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LUCA CONSTANTIN – Amor proibido

Copyright © 2019 Chris Prado

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com


nomes, personagens e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total
ou parcial desta obra sem a citação da fonte.
Plágio é crime.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela
lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Capa e diagramação: Chris Prado


Revisão: Yasmim Mahmud Kader
Colaboração: Erik Renato Baccin
Banco de imagens: Pixabay, Depositphotos, Freepick

Classificação indicativa: 18 anos. Esta obra apresenta


conteúdos de sexo explícito em algumas cenas.

Dados catalográficos
Prado, Chris
1ª Edição
Luca Constantin – Amor Proibido
São Paulo, 2019
1. Literatura Brasileira. 2. Romance. 3. Fantasia
sobrenatural. 4. Literatura erótica.

https://linktr.ee/ChrisPradoAutora
NOTAS DA AUTORA
CAPÍTULO 1 - CONVIDADOS
CAPÍTULO 2 - SWING
CAPÍTULO 3 – A PACIENTE
CAPÍTULO 4 – NA NOITE FRIA
CAPÍTULO 5 – POR DETRÁS DO MURO
CAPÍTULO 6 – A INTRUSA
CAPÍTULO 7 – QUARTO DE PRINCESA
CAPÍTULO 8 – DEIXE-ME FICAR
CAPÍTULO 9 – A BIBLIOTECA
CAPÍTULO 10 – CONVENÇA-ME
CAPÍTULO 11 – TORRES E MASMORRAS
CAPÍTULO 12 – MODELO VIVO
CAPÍTULO 13 – DESOBEDECENDO ORDENS
CAPÍTULO 14 – A MOÇA NO ESPELHO
CAPÍTULO 15 – COMO UM ÍMÃ
CAPÍTULO 16 - É PROIBIDO SE APAIXONAR
CAPÍTULO 17 – O DEUS E O ANJO
CAPÍTULO 18 – NÃO TENHO DONO
CAPÍTULO 19 – PRIMEIRA LIÇÃO
CAPÍTULO 20 – APRENDA A RECEBER
CAPÍTULO 21 – ROMPENDO BARREIRAS
CAPÍTULO 22 – NÃO CONSIGO CHORAR
CAPÍTULO 23 - REVELAÇÕES
CAPÍTULO 24 - SOLSTÍCIO
CAPÍTULO 25 – SANGUE, MORTE E TRANSFORMAÇÃO
CAPÍTULO 26 - CONFINAMENTO
CAPÍTULO 27 – FUTURO INCERTO
CAPÍTULO 28 – DECISÕES ARRISCADAS
CAPÍTULO 29 – SOB VIGILÂNCIA
CAPÍTULO 30 – REGRAS E TAMPÕES
CAPÍTULO 31 – SANGUE, PRAZER E LUXÚRIA
CAPÍTULO 32 – O FUNERAL
CAPÍTULO 33 – DIA DE CAÇA
CAPÍTULO 34 – UMA NOVA LIÇÃO
CAPÍTULO 35 – ANO NOVO
CAPÍTULO 36 – DE VOLTA À TORRE
CAPÍTULO 37 – LOBOS, CRIANÇAS E LIBERDADE
CAPÍTULO 38 – NOVAS AMIZADES
CAPÍTULO 39 – PLANOS E DECISÕES
CAPÍTULO 40 – LAVANDO A ROUPA SUJA
CAPÍTULO 41 – BLOODY MARY
CAPÍTULO 42 – RITUAL DE SANGUE
CAPÍTULO 43 – ENTRE QUATRO PAREDES
CAPÍTULO 44 – DESEJOS REPRIMIDOS
CAPÍTULO 45 - PESADELO
CAPÍTULO 46 - PROVIDÊNCIAS
CAPÍTULO 47 – VÂRFUL CÂRJA
CAPÍTULO 48 – CELA DIVIDIDA
CAPÍTULO 49 – CORAÇÃO PARTIDO
CAPÍTULO 50 – VIDA NOVA
CAPÍTULO 51 – LEMBRANÇAS E SENSAÇÕES
CAPÍTULO 52 – EM BUSCA DA FELICIDADE
CAPÍTULO 53 – DESEJOS OCULTOS
CAPÍTULO 54 – DÉJA-VU
CAPÍTULO 55 – QUASE UM ANO
CAPÍTULO 56 – MEMÓRIAS PERDIDAS
CAPÍTULO 57 – MATANDO A SEDE
CAPÍTULO 58 – MATANDO A SAUDADE
CAPÍTULO 59 – SOB O JUGO DA LEI
CAPÍTULO 60 – CASO ENCERRADO
CAPÍTULO 61 – SOB A TEMPESTADE
CAPÍTULO 62 – FUTURO PROMISSOR
CAPÍTULO 63 - EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
LEIA TAMBÉM
SOBRE A AUTORA
Olá, leitores(as) queridos(as)!
Eis que chegamos com mais uma história com muita paixão e
romance, mas também com muita quentura e emoções.
Luca é um personagem que nasceu no livro Warg – Natureza
Indomável, lançado na Amazon no primeiro semestre de 2019. Contudo,
apesar de ser um spin-off, esta é uma história totalmente independente que
pode ser lida sem que se precise conhecer por antecipação os personagens.
Quem já leu Warg irá rever alguns deles em cenas pontuais durante a
leitura e matar a saudade. Quem ainda não leu e quiser ler depois,
inevitavelmente receberá alguns spoilers nesta história, mas nada que
interfira no prazer da leitura. O link para Warg se encontra disponível no final
desta obra.
Em relação a Luca Constantin, essa é uma história sobre vampiros
que se passa em nossa época; onde a tradição milenar se contrapõe aos
conceitos modernos sobre amor e relacionamentos. Devo dizer que, apesar
dessa obra ser uma fantasia, não é um conto de fadas. Aqui vocês vão
encontrar romance, drama, emoção, tensão e personagens carismáticos, mas
com seus próprios defeitos. Portanto, não esperem príncipes encantados,
esperem sentimentos reais, desejos profundos, escolhas duvidosas e corações
apertados.
Eu espero que gostem e que se emocionem com esta obra. Às
românticas de carteirinha, já aviso que o coração de vocês poderá sofrer um
pouquinho, mas confiem que tudo dará certo no final.
Por fim, gostaria de falar um pouco sobre os vampiros desta história.
Vocês irão notar que os vampiros daqui possuem algumas
características diferentes daquelas normalmente encontradas em outros
clássicos. Eles não são imortais, por exemplo, embora possam viver por
algumas centenas de anos.
Assim, não estranhem se algo não coincidir com aquilo que vocês
conhecem sobre vampiros, garanto que tudo será devidamente explicado
durante a história.
Obrigada por terem escolhido Luca. Desejo a todos uma ótima
leitura!
Romênia, agosto de 2017

J á era início de noite na Europa e uma pesada chuva de verão caia sobre o
vale verdejante escondido entre as montanhas dos Alpes da Transilvânia.
O calor dos últimos dias castigava os habitantes da região; no entanto,
não era problema para os moradores do secular castelo dos Constantin, cujas
paredes em pedra mantinham o interior fresco e com uma temperatura
agradável.
— Já falou com sua irmã? — perguntou Mirela, sentada atrás da
enorme mesa de madeira escura, e conferiu os nomes de uma lista que tinha
em mãos. — Ela confirmou se vem mesmo?
— Uhumm... — respondeu Luca preguiçosamente, deitado em um
sofá e com o braço sobre o rosto.
— Luca! Isso é importante. Quer prestar atenção, por favor? —
retrucou a elegante vampira de cabelos castanhos escuros e olhos azuis
acinzentados.
O rapaz inspirou fundo e se sentou.
— Sim, mãe, Ivy confirmou comigo semana passada. Vem ela, o
marido e as crianças... — completou ele.
— Que bom! Fico feliz com isso. — Mirela sorriu. — Ela nunca mais
veio nos visitar depois daquela reunião com o seu pai.
— Isso não é surpresa, não é? — Luca a olhou com um ar
interrogativo. — Aqui não é exatamente um lugar do qual ela guarda boas
lembranças. Aliás, ela disse que virá apenas porque se trata do meu noivado...
Mirela suspirou.
— Sim, entendo. Espero que desta vez ela e o seu pai consigam se
entender melhor.
O jovem vampiro deu de ombros.
— Pelo menos Grigore Constantin sabe que fez merda e que Ivy não
é alguém que ele possa controlar, ainda mais agora que está casada com um
cara que não se deve brincar. — Luca sorriu, lembrando da expressão do pai
quando o marido da irmã disse que não hesitaria em matá-lo, caso ele não
deixasse os dois em paz. — Ela deixou bem claro que poderia demorar para
perdoá-lo.
— Sim... eu sei... Grigore fez coisas odiosas, mas se arrependeu e
está disposto a unir a família de novo — justificou Mirela. — Enfim...
voltemos à lista. E quanto ao seu tio Stefan e ao seu primo?
— O tio vem com a tia, e Rob eu não sei, acho que só vem com a
filha — respondeu Luca. — As coisas não vão bem entre ele e a esposa...
— Isso me arrepia... Você sabe se eles estão pensando em se separar?
Isso seria outro escândalo na família Constantin... — lamentou-se a vampira.
— Já estou ficando até acostumada em ver nosso nome ser motivo de fofoca
entre as famílias tradicionais. Só espero que isso não afete seu irmão Victor.
Ele está há tão pouco tempo no Conselho... Não seria bom perdermos aquela
cadeira, Luca...
— Relaxa, mãe, Rob é americano, esqueceu? — O rapaz de cabelos
negros e olhos incrivelmente azuis sorriu. — A linhagem de vampiros
americanos já não tem boa fama entre os arcaicos Vampyrs europeus faz
tempo, e um escândalo a mais ou a menos não fará diferença. Quantas
pessoas vêm para essa festa? — perguntou, mudando de assunto.
— Acho que teremos uns 120 convidados, por quê?
Luca arqueou as duas sobrancelhas.
— Tudo isso? Mas é só um noivado... Não deveria ser uma festa mais
íntima? Só com os familiares mais próximos? — disse ele espantado.
— Talvez, se fôssemos vampiros comuns e se o pai da noiva não
fosse um membro do Conselho... — Mirela sorriu. — Seu pai não quer fazer
feio, Luca. Ele pode ter perdido a cadeira de conselheiro, mas ainda tem o seu
orgulho. Além disso, você sabe muito bem que o noivado e o ritual de sangue
são quase tão importantes para os Vampyrs quanto o casamento em si. Mas
não se preocupe, está tudo sob controle.
— Hum... está bem então... Mas não se estresse tanto com isso, ainda
faltam seis meses.
— Seis meses passam voando.
Luca se levantou.
— Okay. Preciso subir agora para me trocar, vou me encontrar com
Sebastian em Sibiu mais tarde.
— Sebastian? O que ele faz por aqui? — estranhou a vampira.
— Não faço ideia...
— Está bem, divirtam-se... — respondeu ela com um sorriso e, em
seguida, voltou a olhar a lista para fazer algumas marcações.
O rapaz arrastou-se em direção ao quarto, estava cansado.
Ultimamente ele vinha estendendo seus plantões e dedicando boa parte de seu
tempo ao trabalho no pequeno hospital da região, onde atendia como clínico
geral desde que terminara sua graduação na universidade e voltara para a
Transilvânia. A impressão que tinha era que no verão todas as crianças
resolviam se machucar, caindo de árvores ou andando de skate. Assim, fora
as consultas normais, sempre surgia alguma emergência para atender.
Felizmente sua mãe estava cuidando da organização daquela bendita
festa, não tinha tempo nem paciência para aquilo; se dependesse dele, faria
um jantar só para vinte pessoas, no máximo.
Enquanto subia as escadas, Natasha, sua futura noiva, veio-lhe à
mente.
O casamento entre eles havia sido arranjado quando ainda eram bem
jovens, o que era normal entre os vampiros puros e era algo que ele já
esperava. Por isso, não se importou. Fazia parte de suas obrigações como
herdeiro do castelo manter a linhagem pura, e até que ele tivera sorte com a
prometida.
Quando vira Natasha pela primeira vez, na época em que seus pais
selaram o acordo, ele tinha apenas doze anos de idade e era criança demais
para reparar na jovem de dezesseis. No entanto, quando ele a encontrou
novamente quatro anos depois, ficou embasbacado com a beleza e a
sensualidade da moça.
O vampiro sorriu ao se lembrar da última vez que ela havia estado ali
no castelo. Fazia quase dez anos que não a via... Ele não passava de um
adolescente nerd que dedicava a maior parte de seu tempo em estudar e se
preparar para entrar na universidade quando a jovem apareceu com o pai em
uma visita. Assim que a viu, Luca se achou o vampiro mais sortudo do
mundo.
Ele não esperava que a garota tivesse ficado tão bonita. Bonita não,
linda! Seus cabelos loiros claríssimos combinavam com os olhos azuis
igualmente claros e seu sorriso, encantador.
De início, sentiu-se envergonhado em estar na presença dela, mas
Natasha, sendo um pouco mais velha do que ele, logo deixou-o à vontade.
Tão à vontade que não demorou para que ela o seduzisse e o levasse pela
primeira vez para a cama. Sim, ele havia perdido a virgindade com a própria
futura noiva.
Talvez isso fosse algo bom, talvez não... Ele só sabia que naquela
época tinha sido bom e esperava que quando a hora do casamento chegasse,
dali a algumas décadas, eles pudessem realmente se dar bem, como um casal
de verdade.
Entrou no quarto e tirou as roupas pelo caminho. Além de um bom
banho para acordar, precisava arrumar disposição para se encontrar com
Sebastian. Pelo que conhecia do amigo de faculdade, a noite seria longa...
Enfiou-se embaixo da ducha ainda pensando na noiva, estava curioso para
saber como as coisas se desenrolariam entre ele e Natasha, e como ela estaria
agora.
Pensando bem, ela provavelmente não devia ter mudado muito na
aparência. A garota já era praticamente uma vampira adulta quando esteve
ali, e os vampiros depois que atingem a casa dos vinte anos envelheciam
muito lentamente. Ele, em compensação, apesar de pouco ter mudado nos
últimos anos, com certeza estava bem diferente do garoto ingênuo e
inexperiente de dezesseis anos que ela havia desvirginado, muito diferente...
Sorriu, imaginando como ela se surpreenderia se transasse com ele agora.
Sentindo-se mais disposto e com o humor renovado, Luca saiu do
banho e se trocou. Seguiu, então, para Sibiu, uma das maiores cidades da
Transilvânia, localizada a cerca de 90 km do castelo e onde seu pai mantinha
um hospital de referência, muito procurado para os casos mais difíceis e
complicados.
Chegou à boate no horário combinado com Sebastian e logo o viu em
pé próximo ao bar.
— Olha só quem chegou, finalmente! — exclamou o vampiro de
cabelos loiros não muito claros e olhos em tons que variavam do verde ao
mel.
— Estou no horário — respondeu Luca com um cumprimento de
mãos típico da época da faculdade. — O que faz aqui, tão longe de casa?
— Vim para conversar com o seu pai. — Ele sorriu. — Tenho uma
reunião com ele amanhã.
— Conversar com o meu pai? — Luca franziu a testa. — Sobre o
quê?
— Sobre a vaga de clínico que abriu no hospital de vocês aqui em
Sibiu.
— Como assim? Perdeu o emprego em Bucareste? O que andou
aprontando?
Sebastian riu.
— Não exatamente, estou pedindo as contas. — Fez um gesto
chamando o bartender. — Não aguento mais ficar sob a sombra do meu pai.
Cansei... o velho não sai da minha cola, nunca tenho liberdade para decidir
nada, parece que tudo tenho que pedir aprovação para ele. Chega, preciso
viver a minha vida, ter a minha autonomia.
— E acha que é fácil trabalhar para Grigore Constantin? —
perguntou Luca, ironicamente. — Por que acha que eu preferi ir para um
pequeno hospital regional e trabalhar com o meu irmão ao invés de vir para
cá?
— É diferente... A verdade é que trabalhar com a família não é fácil,
mas eu não sou da sua família, serei apenas um funcionário, então...
O bartender chegou e Luca pediu uma bebida.
— Vai sentir falta da agitação da capital. Sibiu é uma cidade
movimentada por causa da universidade, mas não se compara a Bucareste.
— Isso não me preocupa...
— E quando pretende começar sua especialização?
— Eu já te disse. Vou começar a minha quando você começar a sua.
— Sebastian o olhou com divertimento.
Luca arqueou levemente a sobrancelha e riu.
— Você sabe que não nasceu grudado em mim, não é?
— Não, não nasci, mas me dá tédio só de pensar em enfrentar uma
especialização sem você para me acompanhar nas festas. — O loiro abriu um
sorriso malicioso que Luca conhecia bem.
— Quando vai criar juízo, Bass? — brincou.
— Eu tenho juízo, apenas gosto de aproveitar a vida — respondeu o
amigo. — Mas, e então? Conte-me as novidades, está preparado para se
comprometer em definitivo?
— Fala do noivado? — Luca deu de ombros. — Acho que sempre
estive... Ouço sobre esse assunto desde meus dez anos, quando meus pais
negociaram o enlace. Além disso, Natasha é...
— Gostosa! — Sebastian gargalhou.
— Eu ia dizer “um belo partido”, mas, sim, ela é gostosa. — Os olhos
de Luca cintilaram.
O atendente do bar trouxe a bebida de Luca e eles fizeram um brinde.
— Ao futuro noivo — disse Sebastian ao levantar o copo; então,
ficou pensativo por alguns instantes. — Me diz uma coisa... vão fazer o ritual
de sangue durante a festa?
— Sim... é a tradição. Um dia chegará a sua vez. — Luca sorriu.
— Aff, nem me lembre! Escuta... não acha esse negócio de ritual um
pouco antiquado?
— É só um ato simbólico — respondeu vagamente.
— Mas continua sendo um contrato... um contrato cuja assinatura é o
sangue e que nos prende a uma pessoa para o resto da vida. — Uma ruga se
formou entre as sobrancelhas de Sebastian. — Não sei se gosto disso, ainda
bem que o meu pai não me arrumou ninguém, por enquanto...
— Sorte sua, mas uma hora...
O vampiro de olhos verdes balançou a cabeça negativamente.
— Não tão cedo. Espero que essa hora ainda demore muito para
chegar — disse. — Não está mesmo nervoso?
— Não me preocupo com isso. — Luca bebericou um pouco mais de
seu drink. — Não é algo do qual eu possa ou queira fugir, conheço as minhas
responsabilidades e eu realmente não me incomodo em me comprometer
agora. Afinal... mesmo estando noivo, continuarei com a minha liberdade até
o casamento daqui a uns 30 anos ou mais, então... — disse com um sorriso.
— Ah, sim, pelo menos isso tem de bom. Ainda poderá transar com
muitas mulheres até lá. — Sebastian riu. — Por mim, não me caso antes dos
200 anos. Escute, eu estou na lista de convidados, não é?
— Pergunte para a Natasha, você é primo dela, não meu, então tem
que estar na lista dela — respondeu Luca em tom divertido.
— Até parece, aquela loira me odeia... Olha, o negócio é o seguinte,
se não me colocar na lista, eu entro na sua festa de penetra, ouviu? —
Sebastian virou o resto de sua bebida e pediu outra para o rapaz do bar. —
Enfim, meu amigo, temos que aproveitar nossa beleza e juventude, que
apesar de duradoura, não é eterna. — Apontou, então, para duas garotas que
olhavam insistentemente para o lado deles. — O que acha daquelas ali?
Luca se virou para olhar.
— Bonitinhas... — respondeu.
— Topa? — perguntou Bass sorrindo.
— O quê, exatamente? — quis saber Luca, desconfiado das intenções
do amigo.
— Uma brincadeirinha a quatro.
— Um swing?
Sebastian sorriu maliciosamente e Luca estreitou levemente os olhos.
Bass sempre fora um pervertido, provavelmente havia saído com todas as
garotas bonitas da faculdade e chegara muitas vezes a arrastá-lo para suas
loucuras. Foram seis anos de muito sexo, sem dúvida, algo que Luca já havia
até se desacostumado nos últimos meses, pois em cidades pequenas, como as
que rodeavam o vale, era complicado encontrar alguém apenas para passar
uma noite sem compromisso, se divertir, transar... ainda mais sendo ele um
Constantin. Todos conheciam sua família por ali e muitas garotas tentavam
prender a sua atenção na esperança de namorar o único herdeiro solteiro do
castelo.
Refletiu por um momento. E por que não? Os vampiros podiam se
relacionar com quem ou quantas pessoas quisessem até o casamento, mesmo
estando noivos. A fidelidade e a lealdade eram cobradas somente após o
enlace, portanto não havia por que recusar. Era comum jovens vampiros
como ele se aproveitarem da liberdade que tinham enquanto podiam: sem
limitações, sem reservas, sem pudor.
Logo, não haveria problema nenhum em se acabar no sexo enquanto
não se casasse, desde que tomasse o cuidado de não iludir nenhuma garota
com quem saía, e desde que não se envolvesse emocionalmente com
ninguém.
Se apaixonar estava totalmente fora de questão. Primeiro porque não
havia como desistir de um enlace como já estava combinado entre ele e
Natasha, pois só um casamento entre vampiros puros garantiria a
continuidade de sua linhagem. Sendo ele um Constantin, senhores do vale por
séculos, com a tutela de mais de 80 famílias de vampiros transformados,
tinha a consciência de que carregava maiores responsabilidades por isso.
Segundo, porque ele sabia perfeitamente que, se tratando de
humanas, se apaixonar era um perigo. Não podia correr o risco de alguma
mulher descobrir sobre sua natureza. Afinal, como um Vampyr, um ser
sobrenatural que podia viver por mais de 500 anos, sua obrigação era manter
sua existência em segredo.
— Está bem... — respondeu Luca sorrindo. — Um swing, então?
Vamos nessa...
— Okay, mas antes tenho que te perguntar uma coisa — disse
Sebastian com um olhar enigmático. — Já experimentou o sangue de alguém
vivo, fora da cerimônia de batismo?
— Claro que não, é proibido! — respondeu ele, arqueando as
sobrancelhas. — Você já?
O vampiro loiro deu um sorrisinho de lado e se aproximou um pouco
mais de Luca.
— Espero contar com a sua discrição... — disse-lhe próximo do
ouvido.
— Você está brincando? Pretende mesmo fazer isso? — espantou-se
Luca. — Com elas?
— Ah, Constantin, não sabe o que está perdendo... — Piscou. —
Vamos! — exclamou Sebastian se levantando e caminhando em direção às
garotas.
C erca de quinze minutos depois de saírem da boate, os dois vampiros e
as garotas entravam em um pequeno, mas confortável motel no centro
da cidade.
Luca ainda estava receoso com as palavras do amigo, mas ao mesmo
tempo curioso. Sebastian era do tipo que não se preocupava muito com as
consequências de seus atos, era espontâneo, imprudente e, algumas vezes,
rebelde. Bem diferente de Luca, que preferia se manter mais reservado e não
chamar muito a atenção.
Dentro do quarto, as jovens mulheres, uma loira e uma ruiva, logo
mostraram a que vieram. Enquanto Sebastian pegava duas cervejas no
frigobar e entregava uma a Luca, as duas começaram a tirar as roupas uma da
outra, sob os olhares atentos e libidinosos dos rapazes.
Totalmente nuas, passaram a se beijar e se acariciar sem o menor
pudor, provocando ondas de excitação em Luca. Ele já sentia seu membro
duro e sensível. O amigo também não estava diferente, o volume em suas
calças o denunciava.
Sem conseguir mais se conter, Sebastian largou a garrafa de cerveja
sobre o móvel e se enfiou no meio das garotas, beijando-as alternadamente.
Não demorou muito para que elas arrancassem também as roupas dele e
soltassem um exclamação de admiração frente à bela ereção do rapaz.
Luca sorriu, ele também queria entrar na brincadeira. Então se
levantou e caminhou até o trio. As meninas logo se voltaram para ele, e
enquanto uma lhe beijava a boca e tirava sua camisa, a outra se encarregava
de tirar suas calças.
Em poucos minutos estavam todos nus e se agarrando sobre a cama.
A ruiva, após beijar todo o corpo de Luca, resolveu se ocupar de seu pau,
lambendo-o e chupando-o. Ele ansiava para que ela o colocasse todo na boca,
mas seu brinquedo era grande e o vampiro sabia que não era fácil, pelo
menos ela o engolia gostoso até onde conseguia, e isso lhe arrancava gemidos
de prazer.
Já a loira, sentada sobre Sebastian, rebolava e se esfregava nele,
querendo desesperadamente que ele a penetrasse.
No entanto, o amigo parecia determinado em postergar o ato, como
se aquilo o excitasse. Com um sorriso, Sebastian se levantou e voltou até o
frigobar, pegando algumas garrafinhas de tequila e entregando uma para cada
garota. Percebia-se que elas já haviam bebido bastante na boate e aquela
tequila só iria deixá-las mais bêbadas, mas parecia que era isso que ele
pretendia.
O rapaz voltou para a cama e, para o deleite da loira, possuiu-a
finalmente, enterrando-se na cavidade quente e escorregadia da mulher com a
voracidade de um predador. Ela nem mesmo o questionou sobre ele não usar
camisinha. Sebastian, por sua vez, pouco se preocupava com isso, não podia
engravidar humanas mesmo... Somente se fossem transformadas e ainda
assim não era tão fácil.
Já a ruiva, após tomar sua dose de bebida, voltou a se concentrar no
membro de Luca, que, deitado sobre os travesseiros, deliciava-se com o que a
garota fazia com a boca. Ela o lambia em toda sua extensão, abocanhava sua
glande e a sugava, subindo e descendo com os lábios em um ritmo frenético
que o estava levando rapidamente ao ápice.
— Não goze ainda, Luca — disse Sebastian, voltando-se para ele.
Luca levantou a cabeça e olhou interrogativamente para o amigo, que
sorriu com malícia enquanto ainda se enterrava na loira. A ruiva liberou,
então, o seu membro da boca e o fitou com os olhos inebriados.
— Você é gostoso — disse ela com a voz meio enrolada. — E o seu
pau é fantástico, quero ele dentro de mim, por favor...
Luca sorriu e a puxou para cima dele. A garota se encaixou em sua
ereção e começou a se movimentar, cavalgando-o como uma amazona. Os
seios da mulher balançavam e ele agarrou-os com as duas mãos, apertando-
os. Ah, como sexo era bom!
— Caralho, Sebastian, quero gozar! Você quer que eu espere o quê?
— disse ele, já com a respiração entrecortada pelo prazer iminente.
O rapaz ao lado riu e saiu de dentro da loira. Puxou, então, a ruiva de
cima do amigo, fazendo-a se deitar ao lado da outra garota e as duas voltaram
a se beijar. Luca soltou um gemido frustrado.
— Calma, meu amigo. Não tenha pressa... — falou Sebastian se
levantando e pegando mais bebida para as moças. — Vamos lá, garotas,
fiquem de joelhos.
Elas obedeceram e, entre beijos e carícias, aceitaram a bebida feita de
vodca que o vampiro lhes oferecia na boca. Luca se sentou, observando o
amigo que parecia se divertir com as moças se pegando. Mas ele também
queria se divertir, queria foder, queria gozar, e já estava ficando impaciente.
Sebastian, posicionado atrás da ruiva, olhou para ele e sorriu, um
sorriso malicioso. Em seguida desceu a mão pelo ventre da garota e começou
a acariciá-la em sua intimidade, ao mesmo tempo em que a amiga loira lhe
chupava os seios. A ruiva jogou a cabeça para trás extasiada, embriagada. Na
verdade, ambas estavam completamente bêbadas.
A garota estava quase gozando sob os dedos de Sebastian quando ele
encarou Luca novamente.
Um frio na espinha misturado com uma pressão crescente em seu
sexo tomou conta do corpo do jovem Constantin quando ele viu, surpreso,
que os olhos do amigo tinham passado de verde para violáceos.
Bass sorriu outra vez e, sem hesitar, inclinou a cabeça e cravou os
dentes no pescoço da ruiva, fazendo-a soltar um grito rouco.
A loira, que ainda sugava o mamilo da amiga, levantou a cabeça para
olhar o que estava acontecendo e, neste momento, Luca viu que precisava
fazer algo.
Sem dar chance para que ela entendesse o que se passava ali,
aproximou-se rapidamente da moça e a puxou para si, deitando-a de bruços
na cama e cobrindo seu corpo com o dele. Afastou, então, as coxas dela
usando seus joelhos e a penetrou de uma só vez, sem cuidado, sem
delicadeza. A visão de Sebastian mordendo a ruiva o havia excitado ainda
mais e o cheiro do sangue fresco que vinha dos dois estava o instigando de
uma forma absurda.
Tomado de excitação, Luca se mantinha sobre a loira, enterrando-se
nela com vigor. Poderia se manter assim, metendo por trás até gozar, mas não
era egoísta; desceu, então, uma de suas mãos para o ponto sensível da moça e
começou a acariciá-lo, fazendo-a gemer alucinadamente.
No entanto, ele queria mais; e o cheiro de sangue vindo do casal ao
lado... não conseguia ignorá-lo. Virou, então, o rosto para observá-los e notou
um pequeno filete vermelho escorrer pelo pescoço da ruiva, enquanto o
amigo permanecia sugando-a, já quase desfalecida em seus braços.
Aquela visão foi demais para Luca. Imediatamente seus olhos
ficaram violáceos e ele deixou sua transformação se completar; ele também
queria aquilo, o sangue. Sem mais raciocinar se o que fazia era certo ou não,
inclinou a cabeça da loira para o lado e enterrou seus dentes afiados em seu
pescoço.
Para o deleite da garota, a mordida de um vampiro, apesar de doer
um pouco, também era um potente estimulante sexual para os humanos. Ela
fazia com que uma descarga de neurotransmissores responsáveis pelo curto
circuito do prazer fosse liberada no cérebro, intensificando e prolongando o
orgasmo deliciosamente.
A loira, então, gritou e se tensionou embaixo dele, gozando, vibrando
e gemendo; em seguida, ela relaxou. Luca sorriu por dentro e continuou a
penetrá-la profundamente, enquanto sorvia seu sangue como se tomasse um
licor doce. Logo, o gozo chegou para ele, longo, intenso e avassalador, como
nunca antes havia sentido. Realmente, como dissera Sebastian, ele não sabia
o que estava perdendo...
Ofegante e satisfeito em todos os sentidos, deixou, finalmente, a
moça, deitando-se ao seu lado.
Olhou, então, para Sebastian. Ele havia mudado de posição com a
ruiva, deixando-a por baixo na cama, e agora a fodia com vontade. Ela
soltava pequenos murmúrios e gemidos, certamente a moça já havia gozado e
agora estava em um estado de quase inconsciência. Com um estocada mais
forte, o amigo chegou ao clímax, fechando os olhos e soltando um longo
gemido.
Luca sorriu, aquele cara não prestava, mas era seu melhor amigo.
Ainda não sabia como deixava se levar por ele naquelas loucuras. Sim,
porque aquilo era uma loucura, era proibido; e se alguém descobrisse,
estariam ferrados.
Apesar dos vampiros ingerirem regularmente sangue humano, este
era retirado daqueles que morriam nos hospitais, purificado e embalado.
Vampiros eram proibidos de ingerir sangue fresco direto dos humanos,
exceto durante as cerimônias de batismo, pois o líquido quente e viscoso que
saía direto das veias dos vivos era um poderoso afrodisíaco que podia viciar
qualquer vampiro, puro ou transformado, como uma droga.
Quanto mais ingerissem, mais sentiam a necessidade de tomá-lo; e,
uma vez fora de controle, os vampiros poderiam atacar qualquer um, em
qualquer lugar. Algo perigoso para seres como eles que para sobreviverem
precisavam se manter nas sombras, invisíveis.
Por conta disso, há muito tempo o Conselho havia imposto esta
proibição, mas naquele quarto de motel, naquele momento, tal regra não
parecia ser algo que preocupava qualquer um dos vampiros que ali estavam.
Sebastian rolou para o lado e encarou Luca com os olhos brilhantes e
a boca com os cantos sujos de sangue. Ele riu e se levantou, indo pegar mais
cerveja no frigobar.
Luca se levantou também e ambos se sentaram no sofá, bebendo e
observando as garotas na cama, elas dormiam profundamente, como se
estivessem anestesiadas.
— E aí? — perguntou Sebastian. — Gostou?
— Não posso dizer que não. — Luca sorriu. — Mas isso não foi
certo, afinal.
— Não machucamos ninguém aqui, esses dois furinhos nos pescoços
delas mal vão aparecer amanhã e elas estarão novas em folha — respondeu o
amigo com um suspiro.
— Sabe que não é por isso...
— Não colocamos nosso segredo em risco, duvido que as duas ali se
lembrem de algo com clareza. Além disso, tem muito humano hoje que
“brinca” de ser vampiro. Se alguém desconfiar, é só dizer que é uma
brincadeira, um fetiche...
— Ainda assim, se alguém descobrir...
— “Se” alguém descobrir, com certeza irão nos jogar por um tempo
nas masmorras. — Sebastian sorriu meio de lado. — Ou melhor, eu ia ser
jogado nas masmorras, você tem seu irmão no Conselho, receberia no
máximo uma advertência.
— Você tem seu tio...
— Quem, o pai da Natasha? — Gargalhou o rapaz. — Aquele lá seria
bem capaz de dobrar minha pena ao invés de me ajudar.
— Ainda não entendo essa rixa entre vocês. — Luca bebeu um gole
da cerveja.
— Ah, coisas de herança. Meu tio acha que meu pai passou a perna
nele, ficando com o melhor hospital depois que meu avô morreu. — Ele deu
de ombros. — Desde então, ninguém olha mais na cara de ninguém. Sua
futura noivinha não vai me gostar de ver na festa, já vou avisando... — Ele
riu.
Luca sorriu.
— Bass... Você faz muito isso? — perguntou, curioso.
— Isso o quê?
— Beber sangue de humanos vivos?
Sebastian riu.
— Não, claro que não, conheço os perigos do vício. Só faço de vez
em quando..., mas é bom, não é? — Ele refletiu por uns instantes. — Sei que
o Conselho instituiu essas regras para proteger nossa existência, mas ainda
penso que isso anula demais nossa natureza... Algumas coisas deveriam ser
permitidas com moderação...
— O problema é que sempre terão aqueles que não saberão agir com
moderação... — Luca olhou para as garotas. — O que vamos fazer com elas?
— Ah, antes do sol nascer a gente acorda as duas. — Sebastian se
levantou do sofá e voltou para cama. — Vou tirar um cochilo, não vai vir
não?
— Vou ficar no sofá — respondeu Luca se esticando por ali mesmo.
A cama estava um pouco cheia e ele queria um pouco mais de espaço para
descansar. Fechou os olhos e relaxou, o sono veio logo em seguida.
Acordou algumas horas depois com o barulho de gemidos, voltou os
olhos para a cama e viu Sebastian fodendo a loira desta vez. Ele riu, o amigo
era incansável. Procurou o celular para conferir o horário e notou que já ia
amanhecer.
— Ei, Luca! — disse Bass ainda se movimentando sobre a moça
quando percebeu que ele tinha acordado. — Vem se divertir mais um pouco.
— Não, vou tomar um banho — respondeu o rapaz se levantando. —
Tenho mais de uma hora de estrada pela frente ainda. Não quero pegar o sol
muito alto.
Apesar de proteger a pele com roupas e seu carro ter insulfilme,
quanto mais intensos eram os raios UV, maior era o incômodo. Aliás, Luca
considerava o verão terrível por causa disso. Mesmo com o calor dos
infernos, era obrigado a sair com mangas compridas e luvas, fora o chapéu e
os óculos escuros. Não era à toa que muita gente da cidade achavam os
Constantin esquisitos.
O vampiro foi, então, até o banheiro e tomou uma ducha rápida
Quando voltou, Sebastian já havia satisfeito seus impulsos e estava estendido
na cama com uma expressão feliz, a loira penteava os cabelos e a ruiva estava
acordando. Alguns minutos depois, ambas seguiram juntas para se lavarem,
enquanto os dois rapazes se vestiam no quarto.
— A que horas vai falar com o meu pai hoje? — perguntou Luca.
— Ele marcou às 11h comigo — respondeu Sebastian. — Seu pai
vem todos os dias para Sibiu? — quis saber.
— Não, o hospital tem um Diretor Geral responsável pela maior parte
das decisões. Meu pai vem duas ou três vezes na semana só. — Luca sorriu.
— Grigore gosta mais de cuidar dos assuntos do castelo, das terras, da vila...
— Hum... é verdade que ele perdeu a cadeira no Conselho por causa
da sua meia-irmã?
Luca arqueou uma das sobrancelhas. Apesar de aquilo ter acontecido
na época em que estudavam juntos, Bass nunca havia tocado no assunto.
— Não foi por causa de Ivy, foi por causa das más decisões dele em
relação a ela. Mas, no fundo, isso foi bom para ele, para minha irmã, para
todos nós. Meu pai mudou muito depois que deixou o Conselho; apesar de
ainda continuar rígido em algumas coisas, ele entendeu que o mundo está
mudando e que nem tudo dá para ser preto no branco.
— Estou curioso para conhecer sua irmã — disse Sebastian com um
brilho no olhar.
Luca riu.
— Nem tente, meu amigo. O marido dela é mais perigoso do que dez
Lykans juntos.
— Ah.. sim... você disse uma vez, ele é um Warg, né? — falou
pensativo.
— Exatamente, alguém com quem você não deve se meter a besta.
Está avisado! — Sorriu.
Sebastian fez um sinal de okay, enquanto as moças retornavam do
banheiro.
Luca voltou para o castelo naquela manhã se sentindo diferente, bem
mais disposto do que quando apenas fazia sexo normalmente. Com certeza
por causa do sangue fresco. Realmente, aquilo havia sido uma experiência e
tanto...

Dois meses depois daquela intensa noite, Luca descia com pressa as
escadas do castelo para tomar café, estava atrasado. Durante aquelas
semanas, não vira mais Sebastian, e apenas soubera que seu pai o havia
contratado para trabalhar em Sibiu.
Apesar de ter recebido algumas ligações do amigo e de sentir falta de
sair e de se divertir, preferiu não retornar à cidade. Sabia que o que haviam
feito não era certo e sua consciência ainda pesava um pouco, por isso achou
melhor evitar a companhia de Bass por um tempo.
Como de costume, foi direto para a cozinha e encontrou a mesa
preparada por Anna, a cozinheira, com pães, geleias, torta e suco de pêssego,
seu favorito.
— Hum, parece bom! — exclamou, pegando uma fatia de pão
quentinho e o mordendo.
Anna sorriu. Desde criança Luca fazia as refeições do dia ali. Ele não
gostava de comer sozinho na enorme sala de refeições do castelo e ela
adorava lhe fazer os gostos.
— O que vai querer para o jantar, Sr. Luca? — perguntou a
cozinheira, uma vampira transformada de corpo cheinho e olhos e cabelos
castanhos já grisalhos.
— Pode ser uma massa. — Ele sorriu. — Aquela com molho de
linguiça calabresa, e costela. Hum, faz tempo que não como costela... —
Tomou um gole de suco, pegou um pedaço de torta e mordeu um pedaço
grande. — Estou atrasado — disse de boca cheia. — Tenho que ir! —
despediu-se e saiu rapidamente pela porta dos empregados.
Anna meneou a cabeça com um sorriso. Aquele ali era um Constantin
bem diferente do pai. Educado, inteligente e encantador, o rapaz não se
importava de conversar e estar entre as pessoas mais simples. Sempre tratava
a todos bem e por isso era adorado entre os empregados no castelo e os
habitantes da vila dos transformados; diferente de Grigore, a quem todos
respeitavam, mas temiam.
Não que o senhor do castelo fosse alguém cruel ou injusto, mas
certamente era duro e rigoroso, principalmente quanto às regras que regiam
os vampiros. Se algum transformado saísse fora da linha, era punido sem dó.

Luca chegou ao hospital arrancando as luvas de proteção contra o sol


e indo direto para seu consultório. A enfermeira entrou logo atrás.
— Dr. Luca, temos uma emergência — disse ela ligando o
computador da mesa do médico enquanto ele escovava os dentes no banheiro
anexo à sua sala.
— É grave? — perguntou do banheiro, alarmado.
— É preocupante, doutor, mas por outro motivo.
— O que houve? — quis saber ele, voltando e colocando o jaleco.
— Parece que foi uma queda... pelo menos é o que diz a mãe, mas...
não sei não... A garota já deu entrada aqui outras vezes, e a mãe sempre diz a
mesma coisa, contudo, vendo o histórico... — comentou a enfermeira,
entregando a ficha de atendimento da paciente.
O vampiro franziu as sobrancelhas e procurou pelo nome da garota
no banco de dados do computador.
— Cătălina Petran, 18 anos recém completados... — A ruga entre
seus olhos se acentuou. — Fratura no braço aos 10 anos, ombro deslocado
aos 12, corte profundo na testa associado a hematomas na face aos 15... Em
todas as vezes a causa foi queda...
— Ela diz que está sentindo dor ao respirar — comentou a
enfermeira.
— Certo, vamos ver o que houve desta vez — disse sério, saindo do
consultório. Realmente o histórico da paciente era estranho e sua intuição lhe
dizia que se tratava de um daqueles casos alarmantes, não pelo ferimento em
si, mas pela causa.
L uca encontrou a paciente sentada em uma maca de uma das salas da
emergência, sua mãe a acompanhava. A garota trajava um vestido
simples com uma blusa de mangas por cima e tinha os cabelos
dourados batendo-lhe quase no meio das costas.
Ela fitava o chão e elevou o rosto para olhá-lo assim que ele entrou
na sala. O médico se aproximou e reparou, então, nos lábios machucados e
inchados da garota. Em seus olhos verde azulados havia medo e sofrimento,
sua respiração estava curta e uma fina linha de suor lhe escorria pelo rosto,
junto à linha do cabelo. Claramente ela estava sentindo dor.
— Oi... Cătălina, certo? — perguntou e ela assentiu. — Meu nome é
Luca, sou o médico que vai te atender, pode me dizer onde está doendo?
Ela procurou a mãe com os olhos e Luca seguiu seu olhar. A mulher
que a acompanhava aparentava nervosismo, tinha por volta de 40 anos, vestia
roupas desgastadas e os cabelos, já coberto de fios brancos, eram de um loiro
acinzentado um pouco mais escuros que os da filha.
O vampiro voltou a encarar a garota esperando pela resposta.
— Precisa me dizer onde dói para eu poder te ajudar — insistiu ele
com a voz um pouco mais suave.
Com os olhos baixos, a menina colocou a mão na altura das costelas.
— Vou ter que dar uma olhada, tudo bem? — falou Luca, ela
concordou sem encará-lo.
A enfermeira se aproximou e a ajudou a tirar a blusa e descer a parte
de cima do vestido. Desconcertada, ela cobriu o sutiã com os braços. Luca
deu uma olhada na lateral do corpo da garota e não gostou do que viu. Ela
tinha um grande hematoma logo acima da cintura e outros no ventre, no
ombro e nos braços. Aquilo não havia sido uma queda, ele soube no
momento que pôs os olhos nela, e os machucados só confirmaram suas
suspeitas...
— Sente dor ao respirar? — perguntou e ela assentiu.
Luca posicionou o estetoscópio em suas costas e pediu para que ela
tentasse inspirar algumas vezes o mais fundo que conseguisse. Escutou por
alguns momentos e não encontrou nada que indicasse danos no pulmão.
— Vou pedir um raio X de tórax e um exame de imagem para o
abdômen. Leve-a para a radiologia — disse para a enfermeira, então voltou-
se para a mãe. — A senhora pode esperar no atendimento.
— Não posso ir com ela? — A mulher abriu mais os olhos.
— Não, esse exame não pode ser realizado acompanhada, a não ser
quando é uma criança, o que não é o caso — esclareceu ele.
— Doutor... não podemos pagar...
— Não se preocupe, temos uma assistência social e uma Fundação
que arca com esse tipo de tratamento se for necessário. Alguém vai lhe
procurar lá fora. Por favor, aguarde no atendimento — repetiu, abrindo a
porta e indicando a saída da sala.
Assim que a mãe saiu, a enfermeira ajudou a garota a vestir uma
camisola de hospital e a se sentar em uma cadeira de rodas, levando-a, em
seguida, para a ala da radiologia. Luca não costumava acompanhar os
pacientes, mas queria falar a sós com a menina, por isso seguiu logo atrás.
Fizeram primeiro o raio X que indicou uma costela trincada,
felizmente não havia sido uma fratura grave com risco de perfuração de
órgãos. Ainda assim, Luca pediu a tomografia do abdômen, pois as manchas
roxas na região indicavam que Cătălina havia levado pancadas ali e ele
precisava se certificar de que não havia nenhum dano ou hemorragia interna.
Enquanto a garota esperava pelo exame, ele se aproximou para
conversar.
— Cătălina, sabemos que isso não foi resultado de uma queda —
disse.
Ela desviou o olhar.
— Foi sua mãe que lhe fez isso? — Luca perguntou e ela balançou a
cabeça negativamente. — Seu pai? — insistiu ele.
A menina se encolheu.
— Não tenho pai... — Ela respondeu, sua voz era tímida e doce. —
Foi uma queda... como minha mãe disse.
Luca franziu as sobrancelhas, sabia como era aquilo. O medo
paralisava as pessoas, principalmente quando se tratava de uma menina tão
jovem e que aparentemente vinha sofrendo desde criança.
— Escute... — disse ele ao tocar levemente o ombro dela para que ela
o olhasse. — Não pode ter medo de denunciar um abuso, senão isso não vai
parar...
Os olhos da garota se encheram de lágrimas, mas ela balançou
negativamente a cabeça e voltou a olhar para o chão.
Luca suspirou, aquilo lhe revoltava e ele queria poder fazer algo, mas
o sigilo médico-paciente o deixava de mãos atadas. Se ela não denunciasse,
nada poderia ser feito.
Assim que o médico se afastou, Cătălina secou uma lágrima solitária
e engoliu o resto do choro. Era para ter sido um dia feliz, o seu aniversário,
mas não foi bem assim...
No dia anterior, ela acordara cedo e, diferente de outros dias, havia
ido trabalhar animada, estava fazendo 18 anos e queria se dar um presente.
Vestiu uma roupa melhorzinha, a que usava para ir à missa, e resolveu que
compraria um bolo para comemorar.
Não que tivesse amigos para isso. Nunca conseguira estabelecer
relações de amizade com ninguém. Quando era criança, não podia ir na casa
dos coleguinhas e muito menos trazê-los para a sua própria. Durante a
adolescência, chegara a levar uma surra quando Nicolae, seu padrasto,
descobrira que havia beijado um garoto da escola.
Aquela foi uma das vezes que precisou ir para o hospital dar pontos
em sua testa. Sua mãe ainda a repreendeu, dando razão ao padrasto. Ele
também ameaçou o garoto, que nunca mais chegou perto dela.
Depois disso, começou a notar os colegas de escola cochichando a
seu respeito, alguns a olhavam com pena, outros davam risada. Entretanto,
apesar daquilo a constranger e a magoar, sua natureza tímida inibia o
enfrentamento da situação. Assim, preferiu se manter afastada de todos,
passou a falar somente o necessário e decidiu não confiar em ninguém.
Não tinha, portanto, amigos com quem pudesse comemorar seu
aniversário, apenas a mãe e Nicolae, mas não se importava. Aquele dia era
especial para ela e sentia-se feliz. Por isso, passou na doceria na volta do
trabalho e comprou um bolo, algo raro em sua casa.
Era um bolo simples, recheado de frutas e coberto com glacê, mas
para ela o melhor bolo do mundo, pois representava uma nova fase da sua
vida. Para suas condições financeiras, não havia sido barato, no entanto. Sua
família não tinha muito dinheiro. Ela trabalhava em um mercadinho e o
pouco que ganhava deixava quase todo nas mãos da mãe, que não tinha
emprego fixo e fazia bicos aqui e ali para ajudar no orçamento. Seu padrasto
era um inútil, bebia todo o salário que ganhava como mecânico e mais um
pouco, por isso a comida em casa era racionada e suas roupas eram
desgastadas pelo uso.
Doce ali era um luxo, mas para a jovem romena, aquele bolo valia
cada centavo. Ela sabia que ao fazer 18 anos poderia tentar a vida longe
daquela minúscula cidade; bem longe de casa, bem longe dos gritos, das
discussões e das surras habituais. Poderia ser, finalmente, independente e
nunca mais voltar. Sua mãe nunca a defendera do padrasto violento e isso
machucou sua alma de tal forma que não se importava se caso também nunca
mais a visse.
Cătălina, ou Nina, como seus colegas de trabalho a chamavam,
desejava a liberdade, sonhava com isso dia e noite, e não via a hora de
colocar seu plano em prática. Ela tinha conseguido guardar algum dinheiro
desde que começara trabalhar, aos dezesseis, e o deixava escondido em uma
caixinha, embaixo de uma pedra no quintal de casa. Usaria esse dinheiro para
começar uma nova vida, esse era seu sonho.
Seguiu com o bolo para casa com um sorriso aberto, sentia-se leve e
bem disposta. Um sentimento que morreu assim que pôs os pés na porta da
cozinha. Nicolae, para variar, estava bêbado. Com uma garrafa de conhaque
nas mãos, berrava impropérios porque a janta não estava pronta.
Cătălina deu meia volta com a intenção de levar o doce para o quarto,
mas o padrasto logo a viu.
— Ei, você! O que é isso aí na sua mão? O que tem nessa caixa? —
disse ele com voz arrastada.
— Não é nada... É só um bolo — respondeu a garota, insegura.
— Um bolo?! — vociferou o homem. — De onde veio isso? Deixe-
me ver! — ordenou, aproximando-se e arrancando a caixa das mãos de
Cătălina, que se manteve muda.
Meio desequilibrado por causa da bebida, ele colocou a embalagem
na mesa da cozinha, amassando-a ao se apoiar sobre ela, então a abriu.
— Pegue a faca aí — ordenou para a esposa.
Sob o olhar marejado da jovem aniversariante, Nicolae cortou o bolo
de qualquer jeito e enfiou um grande pedaço na boca. Cătălina desviou os
olhos para o chão. Não era assim que ela imaginava sua comemoração, não
era para ser daquele jeito. Por que ela não podia ter um simples dia normal
em sua casa? Por que não podia cantar parabéns e ser felicitada como todo
mundo? Por que tinha que ter uma família assim? Queria gritar, chorar,
xingar, mas engoliu as lágrimas e as palavras, pois sabia que poderia ser pior
se abrisse a boca para dizer algo.
O padrasto, após comer outra fatia, olhou para ela desconfiado.
— Onde conseguiu esse bolo? — perguntou, bebendo mais um pouco
do conteúdo da garrafa.
— Ganhei no serviço — mentiu. Ela sabia que seria um problema se
dissesse que o havia comprado.
— Ganhou? Por que ganhou? Ninguém ganha nada assim, o que você
andou fazendo, sua vagabunda? — Ele se aproximou, seus olhos destilavam
ira. — Andou sentando no colo do chefe ou já deu o rabo para ele?
— Não fiz nada, é que hoje é meu aniversário... — Cătălina se
afastou, encostando-se na parede.
Nicolae arregalou os olhos e deu um sorriso estranho.
— Ah... sei... e desde quando simples funcionários ganham bolo no
aniversário? — Ele se aproximou de forma ameaçadora, fazendo-a se
encolher. — Não minta para mim, Cătălina! O que você andou aprontando?
— rosnou o homem, segurando-a pelo pescoço contra a parede e fazendo-a
olhar para ele. Seu bafo a enojava.
— Eu não fiz nada... — Uma lágrima rolou pelo rosto da garota.
— Pois saiba que amanhã vou lá naquele mercado conferir essa sua
história, e ai de você se eu descobrir que está mentindo.
Cătălina sentiu seu coração acelerar ainda mais. Certamente ele a
faria passar vergonha em seu trabalho e depois a mataria quando chegasse em
casa.
— Desculpe, eu menti, eu comprei o bolo... — confessou.
O padrasto apertou ainda mais sua garganta.
— Eu tenho a nota... — continuou ela, segurando as mãos dele que
começavam a sufocá-la. — Por favor...
Com um movimento brusco, Nicolae lhe deu um forte tapa na cara,
arremessando-a contra o chão.
— Como ousa mentir para mim, sua puta! — vociferou e em seguida
chutou-lhe o abdômen. Ela gemeu e se encolheu. — Como se atreve a gastar
dinheiro com essas merdas? — Deu outro chute, acertando-lhe o braço. —
Acha que merece? Só porque é seu aniversário? Vou te mostrar o que você
merece!
Cătălina se encolheu mais, ficando em posição fetal, seu braço doía,
seu ventre doía, as lágrimas eram abundantes. Então o padrasto lhe desferiu
outro chute, desta vez acertando as costelas. A dor foi tão aguda e profunda
que ela perdeu o ar por alguns segundos. Em seguida, ele pegou a garrafa de
conhaque e saiu de casa blasfemando.
Quando a garota conseguiu respirar novamente, não sabia o que doía
mais, se era o seu corpo ou sua alma. Ainda no chão, olhou para a mãe que
estava de costas para ela, terminando a janta. Implorou por ajuda, mas não
obteve resposta. Tentou se levantar, mas a dor em suas costelas era
insuportável, acabou ficando ali no chão, por horas.
A mãe saiu da cozinha deixando a comida no fogão intocada. Nicolae
também não apareceu mais, felizmente, e somente quando a noite já estava
alta, Cătălina conseguiu se sentar. Suas lágrimas já haviam secado, sentia-se
um lixo e não aguentava mais aquilo... Com muita dor e dificuldade,
levantou-se e caminhou vagarosamente para o quarto, deitando-se com
cuidado na cama. Cada movimento era uma pontada, e ela sentiu que desta
vez o estrago em seu corpo havia sido maior.
O bolo ficou em cima da mesa, assim como a comida no fogão. De
manhã, não conseguiu sair da cama e a mãe finalmente apareceu.
— Nicolae já saiu para trabalhar — disse ela. — Pode se levantar
daí...
— Não consigo — murmurou Cătălina. — Meu corpo dói, não
consigo respirar direito...
— Não seja manhosa, menina! Você precisa ir trabalhar! Já não basta
ter gastado o dinheiro que não devia naquele bolo ontem? Não pode faltar no
serviço!
— Mãe... por favor... acho que eu preciso ir para o hospital.
A mulher arregalou os olhos.
— Não precisa coisa nenhuma! Larga de frescura! — Aproximou-se
da filha e tentou puxá-la da cama, arrancando-lhe um grito de dor.
Cătălina olhou com raiva para a mãe.
— Odeio todos vocês... — disse enquanto se levantava com cuidado
e devagar. — Se não vai me levar para o hospital, vou sozinha... Já tenho 18
anos agora, esqueceu?
Seguiu para o banheiro e se olhou no espelho, estava horrível, boca
inchada, olhos vermelhos e olheiras profundas. Teve vontade de chorar
novamente, mas se segurou. Aquilo iria acabar logo, se Deus quisesse!
Passou os dedos em uma correntinha de prata em seu pescoço, parou no
pequeno pingente de crucifixo e o segurou delicadamente. Fechou, então, os
olhos, pedindo forças.
A joia quase não tinha valor material, o que era bom, ou seu padrasto
já a teria trocado por bebida, mas possuía um enorme significado emocional.
Ela havia pertencido à sua avó, a única pessoa que cuidara dela com carinho
quando ainda era uma criança.
Para sua tristeza, a amável senhora havia falecido cedo... um câncer
agressivo, soube mais tarde. Antes de morrer, a avó a chamara em seu leito e
lhe dera a correntinha, uma simples lembrança que acabara se tornando um
objeto de fé, um tesouro que lhe dava coragem para levantar todos os dias e
enfrentar suas dores.
Assim que saiu do banheiro, sua mãe lhe esperava na porta.
— Vou com você — disse ela, simplesmente.
Pediram ajuda a um vizinho, que as olhou de forma repreensiva,
provavelmente por ter se cansado de aconselhá-las a deixar aquela casa, mas
que, apiedado com a situação, as levou de carro até o hospital. Somente
quando chegaram lá, sua mãe voltou a falar.
— Diga que foi uma queda, entendeu? Se Nicolae descobrir que
contamos aqui alguma coisa do que aconteceu, ele vai nos matar. E você sabe
que ele é bem capaz disso. Não diga nada sobre ele, ouviu menina? Nada!
Quando o médico entrou na sala, Cătălina, apesar da vergonha e da
dor, admirou-se com a beleza do rapaz. Cabelos negros, olhos azuis intensos
e maxilar bem definido, ele era tão jovem... devia ser recém-formado. Luca
Constantin, era o nome dele, o sobrenome estava bordado no jaleco. Será que
ele era um dos famosos Constantin que moravam no castelo do vale?
Entre os habitantes da região, corriam várias lendas urbanas sobre
eles. Diziam tantas coisas a respeito daquele castelo.... Que era assombrado,
que escondiam demônios, que os Constantin eram vampiros... Ela achava
aquilo tudo uma piada, coisa de gente ignorante. Os Constantin eram vistos
durante o dia e todo mundo sabia que vampiros não podiam andar de dia ou
viravam pó.
Agora tinha um Constantin ali bem na sua frente, e ele não parecia
nada com um vampiro, nem com um demônio, muito menos assombração.
Estava mais para um deus grego...
E ter que tirar o vestido na frente daquele deus grego foi
constrangedor. Por mais que ele fosse um médico, nunca nenhum rapaz a
havia visto somente com as roupas de baixo. Deixou-se examinar e viu nos
olhos dele que ele sabia a verdade, mas permaneceu muda, não tinha como
dizer nada.
Na sala do raio-X, precisou tirar a correntinha do pescoço e a
entregou na mão da enfermeira que a passou para o doutor. Cătălina sorriu
por dentro, ali estava a prova de que o ele não era um vampiro, ou jamais
poderia ter segurado sua correntinha com uma cruz.
Após o exame, ele se aproximou e confirmou que sabia a causa dos
machucados, dizendo que ela devia procurar ajuda, denunciar, mas ela não
podia fazer aquilo. Conhecia Nicolae, ele era, sim, capaz de matar ela e a
mãe, não se arriscaria. Teve vontade de chorar, mas ainda assim preferiu
sustentar a mentira.
Não quis olhar para o médico, sabia que veria decepção naqueles
olhos azuis. Vergonha e humilhação... era o que sentia naquele momento. A
revolta e a frustação também massacravam seu peito, mas ela não podia
deixar transparecer, não podia...
O médico se afastou e, como uma esperança que se vai, sentiu-se
impotente, deixando finalmente uma lágrima escapar.
O s exames da garota mostraram que felizmente não existiam outros
danos internos, além da costela trincada. Contudo, para a sua
frustração, Luca percebeu que Cătălina não estava mesmo disposta a
denunciar seu agressor. Então, apenas receitou analgésicos para a dor e
recomendou repouso, pois a consolidação do osso poderia levar de três a seis
semanas. Pediu para ela retornar em vinte dias para realizar um novo exame,
porém ela nunca mais apareceu.
Cinco semanas já haviam se passado desde que ele a tinha atendido e,
às vezes, pegava-se pensando nela. Estava preocupado, não conseguia tirar
aquela garota de olhos tristes da cabeça e sentia raiva só de imaginar o que
ela havia sofrido durante sua infância e adolescência.
Chegou a comentar sobre o caso com Victor, seu irmão, mas ele foi
veemente.
— Entendo sua preocupação, Luca, mas se estiver pensando em
procurá-la, esqueça — disse o irmão. — Ela é sua paciente apenas, sabe
muito bem que, como médicos e principalmente como vampiros, não
devemos nos meter na vida pessoal dos humanos. Esqueça essa moça —
aconselhou-o. — Se ela não apareceu mais, é porque está bem.
Victor, sendo diretor do hospital, era também o seu chefe e, por isso,
acatou seu conselho; no entanto, aqueles olhos verde azulados nunca
deixaram de povoar seus pensamentos.
Ser médico podia parecer uma profissão estranha para um vampiro, já
que o cheiro do sangue humano, principalmente o fresco, lhes era um grande
atrativo. Mas havia uma prática comum entre os vampiros, puros ou não, na
qual as crianças eram treinadas desde pequenas a se acostumarem com a
presença de sangue e a inibirem seus instintos primitivos, algo essencial para
quem fosse futuramente trabalhar em hospitais. Por isso ele não tinha
problemas em lidar com o sangue humano, exceto naquela noite com
Sebastian...
Ainda não acreditava que tinha embarcado na loucura do amigo, mas
o que estava feito, estava feito, e ele não podia dizer que havia sido ruim,
afinal. Contudo, era algo que não poderia se repetir.
Desde que a proibição de ingerir sangue diretamente dos humanos foi
imposta pelo Conselho, há mais de uma centena de anos, qualquer um que
fosse pego fazendo aquilo era punido severamente. Algumas vezes, os
infratores podiam ser enviados até para Vârful Cârja, uma prisão controlada
por Vampyrs e incrustrada no meio das montanhas dos Cárpatos, um lugar
que não tinha lá boa fama e do qual muitos não voltavam.
Aliás, qualquer vampiro que desobedecesse a qualquer uma das
regras do Conselho podia ser enviado para lá. Essas regras existiam há muito
tempo e regiam todo um código de conduta que garantia aos vampiros sua
invisibilidade e sobrevivência, por isso eram tratadas como lei e obedecidas à
risca.
A verdade é que para que essa regra de proibir o ataque a humanos
funcionasse, o Conselho precisou elaborar um plano, que estabelecia a
aquisição de hospitais em vários cantos do continente europeu e na América.
Assim, durante décadas, eles implantaram um sistema para conseguir sangue
humano sem serem notados. Não que os vampiros se aproveitassem dos
pacientes vivos, ou do banco de sangue do lugar. O líquido vital era
recolhido, na realidade, dos humanos que morriam no próprio hospital.
Podia parecer mórbido, mas era um processo simples e que não
chamava a atenção. Não importava qual fosse a causa da morte do paciente,
seu sangue era drenado do corpo em até duas horas após o falecimento. Esse
sangue era, então, purificado e embalado em uma ala restrita do próprio
hospital, onde só trabalhavam vampiros, em sua maioria transformados. Em
seguida, era distribuído em caixinhas longa vida, como suco de uva.
Era estranho, mas funcionava. Nenhum humano havia desconfiado
até agora, e os processos eram rigorosamente controlados. A distribuição do
sangue era feita por cotas, onde os transformados tinham uma cota menor por
precisarem ingerir menos sangue para sobreviver.
Vampyrs puros necessitavam de pelo menos uma caixinha daquelas
por semana, já os transformados, uma a cada quinze dias já bastava. Todo
esse controle evitava que os vampiros enlouquecessem por falta de sangue ou
se tornassem viciados. Sim... mesmo não sendo tão viciante quanto o sangue
fresco, o sangue humano processado também causava dependência se fosse
ingerido em quantidades maiores que a necessária, inclusive gerando crises
de abstinência e eventuais ataques a humanos.
Por isso, Luca estava preocupado com Sebastian. Mesmo o amigo
dizendo que só fazia aquilo de vez em quando, o sangue fresco era potente e
podia agir exatamente como agem as drogas no organismo humano. O maior
problema do vício era quando o viciado não reconhecia a própria
dependência.
Dezembro chegou trazendo o frio com ele, e Luca estava feliz por
poder usar casacos e blusas de manga sem parecer um esquisito. No entanto,
outro mês havia se passado sem que ele tivesse notícias da moça de olhos
verde azulados. Será que ela estava bem? Torcia para que sim... Torcia para
que ela tivesse se recuperado e torcia para que não fosse alvo de mais ataques
violentos.
Luca não havia se tornado médico só porque 99% dos vampiros
puros eram médicos e tinham ligações com hospitais. Na verdade, ele
adorava a profissão. Apesar de ser novo em sua área e ainda não ter feito uma
especialização, já tinha adquirido o gosto de atender e tratar dos pacientes.
Mas aquela garota ainda o deixava apreensivo.

Cătălina passara aqueles últimos dois meses após a agressão tentando


não chamar atenção para si. Embora o médico houvesse recomendado
repouso, preferiu continuar com suas atividades normais. Não podia ficar sem
trabalhar. Além disso, não tinha a menor intenção de ficar mais tempo dentro
de casa do que necessitava.
Sentiu dor por vários dias, mas aguentou firme, não ia desistir de seus
planos. Não se considerava uma pessoa corajosa, mas se recusava viver em
função do medo, não seria como sua mãe. O dia de sua liberdade estava
chegando, ela sentia isso, só precisava ficar curada primeiro. Apesar de ainda
sentir dores, preferiu não voltar mais ao hospital, não queria passar vergonha
novamente, não queria ver naqueles olhos azuis mais decepção ou pena.
Como um fantasma, entrava e saía de casa sem ser notada.
Felizmente, seu padrasto se esquecera dela por um tempo. Costumava ser
assim, sempre que ele a espancava, ficava um tempo na dele, como se
estivesse esperando ela se recuperar para espancá-la novamente por um
motivo qualquer.
Estava mais do que cansada de tudo aquilo, de sentir medo todos os
dias, de não saber se ficaria bem quando chegasse em casa. Não gostava de
voltar para casa... Aquilo não era um lar, era um hospício. E ela sabia que não
podia contar com ninguém além dela mesma, pois sua mãe nunca a defendia
de Nicolae. A verdade é que ela parecia até ficar aliviada quando via que ele
escolhia a filha para saco de pancadas no lugar dela.
Sinceramente, não entendia por que a mãe ainda estava com aquele
homem. Outro dia a vira se agarrando com outro cara atrás da casa, espantou-
se, mas não era da sua conta, pouco se importava com o que a mãe fazia ou
deixava de fazer. Só esperava que Nicolae não descobrisse, ou seria a morte
das duas na certa.
Para Cătălina, aquele dia estava sendo como outro qualquer,
trabalhara até tarde fazendo hora extra e estava cansada. Entrou
silenciosamente em casa pensando em ir direto para o quarto, mas estranhou
não sentir o costumeiro cheiro do jantar pronto. Foi, então, até a cozinha e
encontrou as luzes apagadas, acendeu e notou que o lugar estava limpo e
vazio. Onde estava sua mãe? Mesmo quando ela fazia bicos de limpeza, era
normal já estar em casa naquele horário.
Nicolae também não estava e ela deu graças a Deus por isso,
provavelmente estava bebendo em algum lugar. Havia dias que ele só
chegava de madrugada, fazendo barulho, gritando e vomitando. Cătălina
sempre acordava, mas costumava fingir que estava dormindo. Com certeza,
não seria diferente naquela noite.
Ainda estranhando a ausência da mãe, foi até o quarto dela e o que
viu a espantou. Algumas roupas estavam espalhadas pela cama e pelo chão.
O que significava aquilo? Sua mãe sempre fora uma pessoa organizada. Saiu
pegando as peças e abriu o guarda-roupa para guardá-las. De olhos
arregalados, deu dois passos para trás ao ver que este estava quase vazio. Seu
coração disparou. Ela teria feito aquilo mesmo?
Sabia que a mãe também não aguentava mais as crises violentas de
Nicolae, mas dado o medo que ela tinha do marido, nunca imaginou que teria
coragem de fugir assim. Será que... será que ela havia fugido com aquele
homem, o amante?
Um sinal de alerta se acendeu em sua mente... Assim que o padrasto
descobrisse, ele ficaria furioso e certamente descontaria nela. Não queria nem
imaginar o que aquele monstro poderia fazer.
Sua mãe... Definitivamente não sentiria falta daquela mulher. A
mágoa que guardara dela por todos aqueles anos, pela falta de amor e de
cuidado, pela negligência e pela frieza, havia se transformando em repulsa e
desprezo. Às vezes, ela não sabia quem odiava mais, se era a mãe ou o
padrasto.
— Merda! — resmungou, fechando a porta do guarda-roupas com
força.
Temendo por sua vida, Cătălina correu para o quarto e pegou uma
sacola grande, enfiando suas roupas lá dentro de qualquer jeito. Precisava
fugir também. Vestiu um casaco qualquer para enfrentar o frio da madrugada,
jogou a sacola nas costas e foi até o quintal, caminhando rápido até a pedra
sob a qual estava escondida a caixinha com suas economias.
Com um pouco de dificuldade, moveu a pedra do lugar. Respirou
fundo, ainda sentia um pouco de dor quando fazia esforços físicos. Retirou,
então, a caixinha do buraco e a abriu. Suas mãos tremiam de nervoso e ela
ainda não sabia como sairia da cidade. Já estava de noite e ela não tinha ideia
se conseguiria pegar um ônibus para Sibiu ou se teria que pedir carona, ela só
sabia que precisava sair dali logo.
Pegou o dinheiro que estava dentro da caixa e quando ia guardá-lo na
bolsa, foi violentamente puxada para trás pela gola do casaco. Caiu sentada
no chão e, ao levantar os olhos, viu Nicolae a fitando com raiva.
— O que está fazendo aí a essa hora, vagabunda? — Ele olhou para a
sacola. — O que é isso? — rosnou e a abriu. — Roupas? Aonde vai com
isso? — Ele viu, então a caixinha e o dinheiro que ela segurava. — O que é
isso? — perguntou asperamente, arrancando as notas da mão dela.
— Não! — gritou se levantando. — Esse dinheiro é meu! Eu ganhei
com o meu trabalho!
Nicolae, com ódio no olhar, deu uma bofetada no rosto da garota,
fazendo-a ir ao chão novamente.
— Você não tem direito a ter dinheiro nenhum, você mora na minha
casa e o que você ganha é meu! — Ele deu uma cambaleada. Estava bêbado,
como de costume.
Cătălina logo viu que estava perdida e, em uma tentativa de
autopreservação, virou-se para fugir. No entanto, o padrasto conseguiu
segurá-la pelos cabelos e passou a arrastá-la para dentro da casa. A garota
gritou, pediu ajuda, mas os vizinhos, já acostumados com os escândalos
frequentes, não intervinham mais, não depois que Nicolae ameaçou botar
fogo na casa deles caso se metessem.
— O que pensa que ia fazer, vadia? Fugir? — disse indo para o
quarto, ainda arrastando-a pelo cabelo.
— Eu... não... — murmurou ela chorando. — Nicolae... por favor...
Nicolae ficou estático ao entrar no cômodo.
— Você e sua mãe são umas malditas! — vociferou. — Malditas! —
Puxou a cabeça de Cătălina para perto do seu rosto. — A vaca inútil da sua
mãe tentou me humilhar, sabia? Aquela puta!
Cătălina fechou os olhos, o bafo de Nicolae lhe dava náuseas e a dor
em sua cabeça era como se ele fosse arrancar seu couro cabeludo.
— Isso não vai ficar assim! — rosnou ele. — Você... você se acha a
filha boazinha, não é? Educada, trabalhadora... — Os olhos dele destilavam
ira e desprezo. — Mas você não me engana, sei muito bem que você não é
diferente da sua mãe. E também vai pagar pela traição daquela cadela, e vai
ser agora!
Em um movimento brusco, jogou-a de bruços contra a cama e apoiou
o braço em suas costas, segurando-a com seu próprio peso, enquanto a outra
mão levantava o vestido dela.
— Não! — gritou Cătălina horrorizada. — Não faz isso, por favor!
— Cale a boca! — disse ele, puxando-lhe brutalmente a meia calça
de lã junto com a calcinha, descendo-as até os sapatos.
A garota estremeceu por dentro, aquele mostro ia violentá-la, seu
coração batia como um louco. Desesperadamente, gritou e tentou sair de
baixo dele, mas Nicolae era um homem grande e pesado, e ela tinha um
pouco mais de 1,60m, não tinha forças para aquilo. Sentiu as pernas dele
afastarem as suas e escutou o barulho do cinto sendo aberto. Fechou os olhos
com força, aguardando com terror o momento que seria invadida...
Esse momento, no entanto, começou a demorar. O padrasto, bêbado
como estava, não conseguia se desvencilhar do próprio cinto com uma única
mão e começou a xingar. Irritado e impaciente, ergueu-se de cima dela a fim
de usar as duas mãos para abrir as calças.
Cătălina não teve dúvidas, sua mente agiu rápido e, assim que se viu
livre das mãos e do peso do padrasto, escorregou para o lado, caindo da
cama. Levantou-se e, subindo suas roupas de qualquer jeito, correu para a
porta do quarto. Nicolae ainda pulou sobre ela, mas só conseguiu agarrar o
casaco que ela usava. Como que por instinto, ela deixou que o casaco
deslizasse por seus braços, livrando-se dele, e correu para a cozinha no
intuito de chegar à porta que dava para o quintal.
Nicolae, porém, não havia desistido e seguiu em seu encalço
vociferando xingamentos. Atrapalhada por uma cadeira que miseravelmente
estava no meio do caminho, Cătălina viu seu algoz chegar perto novamente.
Deu a volta no objeto e a empurrou contra ele, contudo agora seu padrasto
havia ficado entre ela e a porta.
De olhos arregalados, ela viu Nicolae sorrir maldosamente e tirar a
cadeira do caminho, suas mãos suavam frio e seu coração batia
descontrolado.
— Não se aproxime de mim! — berrou apavorada.
Nicolae avançou e ela se virou, correndo para a pia, pensou em pegar
uma panela, um prato ou qualquer outra coisa que pudesse bater nele, mas
deu de cara com uma faca. Não hesitou. Pegou a faca e, segurando-a com as
duas mãos na altura do ombro, voltou-se rapidamente para o homem que
agora já estava em cima dela. Viu a lâmina afundar parcialmente no peito do
padrasto e este cambaleou para trás, dando vários passos e caindo. Na queda,
bateu a cabeça no armário.
Cătălina olhou a cena paralisada. Nicolae estava estendido no chão
inconsciente, enquanto sangue escorria do ferimento onde a faca ainda estava
enfiada. Com um zunido nos ouvidos, ela sentiu a vista escurecer e, se não
fosse a pia atrás de si, também teria desabado no chão. Apoiou-se na bancada
até que a tontura passasse e respirou fundo várias vezes.
Olhou novamente para Nicolae. Ele estava morto? Ela o tinha
matado? Um outro tipo de desespero tomou conta dela. Agora ela era uma
criminosa. Não... não podia ser presa por causa daquele nojento.
Naquele momento, o único pensamento que lhe passou pela cabeça
foi se livrar da arma do crime e depois fugir. Aproximou-se, então, do corpo
do padrasto e se abaixou, precisava tirar a faca e dar um sumiço nela. Tocou
no cabo hesitante. Subitamente, contudo, Nicolae a segurou pelo pulso e
abriu os olhos, encarando-a.
Cătălina soltou um grito terrificado e puxou o braço, conseguindo se
livrar da mão que a segurava. Levantou-se e, sem pensar duas vezes, saiu
correndo porta afora. Sua cabeça estava girando, confusa, mas um
pensamento era claro: ela precisava sair dali, fugir, sumir.
C ătălina correu. Correu até sair do perímetro da cidade, correu por
estradas escuras, correu até seu pulmão começar a doer. A noite
estava fria, como acontecia no outono, sua respiração ofegante
soltava vapores e suas pernas ameaçaram fraquejar.
A adrenalina inicial a manteve insensível à temperatura por algum
tempo, mas o cansaço a venceu e, ao diminuir o ritmo para pegar fôlego,
sentiu as pernas bambearem e o seu corpo estremeceu com o vento gelado.
Passou as mãos nos braços, tentando se aquecer. O que ela tinha
feito? Era uma assassina? Nicolae estava vivo quando fugira, mas ele ainda
tinha aquela faca no peito... Podia estar morto agora, e ela seria acusada e
presa. Mas se ele tivesse sobrevivido, com certeza iria atrás dela e a mataria...
Qualquer uma daquelas alternativas lhe causava pânico. As lágrimas
lhe voltaram aos olhos. Ela só queria ir embora, só queria ser livre... Por que
tinha que ter tanta desgraça em sua vida? Por quê?
A respiração rápida e o ar frio que entravam em seus pulmões a
fizeram tossir. Não sabia ao certo onde estava, havia corrido a esmo e, como
praticamente não saía da pequena cidade, não conhecia as estradas, ainda
mais à noite. As casas estavam ficando cada vez mais distantes umas das
outras e a escuridão cada vez mais fria. Pensou em bater em uma porta para
pedir ajuda, precisava muito de um lugar para dormir e se esquentar, mas e se
chamassem a polícia?
Não... continuaria andando. Provavelmente já devia ser bem tarde.
Havia perdido completamente a noção do tempo, mas a lua alta e quase cheia
indicava que deveria ser próximo da meia-noite.
O medo, o frio e o cansaço começaram a lhe afetar o corpo e a mente.
Não conseguia mais raciocinar direito e tremia descontroladamente. Seus
dentes batiam tanto que precisou travar o maxilar com medo que quebrassem.
Má sorte era pouco... Justo naquela semana, uma frente fria havia chegado e
provavelmente a temperatura já devia estar abaixo de 5º C. Aquilo não era má
sorte, só podia ser Deus a cobrando por seus pecados.
A imagem de Nicolae não lhe saía da cabeça. O hálito horroroso, as
mãos dele sobre ela, os olhos animalescos, a faca enfiada em seu peito... Sim,
era uma assassina, uma pecadora, não tinha dúvidas.
Avistou uma luz ao longe e continuou caminhando. Ao se aproximar,
viu que se tratava de uma luz externa de um pequeno sítio; dentro da casa
principal estava tudo escuro. Não queria... Entretanto, talvez fosse melhor
pedir ajuda, não aguentava mais aquele frio. Seu vestido era de manga, mas,
sem um casaco, parecia que não estava vestindo nada. Se continuasse assim,
morreria congelada antes do fim da noite. Olhou em volta e notou um
barracão um pouco afastado. Talvez se...
Seguiu para o local e abriu a porta devagar. Olhou mais uma vez na
direção da casa e, como não viu movimento, entrou. Estava escuro e ela não
conseguia enxergar nada, foi tateando e chegou a uma bancada com
ferramentas espalhadas por cima. Procurou por uma lanterna ou fósforos, mas
não encontrou.
Apesar de ali dentro o vento não castigar mais seu corpo, ainda
estava frio. Suas mãos e pés estavam duros e formigando, pareciam
congelados. Encolheu-se num canto e ficou quieta por alguns minutos, daria
o fígado por uma lareira ou um aquecedor... Conforme o tempo foi passando,
sua vista foi se acostumando com a escuridão e ela começou a enxergar o
contorno dos objetos.
Levantou-se novamente. Uma pequena janela deixava passar a luz da
lua, e agora ela conseguia identificar algumas coisas ali no depósito. Seu
coração deu um salto de felicidade quando viu um volume coberto por um
tecido. Qualquer coisa serviria para se enrolar.
Chegou perto e o puxou. Viu que se tratava de uma manta velha
cobrindo um mini trator. Ela estava rasgada e tinha cheiro de óleo diesel, mas
não se importou. Cobriu-se com ela e, aliviada, sentiu-se um pouco mais
quente. Voltou a se encolher em um canto, mas não conseguiu dormir. Sua
mente não sossegava e seu coração estava aflito.
Em determinado momento, escutou um galo cantar ao longe. Logo
iria amanhecer e ela precisava sair dali, não queria ser pega. Abriu a porta do
barracão e notou que o céu começava a ficar mais claro por trás das
montanhas. Olhou mais uma vez em volta e saiu, retornando para a estrada.
Ainda levava a manta fedida enrolada ao corpo. Agora, além de assassina, era
uma ladra... Seus pecados só iam aumentando.
Conforme o dia foi clareando, reparou que não estava mais em uma
estrada principal, mas em uma secundária, estreita e sem sinalização, já não
havia mais sítios, apenas árvores dos dois lados. Continuou seguindo por ela
e notou que estava com fome, não comera nada desde o almoço do dia
anterior e também estava com sede. A estrada começou a subir a montanha,
desanimando-a.
Para onde iria agora? O que faria quando chegasse à próxima vila ou
cidade? Onde aquela estrada ia dar? Perguntas demais, respostas de menos.
Escutou o barulho de um veículo vindo em sua direção. Certamente a pessoa
pararia para saber aonde ela estava indo e talvez oferecesse uma carona, mas
pelo que percebia, o carro estava vindo de encontro a ela, ou seja, estava indo
na direção de sua cidade. Ela não queria voltar para lá, poderiam estar
procurando por ela àquela altura. Não... não podia ser vista, ou viriam atrás
dela.
Viu o carro aparecer na curva e, em um ato instintivo, correu para o
mato a fim de se esconder. Parou atrás de um arbusto para observar, mas o
veículo, ao invés de passar direto, encostou na beira estrada, bem no local
onde ela estava a pouco. O motorista devia tê-la visto.
Cătălina, receosa de ser descoberta, embrenhou-se por entre as
árvores enquanto escutava a voz de um homem gritando algo. Não parou para
escutar o que ele dizia, não podia ser pega agora. Enroscou-se em arbustos
espinhosos, tropeçou em pedras e teve a manta rasgada por um galho, ainda
assim não parou.
A impressão que tinha era que alguém a estava seguindo, seu coração
batia descompassado e quando se deu conta de que havia corrido por tempo
demais, viu que se encontrava no meio da floresta, perdida, sem nenhum
senso de direção.
Ah, Céus... o que estava fazendo? Olhou para si, os braços e pernas
estavam todos arranhados, o vestido rasgado e a manta velha que havia
roubado estava em frangalhos. Seus olhos se umedeceram, não merecia
aquilo, ou merecia?
Apalpou as costelas, a região onde havia trincado o osso ainda estava
dolorida. Três a seis semanas para melhorar, o médico havia dito. Já haviam
se passado nove semanas, tempo mais do que suficiente para estar boa, mas
ainda doía quando fazia esforço ou respirava fundo. Talvez fosse por ela não
ter feito o repouso, talvez ainda tivesse algo quebrado, não sabia...
Começou a andar a esmo, não tinha ideia para qual lado seguir, nem
qual era o caminho para voltar para a estrada. Já havia subido a montanha,
descido e agora parecia subir novamente. Seu estômago roncava, a boca
estava seca e sentia suas pernas pesadas e cansadas, seu corpo ansiava por
descanso, água e comida. Pelo menos o tempo havia esquentado um pouco e
o frio não incomodava tanto.
O sol já ia alto quando viu algo que parecia uma construção em
pedras entre as árvores. Aproximou-se mais e constatou que era um muro;
uma muralha, na verdade, alta e robusta. Olhou para cima e, desanimada,
logo viu que não conseguiria ultrapassá-la.
Passou a caminhar junto da muralha na esperança de encontrar um
vão para passar ou um portão, afinal aquela não era a muralha da China e
com certeza haveria de ter um fim. Por causa da proximidade, não conseguia
ver o que havia por detrás da barreira e, mesmo se afastando, as copas das
árvores a impediam de vislumbrar qualquer coisa que poderia estar além
delas.
Aquilo já estava a deixando agoniada e impaciente, não aguentava
mais andar, precisava descansar, mas queria saber o que havia por trás
daquelas pedras. Após quase meia hora sem novidades, notou uma árvore
diferente das outras, ela era frondosa e alguns de seus galhos começavam
baixo, enquanto outros chegavam até o alto da muralha. Analisou-a com
cuidado e decidiu escalá-la. Não seria difícil e, quem sabe, conseguiria descer
do outro lado. Seria muito mais rápido do que dar a volta para encontrar uma
entrada.
Subiu com cuidado, apoiando-se nos galhos até que chegou em um
que alcançava o topo das pedras. Caminhou cuidadosamente por ele,
segurando-se em outro galho mais acima e finalmente conseguiu subir na
muralha.
Era uma construção larga e precisou engatinhar para sair do meio dos
galhos da árvore a fim de ter uma visão melhor do outro lado. Assim que se
viu livre das folhas, arregalou os olhos e seu queixo caiu. Por detrás do muro
e de outra linha de árvores havia um... castelo! Um enorme e antigo castelo
em pedras se erguia imponente no alto de uma colina.
Sentou-se, embasbacada. Seria o castelo dos Constantin? Não havia
outro naquela região, só podia ser... Soltou um suspiro desanimado, andara
tanto para ir parar em um castelo assombrado. Não, ela balançou a cabeça,
não acreditava naquelas superstições. Havia até conhecido um Constantin...
Dr. Luca, o médico...
Um aperto passou em seu peito. Será que ele estava bravo por ela não
ter retornado para ele avaliar sua recuperação? Não sabia e não pretendia
saber. Obviamente ela nunca pediria ajuda no castelo, mendiga do jeito que
estava, provavelmente chamariam a polícia. Estremeceu, talvez já estivesse
até sendo procurada...
Angustiada e nervosa, deitou-se sobre a muralha e colocou o braço
sobre o rosto, sentia-se no limite do esgotamento físico, talvez fosse melhor
se entregar... Seus sonhos estavam arruinados...
Um gavião piou no alto e Cătălina destapou o rosto, procurando-o
com o olhar, o pássaro deu algumas voltas planando sobre ela e então voou
para longe. Sentou-se. Não! Não deixaria seus sonhos fossem destruídos por
um monstro como Nicolae, nem vivo, nem morto! Precisava ser forte, não
podia desistir agora. Olhou para o castelo. Não pediria ajuda lá, mas talvez
houvesse alguém que morasse próximo e que pudesse lhe fornecer abrigo e
comida, afinal, o castelo era imenso e com certeza tinha empregados vivendo
por perto.
Ninguém na cidade conhecia sequer uma pessoa que trabalhasse ou
que já havia trabalhado no castelo dos Constantin. Corria um boato de que
todos os empregados dali moravam em uma vila dentro das propriedades do
castelo e que nunca saíam do vale. Não sabia o quanto daquilo era verdade,
mas se essa vila existisse, não estaria longe, e ela a encontraria.
Levantou-se determinada e começou a caminhar por cima do muro,
procurando uma árvore ou qualquer outra forma de descer para o outro lado.
Cerca de dez minutos depois, escutou um barulho de cascos vindos do lado
da floresta do castelo. Parou para prestar atenção e logo avistou um homem
sobre um cavalo, uma estranha figura de óculos escuros, chapéu de abas
largas e que se vestia como um motoqueiro — todo de preto, com jaqueta e
sobretudo de couro.
Passado o espanto inicial, Cătălina entrou em pânico, havia sido
descoberta! Começou a correr por cima da muralha que, para sua sorte, era
larga o suficiente para lhe dar segurança para isso. No entanto, as pedras
irregulares não facilitavam. Acabou tropeçando e caindo, machucando os
joelhos. Fechou os olhos com a dor, mas se levantou e voltou a correr, não
desistiria. Seu coração parecia novamente querer sair pela boca e, para sua
angústia, viu pelo canto do olho o cavaleiro chegar cada vez mais perto.
Outro tropeção e, desta vez, a jovem caiu com o corpo todo sobre as
pedras. Uma dor aguda e insuportável irradiou por suas costelas, a respiração
falhou, o mundo girou e tudo ficou escuro.
O homem sobre o cavalo parou e olhou para cima. O que aquela
louca estava fazendo ali?
A ntes de começar os preparativos para o jantar, Anna, a cozinheira
chefe do castelo, tomava calmamente seu chá quando a porta da
cozinha foi escancarada bruscamente. Ela olhou espantada.
— Theodor! O que está fazendo? — exclamou ao observar o homem
alto entrar de costas, segurando algo. — O que é que está acontecendo? —
perguntou ao ver que ele carregava uma garota desacordada.
— Encontrei-a sobre a muralha, não quis assustá-la, mas ela saiu
correndo e caiu — disse ele, colocando a moça sobre um banco de madeira e
tirando o chapéu.
— Caiu de cima da muralha? — Anna arregalou os olhos.
— Não! Tropeçou e caiu sobre a muralha mesmo, tive que usar os
ganchos para chegar lá em cima e tirar ela de lá.
— E por que ela está inconsciente? — A cozinheira se aproximou. —
Theodor! É uma humana! — constatou após sentir o cheiro do sangue que
vinha dos ferimentos no joelho dela.
— Sim, é uma humana, e não sei por que ela desmaiou, não vi
nenhum ferimento na cabeça...
Anna olhou o segurança do castelo repreensivamente.
— Ela não pode ficar aqui — sussurrou.
— E você queria que eu fizesse o quê? Deixasse ela lá, inconsciente?
— replicou Theodor emburrado.
A cozinheira suspirou.
— Ela está gelada, precisa se aquecer. Alguém viu você entrar com
ela aqui? — perguntou.
— Acho que não... agora é hora da sesta, o sol está forte e está todo
mundo recluso dentro de casa.
— Coloque-a na despensa, ninguém entra lá sem minha autorização.
Vou pegar uma manta para cobri-la. Quando o Sr. Luca chegar, falaremos
com ele.
— Não seria melhor falar com a Sra. Constantin ou com o Sr.
Popescu?
Anna fez uma careta.
— Pop é um enjoado mal-amado, seria capaz de jogar a garota no
calabouço e deixá-la apodrecendo lá, e a senhora Mirela está descansando
agora, não vou incomodá-la — disse, abrindo uma porta anexa à cozinha.
Theodor levou a menina para dentro e a colocou sobre alguns sacos
de estopa que Anna havia estendido no chão antes de sair para buscar um
cobertor.
— Como a encontrou? — perguntou a cozinheira, voltando com a
manta e a cobrindo.
— Tudor. — O segurança sorriu. — Estava fazendo a ronda com ele
e a vi.
— Ah, sim, o gavião... Pobre coitado, você não estava “fazendo a
ronda com ele”, estava usando ele para fazer o seu serviço...
Theodor deu de ombros.
— É assim que as coisas são, eu o alimento e ele me ajuda, ser um
vampiro tem as suas vantagens. Nunca fez ligação mental com um animal,
Anna?
— Claro que não! — exclamou ela, de mau humor. — Não preciso
dessas coisas! E depois, isso é coisa de vampiro puro, sabe muito bem que
são raros os transformados que conseguem tal feito.
O segurança, orgulhoso, apontou para si mesmo e riu.
— Tenho que ir, Anna, estou em horário de trabalho ainda — disse,
dirigindo-se para a porta. — Depois me conte as novidades.
Anna suspirou novamente e voltou para o seu chá. Desgostosa, viu
que este já estava frio e colocou mais água para ferver. O castelo tinha pelo
menos quinze empregados, todos transformados, e Popescu era o mordomo
responsável pela administração do lugar. Humanos não entravam ali, a não
ser que fossem convidados dos senhores ou os filhos dos transformados, que
eram humanos de nascença. Raramente os bisbilhoteiros passavam dos
portões do castelo. Tempos atrás, se um humano intruso fosse pego lá dentro,
não voltaria mais para casa.
As coisas eram diferentes agora, mas ainda assim preferia não se
arriscar com o nada amigável Sr. Pop. Logo o Sr. Luca chegaria e saberia o
que fazer com a menina, inclusive talvez fosse necessário levá-la ao hospital.
Alguns minutos mais tarde, escutou um gemido vindo da despensa.
Rapidamente largou as batatas que estava descascando e foi até lá. A garota
havia acordado e estava chorando.
— Olá, meu bem... — disse a cozinheira com suavidade. — Meu
nome é Anna, e o seu?
— Cătălina... — respondeu a menina fracamente.
— Sente dor? — perguntou a vampira, notando que ela não havia se
mexido do lugar.
Cătălina balançou a cabeça afirmativamente e pôs a mão sobre as
costelas.
— Hum... Não se preocupe, logo virá ajuda.
— Onde estou? — quis saber a garota, olhando em volta.
— No castelo... — Anna suspirou. — Escute... daqui a pouco minhas
ajudantes aqui na cozinha vão estar por aqui. Você não deve fazer barulho,
certo? Não podem saber que está aqui. Assim que o Sr. Luca chegar, falarei
com ele e daremos um jeito de te tirar daqui.
Cătălina juntou as sobrancelhas. No castelo? Sr. Luca? Será que ela
estava falando do doutor de olhos azuis? Não, não, não... Ele não podia saber
que ela estava ali. Tentou se levantar, mas sentiu uma pontada de dor e
gemeu, voltando a se deitar.
— Tenho que ir embora... — disse aflita, respirando com um pouco
de dificuldade. — Não chame ninguém, por favor. — Uma lágrima lhe
escapou dos olhos.
— Ah, pobre criança... — Anna passou a mão sobre os cabelos dela.
— Não pode ir embora se não consegue nem se levantar, e acredite, o Sr.
Luca é sua melhor opção aqui, ele é médico e poderá te ajudar.
Então era ele mesmo... o doutor... A jovem de olhos verde azulados
engoliu em seco, sua garganta arranhava.
— Poderia... poderia, por favor, me arrumar um pouco de água? E
um pão, ou algo assim? Não como desde ontem... — pediu, desalentada. Já
que suas esperanças de fugir estavam arruinadas, tentaria, pelo menos, saciar
sua fome e sede.
— Sim, claro... já volto.
Anna saiu e logo voltou com uma bandeja com chá, leite, água,
rosquinhas, pão e uma fatia de torta. O estômago de Cătălina roncou ao ver
tanta comida.
— Consegue se sentar? — perguntou Anna, deixando a bandeja de
lado.
— Acho que sim... — respondeu ela, tentando se erguer sobre os
cotovelos.
Vendo a dificuldade da garota e a dor estampada em seu rosto, a
cozinheira se pôs atrás de suas costas e a ajudou a se levantar. Arrastou,
então, alguns sacos de farinha e fez um encosto para que ela pudesse se
apoiar.
— Agora coma — disse Anna ao lhe entregar a bandeja. — E
lembre-se, não faça barulho — recomendou, saindo e trancando a porta.
Cătălina rapidamente pegou a água e bebeu vários goles, sua garganta
estava tão seca que até doeu quando o líquido fresco passou por ela. Pegou,
então, um pedaço de pão e deu uma grande mordida. Ah, como era bom
comer... Serviu-se de leite, rosquinhas e, por fim, deliciou-se com a torta.
Somente quando já estava satisfeita, começou a observar o ambiente
à sua volta. O medo e o receio voltou a angustiá-la. Estava em uma espécie
de depósito de mantimentos. Apenas uma lâmpada fraca iluminava o
aposento, mas conseguiu distinguir as prateleiras com algumas caixas, um
enorme freezer horizontal e vários sacos empilhados no chão, provavelmente
de farinha, açúcar, sal, arroz.
Notou também que as paredes e o chão eram em pedra. Então estava
mesmo no castelo? Suspirou agoniada e sentiu uma fisgada maior nas
costelas, o que o doutor ia pensar dela quando chegasse? Será que ele a
repreenderia por não ter voltado ao hospital? Ou por ter se machucado de
novo? Torceu as mãos nervosamente.
E se a notícia sobre seu crime já tivesse se espalhado? Certamente,
ele a denunciaria para a polícia... Encostou a cabeça nos sacos atrás de si e
fechou os olhos. Para a sua tristeza, não havia muito o que fazer agora...
A dor foi diminuindo e logo o cansaço da noite sem dormir a venceu.
Cochilou ali, meio sentada e apoiada nos sacos de mantimentos. Acordou
com vozes ao seu lado, sonolenta e desorientada, demorou para se lembrar de
onde estava, piscou algumas vezes e viu o rosto de um rapaz bem próximo.
Assustada, tentou se mexer, mas a dor a impediu.
— Calma, sou eu — disse Luca. — Lembra-se de mim? Sou o
médico que te atendeu no hospital.
Envergonhada por saber que o doutor com rosto de deus grego se
lembrava dela, desviou os olhos e assentiu com a cabeça.
— Anna me disse que te encontraram sobre a muralha do castelo e
que você tropeçou e caiu. Ao que parece, você se machucou novamente... —
A voz do vampiro era suave. — Onde dói? No mesmo lugar de antes?
— Sim... — respondeu Cătălina de forma tímida.
— Posso ver?
Ela concordou e desceu o vestido pelo ombro, cobrindo-se com os
braços, como na primeira vez. Luca observou a região das costelas e a
apalpou de leve, mas não viu nenhum hematoma ou sentiu qualquer
deformação.
Cătălina sentiu um pouco de dor ao ser tocada, mas ao mesmo tempo
estremeceu, as mãos do médico eram tão quentes...
— A queda pode ter feito o osso trincar novamente — disse ele. —
Meu receio inicial era ter ocorrido uma fratura mais grave, mas não é o que
parece; contudo, só poderei saber com certeza depois do raio-X. Vista-se, eu
te ajudo a se levantar.
— O que vai fazer comigo? — Ela quis saber, assustada.
— Vou te levar ao hospital para fazer um exame de raios X —
explicou o médico.
— Não... — Os olhos de Cătălina expressavam medo. — Por favor...
Não posso voltar para a cidade.
O vampiro a fitou interrogativamente e, por alguns segundos, ambos
ficaram em silêncio. Percebendo que o médico esperava alguma explicação,
ela desviou o olhar novamente, desta vez para suas mãos sobre o colo. O que
iria falar? Como explicar?
— Srta. Petran...
A garota levou um pequeno choque ao escutar o seu sobrenome
sendo pronunciado pelo rapaz. Até disso ele se lembrava? Levantou os olhos
ainda assustados para ele, mas logo os desviou, não conseguia encará-lo.
— Por que não quer voltar? — perguntou Luca com delicadeza. Ele
se lembrava daquela garota perfeitamente, e de seu histórico...
O vampiro sabia que a garota à sua frente sofria de violência
doméstica. Não queria pressioná-la ou encurralá-la, mas precisava saber o
que havia acontecido de fato e, se fosse o caso, ajudá-la da melhor forma.
Também era estranho o fato de ela ter aparecido assim no castelo, com fome,
sede e vestindo roupas leves demais para a estação.
Como ela havia chegado ali? A pé? Lembrou-se, então, que, ao ir
para a cidade de manhã, pensou ter visto alguém na estrada. Chegou a parar
para verificar, mas como não viu mais nada, seguiu viagem. Teria sido ela?
A menina continuava muda e não o encarava, claramente com medo
de algo. Ele precisava fazer alguma coisa...
— Anna — disse, voltando-se para a cozinheira. — Ela pode ficar na
sua casa por hoje? Amanhã verei o que posso fazer...
— Sr. Luca, isso seria... — Ela fez um gesto pedindo para que ele a
acompanhasse para fora da despensa e abaixou a voz. — Isso seria perigoso!
Meu vizinho voltou, e o senhor sabe... Ele tem problemas com humanos,
seria arriscado...
— Marius? — O médico franziu o cenho, não gostava daquele
homem. — Você está certa, é melhor não levar a garota para lá. — Luca
coçou a testa, pensativo. — Não posso deixá-la aqui, meu pai não ia gostar
nada disso.
— Mas seria só até amanhã. O Sr. Constantin não precisa saber.
Hum... quer dizer... — Anna envergonhou-se com a própria sugestão.
Luca sorriu.
— Ainda assim, não posso levá-la para a ala dos quartos, o Sr. Pop
certamente descobriria e contaria para o meu pai.
— Poderia deixá-la na torre, logo abaixo da sua sala de pintura tem
um quarto vazio.
O vampiro a olhou com entusiasmo.
— Sim, verdade... Havia me esquecido dele.
Sempre que estava pintando ou desenhando e batia um cansaço, ele
descia um andar e se esticava na cama daquele quarto para relaxar, mas fazia
tanto tempo que não subia lá para usar sua sala que nem se lembrava mais
disso.
— Mas ele precisa de uma limpeza, acho... — continuou o médico.
— Não é um lugar que as arrumadeiras costumam ir com frequência.
— Vou pedir para minha filha vir para cá e cuidar disso... — disse a
mulher pegando o celular no bolso do avental. — Enquanto isso, a garota
pode ficar na despensa. De qualquer forma, o movimento no castelo está
grande agora. Os empregados vão embora só lá pelas 21h, e se não quiser que
o Sr. Pop fique sabendo da presença da moça, ninguém pode vê-la saindo de
lá.
— Está bem, Anna, chame sua filha. Cuide disso, por favor! Vou dar
um analgésico para ela e subir para tomar um banho, depois eu volto para
buscá-la. Preciso saber o que ela veio fazer aqui, afinal.
Luca desceu até o subsolo do castelo. Os Constantin mantinham ali,
ao lado das antigas masmorras, um local para tratar dos filhos dos
transformados, uma vez que estes nasciam humanos e estavam sujeitos a
doenças ou a machucados. Era uma espécie de mini enfermaria, provida de
materiais para fazer curativos, pomadas e vários tipos de remédios, desde
antibióticos até sedativos. O vampiro pegou alguns comprimidos de
analgésico e voltou para a despensa.
— Tome um desses a cada quatro horas, é para dor — disse ele a
Cătălina, que continuava receosa. — Estamos providenciando um quarto para
você ficar por hoje, mais tarde eu volto para te buscar, está bem?
Ela concordou com um aceno de cabeça e tomou um comprimido.
Sentindo-se um pouco mais relaxada, encostou-se novamente nos
sacos assim que Luca saiu. Felizmente o médico não insistiu com as
perguntas, mas ela sabia que uma hora teria que lhe dar algumas respostas.
Quem sabe, poderia convencê-lo a não chamar a polícia, quem sabe
levá-la para outra cidade, ou deixá-la ficar ali. Poderia trabalhar no castelo,
ou nos campos, ninguém a procuraria naquele lugar, ninguém nunca entrava
na propriedade dos Constantin sem ser convidado, a não ser intrusos como
ela.
Sim, era uma boa ideia. Se fosse o caso, imploraria de joelhos para
ele deixá-la ficar. Estava disposta a fazer qualquer coisa... A última coisa que
queria, era voltar para sua cidade.
C ătălina acordou com o som da porta da despensa se abrindo. O
remédio que tomara mais cedo fizera efeito e suas dores haviam
diminuído consideravelmente, provavelmente a fez dormir também, e
por várias horas, pois se assustou ao saber por Anna que já passava das 22h.
Ela trazia uma pequena cumbuca com ensopado de galinha e um prato com
carne assada e batatas.
A jovem devorou a comida, sentindo-se nas nuvens. Fazia muito
tempo que não degustava uma comida tão boa, tão bem preparada. A
cozinheira tinha uma mão excelente.
— O Sr. Luca já vem te buscar — disse a senhora de cabelos
grisalhos, antes de sair.
Cerca de meia hora mais tarde, a porta se abriu novamente, mas desta
vez foi o médico que entrou. Cătălina já havia terminado a refeição e o olhou
apreensiva. Por que eles a haviam deixado naquela despensa por tanto
tempo? Demorava tanto assim para arrumar um lugar para ela ficar? Ela
ainda tinha dores no corpo, não só na costela, talvez por ficar tanto tempo
meio sentada, meio deitada, no chão duro.
— Oi — disse ele. — Vejo que já se alimentou. Como se sente?
Ela deu de ombros.
— A dor melhorou... — respondeu olhando para as mãos. Por que era
tão difícil encarar o médico bonito?
— Vou te ajudar a subir para o quarto, venha, me dê sua mão —
falou ele se aproximando e a segurando pelo braço enquanto usava a outra
mão para apoiá-la nas costas.
Cătălina se levantou com dificuldade e gemeu. Sentia-se dura,
travada, com câimbras, mas já havia passado por coisa pior. Naquela vez que
seu padrasto quebrara suas costelas, não conseguiu de mexer por horas, e
chegar ao quarto foi um sacrifício. Agora se sentia dolorida, mas pelo menos
conseguia caminhar... Devagar, mas conseguia.
Problema foi ao chegarem às escadas. Subiu um, dois, três degraus,
parou para respirar, não muito fundo, porque isso também lhe provocava
dores. Olhou para cima e tornou a subir mais três degraus, parou de novo.
Luca entendia a dificuldade dela, mas se continuassem assim, só
chegariam lá em cima de manhã.
— Srta. Cătălina... Se me permite, posso levá-la no colo? Será mais
rápido e menos doloroso para você.
Ela o olhou espantada e corou como um pimentão. Nunca nenhum
homem a havia pegado no colo antes, preferia não aceitar, mas... olhando
para aquelas escadas... realmente seria mais fácil para ambos.
— Tudo bem — concordou ela.
Luca sorriu e, com cuidado, pegou-a nos braços. Não era difícil para
ele, vampiros tinham uma força superior à dos humanos, além do fato dela
ser muito leve.
Enquanto era levada para cima, Cătălina tentou não o olhar, mas sua
curiosidade falou mais alto e ela levantou a atenção para ele. O médico era
lindo, com aqueles cabelos negros, olhos azuis vibrantes e pele alva; como
podia existir alguém tão bonito? E o sorriso dele, então? Era de tirar o fôlego.
O vampiro abaixou a vista para a jovem e a pegou o observando.
Rapidamente, ela desviou o olhar e corou de novo. Ele sorriu, nunca tinha
visto uma garota da idade dela ser tão envergonhada.
As escadas largas dos dois primeiros andares acabaram e eles
entraram por outra porta, onde havia outra escada mais estreita que subia em
caracol. Subiram pelo menos mais três andares, e em cada andar havia uma
porta fechada de madeira maciça. As paredes do castelo eram em pedra, mas
pelo menos estavam iluminadas com luz elétrica, o que era estranho para
Cătălina, pois sempre imaginou que estes castelos antigos eram iluminados
com archotes.
Por fim, pararam em frente a uma das portas fechadas e o médico a
colocou no chão. Ele abriu a passagem e a convidou a entrar. Ela se
maravilhou com o quarto. Não era grande, mas era maior do que o seu, com
certeza, e as paredes arredondadas e em pedra davam um charme especial.
Uma cama grande estava arrumada e, para sua surpresa, era uma cama com
dossel. Nunca imaginaria na vida que um dia dormiria em uma cama com
dossel. No chão, um lindo tapete oriental deixava o lugar aconchegante.
Cătălina, de boca aberta, olhava tudo com cuidado, andando devagar
e tocando nos móveis como se fossem algo raro e valioso. Caminhou até a
estreita janela e a abriu, era noite e não dava para ver muito lá fora. A lua
iluminava o vale e era possível distinguir as silhuetas das montanhas e várias
luzinhas mais abaixo.
— É a cidade? — perguntou, estranhando por estarem tão perto.
— Não é Brezoi, a cidade onde você mora, essa é a vila dos... —
hesitou, quase disse “transformados”. — A vila onde moram as pessoas que
trabalham no castelo e nas terras da família — explicou Luca.
— Ah... então essa vila existe mesmo?
— Como?
— Não é nada não... Só uma história que corre na cidade. — Ela
sorriu. — Dizem que os empregados daqui não saem do vale. É verdade?
— Não! Claro que não. — O vampiro arqueou uma sobrancelha. —
Eles podem sair se quiserem, inclusive alguns dos mais jovens estudam fora,
fazem faculdade em outra cidade.
— Hum... entendo. É que... sabe como é cidade pequena, todo mundo
conhece todo mundo e nunca vimos pessoas daqui por lá.
— Provavelmente já viram sim, apenas não conseguiram identificar.
— Luca sorriu. — Mas eles não vão muito a Brezoi mesmo. Aqui eles têm
tudo o que vocês têm na cidade e quando precisam de algo diferente ou mais
específico, normalmente vão comprar em Sibiu, que é maior e oferece mais
opções.
— Sei — disse ela nervosamente, de repente sua bexiga parecia ter se
lembrado de que existia, deixando-a com uma absurda vontade de ir ao
banheiro. Olhou para os lados, não havia outra porta ali. — Onde é o
banheiro? — perguntou preocupada.
— No andar de baixo.
— Preciso ir — disse ela, tentando caminhar um pouco mais rápido
em direção à porta.
— Espere, eu te levo.
Ela se voltou com os olhos arregalados.
— De jeito nenhum que você vai me levar ao banheiro.
Luca riu.
— Só até a porta, não vou entrar com você, prometo — disse
elevando uma das mãos. — Posso?
Ainda meio envergonhada, Cătălina consentiu, e novamente foi pega
no colo pelo médico. Assim que desceram, ela entrou e fechou a porta,
enquanto ele a esperava do lado de fora. O banheiro era do mesmo tamanho
que o quarto e via-se que tinha sido adaptado ao lugar. De um lado havia uma
bancada em granito com uma pia e um assento sanitário; do outro, uma
banheira branca antiga, uma cadeira de estofado em veludo vermelho, um
cabideiro vertical em metal dourado e um móvel com toalhas dobradas. No
meio do cômodo, havia um grande espaço vazio, apenas com um tapete em
pele de carneiro ocupando o chão.
Rapidamente ela se aliviou de suas necessidades e foi lavar as mãos.
Só então notou o belo espelho de moldura dourada na parede, olhou-se nele e
o que viu a assustou. Seus cabelos estavam desgrenhados, as olheiras eram
fundas e estava perecendo um fantasma. Num ato impulsivo, cheirou-se e
torceu o nariz. Estava fedendo! Olhou para as próprias roupas e percebeu que
pareciam trapos velhos.
Suspirou, definitivamente estava um horror. Sentiu-se mais
envergonhada ainda. O médico a havia trazido em seus braços, suja daquele
jeito, cheirando a cebola curtida. Não podia encará-lo novamente, não depois
de tomar conhecimento do estado em que estava... Sentou-se na cadeira
pensativa, o que ela ia fazer?
— Srta. Cătălina, está tudo bem? — disse o médico por detrás da
porta.
— Sim... tudo... Eu preciso de um banho, poderia esperar um pouco,
por favor? — gritou ela, para se fazer ouvir. — Ou melhor, você pode ir se
quiser, eu consigo subir os degraus sozinha, não são muitos.
Após alguns segundos de silêncio, a voz dele se fez ouvir novamente.
— Vou buscar algo para você vestir, já volto.
Cătălina, mais aliviada, levantou-se da cadeira e abriu a torneira da
banheira. Demorou um pouco, mas logo a água começou a sair quente. Com
cuidado, despiu-se das roupas velhas e, assim que a banheira encheu, apoiou-
se em sua borda e aos poucos entrou na água. Seu corpo dolorido agradeceu.
Ao lado, presa à parede, havia uma pequena prateleira com shampoo,
sabonete e condicionador. Ela sorriu, quem havia preparado o quarto e o
banheiro conhecia as necessidades básicas de uma mulher. Notou, então,
outro vidrinho, pegou-o na mão e leu “espuma de banho”, seus olhos
brilharam. Com um sorriso, despejou o conteúdo na água e a chacoalhou por
um tempo, rapidamente as bolhas se formaram e cobriram seu corpo.
Entusiasmada, pegou o sabonete e começou a passar na pele. Ah,
como era bom tirar a sujeira do corpo. Além disso, sentia-se uma artista de
TV, ali naquela banheira. Molhou, então, a cabeça com o chuveirinho e
passou o shampoo. Já estava enxaguando os cabelos quando escutou uma
batida na porta.
Não deu tempo de responder. Quando viu, o médico já estava
entrando no banheiro segurando várias roupas.
— Ei! — exclamou e se cobriu com os braços, agradecendo pela
espuma esconder o resto. — Você não pode entrar assim!
Luca arqueou uma sobrancelha.
— Sou um médico, senhorita. Corpos nus não é um problema para
mim.
— Mas para mim é! — ela se indignou.
Ele suspirou e colocou as roupas sob o móvel das toalhas.
— Trouxe algumas roupas que são da filha da Anna, vocês têm mais
ou menos o mesmo tamanho. Tem uma camisola por cima de tudo. Espero
que não se importe por ser algo simples.
— Não! É claro que não me importo... Por favor, agradeça a ela por
mim.
Ele a olhou com preocupação.
— Consegue sair daí e se vestir sozinha? Não precisa de ajuda?
Escute, não precisa ter vergonha, eu...
— Eu consigo! — respondeu ela rapidamente. — Eu posso fazer isso;
então, por gentileza, poderia sair para eu terminar aqui?
Luca sorriu e assentiu, a garota era mesmo envergonhada. Saiu do
banheiro, mas ficou esperando do lado de fora. Tinha receio de que ela
escorregasse ao sair da banheira, então ficou prestando atenção para ver se
não escutava nenhum barulho estranho.
Parecia que estava adivinhando, pois algum tempo depois ele escutou
um som alto de metal batendo contra o chão. Entrou imediatamente no
cômodo e viu a garota com a camisola torcida e parcialmente enfiada na
cabeça e em um dos braços, enquanto segurava a toalha com a outra mão. Ao
seu lado, o cabideiro estava caído no chão.
Ela o encarou de olhos arregalados.
— Não entre ainda! — exclamou cobrindo suas partes íntimas com a
toalha. — Eu só derrubei o cabide.
O médico, sem dar atenção, aproximou-se sob os protestos dela e
acertou a camisola, ajudando-a a colocar o outro braço.
Envergonhada como nunca, Cătălina aceitou a ajuda e deixou que ele
deslizasse a roupa pelo seu corpo, enquanto ainda tentava se cobrir com a
toalha. Assim que foi vestida, o médico retirou a toalha de suas mãos e a fez
se sentar na cadeira. E, para o seu constrangimento máximo, ele pegou, então,
uma calcinha de algodão, se agachou na sua frente e a colocou em seus pés,
subindo-a por suas pernas até o joelho.
Aquilo foi o máximo que ela conseguiu aguentar.
— Não! — disse, fechando subitamente as pernas, grudando um
joelho no outro.
O toque do rapaz em seu corpo lhe provocava os mais estranhos
arrepios, e ela não ia deixar que ele a vestisse assim, não mesmo! O médico a
olhou com um ar interrogativo. Ah, aqueles olhos azuis eram de matar...
— Eu subo — continuou ela, vermelha como um camarão. — Eu
subo minha calcinha, vire-se por favor.
Luca, com um sorriso, fez o que ela pediu e assim que ela terminou
de se vestir, ajudou-a a subir para o quarto, levando também as demais
roupas. Colocou-a na cama, ajeitando os travesseiros, e ofereceu-lhe um copo
de água, junto com mais um remédio para tomar.
— Obrigada. — agradeceu Cătălina.
Então, para o espanto da garota, o rapaz puxou uma cadeira para
perto da cama e se sentou.
— Muito bem — disse ele calmamente. — Agora vamos conversar.
L uca, sentado em uma cadeira ao lado da cama da garota, a olhava com
atenção. A menina parecia assustada e o fato de, mais cedo, ela ter
dito que não queria voltar para a cidade o deixava curioso.
— Agora que está acomodada e medicada, preciso que me responda a
algumas perguntas — disse com a voz calma, mas firme. — Primeiro, por
que está aqui?
Cătălina, sentindo o nervosismo tomar conta de si, não compreendeu
de imediato o que ele quis dizer, por isso ficou muda, sem saber o que
responder.
— Como chegou aqui, Srta. Cătălina? — Luca reformulou a pergunta
ao perceber a confusão nos olhos da moça.
— Ah, andando... — disse ela apertando as mãos no colo.
— Veio andando da cidade até aqui? Por quê? Quero dizer, por que
veio para o castelo?
Ela encolheu os ombros.
— Não escolhi para onde iria, apenas saí andando e vim parar aqui.
— Mas pela floresta? Me disseram que você estava sobre a muralha...
— Não quis vir pela estrada...
— Está fugindo de alguém? — perguntou ele com cuidado, não
queria espantá-la mais, precisava ganhar a confiança dela para que ela se
abrisse com ele.
Cătălina não respondeu, apenas permaneceu olhando para as mãos.
— Escute... se não conversar comigo, vai ser difícil te ajudar —
insistiu ele. — O que aconteceu? — perguntou serenamente, colocando a
mão sobre as dela. — Pode me dizer, não vou fazer nada que possa te
prejudicar.
A garota levantou os olhos verde azulados para ele. Olhos que
demonstravam dúvida, sofrimento, dor.... Uma lágrima escapou, descendo
quente pela face dela e Luca levou o dedo para enxugá-la.
— Confie em mim — disse ele.
Mais lágrimas vieram e, desta vez, ele deixou que ela chorasse
livremente.
— Eu... eu matei alguém... — confessou ela com a voz embargada.
— O meu padrasto, eu o matei, eu acho...
Luca franziu as sobrancelhas.
— Como assim? Por que diz isso?
— Eu enfiei a faca da cozinha no peito dele... Acho que ele ainda
estava vivo quando saí de casa, mas... — Ela enxugou algumas lágrimas. —
Eu vou ser presa, não vou?
Ele pensou um pouco antes de responder.
— Não tenho tanta certeza. Fui trabalhar hoje no hospital e te garanto
que ninguém morreu. Entretanto, teve um cara que deu entrada na
emergência com uma perfuração no tórax — comentou, sob os olhos
arregalados da garota. — Mas ele disse que havia bebido demais e que havia
caído sobre a faca.
— E se não for ele? E se for outro? — Cătălina agitou-se. — Nicolae
pode estar morto lá na cozinha ainda, ninguém pode tê-lo encontrado ainda,
e...
— Ei, calma... — falou o médico, tirando o celular do bolso. —
Vamos ver isso.
Luca ligou para o hospital e rapidamente conseguiu a informação que
queria.
— Nicolae Fierar... É esse o nome dele? — perguntou à moça a sua
frente.
Ela assentiu.
— Então, é ele mesmo, não se preocupe. Ele está vivo, foi tratado,
liberado e ao que parece, não prestou queixa. A perfuração não pegou
nenhum órgão vital.
— Por que ele não prestou queixa? — estranhou Cătălina. — Ele
podia ter morrido com a facada.
— Por que você o esfaqueou?
Ela encarou o médico e em seguida desviou o olhar.
— Eu ia fugir... ia embora, então ele descobriu e... ele tentou... —
Suas sobrancelhas se juntaram e ela abraçou o próprio corpo. — Ele quis...
me machucar, me... violar... — A lembrança daquele momento fez Cătălina
se encolher e mais lágrimas desceram sobre o seu rosto.
Luca suspirou, mal disfarçando a raiva que sentia por dentro. Não
conseguia aceitar aquele tipo de coisa. Já tinha visto violência e a morte de
perto, mas não conseguia engolir aquele tipo de abuso.
— Foi por isso que ele não te denunciou, se você fosse presa e
contasse o que aconteceu, com certeza ele responderia pelo que fez com você,
e seria bem capaz que considerassem seu ato como legítima defesa. Talvez
quem fosse para a prisão seria ele.
Cătălina não soube, por um momento, o que pensar sobre aquilo.
Embora estivesse aliviada por não ser uma assassina e nem ser procurada
pela polícia, Nicolae vivo significava que ele poderia machucá-la novamente.
— Não posso voltar — disse, olhando para o médico de forma aflita.
— Não posso voltar para a cidade ou ele me mata. Por favor... me deixe ficar
aqui, eu posso trabalhar, eu faço qualquer coisa, posso limpar, cozinhar,
trabalhar no campo, nos estábulos, em qualquer lugar, mas, por favor, não me
mande de volta para a cidade — suplicou.
Luca arregalou os olhos. Não esperava por aquele pedido, um frio
subiu por seu estômago. Por mais que quisesse ajudá-la, ele não podia
prometer tal coisa, não tinha como. Humanas não podiam trabalhar no
castelo, era impossível.
— Primeiro você precisa se recuperar, depois veremos o que
podemos fazer — disse se levantando da cadeira e colocando-a no lugar.
Despediu-se, então, da garota e seguiu para os seus aposentos. Sentia-
se mal por ela, não queria tirar suas esperanças, mas também não queria iludi-
la. Pensaria em algo, mas, por ora, ela precisava descansar. De manhã
conversaria com sua mãe, ela sempre arrumava uma saída para assuntos
delicados.

Mirela tinha seus horários diferentes do resto dos vampiros do


castelo. Enquanto eles mantinham o mesmo ritmo dos humanos, trabalhando
durante o dia e dormindo à noite, ela preferia a madrugada para se ocupar.
Gostava de ficar em seu ateliê, no silêncio da noite, criando suas peças para
suprir algumas lojas de roupas femininas em Sibiu. Assim, costumava dormir
após café da manhã e acordava somente para o jantar. E se, por acaso, tivesse
fome à noite, dava uma escapada até a cozinha, pois Anna sempre deixava
algo pronto para ela beliscar.
Naquela manhã, estranhou quando Luca veio lhe procurar logo cedo,
antes do café.
— Oi, mãe, bom dia.
— Oi, Luca, o que houve? Caiu da cama hoje?
O rapaz sorriu meio de lado e Mirela fez um gesto, convidando-o a se
sentar. Olhou com interesse para o jovem vampiro.
— Preciso de um conselho, ou melhor, de uma ideia para resolver
uma situação — disse ele, sentando-se de frente para a mãe.
— Hum... E o que seria?
— Tem uma garota...
A vampira sorriu. Seu filho era lindo de despedaçar corações e, com
certeza, já devia ter despedaçado muitos, pois nunca o vira se interessar por
nenhuma mulher. Ficou curiosa, era a primeira vez que ele a procurava por
causa desse assunto.
— Tem uma garota lá na torre... — continuou ele, observando a mãe
arquear as duas sobrancelhas.
— Hã? — Mirella ficou confusa por um instante. — O que está
dizendo? Você trouxe uma garota para cá? — perguntou espantada. — Uma
humana?
— É uma humana, mas eu não a trouxe para cá...
Luca contou, então, à mãe tudo o que sabia sobre Cătălina, sobre o
histórico de violência doméstica e sobre como ela havia parado ali.
Mirela pensou um pouco, ainda chocada com o relato do filho. Ah, se
pudesse, arrancaria a cabeça daqueles filhos da puta que ousavam maltratar as
mulheres e, principalmente, as crianças. Mas por mais que se comovesse com
a situação da menina na torre, era impossível ela ficar no castelo. Grigore
jamais permitiria e seria perigoso se ela descobrisse algo sobre eles.
— Ah, que situação difícil... Então, creio que ela possa ficar por
alguns dias até se recuperar do ferimento, mas... em quanto tempo você acha
que ela terá condições de ir embora?
Luca franziu as sobrancelhas.
— Não tenho certeza, pois não sei se houve nova fratura, sem um
raio X fica mais difícil saber o diagnóstico. O jeito é ir observando, mas se
ela tiver mesmo trincado novamente a costela, talvez umas quatro ou cinco
semanas. — Ele fez uma pausa. — A minha preocupação é que ela não pode
voltar para a própria casa, ou vai continuar sofrendo abusos do padrasto; e a
menina acabou de completar 18 anos, não podemos mandá-la simplesmente
embora. Como ela vai se virar sozinha?
Mirela sorriu.
— A garota já não é mais criança, Luca, mas entendo sua
preocupação. Daremos um jeito de arrumar um lugar para ela ficar e
trabalhar... contudo, enquanto ela estiver por aqui, oriente-a para que
permaneça na torre. Ela não pode, de forma alguma, sair andando pelo
castelo. Se o Sr. Pop a vir, contará ao seu pai, aí já viu, né?
— Não dou dois dias para que o Sr. Pop a descubra, ela saindo ou
não da torre — comentou o vampiro desanimado.
— Tem razão. — Ela riu. — O Sr. Pop tem olhos e ouvidos de águia.
— Ainda acho que ele faz ligação mental com os ratos do castelo e
fica por aí nos observando. — Luca riu também.
— Façamos o seguinte, se seu pai descobrir sobre a moça, deixe que
eu converso com ele, está bem? — Mirela suspirou, já imaginando a batalha
que seria dobrar o marido para deixá-la ficar ali, nem que fosse por um curto
espaço de tempo.
Luca concordou com um sorriso e deu um beijo na mãe ao sair. Em
seguida foi tomar seu café e conversar com a cozinheira.
— Bom dia, Anna — disse ao entrar na cozinha.
— Bom dia, Sr. Luca. Como vai a moça?
— Então... preciso lhe falar sobre isso. Conversei com a minha mãe e
ela acha que é melhor a garota não sair andando por aí, mesmo porque agora
ela deve estar com dores e não terá condições. Por isso, gostaria de saber se
sua filha poderia ajudar nessa questão. Ajudá-la a se trocar, levar as refeições,
essas coisas.
— Mas é claro que sim. Irina está louca para trabalhar aqui no
castelo. Não vê a hora de se converter em uma transformada para poder ser
admitida oficialmente como uma empregada. É bom que assim ela vai
aprendendo. — Anna sorriu. — Aliás, Sr. Luca... sobre a cerimônia de
batismo... O solstício está chegando e ela anda muito ansiosa com isso, e eu
também, confesso... — A cozinheira torceu as mãos na frente do colo.
Luca sorriu.
— Eu sei Anna... Todos nós ficamos um pouco nervosos, e estou me
incluindo nessa. É meu terceiro ano como padrinho, e ainda não me
acostumei, é sempre uma pressão...
— Ah, me desculpe, Sr. Luca, não queria pressioná-lo, sinto muito —
disse a cozinheira preocupada.
— Não, não é isso... — Ele riu. — A pressão vem de cima, do meu
pai. — esclareceu. — Eu sei que Irina espera que eu seja o padrinho dela.
Normalmente quem designa esse tipo de coisa é o meu pai, mas já falei com
ele sobre sua filha e ele concordou.
Anna abriu um largo sorriso. Por Luca ser alguém amável e receptivo
com todos, era comum os jovens da vila desejarem que o jovem Constantin
fosse o padrinho deles, mas as garotas... essas ficavam enlouquecidas. O
sonho de qualquer uma delas era ser convertida em vampira pelas mãos do
rapaz, ou melhor, pelo seu sangue, e com sua filha não era diferente.
— Obrigada! — exclamou. — Irina ficará muito feliz em saber.
A cozinheira serviu o café para o médico e logo foi ligar para a filha.
Irina havia acabado de fazer dezesseis anos e ela poderia adiar sua conversão
até os dezoito, se quisesse, mas a garota dizia já estar decidida quanto a isso.
Os filhos dos transformados, como ela, nasciam humanos e deveriam
optar, entre os 15 e os 18 anos, em continuar como um humano ou ser um
vampiro transformado. Caso fizessem a primeira opção, deveriam sair da vila
e guardar segredo absoluto sobre aquele lugar, sob a pena de serem caçados e
punidos pela Força de Contenção caso o segredo fosse revelado. Além disso,
nunca poderiam ter filhos, pois nasciam estéreis. Mas se quisessem se tornar
um vampiro, poderiam ficar na vila ou estudar fora, se formar em uma
faculdade e trabalhar para a comunidade.
A grande maioria dos jovens optavam por ser um transformado. Eles
viam vantagens em nunca ficarem doentes, viver o triplo do tempo de um
humano e poderem constituir uma família com filhos, pois a conversão lhes
dava a oportunidade de mudarem a condição de esterilidade.
Irina iria se converter junto com outros cinco jovens da vila e estava
animada, contando os dias para que o dia logo chegasse. A cerimônia de
batismo só ocorria uma vez por ano e seria no solstício de inverno. Faltavam
menos de 20 dias para acontecer e a moça estava tão ansiosa que mal
conseguia dormir direito.
Ao saber, pela mãe, que Luca seria seu padrinho, ela pulou e dançou
de felicidade, aquilo era realmente um sonho...

