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Prado, Chris
1ª Edição
Luca Constantin – Amor Proibido
São Paulo, 2019
1. Literatura Brasileira. 2. Romance. 3. Fantasia
sobrenatural. 4. Literatura erótica.
https://linktr.ee/ChrisPradoAutora
NOTAS DA AUTORA
CAPÍTULO 1 - CONVIDADOS
CAPÍTULO 2 - SWING
CAPÍTULO 3 – A PACIENTE
CAPÍTULO 4 – NA NOITE FRIA
CAPÍTULO 5 – POR DETRÁS DO MURO
CAPÍTULO 6 – A INTRUSA
CAPÍTULO 7 – QUARTO DE PRINCESA
CAPÍTULO 8 – DEIXE-ME FICAR
CAPÍTULO 9 – A BIBLIOTECA
CAPÍTULO 10 – CONVENÇA-ME
CAPÍTULO 11 – TORRES E MASMORRAS
CAPÍTULO 12 – MODELO VIVO
CAPÍTULO 13 – DESOBEDECENDO ORDENS
CAPÍTULO 14 – A MOÇA NO ESPELHO
CAPÍTULO 15 – COMO UM ÍMÃ
CAPÍTULO 16 - É PROIBIDO SE APAIXONAR
CAPÍTULO 17 – O DEUS E O ANJO
CAPÍTULO 18 – NÃO TENHO DONO
CAPÍTULO 19 – PRIMEIRA LIÇÃO
CAPÍTULO 20 – APRENDA A RECEBER
CAPÍTULO 21 – ROMPENDO BARREIRAS
CAPÍTULO 22 – NÃO CONSIGO CHORAR
CAPÍTULO 23 - REVELAÇÕES
CAPÍTULO 24 - SOLSTÍCIO
CAPÍTULO 25 – SANGUE, MORTE E TRANSFORMAÇÃO
CAPÍTULO 26 - CONFINAMENTO
CAPÍTULO 27 – FUTURO INCERTO
CAPÍTULO 28 – DECISÕES ARRISCADAS
CAPÍTULO 29 – SOB VIGILÂNCIA
CAPÍTULO 30 – REGRAS E TAMPÕES
CAPÍTULO 31 – SANGUE, PRAZER E LUXÚRIA
CAPÍTULO 32 – O FUNERAL
CAPÍTULO 33 – DIA DE CAÇA
CAPÍTULO 34 – UMA NOVA LIÇÃO
CAPÍTULO 35 – ANO NOVO
CAPÍTULO 36 – DE VOLTA À TORRE
CAPÍTULO 37 – LOBOS, CRIANÇAS E LIBERDADE
CAPÍTULO 38 – NOVAS AMIZADES
CAPÍTULO 39 – PLANOS E DECISÕES
CAPÍTULO 40 – LAVANDO A ROUPA SUJA
CAPÍTULO 41 – BLOODY MARY
CAPÍTULO 42 – RITUAL DE SANGUE
CAPÍTULO 43 – ENTRE QUATRO PAREDES
CAPÍTULO 44 – DESEJOS REPRIMIDOS
CAPÍTULO 45 - PESADELO
CAPÍTULO 46 - PROVIDÊNCIAS
CAPÍTULO 47 – VÂRFUL CÂRJA
CAPÍTULO 48 – CELA DIVIDIDA
CAPÍTULO 49 – CORAÇÃO PARTIDO
CAPÍTULO 50 – VIDA NOVA
CAPÍTULO 51 – LEMBRANÇAS E SENSAÇÕES
CAPÍTULO 52 – EM BUSCA DA FELICIDADE
CAPÍTULO 53 – DESEJOS OCULTOS
CAPÍTULO 54 – DÉJA-VU
CAPÍTULO 55 – QUASE UM ANO
CAPÍTULO 56 – MEMÓRIAS PERDIDAS
CAPÍTULO 57 – MATANDO A SEDE
CAPÍTULO 58 – MATANDO A SAUDADE
CAPÍTULO 59 – SOB O JUGO DA LEI
CAPÍTULO 60 – CASO ENCERRADO
CAPÍTULO 61 – SOB A TEMPESTADE
CAPÍTULO 62 – FUTURO PROMISSOR
CAPÍTULO 63 - EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
LEIA TAMBÉM
SOBRE A AUTORA
Olá, leitores(as) queridos(as)!
Eis que chegamos com mais uma história com muita paixão e
romance, mas também com muita quentura e emoções.
Luca é um personagem que nasceu no livro Warg – Natureza
Indomável, lançado na Amazon no primeiro semestre de 2019. Contudo,
apesar de ser um spin-off, esta é uma história totalmente independente que
pode ser lida sem que se precise conhecer por antecipação os personagens.
Quem já leu Warg irá rever alguns deles em cenas pontuais durante a
leitura e matar a saudade. Quem ainda não leu e quiser ler depois,
inevitavelmente receberá alguns spoilers nesta história, mas nada que
interfira no prazer da leitura. O link para Warg se encontra disponível no final
desta obra.
Em relação a Luca Constantin, essa é uma história sobre vampiros
que se passa em nossa época; onde a tradição milenar se contrapõe aos
conceitos modernos sobre amor e relacionamentos. Devo dizer que, apesar
dessa obra ser uma fantasia, não é um conto de fadas. Aqui vocês vão
encontrar romance, drama, emoção, tensão e personagens carismáticos, mas
com seus próprios defeitos. Portanto, não esperem príncipes encantados,
esperem sentimentos reais, desejos profundos, escolhas duvidosas e corações
apertados.
Eu espero que gostem e que se emocionem com esta obra. Às
românticas de carteirinha, já aviso que o coração de vocês poderá sofrer um
pouquinho, mas confiem que tudo dará certo no final.
Por fim, gostaria de falar um pouco sobre os vampiros desta história.
Vocês irão notar que os vampiros daqui possuem algumas
características diferentes daquelas normalmente encontradas em outros
clássicos. Eles não são imortais, por exemplo, embora possam viver por
algumas centenas de anos.
Assim, não estranhem se algo não coincidir com aquilo que vocês
conhecem sobre vampiros, garanto que tudo será devidamente explicado
durante a história.
Obrigada por terem escolhido Luca. Desejo a todos uma ótima
leitura!
Romênia, agosto de 2017
J á era início de noite na Europa e uma pesada chuva de verão caia sobre o
vale verdejante escondido entre as montanhas dos Alpes da Transilvânia.
O calor dos últimos dias castigava os habitantes da região; no entanto,
não era problema para os moradores do secular castelo dos Constantin, cujas
paredes em pedra mantinham o interior fresco e com uma temperatura
agradável.
— Já falou com sua irmã? — perguntou Mirela, sentada atrás da
enorme mesa de madeira escura, e conferiu os nomes de uma lista que tinha
em mãos. — Ela confirmou se vem mesmo?
— Uhumm... — respondeu Luca preguiçosamente, deitado em um
sofá e com o braço sobre o rosto.
— Luca! Isso é importante. Quer prestar atenção, por favor? —
retrucou a elegante vampira de cabelos castanhos escuros e olhos azuis
acinzentados.
O rapaz inspirou fundo e se sentou.
— Sim, mãe, Ivy confirmou comigo semana passada. Vem ela, o
marido e as crianças... — completou ele.
— Que bom! Fico feliz com isso. — Mirela sorriu. — Ela nunca mais
veio nos visitar depois daquela reunião com o seu pai.
— Isso não é surpresa, não é? — Luca a olhou com um ar
interrogativo. — Aqui não é exatamente um lugar do qual ela guarda boas
lembranças. Aliás, ela disse que virá apenas porque se trata do meu noivado...
Mirela suspirou.
— Sim, entendo. Espero que desta vez ela e o seu pai consigam se
entender melhor.
O jovem vampiro deu de ombros.
— Pelo menos Grigore Constantin sabe que fez merda e que Ivy não
é alguém que ele possa controlar, ainda mais agora que está casada com um
cara que não se deve brincar. — Luca sorriu, lembrando da expressão do pai
quando o marido da irmã disse que não hesitaria em matá-lo, caso ele não
deixasse os dois em paz. — Ela deixou bem claro que poderia demorar para
perdoá-lo.
— Sim... eu sei... Grigore fez coisas odiosas, mas se arrependeu e
está disposto a unir a família de novo — justificou Mirela. — Enfim...
voltemos à lista. E quanto ao seu tio Stefan e ao seu primo?
— O tio vem com a tia, e Rob eu não sei, acho que só vem com a
filha — respondeu Luca. — As coisas não vão bem entre ele e a esposa...
— Isso me arrepia... Você sabe se eles estão pensando em se separar?
Isso seria outro escândalo na família Constantin... — lamentou-se a vampira.
— Já estou ficando até acostumada em ver nosso nome ser motivo de fofoca
entre as famílias tradicionais. Só espero que isso não afete seu irmão Victor.
Ele está há tão pouco tempo no Conselho... Não seria bom perdermos aquela
cadeira, Luca...
— Relaxa, mãe, Rob é americano, esqueceu? — O rapaz de cabelos
negros e olhos incrivelmente azuis sorriu. — A linhagem de vampiros
americanos já não tem boa fama entre os arcaicos Vampyrs europeus faz
tempo, e um escândalo a mais ou a menos não fará diferença. Quantas
pessoas vêm para essa festa? — perguntou, mudando de assunto.
— Acho que teremos uns 120 convidados, por quê?
Luca arqueou as duas sobrancelhas.
— Tudo isso? Mas é só um noivado... Não deveria ser uma festa mais
íntima? Só com os familiares mais próximos? — disse ele espantado.
— Talvez, se fôssemos vampiros comuns e se o pai da noiva não
fosse um membro do Conselho... — Mirela sorriu. — Seu pai não quer fazer
feio, Luca. Ele pode ter perdido a cadeira de conselheiro, mas ainda tem o seu
orgulho. Além disso, você sabe muito bem que o noivado e o ritual de sangue
são quase tão importantes para os Vampyrs quanto o casamento em si. Mas
não se preocupe, está tudo sob controle.
— Hum... está bem então... Mas não se estresse tanto com isso, ainda
faltam seis meses.
— Seis meses passam voando.
Luca se levantou.
— Okay. Preciso subir agora para me trocar, vou me encontrar com
Sebastian em Sibiu mais tarde.
— Sebastian? O que ele faz por aqui? — estranhou a vampira.
— Não faço ideia...
— Está bem, divirtam-se... — respondeu ela com um sorriso e, em
seguida, voltou a olhar a lista para fazer algumas marcações.
O rapaz arrastou-se em direção ao quarto, estava cansado.
Ultimamente ele vinha estendendo seus plantões e dedicando boa parte de seu
tempo ao trabalho no pequeno hospital da região, onde atendia como clínico
geral desde que terminara sua graduação na universidade e voltara para a
Transilvânia. A impressão que tinha era que no verão todas as crianças
resolviam se machucar, caindo de árvores ou andando de skate. Assim, fora
as consultas normais, sempre surgia alguma emergência para atender.
Felizmente sua mãe estava cuidando da organização daquela bendita
festa, não tinha tempo nem paciência para aquilo; se dependesse dele, faria
um jantar só para vinte pessoas, no máximo.
Enquanto subia as escadas, Natasha, sua futura noiva, veio-lhe à
mente.
O casamento entre eles havia sido arranjado quando ainda eram bem
jovens, o que era normal entre os vampiros puros e era algo que ele já
esperava. Por isso, não se importou. Fazia parte de suas obrigações como
herdeiro do castelo manter a linhagem pura, e até que ele tivera sorte com a
prometida.
Quando vira Natasha pela primeira vez, na época em que seus pais
selaram o acordo, ele tinha apenas doze anos de idade e era criança demais
para reparar na jovem de dezesseis. No entanto, quando ele a encontrou
novamente quatro anos depois, ficou embasbacado com a beleza e a
sensualidade da moça.
O vampiro sorriu ao se lembrar da última vez que ela havia estado ali
no castelo. Fazia quase dez anos que não a via... Ele não passava de um
adolescente nerd que dedicava a maior parte de seu tempo em estudar e se
preparar para entrar na universidade quando a jovem apareceu com o pai em
uma visita. Assim que a viu, Luca se achou o vampiro mais sortudo do
mundo.
Ele não esperava que a garota tivesse ficado tão bonita. Bonita não,
linda! Seus cabelos loiros claríssimos combinavam com os olhos azuis
igualmente claros e seu sorriso, encantador.
De início, sentiu-se envergonhado em estar na presença dela, mas
Natasha, sendo um pouco mais velha do que ele, logo deixou-o à vontade.
Tão à vontade que não demorou para que ela o seduzisse e o levasse pela
primeira vez para a cama. Sim, ele havia perdido a virgindade com a própria
futura noiva.
Talvez isso fosse algo bom, talvez não... Ele só sabia que naquela
época tinha sido bom e esperava que quando a hora do casamento chegasse,
dali a algumas décadas, eles pudessem realmente se dar bem, como um casal
de verdade.
Entrou no quarto e tirou as roupas pelo caminho. Além de um bom
banho para acordar, precisava arrumar disposição para se encontrar com
Sebastian. Pelo que conhecia do amigo de faculdade, a noite seria longa...
Enfiou-se embaixo da ducha ainda pensando na noiva, estava curioso para
saber como as coisas se desenrolariam entre ele e Natasha, e como ela estaria
agora.
Pensando bem, ela provavelmente não devia ter mudado muito na
aparência. A garota já era praticamente uma vampira adulta quando esteve
ali, e os vampiros depois que atingem a casa dos vinte anos envelheciam
muito lentamente. Ele, em compensação, apesar de pouco ter mudado nos
últimos anos, com certeza estava bem diferente do garoto ingênuo e
inexperiente de dezesseis anos que ela havia desvirginado, muito diferente...
Sorriu, imaginando como ela se surpreenderia se transasse com ele agora.
Sentindo-se mais disposto e com o humor renovado, Luca saiu do
banho e se trocou. Seguiu, então, para Sibiu, uma das maiores cidades da
Transilvânia, localizada a cerca de 90 km do castelo e onde seu pai mantinha
um hospital de referência, muito procurado para os casos mais difíceis e
complicados.
Chegou à boate no horário combinado com Sebastian e logo o viu em
pé próximo ao bar.
— Olha só quem chegou, finalmente! — exclamou o vampiro de
cabelos loiros não muito claros e olhos em tons que variavam do verde ao
mel.
— Estou no horário — respondeu Luca com um cumprimento de
mãos típico da época da faculdade. — O que faz aqui, tão longe de casa?
— Vim para conversar com o seu pai. — Ele sorriu. — Tenho uma
reunião com ele amanhã.
— Conversar com o meu pai? — Luca franziu a testa. — Sobre o
quê?
— Sobre a vaga de clínico que abriu no hospital de vocês aqui em
Sibiu.
— Como assim? Perdeu o emprego em Bucareste? O que andou
aprontando?
Sebastian riu.
— Não exatamente, estou pedindo as contas. — Fez um gesto
chamando o bartender. — Não aguento mais ficar sob a sombra do meu pai.
Cansei... o velho não sai da minha cola, nunca tenho liberdade para decidir
nada, parece que tudo tenho que pedir aprovação para ele. Chega, preciso
viver a minha vida, ter a minha autonomia.
— E acha que é fácil trabalhar para Grigore Constantin? —
perguntou Luca, ironicamente. — Por que acha que eu preferi ir para um
pequeno hospital regional e trabalhar com o meu irmão ao invés de vir para
cá?
— É diferente... A verdade é que trabalhar com a família não é fácil,
mas eu não sou da sua família, serei apenas um funcionário, então...
O bartender chegou e Luca pediu uma bebida.
— Vai sentir falta da agitação da capital. Sibiu é uma cidade
movimentada por causa da universidade, mas não se compara a Bucareste.
— Isso não me preocupa...
— E quando pretende começar sua especialização?
— Eu já te disse. Vou começar a minha quando você começar a sua.
— Sebastian o olhou com divertimento.
Luca arqueou levemente a sobrancelha e riu.
— Você sabe que não nasceu grudado em mim, não é?
— Não, não nasci, mas me dá tédio só de pensar em enfrentar uma
especialização sem você para me acompanhar nas festas. — O loiro abriu um
sorriso malicioso que Luca conhecia bem.
— Quando vai criar juízo, Bass? — brincou.
— Eu tenho juízo, apenas gosto de aproveitar a vida — respondeu o
amigo. — Mas, e então? Conte-me as novidades, está preparado para se
comprometer em definitivo?
— Fala do noivado? — Luca deu de ombros. — Acho que sempre
estive... Ouço sobre esse assunto desde meus dez anos, quando meus pais
negociaram o enlace. Além disso, Natasha é...
— Gostosa! — Sebastian gargalhou.
— Eu ia dizer “um belo partido”, mas, sim, ela é gostosa. — Os olhos
de Luca cintilaram.
O atendente do bar trouxe a bebida de Luca e eles fizeram um brinde.
— Ao futuro noivo — disse Sebastian ao levantar o copo; então,
ficou pensativo por alguns instantes. — Me diz uma coisa... vão fazer o ritual
de sangue durante a festa?
— Sim... é a tradição. Um dia chegará a sua vez. — Luca sorriu.
— Aff, nem me lembre! Escuta... não acha esse negócio de ritual um
pouco antiquado?
— É só um ato simbólico — respondeu vagamente.
— Mas continua sendo um contrato... um contrato cuja assinatura é o
sangue e que nos prende a uma pessoa para o resto da vida. — Uma ruga se
formou entre as sobrancelhas de Sebastian. — Não sei se gosto disso, ainda
bem que o meu pai não me arrumou ninguém, por enquanto...
— Sorte sua, mas uma hora...
O vampiro de olhos verdes balançou a cabeça negativamente.
— Não tão cedo. Espero que essa hora ainda demore muito para
chegar — disse. — Não está mesmo nervoso?
— Não me preocupo com isso. — Luca bebericou um pouco mais de
seu drink. — Não é algo do qual eu possa ou queira fugir, conheço as minhas
responsabilidades e eu realmente não me incomodo em me comprometer
agora. Afinal... mesmo estando noivo, continuarei com a minha liberdade até
o casamento daqui a uns 30 anos ou mais, então... — disse com um sorriso.
— Ah, sim, pelo menos isso tem de bom. Ainda poderá transar com
muitas mulheres até lá. — Sebastian riu. — Por mim, não me caso antes dos
200 anos. Escute, eu estou na lista de convidados, não é?
— Pergunte para a Natasha, você é primo dela, não meu, então tem
que estar na lista dela — respondeu Luca em tom divertido.
— Até parece, aquela loira me odeia... Olha, o negócio é o seguinte,
se não me colocar na lista, eu entro na sua festa de penetra, ouviu? —
Sebastian virou o resto de sua bebida e pediu outra para o rapaz do bar. —
Enfim, meu amigo, temos que aproveitar nossa beleza e juventude, que
apesar de duradoura, não é eterna. — Apontou, então, para duas garotas que
olhavam insistentemente para o lado deles. — O que acha daquelas ali?
Luca se virou para olhar.
— Bonitinhas... — respondeu.
— Topa? — perguntou Bass sorrindo.
— O quê, exatamente? — quis saber Luca, desconfiado das intenções
do amigo.
— Uma brincadeirinha a quatro.
— Um swing?
Sebastian sorriu maliciosamente e Luca estreitou levemente os olhos.
Bass sempre fora um pervertido, provavelmente havia saído com todas as
garotas bonitas da faculdade e chegara muitas vezes a arrastá-lo para suas
loucuras. Foram seis anos de muito sexo, sem dúvida, algo que Luca já havia
até se desacostumado nos últimos meses, pois em cidades pequenas, como as
que rodeavam o vale, era complicado encontrar alguém apenas para passar
uma noite sem compromisso, se divertir, transar... ainda mais sendo ele um
Constantin. Todos conheciam sua família por ali e muitas garotas tentavam
prender a sua atenção na esperança de namorar o único herdeiro solteiro do
castelo.
Refletiu por um momento. E por que não? Os vampiros podiam se
relacionar com quem ou quantas pessoas quisessem até o casamento, mesmo
estando noivos. A fidelidade e a lealdade eram cobradas somente após o
enlace, portanto não havia por que recusar. Era comum jovens vampiros
como ele se aproveitarem da liberdade que tinham enquanto podiam: sem
limitações, sem reservas, sem pudor.
Logo, não haveria problema nenhum em se acabar no sexo enquanto
não se casasse, desde que tomasse o cuidado de não iludir nenhuma garota
com quem saía, e desde que não se envolvesse emocionalmente com
ninguém.
Se apaixonar estava totalmente fora de questão. Primeiro porque não
havia como desistir de um enlace como já estava combinado entre ele e
Natasha, pois só um casamento entre vampiros puros garantiria a
continuidade de sua linhagem. Sendo ele um Constantin, senhores do vale por
séculos, com a tutela de mais de 80 famílias de vampiros transformados,
tinha a consciência de que carregava maiores responsabilidades por isso.
Segundo, porque ele sabia perfeitamente que, se tratando de
humanas, se apaixonar era um perigo. Não podia correr o risco de alguma
mulher descobrir sobre sua natureza. Afinal, como um Vampyr, um ser
sobrenatural que podia viver por mais de 500 anos, sua obrigação era manter
sua existência em segredo.
— Está bem... — respondeu Luca sorrindo. — Um swing, então?
Vamos nessa...
— Okay, mas antes tenho que te perguntar uma coisa — disse
Sebastian com um olhar enigmático. — Já experimentou o sangue de alguém
vivo, fora da cerimônia de batismo?
— Claro que não, é proibido! — respondeu ele, arqueando as
sobrancelhas. — Você já?
O vampiro loiro deu um sorrisinho de lado e se aproximou um pouco
mais de Luca.
— Espero contar com a sua discrição... — disse-lhe próximo do
ouvido.
— Você está brincando? Pretende mesmo fazer isso? — espantou-se
Luca. — Com elas?
— Ah, Constantin, não sabe o que está perdendo... — Piscou. —
Vamos! — exclamou Sebastian se levantando e caminhando em direção às
garotas.
C erca de quinze minutos depois de saírem da boate, os dois vampiros e
as garotas entravam em um pequeno, mas confortável motel no centro
da cidade.
Luca ainda estava receoso com as palavras do amigo, mas ao mesmo
tempo curioso. Sebastian era do tipo que não se preocupava muito com as
consequências de seus atos, era espontâneo, imprudente e, algumas vezes,
rebelde. Bem diferente de Luca, que preferia se manter mais reservado e não
chamar muito a atenção.
Dentro do quarto, as jovens mulheres, uma loira e uma ruiva, logo
mostraram a que vieram. Enquanto Sebastian pegava duas cervejas no
frigobar e entregava uma a Luca, as duas começaram a tirar as roupas uma da
outra, sob os olhares atentos e libidinosos dos rapazes.
Totalmente nuas, passaram a se beijar e se acariciar sem o menor
pudor, provocando ondas de excitação em Luca. Ele já sentia seu membro
duro e sensível. O amigo também não estava diferente, o volume em suas
calças o denunciava.
Sem conseguir mais se conter, Sebastian largou a garrafa de cerveja
sobre o móvel e se enfiou no meio das garotas, beijando-as alternadamente.
Não demorou muito para que elas arrancassem também as roupas dele e
soltassem um exclamação de admiração frente à bela ereção do rapaz.
Luca sorriu, ele também queria entrar na brincadeira. Então se
levantou e caminhou até o trio. As meninas logo se voltaram para ele, e
enquanto uma lhe beijava a boca e tirava sua camisa, a outra se encarregava
de tirar suas calças.
Em poucos minutos estavam todos nus e se agarrando sobre a cama.
A ruiva, após beijar todo o corpo de Luca, resolveu se ocupar de seu pau,
lambendo-o e chupando-o. Ele ansiava para que ela o colocasse todo na boca,
mas seu brinquedo era grande e o vampiro sabia que não era fácil, pelo
menos ela o engolia gostoso até onde conseguia, e isso lhe arrancava gemidos
de prazer.
Já a loira, sentada sobre Sebastian, rebolava e se esfregava nele,
querendo desesperadamente que ele a penetrasse.
No entanto, o amigo parecia determinado em postergar o ato, como
se aquilo o excitasse. Com um sorriso, Sebastian se levantou e voltou até o
frigobar, pegando algumas garrafinhas de tequila e entregando uma para cada
garota. Percebia-se que elas já haviam bebido bastante na boate e aquela
tequila só iria deixá-las mais bêbadas, mas parecia que era isso que ele
pretendia.
O rapaz voltou para a cama e, para o deleite da loira, possuiu-a
finalmente, enterrando-se na cavidade quente e escorregadia da mulher com a
voracidade de um predador. Ela nem mesmo o questionou sobre ele não usar
camisinha. Sebastian, por sua vez, pouco se preocupava com isso, não podia
engravidar humanas mesmo... Somente se fossem transformadas e ainda
assim não era tão fácil.
Já a ruiva, após tomar sua dose de bebida, voltou a se concentrar no
membro de Luca, que, deitado sobre os travesseiros, deliciava-se com o que a
garota fazia com a boca. Ela o lambia em toda sua extensão, abocanhava sua
glande e a sugava, subindo e descendo com os lábios em um ritmo frenético
que o estava levando rapidamente ao ápice.
— Não goze ainda, Luca — disse Sebastian, voltando-se para ele.
Luca levantou a cabeça e olhou interrogativamente para o amigo, que
sorriu com malícia enquanto ainda se enterrava na loira. A ruiva liberou,
então, o seu membro da boca e o fitou com os olhos inebriados.
— Você é gostoso — disse ela com a voz meio enrolada. — E o seu
pau é fantástico, quero ele dentro de mim, por favor...
Luca sorriu e a puxou para cima dele. A garota se encaixou em sua
ereção e começou a se movimentar, cavalgando-o como uma amazona. Os
seios da mulher balançavam e ele agarrou-os com as duas mãos, apertando-
os. Ah, como sexo era bom!
— Caralho, Sebastian, quero gozar! Você quer que eu espere o quê?
— disse ele, já com a respiração entrecortada pelo prazer iminente.
O rapaz ao lado riu e saiu de dentro da loira. Puxou, então, a ruiva de
cima do amigo, fazendo-a se deitar ao lado da outra garota e as duas voltaram
a se beijar. Luca soltou um gemido frustrado.
— Calma, meu amigo. Não tenha pressa... — falou Sebastian se
levantando e pegando mais bebida para as moças. — Vamos lá, garotas,
fiquem de joelhos.
Elas obedeceram e, entre beijos e carícias, aceitaram a bebida feita de
vodca que o vampiro lhes oferecia na boca. Luca se sentou, observando o
amigo que parecia se divertir com as moças se pegando. Mas ele também
queria se divertir, queria foder, queria gozar, e já estava ficando impaciente.
Sebastian, posicionado atrás da ruiva, olhou para ele e sorriu, um
sorriso malicioso. Em seguida desceu a mão pelo ventre da garota e começou
a acariciá-la em sua intimidade, ao mesmo tempo em que a amiga loira lhe
chupava os seios. A ruiva jogou a cabeça para trás extasiada, embriagada. Na
verdade, ambas estavam completamente bêbadas.
A garota estava quase gozando sob os dedos de Sebastian quando ele
encarou Luca novamente.
Um frio na espinha misturado com uma pressão crescente em seu
sexo tomou conta do corpo do jovem Constantin quando ele viu, surpreso,
que os olhos do amigo tinham passado de verde para violáceos.
Bass sorriu outra vez e, sem hesitar, inclinou a cabeça e cravou os
dentes no pescoço da ruiva, fazendo-a soltar um grito rouco.
A loira, que ainda sugava o mamilo da amiga, levantou a cabeça para
olhar o que estava acontecendo e, neste momento, Luca viu que precisava
fazer algo.
Sem dar chance para que ela entendesse o que se passava ali,
aproximou-se rapidamente da moça e a puxou para si, deitando-a de bruços
na cama e cobrindo seu corpo com o dele. Afastou, então, as coxas dela
usando seus joelhos e a penetrou de uma só vez, sem cuidado, sem
delicadeza. A visão de Sebastian mordendo a ruiva o havia excitado ainda
mais e o cheiro do sangue fresco que vinha dos dois estava o instigando de
uma forma absurda.
Tomado de excitação, Luca se mantinha sobre a loira, enterrando-se
nela com vigor. Poderia se manter assim, metendo por trás até gozar, mas não
era egoísta; desceu, então, uma de suas mãos para o ponto sensível da moça e
começou a acariciá-lo, fazendo-a gemer alucinadamente.
No entanto, ele queria mais; e o cheiro de sangue vindo do casal ao
lado... não conseguia ignorá-lo. Virou, então, o rosto para observá-los e notou
um pequeno filete vermelho escorrer pelo pescoço da ruiva, enquanto o
amigo permanecia sugando-a, já quase desfalecida em seus braços.
Aquela visão foi demais para Luca. Imediatamente seus olhos
ficaram violáceos e ele deixou sua transformação se completar; ele também
queria aquilo, o sangue. Sem mais raciocinar se o que fazia era certo ou não,
inclinou a cabeça da loira para o lado e enterrou seus dentes afiados em seu
pescoço.
Para o deleite da garota, a mordida de um vampiro, apesar de doer
um pouco, também era um potente estimulante sexual para os humanos. Ela
fazia com que uma descarga de neurotransmissores responsáveis pelo curto
circuito do prazer fosse liberada no cérebro, intensificando e prolongando o
orgasmo deliciosamente.
A loira, então, gritou e se tensionou embaixo dele, gozando, vibrando
e gemendo; em seguida, ela relaxou. Luca sorriu por dentro e continuou a
penetrá-la profundamente, enquanto sorvia seu sangue como se tomasse um
licor doce. Logo, o gozo chegou para ele, longo, intenso e avassalador, como
nunca antes havia sentido. Realmente, como dissera Sebastian, ele não sabia
o que estava perdendo...
Ofegante e satisfeito em todos os sentidos, deixou, finalmente, a
moça, deitando-se ao seu lado.
Olhou, então, para Sebastian. Ele havia mudado de posição com a
ruiva, deixando-a por baixo na cama, e agora a fodia com vontade. Ela
soltava pequenos murmúrios e gemidos, certamente a moça já havia gozado e
agora estava em um estado de quase inconsciência. Com um estocada mais
forte, o amigo chegou ao clímax, fechando os olhos e soltando um longo
gemido.
Luca sorriu, aquele cara não prestava, mas era seu melhor amigo.
Ainda não sabia como deixava se levar por ele naquelas loucuras. Sim,
porque aquilo era uma loucura, era proibido; e se alguém descobrisse,
estariam ferrados.
Apesar dos vampiros ingerirem regularmente sangue humano, este
era retirado daqueles que morriam nos hospitais, purificado e embalado.
Vampiros eram proibidos de ingerir sangue fresco direto dos humanos,
exceto durante as cerimônias de batismo, pois o líquido quente e viscoso que
saía direto das veias dos vivos era um poderoso afrodisíaco que podia viciar
qualquer vampiro, puro ou transformado, como uma droga.
Quanto mais ingerissem, mais sentiam a necessidade de tomá-lo; e,
uma vez fora de controle, os vampiros poderiam atacar qualquer um, em
qualquer lugar. Algo perigoso para seres como eles que para sobreviverem
precisavam se manter nas sombras, invisíveis.
Por conta disso, há muito tempo o Conselho havia imposto esta
proibição, mas naquele quarto de motel, naquele momento, tal regra não
parecia ser algo que preocupava qualquer um dos vampiros que ali estavam.
Sebastian rolou para o lado e encarou Luca com os olhos brilhantes e
a boca com os cantos sujos de sangue. Ele riu e se levantou, indo pegar mais
cerveja no frigobar.
Luca se levantou também e ambos se sentaram no sofá, bebendo e
observando as garotas na cama, elas dormiam profundamente, como se
estivessem anestesiadas.
— E aí? — perguntou Sebastian. — Gostou?
— Não posso dizer que não. — Luca sorriu. — Mas isso não foi
certo, afinal.
— Não machucamos ninguém aqui, esses dois furinhos nos pescoços
delas mal vão aparecer amanhã e elas estarão novas em folha — respondeu o
amigo com um suspiro.
— Sabe que não é por isso...
— Não colocamos nosso segredo em risco, duvido que as duas ali se
lembrem de algo com clareza. Além disso, tem muito humano hoje que
“brinca” de ser vampiro. Se alguém desconfiar, é só dizer que é uma
brincadeira, um fetiche...
— Ainda assim, se alguém descobrir...
— “Se” alguém descobrir, com certeza irão nos jogar por um tempo
nas masmorras. — Sebastian sorriu meio de lado. — Ou melhor, eu ia ser
jogado nas masmorras, você tem seu irmão no Conselho, receberia no
máximo uma advertência.
— Você tem seu tio...
— Quem, o pai da Natasha? — Gargalhou o rapaz. — Aquele lá seria
bem capaz de dobrar minha pena ao invés de me ajudar.
— Ainda não entendo essa rixa entre vocês. — Luca bebeu um gole
da cerveja.
— Ah, coisas de herança. Meu tio acha que meu pai passou a perna
nele, ficando com o melhor hospital depois que meu avô morreu. — Ele deu
de ombros. — Desde então, ninguém olha mais na cara de ninguém. Sua
futura noivinha não vai me gostar de ver na festa, já vou avisando... — Ele
riu.
Luca sorriu.
— Bass... Você faz muito isso? — perguntou, curioso.
— Isso o quê?
— Beber sangue de humanos vivos?
Sebastian riu.
— Não, claro que não, conheço os perigos do vício. Só faço de vez
em quando..., mas é bom, não é? — Ele refletiu por uns instantes. — Sei que
o Conselho instituiu essas regras para proteger nossa existência, mas ainda
penso que isso anula demais nossa natureza... Algumas coisas deveriam ser
permitidas com moderação...
— O problema é que sempre terão aqueles que não saberão agir com
moderação... — Luca olhou para as garotas. — O que vamos fazer com elas?
— Ah, antes do sol nascer a gente acorda as duas. — Sebastian se
levantou do sofá e voltou para cama. — Vou tirar um cochilo, não vai vir
não?
— Vou ficar no sofá — respondeu Luca se esticando por ali mesmo.
A cama estava um pouco cheia e ele queria um pouco mais de espaço para
descansar. Fechou os olhos e relaxou, o sono veio logo em seguida.
Acordou algumas horas depois com o barulho de gemidos, voltou os
olhos para a cama e viu Sebastian fodendo a loira desta vez. Ele riu, o amigo
era incansável. Procurou o celular para conferir o horário e notou que já ia
amanhecer.
— Ei, Luca! — disse Bass ainda se movimentando sobre a moça
quando percebeu que ele tinha acordado. — Vem se divertir mais um pouco.
— Não, vou tomar um banho — respondeu o rapaz se levantando. —
Tenho mais de uma hora de estrada pela frente ainda. Não quero pegar o sol
muito alto.
Apesar de proteger a pele com roupas e seu carro ter insulfilme,
quanto mais intensos eram os raios UV, maior era o incômodo. Aliás, Luca
considerava o verão terrível por causa disso. Mesmo com o calor dos
infernos, era obrigado a sair com mangas compridas e luvas, fora o chapéu e
os óculos escuros. Não era à toa que muita gente da cidade achavam os
Constantin esquisitos.
O vampiro foi, então, até o banheiro e tomou uma ducha rápida
Quando voltou, Sebastian já havia satisfeito seus impulsos e estava estendido
na cama com uma expressão feliz, a loira penteava os cabelos e a ruiva estava
acordando. Alguns minutos depois, ambas seguiram juntas para se lavarem,
enquanto os dois rapazes se vestiam no quarto.
— A que horas vai falar com o meu pai hoje? — perguntou Luca.
— Ele marcou às 11h comigo — respondeu Sebastian. — Seu pai
vem todos os dias para Sibiu? — quis saber.
— Não, o hospital tem um Diretor Geral responsável pela maior parte
das decisões. Meu pai vem duas ou três vezes na semana só. — Luca sorriu.
— Grigore gosta mais de cuidar dos assuntos do castelo, das terras, da vila...
— Hum... é verdade que ele perdeu a cadeira no Conselho por causa
da sua meia-irmã?
Luca arqueou uma das sobrancelhas. Apesar de aquilo ter acontecido
na época em que estudavam juntos, Bass nunca havia tocado no assunto.
— Não foi por causa de Ivy, foi por causa das más decisões dele em
relação a ela. Mas, no fundo, isso foi bom para ele, para minha irmã, para
todos nós. Meu pai mudou muito depois que deixou o Conselho; apesar de
ainda continuar rígido em algumas coisas, ele entendeu que o mundo está
mudando e que nem tudo dá para ser preto no branco.
— Estou curioso para conhecer sua irmã — disse Sebastian com um
brilho no olhar.
Luca riu.
— Nem tente, meu amigo. O marido dela é mais perigoso do que dez
Lykans juntos.
— Ah.. sim... você disse uma vez, ele é um Warg, né? — falou
pensativo.
— Exatamente, alguém com quem você não deve se meter a besta.
Está avisado! — Sorriu.
Sebastian fez um sinal de okay, enquanto as moças retornavam do
banheiro.
Luca voltou para o castelo naquela manhã se sentindo diferente, bem
mais disposto do que quando apenas fazia sexo normalmente. Com certeza
por causa do sangue fresco. Realmente, aquilo havia sido uma experiência e
tanto...
Dois meses depois daquela intensa noite, Luca descia com pressa as
escadas do castelo para tomar café, estava atrasado. Durante aquelas
semanas, não vira mais Sebastian, e apenas soubera que seu pai o havia
contratado para trabalhar em Sibiu.
Apesar de ter recebido algumas ligações do amigo e de sentir falta de
sair e de se divertir, preferiu não retornar à cidade. Sabia que o que haviam
feito não era certo e sua consciência ainda pesava um pouco, por isso achou
melhor evitar a companhia de Bass por um tempo.
Como de costume, foi direto para a cozinha e encontrou a mesa
preparada por Anna, a cozinheira, com pães, geleias, torta e suco de pêssego,
seu favorito.
— Hum, parece bom! — exclamou, pegando uma fatia de pão
quentinho e o mordendo.
Anna sorriu. Desde criança Luca fazia as refeições do dia ali. Ele não
gostava de comer sozinho na enorme sala de refeições do castelo e ela
adorava lhe fazer os gostos.
— O que vai querer para o jantar, Sr. Luca? — perguntou a
cozinheira, uma vampira transformada de corpo cheinho e olhos e cabelos
castanhos já grisalhos.
— Pode ser uma massa. — Ele sorriu. — Aquela com molho de
linguiça calabresa, e costela. Hum, faz tempo que não como costela... —
Tomou um gole de suco, pegou um pedaço de torta e mordeu um pedaço
grande. — Estou atrasado — disse de boca cheia. — Tenho que ir! —
despediu-se e saiu rapidamente pela porta dos empregados.
Anna meneou a cabeça com um sorriso. Aquele ali era um Constantin
bem diferente do pai. Educado, inteligente e encantador, o rapaz não se
importava de conversar e estar entre as pessoas mais simples. Sempre tratava
a todos bem e por isso era adorado entre os empregados no castelo e os
habitantes da vila dos transformados; diferente de Grigore, a quem todos
respeitavam, mas temiam.
Não que o senhor do castelo fosse alguém cruel ou injusto, mas
certamente era duro e rigoroso, principalmente quanto às regras que regiam
os vampiros. Se algum transformado saísse fora da linha, era punido sem dó.
Cătălina acordou sentindo dores, embora estas não fossem tão fortes
quanto no dia anterior. Levantou-se com calma e procurou o remédio na
cômoda para tomar. Foi com surpresa que viu, em uma mesinha próxima da
janela, uma bandeja com variadas guloseimas para o café da manhã, além de
leite e suco.
Tomada de um novo ânimo, a jovem se esbaldou com a comida. No
entanto, logo a vontade de ir ao banheiro apertou e ela se dirigiu para a porta.
Levou um susto ao abrir e ver uma moça de cabelos e olhos castanhos
sentada nas escadas tricotando algo que parecia ser um cachecol.
— Olá! Sou Irina — disse a jovem, guardando a lã em um cesto e se
levantando. — Sou filha da Anna, a cozinheira, e fui designada a te auxiliar.
— Ah, obrigada... mas não sei se isso tem necessidade... Estou
melhor, minhas costelas doem menos.
— O Sr. Luca disse que você precisa ficar em repouso por alguns
dias, portanto não poderá sair da torre. Então, eu estou aqui para lhe ajudar no
que for preciso. Não se preocupe, não vou te importunar. — Ela sorriu. —
Está indo ao banheiro?
— Sim...
— Vem, eu serei seu apoio — disse a garota se aproximando e
oferecendo o braço. — Precisa tomar cuidado com as escadas, são antigas e
estreitas.
— Obrigada — respondeu Cătălina, aceitando a ajuda. O esforço de
andar e descer os degraus lhe provocavam pontadas doloridas no corpo. —
As roupas que vocês me arrumaram... São suas, não são? — perguntou,
observando que a moça se vestia como uma camponesa do século passado:
blusa branca de gola alta e manga bufante com desenhos bordados em preto e
vermelho, saia longa e, sobre esta, uma espécie de avental de lã, também
bordado.
— São sim, espero que não se importe. São simples e nada modernas,
mas é o que usamos por aqui, gostamos de preservar nossos costumes.
Cătălina achou aquilo engraçado, mas interessante. Até então, ela só
tinha visto aquele tipo de roupa em festas tradicionais, não imaginou que
alguém ainda a usasse no dia a dia. Pensando bem, o que poderia esperar de
aldeões vivendo em uma vila isolada no meio das montanhas...
— Não me importo, acho legal, mas não sei se iria até a cidade
vestida assim — comentou, arrancando um riso da moça.
— Nós não vamos, temos algumas peças de roupa normal para
quando precisamos sair do vale. Só não as emprestei agora porquê, na
verdade, não tenho muitas, mas se precisar...
— Ah, não se preocupe, não vou a lugar algum mesmo por enquanto.
Cătălina usou banheiro enquanto a garota lhe esperava do lado de
fora e, em seguida, subiram novamente. Irina a ajudou a se trocar e depois
pegou a bandeja com o café da manhã para levar de volta à cozinha.
— Você tem celular? — perguntou a moça.
— Não...
— Certo, então fique com isso — falou Irina, tirando um aparelho de
rádio do tipo walkie-talkie do bolso e lhe ensinando como usá-lo. — Se
precisar de algo, é só chamar como eu te expliquei. Vou estar lá embaixo na
cozinha. Não vá ao banheiro sozinha, caso não me chame, estarei aqui de
volta na hora do almoço para lhe trazer a refeição. — Ela sorriu e saiu,
fechando a porta.
Cătălina viu a moça sair e se acomodou nos travesseiros olhando para
o aparelho em suas mãos. Era bem estranho aquilo, mas funcional para um
castelo tão grande.
Três dias se passaram e ela já estava se sentindo entediada de ficar
somente naquele quarto. Irina era atenciosa e lhe trouxe alguns livros
interessantes para ler, mas o que ela queria mesmo era conhecer a biblioteca,
que segundo a moça era imensa.
Naqueles dias elas conversaram bastante e, pela garota, ficara
sabendo que na vila havia uma escola que formava até o equivalente ao
ensino médio, e se o aluno tivesse boas notas, os Constantin financiavam a
faculdade. Cătălina achou aquilo incrível, os jovens da vila tinham sorte, pois
fazer faculdade não saía barato.
O Dr. Luca aparecia todo final de tarde após voltar do hospital,
perguntava como ela estava, o grau de dor, se estava tomando os remédios,
conversava um pouco e depois ia embora. Ele era amável e a tratava bem,
costumava ficar entre 15 e 20 minutos com ela, às vezes falando sobre sua
rotina diária.
Aos poucos, ela própria foi se soltando e contou sobre os dias que se
seguiram depois que ela esteve no hospital, sobre o sumiço da mãe e sobre
sua fuga para o castelo. Também informou ao médico que não tinha parentes,
que nunca conhecera seu verdadeiro pai e que achava que tinha um tio
morando no exterior, mas não fazia a menor ideia de onde. Um pouco mais
confiante, já conseguia sustentar o olhar do rapaz por mais tempo, não
muito...
No quarto dia após sua chegada no castelo, Cătălina, entediada, não
aguentou mais ficar no quarto. Aproveitou a saída de Irina após o café e
desceu com cuidado as escadas da torre, apoiando-se na parede. Queria andar
um pouco, respirar outros ares, ver algo além das paredes do quarto, estava
louca de curiosidade de saber como era o castelo por dentro.
Desceu dois lances de escada e notou uma porta que parecia ser de
uma saída, tentou abri-la, mas estava trancada. A escada continuava por mais
um lance e ao final dela, havia outra porta. Girou a maçaneta e, desta vez, ela
abriu.
Cătălina enfiou a cabeça pela porta e observou que estava em um
corredor que pareciam ser de quartos, outra escada mais larga começava ao
lado e descia para os andares de baixo. Ela já havia passado por ali, mas
estava um tanto nervosa naquele dia, sendo carregada nos braços pelo médico
lindo que mal havia reparado nos detalhes.
Saiu no corredor e admirou a beleza do lugar. As paredes e o chão
eram em pedra e estavam cobertos por quadros e tapeçarias.
Estava olhando uma das pinturas quando sentiu um movimento atrás
de si. Virou-se e quase caiu para trás com o susto. Um homem alto, velho e
magro, quase sem cabelos, com nariz pontudo e olhos estreitos a analisava de
cima a baixo.
— Quem é a senhorita? — perguntou ele, ríspido. — Por acaso é uma
intrusa?
Cătălina engoliu em seco.
C omo mordomo responsável pela administração do castelo, Popescu
sabia de tudo o que se passava naquele lugar, quem entrava e quem
saía. Por isso, estranhou a presença daquela desconhecida ali, ainda
mais no andar dos quartos.
— Meu... meu nome é Cătălina — respondeu ela hesitante e
assustada com a aparição repentina do senhor e a forma intimadora com que
ele a encarava.
— E o que a senhorita está fazendo aqui em cima na ala dos quartos?
Aliás, o que a senhorita está fazendo no castelo? Quem autorizou sua entrada
aqui?
Cătălina, um pouco nervosa, não fazia ideia do porquê daquelas
perguntas inquisitivas, mas tentou se explicar.
— Eu cheguei há alguns dias e estou dormindo na torre. Acabei me
machucando na vinda para cá e o Dr. Luca está me tratando.
O mordomo estreitou os olhos.
— Ainda não compreendo. É uma visita? Não fui informado sobre
isso, o que é muito estranho — disse com desconfiança. — É melhor não
mentir para mim, senhorita...
— Ela não está mentindo, Sr. Pop — falou Luca atrás dele. — A Srta.
Petran é minha convidada e eu a acomodei na torre sem lhe comunicar, peço
desculpas pela confusão.
— Compreendo, Sr. Luca, então sou eu quem devo me desculpar por
desconfiar da moça. — Ele olhou para Cătălina. — A senhorita me desculpe
também, por favor.
— Ah, não se preocupe, está tudo bem... — respondeu ela um pouco
agitada com a presença do médico ali.
— Sr. Luca — voltou a falar o mordomo. — Não seria mais
adequado acomodar a senhorita em uma das suítes? A torre não me parece
um bom lugar para uma hóspede... — sugeriu erguendo uma das
sobrancelhas.
— Sim, tem razão, Sr. Pop — respondeu o rapaz com um sorriso. Em
se tratando do velho mordomo, Luca já previa que aquilo aconteceria, assim
como previa que logo seu pai tomaria ciência da presença da moça. —
Agradeço se puder providenciar isso, por gentileza.
