos e pela
primeira vez em tanto tempo se sentia insegura e não sabia como agir.

Deixou o Box, secou-se, aplicou hidratante ao corpo, escovou os dentes, vestiu o roupão e retornou ao
quarto.

Deitou-se de costas e ficou ali, quieta, apenas sentindo... Tentando não pensar...

Colou o corpo ao da Duomont, sussurrando em seu ouvido.

-- Eu a quero... Necessito de ti...

Clara pensou estar sonhando, mas os toques em seus seios pareciam bem reais...Sentiu os dedos
explorando sua feminilidade... Com muito esforço, conseguiu abrir os olhos, deparando-se com a face linda e
sedutora da bela condessa, mesmo escuro, podia ver os olhos a fitando.

-- Vitória... – Disse baixinho.

Seus protestos foram interrompidos por um beijo cheio de paixão e urgência. Sua camisola fora tirada
de forma tão brusca que precisaria de uma nova, mesmo assim acolheu-a sem seu corpo, acolheu-a, sentindo-a
tensa, agoniada, perdida...

-- Diga que me pertence... – Exigia.

A veterinária a sentia sobre si, poderosa, arrogante e orgulhosa em seus gestos...

-- Fale...

Clara sentiu o sexo sendo invadido e gritou... Recebeu-a... Languida... Molhada...

-- Condessa...

-- Minha... Só minha...

-- Sua...

Mais uma vez os corpos se fundiram, consumidas pelo prazer e por uma poderosa força a lhes
dominarem.

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Capitulo 23 por gehpadilha
Clara sentiu braços circundando sua cintura e adorou aquela sensação. Abriu os olhos lentamente. O
quarto estava envolvido na penumbra, mas há tempos o galo já havia cantado anunciando um novo dia.

Lentamente, virou-se para ela. Seus olhos se acostumaram com a escuridão, conseguindo assim
visualizar a bela mulher que dormia tranquilamente ao seu lado. Os cabelos ruivos em desalinhos, os lábios
entreabertos...

Sorriu!

Por um momento por sua cabeça passou uma imagem maravilhosa. Um bebê da poderosa condessa.
Será que ele herdaria aquele ar de arrogância e aquele sorriso debochado, ou seria agraciado com as madeixas
afogueadas e o verde mais belo de todos?

Ouvia-a resmungar e achou engraçado.

Fitou o seio que tinha sido desnudado pelos movimentos e sentiu uma forte contração no ventre.

Como podia não ter o controle do próprio corpo? Bastava um toque ou uma simples insinuação e
não havia forças para resistir ao desejo de se entregar a ela. Não tinha mais como negar o amor que sentia,
mesmo sabendo que havia muito para ser enfrentado, pois não seria fácil lidar com o temperamento de Vitória,
ainda mais pela raiva que ela sempre demonstrava por sua família, por seu avô... Sua tia...

Será que era verdade que Helena tinha destruído a vida do futuro conde?

Lembrava que quando veio passar as férias na fazenda presenciara uma discussão da tia com o avô
devido a um relacionamento que ela tinha, porém não fora o nome de Vitor Mattarazi que fora dito, outro
homem fora mencionado, mas ela não conseguia recordar de quem se tratava. Ouviu os gritos de Frederico
dizendo para que ela terminasse a relação... Mas quem era?

Pouco tempo depois disso, fora anunciado o casamento e todos pareceram felizes com o arranjo.
Fora ao enlace. Todos pareciam encantados com o jovem casal. Lembrava-se do olhar de Vitório, a pomposa
Kassandra e o belo herdeiro, apenas a filha bastarda não estivera presente a elegante festa.

Procuraria o pai e perguntaria sobre Helena, decerto, ele poderia esclarecer todas as suas dúvidas.

Levantou-se.

Iria tomar um banho e depois iria cuidar dos animais.

Frederico lia o jornal matinal à mesa de café da manhã. Ao ver o filho e a nora descerem e se
aproximarem, cumprimentou-os entusiasmadamente.

-- Bom dia, queridos, estava esperando para que compartilhassem comigo desse maravilhoso
desjejum.

Felipe mirou a mesa e ficou surpreso com o sortimento de alimentos que ali estavam, afinal, havia
uma terrível crise financeira que não davam mais a eles direitos a tanto luxo.

-- De onde veio dinheiro para tudo isso? – Indagou preocupado.

O fazendeiro deixou o periódico de lado.

-- Recebi uma grana que estavam me devendo e fiz umas compras.

Clarice sentou e começou a se servir.

-- Eu adorei. – Tomou um pouco de suco. – Pena que não há empregados para nos servir.

-- Em breve isso será resolvido. – Passou geleia na torrada. – Vamos aproveitar isso que temos agora.

Felipe parecia estático, observando tudo, até que encarou o pai.

-- O senhor deveria estar juntando dinheiro para livrar a minha filha das mãos da condessa. – Bateu
forte na mesa. – Não quero nada, só desejo que pague a sua maldita dívida e a Maria Clara possa voltar para
casa.

A esposa lhe tocou o ombro.

-- Tudo vai se resolver, amor, em breve a Clarinha vai estar com a gente.
O homem lhe afastou a mão, fitando-a ameaçadoramente.

-- Aproveite da comida, pois a minha apetite já acabou.

Frederico observou o filho se afastar e continuou no mesmo lugar, voltando a comer depois de
alguns segundos.

Vitória tinha acordado e não encontrara a amada ao seu lado.

Fitou o relógio e percebeu que já estava um pouco tarde. Há tempos não dormia tanto.

Espreguiçou-se demoradamente.

A noite fora deliciosa. Seu corpo ainda sentia as marcas da paixão, nos lençóis ainda estava o cheiro
da doce princesa, do desejo de ambas...

Mordeu o lábio inferior.

Faria qualquer coisa para ter definitivamente Maria Clara Duomont para si. Ela era sua e nada, nem
ninguém lhe tomaria de sua vida. Sabia o que deveria ser feito para prendê-la, para torná-la totalmente sua
mulher.

Batidas na porta lhe tiraram dos seus pensamentos.

Clara sorriu ao ver Branca de Neve tão mais acessível aos seus carinhos. Não parecia mais arredia,
nem tampouco arisca.

Sabia que em breve poderia montá-la sem medo, pois aquela linda égua já lhe pertencia, do mesmo
jeito que seu coração pertencia a ela desde o dia que a viu no leilão.

Acariciou-lhe a crina brilhante.

Quem sabe poderia voltar a praticar equitação, afinal, tinha uma bela espécime e sabia que ela não
lhe decepcionaria em nenhum quesito. Entregou-lhe uma maçã e o animal a recebeu de bom grado.

-- Doutora...

Ao virar-se se deparou com um dos empregados da fazenda.

-- Sim?

O rapaz retirou o chapéu em um gesto educado.

-- Temos uma vaca em trabalho de parto, mas as coisas se complicaram, pois ela fora ferida por um
tiro e tememos que o filhote e a mãe não sobrevivam. – Disse rapidamente.

-- Onde ela está? – Indagou preocupada.

-- No curral. – Apontou. – Pode vir comigo?

-- Sim, sim, estou indo para lá, mas antes quero que vá buscar o meu material...

O empregado nem mesmo esperou ela terminar e saiu correndo até a clínica, enquanto a jovem
seguia para o lugar indicado.

-- Como ? – A condessa indagava impaciente.

Mattarazi estava no escritório. Fora arrancada da cama pelo administrador, tivera tempo apenas de
tomar um banho rápido.

-- Bem, simplesmente, roubaram três dos seus preciosos animais.

Vitória se levantou, batendo o punho fechado sobre a mesa.

-- E você me fala assim? Simplesmente como se alguém tivesse pegado emprestado algo e logo
devolveria. – Disse por entre os dentes.

-- A senhorita demitiu todos os seguranças... – Disse baixinho.

-- Então a culpa agora é minha?


-- Eu não disse isso, apenas afirmo que não havia nenhum tipo de segurança para coibir esse tipo de
ação.

A condessa abriu a boca para falar algo, mas pareceu ter mudado de ideia, respirou fundo e soltou o
ar lentamente.

-- O que precisamente aconteceu? – Perguntou depois de alguns segundos.

-- Levaram três animais e atiraram em duas vacas, uma morreu e a outra está em situação difícil.

-- Como ousaram fazer tamanha maldade? – Passou a mão pelos cabelos. – Vá buscar a delegada
agora mesmo.

O homem não esperou uma segunda palavra, saiu rapidamente indo cumprir as ordens da patroa.

Vitória sabia quem estava por trás daquela sujeira, tinha quase certeza de que os Duomonts estavam
envolvidos nisso.

Estava tão furiosa que temia não se controlar por muito tempo.

Clara estava chocada com a maldade que fizeram com o pobre animal.

Ela ainda estava vida e ao fitar os olhos do bicho, sentiu um aperto no peito, era como se ele lhe
implorasse por ajuda... Para que salvasse seu filhote.

Pegou o material que o empregado lhe trouxe, lavou as mãos, colocou as luvas... Fez uma prece
silenciosa, pois temia não poder salvar nem a mãe e tampouco o filho. Ao escutá-la, percebeu que o coração da
cria ainda batia, então estava vivo, mas resistiria? Afinal, faltavam alguns dias para que ele estivesse pronto
para vir ao mundo.

A condessa seguiu até o curral e encontrou os peões formando um círculo.

-- Saiam daqui, voltem para o seu trabalho. – Gritou.

Os homens se dissiparam rapidamente, ficando apenas um que estava auxiliando a veterinária.

Observou o sangue, o animal que jazia quase morto e o empenho que a jovem que ali estava fazia
para salvar a vida do bicho.

A raiva que sentia dos Duomonts parecia ter chegado ao limite.

Levantou-a bruscamente pelo braço.

-- Deixe-a, ela já está morta. – Disse firmemente.

Clara a fitou confusa.

-- O filhote ainda está vivo... – Retrucou.

Vitória a encarou, estreitando os olhos ameaçadoramente, apertando-lhe o braço.

-- Para que salvar? – Gritou. – Para a sua maldita família entrar aqui e tentar matar novamente.

A jovem se desvencilhou do toque.

-- Farei o que for possível para salvá-lo e não permitirei que me impeça.

O peão observou a patroa ficar ainda mais irritada, enquanto a jovem retornava ao seu trabalho.

A condessa ficou ali parada durante algum tempo, observando a determinada Duomont abrir o
animal com grande perícia e ficou surpresa ao perceber que o novilho realmente tinha sobrevivido.

Afastou-se.

Valentina chegou rapidamente à fazenda e encontrou a condessa na usina.

-- Pensei que não viria mais. – A ruiva disse ao vê-la. – Sente-se. – Apontou uma cadeira.

A delegada ignorou a ordem e continuou de pé.


-- Batista já me adiantou o que aconteceu, abrirei uma investigação para apurarmos os fatos.

Vitória relanceou os olhos.

-- Você nunca faz nada, nunca encontra os culpados, mas dessa vez eu exijo que faça as coisas
direitos.

-- E quem é você para me dizer como fazer as coisas? – Bradou irritada.

-- Porque a senhora só consegue fazer um bom trabalho quando sou eu a sua presa.

-- Olha, condessa, eu não vou ficar aqui ouvindo suas acusações.

-- Prenda Frederico Duomont! – Disse por entre os dentes.

Valentina maneou a cabeça negativamente.

-- Não há provas que tenha sido ele a fazer isso.

Mattarazi pegou uma garrafa que estava sobre a mesa e a espatifou na parede.

-- Então encontre as provas, pois esse é o seu trabalho. – Bradou.

A delegada a fitou mais uma vez e saiu pisando duro.

Vitória voltou a sentar, tentava manter a calma, respirando lentamente.

Batidas na porta antecederam a entrada de Larissa.

-- Bom dia, condessa. – Cumprimentou-a sorrindo. Caminhou até ela. – Você está bem?

A ruiva passou as mãos pelos cabelos.

-- Alguns problemas... – Disse por fim. – Convidou-a a sentar. – Deseja falar comigo?

-- Sim, porém não quero incomodá-la. – Sentou. – Posso ajudar em alguma coisa?

A condessa inclinou a cabeça para trás, cobrindo o rosto.

A engenheira levantou-se, deu a volta, posicionando-se por trás da empresária. Tocou-lhe os ombros
lentamente, iniciando uma massagem.

-- Você está muito tensa, relaxe... – Falava baixinho.

-- Onde está a condessa, Batista?

Clara estava feliz por ter salvado o filhote, infelizmente a mãe não resistira aos ferimentos e morreu.
Agora era necessário que o novilho recebesse cuidados para terminar sua formação.

-- Está no escritório da usina. Algum problema?

-- O novilho precisa ser levado para um hospital, pois é necessário que sua formação termine, caso
contrário, ele poderá não ter muitas chances.

-- Então vamos falar imediatamente com ela.

Ambos seguiram apressados até a usina. Não era distante, então não demoraram a chegar lá.

O garanhão pastava ali perto, sinal que a ruiva ainda estava lá.

A secretária não estava em sua mesa, então, os dois visitantes entraram sem ao menos bater.

Clara observou a curiosa cena.

A condessa estava confortavelmente sentada em sua cadeira, havia tirado a jaqueta e naquele
momento usava apenas uma camiseta, enquanto uma bela morena lhe tocava os ombros, massageando-a.

Larissa não pareceu se incomodar com os intrusos.

-- O que querem agora? – Vitória indagou. – Por que não se anunciaram?

-- Perdão... – Batista começou.


-- Não peça desculpas. – A Duomont tocou-lhe o braço. – Eu quis vir. – Encarou a empresária. –
Preciso que providencie que o bezerro seja levado para uma clínica.

-- Precisa? – A ruiva arqueou a sobrancelha. – Não vi um pedido em suas palavras.

-- Talvez, porque eu não esteja pedindo... – Levantou o queixo desafiadoramente.

Vitória tocou as mãos da engenheira, depois levou-as aos lábios.

-- Obrigada, Larissa. – Levantou-se. – Não sabe como seu toque me fez relaxar.

A jovem sorriu.

-- Quando precisar, sabe onde me encontrar.

A morena lhe beijou a face, em seguida saiu.

Clara desviou o olhar.

A condessa fez um gesto para que ambos se sentassem.

-- Não tenho tempo para isso, só preciso que providencie o que eu disse.

-- Eu perdi cinco animais, um a mais não fará diferença. – Disse irritada.

-- É uma vida que está em jogo e se a senhora não providenciar a transferência do novilho
adequadamente, eu o levarei de qualquer jeito, mas não o deixarei morrer sem que algo possa ser feito por ele.
– Falou determinada.

Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente, mas fez o que ela tinha dito.

Bastaram algumas palavras e tudo foi resolvido.

-- Pode ir, Batista. – Dispensou o administrador. – Você tem coisas mais importantes para fazer do
que ficar aqui perdendo tempo.

O homem assentiu e saiu.

A veterinária continuou parada no mesmo lugar. A ruiva caminhou até ela, segurando-lhe firme pelo
pulso.

-- Quem te deu o direito de falar comigo assim na frente de outras pessoas. – Fitou-a. – Não esqueça a
posição que você ocupa aqui.

Clara tentou se desvencilhar, mas dessa vez não foi tão fácil.

-- Solte-me! – Exigiu.

-- E se eu não quiser? – Provocou-a com um sorriso. – O que vai fazer?

A jovem mirou os olhos verdes e pode ver a provocação dançar ali.

-- Deixe-me em paz...

-- Por que está bravinha? – Aproximou a boca da dela. – Está com ciuminho? – Esboçou um sorriso
enorme. – Está com ciúmes da minha bela engenheira?

-- Para mim, você pode se deitar com quem quiser, isso não me interessa... – Disse baixinho. – Só não
pense que deitará comigo novamente.

Ela viu o maxilar da condessa enrijecer.

-- Deito com ela e depois deitarei contigo... Quem garante que ontem eu não estive com a Larissa e
depois com você? – Provocou-a.

Vitória viu os olhos negros se encherem de lágrimas e na mesma hora se arrependeu do que tinha
dito, mas a Duomont conseguiu se livrar do toque, saindo correndo da sala.

A ruiva tentou alcança-la, mas ao saírem da usina, Clara montou no Bastardo que se encontrava
pastando ali perto.

Gritou seu nome, mas ela já saia desembestada. Pegou o cavalo de um dos peões e seguiu tentando
alcançá-la.

Chamou-a mais uma vez, mas foi inútil.


Sentia-se arrependida por tê-la provocada daquele jeito. Pela primeira vez em sua vida a dor de
outra pessoa a tocou profundamente. Odiava-se por tudo o que fez naquela manhã desde que a viu, desde que
descarregara nela toda sua frustração, até tê-la humilhado falando coisas que tinha certeza que a machucariam

Esporeou mais o animal, então foi quando viu a jovem ser atirada violentamente ao chão.

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Capitulo 24 por gehpadilha
Vitória desmontou rapidamente e correu até onde a jovem jazia caída.

Agachou-se e percebeu que a garota estava desacordada e havia um corte profundo na lateral de sua
cabeça.

Sabia que não deveria mexê-la, mas estava muito assustada, pois mal conseguiu ouvir sua
respiração quando lhe tocou a lateral do pescoço.

-- O que houve? – Batista correu até ela. – O que houve com a menina Clara?

A condessa o fitou.

-- Chame o médico, traga alguém, por favor... – Pedia aos prantos.

O administrador parecia chocado com a imagem da poderosa mulher chorando copiosamente, mas
se apressou para cumprir as ordens.

-- Clara, meu amor, me perdoa... – Soluçava. – Eu não quis machucá-la, jamais pensei que algo assim
pudesse acontecer...

Retirou o cabelo que cobria seu rosto.

Pegou o celular que estava no bolso e discou o número de Miguel. Com poucas palavras explicou o
que tinha acontecido e ele a aconselhou a não remover a garota até que chegasse o socorro. Antes de desligar,
prometeu ir rapidamente ao seu encontro.

Ao desligar, recebeu uma nova chamada.

Era o médico que dizia já está a caminho, pois estava atendendo um paciente ali perto, então em
menos de dez minutos chegaria.

Alguns peões se aproximaram, pareciam curiosos, porém logo se afastaram temendo por uma
explosão da patroa.

Vitória estava quase surtando, pois parecia que ninguém as socorreria.

Levantou-se, frustrada, então viu um carro se aproximando rapidamente, estacionando e o médico


indo até elas.

-- O que houve? – O homem dizia tentando examinar os sinais vitais

-- Ela caiu.., caiu do cavalo. – Agachou-se. – Diga que ela vai ficar bem...

-- Ela está viva, mas precisamos com urgência levá-la para a capital.

-- Por quê?

-- Nosso hospital não tem nenhuma condição de cuidá-la.

A condessa se levantou, fez uma ligação e depois se voltou para o médico.

-- O helicóptero pousará mais a frente.

O médico assentiu.

Temia que algo pior ocorresse com a jovem Duomont. Sabia que precisariam de atendimento médico
especializado e rápido, pois quanto mais tempo ficasse desacordada pior seriam as consequências.

Miguel avisou aos Duomonts do que tinha ocorrido com a Maria Clara, em seguida seguiu para a
capital. Encontrou a condessa caminhando de um lado para o outro no corredor do enorme hospital.

-- Como ela está?

Vitória fitou o advogado.

O rapaz a encarou e percebeu como a sobrinha estava sofrendo. Nunca a viu chorar por nada e nem
por ninguém, mas naquele momento o lindo rosto da ruiva estava transfigurado pela dor e pelas lágrimas.

Miguel a abraçou e ouviu os soluços sendo sufocados em seu pescoço.

-- Foi minha culpa... Minha... Só minha...


O advogado lhe acariciou as madeixas.

-- Não, minha pequena, não foi sua culpa, foi uma fatalidade...

-- Não! – Afastou para lhe olhar nos olhos. – Eu a provoquei... A fiz perder o controle...

-- Ela vai ficar bem... – Aconchegou-a novamente em seu peito. – Vamos esperar e daqui a pouco o
médico virá e dirá que tudo se resolverá.

Felipe ficou desesperado ao saber do acidente sofrido pela filha.

Rapidamente, seguiu para o quarto para arrumar uma pequena valise, pois seguiria imediatamente
para o lado de Clara.

-- Irei contigo! – Clarice entrou esbaforida. – Quero vê-la.

O vereador a fitou.

-- Você se importa com ela? – Fitou-a. – Só se importa com o maldito dinheiro. – Tentou sair, mas a
esposa o deteve pelo braço. – Deixe-me ir.

-- Por favor, não seja tão cruel comigo. – Choramingou. – Amo a minha filha e quero estar ao lado dela
nesse momento...

Felipe mirou-lhe os olhos e ficou a ponderar por algum tempo.

-- Ok, arrume suas coisas. Espero-te lá embaixo.

A mulher assentiu, enquanto o marido seguia. Encontrou Frederico que subia as escadas.

-- Estou indo para capital, quero ver a minha filha.

O fazendeiro fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Irei procurar a delegada e fazer uma denúncia contra Vitória Mattarazi, tenho certeza que esse
acidente tem o dedo dela.

Felipe não retrucou, apenas seguiu até o carro para esperar a esposa.

Vitória estava sentada na sala de espera junto com Miguel quando uma médica de meia idade entrou.

-- Vocês são os responsáveis por Maria Clara Duomont?

A condessa se levantou imediatamente, assentindo.

-- Eu sou a doutora Jane, sou a neurologista que está atendendo a jovem.

-- Como ela está? – A ruiva perguntou sem esconder a preocupação.

-- Fizemos alguns exames e não encontramos lesões aparentes em seu crânio. Teve fraturas na perna
esquerda, mas aos poucos se recuperará.

Miguel abraçou a sobrinha, entusiasmado.

-- Então ela está bem? – O advogado indagou. – Podemos vê-la?

Jane fez um gesto negativo com a cabeça.

-- Mesmo não tendo encontrado nenhuma lesão, ela ainda continua inconsciente e isso é preocupante.

-- Mas a senhora disse que não estava tudo bem... – A condessa parecia alterada.

-- Sim, porém teremos que esperá-la acordar, pois o cérebro ficou algum tempo sem oxigênio e isso é
algo sério e preocupante.

-- Mas vocês não vão fazer nada? – A ruiva gritou. – Que droga de hospital é esse que não consegue
fazer algo por uma paciente que está desacordada.

-- Eu peço que se acalme, senhorita. – A médica pediu. – Estamos fazendo o que é humanamente
possível.
-- Pois agora mesmo pedirei a transferência dela para outro lugar onde a equipe médica seja mais
capacitada.

Miguel se intrometeu, mas a condessa se desvencilhou do toque e saiu pisando duro.

-- Peço que a perdoe, ela está muito preocupada.

A mulher suspirou exasperada.

-- Espero que ela se acalme e mude de ideia, pois não aconselho que a paciente seja removida mais
uma vez.

O advogado assentiu, enquanto a especialista se afastava.

Valentina seguiu até a fazenda quando recebeu a denuncia de Frederico.

Ao chegar ao local, pediu para ver o cavalo e a sela.

Batista a levou até o estábulo, em seguida lhe mostrou a montaria.

-- Ela foi cortada. – A delegada falou em voz alta. – Alguém a sabotou.

-- Quando a recolhi foi a primeira coisa que percebi, não tive tempo de falar com a condessa, então a
guardei aqui.

A esposa de Miguel parecia surpresa com o que via, pois o que poderia constatar a priori é que não era
para a Maria Clara cair do cavalo, tudo fora armado para que Vitória Mattarazi sofresse um acidente.

Massageou as têmporas.

Precisava descobrir quem estava por trás daqueles crimes.

-- Preciso dos nomes de todos os seguranças que foram demitidos. – Falou determinada. – Preciso da
ficha completa deles.

O administrador assentiu.

-- Tudo se encontra no escritório. Venha comigo que lhe entregarei.

Valentina seguiu o empregado da condessa.

Investigaria pessoalmente tudo o que estava ocorrendo e de uma vez por todas descobriria quem
estava por trás de toda aquela sujeira.

Vitória fora dissuadida de transferir Clara de hospital.

Já era noite e só naquele momento conseguira permissão para entrar no quarto onde a jovem estava.

Aproximou-se.

Fitou a Duomont e sentiu um aperto no peito ao vê-la deitada naquela cama, enquanto vários
aparelhos estavam conectados a ela.

Observou o corte em sua fronte.

-- Perdoe-me, minha doce Branca de Neve. Por favor, acorde, meu amor, volte pra mim...

As lágrimas da condessa não pareciam ter fim, talvez por sua culpa ou pelo medo de perder a pessoas
mais amava em todo o universo. Tinha consciência do que tinha feito, sabia que ferira a amada, tivera tarde de
mais noção da dor que lhe infligia.

Puxou a cadeira e ficou lá, apenas observando-a.

Estava pálida e parecia tão sem vida. Lembrou-se da noite anterior, de como se amaram intensamente,
de como se entregaram de corpo e alma àquele sentimento poderoso que chamavam de amor.

Às vezes ficava a imaginar se não fora amaldiçoada com sua concepção impura. O estigma de bastarda
só lhe levara pelo caminho da dor e do desprezo, havendo apenas alguém que a amara apesar de tudo isso, mas
ele partiu tão cedo e agora o mesmo acontecia com a mulher que roubara seu coração.
Felipe encontrou Miguel.

-- Onde está minha filha?

O advogado não ficou surpreso com a presença dos Duomonts, afinal, Maria Clara não estava bem e
era lógico que a família quisesse ficar perto.

Em poucos minutos resumiu tudo o que estava acontecendo, observava a expressão pesarosa de Felipe
e mesmo que fosse difícil acreditar a própria Clarice demonstrava estar sofrendo muito naquele momento.

-- Quero vê-la. – A pomposa senhora falou. – Quero ficar ao lado da minha menina.

Vitória saia do quarto quando encontrou a família que sempre tentara destruir sua vida.

-- O que fazem aqui? – Indagou implacável.

-- Queremos ver nossa Clara. – A senhora Duomont respondeu altiva.

-- Ah não diga. – Falou com escárnio. – Só falta dizer que estão preocupados com o que se passa com
ela.

-- Ela é nossa filha, condessa. – Felipe se intrometeu sereno. – Só desejamos ficar ao lado dela.

Mattarazi observou as duas pessoas paradas a sua frente. Não gostava de Clarice, achava-a tão
mesquinha quanto Frederico, porém não se podia dizer o mesmo do homem que a fitava com um olhar
temeroso e ao mesmo tempo esperançoso. Testemunhara a coragem daquele pai quando se prontificou para
assumir o lugar de Maria em suas exigências.

-- Devem vestir roupas adequadas. – Disse por fim se afastando.

Os dias passavam e Maria Clara não reagia, todos ficavam cada vez mais apreensivos com a situação.
Vitória Mattarazi não saia do lado da amada, pois temia perdê-la completamente.

Deixou a jovem em Companhia de Felipe e seguiu caminhando pelo enorme hospital, até chegar a uma
pequena capela.

Hesitou, mas acabou entrando.

Havia inúmeras pessoas ali, ajoelhadas, rezando e decerto pedindo para que um milagre fosse feito.

Sentou em um banco e ficou a observar tudo ao redor.

Não era religiosa e na verdade, mesmo tendo ficado praticamente toda infância em um convento, era
cética em relação a muita coisa, afinal, se existia um Deus porque ele a deixara sofrer tanto? Por que a
abandonara por toda vida?

Inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos.

Não sabia como pedir, nem lembrava como se rezava, então se deixou ficar ali, sabendo que seu
desejo era sincero e que a Maria Clara precisava de outra oportunidade, Ela era um dos melhores ser humanos
que encontrara em sua vida e apesar de todos os rancores que as cercavam, amava-a com todas as forças do
seu coração.

Virou-se ao sentir um toque em seu ombro.

Miguel.

O advogado sentou ao seu lado.

-- Você precisa se alimentar ou ficará doente. – Disse preocupado. – Tem que se cuidar, princesa.

A condessa o fitou por intermináveis segundos.

-- Como as pessoas rezam?

O homem se surpreendeu com a pergunta. Jamais em sua vida imaginara algo assim sair dos lábios da
condessa.

-- Se você pedir algo com muita fé e acreditar essa coisa se realiza.

A ruiva assentiu. Levantou-se e seguiu até onde havia um pequeno altar, permanecendo um bom
tempo tentando pedir algo, implorando por sua Branca de Neve.
Valentina estava na delegacia e já tinha investigado vários funcionários da fazenda, até chegar àquele
que agora estava sentado diante de si.

Carlos Teixeira era um homem alto, forte e deveria ter seus quarenta anos.

-- Senhor Teixeira... – A delegada falava examinando alguns papéis em suas mãos. – Como sabe,
algumas investigações foram feitas para que pudéssemos descobrir quem provocou o caos na fazenda
Mattarazi. – Fitou-o.

O homem se remexia, parecia desconfortável e isso não se passava despercebido diante do olhar
perspicaz da autoridade.

-- Diga-me quem está por trás das sabotagens contra Vitória Mattarazi. – Falava baixinho sem desviar
os olhos do rapaz.

-- Não sei, senhora, não sei. – O homem respondeu nervoso.

-- Por que ligou para o prefeito na noite anterior ao roubo dos animais e ao acidente com o cavalo?

-- Estava... – Hesitou. – Estava pedindo trabalho, eu fui demitido e tenho família para sustentar.

Valentina assentiu e voltou a olhar as folhas.

-- Bem, com a ordem judicial conseguimos o histórico de suas ligações de tempos atrás e sempre temos
chamadas para o Marcelo...

Teixeira se levantou, caminhando de um lado para o outro na pequena sala. Passou a mão pelos
cabelos, nervoso.

-- Veja, eu tenho provas suficientes para lhe por atrás das grades e nós sabemos que a condessa usará
todo o seu poder para lhe manter lá durante muitos anos. – Levantou-se. – Não se iluda, Vitória será implacável
contigo, ao menos que conte essa história direito.

O homem pareceu ponderar durante algum tempo, enquanto Valentina examinava seus gestos. Tinha
certeza que ele estava a pensar nas vantagens que teria em confessar aquele crime.

-- Você trabalha há muitos anos para os Mattarazis, na verdade, trabalhou para o antigo conde. – Dizia
pensativa.

-- Sim, trabalhei com o conde e ele era mil vezes melhor do que a filha. – Falou por entre os dentes. – E
digo mais, quem deveria ter caído daquele maldito cavalo era ela, deveria ter quebrado aquele pescoço esguio,
quem sabe assim perderia aquele ar arrogante, aquele nariz empinado, pensa ser a dona do mundo.

A delegada arqueou a sobrancelha.

-- Isso é uma confissão?

Carlos voltou a sentar pesadamente.

-- O prefeito me mandou fazer. – Disse por fim.

Naqueles quinze dias de investigação, Valentina, a priori, pensara que Frederico estava por trás
daquele crime, mas com o decorrer dos dias, todas as provas apontavam para o sogro de Clara.

-- Conte-me tudo. – Pediu, voltando a sentar.

Felipe observava a filha deitada naquele leito.

Daria a vida para assumir aquele lugar, faria qualquer coisa para que sua Clara estivesse bem, para
ver seus lindos olhos negros lhe fitarem e aquele doce sorriso iluminar a vida de todos.

Observou a condessa sentada em uma poltrona ao lado do leito.

Não entendia qual o tipo de relação que havia entre aquela mulher e sua filha, porém pode comprovar
naqueles últimos dias a preocupação no semblante bonito daquela ruiva.

Lembrou-se da esposa.

Clarice acordara indisposta e ficara no hotel.

Precisava arrumar dinheiro para pagar a Vitória Mattarazi, pois ela estava custeando tudo, todas as
despesas médicas e até a estadia dos Duomonts na capital.

Frederico não fora visitá-los, apenas ligava para saber como estavam indo as coisas.
Vitória despertou, parecia assustada, então viu o pai de Clara de pé ao lado da filha.

Levantou-se, seguindo até o pequeno lavabo, voltou alguns minutos depois com o rosto lavado.

-- Bom dia, condessa. – Felipe a cumprimentou.

-- Faz tempo que chegou? – Indagou, ignorando o cumprimento.

-- Meia hora mais o menos. – Encarou-a. – Gostaria que fizesse as contas do quanto estou lhe devendo,
pagarei todas as despesas que está tendo conosco.

Maria Clara sabia que precisava acordar ou acabaria chegando atrasada para a apresentação do
festival na cidade. Estava empolgada, seu cavalo estava pronto para executar as mais belas performances.

Tentou mais uma vez, até sentir os olhos serem ofuscados por uma luz forte. A visão estava
embaraçada, mesmo assim conseguiu visualizar a imagem do seu pai, tentou chamá-lo, mas as palavras não
saíram.

Fechou os olhos mais uma vez. Conseguia ouvir uma conversa, mas não conseguia decifrar a voz
feminina, sabia que o timbre era rouco e forte, até mesmo sensual.

Tentou mais uma vez e agora conseguindo focar nos presentes.

-- Papai...—Falou baixinho.

Vitória conversava com Felipe quando ouviu aquele doce som que tanto amava. Pensou estar vendo
coisas, mas ao fitar a cama, viu os lindos olhos negros abertos, fitando-os, pareciam confusos, mas estavam
vivos.

-- Branca de Neve... – Disse em um fio de voz.

-- Meu amor. – Felipe sentiu as lágrimas molharem o rosto. – Seja bem vinda, minha pequena princesa.

-- Papai, eu preciso levantar, tenho a apresentação no festival da cidade... – Fitou a condessa. – O que
essa mulher está fazendo aqui? – Indagou temerosa, tentou levantar, mas foi detida pelo pai.

Mattarazi notou que havia algo diferente na forma do olhar da jovem.

-- Que apresentação? – Felipe perguntou confuso.

Clara desviou o olhar da ruiva, voltando a atenção para o outro.

-- A da festa da cidade, papai, esqueceu que vou me apresentar. – Falava entusiasmada. – Meu cavalo
está pronto.

Vitória fitou o Duomont, alguma coisa estava errado.

-- Que dia é hoje? – A condessa indagou, encarando a garota.

-- Vinte e três de Março de 2016.

Tudo parecia estar em ordem, se não fosse pelo fato de que já era Dezembro e faltavam poucos dias
para o Natal.

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Capitulo 25 por gehpadilha

Notas do autor:

Feliz Natal a todos e obrigada pelo carinho :)

-- Chame a médica! – Vitória ordenou a Felipe.

Quando o Duomont saiu, ela voltou a fitar Maria Clara.

-- Você me conhece? – Indagou à jovem.

-- Claro que sim, a senhora é a condessa. – Falou altiva. – Nos encontramos uma vez no enterro da
minha tia.

-- Não, não... – A ruiva passou a mão pelos cabelos.

-- Não o quê? – Clara tentou levantar, mas sentiu uma dor e decidiu ficar no mesmo lugar. – Por que eu
estou aqui e o que a senhora faz aqui?

-- Não, você está brincando comigo. Está me castigando...

Clara encarou-a e ficou confusa. Sabia que sua família odiava Vitória Mattarazi, então era estranho
que ela estivesse ali. Só a viu uma vez em sua vida, no enterro, mas nunca conseguira esquecer a força daquele
olhar, a arrogância, a postura orgulhosa e dominadora.

A equipe médica entrou e fora pedido que a condessa se retirasse, pois deveriam fazer alguns exames
na paciente.

Miguel foi até a sobrinha, sorria, feliz.

-- Eu disse que ela ficaria bem.

O advogado percebeu que a ruiva não parecia tão entusiasmada, na verdade, parecia em choque.

-- O que houve?

-- Ela não se lembra de nada... – Falou baixinho. – De nada...

-- Como assim?

Vitória sentou, cobrindo o rosto com as mãos.

-- Eu não sei, vamos esperar que os médicos digam o que está acontecendo.

Batista chegou a mansão, encontrando a esposa terminando de preparar o jantar.

-- Olá, Maria Julieta. – Abraçou-a. – Que cheiro gostoso.

-- Se afaste, você está todo suado. – Virou-se, encarando. – Tem notícias de menina Clara?

O administrador sentou.
-- O senhor Miguel me ligou e disse que estava tudo do mesmo jeito.

A boa senhora serviu duas xícaras de café, em seguida também se acomodou.

-- Oh meu Deu, aquela criança não merece isso. – Tomou um pouco do líquido. – E a condessa? Como
ela está?

-- Está ao lado dela, parece que gosta muito da menina.

Maria levou um biscoito à boca, parecendo pensativa.

-- Quem diria que o ponto fraco da condessa seria a neta do seu maior inimigo...

-- Por que diz isso? – Batista indagou confuso.

A mulher se levantou.

-- Homens! – Levantou-se e saiu resmungando.

Clarice, Felipe e Vitória estavam na sala da neurologista, esperavam-na ansiosamente. Ela pedira a
presença dos responsáveis pela jovem.

A porta se abriu, trazendo a presença da mulher que trazia as respostas para a aflição de todos.

-- Bem, tivemos muita sorte que a nossa paciente tenha recobrado a consciência. – Sentou. – Já pedi
alguns exames para ver como estão as coisas, mas acho que em breve ela poderá voltar para casa.

-- E quanto à amnésia? – Vitória se levantou. – Ela não se lembra de fatos que ocorreram depois de
determinando tempo.

Jane fitou a ruiva. Naqueles dias que a encontrara, percebera o quão era orgulhosa e arrogante a bela
mulher.

-- Bem, acredito que isso foi um meio de defesa que a Maria Clara encontrou para se livrar de alguns
traumas...

-- Mas é permanente? – Clarice se adiantou.

-- Não tenho como dizer com precisão, pois pode ser algo permanente ou ela poderá acordar amanhã e
se recordar de tudo novamente.

-- O que pode ser feito para que essa parte escondida de suas lembranças possa voltar? – Insistia a
condessa. – Não pode simplesmente deixá-la ficar assim.

A neurologista se levantou, pareceu perder a paciência.

-- Como disse, senhora condessa, vai depender dela, lógico que um acompanhamento será preciso,
então não aconselho que ela saia da capital. Desejo observar de perto a evolução desse caso.

Vitória assentiu, saindo.

-- Mal educada! – Clarice falou com escárnio. – Acha que é a dona do mundo.

Maria Clara despertou mais uma vez e ao abrir os olhos, lá estava Vitória Mattarazi.

Assustou-se com a presença arrogante.

Seu pai estivera ali, ficando ao seu lado até que voltasse a dormir.

-- Por que está aqui?

-- Precisava vê-la. – Aproximou-se, segurando-lhe a mão, mas a jovem retirou. – Não se lembra de nós?

A morena mirou os olhos verdes.

Havia algo neles que lhe desconsertava, que também lhe amedrontava, eram fortes, indomáveis, mas
havia mais alguma coisa a mais e isso a incomodava demasiadamente.

-- Não!

Clarice entrou interrompendo a troca de olhares.


-- Filha, que bom que você já está bem. – Beijou a face da garota. – A médica disse que vai lhe dar alta o
mais rápido possível. – Falava, ignorando a presença da condessa.

-- E onde está o Marcos? – Perguntou entusiasmada. – Ele vem me ver?

Vitória respirou fundo, seguindo até a janela do quarto. Sabia que precisava manter a clama, mas
temia não conseguir por muito tempo.

-- Amor, ele esteve aqui duas vezes. – Enfatizou. -- Mas a Mattarazi não permitiu que ele entrasse. –
Disse em voz alta.

-- E ele continuará mantendo uma boa distância. – A ruiva se virou, fitando-as. – Não se esqueça,
senhora Duomont, que eu quem estou a arcar com todas as despesas e isso me dá o direito de fazer certas
escolhas.

-- Não tem o direito de proibir a presença do meu noivo aqui. – Clara a enfrentou.

A condessa ainda abriu a boca para retrucar, mas acabou mudando de ideia, deixando o recinto.

Clarice torceu o nariz.

-- Ela é um monstro, um ser desprezível, por culpa dela você está aqui, não confie nela.

-- Por que ela está aqui? – Indagou curiosa.

-- Porque ela chantageou seu avô, essa maldita o fez mandar você para trabalhar de escrava na
fazenda dela e a sua queda desse cavalo foi tudo culpa dessa desgraçada.

-- Mas como? Eu não consigo me lembrar de nada disso.

-- Você vai lembrar, precisa apenas ter calma. – Disse, acariciando-lhe os cabelos. – Mas lhe direi tudo o
que precisa saber agora.

Clara ouvia tudo e parecia cada vez mais horrorizada com o que lhe era dito. Nunca imaginara em
toda sua vida que seria o alvo das maldades de Vitória Mattarazi. Como alguém poderia agir de forma tão cruel
com alguém que nada tinha lhe feito? Lembrava que em muitos momentos duvidara das coisas que o avô dizia
sobre aquela mulher, mas diante dos fatos narrados por sua mãe, não havia mais questionamentos.

Valentina chegou à casa do prefeito.

-- O que deseja, senhora? – Marcos indagou.

-- Tenho uma ordem de prisão para o seu pai.

O rapaz pareceu surpreso com as palavras, pois não sabia o que o Marcelo poderia ter feito algo
contra as leis da cidade.

Três dias depois, a equipe médica chegou à conclusão de que a paciente poderia continuar o processo
de recuperação em casa.

Vitória não tornou a ver a jovem, não se sentia bem ao notar o olhar temeroso que a garota lhe dirigia,
havia asco... medo... Nem mesmo quando a tentou pisotear com o Bastardo ou até mesmo quando cortou o
pneu de seu carro viu uma expressão de puro desdém como desde que ela despertou da queda.

-- Maria Clara recebeu alta! – Miguel disse entusiasmado.

A ruiva encontrou o advogado na recepção do hospital.

-- Pague a conta, em seguida leve-a para o meu apartamento.

-- Não vai permitir que ela retorne com os pais? – Indagou perplexo.

-- A médica disse que ela precisa de cuidados e acompanhamento, não acredito que os Duomonts
possam arcar com isso. – Explicou impaciente.

Miguel assentiu, sabia que não teria como argumentar.

-- Entrou em contato com a Valentina?

-- Não, estive muito ocupada.


-- Mas como? – Indagou perplexo. – Você sumiu durante três dias, deixei recado no seu celular e liguei
para o seu apartamento, nem mesmo retornou as minhas ligações.

-- Já disse que estava ocupada. – Falou pausadamente.

O advogado a fitou por alguns segundos.

-- A Valentina queria falar contigo porque ela descobriu quem roubou suas vacas...

-- Isso não me importa. – Interrompeu-o. – Há coisas mais importantes para me preocupar agora.

-- Nem mesmo deseja saber que a queda da Maria Clara não foi acidental e sim provocada?

A condessa segurou-lhe pelo braço.

-- Do que você está falando?

-- A sela foi cortada pela mesma pessoa que roubou suas vacas.

Miguel viu o maxilar da condessa quase furar a pele.

-- Quem fez isso? – Estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- O prefeito!

As pessoas que estavam na recepção ouviram o praguejar de Vitória, porém a empresária não pareceu
se importar com isso.

-- A Valentina não conseguiu prendê-lo, ele não estava na cidade, mas já existe uma ordem de prisão.