Cătălina acordou sentindo dores, embora estas não fossem tão fortes
quanto no dia anterior. Levantou-se com calma e procurou o remédio na
cômoda para tomar. Foi com surpresa que viu, em uma mesinha próxima da
janela, uma bandeja com variadas guloseimas para o café da manhã, além de
leite e suco.
Tomada de um novo ânimo, a jovem se esbaldou com a comida. No
entanto, logo a vontade de ir ao banheiro apertou e ela se dirigiu para a porta.
Levou um susto ao abrir e ver uma moça de cabelos e olhos castanhos
sentada nas escadas tricotando algo que parecia ser um cachecol.
— Olá! Sou Irina — disse a jovem, guardando a lã em um cesto e se
levantando. — Sou filha da Anna, a cozinheira, e fui designada a te auxiliar.
— Ah, obrigada... mas não sei se isso tem necessidade... Estou
melhor, minhas costelas doem menos.
— O Sr. Luca disse que você precisa ficar em repouso por alguns
dias, portanto não poderá sair da torre. Então, eu estou aqui para lhe ajudar no
que for preciso. Não se preocupe, não vou te importunar. — Ela sorriu. —
Está indo ao banheiro?
— Sim...
— Vem, eu serei seu apoio — disse a garota se aproximando e
oferecendo o braço. — Precisa tomar cuidado com as escadas, são antigas e
estreitas.
— Obrigada — respondeu Cătălina, aceitando a ajuda. O esforço de
andar e descer os degraus lhe provocavam pontadas doloridas no corpo. —
As roupas que vocês me arrumaram... São suas, não são? — perguntou,
observando que a moça se vestia como uma camponesa do século passado:
blusa branca de gola alta e manga bufante com desenhos bordados em preto e
vermelho, saia longa e, sobre esta, uma espécie de avental de lã, também
bordado.
— São sim, espero que não se importe. São simples e nada modernas,
mas é o que usamos por aqui, gostamos de preservar nossos costumes.
Cătălina achou aquilo engraçado, mas interessante. Até então, ela só
tinha visto aquele tipo de roupa em festas tradicionais, não imaginou que
alguém ainda a usasse no dia a dia. Pensando bem, o que poderia esperar de
aldeões vivendo em uma vila isolada no meio das montanhas...
— Não me importo, acho legal, mas não sei se iria até a cidade
vestida assim — comentou, arrancando um riso da moça.
— Nós não vamos, temos algumas peças de roupa normal para
quando precisamos sair do vale. Só não as emprestei agora porquê, na
verdade, não tenho muitas, mas se precisar...
— Ah, não se preocupe, não vou a lugar algum mesmo por enquanto.
Cătălina usou banheiro enquanto a garota lhe esperava do lado de
fora e, em seguida, subiram novamente. Irina a ajudou a se trocar e depois
pegou a bandeja com o café da manhã para levar de volta à cozinha.
— Você tem celular? — perguntou a moça.
— Não...
— Certo, então fique com isso — falou Irina, tirando um aparelho de
rádio do tipo walkie-talkie do bolso e lhe ensinando como usá-lo. — Se
precisar de algo, é só chamar como eu te expliquei. Vou estar lá embaixo na
cozinha. Não vá ao banheiro sozinha, caso não me chame, estarei aqui de
volta na hora do almoço para lhe trazer a refeição. — Ela sorriu e saiu,
fechando a porta.
Cătălina viu a moça sair e se acomodou nos travesseiros olhando para
o aparelho em suas mãos. Era bem estranho aquilo, mas funcional para um
castelo tão grande.
Três dias se passaram e ela já estava se sentindo entediada de ficar
somente naquele quarto. Irina era atenciosa e lhe trouxe alguns livros
interessantes para ler, mas o que ela queria mesmo era conhecer a biblioteca,
que segundo a moça era imensa.
Naqueles dias elas conversaram bastante e, pela garota, ficara
sabendo que na vila havia uma escola que formava até o equivalente ao
ensino médio, e se o aluno tivesse boas notas, os Constantin financiavam a
faculdade. Cătălina achou aquilo incrível, os jovens da vila tinham sorte, pois
fazer faculdade não saía barato.
O Dr. Luca aparecia todo final de tarde após voltar do hospital,
perguntava como ela estava, o grau de dor, se estava tomando os remédios,
conversava um pouco e depois ia embora. Ele era amável e a tratava bem,
costumava ficar entre 15 e 20 minutos com ela, às vezes falando sobre sua
rotina diária.
Aos poucos, ela própria foi se soltando e contou sobre os dias que se
seguiram depois que ela esteve no hospital, sobre o sumiço da mãe e sobre
sua fuga para o castelo. Também informou ao médico que não tinha parentes,
que nunca conhecera seu verdadeiro pai e que achava que tinha um tio
morando no exterior, mas não fazia a menor ideia de onde. Um pouco mais
confiante, já conseguia sustentar o olhar do rapaz por mais tempo, não
muito...
No quarto dia após sua chegada no castelo, Cătălina, entediada, não
aguentou mais ficar no quarto. Aproveitou a saída de Irina após o café e
desceu com cuidado as escadas da torre, apoiando-se na parede. Queria andar
um pouco, respirar outros ares, ver algo além das paredes do quarto, estava
louca de curiosidade de saber como era o castelo por dentro.
Desceu dois lances de escada e notou uma porta que parecia ser de
uma saída, tentou abri-la, mas estava trancada. A escada continuava por mais
um lance e ao final dela, havia outra porta. Girou a maçaneta e, desta vez, ela
abriu.
Cătălina enfiou a cabeça pela porta e observou que estava em um
corredor que pareciam ser de quartos, outra escada mais larga começava ao
lado e descia para os andares de baixo. Ela já havia passado por ali, mas
estava um tanto nervosa naquele dia, sendo carregada nos braços pelo médico
lindo que mal havia reparado nos detalhes.
Saiu no corredor e admirou a beleza do lugar. As paredes e o chão
eram em pedra e estavam cobertos por quadros e tapeçarias.
Estava olhando uma das pinturas quando sentiu um movimento atrás
de si. Virou-se e quase caiu para trás com o susto. Um homem alto, velho e
magro, quase sem cabelos, com nariz pontudo e olhos estreitos a analisava de
cima a baixo.
— Quem é a senhorita? — perguntou ele, ríspido. — Por acaso é uma
intrusa?
Cătălina engoliu em seco.
C omo mordomo responsável pela administração do castelo, Popescu
sabia de tudo o que se passava naquele lugar, quem entrava e quem
saía. Por isso, estranhou a presença daquela desconhecida ali, ainda
mais no andar dos quartos.
— Meu... meu nome é Cătălina — respondeu ela hesitante e
assustada com a aparição repentina do senhor e a forma intimadora com que
ele a encarava.
— E o que a senhorita está fazendo aqui em cima na ala dos quartos?
Aliás, o que a senhorita está fazendo no castelo? Quem autorizou sua entrada
aqui?
Cătălina, um pouco nervosa, não fazia ideia do porquê daquelas
perguntas inquisitivas, mas tentou se explicar.
— Eu cheguei há alguns dias e estou dormindo na torre. Acabei me
machucando na vinda para cá e o Dr. Luca está me tratando.
O mordomo estreitou os olhos.
— Ainda não compreendo. É uma visita? Não fui informado sobre
isso, o que é muito estranho — disse com desconfiança. — É melhor não
mentir para mim, senhorita...
— Ela não está mentindo, Sr. Pop — falou Luca atrás dele. — A Srta.
Petran é minha convidada e eu a acomodei na torre sem lhe comunicar, peço
desculpas pela confusão.
— Compreendo, Sr. Luca, então sou eu quem devo me desculpar por
desconfiar da moça. — Ele olhou para Cătălina. — A senhorita me desculpe
também, por favor.
— Ah, não se preocupe, está tudo bem... — respondeu ela um pouco
agitada com a presença do médico ali.
— Sr. Luca — voltou a falar o mordomo. — Não seria mais
adequado acomodar a senhorita em uma das suítes? A torre não me parece
um bom lugar para uma hóspede... — sugeriu erguendo uma das
sobrancelhas.
— Sim, tem razão, Sr. Pop — respondeu o rapaz com um sorriso. Em
se tratando do velho mordomo, Luca já previa que aquilo aconteceria, assim
como previa que logo seu pai tomaria ciência da presença da moça. —
Agradeço se puder providenciar isso, por gentileza.
— Imediatamente, senhor — falou Popescu fazendo uma pequena
reverência e se virando em direção às escadas.
O médico se voltou para a garota.
— Certo, pelo que eu me lembre, recomendei que a senhorita ficasse
em repouso no quarto — falou ele com uma sobrancelha arqueada.
Cătălina corou e desviou os olhos para os pés do rapaz.
— É, sim... é que, bem... eu estava cansada de ficar só lá em cima. Já
estou me sentindo melhor e achei que não tinha problema eu conhecer o
castelo.
Luca sorriu. Problema tinha, um deles era justamente seu pai ficar
sabendo sobre ela, mas cedo ou tarde aquilo iria mesmo acontecer.
— Entendi, então deixe que eu lhe mostre o lugar — disse,
oferecendo-lhe o braço. — Está conseguindo caminhar sem dor?
— Ainda dói um pouco quando faço esforço, mas consigo andar.
— Isso é bom, pelo que estou vendo, o dano em suas costelas desta
vez foi menor. Bem, vamos começar por aqui. Como pode ver, este é o andar
dos quartos, logo vai se mudar para cá — disse, abrindo uma das portas.
Os olhos da garota se arregalaram, o quarto era muito maior do que
aquele que ela ocupava agora, mais luxuoso também.
— Dr. Luca... Não preciso que me mudem de quarto, estou bem lá na
torre — falou sentindo-se constrangida por dar trabalho.
O médico riu.
— Até parece que o Sr. Popescu vai deixar um convidado continuar
dormindo na torre. Ele tem razão, aquelas acomodações não são adequadas.
— Então por que eu fui colocada lá? — indagou, mas de imediato se
sentiu envergonhada com a própria pergunta, corando novamente. — Quer
dizer... me desculpe, não quis parecer mal-agradecida.
Luca a observou por alguns instantes. A garota corava por qualquer
motivo, como podia ser tão envergonhada? Achou aquilo bonitinho.
— Não precisa se desculpar — falou, voltando a oferecer-lhe o braço
para seguirem com a visita. — Você tem razão em estranhar, mas a culpa é
minha, não vou negar. Vou lhe dizer a verdade e espero que não se ofenda.
— Começaram a caminhar em direção às escadas. — Meu pai não é uma
pessoa hospitaleira, ele não aprecia receber desconhecidos no castelo e
certamente não concordaria com sua presença aqui. Se eu tivesse te
acomodado na ala dos quartos, ele logo saberia e poderia mandá-la embora
em um piscar de olhos. Então, eu escondi você na torre, por isso nem o Sr.
Pop sabia sobre você.
Cătălina o olhou interrogativamente.
— Mas agora ele sabe... Acha que o Sr. Pop vai contar ao seu pai?
— Com certeza. — Luca sorriu. — Mas não se preocupe, já falei com
minha mãe, ela vai amaciar a fera, espero...
— Hum... — murmurou a garota. Agora ela estava receosa de ser
expulsa dali.
— O castelo é um pouco grande — disse o médico mudando de
assunto. — É melhor não se esforçar muito, então te mostrarei apenas um
pouco dele por hoje, okay?
Ela concordou enquanto desciam as escadas, Luca a apoiava e seguia
no ritmo dela.
— Poderia me mostrar a biblioteca? — pediu Cătălina.
— Gosta de livros?
— Sim, a Irina me trouxe alguns, mas já li todos e eu fiquei curiosa.
Ela me disse que a biblioteca daqui é enorme.
— Certo... — falou ele sorrindo. — Vamos à biblioteca, então.
Assim que terminaram os degraus, Cătălina precisou parar um pouco
para respirar.
— Está com dor? — perguntou Luca.
— Não muita, podemos continuar — disse ela, temerosa de ter que
encerrar a visitação. — Hum... O senhor não devia estar no hospital a essa
hora? — quis saber assim que retomaram o caminho para a biblioteca.
— Por favor, não me chame de senhor, me sinto um velho. — Ele riu.
— Também não me chame de doutor, você pode ser minha paciente, mas
aqui você é minha hóspede. Pode me chamar de “Luca” apenas.
Respondendo à sua pergunta, hoje irei mais tarde para o hospital; vou cobrir
o plantão da madrugada, então só irei depois do almoço.
— Entendi... Posso te pedir uma coisa?
Ele a olhou.
— Também prefiro ser chamada pelo meu primeiro nome, aliás,
prefiro que me chame de Nina, apenas. Me sinto estranha quando o senh...
quando você me chama de Srta. Petran ou Srta. Cătălina, parece que não sou
eu.
— Está bem, estamos combinados então, Nina... — respondeu Luca
sorrindo.
Cătălina o fitou e, diante daquele sorriso, corou mais uma vez,
desviando os olhos para frente. O médico era terrivelmente belo, tinha os
olhos azuis mais lindos do mundo e aquele sorriso... o que era aquilo? O
homem não era daquele planeta, era perfeito demais, só podia ser um deus
grego mesmo.
Ao chegarem na biblioteca, os olhos da moça se arredondaram, assim
como a boca. Aquele lugar era incrível, só tinha visto coisa parecida em
filmes. Prateleiras repletas de livros cobriam todas as paredes até o teto, e
também havia um mezanino que circundava toda a sala, acessado por uma
escada em caracol. Tudo ali era em madeira nobre: as prateleiras, as mesas, a
escada. As poltronas e as cadeiras eram em veludo, e duas enormes tapeçarias
cobriam quase que totalmente o chão.
Em frente à porta principal, sob o mezanino, havia um outro cômodo
um pouco menor e com teto mais baixo, também cheio de livros.
— Do lado de cá, — apontou Luca — estão os livros históricos. Ali
os de filosofia, e naquela outra parede os livros da minha mãe. Talvez você
goste mais daqueles. No mezanino estão os livros médicos, técnicos e
científicos, não acredito que vá apreciar. E naquela ala, — apontou para o
cômodo menor — estão os livros do meu pai. Peço a gentileza de não entrar
lá e não tocar em nada — disse com voz firme e séria. Ali ficavam os livros
antigos e históricos sobre seres sobrenaturais como os Vampyrs, Lykans,
Wargs, magos, entre outros, e realmente seria um desastre se ela resolvesse
ler qualquer um deles.
— Entendi — concordou ela. Ficaria longe daquela ala, a última
coisa que queria era deixar o senhor do castelo bravo; além disso, havia livros
de sobra na parte não proibida da biblioteca. Não conseguiria ler todos nem
que tivesse duas vidas. — Posso escolher alguns para levar lá para cima? —
perguntou com os olhos brilhando.
— Claro — respondeu Luca, sentando-se em uma das poltronas. —
Fique à vontade.
Cătălina abriu um largo sorriso e imediatamente foi correr os olhos
pelos títulos. O médico a observou por um tempo. A garota vestia uma das
roupas de Irina, seus cabelos estavam trançados e ela estava mesmo
parecendo uma camponesa. Não foi à toa que Popescu estranhou a presença
dela ali. Ainda bem que não tinha ido trabalhar logo cedo e, por sorte,
escutara a conversa entre eles no corredor, ou provavelmente o mordomo a
teria expulsado do castelo.
Enquanto a garota escolhia o que levar para ler, resolveu folhear um
livro qualquer. Não tinha mesmo muito o que fazer e não achava boa ideia
deixá-la sozinha ali, pois se Grigore ficasse sabendo certamente seria o
inferno na Terra.
— Onde seus pais estão? — perguntou a moça, de repente. Ela já
tinha dois livros em mãos.
— Minha mãe deve estar dormindo agora. Ela prefere trabalhar de
madrugada, então dorme durante o dia. Meu pai costuma visitar as fazendas
de manhã, mas daqui a pouco deve estar de volta.
— Sua mãe trabalha?
— Sim, ela é estilista. Produz modelos para uma loja em Sibiu.
— Ah, que legal! — Cătălina se admirou. — E vocês têm fazendas
de quê?
— De animais... Criamos porcos e carneiros para abate, galinhas
poedeiras e também cavalos. Além disso, plantamos quase tudo que
consumimos fresco na vila e no castelo, verduras, legumes, algumas frutas,
essas coisas...
— Tudo isso? — espantou-se ela. — A propriedade de vocês deve
ser gigante.
Luca sorriu.
— É grande sim... Hum... Já escolheu o que quer levar?
— Ah, vou pegar só mais um! — disse ela se virando novamente para
as prateleiras.
Cătălina estava empolgada com a variedade de títulos. Já tinha pego
um livro sobre o Egito, um sobre mitologia antiga e queria escolher também
um romance. Foi até a prateleira que Luca havia indicado como sendo os
livros de sua mãe e, depois de olhar por alguns minutos, escolheu um título
que achou interessante, porém ele estava acima de sua cabeça.
Quis levantar o braço para pegá-lo, mas sentiu uma pontada de dor ao
tentar se esticar. Inspirou devagar e olhou novamente para o livro. Não estava
tão alto, ela poderia pegá-lo facilmente se não estivesse machucada. Levantou
o braço mais uma vez, com um pouco mais de calma, mas chegou em um
ponto em que a dor a limitava. Abaixou o braço frustrada, escolheria outro...
fazer o quê?
Sentiu, então, um movimento atrás de si. Ia se virar, mas logo viu um
braço se esticar por trás e pegar facilmente o livro.
— É esse que você quer? — perguntou Luca, retirando-o da
prateleira.
Cătălina não respondeu de imediato, porque, naquele momento,
estava prendendo a respiração e imóvel como uma estátua. O médico estava
tão perto que ela podia sentir o calor que exalava do corpo dele através das
roupas. Ele era pelo menos vinte e cinco centímetros mais alto e ela sabia que
se virasse o rosto daria de cara com o tórax dele.
Luca se moveu um pouco para o lado, estendendo o livro para ela, e
Cătălina finalmente se lembrou de respirar.
Pegou-o das mãos do rapaz e o fitou. Então, não soube o que a
atingiu, se foi o olhar divertido que ele lhe dirigia ou se foi o seu perfume que
lhe invadia os sentidos. Mas seu corpo arrepiou, fraquejou, esquentou, e o seu
coração resolveu quase pular pela boca. Devia ter ficado com uma cara de
paspalha, pois o médico deu um sorriso meio contido, meio de lado, e logo se
afastou sem dizer nada. Para variar, seu rosto estava queimando em brasa e só
então se lembrou de que nem tinha agradecido. Tonta!, pensou consigo
mesma.
Saíram da biblioteca e Cătălina estava tão muda quanto uma porta.
Luca levava os livros que ela havia escolhido em uma mão, enquanto lhe
oferecia o outro braço para voltarem ao quarto.
O vampiro também não falava, mas sorria por dentro com a reação
que provocara na moça minutos antes.
Na verdade, aquilo não era novidade para ele, o médico conhecia o
seu poder de arrancar suspiros das mulheres, principalmente quando se
aproximava delas. Contudo, não havia sido sua intenção provocar qualquer
desconforto na garota, ele só pensou em ajudá-la, mas não podia negar que
era divertido vê-la corar como um camarão.
No caminho encontraram o sisudo Sr. Pop.
— O quarto da senhorita já está preparado, senhor. É o segundo à
esquerda do corredor sul — informou ele a Luca. — Os objetos pessoais que
estavam na torre também já foram transferidos. — Olhou, então, para
Cătălina. — Tenha uma boa estadia, Srta. Petran.
— Obrigada, Sr. Pop.
O homem arqueou uma sobrancelha e o médico teve que se segurar
para não rir. O mordomo não gostava muito do apelido e somente tolerava
que Luca o chamasse assim, embora os demais funcionários do castelo
também se referissem a ele desta forma quando não estava por perto.
— O seu mordomo é sempre tão mal-humorado? — perguntou
Cătălina já nos últimos degraus da escada.
Luca sorriu.
— Ele é assim por natureza, mas se aceitar um conselho, chame-o de
Sr. Popescu, ele prefere. — Apontou, então, para o corredor onde eles haviam
se encontrado mais cedo. — Este é o corredor sul, seu quarto fica logo ali. O
meu quarto e o dos meus pais ficam para lá. — Apontou para onde o corredor
fazia uma curva de noventa graus. — No corredor oeste.
A garota entrou no quarto e sorriu, era parecido com o outro que ela
vira antes. A cama também tinha um dossel e várias almofadas, só isso já a
deixava satisfeita, pois se sentia como uma princesa. Foi até o banheiro e
notou que ele era um pouco menor do que o da torre, mas pelo menos ficava
ao lado do quarto e também dispunha de uma belíssima banheira com
torneiras douradas.
Em seguida, caminhou até a janela. A vista dali era um pouco
diferente. Na torre, ela tinha uma visão ampla dos dois lados do castelo; e, de
onde estava agora, apenas um, o da lateral, era visto. Assim, só conseguia ver
a vila parcialmente e as montanhas mais à frente.
Virou-se e viu Luca encostado no batente da porta. Ele a olhava com
curiosidade.
— Então, se está tudo certo, vou te deixar em paz — disse ele. —
Também tenho que ir trabalhar daqui a pouco.
— Ah, sim, obrigada. Desculpe se te atrapalhei.
— Não atrapalhou de forma alguma. Hum... descanse e me espere
para conhecer o resto do castelo, não saia andando sozinha por aí. Não vai
gostar de topar com o meu pai, acredite — recomendou.
— Okay — concordou ela.
Luca sorriu e saiu, indo em direção ao seu próprio quarto para se
trocar. Precisava se apressar, ainda tinha que comer algo antes de seguir para
o hospital. Suspirou, agora só voltaria para o castelo na manhã seguinte. Até
lá, certamente seu pai já saberia das novidades.
Decidiu deixar uma mensagem para a mãe. Esperava que ela a visse
assim que acordasse e que conseguisse convencer o senhor do castelo a não
tomar nenhuma atitude drástica em relação à moça.
De qualquer forma, tinha ciência de que viriam problemas para cima
dele. Precisava se preparar mentalmente, Grigore Constantin não era alguém
muito maleável quando se tratava de regras e tradições. Sua irmã que o diga,
embora ele já tivesse melhorado muito a esse respeito nos últimos anos.
Chegando no quarto, arrancou as roupas e foi tomar um banho. Sob a
ducha, passou o sabonete no corpo e, ao chegar às suas partes baixas,
resolveu se acariciar um pouco. Não era incomum ele fazer isso pensando em
garotas. Porém, a imagem que lhe veio na cabeça, desta vez, foi a da jovem
envergonhada que agora estava no mesmo andar que ele. Parou
imediatamente.
No que estava pensando? Ela era sua hóspede, sua paciente e muito
jovem ainda, pelo menos para ele... era quase oito anos de diferença. Isso
porque ele era um vampiro novo. Merda! Fechou os olhos e deixou que a
água escorresse pelas suas costas, então voltou a acariciar seu membro já
duro.
— Merda! — exclamou alto, enquanto continuava a se masturbar.
Não importava quem estava em sua mente. Precisava daquilo, precisava se
aliviar...
L uca voltou do hospital, no dia seguinte, somente após a hora do
almoço. Estava exausto. Embora a madrugada tivesse sido calma,
durante a manhã, haviam aparecido dois atendimentos emergenciais,
fazendo com que os pacientes com consulta marcada ficassem esperando.
Conclusão, precisou ficar algumas horas a mais a fim de atender a todos.
Só queria tomar um banho e cair na cama, contudo, mal colocou os
pés dentro do castelo e o Sr. Pop apareceu. Após cumprimentá-lo, o
mordomo avisou que seu pai o aguardava no escritório.
— Ele está sozinho? — perguntou Luca.
— Sim, a Sra. Constantin já foi se recolher.
Luca seguiu desanimado para a sala do pai. Não estava com força
para discussões, mas não tinha como escapar daquilo. Então, era melhor
resolver tudo de uma vez.
Encontrou Grigore sentado atrás de sua grande mesa de madeira
nobre. Ele estava de cabeça baixa, analisando alguns papéis.
— Boa tarde, pai — disse ao entrar.
O senhor do castelo levantou os olhos para fitá-lo. Grigore
Constantin era um vampiro de meia idade e de personalidade forte. Rígido e
severo por natureza, prezava pelas tradições e costumes, mas já havia
cometido muitos erros na vida. Erros dos quais se arrependia e que o levara a
abrir mão de seu assento no Conselho de Anciãos. Erros que quase
destruíram sua família e que ele ainda lutava para consertar. Com quase 320
anos, não aparentava ser muito velho, tinha um porte elegante, olhos azuis e o
cabelo escuro como o de Luca, mas suas têmporas já estavam salpicadas de
fios grisalhos.
— Boa tarde — respondeu ele, deixando os papéis de lado e se
recostando na poltrona. — Sente-se.
Luca se sentou e aguardou que o pai começasse a falar.
— No que estava pensando quando permitiu que essa moça ficasse
aqui? — disparou Grigore, seco e direto.
— Ela está machucada e, como médico, meu dever é ajudá-la —
respondeu o rapaz, sabendo que aquele era um argumento nada convincente.
Na verdade, ele havia pensado em milhares de desculpas para dar, mas
nenhuma delas lhe pareceu melhor.
— Não me venha com bobagens, Luca. Não me tome por tolo! —
Grigore franziu o cenho. — Sua mãe já me disse o problema da moça e
tentou me convencer a aceitá-la aqui. Acontece que o problema dela não é
problema nosso e não faz sentido algum que ela permaneça no castelo. Quero
a humana fora daqui até amanhã. Leve-a para o hospital, se ainda acha que
ela precisa de cuidados.
Como se a discussão já tivesse sido encerrada, o patriarca voltou a
dar atenção aos papéis sobre sua mesa.
— Ela vai ficar, pai — disse Luca, calmamente. Uma calma, aliás,
que ele não fazia ideia de onde havia tirado.
Grigore voltou a encará-lo, desta vez com uma expressão
desconfiada. Luca não fazia o tipo que costumava contrariá-lo. A única vez
que discutiram feio foi quando o rapaz soube que ele havia mandado um
mercenário assassino atrás da irmã. Aliás, os meses que se seguiram àquilo
foram um inferno. Passou a ser ignorado por Luca, e até mesmo Mirela o
evitava. Demorou muito tempo até que voltassem a conversar normalmente, e
isso só se resolveu quando ele finalmente reconheceu seu erro e se desculpou
com a filha, anos depois.
Agora, Luca o encarava sério e desafiador, realmente aquilo não era
algo comum. Decidiu ouvir o rapaz, afinal seu filho não era mais uma
criança. Estava curioso para saber até que ponto ele mantinha suas
convicções.
— Convença-me — disse.
Luca se remexeu na cadeira, endireitando o corpo. Não esperava
aquela resposta do pai, achava que Grigore ia se levantar, bater na mesa, ficar
furioso, mas não aconteceu nada disso; ele simplesmente o encarava sério,
aguardando que dissesse alguma coisa.
— A moça lá em cima se chama Cătălina e ela não tem ninguém para
ajudá-la. Como já deve ter ouvido da minha mãe, o padrasto é um homem
violento que já a machucou várias vezes, quase a estuprou e provavelmente a
mataria se ela voltasse. A mãe fugiu, sabe-se lá para onde, e ela não tem
outros parentes próximos.
Luca fez uma pausa, tentando analisar a expressão do pai, mas ele
não movia um músculo do rosto.
— A situação médica dela pode não ser tão grave — continuou. —
Mas a situação psicológica e emocional, sim. Não posso, simplesmente,
abandoná-la no meio da rua com uma mão na frente e outra atrás. Que tipo de
pessoa eu seria? — Ele juntou levemente as sobrancelhas. — Vou encontrar
um lugar para ela ficar e se estabelecer, prometo. Apenas gostaria de esperar
alguns dias para que a dor dela diminua e ela possa se virar sozinha.
Grigore tamborilou os dedos sobre a mesa.
— Você tem noção de como é perigoso manter uma humana nesse
castelo? — argumentou o patriarca. — Há segredos aqui que se ela
descobrisse seria um desastre. Não tanto para nós, mas para ela mesma. Você
sabe muito bem qual é o destino dos humanos que descobrem sobre a nossa
natureza.
Luca suspirou.
— Sim, eu sei... A prisão de Vârful Cârja. Mas isso somente se ela
descobrisse algo e se fosse denunciada ao Conselho, o que não vai acontecer,
pai. É só por alguns dias, três semanas, quatro no máximo. Depois ela vai
embora, tem minha palavra.
— Três ou quatro semanas... — repetiu Grigore. — Você se lembra
que a cerimônia de batismo ocorrerá em duas semanas, certo? Metade do
vilarejo vai subir para o castelo. Então, espero que a mantenha bem longe dos
olhos dos aldeões, não quero que fiquem sabendo que há uma humana aqui.
O jovem vampiro olhou surpreso para o pai. Ele estava mesmo
concordando com aquilo? Tão fácil assim? Sem brigas, sem discussões
acaloradas? Seu pai definitivamente não era mais o mesmo...
— Não se preocupe... — disse. — Já a avisei para não andar sozinha
pelo castelo e também irei orientá-la para que não saia lá fora.
— Muito bem. A garota está sob sua responsabilidade, espero que
saiba o que está fazendo... — concluiu Grigore olhando fixamente para o
filho.
— Sim, senhor — respondeu Luca se levantando. — Obrigado por
compreender. — Acenou levemente com a cabeça e se retirou, deixando o pai
com seus papéis.
O vampiro saiu da sala sentindo-se amortecido. Não costumava ser
fácil dobrar Grigore, ainda quando se tratava de algo que poderia colocar em
risco o segredo dos Vampyrs. Seu pai sempre fora muito rigoroso em relação
a isso, mas desta vez o surpreendera. Com certeza havia o dedo de Mirela ali.
Sua mãe, às vezes, conseguia despertar o lado mais generoso e sentimental do
marido. Foi assim que o convencera a engolir o orgulho, fazendo com que ele
chamasse sua filha, irmã de Luca, para lhe pedir perdão por tê-la perseguido.
Passou rapidamente na cozinha, cumprimentou Anna e pegou alguns
pedaços de pão e queijo para beliscar. Então, subiu para o quarto, precisava
tomar um banho, descansar... Também precisava de sangue. Luca costumava
guardar as suas porções em um baú de madeira sobre a cômoda.
Como qualquer vampiro, ele também tinha uma cota. Não importava
o fato de ser membro de uma família importante, donos de hospitais que
processavam, purificavam e embalavam o sangue para ser distribuído. Todos
tinham uma cota.
Aquela resolução havia sido implantada há muito tempo pelo
Conselho e todos os vampiros a seguiam à risca. Cada vampiro, puro ou
transformado, tinha o direito de retirar sua cota mensal em um departamento
específico do hospital. O sistema era todo informatizado e não havia como
burlá-lo.
A exceção ficava por conta dos habitantes do vale, que não se
alimentavam de sangue humano, mas do sangue dos animais criados nas
fazendas. Algo necessário, uma vez que os hospitais da região não dariam
conta de fornecer o líquido vital para tantos vampiros.
A vantagem é que o sangue dos animais não viciava como o sangue
humano; então, os aldeões não precisavam se preocupar com cotas, o
consumo era livre, mas existiam desvantagens. Uma delas era o gosto não
muito agradável, a outra era o fato deste sangue não sustentar tanto quanto o
de um humano, assim os transformados eram obrigados a ingerir maiores
quantidades por vez.
Já os vampiros puros, como os Constantin, não se davam bem com
sangue de animais. Este até poderia servir por um tempo de forma
emergencial, mas sem o sangue humano, o enfraquecimento vinha rápido e as
crises de abstinência também.
Luca abriu a tampa do baú e retirou de lá uma caixinha de sangue.
Uma cópia fiel das embalagens dos sucos industriais, vindo até com
canudinho, o que facilitava a ingestão do líquido e não causava
estranhamento se um vampiro precisasse ingeri-lo em público. Sentou-se,
então, na cama para tomá-lo. Aquilo era bom... Não tão bom quanto o sangue
fresco que havia provado com Sebastian, mas era bom.
Sebastian... O que o amigo andava aprontando? Será que ele
continuava a fazer aquilo? Meneou a cabeça, Bass definitivamente não tinha
limites e havia conseguido arrastá-lo junto com ele. O que tinham feito há
alguns meses não havia sido certo, aquilo era perigoso, na verdade.
Assim que terminou de se alimentar, resolveu tomar um banho e
dormir um pouco, mais tarde iria ver como Cătălina estava.
O vampiro acordou somente ao cair da noite, olhou no relógio e viu
que tinha perdido o horário do jantar. Revirou-se na cama e afundou a cabeça
no travesseiro, ainda estava com sono, mas sua fome era maior. Apesar dos
vampiros necessitarem do sangue para se manterem vivos, não podiam viver
só de sangue, eles também necessitavam dos nutrientes dos alimentos
comuns, como os humanos e, por isso, sim, eles também sentiam fome.
Naquele momento, o estômago de Luca roncava por não ter almoçado direito.
De forma preguiçosa, levantou-se e foi ao banheiro. O castelo, apesar
de ter séculos, havia sido reformado e adaptado para as necessidades mais
atuais. Eletricidade, água encanada, aquecimento a gás, quartos que foram
divididos e se transformaram em banheiros e até uma sala de ginástica existia
onde antes eram as masmorras. Embora a parte mais profunda destas ainda
fosse conservada em sua forma original. Assim, os vampiros dispunham do
conforto das suítes e da modernidade, que também se estendia para a cozinha,
a qual dispunha de geladeira, freezer, micro-ondas, forno e fogões a gás, onde
antes costumava existir fornos a lenha.
Luca desceu para comer algo e encontrou Anna preparando a bandeja
com o jantar de Cătălina. Irina, que estava ali aguardando para levá-la, lhe
sorriu.
— Como vai a nossa hóspede? — perguntou-lhe o médico.
— Está bem, ficou animada de ter conhecido a biblioteca e está
devorando os livros — respondeu a jovem. — Mas, às vezes, ela me parece
triste...
— Sei... — virou-se para a cozinheira. — Anna? Poderia preparar
outra bandeja para mim, por favor? Vou acompanhar a Srta. Petran na
refeição.
Anna sorriu.
— Sim, senhor — respondeu, já pegando outro pote para servir o
ensopado de carne que borbulhava na panela.
Luca subiu com Irina, levando sua própria bandeja, e encontraram
Cătălina tentando produzir um cachecol como a jovem aldeã havia lhe
ensinado.
Ela deixou a lã e as agulhas de lado e se levantou quando viu que o
médico estava entrando também. Ficou confusa, ele trazia outra bandeja e
não entendeu para que tanta comida. Lembrou-se do conto de João e Maria,
onde a velha bruxa tentava engordar as crianças para comê-las.
— Vim jantar com você — explicou Luca ao reparar no semblante
espantado da moça.
Irina acomodou a bandeja que trazia em uma pequena mesa redonda
próxima à janela e saiu.
Luca também colocou a dele e se sentou em uma das cadeiras em
frente â mesa. Cătălina permanecia em pé, sem sair do lugar.
— Não está com fome? — perguntou o médico.
Ela assentiu.
— Então se sente — continuou ele, apontando para a outra cadeira.
— Eu estou morrendo de fome, se eu não começar a comer agora, meu
estômago vai colar nas costas.
A garota sorriu e foi se sentar, mas estava envergonhada pelo médico
estar ali. Era estranho comer na presença de um homem que não fosse
alguém de sua família ou de seu trabalho. Parecia um encontro... Deu-se,
então, um soco mental. De onde ela tirava aquelas coisas? Rapidamente
expulsou aquele pensamento da cabeça e se concentrou no prato à sua frente.
Luca perguntou como ela tinha passado o dia, falou um pouco sobre
o hospital e, após terem terminado a refeição, pediu para lhe examinar as
costelas.
Cătălina se retesou. Só de pensar naquele deus grego a vendo sem
roupas novamente, seu coração começava a acelerar.
— Eu... eu estou bem, acho que não precisa — disse ela com olhos
grandes.
O rapaz arqueou uma das sobrancelhas.
— Ei, quem é o médico aqui? — perguntou sorrindo. — Só quero dar
uma olhada.
A moça abaixou a cabeça encabulada e concordou. Levantou-se,
então, da cadeira e retirou a blusa de dentro da saia, erguendo-a e passando-a
pela cabeça. Como era habitual, cobriu o sutiã com os braços.
Luca se aproximou e trouxe a cadeira com ele. Sentou-se, ficando na
altura das costelas da garota e começou a examiná-la, tocando com as pontas
dos dedos a região machucada.
Cătălina suspendeu a respiração. O toque das mãos dele em seu corpo
causava-lhe arrepios, os pelos de seus braços se eriçaram e ela envergonhou-
se ainda mais, porque viu que o médico havia reparado em sua reação
involuntária. Naquele momento, ela queria que um buraco se abrisse na sua
frente para ela se jogar dentro dele.
— Dói aqui? — perguntou ele apalpando com os polegares uma de
suas costelas.
— Um pouco — respondeu ela em um fio de voz.
— E aqui? — Ele mudou os dedos um pouco mais para o lado.
— Não... aí não dói muito.
— Inspire fundo... Dói aqui?
Ela assentiu.
— Entre 0 e 10, qual é o nível de dor?
— Acho que uns 6. Já foi 9 ou 10, mas agora está melhor.
Luca sorriu e se afastou, entregando a ela a blusa que ela havia
deixado sobre a cadeira. Cătălina vestiu-se.
— Creio que em mais algumas semanas você já estará boa — falou o
médico. — Algumas vezes a dor pode ainda incomodar por um tempo, mas
não será nada incapacitante.
O vampiro se encostou na mesa e colocou as mãos dentro dos bolsos
da calça de agasalho que usava. Quando estava no castelo, Luca preferia usar
roupas confortáveis, o que fazia com que seus pais torcessem o nariz, pois
eles achavam que os vampiros deveriam se vestir sempre elegantemente, não
importava a ocasião.
— Conversei com meu pai hoje mais cedo e ele concordou que você
ficasse aqui durante esse tempo.
— Obrigada — respondeu ela, aliviada.
— Mas com a condição de você não ficar andando sozinha por aí.
— Hã? — Cătălina o olhou interrogativamente.
— Ele não confia em pessoas estranhas andando pelo castelo. —
Luca deu de ombros. — Coisas do meu pai... sinto muito.
— Ah... tudo bem — disse ela, imaginando o quão chato deveria ser
o pai dele. Mas pelo menos ele tinha um pai, e não um padrasto monstro.
— Ontem, quando você saiu de seu quarto na torre, você subiu as
escadas? — quis saber o médico.
— Não, só desci.
Os olhos de Luca brilharam e ele sorriu.
— Então vem comigo — disse, pegando na mão dela e puxando-a. —
Vou te mostrar meu refúgio secreto.
Ele a conduziu pelo corredor e depois pela escada, seguindo para o
último andar da torre, mas o que afligia Cătălina era o contato da mão dele na
sua; não estava acostumada com aquilo, dar as mãos era algo entre
namorados.... Ondas de calor e frio tomaram conta de seu corpo. Balançou a
cabeça, lá estava ela de novo pensando em coisas ridículas...
Chegaram ao topo das escadas e, antes de abrir a porta, Luca lhe
sorriu em expectativa. Cătălina arqueou as sobrancelhas e olhou para a porta,
o que poderia ter ali atrás para deixar o médico tão entusiasmado?
A ssim que Luca abriu a porta, Cătălina se deslumbrou. Várias telas de
pintura à óleo estavam espalhadas pelas paredes e cantos da sala
arredondada que ficava logo acima de seu antigo quarto. Algumas
emolduradas e outras não. Curiosa e animada, entrou e observou os detalhes.
No centro da sala, voltado para a janela, havia um cavalete, mas
estava vazio. Próximo, também havia uma espécie de caixa de madeira com
uma paleta, algumas tintas e pincéis, e, encostada em uma das paredes, uma
prateleira guardava outras dezenas de tubos de tintas, potes e outros materiais
que ela não fazia ideia do que eram. Também havia uma poltrona confortável,
uma mesinha e cadeiras.
Cătălina passou os olhos fascinada pelas pinturas. Algumas de
paisagens, algumas de pessoas. Logo reconheceu Anna e sorriu.
— Bem-vinda ao meu refúgio — disse Luca, achando graça no
interesse demonstrado pela moça.
— Então... você que pintou tudo isso?
Ele assentiu.
— Nossa, você é muito bom! — exclamou. — Olha só, a Anna ficou
ótima! Quem são aqueles? — perguntou, referindo-se a três telas em outra
parede.
— Minha mãe, meu pai e minha irmã, Ivy. A dela infelizmente não
ficou muito boa porque só fiz o esboço a lápis quando ela esteve aqui. Tive
que pintar usando fotos e não é a mesma coisa...
— Ah, então sua irmã não vive aqui? Ela mora onde?
— Em Nova Iorque, com o marido e duas crianças.
— Vocês se parecem bastante — disse ela ao chegar perto do quadro.
— Sim, ela puxou isso do nosso lado da família.
— Nosso lado? — Cătălina o olhou interrogativamente.
— Ivy é minha meia-irmã, nossas mães são diferentes — explicou
Luca.
— Ah... entendi. — Ela aproximou-se do outro quadro. — Sua mãe é
bonita!
— Sim, ela é... Amanhã é minha folga no hospital e verei se consigo
apresentá-las. Acho que vocês se darão bem, minha mãe também vive muito
sozinha aqui dentro e ver outras pessoas costuma animá-la.
Cătălina sorriu e se voltou para o terceiro quadro.
— Hum... Esse é o seu pai? Nossa, ele dá medo — disse ela
arqueando as duas sobrancelhas.
Luca riu.
— É... eu sei — concordou.
— Não está pintando nada agora? — perguntou a garota. Sua
curiosidade estava se sobrepondo à sua timidez e ela começava a se sentir
mais à vontade.
— Não, faz meses que não venho aqui... — O vampiro franziu a
testa. — O trabalho me consome muito, mas sinto falta disso, preciso arrumar
um tempo para voltar a pintar. — Um pensamento passou, então, pela sua
cabeça, fazendo-o abrir um sorriso. — Quer ser minha modelo?
— Hã? — estranhou Cătălina. — Eu? — Os olhos dela se
arredondaram.
— Sim... Já que vai ficar aqui por alguns dias, poderia me ajudar com
isso. É que não é fácil arranjar um modelo vivo para pintar, o pessoal daqui
não se sente à vontade com isso. E também não é toda hora que aparece
mulheres bonitas como você aqui no castelo, então...
Cătălina sentiu o calor subir imediatamente pelo seu pescoço e tomar
conta de sua face. O médico lindo a tinha chamado mesmo de bonita? E ele
queria pintá-la? Engoliu em seco.
— Ah... eu... eu não sei se eu seria uma boa modelo... — disse, por
fim.
— Não precisa de muito esforço. — Luca sorriu. — É só ficar imóvel
por um tempo. Consegue fazer isso, não?
Ela assentiu e desviou o olhar, não conseguia mais encará-lo, seu
rosto queimava. Então foi até a janela, abriu-a para tomar um ar, mas o vento
cortante e gelado a fez fechá-la de novo. Havia esquecido de como dezembro
era frio. Dezembro... Logo a neve começaria a cair, logo seria Natal.
Involuntariamente, levou uma das mãos ao pescoço e segurou o pequeno
pingente de cruz de sua correntinha. Os únicos Natais decentes que tivera
foram aqueles na casa de sua avó, quando ela ainda estava viva...
Um pensamento lhe ocorreu. Passaria o Natal daquele ano ali?
Faltavam menos de vinte dias e o deus grego havia dito que ela ficaria ali por
algumas semanas ainda. Será que eles comemoravam o Natal?
— Ei, tudo bem? — a voz de Luca soou ao seu lado e ela se assustou.
— Ah, sim tudo... — respondeu ela ao se virar.
— Você estava viajando aí, olhando para a janela fechada... No que
estava pensando?
— Em nada, não. — Cătălina fitou o chão. Quando é que ela ia parar
de se colocar em situações embaraçosas?
— Escute, se não quiser ser minha modelo, tudo bem... Não quero
que se sinta obrigada.
— Não, eu quero! — falou ela rapidamente, olhando-o apenas por
alguns instantes. — Eu serei sua modelo, e não me sinto obrigada de forma
alguma, me desculpe, não quis passar essa impressão. Será uma honra...
Luca sorriu.
— Certo! Trabalharemos juntos todas as noites, depois que eu voltar
do hospital, menos nos meus dias de plantão. Pode ser?
Ela confirmou com a cabeça.
— Okay! Isso será ótimo — disse o vampiro entusiasmado.
Realmente, ele sentia falta de pintar e aquela garota o inspirava. Ela
parecia uma boneca de feições delicadas, com aqueles olhos verde-azulados
grandes e expressivos, a boca lindamente desenhada, o cabelo claro ondulado
e macio caindo-lhe sobre os ombros. Ela era perfeita! Mas o que a tornava
mais linda era aquele jeito tímido e envergonhado de ser. Conseguiria ele
passar aquilo para a tela? Estava curioso.
— Gostaria de ver mais um pouco do castelo? — perguntou Luca.
Cătălina pensou um pouco. Ela até que gostaria, por mais que ainda
lhe causasse agitação ficar na presença do médico, apreciava a companhia
dele, mas estava com sono. Havia tido pesadelos na noite anterior e acordara
assustada, depois foi difícil dormir novamente.
— Podemos deixar para amanhã? Eu estou um pouco cansada, não
tive uma boa noite de sono ontem.
— Sim, claro..., mas o que houve? Teve dores à noite? Se precisar,
posso te arrumar algo mais forte. — Luca tinha um semblante preocupado.
— Não, não foi por isso. As dores incomodam, sim, para dormir,
mas... eu tive um sonho ruim, foi só isso. — Ela deu um meio sorriso.
— Quer falar sobre isso?
— Ah, não... não se preocupe. Eu nem me lembro direito sobre o que
sonhei, só sei que eu estava fugindo, com medo. Mas a sensação que ficou
depois é que foi ruim... — Cătălina balançou negativamente a cabeça,
tentando espantar as lembranças.
— Entendo... Às vezes, nosso cérebro reflete nossas preocupações
em forma de pesadelos — disse ele enquanto se aproximava um pouco mais.
— Nina, quero que saiba que está segura aqui. — Levou, então, a mão até o
rosto da garota e lhe afastou uma pequena mecha de cabelo, colocando-a
atrás da orelha. — Não se preocupe, ninguém mais vai te fazer mal.
O pequeno gesto paralisou Cătălina e, pela primeira vez, ela não
desviou os olhos enquanto ele falava. O médico era tão gentil... Gostaria
muito de acreditar em suas palavras, mas será que Nicolae não a procuraria?
Estaria mesmo livre dele?
Continuou a encarar Luca sem perceber que este havia terminado de
falar. Os olhos dele tinham um tom de azul vibrante tão lindo... eram
instigantes, misteriosos e pareciam sorrir para ela. O seu pensamento tinha
mudado completamente de curso enquanto o fitava e, de um estalo, Cătălina
se deu conta de que deveria estar babando. Constrangida, afastou-se
abruptamente, desviando-se do médico.
Voltou a caminhar pela sala, fingindo observar outros quadros que
estavam por ali; no entanto, não conseguia prestar atenção em nada, seu
coração estava batendo tão forte que ela teve vontade de segurá-lo nas mãos
para abafar o som. Ela tinha a impressão de que cada batida podia ser ouvido
por toda a sala.
Luca sorria enquanto a acompanhava com o olhar. Precisava se
policiar em seus gestos, não estava mais acostumado a lidar com garotas tão
novas. As mulheres com quem ele se relacionava no trabalho, ou fora dele,
eram normalmente mais maduras e mais desembaraçadas. Mesmo para
alguém da idade dela, Cătălina era muito tímida.
Enrugou de leve a testa e seu sorriso se desmanchou. Talvez fosse
por causa da repressão sofrida por ela durante tantos anos... Inspirou fundo,
no que dependesse dele faria tudo o que fosse possível para ajudá-la.
Como havia dormido durante o dia, Luca estava sem sono e, após
acompanhar a garota de volta ao quarto, resolveu passar a madrugada
assistindo TV.
Não era seu hábito fazer isso, pois só havia uma televisão no castelo e
esta ficava em uma sala no subsolo, no mesmo andar da enfermaria e da sala
de ginástica, o que não era muito prático de chegar. Às vezes, tinha saudades
de quando estudava e tinha seu próprio apartamento, lá a TV ficava no quarto
e era muito mais prático para assistir qualquer coisa. Infelizmente, seu pai
não autorizava esse tipo de modernização ali, pois dizia que aquilo era um
castelo, não um hotel.
Acabou cochilando um pouco antes de amanhecer e, quando acordou,
viu, surpreso, que já passava da hora do café. Levantou-se do confortável
sofá, desligou a TV e subiu.
Normalmente ele tomava seu café na cozinha, mas como queria falar
com a mãe, dirigiu-se até a sala de refeições para ver se ela ainda estava lá.
Encontrou Mirela degustando um chá enquanto folheava uma revista de
moda.
— Oi, querido, bom dia — disse ela.
— Oi, mãe, bom dia... — Sentou-se de frente para a mãe, servindo-se
de um pedaço de pão e suco.
— Soube que deu tudo certo ontem com o seu pai... — Mirela sorriu.
— Aposto como teve o seu dedo nessa repentina boa vontade de
Grigore. — Luca a encarou com uma expressão interrogativa.
— Falei com ele, sim, mas a verdade é que seu pai tem procurado
mudar um pouco o jeito autoritário de ser. Acho que ele finalmente percebeu
que os tempos estão mudando. — Ela riu. — Como está a garota?
— Está bem, na medida do possível. Vou mostrar o resto do castelo
para ela hoje e gostaria de apresentá-la a você, se não se importar...
— Não, claro que não, estou curiosa sobre ela. Mas poderia ser agora
pela manhã? Trabalhei a madrugada toda em uma peça nova para a coleção e
estou exausta.
Luca concordou e, assim que terminou o café, subiu para encontrar
Cătălina.
A garota aguardava ansiosa pela chegada do médico. Ele havia
prometido que a levaria para conhecer o castelo e estava animadíssima, ao
mesmo tempo que estava apreensiva, pois ia conhecer a mãe dele também.
Que tipo de pessoa ela seria? Tinha receio de não causar boa impressão.
Quando escutou a batida na porta, estava tão distraída em pensamentos que
tomou um susto.
— Vamos? — disse Luca ao entrar. — Vou te apresentar à minha
mãe primeiro, pois ela precisa descansar, depois podemos ver o resto.
Cătălina concordou e se apoiou no braço que ele lhe oferecia. Além
de ser bonito, simpático e morar em um castelo, o rapaz era um cavalheiro.
Quem disse que príncipes encantados não existiam? Tudo bem que ele não
era realmente um príncipe, muito menos encantado, mas, metaforicamente,
era perfeito.
Caminharam pelo corredor e começaram a subir as escadas de outra
torre, idêntica à que ela conhecia, porém localizada na outra extremidade do
castelo. Ao chegarem no penúltimo andar, entraram na sala e encontraram
Mirela costurando uma peça na máquina de costura. Ela ergueu a cabeça e
sorriu, levantando-se em seguida.
— Olá, sou Mirela — apresentou-se. — É um prazer te conhecer,
Cătălina. Ah, me desculpe. Posso te tratar pelo primeiro nome?
— Sim, por favor, me chame de Nina. O prazer é meu, Sra.
Constantin.
A vampira ergueu uma sobrancelha.
— Mirela, me chame apenas de Mirela. Já me bastam os empregados
me chamarem de senhora por aqui, me sinto como uma velha de 80 anos. —
Ela riu. Na verdade, ela tinha mais, muito mais, 290 para ser mais exata, mas
quem precisava saber? O importante é que não aparentava ter mais do que 45
para os humanos.
Mirela apresentou entusiasmada seu ateliê à jovem garota, mostrou os
modelos e os desenhos da coleção na qual estava trabalhando, fazendo os
olhos de Cătălina brilharem. A garota estava encantada, nunca tinha visto
nada parecido. Sua vida sempre fora muito simples e suas roupas, as mais
baratas. Algumas eram, inclusive, de segunda mão, adquiridas em bazares de
caridade ou brechós.
Ao contrário do que temia, Cătălina se sentiu bem à vontade com a
mãe do médico. A senhora do castelo era uma bela mulher, inteligente,
educada e tão simpática quanto o filho. A jovem saiu da torre maravilhada e
feliz por tê-la conhecido.
Luca lhe mostrou, então, os andares do castelo, um a um. O segundo
andar ela já conhecia. Era o andar dos quartos principais, onde estava
acomodada e onde se localizavam os aposentos dos Constantin. No primeiro
andar havia mais quartos, porém não tão luxuosos quanto os de cima. O
térreo ela também já conhecia parcialmente, era onde ficavam a cozinha, a
biblioteca, o salão principal, a sala de refeições e o escritório do pai de Luca,
este o médico só lhe mostrou por fora.
No entanto, o que mais a impressionou foi o subsolo, onde, segundo
Luca, antigamente se localizavam as antigas masmorras. As escadas que
levavam até lá eram mais estreitas e, logo que desceram, Cătălina percebeu
que o teto ali era mais baixo. Apesar de bem iluminado, os corredores em
pedra pareciam claustrofóbicos.
O rapaz mostrou primeiro a enfermaria. Era um lugar até que
espaçoso, mas que lhe causou arrepios quando ele revelou que, nos tempo
antigos, ali era uma sala de tortura. A sala de ginástica até que parecia ser
bem equipada, com esteira, bicicleta, pesos e outras máquinas que ela não
conhecia, pois nunca estivera em uma academia. Luca comentou que eles
haviam aberto as paredes de quatro antigas celas para montá-la. Já a sala de
TV ocupava o lugar de três celas e tinha um grande sofá de couro, duas
poltronas, um pequeno bar e uma mesa de sinuca.
Após verem tudo por ali, o médico gesticulou para subirem; no
entanto, Cătălina reparou que as escadas pelas quais haviam chegado,
continuavam a descer para outro andar.
— O que tem lá embaixo, não vamos ver? — perguntou ela.
Luca expressou dúvida no olhar.
— Não sei se vai gostar do que tem lá — disse ele. — São celas
antigas, como eram as daqui, mas é um local que ainda não foi reformado. A
não ser pela luz elétrica, as masmorras lá embaixo continuam do mesmo jeito
que eram séculos atrás.
— Ah, por favor! — pediu Cătălina, mais curiosa ainda. — Eu
gostaria muito de ver.
— Hum... está bem... — falou Luca, hesitante.
Ele não tinha certeza de que deveria levá-la até aquele lugar, pois as
masmorras ainda eram usadas quando alguém do vilarejo cometia alguma
contravenção das leis humanas ou dos vampiros. Os Vampyrs tinham sua
própria prisão, uma construção localizada no alto de uma montanha inóspita,
mas até que a Força de Contenção, a polícia dos vampiros, viesse buscar o
criminoso, ele era encarcerado naquelas celas.
Os vampiros costumavam cuidar dos próprios problemas, se
antecipando aos humanos. Eles raramente permitiam que a polícia comum
chegasse até um vampiro e o prendesse, pois isso seria uma complicação,
uma vez que este não poderia receber sangue dentro de uma cela humana e
com certeza morreria.
Vampiros encarcerados e sem sangue morriam em menos de três
meses. Uma morte terrível, onde estes perdiam totalmente a noção de si
próprios, ficando loucos como animais raivosos. Então vinha o definhamento,
a pele ressecava, grudando nos ossos e a morte chegava. Os humanos nunca
entendiam o que acontecia, costumavam achar que se tratava de alguma
doença desconhecida.
Cătălina e Luca desceram, por fim, os degraus que levavam ao andar
inferior e, ao final destes, havia uma pesada porta de ferro com uma tranca
por fora. Luca a abriu, produzindo um rangido que fez a garota estremecer.
Curiosa, mas um pouco temerosa, ela seguiu atrás dele e, ao entrarem, se
espantou com a diferença de ambiente se comparado ao andar de cima. Lá o
teto era ainda mais baixo e os corredores mais escuros e estreitos. Apesar de
ter lâmpadas elétricas, que eram poucas, o local não era bem iluminado.
Definitivamente, era um lugar sombrio que fez com que Cătălina
imaginasse como seria ficar preso ali. As celas eram pequenas e escuras, com
portas em madeira, reforçadas com ferro. O ambiente era opressivo. Um
arrepio subiu pela coluna da moça. Ela estava pronta para pedir para subirem
quando algo chamou sua atenção. Diferente das outras celas, havia duas celas
cujas portas não eram de madeira, mas de barras de ferro e, para o seu
estranhamento, não pareciam ser velhas.
Já ia perguntar ao médico o motivo quando uma voz grave se fez
ouvir atrás deles.
— Luca! O que está fazendo? Ela não deveria estar aqui!
Ambos se viraram e deram de cara com Grigore. O semblante do
senhor do castelo não era nada amigável.
C ătălina sentiu um frio subir por sua coluna ao ver o pai do médico à
sua frente. Reconheceu-o de imediato por conta do quadro na sala de
pintura; entretanto, ao vivo ele parecia ainda mais assustador.
— Estou apresentando o castelo à Srta. Petran — respondeu Luca
calmamente. — Como sempre faço com as visitas — completou, arqueando
uma das sobrancelhas e encarando o pai significativamente, como se pedisse
para ele não se exaltar.
Grigore estreitou levemente os olhos e se voltou para Cătălina. A
garota parecia assustada e quase se escondia atrás do filho. Ela era pequena,
mal chegava ao ombro de Luca, e até que era bonitinha, mas realmente era
bem jovem. Só esperava que o filho soubesse o que estava fazendo e não
colocasse o segredo deles em risco.
— Perdoe minha falta de educação, Srta. Petran. Meu nome é Grigore
Constantin e sou pai do Luca. Como deve ter notado, as masmorras não são
muito agradáveis e não é exatamente um local onde temos orgulho de trazer
as visitas. — Ele devolveu o olhar significativo para o filho. — Enfim, evite
andar sozinha pelo castelo; muitos degraus estão desgastados e são
traiçoeiros, e não queremos que se machuque novamente, não é?
— Não, senhor... — ela respondeu tensa.
— Muito bem, então tenha uma boa estadia — falou ele, virando-se e
subindo as escadas.
Assim que Grigore se foi, Cătălina soltou a respiração e deixou os
ombros caírem. Sentia os músculos do pescoço doloridos de tão dura e
imóvel que tinha ficado.
Luca sorriu e lhe ofereceu o braço para subirem também. Ele achava
que Grigore ia começar uma discussão na frente da moça, mas felizmente seu
pai se comportou como um anfitrião, embora tenha aproveitado para deixar
claro que não a queria andando sozinha por ali.
Ao saírem do subsolo, o vampiro pegou, em uma espécie de
chapeleira próximo à porta de entrada, um boné, luvas e óculos de sol, e
seguiu com Cătălina até o jardim externo. Apesar do dia estar frio, o sol já
estava alto e se saísse sem proteção, ganharia bolhas na pele depois. A garota
estranhou tanta parafernália só para ir até o jardim, mas não disse nada, não
queria parecer uma enxerida.
— Ah, eu vi esse jardim lá de cima! — exclamou ela entusiasmada
quando chegaram.
— Pena que não estamos na primavera. Isso aqui se cobre de flores.
— Imagino que deva ser muito lindo. Já é bonito assim. Olha só essa
fonte! — disse chegando perto da peça de três andares delicadamente
trabalhada em mármore branco. — É linda!
— Sim... mas ela só está aí por insistência da minha mãe —
comentou Luca, sentando-se em um banco próximo.
— Por quê? — Cătălina quis saber.
— É uma peça contemporânea, não tem muito a ver com o castelo.
Meu pai provavelmente preferiria se fosse uma em que a água jorrasse da
boca de gárgulas, mas... — Ele riu.
Cătălina olhou para a fonte e para o castelo, depois para a fonte de
novo.
— Acho que seu pai tem razão... Se for analisar por esse lado...
— Olha só, Grigore já ganhou uma aliada. Por favor, não diga isso a
ele, nem à minha mãe, ou ganhará uma inimiga pior do que o meu pai.
— Nãooo... não está mais aqui quem disse isso. — Ela riu também.
Luca a olhou com curiosidade enquanto ela caminhava pelo jardim.
Durante o passeio pelo castelo, reparou que Nina não se mostrou tão
encabulada, ela permaneceu atenta aos detalhes e ao que ele dizia, fazendo-
lhe algumas perguntas, inclusive. Sorriu, gostava desse lado mais
descontraído dela.
— Nina? Podemos começar hoje no final da tarde? — perguntou ele,
de súbito.
— Hã? — Ela se virou para olhá-lo. — Começar o quê?
— A pintura, o seu retrato...
— Ah... sim... — respondeu Cătălina. Ela havia até se esquecido
daquilo. Uma sensação de cócegas tomou conta de seu estômago só de pensar
que o deus grego ia lhe observar e lhe pintar.
— Sr. Luca, Srta. Petran, o almoço está pronto. Onde desejam fazer a
refeição? — perguntou o Sr. Pop, saído sabe-se lá de onde e assustando a
garota.
— Na sala de refeições mesmo — disse o médico. — Almoça
comigo, não? — perguntou a Cătălina.
Ela concordou e ambos seguiram para dentro do castelo. O almoço
correu tranquilo e estava delicioso, como era esperado de Anna. Cătălina se
sentiu como uma princesa novamente, fazendo uma refeição em uma sala
requintada como aquela. Mas, mesmo estando apenas os dois, ela ficou um
pouco envergonhada.
Havia tantos garfos e copos sobre a mesa que ela não tinha ideia de
como usá-los. De início, ficou observando Luca e o imitando, mas o médico
obviamente notou e lançou lhe um olhar divertido.
Felizmente, os pais de Luca não estavam lá. O Sr. Constantin havia
pedido a refeição no escritório e Mirela não tinha o hábito de almoçar, pois
dormia naquele horário. Se não fosse por isso, ela teria morrido de vergonha.
O Sr. Pop se mantinha em pé ali próximo e a olhava de esguelha, enquanto
uma mocinha que ela não conhecia lhes servia os pratos.
Assim que terminaram, Luca a acompanhou de volta ao quarto.
— O Sr. Pop sempre te trata pelo primeiro nome? — ela quis saber
enquanto caminhavam.
— Sim, eu praticamente o obriguei a me chamar assim. Não gosto de
ser chamado de “senhor”, muito menos de “Sr. Constantin”. Prefiro deixar
esse título para o meu pai. Não consegui fazer as pessoas que trabalham aqui
abandonarem o “senhor”, mas pelo menos eles usam o meu primeiro nome.
Chegaram aos aposentos de Cătălina e o rapaz abriu a porta para ela.
— Venho te buscar às 17h — disse Luca com um sorriso. — Até
mais tarde... — despediu-se, e em seguida caminhou em direção ao seu
próprio quarto. Dormiria algumas horas até lá. Como só tinha cochilado um
pouco de madrugada, estava com os olhos pesados de sono.
Cătălina fechou a porta, sentia-se feliz. Estava tão contente que até a
dor nas costelas ficava em segundo plano. Largou-se na cama e pegou um
livro que estava na cabeceira, mas não conseguiu se concentrar. A imagem do
belo médico de olhos azuis não lhe saía da cabeça. Ela sorriu, logo estaria
com ele novamente, só os dois... seria seu modelo vivo... Cobriu o rosto com
o travesseiro.
— Que vergonhaaaa! — exclamou para si mesma.

Luca bateu em sua porta no horário combinado. E, apesar de já estar


esperando por ele, ela deu um pequeno salto na cama, visivelmente nervosa.
Levantou-se e foi atender.
— Vamos? — perguntou ele.
Cătălina notou que o médico havia acabado de tomar banho e seus
cabelos ainda estavam úmidos; além disso, ele exalava um cheiro delicioso.
Ficou muda por um tempo, perdida ao admirá-lo, e ele sorriu.
— Oi? — disse o vampiro estalando os dedos ao lado do rosto dela.
— Tudo bem?
Ela sobressaltou com o gesto e desviou o olhar para o chão.
— Ah, sim claro... — respondeu, saindo do quarto e fechando a
porta. Merda! Por que sempre agia daquele jeito? Quando não o estava
encarando como uma besta, mal conseguia fitá-lo nos olhos.
Subiu em silêncio e se manteve assim até entrarem na sala de pintura.
Luca ficou, então, de frente para ela e começou a observá-la atentamente. Seu
olhar era intenso e analítico, e Cătălina ficou parada, com receio até de
respirar enquanto ele a rodeava. Por que ele tinha esse poder de paralisá-la
quando chegava muito perto? Ela não entendia. Sempre fora uma pessoa
tímida, mas não assim, não daquele jeito.
— Posso soltar o seu cabelo? — perguntou ele.
Ela assentiu e o médico levou as mãos à sua trança, tirando-lhe o
elástico que a segurava. Com os dedos, ele desfez delicadamente os cachos e
um arrepio subiu pelo pescoço de Cătălina. Ela fechou os olhos. Como um
toque tão simples podia causar tantas sensações?
Quando abriu os olhos novamente, ele a fitava sério.
Luca, de frente para a garota, olhava-a fixamente, analisando seus
delicados traços e esboçando em sua cabeça como desenhá-los.
No entanto, para a jovem, parecia apenas que ele a olhava
intensamente. Mas ao contrário das outras vezes, não conseguiu desviar o
olhar, ela sentia como se seus olhos estivessem presos aos dele. Engoliu em
seco, receosa de quais eram as intenções do médico a sua frente.
— Você... você por acaso vai querer que eu tire as minhas roupas?
Luca ergueu levemente as duas sobrancelhas.
— Como?
Cătălina, nervosa, mordeu o lábio inferior.
— Você está pensando em me pintar nua?
O médico riu.
— De onde tirou isso?
— Não é o que os artistas costumam fazer? Pintar pessoas nuas?
Luca a olhou divertido.
— Alguns sim... É uma possibilidade, se você não se importar —
provocou ele achando que ela ia corar como sempre. Contudo, ao invés de
ficar vermelha, Cătălina ficou ainda mais pálida.
A aflição era evidente no semblante da moça. De fato, ela estava sem
reação, seu coração parecia ter parado de bater em seu peito.
— Estou brincando, Nina. — Luca se apressou em dizer. — Ninguém
vai tirar a roupa aqui. Quero te pintar assim, como está agora.
A garota relaxou os ombros e soltou a respiração, que
inconscientemente estava prendendo.
— Venha, sente-se aqui. — Ele indicou um banco próximo à janela.
Cătălina, mais aliviada, fez o que ele pediu.
Luca pegou o cavalete, colocou uma tela em branco nele e o
posicionou de frente para ela. Então, pegou um lápis e começou a rabiscar
algo, ao mesmo tempo que alternava seu olhar entre ela e a tela.
De início, Cătălina se sentiu desconfortável, mas ao notar a
concentração do rapaz, começou a se acostumar com a ideia. Passou a não se
incomodar mais com olhar que ele lhe dirigia e aproveitou para observá-lo
também.
O jovem deus grego era um sonho. Já tinha visto alguns caras bonitos
lá no seu trabalho, mas nunca ninguém como ele.
— Você tem namorada? — perguntou sem pensar.
A concentração de Luca no desenho que fazia naquele momento era
tanta que ele demorou um pouco para assimilar o que a moça estava
perguntando.
Cătălina logo se arrependeu da pergunta que poderia ser tomada por
indiscreta e virou um pouco o rosto para o lado, fingindo olhar pela janela. O
problema era que estava escuro lá fora e não tinha nada para enxergar.
— Não — respondeu o médico, achando graça do jeito dela. — Não
tenho namorada.
Tomando como referência um namoro normal, onde o casal se
conhece e se relaciona sentimentalmente, Luca acabou nem se lembrando de
que estava prestes a ficar noivo.
— E você? — quis saber ele.
Ela voltou a fitá-lo, ansiosa por ter que responder algo tão pessoal,
mas se ela tinha lhe feito tal pergunta, era justo que ele lhe perguntasse
também.
— Não... mas já beijei um cara — respondeu sorrindo timidamente.
— Hum... na escola?
— Sim, mas já faz tempo, uns três anos...
— E ele não quis namorar com você? — Luca estava curioso com a
história dela. Três anos que ela havia beijado alguém? Mais nada?
Uma sombra passou no olhar da garota.
— Não sei se ele queria namorar comigo. Nunca descobri. Meu
padrasto ficou sabendo do beijo por alguém e o ameaçou, então nunca mais
ele chegou perto de mim novamente. Nem ele, nem ninguém. — Ela
encolheu os ombros, conformada.
O vampiro colocou o lápis de lado e olhou para Cătălina
demoradamente. O semblante dela denotava tristeza agora.
— E o seu padrasto te ameaçou também?
— Ele me mandou para o hospital naquele dia. — Uma ruga se
formou entre as suas sobrancelhas.
Luca sentiu o seu sangue esquentar de raiva. Como odiava homens
covardes como aquele...
— Ele te batia muito?
Cătălina apenas assentiu com a cabeça.
— Ele se aproveitou de você, Cătălina? O seu padrasto? —
perguntou, receoso da resposta. Já estava se imaginando enfiando, ele
mesmo, uma faca naquele imbecil, mas desta vez bem no meio do coração.
A garota abaixou os olhos, era vergonhoso falar daquilo, era
apavorante só de lembrar.
— Ele tentou só naquele dia que eu fugi — falou baixo. — Antes
não...
Luca suspirou.
— E a sua mãe? — indagou. — Não te defendia dele?
— Não... ela nunca me defendeu ou me ajudou, nunca fez nada para
impedir que ele me machucasse, nem quando eu era criança. Acho que ela
tinha medo de apanhar também, então ficava quieta.
— E então ela foi embora sem te levar? Não entendo como uma mãe
pode fazer uma coisa dessas...
— Ela tinha um amante, eu os via de vez em quando. Ela deve ter
fugido com ele e não ia mesmo querer me levar. Não sou mais uma criança
para ser carregada por aí, sou adulta agora.
Luca a fitou compadecido. Ela podia não ser mais uma criança ou
uma adolescente, mas ainda precisava de cuidados.
Então, para o seu espanto, Cătălina abriu um sorriso franco.
— Pelo menos eu saí daquele lugar — disse ela. — Estou feliz com
isso. Não preciso mais acordar com medo ou viver com medo.
Ele sorriu também. Não queria nem imaginar o que aquela garota
havia passado. Só de pensar, sua mandíbula já travava.
Cătălina inspirou fundo e fitou novamente a escuridão além da janela,
enquanto Luca pegava o lápis e voltava a esboçar o seu desenho. O vampiro a
observou com atenção. Uma garota tão linda e tão delicada vivendo à sombra
do medo todo aquele tempo... aquilo o revoltava.
Após alguns minutos, Luca virou a tela para ela.
— Esse aqui é o esboço do seu retrato de meio corpo — disse ele,
apontando-lhe os detalhes com o lápis. — Não coloquei a roupa porque ainda
tenho esperança de que você mude de ideia em relação ao nu... — Ele sorriu
diante da expressão espantada da moça. — Brincadeira, brincadeira... Vou
ver com a minha mãe se ela consegue te arrumar algumas roupas mais atuais,
a não ser que você queira que eu te retrate como uma camponesa do século
passado... — falou, referindo-se às roupas de Irina que ela ainda usava.
Cătălina sorriu.
— Eu não me importo — disse enquanto olhava para o desenho na
tela com admiração. Luca, além de tudo, era um artista. Lindo, gentil, médico
atencioso e um artista talentoso, o que mais ele tinha de perfeito?
— Ainda assim, vou falar com ela — voltou a dizer o rapaz. — Aí
depois você decide. Continuamos amanhã? — perguntou.
— Sim, por mim tudo bem.
— Não se cansou de ficar sentada na mesma posição? Como estão as
suas dores?
— Estão incomodando um pouco, mas estou bem.
— Venha. — Luca apresentou-lhe o braço. — Eu te ajudo.
Cătălina se levantou e ele a acompanhou primeiro à cozinha, a fim de
comerem algo, em seguida a levou para o quarto.
— Obrigada, doutor... quero dizer, Luca, por me mostrar o castelo
hoje. — Ela sorriu, ainda precisava se acostumar a chamá-lo apenas pelo
primeiro nome.
— Eu que agradeço por você se dispor a ser minha modelo viva. Se
ficar muito cansada durante as sessões, por favor, me avise.
Ela assentiu.
— Então... boa noite — disse o médico com um sorriso.
— Boa noite — respondeu ela, fechando a porta assim que ele saiu.
Em seguida, recostou-se nela.
Cătălina fechou os olhos e se abanou com a própria mão, seu coração
estava leve e saltitava como uma corsa. Até que não havia sido tão ruim ou
embaraçoso como ela esperava que fosse a sessão de pintura. Luca era
agradável e estava conseguindo deixá-la mais à vontade, mesmo com as
brincadeiras.
Era bom poder conversar com alguém abertamente sobre seu
passado, nunca havia confiado em ninguém o suficiente para contar sobre os
abusos e, agora, ela sentia que estava se libertando daquele fardo.
Inspirou fundo e sentiu uma leve pontada em suas costelas. Dirigiu-
se, então, até a cabeceira da cama e tomou o seu remédio, em seguida se
trocou e se enfiou na cama. Dormiu rápido, em um sono tranquilo e sem
pesadelos.

Luca entrou em seu próprio quarto ainda pensando na garota que


estava começando a retratar. Seu rosto era perfeito, o formato oval com traços
suaves, o nariz delicado, os olhos grandes e expressivos, de um verde azulado
tão puro... que esboçavam um olhar tão inocente... os cabelos loiros
ondulados e em tons de dourado caíam-lhe como uma moldura. Linda.
Arrancou a roupa e se jogou na cama apenas vestindo uma boxer,
então fitou o tecido vermelho do dossel sobre a sua cama. Ah, e aquela boca?
Era tão rosada que batom não fazia falta nenhuma, os lábios cheios e bem
delineados eram tão... convidativos. Por várias vezes teve vontade de tocá-
los, não... não só tocá-los, teve vontade de beijá-los.
Merda! Lá estava ele mais uma vez tendo pensamentos impróprios
com a garota humana. Sentiu a ereção se avolumar dentro de sua cueca, de
novo... Precisava se acalmar, a garota era virgem, porra! Inquieto, ele não
sabia se descobrir aquilo o inibia ou o excitava mais. Tocou-se por cima do
tecido, sentindo a excitação aumentar e o membro ficar cada vez mais duro.
Não transava há mais de quatro meses, desde aquela noite que saíra
com Sebastian e as duas garotas. Talvez por isso estivesse tão sem controle.
Recolheu a mão e se virou de bruços, tentando conter seus desejos e não
pensar em Nina. Seu pau, contudo, teimava em latejar embaixo de si.
Em um rompante de frustração, socou a cama e enfiou o rosto no
travesseiro. Desistia, ele não era um cara tão virtuoso afinal.
Virou-se novamente na cama e arrancou a boxer. Em seguida,
agarrou seu membro rígido e começou a movimentar sua mão para cima e
para baixo em um ritmo rápido e cadenciado. Não demorou muito para o
ápice chegar. Com um gemido, liberou seu gozo: o esperma grosso e quente
escorreu por entre seus dedos e se derramou sobre sua barriga.
Ainda respirando pesadamente, Luca fechou os olhos e ficou por
alguns segundos naquela posição, sentindo o corpo relaxar e a mente se
acalmar. Nunca sentira tanta vontade de possuir alguém em especial, o sexo
sempre lhe fora algo impessoal, mas agora esse alguém estava justamente a
poucos metros de distância.
Xingou-se mentalmente enquanto se encaminhava para o banheiro
para se lavar. Algo lhe dizia que aquilo seria um problema, estava arrumando
confusão para a sua cabeça, isso sim...
A
horário.
pós tomar um bom banho e esfriar os ânimos, Luca resolveu falar
com a mãe sobre as roupas de Nina. Preferia fazer isso antes de ir
dormir, já que era mais fácil pegar sua mãe acordada naquele

Encontrou-a em seu ateliê, trabalhando uma peça na máquina de


costura.
— Oi, mãe, boa noite...
— Oi, Luca, a que devo o prazer dessa visita? — Ela sorriu.
— À Nina. Ela está usando as roupas emprestadas de Irina e eu
gostaria de saber se você tem algo mais moderno aqui.
Mirela riu.
— É claro que eu tenho algo mais moderno, sou uma estilista que
segue as tendências, ou melhor, eu ajudo a criar as tendências. — Ela piscou.
— Mas por quê? A garota está incomodada com as roupas campestres?
— Não, é que... eu estou fazendo um retrato dela e acho que seria
mais adequado ela usar roupas do século atual.
A vampira riu de novo.
— Então voltou a pintar? Fico feliz com isso! — entusiasmou-se
Mirela. — Que bom que encontrou uma fonte de inspiração. Vou ver o que
posso arrumar para ela, embora eu ache que telas pintadas a óleo combinem
mais com roupas de época... Enfim, amanhã de manhã eu converso com
Nina.
— Obrigado, mãe — disse ele virando-se para sair.
— Luca?! — chamou ela, fazendo-o virar o rosto. — Está tudo bem?
Parece inquieto, o que está te preocupando?
— Nada... nada demais — respondeu ele com um meio sorriso. —
Boa noite.
Mirela inclinou a cabeça para o lado, pensativa. Seu filho andava
trabalhando muito, talvez fosse só cansaço.
No dia seguinte, logo pela manhã, a vampira pediu para o Sr. Pop
chamar Cătălina. Havia tido algumas ideias de madrugada e estava animada
para compartilhá-las com a moça.
— Bom dia, Nina. — cumprimentou-a assim que a garota entrou no
ateliê. — Tem gostado da sua estadia aqui no castelo?
— Ah, sim, bastante. Muito obrigada pela hospitalidade.
Mirela sorriu, observando melhor a garota. Ela não era alta ou
elegante, mas era delicada e muito bonita. Logo entendeu por que Luca havia
decidido retratá-la, ela parecia uma boneca, não... não uma boneca, mas uma
princesa... Seus olhos brilharam. Faria dela uma princesa para o seu filho
pintar.
— Vem comigo! — disse arrastando Cătălina pelas mãos escada
acima em direção ao último andar da torre.
Era lá que a vampira guardava suas peças de amostragem e as que
serviam de base para confeccionar suas coleções. Mirela trabalhava com
modelos exclusivos, como de roupas mais comerciais, então ela tinha de tudo
um pouco na torre, inclusive peças muito antigas que ela própria usara há
centenas de anos.
Entrando na sala lotada de araras e prateleiras, a vampira começou a
separar algumas peças para o dia a dia, como blusas, casacos e calças. Ela
não confeccionava jeans, mas havia algumas calças de lã e malha. Pediu,
então, para a garota experimentar e, já sabendo que as peças ficariam
compridas, levou alfinetes para marcar onde deveria cortar e ajustar.
— Desculpe... eu não queria dar trabalho... — disse Cătălina um
pouco sem jeito.
— Não tem problema nenhum. Fico feliz em dar uma utilidade para
essas roupas, já devia tê-las mandado para o bazar de caridade, mas com a
data da festa chegando, me ocupei demais com os preparativos e acabei me
esquecendo — disse Mirela enquanto marcava a altura da barra de uma das
calças.
A garota teve o ímpeto de perguntar sobre que festa a mãe de Luca
falava, mas achou que seria muita indiscrição, já que mal se conheciam, então
acabou deixando a curiosidade de lado. Provavelmente ela falava sobre a
festa de Natal ou Ano Novo, uma vez que estavam no meio de dezembro.
Após marcar todas as roupas que precisavam de ajuste, Mirela sorriu
e se dirigiu a uma arara coberta por um tecido de algodão branco.
— Luca me disse que está pintando o seu retrato — comentou ela.
— Ah, sim... — Cătălina sentiu-se um pouco envergonhada.
— Ele também me pediu para escolher uma roupa para você usar
como modelo. — A vampira retirou o pano que cobria a arara. — E eu
pensei: já que é uma pintura à óleo, por que não a retratar com um pouco
mais de esplendor e um tiquinho de luxo? — Ela sorriu, retirando um vestido
da arara.
Cătălina deixou o queixo cair. Era um vestido de época, verde
esmeralda com detalhes em renda, corpete ajustado na cintura, algumas
camadas de saia rodada, mangas longas e um decote quadrado. A garota ficou
muda, admirando a peça com olhos arregalados.
— E então? Gostou? — perguntou a vampira estilista com um sorriso
largo.
— É maravilhoso... — Cătălina conseguiu dizer.
— Vamos experimentar?
A moça a encarou mais assustada.
— Não, não posso. Não vai servir, e ele é lindo demais!
— Ajustar não será problema — falou Mirela.
— Não! Por favor... — Cătălina balançou a cabeça. — De jeito
nenhum quero estragar essa peça e, não sei como dizer... mas é muito luxo
para mim, eu não consigo me ver vestida assim...
A vampira riu.
— Não seja boba, nunca é tarde para se vestir com elegância e,
quanto ao vestido, ele não cabe mais em mim faz tempo, não tenho filhas
para repassar e se eu o doasse, ninguém o usaria hoje em dia, é muito antigo.
— Mirela colocou o vestido na frente do corpo da garota e analisou o
resultado. — Não estou dizendo que precisa sair por aí vestida assim, é só
para o retrato. E essa cor combina demais com o seu cabelo e com os seus
olhos...
Ainda vendo a dúvida no olhar de Cătălina, a vampira continuou.
— Vamos, vista! Não aceito “não” como resposta, a não ser que
queira realmente usar algo mais moderno para ser retratada.
— Não... não é isso. Esse vestido é perfeito, é que estou com dó de
ter que modificá-lo.
— Não se preocupe com isso, menina. Agora vem, vou te ajudar a se
vestir.
Como Mirela era bem mais alta do que Cătălina, o vestido sobrou
bastante na barra e nas laterais, mas a vampira não se deu por vencida. Daria
trabalho, sim, arrumar aquilo, mas valeria a pena. Estava amando a ideia de
ver a garota naquela peça esquecida há tanto tempo no cabide.
O dia transcorreu de forma habitual para Luca no hospital, mas, por
conta da ausência inesperada de um dos médicos da emergência, ele acabou
precisando estender o seu plantão e só pôde ir para casa no amanhecer do
outro dia.
Brezoi, a cidade onde se localizava o hospital, era pequena e não era
fácil encontrar médicos plantonistas. Então, quando um faltava, era uma
complicação para Victor, o irmão mais velho de Luca e administrador do
hospital. Muitas vezes ele precisava solicitar ajuda ao hospital de Sibiu, mas
nem sempre conseguia achar alguém disponível. Quando isso acontecia,
precisava recorrer aos médicos que já estavam por ali, como Luca.
Felizmente, a madrugada havia sido calma, com poucos
atendimentos: uma criança com febre alta, um jovem que tinha bebido demais
e uma mulher com a coluna travada. Assim, o jovem Constantin voltou para o
castelo com mais sono do que cansaço. Pelo menos, teria dois dias de
descanso, pois já fazia mais de uma semana que não tirava uma folga e estava
ficando estressado.
Ao chegar no castelo, Luca subiu para o quarto e se jogou na cama de
roupa e tudo, dormiu quase que imediatamente e só acordou no meio da
tarde. Sonolento, olhou pela janela e viu que o tempo estava nublado, o que
lhe deu uma ideia. Dias assim eram ótimos para vampiros puros saírem ao ar
livre, uma vez que os raios UV estavam mais fracos.
Seu pai não ia gostar nada do que estava prestes a fazer, mas não
achava que seria realmente um problema os aldeões verem Nina. Não era
como se estivesse estampado na testa dela que era uma humana. Não dava
para reconhecer isso apenas pela aparência.
Tomou um banho rápido, trocou-se e foi até o quarto de Cătălina.
— Oi — disse ele quando a garota abriu a porta. — Desculpe por
ontem, nós combinamos outra sessão de pintura, mas não consegui voltar
para casa.
— Não tem problema, o Sr. Pop me deu o seu recado. — Ela sorriu.
— Gostaria de dar uma volta lá fora?
— Onde?
— Por aí, podemos ir até o vilarejo dos transf... do pessoal que
trabalha aqui — corrigiu Luca rapidamente, ao perceber que já ia falar o que
não devia.
— Gostaria muito de ir, sim — disse Cătălina com entusiasmo,
estava mesmo precisando tomar um ar fresco.
— Está bem frio, coloque roupas quentes. — avisou, notando que ela
não vestia mais as roupas de Irina, mas uma calça clara e uma blusa de malha
de mangas compridas. — Vejo que esteve com minha mãe ontem.
— Ah, sim. Ela me arrumou várias roupas e casacos.
— Vou ver se consigo umas luvas e botas para você... Me encontre
na cozinha em quinze minutos, pode ser? Preciso colocar algo no estômago
antes de irmos, estou sem comer desde a noite passada. — O vampiro sorriu e
se virou, caminhando em direção às escadas.
Cătălina fechou a porta com uma sensação de euforia que fazia tempo
que não sentia. Depois de oito dias enfurnada dentro das paredes daquele
castelo, sair um pouco era um alívio. Além disso, ia conhecer a vila onde
Irina, Anna e os outros empregados do castelo moravam, estava curiosa.
Também se sentia feliz por ver Luca novamente, estava se
acostumando com a companhia dele e sentira sua falta no dia anterior. Abriu
o guarda-roupas e escolheu um casaco pesado. Naquela época do ano, as
temperaturas alcançavam a margem negativa e o vento era congelante.
Desceu as escadas e encontrou o médico terminando sua refeição.
Anna a cumprimentou e a chamou para um cômodo ao lado da despensa. A
cozinheira acendeu a luz da pequena saleta, revelando uma espécie de
depósito com várias prateleiras com uniformes e sapatos.
— Veja se alguma destas botas te serve. — indicou a cozinheira.
Cătălina experimentou alguns pares, mas o único que serviu ainda
ficava um pouco grande.
— Você tem o pé pequeno, garota! — exclamou Anna. — Mas use
essa aí assim mesmo, é melhor do que ter o pé congelado. — Ela pegou
também um gorro de lã e luvas e entregou à moça.
— Vamos? — disse Luca aparecendo na porta já de casaco, luvas e
tendo em mãos um chapéu clássico de feltro preto e óculos de sol.
Cătălina concordou e eles saíram pela porta lateral da cozinha,
normalmente usada pelos empregados, mas que era a mais próxima do
estacionamento. Luca colocou o chapéu e os óculos e se dirigiu para um
sedan de luxo preto, todo filmado.
A garota não pôde deixar de notar como o rapaz ficava elegante
naquelas roupas de inverno. Ela sorriu ao entrarem no carro.
— Está feliz? — reparou Luca.
— Sim, é bom sair um pouco — respondeu ela meio envergonhada
pelo fato de o motivo de ela estar sorrindo ser outro, embora estivesse mesmo
animada em sair.
Desceram de carro pela estradinha sinuosa e ladeada de árvores que
levava até a vila.
— Os empregados sobem a pé para o castelo? — quis saber ela.
— Não, temos uma van que fica disponível para levá-los e trazê-los
quando precisam, e também quando necessitam ir até a cidade.
Luca deixou o carro na entrada da vila e ambos seguiram pela rua
principal a pé. Logo no início havia um conjunto de lojinhas pequenas que
vendiam de tudo, de um minimercado até um armarinho com materiais de
papelaria e utensílios para a casa. Do outro lado da rua havia um armazém
maior. O vampiro a levou até lá.
— Além do salário pelo trabalho nos campos ou no castelo,
fornecemos aos aldeões o alimento básico de forma gratuita. Aqui é onde
armazenamos e distribuímos mensalmente alimentos como arroz, feijão,
farinha, milho, essas coisas... Uma vez por semana distribuímos os itens
frescos, e se os aldeões quiserem algo mais industrializado, compram no
mercadinho.
Continuaram andando até passarem por uma ponte que cruzava o
riacho. Do outro lado, ao longo do curso d’água, começavam as casas dos
moradores da vila. As residências eram simples. No entanto, cada uma delas
tinha um grande quintal onde se notava que os aldeões também tinham sua
própria horta e criavam alguns animais como galinhas e cabras.
A maioria dos habitantes ainda não tinha voltado do trabalho, então
eram poucas as pessoas que apareciam nas janelas para vê-los. As mais
curiosas eram as crianças que logo rodearam Luca. Ele as cumprimentou uma
a uma e elas se afastaram, embora continuassem a segui-lo por um tempo.
Cătălina achou aquilo engraçado. Parecia que Luca era uma
celebridade entre elas.
A vila não era muito grande. Segundo o médico, viviam cerca de 80
famílias no local, embora uma boa parte delas estivesse esvaziada, já que
muitos dos filhos dos aldeões preferiam seguir uma carreira universitária e
assim acabavam indo morar nas cidades grandes.
Em menos de uma hora, os dois visitantes já tinham chegado ao fim
da vila. Atravessaram outra ponte e voltaram pela margem oposta do riacho.
Ali havia uma pequena escola que dispunha de classes mistas, mas que
graduavam até o ensino médio. Cătălina se surpreendeu ao ver como o
vilarejo estava preparado para possibilitar aos jovens o preparo necessário
para que pudessem cursar o nível superior fora do vale.
Um pouco mais à frente, havia mais um conjunto de casas e, para
surpresa de ambos, Irina os esperava na porta de uma delas. Com um sorriso
no rosto, a jovem veio ao encontro deles.
— Sr. Luca, Srta. Cătălina, minha mãe me ligou dizendo que estavam
visitando a vila. Não gostariam de tomar um chá para se esquentar? Está frio
aqui fora.
— Você gostaria? — perguntou o médico ao se virar para Cătălina.
— Claro, será um prazer — respondeu ela sorrindo.
Entraram na pequena, mas aconchegante, casa e Irina se ofereceu
para guardar seus casacos e luvas, colocando-os em um cabideiro. A lareira
estava acesa e aquecia o ambiente, tornando-o agradável.
Sentaram-se, então, à mesa da cozinha e a moça logo os serviu com
um chá fumegante de hortelã.
— Consegui fazer algumas rosquinhas rápidas. — Ela colocou uma
cestinha com os doces sobre a mesa. — Acho que não estão tão boas quanto
as da minha mãe, mas estão comestíveis, prometo. — A jovem riu, um pouco
ansiosa.
— Estão ótimas — falou Luca, ainda mastigando um pedaço. — A
Anna te ensinou bem.
— O chá também está perfeito, obrigada — completou Cătălina.
Realmente, a bebida quente tinha vindo a calhar naquele frio.
Entre uma conversa e outra sobre a vila, os dois já estavam quase
acabando com a cesta de rosquinhas quando, subitamente, um gato cinza
pulou sobre a mesa. Cătălina levou um susto e, desastradamente, esbarrou
com o dorso da mão na xícara já vazia, fazendo-a voar da mesa e se espatifar
no chão.
Apavorado com o barulho, o gato pulou sobre o ombro de Luca e saiu
correndo, sumindo por uma das portas.
Passado o susto, Cătălina pediu desculpas e, desconcertada, abaixou-
se e começou a pegar os cacos com as mãos.
— Srta. Cătălina, não faça isso, vai se cortar. Deixe aí, vou pegar a
vassoura — falou Irina indo até um armário onde guardava os materiais de
limpeza.
A garota, no entanto, já havia se antecipado e recolhido vários cacos,
e, como previu Irina, acabou cortando o dedo indicador com um deles. O
sangue brotou vermelho e ela ficou sem saber o que fazer, se cuidava do dedo
ou se terminava de pegar o que havia restado da xícara.
Luca se aproximou e segurou delicadamente em seu pulso,
levantando-a do chão.
— Venha, deixe isso com Irina — ele disse, conduzindo-a para a pia
e colocando o dedo dela embaixo da água corrente.
Após retirar a mão de Cătălina da água, secou-a com algumas folhas
de papel toalha e enrolou um pequeno pedaço em seu dedo.
— Segure assim — disse ele. Voltou-se então para a filha da
cozinheira. — Irina, tem esparadrapo aqui?
— Tem, sim senhor — respondeu ela, correndo para buscá-lo.
Assim que ela voltou, Luca fez um curativo rápido passando o
esparadrapo pelo menos três vezes em volta do dedo machucado.
Cătălina ergueu as sobrancelhas, o corte era pequeno, não era para
tanto.
— Não acha que está exagerando, doutor? — Ela sorriu.
Luca não respondeu, apenas sorriu de volta. Na verdade, ele não
estava exagerando. Vampiros puros ou transformados eram como tubarões,
podiam sentir o cheiro de sangue humano de longe, e o que ele menos queria
é que ela fosse descoberta. Finalizou o curativo e jogou o papel cheio de
sangue na lareira.
— Coloque as luvas — disse ele. — Precisamos ir, já está
escurecendo.
— Irina, me desculpe por ter quebrado sua xícara — falou Cătălina.
— Ah, não foi culpa sua, foi do Bilbo que pulou em cima da mesa.
Sinto muito por ter se cortado.
— Bilbo? — Luca juntou as sobrancelhas pensativo, já tinha
escutado aquele nome.
— Meu gato, ele se chama Bilbo em homenagem ao personagem de
um filme. — Irina sorriu.
Os visitantes colocaram seus casacos e já estavam na porta de entrada
quando alguém bateu. Irina se desculpou e se antecipou para atender.
— Marius? — estranhou a moça ao ver o homem magro e de
aparência desleixada parado na soleira. — O que quer aqui?
— Oi, vizinha — disse ele entrando sem pedir licença. Ao se deparar
com Luca, no entanto, estacou surpreso. — Sr. Constantin, não sabia que
estava aqui. Desculpe se atrapalhei sua visita.
— Não atrapalhou, já estávamos de saída — respondeu o médico
sério.
O homem olhou, então, para Cătălina e, em seguida, desceu seu olhar
para a mão que ela havia acabado de machucar.
— Obrigado pelo chá, Irina — disse Luca pegando Cătălina pelo
braço e cruzando a porta. Seu semblante não era dos melhores.
Marius os observou sair com interesse e um brilho estranho surgiu
em seu olhar.
L uca não falou muito durante a volta ao castelo. Estava preocupado
com o cara que tinha aparecido na casa de Irina. Marius não era boa
coisa, havia descoberto isso quando ainda era uma criança ao vê-lo
maltratar e matar um pequeno coelho. Na época, ninguém dava atenção às
coisas que ele fazia, mas a verdade era que a sua natureza cruel já estava
dando as caras.
Após passar pela cerimônia de batismo, Marius saiu da vila para
estudar fora. Contudo, acabou se metendo em encrenca, atacou humanos,
viciou-se em sangue fresco e, por conta disso, esteve preso nos últimos dez
anos. Sinceramente, achava que Marius pegaria uma pena maior, por isso
ficou surpreso quando soube por Anna que ele já havia sido liberado, e não
gostou nem um pouco daquilo.
Cătălina estranhou a mudança de humor de Luca, mas não disse nada.
Também tinha deixado a casa de Anna e Irina com uma má impressão. O
olhar esquisito que o vizinho da cozinheira lhe deu quando já estavam saindo
tinha a deixado perturbada, sentiu um pouco de medo, mas não soube o
porquê.
Ao chegarem no castelo, o mordomo os esperava no hall de entrada.
— Sr. Luca, a Sra. Constantin aguarda o senhor e a Srta. Petran em
seu ateliê — informou.
— Obrigado, Sr. Pop. — O médico ofereceu o braço a Cătălina a fim
de ajudá-la nas escadas. — Está cansada?
— Cansada não, mas estou um pouco dolorida. — Ela sorriu meio de
lado, a recuperação estava indo bem, mas andar todo aquele caminho havia
forçado um pouco.
— Não faremos sessão de pintura hoje, okay? Você precisa repousar.
Cătălina concordou, embora tenha ficado um pouco frustrada. Um
sentimento que ela tentou negar enquanto subiam as escadas. Não havia
motivo para se sentir daquela forma; afinal, tinha acabado de passar algumas
horas na companhia do rapaz.
Um sinal de alerta se acendeu dentro dela. Por que ela estava tão
interessada na companhia dele? Começou a sentir cócegas em seu estômago.
Não... não estava interessada nele daquele jeito, apenas gostava da
companhia do médico, assim como gostava da companhia de Irina. Era isso!
Nada mais!
— Está tudo bem? — perguntou Luca, reparando no semblante
concentrado e meio fechado da garota. — Escute, se quiser, posso te levar
para o quarto, eu digo para a minha mãe que você não está bem...
— Não, não! Estou bem, sim! — Ela sorriu.
O vampiro fez uma expressão de dúvida, mas não quis prolongar a
discussão. Logo entraram na torre do ateliê e subiram mais alguns lances de
escada.
Entraram na sala de Mirela e ela se levantou esfuziante.
— Ah, que bom que chegaram! Estava animada para lhes mostrar.
Terminei os ajustes no vestido — disse para Cătălina. — Vamos
experimentar?
A garota abriu mais o sorriso e concordou.
— Luca, nos dê licença um pouco, por favor. Vou ajudar Nina a se
trocar — pediu Mirela.
O rapaz ergueu uma sobrancelha e saiu do cômodo, fechando a porta.
Vestido? Que vestido?
— Pode entrar! — exclamou a mãe lá de dentro após longos minutos.
Luca, que já estava ficando curioso por causa da demora, abriu a
porta e não conseguiu deixar de arregalar os olhos, surpreso.
Cătălina estava fantástica em um belo vestido verde esmeralda ao
estilo antigo que se ajustava perfeitamente ao seu corpo, evidenciando a
curva de sua cintura. O decote quadrado e baixo realçava o colo perfeito e
delicado da garota, adornado pela pequena cruz de prata da correntinha em
seu pescoço. Luca quase babou diante daquela visão. Ora, ele já a tinha visto
de sutiã, mas aquele vestido parecia deixá-la mais sensual do que nunca. Uma
roupa que mais cobria do que revelava, porém, o que revelava era de
hipnotizar qualquer homem.
— O que achou? — perguntou a vampira disfarçando um riso ao ver
a cara embasbacada do filho.
— Está linda... quero dizer, o vestido caiu muito bem — corrigiu-se,
ainda sem desviar os olhos da garota.
Cătălina percebeu o olhar que ele lhe dirigia e sentiu o calor lhe corar
as bochechas.
— É bom que tenha gostado, pois você irá retratá-la nesse vestido. —
Mirela sorriu e começou a ajeitar os cabelos cacheados da jovem diante de
um enorme espelho. — Acho que poderíamos prender os cabelos dela assim,
meio de lado, deixando alguns cachos soltos. O que acha?
Luca se aproximou e olhou Cătălina através do espelho. Seus olhares
se cruzaram e ela viu um brilho diferente ali.
— Ficaria perfeito — disse ele, sem tirar os olhos dela.
— Ótimo! — falou a mãe puxando a garota para si e quebrando o
contato visual entre os dois. — Vou te ensinar como se prende, assim você
poderá ajeitá-lo por você mesma sempre que precisar. Podíamos jantar todos
juntos hoje, não? — emendou ela, mudando de assunto. — Luca, por favor,
avise o Sr. Popescu para preparar a mesa para quatro.
— Eu também? — perguntou Cătălina alarmada.
— Sim, por que não? — Mirela ergueu uma sobrancelha.
A garota olhou para Luca como que pedindo ajuda, mas ele apenas
sorriu e se virou, saindo para fazer o que a mãe pedira.
— O Sr. Constantin não vai gostar... — argumentou a moça meio
sem graça.
— Não se preocupe com isso. Pode deixar comigo, ele vai entender.
Mirela passou cerca de vinte minutos mostrando a Cătălina como
prender o cabelo e, em seguida, ajudou-a a tirar o vestido. Estavam
conversando animadamente sobre a visita que os dois fizeram na vila e sobre
como ela havia machucado o dedo quando o mordomo bateu na porta,
anunciando que o jantar seria servido em meia hora.
A vampira pediu licença para se arrumar e sugeriu à Cătălina que
trocasse suas roupas comuns pelo vestido de lã cor de creme que também
havia ajustado para ela no dia anterior. Mirela explicou que os Constantin
tinham um velho hábito de se vestirem para o jantar em família como se
estivessem em um jantar formal e que Grigore veria com bons olhos a
preocupação dela em se arrumar.
Cătălina assentiu e desceu as escadas junto de Mirela, seguindo
rapidamente para o quarto. Seu coração batia acelerado, precisava se trocar
de novo e ajeitar um pouco o rosto. Felizmente, Irina havia lhe dado alguns
itens básicos de maquiagem: dois batons, um rosa claro e um vermelho,
delineador e máscara para cílios. Não tinha base, mas tudo bem, não tinha
mesmo o costume de usá-la; sua pele era boa e raramente surgiam espinhas.
Optou pelo batom rosado e fez uma maquiagem leve. Ainda estava com o
cabelo preso, do jeito que Mirela havia deixado, e achou melhor não mexer.
Conferiu-se no espelho e gostou do resultado. O vestido claro de lã
parecia um casaco com mangas compridas, tinha botões na frente e lapela
arredondada, mas era acinturado e curto, cerca de um palmo acima do joelho.
Não combinava muito com o sapato de boneca de Irina, mas era o que havia
disponível.
Certamente, não estava reclamando. Afinal, nunca se vestira tão bem
em toda sua vida, nunca se sentira tão bonita. E aquele vestido verde, então?
Era um sonho... Lembrou-se do olhar que Luca havia lhe dado e quase se
engasgou com a própria saliva. Nunca ninguém a olhara daquele jeito. Corou
novamente e, então, balançou a cabeça tentando espantar aqueles
pensamentos.
— Pare com isso, Cătălina — recriminou-se. — Nem tente cogitar
uma coisa dessas. O rapaz é rico, lindo e médico. Você é pobre, desajeitada e
não é ninguém. Ele só estava admirando o vestido. Sim, porque o vestido é
lindo!
Retirou o curativo do dedo e olhou o corte. Era pequeno e já havia
parado de sangrar, ainda bem. Não queria aparecer na frente do Sr.
Constantin com o dedo rígido por causa dos esparadrapos. Uma batida soou
na porta e ela foi atender. Quase perdeu o fôlego ao ver Luca de roupa social,
ou quase... só faltava a gravata, mas quem precisava de gravata? O terno
preto bem alinhado e a camisa azul petróleo destacavam os olhos azuis do
deus grego e o deixavam indiscutivelmente belo. E o sorriso? Cătălina teve
vontade de se abanar, mas se segurou.
Lindo, lindo demais... “Não, Cătălina, ele não é para o seu bico, ele
não é para o seu bico...”, pensou consigo mesma. Precisava parar de olhar
para o médico daquele jeito, urgente!
Luca também apreciou o que viu. Discretamente olhou a garota de
alto a baixo e lhe ofereceu o braço para descerem até a sala de refeições.
Nunca a tinha visto maquiada, e apesar de ser linda com o rosto limpo, os
olhos destacados e a boca com aquele leve brilho rosado a deixavam
tentadora. Tentadora demais...
“Luca, se liga! Ela é só uma menina, uma humana, e você vai ficar
noivo...” Não, ficar noivo não tinha nada a ver! A verdade é que ela era
ingênua demais, e ele só iria machucá-la se... Interrompeu a linha de
pensamento com um suspiro, o que chamou a atenção de Cătălina ao seu
lado.
— Acha que o seu pai vai ficar bravo? — perguntou ela
demonstrando receio na voz.
— Acho que não... Não sei... — Luca sorriu. — Não deixe que ele te
chateie, okay?
Ela concordou e logo entraram na requintada sala de refeições.
Grigore e a mãe de Luca já estavam lá. O senhor do castelo, apesar do
semblante sisudo, cumprimentou-os com um assentir e Mirela sorriu.
Cătălina devolveu-lhe o sorriso e se sentou, murmurando um discreto
boa noite. Suas mãos suavam de nervoso e estava decidida a só abrir a boca
se lhe perguntassem algo, torcendo para que ninguém lhe questionasse nada.
Pelo menos havia aprendido, no outro dia, a usar os talheres e copos de forma
correta.
— E então? Como está a sua recuperação? — perguntou Grigore
enquanto a sopa de entrada era servida.
Cătălina enrijeceu com a pergunta repentina.
— Ah... está indo bem, já sinto menos dores... — respondeu torcendo
as mãos por baixo da mesa.
Luca, que estava sentado ao lado, percebeu a ansiedade da moça e
colocou sua mão sobre as dela, tentando acalmá-la. Cătălina estremeceu com
o toque quente. Ela percebeu a intenção do médico, mas, no fim, aquilo só
conseguiu deixá-la mais ansiosa. Ainda mais quando ele passou a fazer um
leve carinho em sua mão com o polegar.
— Já mudou a medicação dela, Luca? — Grigore voltou a falar.
— Sim. Nina está com um analgésico mais fraco agora. — Deu um
leve sorriso para ela e recolheu a mão, pois precisava pegar a colher para
comer a sopa ou ficaria muito estranho, embora não fosse isso o que ele
realmente quisesse.
O resto do jantar foi mais tranquilo para Cătălina, uma vez que
Mirela manteve a conversa agradável e não a requisitou muito,
provavelmente percebendo seu desconforto. Reparou também que Luca se
mantinha calmo, mas não totalmente relaxado, talvez um pouco mais sério do
que estava acostumada e estupendamente elegante.
Queria ficar admirando o rapaz, mas com ele ao seu lado era
impossível fazer isso. Então apenas apreciou o calor que sentia emanar do
corpo dele. Ou pelo menos que ela achava que sentia, pois a distância entre as
cadeiras não era tão pequena assim. Talvez fosse a energia dele, ela não
sabia, mas que ela sentia uma quentura vinda daquele lado, sentia sim.
Após o jantar, Luca a acompanhou de volta ao quarto e, como um
perfeito cavalheiro, depositou-lhe um beijo no dorso da mão ao se despedir.
Cătălina quase teve outro infarto e entrou no quarto com o coração
acelerado e olhos grandes. Aquilo não era bom, não era bom... mas ao mesmo
tempo era...
Inspirou fundo, sentindo ainda uma pontada nas costelas, e foi ao
banheiro. Lavou-se, trocou-se e se deitou na cama com os braços estendidos.
Estava cansada e dolorida, mas ainda era cedo para dormir e não queria ficar
pensando em Luca. Então pegou um livro para ler.
As horas passaram sem que ela percebesse; quando viu, já era quase
meia-noite. Colocou o livro na mesa de cabeceira e abriu a gaveta para pegar
seu remédio. Reparou, desanimada, que estava sem água, pois havia bebido
tudo o que estava na jarra enquanto lia.
Calçou os chinelos, um roupão e resolveu descer até a cozinha, seu
estômago também já estava pedindo por um petisco e aproveitaria para tomar
um pouco de leite.
O castelo estava silencioso. Apesar de saber que Mirela costumava
ficar acordada naquele horário, não fazia ideia do que o Sr. Constantin ou
Luca poderiam estar fazendo, provavelmente estavam recolhidos também,
dormindo ou lendo, como ela. Notou que não havia mais empregados por ali,
provavelmente já tinham voltado à vila. Cătălina engoliu em seco. Não
gostava daquele silêncio.
Algumas luzes dos corredores permaneciam acesas, mas não todas, o
que deixava o ambiente meio escuro, tenebroso. Lembrou-se das masmorras
e apertou o passo. Podia estar sendo boba, mas tinha medo de fantasmas e o
que era melhor do que um castelo para ter fantasmas? Ainda mais um castelo
antigo como aquele. Devia ter morrido muita gente lá embaixo, naquelas
celas.
Um arrepio percorreu o seu corpo e se sentiu mais aliviada quando
chegou à cozinha, porém esta também estava à meia luz. Apenas duas
lamparinas localizadas em paredes opostas iluminavam o local. Procurou os
interruptores para acender as luzes principais, mas não os achou.
— Tudo bem — disse para si mesma. — Dá para enxergar. Beba
logo o seu leite e suba.
Encheu rapidamente sua jarra de água, abriu a geladeira, pegou o
leite e despejou um pouco em uma caneca. Colocou, então, o comprimido
para dor que havia trazido na boca e o engoliu com o leite.
Estava depositando a caneca na pia quando notou um movimento
pelo canto do olho. Virou-se assustada e viu uma silhueta de um homem no
corredor, antes da porta da cozinha. Embora o rosto estivesse na penumbra,
percebeu que não era Luca, nem o Sr. Pop.
Aguardou que ele se aproximasse e, quando o homem apareceu na
porta, reconheceu-o. Era o vizinho de Anna e Irina, o tal Marius. Cătălina
arqueou as duas sobrancelhas. O que ele estava fazendo ali? Seu coração
começou a bater mais rápido, algo lhe dizia que não era boa coisa. O olhar
que ele lhe dirigia era parecido com o que ela vira antes, porém mais intenso,
mais agressivo.
— Então você é uma humana? — disse ele em voz baixa entrando na
cozinha. — O que faz uma humana no castelo dos Constantin?
— Como assim? Do que está falando? É claro que sou uma humana
— respondeu ela dando um passo para trás. Não estava gostando nada da
postura do homem à sua frente, que mais parecia um leão cercando sua presa.
— Ah... pelo visto você ainda não conhece os segredos desse castelo.
— Marius repuxou os lábios em um sorriso de escárnio. — Mas isso não
importa... devo lhe dizer que seu sangue cheira muito bem, moça, me atiçou.
— Meu sangue? — Cătălina estava achando aquilo cada vez mais
estranho, o homem não falava coisa com coisa e estava chegando perto
demais. Deu mais um passo para trás e olhou para a saída, mas ficou em
dúvida se ele a deixaria ir.
A resposta para sua dúvida veio em seguida. Marius rapidamente
venceu a distância que os separava e segurou em seu rosto. Apesar da má
iluminação, Cătălina pôde ver os olhos dele. Estavam violáceos. Ela tentou
afastá-lo, mas ele a prensou contra a pia, provocando uma dor aguda em suas
costelas que a fez soltar um gemido.
Marius colocou a outra mão sobre a boca dela.
— Shhh... Não queremos chamar a atenção, não é?
Ignorando a dor, Cătălina se debateu, tentando se desvencilhar das
mãos dele, mas pareciam mãos de ferro. Olhou-o assustada, ele ia machucá-
la, tinha certeza.
Marius deu, então, outro sorriso e forçou o pescoço dela para o lado,
inclinando-o com a mesma mão que cobria sua boca. Em um segundo, ela o
vislumbrou abrir a boca e expor os dentes, no outro, sentiu que ele era
puxado de cima dela.
Escutou o baque surdo das costas do homem batendo contra o chão e
logo viu Luca sobre ele, segurando-o pela garganta.
— Suba, Nina — ordenou o médico sem olhá-la. — Vá para o seu
quarto.
Cătălina, porém, estava muda e paralisada, suas pernas não se
mexiam, o ar lhe faltava.
Percebendo que a garota não se movia, Luca aproximou-se mais do
homem imobilizado e encarou-o, seus olhos também estavam violáceos.
— Não saia daí — rosnou. Então soltou-o e se levantou, virando-se
para a Cătălina e indo até ela. Colocou as mãos em seus ombros. — Escute,
está tudo bem... Agora vá para o seu quarto, eu prometo que daqui a pouco
apareço por lá, okay? — disse com uma voz mais suave.
Cătălina teve a impressão de ver um brilho violáceo nos olhos de
Luca quando ele se levantou, mas agora pareciam normais. Ele falava com
uma voz calma, o que a tranquilizou um pouco. Então, assentiu e seguiu para
a porta da cozinha. Ainda deu uma última vislumbrada no homem que
permanecia no chão e subiu correndo para o quarto, sem olhar para trás e com
o coração na mão, como se tivesse algo em seu encalço.
Luca voltou-se para Marius e o ergueu do chão pela gola do casaco
surrado que ele usava.
— Agora você vem comigo... — Sua voz era ríspida e gelada.
L uca arrastou Marius até as masmorras e, antes de trancá-lo em uma
cela, segurou-o bem diante de seus olhos, tendo-os violáceos
novamente.
— Escute aqui, Marius. Você cometeu um erro ao vir atrás da moça,
um grande erro. Amanhã vai acordar nesta cela e, sim, vai se lembrar de ter
atacado minha convidada, mas não se lembrará do motivo, não se lembrará
de que ela é humana ou que sentiu o cheiro de seu sangue. E a sua punição...
Essa vai ficar por conta do meu pai, ele saberá o que fazer com você.
O transformado arregalou os olhos. Grigore Constantin carregava a
fama de ser duro e, por vezes, cruel em suas punições. Não sabia o que seria
pior, ficar ali ou ser enviado de volta para Vârful Cârja, a temida prisão de
onde havia saído há pouco tempo.
Luca estreitou os olhos e se concentrou. Vampiros de sangue puro
como ele ou mestiços, como sua meia-irmã, além de conseguirem fazer
ligações com animais, entrando na mente destes e controlando-os, também
podiam invadir, confundir e influenciar a mente dos transformados,
principalmente daqueles que haviam se tornado vampiros através do sangue
da família. Contudo, raramente conseguiam subjugar um humano, a não ser
que fosse alguém com a mente debilitada.
O jovem Constantin nunca tinha feito aquilo, entrar na mente de um
transformado, nunca precisara. Na verdade, achava errado, injusto. No
entanto, não via outra saída. O vampiro à sua frente havia descoberto sobre
Cătălina e quebrado, não só a regra do Conselho de Anciãos, que os proibia
de atacar humanos, como também quebrara a confiança da casa, atacando
uma hóspede.
Entretanto, não seria sábio entregá-lo à Força de Contenção sem
alterar suas memórias, ou o Conselho logo saberia sobre a presença da
humana no castelo. E isso seria péssimo, pois poderiam achar que ela estava a
par dos segredos dos Vampyrs. E, pelo que ele já tinha ouvido falar, nenhum
humano permanecia vivo sabendo desse segredo.
Luca vasculhou a mente de Marius e foi suprimindo, uma a uma, as
lembranças que levaram o transformado a descobrir que Cătălina era uma
humana. A memória dele ficaria confusa, com alguns buracos, mas ao menos
ele iria esquecer.
Assim que terminou, jogou o homem dentro da cela e a trancou.
Falaria com seu pai ao amanhecer. Grigore saberia como lidar com aquela
situação.
Subiu as escadas apreensivo. A garota havia se assustado bastante...
Será que ela tinha visto a transformação de Marius? Infelizmente não poderia
apagar a mente dela, teria que arrumar alguma explicação.
Antes de subir para encontrá-la, passou na cozinha e esquentou um
pouco de água, fez um bule de chá e pegou uma cesta de rosquinhas. Talvez
um pouco de comida acalmasse os ânimos de ambos. Colocou tudo em uma
bandeja e subiu para o quarto.
Alguns andares acima, Cătălina se encolhia em sua cama abraçada
aos joelhos. Havia subido correndo as escadas, apavorada com o que tinha
acontecido na cozinha e ignorando qualquer dor em suas costelas. Aquele
homem, ele ia atacá-la? Um calafrio subiu pela sua coluna ao se lembrar da
expressão que ele fez, dos olhos dele, dos dentes... O que foi aquilo? Ela
tinha visto direito? Talvez não, estava meio escuro. Mas o cara só podia ser
louco... Por que ele estava ali? Achava que o castelo fosse um lugar seguro...
Levou a mão à correntinha com a pequena cruz que tinha em seu
pescoço. Estava tensa e seus pensamentos não davam trégua. Onde estava
Luca? Por que ele estava demorando tanto? Será que o homem louco o tinha
atacado? E se ele machucasse o médico? Seu coração se apertou e ela
encostou a testa nos joelhos. Não, não, ele estava bem... Tinha que acreditar
nisso!
Uma batida na porta a assustou, fazendo-a sobressaltar e olhar
fixamente naquela direção. A porta foi aberta e ela viu Luca entrar
equilibrando uma bandeja na mão. Imediatamente seu coração se aliviou.
Desceu os joelhos e o aguardou ainda sentada na cama, não tinha certeza de
que suas pernas conseguiriam aguentá-la em pé, pois quando chegara, elas
tremiam como vara verde.
Só então reparou nas roupas do rapaz. Como ela, ele vestia um
roupão por cima do pijama. Até vestido assim ele era sexy. Sexy? Mas no que
ela estava pensando? Tinha acabado de ser atacada e era naquilo que ela
pensava? Reprimiu-se, envergonhada com sua mente depravada.
Ele se aproximou, deixando a bandeja sobre a mesa de cabeceira e a
olhou com preocupação.
— Tudo bem, Nina?
Ela assentiu.
— E você? — perguntou. — Ele não te machucou?
— Não, está tudo bem — respondeu o vampiro ao se sentar na cama
de frente para ela.
— Onde ele está? — Os olhos dela mostravam receio.
— Em uma cela, nas masmorras. Não se preocupe, ele não vai mais
lhe fazer mal — falou Luca enquanto servia uma xícara de chá e entregava a
ela.
Cătălina se sentiu mais tranquila, mas ainda tinha dúvidas.
— Por que ele me atacou, o que ele estava fazendo aqui dentro?
— Marius tem problemas psiquiátricos. Parece que ele saiu há pouco
tempo da clínica, mas, pelo visto, ainda não estava bem. Amanhã cuidaremos
para que ele seja internado novamente.
— Ah... Entendi... Tive medo, os olhos dele estavam estranhos...
— Os olhos de um louco são sempre estranhos... — O médico sorriu.
— Fique tranquila, Nina, agora está segura.
— Fico feliz que tenha aparecido. Tenho medo só de pensar no que
aconteceria se você não estivesse lá. — Ela o olhou com curiosidade
enquanto tomava o seu chá. — Mas... o que foi fazer lá embaixo?
— Provavelmente, o mesmo que você. — Luca riu. — Fui procurar
algo para forrar o estômago. Anna sempre deixa umas rosquinhas prontas —
disse, pegando uma delas da cestinha e mordendo. — Quer? — Ofereceu a
que ele próprio tinha mordido.
Cătălina olhou para a rosquinha e sorriu, dando uma mordida no doce
ainda nas mãos dele.
Ambos riram de boca cheia, enquanto ela se virava para deixar sua
xícara na mesinha. Ao se voltar, encontrou um par de olhos azuis a olhando
com interesse.
Luca não se cansava de admirar o belo rosto da garota. E sorriu
quando ela se virou e o encarou. Nina tinha o canto dos lábios sujos de
açúcar. Sem pensar, levou a mão ao rosto dela e limpou com o polegar.
Fixou, então, o olhar em sua boca macia, rosada, carnuda. Ela era linda!
Como um ímã, sentiu-se atraído por aqueles lábios e se aproximou mais,
mantendo sua mão na curva do rosto dela.
Cătălina arregalou um pouco os olhos e prendeu a respiração. Ele
estava chegando perto, muito perto! O nariz do lindo e sexy deus grego roçou
o seu e ela fechou os olhos, seu coração saltava como um coelho em seu
peito. Arrepios diversos se espalharam pelo seu corpo ao sentir a respiração
quente dele sobre sua pele enquanto ele acariciava levemente seu rosto com a
ponta do nariz, retardando o que viria a seguir.
Estremeceu quando os lábios dele finalmente tocaram os seus, suaves
e delicados, como se pedissem permissão para passar. Ela os entreabriu, não
sabia direito o que fazer, ou como fazer, só sabia que queria aquilo, que ele a
beijasse.
Luca pressionou mais sua boca contra a dela, inicialmente apenas
experimentando e mordiscando os lábios doces. Uma voz em sua cabeça
dizia para ele parar; afinal, Nina não era como as mulheres que ele estava
acostumado a sair, ela era só uma garota inexperiente e ingênua. Contudo, o
seu corpo não obedecia sua mente. Ele queria continuar a explorar aquela
boca doce, aqueles lábios suculentos. Então deslizou sua língua por entre
eles.
Cătălina soltou um gemido abafado ao sentir a língua dele encostar
na sua. Céus, o que era aquilo? Era como se uma corrente elétrica estivesse
passando por sua coluna e seu corpo amoleceu. Involuntariamente, pousou a
mão na perna de Luca e percebeu que ele sorriu, sem deixar sua boca. Como
se não pudesse ficar melhor, ele deslizou a mão para a sua nuca e aprofundou
ainda mais o beijo.
Era oficial, ela estava derretendo ali, seu corpo estava virando geleia
e iria se desmanchar a qualquer minuto. Sentiu a necessidade de se segurar e
acabou apertando a coxa dele.
Desta vez, contudo, foi Luca quem estremeceu. A pressão dos dedos
da garota em sua perna, tão próximos de suas partes íntimas, fez com que seu
corpo acordasse e um sinal de alerta se acendeu dentro dele.
Com a respiração pesada e ofegante, interrompeu o beijo, afastando
sua boca, mas não soltou Cătălina. Encostou a testa na dela e fechou os olhos,
esperando seus ânimos se acalmarem. Sentiu-se culpado. O que ele estava
fazendo? Ela não era como as outras, não era... Não podia iludi-la, ele não
tinha nada a lhe oferecer...
— Nina... — disse com voz rouca, ainda sem se afastar. — Eu... me
desculpe, eu não devia ter feito isso...
Como se tivesse recebido um balde de água fria na cabeça, Cătălina
se retesou e se afastou. Então, olhou-o interrogativamente e viu culpa nos
olhos dele.
De início não compreendeu, mas subitamente tudo fez sentido. É
claro que ele não devia tê-la beijado. Ele era um Constantin, um médico de
uma família importante, rico, lindo e refinado. E ela era quem? Ninguém...
Ela não era ninguém, só uma garota fugitiva sem família, sem dinheiro, sem
nenhum nome importante.
Desviou o rosto, envergonhada por ter se entregado daquela forma
àquele beijo; por ter pensado, mesmo que por alguns instantes, que ele
poderia... que ele poderia ter algum interesse nela. Seu coração se apertou.
Não, agora ela é quem estava viajando. Luca Constantin nunca a olharia
assim, ele só tinha se deixado levar pelas circunstâncias, pelo momento.
— Nina... — chamou ele.
Ela voltou a olhá-lo, seu rosto queimava e seu coração doía.
Luca viu a vergonha e a dor nos olhos dela e sentiu raiva de si
próprio. Então, levantou-se e foi até a janela, ficando de costas para ela.
Inquieto, passou a mão nos cabelos.
— Tudo bem, Luca... — falou Cătălina em voz baixa. — Eu entendo,
não precisa se preocupar.
Ele se virou para olhá-la. O que ela entendia? Ele não havia falado
nada. Voltou a se aproximar da cama, sentando-se novamente.
— Não quero que me compreenda mal, Nina — disse. — Você é
linda, adorável, e eu... eu gosto de você, mas não posso te oferecer nada, não
quero que crie ilusões em relação a mim. Eu me precipitei com você, sinto
muito.
— Sim... eu sei... Eu sei que não sirvo para... — Ela fez uma pausa e
suspirou. — Não sirvo para ser nada sua... — respondeu, olhando para as
próprias mãos em suas pernas.
Luca franziu as sobrancelhas.
— Não sei exatamente no que você está pensando, mas isso não tem
nada a ver com você, Nina, tem a ver comigo... — Ele ergueu o queixo dela
para que ela o olhasse. — Vou ficar noivo no mês que vem... — revelou.
Ele não podia falar a verdade sobre sua natureza vampiresca, mas
podia lhe falar sobre o noivado. Assim, não estaria mentindo.
Cătălina o fitou confusa.
— Mas... mas você disse que não tinha namorada... — lembrou-se
ela.
Luca suspirou.
— Não tenho. Minha futura noiva não é minha namorada. — Ele
pensou um pouco antes de continuar, precisava tomar cuidado com o que ia
falar ali. — Meu casamento foi arranjado quando eu tinha dez anos, só vi a
mulher com quem vou me casar duas vezes na vida. A última foi há quase
uma década...
Cătălina abriu a boca, espantada.
— É sério? — perguntou. — Ainda fazem isso? Casamento arranjado
nesse século?
— Sim, é sério... — Luca sentiu, pela primeira vez, um peso ao dizer
isso.
— Então... você concorda? Não se importa em se casar sem conhecer
a mulher com quem vai dividir o teto? — E a cama... pensou ela, sentindo
uma certa revolta crescer em seu peito.
— O casamento ainda vai demorar um pouco... — justificou ele. —
Até lá iremos nos conhecer melhor.
Cătălina o encarava incrédula. Então, balançou a cabeça e respirou
fundo, por que estava se sentindo irritada? Ela não tinha nada a ver com a
vida dele.
— Ainda não entendo como pode se submeter a isso, mas também
não entendo como funciona esse negócio de matrimônio entre vocês, ricos e
de família importante... É tudo uma questão de prestígio, não é? Poder,
dinheiro... — Ela o encarou de forma séria.
— É por aí, não vou negar... — mentiu Luca.
Na verdade, para ele, a questão tinha mais a ver com os laços
sanguíneos do que com o poder ou prestígio. Somente se casando com uma
vampira de sangue puro é que ele poderia ter descendentes puros. E ele
precisava garantir a pureza de sua linhagem a fim de dar continuidade à
conversão dos transformados do vale.
Há muitos séculos, os vampiros puros convertiam os humanos apenas
para que os servissem, mas a situação havia mudado nos últimos 150 anos. A
conversão passou a ser opcional e restavam poucas vilas como a que existia
no vale.
Talvez fosse mais fácil abolir a cerimônia de batismo e não converter
mais nenhum filho de transformado, mas isso seria não dar opção a eles, seria
condená-los à extinção, pois em muitos lugares do mundo, os transformados
já estavam desaparecendo.
Será que depois de tê-los criados, os Vampyrs tinham o direito de
negar sua existência?
Não! Luca não se sentia no direito de negar isso aos habitantes do
vale e, por isso, aceitava, sem questionar, suas responsabilidades como futuro
herdeiro do castelo. Por isso, precisava garantir um filho de sangue puro e,
consequentemente, precisava se casar com Natasha.
Levantou-se. Já era tarde e ele sabia que Nina precisava descansar. O
dia tinha sido agitado, muito agitado...
— Boa noite, Nina — falou cabisbaixo. — E, mais uma vez, me
desculpe por ter... feito aquilo, eu não queria te confundir.
Cătălina, que estava com a mente perdida em pensamentos, levantou
a cabeça para olhá-lo.
— Tudo bem... — disse. — O beijo foi bom... — Ela sorriu meio de
lado e voltou a desviar o olhar, ficando séria.
Luca crispou levemente as mãos. Sua vontade era de pegá-la no colo,
abraçá-la e beijá-la até seus lábios incharem, mas não podia, não devia. Ele
não entendia por que aquela garota lhe despertava tantas emoções. Justo ele,
que sempre fez questão de se manter distante de qualquer sentimento mais
profundo.
Inspirou fundo e se virou para sair.
— Luca? — chamou ela subitamente.
Ele a olhou.
— Ainda vai querer continuar a me pintar? — perguntou Cătălina
sentindo seu coração se apertar um pouco mais.
— Claro que sim, se você não se importar.
Ela negou com a cabeça.
— Não me importo... — respondeu. Ainda estava confusa com seus
sentimentos, mas não queria deixar de vê-lo, por mais que aquilo a
confundisse.
— Então nos vemos amanhã. Como ainda é minha folga no hospital
podemos fazer isso durante o dia. Depois do almoço está bom para você?
— Sim, está... — Ela suspirou. — Devo colocar o vestido verde?
— Por favor, ainda preciso esboçá-lo. — Uma ruga de preocupação
se formou entre os olhos de Luca. Estava claro que a garota estava se
esforçando para não demonstrar sua decepção. — Vou pedir para Irina vir te
ajudar.
Cătălina concordou e Luca finalmente saiu, deixando-a sozinha. Ela
tirou, então, os pés para fora da cama e se serviu de mais chá.
Seu interior era uma mistura de sentimentos e emoções. Tinha ido do
deleite à vergonha, e da revolta à decepção, mas o que mais a entristecia é
que ela sabia que nada daquilo era da sua conta. Não havia lugar ou espaço
para ela. Logo iria embora e Luca provavelmente se esqueceria dela.
O beijo? Aquilo, com certeza, não foi nada para ele.
Já para ela... Beijar aquele deus grego tinha sido a experiencia mais
deliciosa, quente e intensa que já havia experimentado. Se fosse comparar, o
seu primeiro e único beijo, dado há anos em seu colega de escola, tinha sido
ridículo perto daquilo, não tinha passado de um encontrão grosseiro de bocas.
Suspirou. Luca até poderia se esquecer dela um dia, mas ela nunca se
esqueceria dele, nunca... nem daquele beijo...
C ătălina dormiu um sono agitado e acordou com uma sensação de
tristeza no peito. Não queria se sentir assim, não devia estar se
sentindo assim. O que ela esperava, afinal? Lá no fundo, talvez
quisesse que Luca se apaixonasse por ela.
Cobriu a cabeça com um travesseiro. Sentia vergonha daquele
pensamento. Aquilo era ridículo... De onde tinha saído tal delírio? Nem ela
entendia o que sentia pelo rapaz. No começo foi só admiração, mas ele era
tão lindo e gentil... Merda! O que estava acontecendo com ela? Nunca se
considerou uma pessoa romântica, iludida ou que sonhasse com contos de
fada. Como foi que aquele tipo de sentimento veio parar dentro dela?
Com muito custo, sentou-se na cama e olhou em direção à janela.
Neve caia lá fora. Sentiu-se privilegiada por estar em um lugar que dispunha
de aquecimento e por não precisar enfrentar aquele tempo para ir trabalhar.
Uma nova onda de tristeza assolou seu coração: logo teria que ir
embora. Para onde iria? Será que não havia mesmo um trabalho para ela no
castelo? Ou nos campos? Não se importava com trabalho duro e aprendia
rápido... mas Luca não tinha lhe dado nenhuma resposta quanto ao assunto.
Talvez pudesse falar com Mirela. Quem sabe...
Cătălina foi ao banheiro e, quando retornou, Irina entrava no quarto
com o seu café da manhã.
— Bom dia, Srta. Cătălina!
— Oi, Irina, bom dia. Por que não me chama de Nina? — Sorriu e se
dirigiu à pequena mesinha em que a moça colocava a bandeja cheia de coisas
gostosas.
— Não consigo. — Irina riu. — Desculpe... — A moça a observou
inquieta. — Soube do que aconteceu ontem... com Marius. Ele deve ter te
assustado bastante, não é?
— Ah, sim. Foi tudo muito estranho, ele parecia um louco —
respondeu séria.
— Ele é louco... Felizmente não aconteceu nada de ruim. — Irina
pegou a bandeja que Luca havia trazido durante a noite. — Mais tarde eu
volto — disse antes de sair.
Cătălina passou boa parte da manhã lendo um livro e pensando em
Luca, no beijo e também no que havia acontecido na cozinha. Aquilo tinha
sido realmente apavorante. Devia ter escutado o conselho do pai de Luca e
não ter saído do quarto sozinha. Ela podia não ter caído em nenhum degrau,
como advertira o Sr. Constantin sobre os mesmos serem escorregadios, mas
se perguntava que tipo de perigos e segredos um castelo como aquele poderia
esconder.
Arrepiou-se. Aquele homem louco havia falado alguma coisa sobre
ela não conhecer os segredos do castelo... O que será que ele quis dizer?
Enfim, ele era louco, aquilo não importava. De qualquer forma não tinha
mais vontade nenhuma de sair andando sozinha por aquele lugar, muito
menos à noite.
Na hora do almoço, Irina voltou e aguardou que ela terminasse a
refeição para ajudá-la com o vestido. Enquanto Cătălina se trocava, seu
coração ia se acelerando. Como iria encarar Luca depois daquele beijo? Não
conseguia esquecer a sensação da boca dele na sua, dos lábios quentes, da
língua macia... Fechou os olhos e suspirou. Céus, nunca mais conseguiria
olhar para ele sem se lembrar daquilo. Estava perdida...
Subiu hesitante até a torre. Encontrou a porta da sala de pintura
entreaberta e, com o coração na boca, entrou. Luca, que estava de costas
olhando pela janela, virou-se e sorriu para o seu alívio.
O médico não conseguiu disfarçar sua admiração e demorou seu
olhar sobre ela antes de lhe pedir que se sentasse no banco. Cătălina corou e
baixou os olhos, como fazia nos primeiros dias. Envergonhada, não
conseguia encará-lo por muito tempo, seu estômago dava cambalhotas.
Luca tentou se manter sério e concentrado durante a sessão. O
episódio da noite anterior também estava bem vívido em sua memória. Ele
não conseguia negar que aquela moça o atraía de forma intensa. Porém, não
queria dar margem para aqueles sentimentos, pois tinha a certeza de que não
saberia como lidar com aquilo. Não seria certo ficar com ela e depois
dispensá-la. Ele não era um aproveitador.
Quando ficava com as garotas, era de comum acordo que não
existiria compromisso. Mas Cătălina não era como elas: ele percebera que o
que sentia por ela também era diferente. Era mais do que atração física, era
uma vontade profunda de protegê-la, de vê-la sorrir, de tomá-la nos braços e
de ficar ao lado dela. Não podia dar continuidade àquilo ou ambos se
machucariam.
Enquanto terminava de esboçar o vestido, notou que ela mantinha um
olhar perdido na paisagem no outro lado da janela. Um olhar triste. Ela
também permanecia em silêncio, um silêncio que começou a pesar conforme
o tempo passava.
— Nina... — chamou ele. — Está tudo bem? Está cansada? —
perguntou, puxando assunto.
— Não... estou bem — ela respondeu sem olhá-lo.
Luca suspirou e largou o lápis.
— Está com raiva de mim? — Aproximou-se dela e colocou a mão e
seu queixo, virando-o para ele e fazendo com que ela o olhasse.
— Não, não estou com raiva — respondeu ela, estremecendo com o
toque e com o olhar interrogativo que ele lhe dirigia.
— Mágoa, frustação, decepção? Pode me dizer, pode descontar em
mim. Sei que fui um idiota ontem por ter te passado a ideia de que...
— Por favor, Luca — interrompeu-o. — Não fale mais nada, eu já
entendi... — Os olhos dela marejaram. Agitada, levantou-se do banco e se
afastou alguns passos, precisava de espaço. — Escute... Podemos esquecer
esse assunto? Fingir que nada aconteceu?
— Sim... podemos... — O médico franziu levemente as sobrancelhas.
Falar era fácil, difícil era fazer. Como ele poderia esquecer? Com um suspiro,
virou-se e pegou a tela em que estava trabalhando, mostrando-a a ela. —
Terminei o esboço, agora vou começar a pintura.
— Ficou muito bom — disse Cătălina observando o desenho,
aliviada por mudarem de assunto. — Ainda vai precisar de mim?
— Como assim?
— Que eu continue sendo sua modelo? — Ela baixou os olhos.
— Está querendo fugir, é? — Ele sorriu. — Sim, vou precisar de
você. Então, se não estiver cansada, pode voltar para o seu banco — falou em
um tom mais divertido.
Ela sorriu e voltou a se sentar. A sensação de constrangimento ainda
permanecia, mas pelo menos a tensão entre eles parecia ter aliviado um
pouco. A tristeza em seu peito também não havia ido embora; entretanto, não
havia nada a ser feito quanto a isso. Precisava aceitar e relaxar.
À medida que o tempo foi passando, Cătălina começou a se sentir
menos tensa e voltou a observar Luca discretamente, evitando apenas cruzar
o olhar com o dele.
Céus, precisava de ajuda!, constatou apavorada. Precisava parar de se
lembrar daquele beijo e de sentir cócegas no estômago por causa disso; e
precisava parar de pensar a respeito daquele estranho noivado arranjado.
Aquele assunto não era da sua conta! Contudo, os pensamentos não a
abandonavam e a faziam cada vez mais curiosa.
— Luca, nunca teve ninguém? — perguntou ela, criando coragem.
Ele a olhou surpreso. Não esperava por aquela pergunta.
— Você diz em um relacionamento sério? Não.
— Então já saiu com outras mulheres?
— Sim, já... — Ele a olhou com estranhamento. Onde ela queria
chegar?
— Mas você não disse que está comprometido desde criança? Está
dizendo que traiu sua futura noiva?
O vampiro sorriu.
— Temos um acordo — explicou. — Seria muito ruim para qualquer
um de nós se casássemos sem ter tido outras experiências. Então, foi
combinado entre os nossos pais que poderíamos ser livres, “curtir” a vida até
o casamento, para que não tivéssemos frustrações mais tarde.
Cătălina juntou as sobrancelhas. Aquilo até que fazia sentido, mas
que era bem estranho e incomum, isso era...
— Livres até o casamento ou até o noivado? — perguntou, achando
que ele havia se enganado.
— Até o casamento. — Luca sorriu e Cătălina arregalou os olhos.
— É sério? Vocês são mais esquisitos do que eu pensava... Ainda
acho isso uma insanidade. Como podem ficar noivos e continuarem a curtir a
vida como solteiros? E se você se apaixonasse por outra pessoa nesse tempo,
ou ela? Abririam mão assim?
Um leve aperto se fez presente no coração do médico.
— É por isso que sempre tive o cuidado de não me apaixonar — ele
respondeu, porém com a dúvida pairando seus pensamentos.
— Hum... Entendi... — disse ela e voltou a observar a neve que caía
continuamente no vale.
Encerraram a sessão quando o céu começou a ficar escuro. Cătălina
voltou para o quarto e de lá não saiu mais. Irina havia lhe ensinado a tricotar
e ela ocupou o resto de seu tempo fazendo um cachecol. Sua mente estava
mais calma, embora seu coração ainda estivesse dolorido. Mas guardava a
esperança de que aquela sensação seria como a dor em suas costelas: que a
cada dia se tornaria menor e lhe incomodaria menos.
Outros três dias se passaram sem que nenhum dos dois voltasse
àquele assunto. Luca também havia retornado ao trabalho e as sessões de
pintura aconteciam apenas à noite, não se estendendo por muito tempo.
O clima entre eles havia melhorado, embora a atração mútua ainda
pairasse no ar. Olhares, pequenos toques, sorrisos contidos. Tudo levava a um
arrepio, a um estremecimento ou a um pensamento mais ousado, mas nenhum
dos dois admitia isso e ambos se esforçavam para ignorar suas próprias
sensações.
Sexta-feira chegou e, para alegria de Cătălina, Mirela a convidou para
irem juntas a Sibiu. A Sra. Constantin precisava passar em um de seus
clientes para levar algumas peças da coleção primavera-verão e queria
aproveitar para fazer algumas compras. Normalmente ela fazia aquilo
sozinha, mas já que a garota humana estava mofando no castelo, por que não
levá-la? Tinha certeza de que ambas se divertiriam.
Cătălina tinha ido poucas vezes à cidade grande e ficou animada com
o movimento das ruas e do comércio. Mirela a levou em uma loja feminina e
lhe comprou calças jeans, tênis e alguns conjuntos de lingerie. A garota ficou
envergonhada, não queria aceitar, mas a vampira estava irredutível.
— Nina, pare com isso! Você está precisando de roupas, mocinha.
Não costuro calças jeans, muito menos roupas íntimas. Deixe de frescura,
dinheiro não me falta! — falou enquanto também lhe separava uma camisola
branca de cetim com detalhes em renda.
A garota sorriu e aceitou o presente. Na volta, aproveitou para fazer à
Mirela a pergunta que não lhe saía da cabeça.
— Mirela, logo vou estar boa para trabalhar. Será que não poderia me
arrumar algum emprego no castelo ou nos campos? Eu poderia morar na vila
e prometo dar duro. Não tenho muita experiência, mas aprendo rápido.
A vampira sentiu uma pontada no coração e olhou para a garota
consternada. Havia se afeiçoado a ela, mas sabia que aquilo não seria
possível.
— Nina. Até onde eu sei, nosso quadro de pessoal está completo, mas
não se preocupe com isso, está bem? — Ela sorriu. — Sabe aquela loja que
fomos hoje? Que é minha cliente? Pois bem... Eu falei com a dona e ela me
disse que após o Ano Novo irá contratar algumas pessoas para trabalhar na
confecção das roupas. Então vamos fazer o seguinte: até lá eu te ensino a
costurar, te mostro como cortar, mexer na máquina de costura e montar as
peças. Assim estará apta a trabalhar logo que o ano começar.
Os olhos de Cătălina se iluminaram e seu coração se aqueceu.
— Nossa, Mirela... Muito obrigada! Eu não sei como te agradecer...
Eu estava tão preocupada de ter que ir embora e não saber para onde. Eu só
não sei onde eu vou morar... Será que a dona da loja me adiantaria um salário
para que eu possa alugar um quarto?
A vampira sorriu.
— Pode deixar que isso eu resolvo. Não se preocupe.
Cătălina sorriu também e, pela primeira vez em dias, conseguiu
sonhar com o seu futuro, fazer uma projeção, e aquilo lhe deu um enorme
alívio.
Já havia anoitecido quando chegaram no castelo e o Sr. Pop as
aguardava na porta.
— Srta. Petran, o Sr. Luca pediu para avisar que está lhe aguardando
na sala de pintura e que o jantar será servido lá mesmo.
— Obrigada, Sr. Popescu — respondeu Cătălina com um sorriso. O
mordomo era tão sisudo que conseguia ser mais intimidante que o próprio Sr.
Constantin.
Subiu rapidamente para o quarto, a fim de deixar suas roupas novas e,
em seguida, foi até a torre. Felizmente não precisava mais ter o trabalho de
colocar o vestido. Em vez disso, Luca o vestiu em um dos manequins de sua
mãe e o deixou na sala de pintura. Assim, ele podia observar os detalhes da
roupa enquanto pintava.
Cătălina entrou silenciosamente na sala e encontrou o rapaz sentado
em uma almofada no chão. Ele tinha as pernas cruzadas e lia um periódico
médico. Luca demorou um pouco para notar a presença dela e, enquanto isso,
ela aproveitou para observá-lo, seu deus grego...
Ela podia não ter nada com ele, mas admirar não arrancava pedaço e
o homem era bonito demais! Era difícil tirar os olhos dele, exceto quando
seus olhares se cruzavam.
Desde o beijo, ela não conseguia mais sustentar o olhar dele por
muito tempo, acabava ficando ansiosa e o sangue lhe subia às faces. Luca
sempre lhe sorria quando isso acontecia, o que a deixava mais envergonhada
ainda. Sentia-se uma tola, mas que o médico tinha um sorriso lindo, isso ele
tinha... Sorriso este que ele lhe deu assim que a viu parada perto da porta.
— Ora, ora. Então quer dizer que você foi às compras hoje com a
minha mãe?
— Ah, sim. Ela é maravilhosa! — disse Cătălina empolgada. — E
ainda vai conseguir um emprego para mim em uma de suas clientes. Não é
ótimo isso?
— Em Sibiu?
— Exato!
Luca sorriu, mas por dentro se sentia incomodado, pois aquilo lhe
recordava que a garota não ficaria no castelo por muito tempo.
Ela se sentou e ele começou a trabalhar as cores na paleta. O
semblante de Cătălina estava radiante, diferente dos dias anteriores, quando
ela se mostrara mais introspectiva. A alegria da moça logo o contagiou e ele
iniciou uma conversa sobre estudos e sobre a possibilidade de ela cursar uma
faculdade assim que se estabelecesse na cidade.
— Quem sabe... — ela disse pensativa. — Se eu conseguir guardar
algum dinheiro, talvez eu consiga voltar a estudar. Mas, por enquanto,
preciso começar a ganhar esse dinheiro. — Ela sorriu.
— Uau! Quem seria essa bela dama dona desse lindo sorriso? —
disse um rapaz loiro à porta.
Ambos viraram a cabeça para a entrada.
— Bass? — Luca se espantou. — O que faz aqui?
O vampiro entrou e, sem dar atenção ao amigo, foi direto à Cătălina,
estendendo-lhe a mão.
— Olá. Meu nome é Sebastian, mas pode me chamar de Bass. Sou o
melhor amigo desse cara aqui — disse inclinando a cabeça em direção a
Luca, que agora tinha uma ruga entre as sobrancelhas.
Cătălina, que ainda estava boquiaberta com a beleza do rapaz que
havia acabado de chegar, aceitou-lhe a mão automaticamente.
— Oi, sou Cătălina, mas me chame de Nina — respondeu, enquanto
Bass levava sua mão aos lábios para beijá-la, sem quebrar o contato visual.
Luca travou a mandíbula e sentiu o sangue lhe subir à nuca. Conhecia
o amigo de longa data e sabia exatamente o que significava aquele olhar dado
à Nina. Precisava ficar alerta, a garota seria uma presa fácil para um libertino
como Sebastian...
uito prazer, Nina... — disse Sebastian com um brilho no olhar.
—M O vampiro recém-chegado soltou a mão da moça e, então,
virou-se para Luca.
— Luca! É por isso que não apareceu mais em Sibiu? Estava se
escondendo aqui com essa beldade?
— Não seja tolo, Bass. Nina chegou no castelo há duas semanas,
apenas — respondeu o moreno com o semblante fechado.
— Hum... sério? — Ele olhou para Cătălina. — E de onde é a
senhorita?
— De Brezoi, uma cidade próxima daqui... — ela respondeu, ainda
encantada com o rapaz. Se Luca era um deus grego, aquele ali era um anjo
caído diretamente do céu. Okay, pelo modo como ele a encarava, anjo talvez
fosse um exagero, mas que ele era charmoso, isso era.
Sebastian olhou interrogativamente para Luca.
— Depois eu explico — falou o médico. — Você ainda não me
respondeu. Por que está aqui, Bass?
— Pelo visto você anda muito mal informado. — O rapaz loiro riu.
— Ficarei emprestado ao seu irmão por um mês mais ou menos.
Luca franziu o cenho.
— Como assim?
— Um dos clínicos do hospital de Brezoi pediu uma licença
temporária. Como não é muito fácil arrumar quem queira vir para esse fim de
mundo, seu irmão veio falar comigo e o seu pai concordou. Inclusive, ficarei
aqui no castelo durante esse tempo.
— Está brincando? Eu te conheço. Você vai morrer de tédio aqui!
O loiro deu de ombros.
— É por pouco tempo. Aceitei porque seu pai tem me apoiado
bastante nos últimos meses. Só estou retribuindo o favor... — Ele sorriu para
Cătălina. — Mas creio que vou apreciar bastante a estadia aqui.
Luca largou a paleta de cores, aborrecido. Era só o que faltava... Bass
era, sim, seu melhor amigo, mas não estava nem um pouco feliz em saber que
ele também se hospedaria no castelo. O cara era um predador de mulheres; e
Cătălina, com sua ingenuidade, poderia cair facilmente nas garras dele. Além
disso, ela parecia bem impressionada com Bass, e tinha certeza de que o
amigo também já havia notado aquilo.
Nesse momento, uma jovem que trabalhava com Anna na cozinha
bateu à porta.
— Boa noite, Sr. Luca. O Sr. Popescu pediu para perguntar se já
podemos trazer o jantar.
— Diga ao Sr. Popescu que mudei de ideia. Iremos jantar lá embaixo,
já que agora temos mais um convidado. — Ele deu um sorriso torto para
Sebastian. — Já estamos descendo.
— Sim, senhor — disse a moça olhando de Luca para Bass e
sorrindo, então voltou-se para as escadas e saiu.
— Bass... Pode vir comigo um instante? — pediu Luca,
encaminhando-se para a porta também. — Nina, nos dê licença um minuto,
por favor. Já voltamos.
O vampiro loiro arqueou uma sobrancelha e o seguiu escadas abaixo.
Luca entrou no antigo quarto de Cătălina no andar inferior e fechou a
porta.
— Escute, Bass. Sei muito bem no que está pensando. Primeiro, sim,
a garota é da cidade e não é uma vampira ou uma transformada. É apenas
uma humana que veio parar aqui por uma infelicidade do destino. Ela se
machucou e está sob os meus cuidados até que se recupere. Segundo, não se
atreva a seduzi-la. Ela e só uma menina e não é para você.
Bass gargalhou.
— Parece que você me conhece bem mesmo. — Ele estreitou os
olhos de forma divertida. — Mas qual é o problema de eu tentar conquistar a
moça? Você sabe que eu não costumo obrigar ninguém a nada, então... se ela
me quiser...
— Pode parar! — irritou-se Luca. — Nina é nossa hóspede aqui e é
melhor ter respeito com ela.
— Hum... Acho que estou entendendo... — disse Bass com uma voz
zombeteira. — Você está interessado, não é? Na garota?
Luca juntou as sobrancelhas, mas não respondeu.
— Se você a quer com exclusividade, seja claro comigo e não
entrarei em seu caminho — continuou o loiro. — Mas se não for o caso e só
estiver preocupado com a integridade da moça, eu já disse, não forçarei a
barra com ela. Para sua informação, posso ser um gentleman quando eu
quero.
— Ah... cale a boca! — rosnou Luca abrindo a porta. — Vamos
jantar!
Cătălina, que vira os dois rapazes saírem da sala sem entender o
motivo, levantou-se de seu banco e foi conferir como estava o trabalho de
Luca. A pintura ainda não se parecia com ela, mas ele havia lhe explicado
que eram necessárias várias camadas para dar os efeitos de luz e sombra, o
que poderia demorar um pouco, uma vez que ele era um amador e não
dispunha de muito tempo.
Levantou os olhos do quadro quando os viu entrar novamente. Foi
rápido. O que será que tinham conversado? Por que fizeram isso longe dela?
Uma ruga se instalou entre suas sobrancelhas.
— Vamos descer, Nina? — falou Luca.
— Sim, vamos... — respondeu ela notando que Bass a olhava com
curiosidade. Deu-lhe um sorriso rápido e passou por eles, descendo as
escadas na frente.
Ao chegarem na sala de refeições, também encontraram Victor já
sentado, aguardando-os.
— Victor? Você por aqui? — estranhou Luca. Aquele estava sendo o
dia das surpresas.
Seu irmão mais velho raramente vinha ao castelo. Ele tinha uma casa
confortável na cidade, próxima do hospital, e preferia ficar por lá. Sua esposa
se recusou a morar com eles no vale, pois não gostava do isolamento. Na
verdade, ela também pouco ficava em sua própria casa, preferindo passar seu
tempo em Bucareste, onde o filho estudava e de onde era sua família, pois
dizia se sentir mais à vontade na capital. Assim, Victor vivia praticamente
sozinho em sua casa. Mas não era algo que parecia incomodá-lo, já que
gostava de se dedicar ao trabalho.
— Oi, Luca. Tenho assuntos a tratar com Sebastian. Já sabe que ele
ficará um tempo conosco, não é?
— Sim, ele disse.
— Você vai ver que aqui é bem diferente do hospital em Sibiu —
disse Victor para o médico loiro. Então observou a moça que havia se
sentado também. — Você deve ser Cătălina... Muito prazer.
— Sim, sou eu — respondeu ela, analisando discretamente as
características do homem à sua frente. Ele se parecia com Luca; tinha os
cabelos escuros e olhos azuis, mas não era tão bonito, embora tivesse um
charme. Calculou que ele tivesse na casa dos trinta e poucos anos. — Muito
prazer.
Cătălina já estava acostumada com a presença de Luca, mas ficar ali,
entre todos aqueles homens, estava deixando-a insegura. Ainda mais com os
olhares que Sebastian lhe dava. Por isso, preferiu se manter em silêncio
durante o jantar, apenas prestando atenção na conversa. Pelo que estava
entendendo, o amigo de Luca havia estudado com ele e trabalharia
temporariamente como clínico no hospital de Brezoi. Ela só não entendia por
que Luca parecia estar incomodado com a presença dele.