— Imediatamente, senhor — falou Popescu fazendo uma pequena
reverência e se virando em direção às escadas.
O médico se voltou para a garota.
— Certo, pelo que eu me lembre, recomendei que a senhorita ficasse
em repouso no quarto — falou ele com uma sobrancelha arqueada.
Cătălina corou e desviou os olhos para os pés do rapaz.
— É, sim... é que, bem... eu estava cansada de ficar só lá em cima. Já
estou me sentindo melhor e achei que não tinha problema eu conhecer o
castelo.
Luca sorriu. Problema tinha, um deles era justamente seu pai ficar
sabendo sobre ela, mas cedo ou tarde aquilo iria mesmo acontecer.
— Entendi, então deixe que eu lhe mostre o lugar — disse,
oferecendo-lhe o braço. — Está conseguindo caminhar sem dor?
— Ainda dói um pouco quando faço esforço, mas consigo andar.
— Isso é bom, pelo que estou vendo, o dano em suas costelas desta
vez foi menor. Bem, vamos começar por aqui. Como pode ver, este é o andar
dos quartos, logo vai se mudar para cá — disse, abrindo uma das portas.
Os olhos da garota se arregalaram, o quarto era muito maior do que
aquele que ela ocupava agora, mais luxuoso também.
— Dr. Luca... Não preciso que me mudem de quarto, estou bem lá na
torre — falou sentindo-se constrangida por dar trabalho.
O médico riu.
— Até parece que o Sr. Popescu vai deixar um convidado continuar
dormindo na torre. Ele tem razão, aquelas acomodações não são adequadas.
— Então por que eu fui colocada lá? — indagou, mas de imediato se
sentiu envergonhada com a própria pergunta, corando novamente. — Quer
dizer... me desculpe, não quis parecer mal-agradecida.
Luca a observou por alguns instantes. A garota corava por qualquer
motivo, como podia ser tão envergonhada? Achou aquilo bonitinho.
— Não precisa se desculpar — falou, voltando a oferecer-lhe o braço
para seguirem com a visita. — Você tem razão em estranhar, mas a culpa é
minha, não vou negar. Vou lhe dizer a verdade e espero que não se ofenda.
— Começaram a caminhar em direção às escadas. — Meu pai não é uma
pessoa hospitaleira, ele não aprecia receber desconhecidos no castelo e
certamente não concordaria com sua presença aqui. Se eu tivesse te
acomodado na ala dos quartos, ele logo saberia e poderia mandá-la embora
em um piscar de olhos. Então, eu escondi você na torre, por isso nem o Sr.
Pop sabia sobre você.
Cătălina o olhou interrogativamente.
— Mas agora ele sabe... Acha que o Sr. Pop vai contar ao seu pai?
— Com certeza. — Luca sorriu. — Mas não se preocupe, já falei com
minha mãe, ela vai amaciar a fera, espero...
— Hum... — murmurou a garota. Agora ela estava receosa de ser
expulsa dali.
— O castelo é um pouco grande — disse o médico mudando de
assunto. — É melhor não se esforçar muito, então te mostrarei apenas um
pouco dele por hoje, okay?
Ela concordou enquanto desciam as escadas, Luca a apoiava e seguia
no ritmo dela.
— Poderia me mostrar a biblioteca? — pediu Cătălina.
— Gosta de livros?
— Sim, a Irina me trouxe alguns, mas já li todos e eu fiquei curiosa.
Ela me disse que a biblioteca daqui é enorme.
— Certo... — falou ele sorrindo. — Vamos à biblioteca, então.
Assim que terminaram os degraus, Cătălina precisou parar um pouco
para respirar.
— Está com dor? — perguntou Luca.
— Não muita, podemos continuar — disse ela, temerosa de ter que
encerrar a visitação. — Hum... O senhor não devia estar no hospital a essa
hora? — quis saber assim que retomaram o caminho para a biblioteca.
— Por favor, não me chame de senhor, me sinto um velho. — Ele riu.
— Também não me chame de doutor, você pode ser minha paciente, mas
aqui você é minha hóspede. Pode me chamar de “Luca” apenas.
Respondendo à sua pergunta, hoje irei mais tarde para o hospital; vou cobrir
o plantão da madrugada, então só irei depois do almoço.
— Entendi... Posso te pedir uma coisa?
Ele a olhou.
— Também prefiro ser chamada pelo meu primeiro nome, aliás,
prefiro que me chame de Nina, apenas. Me sinto estranha quando o senh...
quando você me chama de Srta. Petran ou Srta. Cătălina, parece que não sou
eu.
— Está bem, estamos combinados então, Nina... — respondeu Luca
sorrindo.
Cătălina o fitou e, diante daquele sorriso, corou mais uma vez,
desviando os olhos para frente. O médico era terrivelmente belo, tinha os
olhos azuis mais lindos do mundo e aquele sorriso... o que era aquilo? O
homem não era daquele planeta, era perfeito demais, só podia ser um deus
grego mesmo.
Ao chegarem na biblioteca, os olhos da moça se arredondaram, assim
como a boca. Aquele lugar era incrível, só tinha visto coisa parecida em
filmes. Prateleiras repletas de livros cobriam todas as paredes até o teto, e
também havia um mezanino que circundava toda a sala, acessado por uma
escada em caracol. Tudo ali era em madeira nobre: as prateleiras, as mesas, a
escada. As poltronas e as cadeiras eram em veludo, e duas enormes tapeçarias
cobriam quase que totalmente o chão.
Em frente à porta principal, sob o mezanino, havia um outro cômodo
um pouco menor e com teto mais baixo, também cheio de livros.
— Do lado de cá, — apontou Luca — estão os livros históricos. Ali
os de filosofia, e naquela outra parede os livros da minha mãe. Talvez você
goste mais daqueles. No mezanino estão os livros médicos, técnicos e
científicos, não acredito que vá apreciar. E naquela ala, — apontou para o
cômodo menor — estão os livros do meu pai. Peço a gentileza de não entrar
lá e não tocar em nada — disse com voz firme e séria. Ali ficavam os livros
antigos e históricos sobre seres sobrenaturais como os Vampyrs, Lykans,
Wargs, magos, entre outros, e realmente seria um desastre se ela resolvesse
ler qualquer um deles.
— Entendi — concordou ela. Ficaria longe daquela ala, a última
coisa que queria era deixar o senhor do castelo bravo; além disso, havia livros
de sobra na parte não proibida da biblioteca. Não conseguiria ler todos nem
que tivesse duas vidas. — Posso escolher alguns para levar lá para cima? —
perguntou com os olhos brilhando.
— Claro — respondeu Luca, sentando-se em uma das poltronas. —
Fique à vontade.
Cătălina abriu um largo sorriso e imediatamente foi correr os olhos
pelos títulos. O médico a observou por um tempo. A garota vestia uma das
roupas de Irina, seus cabelos estavam trançados e ela estava mesmo
parecendo uma camponesa. Não foi à toa que Popescu estranhou a presença
dela ali. Ainda bem que não tinha ido trabalhar logo cedo e, por sorte,
escutara a conversa entre eles no corredor, ou provavelmente o mordomo a
teria expulsado do castelo.
Enquanto a garota escolhia o que levar para ler, resolveu folhear um
livro qualquer. Não tinha mesmo muito o que fazer e não achava boa ideia
deixá-la sozinha ali, pois se Grigore ficasse sabendo certamente seria o
inferno na Terra.
— Onde seus pais estão? — perguntou a moça, de repente. Ela já
tinha dois livros em mãos.
— Minha mãe deve estar dormindo agora. Ela prefere trabalhar de
madrugada, então dorme durante o dia. Meu pai costuma visitar as fazendas
de manhã, mas daqui a pouco deve estar de volta.
— Sua mãe trabalha?
— Sim, ela é estilista. Produz modelos para uma loja em Sibiu.
— Ah, que legal! — Cătălina se admirou. — E vocês têm fazendas
de quê?
— De animais... Criamos porcos e carneiros para abate, galinhas
poedeiras e também cavalos. Além disso, plantamos quase tudo que
consumimos fresco na vila e no castelo, verduras, legumes, algumas frutas,
essas coisas...
— Tudo isso? — espantou-se ela. — A propriedade de vocês deve
ser gigante.
Luca sorriu.
— É grande sim... Hum... Já escolheu o que quer levar?
— Ah, vou pegar só mais um! — disse ela se virando novamente para
as prateleiras.
Cătălina estava empolgada com a variedade de títulos. Já tinha pego
um livro sobre o Egito, um sobre mitologia antiga e queria escolher também
um romance. Foi até a prateleira que Luca havia indicado como sendo os
livros de sua mãe e, depois de olhar por alguns minutos, escolheu um título
que achou interessante, porém ele estava acima de sua cabeça.
Quis levantar o braço para pegá-lo, mas sentiu uma pontada de dor ao
tentar se esticar. Inspirou devagar e olhou novamente para o livro. Não estava
tão alto, ela poderia pegá-lo facilmente se não estivesse machucada. Levantou
o braço mais uma vez, com um pouco mais de calma, mas chegou em um
ponto em que a dor a limitava. Abaixou o braço frustrada, escolheria outro...
fazer o quê?
Sentiu, então, um movimento atrás de si. Ia se virar, mas logo viu um
braço se esticar por trás e pegar facilmente o livro.
— É esse que você quer? — perguntou Luca, retirando-o da
prateleira.
Cătălina não respondeu de imediato, porque, naquele momento,
estava prendendo a respiração e imóvel como uma estátua. O médico estava
tão perto que ela podia sentir o calor que exalava do corpo dele através das
roupas. Ele era pelo menos vinte e cinco centímetros mais alto e ela sabia que
se virasse o rosto daria de cara com o tórax dele.
Luca se moveu um pouco para o lado, estendendo o livro para ela, e
Cătălina finalmente se lembrou de respirar.
Pegou-o das mãos do rapaz e o fitou. Então, não soube o que a
atingiu, se foi o olhar divertido que ele lhe dirigia ou se foi o seu perfume que
lhe invadia os sentidos. Mas seu corpo arrepiou, fraquejou, esquentou, e o seu
coração resolveu quase pular pela boca. Devia ter ficado com uma cara de
paspalha, pois o médico deu um sorriso meio contido, meio de lado, e logo se
afastou sem dizer nada. Para variar, seu rosto estava queimando em brasa e só
então se lembrou de que nem tinha agradecido. Tonta!, pensou consigo
mesma.
Saíram da biblioteca e Cătălina estava tão muda quanto uma porta.
Luca levava os livros que ela havia escolhido em uma mão, enquanto lhe
oferecia o outro braço para voltarem ao quarto.
O vampiro também não falava, mas sorria por dentro com a reação
que provocara na moça minutos antes.
Na verdade, aquilo não era novidade para ele, o médico conhecia o
seu poder de arrancar suspiros das mulheres, principalmente quando se
aproximava delas. Contudo, não havia sido sua intenção provocar qualquer
desconforto na garota, ele só pensou em ajudá-la, mas não podia negar que
era divertido vê-la corar como um camarão.
No caminho encontraram o sisudo Sr. Pop.
— O quarto da senhorita já está preparado, senhor. É o segundo à
esquerda do corredor sul — informou ele a Luca. — Os objetos pessoais que
estavam na torre também já foram transferidos. — Olhou, então, para
Cătălina. — Tenha uma boa estadia, Srta. Petran.
— Obrigada, Sr. Pop.
O homem arqueou uma sobrancelha e o médico teve que se segurar
para não rir. O mordomo não gostava muito do apelido e somente tolerava
que Luca o chamasse assim, embora os demais funcionários do castelo
também se referissem a ele desta forma quando não estava por perto.
— O seu mordomo é sempre tão mal-humorado? — perguntou
Cătălina já nos últimos degraus da escada.
Luca sorriu.
— Ele é assim por natureza, mas se aceitar um conselho, chame-o de
Sr. Popescu, ele prefere. — Apontou, então, para o corredor onde eles haviam
se encontrado mais cedo. — Este é o corredor sul, seu quarto fica logo ali. O
meu quarto e o dos meus pais ficam para lá. — Apontou para onde o corredor
fazia uma curva de noventa graus. — No corredor oeste.
A garota entrou no quarto e sorriu, era parecido com o outro que ela
vira antes. A cama também tinha um dossel e várias almofadas, só isso já a
deixava satisfeita, pois se sentia como uma princesa. Foi até o banheiro e
notou que ele era um pouco menor do que o da torre, mas pelo menos ficava
ao lado do quarto e também dispunha de uma belíssima banheira com
torneiras douradas.
Em seguida, caminhou até a janela. A vista dali era um pouco
diferente. Na torre, ela tinha uma visão ampla dos dois lados do castelo; e, de
onde estava agora, apenas um, o da lateral, era visto. Assim, só conseguia ver
a vila parcialmente e as montanhas mais à frente.
Virou-se e viu Luca encostado no batente da porta. Ele a olhava com
curiosidade.
— Então, se está tudo certo, vou te deixar em paz — disse ele. —
Também tenho que ir trabalhar daqui a pouco.
— Ah, sim, obrigada. Desculpe se te atrapalhei.
— Não atrapalhou de forma alguma. Hum... descanse e me espere
para conhecer o resto do castelo, não saia andando sozinha por aí. Não vai
gostar de topar com o meu pai, acredite — recomendou.
— Okay — concordou ela.
Luca sorriu e saiu, indo em direção ao seu próprio quarto para se
trocar. Precisava se apressar, ainda tinha que comer algo antes de seguir para
o hospital. Suspirou, agora só voltaria para o castelo na manhã seguinte. Até
lá, certamente seu pai já saberia das novidades.
Decidiu deixar uma mensagem para a mãe. Esperava que ela a visse
assim que acordasse e que conseguisse convencer o senhor do castelo a não
tomar nenhuma atitude drástica em relação à moça.
De qualquer forma, tinha ciência de que viriam problemas para cima
dele. Precisava se preparar mentalmente, Grigore Constantin não era alguém
muito maleável quando se tratava de regras e tradições. Sua irmã que o diga,
embora ele já tivesse melhorado muito a esse respeito nos últimos anos.
Chegando no quarto, arrancou as roupas e foi tomar um banho. Sob a
ducha, passou o sabonete no corpo e, ao chegar às suas partes baixas,
resolveu se acariciar um pouco. Não era incomum ele fazer isso pensando em
garotas. Porém, a imagem que lhe veio na cabeça, desta vez, foi a da jovem
envergonhada que agora estava no mesmo andar que ele. Parou
imediatamente.
No que estava pensando? Ela era sua hóspede, sua paciente e muito
jovem ainda, pelo menos para ele... era quase oito anos de diferença. Isso
porque ele era um vampiro novo. Merda! Fechou os olhos e deixou que a
água escorresse pelas suas costas, então voltou a acariciar seu membro já
duro.
— Merda! — exclamou alto, enquanto continuava a se masturbar.
Não importava quem estava em sua mente. Precisava daquilo, precisava se
aliviar...
L uca voltou do hospital, no dia seguinte, somente após a hora do
almoço. Estava exausto. Embora a madrugada tivesse sido calma,
durante a manhã, haviam aparecido dois atendimentos emergenciais,
fazendo com que os pacientes com consulta marcada ficassem esperando.
Conclusão, precisou ficar algumas horas a mais a fim de atender a todos.
Só queria tomar um banho e cair na cama, contudo, mal colocou os
pés dentro do castelo e o Sr. Pop apareceu. Após cumprimentá-lo, o
mordomo avisou que seu pai o aguardava no escritório.
— Ele está sozinho? — perguntou Luca.
— Sim, a Sra. Constantin já foi se recolher.
Luca seguiu desanimado para a sala do pai. Não estava com força
para discussões, mas não tinha como escapar daquilo. Então, era melhor
resolver tudo de uma vez.
Encontrou Grigore sentado atrás de sua grande mesa de madeira
nobre. Ele estava de cabeça baixa, analisando alguns papéis.
— Boa tarde, pai — disse ao entrar.
O senhor do castelo levantou os olhos para fitá-lo. Grigore
Constantin era um vampiro de meia idade e de personalidade forte. Rígido e
severo por natureza, prezava pelas tradições e costumes, mas já havia
cometido muitos erros na vida. Erros dos quais se arrependia e que o levara a
abrir mão de seu assento no Conselho de Anciãos. Erros que quase
destruíram sua família e que ele ainda lutava para consertar. Com quase 320
anos, não aparentava ser muito velho, tinha um porte elegante, olhos azuis e o
cabelo escuro como o de Luca, mas suas têmporas já estavam salpicadas de
fios grisalhos.
— Boa tarde — respondeu ele, deixando os papéis de lado e se
recostando na poltrona. — Sente-se.
Luca se sentou e aguardou que o pai começasse a falar.
— No que estava pensando quando permitiu que essa moça ficasse
aqui? — disparou Grigore, seco e direto.
— Ela está machucada e, como médico, meu dever é ajudá-la —
respondeu o rapaz, sabendo que aquele era um argumento nada convincente.
Na verdade, ele havia pensado em milhares de desculpas para dar, mas
nenhuma delas lhe pareceu melhor.
— Não me venha com bobagens, Luca. Não me tome por tolo! —
Grigore franziu o cenho. — Sua mãe já me disse o problema da moça e
tentou me convencer a aceitá-la aqui. Acontece que o problema dela não é
problema nosso e não faz sentido algum que ela permaneça no castelo. Quero
a humana fora daqui até amanhã. Leve-a para o hospital, se ainda acha que
ela precisa de cuidados.
Como se a discussão já tivesse sido encerrada, o patriarca voltou a
dar atenção aos papéis sobre sua mesa.
— Ela vai ficar, pai — disse Luca, calmamente. Uma calma, aliás,
que ele não fazia ideia de onde havia tirado.
Grigore voltou a encará-lo, desta vez com uma expressão
desconfiada. Luca não fazia o tipo que costumava contrariá-lo. A única vez
que discutiram feio foi quando o rapaz soube que ele havia mandado um
mercenário assassino atrás da irmã. Aliás, os meses que se seguiram àquilo
foram um inferno. Passou a ser ignorado por Luca, e até mesmo Mirela o
evitava. Demorou muito tempo até que voltassem a conversar normalmente, e
isso só se resolveu quando ele finalmente reconheceu seu erro e se desculpou
com a filha, anos depois.
Agora, Luca o encarava sério e desafiador, realmente aquilo não era
algo comum. Decidiu ouvir o rapaz, afinal seu filho não era mais uma
criança. Estava curioso para saber até que ponto ele mantinha suas
convicções.
— Convença-me — disse.
Luca se remexeu na cadeira, endireitando o corpo. Não esperava
aquela resposta do pai, achava que Grigore ia se levantar, bater na mesa, ficar
furioso, mas não aconteceu nada disso; ele simplesmente o encarava sério,
aguardando que dissesse alguma coisa.
— A moça lá em cima se chama Cătălina e ela não tem ninguém para
ajudá-la. Como já deve ter ouvido da minha mãe, o padrasto é um homem
violento que já a machucou várias vezes, quase a estuprou e provavelmente a
mataria se ela voltasse. A mãe fugiu, sabe-se lá para onde, e ela não tem
outros parentes próximos.
Luca fez uma pausa, tentando analisar a expressão do pai, mas ele
não movia um músculo do rosto.
— A situação médica dela pode não ser tão grave — continuou. —
Mas a situação psicológica e emocional, sim. Não posso, simplesmente,
abandoná-la no meio da rua com uma mão na frente e outra atrás. Que tipo de
pessoa eu seria? — Ele juntou levemente as sobrancelhas. — Vou encontrar
um lugar para ela ficar e se estabelecer, prometo. Apenas gostaria de esperar
alguns dias para que a dor dela diminua e ela possa se virar sozinha.
Grigore tamborilou os dedos sobre a mesa.
— Você tem noção de como é perigoso manter uma humana nesse
castelo? — argumentou o patriarca. — Há segredos aqui que se ela
descobrisse seria um desastre. Não tanto para nós, mas para ela mesma. Você
sabe muito bem qual é o destino dos humanos que descobrem sobre a nossa
natureza.
Luca suspirou.
— Sim, eu sei... A prisão de Vârful Cârja. Mas isso somente se ela
descobrisse algo e se fosse denunciada ao Conselho, o que não vai acontecer,
pai. É só por alguns dias, três semanas, quatro no máximo. Depois ela vai
embora, tem minha palavra.
— Três ou quatro semanas... — repetiu Grigore. — Você se lembra
que a cerimônia de batismo ocorrerá em duas semanas, certo? Metade do
vilarejo vai subir para o castelo. Então, espero que a mantenha bem longe dos
olhos dos aldeões, não quero que fiquem sabendo que há uma humana aqui.
O jovem vampiro olhou surpreso para o pai. Ele estava mesmo
concordando com aquilo? Tão fácil assim? Sem brigas, sem discussões
acaloradas? Seu pai definitivamente não era mais o mesmo...
— Não se preocupe... — disse. — Já a avisei para não andar sozinha
pelo castelo e também irei orientá-la para que não saia lá fora.
— Muito bem. A garota está sob sua responsabilidade, espero que
saiba o que está fazendo... — concluiu Grigore olhando fixamente para o
filho.
— Sim, senhor — respondeu Luca se levantando. — Obrigado por
compreender. — Acenou levemente com a cabeça e se retirou, deixando o pai
com seus papéis.
O vampiro saiu da sala sentindo-se amortecido. Não costumava ser
fácil dobrar Grigore, ainda quando se tratava de algo que poderia colocar em
risco o segredo dos Vampyrs. Seu pai sempre fora muito rigoroso em relação
a isso, mas desta vez o surpreendera. Com certeza havia o dedo de Mirela ali.
Sua mãe, às vezes, conseguia despertar o lado mais generoso e sentimental do
marido. Foi assim que o convencera a engolir o orgulho, fazendo com que ele
chamasse sua filha, irmã de Luca, para lhe pedir perdão por tê-la perseguido.
Passou rapidamente na cozinha, cumprimentou Anna e pegou alguns
pedaços de pão e queijo para beliscar. Então, subiu para o quarto, precisava
tomar um banho, descansar... Também precisava de sangue. Luca costumava
guardar as suas porções em um baú de madeira sobre a cômoda.
Como qualquer vampiro, ele também tinha uma cota. Não importava
o fato de ser membro de uma família importante, donos de hospitais que
processavam, purificavam e embalavam o sangue para ser distribuído. Todos
tinham uma cota.
Aquela resolução havia sido implantada há muito tempo pelo
Conselho e todos os vampiros a seguiam à risca. Cada vampiro, puro ou
transformado, tinha o direito de retirar sua cota mensal em um departamento
específico do hospital. O sistema era todo informatizado e não havia como
burlá-lo.
A exceção ficava por conta dos habitantes do vale, que não se
alimentavam de sangue humano, mas do sangue dos animais criados nas
fazendas. Algo necessário, uma vez que os hospitais da região não dariam
conta de fornecer o líquido vital para tantos vampiros.
A vantagem é que o sangue dos animais não viciava como o sangue
humano; então, os aldeões não precisavam se preocupar com cotas, o
consumo era livre, mas existiam desvantagens. Uma delas era o gosto não
muito agradável, a outra era o fato deste sangue não sustentar tanto quanto o
de um humano, assim os transformados eram obrigados a ingerir maiores
quantidades por vez.
Já os vampiros puros, como os Constantin, não se davam bem com
sangue de animais. Este até poderia servir por um tempo de forma
emergencial, mas sem o sangue humano, o enfraquecimento vinha rápido e as
crises de abstinência também.
Luca abriu a tampa do baú e retirou de lá uma caixinha de sangue.
Uma cópia fiel das embalagens dos sucos industriais, vindo até com
canudinho, o que facilitava a ingestão do líquido e não causava
estranhamento se um vampiro precisasse ingeri-lo em público. Sentou-se,
então, na cama para tomá-lo. Aquilo era bom... Não tão bom quanto o sangue
fresco que havia provado com Sebastian, mas era bom.
Sebastian... O que o amigo andava aprontando? Será que ele
continuava a fazer aquilo? Meneou a cabeça, Bass definitivamente não tinha
limites e havia conseguido arrastá-lo junto com ele. O que tinham feito há
alguns meses não havia sido certo, aquilo era perigoso, na verdade.
Assim que terminou de se alimentar, resolveu tomar um banho e
dormir um pouco, mais tarde iria ver como Cătălina estava.
O vampiro acordou somente ao cair da noite, olhou no relógio e viu
que tinha perdido o horário do jantar. Revirou-se na cama e afundou a cabeça
no travesseiro, ainda estava com sono, mas sua fome era maior. Apesar dos
vampiros necessitarem do sangue para se manterem vivos, não podiam viver
só de sangue, eles também necessitavam dos nutrientes dos alimentos
comuns, como os humanos e, por isso, sim, eles também sentiam fome.
Naquele momento, o estômago de Luca roncava por não ter almoçado direito.
De forma preguiçosa, levantou-se e foi ao banheiro. O castelo, apesar
de ter séculos, havia sido reformado e adaptado para as necessidades mais
atuais. Eletricidade, água encanada, aquecimento a gás, quartos que foram
divididos e se transformaram em banheiros e até uma sala de ginástica existia
onde antes eram as masmorras. Embora a parte mais profunda destas ainda
fosse conservada em sua forma original. Assim, os vampiros dispunham do
conforto das suítes e da modernidade, que também se estendia para a cozinha,
a qual dispunha de geladeira, freezer, micro-ondas, forno e fogões a gás, onde
antes costumava existir fornos a lenha.
Luca desceu para comer algo e encontrou Anna preparando a bandeja
com o jantar de Cătălina. Irina, que estava ali aguardando para levá-la, lhe
sorriu.
— Como vai a nossa hóspede? — perguntou-lhe o médico.
— Está bem, ficou animada de ter conhecido a biblioteca e está
devorando os livros — respondeu a jovem. — Mas, às vezes, ela me parece
triste...
— Sei... — virou-se para a cozinheira. — Anna? Poderia preparar
outra bandeja para mim, por favor? Vou acompanhar a Srta. Petran na
refeição.
Anna sorriu.
— Sim, senhor — respondeu, já pegando outro pote para servir o
ensopado de carne que borbulhava na panela.
Luca subiu com Irina, levando sua própria bandeja, e encontraram
Cătălina tentando produzir um cachecol como a jovem aldeã havia lhe
ensinado.
Ela deixou a lã e as agulhas de lado e se levantou quando viu que o
médico estava entrando também. Ficou confusa, ele trazia outra bandeja e
não entendeu para que tanta comida. Lembrou-se do conto de João e Maria,
onde a velha bruxa tentava engordar as crianças para comê-las.
— Vim jantar com você — explicou Luca ao reparar no semblante
espantado da moça.
Irina acomodou a bandeja que trazia em uma pequena mesa redonda
próxima à janela e saiu.
Luca também colocou a dele e se sentou em uma das cadeiras em
frente â mesa. Cătălina permanecia em pé, sem sair do lugar.
— Não está com fome? — perguntou o médico.
Ela assentiu.
— Então se sente — continuou ele, apontando para a outra cadeira.
— Eu estou morrendo de fome, se eu não começar a comer agora, meu
estômago vai colar nas costas.
A garota sorriu e foi se sentar, mas estava envergonhada pelo médico
estar ali. Era estranho comer na presença de um homem que não fosse
alguém de sua família ou de seu trabalho. Parecia um encontro... Deu-se,
então, um soco mental. De onde ela tirava aquelas coisas? Rapidamente
expulsou aquele pensamento da cabeça e se concentrou no prato à sua frente.
Luca perguntou como ela tinha passado o dia, falou um pouco sobre
o hospital e, após terem terminado a refeição, pediu para lhe examinar as
costelas.
Cătălina se retesou. Só de pensar naquele deus grego a vendo sem
roupas novamente, seu coração começava a acelerar.
— Eu... eu estou bem, acho que não precisa — disse ela com olhos
grandes.
O rapaz arqueou uma das sobrancelhas.
— Ei, quem é o médico aqui? — perguntou sorrindo. — Só quero dar
uma olhada.
A moça abaixou a cabeça encabulada e concordou. Levantou-se,
então, da cadeira e retirou a blusa de dentro da saia, erguendo-a e passando-a
pela cabeça. Como era habitual, cobriu o sutiã com os braços.
Luca se aproximou e trouxe a cadeira com ele. Sentou-se, ficando na
altura das costelas da garota e começou a examiná-la, tocando com as pontas
dos dedos a região machucada.
Cătălina suspendeu a respiração. O toque das mãos dele em seu corpo
causava-lhe arrepios, os pelos de seus braços se eriçaram e ela envergonhou-
se ainda mais, porque viu que o médico havia reparado em sua reação
involuntária. Naquele momento, ela queria que um buraco se abrisse na sua
frente para ela se jogar dentro dele.
— Dói aqui? — perguntou ele apalpando com os polegares uma de
suas costelas.
— Um pouco — respondeu ela em um fio de voz.
— E aqui? — Ele mudou os dedos um pouco mais para o lado.
— Não... aí não dói muito.
— Inspire fundo... Dói aqui?
Ela assentiu.
— Entre 0 e 10, qual é o nível de dor?
— Acho que uns 6. Já foi 9 ou 10, mas agora está melhor.
Luca sorriu e se afastou, entregando a ela a blusa que ela havia
deixado sobre a cadeira. Cătălina vestiu-se.
— Creio que em mais algumas semanas você já estará boa — falou o
médico. — Algumas vezes a dor pode ainda incomodar por um tempo, mas
não será nada incapacitante.
O vampiro se encostou na mesa e colocou as mãos dentro dos bolsos
da calça de agasalho que usava. Quando estava no castelo, Luca preferia usar
roupas confortáveis, o que fazia com que seus pais torcessem o nariz, pois
eles achavam que os vampiros deveriam se vestir sempre elegantemente, não
importava a ocasião.
— Conversei com meu pai hoje mais cedo e ele concordou que você
ficasse aqui durante esse tempo.
— Obrigada — respondeu ela, aliviada.
— Mas com a condição de você não ficar andando sozinha por aí.
— Hã? — Cătălina o olhou interrogativamente.
— Ele não confia em pessoas estranhas andando pelo castelo. —
Luca deu de ombros. — Coisas do meu pai... sinto muito.
— Ah... tudo bem — disse ela, imaginando o quão chato deveria ser
o pai dele. Mas pelo menos ele tinha um pai, e não um padrasto monstro.
— Ontem, quando você saiu de seu quarto na torre, você subiu as
escadas? — quis saber o médico.
— Não, só desci.
Os olhos de Luca brilharam e ele sorriu.
— Então vem comigo — disse, pegando na mão dela e puxando-a. —
Vou te mostrar meu refúgio secreto.
Ele a conduziu pelo corredor e depois pela escada, seguindo para o
último andar da torre, mas o que afligia Cătălina era o contato da mão dele na
sua; não estava acostumada com aquilo, dar as mãos era algo entre
namorados.... Ondas de calor e frio tomaram conta de seu corpo. Balançou a
cabeça, lá estava ela de novo pensando em coisas ridículas...
Chegaram ao topo das escadas e, antes de abrir a porta, Luca lhe
sorriu em expectativa. Cătălina arqueou as sobrancelhas e olhou para a porta,
o que poderia ter ali atrás para deixar o médico tão entusiasmado?
A ssim que Luca abriu a porta, Cătălina se deslumbrou. Várias telas de
pintura à óleo estavam espalhadas pelas paredes e cantos da sala
arredondada que ficava logo acima de seu antigo quarto. Algumas
emolduradas e outras não. Curiosa e animada, entrou e observou os detalhes.
No centro da sala, voltado para a janela, havia um cavalete, mas
estava vazio. Próximo, também havia uma espécie de caixa de madeira com
uma paleta, algumas tintas e pincéis, e, encostada em uma das paredes, uma
prateleira guardava outras dezenas de tubos de tintas, potes e outros materiais
que ela não fazia ideia do que eram. Também havia uma poltrona confortável,
uma mesinha e cadeiras.
Cătălina passou os olhos fascinada pelas pinturas. Algumas de
paisagens, algumas de pessoas. Logo reconheceu Anna e sorriu.
— Bem-vinda ao meu refúgio — disse Luca, achando graça no
interesse demonstrado pela moça.
— Então... você que pintou tudo isso?
Ele assentiu.
— Nossa, você é muito bom! — exclamou. — Olha só, a Anna ficou
ótima! Quem são aqueles? — perguntou, referindo-se a três telas em outra
parede.
— Minha mãe, meu pai e minha irmã, Ivy. A dela infelizmente não
ficou muito boa porque só fiz o esboço a lápis quando ela esteve aqui. Tive
que pintar usando fotos e não é a mesma coisa...
— Ah, então sua irmã não vive aqui? Ela mora onde?
— Em Nova Iorque, com o marido e duas crianças.
— Vocês se parecem bastante — disse ela ao chegar perto do quadro.
— Sim, ela puxou isso do nosso lado da família.
— Nosso lado? — Cătălina o olhou interrogativamente.
— Ivy é minha meia-irmã, nossas mães são diferentes — explicou
Luca.
— Ah... entendi. — Ela aproximou-se do outro quadro. — Sua mãe é
bonita!
— Sim, ela é... Amanhã é minha folga no hospital e verei se consigo
apresentá-las. Acho que vocês se darão bem, minha mãe também vive muito
sozinha aqui dentro e ver outras pessoas costuma animá-la.
Cătălina sorriu e se voltou para o terceiro quadro.
— Hum... Esse é o seu pai? Nossa, ele dá medo — disse ela
arqueando as duas sobrancelhas.
Luca riu.
— É... eu sei — concordou.
— Não está pintando nada agora? — perguntou a garota. Sua
curiosidade estava se sobrepondo à sua timidez e ela começava a se sentir
mais à vontade.
— Não, faz meses que não venho aqui... — O vampiro franziu a
testa. — O trabalho me consome muito, mas sinto falta disso, preciso arrumar
um tempo para voltar a pintar. — Um pensamento passou, então, pela sua
cabeça, fazendo-o abrir um sorriso. — Quer ser minha modelo?
— Hã? — estranhou Cătălina. — Eu? — Os olhos dela se
arredondaram.
— Sim... Já que vai ficar aqui por alguns dias, poderia me ajudar com
isso. É que não é fácil arranjar um modelo vivo para pintar, o pessoal daqui
não se sente à vontade com isso. E também não é toda hora que aparece
mulheres bonitas como você aqui no castelo, então...
Cătălina sentiu o calor subir imediatamente pelo seu pescoço e tomar
conta de sua face. O médico lindo a tinha chamado mesmo de bonita? E ele
queria pintá-la? Engoliu em seco.
— Ah... eu... eu não sei se eu seria uma boa modelo... — disse, por
fim.
— Não precisa de muito esforço. — Luca sorriu. — É só ficar imóvel
por um tempo. Consegue fazer isso, não?
Ela assentiu e desviou o olhar, não conseguia mais encará-lo, seu
rosto queimava. Então foi até a janela, abriu-a para tomar um ar, mas o vento
cortante e gelado a fez fechá-la de novo. Havia esquecido de como dezembro
era frio. Dezembro... Logo a neve começaria a cair, logo seria Natal.
Involuntariamente, levou uma das mãos ao pescoço e segurou o pequeno
pingente de cruz de sua correntinha. Os únicos Natais decentes que tivera
foram aqueles na casa de sua avó, quando ela ainda estava viva...
Um pensamento lhe ocorreu. Passaria o Natal daquele ano ali?
Faltavam menos de vinte dias e o deus grego havia dito que ela ficaria ali por
algumas semanas ainda. Será que eles comemoravam o Natal?
— Ei, tudo bem? — a voz de Luca soou ao seu lado e ela se assustou.
— Ah, sim tudo... — respondeu ela ao se virar.
— Você estava viajando aí, olhando para a janela fechada... No que
estava pensando?
— Em nada, não. — Cătălina fitou o chão. Quando é que ela ia parar
de se colocar em situações embaraçosas?
— Escute, se não quiser ser minha modelo, tudo bem... Não quero
que se sinta obrigada.
— Não, eu quero! — falou ela rapidamente, olhando-o apenas por
alguns instantes. — Eu serei sua modelo, e não me sinto obrigada de forma
alguma, me desculpe, não quis passar essa impressão. Será uma honra...
Luca sorriu.
— Certo! Trabalharemos juntos todas as noites, depois que eu voltar
do hospital, menos nos meus dias de plantão. Pode ser?
Ela confirmou com a cabeça.
— Okay! Isso será ótimo — disse o vampiro entusiasmado.
Realmente, ele sentia falta de pintar e aquela garota o inspirava. Ela
parecia uma boneca de feições delicadas, com aqueles olhos verde-azulados
grandes e expressivos, a boca lindamente desenhada, o cabelo claro ondulado
e macio caindo-lhe sobre os ombros. Ela era perfeita! Mas o que a tornava
mais linda era aquele jeito tímido e envergonhado de ser. Conseguiria ele
passar aquilo para a tela? Estava curioso.
— Gostaria de ver mais um pouco do castelo? — perguntou Luca.
Cătălina pensou um pouco. Ela até que gostaria, por mais que ainda
lhe causasse agitação ficar na presença do médico, apreciava a companhia
dele, mas estava com sono. Havia tido pesadelos na noite anterior e acordara
assustada, depois foi difícil dormir novamente.
— Podemos deixar para amanhã? Eu estou um pouco cansada, não
tive uma boa noite de sono ontem.
— Sim, claro..., mas o que houve? Teve dores à noite? Se precisar,
posso te arrumar algo mais forte. — Luca tinha um semblante preocupado.
— Não, não foi por isso. As dores incomodam, sim, para dormir,
mas... eu tive um sonho ruim, foi só isso. — Ela deu um meio sorriso.
— Quer falar sobre isso?
— Ah, não... não se preocupe. Eu nem me lembro direito sobre o que
sonhei, só sei que eu estava fugindo, com medo. Mas a sensação que ficou
depois é que foi ruim... — Cătălina balançou negativamente a cabeça,
tentando espantar as lembranças.
— Entendo... Às vezes, nosso cérebro reflete nossas preocupações
em forma de pesadelos — disse ele enquanto se aproximava um pouco mais.
— Nina, quero que saiba que está segura aqui. — Levou, então, a mão até o
rosto da garota e lhe afastou uma pequena mecha de cabelo, colocando-a
atrás da orelha. — Não se preocupe, ninguém mais vai te fazer mal.
O pequeno gesto paralisou Cătălina e, pela primeira vez, ela não
desviou os olhos enquanto ele falava. O médico era tão gentil... Gostaria
muito de acreditar em suas palavras, mas será que Nicolae não a procuraria?
Estaria mesmo livre dele?
Continuou a encarar Luca sem perceber que este havia terminado de
falar. Os olhos dele tinham um tom de azul vibrante tão lindo... eram
instigantes, misteriosos e pareciam sorrir para ela. O seu pensamento tinha
mudado completamente de curso enquanto o fitava e, de um estalo, Cătălina
se deu conta de que deveria estar babando. Constrangida, afastou-se
abruptamente, desviando-se do médico.
Voltou a caminhar pela sala, fingindo observar outros quadros que
estavam por ali; no entanto, não conseguia prestar atenção em nada, seu
coração estava batendo tão forte que ela teve vontade de segurá-lo nas mãos
para abafar o som. Ela tinha a impressão de que cada batida podia ser ouvido
por toda a sala.
Luca sorria enquanto a acompanhava com o olhar. Precisava se
policiar em seus gestos, não estava mais acostumado a lidar com garotas tão
novas. As mulheres com quem ele se relacionava no trabalho, ou fora dele,
eram normalmente mais maduras e mais desembaraçadas. Mesmo para
alguém da idade dela, Cătălina era muito tímida.
Enrugou de leve a testa e seu sorriso se desmanchou. Talvez fosse
por causa da repressão sofrida por ela durante tantos anos... Inspirou fundo,
no que dependesse dele faria tudo o que fosse possível para ajudá-la.
Como havia dormido durante o dia, Luca estava sem sono e, após
acompanhar a garota de volta ao quarto, resolveu passar a madrugada
assistindo TV.
Não era seu hábito fazer isso, pois só havia uma televisão no castelo e
esta ficava em uma sala no subsolo, no mesmo andar da enfermaria e da sala
de ginástica, o que não era muito prático de chegar. Às vezes, tinha saudades
de quando estudava e tinha seu próprio apartamento, lá a TV ficava no quarto
e era muito mais prático para assistir qualquer coisa. Infelizmente, seu pai
não autorizava esse tipo de modernização ali, pois dizia que aquilo era um
castelo, não um hotel.
Acabou cochilando um pouco antes de amanhecer e, quando acordou,
viu, surpreso, que já passava da hora do café. Levantou-se do confortável
sofá, desligou a TV e subiu.
Normalmente ele tomava seu café na cozinha, mas como queria falar
com a mãe, dirigiu-se até a sala de refeições para ver se ela ainda estava lá.
Encontrou Mirela degustando um chá enquanto folheava uma revista de
moda.
— Oi, querido, bom dia — disse ela.
— Oi, mãe, bom dia... — Sentou-se de frente para a mãe, servindo-se
de um pedaço de pão e suco.
— Soube que deu tudo certo ontem com o seu pai... — Mirela sorriu.
— Aposto como teve o seu dedo nessa repentina boa vontade de
Grigore. — Luca a encarou com uma expressão interrogativa.
— Falei com ele, sim, mas a verdade é que seu pai tem procurado
mudar um pouco o jeito autoritário de ser. Acho que ele finalmente percebeu
que os tempos estão mudando. — Ela riu. — Como está a garota?
— Está bem, na medida do possível. Vou mostrar o resto do castelo
para ela hoje e gostaria de apresentá-la a você, se não se importar...
— Não, claro que não, estou curiosa sobre ela. Mas poderia ser agora
pela manhã? Trabalhei a madrugada toda em uma peça nova para a coleção e
estou exausta.
Luca concordou e, assim que terminou o café, subiu para encontrar
Cătălina.
A garota aguardava ansiosa pela chegada do médico. Ele havia
prometido que a levaria para conhecer o castelo e estava animadíssima, ao
mesmo tempo que estava apreensiva, pois ia conhecer a mãe dele também.
Que tipo de pessoa ela seria? Tinha receio de não causar boa impressão.
Quando escutou a batida na porta, estava tão distraída em pensamentos que
tomou um susto.
— Vamos? — disse Luca ao entrar. — Vou te apresentar à minha
mãe primeiro, pois ela precisa descansar, depois podemos ver o resto.
Cătălina concordou e se apoiou no braço que ele lhe oferecia. Além
de ser bonito, simpático e morar em um castelo, o rapaz era um cavalheiro.
Quem disse que príncipes encantados não existiam? Tudo bem que ele não
era realmente um príncipe, muito menos encantado, mas, metaforicamente,
era perfeito.
Caminharam pelo corredor e começaram a subir as escadas de outra
torre, idêntica à que ela conhecia, porém localizada na outra extremidade do
castelo. Ao chegarem no penúltimo andar, entraram na sala e encontraram
Mirela costurando uma peça na máquina de costura. Ela ergueu a cabeça e
sorriu, levantando-se em seguida.
— Olá, sou Mirela — apresentou-se. — É um prazer te conhecer,
Cătălina. Ah, me desculpe. Posso te tratar pelo primeiro nome?
— Sim, por favor, me chame de Nina. O prazer é meu, Sra.
Constantin.
A vampira ergueu uma sobrancelha.
— Mirela, me chame apenas de Mirela. Já me bastam os empregados
me chamarem de senhora por aqui, me sinto como uma velha de 80 anos. —
Ela riu. Na verdade, ela tinha mais, muito mais, 290 para ser mais exata, mas
quem precisava saber? O importante é que não aparentava ter mais do que 45
para os humanos.
Mirela apresentou entusiasmada seu ateliê à jovem garota, mostrou os
modelos e os desenhos da coleção na qual estava trabalhando, fazendo os
olhos de Cătălina brilharem. A garota estava encantada, nunca tinha visto
nada parecido. Sua vida sempre fora muito simples e suas roupas, as mais
baratas. Algumas eram, inclusive, de segunda mão, adquiridas em bazares de
caridade ou brechós.
Ao contrário do que temia, Cătălina se sentiu bem à vontade com a
mãe do médico. A senhora do castelo era uma bela mulher, inteligente,
educada e tão simpática quanto o filho. A jovem saiu da torre maravilhada e
feliz por tê-la conhecido.
Luca lhe mostrou, então, os andares do castelo, um a um. O segundo
andar ela já conhecia. Era o andar dos quartos principais, onde estava
acomodada e onde se localizavam os aposentos dos Constantin. No primeiro
andar havia mais quartos, porém não tão luxuosos quanto os de cima. O
térreo ela também já conhecia parcialmente, era onde ficavam a cozinha, a
biblioteca, o salão principal, a sala de refeições e o escritório do pai de Luca,
este o médico só lhe mostrou por fora.
No entanto, o que mais a impressionou foi o subsolo, onde, segundo
Luca, antigamente se localizavam as antigas masmorras. As escadas que
levavam até lá eram mais estreitas e, logo que desceram, Cătălina percebeu
que o teto ali era mais baixo. Apesar de bem iluminado, os corredores em
pedra pareciam claustrofóbicos.
O rapaz mostrou primeiro a enfermaria. Era um lugar até que
espaçoso, mas que lhe causou arrepios quando ele revelou que, nos tempo
antigos, ali era uma sala de tortura. A sala de ginástica até que parecia ser
bem equipada, com esteira, bicicleta, pesos e outras máquinas que ela não
conhecia, pois nunca estivera em uma academia. Luca comentou que eles
haviam aberto as paredes de quatro antigas celas para montá-la. Já a sala de
TV ocupava o lugar de três celas e tinha um grande sofá de couro, duas
poltronas, um pequeno bar e uma mesa de sinuca.
Após verem tudo por ali, o médico gesticulou para subirem; no
entanto, Cătălina reparou que as escadas pelas quais haviam chegado,
continuavam a descer para outro andar.
— O que tem lá embaixo, não vamos ver? — perguntou ela.
Luca expressou dúvida no olhar.
— Não sei se vai gostar do que tem lá — disse ele. — São celas
antigas, como eram as daqui, mas é um local que ainda não foi reformado. A
não ser pela luz elétrica, as masmorras lá embaixo continuam do mesmo jeito
que eram séculos atrás.
— Ah, por favor! — pediu Cătălina, mais curiosa ainda. — Eu
gostaria muito de ver.
— Hum... está bem... — falou Luca, hesitante.
Ele não tinha certeza de que deveria levá-la até aquele lugar, pois as
masmorras ainda eram usadas quando alguém do vilarejo cometia alguma
contravenção das leis humanas ou dos vampiros. Os Vampyrs tinham sua
própria prisão, uma construção localizada no alto de uma montanha inóspita,
mas até que a Força de Contenção, a polícia dos vampiros, viesse buscar o
criminoso, ele era encarcerado naquelas celas.
Os vampiros costumavam cuidar dos próprios problemas, se
antecipando aos humanos. Eles raramente permitiam que a polícia comum
chegasse até um vampiro e o prendesse, pois isso seria uma complicação,
uma vez que este não poderia receber sangue dentro de uma cela humana e
com certeza morreria.
Vampiros encarcerados e sem sangue morriam em menos de três
meses. Uma morte terrível, onde estes perdiam totalmente a noção de si
próprios, ficando loucos como animais raivosos. Então vinha o definhamento,
a pele ressecava, grudando nos ossos e a morte chegava. Os humanos nunca
entendiam o que acontecia, costumavam achar que se tratava de alguma
doença desconhecida.