-- Eu o quero na cadeia, quero que ele pague pelo que fez, porque se eu o encontrar, eu mesma o
matarei.

Miguel a viu se afastar e fez uma prece para que a condessa não cruzasse com Marcelo, pois sabia que
ela seria capaz de trucidá-lo com as próprias mãos.

Respirou fundo e seguiu até o quarto onde estava a Clara, havia outra batalha para lutar.

Clarice ajudou a filha a se pentear.

-- Vai ter que usar muletas de novo. – Felipe lhe entregou.

-- De novo? – A jovem arqueou a sobrancelha.

-- Sim, filha. – A matriarca se adiantou. – A condessa cortou a sela do seu cavalo no dia da sua
apresentação, então você sofreu um acidente e ficou um bom tempo usando muletas.

-- Chega, Clarice. – Felipe a advertiu com o olhar.

-- Chega nada. – A mulher se empertigou. – Essa mulher é um demônio e já tentou até te pisotear com
aquele cavalo do inferno. Já contei tudo para ela.

Ouviram batidas na porta, em seguida a entrada de Miguel.

-- Bom dia! – Cumprimentou-os com um sorriso. – Fico feliz que esteja bem, Maria Clara.

A jovem o fitou, mas não havia nenhuma lembrança daquele homem em sua mente.

-- Bem, eu sou o advogado de Vitória e sou eu que venho lidando com todos os assuntos relacionados a
você. – Adiantou-se, lendo a confusão nos olhos negros.

-- E o que o senhor deseja? – Clarice perguntou cheia de arrogância.

Miguel pigarreou, parecia engasgado.

-- Vim buscar a Clara para levar até o apartamento da condessa.

O advogado se sentiu culpado ao ver o olhar de pânico que a bela morena lhe dirigia.

-- Mas a Clara vai voltar conosco! – Felipe se intrometeu. – Não acredito que a Mattaraizi vai querer
levar a minha filha depois de tudo que aconteceu.

-- Por favor, Felipe. – Apontou a porta. – Prefiro lhe falar em particular.


O filho de Frederico pareceu não gostar da ideia, mas acabou assentindo, acompanhando o
representante da ruiva.

Vitória seguiu até o apartamento.

-- Bom dia, senhorita! – A empregada a cumprimentou com um sorriso.

-- Olá, Ana! – Seguiu até a poltrona, sentando-se. – O que é isso? – Apontou para os enfeites de Natal, e
uma árvore que tinha sido montada.

-- Bem, como a senhora disse que viria passar uns dias aqui e teria companhia, imaginei que gostaria
de um clima natalino. – Disse simpática.

A condessa deu de ombros.

Não se importava com aquelas coisas. Nem mesmo se importava com essas festas, em toda sua vida
nunca tivera algo para comemorar e isso continuava do mesmo jeito.

Pegou o celular, estava esperando uma ligação da delegada, mas até aquele momento não recebera
notícias.

-- Maldito Marcelo!

Surpreendera-se com a notícia de que ele estava por trás do que acontecera em sua fazenda. Quais
motivos o levaram a agir assim? De Frederico poderia esperar tudo, pois sabia do ódio que o velho sentia por si,
porém o prefeito não tinha motivos para isso... Ou teria?

Com certeza, ele não imaginara que quem montaria o Bastardo seria a Maria Clara, tudo fora armado
para que fosse a ruiva a cair.

-- Entenda, Felipe. – Miguel tentava convencê-lo. – A Clara precisa de acompanhamento médico e só


aqui na capital ela poderá ter.

O Duomont passou a mão pelos cabelos, sentia-se impotente diante daquela situação.

-- Clara não está bem, ela precisa ficar perto da família. – Insistia.

-- Nesse momento o que ela precisa é de assistência médica para poder se recuperar totalmente. –
Colocou a mão em seu ombro. – Você sabe que não terá como arcar com as despesas, Vitória o fará, ela se
responsabilizará por todo esse processo de recuperação.

Infelizmente, Felipe sabia que aquilo era verdade, mas não estava seguro se poderia confiar na
condessa, porém naquele momento seria preciso pensar no que seria melhor para a Maria.

-- Está bem! – Disse por fim. – Deixe-me falar com ela primeiro.

-- Não se preocupe, eu estarei presente, cuidarei dela.

Maria Clara almoçou com os pais, em seguida seguiu com Miguel para o apartamento.

Entendera que deveria fazer o que a condessa exigia, pois havia um contrato, mesmo que ela não
lembrasse, teria que continuar seguindo todas as suas ordens.

Encostou a cabeça, virando-se para a janela.

Não queria chegar ao seu destino, temia a presença de Vitória, temia estar no mesmo lugar que aquela
mulher.

Miguel fitou de soslaio a jovem que estava ao seu lado.

Imaginava como ela deveria estar se sentindo, ainda mais com todas as barbaridades que Clarice lhe
falara sobre a Mattarazi.

Sabia como a sobrinha sofreu com o acidente de Clara, testemunhara a dor da ruiva, dia após dia e
mesmo que ela sempre exibisse aquela máscara de orgulho e arrogância, tinha certeza que Vitória estava
apaixonada pela neta de Frederico.

Clara viu o carro estacionar diante de um enorme prédio todo espelhado, luxuoso, enorme.

O advogado desceu, deu a volta abrindo a porta para ela.


-- Seja bem vinda! – Sorriu.

A garota assentiu.

-- Deixe-me ajudá-la. – Pegou as muletas. – Se quiser, peço uma cadeira.

-- Não, não precisa, eu consigo me virar.

A condessa tomou um banho demorado, estava tensa, estressada com todos os acontecimentos.

Vestiu o roupão, seguindo até a sala, caminhou até o elegante bar, preparando um drinque.

Então a porta se abriu e seus olhos se encontram com os negros da linda Duomont.

Por um momento, Vitória conseguiu ver naquele olhar algo que a deixou inquieta, entusiasmada...

-- Seja bem vinda, Branca de Neve. – Levantou a taça em um brinde.

Clara desviou o olhar.

Não conseguia explicar, mas havia algo naquela mulher que a inquietava. Sentia-se invadida, violada
de alguma forma. Voltou a fitá-la, os lábios exibiam um sorriso preguiçoso, os olhos verdes brilhavam
perigosamente...

Observou o roupão preto, os cabelos avermelhados ainda estavam molhados...

-- Branca de Neve? – Arqueou a sobrancelha esquerda, confusa.

Vitória caminhou lentamente até ela.

Tocou-lhe o pequeno curativo na lateral da fronte, sentindo-a se encolher.

-- Você deve voltar hoje, Miguel. – Afastou-se dela. – Há muita coisa que você precisa resolver.

-- Mas eu pensei que você precisaria de mim aqui...

-- Não. – Tomou todo o conteúdo do copo. – O helicóptero o levará de volta dentro de uma hora.

Clara fitou o advogado, suplicando silenciosamente para que ele não a deixasse sozinha ali, estava
amedrontada, pois imaginara que ele ficasse junto com ela naquele lugar.

Miguel insistiu.

-- Acho melhor ficar, acredito que posso resolver os problemas daqui mesmo.

-- Não! – A ruiva sentou, cruzando as longas pernas. – Vá logo, pois como disse o helicóptero saíra
dentro de uma hora.

O advogado colocou a mão no ombro da jovem.

-- Você vai ficar bem, eu ligarei sempre para saber como você está. – Tirou um cartão do bolso,
entregando a ela. – Qualquer coisa, pode me ligar.

A jovem assentiu.

Miguel foi até Vitória, beijou-lhe a face, fitando-a com um quê de advertência, depois partiu.

A condessa fez um gesto com a mão para que a outra sentasse.

-- Gostaria de descansar.

-- Sente-se, quero falar contigo. – Insistiu.

A jovem assentiu. Tentou sentar, mas pareceu um pouco atrapalhada para tentar se acomodar na
poltrona, então rapidamente Mattarazi foi até ela, ajudando-a.

A Duomont teve um sobressalto ao sentir o toque da bela mulher em seu corpo, tentou se afastar, mas
acabou se desequilibrando.

Vitória instintivamente a abraçou para que ela não fosse ao chão, arrependendo-se em seguida de ter
se permitido tamanha proximidade. Sentiu uma corrente elétrica percorrer cada centímetro de si, fitou a boca
que estava tão próxima da sua e teve um desejo insano de tomá-la.

Maria Espalmou a mão em seu peito, afastando-a. Estremeceu.


A ruiva ajudou-a a sentar e voltou para a sua própria poltrona.

-- Não precisa me olhar com esses olhos assustados, não vou te atacar. – Disse aborrecida, mas depois
tentou amenizar o tom que estava usando. Seguiu até ela, ajoelhando-se, pegou-lhe as mãos.-- Clara, não lembra
mesmo de nada? Não se lembra de nós?

-- Nós? – Indagou confusa. – O que tem nós?

Vitória levantou-se frustrada. Caminhando de um lado para o outro.

-- Ana! – Chamou a empregada.

A jovem atendeu prontamente.

-- Leve a senhorita Duomont para o quarto e a ajude no que for preciso.

-- Certo, senhora.

Clara sorriu para a serviçal, simpatizando instantaneamente com ela.

Antes de deixar a sala, fitou mais uma vez a condessa, estava curiosa...

Vitória entrelaçou os dedos em suas madeixas vermelhas, sentindo-os deslizar por entre os fios.

Como suportaria estar tão perto dela sem poder tocá-la?

Deveria ter deixado-a partir com os pais, deixá-la viver em paz, longe, sendo feliz com o noivo.

Mas como faria isso?

Sabia que ela a amava, ouvira isso inúmeras vezes, sentira aquilo quando se amaram, sentira aquilo
quando fizeram amor. As coisas não podiam simplesmente ser apagadas daquele jeito.

Clara observou o luxuoso quarto, ficando impressionada com tamanha pompa. Havia uma cama de
casal ao centro, duas poltronas, uma imensa TV, os móveis todos em cor marfim com branco.

-- O closet fica aqui. – A jovem mostrou.

A Duomont assentiu, porém não sabia se havia roupas suas, pois aquela que usava fora comprada
naquele mesmo dia.

-- Essa porta dá direto para os aposentos da condessa.

A jovem fitou a elegante separação de vidro. Havia uma persiana que não permitia que se visse o que
se passava em seu interior.

Só naquele momento Clara percebeu que a empregada falava com ela.

-- Perdoe-me, eu me distrai. – Falou sem jeito.

-- Perguntei se deseja alguma coisa? Está com fome?

-- Não, quero apenas deitar, minha perna está doendo.

A moça se adiantou para ajudá-la a se acomodar.

-- Deseja que deixe o ambiente na penumbra?

-- Sim! Obrigada.

Ana fechou as cortinas, em seguida saiu.

Clara fechou os olhos, desejava poder dormir muito. Havia uma confusão de imagens em sua mente
que a estava deixando perturbada. Não entendia o motivo, mas sempre que fitava Vitória sentia um aperto em
seu peito, uma raiva misturada a algum tipo de receio, carinho... Mas como?

“Não se lembra de nós?”

O que ela quis dizer com aquilo?


Valentina estava em sua delegacia quando fora avisada que Marcelo estava ali acompanhando de dois
advogados.

Rapidamente, ela pediu que entrassem.

O pomposo prefeito a fitou com desprezo.

-- Esteve a minha procura? – Sentou-se. – Desculpe-me o contratempo, mas sou o prefeito dessa cidade
e há muitas coisas para se fazer.

Um dos advogados lhe entrou um papel.

“Miserável!”

Ele tinha recorrido ao juiz.

-- Bem, acredito que estamos livres agora. – O homem levantou-se.

-- Independente disso, há uma investigação muito grave envolvendo a sua pessoa. – Ela também se
levantou.

-- Irá contra a ordem de alguém superior a você? – Arqueou a sobrancelha.

-- Não, mas a investigação não irá parar, saiba que a condessa não aceitará facilmente que o senhor
apenas pague uma fiança e seja liberado.

-- E eu não aceitarei que a palavra de um bandido desgraçado seja levada acima da minha.

A delegada observou o trio deixar sua sala e teve vontade de gritar de frustração. Precisaria de provas
concretas para enjaular aquele homem, pois agora sabia como ele podia ser escorregadio.

Pegou o telefone para ligar para Vitória, sabia que a ruiva ficaria fora de si quando soubessem disso.

Os dias passavam tranquilos na capital.

Clara tinha a sorte de pouco se encontrar com Vitória. Pelo que ficara sabendo por Ana, ela anda
muito ocupada resolvendo problemas referentes às suas empresas.

Desligou o telefone.

Tinha ligado para a família e depois para o noivo. Pelo menos tinha essa liberdade.

Seguiu até a sala e encontrou a empregada arrumando uma verdadeira bagunça. Parecia que um
furacão tinha passado por ali. Havia garrafas quebradas, copos, na verdade, o elegante bar fora totalmente
destruído.

-- O que houve?

A moça a fitou.

-- A condessa parece ter ficado muito chateada depois de receber um telefonema ontem. –
Confidenciou baixinho.

-- Nossa! – Exclamou.

-- Acho melhor ficar aí mesmo, ainda tem muito vidro, não quero que se machuque.

A Duomont assentiu, encostando-se ao batente, observando a outra limpar tudo.

O que poderia ter acontecido para deixar a ruiva tão descontrolada? Há três dias não a via, até
pensara que ela tinha viajado, não fosse às luzes que podeia ver pela porta de ligação entre os quartos. Pode
perceber que ela sempre se deitava muito tarde, às vezes só de madrugada sentia a sua presença e cheiro suave
que ela exalava.

-- O que vai querer para a ceia de Natal? – Ana perguntou ao terminar a tarefa.

Maria Clara adorava o Natal, mas não se sentia nada empolgada, ainda mais porque estaria longe da
sua família, sem falar que a companhia não era nada agradável.

-- O senhor Miguel vai vir com a esposa e o filhinho.

Bem, pelo menos não estaria sozinha com a condessa.


-- E então? Qual será o cardápio?

-- Eu não sei...

Ela percebeu o olhar da mepregada se focar em algo além de sua pessoa, ao se virar percebeu a
condessa praticamente colada as suas costas. Ao tentar se afastar, mais uma vez se desequilibrou e mais uma
vez Vitória precisou segurá-la.

A jovem Duomont sentiu a pele se arrepiar com o contato tão intimo.

-- Deve tomar mais cuidado. – Disse afastando-se.

Clara a fitou de esgueira.

A ruiva estava apenas de roupão, dessa vez verde, combinando com os olhos. Os cabelos estavam
molhados, percebeu que a mão esquerda estava enfaixada.

-- Ana, eu preciso de algo para aliviar minha enxaqueca. – Sentou-se na poltrona. – Algo bem forte,
pois minha cabeça parece que vai explodir.

-- Está bem, vou buscar algo para a senhora. – Recolheu os sacos de lixo e seguiu em direção à cozinha.

Vitória fitou a hóspede e se deparou com o olhar dela sobre si.

Há dias que evitava vê-la, pois temia não conseguir manter o controle. Desejava tê-la em seus braços,
desejava mais uma vez aqueles lindos lábios nos seus.

-- E então, Branca de Neve, animada para o Natal?

-- Não! – Disse, encarando-a com ar de desafio.

-- Por quê? – Indagou cruzando as pernas. – Pensei que as princesinhas como você gostassem dessa
época.

-- Eu amo essa época, mas acredito que ela deve ser passada com as pessoas que amamos.

Clara se arrependeu de suas palavras ao notar uma sombra de tristeza nos lindos olhos verdes.

A condessa apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça, levantou-se, retornando para o quarto.

À noite chegou tranquila.

Clara fora avisada que a família de Miguel já tinha chegado.

Ela fitou o vestido que estava sobre a enorme cama. Era preto e branco. Não tinha alças, era justo até a
cintura, no quadril ele era soltinho.

Sabia que tinha sido um presente da condessa. Não desejava nada que viesse daquela mulher, porém
não tinha outro traje para o jantar e não desejava ser mal educada com o advogado que sempre se mostrava
muito atencioso consigo.

Decidida, pediu a Ana que a ajudasse a se vestir.

Os Duomonts foram convidados pelo prefeito para a ceia. Todos compareceram, menos Felipe.

-- Fico feliz com a presença de vocês.

Havia muita gente presente. Políticos, empresários e curiosamente também estava ali Otávio e Alex.

A conversa transcorria animada, menos para Marcos que jazia sozinho em um canto. Tinha planos
para tirar a noiva dos domínios da condessa e sabia que poderia conseguir alguns aliados para tal intuito.

-- Seu filho é lindo.

Estavam na sala, havia um garçom servindo aperitivos.

-- Obrigada. – A delegada sorriu.

Valentina fitou o advogado, ainda estava surpresa com o fato de Clara não se lembrar de nada.
-- E como está sua perna? – Miguel levou um salgado à boca.

-- Vou precisar fazer fisioterapia, a partir da terça já inicio.

O garotinho pulou do colo da mãe correu até a entrada. Todos olharam naquela direção e viram a
arrogante condessa.

A jovem Duomont mirou a ruiva agachar para tomar a criança nos braços. Como alguém poderia
ainda ficar mais bonita?

Essa era a pergunta que martelava em sua cabeça ao fitá-la. Ela usava um vestido longo, na mesma
tonalidade dos cabelos, havia uma enorme fenda na lateral que deixava à mostra a perna longa e torneada
vestida por uma meia na cor da pele.

-- Olá, pequeno. – Sorriu para Miguelzinho. – Boa noite! – Fitou a todos.

O olhar de Vitória se demorou por mais tempo em Maria Clara. Ela estava tão linda que sentia vontade
de estreitá-la em seus braços.

-- Fico feliz que tenha aceitado o meu convite. – Encarou a delegada. – Sei que a presença de vocês será
melhor do que a minha para a Branca de Neve. – Sentou.

-- “ Banca de Neve, tia?”

-- Sim. – Gargalhou. – Veja. – Apontou para a neta de Frederico. – Ela não parece com aquela princesa
do livro que te dei?

A criança assentiu entusiasmada.

-- Sim!

A condessa viu o vermelho se apossar da face da veterinária e teve vontade beijá-la.

A noite transcorria tranquila.

Valentina conversava com Vitória, enquanto Miguel brincava com o filho junto com a Clara.

Beberam e já era meia noite quando sentaram para jantar. Ana levou a criança para o quarto, pois ele
já não se aguentava de sono.

A Duomont acabou sentando ao lado de Vitória. Vez e outra, as mãos de ambas se tocavam.

-- Nossa, acho que vou engordar uns quilinhos, amor. – Miguel beijou o rosto da esposa. – Espero que
não se importe de ter um marido barrigudo.

-- Acho que vai ter correr um pouco mais. – Valentina o provocou.

-- Está vendo, Clara, o que dá casar com uma delegada. – Fez beicinho.

-- Não se preocupe, Miguel, ela só está brincando. – Vitória falou. – Afinal, ela sabe que você vai correr
muito para perder essa barriga, você a obedece direitinho. – Piscou provocante.

-- Bem, é impossível não obedecer a uma mulher tão linda, condessa. – Agora foi a vez do advogado
provocá-la. – Você mesma é a prova disso. – Relanceou os olhos para Clara.

A ruiva levou a taça à boca e ficou bebericando lentamente. Preferiu ficar calada, pois sabia que o seu
representante legal estava certo, afinal, quantas coisas já tinha feito só para agradar aqueles olhos negros.

Depois do jantar, voltaram para a sala onde houve trocas de presentes. Clara cumprimentou todos,
menos a condessa.

Vitória tentou não aparentar como ficara decepcionada.

Miguel e Valentina notaram a dor no olhar da mulher que sempre se mostrava tão arrogante.

A ruiva inventou um desculpa, alegando uma pequena dor de cabeça, seguiu para o quarto. Os outros
também seguiram para seus respectivos aposentos.

Clara tentou pela enésima vez retirar o vestido, mas suas tentativas continuavam sendo em vão.

O lindo modelo tinha pequenos botões nas costas. Ana quem a ajudou a vestir, porém a empregada já
tinha ido embora há tempos.

Sentou, frustrada.
Não conseguiria dormir vestida daquele jeito. Pensou em chamar a esposa de Miguel, mas com certeza
eles deveriam estar aproveitando a noite e não desejava importuná-los, então só haveria uma alternativa.

Respirou fundo para conseguir coragem, pegou as muletas e caminhou até a porta que dava acesso ao
quarto de Vitória.

-- Condessa... – Chamou baixinho.

Esperou para ver se ela respondia, mas não teve resposta.

-- Condessa! – Falou mais alto.

Alguns segundos se passaram, até que a enorme porta foi aberta.

Clara observou que a ruiva usava apenas uma camisola. A vestimenta na cor preta deixava os seios
quase toda a mostra e mal cobria as coxas.

Fitou os olhos verdes, percebendo que estavam vermelhos e inchados como se tivesse chorado.

-- Por que me chamou? Algum problema? – Indagou preocupada.

A Duomont foi tirada das suas divagações pela voz rouca.

-- Sim. – Fez um gesto afirmativo. – Eu não consigo tirar o vestido. – Disse relutante. – Têm muitos
botões e não consigo me apoiar sem as muletas.

Vitória a fitou por alguns segundos, em seguida se posicionou por trás dela.

Clara sentia a respiração arrepiar os pelos do seu pescoço. Sentiu-a colada as suas costas e isso fez seu
corpo reagir de forma jamais imaginada. Percebeu os seios doloridos e uma forte pressão em seu ventre.

Sentiu o rosto em chamas.

-- Pronto! – Afastou-se. – Agora você conseguirá tirá-lo. – Seguiu de volta ao quarto.

A morena a viu se afastar e algo dentro de si pareceu se manifestar.

-- Condessa...

A ruiva se virou para fitá-la.

-- Sim? – Arqueou a sobrancelha.

-- Feliz Natal... – Disse baixinho.

A empresária a fitou demoradamente.

Não estava sendo fácil lidar com o desprezo da jovem. Doía ver em seus olhos a indiferença, o
desdém... Naquela noite doeu ainda mais... Porém agora, os olhos negros transmitiam outra coisa...

Caminhou até ela e inesperadamente a abraçou forte.

Clara não reagiu, apenas ficou ali, dentro daquele círculo, sentindo-se protegida... Sentindo-se
familiarizada...

Aspirou o seu cheiro dela...

-- Feliz Natal, Branca de Neve... – Sussurrou em seu ouvido.

A morena a viu se afastar, em seguida a porta foi fechada, mas a Duomont continuou ali, perdida em
seus pensamentos.

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Capitulo 26 por gehpadilha
Maria Clara não conseguiu conciliar o sono. Sua cabeça doía, sua mente estava conturbada com
imagens desconexas.

Virou mais uma vez para o lado, não havia uma posição que lhe ajudasse a relaxar. Para completar
sua perna começou a incomodar. Desistindo de tentar dormir, sentou na cama, pegando uma caixa que estava
à cabeceira. Abrira todos os presentes que ganhara, menos o da condessa. Na verdade, nem mesmo tinha
aceitado, então quando deitou ficou surpresa ao ver a embalagem ali.

Pegou-a.

O perfume da ruiva estava presente. O cheiro dela lhe fazia se sentir incomodada, como se fosse uma
afronta.

Abriu.

Havia um cavalo branco esculpido em madeira.

Ficou encantada com a sensibilidade do presente.

Sorriu, maravilhada.

Havia uma inscrição...

“ Branca de Neve.”

Como alguém tão sem coração podia ter tanta sensibilidade para lhe presentear com algo tão
delicado?

Vitória despertou cedo, vestiu o biquíni e foi para a piscina da cobertura.

Ficou um bom tempo nadando, tentando relaxar os músculos. Passara a noite sendo assombrada por
demônios do passado.

Depois de atravessar a nado a grande extensão, parou para respirar.

-- Está treinando para as olimpíadas.

Ao levantar a cabeça se deparou com a delegada. Deu de ombros, saindo da água, seguindo até a
espreguiçadeira, sentando.

Valentina se acomodou ao lado dela.

-- Você está bem? – Fitou-a preocupada.

A esposa de Miguel nunca viu a ruiva tão abatida. Ficara tocada na noite anterior com a dor que viu
em seus olhos ao ser desprezada por Clara.

Vitória colocou os óculos escuros, deitando-se.

Alguns segundos se passaram, antes que ela respondesse.

-- Só ficarei bem quando você conseguir colocar o miserável do Marcelo atrás das grades. – Falou por
entre os dentes. – Meu desejo é matá-lo com minhas próprias mãos... Fazê-lo sofrer, fazê-lo pagar por tudo que
fez.

-- Você precisa ter calma. – A delegada se virou para ela. – Não quero que volte para a fazenda, não
antes de tudo se resolva.

-- Por culpa desse desgraçado a Clara perdeu a memória.

Valentina não podia ver os olhos da ruiva, mas tinha quase certeza que os encontrariam nublados.

-- Você precisa ter paciência...

A delegada não tinha intimidade com a condessa, na verdade, nem mesmo era simpatizante de suas
atitudes arrogantes, porém agora conseguia perceber que ela realmente amava a neta de Frederico.

-- Paciência?! – Indagou perplexa. – Você já viu a forma como ela me olha? Nem mesmo quando a
conheci, via esse tipo de desprezo no olhar dela. – Levantou-se. – Eu não sei quanto ainda vou aguentar, pois a
minha vontade é mandá-la de volta para os Duomonts e depois ir para bem longe para esquecer tudo isso.
Valentina se levantou, colocando a mão em seu ombro.

-- Você a ama?

A condessa não respondeu, pegou o roupão e caminhou de volta, mas encontrou Maria Clara parada
na passagem que levava ao apartamento.

Fitou-a intensamente e depois passou direto.

Clara tinha ido até a piscina quando viu que a condessa estava conversando intimamente com a
esposa de Miguel. Achou suspeito e já pensava em retornar para seu quarto quando Vitória veio em sua
direção. A ruiva não a cumprimentou.

A garota caminhou até onde estava Valentina. Havia uma mesa com um enorme guarda-sol, decidiu
sentar. Adorava ficar ali, tinha uma vista perfeita e podia ficar pensando na vida sem se incomodar com a
presença da ruiva, pois raramente ela ia até lá.

-- Bom dia, Maria Clara. – A delegada puxou a cadeira sentando. – Como você está? Passou a noite
bem?

Ana apareceu trazendo uma bandeja com sucos, leite, pães, queijos e frutas.

-- Posso fazer uma pergunta? –A jovem Duomont disse quando a empregada se afastou.

-- Sim! – Valentina serviu o suco para ambas.

-- Por que não prendeu a condessa quando ela cortou a sela do meu cavalo ou porque permitiu que ela
se aproximasse de mim se havia uma ordem de restrição?

-- Quem te contou isso? – Perguntou surpresa.

-- Minha mãe me disse tudo o que aconteceu, ela me falou coisas horríveis que essa mulher fez.

-- Eu acho que você não deveria acreditar em tudo o que lhe dizem, ainda mais quando é a sua mãe a
falar.

-- Como ousa dizer algo assim? Eu jamais duvidaria das palavras da minha mãe ou de qualquer um da
minha família. – Retrucou irritada.

-- Bem, o que lhe digo é que a Vitória não cortou a sela do seu cavalo, nem antes e tampouco agora. –
Disse firme.

-- Quais provas pode me mostrar para que eu acredite? – Pegou as muletas, levantando-se. – Até
mesmo essa mulher que defendes tentou me pisotear com um cavalo, quando eu não podia me defender, pois
estava em situação física pior.

-- E se eu dissesse que quem provocou o acidente que você sofreu agora foi o seu amado sogro? –
Levantou a sobrancelha irritada.

Clara a fitou, incrédula.

-- Por qual motivo ele faria isso contra mim? Sou a futura esposa do filho dele.

-- Não contra você, mas ele desejava matar Vitória Mattarazi.

A jovem pareceu ainda mais perplexa com o que estava ouvindo.

Não!

Conhecia Marcelo desde que era uma garotinha e tinha certeza que ele tinha uma boa índole, com
certeza isso deveria fazer parte de um plano da condessa para prejudicar o prefeito.

-- Eu não acredito!

A delegada a observou se afastar lentamente e teve vontade de bater na cabeça de Clara, quem sabe
assim a memória dela voltava a funcionar.

Não conseguia acreditar que aquela que estava a sua frente ainda pouco era a mesma jovem que via
os olhos brilhar quando se tratava da ruiva. Lembrou-se do dia que as viu no rio, quando tinha se entregado ao
desejo, naquele momento leu nos olhos negros o amor que ela sentia pela inimiga da sua família.

Levou o copo a boca tomando todo o conteúdo.

É
-- É, condessa, vamos ver como à senhora vai resolver esse problema e conquistar novamente a sua
princesa.

Miguel retornou para o interior depois do almoço junto com a família.

Clara não se despedira deles, alegou não se sentir bem e ficou no quarto.

Vitória pediu a Ana para ajudar a Clara a se vestir, pois teriam que ir ao médico, era necessário ver a
neurologista.

A condessa terminava de se arrumar quando a empregada entrou.

-- O que houve?

A jovem pareceu assustada.

-- Ela disse que não irá.

A ruiva vestiu a jaqueta de couro e saiu.

A jovem Duomont estava triste. Falara com Marcos e o rapaz contara que sua família estava sofrendo
perseguição por parte da condessa. Até mesmo seu pai fora acusado injustamente por um empregado da ruiva
como quem mandara roubar os animais e cortar a sela.

A porta de comunicação se abriu e lá estava a odiosa mulher.

-- Como ousa entrar assim em meu quarto? – Clara segurou tão forte as muletas que sentiu dor nas
articulações dos dedos.

-- Vista-se, pois você precisa ver a neurologista. – Ordenou ignorando as palavras da outra.

-- Eu não irei a lugar nenhum com a senhora! – Levantou o queixo, desafiadora. – Não desejo ficar em
sua presença.

Vitória respirou fundo, parecia estar contando mentalmente para não explodir.

-- Você tem uma consulta ou por acaso não quer recuperar suas lembranças? – Indagou se contendo.

-- Por que eu deveria querer recordar? Para me lembrar das coisas terríveis que a poderosa condessa
fez?

A ruiva caminhou até ela, segurando-a pelos ombros, encarando-a, parecendo querer desnudar sua
alma.

-- Do que tem medo? De descobrir que mesmo eu sendo um monstro, você se apaixonou por mim?

Os olhos negros arregalaram com o que acabara de ouvir. Abriu a boca, mas as palavras pareciam
presas em sua garganta.

-- Sim, Maria Clara Duomont, você está apaixonada por mim e eu por você.

Clara pareceu recuperar a lucidez, afastando-se.

-- Mentira... – Falou por entre os dentes. – Mentira! – Gritou. – Eu tenho um noivo, irei casar com ele. –
Mostrou a aliança. -- Jamais teria algo contigo...

Vitória tentou controlar a personalidade forte, mas ouvir as últimas frases da mulher que amava fora
o limite para sua paciência.

A jovem Duomont observou o sorriso sádico que se desenhava naquele rosto arrogante, não teve
tempo de se defender, tendo a boca capturada. Não teve como empurrá-la, pois estava apoiada nas muletas,
entretanto cerrou os lábios para não permitir o contato, porém sentia a língua contornando a curva de sua
boca... Sentiu-a pressionar, então Vitória se afastou.

-- Você tem dez minutos para ficar pronta ou volto aqui e eu mesma a vestirei. – Piscou ousada. –
Imagina como vou amar vê-la nua...

Clara teve ganas de gritar, de brigar, mas permaneceu ali, limpando freneticamente os lábios com as
costas da mão.

Não!
Era mentira!

Não acreditava em nada que aquela mulher dizia, com certeza fazia parte de algum plano sujo.

Tentou controlar a respiração, podia ouvir as batidas aceleradas em seu peito.

O caminho para o hospital fora feito em total silêncio.

Vitória sabia que perdera a cabeça, mas infelizmente não tivera como se controlar.

Estranhava essa forma instintiva de agir, quando sempre fora perita em usar sua frieza, porém isso
não se aplicava a neta de Frederico, desde que a conheceu, a sua personalidade selvagem fora libertada e com a
amnésia da garota as coisas estavam pior.

Ao chegar ao destino, ela entrou sozinha na sala da médica, enquanto a ruiva a ficou esperando na
recepção.

Folheava uma revista distraída, quando sentiu alguém sentar ao seu lado.

-- Então, a bela ruiva reaparece...

A condessa levantou a cabeça e viu Sofia.

Não voltara a ver a loira que lhe chamara tanta atenção meses atrás. Na verdade, nem mesmo se
interessou ou se preocupou com isso, pois estava bem distraída com sua Branca de Neve.

Foi surpreendida com um beijo rápido nos lábios.

-- Olá, Sofia. – Sorriu sem jeito. – O que faz aqui?

-- Eu trabalho aqui. – Fitou-a intensamente. – E você? Está doente? – Perguntou preocupada.

-- Não!

Foram feitos vários exames em Maria Clara, em seguida ela sentou para falar com a neurologista.

-- Bem, está tudo ok. Acho que agora devemos ter paciência para que sua memória possa voltar. – Jane
a fitou. – Algo lhe pareceu familiar nesses dias?

A face de Clara foi tingida pelo vermelho intenso.

Tivera alguns flashes, temia que fossem verdadeiras e isso a assustava.

-- Diga, preciso saber para te ajudar. – Jane deu a volta e foi até ela, sentando ao seu lado. – O que está
vendo?

A Duomont fitou a mulher.

-- Não há nada que seja relevante. – Disse por fim.

-- Está bem, mas quero que tenha um acompanhamento psicológico. – Ajudou-a a levantar. – Venha
comigo, quero que conheça alguém que vai lhe auxiliar nesse processo.

-- Gostou da minha sala? – Sofia parecia encantada com a ruiva.

Ficara triste quando não tivera como contatar a linda mulher que mexera tanto com seus sentimentos.

A condessa sentou, observando atenciosamente o ambiente. Mirou o divã, os quadros expressionistas.

-- O lugar é interessante, tem bom gosto.

A psicóloga puxou uma cadeira se acomodando bem perto de Vitória.

-- Mas o que a trouxe aqui? – Segurou-lhe a mão. – Não diga que descobriu que eu trabalhava aqui e
decidiu me visitar.

Antes que a empresária pudesse responder, a porta foi aberta.


Clara observou a cena suspeita e não conseguiu explicar, mas não gostara nada da loira que estava
praticamente sentada no colo da ruiva. Era como se já a conhecesse.

-- Olá, titia. – Sofia levantou-se. – Reencontrei uma amiga aqui, não é muita coincidência?

Vitória também se levantou.

-- Conheço a doutora Jane. – Sorriu. – Só não sabia que vocês tinham algum tipo de parentesco.

-- Bem, essa é a Maria Clara. – Apontou para a jovem. – Quero que você a acompanhe em seu processo
de recuperação.

Sofia fitou a Duomont.

Ambas se encararam por infinitos segundos. A neta de Frederico tinha a imagem daquela mulher viva
em sua mente, tinha certeza que a conhecia e não parecia ser alguém que lhe trazia boas lembranças.

-- Quero ir embora. – Fitou a ruiva. – Leve-me para a casa.

-- Mas, querida, gostaria que suas sessões começassem hoje. – A neurologista insistia.

-- Não, não quero. – Protestou.

Clara saiu da sala e a condessa se desculpou, indo atrás da jovem.

Alcançou-a na recepção.

-- O que houve? – Indagou caminhando ao lado dela.

-- Quero ir pra casa, já disse. – Fitou-a. – Deixe-me em paz.

A ruiva deu de ombros, seguindo ao lado da moça até o carro. Ao tentar ajudar a jovem a entrar no
veículo, foi repelida bruscamente.

Impaciente, Vitória deu a volta, esperando pacientemente que ela entrasse, depois deu partida sem
ousar falar mais nada.

Marcelo estacionou em frente à casa de Otávio.

O homem o estava esperando em seu escritório.

-- Boa noite! – O prefeito cumprimentou.

-- Sente-se! – O fazendeiro apontou uma cadeira para ele. – O que o traz aqui?

-- Vim porque quero lhe expor um plano para que possa se sair bem assumindo a administração da
cidade. – Sorriu. – Sem falar que a condessa será a responsável por tudo e ela quem pagará por todos os crimes.

-- E o que você ganhará com isso? – Otávio o encarou e parecia interessado.

-- A metade de tudo que pertence a Vitória Mattarazi. – Disse com um sorriso.

Clara não aceitou ser acompanhada psicologicamente por Sofia, então fora optado apenas que a
neurologista a observasse com maior frequência.

As sessões de fisioterapia iniciariam no dia seguinte.

A condessa se mantinha sempre presente, mesmo diante dos olhares enraivados da Duomont.

Não sabia o motivo de tanto rancor, ela estava cada vez mais arisca.

Banhou e seguiu para a varanda do quarto.

Observou a noite iluminada por luzes artificiais. Sentiu saudades de sua fazenda, das estrelas que
podia ver no céu.

Pegou o copo que deixara na mesinha, bebendo o conteúdo todo de uma vez.

Apoiou-se à varanda sentindo o álcool entorpecer um pouco dos seus sentidos.


Não deveria tê-la beijado, pois seu corpo fora despertado desgraçadamente. Desejava tê-la em seus
braços, amá-la intensamente, sentir a pele nua sob a sua, seus beijos molhados... Sua língua...

Deixou o copo de lado, levando a própria garrafa a boca tanta era sua agonia.

Nunca sentira tanta dor como quando fitava os olhos negros. Havia tanto desprezo em seu olhar, tanta
mágoa... Nem parecia a sua Branca de Neve... Sua princesa...

Clara acordou assustada, gritando.

Observou o quarto envolvido na penumbra. Sentiu o ar não chegar aos seus pulmões, tentou levantar,
esquecendo-se do problema da perna, acabou caindo.

Vitória achou que ouvira algo, mas seus sentidos estavam tão entorpecidos que pensou está ouvindo
coisas, então ouviu novamente e percebeu de quem se tratava.

Saiu correndo de volta ao quarto, entrando nos aposentos de Clara. Acendeu as luzes e foi quando a
viu caída, perto da cama.

Imediatamente foi até lá, levantando-a, colocando-a no leito.

A jovem estava aos prantos, percebeu que ela estava com falta de ar, viu a bombinha do outro lado do
quarto, pegando-a, entregando-lhe.

-- Calma, eu estou aqui. – Sentou-se. – Quer que eu chame o médico? – Indagou preocupada.

A Duomont fez um gesto negativo com a cabeça.

Passaram-se alguns minutos até que voltasse a respirar normalmente.

A condessa viu o rosto molhado de lágrimas. Encostou-se ao espaldar da cama, trazendo-a para seus
braços, acomodando-a em seu peito.

Clara pensou em afastá-la, mas se sentiu tão segura ali, que apenas se deixou ficar, como se aquilo
fosse a coisa mais normal do mundo.

-- Sua perna está doendo?

A morena a fitou.

-- Eu me desequilibrei, mas não a machuquei.

-- Você teve sorte, mas tem que tomar cuidado, pois pode se prejudicar ainda mais.

A Duomont observou os lábios rosados, os olhos verdes que eram os mais belos que já viu.

-- Você estava bebendo? – Indagou desconfiada.

Sentiu o cheiro de álcool.

-- Só um pouco.

-- A essa hora? – Fitou o relógio da cabeceira. – É quase uma da madrugada.

-- Durma, ficarei aqui com você.

-- Eu tive sonhos ruins... – Disse baixinho.

-- Foram apenas sonhos. – Tocou-lhe as madeixas negras. – Nada de mal vai lhe acontecer.

Clara deitou a cabeça em seu ombro novamente, estava sonolenta e acabou dormindo rapidamente nos
braços de sua linda condessa.

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Capitulo 27 por gehpadilha

Notas do autor:

Feliz 2017... Beijão grande.

Vitória fechou os olhos e aproveitou ao máximo a sensação maravilhosa de ter a Maria Clara em seus
braços. Inalou o delicioso cheiro de rosas que se depreendia de seus cabelos. Acariciou as madeixas longas e
macias...

Poderia passar a vida toda ali, com sua amada princesa em seu colo.

Respirou fundo, soltando lentamente o ar.

Sentia-se culpada por tudo o que acontecera com a jovem, não fora capaz de controlar seus demônios
e o pior sucedeu. Infelizmente não tinha como mudar o passado, mas tentaria ajustar os fatos em seu presente.
Seria capaz de fazer qualquer coisa por aquela mulher, daria a própria vida para salvar a dela. Hoje, tinha
certeza de que tudo só começara a fazer sentido quando seus olhos se cruzaram com os negros mais
misteriosos e doces que um dia pode ver...

Quantas vezes tentara fugir? Tentara negar o que estava a sentir? Até que o sentimento se tornou tão
forte que acabou se entregando, mesmo relutante, a ele.

-- Ah, Branca de Neve, como posso te amar tanto... – Falou baixinho. – Ah, Deus, até quando aguentarei
tanto desprezo?

Temia que sua paciência chegasse ao limite e acabasse explodindo, ferindo ainda mais a linda
Duomont. Já pensou em mandá-la de volta para a casa de sua família, porém quando se lembrava dos
momentos que passaram juntas não tinhas forças suficientes para isso. Sabia que mais uma vez estava sendo
egoísta, do mesmo jeito que fora quando a obrigou ir morar em sua fazenda só para tê-la ao seu lado.

Abraçou-a mais forte, ouvindo-a resmungar em um protesto inconsciente.

Até quando aguentaria aquela situação?

Antes não havia desprezo em seu olhar de princesa, mas agora via o desdém estampado em sua face
tão linda...

Maldita Clarice!!!!!!!!

Sabia que ela tinha envenenado a filha contra si.

Mesmo sabendo que a maioria das coisas que foram ditas eram verdadeiras, também sabia que ela
mentira muito e para piorar sua palavra não tinha força suficiente para ir contra ao da respeitada senhora
Duomont.

Sorriu quando a sentiu se aconchegar mais a si.

E se essa amnésia não passasse? E se ela nunca recuperasse as lembranças que viveram?

Isso a inquietava terrivelmente, pois nem mesmo sabia como fizera para que a bela Branca de Neve se
apaixonasse por alguém tão terrivelmente arrogante e orgulhosa como sempre demonstrava ser... Como
poderia conquistá-la novamente? Como?

Nunca precisara conquistar ninguém, na verdade, pensando bem, nunca se interessara realmente por
alguém, sempre fora apenas sexo.
Beijou-lhe o topo da cabeça e se deixou ficar ali, aproveitando aquele momento único em sua vida,
enquanto pensamentos lhe tiravam a paz.

As primeiras luzes do amanhecer invadiam os aposentos quando Maria Clara despertou. Tentou se
mexer, mas algo a prendia por sua cintura.

Virando-se, deparou-se com a bela condessa dormindo tranquilamente ao seu lado. Aos poucos sua
mente clareou, fazendo-a recordar do que se passara na noite passada, porém não imaginou que ela ficaria
consigo, acho que ela iria embora depois de um tempo.