Cătălina acordou cedo no dia seguinte e pediu para Irina acompanhá-


la até a biblioteca, já que ela era terminantemente proibida de entrar lá
sozinha. Achava um exagero essa imposição do pai de Luca, mas não estava
disposta a arriscar sua estadia por causa daquilo.
Ambas entraram na suntuosa sala e Cătălina seguiu até a estante para
devolver os livros que tinha lido; em seguida, começou a procurar por outros
títulos. Já havia escolhido dois quando a porta da biblioteca se abriu e Bass
entrou.
Irina, que estava sentada em um dos sofás, rapidamente se levantou,
mostrando-se constrangida, pois não era apropriado que os empregados
ficassem tão à vontade nas salas comuns e ela só fazia isso quando estava
com Cătălina.
— Ah, desculpe. Espero não estar incomodando — disse o rapaz
aparentando surpresa.
— Não, tudo bem, estávamos de saída. Já encontrei o que eu queria
— respondeu Cătălina com os livros nas mãos.
— Vejo que gosta de ler romances — disse ele se aproximando e
reparando em um dos títulos.
— Gosto de outras coisas também, mas hoje estou com sede de
romance. — Ela sorriu timidamente e se virou em direção à porta.
— Espere. — Bass colocou a mão sobre o seu ombro. — Não vá
ainda... Não poderíamos conversar um pouco?
Cătălina hesitou. O que aquele moço queria conversar? Ela não era
muito boa em se socializar com desconhecidos. Normalmente ficava sem
saber o que dizer e isso a envergonhava.
— Venha, sente-se aqui... — continuou ele ao conduzi-la até uma das
poltronas, então dirigiu-se para Irina. — Você poderia nos trazer um pouco
de chá? — pediu.
— Sim, senhor — respondeu a garota, saindo rapidamente do local.
Bass se sentou em frente à Cătălina e sorriu, olhando-a nos olhos. Só
então ela conseguiu reparar neles direito. Verdes, ele tinha os olhos verde-
escuros com leves traços cor de mel.
— Então você é de Brezoi? Conheceu Luca lá? — perguntou ele.
— Sim... no hospital.
— Ele me disse que você se machucou. O que aconteceu? — Bass
estava curioso, pois achava muito estranho os Constantin estarem
hospedando uma humana.
— Hum... — Ela olhou para as próprias mãos. — Eu me machuquei
quando subi na muralha do castelo para tentar ver o que tinha aqui desse lado.
O vampiro ergueu uma sobrancelha.
— E por que você subiu na muralha? Por que não entrou pelo portão?
Cătălina, com um pouco de vergonha, contou, sem entrar em
detalhes, que tinha fugido de casa e, por ter se machucado, acabou se
tornando uma hóspede do castelo.
— Então, não está aqui por ter vindo atrás de Luca? — ele perguntou.
— Não. Andei a esmo e acabei encontrando o castelo por acaso. De
início, achei que fossem me expulsar, mas felizmente Luca se dispôs a me
ajudar. Ele conseguiu convencer o Sr. Constantin a deixar eu ficar aqui até eu
melhorar. — Ela sorriu.
— E quando pretende ir embora?
— Acho que logo depois do Ano Novo. Mirela está vendo um
emprego para mim em Sibiu.
— Não vai ficar para o noivado, então?
Cătălina sentiu uma fisgada no estômago.
— Não... creio que não. Pelo que eu soube, o noivado será no final da
primeira semana de janeiro. Acho que até lá eu já terei partido. — Sentindo-
se triste e desconfortável, ela desviou os olhos para os livros ao seu lado e,
em seguida, se levantou. — Preciso ir — disse receosa de deixar transparecer
seus sentimentos.
Sebastian se levantou também.
— Mas nosso chá nem chegou — protestou ele.
— Ah, desculpe... Fica para outra hora, está bem?
— Claro, vou me lembrar de cobrá-la disso. — Ele sorriu.
Cătălina devolveu o sorriso e, ao passar pela porta, quase esbarrou
em Irina que estava entrando com a bandeja. A moça a olhou
interrogativamente.
— Sirva o Sr. Sebastian, eu estou subindo agora — explicou. Dirigiu-
se, então, para o hall principal e subiu as escadas.
Naqueles últimos dias, Cătălina tinha tentado não pensar no noivado
de Luca, pois aquele assunto sempre lhe trazia um sentimento de angústia e
tristeza. Não queria se sentir assim. Fazia apenas duas semanas que estava no
castelo, mal o conhecia... Como, em tão pouco tempo, podia ter desenvolvido
esse tipo de sentimento por ele? Nunca foi uma pessoa de acreditar em paixão
à primeira vista. Mas, talvez, o que ela estivesse sentindo não fosse paixão,
talvez fosse apenas gratidão e admiração. Além disso, Luca era lindo, era
difícil ficar indiferente àquilo.
Quando ele lhe dissera que, pelo acordo de noivado, ele seria livre até
o casamento, não conseguiu deixar de sentir uma certa esperança, o que a
deixou confusa.
O que ela queria, afinal? Ficar com ele? Como? Impossível! Não
conseguia se ver no papel de alguém que vivia apenas o momento, sem
pensar no futuro. Não conseguia imaginar que poderia ficar com Luca, amar,
se apaixonar, se entregar e depois ter que desistir dele.
Estava claro também que ele não queria se comprometer
emocionalmente. Desde aquele beijo e a conversa que tiveram no dia seguinte
na torre, o médico estava se mantendo um pouco afastado, não tocara mais no
assunto e parecia indiferente ao que tinha acontecido. Provavelmente ele
tinha percebido que ela não daria conta de uma relação amorosa temporária.
“Não quero que crie ilusões em relação a mim...”, ele havia dito, e ela
compreendia aquilo.
Talvez ele tivesse razão. Talvez fosse melhor esquecer tudo o que
acontecera, assim como ele já devia ter esquecido... Mas, ah como era
difícil...
Entrou no quarto e se atirou sobre a cama. E aquele Sebastian agora?
Ela sorriu. Até que o rapaz era atraente. Em sua pequena cidade não era
comum ver homens como ele ou Luca, assim tão bonitos. Por onde andavam
escondidos?
L uca passava os olhos por alguns sites de notícias no computador de
seu consultório quando Bass colocou a cabeça pela porta semiaberta.
— Oi — disse ele entrando. — Não se trabalha nesse hospital, não?
— Já atendi meu último paciente e a emergência está calma hoje.
— É sempre assim por aqui?
— Não, tem dia que é bem corrido, mas você vai ver que o ritmo é
outro.
— A mocinha do RH disse que eu vou ter uma sala... — falou Bass
impressionado.
Luca sorriu.
— Vai ter uma sala porque vai ter que atender também os pacientes
regulares, aqueles que marcam consulta com antecedência. Não vai ficar só
na emergência, como em Sibiu.
— Pois é... Gostei disso!
— Não se acostume. O médico que você está substituindo volta no
mês que vem.
Bass gargalhou.
— Não pretendo me acostumar. Prefiro cidades mais movimentadas.
— Ele fez uma pequena pausa enquanto se sentava na cadeira em frente ao
amigo. — Conversei com a sua hóspede hoje. Ela é bem tímida, não é?
Luca suspirou.
— Sim, Bass. Ela é tímida e ingênua, portanto fique longe. Já avisei.
— E você está pensando em fazer o que com ela? — O olhar de
Sebastian era analítico.
— Como assim?
— Sejamos claros. Você está interessado na garota?
O médico atrás da mesa franziu o cenho.
— Isso não importa. Eu não posso oferecer nada a ela... E Nina
merece mais do que um caso que não vai dar em nada.
— Você não pode decidir isso por ela.
— Bass...
— Não seja tolo, Luca! — O médico loiro se levantou. — Se você
não tomar uma posição, eu tomo, pois a garota me interessou. Mas ao
contrário de você, vou deixar que ela escolha se quer ou não desfrutar da
minha pessoa.
Luca arqueou as duas sobrancelhas, aprumando-se na cadeira.
— Não se atreva — disse entredentes.
— Pague para ver... — respondeu Bass com um sorriso e saiu.
Luca ficou observando, estático, o amigo passar pela porta. Ah,
maldito! Ele era bem capaz mesmo de seduzir a garota. Não duvidava nem
um pouco da capacidade de Bass de atrair e conquistar as mulheres. Ainda
mais alguém sem experiência de vida como a Nina. Um calor subiu-lhe
novamente pelo pescoço. Naquele momento, queria matá-lo.
Levantou-se e olhou no relógio. Já tinha dado sua hora e como não
havia nenhuma emergência, não havia motivos para tardar sua partida. Pegou
suas coisas para voltar para casa, estava com os pensamentos a mil. Precisava
falar com Nina, alertá-la sobre Bass. Não podia deixar que ele se aproveitasse
da jovem assim.
Chegou ao castelo um pouco depois das 18h, o céu já estava escuro,
sem lua. Avisou o Sr. Pop que jantaria com Cătălina na torre e subiu para
tomar um banho rápido.
Como combinado, ela apareceu na sala de pintura por volta das 19h.
Luca, que já estava com o pincel na mão trabalhando no quadro, parou o que
estava fazendo e a observou entrar pela porta. Nina tinha um sorriso no rosto
e vestia uma calça jeans e uma blusa de linho creme de mangas compridas.
— Começou sem mim? — ela perguntou, aproximando-se.
— Só estou adiantando a segunda camada do fundo. — Ele esperou
que ela se sentasse. — Passou bem o dia?
— Sim, e você?
— Eu também. O dia foi tranquilo no hospital... Hum... Bass me
disse que vocês conversaram hoje — emendou ele, largando o pincel.
— Ah, sim. Nos encontramos na biblioteca de manhã. — Ela sorriu.
— Sei... Escute, Nina, eu sei que pode parecer meio estranho eu dizer
isso, mas... peço que você tenha cautela com Bass...
— Por quê? — indagou curiosa.
— Porque ele é um conquistador e vai tentar seduzir você — falou
Luca, sério.
Cătălina abriu a boca, pasma. Por alguns segundos ficou sem
palavras, então um sentimento curioso surgiu em seu peito. Não soube dizer
se era orgulho, vaidade ou desforra por Luca não querer nada com ela,
enquanto o amigo parecia interessado, mas aquilo a fez sorrir largamente.
— Não tem graça, Nina. É sério — disse o médico, espantado com a
reação dela.
— Ele também tem alguma noiva ou algo assim?
— Não... ele...
— Então, qual é o problema? — Ela o olhou em desafio.
Luca estreitou os olhos.
— O problema é que ele não vai querer um relacionamento sério. Ele
nunca se envolve com ninguém! — falou com certa alteração na voz.
— Como você? — Ela sorriu meio de lado. — E quem disse que eu
estou interessada em um relacionamento sério?
Desta vez foi Luca que ficou sem palavras.
Cătălina não sabia por que estava falando aquelas coisas, não tinha
ideia de onde tinham saído, mas sentiu a necessidade de desafiá-lo. Talvez
para lhe mostrar que não era tão ingênua.
— Não brinque com isso. Você não sabe do que ele é capaz... — A
voz de Luca era baixa, como se ele estivesse se segurando para não
demonstrar sua irritação.
— E do que ele é capaz? De me levar para a cama? — falou ela,
provocativa. — Nunca tive ninguém, é verdade, mas isso não significa que eu
não sei nada sobre sexo. Muito menos que eu queira casar virgem, ou algo do
tipo. — Sorriu por dentro, sentindo-se orgulhosa por estar desafiando-o.
Luca a olhou sério por um momento, sem acreditar no que estava
ouvindo, e então sorriu, mas era um sorriso irônico.
— E o que você sabe sobre sexo? — perguntou ele puxando outro
banco e se sentando de frente para ela, encarando-a.
Cătălina sentiu o rosto esquentar. Não esperava que ele fosse dar
margem àquele assunto. De repente, começou a se arrepender de ter falado
todas aquelas coisas.
— Sei o que eu preciso saber — respondeu, desviando o olhar e se
virando levemente para o lado.
Luca levou a mão ao rosto dela e, segurando em seu queixo, a fez
olhar para ele novamente.
— Não acho que você saiba muita coisa, e não vou deixar que Bass te
ensine sobre isso. Não vou deixar que ele se aproveite de você.
Cătălina o fitou com indignação. Se ele não a queria, também não
tinha o direito de dar palpite em sua vida.
— Não pode controlar o seu amigo e não tem o direito de impor o
que eu devo ou não fazer com a minha virgindade. Você não é meu pai e eu
não sou um objeto, não tenho dono! — exclamou.
Luca juntou levemente as sobrancelhas e, em um movimento súbito,
puxou-a para si pela cintura e colou sua boca sobre a dela. Não soube o que o
levou a fazer aquilo, mas não conseguiu se segurar. Em seu interior, os
sentimentos se misturavam: raiva, frustração, desejo, medo...
Cătălina, alarmada, tentou afastá-lo colocando as mãos em seus
ombros para empurrá-lo, mas ele não cedeu e a puxou ainda mais para si.
Sem entender o que estava acontecendo, mas consciente do calor do
corpo do médico contra o seu e da pressão da boca dele sobre a sua, ela parou
de resistir. Sua mente estava confusa quanto aos seus sentimentos; contudo,
ela tinha certeza de que queria aquele beijo. Seu coração batia
descompassado e suas forças logo a abandonaram. Vencida pelo desejo,
entreabriu os lábios e o recebeu dentro de sua boca.
A língua de Luca procurou a sua com avidez, tomando todos os
espaços, acariciando-a. Ele fez com que sensações eletrizantes percorressem
seu corpo. Sensações que nasciam em seu estômago e se irradiavam para sua
coluna e suas partes íntimas, esquentando-as. Um pequeno gemido saiu de
sua boca e Luca aproveitou para tirá-la do banco e puxá-la para o seu colo.
Cătălina se assustou um pouco com o movimento e o médico sorriu
para ela, fez um carinho em seu rosto e tornou a beijá-la, envolvendo sua
cintura com as mãos e a apertando contra si.
Sem pensar muito no que fazia, Cătălina passou os braços ao redor do
pescoço de Luca enquanto aproveitava cada sensação que aquele contato
mais íntimo causava. Seu corpo queimava e ela prensou uma perna contra a
outra tentando acalmar o calor pulsante que vinha lá de baixo também.
Como se não pudesse ficar mais abrasador, ele escorregou a mão para
seu quadril e subiu com ela por baixo de sua blusa, tocando diretamente em
sua pele. Ela se retesou com aquele contato e Luca interrompeu o beijo,
olhando-a com um ar divertido e provocador. Ele passou a lhe dar leves
beijos, do canto da boca até o lóbulo da orelha, enquanto escorregava a mão
pelas suas costas, alisando-a, acariciando-a, voltando para a cintura e
subindo.
— Luca... — ela murmurou, segurando parte do ar em seus pulmões.
— O que você sabe sobre sexo, Nina? — sussurrou ele no ouvido
dela enquanto sua mão subia um pouco mais e seu polegar lhe contornava a
curva do seio por cima do sutiã. — Porque isso aqui não é nem o começo...
— Beijou-a no pescoço.
— Eu... eu não sei... muito... — respondeu com a voz entrecortada e a
respiração curta. — Só o que tem nos livros... nos de ciências...
Ela fechou os olhos, sentindo os beijos molhados dele descerem pelo
seu pescoço. O que ele ia fazer? Céus! Os dedos de Luca começaram a subir
pelo seu seio e a sensação quente entre as suas pernas se intensificou,
fazendo-a tensionar ainda mais as coxas.
— Hum... entendi, livros, então... — Luca mordiscou orelha dela
enquanto o seu polegar alcançava-lhe o bico do seio por cima do tecido da
lingerie e fazia círculos em volta.
Cătălina estremeceu.
— Gosta disso, Nina? — A voz do médico era rouca e baixa.
— Gosto... — respondeu ela em um sussurro. Aquilo era delicioso,
não podia negar, embora se sentisse um tanto constrangida. Nunca ninguém a
havia tocado assim antes. E nunca imaginaria que ser tocada causasse
sensações tão intensas e quentes.
Luca voltou a capturar os lábios de Cătălina, ainda mantendo as
carícias em seu mamilo. Caralho! Aquela mulher era gostosa! Seu pau já
estava mais do que duro e querendo desesperadamente ser usado, mas não
faria isso assim. Precisava ir com calma, muita calma... Na verdade, ele mal
sabia o que estava fazendo, só sabia que a queria, não podia mais ignorar
aquilo, não conseguia.
— Quer que eu te ensine? Sobre sexo? — perguntou, dando uma
distância mínima entre seus lábios.
Ele viu a dúvida passar nos olhos dela, mas também viu desejo e
curiosidade.
Cătălina mordeu os lábios, seu coração batia acelerado. Se ela queria?
Não tinha certeza. Sexo era realmente uma coisa nova para ela, algo que
considerava importante e que não sabia se estava preparada. Mas de uma
coisa ela tinha certeza, estava gostando do toque do médico em seu corpo e
queria experimentar mais. Sim... ela queria. Inspirando fundo, reuniu toda a
sua coragem e assentiu para o médico, sorrindo e corando.
Luca se afastou um pouco mais para olhá-la e sorriu. Ele a desejava
com todas as suas fibras. E embora sua maior vontade naquele momento
fosse livrá-la daquelas roupas e apreciá-la por inteiro, queria que ela tivesse
certeza. Queria dar um tempo para ela refletir sobre sua proposta.
Retirou lentamente sua mão de dentro da blusa de Cătălina e
depositou mais um beijo suave em seus lábios.
— Nina... eu confesso que desejo você loucamente, e o que mais
quero é te beijar e te fazer mulher, mas, antes de partirmos para algo mais
íntimo, eu quero que você reflita se é isso mesmo o que quer, sem o calor do
momento. Como eu te disse antes, vou ficar noivo em breve, por isso, não
quero que se iluda comigo... — Ele contornou o rosto dela com os dedos. —
Você entende isso? Eu não posso te oferecer nada, pequena, a não ser um
caso passageiro. Então quero que pense melhor a respeito antes de tomar uma
decisão, porque não quero que se sinta usada e, principalmente, não quero te
magoar...
Cătălina inspirou fundo e abaixou a cabeça na curva do pescoço de
Luca. Ela entendia o que ele queria dizer. Difícil era tomar qualquer decisão.
Sim, ela queria ficar com ele, continuar a beijá-lo, abraçá-lo, sentir as mãos
dele em seu corpo, ela o queria, mas estaria realmente pronta para assumir
um caso sem compromisso? Tinha suas dúvidas, grandes dúvidas. Ela havia
falado aquilo tudo sobre Bass da boca para fora, só para provocar Luca,
porque estava frustrada. Contudo, agora tinha se jogado no fogo e não estava
certa se aguentaria.
Realmente, precisava pensar, e agradeceu mentalmente a Luca por
não se aproveitar de sua ingenuidade, por abrir os seus olhos e por lhe dar
aquele tempo para refletir.
O vampiro a tirou de cima de seu colo e a conduziu de volta ao
banco, retornando à tela de pintura.
— E caso você não desista, penso que teremos que passar mais horas
juntos — ele disse divertido. — Já que serei também seu professor.
Ela corou de novo e sorriu. Involuntariamente, seus olhos desceram
para o volume avantajado na frente das calças de Luca e sua boca se abriu.
— Não babe... — falou o vampiro notando para onde ela estava
olhando. — Não ficará bem na pintura... — Ele riu.
Se Cătălina já estava meio corada, agora ela tinha virado um
verdadeiro pimentão. Levantou-se, desconcertada, e foi até a janela, abrindo-
a. Precisava de ar fresco, mas recebeu um vento gelado no rosto. Fechou-a
rapidamente e quando se voltou, ele ainda a olhava com um ar zombeteiro.
— Tenha calma. Ele poderá ser todo seu, se quiser... — disse o
médico tentando não rir.
Ela se sentou.
— Não vejo a hora — soltou, tentando fazer uma voz sedutora e
entrar na brincadeira, mas falhando miseravelmente. Seu estado de camarão e
sua voz insegura a denunciavam.
Luca sorriu e se manteve mais comportado durante o resto da sessão,
falando sobre assuntos diversos. No entanto, quando Cătălina se levantou
para ir embora, ele se aproximou novamente e a puxou pelos quadris,
trazendo-a para si.
Cătălina não conseguiu evitar que seu coração desse um salto.
Naquelas duas últimas horas, havia tentado se manter calma e prestar atenção
na conversa, mas, a todo momento, a lembrança do toque de Luca em seu
seio surgia em sua mente e ela sentia que algo revoava em seu estômago.
Agora seu corpo estava colado ao dele, os rostos a poucos centímetros um do
outro.
— Amanhã no mesmo horário? — perguntou o médico resvalando a
ponta do nariz em sua bochecha.
— Está bem... — A voz de Cătălina saiu trêmula.
Luca aproximou os lábios da orelha dela e deu uma pequena
mordiscada no lóbulo, fazendo-a se arrepiar inteira.
— Pense com cuidado no que eu te falei, Nina — ele sussurrou. — E
se ainda quiser continuar com isso, amanhã venha de saia, e eu saberei... —
Sorrindo, tomou os lábios dela com um beijo quente.
Cătălina se sentiu amolecer, como se suas pernas não fossem
aguentá-la. Que boca maravilhosa tinha aquele deus grego... Naquele
momento, não se importaria de se perder em seus braços, entregar o seu
corpo e sua virgindade. E aquela constatação lhe tirava dos eixos. Era como
se o seu cérebro tivesse virado gelatina e não raciocinasse mais.
Nunca fora do tipo conservadora, embora gostasse de ir à igreja, mas
a verdade é que ela não esperava iniciar sua vida sexual assim tão cedo e tão
de repente. E nunca imaginaria que poderia ser com alguém tão lindo... Seu
coração parecia uma corsa saltitante ante a ansiedade que tomava conta dela.
Ela tinha uma decisão a tomar nas próximas horas e seu estômago dava voltas
com aquilo.
Luca a afastou com um sorriso e a pegou pela mão, levando-a pelas
escadas até o quarto. Assim que a deixou, voltou para os seus próprios
aposentos, foi até o banheiro e arrancou a roupa para tomar outra ducha.
Precisava se aliviar ou seu pau explodiria.
Não acreditava no que havia feito. Tinha mesmo proposto a ela lhe
ensinar sobre sexo? No que estava pensando? Uma parte de seu cérebro lhe
cutucava, dizendo que ele não deveria fazer aquilo. No entanto, a outra parte
tentava convencê-lo de que não a estava enganando, de que seria escolha dela
e, por isso, não estaria bancando o aproveitador.
Somando-se isso ao fato de Bass estar ali, pronto para tomar o seu
lugar caso ele não fizesse nada, não teve mais dúvidas. Se Nina aceitasse sua
proposta, ele a faria dele, sem culpa, sem arrependimentos.
Puta que pariu! Já estava subindo pelas paredes só de se imaginar
com ela, de imaginá-la nua, tocando em seu corpo, tomando-a, afundando-se
nela...
Sua mão cheia de sabão começou a trabalhar freneticamente em seu
membro rijo, enquanto sua mente viajava para horas antes, quando a teve em
seus braços. Aquela pele macia e cheirosa, o jeito doce e envergonhado... Ah,
a garota era uma delícia! E os lábios? Que gostosos! Doces, carnudos,
macios... Gemeu. Ela seria dele, sim... ela seria... Gemeu novamente e,
encostando a testa na parede, liberou seu líquido espesso em espasmos.
Nunca que ele a deixaria para Bass... jamais!
L uca acordou cedo no dia seguinte, o sol ainda não havia nascido
quando resolveu se levantar. Ele precisava falar com Bass antes de ir
trabalhar. Já tinha tomado sua decisão. Se Nina aceitasse sua
proposta, ele a conduziria pelos prazeres do sexo e ela seria dele... Esse
pensamento o fez se arrepiar. Por isso, precisava deixar tudo claro com seu
querido amigo pervertido.
Dirigiu-se ao quarto de Bass e bateu na porta. Pelo horário que o
médico estava fazendo no hospital, ele devia ter chegado há poucas horas. Se
fosse preciso, o acordaria, mas não sairia dali sem falar com ele. Bateu
novamente, e como não obteve resposta, entrou.
Logo viu o movimento na cama, o amigo estava fodendo alguém com
entusiasmo e Luca não conseguia ver quem era. Bass virou o rosto para olhá-
lo e sorriu.
Um gelo passou momentaneamente por seu estômago até a garota
também virar o rosto e ele ver que se tratava de uma das ajudantes de Anna
na cozinha.
Suspirou aliviado. Por um segundo, pensou que poderia ser Nina e se
repreendeu por isso, como podia ter imaginado tal coisa? Nina nunca se
sujeitaria a fazer aquilo assim.
— Bom dia, Luca — falou Sebastian elevando uma das pernas da
garota e colocando-a sobre o seu ombro sem parar de estocá-la. — Quer se
juntar a nós? — Ele sorriu.
— Não. Só vim te dizer que tomei minha decisão em relação à Nina e
te avisar que se chegar perto dela para assediá-la, eu te quebro o pescoço.
Bass deu um sorriso de lado e aumentou o ritmo e a força das
investidas, fazendo a moça sob ele gemer a cada estocada.
— Você é maldoso, Luca. Não vai mesmo dividir ela comigo? Eu
sempre divido as minhas garotas com você... — disse ele.
— Sabe muito bem que Nina não é esse tipo de garota!
O vampiro saiu de dentro da moça da cozinha e, com um gemido,
despejou o seu sêmen nos peitos e no rosto dela, voltando a olhá-lo com um
sorriso zombeteiro.
— Se você diz...
Luca juntou as sobrancelhas e suspirou impaciente.
— Parece que estamos entendidos, então... — falou, virando-se e
saindo do quarto sem esperar por uma resposta.

Cătălina acordou horas depois, tomou o café deixado por Irina e foi
até a janela. O tempo estava fechado, talvez nevasse naquele dia. Sentia falta
de sair lá fora, mas o frio não era muito animador.
Pelo menos tinha vários livros para ler. Além disso, Mirela pediu
para que ela fosse até o ateliê naquela manhã, pois iria começar a ensiná-la a
costurar, algo que a animava.
No entanto, sua maior preocupação residia na decisão que precisava
tomar em relação à Luca. Só de pensar, seu estômago rodopiava e parecia
querer sair pela boca. Inspirou fundo e seguiu para o ateliê, teria o dia inteiro
para decidir, mas naquele momento precisava de distração.
Encontrou Mirela a esperando e, pelo resto do dia, a mãe de Luca lhe
ensinou as coisas básicas de costura. Aprendeu algo sobre como cortar,
mexer na máquina e juntar as peças. Almoçaram juntas e somente lá pelas
16h, a senhora do castelo a dispensou, pois estava cansada também. Aquele
não era o horário normal de trabalho da vampira, mas estava disposta a
mudá-lo por alguns dias enquanto precisasse ensinar a garota.
Cătălina voltou para o quarto apreensiva, pois sabia o que a esperava.
Precisava decidir... Tomou um banho e, ainda de roupão, pegou algumas
roupas no armário.
Estendeu sobre a cama uma blusa branca de meia manga e gola
canoa, uma calça de lã escura e uma saia longa que era emprestada de Irina,
pois era a única que tinha, além do vestido que havia usado no jantar com os
pais de Luca.
Ficou olhando estática para as peças. Seu coração estava acelerado.
Se escolhesse a saia, seria o sinal de que ela queria ter as aulas de sexo. Se
escolhesse a calça, tudo ficaria como estava. Levou as duas mãos ao rosto,
nervosa. Ela queria, ah, como ela queria...
Sabia que seriam apenas aulas, que Luca não desejava ter nenhum
envolvimento e que teria que se contentar com isso, mas não se sentia segura.
Tinha medo, medo de se apaixonar e de se machucar.
Merda! A verdade é que ela pressentia que já estava apaixonada...
Não sabia desde quando, talvez desde a primeira vez que o vira, ainda
no hospital. Aqueles lindos olhos azuis a cativaram de imediato, isso era
certo. Mas não, não foi ali que se apaixonou, aquilo foi só uma boa primeira
impressão...
Quando, então? Quando o seu coração foi tomado por tal sentimento?
Por tal vontade de vê-lo, de estar com ele, de conversar com ele, e agora de
sentir o toque dele em sua pele?
Não sabia dizer, e agora estava com medo, medo desse sentimento.
Medo de se entregar e depois ter que se afastar.
Contudo... de que valia a vida se não pudesse aproveitá-la? Tinha
certeza de que se arrependeria se desistisse. Ter aulas de sexo com um deus
grego... Como poderia recusar? Céus, estava se sentindo uma devassa... O
que a mãe dela diria? Franziu o cenho, aquilo não importava mais.
Irritada, balançou a cabeça, não queria pensar em sua mãe. Mas em
sua avó... segurou a correntinha que trazia ao pescoço, certamente ela a
repreenderia...
Começou a caminhar pelo quarto. Ansiedade era pouco... Sentia-se
completamente dividida, sem saber o que fazer. Desejo, medo... medo,
desejo. Ambos eram fortes, ambos a consumiam. Olhou novamente para a
cama e mordeu os lábios. Já que não conseguia se decidir, o destino decidiria
por ela.
Foi até a mesinha de cabeceira e pegou o livro que estava lendo.
Andou até o meio do quarto, ficou de costas para a cama, inspirou fundo e
jogou o livro para trás. Ela vestiria a peça que o livro caísse em cima ou mais
próximo.
Com receio de olhar, esperou alguns segundos antes de se virar.
Engoliu em seco e levou as mãos à boca com o que viu ao olhar para trás. O
livro havia caído exatamente sobre a saia.
Seu coração batia tão rápido que achou que teria um ataque cardíaco.
Ao mesmo tempo, uma sensação de alegria e entusiasmo cresceu dentro dela,
fazendo-a dar gritinhos contidos e pequenos pulos no lugar. Esperava apenas
que o destino estivesse certo...
Até dar o horário que ela deveria subir na torre, olhou-se dezenas de
vezes no espelho. A saia não era lá das mais bonitas, mas o conjunto até que
não tinha ficado tão ruim. Provavelmente era a primeira vez na vida que se
preocupava tanto com a aparência. Nem no dia do jantar com os pais de Luca
havia ficado tão insegura. Antes de sair do quarto, fechou os olhos e inspirou
profundamente umas três vezes; então, abriu a porta.
Seguiu pelo corredor e começou a subir as escadas que levavam à
sala de pintura. Quanto mais perto chegava, mais parecia que suas pernas
travariam. Utilizou-se de toda a sua coragem para vencer os últimos degraus.
“Vai dar tudo certo”, murmurava para si própria.
Entrou na sala e viu Luca preparando as tintas na paleta. Diferente
dos outros dias, ele estava de luvas e avental, e levantou os olhos para vê-la.
Mediu-a de alto a baixo e deu um sorriso discreto. Então voltou a misturar as
tintas com o pincel.
Cătălina entrou calada e se sentou no banco, torcendo as mãos sobre
o colo.
— Tudo bem? — perguntou o médico com um olhar divertido.
— Hum... sim. — Ela sentia-se quente e não conseguia encará-lo.
Tentava imaginar o que ele estaria pensando sobre ela e, se pudesse, se
enfiaria em um buraco de tanta vergonha.
Luca começou a trabalhar no quadro. Contudo, a concentração estava
difícil. Desde que a vira entrando com a saia, seu pensamento seguia apenas
em uma direção, tocá-la, beijá-la, abraçá-la.
Enquanto a pintava, podia observá-la com atenção e, apesar da moça
estar quase toda coberta, ela era um colírio para os olhos. O decote que usava
em formato canoa deixava exposto parte do ombro e a curva da clavícula.
Aquilo atiçava sua imaginação e ele não conseguia deixar de visualizar o
corpo dela sem todas aquelas roupas e totalmente à sua disposição.
Queria pintá-la nua, com todas as suas curvas e detalhes. Estava tão
absorto a contemplando e a imaginando sem roupas que, quando se deu
conta, seu amigo lá de baixo já estava bem animado, apertando sua cueca. Era
incrível o poder que ela tinha de deixá-lo duro sem fazer absolutamente nada.
Devia ser por causa de sua abstinência sexual de mais de quatro
meses. Só podia... Desde aquela noite que estivera com Sebastian e as garotas
no motel, não saíra com mais ninguém, e agora seu corpo pedia
desesperadamente por uma mulher. E ele pedia por ela, por aquela garota...
Mais cedo, havia ficado com receio de Cătălina aparecer de calça e
frustrar suas expectativas, mas ela veio de saia e isso significava que ela
desejava continuar no jogo. O que aconteceria depois, ele não fazia ideia.
Não queria pensar naquilo... Desde que ela entendesse onde estava se
metendo e não esperasse nada dele além de sexo, estaria tudo bem.
— Por que está de luvas e avental hoje? — perguntou ela, puxando
assunto.
— Porque não quero te sujar depois. — Ele sorriu marotamente.
Cătălina desviou os olhos para as próprias mãos e Luca largou a
paleta. Não aguentava mais. Não conseguiria pintá-la naquele estado de
excitação. Caralho! Ela ficava ainda mais linda quando estava envergonhada.
Tirou as luvas e o avental, deixando-os de lado e chamando a atenção da
garota que o fitou com os olhos arregalados.
— Já acabou? — perguntou ela.
— Por hoje, sim — respondeu Luca se aproximando. — Vamos? —
disse, estendendo-lhe a mão.
— Para onde? — Cătălina quis saber enquanto se levantava. Seu
coração batia descompassado.
— Para o quarto. — O olhar de Luca era intenso e ela estremeceu. —
Você confia em mim? — ele perguntou.
Cătălina hesitou um pouco, antes de confirmar com a cabeça. Ela
confiava, mas não podia negar que aquela palavra “quarto” lhe causava uma
grande ansiedade.
Luca a conduziu pela mão até o andar de baixo, para seu antigo
quarto e assim que entraram, ele a puxou para si.
— Tem ideia do quanto eu te quero? — falou ele com a voz rouca e,
em seguida, tomou seus lábios.
Choques internos tomaram o corpo de Cătălina ao sentir a língua dele
procurando a sua, e qualquer dúvida que ela tinha sobre estar fazendo ou não
a coisa certa se dissipou. Agora ela tinha certeza de que era aquilo que queria,
estar ali, com ele, nos braços dele, sentindo a boca dele na sua e as mãos dele
em seu corpo.
Luca afastou-se um pouco e, com um sorriso, levou-a até a mesa que
antes ela usava para fazer suas refeições, convidando-a se sentar ali. Olhou-a
intensamente, bebendo da beleza de seus traços e contornando a curva de seu
rosto com os dedos. Escorregou-os para o pescoço desnudo e depositou um
beijo na pele macia.
Outra visão tentadora... Naqueles momentos, era difícil para o
vampiro negar sua natureza. Sua vontade era de mordê-la e experimentar o
seu sangue. Ele tinha certeza de que o gosto deveria ser maravilhoso.
Resvalou os dentes na pele macia e suave dela, arrancando-lhe arrepios, e
sorriu. Teria que se contentar apenas com o corpo dela, mas aquilo já era
delicioso, não podia reclamar.
Buscou novamente a boca de Cătălina enquanto descia as mãos pela
sua cintura e pelos quadris, mas não parou por ali. Continuou escorregando
uma das mãos pela perna da garota e começou a puxar a barra da saia para
cima. Sentiu ela se retrair. Interrompeu, então, o beijo e a olhou.
— Ainda quer fazer isso, Nina?
Ela o fitou com ansiedade.
— Eu quero..., eu só não sei... Eu nunca fiz isso antes, eu não sei
como agir, me desculpe... — disse, abaixando os olhos.
O vampiro elevou o queixo dela, fazendo-a olhá-lo novamente.
— Não precisa se preocupar com isso. Deixe que eu te conduzo,
apenas desfrute. Se você tem certeza do que quer, apenas confie em mim, e se
tiver qualquer dúvida, me peça para parar, entendeu?
Ela assentiu. A mão dele, ainda em sua saia, a deixava agitada, mas
estava disposta a continuar, ela queria continuar...
Luca sorriu e levou a outra mão à saia também, subindo-a um pouco
acima dos joelhos de Cătălina. Então, deslizou os dedos lentamente pelas
coxas dela enquanto observava as reações da garota. Ela estava claramente
nervosa, e isso era natural. Ele também estava um pouco nervoso, não queria
assustá-la, queria que ela gostasse do que ele estava fazendo, queria que ela
se entregasse às suas carícias sem medo.
Ainda com as mãos sobre as pernas dela, começou a fazer círculos
com os dedos e subir vagarosamente por dentro da saia.
— Me beije, Nina — pediu ele com o rosto bem próximo ao dela.
Cătălina mordeu os lábios. Ele queria que ela o beijasse, e estava
esperando... Sentiu-se envergonhada, será que conseguia fazer direito? As
mãos dele em suas pernas, acariciando-as e subindo centímetro a centímetro a
distraía e lhe provocava cócegas no estômago, mas precisava se concentrar,
precisava beijá-lo...
Passou, então, os braços em torno do pescoço de Luca e tocou os
lábios dele com os seus. Que delícia de lábios... Quentes, macios... Arriscou
introduzir a língua em sua boca, e a resposta que veio dele foi um leve
apertão em suas coxas. O médico retribuiu-lhe o beijo, enquanto uma de suas
mãos deslizava ainda mais para cima, alcançando sua calcinha.
Cătălina sentiu ele introduzir os dedos por baixo do tecido e seu
polegar começou a fazer pequenas carícias em sua virilha.
Seu corpo todo esquentou, uma sensação latejante se apossou de sua
intimidade e ela prendeu a respiração. Ele ia tocá-la... ele ia tocá-la lá!
Luca afastou seus lábios alguns centímetros e a observou com um
brilho no olhar. Ele a queria tanto, mas iria com calma.
— Primeira lição, pequena... — disse ele, com a voz carregada de
desejo. — Não tenha medo ou vergonha do que está sentindo, aproveite as
sensações, sinta o toque e delicie-se com ele, não pense demais. — Desceu os
lábios até o ouvido dela. — Eu estou aqui para te ensinar o que é o prazer e
não quero que tenha vergonha disso. Entregue-se para mim, Nina... —
sussurrou.
Cătălina derreteu-se com aquelas palavras. Sim... se entregaria a ele,
sem medo, mas ainda sentia vergonha de sua inexperiência. E aquelas
sensações... Céus, aquilo era normal? Parecia estar pegando fogo lá embaixo.
Luca voltou a beijá-la e deslizou as duas mãos para suas nádegas,
puxando-a contra si, contra seu corpo, contra o seu membro duro e pulsante.
Não a tocaria naquele dia, mas precisava senti-la. Apertou-a mais,
pressionando-a contra o seu sexo e aliviando um pouco a necessidade de seu
pau. Puta merda! Queria desesperadamente arrancar as roupas dela e
mergulhar em sua cavidade úmida.
Uma batida na porta interrompeu sua imaginação e seus amassos.
— Sr. Luca? Está aí? — A voz de Popescu soou através da porta.
Luca suspirou aborrecido e se afastou de Cătălina. Caminhou, então,
até a porta e a abriu.
— Desculpe incomodá-lo, senhor — falou o mordomo dando uma
espiada dentro do quarto e vendo uma Cătălina corada como um camarão
sentada sobre a mesa. — O senhor não me orientou se hoje vai querer que
lhes sirva o jantar aqui ou na sala de refeições.
— Pode ser na sala de refeições — respondeu Luca passando as mãos
nos cabelos. Um ambiente mais neutro seria bom para acalmar os seus
ânimos. — Já vamos descer.
— Sim, senhor. — O mordomo fez uma pequena reverência e virou-
se para descer as escadas.
O vampiro retornou até onde estava Cătălina e pegou em sua cintura,
retirando-a de cima da mesa. A jovem lhe sorria, e ele achou que aquele era o
sorriso mais lindo do mundo.
— Está com fome? — perguntou.
— Um pouco...
— Então vamos. — Ele sorriu e estendeu a mão para ela. — Amanhã
continuaremos de onde paramos.
Cătălina devolveu o sorriso e aceitou sua mão. Sentia-se leve e
precisou se conter para não saltitar pelos degraus enquanto desciam. Estava
alegre. Sim... seu coração estava aquecido e não se lembrava de nenhum dia
em sua vida em que havia se sentido tão entusiasmada como estava naquela
hora.
Olhou para o médico, que ainda segurava sua mão enquanto
caminhavam até a sala de refeições. Ele era maravilhoso... Gentil, educado,
quente, gostoso... E não a havia tocado hoje, por pouco... mas certamente ele
o faria. E ela descobriu que ansiava por aquilo.
C ătălina acordou no dia seguinte com alguém batendo em sua porta.
Havia combinado com Mirela de estar no ateliê às 8h e por isso pediu
para Irina trazer seu café mais cedo. Olhou pela janela e viu que ainda
estava escuro. Naquela época do ano, o sol nascia somente após as 7h30 e
aquilo era desmotivador. Queria tanto continuar na cama, sonhar com Luca e
com os beijos dele...
Abafou um gritinho no travesseiro. O médico se comportou como um
verdadeiro cavalheiro na frente do Sr. Pop e dos empregados durante o jantar,
mas ao acompanhá-la depois até o quarto, a prensou contra a parede e deu
mais um daqueles beijos arrasadores. Ah, que delícia! Nunca se cansaria
daqueles beijos.
Estava louca para que as horas passassem logo e pudesse vê-lo
novamente. Ela sabia que naquela noite não iriam ficar só nos beijos e isso
dava-lhe um nó nos intestinos. Era difícil de admitir, mas reconhecia que
estava excitada com tudo aquilo. Não se sentia mais envergonhada como no
dia anterior, nem com medo, nem com dúvidas, apenas queria estar com ele.
“Aproveite as sensações... delicie-se”, foi o que ele havia dito. Só de
pensar naquelas palavras ela já sentia seu corpo ferver.
— Pode entrar! — ela gritou e Irina abriu a porta, carregando uma
bandeja.
— Bom dia, Srta. Cătălina.
— Bom dia, Irina — respondeu ela com voz preguiçosa, sentando-se
na cama.
A moça colocou a bandeja sobre a mesinha de refeições e já estava
saindo quando se lembrou de algo.
— Ah... Nossa, quase me esqueci. — Irina sorriu. — A flor que está
na bandeja, foi o Sr. Luca que colocou.
— Flor? — Cătălina se levantou rapidamente e foi olhar, era uma
tulipa branca. — Onde ele conseguiu essa flor? — perguntou enquanto a
pegava na mão.
— Temos uma estufa lá atrás do castelo e as tulipas gostam do frio —
explicou a garota, sorrindo novamente. Então saiu, fechando a porta.
Cătălina ficou contemplando a flor em suas mãos com um sorriso
bobo no rosto. Ah... senhor Luca, desse jeito estava ficando difícil não se
apaixonar. Ela estava perdida...

O dia se arrastou para a jovem que, embora estivesse entretida em


aprender coisas novas com Mirela, não conseguia tirar seu pensamento do
médico gostoso. Deixou o ateliê lá pelo meio da tarde e, assim que entrou no
corredor dos quartos, deu de cara com Sebastian.
O rapaz vestia uma camiseta regata preta e calça de agasalho, seu
cabelo loiro estava molhado de suor e ele trazia uma toalha no pescoço.
— Oi — cumprimentou Sebastian com um sorriso.
— Ah, oi... — respondeu ela admirando, sem perceber, os músculos
definidos do rapaz. — Hum... estava na sala de ginástica?
— Sim, fui correr um pouco. — Ele a olhava com interesse e com o
sorriso de quem conhecia os efeitos que causava em uma mulher. — E você?
— Eu estava aprendendo a costurar — respondeu Cătălina, desviando
os olhos do corpo do rapaz. — A mãe do Luca está me ensinando.
— Sei... Toma aquele chá comigo hoje?
— Hã? — exclamou ela sem entender.
— Você ficou me devendo um chá naquele dia na biblioteca, se
lembra?
— Ah, sim... — Ela torceu as mãos uma contra a outra, o amigo de
Luca também causava-lhe ansiedade. — Agora?
— Em meia hora, lá na sala de refeições, pode ser? Preciso tomar um
banho primeiro.
— Okay... estarei lá.
Sebastian sorriu e continuou seu caminho pelo corredor, enquanto
Cătălina voltava agitada para o quarto. Ah, drogaaa! Ela era péssima em
conversar com quem não conhecia direito, nunca se sentia à vontade. Além
disso, Luca havia dito que Bass fazia o tipo conquistador.
“Ele vai tentar seduzir você”, foram as palavras dele. Na hora tinha
achado engraçado, mas agora estava inquieta. O que faria se o médico loiro
tentasse algo? Pelo menos, eles tomariam chá na sala de refeições e ela sabia
que o Sr. Pop estaria por perto, ou algum outro empregado. Qualquer coisa
gritaria...
Na hora marcada, Bass apareceu na sala de refeições já vestido para
ir para o hospital, aliás, muito bem vestido. A camisa azul-escuro e com os
primeiros botões desabotoados combinava com a calça preta e realçava seu
tom de pele e os cabelos claros. O rapaz era realmente bonito. Descontraído e
animado, cumprimentou-a, sentou-se e iniciou uma conversa informal sobre
seu novo local de trabalho e a pequena cidade de Brezoi.
Cătălina, por sua vez, preferiu assumir o papel de ouvinte, uma vez
que ainda não se sentia muito confortável na presença dele.
Alguns minutos depois, o Sr. Pop entrou na sala acompanhado de
uma moça que trazia o chá quente. Quando esta foi servir Sebastian, Cătălina
não conseguiu deixar de notar o olhar cúmplice e arrebatador que a garota
enviou a ele. O médico agradeceu com um sorriso charmoso e ela saiu da sala
com um ar feliz.
Cătălina ergueu uma sobrancelha. Claramente, a moça que serviu o
chá estava caidinha por ele. Sebastian era mesmo um conquistador nato, mas,
para sua surpresa, ali, durante o chá, ele não tentou seduzi-la como previra
Luca. Pelo contrário. Bass manteve a conversa agradável e não esboçou
nenhuma atitude estranha para ela. Ele nem mesmo a olhou de forma
sedutora, como o vira fazer quando se conheceram na torre, o que lhe trouxe
um certo alívio.
Algum tempo depois, ela já estava até conseguindo se soltar mais na
conversa e, a pedido dele, falou um pouco sobre os motivos que a levaram a
fugir de casa.
O médico loiro ficou pasmo e boquiaberto quando ela contou sobre
as agressões sofridas, sobre o sumiço de sua mãe e sobre a tentativa de abuso
de seu padrasto.
— Que filho da puta! — exclamou ele com o semblante fechado. —
Ah, se um cara desses aparece na minha frente, sou capaz de arrebentar ele
todo! Desgraçado! Pena que não morreu.
Ele suspirou e refletiu por um momento, em seguida se levantou.
— Preciso ir, já está na minha hora — disse e sorriu. — Muito
obrigado pela sua companhia, Nina. Espero que possamos fazer isso outras
vezes.
Cătălina sorriu e se levantou também, assentindo com a cabeça.
Desde que ele continuasse se comportando adequadamente, ela não via
problemas em tomar chá com ele.
O rapaz saiu e ela subiu para o quarto. Ainda tinha umas duas horas
antes de se encontrar com Luca...
Pegou um livro para ler, e embora sua concentração estivesse um
pouco prejudicada, conseguiu se distrair por um tempo. No entanto, conforme
foi chegando a hora de subir para a torre, sua agitação voltou a crescer.
Largou o livro e se olhou no espelho, tinha vestido uma calça jeans
para tomar chá com Sebastian, mas ficou na dúvida. Deveria ir de saia de
novo? Luca não havia falado nada...

Luca subiu as escadas correndo. Havia se atrasado por conta de uma


emergência no hospital e, mesmo com Bass chegando e ajudando no
atendimento, ainda teve que ficar um pouco mais. Felizmente, conseguiram
resolver o caso e o paciente estava fora de perigo, mas agora estava atrasado.
Entrou em sua sala e viu Cătălina de costas para ele, observando a
pintura com interesse. Sorriu. Ele já estava nos retoques finais e logo a tela
ficaria pronta. Se por um lado isso era bom, pois teria mais tempo para se
dedicar a ela, por outro, não poderia continuar a contemplando por horas.
Enfim, era muito melhor tocá-la do que contemplá-la, portanto, sentia-se feliz
por estar terminando o quadro.
— O que está achando? — perguntou.
Cătălina se virou.
— Está lindo! — disse com um sorriso.
— Eu prefiro a original — falou ele se aproximando e lhe dando
apenas um selinho. Era melhor não se empolgar muito agora, ou não
conseguiria terminar aquele quadro nunca.
Colocou as luvas e o avental e começou a preparar a paleta, enquanto
ela se sentava.
— Não sabia se devia vir de saia... — comentou Cătălina.
— Venha sempre de saia. — Ele riu e deu as primeiras pinceladas.
— É que eu só tenho essa e o vestido que fui ao jantar naquele dia
com seus pais.
— Aquele vestido fica bem em você. Pode usá-lo, eu é que não vou
reclamar. — Luca piscou com um olhar malicioso.
Cerca de uma hora e meia depois, Luca finalmente largou o pincel e
arrumou seu material. Com um sorriso, pegou Cătălina pela mão e desceu
com ela para o quarto do andar inferior. Ela sorria também. E aquelas
sensações de euforia e ansiedade se intensificaram quando ele fechou a porta
e a encarou com um olhar cheio de desejo. Contudo, ele não a abraçou ou a
beijou. Manteve-se a uma certa distância, apenas a olhando.
— Tire a calcinha — ele disse.
Cătălina abriu a boca.
— Como? — balbuciou.
— Tire a calcinha — ele repetiu com um sorriso.
Sentindo o sangue lhe subir pelo rosto, ela inclinou-se um pouco e
colocou as mãos por baixo da saia, então retirou a peça íntima. Olhou para
Luca e ele continuava a observando. Um friozinho gostoso lhe invadiu o
estômago. Andou, então, até uma cadeira e deixou a lingerie ali. Era estranha
aquela sensação de não ter nada por baixo da saia... sentia-se vulnerável,
apesar de ainda estar coberta. Inspirou fundo e se voltou para Luca.
O médico se aproximou e a circundou, posicionando-se por trás. Em
seguida, tirou seu cabelo para o lado e depositou um beijo em seu pescoço,
fazendo-a se arrepiar. As mãos dele foram para sua cintura e começaram a
deslizar pelo seu corpo. Uma foi para o seu seio, e a outra desceu lentamente
até sua intimidade, tocando-a por cima do tecido do vestido.
Cătălina puxou o ar para os pulmões. As mãos dele lhe acariciavam
com leveza, enquanto sua boca deixava rastros de beijo por todo seu pescoço.
Aquilo era o céu... Fechou os olhos, deixando-se levar pelas sensações. Seu
sexo queimava.
Luca sorriu. Vê-la assim, mais solta e menos tensa, deixava-o
animado para continuar. Levou suas mãos para a barra da blusa dela e
começou a puxá-la para cima. Cătălina não se opôs ao movimento e permitiu
que ele lhe retirasse a peça por cima da cabeça. O sutiã que ela usava era
branco, de renda e sem bojo. Por cima do ombro dela, ele observou a bela
curva de seus seios e os bicos entumecidos por baixo da renda. Que bela
visão. Seu pau latejou.
Virou-a para si e, umedecendo seus lábios, encaixou suas mãos nos
seios dela, rodeando os mamilos com os polegares. Percebeu que o peito da
garota subia e descia rapidamente, revelando sua agitação. Sorrindo, tomou
seus lábios rosados, beijando-a profundamente, ardentemente, loucamente.
Ele sabia exatamente o que faria com ela naquela noite. Ficaria louco
com aquilo, mas não planejava tomá-la ainda, queria apenas que ela
descobrisse o que era ter prazer.
Conduziu-a até a cama e, antes de pedir para Cătălina se deitar, soltou
o fecho de seu sutiã, deixando-o deslizar pelos ombros. Inconscientemente,
ela colocou os braços na frente do corpo e ele sorriu.
— Não tenha vergonha de mim, Nina. Porque seu corpo agora é meu
e vou fazer dele o meu playground. — Sua voz era baixa e sedutora.
Cătălina sentiu um choque eletrizante com aquelas palavras.
Delicadamente Luca segurou em seus braços e os abaixou, revelando
um delicioso par de seios arredondados, arrebitados e com aréolas rosadas.
Os bicos enrijecidos o convidavam para chupá-los.
Excitado com aquela visão, deitou-a na cama e passou a beijá-la, na
boca, no pescoço, na curva superior dos seios. Passou a língua no vale entre
eles e se deslocou para o lado, até encontrar o mamilo.
Uma explosão de sensações, foi o que Cătălina sentiu quando ele
lambeu o bico de um de seus seios. Céus! Ainda não acreditava que estava na
cama com um homem lindo e cheiroso daqueles. E esse homem estava com a
boca em seu mamilo, chupando, lambendo-o, provocando-lhe arrepios e
choques elétricos por todo o seu corpo. Seu sexo pulsava loucamente,
pedindo para ser tocado.
Luca passou para o outro seio e ela fechou os olhos, entrelaçando os
dedos em seus cabelos. Que sensação gostosa, a boca quente dele brincando
com seu bico, mordiscando-o de leve, abocanhando-o inteiro e o sugando.
Então, ele levantou a cabeça e se afastou um pouco, sentando-se
sobre os calcanhares. Sua respiração era carregada e ele percorreu os olhos
pelo corpo dela, sedento. Com um sorriso, desceu o zíper na lateral da saia e,
usando as duas mãos, começou a puxar e a retirá-la pelas pernas. Logo o sexo
desnudo de Cătălina ficou visível e ela mordeu os lábios, ansiosa.
Luca babou com aquela visão. Os pelos pubianos da moça eram ralos
e claros, os lábios delicados e, no meio deles, um pequeno botão rosado
despontava, lindo... Caralho! Que visão! Que delícia! Que mulher!
Jogou a saia para o lado e levou seus dedos aos pelos, alisando-os,
sem tirar os olhos daquele sexo maravilhoso. Escorregou o polegar mais para
baixo e a sentiu úmida, quente, excitada. Seu pequeno monte já estava
intumescido e pedia para ser provado.
Cătălina quase morreu quando sentiu o toque de Luca em sua vulva.
Se a boca do médico em seus seios já havia lhe provocado choques, agora ela
teria um ataque cardíaco. Seu corpo todo vibrava e pulsava. Os dedos dele
escorregando por suas dobras e passando sobre aquele ponto... Agarrou os
lençóis, o que era aquilo? Como podia ser tão sensível ao toque? Não
conseguiu segurar um gemido, fazendo Luca sorrir.
— Gosta assim, Nina? — perguntou fazendo pequenos círculos em
torno do clitóris. — Está tão molhada...
Um abafado “uhum” e a visão de pequenos estremecimentos do corpo
dela foi o que ele recebeu de resposta.
— Você é muito gostosa... — ele continuou. — Eu quero te
experimentar, Nina. Me deixe te provar... Abra suas pernas para mim.
Cătălina congelou. Não conseguiria fazer aquilo, abrir as pernas, era
muito constrangedor...
— Você... você não vai tirar as suas roupas? — perguntou ela com a
voz sumida e com o coração quase saltando pela boca.
— Quer que eu tire? — Ele escorregou o dedo para a entrada dela,
fazendo-a levar a mão à boca e segurar outro gemido.
Luca sorriu e afastou sua mão, levantando-se e deixando as partes
íntimas da garota em puro fogo.
Ele a encarou com divertimento enquanto desabotoava e retirava sua
camisa. Cătălina o observava enquanto sentia seu corpo amolecido e sensível.
Ela o queria de novo lá, tocando-a. Estava tão bom, e ela queria mais.
O médico retirou as calças e ficou apenas de cueca, uma boxer branca
que deixava plenamente visível o volume cilíndrico por baixo do tecido.
Cătălina ergueu as duas sobrancelhas, não imaginava que fosse tão grande...
O membro duro e grosso estava para o lado e projetava-se um pouco para
frente, como se quisesse sair dali. Se estivesse para cima, certamente parte
dele estaria para fora da cueca.
Luca se aproximou novamente sorrindo.
— Está gostando do que vê? — perguntou, deitando-se sobre ela e
lhe beijando o pescoço.
Cătălina sorriu e concordou com a cabeça.
— Não vai tirar? A cueca? — quis saber ela, sentindo-se atrevida.
Ele riu.
— Hoje não. Essa noite será só para você, para o seu prazer... — Ele
mordiscou a orelha dela. — Segunda lição, moça: primeiro precisa aprender a
receber o prazer, depois a dar. Abra suas pernas... — sussurrou.
Com muito custo e uma imensa vergonha, ela afastou as coxas e ele
se encaixou entre suas pernas tocando sua vulva com o pau duro coberto pela
boxer. Ele passou a movimentar o quadril, pressionando-se e esfregando-se
contra ela, enquanto a olhava nos olhos e sorria. Um sorriso sem vergonha.
Cătălina sorriu também e começou a desejar imensamente que ele tirasse logo
aquela cueca. A pressão que Luca fazia em seu sexo, movimentando-se sobre
ele, estava a deixando louca de desejo.
Após lhe dar mais um selinho, Luca desceu, depositando beijos pelo
seu colo, seios, ventre, até chegar em suas partes pulsantes. Cătălina cobriu
novamente a boca com as mãos quando sentiu a ponta do nariz dele roçar
seus pelos pubianos. Então, veio a língua, quente e úmida, e o choque do
contato dela com seu ponto sensível a fez se contorcer e abafar um gemido.
— Tire as mãos da boca, Nina. Quero escutar seus gemidos. Me
deixe saber o quanto está gostando... — pediu ele, antes de voltar a mergulhar
a língua entre as dobras da garota.
Cătălina fez o que ele pediu. Tirou as mãos da boca e as entrelaçou
aos lençóis, agarrando-os. Seu corpo parecia ter vida própria. A cada toque,
lambida e chupada, ele se retesava, se contraia e pedia por mais... Sem se
conter, ela gemeu alto, deixando-se levar pelas sensações, e sentiu que estava
chegando ao ponto de explodir.
— Luca... — murmurou e, em seguida, uma onda de espasmos tomou
conta de seu corpo. Era como ir até as estrelas e voltar.
O vampiro introduziu a língua na entrada da garota enquanto ela
gozava, sentindo as contrações musculares de seu sexo e se deliciando com o
seu gosto.
Assim que ela relaxou, ele se ergueu e se deitou ao lado dela,
apoiando-se no antebraço para observá-la com admiração. Nina mantinha os
olhos fechados e parecia exausta. Então, uma lágrima escorreu pela sua face.
Luca se surpreendeu com aquilo, preocupando-se.
— Ei... — disse ele suavemente, tocando-lhe o rosto e limpando a
lágrima. — Nina... Tudo bem?
Ela fez que sim com a cabeça.
— Por que está chorando?
Cătălina virou o rosto para ele e sorriu.
— Porque o meu coração parece que não cabe mais no meu peito...
— Outra lágrima rolou. — Eu nunca pensei que pudesse me sentir assim... eu
não imaginava que era assim...
— O quê? O orgasmo? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Nunca
tinha gozado antes, Nina?
Ela balançou negativamente a cabeça.
— Nem sozinha? Nunca se tocou?
— Não... eu... nunca...
Luca a enlaçou e a puxou para perto de si, acomodando-a sobre seu
peito. Delicadamente, levantou-lhe o queixo e a beijou com ternura.
— Tem muito o que aprender ainda, minha linda... — disse com um
sorriso ao deixar seus lábios. — Mas... por ora, precisamos colocar algo no
estômago. O Sr. Pop já deve estar com coceira no rabo de vontade de nos
chamar.
— É... ele não apareceu...
— Eu o proibi de subir aqui hoje. — O médico riu.
— Luca... — Cătălina o olhou com dúvida.
— Diga.
— E você?
— O que tem eu? — Ele franziu o cenho.
— Você não... hum... você sabe... — Ela corou.
Luca riu novamente.
— Não gozei? — Ele deu-lhe outro selinho. — É... não, mas como eu
disse, hoje a noite seria sua...
— Mas você não está com vontade?
Ele suspirou.
— Estou louco de vontade. Você não tem ideia do tamanho da minha
vontade.
— E por que não continuou? — Ela mordeu o lábio inferior. — Eu...
também quero ver você sentir prazer — disse com um sorriso envergonhado.
— Quer é? — Os olhos de Luca brilharam de divertimento.
Ela concordou e ele refletiu por um momento, sorrindo em seguida.
— Muito bem. Então sente-se e aprecie — falou o vampiro ao
deslocá-la para o lado; levantando-se, em seguida, da cama.
Cătălina arregalou os olhos e se sentou enquanto Luca caminhava até
o meio do quarto. O que ele ia fazer?
L uca atravessou o quarto, pegou uma das cadeiras que Cătălina usava
para se sentar e fazer suas refeições e a colocou de frente para a cama,
a pouco mais de dois metros de onde a moça estava sentada.
Deliciosamente nua, ela o olhava com curiosidade.
Com um sorriso malicioso no rosto, o vampiro se colocou em pé em
frente à cadeira e levou a mão ao seu membro duro por cima da boxer.
— Você já viu um pênis antes, Nina? — disse ele se acariciando.
Cătălina o olhava de queixo caído. Seu ponto sensível pulsava quente
e, sentada com as pernas juntas para o mesmo lado, ela pressionou suas coxas
tentando aliviar a sensação.
— Não... — respondeu. — Só nos livros...
— Sei... nos livros de ciências... — Ele continuava a se acariciar, ora
agarrando seu membro e pressionando, ora deslizando a mão em sua
extensão. — Não viu nem na internet?
— Eu nunca tive celular e internet só podia usar na escola, e... —
Cătălina olhava para os movimentos da mão do médico como que
hipnotizada. — Não vi...
Luca sorriu.
— Quer ver, Nina? Quer que eu tire a minha cueca?
— Quero... — A voz dela saiu quase em um sussurro.
O vampiro colocou os polegares nas laterais da boxer e baixou
somente o suficiente para o seu membro rijo pular para fora.
Os olhos de Cătălina aumentaram ainda mais ao ver, pela primeira
vez, o sexo de um homem: grande, grosso, duro e com algumas veias
salientes. Ela tinha certeza de que ele era maior do que sua mão aberta.
Luca observava com luxúria a garota de olhos fixos em seu pau. Ela
podia não estar fazendo nada, mas só o fato de ela estar presente, observando,
já o deixava louco. Terminou de puxar a cueca e passou novamente a mão na
extensão de sua ereção, agora livre do tecido. Chegou à cabeça e deslizou o
dedo sobre ela, espalhando o líquido transparente que saía do membro.
— Está gostando do que vê? — perguntou com a voz grave.
Cătălina concordou com a cabeça. Ela estava gostando muito do que
via, mas só de imaginar que algo daquele tamanho podia entrar dentro de...
Arrepiou-se. Aquilo lhe causava certo receio ao mesmo tempo que a excitava.
Logo ele estaria dentro dela. Céus! Não ia caber... ou ia? Suas coxas já
estavam quase com câimbra de tanto que as apertava uma contra a outra. Ela
queria se tocar, ou melhor, queria que ele a tocasse novamente, queria que ele
a tocasse com seu membro ereto e rijo.
Luca sentou-se na cadeira e, sem tirar os olhos dela, passou a
movimentar sua mão para cima e para baixo, masturbando-se em um ritmo
cadenciado e excitante.
Ela não conseguia tirar os olhos dele e uma vontade louca de colocar
a mão ali também começou a tomar conta dela.
— Luca... — falou Cătălina, sentindo-se quase babar com aquela
visão. — Vem para cá — pediu. — Quero... quero tocar você.
Ele sorriu.
— Hoje não, pequena... — respondeu sem parar o movimento. — Eu
disse que hoje você iria apenas aprender a sentir...
— Eu já aprendi! — retrucou ela. — Agora eu quero tocar você, por
favor...
— Não — disse ele com um sorriso.
Cătălina estreitou levemente os olhos e, em um impulso, levantou-se
da cama e se pôs de joelhos entre as pernas de Luca, surpreendendo-o.
Ele parou de mover a mão e ela olhou diretamente para o seu pau.
Caralho! A garota estava próxima demais. Com o coração mais acelerado,
Luca a viu estender a mão e, delicadamente, tocar sua glande com os dedos.
Fechou os olhos e retirou a própria mão. Puta merda! Que tesão! Mas
não era aquilo que ele tinha programado. Naquela noite, ele só queria fazê-la
gozar. Sua intenção era introduzi-la nos prazeres do sexo aos poucos.
Contudo, do jeito que a coisa estava indo, ele não sabia se resistiria. Ele
queria muito possuí-la naquele momento.
Cătălina continuou tocando a glande, sentindo o líquido brilhante e
escorregadio na ponta de seus dedos. Estava fascinada. Deslizou sua mão
mais para baixo, acariciando-o e chegando na base. Tocou os testículos e
voltou para o pau. Seu corpo todo parecia em combustão e uma vontade
quase incontrolável de experimentá-lo a acometeu. Espantou-se consigo
mesma. Era normal aquilo? Ter aquele tipo de vontade? Lembrou-se de Luca
chupando seu sexo. Sim... devia ser normal.
Então, em um ato totalmente espontâneo, ela aproximou sua boca e
lambeu a cabeça do pau de Luca como se estivesse lambendo um sorvete.
— Caralho, Nina! — Se ele não estivesse sentado, certamente teria
dado um pulo.
O toque da língua da garota em seu membro foi totalmente
inesperado e enlouquecedor. Ficou paralisado ao ver a garota deslizar a
língua pelo seu pau de forma tímida e inexperiente, mas deliciosamente
inebriante.
Ele queria que ela o abocanhasse, mas Cătălina apenas passava a
língua e depositava uns beijos na glande. Desse jeito ele iria enlouquecer, era
sério!
O vampiro sabia que ela não tinha a menor ideia do que estava
fazendo, mas certamente aquele não era o momento para lhe ensinar como
lhe dar prazer com a boca. Isso ficaria para depois, porque ele não estava
mais se aguentando.
Segurou delicadamente a cabeça da garota entre as mãos e a fez olhá-
lo.
— Sua língua é maravilhosa, Nina. Está me deixando louco, mas eu
quero que pare agora. Outro dia eu te ensinarei a como me fazer gozar com a
boca. Agora eu quero gozar dentro de você...
Cătălina abriu a boca, surpresa, enquanto Luca a fazia se levantar e a
conduzia de volta para a cama.
— Vai ter aula dupla hoje — brincou ele, fazendo-a se deitar. Logo,
acomodou-se por cima dela. — Lição número três: entregue-se sem medo,
não pense, apenas sinta... — sussurrou em seu ouvido e desceu seus lábios
pelo pescoço da garota, depositando beijos suaves.
Luca voltou a abocanhar e chupar os mamilos de Cătălina,
arrancando dela suspiros e pequenos gemidos. Enquanto brincava com um
dos bicos, desceu uma de suas mãos até o sexo quente e úmido da garota.
Molhada, muito molhada! Escorregou seu dedo até a pequena entrada e
introduziu apenas a ponta. Ela gemeu e tensionou seus músculos. Com um
sorriso, ele deslocou o dedo mais para cima e passou a contornar o clitóris.
Podia senti-lo mais durinho, excitado, delicioso.
— Luca... — ela gemeu. Ela queria sentir aquilo de novo, aquela
sensação magnífica.
— Você me quer, Nina?
— Quero...
— Quer meu pau dentro de você? — Ele lambeu novamente o
mamilo rosado.
— Uhum...
— Confia em mim?
— Confio... por favor, eu quero... — Cătălina agarrou seus cabelos.
Luca sorriu e ergueu sua cabeça, voltando a lhe tomar os lábios
carnudos.
— Nina... precisa saber que você pode sentir dor na primeira vez... —
alertou ele, olhando-a nos olhos sem parar de acariciar seu ponto de prazer.
Cătălina já estava quase chegando ao ápice novamente.
— Eu sei... — disse com a respiração curta. — Já ouvi dizer...
A sensação estava vindo, ela ia gozar de novo.
— Luca...
— Não vai gozar ainda — falou ele ao retirar seus dedos do clitóris
dela, deixando-a com o desejo à flor da pele.
Um murmúrio de frustração escapou dos lábios da garota e ele sorriu.
— Shhh... Confie em mim e sinta, Nina... apenas sinta... — falou
afastando as pernas dela com as suas e se encaixando entre elas. — Sinta meu
pau... — Começou a passá-lo sobre sua vulva, arrancando-lhe mais gemidos.
Cătălina se agarrava às costas de Luca e, de olhos fechados, sentia a
pele macia do membro dele deslizar por cima de seu clitóris já hipersensível.
Ela o queria, o desejava, mas não conseguia evitar a ansiedade. Não era
exatamente por medo da dor, era um pouco de medo do desconhecido. Ele
iria penetrá-la, estava tão próximo daquele momento.
O pau do médico deslizava suavemente para cima e para baixo,
voltando a deixá-la próxima ao ponto de gozar. Mais uma vez ela se frustrou
quando ele deslocou seu membro, retirando-o de cima do seu botão do
prazer. Contudo, um friozinho passou por seu estômago quando ele encaixou
a cabeça redonda e macia em sua entrada. Era agora... ele ia possuí-la agora...
Prendeu a respiração.
— Vou te comer, Nina... Vou te fazer minha, vou te preencher
inteira... — ele disse em seu ouvido e voltou para a boca, tomando-a em um
beijo voraz.
Enquanto a língua de Luca invadia sua boca, Cătălina sentiu o pau
dele começar a entrar dentro de si. Devagar, ele foi abrindo caminho. De
início colocou só a glande e deixou ela se acostumar com a sensação. Como
se estivesse brincando, ele retirava e colocava apenas a cabeça.
— Gostosa — murmurou o vampiro. — Está me deixando louco.
Cătălina sentia uma certa ardência, como uma leve pinicada em sua
entrada. O membro de Luca era grosso, não era como o dedo que ele havia
colocado antes. Mas ela queria mais, não queria que ele parasse, queria-o
todo. Então, moveu seu quadril contra ele, fazendo-o entrar mais um pouco.
— Ahhh, Nina... — ele gemeu.
Aproveitando-se da iniciativa da garota, Luca se enterrou um pouco
mais fundo nela, lentamente, até sentir a leve resistência do hímen. Então,
olhou-a nos olhos e forçou a passagem. Ela soltou um pequeno grito abafado
e ele parou, deixando seu pau se acomodar dentro dela. A respiração da
garota era rápida e ele lhe deu um pequeno beijo nos lábios.
— Tudo bem? Está doendo muito? — perguntou.
Ela balançou a cabeça negativamente.
— Doeu, mas foi só uma fisgada, já passou...
— Se quiser que eu pare...
— Não... não quero. Continue...
Luca sorriu e a penetrou um pouco mais. Era um pouco estressante
tirar a virgindade de uma garota, tinha medo de machucá-la. Mas só o fato de
tê-la em seus braços, de poder estar dentro dela, sentir sua cavidade quente
engolindo seu pau, era o bastante. Ah... ele não ia demorar muito para gozar.
Aos poucos, começou a se mover sobre Cătălina. O vai e vem era
suave e lento, e seu membro já estava quase todo dentro. Ele sabia que
aquelas investidas iniciais não eram exatamente prazerosas para ela. Podia
demorar um pouco até que o corpo dela se acostumasse com a invasão e
conseguisse desfrutar das sensações.
Ele sabia também que, por conta disso, Nina não iria gozar só com a
penetração. Ela precisava de estímulo no local certo, em seu ponto de prazer.
Ergueu seu tronco alguns centímetros, apoiando-se em um dos
antebraços e deslizou a outra mão entre seus corpos, tocando delicadamente o
clitóris dela. Aproveitou para contemplar as expressões da garota enquanto a
acariciava e a penetrava. Ela mordia o lábio inferior, sorria e soltava
pequenos gemidos. Percebeu o corpo dela se contrair enquanto ela fechava os
olhos. O gozo estava chegando para Nina e, desta vez, ele não iria parar de
estimulá-la.
Continuou a estocando gentilmente e rodeando seu clitóris com o
dedo até que o clímax chegou e ela gemeu alto. As paredes internas da garota
se contraíram em espasmos e ela apertou seu pau dentro de si. Caralho, que
delícia era vê-la entregue daquela forma!
Ela relaxou sob o seu corpo e ele voltou a se inclinar sobre ela,
dando-lhe um beijo nos lábios.
— Nina...
— Hum? — respondeu ela preguiçosamente.
— Vou te foder gostoso agora. Eu preciso, Nina...
Ela sorriu.
— Pode foder... Eu quero te ver gozar também.
Luca tomou-lhe a boca com outro beijo e voltou a fazer investidas,
aumentando o ritmo das estocadas. Penetrava-a fundo e ele logo começou a
sentir a pressão em seu sexo aumentar.
Nina se agarrou a ele enquanto gemia sob seus lábios. O pau de Luca
a preenchia totalmente agora e ela não sentia mais dor, era algo diferente,
algo profundo. A respiração do rapaz era pesada. Ele deixou sua boca e
fechou os olhos para soltar pequenos gemidos.
Ver o belo médico se movimentar sobre si era excitante e
maravilhoso, pequenas gotículas de suor começaram a brilhar na testa de
Luca enquanto ele parecia se concentrar no que estava fazendo. Seu ritmo
agora era frenético; sua expressão, de arrebatamento.
Luca gemeu alto ao chegar ao seu limite. Apertando-a mais contra si,
liberou seu prazer dentro de Nina, preenchendo-a com seu sêmen. Puta
merda! Que gozo gostoso! Quando os espasmos pararam, ele a beijou e se
desencaixou do corpo da bela garota, deitando-se ao seu lado. Então,
abraçou-a e enfiou o nariz em seus cabelos.
Por vários minutos continuaram assim, descansando em silêncio,
apenas abraçados. Luca podia sentir o cheiro do sangue dela, o sangue do
rompimento do hímen misturado ao seu próprio cheiro. Sorriu com aquilo.
Ela era dele.
Felizmente, ele não podia engravidar humanas. Só não sabia ainda
que desculpa daria a ela por não terem usado preservativo.
— Nina... — ele chamou, passando os dedos pelos cabelos dela. —
Doeu muito?
— Só um pouco no começo. Depois passou...
Luca aproximou os lábios da testa de Cătălina, depositando um beijo
terno.
— Você não costuma usar camisinha? — perguntou ela.
— Uso, só não esperava que ia precisar de uma hoje... Eu planejava
fazer isso mais para frente com você... — Ele sorriu. — Está com medo de
engravidar ou de eu te passar alguma doença?
— Você é médico. Não acho que seria tão irresponsável de me passar
uma doença, mas devia se preocupar mais em não fazer filhos por aí...
Luca riu.
— Garanto que não tenho nenhum filho por aí.
— Não vou engravidar... — Cătălina passou os dedos levemente pelo
peito torneado dele. — Prestei atenção nas aulas de biologia. Sou bastante
regulada e minha menstruação deve vir em 5 ou 6 dias, sei que não estou
mais no período fértil.
— Hum... okay, então. Assim ficamos mais tranquilos. — Luca
deslizou a mão pelo corpo dela até chegar à bunda e lhe apertou, fazendo-a se
contrair e rir. — Vamos comer algo?
Ela concordou e ambos saíram do quarto e desceram as escadas nus,
levando as roupas nas mãos até o banheiro do andar de baixo a fim de se
lavarem.
— Precisamos nos lembrar de fazer isso em um quarto com banheiro
na próxima vez. — Luca riu ao fechar a porta.
— Com certeza — respondeu Cătălina com o coração acelerado. —
Não seria nada agradável se o Sr. Pop nos pegasse pelados por aí. — Ela riu
também.
Ambos tomaram um banho rápido cheio de beijos e amassos e depois
seguiram para o salão de refeições.
Cătălina descia as escadas leve como uma pluma. Sentia-se plena e
feliz. Estava no castelo há pouco mais de duas semanas e mal acreditava que
havia entregado seu corpo e sua virgindade para aquele médico lindo que
conhecera há tão pouco tempo. Mas aquilo não lhe incomodava. O
importante é que havia gostado e desejava muito poder repetir aquilo
novamente.
Ao se sentarem, olhou para Luca, que lhe sorria. Não conseguiu
deixar de se lembrar dele nu à sua frente. Que corpo lindo ele tinha, e ele foi
tão gentil, carinhoso, cuidadoso, viril, sexy, tudo de bom... Sentia-se uma
sortuda e sorriu também.
No entanto, não conseguiu evitar de pensar em outra coisa: em breve
Luca ficaria noivo. Embora fosse um noivado bem estranho, aquilo também a
fazia se lembrar de que ele não poderia ser dela. Um aperto passou pelo seu
peito.
Não! Não podia se sentir assim. Ela sabia, desde o princípio, que dele
só teria sexo passageiro. Logo ela iria embora e certamente eles não se
veriam mais. Suspirou disfarçadamente. Não queria demonstrar o que sentia.
O que ela precisava era parar de pensar no futuro e aproveitar o presente,
porque era no presente que Luca se encaixava em sua vida. Se era para durar
pouco, que fosse bem aproveitado.
Ao final do jantar, o mordomo se aproximou de Luca e pediu licença.
— Sr. Luca, O Sr. Constantin pediu para lhe avisar que o espera no
escritório.
— Obrigado, Sr. Popescu. Já irei.
Luca acompanhou Cătălina até o quarto, deu-lhe mais alguns beijos e
voltou a descer para se encontrar com o pai. Ele até sabia qual seria o
assunto: a cerimônia de batismo que ocorreria no solstício de inverno em três
dias.
Grigore Constantin tomava vinho em sua mesa no escritório quando o
filho mais novo entrou.
— Boa noite, pai — disse Luca, sentando-se. — Por acaso quer falar
sobre a cerimônia?
— Sim, só queria lhe dizer que já está tudo organizado. Você
apadrinhará Irina, Jaime e Olívia. Eu apadrinharei os outros.
— E Victor?
— Desta vez seu irmão pediu para não participar. Ele vai pegar uns
dias de folga e viajar com a mulher para algum lugar por aí — falou Grigore
aborrecido. — Escute, sei que a garota humana tem tido mais liberdade de
andar pelo castelo, ainda mais com Mirela a ensinando a costurar, mas se
certifique de que ela não sairá do quarto na noite do solstício.
Luca ergueu uma sobrancelha.
— Quer que eu a tranque no quarto?
— Faça como achar melhor.
O jovem médico suspirou, ainda precisava pensar no que iria fazer.
A pós a conversa com o pai, Luca decidiu ir direto para o seu próprio
quarto, pois se fosse até Nina, seria capaz de tomá-la de novo
naquela noite. Contudo, achou melhor deixá-la se recuperar um
pouco primeiro; afinal, havia sido a primeira vez da garota e ela
provavelmente estava dolorida e sensível em suas partes íntimas.
O jovem vampiro dormiu com um sorriso no rosto e acordou
animado no dia seguinte. Como era sua folga no hospital, resolveu chamar
Cătălina para tomar café com ele. Não tinha conseguido tirar a moça da
cabeça enquanto esteve acordado e estava com uma vontade enorme de vê-la.
Se pudesse, passaria o dia com ela na cama... Talvez fizesse isso. Por
que não? Bateu na porta do quarto.
— Bom dia — disse quando ela abriu. — Toma café comigo?
Cătălina sorriu concordando e ambos desceram para a sala de
refeições. Luca não conseguia parar de olhá-la, de admirá-la. Ele a queria,
queria para ele, queria tê-la como jamais quis nenhuma outra mulher.
Estranhamente, queria que o tempo parasse e que ela não precisasse ir
embora. Aquilo o assustava, mas estava convencido de que quando ela
realmente se fosse, ele acabaria se conformando.
Estavam no meio da refeição quando Sebastian chegou da cidade
com cara de cansado.
— Oi para vocês — disse, sentando-se à frente de Cătălina — Como
vai, princesa?
— Tudo bem. — Ela sorriu.
Luca fechou o semblante e mordeu um pedaço de pão. Ele gostava de
Bass, só não gostava de vê-lo perto de Nina.
— Está chegando agora do hospital? — perguntou.
— Sim, dobrei meu turno. — Bass pegou um pedaço de torta,
enquanto seu chá era servido por uma das moças que trabalhavam no castelo.
Luca reconheceu a mulher que vira na cama do amigo outro dia e
Cătălina reparou que se tratava da mesma moça que havia lhes servido o chá
no dia anterior. Desta vez a garota deslizou levemente os dedos pelo braço de
Sebastian antes de sair, arrancando um sorriso dele.
Bass percebeu que era alvo dos olhares de ambos e gargalhou.
— O que foi? Não tenho culpa que elas gostam de mim...
— Deixa o meu pai saber que você anda comendo as empregadas do
castelo que você vai encontrar a porta de saída logo, logo...
O médico loiro riu novamente.
— O que eu posso fazer? Eu preferia estar me esbaldando em outro
prato. — Olhou para Cătălina divertido. — Mas você me proibiu...
Luca estreitou os olhos.
— Cala a boca, Bass! — rosnou.
Sebastian pegou um morango da bandeja de frutas sobre a mesa e,
com um olhar malicioso, passou a língua nele antes de enfiá-lo na boca.
Cătălina riu. O rapaz era mesmo um pervertido, mas era engraçado.
— Hum... — começou a dizer ele, ainda engolindo o morango. — Eu
achei que essa cidade era do tipo tranquila...
— Costuma ser... Por quê? Aconteceu alguma coisa? — indagou
Luca.
— Encontraram o corpo de uma mulher em um riacho ontem, depois
que você foi embora. Já estava em estado avançado de decomposição.
— Nossa! — exclamou Cătălina. — Que horror, foi em Brezoi isso?
— Perto, uns cinco quilômetros do hospital. Ela estava em uma área
de mato denso, na beirada da água e presa em uns arbustos. Estava escondida
pelo matagal, por isso demoraram para encontrar. O legista calculou que ela
morreu há uns 15 dias ou um pouco mais, mas o corpo foi levado para Sibiu
para autopsia porque aqui não havia condições, dado o estado. Pode ter sido
homicídio.
— Não tinha identificação? — quis saber Luca.
— Tinha sim; se alguém fez isso com ela, foi burro o suficiente para
não dar um sumiço no documento.
— E quem era? — perguntou Cătălina, preocupada, já que ela
conhecia praticamente todo mundo naquela cidade.
— Eleanor “alguma coisa”, sou ruim para guardar nomes, Petrov,
Petrus, algo assim...
Cătălina se engasgou com o chá que estava tomando e tossiu,
inclinando o corpo para o lado. Eleanor... Eleanor era a sua mãe! Não era
possível aquilo, devia ser um engano. Sua mãe... sua mãe tinha fugido com o
amante. Não podia ser ela, não podia... Mas só existia ela de Eleanor na
cidade, e certamente o sobrenome que Bass não lembrava era Petran.
Luca levantou-se imediatamente da cadeira e se colocou ao lado dela,
apoiando-a enquanto ela ainda se recuperava do engasgo.
Quando Cătălina ergueu o rosto, seu semblante era de choque.
— Luca... É a minha mãe...
O médico a abraçou e olhou para Bass que também estava sério e
havia parado de comer.
Ainda naquela manhã, os três foram para Sibiu. Ainda amortecida
com a notícia, Cătălina reconheceu as roupas da mãe e o colar que ela usava.
Era difícil de acreditar que aquele corpo era mesmo de sua mãe.
Mesmo não sendo apegada a ela e, por muitas vezes, chegando a
odiá-la, Eleanor era sua única família e jamais esperaria que ela fosse morrer
assim.
Quis chorar, ou pelo menos pensava que deveria chorar, mas as
lágrimas não vieram. Por que não conseguia chorar?
— Foi ele... tenho certeza... — murmurou ela envolvida pelos braços
de Luca enquanto aguardavam um oficial da polícia aparecer para tomar o
seu depoimento. — Foi Nicolae...
— Seu padrasto? — perguntou Bass, lembrando-se do que a garota
contara sobre ele.
Ela confirmou com a cabeça.
— Nina, você precisa contar à polícia sobre o que acontecia na sua
casa — falou Luca. — Esse homem, se foi ele quem fez isso, precisa ser
preso.
— Devia ter morrido — disse Bass com um brilho raivoso no olhar.
— Um escroto desses não merece viver.
Luca o olhou com um ar de interrogação.
— O que sabe sobre Nicolae? — perguntou.
— Ah... só o que Nina me contou. Sujeito asqueroso, nojento...
— Hum... contou, é? Quando?
Bass suspirou pesadamente.
— Tomamos um chá ontem à tarde e conversamos. Não seja
ciumento, Luca... — retrucou.
Cătălina, perdida em pensamentos, praticamente não escutou o que os
dois rapazes estavam dizendo. Sua mãe... No fim, ela não tinha fugido, não a
havia abandonado, como pensara antes.
Ainda assim... não acreditava que sentiria falta dela, e esse
pensamento a fazia se sentir culpada. E quanto a Nicolae? Estava prestes a
denunciá-lo. Será que eles a fariam se encontrar cara a cara com ele? Só de
pensar naquilo, estremecia.
Não demorou muito e dois policiais, um homem e uma mulher,
vieram conversar com ela. Levaram-na para uma sala e escutaram a sua
história, sobre o que acontecia na casa dela, a violência, as agressões...
Soube, então, por eles, que o padrasto já estava sendo procurado. Ao que
parecia, ele havia sumido da cidade logo que surgiu a notícia de que o corpo
de Eleanor havia sido encontrado, o que era bastante suspeito.
Assim que Cătălina finalizou seu depoimento com os oficiais, Luca
sugeriu que aproveitassem a ausência de Nicolae para passar na casa dela em
Brezoi.
O estado da casa era lastimável. A sujeira, a bagunça e o fedor de
comida estragada impregnavam o ambiente. Além disso, as lembranças que
aquele lugar traziam a Cătălina eram terríveis.
— Eu não quero ficar aqui... — falou ela para Luca. — Por favor,
não me deixe aqui, eu não quero voltar para cá. — Seus olhos lacrimejaram.
— Você não vai ficar aqui, Nina. Só precisamos pegar os seus
documentos e mais alguma coisa que queira.
— Não há nada aqui que eu queira... — falou, enquanto vasculhava a
casa em busca de sua bolsa. Encontrou-a largada em um canto e, felizmente,
seus documentos estavam lá.
Retornaram ao castelo quando já havia escurecido. Bass foi se trocar
para pegar um novo turno no hospital e Luca, após tomar um banho, dirigiu-
se ao quarto de Cătălina. Não a deixaria sozinha naquela noite.
Encontrou-a de camisola e cabelos molhados, sentada na cama e
abraçada ao travesseiro.
— Como está? — perguntou ele fazendo-lhe um carinho no rosto.
— Estou me sentindo uma pessoa muito má e horrível... — disse ela
tristemente.
— Por quê?
— Porque eu não consigo chorar pela minha mãe, eu não entendo...
Eu não sinto nada, Luca. Eu devia estar me sentindo triste, mas a única coisa
que eu sinto é um vazio. Que tipo de filha eu sou?
— O tipo de filha que foi negligenciada a vida inteira... — Ele
segurou as mãos de Cătălina entre as suas e as levou aos lábios, depositando
um beijo em cada uma. — Não se sinta mal com isso, Nina. Não podemos
forçar os sentimentos dentro de nós. Ela não cuidou de você como uma filha,
muito pelo contrário, te expôs a uma situação de risco. Essa falta de afeto te
endureceu, mas você não tem culpa. Somente o título de mãe não te obriga a
amá-la. Não espere colher algo de uma semente que não foi plantada.
Cătălina sorriu tristemente e se aproximou de Luca, encostando o
rosto em seu peito. Ele a abraçou.
— Obrigada, Luca. Por estar aqui, por ficar comigo e por me ajudar.
Eu não sei o que eu faria sem você... — Então as lágrimas vieram.
Lágrimas de dor pela vida que levara por tantos anos, lágrimas de
tristeza por não ter sido amada como uma filha, lágrimas de pena por sua mãe
ter sido uma mulher tão amargurada que nunca soube o que era amor de
verdade.
Luca se deitou ao lado de Cătălina e a trouxe para o seu peito,
acariciando seus cabelos e suas costas. Logo, ela dormiu e ele a observou
ressonar. Seu coração estava inquieto. Estava ficando muito claro para ele
que aquela garota lhe despertava sentimentos profundos.
Não era apenas desejo, atração ou empatia. Ele queria protegê-la,
mantê-la perto de si. Sentia necessidade de estar com ela, de fazê-la sorrir. E,
para o seu desespero, ele percebeu que não queria apenas possuir o corpo de
Cătălina, ele queria o seu coração. Aquela constatação o deixou preocupado.
O que estava acontecendo com ele?
Já era madrugada quando Luca acordou com Cătălina se mexendo na
cama e murmurando algo ininteligível.
— Nina... — chamou ele colocando uma mão em seu ombro.
Ela abriu os olhos assustada.
— Você estava tendo um sonho ruim — continuou ele.
— Sim, acho que sim... não me lembro.
O vampiro a abraçou e beijou seus cabelos.
Cătălina ficou por um tempo imóvel nos braços de Luca e, então,
elevou o rosto para fitá-lo.
— Me beija? — pediu.
Ele sorriu, não esperava aquele pedido. Suavemente, encostou os
lábios nos dela. Nina entreabriu a boca para recebê-lo. Sua língua a tomou e
ela soltou um pequeno gemido.
Não precisou mais do que isso para Luca sentir seu corpo reagir. Ele
a abraçou pela cintura e a trouxe para perto de si, entrelaçando suas pernas
com as dela. Ele queria sentir o contato do corpo da garota contra o seu.
Cătălina gostou do apertão que o médico lhe deu. Naquele momento,
ela sentia a necessidade de ser abraçada, tocada, amada. Mesmo que não
fosse realmente amor, era algo bom para ela ter aquele sentimento de carinho
e proteção. Ela sentia que estava precisando daquilo e se aconchegou ainda
mais junto a Luca.
A língua do rapaz em sua boca era tão gostosa que a fazia se arrepiar
inteira e a esquentava entre as pernas. Ela o queria de novo lá, possuindo-a. E
percebeu que ele também a queria, pois podia sentir a rigidez do membro de
Luca de encontro à sua púbis.
A mão do rapaz escorregou de sua cintura para suas nádegas e,
atrevidamente, ele a enfiou por baixo da camisola, alcançando a pele nua e
apertando sua carne.
Ela sorriu entre os beijos e ele se afastou para olhá-la.
— Quer fazer isso, Nina?
— Quero... — respondeu convicta.
Sim, ela queria, ela precisava... Ela não queria pensar no que havia
acontecido com a mãe, não queria pensar em Nicolae ou em seu futuro
incerto. Ela só queria estar nos braços daquele homem que lhe proporcionava
tantas sensações.
Luca se afastou um pouco e retirou a camisola da garota; em seguida,
tirou sua própria roupa, ficando totalmente nu. Então, acendeu um abajur ao
lado da cama.
Cătălina sorriu. O médico era definitivamente um deus grego. Que
corpo maravilhoso!
Ele veio por cima e começou a beijá-la no pescoço, no colo e chegou
aos seios desnudos. Com a língua, começou a brincar com eles, fazendo
voltas no bico. Então, abocanhou um mamilo e o sugou, em seguida passou
para o outro.
Cătălina soltava pequenos gemidos. As sensações que aqueles toques
úmidos em sua pele lhe traziam eram fantásticas e refletiam em seu sexo que
latejava de excitação.
Luca desceu deixando uma trilha de beijos em seu ventre e ao chegar
na calcinha depositou um beijo no local, bem no centro de seu sexo, fazendo-
a morder o lábio inferior.
Com um sorrisinho malicioso, ele começou a passar a língua por
cima do tecido e Cătălina sorriu sentindo choques percorrerem seu corpo.
Agarrou-se, então, aos lençóis.
— Luca... — gemeu.
— Tem ideia do quanto é gostosa? — ele passou outra vez a língua.
— Humm... — ela arfou.
— Quer minha língua dentro de você, Nina?
— Quero...
Ele afastou o tecido da calcinha para o lado e tocou seu clitóris com a
língua. Cătălina contraiu todos os seus músculos e inclinou a cabeça para
trás. Aquilo era uma loucura!
Luca passou a sugá-la delicadamente, sem pressa, e logo ela começou
a sentir aquela onda de sensações se intensificar, seus gemidos aumentaram e
o clímax chegou intenso, fazendo-a quase a gritar.
Com um sorriso, O vampiro a penetrou com a língua, a fim de sentir
os espasmos dela, aquilo era excitante.
Assim que ela relaxou, ele tirou-lhe a calcinha e voltou a beijá-la
voluptuosamente, enquanto se acomodava entre suas pernas.
— Ah, Nina. Você me dá tanto tesão...
Cătălina sentiu o membro de Luca penetrá-la lentamente. Ainda
estava um pouco dolorida do dia anterior, mas assim que ele começou a se
movimentar, as sensações de prazer encobriram qualquer incômodo.
Era tão bom senti-lo dentro dela, tomando-a, preenchendo-a.
Luca gemia enquanto a penetrava em um ritmo lento, como se
apreciasse cada centímetro daquela cavidade em que o seu pau entrava e saía.
Olhou-a com desejo.
— Quero fazer isso com você de tantas formas, se soubesse... —
falou.
— Me mostre, Luca... Me ensine... Quero te dar prazer tanto quanto
você me dá.
Ele sorriu e, com um movimento que a surpreendeu, virou-a,
deixando-a por cima.
Cătălina riu. O que ele estava pretendendo fazer? O pau dele ainda
estava dentro dela e naquela posição parecia chegar mais fundo.
— Mexa os quadris — ele disse, conduzindo o movimento com as
mãos.
Ela começou a subir e descer sobre a ereção de Luca e, assim que ela
pegou o jeito, ele deslocou uma de suas mãos para o seio, agarrando-o,
enquanto a outra foi para a vulva. Com o polegar, passou a lhe acariciar o
clitóris.
Cătălina inclinou o tronco para trás apoiando as mãos nas coxas de
Luca, enquanto continuava a engoli-lo. Aumentou o próprio ritmo na medida
que os estímulos do médico em seu ponto sensível a faziam chegar próxima
do ápice novamente.
— Nina... — Luca gemeu. — Vou gozar...
Ela sorriu e continuou subindo e descendo rapidamente, sentindo
também seu orgasmo se aproximar. Deliciou-se ao ver Luca fechar os olhos e
gemer, liberando seu sêmen apenas alguns segundos antes de seu próprio
prazer a arrebatar.
Cătălina deixou-se cair sobre o peito dele. Suor escorria por suas
costas e ela sentia que suas coxas iriam ficar doloridas no dia seguinte, mas
estava feliz.
Naquele momento, ao menos, ela pôde se esquecer da recente
tragédia que havia acometido sua vida e não se sentiu culpada por desfrutar
do aconchego dos braços de Luca e da sensação de proteção que ele lhe
oferecia. Era com ele que ela tinha tudo o que nunca teve a vida inteira:
carinho e afeição.
L uca queria ter ficado mais tempo com Cătălina na manhã seguinte,
mas precisava ir para o hospital e, para a sua tristeza, era dia de dobrar
o seu turno, o que significava que ele só voltaria no início da
madrugada.
Ou seja, não a veria mais naquele dia.
Deixou-a dormindo e voltou ao seu quarto para se trocar. Em
seguida, desceu para tomar seu café e, ao passar pela entrada, quase esbarrou
com alguns transformados que carregavam cadeiras para dentro do castelo.
A movimentação por ali costumava ficar atípica naquela época do
ano. Faltando um dia para o solstício, os preparativos para a festa que se
seguiria estavam a todo vapor.
O senhor do castelo costumava abrir as portas da fortaleza para os
amigos e familiares dos recém-convertidos nesse dia; assim, recebia-os em
seu salão para um banquete. Um evento muito esperado por eles, pois era a
única ocasião em que poderiam entrar no local.
Luca pegou o seu carro levemente preocupado. Ainda não tinha
falado com Nina sobre aquilo.
Era óbvio que não poderia falar do que se tratava o evento, mas com
toda aquela agitação seria impossível esconder da garota sobre a recepção
que ocorreria no castelo. Justamente porque os transformados que não
podiam participar do banquete costumavam fazer uma festa do lado de fora,
algo que certamente não passaria despercebido.
Estava apreensivo com o que falaria para Nina. Como explicar para a
garota que ela não poderia sair do quarto? Ainda não sabia o que iria lhe
dizer.
Ao chegar no hospital, encontrou Sebastian de saída.
— Cara! Estou morto! — disse o rapaz bocejando. — Acho que já
estou há umas 40 horas sem dormir.
— Imagino. Vai descansar.
— Como está a Nina?
— Deixei ela dormindo, não sei dizer como vai acordar.
— Vocês transaram?
— Como? — Luca arqueou uma sobrancelha.
— Transar, trepar, fazer sexo, foder, afogar o ganso. — Bass riu. —
Isso costuma ajudar a esquecer os problemas.
— Ah... Poupe-me de suas teorias, por favor — falou Luca, sentindo-
se desconfortável.
— Humm... mas vocês fizeram, não é? Sexo gostoso?
— Bass! Tchau! Vai dormir, eu tenho que trabalhar! — respondeu,
passando por ele.
Sebastian chegou ao castelo ansiando por uma cama mais do que
nunca. Sentia-se moído com a falta de sono. Antes de ir para o seu quarto, no
entanto, passou na cozinha para forrar o estômago.
Encontrou Anna atarefada com os preparativos para o almoço. A
cozinheira deu-lhe um olhar de soslaio e fechou o semblante.
— Madeleine não chegou ainda — disse, referindo-se à transformada
que ele andava levando para a cama.
O vampiro sorriu.
— Obrigado pelo aviso, dona Anna, mas no momento estou
interessado em comer outra coisa, de preferência algo que preencha o meu
estômago.
— Fique à vontade — resmungou a cozinheira apontando para um
balcão cheio de pães, queijos e outras guloseimas. Em seguida, bufou e
seguiu para a despensa.
Sebastian pegou um dos pães, recheou-o com queijo e salame, e
começou a comer em pé.
Alguns minutos depois, Irina apareceu carregando uma bandeja. Ela
olhou para os lados procurando pela mãe e, como não a viu, murmurou um
discreto “bom dia” e dirigiu-se à pia, mal olhando para o médico loiro.
Ele achou aquilo engraçado. A garota de cabelos e olhos castanhos
até que era bonita, pena que ainda era uma adolescente.
— Está vindo do quarto da Nina? — perguntou.
— Sim, senhor.
— Como ela está?
— A senhorita não quis falar muito hoje, mas não me parece
depressiva ou algo assim. Acho que ela já está conformada com a morte da
mãe.
— Hum... okay, melhor assim.
Sebastian franziu levemente o cenho. Pelo pouco que Nina havia lhe
contado, a mãe não era exatamente um bom exemplo de mãe e a ligação entre
elas não era muito forte. Lembrou-se do padrasto maldito. Ah, se o
encontrasse...
Inspirou fundo. Mais tarde procuraria Nina para tomar um chá, agora
precisava descansar.
Se a garota humana ainda o atraia? É claro que sim; contudo,
respeitava Luca o suficiente para não passar dos limites com ela. Por isso, seu
interesse em encontrá-la se mantinha apenas dentro do plano da conversa
amigável, para sua frustração.
Ao se encaminhar para as escadas, passou pelo salão principal do
castelo e viu Mirela organizando o local para a recepção dos convidados que
ocorreria após a cerimônia de batismo. Alguns transformados a ajudavam
montando extensas mesas nas quais os aldeões se acomodariam para o
banquete oferecido pelo senhor do castelo.
Se Mirela estava ali, certamente Nina não iria para o ateliê de costura
naquele dia. Pobre garota. Esperava mesmo que ela estivesse lidando bem
com a morte da mãe.
Subiu para o quarto, tomou um banho rápido e abriu o armário em
busca de seu estoque de sangue. Olhou para as duas embalagens que
restavam ali e uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. O que tinha não
daria até sua próxima data de retirada da cota. Suspirou. Aquilo não era
novidade... A cota nunca dava.
Pegou uma caixinha e ingeriu todo o conteúdo. Já fazia alguns meses
que precisava completar sua cota com sangue fresco ou passava mal. Não
queria encarar aquilo como dependência, pois não precisava de muito, uma
vez ao mês era o suficiente, ainda assim, era algo que ele não conseguia
evitar.
O vampiro tinha a consciência de que precisava voltar ao consumo
normal. Só não sabia como, pois quando a vontade de sangue vinha, ele
precisava se virar para arrumar ou começava a tremer e não conseguia fazer
mais nada. A sede era absurda.
Felizmente, não era tão difícil conseguir sangue fresco. Sempre havia
garotas dispostas a sair com desconhecidos e elas mal sabiam o que havia
ocorrido com elas durante a noite, ele sempre garantia que isso não
acontecesse.
Contudo, não poderia fazer aquilo em Brezoi, a cidade era um ovo de
tão pequena. Teria que ir para Sibiu em sua próxima folga.
Jogou-se na cama e dormiu quase que imediatamente. Acordou horas
depois, sonolento e ainda se sentindo cansado. Levantou-se e deu uma olhada
no relógio, já passava das 18h.
— Merda! — murmurou consigo mesmo.
Havia perdido o chá da tarde, mas ainda poderia jantar com Nina,
uma vez que não precisaria trabalhar naquela noite já que o plantão era de
Luca.
Mas como ainda era cedo e o jantar só começava a ser servido após
as 19h, decidiu correr um pouco na sala de ginástica. Pelo menos assim
poderia despertar um pouco, além disso, gostava do esforço físico, de suar e
de se manter em forma. Um corpo malhado sempre atraía a atenção das
garotas.
Luca dizia que ele era um pervertido. Talvez fosse mesmo. Gostava,
sim, de transar e, quanto mais louco fosse o sexo, melhor.
No entanto, às vezes se cansava daquilo e costumava se lembrar do
tempo em que seu coração tinha uma dona, quando ainda era só um
adolescente.
Infelizmente ela nunca o levara a sério, infelizmente o casamento
dela fora arranjado com outro...
Aquilo o revoltara tanto na época que nunca mais quis se envolver
com ninguém, odiava a palavra “compromisso” e achava que estava bem
assim. Exceto por certos momentos, nos quais sentia uma espécie de vazio
por dentro, como se tivesse um buraco esperando para ser preenchido.
Saiu da sala de ginástica pingando de suor e esbarrou com Popescu
ao subir as escadas das antigas masmorras.
— Boa noite, senhor Moldovan — falou o mordomo.
— Boa noite, senhor Popescu. Hoje eu gostaria de jantar com a
senhorita Cătălina. Poderia providenciar, por favor?
— Permita-me lembrar de que a senhorita Petran não está autorizada
a sair de seus aposentos até o dia seguinte ao solstício.
— Não? Hum... Por causa da cerimônia?
— Sim, senhor. Ordens do Sr. Constantin.
— Entendi. Farei minha refeição com ela no quarto, então.
O mordomo arqueou uma sobrancelha.
— A que horas devo mandar servi-lhes, senhor?
— Daqui a meia hora. Assim tenho tempo suficiente para tomar um
banho.
— Perfeitamente, senhor.
Sebastian subiu as escadas de dois em dois degraus, animado. Estava
mesmo precisando de uma boa conversa e de uma boa companhia.