Cătălina e Luca desceram, por fim, os degraus que levavam ao andar
inferior e, ao final destes, havia uma pesada porta de ferro com uma tranca
por fora. Luca a abriu, produzindo um rangido que fez a garota estremecer.
Curiosa, mas um pouco temerosa, ela seguiu atrás dele e, ao entrarem, se
espantou com a diferença de ambiente se comparado ao andar de cima. Lá o
teto era ainda mais baixo e os corredores mais escuros e estreitos. Apesar de
ter lâmpadas elétricas, que eram poucas, o local não era bem iluminado.
Definitivamente, era um lugar sombrio que fez com que Cătălina
imaginasse como seria ficar preso ali. As celas eram pequenas e escuras, com
portas em madeira, reforçadas com ferro. O ambiente era opressivo. Um
arrepio subiu pela coluna da moça. Ela estava pronta para pedir para subirem
quando algo chamou sua atenção. Diferente das outras celas, havia duas celas
cujas portas não eram de madeira, mas de barras de ferro e, para o seu
estranhamento, não pareciam ser velhas.
Já ia perguntar ao médico o motivo quando uma voz grave se fez
ouvir atrás deles.
— Luca! O que está fazendo? Ela não deveria estar aqui!
Ambos se viraram e deram de cara com Grigore. O semblante do
senhor do castelo não era nada amigável.
C ătălina sentiu um frio subir por sua coluna ao ver o pai do médico à
sua frente. Reconheceu-o de imediato por conta do quadro na sala de
pintura; entretanto, ao vivo ele parecia ainda mais assustador.
— Estou apresentando o castelo à Srta. Petran — respondeu Luca
calmamente. — Como sempre faço com as visitas — completou, arqueando
uma das sobrancelhas e encarando o pai significativamente, como se pedisse
para ele não se exaltar.
Grigore estreitou levemente os olhos e se voltou para Cătălina. A
garota parecia assustada e quase se escondia atrás do filho. Ela era pequena,
mal chegava ao ombro de Luca, e até que era bonitinha, mas realmente era
bem jovem. Só esperava que o filho soubesse o que estava fazendo e não
colocasse o segredo deles em risco.
— Perdoe minha falta de educação, Srta. Petran. Meu nome é Grigore
Constantin e sou pai do Luca. Como deve ter notado, as masmorras não são
muito agradáveis e não é exatamente um local onde temos orgulho de trazer
as visitas. — Ele devolveu o olhar significativo para o filho. — Enfim, evite
andar sozinha pelo castelo; muitos degraus estão desgastados e são
traiçoeiros, e não queremos que se machuque novamente, não é?
— Não, senhor... — ela respondeu tensa.
— Muito bem, então tenha uma boa estadia — falou ele, virando-se e
subindo as escadas.
Assim que Grigore se foi, Cătălina soltou a respiração e deixou os
ombros caírem. Sentia os músculos do pescoço doloridos de tão dura e
imóvel que tinha ficado.
Luca sorriu e lhe ofereceu o braço para subirem também. Ele achava
que Grigore ia começar uma discussão na frente da moça, mas felizmente seu
pai se comportou como um anfitrião, embora tenha aproveitado para deixar
claro que não a queria andando sozinha por ali.
Ao saírem do subsolo, o vampiro pegou, em uma espécie de
chapeleira próximo à porta de entrada, um boné, luvas e óculos de sol, e
seguiu com Cătălina até o jardim externo. Apesar do dia estar frio, o sol já
estava alto e se saísse sem proteção, ganharia bolhas na pele depois. A garota
estranhou tanta parafernália só para ir até o jardim, mas não disse nada, não
queria parecer uma enxerida.
— Ah, eu vi esse jardim lá de cima! — exclamou ela entusiasmada
quando chegaram.
— Pena que não estamos na primavera. Isso aqui se cobre de flores.
— Imagino que deva ser muito lindo. Já é bonito assim. Olha só essa
fonte! — disse chegando perto da peça de três andares delicadamente
trabalhada em mármore branco. — É linda!
— Sim... mas ela só está aí por insistência da minha mãe —
comentou Luca, sentando-se em um banco próximo.
— Por quê? — Cătălina quis saber.
— É uma peça contemporânea, não tem muito a ver com o castelo.
Meu pai provavelmente preferiria se fosse uma em que a água jorrasse da
boca de gárgulas, mas... — Ele riu.
Cătălina olhou para a fonte e para o castelo, depois para a fonte de
novo.
— Acho que seu pai tem razão... Se for analisar por esse lado...
— Olha só, Grigore já ganhou uma aliada. Por favor, não diga isso a
ele, nem à minha mãe, ou ganhará uma inimiga pior do que o meu pai.
— Nãooo... não está mais aqui quem disse isso. — Ela riu também.
Luca a olhou com curiosidade enquanto ela caminhava pelo jardim.
Durante o passeio pelo castelo, reparou que Nina não se mostrou tão
encabulada, ela permaneceu atenta aos detalhes e ao que ele dizia, fazendo-
lhe algumas perguntas, inclusive. Sorriu, gostava desse lado mais
descontraído dela.
— Nina? Podemos começar hoje no final da tarde? — perguntou ele,
de súbito.
— Hã? — Ela se virou para olhá-lo. — Começar o quê?
— A pintura, o seu retrato...
— Ah... sim... — respondeu Cătălina. Ela havia até se esquecido
daquilo. Uma sensação de cócegas tomou conta de seu estômago só de pensar
que o deus grego ia lhe observar e lhe pintar.
— Sr. Luca, Srta. Petran, o almoço está pronto. Onde desejam fazer a
refeição? — perguntou o Sr. Pop, saído sabe-se lá de onde e assustando a
garota.
— Na sala de refeições mesmo — disse o médico. — Almoça
comigo, não? — perguntou a Cătălina.
Ela concordou e ambos seguiram para dentro do castelo. O almoço
correu tranquilo e estava delicioso, como era esperado de Anna. Cătălina se
sentiu como uma princesa novamente, fazendo uma refeição em uma sala
requintada como aquela. Mas, mesmo estando apenas os dois, ela ficou um
pouco envergonhada.
Havia tantos garfos e copos sobre a mesa que ela não tinha ideia de
como usá-los. De início, ficou observando Luca e o imitando, mas o médico
obviamente notou e lançou lhe um olhar divertido.
Felizmente, os pais de Luca não estavam lá. O Sr. Constantin havia
pedido a refeição no escritório e Mirela não tinha o hábito de almoçar, pois
dormia naquele horário. Se não fosse por isso, ela teria morrido de vergonha.
O Sr. Pop se mantinha em pé ali próximo e a olhava de esguelha, enquanto
uma mocinha que ela não conhecia lhes servia os pratos.
Assim que terminaram, Luca a acompanhou de volta ao quarto.
— O Sr. Pop sempre te trata pelo primeiro nome? — ela quis saber
enquanto caminhavam.
— Sim, eu praticamente o obriguei a me chamar assim. Não gosto de
ser chamado de “senhor”, muito menos de “Sr. Constantin”. Prefiro deixar
esse título para o meu pai. Não consegui fazer as pessoas que trabalham aqui
abandonarem o “senhor”, mas pelo menos eles usam o meu primeiro nome.
Chegaram aos aposentos de Cătălina e o rapaz abriu a porta para ela.
— Venho te buscar às 17h — disse Luca com um sorriso. — Até
mais tarde... — despediu-se, e em seguida caminhou em direção ao seu
próprio quarto. Dormiria algumas horas até lá. Como só tinha cochilado um
pouco de madrugada, estava com os olhos pesados de sono.
Cătălina fechou a porta, sentia-se feliz. Estava tão contente que até a
dor nas costelas ficava em segundo plano. Largou-se na cama e pegou um
livro que estava na cabeceira, mas não conseguiu se concentrar. A imagem do
belo médico de olhos azuis não lhe saía da cabeça. Ela sorriu, logo estaria
com ele novamente, só os dois... seria seu modelo vivo... Cobriu o rosto com
o travesseiro.
— Que vergonhaaaa! — exclamou para si mesma.
Cătălina acordou horas depois, tomou o café deixado por Irina e foi
até a janela. O tempo estava fechado, talvez nevasse naquele dia. Sentia falta
de sair lá fora, mas o frio não era muito animador.
Pelo menos tinha vários livros para ler. Além disso, Mirela pediu
para que ela fosse até o ateliê naquela manhã, pois iria começar a ensiná-la a
costurar, algo que a animava.
No entanto, sua maior preocupação residia na decisão que precisava
tomar em relação à Luca. Só de pensar, seu estômago rodopiava e parecia
querer sair pela boca. Inspirou fundo e seguiu para o ateliê, teria o dia inteiro
para decidir, mas naquele momento precisava de distração.
Encontrou Mirela a esperando e, pelo resto do dia, a mãe de Luca lhe
ensinou as coisas básicas de costura. Aprendeu algo sobre como cortar,
mexer na máquina e juntar as peças. Almoçaram juntas e somente lá pelas
16h, a senhora do castelo a dispensou, pois estava cansada também. Aquele
não era o horário normal de trabalho da vampira, mas estava disposta a
mudá-lo por alguns dias enquanto precisasse ensinar a garota.
Cătălina voltou para o quarto apreensiva, pois sabia o que a esperava.
Precisava decidir... Tomou um banho e, ainda de roupão, pegou algumas
roupas no armário.
Estendeu sobre a cama uma blusa branca de meia manga e gola
canoa, uma calça de lã escura e uma saia longa que era emprestada de Irina,
pois era a única que tinha, além do vestido que havia usado no jantar com os
pais de Luca.
Ficou olhando estática para as peças. Seu coração estava acelerado.
Se escolhesse a saia, seria o sinal de que ela queria ter as aulas de sexo. Se
escolhesse a calça, tudo ficaria como estava. Levou as duas mãos ao rosto,
nervosa. Ela queria, ah, como ela queria...
Sabia que seriam apenas aulas, que Luca não desejava ter nenhum
envolvimento e que teria que se contentar com isso, mas não se sentia segura.
Tinha medo, medo de se apaixonar e de se machucar.
Merda! A verdade é que ela pressentia que já estava apaixonada...
Não sabia desde quando, talvez desde a primeira vez que o vira, ainda
no hospital. Aqueles lindos olhos azuis a cativaram de imediato, isso era
certo. Mas não, não foi ali que se apaixonou, aquilo foi só uma boa primeira
impressão...
Quando, então? Quando o seu coração foi tomado por tal sentimento?
Por tal vontade de vê-lo, de estar com ele, de conversar com ele, e agora de
sentir o toque dele em sua pele?
Não sabia dizer, e agora estava com medo, medo desse sentimento.
Medo de se entregar e depois ter que se afastar.
Contudo... de que valia a vida se não pudesse aproveitá-la? Tinha
certeza de que se arrependeria se desistisse. Ter aulas de sexo com um deus
grego... Como poderia recusar? Céus, estava se sentindo uma devassa... O
que a mãe dela diria? Franziu o cenho, aquilo não importava mais.
Irritada, balançou a cabeça, não queria pensar em sua mãe. Mas em
sua avó... segurou a correntinha que trazia ao pescoço, certamente ela a
repreenderia...
Começou a caminhar pelo quarto. Ansiedade era pouco... Sentia-se
completamente dividida, sem saber o que fazer. Desejo, medo... medo,
desejo. Ambos eram fortes, ambos a consumiam. Olhou novamente para a
cama e mordeu os lábios. Já que não conseguia se decidir, o destino decidiria
por ela.
Foi até a mesinha de cabeceira e pegou o livro que estava lendo.
Andou até o meio do quarto, ficou de costas para a cama, inspirou fundo e
jogou o livro para trás. Ela vestiria a peça que o livro caísse em cima ou mais
próximo.
Com receio de olhar, esperou alguns segundos antes de se virar.
Engoliu em seco e levou as mãos à boca com o que viu ao olhar para trás. O
livro havia caído exatamente sobre a saia.
Seu coração batia tão rápido que achou que teria um ataque cardíaco.
Ao mesmo tempo, uma sensação de alegria e entusiasmo cresceu dentro dela,
fazendo-a dar gritinhos contidos e pequenos pulos no lugar. Esperava apenas
que o destino estivesse certo...
Até dar o horário que ela deveria subir na torre, olhou-se dezenas de
vezes no espelho. A saia não era lá das mais bonitas, mas o conjunto até que
não tinha ficado tão ruim. Provavelmente era a primeira vez na vida que se
preocupava tanto com a aparência. Nem no dia do jantar com os pais de Luca
havia ficado tão insegura. Antes de sair do quarto, fechou os olhos e inspirou
profundamente umas três vezes; então, abriu a porta.
Seguiu pelo corredor e começou a subir as escadas que levavam à
sala de pintura. Quanto mais perto chegava, mais parecia que suas pernas
travariam. Utilizou-se de toda a sua coragem para vencer os últimos degraus.
“Vai dar tudo certo”, murmurava para si própria.
Entrou na sala e viu Luca preparando as tintas na paleta. Diferente
dos outros dias, ele estava de luvas e avental, e levantou os olhos para vê-la.
Mediu-a de alto a baixo e deu um sorriso discreto. Então voltou a misturar as
tintas com o pincel.
Cătălina entrou calada e se sentou no banco, torcendo as mãos sobre
o colo.
— Tudo bem? — perguntou o médico com um olhar divertido.
— Hum... sim. — Ela sentia-se quente e não conseguia encará-lo.
Tentava imaginar o que ele estaria pensando sobre ela e, se pudesse, se
enfiaria em um buraco de tanta vergonha.
Luca começou a trabalhar no quadro. Contudo, a concentração estava
difícil. Desde que a vira entrando com a saia, seu pensamento seguia apenas
em uma direção, tocá-la, beijá-la, abraçá-la.
Enquanto a pintava, podia observá-la com atenção e, apesar da moça
estar quase toda coberta, ela era um colírio para os olhos. O decote que usava
em formato canoa deixava exposto parte do ombro e a curva da clavícula.
Aquilo atiçava sua imaginação e ele não conseguia deixar de visualizar o
corpo dela sem todas aquelas roupas e totalmente à sua disposição.
Queria pintá-la nua, com todas as suas curvas e detalhes. Estava tão
absorto a contemplando e a imaginando sem roupas que, quando se deu
conta, seu amigo lá de baixo já estava bem animado, apertando sua cueca. Era
incrível o poder que ela tinha de deixá-lo duro sem fazer absolutamente nada.
Devia ser por causa de sua abstinência sexual de mais de quatro
meses. Só podia... Desde aquela noite que estivera com Sebastian e as garotas
no motel, não saíra com mais ninguém, e agora seu corpo pedia
desesperadamente por uma mulher. E ele pedia por ela, por aquela garota...
Mais cedo, havia ficado com receio de Cătălina aparecer de calça e
frustrar suas expectativas, mas ela veio de saia e isso significava que ela
desejava continuar no jogo. O que aconteceria depois, ele não fazia ideia.
Não queria pensar naquilo... Desde que ela entendesse onde estava se
metendo e não esperasse nada dele além de sexo, estaria tudo bem.
— Por que está de luvas e avental hoje? — perguntou ela, puxando
assunto.
— Porque não quero te sujar depois. — Ele sorriu marotamente.
Cătălina desviou os olhos para as próprias mãos e Luca largou a
paleta. Não aguentava mais. Não conseguiria pintá-la naquele estado de
excitação. Caralho! Ela ficava ainda mais linda quando estava envergonhada.
Tirou as luvas e o avental, deixando-os de lado e chamando a atenção da
garota que o fitou com os olhos arregalados.
— Já acabou? — perguntou ela.
— Por hoje, sim — respondeu Luca se aproximando. — Vamos? —
disse, estendendo-lhe a mão.
— Para onde? — Cătălina quis saber enquanto se levantava. Seu
coração batia descompassado.
— Para o quarto. — O olhar de Luca era intenso e ela estremeceu. —
Você confia em mim? — ele perguntou.
Cătălina hesitou um pouco, antes de confirmar com a cabeça. Ela
confiava, mas não podia negar que aquela palavra “quarto” lhe causava uma
grande ansiedade.
Luca a conduziu pela mão até o andar de baixo, para seu antigo
quarto e assim que entraram, ele a puxou para si.
— Tem ideia do quanto eu te quero? — falou ele com a voz rouca e,
em seguida, tomou seus lábios.
Choques internos tomaram o corpo de Cătălina ao sentir a língua dele
procurando a sua, e qualquer dúvida que ela tinha sobre estar fazendo ou não
a coisa certa se dissipou. Agora ela tinha certeza de que era aquilo que queria,
estar ali, com ele, nos braços dele, sentindo a boca dele na sua e as mãos dele
em seu corpo.
Luca afastou-se um pouco e, com um sorriso, levou-a até a mesa que
antes ela usava para fazer suas refeições, convidando-a se sentar ali. Olhou-a
intensamente, bebendo da beleza de seus traços e contornando a curva de seu
rosto com os dedos. Escorregou-os para o pescoço desnudo e depositou um
beijo na pele macia.
Outra visão tentadora... Naqueles momentos, era difícil para o
vampiro negar sua natureza. Sua vontade era de mordê-la e experimentar o
seu sangue. Ele tinha certeza de que o gosto deveria ser maravilhoso.
Resvalou os dentes na pele macia e suave dela, arrancando-lhe arrepios, e
sorriu. Teria que se contentar apenas com o corpo dela, mas aquilo já era
delicioso, não podia reclamar.
Buscou novamente a boca de Cătălina enquanto descia as mãos pela
sua cintura e pelos quadris, mas não parou por ali. Continuou escorregando
uma das mãos pela perna da garota e começou a puxar a barra da saia para
cima. Sentiu ela se retrair. Interrompeu, então, o beijo e a olhou.
— Ainda quer fazer isso, Nina?
Ela o fitou com ansiedade.
— Eu quero..., eu só não sei... Eu nunca fiz isso antes, eu não sei
como agir, me desculpe... — disse, abaixando os olhos.
O vampiro elevou o queixo dela, fazendo-a olhá-lo novamente.
— Não precisa se preocupar com isso. Deixe que eu te conduzo,
apenas desfrute. Se você tem certeza do que quer, apenas confie em mim, e se
tiver qualquer dúvida, me peça para parar, entendeu?
Ela assentiu. A mão dele, ainda em sua saia, a deixava agitada, mas
estava disposta a continuar, ela queria continuar...
Luca sorriu e levou a outra mão à saia também, subindo-a um pouco
acima dos joelhos de Cătălina. Então, deslizou os dedos lentamente pelas
coxas dela enquanto observava as reações da garota. Ela estava claramente
nervosa, e isso era natural. Ele também estava um pouco nervoso, não queria
assustá-la, queria que ela gostasse do que ele estava fazendo, queria que ela
se entregasse às suas carícias sem medo.
Ainda com as mãos sobre as pernas dela, começou a fazer círculos
com os dedos e subir vagarosamente por dentro da saia.
— Me beije, Nina — pediu ele com o rosto bem próximo ao dela.
Cătălina mordeu os lábios. Ele queria que ela o beijasse, e estava
esperando... Sentiu-se envergonhada, será que conseguia fazer direito? As
mãos dele em suas pernas, acariciando-as e subindo centímetro a centímetro a
distraía e lhe provocava cócegas no estômago, mas precisava se concentrar,
precisava beijá-lo...
Passou, então, os braços em torno do pescoço de Luca e tocou os
lábios dele com os seus. Que delícia de lábios... Quentes, macios... Arriscou
introduzir a língua em sua boca, e a resposta que veio dele foi um leve
apertão em suas coxas. O médico retribuiu-lhe o beijo, enquanto uma de suas
mãos deslizava ainda mais para cima, alcançando sua calcinha.
Cătălina sentiu ele introduzir os dedos por baixo do tecido e seu
polegar começou a fazer pequenas carícias em sua virilha.
Seu corpo todo esquentou, uma sensação latejante se apossou de sua
intimidade e ela prendeu a respiração. Ele ia tocá-la... ele ia tocá-la lá!
Luca afastou seus lábios alguns centímetros e a observou com um
brilho no olhar. Ele a queria tanto, mas iria com calma.
— Primeira lição, pequena... — disse ele, com a voz carregada de
desejo. — Não tenha medo ou vergonha do que está sentindo, aproveite as
sensações, sinta o toque e delicie-se com ele, não pense demais. — Desceu os
lábios até o ouvido dela. — Eu estou aqui para te ensinar o que é o prazer e
não quero que tenha vergonha disso. Entregue-se para mim, Nina... —
sussurrou.
Cătălina derreteu-se com aquelas palavras. Sim... se entregaria a ele,
sem medo, mas ainda sentia vergonha de sua inexperiência. E aquelas
sensações... Céus, aquilo era normal? Parecia estar pegando fogo lá embaixo.
Luca voltou a beijá-la e deslizou as duas mãos para suas nádegas,
puxando-a contra si, contra seu corpo, contra o seu membro duro e pulsante.
Não a tocaria naquele dia, mas precisava senti-la. Apertou-a mais,
pressionando-a contra o seu sexo e aliviando um pouco a necessidade de seu
pau. Puta merda! Queria desesperadamente arrancar as roupas dela e
mergulhar em sua cavidade úmida.
Uma batida na porta interrompeu sua imaginação e seus amassos.
— Sr. Luca? Está aí? — A voz de Popescu soou através da porta.
Luca suspirou aborrecido e se afastou de Cătălina. Caminhou, então,
até a porta e a abriu.
— Desculpe incomodá-lo, senhor — falou o mordomo dando uma
espiada dentro do quarto e vendo uma Cătălina corada como um camarão
sentada sobre a mesa. — O senhor não me orientou se hoje vai querer que
lhes sirva o jantar aqui ou na sala de refeições.
— Pode ser na sala de refeições — respondeu Luca passando as mãos
nos cabelos. Um ambiente mais neutro seria bom para acalmar os seus
ânimos. — Já vamos descer.
— Sim, senhor. — O mordomo fez uma pequena reverência e virou-
se para descer as escadas.
O vampiro retornou até onde estava Cătălina e pegou em sua cintura,
retirando-a de cima da mesa. A jovem lhe sorria, e ele achou que aquele era o
sorriso mais lindo do mundo.
— Está com fome? — perguntou.
— Um pouco...
— Então vamos. — Ele sorriu e estendeu a mão para ela. — Amanhã
continuaremos de onde paramos.
Cătălina devolveu o sorriso e aceitou sua mão. Sentia-se leve e
precisou se conter para não saltitar pelos degraus enquanto desciam. Estava
alegre. Sim... seu coração estava aquecido e não se lembrava de nenhum dia
em sua vida em que havia se sentido tão entusiasmada como estava naquela
hora.
Olhou para o médico, que ainda segurava sua mão enquanto
caminhavam até a sala de refeições. Ele era maravilhoso... Gentil, educado,
quente, gostoso... E não a havia tocado hoje, por pouco... mas certamente ele
o faria. E ela descobriu que ansiava por aquilo.
C ătălina acordou no dia seguinte com alguém batendo em sua porta.
Havia combinado com Mirela de estar no ateliê às 8h e por isso pediu
para Irina trazer seu café mais cedo. Olhou pela janela e viu que ainda
estava escuro. Naquela época do ano, o sol nascia somente após as 7h30 e
aquilo era desmotivador. Queria tanto continuar na cama, sonhar com Luca e
com os beijos dele...
Abafou um gritinho no travesseiro. O médico se comportou como um
verdadeiro cavalheiro na frente do Sr. Pop e dos empregados durante o jantar,
mas ao acompanhá-la depois até o quarto, a prensou contra a parede e deu
mais um daqueles beijos arrasadores. Ah, que delícia! Nunca se cansaria
daqueles beijos.
Estava louca para que as horas passassem logo e pudesse vê-lo
novamente. Ela sabia que naquela noite não iriam ficar só nos beijos e isso
dava-lhe um nó nos intestinos. Era difícil de admitir, mas reconhecia que
estava excitada com tudo aquilo. Não se sentia mais envergonhada como no
dia anterior, nem com medo, nem com dúvidas, apenas queria estar com ele.
“Aproveite as sensações... delicie-se”, foi o que ele havia dito. Só de
pensar naquelas palavras ela já sentia seu corpo ferver.
— Pode entrar! — ela gritou e Irina abriu a porta, carregando uma
bandeja.
— Bom dia, Srta. Cătălina.
— Bom dia, Irina — respondeu ela com voz preguiçosa, sentando-se
na cama.
A moça colocou a bandeja sobre a mesinha de refeições e já estava
saindo quando se lembrou de algo.
— Ah... Nossa, quase me esqueci. — Irina sorriu. — A flor que está
na bandeja, foi o Sr. Luca que colocou.
— Flor? — Cătălina se levantou rapidamente e foi olhar, era uma
tulipa branca. — Onde ele conseguiu essa flor? — perguntou enquanto a
pegava na mão.
— Temos uma estufa lá atrás do castelo e as tulipas gostam do frio —
explicou a garota, sorrindo novamente. Então saiu, fechando a porta.
Cătălina ficou contemplando a flor em suas mãos com um sorriso
bobo no rosto. Ah... senhor Luca, desse jeito estava ficando difícil não se
apaixonar. Ela estava perdida...
Cătălina passou o dia no quarto. Não tinha muito o que fazer, a não
ser pensar em tudo o que tinha acontecido e digerir toda aquela informação.
Irina havia lhe esclarecido algumas coisas, mas era tão difícil de
aceitar que aquilo era real. Às vezes, tinha dúvidas se não estava em algum
sonho maluco, ou se tudo não passava de um trote.
Luca era um vampiro... Aquilo era muito surreal. E o pior, ela tinha
transado com ele mesmo sabendo o que ele era e não havia se importado!
Segurou em sua correntinha com o pequeno crucifixo. Vampiros não
tinham medo da cruz... Então, não tinha nada a ver eles serem amaldiçoados,
aquilo era mais um mito.
Estava tão confusa... O medo de virar uma prisioneira para o resto de
sua vida começava a tomar forma. E se eles nunca confiassem nela? E se,
mesmo não a enviando para a prisão, eles nunca mais a deixassem sair dali?
Como ficaria a relação dela com Luca?
Um nó se formou em seu estômago quando se lembrou de que ele
estava prestes a ficar noivo. Então, seria por isso que eles ainda mantinham
esses casamentos arranjados? Por serem vampiros?
Realmente... agora entendia perfeitamente por que o médico dissera
que só poderiam ter um caso passageiro. Ela nunca poderia ter nada além de
sexo com um vampiro.
Surpreendera-se quando Irina contou que os vampiros puros não
eram imortais como nas lendas, mas podiam viver mais de 500 anos. Mirela
tinha quase 250 e Grigore mais de 300. Luca era jovem ainda, e ainda
permaneceria jovem por longos anos...
Ficou imaginando, ela com 70 anos, enquanto Luca ainda
aparentando ter 30. Com certeza, era impossível para um humano e um
vampiro terem uma vida amorosa juntos.
Uma tristeza enorme se apoderou de seu coração e Cătălina foi se
deitar. Por que tinha que se apaixonar por ele? O que faria dali para frente?
Não tinha respostas para nada e se sentia um caco.
Irina apareceu com o chá da tarde e Bass veio junto com ela.
— Não pretende me atacar, não é? — perguntou ele da porta, com as
mãos levantadas em defensiva.
— Não... — Cătălina sorriu envergonhada.
— Posso tomar chá com você?
— Claro.
A filha da cozinheira deixou as guloseimas sobre a mesa e saiu em
seguida.
— Você ainda está com medo da gente? — perguntou Sebastian
pegando uma rosquinha.
— Não... Eu estou com medo do meu futuro...
O vampiro a olhou sério.
— Com o tempo as coisas se ajeitam... — falou dando uma mordida
no doce e uma piscadela.
Cătălina sorriu.
— Bass...
— Sim?
— Como é a sua prima?
Ele suspirou.
— Bonita, inteligente, controladora, ciumenta, um pouco arrogante e
mimada também, mas não é uma pessoa ruim.
— Nossa... — Ela arqueou as sobrancelhas. — E o que ela tem de
bom, então?
— Gosta de animais, gosta de crianças, vive se metendo em causas
sociais e só não se alistou para o médicos sem fronteiras porque meu tio não
permitiu.
— Ah... Meio controversa ela...
Sebastian riu.
— Podemos resumir assim: Natasha é legal desde que sejam feitas as
suas vontades e ninguém pise em seu calo.
— Hum... Bass... Você acha que ela vai cismar comigo?
— Sendo bem sincero, se ela tiver qualquer ideia de sua relação com
Luca, sim.
— E como vai ser então? Falta tão pouco tempo para o noivado...
Eu... eu não acho que poderei sair daqui antes disso.
— Eu não sei, Nina... E creio que nem Luca sabe... Os planos
mudaram desde ontem, e ainda precisamos pensar no que fazer.
Cătălina tomou um pouco de chá, pensativa.
— Você desistiu? Dela?
— É como eu disse... Eu não sei mais o que sinto por Natasha. O que
eu sentia antes foi minado pela indiferença dela e eu acabei ficando com
raiva. Ainda sinto raiva... Então, não sei... Não vou arriscar minha amizade
com Luca e lutar por algo que eu não tenho certeza.
— Posso fazer mais uma pergunta?
— Ao seu dispor, princesa.
Cătălina sorriu.
— Luca me disse que você é um pervertido, mas nunca tentou dar em
cima de mim. Por quê?
Sebastian riu.
— Porque ele me pediu, ou a essa altura você estaria frequentando a
minha cama, não a dele — disse malicioso.
Ela arregalou os olhos e riu também.
— Você é bem convencido!
— Então me diz. — Ele se inclinou e se aproximou um pouco mais,
falando em um tom baixo e sedutor. — Se não fosse pelos seus sentimentos
por Luca, acha que resistiria a mim?
Cătălina corou com a aproximação do vampiro ao mesmo tempo que
pensava na resposta.
— Não sei, talvez sim, talvez não... Não saberemos. — Ela sorriu.
Bass se afastou com um brilho travesso no olhar.
— Não... não saberemos...
— Eu acho que eu amo o Luca, Bass... — confessou Cătălina mais
séria.
— Isso é um problema.
— Eu sei... Não temos futuro, não é?
— Depende de que futuro estamos falando. Se estiver pensando em
uma família normal com filhos e tal, certamente que não, mas se estiver
pensando em alguns anos de convívio e sexo selvagem, acho plausível.
— Mas e depois. E se eu ainda continuar a amá-lo?
— Não existe o depois para vocês dois, Nina, o tempo de vocês corre
diferente. A não ser que queira virar uma transformada, o que seria proibido
pelas nossas leis. E mesmo que se torne uma de nós, não creio que Luca vá
abrir mão do casamento... Ele iria te deixar de qualquer forma.
Cătălina sentia como se seu coração estivesse sendo comprimido.
— Por que tanta obsessão por esse casamento arranjado, Bass? Só
porque são vampiros? Isso também faz parte de alguma lei? Só se casar entre
vocês?
— Arranjar casamentos entre vampiros não faz parte da lei. Tem
mais a ver com tradição, e Luca... Ele dá valor a isso, sabe?
— Por quê?
— Porque ele é um Constantin. Foi educado e criado para manter as
tradições da família.
— E o que tem de tão importante nessas tradições. Orgulho, poder,
carisma?
— Não, não é por isso... Luca não é assim. Acontece que esse vale é
um dos poucos refúgios de transformados que ainda existem no mundo, e os
Constantin são responsáveis por toda essa gente.
— Certo, mas o que isso tem a ver com o casamento?
Sebastian inspirou fundo e continuou:
— Somente o casamento com uma vampira pura poderá dar a Luca
um filho puro. Um descendente que será capaz de dar continuidade à
cerimônia de batismo e à conversão dos transformados. Não sei se Irina já te
falou, mas somente um vampiro puro tem esse poder, de fazer a conversão de
um humano em um vampiro. Enfim, Luca entende que precisa manter sua
linhagem pura para dar um futuro aos transformados do vale para que eles
tenham a oportunidade de continuarem existindo.
— Mas e o pai dele? O irmão, Victor? Eles podem dar conta de fazer
as conversões, não podem?
— Sim, podem. Mas Grigore está ficando velho e Luca foi criado
para ser o herdeiro desse castelo. Um dia tudo isso aqui será dele. Luca
aceitou essa responsabilidade, essa tarefa, há muitos anos. É um grande peso
esse que ele carrega. Eu, sinceramente, não gostaria de estar na pele dele.
— Por que Luca é o herdeiro? E não o irmão?
— Victor abriu mão de sua parte do vale assim que Luca nasceu. Ele
não tem interesse no castelo, prefere cuidar dos hospitais.
— Muito cômodo para ele...
— São as vantagens de ser o irmão mais velho. Ele pôde escolher.
— Hum... — Cătălina suspirou. — Me esclareça uma coisa...
Vampiros puros só podem ter filhos com vampiros puros?
— Não. Podem ter com transformados também, mas, nesse caso, seus
descendentes não seriam puros.
— E só um filho puro poderia continuar com as conversões...
Entendi. Luca está se comprometendo com uma vampira de sangue puro para
manter a linhagem, por causa do vale?
— Exato. Você viu durante a cerimônia como a comunidade dos
transformados é grande. Os Constantin são responsáveis por eles há mais de
quinhentos anos.
— Entendo... — Ela suspirou e abaixou a cabeça. — E depois do
noivado? O casamento será quando? Quanto tempo ainda posso ter com
Luca? Ele me disse uma vez que vocês são livres para se relacionar com
quem quiserem até o casamento.
— O casamento demora bastante, já que nós, vampiros, raramente
nos casamos antes dos cinquenta anos, mas um relacionamento longo entre
vocês dois só seria viável para você se você virasse uma de nós.
— Se eu me transformasse? — Ela arregalou os olhos.
— Sim, mas como eu disse, isso é proibido. E também não pense que
algo assim poderia fazer Luca mudar de ideia quanto ao casamento. Porquê,
além da questão de gerar descendentes puros, depois do noivado ele não
poderá desistir do casamento ou correrá risco de morte.
— Como assim? — Cătălina abriu a boca, espantada.
— Coisas de honra. Sim, somos arcaicos. — Ele inspirou fundo. —
Nina... Eu não gosto de ter que te falar isso, mas não deposite suas esperanças
em uma relação duradoura entre vocês.
— Eu sei... E eu também não quero me transformar em uma vampira.
Na verdade, eu não sei o que fazer...
Sebastian colocou a mão sobre a dela.
— Não crie expectativas. É a única coisa que posso lhe dizer e
aconselhar.
Ela concordou, embora permanecesse com seus sentimentos
embaralhados.
— Ainda está de dia! — Sebastian sorriu ao olhar pela janela.
Cătălina levantou a cabeça, fitando-o com estranheza.
— Quer ver o pôr do sol do telhado?
Ela assentiu sorrindo e ele se levantou, puxando-a pela mão. Saíram
do quarto e Theodor, que estava sentado do lado de fora, franziu as
sobrancelhas, levantando-se também e seguindo os dois. Antes de subirem ao
terraço do telhado, Bass passou em seu quarto para pegar seus óculos de sol e
um boné.
— Conhece meu guarda pessoal? — perguntou Cătălina baixinho ao
chegarem lá em cima.
— Não, só de vista. — Sebastian sorriu. — Não se incomode. Finja
que é uma princesa e que ele é o seu segurança particular.
Ambos sorriram e fixaram sua atenção na paisagem. Era realmente
uma linda vista. O vale, o vilarejo, as montanhas... Quase tudo coberto de
neve. O sol se pôs alguns minutos depois, deixando uma mancha
avermelhada nas montanhas até que, finalmente, a noite começou a chegar.
Nesse meio tempo, ambos permaneceram em silêncio com seus
pensamentos, apenas contemplando a vista. Não havia necessidade de
palavras, não naquele momento.
L uca voltou do hospital e jantou com Cătălina naquela noite. Ela se
esforçava para manter em mente que estavam vivendo uma relação
passageira e que não devia criar expectativas. Como um mantra, ela
repetia em sua cabeça: “Não espere nada, não espere nada, ele é um vampiro,
você é uma humana”.
Após o jantar, eles se acomodaram na cama e Luca lhe contou mais
algumas coisas sobre os vampiros, como a habilidade de entrar em mentes de
animais; entretanto, não tocaram no assunto “relacionamento”.
Para Cătălina, o fato do seu deus grego ser um vampiro só
confirmava o que ele havia lhe dito há poucos dias, que não poderia lhe
oferecer nada mais do que um caso passageiro. E depois do que Bass lhe
disse sobre o noivado e toda a questão que envolvia o vale, ela não pretendia
insistir naquilo. Tinha que dar um jeito de aceitar e ponto.
Um nó ainda se formava em seu estômago cada vez que ela pensava
na palavra “vampiro”. Mas quando estava perto dele, em seus braços, essa
sensação estranha passava, felizmente. Era como se aquilo fosse um sonho.
Ainda na cama, eles trocaram vários beijos e carinhos, mas como
Cătălina estava com suas partes íntimas sensibilizadas pelo sexo quente da
noite anterior, eles apenas dormiram abraçados.
O dia seguinte passou sem novidades para Cătălina. Luca saiu cedo
para o hospital e Bass apareceu novamente para o chá da tarde.
Desta vez, a conversa girou sobre os casos amorosos do vampiro e
sobre os tempos da faculdade. Até que era divertido escutar as histórias dele,
mas foi assim que Cătălina ficara sabendo que Luca era bem popular na
época em que estudava e fazia sucesso com as garotas. Lindo e carismático
do jeito que ele era, não duvidava.
De início, ela se sentiu incomodada com o que soube, e Bass se
mostrou receoso de ter falado demais. Mas depois ela entendeu que a vida de
jovens universitários e solteiros devia ser muito diferente do que estava
acostumada em sua pequena cidade. Ela não tinha o direito de sentir ciúmes
de algo que acontecera há anos.
Assim, pediu para Bass continuar contando sobre as aventuras dos
dois. Queria saber mais sobre Luca, e ficou surpresa ao descobrir que, por
trás daquele médico sério e centrado, havia um cara com um lado mais
extrovertido e despreocupado.
Obviamente, Sebastian não falou tudo. Não entrou, por exemplo, no
detalhe daquela noite em que ambos beberam do sangue das duas moças. Não
seria tão idiota para deixar vazar um assunto como aquele.
Após o chá, Cătălina tentou ler um livro, mas sua cabeça estava tão
cheia de coisas... Aquela semana estava sendo um pesadelo. Primeiro a morte
de sua mãe e, em seguida, toda aquela história de vampiros. Não estava
conseguindo processar direito as informações...
Enquanto esteve sozinha, permaneceu em um estado de constante
ansiedade e só se sentiu mais aliviada quando Luca apareceu ao voltar do
hospital. Jogou-se nos braços dele como se ele pudesse protegê-la de tudo, de
todos, da vida.
Jantaram no quarto, conversaram e passaram a noite juntos. Desta vez
eles transaram e dormiram aconchegados um ao outro.
Luca acordou cedo no dia seguinte. Mesmo sendo véspera de Natal,
tinha sido escalado para trabalhar e precisava sair. Por um tempo, ficou
observando o rosto tranquilo de Cătălina que permanecia dormindo.
Ele havia percebido que ela ainda estava tensa na noite passada e
pôde ver a ansiedade e o receio em seus olhos. Suspirou e saiu sem acordá-la.
Com o tempo, ela se acostumaria com a ideia e relaxaria.
Algumas horas depois, Cătălina despertou com um desconforto no
ventre. Ela logo imaginou o que seria. Foi ao banheiro e verificou que sua
menstruação havia descido. Pelo menos, Luca havia se precavido quanto
àquilo e lhe trouxera absorventes internos.
Segundo ele, ela não deveria usar os externos por causa do cheiro do
sangue. O médico lhe entregou também embalagens de plástico com fecho
para que ela os descartasse ali e os entregasse à Irina, que já havia sido
orientada a queimá-los na lareira. Assim, ninguém perceberia.
Cătălina achava tudo aquilo muito, muito constrangedor. Mas não
havia outro jeito. Tomou um banho, lavou sua calcinha suja, colocou o
absorvente e voltou para o quarto.
Irina chegou poucos minutos depois com o café.
— A senhorita já está sangrando? — perguntou.
— Sim, desceu hoje. Está dando para perceber?
— Um pouco, mas o cheiro não vem de você, está no ar — falou ela
abrindo as janelas para o ar circular. Um vento gelado entrou. — Deve ser de
antes da senhorita colocar o absorvente.
— Vocês não menstruam? — quis saber Cătălina.
— Não.
— Nem antes de serem convertidas? Quando ainda são humanas?
— Não, nascemos estéreis. Só podemos ter filhos se nos
convertermos.
— Ah... E como é isso? Com os vampiros em geral? Como podem ter
filhos sem um ciclo fértil?
— Não sei direito como funciona com os humanos, mas nós só
conseguimos engravidar quando bebemos o sangue do parceiro durante...
hum... você sabe... quando estamos fazendo aquilo.
Cătălina arregalou os olhos.
— Então vocês se mordem enquanto fazem sexo?
— Se quisermos engravidar, sim. Mas não sei explicar direito como.
Pergunte para o senhor Luca, ele é médico, saberá te explicar melhor.
— Bass me disse que vampiros puros podem ter filhos com
transformados...
— Sim. Mas normalmente não nos misturamos. Vampiros puros
raramente têm filhos com transformados. Mas acontece, às vezes, como o Sr.
Constantin. — Irina baixou o tom da voz, como se contasse um segredo. —
Ele teve uma filha com uma mulher que era humana e que foi transformada
por ele. A irmã do senhor Luca, que mora na América. Ela tem o sangue
mestiço.
— Ah.. entendi.
— Não diga a ninguém que eu te contei. O Sr. Constantin ficará
muito bravo se souber que nós estamos fofocando sobre a vida dele. — Ela
riu.
— Não vou dizer, não se preocupe.
Irina sorriu.
— Já volto, senhorita. A Sra. Mirela pediu para que eu fosse buscar
um vestido no ateliê para você usar hoje à noite.
— Hoje à noite?
— Sim, a minha mãe está preparando uma ceia de Natal.
Cătălina abriu a boca, pasma. Ainda não tinha visto os pais de Luca
desde a noite da cerimônia. Como iria encará-los?
Irina saiu e logo voltou com o vestido e um par de sapatos.
Ansiosa, Cătălina se aproximou para vê-lo. Era uma bela peça,
provavelmente costurada pela própria Mirela. Preto e de comprimento médio,
tinha alças finas e era recoberto por uma renda com mangas que passavam
um pouco do cotovelo. Os sapatos eram pretos também e, felizmente, não
muito altos, ou não saberia andar com eles.
Calçou-os e serviram perfeitamente. Testou-os, andando de um lado
para o outro do quarto e sorriu, até que eram confortáveis. Mirela era incrível,
não tinha ideia de como agradecê-la.
— Não estou andando igual uma pata, não é, Irina?
— Não, senhorita. — A garota sorriu também, pegando a bandeja em
seguida. — Até mais tarde!
— Até... — respondeu Cătălina observando a garota sair.
Ela suspirou e se largou na cama, sentindo uma pequena pontada nas
costelas. Às vezes, esquecia-se de que ainda não tinha se curado. Felizmente,
suas dores haviam diminuído bastante e não incomodavam tanto, somente
quando ela se esforçava.
Três dias atrás, quando foi pega bisbilhotando na cerimônia de
batismo, ela havia sentido dores ao tentar fugir de Sebastian e também
quando Luca apareceu e ela correu para a porta. Mas o medo era maior do
que a dor e a adrenalina estava tão alta que ela mal se lembrou de que estava
machucada.
Luca também era cuidadoso e procurava não pressionar sua região
dolorida quando estavam juntos. Um friozinho gostoso invadiu seu estômago.
Fazia apenas uma semana que estavam juntos, mas a intimidade entre eles era
tão profunda, tão verdadeira... O que a entristecia é que ela sabia que nunca
poderia ficar com ele.
Às vezes, era difícil de acreditar que Luca não era um humano, ou
Sebastian, ou Irina ou Mirela. Eles eram tão normais...
Mas a verdade é que eles não eram como ela, e ela nunca seria igual a
eles... Não que quisesse, não tinha o menor interesse em se tornar uma
bebedora de sangue, mas Bass também tinha falado que era proibido
transformar humanos.
Além disso, Luca iria ficar noivo... E ela estaria ali para ver aquilo...
Frustrada, virou-se na cama, ficando de bruços. Seu futuro era uma
incógnita. O que fariam com ela? Como ficaria sua relação com Luca já que,
pelo visto, não poderia sair do castelo tão cedo?
Cansada de pensar e não chegar a uma conclusão, pegou um livro
para ler. Algumas horas depois, bateram na porta. Era Sebastian.
— Oi, princesa! Almoça comigo? — ele perguntou assim que ela
abriu a porta.
— Achei que estivesse dormindo agora.
— É, não dormi muito mesmo. Vou ter que ir para o hospital mais
cedo hoje, então...
— Okay, entre...
— Não, não. Hoje você almoça comigo nos meus aposentos.
Cătălina arqueou as sobrancelhas e riu.
— Por quê? Que diferença faz?
— Nenhuma... — Ele riu também. — Só acho que você passa muito
tempo nesse quarto. Mudar de ares um pouco é bom.
— Está bem — disse ela saindo e fechando a porta atrás de si. Olhou
para Theodor parado em frente ao seu quarto e sorriu, sabendo que ele iria
segui-la. — Mas Luca não vai gostar de saber que estou visitando o seu
quarto.
— Por quê? Ainda não dei nenhum motivo para ele não confiar em
mim. Ou dei? — Bass estreitou levemente os olhos com um sorriso sem-
vergonha nos lábios.
— Não. — Cătălina riu. — Você tem se comportado muito bem
comigo. Já não posso dizer o mesmo em relação à Madeleine.
— Quem?
— A ajudante da Anna, da cozinha... — respondeu ela erguendo uma
sobrancelha.
— Ah... Ela... — Ele deu de ombros. — Fazer o quê. Não tenho culpa
de ser irresistível... — piscou.
Cătălina abriu a boca, fingindo indignação.
— Você é muito descarado, sabia? — falou rindo.
— Não sei de nada...
Chegaram ao quarto e ele abriu a porta, convidando-a para entrar.
Theodor, que os havia seguido, encostou-se na parede da frente e voltou a
folhear um livro que estava lendo anteriormente.
— Precisamos avisar Irina para servir o almoço aqui.
— Já avisei o mordomo mal-humorado.
— Antes de eu responder se eu aceitaria o seu convite?
— Não achei que recusaria. — Ele sorriu.
Cătălina balançou a cabeça sorrindo. Era difícil não sorrir com Bass,
o rapaz era divertido e bonito, um filho da mãe. Isso explicava sua facilidade
em conquistar mulheres.
O quarto dele não era muito diferente do seu, exceto pelas cores do
dossel sobre a cama. O de Bass era preto, o que deixava o lugar com um ar
meio sombrio. A paisagem da janela também era diferente. Dali, podia-se ver
a parte de trás do castelo, que dava para um precipício em pedras e, lá
embaixo, a floresta coberta de neve continuava por alguns quilômetros e
depois voltava a subir uma das montanhas que cercavam o vale.
Irina logo apareceu com a refeição, acompanhada de Madeleine. A
garota da cozinha fechou o semblante, como da outra vez, fazendo Cătălina
segurar o riso até ela sair.
— Bass, a moça está ficando com ciúmes.
— Ah, não ligue. À noite eu resolvo isso. — Ele sorriu de lado.
Serviram-se e começaram a comer. Sebastian colocou um pouco de
vinho no copo dela.
— Não muito, por favor... — falou Cătălina. — Não estou
acostumada.