Curiosa, observou-a com atenção.

O nariz empinado denotava a arrogância e o orgulho que faziam parte de sua personalidade forte e
inflexível; Os lábios eram vermelhos, lembravam uma maçã pronta para ser mordida, o superior era um pouco
mais cheio... Observou que havia algumas sardas enfeitando o belo rosto... Não havia dúvidas que era uma
mulher muito linda...

Lembrou-se do dia do enterro de sua tia, fora a primeira vez que a viu, recordava-se bem do olhar
forte, implacável, agindo como se fosse a dona e a senhora do mundo.

Pensou nas coisas que sua mãe lhe disse, nas barbaridades que aquela mulher fizera consigo...

Agora ficou a pensar que Lúcifer deveria ter aquela mesma aparência.

Vitória se mexeu e a coberta deslizou um pouco, deixando a mostra o decote provocante da camisola
preta.

Clara não conseguiu não fitar aquela parte exposta... Havia algumas pintas nele também... Eram
redondos...

Sentiu o rosto em chamas.

Lembrou-se de que ela falara sobre ambas terem um relacionamento.

Mentira!!!!!

Jamais se envolveria com uma mulher, ainda mais sendo, essa, a herdeira dos Mattarazis.

Tinha um noivo e o amava muito, jamais o trairia de forma tão vil, ainda mais com a inimiga de sua
família.

Viu os olhos da condessa se abrindo lentamente.

Eles eram tão penetrantes, intensos, atrevidos, pareciam querer desnudar sua alma.

Mirou o sorriso a deixar ainda mais bonita.

-- Bom dia, Branca de Neve... – Espreguiçou-se, passando as mãos pelo rosto.

-- O que faz aqui? – Indagou em tom acusador, ignorando o cumprimento.

-- Pensei que tinha sido eu que tinha bebido ontem. – Arqueou a sobrancelha divertida.

-- Lembro-me do que aconteceu, só não pensei que ficaria a noite toda.

Vitória se apoiou no cotovelo, observando-a minuciosamente.

Ela ficava ainda mais linda com aquele jeito arredio.

-- Como eu poderia me negar ao prazer de desfrutar de sua companhia. – Não resistiu ao prazer de
provocá-la.

Clara estreitou os olhos ameaçadoramente, mas não falou nada. Sentou na cama, pegou as muletas
que estavam apoiadas, levantando-se.

-- Saia! – Apontou a porta. – Estou esperando a Ana para que ela me ajude a tomar banho e não quero
que ela te encontre aqui.

-- Mas por quê? – Fez um gesto dramático levando a mão ao peito como se tivesse sido ferida. – Eu não
poderia ser simplesmente sua amiga? Quais os requesitos para ocupar esse cargo? Eu posso te ajudar a banhar?
– Piscou o olho. – Podemos ser amiguinhas?

Clara colou violentamente.


-- Saia! – Repetiu.

A ruiva se levantou e foi até ela, ficando a alguns centímetros de distância.

-- Posso te ajudar a banhar?

-- Como pode ser tão descarada? – Indagou indignada.

-- Eu só quero te ajudar. – Sorriu meiga. – Como um monstro pode se tornar um cordeiro se não lhe
dão uma oportunidade para isso?

A Duomont observou o olhar safado que a mulher exibia.

-- Não necessito de sua ajuda. – Fitou-a, examinando os olhos verdes. – O que está querendo com tudo
isso hein? Acha que o Marcos não me disse que você está perseguindo a família dele, não consegue deixar as
pessoas em paz? – Mudou de assunto.

A neta de Frederico se sentia atraída inexplicavelmente por a bela condessa, mas tentava justificar em
sua mente que qualquer um ficaria, afinal, era a ruiva mais linda que já deve ter existido em todo o mundo.

Era possível ver a tensão no maxilar da empresária.

-- Eu não sei onde estou com a cabeça que ainda permito que fale com esse desgraçado. – Falou por
entre os dentes.

-- Não pode me proibir disso... – Ela retrucou altiva.

Na noite anterior ao falar com o pretendente, ele contara o episódio em que a Mattarazi atirara
covardemente contra sua pessoa.

A condessa respirou fundo, tentou se lembrar de que a jovem que lhe enfrentava e acusava estava
doente e que seu julgamento era de terceiros.

-- Não irei discutir contigo sobre nada, nego-me a falar com alguém que não recorda nem mesmo que
está apaixonada por mim.

-- Mentira! – Disse baixinho. – Não acredito em ti.

Vitória sorriu, caminhando até a porta, abriu-a, mas não resistiu ao desejo de provocá-la mais uma
vez.

-- Amo o sinal que você tem na lateral do seio esquerdo...

Clara teve vontade de matá-la ao ouvir a risada rouca que preencheu o ambiente, antes que a
comunicação fosse cerrada.

Engoliu em seco.

Só alguém que a viu nua poderia saber daquela marca de nascença...

Não, não, não!

Ela deveria ter visto...

Sentou pesadamente sobre o colchão.

Ela sabia que aquilo era mentira, jamais teria intimidade com aquela mulher, ainda mais para ficar
despida diante dela.

-- Não, não e não. – Bateu forte na cama. – Ela está querendo me confundir, está querendo me
perturbar, mas por quê?

Vingança!?

Sua mãe falou sobre o desejo que a condessa sempre demonstrara de destruí-las, e as inúmeras
tentativas feitas por ela.

Levantou-se.

Com certeza, na noite anterior, ela deveria ter visto o tal sinal e estava usando esse detalhe para irritá-
la.

Ouviu batidas e Ana entrou.

-- Bom dia, senhorita. – Cumprimentou-a com um enorme sorriso. – Dormiu bem?


Clara a fitou com simpatia.

-- Sim, estou ótima!

-- Vamos ao banho?

A Duomont assentiu, mas antes lhe perguntou algo.

-- Ana... – Começou hesitante. – Você falou algo sobre o sinal que tenho na lateral do meu seio para a
condessa?

-- Não, senhorita. – Negou veemente. – Não comento sobre isso com ninguém, nem mesmo a senhora
Vitória me perguntou.

A neta de Frederico sorriu tentando amenizar as indagações.

Valentina tomava café na presença do marido e do filho, estavam em casa, a delegada se preparava
para ir ao trabalho.

-- Você tem certeza disso? – O advogado a fitou surpreso.

-- Sim, pedi que um dos meus agentes ficasse de olho e ele me disse que Marcelo esteve na fazenda de
Otávio.

-- Maldito! – Bateu forte na mesa com o punho.

Miguelzinho se assustou e Valentina fuzilou o marido com o olhar mortal.

-- Desculpe, filho. – Miguel colocou o garoto em seu colo. – Eu sabia que a Vitória não deveria ter
confiado naquele crápula, mas ela não me escuta.

-- Bem, eu estarei de olho, o prefeito acha que escapará ileso de tudo isso, mas eu provarei que ele está
muito enganado.

A criança desceu dos braços do pai e correu para sala.

-- Faça o possível para a sua sobrinha se manter distante, não desejo que ela acabe querendo fazer
justiça com as próprias mãos.

-- Você sabe como ela está? Você foi testemunha de como ela está arrasada com a amnésia de Maria
Clara, só não veio aqui ainda para matar o Marcelo porque não deseja se afastar da Duomont.

-- A Clara jamais a perdoaria se ela fizesse isso. – Suspirou. – Não basta a raiva que ela tá da condessa,
Clarice a envenenou muito bem. – Torceu a boca.

-- Estou rezando para que ela recupere a memória.

-- E se isso não acontecer? – Valentina indagou pesarosa. – Você acha que a poderosa Mattarazi
reconquistaria a amada?

O advogado não respondeu.

Temia que Vitória perdesse mais uma vez alguém que amava.

Três dias depois...

Clara estava na sala de estar.

Descansava depois de mais uma longa sessão de fisioterapia. Desejava ficar boa logo, assim, teria mais
liberdade.

Não viu a condessa desde aquela manhã que discutiram, mas sabia quando ela estava em seu quarto,
sempre chegava bem tarde da noite, pois sentia o seu cheiro do outro lado da parede.

Precisava ligar para Marcos.

Da última vez que se falaram ele disse que já tinha pegado alguns documentos e começaria a dar entrada
nos papéis do casamento, não sabia o motivo, mas isso a inquietou. Preferiria esperar mais um pouco, pelo
menos até se recuperar totalmente, mesmo que só fisicamente.

Pegou o celular para ligar quando ouviu a campanhia, estava quase indo abrir a porta, quando Ana se
adiantou.
A Duomont discava o número quando ouviu a voz que não lhe parecia desconhecida, então, a elegante
loira se materializou diante dos seus olhos.

-- Olá, boa tarde. – Disse sorridente. – Desejo falar com a condessa.

Ana saiu rapidamente avisar a patroa.

Clara ficou surpresa, pois não sabia que Vitória estava em casa.

-- Como você está? – Sofia indagou simpática.

-- Bem, obrigada. – Respondeu seca.

Não sabia o motivo, mas não simpatizava com aquela mulher. Era como se algo a irritasse
profundamente.

A neta de Frederico a inspecionou durante alguns segundos.

-- Nos conhecemos? – Perguntou confusa.

-- Não, nunca nos vimos, a não ser no dia lá em meu consultório, bem, pelo menos eu não me lembro
de outra ocasião.

A conversa não se desenvolveu, pois a bela Mattarazi adentrou a sala.

A Duomont não conseguiu desgrudar os olhos da mais bela que vestia apenas um minúsculo biquíni
branco e uma canga preta que deixava a mostra suas belas pernas torneáveis.

Os cabelos estavam presos em um coque, os óculos de sol descansavam no topo da cabeça.

Ficou irritada com o olhar faminto que a tal psicóloga a fitava, era como se desejasse devorá-la ali
mesmo, sem se importar com os presentes.

-- Nossa, como pode ser ainda mais linda. – Sofia a cumprimentou com um beijo rápido.

-- Que surpresa! – Vitória pareceu constrangida. – Como soube que eu estava em casa?

-- Liguei para sua empresa e me avisaram.

A condessa tinha jantado com a psicóloga na noite anterior, era uma boa companhia, até saíram para
dançar, porém percebia que a loira tinha outros interesses e a ruiva sabia que aquilo não era uma boa ideia,
ainda mais quando estava apaixonada por outra pessoa.

-- Vamos para a piscina, tomamos um suco e conversamos.

Maria Clara as observou se afastar e sentiu uma agonia em seu peito. Era como se algo segurasse seu
coração nas mãos e apertasse fortemente, espremendo-o. Sentiu o ar faltar aos seus pulmões.

Rapidamente, tirou a bombinha que trazia em seu bolso, buscando controlar a respiração.

De repente flashes vieram a sua mente.

O lugar parecia um restaurante, conseguia ver claramente a imagem da condessa sentada em uma
mesa junto com a loira.

Então, a cena muda drasticamente e agora Clara está nos braços da ruiva... Nuas.

Sentiu uma pontada tão forte na cabeça que seu estridente grito poderia ser ouvido em todas as partes
da cobertura.

A condessa ouviu o som de dor e rapidamente saiu correndo em direção a ele.

Encontrou Clara com os olhos arregalados, com as mãos na cabeça, a expressão em seu rosto era de
puro choque.

Ajoelhou-se diante dela.

-- Clara! – Chamou-a. – Clara! – Insistiu até que os olhos negros a fitaram.

A jovem Duomont mirou as duas esmeraldas que a fitavam preocupadas.

-- O que você tem?

Sofia se aproximou.
-- O que houve? Ela está bem?

-- Quero ir para o meu quarto. – Pegou as muletas, levantando-se.

-- Eu irei contigo! – Vitória se adiantou. – Desculpe-me, Sofia, mas eu preciso... – Tentava se justificar.

-- Eu entendo... – A jovem disse sem graça. – Te ligo. – Beijou-lhe os lábios rapidamente.

Clara andou o mais rápido que sua perna machucada permitia, ao chegar aos aposentos, sentou-se.

Sua cabeça não doía mais, porém estava pesada, como se existisse uma bagunça lá dentro.

-- Vou chamar a doutora Jane. – Vitória disse pegando o telefone.

-- Não! – Fitou-a. – Eu estou bem.

A ruiva então deixou o aparelho de lado, ajoelhando-se diante dela.

-- O que está sentindo, meu amor? – Segurou-lhe as mãos. – Deixe-me te levar ao hospital. – Dizia
preocupada. – Deixe-me cuidar de você.

A neta de Frederico a encarou e mesmo que não desejasse sentia a sinceridade naquelas palavras.

-- Responda-me algo... – Pediu.

Mattarazi assentiu prontamente.

-- Eu conheço a Sofia? Eu já a vi?

A condessa pareceu confusa com a pergunta. Ponderou por alguns segundos, até que falou:

-- Você a viu comigo uma noite, estávamos jantando em um hotel, por quê? Lembrou-se disso? –
Perguntou entusiasmada. – Lembrou-se disso? – Repetia. – De que você lembrou mais? Lembrou-se de mim?

O vermelho tingiu a linda face da jovem. Desviou o olhar.

-- Não! – Fez um gesto de cabeça. – Não te vi, só a sua amante.

A ruiva se levantou, passando os dedos entre os fios dos cabelos em uma gesto de decepção.

-- Bem, já é um começo. Vou te lavar ao hospital para falar com a neurologista, talvez ela possa ajudar.

-- Não! Não irei lá, eu estou bem, ela disse que esses flashes seriam normais. – Levantou-se. – Agora
pode retornar para os braços da sua psicóloga.

Vitória foi até ela, segurando-a delicadamente por seus ombros.

-- Eu não quero ir para os braços de ninguém, desejo apenas ficar contigo. – Tocou-lhe a face com as
costas da mão. – Você não tem ideia de como eu te amo, não tem ideia de como preciso de ti... Eu daria qualquer
coisa para que você estivesse bem, para que não tivesse caído do cavalo...

Clara pareceu hipnotizada quando sentiu o hálito fresco se aproximar. Não reagiu ao sentir os lábios
ficarem estáticos, colados aos seus.

A condessa parecia esperar pelo esbravejamento, mas ao perceber que não viria, beijou-a. O fez como
se temesse feri-la, lentamente, sentindo a maciez, o sabor... Implorando para que a amada a aceitasse, então os
lábios da bela Duomont entreabriu e essa foi a resposta para as preces da ruiva.

A neta de Frederico acolheu a boca rosada, sentindo-a saborear cada pedacinho da sua. Sufocou um
gemido quando a língua da empresária a invadiu, preenchendo-a, brincando, seduzindo... Chupou... Sugou-a...
Sentindo que aquela carícia era muito mais do que familiar...

Sentiu as mãos por baixo de sua camiseta, nem percebeu o clique do sutiã, apenas o toque em seu colo
que reagiu imediatamente ao tato da inimiga... Seu corpo parecia em chamas.

Desejando-a mais próxima a si, soltou as muletas uma a uma, envolvendo o pescoço esguio com seus
braços... A pele dela era quente e o cheiro a estava deixando inebriada...

-- Senhorita...

Ambas se afastaram tão rapidamente que Clara caiu sentada na cama.

-- A... A porta estava aberta... – Ana tentava se explicar. – Perdão...

-- O que você quer? – Vitória perguntou com expressão frustrada.

É
-- É que... Os pais da senhorita Duomont estão aqui.

A ruiva fez um gesto para que a empregada saísse, depois fitou a amada.

Sentiu vontade de rir ao ver o rosto totalmente corado, mas na verdade, queria amá-la loucamente
naquele momento.

-- O que eles estão fazendo aqui? – Vitória recolheu as muletas, entregando-lhes.

-- Não sei. – Levantou-se. – Irei até eles.

Uma desconsertada condessa observava Maria Clara deixar os aposentos. Pensou em ir atrás, mas
estava tão irritada por seu desejo ter sido cortado bruscamente, que temia uma explosão junto ao casal
Duomont.

Seguiu para os próprios aposentos, direto para o chuveiro, precisava esfriar a cabeça e o fogo que
parecia queimar o corpo.

Sorriu ao sentir a água gelada lhe retesar os músculos.

Apesar da interrupção, sentia-se feliz, pois sentira a paixão nos braços da amada, senti-a desejosa,
excitada... Um ótimo sinal para o seu desespero.

Felipe abraçou a filha, enquanto Clarice olhava deslumbrada a luxuosa cobertura. Sabia que a
condessa era muito rica, porém jamais imaginara algo tão pomposo.

-- O que fazem aqui? – Clara indagou ainda com o braço do pai em seu ombro.

-- Vim vê-la, afinal, não nos vimos no Natal, então vim e trouxe um presente. – O homem dizia. –
Miguel me deu o endereço e garantiu que não haveria problemas.

-- Verdade, filha. – A mãe a abraçou. – Estávamos com saudades.

-- Tome! – Felipe lhe entregou um pequeno pacote.

-- E o meu avô? Como ele está? Por que não veio com vocês?

-- Ele jamais pisaria no mesmo lugar onde os pés da condessa pisam. – A matriarca se adiantou. – Nós
viemos somente por você.

-- Eu não te chamei pra vir comigo. – Felipe disse irritado. – Poderia ter ficado lá. – O vereador a
abraçou mais uma vez. – Acho melhor irmos, não quero que a senhora Mattarazi se irrite com a nossa
presença, ainda mais porque não avisamos que viríamos.

-- Não! Não quero que vá tão rápido. – A jovem disse tristemente.

Clarice nem mesmo esperou um convite, sentando-se.

-- Como disse, não desejo que você tenha problemas.

-- Não terá problemas, Felipe.

Os presentes miraram em direção à voz.

A ruiva entrou na sala usando apenas um roupão negro.

Clara sentiu um arrepio percorrer a espinha ao vê-la, recordando do que tinha feito há pouco no
quarto.

Tinha certeza que a face estava em chamas.

-- Convido-os para ficar, se desejarem, podem passar o ano novo junto com a sua filha. – Sentou-se,
cruzando as pernas. – Se acomode. – Apontou a poltrona para o pai da amada.

-- Eu peço que me perdoe por ter vindo sem avisar. – Acomodou-se tendo a filha ao seu lado. – Mas eu
não aguentava de saudades da minha pequena.

-- Não se preocupe. – A condessa deu de ombros. – Fique à vontade e como já disse antes, fiquem e
passem o ano novo com a Clara.

-- Eu só ficarei porque imagino como deve ser terrível para a minha filha passar uma data tão
importante com alguém que não gosta. – Clarice disse esnobe.

A condessa se levantou, esboçando um sorriso cínico.


-- Ah, não diga! – Debochou. – Fique, Felipe, eu viajarei, então a Clara vai precisar de sua companhia. –
Mirou a senhora Duomont. – Quanto a senhora, meu helicóptero estará a sua disposição para deixá-la na
fazenda.

A ruiva se afastou, seguindo para o quarto.

Clara a observou sumir e se sentiu incomodada, até mesmo triste, por saber que a Mattarazi viajaria,
decerto ficaria com Sofia.

-- Vamos ficar contigo. – Clarice começou. – Farei esse sacrifício pelo amor que tenho por ti.

Felipe relanceou os olhos, irritado com a postura da esposa.

Não queria tê-la trazido consigo, estava cansado do jeito mesquinho que a mulher se comportava.

Ouvia-a conversar com Clara e percebia que a filha parecia aérea, distraída, sempre fitando a porta
por onde a ruiva se fora.

-- Marcos está louco pra te ver. Amanhã ele vem para a capital.

-- E você não irá vê-lo, pois não quero que tenha problemas com a condessa. – O senhor Duomont
repreendeu a esposa com o olhar. – E você, Clarice, será que não é melhor que volte para a fazenda?

-- Ficarei com a minha filha. – A mulher a fuzilou com um olhar mortal.

O papo continuou até que Ana apareceu a mando de Vitória para acomodar os Duomonts.

No dia seguinte, a condessa se aprontou para viajar a Roma, mas antes foi até o quarto de Clara, pois
durante todo o dia ela não tivera mais chance de falar com a jovem, porque Clarice não a deixava sozinha.

A mulher era odiosa ao extremo. Sabia que ela estava envenenando ainda mais a filha contra si, via
em seu olhar isso. Sentira ganas de expulsá-la, mas não o fizera porque tinha certeza que seria mais um motivo
para ser odiada por sua princesa.

Em parte estava feliz por ter surgido um problema em uma de suas empresas, assim, ficaria distante,
pois sua vontade era tomar sua amada em seus braços.

Ao entrar nos aposentos, ouviu-a chamar por Ana, porém percebeu que a empregada não estava ali.
Seguiu até o banheiro, encontrando sua Branca de Neve totalmente despida, encostada ao box.

Clara arregalou os olhos quando viu Vitória parada, fitando-a despudoradamente. Instintivamente,
cobriu os seios com uma mão, enquanto a outra pousava em seu sexo, numa atitude inútil de se esconder do
olhar faminto da Mattarazi.

-- O que faz...? – Disse com o rosto em chamas. – Como... Como ousou entrar aqui?

A ruiva desviou os olhos dos seios redondos, encarando-a.

-- Vim me despedir... – Umedeceu os lábios. – Estou indo a Roma e provavelmente não estarei aqui... No
reveillon.

-- Vai com a sua amante? – Perguntou incomodada com a ideia.

Vitória deu mais um passo, parecia imersa diante de tão linda imagem.

O diafragma da jovem Duomont estava em ritmo acelerado. Era possível ouvir o som pesado de sua
respiração.

Os olhos da empresária estavam tão escuros que era impossível pensar que ali repousavam duas
esmeraldas.

-- Que amante? – Indagou distraída.

A condessa pousou a mão sobre a que protegia o colo inutilmente. Sentiu-a trêmula... Levou a outra
mão a tocar os dedos que abertos tentavam proteger a sexualidade latente... Estava quente...

-- A... So... Sofia... – Gaguejou. – A sua amante Sofia. – Recuperou a firmeza na voz.

Clara sentiu a pressão delicada, porém não havia se dado conta que não era mais seu tato que lhe
resguarda a pureza, que há tempos não existia, agora era o toque da condessa que se mantinha inerte, mesmo
que tão provocante.

A Duomont mirou os lábios tão próximos aos seus...


-- Se desejar estar ao meu lado hoje, eu deixarei os compromissos de lado e ficarei contigo. – Fitava-a. –
Diga que deseja a minha presença...

A jovem morena engoliu em seco.

Sentia um arrepio percorrer toda a região da espinha... Os mamilos estavam doloridos, eretos,
exigente, atrevidos... Havia uma umidade entre suas coxas e rezava para que fosse do banho...

-- Não... – Falou baixinho. – Deixe-me...

A ruiva inclinou a cabeça até ficar com a boca colada em sua orelha.

-- Eu sei que seu corpo está me reconhecendo... – Sussurrava. – Eu sinto... Não precisa ter medo, você é
minha mulher...

-- Mentira...

A ousada Mattarazi desejava provar-lhe suas palavras, então deslizou os dedos por entre suas pernas,
vibrando com o desejo que se encontrava ali... Comoçou com movimentos lentos, usando o polegar para
inflamá-la, sentindo-a receptiva...

Clara sentia a mente embaralhada, conturbada, como se não houvesse formas de se defender. Como se
não pudesse controlar as sensações que a invadiam.

Encostou a cabeça em seu ombro, permanecendo quieta enquanto a pressão em seu ventre ficava
cada vez maior.

-- Apenas sinta... Não a invadirei, pelo menos não enquanto não senti-la pronta para o que irá
descobrir, porém darei ao seu corpo o alívio que o meu grita para ter...

As carícias se intensificavam, percebeu-a abrindo-se mais... Entregue... Usou mais um dedo para que a
pressão fosse maior... Não a penetraria, mesmo que estivesse desejosa disso...

A Duomont cerrou os lábios para não gritar... Mexeu os quadris para acelerar os movimentos... Sua
respiração estava acelerada... Rebolava no toque exigente, ao mesmo tempo delicado...

Sabia que não deveria estar fazendo aquilo, mas não tinha como controlar as sensações poderosas que
lhe dominavam... Pensaria naquele problema em outro momento, agora só desejava muito mais do que ela lhe
dava, só desejava muito mais do que sua mente confusa imaginava...

As fricções ficaram tão rápidas que poderiam ser ouvidas como fundo musical, junto com os gemidos
abafados da princesa desmemoriada...

Então o prazer supremo chegou para ela... enquanto seu grito era sufocado por seus dentes sendo
cravados no ombro de sua inimiga...

A condessa sentiu o próprio corpo mergulhar nesse êxtase, mesmo não tendo sido tocada.

Segurou-lhe o rosto entre as mãos, fazendo-a encara-lhe. Mirou os olhos assustados, rasos de água,
mas que refletiam o prazer intenso que tivera há pouco.

Os lábios se encontraram em um beijo apaixonado, sofrido, doído... As línguas digladiavam... Ouvia-se


os ruídos de raiva que vinha da boca de Clara... Fora vencida... Vencida por desejos que permaneciam vivos,
mesmos que esquecidos...

-- Senhorita... – Ana chamou resoluta do quarto.

Vitória se afastou, mas não a soltou.

-- Feliz ano novo, Branca de Neve...

Clara nem mesmo pode responder, pois a ruiva já se afastava, seguindo seu caminho.

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Capitulo 28 por gehpadilha

Notas do autor:

Olá, lindas :)

Perdoe-me a demora, mas tirei um tempinho para descansar, mas


agora estou de volta. Ah, decupem-me pelo capitulo anterior
triplicado, DnSilva, como apaguei as réplicas, colei seu comentário
no capitulo 27.

Beijos e não fiquem tirstes comigo pela demora.

Clara precisou se apoiar na divisória para que não viesse ao chão.

Temia que seu coração saísse por sua boca de tanto que batia acelerado. Ainda conseguia sentir
espasmos por todo o corpo.

Mais uma vez ouviu a voz de Ana, porém ainda não teve forças para responder. Necessitava de tempo
para apaziguar as sensações avassaladoras que lhe intimidavam, mas que de alguma forma pareciam tão
familiares e tão novas ao mesmo tempo.

Umedeceu os lábios com a língua e teve a impressão que o gosto dela estava ali.

-- Meu Deus, quem é Vitória Mattarazi? – Perguntou baixinho.

Seria verdade que eram amantes?

Se aquilo fosse verdade, estava perdida.

Como pode se envolver com a maior inimiga do seu avô? Como entrara em uma relação tão perigosa?

Algo naquele momento a deixou ainda mais perturbada.

Será que ainda era virgem?

Ana interrompeu mais uma vez seus pensamentos.

-- A senhorita está bem?

A Duomont fitou a empregada, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.

Já era noite quando Miguel e Valentina chegaram à cobertura da condessa. Ambos foram
recepcionados por uma arrogante Clarice que se exibia na luxuosa sala.

-- O que fazem aqui?

O advogado ficou surpreso ao ver a repugnante mulher ainda presente na propriedade de Vitória.

-- Imagino que vieram ficar aqui, porém aviso que como a condessa não se encontra, é preferível que
vocês saiam. Queremos que nosso réveillon sejam em família.

Valentina estava pronta para responder, quando a voz de Clara foi ouvida.

-- Boa noite! – Sorriu simpática. – Que bom que vieram.


O pequeno herdeiro da delegada correu até a jovem Duomont, abraçando-lhe a perna.

-- Oh, garotão... – Caminhou até a poltrona, sentando-se, em seguida colocou Miguelzinho acomodado
em seu colo. – Sentem-se.

Clarice não gostou das palavras da filha.

-- A Vitória viajou, teve uns problemas na companhia de Roma.

-- Onde ela estava com a cabeça que não nos avisou. – Miguel seguiu até uma poltrona, tendo Valentina
ao seu lado.

-- Pois é, como a sua “amiguinha” não está, não vejo motivos para que fiquem aqui.

-- A senhora se proclamou dona da casa? – A delegada a fuzilou com o olhar.

Clara fitou a mãe com ar de advertência.

-- Ao contrário, vocês podem ficar sim, não tenho certeza se a condessa retornará antes da virada do
ano, porém desejo que fiquem.

Felipe adentrou ao ambiente, cumprimentando a todos.

-- E esse garoto tão lindo? – Sentou ao lado da filha. – Já é o seu?

-- Sim.

-- Já está grande... – Tocou-lhe a face. – Ele parece com a senhora Mattarazi. – Disse de forma inocente.

A neta de Frederico percebeu o olhar que a delegada trocou com o advogado e teve a impressão de
que o comentário feito pelo pai tinha fundamento. Observou melhor o garoto e verdadeiramente o formato do
rosto, dos lábios era familiar. Ao fitar Miguel, percebeu que ele também exibia os mesmos traços.

-- Crianças nunca parecem com ninguém... – Clarice torceu o nariz. – O Marcos me ligou avisando que
já está aqui. – Desconversou. – Poderíamos passar o réveillon com ele, pois eu não sei o que teremos de bom
aqui.

Ana apareceu na sala.

-- Licença. – Parou diante de Clara. – Uma empresa de Buffet se encontra lá embaixo, disseram que
foram contratados pela condessa, deixo-os subir?

A nora de Frederico se levantou prontamente.

-- Lógico, que menina lerda!

-- Sim, Ana, peçam que subam.

-- Essas empregadas de hoje em dia são terríveis! – Exclamava a mãe da jovem.

-- Eu acho melhor você parar de bancar a dona de tudo, Clarice. – O vereador a repreendeu irritado. –
Você não tem que se meter em nada, só estamos aqui porque a condessa permitiu, então comporte-se.

A mulher não parece ter gostado do que ouviu, então, altiva seguiu para fora da sala. Felipe se
desculpou e foi atrás dela.

-- Peço que desculpem a minha mãe.

Valentina assentiu.

Estava surpresa que a ruiva tenha permitido que a cobra da mãe da amada ficasse ali, será que não a
via como uma ameaça?

Em pensar que há alguns meses, a condessa jamais permitiria que um Duomont ficasse sob o seu teto,
ainda mais a família quase toda...

-- Vou ligar para Vitória.

Miguel seguiu até o escritório para realizar a chamada, deixando as duas mulheres e a criança
sozinhas.

-- O seu filho é realmente muito linda. – Clara tentava quebrar o silêncio constrangedor. – Muito fofo.

-- Obrigada! – Sorriu. – Você está bem? Tenho a impressão que está mais acessível, mais receptiva.

Miguelzinho desceu do colo, sentando-se para brincar com um carrinho.


-- Talvez, seja o clima de ano novo.

-- Que bom, fico feliz, acho que a Vitória adoraria esse seu sorriso enorme.

Clara corou.

-- Eu não o daria para ela.

-- Por que não? – Arqueou a sobrancelha. – Acho que depois dela permitir que seus pais ficassem aqui
contigo, ela merecia bem mais do que isso.

-- Você não gosta de mim não é, delegada? – Perguntou sincera.

-- Ao contrário, sempre a tive em alto conceito, mesmo não tenho muito contato contigo, a admiro
muito.

-- Não é o que parece...

-- Só porque eu digo a verdade não significa que não gosto de ti.

A porta foi aberta e algumas pessoas entraram com algumas caixas.

-- Pena que a Vitória não passe o ano novo aqui... – Valentina dizia. – Ela merecia estar contigo.

-- Não precisa ficar com dozinha dela, decerto está bem acompanhada. – Falou exasperada.

A delegada observou ela tentar disfarçar o ciúmes e a reprovação que ficaram evidentes em seu tom
de voz. Decidiu provocá-la.

-- Bem, se ela está, faz bem, afinal, você a rechaça com unhas e dentes...

Clara estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- Eu não tenho motivos para acolher a inimiga da minha família com rosas...

Valentina se acomodou melhor no sofá, cruzando as pernas.

-- Não foi isso que eu vi no dia que as encontrei no rio...

A Duomont engoliu em seco.

-- De que fala? – Indagou sentindo a face esfogueada, denotando surpresa.

Antes que a delegada respondesse, Miguel retornou.

-- Amanhã preciso retornar cedo para a cidade, pois terei que resolver o problema da posse.

-- Que posse? – Clara o fitou.

O advogado a encarou.

-- A da prefeitura, esqueci que você não se lembra de que a Vitória ganhou a eleição.

-- Ah, minha mãe me contou sobre isso, fico a pensar como alguém faz tanto esforço para conseguir
algo e ao final aquilo nem ao menos lhe interessa. – Comentou irritada.

A delegada olhou para o marido, mas preferiu não falar nada.

O novo ano chegou com um requinte de coisas finas. Uma equipe de garçom serviu a pomposa ceia
para os presentes na cobertura da condessa. Miguel e Valentina observavam a arrogância de Clarice que agia
como se fosse a dona do lugar. Ela não se cansava de repreender os empregados e várias vezes Felipe lhe
chamara a atenção.

Clara permanecia na enorme varanda, observando a noite com olhar perdido. Senti-a vazia, como se
algo lhe faltasse...

Observava o show pirotécnico enfeitar o céu...

-- A Vitória está ao telefone e deseja falar contigo. – Miguel lhe estendeu o aparelho.

A jovem o fitou, relutante, surpresa.

-- O que ela quer? – Perguntou tentando controlar a ansiedade.


-- Não sei, pergunte a ela. – Colocou o telefone em sua mão, afastando-se.

A Duomont ficou parada, respirou fundo, então atendeu a chamada.

-- Alô! – Disse secamente.

-- Olá, Branca de Neve...

A neta de Frederico sentiu o coração acelerar ao ouvir o tom rouco.

-- O que deseja, condessa?

-- Desejo você...

Clara sentiu os pelos da nuca se arrepiar.

-- Diga o que deseja. – Insistia.

-- Apenas lhe desejar um feliz ano novo e dizer que estou com saudades.

A bela princesa não pode conter o sorriso que se desenhou em seus lábios.

-- Obrigada! Desejo o mesmo para a senhora.

Houve alguns segundos de silêncio, apenas a respiração de ambas podia ser ouvida.

-- Amanhã viajarei até a fazenda, haverá a solenidade de posse e quero que você esteja lá.

-- Por quê?

-- Porque eu quero te ver, estou morrendo de saudades.

-- Você viajou a menos de vinte quatro horas. – Provocou-a.

-- Eu sei, porém para mim, parece uma eternidade. Você vai?

-- É uma ordem ou um pedido?

-- Na verdade, eu estou implorando...

Clara sabia que se dissesse sim estaria mostrando o interesse que começava a crescer em seu íntimo
por aquela mulher, porém a vontade de aceitar chegava a gritar em seu peito.

-- Você está com a Sofia?

-- Não! Nesse momento estou na confraternização da empresa, entediada, quase bêbada, louca para
voltar para casa e te ver.

A Duomont respirou fundo, hesitando por alguns segundos.

-- Eu irei, desejo muito rever a minha cidade e o meu avô. – Falou, tentando não demonstrar a vontade
de vê-la.

-- Ok, Branca de Neve! – Silenciou por alguns segundos. – Um beijo nessa sua boca gostosa.

Ela ouviu o som do encerramento de chamadas e ficou ali, pensando como se sentia atraída por
Vitória, porém havia uma enorme confusão em sua cabeça e em seu coração. Medos que a assombravam,
imagens que a perturbavam cada vez mais.

Despediu-se de todos, seguindo para o quarto, mas não obtivera êxito em dormir, pois a ansiedade era
bem maior do que qualquer outra coisa.

No dia seguinte a orgulhosa Vitória Mattarazi fora empossada prefeita. Em uma escola onde aconteceu
a solenidade, havia muita gente, a maioria eram pessoas humildes que tinham estampados em seus rostos a
esperança por dias melhores.

Otávio agia como se fosse ele o prefeito, exibia-se, conversava com os políticos e não parecia
interessado na população. Alex exibia um sorriso cortes e não perdia a chance de permanecer ao lado da ruiva.

-- Você está linda! – Sussurrou em seu ouvido. – Eu abriria mão da minha solteirice se você me dissesse
um sim.

A ruiva usava um vestido preto, tubinho, chegava ao meio das coxas, o decote exibia renda, para
completar o modelo, utilizava de um blazer ajustado as curvas magras.
Os cabelos estavam soltos, uma maquiagem discreta realçava os olhos verdes e a boca sensual.

A condessa o encarou.

-- Se depender de mim, você vai morrer solteiro. – Sorriu exasperada, se afastando.

Vitória já estava decidida a sair quando viu Miguel e Maria Clara chegando ao local.

O vestido florido que ela usava lhe dava uma expressão primaveril, as madeixas negras e brilhantes
caiam sobre os ombros.

Observou as pessoas se aproximando para cumprimentá-las e ficou maravilhada, que mesmo estando
desmemoriada, sorria e conversavam simpaticamente com todos. Notou quando Otávio se aproximou e teve
certeza que o vice-prefeito fora rechaçado por Miguel.

Caminhou até eles.

O advogado a abraçou.

-- Parabéns, prefeita! – O homem disse.

-- Não tenho nenhum interesse em tudo isso. – Ela respondeu, mirando à amada. – Tem como ficar
mais linda? – Disse galante.

-- Acho que você deveria se preocupar mais com essas pessoas, afinal, elas necessitam de sua
assistência. – Repreendeu-a. – Acha que isso é brincadeira? A vida dessas pessoas é uma brincadeira para ti?

A condessa preferiu não retrucar, era possível ver nos olhos de Clara que havia determinação.

-- Miguel, eu não desejo ficar aqui! – A Duomont disse para o advogado. – Gostaria de ir ver o meu avô.

-- Não! – Vitória lhe segurou o braço. – Eu a levarei lá. – Chegou mais perto, sussurrando sem seu
ouvido. – Não quero brigar contigo, fique mais um pouco...

Clara deu um passo para trás, o perfume daquela mulher a fez relembrar da manhã anterior.

Otávio discursou como se fosse ele o prefeito. Exibia uma postura orgulhosa, porém as propostas que
fizeram parte da campanha tão rapidamente já pareciam ter sido esquecidas.

Mattarazi sabia que ele faria isso assim que estivesse eleito, apenas estranhava que essa atitude a
incomodasse, com certeza era o olhar reprovador que via estampado na face da linda Branca de Neve.

Aos poucos, a população presente começou a ir embora, pareciam mais uma vez decepcionados.

-- E o problema da água? – Um homem gritou. – Nossos animais vão morrer de sede, condessa?

-- Nesse momento temos outras prioridades. – Otávio respondeu, voltando a discursar.

A condessa caminhou orgulhosa, até o palanque improvisado.

Os políticos pareceram surpresos com a sua presença, mesmo assim, lhe fora ofertado o microfone.

-- Peço que me ouçam... – Começou.

As pessoas que já pareciam agitadas, retirando-se, fitaram-na curiosos.

-- Eu sei que vocês gostariam que outra pessoa ocupasse esse lugar, mas também sei que foram
covardes em não lutar para que isso acontecesse...

Otávio fitou Alex.

-- ... Sei que muitas promessas foram feitas, sei que muitos dependem diretamente da minha
propriedade... – Mirou os olhos negros que pareciam presos em si. – Na verdade, isso não tem importância para
mim...

As pessoas começavam a balbuciar, alteradas.

-- ... Porém, farei o possível para que possamos ter melhorias nessa cidade que parece cada vez mais
abandonada, tentarei ao máximo mudar esse panorama tão desgastante e miserável. – Mordeu o lábio inferior.
– Eu sei por quais motivos me candidatei e sei que não houve nobrezas nele, mas me comprometo agora, diante
de todos, em fazer algo que mude a história de cada um de vocês. – Sorriu, entregando o microfone ao vice.

Os aplausos sinceros e o nome da condessa foram gritados com entusiasmos.


O sorriso sutil no rosto da Duomont não passou despercebido pelos inimigos presentes.

Miguel sentiu os olhos marejados diante das palavras ouvidas, sentia-se orgulhoso da sobrinha.

Frederico Duomont estava cada vez mais encurralado.

Mais uma vez fizera negócios com agiotas e para piorar nem mesmo conseguira juntar o dinheiro para
pagar a condessa.

Colocou o telefone no gancho. A linha tinha sido cortada.

-- Vovô!

O velho político saia do escritório quando viu a neta se aproximar. Rapidamente, abraçou-a.

-- Pequena. – Segurou-lhe o rosto entre as mãos. – Como você está? Já recuperou a memória?

-- Não, mas estava com tanta saudade.

Os olhos negros denotavam a emoção de ver o amado patriarca.

O político observou por sobre o ombro, vendo a condessa de braços cruzados, encarando-o.

-- Já veio cobrar sua dívida?

-- Ainda não. – Esboçou um sorriso cínico. – Ainda lhe restam cinco meses, decerto, já deve ter juntado
uma boa parcela de tudo.

-- Estou providenciando! – O homem arqueou a sobrancelha. – Tenho os meus contatos.

Vitória estreitou os olhos ameaçadoramente.

Ela sabia quais eram os contatos do poderoso Duomont e temia pelo bem estar da mulher que amava.

Pediria para Miguel ficar de olho.

-- E seus pais?

-- Retornarão hoje.

Frederico a ajudou a sentar.

A condessa preferiu voltar e esperar no carro.

-- Ela está louca! – Otávio esbravejava. – Esse não foi o trato. – Bateu forte sobre a mesa quebrando as
garrafas.

Estavam em um restaurante.

-- Calma! – Alex falava. – Ela deve ter feito isso por algum motivo.

-- Com certeza! A neta de Frederico é a razão disso. Você não viu o olhar dela? Marcos agora vai matá-
la e com toda razão.

-- Não, Vitória não é lésbica. – O parceiro dele retrucava. – Eu sei, ela é muito mulher para isso.

-- Já te disse mil vezes para esquecer a condessa, ela nunca vai se render aos seus encantos baratos. –
Tomou todo o conteúdo do copo. – O melhor é que Marcelo se livre logo dela, assim, nos livramos mais dessa
dor de cabeça.

Clara estava sentada em uma poltrona, esperava Frederico que fora buscar algo para ela.

-- Aqui está! – Entregou-lhe um envelope. – Guarde isso e não permita que ninguém veja.

A jovem observou o pacote amarelo.

-- O que tem aqui?

-- Eu só desejo que guarde. – Segurou-lhe as mãos. – Faz isso por mim?


Ela maneou afirmativamente a cabeça.

-- Obrigada! – Abraçou-a, permanecendo ali. – Saiba que te amo muito e que tudo que fiz foi por seu
bem.

A Duomont o encarou e viu as lágrimas em seus olhos.

-- Eu te amo muito, vovô!

Ele lhe acariciou as madeixas negras.

-- Eu desejo que você seja muito feliz e que nada e nem ninguém apague esse sorriso lindo que Deus
lhe deu. – Estreitou-a em seus braços mais uma vez. – Não sofra por mim... – Sussurrou bem baixinho. – Agora
vá, não quero que a condessa brigue por sua demora.

Clara pegou as muletas.

-- Fique com a Mattarazi, ela irá proteger você. – Beijou-lhe a testa.

Frederico a observou se afastar, deixando-se ficar ali. Sabia que não a veria mais, sabia que sua
covardia e orgulho fazia seguir por caminhos escuros, mas pensara muito e não havia outra decisão a ser
tomada.