Tédio! Essa era a palavra que descrevia o sentimento que incomodara


Cătălina durante toda a tarde.
A ideia de ter perdido a mãe já havia se consolidado dentro de si.
Sentia-se um pouco triste com isso, mas a tristeza era mais pelo que a mãe
poderia ter sofrido antes de morrer do que pela sua perda propriamente dita.
Não havia mais nada que pudesse fazer a não ser esperar pelo resultado da
autópsia e pelo enterro, que, ao que parecia, poderia demorar alguns dias.
Virou e se revirou na cama várias vezes. Não estava a fim de ler e
não tinha nada para fazer. Também não entendia aquela determinação do
senhor do castelo de ela não poder sair do quarto por dois dias seguidos. E o
pior, sem nenhuma explicação.
Foi Irina quem lhe deu o recado e recomendou fortemente que não
desobedecesse a ordem. Estava irritada e chateada com aquilo. Por que Luca
não lhe dissera nada, o que estava acontecendo, afinal?
Havia visto, pela janela, uma movimentação estranha de pessoas
entrando e saindo do castelo, carregando coisas como cadeiras e mesas...
Certamente algo estava ocorrendo e queria saber o que era. Pena que Luca
iria trabalhar até de madrugada. Quando ele chegasse ela provavelmente já
estaria dormindo...
Ainda deitada na cama e olhando para o teto, Cătălina sorriu com a
lembrança da noite anterior. Nunca imaginara que o sexo podia ser tão
gostoso. Ainda mais com um homem lindo daqueles.
Ela era uma garota de sorte... Ou não? Um sentimento de angústia se
formou em seu peito. Nem tanta sorte assim... o que ela estava vivendo era
passageiro, não podia se esquecer... Luca ficaria noivo em janeiro. E janeiro
estava tão perto... Faltava menos de três semanas para o tal noivado.
Ainda não entendia aquilo de casamento arranjado. Que coisa mais
retrógrada! Mesmo Luca tendo explicado, continuava achando um absurdo.
Como alguém podia se comprometer em um casamento sem saber se vai
conseguir amar a outra pessoa?
Será que após o noivado, Luca e a moça se conheceriam melhor e se
apaixonariam um pelo outro?
Aquele pensamento lhe causava um aperto no coração. Merda! Quem
estava se apaixonando era ela, mas não podia... Não por Luca... Ele estava
destinado a outra mulher.
Uma batida na porta a fez voltar de suas divagações. Levantou-se e
foi abrir, esperando encontrar Irina. Para sua surpresa era Sebastian quem
aguardava do outro lado.
— Bass?
— Oi, Nina! Posso te acompanhar durante o jantar? — perguntou ele
sorrindo.
— Aqui no quarto?
— Sim, já falei com Popescu. Se você permitir, é claro.
— Ah, sim, tudo bem, acho... — respondeu confusa, mas abrindo
passagem para Sebastian entrar. Ainda guardava as palavras de Luca sobre o
amigo ser um mulherengo, por isso não tinha muita certeza se deveria recebê-
lo sozinha em seu quarto.
Bass sorriu com a hesitação da moça. Tinha certeza de que Luca a
havia alertado contra ele, mas não estava lá para seduzi-la, afinal.
O vampiro deu uma olhada em volta e se sentou em uma poltrona,
aguardando que a garota fizesse o mesmo. Ele a observou se sentar
graciosamente, mas timidamente, na cama à sua frente. Vestida de forma
casual, com uma blusa de malha e calça legging, Nina cruzou as pernas e lhe
deu um sorriso breve.
— Como passou o dia? — perguntou Bass. — Você está bem?
— Sim, estou... — Ela deu de ombros. — Ainda não sei se vou sentir
falta da minha mãe. Só tenho pena do destino dela ter sido tão cruel.
— Sinto muito que tenha que passar por isso.
— Eu também, mas pelo menos não tive que enfrentar isso sozinha.
Aliás, obrigada por ter nos acompanhado ontem. Você deve ter ficado
cansado por não ter dormido.
— Tudo bem, já me recuperei — Bass respondeu com um sorriso.
— Me diz uma coisa... Você sabe o que está acontecendo no castelo?
Irina me disse que não posso sair do quarto até depois de amanhã. Eu queria
saber o porquê.
Sebastian refletiu por um momento. Saber ele sabia, só não tinha
ideia do que falar para ela.
— Luca não comentou nada?
— Não, nada. — Nina juntou levemente as sobrancelhas, contrariada.
— Ele deve ter se esquecido. Pelo que eu sei, o Sr. Constantin vai
receber convidados amanhã. Não se preocupe com isso.
— Não estou preocupada, estou frustrada e entediada... — Ela
suspirou. — Se já estou cansada de não fazer nada agora, imagina ficar mais
um dia inteiro aqui sozinha...
O vampiro pensou um pouco e sorriu.
— Depois do jantar eu te levo para passear — disse.
Nina arqueou as duas sobrancelhas.
— Mas o Sr. Constantin me proibiu...
— Ele não precisa saber. — Bass tinha um olhar divertido. Burlar
regras era com ele mesmo. — Não vamos descer, vamos subir.
— Subir?
— No telhado. Tem um terraço lá em cima. Vai estar frio, mas pelo
menos você poderá sair um pouco daqui.
Cătălina sorriu.
— Está certo... iremos, então.
Alguém bateu na porta e ela se levantou para atender. Eram Irina e
Madeleine, a auxiliar da cozinha, trazendo a refeição.
A filha de Anna entrou discretamente e, sem dizer nada, colocou a
bandeja sobre a mesinha próxima à janela e se virou para sair. Já a outra
garota fechou o semblante ao ver Bass. Colocou a bandeja na mesa também e
fuzilou Cătălina com o olhar antes de deixar o quarto e bater a porta.
O vampiro apenas sorriu e se levantou da poltrona, caminhando até
onde estavam as bandejas com o jantar. Estava com fome, já que não havia
almoçado.
Cătălina, ainda espantada com a atitude da moça da cozinha,
acompanhou-o e se sentou em uma das cadeiras em frente à mesa, servindo-
se em seguida.
— Bass... Você conhece a futura noiva do Luca? — perguntou ela
enquanto comia.
Ele a fitou, mais sério do que o normal.
— Conheço... É a minha prima.
Cătălina enrubesceu, arrancando uma risada do vampiro.
— Não se preocupe, Nina. Ela não vai saber do caso de vocês, não
por mim.
— Sim, mas... isso é vergonhoso — falou constrangida.
— Não estão fazendo nada de errado, relaxa. Luca deve ter lhe dito
que o acordo de casamento inclui sexo livre até o enlace definitivo.
— Ele falou, mas ainda acho isso muito estranho... Como pode? Eles
não deveriam ficar juntos e se conhecerem melhor até o casamento? Como
vão se casar sem se amar?
— Não tente entender, Nina. É complicado... — Ele sorriu de lado.
— Apenas aceite e aproveite esse tempo que tem com Luca.
Cătălina olhou para baixo e revirou um pedaço de carne com o garfo.
— Complicado vai ser ter que deixá-lo...
Sebastian olhou para a garota com uma certa pena. Estava claro que
ela gostava do amigo e que não seria fácil ter que ir embora.
— Ainda poderá vê-lo por um tempo. Eles vão demorar para se casar.
— Mesmo que isso seja verdade. E depois? Ele se casa e como é que
eu fico?
Sebastian pegou a garrafa de vinho que veio junto com a refeição e
serviu uma taça à Cătălina.
— Carpe diem. Conhece essa expressão?
— Conheço... Aproveite o momento...
— Não pense no futuro, Nina. Proteja o seu coração, não crie
expectativas. Apenas curta o agora.
Cătălina balançou a cabeça afirmativamente. Era o que ela estava
tentando dizer para si mesma desde que se entregara a Luca. Mas era tão
difícil pensar assim...
— E você? Já tem alguém lhe esperando para ser sua noiva? — quis
saber ela.
— Não. — Ele sorriu. — Até agora consegui me safar dessa.
— Sua família não faz arranjos de casamento?
— Faz. Minha irmã e meu irmão mais velho se casaram assim, e
meus outros primos também...
— E por que você não?
— Acho que meu pai viu que sou um caso perdido. — Bass
gargalhou, mas logo ficou sério.
— O que foi? — perguntou Cătălina, percebendo a mudança brusca
de humor do rapaz.
— Nada... É que não me vejo casado com alguém, só isso...
— Por que não?
Ele suspirou.
— Porque eu acho que perdi a capacidade de amar.
— Não diga isso! Que bobagem! — falou ela, mas logo percebeu
uma melancolia no olhar de Bass. Havia algo ali, com certeza. — Você já
amou alguém? — arriscou, curiosa.
O vampiro tomou mais um pouco do vinho. Não estava seguro se
deveria falar sobre aquilo. Na verdade, nunca havia se aberto com ninguém a
respeito daquele assunto.
— Já... — respondeu, por fim.
— E não deu certo? Ela não tinha o mesmo sentimento por você?
— Creio que não. Éramos prometidos, mas quando o pai dela mudou
os planos para ela se casar com outro, ela aceitou de boa, não demonstrou
nenhuma resistência.
— Mudou os planos? Por quê?
— Coisas de família.
— E você não fez nada?
— Eu era só uma criança, um pré-adolescente naquela época. — Ele
sorriu. — Eu sei o que está pensando, como eu posso ter desistido do amor
por causa de uma paixonite infantil que não deu certo?
— Convenhamos que isso é uma atitude bem radical da sua parte.
— É... pois é. Infelizmente minha paixonite se estendeu por muito
tempo ainda. Mesmo sabendo que ela não seria mais minha noiva, continuei a
admirando e a desejando. Eu queria tanto que ela me olhasse, que acreditasse
nos meus sentimentos, que enfrentasse o pai e que rompesse o acordo de
casamento, mas, ao contrário disso, ela se afastou.
— Ah, sinto muito. Mas não há jeito de isso se reverter? Ela já se
casou?
— Ainda não.
— Então por que não luta por ela?
Sebastian sorriu.
— Porque ela nunca quis lutar por mim. Não vou ficar dando murro
em ponta de faca.
— Ainda gosta dela?
— Não sei. Acho que é uma mistura de amor e ódio.
— Não diga isso. Ódio é uma palavra muito forte. Acho que você
deveria tentar, quem sabe ela não sente o mesmo por você e só teve medo de
ir contra a determinação do pai. Ela também era nova na época do arranjo de
casamento, não era? Por que não a procura?
— Acho que é muito tarde para isso. O noivado dela já está marcado.
— E quando será?
— Em janeiro.
— Ah... Puxa... Ela também ficará noiva em janeiro?
Sebastian deu um meio sorriso e Cătălina arregalou os olhos.
— Aí meu Deus! Não me diz que... É a sua prima?
Bass encheu a taça com mais vinho.
— É a vida...
— Luca sabe?
— Não.
— Por que não contou?
— Porque não faria diferença, só iria causar mal-estar entre nós. E
Luca é meu melhor amigo. Eu não queria que ficasse essa sombra pairando
sobre nossas cabeças.
Cătălina o olhou com curiosidade.
— Nunca teve ciúme ou inveja dele?
— No começo sim. Quando o conheci na faculdade, já sabia que ele
era o futuro noivo de Natasha, e confesso que me aproximei pensando em
ferrá-lo de alguma forma. — Sebastian sorriu. — Mas quando o conheci de
verdade, vi que Luca era o melhor amigo que alguém poderia ter. E resolvi
deixar isso para trás, enterrar o assunto de uma vez. Por isso nunca quis
procurar minha prima para tentar demovê-la do noivado. Além disso, ela
também deve me odiar agora.
— Por quê?
Bass riu com a curiosidade da garota.
— Digamos que durante toda a minha adolescência, mesmo sabendo
que Natasha seria de outro, eu corri atrás dela como um cachorrinho. E ela
não apenas se afastou, mas me esnobou, me humilhou, riu dos meus
sentimentos. Em parte, por causa de um desentendimento familiar, o mesmo
que fez o pai dela brigar com o meu e arranjar o noivado com Luca. Mas
quando eu me tornei um adulto e comecei a comer todas as amigas dela, acho
que ela se arrependeu, ou não quis ficar para trás perante as amigas, não sei...
só sei que ela veio me procurar. Aí foi a minha vez de esnobá-la. Eu ainda
guardava ressentimentos por conta da rejeição e já tinha uma amizade com
Luca, além disso, eu sabia que ela só queria brincar comigo. Então me recusei
a transar com ela e isso a deixou emputecida com a minha pessoa.
— Que família complicada... — comentou Cătălina, pasma com o
que havia escutado.
O vampiro gargalhou.
— Nem queira saber... — Ele terminou de virar sua taça de vinho. —
E então? Vamos subir?
Cătălina sorriu. Sentia-se mais à vontade com Bass agora, era como
se aquela conversa os tivesse conectado de alguma forma.
— Vamos — disse ela ao se levantar e buscar um casaco no armário.
Saíram do quarto e Sebastian também passou no dele para pegar uma
jaqueta. Seguiram, então, para a torre do ateliê de Mirela. Após subirem um
lance de escadas, alcançaram uma porta parecida com a que Cătălina havia
tentado abrir uma vez na torre de Luca e que estava trancada.
Desta vez, no entanto, Bass empurrou a porta e esta se abriu. O vento
gelado os alcançou e Cătălina estremeceu. Estava mesmo frio.
Saíram da torre e caminharam alguns metros. Estava escuro no
exterior, mas era possível enxergar o contorno do muro do terraço.
Cătălina se aproximou e viu as luzinhas do vilarejo no vale abaixo.
— A vista durante o dia é melhor — falou Bass divertido.
Ela riu.
— Tenho certeza que sim...
Cătălina se abraçou. O frio era tanto que os vapores de sua respiração
se condensavam em nuvens. Não dava mesmo para ficar muito tempo lá fora,
infelizmente. Ela olhou para cima no momento em que alguns flocos de neve
começaram a cair.
— Olha, Bass! Está nevando! — sorriu.
O vampiro olhou para a garota e sorriu também. Cătălina era linda,
doce e encantadora, e Luca era realmente um cara de sorte.
Um sentimento de tristeza passou em seu coração e ele suspirou.
Podia ter perdido Natasha, mas caso o amigo dispensasse a humana
após o noivado, não hesitaria em conquistá-la. E se ela o aceitasse, quem sabe
poderia largar essa vida de boêmio pervertido...
— É melhor entrarmos, ou iremos morrer congelados — falou.
— Sim, tem razão. Obrigada por me trazer aqui. Mesmo que tenha
sido por poucos minutos, valeu à pena.
Ambos desceram e Sebastian acompanhou Cătălina até a porta do
quarto.
— Boa noite, Nina — falou ele pegando a mão dela, levando-a aos
lábios e depositando um beijo no dorso.
— Boa noite, Bass...
Ele se virou e começou a caminhar pelo corredor, enquanto Cătălina
o observava se afastar.
Com um suspiro, ela entrou e fechou a porta. O dia tinha sido chato,
mas até que a noite foi agradável graças a Bass.
Trocou-se e foi se deitar ainda pensando no caso do rapaz. Não devia
ter sido fácil amar a prima por tantos anos e ser rejeitado. Talvez fosse por
isso que Bass havia se tornado um mulherengo inveterado. Sorriu ao se
lembrar da reação de ciúme da garota da cozinha ao vê-lo com ela. Além de
bonito, ele devia ser muito bom de cama para fazer esse sucesso todo.
A manhã do dia da cerimônia chegou e, com ela, os preparativos finais.
A cozinha estava a todo vapor para preparar a comida que seria
servida no banquete e Anna achava que desta vez ficaria louca. A
pressão de deixar tudo pronto se somava à ansiedade de ver sua filha se
tornar finalmente uma transformada, o que a deixava de cabelos em pé.
A cerimônia de batismo era um evento importante e normalmente era
acompanhada por quase toda a vila. No entanto, como não cabia todo mundo
dentro do castelo, o banquete no salão principal era limitado a um número
menor de convidados, que incluíam os familiares dos jovens apadrinhados e
amigos próximos.
Pelas contas da cozinheira, seriam pelo menos 50 pessoas entre
transformados e crianças. Já para os demais aldeões, a festa ocorria na parte
externa do castelo ao redor de uma grande fogueira, regada à bebida e comida
oferecidas pelos Constantin.
Luca havia chegado de seu turno no hospital durante a madrugada e,
exausto, seguira direto para a cama. Ao acordar, olhou pela janela e viu
alguns homens empilhando madeira para a fogueira no pátio. Suspirou,
precisava falar com Nina. Era impossível que ela não tivesse percebido toda
aquela movimentação.
Trocou-se e foi até o quarto dela. Encontrou-a junto de Irina,
preparando-se para tomar o café. Rapidamente, a filha da cozinheira se
despediu e saiu.
— Como passou o dia ontem? — perguntou ele ao se sentar na
cadeira em frente à mesa.
— Foi um pouco chato. Seu pai deixou ordens para eu não sair do
quarto. Mas Bass passou aqui na hora do jantar e me animou um pouco.
Luca a olhou sério e preocupado.
— Hum... então Bass veio aqui, é? E o que ele queria?
— Veio ver como eu estava. Nós conversamos e depois ele me levou
até o telhado, meio que escondido. — Ela riu. — Não fique com essa cara,
Luca. Seu amigo tem sido um perfeito cavalheiro comigo.
— Isso também me preocupa... — O médico franziu o cenho.
— Está com ciúmes?
— Tenho os meus motivos.
— Devia dar mais crédito a ele. Bass te respeita muito mais do que
você imagina.
— Por que diz isso?
— Por nada. — Ela suspirou. — Então quer dizer que o castelo
receberá convidados hoje? — mudou de assunto.
— Sim, foi ele quem disse?
— Foi, né? Já que aqui ninguém me diz nada!
— O que mais ele disse?
— Sobre isso? Não disse mais nada... — Uma ruga surgiu entre as
sobrancelhas de Cătălina. — Luca, está acontecendo alguma coisa, por
acaso? Qual é a necessidade de eu ficar confinada aqui no quarto? Não é um
pouco de exagero isso?
— Sinto muito, Nina. Mas é assim que tem que ser, por favor
entenda. Realmente vai haver um evento no castelo hoje e eu preciso que
você não saia daqui.
Cătălina bufou.
— Vocês são esquisitos, isso sim! Me diz uma coisa, vocês estão me
escondendo dos tais convidados ou escondendo os convidados de mim? Qual
é o segredo? É alguma reunião secreta, por acaso?
Luca hesitou para responder. Como sair daquela saia justa, agora?
— Nina... É só um jantar. Peço que respeite a decisão do meu pai, por
favor, ou teremos problemas.
Ela suspirou e olhou para fora da janela. A neve tinha parado de cair.
— Okay... quem sou eu para discutir com o senhor do castelo?
Luca colocou a mão sobre a dela e lhe fez um carinho nos dedos.
— Senti a sua falta — ele disse.
Cătălina sorriu.
— Senti a sua também... — confessou, mas logo sentiu um bolo se
formar em sua garganta.
A conversa com Bass na noite anterior havia reavivado a lembrança
de que Luca estava prestes a se comprometer e aquilo lhe doía. Desviou sua
atenção para fora de novo, mas desta vez seus olhos estavam úmidos.
— O que foi, Nina?
Ela balançou a cabeça em negação. Não se sentia no direito de falar
sobre os seus sentimentos. Luca havia sido claro quando disse que não era
para ela esperar nada dele. Que a única coisa que ele podia lhe oferecer era
um caso passageiro.
O médico se levantou e a pegou pelas mãos, fazendo-a se levantar
também. Então a abraçou, encostando o nariz nos cabelos dela.
— Por que está triste? Me diga...
Cătălina levantou o rosto para olhá-lo e uma lágrima escorreu pelo
seu rosto.
— Me desculpe, Luca. Eu não queria, mas aconteceu.
— O que aconteceu?
— Eu acho que... acho que me apaixonei por você... E agora eu... não
quero que você fique noivo, eu... — Ela afundou o rosto em seu peito e mais
lágrimas vieram. — Me desculpe... eu sei que não tenho o direito de te pedir
isso.
Luca engoliu em seco. Ouvir aquelas palavras fazia o seu peito
queimar. Ele também já havia percebido que aquela garota lhe despertava
sentimentos únicos, mas aquilo que ela lhe pedia era impossível.
— Ah, Nina... — Ele a apertou mais contra si.
Cătălina ergueu novamente o rosto e ele sentiu vontade beijá-la,
tomá-la novamente, mas não podia deixar aquilo acontecer, não devia
alimentar ainda mais aqueles sentimentos. Inspirou fundo e lhe depositou um
beijo na fronte.
Naquele momento, sua mente era um caos: sua razão lhe gritava para
que se afastasse; seu coração, porém, a desejava de todas as formas.
Sinceramente, não imaginava o que faria em algumas semanas.
Abrir mão de seu noivado estava fora de cogitação. Como herdeiro
do castelo, ele tinha as suas responsabilidades em relação à vila e estava
decidido a cumprir com suas obrigações. Mas não sabia o que fazer com a
humana à sua frente.
Ela estava ali há apenas três semanas. Não fazia sentido abandonar os
planos e criar uma confusão enorme com Gheorge Moldovan, pai de Natasha
e conselheiro influente, por conta de um sentimento que poderia muito bem
ser passageiro e que ele próprio não tinha certeza do que se tratava.
Não... definitivamente não era certo romper seu compromisso agora.
E Nina precisava entender isso, ou seria melhor eles se afastarem.
Luca a afastou um pouco e a fitou diretamente.
— Nina, eu não posso desistir do meu noivado, sinto muito.
Ela assentiu com a cabeça e enxugou uma lágrima com os dedos.
— Tudo bem... Eu já sabia disso. Me desculpe por ter dito essas
coisas...
— Não precisa se desculpar, mas... talvez seja melhor pararmos as
nossas “aulas” por aqui. Não quero te machucar mais...
Cătălina sentiu seu coração se apertar e, abatida, afastou-se, indo se
sentar na cama. Tudo o que ela queria era um pouco de carinho, de atenção,
de amor... mas, para sua infelicidade, ela estava sentindo que o pouco que
tivera nos últimos dias havia terminado. Por que não ficara quieta? Por que
teve que dizer que não queria que ele ficasse noivo? Pelo menos poderia ter
ficado com ele um pouco mais...
Decepcionada consigo mesma, permaneceu calada, olhando para o
chão e deixando as lágrimas caírem silenciosamente.
Luca observava a garota com um nó na garganta. Sentia-se frustrado,
culpado e arrasado também. Podia não estar derramando lágrimas, mas seu
coração se contorcia por dentro.
Aproximou-se de Cătălina e se agachou à sua frente. Segurando as
mãos dela entre as suas, beijou-as ternamente.
— Luca... — Ela mordeu o lábio, angustiada com o que ia pedir, mas
era sua última chance. — Você faria amor comigo? Ou melhor, sexo... ? Só
mais uma vez? Uma última vez?
— Tem certeza?
Com os olhos ainda úmidos, ela apenas assentiu.
Eles se entreolharam por alguns segundos e Luca não resistiu mais.
Ele precisava dela, nem que fosse pela última vez. O vampiro se levantou e
tirou as próprias roupas. Em seguida, tirou a camisola que ela vestia por cima
da cabeça e a deitou na cama, cobrindo-a com o seu corpo e a enchendo de
beijos. Beijos salgados pelas lágrimas, beijos desesperados por amor.
Afastou-se um pouco para olhá-la e aproveitou para deslizar sua calcinha por
entre as pernas.
Ela era tão linda, tão deliciosa, tão meiga... Contornou o corpo dela
com os dedos e, sentado sobre os calcanhares, afastou os joelhos da moça.
Cătălina respirou fundo, sentindo os olhos de Luca grudados em seu
sexo exposto. Com o polegar, ele a acariciou, arrancando-lhe pequenos
estremecimentos ao passá-lo pelo seu ponto sensível e descer para sua
entrada já úmida de excitação.
— Não quero fazer sexo com você, Nina, quero fazer amor, mesmo
que seja nossa última vez.
Emocionada, ela sorriu e Luca elevou as pernas dela, apoiando-as em
seus ombros. Ele se aproximou e, devagar, passou a cabeça de seu membro
por todo o seu sexo, espalhando os sumos de sua excitação; em seguida,
introduziu-se dentro dela, arrancando-lhe um gemido alto.
Aquela posição favorecia uma penetração profunda e ele passou a
estocá-la com firmeza. Cătălina não segurou os gemidos. As investidas do
médico eram fortes e preenchiam toda sua cavidade, fazendo-a se agarrar aos
lençóis da cama.
Luca se inclinou para beijá-la e diminuiu a velocidade das estocadas,
ou gozaria rapidamente. Assim, ele deixou as pernas dela caírem de seus
ombros e assumiu um ritmo mais lento e provocante. Pressionava-se contra
ela, usando sua púbis para estimulá-la no ponto certo, enquanto percorria seu
pescoço com beijos. Uma de suas mãos escorregou para o seio macio e ele
passou a lhe acariciar o bico, prendendo-o entre os dedos.
Todos aqueles estímulos estavam surtindo o efeito desejado na
garota. O corpo dela respondia aos deliciosos toques e arqueava, buscando a
onda de prazer.
Cătălina fechou os olhos e sentiu as sensações chegarem. Agarrando-
se ao médico, gemeu alto, enquanto seu corpo estremecia e seus músculos se
contraíam com o gozo.
Luca sorriu e voltou a aumentar o ritmo, estocando-a fundo. Logo seu
prazer também chegou e ele a inundou com seu líquido. Ofegante, deixou-se
cair ao lado dela e a abraçou. Seu coração estava pequeno. Não ia ser fácil.
Não ia ser nada fácil deixá-la.
— Não vai trabalhar hoje? — perguntou Cătălina aconchegada em
seus braços.
— Hoje não. Hoje serei todo seu, pelo menos até a noite. Quero
dizer, isso se você me quiser aqui. — Ele sorriu.
— Eu quero...
— Nina... — Ele suspirou. — Você entende por que não podemos
ficar juntos? Não entende?
— Entendo... Eu me precipitei ao confessar que estou apaixonada por
você. Quem se apaixona em três semanas, não é? Talvez não seja isso, talvez
seja só... admiração e carência afetiva... Sinto muito se o constrangi.
— Não me constrangeu, pequena. Só me fez pensar sobre isso, sobre
nós dois...
— Eu não queria que isso entre nós terminasse assim, Luca... Eu
queria... aproveitar um pouco mais...
O vampiro acariciou seu rosto. Aquilo era perigoso, mas como
poderia negar-lhe algo que ele próprio queria desesperadamente?
— Você compreende que, se ficarmos juntos, não poderá esperar
nada de mim, Nina? Como eu disse, não posso te oferecer nada e não quero te
machucar mais. Podemos continuar juntos até janeiro, enquanto você estiver
aqui, mas depois, cada um deverá seguir o seu caminho...
Ela inspirou fundo, sentindo o aroma da pele dele, o calor, a maciez.
Apaixonada ou não, o estrago em seu coração já estava feito mesmo, então
aproveitaria o máximo.
— Quero ficar com você até janeiro — afirmou.
Por mais de uma hora, eles permaneceram na cama, conversando,
trocando carícias, se beijando e se unindo novamente, até que resolveram se
levantar para tomar um banho. Ao ficar em pé, Cătălina sentiu o gozo de
Luca escorrer entre suas pernas e sorriu. Até aquilo ela achava excitante.
Após o banho, voltaram para a cama e se abraçaram. Luca falou um
pouco sobre sua infância, sua família, sobre sua meia-irmã que vivia em
Nova Iorque e sobre os conflitos familiares que ocorreram quando seu pai
tentou obrigá-la a se comprometer com um desconhecido. Quando se deram
conta, já estava na hora do almoço. Fizeram a refeição no quarto e depois
foram para a sala de pintura, onde permaneceram pelo resto da tarde. Às 17h,
Luca deixou Cătălina em seu quarto novamente.
— Não nos veremos mais hoje? — ela quis saber.
— Não.
— Você vai participar do jantar?
— Sim, vou — Ele a abraçou pela cintura.
— Okay... Nos vemos amanhã, então?
— Certamente. Vou para o hospital de manhã, mas estarei de volta no
horário costumeiro. — Luca abaixou-se e lhe deu um beijo. — Até amanhã,
pequena. E não saia do quarto, entendido?
— Está bem... — respondeu ela desanimada.
Cătălina largou-se na cama assim que o médico saiu. Uma leve dor se
irradiou por suas costelas, fazendo-a se lembrar de que ainda não estava
curada. Mas não era essa dor que a incomodava. Por dentro, uma mistura de
sentimentos que nem ela conseguia definir a angustiava. Não sabia dizer se
estava triste, feliz, chateada ou conformada. Parecia que havia um pouco de
cada um, deixando-a ansiosa e inquieta.
Acabou cochilando e acordou com uma batida na porta. Ao atender,
deparou-se com Madeleine que lhe trazia o jantar. A moça olhou-a de
esguelha e entrou para deixar a bandeja com a refeição.
— E a Irina? — quis saber Cătălina, estranhando que a filha da
cozinheira não tinha vindo junto.
— Está ocupada se aprontando para a cerimônia.
— Cerimônia?
— Sim, senhorita.
Dizendo isso, Madeleine saiu, deixando claro que não estava a fim de
conversa.
Cătălina sentou-se à mesa e olhou pela janela. Estava escuro lá fora,
mas ela podia escutar o barulho de vozes, o que era incomum àquela hora da
noite. Seriam os convidados do jantar chegando? Que cerimônia era aquela
da qual Madeleine havia falado?
Terminou de jantar e abriu a janela para ver se enxergava alguma
coisa, mas do ângulo de onde ficava o seu quarto não conseguia ver o pátio
da frente do castelo, apenas o jardim lateral. Fechou a janela, frustrada.
Queria tanto saber o que estava acontecendo lá embaixo...
Subitamente teve uma ideia. Raramente os empregados subiam até o andar
dos quartos à noite e certamente os Constantin estariam ocupados com o tal
jantar. Então, talvez ninguém a visse se fosse até a torre, de lá teria uma visão
melhor.
Com o coração acelerado pela ousadia, abriu a porta do quarto e
olhou para os lados. O corredor estava livre. Com cuidado, saiu e fechou a
porta sem fazer barulho e andou rapidamente até o acesso à torre do ateliê de
Mirela, de onde poderia ver o que estava acontecendo no pátio em frente ao
castelo. Subiu as escadas até o último andar e abriu a janela.
Surpresa, viu uma grande movimentação lá embaixo. Uma fogueira
enorme estava sendo acesa e uma fila de pessoas com lanternas e lamparinas
subiam a colina pela estrada que vinha do vilarejo.
Juntou levemente as sobrancelhas. Aquilo não era só um jantar, com
certeza! Seria a tal cerimônia? Cerimônia de quê? O que estava acontecendo,
afinal? Colocou a cabeça um pouco mais para fora e notou que as pessoas
que chegavam ao castelo não estavam entrando nele, mas seguiam pela lateral
oposta ao seu quarto. E de onde ela estava, não conseguia ver para onde eles
se dirigiam.
Suspirou. Agora se sentia chateada... Por que a excluíram assim? A
vila toda parecia estar lá... Agitada, decidiu sair da torre e ir até o terraço do
telhado. De lá poderia enxergar a volta inteira do castelo e ver para onde
estava indo toda aquela gente. Antes, aproveitou que estava no estoque do
ateliê de Mirela e procurou um casaco de frio. Encontrou um de lã escura
com capuz, um pouco grande para ela, mas que serviria perfeitamente para
sair no ar gelado da noite.
Desceu alguns andares da torre e abriu a mesma porta que saíra com
Bass na noite anterior. Colocou o capuz para proteger a cabeça e caminhou
até a mureta do terraço em direção ao lado que ela não conseguia enxergar
anteriormente.
Olhou para baixo e viu os aldeões entrarem em uma construção
menor, próxima ao castelo. Se tivesse uma cruz no alto, poderia ser
confundida com uma capela, mas não havia nada que indicasse ser uma
igreja. Talvez fosse apenas um salão.
Continuou observando o movimento e, quando a fila de pessoas do
lado de fora já estava quase acabando, notou três vultos saírem pela lateral do
castelo. Voltou sua atenção para eles e viu que eram os Constantin.
O senhor do castelo ia à frente, seguido por Luca e por Mirela.
Cătălina arqueou as sobrancelhas. Pelo que conseguia ver dali, pai e filho
estavam vestidos de preto e cobertos por uma capa igualmente escura que ia
até o chão e esvoaçava com o vento. Já Mirela usava um vestido vermelho,
enquanto sua capa, do mesmo tom, era mais curta, chegando somente até os
quadris.
Eles entraram na construção mais baixa e Cătălina se inclinou,
tentando ver se conseguia enxergar algo através da porta aberta e das janelas.
Mas era impossível dali de cima.
Bufou, decepcionada. Estava morta de vontade de saber o que estava
acontecendo lá embaixo. Os Constantin estavam muito elegantes e sérios, já
os aldeões pareciam animados e, pelo que podia ver, já estavam quase todos
dentro do tal salão. Não viu Bass, será que ele ainda não tinha voltado do
hospital?
O bichinho da curiosidade começou a lhe pinicar por dentro. Não era
justo aquilo! Por que ela não podia participar da festa? Estava claro que era
uma festa, com toda aquela gente.
Talvez fosse uma cerimônia antecipada de Natal, que seria dali a
quatro dias. Ou talvez o senhor do castelo tivesse o costume de oferecer uma
festa de final de ano aos empregados, como acontecia em algumas empresas.
Até no mercadinho onde ela trabalhava o dono costumava fazer uma festinha
de confraternização. Sim... talvez fosse isso.
Franziu o cenho. Por que Luca não havia sido claro a respeito
daquilo? Por que o Sr. Constantin não a queria na festa? Aquilo era
sacanagem, poxa! Um vento gelado lhe atingiu o rosto e ela estremeceu. O
pior é que nem dava para ficar lá em cima olhando. Estava muito frio!
Com o semblante fechado, Cătălina deixou o terraço e voltou para a
torre. Pensou em devolver o casaco à sala de Mirela, mas uma ideia louca lhe
veio à mente. Aquele casaco era grande o suficiente para cobri-la. Se usasse o
capuz, dificilmente alguém a reconheceria, ainda mais se vestisse as roupas
de Irina e conseguisse se misturar à multidão.
Sorriu para si mesma e voltou rapidamente para o seu quarto para
trocar suas roupas pelas da filha da cozinheira. Trançou os cabelos, colocou o
casaco novamente e se olhou no espelho. Ótimo. Estava parecendo uma
aldeã.
Saiu do quarto e se esgueirou pelas escadas. Estava tudo silencioso e
o castelo parecia vazio. Seu coração batia descompassadamente. Estava
desobedecendo uma ordem direta do senhor do castelo e de Luca, mas não
importava. Já passara a vida inteira sendo reprimida, não estava mais a fim de
ser um fantoche e não deixaria que ninguém mais determinasse o que ela
podia ou não fazer.
Tentaria descobrir o que estava acontecendo. Além disso, só daria
uma espiadinha, depois voltaria para o seu quarto e ninguém ficaria sabendo
que tinha ido até lá.
C ătălina percorreu os corredores do castelo andando pelas sombras,
atenta a qualquer movimento. Seu maior temor era dar de cara com o
Sr. Pop, mas não havia ninguém por ali, parecia até um castelo
assombrado.
Lembrou-se da vez que tinha saído de seu quarto à noite e quase foi
atacada pelo aldeão psicopata. Um frio percorreu sua coluna e ela teve
vontade de voltar correndo para o quarto, mas inspirou fundo e resolveu
continuar, pois já estava quase chegando à porta de saída da cozinha. Era só
mais alguns metros e estaria fora do castelo.
Devagar, abriu a porta e olhou para fora. O pátio lateral estava vazio
e mais à frente ficava a construção onde todos haviam entrado. Fechou a
porta atrás de si, abaixou um pouco mais o capuz sobre sua cabeça e
atravessou o pátio a passos rápidos.
Ao se aproximar do edifício, notou que não havia barulho de
conversa, chegava a ser estranho tanto silêncio. Não era uma festa, afinal?
Diminuiu o passo e, ao chegar na porta, escondeu-se atrás do batente
e olhou sorrateiramente para dentro. O lugar parecia mesmo uma igreja. A
maioria dos aldeões estavam sentados em bancos enfileirados e de costas para
ela. Alguns permaneciam em pé por falta de lugar e ela se aproveitou disso
para entrar por trás deles e se manter escondida.
Erguendo-se nas pontas dos pés, procurou pelos Constantin e logo os
viu ao fundo do salão. Eles estavam de frente para os aldeões em um nível
mais elevado, um ao lado do outro. Seu olhar se fixou em Luca. O médico
tinha o semblante compenetrado e estava lindo todo de preto. Não era terno o
que ele vestia, parecia mais um casaco justo de gola alta e totalmente fechado
com botões dourados. Ela não entendeu muito bem o porquê da capa, mas
que dava um ar de mistério, isso dava.
Observou os pais de Luca, e o Sr. Constantim parecia tão
compenetrado quanto o filho, porém aquilo lhe deixava com um ar
assustador. Já Mirela tinha o semblante menos carregado e chegou a sorrir
para alguns jovens aldeões que estavam presentes, em pé e enfileirados bem à
frente deles.
Só então ela reparou que Irina estava entre os jovens. Eram seis no
total, duas garotas e quatro rapazes, e eles vestiam uma espécie de túnica
branca. Aquilo era mesmo uma cerimônia? Mas cerimônia de quê?
Curiosa, porém com dificuldades para enxergar, Cătălina se
esgueirou mais para o canto e encontrou um vão entre dois aldeões. Dali
podia ver melhor o que estava acontecendo.
O que ela não viu foi Sebastian encostado em um pilar um pouco
mais à frente. Apesar de próximos, ambos não estavam prestando atenção em
quem estava por perto, seus olhos se voltavam para os Constantin.
O senhor do castelo deu um passo à frente e todos os aldeões se
levantaram.
— Senhoras e senhores, meninos e meninas — disse ele com voz
grave. — É uma honra recebê-los hoje aqui e ver que vocês, mais uma vez,
confiam a nós o destino de vossos filhos.
— O nosso destino é o vosso, e por onde fores, nós iremos —
responderam em coro os aldeões, impressionando Cătălina. O que aquilo
significava?
Os Constantin fizeram juntos uma reverência que foi imitada pelos
aldeões. Grigore fez um gesto indicando para que todos se sentassem e
retomou, então, a palavra.
— O solstício de inverno chegou nos trazendo a noite mais longa do
ano e, com ela, a oportunidade destes jovens fazerem a escolha que definirá
seu futuro até o final de seus dias. — Olhou fixamente para cada um deles. —
Vocês estão preparados?
Um a um, os jovens foram respondendo “sim” e, em seguida, Mirela
entregou para o marido um livro de capa grossa que parecia ser bem antigo.
— Nos últimos meses, todos vocês tiveram livre acesso à minha
biblioteca e, com isso, a oportunidade de conhecer nossa história, nossas lutas
e, principalmente, de ler este livro. Nele está contido cada um dos deveres e
responsabilidades que deverão ter a partir de hoje. Vocês estão cientes do que
está escrito aqui e de que arcarão com as consequências caso desobedeçam as
regras?
Mais uma vez, eles responderam “sim”. Cătălina arqueou as
sobrancelhas, achando tudo aquilo cada vez mais estranho.
— Muito bem, vamos dar início à cerimônia — concluiu.
Grigore depositou o livro sobre uma base no centro do palco e se
dirigiu para trás de uma pequena mesa localizada mais ao canto e coberta
com uma toalha branca. Luca o seguiu.
Sobre a mesa havia duas taças grandes e douradas, decoradas com o
que pareciam ser pedras preciosas que refletiam o brilho das luzes do
ambiente. Cătălina ainda estava admirando as taças quando Mirela se
aproximou trazendo, em uma almofada vermelha, um punhal com o cabo
igualmente dourado e cravejado de pedras.
A garota franziu o cenho. Não gostava de facas, além disso,
lembrava-se perfeitamente de quando havia cravado uma no peito de Nicolae,
o que a arrepiava.
Sob o olhar atento de todos, Grigore pegou o punhal e estendeu seu
braço esquerdo à frente. Com um movimento rápido e preciso, cortou seu
próprio pulso, fazendo com que seu sangue caísse dentro de uma das taças.
Cătălina deu um passo para trás e cobriu a boca com a mão, abafando uma
exclamação de espanto.
Quando Luca fez o mesmo em seu pulso, ela achou que iria desmaiar.
O sangue de ambos escorriam em um grosso filete até as taças, causando-lhe
um mal-estar súbito. Não estava entendendo. O que eles estavam fazendo?
Por que tinham se cortado? Por que ninguém ali parecia tão espantado quanto
ela?
Cătălina olhou para os lados e notou que alguns aldeões a fitavam
desconfiados. Retirou, então, a mão da boca e engoliu em seco, tentando se
recompor. Seja lá o que estivesse acontecendo, se descobrissem que ela era
uma penetra, teria sérios problemas.
Voltou a observar os Constantin e, após alguns minutos, Mirela foi
até o marido e limpou seu pulso, colocando uma bandagem sobre o corte. Em
seguida, fez o mesmo com o filho.
Cuidadosamente, ela pegou a taça de Luca e foi até o centro do palco,
posicionando-se ao lado da base onde estava o livro antigo. Com um leve
sorriso e um aceno de cabeça, indicou à Irina, que era a primeira da fila, para
se aproximar.
— Faça o juramento — disse a senhora do castelo.
A garota colocou a mão sobre o livro e disse em voz alta e clara:
— Eu juro, por tudo aquilo que é sagrado ao nosso povo, que estou
aqui por vontade própria e que aceito todas as responsabilidades advindas da
minha nova condição. Juro respeitar as leis e proteger os segredos de nossa
espécie, assim como juro ser leal ao meu padrinho e à sua família até o fim
dos meus dias. Desta forma, entrego-lhes o meu corpo e a minha vida para
renascer como uma transformada, ciente de todas as minhas obrigações como
tal e das consequências caso descumpra com qualquer uma delas.
Nesse momento, algumas pessoas na frente de Cătălina se
movimentaram, obstruindo sua visão. Agitada e querendo saber o que ia
acontecer, deu alguns passos para o lado e encontrou outra brecha, a tempo
de ver Irina se aproximar de Mirela e receber a taça em suas mãos.
Cătălina arregalou ainda mais os olhos e paralisou quando viu a
garota aproximar a taça da boca e ingerir o sangue de Luca que havia lá
dentro. Levou novamente a mão à boca e fez uma careta. Não estava
acreditando naquilo. Quem em sã consciência bebia o sangue de outro? Por
que ela estava fazendo aquilo?
E que juramento mais estranho foi aquele? De entregar a vida e
renascer? Como assim?
Irina voltou para a fila e, então, a segunda garota se aproximou,
fazendo o mesmo juramento e também bebendo da taça. Em seguida foi o
rapaz. Antes do quarto subir no palco, Mirela trocou a taça de Luca pela do
Sr. Constantin e os demais rapazes da fila procederam da mesma forma que
Irina.
Cătălina já estava sentindo seu estômago embrulhar. Era nojento...
Tornou a olhar em volta e viu que os aldeões estavam calmos e até sorrindo
diante do que estavam vendo. Estavam todos loucos por acaso?
Aquilo estava muito errado. O receio de estar presenciando algo que
não deveria começou a tomar conta dela e, de repente, entendeu que aquele
era o motivo de ter sido proibida até mesmo de sair do quarto naquela noite.
Ela não deveria estar ali... não deveria estar vendo aquilo, não deveria saber
sobre aquilo. Merda! Se fosse descoberta estaria perdida.
Cătălina voltou sua atenção novamente para o palco e viu Mirela se
afastar e dar o seu lugar a Luca ao centro. Com o semblante sério, ele fez um
sinal para que Irina se aproximasse mais uma vez.
Ela subiu no palco e parou de frente para Luca. Ele a fitou por alguns
instantes e sorriu brevemente; em seguida, colocou as mãos em seus ombros
e a virou, fazendo-a ficar de costas para ele.
Cătălina, sentindo seu coração bater mais rápido, enfiou-se entre dois
aldeões para ver melhor. O que ele ia fazer?
O médico afastou, então, a trança de Irina para o lado e disse algo no
ouvido dela. A garota assentiu e ele abaixou a cabeça em direção ao pescoço
dela.
Da distância em que se encontrava, Cătălina não reparou que os olhos
de Luca ficaram violáceos, mas conseguiu ver de relance as suas presas,
quando ele abriu a boca e as cravou no pescoço de Irina.
Assustada, deu vários passos para trás, pisando no pé de um aldeão e
trombando com outro. Recebeu de ambos olhares de reprovação, mas
Cătălina não prestava mais atenção aos aldeões. Seus olhos estavam fixos em
Luca, que continuava com sua boca no pescoço da filha da cozinheira e
deixava um pequeno filete vermelho escorrer pelo canto dos lábios.
Chocada, ela finalmente entendeu que ele estava bebendo o sangue
da garota. Paralisada e sem coragem de sair do lugar, viu Irina se desfalecer
nos braços de Luca, que a segurou pela cintura, interrompendo a mordida.
Aquilo era surreal, ela não conseguia compreender por que eles
estavam fazendo aquilo. Eles eram loucos, só podia ser.
Naquele momento, Cătălina achava que já tinha visto de tudo e que
não poderia se chocar mais. No entanto, estava enganada.
Enjoada e suando frio, observou Luca pegar a garota no colo e
colocá-la em uma espécie de mesa na parte mais funda do palco. Só então
reparou que havia seis mesas no lugar. O médico se posicionou atrás dela e
Mirela se aproximou, entregando-lhe o mesmo punhal que eles haviam usado
para se cortar.
Cătălina se encostou na parede e arregalou os olhos. O que ele ia
fazer? Deus, não! Ele não ia... Um frio cortante percorreu sua coluna de cima
a baixo.
Terrificada, viu Luca posicionar o punhal no peito de Irina e, com um
movimento brusco, enterrá-lo no corpo dela.
Um grito rouco saiu de sua garganta.
Ele a havia matado! Luca havia matado Irina! Seu Luca! Não, não era
possível! Estava vendo coisas! Aquilo não tinha acontecido! Não podia ser
verdade, não podia! Cătălina estava tão terrificada que não percebeu que
todos à sua volta a olhavam intrigados. Subitamente sentiu uma mão agarrar
seu braço e começar a arrastá-la para fora.
Na confusão de sua mente, o medo tomou conta de seus atos e tentou
resistir, querendo escapar desesperadamente daquela mão. Sentiu, então, ser
agarrada pela cintura e quando tentou gritar, sua boca foi tapada. Só quando
saíram do salão que ela reconheceu quem estava tentando arrastá-la. Bass.
— Fique quieta, Nina! — rosnou ele. — Pare de chamar a atenção
sobre você!
Cătălina o encarou estática. Suas pernas não lhe obedeciam. Não
conseguia falar, não conseguia pensar. Sentia-se amortecida e sem ação.
Assim, deixou que Bass a conduzisse de novo para dentro do castelo.
Ele a levou para o quarto dela e fechou a porta. Preocupado, observou
a garota à sua frente ainda em choque. Os olhos dela estavam fixos no vazio e
ela não esboçava reação nenhuma.
— Nina? — Ele a tocou no rosto, levantando-lhe o queixo. — Olhe
para mim!
Ela o fitou, mas sua mente ainda estava longe. Nas imagens que ela
tinha visto minutos atrás.
— Nina! — chamou ele mais veemente.
Como se despertasse de um transe, ela pulou para trás se
desvencilhando das mãos de Sebastian. Seus olhos agora demonstravam
medo.
Cătălina fitou Bass sentindo que não o conhecia mais. Era como se
não conhecesse mais ninguém no castelo. Temia por sua vida, temia o rapaz à
sua frente; um medo irracional que a fazia temer até sua própria sombra
naquele momento.
— Nina... escute. Está tudo bem — falou Bass com a voz suave. —
Ninguém vai machucar você...
Ela balançou negativamente a cabeça e seus olhos se encheram de
lágrimas.
— Como pode dizer isso? Não viu o que aconteceu lá embaixo?
Eles... Luca... Ele matou a Irina! Enfiou uma faca no coração dela! Não viu,
não? — disse, quase histérica.
— Não é o que parece, juro... Se acalme, por favor.
Cătălina o olhou com desconfiança, sua mente finalmente parecia ter
voltado a funcionar, mas suas mãos ainda tremiam e as lágrimas desciam pelo
seu rosto.
— Como assim não é o que parece? Eu vi perfeitamente o que ele
fez! E não foi só isso. Antes ele... ele mordeu ela... bebeu o sangue dela. E ela
o dele! Que absurdo foi esse?
Bass inspirou fundo e coçou a cabeça. Inferno! Que situação! Ia falar
o que para ela, agora?
ina... Sente-se primeiro, vamos conversar, está bem? — falou
—N Sebastian, tentando ganhar tempo para pensar no que ia dizer.
Diabos! Como explicar a ela o que havia acontecido lá embaixo? Que
merda de saia justa que ele havia se metido! Mas o maior problema estava no
que a garota humana podia concluir de tudo aquilo. De forma alguma ela
deveria ter visto o que viu, ela não podia descobrir sobre a natureza deles ou
seria enviada à prisão de Vârful Cârja. Cacete! O que ela estava fazendo lá,
afinal?
Cătălina desconfiou da atitude apaziguadora de Bass e, quando ele
tentou se aproximar, deu alguns passos para trás.
— Não chegue perto de mim! — gritou. — Você está com eles, não
está? Nisso tudo? Você e toda aquela gente! Como podem assistir a tal horror
e não fazerem nada? — Ela enxugou algumas lágrimas que ainda caíam. —
O que vocês são? Satanistas, por acaso? Aquilo foi um ritual de sacrifício? —
Involuntariamente, levou a mão à sua correntinha com o crucifixo.
— Não somos satanistas, Nina. E aquilo não foi um sacrifício. Nós
chamamos de cerimônia de batismo que é uma espécie de conversão... —
Bass suspirou. — Escute... é melhor deixar que Luca te explique sobre isso, e
quanto à Irina, eu te garanto que ela está bem, okay?
— Está bem? Como está bem? Luca enfiou um punhal no peito dela!
E você viu! Está querendo dizer o quê? Que ela não morreu? — indagou.
— Não, não morreu! Agora fique calma.
Cătălina estreitou os olhos, não sabia o que pensar. Não confiava
mais em ninguém, não conseguia acreditar em Bass. Ele provavelmente
estava só tentando enganá-la, ganhar tempo até que os Constantin...
Seu coração gelou mais uma vez. O que os Constantin iam fazer com
ela agora que ela sabia o que tinham feito? Será que iriam matá-la também?
Pensou em Luca e nos momentos que eles haviam passado juntos
horas antes. Parecia um sonho... Era como se ele fosse outra pessoa... Onde
estava aquele homem gentil, carinhoso e preocupado que ela havia
conhecido? Como ele pôde fazer aquilo com Irina de forma tão fria? E os
outros jovens? Haviam sido mortos também?
Seu coração estava partido e o medo a fazia suar frio. Olhou para os
lados procurando algum objeto com que pudesse se defender, mas não havia
nada de muito efetivo ali, a não ser pela bandeja com os restos de seu jantar.
Correu para a mesa e pegou a faca que ela tinha usado para cortar a carne e a
empunhou na direção de Bass.
— Vai embora, Bass! Saia daqui, por favor. Não quero machucar
você.
Sebastian arqueou uma sobrancelha e teria rido se não fosse a
situação grave em que se encontravam. Por fim, resolveu sair. Luca que se
entendesse com ela depois. Pegou a chave da porta do quarto e a trancou por
fora, sentindo uma certa angústia lhe apertar o peito. De qualquer forma, o
resultado não ia ser bom para a garota, consequências viriam...
Cătălina arregalou os olhos quando escutou a chave girar na
fechadura. Ele a estava trancando ali? Correu para a porta e tentou abri-la,
sem sucesso.
— Bass? — gritou. — Abre essa porta! Bass? Não me tranca aqui,
por favor! Bass? — Ela esmurrou a porta algumas vezes e, ao ver que não
obteria resposta, encostou-se nela e se deixou escorregar para o chão.
Merda! O que faria agora? Estava presa, não poderia fugir. Seu
coração batia acelerado e seu peito queimava. Ah, Luca... Que espécie de
pessoa, ou monstro, ele era, afinal? Como podia ter se apaixonado por ele?
Fechou os olhos, ainda podia sentir a sensação dos seus beijos, do seu
toque, do contato de sua pele com a dele, e lágrimas voltaram a rolar. Sentiu-
se uma tola, uma idiota que havia sido usada apenas como um brinquedo e
que agora seria descartado. Será que Luca também a mataria com as próprias
mãos?
Encolheu-se mais de encontro ao chão e o choro veio convulsivo, o
medo e a desesperança lhe corroíam por dentro.

No pátio do castelo, alguns aldeões já começavam a sair do salão. A


cerimônia principal já havia acabado e a parte final era reservada apenas à
família e a alguns convidados.
Os corpos inertes dos seis jovens foram levados para dentro do
castelo e colocados no salão principal, onde ocorreria o banquete. Enquanto
os convidados principais entravam e se acomodavam nas extensas mesas, os
demais aldeões iniciavam sua festa do lado de fora, ao redor da grande
fogueira.
Os Constantin saíram do salão cerimonial e Grigore chamou Luca de
canto.
— Encontre Sebastian e veja com ele o que diabos aconteceu no
salão essa noite.
— Como assim? — perguntou o rapaz, sem entender.
— Quando você estava convertendo Irina, notei uma movimentação
estranha nos fundos do salão e, em seguida, Sebastian saiu de forma
repentina. Quero saber o que houve.
Luca franziu o cenho e assentiu. Imediatamente foi procurar o amigo
e o encontrou no salão do banquete encostado em uma parede de braços
cruzados. Seu semblante estava sério, algo não muito comum em se tratando
de Bass.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou se aproximando. — Meu
pai disse que você saiu apressado da cerimônia.
Bass o encarou por alguns segundos e suspirou.
— Vem comigo — pediu.
Ambos se encaminharam para a biblioteca e, assim que entraram,
Sebastian pegou a mão de Luca e colocou a chave em sua palma.
— O que é isso?
— A chave do quarto de Nina.
Luca estranhou aquilo e uma ruga se formou entre suas sobrancelhas.
— Por que está me dando isso?
— Adivinha.
— Fala logo, caralho! — exaltou-se Luca.
— Ela saiu do quarto e foi até o salão cerimonial. Ela viu o que
aconteceu, em parte... Até você enfiar o punhal na menina. Quase deu um
escândalo. Felizmente eu estava próximo e a vi. Tive que arrastar ela de lá.
Por um momento, Luca ficou estático com as palavras do amigo,
então explodiu, nervoso.
— Porra! Será que ela não consegue atender uma vez sequer um
pedido? Merda! Caralho! — Passou a mão no rosto e olhou para Sebastian.
— Como ela está? O que você disse para ela?
— Não muita coisa, apenas que Irina não estava morta e que você iria
falar com ela depois. Ela acha que somos satanistas.
Luca arregalou os olhos.
— Ah... que ótimo! — ironizou.
— Vai falar com ela agora?
— Não. Não posso... Como padrinho, devo permanecer no banquete
e aguardar que os novos convertidos acordem. Merda!
— Quanto tempo isso leva?
— Uma hora, mais ou menos. — Luca o olhou interrogativamente.
— Nunca apadrinhou ninguém?
Sebastian riu.
— Eu não! Sou um cara criado na cidade, e hoje raramente se
converte alguém nos grandes centros. Quando isso se faz necessário, meu pai
é quem cuida do assunto, eu nunca estive presente. — Ele deu de ombros e
sorriu. — Olha só! Hoje foi a primeira vez que eu vi uma cerimônia.
Interessante... Me diz uma coisa, o gosto do sangue deles... qual é?
— O mesmo de um humano... — Luca observou desconfiado,
imaginando se o amigo ainda continuava ingerindo sangue fresco das garotas.
— Hum... entendi! Vamos ao banquete, então. — Bass sorriu. —
Enquanto isso, você pensa no que vai dizer para a moça lá em cima.
Luca franziu o cenho e ambos saíram da biblioteca. Seu coração
pesava. Estava com um problema monstruoso nas mãos. Não queria nem
pensar no que aconteceria com Nina quando seu pai soubesse. Bufou. Grigore
não tardaria a descobrir de qualquer forma, então seria melhor que fosse por
ele, mas falaria com a garota primeiro.

Em seu quarto, Cătălina levantou-se do chão e foi até a janela. Abriu-


a e olhou para baixo, pensando se existiria um modo de sair dali, mas era
muito alto e não havia nada em que pudesse se segurar para descer. Além
disso, era noite e estava frio, muito frio. Provavelmente não aguentaria sair
do vale e chegar à cidade andando.
O barulho lá fora estava alto, podia escutar risadas e até uma música
sendo tocada. Eles estavam mesmo comemorando? Em que espécie de lugar
ela tinha vindo parar? Fechou a janela e se abraçou, sentando-se em um
canto. Encostou a cabeça nos joelhos e aguardou. Já fazia mais de uma hora
que Bass havia saído e em algum momento aquela porta iria se abrir, e o
medo de quem iria entrar por ela era congelante.
Tinha quase certeza de que seria Luca, mas e se ele não quisesse sujar
as próprias mãos com o seu sangue e pedisse para o pai dar um jeito nela?
Sangue... Ele havia mordido a Irina, tomado o sangue dela...
Então um pensamento lhe surgiu num estalo e ela se levantou de um
pulo, colocando as mãos sobre o peito. Começou a se lembrar das palavras
ditas pela garota no tal juramento e do que Bass também havia falado.
Conversão, batismo, proteger segredos... Ela havia falado algo sobre entregar
a vida e renascer... Como uma o que mesmo? Uma transformada?
O coração de Cătălina batia rápido. Seria possível que as lendas e os
mitos que rondavam o castelo dos Constantin estivessem corretas?
Vampiros? Eles eram vampiros? Balançou a cabeça em negação. Não...
Vampiros não existiam, aquilo era coisa de filmes e história de gente velha.
Ela tinha visto Luca sair de dia, todo coberto era verdade, mas...
Dúvidas começaram a pipocar em sua mente. E se parte dos mitos
estivessem errados? E se os vampiros fossem diferentes daqueles mostrados
nos filmes? Luca também tinha segurado sua correntinha com o crucifixo e
não tinha demonstrado nenhum incômodo. Mas que outra explicação teria?
Bass afirmou que eles não eram satanistas, mas o que eram, então? Em quem
acreditar? No que acreditar?
Para o seu desespero, escutou o barulho da chave girar na porta.
Pensou em se trancar no banheiro, mas de que adiantaria? Eles
provavelmente teriam a chave de lá também.
Pegou novamente a faca da mesa e aguardou.
Luca logo apareceu no vão da porta e a olhou, preocupado. Ele ainda
estava vestido de preto, embora sem a capa. Cătălina apertou a faca na mão e
ficou imóvel, observando-o entrar. Talvez conseguisse passar por ele e
escapar pela porta.
Esperou que ele se aproximasse mais e saiu correndo, desviando pela
lateral para tentar alcançar a saída. Luca, porém, era rápido e, no momento
em que ela chegava à porta, ele a fechou e a agarrou pelo ombro, virando-a
para ele.
Em um ato impulsivo, Cătălina lhe passou a faca no braço, rasgando
sua roupa e lhe arrancando um pouco de sangue. Para a sorte do vampiro,
aquela faca era pequena e quase sem corte, daquelas usadas apenas nas
refeições, e, por isso, não fez muito estrago.
De forma dura, Luca agarrou o pulso dela e o travou na porta,
arrancando a faca de suas mãos. Encarou-a nos olhos e viu pavor, raiva,
tristeza. Seu coração se apertou.
— Nina... — murmurou, enquanto prensava seu corpo contra o dela e
a abraçava, inspirando o aroma de seus cabelos.
Cătălina se retesou, mas não esboçou resistência.
— Luca, por favor... Me deixe ir embora, por favor... — Sua voz era
carregada de desespero.
— Não posso.
Ela voltou a chorar e sentiu suas pernas fraquejarem, não estava mais
conseguindo sustentar o seu peso.
Luca a segurou e a pegou no colo.
— Não! Por favor, me solte!
— Shhh... calma, Nina. Não vou lhe fazer mal — respondeu ele
enquanto a levava para a cama.
Com cuidado, depositou-a sobre a colcha e se deitou ao seu lado.
Cătălina se virou de bruços e afundou o rosto no travesseiro, não queria olhá-
lo, tinha medo. Medo do que viria a seguir, medo de que ele pudesse
machucá-la, embora, no fundo, seu coração duvidasse disso. Tinha medo de
perceber que, apesar de tudo, ainda sentia algo por ele.
O vampiro deslizou o braço por suas costas e começou a fazer um
carinho em seus cabelos, aguardando que se acalmasse.
— Nina? — chamou ao perceber que ela havia parado de chorar e
estava apenas imóvel. — Olhe para mim.
Ela fez um movimento negativo com a cabeça e ele se aproximou
mais. Em seguida a abraçou pela cintura e roçou o nariz em sua orelha,
arrancando-lhe um arrepio.
— Olhe para mim, Nina — sussurrou novamente.
Com muito custo, Cătălina desviou o rosto do travesseiro e o olhou
meio de lado.
— Está com medo de mim? — ele perguntou.
Ela assentiu e ele a puxou para cima de seu peito, fazendo-a se
tensionar, assustada. Com um olhar terno, ele pôs a mão em seu rosto e lhe
fez um carinho.
— Acha mesmo que eu poderia te machucar, pequena?
Uma dúvida passou pelos olhos de Cătălina.
— Não sei... Não sei de mais nada... Você... você machucou Irina,
Luca. Você enfiou uma faca nela...
— Ela está bem, Nina. Te garanto. Poderá vê-la e falar com ela
amanhã.
— Mas... como?
— Não posso te dizer, por favor, não insista.
— Você bebeu o sangue dela... você mordeu ela! — exclamou a
garota.
Como Luca permaneceu em silêncio, ela continuou:
— Eu vi os seus dentes. Não pode mais mentir para mim... — O
coração de Cătălina voltou a acelerar. — Você é um vampiro, Luca?
Ele arqueou as duas sobrancelhas. Pensou em negar, mas de que
adiantaria? De que outra forma explicaria o que houve lá embaixo? Seria
difícil para ela acreditar se ele dissesse que tinha sido apenas uma encenação.
Mentiras tinham pernas curtas e uma mentira daquele tamanho não se
sustentaria por muito tempo.
Com um meio sorriso, segurou o queixo dela, passando o polegar em
seus lábios.
— E se eu for?
Cătălina engoliu em seco, o coração quase saltando pela boca.
— Vai me matar ou me transformar também?
— Não.
Ela inspirou fundo e soltou o ar lentamente, estudando o rosto de
Luca.
— Jura que você não é um satanista? — perguntou fixando os olhos
na boca do rapaz.
— Juro. — Ele sorriu.
— Jura que Irina e os outros garotos estão bem?
— Juro — Ele a virou na cama, deixando-a por baixo. — Eu nunca
faria mal a ela ou a ninguém, Nina... Confie em mim.
Com um sentimento de alívio, Cătălina assentiu. Devia estar louca,
mas seu coração lhe dizia que podia confiar em Luca.
— Isso é surreal...
— Sim, imagino que para você seja muito difícil de acreditar, mas é
verdade. Não precisa ter medo de nós, pequena. Nunca faríamos mal a você
ou a qualquer outra pessoa.
Um arrepio percorreu a espinha de Cătălina.
— Céus. Então você é mesmo um vampiro! — Ela arqueou as
sobrancelhas.
— Somos vampiros do bem. — Ele piscou.
— Vampiros do bem? — Esboçou um sorriso. — Isso existe?
— Claro que sim. Olhe para mim, Nina. Acha que eu poderia fazer
mal a alguém? Eu me formei médico para ajudar as pessoas, não para
machucá-las.
Nina olhou nos fundos dos olhos de Luca e encontrou sinceridade.
— Acredito em você — disse.
Ele sorriu e resvalou a ponta do nariz no dela para lhe fazer um
carinho.
— Posso te beijar agora? — sussurrou.
Ela concordou, não conseguia negar o incontrolável desejo que
aquele deus grego lhe despertava. Luca lhe tomou os lábios, a língua e todos
os espaços de sua boca.
Cătălina se deixou levar pelas carícias do médico, pela sua boca
macia, pelo seu corpo quente. Vampiro ou não, ela não resistia a ele. Havia
percebido isso no momento em que ele a encostou contra a porta, soube,
então, que estava perdida.
Estava mais do que apaixonada por ele, talvez o amasse de verdade,
talvez por isso continuava confiando nele. Era bizarro, mas a ideia de Luca
ser um vampiro não lhe assustava tanto agora.
Ainda não tinha ideia do que esperar, ainda queria explicações e
ainda não se sentia segura em estar ali. Quantas daquelas pessoas que
estavam lá eram vampiros também? E se todos fossem vampiros? Todos
seriam do bem como Luca?
O médico escorregou a boca por seu pescoço, causando-lhe um
estremecimento.
— Luca... Você vai me morder?
Ele sorriu e passou os dentes de leve próximo à artéria pulsante de
Cătălina, fazendo-a prender a respiração ao mesmo tempo que uma excitação
intensa subia pelo seu ventre.
— Não vou mentir... É tentador... — respondeu ele, dando-lhe um
beijo onde havia passado os dentes. — Mas não vou te morder. Não hoje... E
não, se você não quiser... — Voltou para a boca e lhe deu uma mordiscada no
lábio. — Além disso... já estou empanturrado de sangue por hoje.
— Luca... vou ser honesta contigo. Sinto um frio na barriga só de
pensar que você não é um humano.
— Certo... precisamos conversar sobre isso, mas não agora. Tudo
bem?
Ela concordou com um sorriso e ele voltou a beijá-la e a explorá-la
com as mãos. Alguns minutos depois estavam ambos nus e unidos.
Luca a estocava fundo. O sangue fresco recém-ingerido o deixava
excitado além do normal e ele precisava se aliviar. A cavidade quente, úmida
e apertada de Nina era uma delícia. Ela toda era uma delícia e ele só queria se
perder naquele corpo. Os problemas que ficassem para depois, o que estava
feito, estava feito.
Com um gemido abafado, ele gozou, mas não saiu de dentro dela.
Deu-lhe mais alguns beijos e voltou a se movimentar, desta vez se
concentrando em estimular seu ponto de prazer.
— Abaixe suas pernas, deixe-as esticadas... — pediu, pressionando-
se contra ela sem parar de entrar e sair.
Cătălina fechou os olhos, deliciada. Com as pernas abaixadas, ela
sentia toda a extensão do membro de Luca lhe penetrar e quando ele chegava
no fundo era como se sua base acariciasse exatamente o ponto certo do seu
prazer. Não precisou de muitas investidas para que ela chegasse ao clímax.
Quando o fez, agarrou-se nele e murmurou seu nome.
Luca voltou a elevar as pernas dela para estocar mais forte. Logo ele
gozou de novo. Era impressionante o poder afrodisíaco do sangue fresco. O
vampiro sentia que poderia continuar transando e gozando a noite toda, mas
ele não queria machucar a garota.
Então saiu de dentro dela e se acomodou ao seu lado, puxando-a para
um abraço.
— Me diz que não está mais com medo de mim.
Ela sorriu.
— Não estou... mas você me deve explicações. Não pode me deixar
no escuro, Luca.
— Conversaremos amanhã, prometo.
Cătălina concordou e ele se virou para apagar a luz do abajur. Logo,
ela estava ressonando e o vampiro suspirou. O dia seguinte ia ser complicado,
pois além de contar tudo a ela, ainda teria que explicar a situação para o pai.
Estava preocupado. Não acreditava que Grigore pudesse enviá-la
para Vârful Cârja. Se fosse outros tempos, talvez, mas não agora. O
problema era: quem mais, além deles, poderia ter desconfiado de que ela era
uma humana? Foi perigoso ela ter aparecido na cerimônia daquele jeito,
aquilo não era nada bom...
C ătălina acordou com o braço de Luca sobre o seu corpo. Podia sentir a
respiração pesada dele atrás de si, seus deus grego ainda estava
dormindo.
Um vampiro... Ele era mesmo um vampiro? Ainda era difícil de
acreditar e não conseguia entender sua própria reação diante daquilo.
Supostamente ela deveria estar apavorada. O homem ao seu lado não era
humano, ele sugava sangue das pessoas! Ele transformava pessoas em
vampiros... Ele não deveria ser um monstro? Uma aberração da natureza?
Por que, então, ela não tinha medo dele? Por que ela ainda o queria?
Seu coração lhe gritava a resposta, mas era tão difícil de aceitar...
Sua mente começou a clarear em relação à resistência de Luca em
ficar com ela e manter aquele noivado estranho.
Será que o enlace arranjado dele tinha alguma coisa a ver com ele ser
um vampiro? Sua noiva era prima de Bass. Então eles também eram
vampiros? Sim, provavelmente... Ou o amigo de Luca não teria permanecido
tão tranquilo em relação ao que aconteceu na tal cerimônia, e não a teria
trancado no quarto para que ela não fugisse.
As lembranças da noite passada eram tão bizarras que ela tinha a
impressão de que tudo não havia passado de um pesadelo ou de uma cena de
filme. No entanto, para aquelas pessoas que estavam lá, parecia ter sido a
coisa mais natural do mundo.
Vampiros...
Seu estômago ainda gelava ao pensar naquilo. Então todos eram?
Bass, Mirela, o Sr. Constantin, Anna, aquele louco que tentou atacá-la na
cozinha? Céus, se não fosse por Luca, ela teria sido mordida ali, talvez
morta...
Mas e Irina? E aqueles outros jovens? Não estava entendendo... Eles
eram humanos que estavam passando pela transformação? Por que eram
humanos? Irina não era filha de Anna?
A cabeça de Cătălina fervilhava de perguntas, mas, naquele
momento, o que ela precisava mesmo era ir ao banheiro, estava muito
apertada. Cuidadosamente, retirou o braço de Luca de cima de si e saiu da
cama. Pela janela, viu que já estava amanhecendo. Espreguiçou-se. Naquela
época do ano o sol nascia perto das 8h da manhã, portanto já não era tão
cedo, logo Irina apareceria com o seu café.
Irina... será que ela estava bem mesmo? Saberia em breve...
Ao voltar para o quarto, sentou-se na cama e observou Luca. Seu
deus grego tinha um lado sombrio, mas ele era tão lindo... tão gostoso.
Cócegas passaram por seu estômago e ela sorriu. Não se arrependia, nem por
um segundo, de ter entregado sua virgindade a ele. A única coisa que a
deixava triste é que não poderiam ficar juntos.
Realmente, Luca não era para alguém como ela e agora entendia o
motivo. Não era apenas pelo noivado... Ela não era uma deles! Não era uma
vampira...

Lembrou-se, então, de que o havia ferido com a faca na noite


anterior. Procurou o corte no braço dele, mas só havia uma fina cicatriz no
local, bem como no pulso onde ele havia cortado durante a cerimônia.
Espantou-se e passou os dedos levemente sobre a marca. Ele tinha a
cicatrização rápida!
Luca se mexeu e abriu os olhos.
— Tudo bem? — perguntou ele, colocando a mão sobre a de
Cătălina.
— Sim, tudo... — Ela sorriu.
— Então vem para cá — disse o vampiro puxando-a para o seu lado e
beijando-a. — Você é linda... — falou entre beijos.
— E você é insaciável — respondeu ela rindo, ao perceber que a mão
dele já percorria o seu corpo. — Mas Luca... estou dolorida...
Ele a olhou e deixou-se cair, afundando o rosto em seus cabelos.
— Ah... — Então riu. — Me desculpe, pequena. Às vezes me
esqueço de como é delicada.
— Posso te saciar de outras formas... Você disse que ia me ensinar
como te chupar, lembra? — Ela deslizou a mão para o membro rígido dele,
acariciando-o.
Luca gemeu.
— Caralho, Nina... Tem ideia de como me deixa louco com essas
palavras? — Ele levou a mão até um dos seios dela e deslizou o polegar sobre
o mamilo. — Vamos tomar um banho primeiro...
O vampiro sorriu e se sentou. Contudo, antes que fossem para o
banheiro, uma batida soou na porta. Ele franziu o cenho, aborrecido, e se
levantou.
— Luca! — chamou Cătălina rindo. — Você está nu! Não vai
atender a porta assim.
— Ah, sim... — Ele procurou a cueca e a vestiu, seguindo para a
porta.
Ao abri-la, quase provocou um infarto em Irina, que, por pouco, não
deixou a bandeja cair no chão.
— Entre — falou, abrindo passagem.
Vermelha e dura como um robô, a garota entrou no quarto e foi direto
à mesinha para deixar o café da manhã. Cătălina sorriu ao ver a filha da
cozinheira bem e o seu coração se aqueceu ao confirmar que Luca estava
dizendo a verdade.
— Senhor Luca... — disse Irina fitando o chão, a fim de evitar olhar
para o volume que se destacava na cueca do patrão. — O Sr. Constantin disse
que quer vê-lo e o aguarda no escritório.
— Logo cedo? — Ele bufou. — Okay, já vou descer. Hum... Irina,
não vá embora ainda — pediu enquanto pegava o resto de suas roupas e se
encaminhava para o banheiro.
Ela ficou parada no lugar e, constrangida, deu um sorriso meio de
lado para Cătălina, que permanecia na cama. Ela se cobriu com os lençóis,
igualmente envergonhada de ser pega naquela condição.
Luca retornou já vestido e caminhou até a cama, depositando mais
um beijo nos lábios de Cătălina.
— A lição vai ter que ficar para mais tarde... — Sorriu e se virou para
a filha da cozinheira e sua mais nova apadrinhada. — Nina tem algumas
perguntas a lhe fazer, Irina. Pode dizer tudo, ela já sabe sobre nós.
A garota arregalou os olhos.
— Desculpe, senhor, acho que não entendi...
— Ela resolveu andar por aí ontem à noite, mesmo com ordens para
ficar no quarto, e acabou vendo parte da cerimônia... — Luca olhou para
Cătălina repreensivamente. — Aliás, Nina, por que fez isso? Por que foi lá
embaixo?
Cătălina baixou os olhos e mordeu o lábio inferior.
— Eu vi os aldeões subindo a colina, vi a fogueira... Achei que era
uma festa e fiquei chateada por você ter mentido para mim, dizendo que era
só um jantar. E fiquei curiosa também, porque Madeleine esteve aqui e
mencionou que haveria uma cerimônia; eu quis dar uma espiada, nunca
pensei que... — Suspirou.
— Não vou negar que essa sua curiosidade pode nos gerar
problemas... mas tentarei contornar isso — falou Luca apreensivo. Virou-se
para Irina. — Enfim, ela sabe que somos vampiros, mas deve estar cheia de
dúvidas. Então, por gentileza, esclareça-as por mim. Eu mesmo faria isso se
não tivesse que enfrentar a fúria do meu pai agora.
Irina olhou surpreendida para a garota na cama e se voltou para o
médico.
— Pode deixar, Sr. Luca. Eu responderei às perguntas dela.
— Luca? — chamou Cătălina. — O seu pai... ele já sabe que eu...
descobri sobre isso?
— Ainda não, mas vai saber. Não é algo que eu possa esconder dele.
Acredito que ontem você chamou um pouco de atenção lá embaixo e alguns
aldeões podem ter desconfiado de você. Isso certamente vai acabar nos
ouvidos de meu pai. Então, é melhor que ele saiba antes, por mim. — Ele
esboçou um sorriso conformado e acenou já da porta. — Depois nos falamos.
Assim que Luca saiu, Cătălina levantou-se enrolada nos lençóis.
— Não querendo abusar, Irina, mas poderia me esperar só um
pouquinho? Preciso tomar um banho rápido.
— Pode ir, senhorita. Enquanto isso arrumarei o quarto.
Ao voltar do banho, Cătălina encontrou a cama esticada com lençóis
novos e a garota lhe aguardando sentada em uma das cadeiras próximas à
mesinha. Ela fez menção de se levantar, mas Cătălina a interrompeu.
— Por favor, fique. Precisamos conversar.
— O que gostaria de saber, senhorita?
Ansiosa por conhecer mais a respeito de Luca e sua família, Cătălina
inspirou fundo e fitou a garota à sua frente que parecia um pouco preocupada.
— Tudo... — Serviu-se de uma rosquinha. — Quero saber sobre
muitas coisas, Irina... Mas vamos começar com o que aconteceu ontem. Você
está bem? Não está machucada.
— Não, senhorita. Estou perfeitamente bem. A marca do punhal já
quase não aparece.
Cătălina engoliu em seco. Mal acreditava que Irina tinha mesmo
levado uma facada no peito.
— O que eu não entendo é o porquê daquela cerimônia. Por que você
teve que se submeter a isso?
— Porque foi minha escolha me converter em uma vampira
transformada.
— E antes você era o quê?
— Uma humana.
— Mas e a sua mãe... Ela não é uma vampira, então?
— Minha mãe é uma transformada também. Acontece que quando os
transformados têm filhos, eles nascem humanos, entendeu?
Ao perceber a confusão nos olhos de Cătălina, Irina riu.
— Acho melhor eu explicar desde o princípio — disse ela, limpando
a garganta. — Existem dois tipos de Vampyrs, ou vampiros, como somos
conhecidos. Os de sangue puro, como os Constantin, que já nascem
vampiros, e os transformados, como eu, que nasci humana e me converti em
vampira ontem.
— Por que quis se converter?
— Porque é muito mais vantajoso. Podemos levar a mesma vida de
um humano, mas não ficamos doentes e envelhecemos lentamente.
— Ah, entendi, mas vale mesmo a pena? Vi que fez um juramento...
Agora que é uma transformada, você não está presa aos Constantin?
— Não. Nós juramos lealdade e guardamos o maior respeito por eles,
afinal, sem nossos padrinhos não existiríamos, mas somos livres.
Antigamente, os transformados seguiam sempre os seus mestres. Mas isso
acontecia séculos atrás, quando os vampiros puros convertiam humanos
comuns para serem seus escravos.
— Eles faziam isso? — Cătălina arregalou os olhos.
— Sim, mas há muito tempo essa prática foi abolida e até proibida,
agora só os filhos de transformados podem ser convertidos. Então, sinto-me
uma privilegiada, na verdade. E, embora os vampiros puros ainda tenham o
poder de controlar nossas mentes, não estamos mais obrigatoriamente presos
a eles. Assim, quem quiser pode sair da vila e fazer sua vida fora daqui, só
precisa respeitar as nossas leis. Não pode se expor, por exemplo, pois
ninguém deve saber que existimos.
— Mas você deseja ficar?
— Ah... sim. Amo o vale, para mim, aqui é o paraíso. Não gosto da
cidade, acho estressante demais.
— Mas e o sangue? Como se alimentam?
— Vampiros puros precisam de sangue humano, mas eles têm todo
um processo de recolher esse sangue de quem morre nos hospitais. Não se
preocupe, ninguém mais mata ninguém, é expressamente proibido atacar
humanos. Está na lei. Já nós, os transformados, também precisamos de
sangue, mas em menor quantidade e não precisa ser necessariamente
humano. Aqui no vale sobrevivemos do sangue retirado de animais.
— Mas vocês também comem alimentos normais... — Apontou para
a bandeja à sua frente.
— Sim, o sangue é vital. Sem ele nós morremos, mas precisamos de
outros nutrientes também.
Cătălina colocou a mão no braço de Irina.
— Você é quente. Achei que fosse gelada como uma morta-viva.
Irina riu.
— Não somos mortos-vivos, senhorita. Nosso coração volta a bater
quando revivemos após a conversão e o nosso sangue continua quente.
— E quanto ao sol? Como é que vocês conseguem sair à luz do dia?
— Então... Os vampiros têm, sim, sensibilidade ao sol. Os puros,
principalmente, são muito mais sensíveis e se queimam super rápido, por isso
usam roupas de mangas, óculos e chapéu quando precisam sair durante o dia,
mas não entram em combustão ou viram pó como nos filmes. — Irina riu
novamente. — No caso dos transformados, somos mais resistentes, creio que
por termos nascido humanos. Só um produto com fator de proteção solar
forte e um chapéu já nos basta.
Cătălina pegou em sua correntinha.
— E as cruzes?
— Bobagem.
— Uau! — exclamou Cătălina. — Isso é tão surreal... Então os
vampiros de hoje em dia não saem mais por aí atacando ou transformando
humanos?
— Não. É proibido, e quem fizer isso é severamente punido, como
aquele vampiro que te atacou aqui no castelo.
— Ah... O que aconteceu com ele?
— Foi mandado para Vârful Cârja. Uma prisão terrível! — Irina
estremeceu e olhou para Cătălina com preocupação. — Senhorita... não devia
ter saído do quarto ontem. Devia ter ficado aqui, sem saber sobre nós. Às
vezes, a ignorância é uma bênção.
— Por que diz isso? — perguntou Cătălina arregalando os olhos.
A transformada suspirou.
— Está na lei, na nossa lei. Quando um humano descobre sobre nossa
existência, ele deve ser anulado como ameaça.
— Anulado? Como assim?
— Ou é eliminado ou vai para a prisão... Mas pelo que eu sei,
humanos não sobrevivem por muito tempo lá.
Cătălina sentiu seu estômago embrulhar.
— Está dizendo que eu corro risco de ser “anulada”? Mas eu não sou
uma ameaça. Por que seria?
— Porque pode espalhar nosso segredo por aí.
— Mas eu não vou...
— O Conselho não sabe disso.
— Que Conselho?
— O Conselho de Anciãos. Ele é formado pelos vampiros das
famílias mais tradicionais. São eles que fazem as leis e nos punem quando
não as cumprimos.
— E como esse Conselho vai saber sobre mim? Acha que os
Constantin vão me denunciar?
Irina mordeu o lábio e inspirou fundo.
— O pai de Luca foi membro do Conselho por mais de uma centena
de anos, senhorita. Hoje o Sr. Victor, filho dele, é quem ocupa a cadeira, mas
creio que o Sr. Constantin ainda seja bastante rígido quanto a isso... Não acho
que ele desrespeitaria uma lei que ele próprio ajudou a formular.
— Ai, Irina... Está me apavorando, assim... — falou Cătălina
sentindo suas mãos suarem novamente e o seu coração disparar.
— Sinto muito, senhorita. Vamos torcer para que o Sr. Luca consiga
arrumar uma outra solução. Ele tem um ótimo coração e deu para ver que
gosta de você. Não creio que ele vá concordar em te mandar para Vârful
Cârja.
Cătălina colocou a mão sobre o peito. O medo voltou a assolá-la.
Então ela podia mesmo ser morta por ter descoberto sobre eles? Merda! Por
que ela não tinha ficado quietinha em seu quarto ontem, por que tinha que ser
tão curiosa?
Segurou novamente sua correntinha com o crucifixo entre as mãos e,
angustiada, pediu mentalmente para que Luca conseguisse convencer o pai
dele a não entregá-la.
L uca desceu as escadas e foi se encontrar com o pai no escritório, como
ele havia pedido. Desta vez, porém, Grigore não estava examinando
papéis atrás de sua escrivaninha. Ele estava sentado em uma das
poltronas no centro da sala com uma taça de vinho na mão e um semblante
sério.
— Bom dia, pai — falou Luca, sentando-se em outra poltrona à sua
frente.
Grigore serviu o vinho em sua taça e deu um gole.
— Ontem, após a festa, conversei com Theodor, um dos seguranças
do castelo... — disse secamente. — E ele me contou que, durante a
cerimônia, viu a garota que ele resgatou da muralha sendo arrastada por
Sebastian do salão. — O senhor do castelo encarou o filho com os olhos
estreitos. — Era tão difícil assim manter a humana dentro do quarto por uma
única noite?
— Sinto muito, pai. Não achei que ela fosse sair. Se eu soubesse, a
teria trancado.
— Devia tê-la trancado de qualquer jeito! — exclamou Grigore
demonstrando irritação. — O que ela sabe?
Luca inspirou fundo.
— Ela sabe o que somos, não foi difícil deduzir depois de ter visto o
que viu.
Grigore fechou o semblante dando uma ideia do que estava por vir.
— Você sabe o tamanho do problema que isso vai nos causar, Luca?
— Sua voz era baixa e contida.
— Não vai nos causar problema algum, pai. Ninguém precisa saber
que ela conhece o nosso segredo. Podemos resolver isso entre nós.
Grigore o olhou exasperado.
— O que está sugerindo? Que eu esconda tal fato do Conselho?
— Exato — respondeu Luca sustentando o olhar do pai.
— Você já se esqueceu que eu fui um dos criadores da lei que
estabelece a eliminação de humanos que possam revelar nossa existência?
Por que acha que essa lei existe, Luca? Acha que é fácil para nós, vampiros,
nos mantermos nas sombras? O que acha que aconteceria conosco se
fôssemos descobertos? Se passássemos de uma lenda para uma ameaça real
aos humanos. Acha que nos deixariam em paz?
Luca abaixou a cabeça. Ele sabia de tudo aquilo, mas não podia
deixar que Nina fosse levada, nem que tivesse que enfrentar o maldito
Conselho.
— Eu entendo o que está dizendo, pai. Eu sei que esse mundo não
seria nada amigável conosco, caso nos descobrissem. Mas Nina não é uma
ameaça. Não pode mandá-la para Vârful Cârja. Ela é só uma jovem curiosa.
Tenho certeza de que podemos controlar a situação.
— Uma jovem curiosa que você tem levado para a cama, não é? — O
olhar de Grigore era afiado. — Foi esse excesso de confiança que você teve
nela que fez com que se descuidasse e a deixasse solta por aí. Pense com a
cabeça certa, Luca, pare de deixar que o seu pau pense por você!
— Pai! — exclamou o médico, indignado. — Não estou pensando
com o meu... estou pensando com o meu coração. — Com um suspiro,
levantou-se e se serviu de um pouco de vinho também. — Eu jamais me
perdoaria se permitisse que a levassem. E escute bem. Eu não vou permitir!
Ninguém toca nela, pai. Ninguém!
— Você se apaixonou por essa garota? — Grigore estreitou os olhos.
— Luca... você vai ficar noivo e se comprometer com os Moldovan no mês
que vem. Preste atenção! Não cometa os mesmos erros que eu...
— Os mesmos erros que você? — Luca sorriu com ironia. — Então
você acha que errou ao ter mandado a mãe de Ivy para a América depois de
tê-la engravidado, pai? Se pudesse voltar no tempo, a teria enviado para a
prisão? — perguntou em tom de desafio.
Grigore pousou a taça vazia dele sobre uma mesinha e bufou.
— Não. Não teria. E é por isso que me preocupo com você. Sabe
muito bem o que o meu amor pela Isabelle, a mãe da sua irmã, me custou.
— Não seja cínico. Não te custou nada! Apenas um arranhão em sua
reputação. Quem mais sofreu com aquilo tudo foi Ivy, que foi criada sem o
pai e logo perdeu a mãe, que morreu de desgosto.
— Exatamente! E eu me culpo por isso a cada maldito dia dessa
minha existência! — exaltou-se Grigore. — Eu errei de muitas formas nessa
história toda, mas o meu principal erro foi ter me apaixonado por uma
humana, mesmo estando casado com Mirela. Fui egoísta em não deixá-la
partir, ao prendê-la aqui comigo. Eu quis Isabelle para mim e agi como um
covarde quando ela engravidou. Orgulhoso que era, não assumi minhas
responsabilidades. E, ao invés de apoiá-la, eu a mandei para longe pensando
em protegê-la do Conselho, mas, no fim, fui a causa de sua morte...
Grigore se levantou, visivelmente abalado, e serviu-se de mais vinho.
— O que pensa que vai fazer com essa garota humana, Luca? —
continuou ele com a voz amargurada. — Acha mesmo que vai aguentar a
ideia de perdê-la para o tempo? Não, não vai... Escute o que eu estou te
dizendo. Seu coração vai pedir para que a mantenha junto de si e você vai
acabar transformando ela. Não vai conseguir deixá-la. E como ficará quando
tiver que se casar com Natasha? Como vai lidar com isso?
Luca cerrou os punhos.
— Não me tome por irresponsável, pai. Eu pretendo manter o meu
compromisso com os Moldovan. Sei muito bem da importância de se manter
a linhagem pura. Farei isso pelo vale, pelos transformados. — Suspirou. —
Quanto à Nina, eu gosto dela mais do que eu deveria, reconheço, mas não sei
se isso é paixão. E mesmo que fosse, acho que é muito cedo ainda para se
falar em uma paixão para toda a vida. Quantas pessoas por aí namoram por
algum tempo e depois acabam não dando certo e partem para outra? Não é
garantido que daqui a alguns meses ainda estaremos juntos. Podemos
simplesmente nos cansar um do outro...
— Ou não... — falou Grigore antes de beber mais uns goles de sua
taça e pousá-la sobre a mesa, permanecendo por algum tempo em silêncio,
refletindo. — Então, está mesmo disposto a arriscar nosso segredo por essa
menina?
— Sinto muito, pai, mas estou. Não vou deixar que a levem daqui, e
se o senhor a entregar....
O velho Constantin levantou a mão, interrompendo-o, e inspirou
fundo.
— Não pretendo começar outra guerra nessa família, Luca. E também
não vou bancar o hipócrita e te acusar de estar cometendo um erro, quando eu
mesmo já cometi tantos. Vou manter meu silêncio e ordenar aos empregados
do castelo que façam o mesmo. Mas preste atenção! Não quero o seu irmão
Victor envolvido nisso. Eu já estou velho e não me importo mais com minha
reputação, mas Victor é um Conselheiro e seria péssimo para ele se algum dia
descobrirem sobre a humana e desconfiarem que ele sabia sobre ela.
— Eu assumo qualquer responsabilidade, pai. Prometo.
— E o que pretende fazer agora? Essa moça não pode mais sair do
castelo, como estava previsto. Não podemos nos arriscar com isso, Luca.
Porque se ela abrir a boca lá fora, além de ser caçada e eliminada pela Força
de Contenção, quem vai para a prisão seremos nós.
— Eu sei... Estou pensando nisso... Eu preciso primeiro saber como
ela vai lidar com o que descobriu, se vai aceitar. Nina não vai sair do castelo
enquanto isso.
— E como pretende impedir que ela fuja? — Grigore arqueou uma
sobrancelha.
— Vou manter uma vigilância sobre ela. Se me permitir, gostaria de
escalar Theodor, já que ele a conhece e é um dos poucos aqui que sabe que
ela é humana.
— Tudo bem, pode mandar chamá-lo. Designarei outro segurança
para ficar no posto dele nesse tempo.
— Obrigado, pai. Agora, se me der licença, preciso ir para o hospital
daqui a pouco. Tenho que me trocar.
Grigore concordou e só então notou a roupa rasgada do filho.
— O que fez aí no braço? Se cortou?
O rapaz olhou para a manga.
— Não foi nada... Enrosquei em algum lugar e acabei rasgando...
— Hum... Depois peça para sua mãe consertar. — Ele caminhou para
trás de sua escrivaninha. — Pode ir, bom trabalho.
Luca saiu do escritório e, ao seguir para as escadas, encontrou
Popescu no hall de entrada.
— Viu, Sebastian, Sr. Pop?
— Ele já saiu, senhor.
— Okay... Por gentileza, poderia chamar Theodor? Vou precisar dele
aqui no castelo, já falei com o meu pai.
— Sim, senhor — respondeu o mordomo se afastando.
O vampiro seguiu para o quarto a fim de tomar um banho e se trocar.
Por sorte, sua escala no hospital começaria mais tarde naquele dia. Ainda
tinha coisas para resolver, mas pelo menos uma batalha estava ganha. Seu pai
não entregaria Nina ao Conselho.
Foi bem estressante aquela reunião. Quando entrou no escritório, não
tinha ideia do quanto ia ter que brigar para defender a garota. Felizmente, seu
pai havia mudado muito nos últimos anos. Se fosse o Grigore de dez anos
atrás, a moça, a essa altura, já estaria nas mãos da Força de Contenção indo
para a prisão.
Irina devia estar com ela agora. Estava curioso para saber como Nina
estava reagindo a tudo aquilo, e preocupado, pois não sabia o que fazer com
ela agora. Os planos dela de ir para Sibiu, trabalhar e viver sua vida
normalmente estavam descartados por enquanto.
Era preciso ter certeza de que a garota não revelaria a ninguém, em
hipótese alguma, qualquer coisa sobre eles. E isso era difícil de saber... Por
hora, ela ficaria no castelo sob guarda, depois analisaria a situação e
resolveria o que fazer.
Logo o mordomo bateu à sua porta informando que Theodor o
aguardava na biblioteca. Rapidamente, desceu e conversou com o segurança,
explicando sua nova tarefa. Entregou a ele uma cópia da chave do quarto de
Nina e pediu que o acompanhasse até o andar superior.
Cătălina estava olhando pela janela quando Luca bateu na porta e
entrou. Ela se espantou quando viu que o médico estava acompanhado de um
cara estranho vestido todo de preto que mais parecia saído do filme “Solomon
Kane”. Então, lembrou-se de já tê-lo visto no dia em que havia subido no
muro do castelo. Estava fugindo dele quando caiu e desmaiou.
— Nina, esse aqui é Theodor. Foi ele quem te resgatou da muralha —
disse Luca.
— Sim, eu me lembro... — respondeu inquieta com a presença do
homem ali.
Sua ansiedade estava a mil. Depois do que Irina lhe disse sobre
mandarem humanos que sabiam demais para a prisão, o receio de morrer
havia retornado e, naquele meio tempo, estivera aguardando angustiada o
retorno de Luca, temendo que o pai dele decidisse entregá-la ao tal Conselho.
Agora aquele homem de ares nada amigáveis estava ali. Será que ele tinha
vindo buscá-la?
Olhou interrogativamente para Luca e ele se aproximou.
— Sei que pode parecer estranho, ou absurdo, mas... preciso que
entenda o que eu vou te dizer e que compreenda meus motivos — falou o
médico segurando em suas mãos e a levando até uma cadeira.
Cătălina estremeceu, imaginando o pior. Ela iria para a prisão, iria
morrer...
Relutantemente, sentou-se enquanto ele se acomodava à sua frente
sem retirar as mãos das suas.
— Nina...
— Luca, por favor... Não me mande para a prisão. Eu não quero
morrer... — implorou com voz trêmula e os olhos marejados. — Eu prometo
que não vou falar nada sobre vocês para ninguém. Por favor...
— Irina te falou sobre a prisão?
Cătălina assentiu.
— Você não vai, eu te prometo. — Ele trouxe as mãos dela aos lábios
e depositou um beijo. — Não se preocupe com isso. Mas... você precisa
entender que agora esse seu conhecimento representa um risco ao nosso
segredo. Por isso, temos que tomar algumas medidas para que isso não saia
do castelo.
— Não confia em mim, Luca? Eu juro que não vou contar a ninguém.
— Não basta apenas eu confiar em você. Você precisa mostrar que é
digna de confiança a todos aqueles que moram e trabalham aqui. E dada as
suas últimas ações... — Ele suspirou. — Nina... Depois de você ter
desobedecido ao meu pai, não será fácil reconquistar a confiança das pessoas
aqui novamente e, sinto muito, mas isso não é algo que só depende de mim.
— Eu sei... eu... — Uma lágrima lhe escapou. — Sinto muito, eu
fiquei curiosa quando vi todo mundo lá embaixo e fiquei frustrada por ter
sido deixada de fora... Como eu ia imaginar que seria algo tão... tão secreto?
— Ela baixou os olhos para as mãos. — O que eu posso fazer, Luca? Para
que acreditem em mim?
— Por enquanto, nada... vamos deixar o tempo passar e ver como as
coisas vão se desenrolando. Continue trabalhando com a minha mãe, vai
entrando no ritmo do castelo... Mas tem uma coisa. — Ele olhou para o
segurança que continuava parado perto da porta. — Theodor vai te
acompanhar daqui para frente. Não poderá sair do quarto sem estar
acompanhada por ele ou por mim, compreende isso? E à noite, sua porta
permanecerá trancada.
Ela olhou assustada para o homem ali em pé.
— Ele vai ficar no quarto comigo?
— Não. Vai ficar lá fora.
— Serei vigiada, então?
— Exatamente, espero que entenda.
Cătălina mordeu o lábio. Sim, ela entendia. Ela era uma hóspede no
castelo e havia desobedecido a uma ordem simples. Pela importância do
segredo que escondiam, era natural que desconfiassem dela. Mas e agora? O
que faria? Quanto tempo levaria para convencê-los de que falava a verdade?
Não tinha interesse nenhum em expor Luca, sua família, Bass, Irina
ou qualquer outro habitante daquele lugar. Eles não eram pessoas más e não
queria que eles fossem perseguidos, como já havia acontecido há quase
duzentos anos, segundo Irina. Suspirou.
— Tudo bem — disse, por fim.
— Certo. — Luca se levantou. — Preciso ir para o hospital agora,
nos vemos mais tarde, okay?
Ela assentiu e os dois homens saíram. Voltou, então a olhar pela
janela. Aquilo era tão surreal...
L uca encontrou Bass assim que chegou ao hospital e o chamou à sua
sala para conversar.
— E aí? — perguntou o médico loiro fechando a porta.
— Tudo em ordem, por enquanto. Meu pai não vai entregar Nina
para o Conselho.
— Isso é bom, mas e ela? Como está?
— Mais tranquila. Irina passou a manhã conversando com ela hoje.
Explicando...
— E ela está aceitando isso de boa?
— Parece que sim.
— Que bom, porque ontem a garota chegou a me ameaçar com uma
faca — contou Bass.
Luca levantou a manga da camisa e mostrou a fina cicatriz no
antebraço.
— Ela me cortou.
Sebastian arqueou as sobrancelhas e os dois riram.
— Mas já está mais calma — completou.
— Sei... — Bass lhe lançou um olhar malicioso. — Enfim, o que
pretende fazer com ela?
— Não sei... Por enquanto, Nina não pode sair do castelo e está sob
vigilância.
— Luca, você se lembra de que seu noivado será em duas semanas,
certo? Antes disso tudo, o plano era que Nina já estivesse instalada em Sibiu
nessa data. Como vai fazer com ela lá agora? Com sua noiva chegando e os
convidados? Certamente Grigore vai hospedar alguns no castelo.
— Ahh, Bass... Não sei... Meu pai vai pedir para mantê-la longe da
vista de todos, isso é certo.
— Vai ser bastante complicado isso... Outra coisa, você já esclareceu
com Nina como vai ser o relacionamento de vocês agora que ela sabe?
— Não, mas... nós, ontem...
— Transaram?
Luca não respondeu, apenas esboçou um sorriso bobo, fazendo
Sebastian revirar os olhos.
— Certo, então pretende continuar com ela?
— Se Nina quiser continuar comigo, agora que sabe de tudo, e desde
que ela entenda que não será um compromisso sério, não vejo impedimentos,
Bass. Você conhece os termos do noivado.
— Sim, conheço. Você tem pelo menos três décadas pela frente para
desfrutar da sua vida do jeito que quiser, mas não é esse o problema.
— E qual é? Por favor, não me venha com o mesmo discurso do meu
pai, que eu não vou querer perdê-la para o tempo e que vou querer
transformá-la.
— Não pensei nisso. Mas, conhecendo você, não seria nada tão
absurdo assim. Afinal, Nina é humana. Quanto tempo você acha que essa
relação pode durar?
— Não sei, Bass. Estávamos combinados de ficarmos juntos até o
meu noivado apenas, depois ela iria para Sibiu, mas agora que ela deverá
ficar mais tempo no castelo, não sei. Talvez dure mais algumas semanas ou
meses...
— E se durar mais do que alguns meses? E se forem anos? Como vai
terminar com ela, Luca?
— Não sei... Escute... é muito cedo para ficar especulando sobre isso.
Nina me atrai, gosto dela, nós transamos, mas isso não significa que vamos
avançar tanto assim nessa relação. Podemos apenas namorar por um tempo,
como qualquer um, sem criar tantas expectativas.
— Okay, vamos nos ater ao presente, então. Já falou com Nina sobre
o ritual de sangue?
Luca suspirou.
— Não! Nem conversamos direito ainda! Quanto ao ritual, ela não
precisa saber disso agora.
— Então não vai dizer a ela o que você e minha prima terão que fazer
no dia do noivado?
— Não há necessidade de chatear ela com esse tipo de coisa por
enquanto. Se nós ainda continuarmos juntos até lá, eu conto para ela. — Luca
fechou o semblante. Aquele assunto lhe dava calafrios no estômago. —
Enfim, o que mais te preocupa?
— Natasha, sua futura noiva, é claro. Não estou bem certo de que ela
irá aceitar que você mantenha sua amante sob o mesmo teto que ela no dia de
seu noivado.
— Nina não vai ficar às vistas de todo mundo e, mesmo que alguém a
veja, não tem por que acharem que ela é minha amante.
Sebastian sorriu ironicamente.
— Como se você pudesse esconder isso... É só olhar para sua cara
quando você está perto dela, só faltava estar estampado “Nina, eu sou louco
por você”.
— Não exagere!
O vampiro loiro riu.
— Está certo, Luca. Você é quem sabe... mas acho que vai acabar se
complicando com as duas.
— E que alternativa eu tenho? — Luca estreitou os olhos,
questionador.
— Deixe-me conquistar Nina e eu te livrarei desse fardo — disse
Sebastian de forma séria e depois sorriu.
Luca pegou um bloco de receita que estava sobre a mesa e tacou no
amigo, que saiu pela porta ainda rindo.
— Idiota! — resmungou ele antes de abrir seu computador para
verificar sua agenda do dia.

Cătălina passou o dia no quarto. Não tinha muito o que fazer, a não
ser pensar em tudo o que tinha acontecido e digerir toda aquela informação.
Irina havia lhe esclarecido algumas coisas, mas era tão difícil de
aceitar que aquilo era real. Às vezes, tinha dúvidas se não estava em algum
sonho maluco, ou se tudo não passava de um trote.
Luca era um vampiro... Aquilo era muito surreal. E o pior, ela tinha
transado com ele mesmo sabendo o que ele era e não havia se importado!
Segurou em sua correntinha com o pequeno crucifixo. Vampiros não
tinham medo da cruz... Então, não tinha nada a ver eles serem amaldiçoados,
aquilo era mais um mito.
Estava tão confusa... O medo de virar uma prisioneira para o resto de
sua vida começava a tomar forma. E se eles nunca confiassem nela? E se,
mesmo não a enviando para a prisão, eles nunca mais a deixassem sair dali?
Como ficaria a relação dela com Luca?
Um nó se formou em seu estômago quando se lembrou de que ele
estava prestes a ficar noivo. Então, seria por isso que eles ainda mantinham
esses casamentos arranjados? Por serem vampiros?
Realmente... agora entendia perfeitamente por que o médico dissera
que só poderiam ter um caso passageiro. Ela nunca poderia ter nada além de
sexo com um vampiro.
Surpreendera-se quando Irina contou que os vampiros puros não
eram imortais como nas lendas, mas podiam viver mais de 500 anos. Mirela
tinha quase 250 e Grigore mais de 300. Luca era jovem ainda, e ainda
permaneceria jovem por longos anos...
Ficou imaginando, ela com 70 anos, enquanto Luca ainda
aparentando ter 30. Com certeza, era impossível para um humano e um
vampiro terem uma vida amorosa juntos.
Uma tristeza enorme se apoderou de seu coração e Cătălina foi se
deitar. Por que tinha que se apaixonar por ele? O que faria dali para frente?
Não tinha respostas para nada e se sentia um caco.
Irina apareceu com o chá da tarde e Bass veio junto com ela.
— Não pretende me atacar, não é? — perguntou ele da porta, com as
mãos levantadas em defensiva.
— Não... — Cătălina sorriu envergonhada.
— Posso tomar chá com você?
— Claro.
A filha da cozinheira deixou as guloseimas sobre a mesa e saiu em
seguida.
— Você ainda está com medo da gente? — perguntou Sebastian
pegando uma rosquinha.
— Não... Eu estou com medo do meu futuro...
O vampiro a olhou sério.
— Com o tempo as coisas se ajeitam... — falou dando uma mordida
no doce e uma piscadela.
Cătălina sorriu.
— Bass...
— Sim?
— Como é a sua prima?
Ele suspirou.
— Bonita, inteligente, controladora, ciumenta, um pouco arrogante e
mimada também, mas não é uma pessoa ruim.
— Nossa... — Ela arqueou as sobrancelhas. — E o que ela tem de
bom, então?
— Gosta de animais, gosta de crianças, vive se metendo em causas
sociais e só não se alistou para o médicos sem fronteiras porque meu tio não
permitiu.
— Ah... Meio controversa ela...
Sebastian riu.
— Podemos resumir assim: Natasha é legal desde que sejam feitas as
suas vontades e ninguém pise em seu calo.
— Hum... Bass... Você acha que ela vai cismar comigo?
— Sendo bem sincero, se ela tiver qualquer ideia de sua relação com
Luca, sim.
— E como vai ser então? Falta tão pouco tempo para o noivado...
Eu... eu não acho que poderei sair daqui antes disso.
— Eu não sei, Nina... E creio que nem Luca sabe... Os planos
mudaram desde ontem, e ainda precisamos pensar no que fazer.
Cătălina tomou um pouco de chá, pensativa.
— Você desistiu? Dela?
— É como eu disse... Eu não sei mais o que sinto por Natasha. O que
eu sentia antes foi minado pela indiferença dela e eu acabei ficando com
raiva. Ainda sinto raiva... Então, não sei... Não vou arriscar minha amizade
com Luca e lutar por algo que eu não tenho certeza.
— Posso fazer mais uma pergunta?
— Ao seu dispor, princesa.
Cătălina sorriu.
— Luca me disse que você é um pervertido, mas nunca tentou dar em
cima de mim. Por quê?
Sebastian riu.
— Porque ele me pediu, ou a essa altura você estaria frequentando a
minha cama, não a dele — disse malicioso.
Ela arregalou os olhos e riu também.
— Você é bem convencido!
— Então me diz. — Ele se inclinou e se aproximou um pouco mais,
falando em um tom baixo e sedutor. — Se não fosse pelos seus sentimentos
por Luca, acha que resistiria a mim?
Cătălina corou com a aproximação do vampiro ao mesmo tempo que
pensava na resposta.
— Não sei, talvez sim, talvez não... Não saberemos. — Ela sorriu.
Bass se afastou com um brilho travesso no olhar.
— Não... não saberemos...
— Eu acho que eu amo o Luca, Bass... — confessou Cătălina mais
séria.
— Isso é um problema.
— Eu sei... Não temos futuro, não é?
— Depende de que futuro estamos falando. Se estiver pensando em
uma família normal com filhos e tal, certamente que não, mas se estiver
pensando em alguns anos de convívio e sexo selvagem, acho plausível.
— Mas e depois. E se eu ainda continuar a amá-lo?
— Não existe o depois para vocês dois, Nina, o tempo de vocês corre
diferente. A não ser que queira virar uma transformada, o que seria proibido
pelas nossas leis. E mesmo que se torne uma de nós, não creio que Luca vá
abrir mão do casamento... Ele iria te deixar de qualquer forma.
Cătălina sentia como se seu coração estivesse sendo comprimido.
— Por que tanta obsessão por esse casamento arranjado, Bass? Só
porque são vampiros? Isso também faz parte de alguma lei? Só se casar entre
vocês?
— Arranjar casamentos entre vampiros não faz parte da lei. Tem
mais a ver com tradição, e Luca... Ele dá valor a isso, sabe?
— Por quê?
— Porque ele é um Constantin. Foi educado e criado para manter as
tradições da família.
— E o que tem de tão importante nessas tradições. Orgulho, poder,
carisma?
— Não, não é por isso... Luca não é assim. Acontece que esse vale é
um dos poucos refúgios de transformados que ainda existem no mundo, e os
Constantin são responsáveis por toda essa gente.
— Certo, mas o que isso tem a ver com o casamento?
Sebastian inspirou fundo e continuou:
— Somente o casamento com uma vampira pura poderá dar a Luca
um filho puro. Um descendente que será capaz de dar continuidade à
cerimônia de batismo e à conversão dos transformados. Não sei se Irina já te
falou, mas somente um vampiro puro tem esse poder, de fazer a conversão de
um humano em um vampiro. Enfim, Luca entende que precisa manter sua
linhagem pura para dar um futuro aos transformados do vale para que eles
tenham a oportunidade de continuarem existindo.
— Mas e o pai dele? O irmão, Victor? Eles podem dar conta de fazer
as conversões, não podem?
— Sim, podem. Mas Grigore está ficando velho e Luca foi criado
para ser o herdeiro desse castelo. Um dia tudo isso aqui será dele. Luca
aceitou essa responsabilidade, essa tarefa, há muitos anos. É um grande peso
esse que ele carrega. Eu, sinceramente, não gostaria de estar na pele dele.
— Por que Luca é o herdeiro? E não o irmão?
— Victor abriu mão de sua parte do vale assim que Luca nasceu. Ele
não tem interesse no castelo, prefere cuidar dos hospitais.
— Muito cômodo para ele...
— São as vantagens de ser o irmão mais velho. Ele pôde escolher.
— Hum... — Cătălina suspirou. — Me esclareça uma coisa...
Vampiros puros só podem ter filhos com vampiros puros?
— Não. Podem ter com transformados também, mas, nesse caso, seus
descendentes não seriam puros.
— E só um filho puro poderia continuar com as conversões...
Entendi. Luca está se comprometendo com uma vampira de sangue puro para
manter a linhagem, por causa do vale?
— Exato. Você viu durante a cerimônia como a comunidade dos
transformados é grande. Os Constantin são responsáveis por eles há mais de
quinhentos anos.
— Entendo... — Ela suspirou e abaixou a cabeça. — E depois do
noivado? O casamento será quando? Quanto tempo ainda posso ter com
Luca? Ele me disse uma vez que vocês são livres para se relacionar com
quem quiserem até o casamento.
— O casamento demora bastante, já que nós, vampiros, raramente
nos casamos antes dos cinquenta anos, mas um relacionamento longo entre
vocês dois só seria viável para você se você virasse uma de nós.
— Se eu me transformasse? — Ela arregalou os olhos.
— Sim, mas como eu disse, isso é proibido. E também não pense que
algo assim poderia fazer Luca mudar de ideia quanto ao casamento. Porquê,
além da questão de gerar descendentes puros, depois do noivado ele não
poderá desistir do casamento ou correrá risco de morte.
— Como assim? — Cătălina abriu a boca, espantada.
— Coisas de honra. Sim, somos arcaicos. — Ele inspirou fundo. —
Nina... Eu não gosto de ter que te falar isso, mas não deposite suas esperanças
em uma relação duradoura entre vocês.
— Eu sei... E eu também não quero me transformar em uma vampira.
Na verdade, eu não sei o que fazer...
Sebastian colocou a mão sobre a dela.
— Não crie expectativas. É a única coisa que posso lhe dizer e
aconselhar.
Ela concordou, embora permanecesse com seus sentimentos
embaralhados.
— Ainda está de dia! — Sebastian sorriu ao olhar pela janela.
Cătălina levantou a cabeça, fitando-o com estranheza.
— Quer ver o pôr do sol do telhado?
Ela assentiu sorrindo e ele se levantou, puxando-a pela mão. Saíram
do quarto e Theodor, que estava sentado do lado de fora, franziu as
sobrancelhas, levantando-se também e seguindo os dois. Antes de subirem ao
terraço do telhado, Bass passou em seu quarto para pegar seus óculos de sol e
um boné.
— Conhece meu guarda pessoal? — perguntou Cătălina baixinho ao
chegarem lá em cima.
— Não, só de vista. — Sebastian sorriu. — Não se incomode. Finja
que é uma princesa e que ele é o seu segurança particular.
Ambos sorriram e fixaram sua atenção na paisagem. Era realmente
uma linda vista. O vale, o vilarejo, as montanhas... Quase tudo coberto de
neve. O sol se pôs alguns minutos depois, deixando uma mancha
avermelhada nas montanhas até que, finalmente, a noite começou a chegar.
Nesse meio tempo, ambos permaneceram em silêncio com seus
pensamentos, apenas contemplando a vista. Não havia necessidade de
palavras, não naquele momento.
L uca voltou do hospital e jantou com Cătălina naquela noite. Ela se
esforçava para manter em mente que estavam vivendo uma relação
passageira e que não devia criar expectativas. Como um mantra, ela
repetia em sua cabeça: “Não espere nada, não espere nada, ele é um vampiro,
você é uma humana”.
Após o jantar, eles se acomodaram na cama e Luca lhe contou mais
algumas coisas sobre os vampiros, como a habilidade de entrar em mentes de
animais; entretanto, não tocaram no assunto “relacionamento”.
Para Cătălina, o fato do seu deus grego ser um vampiro só
confirmava o que ele havia lhe dito há poucos dias, que não poderia lhe
oferecer nada mais do que um caso passageiro. E depois do que Bass lhe
disse sobre o noivado e toda a questão que envolvia o vale, ela não pretendia
insistir naquilo. Tinha que dar um jeito de aceitar e ponto.
Um nó ainda se formava em seu estômago cada vez que ela pensava
na palavra “vampiro”. Mas quando estava perto dele, em seus braços, essa
sensação estranha passava, felizmente. Era como se aquilo fosse um sonho.
Ainda na cama, eles trocaram vários beijos e carinhos, mas como
Cătălina estava com suas partes íntimas sensibilizadas pelo sexo quente da
noite anterior, eles apenas dormiram abraçados.
O dia seguinte passou sem novidades para Cătălina. Luca saiu cedo
para o hospital e Bass apareceu novamente para o chá da tarde.
Desta vez, a conversa girou sobre os casos amorosos do vampiro e
sobre os tempos da faculdade. Até que era divertido escutar as histórias dele,
mas foi assim que Cătălina ficara sabendo que Luca era bem popular na
época em que estudava e fazia sucesso com as garotas. Lindo e carismático
do jeito que ele era, não duvidava.
De início, ela se sentiu incomodada com o que soube, e Bass se
mostrou receoso de ter falado demais. Mas depois ela entendeu que a vida de
jovens universitários e solteiros devia ser muito diferente do que estava
acostumada em sua pequena cidade. Ela não tinha o direito de sentir ciúmes
de algo que acontecera há anos.
Assim, pediu para Bass continuar contando sobre as aventuras dos
dois. Queria saber mais sobre Luca, e ficou surpresa ao descobrir que, por
trás daquele médico sério e centrado, havia um cara com um lado mais
extrovertido e despreocupado.
Obviamente, Sebastian não falou tudo. Não entrou, por exemplo, no
detalhe daquela noite em que ambos beberam do sangue das duas moças. Não
seria tão idiota para deixar vazar um assunto como aquele.
Após o chá, Cătălina tentou ler um livro, mas sua cabeça estava tão
cheia de coisas... Aquela semana estava sendo um pesadelo. Primeiro a morte
de sua mãe e, em seguida, toda aquela história de vampiros. Não estava
conseguindo processar direito as informações...
Enquanto esteve sozinha, permaneceu em um estado de constante
ansiedade e só se sentiu mais aliviada quando Luca apareceu ao voltar do
hospital. Jogou-se nos braços dele como se ele pudesse protegê-la de tudo, de
todos, da vida.
Jantaram no quarto, conversaram e passaram a noite juntos. Desta vez
eles transaram e dormiram aconchegados um ao outro.
Luca acordou cedo no dia seguinte. Mesmo sendo véspera de Natal,
tinha sido escalado para trabalhar e precisava sair. Por um tempo, ficou
observando o rosto tranquilo de Cătălina que permanecia dormindo.
Ele havia percebido que ela ainda estava tensa na noite passada e
pôde ver a ansiedade e o receio em seus olhos. Suspirou e saiu sem acordá-la.
Com o tempo, ela se acostumaria com a ideia e relaxaria.
Algumas horas depois, Cătălina despertou com um desconforto no
ventre. Ela logo imaginou o que seria. Foi ao banheiro e verificou que sua
menstruação havia descido. Pelo menos, Luca havia se precavido quanto
àquilo e lhe trouxera absorventes internos.
Segundo ele, ela não deveria usar os externos por causa do cheiro do
sangue. O médico lhe entregou também embalagens de plástico com fecho
para que ela os descartasse ali e os entregasse à Irina, que já havia sido
orientada a queimá-los na lareira. Assim, ninguém perceberia.
Cătălina achava tudo aquilo muito, muito constrangedor. Mas não
havia outro jeito. Tomou um banho, lavou sua calcinha suja, colocou o
absorvente e voltou para o quarto.
Irina chegou poucos minutos depois com o café.
— A senhorita já está sangrando? — perguntou.
— Sim, desceu hoje. Está dando para perceber?
— Um pouco, mas o cheiro não vem de você, está no ar — falou ela
abrindo as janelas para o ar circular. Um vento gelado entrou. — Deve ser de
antes da senhorita colocar o absorvente.
— Vocês não menstruam? — quis saber Cătălina.
— Não.
— Nem antes de serem convertidas? Quando ainda são humanas?
— Não, nascemos estéreis. Só podemos ter filhos se nos
convertermos.
— Ah... E como é isso? Com os vampiros em geral? Como podem ter
filhos sem um ciclo fértil?
— Não sei direito como funciona com os humanos, mas nós só
conseguimos engravidar quando bebemos o sangue do parceiro durante...
hum... você sabe... quando estamos fazendo aquilo.
Cătălina arregalou os olhos.
— Então vocês se mordem enquanto fazem sexo?
— Se quisermos engravidar, sim. Mas não sei explicar direito como.
Pergunte para o senhor Luca, ele é médico, saberá te explicar melhor.
— Bass me disse que vampiros puros podem ter filhos com
transformados...
— Sim. Mas normalmente não nos misturamos. Vampiros puros
raramente têm filhos com transformados. Mas acontece, às vezes, como o Sr.
Constantin. — Irina baixou o tom da voz, como se contasse um segredo. —
Ele teve uma filha com uma mulher que era humana e que foi transformada
por ele. A irmã do senhor Luca, que mora na América. Ela tem o sangue
mestiço.
— Ah.. entendi.
— Não diga a ninguém que eu te contei. O Sr. Constantin ficará
muito bravo se souber que nós estamos fofocando sobre a vida dele. — Ela
riu.
— Não vou dizer, não se preocupe.
Irina sorriu.
— Já volto, senhorita. A Sra. Mirela pediu para que eu fosse buscar
um vestido no ateliê para você usar hoje à noite.
— Hoje à noite?
— Sim, a minha mãe está preparando uma ceia de Natal.
Cătălina abriu a boca, pasma. Ainda não tinha visto os pais de Luca
desde a noite da cerimônia. Como iria encará-los?
Irina saiu e logo voltou com o vestido e um par de sapatos.
Ansiosa, Cătălina se aproximou para vê-lo. Era uma bela peça,
provavelmente costurada pela própria Mirela. Preto e de comprimento médio,
tinha alças finas e era recoberto por uma renda com mangas que passavam
um pouco do cotovelo. Os sapatos eram pretos também e, felizmente, não
muito altos, ou não saberia andar com eles.
Calçou-os e serviram perfeitamente. Testou-os, andando de um lado
para o outro do quarto e sorriu, até que eram confortáveis. Mirela era incrível,
não tinha ideia de como agradecê-la.
— Não estou andando igual uma pata, não é, Irina?
— Não, senhorita. — A garota sorriu também, pegando a bandeja em
seguida. — Até mais tarde!
— Até... — respondeu Cătălina observando a garota sair.
Ela suspirou e se largou na cama, sentindo uma pequena pontada nas
costelas. Às vezes, esquecia-se de que ainda não tinha se curado. Felizmente,
suas dores haviam diminuído bastante e não incomodavam tanto, somente
quando ela se esforçava.
Três dias atrás, quando foi pega bisbilhotando na cerimônia de
batismo, ela havia sentido dores ao tentar fugir de Sebastian e também
quando Luca apareceu e ela correu para a porta. Mas o medo era maior do
que a dor e a adrenalina estava tão alta que ela mal se lembrou de que estava
machucada.
Luca também era cuidadoso e procurava não pressionar sua região
dolorida quando estavam juntos. Um friozinho gostoso invadiu seu estômago.
Fazia apenas uma semana que estavam juntos, mas a intimidade entre eles era
tão profunda, tão verdadeira... O que a entristecia é que ela sabia que nunca
poderia ficar com ele.
Às vezes, era difícil de acreditar que Luca não era um humano, ou
Sebastian, ou Irina ou Mirela. Eles eram tão normais...
Mas a verdade é que eles não eram como ela, e ela nunca seria igual a
eles... Não que quisesse, não tinha o menor interesse em se tornar uma
bebedora de sangue, mas Bass também tinha falado que era proibido
transformar humanos.
Além disso, Luca iria ficar noivo... E ela estaria ali para ver aquilo...
Frustrada, virou-se na cama, ficando de bruços. Seu futuro era uma
incógnita. O que fariam com ela? Como ficaria sua relação com Luca já que,
pelo visto, não poderia sair do castelo tão cedo?
Cansada de pensar e não chegar a uma conclusão, pegou um livro
para ler. Algumas horas depois, bateram na porta. Era Sebastian.
— Oi, princesa! Almoça comigo? — ele perguntou assim que ela
abriu a porta.
— Achei que estivesse dormindo agora.
— É, não dormi muito mesmo. Vou ter que ir para o hospital mais
cedo hoje, então...
— Okay, entre...
— Não, não. Hoje você almoça comigo nos meus aposentos.
Cătălina arqueou as sobrancelhas e riu.
— Por quê? Que diferença faz?
— Nenhuma... — Ele riu também. — Só acho que você passa muito
tempo nesse quarto. Mudar de ares um pouco é bom.
— Está bem — disse ela saindo e fechando a porta atrás de si. Olhou
para Theodor parado em frente ao seu quarto e sorriu, sabendo que ele iria
segui-la. — Mas Luca não vai gostar de saber que estou visitando o seu
quarto.
— Por quê? Ainda não dei nenhum motivo para ele não confiar em
mim. Ou dei? — Bass estreitou levemente os olhos com um sorriso sem-
vergonha nos lábios.
— Não. — Cătălina riu. — Você tem se comportado muito bem
comigo. Já não posso dizer o mesmo em relação à Madeleine.
— Quem?
— A ajudante da Anna, da cozinha... — respondeu ela erguendo uma
sobrancelha.
— Ah... Ela... — Ele deu de ombros. — Fazer o quê. Não tenho culpa
de ser irresistível... — piscou.
Cătălina abriu a boca, fingindo indignação.
— Você é muito descarado, sabia? — falou rindo.
— Não sei de nada...
Chegaram ao quarto e ele abriu a porta, convidando-a para entrar.
Theodor, que os havia seguido, encostou-se na parede da frente e voltou a
folhear um livro que estava lendo anteriormente.
— Precisamos avisar Irina para servir o almoço aqui.
— Já avisei o mordomo mal-humorado.
— Antes de eu responder se eu aceitaria o seu convite?
— Não achei que recusaria. — Ele sorriu.
Cătălina balançou a cabeça sorrindo. Era difícil não sorrir com Bass,
o rapaz era divertido e bonito, um filho da mãe. Isso explicava sua facilidade
em conquistar mulheres.
O quarto dele não era muito diferente do seu, exceto pelas cores do
dossel sobre a cama. O de Bass era preto, o que deixava o lugar com um ar
meio sombrio. A paisagem da janela também era diferente. Dali, podia-se ver
a parte de trás do castelo, que dava para um precipício em pedras e, lá
embaixo, a floresta coberta de neve continuava por alguns quilômetros e
depois voltava a subir uma das montanhas que cercavam o vale.
Irina logo apareceu com a refeição, acompanhada de Madeleine. A
garota da cozinha fechou o semblante, como da outra vez, fazendo Cătălina
segurar o riso até ela sair.
— Bass, a moça está ficando com ciúmes.
— Ah, não ligue. À noite eu resolvo isso. — Ele sorriu de lado.
Serviram-se e começaram a comer. Sebastian colocou um pouco de
vinho no copo dela.
— Não muito, por favor... — falou Cătălina. — Não estou
acostumada.
O vampiro sorriu e colocou apenas dois dedos do líquido bordô na
taça.
— Está menstruada, Nina?
Cătălina corou.
— Está dando para perceber?
— Muito sutilmente, mas é só porque estou bem próximo. Não se
preocupe com isso. Só não deixe vazar.
— Essa conversa não me parece muito adequada para uma refeição
— falou ela constrangida.
Sebastian riu.
— Você se esqueceu de que sou médico também? Não precisa ficar
com vergonha dessas coisas, Nina. Para mim é um assunto normal, e sangue
é alimento...
Cătălina o encarou de olhos arregalados. Mesmo já aceitando a ideia
dele ser um vampiro, ouvi-lo falar sobre sangue dessa forma era um choque.
Arrepiou-se.
— Ainda assim... esse assunto é um pouco desconfortável para mim.
— Ela tomou um pouco do vinho, fazendo uma careta. Achava a bebida ácida
demais para o seu paladar. — Hum... Bass, me explica uma coisa?
— O que quer saber?
— Irina não soube me explicar como vampiras ficam grávidas se não
menstruam. Ela só disse que precisam morder o parceiro.
Bass gargalhou.
— É sobre isso que as garotas conversam, então?
Ela encolheu os ombros.
— Certo... — Ele coçou o queixo e a olhou divertido. — Não é tão
simples engravidar uma vampira, na verdade. Não basta ela morder e ingerir
o sangue do parceiro. Isso deve acontecer combinado com um orgasmo
intenso... — Ele se inclinou para frente, encarando-a e fazendo-a corar. —
Daqueles arrebatadores, sabe? Só assim, para uma vampira ovular. Além
disso, os óvulos das vampiras duram pouco tempo. Se não forem fertilizados
logo que saem dos ovários, eles se degradam rapidamente. Então o cara não
pode vacilar, ele precisa gozar praticamente ao mesmo tempo que ela para
que seus espermatozoides cheguem a tempo.
— Ou gozar antes...
O vampiro sorriu e Cătălina corou de novo
— Sim... ou gozar antes. De qualquer forma, é preciso existir uma
química entre o casal. Talvez seja mais fácil com os transformados que
normalmente se casam por amor e não por acordo.
Lembrar-se do noivado de Luca foi inevitável para Cătălina.
— Você pretende ter filhos puros também, Bass? — perguntou ela,
tentando distrair sua mente.
— Não faço questão. Se eu encontrar alguém que me ame o
suficiente para me dar filhos, já ficarei feliz. Mas isso ainda está muito longe
de acontecer... — Ele riu.
— Ah, sim. Às vezes eu me esqueço que para vocês o tempo corre
diferente. Como é saber que vai viver por séculos?
— Não sei se viverei por séculos... Não somos imortais, Nina. Posso
ser atropelado na rua amanhã e morrer como qualquer um. Mas, caso isso não
aconteça... Sinceramente eu nunca pensei sobre isso, apenas sei que não
preciso apressar as coisas.
— Então aquela história de morrer apenas com uma estaca de
madeira no coração também é mito? — Cătălina sorriu.
— Com certeza!
— Mas vocês se curam rápido.
— Isso sim, e também não temos doenças.
— Vocês são privilegiados, isso sim...
— Olhando por esse lado, sim. Mas ainda dependemos de sangue
humano para sobreviver, o que nos torna predadores da sua espécie. — Os
olhos dele adquiriram um brilho diferente, violáceo, fazendo Cătălina erguer
as sobrancelhas
— Bass!
O vampiro gargalhou.
— Não se assuste, estou só brincando. Eu nunca faria nada com você.
— Irina me contou que vocês tiram sangue dos mortos. Aquilo de
vocês não poderem beber sangue de mortos é outro mito, então?
— Sim, é outro mito. Mas precisamos coletá-lo e processá-lo até duas
horas após a morte, caso contrário o sangue degrada e não fica bom para
ingerir. É como beber leite estragado.
— Vocês não sentem vontade? De beber sangue dos vivos? Ainda
mais trabalhando em um hospital...
— Somos treinados a ter controle sobre nossas vontades desde
crianças. —Sebastian sorriu meio de lado. Ele não era o melhor exemplo de
controle.
Apesar de nunca ter tentado atacar nenhum paciente, após atender
alguém sangrando, ele às vezes precisava se trancar no banheiro e esperar a
vontade de ingerir sangue passar. Entretanto, Bass sabia que isso só estava
acontecendo porque andava bebendo sangue demais. Isso o fez se lembrar de
que havia ingerido a última caixinha referente à sua cota naquela manhã.
Suspirou, logo precisaria ir atrás de sangue fresco.
— Não vai fazer a ceia conosco hoje, Bass?
— Não, vou estar de plantão.
— Ah, que pena...
— Hum... isso quer dizer alguma coisa? — perguntou ele com um
sorriso malicioso.
— Não! Não seja convencido! — Cătălina riu. — É só que... acho
que o clima ficaria melhor com você lá. Estou com um pouco de receio
depois do que eu fiz... de ter que encarar os pais de Luca.
— Eu também teria...
— Não está ajudando, Bass...
Ele gargalhou.
— Relaxe, Nina. Luca vai estar lá e Mirela gosta de você. Caso
Grigore fale alguma coisa, apenas concorde, que vai dar tudo certo.
Cătălina inspirou fundo.
— Espero que sim...
Terminaram de almoçar e Cătălina voltou para seu próprio quarto.
Estava apreensiva, não tinha como não ficar. Olhou para o vestido no cabide.
Era tão refinado... a cara de Mirela. Sorriu.
— Vai dar tudo certo! — disse para si mesma segurando sua
correntinha entre os dedos.
L uca chegou do hospital cansado e louco para ver Cătălina.
Aquele sentimento que ele tinha por ela era algo totalmente
novo, diferente e preocupante. Sentia necessidade de estar com
aquela garota, algo que seria impensável semanas atrás, e chegava a contar as
horas para voltar para casa.
Apesar de estar assustado com seus próprios sentimentos, sua
animação era grande. Era noite de Natal e ele havia comprado um presente
para Nina, uma pulseira de ouro branco com alguns pingentes de corações,
borboletas e rosas. Estava louco para entregar a ela e ver sua reação, lhe dar
uns beijos e, depois da ceia, aconchegar-se em seus braços.
A ceia... Suspirou enquanto subia as escadas. Seria a primeira vez
que Nina encontraria seus pais depois da cerimônia. Só esperava que Grigore
estivesse de bom humor e que tudo desse certo.
Ao alcançar o último degrau, notou a assistente da cozinha parada no
meio do corredor dos quartos.
— Boa tarde, Madeleine — disse.
— Boa tarde, senhor Luca. Desculpe incomodá-lo, mas poderia me
conceder alguns minutos de seu tempo?
— Claro, o que precisa?
Ela olhou em volta.
— Poderia ser em seus aposentos, senhor. Não quero que nos ouçam.
Luca franziu a testa, surpreso, mas concordou. Encaminharam-se
para o seu quarto e ele fechou a porta assim que entraram.
— O que houve? — perguntou sério.
— Eu... sinto muito, senhor. Não queria ser eu a dar uma de
fofoqueira, mas acho que o senhor deveria saber sobre o que acontece aqui no
castelo quando o senhor não está. — Ela ergueu o queixo, confiante. — A
senhorita Cătălina... Ela tem frequentado o quarto do senhor Sebastian, e hoje
eles ficaram lá por um bom tempo, sozinhos... — despejou a moça.
Luca arqueou uma sobrancelha.
— Realmente — disse. — Não deveria dar uma de fofoqueira,
Madeleine. Isso não é da sua conta. Tenho certeza de que a senhorita Cătălina
tem seus motivos para frequentar o quarto de Sebastian. Agora, se me
permite, me dê licença que eu preciso me trocar — falou abrindo a porta.
Madeleine ficou vermelha como um tomate e saiu do quarto,
envergonhada.
Luca fechou a porta aparentando tranquilidade, mas, por dentro,
estava se remoendo de raiva. Sua vontade era de pegar Bass pelo pescoço e
torcê-lo até virar do avesso. Puta que pariu! Ele não podia tirar os olhos um
minuto do maldito que ele já mostrava ao que veio. Pervertido, sedutor do
caralho!
Tomou seu banho irritado, trocou-se e dirigiu-se até o quarto de
Cătălina. Respirou fundo antes de bater na porta.
— Luca! — Ela o recebeu com um sorriso e pulou em seu pescoço.
— Oi... — ele disse ao segurar em sua cintura e a afastar um pouco.
— Tudo bem? — perguntou Cătălina, estranhando a atitude de Luca,
que costumava lhe beijar sempre que chegava.
— Tudo... — Ele passou por ela e entrou no quarto.
— Você está estranho. Aconteceu alguma coisa?
— Você esteve no quarto de Bass hoje? — perguntou o vampiro de
forma seca.
Cătălina o olhou sem entender.
— Estive, almoçamos juntos. Por quê?
— Só almoçaram?
— Almoçamos e conversamos. Luca, o que está querendo insinuar?
— Cătălina tinha uma ruga entre as sobrancelhas.
Ele suspirou.
— Nina, você é uma garota ingênua. Eu já te avisei sobre Bass, ele
é...
— Ele é um ótimo amigo! — interrompeu ela de forma intempestiva.
— Sei o que pensa de Bass, mas ele nunca, nunca tentou nada comigo!
Ouviu? Ele pode até ser sedutor e brincalhão, mas nunca me desrespeitou.
Mas o que me magoa é imaginar o que você pensa de mim, Luca. Acha que
eu me jogaria nos braços dele estando com você? Pensa mesmo que eu sou
esse tipo de pessoa? — falou indignada.
Luca abriu a boca, espantado. As palavras lhe faltaram e ele se sentiu
envergonhado.
— Desculpe, Nina... — falou arrependido. — Eu... não quis te
magoar ou ofender. Não acho que você faria algo com Bass, mas acredite...
eu o conheço e tenho meus motivos para temer uma aproximação dele com
você.
— Pois é melhor parar com isso! Não vou deixar de conversar com
ele por causa do seu ciúme. Se não confia nele, confie em mim, pelo menos
— exclamou irritada.
O vampiro baixou os olhos e assentiu.
— Está bem... eu confio... me desculpe...
Cătălina inspirou fundo e se aproximou do médico, segurou em seu
rosto e o olhou nos olhos.
— Sei que não gostaria de ouvir isso, Luca, mas eu não tenho mais
como negar meus sentimentos por você. Eu te amo — confessou. — Eu não
deveria, eu entendo. Reconheço que não podemos ter um futuro juntos, mas
não consigo deixar de me sentir assim...
Luca sentiu um nó se formar em sua garganta e a puxou de encontro
ao seu corpo. Ele também a amava, estava claro agora. O coração aquecido, o
ciúme e a vontade absurda de estar com ela, de beijá-la e protegê-la eram a
prova disso. Colou os lábios nos dela e lhe tomou a boca como se a
reivindicasse para si.
— Minha linda, minha pequena, eu também te amo... — falou dando
um pequeno espaço entre eles.
— O que vai ser da gente, Luca? — perguntou Cătălina.
— Não sei... — Ele inspirou fundo. — Realmente não sei. Nina, isso
é muito complicado. Não devia ter acontecido. Eu... eu não posso...
— Tudo bem — interrompeu ela. — Eu entendo, Bass me explicou
sobre suas responsabilidades com o vale. Não vou pedir para você desistir
dos seus planos, não se preocupe. Apenas peço que... não deixe que isso nos
afaste. Eu não sei quando eu vou sair daqui, Luca, mas quando eu me for,
quero levar comigo a lembrança desses momentos que vivemos juntos.
— Ah, Nina... Minha doce, Nina. — Ele passou os dedos pelo rosto
dela. — Escute... Depois do noivado as coisas devem se acalmar; então,
teremos tempo para decidir o que fazer.
Ela assentiu. Também não queria pensar no tal noivado e não via a
hora de tudo aquilo ficar para trás.
— Tenho uma coisa para você... — Luca sorriu e tirou uma pequena
caixinha do bolso do blazer preto que usava. — Feliz Natal!
Cătălina olhou para o objeto surpresa. Pegou-o e, ao abrir, soltou uma
exclamação de contentamento.
— Luca! É... é linda, maravilhosa! — falou, pegando a pulseira entre
os dedos.
— Posso colocar em você?
Ela concordou com um sorriso e estendeu o pulso para que ele a
colocasse.
— Está pronta para descer? — perguntou Luca reparando no belo
vestido preto. Ele caía perfeitamente bem nela.
— Sim, estou. Hum... Luca? Está sentindo? O cheiro?
— Cheiro do quê? — ele estranhou.
— Do meu sangue. É que desceu para mim hoje. Eu coloquei dois
daqueles tampões para ver se segura, mas estou com receio. Não quero que
seus pais... Você sabe, seria constrangedor.
O vampiro sorriu.
— Não estou sentindo nada. Os tampões estão dando resultado.
Cătălina suspirou aliviada, embora ainda estivesse receosa de encarar
o pai de Luca.
— Certo, então podemos ir.
Ao chegarem na sala de refeições, Grigore apenas ergueu os olhos
para os dois e os cumprimentou com um assentir. Mirela, entretanto,
levantou-se e abraçou Cătălina.
— Está linda, querida! Sente-se, vamos comer.
Cătălina se sentou com Luca ao seu lado, enquanto Popescu saía
discretamente da sala. Pouco tempo depois, o mordomo voltou com
Madeleine para servir as entradas. A moça tinha um ar sério e não olhou
diretamente para nenhum dos presentes, bem diferente de quando Bass estava
na mesa.
— Nina. Sinto muito por não ter lhe dado atenção nesses dias —
falou Mirela. — Tenho andado realmente ocupada. Faltam menos de duas
semanas para o noivado de Luca e ainda temos algumas coisas para resolver.
Não é fácil acomodar tantos convidados. — Ela suspirou. — Alguns quartos
estão sendo reformados e tivemos que reservar pelo menos dois hotéis na
região para aqueles que não caberiam aqui no castelo. Uma loucura!
Cătălina ouviu as últimas palavras meio que anestesiada. Sempre que
o assunto do noivado de Luca surgia, abalava-se, era inevitável. Uma dor
aguda surgia em seu peito, um sentimento de perda, de impotência e de não
pertencimento que lhe apertava o coração.
— Ah, não se preocupe com isso. Eu entendo... — respondeu ela
sentindo um bolo se formar em sua garganta.
Luca a olhava preocupado. Ele tinha uma ideia do que poderia estar
passando no coração de Cătălina, pois, para ele, seu noivado também acabara
se tornando um assunto desagradável, no qual ele evitava até mesmo pensar.
— Senhorita Petran, como se sente com tudo isso? — A voz grave de
Grigore se fez ouvir, chamando a atenção de todos.
Cătălina, com o coração na mão, encarou o patriarca, hesitante.
— Com o noivado? — Engoliu em seco, sem saber o que dizer. —
Eu...
— Não! Com o que descobriu sobre nós — interrompeu ele.
— Ah, isso? — Ela corou por ter interpretado mal a pergunta. —
Normal...
— Normal? — Grigore a olhou fixamente. — Como pode se sentir
normal sabendo que está em um castelo cheio de vampiros?
— Bom, eu... No começo eu tive medo, claro. Achei que vocês iam
me matar ou me transformar em uma de vocês. Mas... depois eu percebi que
não preciso ter medo. Tenho conversado bastante com Luca, Irina e Bass. E
eles me acalmaram. — Cătălina esboçou um pequeno sorriso.
— Você está ciente de que não poderá mais sair desse castelo
desacompanhada por causa disso, não está?
— Estou, mas... espero que eu possa, com o tempo, mostrar que
vocês podem confiar em mim. Eu não tenho a menor intenção de revelar o
segredo de vocês para ninguém. Sei que isso seria terrível e não quero, de
forma alguma, prejudicar qualquer um de vocês. Eu sou muito grata por tudo
o que têm feito por mim e jamais colocaria em risco esse lugar.
Grigore estreitou os olhos e uma leve curva se formou no canto de
sua boca.
— Que bom, senhorita, que pense assim. — Ele levantou sua taça de
vinho. — Brindemos a isso e ao Natal também.
Todos imitaram seu gesto e provaram do vinho. O coração de
Cătălina parecia uma batedeira e Luca buscou sua mão por baixo da mesa,
apertando-a de leve a fim de lhe passar tranquilidade.
Ele também estava mais aliviado. Sabia que o seu pai iria tocar no
assunto e estaria analisando as reações de Cătălina. Estava pronto para
intervir se fosse necessário, mas felizmente ela foi melhor do que ele próprio
esperava.
O resto do jantar ocorreu de forma tranquila e, ao voltarem para o
quarto de Cătălina, Luca a abraçou sorrindo.
— Não aguento ficar mais um minuto sem você — disse.
— Como assim, senhor Luca? Estamos juntos há mais de uma hora
já. — Ela sorriu.
— Hum... mas não sozinhos. — Ele mergulhou o nariz em seu
pescoço. — Quero me perder em você.
Cătălina franziu a testa.
— Se perder como? Não podemos fazer nada hoje.
— Por que não? — Luca apalpou suas nádegas e a puxou para si.
— Porque estou menstruada, ué! — Ela ergueu uma sobrancelha.
— E daí? — O vampiro tinha um sorriso malicioso. — É só sangue,
não vai me incomodar, pode ter certeza.
Cătălina abriu a boca, pasma.
— Não está falando sério...
— Estou. — Mordiscou-lhe a orelha. — Tire os absorventes.
— Luca! Vai sujar tudo, os lençóis...
— Pouco me importam os lençóis, Nina, eu quero você.
Luca estava realmente louco de vontade de possuí-la naquela noite; e
o fato dela estar sangrando somente atiçou ainda mais os seus desejos. Entre
beijos e carícias, ele lhe retirou o vestido e o sutiã, mas quando foi retirar sua
calcinha, ela o impediu.
— Espere, Luca! Deixe eu tirar os absorventes no banheiro — falou
se afastando.
O vampiro aproveitou para retirar suas próprias roupas e quando ela
voltou, sorriu-lhe. Garota linda! Agora ele podia sentir o cheiro do sangue
dela. Cheiro que lhe excitava ainda mais.
Pegou-a pela mão e a conduziu para a cama. Beijou-a por inteira: seu
pescoço, seus seios, seu ventre. Ele teria descido mais se ela não tivesse
pedido para ele parar.
— Luca, não, por favor! Não faz isso.
— Você é má. Não se nega sangue a um vampiro.
— Luca!
Ele riu e voltou para cima, beijando-a nos lábios. Cătălina abriu as
pernas e Luca se acomodou entre elas. Excitado demais para outras
preliminares, ele a penetrou e lhe arrancou um gemido. Lentamente, começou
a se movimentar sobre ela e o cheiro do sangue logo se espalhou, fazendo o
vampiro enlouquecer de desejo.
Luca sentia-se no limite da transformação e passou a investir com
mais força.
Cătălina percebeu a mudança no médico. Ele estava mais febril, mais
fora de si, mais impetuoso; suas estocadas eram vigorosas e sua respiração
era pesada.
— Ah, Nina... — murmurou. — Eu quero você... quero...
— Eu sou sua — respondeu ela.
Luca encostou o nariz no pescoço dela e gemeu, um gemido abafado,
como se estivesse se segurando. Passou, então, a língua pela pele exposta e,
em seguida, raspou de leve seus dentes.
Cătălina sentiu um frio no estômago, mas não era de medo, era de
excitação.
— Você quer o meu sangue, Luca?
Ele a encarou, seus olhos tendendo para o violáceo, e ela sentiu seu
corpo se arrepiar inteiro.
— O que acontece se você me morder? — continuou ela, ofegante,
excitada.
Ele sorriu.
— Você vai ter o melhor orgasmo da sua vida — respondeu ele sem
parar de estocá-la.
Cătălina mordeu o lábio e gemeu. A pressão que ele fazia em seu
sexo já a estava deixando próxima do ápice.
— Não vou morrer?
— Não...
— Nem me transformar?
— Não...
— Então me morde — pediu. — Tome meu sangue, Luca...
Luca continuou a encarando para ter certeza de que ela falava sério.
— Me morde — repetiu Cătălina.
O limite se rompeu. Luca deixou a transformação se completar e
desceu sua boca até a veia pulsante de Cătălina. Com cuidado, cravou seus
dentes nela, arrancando-lhe um grito.
Luca lhe segurou os braços enquanto sugava seu sangue e continuava
a estocá-la. Cătălina estremeceu e seu corpo foi invadido por ondas de
choque que se concentraram em seu sexo. O orgasmo chegou intenso, uma,
duas, três vezes seguidas. Ela gritava, não mais de dor, mas de prazer.
Um prazer arrebatador, algo incontrolável.
Luca sorvia o sangue dela como se bebesse do néctar dos deuses. Seu
corpo também entrou em um estado intenso de excitação e, quando o ápice
lhe chegou, ele a abraçou, afundando-se nela até o limite. Os espasmos
vieram fortes e duraram além do normal, fazendo-o gemer longamente
enquanto se derramava dentro dela.
Cătălina relaxou, sua mente estava enevoada, como se estivesse no
limite entre o sono e o despertar.
Luca parou de sugar o sangue da garota, mas permanecia sobre ela,
com o nariz na curva de seu pescoço. Ofegante, ainda sentia seus músculos
trêmulos. Levantou o rosto e a olhou. Ela parecia dormir sob ele.
O vampiro sorriu, dando-lhe um beijo leve na ponta do nariz e saiu de
cima dela. O cheiro do sangue dominava o ar e o lençol estava arruinado.
Com o corpo ainda meio pesado, foi até o banheiro e colocou a banheira para
encher. Pegou uma toalha, umedeceu a ponta e voltou para o quarto. Sentou-
se na cama e limpou o pescoço de Cătălina, fazendo pressão no local até
parar de sair sangue dos dois furinhos.
Ele havia tomado o cuidado de não aprofundar muito os dentes para
não feri-la demais e, assim que o sangue parou de fluir, deu-lhe mais um
beijo na testa e a pegou nos braços. Cătălina resmungou algo ininteligível e
ele sorriu. Ela estava completamente amolecida, mas não totalmente
inconsciente.
Levou-a até a banheira e entrou junto com ela. Com cuidado e
carinho, lavou todo o corpo de Nina com uma bucha macia e, depois, se
manteve sentado atrás dela por algum tempo, abraçando-a. Observou a
pulseira que ele havia lhe dado.
Era Natal e estar com ela era o melhor presente de todos. Mergulhou
o nariz nos cabelos dourados e macios de Cătălina e se lembrou da mãe
falando sobre o noivado no jantar, uma sensação incômoda invadiu seu peito.
Meses atrás não estava se importando muito com aquilo. Para ele
seria apenas mais uma formalidade, um ato simbólico que não lhe
incomodava, pois acreditava que poderia ser feliz com Natasha quando
chegasse a hora de se casarem.
Agora, no entanto, aquilo parecia algo improvável. Como conseguiria
amar a noiva já tendo outra em seu coração?
Balançou a cabeça. Merda! No que estava pensando? Nina era apenas
uma humana, não havia como manterem uma relação por tantos anos. O
tempo corria diferente para eles. Era impossível!
Estalou a língua. Precisava organizar seus pensamentos e os seus
sentimentos. Ele era um Constantin, precisava se lembrar disso. O vale
dependia da sua família e todos esperavam que ele cumprisse com suas
obrigações. Ele via na expressão dos aldeões a admiração e a esperança que
depositavam nele. Não... não podia deixar que a dúvida lhe consumisse, não
podia abrir mão daquele noivado...
Uma profunda tristeza lhe invadiu o coração e ele beijou os cabelos
de Nina. O que faria com ela? O que faria sem ela? O que faria de sua vida?
Sentia-se preso com amarras invisíveis das quais não podia sair. E as palavras
de seu pai lhe surgiram na mente.
“Meu principal erro foi ter me apaixonado por uma humana”,
“Fui egoísta ao não deixá-la partir, ao prendê-la aqui comigo”,
“Eu a mandei para longe”,
“Fui a causa de sua morte”,
“Não cometa os mesmos erros que eu...”
Luca aconchegou mais Cătălina em seus braços sentindo o coração
pesado. Estaria ele seguindo os mesmos passos de seu pai?
Não sabia e tinha medo da resposta. Balançou a cabeça em negativa.
Não queria pensar mais naquilo, tinha esperança de que, de alguma forma, as
coisas se ajeitariam. Por ora, ele só queria ficar junto dela, desfrutando de sua
beleza, de sua presença e de seu amor.
L uca dormiu com Cătălina naquela noite e acordou antes do sol nascer.
Bass batia na porta do quarto.
— O que quer, Bass? — falou com uma ruga entre as sobrancelhas ao
abrir a porta.
— O que vocês fizeram aqui? — perguntou o vampiro sentindo o
cheiro do sangue e tentando espiar pelo vão.
— Nada que te interesse — replicou Luca saindo do quarto e
fechando a porta atrás de si.
Sebastian estudou o amigo por um tempo e soltou uma gargalhada.
— Você só transou com ela menstruada ou a mordeu também?
— Já disse que não te interessa! — respondeu Luca entredentes. — O
que quer?
— Tenho um recado para você. Ontem, depois que você foi embora,
o chefe de polícia apareceu lá no hospital te procurando e me pediu para falar
contigo.
— Falar o quê?
— Primeiro, que o corpo da mãe de Nina será liberado para o enterro
amanhã. Segundo, que eles encontraram o tal Nicolae, mas não conseguiram
mantê-lo preso por falta de provas.
Luca inspirou fundo e passou as mãos nos cabelos.
— Merda! Aquele desgraçado vai sair mesmo impune?
Sebastian deu de ombros.
— Tenho certeza de que a justiça será feita, de um modo ou de outro
— comentou ele. — Como fará com Nina? Ela vai poder sair para enterrar a
mãe?
— Claro que sim. Vou com ela e tenho certeza de que meu pai não
fará oposição a isso.
— Você se importa se eu for também?
Luca o olhou de forma analítica.
— Por quê? O que quer com Nina, Bass? Eu te pedi para ficar longe,
mas você insiste em rondar igual abelha no mel.
O vampiro loiro fez uma expressão de cansaço.
— Nós temos conversado sim, e aí? Não fiz nada, nem estou tentando
nada com ela. Só estou dando um apoio moral. Guarde esse seu ciúme sem
fundamento. Não pretendo roubar ela de você, se bem que a sua verdadeira
mulher não é a Nina — alfinetou.
— Se quer levar um soco no meio da fuça, fala logo!
— Parece que seus ânimos estão exaltados, mas vai com calma,
porque eu não disse nenhuma mentira. Só para te lembrar, Natasha chegará
daqui a dez dias. Espero que você saiba o que está fazendo... — falou Bass
com o semblante sério e se virou, indo embora.
Luca observou o amigo dobrar o corredor e bufou, entrando
novamente no quarto. Aproximou-se da cama e contemplou a garota
dormindo tranquilamente sobre a colcha de cetim cor de creme. Ele havia
retirado os lençóis sujos e os amontoou em um canto antes de deitá-la na
cama.
Deitou-se ao lado dela e a abraçou, ainda tinha algumas horas até o
café da manhã.

Cătălina se espreguiçou ao acordar e olhou em volta. Logo viu Luca


de roupão sentado junto à mesinha de refeições lendo algo em seu notebook.
Notou também que o sol já parecia alto e se sentou.
— Que horas são? — perguntou.
Só então Luca reparou que ela havia acordado.
— Bom dia, pequena. Já se passam das 10h.
— Nossa! Dormi demais. Você não vai trabalhar hoje?
— Mais tarde, hoje eu tenho plantão de madrugada.
— Ah... — Cătălina se levantou, expondo o corpo nu e fazendo Luca
dar um sorriso.
Ela observou em volta e viu que os lençóis não estavam mais na
cama.
— Você trocou os lençóis?
— Só os tirei, eles estavam sujos. Irina já os levou embora quando
veio trazer o café. Mais tarde ela volta para arrumar tudo direito.
Cătălina olhou imediatamente para o meio de suas pernas, temendo
vê-las sujas de sangue, mas viu apenas o cordãozinho do absorvente
pendurado.
— Quem...?
— Fui eu, relaxa.
Ela o olhou confusa.
— Por que não me acordou?
— Porque você não ia acordar. — Luca sorriu.
Foi aí que Cătălina se lembrou da noite anterior. Da mordida, da dor,
dos orgasmos intensos, e sentiu o sangue lhe subir nas faces.
— Hum... preciso ir ao banheiro — falou dando as costas para o
vampiro.
Ao voltar, já estava de roupão e Luca havia fechado o computador.
Sentou-se de frente para ele e pegou um pedaço de pão com queijo.
— Estou morrendo de fome!
— Sim. Precisa beber bastante líquido também. — Ele lhe serviu um
copo de suco de uva. — Sente-se bem? Não está com tonturas?
— Não, estou bem. É sempre assim? — perguntou ela um pouco
constrangida.
— O quê?
— O... orgasmo? Quando você morde alguém...
— Você gostou? — Luca sorriu.
Ela assentiu e mordeu o lábio.
— Você já tinha mordido outra pessoa? — quis saber, embora tivesse
receio da resposta. — Quero dizer, não na cerimônia dos transformados, mas
durante... o sexo?
Ele inspirou fundo e olhou pela janela.
— Só uma vez, mas foi um erro.
— Por quê?
— Porque eu me aproveitei da fragilidade da moça... Ela tinha bebido
demais e seu estado de consciência estava alterado.
— Você a forçou? — Cătălina perguntou séria.
— Não a violei, se é o que está perguntando. Já estávamos transando
e ela continuou bebendo, eu sabia que do jeito que estava, ela não se
lembraria direito da mordida.
— Ela era humana, então?
— Sim...
— E ela não percebeu o que você era?
— Não. Eu sei que agi errado e, se pudesse voltar no tempo, não teria
feito aquilo.
Cătălina ficou em silêncio. Se a garota sentiu o mesmo prazer que
ela, ela teve é sorte de ter sido mordida por Luca.
— Para vocês é tão bom quanto é para a gente?
— Acho que para vocês é melhor. — Ele sorriu meio de lado. — Mas
confesso que é muito bom.
Ela tocou de leve o local dos dois pequenos furos em seu pescoço.
Estavam doloridos, mas nada tão incômodo.
— Não se preocupe — falou ele. — Logo irão cicatrizar e
desaparecer, mas devo pedir para usar um cachecol nos próximos dias. Não
seria nada bom meu pai saber sobre isso.
— Certo...
— Tem outra coisa que preciso te falar... — Luca a olhou sério. —
Sua mãe será enterrada amanhã.
Cătălina sentiu algo gelar em seu peito. Nos últimos dias ela andava
evitando pensar na mãe. Assim como ela não conseguiu chorar quando a viu
morta, não sabia se conseguiria sentir algo durante o enterro. Não sentia falta
dela e não achava que um dia sentiria.
— Vou poder ir? — perguntou, mas sem muito interesse.
— Sim, vou com você, Bass também, provavelmente.
— Okay...
Para ela não importava, ir ou não, mas ela era a filha, afinal, e as
pessoas da cidade esperariam que ela aparecesse.
— E Nicolae?
— Está por aí. A polícia não conseguiu provas para mantê-lo preso.
Desta vez, Cătălina expressou espanto e medo no olhar.
— Eu não vou... ao enterro. Não quero ir — disse.
— Não se preocupe, Nina, estaremos lá com você. Se ele aparecer,
não vai chegar perto, prometo.
Ela suspirou e torceu as mãos sobre o colo. Não suportava a ideia de
ver novamente o padrasto. Queria que ele tivesse morrido.
— Nina? — chamou Luca. — Vamos subir? Eu estou quase
finalizando o quadro — falou mais animado, tentando distraí-la das notícias.
Ela sorriu e concordou. Estava curiosa para ver como ficaria a pintura
finalizada. Por conta de todos aqueles acontecimentos da semana, já fazia
alguns dias que eles não iam até a sala. O quadro estava ficando muito
bonito, mas faltavam alguns retoques, segundo Luca.
Os dois subiram após o café e lá permaneceram até o início da tarde
quando seus estômagos voltaram a roncar de fome.
Ao descerem até a sala de refeições, encontraram Bass, que havia
acabado de acordar. O rapaz cumprimentou Cătălina com bom humor, mas,
durante o almoço, ela notou que os dois amigos quase não se falavam, apenas
trocavam, de vez em quando, alguns olhares ásperos.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês? — perguntou.
— Nada, por quê? — respondeu Luca.
— Vocês estão calados demais.
— Ele está com ciúmes de mim — respondeu Sebastian com um
sorriso.
Cătălina olhou para Luca com uma sobrancelha arqueada.
— Vocês podiam, pelo menos, parar de dar assunto para as fofocas
dos empregados, não acham? — falou ele com o semblante fechado.
— Como assim? O que quer dizer? — quis saber ela.
— Como acha que eu fiquei sabendo que você foi almoçar no quarto
dele ontem?
— Popescu? — arriscou ela em voz baixa, já que o mordomo tinha
saído da sala, mas podia voltar a qualquer minuto.
— Não... — Luca apontou para o médico loiro. — A amante dele me
procurou achando que estava me fazendo um favor ao mencionar isso. Ou
seja, os empregados sabem que estamos juntos, Nina, e que você tem ficado
sozinha com Bass também, o que me coloca em um papel bastante delicado.
Sebastian gargalhou.
— Estão achando que você é corno?
— E eu uma biscate, né? — Cătălina arregalou os olhos.
— Okay... Prometo não chamar mais sua namorada para almoçar em
meu quarto novamente — falou Bass ainda sorrindo.
Luca apenas balançou a cabeça. Sua irritação com o amigo não era
apenas por causa do ciúme ou por causa das fofocas, mas porque sabia que
Bass estava certo em alertá-lo sobre suas ações em relação a Nina com o
noivado se aproximando. Ah, inferno! Precisava falar com seu pai... Quem
sabe poderia tirá-la do castelo por alguns dias, pelo menos até os convidados
irem embora.
— Preciso ir — falou ele, levantando-se da mesa e dando um beijo
em Cătălina. — Vou para o hospital agora, mas termine seu almoço com
calma. — Olhou para Sebastian e o amigo acenou-lhe com sorriso, irritando-
o ainda mais.
Luca saiu da sala e foi para o quarto, se trocou rapidamente e seguiu
para a cidade. Porém, antes de ir para o hospital, passou na funerária para se
informar sobre o enterro da mãe de Cătălina.
Felizmente, no dia que eles foram fazer o reconhecimento do corpo
em Sibiu, a garota assinou um documento que dava a ele poderes para
representá-la, assim ele pôde assinar os papéis e acertar o pagamento dos
custos do funeral.
Outra pessoa que poderia ter assinado seria Nicolae, por ser o marido,
mas soube que ele não aparecera. Crápula nojento! Aquele homem podia ir
para o inferno e nunca mais dar as caras em Brezoi.