O vampiro sorriu e colocou apenas dois dedos do líquido bordô na
taça.
— Está menstruada, Nina?
Cătălina corou.
— Está dando para perceber?
— Muito sutilmente, mas é só porque estou bem próximo. Não se
preocupe com isso. Só não deixe vazar.
— Essa conversa não me parece muito adequada para uma refeição
— falou ela constrangida.
Sebastian riu.
— Você se esqueceu de que sou médico também? Não precisa ficar
com vergonha dessas coisas, Nina. Para mim é um assunto normal, e sangue
é alimento...
Cătălina o encarou de olhos arregalados. Mesmo já aceitando a ideia
dele ser um vampiro, ouvi-lo falar sobre sangue dessa forma era um choque.
Arrepiou-se.
— Ainda assim... esse assunto é um pouco desconfortável para mim.
— Ela tomou um pouco do vinho, fazendo uma careta. Achava a bebida ácida
demais para o seu paladar. — Hum... Bass, me explica uma coisa?
— O que quer saber?
— Irina não soube me explicar como vampiras ficam grávidas se não
menstruam. Ela só disse que precisam morder o parceiro.
Bass gargalhou.
— É sobre isso que as garotas conversam, então?
Ela encolheu os ombros.
— Certo... — Ele coçou o queixo e a olhou divertido. — Não é tão
simples engravidar uma vampira, na verdade. Não basta ela morder e ingerir
o sangue do parceiro. Isso deve acontecer combinado com um orgasmo
intenso... — Ele se inclinou para frente, encarando-a e fazendo-a corar. —
Daqueles arrebatadores, sabe? Só assim, para uma vampira ovular. Além
disso, os óvulos das vampiras duram pouco tempo. Se não forem fertilizados
logo que saem dos ovários, eles se degradam rapidamente. Então o cara não
pode vacilar, ele precisa gozar praticamente ao mesmo tempo que ela para
que seus espermatozoides cheguem a tempo.
— Ou gozar antes...
O vampiro sorriu e Cătălina corou de novo
— Sim... ou gozar antes. De qualquer forma, é preciso existir uma
química entre o casal. Talvez seja mais fácil com os transformados que
normalmente se casam por amor e não por acordo.
Lembrar-se do noivado de Luca foi inevitável para Cătălina.
— Você pretende ter filhos puros também, Bass? — perguntou ela,
tentando distrair sua mente.
— Não faço questão. Se eu encontrar alguém que me ame o
suficiente para me dar filhos, já ficarei feliz. Mas isso ainda está muito longe
de acontecer... — Ele riu.
— Ah, sim. Às vezes eu me esqueço que para vocês o tempo corre
diferente. Como é saber que vai viver por séculos?
— Não sei se viverei por séculos... Não somos imortais, Nina. Posso
ser atropelado na rua amanhã e morrer como qualquer um. Mas, caso isso não
aconteça... Sinceramente eu nunca pensei sobre isso, apenas sei que não
preciso apressar as coisas.
— Então aquela história de morrer apenas com uma estaca de
madeira no coração também é mito? — Cătălina sorriu.
— Com certeza!
— Mas vocês se curam rápido.
— Isso sim, e também não temos doenças.
— Vocês são privilegiados, isso sim...
— Olhando por esse lado, sim. Mas ainda dependemos de sangue
humano para sobreviver, o que nos torna predadores da sua espécie. — Os
olhos dele adquiriram um brilho diferente, violáceo, fazendo Cătălina erguer
as sobrancelhas
— Bass!
O vampiro gargalhou.
— Não se assuste, estou só brincando. Eu nunca faria nada com você.
— Irina me contou que vocês tiram sangue dos mortos. Aquilo de
vocês não poderem beber sangue de mortos é outro mito, então?
— Sim, é outro mito. Mas precisamos coletá-lo e processá-lo até duas
horas após a morte, caso contrário o sangue degrada e não fica bom para
ingerir. É como beber leite estragado.
— Vocês não sentem vontade? De beber sangue dos vivos? Ainda
mais trabalhando em um hospital...
— Somos treinados a ter controle sobre nossas vontades desde
crianças. —Sebastian sorriu meio de lado. Ele não era o melhor exemplo de
controle.
Apesar de nunca ter tentado atacar nenhum paciente, após atender
alguém sangrando, ele às vezes precisava se trancar no banheiro e esperar a
vontade de ingerir sangue passar. Entretanto, Bass sabia que isso só estava
acontecendo porque andava bebendo sangue demais. Isso o fez se lembrar de
que havia ingerido a última caixinha referente à sua cota naquela manhã.
Suspirou, logo precisaria ir atrás de sangue fresco.
— Não vai fazer a ceia conosco hoje, Bass?
— Não, vou estar de plantão.
— Ah, que pena...
— Hum... isso quer dizer alguma coisa? — perguntou ele com um
sorriso malicioso.
— Não! Não seja convencido! — Cătălina riu. — É só que... acho
que o clima ficaria melhor com você lá. Estou com um pouco de receio
depois do que eu fiz... de ter que encarar os pais de Luca.
— Eu também teria...
— Não está ajudando, Bass...
Ele gargalhou.
— Relaxe, Nina. Luca vai estar lá e Mirela gosta de você. Caso
Grigore fale alguma coisa, apenas concorde, que vai dar tudo certo.
Cătălina inspirou fundo.
— Espero que sim...
Terminaram de almoçar e Cătălina voltou para seu próprio quarto.
Estava apreensiva, não tinha como não ficar. Olhou para o vestido no cabide.
Era tão refinado... a cara de Mirela. Sorriu.
— Vai dar tudo certo! — disse para si mesma segurando sua
correntinha entre os dedos.
L uca chegou do hospital cansado e louco para ver Cătălina.
Aquele sentimento que ele tinha por ela era algo totalmente
novo, diferente e preocupante. Sentia necessidade de estar com
aquela garota, algo que seria impensável semanas atrás, e chegava a contar as
horas para voltar para casa.
Apesar de estar assustado com seus próprios sentimentos, sua
animação era grande. Era noite de Natal e ele havia comprado um presente
para Nina, uma pulseira de ouro branco com alguns pingentes de corações,
borboletas e rosas. Estava louco para entregar a ela e ver sua reação, lhe dar
uns beijos e, depois da ceia, aconchegar-se em seus braços.
A ceia... Suspirou enquanto subia as escadas. Seria a primeira vez
que Nina encontraria seus pais depois da cerimônia. Só esperava que Grigore
estivesse de bom humor e que tudo desse certo.
Ao alcançar o último degrau, notou a assistente da cozinha parada no
meio do corredor dos quartos.
— Boa tarde, Madeleine — disse.
— Boa tarde, senhor Luca. Desculpe incomodá-lo, mas poderia me
conceder alguns minutos de seu tempo?
— Claro, o que precisa?
Ela olhou em volta.
— Poderia ser em seus aposentos, senhor. Não quero que nos ouçam.
Luca franziu a testa, surpreso, mas concordou. Encaminharam-se
para o seu quarto e ele fechou a porta assim que entraram.
— O que houve? — perguntou sério.
— Eu... sinto muito, senhor. Não queria ser eu a dar uma de
fofoqueira, mas acho que o senhor deveria saber sobre o que acontece aqui no
castelo quando o senhor não está. — Ela ergueu o queixo, confiante. — A
senhorita Cătălina... Ela tem frequentado o quarto do senhor Sebastian, e hoje
eles ficaram lá por um bom tempo, sozinhos... — despejou a moça.
Luca arqueou uma sobrancelha.
— Realmente — disse. — Não deveria dar uma de fofoqueira,
Madeleine. Isso não é da sua conta. Tenho certeza de que a senhorita Cătălina
tem seus motivos para frequentar o quarto de Sebastian. Agora, se me
permite, me dê licença que eu preciso me trocar — falou abrindo a porta.
Madeleine ficou vermelha como um tomate e saiu do quarto,
envergonhada.
Luca fechou a porta aparentando tranquilidade, mas, por dentro,
estava se remoendo de raiva. Sua vontade era de pegar Bass pelo pescoço e
torcê-lo até virar do avesso. Puta que pariu! Ele não podia tirar os olhos um
minuto do maldito que ele já mostrava ao que veio. Pervertido, sedutor do
caralho!
Tomou seu banho irritado, trocou-se e dirigiu-se até o quarto de
Cătălina. Respirou fundo antes de bater na porta.
— Luca! — Ela o recebeu com um sorriso e pulou em seu pescoço.
— Oi... — ele disse ao segurar em sua cintura e a afastar um pouco.
— Tudo bem? — perguntou Cătălina, estranhando a atitude de Luca,
que costumava lhe beijar sempre que chegava.
— Tudo... — Ele passou por ela e entrou no quarto.
— Você está estranho. Aconteceu alguma coisa?
— Você esteve no quarto de Bass hoje? — perguntou o vampiro de
forma seca.
Cătălina o olhou sem entender.
— Estive, almoçamos juntos. Por quê?
— Só almoçaram?
— Almoçamos e conversamos. Luca, o que está querendo insinuar?
— Cătălina tinha uma ruga entre as sobrancelhas.
Ele suspirou.
— Nina, você é uma garota ingênua. Eu já te avisei sobre Bass, ele
é...
— Ele é um ótimo amigo! — interrompeu ela de forma intempestiva.
— Sei o que pensa de Bass, mas ele nunca, nunca tentou nada comigo!
Ouviu? Ele pode até ser sedutor e brincalhão, mas nunca me desrespeitou.
Mas o que me magoa é imaginar o que você pensa de mim, Luca. Acha que
eu me jogaria nos braços dele estando com você? Pensa mesmo que eu sou
esse tipo de pessoa? — falou indignada.
Luca abriu a boca, espantado. As palavras lhe faltaram e ele se sentiu
envergonhado.
— Desculpe, Nina... — falou arrependido. — Eu... não quis te
magoar ou ofender. Não acho que você faria algo com Bass, mas acredite...
eu o conheço e tenho meus motivos para temer uma aproximação dele com
você.
— Pois é melhor parar com isso! Não vou deixar de conversar com
ele por causa do seu ciúme. Se não confia nele, confie em mim, pelo menos
— exclamou irritada.
O vampiro baixou os olhos e assentiu.
— Está bem... eu confio... me desculpe...
Cătălina inspirou fundo e se aproximou do médico, segurou em seu
rosto e o olhou nos olhos.
— Sei que não gostaria de ouvir isso, Luca, mas eu não tenho mais
como negar meus sentimentos por você. Eu te amo — confessou. — Eu não
deveria, eu entendo. Reconheço que não podemos ter um futuro juntos, mas
não consigo deixar de me sentir assim...
Luca sentiu um nó se formar em sua garganta e a puxou de encontro
ao seu corpo. Ele também a amava, estava claro agora. O coração aquecido, o
ciúme e a vontade absurda de estar com ela, de beijá-la e protegê-la eram a
prova disso. Colou os lábios nos dela e lhe tomou a boca como se a
reivindicasse para si.
— Minha linda, minha pequena, eu também te amo... — falou dando
um pequeno espaço entre eles.
— O que vai ser da gente, Luca? — perguntou Cătălina.
— Não sei... — Ele inspirou fundo. — Realmente não sei. Nina, isso
é muito complicado. Não devia ter acontecido. Eu... eu não posso...
— Tudo bem — interrompeu ela. — Eu entendo, Bass me explicou
sobre suas responsabilidades com o vale. Não vou pedir para você desistir
dos seus planos, não se preocupe. Apenas peço que... não deixe que isso nos
afaste. Eu não sei quando eu vou sair daqui, Luca, mas quando eu me for,
quero levar comigo a lembrança desses momentos que vivemos juntos.
— Ah, Nina... Minha doce, Nina. — Ele passou os dedos pelo rosto
dela. — Escute... Depois do noivado as coisas devem se acalmar; então,
teremos tempo para decidir o que fazer.
Ela assentiu. Também não queria pensar no tal noivado e não via a
hora de tudo aquilo ficar para trás.
— Tenho uma coisa para você... — Luca sorriu e tirou uma pequena
caixinha do bolso do blazer preto que usava. — Feliz Natal!
Cătălina olhou para o objeto surpresa. Pegou-o e, ao abrir, soltou uma
exclamação de contentamento.
— Luca! É... é linda, maravilhosa! — falou, pegando a pulseira entre
os dedos.
— Posso colocar em você?
Ela concordou com um sorriso e estendeu o pulso para que ele a
colocasse.
— Está pronta para descer? — perguntou Luca reparando no belo
vestido preto. Ele caía perfeitamente bem nela.
— Sim, estou. Hum... Luca? Está sentindo? O cheiro?
— Cheiro do quê? — ele estranhou.
— Do meu sangue. É que desceu para mim hoje. Eu coloquei dois
daqueles tampões para ver se segura, mas estou com receio. Não quero que
seus pais... Você sabe, seria constrangedor.
O vampiro sorriu.
— Não estou sentindo nada. Os tampões estão dando resultado.
Cătălina suspirou aliviada, embora ainda estivesse receosa de encarar
o pai de Luca.
— Certo, então podemos ir.
Ao chegarem na sala de refeições, Grigore apenas ergueu os olhos
para os dois e os cumprimentou com um assentir. Mirela, entretanto,
levantou-se e abraçou Cătălina.
— Está linda, querida! Sente-se, vamos comer.
Cătălina se sentou com Luca ao seu lado, enquanto Popescu saía
discretamente da sala. Pouco tempo depois, o mordomo voltou com
Madeleine para servir as entradas. A moça tinha um ar sério e não olhou
diretamente para nenhum dos presentes, bem diferente de quando Bass estava
na mesa.
— Nina. Sinto muito por não ter lhe dado atenção nesses dias —
falou Mirela. — Tenho andado realmente ocupada. Faltam menos de duas
semanas para o noivado de Luca e ainda temos algumas coisas para resolver.
Não é fácil acomodar tantos convidados. — Ela suspirou. — Alguns quartos
estão sendo reformados e tivemos que reservar pelo menos dois hotéis na
região para aqueles que não caberiam aqui no castelo. Uma loucura!
Cătălina ouviu as últimas palavras meio que anestesiada. Sempre que
o assunto do noivado de Luca surgia, abalava-se, era inevitável. Uma dor
aguda surgia em seu peito, um sentimento de perda, de impotência e de não
pertencimento que lhe apertava o coração.
— Ah, não se preocupe com isso. Eu entendo... — respondeu ela
sentindo um bolo se formar em sua garganta.
Luca a olhava preocupado. Ele tinha uma ideia do que poderia estar
passando no coração de Cătălina, pois, para ele, seu noivado também acabara
se tornando um assunto desagradável, no qual ele evitava até mesmo pensar.
— Senhorita Petran, como se sente com tudo isso? — A voz grave de
Grigore se fez ouvir, chamando a atenção de todos.
Cătălina, com o coração na mão, encarou o patriarca, hesitante.
— Com o noivado? — Engoliu em seco, sem saber o que dizer. —
Eu...
— Não! Com o que descobriu sobre nós — interrompeu ele.
— Ah, isso? — Ela corou por ter interpretado mal a pergunta. —
Normal...
— Normal? — Grigore a olhou fixamente. — Como pode se sentir
normal sabendo que está em um castelo cheio de vampiros?
— Bom, eu... No começo eu tive medo, claro. Achei que vocês iam
me matar ou me transformar em uma de vocês. Mas... depois eu percebi que
não preciso ter medo. Tenho conversado bastante com Luca, Irina e Bass. E
eles me acalmaram. — Cătălina esboçou um pequeno sorriso.
— Você está ciente de que não poderá mais sair desse castelo
desacompanhada por causa disso, não está?
— Estou, mas... espero que eu possa, com o tempo, mostrar que
vocês podem confiar em mim. Eu não tenho a menor intenção de revelar o
segredo de vocês para ninguém. Sei que isso seria terrível e não quero, de
forma alguma, prejudicar qualquer um de vocês. Eu sou muito grata por tudo
o que têm feito por mim e jamais colocaria em risco esse lugar.
Grigore estreitou os olhos e uma leve curva se formou no canto de
sua boca.
— Que bom, senhorita, que pense assim. — Ele levantou sua taça de
vinho. — Brindemos a isso e ao Natal também.
Todos imitaram seu gesto e provaram do vinho. O coração de
Cătălina parecia uma batedeira e Luca buscou sua mão por baixo da mesa,
apertando-a de leve a fim de lhe passar tranquilidade.
Ele também estava mais aliviado. Sabia que o seu pai iria tocar no
assunto e estaria analisando as reações de Cătălina. Estava pronto para
intervir se fosse necessário, mas felizmente ela foi melhor do que ele próprio
esperava.
O resto do jantar ocorreu de forma tranquila e, ao voltarem para o
quarto de Cătălina, Luca a abraçou sorrindo.
— Não aguento ficar mais um minuto sem você — disse.
— Como assim, senhor Luca? Estamos juntos há mais de uma hora
já. — Ela sorriu.
— Hum... mas não sozinhos. — Ele mergulhou o nariz em seu
pescoço. — Quero me perder em você.
Cătălina franziu a testa.
— Se perder como? Não podemos fazer nada hoje.
— Por que não? — Luca apalpou suas nádegas e a puxou para si.
— Porque estou menstruada, ué! — Ela ergueu uma sobrancelha.
— E daí? — O vampiro tinha um sorriso malicioso. — É só sangue,
não vai me incomodar, pode ter certeza.
Cătălina abriu a boca, pasma.
— Não está falando sério...
— Estou. — Mordiscou-lhe a orelha. — Tire os absorventes.
— Luca! Vai sujar tudo, os lençóis...
— Pouco me importam os lençóis, Nina, eu quero você.
Luca estava realmente louco de vontade de possuí-la naquela noite; e
o fato dela estar sangrando somente atiçou ainda mais os seus desejos. Entre
beijos e carícias, ele lhe retirou o vestido e o sutiã, mas quando foi retirar sua
calcinha, ela o impediu.
— Espere, Luca! Deixe eu tirar os absorventes no banheiro — falou
se afastando.
O vampiro aproveitou para retirar suas próprias roupas e quando ela
voltou, sorriu-lhe. Garota linda! Agora ele podia sentir o cheiro do sangue
dela. Cheiro que lhe excitava ainda mais.
Pegou-a pela mão e a conduziu para a cama. Beijou-a por inteira: seu
pescoço, seus seios, seu ventre. Ele teria descido mais se ela não tivesse
pedido para ele parar.
— Luca, não, por favor! Não faz isso.
— Você é má. Não se nega sangue a um vampiro.
— Luca!
Ele riu e voltou para cima, beijando-a nos lábios. Cătălina abriu as
pernas e Luca se acomodou entre elas. Excitado demais para outras
preliminares, ele a penetrou e lhe arrancou um gemido. Lentamente, começou
a se movimentar sobre ela e o cheiro do sangue logo se espalhou, fazendo o
vampiro enlouquecer de desejo.
Luca sentia-se no limite da transformação e passou a investir com
mais força.
Cătălina percebeu a mudança no médico. Ele estava mais febril, mais
fora de si, mais impetuoso; suas estocadas eram vigorosas e sua respiração
era pesada.
— Ah, Nina... — murmurou. — Eu quero você... quero...
— Eu sou sua — respondeu ela.
Luca encostou o nariz no pescoço dela e gemeu, um gemido abafado,
como se estivesse se segurando. Passou, então, a língua pela pele exposta e,
em seguida, raspou de leve seus dentes.
Cătălina sentiu um frio no estômago, mas não era de medo, era de
excitação.
— Você quer o meu sangue, Luca?
Ele a encarou, seus olhos tendendo para o violáceo, e ela sentiu seu
corpo se arrepiar inteiro.
— O que acontece se você me morder? — continuou ela, ofegante,
excitada.
Ele sorriu.
— Você vai ter o melhor orgasmo da sua vida — respondeu ele sem
parar de estocá-la.
Cătălina mordeu o lábio e gemeu. A pressão que ele fazia em seu
sexo já a estava deixando próxima do ápice.
— Não vou morrer?
— Não...
— Nem me transformar?
— Não...
— Então me morde — pediu. — Tome meu sangue, Luca...
Luca continuou a encarando para ter certeza de que ela falava sério.
— Me morde — repetiu Cătălina.
O limite se rompeu. Luca deixou a transformação se completar e
desceu sua boca até a veia pulsante de Cătălina. Com cuidado, cravou seus
dentes nela, arrancando-lhe um grito.
Luca lhe segurou os braços enquanto sugava seu sangue e continuava
a estocá-la. Cătălina estremeceu e seu corpo foi invadido por ondas de
choque que se concentraram em seu sexo. O orgasmo chegou intenso, uma,
duas, três vezes seguidas. Ela gritava, não mais de dor, mas de prazer.
Um prazer arrebatador, algo incontrolável.
Luca sorvia o sangue dela como se bebesse do néctar dos deuses. Seu
corpo também entrou em um estado intenso de excitação e, quando o ápice
lhe chegou, ele a abraçou, afundando-se nela até o limite. Os espasmos
vieram fortes e duraram além do normal, fazendo-o gemer longamente
enquanto se derramava dentro dela.
Cătălina relaxou, sua mente estava enevoada, como se estivesse no
limite entre o sono e o despertar.
Luca parou de sugar o sangue da garota, mas permanecia sobre ela,
com o nariz na curva de seu pescoço. Ofegante, ainda sentia seus músculos
trêmulos. Levantou o rosto e a olhou. Ela parecia dormir sob ele.
O vampiro sorriu, dando-lhe um beijo leve na ponta do nariz e saiu de
cima dela. O cheiro do sangue dominava o ar e o lençol estava arruinado.
Com o corpo ainda meio pesado, foi até o banheiro e colocou a banheira para
encher. Pegou uma toalha, umedeceu a ponta e voltou para o quarto. Sentou-
se na cama e limpou o pescoço de Cătălina, fazendo pressão no local até
parar de sair sangue dos dois furinhos.
Ele havia tomado o cuidado de não aprofundar muito os dentes para
não feri-la demais e, assim que o sangue parou de fluir, deu-lhe mais um
beijo na testa e a pegou nos braços. Cătălina resmungou algo ininteligível e
ele sorriu. Ela estava completamente amolecida, mas não totalmente
inconsciente.
Levou-a até a banheira e entrou junto com ela. Com cuidado e
carinho, lavou todo o corpo de Nina com uma bucha macia e, depois, se
manteve sentado atrás dela por algum tempo, abraçando-a. Observou a
pulseira que ele havia lhe dado.
Era Natal e estar com ela era o melhor presente de todos. Mergulhou
o nariz nos cabelos dourados e macios de Cătălina e se lembrou da mãe
falando sobre o noivado no jantar, uma sensação incômoda invadiu seu peito.
Meses atrás não estava se importando muito com aquilo. Para ele
seria apenas mais uma formalidade, um ato simbólico que não lhe
incomodava, pois acreditava que poderia ser feliz com Natasha quando
chegasse a hora de se casarem.
Agora, no entanto, aquilo parecia algo improvável. Como conseguiria
amar a noiva já tendo outra em seu coração?
Balançou a cabeça. Merda! No que estava pensando? Nina era apenas
uma humana, não havia como manterem uma relação por tantos anos. O
tempo corria diferente para eles. Era impossível!
Estalou a língua. Precisava organizar seus pensamentos e os seus
sentimentos. Ele era um Constantin, precisava se lembrar disso. O vale
dependia da sua família e todos esperavam que ele cumprisse com suas
obrigações. Ele via na expressão dos aldeões a admiração e a esperança que
depositavam nele. Não... não podia deixar que a dúvida lhe consumisse, não
podia abrir mão daquele noivado...
Uma profunda tristeza lhe invadiu o coração e ele beijou os cabelos
de Nina. O que faria com ela? O que faria sem ela? O que faria de sua vida?
Sentia-se preso com amarras invisíveis das quais não podia sair. E as palavras
de seu pai lhe surgiram na mente.
“Meu principal erro foi ter me apaixonado por uma humana”,
“Fui egoísta ao não deixá-la partir, ao prendê-la aqui comigo”,
“Eu a mandei para longe”,
“Fui a causa de sua morte”,
“Não cometa os mesmos erros que eu...”
Luca aconchegou mais Cătălina em seus braços sentindo o coração
pesado. Estaria ele seguindo os mesmos passos de seu pai?
Não sabia e tinha medo da resposta. Balançou a cabeça em negativa.
Não queria pensar mais naquilo, tinha esperança de que, de alguma forma, as
coisas se ajeitariam. Por ora, ele só queria ficar junto dela, desfrutando de sua
beleza, de sua presença e de seu amor.
L uca dormiu com Cătălina naquela noite e acordou antes do sol nascer.
Bass batia na porta do quarto.
— O que quer, Bass? — falou com uma ruga entre as sobrancelhas ao
abrir a porta.
— O que vocês fizeram aqui? — perguntou o vampiro sentindo o
cheiro do sangue e tentando espiar pelo vão.
— Nada que te interesse — replicou Luca saindo do quarto e
fechando a porta atrás de si.
Sebastian estudou o amigo por um tempo e soltou uma gargalhada.
— Você só transou com ela menstruada ou a mordeu também?
— Já disse que não te interessa! — respondeu Luca entredentes. — O
que quer?
— Tenho um recado para você. Ontem, depois que você foi embora,
o chefe de polícia apareceu lá no hospital te procurando e me pediu para falar
contigo.
— Falar o quê?
— Primeiro, que o corpo da mãe de Nina será liberado para o enterro
amanhã. Segundo, que eles encontraram o tal Nicolae, mas não conseguiram
mantê-lo preso por falta de provas.
Luca inspirou fundo e passou as mãos nos cabelos.
— Merda! Aquele desgraçado vai sair mesmo impune?
Sebastian deu de ombros.
— Tenho certeza de que a justiça será feita, de um modo ou de outro
— comentou ele. — Como fará com Nina? Ela vai poder sair para enterrar a
mãe?
— Claro que sim. Vou com ela e tenho certeza de que meu pai não
fará oposição a isso.
— Você se importa se eu for também?
Luca o olhou de forma analítica.
— Por quê? O que quer com Nina, Bass? Eu te pedi para ficar longe,
mas você insiste em rondar igual abelha no mel.
O vampiro loiro fez uma expressão de cansaço.
— Nós temos conversado sim, e aí? Não fiz nada, nem estou tentando
nada com ela. Só estou dando um apoio moral. Guarde esse seu ciúme sem
fundamento. Não pretendo roubar ela de você, se bem que a sua verdadeira
mulher não é a Nina — alfinetou.
— Se quer levar um soco no meio da fuça, fala logo!
— Parece que seus ânimos estão exaltados, mas vai com calma,
porque eu não disse nenhuma mentira. Só para te lembrar, Natasha chegará
daqui a dez dias. Espero que você saiba o que está fazendo... — falou Bass
com o semblante sério e se virou, indo embora.
Luca observou o amigo dobrar o corredor e bufou, entrando
novamente no quarto. Aproximou-se da cama e contemplou a garota
dormindo tranquilamente sobre a colcha de cetim cor de creme. Ele havia
retirado os lençóis sujos e os amontoou em um canto antes de deitá-la na
cama.
Deitou-se ao lado dela e a abraçou, ainda tinha algumas horas até o
café da manhã.
Após o enterro, Sebastian subiu para o seu quarto e ficou lá até a hora
do almoço. Ainda teria que trabalhar à tarde e precisava reequilibrar suas
emoções.
Confrontar aquele homem asqueroso fedendo a álcool durante o
funeral despertou nele sentimentos de nojo, repulsa e ódio. Já tinha ranço do
sujeito desde a primeira vez que Cătălina falara dele. Mas, vê-lo ali, querendo
dominar a garota depois de tudo, foi a gota d’água. O ódio cresceu em seu
peito e, desde então, estava remoendo aquilo por dentro.
Sebastian sentia como se uma tempestade estivesse se formando
dentro dele, prestes a arrebentar. Contudo, ele sabia que aquilo não era
apenas fruto da raiva que sentia, mas se devia à falta de ingestão de sangue
também.
Sua necessidade estava aumentando cada vez mais e, a cada mês, os
dias de intervalo entre uma dose e outra ficavam menores. Seu estoque
referente à sua cota havia acabado há dois dias e ele precisaria de sangue
logo, de preferência fresco, ou acabaria se descontrolando.
Mas ele resolveria aquele problema ainda naquela semana. E sabia
exatamente como.
T rês dias se passaram após o funeral e a rotina de Cătălina havia
voltado ao normal, para o seu alívio.
No dia seguinte ao enterro, a mãe de Luca a chamou no ateliê para
continuar a ensinando a costurar. E quando perguntara por que continuar com
aquilo, já que estava proibida de sair do castelo sozinha, Mirela respondeu
que seria interessante ela continuar a aprender o ofício, pois mesmo que não
fosse mais trabalhar na empresa de sua cliente em Sibiu, ela poderia ser sua
auxiliar de costura ali no castelo.
Cătălina se animou, pois aquilo lhe dava esperanças. Afinal, uma das
primeiras coisas que ela havia pensado quando chegou ao castelo foi se
conseguiria arrumar um emprego no lugar. Seu desejo parecia que iria se
cumprir, no fim.
Fazia exatamente duas semanas que ela tinha ido com Mirela à
cidade visitar seus clientes e, desde aquele dia, tantas coisas haviam
acontecido...
A chegada de Sebastian, a proposta de Luca de ensiná-la sobre os
prazeres do sexo, a perda da sua virgindade, a morte de sua mãe, a descoberta
sobre eles serem vampiros, mais sexo com direito a mordida e orgasmos
alucinantes, um funeral e o reencontro com o asqueroso de seu padrasto. Foi
tudo tão sucessivo e tão fora do normal que nem parecia que tudo aquilo
havia acontecido em tão pouco tempo.
Felizmente, as coisas haviam se acalmado. Contudo, algo a
incomodava. Após o enterro, não tinha conseguido conversar muito Bass, o
que era estranho em se tratando dele. E, por vezes, tinha a impressão de que
ele a estava evitando.
Apesar da fama de conquistador, o rapaz tinha se mostrado um bom
amigo desde que chegara ao castelo, procurando-a sempre para conversar e
tirando suas dúvidas. Mas ultimamente ele andava meio evasivo, parecia
inquieto e um pouco cansado nas vezes que o encontrara. Tentou puxar
assunto, saber o que o estava incomodando, mas ele sempre sorria, arrumava
uma desculpa e escapava.
Desconfiada, pensou que talvez Luca o estivesse pressionando para
que não falasse com ela. Contudo, ao questionar o médico sobre isso, ele
negou dizendo que também não andava falando muito com Bass, mas que iria
procurá-lo para saber o que estava acontecendo.
No castelo, Luca se reunia com seu pai e sua mãe no escritório após o
jantar.
— Luca, alguns dos convidados começarão a chegar na quarta-feira,
incluindo sua irmã — falou Mirela. — Natasha chegará com a família na
quinta e seu primo e seu tio estarão aqui na sexta, além de Victor e a esposa.
Precisamos decidir o que faremos com Nina. Acho que seria perigoso ela
permanecer na ala superior dos quartos, no mesmo andar que o nosso. Se a
descobrirem, isso despertaria desconfianças.
O jovem médico suspirou.
— Pai... Não poderíamos tirá-la daqui durante esses dias? Acomodá-
la em um hotel até os convidados irem embora? Theodor e Irina podem ficar
com ela.
— Isso está fora de questão! — falou Grigore. — Vou precisar de
Theodor aqui para ajudar na segurança. As notícias de seu noivado já
circulam pela cidade e não queremos bisbilhoteiros rondando o castelo. Além
disso, precisaremos de toda a ajuda possível para servir os convidados, não
podemos dispensar Irina.
— Então o que sugere? — quis saber Luca.
— Tranque-a na torre.
— Quer que eu a tranque? Como uma prisioneira? Por dias? — falou
o rapaz incrédulo.
— É a melhor solução. Ela não pode sair andando pelo castelo com
tanta gente de fora assim. O pai de Natasha é um conselheiro, Luca. E, além
dele, virão outros. Quer que eles descubram sobre ela?
— Claro que não! Mas o quarto da torre não tem banheiro, como vou
trancar ela lá?
— Tranque apenas os acessos à torre — interveio Mirela. — Assim,
Nina poderá se movimentar entre o quarto, o banheiro e a sala de pintura.
Deixaremos livros com ela e também podemos instalar uma TV lá, junto com
o aparelho de DVD. Temos um acervo grande de filmes. — Ela olhou para
Grigore, pedindo uma confirmação, e ele acenou concordando.
Luca passou a mão nos cabelos. Não gostava nem um pouco da ideia
de manter Nina trancafiada daquele jeito, mas talvez fosse mesmo a melhor
maneira de deixá-la longe dos olhares dos convidados.
O vampiro subiu para o quarto da garota receoso em lhe dar aquela
notícia. Não queria que ela ficasse triste ou se sentisse deixada de lado, mas
não havia outra saída.
— Nina? — chamou ele ao entrar e ver o quarto vazio.
Cătălina saiu do banheiro apenas vestindo uma camisola branca
quase transparente. O vampiro logo viu que ela estava sem a calcinha e
sorriu. Ela se aproximou e o recebeu com um beijo enquanto o ajudava a se
livrar das roupas.
Basicamente ele havia mudado seu quarto para lá, pois não conseguia
passar uma noite sequer sem ela.
Não que estivessem fazendo sexo todos os dias, pois ultimamente só
andavam trocando beijos e amassos na cama.
Depois de terem arruinado outro lençol no dia seguinte ao funeral,
Cătălina se mostrou desconfortável em fazer sexo enquanto estivesse
menstruada, não queria dar aquele tipo de trabalho a Irina. E, para a sua
frustração, quando finalmente o fluxo parou, ele precisou se ausentar por
conta de um plantão no hospital.
Por isso, ao vê-la ali, pronta para ele, após três noites sem transar,
ficou bastante animado. Em poucos segundos, já estava totalmente nu, com o
pau duro apontando para cima.
Cătălina passou a mão em sua extensão e deu um leve apertão na
glande, arrancando um sorriso do médico, que a tomou nos braços e a levou
para cama.
Ele passou a beijá-la no pescoço e quis tirar a camisola, mas ela o
impediu, rindo.
— Não, espera Luca!
— O que foi? — Ele a fitou com os olhos cheios de desejo. — Por
favor, não me negue seu corpo por mais uma noite ou vou enlouquecer...
— Não vou negar, eu só quero que me ensine algo antes... — Ela
mordeu o lábio.
— Hum... O quê?
— Me ensine a te chupar. Quero te ver gozar na minha boca.
Luca se surpreendeu.
— Está se saindo muito atrevida, senhorita Petran.
— Tenho um ótimo professor. — Ela piscou.
O vampiro sorriu e se virou, saindo de cima dela. Em seguida,
sentou-se na beirada da cama.
— Venha — chamou.
Cătălina se levantou rapidamente da cama e, com um olhar desejoso,
ajoelhou-se entre suas pernas.
Com o membro do rapaz bem à sua frente, duro e ereto, sentiu um
calor subir pelo meio de suas pernas e uma vontade enorme de colocar sua
boca nele.
— Me diz o que eu devo fazer — falou ao se aproximar e tocar a
glande com a ponta da língua, experimentando o líquido transparente e
salgado que saía pelo canal.
Luca estremeceu.
— Faça como se fosse um sorvete, comece lambendo.
Cătălina fez o que ele pediu e passou a língua em toda a extensão da
ereção, desde a base até a cabeça, contornando-a e voltando para parte
inferior. Fez isso umas três vezes e o olhou, buscando aprovação.
Luca sorriu.
— Abocanhe meu pau, Nina, só tenha cuidado com os dentes.
Ela assentiu e começou a colocá-lo na boca. Foi até pouco mais da
metade, não ia caber.
— Mais — pediu ele, colocando a mão em sua cabeça.
Forçou-se a engolir um pouco mais e conseguiu abocanhar mais
alguns centímetros, mas a glande encostou em sua garganta, provocando-lhe
uma reação involuntária de engasgo. Retirou a boca com os olhos
lacrimejando.
— Não consigo engolir tudo — falou enxugando as lágrimas.
— Tudo bem, pequena... — Luca riu. — Vá no seu limite.
Cătălina sorriu, inspirou fundo e voltou a cobri-lo com sua boca.
— Agora chupe, Nina, use a língua, aperte com os lábios, use sua
boca para me masturbar.
Ela começou a fazer o que ele havia pedido e logo encontrou seu
ponto de conforto, passando a apreciar o contato de sua língua com a maciez
do pau de Luca. Por alguns segundos, concentrou-se na glande e começou a
chupá-la com vontade, arrancando um gemido do médico.
— Ah, minha linda... Isso, me chupe gostoso.
Cătălina se animou e voltou a engoli-lo, passando a descer e subir
com a boca pelo membro.
— Deliciosa, não pare!
Tendo mais segurança no que fazia, ela passou a alternar entre chupá-
lo e apertá-lo com os lábios, e Luca agora aproveitava todas as sensações que
a boca da garota proporcionava em seu pau. A língua dela era gostosa demais
e o movimento que ela fazia o deixava cada vez mais próximo do gozo.
— Puta merda, Nina! Não pare!
O vampiro sentiu a onda de prazer chegar e, de olhos fechados,
liberou seu gozo dentro da boca de Cătălina, que se engasgou com o líquido
indo direto para sua garganta.
Ela quase tossiu e seus olhos lacrimejaram novamente, mas não o
tirou da boca e, por fim, engoliu o sêmen.
Luca acariciou seus cabelos e a ajudou a se erguer do chão, deitando-
a na cama.
— Você é maravilhosa... — falou. — Mas da próxima vez que quiser
fazer isso, não precisa engolir. Imagino que o gosto não seja dos melhores.
Ela riu.
— Realmente, não é.
— Quer água?
Ela concordou e Luca se levantou para pegar um copo. Encheu-o e o
entregou a Cătălina.
— Minha vez — falou ele sorrindo e tirando o copo das mãos dela
assim que ela terminou.
O vampiro mergulhou entre as pernas de Cătălina e retribuiu o sexo
oral com maestria, fazendo-a gozar deliciosamente; em seguida, subiu e a
penetrou com entusiasmo.
Sexo em si era bom, mas nunca fora tão bom quanto aquele que fazia
quando estava com ela. Era como se o mundo ao redor não existisse ou não
importasse, era como se fossem apenas os dois. O prazer era incomparável, as
sensações eram abrasadoras, empolgantes e lhe aqueciam o coração. Estar
dentro dela era como estar fundido em um único corpo, uma única alma. Ela
fazia parte dele e ele fazia parte dela.
Ele gozou, ela gozou e ambos relaxaram exaustos e suados na cama.
Carinhosamente, Luca a puxou para si e lhe fez um afago nos
cabelos. A conversa que havia tido com seus pais lhe veio à mente e agora
precisava falar com ela.
— Nina...
— Hum?
— Tem uma coisa que precisa saber.
Ela levantou a cabeça para olhá-lo.
— Nessa semana, os convidados vão chegar e... — Luca inspirou
fundo.
— E...?
— Você não vai poder mais andar pelo castelo, nem comigo, nem
com Irina ou com Bass.
— Está dizendo que vou ter que ficar presa no quarto?
— Sim, mas não neste quarto. Vai ter que voltar para a torre.
— Para a torre? Por quê?
— É para sua segurança. Irão ter membros do Conselho de Anciãos
aqui e ficar nesse corredor de quartos pode ser perigoso.
Cătălina arregalou os olhos.
— Outros membros, além do seu irmão?
— Sim, o pai da Natasha é um dos conselheiros mais antigos, e terão
outros. Não podemos arriscar, entende?
Ela baixou os olhos para o peito de Luca.
— Entendo... — Seu coração estava apertado, mas não era pelo fato
de ter que ficar presa na torre, mas por se lembrar que dali a poucos dias Luca
seria um vampiro comprometido.
Mesmo sabendo que aquele noivado, pelos termos do acordo, não os
impediria de ficarem juntos, algo dentro dela lhe dizia que aquilo não
acabaria bem. Como poderia acabar bem? Ela era uma humana e ele, um
vampiro.
Ele havia dito que a amava, mas que futuro teriam? Mesmo que
resolvessem continuar juntos depois do noivado, quantos anos poderiam
desfrutar um do outro antes que ela começasse a se sentir mal por estar
envelhecendo e ele não?
Pelo que havia entendido, Luca só se casaria dali a 30 anos, no
mínimo. Nessa altura ela estaria com quase 50 anos. Quase uma senhora...
Não... não conseguia se ver nessa condição.
Não havia lugar para ela na vida de Luca...
— Ei, pequena? — chamou o médico ao vê-la desanimada. — Não
fique assim, é só por alguns dias...
— Não é por isso...
— O que é, então?
Uma lágrima brotou no canto do olho de Cătălina e ela se virou de
costas para Luca.
— Nada...
Ele a abraçou por trás.
— Como nada?
Outras lágrimas vieram, mas ela não conseguia falar, explicar...
— Nina?
— De que adianta? — soltou ela entre soluços. — De que adianta
ficarmos juntos, Luca?
— Como assim? Do que está falando?
— Não temos futuro. Por que insistir?
Ele a virou para si e viu o sofrimento nos olhos dela. Ele também
sofria com aquilo, ele também não conseguia prever que tipo de futuro
teriam, mas em seu coração, eles ainda teriam tempo para se curtir, se amar...
Não estava disposto a abrir mão dela. Não conseguia, não agora. Nina
preenchia seu coração e ele a amava.
— Minha linda, minha pequena... — Segurou em seu rosto e lhe fez
um carinho com os dedos. — Não pense assim... daremos um jeito.
Cătălina balançou a cabeça negativamente e tentou enxugar algumas
lágrimas.
— Não me dê esperanças... Não vê que isso só piora as coisas?
Uma ruga se formou entre os olhos de Luca.
— Eu... sinto muito, Nina; me desculpe... Eu nunca pensei que isso
entre nós pudesse chegar tão longe. Eu nunca pensei que pudéssemos nos
envolver tanto... — Ele se sentou e inspirou fundo, seu peito se oprimia. —
Então, é isso? Vamos desistir? Você quer desistir?
Uma dor profunda atravessou o coração de Cătălina e as lágrimas
vieram em dobro. Sentou-se também com o rosto entre as mãos, não
conseguia falar. Não queria ser ela a terminar com tudo, porque no fundo ela
sentia que precisava dele e que não conseguiria deixá-lo.
Luca sentiu seus olhos umedecerem também. Era irônico aquilo.
Havia sido ele que alertara Cătălina sobre não esperar nada daquela relação e
que afirmara que só poderia lhe oferecer sexo e um caso passageiro. No fim,
agora era ele quem estava apaixonado por ela. E era ele quem não queria
deixá-la.
Mas não seria justo insistir naquilo com ela. Não podia pedir a Nina
que continuassem juntos quando o problema estava nele... Quando não podia
oferecer a ela nada mais do que a condição de amante.
— Sinto muito... sinto mesmo, Nina. Eu gostaria de ter uma resposta
ou solução para tudo isso, mas não tenho. Não era minha intenção te magoar.
Me desculpe por ter te envolvido nisso, por ter te seduzido, por ter achado
que poderíamos ter apenas um caso sem grandes consequências... Eu
subestimei nossos sentimentos, não imaginei que poderíamos nos apaixonar.
Eu realmente te amo, pequena, e não sei o que fazer com esse sentimento
agora. Eu não queria ter que te deixar, mas também não é justo eu te pedir
para ficar comigo.
O vampiro depositou um beijo nos cabelos de Cătălina e se levantou
da cama.
— Vou para o meu quarto hoje... — disse. — Eu preciso de um
tempo para pensar, e acho que você também.
Cătălina o olhou visivelmente abalada. Não queria que ele fosse
embora, mas não tinha coragem de impedi-lo. Talvez fosse melhor assim,
talvez fosse melhor terminarem e cortar aquele sentimento pela raiz,
enquanto estava florescendo... Engoliu o bolo que se formava em sua
garganta e se deitou novamente, de costas para Luca.
— Okay... Boa noite — disse num fio de voz.
O vampiro travou a mandíbula e suspirou, virando-se para a porta.
— Boa noite — respondeu ao sair.
Luca seguiu para o seu quarto se sentindo péssimo. Tudo o que ele
quis evitar estava acontecendo e não sabia como resolver aquilo. O
afastamento seria mesmo a solução? Como poderiam negar seus sentimentos?
Conseguiriam sufocar o amor e o desejo que sentiam um pelo outro?
Independente de noivado, Nina permaneceria no castelo sabe-se lá
por quanto tempo. Como iriam conviver? Como iria vê-la todos os dias sem
que pudesse tocá-la ou beijá-la?
Irritado, bateu a porta do próprio quarto e se deitou na cama. Já fazia
pelo menos dez dias que ele não dormia ali. Dez dias que dividia a cama com
ela, que sentia seu cheiro ao dormir, que encontrava o calor de seu corpo ao
acordar. Ali, o seu quarto parecia tão escuro, sua cama tão vazia...
— Merda! — praguejou alto e se virou de bruços, escondendo o rosto
no travesseiro, o peito a sufocar. Como viveria sem ela?
C ătălina chorou por mais de uma hora antes de conseguir adormecer.
Acordou na manhã seguinte com os olhos inchados e vermelhos,
além de uma leve dor de cabeça.
Não queria sair da cama, mas fez um esforço e se dirigiu ao banheiro
para se lavar. Olhou-se no espelho, estava péssima, horrível... Com um
suspiro, umedeceu uma toalha a fim de fazer uma compressa de água fria nos
olhos.
Voltou para o quarto e se deitou novamente com a toalha sobre o
rosto. Seu interior era uma bagunça. Naquele momento, perguntava-se onde
Luca estaria. Era domingo e ela não tinha certeza se ele tinha ido trabalhar ou
não.
Sentiu-se sozinha. Toda aquela determinação que ela havia tido no
início da relação com Luca, de viver apenas o momento sem esperar nada
dele, tinha virado fumaça.
Não havia como controlar os sentimentos. Era impossível! E, por
mais que pensasse, não conseguia chegar a uma decisão.
Uma parte de si lhe dizia que era melhor terminar com tudo e se
afastar, pois continuar com Luca só prolongaria seu sofrimento. Contudo,
outra parte lhe cutucava o coração, dizendo que os momentos mais felizes de
sua vida tinham sido quando estava com ele; então, por que não aproveitar
para ser feliz enquanto podia? Por que não deixar que o tempo se
encarregasse de resolver as coisas?
Era como se dentro dela uma guerra estivesse sendo travada entre sua
razão e seu coração, e ela não se sentia capaz de escolher um lado.
Irina apareceu com o café da manhã e Cătălina não se mexeu na
cama. Não queria que a garota a visse com os olhos inchados.
— Senhorita? Tudo bem? — perguntou a filha da cozinheira.
— Ah... sim, estou com um pouco de dor de cabeça, só.
— Quer que eu chame o Sr. Luca?
— Não! — respondeu ela rapidamente. — Não precisa, não é nada
demais. Ele está no castelo?
— Sim, hoje o Sr. Luca não foi para o hospital... mas daqui a pouco
ele vai para a vila com o Sr. Constantin. Eles irão ver como estão os
preparativos para o Ano Novo. Teremos fogos e uma festa de comemoração
lá essa noite. A senhorita vai?
— Hum... não sei. Acho que não.
— Ah, seria uma pena perder.... — Irina suspirou compadecida, a
humana não parecia estar bem. — Precisa de mais alguma coisa, senhorita?
— Não, obrigada, Irina.
— Está bem. Vou descer, então. Minha mãe está preparando algumas
tortas e eu preciso ajudar na cozinha. Com licença... — disse a moça saindo.