Fitou cada canto daquela casa. Construíra do jeito que sempre sonhara e agora mais nada lhe
pertencia. Apostara muito alto e agora não tinha nem para comprar comida.

Pensara muito, durante todos aqueles dias e tinha tomado a decisão para fugir de tudo aquilo.

Vitória observou Clara sentada ao seu lado no banco do passageiro. Parecia distraída, pensativa.

Não seguiu direto até a sede da fazenda, mas entrou por uma estrada lateral, estacionando próximo ao
rio.

Clara fitou o lugar, pareceu encantada com a beleza do lugar.

A água era cristalina, havia algumas pedras grandes, árvores. Pareceu familiar a paisagem, mas não
conseguia concatenar as lembranças.

-- Gostou?

A jovem Duomont a encarou.

-- Sim, é muito bonito aqui.

A condessa soltou o cinto de segurança, inclinando-se para ela, tocou-lhe a face com as costas das
mãos.

-- Já te disse o quão linda estás? – Desenhou-lhe os lábios com as pontas dos dedos.

-- Não creio que a minha beleza chegue aos pés da sua. – Encarou os olhos verdes. – Posso te fazer uma
pergunta?

A ruiva se aproximou mais dela, sentindo o hálito fresco...

-- Eu...Você... – Gaguejou. – Sou virgem?

Vitória teve vontade de sorrir ao ver o vermelho intenso lhe tingir o rosto bonito, mas não o fez.
Mordeu o lábio inferior.

-- Não! Você é minha mulher! – Disse lentamente. – Você se entregou a mim...

Clara desviou o olhar, porém a condessa segurou-lhe o queixo, colando os lábios aos dela.

A jovem Duomont sentiu a maciez do toque, porém não permitiu que fosse aprofundada a carícia.

-- Por que me rejeita? – Voltou a se encostar-se a seu banco, parecia decepcionada. – Você não tem
ideia de como está sendo difícil pra mim essa situação? – Bateu forte na direção do carro. – Sinto-me culpada
por tudo o que te aconteceu. – Cobriu os olhos com as mãos. – Se eu pudesse mudar o passado, o faria, daria
tudo para fazer isso. Daria tudo para que você não tivesse montado no Bastardo...

A garota a viu ligar o carro, percebendo-a limpar as lágrimas sutilmente para que não fosse percebido
seu pranto.
Colocou a mão sobre a sua e os olhares se cruzaram, o da poderosa arrogante mulher denotava toda a
dor que sentia naquele momento... Os olhos estavam rasos de água.

O celular da condessa começou a tocar. Ela viu no painel do carro aparecer o nome de Miguel,
ignorou-o, mas as chamadas continuavam insistentemente. Decidiu atender.

-- O que foi? – Perguntou aborrecida.

-- A Clara está contigo?

O som podia ser ouvido por sua acompanhante.

-- Sim!

-- Preciso falar contigo...

Vitória percebeu a preocupação na voz do advogado.

Pegou o celular, ouvindo cada palavra dita por Miguel. Observava a expressão da amada, ela parecia
preocupada.

Encerrou a chamada.

-- O que houve? – A Duomont indagou hesitante.

A ruiva fitou as águas dos rios e percebeu como elas estavam agitadas. Pela primeira vez em sua vida,
estava sem palavras.

Mirou-a.

-- Precisa ser forte... – Segurou-lhe as mãos.

-- O que houve? – Repetiu em um sussurro

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Capitulo 29 por gehpadilha
Valentina observava a cena e tinha quase certeza de que não se tratava de um suicídio, como pensara
de início.

Os peritos fiscalizavam tudo com olhar atencioso, mas a delegada já tinha sua própria conclusão ao
ver uma pequena mala ao lado da porta.

Frederico Duomont estava fugindo e alguém quis se certificar que ele não fosse longe.

O corpo fora levado para o instituto de medicina legal. Esperaria a conclusão dos exames para liberar
para o funeral.

Ao sair da casa, encontrou Felipe sendo amparado por Miguel. Havia muitos curiosos ali, a condessa
levara Clara para a fazenda, não deixara que a moça visse acena trágica que se desenrolava a olho nu.

Clarice parecia em choque, sentada em um dos batentes da grande escadaria externa. Era possível ver
que aquela frívola mulher estava abalada com os acontecimentos.

A condessa banhou e retornou para o quarto.

Observou a amada deitada, encolhida a um canto, dormindo. Ela chorara tanto, parecera tão
desesperada que a ruiva sentira o coração sofrer com sua dor.

Acomodou-se ao seu lado, abraçando-a.

Conseguiu ver pela janela que a noite já se apresentava.

Faria qualquer coisa para livrar a Clara daquele momento de tamanha tristeza.

Pensou em Frederico Duomont e rezou silenciosamente para que ele não tivesse cometido suicídio,
sabia que isso seria mais difícil de suportar para a sua Branca de Neve.

O chá que a mulher de Batista fez fizera efeito rápido, mas já sentia a moça se rebelar em seus braços,
virando-se para ela.

-- Meu avô...

Vitória mirou os olhos inchados e as lágrimas que já começavam a cair novamente.

-- Calma, princesa... – Tocou-lhe a face. – Precisa ser forte nesse momento tão difícil.

-- Por quê? – Falou chorosa, encostando o rosto em seu peito.

-- Porque, às vezes, é a única coisa que nos resta.

A ruiva sentia os espasmos dos soluços daquela que amava tanto. Embalou-a, buscando confortá-la,
sabendo que isso não seria fácil, que só o tempo sanaria tamanha dor.

Muitas pessoas compareceram ao velório do político. Em sua maioria, o povo humilde da cidade. Eles
pareciam querer consolar a jovem neta de Frederico. Compadeciam-se de sua agonia.

A condessa estava lá, observava Clara debruçada sobre o caixão. Chorando silenciosamente e fitando a
foto do fazendeiro.

Viu Marcos se aproximar e teve que controlar o impulso de ir até lá, tirá-lo de perto dela.

Caminhou até a saída, ficando lá, observando a noite negra.

Um carro estacionou em frente a casa, trazendo Miguel e Valentina.

-- Algum problema? – A delegada notou a expressão da empresária. – Aconteceu algo?

O advogado tocou-lhe o ombro.

-- Está tudo bem sim. – Encarou a mulher. – E então? Já sabe o que aconteceu com Frederico Duomont?

-- Foi um homicídio e não um suicídio.

A ruiva sentiu um alívio em seu peito ao ouvir aquilo.


-- Quem o fez?

-- Isso é o que temos que descobrir e não descansarei até que isso aconteça. – Virou-se para o marido. –
Vamos entrar, quero prestar minhas condolências à família.

-- Vem com a gente? – Miguel indagou à sobrinha.

-- Depois vou, ficarei um pouco aqui.

O casal assentiu, entrando na mansão.

Vitória se deixou ficar ali, observando as estrelas.

Viu o carro de Marcelo estacionar e precisou se segurar para não partir para cima do miserável,
Clarice vinha com ele.

-- Sua presença não é bem vinda, condessa! – O político falou, exibindo um cínico sorriso. – Frederico
deve estar gritando por tê-la em suas terras.

Clarice a fitou, demonstrando uma expressão de asco.

-- Ele tem razão, sua presença é dispensável e não a desejamos aqui.

-- A senhora fique calada, pois a sua opinião não tem valia nenhuma. – Apontou o dedo em riste para o
ex-prefeito. – Quanto a ti... Irá pagar pelo que fez, cedo ou tarde eu o destruirei e o mandarei para a cadeia, pois
lá é o seu lugar.

Marcelo tentava mostrar indiferença com as palavras que ouvia, mas a mudança em sua tonalidade de
pele denunciava a mudança de humor.

-- Como ousa ameaçar o sogro do minha filha? – A mãe de Clara se intrometeu mais uma vez. – Saia já
daqui, saia da minha casa.

A ruiva relanceou os olhos, demonstrando o tédio que sentia.

-- Poupe meus ouvidos!

O homem circundou o ombro da mulher, acompanhando-a até o interior.

Vitória precisou usar todo seu autocontrole para não agir impulsivamente.

-- Você precisa tomar um pouco de ar, meu amor. – Marcos segurava a mão da amada. – Não esqueça
que não estás bem.

A jovem o fitou.

Os lindos olhos denotavam toda a dor que ela sentia naquele momento.

-- Quem fez isso com meu avô? – Indagava chorosa. – Ele não merecia.

O rapaz a abraçou.

-- Frederico tinha negócios escusos... – Sussurrou. – Não devemos nos meter nisso... Fique comigo, eu te
protegerei.

Clara o encarou.

-- Não permitirei que a morte do meu avô seja esquecida! – Disse firme.

-- Calma, linda, fique tranquila. – Voltou a abraçá-la.

A jovem Duomont levantou a cabeça e seus olhos se cruzaram com o da bela condessa.

Observou a expressão dela, parecia não só muito brava, mas decepcionada talvez. Encarou-a por
alguns segundos, até não conseguir mais sustentar a força daquele olhar. Deitou a cabeça no ombro do noivo,
se deixando ficar ali, deixando-se tentar aliviar a mente que parecia tão conturbada...

Voltou a mirar para o mesmo lugar e lá não estava mais a ruiva. Sentiu-se aliviada, mas também não
conseguiu não se sentir vazia por não encontrá-la. Fechou os olhos e recordou do abraço confortante, da forma
doce que ela a tratara quando recebera tão cruel notícia.

Observou a delegada se aproximar.


Apoiou-se nas muletas, afastando-se alguns centímetros de Marcos.

-- Sinto muito, Clara. – Valentina tocou-lhe o ombro. – Tudo será feito para que o responsável ou os
responsáveis por esse crime seja preso e pague pelo que fez.

-- Bem, não sei como fará isso, se a envolvida for a condessa, afinal, todo mundo sabe a estreita
amizade que uni vocês. – O rapaz ironizou. – Comece investigando-a, ela tinha todos os motivos para querer o
senhor Frederico morto. – Beijou rapidamente os lábios da moça. – Vou buscar um chá para ti.

A delegada observou o rapaz se afastar.

-- Não escute o que as pessoas falam e ainda falarão sobre a Vitória, uma vez eu cometi o erro de
acreditar nessas fofocas e fui muito cruel com a Mattarazi.

Clara pareceu ponderar durante alguns segundos, sentindo o ar entrando em seus pulmões, depois
voltou a fitar a mulher.

-- A condessa estava comigo no momento que tudo aconteceu, não tinha como ela está em dois lugares
ao mesmo tempo.

Valentina estreitou os olhos.

-- E se ela não tivesse estado contigo? Sei que estás sem memória, porém já teve a chance de conhecê-
la um pouco, acreditas que ela seria capaz de fazer algo assim com alguém que você ama tanto?

A Duomont mordeu a lateral do lábio inferior.

-- Não, eu não acredito que ela seja capaz de fazer algo assim.

A delegada pareceu aliviada ao ouvir aquilo.

-- Eu fico imensamente feliz. – Abraçou-a, sussurrando em seu ouvido. – A poderosa e arrogante


condessa te ama mais do que tudo, ela seria capaz de mover céus para que você não sentisse a dor que sentes
agora, ela seria capaz de ir até o fim do mundo para ser digna mais uma vez de um sorriso seu... – Afastou-se. –
Sei que não lembras, mas o amor que uniu e sei que ainda uni vocês é muito poderoso, pois muitas barreiras já
foram quebradas, muitas regras foram esquecidas nesse jogo difícil que vocês travaram.

A jovem Duomont nada disse. Apenas voltou a sentar, apoiando a cabeça na grande arca que levaria o
corpo de seu avô para outras moradas. Sentia apenas vontade de ficar ali, chorando, sentindo não só a agonia
da perda, mas também a agonia de um amor esquecido que a assombrava cada vez mais.

Vitória permaneceu na enorme varanda da fazenda dos Duomont. Quedou-se ali, na parte menos
iluminada, observando o céu estrelado e o som dos animais noturnos. Não retornou para a sala, pois temia ter
que arrancar Clara dos braços daquele idiota do Marcos. Sentiu tanta raiva quando a viu nos braços dele.

Desgraçado!

Sentiu uma mão pousar em seu ombro, ao virar-se, deparou-se com Felipe. O homem sentou ao seu
lado.

-- Não tenho como pagar e nem mesmo sei como agradecer por tudo que vem fazendo por minha
família. – Falava sincero. – Conheço a sua raiva, seu ódio por nós, também sei que ele não é injustificável, por
esse motivo admiro muito a forma que vem se comportando...

Vitória continuava a olhar para as luzes que iluminavam algumas partes do grande pátio, parecia
perdida em seus próprios pensamentos.

-- Sei que tudo que faz é pelo amor que sente por minha filha... – Continuava.

Naquele momento a condessa o fitou confusa.

Felipe esboçou um sorriso terno.

-- Há tempos que vi as mudanças em minha Clara, ainda mais quando seu nome era pronunciado, sou
testemunha de quantas vezes ela te defendeu, fazendo-o com tanta paixão... Então, quando ela sofreu o
acidente pude examinar de perto a sua dor e de início fiquei atordoado, pois como alguém poderia sofrer tanto
pela filha do inimigo... – Segurou-lhe a mão. – Tenha paciência... – Levantou-se. – Depois da tempestade sempre
vem a calmaria...

Já estava amanhecendo quando Vitória retornou ao salão. Poucas pessoas ainda continuavam lá. Clara
continuava no mesmo lugar, enquanto o noivo jazia sentado no sofá, dormindo.
A condessa caminhou até ela, tocando-lhe o ombro.

A jovem não precisava virar para saber quem estava ali. Passara toda noite procurando por ela e
ficara sabendo por Felipe que a ruiva estivera durante todo esse tempo na varanda, sozinha...

Fitou-a.

Ficaram mudas, apenas se olhando por alguns segundos.

A Duomont mirou o rosto bonito, forte, percebeu a ausência de emoção, sabia que ela estava irritada,
porém via um esforço que ela fazia para não demonstrar tal coisa.

-- Vamos para a casa, você precisa descansar. – Vitória quebrou o silêncio.

-- Não quero ir...

-- Eu sei, entendo que deseje ficar, mas você ainda está convalescendo. Vamos, tome um banho, deite
um pouco e depois pode retornar, pois o enterro só acontecerá à tarde.

Clara abriu a boca para retrucar, mas acabou apenas assentindo.

Seguiu até onde estava o pai e explicou que iria até a fazenda, mas retornaria logo.

-- Não, filha, descanse um pouco. – Felipe abraçou-a. – Descanse e depois, se assim desejar, retorne. –
Beijou-lhe a face.

A condessa se despediu com um gesto de cabeça, enquanto conduzia a amada para casa.

A esposa de Batista ajudou Clara a banhar, depois a levou para o quarto. Deixando-a no enorme leito.

A Duomont sabia que aquele era os aposentos da fazendeira. O cheiro dela estava nos lençóis, cada
canto daquele lugar exalava a presença da ruiva.

Ficara sabendo por Maria que desde que fora morar ali, dividiam o mesmo ambiente... Não era um
caso isolado está na suíte principal.

Respirou fundo...

A porta se abriu e ela entrou usando apenas um roupão. Os cabelos estavam molhados, também tinha
tomado banho.

Observou-a caminhar até a janela, fechando as persianas, mergulhando o quarto na penumbra.

Virou-se de lado, fechando os olhos, tentando dormir.

Sabia que a condessa não desejava conversar, o percurso até ali fora feito em total silêncio.

Percebeu-a se acomodar e mais uma vez sentiu aquele magnetismo de atração. Deveria ter pedido
para ocupar outro quarto, mas não tinha forças para iniciar uma discussão sobre seus motivos para não dividir
a mesma cama com aquela mulher.

Alguns minutos se passaram, até ser surpreendida pelos braços lhe enlaçando a cintura, trazendo-a
para bem perto de si.

-- Tem ideia de como estou furiosa... – Sussurrou. – Tem ideia de como tive vontade de te arrancar dos
braços daquele maldito engomadinho... A minha vontade agora é de te tomar para mim e te fazer de uma vez
entender que você é minha...

Clara se desvencilhou bruscamente do abraço, virando-se para ela.

-- Eu não acho que esse seja o momento para isso. – Cerrou os olhos. – Não ouse fazer isso. – Advertiu-
a.

-- Então não volte a se aproximar daquele idiota. – A ruiva falou por entre os dentes. – Não acho uma
boa ideia, pois minha paciência já está no limite.

-- A senhora não manda em mim, condessa!

A Duomont podia ver bem o estreitar ameaçadoramente dos olhos verdes, mas não se assustava com
aquilo.

Tentou virar-se, dando-lhe as costas, mas Vitória a segurou, abraçando-a forte, prendendo-a em seus
braços.
A jovem tentou empurrá-la, lutando para livrar das correntes que a prendia, acabou arranhando o
rosto da Mattarazi, até que teve os braços imobilizados, tendo sobre si a odiosa mulher.

-- Solte-me! – Gritou. – Deixe-me em paz! – Exigia com a voz embargada.

A ruiva pareceu voltar a si quando viu as lágrimas lhe banhar o rosto. Mesmo contra a vontade da
garota, trouxe-a para si, deitando-a em seu peito, acalentando-a como se fosse uma criança.

Clara pareceu cansar de se debater, recebendo o conforto que a empresária lhe dava naquele
momento.

Frederico Duomont fora enterrado naquele mesmo dia, enquanto Valentina buscava de todas as
formas descobrir quem ceifara a vida de tão importante figura política.

Os dias passavam tranquilos.

Otávio já se apossava da prefeitura quando teve a desagradável surpresa de encontrar a condessa lá,
examinando tudo minuciosamente, conta por conta, cada papel, tentando organizar a bagunça que Marcelo
deixara.

-- O que faz aqui? – O homem perguntou surpreso.

-- Bem, eu acho que esse é o meu lugar, afinal, fui eleita prefeita. – Disse sem encará-lo.

-- O trato não foi esse! – O político bateu forte na mesa. – Não me diga que está interessa no salário?
Não sabia que suas finanças estavam tão ruins para precisar dessa mísera quantia.

Vitória o fitou.

-- Pode ficar com o dinheiro, ele não me interessa, apenas estou querendo retribuir a confiança que
essas pessoas depositaram em mim.

-- Você não tem experiência para isso!

A ruiva apoiou os cotovelos na mesa, apoiando o queixo nas mãos cruzadas.

-- E você tem? A sua gestão levou a cidade a total miséria...

O velho engoliu em seco.

-- Marcelo será meu auxiliar, irá me ajudar...

O som debochado da risada de Vitória era bem audível, mas ela parou de rir, encarando-o, fuzilando-
o.

-- Outro desgraçado que afundou isso aqui ainda mais. – Levantou-se. – Acostume-se com a ideia de
que eu estarei aqui e cuidarei pessoalmente de tudo, quanto ao seu assistente, peça para que ele lhe preste
assistência em sua fazendinha, pois aqui ele não pisará os pés... Pague-o com seu dinheiro, pois daqui não sairá
um único centavo para ele.

-- Como ousa me desafiar? – Otávio encheu o peito. – Quem pensas que é?

-- Sou a condessa Vitória Elizabeth Fiaccadori de Mattarazi VI ou simplesmente... – Exibiu o sorriso


arrogante. – A condessa bastarda!

Otávio parecia que iria explodir a qualquer momento. Estava tão vermelho... O homem saiu pisando
duro, batendo forte a porta.

Vitória voltou a sentar continuando a exibir o ar de arrogância.

Clara caminhou pelos estábulos. Ficou encantada ao ver o Bastardo, mas nada se comparava quando
seus olhos fitaram a bela égua árabe.

Quando lhe tocou, percebeu que o animal a reconhecia.

-- Ela está sentindo muito a sua falta. – Batista se aproximou. – Até acho que ela está depressiva, nem
mesmo come direito e tampouco demonstra a selvajaria que já faz parte dela.

A jovem fitou o administrador.

-- Eu não lembro dela. – Acariciou-lhe o flanco. – Mas ela é tão linda. Nunca tinha visto um bicho tão
imponente. Como se chama?
-- Branca de Neve! – O velho não conseguiu disfarçar o sorriso. – Perdoe-me.

Clara sabia o motivo da risada, pois esse era o nome por qual a condessa lhe chamava.

O garanhão relinchou, parecendo reclamar por atenção.

-- Esse é o da condessa, mas ele também gosta da senhorita, veja, desde que a derrubou ele parece
triste.

-- Ele me derrubou? – Virou-se para o animal negro. – Eu fiz algo para isso?

-- Na verdade, a sela fora intencionalmente cortada e por esse motivo, teve o acidente.

A Duomont recordou das palavras de Valentina que dissera que Marcelo estava envolvido naquele
fato.

Seria verdade aquilo?

Batista pediu licença, afastando-se.

Clara permaneceu por mais alguns segundos, até decidir retornar para o quarto, pois sua perna
começou a incomodar.

Deitou-se na enorme cama, lembrando de que vinha dividindo aquele lugar com a condessa. Desde a
última discussão, Vitória sempre voltava tarde, banhava, se acomodava ao seu lado, abraçando-a em silêncio.

Felipe sempre a visitava, mas anda muito ocupado devido a papelada sobre a herança deixada por
Frederico.

Há uma semana seu avô tinha morrido e nada ainda fora descoberto sobre o assassinato.

De repente, ela recordou de algo, o envelope!

Estivera tão mergulhada em sua dor que nem se lembrara de que ele lhe entregara aquilo pouco
tempo antes de ser morto.

Levantou-se e seguiu até o armário de roupas, pegando o embrulho.

Seu avô pedira que ela guardasse.

Abriu, havia muitos papéis dentro, mas uma carta em especial lhe chamara a atenção.

“ Vitória Mattarazi”

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Capitulo 30 por gehpadilha

Notas do autor:

Bom dia, meninas :)

Adianto para vocês que estamos caminhando para o fim da


história... Creio que teremos mais uns seis capítulos e
encerrraremos mais um romance.

Beijos e tenham uma boa leitura.

Clara sentou na cama.

A carta estava direcionada à Vitória. Observou que estava fechada.

O que seu avô poderia ter escrito ali? E por qual motivo estava direcionada a maior inimiga de sua
família?

Decidiu ver o que havia mais na embalagem.

Eram documentos relacionados à fazenda. Promissórias de empréstimos... Havia outra carta e essa era
para si.

Abriu-a rapidamente.

Reconheceu a caligrafia de Frederico.

Mais uma vez experimentou aquele aperto no peito, aquela saudade...

Uma lágrima solitária pode ser vista...

“ Querida Clarinha...

Peço que me perdoe por ter sido covarde. Nesse momento já devo estar seguindo para longe, não
direi para onde estou indo e não entrarei em contato por uns dias...

Então, as suspeitas da delegada estavam certas... Continuou a leitura.

... estou devendo a algumas pessoas e o prazo já está vencendo. Tentarei entrar em contato com
alguns amigos, mas não acredito que terei êxito, ninguém atende minhas ligações.

Clara, quero que fique ao lado da condessa. Ela é a única pessoa que poderá lhe proteger.
Confesso que não gosto dela, não suporto aquele nariz empinado, cheia de arrogância, como se não fosse
a filha de uma empregada... Nem mesmo o idiota do advogado assume que é tio dela, deve ser porque
tem vergonha por ela ser uma maldita bastarda.

Que advogado?

Miguel!!!!!!!!

Ele era o tio da Vitória... Por isso da semelhança da criança com a ruiva...

Confesso que a persegui durante muitos anos, porém há alguns dias descobri que não fora ela a
culpada do acidente que matou a sua tia, mas não a perdoarei por ela não ter dado a parte da herança
que pertencia a Helena.
Desgraçada!

Mesmo assim, é a única que poderá lhe proteger nesse momento. Não escute o que sua mãe diz,
ela não passa de uma marionete que não consegue caminhar com as próprias pernas, é uma estúpida,
egocêntrica, frívola, nem sei como seu pai se casou com ela.

Esses documentos precisam ser entregues à Mattarazi, ela saberá o que fazer, saberá como
resolver os problemas.

Mais uma vez, peço que me desculpe, não sou a melhor pessoa do mundo, mas tudo o que eu fiz
foi pelo bem da nossa família.

Frederico Duomont”

Fitou o outro envelope...

Será que haveria mais revelações ali? Não desejava que a condessa descobrisse seu parentesco com o
advogado de forma tão brusca.

O seu avô fora cruel em não revelar a todos que Vitória era inocente. Como deve ter sido terrível para
ela viver sob o estigma de assassina e ainda mais da própria família.

Recordava do dia do funeral de sua tia, sabia que a ruiva fora tirada do cemitério pela polícia, mas
minutos antes a viu lá, mesmo com aquela expressão forte, poderosa, era possível ver a dor em seus olhos.

Levantou-se.

Iria atrás da condessa, entregaria a carta e rezaria para que não houvesse nada que a ferisse naquele
papel.

Batista levou Clara até a usina, pois Vitória poderia estar lá.

A mesa da secretária estava vazia, então o administrador disse para a jovem entrar e espera no
escritório.

-- Vou ver se a encontro. – Sorriu. – Fique à vontade.

A bela Duomont assentiu, enquanto o bom senhor a deixava sozinha.

O lugar era aconchegante e elegante.

Havia um sofá grande, onde até poderia dormir, todo em veludo branco. Uma Porta na lateral lhe
chamou a atenção.

O carpete cobria todo o assoalho da enorme sala.

Caminhou até a mesa de mogno, onde havia um computador e inúmeros papéis.

Deu a volta, observando a cadeira giratória, pomposa.

Sentou.

Fitou a mesinha e viu que havia um quadro com uma foto sua.

Pegou-a e ficou a observá-la.

Lembrava-se daquele dia, fora um campeonato que aconteceu na Espanha. Ganhara o primeiro
lugar. Deveria ter quase dois anos.

Onde ela tinha conseguido? Decerto tinha tirado de alguma rede social.

Notou que também havia uma imagem do Bastardo e também uma da Branca de Neve e por
último a de um belo rapaz.

Vitor?

Ele era muito bonito, de certa forma lembrava a irmã, entretanto, ele exibia um sorriso doce,
genuíno, havia uma expressão de leveza, ao contrário da condessa. Não que a ruiva não fosse bonita, a
verdade é que Vitória era a mulher mais linda que já viu em sua vida, mas não era só beleza, havia uma
áurea diferente que ela esbanjava. Um poder que invadia o ambiente, uma arrogância...O sorriso dela
sempre trazia algo a mais, era como se sempre estivesse a provocar, a desafiar... a seduzir...

Girou na cadeira e ficou a olhar pela enorme janela de vidro.


Conseguia ver as pessoas caminhando por aquela grande extensão de terras. Com certeza,
Mattarazi era a maior fonte de rende daquela pequena cidade.

-- Que bom que voltou, amor!

Clara não reconheceu a voz.

Ao virar-se, deparou-se com uma bela morena. Parecia uma modela dessas revistas de beleza.

-- Desculpe-me, pensei que fosse a Vitória. – A jovem se justificou. – Sou Larissa, a engenheira. –
Deu um meio sorriso. – Já nos encontramos aqui uma vez.

A Duomont a examinou bem e viu a decepção em sua face. Decerto, estava muito ansiosa para ver
a patroa.

Aquele rosto não lhe parecia desconhecido...

Mas não conseguia se lembrar...

Observou minuciosamente a mulher que ali estava parada. Ela não parecia em trajes de trabalho,
na verdade, a saia era muito curta e justa, a blusa não conseguia cobrir o busto cheio que se mostrava
ousado aos olhos de todos.

-- Bem, eu soube que a condessa estava aqui, então precisava tratar algo com ela... Eu cuido da
produção da cachaça. – Parecia querer explicar sua presença.

Clara apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Ela já deve estar vindo... – Apontou a confortável poltrona. – Sente-se.

Larissa fez o que lhe fora dito.

Permaneceram em silêncio. A engenheira mexendo no celular e a outra tentava se recordar de


onde a conhecia...

A porta se abriu mais uma vez e dessa vez lá estava a condessa.

Examinou-a de baixo à cima.

Ela usava jeans, azul desbotado, delineando perfeitamente as pernas torneadas. As botas de coro
marrom chegavam até o joelho, estava de camiseta preta, um cinto na mesma tonalidade dos calçados.
Chegou até a face... O sorriso estava presente... Os cabelos ruivos estavam soltos...

Suspirou!

-- Olá, Vitória! – Larissa foi até ela, surpreendendo-a com um abraço.

Clara desviou o olhar.

Ela sentia uma adrenalina passar por suas veias, mas tentou manter a calma.

-- Larissa! – A ruiva parecia surpresa. – O que faz aqui? – Afastou-se, fitando a Duomont.

-- Eu trouxe isso. – Abriu a bolsa, tirando uma garrafa. – Essa está mais do que perfeita... – Sorriu
sensual. – Vou esperar o convite para te acompanhar na degustação.

A doce Branca de Neve sentia as articulações dos dedos doerem de tanto apertar o braço da
cadeira.

-- Bem, agora eu preciso ir. – Beijou o rosto dela, virou-se para a Clara. – Até outro dia.

Vitória, pela primeira vez, parecia constrangida.

-- Algum problema? – Indagou hesitante. – Aconteceu algo? – Sentou.

Nos últimos dias, a condessa tentara permanecer um pouco afastada, pois desde a última vez que
explodiu se sentiu insegura. Não conseguira controlar as emoções e quase a tomara à força no dia que o avô
dela estava sendo velado.

-- A sua lista não tem fim? – A veterinária indagou. – A psicóloga, a engenheira... Qual o critério de
escolha? Curso superior? – Arqueou a sobrancelha direita em ironia.

-- Não tenho nada com nenhuma delas... – Mordeu o lábio inferior. – Só quero você... – Mirou os
olhos negros. – Essas mulheres não exercem nenhum efeito em mim. -- Fitou o colo redondo coberto pela
camiseta. – Ao contrário de ti, sinto-me queimar só em te olhar.

A jovem Duomont sentiu a face arder.

-- Não quero ouvir... – Cobriu os ouvidos. – Você não passa de uma safada, de uma desavergonhada
que tem uma amante em cada canto.

-- Não tenho amantes! – Retrucou calma. – Quanto a ser safada, não nego, mas sou contigo... –
Piscou ousada. – Posso ser o que você quiser em sua cama, você pode fazer o que quiser comigo... A única
condição é que seja bem gostoso. – Sorriu provocante.

Clara sentiu uma pressão em seu baixo ventre.

Engoliu em seco.

-- Chega, por favor! – Pediu. – Não desejo falar sobre essas coisas.

-- Eu sei o motivo para desejar que eu pare... – Dizia rouca. – O que eu digo é que meu corpo está
cada vez mais incontrolável, necessitando de ti... – Levantou-se, deu a volta na mesa, puxou uma cadeira
para ficar de frente para ela.

Vitória observou o vestido que a amada usava, chegava aos joelhos... Tocou na alça fina,
deliciando-se com a textura da pele sedosa.

-- Não vim aqui para isso... – A moça fitou a mão que a acariciava. – Preciso...Precisamos
conversar...

-- Sim, com certeza, precisamos... – Desceu a mão até o busto, tocando-o sobre o vestido. – Você não
tem ideia de como necessito de ti... – Segurou-lhe a mão, conduzindo-a até suas coxas. – Desde aquele dia
que te toquei no banheiro estou em êxtase, louca para sentir seu corpo...

Clara parecia sem ação, com os olhos arregalados, viu a ruiva abrir a calça e levar sua mão sobre o
tecido sedoso da calcinha.

-- Vê como estou úmida? – Aproximou-se mais. – Tenho a impressão que a qualquer momento irei
enlouquecer de tanto vontade de fazer amor contigo.

A Duomont sentiu o sangue correr mais rápido por suas veias... Seus seios estavam doloridos,
exigindo o toque, praticamente gritando para serem explorados, tomados por aquelas mãos...

Fitou os lábios vermelhos e os imaginou em seu busto... A língua desenhando os mamilos... Os


dentes mordiscando-os...

A boca da ruiva tomou a sua... Dançando, seduzindo... Explorando... Atiçando ainda mais os seus
sentidos, mas uma imagem interrompeu o momento apaixonado.

-- Para mim, você pode se deitar com quem quiser, isso não me interessa... – Disse baixinho. –
Só não pense que deitará comigo novamente.

Ela viu o maxilar da condessa enrijecer.

-- Deito com ela e depois deitarei contigo... Quem garante que ontem eu não estive com a
Larissa e depois com você? – Provocou-a.

Afatou-a.

-- Não vim aqui para isso, já disse. – Sacudiu a cabeça tentando se livrar dos pensamentos
perturbadores.

A condessa levantou-se, passando as mãos pelos cabelos, caminhando de um lado para o outro.

-- E o que você quer? -- Colocou as mãos nos quadris. – O que a traz aqui? – Respirou fundo
tentando manter a calma. – Diga logo, tenho coisa para fazer.

-- Tipo o quê? – Clara a provocou. – Beber com a sua amiguinha?

-- E isso te importa? Você se importa se eu transar com a Larissa? Importa-se se eu transar com a
Sofia? Importa-se? – Gritou alterada.

Clara serrou os dentes.

-- Faça como quiser, condessa, afinal, que eu saiba não há nenhum compromisso formal que a
impeça de fazer isso. Como se não fizesse parte de sua rotina dormir com elas, enquanto dormia comigo.
Mattarazi estreitou os olhos.

-- Eu juro que se não te amasse tanto... Já teria me jogado nos braços de qualquer uma, só para
tentar aliviar esse desespero que me condena dia após dia.

-- Para a senhora, condessa, só o sexo importa, é vazia de qualquer outro sentimento. – A Duomont
a acusou cruelmente.

Vitória a fitou por alguns segundos, sentindo a dor de ouvir cada sílaba que fora dita.

Umedeceu os lábios.

-- Diga logo o que deseja e saia daqui.

A neta de Frederico abriu a bolsa, retirando um envelope. Estendeu.

-- Meu avô me deixou uma pasta e dentro dela havia isso direcionado a ti. – Entregou-lhe o pacote.
– Disse que deveria te entregar.

A ruiva fitou a embalagem, hesitante.

-- Quando ele te deu isso?

-- Quando o vi, no mesmo dia... No dia que o mataram.

A condessa assentiu, recebendo a encomenda. Observou seu nome escrito e o do fazendeiro.

-- Ok, agora já pode ir. – Apontou a porta. – Peça ao Batista para te levar para a casa.

A veterinária pegou as muletas, levantando-se.

-- Irei almoçar com os meus pais. – Disse antes de sair.

Clara ainda permaneceu parada do lado de fora, encostada a porta. Queria ter ficado, mas a
discussão que tiveram não lhe deu abertura para pedir para ficar presente.

Decidiu ligar para o Miguel, não sabia o que tinha naquele papel e temia que a condessa perdesse
totalmente a cabeça.

A ruiva caminhou até o pequeno bar, preparou um drinque, bebendo de uma vez.

Caminhou até a cadeira, sentando-se.

Abriu o envelope...

Encontrou inúmeras promissórias...

O velho tinha vendido a alma ao diabo.

Pegou a carta, sorriu ao ver a saudação.

“ Vitória Mattarazi, ou melhor, condessa bastarda...

Nesse momento eu estou bem longe, tive que fugir, não lhe darei explicações, pois não é de
sua conta, porém desejo que proteja a minha neta, acredito que ela não está a salva sozinha.

Bem, decidi escrever para a senhora para lhe dar uma informação e assim em troca, você
cuida da Clarinha e salva o que restou dos meus bens.

Eu sei que não foi você a culpada pelo acidente que causou a morte de todos de sua família,
junto a minha amada Helena, se a acusei durante todos esses anos, foi porque não a perdoei por ter
ficado com tudo que pertencia a minha filha por direito, mas isso não vem mais ao caso.

De brinde, te darei um conselho: cuidado com o Marcelo, ele está armando, como já armou
antes quando se deitava com a sua cunhada enquanto ela era casada com o seu irmão...

Vitória bateu forte na mesa.

-- Maldita seja! – Sussurrou.

O seu irmão foi a melhor opção para abafar o escândalo, sem falar que o miserável do
Vitório me fez acreditar que era muito rico, então achei a união perfeita. Ela já estava grávida
quando contraiu matrimônio, só o fez porque eu ameacei deserdá-la.

A condessa se levantou, jogando tudo que estava sobre a mesa no chão, quebrando computador,
jogando impressora contra a parede, chutando a cadeira.

-- Maldito seja, Marcelo, mil vezes maldita seja Helena, Maldito Frederico Duomont. – Gritava. --
Eles acabaram com a vida de Vitor.

Pegou a carta mais uma vez.

Imagino que deva estar uma fera nesse momento, mas isso não mudará o passado, não trará
o seu amado irmão de volta. Esqueça e viva a sua vida.

Antes de encerrar, peço que mais uma vez mantenha a minha neta em segurança, ajude-a,
acredito que de todos os Duomont ela é a melhor, não tem maldade em suas ações e nem ambições
em seus sentidos. Não acredito que Marcos seja bom para ela, nesses últimos dias, acho que Marcelo
mostrou que o que realmente deseja é apenas o poder. Eu também o quis, agora não posso mais me
dá esse luxo, terei sorte de sair com vida dessa história. O meu leal aliado está me extorquindo, pois
sabe que não permitirei que a vergonha manche a memória da minha amada Helena.

Adeus, Bastarda.

Frederico Duomont”

Vitória caminhou até a janela.

Abriu-a.

Tentou inalar o ar campestre para tentar acalmar sua mente, pois temia fazer uma loucura. Seu
desejo naquele momento era matar Marcelo e se o maldito do Duomont não estivesse morto, ela mesma
daria cabo à vida miserável que ele tinha.

Nem sabia mais o que pensar da desgraçada da Helena, afinal, fora manipulada pelo pai como
todos naquela maldita cidade.

Lembrou-se do irmão e da felicidade em ter o filho nos braços... Fora enganado, porém aquela
criança foi a responsável pela curta felicidade que ele tivera em seu casamento amaldiçoado.

Passou a mão pelos cabelos.

Não podia se deixar guiar mais uma vez pelos impulsos e pela raiva, pois fora por isso que perdera
o amor de sua vida e agora estava daquele jeito, sofrendo.

Precisaria resolver os problemas das promissórias, não podia deixar que Clara corresse risco de
ser machucada por aquelas pessoas.

Seguiu até o envelope. Abrindo-o..

Era muito dinheiro...

Então, Frederico estava sendo chantageado pelo futuro sogro da neta, deveria ter muita coisa
naquela história para ser descoberta. Iria falar com a Valentina. Seu sexto sentido dizia que os agiotas não
foram responsáveis pela morte do velho, afinal, ainda havia tempo para a dívida vencer.

Naquele momento o mais importante era manter a Branca de Neve em segurança.

Clara chegou à fazenda da família.

Clarice veio rapidamente até ela.

-- Filha, que bom que veio, não quero ficar mais nesse lugar, está tudo uma bagunça, não tem
empregados e eu mesma tenho que fazer comida, pois nem dinheiro para comer fora temos. – Dizia quase
chorando.

-- Também não tenho dinheiro, mamãe. – Abraçou-a. – Tentarei arrumar um emprego, assim,
poderemos viver melhor.

A mulher a fitou horrorizada, mas a jovem nem mesmo prestou atenção à expressão de choque.

Seguiram para dentro, encontrando Felipe examinando alguns papéis. Ao vê-la, foi até ela,
beijando-lhe a face.
-- Como está?

-- Bem, papai. – Sentou-se. – E o senhor?

-- Estou bem também, estou tentando conseguir um emprego, quero poder ganhar meu dinheiro,
desejo começar tudo do zero. – Falava entusiasmado.

-- Está vendo o absurdo que estamos vivendo? – Clarice ficou ainda mais indignada. – Seu pai era
vereador, sem falar que é filho do ex-governador do estado, agora está procurando emprego de peão.

-- E de que você pensa em viver? – O homem a encarou. – Mendigando?

A mulher esbravejou mais uma vez, sentando.

-- Podemos vender o que seu pai deixou. Há muita coisa. Temos um grande patrimônio.

-- Infelizmente, tudo isso não nos pertence mais, mamãe. Papai está certo, temos que nos
acostumar com nossa situação.

A nora de Frederico começou a caminhar de um lado para o outro com as mãos na cabeça.

-- Não, não e não! Você irá casar com Marcos, assim seu pai e eu poderemos viver com vocês. –
Sorria. – Ele tem uma herança, seu noivo irá nos ajudar.

-- Mamãe... – A garota parecia relutante. – Não posso me casar só pensando no dinheiro dele, nem
quero fazer isso para resolver nossa situação financeira...

-- Isso é um absurdo! – Felipe foi até ela, segurando-a pelo braço. – Quer vender a Clara para que
sua vida de luxo continue?

-- Não! – Desvencilhou-se do toque do marido. – Estou apenas juntando o útil ao agradável, é


simples, eles são noivos, desde sempre estão comprometidos, então basta que casem o mais rápido possível.

-- Você só pode ter enlouquecido!

-- Não, eu sou a única sã dessa família.

Clarice subiu as escadas correndo, tinha a determinação em seus olhos.

Felipe seguiu até a filha, ajoelhando-se diante dela, segurou-lhe as mãos.

-- Não permita que sua mãe a manipule, não ouse fazer nada que não seja o desejo do seu coração.
– Encarou-a. – Não viva uma vida de infelicidade para fazer as vontades de outros.

A Duomont observou os olhos do pai e teve quase certeza de que ele sabia de muito mais do que
dizia suas palavras. Será que seu romance com a condessa era de conhecimento dele? Só em imaginar
aquilo, sentia seu sangue correr mais rápido em suas veias.

-- Pai... – Dizia hesitante. – O Miguel é tio da Vitória.

-- Quem te disse isso? – Perguntou surpreso.

-- O vovô deixou uma carta para mim, lá ela dizia que nem o advogado assumia ser tio da
condessa. – Observou o pai se levantar. – O senhor sabia disso?

-- Sim... Há algum tempo...

-- E por que nunca me disse?

-- Na verdade, eu nunca me interessei em falar sobre isso... Não quero nem imaginar a reação da
Mattarazi ao saber algo assim... – Dizia preocupado.

Clara assentiu, conhecia o orgulho da ruiva e temia que uma revelação assim a desestruturasse
totalmente.

Clarice à surdina ouvia tudo e já maquinava como usar uma informação tão valiosa.

Miguel ficou perplexo ao ver a bagunça do escritório de Vitória. Encontrou-a de costas, com o olhar
perdido, encostado ao vidro da janela.

-- O que houve? – Indagou receoso.

Assim que recebeu a ligação de Clara, saiu rapidamente até ali e se sentiu aliviado em encontrá-la.
A condessa o encarou.

Era possível ver nos olhos verdes resquícios de lágrimas.

O advogado caminhou até ela, abraçando-a.

-- Calma, eu estou aqui e você sabe que sempre poderá contar comigo... – Acariciou-lhe os cabelos.

-- Por que tanta desgraça em minha vida? – Fitou-o. – Será que fui amaldiçoada por ser bastarda?