Por conta do plantão de Luca no hospital, Cătălina não o viu mais


naquele dia e foi dormir sentindo falta do corpo quentinho dele junto ao dela.
Acordou com o médico mexendo em seus cabelos na manhã seguinte.
— Bom dia, bela adormecida.
— Bom dia, chegou agora? — perguntou, notando que ele ainda
estava vestido socialmente.
— Cheguei.
— Não vai dormir?
— Mais tarde. Levante-se pequena, o enterro da sua mãe será agora
de manhã.
— Ah... já? — Ela se espreguiçou com uma cara de desânimo. —
Está bem...
— Vou tomar um banho rápido, trocar de roupa e já passo aqui para
te pegar.
Cătălina concordou e, meia hora depois, Luca apareceu para buscá-la.
Bass os esperava no hall de entrada do castelo e seguiram os três para o
cemitério da cidade.
Ela se espantou quando viu a quantidade de gente que estava ali para
o enterro. Gente que ela nem conhecia direito... Bando de curiosos! Cidade
pequena era uma merda por causa disso. Qualquer acontecimento diferente
virava espetáculo.
As pessoas deram passagem para ela se aproximar do caixão, que
havia sido colocado em um suporte acima da cova. Assim que a multidão se
aglomerou em volta, o padre da cidade falou algumas palavras que Cătălina
não ouviu.
Ela olhava fixamente para o caixão, sem sentir nada de especial, nem
dor, nem raiva, nem tristeza. Era sua mãe que estava ali e ela só sentia pena.
Pena por aquela mulher ter morrido de forma tão desgraçada, pena por não ter
tido uma mãe de verdade, pena e ranço daquelas pessoas que fecharam os
olhos quando elas precisaram de ajuda, e que agora estavam ali, igual urubu
na carniça. Hipócritas...
Cercada pelos dois rapazes, ela aceitou apenas os cumprimentos
daqueles com quem ela convivia no trabalho e tinha uma certa amizade,
ignorando os demais.
Mas, para o seu desespero, enquanto o caixão era baixado na cova,
ela ergueu os olhos para as pessoas e o viu. Nicolae estava ali, encarando-a.
Seu coração deu um salto e ela agarrou o braço de Luca.
— O que foi, Nina? — ele perguntou preocupado.
— Ele está aqui... — falou em voz baixa olhando para o chão.
— Nicolae?
Ela assentiu.
Luca o procurou com os olhos e não foi difícil encontrá-lo. Sabia
quem ele era, pois havia dado uma olhada em sua ficha no banco de dados do
hospital, que costumava tirar uma foto digital dos pacientes para incluir no
prontuário. E Nicolae havia sido atendido lá por conta da facada.
— Não se preocupe, ele não vai chegar perto de você — disse
calmamente, a fim de tranquilizá-la.
Contudo, assim que o caixão começou a ser coberto por terra e as
pessoas começaram a se dispersar, Nicolae caminhou na direção deles.
Cătălina agarrou-se ainda mais a Luca, não querendo nem ao menos
olhar para o padrasto. Suas pernas estavam moles e tremiam. E se não fosse
pelo médico lhe segurar pela cintura, teria desabado no chão.
Antes, porém, que Nicolae chegasse mais perto. Sebastian entrou no
caminho dele.
— Fique longe! — avisou.
— Sai da minha frente, idiota! — exclamou o homem cheirando a
álcool curtido. — Ela é minha filha, tem que voltar para casa!
Nicolae tentou passar, mas o vampiro loiro lhe agarrou pela gola e o
levantou do chão com facilidade.
— Ela não é sua filha e você não vai nunca mais pôr o dedo nela,
desgraçado, filho da puta! É melhor você sumir daqui antes que eu te quebre
a cara e arranque suas bolas fora, canalha miserável!
Sebastian o jogou no chão, e só não lhe deu uma sova porque ainda
havia algumas pessoas presentes, olhando-os espantados.
— Vamos embora, Bass — falou Luca sério, ainda abraçando
Cătălina, que tremia e escondia o rosto em seu peito.
Passaram pelo homem caído sem olhar para trás enquanto escutavam
alguns murmúrios dos curiosos em volta.
Ainda irritado, Bass assumiu o volante do carro e Luca permaneceu
no banco de trás com a garota. Voltaram para o castelo e, assim que
chegaram, ele subiu com Cătălina para o quarto.
Abalada, ela deixou-se ficar nos braços do médico até seu coração se
acalmar. O encontro com Nicolae havia lhe despertado as lembranças de
todas as agressões sofridas e, agora que ela estava longe daquele ambiente,
não conseguia entender como suportara por tanto tempo as humilhações. Era
como se antes estivesse entorpecida. Só de pensar naquilo, seu peito se
apertava. Nunca mais voltaria para aquela casa, preferia morrer a voltar a
viver sob o mesmo teto de Nicolae.
— Não fique assim por causa de um miserável como aquele, Nina. —
falou Luca enquanto lhe acariciava os cabelos. Cătălina aconchegava-se em
seu colo na cama. — Ele não vai mais chegar perto de você, muito menos te
machucar novamente.
— Eu odeio ele, Luca. Odeio do fundo da minha alma.
— Eu sei... mas não fique remoendo isso dentro de você. Só te fará
mal. Uma hora ele vai pagar pelas crueldades que fez, a polícia continua
trabalhando em busca de provas que o coloquem no local do crime.
Cătălina suspirou.
— Nunca mais quero ver esse homem na minha frente.
— Não se preocupe, você não vai mais voltar para Brezoi... — Ele
depositou um beijo nos cabelos dela. — Está livre dele, minha linda. Para
sempre.
Ela esboçou um pequeno sorriso e levantou o rosto para receber outro
beijo nos lábios.
— Vamos ver um filme lá embaixo? — sugeriu Luca, a fim de
distraí-la.
Cătălina concordou e ambos desceram para a sala de TV. Ela nunca
foi de assistir muito à televisão e, desde que chegara ao castelo, havia até se
esquecido de que aquele aparelho existia. Fazia muito tempo que ela não via
um filme ou outro programa qualquer; por isso, ficou feliz com o convite de
Luca e aliviada por ele estar ali com ela.

Após o enterro, Sebastian subiu para o seu quarto e ficou lá até a hora
do almoço. Ainda teria que trabalhar à tarde e precisava reequilibrar suas
emoções.
Confrontar aquele homem asqueroso fedendo a álcool durante o
funeral despertou nele sentimentos de nojo, repulsa e ódio. Já tinha ranço do
sujeito desde a primeira vez que Cătălina falara dele. Mas, vê-lo ali, querendo
dominar a garota depois de tudo, foi a gota d’água. O ódio cresceu em seu
peito e, desde então, estava remoendo aquilo por dentro.
Sebastian sentia como se uma tempestade estivesse se formando
dentro dele, prestes a arrebentar. Contudo, ele sabia que aquilo não era
apenas fruto da raiva que sentia, mas se devia à falta de ingestão de sangue
também.
Sua necessidade estava aumentando cada vez mais e, a cada mês, os
dias de intervalo entre uma dose e outra ficavam menores. Seu estoque
referente à sua cota havia acabado há dois dias e ele precisaria de sangue
logo, de preferência fresco, ou acabaria se descontrolando.
Mas ele resolveria aquele problema ainda naquela semana. E sabia
exatamente como.
T rês dias se passaram após o funeral e a rotina de Cătălina havia
voltado ao normal, para o seu alívio.
No dia seguinte ao enterro, a mãe de Luca a chamou no ateliê para
continuar a ensinando a costurar. E quando perguntara por que continuar com
aquilo, já que estava proibida de sair do castelo sozinha, Mirela respondeu
que seria interessante ela continuar a aprender o ofício, pois mesmo que não
fosse mais trabalhar na empresa de sua cliente em Sibiu, ela poderia ser sua
auxiliar de costura ali no castelo.
Cătălina se animou, pois aquilo lhe dava esperanças. Afinal, uma das
primeiras coisas que ela havia pensado quando chegou ao castelo foi se
conseguiria arrumar um emprego no lugar. Seu desejo parecia que iria se
cumprir, no fim.
Fazia exatamente duas semanas que ela tinha ido com Mirela à
cidade visitar seus clientes e, desde aquele dia, tantas coisas haviam
acontecido...
A chegada de Sebastian, a proposta de Luca de ensiná-la sobre os
prazeres do sexo, a perda da sua virgindade, a morte de sua mãe, a descoberta
sobre eles serem vampiros, mais sexo com direito a mordida e orgasmos
alucinantes, um funeral e o reencontro com o asqueroso de seu padrasto. Foi
tudo tão sucessivo e tão fora do normal que nem parecia que tudo aquilo
havia acontecido em tão pouco tempo.
Felizmente, as coisas haviam se acalmado. Contudo, algo a
incomodava. Após o enterro, não tinha conseguido conversar muito Bass, o
que era estranho em se tratando dele. E, por vezes, tinha a impressão de que
ele a estava evitando.
Apesar da fama de conquistador, o rapaz tinha se mostrado um bom
amigo desde que chegara ao castelo, procurando-a sempre para conversar e
tirando suas dúvidas. Mas ultimamente ele andava meio evasivo, parecia
inquieto e um pouco cansado nas vezes que o encontrara. Tentou puxar
assunto, saber o que o estava incomodando, mas ele sempre sorria, arrumava
uma desculpa e escapava.
Desconfiada, pensou que talvez Luca o estivesse pressionando para
que não falasse com ela. Contudo, ao questionar o médico sobre isso, ele
negou dizendo que também não andava falando muito com Bass, mas que iria
procurá-lo para saber o que estava acontecendo.

Na realidade, o que estava acontecendo era que Sebastian andava


evitando Luca e Cătălina justamente para que eles não percebessem como ele
andava alterado. A cada dia que passava, os sinais de abstinência de sangue
ficavam mais evidentes. Cansaço, irritação, olheiras... Há cinco dias sem
ingerir sangue, o vampiro já estava no limite.
Cinco dias não seriam um problema se ele tivesse seguido as regras
dos Vampyrs e mantido a ingestão de sangue somente dentro de suas cotas,
pois cada caixinha era o suficiente para sustentar um vampiro por uma
semana. Contudo, desde que começara a tomar sangue fresco, ele não
conseguia manter mais esse intervalo.
Sua necessidade se fazia presente lá pelo quarto dia e ele precisava
tomar outra dose. Mas ele não tinha mais doses, sua cota havia acabado e ele
sabia que os tremores começariam em breve, a sede iria aumentar e o controle
ficaria mais difícil.
Também ficaria mais complicado esconder esses sinais de Luca, por
isso precisava resolver aquilo logo. De preferência naquela noite. Era sexta-
feira e sua escala iria até as 23 h. Felizmente, o movimento no hospital estava
baixo e ele não precisou atender ninguém sangrando, ou seria torturante.
Já tinha até passado pela sua cabeça, em outras ocasiões, pegar no
banco de sangue uma das bolsas de transfusão, mas era praticamente
impossível fazer isso nos hospitais pertencentes aos vampiros, pois havia um
controle rigoroso no estoque delas justamente para evitar desvios.
Outra possibilidade seria roubar o sangue das bolsas que já estavam
com os pacientes, mas isso ele não faria. Não prejudicaria um paciente,
nunca! Não era crápula naquele nível.
Logo, sua saída era conseguir sangue dos vivos.
Não era tão difícil, e a fim de evitar ser descoberto e pego pela Força
de Contenção, a polícia dos vampiros, andou aprimorando sua técnica depois
daquela noite com Luca e as garotas no motel.
Agora ele saía com as mulheres e, sem que elas notassem,
acrescentava um calmante na bebida delas para sedá-las. Quando via que elas
tinham apagado, retirava o sangue diretamente de suas veias usando um kit de
coleta para exames. Quatro tubinhos eram o suficiente.
Assim, não as machucava e a marca da agulha era praticamente
invisível. As garotas acordavam no dia seguinte, eles transavam mais um
pouco e ficava tudo certo.
No entanto, naquela noite, ele não iria atrás de garotas, nem
precisaria de kit nenhum. Antes de sair do hospital, pegou apenas um
vidrinho de sedativo injetável e uma seringa, guardando-as em seu casaco.
A neve caia pesada e não havia uma única viva alma na rua, exceto
por Bass. Ele dirigiu até próximo da pequena casinha em que havia estado
alguns dias atrás e deixou o carro em frente a um terreno baldio, a poucos
metros de distância de seu objetivo.
Para sua sorte, aquele lugar ficava na periferia da cidade e a
iluminação da rua era precária. Assim, escondido nas sombras de algumas
árvores secas, observou o movimento dentro da residência.
Já era quase meia-noite e as luzes das janelas ainda estavam acesas.
A TV ligada estava tão alta que também era possível escutá-la lá de fora.
O vampiro se aproximou mais e olhou por uma das janelas. Nicolae
estava esparramado no sofá seboso. Entre embalagens de comida, latas de
cerveja e garrafas de vodca vazias, ele babava e parecia dormir.
— Porco nojento... — murmurou baixo.
Preparou a seringa com um pouco de sedativo e deu a volta por trás
da casa. Não foi surpresa encontrar a porta da cozinha destrancada, quem ia
querer invadir um lugar imundo daqueles?
Entrou sem fazer barulho e caminhou até a sala. O homem
continuava a dormir e mal percebeu a pinicada que levou no pescoço. Ele
abriu os olhos, resmungou algo e apagou.
O fedor de álcool e da falta de banho que ele exalava por pouco não
deu ânsia em Bass. Vencendo o seu asco, o vampiro pegou o homem e o
jogou sobre os ombros.
Apagou as luzes, desligou a TV e, antes de sair, certificou-se de que
não havia ninguém na rua. As casas vizinhas já estavam apagadas e a neve
continuava a cair, o que mantinha as pessoas fora das ruas, o que vinha a
calhar em sua situação.
Jogou o homem no porta-malas do carro e partiu, mas não tinha a
intenção de ir muito longe. A casa de Nicolae já ficava bem fora do centro da
cidade e perto de alguns sítios. Pegou uma estrada que levava a uma região
de mata e dirigiu por quase dez minutos.
Assim que encontrou um recuo no acostamento, encostou o carro. Em
uma noite daquelas, onde tudo era breu, mesmo que alguém passasse por lá,
dificilmente veria o veículo.
Pegou uma mala comprida no banco de trás e retirou dela uma
espingarda de caça. Não foi difícil adquiri-la. Havia muita caça ilegal naquela
região e muita arma ilegal não registrada também.
Quando morava em Sibiu, a 70 km dali, acabou conhecendo, em suas
andanças noturnas, todas as bocas e os pontos de comércio sujo. Nunca
imaginou que pudesse adquirir algo ali, mas tinha planos e, no dia anterior,
dirigira por mais de uma hora até um destes locais e comprara a arma,
deixando-a no carro.
Além da espingarda, pegou também uma lanterna, uma garrafinha
d’água e, em seguida, retirou Nicolae do porta-malas, carregando-o para
dentro da floresta. Andou por cerca de dez minutos e o largou no chão
gelado.
Se simplesmente o deixasse ali, certamente o infeliz morreria de frio,
mas precisava de sangue. Então aproveitaria para fazer o serviço completo. E
não seria um serviço limpo.
Olhou no relógio e viu que já havia passado mais de meia hora desde
que havia aplicado o sedativo. Pela dosagem baixa que tinha dado, Nicolae
não demoraria muito a acordar.
Bass encostou em uma árvore e aguardou. Cerca de vinte minutos
depois, escutou um resmungo baixo. Aproximou-se do homem caído e jogou
a água da garrafinha sobre seu rosto, fazendo-o despertar como se estivesse
se afogando.
Desorientado, Nicolae gemeu com o frio e o desconforto e tentou se
erguer do chão. Caiu algumas vezes e nem ao menos notou a presença de
Bass, que o olhava com desprezo.
O vampiro tinha uma visão noturna pelo menos três vezes mais
eficiente do que a humana e, por isso, enxergava-o perfeitamente. Enquanto,
para Nicolae, o seu entorno era tudo breu.
Bufando e arquejando, o padrasto de Cătălina finalmente se levantou
e levou as duas mãos à frente, tentando pateticamente tatear o caminho.
Nesse momento, Bass acendeu a lanterna em sua cara, assustando-o,
cegando-o e fazendo-o dar alguns passos para trás, cobrindo os olhos.
— O que é isso? — falou Nicolae com a voz ainda embaralhada.
— O seu fim, seu desgraçado imundo.
— Quem é você?
Nicolae não viu o pequeno sorriso que Bass esboçou.
— Quem sou eu? — O vampiro o circundou. — Sou seu algoz. Sou
aquele que vai fazer você pagar caro por todos os crimes que cometeu.
— Do que está falando? Não cometi crime nenhum. — Nicolae sorriu
ironicamente. — Até a polícia me soltou. Não pode me acusar de nada.
— Só porque não encontraram provas não significa que não tenha
feito aquilo com a mãe de Nina. Afinal, ela andava te traindo com outro, não
é verdade? Isso deve ter deixado você bem irritado, ou não? — provocou.
— Desgraçado! — Nicolae tentou avançar sobre Bass, mas não o
encontrou e acabou caindo no chão. — Aquela piranha mereceu! Vaca, puta
ordinária! Ela ia fugir com o cara que estava trepando. — Meio cambaleante,
levantou-se novamente. — Mas isso não é da sua conta, nem da conta de
ninguém! Vai cuidar da sua vida!
— Realmente, não é da minha conta. Na verdade, não é pelo que
você fez com sua mulher que eu estou aqui, mas pelo que você fez com Nina,
seu filho da puta miserável. — A voz de Bass era séria e carregada de ira.
— Outra puta! Aquela piranhazinha nunca soube se comportar,
mereceu cada surra que eu dei. Ela quase me matou, aquela desgraçada!
— Ainda bem que não matou, porque agora você vai morrer pelas
minhas mãos, canalha! — Os olhos do vampiro assumiram um brilho
violáceo, dando a Nicolae um vislumbre da cor.
— Você está louco? — gritou o homem visivelmente receoso.
— Para não dizer que eu não te dei uma chance, você poderá tentar se
defender com isso. — Jogou a espingarda aos pés dele e apontou a lanterna
para ela.
Nicolae viu a arma e imediatamente se abaixou para pegá-la. Ao se
levantar, quis mirar em Bass, mas o vampiro desligou a lanterna e, sem
enxergar o alvo, o padrasto de Cătălina começou a atirar a esmo.
O barulho dos disparos ecoou na mata.
Apavorado e girando em torno de si tentando ver alguma coisa,
Nicolae nem soube como foi atingido. Quando viu, estava no chão, algo
estava sobre ele, algo esmagava sua garganta, dentes... Um segundo, o tempo
de um pensamento, e o sangue jorrou. Não conseguiu se defender ou gritar.
Medo, dor, pavor... Sua carne foi arrancada, espasmos percorreram seu corpo,
o ar se tornou ainda mais gelado e a escuridão o engoliu.
Sebastian bebeu o sangue que precisava, sentindo a vitalidade invadir
seu corpo, fortalecendo-o e reequilibrando seu organismo. Em seguida, pegou
a garrafinha de água vazia e a posicionou na veia que ainda despejava sangue
na neve branca. Coletou o suficiente para quase enchê-la e a tampou. Usaria
aquilo como estoque até poder retirar sua cota de sangue habitual no hospital.
Olhou para o corpo de Nicolae e sentiu repulsa. Sangue ruim do
caralho! Mas o importante é que tinha servido ao seu propósito. Agora só
precisava fazer aquilo parecer um acidente de caça.
Abaixou-se novamente perto do corpo e usou os dentes para dilacerar
ainda mais a garganta do homem. Se ele fosse encontrado, contava que
julgassem que havia sido um animal que o tivesse atacado.
Pegou um galho do chão e, conforme voltava para o carro, começou a
apagar os rastros de suas pegadas. Embora ainda estivesse nevando, e
soubesse que as marcas seriam cobertas, não custava garantir.
Ao entrar no carro, enfiou a garrafinha com sangue dentro da mala da
espingarda junto com um pouco de neve. Teria que usar aquilo para
refrigerar, até que pudesse comprar uma caixa térmica no dia seguinte.
Voltou ao castelo e felizmente não encontrou ninguém no hall de
entrada. Já passava das 2h da madrugada e ele havia notado que as luzes da
torre de Mirela estavam acesas, mas seria muito azar se ela descesse bem
naquela hora.
Seu casaco estava arruinado, fedendo e sujo de sangue, por isso,
jogou-o na grande lareira do castelo e o observou queimar. Por ser de lã, o
tecido pegou fogo depressa e, rapidamente, foi consumido. Já suas luvas
eram de couro e não queimariam tão fácil. Seria melhor lavá-las. Mas onde
era a lavanderia daquele castelo? Nunca precisou descobrir.
Seguiu em direção à cozinha e, passando por ela, encontrou algumas
portas fechadas. As duas primeiras estavam trancadas, mas a terceira não; e,
para sua sorte, era a lavanderia.
Abriu a torneira do tanque e deixou que a água lavasse o excesso de
sangue das luvas, então pegou sabão e as esfregou com uma escova.
Enxaguou bem, esfregou novamente e repetiu mais uma vez até ter certeza de
que não havia mais resíduos ali. Aproveitou para lavar o rosto e o pescoço
que também estavam respingados.
Cheirou-se e se deu por satisfeito, não cheirava mais a sangue
humano.
Ao voltar pela cozinha, tomou um susto ao ver Mirela ali.
— Oi, Bass! O que estava fazendo lá dentro? — perguntou ela,
arqueando uma sobrancelha.
— Lavando minhas luvas. Derrubei café em cima delas sem querer
no hospital.
— Ah, sim. Chegou agora?
— Cheguei.
— E como está indo lá no hospital?
— Tranquilo. É bem mais calmo e agradável do que em Sibiu. — Ele
deu um sorriso. — Se me der licença, Mirela, vou subir. Estou um pouco
cansado.
— Claro, boa noite.
— Boa noite.
Sebastian subiu com o coração levemente acelerado. Pela primeira
vez naquela noite, ele havia ficado um pouco nervoso. Ninguém poderia
saber o que ele tinha feito. Nem mesmo Luca.
Fechou-se no quarto e foi direto para o banho. Só então se permitiu
relaxar, só então os pensamentos vieram mais claros em sua mente. Ele tinha
acabado de matar alguém... Um frio percorreu sua coluna. Nunca imaginou
que seria capaz disso. Um sentimento de preocupação e angústia tomou conta
de si.
Ele sabia que só tinha feito aquilo porque Nicolae era um crápula
asqueroso, porque Nina merecia viver sem a sombra de seu padrasto em sua
vida... Mas também sabia que esse impulso de matar e essa raiva exacerbada
era provocada pela sua necessidade de sangue.
E se essa necessidade começasse a embaralhar seus pensamentos? E
se começasse a afetar seu discernimento e sua consciência?
Colocou a cabeça entre as mãos. Que tipo de pessoa ele estava se
tornando? Ou melhor, que tipo de monstro?
S ebastian aproveitou sua folga do hospital na manhã de sábado para
comprar uma pequena caixa térmica a fim de acondicionar seu sangue
fresco. Também avisou Luca que estava indo para Sibiu e que só
voltaria domingo à noite.
A verdade é que ele precisava de um pouco de agitação, precisava
distrair a mente, fazer sexo... Apesar de ter transado algumas vezes com
Madeleine, a auxiliar de cozinha do castelo, andou evitando-a nos últimos
dias.
Em sua visão, a transformada havia cruzado uma linha que não
deveria. Ele nunca havia demonstrado qualquer outro interesse nela que não
fosse sexo; ainda assim, a garota agiu de forma inoportuna e inadequada ao
procurar Luca para fofocar sobre ele e Nina, como se estivesse com ciúmes.
Ele não admitia esse comportamento.
Ele não fazia o tipo que enganava as garotas com promessas; muito
pelo contrário, sempre foi bastante honesto em dizer que só queria diversão.
A atitude de Madeleine tinha sido descabida e ele achou que seria melhor se
afastar. Não queria encrenca nem com ela, nem com Luca, muito menos com
Nina.
Era estranho, mas aquela humana tinha se tornado um tipo de amiga.
Confidenciara a ela seus sentimentos do passado e do presente, algo que
nunca contara a ninguém, e gostava dela.
Se ainda se sentia atraído por ela? Seria hipócrita se dissesse que não.
A garota era linda... Mas tinha vergonha na cara o suficiente para respeitar os
sentimentos dela por Luca, embora achasse que ela terminaria com o coração
partido com toda aquela história.
Enfim, não era só pelo sexo que ele decidira ir para a cidade grande.
O barulho da multidão, a música, a dança, a conversa informal com
desconhecidos... Tudo aquilo mantinha sua mente ocupada e livre das
lembranças da noite anterior.
Ele não queria admitir, mas acabar com a vida do padrasto de
Cătălina havia sido tão natural para ele que o assustara. Concluiu que
precisava tomar um cuidado redobrado com seus pensamentos e seus desejos,
pois tinha medo de ter despertado em si algum instinto assassino.

No castelo, Luca se reunia com seu pai e sua mãe no escritório após o
jantar.
— Luca, alguns dos convidados começarão a chegar na quarta-feira,
incluindo sua irmã — falou Mirela. — Natasha chegará com a família na
quinta e seu primo e seu tio estarão aqui na sexta, além de Victor e a esposa.
Precisamos decidir o que faremos com Nina. Acho que seria perigoso ela
permanecer na ala superior dos quartos, no mesmo andar que o nosso. Se a
descobrirem, isso despertaria desconfianças.
O jovem médico suspirou.
— Pai... Não poderíamos tirá-la daqui durante esses dias? Acomodá-
la em um hotel até os convidados irem embora? Theodor e Irina podem ficar
com ela.
— Isso está fora de questão! — falou Grigore. — Vou precisar de
Theodor aqui para ajudar na segurança. As notícias de seu noivado já
circulam pela cidade e não queremos bisbilhoteiros rondando o castelo. Além
disso, precisaremos de toda a ajuda possível para servir os convidados, não
podemos dispensar Irina.
— Então o que sugere? — quis saber Luca.
— Tranque-a na torre.
— Quer que eu a tranque? Como uma prisioneira? Por dias? — falou
o rapaz incrédulo.
— É a melhor solução. Ela não pode sair andando pelo castelo com
tanta gente de fora assim. O pai de Natasha é um conselheiro, Luca. E, além
dele, virão outros. Quer que eles descubram sobre ela?
— Claro que não! Mas o quarto da torre não tem banheiro, como vou
trancar ela lá?
— Tranque apenas os acessos à torre — interveio Mirela. — Assim,
Nina poderá se movimentar entre o quarto, o banheiro e a sala de pintura.
Deixaremos livros com ela e também podemos instalar uma TV lá, junto com
o aparelho de DVD. Temos um acervo grande de filmes. — Ela olhou para
Grigore, pedindo uma confirmação, e ele acenou concordando.
Luca passou a mão nos cabelos. Não gostava nem um pouco da ideia
de manter Nina trancafiada daquele jeito, mas talvez fosse mesmo a melhor
maneira de deixá-la longe dos olhares dos convidados.
O vampiro subiu para o quarto da garota receoso em lhe dar aquela
notícia. Não queria que ela ficasse triste ou se sentisse deixada de lado, mas
não havia outra saída.
— Nina? — chamou ele ao entrar e ver o quarto vazio.
Cătălina saiu do banheiro apenas vestindo uma camisola branca
quase transparente. O vampiro logo viu que ela estava sem a calcinha e
sorriu. Ela se aproximou e o recebeu com um beijo enquanto o ajudava a se
livrar das roupas.
Basicamente ele havia mudado seu quarto para lá, pois não conseguia
passar uma noite sequer sem ela.
Não que estivessem fazendo sexo todos os dias, pois ultimamente só
andavam trocando beijos e amassos na cama.
Depois de terem arruinado outro lençol no dia seguinte ao funeral,
Cătălina se mostrou desconfortável em fazer sexo enquanto estivesse
menstruada, não queria dar aquele tipo de trabalho a Irina. E, para a sua
frustração, quando finalmente o fluxo parou, ele precisou se ausentar por
conta de um plantão no hospital.
Por isso, ao vê-la ali, pronta para ele, após três noites sem transar,
ficou bastante animado. Em poucos segundos, já estava totalmente nu, com o
pau duro apontando para cima.
Cătălina passou a mão em sua extensão e deu um leve apertão na
glande, arrancando um sorriso do médico, que a tomou nos braços e a levou
para cama.
Ele passou a beijá-la no pescoço e quis tirar a camisola, mas ela o
impediu, rindo.
— Não, espera Luca!
— O que foi? — Ele a fitou com os olhos cheios de desejo. — Por
favor, não me negue seu corpo por mais uma noite ou vou enlouquecer...
— Não vou negar, eu só quero que me ensine algo antes... — Ela
mordeu o lábio.
— Hum... O quê?
— Me ensine a te chupar. Quero te ver gozar na minha boca.
Luca se surpreendeu.
— Está se saindo muito atrevida, senhorita Petran.
— Tenho um ótimo professor. — Ela piscou.
O vampiro sorriu e se virou, saindo de cima dela. Em seguida,
sentou-se na beirada da cama.
— Venha — chamou.
Cătălina se levantou rapidamente da cama e, com um olhar desejoso,
ajoelhou-se entre suas pernas.
Com o membro do rapaz bem à sua frente, duro e ereto, sentiu um
calor subir pelo meio de suas pernas e uma vontade enorme de colocar sua
boca nele.
— Me diz o que eu devo fazer — falou ao se aproximar e tocar a
glande com a ponta da língua, experimentando o líquido transparente e
salgado que saía pelo canal.
Luca estremeceu.
— Faça como se fosse um sorvete, comece lambendo.
Cătălina fez o que ele pediu e passou a língua em toda a extensão da
ereção, desde a base até a cabeça, contornando-a e voltando para parte
inferior. Fez isso umas três vezes e o olhou, buscando aprovação.
Luca sorriu.
— Abocanhe meu pau, Nina, só tenha cuidado com os dentes.
Ela assentiu e começou a colocá-lo na boca. Foi até pouco mais da
metade, não ia caber.
— Mais — pediu ele, colocando a mão em sua cabeça.
Forçou-se a engolir um pouco mais e conseguiu abocanhar mais
alguns centímetros, mas a glande encostou em sua garganta, provocando-lhe
uma reação involuntária de engasgo. Retirou a boca com os olhos
lacrimejando.
— Não consigo engolir tudo — falou enxugando as lágrimas.
— Tudo bem, pequena... — Luca riu. — Vá no seu limite.
Cătălina sorriu, inspirou fundo e voltou a cobri-lo com sua boca.
— Agora chupe, Nina, use a língua, aperte com os lábios, use sua
boca para me masturbar.
Ela começou a fazer o que ele havia pedido e logo encontrou seu
ponto de conforto, passando a apreciar o contato de sua língua com a maciez
do pau de Luca. Por alguns segundos, concentrou-se na glande e começou a
chupá-la com vontade, arrancando um gemido do médico.
— Ah, minha linda... Isso, me chupe gostoso.
Cătălina se animou e voltou a engoli-lo, passando a descer e subir
com a boca pelo membro.
— Deliciosa, não pare!
Tendo mais segurança no que fazia, ela passou a alternar entre chupá-
lo e apertá-lo com os lábios, e Luca agora aproveitava todas as sensações que
a boca da garota proporcionava em seu pau. A língua dela era gostosa demais
e o movimento que ela fazia o deixava cada vez mais próximo do gozo.
— Puta merda, Nina! Não pare!
O vampiro sentiu a onda de prazer chegar e, de olhos fechados,
liberou seu gozo dentro da boca de Cătălina, que se engasgou com o líquido
indo direto para sua garganta.
Ela quase tossiu e seus olhos lacrimejaram novamente, mas não o
tirou da boca e, por fim, engoliu o sêmen.
Luca acariciou seus cabelos e a ajudou a se erguer do chão, deitando-
a na cama.
— Você é maravilhosa... — falou. — Mas da próxima vez que quiser
fazer isso, não precisa engolir. Imagino que o gosto não seja dos melhores.
Ela riu.
— Realmente, não é.
— Quer água?
Ela concordou e Luca se levantou para pegar um copo. Encheu-o e o
entregou a Cătălina.
— Minha vez — falou ele sorrindo e tirando o copo das mãos dela
assim que ela terminou.
O vampiro mergulhou entre as pernas de Cătălina e retribuiu o sexo
oral com maestria, fazendo-a gozar deliciosamente; em seguida, subiu e a
penetrou com entusiasmo.
Sexo em si era bom, mas nunca fora tão bom quanto aquele que fazia
quando estava com ela. Era como se o mundo ao redor não existisse ou não
importasse, era como se fossem apenas os dois. O prazer era incomparável, as
sensações eram abrasadoras, empolgantes e lhe aqueciam o coração. Estar
dentro dela era como estar fundido em um único corpo, uma única alma. Ela
fazia parte dele e ele fazia parte dela.
Ele gozou, ela gozou e ambos relaxaram exaustos e suados na cama.
Carinhosamente, Luca a puxou para si e lhe fez um afago nos
cabelos. A conversa que havia tido com seus pais lhe veio à mente e agora
precisava falar com ela.
— Nina...
— Hum?
— Tem uma coisa que precisa saber.
Ela levantou a cabeça para olhá-lo.
— Nessa semana, os convidados vão chegar e... — Luca inspirou
fundo.
— E...?
— Você não vai poder mais andar pelo castelo, nem comigo, nem
com Irina ou com Bass.
— Está dizendo que vou ter que ficar presa no quarto?
— Sim, mas não neste quarto. Vai ter que voltar para a torre.
— Para a torre? Por quê?
— É para sua segurança. Irão ter membros do Conselho de Anciãos
aqui e ficar nesse corredor de quartos pode ser perigoso.
Cătălina arregalou os olhos.
— Outros membros, além do seu irmão?
— Sim, o pai da Natasha é um dos conselheiros mais antigos, e terão
outros. Não podemos arriscar, entende?
Ela baixou os olhos para o peito de Luca.
— Entendo... — Seu coração estava apertado, mas não era pelo fato
de ter que ficar presa na torre, mas por se lembrar que dali a poucos dias Luca
seria um vampiro comprometido.
Mesmo sabendo que aquele noivado, pelos termos do acordo, não os
impediria de ficarem juntos, algo dentro dela lhe dizia que aquilo não
acabaria bem. Como poderia acabar bem? Ela era uma humana e ele, um
vampiro.
Ele havia dito que a amava, mas que futuro teriam? Mesmo que
resolvessem continuar juntos depois do noivado, quantos anos poderiam
desfrutar um do outro antes que ela começasse a se sentir mal por estar
envelhecendo e ele não?
Pelo que havia entendido, Luca só se casaria dali a 30 anos, no
mínimo. Nessa altura ela estaria com quase 50 anos. Quase uma senhora...
Não... não conseguia se ver nessa condição.
Não havia lugar para ela na vida de Luca...
— Ei, pequena? — chamou o médico ao vê-la desanimada. — Não
fique assim, é só por alguns dias...
— Não é por isso...
— O que é, então?
Uma lágrima brotou no canto do olho de Cătălina e ela se virou de
costas para Luca.
— Nada...
Ele a abraçou por trás.
— Como nada?
Outras lágrimas vieram, mas ela não conseguia falar, explicar...
— Nina?
— De que adianta? — soltou ela entre soluços. — De que adianta
ficarmos juntos, Luca?
— Como assim? Do que está falando?
— Não temos futuro. Por que insistir?
Ele a virou para si e viu o sofrimento nos olhos dela. Ele também
sofria com aquilo, ele também não conseguia prever que tipo de futuro
teriam, mas em seu coração, eles ainda teriam tempo para se curtir, se amar...
Não estava disposto a abrir mão dela. Não conseguia, não agora. Nina
preenchia seu coração e ele a amava.
— Minha linda, minha pequena... — Segurou em seu rosto e lhe fez
um carinho com os dedos. — Não pense assim... daremos um jeito.
Cătălina balançou a cabeça negativamente e tentou enxugar algumas
lágrimas.
— Não me dê esperanças... Não vê que isso só piora as coisas?
Uma ruga se formou entre os olhos de Luca.
— Eu... sinto muito, Nina; me desculpe... Eu nunca pensei que isso
entre nós pudesse chegar tão longe. Eu nunca pensei que pudéssemos nos
envolver tanto... — Ele se sentou e inspirou fundo, seu peito se oprimia. —
Então, é isso? Vamos desistir? Você quer desistir?
Uma dor profunda atravessou o coração de Cătălina e as lágrimas
vieram em dobro. Sentou-se também com o rosto entre as mãos, não
conseguia falar. Não queria ser ela a terminar com tudo, porque no fundo ela
sentia que precisava dele e que não conseguiria deixá-lo.
Luca sentiu seus olhos umedecerem também. Era irônico aquilo.
Havia sido ele que alertara Cătălina sobre não esperar nada daquela relação e
que afirmara que só poderia lhe oferecer sexo e um caso passageiro. No fim,
agora era ele quem estava apaixonado por ela. E era ele quem não queria
deixá-la.
Mas não seria justo insistir naquilo com ela. Não podia pedir a Nina
que continuassem juntos quando o problema estava nele... Quando não podia
oferecer a ela nada mais do que a condição de amante.
— Sinto muito... sinto mesmo, Nina. Eu gostaria de ter uma resposta
ou solução para tudo isso, mas não tenho. Não era minha intenção te magoar.
Me desculpe por ter te envolvido nisso, por ter te seduzido, por ter achado
que poderíamos ter apenas um caso sem grandes consequências... Eu
subestimei nossos sentimentos, não imaginei que poderíamos nos apaixonar.
Eu realmente te amo, pequena, e não sei o que fazer com esse sentimento
agora. Eu não queria ter que te deixar, mas também não é justo eu te pedir
para ficar comigo.
O vampiro depositou um beijo nos cabelos de Cătălina e se levantou
da cama.
— Vou para o meu quarto hoje... — disse. — Eu preciso de um
tempo para pensar, e acho que você também.
Cătălina o olhou visivelmente abalada. Não queria que ele fosse
embora, mas não tinha coragem de impedi-lo. Talvez fosse melhor assim,
talvez fosse melhor terminarem e cortar aquele sentimento pela raiz,
enquanto estava florescendo... Engoliu o bolo que se formava em sua
garganta e se deitou novamente, de costas para Luca.
— Okay... Boa noite — disse num fio de voz.
O vampiro travou a mandíbula e suspirou, virando-se para a porta.
— Boa noite — respondeu ao sair.
Luca seguiu para o seu quarto se sentindo péssimo. Tudo o que ele
quis evitar estava acontecendo e não sabia como resolver aquilo. O
afastamento seria mesmo a solução? Como poderiam negar seus sentimentos?
Conseguiriam sufocar o amor e o desejo que sentiam um pelo outro?
Independente de noivado, Nina permaneceria no castelo sabe-se lá
por quanto tempo. Como iriam conviver? Como iria vê-la todos os dias sem
que pudesse tocá-la ou beijá-la?
Irritado, bateu a porta do próprio quarto e se deitou na cama. Já fazia
pelo menos dez dias que ele não dormia ali. Dez dias que dividia a cama com
ela, que sentia seu cheiro ao dormir, que encontrava o calor de seu corpo ao
acordar. Ali, o seu quarto parecia tão escuro, sua cama tão vazia...
— Merda! — praguejou alto e se virou de bruços, escondendo o rosto
no travesseiro, o peito a sufocar. Como viveria sem ela?
C ătălina chorou por mais de uma hora antes de conseguir adormecer.
Acordou na manhã seguinte com os olhos inchados e vermelhos,
além de uma leve dor de cabeça.
Não queria sair da cama, mas fez um esforço e se dirigiu ao banheiro
para se lavar. Olhou-se no espelho, estava péssima, horrível... Com um
suspiro, umedeceu uma toalha a fim de fazer uma compressa de água fria nos
olhos.
Voltou para o quarto e se deitou novamente com a toalha sobre o
rosto. Seu interior era uma bagunça. Naquele momento, perguntava-se onde
Luca estaria. Era domingo e ela não tinha certeza se ele tinha ido trabalhar ou
não.
Sentiu-se sozinha. Toda aquela determinação que ela havia tido no
início da relação com Luca, de viver apenas o momento sem esperar nada
dele, tinha virado fumaça.
Não havia como controlar os sentimentos. Era impossível! E, por
mais que pensasse, não conseguia chegar a uma decisão.
Uma parte de si lhe dizia que era melhor terminar com tudo e se
afastar, pois continuar com Luca só prolongaria seu sofrimento. Contudo,
outra parte lhe cutucava o coração, dizendo que os momentos mais felizes de
sua vida tinham sido quando estava com ele; então, por que não aproveitar
para ser feliz enquanto podia? Por que não deixar que o tempo se
encarregasse de resolver as coisas?
Era como se dentro dela uma guerra estivesse sendo travada entre sua
razão e seu coração, e ela não se sentia capaz de escolher um lado.
Irina apareceu com o café da manhã e Cătălina não se mexeu na
cama. Não queria que a garota a visse com os olhos inchados.
— Senhorita? Tudo bem? — perguntou a filha da cozinheira.
— Ah... sim, estou com um pouco de dor de cabeça, só.
— Quer que eu chame o Sr. Luca?
— Não! — respondeu ela rapidamente. — Não precisa, não é nada
demais. Ele está no castelo?
— Sim, hoje o Sr. Luca não foi para o hospital... mas daqui a pouco
ele vai para a vila com o Sr. Constantin. Eles irão ver como estão os
preparativos para o Ano Novo. Teremos fogos e uma festa de comemoração
lá essa noite. A senhorita vai?
— Hum... não sei. Acho que não.
— Ah, seria uma pena perder.... — Irina suspirou compadecida, a
humana não parecia estar bem. — Precisa de mais alguma coisa, senhorita?
— Não, obrigada, Irina.
— Está bem. Vou descer, então. Minha mãe está preparando algumas
tortas e eu preciso ajudar na cozinha. Com licença... — disse a moça saindo.
Cătălina se sentou, tirando a toalhinha do rosto. Podia sentir o
inchaço nos olhos ainda ao piscar, mas estava melhor do que antes. Irina
realmente era discreta. Era a primeira vez, em dias, que Luca não dormia ali e
a garota certamente havia percebido, mas agira de forma normal, não
mencionando nada quanto a isso.
Levantou-se para tomar café. Luca havia lhe falado sobre a festa
alguns dias atrás e ela estava animada, pensando que veria os fogos com ele,
mas agora...

Sebastian voltou de Sibiu quando estava escurecendo. Após uma


noite inteira de sexo e bebedeira, tinha dormido como uma pedra por horas e
acabou acordando sozinho no motel somente no meio da tarde. A moça com
quem passara a noite já havia ido embora.
Apesar do trabalho no hospital de Brezoi ser tranquilo, ele se sentia
cansado. Mentalmente cansado.
Ao chegar no castelo, encontrou Luca na parte externa, próximo a
uma mureta de pedras cuja vista dava para a vila dos transformados. Ele
olhava a paisagem e parecia ter os pensamentos longe.
— Ei, cara! O que faz aqui fora? Quer congelar?
— Não, eu estava vendo se está tudo certo aqui com os fogos.
— Ah, sim. Eu tinha até me esquecido de que hoje teremos festa. Os
fogos serão lançados daqui?
— Sim, a visão é melhor para quem estiver lá na vila.
— Você vai?
— Vou. Os aldeões estão animados, seria uma desfeita se eu não
fosse. — Luca sorriu meio de lado.
— Quem não parece muito animado é você — reparou o amigo. —
Aconteceu alguma coisa? Cadê a Nina?
Luca inspirou fundo.
— Não a vi hoje...
Bass arqueou uma sobrancelha.
— Como assim? O que aconteceu?
— Não sei direito...
— Porra, velho! Como não sabe?
— Nós discutimos.
— Por quê? — perguntou o loiro, encostando-se na mureta.
— Nina está chateada porque eu não posso dar um futuro a ela.
— Sei... me conte uma novidade.
Luca voltou a olhar para a vila, já iluminada, mas observava sem ver,
sem prestar atenção.
— Eu queria que as coisas pudessem ser se outra forma. Eu a amo,
Bass — Soltou um suspiro. — Não sei como fazer isso dar certo... Não
consigo achar uma solução para o nosso caso — falou passando a mão nos
cabelos.
— Ainda esperando a novidade...
— Vai à merda, Bass!
Sebastian sorriu.
— Quer uma solução para o caso de vocês?
— Se for me dizer outra vez para deixar ela para você, eu te quebro
os dentes.
— Não... Gosto dos meus dentes, obrigado. Mas penso que se você
quiser ficar com a Nina de forma correta com ela, deveria cancelar o noivado
e transformá-la. Assim poderiam viver juntos, ter filhos, essas coisas...
Luca franziu o cenho. Não podia negar que aquilo já havia passado
pela sua cabeça.
— Você acha que eu já não pensei nisso? Gostaria que as coisas
fossem tão simples, mas não são. Eu não posso fazer isso... Maldição! —
Chutou uma caixa vazia, onde antes estavam guardados os fogos. — Inferno!
Caralho! Destino de merda!
— Quem faz seu destino é você. — Bass suspirou. — Você é
certinho demais, Luca...
— Eu sou responsável! — Luca contestou irritado. — Conheço
minhas obrigações ao contrário de você.
— O que quer dizer? — O vampiro loiro fechou o semblante.
— Não é de hoje que você não dá a mínima para nossas tradições e
burla nossas regras.
Sebastian inspirou fundo e soltou o ar pela boca, observando
calmamente a fumaça que se formava à sua frente.
— Realmente — concordou. — Acho essas tradições arcaicas e não
me moldo por elas, embora eu entenda sua posição de futuro senhor do
castelo. Na verdade, tenho pena de você, Luca. De estar preso a isso aqui. —
Estendeu as mãos indicando o vale. — Mas... não sou só eu quem burla as
regras, não é? — Bass sorriu ironicamente. — Não vai mentir para mim e
dizer que não bebeu o sangue da garota.
Luca não respondeu. As palavras do amigo tinham lhe atingido como
um soco no estômago. Sim, ele estava preso ao vale e, sim, ele tinha burlado
as regras também. Não só bebendo o sangue de Nina, mas a escondendo do
Conselho.
— Não vai levar a Nina à festa, Luca? — perguntou Bass, tentando
dissipar o clima ruim que havia ficado entre eles.
— Não... Como eu disse, nós nos desentendemos ontem, não sei se
ela quer me ver. Além disso, falta menos de uma semana para o meu noivado,
não quero ficar dando margem para fofocas e especulações entre os aldeões.
— Hum, sei... Me permitiria acompanhá-la, então? A garota precisa
sair um pouco, se divertir... ou tentar pelo menos.
— Faça como quiser... Vou entrar — respondeu Luca enfiando as
mãos no bolso do casaco e voltando para o castelo de mau humor.

Cătălina estava sentada em frente ao prato de comida, revirando a


carne, desanimada e sem fome quando bateram à porta.
O seu coração disparou com a possibilidade de ser Luca, mas quem
colocou a cabeça para dentro do quarto foi Bass.
— Oi! Posso entrar?
— Pode... — respondeu ela afastando o prato com uma expressão
chateada.
— Estava esperando o Luca?
Cătălina o olhou de lado e não respondeu. Sua tristeza da manhã
tinha dado lugar à ansiedade e à insegurança. O sumiço e o silêncio de Luca a
deixavam angustiada. Provavelmente ele tinha se dado conta de que estava
mesmo perdendo tempo com ela e preferiu se afastar.
Talvez aquilo fosse o certo, mas doía tanto...
Bass se sentou à frente dela e cortou um pedaço da carne que ela
estava revirando no prato e o colocou na boca.
— O que está fazendo? — perguntou Cătălina espantada.
— Comendo, estou com fome.
— Não jantou?
— Não. Cheguei agora há pouco, só fui tomar um banho. Eu ia
descer para ver se ainda encontrava algo na cozinha, mas resolvi passar aqui
primeiro.
— Estava trabalhando?
— Peguei dois dias de folga, estava em Sibiu.
— Entendi, então é por isso que não te vejo desde sexta?
— Sentiu minha falta, princesa? — Ele sorriu e ela revirou os olhos,
sorrindo também.
— E estava fazendo o que em Sibiu?
— Cuidando das minhas necessidades. — O vampiro piscou,
arrancando uma risada de Cătălina.
— Desistiu de Madeleine? — perguntou ela arqueando a sobrancelha.
— Hum... A moça estava confundindo as coisas. Fui bem claro ao
dizer que não gosto de envolvimentos e ela já estava forçando a barra.
— Cuidado, Bass. Mulheres são vingativas.
Ele riu e se levantou.
— Se apronte, Nina. Lá pelas 21h venho te buscar para irmos à vila.
Cătălina arregalou os olhos.
— Você?
Bass esboçou um meio sorriso.
— Luca não vem, Nina. Ele vai estar lá na festa, mas não vem te
buscar.
A tristeza voltou a envolver o coração dela.
— Talvez seja melhor eu não ir, Bass...
— Não seja boba! É Ano Novo, não deixe que uma discussão entre
vocês estrague isso. Não se deixe abalar tanto, garota! Vamos, sim. Você vai
comigo, nem que eu tenha que te carregar nos ombros.
Cătălina sorriu e suspirou. Era difícil dizer não a Bass.
No horário combinado, o vampiro apareceu, com direito a roupa
social, terno, cachecol e um sobretudo que ia até os joelhos. Ela também
vestia um casaco longo e pesado, pois soube por Irina que a festa seria ao ar
livre e duraria várias horas, já que os fogos seriam lançados somente à meia-
noite.
Apesar de ainda não estar muito disposta, forçou um sorriso. Não
queria desapontar Bass, que estava sendo tão gentil com ela.
Quando chegaram à vila, os aldeões já estavam animados. Vestidos
de forma tradicional, eles dançavam ao som de uma música tocada por uma
banda formada pelos próprios moradores. Também havia bebida e comida à
vontade.
Surpresa, notou que estavam todos ali, Anna, Irina, Theodor,
Madeleine e até o Sr. Pop.
Cătălina riu muito ao ver o sisudo mordomo do castelo com uma
caneca de cerveja na mão arriscando uns passos de dança.
Luca também já estava lá e conversava de forma descontraída com
alguns moradores da vila. Quando ele os viu chegando, apenas os
cumprimentou com a cabeça e voltou sua atenção à conversa.
Cătălina recebeu aquele cumprimento frio como uma agulha no peito.
Mas sorriu e fingiu que não tinha se abalado com aquilo. Respirou fundo e
engoliu a frustração. Era Ano Novo e agora ela estava determinada a se
divertir.
Pegou uma caneca de cerveja, a virou toda de uma vez e, depois, quis
aprender a dançar. Não era uma dança comum a dos transformados. Parecia
algo do século passado, mas era divertido.
Bass a acompanhou e logo os dois viraram o centro das atenções da
festa. Cătălina rapidamente pegou os passos e aqueles que estavam assistindo
batiam palmas ao ritmo da música, incentivando os dançarinos.
Luca se encostou em um canto, observando-os de longe. Gostaria de
estar lá, rindo e se divertindo também, mas não se sentia à vontade. Sentia
culpa, na verdade, por ter abandonado Nina, por não tê-la procurado durante
o dia e por não ter dado a ela qualquer satisfação.
Vê-la com Bass estava lhe dando um nó nos intestinos. Sua vontade
era de tirá-la das mãos dele, abraçá-la, beijá-la e lhe prometer que nunca a
deixaria. Estalou a língua. Vontades pessoais nunca eram prioridade naquela
família...
Pegou outra caneca de cerveja. Precisaria de umas dez daquela para
sentir algum efeito do álcool, mas tinha a noite toda para aquilo.
Lá pelas 22h, Grigore e Mirela também apareceram na festa, mas não
permaneceram por muito tempo. Apenas cumprimentaram as pessoas,
beberam e comeram, retornando em seguida para o castelo. O pai de Luca
gostava de acender os fogos pessoalmente e, por isso, precisava estar lá no
alto no horário da virada.
Quando deu meia-noite, o som extremamente alto de uma espécie de
corneta soou no castelo e ecoou por todo o vale. Assustada, Cătălina parou de
dançar e a banda interrompeu a música. Ela nunca tinha escutado aquilo,
parecia uma buzina potente de trem.
— O que foi isso? — perguntou ela olhando para o alto da colina.
— O sinal de que os fogos vão começar — respondeu Luca, parando
ao lado dela e a surpreendendo.
Ela o fitou e os olhos de ambos se encontraram por alguns segundos.
Em seguida, os fogos começaram, roubando a atenção deles.
Grigore havia caprichado naquele ano. Ele acendia as baterias em
sequência e os fogos brilhantes e coloridos iluminavam o céu formando
grandes bolas que estouravam uma dentro da outra.
Cătălina abriu a boca, pasma. Nunca tinha visto algo parecido em sua
cidade. Nas poucas vezes que havia conseguido sair de casa para comemorar
o Ano Novo, os fogos eram mais barulhentos do que bonitos e não passavam
de uma dúzia de explosões brilhantes.
Mas aquilo era lindo demais e, após quase dez minutos de espetáculo,
os aldeões bateram palmas e a música voltou a ser tocada. Cătălina tinha um
sorriso bobo no rosto e, ao voltar sua atenção para o lado, encontrou Luca a
encarando. Bass havia sumido, certamente tinha ido buscar cerveja ou estava
beijando alguma garota por aí.
— Feliz Ano Novo — disse ele.
— Feliz Ano Novo... — Cătălina desviou os olhos e, sem saber o que
fazer, resolveu que era melhor pegar algo para beber. — Vou ali... — falou.
Luca, entretanto, não deixou que ela se afastasse. Pegou-a pela mão e
a conduziu para longe da agitação, até a parte de trás de uma das lojinhas da
vila.
Ele nada disse, apenas a encostou contra a parede e a beijou,
desesperadamente e profundamente.
Cătălina não ofereceu resistência e retribuiu o beijo. Ela queria tanto
aquilo...
— Eu não consigo, Nina. Eu não consigo ficar sem você. Por favor,
não se afaste de mim — pediu ele com voz emocionada.
— Quem se afastou foi você, Luca.
— Porque você me deu a entender que era isso o que você queria...
— Eu... não, eu não sei, ando tão confusa, me desculpe. — Ela
mordeu o lábio e encostou a cabeça no peito dele. — Eu sinto que também
não consigo ficar sem você, eu te amo tanto... Mas eu tenho medo, Luca... e
isso dói, porque eu não quero te perder, não quero pensar que um dia você vai
me deixar...
— Nina... eu não quero te deixar. Eu também te amo, muito, e não
vou abrir mão de você.
— Mas o seu noivado...
Ele a olhou profundamente.
— O meu noivado não nos impede de ficarmos juntos. Você sabe
disso... — Delicadamente, ele passou os dedos nos lábios dela. — Além
disso, você só tem 18 anos, nós temos bastante tempo para decidir o que
fazer.
— Sim, eu sei... mas quanto tempo isso pode durar? Vai chegar uma
hora em que... Eu sou só uma humana, Luca...
O vampiro a fitou, observando cada linha de seu rosto.
— Mas não precisa continuar sendo... É só me pedir.
Cătălina deixou o queixo cair. Ele estava mesmo dizendo que poderia
transformá-la se ela quisesse?
— É proibido — falou.
— Se for isso o que você quer, eu não me importo de quebrar as
regras.
— Eu não sei se quero... — O coração de Cătălina saltava dentro do
peito.
— Não precisa decidir isso agora. Como eu disse, temos tempo.
Ele voltou a descer os lábios sobre os dela e Cătălina se entregou ao
beijo. Ela nunca cogitara ser uma vampira, não conseguia se imaginar
bebendo sangue, mas também não queria pensar naquilo agora, só queria
estar nos braços daquele homem que tinha arrebatado o seu coração. O seu
vampiro lindo, o seu deus grego...
L
uca pegou Cătălina pela mão e a puxou pelo meio da festa em
direção ao carro.
— Não quer dançar, Luca?
— Não, chega de festa.
Rindo com a pressa que o rapaz demonstrava, ela olhou em volta à
procura de Bass, queria avisá-lo que estava voltando com Luca. Encontrou-o
perto do barril de cerveja.
Ele a viu e levantou a caneca, dando uma piscada e a fazendo sorrir.
Luca a levou até o carro e eles subiram a colina em direção ao
castelo, mas antes de entrarem, Cătălina arrastou o médico até a mureta, pois
queria ver a vila de lá de cima. A festa continuava animada e era possível
escutar a música ao longe.
O vampiro a abraçou por trás e ela encostou a cabeça em seu peito. A
proposta que ele havia feito lhe causava medo. Só de pensar em se
transformar em uma vampira e ter que ingerir sangue para sobreviver lhe
dava arrepios. Lembrou-se de Irina. Teria que beber do sangue de Luca e
morrer para deixar de ser uma humana e se tornar uma deles... Aquilo a
assustava.
Se ainda fosse certo que Luca ficaria com ela... mas não era. O
noivado aconteceria e, olhando para a vila, podia entender os motivos dele.
Um dia ele seria o senhor de tudo aquilo, a existência dos transformados que
viviam naquele lugar dependiam dos Constantin, dependiam de uma
linhagem pura...
Então, de que valeria ela se tornar uma vampira? O que ela seria? Sua
amante? Não se imaginava nesse papel...
Inspirou fundo e o ar gelado queimou suas narinas. Não... Não
pensaria nisso agora, não queria pensar...
Coração tolo! Sim, podia ser tolice, mas de alguma forma ela ainda
tinha a esperança de que poderia ser feliz com Luca. Não sabia como e não
sabia se aceitaria a proposta que ele havia lhe feito. Precisava de um tempo
para pensar e para decidir o que fazer.

Dois dias se passaram sem que nenhum dos dois voltasse ao assunto.
Era como se quisessem negar a existência do problema e evitar a dúvida, a
cobrança e a dor. Não que eles estivessem se esquecido, apenas não queriam
colocar mais barreiras entre os dois.
O clima era estranho, pois ao mesmo tempo que eles curtiam um ao
outro, que faziam amor e passavam a noite juntos, existia algo no ar como se
fosse um fantasma rondando suas cabeças. Um fantasma que ambos se
recusavam a prestar atenção.
Infelizmente, esse fantasma ficava cada vez mais real para Luca e,
com um pressentimento ruim no peito, o vampiro experimentava seu fraque
de noivado ao estilo vitoriano quando Mirela entrou em seu quarto.
— Uau! Mas esse meu filho está lindo demais! — exclamou ela.
Ele não respondeu e permaneceu olhando sério seu reflexo no
espelho. Se sua mãe soubesse como ele se sentia naquele momento, talvez
não ficasse tão animada.
Acontece que mãe era mãe, e ela percebeu que algo não estava bem
com Luca.
— O que acontece, Luca? — perguntou ela passando os dedos nos
cabelos do filho.
Ele suspirou e a encarou.
— Eu tenho a impressão de que estou prestes a cometer um grande
erro.
Mirela arqueou as duas sobrancelhas, mas, no fundo, não foi surpresa
para ela. Já tinha visto como Luca olhava para Nina, sabia que eles estavam
dormindo juntos e que ele estava apaixonado pela garota humana... Conhecia
o filho e sentiu seu coração se apertar por ele.
— Você ainda tem tempo de desistir, Luca. E eu o apoiarei se quiser
mesmo fazer isso. Mas saiba que haverá consequências... Para você, para o
seu pai, para Victor e talvez até para garota, se souberem quem ela é...
Gheorge Moldovan é poderoso e não aceitaria de bom grado você desistir do
noivado com a filha dele. Haveria retaliações...
— Eu sei, mãe... Não vou desistir, não se preocupe. Eu apenas tenho
essa sensação de que existe um peso de uma tonelada em minhas costas...
Mas vou ter que carregar isso, querendo ou não.
— Sinto muito, filho...
— Eu também.
Mirela abraçou Luca e depositou um beijo em seu rosto.
— Seu pai quer conversar com você depois do jantar — avisou.
Luca bufou.
— De novo? Já avisei à Nina que ela vai ficar na torre a partir de
hoje, trancada!
— Acho que não é sobre isso, ele também chamou Sebastian.
O rapaz a olhou interrogativamente, mas Mirela ergueu os ombros.
Ela também não sabia do que se tratava.
Luca franziu o cenho, seu pai nunca o chamava para falar de coisas
boas.
Após sua mãe sair, retirou o fraque e foi se encontrar com Nina. Ela
estava arrumando suas coisas para levar para o quarto da torre e ele a
abraçou.
— Desculpe por isso, minha linda!
— Tudo bem, Luca. — Ela sorriu. Era óbvio que não seria legal ficar
trancada na torre, mas não tinha escolha.
Jantaram juntos e com a ajuda de Irina e do Sr. Pop levaram tudo
para o seu antigo quarto. Se tinha algo de bom em tudo aquilo, era a vista da
janela. Dali podia ter uma visão bem maior do entorno do castelo. Além
disso, o banheiro era gigantesco e ela também poderia se deslocar até a sala
de pintura de Luca.
Como prometido, Mirela mandara instalar uma TV e um aparelho de
DVD, deixando uma caixa cheia de títulos de filmes, além de uma pilha de
livros de romances escolhidos por ela mesma.
— Pelo menos vou ter o que fazer... — falou tentando demonstrar
animação. — Você vem me visitar? — perguntou ela.
— Claro que eu venho. Não te deixaria aqui sozinha.
Eles se abraçaram e Cătălina escondeu o rosto no peito de Luca.
— Eu te amo — disse o vampiro ao lhe beijar os cabelos. Ela
levantou o rosto e ele a beijou longamente.
Luca queria ficar mais tempo com ela, mas, infelizmente, precisava
descer. O seu pai já devia estar o aguardando no escritório.
— Tenho que falar com meu pai agora, Nina, mas volto depois. —
Afastou-se.
— Vai dormir aqui comigo? — Ela sorriu.
— Você tem alguma dúvida disso? — Ele piscou e saiu, descendo as
escadas.
Ao chegar ao corredor de quartos, Luca olhou para a chave em suas
mãos e, com um suspiro, fechou e trancou a porta de acesso à torre.
Virou-se e deu de cara com Bass. Ele o olhava sério e fitou a chave
em suas mãos.
— Precisa mesmo disso? — perguntou o loiro.
— Sim, é para a segurança dela.
— Perdi minha companhia para o chá da tarde, então?
— Amanhã os convidados começam a chegar, Bass. Terá bastante
companhia — falou Luca se dirigindo às escadas que levavam aos andares
inferiores.
— Hum... — Ele franziu o cenho. — Até parece... Não conheço
ninguém da sua família, e a minha... Você sabe... não sou muito bem visto.
— Sorriu de lado.
Luca sorriu e enfiou a mão no bolso.
— Eu me odeio por isso. — Retirou uma cópia da chave e a entregou
a Bass. — Sei que ela gosta de conversar com você e não sou nenhum
insensível para querer mantê-la tão isolada.
— Olha só! Você confia mesmo em mim! — gracejou Sebastian.
— Não faça eu me arrepender... — Deu um soco no ombro de Bass
que devolveu o golpe na brincadeira.
Ambos riram e seguiram para o escritório de Grigore.
O senhor do castelo os esperava impaciente. Ele já estava na terceira
taça de vinho e tamborilava os dedos sobre a mesa quando os rapazes
entraram.
Ao notarem a expressão de Grigore, trocaram olhares e, mais sérios,
sentaram-se à frente dele.
— O que houve desta vez? — perguntou Luca, prevendo notícias
ruins.
— Nenhum de vocês foi ao hospital hoje, não é?
— Não, foi minha folga — respondeu o filho.
— Eu vou daqui a pouco, minha escala foi marcada para a
madrugada — justificou-se Bass.
— Victor me ligou... Creio que estamos com um problema.
— Que tipo de problema? — estranhou Luca.
— Encontraram um corpo nesta manhã no meio da floresta.
Aparentemente foi atacado por algum animal, mas temos nossas dúvidas.
Bass engoliu em seco, sentindo um calafrio lhe subir pela coluna.
— Que dúvidas? — Luca quis saber.
— O legista do hospital, felizmente, é um dos nossos e ele acha que
foi um ataque de vampiro, pelo tipo de mordida e pela falta de sangue no
local.
— E o que pretendem fazer? — perguntou Bass tentando esconder
sua preocupação.
— Vamos abafar esse caso. Ele vai atestar que pode ter sido um lobo.
Mas isso aconteceu muito próximo do vale, o que significa que quem fez isso
pode ser daqui. — Grigore estreitou os olhos. — Poderia ser qualquer um,
mas sabe o que me preocupa?
— O que, pai? — Luca tinha o cenho franzido. Não conseguia
imaginar que fosse coisa de algum aldeão. O único que oferecia perigo era
Marius e ele estava na prisão, bem longe dali.
— O homem que foi atacado tem relação com a moça que está aqui.
— Com a Nina? — estranhou o filho.
— Era o tal padrasto dela, o que batia nela e que provavelmente
matou a mãe — falou os encarando fixamente. — Sinceramente, espero que
vocês não tenham nada a ver com isso.
Bass sentiu a cor lhe fugir das faces, mas se manteve firme.
— Não, senhor — falou o loiro, sério. — O homem era um miserável
e merecia morrer, mas seria muito mais fácil matá-lo com uma faca ou uma
arma do que arrastá-lo para a floresta e usar os dentes.
Luca olhou para o amigo e não conseguiu deixar de notar uma gota
de suor lhe escorrendo pela têmpora.
— Não sei quem fez isso, pai. Mas quer saber? Fico feliz que o
mundo ficou livre de um monstro como ele e não faço questão nenhuma de
encontrar o culpado. Deixe isso para lá, não acho que tenha sido alguém
daqui.
Grigore passou os olhos de um para o outro e, por fim, bufou.
— Muito bem, podem ir. Eu cuidarei disso — falou encerrando a
reunião.
Os dois rapazes saíram em silêncio e, ao chegar no hall do castelo,
Luca pegou Sebastian pela gola da camisa.
— O que fez, seu maluco?
— Nada! Me solte! — respondeu ele, empurrando o braço de Luca e
se soltando.
— Pode mentir para o meu pai, mas não minta para mim!
Bass fechou o semblante.
— Ele mereceu! — respondeu.
Luca coçou a cabeça nervoso. Queria socar o amigo.
— Você é louco, Bass. Não pode sair matando as pessoas assim,
mesmo que mereçam. Deixe que os humanos julguem seus próprios crimes.
Você bebeu o sangue dele? — perguntou, já adivinhando a resposta. — Bass,
pelo amor de Deus, você ainda continua bebendo sangue dos vivos?
— Não me julgue, Luca... — respondeu o rapaz entredentes.
— Não é questão de julgar! Estou preocupado com você, porra! Isso
que você está fazendo é errado e vai acabar se dando mal. Você sabe disso!
Uma hora acabará sendo pego, inferno!
Bass não respondeu.
Esboçando um gesto de impaciência, Luca inspirou fundo e se
aproximou do amigo, segurando-o pela nuca e encarando-o de perto.
— Precisa parar com isso, cara! Precisa parar agora!
— Não consigo... Minhas cotas não duram mais até o final do mês —
confessou.
— Merda! — Luca o largou e passou a mão nos cabelos. — Eu
arrumo! Eu consigo sangue para você, mas tem que me prometer que vai
parar de atacar as pessoas.
— Como vai conseguir? Você também tem cotas.
— As minhas estão sobrando, desde o solstício não precisei delas.
Escute... existe uma técnica para se livrar do vício do sangue. Ela foi utilizada
há muito tempo quando o sistema de cotas foi estabelecido e hoje ainda é
usado naqueles que estão em recuperação na prisão. Sua irmã trabalha lá, ela
pode te ajudar.
— Não vou contar para a minha irmã que eu sou um viciado! Dentro
da minha família de merda, ela é a única que não me julga. Não posso
decepcionar Alícia com isso.
Luca suspirou.
— Okay... Acho que tem um livro na biblioteca que fala sobre o
assunto. Vou procurar para você. — Encarou-o. — Está precisando, Bass? De
sangue agora?
— Não, peguei minha cota do mês ontem.
— Tente se segurar, cara, o máximo de tempo que conseguir. Vamos
resolver isso, está bem?
Bass assentiu.
— Obrigado, Luca — falou cabisbaixo.
— De nada. Você é meu amigo, seu cretino! — Luca apertou o
ombro de Bass. — Vê se para de me esconder as coisas... Vou subir, agora.
Boa noite.
— Boa noite.
O médico loiro observou o amigo subir as escadas e deu um sorriso
sincero. Tinha sido pego, mas estava aliviado por ter confessado seu
problema para Luca. Talvez com a ajuda dele fosse mais fácil...
Luca subiu à torre e encontrou Cătălina vendo um filme. Ele sorriu e
ela desligou o aparelho de DVD.
— Por que desligou? — perguntou.
— Porque você está aqui, ué.
— Podemos continuar vendo juntos...
Cătălina sorriu e voltou a ligar o equipamento. Sentaram-se lado a
lado na cama e Luca pegou o controle, dando uma pausa.
— Precisa saber de uma coisa — falou e ela o olhou com curiosidade.
— O quê?
— A mocinha morre no final.
— Não! — Cătălina pegou o travesseiro e começou a bater nele. —
Não pode me contar o final assim, seu besta!
Luca gargalhou enquanto se defendia.
— É mentira. Mas tem uma coisa que eu preciso te falar, é sobre
Nicolae.
Imediatamente Cătălina ficou séria.
— Não quero saber dele.
— Ele está morto.
Ela arregalou os olhos.
— Morto? Como?
— Um acidente na floresta. Algum animal o atacou — mentiu, não
podia dizer que havia sido Bass.
— Nossa, sério?
— Sim... Não está com pena dele, não é? — Luca arqueou uma
sobrancelha.
— Não, claro que não! Mas ser morto assim... — Ela suspirou e
balançou a cabeça. — Sei que é horrível dizer isso, mas eu estou aliviada, na
verdade. Nunca mais ele vai me perseguir.
— Não, nunca mais... Não se preocupe com isso, Nina. Se sentir
assim é normal. Ele representava uma ameaça para você e agora está livre,
simples assim.
— Hum... — Ela encostou a cabeça no peito dele.
— Vamos ver o filme? — falou o vampiro.
Cătălina sorriu. Nicolae que fosse para o inferno. Ela estava livre e
aquilo era uma sensação boa.
— Vamos.
Luca apertou o botão de play e ela se aconchegou em seus braços.
Era tão bom estar com ele e, mais do que nunca, sentia-se protegida.
L uca acordou cedo e observou a garota dormindo ao seu lado. Quanto
mais próximo o dia de seu noivado chegava, mais angustiado ficava,
mais o seu coração pesava.
Aquilo era uma merda, mas a única forma que ele encontrara de
resolver o assunto, seria encarar seu noivado e futuro casamento como um
contrato. Poderia tentar algum tipo de acordo com Natasha e, se ela aceitasse,
poderia continuar com Nina ao seu lado.
Contudo, isso também dependeria de uma decisão da garota. No
fundo, ele tinha medo de que Nina desistisse dele. Não sabia o que ela
pensava sobre a proposta que ele havia lhe feito de transformá-la. Ela não
havia mais tocado no assunto e, às vezes, pegava-a com um olhar
melancólico.
Desde o Ano Novo, eles evitavam conversar sobre o futuro, como se
apenas importasse o presente, mas por trás desse comportamento
despreocupado, existia uma sombra. Uma sombra que vez ou outra ele via
passar nos olhos da garota. Uma sombra que também lhe pesava na alma
sempre que se encontrava sozinho.
Porque não era apenas o futuro que lhe preocupava. Havia outra coisa
que inquietava seu coração e que ele não havia contado a Cătălina. Algo que
precisaria fazer na noite da festa naquele sábado e que, só de pensar, o fazia
suar frio.
O ritual de sangue... Se Nina soubesse... era certo que ficaria
profundamente magoada. Tinha medo de que ela não entendesse e o deixasse,
e aquilo o arrasava por dentro.
Maldito ritual! Deveria ser abolida aquela merda! Um ato simbólico,
mas que selava definitivamente a união entre dois vampiros.
Um pacto tão importante que, caso algum dos noivos quebrasse o
compromisso e desistisse do casamento após o ritual, a parte abandonada
tinha o direito de lavar sua honra, normalmente em forma de confronto, duelo
ou execução.
Sim, era arcaico, coisa do século XVI, mas ainda acontecia entre os
vampiros.
Ou seja, depois do bendito ritual, ele estaria, de fato, preso à Natasha,
e ela a ele para o resto de sua vida. Era esse o peso do noivado de um
vampiro.
Por isso, se Nina aceitasse sua proposta de se transformar, precisaria
tentar um acordo com a prima de Bass. Pelas tradições, após o casamento a
fidelidade de ambos seria cobrada e não poderiam mais ter relacionamentos
paralelos, mas se pudessem apenas manter as aparências...
Luca fechou os olhos e colocou o braço sobre o rosto. Talvez
estivesse sonhando demais... Nada indicava que Natasha poderia aceitar lhe
dar um filho e depois sustentar um casamento de mentira. Nem ele sabia
como fazer aquilo dar certo...
Sua mente estava tão confusa, seu coração tão apertado. Merda!
Merda! Merda! Como queria mandar tudo aquilo para o inferno, mas ele era a
porra de um Constantin! Além disso, como sua mãe havia dito, o pai de
Natasha era um conselheiro poderoso e certamente faria a vida de sua família
um inferno se desistisse do noivado!
Angustiado, Luca se levantou da cama, depositou um beijo suave na
face de Nina e se dirigiu para o seu quarto, precisava se trocar e ir para o
hospital. Teria um longo dia de trabalho pela frente.

Já era quarta-feira e, como estava previsto, os primeiros convidados a


chegarem foram a irmã de Luca com o marido e dois filhos.
Ivana, ou Ivy, como a chamavam, havia tido sérios problemas com o
próprio pai há alguns anos. Problemas que quase lhe tiraram a vida e de uma
de suas crianças, Isabelle. Problemas que custaram ao senhor do Castelo sua
posição no Conselho, motivo pelo qual ele foi obrigado a ceder a cadeira ao
filho mais velho.
Grigore reconhecia seus erros e tentava repará-los, mas Ivy ainda se
sentia magoada com tudo o que o pai lhe fizera e só aceitara o convite para ir
ao castelo porque amava o irmão e porque ele havia lhe pedido para ir.
Isabelle, com seus seis anos, era uma encantadora menina de cabelos
platinados e olhos azuis. Ela recebera o nome da avó materna, falecida há
muito tempo, e, apesar de não ter o sangue de Mirela, a vampira a
considerava como uma neta verdadeira. Ambas se falavam por Skype de vez
em quando e, ao chegarem ao castelo, a garotinha logo se sentiu à vontade
com a avó.
Já Ian, o filho mais novo, era mais cismado e não quis conversa com
Mirela. Tendo dois anos de idade, já falava bem, mas permaneceu quieto ao
ver a avó, deixando Ivy um pouco constrangida.
— Não se preocupe, Mirela... — disse Ivy quando o garoto, de cenho
franzido, recusou-se a ir para o colo da vampira. — Ele é meio parecido com
o pai nesse sentido, demora um pouquinho para pegar confiança, mas logo
ele se acostuma. — Ela sorriu e olhou para Axel, seu marido, que estreitou
levemente os olhos.
— Ah, tudo bem... Teremos tempo para nos conhecermos melhor,
não é Ian? — perguntou a vampira para o pequeno neto que permanecia
sério, olhando-a com estranhamento. Mirela sorriu e se voltou para Ivy. —
Grigore está resolvendo um assunto na vila e Luca ainda não chegou do
hospital, mas logo estarão por aqui. Fiquem à vontade, mandei reservar o
mesmo quarto para vocês, conjugado com o das crianças. — Virou-se para a
neta. — Belle, que tal irmos até o ateliê dar uma olhada no vestido que estou
fazendo para você?
O sorriso da garota se estendeu de orelha a orelha.
— Que cor é? É de princesa? — quis saber ela.
— Ah, sim... É um lindo vestido, você vai ser a princesa mais bonita
da festa! — respondeu Mirela enquanto pegava na mão da garota e seguia
com ela para o ateliê.
Grigore chegou cerca de uma hora depois, cumprimentando a filha e
o genro com educação e até uma certa animação. Ivy reconhecia que ele fazia
um esforço para se aproximar, mas, por mais que tentasse deixar o passado
no passado, ela continuava um pouco arredia em relação a ele.
No fundo, ainda era difícil perdoá-lo totalmente por tê-la perseguido.
Se não fosse por Axel, provavelmente ela e a filha teriam morrido. Não que
fosse a intenção de Grigore matá-las, mas as circunstâncias criadas por aquela
perseguição a haviam colocado em uma situação perigosa quando ainda
estava grávida, e isso a fez odiá-lo por muito tempo.
Há dois anos Grigore a procurara para pedir perdão e reconhecer sua
culpa. Ela tentava, mas ainda era difícil esquecer e isso era algo que a
desgastava, pois estava cansada de carregar aquele peso.

Luca voltou do hospital próximo da hora do jantar. Ele sabia que a


irmã já teria chegado e aquilo lhe deu uma certa ansiedade. Logo o castelo
estaria cheio, logo Natasha também chegaria, logo teria que... Balançou a
cabeça e entrou, não queria pensar naquilo.
O médico foi recebido no salão principal por uma Isabelle sorridente.
A garota pulou em seu colo e o abraçou com entusiasmo. Já a tinha visitado
algumas vezes na América e eles sempre se falavam pelo celular, por isso
eram afeiçoados um ao outro. Beijou-a e a colocou no chão para
cumprimentar os demais, mas a sobrinha apoderou-se de sua mão, em um
claro sinal de que não iria largá-lo tão cedo. Ele sorriu.
— Como vai meu belo irmão? — disse Ivy ao lhe dar um beijo no
rosto. — Uau! Você está cada vez mais lindo!
— Estou bem — respondeu ele com um sorriso meio de lado.
O vampiro recém-chegado cumprimentou Axel e, em seguida,
dirigiu-se para Ian. O garoto, um pouco mais habituado ao lugar, não tentou
se esquivar da aproximação de Luca, que se abaixou e o fitou nos olhos.
— Olá mocinho, sou seu tio Luca — disse ele estendendo-lhe a mão.
— Sou Ian... — respondeu o pequeno, aceitando o cumprimento do
tio.
— Prazer, Ian. Já te mostraram o castelo?
Ian balançou a cabeça negativamente.
— Ah, que ótimo, porque o guia turístico oficial daqui sou eu. Que
tal amanhã de manhã? — sugeriu o vampiro.
O garoto concordou e Luca sorriu, levantando-se.
— Posso ir também? — perguntou Belle puxando o tio pela manga
da camisa.
— Claro que sim, você era muito pequena quando esteve aqui, não
deve mais se lembrar de como é o castelo. Vamos todos.
Luca virou-se para o cunhado.
— Axel, ele é a sua cara — disse sorrindo. Realmente, o pequeno
Ian, além dos cabelos platinados, tinha os olhos dourados do pai, os olhos de
um lobo. — Hum, tenho que subir, depois a gente se fala... — disse mais
sério. Fez, então, um carinho na cabeça de Isabelle e desapareceu pelas
escadas.
Ivy franziu levemente as sobrancelhas. Tinha achado o semblante de
Luca meio abatido, com um olhar cansado. Aquilo era estranho, esperava
encontrá-lo mais animado. Seu irmão parecia preocupado, triste, não
conseguia dizer... Seria por causa do noivado? Não sabia, mas depois
conversaria com ele.

Luca passou no quarto para tomar um banho rápido e seguiu para a


torre. Não poderia jantar com Nina naquela noite, então queria desfrutar um
pouco da companhia dela antes.
Qual não foi sua surpresa encontrar Bass vendo um filme com ela.
Revirou os olhos. Pelo menos ele não estava sentado na cama, mas em uma
poltrona.
— Oi, Luca! Já viu esse filme? É ótimo! — falou o amigo.
— Hum... não — respondeu ele pegando o controle e desligando a
TV.
— Ei! — reclamou Bass de braços abertos.
— Amanhã vocês terminam de assistir — disse ao se aproximar da
garota na cama e a beijar, fazendo-a se deitar.
— Okay, já entendi, já entendi, estou sobrando. — Bass riu,
levantando-se da poltrona.
— Bass? — chamou Luca antes que o amigo saísse. — Vai descer
para o jantar?
— Sua irmã já está aí, não é?
— Não viu eles ainda?
— Não, eu cheguei mais cedo e fui dormir. Ainda não desci... Escuta,
seu cunhado não é perigoso?
— Por que seria? — Cătălina se intrometeu na conversa, curiosa.
— Porque ele não é um de nós, não é um vampiro — falou Luca.
— É um humano, como eu? — Ela arregalou os olhos.
— Não, humanos não são perigosos. — Bass sorriu. — O cara é um
lobo.
— Um lobo? Como assim? — Cătălina deixou o queixo cair. — Não
me digam que lobisomens existem também.
Os rapazes riram.
— Mais ou menos — respondeu Luca. — Existem dois tipos de seres
sobrenaturais que podem se transformar em lobos. Os Lykans e os Wargs. No
caso de Axel, o marido da minha irmã, ele é um Warg.
— E qual é a diferença?
— Wargs são maiores e são brancos. Os Lykans possuem a pelagem
escura — continuou Luca.
— E por que são perigosos?
— Porque a mordida de qualquer um deles pode nos matar. A saliva é
tóxica para nós — explicou Bass.
— Não se preocupe, Bass. Axel não vai te morder. — Luca riu. —
Ele tem um gênio meio sério, mal-humorado, mas é gente boa. É só não o
provocar.
— Nem pensar, vou ficar é bem longe dele.
Cătălina sorriu.
— Luca? Como ele pode ser casado com sua irmã se a saliva dele é
tóxica? Eles não se beijam?
O vampiro gargalhou.
— Se beijam e fazem outras coisas. Aliás, meus sobrinhos são lindos!
Acontece que Ivy desenvolveu um antídoto para a toxina da saliva dele.
— Interessante isso! — Cătălina arqueou as sobrancelhas.
— Hum. Certo... Vou descer para o jantar, só espero ficar do outro
lado da mesa — resmungou o loiro antes de sair do quarto.
Luca aproveitou o pouco tempo que tinha para matar as saudades de
Nina, beijando-a de forma tão ardente e profunda que quase lhe tirou o
fôlego.
— Está me deixando quente, senhor Luca. — Ela sorriu.
— Que bom, só estou aquecendo para mais tarde — falou roçando o
nariz no dela.
— Mal posso esperar... — disse Cătălina mordendo o lábio e levando
a mão à frente das calcas do médico para apalpá-lo.
— Não faz isso comigo. — Luca riu e se encaixou entre as pernas
dela. — Me deixa louco, garota. — Sussurrou ao se pressionar contra ela.
Beijaram-se mais um pouco, mas logo Luca teve que se levantar.
— Volto mais tarde, pequena — falou aborrecido.
— Não precisa ficar chateado, Luca. Curta sua irmã e seus sobrinhos,
faz tempo que você não os vê e é tão importante ter família... Quem dera eu
pudesse ter uma oportunidade dessas.
Luca lhe deu mais um abraço, um beijo na testa e saiu. Ainda se
sentia mal em deixá-la, mas ela tinha razão. Fazia tempo que não conversava
com a irmã, precisava dar valor a esses raros momentos.
Para o azar de Bass, Popescu o colocou justamente ao lado do lobo,
deixando-o pouco confortável durante quase todo o jantar.
Realmente, o tal Axel não era muito de falar. Ele quase não abriu a
boca, mas tinha uma presença impressionante, não fazia o tipo que passava
despercebido. Seus olhos dourados estudavam a tudo e a todos, analíticos e
frios, e até Grigore parecia meio intimidado com ele.
Já a irmã de Luca se mostrou bastante simpática, era uma beldade
aquela mulher... Parecida com o irmão, seus olhos azuis se destacavam com
os cabelos pretos e, realmente, era muito bonita. Mas Bass preferiu não ficar
olhando muito para ela, vai que o marido lobo cismava com ele.
Felizmente o jantar não foi tão ruim, a presença das crianças
quebrava o clima estranho entre Ivy e o pai e ninguém foi mordido.
Após terminarem a refeição, Luca chamou Bass até o seu quarto e lhe
entregou o livro de que tinha falado juntamente com as caixas de sangue que
estavam sobrando de sua cota.
— Se cuida, cara! Se precisar de ajuda, me chame ou quebro sua
fuça, entendeu?
— Okay — respondeu Bass com um meio sorriso.
Apesar de ser uma situação constrangedora, se tinha alguém com
quem ele sabia que podia contar, era Luca. Sebastian abriu o livro assim
voltou para o seu quarto. Tinha esperança de encontrar uma forma de sair
daquela enrascada que havia se metido. Vício era uma merda!

O dia seguinte amanheceu nublado, o que foi bom para Luca. Após se
munir de um chapéu e óculos de sol, ficou mais à vontade para mostrar a
parte externa do castelo aos sobrinhos.
Ao final do passeio, levou-os ao jardim, onde uma fonte de água
jorrava bem no centro. Apesar do frio e da neve que cobria parcialmente as
plantas, o lugar ainda era bonito.
Enquanto as crianças corriam em volta da fonte, o jovem vampiro
encostou-se na mureta de pedra e passou a contemplar o vale que se estendia
à sua frente. Era um olhar vago, melancólico...
— Luca!
Perdido em seus pensamentos, ele se virou, assustado com o
chamado.
— Ah... Oi, Ivy... — respondeu.
A irmã o olhava com curiosidade.
— O que está acontecendo, Luca? Você não me parece bem...
— Não é nada, está tudo bem, sim... — Ele tentou sorrir, mas não se
saiu muito bem.
— Não, não está... — falou Ivy com uma ruga entre as sobrancelhas.
— Você não me engana, irmãozinho. Me diga, é por causa do noivado?
O vampiro suspirou e desviou o olhar para o vale novamente, mas
não disse nada. Estava tão na cara assim?
— Luca... — insistiu ela. — Você não é obrigado a ficar noivo assim,
por casamento arranjado. Os tempos mudaram, até o pai entendeu isso depois
que... você sabe, depois de tudo o que aconteceu.
Luca virou-se para a irmã, seu semblante estava sério, mas calmo.
— Ivy, eu entendo que você pense assim... Você não foi criada aqui,
não consegue ver os fatos como um todo.
— Como assim? — perguntou ela, juntando ainda mais as
sobrancelhas.
— Olhe para baixo — disse ele apontando para o vale. — O que vê?
— A vila — respondeu.
— Exato, a vila. Uma comunidade com cerca de 80 famílias de
transformados que dependem de nós, vampiros puros, para continuarem
existindo. — Luca apoiou os cotovelos na mureta. — Não é só para manter
nossa espécie viva que existem as tradições, Ivy, não mais. É toda uma
cadeia... Se deixarmos de sermos puros, eles desaparecerão — disse,
referindo-se aos transformados.
— E não seria melhor assim? — questionou a vampira. — Não me
parece correta essa relação de dependência. Não estamos mais no tempo dos
escravos.
— Eles não são escravos — retrucou Luca. — Eles têm a opção de
escolher entre a vida humana e a de transformado, esqueceu? E nós, vampiros
puros, que os criamos a séculos atrás, temos a obrigação de manter as
condições necessárias para que eles continuem existindo.
Ivy suspirou, era difícil pensar daquela forma. Ela havia nascido livre
e lutou para permanecer assim. Não conseguia entender por que os
transformados escolhiam viver daquele jeito: sob o controle dos vampiros.
— E você pretende perpetuar isso? — indagou ela. — Vai sacrificar
suas escolhas em nome da tradição?
— Vou fazer o que eu acho que é certo... — disse ele, com o
pensamento meio distante.
— Então por que está com essa cara de que o mundo está prestes a
acabar? — perguntou Ivana. — Por que essa decisão te abala tanto?
Luca fitou a irmã e ela viu uma sombra passar em seu olhar.
— Por nada... — disse ele, desencostando-se do muro. — Vou indo,
preciso trabalhar agora. Nos vemos mais tarde, Ivy.
O vampiro virou-se e foi até as crianças, deu um beijo em cada uma
e, em seguida, encaminhou-se para a entrada do castelo.
Ivana manteve-se ali, olhando para o vale. Fazia sentido o que seu
irmão dissera? Logo Axel apareceu para lhe fazer companhia e ela comentou
sobre o que havia conversado com Luca.
— Não deve interferir nas decisões do seu irmão, Ivy... Ele já tem
idade suficiente para saber o que faz. Creio que talvez o que realmente o
esteja deixando triste não seja apenas o noivado arranjado. Acho que o
verdadeiro motivo está lá em cima, na torre.
Ambos olharam para cima.
— O que tem na torre? — quis saber Ivy. — Lá é o estúdio dele, de
pintura.
— Não só isso...
— O que tem lá? Está me deixando curiosa, Axel!
— Uma humana...
— Hã? — exclamou ela. — Tem certeza? Por que teria uma humana
aqui no castelo?
Axel sorriu.
— Meu olfato não me engana, tenho certeza. Não sei o porquê... terá
que perguntar a ele depois.
A vampira continuou olhando para cima, aquilo era estranho, muito
estranho. Pelo que sabia, humanos eram proibidos de ficar no castelo. O que
o seu irmão estava aprontando? Seria a tal humana o motivo dele estar assim
tão melancólico? Estava curiosa agora.
Cătălina afastou-se rapidamente da janela. Será que eles a teriam
visto? Sentou-se na cama preocupada e fitou tristemente as paredes de pedra
que a envolviam. Luca lhe dizia que ela não precisava se sentir uma
prisioneira, mas de que outra forma ela podia se sentir?
Não estava autorizada a deixar o castelo e agora, com a chegada dos
convidados para o noivado, não podia nem ao menos sair da torre. Se aquilo
não era uma prisão, era o quê?
A garota dobrou os joelhos e encostou sua testa neles, esparramando
seus cabelos dourados sobre as pernas. Mas era para o seu bem... Aquilo não
era brincadeira. Em poucos dias o castelo viraria um ninho de vampiros...
Perguntas martelavam em sua cabeça. O que aconteceria com ela
depois que o noivado terminasse? Eles acreditariam que ela não revelaria
nada a ninguém? Seria liberada por Grigore? Ou ficaria presa para sempre no
castelo? Será que algum dia conseguiria sair dali?
E se pudesse sair, era isso o que ela queria?
Luca... o amava tanto, uma parte de si não queria ir embora, queria
ficar com ele. Mas... como? Como amante? Por quanto tempo? Aceitaria se
transformar? E depois, quando ele se casasse?
Balançou a cabeça, não parecia certo. Mas aquilo estava tão longe e,
ao mesmo tempo, tão perto...
Assustou-se quando a porta do quarto se abriu e Luca entrou.
— Tudo bem, Nina? — perguntou o médico estranhando vê-la
naquela posição.
— Tudo... — Esboçou um sorriso. — Era com sua irmã que você
estava conversando lá embaixo?
— Era.
— E o cara que está com ela agora?
Luca foi espiar pela janela.
— É o Axel, o marido dela.
— Ah, o lobo. Ele tem o cabelo branco mesmo?
— Sim, você viu as crianças? — Sentou-se ao lado dela.
— Vi, parecem ser fofas.
— São sim. — O médico sorriu. — Belle é uma graça e Ian é um
mini-Axel, muito engraçado o garoto.
Cătălina suspirou, um pensamento acabara de lhe ocorrer.
— Luca... se eu me transformasse, você teria filhos comigo?
O vampiro arqueou as duas sobrancelhas e ficou sem fala. Ele não
tinha pensado naquilo.
Pensou em seu futuro casamento com Natasha. Mesmo que ela
aceitasse o acordo que ele iria propor, um filho de sangue puro e um
casamento de fachada, como ficaria Nina? Teria que viver escondida? Se
tivesse filhos com ela, teriam que ficar em segredo?
Naquele momento, Luca se deu conta de que tipo de proposta tinha
feito a Cătălina e se sentiu um canalha miserável. Merda! Não podia fazer
aquilo com ela!
O silêncio de Luca deu a resposta a Cătălina. Ela sorriu de lado e se
levantou da cama, andando até a porta e saindo do quarto.
Luca a seguiu, mas ela desceu e se trancou no banheiro.
— Nina? — chamou preocupado. — Abre a porta, por favor...
Bateu na porta várias vezes, chamou, mas ela não respondeu.
Encostou-se no batente por um tempo, chamou de novo e nada. Por fim,
acabou desistindo e desceu as escadas. Sentia-se um merda. Queria pedir
desculpas, mas precisava trabalhar, ele tinha uma maldita escala a cumprir.
Falaria com ela quando voltasse.
Dentro do banheiro, Nina se encolhia a um canto e deixava as
lágrimas escorrerem. Não aguentaria aquilo, não servia para aquilo. Mesmo
amando Luca loucamente, ela não seria a merda de uma amante que só
serviria para esquentar a cama dele.
A raiva e a impotência guiavam seus pensamentos naquele momento,
e ela jurava que se Grigore a liberasse daquela prisão, iria embora.
Sim... E se ele não a libertasse, ela fugiria.
Estava cansada de sofrer, de sonhar com o amor, de achar que
poderia ser feliz com alguém. Ela não nasceu para aquilo, não nasceu para ser
amada, ela nasceu para ser sozinha e assim seria. Após o maldito noivado, ela
iria embora e assumiria as rédeas de sua vida, de uma vez por todas.
A pós Luca ir embora, Cătălina voltou para o quarto, sentou-se perto
da janela e ficou olhando a paisagem por horas. O branco da neve
lhe trazia ainda mais melancolia.
Sua vida sempre fora como a neve, sem cor.... e, eventualmente,
manchada com o vermelho do seu sangue por causa do padrasto. Achava que
tinha encontrado o arco-íris quando começou a se relacionar com Luca, mas
aquilo acabou se mostrando uma tempestade cinzenta, uma tormenta que a
machucava por dentro.
Sabia que Luca a amava, que queria ficar com ela... Ele até propôs
transformá-la, mas... não queria filhos, ou seja, não teriam uma vida conjugal
de verdade. No fim, ele se casaria com a noiva e ela seria excluída da vida
dele. Aquilo era cruel, e ela não queria ter mais seu coração massacrado por
idas e vindas, esperanças e desesperanças. Por isso havia tomado a decisão de
ir embora.
Como? Ainda não sabia, mas daria um jeito. Seu coração iria sofrer?
Claro que iria, ele já estava sofrendo. Mas era preferível sofrer tudo agora de
uma vez do que ficar na corda bamba por uma vida inteira.
Não havia como manter uma relação naquelas condições. Aquela era
uma aposta perdida, então não havia sentido sofrer por aquilo.
Sim, precisava ir embora! Contudo, seu coração se apertava tanto ao
pensar naquilo... Merda! Por que as pessoas tinham que sofrer desse jeito por
amor? Por quê?
Cătălina manteve-se apática pelo resto do dia e, à tarde, Bass, como
sempre, apareceu para o chá. Sua escala no hospital havia sido de madrugada,
por isso, àquela hora ele já estava acordado e bem-disposto.
— Como foi o jantar ontem? — quis saber Cătălina.
— Foi tudo bem, apesar do mordomo ter me colocado ao lado do
lobo.
Ela riu.
— Pelo menos não foi mordido, ao que parece.
— Não... — Bass sorriu também, em seguida ficou sério. — Você e
Luca brigaram de novo?
— Por quê?
— Eu o vi hoje de manhã antes de sair do hospital. Ele parecia bem
mal-humorado, mas não quis me dizer o motivo.
— Não brigamos porque eu me tranquei no banheiro, mas... —
Cătălina suspirou. — Não vai dar certo isso entre a gente, Bass. Não quero
mais me iludir. Eu quero ir embora daqui, eu preciso ir embora...
Sebastian pensou um pouco.
— Vem comigo para Sibiu. Em algumas semanas acaba meu contrato
aqui com o irmão de Luca e eu vou voltar para a cidade.
Cătălina o olhou com desconfiança e sorriu em seguida.
— Sei o que quer, Bass. Mas também não daria certo entre nós. Eu
amo o Luca e não conseguiria ficar com outra pessoa, muito menos com o
melhor amigo dele.
O rapaz sorriu de canto.
— Não estou dizendo que tenha que existir algo entre a gente,
embora eu não fosse reclamar disso. Mas eu entendo você, o que está
sentindo, e sei também que essa dor e essa mágoa irão diminuir com o tempo.
Com o amor não é diferente; sem alimento, ele morre, se apaga. E aí, quem
sabe, você possa me ver com outros olhos...
Ela olhou para as mãos.
— Mesmo que isso acontecesse, você também é um vampiro, não
seria diferente com você.
— Claro que seria, eu não estou noivo de ninguém. Posso te dar um
futuro.
Cătălina o encarou.
— Está mesmo falando sério?
— Estou. Você me contou que Luca propôs de transformar, posso
manter essa proposta.
— Não... — Ela riu. — Sinceramente, essa história de ter que beber
sangue de outros me arrepia. Mas por que tem tanto interesse em mim, Bass?
Eu nunca lhe dei qualquer esperança.
Ele deu de ombros.
— Não sei, acho que estou cansado de sexo vazio, de ser sozinho. E
eu gosto de você, da sua companhia. Acho que poderíamos dar certo.
Cătălina balançou a cabeça.
— Nunca daríamos certo, não com meus sentimentos por Luca.
— Eu posso esperar. — Bass sorriu. — Como eu disse, uma hora o
coração se acalma.
— Você é impossível! — Cătălina sorriu e colocou sua mão sobre a
dele. — Agradeço a oferta, mas minha resposta é não. Se eu sair daqui vai ser
para seguir com a minha vida sozinha, independente, sem laços, sem
compromissos, sem ninguém.
Sebastian suspirou.
— Okay... se é assim que quer... Mas como pretende sair? Grigore te
liberou?
— Não... Mas acho que uma hora ele vai me deixar sair, não é? —
falou preocupada.
— Não sei... talvez... Não espere que seja tão cedo, Nina. Ele
precisará confiar muito em você antes de te deixar ir embora, e Grigore não é
um homem fácil de confiar nas pessoas.
Cătălina inspirou fundo e soltou o ar de uma vez. Estava decidida a
romper de vez com Luca, mas seria uma tortura ficar perto dele por muito
mais tempo.
O vampiro se levantou.
— Preciso ir, princesa. Minha escala hoje começa mais cedo. Se
cuida — falou ao depositar um beijo no dorso de sua mão e sair.
Sebastian desceu as escadas, pensativo. Bem que gostaria de ter
alguma chance com ela, mas parecia impossível... No fundo, tinha pena de
Nina, do que ela devia estar sentindo naquele momento, das decisões que
precisava tomar. Além disso, permanecer trancada na torre era triste, ficaria
puto se estivesse no lugar dela; contudo, não era ele quem decidia as coisas e
não se arriscaria em desrespeitar as ordens de Grigore.
Virou-se para trancar a porta de acesso à torre e ao se voltar para o
corredor, deu de cara com Ivana.
— Oi, Sebastian. — Ela sorriu.
— Ah, oi...
— O que estava fazendo na torre? — perguntou a vampira de forma
natural.
— Nada, só fui lá em cima ver a paisagem.
— Mentiroso.
— Hã? — Bass arregalou os olhos.
— Por que a torre está trancada? — Ivy questionou firme.
— Grigore e Luca que determinaram isso. — Bass quis passar pelo
lado, mas ela entrou em seu caminho.
— Me dê a chave.
— Por que quer a chave? Não tem nada lá em cima — afirmou, já
preocupado com os questionamentos da irmã de Luca.
— Quero ir até o estúdio de pintura do meu irmão e também olhar a
paisagem. — Ela voltou a sorrir. — Algum problema?
— Pergunte para o Luca, não posso te dar a chave sem a autorização
dele. — Tentou passar por Ivy de novo, mas desta vez sentiu duas mãos o
segurarem pelos ombros.
Sebastian virou a cabeça para olhar e viu Axel encarando-o de forma
fria.
— Me solte! — falou tentando se desvencilhar, mas o lobo era forte,
mais forte do que ele, notou.
— Desculpe, rapaz. Preciso da sua chave — falou Ivy enfiando a mão
no bolso da calça dele.
— Ôooo, cuidado aí onde põe a mão! — alertou Bass com um
sorrisinho que logo se desfez quando Axel o soltou e o encarou de frente.
A vampira revirou os olhos e, de posse da chave, abriu a porta. Ela e
Axel subiram as escadas e Bass os seguiu, preocupado.
Luca o mataria, com certeza! Já estava até vendo... Torcia apenas
para que Nina não saísse de seu quarto. Quem sabe Ivana fosse até a sala de
pintura, visse o que queria ver e saísse de lá sem perceber que havia uma
garota na torre.
Suas esperanças foram por água abaixo quando passaram pelo quarto
de Nina e a porta estava aberta. A irmã de Luca observou o local com atenção
e olhou para Axel. O lobo apenas apontou para cima, indicando que deveriam
subir mais um andar. Bass engoliu em seco. Ah, merda! Iriam descobrir a
Nina e seria por culpa dele.
Ao entrar na sala do último andar, Ivy encontrou a garota olhando
pela janela.
Cătălina se virou e tomou um susto ao notar a presença deles.
Reparou que Bass estava junto e o olhou de forma interrogativa. O vampiro
ergueu os ombros e balançou negativamente a cabeça.
Apreensiva, ela fitou a mulher à sua frente e, em seguida, o rapaz de
cabelos brancos. Reconheceu-os. Tratava-se da irmã e do cunhado de Luca,
mas o que eles estavam fazendo na torre? Bass não teria deixado eles
entrarem, a não ser que tivessem feito isso à força. Era o que parecia.
Encostou-se mais contra o parapeito da janela, temendo que eles
descobrissem que ela era só uma humana.
— Oi — falou a vampira se aproximando. — Eu sou Ivana, irmã de
Luca, mas pode me chamar de Ivy. Este é Axel, o meu marido. — Apontou.
— Escute, não precisa ter medo de mim ou dele, não vamos te fazer mal.
Cătălina esboçou um sorriso forçado e achou melhor tentar agir de
forma natural.
— Oi, meu nome é Cătălina, mas me chame de Nina. Eu não estou
com medo de vocês ou pensando que poderiam me fazer mal. Vocês apenas
me surpreenderam, eu não esperava que alguém fosse aparecer por aqui.
— Por que está trancada na torre? — perguntou a vampira.
Cătălina olhou para Bass preocupada. Não sabia o que dizer e, pelo
visto, ele também não. Ambos ficaram mudos e desconcertados.
— Está sendo mantida presa aqui? — quis saber Axel.
— Escute, não é o que estão pensando... — interferiu Bass.
— Cale a boca! — rosnou o lobo. — Deixe ela responder.
— Ela sabe sobre nós? O que somos? — perguntou Ivy a Bass e ele
assentiu desconfiado. Ela se voltou para a garota. — Nina... Nos diga o que
está acontecendo, podemos te ajudar. Sabemos que é uma humana, é por isso
que está presa aqui?
Cătălina ergueu as sobrancelhas olhando novamente para Bass, mas o
vampiro parecia estar tão surpreso quanto ela.
Tentando aparentar mais calma do que realmente estava, ela inspirou
fundo e sorriu.
— Agradeço, mas realmente não é como estão pensando. Quero
dizer, estou, sim, sendo mantida presa aqui, mas segundo Luca e o Sr.
Constantin, é para a minha segurança, já que eles não confiam muito em
mim. Bem... dei motivos também para isso. — Sorriu, meio sem graça. —
Mas como vocês descobriram que eu sou humana?
— Axel tem um faro bom, ele consegue diferenciar o cheiro de um
humano do de um vampiro de longe. Mas não entendi por que disseram que
está aqui para sua segurança.
— Justamente por ela ter descoberto sobre nós, e porquê, segundo
nossas leis, ela deveria ser entregue ao Conselho — explicou Bass. — Mas
ninguém aqui quer isso. Então, enquanto o castelo estiver cheio de
convidados, alguns do Conselho, inclusive, é melhor que ela fique na torre.
— Que bobagem! Vocês acham que alguém pode desconfiar de que
ela é uma humana só por andar por aí? — Ivy questionou. — Isso é meio
difícil, a não ser que ela se corte ou esteja menstruada, o que não é o caso.
Axel só descobriu porque ele é um Warg.
— Também acho, mas seu pai decidiu assim e Luca concordou —
falou o vampiro.
— E para você, tudo bem? — Axel perguntou à garota.
Ela deu de ombros.
— Eu não tenho muito o que querer aqui...
Ivy franziu as sobrancelhas.
— Isso é ridículo. Não se pode manter ninguém preso assim! Vou
falar com o meu pai.
— Não creio que vai adiantar alguma coisa — comentou Bass. — Se
nem Luca conseguiu convencê-lo, duvido que você consiga, só irá arrumar
mais confusão entre vocês. Sei que não se dão muito bem... Além disso, até
Luca concorda com isso, ele acha que assim a está protegendo.
A vampira bufou, inconformada. Era por isso que ela odiava vir para
a Romênia, os vampiros de lá pareciam viver no século passado, não, século
passado era pouco, eles pareciam não ter saído do século XVIII.
— Escutem, vocês dois... Vão dar uma volta por aí — sugeriu Ivy. —
Quero ter uma conversa a sós com Nina. Uma conversa entre garotas, pode
ser?
Axel saiu e Sebastian o seguiu, meio hesitante. A irmã de Luca
parecia ser de confiança, mas o que ela estava querendo conversar com Nina?
Assim que os dois rapazes deixaram o local, Ivy deu uma caminhada
pela sala. Já fazia tanto tempo que havia estado naquele lugar... Não subira na
torre em sua última estadia no castelo e, na única vez em que estivera ali em
cima, Luca era só uma criança que desenhava muito bem. Agora, olha só!
Seu irmão era um artista.
Viu seu próprio retrato pintado a óleo e se impressionou. Ele tinha
feito aquilo sem ela estar presente, só usando um esboço a lápis e fotografias,
era fantástico. Observou também que havia pinturas de seu pai, Mirela e
algumas outras. Sentiu orgulho de Luca, seu pequeno irmão tinha talento.
Notou, então, que havia uma tela sobre o cavalete. Curiosa,
aproximou-se e espantou-se quando viu que a moça retratada tão
delicadamente era Nina.
— Já está pronto, mas Luca disse que precisa esperar secar para
emoldurar — comentou Cătălina, um pouco constrangida pela vampira estar
observando o quadro.
— Está belíssima essa pintura... — Olhou para ela. — Como veio
parar aqui, Nina? No castelo? Como foi se meter nessa situação? Por que não
vai embora antes que os convidados comecem a chegar?
— São tantas perguntas... a história é meio longa...
— Temos tempo, não temos? — Ivy sorriu.
Ambas se sentaram e Cătălina começou a narrar sua aventura desde
que fugiu de casa até ser confinada na torre.
Ivy ficou a maior parte do tempo apenas ouvindo, interrompendo
apenas para lhe perguntar sobre um ou outro detalhe. Ao final da narrativa,
suspirou.
— Meu irmão é um idiota! — comentou irritada. — Está mais do que
claro que ele gosta de você e ainda assim vai noivar? Olha! Vou te falar... Ele
já me disse os motivos dele para continuar com essa merda, mas confesso que
me dá vontade de dar na cara dele! Ainda mais agora, sabendo sobre vocês.
Cătălina olhou para o chão.
— Não fique com raiva dele, Ivy. É o seu irmão... Até eu entendo por
que ele quer continuar com isso. Luca leva uma carga grande nas costas e se
sente responsável pelo vale. Eu... eu estou arrasada com tudo isso, é claro,
mas... eu tenho que aceitar. Eu não sou como vocês, não posso dar um filho
puro a ele. — Suspirou. — Esse não é o meu mundo e eu vou embora assim
que Grigore me deixar partir.
A vampira sentiu pena da moça à sua frente.
— Sinto muito, Nina. — Ela sorriu tristemente. — Certas coisas hoje
me revoltam, mas a verdade é que não posso julgar o meu irmão, porque não
agi muito diferente dele algumas décadas atrás. Quando eu era mais nova,
cheguei a abrir mão de um grande amor por conta do cara ser apenas um
humano.
— Por quê? Você não é daqui, não tinha as obrigações que Luca tem.
— Mas eu tinha a consciência de que não podia trazê-lo para o meu
mundo, eu não poderia revelar a ele quem eu era, e sofri muito com isso.
Felizmente, anos depois o destino me trouxe Axel, e hoje eu sei que o amor
que eu tenho por ele é muito maior e mais profundo do que eu tive pelo
humano que eu abandonei, ou por qualquer outro namorado.
— Puxa... Você teve sorte de conseguir encontrar um novo amor.
Ivy colocou as mãos sobre as de Cătălina.
— Mas também não foi fácil com Axel, Nina. Ele é um lobo e
vampiros não gostam de lobos... Com todas as nossas diferenças, foram
muitos problemas a serem vencidos, inclusive com o meu pai. Eu tive que
lutar pela minha felicidade. Ninguém aceitava nosso relacionamento.
Cătălina sorriu.
— Eu queria ter essa força... para lutar pelo meu amor, mas não sou
ninguém. Não tenho como lutar. Isso não depende de mim e não acho justo
ficar pressionando Luca. Ele tem as convicções dele e, enfim... Não posso
mudar isso.
— Entendo, e fico triste com isso. Eu queria tanto que meu irmão
fosse feliz com alguém que amasse... — Ela se levantou. — Ah, que ódio que
eu tenho desses arranjos de casamento e de toda essa merda de tradição!
— Luca faz isso pelos transformados.
— Sim... eu sei... Ele sempre foi assim, pensa mais nos outros do que
em si! Aff, Luca é um tonto! Ele sempre teve o coração grande, mas abrir
mão de sua felicidade pelo vale? Não sei... Se fosse eu, já tinha mandado
todo mundo se foder faz tempo. — Ivy bufou. — Então está mesmo decidida
a ir embora?
— Estou.
— Okay... E não se importa de ficar presa aqui na torre até toda essa
gente partir? Não se importa do meu irmão ficar noivo em dois dias, bem
aqui debaixo do seu nariz?
Cătălina sentiu uma pontada no coração e seus olhos se encheram de
lágrimas.
Ivy suspirou e se sentou ao lado dela, abraçando-a.
— Ah, bebê... você é tão nova para sofrer assim... Escute, não desista
ainda! Eu tenho uma ideia. Não garanto que vá funcionar e talvez seu coração
possa sair um pouco mais machucado se não der certo, mas é uma tentativa e,
se ainda assim Luca não desistir desse noivado e dessa história toda de ser o
sucessor do vale e de se sentir na obrigação de manter a linhagem pura, eu
soco a cara dele.
Cătălina a olhou com desconfiança. Com o coração machucado ela já
estava... Um pouco a mais ou um pouco a menos não lhe parecia fazer tanta
diferença.
— Que ideia? — perguntou curiosa.
— Aquele vestido que está no manequim... Ele serve em você?
— Sim... Mirela o ajustou para mim.
— Ótimo! — Ela se levantou e foi olhar o vestido de perto. —
Perfeito!
— Por que diz isso? No que está pensando?
— Prepare-se, garota. Porque você vai à uma festa! — falou a
vampira com os olhos brilhando.
C
ătălina arregalou os olhos com o que ouvira de Ivy e seu coração
deu um salto.
— Festa? — repetiu atônita, tentando imaginar o que a
irmã de Luca estava planejando. — Você diz a festa de noivado?
— Exatamente — confirmou Ivy. — Se Luca te ver linda e
maravilhosa na própria festa e não perceber que está fazendo uma péssima
escolha e se ele ainda quiser continuar com essa idiotice, é sinal de que
realmente o relacionamento entre vocês não terá futuro. Não vai adiantar
você se transformar para ficar com ele. No fim, Luca se casará com Natasha
e, provavelmente, só repetirá os passos de nosso pai...
— É... pensei nisso também. Luca já me contou sobre a história da
sua mãe... Eu não quero... Não quero ser como ela, não quero ser só uma
amante na vida dele.
A vampira colocou a mão sobre o ombro de Cătălina.
— Está disposta a arriscar? A ir para o tudo ou nada? — perguntou.
— Se não der certo, você pode voltar ao seu plano original de ir embora...
Cătălina inspirou fundo.
— Não acha mesmo que alguém poderia descobrir que sou uma
humana?
— Não irão descobrir se tomar certas precauções. Precisará,
principalmente, tomar o cuidado para não se cortar ou se machucar. Deverá
permanecer discreta e evitar ficar conversando com desconhecidos, pois eles
poderão começar a perguntar sobre de onde você é, como conhece a família...
enfim, é melhor não se arriscar com isso. Qualquer coisa, você diz que
trabalha para Mirela. Avisarei ela sobre isso quando for a hora.
— Quando for a hora?
— Quando não tiver mais como ela impedir sua presença na festa. —
Ivy sorriu.
— Eles irão ficar com raiva de mim... — comentou Cătălina,
cabisbaixa.
— É do seu futuro que estamos tratando, Nina, da sua felicidade.
Você tem o direito de lutar por ela. Mas se alguém questionar, eu assumo a
responsabilidade pela ideia. Eu digo que praticamente te obriguei. — Ela riu.
— De qualquer forma, é sua escolha decidir o que é mais importante, se quer
resolver logo essa questão ou se quer agradar aos outros. E então?
— Okay... eu irei — respondeu Cătălina ainda meio insegura. — Mas
e o vestido? Ele não é um pouco antigo demais para ser usado? Não creio que
irei parecer discreta com ele...
Ivy sorriu marotamente.
— Você acha isso porque nunca viu um noivado de vampiros antes!
A gente se veste nas festas como se estivéssemos na era vitoriana. Tive até
que mandar fazer um vestido novo para mim em Nova Iorque, que, aliás,
ocupou quase toda a minha mala. Não se preocupe com isso. Vai estar mais
do que ambientada.
Nesse momento, ambas escutaram um burburinho de vozes vindos de
fora do castelo e se entreolharam. Em seguida, foram até a janela.
Um casal de vampiros mais velhos já havia descido de um carro
estacionado e estava sendo cumprimentado por Grigore e Mirela. Uma moça
loira também aguardava do lado de fora do veículo.
— Sabe quem são? — perguntou Cătălina.
— O casal eu conheço, os vi na festa de casamento do meu primo
alguns anos atrás. São os Moldovan.
— São os pais do Bass?
— Não, os tios...
O coração de Cătălina deu um salto. Se aqueles eram os tios, a
mulher com eles...
— Então... aquela é a Natasha? — indagou com as mãos sobre o
peito.
— Sim, não a conheço pessoalmente, mas acredito que seja ela
mesma.
Cătălina ficou observando a cena por algum tempo. A mulher era
linda! Loira, alta, magra, elegante... Céus! Seu mundo parecia ruir naquele
momento. Aquilo que lhe assombrava só em seus pensamentos começava a
virar realidade. A futura noiva de Luca havia chegado...
Desolada, saiu de perto da janela e se deixou cair no banco com a
cabeça entre as mãos.
Ivy suspirou e se aproximou, tomando as mãos dela e a fazendo se
levantar e a encarar.
— Não se deixe abater! — falou a vampira. — Vamos tentar, não
desista antes da última cartada!
Com lágrimas nos olhos, Cătălina meneou a cabeça concordando.
— É melhor eu descer agora — continuou Ivy. — Não conte a
ninguém sobre o que vamos fazer, okay?
— Okay... — respondeu a garota desanimada.
Ivana esboçou um sorriso e deixou a sala de pintura. Estava
apreensiva, mas tinha que fazer alguma coisa. Luca já a havia ajudado muitas
vezes, agora era a sua vez de tentar ajudá-lo. Mesmo que ele, Mirela ou o seu
pai ficassem bravos com ela depois.

Luca voltou do hospital com a cabeça fervendo. Durante o dia,


acabou se distraindo com o atendimento aos pacientes, mas agora que havia
saído de lá, um peso enorme voltava a massacrar seu coração.
Ele sabia que havia machucado Cătălina outra vez... Sentia-se um
merda por ter feito aquilo, por ter dado esperanças a ela de que poderiam ter
uma relação normal mesmo com o seu noivado.
Nunca teriam uma relação normal, nunca poderia ter filhos com ela,
constituir uma família... E Nina não merecia aquele tipo de relação...
Ainda assim, lhe dava desespero só de pensar em deixá-la ir embora,
deixá-la seguir seu próprio caminho.
Caralho! Realmente, ele só fazia merda!
Como pôde deixar que as coisas chegassem àquele ponto? Justo ele,
que sempre foi tão cuidadoso em relação às mulheres e ao seu coração... Por
que aquilo teve que acontecer? Por que tiveram que se apaixonar? Por que foi
iludi-la com suas palavras? Por quê? Esmurrou o volante do carro.
Seu coração doía ao se lembrar do lampejo de decepção que viu nos
olhos de Nina antes de ela se trancar naquele banheiro.
Não podia mais continuar com aquilo. Seria cruel demais com ela...
Falaria com seu pai para deixá-la partir. Mesmo com o coração arrebentado,
talvez fosse o melhor para ambos.
Já era quase noite quando chegou ao castelo. Olhou para a grande
construção em pedra e estalou a língua de desgosto. Àquela hora, Natasha e a
família já deveriam ter chegado, mas não estava nem um pouco a fim de vê-
los.
Aliás, não estava a fim de ver ou falar com ninguém. Só queria
conversar com Nina e, para o seu desespero, terminar de vez com ela...
Depois enfiaria a cara no travesseiro e choraria até o amanhecer.
Infelizmente, não era assim que as coisas funcionavam. Ele era o
futuro noivo e deveria se fazer presente entre os convidados a partir de agora.
Merda! Merda! Merda! Precisava entrar...
Com o coração apertado, passou pelo hall do castelo e logo escutou
vozes vindas do salão principal. Inspirou fundo, colocou uma máscara de
rapaz feliz no rosto e se dirigiu para lá.
Encontrou todos reunidos e sentados nos sofás perto da grande
lareira. Exceto por Axel, que se mostrava entediado, e Ivy, que permanecia
séria, a conversa parecia animada entre os demais.
— Ah! Olha só quem chegou! — disse Grigore ao ver o filho.
— Olá, Sr. e Sra. Moldovan, como estão? — Luca se aproximou e
lhes apertou a mão.
— Estamos bem — falou Gheorge Moldovan analisando-o. — O
senhor também me parece muito bem. Faz quanto tempo que não nos vemos?
Uns dez anos?
— Por aí... — respondeu Luca. Virou-se, então, para Natasha. — Oi,
Natasha!
Ela sorriu e se aproximou, enlaçando-o pelo pescoço e lhe dando um
abraço. O movimento o pegou de surpresa e o deixou meio sem jeito.
— Oi, Luca! — Ela se afastou e sorriu. — Eu estava com saudades. E
nossa! Você cresceu!
Ele sorriu meio de lado.
— Se me dão licença, eu preciso subir agora... Quero tomar um
banho antes do jantar — desculpou-se Luca e, apressadamente, saiu do salão.
Mirela suspirou e Grigore franziu o cenho para a estranha atitude do
filho. Ele esperava que o rapaz tivesse sido mais cordial e caloroso com a
futura noiva e sogros. No entanto, ele mal os cumprimentara. Conhecia o
filho bem o suficiente para perceber que ele estava se esquivando da presença
dos convidados, o que não era algo normal se tratando de Luca.
— Que tal outra rodada de bebida? — falou Ivy chamando a atenção
para si e quebrando o clima esquisito que havia ficado. — Sr. Popescu, por
gentileza, sirva-nos algo um pouco mais forte.
Luca subiu as escadas para o quarto sentindo-se péssimo.
Normalmente, costumava dar mais atenção às visitas, mas não estava em
condições. Sua cabeça era um mar de preocupações, uma tormenta, na
verdade.
Mal reparou em Natasha. Notou que ela continuava tão bonita quanto
se lembrava, mas aquilo não lhe interessava. Não mais...
Tomou um banho e se dirigiu para a torre. Não teria muito tempo até
o jantar, então precisava conversar logo com Nina. Resolver tudo. Seu
coração se apertava cada vez mais enquanto subia os degraus e, ao parar em
frente à porta do quarto, inspirou fundo.
— Nina? — chamou abrindo a porta.
Cătălina desviou os olhos da TV.
— Podemos conversar? — continuou ele.
Ela baixou os olhos e desligou o aparelho pelo controle remoto.
Ansiosa, não sabia como agir com Luca, não sabia no que ele estaria
pensando depois do que havia acontecido de manhã entre eles.
Apesar de ter ficado chateada, frustrada e irritada, de ter se trancado
no banheiro para não falar com ele e de ter tomado a decisão de ir embora, já
calma, percebera que ainda lhe restava alguma esperança, que ainda não
estava pronta para desistir. Por isso, precisava ir para o tudo ou nada, como
disse Ivy.
Luca se sentou ao seu lado na cama e, por algum tempo,
permaneceram em silêncio.
Ele queria abraçá-la, beijá-la, dizer que iria ficar tudo bem, mas não
era certo. Aquilo não passavam de ilusões.
— Nina... eu gostaria de me desculpar com você. — Ele quebrou o
silêncio. — Eu não agi certo contigo, eu te fiz acreditar que poderíamos
deixar as coisas como estão, que poderíamos ter uma vida juntos, mas... —
Luca engoliu o bolo que se formava em sua garganta e encostou a cabeça na
parede, olhando para o nada, sentindo o peito queimar. — A verdade é que
não posso fazer isso com você. Eu te fiz uma proposta indecente e peço que
me desculpe por isso.
— Sobre me transformar?
— Sim... Eu não posso simplesmente te transformar só porque quero
você ao meu lado. Eu te amo, Nina. Amo muito, mas... eu não tinha o direito
de te pedir tal coisa, não seria justo com você... — Luca passou a mão nos
cabelos.
Ela se virou de frente para ele e o encarou.
— Não, não seria... Só seria justo se tivéssemos uma chance de
sermos mais do que amantes. Só seria justo se você não se comprometesse
definitivamente nesse sábado — disse com firmeza, esperando qualquer sinal
de dúvida em Luca. Mas diante do silêncio do médico, balançou a cabeça em
negativa. — Eu fui tão tola... Não sei onde eu estava com a cabeça quando
pensei que poderíamos ter um relacionamento de verdade, uma família...
— Não foi tola, pequena... Eu que fui egoísta, achando que poderia
ficar com você e ainda manter minhas obrigações como um Constantin.
— E eu não sirvo para o papel de amante, Luca... Não posso apostar
em um relacionamento já sabendo que terá dia e hora para acabar.
Luca assentiu, angustiado. Seu amor e sua vontade de ficar com Nina
gritavam dentro de si, mas não podia continuar com aquilo, não podia
continuar magoando-a. Inspirou fundo, por mais que lhe doesse, por mais que
a machucasse, precisava dar um basta naquilo.
— Eu sei Nina... Eu sinto muito por ter feito tal proposta a você.
Perdão por todo o sofrimento que eu te fiz passar, perdão por ter lhe dado
alguma esperança, por ter alimentado seus sonhos, eu realmente sinto muito...
— Ele se levantou. — Eu gostaria que as coisas fossem de outra forma, mas
não são, e a culpa é minha, eu sei. E eu também não quero mais te magoar;
por isso, o melhor é terminarmos por aqui. Não vou mais vir te ver e, assim
que meu noivado passar, falarei com o meu pai para te deixar ir embora.
Minha mãe lhe prometeu, um tempo atrás, um emprego em Sibiu em uma de
suas clientes. Vamos providenciar isso e você poderá ter sua vida
independente.
Cătălina o fitou com os olhos marejados, mas logo os desviou. Não se
mexeu, não falou qualquer palavra. Seu coração estava tão pequeno que
parecia ter parado de bater.
Luca inspirou fundo e cerrou os punhos, segurando-se para não voltar
para aquela cama e abraçá-la.
— Me desculpe, pequena... — O vampiro se virou e saiu do quarto
sem olhar para trás. Nunca em sua vida tinha sentido tamanha dor e tamanho
ódio de si próprio. Queria se socar, gritar, esmurrar as paredes, mas apenas se
trancou em seu quarto e deixou as lágrimas descerem abundantes. Estava
tudo errado em sua vida e, pela primeira vez, amaldiçoou-se por ser um
Constantin.
Em seu quarto, Cătălina também deixava as lágrimas caírem. As
palavras de Luca a haviam atingido como uma punhalada em seu coração.
Ele não queria mais vê-la. Talvez nem mesmo voltasse para se despedir.
Pensou no plano de Ivy. Valeria o esforço? Naquele momento, não
acreditava, mas também não tinha mais nada a perder. Se nada desse certo,
iria embora da mesma forma que Luca saíra de seu quarto, sem olhar para
trás; como havia planejado horas antes, e como era para ter sido desde o
começo.
Olhou para a pequena pulseira de ouro branco em seu pulso e a tocou.
De uma forma ou de outra, tudo se resolveria em poucos dias. Pegou, então, o
controle e religou a TV, enxugando as lágrimas. Estava cansada de chorar, de
sonhar, de ter esperança, cansada de tudo... Não queria mais pensar naquilo,
não queria pensar em mais nada...
S ebastian voltou do hospital na manhã de sexta e foi direto para o
quarto. Estava cansado e também precisava de sangue. Já fazia uma
semana que havia matado Nicolae e ingerido o sangue fresco dele.
Desde aquele dia, estava se segurando, mas já estava no limite.
A cota normal de todo vampiro puro era uma caixinha de sangue por
semana, essa quantidade era suficiente para que se mantivessem bem e não
sentissem os efeitos da abstenção. Porém, com ele era diferente, com uma
semana sem sangue, sua sede estava no auge e pequenos tremores já
tomavam conta de suas mãos.
Segundo o livro que Luca lhe dera, para começar a controlar isso, ele
deveria ingerir sangue aos poucos, quantidades menores em intervalos
menores, e de forma alguma poderia voltar a ingerir sangue fresco.
Pois bem, ele estava disposto a sair daquele vício, então precisava
começar a fazer do jeito certo. Pegou, em seu quarto, a garrafinha com o
sangue de Nicolae de dentro da caixa térmica com gelo e despejou o
conteúdo no vaso sanitário, dando descarga em seguida.
Determinado, abriu uma das caixinhas de sua cota mensal e bebeu
apenas 1/3 do conteúdo. Foi terrível ter que parar antes de chegar na metade,
ele queria beber tudo e foi uma tortura ter que interromper a ingestão.
Inspirou fundo algumas vezes e guardou o que restou do sangue na caixa
térmica. Iria conseguir, precisava conseguir.
Como percebeu que não seria capaz de dormir naquele estado de
agitação, resolveu descer até a sala de ginástica. Descansaria depois.
Fez mais de uma hora de exercícios e, quando terminou, viu que já
estava na hora do café da manhã. Franziu o cenho. Sabia que seus tios e sua
prima haviam chegado no dia anterior, mas não estava nem um pouco
interessado em vê-los. Por isso, deixou as antigas masmorras e foi direto à
cozinha.
— Bom dia, Anna, Madeleine... — ele cumprimentou ambas. — Vou
comer algo por aqui mesmo.
Anna fez um gesto indicando para ele se sentar e Madeleine o olhou
de esguelha. Já fazia um tempo que o rapaz não a procurava e ela tinha quase
certeza de que era por causa de Cătălina. Por conta disso, a auxiliar da
cozinha cultivava um certo ranço da garota humana e, aproveitando-se de que
Anna havia saído da cozinha, aproximou-se.
— Cansado, senhor?
— Um pouco — respondeu Bass distraído.
— Se quiser, posso te fazer uma massagem — ofereceu-se ela,
sussurrando no ouvido dele.
O vampiro sorriu de lado.
— Agradeço, Madeleine, mas hoje não. Só quero comer e dormir.
— Fica para outro dia, então? — insistiu ela.
— Talvez... — Bass pegou um pedaço de torta e enfiou na boca, não
dando mais atenção à moça, que se sentiu ofendida e se afastou.
Aborrecido com a insistência da garota e temendo uma nova
investida, ele tomou um gole de café, pegou mais um pedaço de pão e saiu da
cozinha. Madeleine era uma transformada bonita e gostosa, mas tinha se
tornado inconveniente. Mesmo ele deixando claro que só estava interessado
em sexo, a moça era insistente e ficava se insinuando na frente dos outros
empregados e até mesmo dos Constantin.
Achou melhor cortar aquilo de uma vez. Quando quisesse se
satisfazer sexualmente, iria até Sibiu, como fez no final de semana.
Já estava no hall de entrada, prestes a subir as escadas que levavam
aos quartos, quando viu Natasha descendo os degraus. Caralho! Era só o que
lhe faltava! Ele parou e ela também fez o mesmo quando o viu.
Ambos se entreolharam por alguns segundos e ela voltou a descer,
com um sorriso estampado no rosto.
— Não precisa fingir que está feliz em me ver, Natasha — ironizou
ele. — Deixe esse seu sorriso falso para os outros, comigo não funciona.
— Por que tanta amargura, Bass? Faz tanto tempo que não nos
vemos... — Ela terminou de descer as escadas. — Quanto? Dois anos?
— Três.
Ela riu.
— Olha só. Está mesmo contando o tempo?
Bass juntou as sobrancelhas e tentou passar por ela, bufando. Mas
Natasha o segurou pelo braço, fazendo-o se virar.
— Não sei por que tem tanta raiva de mim — falou também com o
semblante fechado.
— Está enganada, eu não tenho raiva de você, prima. Eu te desprezo,
é diferente.
A vampira abriu a boca, espantada com a frieza dele.
— Por quê? Por que estou prestes a me comprometer com outro? Por
quanto tempo vai guardar essa mágoa? Se alguém tinha que estar puta com
algo aqui, sou eu. Porque foi você quem me rejeitou na última vez que nos
vimos!
Ele olhou para os lados, temendo que alguém tivesse escutado, mas,
felizmente, não havia ninguém além deles. Irritado, pegou-a pelo pulso e a
conduziu pelo corredor até a biblioteca.
— Não fale sobre isso aqui com tanta displicência! — advertiu. —
Você está prestes a ficar noiva do herdeiro deste castelo, não vai querer ver
os empregados fofocando sobre sua vida particular.
— É que você me irrita, Bass! Não foi escolha minha esse noivado,
não entende?
— Sei... Até parece que não está gostando. Luca claramente é um
partido muito melhor do que eu.
— Você é um tolo, sabia?
— Ah, agora eu que sou tolo? — indignou-se.
— Sim, tolo. Porque acha que eu me importo com esse tipo de coisa.
Porque me culpa por decisões que não foram tomadas por mim.
— Já terminou? — perguntou o vampiro com voz enfadada. —
Porque eu gostaria muito de poupar meu tempo e meus ouvidos dessa
conversa inútil.
Natasha crispou as mãos, visivelmente irritada.
— Quer saber, Bass? A verdade é que você não consegue aceitar que
me perdeu para o seu melhor amigo e fica aí se fazendo de ofendido.
— Escute aqui, Natasha. Já aceitei que te perdi faz muitos anos. Não
me venha com discurso idiota. Apenas não quero mais ficar de papo com
você. Não me interessa. Não entende isso?
— Você me odeia? É isso? — Os olhos dela brilhavam com lágrimas
represadas, que o vampiro não soube dizer se era raiva ou o quê.
— Não sei o que eu sinto. Apenas quero ficar bem longe de você —
respondeu ele já nervoso.
— Não precisa ser assim, Bass. Por favor... Sabe que eu gosto de
você, me magoa saber que não suporta a minha presença.
Bass suspirou.
— Você não gosta de mim, Naty. Nunca gostou, porque se tivesse
gostado teria feito algo quando seu pai rompeu nosso compromisso. Sabe o
que eu acho? Que você só ficou inconformada por eu ter me recusado em ir
para sua cama e, agora, não sei por quê, tenta se aproximar com esse papinho
de que sente algo por mim — falou irritado.
— Não seja ridículo! — Ela levantou a voz. — Eu era só uma
adolescente quando meu pai fez aquilo. Não tinha como eu ir contra ele. Não
conhece o meu pai? Não sabe como ele é? Está sendo injusto, Bass. Eu
sempre gostei de você e me machuca ver que tem tanta raiva de mim!
O vampiro cerrou os punhos.
— E por que me repeliu por tantos anos? Você sempre se deitou com
qualquer um, mas mesmo eu te procurando, você me esnobou, riu de mim.
Por quê?
— Porque eu quis te afastar! Foi de propósito, porque eu achava que
se ficássemos juntos, depois seria pior para nós dois, seria mais difícil nos
desapegarmos um do outro. Eu sabia o que você sentia por mim. E eu
também... eu também fui apaixonada por você, Bass, mas eu precisava te
afastar, ou apenas sofreríamos mais quando essa hora chegasse...
Ele riu debochado.
— E depois você se arrependeu e resolveu que poderíamos ter um
caso?
— Não. Só achei que você já estaria maduro o suficiente para
entender que podíamos desfrutar um do outro sem que isso fosse nos abalar
ou interferir com o que já nos estava destinado.
— Quer dizer o que estava destinado a você, não é? — falou
entredentes. — Enfim... Isso não importa mais, Naty. Você vai dar um passo
definitivo na sua vida amanhã e não há nada que eu possa fazer para mudar
isso, assim como também não podemos mudar quem somos. Então, é melhor
deixar o passado no passado. Peço desculpas se fui rude, mas a única coisa
que posso lhe prometer é um relacionamento cordial, nada mais do que isso.
— Voltou-se para a porta para deixar a sala.
— Bass? — Ela chamou e ele parou, olhando-a por cima do ombro.
— Não sente mais nada mesmo por mim? — indagou ela.
— Já disse que eu não sei o que sinto por você... — Bass, virou-se
novamente e saiu.
Com os nervos explodindo, Sebastian desistiu de ir para o quarto
descansar e voltou para a academia. Vestiu as luvas de boxe e socou, sem
parar, um saco de areia por mais de meia hora, até que este rasgou e despejou
toda a areia no chão.
O vampiro arrancou as luvas e se sentou no chão com a cabeça entre
as mãos. Por que ela ainda mexia tanto com ele? Por quê?
Exausto, finalmente voltou para o seu quarto, tomou um banho e se
jogou na cama. Ele já havia chorado o suficiente por Natasha no passado,
agora só queria esquecê-la. Cobriu a cabeça com as cobertas e tentou dormir.
Demorou um bom tempo, mas acabou caindo em sono agitado.
Acordou com fome e viu que já estava quase na hora do chá da tarde.
Suspirou e sorriu. Hora de visitar Nina.
Pelo menos, aquela garota lhe proporcionava momentos agradáveis.

Cătălina passou aquela sexta-feira com um vazio dentro do peito.


Luca não veio vê-la, como ele havia dito que não o faria. Apenas Bass
apareceu costumeiramente para o chá da tarde.
— O que tem, princesa? — perguntou ele notando o abatimento da
garota. — Ainda não se acertou com Luca?
Ela balançou a cabeça negativamente, mas não disse nada. Não
queria dizer que estava tudo acabado entre eles, mesmo porque ainda queria
ver qual seria o resultado do plano maluco de Ivy, mas também não podia
dizer a Bass o que elas estavam planejando.
— Não quero falar sobre isso, Bass... por favor.
— Certo, quer ver um filme, então? Hoje eu tenho tempo. — Ele
sorriu e Cătălina concordou.
— Não vai trabalhar?
— Vou, mas vou fazer o plantão da madrugada — falou olhando os
títulos de filmes disponíveis. — Já viu esse? — perguntou levantando uma
capa.
— Não. É de terror?
— É. — respondeu com um sorriso, colocando o DVD no aparelho e
indo se sentar na poltrona.
— Bass? — chamou Cătălina. Ele olhou. — Senta aqui comigo? —
pediu.
O vampiro se levantou e foi até a cama.
— Tem certeza?
— Você vai me atacar, por acaso? — Ela sorriu.
— Não.
— Então vem. — Ela deu um tapinha ao seu lado.
Bass se sentou ao lado de Cătălina e ela encostou a cabeça em seu
ombro. Sorrindo, ele passou o braço em torno dos ombros dela. Podiam não
ter nada um com o outro, mas, naquele momento, ambos precisavam do
conforto de um abraço amigo.
Ao final do filme, Cătălina deu um beijo no rosto de Bass.
— Obrigada pela companhia.
— Eu que agradeço — falou ele se levantando.
— Você viu sua prima? — perguntou ela de súbito.
— Vi... hoje. — Ele deu de ombros. — Não quero falar dela agora, se
não se importa...
— Não, tudo bem, eu entendo...
— Certo. Boa noite, princesa. — Ele se inclinou e deu um beijo na
mão dela, como sempre fazia.
— Boa noite, Bass.
Cătălina se encolheu na cama. Sentia falta de Luca, de seu cheiro, de
seu beijo, e ficou imaginando se, naquele momento, ele estaria com sua
futura noiva.
Levantou-se somente para jantar e, após fazer sua refeição, voltou
para a cama e cobriu a cabeça com o travesseiro. Se pudesse, desligaria seus
pensamentos. Queria tanto que aquela dor fosse embora, queria dormir,
queria ter paz...

Luca havia passado o dia agitado, nervoso, triste. Era para ter sido
sua folga naquela sexta, pois Victor o tinha liberado de ir para o hospital, mas
logo que se levantou, viu que não conseguiria permanecer no castelo.
Precisava ocupar a mente e, por isso, foi trabalhar mesmo sem estar escalado.
Quando voltou, já estava quase na hora do jantar. Ele estava sem
vontade nenhuma de participar de outra reunião em família, mas não tinha
como fugir. Outros convidados haviam chegado durante o dia, incluindo seus
tios de Nova Iorque, seu primo Robert e a filha Beka, um pouco mais velha
do que Isabelle. Para o seu aborrecimento, o lugar já estava cheio de gente.
Assim, após tomar um banho, vestiu-se adequadamente e se dirigiu
ao salão principal do castelo, onde cumprimentou quem ainda não havia visto
e se enfiou em uma roda de conversa.
Pelo menos, com tanta gente, ele não precisaria dar muita atenção à
Natasha. Não sabia o que conversar com ela. O clima, aliás, era estranho, não
se sentiam à vontade um com o outro, eram como se fossem desconhecidos
prestes a dar as mãos antes de pular do precipício.
Bass também não estava muito a fim de conversa com ele. Parecia
distante e, assim que o jantar terminou, desculpou-se, dizendo que precisava
sair para trabalhar.
Cansado, mais mentalmente do que fisicamente, Luca se recolheu ao
seu quarto bem antes dos demais. Seu interior todo coçava com uma vontade
imensa de subir até o quarto de Nina, mas ele não podia fazer aquilo. Não
mais. Não depois de ter terminado com ela daquele jeito, de dizer que não a
veria mais.
Era dolorido demais pensar que a garota teria que ir embora. Assim
como era dolorido imaginar o quanto ela devia estar sofrendo também... A
culpa o esmagava.