Cătălina se sentou, tirando a toalhinha do rosto. Podia sentir o
inchaço nos olhos ainda ao piscar, mas estava melhor do que antes. Irina
realmente era discreta. Era a primeira vez, em dias, que Luca não dormia ali e
a garota certamente havia percebido, mas agira de forma normal, não
mencionando nada quanto a isso.
Levantou-se para tomar café. Luca havia lhe falado sobre a festa
alguns dias atrás e ela estava animada, pensando que veria os fogos com ele,
mas agora...
Dois dias se passaram sem que nenhum dos dois voltasse ao assunto.
Era como se quisessem negar a existência do problema e evitar a dúvida, a
cobrança e a dor. Não que eles estivessem se esquecido, apenas não queriam
colocar mais barreiras entre os dois.
O clima era estranho, pois ao mesmo tempo que eles curtiam um ao
outro, que faziam amor e passavam a noite juntos, existia algo no ar como se
fosse um fantasma rondando suas cabeças. Um fantasma que ambos se
recusavam a prestar atenção.
Infelizmente, esse fantasma ficava cada vez mais real para Luca e,
com um pressentimento ruim no peito, o vampiro experimentava seu fraque
de noivado ao estilo vitoriano quando Mirela entrou em seu quarto.
— Uau! Mas esse meu filho está lindo demais! — exclamou ela.
Ele não respondeu e permaneceu olhando sério seu reflexo no
espelho. Se sua mãe soubesse como ele se sentia naquele momento, talvez
não ficasse tão animada.
Acontece que mãe era mãe, e ela percebeu que algo não estava bem
com Luca.
— O que acontece, Luca? — perguntou ela passando os dedos nos
cabelos do filho.
Ele suspirou e a encarou.
— Eu tenho a impressão de que estou prestes a cometer um grande
erro.
Mirela arqueou as duas sobrancelhas, mas, no fundo, não foi surpresa
para ela. Já tinha visto como Luca olhava para Nina, sabia que eles estavam
dormindo juntos e que ele estava apaixonado pela garota humana... Conhecia
o filho e sentiu seu coração se apertar por ele.
— Você ainda tem tempo de desistir, Luca. E eu o apoiarei se quiser
mesmo fazer isso. Mas saiba que haverá consequências... Para você, para o
seu pai, para Victor e talvez até para garota, se souberem quem ela é...
Gheorge Moldovan é poderoso e não aceitaria de bom grado você desistir do
noivado com a filha dele. Haveria retaliações...
— Eu sei, mãe... Não vou desistir, não se preocupe. Eu apenas tenho
essa sensação de que existe um peso de uma tonelada em minhas costas...
Mas vou ter que carregar isso, querendo ou não.
— Sinto muito, filho...
— Eu também.
Mirela abraçou Luca e depositou um beijo em seu rosto.
— Seu pai quer conversar com você depois do jantar — avisou.
Luca bufou.
— De novo? Já avisei à Nina que ela vai ficar na torre a partir de
hoje, trancada!
— Acho que não é sobre isso, ele também chamou Sebastian.
O rapaz a olhou interrogativamente, mas Mirela ergueu os ombros.
Ela também não sabia do que se tratava.
Luca franziu o cenho, seu pai nunca o chamava para falar de coisas
boas.
Após sua mãe sair, retirou o fraque e foi se encontrar com Nina. Ela
estava arrumando suas coisas para levar para o quarto da torre e ele a
abraçou.
— Desculpe por isso, minha linda!
— Tudo bem, Luca. — Ela sorriu. Era óbvio que não seria legal ficar
trancada na torre, mas não tinha escolha.
Jantaram juntos e com a ajuda de Irina e do Sr. Pop levaram tudo
para o seu antigo quarto. Se tinha algo de bom em tudo aquilo, era a vista da
janela. Dali podia ter uma visão bem maior do entorno do castelo. Além
disso, o banheiro era gigantesco e ela também poderia se deslocar até a sala
de pintura de Luca.
Como prometido, Mirela mandara instalar uma TV e um aparelho de
DVD, deixando uma caixa cheia de títulos de filmes, além de uma pilha de
livros de romances escolhidos por ela mesma.
— Pelo menos vou ter o que fazer... — falou tentando demonstrar
animação. — Você vem me visitar? — perguntou ela.
— Claro que eu venho. Não te deixaria aqui sozinha.
Eles se abraçaram e Cătălina escondeu o rosto no peito de Luca.
— Eu te amo — disse o vampiro ao lhe beijar os cabelos. Ela
levantou o rosto e ele a beijou longamente.
Luca queria ficar mais tempo com ela, mas, infelizmente, precisava
descer. O seu pai já devia estar o aguardando no escritório.
— Tenho que falar com meu pai agora, Nina, mas volto depois. —
Afastou-se.
— Vai dormir aqui comigo? — Ela sorriu.
— Você tem alguma dúvida disso? — Ele piscou e saiu, descendo as
escadas.
Ao chegar ao corredor de quartos, Luca olhou para a chave em suas
mãos e, com um suspiro, fechou e trancou a porta de acesso à torre.
Virou-se e deu de cara com Bass. Ele o olhava sério e fitou a chave
em suas mãos.
— Precisa mesmo disso? — perguntou o loiro.
— Sim, é para a segurança dela.
— Perdi minha companhia para o chá da tarde, então?
— Amanhã os convidados começam a chegar, Bass. Terá bastante
companhia — falou Luca se dirigindo às escadas que levavam aos andares
inferiores.
— Hum... — Ele franziu o cenho. — Até parece... Não conheço
ninguém da sua família, e a minha... Você sabe... não sou muito bem visto.
— Sorriu de lado.
Luca sorriu e enfiou a mão no bolso.
— Eu me odeio por isso. — Retirou uma cópia da chave e a entregou
a Bass. — Sei que ela gosta de conversar com você e não sou nenhum
insensível para querer mantê-la tão isolada.
— Olha só! Você confia mesmo em mim! — gracejou Sebastian.
— Não faça eu me arrepender... — Deu um soco no ombro de Bass
que devolveu o golpe na brincadeira.
Ambos riram e seguiram para o escritório de Grigore.
O senhor do castelo os esperava impaciente. Ele já estava na terceira
taça de vinho e tamborilava os dedos sobre a mesa quando os rapazes
entraram.
Ao notarem a expressão de Grigore, trocaram olhares e, mais sérios,
sentaram-se à frente dele.
— O que houve desta vez? — perguntou Luca, prevendo notícias
ruins.
— Nenhum de vocês foi ao hospital hoje, não é?
— Não, foi minha folga — respondeu o filho.
— Eu vou daqui a pouco, minha escala foi marcada para a
madrugada — justificou-se Bass.
— Victor me ligou... Creio que estamos com um problema.
— Que tipo de problema? — estranhou Luca.
— Encontraram um corpo nesta manhã no meio da floresta.
Aparentemente foi atacado por algum animal, mas temos nossas dúvidas.
Bass engoliu em seco, sentindo um calafrio lhe subir pela coluna.
— Que dúvidas? — Luca quis saber.
— O legista do hospital, felizmente, é um dos nossos e ele acha que
foi um ataque de vampiro, pelo tipo de mordida e pela falta de sangue no
local.
— E o que pretendem fazer? — perguntou Bass tentando esconder
sua preocupação.
— Vamos abafar esse caso. Ele vai atestar que pode ter sido um lobo.
Mas isso aconteceu muito próximo do vale, o que significa que quem fez isso
pode ser daqui. — Grigore estreitou os olhos. — Poderia ser qualquer um,
mas sabe o que me preocupa?
— O que, pai? — Luca tinha o cenho franzido. Não conseguia
imaginar que fosse coisa de algum aldeão. O único que oferecia perigo era
Marius e ele estava na prisão, bem longe dali.
— O homem que foi atacado tem relação com a moça que está aqui.
— Com a Nina? — estranhou o filho.
— Era o tal padrasto dela, o que batia nela e que provavelmente
matou a mãe — falou os encarando fixamente. — Sinceramente, espero que
vocês não tenham nada a ver com isso.
Bass sentiu a cor lhe fugir das faces, mas se manteve firme.
— Não, senhor — falou o loiro, sério. — O homem era um miserável
e merecia morrer, mas seria muito mais fácil matá-lo com uma faca ou uma
arma do que arrastá-lo para a floresta e usar os dentes.
Luca olhou para o amigo e não conseguiu deixar de notar uma gota
de suor lhe escorrendo pela têmpora.
— Não sei quem fez isso, pai. Mas quer saber? Fico feliz que o
mundo ficou livre de um monstro como ele e não faço questão nenhuma de
encontrar o culpado. Deixe isso para lá, não acho que tenha sido alguém
daqui.
Grigore passou os olhos de um para o outro e, por fim, bufou.
— Muito bem, podem ir. Eu cuidarei disso — falou encerrando a
reunião.
Os dois rapazes saíram em silêncio e, ao chegar no hall do castelo,
Luca pegou Sebastian pela gola da camisa.
— O que fez, seu maluco?
— Nada! Me solte! — respondeu ele, empurrando o braço de Luca e
se soltando.
— Pode mentir para o meu pai, mas não minta para mim!
Bass fechou o semblante.
— Ele mereceu! — respondeu.
Luca coçou a cabeça nervoso. Queria socar o amigo.
— Você é louco, Bass. Não pode sair matando as pessoas assim,
mesmo que mereçam. Deixe que os humanos julguem seus próprios crimes.
Você bebeu o sangue dele? — perguntou, já adivinhando a resposta. — Bass,
pelo amor de Deus, você ainda continua bebendo sangue dos vivos?
— Não me julgue, Luca... — respondeu o rapaz entredentes.
— Não é questão de julgar! Estou preocupado com você, porra! Isso
que você está fazendo é errado e vai acabar se dando mal. Você sabe disso!
Uma hora acabará sendo pego, inferno!
Bass não respondeu.
Esboçando um gesto de impaciência, Luca inspirou fundo e se
aproximou do amigo, segurando-o pela nuca e encarando-o de perto.
— Precisa parar com isso, cara! Precisa parar agora!
— Não consigo... Minhas cotas não duram mais até o final do mês —
confessou.
— Merda! — Luca o largou e passou a mão nos cabelos. — Eu
arrumo! Eu consigo sangue para você, mas tem que me prometer que vai
parar de atacar as pessoas.
— Como vai conseguir? Você também tem cotas.
— As minhas estão sobrando, desde o solstício não precisei delas.
Escute... existe uma técnica para se livrar do vício do sangue. Ela foi utilizada
há muito tempo quando o sistema de cotas foi estabelecido e hoje ainda é
usado naqueles que estão em recuperação na prisão. Sua irmã trabalha lá, ela
pode te ajudar.
— Não vou contar para a minha irmã que eu sou um viciado! Dentro
da minha família de merda, ela é a única que não me julga. Não posso
decepcionar Alícia com isso.
Luca suspirou.
— Okay... Acho que tem um livro na biblioteca que fala sobre o
assunto. Vou procurar para você. — Encarou-o. — Está precisando, Bass? De
sangue agora?
— Não, peguei minha cota do mês ontem.
— Tente se segurar, cara, o máximo de tempo que conseguir. Vamos
resolver isso, está bem?
Bass assentiu.
— Obrigado, Luca — falou cabisbaixo.
— De nada. Você é meu amigo, seu cretino! — Luca apertou o
ombro de Bass. — Vê se para de me esconder as coisas... Vou subir, agora.
Boa noite.
— Boa noite.
O médico loiro observou o amigo subir as escadas e deu um sorriso
sincero. Tinha sido pego, mas estava aliviado por ter confessado seu
problema para Luca. Talvez com a ajuda dele fosse mais fácil...
Luca subiu à torre e encontrou Cătălina vendo um filme. Ele sorriu e
ela desligou o aparelho de DVD.
— Por que desligou? — perguntou.
— Porque você está aqui, ué.
— Podemos continuar vendo juntos...
Cătălina sorriu e voltou a ligar o equipamento. Sentaram-se lado a
lado na cama e Luca pegou o controle, dando uma pausa.
— Precisa saber de uma coisa — falou e ela o olhou com curiosidade.
— O quê?
— A mocinha morre no final.
— Não! — Cătălina pegou o travesseiro e começou a bater nele. —
Não pode me contar o final assim, seu besta!
Luca gargalhou enquanto se defendia.
— É mentira. Mas tem uma coisa que eu preciso te falar, é sobre
Nicolae.
Imediatamente Cătălina ficou séria.
— Não quero saber dele.
— Ele está morto.
Ela arregalou os olhos.
— Morto? Como?
— Um acidente na floresta. Algum animal o atacou — mentiu, não
podia dizer que havia sido Bass.
— Nossa, sério?
— Sim... Não está com pena dele, não é? — Luca arqueou uma
sobrancelha.
— Não, claro que não! Mas ser morto assim... — Ela suspirou e
balançou a cabeça. — Sei que é horrível dizer isso, mas eu estou aliviada, na
verdade. Nunca mais ele vai me perseguir.
— Não, nunca mais... Não se preocupe com isso, Nina. Se sentir
assim é normal. Ele representava uma ameaça para você e agora está livre,
simples assim.
— Hum... — Ela encostou a cabeça no peito dele.
— Vamos ver o filme? — falou o vampiro.
Cătălina sorriu. Nicolae que fosse para o inferno. Ela estava livre e
aquilo era uma sensação boa.
— Vamos.
Luca apertou o botão de play e ela se aconchegou em seus braços.
Era tão bom estar com ele e, mais do que nunca, sentia-se protegida.
L uca acordou cedo e observou a garota dormindo ao seu lado. Quanto
mais próximo o dia de seu noivado chegava, mais angustiado ficava,
mais o seu coração pesava.
Aquilo era uma merda, mas a única forma que ele encontrara de
resolver o assunto, seria encarar seu noivado e futuro casamento como um
contrato. Poderia tentar algum tipo de acordo com Natasha e, se ela aceitasse,
poderia continuar com Nina ao seu lado.
Contudo, isso também dependeria de uma decisão da garota. No
fundo, ele tinha medo de que Nina desistisse dele. Não sabia o que ela
pensava sobre a proposta que ele havia lhe feito de transformá-la. Ela não
havia mais tocado no assunto e, às vezes, pegava-a com um olhar
melancólico.
Desde o Ano Novo, eles evitavam conversar sobre o futuro, como se
apenas importasse o presente, mas por trás desse comportamento
despreocupado, existia uma sombra. Uma sombra que vez ou outra ele via
passar nos olhos da garota. Uma sombra que também lhe pesava na alma
sempre que se encontrava sozinho.
Porque não era apenas o futuro que lhe preocupava. Havia outra coisa
que inquietava seu coração e que ele não havia contado a Cătălina. Algo que
precisaria fazer na noite da festa naquele sábado e que, só de pensar, o fazia
suar frio.
O ritual de sangue... Se Nina soubesse... era certo que ficaria
profundamente magoada. Tinha medo de que ela não entendesse e o deixasse,
e aquilo o arrasava por dentro.
Maldito ritual! Deveria ser abolida aquela merda! Um ato simbólico,
mas que selava definitivamente a união entre dois vampiros.
Um pacto tão importante que, caso algum dos noivos quebrasse o
compromisso e desistisse do casamento após o ritual, a parte abandonada
tinha o direito de lavar sua honra, normalmente em forma de confronto, duelo
ou execução.
Sim, era arcaico, coisa do século XVI, mas ainda acontecia entre os
vampiros.
Ou seja, depois do bendito ritual, ele estaria, de fato, preso à Natasha,
e ela a ele para o resto de sua vida. Era esse o peso do noivado de um
vampiro.
Por isso, se Nina aceitasse sua proposta de se transformar, precisaria
tentar um acordo com a prima de Bass. Pelas tradições, após o casamento a
fidelidade de ambos seria cobrada e não poderiam mais ter relacionamentos
paralelos, mas se pudessem apenas manter as aparências...
Luca fechou os olhos e colocou o braço sobre o rosto. Talvez
estivesse sonhando demais... Nada indicava que Natasha poderia aceitar lhe
dar um filho e depois sustentar um casamento de mentira. Nem ele sabia
como fazer aquilo dar certo...
Sua mente estava tão confusa, seu coração tão apertado. Merda!
Merda! Merda! Como queria mandar tudo aquilo para o inferno, mas ele era a
porra de um Constantin! Além disso, como sua mãe havia dito, o pai de
Natasha era um conselheiro poderoso e certamente faria a vida de sua família
um inferno se desistisse do noivado!
Angustiado, Luca se levantou da cama, depositou um beijo suave na
face de Nina e se dirigiu para o seu quarto, precisava se trocar e ir para o
hospital. Teria um longo dia de trabalho pela frente.
O dia seguinte amanheceu nublado, o que foi bom para Luca. Após se
munir de um chapéu e óculos de sol, ficou mais à vontade para mostrar a
parte externa do castelo aos sobrinhos.
Ao final do passeio, levou-os ao jardim, onde uma fonte de água
jorrava bem no centro. Apesar do frio e da neve que cobria parcialmente as
plantas, o lugar ainda era bonito.
Enquanto as crianças corriam em volta da fonte, o jovem vampiro
encostou-se na mureta de pedra e passou a contemplar o vale que se estendia
à sua frente. Era um olhar vago, melancólico...
— Luca!
Perdido em seus pensamentos, ele se virou, assustado com o
chamado.
— Ah... Oi, Ivy... — respondeu.
A irmã o olhava com curiosidade.
— O que está acontecendo, Luca? Você não me parece bem...
— Não é nada, está tudo bem, sim... — Ele tentou sorrir, mas não se
saiu muito bem.
— Não, não está... — falou Ivy com uma ruga entre as sobrancelhas.
— Você não me engana, irmãozinho. Me diga, é por causa do noivado?
O vampiro suspirou e desviou o olhar para o vale novamente, mas
não disse nada. Estava tão na cara assim?
— Luca... — insistiu ela. — Você não é obrigado a ficar noivo assim,
por casamento arranjado. Os tempos mudaram, até o pai entendeu isso depois
que... você sabe, depois de tudo o que aconteceu.
Luca virou-se para a irmã, seu semblante estava sério, mas calmo.
— Ivy, eu entendo que você pense assim... Você não foi criada aqui,
não consegue ver os fatos como um todo.
— Como assim? — perguntou ela, juntando ainda mais as
sobrancelhas.
— Olhe para baixo — disse ele apontando para o vale. — O que vê?
— A vila — respondeu.
— Exato, a vila. Uma comunidade com cerca de 80 famílias de
transformados que dependem de nós, vampiros puros, para continuarem
existindo. — Luca apoiou os cotovelos na mureta. — Não é só para manter
nossa espécie viva que existem as tradições, Ivy, não mais. É toda uma
cadeia... Se deixarmos de sermos puros, eles desaparecerão — disse,
referindo-se aos transformados.
— E não seria melhor assim? — questionou a vampira. — Não me
parece correta essa relação de dependência. Não estamos mais no tempo dos
escravos.
— Eles não são escravos — retrucou Luca. — Eles têm a opção de
escolher entre a vida humana e a de transformado, esqueceu? E nós, vampiros
puros, que os criamos a séculos atrás, temos a obrigação de manter as
condições necessárias para que eles continuem existindo.
Ivy suspirou, era difícil pensar daquela forma. Ela havia nascido livre
e lutou para permanecer assim. Não conseguia entender por que os
transformados escolhiam viver daquele jeito: sob o controle dos vampiros.
— E você pretende perpetuar isso? — indagou ela. — Vai sacrificar
suas escolhas em nome da tradição?
— Vou fazer o que eu acho que é certo... — disse ele, com o
pensamento meio distante.
— Então por que está com essa cara de que o mundo está prestes a
acabar? — perguntou Ivana. — Por que essa decisão te abala tanto?
Luca fitou a irmã e ela viu uma sombra passar em seu olhar.
— Por nada... — disse ele, desencostando-se do muro. — Vou indo,
preciso trabalhar agora. Nos vemos mais tarde, Ivy.
O vampiro virou-se e foi até as crianças, deu um beijo em cada uma
e, em seguida, encaminhou-se para a entrada do castelo.
Ivana manteve-se ali, olhando para o vale. Fazia sentido o que seu
irmão dissera? Logo Axel apareceu para lhe fazer companhia e ela comentou
sobre o que havia conversado com Luca.
— Não deve interferir nas decisões do seu irmão, Ivy... Ele já tem
idade suficiente para saber o que faz. Creio que talvez o que realmente o
esteja deixando triste não seja apenas o noivado arranjado. Acho que o
verdadeiro motivo está lá em cima, na torre.
Ambos olharam para cima.
— O que tem na torre? — quis saber Ivy. — Lá é o estúdio dele, de
pintura.
— Não só isso...
— O que tem lá? Está me deixando curiosa, Axel!
— Uma humana...
— Hã? — exclamou ela. — Tem certeza? Por que teria uma humana
aqui no castelo?
Axel sorriu.
— Meu olfato não me engana, tenho certeza. Não sei o porquê... terá
que perguntar a ele depois.
A vampira continuou olhando para cima, aquilo era estranho, muito
estranho. Pelo que sabia, humanos eram proibidos de ficar no castelo. O que
o seu irmão estava aprontando? Seria a tal humana o motivo dele estar assim
tão melancólico? Estava curiosa agora.
Cătălina afastou-se rapidamente da janela. Será que eles a teriam
visto? Sentou-se na cama preocupada e fitou tristemente as paredes de pedra
que a envolviam. Luca lhe dizia que ela não precisava se sentir uma
prisioneira, mas de que outra forma ela podia se sentir?
Não estava autorizada a deixar o castelo e agora, com a chegada dos
convidados para o noivado, não podia nem ao menos sair da torre. Se aquilo
não era uma prisão, era o quê?
A garota dobrou os joelhos e encostou sua testa neles, esparramando
seus cabelos dourados sobre as pernas. Mas era para o seu bem... Aquilo não
era brincadeira. Em poucos dias o castelo viraria um ninho de vampiros...
Perguntas martelavam em sua cabeça. O que aconteceria com ela
depois que o noivado terminasse? Eles acreditariam que ela não revelaria
nada a ninguém? Seria liberada por Grigore? Ou ficaria presa para sempre no
castelo? Será que algum dia conseguiria sair dali?
E se pudesse sair, era isso o que ela queria?
Luca... o amava tanto, uma parte de si não queria ir embora, queria
ficar com ele. Mas... como? Como amante? Por quanto tempo? Aceitaria se
transformar? E depois, quando ele se casasse?
Balançou a cabeça, não parecia certo. Mas aquilo estava tão longe e,
ao mesmo tempo, tão perto...
Assustou-se quando a porta do quarto se abriu e Luca entrou.
— Tudo bem, Nina? — perguntou o médico estranhando vê-la
naquela posição.
— Tudo... — Esboçou um sorriso. — Era com sua irmã que você
estava conversando lá embaixo?
— Era.
— E o cara que está com ela agora?
Luca foi espiar pela janela.
— É o Axel, o marido dela.
— Ah, o lobo. Ele tem o cabelo branco mesmo?
— Sim, você viu as crianças? — Sentou-se ao lado dela.
— Vi, parecem ser fofas.
— São sim. — O médico sorriu. — Belle é uma graça e Ian é um
mini-Axel, muito engraçado o garoto.
Cătălina suspirou, um pensamento acabara de lhe ocorrer.
— Luca... se eu me transformasse, você teria filhos comigo?
O vampiro arqueou as duas sobrancelhas e ficou sem fala. Ele não
tinha pensado naquilo.
Pensou em seu futuro casamento com Natasha. Mesmo que ela
aceitasse o acordo que ele iria propor, um filho de sangue puro e um
casamento de fachada, como ficaria Nina? Teria que viver escondida? Se
tivesse filhos com ela, teriam que ficar em segredo?
Naquele momento, Luca se deu conta de que tipo de proposta tinha
feito a Cătălina e se sentiu um canalha miserável. Merda! Não podia fazer
aquilo com ela!
O silêncio de Luca deu a resposta a Cătălina. Ela sorriu de lado e se
levantou da cama, andando até a porta e saindo do quarto.
Luca a seguiu, mas ela desceu e se trancou no banheiro.
— Nina? — chamou preocupado. — Abre a porta, por favor...
Bateu na porta várias vezes, chamou, mas ela não respondeu.
Encostou-se no batente por um tempo, chamou de novo e nada. Por fim,
acabou desistindo e desceu as escadas. Sentia-se um merda. Queria pedir
desculpas, mas precisava trabalhar, ele tinha uma maldita escala a cumprir.
Falaria com ela quando voltasse.
Dentro do banheiro, Nina se encolhia a um canto e deixava as
lágrimas escorrerem. Não aguentaria aquilo, não servia para aquilo. Mesmo
amando Luca loucamente, ela não seria a merda de uma amante que só
serviria para esquentar a cama dele.
A raiva e a impotência guiavam seus pensamentos naquele momento,
e ela jurava que se Grigore a liberasse daquela prisão, iria embora.
Sim... E se ele não a libertasse, ela fugiria.
Estava cansada de sofrer, de sonhar com o amor, de achar que
poderia ser feliz com alguém. Ela não nasceu para aquilo, não nasceu para ser
amada, ela nasceu para ser sozinha e assim seria. Após o maldito noivado, ela
iria embora e assumiria as rédeas de sua vida, de uma vez por todas.
A pós Luca ir embora, Cătălina voltou para o quarto, sentou-se perto
da janela e ficou olhando a paisagem por horas. O branco da neve
lhe trazia ainda mais melancolia.
Sua vida sempre fora como a neve, sem cor.... e, eventualmente,
manchada com o vermelho do seu sangue por causa do padrasto. Achava que
tinha encontrado o arco-íris quando começou a se relacionar com Luca, mas
aquilo acabou se mostrando uma tempestade cinzenta, uma tormenta que a
machucava por dentro.
Sabia que Luca a amava, que queria ficar com ela... Ele até propôs
transformá-la, mas... não queria filhos, ou seja, não teriam uma vida conjugal
de verdade. No fim, ele se casaria com a noiva e ela seria excluída da vida
dele. Aquilo era cruel, e ela não queria ter mais seu coração massacrado por
idas e vindas, esperanças e desesperanças. Por isso havia tomado a decisão de
ir embora.
Como? Ainda não sabia, mas daria um jeito. Seu coração iria sofrer?
Claro que iria, ele já estava sofrendo. Mas era preferível sofrer tudo agora de
uma vez do que ficar na corda bamba por uma vida inteira.
Não havia como manter uma relação naquelas condições. Aquela era
uma aposta perdida, então não havia sentido sofrer por aquilo.
Sim, precisava ir embora! Contudo, seu coração se apertava tanto ao
pensar naquilo... Merda! Por que as pessoas tinham que sofrer desse jeito por
amor? Por quê?
Cătălina manteve-se apática pelo resto do dia e, à tarde, Bass, como
sempre, apareceu para o chá. Sua escala no hospital havia sido de madrugada,
por isso, àquela hora ele já estava acordado e bem-disposto.
— Como foi o jantar ontem? — quis saber Cătălina.
— Foi tudo bem, apesar do mordomo ter me colocado ao lado do
lobo.
Ela riu.
— Pelo menos não foi mordido, ao que parece.
— Não... — Bass sorriu também, em seguida ficou sério. — Você e
Luca brigaram de novo?
— Por quê?
— Eu o vi hoje de manhã antes de sair do hospital. Ele parecia bem
mal-humorado, mas não quis me dizer o motivo.
— Não brigamos porque eu me tranquei no banheiro, mas... —
Cătălina suspirou. — Não vai dar certo isso entre a gente, Bass. Não quero
mais me iludir. Eu quero ir embora daqui, eu preciso ir embora...
Sebastian pensou um pouco.
— Vem comigo para Sibiu. Em algumas semanas acaba meu contrato
aqui com o irmão de Luca e eu vou voltar para a cidade.
Cătălina o olhou com desconfiança e sorriu em seguida.
— Sei o que quer, Bass. Mas também não daria certo entre nós. Eu
amo o Luca e não conseguiria ficar com outra pessoa, muito menos com o
melhor amigo dele.
O rapaz sorriu de canto.
— Não estou dizendo que tenha que existir algo entre a gente,
embora eu não fosse reclamar disso. Mas eu entendo você, o que está
sentindo, e sei também que essa dor e essa mágoa irão diminuir com o tempo.
Com o amor não é diferente; sem alimento, ele morre, se apaga. E aí, quem
sabe, você possa me ver com outros olhos...
Ela olhou para as mãos.
— Mesmo que isso acontecesse, você também é um vampiro, não
seria diferente com você.
— Claro que seria, eu não estou noivo de ninguém. Posso te dar um
futuro.
Cătălina o encarou.
— Está mesmo falando sério?
— Estou. Você me contou que Luca propôs de transformar, posso
manter essa proposta.
— Não... — Ela riu. — Sinceramente, essa história de ter que beber
sangue de outros me arrepia. Mas por que tem tanto interesse em mim, Bass?
Eu nunca lhe dei qualquer esperança.
Ele deu de ombros.
— Não sei, acho que estou cansado de sexo vazio, de ser sozinho. E
eu gosto de você, da sua companhia. Acho que poderíamos dar certo.
Cătălina balançou a cabeça.
— Nunca daríamos certo, não com meus sentimentos por Luca.
— Eu posso esperar. — Bass sorriu. — Como eu disse, uma hora o
coração se acalma.
— Você é impossível! — Cătălina sorriu e colocou sua mão sobre a
dele. — Agradeço a oferta, mas minha resposta é não. Se eu sair daqui vai ser
para seguir com a minha vida sozinha, independente, sem laços, sem
compromissos, sem ninguém.
Sebastian suspirou.
— Okay... se é assim que quer... Mas como pretende sair? Grigore te
liberou?
— Não... Mas acho que uma hora ele vai me deixar sair, não é? —
falou preocupada.
— Não sei... talvez... Não espere que seja tão cedo, Nina. Ele
precisará confiar muito em você antes de te deixar ir embora, e Grigore não é
um homem fácil de confiar nas pessoas.
Cătălina inspirou fundo e soltou o ar de uma vez. Estava decidida a
romper de vez com Luca, mas seria uma tortura ficar perto dele por muito
mais tempo.
O vampiro se levantou.
— Preciso ir, princesa. Minha escala hoje começa mais cedo. Se
cuida — falou ao depositar um beijo no dorso de sua mão e sair.
Sebastian desceu as escadas, pensativo. Bem que gostaria de ter
alguma chance com ela, mas parecia impossível... No fundo, tinha pena de
Nina, do que ela devia estar sentindo naquele momento, das decisões que
precisava tomar. Além disso, permanecer trancada na torre era triste, ficaria
puto se estivesse no lugar dela; contudo, não era ele quem decidia as coisas e
não se arriscaria em desrespeitar as ordens de Grigore.
Virou-se para trancar a porta de acesso à torre e ao se voltar para o
corredor, deu de cara com Ivana.
— Oi, Sebastian. — Ela sorriu.
— Ah, oi...
— O que estava fazendo na torre? — perguntou a vampira de forma
natural.
— Nada, só fui lá em cima ver a paisagem.
— Mentiroso.
— Hã? — Bass arregalou os olhos.
— Por que a torre está trancada? — Ivy questionou firme.
— Grigore e Luca que determinaram isso. — Bass quis passar pelo
lado, mas ela entrou em seu caminho.
— Me dê a chave.
— Por que quer a chave? Não tem nada lá em cima — afirmou, já
preocupado com os questionamentos da irmã de Luca.
— Quero ir até o estúdio de pintura do meu irmão e também olhar a
paisagem. — Ela voltou a sorrir. — Algum problema?
— Pergunte para o Luca, não posso te dar a chave sem a autorização
dele. — Tentou passar por Ivy de novo, mas desta vez sentiu duas mãos o
segurarem pelos ombros.
Sebastian virou a cabeça para olhar e viu Axel encarando-o de forma
fria.
— Me solte! — falou tentando se desvencilhar, mas o lobo era forte,
mais forte do que ele, notou.
— Desculpe, rapaz. Preciso da sua chave — falou Ivy enfiando a mão
no bolso da calça dele.
— Ôooo, cuidado aí onde põe a mão! — alertou Bass com um
sorrisinho que logo se desfez quando Axel o soltou e o encarou de frente.
A vampira revirou os olhos e, de posse da chave, abriu a porta. Ela e
Axel subiram as escadas e Bass os seguiu, preocupado.
Luca o mataria, com certeza! Já estava até vendo... Torcia apenas
para que Nina não saísse de seu quarto. Quem sabe Ivana fosse até a sala de
pintura, visse o que queria ver e saísse de lá sem perceber que havia uma
garota na torre.
Suas esperanças foram por água abaixo quando passaram pelo quarto
de Nina e a porta estava aberta. A irmã de Luca observou o local com atenção
e olhou para Axel. O lobo apenas apontou para cima, indicando que deveriam
subir mais um andar. Bass engoliu em seco. Ah, merda! Iriam descobrir a
Nina e seria por culpa dele.
Ao entrar na sala do último andar, Ivy encontrou a garota olhando
pela janela.
Cătălina se virou e tomou um susto ao notar a presença deles.
Reparou que Bass estava junto e o olhou de forma interrogativa. O vampiro
ergueu os ombros e balançou negativamente a cabeça.
Apreensiva, ela fitou a mulher à sua frente e, em seguida, o rapaz de
cabelos brancos. Reconheceu-os. Tratava-se da irmã e do cunhado de Luca,
mas o que eles estavam fazendo na torre? Bass não teria deixado eles
entrarem, a não ser que tivessem feito isso à força. Era o que parecia.
Encostou-se mais contra o parapeito da janela, temendo que eles
descobrissem que ela era só uma humana.
— Oi — falou a vampira se aproximando. — Eu sou Ivana, irmã de
Luca, mas pode me chamar de Ivy. Este é Axel, o meu marido. — Apontou.
— Escute, não precisa ter medo de mim ou dele, não vamos te fazer mal.
Cătălina esboçou um sorriso forçado e achou melhor tentar agir de
forma natural.
— Oi, meu nome é Cătălina, mas me chame de Nina. Eu não estou
com medo de vocês ou pensando que poderiam me fazer mal. Vocês apenas
me surpreenderam, eu não esperava que alguém fosse aparecer por aqui.
— Por que está trancada na torre? — perguntou a vampira.
Cătălina olhou para Bass preocupada. Não sabia o que dizer e, pelo
visto, ele também não. Ambos ficaram mudos e desconcertados.
— Está sendo mantida presa aqui? — quis saber Axel.
— Escute, não é o que estão pensando... — interferiu Bass.
— Cale a boca! — rosnou o lobo. — Deixe ela responder.
— Ela sabe sobre nós? O que somos? — perguntou Ivy a Bass e ele
assentiu desconfiado. Ela se voltou para a garota. — Nina... Nos diga o que
está acontecendo, podemos te ajudar. Sabemos que é uma humana, é por isso
que está presa aqui?
Cătălina ergueu as sobrancelhas olhando novamente para Bass, mas o
vampiro parecia estar tão surpreso quanto ela.
Tentando aparentar mais calma do que realmente estava, ela inspirou
fundo e sorriu.
— Agradeço, mas realmente não é como estão pensando. Quero
dizer, estou, sim, sendo mantida presa aqui, mas segundo Luca e o Sr.
Constantin, é para a minha segurança, já que eles não confiam muito em
mim. Bem... dei motivos também para isso. — Sorriu, meio sem graça. —
Mas como vocês descobriram que eu sou humana?
— Axel tem um faro bom, ele consegue diferenciar o cheiro de um
humano do de um vampiro de longe. Mas não entendi por que disseram que
está aqui para sua segurança.
— Justamente por ela ter descoberto sobre nós, e porquê, segundo
nossas leis, ela deveria ser entregue ao Conselho — explicou Bass. — Mas
ninguém aqui quer isso. Então, enquanto o castelo estiver cheio de
convidados, alguns do Conselho, inclusive, é melhor que ela fique na torre.
— Que bobagem! Vocês acham que alguém pode desconfiar de que
ela é uma humana só por andar por aí? — Ivy questionou. — Isso é meio
difícil, a não ser que ela se corte ou esteja menstruada, o que não é o caso.
Axel só descobriu porque ele é um Warg.
— Também acho, mas seu pai decidiu assim e Luca concordou —
falou o vampiro.
— E para você, tudo bem? — Axel perguntou à garota.
Ela deu de ombros.
— Eu não tenho muito o que querer aqui...
Ivy franziu as sobrancelhas.
— Isso é ridículo. Não se pode manter ninguém preso assim! Vou
falar com o meu pai.
— Não creio que vai adiantar alguma coisa — comentou Bass. — Se
nem Luca conseguiu convencê-lo, duvido que você consiga, só irá arrumar
mais confusão entre vocês. Sei que não se dão muito bem... Além disso, até
Luca concorda com isso, ele acha que assim a está protegendo.
A vampira bufou, inconformada. Era por isso que ela odiava vir para
a Romênia, os vampiros de lá pareciam viver no século passado, não, século
passado era pouco, eles pareciam não ter saído do século XVIII.
— Escutem, vocês dois... Vão dar uma volta por aí — sugeriu Ivy. —
Quero ter uma conversa a sós com Nina. Uma conversa entre garotas, pode
ser?
Axel saiu e Sebastian o seguiu, meio hesitante. A irmã de Luca
parecia ser de confiança, mas o que ela estava querendo conversar com Nina?
Assim que os dois rapazes deixaram o local, Ivy deu uma caminhada
pela sala. Já fazia tanto tempo que havia estado naquele lugar... Não subira na
torre em sua última estadia no castelo e, na única vez em que estivera ali em
cima, Luca era só uma criança que desenhava muito bem. Agora, olha só!
Seu irmão era um artista.
Viu seu próprio retrato pintado a óleo e se impressionou. Ele tinha
feito aquilo sem ela estar presente, só usando um esboço a lápis e fotografias,
era fantástico. Observou também que havia pinturas de seu pai, Mirela e
algumas outras. Sentiu orgulho de Luca, seu pequeno irmão tinha talento.
Notou, então, que havia uma tela sobre o cavalete. Curiosa,
aproximou-se e espantou-se quando viu que a moça retratada tão
delicadamente era Nina.
— Já está pronto, mas Luca disse que precisa esperar secar para
emoldurar — comentou Cătălina, um pouco constrangida pela vampira estar
observando o quadro.
— Está belíssima essa pintura... — Olhou para ela. — Como veio
parar aqui, Nina? No castelo? Como foi se meter nessa situação? Por que não
vai embora antes que os convidados comecem a chegar?
— São tantas perguntas... a história é meio longa...
— Temos tempo, não temos? — Ivy sorriu.
Ambas se sentaram e Cătălina começou a narrar sua aventura desde
que fugiu de casa até ser confinada na torre.
Ivy ficou a maior parte do tempo apenas ouvindo, interrompendo
apenas para lhe perguntar sobre um ou outro detalhe. Ao final da narrativa,
suspirou.
— Meu irmão é um idiota! — comentou irritada. — Está mais do que
claro que ele gosta de você e ainda assim vai noivar? Olha! Vou te falar... Ele
já me disse os motivos dele para continuar com essa merda, mas confesso que
me dá vontade de dar na cara dele! Ainda mais agora, sabendo sobre vocês.
Cătălina olhou para o chão.
— Não fique com raiva dele, Ivy. É o seu irmão... Até eu entendo por
que ele quer continuar com isso. Luca leva uma carga grande nas costas e se
sente responsável pelo vale. Eu... eu estou arrasada com tudo isso, é claro,
mas... eu tenho que aceitar. Eu não sou como vocês, não posso dar um filho
puro a ele. — Suspirou. — Esse não é o meu mundo e eu vou embora assim
que Grigore me deixar partir.
A vampira sentiu pena da moça à sua frente.
— Sinto muito, Nina. — Ela sorriu tristemente. — Certas coisas hoje
me revoltam, mas a verdade é que não posso julgar o meu irmão, porque não
agi muito diferente dele algumas décadas atrás. Quando eu era mais nova,
cheguei a abrir mão de um grande amor por conta do cara ser apenas um
humano.
— Por quê? Você não é daqui, não tinha as obrigações que Luca tem.
— Mas eu tinha a consciência de que não podia trazê-lo para o meu
mundo, eu não poderia revelar a ele quem eu era, e sofri muito com isso.
Felizmente, anos depois o destino me trouxe Axel, e hoje eu sei que o amor
que eu tenho por ele é muito maior e mais profundo do que eu tive pelo
humano que eu abandonei, ou por qualquer outro namorado.
— Puxa... Você teve sorte de conseguir encontrar um novo amor.
Ivy colocou as mãos sobre as de Cătălina.
— Mas também não foi fácil com Axel, Nina. Ele é um lobo e
vampiros não gostam de lobos... Com todas as nossas diferenças, foram
muitos problemas a serem vencidos, inclusive com o meu pai. Eu tive que
lutar pela minha felicidade. Ninguém aceitava nosso relacionamento.
Cătălina sorriu.
— Eu queria ter essa força... para lutar pelo meu amor, mas não sou
ninguém. Não tenho como lutar. Isso não depende de mim e não acho justo
ficar pressionando Luca. Ele tem as convicções dele e, enfim... Não posso
mudar isso.
— Entendo, e fico triste com isso. Eu queria tanto que meu irmão
fosse feliz com alguém que amasse... — Ela se levantou. — Ah, que ódio que
eu tenho desses arranjos de casamento e de toda essa merda de tradição!
— Luca faz isso pelos transformados.
— Sim... eu sei... Ele sempre foi assim, pensa mais nos outros do que
em si! Aff, Luca é um tonto! Ele sempre teve o coração grande, mas abrir
mão de sua felicidade pelo vale? Não sei... Se fosse eu, já tinha mandado
todo mundo se foder faz tempo. — Ivy bufou. — Então está mesmo decidida
a ir embora?
— Estou.
— Okay... E não se importa de ficar presa aqui na torre até toda essa
gente partir? Não se importa do meu irmão ficar noivo em dois dias, bem
aqui debaixo do seu nariz?
Cătălina sentiu uma pontada no coração e seus olhos se encheram de
lágrimas.
Ivy suspirou e se sentou ao lado dela, abraçando-a.
— Ah, bebê... você é tão nova para sofrer assim... Escute, não desista
ainda! Eu tenho uma ideia. Não garanto que vá funcionar e talvez seu coração
possa sair um pouco mais machucado se não der certo, mas é uma tentativa e,
se ainda assim Luca não desistir desse noivado e dessa história toda de ser o
sucessor do vale e de se sentir na obrigação de manter a linhagem pura, eu
soco a cara dele.
Cătălina a olhou com desconfiança. Com o coração machucado ela já
estava... Um pouco a mais ou um pouco a menos não lhe parecia fazer tanta
diferença.
— Que ideia? — perguntou curiosa.
— Aquele vestido que está no manequim... Ele serve em você?
— Sim... Mirela o ajustou para mim.
— Ótimo! — Ela se levantou e foi olhar o vestido de perto. —
Perfeito!
— Por que diz isso? No que está pensando?
— Prepare-se, garota. Porque você vai à uma festa! — falou a
vampira com os olhos brilhando.
C
ătălina arregalou os olhos com o que ouvira de Ivy e seu coração
deu um salto.
— Festa? — repetiu atônita, tentando imaginar o que a
irmã de Luca estava planejando. — Você diz a festa de noivado?
— Exatamente — confirmou Ivy. — Se Luca te ver linda e
maravilhosa na própria festa e não perceber que está fazendo uma péssima
escolha e se ele ainda quiser continuar com essa idiotice, é sinal de que
realmente o relacionamento entre vocês não terá futuro. Não vai adiantar
você se transformar para ficar com ele. No fim, Luca se casará com Natasha
e, provavelmente, só repetirá os passos de nosso pai...
— É... pensei nisso também. Luca já me contou sobre a história da
sua mãe... Eu não quero... Não quero ser como ela, não quero ser só uma
amante na vida dele.
A vampira colocou a mão sobre o ombro de Cătălina.
— Está disposta a arriscar? A ir para o tudo ou nada? — perguntou.
— Se não der certo, você pode voltar ao seu plano original de ir embora...
Cătălina inspirou fundo.
— Não acha mesmo que alguém poderia descobrir que sou uma
humana?
— Não irão descobrir se tomar certas precauções. Precisará,
principalmente, tomar o cuidado para não se cortar ou se machucar. Deverá
permanecer discreta e evitar ficar conversando com desconhecidos, pois eles
poderão começar a perguntar sobre de onde você é, como conhece a família...
enfim, é melhor não se arriscar com isso. Qualquer coisa, você diz que
trabalha para Mirela. Avisarei ela sobre isso quando for a hora.
— Quando for a hora?
— Quando não tiver mais como ela impedir sua presença na festa. —
Ivy sorriu.
— Eles irão ficar com raiva de mim... — comentou Cătălina,
cabisbaixa.
— É do seu futuro que estamos tratando, Nina, da sua felicidade.
Você tem o direito de lutar por ela. Mas se alguém questionar, eu assumo a
responsabilidade pela ideia. Eu digo que praticamente te obriguei. — Ela riu.
— De qualquer forma, é sua escolha decidir o que é mais importante, se quer
resolver logo essa questão ou se quer agradar aos outros. E então?
— Okay... eu irei — respondeu Cătălina ainda meio insegura. — Mas
e o vestido? Ele não é um pouco antigo demais para ser usado? Não creio que
irei parecer discreta com ele...
Ivy sorriu marotamente.
— Você acha isso porque nunca viu um noivado de vampiros antes!
A gente se veste nas festas como se estivéssemos na era vitoriana. Tive até
que mandar fazer um vestido novo para mim em Nova Iorque, que, aliás,
ocupou quase toda a minha mala. Não se preocupe com isso. Vai estar mais
do que ambientada.
Nesse momento, ambas escutaram um burburinho de vozes vindos de
fora do castelo e se entreolharam. Em seguida, foram até a janela.
Um casal de vampiros mais velhos já havia descido de um carro
estacionado e estava sendo cumprimentado por Grigore e Mirela. Uma moça
loira também aguardava do lado de fora do veículo.
— Sabe quem são? — perguntou Cătălina.
— O casal eu conheço, os vi na festa de casamento do meu primo
alguns anos atrás. São os Moldovan.
— São os pais do Bass?
— Não, os tios...
O coração de Cătălina deu um salto. Se aqueles eram os tios, a
mulher com eles...
— Então... aquela é a Natasha? — indagou com as mãos sobre o
peito.
— Sim, não a conheço pessoalmente, mas acredito que seja ela
mesma.
Cătălina ficou observando a cena por algum tempo. A mulher era
linda! Loira, alta, magra, elegante... Céus! Seu mundo parecia ruir naquele
momento. Aquilo que lhe assombrava só em seus pensamentos começava a
virar realidade. A futura noiva de Luca havia chegado...
Desolada, saiu de perto da janela e se deixou cair no banco com a
cabeça entre as mãos.
Ivy suspirou e se aproximou, tomando as mãos dela e a fazendo se
levantar e a encarar.
— Não se deixe abater! — falou a vampira. — Vamos tentar, não
desista antes da última cartada!
Com lágrimas nos olhos, Cătălina meneou a cabeça concordando.
— É melhor eu descer agora — continuou Ivy. — Não conte a
ninguém sobre o que vamos fazer, okay?
— Okay... — respondeu a garota desanimada.
Ivana esboçou um sorriso e deixou a sala de pintura. Estava
apreensiva, mas tinha que fazer alguma coisa. Luca já a havia ajudado muitas
vezes, agora era a sua vez de tentar ajudá-lo. Mesmo que ele, Mirela ou o seu
pai ficassem bravos com ela depois.