-- Nunca mais diga isso. – Repreendeu-a. – Você é uma mulher forte, conseguiu tudo diante de
muito esforço, é alguém digno de admiração. Não se esqueça do imenso amor que unia você e o Vitor, ele
seria capaz de dar a vida dele por ti... E eu faria o mesmo sem pensar duas vezes.

A ruiva o fitou profundamente.

-- Por que faz tanto por mim? – Afastou-se. – Sei que fez uma promessa ao meu irmão de sempre
cuidar de mim, mas sinto que seu amor vai muito além disso... – Ponderou por alguns segundos. – Em
alguns momentos tive medo que estivesse confundindo as coisas, que estivesse interassado em mim como
um homem se interessa por uma mulher, mas com o tempo percebi que seu sentimento é paternal...

O advogado caminhou até o sofá, sentando-se.

Seria aquele o melhor momento de falar a verdade?

Temia que aquela revelação a afasta-se de si e não poderia se arriscar naquele momento. Temia
pela segurança da sobrinha, ainda mais com o assassinato de Frederico...

Esperaria que tudo se resolvesse para lhe contar toda a história.

-- Conheço-te há tanto tempo que a tenho como se fosse de minha família.

Vitória parecia pensativa, até que simplesmente assentiu.

Seguiu até o envelope, pegou-o, entregando-o ao advogado.

-- Veja o que o Duomont deixou. Quero que resolva tudo isso, não desejo que a Clara corra nenhum
risco.

Miguel observava tudo com atenção.

-- Meu Deus! – Encarou-a perplexo. – Isso deixa claro que não foi os agiotas que o mataram, não o
fariam, pelo menos não enquanto ainda restavam dois meses para pagar as dívidas. Preciso mostrar isso a
Valentina.

A condessa retirou a carta do bolso.

-- Acho que ela também deva dar uma olhada nisso.

O advogado fitou o papel. Recebeu-o.

-- Posso ler?

-- Fique à vontade... – Pegou as chaves do carro. – Estou indo para casa, peça para alguém
redecorar minha sala, na verdade, ela estava muito cafona, desejo algo mais agradável. – Piscou travessa.

-- Sei... Ah, já tenho o homem perfeito para cuidar de sua segurança.

-- Não quero que cuide da minha segurança, desejo que cuida da segurança da Duomont. –
Protestou. – Eu sei me defender muito bem sozinha.

-- Não seja boba! – Repreendeu-a. – Enquanto não esclarecermos a morte de Frederico, você
precisa tomar ainda mais cuidado, então não adianta esbravejar. Quanto à sua amada, nesse momento, ela
já está sendo observada de perto.

Vitória suspirou, sentando ao lado do tio.

-- Vou mandá-la de volta para a capital, ela precisa ser acompanhada pela neurologista e também
continuar as sessões de fisioterapia.

-- Irá com ela?

-- Não, acho melhor que mantenhamos distancia, pelo menos até que ela recupere a memória.

-- Por que a está afastando de si?


A ruiva cobriu o rosto com as mãos.

-- Tenho medo de não resistir aos encantos dela, tenho medo... Medo de que em minhas veias
tenham muito mais do que o sangue de Vitório Mattarazi.

-- Do que está falando?

-- Eu... – Fitou-o, mordendo o lábio inferior. – No dia do velório do Duomont, eu quase a ataquei... –
Desviou o olhar. – Quase a tomei à força...

-- Com certeza isso aconteceu devido à pressão que está sendo submetida nos últimos dias. –
Segurou-lhe a mão. – Não pense coisas assim, sei que não machucaria a mulher que ama.

-- Eu não sei... Às vezes me assusto com a intensidade desse sentimento.

-- O amor é assim mesmo... Ainda mais quando ele se mescla poderosamente à paixão.

O advogado observou o olhar perdido da jovem.

-- Quando ela recuperar a memória tudo vai se resolver.

-- E se ela não recuperar?

-- Você a conquista de novo, afina, quem resistiria ao poderoso charme de Vitória Mattarazi. –
Gracejou.

A ruiva mesmo preocupada, acabou exibindo aquele sorriso presunçoso, cheio de mistérios.

Já era tarde da noite quando o motorista deixou Clara na fazenda Mattarazi. Tinha decidido jantar
com os pais, mesmo tendo que escutar todas as reclamações de sua mãe durante a refeição.

Seguiu para o quarto, encontrando a condessa deitada, lendo um livro.

Ambas se encararam por alguns segundos, mas nenhuma palavra foi dita.

Vitória voltou sua atenção para a leitura, enquanto a Duomont seguia até banheiro.

Alguns minutos se passaram até que a morena voltasse para os aposentos, deitando ao lado da
fazendeira.

Aproveitou a distração da ruiva, para observá-la com atenção. Os óculos apoiado no nariz
orgulhoso a deixava mais linda. Fitou os seios pelo decote da camisola. Apesar de apenas a luz da cabeceira
está acesa para a leitura, era possível perceber que o traje de dormir da condessa era totalmente
transparente, como todos que ela usava.

Jamais confessaria a alguém como sentia o corpo reagir diante de tão linda visão.

Respirou fundo, virando-se de lado, dando as costas para a ruiva.

Fechou os olhos e de repente algumas cenas invadiram sua mente.

Jogou-a sobre o feno, encantada com a beleza que ela exibia.

A ruiva chegou a pensar que ela iria embora, mas quando a viu despir cada peça de roupa, seu
sangue ficou ainda mais quente.

Mirava embevecida, desejava-a mais de que qualquer coisa que quisera em sua vida, mesmo
que passassem mil anos, continuaria a aspirar por aquela jovem de rosto doce, mas que se mostrava
cada vez mais determinada, mais dona de si, mais sedutora.

Ao vê-la totalmente despida, foi até ela, tentou tocá-la, mas não lhe foi permitido.

A neta de Frederico lhe pôs de costas, apoiando-a na cerca de madeira que separava a baia.
Colou o corpo em suas costas, sentindo o próprio sexo roçar as nádegas bem feitas da fazendeira.

A ruiva apoiou a perna na madeira, abrindo-se mais, acolhendo a mão que lhe acariciava
possessivamente. Rebolou, sentindo lambuzar seu bumbum.

-- Então eu sou uma princesinha de contos de fadas? – Invadiu-a. – Então você não gostou de
fazer amor comigo... – Meteu mais forte.

A condessa vibrava a cada estancada, ouvia as palavras e depois só os seus gemidos poderiam
ser audíveis.
-- Então, é você a poderosa condessa... – Falava sem fôlego. – Não... – Tomou-a com força... –
Você é minha... – Acelerou ainda mais. – E será sempre minha.

A ruiva sabia que não aguentaria por muito tempo, os impulsos e o manear dos seus quadris
aos poucos foram substituídos por um grito de satisfação total.

Clara se encostou a ela tentando recuperar o fôlego, sentia que aos poucos o ar voltava aos
seus pulmões.

Vitória se virou, abraçando-a, sussurrando em seu ouvido.

-- Eu estou perdidamente apaixonada por ti e sinto que morrerei se não te ter ao meu lado.

Naquele momento apenas o relinchar do Bastardo cortou o silêncio profundo da noite de lua
cheia.
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Capitulo 31 por gehpadilha
O grito de Maria Clara assustou Vitória.

-- O que houve? – Levantou-se rapidamente sentando ao lado dela. – O que foi?

A ruiva observou o olhar arregalado da garota, parecia presa em outro mundo.

Tocou-lhe a face.

-- Fale comigo, o que se passa?

De repente os olhos negros encararam a Mattarazi. Pareciam examiná-la, estudando cada parte dela,
cada gesto, cada detalhe daquele rosto.

-- O que houve, amor, está sentindo dor? Diga. – Levantou-se. – Irei buscar o médico.

Mas a Duomont não a permitiu, segurando-lhe a mão, detendo-a.

-- Eu... eu estou bem... – Falou baixinho.

A condessa voltou a sentar.

-- Tem certeza? Mas por que gritou? -- Tocou-lhe a face. – Teve alguma lembrança? Por isso se
assustou? – Perguntou entusiasmada.

Clara sentiu o ar faltar aos pulmões.

Vitória imediatamente pegou a bombinha de ar, entregando-lhe.

Observou o semblante da amada e ficou a imaginar o que a teria chocado tanto. Será que fora algo
relacionado a si ou outra recordação que a assustara?

Ajudou-a sentar, permanecendo pacientemente ao seu lado, até perceber que ela já parecia bem
melhor.

-- Diga-me agora o que houve. – Pediu.

A garota deixou de lado o apetrecho, em seguida fitou as duas esmeraldas brilhantes.

Clara umedeceu os lábios.

-- Vitória... – Começou relutante. – Como pude me entregar a ti se estava noiva de outro?

-- Então essa foi a visão que teve? Viu-nos fazendo amor?

A neta de Frederico passou as mãos pelos cabelos, parecia assustada.

-- Como pude fazer isso com o Marcos? Ele não merecia.

A condessa segurou-lhe o rosto carinhosamente, observando o olhar perdido.

-- Não se sinta culpada, acabamos nos apaixonando, fomos guiadas pelo sentimento.

A Duomont lhe afastou a mão, mostrando-se indignada.

-- Não você! Eu vi, ouvi suas palavras claras dizendo que dormia com a sua engenheira e depois fazia
comigo.

Vitória ficou perplexa com o que fora dito.

-- De que você lembra mais?

-- Acho que já recordo o suficiente para saber que você não presta. – Dizia em lágrimas. – Como fui
capaz de trair meu noivo com alguém como você?

A ruiva se levantou, pondo-se a caminhar de um lado para o outro pelo quarto, parecia um animal
enjaulado.

-- As coisas não aconteceram assim... Eu juro, eu não fui pra cama com a Larissa... – Mirou-a. – Apenas
falei aquilo em um momento de raiva, tinha acontecido coisas naquele dia e acabei não medindo minhas
palavras. – Seguiu até ela, acomodando-se mais uma vez ao seu lado. – Eu não deveria ter dito aquilo, mas o fiz
e você não imagina como eu me arrependo disso, pois foi por causa dessas malditas palavras que você saiu em
disparada com o Bastardo e acabou sofrendo o acidente.
-- Não acredito! Você mente, mente para conseguir o que deseja.

-- Meu Deus, Clara, o que devo fazer para que não duvide mais de mim, que acredite que o amor que
sinto é verdadeiro. – Sua voz estava embargada. – Eu nunca em minha vida senti o que sinto por ti, é muito
mais forte do que eu, mais forte do que tudo, esse amor é tão grande que penso que não vou aguentá-lo em meu
peito e vai explodir.

-- Mentira... – Falou por entre os dentes. – Mentira! – Gritou. – Se me amasse de verdade não teria me
traído com outra. Eu sei o que vi, eu sei o que ouvi, posso não me lembrar de tudo, minha mente ainda está
cheia de névoa, parece mergulhada na escuridão, porém depois de hoje, tive certeza do caráter de Vitória
Mattarazi.

-- Não, meu amor, não, foi um engano... – Tentava se explicar, estava em total desespero.

-- Não há nenhum engano aqui, bem como a morte do meu avô. – Encarou-a. -- Eu não desejo mais
continuar com essa palhaçada, amanhã mesmo irei embora daqui, pode ficar com tudo que era dele, nada disso
me interessa.

-- Não! – Apontou-lhe o indicador. -- Você não irá embora, pelo menos até que a delegada descubra
quem matou o Frederico. – Levantou-se. – Nem que eu tenha que prendê-la aqui, não saíra enquanto eu não
souber que você não correrá nenhum risco.

-- Corro muito mais riscos estando em sua presença!

-- Você não está pensando que eu matei o seu avô, está? – Indagou perplexa. – Eu estava contigo
naquele dia... Pensa que mandei alguém fazer isso?

Diante do silêncio da jovem, a condessa deixou o quarto, consternada. Desceu as escadas rapidamente,
seguindo até o estábulo.

Sentou no feno.

Cobriu o rosto com as mãos, sentindo as lágrimas rolando copiosamente. Os soluços sacudiam seu
corpo, era como se uma lâmina atravessasse seu peito, rasgando-a lentamente, lacerando-a pouco a pouco.

Não, não haveria mais como seguir por aquele caminho tortuoso. Não tinha mais como ficar ao lado
de Clara, sabendo que ela não acreditava em si, pior, que ela imaginava que poderia ter algo com a morte de
Frederico.

Mais uma vez o estigma de assassina manchava-lhe o nome, mais uma vez era vista como um ser
cruel, desprovido de qualquer sentimento, porém isso nunca machucara tanto como naquele momento.

Deitou-se.

Tentaria de todas as formas descobrir quem matou o Duomont e quando tivesse segura de que a
amada não correria mais nenhum tipo de perigo, iria embora de uma vez do Brasil, seguiria para bem longe, só
assim Clara poderia ser feliz.

A Duomont não conseguira dormir. Passara a noite esperando a condessa retornar para o quarto, mas
isso não aconteceu.

A dor que viu em seu olhar quando imaginou que a achava culpada da morte do avô.

Não!

Sabia que ela jamais faria algo assim, tinha certeza disso. Sentiu-se injusta, pois repetira o que todos
fizeram antes quando disseram que ela matara a própria família.

O dia já amanhecia quando Maria bateu, entrando em seguida.

-- Perdoe-me se te acordei. – A mulher a cumprimentou com um sorriso.

-- Não, já estava acordada.

-- A condessa me pediu para pegar algumas peças de roupas. – Seguiu até o armário.

A Duomont sentou-se.

-- Onde ela está?

-- No estábulo. – Fez um gesto de cabeça, recriminando-a. – Batista disse que a encontrou dormindo lá.
Só pode ter enlouquecido, fazia isso quando a bruxa da madrasta a expulsava de casa, porém agora não há
necessidade de compartilhar o leito com os animais...
-- Como? – Indagou perplexa.

-- Eu não sei, apenas me mandou pegar algumas roupas e levar para o quarto que pertencia ao irmão.
– Caminhou até a porta. – Tenha um bom dia, mocinha.

Clara tentou não demonstrar a tristeza que sombreava seu sorriso simpático.

Marcelo foi avisado por um dos seus empregados que a condessa deseja vê-lo.

O homem rapidamente seguiu até a sala, encontrando-a.

Ficou fascinado com a imponência que ela demonstrava. Arrogância, sensualidade mesclada ao
orgulho dos Mattarazis.

Fitou as botas de couro, o traje de montaria que delineava as pernas longas.

-- Bom dia! – Cumprimentou-a com um sorriso, aproximou-se, beijando-lhe a mão. – Como pode ser tão
bela?

A ruiva estreitou os olhos ameaçadoramente.

-- Não queira jogar seu charme barato para cima de mim. Eu já sei que era você o amante da Helena.

A cor pareceu abandonar a face do ex-prefeito, afastou-se dela.

-- Do que está falando? Enlouqueceu por acaso?

Vitória caminhou até ele, ficando parado bem próximo.

-- Eu tenho vontade matá-lo com as minhas próprias mãos por isso, mas esperarei que a justiça seja
feita. – Disse por entre os dentes. – Irei até o inferno para que ela seja feita.

-- Você deve ter entendido as coisas erroneamente.

-- Não... – Esboçou um sorriso sádico. – O miserável do Frederico deixou claro isso na carta que me
deixou antes de morrer.

Marcelo tentou manter a calma.

-- O que dizia nessa carta? Decerto um monte de mentiras.

-- Além de que você estava extorquindo o velho, algumas sujeiras a mais.

-- Não é bem assim... – Gesticulava nervoso. – Ele estava me devendo, pediu dinheiro emprestado e eu
estava querendo tudo de volta. Era o meu dinheiro e ele se negava a saldar as contas.

A ruiva arqueou a sobrancelha esquerda.

-- Não foi isso que ele escreveu.

-- Vai acreditar nele? – Indagou surpreso. -- No miserável que te acusou de assassina e que fez tudo
para tomar o que era teu. – Sentou. – Confesso que tive uma relação com a Helena, mas isso aconteceu porque
Frederico a entregou pra mim, tudo por dinheiro, por poder... Ela era muito bonita... Acabei me apaixonando...

-- Não acredito em nada que você diz. – Bateu o chicote na poltrona. – Saibas que não descansarei até
que a verdade seja descoberta, até que eu o veja atrás das grades.

Marcelo a observou se afastar, sentindo o pânico tomar conta de si.

Definitivamente precisava se livrar de Vitória Mattarazi de uma vez por todas.

O tempo passava tranquilo.

A condessa fazia o possível para evitar Maria Clara, tanto que durante todos esses dias não a viu.

Quando não trabalhava até tarde, chegava cedo e seguia direto para o quarto para evitar o encontro
desagradável.

Sim, era uma covarde. Estava fugindo, pois sabia que não conseguiria se controlar se estivesse diante
dela.
Clara estava na cozinha com Maria.

A empregada estava terminando de fazer um delicioso bolo de chocolate.

-- É o preferido da condessinha. – Dizia a mulher, recheando a iguaria. – Quando era criança corria
para lamber o chocolate. – Sorriu.

A Duomont se divertiu ao imaginar a cena.

Deveria ter sido uma garotinha linda com aqueles cabelinhos vermelhos.

Há dias não a via e não tinha como negar que sentia um desejo enorme de encontrá-la, de poder dizer
que não acreditava que ela fora responsável pela morte do Frederico. Não a procurara, deveria tê-lo feito, mas
não fora corajosa o suficiente para isso.

Maria olhou pela janela.

-- O senhor Miguel acabou de chegar, trouxe o filho e a esposa. – Sorriu. – Vá receber as visitas,
enquanto aviso a menina.

-- Vitória está em casa? – Não conseguia esconder a surpresa e nem o entusiasmo de poder vê-la.

-- Sim, chegou ao anoitecer e se trancou no quarto. – Piscou. – Parece o Diabo fugindo da cruz nos
últimos dias.

Clara percebeu a indireta, mas preferiu ignorar, seguindo até a sala.

Sua fisioterapia estava dando resultados. Necessitava apenas de uma muleta e em breve se livraria
dessa também.

Não tivera mais lembranças, mas as que povoavam a sua mente eram suficientes para deixá-la
perturbada.

-- Boa noite! – Valentina cumprimentou-a.

O garotinho correu para a jovem.

A Duomont sentou, trazendo-o para seu colo.

-- Que criança mais linda. – Beijou-lhe.

-- Olha, tia. – Mostrou o boneco que era personagem de um desenho animado. – A tia Vitória me deu.

-- Nossa que lindo!

Ficou encantada vendo o filho de Miguel falar do novo brinquedo que nem notou a ruiva descer as
escadas.

-- Boa noite!

O som rouco invadiu o ambiente.

-- Nossa, como está linda! – Miguel elogiou-a.

Naquele momento, Clara a fitou e sentiu o coração acelerar diante da imagem esplendida que se
apresentava diante dos seus olhos. Ficou boquiaberta diante de tanta sensualidade.

A condessa estava arrasadoramente fatal usando um vestido preto, sustentados apenas pelos seios
fartos, delineando a cintura fina, terminando um pouco antes dos joelhos, deixando à mostra as lindas pernas.
Os cabelos estavam presos em um coque no alto da cabeça e apenas alguns fios emoldurava o rosto bonito.

-- Vai sair? – Valentina indagou.

-- Na verdade, tenho uma recepção para ir. – Retirou Miguelzinho dos braços de Clara. – Por que não
avisaram que viriam? E você, hein, tá cada vez mais bonito, nunca mais apareceu, abandonou sua tia?

-- Na verdade, viemos porque ele só falava em ti e queria agradecer pelo presente.

-- Não precisa agradecer. – Beijou-o, depois se acomodou ao lado da Duomont. – Por que não vai à
cozinha ver o que a Maria tá cozinhando. – Falou baixinho. – Senti um delicioso cheiro de chocolate.

O garoto a retribuiu o carinho em sua face, saindo em disparada em direção sugerida.

Clara se sentia atraída e sufocada pelo cheiro dela.

As pernas de ambas se roçaram, deixando a jovem Duomont totalmente arrepiada.


-- Bem, me disperso de vocês. – Levantou-se. – Não desejo chegar atrasada. Boa noite a todos.

Miguel e Valentina se entreolharam, perceberam que a neta de Frederico tinha sido totalmente
ignorada pela ruiva.

-- Algum problema? – O advogado a fitou.

-- Não que eu saiba. – Disfarçou a tristeza. – Vão ficar para o jantar? – Disfarçou o desgosto.

Ambos fizeram um gesto afirmativo.

A refeição transcorria tranquilo, enquanto o garotinho se enchia de bolo de chocolate.

-- Já chega! – A delegada o repreendeu. – Vai ficar doente de tanto comer isso.

-- Ah, deixa ele, parece até a minha Vitória quando era um bebê... – Cobriu a boca como se tivesse
cometido uma indiscrição.

-- Não precisa disso, eu já sei dos laços sanguíneos que une vocês. – Falou olhando para Miguel. – Meu
avô deixou claro na carta pra mim que você é irmão da mãe da condessa.

Todos pareceram boquiabertos.

-- Não precisam ficar assim, jamais falaria algo para a Vitória, mas acho que já está mais do que na
hora de você falar.

Valentina segurou a mão do marido.

-- As coisas não são tão fáceis assim, Clara. – A delegada explicava. – Não estamos falando de qualquer
pessoa, esse segredo precisa ser guardado por algum tempo ainda.

-- Como disse não falarei nada, mas continuo achando que a verdade deve ser dita.

A conversa seguiu por mais algum tempo, até que as visitas se despediram indo embora.

A Duomont seguiu desanimada até o quarto, não se sentia bem. A única coisa que desejava naquele
momento era poder dormir durante muitos anos e esquecer tudo que aconteceu.

O desprezo de Vitória estava doendo muito e só em imaginar que ela tinha saído com alguém, a
deixava possessa. Decerto, estava com a tal engenheira, em seus braços...

Deitou na cama, sentindo o cheiro dela.

As lágrimas começaram a lhe banhar o rosto.

Tinha certeza que não a teria mais em sua vida, conseguira ver naqueles olhos penetrantes que se
havia algum sentimento por ela, com certeza seria riscado e arrancado de seu coração.

Lembrou-se do dia que acordou no hospital e viu seu olhar... Sua forma de demonstrar que a amava,
mesmo diante dos seus desprezos, ela continuara ao seu lado... Apoiou-a em tantos momentos difíceis, mas
agora acabou.

-- Que bom que decidiu vir. – Larissa segurou-lhe a mão.

A recepção estava acontecendo no clube da cidade, um dos maiores divulgador de marcas estava
presente e convidara a condessa, devido ao sucesso de sua cachaça.

-- Confesso que não estava muito interessada, mas decidi vir para tentar me distrair.

O lugar estava repleto de empresários de outras cidades, até mesmo do exterior. Todos desejando que
suas marcas fossem bem vistas pelo grande ramo midiático.

As luzes iluminava o espaço.

Havia garçons servindo as melhores bebidas, petiscos e uma pista de dança fora montada.

-- Pierre está encantado contigo. – A engenheira a conduziu para onde havia algumas pessoas
dançando. – Acompanha-me?

A ruiva assentiu e ambas começaram a seguir o ritmo que o DJ tocava.

A condessa não se animou de início em sair, mas acabou cedendo à insistência da jovem, pois assim
poderia se distrair e esquecer um pouco dos seus problemas.
Cada dia que passava era como se estivesse morrendo pouco a pouco. Passava o dia trabalhando duro,
quase sempre virava a madrugada fazendo isso, seja resolvendo problemas de suas empresas ou cuidando da
administração da cidade.

O município atravessava um momento difícil, havia muitas dívidas e ela precisava saldar todas para
poder começar a fazer algo por aquelas pessoas.

Otávio vinha travando uma batalha árdua, fazendo de tudo para atrapalhar seus planos.

Tentaria uma reunião com a bancada de vereadores, faria tudo para convencê-los a ficar do seu lado,
pois sabia que era necessário esse apoio.

Não falara mais com a neta de Frederico. Evitava vê-la, até aquela noite tinha obtido êxito...

Lembrou-se de ter ficado encantada ao vê-la com o Miguelzinho nos braços e por um momento
imaginou como seria maravilhoso se tivessem um filho... Fruto de um grande amor que um dia existira.

Talvez tenha sido covarde em desistir dela, mas não tinha mais forças para lutar por aquele
sentimento, não conseguia mais seguir em frente diante do desprezo que viu em seu olhar. Assim que
descobrisse e mandasse para a prisão o assassino de Frederico e constatasse que a jovem não corria mais
perigo, partiria imediatamente para a Itália. Sim, fugiria, pois era esse o único caminho a seguir.

-- Deseja beber algo? – Larissa parecia impaciente.

A ruiva a fitou.

-- Perdoe-me, estava pensando em alguns problemas que preciso resolver. – Justificou a distração.

A engenheira sorriu ao ouvir a música lenta.

Colou seu corpo ao da condessa, colando os lábios em seu ouvido.

-- Deixe-me te fazer esquecer... – Sussurrava. – Dê-me uma chance.

Vitória sentiu os lábios tomarem os seus e não esboçou nenhum tipo de reação. Apenas se deixou
guiar por aquela bela mulher.

Marcos seguiu até a fazenda dos Duomont assim que o sol nasceu.

Naquele dia, realizaria seu maior desejo e sabia que podia contar com a sogra.

Vitória Mattarazi não lhe roubaria a mulher que amava. Otávio lhe contara sobre os sentimentos que
a condessa demonstrava sentir por Clara. Inicialmente, pensara em matar a odiosa mulher, mas não agiria tão
impulsivamente, sua vingança seria dada em doses homeopáticas... E naquele dia seria a primeira de tantas.

Clara despertou cedo.

Na verdade, teve uma terrível noite de insônia. Não conseguira descansar, ainda mias quando
pensava que Vitória não dormira em casa, passara toda noite esperando e nem sinal do seu retorno.

Não entendia por que ela ainda lhe mantinha naquele lugar, afinal, já está claro que não a desejava
mais ali.

Tinha acabado de banhar.

Deixou a muleta de lado e começou a dá alguns passos sem o auxílio do apoio.

Em breve estaria totalmente recuperada fisicamente.

Vestiu-se.

Naquele dia teria que ver a neurologista, decerto Miguel a levaria até a capital. Tinha certeza que a
condessa não gastaria seu precioso tempo ao seu lado.

Ouviu o toque do celular, reconheceu o número da mãe, atendendo-a rapidamente.

-- Bom dia, mamãe, tudo bem? – Cumprimentou-a feliz.

-- Filha, preciso que venha imediatamente me encontrar. – A voz aparentava preocupação.

-- Mas eu terei que ir ao médico, estou me aprontando para viajar.


-- Não se preocupe com isso, eu mesma a levarei depois.

-- Mas o que houve? Aconteceu algo?

Clarice falou tanto que acabou por convencê-la a encontrá-la em um restaurante no centro da cidade.

Vitória despertou com uma terrível dor de cabeça.

Demorou em reconhecer o lugar onde passara a noite, mas aos poucos seus olhos identificaram o
escritório da usina.

Sentou-se.

Passara quase toda a madrugada bebendo e dançando na companhia de Larissa, mas acabara não
aceitando o convite de ir para o apartamento da engenheira. Seu corpo não cedera aos encantos da bela
morena, pois em sua cabeça e em seu coração outra pessoa habitava e dominava.

Olhou o relógio, quase dez horas.

Precisava ir para casa, buscar a Clara e seguir para a capital. Usaria o helicóptero ou chegariam
atrasadas.

Seu fiel advogado não poderia se ausentar da cidade, por esse motivo, a ruiva não tinha outra
alternativa a não ser ir ela mesma com a Duomont. Uma tortura mais para anotar em seu caderninho.

Levantou, caminhando até a mesa, pegou o telefone, discando para a fazenda.

Maria atendeu.

-- Avise a Clara para se arrumar, passo aí em dez minutos para pegá-la para irmos à capital. – Falou
sem cumprimentar a empregada.

A esposa de Batista não respondeu imediatamente, fez-se um silêncio, uma relutância em dizer algo.

-- Ela saiu, o motorista a levou...

A mulher nem mesmo terminou de dizer, o clique de encerramento de chamada pôde ser ouvido.

Clara seguiu com a mãe e ficou surpresa quando ela ordenou ao motorista que estacionasse em frente
ao fórum.

-- O que vamos fazer aqui? – Indagou receosa.

Clarice não falara nada durante todo o encontro, apenas alegara que precisava conversar com ela.

-- Resolver um problema que há tempos deveria ter sido feito. – Deu a volta no carro. Estendeu a mão
para ela. – Venha.

A jovem hesitou mais acabou seguindo como fora ordenado.

Ao entrar, ficou surpresa ao encontrar Marcos, algumas outras pessoas que não conhecia e o advogado
de Marcelo.

O rapaz seguiu rapidamente até ela, beijando-lhe os lábios.

A Duomont permaneceu estática, com o olhar perdido.

-- Hoje definitivamente nos uniremos em matrimônio, vamos seguir o mesmo caminho, vamos formar
nossa própria família.

Clara não conseguiu esconder a surpresa diante daquilo.

-- Mas... Mas como? As coisas não são assim, é necessário de muita coisa para que um casamento se
realize, tempo para a papelada... – Falava rapidamente.

-- Isso já foi providenciado, enquanto você estava no hospital. – Clarice sorriu vitoriosa. – Eu mesma
entreguei todos os seus documentos para o Marcos e ele rapidamente resolveu tudo. – Abraçou os dois. – Agora
vocês se unirão em um casamento feliz e vamos morar bem longe daqui.

-- Não, não... – A Duomont se afastou. – Eu não posso, não posso...


-- Claro que pode! – O rapaz lhe segurou o braço. – Nós temos um compromisso de muitos anos e esse é
o momento de concretizá-lo. – Não parecia mais um cavalheiro.

-- Não, eu não posso me casar contigo, pelo menos não enquanto eu não recuperar a memória.

-- Não será preciso, você me ama, da mesma forma que eu te amo. – O jovem insistia.

A neta de Frederico pareceu ainda mais confusa, ela sabia que aquilo não era toda a verdade, pois não
era por aquele homem bonito que a fitava que seu coração pulsava acelerado. Não era por ele que suspirava e
não era por ele que seu corpo queimava com tanta intensidade.

-- Eu não posso... – Disse baixinho.

Marcos a fitou surpreso, mas foi Clarice que se adiantou.

-- Você deve se casar, não entende que só assim eu e seu pai teremos um lugar para viver, não se
importa conosco? Te demos tudo o que tinha de melhor e esse é o momento de retribuir ou acha que seu pai vai
conseguir um bom emprego? Ele não sabe fazer nada, vamos viver na miséria, é isso que quer pra gente?

-- Mamãe, eu irei trabalhar, com o que eu ganhar poderei sustentar vocês. – Dizia com calma. – Sou
veterinária, conseguirei algo assim que estiver totalmente recuperada.

-- Não! – A mulher gritou. – Não quero viver como uma pobretona... – Disse em lágrimas. – Estou
doente, preciso de dinheiro para o tratamento.

-- Doente de que? – perguntou preocupada. – Por que não me disse?

-- Eu não sei ainda, Marcos está me ajudando. – Limpou as lágrimas. – Case-se com ele, faça isso por
mim, ele está me ajudando e fará ainda mais com o dinheiro que ganhará de herança.

Clara passou a mão pelos cabelos.

Sentia-se perdida, não sabia qual caminho seguir naquele momento. Não sabia se tinha a ver com a
amnésia, porém o que podia dizer é que não amava o homem que a olhava impaciente. Sentia um carinho
grande, mas nada que pudesse ser suficiente para sustentar uma relação tão séria.

Observou o semblante da mãe. Ela parecia destruída, desesperada. Conhecia-a bem para saber que ela
não suportaria uma vida sem luxo, mas o pior era o fato de estar doente e se realmente necessitasse de
dinheiro, como poderia fazer algo?

-- Eu não posso... – Repetiu baixinho.

Marcos a segurou forte pelos ombros.

-- Você não só pode, como irá. – Gritou. – Não serei feito de idiota, enquanto você cai nos encantos da
assassina do seu avô. – Apertou-a mais. – Nos casaremos hoje.

Clara nunca viu os olhos do noivo apresentarem uma expressão de ódio.

-- Case-se comigo e iremos embora daqui, esquecerei tudo o que aconteceu e seremos felizes juntos,
mas se não o fizer, eu matarei a condessa com minhas próprias mãos e você carregará essa desgraça em sua
cabeça por toda a vida. – Disse em seu ouvido.

Vitória chegou diante do fórum e viu o motorista parado, na verdade, aquele era o segurança que
Miguel havia contratado para cuidar da segurança de Clara.

-- Onde ela está e por que a deixou sozinha? – Indagou furiosa.

Ligara para ele e ficara sabendo que a jovem se encontrara com Clarice.

-- Não achei que havia riscos, afinal, ela está com a mãe, sempre as deixo sozinhas, a senhora nunca
falara que a mulher apresentava um perigo.

A ruiva praguejou alto, seguindo para o prédio rapidamente, tendo o brutamonte ao seu lado.

Não precisou caminhar muito para encontrar o que desejava. Em uma sala lateral, onde casamentos
eram oficializados, encontrou a jovem ao lado de Marcos, enquanto um homem vestido formalmente parecia
finalizar um ritual de enlace.

-- Que ingratidão! – Sentou-se em uma das cadeiras que eram para os convidados. – Não fui convidada
para o matrimônio.

Os olhares dos presentes se voltaram para a empresária. Clara a encarou e sentiu o chão fugir dos pés.
-- Onde devo sentar-me? – Cruzou as pernas. – Em qual dessas fileiras a amante da noiva deve ocupar?
– Esboçou um sorriso sádico.

-- Como ousa? – Clarice seguiu até ela. – Saia já daqui, respeite minha filha, sua desavergonhada.

-- Senhora Duomont... – Fitou-a. – Faça-me o favor de ir para o inferno... – Levantou-se.

A ruiva passou pela esposa de Felipe e quase a derrubou.

-- Estamos casados. – Marcos disse triunfante. – Nada poderá fazer contra isso, então saia daqui, temos
que embarcar para a nossa lua de mel. – Provocou-a.

Vitória fitou a jovem e teve que se segurar para não perder a calma.

-- Pena que não será você a desfrutar dessa comemoração... Porque esse mel me pertence... Mas pode
ficar com a lua. – Mordeu o lábio inferior.

Clara precisou se apoiar nos braços do esposo. Fechou os olhos por alguns segundos e quando voltou a
fitar a fazendeira, suas lembranças retornaram ao lugar que pertencia. Tudo estava claro, parecia que a venda
que encobriam seus pensamentos tinha sido retirada.

A ruiva interpretou erroneamente a cena. Deu a volta, seguindo para fora, enquanto fazia um gesto
para Cloud, o segurança.

Ainda conseguiu ouvir os gritos e alguns barulhos de soco, mas não se voltou para ver o que acontecia.

Caminhou até o carro, esperando.

Instantes depois viu o segurança carregando Maria Clara e pondo-a no carro, enquanto uma Clarice
histérica gritava, tentando entrar no veículo.

Marcos jazia no chão. Levara um soco quando tentara impedir que o homem levasse a amada. Os
presentes apenas olhavam a cena, sem esboçar nenhuma reação.

Clarice voltou correndo, ajoelhando-se diante dele.

-- Eles a levaram.

-- A Clara já é minha esposa, a maldita nada poderá fazer, agora mesmo irei denunciá-la para a
delegada, afinal, a minha mulher foi sequestrada por Vitória Mattarazi e tenho muitas testemunhas que
afirmarão isso.

A neta de Frederico fora colocada na aeronave.

Sentia-se tonta.

Sentou-se!

Cloud ficou ao seu lado, ajudando-a a colocar o cinto de segurança.

-- Onde está a condessa?

O homem apontou para frente, então ela viu Vitória sentada ao lado do piloto.

-- Preciso falar com ela... – Tentou se levantar.

O segurança segurou-lhe a mão.

-- Fique onde está não acho que seja uma boa ideia falar com ela agora. – Advertiu-a. – A senhora
Mattarazi não parece muito acessível nesse momento.

A jovem ainda pensou em retrucar, mas ao ouvir os motores do helicóptero ser ligado, decidiu
permanecer onde estava.

Valentina estava na delegacia.

Leu mais uma vez a carta deixada por Frederico, tinha quase certeza que Marcelo poderia estar por
trás do assassinato do velho.
Ouviu um barulho, até que o policial apareceu acompanhando de um furioso Marcos e uma Clarisse
histérica.

-- Exijo que a senhora prenda Vitória Mattarazi. – O rapaz exigiu.

A delegada se levantou.

-- Você não manda em mim e não admito que chegue aqui agindo como se fosse o dono do mundo.

-- A senhora precisa fazer alguma coisa! – Clarice se intrometeu. – Essa mulher deve ser detida
imediatamente.

-- E que mal a condessa fez? – Perguntou calmamente.

-- Sequestrou a minha esposa. – Mostrou a aliança que repousava em seu anelar.

-- Que esposa? – Perguntou confusa.

-- Maria Clara Duomont de Ferraz! – Disse orgulhoso.

Durante toda a viagem, Clara, em nenhum momento teve contato com a fazendeira.

Observou o lugar, não estavam na capital, mas deveriam estar longe, pois fora quase duas horas de
voo.

-- Onde estamos? – Observou pela janelinha. – Que lugar é esse?

Tinham pousado em uma pista, em meio a muito mato.

A condessa se levantou, seguindo até onde ela estava.

Cloud se afastou.

Os olhares de ambas se encontraram.

A Duomont engoliu em seco diante daqueles olhos que pareciam escurecidos. Observou o maxilar se
mover.

-- A sua lua de mel começa agora. – Segurou-lhe o pulso, levantando-a. – Espero que goste.

-- Vitória... – Hesitou. – Preciso dizer...

-- Cale a boca... – Disse por entre os dentes. Fitou o anel de compromisso. – Ainda falta eu te dar o meu
presente. – Empurrou-a.

A neta de Frederico caiu sentada.

-- Cloud! – Gritou. – Leve-a para a cabana e não deixe que ela saia de lá.

O homem assentiu.

O jipe levou–as por entre as árvores, até chegarem a uma clareira onde uma pequena cabana se
erguia. Era rústica, toda feita em madeira, pequena.

Ao entrar, percebeu que havia apenas uma mesa, uma esteira forrava ao chão de terra batido.

Cobertores estavam dobrados ao lado, não havia eletricidade, mas pode ver alguns lampiões.

Havia uma porta lateral e lá havia um banheiro que não combinava com o resto do lugar. Havia um
Box, uma tina de madeira, um espelho... Tolhas... Um pequeno pote de barro, lá havia água.

Voltou para o outro cômodo, sentando em uma cadeira.

Instantes depois, a porta foi aberta e o piloto entrava trazendo consigo uma bolsa.

-- Seu almoço! – Deixou sobre a mesa.

O homem já estava saindo quando ela o deteve.

-- Onde está a Vitória? Quero falar com ela.

-- Resolvendo problemas. – Disse simplesmente indo embora.

Clara bateu forte contra a palma da mão. Estava perdendo a paciência...


Miguel encontrou com a esposa na delegacia.

-- O que houve? – Ele se adiantou preocupado.

-- Onde está a sua sobrinha? – Valentina passou a mão pelos cabelos. – Preciso que ela venha aqui
imediatamente. – Respirou fundo. – Já virei a cidade atrás dela e não a encontrei.

-- Por quê?

-- Há uma denuncia contra ela... – Sentou, cobrindo o rosto com as mãos, entregando-lhe a intimação. –
Miguel, a Clara casou com o Marcos e a condessa a raptou do fórum.

-- O quê?! – Falou perplexo.

-- Eu não sei se me preocupo em prender a ruiva indomável ou me preocupo com o que ela vai fazer
com a Duomont.

Miguel sentou, os olhos mostravam o terror que passava em seus pensamentos.

Clara esperou impacientemente durante todo o dia. Ao anoitecer, banhou com a água que Cloud tinha
trazido.

Quando retornou ao cômodo. Observou que um colchão fora colocado lá, com alguns travesseiros e
cobertores.

Um dos lampiões tinha sido aceso, deixando a cabana um pouco iluminada.

Retornou para a cadeira.

Decerto já havia escurecido lá fora.

A porta se abriu violentamente e lá estava ela.

A poderosa condessa entrou, trazendo consigo a imponência de sua presença forte.

Ela tinha trocado de roupa. Agora usava roupa de montaria, os cabelos estavam molhados, mas onde
ela tinha passado todo aquele tempo?

A ruiva caminhou até ela, colocando sobre a mesa uma garrafa de cachaça e dois copos.

Sentou-se.

-- Vamos comemorar seu casamentinho! – Sorriu diabólica. – Essa é das boas, a Larissa me garantiu
que não tinha melhor. – Encheu os copos. – Beba! – Tomou tudo de uma vez.

-- Não quero essa porcaria que sua amante preparou especialmente para ti. – Empurrou o copo. –
Quero ir embora daqui agora mesmo.

-- Ah, não diga que não comemorar porque o noivinho não está aqui... – Debochou.

Clara sentia o ciúme queimar seu peito.

Desejava contar para a ruiva que tinha recobrado a memória, mas a raiva começava inflamar.

-- A é? – Debochou. – Só vai voltar quando eu quiser. – Encheu o copo mais uma vez, levando aos
lábios.

-- Engraçado que até ontem você me ignorava completamente e agora me traz para o meio do mato e
me prende aqui. – Apoiou-se na muleta, levantando-se. – Deixe-me ir Vitória, não ficarei aqui observando e
nem sendo salvo de sua raiva.

-- Raiva? Alvo da minha raiva? – Bateu forte na madeira. – Logo eu que fui um cordeirinho durante
todo o tempo de sua amnésia, eu que fiz tudo para não te assustar, que agi como uma verdadeira santa...

-- Vitória, eu...

-- Beba! – Ordenou, interrompendo-a.

A Duomont respirou fundo, se apoiou na mesa, pegou a garrafa, levando a boca, tomando grandes
quantidades de uma vez só.

Ao terminar jogou o vasilhame contra a madeira.


-- Está satisfeita? – Gritou. – Agora me deixe em paz.

Mattarazi se levantou, deu a volta à mesa, caminhando até ela, segurou-lhe o pulso.

Observou o anel repousar ali, como se fosse uma faca em seu peito.

Bruscamente o tirou dela, jogando-o fora.

-- Desdenhou do meu amor durante todo esse tempo para casar com aquele engomadinho às minhas
costas. – Tentava conter a fúria. – Mas agora eu vou me vingar de ti. – Pressionou-a ainda mais contra a mesa. –
Eu fiquei quieta durante todo esse tempo, me mantive distante... Fugindo. – Rasgou-lhe a camiseta, deixando os
seios redondos livres. – Acha que vai se entregar àquele miserável. – Apertou os montes fortemente. – Eu sou a
sua dona...

Clara gemeu, tentando afastá-la em vão.

Fitou-a.

Agora entendia porque as pessoas temiam tanto àquela mulher.

O rosto estava transformado, não havia resquícios de qualquer tipo de sentimentos em sua expressão.