O dia do noivado chegou com mais convidados aparecendo. A grande


maioria estava instalada em hotéis da região, mas os familiares mais
próximos, inclusive os da família da noiva foram acomodados no próprio
castelo.
Por isso, o movimento no salão principal e nos corredores dos quartos
era grande. Vários aldeões foram chamados para ajudar nos serviços e, se
fosse por outro motivo, Luca poderia até estar alegre com toda aquela gente
por ali, mas não era o caso.
Ele fazia o seu papel de anfitrião com um sorriso no rosto, mas ciente
de que aquilo era apenas uma máscara. Depois do almoço, Rob, seu primo de
Nova Iorque, o chamou para conversar a sós na biblioteca.
— E então, Luca? Vai dar um grande passo hoje, está preparado?
— Gostaria de dizer que estou, mas a verdade é que isso realmente
não me deixa feliz.
Rob franziu as sobrancelhas.
— Se não se sente seguro, então adie!
Luca sorriu de lado.
— E de que adiantaria adiar? Esse noivado um dia iria acontecer, de
uma forma ou de outra, então.... — Ele balançou a cabeça. — Adiar esse
noivado agora apenas colocaria meus pais e a família de Natasha em uma
situação embaraçosa.
— Sim, entendo. Infelizmente, essas são as desvantagens de se nascer
um Constantin, ainda mais na sua situação de herdeiro. Além disso, é melhor
não provocar Gheorge Moldovan. Já ouvi dizer que o homem é o diabo na
Terra. Enfim, espero que tenha mais sorte do que eu, primo. Porque o meu
casamento foi um desastre... — falou Rob desanimado.
Luca remexeu-se no sofá, o receio de não se dar bem com sua futura
esposa e acabar em um casamento tóxico também o afligia.
— Vi que sua esposa não veio. Estão mesmo separados? —
perguntou.
— Moramos juntos ainda, mas não existe mais uma relação entre nós.
— Ele suspirou. — Como você, fiquei noivo de Lívia muito jovem e não a
conhecia. Confesso que curti bastante a vida antes das bodas, cometi alguns
erros, me arrependi de muitas coisas, mas quando me casei com ela, há dez
anos, achei que teria um bom casamento. Lívia parecia uma mulher perfeita,
me deu uma filha linda e eu cheguei a amá-la de certa forma, mas seu
egoísmo e seus desvios de caráter minaram esse amor. E hoje, mal
conseguimos ficar juntos na mesma sala.
— Pretende mesmo se divorciar?
— Sabe que essa palavra é proibida em nosso meio, não é? — Rob
riu. — Gostaria muito, mas não sei ainda como fazer isso sem que a família
dela peça a minha cabeça em uma bandeja. Já tentei chegar em um acordo
com ela, mas Lívia é teimosa, ainda dá muito valor à reputação e só não está
aqui hoje porque, como socialite que é, tinha outra festa importante para
comparecer em Nova Iorque. Ela não aceita o divórcio e, sem um acordo, é
impossível me separar dela. A não ser que eu queira acabar morto.
— Complicado isso...
— Nem me fale... Enfim, meu amigo, se está mesmo determinado a
continuar com isso, só posso lhe desejar que você realmente consiga ser feliz
com sua noiva. Natasha me parece ser uma boa pessoa, pelo menos... — Ele
deu um tapinha nas costas de Luca. — Boa sorte, rapaz! Agora me deixe ver
onde estão as meninas, Beka e Belle são curiosas, não quero elas se perdendo
por aí. Até mais!
— Até...
Luca inspirou fundo e soltou o ar de uma vez. Casamentos arranjados
eram sempre um risco, mas, antes de conhecer Nina, ele estava disposto e até
mesmo confiante de que poderia construir um relacionamento feliz com sua
prometida.
Agora ele tinha dúvidas, agora seu coração sangrava, agora ele sabia
o que era amar e o quão doloroso era ter que desistir daquilo.
Sua única esperança era que, tanto ele quanto Nina, tivessem suas
feridas curadas pelo tempo. E, quem sabe, ela poderia arrumar um cara legal
que a amasse como ela merecia e, quem sabe, ele poderia até ser feliz com
Natasha.
Um bolo se formou em sua garganta. Não conseguia imaginar como
seria seu futuro com Natasha. Pelo menos, a jovem sedutora que havia lhe
tirado a virgindade anos atrás parecia ter dado lugar a uma mulher mais
calma, amigável. E, por enquanto, isso estava vindo a calhar. Seria péssimo
se tivesse que aturar jogos de sedução no estado de espírito em que estava...
Levantou-se do sofá e resolveu colocar roupas de proteção contra o
sol para andar um pouco lá fora, precisava tomar um ar fresco. Saiu no jardim
e elevou sua vista para a torre onde estava Nina. Com ela estaria? Seu
coração se apertou. Desviou o rosto e começou a descer a colina.
Caminharia um pouco para espairecer a mente e tentar acalmar sua
angústia, pois logo teria que começar a se preparar para a festa.
D o alto da torre, Cătălina viu Luca descer a colina a pé pela estrada
que levava à vila. Seu estômago se contorceu em um nó. Era a
primeira vez que o via desde a noite de quinta e, mesmo sendo
apenas de longe, foi o suficiente para seu coração voltar a se angustiar.
Em poucas horas a festa começaria e ela não tinha mais certeza se
queria mesmo participar daquele plano da irmã de Luca. Inspirou
profundamente e soltou o ar de uma vez.
Por outro lado, se houvesse uma mínima chance dele desistir daquele
noivado, não valeria a pena arriscar? Dúvidas cresciam dentro de si. Luca
sempre foi claro em afirmar que estava fazendo aquilo pelo vale. Então, que
direito ela tinha de tentar interferir nas decisões dele? Também não seria
egoísmo querer que ele ficasse com ela e se esquecesse dos aldeões?
Uma batida soou na porta e ela se virou a tempo de ver Ivy entrar
com uma maleta nas mãos.
— Oi, Nina! — A vampira sorriu. — Vamos nos preparar?
— Mas já? — surpreendeu-se ela.
— Sim. Vou te ajudar primeiro, depois eu tenho que descer para me
aprontar também.
— Ivy... — Cătălina mordeu o lábio. — Acha que isso pode dar
certo?
A vampira suspirou.
— Vou ser bem sincera com você... Do mesmo modo que percebi
que Luca está abatido com toda esta situação, também vejo nele uma
determinação de continuar com isso que me espanta.
— Ele acha que o sacrifício é válido... Pela vila, pelos
transformados...
— Você parece compreender meu irmão melhor do que eu... — Ivy
sorriu conformada. — Eu sei que Luca cresceu com essa responsabilidade
nas costas e que, para ele, desistir de uma linhagem pura seria como
abandonar o vale à própria sorte. Mas eu penso que deveríamos começar a
pensar em resolver essa questão de outro modo, sem essa obrigação horrorosa
de casamento arranjado.
Cătălina franziu a testa.
— Uma vez, Bass me disse que depois do noivado, Luca não poderá
desistir do casamento ou correria o risco de ser morto. Por quê?
— Ah, isso é coisa desses vampiros de 300 anos que acham que ainda
vivem em outro século. Eles consideram que os laços unidos pelo ritual de
sangue são inquebráveis e aquele que desonrá-lo deve ser punido, geralmente
com a morte.
— Ritual de sangue? O que é isso?
Ivy arregalou os olhos.
— Você não sabe?
— Não...
— Hum... Isso não é bom... — Ela enrugou a testa pensativa. —
Achei que você já tivesse conhecimento sobre isso. O ritual é uma espécie de
pacto de sangue, você vai ver... Quer dizer, só se quiser mesmo fazer isso.
Como eu disse, não estou muito certa de que sua presença lá poderá mexer
com Luca a ponto de fazê-lo desistir.
Cătălina deu alguns passos pelo quarto refletindo sobre suas opções,
não eram muitas. Poderia desistir e aguardar que a libertassem para ir embora
ou poderia tentar, pela última vez, convencer Luca de não continuar com o
noivado.
— Se essa é a última chance de tentar impedi-lo, eu vou à festa. Luca
já decidiu que não quer me ver mais, então o que eu tenho a perder? Nada, eu
praticamente já o perdi. — Ela sorriu de lado. — Além disso, não é todo dia
que a gente tem a oportunidade de participar de uma festa de vampiros, não
é? — Um frio percorreu sua espinha. — Ivy... Não acha mesmo que tem
perigo de me descobrirem?
— É como eu disse. Se você não se machucar, ninguém vai
descobrir. Não tem como; não somos videntes e não temos o olfato aguçado
como os lobos, a não ser para o sangue fresco. Fique sempre conosco, assim
podemos intervir caso algum convidado se aproxime e tente puxar conversa
com você.
Cătălina suspirou.
— Está bem, então. Vamos nos preparar!
Ivy segurou as mãos da garota entre as suas.
— Escute, Nina. Ver os dois lá, juntos... O ritual de sangue... eles...
isso pode te machucar. Você acha que aguenta?
— Não sei mais o que pode me machucar, Ivy. Na pior das hipóteses,
ele vai dar continuidade ao noivado. Para isso já estou preparada.
A vampira franziu o cenho, meio que arrependida de ter proposto
aquele plano. Ela não sabia que Nina desconhecia sobre o ritual e agora ela
tinha certeza de que a garota iria se machucar. Mas, se isso acontecesse, pelo
menos colocaria uma pedra naquele assunto de uma vez por todas.
— Muito bem, vamos pegar o vestido lá em cima — falou.
Ivy ajudou Cătălina a se trocar e, em seguida, fez sua maquiagem e
os cabelos, deixando-a pronta para a festa.
— Está linda! — exclamou a vampira, arrancando um sorriso tímido
da garota.
— Obrigada...
Uma batida na porta fez as duas olharem para a entrada. Logo Bass
colocou a cabeça para dentro.
— Posso ent... — Ele emudeceu e entrou rapidamente, fechando a
porta atrás de si. — O que estão fazendo? — perguntou assustado.
— Nina vai à festa — respondeu Ivy.
O vampiro deixou o queixo cair.
— Vocês estão loucas? Ela não pode ir, Ivy! Nina, por favor, nem
pense nisso!
— Por que não, Bass? — Cătălina o encarou em desafio.
— Porque... porque Grigore vai ter um treco quando te vir. E se você
for descoberta?
— Ela não vai ser, Bass! E você vai ajudar — retrucou a irmã de
Luca.
— Eu? Como assim, eu? — Ele arregalou os olhos.
— Vai ajudar a manter os outros convidados longe de Nina.
O rapaz as olhava de forma incrédula.
— Não... não, isso é perigoso! — Virou-se para a garota. — Nina?
— Eu vou! — falou ela determinada.
Sebastian colocou as mãos nos cabelos, demonstrando um certo
desespero.
— Bass... — voltou a falar a vampira. — Se acalme! Ninguém vai
descobrir que ela é humana.
O vampiro olhou para Cătălina com um ar pesaroso.
— Não vai fazer bem a ela assistir a esse noivado, Ivy... —
argumentou.
— Não se preocupe comigo, Bass! — interveio a garota. — Eu sei o
que me espera.
— Não, você não sabe! — disse ele firme.
— Não importa... Eu aguento... Já aguentei tanta coisa nessa vida
que, uma a mais ou a menos, só vai me fazer mais forte. Eu preciso ser forte
para sair daqui, Bass. Por favor, entenda, essa é minha última chance. Se
Luca não desistir, assistir a esse noivado será o que me fará sair daqui sem
arrependimentos.
O rapaz suspirou e deixou os ombros caírem.
— Agora que estamos entendidos, vou descer para me trocar — falou
Ivy. — Bass, antes de descer também, ensine à Nina alguns passos de dança.
— Ela sorriu e piscou ao passar pela porta.
O vampiro arqueou as sobrancelhas e olhou para Nina. Ela estava
deslumbrante. Ele tinha visto aquele vestido no manequim, mas não
imaginou que pudesse cair tão bem nela. Sorriu.
— Não pense que você poderá passar despercebida nessa festa, Nina,
porque certamente vai chamar muito a atenção.
— Por que diz isso, Bass?
— Porque você está divinamente bela! — Os olhos dele brilharam.
Cătălina riu.
— Sempre exagerado!
— Enfim, já que quer mesmo fazer isso, venha! Vamos treinar alguns
passos de dança — falou ele estendendo a mão para a garota. — Não são
difíceis, basta guardar a sequência.
— Pode deixar, tenho boa memória.
O vampiro sorriu, procurou um repertório musical adequado em seu
celular e passou a hora seguinte ensinando a ela algumas danças tradicionais,
incluindo a valsa.
— Como pode saber dessas coisas? Você nasceu no século XX, não
é? — perguntou Cătălina com um sorriso.
— Sim, senhorita, tenho 27 anos com muito orgulho. Mas não faz
ideia do que, nós vampiros, temos que aprender desde crianças... — Ele riu.
— Preciso descer agora ou vou acabar me atrasando. Venho te buscar em
uma hora.
— Vai me acompanhar? — ela espantou-se.
— É o que um cavalheiro deve fazer, não é?
— Mas... não vai se complicar com o pai de Luca? Ele vai achar que
foi ideia sua.
— Pode ser, mas conto com Ivy para esclarecer isso. — Bass sorriu e
deixou o quarto.
Cătălina sentou-se na cama, nervosa; já estava chegando a hora. Um
frio no estômago a incomodava e suas mãos suavam. Fechou os olhos e
inspirou fundo, precisava se acalmar.
Uma hora depois, Bass batia novamente à sua porta. Ele entrou e,
desta vez, foi Cătălina que quase deixou o queixo cair. O rapaz vestia um
fraque escuro, colete no mesmo tom e uma camisa branca de gola alta com
um lenço bordô no pescoço, no lugar da gravata.
— Uau! — Ela sorriu. — Isso é o que chamo de ter classe para se
vestir.
— Sim, mas nós homens nos vestimos todos iguais, com alguma
variação de cor. — Ele riu. — São as mulheres que nos encantam com seus
vestidos. — Ele novamente estendeu a mão para Cătălina. — Vamos?
Ela assentiu, engolindo em seco. O coração batia acelerado.
— Estou com medo, Bass... — falou enquanto desciam as escadas da
torre.
— Quer desistir?
— Não... Eu só preciso de um apoio... Não me deixe sozinha, por
favor.
— Não vou deixar — disse ele ao oferecer o braço a ela quando
chegaram no corredor dos quartos. — Ivy também já está lá embaixo, não se
preocupe. Respire fundo e coragem.
Ao avistar o hall de entrada do alto do último lance de escadas,
Cătălina estacou e apertou o braço de Bass: o lugar já estava cheio de
vampiros. Alguns viraram o rosto para olhá-los, incluindo os anfitriões que
estavam recebendo os convidados na porta do castelo.
Mirela arregalou os olhos quando a viu e Grigore fechou o semblante.
Ivy, que também estava presente, aproximou-se do pai.
— Não a culpe, foi ideia minha — confessou disfarçadamente.
— Ficou louca, Ivana? — falou Grigore entredentes. — Se
descobrirem que ela é uma humana estaremos ferrados, todos nós.
— Não vão descobrir. Relaxe, pai!
Grigore levou um susto quando Ivy o chamou assim, normalmente a
filha só o tratava pelo primeiro nome, negando-lhe qualquer tipo de
tratamento mais íntimo; e aquilo o desconcertou. Mirela se aproveitou do
breve momento de confusão do marido e interveio.
— Realmente, Grigore. Não tem por que alguém desconfiar. Deixe a
garota aproveitar a festa. — Virou-se para Ivy. — Venha, vamos recepcioná-
los — chamou, conduzindo a vampira pelo cotovelo ao mesmo tempo que
Bass puxava Cătălina delicadamente, indicando que precisavam terminar de
descer os degraus.
— Por que fez isso, Ivy? — perguntou Mirela enquanto se
encaminhavam para as escadas.
— Para ver se meu irmão abre os olhos.
— Hum... sei, mas não creio que trará resultados, infelizmente.
— Infelizmente? — Ivy parou e a encarou surpresa.
— Como mãe, eu gostaria muito que meu filho não desistisse de seu
coração apenas por obrigação ou tradição.
— Então por que você concordou com esse noivado?
— Porque antes estava tudo bem, inclusive para Luca. Há alguns
meses, ele achava que esse compromisso com Natasha poderia dar certo. —
Ela suspirou e voltou a caminhar, sendo acompanhada pela enteada.
— Antes de Nina?
— Sim... antes de Nina. — Mirela sorriu ao chegar ao pé da
escadaria, ao mesmo tempo em que Bass e Cătălina desciam os últimos
degraus.
— Obrigada por acompanhá-la, Bass — disse Ivy.
— Não precisa agradecer. Apesar das minhas ressalvas quanto a esse
plano, estou muito orgulhoso de ter uma dama tão linda ao meu lado. — O
vampiro sorriu e se virou para Cătălina. — É uma honra ser seu
acompanhante, senhorita. — completou, beijando-lhe a mão.
As duas vampiras se entreolharam surpresas, elas ainda não
conheciam o lado galanteador de Sebastian.
— Certo... — falou Ivy desconfiada. — Mirela, poderia confirmar
que Nina trabalha com você, caso alguém pergunte?
— Sim, qualquer coisa direi que ela é uma transformada daqui da vila
que trabalha como minha assistente pessoal e, por isso, foi convidada.
— Obrigada — falou Cătălina timidamente.
A garota estava tão ansiosa que se sentia meio amortecida, mas o
apoio de Mirela a tranquilizou um pouco. Axel apareceu em seguida com a
pequena Isabelle que, orgulhosa, mostrou o vestido que a avó havia lhe feito.
— Olha só. Temos mais uma princesa aqui — disse Bass, beijando
também a mão da menina, que sorriu abertamente.
— Você tem mais um garoto, não é? — perguntou Cătălina a Ivy.
— Sim, mas Ian odeia ficar perto de pessoas desconhecidas, por isso
deixamos ele lá em cima com uma babá, uma moça daqui da vila.
— O garoto puxou mesmo o pai — comentou Rob, chegando com as
duas filhas e fitando Axel com um sorriso. Logo as três meninas deram as
mãos e se afastaram para brincar. — E quem seria essa moça? — perguntou,
olhando para Cătălina.
— Minha assistente, Nina — respondeu Mirela. — Nina, esse é
Robert, primo de Luca e Ivy.
— Muito prazer, senhorita — falou o vampiro estendendo-lhe a mão.
— Mas me chame de Rob, apenas.
Cătălina o cumprimentou com um sorriso. Outro belo vampiro aquele
Rob. Com os cabelos loiros um pouco mais claros do que os de Bass, ele
parecia ter em torno dos trinta anos, se fosse um humano, claro.
— Queridos, me deem licença, por favor; preciso voltar a receber os
convidados — comunicou Mirela com um sorriso e se afastou.
Robert também se distanciou para conversar com outros convidados
e, só então, Cătălina reparou em como o salão principal estava diferente.
Além de mais iluminado, o lugar havia sido decorado com vasos de flores
brancas pendurados nas colunas e, acompanhando as paredes laterais, várias
cadeiras e mesas cobertas com toalhas vermelhas se alinhavam. Em cada uma
delas, havia um candelabro em bronze com velas acesas e mais um arranjo de
flores. Ao fundo, uma mesa comprida em um patamar mais alto se destacava
e, ao canto, uma banda já estava preparada para iniciar a música.
Os convidados também estavam deslumbrantes. Realmente, os
homens se vestiam de forma quase padronizada, mas as mulheres... Cada
vestido era um mais lindo do que o outro. Ivy usava um azul turquesa,
destacando seus olhos, Mirela, um vermelho vinho, e as demais damas
estavam todas maravilhosas. O salão resplandecia de tão colorido e
iluminado, e Cătălina sentia-se transportada para outro século.
Um garçom passou com algumas bebidas parecidas com suco de
tomate, chamando a atenção da garota.
— O que é? — perguntou Cătălina.
— Bloody Mary, senhorita.
— Ah, sim — disse ela pegando uma taça, mas que foi logo retirada
de sua mão por Bass.
Ela o olhou interrogativamente.
— Poderia trazer um pouco de champanhe ou vinho, por favor? —
pediu o rapaz ao garçom, que assentiu e se afastou.
— Por que não me deixa beber? — quis saber ela.
Sebastian riu e tomou um pouco da bebida.
— Porque o bloody aqui é mesmo blood — falou baixinho ao ouvido
dela. — Sangue...
Cătălina arregalou os olhos.
— Credo! — Ela fez uma careta. — Mas isso não devia ser
controlado? E aquela história de cotas?
— É controlado, mas em casos de festas como essa, normalmente o
anfitrião solicita uma liberação especial. Fica ainda mais fácil quando esse
anfitrião também é o fornecedor. — Bass riu e piscou. — Além disso, esses
drinques não levam muito sangue. Aqui tem mais álcool e suco de tomate do
que outra coisa.
Nesse momento, a banda começou a tocar e o vampiro depositou sua
taça sobre uma das mesas.
— Vamos dançar? — perguntou.
— Mas já? — falou Cătălina assustada. — Não tem ninguém
dançando ainda! — Indicou um espaço vazio no centro do salão.
— Por isso mesmo. Vamos animar isso aqui! — disse ao puxá-la.
A música parecia uma valsa animada e Cătălina, meio nervosa,
cumprimentou Bass com um sorriso forçado. Ela sentia que todo mundo
estava olhando para eles. E não estava errada. Boa parte dos convidados se
concentravam em ambos.
— Bass... — falou ela ainda fingindo o sorriso enquanto era
conduzida pelo salão. — A ideia era não chamar a atenção.
— Relaxe e curta — respondeu ele fazendo-a girar. — Você é leve
como uma pluma, sabia?
Aos poucos, outros casais tomaram conta da pista e Cătălina
começou a se sentir mais à vontade. Após a segunda música, já conseguia se
divertir, embora seus pensamentos constantemente se voltassem para Luca.
Ainda não o tinha visto. Onde ele estaria? E a futura noiva?
A banda fez uma pequena pausa anunciando uma quadrilha e mais
casais se juntaram ao centro formando duas filas, uma de homens e outra de
mulheres.
— Vamos? — perguntou Bass. — Você se lembra dos passos que te
ensinei?
Ela o olhou em dúvida.
— Lembro, mas...
— Então vamos! — O vampiro lhe puxou novamente.
Eles mal tomaram suas posições e a música recomeçou. Cătălina se
sentiu meio fora de compasso de início, mas logo pegou o jeito e passou a
achar divertido.
Os casais se encontravam e trocavam de lado, mudavam de parceiro,
alternavam de posição e voltavam a se encontrar com seu par inicial. Em uma
dessas trocas, dançou com Rob, que estava acompanhado de Ivy, já que Axel
não dançava de jeito nenhum. Em outra, Cătălina dançou com um senhor de
cabelos grisalhos e ar imponente. Ele parecia ser mais velho que Grigore e ela
ficou imaginando quantos séculos devia ter o homem.
Assim que a música terminou, a quadrilha se desfez e eles saíram da
pista em busca de algo para beber. Bass pegou mais um Bloody Mary e
Cătălina se serviu de um pouco de champanhe com o garçom, já que não
existiam muitas opções para se beber.
Como andava ingerindo pouco sangue de sua cota, Sebastian sentia-
se sedento. A ansiedade também contribuía. Não queria admitir, mas saber
que em breve perderia Natasha para sempre o deixava inquieto.
Para o seu desprazer, o senhor grisalho que havia dançado com
Cătălina se aproximou, fazendo-o fechar o semblante.
— Olá, Sebastian — falou o vampiro com um olhar altivo. — Como
tem passado? Não esperava te ver por aqui.
— Por que não, tio? Sou da família. — Bass sorriu ironicamente.
— Natasha te convidou? — perguntou o senhor com estranhamento.
— Não, eu nunca esperaria um convite por parte dela. Na verdade,
sou amigo de Luca, achei que soubesse...
O vampiro mais velho pareceu surpreso e não demonstrou muito
contentamento. Olhou, então, para Cătălina.
— É sua namorada? — quis saber.
— Não, essa moça linda é assistente de Mirela e minha amiga. — Ele
se virou para a garota. — Nina, esse é o meu tio, Gheorge Moldovan, pai da
Natasha.
— Prazer... — Cătălina flexionou levemente os joelhos em um
cumprimento à moda antiga como Bass a havia instruído que fizesse.
Gheorge nada disse, apenas a mediu de alto a baixo e inclinou a
cabeça de forma quase imperceptível em resposta, virando-se em seguida e se
afastando.
— Nossa! E eu achava que Grigore dava medo! — comentou ela,
assim que ele sumiu de vista.
Sebastian riu.
— Te aconselho a manter distância dele. Meu tio, além de intragável
e arrogante, é perigoso.
— Perigoso?
— Para você, sim. Ele é quem preside o Conselho de Anciãos e,
portanto, o que tem mais influência; além disso, não é nada amigável.
— É tipo um Don Corleone? — perguntou referindo-se ao
personagem do filme “O poderoso chefão” que havia assistido nos últimos
dias.
— É... por aí — confirmou o rapaz com um olhar divertido.
A banda finalizou a música que estava tocando e se silenciou,
chamando a atenção dos presentes.
— Outra quadrilha? — perguntou Cătălina.
— Não — disse Bass, sério, apontando o hall de entrada.
Ela desviou os olhos para onde o vampiro indicava e viu, pelas portas
abertas do salão, Luca descendo a escadaria que levava aos andares
superiores acompanhado de Natasha.
Seu coração falhou e suas pernas bambearam.
O vampiro estava lindo de fraque preto, camisa, lenço e colete
brancos, mas a futura noiva... ela era espetacular... Com um belíssimo vestido
cor de creme todo bordado que lhe acentuava a cintura e um penteado que
fazia seus cabelos loiros claros caírem em cachos. A prima de Bass parecia
uma rainha. Alta, elegante, linda...
O casal parou por alguns segundos no meio das escadas para observar
os convidados e, neste momento, o olhar de Cătălina cruzou com o de Luca.
O semblante dele congelou ao vê-la e ela engoliu em seco. De
repente, foi como se o chão fugisse de seus pés e, instintivamente, ela se
segurou no braço de Sebastian.
O rapaz colocou a mão sobre a dela e entrou em sua frente, cortando-
lhe a visão do casal.
— Nina... você está bem? — perguntou preocupado.
— Eu... eu não sei... — balbuciou confusa, um nó se formava em sua
garganta.
— Venha, vamos nos sentar um pouco, comer alguma coisa — falou
Bass, conduzindo-a para uma das mesas.
— Não estou com fome...
— Precisa se alimentar, não pode só beber.
Um garçom passou servindo petiscos e Bass a forçou a pegar alguns.
Cătălina os comeu sem sentir o gosto. Seus olhos acompanhavam Luca e
Natasha, que andavam pelo salão cumprimentando os convidados. A música
havia sido retomada e todos pareciam felizes.
Cătălina podia sentir as lágrimas umedecerem seus olhos, mas se
forçou a segurá-las. Pegou mais um champanhe para molhar a garganta seca e
tentou dar um sorriso a Bass, que a observava preocupado.
— Quer dar uma volta lá fora? — perguntou ele.
— Acho que sim... Preciso mesmo de um ar fresco.
Ambos se levantaram, mas estacaram ao perceberem que Luca se
encaminhava com Natasha diretamente para eles. O olhar do vampiro era
sério e duro, o que fez Cătălina estremecer. Se havia alguma esperança de
que o rapaz poderia desistir de algo com a presença dela, esta se desvaneceu
como fumaça naquele momento.
stão gostando da festa? — perguntou Luca com um sorriso forçado
—E e um olhar cortante.
— Muito — respondeu Sebastian o encarando em desafio. Virou-se,
então, para a prima. — Naty, essa é Nina, uma amiga.
Natasha olhou curiosa para a garota e, com um sorriso, estendeu-lhe a
mão.
— Muito prazer, fico feliz em saber que meu primo tem uma
companhia tão bela para esta noite.
— O prazer é meu de conhecê-la pessoalmente — respondeu Cătălina
educadamente. — A festa está maravilhosa e... parabéns... — Olhou para
Luca. — Vocês formam um lindo casal.
— Obrigada, digo o mesmo de vocês. — Natasha sorriu para Bass
que, ironicamente, lhe retribuiu o sorriso.
Embora as aparências demonstrassem cordialidade, a tensão no ar era
quase palpável.
A música recomeçou com uma valsa e Bass se virou para o amigo.
— Me permite uma dança com a minha prima, Luca? — falou,
pegando todos de surpresa.
— Claro. Por que não? — respondeu ele, soltando o braço de
Natasha.
Sebastian ofereceu seu próprio braço à prima que, de olhos
arregalados, deixou-se conduzir para o meio do salão.
— Bass, está delirando? — perguntou ela. — Minha primeira dança
deveria ser com o meu noivo!
— Nada como quebrar alguns costumes — respondeu ele
zombeteiramente.
Cătălina observou, petrificada, Bass se afastar com Natasha.
Insegura, não sabia como agir; estava ao lado de Luca, mas mal conseguia
olhá-lo nos olhos.
— Dança comigo? — ele perguntou, assustando-a.
— Não sei se devemos...
— Quero falar com você e, se ficarmos parados aqui, logo alguém vai
aparecer para conversar. Dançando, ninguém irá nos interromper.
Ela inspirou fundo e concordou, aceitando-lhe o braço. No entanto,
seus joelhos pareciam ser feitos de gelatina ao se encaminharem para o centro
do salão. Olhou em volta e se sentiu observada. Embora vários casais
estivessem dançando, os convidados olhavam curiosos para os futuros noivos
e seus acompanhantes.
Luca enlaçou Cătălina pela cintura e começou a conduzi-la pelo
salão. Por alguns minutos, ambos apenas se entreolharam, deixando seus
corpos serem levados pelo som da música. O vampiro havia realmente se
assustado com a presença dela na festa. Não entendia o motivo e seu coração
estava aos saltos. A vontade de abraçá-la e de mergulhar o nariz em seus
cabelos era absurda, mas ele se esforçava para não demonstrar qualquer
sentimento, não podia.
— O que faz aqui, Nina? — perguntou sério.
— Eu... — hesitou para responder. Estar com Luca, sentindo seu
cheiro e o calor dos seus braços, a deixava confusa.
— Foi ideia do Bass?
— Não... Foi de Ivy...
— Minha irmã? Conheceu minha irmã? — espantou-se ele. —
Como? E por que ela teve essa ideia maluca?
Cătălina deu de ombros.
— Ela apareceu lá na torre e achou que... eu ainda poderia fazer você
desistir desse noivado... Sinto muito... Agora percebo como isso foi ingênuo.
Luca a olhou com angústia.
— Ah, Nina... Eu gostaria muito de não ser quem eu sou, de não ser
um Constantin. Eu gostaria de ser um cara qualquer, gostaria de poder jogar
tudo para o alto e dizer um foda-se para tudo e para todos. Eu queria tanto
poder ficar com você, eu queria te amar, te fazer feliz, eu...
— Eu sei, Luca... Não precisa me dizer, eu entendo, de verdade. Eu
só... Sabe como é... a esperança é a última que morre...
— Céus! Eu me odeio tanto por isso. Me desculpe, pequena, me
desculpe... — Seus olhos ficaram rasos de água, mas ele segurou as lágrimas.
Outra vez, Nina engoliu o bolo em sua garganta.
— Podemos não falar mais sobre isso e apenas dançar? — pediu.
Ele concordou e ambos continuaram a voltear pelo salão, sentindo o
contato sutil de seus corpos e apreciando o que consideravam ser o último
momento que teriam juntos.
— Quem te ensinou a dançar? — perguntou Luca, desejando que a
música não acabasse nunca.
— Bass...
— Hum... você aprende rápido.
Cătălina sorriu e quase deixou uma lágrima escapar.
— Obrigada por tudo, Luca... Eu nunca vou me esquecer do que fez
por mim.
Ele apertou de leve sua cintura.
— Você vai estar sempre dentro do meu coração, Nina, independente
do que acontecer...
Ela assentiu e teve vontade de encostar a cabeça no peito do seu deus
grego, mas não podia... não na frente de todos. E talvez nunca mais pudesse...

Do outro lado do salão, Natasha, ainda nos braços de Bass, observava


os dois de canto de olho.
— Essa garota... Ela conhece o Luca? — perguntou.
— Conhece, ela trabalha para Mirela.
— Então por que você a apresentou como uma amiga?
— Porque ela é.
— Só uma amiga? — Natasha o encarou.
— Por enquanto, sim. — Ele sorriu.
— Está interessado nela?
— Por que quer saber? — O vampiro arqueou uma sobrancelha.
— Por nada... Ela é muito bonita, mas parece ser muito nova para
você, Bass.
— Nina tem idade o suficiente, não se preocupe com isso.
Natasha juntou levemente as sobrancelhas e voltou a olhar na direção
do casal.
— Talvez eu tenha me enganado... — falou ela.
— Sobre o quê?
— Sobre quem está interessado em quem. Eles parecem íntimos
demais, não acha?
Bass franziu o cenho.
— É só impressão sua.
— Não é impressão. Eu tenho faro para isso, priminho. Eles são
amantes, não são? Me leve até lá, vamos trocar. Não vai ser nada agradável
se os convidados também perceberem e começarem a especular sobre isso.
O vampiro bufou.
— Já está com ciúmes de Luca?
— Claro que não! Pouco me importa com quem ele se deita, desde
que não dê corda para fofocas entre os convidados do nosso noivado.
— Sei...
— Não me faça pisar no seu pé, Bass. — Ela o fitou séria. — Me diz
uma coisa. Por que está acompanhando essa garota? Só para manter as
aparências? Para que ninguém desconfie de que eles estão transando?
— Não, Naty. Eu estou aqui com a Nina porque gosto dela, da
companhia dela.
— Ah... — Ela sorriu de lado. — Entendo... e ela divide a cama com
você também?
— Não seja tola! Luca não dividiria ela comigo.
Natasha riu.
— Certo... Então você está pretendendo o que com a garota?
Esperando que ele se canse dela e a deixe para você? Desde quando você se
contenta com restos, Bass?
Ele a apertou mais contra si.
— Olha como fala! Nina é muito mais do que restos.
— Ela é tão especial assim para você?
— E se for?
Um lampejo de irritação passou pelos olhos de Natasha.
— Tanto faz... problema seu — disse entredentes, tentando afastá-lo
um pouco.
— Mesmo? Você não dá a mínima? — O vampiro provocou.
— Para quê? Para quem você quer na sua cama? De forma alguma,
só lhe desejo muitas felicidades e boa sorte. — Ela sorriu falsamente. —
Agora me leve até o meu noivo, por favor.
— Futuro noivo — corrigiu Bass.
— Tanto faz! Vai dar no mesmo em poucas horas — respondeu ela
com enfado.
A música terminou no momento em que ambos se aproximavam do
casal. Cătălina agradeceu Luca pela dança com um pequeno sorriso e se
afastou com Bass.
— Por que fez isso, Bass? Por que me jogou assim nos braços dele?
— perguntou ela com tristeza na voz.
— Eu só estava seguindo o plano...
— Não deu certo... — Ela sorriu, mas por dentro queria chorar.
— Pelo menos tentamos, Nina.
— Você tentou? Com Natasha?
Ele suspirou.
— Nós já tínhamos conversado antes. Mas ela é tão obstinada quanto
Luca, não quer desagradar o pai, a família, ou sei lá eu o quê... Infelizmente,
são dois teimosos, cabeças-duras.
— Você ainda a ama... — concluiu Cătălina, observando-o.
— Eu não disse isso.
— Não precisa, dá para perceber.
Sebastian se virou, ficando de frente para ela.
— Pois chegou a hora de virar essa página — disse ao encará-la.
Sem que ela esperasse, o vampiro segurou em seu queixo e o elevou,
descendo os lábios sobre os dela.
Cătălina paralisou. Não retribuiu o beijo, mas também não o afastou.
Estava chocada demais para isso.
— Não sabia que fazer ciúme para o meu irmão fazia parte do plano
— falou Ivy se aproximando.
Bass se afastou um pouco de Cătălina, que ainda o olhava espantada.
— Não tem mais plano nenhum — disse ele.
— Então o que foi isso? — perguntou a vampira.
— Um beijo, foi só um beijo — Bass se virou, seguindo em direção à
entrada do salão.
— Você está bem? — perguntou Ivy à Cătălina. — Ele te forçou?
— Não... não se preocupe com Bass, ele só está confuso.
— Confuso, ele? — estranhou. — E você? Vi que dançou com
Luca...
Ela deu de ombros.
— Não deu em nada, mas... não me arrependo. Foi bom poder dançar
e estar um pouco com ele uma última vez.
— Senhorita Cătălina! — interrompeu Rob se aproximando. — Me
daria a honra de me acompanhar na próxima quadrilha?
— Eu? Hum... está bem — respondeu ela por educação, embora não
estivesse com ânimo nenhum para dançar.
Cătălina acompanhou Rob até a pista e, no fim, percebeu que a dança
lhe distraia de suas próprias tristezas; assim, continuou a dançar e dançar.
Outros cavalheiros lhe convidaram e, entre uma champanhe e uma taça de
vinho, ela permaneceu dançando. Seus pés já estavam fazendo bolhas, mas
ela ignorou a dor. Não queria parar, não queria pensar.
Sebastian havia voltado para o salão e a observava encostado em um
pilar. Ele sabia que a parte mais complicada daquela festa ainda estava por vir
e estava receoso com aquilo, talvez fosse melhor tirar Cătălina de lá.
Passava das 2h da madrugada quando a banda parou novamente de
tocar. Cătălina se aproximou do vampiro mancando e ele sorriu.
— Malditos sapatos! — exclamou ela.
— Tire-os.
— Claro que não! Não posso ficar descalça — replicou observando
que Luca, Natasha e os pais de ambos tomavam seu lugar à mesa grande no
fundo do salão. — O que vai acontecer agora? — quis saber.
— O ritual de sangue. Escute... Não quer subir para o quarto? Você
deve estar cansada.
— Não mesmo! Já que fiquei até agora, quero saber como que é esse
tal de ritual que, depois de feito, não pode ser desfeito nunca mais.
— Nina... Não vale a pena...
— Não quero saber, não me importo mais! Porque não adianta eu me
importar. Nada vai mudar. Então foda-se!
Bass arqueou uma sobrancelha, nunca tinha visto a garota falar assim
antes.
— Acho que você bebeu um pouco demais... — Ele riu.
— Bebi e vou beber mais — falou ela pegando uma taça de
champanhe de um garçom que passava.
Nesse momento, Grigore se levantou e começou a fazer um discurso
de agradecimento aos convidados. Gheorge, o pai de Natasha falou em
seguida e, finalmente, Luca se levantou para fazer o próprio discurso.
— Boa noite, senhores e senhoras! Creio que meu pai e meu futuro
sogro já disseram tudo. — Os convidados riram. — Por isso, não vou me
delongar. Agradeço a presença de todos e espero que estejam se divertindo.
— Virou-se para Natasha. — Obrigado por me aceitar como seu futuro
companheiro e espero que possamos, em algumas décadas, nos unirmos em
uma relação baseada no amor e na confiança.
Cătălina encostou-se no pilar para não cair. Era difícil acreditar no
que seus ouvidos haviam acabado de escutar. Natasha também falou algumas
palavras, mas ela não conseguia escutar mais nada.
— Nina... — chamou Bass. — Aquilo foi só um discurso... ele tinha
que falar alguma coisa.
Ela assentiu ainda um pouco aérea e voltou seus olhos para o casal
novamente.
Uma taça foi colocada na frente de ambos e um punhal. O mesmo
usado na cerimônia de batismo.
Cătălina franziu as sobrancelhas. Tinha horror àquele objeto.
Natasha estendeu um dos braços para Luca, que pegou o punhal e lhe
fez um corte no pulso, derramando seu sangue dentro da taça.
— Por este ato, tomo a você, Luca, como meu noivo e lhe entrego o
meu sangue junto com a promessa de que, quando chegar a hora, serei sua
esposa para todo o sempre, honrando o seu nome e o da minha família —
disse ela.
Em seguida, foi a vez de Natasha pegar o punhal e fazer um corte no
pulso de Luca. O sangue de ambos se misturaram na mesma taça.
— Por este ato, tomo a você, Natasha, como minha noiva e lhe
entrego o meu sangue com a promessa de que, quando chegar a hora, serei
seu marido para todo o sempre, honrando o nome de nossas famílias.
Cătălina viu, com o coração apertado, Luca levar a taça à boca e
beber parte de seu conteúdo, seguido por Natasha, que fez o mesmo.
Os convidados aplaudiram e ovacionaram. Um corredor se formou no
centro do salão e os noivos desceram do patamar de braços dados. Sob
constantes aplausos, eles caminharam pelo corredor e, ao passar por Cătălina,
Luca lhe lançou um olhar triste, arrasado, dolorido...
— O que acontece agora, Bass? — perguntou ela com um fio de voz
que ainda lhe restava. — Acabou? Para onde eles vão?
— Não vai querer saber...
Ela o encarou séria.
— Me diz...
O vampiro estalou a língua e a olhou com pena, mas não foi ele quem
respondeu.
— Para o quarto — disse Axel que estava próximo e havia escutado a
pergunta da garota. — O ritual só estará completo com a consumação do ato
carnal.
Ela o olhou pasma e, em seguida, se virou para Bass, que confirmou
com a cabeça. Cătălina sentiu o chão lhe fugir dos pés outra vez, e teria caído
se o vampiro não tivesse a amparado.
Ivy que também estava próxima, puxou uma cadeira para que ela se
sentasse.
— Eu sinto muito que tenha que passar por isso, Nina. De início,
quando eu lhe propus que viesse à festa, eu achava que você já sabia sobre o
ritual. Depois vi que não... — disse a vampira. — Mas também não quis te
impedir de vir porque não achei que seria certo esconder isso de você.
Cătălina a fitou com os olhos rasos d’água.
— Luca... ele... ele sabia disso o tempo todo... Ele nunca me disse,
ele...
— Ele não queria te magoar, Nina... — falou Bass.
As lágrimas começaram a rolar por sua face e ela olhou para o
vampiro à sua frente.
— Por favor... preciso sair daqui — Levantou-se.
— É melhor não voltar para o quarto agora — aconselhou Ivy. — É
costume os convidados esperarem o retorno do casal à festa e, se você subir
as escadas, certamente eles irão reparar e estranhar o seu comportamento.
— Venha, vamos para a biblioteca — disse Bass, pegando-a pela
mão.
Ainda desnorteada e completamente abalada com o que tinha visto e
ouvido, Cătălina seguiu com ele em silêncio.
Entraram na biblioteca e ela se sentou em um dos sofás. Sentia-se
esmagada, enganada, humilhada.
— Por que ele escondeu isso de mim? — murmurou.
— Nina... Luca não te contou o que iria acontecer aqui hoje porque
sabia que isso te machucaria — falou o vampiro, sentando-se ao lado dela e
pegando em suas mãos.
— Quer saber o que me machuca, Bass? Saber que se eu tivesse
aceitado a proposta dele de me transformar para continuarmos juntos, eu
estaria lá em cima agora, esperando por ele, sem saber que ele estaria
fodendo lindamente a noiva neste momento. — Balançou a cabeça.
— Escute, Nina... Entendo como se sente, mas eu acredito que, se
vocês não tivessem terminado, ele acabaria te contando sobre isso antes da
festa. Conheço o Luca. Ele não conseguiria esconder isso de você e, para
falar a verdade, eu não creio que ele esteja apreciando estar com Natasha
agora.
Cătălina voltou a chorar. Seu coração doía tanto... Não conseguia
parar de imaginar Luca com a noiva. Ele estaria a beijando? Abraçando e
tirando suas roupas? Ele faria amor com ela do mesmo jeito que eles haviam
feito?
Bass a trouxe para o seu peito e a abraçou. Não havia nada que ele
pudesse fazer por ela agora. Nada que pudesse aliviar também a sua própria
dor.
L uca subiu a escadaria que levava ao andar dos quartos com a cabeça
explodindo e com o coração quebrado.
Sentia-se uma pessoa horrível, estava péssimo com tudo aquilo e
envergonhado por não ter sido honesto com Cătălina. A visão da garota no
salão, de olhos fixos nele, decepcionada, magoada, observando-o passar de
braços dados com a noiva... aquilo acabou de vez com ele.
A angústia que se instalara em seu peito ao pensar no quanto a tinha
ferido o sufocava. Sua consciência lhe acusava e lhe torturava, culpando-o,
esmagando-o por toda a tristeza que tinha feito ela passar nos últimos dias,
por tudo que ela havia testemunhado naquela noite... Seu discurso, sua
promessa de amor à Natasha, o ritual... E àquela altura, Nina provavelmente
também já sabia o motivo deles terem saído do salão.
Merda! Tudo aquilo era uma grande merda! Ele era um merda!
Uma ruga surgiu entre seus olhos. Também vira o beijo que Bass
havia dado em Nina. Um nó se formara em sua garganta naquela hora, teve
vontade de ir até o amigo e avançar no pescoço dele, mas que direito ele
tinha? Diante do que estava prestes a fazer, qualquer atitude dessas seria pura
hipocrisia.
Crispou as mãos com ódio de si mesmo, a vontade de se socar era
imensa.
— Luca? — chamou Natasha, preocupada com o semblante fechado
do rapaz. — Não está passando bem?
Ele a olhou e tentou disfarçar com um meio sorriso.
— Não é nada, estou bem. — Abriu a porta do quarto que havia sido
preparado especialmente para a ocasião.
Velas, flores brancas e lençóis de cetim vermelho... Luca sentiu seu
estômago se revirar com tudo aquilo, enjoado. Ambos entraram e ele foi
direto à mesinha de refeições para se servir de vinho.
— Quer também? — perguntou à noiva ao encher uma das taças.
— Quero. — Ela se aproximou, estudando-o. — Está nervoso, Luca?
Não precisa ficar... Já fizemos isso antes, não se lembra? — Sorriu pegando a
taça das mãos dele e tomando um gole.
— Faz tempo... — Ele virou sua bebida de uma vez.
— Garanto que podemos fazer melhor agora — respondeu Natasha
maliciosamente, tirando a taça das mãos dele e colocando-a sobre a mesa.
Com um sorriso, ela retirou o fraque de Luca e desatou o nó do lenço
no pescoço. Ele nada disse, tampouco se mexeu. Suas mãos pareciam pesar
quilos e ele não conseguia sequer tocar nela.
Depois de se livrar do lenço, Natasha tirou o colete dele e começou a
desabotoar sua camisa.
— Uau! — disse ela ao despi-lo da peça. — Que belo corpo! — Ela
sorriu. — Que tal me ajudar a tirar esse vestido? — disse e se virou de costas
para ele.
Luca começou a desabotoá-lo mecanicamente. Não sabia como
levaria aquilo adiante, não estava a fim de fazer sexo, não estava excitado,
não queria nem mesmo estar ali.
Natasha deixou o vestido escorregar para o chão revelando uma fina
camisola branca de seda por baixo. Voltou-se novamente para Luca e sorriu.
— Anime-se rapaz — falou ela notando a seriedade do noivo. — Isso
aqui é um noivado, não um enterro.
— Desculpe, Natasha... é que eu...
— Shhh... — ela o interrompeu. — Apenas vamos terminar logo com
isso, certo? — falou enquanto lhe desabotoava as calças. Empurrou-o, então,
contra a cama.
Luca caiu deitado e Natasha aproveitou para retirar os sapatos dele e
puxar as calças pelas barras. Em seguida, ela subiu na cama e se sentou sobre
ele, beijando-o.
Completamente abatido e se odiando por estar naquele lugar, Luca
não esboçou qualquer reação, nem mesmo quando ela começou a rebolar e se
esfregar sobre o seu membro.
Após alguns minutos, ela se afastou um pouco e suspirou.
— Ei, o que está acontecendo? Não vai mesmo ficar duro? —
perguntou entediada.
— Não consigo... sinto muito.
— Nem se eu te fizer um boquete? — falou ela tentando lhe tirar a
cueca.
— Não... por favor... — Ele segurou as mãos dela.
— Qual é o seu problema, Luca? Precisamos fazer isso para
completar o maldito ritual. Dá para cooperar, por gentileza.
— Perdoe-me Natasha, mas acho que não vai dar...
Ela bufou e saiu de cima dele, deitando-se ao seu lado.
— É por causa daquela garota lá embaixo?
— Como?
— A garota que dançou com você, a que estava acompanhando Bass.
É por causa dela que não consegue levantar seu brinquedo comigo?
Luca a olhou, espantado. Como ela soube?
— Não sei do que está falando...
— Não me tome por idiota. Enquanto você está indo com a farinha eu
já estou voltando com o bolo. Você a ama? — perguntou, virando-se para ele.
Luca franziu o cenho.
— Amo... — confessou. — Mas terminamos, não ia dar certo.
— Olha... sinceramente eu não me importo com nada disso. Pode
ficar com ela, se quiser. A única coisa que me importa, neste momento, é que
temos que acabar logo com isso. Não chegamos até aqui para nada! Sinto
muito, meu caro noivo, mas você precisa fazer isso, querendo ou não, e tem
que ser agora. Então trate de desligar um pouco a cabeça de cima e fazer
funcionar a de baixo.
O vampiro arqueou as duas sobrancelhas.
— Não é assim, sabia? Não sou uma máquina que dá para ligar ou
desligar um botão.
— Pois dê um jeito! — Ela se levantou da cama irritada e o encarou,
seus olhos estavam úmidos. — Não pense que você é o único a ter o coração
em outro lugar hoje. Não foi só você que abriu mão de alguém por causa
desse noivado. Eu também tive um amor e também o rejeitei por causa desse
arranjo entre nossos pais, eu o magoei e o perdi. E, neste momento, ele deve
me odiar... — Natasha olhou pela janela e uma lágrima lhe escapou do olho,
mas rapidamente ela a enxugou. — Creio que nenhum de nós realmente
queria estar aqui agora, mas se estamos é porque assim ficou decidido. Então
vamos resolver logo essa merda e voltar lá para baixo, por favor.
Luca se sentou e a olhou sério.
— E por que você está fazendo isso, Natasha? Por que está se
comprometendo comigo se não era isso o que queria?
Ela esboçou um sorriso torto.
— Porque é assim que são as coisas entre nós, vampiros puros, filhos
de famílias tradicionais, não são? Ou você acha que eu tive escolha? Fui
obrigada a acatar as decisões do meu pai quando era mais nova e agora não
posso desonrar a palavra dele. Sou filha única, Luca, sou a herdeira da
família, e o meu pai... Você não tem ideia de como ele pode ser dominador,
autoritário, opressivo. Chega a ser tirânico às vezes.... Já fui punida muitas
vezes apenas por discordar dele, por levantar a minha voz. Nunca consegui
enfrentá-lo de verdade... — Ela suspirou e foi se servir de mais uma taça de
vinho. — E você, Luca? Por que está aqui? Por que desistiu do seu amor?
— Porque eu tenho uma vila de transformados para cuidar no futuro.
Preciso de um herdeiro de sangue puro.
— A garota lá embaixo não é pura?
— Não...
— Hum... parece que estamos bem ferrados, não é? — Natasha sorriu
ironicamente. — Mas isso agora não importa mais. Depois de hoje, nossos
destinos estarão entrelaçados para sempre... Eu só espero que um dia talvez a
gente consiga deixar toda essa confusão de amor para trás e, quem sabe,
possamos viver felizes para sempre... — Ela inspirou fundo e soltou o ar de
uma vez.
— Felizes para sempre... — murmurou Luca olhando para o nada.
Seu pensamento estava distante. Como poderia ser feliz sem Nina?
Natasha estalou a língua, frustrada e angustiada.
— Muito bem, Luca Constantin, vamos lá, temos que terminar com
isso. Concentre-se. Precisamos fazer você funcionar.
A vampira largou a taça e voltou para cama.
— Natasha... Não... — disse Luca ao ser empurrado novamente
contra a cama.
— Sinto em ter que lhe dizer isso, mas acredite, meu pai mandará
cortar sua cabeça se você interromper o ritual e desistir do noivado agora.
— A questão não é essa! Se fosse para eu desistir, já teria feito isso
há dias. Acontece que eu não estou no clima, não vai dar...
— Ah! Cale a boca! Se não tentarmos, não saberemos — falou
arrancando-lhe a cueca. — Me desculpe por te forçar a isso. Para seu
conhecimento, eu também não estou no clima, mas nós temos uma obrigação,
Luca, com as nossas famílias e com todas aquelas pessoas lá embaixo
esperando que a gente consuma o ritual. Tente se esforçar um pouco, pelo
menos.
Luca fechou os olhos e sentiu a noiva voltar a montar sobre ele e
beijar seu pescoço. Aquilo era uma merda! Sentia-se horrível e Natasha
também não estava curtindo, mas tinham que cumprir com a porra do maldito
ritual. Tentou não pensar em nada, tentou imaginar que era Nina sobre o seu
corpo. Mas quando a garota começou a descer com seus beijos em direção ao
seu pau, não aguentou e lhe segurou a cabeça antes que ela chegasse lá.
— Não! Não faz isso! Por favor! — pediu.
— Ah... desisto! — exclamou ela saindo da cama.
— Sinto muito... — Constrangido, Luca se sentou e pegou o
travesseiro, cobrindo suas partes.
A vampira caminhou até a poltrona e se largou nela, olhando para o
teto.
— Certo... escute, Luca, se alguém souber disso, se esse noivado for
anulado por não termos completado o ritual, será uma vergonha enorme para
mim, para você, para todo mundo... E o meu pai... ele vai acabar com você e
talvez queira descontar a humilhação em sua família também, ele não vai
deixar barato, acredite. Ele pode pedir sua execução ou mesmo fazer isso por
conta própria...
— Eu sei, não duvido, conheço a fama do seu pai — falou Luca,
abatido. Sua vontade, naquele momento, era de desistir de toda aquela merda,
mas não era apenas a sua vida que estava em jogo. Já tinha ouvido histórias
escabrosas sobre como Gheorge Moldovan era vingativo. Não podia
comprometer a segurança de sua família.
Natasha se levantou da poltrona com o semblante sério.
— Luca... preste atenção. Para o seu bem, para o meu bem e para o
bem de sua família, por hora, é melhor que ninguém saiba sobre o que
aconteceu aqui, ou melhor, sobre o que não aconteceu. Mais tarde, daqui uns
meses ou anos, quem sabe eu consiga convencer o meu pai de que esse
noivado foi um erro e a gente possa anular isso... discretamente...
O vampiro a olhou desconfiado. Anular o noivado? Isso seria um
alívio, mas ainda não resolveria seu problema com o vale.
— E quanto ao seu herdeiro de sangue puro... — continuou ela,
adivinhando-lhe o pensamento. — Você ainda tem muito tempo para resolver
isso. Daqui a 300 ou 400 anos, quando precisar de alguém para tomar o seu
lugar na conversão dos transformados, as coisas já podem ter mudado muito.
Talvez seu coração tenha mudado, talvez não esteja mais com a garota lá
embaixo, talvez já esteja casado com outra mulher, alguma vampira de
sangue puro que você ame. Ou talvez o vale não exista mais. Talvez a nossa
espécie nem exista mais. São tantas as possibilidades. Quem sabe o que pode
acontecer com o mundo em 300 anos...
Luca franziu o cenho. Vendo por aquele lado, realmente... Ele tinha
tempo de sobra, não precisava se precipitar em um noivado que parecia
totalmente errado. Um fio de esperança brotou em seu peito. Em sua mente,
outras possibilidades começaram a surgir.
Mesmo que o vale continuasse existindo, ainda que ele não desse
continuidade à sua linhagem, certamente haveria outros vampiros de sangue
puro que poderiam assumir o seu lugar. O seu próprio irmão, Victor, tinha
um filho puro; Rob tinha uma filha pura; e ambos poderiam ter outros filhos,
já que ainda eram vampiros novos. Sem falar que existiam outros Constantin
de ramos mais distantes da família. Os transformados não ficariam
desamparados.
Merda! Como pôde ser tão cego? Estava tão preocupado em ser
responsável, em cumprir com suas obrigações, que não conseguiu enxergar
algo tão simples.
Agora ambos haviam se colocado em uma situação complicada.
Como resolver aquilo sem causar mais problemas? Como se livrar da fúria de
Gheorge Moldovan?
— Está mesmo disposta a fazer isso, Natasha? A falar com o seu pai?
— perguntou ansioso. — Podemos fazer isso juntos.
Ela baixou os olhos para o chão.
— Não, ele provavelmente o culparia e descarregaria seu ódio contra
você e sua família. Deixe-me cuidar disso, com o meu pai nada é tão fácil,
mas prometo tentar... — Natasha voltou a encará-lo. — Estamos
combinados? Luca, esse assunto não pode sair dessas quatro paredes até eu
falar com ele, ou seria um desastre...
Luca assentiu e pegou sua cueca largada no chão.
— Não vou dizer nada, prometo...
— Certo — falou Natasha desmanchando o penteado. — Então, para
todos os fins, fizemos um sexo bem quente. — Ela sorriu bagunçando de leve
o cabelo. — Venha, me ajude a recolocar esse vestido.

Na biblioteca, Cătălina havia se deitado no sofá e repousava a cabeça


no colo de Bass, que brincava com uma mecha de seu cabelo.
Suas lágrimas já haviam secado, mas seu coração permanecia em
pedaços.
— Nina, temos que voltar para o salão... — falou o vampiro.
— Você acha que eles já... terminaram?
— Já faz quase uma hora. Então, creio que sim.
— Eu não quero estar lá quando eles descerem, Bass... Não vou
aguentar...
— Vai sim, princesa. Você é forte e, acredite, vai se sentir melhor se
conseguir encarar Luca de cabeça erguida.
Ela suspirou.
— Obrigada por ter ficado aqui comigo. E me desculpe, eu estou te
fazendo perder a festa... — disse elevando o braço e o tocando no rosto.
— Não estou perdendo nada, não se preocupe — respondeu o
vampiro ao lhe dar um beijo na palma da mão. — Vamos, então?
— Minha maquiagem deve estar toda borrada... — reclamou ela
saindo do colo de Bass, o que o fez rir.
— Cadê o lenço que eu te dei?
Cătălina olhou em volta e o encontrou no sofá.
— Os homens sempre andam com lencinhos para dar às mulheres
quando choram? — Ela esboçou um sorriso, entregando-o a ele.
— Na verdade, não... mas fazia parte do vestuário. — Ele piscou e,
em seguida, começou a limpar cuidadosamente o canto dos olhos de Nina,
onde o rímel havia borrado. — Pronto, perfeita! Ninguém vai dizer que
esteve chorando.
— Vou fazer de conta que acredito — disse inspirando fundo e
ajeitando o cabelo. — Certo... vamos...
Saíram da biblioteca e, alguns metros à frente, deram de cara com
Madeleine no corredor. A auxiliar de cozinha os mediu de alto a baixo e, com
um ar irritado, continuou seu caminho de nariz empinado.
Bass e Cătălina se entreolharam e deram de ombros.
Ao chegarem ao salão, a música continuava animada. O vampiro
pegou duas taças de champanhe e entregou uma a garota, que bebeu como se
fosse água.
— Ei, vai com calma! — Ele riu.
— Não enche, Bass... — disse ela ao pegar outra taça com o garçom
que estava passando.
Buscando toda a coragem que precisava dentro de si, Cătălina virou-
se para o hall de entrada e se encaminhou para lá.
— Aonde vai? — quis saber Sebastian seguindo-a.
— Eles vão descer, não vão? Pois bem, vou esperá-los aqui no hall.
Mal havia terminado a frase e Luca apareceu com a noiva no alto da
escadaria. Cătălina levantou os olhos e o encarou. O vampiro a viu e
sustentou seu olhar por alguns instantes, mas logo os desviou, voltando sua
atenção para os demais convidados que os aguardavam.
Durante aqueles breves segundos em que o casal, aplaudido pelas
pessoas que ali estavam, descia as escadas, Cătălina teve a impressão de que
o mundo à sua volta era um borrão. Com uma dor enorme no coração e uma
raiva crescendo dentro de si, teve vontade de jogar a taça de champanhe em
Luca quando este passou por ela, mas não o fez. Apenas os acompanhou com
olhar até entrarem no salão.
Sebastian também encarou Natasha que, como Luca, não conseguiu
sustentar seu olhar por muito tempo e se voltou para os outros convidados,
sorrindo forçadamente.
— Será que eu posso subir agora? — perguntou Cătălina olhando
para a taça que ainda segurava.
— Eu te acompanho... — respondeu Bass e ofereceu o braço a ela.
O vampiro a levou até a torre; contudo, ao abrir a porta de seu quarto,
Cătălina travou. A visão daquela cama lhe trouxe lembranças que doeram em
seu peito. Havia sido ali onde tudo começara, onde Luca a havia possuído
pela primeira vez.
— Não quero ficar aqui... — murmurou.
Olhou, então, para a delicada pulseira de prata em seu braço e, com
os olhos úmidos, a retirou, colocando-a dentro da gaveta do criado-mudo.
Não queria mais usá-la, não fazia mais sentido.
— Bass, posso dormir no seu quarto hoje?
— Como? — perguntou ele sem saber se tinha ouvido direito.
— Me deixe dormir com você essa noite.
— Tem certeza? — Ele arqueou uma sobrancelha.
— Só dormir, Bass... — falou ela revirando os olhos. — Não pense
besteiras.
— Hum... Está bem... Mas tenho que te avisar que durmo pelado.
Ela sorriu.
— Pois hoje, não! Vai ter que se comportar, senhor pervertido.
Bass sorriu também e, após aguardar ela pegar uma camisola, a
conduziu para o seu próprio quarto.
Assim que entraram, Cătălina foi até a janela e permaneceu calada
por alguns minutos, olhando para fora com o pensamento longe. Por fim, ela
se desencostou do parapeito e se aproximou do vampiro.
— Me ajude com os botões? — pediu, indicando-lhe as costas
— Nina... Me desculpe por hoje... — disse ele enquanto lhe
desabotoava o vestido.
— Desculpar pelo que, Bass? Você só me ajudou...
— Por ter te beijado...
Ela se virou e o olhou nos olhos.
— Não precisa se desculpar por isso. — Com um sorriso, ergueu-se
nas pontas do pés e lhe deu um beijo na bochecha. — Eu entendo, não se
preocupe... — Em seguida, encaminhou-se para o banheiro.
Cătălina voltou para o quarto já de banho tomado e de roupa trocada,
enfiando-se logo sob as cobertas. Estava cansada fisicamente e exausta
psicologicamente. A bebida também estava lhe dando sono, ela só queria
fechar os olhos e dormir.
Bass não estava brincando quando disse que dormia nu, mas em
respeito à garota, após tomar o seu banho, colocou uma camiseta e uma cueca
samba canção.
Quando retornou ao quarto, Nina já ressonava. Ele sorriu e se deitou
ao lado dela. Não ia ser fácil se controlar com aquela mulher linda dormindo
tão perto só de camisola, mas faria o possível.

A festa seguiu até quase o nascer do sol, mas Luca se retirou para o
seu quarto um pouco antes. Não aguentava mais o barulho da música, das
pessoas, não aguentava mais conversar com ninguém. Queria apenas ficar
sozinho.
Jogou-se na cama de roupa e tudo, mas não conseguiu pegar no sono.
Não conseguia tirar da cabeça o olhar que Nina havia lhe dado quando voltou
para o salão. Era um olhar duro, frio e, ao mesmo tempo, triste,
decepcionado.
Um olhar que ele merecia, sem dúvida. Virou-se e revirou-se na
cama. A culpa o esmagava e o deixava agitado. Ele sentia que precisava se
explicar, precisava pedir perdão a ela.
O sol já estava alto quando decidiu se levantar. Abatido e
mentalmente cansado, Luca tomou um banho e seguiu para a torre. Mesmo
que Cătălina o escorraçasse ou que o xingasse, ele sentia a necessidade de
falar com ela, não podia deixar as coisas terminarem daquele jeito. Ainda
que, agora, ele tivesse uma esperança em seu peito de que tudo se resolveria,
não a iludiria novamente. Esperaria que tudo se ajeitar primeiro, depois a
procuraria.
Estranhou quando bateu na porta do quarto e não obteve resposta.
Estranhou ainda mais quando entrou e viu que tudo estava arrumado e que
Nina não estava presente. Subiu mais um andar achando que ela poderia estar
em sua sala de pintura, mas encontrou o lugar vazio.
Seu estômago gelou. Onde ela estava? E se ela tivesse ficado com
tanta raiva que tivesse fugido? Não, ela não se arriscaria naquele frio. A
cidade ficava longe demais para ir a pé com a temperatura que estava
fazendo. Andou algumas vezes de um lado para o outro.
Ela estava com Bass na festa, então provavelmente ele deveria ter
sido o último a vê-la. Talvez ele soubesse de algo.
Luca desceu as escadas correndo e foi bater na porta do amigo. Bateu
uma, duas, na terceira, Bass atendeu com cara de sono.
— O que foi, Luca? — perguntou.
— Ela sumiu — disse ele entrando sem pedir licença. — Nina sumiu,
ela... — interrompeu a fala quando viu a garota se mexer na cama.
Despertada pelo barulho, Cătălina abriu os olhos e tentou entender o
que estava acontecendo. Espantou-se ao ver Luca ali, em pé, bem na sua
frente.
— Luca? — Sentou-se, ainda meio zonza.
— Desgraçado, filho da puta! — berrou ele se voltando subitamente
para Bass e dando um soco na cara do amigo.
Sebastian não teve tempo de se defender do primeiro, mas quando
Luca tentou lhe desferir um segundo golpe, conseguiu se desviar e o pegou
pela gola da camisa, lançando-o pela porta aberta.
Luca bateu com as costas na parede do corredor, derrubando um
quadro antes de ir ao chão. Irado e com os olhos violáceos, levantou-se e
partiu novamente para cima de Bass que também já havia saído do quarto.
Mais alguns socos e xingamentos foram trocados enquanto Cătălina,
apavorada com a briga, pulava da cama e corria para a porta. Chegou a tempo
de ver Luca sobre Bass com as mãos no pescoço dele, tentando esganá-lo.
— Luca, não! — gritou ela passando os braços em volta do pescoço
do vampiro para tentar tirá-lo de cima do amigo.
Contudo, Luca estava fora de si e, com um movimento brusco,
empurrou-a sem querer, jogando-a contra a parede de pedra.
Cătălina gemeu de dor ao bater as costelas que ainda estavam em
recuperação e acabou ralando o braço ao cair. O cheiro do seu sangue fez os
dois vampiros interromperem a briga de imediato.
Luca saiu de cima de Bass e, só então, deu-se conta do que havia
feito. Desesperado, correu para a garota caída no chão.
— Nina? Eu... me desculpe, eu... — tentou ajudá-la a se levantar, mas
levou um tapa forte na mão.
— Me deixe em paz! — gritou ela com lágrimas nos olhos. — O que
pensa que está fazendo?
— Eu... sinto muito. Eu perdi o controle... — tentou se explicar. —
Quando vi que tinha dormido com Bass, eu...
— E que direito você acha que tem de nos cobrar qualquer coisa? —
indignou-se Cătălina, fazendo uma careta de dor ao se levantar.
Sebastian se aproximou e a apoiou pelo braço no mesmo instante em
que Natasha virava o corredor e se deparava com a cena.
— Vamos para dentro — falou Bass preocupado com o ferimento
dela e com o cheiro do sangue.
— Volte para a sua noiva e vê se me esquece... — disse Cătălina
entredentes antes de entrarem e Sebastian fechar a porta.
— O que está acontecendo aqui? — Natasha se aproximou. — Ouvi
gritos.
— Nada — respondeu Luca secamente, virando-se e caminhando em
direção ao seu quarto.
— Eu senti o cheiro do sangue dela. Aquela garota é uma humana?
Achei que era uma transformada. Você se apaixonou por uma humana, Luca?
O vampiro parou no meio do corredor e a encarou sério.
— Natasha... me escute. Ninguém pode saber sobre ela...
— Vocês dois são loucos. Você e Bass. Como podem manter uma
humana aqui? — questionou baixo. — Devo crer que ela sabe sobre nós.
— Natasha... por favor...
Ela balançou negativamente a cabeça.
— Não se preocupe, Luca, não vou falar nada para ninguém. Que
tipo de pessoa você acha que eu sou? Sei quais seriam as consequências.
— Obrigado... — O vampiro suspirou.
Natasha sorriu meio de lado.
— Então Bass pegou sua garota?
Luca fechou o semblante e voltou a caminhar.
— Isso não importa. Nós já tínhamos terminado.
— Não importa, é? Então o que estava fazendo lá? Por que estavam
brigando?
Ele parou na porta do quarto.
— Fui pego de surpresa, só isso. Não esperava que eles pudessem se
entender tão rápido. — Abriu a porta. — Agora, se me der licença, preciso
descansar. Ainda não consegui dormir direito.
— Bons sonhos... — resmungou ela.
A vampira desceu as escadas de cenho franzido. Aquilo era o cúmulo
da ironia... Luca havia negado fogo na noite anterior por causa de uma
humana que, por acaso, tinha passado a noite na cama do seu melhor amigo.
Seu mau humor piorou ao pensar no primo. Ele não perdia mesmo
tempo, mulherengo do caralho!
A dúvida era: teriam eles ficado juntos porque realmente se gostavam
ou era só por desforra? As palavras de Bass lhe vieram à mente. “Eu gosto
dela...”, “Nina é muito mais do que restos...”.
Natasha travou a mandíbula. De repente, ela se tocou de que tanto seu
noivo quanto seu querido primo estavam caidinhos pela mesma garota. O que
aquela humana tinha de tão especial para ter atraído a atenção dos dois
vampiros a ponto de saírem brigando por ela no meio do corredor? Seu
coração se apertou, surpreendendo-a. Que merda era aquela? Ciúme, inveja?
Não entendia...
ina, como estão suas costelas? Estão doendo? — perguntou Bass,
—N levando-a ao banheiro para limpar o ferimento no braço.
— Um pouco, mas já está passando. Não foi nada... — Cătălina
observou a marca avermelhada logo abaixo do olho do rapaz, causada pelo
soco de Luca. — Como ele pôde fazer isso?
Sebastian riu.
— Ciúme não se explica.
— Ele não tinha o direito, não depois de ontem. Além disso, nem
fizemos nada.
— Mas ele não sabe...
Cătălina suspirou.
— Estou com fome.
— Eu também — falou Bass. — Escute, apesar do seu machucado
ser superficial, o cheiro do sangue é perceptível. Então é melhor não sair
daqui por enquanto. Vou até a cozinha e trago algo para você, está bem?
Ela assentiu e ele se trocou, saindo em seguida.
Surpreso, Sebastian encontrou Natasha sozinha na cozinha fazendo
um lanche. Anna não estava lá, pois havia trabalhado a madrugada inteira
para servir os convidados e só chegaria mais tarde. Contudo, a cozinheira
havia deixado a mesa repleta de pães, tortas e bolos à disposição.
Ele se aproximou e, sem dizer nada, pegou uma cesta e começou a
colocar algumas coisas ali dentro enquanto a prima o observava de canto de
olho.
— Manhã agitada — falou ela, quebrando o silêncio.
Bass não respondeu, apenas lhe deu um sorriso falso.
— Você foi rápido, priminho — continuou Natasha ironicamente. —
Seduziu a amante do seu melhor amigo assim que ele virou as costas...
O vampiro interrompeu o que estava fazendo.
— Creio que isso não seja da sua conta, mas, para sua informação,
não seduzi ninguém.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Como assim? Ela dormiu com você, não?
— Só dormiu, não transei com ela.
— Ah... fala sério! Como se eu fosse acreditar nisso.
— Acredite no que quiser! — Ele franziu o cenho e já estava se
virando para sair quando ela o segurou pelo braço.
— Espere um pouco, Bass! Não vá ainda. Podemos conversar? —
pediu Natasha. — Por favor?
Ele a olhou entediado, bufou e se sentou ao lado da prima na mesa.
— Não temos nada o que conversar, Naty...
— Não seja tão chato, Bass. Ainda somos uma família... — Ela
suspirou. — Eu acredito em você. Se diz que não aconteceu nada entre vocês,
eu acredito. Mas o que a garota estava fazendo lá, então?
— Ela não queria ficar no quarto dela, acho que lhe traz lembranças
demais.
— Entendo... Por que não disse isso a Luca antes de saírem se
socando? — Apontou para o rosto dele.
— Acha que deu tempo? — Sebastian riu. — Ele ficou louco quando
viu ela lá.
— Ele gosta tanto dela assim?
— E se gostar? Isso lhe incomoda?
— Sinceramente, não... Mas não entendo como ele foi se apaixonar
por uma humana.
— Acontece... Afinal, quem manda no coração, não é? Se a gente
pudesse decidir, talvez não sofreríamos tanto.
— E você, Bass, o que sente por ela?
— Eu gosto dela. Nina é uma das poucas pessoas com quem consigo
me abrir, conversar abertamente. É uma amiga gentil, divertida, inteligente...
e linda! — Ele sorriu provocativo.
— Amiga? Então não está interessado nela?
— Eu não disse isso. Se ela me desse uma chance, eu não
desperdiçaria.
— Sei... Bass sendo Bass... — Ela colocou a mão sobre a dele. —
Sinto sua falta, sabia? Éramos tão amigos...
— Isso foi há muito tempo... antes de você resolver me jogar para
escanteio...
— Eu sei... sei o que eu fiz... Me desculpe, Bass, por ter te magoado
tanto. Eu era muito jovem, achei que te afastar de mim seria o melhor a fazer.
Fui tola, imatura... Me perdoa?
Sebastian desviou os olhos para a mão dela sobre a sua e a cobriu
com sua outra mão, fazendo-lhe um carinho.
— E você? Como foi sua noite? — mudou ele de assunto com um
leve deboche na voz.
Ela retirou a mão e revirou os olhos.
— Foi ótima, Luca é maravilhoso! — respondeu com sorriso falso.
— Mesmo? — perguntou irônico.
— O que foi? Você tem dúvidas de que ele seja bom?
— Não, eu sei que ele é bom. Já o vi em ação. — O vampiro sorriu.
— Apenas acho que, em se tratando de Luca, ele não devia estar com a
cabeça muito boa para essas coisas...
— Você está achando demais, primo... E que história é essa de que já
o viu em ação?
— Nada, esquece... — Ele riu. — É melhor eu subir, Nina está com
fome e...
— Não! Ainda não... — Natasha o segurou colocando a mão em sua
perna e Bass travou com aquele toque.
— O que quer de mim, Naty? — Ele perguntou com a voz cansada.
— Conversar, eu... só quero ficar um pouco com você, por favor...
O vampiro a estudou por alguns segundos. A prima demonstrava
clara ansiedade e uma certa expectativa. Uma angústia se apossou de seu
peito. Apesar de ainda estar ressentido por ter sido preterido, reconhecia que
ela ainda tinha lugar em seu coração e que também sentia a falta dela.
— Sobre o que quer falar?
— Não sei... sobre nós? Sobre os bons tempos? — Ela sorriu com um
brilho no olhar. — Você se lembra de quando éramos adolescentes? Acho
que eu tinha uns 14 anos e você 12... E que nos escondíamos no sótão do
casarão do seu pai para brincar?
— Sim, eu me lembro... perfeitamente. — Ele sorriu também. A
angústia deu lugar a um leve comichão na altura do estômago.
— Qual era nossa brincadeira preferida, Bass?
— Médico.
— Você foi o meu primeiro paciente...
— E você me fez ficar pelado.
— Sim... — Natasha começou a subir a mão pela perna dele. — Foi a
primeira vez que eu vi um pênis.
— Um projeto de pênis, você quer dizer...
— Você ficou duro...
— E você se aproveitou.
— Você não? — Ela estreitou os olhos de forma maliciosa, enquanto
sua mão alcançava a virilha de Bass.
— Aproveitei mais quando você foi a paciente — respondeu ele
sentindo seu membro já endurecido.
— Nossas brincadeiras eram interessantes, não eram? — Ela o tocou
por cima da calça.
— Aonde quer chegar, Naty? — perguntou o vampiro segurando seu
pulso e a encarando.
— No mesmo lugar que você... — respondeu ela, apertando-lhe o
pau.
Bass se sobressaltou e, sem soltar o pulso dela, levantou-se e a puxou
para fora da cozinha, levando-a até a lavanderia e fechando a porta.
Empurrou-a contra a parede e a beijou, prensando-a com o próprio
corpo. Um beijo sôfrego, exigente, ansioso. Natasha retribuiu, enlaçando-o
pelo pescoço e puxando-o para si.
As mãos de ambos procuraram freneticamente pelos corpos um do
outro, arrancando o que havia pela frente. Blusas, calças e roupas de baixo
foram ao chão. Bass a fitou com os olhos carregados de volúpia e não foi
delicado ao penetrá-la. Ele desejava aquilo há tanto tempo que não conseguia
raciocinar, apenas queria estar dentro dela, possuí-la.
Ainda em pé, Natasha gemeu e o enlaçou com as pernas. Seu corpo
estremeceu de puro tesão. Finalmente, estava sendo preenchida por aquele
que tanto desejara.
Perdidos em um mar de vontades e desejos reprimidos, ambos se
agarravam e se beijavam como há muito não faziam com ninguém.
Bass a estocava fundo, desesperadamente. Ele a queria como nunca
quis outra pessoa, e tê-la ali era a realização de seus mais profundos anseios,
aquilo o aquecia e o satisfazia, ao mesmo tempo que fazia seu coração
sangrar mais uma vez. Porque ele sabia que nunca a teria realmente...
Natasha fechou os olhos, deixando-se levar pelas sensações. Ela
havia sonhado com aquele momento por muitos anos e, ao contrário do que
Bass pensava, ela nunca o quis só por capricho ou por inveja das amigas. Ela
o queria porque, mesmo prometida a outro, o primo nunca lhe saíra do
coração. Agora ela o tinha dentro dela e aquilo a preenchia mais do que
fisicamente. Era como se ele a completasse, como se ele fosse o único que
pudesse fazê-la feliz.
Lágrimas começaram a lhe escorrer pelo rosto.
— Naty... — murmurou ele, percebendo que ela estava chorando.
— Não pare, Bass, por favor, não pare! — Ela se agarrou ainda mais
a ele.
O vampiro a desencostou da parede e a deitou sobre um monte de
lençóis e cobertores que estavam jogados em um canto. E, beijando-a com
mais carinho, continuou a investir dentro dela, desta vez em um ritmo mais
cadenciado, mais sedutor, conduzindo-a a um orgasmo pleno e arrebatador.
Natasha gemeu e se contorceu sob ele e, assim que os espasmos
cessaram, ela o virou e ficou por cima. Seus olhos se encontraram e ali eles
compreenderam a intensidade dos sentimentos que tinham um pelo outro. Ela
voltou a beijar o primo e passou a cavalgá-lo, levando-o rapidamente ao
êxtase.
Bass derramou seu sêmen dentro dela enquanto gemia e se agarrava
aos seus quadris.
Ainda ofegante, a trouxe para cima de seu peito, abraçando-a.
Por algum tempo, ficaram assim, sem articular qualquer palavra,
apenas apreciando o contato de seus corpos, prolongando a sensação de bem-
estar.
Natasha elevou o rosto para olhá-lo e recebeu um beijo terno. Ela
sorriu e se deixou escorregar para o lado. Bass virou-se, ficando de frente
para ela e a puxou pela cintura, entrelaçando suas pernas nas dela.
— Por que chorou? — perguntou ele.
— Porque eu sou culpada de ter te perdido, porque eu não lutei por
você. Porque eu... eu percebi que nunca vou conseguir ser realmente feliz
com outra pessoa que não seja você.
Ele passou os dedos no rosto dela e se sentou.
— Vocês consumaram mesmo o ritual ontem? — perguntou sem
olhá-la.
Natasha hesitou para responder. Não podia dizer a verdade, não
ainda.
— Sim — mentiu ela, deixando uma lágrima escapar e sentindo o
coração se apertar.
— Então não há mais nada que possamos fazer... — Com um
semblante carregado, Bass se levantou e foi buscar suas roupas.
— Bass...
— Como eu disse, é melhor deixar o passado no passado. Vai ser
melhor se isso não voltar a acontecer entre nós, Naty — falou enquanto se
vestia. — Você estava certa em me afastar de você. Devíamos ter continuado
assim. — Ele passou a mão nos cabelos e abriu a porta. — Não vamos
complicar mais as coisas, certo?
— Eu te amo, Bass... — falou ela ainda sentada entre os lençóis.
Ele a olhou com dor no coração, mas já era tarde demais para eles...
Deu-lhe as costas e saiu, fechando a porta atrás de si. Voltou para a cozinha e
pegou a cesta com pães e bolos. Nina o aguardava e ele estava decidido a
reprimir seus sentimentos mais uma vez.
Subiu as escadas de cenho franzido e coração esmagado. Sua razão
lhe dizia que havia sido um idiota por ter se deixado levar, por ter aberto
novamente aquela ferida.
Natasha...
Ele achava que já tinha se curado dela, mas tê-la em seus braços só
demonstrou que seus sentimentos estavam mais vivos do que nunca.
Sentimentos que só lhe trouxeram dor.
Por isso, acreditava que o melhor era esquecer o que havia
acontecido. Seu coração, no entanto, não o deixaria esquecer tão fácil, não
depois de tê-la experimentado, de ter estado dentro dela, ter se derramado
nela. Natasha tinha sido sua e ele, dela. Como esquecer alguém que sempre
morou em seu coração?

Na lavanderia, Natasha secou as lágrimas e finalmente se levantou,


vestindo-se também. Sentia-se oca, vazia... Mas não se arrependia do que
tinha feito. Mesmo que eles não voltassem a ficar juntos tão cedo, ela lutaria
por ele desta vez. Faria o que estivesse ao seu alcance, enfrentaria o seu pai.
Só precisava de um pouco de tempo, sorte e muita esperança. Enquanto isso,
levaria aquela lembrança em seu coração. A lembrança do dia que se
entregou de corpo e alma ao único homem que amava de verdade.
Passou pela cozinha e cruzou com Madeleine que havia acabado de
chegar da vila.
— Bom dia, senhorita — cumprimentou a assistente de Anna.
— Bom dia.
Abatida, a vampira resolveu voltar para o quarto, ficaria lá pelo resto
do dia. Subiu rapidamente as escadas. Não estava a fim de encontrar nenhum
convidado, nem de conversar com ninguém, só queria sossego. Infelizmente,
acabou esbarrando com o pai no meio do caminho.
— Tudo bem, Natasha? — perguntou ele notando os olhos vermelhos
da filha.
— Tudo — respondeu ela secamente.
— Já tomou seu café da manhã?
— Sim, já tomei. Cadê a mamãe?
— Está dormindo ainda. Mas estou com fome, não vou ficar
esperando. — Ele deu de ombros. — Enfim, vou descer, nos falamos depois.
Ela assentiu e cada um seguiu seu caminho.
Gheorge Moldovan se dirigiu para a sala de refeições e encontrou o
lugar vazio. Os convidados que permaneceram no castelo deviam ter bebido
muito para ainda estarem dormindo, concluiu. Mas quem se importava? Eram
vampiros, afinal, e a festa tinha sido realmente boa. Precisava cumprimentar
os Constantin por isso.
Sentou-se à mesa e tocou a sineta, esperando que alguém aparecesse;
logo Madeleine surgiu na porta.
— Poderia me trazer algo para comer?
— Sim, senhor — disse a moça se retirando.
Alguns minutos depois, ela voltou com um carrinho cheio de coisas e
as dispôs sobre a mesa.
— Hum... Muito bom! — exclamou o vampiro.
— O que o senhor deseja beber?
— Café puro.
Madeleine pegou o bule e encheu a xícara dele.
— Senhor... — Ela olhou em volta, se assegurando de que não havia
mais ninguém por ali. — Eu poderia lhe falar? Tem algo que eu acredito que
precisa saber...
Gheorge arqueou as sobrancelhas.
— Mesmo? E o que eu deveria saber? — perguntou entre curioso e
debochado.
— Nosso segredo corre perigo, senhor.
— Como é? — Franziu o cenho, achando que a empregada estava
delirando. — Do que está falando?
— Tem uma pessoa aqui no castelo, uma garota. Ela é humana e sabe
quem somos. Eu acredito que os Constantin estejam sendo coniventes demais
com isso. Por enquanto, ela é mantida confinada aqui, mas não duvido que
logo eles a liberem. E isso não está certo, não é? Humanos não devem sair
por aí sabendo sobre nós.
Gheorge a olhava sério. Não estava acreditando muito naquilo.
Grigore Constantin era um dos fundadores do Conselho de Anciões. Ele
certamente não acobertaria tal coisa.
— E que garota seria essa?
— A que estava com o Sr. Sebastian ontem. Por favor, senhor, não
diga a ninguém que fui eu que contei.
— Achei que aquela moça era assistente de Mirela. Tem alguma
prova disso?
— Não, senhor. Só a minha palavra.
— Preciso de mais do que a palavra de uma empregada para poder
acusar Grigore de alguma coisa e tomar alguma providência. — Ele arqueou
uma sobrancelha.
Madeleine baixou os olhos.
— Sim, senhor. Me desculpe por incomodá-lo.
— Se arranjar alguma prova, volte a me procurar — falou ao
dispensá-la.
Gheorge voltou a comer, mas uma ruga permanecia em sua testa.
Estaria aquela mulher falando a verdade? Uma humana no castelo? E na
festa? Com seu sobrinho? Aquela conversa estava muito estranha...

Madeleine saiu da sala de refeições nervosa e irritada. Não queria se


passar por mentirosa. Precisava encontrar um modo de provar para o
conselheiro que Cătălina era humana. Aquela garota tinha ido longe demais...
Primeiro se jogou nos braços do patrão e agora parecia disposta a roubar
Sebastian.
Já fazia dias que o vampiro não lhe procurava e ele estava sempre
enfiado no quarto dela. Maldita! Era culpa dela! Além disso, a humana já
deveria ter sido entregue ao conselho faz tempo. Não entendia por que o
senhor do castelo ainda não o tinha feito. Estava na lei. Humanos não podiam
conhecer os segredos dos vampiros.
Talvez o senhor Luca, enfeitiçado por ela, tenha convencido o pai a
não fazê-lo. Mas não estava certo aquilo, Cătălina não podia ficar com eles.
Se os Constantin não a entregassem, ela o faria. Só precisava encontrar uma
prova de que estava falando a verdade.
S ebastian levou a cesta de pães e bolos para o quarto e encontrou Nina
já sentada à mesa, esperando.
— Você demorou...
— Desculpe — respondeu e se sentou também.
— Está tudo bem? — perguntou ela após alguns minutos em que
comiam em silêncio. — Está sério, Bass... Aconteceu alguma coisa?
Encontrou-se com Luca de novo?
— Não, está tudo bem... — O vampiro esboçou um sorriso.
Considerava Nina uma amiga, mas ainda estava abalado e não queria falar
sobre o que havia acontecido entre ele e Natasha na lavanderia.
— Você vai trabalhar hoje?
— Sim, daqui a pouco tenho que sair. E você, fique por aqui, não é
seguro andar pelo castelo com esse machucado.
— Está bem, mas preciso de roupas. Não posso ficar de camisola o
dia todo, nem com aquele vestido de festa.
— Eu não me importo que fique de camisola, mas vou buscar alguma
coisa para você. — Ele sorriu.
Assim que terminaram o café, Bass subiu até a torre e surpreendeu
Madeleine no quarto de Cătălina.
— O que faz aqui?
— Vim arrumar o quarto, mas parece que a senhorita Cătălina não
dormiu aqui hoje. — A assistente da cozinha esboçou um sorriso irônico. —
Posso lhe ajudar com algo?
— Preciso pegar algumas roupas para ela. Onde está Irina?
— Está de folga hoje, mas posso separar algumas peças para a
senhorita, se o senhor quiser. Devo levá-las ao seus aposentos?
— Sim, por favor — respondeu ele saindo.
Ao retornar para o quarto, Sebastian disse a Cătălina que Madeleine
logo traria suas roupas e, em seguida, se dirigiu ao armário. Pegou a caixa
térmica guardada e retirou de lá a embalagem de sangue que havia aberto há
dois dias. Deveria tomar apenas 1/3 do conteúdo, mas, agitado como estava,
não conseguiu e acabou ingerindo tudo o que havia dentro da caixinha.
— O que é isso? — perguntou Cătălina, curiosa.
— Sangue. É assim que recebemos nossas cotas — mostrou a
embalagem.
— Sério? Parece suco.
Ele sorriu.
— Sim, é para parecer mesmo. Dessa forma não chama a atenção
quando precisamos carregá-las por aí.
— Entendi...
— Vou até a sala de ginástica correr um pouco antes de ir para o
hospital, você se importa?
— Não, claro que não. — Nina esboçou um sorriso. Não sabia se
queria ficar sozinha ou não, mas não atrapalharia a rotina de Bass.
O vampiro saiu assim que Madeleine chegou com as roupas de
Cătălina. A moça da cozinha deixou as peças sobre a cômoda e observou o
quarto. Logo imaginou que os dois haviam dormido juntos e aquilo lhe trouxe
mais ciúme e inveja. Estava determinada a encontrar algo que provasse que a
garota era uma humana, por isso havia subido à torre antes. No entanto, Bass
aparecera e não pôde dar continuidade à sua busca.
Mas agora que estava ali no quarto, um cheiro lhe chamou a atenção,
sangue humano.
— Machucou-se, senhorita?
— Ah, sim, mas não foi nada, só um arranhão.
Madeleine arrumou a cama e, ansiosa, dirigiu-se ao banheiro. Se a
garota tinha se machucado, deveria haver algo ali que tivesse o sangue dela.
Pelo cheiro, logo encontrou a toalha que Bass havia usado para limpar o
ferimento. Sorriu ao ver sangue e a embrulhou no meio das outras toalhas.
— Senhorita... — chamou ao voltar ao quarto. — Vou trocar as
toalhas, precisa de mais alguma coisa?
— Não, obrigada, Madeleine.
A empregada assentiu e saiu levando seu troféu. Satisfeita, agora ela
tinha a prova de que precisava para mostrar ao conselheiro.
Sem perder tempo, colocou a toalha em um saco plástico e procurou
por Gheorge Moldovan. Encontrou-o no salão de jogos conversando com
Stefan Constantin, pai de Robert e irmão do senhor do castelo.
Quando o conselheiro a viu, pediu licença e a seguiu até o corredor,
onde ela lhe entregou o saco.
— Aqui está a prova de que precisa, senhor. Por favor, não abra aqui
ou o cheiro irá se espalhar. A humana se machucou e nesta toalha tem o
sangue dela.
Gheorge estreitou os olhos.
— E você tem certeza de que essa suposta humana sabe sobre o
nosso segredo?
— Sim, senhor... Ela presenciou a cerimônia de batismo.
— E os Constantin não fizeram nada quanto a isso?
— O Sr. Luca tem muito apreço pela moça. Acredito que ele tenha
convencido o Sr. Constantin a não entregá-la.
— E o meu sobrinho? Também sabe disso?
— O Sr. Sebastian? Sabe sim, senhor.
— Isso é um absurdo! No que eles estão pensando? Quanta
irresponsabilidade! — irritou-se. — De qualquer forma, agradeço por seu
aviso, pode ir.
— Por favor, senhor, não diga que fui eu...
— Não direi. Está dispensada! — falou Gheorge, seco.
Madeleine assentiu, seguindo para a cozinha, enquanto o conselheiro
retornava irritado para o próprio quarto.
— O que é isso, Gheorge? — perguntou a esposa ao vê-lo entrar
agitado e retirar a toalha de dentro do saco.
O vampiro jogou a peça para ela.
— Os Constantin estão mantendo uma humana no castelo. Uma
humana que tem o conhecimento de quem somos — respondeu pegando o
seu celular.
— O que vai fazer?
— O que precisa ser feito.

Após algumas horas de reclusão em seu quarto, Luca resolveu sair.


Estava com a cabeça fervilhando de tanto pensar e não aguentava mais ficar
parado sem fazer nada.
A raiva e o ciúme o consumiam por dentro, mas não culpava Nina
pelo que havia acontecido. Culpava Bass por ter se aproveitado da fragilidade
emocional da garota para levá-la para a cama. Filho da puta! Não achava que
o amigo pudesse fazer algo tão baixo.
Contudo, o que mais o enfurecia e o abalava é que parte de si
reconhecia que tudo aquilo era sua culpa também. Não havia sido honesto
com Nina, não a havia preparado para tamanho choque. Acreditara que seria
melhor para a garota se ela não soubesse sobre o ritual de sangue, pois sabia
que aquilo a machucaria e ele não queria trazer mais sofrimento a ela. No
fim, a magoara do mesmo jeito, talvez até mais...
Nem em sonhos imaginaria que Nina pudesse aparecer na festa e
ainda com a ajuda de sua irmã... Ao descer aquelas escadas e vê-la naquele
salão, tão linda e, ao mesmo tempo, com um olhar tão triste, sentira medo,
angústia e raiva de si mesmo. Arrependia-se por não ter contado a ela,
arrependia-se por não ter ouvido o seu coração em primeiro lugar, arrependia-
se de tanta coisa...
Agitado e angustiado, resolveu procurar por Ivy. Queria entender por
que ela havia feito aquilo e precisava de conselhos também. Precisava muito
falar com Nina, mas ao mesmo tempo não sabia como encará-la. Não podia
lhe contar que não havia feito sexo com Natasha e, só de imaginá-la com
Bass, um bolo lhe subia na garganta.
Desgraçado! Ainda queria quebrar a cara daquele pervertido do
caralho, mas o acerto de contas ficaria para outra hora.
Após caminhar alguns minutos pelo castelo e falar com Popescu,
encontrou Ivy no ateliê com sua mãe e as crianças.
— Oi, filho! — cumprimentou Mirela ao lhe dar um beijo. —
Descansou?
— Não muito... — virou-se para a irmã. — Ivy... Por que fez aquilo?
Por que levou Nina à festa? Tem ideia do quanto ela deve ter se machucado?
— Sim, meu irmão, eu tenho ideia. Eu estava lá...
— Ela foi para a cama com Bass depois...
— Ah, foi é? Não é surpresa, ele parecia mesmo interessado nela. —
Ivy estreitou os olhos. — Não a culpo. Você a culpa?
— Não... mas...
— Sabe, Luca... eu queria muito que você tivesse mudado de ideia
em relação ao seu noivado ao vê-la, mas você é um teimoso, cabeça dura...
Enfim, você fez a sua escolha, agora deixe que ela faça a dela.
Nesse momento, Rob apareceu na porta, seu semblante era de
preocupação.
— Ivy, onde está Axel? — perguntou ele.
— Foi correr nas montanhas, dar vazão ao seu lado lobo. Ele gosta de
fazer isso de vez em quando. Por quê? — estranhou ela.
— Olhem lá fora.
Preocupados, todos foram até a janela.
— Merda, o que eles estão fazendo aqui? — exclamou Luca de cenho
franzido.
— Quem são? — perguntou Ivy, observando uma van e um carro
escuro parados na porta do castelo, alguns homens de uniforme preto estavam
montando guarda.
— São da Força de Contenção — respondeu Mirela preocupada.
— E o que eles estão fazendo aqui?
— Eis a questão — falou Rob. — Será que tem a ver com o Axel?
Não é possível que ainda tenham algo contra ele, e estão loucos se acham que
podem levá-lo.
— Não pode ser — respondeu Mirela. — O caso contra Axel foi
arquivado, tenho certeza. Os conselheiros entenderam que ele matou aquele
vampiro mercenário por legítima defesa e para proteger Ivy.
— Vou ver do que se trata. — Luca se dirigiu à porta.
— Mirela, pode cuidar das crianças, por favor? Também vou descer,
quero saber o que está acontecendo — falou Ivy.
— Claro, podem ir.

No hall de entrada do castelo, o pai de Natasha discutia com Popescu.


— Sinto muito, senhor Moldovan, mas eles não podem entrar sem o
consentimento do Sr. Constantin — avisou o mordomo.
— Não me desafie, criado. Eles podem e irão entrar! Estes senhores
são da Força de Contenção e estão aqui atendendo ao meu chamado.
— Onde ela está? — quis saber Ricco, o capitão da guarda,
empurrando o mordomo e passando.
Nesse momento, Grigore surgiu no alto das escadas.
— O que está acontecendo aqui? — vociferou com o semblante
fechado. — O que significa isso, Gheorge?
— Nos dê alguns minutos — falou o conselheiro ao capitão. —
Quero conversar com o Constantin primeiro. Vamos à biblioteca — sugeriu.
— Espero que tenha uma boa explicação para isso, Moldovan —
avisou o senhor do castelo ao entrarem na sala, seguido pelo capitão.
— Quem nos deve explicações aqui é você, Grigore.
— Do que está falando?
— Estou falando da humana que você mantém aqui no castelo e que
conhece o nosso segredo.
— Quem lhe disse isso? — surpreendeu-se.
— Quem me disse não vem ao caso. O que é inadmissível é você,
Grigore Constantin, que foi um conselheiro por quase dois séculos, ter uma
atitude dessas! Por que não seguiu as regras? Por que não a entregou?
— A garota não é uma ameaça — disse entredentes.
— Isso não é você quem decide. É o Conselho! — rugiu Gheorge. —
Sua obrigação era tê-la nos entregado. Victor sabia disso?
— Victor não sabe de nada. Ele mal vem a esse castelo, deixe-o fora
disso!
— Menos mal para vocês, ou talvez teríamos que expulsá-lo do
Conselho. E isso seria uma vergonha para sua família. — Gheorge se
aproximou mais e encarou Grigore a poucos centímetros. — Você tem sorte
de ter sido eu a descobrir sobre a garota. Vou tentar manter esse caso em
sigilo, pois a sua vergonha também seria a minha, já que agora nossas
famílias estão ligadas.
— Manter o que em sigilo? — perguntou Luca entrando na biblioteca
seguido por Rob e Ivy.
— Eles sabem sobre Cătălina... — respondeu Grigore afastando-se de
Gheorge.
Luca sentiu o estômago gelar.
— Não vão levá-la — antecipou-se ele.
— Não pode fazer nada quanto a isso, rapaz — respondeu o
conselheiro. Virou-se, então, para o capitão da guarda. — Podem buscá-la.
— Não vou permitir! — vociferou Luca se colocando na frente.
O capitão da guarda sorriu e o empurrou para o lado para passar, mas
furioso e nervoso como estava, Luca reagiu.
— Não! — gritou e segurou Ricco por trás, aplicando-lhe uma
gravata no pescoço.
Não demorou nem um segundo para que os outros guardas que
acompanhavam Ricco fossem para cima do jovem médico. Rapidamente, eles
o afastaram do capitão e o imobilizaram no chão.
— Larguem ele! — gritou Ivy.
Inconformada, a vampira partiu para cima dos guardas e uma
confusão se iniciou, pois Rob igualmente entrou na briga a fim de defender a
prima.
Após alguns socos, tapas e pontapés, a situação foi controlada. Os
guardas da Força de Contenção eram treinados e estavam em maior número.
Assim, não demorou muito para que os Constantin fossem rendidos.
— Já chega, Moldovan! — gritou Grigore ao ver seus filhos e o
sobrinho sendo brutalmente contidos com seus rostos prensados contra o
chão.
— Não ouse me questionar, Grigore! Que absurdo foi esse? —
exclamou o conselheiro. — Tudo isso por causa de uma humana?
— Uma humana que não fez nada contra nós e que é amiga de Luca e
assistente de Mirela — rugiu o senhor do castelo entredentes. — Deixe a
garota em paz! Ela não vai fazer nada, não vai nos expor.
— Impossível. Não serei conivente com tal insanidade — fez um
sinal para o capitão, que saiu da sala com dois guardas enquanto outros três
continuavam a segurar os Constantin.
— Seu maldito! — Luca gritou e tentou se libertar mais uma vez,
mas não era páreo para a força do vampiro que o imobilizava. — Se encostar
um dedo nela, pode dar adeus ao compromisso que tenho com sua filha.
Gheorge riu cinicamente.
— Não me ameace, garoto. Se romper o compromisso com a minha
filha, pode se considerar um vampiro morto. Além disso, irei afundar o nome
da sua família na lama, Victor perderá seu assento no Conselho e vocês
nunca mais se erguerão.
Nesse momento, Natasha entrou na biblioteca e se assustou com a
cena.
— O que é isso? Pai? O que está acontecendo?
— Nada, Natasha, volte para o seu quarto! Já estamos resolvendo
tudo.
— Resolvendo o quê? — Olhou para Luca, que ainda estava no chão
com um guarda sobre ele. — Solte-o, é o meu noivo! Por que estão fazendo
isso?
Gheorge se aproximou da filha e a pegou pelo braço.
— Já mandei você voltar para o quarto. Isso aqui não é assunto seu!
— disse arrastando-a para fora da biblioteca.
— Me larga, pai! — berrou ela. — Não vou para o meu quarto
enquanto não me dizer que merda está acontecendo aqui!
Uma bofetada estalou em seu rosto.
— Você vai fazer o que eu mando! — Gheorge a segurou pelos
cabelos fazendo-a gritar e a lacrimejar. — Não se atreva a me desobedecer ou
me afrontar, Natasha. Agora, vai para o seu quarto e não desça até ser
chamada! — ele a soltou, empurrando-a.
Natasha tapou a boca com as mãos e subiu correndo as escadas,
enquanto lágrimas lhe escorriam pela face.

Cătălina deu um pulo assustada da cama quando a porta do quarto foi


escancarada e três vampiros de uniforme preto entraram sem cerimônia.
— O que querem? — perguntou ela de olhos arregalados.
— Você vem conosco — falou o capitão enquanto os outros dois a
agarravam pelo braço.
— Não, espera! Deve estar havendo algum engano. Quem são vocês?
— Engano nenhum, moça. Seu ferimento no braço te denuncia. Você
é a humana que estamos procurando.
Cătălina entrou em choque. Havia sido descoberta? Como? Não foi
durante a festa, pois ninguém havia desconfiado dela. Como, então?
— O que vão fazer comigo? — perguntou apavorada ao descerem as
escadas.
— O conselheiro vai resolver isso ainda.
— Escute, não, por favor. Eu não vou falar nada para ninguém, juro.
Não me levem, por favor... — Seus olhos se encheram de lágrimas.
Procurou em volta alguém que pudesse ajudá-la. Luca, Ivy, Mirela...
mas não havia ninguém por ali e Bass já havia saído para trabalhar. Onde
estavam todos? Por que estavam permitindo que aqueles homens a levassem
assim? Seu coração batia acelerado.
Chegaram à porta de entrada e ela resistiu, debatendo-se e tentando
voltar para trás.
— Não, por favor... — implorou chorando.
Os vampiros que a seguravam a puxaram, mas ao saírem do castelo,
estacaram. Um lobo branco enorme os encarava com seus olhos dourados a
poucos metros de distância.
— Merda, o que é isso? — Um dos guardas a soltou e pegou uma
arma na cintura, mirando no lobo.
O capitão da guarda apontou sua arma também.
Axel, em sua forma de lobo, rosnou baixo. Ele estava voltando de sua
corrida pelas montanhas quando viu os carros e escutou a garota chorar. Não
tinha ideia do que estava acontecendo, mas claramente ela estava sendo
levada à força.
Posicionou-se entre os vampiros e os carros e rosnou mais uma vez.
Lobos costumavam ter vantagem em relação aos vampiros, pois bastava uma
mordida para intoxicá-los e, sem o antídoto, a morte era certa. Axel podia
sentir o cheiro do medo naqueles homens. Avançou alguns passos e o guarda
que havia sacado a arma logo de início começou a atirar.
Axel saltou em ziguezague. Algumas balas resvalaram em sua pele,
machucando-o, mas não conseguiam penetrá-la. Três saltos foram o
suficiente para que ele alcançasse o vampiro e o derrubasse, mordendo-o no
ombro e fazendo-o largar a arma com um grito de dor.
O outro guarda que segurava Cătălina a empurrou para o lado e
também empunhou sua arma, passando a atirar em Axel. O lobo o encarou e
foi para cima dele. Um dos disparos feriu seu pescoço, uma área mais
sensível; ainda assim, ele avançou e, com agilidade, derrubou o vampiro,
cravando seus dentes no braço deste e quase o arrancando fora.
Na verdade, Axel precisou se segurar para não causar mais danos,
pois poderia ter matado facilmente aqueles vampiros. Mas não queria causar
problemas para os Constantin, já que estava hospedado na casa deles e não
sabia o que realmente estava acontecendo.
Nesse meio tempo, Cătălina, vendo-se livre dos braços que a
seguravam, tentou correr de volta para dentro do castelo, mas foi interceptada
pelo capitão da guarda que entrou em seu caminho.
O vampiro a agarrou e trocou sua arma por uma faca, encostando-a
no pescoço dela.
— Afaste-se, lobo, ou ela morre! — avisou Ricco.
Axel voltou a cabeça para os dois e rosnou mais uma vez.
O vampiro começou a arrastar Cătălina em direção ao carro sem tirar
a faca de seu pescoço, que já começava a sangrar, enquanto Axel os rodeava,
mas impedido de atacar.
Atraídos pelo som dos disparos, os guardas que estavam dentro do
castelo saíram pela porta, seguidos pelos Constantin.
Vendo a cena que se desenrolava ali, Luca, em desespero e com
medo do capitão da Força tirar a vida de Nina, correu para perto de Axel,
entrando na frente dele.
— Axel, espere! — pediu e se voltou para o capitão. — Solte-a!
Como pode usar uma garota como escudo? Por que não nos enfrenta como
um homem, como um vampiro?
— Tire o lobo daqui ou ela morre! Agora! — Ricco afundou um
pouco mais a faca na carne de Nina, que soltou um gemido de dor e voltou a
chorar.
— Não! Não machuque ela, seu covarde desgraçado! — berrou Luca.
Axel deu um passo à frente.
— Não vou falar de novo! — ameaçou o capitão. — Não estou
brincando, afaste esse maldito lobo ou rasgo a garganta dela aqui mesmo.
— Axel... — chamou Ivy com a voz entalada na garganta de raiva,
mas também de preocupação.
O lobo a olhou e voltou a fitar o vampiro. Com um rosnado, Axel deu
alguns passos para trás. Sua vontade era de acabar com aquele miserável, mas
não podia arriscar a vida da garota.
O capitão da Força entrou na van com os guardas que estavam dentro
do castelo e partiram rapidamente, deixando os dois vampiros feridos para
trás.
Luca pôs as mãos na cabeça, desesperado e com lágrimas nos olhos.
Gheorge Moldovan, vendo todo aquele sangue e terrificado com a
presença do lobo, entrou rapidamente no castelo e subiu para os seus
aposentos a fim de fazer as malas e ir embora. Não arriscaria sua pele com
um Warg ali.
No pátio, Ivy se aproximou dos vampiros caídos, ensanguentados, e
analisou os ferimentos.
— Alguém os leve para dentro — disse friamente. — Vou buscar o
antídoto.
Axel voltou à sua forma humana e pegou um dos guardas, enquanto
Rob pegava o outro.
— A enfermaria fica lá embaixo — falou Grigore com voz cansada.
Em seguida, entrou também, indo direto para o seu escritório.
Apenas Luca ficou lá fora. Olhando fixamente para a estrada por
onde Nina havia sido levada. Aquilo era um pesadelo, não podia estar
acontecendo. Seu interior era pura angústia, desespero, pânico, raiva... Queria
matar Gheorge Moldovan e queria saber quem havia entregado Nina.
A única pessoa que havia descoberto sobre ela recentemente tinha
sido Natasha... Um ódio maior ainda tomou conta de si, talvez fosse melhor
matar a família inteira...
A rrasado, nervoso e inquieto, Luca andava de um lado para o outro no
escritório do pai que tomava, em silêncio, um pouco de vinho.
— Tenha calma, Luca. Tentaremos resolver isso de alguma forma.
— Resolver como? Gheorge pode ser apenas um dos conselheiros,
mas hoje ele é mais influente do que o senhor. Se ele colocar o assunto de
Nina para ser julgado pelo Conselho, certamente os outros irão ficar do lado
dele.
— Ele não vai colocar. Gheorge não tem interesse em ver o nosso
nome manchado enquanto nossas famílias estiverem ligadas pelo noivado.
— E o que você acha que ele vai fazer?
— Provavelmente agirá por conta própria. Não é preciso que haja um
julgamento para enviar alguém para a prisão, basta a assinatura de um
conselheiro. E os Moldovan controlam Vârful Cârja, seria fácil para ele.
— Ela vai morrer, pai... Nenhum humano sobrevive naquela prisão...
— Luca passou a mão nos cabelos em desespero.
Grigore inspirou fundo. Certamente que ele ainda tinha alguma
influência entre os Vampyrs, mas Luca estava certo, Gheorge Moldovan tinha
mais. Precisaria agir com cautela.
— Se o senhor tivesse deixado eu tirá-la daqui antes do noivado, isso
não estaria acontecendo.
— Se quer arrumar um culpado, olhe para o próprio rabo, Luca! —
rosnou Grigore. — A vida é feita de “se’’s. Se a garota não tivesse ficado
aqui desde o começo, se você tivesse mantido ela trancada quando eu pedi, se
ela não tivesse visto a cerimônia, se você não tivesse se apaixonado... Mas
para cada “se”, houve uma escolha, e escolhas trazem consequências. Trate
de se responsabilizar pelas suas!
Uma batida na porta os interrompeu e Gheorge Moldovan entrou no
escritório, acompanhado da esposa.
— Estamos indo embora, Constantin! Isso tudo foi lamentável, mas
espero que não passe de uma daquelas manchas com o tempo acabam
esquecidas. — Virou-se para Luca. — Quanto a você, rapaz, esqueça a
humana e se concentre nas suas obrigações como um Vampyr. Recomendo
que volte a ler sobre a nossa história, e talvez, você entenda por que não
permitimos que humanos conheçam nossos segredos. Passar bem, todos
vocês! — disse, retornando por onde viera.
Grigore colocou a mão no ombro do filho para que este não
avançasse sobre o conselheiro.
Luca engoliu um bolo de raiva que se formava em sua garganta. Sua
vontade era de estrangular Gheorge até que seus olhos saltassem das órbitas.
Vampiro odioso, prepotente e arrogante. Esse era o problema de se ter muito
poder nas mãos. Seu pai também havia sido assim anos atrás. Felizmente, o
tombo que levou o fez cair em si e melhorar, mas Gheorge... ele se achava
intocável, absoluto em suas decisões mais do que qualquer outro conselheiro.
Um verdadeiro déspota!
O jovem médico estranhou, no entanto, a ausência de Natasha. Estava
certo de que fora ela a contar sobre Nina para o pai e, provavelmente, ela
estava indo embora sem se despedir por vergonha ou medo de encará-lo.
Lembrava-se de que a noiva havia sido arrastada por Gheorge para fora da
biblioteca no meio daquela confusão, mas, nervoso como estava, acabou não
prestando muita atenção na discussão entre eles.
Alguns minutos depois dos Moldovan terem saído, Ivy apareceu no
escritório com Axel e Rob. O Warg exibia alguns ferimentos no pescoço e
braços por conta dos projéteis das armas, mas via-se que era superficial.
— Os guardas foram tratados e medicados — comunicou a vampira.
— Dei o antídoto contra a saliva do Axel, então não correm risco de morte e
amanhã já poderão ir embora. Por enquanto, estão sedados.
— Ótimo — respondeu Grigore. — Menos um problema.
— Senhores, com licença... — O mordomo apareceu na porta. — O
jantar está pronto, devo mandar servir?
— Sim — falou o senhor do castelo. — Estamos indo. Ainda temos
muitos convidados no castelo?
— Não, senhor. Apenas o Sr. Victor, os pais do Sr. Robert e a Srta.
Moldovan, noiva do Sr. Luca.
— Natasha ainda está aqui? — estranhou Luca.
— Sim, senhor. Está no quarto.
— Chame-a, por favor. Quero falar com ela — disse o vampiro com
o semblante fechado.
Os Constantin se dirigiram à sala de refeições e lá encontraram os
outros membros da família.
— Que confusão foi essa hoje, Grigore? — perguntou Stefan, pai de
Rob.
— Mais tarde eu explico, Stefan, é uma longa história. Vamos comer
primeiro.
— Vou ter problemas? — perguntou Victor com uma ruga entre as
sobrancelhas.
— Não, meu irmão, não terá problemas. Não se preocupe! Sua
posição no Conselho está assegurada — rosnou Luca.
— Guarde essa sua agressividade para você. Eu não tenho nada a ver
com isso! Eu tinha certeza de que aquela humana aqui no castelo poderia nos
causar problemas, mas nunca pensei que vocês pudessem deixar que ela
descobrisse sobre nós. Isso foi muita irresponsabilidade! Vocês deviam ter
entregue a garota logo ao Conselho.
Luca deu um soco na mesa, fazendo os talheres e pratos vibrarem.
— Cale a boca, Victor! Você nunca está aqui no castelo! Não sabe de
nada, não participa de nada e, principalmente, não conhece a Nina!
— Calma, rapazes — pediu Mirela. — Não vai ser brigando entre nós
que resolveremos isso.
— Resolver o quê? — perguntou Sebastian entrando na sala de
refeições, ele vinha diretamente do hospital. — Que caras são essas? Alguém
morreu?
Luca franziu o cenho e olhou para próprias mãos, ainda cerradas
sobre a mesa.
— Nina foi levada — disse.
— Levada? Como assim? Para onde? — estranhou o recém-chegado.
— Não sabemos ainda... — respondeu Grigore.
— Alguém me explica o que está acontecendo? Não estou
entendendo...
— Ela foi levada pela Força de Contenção, Bass! — Luca elevou a
voz. — Alguém a denunciou para o seu tio.
Sebastian paralisou, chocado.
— Quem...? Quem fez isso?
— Por que não pergunta para sua prima? — rosnou Luca apontando o
queixo para Natasha que havia acabado de aparecer na porta.
O vampiro loiro a olhou, incrédulo e temeroso.
— Natasha, você fez isso? Entregou Nina ao seu pai?
— Não! — Ela arregalou os olhos. — Não fui eu, eu juro! Não falei
nada!
— Não minta! — gritou Luca. — Só você aqui poderia ter feito isso!
Só você tinha interesse nisso!
— Não... por favor... — Ela olhou para os demais em desespero. —
Acreditem em mim, eu não falei nada para o meu pai, por favor...
— A senhorita está falando a verdade, senhores — interrompeu
Popescu e todos olharam para ele. — Não foi ela quem entregou a humana.
— Você sabe quem foi, Popescu? — perguntou Grigore.
O mordomo olhou para Madeleine que tinha acabado de deixar uma
travessa de ensopado sobre a mesa. Assustada, ela balançou de forma
negativa a cabeça e tentou sair rapidamente da sala, mas foi impedida por
Irina que, com uma expressão dura, barrou sua evasiva na porta.
— Não, não! — disse a moça da cozinha, voltando-se para os demais.
— O Sr. Popescu está enganado, não fui eu.
— Por que está dizendo que foi ela, Popescu? — indagou Mirela. —
Como sabe?
— Hoje de manhã, eu havia acabado de chegar quando escutei, sem
querer, uma conversa entre a senhorita Madeleine e o Sr. Moldovan aqui
nesta sala. O conselheiro pedia provas de algo que eu não soube exatamente o
que era, pois não peguei a conversa do início. Somente entendi quando, após
tudo o que houve, o Sr. Moldovan, que estava de partida, pediu para que eu
fosse buscar suas malas no quarto. Ao entrar, mediatamente percebi o cheiro
de sangue humano. Descobri, então, a toalha com o sangue da Srta. Petran.
Creio que a humana tenha se machucado e se limpado com a toalha. Como
quem arrumou o quarto onde ela se encontrava hoje foi Madeleine...
Luca não precisou ouvir mais nada. Levantou-se abruptamente e, a
passos largos, logo alcançou a moça da cozinha, agarrando-a pelo pescoço e
prensando-a contra a parede.
— Maldita! O que acha que fez?
— Luca! — assustou-se Mirela. — Não! Espere, solte ela!
Mas o vampiro não parecia disposto a ouvir mãe e apertou ainda mais
o pescoço de Madeleine, fazendo-a soltar um grito estrangulado. Ela
começou a se debater, arranhando-o e tentando se livrar da mão que a
esganava, mas somente quando Axel se aproximou e colocou a mão sobre o
braço dele, encarando-o sério, que ele a soltou.
Madeleine desabou no chão, tossindo com a mão na garganta e
puxando o ar com dificuldade.
— Leve-a daqui. Depois resolveremos o que fazer com ela... —
ordenou Grigore a Popescu. — Irina, sirva-nos as bebidas, e você, Natasha,
sente-se, por favor.
A vampira sentou-se, ainda constrangida.
— Escutem... Eu não concordo com o meu pai fez hoje. Eu não
conhecia a garota, mas vi que confiam nela e penso que poderíamos ter
resolvido isso de outra forma. Eu realmente sinto muito...
— Peço desculpas por ter desconfiado de você... — falou Luca,
sentando-se novamente, ainda nervoso e com a respiração pesada de ódio.
Chocado, perplexo e igualmente enraivecido, Sebastian permanecia
em pé observando as pessoas à mesa começarem a se servir.
— É sério isso? Como podem pensar em jantar com tudo o que
aconteceu? — irritou-se Bass. — Não pretendem fazer nada? Luca? — Olhou
para o amigo.
— Acontece que não podemos fazer nada nesse momento! —
respondeu Luca entredentes. — Não sabemos nem mesmo para onde ela foi
levada. Então, por enquanto, sente-se e coma! Mais tarde pensaremos em
algo.
O vampiro bufou e se sentou. Não estava com um pingo de fome, sua
cabeça girava e aquela raiva que havia sentido quando matou Nicolae havia
retornado. Talvez tivesse matado Madeleine se fosse ele no lugar de Luca.
Não sabia...

Cătălina acordou um pouco desorientada e com a cabeça pesada. Não


sabia onde estava ou o que havia acontecido com ela. Olhou em volta e notou
que estava em uma cama velha sobre um colchão imundo em um quarto
quase sem mobília e com as paredes descascando. Apenas uma lamparina a
gás iluminava o ambiente.
Ao tentar se mexer, viu que suas mãos estavam amarradas uma na
outra e um de seus pés se encontrava algemado à cama. Um gelo invadiu seu
estômago ao se lembrar do que havia acontecido.
Ao saírem do castelo, o homem que parecia estar no comando retirou
a faca de seu pescoço e, com um olhar predador, lambeu a ponta, onde tinha
seu sangue. Apavorou-se, imaginando que seria atacada por ele, mas o
homem apenas sorriu e pegou uma seringa em uma mala, colocou um pouco
de um líquido transparente e injetou nela.
Depois disso, suas memórias estavam confusas. Lembrava-se de ter
reagido e gritado, tentando afastá-lo, mas então apagou.
Sentou-se na cama e observou melhor o quarto. Era um lugar bem
velho e cheirava a mofo, mas não parecia uma prisão. De certa forma, ficou
um pouco aliviada, pois quando eles a levaram, achou que seria levada à tal
prisão dos vampiros, aquela em que os humanos não duravam muito tempo.
Arrepiou-se. O medo voltou a lhe assombrar os pensamentos. O que
fariam com ela? Estaria condenada? Teria um julgamento? Teria alguma
chance de sair daquela situação? Pensou em Luca, em Bass... e sentiu seu
coração se apertar. Eles deixariam que ela fosse morta?
Lágrimas inundaram seus olhos. Suas expectativas, seus sonhos, seus
sentimentos... Nada daquilo importava agora. Talvez fosse morrer logo... não
sabia...
Estava com frio, sede e um pouco de fome, mas preferiu permanecer
em silêncio. O medo de alguém aparecer e começar a torturá-la era maior.
Não tinha ideia do que aqueles homens eram capazes de fazer. Eram
vampiros afinal, não pareciam ser amigáveis como os Constantin.
Algum tempo depois, a porta do quarto se abriu, assustando-a, e o
vampiro que devia ser o chefe apareceu. O homem tinha os cabelos e barba
escuros, era alto, forte e seus olhos eram frios, ele trazia uma jarra com água
e pão.
Cătălina encolheu-se quando ele se aproximou.
— Relaxe, garota, não vou te machucar. Meu trabalho é apenas te
levar para Vârful Cârja — falou ele, soltando-a das cordas e da algema.
— Eu... eu preciso ir ao banheiro... — murmurou ela.
O vampiro bufou.
— Certo, levante-se daí. — Ele a conduziu para fora do quarto por
um corredor escuro e apontou a porta do banheiro. — Vá logo!
Cătălina entrou no local indicado e franziu o cenho. O lugar estava
imundo, mas felizmente tinha papel. Assim que terminou de se aliviar,
localizou a janela, entretanto, estava coberta com madeira. Aquilo era
realmente um cativeiro, ela concluiu.
Contudo, o que mais a apavorava era que o vampiro havia falado que
a levaria para Vârful Cârja. Lembrava-se desse nome, era a tal prisão.
Engoliu em seco. Não queria ir para lá. Não queria...
Saiu do banheiro e o homem a levou de volta para o quarto,
deixando-a sozinha para comer o que ele havia trazido. Bebeu um pouco da
água e, com muito custo, conseguiu engolir um pouco de pão. Ainda sentia
frio. Vestia calça e uma blusa de manga, mas não tinha um casaco, pois
dentro do castelo não precisava usar roupas pesadas. Ali, no entanto, a
temperatura estava baixa demais e ela tremia.
Angustiada, caminhou até a janela e tentou abri-la, sem sucesso.
Encostou na parede e se deixou escorregar para o chão. Abraçou os joelhos e
encostou a testa neles. A possibilidade de morrer lhe parecia cada vez mais
real...

No castelo, após jantarem, os Constantin e os dois Moldovan se


reuniram no grande salão, próximo à lareira.
— Muito bem, o que podemos fazer? — perguntou Ivy. — Pai, não
conhece alguém que pode nos ajudar?
— Eu conheço muitas pessoas, Ivana. O problema é que essas
pessoas também conhecem Gheorge, e o temem. Não são confiáveis. Se
levaram mesmo a garota para Vârful Cârja, não sei como poderíamos tirar ela
de lá sem que isso fosse parar nos ouvidos dele.
Rob olhou para Natasha.
— É seguro estarmos discutindo isso com a filha dele aqui? —
questionou.
— Não vou contar nada ao meu pai! — Ela se apressou em dizer. —
Eu quero ajudar! Posso provar! — Natasha fez um gesto para aguardarem e
pegou o celular, fazendo uma chamada. — Alô, Ricco? Oi, querido, como
está? Vi que esteve no castelo hoje, mas com a confusão, não conseguimos
nos falar... Pois é... você ainda está com a humana que o meu pai mandou
prender? Hum... sei... para Vârful Cârja? Ah... sim, claro. Escute... não
machuque a garota, por favor. Ela é minha conhecida e, mesmo sendo uma
humana, eu não gostaria de saber que ela foi maltratada por você. — A
vampira revirou os olhos. — Sim, eu sei que a prisão não é amigável com os
humanos. Já estou vendo isso com o meu pai, não se preocupe. Obrigada,
Ricco, me ligue qualquer dia para a gente sair. Beijo, querido...
— O que foi isso? — perguntou Bass com uma ruga entre as
sobrancelhas.
— Conheço o capitão da Força, já saímos algumas vezes... — Ela deu
de ombros. — Enfim, a garota está bem e eles só estão aguardando a ordem
de prisão por escrito para poderem encaminhá-la para Vârful Cârja. Ele disse
que talvez leve um ou dois dias até meu pai assinar o documento e chegar nas
mãos deles.
Ivy se aproximou de Natasha.
— Escute, não sei quanto aos outros. Eu realmente quero acreditar
que suas intenções são boas, mas não te conhecemos muito bem e eu prefiro
não arriscar. Então se importaria se eu ficasse com o seu celular?
— Não. Claro que não, eu entendo... — respondeu Natasha,
entregando-lhe o aparelho.
— Voltando ao plano, poderíamos tentar interceptá-los no caminho
antes que cheguem à prisão, não? — sugeriu Luca.
— Como? Atacando a Força de Contenção? — Indagou o pai de Rob.
— Mesmo que desse certo, depois vocês seriam considerados criminosos por
isso. Seriam caçados, condenados e presos.
— Precisamos resgatar a garota sem chamar a atenção, sem despertar
suspeitas — completou Grigore.
— Podemos tentar nos infiltrar na prisão e tirar Nina escondida de lá
— falou Bass. — Minha irmã trabalha para eles. Ela é psiquiatra e costuma ir
duas ou três vezes por semana para acompanhar alguns casos. Posso ver se
ela nos ajuda.
— O problema é entrar em Vârful Cârja, Sebastian — retrucou
Grigore. — O lugar é uma fortaleza. É impossível entrar e tirar alguém de lá
sem ser notado. Mas isso me deu uma ideia e iremos precisar de você, Victor.
— De mim? — espantou-se o vampiro que até aquele momento
acompanhava a conversa meio desinteressado. — O que quer que eu faça? —
alarmou-se.
— Que assine uma ordem de transferência de Vârful Cârja para cá.
Você é um conselheiro e pode fazer isso.
— Ah, sim. Tiro a humana de lá e depois eu que me entenda com o
Moldovan e o resto do Conselho? — ironizou.
— Você não vai mandar transferir a garota, vai mandar transferir
Marius, um aldeão aqui da vila. Ele foi preso há pouco tempo...
— Sim, eu me lembro. Fui eu que assinei a ordem de prisão para ele
a pedido seu. Mas o que ele tem a ver com a humana?
Grigore apontou para Luca e para Bass.
— Eles irão até a prisão com a ordem de transferência do Marius,
mas sairão de lá com a moça, entendeu? — explicou erguendo uma
sobrancelha. Virou-se para Ivy. — Pegue o uniforme dos guardas que estão lá
embaixo, os rapazes irão usá-los.
— As mangas estão arruinadas — falou ela.
— Eu conserto, isso será fácil — disse Mirela.
— Consegue fazer mais um uniforme? — Quis saber Axel. — Quero
ir junto com eles.
— Sim, sem problemas.
— Ligue para sua irmã, Bass. Iremos precisar da ajuda dela para
fazer isso funcionar — falou Grigore.
Sebastian pegou o celular e chamou a irmã.
— Alícia? Oi, te acordei? Escute... preciso de sua ajuda... — O
vampiro explicou para ela a situação e agradeceu, desligando. — Ela vai
ajudar, mas está em Londres hoje, seu voo de volta está marcado para
amanhã à noite.
— Tudo bem, temos tempo... — Grigore se levantou do sofá. — Por
hoje, creio que estamos entendidos, não há mais nada que possamos fazer.
Vamos descansar, amanhã retomamos o assunto.
— E nós vamos ver a questão dos uniformes — falou Mirela olhando
para Ivy.
— Vocês estão loucos, isso é que eu acho... — resmungou Victor
antes de sair.
Um a um, os Constantin foram deixando a sala, até sobrarem apenas
Luca, Bass e Natasha.
— Sinto muito pelo que aconteceu — falou a vampira para Luca. —
Espero que dê tudo certo...
Ele assentiu e ela também saiu, indo para o quarto. Os dois amigos
ficaram a sós e se entreolharam em silêncio por alguns segundos.
— Eu não transei com ela — justificou-se Sebastian. — Com a Nina!
— apressou-se em explicar; lembrando-se de que havia transado com
Natasha, na verdade.
Luca estreitou os olhos.
— Mas vocês dormiram juntos...
— Sim, mas só dividimos a cama. Não fizemos nada. Juro...
— Por que não me disse? Poderíamos ter evitado a briga, Nina não
teria se ferido e não haveria toalha com sangue... — Luca crispou as mãos ao
se lembrar de que fora ele o responsável por tê-la machucado.
— Primeiro, porque você não me deu tempo de explicar. Segundo,
com toalha ou sem toalha, Madeleine teria dado um jeito de arrumar alguma
prova. — Bass estalou a língua. — Creio que o culpado seja eu. Acho que ela
fez isso porque eu não a procurei mais, talvez tenha ficado com inveja ou
ciúme de Nina.
Luca suspirou.
— No fim, todos temos alguma responsabilidade nisso, Bass. Não
adianta ficarmos apontando culpados. Madeleine será severamente
repreendida, disso eu tenho certeza. Quanto a nós... Nós vamos tirar Nina de
lá, custe o que custar...
Sebastian concordou e ambos subiram para os seus aposentos.
Luca, no entanto, nem chegou em pensar em dormir. Sua cabeça
estava a mil e a sensação de medo não o abandonava. Calafrios percorriam
seu corpo quando pensava em Nina, em como ela estaria, no terror que ela
deveria estar sentindo, no que estaria pensando. Ele tinha medo por ela, medo
do que pudesse acontecer enquanto eles não conseguissem resgatá-la.
Havia dito a Bass que não adiantava apontar culpados, mas ele
mesmo se culpava por suas decisões, e muito. Como dissera o seu pai, havia
inúmeros “se”s que podiam ter evitado que tudo aquilo acontecesse, e ele se
sentia responsável pela maioria deles.
Contudo, apenas um “se” ocupava seus pensamentos naquele
momento. Se algo de ruim acontecesse a Nina, ele não se perdoaria jamais...
Sentado no parapeito da janela do quarto, colocou a cabeça entre as
mãos e chorou. Precisava salvá-la, precisava acreditar que conseguiriam
resgatá-la, precisava acreditar que ela ficaria bem...
A manhã seguinte se arrastou para os habitantes do castelo. A angústia
de ter que esperar para fazer algo era insuportável, principalmente
para Luca que não parava quieto no lugar.
— Está me deixando nervoso, Luca! — reclamou Bass, vendo o
amigo andar de um lado para o outro no grande salão.
— E o que quer que eu faça? Não consigo parar de pensar. Merda!
— Escute, garoto, dá para ver que não dormiu nada, mas precisa
descansar — falou Axel encostado em uma pilastra. — Você tem que estar
bem para fazer o que tiver que fazer quando formos resolver isso.
— Eu gostaria de ter essa sua frieza e essa sua confiança, Axel... Mas
você está certo, vou tentar dormir um pouco. Qualquer coisa me chamem —
disse cabisbaixo e subiu as escadas.
O Warg suspirou. A verdade é que aquela movimentação o excitava,
sua natureza era guerreira. Gostava de uma luta e de um desafio, e estava
puto da vida por não ter conseguido livrar a menina daquele vampiro, mas
não costumava demonstrar suas emoções. Era um hábito adquirido em mais
de 200 anos de existência e bastante providencial quando se tratava de
enfrentar inimigos.
Ao cair da tarde, Mirela entregou os uniformes já consertados e
ajustados.
— Demos roupas comuns aos guardas da Força de Contenção e eles
já foram embora. Alguma novidade?
— Não... — respondeu Bass. — Nada...
— Chame o Luca — orientou Axel. — Vamos nos preparar e sair.
Esperaremos em algum lugar mais próximo da prisão.
Sebastian passou no quarto de Luca e, em seguida, foi se preparar.
Estava apreensivo, não podia negar, mais até do que quando estava prestes a
matar Nicolae. Não podiam falhar ou Nina é quem morreria, e isso seria
terrível. Aprendera a gostar da garota e faria o que estivesse ao seu alcance
para ajudá-la.
Na saída, esbarrou com Natasha no corredor.
— Já estão indo? — perguntou ela notando o uniforme preto que
Bass vestia.
— Daqui a pouco.
— Tome cuidado, está bem? — Ela se aproximou e o abraçou.
O vampiro hesitou, mas, por fim, retribuiu o abraço.
— Tomarei... — respondeu inspirando o perfume dos cabelos dela.
Para o constrangimento de ambos, Luca apareceu no corredor e
ergueu uma sobrancelha ao ver a cena, mas nada disse.
Bass largou Natasha e o seguiu escadas abaixo.
— Pensei que tivesse me dito que sua prima te odiava — comentou
Luca.
— Acho que me odiava, mas conversamos.
— Que bom que se entenderam...
O vampiro loiro olhou para o amigo para ver se ele desconfiava de
que havia algo a mais entre ele e a prima, mas Luca parecia distante. Teve
vontade de contar o que tinha acontecido na lavanderia, pois não achava certo
esconder isso dele, entretanto, sabia que não era o momento para aquilo.
Outra hora, quando Nina estivesse fora de perigo, conversaria com Luca a
respeito.
Não pretendia mais transar com Natasha. Não queria mais dar vazão
àquele sentimento, já que agora o destino da prima já estava selado pelo ritual
de sangue, mas não esconderia mais do amigo sua história com ela.