Luca havia passado o dia agitado, nervoso, triste. Era para ter sido
sua folga naquela sexta, pois Victor o tinha liberado de ir para o hospital, mas
logo que se levantou, viu que não conseguiria permanecer no castelo.
Precisava ocupar a mente e, por isso, foi trabalhar mesmo sem estar escalado.
Quando voltou, já estava quase na hora do jantar. Ele estava sem
vontade nenhuma de participar de outra reunião em família, mas não tinha
como fugir. Outros convidados haviam chegado durante o dia, incluindo seus
tios de Nova Iorque, seu primo Robert e a filha Beka, um pouco mais velha
do que Isabelle. Para o seu aborrecimento, o lugar já estava cheio de gente.
Assim, após tomar um banho, vestiu-se adequadamente e se dirigiu
ao salão principal do castelo, onde cumprimentou quem ainda não havia visto
e se enfiou em uma roda de conversa.
Pelo menos, com tanta gente, ele não precisaria dar muita atenção à
Natasha. Não sabia o que conversar com ela. O clima, aliás, era estranho, não
se sentiam à vontade um com o outro, eram como se fossem desconhecidos
prestes a dar as mãos antes de pular do precipício.
Bass também não estava muito a fim de conversa com ele. Parecia
distante e, assim que o jantar terminou, desculpou-se, dizendo que precisava
sair para trabalhar.
Cansado, mais mentalmente do que fisicamente, Luca se recolheu ao
seu quarto bem antes dos demais. Seu interior todo coçava com uma vontade
imensa de subir até o quarto de Nina, mas ele não podia fazer aquilo. Não
mais. Não depois de ter terminado com ela daquele jeito, de dizer que não a
veria mais.
Era dolorido demais pensar que a garota teria que ir embora. Assim
como era dolorido imaginar o quanto ela devia estar sofrendo também... A
culpa o esmagava.
A festa seguiu até quase o nascer do sol, mas Luca se retirou para o
seu quarto um pouco antes. Não aguentava mais o barulho da música, das
pessoas, não aguentava mais conversar com ninguém. Queria apenas ficar
sozinho.
Jogou-se na cama de roupa e tudo, mas não conseguiu pegar no sono.
Não conseguia tirar da cabeça o olhar que Nina havia lhe dado quando voltou
para o salão. Era um olhar duro, frio e, ao mesmo tempo, triste,
decepcionado.
Um olhar que ele merecia, sem dúvida. Virou-se e revirou-se na
cama. A culpa o esmagava e o deixava agitado. Ele sentia que precisava se
explicar, precisava pedir perdão a ela.
O sol já estava alto quando decidiu se levantar. Abatido e
mentalmente cansado, Luca tomou um banho e seguiu para a torre. Mesmo
que Cătălina o escorraçasse ou que o xingasse, ele sentia a necessidade de
falar com ela, não podia deixar as coisas terminarem daquele jeito. Ainda
que, agora, ele tivesse uma esperança em seu peito de que tudo se resolveria,
não a iludiria novamente. Esperaria que tudo se ajeitar primeiro, depois a
procuraria.
Estranhou quando bateu na porta do quarto e não obteve resposta.
Estranhou ainda mais quando entrou e viu que tudo estava arrumado e que
Nina não estava presente. Subiu mais um andar achando que ela poderia estar
em sua sala de pintura, mas encontrou o lugar vazio.
Seu estômago gelou. Onde ela estava? E se ela tivesse ficado com
tanta raiva que tivesse fugido? Não, ela não se arriscaria naquele frio. A
cidade ficava longe demais para ir a pé com a temperatura que estava
fazendo. Andou algumas vezes de um lado para o outro.
Ela estava com Bass na festa, então provavelmente ele deveria ter
sido o último a vê-la. Talvez ele soubesse de algo.
Luca desceu as escadas correndo e foi bater na porta do amigo. Bateu
uma, duas, na terceira, Bass atendeu com cara de sono.
— O que foi, Luca? — perguntou.
— Ela sumiu — disse ele entrando sem pedir licença. — Nina sumiu,
ela... — interrompeu a fala quando viu a garota se mexer na cama.
Despertada pelo barulho, Cătălina abriu os olhos e tentou entender o
que estava acontecendo. Espantou-se ao ver Luca ali, em pé, bem na sua
frente.
— Luca? — Sentou-se, ainda meio zonza.
— Desgraçado, filho da puta! — berrou ele se voltando subitamente
para Bass e dando um soco na cara do amigo.
Sebastian não teve tempo de se defender do primeiro, mas quando
Luca tentou lhe desferir um segundo golpe, conseguiu se desviar e o pegou
pela gola da camisa, lançando-o pela porta aberta.
Luca bateu com as costas na parede do corredor, derrubando um
quadro antes de ir ao chão. Irado e com os olhos violáceos, levantou-se e
partiu novamente para cima de Bass que também já havia saído do quarto.
Mais alguns socos e xingamentos foram trocados enquanto Cătălina,
apavorada com a briga, pulava da cama e corria para a porta. Chegou a tempo
de ver Luca sobre Bass com as mãos no pescoço dele, tentando esganá-lo.
— Luca, não! — gritou ela passando os braços em volta do pescoço
do vampiro para tentar tirá-lo de cima do amigo.
Contudo, Luca estava fora de si e, com um movimento brusco,
empurrou-a sem querer, jogando-a contra a parede de pedra.
Cătălina gemeu de dor ao bater as costelas que ainda estavam em
recuperação e acabou ralando o braço ao cair. O cheiro do seu sangue fez os
dois vampiros interromperem a briga de imediato.
Luca saiu de cima de Bass e, só então, deu-se conta do que havia
feito. Desesperado, correu para a garota caída no chão.
— Nina? Eu... me desculpe, eu... — tentou ajudá-la a se levantar, mas
levou um tapa forte na mão.
— Me deixe em paz! — gritou ela com lágrimas nos olhos. — O que
pensa que está fazendo?
— Eu... sinto muito. Eu perdi o controle... — tentou se explicar. —
Quando vi que tinha dormido com Bass, eu...
— E que direito você acha que tem de nos cobrar qualquer coisa? —
indignou-se Cătălina, fazendo uma careta de dor ao se levantar.
Sebastian se aproximou e a apoiou pelo braço no mesmo instante em
que Natasha virava o corredor e se deparava com a cena.
— Vamos para dentro — falou Bass preocupado com o ferimento
dela e com o cheiro do sangue.
— Volte para a sua noiva e vê se me esquece... — disse Cătălina
entredentes antes de entrarem e Sebastian fechar a porta.
— O que está acontecendo aqui? — Natasha se aproximou. — Ouvi
gritos.
— Nada — respondeu Luca secamente, virando-se e caminhando em
direção ao seu quarto.
— Eu senti o cheiro do sangue dela. Aquela garota é uma humana?
Achei que era uma transformada. Você se apaixonou por uma humana, Luca?
O vampiro parou no meio do corredor e a encarou sério.
— Natasha... me escute. Ninguém pode saber sobre ela...
— Vocês dois são loucos. Você e Bass. Como podem manter uma
humana aqui? — questionou baixo. — Devo crer que ela sabe sobre nós.
— Natasha... por favor...
Ela balançou negativamente a cabeça.
— Não se preocupe, Luca, não vou falar nada para ninguém. Que
tipo de pessoa você acha que eu sou? Sei quais seriam as consequências.
— Obrigado... — O vampiro suspirou.
Natasha sorriu meio de lado.
— Então Bass pegou sua garota?
Luca fechou o semblante e voltou a caminhar.
— Isso não importa. Nós já tínhamos terminado.
— Não importa, é? Então o que estava fazendo lá? Por que estavam
brigando?
Ele parou na porta do quarto.
— Fui pego de surpresa, só isso. Não esperava que eles pudessem se
entender tão rápido. — Abriu a porta. — Agora, se me der licença, preciso
descansar. Ainda não consegui dormir direito.
— Bons sonhos... — resmungou ela.
A vampira desceu as escadas de cenho franzido. Aquilo era o cúmulo
da ironia... Luca havia negado fogo na noite anterior por causa de uma
humana que, por acaso, tinha passado a noite na cama do seu melhor amigo.
Seu mau humor piorou ao pensar no primo. Ele não perdia mesmo
tempo, mulherengo do caralho!
A dúvida era: teriam eles ficado juntos porque realmente se gostavam
ou era só por desforra? As palavras de Bass lhe vieram à mente. “Eu gosto
dela...”, “Nina é muito mais do que restos...”.
Natasha travou a mandíbula. De repente, ela se tocou de que tanto seu
noivo quanto seu querido primo estavam caidinhos pela mesma garota. O que
aquela humana tinha de tão especial para ter atraído a atenção dos dois
vampiros a ponto de saírem brigando por ela no meio do corredor? Seu
coração se apertou, surpreendendo-a. Que merda era aquela? Ciúme, inveja?
Não entendia...
ina, como estão suas costelas? Estão doendo? — perguntou Bass,
—N levando-a ao banheiro para limpar o ferimento no braço.
— Um pouco, mas já está passando. Não foi nada... — Cătălina
observou a marca avermelhada logo abaixo do olho do rapaz, causada pelo
soco de Luca. — Como ele pôde fazer isso?
Sebastian riu.
— Ciúme não se explica.
— Ele não tinha o direito, não depois de ontem. Além disso, nem
fizemos nada.
— Mas ele não sabe...
Cătălina suspirou.
— Estou com fome.
— Eu também — falou Bass. — Escute, apesar do seu machucado
ser superficial, o cheiro do sangue é perceptível. Então é melhor não sair
daqui por enquanto. Vou até a cozinha e trago algo para você, está bem?
Ela assentiu e ele se trocou, saindo em seguida.
Surpreso, Sebastian encontrou Natasha sozinha na cozinha fazendo
um lanche. Anna não estava lá, pois havia trabalhado a madrugada inteira
para servir os convidados e só chegaria mais tarde. Contudo, a cozinheira
havia deixado a mesa repleta de pães, tortas e bolos à disposição.
Ele se aproximou e, sem dizer nada, pegou uma cesta e começou a
colocar algumas coisas ali dentro enquanto a prima o observava de canto de
olho.
— Manhã agitada — falou ela, quebrando o silêncio.
Bass não respondeu, apenas lhe deu um sorriso falso.
— Você foi rápido, priminho — continuou Natasha ironicamente. —
Seduziu a amante do seu melhor amigo assim que ele virou as costas...
O vampiro interrompeu o que estava fazendo.
— Creio que isso não seja da sua conta, mas, para sua informação,
não seduzi ninguém.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Como assim? Ela dormiu com você, não?
— Só dormiu, não transei com ela.
— Ah... fala sério! Como se eu fosse acreditar nisso.
— Acredite no que quiser! — Ele franziu o cenho e já estava se
virando para sair quando ela o segurou pelo braço.
— Espere um pouco, Bass! Não vá ainda. Podemos conversar? —
pediu Natasha. — Por favor?
Ele a olhou entediado, bufou e se sentou ao lado da prima na mesa.
— Não temos nada o que conversar, Naty...
— Não seja tão chato, Bass. Ainda somos uma família... — Ela
suspirou. — Eu acredito em você. Se diz que não aconteceu nada entre vocês,
eu acredito. Mas o que a garota estava fazendo lá, então?
— Ela não queria ficar no quarto dela, acho que lhe traz lembranças
demais.
— Entendo... Por que não disse isso a Luca antes de saírem se
socando? — Apontou para o rosto dele.
— Acha que deu tempo? — Sebastian riu. — Ele ficou louco quando
viu ela lá.
— Ele gosta tanto dela assim?
— E se gostar? Isso lhe incomoda?
— Sinceramente, não... Mas não entendo como ele foi se apaixonar
por uma humana.
— Acontece... Afinal, quem manda no coração, não é? Se a gente
pudesse decidir, talvez não sofreríamos tanto.
— E você, Bass, o que sente por ela?
— Eu gosto dela. Nina é uma das poucas pessoas com quem consigo
me abrir, conversar abertamente. É uma amiga gentil, divertida, inteligente...
e linda! — Ele sorriu provocativo.
— Amiga? Então não está interessado nela?
— Eu não disse isso. Se ela me desse uma chance, eu não
desperdiçaria.
— Sei... Bass sendo Bass... — Ela colocou a mão sobre a dele. —
Sinto sua falta, sabia? Éramos tão amigos...
— Isso foi há muito tempo... antes de você resolver me jogar para
escanteio...
— Eu sei... sei o que eu fiz... Me desculpe, Bass, por ter te magoado
tanto. Eu era muito jovem, achei que te afastar de mim seria o melhor a fazer.
Fui tola, imatura... Me perdoa?
Sebastian desviou os olhos para a mão dela sobre a sua e a cobriu
com sua outra mão, fazendo-lhe um carinho.
— E você? Como foi sua noite? — mudou ele de assunto com um
leve deboche na voz.
Ela retirou a mão e revirou os olhos.
— Foi ótima, Luca é maravilhoso! — respondeu com sorriso falso.
— Mesmo? — perguntou irônico.
— O que foi? Você tem dúvidas de que ele seja bom?
— Não, eu sei que ele é bom. Já o vi em ação. — O vampiro sorriu.
— Apenas acho que, em se tratando de Luca, ele não devia estar com a
cabeça muito boa para essas coisas...
— Você está achando demais, primo... E que história é essa de que já
o viu em ação?
— Nada, esquece... — Ele riu. — É melhor eu subir, Nina está com
fome e...
— Não! Ainda não... — Natasha o segurou colocando a mão em sua
perna e Bass travou com aquele toque.
— O que quer de mim, Naty? — Ele perguntou com a voz cansada.
— Conversar, eu... só quero ficar um pouco com você, por favor...
O vampiro a estudou por alguns segundos. A prima demonstrava
clara ansiedade e uma certa expectativa. Uma angústia se apossou de seu
peito. Apesar de ainda estar ressentido por ter sido preterido, reconhecia que
ela ainda tinha lugar em seu coração e que também sentia a falta dela.
— Sobre o que quer falar?
— Não sei... sobre nós? Sobre os bons tempos? — Ela sorriu com um
brilho no olhar. — Você se lembra de quando éramos adolescentes? Acho
que eu tinha uns 14 anos e você 12... E que nos escondíamos no sótão do
casarão do seu pai para brincar?
— Sim, eu me lembro... perfeitamente. — Ele sorriu também. A
angústia deu lugar a um leve comichão na altura do estômago.
— Qual era nossa brincadeira preferida, Bass?
— Médico.
— Você foi o meu primeiro paciente...
— E você me fez ficar pelado.
— Sim... — Natasha começou a subir a mão pela perna dele. — Foi a
primeira vez que eu vi um pênis.
— Um projeto de pênis, você quer dizer...
— Você ficou duro...
— E você se aproveitou.
— Você não? — Ela estreitou os olhos de forma maliciosa, enquanto
sua mão alcançava a virilha de Bass.
— Aproveitei mais quando você foi a paciente — respondeu ele
sentindo seu membro já endurecido.
— Nossas brincadeiras eram interessantes, não eram? — Ela o tocou
por cima da calça.
— Aonde quer chegar, Naty? — perguntou o vampiro segurando seu
pulso e a encarando.
— No mesmo lugar que você... — respondeu ela, apertando-lhe o
pau.
Bass se sobressaltou e, sem soltar o pulso dela, levantou-se e a puxou
para fora da cozinha, levando-a até a lavanderia e fechando a porta.
Empurrou-a contra a parede e a beijou, prensando-a com o próprio
corpo. Um beijo sôfrego, exigente, ansioso. Natasha retribuiu, enlaçando-o
pelo pescoço e puxando-o para si.
As mãos de ambos procuraram freneticamente pelos corpos um do
outro, arrancando o que havia pela frente. Blusas, calças e roupas de baixo
foram ao chão. Bass a fitou com os olhos carregados de volúpia e não foi
delicado ao penetrá-la. Ele desejava aquilo há tanto tempo que não conseguia
raciocinar, apenas queria estar dentro dela, possuí-la.
Ainda em pé, Natasha gemeu e o enlaçou com as pernas. Seu corpo
estremeceu de puro tesão. Finalmente, estava sendo preenchida por aquele
que tanto desejara.
Perdidos em um mar de vontades e desejos reprimidos, ambos se
agarravam e se beijavam como há muito não faziam com ninguém.
Bass a estocava fundo, desesperadamente. Ele a queria como nunca
quis outra pessoa, e tê-la ali era a realização de seus mais profundos anseios,
aquilo o aquecia e o satisfazia, ao mesmo tempo que fazia seu coração
sangrar mais uma vez. Porque ele sabia que nunca a teria realmente...
Natasha fechou os olhos, deixando-se levar pelas sensações. Ela
havia sonhado com aquele momento por muitos anos e, ao contrário do que
Bass pensava, ela nunca o quis só por capricho ou por inveja das amigas. Ela
o queria porque, mesmo prometida a outro, o primo nunca lhe saíra do
coração. Agora ela o tinha dentro dela e aquilo a preenchia mais do que
fisicamente. Era como se ele a completasse, como se ele fosse o único que
pudesse fazê-la feliz.
Lágrimas começaram a lhe escorrer pelo rosto.
— Naty... — murmurou ele, percebendo que ela estava chorando.
— Não pare, Bass, por favor, não pare! — Ela se agarrou ainda mais
a ele.
O vampiro a desencostou da parede e a deitou sobre um monte de
lençóis e cobertores que estavam jogados em um canto. E, beijando-a com
mais carinho, continuou a investir dentro dela, desta vez em um ritmo mais
cadenciado, mais sedutor, conduzindo-a a um orgasmo pleno e arrebatador.
Natasha gemeu e se contorceu sob ele e, assim que os espasmos
cessaram, ela o virou e ficou por cima. Seus olhos se encontraram e ali eles
compreenderam a intensidade dos sentimentos que tinham um pelo outro. Ela
voltou a beijar o primo e passou a cavalgá-lo, levando-o rapidamente ao
êxtase.
Bass derramou seu sêmen dentro dela enquanto gemia e se agarrava
aos seus quadris.
Ainda ofegante, a trouxe para cima de seu peito, abraçando-a.
Por algum tempo, ficaram assim, sem articular qualquer palavra,
apenas apreciando o contato de seus corpos, prolongando a sensação de bem-
estar.
Natasha elevou o rosto para olhá-lo e recebeu um beijo terno. Ela
sorriu e se deixou escorregar para o lado. Bass virou-se, ficando de frente
para ela e a puxou pela cintura, entrelaçando suas pernas nas dela.
— Por que chorou? — perguntou ele.
— Porque eu sou culpada de ter te perdido, porque eu não lutei por
você. Porque eu... eu percebi que nunca vou conseguir ser realmente feliz
com outra pessoa que não seja você.
Ele passou os dedos no rosto dela e se sentou.
— Vocês consumaram mesmo o ritual ontem? — perguntou sem
olhá-la.
Natasha hesitou para responder. Não podia dizer a verdade, não
ainda.
— Sim — mentiu ela, deixando uma lágrima escapar e sentindo o
coração se apertar.
— Então não há mais nada que possamos fazer... — Com um
semblante carregado, Bass se levantou e foi buscar suas roupas.
— Bass...
— Como eu disse, é melhor deixar o passado no passado. Vai ser
melhor se isso não voltar a acontecer entre nós, Naty — falou enquanto se
vestia. — Você estava certa em me afastar de você. Devíamos ter continuado
assim. — Ele passou a mão nos cabelos e abriu a porta. — Não vamos
complicar mais as coisas, certo?
— Eu te amo, Bass... — falou ela ainda sentada entre os lençóis.
Ele a olhou com dor no coração, mas já era tarde demais para eles...
Deu-lhe as costas e saiu, fechando a porta atrás de si. Voltou para a cozinha e
pegou a cesta com pães e bolos. Nina o aguardava e ele estava decidido a
reprimir seus sentimentos mais uma vez.
Subiu as escadas de cenho franzido e coração esmagado. Sua razão
lhe dizia que havia sido um idiota por ter se deixado levar, por ter aberto
novamente aquela ferida.
Natasha...
Ele achava que já tinha se curado dela, mas tê-la em seus braços só
demonstrou que seus sentimentos estavam mais vivos do que nunca.
Sentimentos que só lhe trouxeram dor.
Por isso, acreditava que o melhor era esquecer o que havia
acontecido. Seu coração, no entanto, não o deixaria esquecer tão fácil, não
depois de tê-la experimentado, de ter estado dentro dela, ter se derramado
nela. Natasha tinha sido sua e ele, dela. Como esquecer alguém que sempre
morou em seu coração?
Sentada à mesa, Nina observou Bass voltar para a sala com um olhar
curioso.
— E aí, ele topou?
— Ainda não sei. Eu fiz a proposta e ele ficou bem nervoso, vamos
ver.
Alguns minutos depois, Luca apareceu na sala ainda de roupão e com
um olhar meio constrangido. Bem que ele gostaria de estar mais tranquilo,
mas seu interior era ansiedade pura. Não tinha certeza ainda se continuaria
com aquilo, mesmo com ela querendo. Ele não sabia como reagiria, não sabia
como esconder todo o amor que sentia por ela, não sabia se conseguiria
controlar o seu ciúme. Nina não era mais sua garota, e ele temia não aguentar
vê-la se entregar também ao amigo.
Esboçando um sorriso vitorioso, Sebastian foi até um pequeno bar e
escolheu um vinho, enquanto o jovem Constantin se sentava à mesa.
Luca olhou para Nina, buscando algum sinal de que ela desejava
mesmo fazer aquilo e, apesar de também aparentar estar um pouco ansiosa,
ela lhe sorriu confiante. Algo se aqueceu dentro dele. Já tinha apreciado
aquele sorriso tantas vezes... Como tinha saudades dele, dela, de tudo...
Cacete! Ele amava loucamente aquela garota.
Por alguns segundos, eles se encaram e Luca, meio sem jeito,
devolveu-lhe o sorriso. Inquieto, desviou o olhar para Bass, que estava atrás
do balcão da cozinha abrindo o vinho com um sorrisinho sacana no rosto.
Conhecia bem o amigo, conhecia aquele sorriso. O filho da puta
estava se divertindo!
S ebastian retornou à mesa com o vinho e, durante a meia hora seguinte,
os três mantiveram uma conversa agradável sobre o que andavam
fazendo em seus respectivos trabalhos. A ansiedade era alta enquanto
degustavam a pizza, mas nenhum deles demonstrava.
Após terminarem de comer, Cătălina se levantou para jogar as caixas
de pizza fora. Seu interior estava agitado e um friozinho subia por seu
estômago diante da expectativa do que viria a seguir.
Sem conseguir tirar os olhos da garota, Luca observou Nina pegar sua
taça de vinho e se sentar no sofá, cruzando as pernas. A camisola e o robe
subiram um pouco, revelando boa parte de suas coxas, e o vampiro desceu
seu olhar para elas.
Com um movimento de cabeça e um sorriso nos lábios, Bass o
chamou para irem até ela.
Luca inspirou fundo, estava agitado. Não sabia como seria sua reação
ao que poderia acontecer dali para frente. A sensação de que poderia estar se
aproveitando da ausência de lembranças da garota ao seu respeito ainda o
incomodava. Sentindo-se meio travado, seguiu o amigo e ambos se
acomodaram um de cada lado dela.
Nina sorriu. O coração dela palpitava pelo que estava prestes a
acontecer. Apesar de Bass já ter sugerido, outras vezes, um encontro a três
com outros caras ou garotas, ela ainda não tinha aceitado por não se sentir
pronta. Mas agora havia chegado a hora e o seu corpo já estava pegando fogo
só de pensar naquilo.
E o fato de ser Luca quem estava ali, a deixava mais nervosa. O
vampiro era lindo e a olhava com intensidade, lhe provocando cócegas no
estômago. Algo nele mexia com ela de uma forma totalmente diferente de
qualquer cara com quem tivesse saído.
Ela deu mais alguns goles em sua bebida e se inclinou para deixar a
taça sobre a mesinha de centro. Os dois vampiros fizeram o mesmo e um
clima de expectativa tomou conta do ambiente.
Bass, visivelmente mais à vontade do que os outros dois, tomou a
iniciativa e se aproximou de Nina, beijando-a no pescoço e fazendo-a se
arrepiar.
Luca sentiu a nuca formigar outra vez e o estômago se apertar, era
difícil negar o incômodo que aquela visão lhe causava. Sua vontade era de
arrancar o amigo de cima dela, mas inspirou fundo e tentou se acalmar.
Afinal, não tinha o direito de sentir ciúmes. Os dois estavam juntos, ele
querendo ou não, e por culpa dele.
Agora, ele que era o terceiro naquela relação. Pensou em ir embora,
mas não conseguiu. Seu coração ainda pertencia àquela garota e não tinha
forças para deixá-la naquele momento. Ela o queria, e ele não lhe negaria
mais nada.
Nina percebeu a hesitação de Luca e receou que ele estivesse
pensando em desistir. Seu coração palpitou, não queria que ele fosse embora.
Não conseguia entender o motivo, mas ela sentia uma necessidade absurda de
se jogar nos braços daquele vampiro. Não podia deixá-lo ir embora.
— Você não quer? — Ousadamente, ela colocou a mão na perna de
Luca, escorregando seus dedos pela fenda do roupão que ele vestia até chegar
à pele nua.
Ele a encarou com surpresa enquanto ela lhe sorria, como um
convite.
— Eu quero... mais do que qualquer coisa... — respondeu. E, sem
conseguir negar seus desejos, também desceu seus lábios até o pescoço dela.
Com os dois vampiros lhe beijando, um de cada lado, Nina fechou os
olhos e colocou sua outra mão na perna de Sebastian. Em um movimento
sincronizado, passou a acariciá-las ao mesmo tempo, subindo seus dedos pela
parte interna das coxas de ambos e os deixando loucos de excitação.
Bass sorriu e levou sua mão até o robe dela, abrindo-o e passando a
acariciar seus seios por cima da camisola. Nina virou o rosto para ele, e o
vampiro tomou sua boca em um beijo lascivo.
O calor subia por entre as pernas dela, enquanto seu sexo já pulsava
de desejo. Nina queria mais e interrompeu o beijo com Bass, virando-se para
Luca.
Seus olhos se encontraram e arderam em fogo. O coração de Nina
bateu descontroladamente e o de Luca parecia querer lhe saltar do peito. Suas
bocas lentamente se aproximaram e eles se beijaram de forma profunda,
inflamada.
Nina sentiu a língua de Luca explorá-la, não só com desejo, mas com
ternura e delicadeza, como se estivesse apreciando cada canto, cada segundo
daquele beijo. Seu interior foi tomado por ondas de calor e de frio e
sensações intensas invadiram seu coração: carinho, saudade, tristeza,
alegria... Mais do que nunca, sentiu que precisava daquele vampiro. Com o
coração pulsando forte, enlaçou-o pelo pescoço e correspondeu o beijo com
voracidade.
Luca sonhava em tê-la novamente em seus braços há tanto tempo...
mas pensava que seria impossível. E agora, ele estava com ela, beijando-a
outra vez. Não saberia expressar o que sentia, eram tantas as emoções
sobrepostas que seu peito parecia que iria explodir. Ele a amava com todo o
seu ser, a desejava com todas as suas fibras e sentia uma necessidade urgente
dela.
Completamente esquecido de Bass, Luca escorregou a mão pela
perna desnuda de Nina, entrando por baixo da camisola e chegando ao seu
sexo úmido.
Ela gemeu em sua boca.
Enlouquecido de desejo, Luca introduziu os dedos pela lateral da
calcinha e explorou a fenda molhada dela, passando delicadamente sobre o
clitóris e descendo para a entrada quente. Delicadamente, introduziu um dedo
em Nina, que se contorceu e gemeu novamente.
— Vamos para a cama — sugeriu Bass.
A voz do amigo fez Luca se lembrar de que não estavam sozinhos.
Sorriu de lado e retirou a mão do meio das pernas de Nina. Não podia se
esquecer... Nina não era mais dele. Ou deixava sua angústia de lado e dava
tudo de si para fazê-la feliz naquela noite ou era melhor ir embora...
Não... não queria ir embora... Engoliria seu orgulho e os seus
sentimentos e daria a Nina o que ela desejava, o que ela merecia. Daria o seu
melhor. Levantou-se e os três seguiram para o quarto de mãos dadas.
Nina sorria de forma travessa. Aquela experiência estava sendo louca
e excitante. Bass era uma delícia e Luca lhe provocava os mais íntimos,
intensos e devassos desejos. Ter ambos para si era um sonho.
Ao entrarem no quarto, Bass, com um sorriso e um olhar divertido,
lhe retirou a camisola e Luca desceu sua calcinha. Nua, ela ficou entre os
dois, que se aproximaram e colaram seus corpos no dela.
De frente para Luca, ela passou os braços em volta do pescoço dele e
suas bocas se encontraram novamente, enquanto Bass a beijava no pescoço.
Ela podia sentir a excitação dos dois vampiros, seus membros duros de
encontro à sua pele. Levou a mão ao laço do roupão de Luca, mas ele a
impediu de abri-lo e se afastou sorrindo.
Bass se afastou também e os dois vampiros trocaram um olhar
cúmplice. Nina logo viu que eles planejavam algo e ficou curiosa.
Luca a pegou pela mão e a conduziu para a cama. Excitada, ela se
deitou sobre os travesseiros e observou os rapazes, que permaneciam em pé,
contemplando-a. Eles se entreolharam mais uma vez e Bass sorriu
maliciosamente para Luca.
O vampiro loiro tirou a camiseta e a cueca, revelando sua ereção e
provocando um comichão em Nina, que sorriu e mordeu o lábio.
Para sua surpresa, ele não veio para cama, mas se aproximou de Luca
que agora a fitava com um brilho no olhar. Bass se posicionou atrás do amigo
e passou seus braços por sua cintura, soltando o laço do roupão dele para
abri-lo.
Nina deixou o queixo cair com o que viu e o seu comichão aumentou
ainda mais. Magnífico, essa era a palavra. O desejo de cair de boca no
membro rosado e duro de excitação do seu doutor de olhos azuis veio
intenso.
Ainda com um sorriso estampado no rosto, Sebastian terminou de
tirar o roupão de Luca, deixando-o nu, mas não parou por aí. Lentamente e
olhando diretamente para a garota, ele desceu sua mão pelo ventre do amigo.
Nina arregalou os olhos quando Bass fechou a mão na ereção de Luca
e passou a masturbá-lo lentamente. Puta que pariu! O calor entre suas pernas
agora parecia um vulcão prestes a explodir.
— Gosta do que vê, Nina? — perguntou Luca, já mais à vontade com
a situação. Não era a primeira vez que ele e Bass faziam aquilo e, por isso,
não estranhou o toque experiente do amigo. Não que eles fizessem sexo um
com o outro, mas sabiam que aquele tipo de interação costumava excitar as
garotas. Estranho era fazer aquilo na frente de Nina, mas afastou aqueles
pensamentos, não era hora...
— Desse jeito vocês me matam do coração. — Ela riu, quase
babando diante da visão. — Delicioso... mas tem um lugar para mim aí?
Bass sorriu, retirando a mão do membro de Luca e eles se dirigiram
até a cama.
Como polvos, os dois se enroscaram em Nina. Mãos, pernas, bocas...
tudo era dividido e compartilhado.
Luca não aguentava mais a espera e se colocou por baixo,
posicionando Nina sentada sobre si. Ela se encaixou sobre ele e aos poucos
foi escorregando sobre o seu pau incrivelmente duro, arrancando-lhe um
gemido.
Deliciada por ter aquele vampiro maravilhoso dentro de si, ela passou
a rebolar e se movimentar sobre ele, enquanto Bass permanecia ao lado
apenas observando-os com um sorriso no rosto.
Para Nina, aquilo estava uma delícia, mas logo Luca mudou de
posição e a colocou deitada por baixo. Deixando uma trilha de beijos quentes,
ele desceu com a boca até sua vulva inchada e completamente molhada,
passando a lambê-la com vontade. Ela gemeu, extasiada.
Bass também lhe tocou o seio com os lábios e começou a brincar com
seus mamilos alternadamente enquanto ela se deliciava com o que Luca lhe
proporcionava mais embaixo. Não demorou para ela sentir a onda de prazer
lhe chegar. Seu corpo estremeceu ao atingir o ápice e ela se agarrou aos
lençóis, gozando intensamente.
Inebriada de prazer, Nina deixou que Luca a virasse de bruços e
puxasse seus quadris para cima, colocando-a de quatro. Em seguida, o
vampiro a penetrou com força, fazendo-a gritar de prazer.
Luca passou a se movimentar dentro dela, apreciando a cavidade
quente e escorregadia da garota e se deliciando com o som dos gemidos dela
a cada estocada. Gemeu também. Não queria sair dali nunca mais. Aquele era
o seu lugar, com ela.
Segurando-a firmemente pela cintura, olhou para Bass e o viu se
postar na frente de Nina. Logo imaginou o que viria e desviou os olhos. Não
aguentaria vê-la chupando o amigo. Engoliu em seco e tratou de bloquear tal
sentimento ou não conseguiria levar aquilo até o fim. E ele queria muito ir até
o fim. Mesmo que seu coração doesse, ele queria estar com ela. Amava-a
tanto que estava disposto a reprimir e sufocar qualquer sinal de ciúme que
pudesse surgir.
No entanto, ao contrário do que Luca imaginava, Bass não ofereceu
seu membro para Nina chupar. Seus planos eram outros. Ele sorriu e se
inclinou, beijando-a suavemente nos lábios.
— Acho que agora posso deixar você sozinha com ele, não? —
sussurrou-lhe ao ouvido.
Nina abriu a boca espantada, mas assentiu com um sorriso. Luca não
escutou o que Bass havia falado a ela e estranhou ao vê-lo se levantar da
cama.
— Aonde vai? — quis saber.
Bass apenas sorriu e pegou o roupão que Luca havia usado do chão,
vestindo-o. Antes de sair do quarto, acenou. O vampiro loiro queria se socar,
mas achava que o certo seria deixá-los em paz. Luca já havia pago um preço
alto por abandonar Nina, não precisava torturá-lo mais. Sorriu e se sentou no
sofá da sala. Seu pau ainda estava duro e ele precisava se aliviar. Fechou os
olhos e se acariciou conformado, naquela noite teria que se contentar com a
sua própria mão.
No quarto, Luca não entendeu a partida do amigo, mas sentiu um
grande alívio. Nina seria só dele agora e, puta que pariu, nunca mais deixaria
Bass ou qualquer outro cara chegar perto dela! Daria um jeito, fugiria com ela
se fosse preciso, mas nunca mais a deixaria...
Observou a garota de quatro à sua frente ainda encaixada em seu pau
e sorriu. Ela era maravilhosa, linda, gostosa. O desejo retornou de forma
avassaladora e ele voltou a se movimentar dentro dela em um ritmo frenético.
O gozo não demorou a lhe chegar. Luca agarrou-se mais a ela e a inundou
com seu sêmen quente e espesso acompanhado de fortes espasmos.
Respirando pesadamente, deitou-se ao lado de Nina e a observou de
forma profunda. Passou, então, os dedos pelo rosto dela e lhe tomou os
lábios.
Nina entregou-se ao beijo e uma sensação de déja-vu lhe invadiu o
peito. A mesma sensação que ela tivera quando se beijaram na sala. De
reconhecimento e de saudade que ela não entendia por que era tão intensa.
Permaneceram algum tempo assim, apenas trocando carícias, beijos,
olhares... Entretanto, não demorou para que a sede de sexo retornasse para o
vampiro e, com um sorriso malicioso, Luca voltou a acariciar o corpo de
Nina, descendo a mão até seu clitóris e passando a massageá-lo
delicadamente. Ela sorriu e aceitou a provocação, ela também queria mais.
Abriu as pernas para lhe facilitar o acesso e ele deslizou seu dedo até a
entrada, penetrando-a.
Luca lhe capturou novamente os lábios e continuou a estimulá-la, ora
brincando com seu ponto de prazer, ora fodendo-a com os dedos.
Tomada de excitação, Nina gemeu e se entregou a um novo orgasmo.
Ele puxou, então, a perna dela para cima de seu quadril, trazendo-a
mais para si e penetrando-a com seu pau. O vampiro se deliciou ao sentir a
garota o engolindo outra vez. Como era bom estar dentro dela, possuí-la,
beijá-la. Amava a maciez daquela boca, o cheiro de seus cabelos, o calor de
seu corpo.
Queria gozar, precisava gozar outra vez, enchê-la com sua porra.
Agarrado a ela, Luca estocava-a fundo, ouvindo seus gemidos e se deliciando
com aquilo.
Seus corpos se moviam sincronizados e Nina gemia sem pudor,
aproveitando ao máximo aquele momento de luxúria e insanidade. Logo, ela
sentiu seu corpo vibrar, como se fosse se desmanchar de tanto tesão, e gozou
outra vez, apertando o pau de Luca com seus músculos internos.
Ele também não aguentou mais e, com um puxão mais forte,
penetrou-a até o fundo, deixando seu líquido jorrar dentro dela mais uma vez.
Após os espasmos de prazer cessarem, ele se retirou da cavidade
úmida e, ofegantes, acomodaram-se nos braços um do outro.
— Puta merda! Isso foi gostoso — exclamou o vampiro.
Nina riu e beijou o jovem médico que a olhava extasiado.
— Precisamos de um banho — comentou ela.
— Concordo.
Durante o banho, eles trocaram mais carícias. Luca só queria estar
perto da garota que amava e aproveitar o máximo de tempo que podiam ter
juntos. Nina, por sua vez, sentia-se plena. A intimidade entre eles era natural
e ela não imaginava que poderia ficar tão à vontade com o médico. As
emoções eram reais e intensas, e ela estava curtindo cada segundo.
Com a felicidade a preencher o coração de ambos, eles voltaram para
a cama e dormiram abraçados e nus. E, se Bass não tivesse aparecido para
acordá-los, teriam perdido o horário no dia seguinte.
Nina se aprontou correndo para não chegar atrasada ao trabalho e os
dois vampiros seguiram para o centro de convenções. Quando chegaram, as
apresentações já haviam começado.
Eles não tocaram no assunto durante o dia, mas Bass sabia, pelo jeito
aéreo de Luca, que o amigo estava abalado emocionalmente por ter se
reencontrado com Nina, por ter transado com ela.
Era inegável que os sentimentos dos dois ainda permaneciam vivos.
Mesmo os de Nina... mesmo ela não se lembrando do que havia vivido com
Luca. O modo como ela o olhava e o tocava deixava claro que ele mexia com
o emocional dela.
Bass entendia isso, era complicado esquecer um grande amor. Assim
como era difícil amar outra pessoa já tendo alguém no coração. Ele não havia
conseguido... Até pensou que poderia se apaixonar por Nina, mas não foi o
que aconteceu, seu coração continuava pertencendo à Natasha...
Natasha que agora estava ali em Nova Iorque e que resolvera se
sentar bem ao seu lado na hora do almoço...
ass, como está se saindo aqui em Nova Iorque? — perguntou
—B Natasha ao se sentar ao lado do primo na lanchonete que havia
dentro do centro de convenções.
— Ótimo! Essa cidade é fantástica!
— Imagino que esteja se divertindo bastante. — Ela o olhou com
malícia.
— Um pouco — respondeu ele, sorrindo discretamente.
— Você bem que podia me mostrar algum lugar legal hoje, depois do
congresso...
— Humm... hoje? — Bass enrugou a testa. Ele já tinha planos para
aquela noite, não poderia sair com ela. Precisava conseguir sangue fresco,
urgente. Sua cota já havia acabado há cinco dias e não aguentaria por muito
mais tempo sem começar a sentir os sinais da abstinência. — Tenho um
compromisso hoje, Naty. Talvez amanhã à noite, se você quiser...
— Depois do jantar dos Constantin? Pode ser... Nos encontramos lá,
então.
— Você vai? — estranhou ele.
— Claro! — Ela riu. — Sou noiva do Luca, esqueceu?
Bass franziu ainda mais o cenho. Natasha, assim como os
empregados do castelo, não sabia que Nina estava viva. Mesmo ela os tendo
ajudado na época, o combinado foi de manterem aquele segredo apenas entre
os Constantin.
— Aliás... — continuou ela. — Poderíamos sair todos juntos amanhã
após o jantar. O que acha?
— Sair para onde? — Luca se sentou na frente deles, segurando uma
bandeja com um sanduíche e batatas fritas.
— Para uma boate — respondeu Natasha. — Dançar, se divertir um
pouco.
Luca pensou um pouco.
— Hum... não sei. Talvez...
Após terminarem de almoçar, retornaram ao auditório. Bass e Luca se
sentaram em um canto afastado e Natasha voltou para junto das amigas.
— Como vai ser amanhã com Nina? Natasha não sabe sobre ela.
— Não sabe, mas está na hora de saber, Bass. Querendo ou não, ela é
minha noiva e temos um assunto para resolver... Então, é melhor que ela
saiba agora, por nós, do que descubra mais tarde e fique puta porque a
enganamos esse tempo todo.
— Eu sei, mas...
— Ela não vai contar ao pai dela sobre a Nina. Tenho certeza. —
Luca estreitou os olhos e sorriu meio de lado. — Ou sua preocupação é que
ela saiba que vocês dois estão morando juntos?
Bass fechou o semblante.
— O que eu faço da minha vida não é da conta dela...
— Nunca se sabe... No dia do noivado, ela me contou que também
havia renegado um grande amor para estar ali. Na hora, não passou pela
minha cabeça que pudesse ser você... — Ele sorriu.
Sebastian encarou Luca sério por alguns instantes.
— Hum... Sobre isso... Eu também tenho uma coisa para te contar...
— falou coçando a cabeça. — Eu... transei com a Natasha no dia seguinte do
seu noivado... — confessou.
Luca arregalou os olhos.
— É sério isso? Não deixou nem a cama esfriar?
— Esfriar o quê, se nem esquentou? — O vampiro loiro sorriu
zombeteiramente. — Não é prudente deixar uma mulher frustrada
sexualmente, sabia? Principalmente no dia do noivado...
Luca só não socou o amigo pelo atrevimento porque estavam em
público.
— Você é mesmo um filho da puta pervertido! Além de morar e
transar com a mulher que eu amo, comeu a minha noiva debaixo do meu
nariz... Só falta querer me comer também.
— Se você quiser, na próxima vez, podemos ir até o fim no ménage e
você ficar no meio... — Sebastian gargalhou.
— Idiota! — resmungou Luca de cara amarrada.
— Você sabe que não tem o direito de ter ciúmes, Luca...
— Não é ciúmes! — retrucou. — Merda, Bass! — Apoiou a cabeça
no encosto da poltrona e suspirou. — Talvez seja um pouco de ciúme, sim,
por causa da Nina, mas não é só isso... — confessou ele desanimado. — Eu
tenho inveja de você ter estado com ela esse tempo todo, e não eu. Tenho
raiva dos caras com quem ela ficou nesses últimos meses, mesmo não
sabendo quem são, e tenho raiva de mim mesmo por ter empurrado ela para
tudo isso.
— E como você está agora? Depois de ter ficado com ela ontem?
— Perdido... Puto, ansioso, angustiado, com vontade de arrancar ela
de você e de tê-la em meus braços novamente. — Luca esfregou a nuca para
aliviar a tensão — Ontem eu tentei não pensar, não sentir ciúmes, tentei me
convencer de que o intruso ali era eu. Mas hoje eu... Tenho vontade de te
socar, sabia? — irritou-se. — Porra, cara! Mesmo você tendo ido embora, ver
você com ela foi...
— O quê? Chocante? Revoltante? — Sebastian riu. — Então espero
que pegue esse sentimento e faça algo de útil com ele. Quanto aos outros
caras que Nina já teve, é como eu disse, ela não é mais a garota ingênua que
você conheceu na Romênia.
Luca fechou ainda mais o semblante.
— Eu pedi para você cuidar dela, imbecil, não iniciá-la em seu
mundo pervertido. Com quantos caras ela já saiu? O que fizemos ontem,
vocês já tinham feito com outros?
Bass arqueou uma sobrancelha, ainda com um ar divertido estampado
no rosto.
— Não, embora eu já tivesse sugerido — confessou. — E não faço
ideia do número de caras com quem a Nina já transou, mas não foram muitos,
relaxe... Eu cuido dela, meu amigo, mas não pense que vou ficar controlando
com quem ou com quantos homens a garota sai. E, cara, deixa de ser egoísta!
Você já levou dezenas de mulheres para a sua cama, qual é o problema de ela
ganhar um pouco mais de vivência? Ela é livre, Luca. Você a deixou livre
quando suprimiu as memórias dela. E se eu e ela não estamos juntos como
um casal apaixonado, como você deve ter achado que iria acontecer, é porque
nossos corações não pedem isso. — Ele sorriu e deu um soco no ombro do
amigo. — O coração da Nina está fechado, Luca, e só você tem a chave. Use-
a com sabedoria desta vez.
Luca o encarou com o semblante sério e assentiu, permanecendo boa
parte da tarde em um silêncio reflexivo.
Enquanto isso, Bass tentava controlar pequenos tremores que de vez
em quando surgiam em suas mãos. Ele sabia que se deixasse transparecer isso
para o amigo ao seu lado, este logo compreenderia o motivo.
Ao final da última palestra, antes que Victor ou Natasha se
aproximassem de ambos, Bass se voltou para Luca.
— Você vai para o hotel agora?
— Sim, preciso fazer o check-in, inclusive..
— Nina provavelmente ainda está por lá e só deve sair às 19h hoje.
Escute... Você poderia levar ela para jantar?
Luca franziu as sobrancelhas.
— Você não vai voltar para casa hoje?
— Sim, eu vou, mas vou demorar um pouco. Tenho algumas coisas
para resolver...
— Vai sair com a Natasha?
— Não, não é isso... Eu e a Naty não estamos saindo, Luca. O que
aconteceu no castelo foi um fato isolado. — Suspirou. — Eu tenho que dar
uma passada no hospital, ver alguns pacientes, é só isso... — mentiu.
— Está bem, apenas avise a Nina, então...
— Vou ligar para ela, pode deixar — confirmou Bass. — Até mais...
— despediu-se e se encaminhou para o estacionamento.
Na verdade, Sebastian iria mesmo até o hospital, pois precisava pegar
sua maleta com o sedativo e os instrumentos para coleta de sangue. Mas
ainda estava cedo. Aproveitaria para dar uma olhada nos pacientes e, quando
fosse mais tarde, faria o que precisava fazer.
Infelizmente, seus planos de se livrar do vício não haviam surtido
resultado. Era uma merda, mas não conseguia ficar sem o maldito do sangue
fresco. Mas pelo menos não estava aumentando a quantidade ingerida. Uma
vez ao mês era o suficiente para completar sua cota. E, para sua sorte, não era
difícil conseguir uma acompanhante em Nova Iorque, ainda mais de sexta à
noite.
Contudo, não estava realmente muito a fim de fazer sexo casual. Seus
pensamentos se voltavam para Natasha, para o dia que transaram na
lavanderia do castelo. O que mais queria era estar com ela novamente, e ela
também parecia interessada... Sorriu ao ligar o carro. Mesmo acreditando que
deveria se manter afastado da prima, a possibilidade de possuí-la novamente
o deixava ansioso e excitado. Antes, porém, precisava resolver o seu
problema. Não poderia se encontrar com a prima naquele estado. Certamente
ela perceberia seus tremores...
Luca fez o check-in na recepção do Real Wolf e subiu para o quarto.