Apoiou as mãos na madeira, temendo cair.

-- Eu tenho vontade de te matar, mas a vontade de te comer é ainda maior... – Abocanhou o seio
esquerdo.

A Duomont mordeu os lábios para não gemer, sentindo o corpo em brasas.

Odiou-se por isso. Odiou-se por não ter forças para resistir a ela.

Vitória a sentou sobre a mesa.

A boca da ruiva lambia gostosamente, mamando, deliciando-se com os mamilos, mordiscava...


Apertava-os.

-- Eu sei que você quer... – Encarava-a. – O seu cheiro diz isso... – Abriu-lhe o short, colocando mão
dentro. – Veja... – Dizia com a respiração ofegante. – Você me pertence...

Clara tentou se livrar do toque, mas a ruiva foi muito mais persuasiva.

-- Tomarei o que é meu... – Sussurrou em seu ouvido. – Se lutar, eu vou amar, tomá-la à força... Então
você escolhe como vai ser...

-- Vitória, por favor, deixa eu te dizer que...

-- Calada! – Gritou. – Estou cansada das suas palavras, você fere, tem essa carinha de anjo, mas é
cruel...

A neta de Frederico pareceu aceitar a derrota, suspendendo os quadris para que ela lhe tirasse o resto
da roupa, abrindo-se para ela. Dando-lhe o que mesmo quando estava desmemoriada sabia que lhe pertencia.

Sim, deveria se revoltar contra a forma que a condessa agira consigo, sabia que deveria empurrá-la e
não permitir que ela a tomasse daquele jeito, porém como ganharia aquela batalha?

A empresária passou os dedos por todo sexo úmido, lambuzando-lhe os dedos, depois levou a própria
boca, chupando o líquido abundante.

Clara mordeu o lábio inferior, estreitando os olhos diante das ações de sua amada que parecia
degustar um sorvete... Lambendo toda a cobertura presente em sua mão.

Sentiu-a invadir forte e gritou diante do impulso poderoso.

Vitória segurou-lhe firme os cabelos, em seguida tomou os lábios em um beijo impulsivo.

A veterinária sentia as investidas bruscas, enquanto sentia a boca sendo esmagada, machucada
sensualmente...

-- Já que é uma mulher casada, não posso fazê-la minha esposa... – Ouviu-a gemer, quando meteu mais
forte. – Então vai ser a minha puta... Minha puta... – Gritou.

A jovem tentou empurrá-la, mas a condessa lhe segurou os braços sobre a mesa.

-- Tá bravinha, Branca de Neve. – Mordiscou-lhe o pescoço. – Assim vai me deixar ainda mais excitada.

Levantou-lhe uma das pernas, apoiando-a sobre o tampo, deixando-a totalmente aberta para si.
Clara viu-a agachar, se posicionando entre seu corpo vibrante, sua sexualidade gritando pela
respiração que se encontrava tão próxima.

-- Veja como estou molhada... Veja como treme por mim... – Depositou um beijo rápido.

Explorou a virilha, cravando os dentes na lateral de sua coxa, torturando a jovem que parecia ter
perdido total consciência do que se passava naquele momento.

-- Quero sentir sua boca... – Pediu. – Chupa... Preciso senti-la... Eu preciso...

A gargalhada arrogante encheu o pequeno espaço, mas o pedido estava prestes a ser atendido.

A pontinha da língua tocou o clitóris... Brincando... Sentindo-o enrijecido... Beijou-o...

A Duomont mexeu o quadril querendo mais, implorando por mais...

Vitória entendeu o recado... Agora, sugava o mel que escorria deliciosamente... Chupou-a...
Obedecendo ao vai e vem imposto por ela... Penetrou-a com a língua... Invadindo o espaço... Explorando...
Inalando o aroma de desejo...

Afastou os grandes lábios para ter maior acesso, degustando... Sentindo o sabor de tamanha iguaria,
sentindo a fome ficar ainda maior...

-- Ain... – Branca de neve fechou os olhos se deliciando com o toque ousado. – Condessa... – Dizia rouca.

Seu sexo vibrava... Parecia não poder resistir por tanto tempo a tanto prazer...

Mattarazi continuou a sugar enquanto a penetrava mais uma vez... Meteu um dedo... Depois outro...
Colocando mais um...

-- Deseja rasgar-me...-- Clara gemeu alto, mas de repente o ato foi interrompido.

A condessa se afastou, despindo-se rapidamente, ficando totalmente nua.

A bela morena sentiu uma vontade louca de tomar aquela mulher para si... Tentou descer, mas foi
impedida.

A ruiva caminhou elegantemente até ela, ainda com as botas de cano alto. Pôs-se em meio as suas
pernas.

A neta de Frederico tocou os seios rosados, sentindo a maciez em suas mãos, enquanto os sexos se
uniam...

Encararam-se...

-- Você quer... – Rebolou, esfregando-se a ela. – Você é minha, princesinha de contos de fadas... – E se eu
quiser rasgá-la o farei...

A Duomont circundou o mamilo com a língua, enquanto mexia gostoso o quadril, não afastando o
olhar do seu rosto.

Mamou gostoso, enquanto sentia-se a pele toda lambuzada pela excitação da poderosa ruiva...

As fricções aumentavam cada vez mais...

-- Sente como estamos encaixadas... Veja como nos completamos... – Acelerava mais os movimentos... –
Você foi feita pra mim... – Dizia com a respiração acelerada a ruiva. – Você vai ser minha por todos os dias da
minha vida... Quantas vezes eu desejar... Não vai se negar a mim ou a tomarei... Vai dar pra mim sempre que eu
quiser...

A morena a fitou.

-- Eu te amo, condessa... – Falava por entre os dentes. – Sou sua e seria por todos os dias das nossas
vidas, mas para ter-me a hora que quiser vai ter que fazer por onde, vai ter que merecer...

Então a dor e a angustia de todos aqueles dias explodiram em um delicioso orgasmo, unindo-as em um
abraço forte...

Clara arranhou-lhe as costas, trêmula nos braços da amada que ainda continuava a rebolar, até seu
grito de satisfação invadir a noite escura.

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Capitulo 32 por gehpadilha
Clara jazia com a cabeça apoiada no ombro da condessa, enquanto sua respiração voltava ao
normal. Por um momento chegou a pensar que necessitaria de sua fiel bombinha, porém conseguira se
controlar e o oxigênio chegou aos seus pulmões.

Ouviu os sussurros da amada, sentindo o prazer de senti-la ali, agarrada em si, a respiração voltando
ao normal.

-- Por que casou com ele? Por que fez isso? Você o ama? – Encarou-a.

A Duomont acariciou o rosto bonito que agora não trazia mais aquele ar implacável.

-- Eu o fiz por que... – Mordeu o lábio inferior. – Fiz porque temi por sua vida... Temi que uma
desgraça ocorresse...

Vitória afastou-se.

-- Do que falas?

-- Marcos já sabe do que houve entre nós e ameaçou... – Cobriu-se com o resto da blusa. – Ameaçou te
matar...

--Quê? – Passou a mão pelos cabelos despenteados. – Como o desgraçado pode te ameaçar assim? E
por que teve que aceitar isso? Eu sei muito bem me defender... Eu que vou matá-lo. – Afastou-se.

-- Fiquei assustada... – Observou-a.

Sabia que a ruiva continuava fora de si e entendia o desespero demonstrado por seus gestos.

Lentamente desceu da mesa, sentiu as pernas sustentar seu peso. Caminhou lentamente até onde a
ruiva se encontrava.

-- Vitória... – Chamou baixinho. – Não estou mais com amnésia...

-- Como assim?! – Perguntou perplexa. – Quando sua memória retornou?

-- No fórum... No momento que você estava lá e esbravejou... Foi como um raio clareando todos os
recantos do meu cérebro.

A condessa a segurou pelos ombros fortemente.

-- Antes de assinar aquele maldito papel? Fala! – Gritou. – Antes ou depois de aceitar ser a esposa
daquele miserável? Apunhalou-me, mesmo recordando tudo que nós tínhamos vividos... Até onde vai sua
crueldade?

Clara se desvencilhou do toque grosseiro.

-- Não ouse me tratar assim, não aja como se eu tivesse feito por vontade e te responderei... –
Apontou-lhe o indicador. – Quando assinei o papel eu ainda não me lembrava de nada, porém não sei se teria
feito diferença, afinal eu não desejava que nada de ruim te acontecesse.

A ruiva a fitou durante alguns segundos, parecia estar ponderando sobre o que ouvia.

Batidas na porta interromperam a discussão que já se iniciava.

Vitória caminhou pacientemente até uma pequena valise, retirando dois roupões de seda negra,
entregou um a mulher e o outro vestiu.

Percebendo que a Duomont já estava apresentável, abriu a porta.

-- O que houve, Cloud? – Perguntou aborrecida. – Por que está aqui? Disse para ninguém me
perturbar. – Repreendeu-o.

-- Perdoe-me, mas... O senhor Miguel chamou no rádio, está preocupado, pois... Pois há uma
denuncia contra a senhora, na verdade a senhora está sendo considerada fugitiva.

-- Qual crime cometi? – Arqueou a sobrancelha em sarcasmo.

-- Sequestro da esposa do senhor Ferraz. – Respondeu com relutância.

A ruiva caminhou até ele, convidando-o a se retirar.

-- Já pode sair!
O homem assentiu, deixando-as sozinhas.

-- Temos que retornar, Vitória. – A morena começava preocupada. – Não quero que tenha problemas
com a lei.

-- Não irei permitir que passe um segundo sequer ao lado daquele miserável, eu sim o matarei se ele
por as mãos em você.

-- Ele não colocará, ninguém nunca o fará porque te pertenço de corpo e alma... – Segurou-lhe o
braço. – Vamos voltar, eu esclarecerei as coisas e direi que não foi um sequestro, direi que vim de livre e
espontânea vontade.

A condessa estreitou os olhos, analisando-a.

Mattarazi ainda estava ferida, ainda se sentia traída pelas ações da jovem, porém não conseguia
evitar a vontade de tê-la mais uma vez em seus braços.

Afastou o tecido, deixando os seios à mostra. Incitou o mamilo com as unhas, vendo-a fechar os
olhos.

Clara percebeu a peça de roupa indo ao chão, mas permaneceu onde estava, esperando.

Vitória caminhou até a cadeira, retirou o roupão, sentou-se de pernas abertas.

A morena sentiu o estremecimento percorrer a espinha.

Mesmo trêmula, conseguiu caminhar até onde a ruiva estava. Observou-a atenciosamente, os seios
redondos e fartos, as pernas torneadas...

-- Sente-se... – A condessa fitou-a. – Venha...

A neta de Frederico fez o que ela tinha dito, montando-a, de frente para ela.

-- O que deseja? – Perguntou rouca. – Deseja conversar sobre o quê? – Fitou os olhos intensamente
verdes. – Diga o que quer?

A condessa tomou os seios em suas mãos, deliciando-se com a maciez, com os mamilos que se
apresentavam intumescidos.

Observou-a inclinar a cabeça para trás, deixando o colo ainda mais acessível ao seu toque.

-- Não quero conversar, ainda estou furiosa contigo... – Baixou a mão tocando-lhe o sexo. – Te
machuquei? – Acariciou-lhe externamente, sentindo os pelos ralos. – Eu enlouqueço, perco o controle das
minhas ações...

Clara a fez tocar mais intimamente em si. Seu corpo já respondia às carícias... Já vibrava... Sentiu-a
lhe preencher, movimentou o quadril para encaixar melhor...

Ao abrir os olhos, encontrou as lindas esmeraldas fitando-a. Sustentou-os, enquanto era invadida...

Aquele ar de arrogância presente naquele rosto era capaz de levar qualquer um ao maior de todos
os patamares. Mirou os lábios e sentiu um frenesi invadir todo o seu corpo ao imaginar as delícias que aquela
boca era capaz de fazer.

A condessa a segurou pelas costas, trazendo-a mais para perto...

-- Sabe quanto eu quis isso durante todo esse tempo... – Tocou o mamilo com a ponta da língua. –
Tem ideia de como me deve uma compensação... – Prendeu-os em seus dentes.

A Duomont cravou as unhas em seus ombros.

Mordeu o lábio inferior com tanta força que sentiu o sabor do sangue.

Deteve-lhe o movimento!

-- Está querendo me machucar? – Disse com a respiração acelerada. – Eu também sei ferir, Condessa.
– Levantou-se.

Vitória a viu agachar diante de si, observou-a afastar suas coxas e continuou imóvel para o que viria.
Tê-la ajoelhada diante de si estava sendo mais excitante do que qualquer outra coisa.

Clara colou os lábios na lateral da junção do sexo. Fez demoradamente, como se houvesse todo o
tempo do mundo para isso, seguiu até a virilha... O contanto da língua arrancou um rugido da ruiva...

A neta de Frederico a fitou com um sorriso enorme.


-- Começo a pagar agora a minha enorme dívida... E continuarei a lhe compensar, com a condição de
que seja só minha por todo o sempre... – Depositou um beijo na intimidade vibrante.

A bela Mattarazi inclinou a cabeça para trás... Abriu-se mais e delirou ao sentir o beijo ousado...
Molhado... A língua penetrando-a de forma impetuosa... Açoitando-a como a um escravo...

-- Ah, Branca de Neve... Como posso ser de outra... – Gemeu alto... – Como posso me entregar a outros
se só você me faz enlouquecer...

Clara ouviu o grunhido animal que escapou da amada e continuou possuindo-a, sentindo o sabor de
todos aqueles dias de abstenção, lambuzando a face diante de tanto mel...

Sentia-a rebolar em sua boca...

Fundiu seu tanto ... O fez um... Depois a ouviu pedir mais... Fazendo-o mais fundo, mais rápido...

-- Ah... ain... ain...

A respiração da ruiva estava cada vez mais acelerada...

Levantou-se, quase derrubando a jovem.

Segurou-a pelo pulso, levando-a até a mesa. Posicionou-a com as mãos apoiadas no tampo, enquanto
a sentia se aproximar, colando-se a ela...

A Duomont sentiu-a puxar seus cabelos, forte, deixando o pescoço acessível aos seus lábios.

-- Nunca será tocada por outro... – Desceu a mão até seu sexo. – Vai ser minha por toda a eternidade...
Minha...

Vitória esfregava seu sexo ensopado no bumbum redondo na mesma intensidade que a penetrava...
Clara seguiu seu ritmo, até ultrapassando-o... Levando-a consigo para um mundo de prazer total...

Clarice estava possessa na delegacia.

-- Exijo que chame a força nacional para deter a psicopata da condessa. – Apontava o dedo para a
delegada. – Minha pobre Clara deve estar sofrendo tanto nas mãos daquela louca.

Valentina não sabia se explodia com a nora de Frederico ou ria na cara dela.

Cruzou as pernas, apontando uma cadeira para que a odiosa mulher se acomodasse.

-- Entenda que estou fazendo tudo que está ao meu alcance para encontra sua filha, mas o que posso
dizer de início é que elas não estão na cidade.

-- E você vai deixar assim?—Espalmou as mãos sobre a escrivaninha. – Não sabe que essa maldita
Mattarazi é uma louca, uma despudorada... Só Deus sabe o que ela pode fazer contra a minha menina.

A esposa de Miguel precisou morder a língua para não responder o que a condessa poderia fazer
com a jovem ingênua... Lembrou-se do dia que as flagrara no rio e percebeu que a princesinha dos Duomont
não era tão inocente assim.

-- Iremos encontrá-la o mais rápido possível...

-- Ah, quero fazer uma denuncia a mais... Ela me agrediu no fórum.

-- Te agrediu? – Arqueou a sobrancelha. – Isso não foi dito, apenas a questão do sequestro e agressão
ao noivo.

-- Eu me esqueci. -- Levantou-se. – Ela me agrediu, irei abrir um processo contra ela. – Falava
indignada. – Quero que ela apodreça na prisão por tudo que fez.

Valentina maneou a cabeça afirmativamente. Esperava que a Vitória aparecesse o mais rápido
possível para resolver essa situação, sabia que Miguel já estava mexendo seus pauzinhos para que a sobrinha
não precisasse ficar presa, porém ela já estava sendo considerada foragida.

Clara despertou.

Inicialmente, estranhou o lugar onde se encontrava, até seus olhos se acostumarem com a
penumbra que invadia o ambiente.

Estava sozinha no colchão.


Tivera uma noite maravilhosa com a ruiva, dormira exausta de tanto fazer amor. Chegara um
momento que pensou que não aguentaria tanto prazer, mas a cada toque seu corpo reagia mais
impetuosamente.

Sorriu!

Vitória era uma mulher muito passional, sem falar em como descontara sua raiva de forma tão
deliciosa.

A porta se abriu.

Imediatamente, cobriu-se, mas era a bela ruiva que aparecia.

Ela estava banhada, vestia calça preta de montaria, camiseta preta, botas e os cabelos estavam
úmidos.

-- Que bom que despertou, Branca de Neve. – Encostou-se à mesa, cruzando os braços na altura dos
seios. – Está confortável aqui? – Exibiu um sorriso debochado. – Não sente falta do seu castelo?

Clara percebeu a provocação naquela face, sabia que ela ainda estava irritada.

-- Não tenho castelos, senhora condessa. – Respondeu altiva. – Nem mesmo tenho onde morar, porém
tenho minhas mãos para poder trabalhar e conseguir me sustentar.

-- E seu maridinho?

-- Olha, Vitória, eu já expliquei o que aconteceu, já disse o que se passou, mas você continua a
remoer sua raiva, pense o que quiser, eu não me descabelarei para tentar por algo dentro dessa sua cabeça
dura.

A Duomont observou os olhos verdes se estreitar ameaçadoramente.

A ruiva caminhou até uma bolsa que não estava ali na noite passada. Retirou uma muda de roupa,
jogando sobre o leito improvisado.

-- Se vista! Vou te levar para longe, te deixarei na capital, enquanto sigo para resolver meus
problemas com a delegada.

-- Não, Vitória. – Levantou-se, lentamente, foi até onde ela estava sem se vestir. – Precisa me levar, eu
deporei ao seu favor, explicarei que não fui levada contra a minha vontade.

Mattarazi a mirou de baixo para cima, fazendo a jovem corar diante do despudor que demonstrava
em seu olhar atrevido.

-- Não permitirei que se aproxime daquele miserável. – Pegou as roupas, entregando em suas mãos. –
Não provoque a minha paciência.

-- Meu Deus, condessa, como pode ser tão irritante e arrogante desse jeito? O que devo fazer para
mostrar que não tenho nenhum interesse nesse casamento, que o fiz porque temi por sua vida.

A ruiva lhe segurou pelo braço.

-- Mesmo sendo assim, você se casou com aquele desgraçado e isso ainda não foi digerido por mim.

-- E o amor que demonstrei sentir não te importa? Vamos começar com isso novamente? Vai deixar o
seu maldito orgulho e arrogância destruir o que temos?

Vitória fitou os olhos negros.

Lembrou-se dos dias de agonia, dos momentos que sofrera por sua amada não se recordar do grande
amor que a unia... Da dor de ver o desprezo naquele olhar que agora demonstrava o sentimento tão intenso
que unia ambas.

Recordou-se da noite passada, quando não só os corpos se fundiram, mas as próprias almas
seguiram o mesmo ritmo...

Abraçou-a forte.

-- Perdoe-me, princesa. – Sussurrou. – Estou cega de ciúmes, estou cega de raiva daquele desgraçado
do Marcos...

-- Não fique... – Tocou-lhe a face. – O meu amor por ti é maior do que tudo... – Tocou-lhe os lábios. –
Mesmo quando eu estava desmemoriada ainda te amava, mesmo não aceitando esse sentimento, mesmo me
negando a ceder, eu me apaixonei novamente por ti...
Clara viu uma lágrima solitária se soltar da fortaleza da sua orgulhosa mulher.

-- Eu te amo, minha doce Branca de Neve, amo-te com tudo que sou, mesmo tendo tantos defeitos...
Amo-te com meu corpo... Com minha alma... Sou sua... Te quero ao meu lado por todos os dias da minha vida...

O beijo que a uniu dessa vez fora paciente, fora acolhedor... Apaixonado... Compreensivo em sua
extensão enamorada...

Miguel chegou à delegacia e minutos depois o carro estacionou e lá estava a sua sobrinha.

Eram quase três da tarde.

Ficou surpreso ao ver Clara ao lado dela.

Bem, esse sequestro fora uma verdadeira fuga de amor, isso sim.

-- Bem, já tem o Habeas corpus? – A ruiva parecia debochada. – Espero não ter que ficar presa.

-- Você sabe que não deveria ter feito isso. – O advogado a repreendeu.

A Duomont se aproximou.

-- Olá! – A jovem sorriu simpática.

-- Ah, quero que entre com os recursos necessários para anular esse casamento. – Segurou a mão da
veterinária.

-- Bem, o matrimônio não foi consumado...

-- Sim, e como foi... – Sorriu sarcástica. – Mas não com ele.

Não conseguia saber quem ficara mais corado diante da declaração ousada da empresária.

Miguel pigarreou, enquanto Clara se desvencilhou do toque seguindo para o interior do prédio.

Valentina observava alguns papéis quando foi informada da presença da Mattarazi.

Observou a tranquilidade no rosto de Vitória e ficou a pensar se aquela mulher não tinha medo de
nada. Sempre com aquele ar sarcástico, aquele jeito orgulhoso... Seria um prazer prendê-la, porém seu marido
já tinha mexido os pauzinhos para evitar isso.

-- Não será dessa vez que realizará seu sonho, delegada. – A ruiva sentou, cruzando as longas pernas.

-- Não ouse vim com seus deboches ou a trancafio e a deixo apodrecer na cela mais suja que tiver.

-- Sob qual acusação? – Desafiou-a.

Miguel puxou a cadeira para que Clara se acomodasse e fez o mesmo.

-- Não acho que esse seja momento para rixas pessoais, estamos aqui para esclarecer o que
realmente se passou. – O advogado tentou amenizar o clima. – A senhorita Duomont esclarecerá tudo.

Valentina fitou a jovem.

-- Saia, Vitória, desejo falar inicialmente com a Maria Clara.

A condessa assentiu.

-- Não vai chamar o escrivão para anotar o depoimento? – O advogado se adiantou.

-- Você também é o representante legal dela? – A delegada o fuzilou com o olhar.

-- Não tenha dúvidas sobre isso.

Valentina discou e rapidamente um homem magro, alto e usando óculos apareceu.

A condessa folheava uma revista, quando ouviu a voz esganiçada da sogra.

-- Como pode estar aqui? Deveria estar trancafiada. – Falava agressiva. – Isso é um absurdo, acha
que pode agir como bem quer só porque tem dinheiro?
Vitória nem mesmo se deu o trabalho de fitá-la, continuou sua leitura.

Não desejava arrumar problemas com aquela mulher, pois apesar de não suportá-la, não poderia
esquecer que se tratava da mãe de sua amada.

-- Onde está minha filha? O que fez com ela?

Valentina estava terminando de tomar o depoimento de Clara quando ouviu os gritos fora da sala.

Rapidamente, todos seguiram até lá e viram Clarice esbravejando, enquanto a ruiva permanecia
impassível.

-- Mamãe, chega disso. – A Duomont foi até a mulher. – Eu estou bem, não aconteceu nada comigo.

A nora de Frederico a abraçou.

-- Vamos agora mesmo até o seu marido, ele está desesperado.

A jovem se desvencilhou do carinho.

-- Não irei e também não considero Marcos como marido. – Observou o olhar surpreso da mulher. –
Hoje mesmo entrarei com um pedido de anulação, não desejo ter nenhum vínculo com ele.

-- Você enlouqueceu? – Gritou histérica. – Só pode ter perdido o juízo, eu não permitirei que anule o
seu casamento.

A ruiva se levantou.

-- Já pode tomar meu depoimento? – Falou ignorando a discussão. – Clara, vá para a fazenda, o Cloud
irá contigo.

-- Ela não irá a lugar nenhum, sua maldita bastarda. – Puxou-lhe o braço violentamente. – E você,
delegada incompetente, não terá coragem de prender a sobrinha do seu marido?

Vitória empurrou tão violentamente a esposa de Felipe que se Miguel não tivesse se antecipado, Clarice
teria ido ao chão.

-- De que a senhora está falando? – Indagou com o maxilar trincado.

A veterinária fitou a mãe com um olhar de advertência.

-- Vamos, condessa, tomarei seu depoimento agora... – A delegada se antecipou.

-- Não! Só sairei daqui quando essa mulher explicar o que quis dizer. – Caminhou até onde ela estava.
– Explique-se.

Clarice se soltou dos braços do advogado, sorriu diabolicamente, encarando sua inimiga.

-- A verdade é que a prostituta da sua mãe era irmanzinha do seu querido advogado, imagino que ele
nunca contou isso para ninguém porque deve se envergonhar de ter uma bastarda como membro de sua
ilustre família, fruto de um estupro...

-- Chega, mamãe! – Clara gritou, interrompendo-a.

A bela Mattarazi fitou a todos, antes de sair da delegacia sem falar uma única palavra.
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Capitulo 33 por gehpadilha
Miguel seguiu apressadamente atrás de Vitória, mas ela correu até o automóvel, saindo em alta
velocidade em seu carro.

O advogado retornou frustrado para onde estavam todos.

-- Não a alcancei. – Disse tristemente, passando as mãos nos cabelos. – Ela não parou quando a pedi
para parar.

Clarice sentou despreocupadamente, como se não tivesse feito nada.

-- Por que fez isso, mamãe? Por que disse aquelas coisas para ela? – Clara indagou mostrando total
decepção.

-- Só disse a verdade, afinal, a bastarda precisava saber que era sobrinha desse aí.

Valentina caminhou ameaçadoramente até ela.

-- Como ficou sabendo disso? Quem te contou?

A nora de Frederico folheou despreocupadamente a revista.

-- Ouvi a Clarinha falando com o pai, simples. – Sorriu para a delegada.

Clarice se levantou.

-- Agora vamos embora, Clara, o Marcos está louco atrás de ti. – Segurou-lhe o braço.

A jovem se desvencilhou furiosamente do toque.

-- Eu não irei a lugar nenhum, ainda mais atrás do Marcos, entenda uma coisa de uma vez por todas. –
Encarou-a. – Esse casamento será anulado, só assinei aquele maldito papel porque temi pela vida da Vitória,
mas agora nada me fará levar à frente essa palhaçada.

-- Está louca? – A mulher parecia escandalizada com as palavras da filha. – Ele é o seu marido, foi
prometida a ele desde que era uma menina.

-- E acredite, eu nunca quis machucar ninguém, mas não podemos mandar em nossos corações. –
Passou a mão pelos cabelos. – Eu estou apaixonada pela condessa, sim, pela bastarda como tu a chamas, eu a
quero em minha vida e farei tudo para ficar ao lado dela.

-- Só pode ter perdido o juízo...

A Duomont não se preocupou com o surto demonstrado pela mãe.

-- Dê-me as chaves do seu carro, Miguel, irei atrás da Vitória, tentarei falar com ela.

O advogado pareceu relutante, mas sabia que se alguém podia falar com a ruiva naquele momento,
essa seria a sua amada.

-- Por favor, tente acalmá-la e me avise assim que a encontrá-la.

Clara assentiu, saindo em seguida.

-- Ela está louca! – Clarice comentou ao vê-la se afastar. – Tudo culpa dessa miserável, vou matá-la.

Valentina a segurou pelo pulso.

-- Saia daqui antes que eu a prenda porque já estou cansada dos seus ataques.

A esposa de Felipe arregalou os olhos, mas ao ver a determinação no olhar da delegada, afastou-se
imediatamente.

-- Como a Clara pode ser filha dessa mulher?! – A delgada se aproximou do marido. – Tudo vai se
resolver, pode ter certeza disso.

-- Eu deveria ter falado a verdade para ela, esse tempo todo e eu nunca tive coragem de falar.

-- Você temeu que ela não aceitasse bem, teve medo da reação dela.

-- E agora? – Encarou-a.

-- Agora temos que ter paciência e rezar para que a Duomont consiga acalmar a fera e quando isso
acontecer você falará com ela e contará toda a verdade. – Abraçou-o. – Mas toda a verdade e não essas
barbaridades que essa louca acabou de dizer.

A condessa dirigiu, dando voltas por toda a cidade. Decidiu seguir até a fazenda, seguindo para o
estábulo, nem mesmo selou Bastardo, montando em pelo.

Batista foi a sua direção, mas ela passou por ele feito um raio.

A ruiva sentia os cabelos sendo despenteado pelo vento. Não demoraria ao sol se por, mas a única
coisa que desejava era ficar sozinha, longe de todas aquelas pessoas que fingiam demonstrar qualquer tipo de
sentimento por si.

Esporeou mais o garanhão, sentindo-o dar o máximo naquela cavalgada sem destino.

Nunca em sua vida se preocupara em saber quem a trouxera àquele inferno. Nem mesmo tinha uma
imagem dela, nem mesmo seu nome sabia.

Passara toda vida odiando-a secretamente, odiando-a por tê-la trazido ao mundo, odiando-a por tê-la
deixado sozinha, odiando-a por ter partido sem se importar em deixá-la com uma família que nunca a amara.

Quem fora essa mulher que fora envolvida pelas teias de Vitório Mattarazi?

Em toda sua vida, sua madrasta se referia a ela como sendo a empregadinha, a prostituta... Dentre
tantos outros predicativos pejorativos.

Estava tão distraída em seus pensamentos que nem percebeu que Bastardo a tinha levado até o rio.

Permaneceu sobre o animal durante algum tempo, até que desmontou.

Observou o enorme rio.

Aquele fora um dos seus refúgios durante toda a vida...

Sentou sobre uma enorme pedra, observando a água agitada, assim como ela estava naquele
momento.

Teria realmente sido fruto de uma relação de estupro?

Sabia que o conde era um devasso, um canalha que não poderia ver uma bela mulher que corria para
a sua cama. Quantas vezes ouvira as discussões da orgulhosa Kassandra? Quantas vezes a viu gritar com
Vitório, ameaçando-o deixá-lo ou pior, ameaçando-o acabar com sua vida?

-- Maldição!

Por que as coisas não podiam ser diferentes para si?

De tudo que se passou, só algo fora verdadeiramente maravilhoso e verdadeiramente valera a pena.

Maria Clara Duomont!

Temia destruir a vida da sua linda princesa, temia que seu gênio lhe afastasse... Temia feri-la... Destruí-
la com a escuridão que habitava em sua alma.

Clara seguiu até a fazenda e descobriu que a condessa tinha saído com o Bastardo.

Não podia seguir de carro, pois o automóvel não teria acesso a todos os lugares.

Sabia que ainda não estava bem completamente, mas precisava de um cavalo e era isso que faria.

Seguiu até o estábulo, não havia ninguém lá, só sua linda Branca de Neve.

Observou que o animal pareceu feliz em vê-la, mas será que não seria jogada ao chão se a montasse?

Bem, iria arriscar.

Selou rapidamente a égua.

-- Por favor, princesa, não me jogue, pois não sei se minhas pernas aguentariam mais uma queda...

Alex seguiu até a delegacia.


Valentina pareceu surpresa com a presença do jornalista, mas o recebeu.

-- Preciso lhe entregar algo. – Depositou uma pasta sobre a mesa.

-- Do que se trata? – Indagou curiosa, pegando o envelope.

-- Queria falar com a Vitória, mas não tenho tempo para isso, então lhe entrego as provas que
necessita para prender Otávio e Marcelo. Faça-o antes que eles tentem algo contra a condessa.

-- Do que está falando? – Abriu o envelope.

-- Não posso dizer muita coisa. – Levantou-se. – Aí tem gravações e documentos, tudo que precisa.

-- Por que está fazendo isso?

-- Por quê? – Virou-se para ela. – Porque eu passei a minha vida apaixonado pela poderosa ruiva. –
Sorriu. – Passei a vida admirando a forma maravilhosa dela agir e não aceitarei que uma covardia a mate.

-- Você era amigo do covarde... – Constatou.

-- Não, eu tinha negócio com ele e agora não me interessa mais.

A delegada observou o homem se afastar, abrindo rapidamente a encomenda deixada por ele.

Clara já estava desistindo da sua busca quando se lembrou do rio e seguiu até lá, encontrando sua
amada.

Desmontou, seguindo até onde estava a amada.

Vitória ao vê-la aceitou o abraço.

Apertou-a junto ao seu peito sem nada a dizer, apenas sentindo o conforto de tê-la ali.

Mesmo que vivesse mil anos era aquela mulher que desejava que estivesse ao seu lado, era aquele
olhar doce e ao mesmo tempo forte que a sustentara por tanto tempo.

-- Ah, minha condessa... – Sussurrou em seu ouvido. – Que bom que te encontrei.

A ruiva a fitou, segurando a face bonita em suas mãos.

-- Você sempre vai me encontrar, não é, minha Branca de Neve, mesmo quando estou tão perdida...

Clara circundou-lhe a cintura.

-- É porque eu te amo tanto que te sinto.

Vitória lhe acariciou os cabelos.

-- Já está anoitecendo, não quero que corra o risco de uma cobra te atacar.

-- Ela não se atreveria, todos temem a poderosa Mattarazi.

-- Você também? – Arqueou a sobrancelha em zombaria.

-- Com certeza... – Esboçou um enorme sorriso. – Vamos para casa?

A empresária se afastou, mordendo o lábio inferior.

-- Não quero!

A Duomont deu a volta, ficando mais a sua frente.

-- Meu amor, dê uma chance para o Miguel, deixe que ele explique tudo, não cometa o erro de
acreditar nas palavras amargas da minha mãe.

-- Você já sabia?! – Voltou a sentar na pedra. – Por que não me disse?

-- Porque esse segredo não me pertencia, porque eu não poderia simplesmente te contar algo que fazia
parte da história de outra pessoa.

Vitória pegou um pedaço de cascalho jogando forte dentro da água.

-- E por que ele não me disse? Nos conhecemos há muito tempo, ele viu o que eu passei, viu como fui
massacrada pro todos...
Clara tomou-lhe as mãos mais uma vez.

-- Sim, ele viu e sempre esteve ao seu lado, mesmo quando reprovava suas ações, nunca te abandonou,
nunca te deixou sozinha, mesmo quando sua arrogância era maior do que tudo, mesmo quando seus atos iam
contra a tudo que ele acreditava. – Disse firme.

A ruiva baixou a cabeça, parecia ponderar o que lhe fora dito naquele momento.

Sim, ela estava certa.

O amor do Miguel sempre fora incondicional e nesses anos todos ele nunca se mostrara interessado
em seu dinheiro, chegara mesmo a se negar a receber um salário e só aceitou quando ela ameaçou demiti-lo.

Quando Vitor morreu fora em seus braços que achara apoio, que encontrara um carinho fraternal.
Tirando o irmão, fora aquele homem que lhe mostrara o que era o amor incondicional.

Levantou-se, estendendo-lhe a mão.

-- Vamos? Te dou uma carona no Bastardo. – Disse simplesmente.

Clara deu um assovio e a bela égua apareceu.

-- Bem, condessa, acho que não será necessário.

-- Sua perna?

-- Bem, essa já está mais do que perfeita, ainda mais depois dos exercícios de ontem... – Piscou ousada,
montando no animal.

-- Em seu currículo tem alguma especificação em domar feras? – Subiu no garanhão.

-- Isso eu aprendi sozinha. – Saiu em disparada.

A ruiva sorriu, seguindo-a.

Valentina sabia que precisava redobrar a segurança de Vitória.

Sua equipe já estava em busca de Otávio e Marcelo, mas os dois homens pareciam terem sidos
tragados pela terra.

Teve um encontro desagradável com Marcos, mas infelizmente não havia nada que o ligasse ao plano
sujo do pai, porém havia algo nele que a inquietava, ainda mais depois de ouvir o depoimento da Maria Clara.

Seguiu com os policiais até a delegacia, enquanto outros ficaram fazendo plantão nas residências dos
dois homens.

Discou o número de Felipe, precisava falar com ele, precisava fazer umas perguntas que deixavam o
assassinato de Frederico um pouco solto.

Depois de algumas chamadas, ouviu a voz simpática do homem.

-- Preciso vê-lo. – Disse depois de cumprimentá-lo.

-- Bem, delegada, não estou na cidade, vim ver um emprego aqui numa cidade vizinha.

Então ele não deveria saber de nada que aconteceu com a filha.

-- Quando o senhor retorna?

-- Mas o que houve? – perguntou preocupado. – Aconteceu algo com a Clara?

-- Não, não, ela está bem, mas preciso do seu depoimento sobre a morte do seu pai.

-- Ok, amanhã mesmo estarei aí.

Valentina agradeceu, encerrando a chamada.

Pensou em ligar para o Miguel, mas imaginou que naquele momento ele deveria estar na fazenda
Mattarazi tentando conversar com a Vitória.

Precisava ir para lá, precisava avisar do risco que ela estava correndo.
Miguel estava na sala.

Julieta já tinha lhe dado um chá para que ele mantivesse a calma, mas ele estava cada vez mais aflito.

Olhou para o relógio, já era tarde.

Estava decidido a ir atrás delas quando ambas apareceram.

-- Deixarei que vocês conversem.

Vitória segurou-lhe a mão.

-- Não! Fique... – Pediu.

A Duomont assentiu, sentando-se ao lado dela.

O advogado também se acomodou.

-- Quer que eu comece da onde?

-- O começo seria interessante...

Miguel fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Sua mãe e eu somos órfãs. – Começava pensativo. – Fomos criados em um abrigo. Eu era mais jovem
do que ela...

-- Como era... – Relutou. – Como era o nome dela?

-- Aline... – Sorriu. – Ela era linda, parecia um anjo, os seus lábios e nariz você herdou dela... – Fitou-a. –
Ela era uma sonhadora, queria conhecer o mundo, trabalhar e me levar para morar com ela... Então por
intermédio de outras pessoas, ela soube que uma família tradicional italiana necessitava de uma babá para
cuidar de uma criança, então ela foi...

Entregou-lhe algumas cartas, voltando para o lugar.

-- Ela não foi estuprada por seu pai como a Clarice disse... Você foi fruto de um grande amor que a sua
mãe sentiu por Vitório Mattarazi... – Uma solitária lágrima escapou. – Ela se apaixonou pelo jovem garboso,
poderoso e bonito... Ela o amou mais do que tudo e teria dado a vida por ele...

A condessa engoliu em seco.

Abriu um dos tantos envelopes e viu uma foto...

Era uma bela mulher de cabelos negros. Ela sorria e tinha o olhar apaixonado, o conde a abraçava.

-- Eu não posso dizer se o seu pai a amou, mas pelas palavras que ela me dizia, posso te garantir que
houve muito mais entre eles do que apenas um caso...

A ruiva levantou-se.

-- E por que não me disse quem era? Por que passou todos esses anos calado?

-- Porque eu tive medo do seu desprezo, eu via como você se referia a sua mãe, via a mágoa que trazia
e temi ser rejeitado.

-- Quem mais sabia disso? – Indagou com as mãos na cintura.

-- O seu irmão sabia e em muitos momentos pediu para eu te falar.

-- Por que não o fez? – gritou irritada. – Eu pelo menos teria alguém para estar ao meu lado, para saber
que fazia parte da minha história. Você sabe como foi difícil para mim todo esse tempo... Não vou me fazer de
vítima, pois esse papel não foi feito para mim, o que digo é que não suporto mentira, não suporto enganações e
é assim que eu estou me sentindo.

Miguel ainda abriu a boca para retrucar, mas diante da firmeza das palavras que ouviu, apenas fez
um gesto afirmativo com a cabeça.

Vitória levantou-se.

Seguiu até a lareira que enfeitava a sala, encostando-se a ela, dando as costas para os presentes.

Clara fitou o advogado e percebeu o olhar desolado que ele exibia, depois observou a ruiva.

Conseguia ver que ela tentava controlar a raiva, podia perceber a tensão em seus músculos, em suas
mãos que pareciam querer derrubar a parede.
Seguiu até ela, tocando em seu ombro. Sentiu se retesar.

-- Mesmo não dizendo quem era, o Miguel sempre esteve ao seu lado... Não leve isso como uma traição,
somos seres humanos e sentimos medo... Nem todo mundo é Vitória Mattarazi...

A condessa a fitou, mas antes que respondesse algo, Valentina apareceu afoita.

-- Vitória, preciso que você siga para um lugar segurou, leve a Clara consigo, vá para Roma, pelo
menos até eu conseguir solucionar os problemas.

-- De que está falando? – A ruiva a encarou. – Não me esconderei de nada e nem de ninguém. Explique
o que está acontecendo de uma vez por todas, delegada.

Valentina entregou as provas que Alex lhe deixou, em seguida, pediu que todos sentassem, falando
detalhadamente o que estava se passando.

A condessa não parecia surpresa e tampouco alarmada com o que era dito, ao contrário de Clara.

-- Eu não acredito que o Marcelo seja capaz de tramar algo assim. – A Duomont começava. – Eu o
conheço desde que era uma criança e sempre o achei o homem de caráter impar.

-- Com certeza... – Mattarazi falou em tom irônico. – Um caráter tão impar que dormia com a Helena,
enquanto ela era casada com meu irmão, melhor, tão impar, que estava extorquindo o seu querido vovô.

A jovem Branca de Neve pareceu não só surpresa, mas também magoada com as palavras.

-- Do que está falando? – Levantou-se.

-- Frederico disse isso na carta que deixou para a Vitória. – Miguel se adiantou, tentando controlar o
clima tenso que parecia se instalar.

-- Por que não me disse? – Encarou a condessa. – E você estava falando em não guardar segredos.

A ruiva fitou-a por alguns segundos.

-- Isso não vem ao caso agora. – Passou a mão pelos cabelos. – Mandarei a Clara para Roma, eu ficarei
aqui, pois desejo acompanhar esse processo de perto.

O advogado se impacientou.

-- Você não entende que corre risco ficando aqui? Não percebe que é o alvo deles?

-- Ele está certo, Vitória. – Valentina intercedeu. – Pelo menos até que os prendam.

-- Eu não irei, ficarei aqui e continuarei vivendo minha vida.

Todos pareceram frustrados com a atitude da ruiva que subiu as escadas sem falar mais nada.

-- Como pode ser tão teimosa! – A delegada fitou Clara. – Por favor, tente convencê-la. – Virou-se para o
marido. – Vamos embora, tenho muita coisa para fazer.

Miguel abraçou a jovem Duomont.

-- Obrigada!

A jovem sorriu, observando-os partir.

A condessa sentia a água lhe massagear os músculos.

O dia fora longo e parece que os acontecimentos não paravam.

Clara chegou ao quarto, sentando na cama.

Observou que a porta que dava acesso ao banheiro estava aberta e era possível ouvir o barulho da
água.

Pensou em ir até lá, mas sabia que se o fosse não haveria conversa entre elas. Sabia como seu corpo
era traiçoeiro quando se tratava daquela mulher.

Esperou pacientemente, até que a viu adentrar o espaço enrolada em uma toalha.