Cătălina dormira pouco naquela noite e acordara ainda de madrugada


com pesadelos. Sem conseguir deixar de pensar no destino que lhe
aguardava, passou o dia sozinha no quarto. O vampiro que a capturara lhe
trouxera uma manta suja para se proteger um pouco do frio no dia anterior,
mas só havia aparecido novamente no quarto para lhe deixar um pouco mais
de pão e água.
Agarrada ao seu pequeno pingente de crucifixo, ela se sentia
desolada. Não tinha mais lágrimas para chorar e permanecia sob constante
tensão, temendo que a qualquer momento a porta se abrisse e a levassem para
a temida prisão.
Havia perdido completamente a noção das horas, mas percebeu pelas
frestas da janela cerrada que o dia havia acabado e que a noite caíra. E quanto
mais as horas passavam, mais angustiada ficava.
Deitada e encolhida na cama, com fome de novo, ouviu a porta se
abrir e o vampiro entrou com mais pão, ele tinha uma expressão carrancuda e
a barba preta lhe dava um ar ainda mais duro. Com os olhos arregalados,
Nina notou que ele trazia um esparadrapo na mão também.
Cătălina se sentou, seu coração palpitava cada vez que aquele
vampiro chegava perto.
— Deixe-me ver esse seu pescoço — ordenou ele, fazendo ela se
encolher contra a cabeceira da cama.
Sem muita paciência, ele segurou no queixo dela e inclinou-lhe a
cabeça, observando o pequeno corte que sua faca havia feito no dia anterior.
— Já está cicatrizando, isso é bom. Não cheira mais tanto a sangue
fresco. Para onde você vai, seria muito ruim para você se descobrissem que
não é uma vampira. De qualquer forma, vou colocar uma proteção nele e no
seu ferimento do braço. É melhor não arriscar. — O vampiro arrancou
algumas tiras do esparadrapo e cobriu os machucados. — Não tire isso,
entendeu?
Cătălina assentiu.
— Agora, coma. Saímos em quinze minutos — falou ele, deixando o
quarto.
Aquelas palavras a fizeram congelar. Seu tempo estava acabando...
Morreria naquela prisão, com certeza. Olhou para o pão meio duro sobre a
cômoda. Havia perdido a fome, mas o pegou e deu algumas mordidas.
Aquela poderia ser sua última refeição...
Algum tempo depois, o vampiro retornou e voltou a amarrar suas
mãos. Sem oferecer resistência, Cătălina deixou que a conduzissem para a
van escura e logo pegaram a estrada.
Estava escuro lá fora e os vidros tinham uma película protetora que
limitavam a visão. Após algumas horas, ela percebeu que começaram a subir
uma espécie de montanha. Não conseguia enxergar luzes de ruas ou casas
pelo caminho, o lugar parecia ficar no meio do nada.
Seu coração começou a acelerar e, quando finalmente o veículo
parou, achou que iria vomitar de nervoso.
O motorista falou algo com alguém que estava em uma espécie de
guarita e mostrou um papel, em seguida partiram novamente.
Cătălina olhou para fora e viu quando passaram pelos pesados
portões de ferro maciço e entraram em um local cercado por uma enorme
muralha, maior até do que a do castelo dos Constantin.
A van parou novamente e a porta se abriu.
— Saia — falou o vampiro barbudo.
Assustada, ela desceu da van e elevou os olhos para a imensa
construção em pedra à sua frente. Maior e mais sinistra do que o castelo do
vale, ela se erguia fria e tenebrosa, com paredes quase sem janelas, algumas
torres e pouca iluminação. A visão lhe causou arrepios profundos e ela
paralisou no lugar.
— Vamos — disse o homem puxando-a pelo braço.
— Por favor... — implorou Cătălina em um murmúrio. — Não me
deixe aqui...
— Não posso fazer nada. Apenas tente sobreviver — disse e parou,
tirando algo do bolso.
Discretamente ele mostrou o objeto a ela, um canivete que se
dobrava, e o enfiou por dentro do cós da calça que ela usava.
— Isso é o máximo que eu posso fazer por você. Agora me escute
com atenção! — disse baixo. — Se tiver que se defender, lembre-se: você
deve enfiar a lâmina aqui. — Ele tocou a têmpora dela com os dedos. — Não
adianta tentar acertar o coração, que esse canivete não irá alcançar e, em
qualquer outro lugar que acertar, não vai conseguir fazer um vampiro parar,
entendeu?
Cătălina engoliu em seco e assentiu. Seus membros estavam
amortecidos e o vampiro a puxou novamente, fazendo-a caminhar de modo
automático. O medo a deixava sem ação e ela não conseguia falar ou pensar
direito. A única coisa que lhe vinha à mente era que a possibilidade de morrer
ali lhe parecia cada vez mais real.
Entraram na prisão e, logo à frente, esbarraram com um grande
portão de metal. Um guarda o abriu com um rangido e eles entraram,
seguindo para um arco lateral que dava para um extenso corredor de paredes
em pedra. O ambiente úmido e escuro apenas aumentou a sensação de pânico
de Cătălina.
O corredor os levou até uma sala mais ampla; lá dentro, outro
vampiro, vestindo um uniforme cinza e feições nada amigáveis, sentava-se
atrás de uma mesa com os pés sobre ela. Ao vê-los, endireitou o corpo e
aguardou-os se aproximarem.
— Ricco — falou ele com um sorriso cínico. — Que pacote
bonitinho você me trouxe hoje!
O capitão da Força de Contenção franziu o cenho e entregou a ordem
de prisão.
— A garota é uma humana, Iosif, não a coloque em uma cela comum.
— Não, ela não vai para uma cela comum, garanto... — Iosif sorriu
novamente.
Ricco não gostou do tom do vampiro, mas o que acontecia dentro de
Vãrful Cârja não era de sua alçada. O que ele podia ter feito pela humana, ele
fez.
Deixou a garota com o inspetor da prisão e, ao sair, ligou para
Natasha para avisá-la de que já havia entregado a moça lá. Não tinha ideia de
qual era a ligação da filha de Gheorge Moldovan com a humana, mas achou
que ela gostaria de saber.
Dentro da fortaleza, Cătălina aguardava, nervosa, o seu destino. Sob
o olhar irônico do guarda, manteve-se quieta até que um outro vampiro
uniformizado apareceu.
— Temos uma nova prisioneira, leve-a para a ala quinze — ordenou
Iosif.
— Ala quinze? — O vampiro olhou Cătălina de alto a baixo. — Ela
não parece uma viciada.
— E não é, é uma humana.
O guarda que havia acabado de chegar arqueou as sobrancelhas.
— Está louco, Iosif? Isso é contra o regulamento da prisão, misturar
prisioneiros.
— Ordens do conselheiro, não discuta!
— Que conselheiro? Tem por escrito? Não vou fazer nada sem uma
ordem escrita.
— Inferno! — rugiu Iosef se levantando. — É claro que não tem por
escrito! Você é idiota por acaso? Acha que alguém como o Moldovan se
comprometeria dessa forma? Ele me ligou e me deu instruções específicas
para ela. Não posso ignorar.
— Ah, sim. E quem se fode depois somos nós, então? Se descobrirem
o que fizemos?
— E quem liga para o que acontece aqui dentro? Quer saber? Deixe
que eu mesmo a levo — resmungou pegando no braço de Cătălina, que
mantinha os olhos arregalados com o teor da conversa. — Escute o que eu
digo... Pior do que infringir um regulamento idiota, é desobedecer a um
conselheiro... — falou, puxando-a por outro corredor.
Ambos subiram algumas escadas e passaram por mais alguns portões
de ferro vigiados. Cătălina observava tudo horrorizada. Se o castelo dos
Constantin tinha um ar meio fantasmagórico, aquele lugar era mil vezes pior.
Escuro e gelado, ela escutava o som de lamentos e gritos ficarem cada vez
mais altos.
Por fim, entraram por uma porta maciça de ferro e ela pôde visualizar
a celas. Olhando para os lados enquanto era arrastada, viu vampiros
esquálidos jogados aos cantos de celas imundas e fedorentas, alguns estavam
grudados nas grades, de olhos vidrados, outros gritavam palavrões e
xingamentos.
As pernas de Cătălina começaram a falhar e ela tropeçou, indo ao
chão. Seu terror era tanto que não conseguia se sustentar.
— Levante-se, vadia! Não tenho todo o tempo do mundo para perder
com você — berrou Iosif, pegando-a pelos cabelos.
— Por favor... por favor... Não faz isso... — implorou desesperada
As lágrimas voltaram a escorrer pelo seu rosto. Ainda não acreditava
que os Constantin haviam permitido que a levassem para aquele lugar. Luca...
Onde estava Luca? Por que ele não fez nada? Por que ele não a salvou? Por
quê? Ele tinha prometido que não a prenderiam...
Moldovan... Foi o nome que ela escutara o guarda falar. Tinha sido
ele o tal conselheiro que havia mandado prendê-la... Moldovan era o
sobrenome de Bass e da noiva de Luca, do pai dela... Um bolo se formou em
sua garganta.
Foi por isso que os Constantin não fizeram nada? Não quiseram se
indispor com o conselheiro? Então era assim que as coisas funcionavam?
Ela não era ninguém para eles, constatou, nem mesmo para Luca...
Uma dor cortante invadiu seu peito, seus olhos nublaram e mal se deu conta
de quando foi empurrada para dentro de uma das celas.
Ficou parada no lugar com o olhar perdido no nada, profundamente
magoada e sem esperanças. Não sabia no que pensar, não sabia o que
aconteceria com ela e também não percebeu um vulto sentado no canto
escuro da cela, observando-a.

A poucos quilômetros dali, Luca recebia uma ligação da irmã


enquanto ele e os demais aguardavam dentro do carro. Nervoso, passou a
mão nos cabelos ao desligar.
— Nina já está lá dentro — disse. — Temos que entrar, temos que
fazer alguma coisa! — exclamou agitado.
— Não basta ter uma ordem de transferência para tirarmos ela de lá,
Luca — lembrou-lhe Bass. — Nossa autorização é para sairmos com Marius
e não com uma garota. Ou acha que eles vão nos deixar entrar nas celas e
pegarmos quem nós quisermos?
— Mas ela pode ser morta a qualquer momento! Não posso perder
ela assim, não posso... Axel, por favor, vamos! Você é forte, sei que podemos
tirar ela de lá.
— Sim, você tem razão. — O Warg o encarou sério. — Eu poderia
acabar com todo mundo e tirar a garota de lá. Mas e depois? Você sabe muito
bem que sua espécie é organizada e poderosa. Acha mesmo que vocês
conseguiriam viver como fugitivos? E quanto à Ivy e aos meus filhos? Nunca
mais teríamos paz.
Luca abaixou a cabeça, colocando-a entre as mãos.
— Desculpe, você está certo, mas eu não aguento isso! Não aguento
essa espera, não aguento mais imaginar o que podem estar fazendo com ela lá
dentro...
— Eu entendo como se sente, rapaz... — voltou a falar Axel com o
pensamento distante. — Mas vamos nos ater ao plano. É nossa melhor
solução.
— E cadê a sua irmã? Merda! — indagou Luca, virando-se para Bass.
— Alícia acabou de me enviar uma mensagem. Está a caminho. O
avião pousou agora há pouco em Sibiu.
Luca socou o painel do carro.
— São mais de duas horas de lá até aqui. — Sua voz saiu em
desespero.
Axel o fitou e teve pena do rapaz. Sim... entendia o desespero dele, já
havia passado por algo parecido, já havia chegado tarde demais uma vez. A
dor de perder alguém amado era absurda, e a culpa que vinha depois, por se
sentir responsável, era pesada demais.
Suspirou... também estava inquieto. Não queria ver o irmão de Ivy
passar por aquilo. Se pudesse, entraria naquele lugar e tiraria a garota à força
de lá, mas teria que matar muitos vampiros no processo, e isso condenaria os
Constantin, condenaria Luca e a sua própria família.
Teriam que esperar...
D entro da cela fria, Cătălina se encolheu em um canto. Só então
reparou que tinha companhia, mas fosse quem fosse, este se
mantinha nas sombras e ela não conseguia ver o seu rosto.
Estremeceu, certamente era um vampiro. Talvez se ela ficasse quieta,
ele não a incomodaria e não perceberia que ela era uma humana.
No entanto, o que os guardas haviam discutido na sua frente ainda a
deixava temerosa. Por que o tal conselheiro tinha sido tão específico em suas
ordens sobre onde deveriam colocá-la? Por que aquele guarda que havia
chegado por último não concordou? Pelo que tinha entendido, ela estava na
ala dos viciados...
Viciados? Vampiros também usavam drogas?
Um pensamento preocupante lhe cortou a mente. Lembrava-se
vagamente de um dia, em uma de suas conversas com Irina, em que ela falou
sobre a imposição das cotas de sangue aos vampiros e sobre isso ser
necessário, uma vez que o sangue humano ingerido em altas quantidades
viciava.
Cătălina sentiu-se gelar. Seu coração começou a bater mais rápido e
um suor frio umedeceu suas mãos. Viciados em sangue... Era isso o que eles
eram! E se estavam em uma prisão, aqueles vampiros também haviam
cometido crimes. Assassinatos, talvez? Subitamente entendeu por que a
tinham colocado naquele lugar. Viciados em sangue e assassinos, não havia
combinação mais perigosa para ela.
Eles a queriam morta, constatou apavorada.
Lembrou-se do canivete dobrável que o vampiro barbudo lhe dera e o
pegou de dentro da calça, segurando-o escondido na mão. Poderia morrer,
mas não morreria sem lutar...
Em determinado momento, a movimentação de seu companheiro de
cela a fez ficar em alerta. O vampiro estava se levantando e, de forma
desajeitada, quase cambaleante, saiu das sombras. Cătălina arregalou os olhos
assustada. Conhecia aquele vampiro!
Era o mesmo que a havia atacado na cozinha dos Constantin. O que
Luca havia dito que era um louco. Não era possível tanto azar... Por que, com
tantas celas, ela foi parar justo na dele? Se ele a reconhecesse, também se
lembraria de que ela era uma humana. Merda!
Com as pernas bambas, levantou-se de onde estava sentada e,
conforme o vampiro se aproximava, ela se afastava, tentando manter uma
distância. Engolindo em seco, abriu o canivete e o segurou com força.
— Está fugindo por quê, moça? — O vampiro estreitou os olhos. —
Sou Marius, e você?
Mesmo que quisesse responder, Cătălina não conseguiria. Sua
garganta estava fechada, os olhos arregalados, o coração a mil.
Marius parou para observá-la melhor. Reconhecia-a de algum lugar...
Sua mente estava confusa desde que fora enviado para a prisão, como se
tivesse sido apagada. Ele sabia que havia sido preso por ter atacado alguém,
mas não se lembrava como ou quem... Mas onde tinha visto aquela garota?
Seria da vila dos Constantin? Forçou a mente tentando recuperar os
buracos de antes de ser preso. Ele havia chegado ao vale não fazia muitos
dias e, desde a última vez que estivera lá, as crianças haviam crescido. Ela
seria uma delas? Talvez fosse alguma amiga da filha de sua vizinha, Irina...
— Você é do vale? — perguntou, mas Cătălina continuou em
silêncio. — Fala alguma coisa, caralho! É muda por acaso? — rugiu e se
aproximou mais, fazendo-a se encostar na parede.
Marius sorriu; em seguida, gargalhou. Aquele esparadrapo no
pescoço da garota... Ela estava machucada. O cheiro que ele percebera era
muito sutil, mas inconfundível. Sangue humano! E não era só isso!
Reconhecia aquele cheiro, já o tinha sentido antes. Sua memória olfativa não
havia sido apagada e isso o fez se lembrar de onde a conhecia. Era a garota
que estava com Luca na casa de Irina. Lembrava-se de tê-la visto e do cheiro
do sangue dela; depois, tudo virava um borrão, mas ele logo imaginou que
devia tê-la atacado e, por isso, fora preso.
— Isso é sério? O que faz aqui, humana? Matou alguém? Algum
vampiro por acaso? — Marius começou a babar e tremer. O estímulo olfativo
lhe excitava e ele desejou aquele sangue.
Cătălina se arrepiou dos pés à cabeça ao ver que o vampiro a tinha
reconhecido e estava com os olhos vidrados nela. Apavorada, correu para o
outro lado da cela, mas Marius a alcançou e, com um puxão, arrancou-lhe o
esparadrapo do pescoço, fazendo o ferimento sangrar novamente.
Ela tentou empurrá-lo, mas não era forte o bastante e o vampiro a
prensou contra a parede, segurando-a pelo pescoço. Um murmúrio se fez
ouvir no corredor, em seguida, gritos. Os vampiros daquela ala ficaram
enlouquecidos por causa do cheiro do sangue e Marius completou sua
transformação, mostrando suas presas.
Cătălina se lembrava do que o outro vampiro havia lhe falado. Que
precisava acertar a têmpora, mas foi tudo muito rápido. Em um segundo,
Marius a estava segurando e, no seguinte, ele cravava os dentes em seu
pescoço. Gritou de dor e, num ato impulsivo, enfiou o canivete abaixo das
costelas do vampiro, o único lugar que alcançava.
De alguma forma funcionou, pelo menos para ele largá-la. Com um
rugido e a boca suja de sangue, Marius se afastou dois passos, colocando a
mão em sua lateral. Cătălina foi ao chão sangrando ainda mais. O vampiro
havia ferido uma veia, mas, diferente de Luca, ele quase havia arrancado sua
carne e o sangue brotava aos montes de seu pescoço.
Com uma das mãos, tentou estancar o ferimento, enquanto a outra
ainda empunhava o canivete. Tendo o coração acelerado pela adrenalina,
levantou-se com dificuldade e escorou-se na parede, suas pernas tremiam, seu
corpo inteiro tremia.
O vampiro, com os olhos violáceos e tomado de fúria, urrou e a
atacou mais uma vez, derrubando-a e fazendo-a largar o canivete. Ele
avançou para mordê-la, mas Cătălina colocou a mão em sua boca, tentando
evitar que o vampiro alcançasse seu pescoço novamente. No entanto, Marius
continuava se aproximando, chegando cada vez mais perto. Ela não era forte
o bastante para detê-lo.
Cătălina tateou desesperadamente o chão em busca do canivete, era
sua única chance. Lágrimas saíam de seus olhos, tinha que encontrá-lo.
Quando achou que não aguentaria mais segurar o vampiro, seus dedos
esbarraram no cabo do objeto afiado e ela, rapidamente, agarrou-o. Com um
grito, empunhou o canivete e, usando de toda sua força, cravou ao lado dos
olhos do vampiro.
Ele paralisou de imediato e ela conseguiu empurrá-lo para o lado,
saindo de baixo dele e se arrastando para o mais longe possível. No chão,
Marius começou a convulsionar e, após alguns segundos, parou,
permanecendo imóvel.
Cătălina observou os olhos estatelados e opacos do vampiro. Estava
morto, finalmente! Um choro nervoso a acometeu, contudo, logo sua mente
começou a se anuviar. Ela estava perdendo sangue, muito sangue...

Alícia entrou no castelo e foi direto para a torre onde se localizava a


enfermaria, lugar que também fazia seus atendimentos. Aquilo era uma
loucura, mas havia prometido ajudar Bass. Não conhecia os detalhes do que
tinha acontecido e por qual motivo seu irmão estava envolvido naquilo, mas
não concordava com o fato de trazerem humanos para Vârful Cârja, era
injusto e cruel demais... Por isso concordou em ajudá-lo.
Primeiro precisava encontrar a suposta garota, depois pensaria em um
jeito de tirar ela dali sem levantar suspeitas. Como psiquiatra, tinha
autorização para entrar na ala das celas, mas precisava pegar o seu crachá e o
seu jaleco.
Ao entrar na enfermaria, encontrou um colega de profissão
cochilando em uma cadeira no canto da sala.
— James, acorda!
— Alícia? — estranhou o vampiro, zonzo de sono. — O que está
fazendo aqui? Não estava viajando?
— Acabei de voltar. Vai para casa, James, deixe que eu fico aqui.
— Mas ainda não deu a hora do seu plantão...
— Não tem problema, tenho algumas coisas para fazer. Vamos! Vá
para casa. Dá para ver que está cansado.
Ele concordou e se levantou, retirando seu próprio jaleco. Impaciente,
Alícia aguardou que ele saísse e, então, ligou para o seu irmão.
— Bass, estou aqui dentro. Vou ver se encontro a garota agora.
— Puta merda, Alícia, finalmente! Estamos uma pilha de nervos aqui
— respondeu Sebastian.
— Estou indo lá, assim que der eu ligo de novo — prometeu,
encerrando a ligação. Em seguida, dirigiu-se para as celas.
O problema era que Vârful Cârja não era uma prisão pequena.
Existiam várias alas. Onde ela estaria?
Não precisou procurar muito. Logo o cheiro do sangue humano
invadiu suas narinas e ela correu. Afobada e temerosa de ter chegado tarde
demais, entrou na ala dos viciados. Os guardas daquele setor já estavam na
cela checando os corpos inertes.
— O que aconteceu aqui? — berrou Alícia, empurrando-os.
— Ao que parece, o prisioneiro tentou atacar a humana e acabou
morto — falou um deles.
— E ela? — Alícia se abaixou ao lado de Cătălina a fim de conferir
os sinais vitais.
Para o seu alívio, a garota ainda estava viva, mas logo percebeu que
ela havia perdido sangue demais.
— Por que uma humana foi colocada com um viciado? — questionou
irritada, rasgando a manga de seu próprio jaleco e colocando-a em volta do
pescoço de Cătălina, a fim de estancar o sangramento. — É contra o
regulamento, idiotas!
— Não sabemos, doutora. Foi Iosif quem a trouxe, não sabíamos que
ela era uma humana.
— Me ajudem a levá-la para a enfermaria, com cuidado! — ordenou.
— E tragam o prisioneiro morto também. Vou fazer o registro do óbito.
— Sim, senhora — falou um dos guardas pegando Cătălina no colo.
Assim que chegaram à torre, Alícia dispensou os guardas e checou
mais uma vez os sinais vitais de Cătălina. Mediu sua pressão e viu que estava
muito baixa, assim como os batimentos cardíacos.
Colocou as mãos na cabeça. A garota precisava de transfusão de
sangue, mas eles não tinham sangue humano ali. Merda! Não daria tempo de
mandar trazer de Sibiu ou de qualquer hospital mais próximo.
Ligou para Sebastian.
— Vocês precisam entrar, agora! — falou. — Cheguei tarde, a garota
foi atacada, mas ainda está viva. Vou deixar uma autorização na portaria para
vocês virem até a enfermaria, mas ainda assim vocês terão que apresentar o
papel com a ordem de transferência de Marius. Venham logo!

Do outro lado da linha, o vampiro ficou branco.


— O que foi? — perguntou Luca com os olhos arregalados, enquanto
Axel já partia com o carro. A audição do Warg era apurada, o que lhe
possibilitou escutar a conversa ao telefone.
— Precisamos ir — respondeu Bass desligando.
— O que aconteceu? — insistiu Luca. — O que sua irmã disse?
— Ela está viva — respondeu Axel, cortando qualquer coisa que
Sebastian pudesse falar. — Concentrem-se nisso!
Luca olhou pela janela do carro. Estavam perto de Vârful Cârja, logo
chegariam. Era para ele estar aliviado com a notícia de que Cătălina estava
viva, mas ele pressentia que havia algo errado. Bass estava muito sério e a
preocupação em seu semblante era evidente. Contudo, Luca não insistiu em
perguntar.
Seu estômago se revirava só de pensar que poderia ter acontecido
algo a ela, tinha medo de desmoronar com a resposta, e ele não podia
desmoronar agora, ou Axel não o deixaria entrar. Respirou fundo, tentando
controlar o nervoso e a ansiedade, pois precisava entrar naquela prisão...
Passaram pelo portão apresentando a ordem de transferência e
estacionaram o carro.
— Acima de tudo, mantenham a calma — falou Axel. — Não deixem
que o emocional de vocês os denuncie. Para eles, nós somos da Força de
Contenção e só viemos buscar um prisioneiro. Então, ajam de acordo.
Os dois vampiros concordaram e eles entraram. Passando do primeiro
portão, foram encaminhados até Iosif.
— Hum... Infelizmente vocês chegaram tarde — falou o inspetor da
prisão com uma ruga entre as sobrancelhas.
— O que quer dizer? — perguntou Axel.
— Tivemos um acidente não faz muito tempo; na verdade, acabei de
tomar conhecimento do caso. O prisioneiro que vocês vieram levar morreu.
— Que tipo de acidente? — perguntou Luca, estranhando a
coincidência.
— Ele foi morto por uma companheira de cela... Enfim, a doutora
está aguardando vocês na enfermaria. Podem levar o corpo se quiserem, ou
deixarem ele aqui para que seja incinerado. Vocês é quem sabem...
— Levaremos o corpo — afirmou Axel.
— Certo. — Iosif chamou o outro guarda. — Acompanhe-os até a
doutora — ordenou.
Não precisaram chegar à torre para os três sentirem o cheiro do
sangue de Cătălina. Luca diminuiu os passos, mas Axel colocou a mão em
suas costas, empurrando-o. O Warg conseguia imaginar exatamente o que o
cunhado estava sentindo: medo, terror e incredulidade. Ele já havia vivido
tudo aquilo e sabia como a sensação era paralisante.
Realmente, Luca só estava conseguindo andar por causa do empurrão
de Axel. Seu coração estava na boca, em sua garganta não passava nem saliva
e seu estômago parecia congelado. O cheiro do sangue dela só confirmava
seus medos, eles haviam chegado tarde... O pânico o dominava, ele queria
correr em direção a ela, queria gritar, mas havia um maldito guarda com eles.
Bass não se sentia muito diferente, apesar de já saber que Nina havia
sido atacada. O medo se tornava cada vez mais profundo, medo de
encontrarem a moça morta.
Ao chegarem na torre, Axel dispensou o guarda e entraram. Alícia
estava ao lado de Cătălina com uma expressão que fez Bass se arrepiar.
Luca correu em direção às duas e, ao ver o estado da garota, irrompeu
em um choro desesperado, debruçando-se sobre seu corpo.
— Nina, não... por favor... — Com as mãos tremendo, procurou sua
pulsação.
Sebastian, chocado, olhou para a irmã interrogativamente, buscando
uma confirmação.
— Ela está viva ainda... — afirmou Alícia. — Eu estanquei o
sangramento, mas ela precisa de transfusão e eu não tenho sangue humano
aqui, infelizmente. Sinto muito, mas mesmo que a levem agora, creio que não
chegarão a tempo em um hospital.
— Caralho de prisão de merda! O que houve, afinal? — perguntou
Bass observando com repulsa o corpo do outro vampiro em outra maca.
— Eles colocaram os dois na mesma cela... Por sorte, ela tinha um
canivete e, por sorte, ela o usou da forma correta, mas... — A psiquiatra
balançou a cabeça em negativa, desacreditada de que a garota sobreviveria.
Axel permanecia em pé observando Cătălina. Sua mente sendo
transportada para dezessete anos atrás, quando não conseguiu salvar alguém
importante para ele. Olhou para Luca e se viu no lugar dele. O desespero, a
dor, a culpa... Ele não precisava passar por aquilo. Aproximou-se do rapaz e
colocou a mão em seu ombro.
— Você sabe o que fazer, Luca...
L uca ergueu o rosto para Axel e assentiu, enxugando as lágrimas. Sim,
ele sabia o que precisava fazer.
Olhou em volta procurando algo cortante e viu o canivete cravado na
cabeça de Marius. Caminhou até ele e retirou o objeto da têmpora, limpou-o
nas roupas do próprio morto e voltou para perto de Cătălina.
— O que vai fazer, Luca? — perguntou Bass com a testa franzida.
Ele não respondeu, apenas passou o canivete no próprio pulso,
provocando um corte.
— Não pode fazer isso! — exclamou Alícia com os olhos
arregalados. — É contra as regras!
— Fodam-se as regras! Ela não vai morrer assim — afirmou Luca
passando o braço por trás das costas de Cătălina e erguendo parcialmente seu
tronco. Encostou, então, o pulso cortado em seus lábios.
O sangue do vampiro fluiu para dentro da boca de Cătălina e ele
torceu para que este descesse direto para o estômago, e não para os pulmões.
— Luca... — falou Bass. — Nina tinha dúvidas quanto a se
transformar... Não sei se... — Ele não conseguiu concluir a frase, porque, na
verdade, ele também não queria que a garota morresse.
Luca aguardou mais alguns segundos e recolheu o seu braço,
deitando Cătălina novamente na maca.
— Não será pior do que morrer — respondeu com um vinco entre as
sobrancelhas.
— Espero que não...
Bass franziu o cenho preocupado. Não era todo mundo que lidava
bem com a transformação, nem mesmo os filhos dos transformados que
podiam optar pela conversão ou não. Alguns entravam em depressão, e Nina
não estava tendo nem mesmo a chance da escolha, mas, ainda assim, pelo
menos ela poderia viver.
Luca segurou a mão de Cătălina e a levou aos lábios. Segundos
depois, o coração dela parou.
— O que acontece agora? — perguntou Axel com o semblante sério.
Ele nunca tinha visto uma conversão.
— Temos que esperar. Em condições normais, ela acordaria em cerca
de uma hora, mas como perdeu muito sangue, pode demorar mais... —
respondeu o vampiro.
— Vocês precisam ir agora! — falou Alícia trazendo alguns sacos
pretos com zíperes de outra sala. — Se demorarem muito, alguém pode
desconfiar. Olha, não sei como aconteceu isso de colocarem os dois na
mesma cela, mas a coincidência de ser justamente ele o morto aqui vai
facilitar muito a nossa vida. Vamos, me ajudem a colocá-los dentro destes
sacos. Para todos os efeitos, vocês estão levando o corpo de Marius embora.
— E o que você vai fazer com ele? — quis saber Axel, apontando
para o vampiro que havia acabado de enfiar no saco.
— Vai para a incineração. Vou trocar as etiquetas e colocar o nome
da garota. Ninguém vai desconfiar, ele está com o cheiro do sangue da
humana e o saco sai daqui sempre lacrado. Escutem... eu vou preencher os
relatórios e os registros de óbito, inclusive aqueles que irão para os órgãos
oficiais. Então, vocês terão que providenciar novos documentos para ela,
entenderam? Porque Cătălina morreu hoje aqui!
— Entendido — respondeu Luca beijando a testa de Cătălina e
fechando o saco onde ela estava.
Os dois vampiros a transferiram para uma maca, enquanto Bass e
Axel se prontificavam de carregá-la.
— Obrigado — disse Luca à psiquiatra.
— Não foi nada, se cuidem. Bass... foi bom te ver.
O vampiro loiro sorriu.
— Também gostei de te ver, maninha. Obrigado pela ajuda — disse
piscando e saindo pela porta, carregando a maca.
Eles desceram até a entrada principal e estavam aguardando abrirem
os portões quando Iosif apareceu com uma cara deslavada.
— Digam ao Sr. Constantin que lamentamos muito o incidente.
— Sim. — Voltou-se Luca, com ira no olhar. — Diremos também as
causas do incidente.
— Não sabíamos que a garota tinha um canivete — justificou-se o
guarda.
— Mas, em primeiro lugar, ela não deveria estar lá, não é? É muito
estranho uma humana ser colocada na mesma cela de um vampiro. Tenho
quase certeza de que o Sr. Constantin irá contatar o diretor daqui para pedir
averiguações. Afinal, ele havia mandado este vampiro para cá para
reabilitação por conta do vício, não para ser morto.
O inspetor perdeu a cor.
— Então, por favor, peçam para que ele fale antes com o Sr.
Moldovan.
— Por quê?
— Porque foi o conselheiro quem me pediu pessoalmente para que
colocasse a humana em uma cela com um vampiro. Infelizmente, foi este aí
— apontou para o saco.
— E vocês fizeram isso mesmo sendo contra o regulamento da
prisão? — Luca queria voar no pescoço daquele guarda, mas cerrou os
punhos para se conter.
— Era um conselheiro que estava dando a ordem, porra! Não
podemos ignorar algo assim.
— Muito bem — cortou Axel, impaciente. — Os conselheiros que se
entendam depois. Vamos embora!
Os três saíram do prédio e colocaram Cătălina no banco de trás do
carro, tirando-a do saco. Luca se sentou com ela e acomodou a cabeça dela
em seu colo.
— Vamos voltar para o castelo? — perguntou Bass.
— Não — respondeu Axel. — Alguém poderia vê-la e a notícia
poderia se espalhar e cair nos ouvidos do Moldovan.
— Maldito! — resmungou Luca.
— Para onde vamos, então?
— Para minha cabana — falou o Warg.
Luca o olhou surpreso.
— Pensei que iríamos para Sibiu ou Bucareste — comentou.
— Não. Até vocês providenciarem novos documentos para ela, é
melhor que a garota fique escondida. Se quiserem que ela saia do país, posso
levá-la para Nova Iorque ou Londres, mas também terão que mandar fazer o
passaporte dela. Depois, posso cuidar do visto.
— Certo... Preciso que me deixem no castelo primeiro — falou Luca
com um semblante abatido.
— E eu preciso pegar minhas cotas de sangue — emendou Sebastian.
Em seguida, virou-se para o banco de trás. — Espere! Como assim, te deixar
no castelo? Não vai com a gente?
— Não..
— Por que não?
— Porque preciso deixar ela ir, Bass... Não quero mais colocá-la em
perigo. Não posso manter Nina comigo ou perto de mim. Se o seu tio
desconfiar de que ela está viva, irá mandar caçá-la e pode ter certeza de que
não será para devolvê-la à prisão.
— Pretende mesmo abandonar a Nina? — indagou, estupefato.
Luca suspirou.
— Quero que cuide dela, Bass. Pode fazer isso?
Sebastian abriu a boca, pasmo.
— Você tem noção do que está me pedindo?
— Tenho. — Luca cerrou os punhos. — Sei que você gosta dela, sei
que vocês se dão bem e sei que você poderá ajudá-la...
— Luca...
— Você queria uma chance com ela, não queria? — A voz do
vampiro saiu ríspida. — Pois bem! Essa é a sua chance! Caralho!
— Você vai acabar se arrependendo dessa decisão — avisou Bass
com uma ruga entre as sobrancelhas.
— Vou me arrepender se acontecer algo de ruim com ela! Não
entende isso? — berrou Luca. — Depois que conseguirmos tirar Nina daqui
da Romênia, será mais tranquilo, e... — Inspirou fundo. — Escute, eu só
quero que ela viva em paz, Bass. Quero que ela fique segura.
Axel, que se mantinha calado, observou o cunhado pelo retrovisor.
Era uma decisão difícil aquela que ele estava tomando, mas fazia sentido.
Manter qualquer relacionamento com a garota neste momento seria um
perigo, principalmente para ela.
— E o que vai fazer em relação ao meu tio, ao noivado e à Natasha?
— quis saber Bass.
Luca olhou para fora pensativo. Havia uma chance de Natasha
conseguir convencer o pai dela a aceitar o rompimento do noivado, mas nada
era certo, ainda mais se tratando de Gheorge Moldovan, por isso achou
melhor não dizer nada. Não era algo com que realmente pudesse contar.
Maldito Moldovan! Nunca sentira tanto ódio por uma pessoa.
— Eu gostaria de poder acabar com tudo isso e dizer um foda-se bem
grande na cara daquele maldito. — A voz de Luca saiu baixa. — Mas o seu
tio, além de me ameaçar de morte, caso eu cancele o compromisso, também
ameaçou minha família... Se fosse só comigo, eu encarava. Mas não tenho o
direito de colocar meus pais em risco.
— Típico dele... Eu te disse que, tirando a minha irmã, eu tenho uma
família de merda, não disse?
— Natasha também não fez nada de errado...
— Não... não fez... — Bass franziu as sobrancelhas apreensivo.
Refletia se não teria sido melhor se eles tivessem permanecido brigados. Pelo
menos, ele não estaria sentindo aquela dor incômoda agora, a dor de não
poder ficar com ela.
Pouco mais de uma hora depois, chegaram ao castelo.
— Escutem, vocês dois... Quanto menos gente souber que
conseguimos resgatar a garota melhor — falou Axel.
— Sim... mas vou ter que contar ao meu pai. É ele quem tem os
contatos para fazer os novos documentos para ela... — respondeu Luca.
Axel assentiu e saiu do veículo com Sebastian que precisava buscar
suas coisas e aproveitaria para pegar as da garota.
Luca permaneceu no carro com Cătălina. Ela ainda não dava sinais de
que iria acordar, o que o deixava inquieto. Esperava apenas que a quantidade
de sangue que havia lhe dado tivesse sido o suficiente.
Observando-a com ternura, passou os dedos entre os cabelos dela
emaranhados de sangue seco e deixou que uma lágrima caísse.
— Sinto muito, minha pequena... Sinto tanto... Se eu pudesse voltar
no tempo, se eu pudesse ter feito diferente... Eu nunca quis te machucar, eu
nunca quis que você sofresse. Eu te amo... Por favor, me perdoe... Me perdoe
pelo que te fiz passar, me perdoe por não ter te escolhido, por não ter te
protegido. — Ele abaixou a cabeça e encostou a testa na dela. — Me perdoe
por te abandonar agora... Me perdoe, meu amor, porque sei que eu nunca irei
me perdoar pelo mal que te causei... — Luca levantou o rosto e deu um beijo
suave nos lábios dela.
— Luca... — ela murmurou, abrindo os olhos...
O vampiro sorriu e lhe contornou o rosto com os dedos suavemente.
Seus olhos se tornaram, então, violáceos.
— Me perdoe, Nina... — disse ele mais uma vez e, em seguida,
entrou na mente dela.
Com cuidado, ele foi suprimindo, uma a uma, as lembranças que ela
tinha dos dois juntos desde que começaram a se relacionar, todos os
momentos íntimos, as conversas na cama, as discussões...
As lágrimas voltaram, mas ele as enxugou e continuou, deixando
apenas o necessário para que ela entendesse por que ela estava ali e qual era
sua nova condição. Certamente algumas coisas ficariam sem explicação e não
fariam sentido, mas isso poderia ser justificado por uma amnésia decorrente
do trauma.
Sentia-se mal e com o coração apertado por invadir e alterar as
memórias da garota que amava, mas não sabia se um dia conseguiria voltar
para ela. Por isso, estava certo de que o melhor para Nina seria ela não se
lembrar mais de seu amor por ele. Assim, ela não sofreria com a separação,
não sofreria mais por ele e poderia ser feliz, mesmo que fosse com Bass ou
qualquer outra pessoa.
O importante era deixá-la com o coração livre, sem o peso daquele
amor. Arrasado, mas ainda com o controle sobre a mente de Cătălina, Luca a
fez adormecer novamente.
— Seja feliz, pequena... Eu te amo... — Mais lágrimas vieram e ele
as deixou cair.
Luca permaneceu com ela por mais alguns minutos, contemplando-a;
então, tirou ela de seu colo e a acomodou no banco. Deu-lhe mais um beijo
na testa e saiu do carro, encostando-se na porta.
Abatido, levantou os olhos para a grande construção de pedra à sua
frente. Aquele era o seu legado, a sua sina, o seu carma pessoal. Nunca
imaginou que lhe pudesse custar tão caro ser um Constantin.
Nunca imaginou que em pouco mais de um mês sua vida poderia se
revirar tanto. Nunca imaginou que poderia se apaixonar...
Flocos de neve começaram a cair e ele inclinou o rosto para trás,
fechando os olhos. Enquanto esteve dentro da mente de Nina, ele percebeu
como ela e Bass eram amigos. Ela precisaria dele agora, por isso, manteve as
lembranças entre os dois quase intactas, suprimindo apenas aquelas em que
eles o mencionavam. Uma pontada cortou seu peito. Agora Nina estava livre
para Bass e, certamente, ele se aproveitaria disso, mas talvez ele pudesse
fazê-la feliz...
O que realmente o surpreendeu foi descobrir que o amigo já tinha
sido apaixonado pela prima. Por que ele não havia lhe dito aquilo? Por que
esconder tal coisa? Será que ele ainda sentia algo por ela?
Endireitou-se a tempo de ver Axel voltando do castelo, seguido por
Bass. Seja lá o que se passasse no coração dele, aquela conversa teria que
ficar para outra hora.
O Warg entrou no carro e Sebastian colocou algumas malas no porta-
malas.
— Você vai ficar bem? — perguntou o loiro.
— Vou... Bass, me promete que vai cuidar dela.
— Prometo, Luca, relaxa.
— Tem uma coisa que você precisa saber... Ela não vai se lembrar de
que nós tínhamos um relacionamento amoroso.
— Como assim? — Bass olhou dentro do carro. — Ela acordou?
Você mexeu na mente dela?
— Ela acordou, mas eu a fiz dormir de novo. E, sim, eu mexi nas
lembranças dela. Caso ela não entenda algumas coisas, diga que é por causa
do trauma que ela sofreu.
— Luca... você não devia ter feito isso. São as lembranças dela,
cara... o que ela viveu com você... Ela te ama!
— Eu sei... mas vai ser mais fácil para Nina começar uma nova vida
sem o peso desse sentimento. — Ele colocou a mão sobre o ombro do amigo.
— O caminho está livre para você, Bass. Apenas não a magoe como eu a
magoei. Faça ela feliz, por favor...
— Não é assim que os sentimentos funcionam...
Luca sorriu de lado.
— Eu vi as memórias de vocês dois juntos e sei que você é capaz de
dar à Nina o que eu não pude. — O vampiro inspirou fundo. — É melhor
vocês irem agora. Enviarei os documentos assim que ficarem prontos e
também incluirei o nome dela no banco de cotas de sangue como uma
transformada. Escute... não devolva as lembranças dela, okay?
— Okay... — O vampiro franziu o cenho. — Se cuida você também.
— Estendeu a mão para Luca e o puxou para um abraço; em seguida, entrou
no carro. — Para onde vamos? — perguntou Bass a Axel.
— Para Putna — respondeu o Warg dando a partida no motor.
Luca permaneceu no lugar, observando o veículo descer a colina e
sumir na curva da estrada. Sentia-se vazio, seu coração parecia estilhaçado e
uma dor imensa sufocava seu peito.
Voltou para dentro do castelo cabisbaixo. Sua mãe lhe veio ao
encontro para tentar conversar, mas ele só balançou a cabeça negativamente e
subiu direto para a torre. Naquele momento, precisava ficar sozinho com a
sua dor.
Entrou no quarto de Cătălina e, desolado, observou o armário aberto
sem as roupas da garota. Olhou em volta procurando por algo que pudesse
lhe servir de lembrança, que pudesse indicar que ela havia estado ali, mas não
havia mais nada.
Abriu o criado-mudo e levou um choque. A pulseirinha de prata que
ele havia lhe presenteado no Natal estava ali.
O jovem médico deitou-se na cama com o objeto entre os dedos e
seus olhos umedeceram novamente. Ele estava profundamente aliviado por
Nina estar salva, mas também se sentia imensamente triste.
Não conseguiu evitar que as lágrimas começassem a rolar
abundantes. Lágrimas por tudo o que havia feito de errado, lágrimas por todo
sofrimento e medo que Nina havia passado desde que entrara naquele castelo.
Seu coração estava despedaçado.
Beijou a pulseirinha e a trouxe junto ao peito. Reconhecia que as
chances dele voltar a ser livre eram poucas, as chances de Nina perdoá-lo
eram poucas, mas não desistiria. Esperaria a poeira assentar e, caso Natasha
não tivesse sucesso em fazer o pai dela aceitar o fim do noivado, ele mesmo o
procuraria e, se fosse preciso, daria um jeito de acabar com a raça daquele
desgraçado.
E se, por algum milagre, ele próprio não acabasse morto no processo,
quem sabe um dia poderia ter de volta o seu amor...
C ătălina abriu os olhos e não reconheceu onde estava. Como uma
avalanche, os últimos minutos que ela vivenciou na cela da prisão lhe
vieram à mente e ela se sentou assustada, olhando para as vestes
ainda cobertas de sangue.
Bass se virou no banco da frente do carro para olhá-la.
— Oi, princesa! Relaxa, está segura agora.
— Bass? — Ela colocou a mão em seu pescoço, onde havia sido
atacada e notou que havia uma faixa enrolada nele. — O que aconteceu?
Como conseguiu me tirar de lá?
— É uma longa história. Mais tarde conversaremos sobre isso.
Cătălina olhou para Axel e o reconheceu, mas sua mente estava
confusa. Lembrava-se de tê-lo visto uma vez da janela da torre, sabia que ele
era casado com a filha do senhor do castelo e era um homem meio lobo, mas
não se lembrava de quem havia lhe dito aquilo.
Talvez Irina, ou Bass, ou mesmo Luca...
Luca... Ela franziu as sobrancelhas. Era estranho... Apesar do médico
ter sido responsável pelo acolhimento dela no castelo, as lembranças de
conversar com ele estavam meio nubladas. Por quê?
Esforçou-se, tentando puxar as memórias sobre ele, mas pouca coisa
veio. A cerimônia de batismo... Sim, Luca estava lá, inclusive tinha
convertido Irina. Também jantara com ele no Natal... Um friozinho passou
por seu estômago. Ele a havia retratado em um quadro? Lembrava-se de algo
assim, mas não se lembrava dos detalhes, teria sido um sonho?
Um sentimento estranho invadiu seu coração. Uma tristeza que ela
não sabia de onde vinha. Balançou a cabeça. Por que seus pensamentos
estavam tão confusos?
— Bass? Estamos voltando para o castelo? — quis saber.
— Não, Nina. Você não pode mais voltar para lá... Nós te tiramos
escondida da prisão. Ninguém pode saber que você saiu. Aliás, para todos os
efeitos, você morreu lá esta noite. Luca vai conseguir documentos novos para
você.
Cătălina arqueou as sobrancelhas. Não sabia o que havia acontecido,
mas o importante é que estava viva. Como? Também não tinha ideia, pois
acreditava que morreria naquele lugar. Tocou seu pescoço novamente. Achou
estranho o ferimento não doer, estava apenas com sede, muita sede.
— Vocês têm água?
Bass suspirou. Sim, ele tinha água, mas sabia que não era sede de
água que ela tinha. De qualquer forma, pegou a garrafinha e entregou à
Cătălina. Esperaria até chegarem na cabana de Axel para lhe explicar o que
realmente havia acontecido com ela.
Franziu o cenho, receoso de como a garota iria receber a notícia.
Cătălina bebeu a água, mas ainda permaneceu com sede. Olhou
novamente para Axel. Ele ainda não havia aberto a boca para falar, era bem
estranho aquele sujeito...
— Para onde estamos indo?
— Para um lugar isolado — respondeu Sebastian. — Vamos ficar lá
até seus documentos novos ficarem prontos e podermos te tirar do país.
— E as minhas roupas? — perguntou preocupada. — E o seu
emprego no hospital?
— Isso é o de menos... Depois que as coisas se ajeitarem, eu volto.
Suas coisas estão no porta-malas. — O vampiro sorriu. — Tente descansar,
Nina. Ainda temos algumas horas de viagem.
— Okay. Obrigada por terem me tirado daquele lugar. — Cătălina
sorriu também e voltou a se deitar no banco. Além da sede, sentia-se fraca e
ansiosa, mas tentaria dormir um pouco.
Ainda não havia amanhecido quando chegaram à cabana. Cerca de
vinte minutos antes, eles haviam passado por uma pequena cidadezinha,
quase tão minúscula quanto Brezoi, sua cidade natal; em seguida, pegaram
outras duas estradas. A última os levou literalmente para o meio do mato e a
cabana ficava ao pé de uma grande montanha.
Saíram do carro e Cătălina observou o entorno. Apesar de ainda estar
escuro e estar tudo coberto de neve, ela conseguia enxergar perfeitamente.
Olhou para o céu à procura da lua, mas não a encontrou. Estranhou, como
podia enxergar tão bem à noite? Voltou sua atenção para o lugar e reparou
que parecia ser bem bonito e, realmente, era isolado.
Enquanto Bass pegava as malas, Axel foi abrir a porta. Cătălina
acompanhou o rapaz de cabelos platinados e, de imediato, gostou do ar
rústico da cabana. Era simples, mas aconchegante.
— Você pode se acomodar no primeiro quarto à esquerda — disse
Axel a ela. — Sebastian, você dorme no porão até eu ir embora, depois pode
ficar com o meu quarto.
— E você pretende voltar quando para o castelo? — perguntou o
vampiro.
— Amanhã. Já faz um tempo que eu não venho nesse lugar. Tenho
que dar uma olhada por aí, ver se está tudo em ordem. Vou retornar à cidade
agora, preciso pegar minhas correspondências e comprar provisões para
vocês.
— E como faremos se tivermos que sair daqui depois que você for
embora? — Quis saber Bass com uma ruga na testa.
— Vocês ficam com esse carro, é alugado. Quando forem embora é
só devolvê-lo no aeroporto. Eu voltarei para o castelo de moto, tenho uma na
garagem.
Axel saiu novamente e Sebastian resolveu acender a lareira. Cătălina
levou suas coisas para o quarto e, em seguida, foi até o banheiro. Precisava se
limpar com urgência. Estava imunda, coberta de sangue seco e se sentia
agoniada com isso.
Após tomar um banho e jogar fora suas roupas sujas, olhou-se no
espelho e, com cuidado, desenrolou a faixa em seu pescoço. Surpreendeu-se
ao ver a marca do ataque praticamente cicatrizada. Sentiu-se aliviada. Pelo
visto, o estrago tinha sido bem menor do que pensara. Deu de ombros e
resolveu dar uma volta pela cabana.
O lugar não era muito grande, tinha dois quartos, um banheiro, a
cozinha era integrada à sala, mas, para sua surpresa, mesmo sendo uma
cabana rústica, era modernizada, com micro-ondas, máquina de lavar e secar
e um sistema de aquecimento. No entanto, o que mais a impressionou foi o
porão dividido entre uma área para assistir TV e outra cheia de livros e coisas
antigas. Com um sorriso no rosto, voltou para a sala.
— Cabana legal essa! — Cătălina sentou-se no sofá pensativa. —
Bass... Já tomei mais de um litro de água e minha sede não passa. É por causa
do sangue que eu perdi?
O vampiro a olhou de forma séria e se aproximou, sentando-se ao
lado dela.
— Muito bem, precisamos conversar... — Ele pegou a mão de
Cătălina e a colocou entre as suas. — Aconteceu uma coisa com você na
prisão e nós tivemos que tomar uma decisão, uma decisão urgente.
Ela o olhou com estranhamento.
— O que aconteceu?
Sebastian suspirou, tomando coragem para revelar a verdade à garota.
— Você estava prestes a morrer, Nina... Havia perdido muito sangue,
não tinha como te salvar. Não daria tempo de chegar a um hospital.
Cătălina arregalou os olhos.
— Então como sobrevivi?
— Eis a questão... Você só está aqui agora porque foi transformada.
Na verdade, Nina, você morreu como humana, mas voltou... como uma de
nós.
Ela abriu a boca, pasma, e se levantou, encarando-o assustada.
— Como assim fui transformada? Está dizendo que eu... que eu sou
uma vampira agora? É isso o que está dizendo, Bass?
— Sim...
Ela colocou as mãos sobre a boca e começou a andar de um lado para
o outro, sem acreditar no que tinha ouvido. Uma vampira? Não... ela não
queria ser uma vampira. Em um gesto automático, segurou sua correntinha
com o crucifixo.
Sebastian se levantou também e a abraçou, fazendo-a parar de andar.
— Sinto muito, Nina. Não havia outra alternativa. Ou a gente
transformava você ou você morreria. Não podíamos deixar isso acontecer...
Sinto muito, de verdade...
Ainda em choque, Cătălina o empurrou e, num ato impulsivo, foi até
a porta da cabana.
— Nina!? — chamou o vampiro.
Sem dar ouvidos, ela abriu a porta e saiu para o pátio coberto de
neve. Precisava de ar, precisava respirar. A luz do sol, que havia acabado de
nascer, incomodou-a e ela estreitou os olhos.
— Não se exponha ao sol — avisou Bass da porta da cabana. —
Vocês, transformados, são mais resistentes do que nós, vampiros puros, mas
ainda assim precisam de proteção.
Ela o olhou com raiva. Ainda não acreditava que era uma vampira.
Não podia ser... Voltou para a cabana pisando duro.
— Como puderam fazer isso comigo? — indagou ao passar pelo
vampiro.
— Era isso ou a morte. Você preferia a morte, Nina?
Ela engoliu em seco e voltou a se sentar no sofá, sentia medo e seu
coração batia acelerado, mas batia... Não, ela não queria ter morrido.
— Vou... vou ter que beber sangue?
— Sim, vai... Essa sede que você está sentindo é o seu corpo pedindo
por sangue.
— Não posso, Bass. Não quero! Não quero beber sangue!
— Não vai conseguir resistir, princesa. Sua sede vai aumentar cada
vez mais e você vai querer.
— Não, não... — Seus olhos se encheram de lágrimas e ela abraçou o
próprio corpo.
Bass voltou a se aproximar dela e se agachou à sua frente.
— Não é tão ruim assim, Nina. Se acalme... Se fosse ruim, Irina e os
outros não teriam escolhido a conversão.
Cătălina lembrou-se de Irina e de algumas de suas conversas com ela.
Entendia o que Bass estava lhe dizendo, conhecia as vantagens de ser uma
vampira, mas nunca se imaginou naquela situação, ou talvez sim? Uma
dúvida se instalou em sua mente. Já havia pensado sobre aquilo? Não se
lembrava, mas não lhe parecia um assunto estranho.
Balançou a cabeça em negativa. Devia ter sonhado... Transformar
humanos era proibido... Ela voltou a encarar o vampiro.
— Eu bebi o seu sangue? — perguntou ela. — Para que você pudesse
me converter?
— O meu, não. O do Luca.
— Luca? — Ela estranhou. — Ele estava lá? Na prisão?
— Sim. Foi ele quem te transformou. Depois tivemos que deixá-lo no
castelo para que ninguém desconfiasse que nós estivemos na prisão —
explicou Bass, omitindo o fato do amigo ter escolhido se afastar.
— Então ele é o meu padrinho?
O vampiro sorriu e se sentou ao lado dela novamente.
— Sim, ele é.
— Bass... tem algo errado com a minha mente... Tem coisas que eu
me lembro bem, mas tem outras que parecem estar faltando. Eu me lembro,
por exemplo, de que fui à festa de Ano Novo com você, mas não me lembro
de ter ido embora. Sei que o noivado de Luca aconteceu, mas não me lembro
de nada daquele dia, é como se ele não tivesse existido. No entanto... eu me
lembro de estar no seu quarto quando aqueles guardas vieram me buscar... E
eu não sei o que estava fazendo lá.
— Não se preocupe com isso, Nina. Você sofreu um trauma... O
importante é que está bem... É uma vampira agora, mas está viva! Isso é o
que importa...
Cătălina o fitou em dúvida.
— Bass... Nós... nós transamos? — perguntou constrangida. —
Desculpe, eu não me lembro...
— Não, princesa, fique tranquila. Não transamos. — Sebastian sorriu.
— Então, por que eu estava lá?
— Porque você estava se sentindo sozinha e eu te levei para o meu
quarto para conversarmos. Só que você acabou machucando o braço e achei
que seria melhor você permanecer lá para ninguém sentir o cheiro do seu
sangue.
Bass sentia-se mal por ter que dizer meias-verdades à garota, mas era
o que ele podia fazer já que as lembranças dela haviam sido alteradas e Luca
não queria que ela soubesse a verdade. De certa forma, ele achava que o
amigo tinha razão... Nina estaria sofrendo muito mais se ainda tivesse que
lidar com um coração partido naquele momento.
Quem sabe, mais para frente pudessem lhe devolver as lembranças
sem tantos traumas para lidar.
— Você sempre brincou com esse assunto de me seduzir, mas nunca
tentou realmente... Por quê, Bass? Não sou o seu tipo? Não sou atraente para
você?
Cătălina se esforçava para se lembrar de algumas coisas, mas não
conseguia. Ela sabia que o rapaz à sua frente era um mulherengo, um sedutor.
Alguém havia lhe falado aquilo, mas era uma voz sem rosto.
O vampiro riu.
— Ah, Nina... É claro que você é atraente para mim. Eu só... Eu
prometi a Luca que não ia forçar a barra com você.
— Entendi... — Cătălina baixou os olhos. Era estranho, mas sempre
que ela ouvia o nome do Luca, uma tristeza tomava conta dela. Suspirou. —
Mudando de assunto... Bass, eu não vou conseguir beber sangue, é nojento!
Ele riu novamente.
— Não se preocupe com isso... Essa sua má impressão vai
desaparecer no momento em que você ver o sangue.
— Duvido...
Sebastian se levantou com um sorriso e pegou uma das caixinhas de
sua própria cota de dentro da mala.
Como a sala era integrada à cozinha, Cătălina ficou observando ele
retirar um copo do armário e despejar o conteúdo vermelho dentro dele.
Arregalou os olhos. Sua boca começou a salivar e ela se agarrou ao sofá,
aquele cheiro a atraía de uma forma absurda.
O vampiro caminhou até ela e posicionou o copo bem à sua frente.
Cătălina pôs a mão na boca e balançou a cabeça, negando, mas não conseguia
tirar os olhos daquele líquido vermelho.
— Não resista, Nina. Não vai adiantar... Você quer isso, não quer?
— Eu... eu não quero, mas eu quero... Eu não sei...
— Beba. — Ele aproximou ainda mais o copo de seu rosto e ela
fechou os olhos.
Cătălina escutava o som de seu próprio coração. A boca salivava,
mas sua garganta estava seca. Apreensiva, abriu lentamente os olhos; o cheiro
do sangue a instigava e ela se viu sedenta pelo líquido. Lentamente, ela
estendeu a mão para o copo e o tomou de Bass. Incapaz de ir contra seus
desejos, encostou-o na boca e bebeu um pouco.
Olhou para o vampiro e virou o resto do copo. Ao mesmo tempo que
a sua mente lhe dizia que aquilo era nojento, o seu corpo pedia por aquele
sangue e a impressão que tinha era como se estivesse bebendo um delicioso
suco. Sua sede foi saciada e, rapidamente, ela sentiu seu cansaço ir embora,
como se tivesse ganhado novas energias.
— Viu? Não foi tão ruim... — Bass piscou, retirando o copo das
mãos dela.
— Não... não foi... Mas, esse sangue que você me deu é da sua cota,
não é? Pelo que eu me lembre, vocês têm cotas mensais. Como conseguirei
sangue para mim?
— Por enquanto, dividirei minhas porções com você. Luca irá
providenciar a inclusão do seu nome em nosso banco de dados e logo
poderemos pegar as suas próprias cotas. — O vampiro voltou a se acomodar
ao lado dela.
— Certo... — Cătălina encostou a cabeça no ombro de Bass. — Eu
confesso que estou com medo disso de ser uma vampira. Acho que essa ideia
ainda não me entrou direito na cabeça... Mas obrigada por me ajudarem... —
Ela suspirou. — Como vocês conseguiram me tirar da prisão?
Bass segurou na mão dela e contou o que havia acontecido desde que
ela fora levada do castelo, tomando o cuidado de não mencionar o estado de
desespero em que Luca havia ficado.
Não iria ser fácil não falar sobre Luca enquanto estivessem ali. Não
iria ser fácil esconder a verdade dela, mas, por hora, não havia outro jeito.
Axel chegou com as provisões e Sebastian aproveitou para dormir um
pouco. Cătălina, por sua vez, desceu até a minibiblioteca no porão da cabana
e escolheu um livro para ler.
No dia seguinte, o Warg foi embora e os vampiros ficaram sozinhos.
— Não se preocupe, Nina. Ficaremos bem — falou Sebastian ao
perceber que ela estava incomodada com o isolamento do lugar. — Assim
que seus documentos chegarem, sairemos daqui.
— Sim... eu sei... Você acha que realmente ninguém vai vir mais
atrás de mim?
— Não. Pouca gente sabe que está viva. Somente nós e os
Constantin. Nem mesmo Irina sabe, ou Natasha... Para elas, você morreu em
Vârful Cârja.
Um sentimento de pesar invadiu o peito de Cătălina. Era estranho
pensar que ela, como humana, como Cătălina Petran, não existiria mais...
— Como será o meu novo nome?
— Não faço ideia. — Bass sorriu. — Saberemos em breve.
Ela se aproximou do vampiro e o abraçou.
— Estou com medo, Bass... Não sei se vou conseguir lidar com isso
sozinha.
— Não está sozinha, princesa. — Ele acariciou os cabelos dela. —
Eu prometi cuidar de você, e vou cuidar...
Um sentimento quente invadiu o coração de Sebastian. Ele nunca
havia sido responsável por ninguém, mal dava conta de si mesmo. Mas,
agora, ele tinha alguém para proteger e cuidar. Alguém de quem gostava...
Não era o mesmo amor que sentia por sua prima, mas era mais do que
esperava sentir por qualquer outra garota.
Se ele conseguiria fazer Nina feliz, como Luca havia pedido? Isso ele
não sabia, mas tentaria...
Romênia, março de 2018 (2 meses depois)
stá pronta, Nina? Temos que ir, temos uma longa viagem até
—E Bucareste.
— Sim, só um minuto! Como estou? — perguntou ela ao
aparecer na porta com o vestido de lã cor de creme que havia ganhado de
Mirela.
— Linda! — Sebastian sorriu e a ajudou a vestir o casaco.
— Acha que dará tudo certo?
— Sim, não se preocupe, Nina Danilova.
Ela sorriu e saíram.
— Ainda não me acostumei com esse nome — disse ela, entrando no
carro.
— Como não? Agora seu apelido virou seu nome de verdade, só o
seu sobrenome mudou.
— Eu sei, mas... ainda é estranho ver os meus documentos sem o
“Petran”.
— Vida nova, casa nova, nome novo. Logo você irá se acostumar,
não se preocupe.
Eles saíram da cabana e Nina deu uma última olhada naquele lugar
que havia sido sua casa por dois meses. Sentiria saudades, não se lembrava de
ter vivido dias tão tranquilos e em paz quanto aqueles que passara ao lado de
Bass.
— Pegou os documentos? — perguntou ele.
— Sim. Está tudo aqui. — Nina mostrou a pasta. — Precisava de
tanto papel assim?
— Se fosse só um visto de turista, não, mas para tirar o visto de
trabalho é preciso. Os americanos são muito exigentes. Além disso, aí tem
dois processos, o meu e o seu.
O vampiro deu a partida no carro e se pôs a caminho da capital da
Romênia.
— Obrigada por me acompanhar, Bass.
— Não precisa me agradecer. Eu estava precisando mudar de ares
mesmo. Acho que trabalhar com o Rob e o pai dele em Nova Iorque vai ser
uma boa experiência.
— Bass... Como eu vou trabalhar no hotel de Axel se eu não sei falar
inglês muito bem?
— Nisso ele dá um jeito, Nina. Você não precisa trabalhar com o
público de início, e tenho certeza de que em pouco tempo você aprenderá a
língua.
Depois de quase sete horas de viagem, eles finalmente chegaram à
Bucareste. Nina arregalou os olhos e se admirou com a capital. Nunca havia
estado em uma cidade tão grande e nunca tinha visto tantos carros ao mesmo
tempo na vida.
Como já havia anoitecido, eles seguiram direto para o hotel.
— Está com fome? — perguntou Bass ao entrarem no quarto.
— Morrendo de fome! — Nina jogou a bolsa na cadeira e se deitou
em uma das enormes camas. — Isso aqui era para ser cama de solteiro?
Sebastian riu.
— É normal alguns hotéis terem essas camas grandes. Quer sair para
comer ou prefere jantar por aqui?
— Ah, aqui, por favor! Estou exausta! Preciso de um banho — falou
ela se levantando e pegando algumas roupas na mala.
— Está bem, vou pedir alguma coisa. Amanhã a gente janta fora!
— Certo.
Nina entrou no banheiro e logo o barulho da ducha se fez ouvir. Bass
deu um sorriso e pegou o interfone. Pediu dois lanches e uma garrafa de
vinho. Estava cansado da viagem também e precisava relaxar.
Contudo, também estava agitado. Fazia meses que ele não vinha para
Bucareste e estava animado para mostrar a cidade à garota, a vida noturna, os
bares, as boates... mas teriam tempo para isso. No dia seguinte, fariam a
entrevista no consulado e, como os vistos demoravam alguns dias para serem
aprovados, poderiam curtir a cidade nesse meio tempo. Assim que tivessem
os passaportes em mãos novamente, embarcariam para Nova Iorque.
Abriu sua mala e pegou uma das caixinhas de sangue da sua cota.
Observou-a, pensativo.
Quando buscou suas coisas no castelo, acabou se esquecendo de
pegar o livro que Luca havia lhe dado sobre como controlar o vício. O tal
programa era composto de fases, e ele ainda estava começando a primeira
quando houve toda aquela confusão com Nina. Como não tinha ideia de
como continuar, desistiu temporariamente até resolver sua situação.
Infelizmente, ainda precisava suprir o que faltava de suas cotas, por
isso continuou usando sua costumeira técnica de sedar e retirar o sangue
fresco de suas vítimas com uma agulha. Contudo, a cidade mais próxima da
cabana era minúscula, então, para não se arriscar, dirigia por uma hora até
uma cidade maior e lá conseguia o que queria.
Retirou o lacre da caixinha e ingeriu todo o conteúdo de uma vez.
Amassou-a e a jogou no lixo, frustrado.
O que havia começado meses atrás como uma diversão, agora lhe era
um peso na consciência, e ele se sentia mal com aquilo. Apesar de não ferir
ninguém, reconhecia que estava se aproveitando da boa-fé das garotas. Além
disso, o sexo com elas já não era tão prazeroso. Era vazio e sem sentido.
Sentia-se mais culpado ainda quando voltava para a cabana no dia
seguinte e Nina o olhava decepcionada. Na última vez, ela ficou horas sem
falar com ele.
A garota não tinha nenhuma ideia sobre o que ele fazia e, com
certeza, achava que ele só havia saído atrás de mulheres, mas a tristeza que
ela demonstrava deixava Sebastian angustiado, pois ele percebia que ela
estava começando a olhá-lo de forma diferente, como se quisesse dar um
passo a mais. Entretanto, ele também pensava que se ele se aproveitasse
disso, estaria sendo um canalha, já que Nina não se lembrava de seus
sentimentos por Luca.
Por várias vezes, precisou se afastar para não tomá-la nos braços. Era
uma tortura tê-la tão perto, tão bela e tão disposta e não fazer nada. Mas a
verdade é que ele não sabia por quanto tempo resistiria e isso,
frequentemente, o deixava ansioso e angustiado. Afinal, ele a queria, a
desejava e tinha sentimentos por ela. Não era uma paixão avassaladora ou um
amor tão intenso quanto o que sentia por Natasha, mas era amor...
Deitou-se na cama e olhou para o teto, perdido em pensamentos.
Frequentemente se irritava consigo mesmo, pois sempre se
perguntava: por que não investir em uma relação com Nina, já que ela era
uma vampira agora e não tinha mais chances nenhuma com a prima? A
resposta sempre vinha fácil: Luca.
Precisava parar de pensar daquele jeito. Assim como Natasha estava
perdida para ele, Luca igualmente estava perdido para Nina, então não fazia
sentido ele ficar se segurando. Precisavam seguir com a vida, todos eles.
Nina saiu do banheiro com a toalha enrolada na cabeça, tirando
Sebastian de seus devaneios.
— Já pediu?
— Sim, dois sanduíches de hambúrguer e vinho.
Ela riu.
— Você não fica sem vinho, não é?
— Não — falou ele passando por ela e depositando um beijo em sua
bochecha. — Vou tomar o meu banho agora.
— Okay, mas trate de pegar uma roupa, nem pense em aparecer aqui
pelado!
Ele a olhou e deu um sorriso maroto.
— Não? Tem certeza?
Nina sorriu meio envergonhada enquanto o vampiro entrava no
banheiro. Gostava de Bass e tinha certeza de que já havia demonstrado isso,
mas não entendia por que ele nunca avançava com ela. Às vezes, via em seus
olhos que ele a desejava e, ainda assim, não se aproximava. Isso a frustrava,
porque ela queria mais do que abraços e beijos na face, queria tocá-lo, sentir
o gosto de seus lábios e, sim, gostaria de vê-lo sem roupas.
O desejo que ela tinha de experimentar algo mais íntimo com Bass
lhe trazia uma emoção estranha, pois, em suas memórias, o máximo que ela
havia se aproximado de um rapaz na vida, foi quando beijou um garoto da
escola, ainda adolescente. No entanto, quando fechava os olhos, ela tinha a
impressão de saber como era a sensação de um beijo íntimo, de já ter sido
tocada e de ter feito outras coisas que iam muito além do beijo. Era como se o
seu corpo conhecesse as sensações, mas ela não se lembrasse.
E agora, ela queria experimentar aquelas sensações com Bass, mas
ele não lhe dava atenção, somente brincava, como fizera a pouco. O
mulherengo pervertido passava, vez ou outra, a noite fora e saía com garotas
que ele nem conhecia, mas com ela, nada... E o pior, ele não lhe dizia por que
a rejeitava. Aquilo a chateava e a enfurecia.
Talvez aquela estadia no hotel pudesse mudar algo... Talvez
precisasse mudar suas atitudes, ser mais confiante e menos envergonhada.
No dia seguinte, os dois vampiros fizeram a entrevista no consulado
e, depois, Bass levou Nina para almoçar em um bom restaurante e conhecer
alguns pontos turísticos da cidade.
À noite, ele fez questão de mostrar um pouco da vida noturna para a
garota. Queria que ela se divertisse. Nina nunca havia saído para dançar; por
isso, escolheu a melhor balada da cidade para irem.
Nina se deslumbrou. Já imaginava como seria, mas ver ao vivo era
fascinante. A música, as luzes, as pessoas. Não demorou muito para se soltar
na pista de dança e deixar seu corpo ser levado pelos ritmos. Era muito bom,
não queria mais ir embora.
Bass a acompanhou até a pista. Era interessante observar como a
garota se entusiasmava fácil com coisas tão simples, parecia uma criança em
loja de doces.
Nina estava achando tudo maravilhoso; porém, em uma determinada
hora da madrugada, algumas garotas se aproximaram de Bass e ele passou a
dançar com elas, todos se insinuando e colando seus corpos sensualmente,
algo que deixou a recém-transformada emputecida.
Sim, ela estava com ciúmes. Pois bem, se ele podia fazer aquilo, ela
podia também! Só precisava arrumar coragem.
Determinada em dar o troco, Nina resolveu tomar algumas doses de
tequila para ver se conseguia se desinibir um pouco mais. Por ser uma
vampira agora, o álcool demorava mais para lhe fazer algum efeito. Contudo,
como ela já estava bebendo anteriormente, não demorou muito para se sentir
mais leve e ousada.
Com um sorriso no rosto, ela se dirigiu para a pista e escolheu um
cara que também parecia estar à procura de companhia. Aproximou-se e
passou a dançar na frente dele de forma provocante. O rapaz logo entendeu a
sua intenção e a enlaçou pela cintura.
De início, Nina gostou do efeito que provocava, contudo, o indivíduo
começou a apertá-la contra si e, quando ele abaixou o rosto para beijá-la no
pescoço, ela se sentiu mal. Não era aquilo que ela queria... Quis se afastar do
rapaz, mas ele a segurou com mais força e tentou beijá-la na boca.
Enojada, Nina virou o rosto e o empurrou com os braços; contudo,
ele não a soltou.
— O que foi, boneca? Veio aqui toda atirada se insinuar para mim e
agora quer cair fora?
— Quero, mudei de ideia, Me solte, por favor!
— Não quero te soltar, quero experimentar essa boquinha deliciosa aí
primeiro...
— Não! — Ela virou o rosto mais uma vez quando ele fez uma nova
tentativa de beijá-la
— Ei! Tudo bem por aqui? — Bass se aproximou e encarou o rapaz.
— Pode soltar a garota, por gentileza?
— Por quê? Ela que quis!
— Pois não parece que ela está querendo alguma coisa agora.
Escute... vamos evitar problemas, certo?
O homem a soltou com uma expressão de enfado.
— Pois bem, fique com ela! Não parece ser grande coisa mesmo!
Bass deu um sorriso de lado e pegou Nina pela mão, tirando-a da
pista de dança. Assustada e envergonhada, ela permaneceu de cabeça baixa e
não teve coragem de encará-lo ao chegarem ao bar.
— Quer ir embora, princesa?
Nina assentiu, ainda constrangida com o que tinha acontecido. Bass
sorriu e a abraçou.
— Não se sinta mal com o que houve. Entendo que queira se divertir,
mas ainda tem muito o que aprender em relação aos homens, bebê.
— Eu não achei que ele fosse... Sinto muito...
— Não tem que se desculpar, Nina. — Ele a fez olhá-lo. — Você não
fez nada de errado, somente foi ingênua. O cara lá que foi um escroto, tentou
forçar uma situação. Mas tem algo que você precisa entender, moça... Ao se
insinuar para um homem, certamente ele vai achar que você quer algo com
ele. Então, você precisa saber onde está se metendo e ter certeza do que quer.
Brincar com isso é perigoso, como você pôde ver.
— Eu estraguei sua noite... — Ela murmurou de encontro ao peito
dele.
— Não estragou nada, princesa, relaxe. Já me diverti bastante e,
tirando esse pequeno contratempo, você também se divertiu, ou não? — Ele
sorriu e ela concordou timidamente. — E já está tarde mesmo, precisamos
ir... Se você quiser, podemos voltar outro dia, ou conhecer outros lugares.
— Promete? — perguntou ela, voltando a sorrir e enlaçando o
pescoço dele com os braços.
— Prometo — respondeu o vampiro estudando as feições afogueadas
da garota.
Nina mordeu o lábio, pensativa. Não aguentava mais aquela
insegurança, precisava perguntar...
— Por que me rejeita, Bass? Você diz que eu sou atraente, mas acho
que você mente...
— Não minto, Nina, você é linda...
— Então, por que nunca quer nada comigo? Você sai com qualquer
uma, com mulheres que nem conhece, mas comigo... Parece que eu tenho
alguma doença, ou algo assim... — Ela baixou os olhos.
— Ei, não é isso... — Ele ergueu o queixo dela. — Eu só não quero
que pense que eu estou me aproveitando de você por sermos amigos, por
estarmos morando juntos... E você sabe como eu sou, eu não me apego a
ninguém. Meu coração...
— Eu sei, Bass, você ama a sua prima. Mas eu não quero o seu
coração. Eu só quero transar, como as pessoas da minha idade fazem! Por que
eu não posso? Por que você não me leva a sério? Eu creio que já deixei claro
que gostaria de ficar contigo, mas você nunca tenta me levar para a cama. Por
quê?
O vampiro inspirou fundo, não tinha mais desculpas para dar.
— Existem coisas que você, um dia, vai entender...
Os olhos de Nina lacrimejaram.
— O que eu entendo, Bass, é que você não me quer... E isso dói...
Ela se virou e tentou se afastar, mas Bass a pegou pela mão e a puxou
para si.
— Eu te quero, princesa... Sempre quis.
— Então me beije. — Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
Bass a encarou por alguns instantes e, em seguida, tomou os lábios
dela com ardência.
Nina entreabriu a boca e deixou que ele a invadisse com sua língua.
Uma sensação de calor se irradiou pelo seu ventre e ela se apertou mais
contra ele. Inebriado, Bass a puxou pela cintura e levou uma de suas mãos até
as nádegas macias dela.
— Caralho, Nina... — ele murmurou entre beijos. — Eu te desejo
muito... Mas não quero que se arrependa. — O vampiro a encarou. — Por
isso preciso saber se você tem certeza...
— Tenho, Bass. Tenho certeza. — Ela sorriu, ansiosa e aliviada por,
finalmente, não ser mais rejeitada por ele. — Por favor, vamos sair logo
daqui!
Com o fogo a lhe acender os desejos, Bass a pegou pela mão e eles
saíram rapidamente da boate, retornando ao hotel.
Mal entraram no quarto e ambos começaram a se despir. O desejo
acumulado durante tantas semanas de convivência vinha à tona de forma
voraz, frenética e louca.
Nina permaneceu de calcinha e sutiã, mas Bass tirou toda a roupa,
fazendo-a abrir a boca admirada. Ela queria tanto vê-lo nu e agora lá estava
ele, lindo e duro. Ela cobriu os lábios com as mãos e se sentiu enrubescer.
O vampiro a puxou contra si e começou a lhe dar beijos no pescoço.
Instintivamente, Nina desceu suas mãos pelo peito dele e chegou à sua
ereção, tocando-o com delicadeza e arrancando-lhe um gemido.
— Ah, Nina... — Ela a levantou do chão e a depositou na cama mais
próxima. — Não sabe o quanto eu esperei por isso... — disse, voltando a
beijá-la.
Bass desceu pelo pescoço dela com uma trilha de beijos quentes até
chegar ao sutiã. Tomado de desejo, abriu o fecho, revelando um lindo par de
seios com mamilos rosados.
Sorriu com a visão maravilhosa... Sedento, tomou-os na boca um
após o outro, beijando, lambendo e os chupando enquanto Nina se agarrava
aos lençóis embaixo dele.
— Bass... — ela murmurou e ele levantou o rosto para olhá-la. —
Eu... eu nunca fiz isso...
O vampiro arqueou as sobrancelhas. Ela não se lembrava... Não se
lembrava de Luca, não se lembrava de sua primeira vez...
Por uma fração de segundo, sentiu-se culpado por estar ali no lugar
dele, mas logo espantou aquele pensamento. Não... não iria parar agora. Ele
já havia esperado demais por aquele momento, não refrearia mais seus
desejos.
Além disso, não estava fazendo nada de errado. Luca havia alterado
as memórias de Nina porque não queria que ela sofresse mais, porque queria
que ela seguisse em frente. O amigo havia optado por se afastar dela e isso
parecia ser definitivo. Luca praticamente empurrara a garota para os seus
braços.
Sebastian passou os dedos nos lábios de Nina.
— Não se preocupe com isso, princesa... — Ele a beijou de leve. —
Confie em mim, está bem?
Ela assentiu e o vampiro fez jus à sua fama, possuindo-a
ardentemente naquela noite.
Nina se deliciou com sensação de ser preenchida, de chegar ao ápice
do prazer e de também dar prazer a alguém... Era estranho, mas sentia que já
tinha vivenciado aquilo, a cumplicidade, a entrega, o orgasmo. Mas isso não
importava. Naquele momento, ela só queria desfrutar dos prazeres que Bass
lhe proporcionava.
Exaustos, suados e satisfeitos, adormeceram somente quando o dia
começava a despontar.
Acordaram quase no meio da tarde, esfomeados. Tomaram um banho
rápido e saíram para comer alguma coisa.
— Bass... Por que eu tenho essa sensação de que já tinha feito isso
antes? — disse ela ao dar uma mordida em seu sanduíche.
— Isso o quê?
Ela sorriu.
— Sexo... Devia ter sido minha primeira vez, mas eu não senti que
foi... Eu sabia o que era gozar... eu conhecia a sensação.
O vampiro a encarou pensativo. Não podia lhe revelar sobre Luca.
Merda! Por que sempre sobrava para ele ter que dar as explicações?
— Hum... Isso é importante?
Ela deu de ombros.
— Sei lá... só acho estranho...
— Você gostou? De ter feito sexo comigo?
— Claro que gostei! — Ela sorriu.
— Então isso é o que importa. — Ele piscou. — E agora você está
ferrada, porque nunca mais vai ter paz. Vou morar na sua cama, princesa.
Ela riu e a conversa sobre lembranças e sensações acabou morrendo
para alívio de Sebastian.
Para Nina, estar com o vampiro era reconfortante, sentia-se bem com
ele. Entretanto, não tinha certeza se aquele envolvimento entre eles se
tornaria algo mais sério. Acima de tudo, eles eram bons amigos e ela sabia
que o coração de Bass pertencia à prima. Além disso, o rapaz era impossível,
não conseguia ficar sem olhar para um rabo de saia.
Assim, foi com um certo alívio que logo percebeu que o seu próprio
coração também não lhe fazia esse tipo de cobrança. Não podia negar que o
sexo com Bass era ótimo, mas, não estava realmente interessada em se
apaixonar. Aliás, aquela palavra lhe causava uma sensação estranha, um
vazio, como se não fosse capaz de amar.
Entre noitadas em boates, jantares em restaurantes e lençóis
amassados, a semana passou voando e logo ambos estavam com seus vistos
de entrada nos EUA. Dois dias depois, embarcaram para Nova Iorque.
Animada, Nina observou o avião decolar do solo romeno. Finalmente
estava saindo daquele lugar que lhe parecia tão triste rumo a uma nova vida.
Rumo a novas experiências e com a esperança de um futuro mais feliz.
Nova Iorque, novembro de 2018 (8 meses depois)

O outono no hemisfério norte trazia um vento frio, quase gelado,


naquela tarde. Muitas árvores já haviam perdido as folhas, outras
adquiriram um tom amarelado e algumas, avermelhado.
Nina, vestida com um casaco leve, havia saído do trabalho e
caminhava feliz pelas ruas de Manhattan, observando algumas lojas de
roupas.
Não que pretendesse comprar algo. Na 5ª Avenida, onde estava
agora, tudo era muito caro para o seu salário, mas gostava de admirar as
roupas elegantes das vitrines. Lembrou-se de Mirela e de como a vampira se
vestia bem e também desenhava lindas peças. Sorriu. Ainda tinha alguns de
seus vestidos e os guardava com muito carinho.
Tinha saudades da senhora do castelo, ela sempre lhe tratara muito
bem. Mas algo sobre o tempo que passou no castelo a incomodava: os
buracos em sua memória. Dias quase inteiros haviam desaparecido de suas
lembranças e um sentimento estranho vivia a rondar o seu peito, como se
estivesse se esquecendo de algo importante.
Já conversara com Bass a respeito daquilo, contudo, ele sempre lhe
dizia para não se preocupar e mudava de assunto. Às vezes, chegara a pensar
que ele estava escondendo algo, mas não entendia o motivo.
Oito meses já haviam se passado desde que saíra da Romênia e ela
ainda estava se adaptando. Seu inglês não era fluente, mas entendia bastante
coisa e se virava para se comunicar. Axel a havia colocado para trabalhar em
uma função administrativa no Real Wolf, hotel de sua rede, e ela estava
amando ter sua própria liberdade.
Em Nova Iorque, o aluguel era caríssimo, mas felizmente Ivy havia
emprestado a ela e a Bass um antigo apartamento que ela usara antes de se
casar com Axel. Assim, podiam economizar com a moradia e ela podia
comprar algumas coisas para si, algo que considerava um luxo e uma alegria.
Sim, era uma alegria poder comprar roupas, doces ou o que fosse
com seu dinheiro e não ter ninguém para lhe repreender. Às vezes, pegava-se
pensando em seu triste passado em Brezoi, nas vezes que apanhou por ter
comprado algo para si. Mas quando isso acontecia, tratava logo de espantar o
pensamento da cabeça.
Agora ela sentia que estava em um bom caminho. Estava aprendendo
muitas coisas e se considerava uma privilegiada por ter essa oportunidade de
uma vida nova, ainda mais em um lugar tão magnífico quanto Nova Iorque.
Uma das coisas que ela mais apreciava desde que chegara, era poder
desfrutar da liberdade de escolha, era ter, finalmente, o rumo de sua vida em
suas mãos. Mesmo dividindo o teto com Bass, o vampiro não lhe fazia
cobranças e nem ela a ele. Viviam bem como amigos e, às vezes, dividiam a
cama também. Não era um relacionamento sério, muito menos cobravam
exclusividade um do outro.
A verdade é que ambos separavam muito bem o sexo da amizade.
Bass, com seu jeito descontraído e sem-vergonha, sempre foi
atencioso com ela; contudo, ele nunca propôs que namorassem ou algo assim.
O que, para ela, também foi um alívio, pois ela não sentia essa necessidade de
se comprometer com quem quer que fosse. Na verdade, sempre que ela
pensava sobre a possibilidade de amar alguém, seu interior era invadido por
uma sensação de medo, como se fosse perigoso se apaixonar.
Ou seja, uma paixão avassaladora entre ela e Bass estava
definitivamente fora de questão. Eram apenas grandes amigos e o sexo entre
eles era apenas um bônus que acontecia quando estavam mais animados.
Bass gostava de ter sua liberdade e ela também. Ele continuava um
mulherengo pervertido e, de vez em quando, não voltava para casa, mas isso
não a incomodava, pois não era apenas o vampiro que tinha suas noitadas.
Ela também costumava sair com as garotas do trabalho pelo menos duas
vezes por mês. Ia a bares ou boates e, com o tempo, ganhou experiência de
como lidar com os rapazes. Assim, também já havia saído com alguns deles.
Houve uma vez em que ela e Bass saíram juntos e, na boate, cada um
arrumou uma paquera diferente. Acabou com os quatro se pegando em um
canto escuro. Não rolou sexo, mas a experiência foi quente e, ao retornarem
para casa, Bass lhe sugeriu que, um dia, chamassem um casal para dividir a
cama com eles. Ela abriu a boca, pasma, mas riu e soltou um “talvez”,
fazendo a alegria do vampiro.
Suas colegas de trabalho não entendiam a forma com que ela e Bass
se relacionavam; contudo, Nina apenas ria e dizia que eles estavam
perfeitamente bem assim.
Realmente, devia ser bastante inusitado morar com um cara, dividir a
cama com ele e ainda assim não sentir ciúme, mas existiam coisas que não
davam para forçar a barra. Amor era uma delas. Desde as conversas que ela e
Bass tiveram no castelo, ela sabia que o coração do rapaz pertencia à prima,
Natasha, que agora era noiva de Luca.
Ah, Luca... Como era estranho pensar nele...
Achava-o lindo! Aqueles olhos azuis a encantaram desde que o
conhecera no hospital e também o admirava por tê-la ajudado quando chegou
ao castelo, pelo cuidado com que ele tratara de suas costelas. Era igualmente
agradecida por ele tê-la salvado da morte na prisão, mas tinha algo que ela
não compreendia, pois era justamente com ele que ela sentia que suas
memórias falhavam.
Lembrava-se de que Luca havia pintado um retrato dela, lembrava-se
de que eles haviam conversado muito, mas não fazia ideia do teor das
conversas. Lembrava-se de que ele estava prestes a ficar noivo e de que ela
havia sido confinada na torre por causa disso, para não ficar à vista dos
convidados, mas não se lembrava de nada, absolutamente nada sobre aquele
dia.
Lembrou-se de Ivy quando chegaram em Nova Iorque e ela veio
recebê-los. Na verdade, teve a clara impressão de que já havia conversado
com a irmã de Luca, mas não conseguia se lembrar disso também. A
vampira, no entanto, a tratou como se a estivesse vendo pela primeira vez e
isso lhe pareceu confuso.
Felizmente, diante de tanta coisa nova acontecendo ao seu redor, as
confusões de sua mente ficaram em segundo plano e ela quase não pensava
mais nesse assunto.
Agora ela estava plenamente feliz e satisfeita com seu trabalho, com
sua casa, com seus novos amigos e sua condição de vampira transformada. E,
para sua alegria, ganhara uma nova família, pois os Constantin de Manhattan
praticamente a adotaram. Como trabalhava para Axel, Ivy vivia passando no
hotel e a arrastando para sua casa ou para a casa de seus tios. Já havia até
virado a “tia Nina” para as crianças.
Bass, quando não estava trabalhando, a acompanhava. Ele trabalhava
para Stefan, o tio de Ivy, e também era tratado como um filho. Algo que o
deixou muito feliz, já que sua própria família não se interessava muito por
ele.
Enfim, aqueles oito meses estavam sendo maravilhosos e Nina se
sentia muito grata por tudo que estava recebendo. Embora ainda não lhe fosse
muito claro os motivos de estarem fazendo aquilo por ela.
Ela entendia que Bass havia decidido acompanhá-la porque queria
mudar de ares, sair da Romênia, mas por que os Constantin a estavam
ajudando tanto? Fizera essa pergunta uma vez ao vampiro e ele respondera:
depois de cair na teia dos Constantin, é difícil sair dela!, e deu risada.
Depois de tanto andar e admirar as lojas da rua mais famosa e chique
de Nova Iorque, Nina chegou em casa exausta e encontrou Bass de banho
tomado, pronto para sair.
— Ah, já vai? — quis saber ela.
— Sim, princesa — respondeu, dando-lhe um beijo na bochecha. —
Não me espere até amanhã à noite. Do hospital irei direto para o congresso.
— Sim, estou sabendo. O hotel está lotado de vampiros...
Sebastian a olhou preocupado.
— Cuidado, Nina. Você não pode ser reconhecida.
— E quem vai me reconhecer, Bass? O seu tio Moldovan só mandou
me prender porque a linguaruda da Madeleine me dedurou. Ninguém
realmente me conhece.
O vampiro enrugou a testa. Aquilo não era bem verdade. Muita gente
a tinha visto na festa de noivado do Luca, ela apenas não se lembrava
daquilo. Suspirou.
— Tome cuidado mesmo assim... Evite se expor.
— Relaxe, Bass. Nem tenho contato com os hóspedes mesmo...
— Está bem, até amanhã, então. — Deu-lhe mais um beijo, desta vez
nos lábios, e saiu.
Sebastian trabalhou aborrecido naquela madrugada. Não estava muito
a fim de participar daquele congresso médico, mas Stefan o havia obrigado a
se inscrever e agora ele tinha que ir.
No entanto, o que o inquietava mesmo era o fato de que ia se
encontrar com Luca pela primeira vez depois de terem saído da Romênia.
Na época em que eles ainda estavam providenciando os documentos
novos de Nina e os vistos, eles ainda se comunicavam. Contudo, depois que
viera para Nova Iorque, não tiveram mais contato. Parte porque o trabalho lhe
ocupava muito o tempo e outra parte porque morava com Nina, transava com
ela, e Luca certamente presumia isso. Assim, ambos se distanciaram para
evitar qualquer constrangimento.
Desta vez, no entanto, não teriam como escapar de um encontro, pois
certamente se veriam no dia seguinte.
Amanheceu e Sebastian, a contragosto, dirigiu-se para o centro de
convenções. Por ser um congresso fechado para vampiros, o local estava
cheio de médicos munidos de óculos escuros, vestidos com chapéus e casacos
de proteção contra o sol, assim como ele. Riu com a cena. Uma pessoa de
fora que visse aquilo certamente acharia que se tratava de um encontro de
mafiosos.
O vampiro caminhou até o auditório e passou os olhos pelas pessoas
que estavam presentes, vendo alguns rostos conhecidos. Desde colegas com
quem trabalhara em Bucareste até um ou outro amigo da família, mas não
estava vendo Luca, nem Victor. Era estranho, pois sabia que eles viriam.
Stefan Constantin havia marcado para o sábado um jantar em família
justamente pela chegada deles.
Apesar de não ser da família, ele e Nina haviam sido convidados.
Não era nenhuma surpresa, já que a garota vivia na casa dos Constantin, mas
a verdade é que ele estava curioso para saber como seria aquele encontro.
A palestra do primeiro convidado começou e Bass voltou a colocar os
óculos escuros, fechando os olhos. Havia escolhido um lugar lá no fundo,
onde estava mais vazio, justamente para tirar um cochilo e não ser
incomodado; entretanto, meia hora depois, sentiu um cutucão no braço.
Abriu os olhos no susto e deu de cara com Luca lhe sorrindo.
— Não acredito que você vem até o 96º Congresso Anual de
Vampyrs para dormir.
— E eu não acredito que você atravessa a porra de um oceano para
assistir a uma palestra chata dessas.
Ambos riram e se cumprimentaram com um toque de mãos.
— Cadê o seu irmão? — perguntou Bass tirando os óculos.
— Foi lá para frente. Ele está puto pelo voo ter atrasado e ter perdido
o começo.
— Entendi, foi isso, então? Não te vi aqui logo cedo, achei que não
viria...
Luca baixou os olhos.
— Tive minhas dúvidas se vinha mesmo ou não...
— Mas aí você não aguentou a saudade. — Bass sorriu.
— Não, não aguentei. — Suspirou. — Ela está bem?
— Está.
— Vocês estão juntos?
Sebastian tamborilou os dedos no braço da cadeira.
— Estamos, mas...
Luca ergueu a mão, interrompendo-o.
— Tudo bem... Não preciso de detalhes.
— Luca...
— Não, tudo bem... é sério... O importante é ela estar bem e feliz.
Você está fazendo ela feliz, não está, Bass?
— Ela está feliz, mas não é pelo fato de estarmos juntos, é pela vida
que ela está construindo aqui.
— Mas você faz parte da vida dela, dessa nova vida.
— Luca... — Ele ficou de frente para o amigo. — Nina e eu, nós...
— O que é que vocês dois estão fazendo aqui atrás?
Sebastian se virou surpreso ao escutar a voz de Natasha em suas
costas.
— Oi, priminho! — continuou ela, dando-lhe um beijo no rosto.
— Hum... Oi, Naty... Vocês vieram juntos?
— Pegamos o mesmo voo — explicou Luca.
— Shhhh.... — alguém falou em uma cadeira mais à frente.
Constrangidos, o trio interrompeu a conversa e Natasha avisou
baixinho que iria se sentar com umas amigas, afastando-se em seguida.
— Conversaremos depois... — sussurrou Luca, e Bass, com um
sorriso, voltou a colocar os óculos escuros.
O intervalo do almoço chegou, mas os dois rapazes não conseguiram
ficar a sós novamente. Rob se juntou a eles e Ivy apareceu também. O grupo
se manteve assim até o final do dia quando, finalmente, as palestras e
apresentações acabaram.
— Não vou aguentar isso por mais um dia — reclamou Sebastian
desanimado, arrancando risos de Ivy.
— Veja pelo lado bom, você está tendo contato com novas
informações, adquirindo conhecimentos... — comentou Rob com um sorriso
brincalhão e fazendo o vampiro revirar os olhos.
— Vocês querem sair? Beber alguma coisa? — perguntou Bass.
— Eu não posso — respondeu Ivy. — Já fiquei fora de casa por
muito tempo hoje. O Ian ainda é pequeno, sente a minha falta, e a Belle está
começando a escola nesse semestre, ela precisa do meu apoio também. Mas
jantaremos juntos no sábado, certo?
— Também não posso sair para beber com vocês agora —
comunicou Rob. —Preciso voltar para o hospital, estão me chamando. Pelo
visto, terei um parto para acompanhar em algumas horas. A gente se vê
amanhã — despediu-se.
— E você? — Bass se virou para Luca.
— Eu te acompanho. Estou mesmo precisando beber alguma coisa
para relaxar.
Como nos velhos tempos, ambos seguiram para um bar próximo dali
e se acomodaram no balcão, pedindo uma cerveja para cada. De início,
conversaram sobre trabalho e sobre os planos para suas especializações. Bass
disse que pretendia começar uma no ano seguinte, ali mesmo nos EUA. Já
Luca tinha planos para fazer a sua em Londres, mas não sabia quando.
— Por que não vem para cá? — sugeriu Bass com um sorriso. — A
gente tinha combinado de fazer nossas especializações juntos, se lembra?
Luca riu.
— Não sei... Não acho que seja uma boa ideia...
— Por causa da Nina?
— Não posso me aproximar dela de novo, Bass... — disse o vampiro
fitando a caneca de cerveja. — Não assim...
— Sinceramente, acho que você meteu os pés pelas mãos com ela...
Tenho certeza de que os transformados do vale poderiam continuar existindo
sem que você se sacrificasse por isso. Há muitos vampiros puros por aí, e
certamente continuarão existindo. Mesmo que você não tivesse um herdeiro
de sangue puro, alguém poderia cumprir esse papel. Já ouviu falar em
terceirização? — Bass riu.
Luca franziu o cenho e suspirou.
— Pois é... Eu devia ter pensado nisso antes, mas eu estava com tanta
coisa na cabeça e estávamos tão próximos do noivado. Eu não achava que
poderia mudar muita coisa e estava certo de que estava fazendo o que seria o
melhor para o vale.
— O melhor para o vale... Nobre, mas estúpido! Devia ter pensado
mais em você, em seu coração, e em Nina...
— Eu não me importava de me sacrificar pelo vale, mas reconheço
que fui estúpido e um canalha com ela...
O vampiro loiro suspirou.
— Eu diria que você foi tolo, teimoso, talvez ingênuo...
— Eu a iludi, Bass.
— Escute... Desde o princípio, Nina sabia do seu noivado e você foi
claro com ela de que a relação entre vocês seria passageira. Até eu a alertei
sobre isso, Luca. Tenho certeza de que nenhum de vocês dois faziam ideia de
onde estavam se metendo quando começaram a se relacionar. Vocês não
imaginavam que se envolveriam tanto, que se apaixonariam daquela forma. E
quando você entendeu seus sentimentos, não soube ver o que era mais
importante.
Luca estalou a língua e bebeu o resto de sua cerveja.
— Pois é...
— Enfim... Não temos como mudar o passado, meu amigo. — Bass
também virou sua caneca. — Você decidiu manter o seu compromisso com a
minha prima e o que está feito, está feito, infelizmente não pode ser anulado.
Então... — O vampiro deu de ombros com um semblante melancólico.
Luca ficou em silêncio por alguns segundos. Bass ainda não sabia
que anular o noivado era justamente o que ele e Natasha pretendiam.
— Por que nunca me contou sobre sua prima, Bass?
— Nunca contei o quê? — Sebastian o olhou, confuso.
— Por que nunca me contou que foi apaixonado por ela, que o
casamento de vocês já estava arranjado e que o pai dela anulou o acordo para
que ela se comprometesse comigo?
— E você soube disso como? Natasha que te contou? — Uma ruga se
formou entre as sobrancelhas de Bass.
— Não... eu soube quando vasculhei as memórias de Nina para
alterá-las. Por que você nunca me disse?
— Porque isso não mudaria nada, só provocaria mal-estar entre nós.
— Você ainda gosta dela?
Bass esboçou um sorriso de lado.
— Acho que isso não importa mais, não é?
— Gosta ou não? — insistiu Luca.
O vampiro loiro suspirou.
— Natasha é, para mim, o amor da minha vida, como Nina é o seu.
Eu nunca vou deixar de amar a minha prima, assim como você nunca deixará
de amar Nina. É isso... Um sentimento simples, puro, mas que não serve para
nós.
Luca assentiu, esfregou a nuca e inspirou profundamente, soltando o
ar de uma vez.
— Você precisa saber de uma coisa, sobre mim e Natasha...
— Que coisa? — Bass ergueu uma sobrancelha.
— Nós não concluímos o ritual — confessou Luca virando a cadeira
e o encarando de frente.
— Como é?! — exclamou o vampiro surpreso, mas desconfiado.
— Não fizemos sexo depois de tomarmos o sangue um do outro, não
consumamos o ato, não completamos o ritual. Então... apesar de
continuarmos noivos, pelos nossos costumes, o pacto de sangue não tem
validade.
Sebastian deixou o queixo cair.
— Vocês são idiotas? Por que não disse isso antes, infeliz? Natasha,
ela... Eu perguntei sobre isso para ela no dia seguinte do noivado, porque eu
achava mesmo que você não conseguiria fazer nada, mas ela me confirmou,
disse que vocês haviam transado.
Luca arqueou as sobrancelhas.
— É sério que você achou isso? Que consideração... — Ele sorriu. —
Mas você estava certo. Não deu, não levantei de jeito nenhum... Enfim, ela te
confirmou porque decidimos não revelar nada a ninguém para não provocar
um escândalo.
— Imagino... Já pensou? Vocês dois chegando ao topo da escada,
diante de todos os convidados, e você dizendo: o ritual de sangue está
anulado porque eu não consegui foder a minha noiva. — Bass gargalhou. —
Certamente que o meu tio te mataria.
Luca o olhou abismado e Bass balançou a cabeça, mais sério.
— A verdade é que não ter completado o ritual não muda nada... —
continuou o vampiro loiro. — O poderoso Gheorge Moldovan te mataria de
qualquer forma se desistisse do compromisso, com ou sem pacto de sangue.
Nesse momento, o celular de Bass tocou.
— Oi, princesa! Sim, vou jantar em casa, pode pedir uma pizza, ou
melhor, pede duas. — Ele desligou e se voltou para o amigo.
— Também tem uma coisa que você precisa saber sobre mim e Nina,
sobre o nosso relacionamento. — Bass pediu a conta ao atendente e lhe
entregou o cartão do banco.
— O quê? — Luca tinha as sobrancelhas levemente juntas.
— Vai entender quando chegarmos em casa. Vamos? — disse ao se
levantar.
— Para sua casa? — surpreendeu-se o amigo.
— Sim, não ouviu? Nina vai pedir pizza para nós. — Sebastian
piscou.
Luca ficou pálido, mas assentiu. Seu coração batia acelerado com a
possibilidade de ver Nina novamente. Certamente que um encontro com ela
seria inevitável. Se não fosse agora, seria no jantar de sábado, mas, ainda
assim, a sensação que ele tinha era de que algo em seu estômago dava
cambalhotas.
Suspirou e acompanhou o amigo até o carro. Precisava se acalmar,
estava louco de saudades daquela garota e não sabia como reagiria ao vê-la,
mas não adiantava evitar o inevitável. Além disso, estava morrendo de fome
e uma pizza era sempre bem-vinda.
L uca se encostou na parede do corredor enquanto Sebastian abria a
porta no apartamento.
— Nervoso? — perguntou o loiro.
— Um pouco...
Eles entraram e logo sentiram o cheiro da pizza que já havia chegado.
Nina apareceu na sala e estacou surpresa. Vestida apenas com uma camisola
azul semitransparente curta e um robe do mesmo tecido por cima, ela
arrancou um uau de Bass e um olhar embasbacado de Luca.
— Ah, eu não sabia que teríamos visitas — disse ela, sentindo o rosto
ruborizar.
Luca engoliu em seco. Se o seu coração já estava acelerado antes de
entrar naquele apartamento, agora parecia que estava prestes a saltar de sua
boca.
— Vou me trocar — avisou ela.
— Não se preocupe, Nina — falou Bass lhe dando um beijo no rosto.
— Luca é de casa. Faça-lhe companhia, vou tomar um banho, já volto.
Nina arregalou os olhos e, com um sorriso meio sem graça, ajeitou o
robe para se cobrir melhor. Por alguns instantes não soube o que fazer, mas
logo recuperou a compostura e se aproximou de Luca, que parecia paralisado
ao chão e não conseguia tirar os olhos dela.
— Oi, Luca... Como tem passado? — perguntou. Seus olhos se
encontraram e ela sentiu seu coração disparar. Engoliu em seco.
— Eu... bem, estou bem. E você? Já se acostumou com a cidade
grande?
— Estou me acostumando ainda... — Nina sorriu e o ajudou a retirar
o casaco, pendurando-o em um gancho próximo à porta. — Não é só a cidade
que é grande. O idioma, o trabalho, as pessoas... tudo aqui é diferente. Mas
estou gostando...
— Que bom...
— Não quer se sentar? — Ela apontou para o sofá. Seu estômago
dava cambalhotas e ela não entendia por que a presença do médico lhe
causava tanta ansiedade.
— Ah... sim, claro — falou ele se encaminhando para o sofá.
Ambos se sentaram e, por alguns segundos, um silêncio
constrangedor se fez entre eles.
Nina se sentia estranha e nervosa. Já fazia tanto tempo que não o via,
mas, apesar de suas falhas de memória, lembrava-se perfeitamente de como
aqueles olhos azuis intensos mexiam com ela. Sentiu um calor lhe subir pelo
rosto novamente e baixou os olhos para suas mãos sobre o colo. Ela também
se lembrava de já ter tido aquela sensação perto dele antes.
— Eu preciso te agradecer — falou ela, encarando-o e se esforçando
para voltar ao seu estado normal.
— Me agradecer? — Luca franziu o cenho. — Não tem nada pelo
que me agradecer, Nina, eu só lhe causei problemas...
— Não diga isso! — Ela colocou a mão sobre a dele. — Você me
ajudou muito. Você me ajudou quando cheguei ao castelo toda ferrada e
machucada, você cuidou de mim, tentou me manter longe do conselho, me
salvou quando eu quase morri. Quero dizer, eu morri... mas... Enfim, só estou
aqui porque você me transformou, Luca, mesmo indo contra as regras de
vocês.
Ele mordeu o lábio. Nina não se lembrava de que ele também havia
lhe causado dor, que a havia magoado, e se sentiu culpado por isso, ele não
merecia a gratidão dela.
— Fiz o que eu achava que deveria fazer. Sinto muito por não ter te
consultado antes sobre isso — falou enquanto colocava a outra mão sobre a
dela.
— Tudo bem, eu entendo... — Ela sorriu. — Você é meu padrinho
agora.
— Sim... sou. — Sem conseguir resistir, ele fez um pequeno carinho
no dorso da mão dela com o polegar.
Nina prendeu parcialmente sua respiração, o coração batia ainda mais
rápido. Seus olhos se encontraram novamente e ela sentiu um impulso de
beijá-lo, mas se assustou com aquele pensamento e rapidamente retirou suas
mãos das dele.
Ambos se ajeitaram no sofá, desconfortáveis com aquele breve
momento de intimidade.
— Seu cabelo... — falou ele tentando buscar assunto. — Você
mudou...
— Ah, sim. Cortei um pouco. Achei que ficaria mais moderno com
ele assim, na altura do ombro, e também me deixa com menos cara de
adolescente. — Ela riu.
— Ficou bem em você.
— Obrigada...
Outro silêncio se fez entre eles e Nina se perguntou por quanto tempo
Bass ainda demoraria naquele banho.
— E como foi o noivado? — Ela indagou de súbito.
— O noivado? — Luca se mostrou um pouco confuso.
— Sim... Eu não me lembro de nada daquele dia e logo depois fui
levada do castelo. Ocorreu tudo bem?
— Hum... sim, foi tudo bem.
— Já está se dando bem com a sua noiva? Ela é bonita. Bass me
mostrou fotos dela. Acho que eu cheguei a vê-la no castelo, de longe. Não
sei, minha memória tem uns buracos...
— Eu praticamente não vi mais Natasha depois do noivado. Pegamos
o mesmo voo para cá, mas quase não nos falamos...
— Por quê? Ela é sua noiva... Devia tentar se aproximar mais dela.
— Hum... é, talvez... — O coração de Luca se apertou ao ouvi-la
falar sobre Natasha tão naturalmente.
Uma tristeza súbita surgiu no peito de Nina, mas ela não demonstrou.
Não compreendia o porquê de tal sentimento. Resolveu mudar de assunto.
— Luca... Irina me disse uma vez que vocês, como padrinhos,
conseguiam entrar nas nossas mentes. É verdade?
— Sim... — respondeu Luca, estranhando a pergunta. — Por quê?
— Será que você consegue me ajudar? Sabe, eu tenho essas falhas na
minha memória, de alguns dias que eu passei no castelo e isso me angustia
demais. Você não pode entrar na minha mente e tentar, sei lá... restaurar elas?
Luca franziu levemente o cenho.
— Nina... Às vezes, algumas coisas devem ser deixadas no
esquecimento.
Ela o olhou sem entender.
— Mas...
— Não... — Ele segurou o rosto dela e lhe tocou os lábios com o
polegar. — Você está bem aqui com Bass, não está? Estão juntos, estão
felizes... Deixe as coisas assim...
Luca retirou a mão e Nina percebeu uma sombra de tristeza passar
nos olhos dele.
— Eu não consigo entender o que a minha relação com Bass tem a
ver com as minhas lembranças.
— Tudo... mas não queira entender.
Ela estreitou os olhos, achando aquela resposta muito estranha.
— Como é que você sabe? Como sabe quais foram as lembranças que
eu perdi? — Ela arregalou os olhos. — Você tem algo a ver com isso, Luca?
Com a perda da minha memória? — questionou pasma.
Luca baixou a cabeça, mas não respondeu. Era difícil ter que mentir
sobre aquilo.
— Você tem, não é? — continuou ela. — Por quê, Luca? O que está
tentando esconder de mim, do que é que eu não posso me lembrar? — Nina
sentia seu coração palpitar de ansiedade.
— Calma, pequena. Escute, não tem nada do que se lembrar, okay?
Nina abriu a boca, chocada e confusa. Aquele pequena... Ela já tinha
escutado ele a chamar daquela forma antes, tinha certeza. Um aperto tomou
conta de seu coração e ela sentiu vontade de chorar.
Luca percebeu a reação dela e, preocupado, tocou-lhe ombro.
— Nina, por favor... Deixe o passado para trás, você tem uma vida
nova aqui em Nova Iorque, sei que você e Bass têm uma relação e...
— E que tipo de relação você imagina que eu tenho com Bass? —
Ela o interrompeu com os olhos úmidos.
— Como assim? Vocês estão juntos, você gosta dele, e ele de você,
certo?
Ela sorriu e deixou uma lágrima rolar.
— Sim, a gente se gosta. A gente se gosta muito, Luca, mas não é
amor — justificou-se sem entender por que achava que precisava esclarecer
aquilo. — Quero dizer, é um amor de amigos, não um amor de casal, de
homem e mulher.
Desta vez foi Luca quem deixou o queixo cair.
— Mas... vocês fazem... vocês transam, não?
Nina sorriu de novo.
— Sim, a gente se pega se vez em quando. Mas só por diversão. É
gostoso e ele é bom no que faz... — Ela baixou os olhos, envergonhada. —
Mas é só isso...
Luca arqueou as duas sobrancelhas e se recostou no sofá. Não
esperava uma resposta daquelas. Então, eles não estavam apaixonados um
pelo outro?
Até entendia que Bass não estivesse, já que o amigo não era alguém
que costumava se envolver emocionalmente com ninguém e, pelo visto, ainda
sentia algo pela prima. Mas Nina? Ele jurava que, sem suas lembranças sobre
ele, ela fosse se entregar de coração aberto naquela relação.
— E... você já ficou com outros homens? — indagou receoso.
Ela deu de ombros.
— Um ou outro, nada demais...
Luca sentiu um formigamento na nuca e um nó se formar em seu
estômago.
— Esse cheiro de pizza está de matar! — exclamou Bass aparecendo
pelo corredor vestido só de camiseta e cueca e jogando uma toalha e um
roupão de algodão no colo de Luca. — Vai lá tomar um banho para a gente
comer.
— Banho? Aqui? — indagou Luca, ainda meio atordoado com a
revelação de Nina e surpreso com a sugestão de Bass.
— E por que, não? Você veio direto do aeroporto para o congresso,
depois de mais de quinze horas de voo. Tenho certeza de que está louco por
um banho. Vai logo lá, cara, que eu estou com fome.
Luca franziu as sobrancelhas, mas assentiu e se levantou. Estava
mesmo se sentindo sujo, suado e, agora, nervoso. Precisava se acalmar.
— Quem ficou duas horas no banho foi você — resmungou ao passar
pelo amigo, que apenas sorriu.
Bass se sentou ao lado de Nina.
— Tudo em ordem? — perguntou.
— Não sei direito... — Ela franziu as sobrancelhas. — Você
demorou!
— Vi que estavam conversando, não quis interromper — falou ele,
ajeitando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
— Eu me senti estranha... de ficar assim, perto dele. É como se
tivesse algo mal resolvido entre nós, sabe?
— Vai ver que tem...
Ela o olhou impaciente.
— Você é muito cínico, Bass. Você sabe que existe algo, não sabe?
Ele mexeu nas minhas memórias, não mexeu? E você sabia disso o tempo
todo! O que estão tentando esconder de mim?
— Vai ter que descobrir isso sozinha, princesa.
Ela deu um soco no ombro de Bass, que riu.
— Não é justo isso! — Fez um beiço.
— Muito bem... Eu te ajudo! Vamos lá... Além de se sentir um pouco
estranha quando estava com ele. O que mais sentiu?
— Não sei, uma ansiedade, calor...
— Desejo? — provocou Bass.
Ela o fitou com os olhos arregalados.
— Não! Eu... eu... — balbuciou, confusa.
— Não sentiu vontade de beijá-lo? Não sentiu o coração bater mais
rápido.
Nina o olhou boquiaberta. Sim, ela havia sentido tudo aquilo.
— Onde está querendo chegar, Bass?
O vampiro sorriu.
— Você o deseja, Nina? Quer ficar com ele?
O coração de Nina saltou.
— Está me empurrando para ele?
— Não, apenas quero que você entenda o que está sentindo e quero
que você seja honesta consigo mesma.
Ela baixou ou olhos. Não compreendia o que sentia por Luca. Era
algo diferente, intenso; algo que lhe trazia medo e ansiedade. Imaginou-se
beijando-o e um frio percorreu sua coluna. Desejo... sim, talvez sentisse isso.
— Você ainda não me respondeu — insistiu Bass com um olhar
sacana. — Gostaria de beijar o Luca, Nina? Tocá-lo? Sentir o cheiro da pele
dele? Experimentá-lo?
Nina sorriu meio envergonhada.
— Eu não sei, Bass... Eu senti algumas coisas... Não vou negar que
Luca mexeu um pouco comigo, sim. — Ela mordeu a ponta do polegar,
pensativa. — Você não se importa?
— Não. Você já ficou com outros caras por aí, assim como eu
também já fiquei com outras mulheres... Por que eu me importaria com o
Luca?
— Porque ele é seu amigo.
— Escute, justamente por Luca ser meu amigo é que eu não me
importo.
— Hum... — Ela se encostou no ombro dele. Um friozinho passava
pelo seu estômago. — E você acha que ele também gostaria... assim... de
experimentar?
— Isso veremos. Então, você o quer?
Com um sorriso e um brilho no olhar, Nina sacudiu a cabeça
afirmativamente. Bass sorriu também.
— Quer ficar sozinha com ele?
— Não! — Ela arregalou os olhos. — Por favor... isso não... Seria
estranho, constrangedor, não sei... Eu e Luca, nós não temos intimidade,
Bass...
Por pouco, Sebastian não riu. Se ela soubesse...
— Escute, não creio Luca aceitaria a minha presença...
— E por quê, não? Sei muito bem que isso não é novidade para
vocês: ménage, swing ou sei lá que outros tipos de suruba vocês já andaram
fazendo. Você me contou, esqueceu? Por que ele não aceitaria desta vez? Por
favor, Bass... Sei que pode convencê-lo. Por favor?
— Okay. Relaxe, está bem? Vou tentar — disse o vampiro, puxando
Nina para um abraço.

Luca saiu do box ainda de cenho franzido e começou a se enxugar.


Ver Nina novamente estava sendo uma experiência bastante intensa. Saber
que ela e Bass tinham uma relação aberta havia sido uma surpresa para ele.
Era estranho pensar que Nina ficava com outros caras por aí e não só com
Sebastian. Aquilo lhe dava uma sensação incômoda, uma mistura de ciúme,
inveja, irritação e culpa.
Deixou o banheiro vestindo o roupão que Bass havia lhe dado e foi
para a sala. A cena que viu o fez paralisar no corredor. O amigo estava
beijando o pescoço de Nina e ela ria gostosamente. Um bolo se formou em
sua garganta e ele voltou rapidamente para o quarto. Lágrimas lhe encheram
os olhos.
Perturbado com o que vira, começou a procurar suas roupas pelo
quarto, mas não as encontrou. Passou as mãos nos cabelos. Merda! Onde
estavam? Tinha certeza de que as havia deixado sobre a cama.
Agitado, começou a procurar a esmo pelo quarto enquanto o bolo em
sua garganta ficava cada vez maior. Luca sentia-se prestes a explodir.
— Procurando alguma coisa? — perguntou Sebastian, parado na
porta do quarto.
Luca o olhou.
— Onde estão as minhas roupas? — quis saber irritado.
— Para que quer as suas roupas?
— Eu preciso ir embora, Bass. Não aguento ficar aqui. Não aguento
ver vocês dois juntos. Para mim não dá, não consigo. — Uma lágrima lhe
escorreu pela face.
Bass se aproximou de Luca e o segurou pelos ombros, fazendo-o
parar e olhar para ele.
— Enxugue essas lágrimas, não é hora para isso.
— Você não entende...
— Sim, entendo. Você abriu mão de uma garota maravilhosa e agora
não aguenta ver ela com outro. Mas preste atenção, Luca. Pare de pensar em
você e em como você foi idiota e foque nas possibilidades à sua volta.
Luca passou as mãos no rosto para limpar as lágrimas e fitou o amigo
de forma interrogativa e dolorosa.
— Que possibilidades?
— Você não tem que ir embora, Luca. Quem disse que você precisa
apenas ficar olhando eu e Nina juntos?
— O que quer dizer com isso? — Ele estreitou os olhos.
— Você sabe o que eu quero dizer com isso. — Bass o olhou com
malícia.
— Não está falando sério... — Sua voz era grave e baixa. — Não
posso fazer isso com ela. Você não pode fazer isso com ela! Você
enlouqueceu? — exclamou, descrente do que estava ouvindo.
— Nina não é mais aquela garota ingênua e frágil que você tirou a
virgindade, Luca. Ela cresceu, ela amadureceu. Nina agora é uma mulher
segura, forte, mais experiente, mais ousada e... te deseja. Ela quer você, meu
amigo. — Ele sorriu. — E você também a quer, eu sei disso. Eu te conheço
muito bem, vai negar?
Luca o olhou espantado e, em seguida, franziu as sobrancelhas.
— Cara! Eu não acredito que está mesmo me propondo isso! — No
fundo, o que ele mais desejava era tê-la de novo em seus braços, mas dividi-
la com Bass estava acima da capacidade do seu coração. — E outra, mesmo
que eu a queira, mesmo que ela me queira, isso não seria certo, Bass. Ela não
se lembra de mim, de nós... Seria desonesto...
— Não seja tolo! Agora não é hora de bancar o melindroso. Nina
pode não se lembrar do que aconteceu entre vocês, mas o coração dela ainda
bate por você, e ela já percebeu isso.
— Mas se ela soubesse...
O vampiro loiro revirou os olhos.
— Você ocultou as lembranças dela para que ela pudesse ser feliz,
não foi? Pois, neste momento, ela quer ser feliz transando com você. Não
negue isso a ela. Você já lhe negou coisas demais!
— Agora você pegou pesado — reclamou Luca com a culpa a lhe
corroer o coração.
— Preste atenção, cara... Com lembranças ou sem lembranças, ela te
quer! Está entendendo isso, ou quer que eu desenhe?
Hesitante, Luca passou a mão nos cabelos. Sua mente fervilhava, não
sabia mais o que pensar.
— Não sei... — Balançou a cabeça em negativa.
Bass suspirou, impaciente.
— Ela te quer, idiota! — repetiu enfaticamente. — Suas roupas estão
no armário. — Apontou para o móvel. — Se quiser ir embora, fique à
vontade. Mas se quiser se juntar a nós, venha para sala, a pizza está esfriando.
— Com um sorriso, virou-se para a porta e saiu.
Luca sentou-se na cama com a cabeça entre as mãos. Parte de si
desejava loucamente ficar com Nina, parte se apavorava com a ideia de vê-la
com Bass e parte se culpava por tudo aquilo.
Ela o queria...
Uma sensação gelada rondou seu estômago. Receio, excitação...
Se ele a rejeitasse, era evidente que ela ficaria chateada. O vampiro
levantou a cabeça, fechou os olhos e inspirou profundamente. Bass tinha
razão. Por mais que aquilo o assustasse, já tinha negado coisas demais à
Nina. Levantou-se. Desta vez faria por ela qualquer coisa que ela quisesse.