O hotel de Axel era luxuoso e, apesar de ter escolhido um quarto simples, a
decoração era magnífica. Mantendo o estilo clássico do início do século XX,
combinava as paredes claras, a cama com cabeceira alta, as poltronas
confortáveis, as cortinas em veludo e os móveis em madeira pintada, com o
conforto da modernidade — TV, ar condicionado central e frigobar.
Definitivamente, era um quarto aconchegante.
O vampiro sorriu satisfeito e colocou sua mala no closet. Seu celular
vibrou. Bass havia lhe enviado uma mensagem com o contato de Nina e,
como ainda faltava algum tempo até o expediente dela acabar, resolveu tomar
um banho e descansar um pouco.
Às 19h, com o coração palpitando, enviou uma mensagem para ela.
“Oi. Onde eu posso te encontrar?”
“Eu passo aí no seu quarto”, ela respondeu após alguns segundos.
Nervoso, o vampiro não conseguiu sossegar e, quando ouviu a batida
na porta, praticamente deu um pulo da poltrona. Ao abrir, seus olhos se
encontraram com os de Nina e uma sensação de frio misturado a cócegas
rodopiou em seu estômago. Para ele, não havia mulher mais bela do que ela.
Engolindo em seco, segurou sua vontade de puxá-la para si e abriu passagem
para que ela entrasse.
Com Nina não estava sendo muito diferente. Quase entrara em pânico
ao receber a mensagem de Bass dizendo que Luca a levaria para jantar.
Desde a noite anterior, ela não havia conseguido parar de pensar
naquele vampiro. As sensações que a invadiram ao fazer sexo com ele eram
muito diferentes de quando estava com Bass.
O toque dele a arrepiava, beijá-lo era como provar da mais saborosa
fruta e tê-lo dentro dela era a mais maravilhosa das sensações. Luca a olhava
com intensidade, a beijava com intensidade, a possuía com intensidade e,
agora, ela estava novamente ali, diante dele; diante daqueles olhos azuis que
pareciam desnudar a sua alma.
Nina entrou no quarto com a cabeça levemente inclinada para o chão.
Seus sentimentos confusos a deixavam envergonhada, e ela tinha a sensação
de que ele podia adivinhar o que se passava dentro dela.
— Gostou do quarto? Está tudo em ordem? — perguntou ela,
quebrando o clima estranho.
— Sim, está perfeito. — Seus olhares se cruzaram novamente e
ambos sorriram. — Você tem alguma sugestão de lugar para irmos? Não
conheço quase nada da cidade. Estive poucas vezes aqui — disse ele.
— Eu poderia sugerir o restaurante do próprio hotel, que é excelente.
O chef é super conceituado, mas sem fazer a reserva antes é impossível, a não
ser que a gente fale com o Axel. Se for um pedido do patrão, o maître arruma
uma mesa rapidinho. — Ela riu.
— Não... não quero incomodar o Axel com isso. Não quero parecer
abusado só porque somos da família.
— Hum... — Ela pensou um pouco. — Restaurante bom por aqui só
com reserva antecipada mesmo, mas tem alguns lugares mais simples,
algumas franquias, pizzarias e cafés que é só chegar e esperar. Ou se você
preferir, temos serviço de quarto também. O cardápio é o mesmo do
restaurante e a qualidade também, porque sai tudo da mesma cozinha.
— Devo dizer que você já está muito bem treinada para vender os
serviços do hotel — brincou Luca.
Nina corou.
— Não... é que... a comida daqui é boa mesmo — justificou-se com
um sorriso.
— Era para eu te levar para jantar fora, mas se você acha que ficar
aqui é a melhor opção e não se importar, podemos pedir o jantar no quarto
mesmo.
— Não, não me importo de forma alguma. — Ela pegou o cardápio
que estava sobre a cômoda. — Olhe só. Do que você gosta? Esse filé é muito
bom! — sugeriu, mostrando-lhe as opções de pratos.
Luca teve vontade de dizer que a única coisa que ele queria naquele
momento era ela, mas voltou a sua atenção para o cardápio e concordou com
o filé. Em seguida, pegou o interfone e fez o pedido para os dois, juntamente
com uma garrafa de champanhe.
— Vamos comemorar algo? — Nina brincou ao escutar o pedido.
— Sim... nosso reencontro. — Ele sorriu e indicou uma poltrona para
que ela se sentasse. — Quer beber algo antes? — perguntou ao se aproximar
do frigobar.
— Uma Coca, por favor.
Luca pegou o refrigerante para ela, uma cerveja para ele e se sentou
na outra poltrona.
Um silêncio meio constrangedor voltou a cair sobre eles.
Nina inspirou fundo. Havia uma coisa sobre a qual eles já haviam
conversado, mas que ela precisava insistir com ele. Ela tinha que saber mais
sobre sua perda de memória.
— Luca... Sei que já falamos sobre isso ontem, mas... acabamos nos
desviando do assunto e você não me respondeu.
O vampiro a olhou interrogativamente.
— Qual assunto?
— As minhas lembranças.
— Hum... — Ele franziu um pouco as sobrancelhas. — Nina... eu te
disse ontem...
— Para deixar o passado para trás, eu me lembro, mas não quero
isso! — Ela apertou uma mão na outra. — Por favor, se você tem alguma
coisa a ver com as minhas falhas de memória, eu quero que conserte. Eu
quero as minhas lembranças de volta!
Luca recostou-se na poltrona, olhando-a com preocupação.
— Nina... Eu entendo a sua angústia, mas suas memórias só irão lhe
trazer tristeza.
— Mesmo que me tragam tristeza, eu tenho o direito de saber, e você
não tem o direito de escondê-las de mim! — Ela cerrou os punhos sobre o
colo. — Não entende como é horrível ficar com esses buracos? Com essa
sensação de que perdeu algo importante de sua vida?
Um aperto tomou conta do peito de Luca.
— Entendo... — Ele inspirou fundo. — Você vai me odiar quando se
lembrar...
— Por quê? O que você fez de tão grave?
— Eu te magoei, muito... — confessou ele de olhos baixos.
Nina sentiu um frio rodopiar em seu estômago. Por um instante teve
receio de conhecer a verdade, mas ao mesmo tempo, indignou-se.
— Você apagou minhas memórias para se proteger contra o ódio que
eu possa ter por você? — Ela fechou o semblante.
— Não, claro que não! — Luca explicou-se rápido. — Eu as apaguei
para que você não sofresse mais, para que você pudesse recomeçar sua vida
sem lembranças dolorosas. Como você fez até agora! Sei que está feliz aqui
em Nova Iorque, Nina. — Ansioso, ele passou a mão nos cabelos. —
Escute... me dê algum tempo apenas e eu prometo que te esclarecerei tudo.
Por favor, acredite em mim, eu não fiz isso para me safar do que eu fiz com
você, eu apenas quis te proteger, poupar o seu coração de...
— Chega, Luca! — interrompeu ela, enérgica. — Eu até acredito nas
suas boas intenções, mas isso não foi certo! Eu quero elas de volta! As
minhas lembranças! Por mais dolorosas que elas sejam, eu preciso enfrentar e
superar isso para seguir em frente. Se algo aconteceu, eu quero saber. Eu
preciso saber. Não quero ter esse fantasma rondando a minha cabeça até que
você decida o momento certo de me esclarecer tudo.
O vampiro fitou a lata de cerveja em sua mão, pensativo. Tomou um
gole e assentiu.
— Muito bem, então. Mas vamos jantar primeiro, está bem?
Nina concordou e outro frio passou por seu estômago. Queria suas
memórias de volta; contudo, tinha um certo medo do que poderia haver nelas.
Luca disse que ela iria sofrer, que a tinha magoado e que ela o odiaria, mas
magoado como? Por que ela iria sofrer? O que havia de tão terrível em suas
lembranças?
Ela se lembrava perfeitamente de que havia perdido a mãe enquanto
esteve no castelo, lembrava-se do seu sequestro e do ataque do vampiro na
prisão, lembrava-se de ter se defendido; então, não era nada daquilo.
Observou o vampiro à sua frente por alguns instantes. Ele continuava
olhando para a lata em suas mãos, estava quieto, com uma expressão
preocupada, dolorida...
Nina não fazia ideia de que tipo de mal Luca poderia lhe ter feito,
mas não acreditava que conseguiria odiá-lo. Ela não entendia o motivo, mas
ele exercia uma atração sobre ela como se fosse um ímã. Mesmo naquele
momento, seu coração palpitava só por estar perto dele.
— Luca... — disse, chamando-lhe a atenção e desejando animar um
pouco o clima tenso que havia ficado. — O quadro... você o emoldurou?
— Sim... — Ele sorriu de lado. — Coloquei-o no meu quarto.
— No seu quarto? — Ela arqueou as sobrancelhas. — Por quê?
— Porque acho que nunca mais pintarei algo tão belo na vida.
Nina arqueou a sobrancelha e sorriu.
— Não diga isso. Com o talento que tem, aposto que ainda pintará
coisas muito belas.
Luca sorriu também e os dois iniciaram uma conversa sobre o que
aconteceu após a saída dela do castelo.
— Madeleine só não foi expulsa do vale porque é filha de um aldeão
por quem meu pai tem muita consideração — contou o vampiro. — Mas ela
foi afastada de suas funções no castelo e agora está trabalhando duro nos
campos de uma das fazendas.
Nina franziu a testa. Não entendia a maldade das pessoas. Nunca
fizera mal àquela moça, e ainda assim ela a dedurara para o conselheiro.
Tudo por causa de ciúmes. No fim, quem acabou se dando mal foi ela. Ficou
sem Bass, sem credibilidade e sem o emprego no castelo, que era muito mais
leve do que trabalhar na fazenda.
— Ah, Irina está namorando — continuou Luca.
— Sério? Que legal! — exclamou, saudosa da garota que tanto lhe
ajudou. — E a sua mãe? Como está o ateliê?
— Está indo bem. Ela conseguiu um cliente grande na capital e anda
meio estressada com o dobro de trabalho.
— Queria estar lá para ajudá-la... — comentou. Apesar de tudo, ela
sentia falta das amizades que fez no castelo.
Luca deu um meio sorriso e Nina, por alguns segundos, se perdeu em
seus pensamentos.
Nem parecia que já fazia quase um ano que escalara aquela muralha
com fome, com sede, com frio e achando que havia matado o padrasto; quase
um ano que fora recebida por Luca; quase um ano que soubera que eles não
eram humanos. Quase um ano que, por pouco, ela não morrera... e que ela
sentia que havia deixado algo para trás.
Uma batida na porta indicou que o jantar havia chegado.
— Nossa, vocês são rápidos. — Luca se levantou.
— Somos eficientes — disse Nina com orgulho de trabalhar no Real
Wolf enquanto observava o belo rapaz atender a porta.
Seu coração teimava em dar pulos na presença dele, e ela estava
começando a imaginar que aquilo tinha algo a ver com suas memórias
perdidas. Mordeu o lábio, ansiosa. Fosse o que fosse, ela em breve saberia.
Logo após o jantar...
A pesar da conversa continuar aparentemente normal entre Nina e
Luca, a tensão no ar aumentava conforme o jantar se aproximava do
fim.
Ambos estavam apreensivos e os sorrisos começaram a ficar
forçados.
Luca enrolava para terminar seu filé e Nina já havia bebido pelo
menos três vezes mais champanhe do que estava acostumada. Apesar de ser
uma vampira e aguentar mais o efeito do álcool, ela já sentia seu rosto
esquentar por conta da bebida.
Quando finalmente se deram por satisfeitos, o silêncio se fez entre
eles, seus olhos se encontraram e Luca inspirou fundo. O coração do vampiro
batia rápido, com medo de qual seria a reação de Nina diante da verdade
sobre suas lembranças.
— Vamos nos sentar nas poltronas, será mais confortável — sugeriu
ele ao se levantar.
Nina o acompanhou e Luca puxou sua poltrona para perto da dela,
deixando-as quase de frente uma para a outra. Ambos se sentaram,
apreensivos.
— Tem duas coisas que você precisa saber antes que eu te devolva
suas memórias, Nina — começou ele. — Primeiro, eu não concluí o ritual de
sangue, eu não transei com Natasha no dia do noivado. Segundo, eu me
arrependo muito de ter te causado tanto mal e, se eu pudesse, teria feito tudo
diferente.
Ela o olhou confusa. Não entendia o que o noivado dele tinha a ver
com ela ou o porquê de mencionar que não havia transado com a noiva. Uma
angústia se formou em seu peito. Luca parecia estar mesmo arrependido de
algo e parecia sofrer... Que diabos havia acontecido?
— E sobre ontem... Eu quero que saiba que eu não tive a intenção de
me aproveitar de você... Eu...
— O que aconteceu ontem foi delicioso e aconteceu porque eu quis,
ninguém se aproveitou de mim.
— Você quis porque não se lembra da verdade sobre nós. — Uma
ruga surgiu em sua testa.
Nina engoliu em seco.
— Luca... seja lá o que for que tenha acontecido um ano atrás, eu não
senti que o que fizemos ontem foi errado. Eu posso não me lembrar dos fatos,
mas eu percebi que nós dois... Eu senti que foi intenso e... — Ela mordeu o
lábio. — Eu te queria... muito!
Os olhos de Luca marejaram e a angústia de Nina aumentou ainda
mais.
— Eu... só espero que me perdoe... — murmurou ele com a voz
carregada.
Tomada por um impulso, Nina saiu de sua poltrona e o enlaçou pelo
pescoço, sentando-se em seu colo. Com os olhos igualmente úmidos, ela o
beijou ardentemente. Surpreso, Luca entreabriu os lábios e retribuiu o beijo.
Suas línguas se encontraram e dançaram em suas bocas, procurando-
se avidamente. Um beijo emendou no outro, misturando-se às lágrimas que
caiam de ambos.
Luca a puxou mais pela cintura e ela inclinou a cabeça para trás. Os
lábios dele escorregaram pelo pescoço de Nina fazendo uma trilha de beijos
quentes e ela o segurou pelos cabelos.
— Eu quero você... — sussurrou ela.
— Eu também te quero, minha pequena. — Mordiscou-lhe o
pescoço. — Mas antes... — Ele tocou no rosto dela, fazendo-a encará-lo. —
Você precisa se lembrar de tudo. Só assim, você vai ter certeza do que
realmente quer...
Ela assentiu e Luca lhe deu mais um beijo suave antes de seus olhos
se tornarem violáceos e ele invadir a mente dela mais uma vez.
Devolver as lembranças era mais rápido do que suprimi-las, pois não
precisava analisá-las. Era como abrir portas fechadas e, cuidadosamente,
Luca abriu todas elas.
Ao final, o rosto de Nina estava banhado em lágrimas e ela o olhava
com um misto de dor, amor e indignação.
Receoso do que iria acontecer, ele sustentou o olhar dela, mas não
disse nada. Não sabia o que dizer à garota naquele momento. Para o seu
espanto, ela mergulhou o rosto na curva de seu pescoço e começou a chorar
alto.
Tomado de angústia, Luca a abraçou e deixou que suas próprias
lágrimas rolassem.
— Eu te amo, Nina...
— Você me mandou mesmo embora... — choramingou ela entre
soluços.
— Sim, eu mandei... Sua vida correria perigo se ficasse no castelo,
pequena.
— Eu sei... Bass me disse, mas... — Ela o fitou ainda com os olhos
cheios de lágrimas. — Você desistiu de mim.
— Não, não desisti. Eu amo você, linda, e te quero ao meu lado, mas
eu não podia arriscar sua vida te mantendo perto de mim e não queria te
prometer algo que ainda não podia cumprir. Eu e Natasha tínhamos um
plano, contudo, eu não sabia se iria dar certo e, por isso, eu te mandei
embora. Eu não tinha o direito de te prender comigo. Não queria te iludir
novamente, te dar esperanças...
Ela enxugou um pouco as lágrimas.
— Pelo visto não deu certo, não é? Já que você e ela continuam
noivos.
— Ainda não, mas vamos resolver isso, prometo!
— E que plano é esse?
— Convencer o pai dela a aceitar a anulação do noivado, já que o
ritual não foi completado.
— Por que precisa convencê-lo? Por que não dizem que não querem
mais continuar com isso e pronto?
— Porque ele ameaçou minha família caso eu rompesse o noivado.
Nina abriu a boca, espantada.
— Que homem horrível...
— Sim. Horrível e perigoso, infelizmente.
Ela enrugou a testa, pensativa.
— Luca... Não transou mesmo com Natasha naquela noite?
— Não, eu juro...
— Eu... eu também não fiz nada com Bass, eu só dormi no quarto
dele porque... porque eu estava muito triste e não queria ficar sozinha.
— Eu sei. — Ele sorriu e lhe fez um carinho no rosto. — Eu sei,
minha linda. Bass me disse isso depois...
— Mas, no fim, você me jogou nos braços dele, do seu melhor
amigo. — Ela franziu as sobrancelhas.
— E não há um dia que eu não queira me socar por isso... acredite.
Eu sinto tanto, Nina, mas fiz o que eu achava que seria o melhor para você...
Como eu disse, eu não tinha garantias de que iria conseguir anular meu
noivado, e eu queria que você recomeçasse sua vida sem o peso dos seus
sentimentos. Queria que você fosse feliz e achei que Bass poderia te
proporcionar isso.
— Por isso apagou minhas memórias?
— Sim...
— Luca... Eu não entendo... Você está dizendo que quer anular o
noivado, então, por que ficou noivo, afinal? E como ficam os transformados e
a vila? Não era esse o motivo do arranjo? Como vai fazer sem um herdeiro
puro?
— Eu já pensei bastante sobre isso e vi que não há motivo para eu me
preocupar tanto com esse assunto agora. Pretendo cuidar do castelo e do vale
enquanto eu viver, como é o meu dever, mas não preciso de um herdeiro
puro. Escolherei meu sucessor quando for oportuno. Victor tem um filho e
poderá ter outros ainda. E, mesmo que nenhum Constantin queira assumir a
tarefa, posso seguir a sugestão de Bass e terceirizar o apadrinhamento dos
transformados.
Nina suspirou e saiu do colo de Luca, permanecendo em pé.
— É uma pena que essa ideia tenha surgido tão tarde... — comentou,
frustrada.
— Sim, tem razão. Eu me sinto um imbecil por não ter tido essa visão
anteriormente. Eu poderia ter cancelado o noivado dias antes de acontecer,
mesmo sabendo que envergonharia minha família e que arranjaria uma bela
encrenca com o Moldovan. Mas eu realmente acreditava que cabia a mim a
responsabilidade pelo vale e o futuro dos transformados, e não consegui
enxergar uma solução a tempo. Fui teimoso, idiota e cego, confesso. Eu me
arrependo, Nina. Me arrependo de cada decisão que tomei.
Ela assentiu e desviou, momentaneamente, os olhos para o chão. Sua
garganta parecia querer se fechar e seus olhos voltaram a ficar úmidos, mas
se recusou a deixar as lágrimas caírem. Agora ela se lembrava de tudo e não
era mais aquela garota ingênua de antes.
— Sabe, Luca... Eu sempre entendi os seus motivos para não desistir
do noivado. Eu também acreditava que não era justo eu te pedir para desistir
de tudo por minha causa, achava que o meu lugar não era ali com vocês... —
Ela inspirou fundo para não chorar. — Eu não te culpo, de verdade! Sei que
fez o que achava que seria certo e também acredito que esteja arrependido,
mas talvez agora seja tarde — disse séria. — Se o pai da Natasha é tão
perigoso assim, você não pode pôr em risco sua família ou sua vida. Eu
nunca me perdoaria se algo acontecesse com você por minha causa...
Entendeu, Luca? Por favor, não se arrisque!
Luca juntou as sobrancelhas em uma expressão dolorida.
— Nina...
— Sinto muito, Luca. Mas se o Moldovan não aceitar a anulação, não
quero que me procure mais. Não podemos forçar a situação e eu não quero
permanecer te esperando. — Com um suspiro, Nina engoliu o bolo que se
formava em sua garganta. — Eu te amo, Luca. Te amo desesperadamente,
mas até que isso tudo se resolva de forma definitiva, não vou guardar
esperanças e não vou me prender a você... Vou continuar a viver minha vida
e aproveitar minha liberdade. E se um dia você conseguir voltar para mim
como um vampiro livre e se o meu amor por você ainda estiver vivo, aí,
talvez, poderemos tentar novamente.
O vampiro inspirou fundo, seu coração doía. Cada palavra lhe feriu
como fogo, mas ele entendia, reconhecia que Nina tinha razão, por isso
assentiu.
— Eu compreendo...
Nina cerrou os punhos, triste, mas estava determinada a se proteger
daqueles sentimentos que tanto a machucaram no passado.
— É melhor eu ir agora... — disse ela.
— Espere, eu tenho uma coisa para te devolver. — Luca se levantou
Com o semblante abatido, ele foi até sua mala e pegou um saquinho
de veludo lá de dentro. Aproximou-se, então, de Nina e o abriu deixando o
conteúdo cair na palma da mão. Era a pulseirinha de ouro branco que ele
havia lhe dado no Natal.
— Isso aqui acabou ficando no castelo... — Ele juntou as
sobrancelhas de forma dolorosa.
Nina olhou para o objeto e o tocou com a ponta dos dedos. Seus
olhos voltaram a marejar.
— Guarde-a com você, Luca... E quando você conseguir voltar para
mim, eu também aceitarei ela de volta.
Desta vez, foram os olhos de Luca que se encheram de lágrimas, mas
ele nada disse, apenas meneou a cabeça.
Nina se virou a fim de ir embora, mas hesitou ao chegar na porta e se
voltou novamente para ele.
— Eu não te odeio, Luca... Nunca vou te odiar... E também não me
arrependo do que fizemos ontem; não precisa se preocupar com isso. Mesmo
sem as minhas memórias, eu percebi que sentia algo por você, algo bom e
verdadeiro. Meu coração me disse... — Ela sorriu e abriu a porta, saindo por
ela.
Luca se deixou cair na poltrona. Com a pequena pulseira nas mãos,
permitiu que as lágrimas rolassem livremente pelo seu rosto. Precisava
consertar aquilo logo, precisava daquela garota. Nunca seria feliz longe dela.
Precisava falar com Natasha...
Nina saiu do hotel de cabeça baixa, meio anestesiada com tudo que
acontecera, com o que havia se lembrado, com tudo que ouvira e com tudo
que falara. Era difícil de acreditar que, durante todos aqueles meses, o
turbilhão de sentimentos que afloravam em seu coração havia permanecido
adormecido.
Todas aquelas memórias recuperadas lhe pesavam no peito e lhe
deixavam com um gosto amargo na boca. Mas, apesar disso, estava satisfeita
por tê-las de volta, e não estava com raiva de Luca por mantê-las escondidas
durante aquele tempo. Compreendeu as intenções dele e, mesmo não achando
certo, reconhecia que realmente teria sido muito mais difícil para ela seguir
em frente, meses atrás, se tivesse que lidar com o peso da mágoa e de todos
aqueles sentimentos.
Ainda que seu coração estivesse apertado, ela sabia que agora estava
mais forte e que sua determinação era bem maior do que antes. Sabia que
conseguiria superar a dor e seguir com sua vida, mesmo que fosse sem Luca.
Ela havia dito a ele que não guardaria esperanças, mas, no fundo,
torcia para que o plano dele desse certo desde que não precisasse arriscar a
própria vida. Um frio percorreu sua espinha enquanto chamava um táxi, seu
coração palpitava só de pensar que o conselheiro podia mandar matá-lo.
Chegou em casa e foi direto tomar uma ducha. Deixou-se relaxar na
água quente, deixou que as lembranças boas dos momentos que vivera com
Luca tomassem conta de seus pensamentos e, com um sorriso, deixou que as
lágrimas saudosas finalmente brotassem de seus olhos e se misturassem à
agua que lhe banhava o rosto e o corpo cansado.
Passava das 23h quando recebeu uma mensagem de Bass dizendo que
voltaria mais tarde naquela noite. Desligou a TV que estava assistindo e foi
se deitar. Estava exausta e, depois de tantas emoções, precisava muito deitar a
cabeça no travesseiro e dormir.
S ebastian deixou o hospital assim que enviou a mensagem à Nina. De
posse de sua maleta com sedativos, seringas e outros materiais
necessários à sua coleta de sangue, entrou no carro e se dirigiu a um
bairro não muito longe, onde havia uma grande concentração de boates.
Estava cansado, mas agitado. Uma noite de plantão somada a dois
dias de congresso e um longo período sem se alimentar de sangue o deixavam
com o raciocínio e os reflexos lentos.
A boca também estava seca e os tremores nas mãos, mais frequentes.
Entrou em uma boate e não demorou muito para engatar uma conversa com
uma mulher que, aparentemente, também estava à caça de um parceiro para a
noite. Só que, desta vez, ele não estava a fim de uma boa foda, apenas queria
matar sua sede.
Um papo certeiro, algumas doses de tequila e uma promessa de uma
noite quente foram suficientes para conduzir a moça meio embriagada até o
seu carro.
Confiante, Bass dirigiu até os limites da cidade, saindo da ilha de
Manhattan e parou em um pequeno hotel. Ele já havia feito aquilo dezenas de
vezes sem que houvesse problemas. Contudo, naquela noite, apertado para ir
ao banheiro, ele deixou a garota sozinha no quarto por alguns minutos.
Para o azar do vampiro, ela notou a maleta que ele carregava e,
desconfiada, resolveu fuçar no que havia lá dentro. Ao se deparar com as
seringas, luvas e vidrinhos com líquidos transparentes, apavorou-se. Não
conhecia o cara com que tinha saído. Por que ele estaria levando aquelas
coisas com ele? Loucos e psicopatas podiam estar em qualquer lugar, ser
qualquer pessoa, e ela temeu estar sendo vítima de um.
Com o coração disparado e a cabeça ainda girando por conta da
quantidade de bebida que havia ingerido antes, ela pegou sua bolsa e
começou a vestir desajeitadamente as sandálias que havia tirado. Como não
estava conseguindo, resolveu sair descalça mesmo. Correu desesperada para a
porta no momento em que Bass saía do banheiro.
Rapidamente o vampiro notou sua maleta aberta e entendeu o que ela
pretendia. Não foi difícil para ele alcançá-la. Segurando-a pelo pulso antes
que ela passasse pela porta, Bass a puxou para dentro do quarto novamente.
Tapou a boca da garota com a mão para que ela não gritasse e
também se apavorou com a situação. O que faria com ela? Dado o estado
terrificado que a mulher estava, tentar arrumar alguma explicação parecia não
ser possível. Não tinha jeito, precisava sedá-la primeiro, depois pensaria no
que fazer.
Contudo, ela não parava de se debater e ele usava as duas mãos a fim
de segurá-la e impedir que gritasse. Não havia como preparar a maldita da
seringa com o sedativo sem soltá-la.
Praguejando mentalmente e sem outra alternativa, Bass cravou os
dentes no pescoço dela e passou a lhe sugar o sangue até ela desfalecer em
seus braços.
Com cuidado, colocou-a na cama e limpou as pequenas feridas da
mordida em seu pescoço. Usou uma fita microporosa para tapar os dois
furinhos e se sentou, atordoado, em uma poltrona próxima. Observou-a por
alguns instantes. Que merda ele tinha feito? A mulher estava bem, mas
certamente se lembraria do que havia acontecido naquela noite.
Bufou. Precisava tirá-la daquele lugar e torcer para que ela não se
lembrasse de qual hotel era aquele. Apesar de ter pago o quarto em dinheiro,
ele havia mostrado sua identificação ao recepcionista, portanto, não podia
simplesmente deixá-la ou, com certeza, viriam atrás dele caso ela o
denunciasse.
Pegou o sedativo na mala e injetou na garota uma pequena dose
apenas para que ela não acordasse durante o trajeto. Aproveitou o silêncio e a
quietude da madrugada para colocá-la no carro e partiu, ainda sem saber
direito para onde levá-la.
Passando por um bairro residencial, pensou em deixá-la na varanda
da casa de alguém, mas estava frio, não podia fazer aquilo com a moça.
Subitamente, teve uma ideia. Estacionou o carro e buscou na bolsa da mulher
a identificação dela. Lá havia o endereço de onde ela morava.
Colocou o nome da rua no aplicativo do celular e seguiu para o local.
Ao chegar, estacionou o carro na frente e observou o entorno. Viu que estava
tudo silencioso, não havia ninguém na rua e a casa também estava com as
luzes apagadas.
Olhou novamente dentro da bolsa dela e achou a chave da casa.
Apreensivo, desceu do carro e pegou a garota, colocando-a sobre o ombro.
Passou pelo jardim sem cerca e foi até a porta principal. Destrancou-a
cuidadosamente e, sem fazer barulho, entrou.
Seu coração batia acelerado, mas, para sua sorte, ninguém apareceu.
Colocou a moça no sofá, deixou a bolsa dela na mesinha ao lado e saiu
rapidamente de lá, mais aliviado.
Sebastian voltou para casa com a consciência pesada. Sentia-se um
crápula, um maldito vampiro desgraçado que não conseguia controlar sua
sede. Arrependeu-se de ter desistido de tentar superar o vício. Era mesmo um
fraco!
Largou-se no sofá da sala, mas não conseguiu pegar no sono.
Cometera um grande erro naquela noite. Havia se exposto, se arriscado
demais... Se a garota prestasse queixa...
— Merda! — praguejou baixo.
Sua sede havia cessado, mas sua cabeça fervilhava de preocupação.
Luca também não teve uma boa noite de sono. Estava agitado,
impaciente. Queria falar com Natasha, queria resolver logo as coisas com o
pai dela.
Como ela também estava hospedada no hotel de Axel, foi procurá-la
logo pela manhã.
— O que faz aqui tão cedo? — perguntou a vampira com cara de
sono, dando passagem para ele entrar no quarto. — Luca, estamos em Nova
Iorque e hoje é sábado, não tem congresso! É sério que passou a noite no
hotel?
— Sim, passei. Não estava a fim de sair.
Natasha fez uma cara de tédio.
— Pois eu saí e faz menos de três horas que cheguei. Então, diga logo
o que você quer, porque eu preciso dormir... Estou um bagaço...
— Quero saber se você já conversou com o seu pai sobre nós...
Ela inspirou fundo e se sentou na cama.
— Já, eu tentei, juro... Na primeira vez, ele deu risada da minha cara.
Disse que eu estava delirando e me deixou falando sozinha. Abordei-o de
novo algumas semanas atrás, mas ele ficou muito bravo, mal quis me ouvir e
ameaçou cortar as verbas da fundação que administro se eu insistisse naquilo.
E essa fundação é muito importante para mim, Luca. Quero dizer, não para
mim, mas para quem ajudamos. Através dela, damos assistência aos
refugiados da guerra na Síria e do norte da África. Não podia arriscar isso
assim...
— Vou falar com ele! — decidiu Luca com o cenho franzido. — Vou
revelar que não cumprimos o ritual e que estamos de acordo em romper com
o noivado.
— Não faça isso! Você só se colocará em risco e não vai adiantar...
Eu já contei para o meu pai que não completamos o ritual e que, por isso, não
teríamos problemas em anular o noivado, mas ele ficou possesso. Falou que
prefere a minha morte do que passar uma vergonha dessas perante as demais
famílias de Vampyrs e o maldito Conselho, mas que antes mataria você. —
Ela inspirou fundo. — Por favor, Luca... Precisamos ter paciência... Por que a
pressa? Temos muitos anos para resolver isso ainda. Não vamos nos casar
agora mesmo...
— Não posso esperar tanto tempo! Não consigo... — Ele passou a
mão nos cabelos e caminhou até a janela. — Eu tenho alguém me esperando,
Natasha, e eu não consigo ficar longe dela.
— Outra? Mas já?— Ela ergueu uma sobrancelha. — Não faz um
ano que estava perdidamente apaixonado por uma humana...
— Não é outra, é a mesma — confessou ele.
— Como assim? — A vampira juntou as sobrancelhas. — Ela não
morreu em Vârful Cârja?
— Não. Nós conseguimos tirar ela de lá, mas decidimos manter isso
em segredo.
— Não creio... — Natasha abriu a boca, pasma, e se jogou para trás,
deitando-se na cama, pensativa. — Por isso que foi só você que voltou para o
castelo naquela noite? Bem que achei estranho Axel fazer aquela viagem de
emergência e aparecer somente dois dias depois. Também não vi mais o
Bass. Achei que o meu primo tinha retornado para Sibiu.
— Nós precisávamos escondê-la. Eu fiquei para não chamar a
atenção, Axel e Bass levaram ela para um lugar seguro.
Natasha suspirou.
— Entendo por que quer resolver logo esse assunto. A garota é só
uma humana... — Sentou-se de novo e balançou a cabeça negativamente. —
Não sei por que insiste nisso, vampiros e humanos nunca deram certo, você
sabe disso.
— Ela não é mais humana... Tive que transformá-la na prisão. Ela
havia sido atacada e estava à beira da morte.
A vampira abriu a boca surpresa.
— Uau! Você estaria bem encrencado se alguém do Conselho
descobrisse isso.
— E você não pretende contar, não é? — Luca arqueou uma
sobrancelha.
Ela riu.
— É óbvio que não. Então, você ainda se encontra com ela?
O vampiro suspirou.
— Durante esse tempo todo eu evitei procurá-la. Eu queria que ela
pudesse viver a vida dela enquanto eu não resolvia a minha, mas ontem...
Ontem nós conversamos e... eu preciso dela, Natasha.
— A garota está aqui? Em Nova Iorque? — Ela espantou-se e, então,
compreendeu. — Bass... Ele veio com ela?
Luca assentiu.
— Você entende por que eu quero resolver isso logo? Não aguento
mais ficar longe dela e não aguento mais, todas as noites, imaginá-la com o
meu melhor amigo... Isso tem me torturado há meses...
Natasha engoliu em seco. Seu coração parecia ter falhado várias
batidas só de pensar que Bass estava com aquela garota que, agora, não era
mais uma humana. Um sentimento de perda e temor tomou conta dela. Nunca
se importara muito com as mulheres com quem o primo saía, pois sabia que
era só por diversão, mas Nina... Ele mesmo lhe dissera que ela não era uma
garota qualquer... E se ele resolvesse tomá-la para si, fazer o pacto com ela?
— Vou resolver isso, Luca... Vou conversar com o meu pai mais uma
vez. Ele estará aqui em Nova Iorque a negócios na segunda-feira. Se ele não
aceitar que a anulação do noivado seja feita discretamente, como já sugeri,
vou ameaçar fazer uma declaração pública. Aí quero ver o escândalo. — Ela
se levantou e começou a andar agitada pelo quarto. — E vou dizer para todo
mundo que ele não tem o direito de se voltar contra você ou sua família, pois
sou eu que estou pedindo a anulação.
— Natasha... Tenha cautela... — comentou Luca, preocupado. — Eu
vou junto com você!
Ela balançou a cabeça em negativa.
— De jeito nenhum!
— Natasha!
— Não, Luca, por favor, me dê mais uma chance de falar com ele
sozinha. Meu pai só ficaria mais nervoso com a sua presença. E, apesar das
ameaças, não creio que o meu pai tenha coragem de me fazer mal. Mas se
você aparecer, ele vai botar a culpa em você e, Luca, eu conheço o meu pai,
ele joga sujo.
— Mas com a anulação do noivado partindo de nós dois, eu não creio
que ele vá fazer algo contra a minha família.
— Contra os seus pais, não, mas contra você... Ele vai mandar te
matar, Luca.
— Eu não tenho medo do seu pai e já estou cansado de ameaças!
— Então pense na sua garota. De que adiantaria essa sua coragem se
você acabar morto?
Luca fechou o semblante.
— Merda! — exclamou. — Estou me sentindo um inútil.
— Não é culpa sua do meu pai ser tão rígido, autoritário, antiquado e
sujo, não precisa se sentir mal com isso.
— Pelo menos me deixe ajudar sua fundação, já que provavelmente
seu pai irá cortar a verba.
— Toda a ajuda é bem-vinda. — Ela sorriu. — De qualquer forma,
tenho feito contatos nos últimos meses e recebi alguns retornos positivos,
estou confiante de que podemos conseguir outro mantenedor. Será até um
alívio não depender apenas do dinheiro do meu pai.
O vampiro assentiu, ainda preocupado.
— Confie em mim, Luca — continuou ela com um sorriso.
— Está bem. — Ele suspirou. — Você é quem sabe... Vou te deixar
dormir agora. Lá pelas 18h passo aqui para te buscar. Não se esqueça de que
temos um jantar na casa do meu tio hoje.
— Não vou me esquecer. Ela vai estar lá? A Nina?
— Sim, vai — confirmou ele da porta.
— Até mais tarde, então.
Luca saiu do quarto de Natasha esperançoso, embora um pouco
apreensivo. Queria poder ajudar, fazer alguma coisa, mas sentia-se de mãos
atadas e aquilo o irritava.
Ligou para a irmã e combinou de ir até a casa dela. Queria ver os
sobrinhos, talvez passear com eles. Precisava ocupar a cabeça um pouco.
Entretanto, não daria vazão àquele sentimento. Não era mais a mesma
garota de antes. Sabia onde estava se metendo, conseguia analisar com mais
praticidade os seus sentimentos e as possibilidades que se apresentavam à sua
frente.
Não queria nenhuma promessa de compromisso com Luca, não
esperaria nada dele. Não enquanto ele não resolvesse a vida dele com
Natasha. Por hora, apenas desejava tê-lo em sua cama.
Sexo... Aprendera com Bass a separar sexo de amizade. Agora teria
que aprender a separar sexo de amor.
Olhou para o seu deus grego e não teve tanta certeza se conseguiria,
mas, agora que Luca estava ali, aproveitaria cada minuto de seu tempo com
ele.
— Que tal um banho primeiro? — sugeriu ela após pendurar o casaco
e a bolsa próximos à porta.
— Pode ir... eu espero aqui — respondeu Luca, procurando um lugar
para se acomodar, ainda inseguro quanto ao que estava fazendo.
— Vamos juntos. — Ela sorriu e ele arqueou levemente as
sobrancelhas.
— Nina... tem certeza de que quer fazer isso? Sei que está magoada
comigo.
— Eu estou triste, sim, Luca, mas também estou com saudades... E eu
já pensei bastante a respeito. — Ela se aproximou, ficando de frente para ele,
e o tocou no peito. — Eu te falei ontem no hotel que não vou me prender a
você e também não vou guardar esperanças... E não vou mesmo! Não se
engane. Apesar de ainda te amar, e eu não vou negar isso, o que eu quero
aqui hoje, Luca, é sexo, é fazer amor sem pensar no amanhã. Entende isso?
Ele assentiu em um misto de desejo, ansiedade e dúvida. Com um
sorriso, Nina pegou em sua mão e o levou em direção ao quarto.
Luca não sabia o que pensar ou esperar daquele encontro. Seu único
medo era de machucá-la novamente, pois ainda não estava muito certo das
palavras dela. Conseguiriam encarar aquela noite apenas como uma noite de
sexo? Ele certamente não. Nunca conseguiria fazer apena “sexo” com Nina,
mas quanto a ela... Talvez a experiência dela com Bass e com os outros caras
a tivessem preparado para aquilo.
Passaram pelo quarto em direção ao banheiro e algo se revirou no
estômago do vampiro. Ciúme... Só de imaginar o que o amigo fazia com ela
naquela cama, seu sangue fervia. Bass sobre ela... dentro dela... Luca inspirou
fundo e expulsou aquelas imagens que teimavam em se formar em sua mente.
O que estava feito, estava feito, não adiantava se remoer por causa daquilo
agora.
Após abrir a torneira para encher a banheira, Nina se virou para ele
com os olhos brilhando e um sorriso nos lábios.
Luca não aguentou mais manter qualquer distância entre eles e a
puxou para um abraço e um beijo profundo.
Avidamente procurou a língua dela, explorando sua boca de forma
sensual e ardente. Puxou-a pelas nádegas, colando ainda mais seu corpo no
dela enquanto ela o enlaçava pela nuca e enroscava os dedos em seus cabelos.
Luca desceu com seus lábios até o pescoço de Nina e ela sorriu de
deleite, inclinando a cabeça levemente para trás.
Para ela, sentir aquela boca quente e macia em sua pele novamente
era muito mais do que apenas excitante, era uma realização, um acalento ao
seu coração. A saudade louca que havia se instalado em seu peito desde que
soubera a verdade, desde que suas memórias retornaram, era absurda, e ela
simplesmente não conseguia se manter afastada de Luca. Não enquanto ele
estivesse ali em Nova Iorque. Depois que ele fosse embora, veria o que
restaria de seu coração, mas, naquele momento, só pensava em aproveitar
cada segundo com ele.
O vampiro se afastou um pouco e eles se entreolharam. Paixão, calor,
desejo... Mesmo sem trocar qualquer palavra, eles decidiram que seriam
apenas aqueles sentimentos que conduziriam suas mentes e seus corpos
naquela noite. Nada de tristeza, nada de cobrança, nada de ciúme, somente a
vontade de estarem juntos e unidos em um só corpo.
Sorrindo, arrancaram os sapatos e Nina desabotoou a calça de Luca
enquanto ele retirava a própria camisa. Com um olhar faminto, ela desceu a
peça e apalpou o membro já rijo do vampiro.
— Adoro isso aqui. — Ela riu.
— É todo seu — falou Luca, deslizando a cueca para baixo a fim de
liberar sua ereção.
Nina deu um pequeno grito de alegria e excitação. Sem perder tempo
abaixou-se na altura do pau de Luca e o tomou na boca, sentindo o gostinho
salgado do líquido pré-ejaculatório. O vampiro sorriu.
— Ei, moça. Não íamos tomar um banho antes?
Ela olhou para cima, ainda com o pau de Luca na boca e sorriu.
— Eu não aguento ver o seu pau e não lamber ele todinho. É mais
forte do que eu — respondeu, voltando a chupá-lo.
Luca gemeu com o movimento da língua quente dela em seu
membro. Saudade era pouco, ele ansiava por ela com todas as suas fibras.
Tomado de desejo, começou a se movimentar dentro da boca de Nina,
fodendo-a gostoso.
Nina o segurava pelas nádegas e o engolia até onde conseguia. Agora
ela já sabia como fazer aquilo, sabia como dar prazer a ele. Apertou-o com os
lábios e deixou que ele imprimisse o ritmo.
Com um gemido alto, Luca atingiu o clímax e, segurando a cabeça de
Nina contra si, liberou seu sêmen no fundo da garganta dela, quase fazendo-a
se engasgar.
— Caralho, pequena, você me enlouquece assim.
Nina se ergueu e com um sorriso voltou a beijá-lo. Luca não se
importou de sentir seu próprio gosto nela e, enquanto suas bocas estavam
ocupadas, ele aproveitou para retirar a blusa e a calça que Nina vestia,
deixando-a apenas de lingerie.
Com os olhos brilhando, ele retirou lentamente a peça de cima e lhe
acariciou os mamilos entumecidos com os polegares. Desejou colocá-los na
boca, mas antes lhe retirou a calcinha e se afastou alguns passos, passando a
contemplá-la.
— O que está fazendo? — Nina riu.
— Estou matando a saudade de te ver assim.
— Mas você me viu antes de ontem.
Ele balançou negativamente a cabeça.
— Não desse jeito, não com calma, não com você só para mim. —
Ele sorriu. — Você é tão linda! Eu tive tanta saudade...
Nina voltou a se aproximar dele.
— Eu não tive essa saudade antes porque você me negou isso. — Ela
o enlaçou novamente pelo pescoço. — Mas agora... meu peito chega a doer
com esse sentimento. Eu te quero, Luca. Me faça sua essa noite, somente sua.
— Somente minha... — repetiu ele ao beijá-la e conduzi-la para a
banheira que já havia se enchido.
Mal haviam entrado na água, e Luca desceu a boca para os seios de
Nina, chupando cada um de forma saborosa. Ele amava aquela sensação do
bico rijo da garota em sua boca, amava escutar os gemidos que ela dava ao
prendê-lo com os lábios. Amava deixá-la excitada, fazê-la gozar, amava tudo
nela.
Sua mão escorregou para a vulva quente dela e ele a penetrou com
um dedo, enquanto lhe massageava o clitóris com o polegar. Aos poucos,
sentiu o corpo de Nina se entregar cada vez mais às sensações e já estava
esperando que ela gozasse, quando ela lhe segurou a mão.
— Vamos para a cama, Luca. Eu quero você dentro de mim — pediu.
— Seu desejo é uma ordem. — Ele sorriu e ambos saíram da
banheira.
Molhados como estavam, jogaram-se na cama aos beijos e retomaram
as carícias íntimas. Luca veio por cima e ela se abriu para recebê-lo entre as
pernas.
— Ah, minha pequena — exclamou ao penetrá-la.
— Luca...
O vampiro passou se movimentar dentro dela, arrancando-lhe
gemidos altos.
— Mais forte, Luca. Me fode com força.
Ele sorriu e intensificou as estocadas. Fodia-a com força, com
vontade, com toda a sua alma.
Ambos se entregaram totalmente às sensações e Nina sentiu algo
mudar dentro dela à medida que se aproximava do orgasmo. Uma vontade
incontrolável de sangue surgiu e ela percebeu que estava prestes a se
transformar. Tentou se controlar, mas era nova naquilo. Só havia se
transformado uma vez na vida — na frente do espelho para ver como era, e
teve medo de si própria; por isso, nunca mais havia tentado de novo.
Naquele momento, contudo, a transformação parecia estar chegando
de forma involuntária e ela não conseguia pará-la.
— Luca... — murmurou. — Luca, eu... eu vou...
— Goze, minha linda — falou ele beijando o pescoço dela e sentindo
o clímax chegar para ele também.
Os olhos de Nina se tornaram violáceos e, sem conseguir mais se
controlar, ela cravou os dentes no pescoço de Luca. O vampiro gritou e,
tomado de uma excitação absurda, devolveu-lhe a mordida. Ambos sugaram
o sangue um do outro enquanto ondas de prazer arrebatavam seus corpos
simultaneamente.
Aquilo era mais do que louco, era mágico, era intenso. Os espasmos
eram contínuos e nada do que já haviam sentido antes poderia se comparar ao
prazer que os envolvia naquele momento. Os dois amantes tinham a sensação
de que algo explodia dentro deles. Uma explosão que se assemelhava à mais
profunda felicidade.
Quando finalmente as contrações musculares cessaram, o
relaxamento foi total. Luca saiu de dentro dela e deixou-se cair ao lado mais
do que exausto. Seu corpo formigava e sua respiração era curta e pesada.
Com Nina, não era diferente. A sensação que ela tinha era de estar
desconectada de seu corpo. A transformação havia se desfeito, mas ela não
conseguia controlar seus movimentos. Era como se estivesse amortecida.
— Luca... Não consigo me mexer direito...
— Vai passar... não se esforce, respire com calma e relaxe.
— Estou relaxada, meus músculos parecem geleia. — Ela riu e ele a
acompanhou. — Luca... desculpe, eu não consegui me controlar, quando vi já
estava te mordendo.
— Jamais me peça desculpas por algo assim, Nina. Este foi o
orgasmo mais intenso que tive na vida. Achei que nada superaria aquele que
experimentei quando te mordi no castelo, mas esse aqui... Uau! Foi
enlouquecedor.
Ambos riram novamente e se abraçaram, aconchegando-se nos
braços um do outro.
Não muito longe dali, Bass e Natasha também se enroscavam no
quarto dela do hotel.
— Como é transar com ela? — perguntou Natasha montada sobre o
primo, cavalgando-o com destreza.
Ele riu.
— Por que quer saber sobre isso agora?
— Porque quero saber se prefere fazer amor comigo ou com ela.
Bass a virou e ficou por cima, olhando-a nos olhos.