A ruiva a fitou com um sorriso preguiçoso.

-- Por que não me fez companhia?


A Duomont se levantou.

-- Eu não desejo brigar, então deixe seu sarcasmo de lado.

O sorriso da Mattarazi ficou maior. Prendeu-a em seus braços.

-- Você é linda... – Tocou-lhe os lábios, até senti-la corresponder ao beijo.

Clara a abraçou pela cintura, sentindo-a a língua brincar atrevidamente, explorando cada canto...
Chupando forte...

Espalmou as mãos em seus seios, afastando-a.

-- Vamos para Roma, irei contigo, ficaremos lá até que tudo seja resolvido.

-- Não irei. – Balançou a cabeça. -- Estou começando as obras para a encanação das águas do rio, logo
essas pessoas terão o que é necessário as suas vidas.

Clara se sentiu feliz em saber disso, mas a preocupação falava mais alto em seu coração.

-- Amor, vai ter tempo para isso, em breve tudo será resolvido e voltaremos para cá, por favor. –
Encarou-a. – Eu morreria se algo de ruim acontecesse com você.

Vitória segurou-lhe a mão, levando-a consigo até a cama. Sentou-se, colocando-a em seu colo.

Escondeu o rosto em seu pescoço, inalando o cheiro da amada.

-- Case-se comigo, Branca de Neve... – Mirou-lhe intensamente. – Seja minha esposa... Minha mulher...
Te quero na minha cama... Em minha vida... Mesmo que seja para me desafiar ...

Os olhos da Duomont brilharam... Sentiu a garganta seca...

-- É o que eu mais quero... – Tocou-lhe os cabelos molhados. – Mas precisa se cuidar.

-- Me cuidarei. – Sorriu. – Ainda mais agora que terei a honra de tê-la só para mim. – Beijou-lhe a mão.
– Você irá para Roma, ficará lá e eu te encontrarei o mais breve possível.

Clara se levantou, irritada.

-- Você é terrivelmente teimosa.

Vitória a observou seguir até o banheiro e permaneceu onde estava.

Não desejava discutir mais com a sua princesa, porém não fazia parte de sua personalidade se
esconder de nada e nem de ninguém, lógico que tomaria todas as precauções para se manter em segurança,
todavia sua maior preocupação era com a Duomont. Temia que eles pudessem, de certa forma, afetá-la, era ela
o seu elo fraco.

Ouviu o som de água correndo, levantou-se, deixou a toalha cair e foi até a jovem.

A Duomont estava irritada, tremendamente fora de si devido à forma da condessa encarar tudo como
se fosse uma brincadeira. Será que não percebia que estava a correr perigo? Ou será que achava que era
inatingível?

Fechou os olhos tentando controlar a respiração alterada, mas sentiu mãos lhe abraçarem pela
cintura.

Sentiu a pele toda se arrepiar.

Desligou a água.

-- Pensei que já tivesse tomado banho... – Tentou manter a voz firme.

A ruiva pousou as mãos nos seios nus, beijando-lhe o lóbulo da orelha.

-- Senti calor...

A morena sabia o que ela estava fazendo. Os mamilos se atiçavam diante das carícias, sentia os
movimentos que a ruiva fazia em seu bumbum.

-- Então... – Mordeu o lábio inferior. – A sua central deve estar com algum problema...

Vitória beijou-lhe o pescoço esguio... Apertou-a mais contra a própria pele.


-- Acho que você quem está me incendiando... – Pressionou-a contra o Box.

Clara espalmou as mãos no vidro... A lembrança do que acontecera na capital... No dia em que a
empresária viajara para a Itália.

Sutilmente foi conduzida para mais perto da hidro.

Observou uma das mãos deslizar por seu obdome... Descendo até seu sexo...

Empinou o quadril, maneando-o lentamente... Ouvi-a gemer baixinho... Continuou...

Vitória observou o olhar da amada... Fitou os olhos negros... Sentia-se fascinada em ver naquela face
tão linda e doce o desejo estampado tão selvagem.

-- Está bravinha comigo? – Sussurrou, sentindo a umidade em seus dedos.

A veterinária continuou encarando-a... Apoiou a perna no batente que levava a banheira, desafiando-
a.

Rebolou... Sentiu-a molhada... Ouviu o grunhido animal... Sabia que ela estava entregue, mas a
Duomont estava lutando para não se render ao desejo. Usaria todas as suas fichas para tirá-la totalmente do
controle.

Recordou da época que fizera aulas de dança, ficara encantada com a liberdade que a dança do ventre
lhe proporcionava...

A condessa abriu-se mais, o suficiente para senti-la presa em seu próprio prazer. Esfregou-se...

Clara a sentiu totalmente fora de si...

Tomou-lhe os lábios cheios, beijando-a, saboreando o gosto divino da ruiva...

Vitória segurou-lhe os cabelos, mantendo-a cativa...

De repente, a Duomont cessou os movimentos, segurando-lhe as mãos.

Viu os olhos verdes ficarem mais escuros do que a noite tempestuosa, observou o estreitar animal.

Afastou-se.

-- Quê... – A ruiva parecia confusa.

A veterinária pegou o roupão, vestindo-se e só depois a fitou.

-- Enquanto a senhora não aprender a ser flexível em suas decisões, não farei amor contigo.

Mattarazi observou-a se afastar... Seu corpo doía... Sedento por sua Branca de Neve...

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Capitulo 34 por gehpadilha
Clara se vestiu rapidamente, deitando-se na enorme cama.

Cobriu-se!

Esperou alguns segundos, até ouvir mais uma vez o barulho da água caindo.

Fechou os olhos, tentando dissuadir sua memória das imagens que começava a se formar em seu
cérebro.

Não fora fácil parar naquele momento. Precisara lutar consigo mesma até entender que seria preciso
um tratamento de choque contra aquela mulher sensual e sexy.

Sentiu a presença forte, fingindo que estava dormindo. Tinha certeza que estava sendo observada
minuciosamente, a pele se arrepiou imediatamente.

Vitória sentia vontade de puxar o lençol e tomá-la para si fortemente, porém sabia que essa não seria
a solução para o problema, lógico que satisfaria o desejo que queimava em seu peito, em seus corpo, porém a
guerra continuaria por um bom tempo.

Cobriu o rosto com as mãos.

Sentou-se no leito.

O cheiro da jovem era suficiente para mexer com todos os seus sentidos.

Apagou as luzes, mas não se deitou.

Beijou-lhe a face, em seguido deixou os aposentos.

Pegou o pacote que Miguel lhe entregou, seguindo para o escritório.

Deitou-se no sofá e ficou a observar o que havia dentro do envelope.

Uma espécie de diário...

Olhou a foto mais uma vez...

Aline...

O nome era doce... Ela tinha um olhar, sonhador... O sorriso era grande, sincero... Lembrou-se da sua
Branca de Neve...

Começou a ler as páginas e cada frase a surpreendia...

-- Eu não acredito que fui traído por Alex, confiei no miserável. – Otávio bateu forte sobre a escrivaninha.

Marcelo e ele estavam escondidos em um hotel na capital.

-- Bem, pelo menos, o desgraçado avisou, dando tempo de fugirmos. – Tomou uma dose de uísque. –
Temos que ir mais longe, vamos deixar o país.

-- Sim, é isso que farei o mais breve possível.

-- Nós faremos... – O pai de Marcos corrigiu.

Otávio assentiu, tomando todo o conteúdo do copo.

Clara acabou cochilando e quando despertou buscou a amada ao seu lado e não a encontrou.

Observou o relógio da cabeceira e constatou que em poucas horas amanheceria.

Levantou-se, vestiu o robe, resolvendo procurar onde estava a sua mulher.

Seguiu até o quarto que ela ocupara quando estava desmemoriada, mas não havia ninguém lá. Desceu
as escadas, indo até o escritório, então encontrou quem estava a buscar.

Por alguns segundos permaneceu ali, fitando a bela imagem da ruiva em seu sono tranquilo.
A luminária estava acesa iluminando a face da linda condessa.

Aproximou-se mais.

Os lábios estavam entreabertos, suas mãos estavam apoiadas em seu peito e havia algo entre seus
dedos.

Fitou e percebeu que era a foto que Miguel lhe entregara. Tomando cuidado para não lhe despertar,
viu a imagem com atenção.

O conde era um homem bonito e pode perceber que ela herdara dele a expressão forte, sarcástica,
arrogante... Observou o sorriso que ele dirigia para a bela jovem ao seu lado, não havia dúvidas do seu fascínio
pela moça que parecia ainda mais encantada.

Sentou-se na outra poltrona, pegando uma espécie de diário que estava caído ao chão.

A letra bonita retratava o dia a dia de sua vida na Itália. Algumas coisas triviais e outros fatos
interessantes, como sua paixão por Vitório e a descoberta da gravidez.

Sentiu-se emocionada com as palavras que Aline usara para falar do bebê que esperava e ficou feliz
em saber que aquela criança fora fruto sim de uma relação, que mesmo sendo proibida, fora cheia de paixão.

Não gostava de ficar pensando como poderia ter sido as coisas se fossem de forma diferente, porém
não conseguia não cogitar a possibilidade de como poderia ter sido distinta as coisas se a condessa tivesse tido
ao seu lado sua mãe, se tivesse sido criada com amor.

Bem, isso talvez não fosse tão importante, pois sabia que diante de todas as dificuldades e todos os
problemas que enfrentara, se apaixonara e se apaixonaria novamente por sua cabeça dura.

Sorriu... Levantou-se e foi até ela, sentou-se, em seguida se aconchegou, deitando em seu peito.

Fechou os olhos e se permitiu a sensação maravilhosa de estar aconchegada àquele corpo... Estreitou-a
mais forte...

Lembrou-se de uma canção que ouvira quando ainda era uma adolescente...Começou a cantarolar em
seu ouvido, sussurrando para não despertá-la.

“Quando você está comigo é quando eu digo

Que valeu a pena tudo, tudo o que eu sofri

Não sei se é um sonho ainda,

Ou é uma realidade

Mas quando estou contigo é quando digo

Que este amor que sinto é porque você o mereceu

Com dizer, amor, que outra vez amanheci

chorando de felicidade

A teu lado eu sinto que estou vivendo

Nada é como ontem...”

A manhã amanheceu ensolarada na fazenda dos Duomont.

Felipe ainda pensou em seguir direto para a delegacia, mas tinha que trocar de roupa, pois tivera um
problema na estrada e acabara se sujando de graxa ao consertar o carro.

Estava saindo do banho quando a esposa entrou esbaforida.

-- Então, aí está você! – Falou em tom acusador. – É um pai desnaturado que não se preocupa com as
loucuras que a sua filha anda aprontando.

-- O que houve com a Clara? – Indagou em tom preocupado. Segurou-lhe os ombros. – Diga o que se
passa.

-- Ela casou com o Marcos e agora deseja anular o matrimônio...

-- Quê? – O homem a interrompeu perplexo. – Casou-se? Como?


Clarice se desvencilhou do toque.

-- Casou-se simmmm... Ela era prometida dele desde que era uma criança, então cumpriu o que
deveria ter sido feito há tempos.

O Duomont passou a mão pelos cabelos em gesto de confusão.

-- Não, tenho certeza que ela não faria isso, ela jamais teria casado... – Caminhou até o armário
pegando um par de roupas.

-- Isso não vem ao caso agora, o que desejo é que a obrigue a cumprir os votos que fez.

Felipe se vestiu rapidamente.

-- Como assim obrigá-la?

-- Aquela desgraçada da condessa a levou para sua fazenda e encheu-lhe a cabeça...

-- Ela está com a Vitória?

-- Sim, mas por pouco temp...

Ele nem esperou ela terminar a frase, saindo rapidamente do quarto.

Vitória abriu os olhos e viu a cabeleira negra espalhada em seu peito.

Fitou-a e encontrou os olhos misteriosos observando-a.

-- Bom dia, poderosa Mattarazi...

A ruiva sorriu diante daquele olhar traquina.

-- Não resistiu e correu até mim foi... – Arqueou a sobrancelha. – Ninguém resiste ao meu charme de
condessa...

O som da gargalhada da Duomont foi tão gostoso que a empresária se pôs sobre ela, enchendo-a de
cócegas.

Clara se debateu tanto que ambas acabaram indo parar no carpete.

-- Para... Para... – Dizia sem fôlego.

Estavam tão entretidas que não ouviram o som da porta abrir.

Julieta e Felipe observavam a cena.

O Duomont pigarreou, mas foi inútil.

-- Não acham que estão grandinhas para ficar se engalfinhando pelo chão...

Clara empurrou a condessa, ficando chocada ao ver quem estava ali.

Vitória apenas se levantou lentamente, voltando para o sofá.

-- Papai!!!!! – Sua voz quase não saiu.

Mattarazi sorriu ao ver a face da amada se tingir de vermelho.

Levantou-se e foi até o sogro.

-- Como vai? – Estendeu a mão.

-- Estou... Estou bem...

-- O que faz aqui, papai? Aconteceu algo?

-- Bem, eu que desejo saber o que se passa.

-- Então, deixarei que conversem, vou tomar um banho. – Virou-se para Julieta. – E a senhora vem
comigo, estou faminta... – Encarou a jovem. – Não imagina o quanto...

Clara engoliu em seco, pois sabia de qual fome a empresária estava falando.

A Dumont fez um gesto para que o pai se acomodasse, fazendo o mesmo em seguida.
Felipe tomou-lhe as mãos nas suas.

-- Por que casou com o Marcos?

A jovem mordiscou o lábio inferior, parecia pensativa.

-- Ele ameaçou matar a Vitória...

Ele se levantou.

-- Como aquele desgraçado teve coragem de fazer isso? – Caminhou pela sala. – E sua mãe? – Voltou até
ela. – Clarice não está envolvida nisso está? – Observou a expressão de Clara e não foi preciso que ela
respondesse. – Maldita seja!

A Duomont foi até ele, pondo a mão em seu ombro.

-- Por favor, não brigue com ela... Não quero causar esse problema em seu relacionamento.

-- Relacionamento? -- Disse perplexo. – Eu sinto muito, mas darei entrada nos papéis o mais rápido
possível, irei me divorciar da sua mãe, não tenho condições de continuar com isso.

-- Mas papai...

-- Não quero que se meta nisso, quanto ao Marcos, agora mesmo irei até ele, quero que o desgraçado
me explique como foi capaz de um ato tão covarde.

-- Não! Há muita coisa acontecendo, não quero que se envolva em nada por enquanto.

-- Do que fala? – Indagou preocupado. – Ainda há mais coisa?

Clara assentiu afirmativamente, convidando Felipe a sentar novamente.

Detalhadamente, começou a narrar tudo o que estava se passando.

O dia estava ensolarado.

A condessa montou no Bastardo e seguiu até a usina, precisava ver uns documentos, antes de seguir
até a prefeitura.

Não voltara a ver a Clara, pois quando desceu, ela ainda estava com o pai.

Verificou algumas coisas, falou com alguns empregados, em seguida foi até o escritório.

Precisava revisar alguns papéis.

Estava discando para Juan, quando a porta foi aberta.

Miguel parecia furioso.

-- Por que entrou assim?

-- Vitória, você acha que é brincadeira, acha que sua vida não está correndo perigo... – Bateu forte
sobre a escrivaninha. – Está agindo como se fosse uma super heroína, está querendo morrer?

A ruiva se levantou, furiosa.

-- Como ousa falar assim comigo? – Fitou-o irritada. – Não é da sua conta o que eu faço, então pare de
me encher com isso.

-- Você é um egoísta... – Balançou a cabeça negativamente. – Não pensa nas pessoas que te amam?
Imagina como a Clara ficará se algo te acontecer, como eu ficarei...

A condessa estreitou os olhos ameaçadoramente, mas pareceu se acalmar, voltando a sentar.

Colocou os óculos e voltou a ler os documentos, enquanto Miguel permanecia no mesmo lugar.

A empresária jogou os papéis, então voltou a fitá-lo.

-- Ok, hoje mesmo irei para Roma. – Disse vencida.

O advogado soltou a respiração, estava aliviado.

-- Você ficará responsável por tudo, espero que sua esposa resolva tudo isso rapidamente.
-- Tenho certeza que ela está fazendo tudo para prender os miseráveis.

-- Outra coisa, espero que a anulação desse casamento aconteça o mais rápido possível.

-- Não se preocupe, estou resolvendo tudo.

-- Ótimo! Reserve o avião, assim que resolver os problemas, irei.

Miguel contornou a mesa, surpreendendo Vitória com um abraço.

-- Obrigada!

A condessa nem teve tempo de protestar, pois imediatamente, o tio saiu da sala.

Marcos observava a patrulha parada diante de sua residência.

Sorriu!

Sabia o que deveria ser feito, assim as coisas voltariam ao normal e ele poderia resolver de uma vez
todos os seus problemas sem ser notado.

O helicóptero tinha pousado na quadra da fazenda.

A condessa seguiria até a capital nele e lá pegaria a aeronave até Roma.

Era quase duas da tarde e Clara esperava entusiasmada pela chegada da sua amada. Não a viu desde
que acordaram naquela manhã, mas ficara imensamente feliz ao saber que a ruiva tinha decidido criar juízo e
se proteger das ameaças.

A Duomont viu o comandante entrar e Vitória o acompanhava, já levantava da poltrona para ir até ela
quando viu Larissa aparecer.

A empresária seguiu até a veterinária.

-- Está acomodada, princesa? – Sentou ao seu lado, tomou-lhe a mão. – Estou fazendo sua vontade.

-- Que bom! – Disse simplesmente.

-- Condessa, pode vir ver os slides?

Clara relanceou os olhos ao ouvir a voz da engenheira.

A ruiva lhe deu um beijo rápido.

-- Preciso resolver uns problemas com a Larissa, ela ficará responsável por resolver alguns problemas.

A Duomont apenas assentiu, observando-a seguir até a oferecida que nem mesmo tentava esconder a
atração pela empresária.

Valentina não conseguiu conversar com Felipe, infelizmente não conseguia juntar as peças daquele
quebra-cabeça. Tinha quase certeza que a morte de Frederico não tinha sido ações dos agiotas.

Voltou a ler os depoimentos de cada um que ali estiveram falaram. Teria que mais uma vez investigar
os álibis de todos, pois só assim poderia conseguir voltar ao caminho certo.

Levantou-se.

Naquele momento precisava ir à busca de Otávio e Marcelo, precisava proteger a Mattarazi, teria que
acabar com aquela ameaça iminente.

Chegaram a capital e seguiram diretamente até o boing.

Fariam uma conexão rápida em Amsterdam.


Larissa não embarcou com eles, mas o abraço que ela deu em Vitória não passou despercebido pela
jovem Duomont.

A condessa se acomodou ao lado da amada, anexaram os cintos de segurança, esperando que a


aeronave decolasse.

-- Pronto, teremos uma viagem longa... – Beijou-lhe a mão. – Mas não tem do que reclamar, estou
fazendo sua vontade.

A jovem apenas assentiu.

Ouvia-se a voz do piloto anunciando a rota, o som dos motores sendo ligados.

Permaneceram em silêncio até a aeronave está no ar.

-- Deseja algo, condessa? -- A comissária de bordo indagou sorridente.

-- Traga algo forte... E você, amor? – Fitou a morena.

A jovem apenas fez um gesto negativo com a cabeça.

A moça pediu licença, afastando-se.

-- Você está bem?

Mais uma vez a Duomont respondeu com gestos. Afirmando algo que sua expressão não denotava.

Vitória tocou-lhe os lábios rapidamente.

Pegou o notebook, precisava ler alguns contratos, pois não houve tempo para Larissa mostrar tudo.

-- Já esteve em Roma?

-- Não!

-- Eu vivi lá boa parte da minha infância... – Dizia pensativa. – Em um colégio de freira...

A condessa a encarou e percebeu que ela tinha dormido.

Clara permaneceu de olhos fechados, não desejava falar nada. Sabia que se falasse algo acabaria se
irritando muito e ambas brigariam, mas também não podia agir normalmente quando o ciúmes queimava em
seu peito.

Talvez, não tivesse acontecido nada entre elas, mas a palavra que ouvira no dia fatídico do acidente
ainda martelava em seu cérebro e tinha certeza que a tal engenheira estava apaixonada por Mattarazi.

A condessa observou a jovem dormir encolhida na poltrona. Parecia não desejar encostar-se a si.

Tinham chegado a Amsterdam, não sairiam da aeronave, pois partiriam em breve.

Seguiu até o banheiro, não demorando muito retornou a poltrona.

Observou os olhos negros lhe olhando.

Sentou-se.

-- Eita que soninho gostoso. – Encarou-a. – Descansou? Está com fome?

-- Não! – Respondeu secamente, levantando-se. – Vou sentar lá atrás.

-- Por quê? – Indagou confusa.

-- Porque quero. – Respondeu simplesmente se afastando.

A aeronave não contava com passageiros, além da tripulação e das duas mulheres.

Vitória não gostou da forma como a jovem lhe tratou, mas esperaria até o boing decolar para resolver
esse problema.

Clara fechou os olhos, sentindo o avião levantar voo.


Ficou feliz que a ruiva não fora atrás de si, sabia que não conseguiria segurar a raiva por muito tempo,
por isso preferia ficar sozinhas.

A condessa esperou meia hora e como viu que sua amada não retornaria foi até ela.

Encontrou-a lendo um livro, sentou-se, retirando a brochura de suas mãos.

-- Está brava comigo por qual motivo? – Fitou-a. – Eu fiz o que você queria, estamos indo até Roma,
então não entendo a sua frieza.

-- Ah, não diga! – Debochou, levantando-se.

-- Amor, por favor, o que eu fiz? – Indagou apreensiva, segurando-lhe a mão. – Diga.

A Duomont respirou fundo, depois decidiu sentar, virando-se para ela.

Mattarazi viu os olhos negros se estreitarem.

-- Como ousou trazer sua amante junto até a capital? Pior, ficou o tempo todo com ela, não tem
vergonha?

Vitória não pode disfarçar o sorriso, acabando caindo em uma gargalhada rouca.

A veterinária ficou tão furiosa que tentou se afastar mais uma vez, porémg a empresária a trouxe para
o seu colo, segurando-a firme.

-- Solte-me! – Debatia-se.

A condessa lhe segurou as mãos, pois sabia que seria arranhada.

-- Já disse que não tenho nada com a Larissa. – Falou firme. – Se a trouxe foi porque era necessário
para que ela resolvesse alguns problemas na capital.

-- Que fosse de carro, que fosse de jegue, de bicicleta, mas não contigo. – Mais uma vez tentou se
desvencilhar.

Sabia as consequências para seu ato, mas mesmo assim tomou-lhe a boca fortemente.

Sentiu-a morder, porém não a soltou e aos poucos foi invadindo os lábios, penetrando com a língua os
recantos do seu espaço.

Quando a ruiva a sentiu mais entregue, soltou-a, tirando-lhe a jaqueta de couro, tocou-a sob a
camiseta, abrindo o fecho frontal do sutiã.

Clara gemeu baixinho, contra os lábios dela, ao sentir os mamilos sendo explorados experientemente.

Tentou empurrá-la, mas suas forças foram contidas mais uma vez.

-- Não, Branca de Neve... – Sussurrou em seu ouvido. – Não a deixarei sair, necessito de ti... – Tirou-lhe
a blusa.

Observou fascinada os seios redondos que estavam na altura de sua boca. Fê-la sentar com as pernas
abertas, montado em seu colo.

-- Você está louca, alguém pode nos ver. – Fechou os olhos ao tê-la encostada em seu busto. – Saia...

-- Ninguém vai nos ver, as comissárias só virão aqui se forem chamadas... – Abocanhou um dos
montes.

-- Não... – Dizia tentando manter a sanidade. – Estou... Estou brava... Estou uma fera contigo... –
Protestava debilmente. – Vá atrás da sua engenheira.

Clara tentou empurrá-la, mas acabou se rendendo aos carinhos ousados.

Inclinou a cabeça para trás, aproveitando a carícia, sentindo-a mamar tão gostoso que vontade de
gritar, precisando morder o lábio para não fazê-lo.

A língua da ruiva brincava deliciosamente com o bico rosado, mordiscando, lambendo-os.

Abriu os botões da calça jeans da amada, mas o tecido era muito justo e o acesso ao interior não estava
sendo fácil, pensou em pedir para ela retirar, mas temia que a jovem despertasse da nuvem de desejo e se
rebelasse mais uma vez.

Magistramente, inclinou a poltrona ao limite. Conseguiu fazê-la deitar, ficando sobre ela...

Tomou-lhe os lábios mais uma vez, enquanto a livrava da calça...


Sorriu vitoriosa quando sentiu a calcinha úmida...

Tirou-lhe o resto da roupa e rapidamente, fez o mesmo com as próprias. Retomou o assento, trazendo-
a para ocupar a posição de amazonas.

Clara sentiu os pelos se arrepiarem ao ter o contato com a pele nua.

As bocas se encontravam com urgência, perdidas em seus desejos, em seus corpos que clamavam por
muito mais.

A condessa segurou-lhe os quadris, sentindo-a rebolar gostosamente. Abriu-se mais, buscando assim
estreitar ainda mais o contato.

As fricções, o escorregadio se fundindo, lambuzando-as

Clara conduziu-lhe a mão até seu sexo, fazendo-a penetrar...

-- Mais... Quero... Quero mais...

Vitória não se fez de rogada, tomando-a impetuosamente. Descontando nela a paixão que queimava
em seu sangue.

A veterinária se apossou dos seios fartos, devorando-os, mexendo ainda mais, sentindo o poder que
emanava dela.

-- Sou a sua dona, condessa... – Falava por entre os dentes. – Só eu posso amá-la. --Invadiu-a, buscando
aprofundar ainda mais os movimentos... – Minha... – Meteu mais forte.

-- Eu sou sua, Branca de Neve... Só sua, Maria Clara Duomont...

Os gemidos se tornaram mais altos, sendo preciso que a empresária tentasse sufocá-los com beijos.

Sentia que seu corpo não resistiria por muito tempo e foi quando a outra lhe mordeu o lábio, cravando
os dentes em seu ombro que sentiu a adrenalina chegar ao limite, levando-a ao prazer extremo.

-- Te amo...

A veterinária conseguiu ouvir, antes de fechar os olhos, vencida pelo cansaço.

Os dias em Roma passavam interessantes.

Clara estava encantada com a forma que a condessa a tratava, mesmo que não houvesse um papel
alegando aquilo, era como se fossem casadas e essa relação cada vez ficava mais gostosa. Fosse em sua cama,
onde dividiam na enorme cobertura, ou em seus passeios pela bela cidade, ou lhe acompanhando em seus
compromissos empresariais.

Nunca tivera a oportunidade de conhecer a capital da Itália, mesmo tendo passado boa parte da
infância na Europa, então era maravilhoso ter a amada como sua guia turística, levando-a para conhecer os
mais belos lugares.

Deslumbrou-se com os sítios arqueológicos, como o Fórum Romano, o Mercado de Trajano, o Fórum de
Trajano, o Coliseu e o Panteão. O Coliseu, sem dúvida um dos sítios arqueológicos mais emblemáticos de Roma
e é considerado como uma das maravilhas do mundo.

Caminhavam de mãos dadas pela cidade, vendo as obras de artes e a sensibilidade dos artistas antigos
e contemporâneos.

Pararam em um café que tinha suas mesas em plena praça.

-- E então, Branca de Neve? – Tomou-lhe as mãos. – Sou digna do seu perdão? – Piscou travessa.

Clara a fitou demoradamente.

Conhecia aquele olhar, aquele jeito provocante, mas deliciosamente sensual por trás daquela
personalidade tão arrogante.

-- Bem, senhora condessa, creio que está indo pelo caminho certo.

Um rapaz franzino apareceu para servi-las, em seguida afastou-se.

-- Falei com o Miguel... – Bebericou lentamente. – Ele disse que em breve você estará livre. – Colocou a
mão no bolso do casaco, retirando uma caixinha de veludo, branca. – Mesmo sabendo como sou, conhecendo
todos esses defeitos, o meu jeito difícil de lidar com as coisas... – Mordeu o lábio inferior. – Mesmo assim,
aceitaria ser a minha esposa.

A Duomont observou a insegurança presente naqueles olhos verdes e ficou surpresa, afinal, aquela
era a poderosa Mattarazi, a mulher que nunca demonstrava suas fraquezas, que sempre agia com segurança
em todos os seus atos.

Sorriu docemente.

-- Mesmo que ainda não existam papéis formalizando... Eu já sou sua esposa há tempos...

Vitória soltou a respiração lentamente, abriu o estojo, retirando a joia delicada. Tomou a mão de sua
amada, depositando em seu anelar o símbolo de sua total rendição, em seguida, a veterinária fez o mesmo.

-- Bem, pelo menos assim, as oferecidas verão que você já tem dona.

Os risos de ambas denotavam a felicidade que sentiam naquele momento.

Valentina estava em seu escritório quando recebeu uma ligação anônima lhe dando a exata
localização de Otávio e Marcelo. Imediatamente, entrou em contato com a delegacia da capital, saindo em
seguida em diligência.

Com a prisão dos que ameaçavam a vida da condessa, a estadia do casal na Itália não era mais
necessário, mesmo assim, ainda permaneceram por mais uns dias, porém os negócios precisavam ser tocados
por sua dona.

O clima parecia calma, até mesmo Marcos aceitara de bom grado a anulação do casamento, não
colocando nenhum obstáculo, surpreendendo a todos com seu arrependimento, porém a condessa, apesar de
amar sua princesa de contos de fadas, não acreditava muito no conto, cujo sapo virava príncipe.

Clara estava acompanhada do pai. Juntos foram ver um espaço que ela desejava transformar em sua
clínica veterinária.

-- Falei com o gerente do banco. – Ela falava entusiasmada. – Ele me dará um empréstimo e assim
poderei montar tudo.

-- Ah, filha, eu fico tão feliz. – Felipe a abraçou. – Sei do seu desejo e de como ama o que faz, fico muito
orgulhoso de ti.

Caminharam até a sorveteria sentando.

-- E a fazenda?

-- Tenho certeza que conseguirei trabalhar o suficiente para poder pagar a Vitória muito em breve.
Estou me dedicando e também aprendendo com o Batista. – Sorriu.

-- Eu fico muito feliz, papai... – Tomou o sorvete por alguns segundos, hesitante. – E a mamãe?

-- Já entrei com o pedido de divórcio, o Miguel se ofereceu para me ajudar. – Observou as crianças
brincando na rua. – Ela se nega, não aceita a pensão que foi estipulada. Infelizmente, não há outro caminho
para ela, pois não tenho nada, a fazenda está no nome da condessa e as outras propriedades foram tomadas
pelo banco.

-- Tem certeza que não deseja dar uma nova chance para a relação de vocês?

-- Não há relação, filha, só a ambição da sua mãe.

-- Não posso abandoná-la, a ajudarei, não com o dinheiro da Vitória, mas com o que eu ganhar com a
minha profissão.

Valentina caminhava de um lado para o outro em sua sala.


Mesmo com a prisão de Otávio e Marcelo, ainda não acreditava que tudo estivesse resolvido, pois
ainda não fora capaz de elucidar o caso do assassinato de Frederico.

Observou o quadro que montara com os principais suspeitos e quem tinha possíveis motivos para
matar o fazendeiro.

O álibi de Marcelo fora comprovado, mas ele poderia ter mandado alguém fazer o trabalho sujo...

A porta foi aberta interrompendo suas divagações e lá estavam Miguel com o filho nos braços.

-- Amor, vamos chegar atrasados a comemoração. – O advogado reclamou.

Naquela noite haveria uma festa para inaugurar a primeira parte da encanação que levava água para
as fazendas vizinhas, assim, todos poderiam continuar com sua agricultura.

-- Prometo que daqui a pouco apareço. – Caminhou até eles, beijando cada um. – Preciso resolver umas
coisas antes de sair.

-- Vai perder a apresentação da condessa com o Bastardo? Melhor, a Clara vai competir com a Branca
de Neve... Hoje veremos quem será a melhor.

Valentina sorriu.

Sentia-se feliz porque tudo parecia tranquilo entre a esposa e a empresária, felizmente tudo estava se
resolvendo por ali.

-- Não demorarei, prometo não perder essa disputa de titãs.

Miguel assentiu, deixando-a sozinha.

A delegada voltou sua atenção para o expositor.

Fitou a foto de Clarice...

Ela não tinha motivos para matar o sogro, mas seu depoimento fora um pouco perturbante, ainda
mais quando falara que tinha estado com Marcos naquele dia, pareceu querer deixar claro que esteve com ele.

Discou para Felipe.

Com todas as coisas que aconteceram, acabou não tendo tempo para falar com o Duomont.

Assim que ouviu a voz do pai de Clara, indagou rapidamente.

-- Você estava com Marcos no dia da morte de Frederico?

-- Não, estava com a Clarice, estávamos viajando para a fazenda.

-- Mas em algum momento naquele dia, ela se afastou, ou sei lá, mencionou que o veria.

-- Não, ela apenas tinha dito no dia anterior que ele estava na capital e que desejava ver a Clara. –
Ficou alguns segundos em silêncio. – Por quê? Aconteceu algo?

-- Nada... Obrigada!

Encerrou a chamada.

Clara preparava branca de Neve.

Batista se aproximou.

-- E a Vitória? – A jovem indagou ao vê-lo.

-- Ela se atrasou um pouco porque liberou todos os empregados para estarem aqui, teve um problema
na usina, mas já tinha terminado. Pediu que eu viesse na frente, iria tomar um banho, selar o Bastardo e em
pouco tempo cegaria.

-- Mas já são quase sete horas... – Dizia apreensiva.

Pegou o celular, discando para ela, mas não houve resposta para sua chamada.

Algo a estava perturbando terrivelmente naquele dia. Um pressentimento, uma pressão em seu peito
como se algo ruim fosse acontecer.
-- O que houve? – Miguel se aproximou.

-- Nada, vou buscar a Vitória. – Entregou as rédeas da égua ao administrador.

-- Algum problema? – O advogado a fitou preocupado.

-- Eu não sei, apenas estou com um pressentimento ruim.

-- Irei contigo, deixe-me apenas encontrar a babá para deixar o Miguel.

A fazenda Mattarazi estava vazia. Todos foram para a cidade.

Vitória tomou banho rapidamente, vestiu o traje de montaria, seguindo até o estábulo.

Acariciou a crina do garanhão que parecia um pouco agitado.

-- Calma, garotão, daqui a pouco estaremos na competição, aí mostraremos as nossas Brancas de Neves
quem manda. – Sorriu.

Ela caminhou para pegar a sela, mas ao virar-se de costas, sentiu uma pancada forte na cabeça indo ao
chão.

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Capitulo 35 por gehpadilha

Notas do autor:

PENÚLTIMO CAPÍTULO...

Clara já seguia para o estacionamento quando encontrou um garotinho que veio até si. Ele parecia
esbaforido.

-- Senhorita Duomont, a condessa está te procurando.

-- Onde ela está? – Procurou entre a grande multidão. – Onde ela está?

-- Não sei. – Disse simplesmente. – Ela me disse para lhe dizer isso.

O advogado segurou o garoto pelos ombros.

-- Quem?

-- A mulher... – Disse temeroso. – Não a conheço.

A jovem seguiu ainda mais apressada até onde estavam os veículos, mas não teria como sair, o carro
estava preso.

Bateu forte no capô.

-- Vou pegar a Branca de Neve. – Saiu em disparada.

Miguel seguiu em busca de alguém para lhe ajudar a tirar o automóvel.

Vitória sentiu um forte dor na cabeça. Tentou levantar, mas percebeu que estava presa em um dos
troncos que sustentava o estábulo.

As mãos estavam amarradas a suas costas, tentou forçar, mas não conseguia se livrar. Tentou mais
uma vez, porém, os nós não pareciam ceder.

-- Vitória... Linda Vitória...

Ela levantou a cabeça e se deparou com Alex.

-- Se tivesse me aceitado nada disso aconteceria. – Agachou-se. – Você é muito linda. – Tocou-lhe a face
com as costas da mão. – Linda condessa...

A ruiva se desvencilhou do toque, encarando-o.

-- Por que me prendeu aqui? – Indagou confusa. – O que está pretendendo com isso?

-- Bem, tudo tem uma explicação... – Deu um sorriso de canto de boca.

-- Não estou entendendo...

Alex a fitava com olhar fascinado.

-- Infelizmente, seu fim está próximo... Se tivesse me aceitado nada disso teria acontecido.
Mattarazi estreitou os olhos verdes.

-- Pois é, tudo foi armado com maestria... – Tocou-lhe os fios soltos dos cabelos afogueados, colocando-
os por trás de sua orelha. – Dei o que a Valentina queria, dei todas as respostas... Pela metade... – Piscou. – Como
ela foi idiota... Até você... Eu, o salvador da pátria.

-- Por que está fazendo isso?

-- Você me forçou... – Falou bem colada aos seus lábios.—É sua culpa... – Puxou-lhe os cabelos. –
Quantas vezes te dei a oportunidade de ficar comigo? Quantas vezes quis ficar ao teu lado... – Alterou a voz. –
Mas lógico, teve que se interessar pela maldita Clara. – Levantou-se. – Quando cortei a sela no dia do
campeonato ou quando atirei no Marcos, pior, quando tramei para que atirassem em ti, fiz para afastá-la da
Duomont... – Bateu com o punho fechado na madeira. – Mas você não entendeu... Por que teve que ser tão
teimosa... – gritou. – Eu machuquei o Bastardo... Tudo para que os Duomonts fossem responsabilizados, porém
o que você fez? – Gritou. – Encantou-se pelo olhar de princesa...

-- Foi você... – Ela tentou levantar, tentou se soltar para atacá-lo. – Miserável!

Vitória ouviu passos e teve a falsa ilusão que algum trabalhador estivesse ali para ajudá-la, mas
deparou-se com Marcos que imediatamente seguiu até ela, chutando-lhe o abdome.

-- Maldita seja! – Depositou sua bota sobre a coxa da empresária. – Achou que ficaria com a minha
noiva e eu aceitaria tudo como um mártir?

A ruiva sentiu dificuldade para respirar, mas tentou manter a calma, pois sabia que a qualquer
momento alguém viria a sua procura. Tinha que tomar tempo, assim poderia ter uma chance.

Fitou-o.

-- Olá, engomadinho! – Provocou-o, tentando disfarçar a dor. – Decidiu virar o antagonista da história.
– Exibiu um sorriso debochado. – Pobre filhinho de papai...

O rapaz agachou, segurando-lhe o queixo firme.

-- Você acha que é a dona de tudo, acha que é uma poderosa condessa... – Debochou. – Mas no fundo é
uma idiota. – Fitou os olhos verdes que pareciam desafiá-los. – Fico a pensar porque você também não estava
naquele carro no dia do acidente... – Sentou no feno. – Aquele fora o dia marcado para todos os Mattarazis
morrerem, junto com a prostituta da Helena...

-- Do que está falando? – Perguntou perplexa.

O jovem exibiu um sorriso macabro.

-- Eu mexi no carro naquele dia... Papai queria que o ajudasse a me livrar de Vitor, do conde, e da linda
condessa... Eu estava de férias... – Tirou a maçã do bolso, comendo tranquilamente. – Ele queria deixar a minha
mãe para ficar com a meretriz, mas eu não a avisei, como ele mandara... Pena você não ter ido junto... – Pegou
uma faca que ficava em sua bota.

-- Como pode ser capaz de algo assim? Havia uma criança naquele carro...

-- Pois é... Um crime que você sempre levou a culpa... PERFEITO... – Passou a lâmina por sua face. –
Acho que vou te deixar ainda mais bonita.

Bastardo começou a relinchar, interrompendo-o. Ele seguiu até o animal com a arma em punho.

-- Vamos terminar logo com isso... – Alex se aproximou. – Clarice ligou dizendo que a Clara está
querendo vir atrás da condessa, mas parece que conseguiu dar um jeito.

Marcos voltou-se mais uma vez para a ruiva.

-- A minha querida sogrinha está se saindo muito bem... – Aproximou-se, encostando o cano do
revólver em sua cabeça.

A condessa não imaginou que a mãe de Clara pudesse chegar tão longe. Sempre a achara terrível, mas
nem em seus sonhos poderia pensar que ela agiria daquele jeito.

-- Bem, já que você vai morrer, vou te confessar algo... – Passou o metal frio pelo rosto da empresária. –
Fora com essa arma que matei Frederico... Gargalhou. – O velho desgraçado quis me impedir de casar com a
neta e ainda estava ameaçando o meu pai, chantageando-o com o caso de Helena... Eu estive lá naquele dia...
Por pouco vocês não o encontraram morto... – Dizia pensativo... – Não imaginei que a Clara estaria contigo...
Você seria acusada... Tudo estava pronto...

-- Você é um miserável... Não vai ficar impune...

Ele a esbofeteou tão forte que lhe cortou a lateral da boca.


-- Vou ficar sim... Mais uma vez não haverá pistas... – Apontou para o jornalista. – Alex está acima de
qualquer suspeita...Ele entregou o Otávio e o meu pai... – Riu alto.-- Eu... Bem, aceitei a anulação do casamento e
nesse momento meu álibi já está sendo construído... A Clarice está em sua festa... Que irônico...

O garanhão se rebelou mais uma vez.

Marcos engatilhou a arma, mirando o cavalo.

-- Esse demônio vai ter o mesmo fim que você.

A condessa tentou se desamarrar, porém fora mais uma vez agredida pelo jovem.

-- Calminha aí... Não vou matá-lo agora, na verdade, ele vai morrer junto contigo... Queimadinhos... –
Gargalhou mais uma vez. – Eu fico imaginando a sua agonia em ver o Bastardinho sendo assado e você sem
poder fazer nada, afinal, o seu fim também será trágico... Mas não se preocupe, eu irei consolar a sua amada e a
ajudarei a desfrutar do seu dinheiro... – Caminhou até Alex, colocando a mão em seu ombro. – Mesmo você
ainda não tendo casado com a Clarinha, eu aposto a minha vida que o nome dela aparece lindo em seu
testamento.

-- Se tivesse me aceitado nada disso teria acontecido, Vitória... – O jornalista a fitou pesaroso. – Teve
tanta chance, mas acabou se interessando pela Duomont. – Foi até ela, ajoelhando-se. – Eu te amava... – Limpou
o sangue que escorria na lateral da boca rosada. – Infelizmente, você me descartou como se fosse um móvel
velho.

Vitória virou a cabeça, evitando o contato.

-- Eu nunca quis nada contigo... Sempre senti desprezo por ti, pois sabia que no fundo era um
canalha...

Alex pareceu chocado com as palavras, afastando-se.

-- Quanto a você, seu miserável, pode me matar, mas vai viver o resto da sua vida carregando em sua
consciência que foste a última opção, pois foi em meus braços que a Clara se entregou, foi por mim que ela se
apaixonou e é por mim que ela suspira, que sonha, que se entregou durante todo esse tempo...

Marcos a chutou mais uma vez no abdome.

A condessa gemeu alto.

-- Vai morrer, maldita, vai morrer... – Fez um sinal com a cabeça para o jornalista. – Mande lembrança
para seu irmãozinho.

Mattarazi viu o fogo tomar rapidamente as baias e tinha certeza que não demoraria chegar a si.

Observou os dois homens se afastando.

Tentou se soltar, mas seus esforços não davam resultados... Seu corpo estava terrivelmente dolorido.

Bastardo estava preso dentro de uma das baias, ele levantou as patas dianteiras, relinchando.

A ruiva sentia a fumaça começar a sufocá-la.

Encolheu-se mais, pois as chamas já chegavam perto de si.

Sentiu um alívio se apossar do seu peito, quando viu seu garanhão conseguir se soltar, pulando a
porta, saindo em disparada.

Clara fora atrasada pela mãe.

Clarice dissera que estava com Marcos do outro lado e tinha visto quando a condessa tinha chegado,
mesmo assim, a jovem Duomont pareceu não aceitar a explicação, pois sabia que se Vitória estivesse ali, teria
ido rapidamente atrás dela.

-- Acho que ela deve ter esquecido algo, pois parecia procurar... Assim retornou em direção à fazenda.
– Dizia, detendo-a pelo braço.

A jovem se desvencilhou do toque.

-- Então, eu mesma irei me certificar que está tudo bem com ela e a trarei comigo.

Montou em Branca de Neve e saiu cavalgando velozmente.


Valentina observava a festa, quando Miguel correu até ela.

-- Precisamos ir até a fazenda. – O advogado falou esbaforido.

-- O que houve?

-- Não sei, mas os pneus do meu carro foram furados e o da Clara ficou preso. Ela saiu há algum tempo,
podemos encontrá-la no caminho, temos que ir.

A delegada saiu abrindo espaço entre os presentes, rapidamente ligou pedindo que os policiais a
acompanhassem.

Vitória sabia que não resistiria por muito tempo. Não tinha mais forças para tentar se soltar, pelo
menos o Bastardo estaria salvo.

Fechou os olhos e a imagem de olhos negros tão sinceros preencheram seus pensamentos, era a sua
amada Branca de Neve que levaria em sua mente e em seu coração.

Tentou mais uma vez se solta, mas seu ato fora em vão.

Gritou por ajuda.

Engraçado como as coisas se encaixavam.

Pena não poder fazer os miseráveis pagar pelo que fizeram com seu irmão.

Clara viu as luzes do carro lhe seguindo.

De longe pode ver o fogo que vinha do estábulo, esporeou Branca de Neve para que o animal fosse
mais rápido.

Sentia o vento noturno emaranhando os fios, sentia a pele arrepiar enquanto se aproximava.

Não deveria ter ido para festa sem a empresária. Deveria ter esperado por ela, mas achara que tudo
estava bem e que não havia mais riscos.

Fora uma idiota, baixara a guarda quando deveria ter ficado atenta a tudo que acontecia.

Desmontou e viu o Bastardo vir até ela.

O garanhão parecia nervoso, agitado. Ele seguiu até o estábulo, levantando as patas dianteiras.

-- Ela está lá dentro. – Constatou em pânico.

A Duomont já corria, quando sentiu braços lhe segurando pela cintura.

-- Você não pode ir lá, vai morrer. – Valentina a detinha.

Clara empurrou-a forte, saindo em disparada.

-- Mas morrerei com o amor da minha vida.

Miguel tentou ir atrás, mas a delegada não permitiu.

-- Ela vai morrer... Não vá, não quero te perder...

O fogo estava alto, a quentura feria a pele, mesmo não tocando-a.

A jovem tirou a camiseta, cobrindo a boca e o nariz, tentando não respirar a fumaça.

Gritava pela condessa, a visibilidade estava terrível e não se conseguia visualizar nada.

Uma madeira caiu perto dela, assustando-a.

Em pouco tempo tudo desmoronaria.

Fez uma prece, tentando se concentrar, temia que não aguentasse por muito tempo, então quando já
estava quase desistindo, avistou-a.
Ajoelhou-se diante dela, tentou levantá-la, mas percebeu que estava presa.

-- Vitória! – Gritou seu nome, mas ela não respondia. – Amor...

Não podia pedir ajuda, pois sabia que havia pouco tempo e não poderia perder um único segundo.

Pegou uma madeira, tentando não tocar nas chamas, porém ainda sentia ferir-lhe, deu a volta,
queimou as amarras, conseguindo partir a corda.

-- Vitória, por favor, meu amor, aguente... Vou tirar a gente daqui. – Sussurrou em seu ouvido.

Abraçou-a por trás, tentando sustentar-lhe o peso.

Observou em todas as direções, tentando recordar por onde tinha vindo, mas percebeu que seria
impossível passar por lá que já tinha sido tomado pelas labaredas.

O fogo queimava todas as partes do grande estábulo.

Carregou-a até a porta, mas não conseguiriam passar por lá sem serem queimadas.

Valentina ligava para o corpo de bombeiros.

-- Eu vou lá...

Dessa vez a delegada não conseguiu deter o marido que deu a volta por trás, seguindo em busca das
jovens.

-- Miguel... – Gritou, indo atrás dele.

Viu com desespero a parte frontal desabar.

Era inútil, se a condessa tivesse ali dentro já estava morta e temia que Clara tivesse encontrado o
mesmo fim.

Então, ouviu-se um estouro e milagrosamente os três saiam daquele inferno.

A delegada sentiu lágrimas molharem a face. Saiu correndo imediatamente até eles.

Miguel tentava reanimar a condessa, enquanto Clara estava deitada na grama, parecia não conseguir
levar o oxigênio aos pulmões.

Imediatamente foi até ela, ajudando-a a sentar, fazendo-a respirar aos poucos.

O advogado tentava incansavelmente, ouvia o choro de Maria Clara e sabia que não deveria desistir,
do mesmo jeito que a jovem valentemente não desistira, enfrentando aquele incêndio.

Rezou silenciosamente... Pediu a irmã que estivesse vendo naquele momento os ajudassem.

Então o milagre aconteceu e pode ouvi-la tossir, buscando respirar.

-- Precisamos levá-la ao hospital urgentemente.

Valentina assentiu, seguindo até o carro.

Alex e Marcos caminhavam pela festa.

Eles estavam certos que o trabalho sujo tinha sido concluído.

-- Agora basta que Clarice confirme nossa presença. – O jornalista sorriu. – As fotos que tiramos antes
estão em seu celular?

-- Sim, com certeza, depois incluirei o horário. – Sorriu. – Sinto o cheiro de condessa assada.

-- Amanhã teremos que sair nas manchetes como pessoas que prestigiavam o evento sem imaginar
que algo horrível acontecia na fazenda Mattarai. – Foi até a barraca de tiro, comprando umas fichas.

A condessa foi levada até o hospital de uma cidade vizinha, encaminhada imediatamente para a
urgência, enquanto Clara era atendida devido às queimaduras que tivera, principalmente nas mãos.
-- Quero ver a Vitória. – Ela dizia para Valentina.

A delegada fitou as mãos da jovem e percebeu como aquela menina fora corajosa ao arriscar a própria
vida para salvar a amada.

Abraçou-a pelos ombros.

-- Calma, ela está sendo atendida e você também precisa ser cuidada. – Beijou-lhe o topo da cabeça. –
Ela vai ficar bem e você também.

-- Quero ficar ao lado dela... Preciso ficar perto... Sentir que ela está bem...

-- Ela vai ficar bem, porém você precisa se cuidar também.

Miguel andava de um lado para o outro, ansioso por notícias da sobrinha.

Quando pensava que por muito pouco, a ruiva teria morrido e junto a ela Clara, sentia um aperto no
peito. Deveria ter ido antes, não deveria ter permitido que a Valentina lhe segurasse.

Passou a mão pelos cabelos ralos.

Se acontecesse algo grave com Vitória não se perdoaria nunca.

-- Alguma notícia? – Valentina se aproximou.

Ele fez um gesto negativo com a cabeça.

-- E a Clara?

A delegada conduziu-o até o sofá.

-- As mãos delas estão muito machucadas... – Engoliu em seco. – Ela arriscou a vida pela condessa...
Como é grande esse amor que ambas sentem... Como ele nasceu de tanto ódio?

-- Eu não sei... Só desejo que a Vitória fique bem e possa viver esse sentimento com a sua princesa.

Valentina se levantou.

-- Necessito de algo... Clara disse que encontrou a ruiva amarrada dentro do estábulo... Alguém fez isso
e pareceu tomar todas as precauções para que não chegássemos. – Agachou, segurando o joelho do marido. – A
Clarice sabia, ela tentou deter a filha, tentou atrasá-la. – Abaixou o tom de voz. – Vou pegá-los dessa vez, devo
isso a Vitória por tudo que ela passou.

-- Precisa tomar cuidado, pois quem fez isso não está para brincadeira. – Abraçou-a. – Tome cuidado,
por favor.

Naquela mesma noite o helicóptero fora chamado para transferir a condessa para a capital.

Clara e Miguel acompanharam-na.

A cidade pareceu chocada com o acontecido.

Valentina espalhara a notícia de que a condessa estava em coma e que não havia chances de
sobreviver. Aquela não era só uma medida de segurança, mas também um meio para chegar aos culpados.

Quem cometeu o crime acharia que ficaria livre, porém as coisas seriam diferentes dessa vez.

Apesar de todo o clima triste, ficou impressionada com a dor que viu nos olhos das pessoas que ali
habitavam. Sempre a ruiva fora vista como a assassina da própria família, odiada, apontada por todos, porém
não era isso que via naquele momento.

A igreja estava cheia, crianças, idosos, jovens sofriam com a tragédia que se abateu na vida da
empresária.

-- Ela não está morta! – Marcos gritava em seu escritório. – Vamos ser presos se a desgraçada
sobreviver.
Clarice entrou, encontrando os dois homens.

-- Está sim. – Sentou-se cruzando as pernas. – Acabei de ouvir o Felipe consolando a Clara. – Sorriu
cruel. – Vitória Mattarazi não resistiu às queimaduras e veio a óbito.

Alex saiu rapidamente, em seguida trouxe champanhe e três taças.

-- Um brinde a condessa, então?

-- Com certeza. – Clarice levou o líquido à boca. – Mas não posso demorar. Tenho que escolher o
modelito para o velório, preciso estar à altura, pois em poucos dias serei milionária.

O trio comemorava com as melhores bebidas, felizes porque sairiam ilesos do crime que cometeram.

O médico constatou que a condessa teve inúmeras costelas quebradas, mas felizmente as queimaduras
foram superficiais e não havia risco de morte.

Depois de uma noite e um dia agonizante, Clara fora permitida entrar no quarto.

A enfermeira trocava o soro.

A Duomont parecia temerosa, mas quando viu os olhos verdes encarando-a, sentiu que seu coração
voltava a bater.

Ela quedou-se ali, diante da cama, apenas observando-a, vendo os arranhões em sua face, o
machucado no canto da boca.

-- Eu não conseguiria viver sem ti... – Falou com lágrimas nos olhos.

Vitória estendeu a mão, tomando a da amada.

Observou as ataduras que protegia as queimaduras da Duomont.

Desde que acordara, ouvira das enfermeiras como a sua princesa fora corajosa, como ela fora
destemida ao entrar no estábulo, enquanto este estava em chamas.

-- Nunca mais faça isso... Não se arrisque desse jeito, jamais me perdoaria se algo te ocorresse. – Levou
os curativos a boca. – Oh, minha Branca de Neve... – Umedeceu o lábio superior. – Eu pensei que não te veria
mais... – Soluçou. – Em meus pensamentos estavam seus olhos...

Clara a abraçou.

Os soluços de ambas não era mais de desespero, mas de felicidade, de contentamento por estarem ali,
unidas, mesmo diante de tudo que aconteceu.

-- Amo-te tanto, meu amor, amo-te mais do que a mim mesma...

-- Ah, minha condessa, eu amo você... – Fitou-a. – Me arriscaria um milhão de vezes para que nada te
acontecesse.

O sorriso da ruiva não tinha preço.

A porta se abriu e lá estava Miguel.

-- Ah, não, mais um chorão, ninguém merece. – Mattarazi debochou do tio.

O advogado não se preocupou com isso, abraçando-a.

-- Estou chorando de felicidade por ter voltado a ver esse sarcasmo de olhos verdes...

A ruiva depositou um beijo em seu rosto.

-- Preciso ver a Valentina... – Fitou a Clara.

-- Quem fez isso? – A Duomont se aproximou. – Você sabe? – Sua voz denotava preocupação. – Temos
que nos assegurar que você fique segura.

-- Princesa... – Começou hesitante. – Não quero que se envolva nessa história.

A empresária não desejava contar a jovem que a própria mãe estava envolvida em tudo aquilo.

-- Diga, eu desejo saber, eu preciso saber.


A condessa fitou o tio e depois voltou a olhar a jovem.

-- Eu levei uma forte pancada na cabeça enquanto selava o Bastardo. – Deu uma pausa. – Quando
acordei estava amarrada e Alex estava lá...

Miguel praguejou alto.

-- Nunca confiei naquele miserável!

-- Mas ele tinha denunciado... – Clara parecia incrédula.

-- Foi um plano para desviar a atenção...

A Duomont a mirou, sentiu uma dor em seu peito ao ver os machucados em sua face.

-- Temos que avisar a Valentina... – A jovem já seguia até a porta, quando hesitou. – Ele quem te bateu?

-- Ainda tem mais...—Relutou. -- Marcos estava lá... Ele me espancou... Estava fora de si...

-- Como? Minha mãe disse que estava com ele na festa...

A ruiva assentiu afirmativamente.

-- Era o álibi dele... A Clarice daria o mesmo álibi que deu quando seu avô foi assassinado...

A veterinária seguiu até ela.

-- Do que está falando?

-- Marcos matou Frederico Duomont e estava certo que faria o mesmo comigo e ficaria impune... – O
maxilar enrijeceu. – Do mesmo jeito que ficou impune o assassinato do meu irmão... O desgraçado mexeu no
carro... Marcelo mandou fazê-lo... Só que ele pediu para avisar a Helena não ir junto, mas Marcos decidiu
colocar um fim de uma vez por todas no caso que sua tia tinha com o pai dele.

-- O que a minha mãe tem a ver com tudo isso? – Pronunciou pausadamente cada sílaba. – Fala!

-- Ela sabia de tudo... Mentiu no depoimento quando disse que Marcos estava com ela... Ela sabia o que
eles estavam fazendo comigo no estábulo...

Clara saiu do quarto.

Vitória tentou levantar, gritando de dor ao fazer o esforço.

-- Fique quieta, não deve se mexer. – O advogado repreendeu-a.

-- Preciso ficar com ela... – Insistia.

-- Deixe-a sozinha, ela necessita disso.

-- Não. Vá lá com ela, fique ao seu lado.

Miguel não encontrou Clara, mas fora informado por umas das enfermeiras que ela tinha seguido até
a capela.

Tranquilo, decidiu ligar para a esposa.

Relatou tudo e com todos os detalhes, mas a delegada só se surpreendera quando o nome de Alex foi
mencionado.

-- Temos que fazer algo.

-- Não se preocupe! – A delegada falava com segurança. – Felipe está me ajudando. Fizemos-nos pensar
que a Vitória está morta. Fui autorizada a usar uma escuta e grampear os celulares. Hoje mesmo já terei uma
confissão.

Daquela vez, Marcos, Alex e Clarice não tiveram chances de fugir. Uma semana depois do ocorrido,
Valentina levou os três até a delegacia.

A delegada estava sentada e observava a soberba e confiança no olhar dos que ali se encontravam.

-- Vou processá-la, delegada, isso é um absurdo. – O jornalista protestava. – Como ousa nos trazer aqui
sob acusações infundadas.
-- Quais provas tens de que tivemos algo a ver com o que aconteceu com a condessa? – Indagava
Clarice espevitada. – Não esqueça que minha filha será a herdeira da Mattarazi, posso muito bem falar com
seus superiores para que você seja punida por isso.

Marcos se levantou impaciente.

-- Não farei parte dessa palhaçada! Não há testemunhas para as suas acusações...

A porta se abriu interrompendo-o.

-- Boa tarde, senhores... – Vitória Sorriu sarcástica, encarando-os. – Olá, sogrinha...

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Capitulo 36 FINAL por gehpadilha

Notas do autor:

Olá, meninas :)

Hoje chega ao fim mais uma história... E mais uma uma vez só
desejo agradecer a todas pelo carinho e respeito que sempre
tiveram por meus enredos, desde que estive aqui pela primeira vez
em Setembro de 2015 postando A tutora. Agora somo quatro
romances que foram bem aceitos e sempre esperados por todos.

Perdoe-me se em algum momento não agradei em algum dos tantos


capítulos ou se demorei demasiadamente, porém saíbam que
sempre fiz o máximo para que todos se sentissem bem ao ler meus
textos.

Beijos a todas e até breve.

A condessa fitou cada um dos rostos ali presente.

Contrariara as ordens médicas para estar ali naquele momento, tivera que discutir com a Maria Clara,
pois ela temia por sua segurança, porém nada e nem ninguém a impediria de estar naquele lugar.

Sentiu uma pressão nas costelas, ainda doía, mesmo com os analgésicos que tomava. Talvez quando
saísse da delegacia retornasse ao hospital, mas naquele momento não arredaria os pés dali.

Encarou os olhos arregalados de Clarice e mesmo tendo muita raiva daquela mulher, observando-a
agora, também sentia pena, pena por ela ter que conviver com a dor que causara a filha, pena por ela ter
perdido tudo em nome de sua ambição cega.

Recordou-se de Felipe que fora de grande ajuda, ele colocara um microfone na roupa da respeitada
senhora e através dele, conseguiram recolher as provas necessárias para detê-los.

Fizera questão de ouvir a gravação e ficou impressionada com a maldade daquele trio.

Esboçou um meio sorriso para Alex.

Conhecia-o desde que era uma criança e fora morar na fazenda. Ele sempre demonstrara interesse em
sua pessoa e quando ficara viúva ainda tentara se aproximar, devido a isso muitas histórias foram inventadas
sobre eles, tudo mentira! Jamais tivera qualquer tipo de interesse por tal critura, jamais se viu em seus braços.

Maneou a cabeça decepcionada.

Não chegara a pensar que ele fosse tão desgraçado a ponto de tramar algo tão macabro.

Estreitou as duas esmeraldas ao encarar Marcos.

Aquele não esboçava nada, apenas a covardia que era a mãe de suas ações.

Sempre tivera certa raiva dele, achava-o oportunista, até manipulador, porém esquecera que
personalidades como a dele trazia também junto a fraqueza de espírito.

Lembrou-se de que suspeitara da forma amigável que ele aceitara o processo de anulação, agira como
as cobras, traiçoeiros e preparando o momento certo para dar o bote.
Não sabia como demonstrar a gratidão que sentia por estar ali naquele momento, por ter conseguido
sobreviver e por ter alguém que a amava tanto ao seu lado a ponto de arriscar a própria vida por si.

Quando tudo aquilo terminasse iria pedir, implorar se assim fosse preciso para que sua princesa a
aceitasse como esposa, como sua companheira e dona por todos os dias de sua vida.

-- Como?????? – Clarice balbuciou. – Você estava morta...

Vitória observou as algemas que os prendiam e percebeu como eles tinham perdido aquela guerra.

-- Não... Graças ao anjo que é a sua filha, estou aqui diante de ti... – Caminhou lentamente e com ajuda
de Miguel, sentou. – Não tenho raiva por ter tramado contra mim, seus sentimentos nunca foram os melhores. –
O tom baixo e rouco soava ameaçador. -- Porém quando penso que a Clara poderia ter morrido na tentativa
suicida de me salvar, sinto vontade de apertar teu pescoço até ver se esvair teu último suspiro.

A Duomont se encolheu diante daquela possibilidade.

-- A culpa é sua... Minha filha se enfeitiçou por você... Sua culpa... – Dizia chorosa.

A ruiva pareceu não acreditar na cena feita pela sogra. Deu de ombros, mirando os dois homens.

-- Quanto a vocês... Gastarei até meu último suspiro para que nunca saiam da cadeia, pois é lá o lugar
de lixos...

Marcos tentou atacá-la, mas um dos policiais o tomou, derrubando-o e imobilizando-o no chão.

-- Podem levá-los! – Valentina apontou a porta.

Podia-se ouvir os gritos da Clarice, suas lágrimas que naquele momento pareciam tão falsas quanto
uma nota de quinze.

-- Não sabe como estou feliz em vê-la. – A delegada parecia emocionada. – Peço que me perdoe por
tudo o que passou, acho que fui injusta em muitos momentos e acabei não percebendo que era você a vítima de
toda essa história.

A condessa estendeu as mãos sobre a mesa, tendo as da esposa do tio nas suas.

-- Eu só tenho que te agradecer, você fez muito mais do que devia... – Piscou. – Hoje eu entendo o seu
desejo secreto de me trancafiar em uma dessas celas.

Os três caíram na risada diante do comentário.

-- Acho que a Clara terá essa vontade... – Miguel provocou.

Dias depois...

A condessa precisou retornar ao hospital devido às costelas, ficando por um tempo sob observação.

Clara brigou até não ter mais fôlego com a amada e naquela manhã retornaram para a fazenda.

-- Acho que não vai ficar bom...

Julieta fitou o rosto da jovem todo sujo de farinha de trigo.

Ficou horrorizada ao ver a bagunça que se encontrava a cozinha.

-- Menina, em nome de Deus, que estás fazendo? – Começou arrumar algumas coisas. – Parece que um
furacão passou por aqui.

A Duomont mordiscou o lábio.

-- Queria fazer um bolo para a Vitória... – Limpou as mãos no avental. – Hoje é o aniversário dela... E
mesmo eu estando muito brava e ainda não tê-la perdoada por ter sido teimosa, queria preparar algo, lembrei
que você tinha dito que ela adorava bolo de chocolate.

A empregada se encostou à pia, tentando não cair na risada diante da cena que se apresentava.

-- Onde está a condessa?

-- Dormindo! Está emburrada por eu ter dado uma bronca e...

Levou a mão a boca quando percebeu que quase dizia que tinha dormido no sofá, pois a ruiva tentou
agarrá-la.
Maria observou o rosto da veterinária ficar vermelho.

-- Ok, ok, eu irei te ajudar, mas por favor, tente não fazer tanta bagunça.

Clara ficou tão feliz que abraçou a boa senhora.

-- Suas mãos já estão boas? Não quero que as machuque.

-- Estão sim. – Beijou-lhe a face.

O quarto estava mergulhado na penumbra.

A condessa despertou, felizmente ao se mexer não sentiu mais a dor incomoda nas costelas.

Não aguentava mais ficar em repouso, ainda mais quando a mulher que amava nem se aproximava,
porque achava que a machucaria.

Discutiram na noite passada devido a isso, mas até tentava entender a posição da amada de não
desejar machucá-la, porém seu corpo estava em desespero para tê-la em seus braços.

A porta se abriu, Julieta adentrou o recinto, seguiu até a janela abrindo as cortinas, em seguida lá
estava Clara.

A morena trazia um bolo de chocolate cheio de velinhas.

Sorriu!

Nem mesmo se lembrava que era o dia do seu aniversário.

Ficou emocionada quando as duas cantaram parabéns pra você e se sentiu grata por Maria está ali.
Durante todos os seus anos, ela sempre lhe preparava um bolo e Vitor as acompanhava naquele momento.

Recebeu o abraço da esposa de Batista.

-- Que Deu lhe dê muitos e muitos anos para continuar perturbando as nossas vidas.

Vitória sorriu tocada pelo carinho que via no olhar da sua fiel escudeira.

-- Obrigada!

A empregada deixou-as sozinhas.

A ruiva fitou o ar doce e determinado da jovem.

Clara colocou a bandeja sobre a cama, em seguida sentou bem próximo a ela.

A empresária limpou-lhe a ponta do nariz que tinha resquícios de farinha.

-- Feliz aniversário, meu amor. – Colou os lábios nos dela delicadamente.

A condessa saboreou a maciez daquela boca carnuda e a forma suave que sua língua se movimentava.

Segurou-lhe a nuca, trazendo mais para perto de si, abraçando-a forte, sentindo o contato dos corpos.

Aprofundaram ainda mais a carícia, até que necessitaram parar para respirar.

-- Obrigada, meu amor... Esse é o melhor aniversário da minha vida.

Clara pegou a bandeja colocando sobre o colo dela.

-- Nossa, esse bolo tá lambuzado de chocolate, do jeitinho que eu gosto. – Passou o dedo levando até a
boca.

A Duomont observava, fascinada, os movimentos que ela fazia, lambendo tão deliciosa iguaria.

Desde o incêndio não se amaram mais, aconteceram tantas coisas, ainda mais pelo fato da ruiva ainda
estar convalescendo.

Maneou a cabeça para se livrar dos pensamentos conflitantes.

Ainda não tinha tido coragem de ver a mãe, porém Vitória insistiu em pagar um bom advogado para
tentar amenizar a pena.

A Duomont foi tirada de suas divagações por sua amada tossindo e cuspindo o alimento.
-- A Maria deixou queimar...

A expressão da veterinária foi de constrangida até não conseguir segurar a risada.

-- Fui eu que fiz. – Dizia sem conseguir segurar o riso.

A condessa a viu segurar a barriga de tanto gargalhar e acabou sendo contagiada por aquele som
gostoso.

Afastou o bolo, trazendo a jovem para os seus braços.

-- Perdão, moh, a Maria até que tentou... Mas eu acabei queimando... Então, a gente encheu de
chocolate pensando que você não iria perceber.

-- Que safadas! – Fez cócegas nela. – Achas que não perceberia, eu amo bolo de chocolate, sei o sabor
dele.

-- Eu pensei que ficaria bom...

-- Sei!

Vitória a deitou, pondo-se sobre ela.

Clara ainda gargalhava... Então a ruiva levantou-lhe a camiseta, abriu o sutiã, lambuzou a mão com
chocolate, passando nos seios dela.

A Duomont a encarou, pensou em protestar, mas quando sentiu os lábios lhe tocarem a pele cálida,
permaneceu quieta.

A Mattarazi circundou os mamilos, melando-os, depois lambeu um a um. Repetiu o ato de cobri-lo,
porém a boca agora se demorou mais, sugando... Chupando até ouvir a amada gemer baixinho.

Retirou-lhe a camiseta, passando a mão pelo abdome firme.

-- Já sei como usar esse bolo... – Passou o dedo entre os seios até a braguilha da calça. – E já que você o
queimou... Eu preciso comer algo...

A garota se apoiou no cotovelo, fitando-a.

-- Faça o que desejar, poderosa condessa, devo me redimir diante da senhora.

-- Ah, se vai se redimir, Branca de Neve... Eu exijo uma compensação.

Clara mexeu o quadril, auxiliando-a a livra-lhe a vestimenta...

A ruiva tocou a calcinha de seda... Sentindo a maciez... Beijou o tecido demoradamente, aspirando
aquele aroma único.

Delicadamente, retirou-a, deixando-a totalmente despida.

-- Você é a mulher mais linda de todo o mundo... – Ajoelhou-se entre suas pernas. – Poderia se mostrar
para mim?

A Duomont dobrou o joelho, em seguida, abriu-se, mostrando toda a sua essência feminina.

A empresária mordeu o lábio inferior cheia de desejo.

Levantou-se, seguiu até a porta, fechando-a. Colocou a bandeja com a sobremesa sobre a cabeceira da
cama. Mais uma vez retirou grande parte do doce, espalhando em sua coxa.

Cravou os dentes na pele, mas não de forma violente... Passou a língua...

Clara se apoiou mais uma vez em seu braço para ficar observando tudo o que a outra lhe fazia.

Rezou para que ela subisse mais e pareceu demorar um século para que isso acontecesse... Viu-a
seguir até sua virilha... E implorou mentalmente por mais...

Vitória a fitou, enquanto pegava uma grande quantidade de chocolate, passando na parte externa do
seu sexo, enquanto com o polegar, sentia-a molhada...

-- Sentiu minha falta? – Penetrou-a, enquanto lambia o chocolate. – Também necessitou desse
momento? – Substituiu os dedos pela língua.

A Duomont abriu-se ainda mais e quase desfaleceu ao senti-la se movimentar no interior do seu
corpo...
Gemeu ao sentir o vai e vem delicioso, maneou o quadril mais rapidamente para senti-la mais forte,
ouvia o som do sexo sendo arrebatado e ficou ainda mais excitada diante de tudo aquilo.

Segurou-lhe a cabeça para que ela não se afastasse...

-- Ain, delícia... Eu sou sua... Sua mulher... Faça o que quiser comigo... Sua...

As estocadas eram cada vez maior... Até os suspiros ficarem mais fortes...

A condessa sabia que me breve sua mulher gozaria, porém desejava compartilhar aquele momento
único com ela.

Afastou-se, deitando-a de bruços, mesmo sob os protestos apaixonados.

Clara a sentiu se posicionar sobre suas nadegas, levantou um pouco para que a mão da ruiva pudesse
tocar seu sexo.

-- Você me pertence... – Sussurrava em seu ouvido. – Sempre irá me pertencer... Minha... – Invadiu-a... –
Minha. – Invadiu-a mais uma vez.

A Duomont a sentiu esfregar em si, movimentando-se mais e mais...

Não demorou muito para que ambas gritassem em puro êxtase.

Alguns minutos depois, Clara descansava nos braços da amada.

-- Acho que vou querer que você cozinhe mais vezes. – Sussurrou em seu ouvido.

A jovem a fitou.

-- Não, ainda me sinto decepcionada por meu bolo... Queria tanto te fazer algo de aniversário.

-- Mas você fez, princesa, eu amei... – Arrumou-lhe o cabelo. – Esse é o melhor aniversário de todos. –
Beijou-lhe os lábios. – Eu te amo...

-- Eu te amo muito mais, Vitória Mattarazi.

Já era noite.

Valentina observava o marido se arrumar impecavelmente diante do espelho, seguiu até ele,
abraçando-o por trás.

-- Assim vou ficar com ciúmes... Estás um gato.

O advogado se virou para ela.

-- Preciso caprichar, é o aniversário da minha sobrinha. – Deu-lhe um beijo rápido.

-- Imagino que ela vai amar o presente que você leva.

-- Com certeza! – Sorriu.

Clara seguiu até a casa de Maria e Batista.

-- São ordens da condessa que jantem conosco.

-- Mas, menina, de onde veio esse absurdo agora? – Batista protestou.

-- Bem, quero saber quem falará isso para a Vitória.

Depois de algumas discussões, acabaram aceitando, seguindo até a casa grande.

A mesa estava cheia de iguarias. Tudo fora preparado com muito esmero.

A condessa ocupava a ponta, tendo ao seu lado sua amada, Além de Batista e Maria, também estavam
presentes Felipe, Miguel e Valentina com o pequeno Miguelzinho.

-- Tá uma delícia... – A delegada elogiou. – Vai ter bolo de chocolate?


Vitória não pode evitar o sorriso malicioso ao fitar a Duomont.

-- Não sei, a Clara que anda se aventurando em fazer essas sobremesas.

Todos os olhares se voltaram para ela, observaram a face avermelhar-se instantaneamente.

-- E então, filha? Estou ansioso para provar da sua receita.

A ruiva mordeu o lábio para não cair na gargalhada.

-- Eu... – Gaguejava a jovem... – Eu... A Maria fez. – Disse por fim.

-- Sim! – A ruiva segurou-lhe a mão. – Mas a Maria que me desculpe, mas o seu bolo é muito gostoso. –
Piscou atrevida.

Clara levou o copo a boca, tentando conter o aquecimento da pele.

O jantar transcorreu animado e ao final seguiram até a sala.

-- E como vai a fazenda, Felipe? – Serviu a todos com vinho, depois sentou na poltrona. – Sabe que em
Junho necessitarei de cana de açúcar para a produção.

Clara acomodou-se ao seu lado, sentindo os carinhos feitos em seus cabelos.

-- Não terá que se preocupar quanto a isso. – O homem bebericou. – Eu mesmo cuido de tudo.

A ruiva assentiu.

Miguel se levantou.

-- Como hoje é o seu aniversário, trouxe-lhe um presente. – Abriu a parta, retirando um envelope. –
Aqui está! – Entregou-lhe.

A condessa aceitou, abrindo-o, leu o conteúdo, esboçando um sorriso de felicidade.

-- Esse foi o segundo melhor presente que ganhei hoje... – Deu-lhe a Clara. – Agora basta que o seu pai
me dê a permissão de fazê-la oficialmente minha esposa.

-- Pode ter certeza que aceitarei todas as decisões da minha filha. – Levantou o copo em um brinde. –
Que todos possamos ser felizes.

Dois dias depois a condessa precisou se ausentar devido um grave problema em uma de suas filiais.

Desejou levar consigo a futura esposa, porém teve que deixá-la, pois a jovem estava resolvendo todos
os tramites do casamento que aconteceria o mais rápido possível, sem falar que ela ficará responsável por
administrar a cidade.

Miguel estacionou em frente a fazenda.

Clara pedira que ele a acompanhasse até o lugar onde a mãe estava presa.

Toda a trajetória fora feita em silêncio.

A Duomont parecia perdida em seus próprios pensamentos, até chegarem a enorme construção de
muros altos.

Vitória conseguira com um desembargador que o encontro das duas não fosse de forma tão fria, mas
como a mulher ainda não tinha sido julgada, ele abriu uma exceção.

O advogado a deixou sozinha na sala e não demorou para que a mulher entrasse.

A jovem de início apenas ficou a observar e ficou consternada ao ver como aqueles quinze dias tinham
apagados a energia e vigor que sua mãe sempre exibia.

Levantou-se e foi até ela.

Clarice parecia envergonhada, recuada e temente, então se sentiu abraçada fortemente pela filha,
permaneceu quieta, os braços caídos nas laterais do corpo e as lágrimas lhe turvando a visão.

Lentamente, estreitou-a e pareceu que o tempo voltava no dia que a teve pela primeira vez em seus
braços.
-- Por que veio? – Indagou, afastando-a. – Não desejo que volte a esse lugar.

Clara lhe tomou a mão, fazendo-a sentar ao seu lado em uma poltrona.

-- Precisava te ver... – Disse em o fio de voz.

-- Eu não mereço... – A mulher soluçava. – Não mereço o seu amor, arrisquei sua vida... Perdoe-me... –
Ajoelhou-se diante dela. – Por favor, me perdoe.

A Duomont a levantou, fazendo-a se acomodar novamente.

-- O advogado irá ajudá-la, em breve sairá daqui.

-- Não! – Levantou-se. – Não desejo sair daqui.

-- Como não, mamãe? – Seguiu até ela.

-- Preciso pagar por tudo o que fiz. – Tocou-lhe a face. – Quando penso que por mina culpa você
poderia ter morrido, sinto-me o pior ser do mundo, pois até os animais irracionais protegem suas crias, e eu
não.

-- Mamãe... – Protestou.

Clarice fez um gesto para que ela silenciasse.

-- Seja feliz e deixe que sua mãe possa seguir o melhor caminho.

As lágrimas de ambas selaram aquele momento, o único em que a jovem Branca de Neve saboreou
realmente o sentimento de amor materno.

Dias depois.

A noite já estava alta, as estrelas enfeitavam o imenso abobado.

Clara estava na varando do quarto, não conseguia dormir. Ansiava para que o dia seguinte chegasse,
não apenas porque seria o momento de se unir oficialmente com a mulher que amava, mas também o seu
regresso.

Deitou na rede.

Fitou o celular.

Esperava a ligação da amada, como fazia todos os dias desde que viajou. Esperava que ela não
demorasse no dia seguinte, pois não gostara de jeito nenhum de saber que a futura esposa só chegaria no dia
do enlace.

Pontualmente a viu chamar em vídeo. Atendeu!

-- Boa noite, princesa Branca de Neve!

A Duomont sorriu.

Observou-a.

Decerto tinha acabado de sair do banho, pois os cabelos estavam molhados, usava um roupão negro,
estava deitada em sua cama.

-- Boa noite, senhora condessa. – Piscou. – Espero que suas malas já estejam prontas.

-- Acredite, meu amor, por mim, viajaria hoje mesmo, meu corpo clama pelo seu... Meus lábios
necessitam dos seus beijos...

Clara sentiu um arrepio percorrer a espinha.

-- Amanhã estaremos juntas e saiba que não permitirei que viaje sozinha.

-- Nem eu quero! – Sorriu. – Desejo apenas ficar contigo...

A jovem princesa bocejou.

-- Fica comigo?

-- Sim, meu anjo, durma que ficarei aqui velando seu sono.
-- Te amo, meu amor...

-- Te amo muito mais...

Vitória permaneceu ali, ouvindo a respiração da amada ficar mais tranquila, observou a expressão de
paz em seu semblante.

Abraçou o travesseiro, fechou os olhos e ficou a imaginar que estava nos braços da veterinária.

Valentina e Miguel recepcionavam os convidados.

A celebração do casamento seria no pátio de trás da fazenda. O gramado verde forrava o a terra.

Foram colocadas muitas cadeiras e toda a população da cidade fora convidada.

Havia flores em toda extensão, vermelhas e brancas.

As pessoas pareciam felizes e ansiosas para ver as noivas.

-- O juiz já está esperando. – A delegada avisou ao marido. – Onde está a sua sobrinha.

-- Já deve está vindo, o helicóptero já pousou. – Fitou o arco que fora montado para a passagem das
noivas. – Nossa, a Clara está parecendo uma verdadeira princesa.

Todos os olhares se voltaram para a Duomont.

O advogado viu o celular tocar e lá estava a mensagem que precisava.

Fez um gesto afirmativo para Clara.

A Duomont usava um vestido branco, de alças finas, e a seda se ajustava ao seu busto, sendo um pouco
mais solto até os joelhos. Seus pés estavam descalços, usava uma coroa de flores e seus cabelos estavam soltos.

Felipe a levava e demonstrava o orgulho de conduzi-la pelo braço.

Miguel seguiu até onde estava a sobrinha e ficou maravilhado com a beleza estonteante da ruiva. O
vestido era idêntico ao da futura esposa, usava a coroa de lírios, as madeixas ruivas brilhavam como fogo ao
sol.

O advogado conduzia a bela Mattarazi.

Clara a fitava enamorada, demonstrando em seu olhar o encantamento por vê-la. Os de ambas
pareciam atraídos por imã, os verdes agora demonstravam toda a felicidade daquele momento, os negros o
amor tão intenso que trazia em seu peito.

Chegando diante da noiva, Miguel uniu a mão das duas.

Agora era vez de Miguelzinho. Todo vestido de branco, trazia uma pequena cesta as alianças do casal.

O relinchar de Bastardo, fez com que as duas mulheres mirassem em sua direção. O garanhão exibia
sua melhor cela e ao seu lado estava a linda Branca de neve.

-- Estamos aqui reunidos para unir em matrimônio essas duas jovens que através do amor decidiram
seguir o mesmo caminho...

Valentina abraçou o marido, vendo como seus olhos pareciam emocionados, mas não era só ele, viu
uma lágrima solitária banhar a face do Duomont e também sentiu essa mesma vontade de chorar, afinal, foram
tantas barreiras para que elas chegassem até ali, tantos medos superados, ódios e mentiras, porém o amor fora
mais forte e vencera aquela difícil batalha.

Três anos depois...

-- Conta, mamãe, quelo ouvir a histólia da condessa má.

Vitória sorriu, observando pela porta entreaberta a esposa inclinada sobre o enorme berço onde
repousava duas garotinhas.

Suas filhas: Aline e Alice.


Elas nasceram praticamente na mesma época, com dois dias de diferença. As duas mulheres
decidiram fazer a inseminação e foram abençoadas com as duas crianças. Aline fora gerada por Clara e nascera
com os cabelos vermelhos da condessa e olhos azuis, Alice fora gerada pela ruiva e essa trazia os traços da
Duomont, melhor, da Duomont de Mattarazi.

-- Contarei rapidinho, pois já está na hora de dormir.

As meninas gritaram de felicidade.

-- Era uma vez uma condessa muito linda que morava em um castelo cheio de escuridão... Ela era
arrogante, orgulhosa... Uma dama de gelo! – Clara fitou os olhos das garotinhas, pareciam hipnotizadas.

-- Ela comia “kiancinhas”? – Aline indagou temerosa.

-- Não, mas era assustadora, ainda mais quando subia em seu garanhão negro...

-- Não esqueça de falar sobre a princesa de olhos de feiticeira.

As crianças vibraram em ver a empresária, dando os braços para serem pegas no colo.

A ruiva inclinou-se, trazendo as duas para seus braços.

-- Mamãe ta contando a histólia da condessa de cabelo de fogo...

Os olhares das duas mulheres se encontraram.

-- Eu sei... – Disse Vitória, fitando a esposa. – Ela adora esse enredo...

-- Termine de colocá-las para dormir, preciso banhar para descansar. – Piscou atrevida.

A veterinária beijou cada uma das filhas, deixando-as sozinha com a Mattarazi.

-- Vai terminar a histólia, mamãe? – Alice beijou a face da empresária.

-- Sim, vou contar como a condessa má se tornou um cordeirinho doce e inofensivo.

Era quase madrugada, a lua iluminava o quarto do casal, os gemidos de prazer podiam ser ouvidos,
cheios de paixão.

Clara deitou nos braços da amada, exausta.

-- Acho que precisamos dormir... – Fitou-a. – Amanhã terei muito trabalho na clínica.

Vitória lhe enlaçou pela cintura.

-- Não esqueça que a Branca de Neve está quase para ter o herdeiro do Bastardo.

-- Amor, é o segundo filho dele, você fala como se fosse o único.

A ruiva tomou-lhe a boca.

-- O Bastardo é rico precisa de muitos herdeiros.

-- Igual você que já está a pensar em outros filhos?

-- Bem, vai dizer que não adora isso? Nossas filhas correndo pela fazenda, brincando felizes.

-- Lógico que adoro, mas ainda não decidi se gosto quando a mãe delas é muito permissiva.

-- Ah, mais isso só acontece algumas vezes... – Tomou os seios da amada em suas mãos. – Mas eu te
ajudo a cuidar delas... – Levou um dos montes à boca. – Até as levo comigo para o trabalho em alguns
momentos.

Clara mordeu o lábio inferior, sentindo o corpo se excitar novamente.

-- Acho até bom porque nenhuma sirigaita fica dando em cima de ti...

A ruiva girou, posicionando-se sobre ela.

-- Não tem do que reclamar, até transferia a Larissa para Roma só para fazer suas vontades. – Desceu a
mão até o sexo molhado.

-- Depois disso, nunca mais você pisou na Itália sem a minha companhia. – Abriu-se mais. – Tenho que
cuidar do que é meu... – Beijou-lhe. – E você me pertence, condessa bastarda...
Mattarazi sorriu, mordiscando a orelha.

-- Eu te amo, Branca de Neve... Minha princesinha de contos de fadas...

E naquela noite, mais uma vez o amor reinava no lugar onde um dia só houvera dor e tristeza, a
felicidades começava deixar seus frutos.

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