— Naty, eu amo você. Nada, nem ninguém, vai se comparar a você.
A vampira o puxou para si e o beijou com urgência. Ela nunca se
entregara a ninguém como fazia com o primo. Quando estava com ele era
como se o mundo exterior não importasse mais.
— Espere por mim, Bass. Prometo que logo as coisas irão se
resolver...
— Nada vai me fazer desistir de você, loira — disse ele estocando-a.
— Não agora que eu sei que você não está ligada a Luca pelo ritual. Você vai
ser minha, Naty, e ninguém vai me impedir.
— Eu te amo tanto...
Ele sorriu e lhe mordiscou o lábio.
— Então para de falar e goza para mim — pediu e voltou a se
arremeter dentro dela.
Natasha sorriu também e fechou os olhos, deliciando-se em sentir o
maravilhoso pau de Bass se movimentar em seu interior. Pressionando mais
seu quadril contra o dele, passou a rebolar e buscar o seu prazer. Com um
gemido alto, chegou ao ápice.
— Isso, loira, goza! — falou ele no ouvido da prima. Segundos
depois, liberou também seu líquido quente dentro dela.
Horas mais tarde, ambos caíram exaustos de tanto sexo.
— Acho que faz anos que eu não gozo tantas vezes em uma única
noite — comentou Bass.
— Humm... então quer dizer que você já fez sexo intenso assim com
outra pessoa, é? — Natasha arqueou uma sobrancelha.
— Você não? — provocou ele com um sorriso.
Ela franziu o cenho.
— Já tive alguns parceiros interessantes, mas nada igual a você —
confessou ela. — Mas, pelo visto, você teve experiências muito melhores do
que as minhas.
O vampiro riu do beicinho que ela fez.
— Já tive experiências muito loucas, Naty. Mas trocaria todas elas
por mais noites com você.
— Sempre soube que você era um pervertido, não precisa massagear
meu ego.
— Não estou massageando nada. — Bass a puxou para cima de seu
peito e lhe fez um carinho no rosto. — Estar com você é a melhor coisa do
mundo.
Ela sorriu e lhe deu um beijo.
— Eu fui tão idiota... — murmurou. — Perdemos tanto tempo...
— Somos vampiros, Naty. Não perdemos tanto tempo assim.
Considerando que iremos viver por centenas de anos, podemos pensar que
ganhamos experiência. — Bass piscou e levou uma mordida no ombro como
resposta. — Ai! Quer me morder, me morde no pescoço.
— Engraçadinho...
Bass suspirou.
— Eu te devo desculpas por algumas coisas que te falei
anteriormente. Fui injusto em esperar que você enfrentasse seu pai tão nova.
Na verdade, ainda não sei como você pretende fazer isso agora, e eu estou
preocupado, Naty. Por favor, não deixe que ele lhe faça mal. Eu juro que se
meu tio encostar um só dedo em você, eu acabo com ele.
A vampira passou os dedos pelo rosto do primo.
— Não sei se existe alguém com poder o suficiente para acabar com
o Gheorge Moldovan... E nem pense em matá-lo, Bass. Ele pode ser cruel e
tirano, mas ainda é o meu pai. Eu resolvo isso, prometo, confie em mim.
— Okay, okay... Apenas tome cuidado, está bem?
Ela assentiu e voltou a repousar a cabeça no peito dele.
— Faz o ritual comigo? — perguntou Bass repentinamente.
Natasha elevou a cabeça para encará-lo.
— O ritual? Como assim?
— Comprometa-se comigo, Naty. Assim, meu tio terá mais um
motivo para aceitar o rompimento do seu compromisso com Luca. Um
motivo forte, um no qual ele acredita e se verá obrigado a aceitar.
Primeiro, a vampira abriu a boca, pasma, depois sorriu e, com os
olhos brilhando, enlaçou o pescoço do primo em um abraço apertado.
— Eu faço... Eu faço o ritual com você, Bass.
O vampiro sorriu e se levantou, indo buscar uma taça no bar do
quarto, que era bem maior e mais luxuoso do que o de Luca.
— Não achei nada cortante. Vamos ter que improvisar — falou. E,
com um sorriso, mordeu o próprio pulso, perfurando sua veia.
Ele deixou que o sangue escorresse para dentro da taça por alguns
segundos.
— Por este ato, escolho você, Natasha, como minha futura esposa e
lhe entrego o meu sangue junto com a promessa de que, no dia escolhido por
você, serei seu marido para todo o sempre. — Em seguida, entregou a taça à
prima.
Natasha fez o mesmo com o seu sangue, deixando-o se misturar ao de
Bass.
— Por este ato, escolho você, Sebastian, como meu futuro marido e
lhe entrego o meu sangue junto com a promessa de que, daqui a alguns anos,
serei sua esposa para todo o sempre.
Ambos estancaram o sangue pressionando os ferimentos com os
dedos e sorriram. Bass pegou novamente a taça e bebeu um gole, seguido por
ela.
— Agora temos que transar de novo! — Ela sorriu.
— Garanto que isso não será problema nenhum para mim. — Ele a
empurrou sobre os lençóis e ambos caíram na gargalhada.
Horas depois, quando a tarde já caía, o casal finalmente deixou o
quarto. Bass trabalharia naquela noite e ainda precisava passar em casa para
se trocar. Natasha decidiu ir com ele, pois ambos também queriam contar à
Luca e Nina sobre o ritual que haviam consumado.
Encontraram os dois deitados no sofá enquanto assistiam TV. Um
cheiro de bolo quente e café recém passado inundava o apartamento.
— Uau! — exclamou Bass, pendurando os casacos próximo à porta.
— Me diz que você fez aquele bolo maravilhoso de chocolate.
Nina virou a cabeça para olhá-los e sorriu.
— É só um bolo de caixinha — justificou.
— É gostoso de qualquer forma — falou o vampiro ao se aproximar e
beijar a boca dela.
— Ei! — exclamou Luca com as sobrancelhas arqueadas.
Sebastian gargalhou e foi até o balcão da cozinha a fim de se servir
do bolo. Natasha sorriu também, ela sabia que o primo só havia feito aquilo
para provocar o amigo e ficou feliz por ela própria não ter sentido ciúmes de
Nina. Bass era dela agora, isso era certo!
— Relaxe, Luca, ele só está brincando — disse ela com uma piscada.
— Quer bolo, Naty? — perguntou Bass.
— Sim, e café também! — Ela foi até ele.
Luca enrugou levemente a testa e voltou a se acomodar no sofá.
Mesmo conhecendo Bass de longa data e sabendo como ele era, era
impossível não se sentir incomodado pelo que fizera. O amigo sabia irritá-lo
quando queria.
Com um sorriso, Nina se aconchegou em seu peito.
— Luca... — disse baixo, apenas para que ele ouvisse. — Apesar do
que aconteceu aqui hoje entre nós... Apesar de tudo o que eu estou sentindo,
eu ainda vou manter o que eu disse antes, lá no hotel. Eu não vou guardar
esperanças desta vez e não vou me prender a você.
— Está dizendo que vai continuar com Bass? — A ruga em sua testa
se aprofundou.
Nina suspirou. Não era exatamente nisso que ela estava pensando.
Não se arrependia, em momento algum, de ter passado os últimos meses na
companhia de Bass, muito pelo contrário. O vampiro havia lhe ensinado
inúmeras coisas e ela tinha se divertido muito. O peso de seu amor por Luca,
porém, era grande e ela não sabia como seria sua relação com Bass dali para
frente. Não sabia se continuaria com ele ou se sairia novamente com outros
caras. O sexo casual não parecia ser mais tão atrativo sem o seu médico de
olhos azuis... Mas ela tinha medo de colocar esperanças em algo que iria
machucá-la, por isso tentava se convencer de que precisava manter as portas
abertas para a vida e não ficar esperando por Luca.
— Estou dizendo que eu vou fazer o que eu tiver vontade de fazer,
sem ficar angustiada se um dia você irá voltar para mim ou não — respondeu
ao encará-lo.
O vampiro abriu a boca, mas não retrucou. Ele compreendia os
motivos dela e não lhe tirava a razão, embora seu coração se apertasse só de
pensar que Nina poderia continuar frequentando a cama de Bass e saindo
com outros caras enquanto ele e Natasha não definissem a própria situação.
Não... em breve resolveria aquilo, com a ajuda de Natasha ou não. Assim,
não faria Nina esperar mais.
Alguém bateu à porta e Bass foi atender
— Sebastian Moldovan? — perguntou um homem fardado.
— Sim, sou eu...
O policial o virou e o prensou contra a parede, algemando-o.
— O senhor está preso pelo sequestro e agressão à Jess Miller.
— Você tem o direito de permanecer em silêncio e qualquer coisa
que disser poderá ser usada contra você no tribunal. Você tem direito a um
advogado e se não puder pagar, o Estado lhe indicará um — falou um
segundo policial que estava junto.
Luca e Nina se levantaram imediatamente do sofá, assustados,
enquanto Natasha permanecia estática.
— Ei, calma, esperem, por favor! — exclamou Luca. — O que
aconteceu? Isso deve ser um engano!
— Temos um mandado para revistar a casa e o carro dele também —
disse um dos policiais enquanto o outro levava Bass escadas abaixo.
Abismados e apreensivos, os três observaram outros policiais
entrarem e vasculharem tudo, mas eles não encontraram nada. Apenas
levaram o computador e o celular de Bass.
— Providencie um advogado para o seu amigo — recomendou o
policial antes de sair.
Nervoso, Luca fechou a porta e passou a mão nos cabelos. Que merda
o amigo tinha feito agora?
A ssustado e preocupado com o que havia acontecido, Luca ligou
imediatamente para o seu tio Stefan e informou sobre a prisão de
Bass. Em seguida, foram direto à casa dele.
Um advogado de confiança foi chamado pelo vampiro mais velho
que, após fazer inúmeras ligações, o acompanhou até a delegacia.
Várias horas se passaram até que Stefan retornasse com informações.
Horas angustiantes para todos que estavam na casa. Ninguém fazia ideia do
que Bass podia ter feito para estar sendo acusado de sequestro e agressão.
Parecia um absurdo que ele pudesse fazer tal coisa. Nesse meio tempo, Axel,
Ivy e Robert também haviam se juntado a eles.
— E então? — Quis saber Natasha demonstrando nervosismo. —
Cadê o Bass? Não conseguiram tirar ele de lá?
— Calma, Natasha. As coisas não funcionam assim — respondeu
Stefan. — Existe uma denúncia contra Sebastian. Uma mulher o acusou de
assédio, sequestro e agressão. Ela disse que ele a levou para um hotel e em
seguida a drogou. Parece que ela acordou na casa dela, mas... — O vampiro
suspirou. — Ela tinha ferimentos no pescoço.
— Ah! Merda! — bufou Luca. — Não acredito! Aquele idiota!
— O que você sabe sobre isso? — perguntou Stefan desconfiado.
— Bass... ele... Ele é viciado em sangue fresco... — esclareceu sob os
olhares espantados dos demais.
— Desde quando?
— Há pelo menos um ano e meio.
— Se você sabia disso, por que não falou nada? — questionou Nina.
—Podíamos ter ajudado ele!
— Eu tentei ajudar, dei um livro a ele que tinha instruções sobre
como deixar de ser um dependente de sangue. Mas não cabia a mim revelar o
problema dele. Mesmo porque Bass não é o tipo de viciado que se pode
internar em uma clínica de reabilitação. Ele não é humano e, nós vampiros,
não temos nada parecido. Mandariam ele para a prisão, com certeza. A
mesma de onde te tiramos, Nina. Você acha que o vampiro que te atacou
estava lá por quê?
Nina cobriu a boca com a mão... Causava-lhe arrepios se lembrar
daquele lugar horrível.
— O que vai acontecer com Bass? — Natasha sentia suas pernas
bambas de nervoso.
— O Dr. Nollan é um excelente advogado criminalista e vai cuidar
disso, tenho certeza — respondeu Stefan. — Além disso, temos gente
infiltrada na procuradoria e na polícia. Logo teremos mais informações.
— Que provas eles têm? — quis saber Axel.
— Por enquanto, só o depoimento da mulher e um vídeo mostrando
Sebastian saindo com ela da boate. Os testes de droga também identificaram
um sedativo no sangue dela.
— Não têm vídeos do hotel?
— Até agora, não descobriram em qual hotel eles estiveram. A
mulher não se lembra e Bass deve ter usado dinheiro para pagar, já que o
cartão dele não aparece no sistema.
— O que vamos fazer? Bass não pode ficar preso — perguntou
Natasha preocupada. — Ainda mais sendo um viciado...
— Temos que esperar. A audiência de fiança será em dois dias, no
máximo. Mas, infelizmente, o advogado já adiantou que dificilmente o juiz
irá liberá-lo neste caso.
— Por quê? — indagou Nina de olhos arregalados.
— Porque sequestro é um crime grave e ele é estrangeiro. — Stefan
suspirou. — Por sorte, ele aparentemente não fez sexo com a moça ou
provavelmente seria acusado de estupro também.
— Mas e então? — Ivy entrou na conversa. — Se ele não puder sair
com a fiança, como vai ser?
— Vamos ter que aguardar a audiência preliminar.
— Que vai ser quando? — insistiu a vampira.
— Normalmente leva cerca de dez dias para ser marcada.
— Mas como ele vai ingerir o sangue de que precisa nesse tempo? —
preocupou-se Nina.
— Não tem como... Aqui eles não permitem que os presos recebam
comida ou bebida de fora. Bass vai entrar em abstinência e vai atacar quem
estiver pela frente — concluiu Rob.
Luca balançou negativamente a cabeça.
— Ele vai aguentar uns seis ou sete dias no máximo...
— Ai, meu deus! — exclamou Nina.
— Vou ligar para o meu pai — falou Natasha com lágrimas nos
olhos. — Ele chega amanhã, tenho certeza de que poderá ajudar.
— Seu pai não tem tanta influência aqui nos Estados Unidos,
Natasha... — argumentou Ivy. — Não conte com isso...
— Escutem... Vamos ter calma... — Stefan inspirou fundo. — Já
tivemos casos assim antes. Nossos advogados saberão como agir. Vão para
casa, descansem. Eu manterei vocês informados das novidades. Por enquanto,
Bass está bem.
— Fica comigo, Luca? — murmurou Nina ao se abraçar nele quando
saíram da casa. — Não quero ficar sozinha.
— Claro, pequena...
— Posso ir com vocês? — perguntou Natasha logo atrás.
Eles se viraram e se depararam com a vampira aos prantos.
— Venha... — chamou Nina e estendeu a mão.
O carro de Bass havia sido vistoriado pela polícia quando ainda
estavam no apartamento, mas logo foi liberado e Luca o dirigia.
Assim que chegaram ao prédio, Natasha se sentou no sofá com o
olhar perdido. Ela já havia parado de chorar, mas seu coração temia pelo que
podia acontecer com Bass, temia pelo que ele podia fazer às outras pessoas
quando entrasse em abstinência. Se ele machucasse alguém, estaria perdido.
Nunca mais sairia da prisão. Ele morreria sem sangue... Só de pensar naquela
possibilidade, seu estômago se revirava.
Tentou falar com o pai. Contudo, a única coisa que conseguiu foi
deixá-lo furioso. Gheorge Moldovan tinha horror a escândalos e Bass era seu
sobrinho, o que implicaria o nome dele. Que morra, esse imbecil!, ele disse,
deixando a vampira ainda mais desolada.
Nina também estava abalada, mas sua natureza otimista a fazia
acreditar que tudo daria certo, como havia afirmado Stefan. Assim, resolveu
fazer um chá e serviu uma xícara à Natasha.
— Não se preocupe. Ele vai sair dessa — disse.
Natasha assentiu.
— Me desculpe por vir aqui assim, mas é que... eu não queria voltar
para o hotel...
— Tudo bem, se você não se importar de dormir no sofá...
— Não... não me importo, obrigada...
Luca, sentado em uma poltrona, acompanhava a conversa em
silêncio. Estava cansado, preocupado e irritado com Bass. O amigo não havia
lhe dito mais nada sobre o vício... Imaginou que o problema estivesse sob
controle, que ele havia conseguido voltar à sua cota normal.
Inferno! Por que Bass não se abriu com ele? Mesmo estando em
outro continente, poderiam ter pensado em alguma solução. Poderia ter
pedido ajuda à Ivy. Ela estava perto e, além de médica, era uma cientista.
Teria ajudado, com certeza.
Natasha voltou para o hotel abalada. Como era difícil ver Bass
daquele jeito... Seu primo, seu amor... Não entendia por que ele tinha
começado com aquilo sabendo dos riscos.
— Idiota! Bass, você é um idiota! — resmungou ao entrar no quarto.
A vampira jogou a bolsa em um canto qualquer e se sentou na cama,
desolada. Por que ele não havia tentado sair do vício como prometera a Luca?
Se estava com dificuldades, por que não disse nada?
Lágrimas voltaram a lhe banhar o rosto. Ela estava com medo, muito
medo. O advogado havia comunicado quais seriam os próximos passos e
havia uma possibilidade de Bass não conseguir receber o sangue
adequadamente.
Nervosa e inconformada, levantou-se da cama e discou para o pai,
sabia que ele havia chegado em Nova Iorque na noite anterior. Cobraria uma
atitude dele. Afinal, Bass era da família, era o seu sobrinho.
— O que foi, Natasha? — Gheorge atendeu mal-humorado.
— Quero conversar com você, pai. Marque o local, por favor.
— Ah, agora você quer conversar? Engraçado isso, porque na
Romênia eu tenho a impressão de que você me evita sempre que pode. — Sua
voz saiu debochada. — Eu soube que está hospedada no hotel do lobo...
— Sim, estou. Qual é o problema?
— Ele é um inimigo da nossa espécie! Só por isso!
— Pai... para com isso. É ridículo! — Ela revirou os olhos.
— Agora eu sou ridículo? — rugiu Gheorge.
Natasha suspirou.
— Pai...
— Venha ao Plaza às 19h, vamos jantar juntos e “conversar”.
— Combinado.
A vampira desligou o telefone com um aperto no peito. Estava na
hora de confrontar o seu pai de verdade. Ele precisava saber de uma vez por
todas sobre seus sentimentos por Bass e precisava entender que aquele
noivado com Luca não iria para frente. Gheorge Moldovan teria que aceitar
ou se conformar, pois ela não permitiria mais que ele continuasse
direcionando sua vida e tomasse decisões por ela.
stá pedindo para que eu aceite isso assim?! — rugiu Gheorge se
—E levantando da cadeira e jogando o guardanapo de tecido sobre a
mesa. — Nunca! Como ousou fazer uma coisa dessas, Natasha? Um
ritual de sangue?
— Sim, pai. Um ritual de verdade, não uma farsa, como foi o meu
noivado.
— Só foi uma farsa porque você e o Constantin não deram conta de
uma simples foda! Pois pode esquecer essa história com Sebastian. Até
parecem crianças vocês dois! Fazendo as coisas às escondidas... Mas melhor
assim, se ninguém presenciou, não há por que alguém saber disso.
— Pai... Acho que você não está entendendo. Eu amo o Bass e ele me
ama! — Natasha se levantou também. — É com ele que eu quero ficar!
— Esquece... Escute aqui, temos assuntos mais urgentes a tratar
agora em relação ao seu primo, conversaremos sobre isso depois. Mas se está
pensando em continuar com essa bobagem, pode esquecer!
— Você não tem o direito de mandar em mim assim! Eu fui muito
tonta e covarde em aceitar por tantos anos que você direcionasse a minha
vida como se eu fosse o seu peão! Mas não mais, pai! Chega! Estou tomando
as rédeas da minha vida, queira você goste ou não.
Gheorge sorriu ironicamente.
— Acha mesmo que pode me enfrentar assim? Não é porque você é
minha filha que eu vou deixar você me humilhar, garota tola. Você ainda
pensa que, depois de tudo isso, vocês podem ficar juntos? Pois ouça o meu
conselho: para o seu bem, Natasha, esqueça esse seu primo imbecil, porque
Sebastian agora não tem mais futuro algum, entendeu?
Natasha arregalou os olhos.
— Do que está falando, pai? Você não se atreveria a deixar ele lá.
Não pode!
— Lá onde? Na cadeia dos humanos? — Ele gargalhou. — Claro que
não! Ele não pode ir para uma prisão comum. Não quero que ele morra.
Quero que ele pague pelos crimes que cometeu contra nossas leis.
— Está dizendo que... — A vampira estreitou os olhos.
— Ele vai para nossa prisão. Isso é o que estou dizendo!
— Por favor, pai... Bass é o seu sobrinho. Ele não precisa de prisão,
ele precisa de ajuda, de um tratamento...
— O fato de ele ser meu sobrinho não o desobriga de seguir as
regras. O que ele fez nos causou transtornos e colocou em risco nosso
segredo. Já imaginou se ele começar a sentir os sintomas de abstinência e
atacar alguém na prisão? E se ele piorar e resolverem fazer exames, testes
com ele? Sabe o que vai acontecer?
Natasha abaixou a cabeça sem conseguir segurar mais as lágrimas.
— Descobrirão que o sangue dele não é humano — continuou
Gheorge vermelho de ira contida. — É isso o que vai acontecer! E depois?
Outros testes, experimentos... Seria um desastre para a nossa espécie.
— Ele tem que sair de lá, pai... Você precisa ajudar... — pediu ela
ainda de cabeça baixa.
Gheorge foi até o pequeno bar do quarto do hotel e serviu-se de uma
dose de uísque.
— Quanto a isso, não se preocupe. Não vou permitir que Sebastian
continue preso, mas não por ser da família, muito menos por seus
sentimentos por ele — disse com desprezo. — Farei isso pela segurança da
nossa espécie. — O vampiro tomou um gole de sua bebida. — Volte para o
seu hotel agora, nossa conversa já terminou.
Natasha levantou o rosto e enxugou as lágrimas.
— Eu irei... mas nossa conversa ainda não terminou — falou ela,
pegando a bolsa e saindo.
Três dias depois, Bass deixou o tribunal sem as algemas. Estava livre,
como previra o advogado. Na saída, recebeu um abraço caloroso de Luca e de
Nina e um beijo de Natasha. O próximo passo seria enfrentar o Conselho,
mas teria que aguardar que o convocassem.
O céu estava carregado de nuvens pesadas. Uma tempestade se
aproximava, mas o clima entre os quatro amigos estava vibrante como o sol.
Animados, eles resolveram comemorar em um pub próximo ao Central Park.
Nina se sentia profundamente feliz com a liberdade de Bass. Só havia
conseguido visitá-lo uma vez no hospital e estava morrendo de medo de que
ele pudesse voltar para a prisão. Felizmente, tudo correra bem, mas aqueles
dez dias não haviam sido fáceis. O estresse e a preocupação foram constantes
e a única coisa que aliviou um pouco seu coração foi a presença de Luca com
ela.
O seu deus grego de olhos azuis tentou lhe passar confiança, embora,
às vezes, o pegasse com um semblante mais fechado. Durante aquele tempo,
ele permaneceu com ela no apartamento, fizeram amor, conversaram, mas ela
conseguiu se manter firme no propósito de não guardar esperanças. Por isso,
foi com naturalidade que ela perguntou, enquanto estavam no pub, quando
ele voltaria para a Romênia.
Luca a olhou, surpreso. No fundo, esperava que Nina lhe pedisse para
não ir embora. Ele estava mesmo disposto a ficar por mais algum tempo, ou
talvez até levá-la de volta, mas entendeu que ela não aceitaria aquilo
enquanto não resolvesse sua situação com Natasha. Era justo...
— Por causa do que houve, eu cancelei minha passagem de volta, não
remarquei ainda. — Olhou para Natasha. — Seu pai ainda está aqui na
cidade, não é? Quero falar com ele.
Ela inspirou fundo.
— Está certo, trataremos disso juntos, mas já aviso que ele está
bastante irredutível. — Pegou o celular e fez uma ligação. — Oi, pai, sou eu!
Escute, podemos nos encontrar?
— Voarei para Washington hoje à noite, mas passarei no seu hotel
antes. Me espere lá às 22h e leve Sebastian, temos um assunto a resolver.
— Certo. — Ela desligou. — Ele vai nos encontrar no Real Wolf hoje
e quer que você esteja junto — falou para o primo.
— Eu já imaginava... — respondeu ele.
— Eu contei para o meu pai, Bass... Que nós fizemos o ritual...
— Vocês o quê? — Indagou Luca com uma sobrancelha arqueada.
— Antes do Bass ser preso, naquela noite que fomos para o hotel, nós
fizemos o ritual de sangue — esclareceu Natasha com um sorriso que morreu
logo em seguida. — E eu confrontei o meu pai depois, eu disse que amava o
Bass, mas ele não me ouviu, para variar. Ficou possesso... falou um monte...
— Deixe que fale, o seu pai não é o seu dono, loira. E se nós três
formos juntos e o pressionarmos, ele terá que aceitar nossa decisão —
argumentou Sebastian.
Natasha encarou o primo preocupada.
— Não sei... acho melhor você não ir... — disse. — O meu pai, ele...
quer te ver na prisão, Bass, na nossa prisão.
Nina colocou a mão sobre a boca, receosa.
— Não tenho medo de enfrentar a minha punição, Naty. O que tiver
de ser, será. Por hora, precisamos resolver esse assunto do compromisso de
vocês. Com o ritual de sangue que fizemos, o seu noivado com Luca se torna
sem valor. E o seu pai vai ter que entender isso, queira ou não.
Luca cruzou os dedos sob o queixo, pensativo. Não sabia como seria
encarar Gheorge Moldovan. Ainda guardava uma profunda raiva pelo que ele
havia feito a Nina e a vontade que tinha era de esmagar o pescoço dele com
as mãos até escutar os ossos se quebrarem.
— Luca? — chamou Nina, tirando-o de seus devaneios. — Por que
essa cara de quem quer matar alguém?
Ele sorriu e segurou a mão dela, dando-lhe um beijo.
— Nada não...
melhor esperar aqui embaixo, Nina — pediu Luca ao chegarem no
—É saguão do hotel. — Fique no escritório. Não quero que o Moldovan
descubra que está viva.
Ela assentiu e observou, apreensiva, os três vampiros pegarem o
elevador. Seguiu, então, para o escritório onde trabalhava e olhou pela janela.
Algumas gotas de chuva já começavam a cair e as pessoas na rua passaram a
andar mais apressadas. Suspirou, nervosa. Só de pensar que o conselheiro que
mandara prendê-la estaria ali, arrepiava-se inteira.
Quinze minutos depois, Gheorge Moldovan batia na porta do quarto
da filha. Ela atendeu com o semblante sério e abriu passagem para que ele
entrasse.
— Ora, ora, não esperava ver você aqui também, Constantin — disse
com escárnio ao notar a presença de Luca. — Pelo visto, a conversa será
bastante esclarecedora.
Luca cerrou os punhos com força e franziu as sobrancelhas. A
vontade de socar a cara daquele sujeito era gigantesca.
— Sim, pai. Espero que seja — afirmou Natasha. — Sente-se, por
favor.
— Não será necessário. O que temos para tratar aqui será breve. —
Olhou para Sebastian. — Você sabe o que fez, não é rapaz? Espero que esteja
preparado para receber sua punição.
— Sim, senhor. Mas não é sobre esse assunto que viemos falar aqui.
— Ah, não? — Gheorge arregalou os olhos e riu. — Imagino que
seja, então, sobre o tal ritual que você e minha filha fizeram? — Seu
semblante se fechou e ele o encarou com os olhos duros. — Pois isso pouco
me importa! Nunca permitirei que Natasha se comprometa com um viciado
inútil como você, Sebastian.
— Pai! — exclamou a vampira. — Não seja hipócrita! Você viveu
em uma época que era normal matar e se alimentar de sangue humano. E sabe
perfeitamente que é possível largar o vício. Bass irá se tratar!
— Como se isso fosse o único problema! Acontece que não quero
você unida ao filho do meu irmão! — berrou o conselheiro. — Por que acha
que eu cancelei o compromisso entre vocês e arranjei o enlace com os
Constantin?
— Está dizendo que quer ver sua filha infeliz pelo resto da vida por
causa de uma rusga familiar com o seu irmão? — interferiu Luca. — O
senhor perdeu completamente a noção do bom senso e de discernimento
sobre o que é razoável ou não! Acha que pode tudo, que todos devem atender
aos seus caprichos. O poder lhe subiu à cabeça, conselheiro. Pois o senhor
fique sabendo que o meu noivado com sua filha está rompido!
— Faça isso e você estará acabado, jovem.
— Já cansei de suas ameaças. Você não pode fazer nada, porque não
sou apenas eu que estou desistindo do compromisso, a decisão está sendo
tomada por nós dois. Então não poderá pedir a minha cabeça, senhor
conselheiro.
Gheorge riu novamente.
— E você pensa mesmo que só existe um meio de acabar com a vida
de alguém? Você é muito ingênuo, rapaz. Você acha que o poder me subiu à
cabeça, pois está certo. E sei muito bem o poder que tenho e sei como usá-lo.
Você devia pensar direito antes de me desafiar assim, Constantin. — Virou-
se para Sebastian. — Quanto a você, esqueça a minha filha. Ela não é para
você. O seu lugar é na prisão, não ao lado dela.
O conselheiro se encaminhou para a porta e a abriu.
— Podem levá-lo — ordenou a Ricco e outros dois guardas da Força
de Contenção que esperava no corredor.
— Não! — exclamou Natasha com os olhos arregalados. — O que
está fazendo, pai? Bass é o seu sobrinho, não pode mandar prendê-lo assim.
Ele tem o direito de apelar ao Conselho.
— Justamente por ser meu sobrinho é que deverá servir de exemplo.
Levarei Sebastian de helicóptero para o centro de detenção que nós
controlamos na Filadélfia. É meu caminho para Washington de qualquer
forma. Se ele quiser apelar, que o faça da prisão.
Sem conseguir mais conter a sua raiva, Luca se aproximou de
Gheorge e aplicou um soco de direita no meio da cara do vampiro, fazendo-o
cambalear para trás.
— Maldito! — rosnou o conselheiro, levando a mão ao nariz e
limpando o sangue que escorria.
Ricco avançou para cima de Luca, que se virou e o enfrentou
também. Os olhos de ambos se tornaram violáceos e uma luta violenta se
iniciou no quarto. Móveis foram virados e quebrados, enquanto ambos
trocavam socos.
Os outros dois guardas quiseram intervir, mas Gheorge ordenou que
eles pegassem Sebastian e o levassem para o terraço do hotel, onde o
helicóptero os aguardava. O vampiro resistiu, mas não era páreo para dois
soldados treinados e logo foi rendido.
Desesperada, Natasha entrou na frente deles na tentativa de impedi-
los de saírem do quarto. Gheorge, no entanto, a segurou pelo braço e a
arrastou pelo corredor.
— Você vem também! — gritou o conselheiro.
— Não! Me largue, pai! Deixe a gente em paz! — berrou Natasha
tentando se soltar. — Eu te odeio, sabia?!
A porta do elevador se abriu e, para o desgosto de Gheorge
Moldovan, ele se viu frente a frente com Axel, que o olhava sério e com uma
expressão nada amigável.
— Então é você o responsável por aquele helicóptero no meu
telhado? — perguntou o Warg.
— Sim, sou eu. E se me der licença, isso aqui é assunto de família!
Vão pela escada! — ordenou aos guardas que levavam Sebastian.
Um barulho de coisas se quebrando se fez ouvir do quarto.
— Vocês estão destruindo os meus móveis? — Axel arqueou uma
sobrancelha.
— Saia da minha frente, lobo. Eu pago o seu prejuízo depois!
— Axel! — chamou Natasha. — Você precisa ajudar o Bass, por
favor!
Ele encarou Gheorge rispidamente e se afastou, seguindo para a
escada de incêndio por onde os guardas haviam subido.
— Ricco! — berrou o conselheiro do corredor. — Deixe esse imbecil
do Constantin aí. Preciso de você no telhado! Agora!
O capitão da Força saiu cambaleante do quarto e com os lábios
sangrando. Assustada, Natasha ficou esperando que Luca saísse logo atrás,
mas ele não apareceu.
— O que você fez com o Luca, Ricco?
O vampiro passou por ela com cara de enfado e entrou no elevador.
Gheorge entrou logo atrás, mas Natasha, com um forte puxão do braço,
conseguiu se livrar das mãos do pai e sair do elevador momentos antes da
porta se fechar.
Correu, então, para o quarto e encontrou Luca caído no chão. Ele
estava desacordado, com o rosto inchado e com alguns cortes, sangrando.
— Luca! Luca! — chamou e se abaixou ao lado dele.
O vampiro murmurou algo ininteligível e ela suspirou aliviada.
Ergueu-se rapidamente e foi buscar uma caixinha de sangue em sua mala. O
sangue sempre ajudava um vampiro a se recuperar rapidamente dos
ferimentos.
Abriu a embalagem e, apoiando a nuca dele com a mão, o fez ingerir
o conteúdo. Seu coração batia descompassado. Não sabia o que estava
acontecendo no telhado, só esperava que Axel conseguisse impedir o seu pai
de levar Bass. Um trovão desviou sua atenção para a janela.
A chuva caia torrencial e, pela claridade, concluiu que era uma
tempestade de raios.
— Luca... — murmurou. — Eu preciso ir até lá em cima... — Pegou,
então, o interfone e discou para a recepção. — Por favor, a Nina está aí? É
urgente. — A ligação foi transferida.
— Oi, aqui é a Nina.
— Nina. Sou eu, a Natasha, você precisa vir ao meu quarto agora!
Traga uma caixa de primeiros socorros.
Não deu tempo para a garota responder e desligou. Correu, em
seguida, em direção às escadas de emergência.
Abriu com tudo a porta de acesso ao telhado e foi arrebatada pelo
vento e pelas gotas grossas de chuva que caíam.
Olhou em direção ao helicóptero e viu Axel lançando Ricco por cima
do ombro. Os outros dois guardas já estavam no chão e pareciam fora de
combate. Bass estava no helicóptero, mas aparentemente estava algemado.
Enquanto isso, seu pai acompanhava tudo acuado em um canto, já que não
conseguia chegar ao helicóptero por causa da luta que se desenrolava à sua
frente.
Natasha estreitou os olhos para se proteger da chuva e seguiu para a
pequena escada que levava ao heliporto, uma plataforma mais alta e sem
grades de proteção projetada justamente para receber helicópteros.
— Naty! — exclamou Bass ao vê-la.
— Onde está a chave? — Apontou para a algema.
— No bolso daquele guarda.
A vampira correu até o vampiro desmaiado e procurou a chave em
seus bolsos. Assim que a encontrou, voltou para o helicóptero e soltou Bass,
que pulou da aeronave e pegou a prima pela mão, saindo rapidamente dali.
Enquanto isso, Axel parecia brincar com Ricco. Cada vez que o
vampiro avançava, ele contra golpeava e o derrubava. Até que o capitão da
guarda tentou alcançar uma arma que estava caída no chão. Mal tocou os
dedos no objeto e sentiu a ponta de uma espada em seu pescoço.
— Estou tentando ser bonzinho — falou Axel. — Mas se pegar nessa
arma novamente, será um vampiro morto!
Ricco recolheu a mão e se rendeu.
Nervoso, irritado e inconformado, Gheorge aproveitou o momento de
trégua para sair de seu canto e correr em direção ao helicóptero.
— Vocês são uns inúteis — berrou para o capitão da Força. — E
vocês — apontou para a filha e para Sebastian. — Vocês vão me pagar por
isso! Ah, vão! Está deserdada, Natasha! Ouviu bem? Deserdada! — Virou-se,
então, para o piloto e deu ordem para subir.
Assim que o helicóptero levantou voo e seguiu seu caminho, Axel
tirou a espada do pescoço de Ricco e o mandou se levantar.
— Pegue os seus homens e suma daqui. Nunca mais volte a cruzar o
meu caminho, capitão. Isso é um aviso.
O vampiro franziu o cenho.
— Não tenho nada contra você, lobo. Eu só estava cumprindo ordens
— resmungou. — E eu espero mesmo, nunca mais ter que cruzar o seu
caminho. — Deu-lhe, então, as costas e seguiu em direção aos guardas
caídos.
Sebastian e Natasha olhavam espantados para a katana nas mãos de
Axel. Com toda aquela chuva, foi difícil para eles enxergarem de onde o
Warg havia tirado aquela espada.
— Onde estava essa espada? — perguntou Natasha ao retornarem
para as escadas.
— Eu sempre trago ela comigo — respondeu Axel.
— Onde? Não me lembro de ter visto você com ela em nenhum
momento. Nem aqui, nem nunca — quis saber Bass.
— É porque você nunca reparou direito. — O Warg sorriu de canto e,
sob os olhares espantados dos dois vampiros, fez a espada se transformar em
um colar com um pingente em forma de lua. Então o colocou no pescoço.
— Uau! Um objeto mágico! — exclamou Natasha. — Não imaginava
que ainda existiam.
— Impressionante... — comentou Bass. — Eu já tinha reparado nesse
seu colar estranho, sempre achei ele meio fora de moda. Não imaginava que
fosse uma espada. — Ele riu.
Os três desceram até o quarto de Natasha e encontraram Nina com
Luca em seu colo. Ela chorava e parecia desesperada.
— Calma, princesa — falou Sebastian se aproximando. — Ele vai
ficar bem. Não é, amigão? — cutucou Luca na barriga com a ponta do dedo.
— Hum... Vai cutucar a mãe, desgraçado... — resmungou o vampiro
no chão.
Natasha sorriu e pegou a caixinha de primeiros socorros.
— Muito bem, vamos limpar esses cortes.
Axel deu uma olhada em volta, levantou uma poltrona do chão e fez
uma careta. Aquilo estava uma bagunça...
— Nina? Pode pegar aquela peça para mim, por favor? — pediu
Mirela.
Nina assentiu. Estava muito feliz por voltar a trabalhar com a mãe de
Luca. Gostava da arte de costurar e gostava ainda mais da parte da criação
das coleções. Tinha planos de, um dia, voltar a estudar e fazer um curso de
moda. Mas, por enquanto, queria aprender tudo o que podia com Mirela.
Pegou a peça que a vampira havia pedido e levou até ela. Quando foi
entregá-la, no entanto, suas mãos foram acometidas de um leve tremor, que
não passou despercebido da mãe de Luca.
— Nina, querida. Está tomando suas cotas de sangue regularmente?
— Sim, estou, mas...
— Mas...?
— Não sei, me sinto fraca, às vezes. Fico tonta, com sede... — Ela
apertou as mãos, nervosa. — Mas estou tentando me controlar, não estou
bebendo mais sangue do que devia, não se preocupe.
— Nina. Preciso que seja sincera comigo. Você também bebeu
sangue humano fresco enquanto esteve com Bass?
A garota arregalou os olhos.
— Não! Nunca ingeri sangue fresco! — Ela mordeu o lábio. —
Quero dizer, só...
— Só...?
— Nunca ingeri sague humano fresco, só de vampiro... do Luca... —
Seu rosto corou.
Desta vez foi Mirela quem arregalou os olhos.
— Bebeu do sangue de Luca?
— Sim, eu... nós...
— Durante o sexo, Nina?
Nina abriu a boca, espantada com a pergunta direta. Não podia ficar
mais vermelha. Por fim, assentiu.
Mirela sorriu com um brilho no olhar e a pegou pela mão.
— Vamos!
— Para onde?
— Para o hospital.
— Fazer o quê?
— Você vai saber logo.
Meia hora depois, entraram na sala de Luca, que se espantou com a
presença delas.
— Oi! — ele disse ao se levantar e dar um beijo em Nina. — Estão
passeando por aí e resolveram me visitar?
— Não. Viemos para uma consulta — respondeu Mirela.
O vampiro franziu o cenho.
— O que aconteceu?
— A Nina está com alguns sintomas de abstinência e quero que faça
um exame nela.
Luca olhou para Nina interrogativamente e ela deu de ombros.
Também não estava entendendo.
— Como assim sintomas de abstinência? Ela nunca ingeriu sangue
humano fresco. Que exame quer que eu faça, mãe?
— Um ultrassom.
O médico olhou da mãe para Nina e voltou para a mãe, que tinha um
sorriso no rosto. Então, entendeu.
— Puta merda! — exclamou e pegou Nina pela mão, levando-a para
a sala de ultrassom.
Agitado, ele fez ela se deitar e derramou o gel em sua barriga. Mirela
entrou na sala também e ficou olhando enquanto o filho passava a ponteira do
aparelho no ventre da garota.
Emocionado, o vampiro não conseguiu segurar um grito de alegria ao
olhar para a tela à sua frente.
— O que foi, Luca? — perguntou Nina. — Está me assustando...
— Não precisa se assustar, pequena. — Ele sorriu e segurou a mão
dela, levando-a aos lábios e beijando com ternura. — Nós vamos ter um
filho...
Nina abriu a boca pasma, então olhou para Mirela que derramava
algumas lágrimas silenciosas.
— Luca... — Ela colocou a mão livre sobre a boca. — É verdade
isso?
— Sim, minha linda. Vamos ter um bebê. Veja! — Virou a tela para
que ela visse. — Essa pequena mancha aqui é ele. O obstetra irá confirmar,
mas se as minhas contas estiverem certas, você está de sete semanas.
Nina se lembrou, então, de uma conversa que tivera uma vez com
Bass quando estava menstruada. Ele havia dito algo sobre como as vampiras
engravidavam: ingerindo o sangue do parceiro durante o ato. Seu queixo caiu.
— Foi naquele dia em Nova Iorque, não é?
— Sim...
— Você sabia que isso podia acontecer — afirmou. — Por que não
disse nada?
— Porque era só uma possibilidade vaga. Vampiras não engravidam
tão fácil assim. É meio que um chute no escuro. E depois, aconteceu tanta
coisa nos dias seguintes que me tirou a atenção desse fato. — Sorriu. — Está
com sede?
Ela confirmou.
— É por causa do bebê?
— Sim, vampiras grávidas precisam de mais sangue para sustentar a
si e ao bebê. Vou buscar — disse ele a beijando e saindo da sala enquanto ela
se limpava do gel.
Mirela se aproximou e a abraçou.
— Estou tão feliz por vocês!
— Eu... nem sei o que dizer... Estou em choque... Acho que não me
dei conta ainda. — Esboçou um sorriso.
— Não se preocupe, Nina. Logo vai se acostumar com a ideia de ter
um bebê aqui dentro. — Colocou a mão sobre o ventre dela. — Uma vida,
um filho... ou filha! — Sorriu.
Nina colocou a mão sobre o próprio ventre. Um bebê... Um
sentimento de medo invadiu seu coração.
— E se eu não for uma boa mãe? — Seus olhos se umedeceram.
Mirela segurou o rosto dela entre as mãos e a olhou com carinho.
— Tenho a certeza absoluta de que será uma excelente mãe.
Nina sorriu e deixou que as lágrimas caíssem. Luca voltou com uma
caixinha de sangue, mas, antes que ele pudesse entregá-la, Nina pulou da
maca e se agarrou a ele, enterrando o rosto em seu pescoço.
O vampiro a abraçou e beijou seus cabelos, desceu com a boca pelo
rosto úmido, entre as lágrimas, e tomou-lhe os lábios em um beijo carregado
de amor.
— Eu te amo tanto... — falou, permanecendo com a testa colada na
dela. — Casa comigo, Nina?
Surpresa, ela o fitou nos olhos.
— Mas vampiros não se casam só depois de algumas décadas de
noivado?
— Sempre podemos mudar as tradições...
Ela sorriu, admirando aqueles olhos azuis lindos que a conquistaram
desde o primeiro dia que os vira, o sorriso cativante, a boca macia.
— Caso! — respondeu e o beijou novamente.
Mirela, que observava tudo emocionada, vibrou silenciosamente.
Estava na hora de providenciar outra festa!
N ina olhou para o punhal à sua frente e um frio lhe percorreu a
espinha. Tinha pavor daquele objeto, mas inspirou fundo e o pegou
da almofada.
Voltou seus olhos para Luca que lhe sorria e lhe estendia o braço.
Com as mãos tremendo fez um pequeno corte no pulso do vampiro. O sangue
fluiu e caiu dentro da taça, e a voz dele soou grave e firme:
— Por este ato, entrego a você, Nina, o meu sangue e lhe tomo como
minha esposa para todo o sempre. Pela minha honra, juro que irei te proteger,
te amar e te fazer feliz enquanto eu viver. E, junto com o meu coração, lhe
entrego a promessa de ser não só o seu companheiro e amante, mas um amigo
leal com quem você sempre poderá contar.
Nina sorriu e, com os olhos brilhando de lágrimas não derramadas,
entregou o punhal a Luca. Ele segurou o pulso dela e também fez um
pequeno corte, o sangue pingou na taça.
— Por este ato, Luca, entrego a você meu sangue, meu coração,
minha alma e todo o meu amor. Tomo-lhe, assim, como meu esposo e
prometo ser a companheira fiel que irá te acompanhar e te amar para todo o
sempre.
Ainda sorrindo, ela levou a taça à boca e bebeu um gole do sangue de
ambos misturados. Em seguida, a entregou a Luca que fez o mesmo.
Sob os aplausos dos convidados. O casal se voltou para o salão e
Nina observou aquele lugar onde um ano e meio atrás ocorria uma festa
parecida com aquela. Só que, desta vez, as toalhas das mesas não eram
vermelhas, mas brancas; desta vez, ela não estava ali como uma triste
expectadora, mas como uma protagonista de seu próprio destino; desta vez,
os convidados não eram vampiros importantes da alta sociedade, mas amigos
e transformados do vale, vampiros por quem ela nutria um carinho genuíno;
desta vez, aquela não era uma festa de noivado, mas uma festa de casamento,
do seu casamento.
Nina desceu da pequena plataforma de braços dados com Luca. Uma
de suas mãos repousava sobre o seu ventre que já se destacava sob o vestido
branco e rendado e, enquanto caminhava pelo meio dos convidados, ela
deixou as lágrimas rolarem pelo rosto.
Desta vez...
Desta vez, as lágrimas que derramava não eram de tristeza, mas de
pura alegria. Alegria por estar ao lado do seu deus grego, por estar
carregando um fruto do seu amor no ventre, por se sentir amada, protegida e
segura, por saber que, finalmente, fazia parte de uma verdadeira família.
Desta vez, ela seria feliz...
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e fetiches.
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Chris Prado é mãe, esposa, professora e escritora de romances. Sua paixão
por criar histórias vem desde quando era criança, porém somente resolveu
colocá-las no papel em 2018. Com o apoio do marido e da família conseguiu,
então, realizar esse sonho.
Sua primeira história foi Spectrum – Entre sombras e segredos, um romance
sobrenatural que vai muito além de anjos, demônios e caçadas, pois fala
sobre a força do amor verdadeiro, sobre destinos, escolhas e caminhos
cruzados.
Misturando paixão, ação e fantasia, a autora se aventura nas cenas sexy e
quentes do romance erótico sem, no entanto, torná-lo o foco do livro; mas
dando às suas histórias aquela deliciosa pitada de quentura de que tanto
gostamos.
Warg foi sua segunda obra. Com um pegada mais romântica e dramática, a
história, escrita entre 2018 e início de 2019, vem carregada de muitas
surpresas e emoções.
Com Vizinhos, a autora se lançou na leitura erótica contemporânea, mas não
abandonou suas histórias com fantasia e escreveu Luca Constantin.
Para 2020, a autora pretende se dedicar ao romance contemporâneo com uma
pegada picante e enredo caprichado.
Instagram: @chrisprado.autora
https://www.instagram.com/chrisprado.autora/?hl=pt
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