Sentada à mesa, Nina observou Bass voltar para a sala com um olhar
curioso.
— E aí, ele topou?
— Ainda não sei. Eu fiz a proposta e ele ficou bem nervoso, vamos
ver.
Alguns minutos depois, Luca apareceu na sala ainda de roupão e com
um olhar meio constrangido. Bem que ele gostaria de estar mais tranquilo,
mas seu interior era ansiedade pura. Não tinha certeza ainda se continuaria
com aquilo, mesmo com ela querendo. Ele não sabia como reagiria, não sabia
como esconder todo o amor que sentia por ela, não sabia se conseguiria
controlar o seu ciúme. Nina não era mais sua garota, e ele temia não aguentar
vê-la se entregar também ao amigo.
Esboçando um sorriso vitorioso, Sebastian foi até um pequeno bar e
escolheu um vinho, enquanto o jovem Constantin se sentava à mesa.
Luca olhou para Nina, buscando algum sinal de que ela desejava
mesmo fazer aquilo e, apesar de também aparentar estar um pouco ansiosa,
ela lhe sorriu confiante. Algo se aqueceu dentro dele. Já tinha apreciado
aquele sorriso tantas vezes... Como tinha saudades dele, dela, de tudo...
Cacete! Ele amava loucamente aquela garota.
Por alguns segundos, eles se encaram e Luca, meio sem jeito,
devolveu-lhe o sorriso. Inquieto, desviou o olhar para Bass, que estava atrás
do balcão da cozinha abrindo o vinho com um sorrisinho sacana no rosto.
Conhecia bem o amigo, conhecia aquele sorriso. O filho da puta
estava se divertindo!
S ebastian retornou à mesa com o vinho e, durante a meia hora seguinte,
os três mantiveram uma conversa agradável sobre o que andavam
fazendo em seus respectivos trabalhos. A ansiedade era alta enquanto
degustavam a pizza, mas nenhum deles demonstrava.
Após terminarem de comer, Cătălina se levantou para jogar as caixas
de pizza fora. Seu interior estava agitado e um friozinho subia por seu
estômago diante da expectativa do que viria a seguir.
Sem conseguir tirar os olhos da garota, Luca observou Nina pegar sua
taça de vinho e se sentar no sofá, cruzando as pernas. A camisola e o robe
subiram um pouco, revelando boa parte de suas coxas, e o vampiro desceu
seu olhar para elas.
Com um movimento de cabeça e um sorriso nos lábios, Bass o
chamou para irem até ela.
Luca inspirou fundo, estava agitado. Não sabia como seria sua reação
ao que poderia acontecer dali para frente. A sensação de que poderia estar se
aproveitando da ausência de lembranças da garota ao seu respeito ainda o
incomodava. Sentindo-se meio travado, seguiu o amigo e ambos se
acomodaram um de cada lado dela.
Nina sorriu. O coração dela palpitava pelo que estava prestes a
acontecer. Apesar de Bass já ter sugerido, outras vezes, um encontro a três
com outros caras ou garotas, ela ainda não tinha aceitado por não se sentir
pronta. Mas agora havia chegado a hora e o seu corpo já estava pegando fogo
só de pensar naquilo.
E o fato de ser Luca quem estava ali, a deixava mais nervosa. O
vampiro era lindo e a olhava com intensidade, lhe provocando cócegas no
estômago. Algo nele mexia com ela de uma forma totalmente diferente de
qualquer cara com quem tivesse saído.
Ela deu mais alguns goles em sua bebida e se inclinou para deixar a
taça sobre a mesinha de centro. Os dois vampiros fizeram o mesmo e um
clima de expectativa tomou conta do ambiente.
Bass, visivelmente mais à vontade do que os outros dois, tomou a
iniciativa e se aproximou de Nina, beijando-a no pescoço e fazendo-a se
arrepiar.
Luca sentiu a nuca formigar outra vez e o estômago se apertar, era
difícil negar o incômodo que aquela visão lhe causava. Sua vontade era de
arrancar o amigo de cima dela, mas inspirou fundo e tentou se acalmar.
Afinal, não tinha o direito de sentir ciúmes. Os dois estavam juntos, ele
querendo ou não, e por culpa dele.
Agora, ele que era o terceiro naquela relação. Pensou em ir embora,
mas não conseguiu. Seu coração ainda pertencia àquela garota e não tinha
forças para deixá-la naquele momento. Ela o queria, e ele não lhe negaria
mais nada.
Nina percebeu a hesitação de Luca e receou que ele estivesse
pensando em desistir. Seu coração palpitou, não queria que ele fosse embora.
Não conseguia entender o motivo, mas ela sentia uma necessidade absurda de
se jogar nos braços daquele vampiro. Não podia deixá-lo ir embora.
— Você não quer? — Ousadamente, ela colocou a mão na perna de
Luca, escorregando seus dedos pela fenda do roupão que ele vestia até chegar
à pele nua.
Ele a encarou com surpresa enquanto ela lhe sorria, como um
convite.
— Eu quero... mais do que qualquer coisa... — respondeu. E, sem
conseguir negar seus desejos, também desceu seus lábios até o pescoço dela.
Com os dois vampiros lhe beijando, um de cada lado, Nina fechou os
olhos e colocou sua outra mão na perna de Sebastian. Em um movimento
sincronizado, passou a acariciá-las ao mesmo tempo, subindo seus dedos pela
parte interna das coxas de ambos e os deixando loucos de excitação.
Bass sorriu e levou sua mão até o robe dela, abrindo-o e passando a
acariciar seus seios por cima da camisola. Nina virou o rosto para ele, e o
vampiro tomou sua boca em um beijo lascivo.
O calor subia por entre as pernas dela, enquanto seu sexo já pulsava
de desejo. Nina queria mais e interrompeu o beijo com Bass, virando-se para
Luca.
Seus olhos se encontraram e arderam em fogo. O coração de Nina
bateu descontroladamente e o de Luca parecia querer lhe saltar do peito. Suas
bocas lentamente se aproximaram e eles se beijaram de forma profunda,
inflamada.
Nina sentiu a língua de Luca explorá-la, não só com desejo, mas com
ternura e delicadeza, como se estivesse apreciando cada canto, cada segundo
daquele beijo. Seu interior foi tomado por ondas de calor e de frio e
sensações intensas invadiram seu coração: carinho, saudade, tristeza,
alegria... Mais do que nunca, sentiu que precisava daquele vampiro. Com o
coração pulsando forte, enlaçou-o pelo pescoço e correspondeu o beijo com
voracidade.
Luca sonhava em tê-la novamente em seus braços há tanto tempo...
mas pensava que seria impossível. E agora, ele estava com ela, beijando-a
outra vez. Não saberia expressar o que sentia, eram tantas as emoções
sobrepostas que seu peito parecia que iria explodir. Ele a amava com todo o
seu ser, a desejava com todas as suas fibras e sentia uma necessidade urgente
dela.
Completamente esquecido de Bass, Luca escorregou a mão pela
perna desnuda de Nina, entrando por baixo da camisola e chegando ao seu
sexo úmido.
Ela gemeu em sua boca.
Enlouquecido de desejo, Luca introduziu os dedos pela lateral da
calcinha e explorou a fenda molhada dela, passando delicadamente sobre o
clitóris e descendo para a entrada quente. Delicadamente, introduziu um dedo
em Nina, que se contorceu e gemeu novamente.
— Vamos para a cama — sugeriu Bass.
A voz do amigo fez Luca se lembrar de que não estavam sozinhos.
Sorriu de lado e retirou a mão do meio das pernas de Nina. Não podia se
esquecer... Nina não era mais dele. Ou deixava sua angústia de lado e dava
tudo de si para fazê-la feliz naquela noite ou era melhor ir embora...
Não... não queria ir embora... Engoliria seu orgulho e os seus
sentimentos e daria a Nina o que ela desejava, o que ela merecia. Daria o seu
melhor. Levantou-se e os três seguiram para o quarto de mãos dadas.
Nina sorria de forma travessa. Aquela experiência estava sendo louca
e excitante. Bass era uma delícia e Luca lhe provocava os mais íntimos,
intensos e devassos desejos. Ter ambos para si era um sonho.
Ao entrarem no quarto, Bass, com um sorriso e um olhar divertido,
lhe retirou a camisola e Luca desceu sua calcinha. Nua, ela ficou entre os
dois, que se aproximaram e colaram seus corpos no dela.
De frente para Luca, ela passou os braços em volta do pescoço dele e
suas bocas se encontraram novamente, enquanto Bass a beijava no pescoço.
Ela podia sentir a excitação dos dois vampiros, seus membros duros de
encontro à sua pele. Levou a mão ao laço do roupão de Luca, mas ele a
impediu de abri-lo e se afastou sorrindo.
Bass se afastou também e os dois vampiros trocaram um olhar
cúmplice. Nina logo viu que eles planejavam algo e ficou curiosa.
Luca a pegou pela mão e a conduziu para a cama. Excitada, ela se
deitou sobre os travesseiros e observou os rapazes, que permaneciam em pé,
contemplando-a. Eles se entreolharam mais uma vez e Bass sorriu
maliciosamente para Luca.
O vampiro loiro tirou a camiseta e a cueca, revelando sua ereção e
provocando um comichão em Nina, que sorriu e mordeu o lábio.
Para sua surpresa, ele não veio para cama, mas se aproximou de Luca
que agora a fitava com um brilho no olhar. Bass se posicionou atrás do amigo
e passou seus braços por sua cintura, soltando o laço do roupão dele para
abri-lo.
Nina deixou o queixo cair com o que viu e o seu comichão aumentou
ainda mais. Magnífico, essa era a palavra. O desejo de cair de boca no
membro rosado e duro de excitação do seu doutor de olhos azuis veio
intenso.
Ainda com um sorriso estampado no rosto, Sebastian terminou de
tirar o roupão de Luca, deixando-o nu, mas não parou por aí. Lentamente e
olhando diretamente para a garota, ele desceu sua mão pelo ventre do amigo.
Nina arregalou os olhos quando Bass fechou a mão na ereção de Luca
e passou a masturbá-lo lentamente. Puta que pariu! O calor entre suas pernas
agora parecia um vulcão prestes a explodir.
— Gosta do que vê, Nina? — perguntou Luca, já mais à vontade com
a situação. Não era a primeira vez que ele e Bass faziam aquilo e, por isso,
não estranhou o toque experiente do amigo. Não que eles fizessem sexo um
com o outro, mas sabiam que aquele tipo de interação costumava excitar as
garotas. Estranho era fazer aquilo na frente de Nina, mas afastou aqueles
pensamentos, não era hora...
— Desse jeito vocês me matam do coração. — Ela riu, quase
babando diante da visão. — Delicioso... mas tem um lugar para mim aí?
Bass sorriu, retirando a mão do membro de Luca e eles se dirigiram
até a cama.
Como polvos, os dois se enroscaram em Nina. Mãos, pernas, bocas...
tudo era dividido e compartilhado.
Luca não aguentava mais a espera e se colocou por baixo,
posicionando Nina sentada sobre si. Ela se encaixou sobre ele e aos poucos
foi escorregando sobre o seu pau incrivelmente duro, arrancando-lhe um
gemido.
Deliciada por ter aquele vampiro maravilhoso dentro de si, ela passou
a rebolar e se movimentar sobre ele, enquanto Bass permanecia ao lado
apenas observando-os com um sorriso no rosto.
Para Nina, aquilo estava uma delícia, mas logo Luca mudou de
posição e a colocou deitada por baixo. Deixando uma trilha de beijos quentes,
ele desceu com a boca até sua vulva inchada e completamente molhada,
passando a lambê-la com vontade. Ela gemeu, extasiada.
Bass também lhe tocou o seio com os lábios e começou a brincar com
seus mamilos alternadamente enquanto ela se deliciava com o que Luca lhe
proporcionava mais embaixo. Não demorou para ela sentir a onda de prazer
lhe chegar. Seu corpo estremeceu ao atingir o ápice e ela se agarrou aos
lençóis, gozando intensamente.
Inebriada de prazer, Nina deixou que Luca a virasse de bruços e
puxasse seus quadris para cima, colocando-a de quatro. Em seguida, o
vampiro a penetrou com força, fazendo-a gritar de prazer.
Luca passou a se movimentar dentro dela, apreciando a cavidade
quente e escorregadia da garota e se deliciando com o som dos gemidos dela
a cada estocada. Gemeu também. Não queria sair dali nunca mais. Aquele era
o seu lugar, com ela.
Segurando-a firmemente pela cintura, olhou para Bass e o viu se
postar na frente de Nina. Logo imaginou o que viria e desviou os olhos. Não
aguentaria vê-la chupando o amigo. Engoliu em seco e tratou de bloquear tal
sentimento ou não conseguiria levar aquilo até o fim. E ele queria muito ir até
o fim. Mesmo que seu coração doesse, ele queria estar com ela. Amava-a
tanto que estava disposto a reprimir e sufocar qualquer sinal de ciúme que
pudesse surgir.
No entanto, ao contrário do que Luca imaginava, Bass não ofereceu
seu membro para Nina chupar. Seus planos eram outros. Ele sorriu e se
inclinou, beijando-a suavemente nos lábios.
— Acho que agora posso deixar você sozinha com ele, não? —
sussurrou-lhe ao ouvido.
Nina abriu a boca espantada, mas assentiu com um sorriso. Luca não
escutou o que Bass havia falado a ela e estranhou ao vê-lo se levantar da
cama.
— Aonde vai? — quis saber.
Bass apenas sorriu e pegou o roupão que Luca havia usado do chão,
vestindo-o. Antes de sair do quarto, acenou. O vampiro loiro queria se socar,
mas achava que o certo seria deixá-los em paz. Luca já havia pago um preço
alto por abandonar Nina, não precisava torturá-lo mais. Sorriu e se sentou no
sofá da sala. Seu pau ainda estava duro e ele precisava se aliviar. Fechou os
olhos e se acariciou conformado, naquela noite teria que se contentar com a
sua própria mão.
No quarto, Luca não entendeu a partida do amigo, mas sentiu um
grande alívio. Nina seria só dele agora e, puta que pariu, nunca mais deixaria
Bass ou qualquer outro cara chegar perto dela! Daria um jeito, fugiria com ela
se fosse preciso, mas nunca mais a deixaria...
Observou a garota de quatro à sua frente ainda encaixada em seu pau
e sorriu. Ela era maravilhosa, linda, gostosa. O desejo retornou de forma
avassaladora e ele voltou a se movimentar dentro dela em um ritmo frenético.
O gozo não demorou a lhe chegar. Luca agarrou-se mais a ela e a inundou
com seu sêmen quente e espesso acompanhado de fortes espasmos.
Respirando pesadamente, deitou-se ao lado de Nina e a observou de
forma profunda. Passou, então, os dedos pelo rosto dela e lhe tomou os
lábios.
Nina entregou-se ao beijo e uma sensação de déja-vu lhe invadiu o
peito. A mesma sensação que ela tivera quando se beijaram na sala. De
reconhecimento e de saudade que ela não entendia por que era tão intensa.
Permaneceram algum tempo assim, apenas trocando carícias, beijos,
olhares... Entretanto, não demorou para que a sede de sexo retornasse para o
vampiro e, com um sorriso malicioso, Luca voltou a acariciar o corpo de
Nina, descendo a mão até seu clitóris e passando a massageá-lo
delicadamente. Ela sorriu e aceitou a provocação, ela também queria mais.
Abriu as pernas para lhe facilitar o acesso e ele deslizou seu dedo até a
entrada, penetrando-a.
Luca lhe capturou novamente os lábios e continuou a estimulá-la, ora
brincando com seu ponto de prazer, ora fodendo-a com os dedos.
Tomada de excitação, Nina gemeu e se entregou a um novo orgasmo.
Ele puxou, então, a perna dela para cima de seu quadril, trazendo-a
mais para si e penetrando-a com seu pau. O vampiro se deliciou ao sentir a
garota o engolindo outra vez. Como era bom estar dentro dela, possuí-la,
beijá-la. Amava a maciez daquela boca, o cheiro de seus cabelos, o calor de
seu corpo.
Queria gozar, precisava gozar outra vez, enchê-la com sua porra.
Agarrado a ela, Luca estocava-a fundo, ouvindo seus gemidos e se deliciando
com aquilo.
Seus corpos se moviam sincronizados e Nina gemia sem pudor,
aproveitando ao máximo aquele momento de luxúria e insanidade. Logo, ela
sentiu seu corpo vibrar, como se fosse se desmanchar de tanto tesão, e gozou
outra vez, apertando o pau de Luca com seus músculos internos.
Ele também não aguentou mais e, com um puxão mais forte,
penetrou-a até o fundo, deixando seu líquido jorrar dentro dela mais uma vez.
Após os espasmos de prazer cessarem, ele se retirou da cavidade
úmida e, ofegantes, acomodaram-se nos braços um do outro.
— Puta merda! Isso foi gostoso — exclamou o vampiro.
Nina riu e beijou o jovem médico que a olhava extasiado.
— Precisamos de um banho — comentou ela.
— Concordo.
Durante o banho, eles trocaram mais carícias. Luca só queria estar
perto da garota que amava e aproveitar o máximo de tempo que podiam ter
juntos. Nina, por sua vez, sentia-se plena. A intimidade entre eles era natural
e ela não imaginava que poderia ficar tão à vontade com o médico. As
emoções eram reais e intensas, e ela estava curtindo cada segundo.
Com a felicidade a preencher o coração de ambos, eles voltaram para
a cama e dormiram abraçados e nus. E, se Bass não tivesse aparecido para
acordá-los, teriam perdido o horário no dia seguinte.
Nina se aprontou correndo para não chegar atrasada ao trabalho e os
dois vampiros seguiram para o centro de convenções. Quando chegaram, as
apresentações já haviam começado.
Eles não tocaram no assunto durante o dia, mas Bass sabia, pelo jeito
aéreo de Luca, que o amigo estava abalado emocionalmente por ter se
reencontrado com Nina, por ter transado com ela.
Era inegável que os sentimentos dos dois ainda permaneciam vivos.
Mesmo os de Nina... mesmo ela não se lembrando do que havia vivido com
Luca. O modo como ela o olhava e o tocava deixava claro que ele mexia com
o emocional dela.
Bass entendia isso, era complicado esquecer um grande amor. Assim
como era difícil amar outra pessoa já tendo alguém no coração. Ele não havia
conseguido... Até pensou que poderia se apaixonar por Nina, mas não foi o
que aconteceu, seu coração continuava pertencendo à Natasha...
Natasha que agora estava ali em Nova Iorque e que resolvera se
sentar bem ao seu lado na hora do almoço...
ass, como está se saindo aqui em Nova Iorque? — perguntou
—B Natasha ao se sentar ao lado do primo na lanchonete que havia
dentro do centro de convenções.
— Ótimo! Essa cidade é fantástica!
— Imagino que esteja se divertindo bastante. — Ela o olhou com
malícia.
— Um pouco — respondeu ele, sorrindo discretamente.
— Você bem que podia me mostrar algum lugar legal hoje, depois do
congresso...
— Humm... hoje? — Bass enrugou a testa. Ele já tinha planos para
aquela noite, não poderia sair com ela. Precisava conseguir sangue fresco,
urgente. Sua cota já havia acabado há cinco dias e não aguentaria por muito
mais tempo sem começar a sentir os sinais da abstinência. — Tenho um
compromisso hoje, Naty. Talvez amanhã à noite, se você quiser...
— Depois do jantar dos Constantin? Pode ser... Nos encontramos lá,
então.
— Você vai? — estranhou ele.
— Claro! — Ela riu. — Sou noiva do Luca, esqueceu?
Bass franziu ainda mais o cenho. Natasha, assim como os
empregados do castelo, não sabia que Nina estava viva. Mesmo ela os tendo
ajudado na época, o combinado foi de manterem aquele segredo apenas entre
os Constantin.
— Aliás... — continuou ela. — Poderíamos sair todos juntos amanhã
após o jantar. O que acha?
— Sair para onde? — Luca se sentou na frente deles, segurando uma
bandeja com um sanduíche e batatas fritas.
— Para uma boate — respondeu Natasha. — Dançar, se divertir um
pouco.
Luca pensou um pouco.
— Hum... não sei. Talvez...
Após terminarem de almoçar, retornaram ao auditório. Bass e Luca se
sentaram em um canto afastado e Natasha voltou para junto das amigas.
— Como vai ser amanhã com Nina? Natasha não sabe sobre ela.
— Não sabe, mas está na hora de saber, Bass. Querendo ou não, ela é
minha noiva e temos um assunto para resolver... Então, é melhor que ela
saiba agora, por nós, do que descubra mais tarde e fique puta porque a
enganamos esse tempo todo.
— Eu sei, mas...
— Ela não vai contar ao pai dela sobre a Nina. Tenho certeza. —
Luca estreitou os olhos e sorriu meio de lado. — Ou sua preocupação é que
ela saiba que vocês dois estão morando juntos?
Bass fechou o semblante.
— O que eu faço da minha vida não é da conta dela...
— Nunca se sabe... No dia do noivado, ela me contou que também
havia renegado um grande amor para estar ali. Na hora, não passou pela
minha cabeça que pudesse ser você... — Ele sorriu.
Sebastian encarou Luca sério por alguns instantes.
— Hum... Sobre isso... Eu também tenho uma coisa para te contar...
— falou coçando a cabeça. — Eu... transei com a Natasha no dia seguinte do
seu noivado... — confessou.
Luca arregalou os olhos.
— É sério isso? Não deixou nem a cama esfriar?
— Esfriar o quê, se nem esquentou? — O vampiro loiro sorriu
zombeteiramente. — Não é prudente deixar uma mulher frustrada
sexualmente, sabia? Principalmente no dia do noivado...
Luca só não socou o amigo pelo atrevimento porque estavam em
público.
— Você é mesmo um filho da puta pervertido! Além de morar e
transar com a mulher que eu amo, comeu a minha noiva debaixo do meu
nariz... Só falta querer me comer também.
— Se você quiser, na próxima vez, podemos ir até o fim no ménage e
você ficar no meio... — Sebastian gargalhou.
— Idiota! — resmungou Luca de cara amarrada.
— Você sabe que não tem o direito de ter ciúmes, Luca...
— Não é ciúmes! — retrucou. — Merda, Bass! — Apoiou a cabeça
no encosto da poltrona e suspirou. — Talvez seja um pouco de ciúme, sim,
por causa da Nina, mas não é só isso... — confessou ele desanimado. — Eu
tenho inveja de você ter estado com ela esse tempo todo, e não eu. Tenho
raiva dos caras com quem ela ficou nesses últimos meses, mesmo não
sabendo quem são, e tenho raiva de mim mesmo por ter empurrado ela para
tudo isso.
— E como você está agora? Depois de ter ficado com ela ontem?
— Perdido... Puto, ansioso, angustiado, com vontade de arrancar ela
de você e de tê-la em meus braços novamente. — Luca esfregou a nuca para
aliviar a tensão — Ontem eu tentei não pensar, não sentir ciúmes, tentei me
convencer de que o intruso ali era eu. Mas hoje eu... Tenho vontade de te
socar, sabia? — irritou-se. — Porra, cara! Mesmo você tendo ido embora, ver
você com ela foi...
— O quê? Chocante? Revoltante? — Sebastian riu. — Então espero
que pegue esse sentimento e faça algo de útil com ele. Quanto aos outros
caras que Nina já teve, é como eu disse, ela não é mais a garota ingênua que
você conheceu na Romênia.
Luca fechou ainda mais o semblante.
— Eu pedi para você cuidar dela, imbecil, não iniciá-la em seu
mundo pervertido. Com quantos caras ela já saiu? O que fizemos ontem,
vocês já tinham feito com outros?
Bass arqueou uma sobrancelha, ainda com um ar divertido estampado
no rosto.
— Não, embora eu já tivesse sugerido — confessou. — E não faço
ideia do número de caras com quem a Nina já transou, mas não foram muitos,
relaxe... Eu cuido dela, meu amigo, mas não pense que vou ficar controlando
com quem ou com quantos homens a garota sai. E, cara, deixa de ser egoísta!
Você já levou dezenas de mulheres para a sua cama, qual é o problema de ela
ganhar um pouco mais de vivência? Ela é livre, Luca. Você a deixou livre
quando suprimiu as memórias dela. E se eu e ela não estamos juntos como
um casal apaixonado, como você deve ter achado que iria acontecer, é porque
nossos corações não pedem isso. — Ele sorriu e deu um soco no ombro do
amigo. — O coração da Nina está fechado, Luca, e só você tem a chave. Use-
a com sabedoria desta vez.
Luca o encarou com o semblante sério e assentiu, permanecendo boa
parte da tarde em um silêncio reflexivo.
Enquanto isso, Bass tentava controlar pequenos tremores que de vez
em quando surgiam em suas mãos. Ele sabia que se deixasse transparecer isso
para o amigo ao seu lado, este logo compreenderia o motivo.
Ao final da última palestra, antes que Victor ou Natasha se
aproximassem de ambos, Bass se voltou para Luca.
— Você vai para o hotel agora?
— Sim, preciso fazer o check-in, inclusive..
— Nina provavelmente ainda está por lá e só deve sair às 19h hoje.
Escute... Você poderia levar ela para jantar?
Luca franziu as sobrancelhas.
— Você não vai voltar para casa hoje?
— Sim, eu vou, mas vou demorar um pouco. Tenho algumas coisas
para resolver...
— Vai sair com a Natasha?
— Não, não é isso... Eu e a Naty não estamos saindo, Luca. O que
aconteceu no castelo foi um fato isolado. — Suspirou. — Eu tenho que dar
uma passada no hospital, ver alguns pacientes, é só isso... — mentiu.
— Está bem, apenas avise a Nina, então...
— Vou ligar para ela, pode deixar — confirmou Bass. — Até mais...
— despediu-se e se encaminhou para o estacionamento.
Na verdade, Sebastian iria mesmo até o hospital, pois precisava pegar
sua maleta com o sedativo e os instrumentos para coleta de sangue. Mas
ainda estava cedo. Aproveitaria para dar uma olhada nos pacientes e, quando
fosse mais tarde, faria o que precisava fazer.
Infelizmente, seus planos de se livrar do vício não haviam surtido
resultado. Era uma merda, mas não conseguia ficar sem o maldito do sangue
fresco. Mas pelo menos não estava aumentando a quantidade ingerida. Uma
vez ao mês era o suficiente para completar sua cota. E, para sua sorte, não era
difícil conseguir uma acompanhante em Nova Iorque, ainda mais de sexta à
noite.
Contudo, não estava realmente muito a fim de fazer sexo casual. Seus
pensamentos se voltavam para Natasha, para o dia que transaram na
lavanderia do castelo. O que mais queria era estar com ela novamente, e ela
também parecia interessada... Sorriu ao ligar o carro. Mesmo acreditando que
deveria se manter afastado da prima, a possibilidade de possuí-la novamente
o deixava ansioso e excitado. Antes, porém, precisava resolver o seu
problema. Não poderia se encontrar com a prima naquele estado. Certamente
ela perceberia seus tremores...
Luca fez o check-in na recepção do Real Wolf e subiu para o quarto.
O hotel de Axel era luxuoso e, apesar de ter escolhido um quarto simples, a
decoração era magnífica. Mantendo o estilo clássico do início do século XX,
combinava as paredes claras, a cama com cabeceira alta, as poltronas
confortáveis, as cortinas em veludo e os móveis em madeira pintada, com o
conforto da modernidade — TV, ar condicionado central e frigobar.
Definitivamente, era um quarto aconchegante.
O vampiro sorriu satisfeito e colocou sua mala no closet. Seu celular
vibrou. Bass havia lhe enviado uma mensagem com o contato de Nina e,
como ainda faltava algum tempo até o expediente dela acabar, resolveu tomar
um banho e descansar um pouco.
Às 19h, com o coração palpitando, enviou uma mensagem para ela.
“Oi. Onde eu posso te encontrar?”
“Eu passo aí no seu quarto”, ela respondeu após alguns segundos.
Nervoso, o vampiro não conseguiu sossegar e, quando ouviu a batida
na porta, praticamente deu um pulo da poltrona. Ao abrir, seus olhos se
encontraram com os de Nina e uma sensação de frio misturado a cócegas
rodopiou em seu estômago. Para ele, não havia mulher mais bela do que ela.
Engolindo em seco, segurou sua vontade de puxá-la para si e abriu passagem
para que ela entrasse.
Com Nina não estava sendo muito diferente. Quase entrara em pânico
ao receber a mensagem de Bass dizendo que Luca a levaria para jantar.
Desde a noite anterior, ela não havia conseguido parar de pensar
naquele vampiro. As sensações que a invadiram ao fazer sexo com ele eram
muito diferentes de quando estava com Bass.
O toque dele a arrepiava, beijá-lo era como provar da mais saborosa
fruta e tê-lo dentro dela era a mais maravilhosa das sensações. Luca a olhava
com intensidade, a beijava com intensidade, a possuía com intensidade e,
agora, ela estava novamente ali, diante dele; diante daqueles olhos azuis que
pareciam desnudar a sua alma.
Nina entrou no quarto com a cabeça levemente inclinada para o chão.
Seus sentimentos confusos a deixavam envergonhada, e ela tinha a sensação
de que ele podia adivinhar o que se passava dentro dela.
— Gostou do quarto? Está tudo em ordem? — perguntou ela,
quebrando o clima estranho.
— Sim, está perfeito. — Seus olhares se cruzaram novamente e
ambos sorriram. — Você tem alguma sugestão de lugar para irmos? Não
conheço quase nada da cidade. Estive poucas vezes aqui — disse ele.
— Eu poderia sugerir o restaurante do próprio hotel, que é excelente.
O chef é super conceituado, mas sem fazer a reserva antes é impossível, a não
ser que a gente fale com o Axel. Se for um pedido do patrão, o maître arruma
uma mesa rapidinho. — Ela riu.
— Não... não quero incomodar o Axel com isso. Não quero parecer
abusado só porque somos da família.
— Hum... — Ela pensou um pouco. — Restaurante bom por aqui só
com reserva antecipada mesmo, mas tem alguns lugares mais simples,
algumas franquias, pizzarias e cafés que é só chegar e esperar. Ou se você
preferir, temos serviço de quarto também. O cardápio é o mesmo do
restaurante e a qualidade também, porque sai tudo da mesma cozinha.
— Devo dizer que você já está muito bem treinada para vender os
serviços do hotel — brincou Luca.
Nina corou.
— Não... é que... a comida daqui é boa mesmo — justificou-se com
um sorriso.
— Era para eu te levar para jantar fora, mas se você acha que ficar
aqui é a melhor opção e não se importar, podemos pedir o jantar no quarto
mesmo.
— Não, não me importo de forma alguma. — Ela pegou o cardápio
que estava sobre a cômoda. — Olhe só. Do que você gosta? Esse filé é muito
bom! — sugeriu, mostrando-lhe as opções de pratos.
Luca teve vontade de dizer que a única coisa que ele queria naquele
momento era ela, mas voltou a sua atenção para o cardápio e concordou com
o filé. Em seguida, pegou o interfone e fez o pedido para os dois, juntamente
com uma garrafa de champanhe.
— Vamos comemorar algo? — Nina brincou ao escutar o pedido.
— Sim... nosso reencontro. — Ele sorriu e indicou uma poltrona para
que ela se sentasse. — Quer beber algo antes? — perguntou ao se aproximar
do frigobar.
— Uma Coca, por favor.
Luca pegou o refrigerante para ela, uma cerveja para ele e se sentou
na outra poltrona.
Um silêncio meio constrangedor voltou a cair sobre eles.
Nina inspirou fundo. Havia uma coisa sobre a qual eles já haviam
conversado, mas que ela precisava insistir com ele. Ela tinha que saber mais
sobre sua perda de memória.
— Luca... Sei que já falamos sobre isso ontem, mas... acabamos nos
desviando do assunto e você não me respondeu.
O vampiro a olhou interrogativamente.
— Qual assunto?
— As minhas lembranças.
— Hum... — Ele franziu um pouco as sobrancelhas. — Nina... eu te
disse ontem...
— Para deixar o passado para trás, eu me lembro, mas não quero
isso! — Ela apertou uma mão na outra. — Por favor, se você tem alguma
coisa a ver com as minhas falhas de memória, eu quero que conserte. Eu
quero as minhas lembranças de volta!
Luca recostou-se na poltrona, olhando-a com preocupação.
— Nina... Eu entendo a sua angústia, mas suas memórias só irão lhe
trazer tristeza.
— Mesmo que me tragam tristeza, eu tenho o direito de saber, e você
não tem o direito de escondê-las de mim! — Ela cerrou os punhos sobre o
colo. — Não entende como é horrível ficar com esses buracos? Com essa
sensação de que perdeu algo importante de sua vida?
Um aperto tomou conta do peito de Luca.
— Entendo... — Ele inspirou fundo. — Você vai me odiar quando se
lembrar...
— Por quê? O que você fez de tão grave?
— Eu te magoei, muito... — confessou ele de olhos baixos.
Nina sentiu um frio rodopiar em seu estômago. Por um instante teve
receio de conhecer a verdade, mas ao mesmo tempo, indignou-se.
— Você apagou minhas memórias para se proteger contra o ódio que
eu possa ter por você? — Ela fechou o semblante.
— Não, claro que não! — Luca explicou-se rápido. — Eu as apaguei
para que você não sofresse mais, para que você pudesse recomeçar sua vida
sem lembranças dolorosas. Como você fez até agora! Sei que está feliz aqui
em Nova Iorque, Nina. — Ansioso, ele passou a mão nos cabelos. —
Escute... me dê algum tempo apenas e eu prometo que te esclarecerei tudo.
Por favor, acredite em mim, eu não fiz isso para me safar do que eu fiz com
você, eu apenas quis te proteger, poupar o seu coração de...
— Chega, Luca! — interrompeu ela, enérgica. — Eu até acredito nas
suas boas intenções, mas isso não foi certo! Eu quero elas de volta! As
minhas lembranças! Por mais dolorosas que elas sejam, eu preciso enfrentar e
superar isso para seguir em frente. Se algo aconteceu, eu quero saber. Eu
preciso saber. Não quero ter esse fantasma rondando a minha cabeça até que
você decida o momento certo de me esclarecer tudo.
O vampiro fitou a lata de cerveja em sua mão, pensativo. Tomou um
gole e assentiu.
— Muito bem, então. Mas vamos jantar primeiro, está bem?
Nina concordou e outro frio passou por seu estômago. Queria suas
memórias de volta; contudo, tinha um certo medo do que poderia haver nelas.
Luca disse que ela iria sofrer, que a tinha magoado e que ela o odiaria, mas
magoado como? Por que ela iria sofrer? O que havia de tão terrível em suas
lembranças?
Ela se lembrava perfeitamente de que havia perdido a mãe enquanto
esteve no castelo, lembrava-se do seu sequestro e do ataque do vampiro na
prisão, lembrava-se de ter se defendido; então, não era nada daquilo.
Observou o vampiro à sua frente por alguns instantes. Ele continuava
olhando para a lata em suas mãos, estava quieto, com uma expressão
preocupada, dolorida...
Nina não fazia ideia de que tipo de mal Luca poderia lhe ter feito,
mas não acreditava que conseguiria odiá-lo. Ela não entendia o motivo, mas
ele exercia uma atração sobre ela como se fosse um ímã. Mesmo naquele
momento, seu coração palpitava só por estar perto dele.
— Luca... — disse, chamando-lhe a atenção e desejando animar um
pouco o clima tenso que havia ficado. — O quadro... você o emoldurou?
— Sim... — Ele sorriu de lado. — Coloquei-o no meu quarto.
— No seu quarto? — Ela arqueou as sobrancelhas. — Por quê?
— Porque acho que nunca mais pintarei algo tão belo na vida.
Nina arqueou a sobrancelha e sorriu.
— Não diga isso. Com o talento que tem, aposto que ainda pintará
coisas muito belas.
Luca sorriu também e os dois iniciaram uma conversa sobre o que
aconteceu após a saída dela do castelo.
— Madeleine só não foi expulsa do vale porque é filha de um aldeão
por quem meu pai tem muita consideração — contou o vampiro. — Mas ela
foi afastada de suas funções no castelo e agora está trabalhando duro nos
campos de uma das fazendas.
Nina franziu a testa. Não entendia a maldade das pessoas. Nunca
fizera mal àquela moça, e ainda assim ela a dedurara para o conselheiro.
Tudo por causa de ciúmes. No fim, quem acabou se dando mal foi ela. Ficou
sem Bass, sem credibilidade e sem o emprego no castelo, que era muito mais
leve do que trabalhar na fazenda.
— Ah, Irina está namorando — continuou Luca.
— Sério? Que legal! — exclamou, saudosa da garota que tanto lhe
ajudou. — E a sua mãe? Como está o ateliê?
— Está indo bem. Ela conseguiu um cliente grande na capital e anda
meio estressada com o dobro de trabalho.
— Queria estar lá para ajudá-la... — comentou. Apesar de tudo, ela
sentia falta das amizades que fez no castelo.
Luca deu um meio sorriso e Nina, por alguns segundos, se perdeu em
seus pensamentos.
Nem parecia que já fazia quase um ano que escalara aquela muralha
com fome, com sede, com frio e achando que havia matado o padrasto; quase
um ano que fora recebida por Luca; quase um ano que soubera que eles não
eram humanos. Quase um ano que, por pouco, ela não morrera... e que ela
sentia que havia deixado algo para trás.
Uma batida na porta indicou que o jantar havia chegado.
— Nossa, vocês são rápidos. — Luca se levantou.
— Somos eficientes — disse Nina com orgulho de trabalhar no Real
Wolf enquanto observava o belo rapaz atender a porta.
Seu coração teimava em dar pulos na presença dele, e ela estava
começando a imaginar que aquilo tinha algo a ver com suas memórias
perdidas. Mordeu o lábio, ansiosa. Fosse o que fosse, ela em breve saberia.
Logo após o jantar...
A pesar da conversa continuar aparentemente normal entre Nina e
Luca, a tensão no ar aumentava conforme o jantar se aproximava do
fim.
Ambos estavam apreensivos e os sorrisos começaram a ficar
forçados.
Luca enrolava para terminar seu filé e Nina já havia bebido pelo
menos três vezes mais champanhe do que estava acostumada. Apesar de ser
uma vampira e aguentar mais o efeito do álcool, ela já sentia seu rosto
esquentar por conta da bebida.
Quando finalmente se deram por satisfeitos, o silêncio se fez entre
eles, seus olhos se encontraram e Luca inspirou fundo. O coração do vampiro
batia rápido, com medo de qual seria a reação de Nina diante da verdade
sobre suas lembranças.
— Vamos nos sentar nas poltronas, será mais confortável — sugeriu
ele ao se levantar.
Nina o acompanhou e Luca puxou sua poltrona para perto da dela,
deixando-as quase de frente uma para a outra. Ambos se sentaram,
apreensivos.
— Tem duas coisas que você precisa saber antes que eu te devolva
suas memórias, Nina — começou ele. — Primeiro, eu não concluí o ritual de
sangue, eu não transei com Natasha no dia do noivado. Segundo, eu me
arrependo muito de ter te causado tanto mal e, se eu pudesse, teria feito tudo
diferente.
Ela o olhou confusa. Não entendia o que o noivado dele tinha a ver
com ela ou o porquê de mencionar que não havia transado com a noiva. Uma
angústia se formou em seu peito. Luca parecia estar mesmo arrependido de
algo e parecia sofrer... Que diabos havia acontecido?
— E sobre ontem... Eu quero que saiba que eu não tive a intenção de
me aproveitar de você... Eu...
— O que aconteceu ontem foi delicioso e aconteceu porque eu quis,
ninguém se aproveitou de mim.
— Você quis porque não se lembra da verdade sobre nós. — Uma
ruga surgiu em sua testa.
Nina engoliu em seco.
— Luca... seja lá o que for que tenha acontecido um ano atrás, eu não
senti que o que fizemos ontem foi errado. Eu posso não me lembrar dos fatos,
mas eu percebi que nós dois... Eu senti que foi intenso e... — Ela mordeu o
lábio. — Eu te queria... muito!
Os olhos de Luca marejaram e a angústia de Nina aumentou ainda
mais.
— Eu... só espero que me perdoe... — murmurou ele com a voz
carregada.
Tomada por um impulso, Nina saiu de sua poltrona e o enlaçou pelo
pescoço, sentando-se em seu colo. Com os olhos igualmente úmidos, ela o
beijou ardentemente. Surpreso, Luca entreabriu os lábios e retribuiu o beijo.
Suas línguas se encontraram e dançaram em suas bocas, procurando-
se avidamente. Um beijo emendou no outro, misturando-se às lágrimas que
caiam de ambos.
Luca a puxou mais pela cintura e ela inclinou a cabeça para trás. Os
lábios dele escorregaram pelo pescoço de Nina fazendo uma trilha de beijos
quentes e ela o segurou pelos cabelos.
— Eu quero você... — sussurrou ela.
— Eu também te quero, minha pequena. — Mordiscou-lhe o
pescoço. — Mas antes... — Ele tocou no rosto dela, fazendo-a encará-lo. —
Você precisa se lembrar de tudo. Só assim, você vai ter certeza do que
realmente quer...
Ela assentiu e Luca lhe deu mais um beijo suave antes de seus olhos
se tornarem violáceos e ele invadir a mente dela mais uma vez.
Devolver as lembranças era mais rápido do que suprimi-las, pois não
precisava analisá-las. Era como abrir portas fechadas e, cuidadosamente,
Luca abriu todas elas.
Ao final, o rosto de Nina estava banhado em lágrimas e ela o olhava
com um misto de dor, amor e indignação.
Receoso do que iria acontecer, ele sustentou o olhar dela, mas não
disse nada. Não sabia o que dizer à garota naquele momento. Para o seu
espanto, ela mergulhou o rosto na curva de seu pescoço e começou a chorar
alto.
Tomado de angústia, Luca a abraçou e deixou que suas próprias
lágrimas rolassem.
— Eu te amo, Nina...
— Você me mandou mesmo embora... — choramingou ela entre
soluços.
— Sim, eu mandei... Sua vida correria perigo se ficasse no castelo,
pequena.
— Eu sei... Bass me disse, mas... — Ela o fitou ainda com os olhos
cheios de lágrimas. — Você desistiu de mim.
— Não, não desisti. Eu amo você, linda, e te quero ao meu lado, mas
eu não podia arriscar sua vida te mantendo perto de mim e não queria te
prometer algo que ainda não podia cumprir. Eu e Natasha tínhamos um
plano, contudo, eu não sabia se iria dar certo e, por isso, eu te mandei
embora. Eu não tinha o direito de te prender comigo. Não queria te iludir
novamente, te dar esperanças...
Ela enxugou um pouco as lágrimas.
— Pelo visto não deu certo, não é? Já que você e ela continuam
noivos.
— Ainda não, mas vamos resolver isso, prometo!
— E que plano é esse?
— Convencer o pai dela a aceitar a anulação do noivado, já que o
ritual não foi completado.
— Por que precisa convencê-lo? Por que não dizem que não querem
mais continuar com isso e pronto?
— Porque ele ameaçou minha família caso eu rompesse o noivado.
Nina abriu a boca, espantada.
— Que homem horrível...
— Sim. Horrível e perigoso, infelizmente.
Ela enrugou a testa, pensativa.
— Luca... Não transou mesmo com Natasha naquela noite?
— Não, eu juro...
— Eu... eu também não fiz nada com Bass, eu só dormi no quarto
dele porque... porque eu estava muito triste e não queria ficar sozinha.
— Eu sei. — Ele sorriu e lhe fez um carinho no rosto. — Eu sei,
minha linda. Bass me disse isso depois...
— Mas, no fim, você me jogou nos braços dele, do seu melhor
amigo. — Ela franziu as sobrancelhas.
— E não há um dia que eu não queira me socar por isso... acredite.
Eu sinto tanto, Nina, mas fiz o que eu achava que seria o melhor para você...
Como eu disse, eu não tinha garantias de que iria conseguir anular meu
noivado, e eu queria que você recomeçasse sua vida sem o peso dos seus
sentimentos. Queria que você fosse feliz e achei que Bass poderia te
proporcionar isso.
— Por isso apagou minhas memórias?
— Sim...
— Luca... Eu não entendo... Você está dizendo que quer anular o
noivado, então, por que ficou noivo, afinal? E como ficam os transformados e
a vila? Não era esse o motivo do arranjo? Como vai fazer sem um herdeiro
puro?
— Eu já pensei bastante sobre isso e vi que não há motivo para eu me
preocupar tanto com esse assunto agora. Pretendo cuidar do castelo e do vale
enquanto eu viver, como é o meu dever, mas não preciso de um herdeiro
puro. Escolherei meu sucessor quando for oportuno. Victor tem um filho e
poderá ter outros ainda. E, mesmo que nenhum Constantin queira assumir a
tarefa, posso seguir a sugestão de Bass e terceirizar o apadrinhamento dos
transformados.
Nina suspirou e saiu do colo de Luca, permanecendo em pé.
— É uma pena que essa ideia tenha surgido tão tarde... — comentou,
frustrada.
— Sim, tem razão. Eu me sinto um imbecil por não ter tido essa visão
anteriormente. Eu poderia ter cancelado o noivado dias antes de acontecer,
mesmo sabendo que envergonharia minha família e que arranjaria uma bela
encrenca com o Moldovan. Mas eu realmente acreditava que cabia a mim a
responsabilidade pelo vale e o futuro dos transformados, e não consegui
enxergar uma solução a tempo. Fui teimoso, idiota e cego, confesso. Eu me
arrependo, Nina. Me arrependo de cada decisão que tomei.
Ela assentiu e desviou, momentaneamente, os olhos para o chão. Sua
garganta parecia querer se fechar e seus olhos voltaram a ficar úmidos, mas
se recusou a deixar as lágrimas caírem. Agora ela se lembrava de tudo e não
era mais aquela garota ingênua de antes.
— Sabe, Luca... Eu sempre entendi os seus motivos para não desistir
do noivado. Eu também acreditava que não era justo eu te pedir para desistir
de tudo por minha causa, achava que o meu lugar não era ali com vocês... —
Ela inspirou fundo para não chorar. — Eu não te culpo, de verdade! Sei que
fez o que achava que seria certo e também acredito que esteja arrependido,
mas talvez agora seja tarde — disse séria. — Se o pai da Natasha é tão
perigoso assim, você não pode pôr em risco sua família ou sua vida. Eu
nunca me perdoaria se algo acontecesse com você por minha causa...
Entendeu, Luca? Por favor, não se arrisque!
Luca juntou as sobrancelhas em uma expressão dolorida.
— Nina...
— Sinto muito, Luca. Mas se o Moldovan não aceitar a anulação, não
quero que me procure mais. Não podemos forçar a situação e eu não quero
permanecer te esperando. — Com um suspiro, Nina engoliu o bolo que se
formava em sua garganta. — Eu te amo, Luca. Te amo desesperadamente,
mas até que isso tudo se resolva de forma definitiva, não vou guardar
esperanças e não vou me prender a você... Vou continuar a viver minha vida
e aproveitar minha liberdade. E se um dia você conseguir voltar para mim
como um vampiro livre e se o meu amor por você ainda estiver vivo, aí,
talvez, poderemos tentar novamente.
O vampiro inspirou fundo, seu coração doía. Cada palavra lhe feriu
como fogo, mas ele entendia, reconhecia que Nina tinha razão, por isso
assentiu.
— Eu compreendo...
Nina cerrou os punhos, triste, mas estava determinada a se proteger
daqueles sentimentos que tanto a machucaram no passado.
— É melhor eu ir agora... — disse ela.
— Espere, eu tenho uma coisa para te devolver. — Luca se levantou
Com o semblante abatido, ele foi até sua mala e pegou um saquinho
de veludo lá de dentro. Aproximou-se, então, de Nina e o abriu deixando o
conteúdo cair na palma da mão. Era a pulseirinha de ouro branco que ele
havia lhe dado no Natal.
— Isso aqui acabou ficando no castelo... — Ele juntou as
sobrancelhas de forma dolorosa.
Nina olhou para o objeto e o tocou com a ponta dos dedos. Seus
olhos voltaram a marejar.
— Guarde-a com você, Luca... E quando você conseguir voltar para
mim, eu também aceitarei ela de volta.
Desta vez, foram os olhos de Luca que se encheram de lágrimas, mas
ele nada disse, apenas meneou a cabeça.
Nina se virou a fim de ir embora, mas hesitou ao chegar na porta e se
voltou novamente para ele.
— Eu não te odeio, Luca... Nunca vou te odiar... E também não me
arrependo do que fizemos ontem; não precisa se preocupar com isso. Mesmo
sem as minhas memórias, eu percebi que sentia algo por você, algo bom e
verdadeiro. Meu coração me disse... — Ela sorriu e abriu a porta, saindo por
ela.
Luca se deixou cair na poltrona. Com a pequena pulseira nas mãos,
permitiu que as lágrimas rolassem livremente pelo seu rosto. Precisava
consertar aquilo logo, precisava daquela garota. Nunca seria feliz longe dela.
Precisava falar com Natasha...

Nina saiu do hotel de cabeça baixa, meio anestesiada com tudo que
acontecera, com o que havia se lembrado, com tudo que ouvira e com tudo
que falara. Era difícil de acreditar que, durante todos aqueles meses, o
turbilhão de sentimentos que afloravam em seu coração havia permanecido
adormecido.
Todas aquelas memórias recuperadas lhe pesavam no peito e lhe
deixavam com um gosto amargo na boca. Mas, apesar disso, estava satisfeita
por tê-las de volta, e não estava com raiva de Luca por mantê-las escondidas
durante aquele tempo. Compreendeu as intenções dele e, mesmo não achando
certo, reconhecia que realmente teria sido muito mais difícil para ela seguir
em frente, meses atrás, se tivesse que lidar com o peso da mágoa e de todos
aqueles sentimentos.
Ainda que seu coração estivesse apertado, ela sabia que agora estava
mais forte e que sua determinação era bem maior do que antes. Sabia que
conseguiria superar a dor e seguir com sua vida, mesmo que fosse sem Luca.
Ela havia dito a ele que não guardaria esperanças, mas, no fundo,
torcia para que o plano dele desse certo desde que não precisasse arriscar a
própria vida. Um frio percorreu sua espinha enquanto chamava um táxi, seu
coração palpitava só de pensar que o conselheiro podia mandar matá-lo.
Chegou em casa e foi direto tomar uma ducha. Deixou-se relaxar na
água quente, deixou que as lembranças boas dos momentos que vivera com
Luca tomassem conta de seus pensamentos e, com um sorriso, deixou que as
lágrimas saudosas finalmente brotassem de seus olhos e se misturassem à
agua que lhe banhava o rosto e o corpo cansado.
Passava das 23h quando recebeu uma mensagem de Bass dizendo que
voltaria mais tarde naquela noite. Desligou a TV que estava assistindo e foi
se deitar. Estava exausta e, depois de tantas emoções, precisava muito deitar a
cabeça no travesseiro e dormir.
S ebastian deixou o hospital assim que enviou a mensagem à Nina. De
posse de sua maleta com sedativos, seringas e outros materiais
necessários à sua coleta de sangue, entrou no carro e se dirigiu a um
bairro não muito longe, onde havia uma grande concentração de boates.
Estava cansado, mas agitado. Uma noite de plantão somada a dois
dias de congresso e um longo período sem se alimentar de sangue o deixavam
com o raciocínio e os reflexos lentos.
A boca também estava seca e os tremores nas mãos, mais frequentes.
Entrou em uma boate e não demorou muito para engatar uma conversa com
uma mulher que, aparentemente, também estava à caça de um parceiro para a
noite. Só que, desta vez, ele não estava a fim de uma boa foda, apenas queria
matar sua sede.
Um papo certeiro, algumas doses de tequila e uma promessa de uma
noite quente foram suficientes para conduzir a moça meio embriagada até o
seu carro.
Confiante, Bass dirigiu até os limites da cidade, saindo da ilha de
Manhattan e parou em um pequeno hotel. Ele já havia feito aquilo dezenas de
vezes sem que houvesse problemas. Contudo, naquela noite, apertado para ir
ao banheiro, ele deixou a garota sozinha no quarto por alguns minutos.
Para o azar do vampiro, ela notou a maleta que ele carregava e,
desconfiada, resolveu fuçar no que havia lá dentro. Ao se deparar com as
seringas, luvas e vidrinhos com líquidos transparentes, apavorou-se. Não
conhecia o cara com que tinha saído. Por que ele estaria levando aquelas
coisas com ele? Loucos e psicopatas podiam estar em qualquer lugar, ser
qualquer pessoa, e ela temeu estar sendo vítima de um.
Com o coração disparado e a cabeça ainda girando por conta da
quantidade de bebida que havia ingerido antes, ela pegou sua bolsa e
começou a vestir desajeitadamente as sandálias que havia tirado. Como não
estava conseguindo, resolveu sair descalça mesmo. Correu desesperada para a
porta no momento em que Bass saía do banheiro.
Rapidamente o vampiro notou sua maleta aberta e entendeu o que ela
pretendia. Não foi difícil para ele alcançá-la. Segurando-a pelo pulso antes
que ela passasse pela porta, Bass a puxou para dentro do quarto novamente.
Tapou a boca da garota com a mão para que ela não gritasse e
também se apavorou com a situação. O que faria com ela? Dado o estado
terrificado que a mulher estava, tentar arrumar alguma explicação parecia não
ser possível. Não tinha jeito, precisava sedá-la primeiro, depois pensaria no
que fazer.
Contudo, ela não parava de se debater e ele usava as duas mãos a fim
de segurá-la e impedir que gritasse. Não havia como preparar a maldita da
seringa com o sedativo sem soltá-la.
Praguejando mentalmente e sem outra alternativa, Bass cravou os
dentes no pescoço dela e passou a lhe sugar o sangue até ela desfalecer em
seus braços.
Com cuidado, colocou-a na cama e limpou as pequenas feridas da
mordida em seu pescoço. Usou uma fita microporosa para tapar os dois
furinhos e se sentou, atordoado, em uma poltrona próxima. Observou-a por
alguns instantes. Que merda ele tinha feito? A mulher estava bem, mas
certamente se lembraria do que havia acontecido naquela noite.
Bufou. Precisava tirá-la daquele lugar e torcer para que ela não se
lembrasse de qual hotel era aquele. Apesar de ter pago o quarto em dinheiro,
ele havia mostrado sua identificação ao recepcionista, portanto, não podia
simplesmente deixá-la ou, com certeza, viriam atrás dele caso ela o
denunciasse.
Pegou o sedativo na mala e injetou na garota uma pequena dose
apenas para que ela não acordasse durante o trajeto. Aproveitou o silêncio e a
quietude da madrugada para colocá-la no carro e partiu, ainda sem saber
direito para onde levá-la.
Passando por um bairro residencial, pensou em deixá-la na varanda
da casa de alguém, mas estava frio, não podia fazer aquilo com a moça.
Subitamente, teve uma ideia. Estacionou o carro e buscou na bolsa da mulher
a identificação dela. Lá havia o endereço de onde ela morava.
Colocou o nome da rua no aplicativo do celular e seguiu para o local.
Ao chegar, estacionou o carro na frente e observou o entorno. Viu que estava
tudo silencioso, não havia ninguém na rua e a casa também estava com as
luzes apagadas.
Olhou novamente dentro da bolsa dela e achou a chave da casa.
Apreensivo, desceu do carro e pegou a garota, colocando-a sobre o ombro.
Passou pelo jardim sem cerca e foi até a porta principal. Destrancou-a
cuidadosamente e, sem fazer barulho, entrou.
Seu coração batia acelerado, mas, para sua sorte, ninguém apareceu.
Colocou a moça no sofá, deixou a bolsa dela na mesinha ao lado e saiu
rapidamente de lá, mais aliviado.
Sebastian voltou para casa com a consciência pesada. Sentia-se um
crápula, um maldito vampiro desgraçado que não conseguia controlar sua
sede. Arrependeu-se de ter desistido de tentar superar o vício. Era mesmo um
fraco!
Largou-se no sofá da sala, mas não conseguiu pegar no sono.
Cometera um grande erro naquela noite. Havia se exposto, se arriscado
demais... Se a garota prestasse queixa...
— Merda! — praguejou baixo.
Sua sede havia cessado, mas sua cabeça fervilhava de preocupação.

Luca também não teve uma boa noite de sono. Estava agitado,
impaciente. Queria falar com Natasha, queria resolver logo as coisas com o
pai dela.
Como ela também estava hospedada no hotel de Axel, foi procurá-la
logo pela manhã.
— O que faz aqui tão cedo? — perguntou a vampira com cara de
sono, dando passagem para ele entrar no quarto. — Luca, estamos em Nova
Iorque e hoje é sábado, não tem congresso! É sério que passou a noite no
hotel?
— Sim, passei. Não estava a fim de sair.
Natasha fez uma cara de tédio.
— Pois eu saí e faz menos de três horas que cheguei. Então, diga logo
o que você quer, porque eu preciso dormir... Estou um bagaço...
— Quero saber se você já conversou com o seu pai sobre nós...
Ela inspirou fundo e se sentou na cama.
— Já, eu tentei, juro... Na primeira vez, ele deu risada da minha cara.
Disse que eu estava delirando e me deixou falando sozinha. Abordei-o de
novo algumas semanas atrás, mas ele ficou muito bravo, mal quis me ouvir e
ameaçou cortar as verbas da fundação que administro se eu insistisse naquilo.
E essa fundação é muito importante para mim, Luca. Quero dizer, não para
mim, mas para quem ajudamos. Através dela, damos assistência aos
refugiados da guerra na Síria e do norte da África. Não podia arriscar isso
assim...
— Vou falar com ele! — decidiu Luca com o cenho franzido. — Vou
revelar que não cumprimos o ritual e que estamos de acordo em romper com
o noivado.
— Não faça isso! Você só se colocará em risco e não vai adiantar...
Eu já contei para o meu pai que não completamos o ritual e que, por isso, não
teríamos problemas em anular o noivado, mas ele ficou possesso. Falou que
prefere a minha morte do que passar uma vergonha dessas perante as demais
famílias de Vampyrs e o maldito Conselho, mas que antes mataria você. —
Ela inspirou fundo. — Por favor, Luca... Precisamos ter paciência... Por que a
pressa? Temos muitos anos para resolver isso ainda. Não vamos nos casar
agora mesmo...
— Não posso esperar tanto tempo! Não consigo... — Ele passou a
mão nos cabelos e caminhou até a janela. — Eu tenho alguém me esperando,
Natasha, e eu não consigo ficar longe dela.
— Outra? Mas já?— Ela ergueu uma sobrancelha. — Não faz um
ano que estava perdidamente apaixonado por uma humana...
— Não é outra, é a mesma — confessou ele.
— Como assim? — A vampira juntou as sobrancelhas. — Ela não
morreu em Vârful Cârja?
— Não. Nós conseguimos tirar ela de lá, mas decidimos manter isso
em segredo.
— Não creio... — Natasha abriu a boca, pasma, e se jogou para trás,
deitando-se na cama, pensativa. — Por isso que foi só você que voltou para o
castelo naquela noite? Bem que achei estranho Axel fazer aquela viagem de
emergência e aparecer somente dois dias depois. Também não vi mais o
Bass. Achei que o meu primo tinha retornado para Sibiu.
— Nós precisávamos escondê-la. Eu fiquei para não chamar a
atenção, Axel e Bass levaram ela para um lugar seguro.
Natasha suspirou.
— Entendo por que quer resolver logo esse assunto. A garota é só
uma humana... — Sentou-se de novo e balançou a cabeça negativamente. —
Não sei por que insiste nisso, vampiros e humanos nunca deram certo, você
sabe disso.
— Ela não é mais humana... Tive que transformá-la na prisão. Ela
havia sido atacada e estava à beira da morte.
A vampira abriu a boca surpresa.
— Uau! Você estaria bem encrencado se alguém do Conselho
descobrisse isso.
— E você não pretende contar, não é? — Luca arqueou uma
sobrancelha.
Ela riu.
— É óbvio que não. Então, você ainda se encontra com ela?
O vampiro suspirou.
— Durante esse tempo todo eu evitei procurá-la. Eu queria que ela
pudesse viver a vida dela enquanto eu não resolvia a minha, mas ontem...
Ontem nós conversamos e... eu preciso dela, Natasha.
— A garota está aqui? Em Nova Iorque? — Ela espantou-se e, então,
compreendeu. — Bass... Ele veio com ela?
Luca assentiu.
— Você entende por que eu quero resolver isso logo? Não aguento
mais ficar longe dela e não aguento mais, todas as noites, imaginá-la com o
meu melhor amigo... Isso tem me torturado há meses...
Natasha engoliu em seco. Seu coração parecia ter falhado várias
batidas só de pensar que Bass estava com aquela garota que, agora, não era
mais uma humana. Um sentimento de perda e temor tomou conta dela. Nunca
se importara muito com as mulheres com quem o primo saía, pois sabia que
era só por diversão, mas Nina... Ele mesmo lhe dissera que ela não era uma
garota qualquer... E se ele resolvesse tomá-la para si, fazer o pacto com ela?
— Vou resolver isso, Luca... Vou conversar com o meu pai mais uma
vez. Ele estará aqui em Nova Iorque a negócios na segunda-feira. Se ele não
aceitar que a anulação do noivado seja feita discretamente, como já sugeri,
vou ameaçar fazer uma declaração pública. Aí quero ver o escândalo. — Ela
se levantou e começou a andar agitada pelo quarto. — E vou dizer para todo
mundo que ele não tem o direito de se voltar contra você ou sua família, pois
sou eu que estou pedindo a anulação.
— Natasha... Tenha cautela... — comentou Luca, preocupado. — Eu
vou junto com você!
Ela balançou a cabeça em negativa.
— De jeito nenhum!
— Natasha!
— Não, Luca, por favor, me dê mais uma chance de falar com ele
sozinha. Meu pai só ficaria mais nervoso com a sua presença. E, apesar das
ameaças, não creio que o meu pai tenha coragem de me fazer mal. Mas se
você aparecer, ele vai botar a culpa em você e, Luca, eu conheço o meu pai,
ele joga sujo.
— Mas com a anulação do noivado partindo de nós dois, eu não creio
que ele vá fazer algo contra a minha família.
— Contra os seus pais, não, mas contra você... Ele vai mandar te
matar, Luca.
— Eu não tenho medo do seu pai e já estou cansado de ameaças!
— Então pense na sua garota. De que adiantaria essa sua coragem se
você acabar morto?
Luca fechou o semblante.
— Merda! — exclamou. — Estou me sentindo um inútil.
— Não é culpa sua do meu pai ser tão rígido, autoritário, antiquado e
sujo, não precisa se sentir mal com isso.
— Pelo menos me deixe ajudar sua fundação, já que provavelmente
seu pai irá cortar a verba.
— Toda a ajuda é bem-vinda. — Ela sorriu. — De qualquer forma,
tenho feito contatos nos últimos meses e recebi alguns retornos positivos,
estou confiante de que podemos conseguir outro mantenedor. Será até um
alívio não depender apenas do dinheiro do meu pai.
O vampiro assentiu, ainda preocupado.
— Confie em mim, Luca — continuou ela com um sorriso.
— Está bem. — Ele suspirou. — Você é quem sabe... Vou te deixar
dormir agora. Lá pelas 18h passo aqui para te buscar. Não se esqueça de que
temos um jantar na casa do meu tio hoje.
— Não vou me esquecer. Ela vai estar lá? A Nina?
— Sim, vai — confirmou ele da porta.
— Até mais tarde, então.
Luca saiu do quarto de Natasha esperançoso, embora um pouco
apreensivo. Queria poder ajudar, fazer alguma coisa, mas sentia-se de mãos
atadas e aquilo o irritava.
Ligou para a irmã e combinou de ir até a casa dela. Queria ver os
sobrinhos, talvez passear com eles. Precisava ocupar a cabeça um pouco.

A noite chegou e os convidados de Stefan Constantin começaram a


aparecer. Rob trouxe apenas a filha; sua esposa, como sempre, tinha outros
planos e ele agradecia por isso.
Ivy e Axel também trouxeram Belle e Ian, juntamente com a babá
que logo se encarregou de levar a turma toda para uma sala de brinquedos
que os Constantin haviam mobiliado especialmente para as crianças.
Bass e Nina foram os seguintes e, enquanto todos conversavam
animadamente na sala, Luca chegou com Natasha. A troca de olhares entre os
quatro jovens foi inevitável. Eles se cumprimentaram com meios sorrisos e
foram se sentar, cada um ao lado de seu par.
Provocador como de costume, Sebastian colocou sua mão sobre a de
Nina, arrancando um suspiro impaciente de Luca e um discreto revirar de
olhos da prima. Para não ficar atrás, Natasha tocou a perna do noivo e passou
a lhe fazer um carinho.
Nina, sentindo a irritação lhe subir pela garganta, desviou o olhar dos
dois e passou a conversar com a esposa de Stefan que estava do seu outro
lado.
Felizmente, o jantar não demorou a ser servido e assunto não faltou
enquanto estavam à mesa; contudo, assim que retornaram para a sala comum,
o clima estranho voltou a aparecer.
Além disso, Bass não estava em seu estado normal. De vez em
quando, ele assumia um ar mais sério e parecia ter o pensamento longe, o que
não passou despercebido nem de Nina, nem de Luca, que estavam mais
habituados ao seu jeito debochado.
Após meia hora de uma entediante conversa sobre hospitais e coisas
afins, Nina, incomodada por ter Natasha a estudando o tempo todo, sentiu-se
aliviada quando Belle apareceu insistindo para que ela a acompanhasse até a
sala de brinquedos. De tanto frequentar a casa dos Constantin, as crianças
haviam se afeiçoado a ela e sempre a chamavam para brincar.
Nina sorriu, pediu licença aos demais e saiu com a menina que lhe
puxava alegremente pela mão.
Bass aproveitou a movimentação para se levantar também. Contudo,
não foi para ir com as garotas até sala de brinquedos. Em vez disso, seguiu
para a varanda externa da casa, próxima à piscina.
O vampiro encostou-se na parede e fechou os olhos, inspirando o ar
profundamente. Sua mente ainda não lhe dava sossego. Não conseguia tirar
da cabeça a merda que ele tinha feito naquela madrugada e, por mais que
tentasse disfarçar, a preocupação lhe fritava o cérebro.
Natasha apareceu na varanda alguns minutos depois.
— O que faz aqui? — perguntou ela.
— Só estou pegando um ar... — Bass enrugou a testa. — E você? Por
que não ficou lá dentro?
— Porque lá não tem nada que me interesse...
— Nem o seu noivo? — Ele sorriu irônico e ela bufou impaciente.
— Você sabe muito bem que a minha relação com Luca é puramente
um negócio entre famílias.
— O que eu sei é que vocês não consumaram o ritual — disparou o
vampiro, irônico, fazendo ela arregalar os olhos.
— Pelo visto, Luca te contou...
— Você mentiu para mim naquele dia.
Ela se aproximou mais.
— Sim, eu menti. Não podíamos revelar que não tínhamos feito nada,
seria um escândalo.
— E você acha que eu iria fazer o quê? Espalhar aos quatro ventos
que o ritual não tinha sido válido? — irritou-se ele com uma sobrancelha
arqueada.
— Sinto muito por ter mentido, Bass. Mas eu e Luca fizemos um
acordo que, pelo visto, ele acabou descumprindo.
— Isso significa que vocês pretendem continuar com isso, não é?
Não os culpo. — Ele sorriu, sarcástico. — Gheorge Moldovan não perdoaria
tal desfeita.
Natasha suspirou.
— Bass... me escute. Eu não vou me casar com Luca. Vou falar com
o meu pai, vou pedir a anulação do noivado e tornar isso público, se for
preciso.
O vampiro franziu o cenho, surpreendido.
— Vai enfrentar mesmo o seu pai?
— Vou!
— Finalmente...
Ela arregalou os olhos e fechou o semblante em seguida.
— Não me julgue, Bass! — exclamou. — Não sabe como é
complicado!
O vampiro baixou a vista em direção ao chão e assentiu.
— Desculpe, Naty... eu entendo. Eu... só estou um pouco irritado
hoje e descontei em você. Sinto muito.
— Aconteceu algo?
— Não... Está tudo bem — mentiu.
— E você e Nina? Soube que estão juntos... — Ela desviou o olhar
para a piscina.
Bass sorriu.
— Está com ciúmes?
Natasha sentiu um impulso de negar, mas já estava cansada de
reprimir seus sentimentos e achou melhor falar a verdade.
— Sim, Bass, estou com ciúmes, com raiva, com inveja... Eu queria
ser ela, eu queria poder estar com você, poder te amar livremente. — Seus
olhos marejaram. — Eu queria poder fazer amor com você todas as noites,
eu...
— Você não iria querer ser ela, Naty... — interrompeu ele, ficando de
frente para ela e erguendo seu rosto. — Porque, sim, eu me dou bem com a
Nina, somos amigos, transamos de vez em quando, mas não sou apaixonado
por ela. Nossa relação é mais de amizade do que outra coisa. Não é ela quem
eu amo, e você sabe disso.
— Bass...
Uma lágrima escorreu pelo rosto da vampira e ele a enxugou com o
dedo.
— Quer fazer amor comigo hoje, Naty? — perguntou ele se
aproximando mais e tocando seu nariz no dela.
— Quero... — Ela sorriu e suas bocas se encontraram em um beijo
faminto. Seus corpos se apertaram um contra o outro e ambos se deixaram
levar pelos seus desejos mais profundos.
Agitado com a ausência de Nina na sala, Luca resolveu dar uma volta
e, por acaso, se deparou com a visão do casal aos beijos e amassos na
varanda. Ergueu as sobrancelhas, Bass era mesmo um descarado...
Um sentimento urgente cresceu em seu peito. Precisava ver Nina,
estar perto dela, nem que fosse por pouco tempo.
Rapidamente se dirigiu para a sala de brinquedos e a encontrou
sentada no chão brincando de tomar chá com as meninas e algumas bonecas,
enquanto Ian apenas as olhava. O vampiro sorriu. Aquela garota era perfeita,
linda demais.
Entrou na sala e sentou-se ao lado dela.
— Sobrou um pouco de chá para mim? — perguntou.
As meninas sorriram e logo trataram de arrumar uma xícara para ele.
Nina também lhe sorriu e o clima entre eles se manteve agradável, até que,
algum tempo depois, Bass e Natasha apareceram na porta.
— Ei, Luca! — Chamou o vampiro loiro. — O que acha de irmos
embora?
— Irmos? Nós quatro? — Ele arqueou uma sobrancelha desconfiado.
— Não pense besteiras, não estou sugerindo um swing. — Bass riu.
— Vindo de você, eu espero qualquer coisa.
— É só para não ficar estranho eu sair daqui com a Naty. Você pode
levar Nina em casa, por favor?
Luca olhou para a garota, que engoliu em seco.
— Vim para cá de táxi, mas eu acompanho ela, não se preocupe.
Sebastian refletiu um pouco.
— Façamos assim, eu deixo vocês no apartamento. É caminho do
hotel mesmo.
Nina pensou em abrir a boca para protestar, mas teve receio de
bancar a estraga prazeres. Ela sabia o quanto Bass gostava da prima e não
queria atrapalhar os planos dele.
Os quatro se despediram dos donos da casa inventando uma desculpa
de mostrar a noite novaiorquina aos visitantes e seguiram para o apartamento.
Ao chegarem em frente ao prédio, Luca e Nina saíram do veículo e o vampiro
loiro sorriu ao volante.
— Divirtam-se! — disse ele, partindo com o carro.
Luca fitou Nina meio constrangido.
— Não se preocupe, pode entrar, vou chamar um táxi. — Ele
esboçou um sorriso sem graça.
Um nó se formou na garganta dela.
— Não precisa ir agora... — falou hesitante. — Pode ficar um pouco.
— Não quero te incomodar, Nina. Sei que você prefere me manter à
distância e eu não quero forçar minha presença.
— Vou querer distância, sim, Luca, caso você não consiga anular o
seu noivado, porque eu já te disse uma vez que não faria papel de amante.
Mas não será hoje ou amanhã que conseguirá falar com Gheorge Moldovan,
não é? E você vai embora em poucos dias. Então... Por que não aproveitamos
a companhia um do outro enquanto isso?
— Quer mesmo que eu fique? — Ele a estudou com o olhar, em um
misto de receio e esperança.
Ela assentiu.
— A não ser que você tenha alguma sugestão melhor de como
podemos passar a noite...
— Não, não tenho. — Ele ergueu uma sobrancelha. — E de que
forma você gostaria de se aproveitar da minha companhia?
Nina deu de ombros.
— Isso veremos... — Sorriu.
Luca sorriu também e ambos entraram no prédio. Seus corações
batendo forte em expectativa pelo que viria a seguir.
N
amava.
ina entrou no apartamento com o coração aos pulos. Mesmo já tendo
transado com Luca há dois dias, agora eles estavam sozinhos, agora
ela tinha de volta sua memória, agora ela se lembrava de como o

Entretanto, não daria vazão àquele sentimento. Não era mais a mesma
garota de antes. Sabia onde estava se metendo, conseguia analisar com mais
praticidade os seus sentimentos e as possibilidades que se apresentavam à sua
frente.
Não queria nenhuma promessa de compromisso com Luca, não
esperaria nada dele. Não enquanto ele não resolvesse a vida dele com
Natasha. Por hora, apenas desejava tê-lo em sua cama.
Sexo... Aprendera com Bass a separar sexo de amizade. Agora teria
que aprender a separar sexo de amor.
Olhou para o seu deus grego e não teve tanta certeza se conseguiria,
mas, agora que Luca estava ali, aproveitaria cada minuto de seu tempo com
ele.
— Que tal um banho primeiro? — sugeriu ela após pendurar o casaco
e a bolsa próximos à porta.
— Pode ir... eu espero aqui — respondeu Luca, procurando um lugar
para se acomodar, ainda inseguro quanto ao que estava fazendo.
— Vamos juntos. — Ela sorriu e ele arqueou levemente as
sobrancelhas.
— Nina... tem certeza de que quer fazer isso? Sei que está magoada
comigo.
— Eu estou triste, sim, Luca, mas também estou com saudades... E eu
já pensei bastante a respeito. — Ela se aproximou, ficando de frente para ele,
e o tocou no peito. — Eu te falei ontem no hotel que não vou me prender a
você e também não vou guardar esperanças... E não vou mesmo! Não se
engane. Apesar de ainda te amar, e eu não vou negar isso, o que eu quero
aqui hoje, Luca, é sexo, é fazer amor sem pensar no amanhã. Entende isso?
Ele assentiu em um misto de desejo, ansiedade e dúvida. Com um
sorriso, Nina pegou em sua mão e o levou em direção ao quarto.
Luca não sabia o que pensar ou esperar daquele encontro. Seu único
medo era de machucá-la novamente, pois ainda não estava muito certo das
palavras dela. Conseguiriam encarar aquela noite apenas como uma noite de
sexo? Ele certamente não. Nunca conseguiria fazer apena “sexo” com Nina,
mas quanto a ela... Talvez a experiência dela com Bass e com os outros caras
a tivessem preparado para aquilo.
Passaram pelo quarto em direção ao banheiro e algo se revirou no
estômago do vampiro. Ciúme... Só de imaginar o que o amigo fazia com ela
naquela cama, seu sangue fervia. Bass sobre ela... dentro dela... Luca inspirou
fundo e expulsou aquelas imagens que teimavam em se formar em sua mente.
O que estava feito, estava feito, não adiantava se remoer por causa daquilo
agora.
Após abrir a torneira para encher a banheira, Nina se virou para ele
com os olhos brilhando e um sorriso nos lábios.
Luca não aguentou mais manter qualquer distância entre eles e a
puxou para um abraço e um beijo profundo.
Avidamente procurou a língua dela, explorando sua boca de forma
sensual e ardente. Puxou-a pelas nádegas, colando ainda mais seu corpo no
dela enquanto ela o enlaçava pela nuca e enroscava os dedos em seus cabelos.
Luca desceu com seus lábios até o pescoço de Nina e ela sorriu de
deleite, inclinando a cabeça levemente para trás.
Para ela, sentir aquela boca quente e macia em sua pele novamente
era muito mais do que apenas excitante, era uma realização, um acalento ao
seu coração. A saudade louca que havia se instalado em seu peito desde que
soubera a verdade, desde que suas memórias retornaram, era absurda, e ela
simplesmente não conseguia se manter afastada de Luca. Não enquanto ele
estivesse ali em Nova Iorque. Depois que ele fosse embora, veria o que
restaria de seu coração, mas, naquele momento, só pensava em aproveitar
cada segundo com ele.
O vampiro se afastou um pouco e eles se entreolharam. Paixão, calor,
desejo... Mesmo sem trocar qualquer palavra, eles decidiram que seriam
apenas aqueles sentimentos que conduziriam suas mentes e seus corpos
naquela noite. Nada de tristeza, nada de cobrança, nada de ciúme, somente a
vontade de estarem juntos e unidos em um só corpo.
Sorrindo, arrancaram os sapatos e Nina desabotoou a calça de Luca
enquanto ele retirava a própria camisa. Com um olhar faminto, ela desceu a
peça e apalpou o membro já rijo do vampiro.
— Adoro isso aqui. — Ela riu.
— É todo seu — falou Luca, deslizando a cueca para baixo a fim de
liberar sua ereção.
Nina deu um pequeno grito de alegria e excitação. Sem perder tempo
abaixou-se na altura do pau de Luca e o tomou na boca, sentindo o gostinho
salgado do líquido pré-ejaculatório. O vampiro sorriu.
— Ei, moça. Não íamos tomar um banho antes?
Ela olhou para cima, ainda com o pau de Luca na boca e sorriu.
— Eu não aguento ver o seu pau e não lamber ele todinho. É mais
forte do que eu — respondeu, voltando a chupá-lo.
Luca gemeu com o movimento da língua quente dela em seu
membro. Saudade era pouco, ele ansiava por ela com todas as suas fibras.
Tomado de desejo, começou a se movimentar dentro da boca de Nina,
fodendo-a gostoso.
Nina o segurava pelas nádegas e o engolia até onde conseguia. Agora
ela já sabia como fazer aquilo, sabia como dar prazer a ele. Apertou-o com os
lábios e deixou que ele imprimisse o ritmo.
Com um gemido alto, Luca atingiu o clímax e, segurando a cabeça de
Nina contra si, liberou seu sêmen no fundo da garganta dela, quase fazendo-a
se engasgar.
— Caralho, pequena, você me enlouquece assim.
Nina se ergueu e com um sorriso voltou a beijá-lo. Luca não se
importou de sentir seu próprio gosto nela e, enquanto suas bocas estavam
ocupadas, ele aproveitou para retirar a blusa e a calça que Nina vestia,
deixando-a apenas de lingerie.
Com os olhos brilhando, ele retirou lentamente a peça de cima e lhe
acariciou os mamilos entumecidos com os polegares. Desejou colocá-los na
boca, mas antes lhe retirou a calcinha e se afastou alguns passos, passando a
contemplá-la.
— O que está fazendo? — Nina riu.
— Estou matando a saudade de te ver assim.
— Mas você me viu antes de ontem.
Ele balançou negativamente a cabeça.
— Não desse jeito, não com calma, não com você só para mim. —
Ele sorriu. — Você é tão linda! Eu tive tanta saudade...
Nina voltou a se aproximar dele.
— Eu não tive essa saudade antes porque você me negou isso. — Ela
o enlaçou novamente pelo pescoço. — Mas agora... meu peito chega a doer
com esse sentimento. Eu te quero, Luca. Me faça sua essa noite, somente sua.
— Somente minha... — repetiu ele ao beijá-la e conduzi-la para a
banheira que já havia se enchido.
Mal haviam entrado na água, e Luca desceu a boca para os seios de
Nina, chupando cada um de forma saborosa. Ele amava aquela sensação do
bico rijo da garota em sua boca, amava escutar os gemidos que ela dava ao
prendê-lo com os lábios. Amava deixá-la excitada, fazê-la gozar, amava tudo
nela.
Sua mão escorregou para a vulva quente dela e ele a penetrou com
um dedo, enquanto lhe massageava o clitóris com o polegar. Aos poucos,
sentiu o corpo de Nina se entregar cada vez mais às sensações e já estava
esperando que ela gozasse, quando ela lhe segurou a mão.
— Vamos para a cama, Luca. Eu quero você dentro de mim — pediu.
— Seu desejo é uma ordem. — Ele sorriu e ambos saíram da
banheira.
Molhados como estavam, jogaram-se na cama aos beijos e retomaram
as carícias íntimas. Luca veio por cima e ela se abriu para recebê-lo entre as
pernas.
— Ah, minha pequena — exclamou ao penetrá-la.
— Luca...
O vampiro passou se movimentar dentro dela, arrancando-lhe
gemidos altos.
— Mais forte, Luca. Me fode com força.
Ele sorriu e intensificou as estocadas. Fodia-a com força, com
vontade, com toda a sua alma.
Ambos se entregaram totalmente às sensações e Nina sentiu algo
mudar dentro dela à medida que se aproximava do orgasmo. Uma vontade
incontrolável de sangue surgiu e ela percebeu que estava prestes a se
transformar. Tentou se controlar, mas era nova naquilo. Só havia se
transformado uma vez na vida — na frente do espelho para ver como era, e
teve medo de si própria; por isso, nunca mais havia tentado de novo.
Naquele momento, contudo, a transformação parecia estar chegando
de forma involuntária e ela não conseguia pará-la.
— Luca... — murmurou. — Luca, eu... eu vou...
— Goze, minha linda — falou ele beijando o pescoço dela e sentindo
o clímax chegar para ele também.
Os olhos de Nina se tornaram violáceos e, sem conseguir mais se
controlar, ela cravou os dentes no pescoço de Luca. O vampiro gritou e,
tomado de uma excitação absurda, devolveu-lhe a mordida. Ambos sugaram
o sangue um do outro enquanto ondas de prazer arrebatavam seus corpos
simultaneamente.
Aquilo era mais do que louco, era mágico, era intenso. Os espasmos
eram contínuos e nada do que já haviam sentido antes poderia se comparar ao
prazer que os envolvia naquele momento. Os dois amantes tinham a sensação
de que algo explodia dentro deles. Uma explosão que se assemelhava à mais
profunda felicidade.
Quando finalmente as contrações musculares cessaram, o
relaxamento foi total. Luca saiu de dentro dela e deixou-se cair ao lado mais
do que exausto. Seu corpo formigava e sua respiração era curta e pesada.
Com Nina, não era diferente. A sensação que ela tinha era de estar
desconectada de seu corpo. A transformação havia se desfeito, mas ela não
conseguia controlar seus movimentos. Era como se estivesse amortecida.
— Luca... Não consigo me mexer direito...
— Vai passar... não se esforce, respire com calma e relaxe.
— Estou relaxada, meus músculos parecem geleia. — Ela riu e ele a
acompanhou. — Luca... desculpe, eu não consegui me controlar, quando vi já
estava te mordendo.
— Jamais me peça desculpas por algo assim, Nina. Este foi o
orgasmo mais intenso que tive na vida. Achei que nada superaria aquele que
experimentei quando te mordi no castelo, mas esse aqui... Uau! Foi
enlouquecedor.
Ambos riram novamente e se abraçaram, aconchegando-se nos
braços um do outro.
Não muito longe dali, Bass e Natasha também se enroscavam no
quarto dela do hotel.
— Como é transar com ela? — perguntou Natasha montada sobre o
primo, cavalgando-o com destreza.
Ele riu.
— Por que quer saber sobre isso agora?
— Porque quero saber se prefere fazer amor comigo ou com ela.
Bass a virou e ficou por cima, olhando-a nos olhos.
— Naty, eu amo você. Nada, nem ninguém, vai se comparar a você.
A vampira o puxou para si e o beijou com urgência. Ela nunca se
entregara a ninguém como fazia com o primo. Quando estava com ele era
como se o mundo exterior não importasse mais.
— Espere por mim, Bass. Prometo que logo as coisas irão se
resolver...
— Nada vai me fazer desistir de você, loira — disse ele estocando-a.
— Não agora que eu sei que você não está ligada a Luca pelo ritual. Você vai
ser minha, Naty, e ninguém vai me impedir.
— Eu te amo tanto...
Ele sorriu e lhe mordiscou o lábio.
— Então para de falar e goza para mim — pediu e voltou a se
arremeter dentro dela.
Natasha sorriu também e fechou os olhos, deliciando-se em sentir o
maravilhoso pau de Bass se movimentar em seu interior. Pressionando mais
seu quadril contra o dele, passou a rebolar e buscar o seu prazer. Com um
gemido alto, chegou ao ápice.
— Isso, loira, goza! — falou ele no ouvido da prima. Segundos
depois, liberou também seu líquido quente dentro dela.
Horas mais tarde, ambos caíram exaustos de tanto sexo.
— Acho que faz anos que eu não gozo tantas vezes em uma única
noite — comentou Bass.
— Humm... então quer dizer que você já fez sexo intenso assim com
outra pessoa, é? — Natasha arqueou uma sobrancelha.
— Você não? — provocou ele com um sorriso.
Ela franziu o cenho.
— Já tive alguns parceiros interessantes, mas nada igual a você —
confessou ela. — Mas, pelo visto, você teve experiências muito melhores do
que as minhas.
O vampiro riu do beicinho que ela fez.
— Já tive experiências muito loucas, Naty. Mas trocaria todas elas
por mais noites com você.
— Sempre soube que você era um pervertido, não precisa massagear
meu ego.
— Não estou massageando nada. — Bass a puxou para cima de seu
peito e lhe fez um carinho no rosto. — Estar com você é a melhor coisa do
mundo.
Ela sorriu e lhe deu um beijo.
— Eu fui tão idiota... — murmurou. — Perdemos tanto tempo...
— Somos vampiros, Naty. Não perdemos tanto tempo assim.
Considerando que iremos viver por centenas de anos, podemos pensar que
ganhamos experiência. — Bass piscou e levou uma mordida no ombro como
resposta. — Ai! Quer me morder, me morde no pescoço.
— Engraçadinho...
Bass suspirou.
— Eu te devo desculpas por algumas coisas que te falei
anteriormente. Fui injusto em esperar que você enfrentasse seu pai tão nova.
Na verdade, ainda não sei como você pretende fazer isso agora, e eu estou
preocupado, Naty. Por favor, não deixe que ele lhe faça mal. Eu juro que se
meu tio encostar um só dedo em você, eu acabo com ele.
A vampira passou os dedos pelo rosto do primo.
— Não sei se existe alguém com poder o suficiente para acabar com
o Gheorge Moldovan... E nem pense em matá-lo, Bass. Ele pode ser cruel e
tirano, mas ainda é o meu pai. Eu resolvo isso, prometo, confie em mim.
— Okay, okay... Apenas tome cuidado, está bem?
Ela assentiu e voltou a repousar a cabeça no peito dele.
— Faz o ritual comigo? — perguntou Bass repentinamente.
Natasha elevou a cabeça para encará-lo.
— O ritual? Como assim?
— Comprometa-se comigo, Naty. Assim, meu tio terá mais um
motivo para aceitar o rompimento do seu compromisso com Luca. Um
motivo forte, um no qual ele acredita e se verá obrigado a aceitar.
Primeiro, a vampira abriu a boca, pasma, depois sorriu e, com os
olhos brilhando, enlaçou o pescoço do primo em um abraço apertado.
— Eu faço... Eu faço o ritual com você, Bass.
O vampiro sorriu e se levantou, indo buscar uma taça no bar do
quarto, que era bem maior e mais luxuoso do que o de Luca.
— Não achei nada cortante. Vamos ter que improvisar — falou. E,
com um sorriso, mordeu o próprio pulso, perfurando sua veia.
Ele deixou que o sangue escorresse para dentro da taça por alguns
segundos.
— Por este ato, escolho você, Natasha, como minha futura esposa e
lhe entrego o meu sangue junto com a promessa de que, no dia escolhido por
você, serei seu marido para todo o sempre. — Em seguida, entregou a taça à
prima.
Natasha fez o mesmo com o seu sangue, deixando-o se misturar ao de
Bass.
— Por este ato, escolho você, Sebastian, como meu futuro marido e
lhe entrego o meu sangue junto com a promessa de que, daqui a alguns anos,
serei sua esposa para todo o sempre.
Ambos estancaram o sangue pressionando os ferimentos com os
dedos e sorriram. Bass pegou novamente a taça e bebeu um gole, seguido por
ela.
— Agora temos que transar de novo! — Ela sorriu.
— Garanto que isso não será problema nenhum para mim. — Ele a
empurrou sobre os lençóis e ambos caíram na gargalhada.
Horas depois, quando a tarde já caía, o casal finalmente deixou o
quarto. Bass trabalharia naquela noite e ainda precisava passar em casa para
se trocar. Natasha decidiu ir com ele, pois ambos também queriam contar à
Luca e Nina sobre o ritual que haviam consumado.
Encontraram os dois deitados no sofá enquanto assistiam TV. Um
cheiro de bolo quente e café recém passado inundava o apartamento.
— Uau! — exclamou Bass, pendurando os casacos próximo à porta.
— Me diz que você fez aquele bolo maravilhoso de chocolate.
Nina virou a cabeça para olhá-los e sorriu.
— É só um bolo de caixinha — justificou.
— É gostoso de qualquer forma — falou o vampiro ao se aproximar e
beijar a boca dela.
— Ei! — exclamou Luca com as sobrancelhas arqueadas.
Sebastian gargalhou e foi até o balcão da cozinha a fim de se servir
do bolo. Natasha sorriu também, ela sabia que o primo só havia feito aquilo
para provocar o amigo e ficou feliz por ela própria não ter sentido ciúmes de
Nina. Bass era dela agora, isso era certo!
— Relaxe, Luca, ele só está brincando — disse ela com uma piscada.
— Quer bolo, Naty? — perguntou Bass.
— Sim, e café também! — Ela foi até ele.
Luca enrugou levemente a testa e voltou a se acomodar no sofá.
Mesmo conhecendo Bass de longa data e sabendo como ele era, era
impossível não se sentir incomodado pelo que fizera. O amigo sabia irritá-lo
quando queria.
Com um sorriso, Nina se aconchegou em seu peito.
— Luca... — disse baixo, apenas para que ele ouvisse. — Apesar do
que aconteceu aqui hoje entre nós... Apesar de tudo o que eu estou sentindo,
eu ainda vou manter o que eu disse antes, lá no hotel. Eu não vou guardar
esperanças desta vez e não vou me prender a você.
— Está dizendo que vai continuar com Bass? — A ruga em sua testa
se aprofundou.
Nina suspirou. Não era exatamente nisso que ela estava pensando.
Não se arrependia, em momento algum, de ter passado os últimos meses na
companhia de Bass, muito pelo contrário. O vampiro havia lhe ensinado
inúmeras coisas e ela tinha se divertido muito. O peso de seu amor por Luca,
porém, era grande e ela não sabia como seria sua relação com Bass dali para
frente. Não sabia se continuaria com ele ou se sairia novamente com outros
caras. O sexo casual não parecia ser mais tão atrativo sem o seu médico de
olhos azuis... Mas ela tinha medo de colocar esperanças em algo que iria
machucá-la, por isso tentava se convencer de que precisava manter as portas
abertas para a vida e não ficar esperando por Luca.
— Estou dizendo que eu vou fazer o que eu tiver vontade de fazer,
sem ficar angustiada se um dia você irá voltar para mim ou não — respondeu
ao encará-lo.
O vampiro abriu a boca, mas não retrucou. Ele compreendia os
motivos dela e não lhe tirava a razão, embora seu coração se apertasse só de
pensar que Nina poderia continuar frequentando a cama de Bass e saindo
com outros caras enquanto ele e Natasha não definissem a própria situação.
Não... em breve resolveria aquilo, com a ajuda de Natasha ou não. Assim,
não faria Nina esperar mais.
Alguém bateu à porta e Bass foi atender
— Sebastian Moldovan? — perguntou um homem fardado.
— Sim, sou eu...
O policial o virou e o prensou contra a parede, algemando-o.
— O senhor está preso pelo sequestro e agressão à Jess Miller.
— Você tem o direito de permanecer em silêncio e qualquer coisa
que disser poderá ser usada contra você no tribunal. Você tem direito a um
advogado e se não puder pagar, o Estado lhe indicará um — falou um
segundo policial que estava junto.
Luca e Nina se levantaram imediatamente do sofá, assustados,
enquanto Natasha permanecia estática.
— Ei, calma, esperem, por favor! — exclamou Luca. — O que
aconteceu? Isso deve ser um engano!
— Temos um mandado para revistar a casa e o carro dele também —
disse um dos policiais enquanto o outro levava Bass escadas abaixo.
Abismados e apreensivos, os três observaram outros policiais
entrarem e vasculharem tudo, mas eles não encontraram nada. Apenas
levaram o computador e o celular de Bass.
— Providencie um advogado para o seu amigo — recomendou o
policial antes de sair.
Nervoso, Luca fechou a porta e passou a mão nos cabelos. Que merda
o amigo tinha feito agora?
A ssustado e preocupado com o que havia acontecido, Luca ligou
imediatamente para o seu tio Stefan e informou sobre a prisão de
Bass. Em seguida, foram direto à casa dele.
Um advogado de confiança foi chamado pelo vampiro mais velho
que, após fazer inúmeras ligações, o acompanhou até a delegacia.
Várias horas se passaram até que Stefan retornasse com informações.
Horas angustiantes para todos que estavam na casa. Ninguém fazia ideia do
que Bass podia ter feito para estar sendo acusado de sequestro e agressão.
Parecia um absurdo que ele pudesse fazer tal coisa. Nesse meio tempo, Axel,
Ivy e Robert também haviam se juntado a eles.
— E então? — Quis saber Natasha demonstrando nervosismo. —
Cadê o Bass? Não conseguiram tirar ele de lá?
— Calma, Natasha. As coisas não funcionam assim — respondeu
Stefan. — Existe uma denúncia contra Sebastian. Uma mulher o acusou de
assédio, sequestro e agressão. Ela disse que ele a levou para um hotel e em
seguida a drogou. Parece que ela acordou na casa dela, mas... — O vampiro
suspirou. — Ela tinha ferimentos no pescoço.
— Ah! Merda! — bufou Luca. — Não acredito! Aquele idiota!
— O que você sabe sobre isso? — perguntou Stefan desconfiado.
— Bass... ele... Ele é viciado em sangue fresco... — esclareceu sob os
olhares espantados dos demais.
— Desde quando?
— Há pelo menos um ano e meio.
— Se você sabia disso, por que não falou nada? — questionou Nina.
—Podíamos ter ajudado ele!
— Eu tentei ajudar, dei um livro a ele que tinha instruções sobre
como deixar de ser um dependente de sangue. Mas não cabia a mim revelar o
problema dele. Mesmo porque Bass não é o tipo de viciado que se pode
internar em uma clínica de reabilitação. Ele não é humano e, nós vampiros,
não temos nada parecido. Mandariam ele para a prisão, com certeza. A
mesma de onde te tiramos, Nina. Você acha que o vampiro que te atacou
estava lá por quê?
Nina cobriu a boca com a mão... Causava-lhe arrepios se lembrar
daquele lugar horrível.
— O que vai acontecer com Bass? — Natasha sentia suas pernas
bambas de nervoso.
— O Dr. Nollan é um excelente advogado criminalista e vai cuidar
disso, tenho certeza — respondeu Stefan. — Além disso, temos gente
infiltrada na procuradoria e na polícia. Logo teremos mais informações.
— Que provas eles têm? — quis saber Axel.
— Por enquanto, só o depoimento da mulher e um vídeo mostrando
Sebastian saindo com ela da boate. Os testes de droga também identificaram
um sedativo no sangue dela.
— Não têm vídeos do hotel?
— Até agora, não descobriram em qual hotel eles estiveram. A
mulher não se lembra e Bass deve ter usado dinheiro para pagar, já que o
cartão dele não aparece no sistema.
— O que vamos fazer? Bass não pode ficar preso — perguntou
Natasha preocupada. — Ainda mais sendo um viciado...
— Temos que esperar. A audiência de fiança será em dois dias, no
máximo. Mas, infelizmente, o advogado já adiantou que dificilmente o juiz
irá liberá-lo neste caso.
— Por quê? — indagou Nina de olhos arregalados.
— Porque sequestro é um crime grave e ele é estrangeiro. — Stefan
suspirou. — Por sorte, ele aparentemente não fez sexo com a moça ou
provavelmente seria acusado de estupro também.
— Mas e então? — Ivy entrou na conversa. — Se ele não puder sair
com a fiança, como vai ser?
— Vamos ter que aguardar a audiência preliminar.
— Que vai ser quando? — insistiu a vampira.
— Normalmente leva cerca de dez dias para ser marcada.
— Mas como ele vai ingerir o sangue de que precisa nesse tempo? —
preocupou-se Nina.
— Não tem como... Aqui eles não permitem que os presos recebam
comida ou bebida de fora. Bass vai entrar em abstinência e vai atacar quem
estiver pela frente — concluiu Rob.
Luca balançou negativamente a cabeça.
— Ele vai aguentar uns seis ou sete dias no máximo...
— Ai, meu deus! — exclamou Nina.
— Vou ligar para o meu pai — falou Natasha com lágrimas nos
olhos. — Ele chega amanhã, tenho certeza de que poderá ajudar.
— Seu pai não tem tanta influência aqui nos Estados Unidos,
Natasha... — argumentou Ivy. — Não conte com isso...
— Escutem... Vamos ter calma... — Stefan inspirou fundo. — Já
tivemos casos assim antes. Nossos advogados saberão como agir. Vão para
casa, descansem. Eu manterei vocês informados das novidades. Por enquanto,
Bass está bem.
— Fica comigo, Luca? — murmurou Nina ao se abraçar nele quando
saíram da casa. — Não quero ficar sozinha.
— Claro, pequena...
— Posso ir com vocês? — perguntou Natasha logo atrás.
Eles se viraram e se depararam com a vampira aos prantos.
— Venha... — chamou Nina e estendeu a mão.
O carro de Bass havia sido vistoriado pela polícia quando ainda
estavam no apartamento, mas logo foi liberado e Luca o dirigia.
Assim que chegaram ao prédio, Natasha se sentou no sofá com o
olhar perdido. Ela já havia parado de chorar, mas seu coração temia pelo que
podia acontecer com Bass, temia pelo que ele podia fazer às outras pessoas
quando entrasse em abstinência. Se ele machucasse alguém, estaria perdido.
Nunca mais sairia da prisão. Ele morreria sem sangue... Só de pensar naquela
possibilidade, seu estômago se revirava.
Tentou falar com o pai. Contudo, a única coisa que conseguiu foi
deixá-lo furioso. Gheorge Moldovan tinha horror a escândalos e Bass era seu
sobrinho, o que implicaria o nome dele. Que morra, esse imbecil!, ele disse,
deixando a vampira ainda mais desolada.
Nina também estava abalada, mas sua natureza otimista a fazia
acreditar que tudo daria certo, como havia afirmado Stefan. Assim, resolveu
fazer um chá e serviu uma xícara à Natasha.
— Não se preocupe. Ele vai sair dessa — disse.
Natasha assentiu.
— Me desculpe por vir aqui assim, mas é que... eu não queria voltar
para o hotel...
— Tudo bem, se você não se importar de dormir no sofá...
— Não... não me importo, obrigada...
Luca, sentado em uma poltrona, acompanhava a conversa em
silêncio. Estava cansado, preocupado e irritado com Bass. O amigo não havia
lhe dito mais nada sobre o vício... Imaginou que o problema estivesse sob
controle, que ele havia conseguido voltar à sua cota normal.
Inferno! Por que Bass não se abriu com ele? Mesmo estando em
outro continente, poderiam ter pensado em alguma solução. Poderia ter
pedido ajuda à Ivy. Ela estava perto e, além de médica, era uma cientista.
Teria ajudado, com certeza.

A segunda-feira amanheceu gelada e Bass permanecia imóvel,


sentado na cama dura de sua cela. Não havia conseguido dormir naquela
noite, sua cabeça não parava de trabalhar e sentia-se esgotado.
Estava fodido! Tinha certeza! Não sabia se o advogado conseguiria
tirá-lo dali. Ele tinha ferrado com tudo daquela vez. Merda de vício!
Encostou a cabeça na parede e fechou os olhos.
Ele devia saber que um dia algo assim aconteceria, mas foi tolo
demais, confiante demais... Devia ter sido mais insistente com o tratamento.
Havia desistido muito fácil, reconhecia isso. Seu peito se angustiava ao
imaginar o que seus amigos estariam pensando dele. Luca certamente estaria
puto, Nina preocupada e Natasha... Um frio passou por seu estômago. Sua
prima devia estar decepcionada, chateada...
Com que cara a veria de novo? Se é que um dia a veria de novo... Se
não saísse daquele lugar, se não conseguisse tomar sua cota de sangue,
certamente seria um vampiro morto em algumas semanas.
E, se porventura saísse... Como os encararia? A todos? Tinha
vergonha de si próprio, do que fizera, do que se tornara. Como pôde se
colocar naquela situação?
O advogado havia lhe dito que as provas eram fracas, pois a única
coisa que o ligava à moça era um vídeo dele deixando a boate com ela. No
entanto, dificilmente sairia sob fiança, pois não era um cidadão americano.
Nesse meio tempo, a polícia certamente tentaria juntar mais provas para
fortalecer a acusação.
Apesar de não haver mais ninguém com ele na cela, o vampiro podia
escutar sons de conversas vindos do corredor. Não sabia por que fora
colocado sozinho, talvez por interferência do advogado. De qualquer forma,
isso era bom. Se tivesse que ficar naquela cela por mais do que cinco dias, era
melhor que não tivesse ninguém com ele mesmo.
Já tinha feito as contas: em três dias, os primeiros tremores da
abstinência apareceriam; em cinco dias, a sede se tornaria insustentável; em
sete, começaria a alucinar e se tornaria potencialmente perigoso. Enfim, em
dez, não teria mais qualquer controle e o tomariam por um louco, a partir daí
seu corpo começaria a definhar e em vinte dias estaria morto.
Mesmo que antes disso o enviassem a um hospital psiquiátrico, se
não recebesse sangue, seria só mais um preso em uma camisa de força
morrendo sem que os humanos entendessem o motivo.
Na Romênia e em alguns outros países europeus, alguns hospitais
psiquiátricos também eram controlados por vampiros, mas em Nova Iorque,
ele não fazia ideia. Nunca havia perguntado a Stefan.
Abriu os olhos ao escutar um policial se aproximar para trazer seu
café da manhã. Suspirou... Pagaria pelos seus erros de uma forma ou de
outra. Mesmo que conseguisse sair daquela enrascada vivo, enfrentaria o
Conselho e, provavelmente, a prisão dos próprios vampiros.
O dia se arrastou e, somente à noite, conseguiu dormir um pouco.
Acordou cedo no dia seguinte para ser levado à sua primeira audiência.
Como previra, o juiz não autorizou a fiança e marcou a data para a
audiência preliminar em oito dias. Bass engoliu em seco, oito dias era muito
tempo...
— Estou entrando com um pedido para tratamento médico especial
— explicou o advogado antes de deixarem o tribunal. — Para todos os fins,
você tem talassemia e precisará de transfusão de sangue.
— Talassemia? — Bass arqueou uma sobrancelha.
— Sim, é uma doença genética das hemácias, algo relacionado à
hemoglobina e...
— Eu sei o que é talassemia. Sou médico, esqueceu? — interrompeu
o vampiro com um suspiro. — Apenas fiquei surpreso, um vampiro anêmico
chega a ser irônico.
— O seu tio forneceu um prontuário falso com o seu “diagnóstico” e
as intervenções. Esperamos que o tratamento seja autorizado o mais rápido
possível e, se tivermos sorte, você deverá ser levado para a enfermaria de um
hospital onde temos acesso, assim poderemos te fornecer o sangue que
necessita sem despertar suspeitas.
— E se não tivermos sorte?
O advogado fez uma carranca.
— Se você for levado para um hospital no qual não possamos entrar
para te assistir corretamente na hora da transfusão, você receberá sangue
humano na veia, ao invés de ingeri-lo.
— Isso vai me matar! — Bass rosnou baixo.
— Reze para ter sorte — falou o advogado pegando sua maleta. —
Nos vemos amanhã, Sr. Moldovan.
Assim que o advogado se afastou, os oficiais de polícia se
aproximaram de Sebastian e o algemaram a fim de retorná-lo à cadeia. Na
saída, antes de entrar no carro, ele viu Natasha a alguns metros de distância,
ela tinha os olhos rasos d’água.
Com uma ruga entre as sobrancelhas, o vampiro abaixou a cabeça e
entrou no veículo. Por ser apenas uma audiência de fiança, não era permitida
a presença de amigos ou familiares, por isso ele não achou que ela estaria
presente.
Vergonha... Era o que sentia naquele momento...

Natasha voltou para o hotel abalada. Como era difícil ver Bass
daquele jeito... Seu primo, seu amor... Não entendia por que ele tinha
começado com aquilo sabendo dos riscos.
— Idiota! Bass, você é um idiota! — resmungou ao entrar no quarto.
A vampira jogou a bolsa em um canto qualquer e se sentou na cama,
desolada. Por que ele não havia tentado sair do vício como prometera a Luca?
Se estava com dificuldades, por que não disse nada?
Lágrimas voltaram a lhe banhar o rosto. Ela estava com medo, muito
medo. O advogado havia comunicado quais seriam os próximos passos e
havia uma possibilidade de Bass não conseguir receber o sangue
adequadamente.
Nervosa e inconformada, levantou-se da cama e discou para o pai,
sabia que ele havia chegado em Nova Iorque na noite anterior. Cobraria uma
atitude dele. Afinal, Bass era da família, era o seu sobrinho.
— O que foi, Natasha? — Gheorge atendeu mal-humorado.
— Quero conversar com você, pai. Marque o local, por favor.
— Ah, agora você quer conversar? Engraçado isso, porque na
Romênia eu tenho a impressão de que você me evita sempre que pode. — Sua
voz saiu debochada. — Eu soube que está hospedada no hotel do lobo...
— Sim, estou. Qual é o problema?
— Ele é um inimigo da nossa espécie! Só por isso!
— Pai... para com isso. É ridículo! — Ela revirou os olhos.
— Agora eu sou ridículo? — rugiu Gheorge.
Natasha suspirou.
— Pai...
— Venha ao Plaza às 19h, vamos jantar juntos e “conversar”.
— Combinado.
A vampira desligou o telefone com um aperto no peito. Estava na
hora de confrontar o seu pai de verdade. Ele precisava saber de uma vez por
todas sobre seus sentimentos por Bass e precisava entender que aquele
noivado com Luca não iria para frente. Gheorge Moldovan teria que aceitar
ou se conformar, pois ela não permitiria mais que ele continuasse
direcionando sua vida e tomasse decisões por ela.
stá pedindo para que eu aceite isso assim?! — rugiu Gheorge se
—E levantando da cadeira e jogando o guardanapo de tecido sobre a
mesa. — Nunca! Como ousou fazer uma coisa dessas, Natasha? Um
ritual de sangue?
— Sim, pai. Um ritual de verdade, não uma farsa, como foi o meu
noivado.
— Só foi uma farsa porque você e o Constantin não deram conta de
uma simples foda! Pois pode esquecer essa história com Sebastian. Até
parecem crianças vocês dois! Fazendo as coisas às escondidas... Mas melhor
assim, se ninguém presenciou, não há por que alguém saber disso.
— Pai... Acho que você não está entendendo. Eu amo o Bass e ele me
ama! — Natasha se levantou também. — É com ele que eu quero ficar!
— Esquece... Escute aqui, temos assuntos mais urgentes a tratar
agora em relação ao seu primo, conversaremos sobre isso depois. Mas se está
pensando em continuar com essa bobagem, pode esquecer!
— Você não tem o direito de mandar em mim assim! Eu fui muito
tonta e covarde em aceitar por tantos anos que você direcionasse a minha
vida como se eu fosse o seu peão! Mas não mais, pai! Chega! Estou tomando
as rédeas da minha vida, queira você goste ou não.
Gheorge sorriu ironicamente.
— Acha mesmo que pode me enfrentar assim? Não é porque você é
minha filha que eu vou deixar você me humilhar, garota tola. Você ainda
pensa que, depois de tudo isso, vocês podem ficar juntos? Pois ouça o meu
conselho: para o seu bem, Natasha, esqueça esse seu primo imbecil, porque
Sebastian agora não tem mais futuro algum, entendeu?
Natasha arregalou os olhos.
— Do que está falando, pai? Você não se atreveria a deixar ele lá.
Não pode!
— Lá onde? Na cadeia dos humanos? — Ele gargalhou. — Claro que
não! Ele não pode ir para uma prisão comum. Não quero que ele morra.
Quero que ele pague pelos crimes que cometeu contra nossas leis.
— Está dizendo que... — A vampira estreitou os olhos.
— Ele vai para nossa prisão. Isso é o que estou dizendo!
— Por favor, pai... Bass é o seu sobrinho. Ele não precisa de prisão,
ele precisa de ajuda, de um tratamento...
— O fato de ele ser meu sobrinho não o desobriga de seguir as
regras. O que ele fez nos causou transtornos e colocou em risco nosso
segredo. Já imaginou se ele começar a sentir os sintomas de abstinência e
atacar alguém na prisão? E se ele piorar e resolverem fazer exames, testes
com ele? Sabe o que vai acontecer?
Natasha abaixou a cabeça sem conseguir segurar mais as lágrimas.
— Descobrirão que o sangue dele não é humano — continuou
Gheorge vermelho de ira contida. — É isso o que vai acontecer! E depois?
Outros testes, experimentos... Seria um desastre para a nossa espécie.
— Ele tem que sair de lá, pai... Você precisa ajudar... — pediu ela
ainda de cabeça baixa.
Gheorge foi até o pequeno bar do quarto do hotel e serviu-se de uma
dose de uísque.
— Quanto a isso, não se preocupe. Não vou permitir que Sebastian
continue preso, mas não por ser da família, muito menos por seus
sentimentos por ele — disse com desprezo. — Farei isso pela segurança da
nossa espécie. — O vampiro tomou um gole de sua bebida. — Volte para o
seu hotel agora, nossa conversa já terminou.
Natasha levantou o rosto e enxugou as lágrimas.
— Eu irei... mas nossa conversa ainda não terminou — falou ela,
pegando a bolsa e saindo.

Outros três dias se passaram e Sebastian sentia os tremores tomarem


o seu corpo em intervalos cada vez menores. Já estava há seis dias sem
sangue e a sede o deixava agitado e com a boca seca. Por várias vezes teve
vontade de gritar e socar alguém, mas não havia ninguém para socar.
Permanecia sozinho na cela, felizmente.
Quando o policial apareceu com seu jantar, desejou tacar a comida de
volta através das grades. Precisou de muito esforço para conseguir se segurar.
Não podia dar uma de louco, mas não sabia por quanto tempo aguentaria.
Precisava do maldito sangue!
Naquela noite, ele não dormiu e, ao amanhecer, seu corpo doía e
tremia sem parar, sua mente estava confusa e seus lábios, rachados.
Permaneceu encolhido em seu colchão duro. Seu único foco de pensamento
era que não podia machucar ninguém.
— Ei! — chamou o policial ao trazer o café da manhã. — Não pode
ficar sem comer, ouviu? — Observando com mais atenção, notou os tremores
no corpo do rapaz e estranhou.
O policial chamou um colega para dar cobertura e abriu a cela.
Aproximou-se de Sebastian, que se encolheu ainda mais.
— Vai embora — disse o vampiro com dificuldade.
— O que você está sentindo? — Colocou a mão na testa dele e a
sentiu gelada. — Febre não é.
— Preciso de sangue... — murmurou.
O policial franziu o cenho.
— Você precisa de um médico. Vou falar com o capitão.
Meia hora depois, uma equipe médica entrava na cela acompanhada
de alguns policiais. Colocaram o vampiro em uma maca e o algemaram às
laterais de ferro. Mesmo estando com seu estado de consciência
comprometido, Bass agradeceu por eles terem feito aquilo, pois sentia que
estava no limite para atacar alguém. Estava tão alterado que não percebeu, na
saída da cadeia, o advogado discutindo com o chefe de polícia.
— Se acontecer algo com ele, o Estado irá se responsabilizar por isso,
entenderam? — ameaçava o advogado. — É inadmissível que uma
autorização de tratamento médico demore tanto. Vocês estavam cientes de
que o caso dele era urgente! Precisou o meu cliente passar mal para tomarem
uma providência? Isso não vai ficar assim, não mesmo!
— O senhor sabe muito bem que aqui na delegacia só temos a
prerrogativa de encaminhar presos ao hospital em caso de emergência. Para
qualquer outra situação, precisamos de uma autorização superior. Sinto muito
se esta não chegou a tempo. Brigue com eles lá em cima, não comigo —
retrucou o chefe do departamento.
— Peço, então, que utilize essa prerrogativa para encaminhá-lo ao
hospital onde ele já recebia tratamento. Será mais fácil e rápido. Não arrisque
a vida do meu cliente mais do que já arriscaram.
— Não se preocupe, ele está indo para o hospital que indicou —
rosnou o policial já irritado.
— Muito obrigado — respondeu o advogado rispidamente antes de
sair.
Ao entrar no carro estacionado na frente do prédio, assentiu para
Stefan Constantin que o esperava lá dentro.
— Tudo certo, ele está indo para o Mercy.
— Ótimo! — respondeu pegando o celular e fazendo uma chamada.
— Rob, ele está indo para aí, prepare a sala.

No hospital, Robert aguardava a chegada de Sebastian junto com


Luca e Natasha. Estavam todos nervosos e ansiosos. A semana fora
extremamente difícil para eles. A perspectiva e a demora para sair a tal
autorização de tratamento havia sido estressante e aterrorizante, mas, no fim,
acabou se tornando providencial, pois agora eles tinham a certeza de que
Bass receberia o sangue adequadamente. Se ele tivesse sido encaminhado
para outro hospital, teria sido muito mais complicado.
A ambulância chegou e rapidamente Bass foi levado para a sala de
transfusão. Ao ver Luca, ele sorriu. Sua mente podia estar confusa, mas era
impossível não reconhecer aqueles olhos azuis.
— Bom te ver, doutor... — murmurou com a voz rouca. Virou, então,
o rosto para a prima que esboçava uma expressão de preocupação misturada à
de felicidade. — Oi, gata!
Ela sorriu também e se afastou um pouco enquanto os policiais o
algemavam à cama do hospital.
— Podem sair agora... — pediu Robert aos oficiais. — Nós cuidamos
do resto. Não se preocupem, o preso está algemado, a janela é vedada, esta
sala só tem uma porta e vocês estarão lá fora. Ele não irá fugir.
Assim que os homens saíram, Natasha pegou uma bolsa de sangue e
a abriu, encostando o bico nos lábios de Bass, que sugou avidamente o
conteúdo.
— Calma, Bass. — Ela riu, afastando a bolsa ainda com metade do
sangue. — Não pode ingerir tanto assim de uma vez.
O vampiro encostou a cabeça no travesseiro já se sentindo um pouco
melhor. Seus pensamentos pareciam mais coordenados, embora os tremores
ainda persistissem.
Aliviado por ver que o amigo ficaria bem, Luca se aproximou e
colocou um acesso no braço de Bass enquanto Robert pendurava uma bolsa
de sangue em um suporte, conectando-a, em seguida, ao acesso.
— Para que isso? — perguntou Sebastian.
— É sangue de vampiro, relaxe — respondeu Luca. — Você veio
para cá para receber uma transfusão, seria estranho se não a fizesse.
— Sinto muito pela confusão. — Bass fechou os olhos, seus
músculos estavam começando a relaxar e a exaustão pela tensão e pelas
noites mal dormidas foi, aos poucos, acometendo seu o corpo.
— Depois conversamos. Não pense que vai escapar da bronca. —
Luca sorriu e se virou para Robert, indicando com a cabeça a direção da
porta. Ele assentiu e ambos saíram, deixando o paciente a sós com a prima.
— Muito bem, senhor Sebastian... — Ela passou os dedos nos
cabelos dele. — Sabe o que eu vou fazer com você quando resolvermos toda
essa situação?
Ele mordeu o lábio inferior.
— Trepar comigo? — arriscou.
Natasha não conseguiu segurar o riso, mas colocou a mão na boca
para não chamar a atenção dos policiais que estavam lá fora.
— Depois que eu trepar contigo, meu caro primo, pode ter certeza de
que vou fazer picadinho de você.
Ele sorriu.
— Eu sei que mereço... — Ele desviou os olhos. — Fui tolo em achar
que poderia me divertir com um pouco de sangue e não me viciar... E fui
fraco em não persistir com o tratamento que Luca encontrou para mim.
— Foi muito idiota em não nos pedir ajuda quando viu que não
conseguiria sozinho e imprudente em atacar aquela moça assim! — reforçou
a vampira.
— Eu sei...
Ela inspirou fundo e se abaixou, depositando-lhe um beijo nos lábios.
— Vamos te tirar dessa, eu prometo.
— Pode até ser, mas sei que eu vou ter que enfrentar o Conselho.
— Pensaremos nisso depois, está bem? — Ela sorriu meio de lado.
Era difícil não se preocupar com aquilo, ainda mais com as ameaças que o pai
havia feito. Mas, se fosse necessário, apelaria ao Conselho. Eles tinham que
entender.
A porta do quarto se abriu e o advogado entrou com um sorriso no
rosto.
— Vejo que já está melhor. Tenho novidades — anunciou. — A sorte
nos sorriu, rapaz.
— O que houve? — perguntou Bass.
— Uma fatalidade, na verdade. A moça que te denunciou morreu
hoje em um acidente de carro na rodovia.
— Como ocorreu? — indagou Natasha, apreensiva. Era muita
coincidência para ser só um acidente, não seria absurdo se tivesse um dedo
do seu pai naquilo.
— Parece que um animal cruzou a pista. Ela perdeu o controle do
veículo, caiu em uma vala e capotou.
— Nossa... — Bass franziu a testa com pena da moça. Não era com
aquele tipo de sorte que ele contava.
Natasha sentiu a bile lhe subir à garganta. Um animal... Bem típico
dos vampiros. Era muito fácil entrar na mente de um e provocar um acidente,
bastava estar no local e hora certos. Algo nada difícil para Gheorge
Moldovan providenciar.
— E como isso nos ajuda? — A vampira voltou a falar, controlando
suas emoções.
— Agora o promotor não poderá mais contar com o testemunho da
vítima, e sem isso, o seu caso se torna fraco. Não há provas de que você fez
algo contra ela, muito pelo contrário. As câmeras de tráfego mostram o seu
carro passando pela rua da moça, o que evidencia que você não a sequestrou,
mas a deixou em casa, sã e salva. Então, é praticamente certo que o juiz
encerrará seu processo na audiência preliminar.
— Entendi. — O vampiro acamado suspirou.
— Muito bem. O Dr. Robert está solicitando sua internação durante
esse tempo, portanto, você não voltará para a cadeia. Sairá daqui direto para o
tribunal, okay? — O advogado sorriu. — Nos vemos na audiência em três
dias.
Bass assentiu e observou o advogado deixar o quarto. Não podia
negar que estava, em parte, aliviado, mas ainda se sentia culpado e sabia que
teria que pagar pelo que tinha feito nos termos dos Vampyrs.

Três dias depois, Bass deixou o tribunal sem as algemas. Estava livre,
como previra o advogado. Na saída, recebeu um abraço caloroso de Luca e de
Nina e um beijo de Natasha. O próximo passo seria enfrentar o Conselho,
mas teria que aguardar que o convocassem.
O céu estava carregado de nuvens pesadas. Uma tempestade se
aproximava, mas o clima entre os quatro amigos estava vibrante como o sol.
Animados, eles resolveram comemorar em um pub próximo ao Central Park.
Nina se sentia profundamente feliz com a liberdade de Bass. Só havia
conseguido visitá-lo uma vez no hospital e estava morrendo de medo de que
ele pudesse voltar para a prisão. Felizmente, tudo correra bem, mas aqueles
dez dias não haviam sido fáceis. O estresse e a preocupação foram constantes
e a única coisa que aliviou um pouco seu coração foi a presença de Luca com
ela.
O seu deus grego de olhos azuis tentou lhe passar confiança, embora,
às vezes, o pegasse com um semblante mais fechado. Durante aquele tempo,
ele permaneceu com ela no apartamento, fizeram amor, conversaram, mas ela
conseguiu se manter firme no propósito de não guardar esperanças. Por isso,
foi com naturalidade que ela perguntou, enquanto estavam no pub, quando
ele voltaria para a Romênia.
Luca a olhou, surpreso. No fundo, esperava que Nina lhe pedisse para
não ir embora. Ele estava mesmo disposto a ficar por mais algum tempo, ou
talvez até levá-la de volta, mas entendeu que ela não aceitaria aquilo
enquanto não resolvesse sua situação com Natasha. Era justo...
— Por causa do que houve, eu cancelei minha passagem de volta, não
remarquei ainda. — Olhou para Natasha. — Seu pai ainda está aqui na
cidade, não é? Quero falar com ele.
Ela inspirou fundo.
— Está certo, trataremos disso juntos, mas já aviso que ele está
bastante irredutível. — Pegou o celular e fez uma ligação. — Oi, pai, sou eu!
Escute, podemos nos encontrar?
— Voarei para Washington hoje à noite, mas passarei no seu hotel
antes. Me espere lá às 22h e leve Sebastian, temos um assunto a resolver.
— Certo. — Ela desligou. — Ele vai nos encontrar no Real Wolf hoje
e quer que você esteja junto — falou para o primo.
— Eu já imaginava... — respondeu ele.
— Eu contei para o meu pai, Bass... Que nós fizemos o ritual...
— Vocês o quê? — Indagou Luca com uma sobrancelha arqueada.
— Antes do Bass ser preso, naquela noite que fomos para o hotel, nós
fizemos o ritual de sangue — esclareceu Natasha com um sorriso que morreu
logo em seguida. — E eu confrontei o meu pai depois, eu disse que amava o
Bass, mas ele não me ouviu, para variar. Ficou possesso... falou um monte...
— Deixe que fale, o seu pai não é o seu dono, loira. E se nós três
formos juntos e o pressionarmos, ele terá que aceitar nossa decisão —
argumentou Sebastian.
Natasha encarou o primo preocupada.
— Não sei... acho melhor você não ir... — disse. — O meu pai, ele...
quer te ver na prisão, Bass, na nossa prisão.
Nina colocou a mão sobre a boca, receosa.
— Não tenho medo de enfrentar a minha punição, Naty. O que tiver
de ser, será. Por hora, precisamos resolver esse assunto do compromisso de
vocês. Com o ritual de sangue que fizemos, o seu noivado com Luca se torna
sem valor. E o seu pai vai ter que entender isso, queira ou não.
Luca cruzou os dedos sob o queixo, pensativo. Não sabia como seria
encarar Gheorge Moldovan. Ainda guardava uma profunda raiva pelo que ele
havia feito a Nina e a vontade que tinha era de esmagar o pescoço dele com
as mãos até escutar os ossos se quebrarem.
— Luca? — chamou Nina, tirando-o de seus devaneios. — Por que
essa cara de quem quer matar alguém?
Ele sorriu e segurou a mão dela, dando-lhe um beijo.
— Nada não...
melhor esperar aqui embaixo, Nina — pediu Luca ao chegarem no
—É saguão do hotel. — Fique no escritório. Não quero que o Moldovan
descubra que está viva.
Ela assentiu e observou, apreensiva, os três vampiros pegarem o
elevador. Seguiu, então, para o escritório onde trabalhava e olhou pela janela.
Algumas gotas de chuva já começavam a cair e as pessoas na rua passaram a
andar mais apressadas. Suspirou, nervosa. Só de pensar que o conselheiro que
mandara prendê-la estaria ali, arrepiava-se inteira.
Quinze minutos depois, Gheorge Moldovan batia na porta do quarto
da filha. Ela atendeu com o semblante sério e abriu passagem para que ele
entrasse.
— Ora, ora, não esperava ver você aqui também, Constantin — disse
com escárnio ao notar a presença de Luca. — Pelo visto, a conversa será
bastante esclarecedora.
Luca cerrou os punhos com força e franziu as sobrancelhas. A
vontade de socar a cara daquele sujeito era gigantesca.
— Sim, pai. Espero que seja — afirmou Natasha. — Sente-se, por
favor.
— Não será necessário. O que temos para tratar aqui será breve. —
Olhou para Sebastian. — Você sabe o que fez, não é rapaz? Espero que esteja
preparado para receber sua punição.
— Sim, senhor. Mas não é sobre esse assunto que viemos falar aqui.
— Ah, não? — Gheorge arregalou os olhos e riu. — Imagino que
seja, então, sobre o tal ritual que você e minha filha fizeram? — Seu
semblante se fechou e ele o encarou com os olhos duros. — Pois isso pouco
me importa! Nunca permitirei que Natasha se comprometa com um viciado
inútil como você, Sebastian.
— Pai! — exclamou a vampira. — Não seja hipócrita! Você viveu
em uma época que era normal matar e se alimentar de sangue humano. E sabe
perfeitamente que é possível largar o vício. Bass irá se tratar!
— Como se isso fosse o único problema! Acontece que não quero
você unida ao filho do meu irmão! — berrou o conselheiro. — Por que acha
que eu cancelei o compromisso entre vocês e arranjei o enlace com os
Constantin?
— Está dizendo que quer ver sua filha infeliz pelo resto da vida por
causa de uma rusga familiar com o seu irmão? — interferiu Luca. — O
senhor perdeu completamente a noção do bom senso e de discernimento
sobre o que é razoável ou não! Acha que pode tudo, que todos devem atender
aos seus caprichos. O poder lhe subiu à cabeça, conselheiro. Pois o senhor
fique sabendo que o meu noivado com sua filha está rompido!
— Faça isso e você estará acabado, jovem.
— Já cansei de suas ameaças. Você não pode fazer nada, porque não
sou apenas eu que estou desistindo do compromisso, a decisão está sendo
tomada por nós dois. Então não poderá pedir a minha cabeça, senhor
conselheiro.
Gheorge riu novamente.
— E você pensa mesmo que só existe um meio de acabar com a vida
de alguém? Você é muito ingênuo, rapaz. Você acha que o poder me subiu à
cabeça, pois está certo. E sei muito bem o poder que tenho e sei como usá-lo.
Você devia pensar direito antes de me desafiar assim, Constantin. — Virou-
se para Sebastian. — Quanto a você, esqueça a minha filha. Ela não é para
você. O seu lugar é na prisão, não ao lado dela.
O conselheiro se encaminhou para a porta e a abriu.
— Podem levá-lo — ordenou a Ricco e outros dois guardas da Força
de Contenção que esperava no corredor.
— Não! — exclamou Natasha com os olhos arregalados. — O que
está fazendo, pai? Bass é o seu sobrinho, não pode mandar prendê-lo assim.
Ele tem o direito de apelar ao Conselho.
— Justamente por ser meu sobrinho é que deverá servir de exemplo.
Levarei Sebastian de helicóptero para o centro de detenção que nós
controlamos na Filadélfia. É meu caminho para Washington de qualquer
forma. Se ele quiser apelar, que o faça da prisão.
Sem conseguir mais conter a sua raiva, Luca se aproximou de
Gheorge e aplicou um soco de direita no meio da cara do vampiro, fazendo-o
cambalear para trás.
— Maldito! — rosnou o conselheiro, levando a mão ao nariz e
limpando o sangue que escorria.
Ricco avançou para cima de Luca, que se virou e o enfrentou
também. Os olhos de ambos se tornaram violáceos e uma luta violenta se
iniciou no quarto. Móveis foram virados e quebrados, enquanto ambos
trocavam socos.
Os outros dois guardas quiseram intervir, mas Gheorge ordenou que
eles pegassem Sebastian e o levassem para o terraço do hotel, onde o
helicóptero os aguardava. O vampiro resistiu, mas não era páreo para dois
soldados treinados e logo foi rendido.
Desesperada, Natasha entrou na frente deles na tentativa de impedi-
los de saírem do quarto. Gheorge, no entanto, a segurou pelo braço e a
arrastou pelo corredor.
— Você vem também! — gritou o conselheiro.
— Não! Me largue, pai! Deixe a gente em paz! — berrou Natasha
tentando se soltar. — Eu te odeio, sabia?!
A porta do elevador se abriu e, para o desgosto de Gheorge
Moldovan, ele se viu frente a frente com Axel, que o olhava sério e com uma
expressão nada amigável.
— Então é você o responsável por aquele helicóptero no meu
telhado? — perguntou o Warg.
— Sim, sou eu. E se me der licença, isso aqui é assunto de família!
Vão pela escada! — ordenou aos guardas que levavam Sebastian.
Um barulho de coisas se quebrando se fez ouvir do quarto.
— Vocês estão destruindo os meus móveis? — Axel arqueou uma
sobrancelha.
— Saia da minha frente, lobo. Eu pago o seu prejuízo depois!
— Axel! — chamou Natasha. — Você precisa ajudar o Bass, por
favor!
Ele encarou Gheorge rispidamente e se afastou, seguindo para a
escada de incêndio por onde os guardas haviam subido.
— Ricco! — berrou o conselheiro do corredor. — Deixe esse imbecil
do Constantin aí. Preciso de você no telhado! Agora!
O capitão da Força saiu cambaleante do quarto e com os lábios
sangrando. Assustada, Natasha ficou esperando que Luca saísse logo atrás,
mas ele não apareceu.
— O que você fez com o Luca, Ricco?
O vampiro passou por ela com cara de enfado e entrou no elevador.
Gheorge entrou logo atrás, mas Natasha, com um forte puxão do braço,
conseguiu se livrar das mãos do pai e sair do elevador momentos antes da
porta se fechar.
Correu, então, para o quarto e encontrou Luca caído no chão. Ele
estava desacordado, com o rosto inchado e com alguns cortes, sangrando.
— Luca! Luca! — chamou e se abaixou ao lado dele.
O vampiro murmurou algo ininteligível e ela suspirou aliviada.
Ergueu-se rapidamente e foi buscar uma caixinha de sangue em sua mala. O
sangue sempre ajudava um vampiro a se recuperar rapidamente dos
ferimentos.
Abriu a embalagem e, apoiando a nuca dele com a mão, o fez ingerir
o conteúdo. Seu coração batia descompassado. Não sabia o que estava
acontecendo no telhado, só esperava que Axel conseguisse impedir o seu pai
de levar Bass. Um trovão desviou sua atenção para a janela.
A chuva caia torrencial e, pela claridade, concluiu que era uma
tempestade de raios.
— Luca... — murmurou. — Eu preciso ir até lá em cima... — Pegou,
então, o interfone e discou para a recepção. — Por favor, a Nina está aí? É
urgente. — A ligação foi transferida.
— Oi, aqui é a Nina.
— Nina. Sou eu, a Natasha, você precisa vir ao meu quarto agora!
Traga uma caixa de primeiros socorros.
Não deu tempo para a garota responder e desligou. Correu, em
seguida, em direção às escadas de emergência.
Abriu com tudo a porta de acesso ao telhado e foi arrebatada pelo
vento e pelas gotas grossas de chuva que caíam.
Olhou em direção ao helicóptero e viu Axel lançando Ricco por cima
do ombro. Os outros dois guardas já estavam no chão e pareciam fora de
combate. Bass estava no helicóptero, mas aparentemente estava algemado.
Enquanto isso, seu pai acompanhava tudo acuado em um canto, já que não
conseguia chegar ao helicóptero por causa da luta que se desenrolava à sua
frente.
Natasha estreitou os olhos para se proteger da chuva e seguiu para a
pequena escada que levava ao heliporto, uma plataforma mais alta e sem
grades de proteção projetada justamente para receber helicópteros.
— Naty! — exclamou Bass ao vê-la.
— Onde está a chave? — Apontou para a algema.
— No bolso daquele guarda.
A vampira correu até o vampiro desmaiado e procurou a chave em
seus bolsos. Assim que a encontrou, voltou para o helicóptero e soltou Bass,
que pulou da aeronave e pegou a prima pela mão, saindo rapidamente dali.
Enquanto isso, Axel parecia brincar com Ricco. Cada vez que o
vampiro avançava, ele contra golpeava e o derrubava. Até que o capitão da
guarda tentou alcançar uma arma que estava caída no chão. Mal tocou os
dedos no objeto e sentiu a ponta de uma espada em seu pescoço.
— Estou tentando ser bonzinho — falou Axel. — Mas se pegar nessa
arma novamente, será um vampiro morto!
Ricco recolheu a mão e se rendeu.
Nervoso, irritado e inconformado, Gheorge aproveitou o momento de
trégua para sair de seu canto e correr em direção ao helicóptero.
— Vocês são uns inúteis — berrou para o capitão da Força. — E
vocês — apontou para a filha e para Sebastian. — Vocês vão me pagar por
isso! Ah, vão! Está deserdada, Natasha! Ouviu bem? Deserdada! — Virou-se,
então, para o piloto e deu ordem para subir.
Assim que o helicóptero levantou voo e seguiu seu caminho, Axel
tirou a espada do pescoço de Ricco e o mandou se levantar.
— Pegue os seus homens e suma daqui. Nunca mais volte a cruzar o
meu caminho, capitão. Isso é um aviso.
O vampiro franziu o cenho.
— Não tenho nada contra você, lobo. Eu só estava cumprindo ordens
— resmungou. — E eu espero mesmo, nunca mais ter que cruzar o seu
caminho. — Deu-lhe, então, as costas e seguiu em direção aos guardas
caídos.
Sebastian e Natasha olhavam espantados para a katana nas mãos de
Axel. Com toda aquela chuva, foi difícil para eles enxergarem de onde o
Warg havia tirado aquela espada.
— Onde estava essa espada? — perguntou Natasha ao retornarem
para as escadas.
— Eu sempre trago ela comigo — respondeu Axel.
— Onde? Não me lembro de ter visto você com ela em nenhum
momento. Nem aqui, nem nunca — quis saber Bass.
— É porque você nunca reparou direito. — O Warg sorriu de canto e,
sob os olhares espantados dos dois vampiros, fez a espada se transformar em
um colar com um pingente em forma de lua. Então o colocou no pescoço.
— Uau! Um objeto mágico! — exclamou Natasha. — Não imaginava
que ainda existiam.
— Impressionante... — comentou Bass. — Eu já tinha reparado nesse
seu colar estranho, sempre achei ele meio fora de moda. Não imaginava que
fosse uma espada. — Ele riu.
Os três desceram até o quarto de Natasha e encontraram Nina com
Luca em seu colo. Ela chorava e parecia desesperada.
— Calma, princesa — falou Sebastian se aproximando. — Ele vai
ficar bem. Não é, amigão? — cutucou Luca na barriga com a ponta do dedo.
— Hum... Vai cutucar a mãe, desgraçado... — resmungou o vampiro
no chão.
Natasha sorriu e pegou a caixinha de primeiros socorros.
— Muito bem, vamos limpar esses cortes.
Axel deu uma olhada em volta, levantou uma poltrona do chão e fez
uma careta. Aquilo estava uma bagunça...

Uma hora depois, o grupo já estava confortavelmente acomodado em


outro quarto, menos Axel que já tinha ido embora.
Luca havia se lavado e permanecia deitado na cama com Nina ao seu
lado. Ela lhe fazia um carinho nos cabelos enquanto assistiam TV. O rosto do
vampiro ainda estava inchado e vermelho em algumas partes, mas os cortes já
davam sinais de cicatrização.
Natasha e Sebastian ocupavam um sofá, abraçados. Ele sabia que
havia se livrado momentaneamente da prisão, mas não ficaria impune. Seu tio
não deixaria aquilo barato.
Passando os canais aleatoriamente com o controle, ele resolveu
deixar no canal de notícias. Uma mulher com uma capa de chuva dava uma
notícia diretamente das ruas. Contrastando com a água que caía, o fogo atrás
da repórter lhe chamou a atenção.
Natasha se endireitou no sofá ao ler a chamada embaixo:
“Helicóptero sofre queda próximo à rodovia I-95, em Levittown”.
— Onde fica isso?
Bass pegou o celular e procurou no mapa.
— Perto da Filadélfia — respondeu.
Natasha pegou o controle e aumentou o volume.
— Através do número do prefixo que foi preservado em uma das
partes do helicóptero, acabamos de conseguir a informação de que este
pertencia à uma empresa locadora de aeronaves. Por causa do fogo, os
bombeiros ainda não conseguiram resgatar os corpos das vítimas e não se
sabe quantos ocupantes estavam dentro do helicóptero, mas já sabemos que
ele havia saído de Nova Iorque e estava indo para Washington. Ainda é cedo
para dizer, mas o mau tempo pode ter sido o causador da queda — falou a
mulher com dificuldade para se proteger do vento e da chuva intensa.
De olhos arregalados e mãos sobre a boca, Natasha ouvia tudo
estática.
— Bass... será que...?
— Não dá para saber... — respondeu ele adivinhando os pensamentos
da prima.
Somente na manhã seguinte é que eles conseguiram a confirmação de
que se tratava mesmo do helicóptero em que estava Gheorge Moldovan.
Luca teve pena da ex-noiva, que ficou bastante abalada, mas não
lamentou a morte do conselheiro, somente lamentou a do piloto do
helicóptero, que não merecia tal destino.
Bass, apesar de apoiar a prima, permaneceu indiferente ao que
aconteceu. Não desejava a morte do tio, mas, no fundo, também não achou
ruim, pois agora Natasha poderia seguir com a vida dela e tomar suas
próprias decisões sem a interferência do pai. No momento, a garota estava
chateada, afinal, era o pai dela, mas toda dor uma hora passa, a dela
certamente passaria. Além disso, Luca estava, enfim, livre de seu
compromisso e as coisas poderiam começar a se encaminhar como deveriam
ter sido desde o princípio.
Dez dias depois do acidente, o corpo de Gheorge Moldovan foi
sepultado na Romênia, ou, pelo menos, o que sobrou dele. E, apesar de Luca
tê-lo odiado em vida, compareceu ao enterro junto com seus pais. Afinal, o
vampiro era um conselheiro importante e, na visão de todos, suas famílias
ainda estavam ligadas.
Luca e Natasha só anunciaram o rompimento do noivado uma
semana depois do enterro, o que foi motivo de grande surpresa nos círculos
dos Vampyrs. Mas a Terra gira, o tempo passa e ambos sabiam que dali a
alguns anos mal se lembrariam deles.

Nina olhou pela janela do avião e sentiu um frio na barriga. Mal


acreditava que estava pisando novamente em terras romenas. Contudo, o frio
que sentia não era de medo, mas de ansiedade. Finalmente veria Luca após
longas três semanas longe dele. Seu coração batia acelerado.
Já estavam no final de dezembro e um novo solstício se aproximava.
Em breve, faria um ano que ela havia descoberto sobre o segredo dos
Constantin. Nem parecia que já havia se passado tanto tempo e,
definitivamente, ela era uma pessoa completamente diferente daquela garota
assustada que um dia havia pulado o muro do castelo.
Nina saiu do avião e, após pegar suas malas, se encaminhou para a
área de desembarque. Estava nervosa, mas seu coração logo se aliviou ao ver
o dono daquele belo par de olhos azuis sorrindo para ela.
O vampiro a abraçou com força e a beijou ternamente.
— Senti saudades, pequena.
— Eu também...
Após muitos beijos e abraços, seguiram para o castelo e, ao
chegarem, Nina notou a mesma movimentação que vira um ano atrás.
Aldeões indo de um lado para o outro, alguns carregando cadeiras e bancos
enquanto uma pilha de troncos estava sendo montada no pátio.
— É para a fogueira?
— Sim, é... — respondeu Luca.
Irina, que estava ajudando na organização, logo a viu e veio correndo
em sua direção.
— Srta. Cătălina... — exclamou com os olhos rasos d’água.
Nina abriu um largo sorriso e a abraçou.
— Me chame de Nina, Irina, esse é o meu nome agora.
— Sim, senhorita. Estou tão feliz... tão feliz que voltou...
— Eu também estou feliz.
— Nina! — Mirela apareceu na porta de entrada do castelo e também
se aproximou, dando-lhe um abraço. — Que saudades, minha menina!
Venha, vamos entrar, está muito frio aqui fora.
Nina passou pelo hall do castelo com uma emoção intensa
envolvendo seu coração. Apesar de ter vivido momentos de terror e tristeza
naquele lugar, a saudade e a lembrança das horas felizes se sobrepunham a
qualquer sensação ruim.
Grigore também a recebeu com simpatia, embora fosse mais contido.
Anna derramou lágrimas de alegria ao vê-la e até Popescu lhe deu um breve
sorriso.
Era incrível estar no castelo novamente.
Um ano antes, passara pouco mais de um mês ali, mas não se sentia
uma estranha, sentia-se em casa. Nunca imaginara que fosse sentir tanta falta
do castelo e daquelas pessoas.
— Mandei colocarem suas coisas no meu quarto — avisou Luca com
um sorriso ao subirem as escadas.
Nina arqueou uma sobrancelha.
— É sério?
— Sim, muito sério.
Ela mordeu o lábio inferior. Não podia negar que estava morrendo de
medo de algo dar errado. Mesmo aceitando voltar para a Romênia, ainda
mantinha o pé atrás com Luca. A responsabilidade pelo futuro do vale ainda
era dele, quem garantiria que ele não mudaria de ideia com o tempo, que não
desejaria ter um filho de sangue puro?
— Luca... — chamou ao entrarem no quarto dele. — Lá em Nova
Iorque você me disse que tinha uma solução para o vale...
O vampiro sorriu e a enlaçou pela cintura.
— Não se preocupe, minha linda, vai dar tudo certo. Acredite no que
eu te disse aquele dia. Mesmo que o filho de Victor não mantenha a linhagem
pura ou que outros Constantin não queiram assumir a tarefa quando eu me
for, certamente existirão outros vampiros puros por aí que poderão dar
continuidade à cerimônia. Além disso, ainda pretendo viver por muitos anos.
— Ele piscou.
Nina sorriu e encostou a cabeça no peito dele. Era difícil, para ela,
superar a insegurança que sentia, mas faria um esforço. Antes, porém,
precisava saber...
— Luca... Você teria filhos comigo? — ela repetiu a mesma pergunta
que fizera há um ano.
O vampiro ergueu o queixo dela e a encarou de forma intensa.
— Quantos você quiser, pequena... — Sorrindo, ele selou a promessa
com um beijo profundo, quente, íntimo.
Não demorou muito e ambos estavam na cama, despidos e unidos.
Seus corpos dançando no ritmo frenético do amor, indo e vindo, pressionando
e se contorcendo.
Nada poderia separá-los agora. Luca a possuía de forma apaixonada,
arrebatada e com todos os seus sentimentos aflorados. Finalmente, ele
poderia dar a ela tudo o que ela merecia, ele poderia fazê-la feliz.
E Nina não se cabia de tanta felicidade ao recebê-lo dentro de si.
Cada estocada, cada gemido, cada carícia a levava ao mais puro êxtase,
porque sabia que Luca seria dela agora. E ela não queria mais nada, não
precisava de mais nada, apenas do amor daquele médico lindo de olhos azuis.
Entre beijos molhados e gemidos abafados, eles se entregaram ao
prazer que sabiam dar um ao outro. O clímax chegou para ambos arrebatando
seus corpos e unindo seus corações. Lágrimas de felicidade foram
derramadas. A emoção não lhes cabia no peito. Estavam juntos, finalmente.
Ainda ofegante, Luca se desencaixou do corpo de Nina com um
sorriso e se levantou da cama. Sob o olhar curioso da garota, ele pegou uma
caixinha de dentro da cômoda e a levou para ela.
— Você deve ter reparado que, nós, vampiros, não usamos anel de
noivado.
— Sim, notei.
— Nós não nos apegamos a coisas materiais para demonstrar nosso
compromisso. — Ele abriu a caixinha e tirou de lá a pulseirinha de ouro
branco. — No entanto, Nina, seria muito importante, para mim, que você
aceitasse essa pulseira de volta, como símbolo do meu amor por você e como
uma promessa de que iremos construir uma vida juntos. — Luca a olhou com
ternura e expectativa.
Nina sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Seu coração dava
saltos de felicidade e, sem conseguir se conter, atirou-se nos braços do
vampiro que riu e a abraçou de volta. Ainda com os olhos úmidos, ela se
afastou e estendeu o pulso para que ele colocasse a pulseirinha.
— Eu te amo, minha pequena.
— Eu te amo, meu deus grego.
Felizes e radiantes, eles se abraçaram, se beijaram e se deixaram cair
na cama novamente. E, como o sol que surge após a tempestade, os dois
jovens vampiros finalmente sentiram que o futuro começaria a brilhar para
eles.
A única preocupação que ainda lhes restava era Bass. A audiência do
amigo com o Conselho estava marcada para logo depois do Natal e nenhum
dos dois queria vê-lo preso. Ambos desejavam vê-lo bem, livre do vício e
feliz com a prima. Infelizmente, só lhes restava esperar para ver como aquilo
seria resolvido.
A cerimônia de batismo dos novos transformados ocorreu como
esperado. A diferença era que, desta vez, Nina estava lá na primeira
fileira, assistindo a tudo com uma visão renovada e, de certa forma,
feliz por estar presente.
Aquele punhal ainda a assustava e, agoniada, fechou os olhos em
cada vez que Luca o cravou no peito dos jovens aldeões, mas permaneceu
firme e, depois de terminada a cerimônia, animou-se com o resto da festa que
não conseguira participar no ano anterior. Bateu palmas junto com os aldeões
quando os recém-convertidos acordaram e se levantaram e dançou ao redor
da fogueira.
Luca a acompanhava na dança com um sorriso no rosto e orgulhoso
da garota com quem pretendia passar o resto da vida. E Nina finalmente se
sentiu parte daquela grande família que não se resumia somente aos
Constantin, mas a todos os habitantes do vale.
Bass entrou na sala do Conselho e se sentou no centro do círculo de
assentos que rodeavam o recinto. Observou o entorno e reconheceu o rosto de
alguns conselheiros, outros nunca tinha visto. Seu pai, que havia ocupado o
lugar de seu tio Gheorge, estava lá, bem como Victor Constantin.
Sentados atrás dos conselheiros, Luca e Natasha também
aguardavam.
— Muito bem, senhor Sebastian, você conhece as acusações contra
você? — perguntou um dos conselheiros.
— Sim, senhor...
— E o que nos tem a dizer respeito disso? — Uma conselheira
indagou.
Sebastian inspirou fundo e contou como e quando começou a ingerir
sangue fresco. O que fez e como se sentiu em relação a isso. Reconheceu que
a princípio quebrou as regras por diversão e que, ao se dar conta do vício,
tentou parar, mas não conseguiu. Teve apenas o cuidado de não mencionar
que Luca sabia de tudo, ou traria problemas para o amigo.
Confessou também que havia matado Nicolae e expôs os seus
motivos. Afirmou que estava consciente quando fez aquilo, que não foi um
ato impensado, somente oportuno. E que, fora isso, nunca desejou machucar
ninguém, muito menos colocar o segredo dos Vampyrs em perigo. Por fim,
disse que acreditava, realmente, que estava tomando os devidos cuidados e
que nunca seria descoberto.
— Nossas ações, Sebastian, sempre foram no sentido de preservar a
nossa existência oculta dos humanos. — Victor tomou a palavra. — Por isso
que as regras existem, por isso que as punições existem. Você cometeu um
erro que normalmente é punido com a prisão. No entanto, há pessoas aqui
dispostas a acreditar que existe uma solução melhor para casos como o seu.
— Virou-se para Natasha. — Srta. Moldovan, poderia vir até o centro e nos
dizer por que pensa que não deveríamos enviá-lo para Vârful Cârja, por
favor?
A vampira se levantou de sua cadeira e caminhou até o centro do
círculo, colocando-se ao lado de Bass.
— Senhores, eu entendo perfeitamente os cuidados que precisamos
ter em relação aos nossos segredos e, sim, acredito que necessitamos de
regras para nos mantermos nas sombras. Contudo, creio que precisamos
pensar melhor em como resolvemos certos casos. Será que a prisão é mesmo
o melhor caminho para os viciados em sangue? Quantos vampiros, nesses
anos todos, conseguiram se livrar realmente do vício? Quantos casos já
ocorreram em que o vampiro cumpriu sua pena e depois voltou ao velho
hábito?
— E o que sugere, senhorita? — alguém lhe perguntou.
— Sebastian precisa de um tratamento adequado, de apoio e
confiança, não de prisão.
— Entendemos que, em se tratando do vício, talvez você tenha razão
— observou a conselheira. — Mas ele matou um humano, cometeu um crime
grave e, como ele mesmo disse, estava plenamente consciente. Não teve nada
a ver com o vício.
— Devo discordar, em parte — manifestou-se Luca de onde estava.
— Poderia se aproximar, Constantin? — pediu o pai de Bass. —
Explique-se.
O vampiro caminhou também até o centro, postando-se do outro lado
do amigo.
— Sebastian podia estar consciente dos seus atos, mas a abstinência
altera os instintos, principalmente os que se relacionam à nossa natureza
primária. A agressividade e o impulso por matar se tornam mais fortes, e
tenho certeza de que isso foi determinante para ele ter feito o que fez. Além
disso, os senhores precisam saber um pouco mais sobre o homem que ele
matou...
Luca contou aos conselheiros sobre Nicolae, sobre seu caráter, sobre
como era violento com a mulher e com a afilhada, por quem Sebastian tinha
criado laços de amizade. Contou sobre a morte da mãe dela e sobre como
Nicolae ameaçou a garota ainda no enterro.
— A morte de Nicolae pode ter infringido nossas regras, mas não foi
uma morte a ser lamentada — afirmou Luca. — Eu entendo perfeitamente os
motivos que levaram Sebastian a cometer tal ato e não o culpo. Mas também
tenho certeza de que o que aconteceu foi influenciado pelo seu estado de
abstinência. Em condições normais, ele nunca teria cometido esse crime. Por
isso, peço que ouçam a sugestão de Natasha e tomem vossa decisão levando
em consideração o que seria melhor para Sebastian, como vampiro e como
pessoa, e também para aqueles que futuramente possam se encontrar nessa
posição — concluiu.
Os conselheiros se entreolharam.
— Muito bem, conversaremos entre nós agora e tomaremos nossa
decisão. Podem aguardar lá fora, chamaremos vocês assim que concluirmos
— falou Victor.
Os três saíram da sala e Natasha abraçou o primo.
— Não se preocupe, loira — falou Bass ao beijar os cabelos dela. —
Mesmo que eu vá para a prisão, eu prometo que sairei de lá sem esse vício
maldito. Minha irmã pode me ajudar lá dentro... Apenas peço que me
espere...
— Prefiro pensar que não te enviarão para Vârful Cârja.
Quinze minutos depois eles foram chamados de volta. A conselheira
tomou a palavra.
— Sebastian, após deliberarmos sobre o seu caso, decidimos que
você deverá se submeter a um tratamento no hospital de sua família em
Bucareste sob a supervisão de um médico de nossa indicação. Devo dizer que
será nossa cobaia. Se sua reabilitação ocorrer com sucesso, pensaremos em
novos meios para tratar os viciados. Você terá um ano para nos mostrar
algum resultado. Entretanto, se persistir com o seu vício, será preso sem
direito à apelação, entendeu?
— Sim, entendi.
— Está livre, rapaz — falou Victor. — Cuide-se e nos faça a
gentileza de não aparecer mais por aqui.
Bass assentiu e, de mãos dadas com a prima, deixou a sala. Natasha
puxou-o para um beijo intenso do lado de fora.
— Ei, vocês dois! Procurem um hotel para isso — zombou Luca,
saindo logo atrás.
O vampiro loiro sorriu e deu um abraço no amigo.
— Obrigado, cara!
— Amigos são para isso. Ah, falando nisso, estou esperando vocês
para o Ano Novo lá no vale. Nina faz questão.
— Hum... faz é? — Bass deu um sorriso malicioso e recebeu olhares
repreensivos, tanto de Luca quanto de Natasha. — O que foi? Achei que
nossa brincadeirinha a três poderia virar uma brincadeirinha a quatro. — Riu.
— Como é? Explica direito essa história — perguntou a vampira com
uma ruga entre os olhos.
Luca balançou a cabeça em negativa e elevou as mãos para cima.
Com um sorriso, afastou-se.
— Vejo vocês lá — despediu-se dando as costas aos dois.
Natasha voltou a encarar Bass com olhar inquisitivo e o vampiro deu
de ombros.
— Meio que aconteceu um lance... Não me julgue, você também não
é nenhuma santa. Aquele Ricco lá...
— Não mude de assunto, Sebastian Moldovan. Okay, não quero saber
o que você andou aprontando por aí, isso é passado. Mas se vamos ficar
juntos, é melhor você parar com as suas putarias, entendeu? Ou isso, ou...
Bass a puxou subitamente para si e a calou com um beijo.
— Eu sou todo seu, loira — sussurrou ele entre os lábios dela.
— E eu sou sua, seu maluco pervertido.
— Vou te mostrar minha perversão. — Ele escorregou a mão para a
bunda dela e a apalpou.
Natasha riu.
— Vou adorar, primo lindo, mas não aqui!
— Então vamos seguir a sugestão do nosso amigo. Onde tem um
hotel por aqui?
Ambos riram e, de mãos dadas, saíram do prédio do Conselho no
centro da capital Bucareste.

— Nina? Pode pegar aquela peça para mim, por favor? — pediu
Mirela.
Nina assentiu. Estava muito feliz por voltar a trabalhar com a mãe de
Luca. Gostava da arte de costurar e gostava ainda mais da parte da criação
das coleções. Tinha planos de, um dia, voltar a estudar e fazer um curso de
moda. Mas, por enquanto, queria aprender tudo o que podia com Mirela.
Pegou a peça que a vampira havia pedido e levou até ela. Quando foi
entregá-la, no entanto, suas mãos foram acometidas de um leve tremor, que
não passou despercebido da mãe de Luca.
— Nina, querida. Está tomando suas cotas de sangue regularmente?
— Sim, estou, mas...
— Mas...?
— Não sei, me sinto fraca, às vezes. Fico tonta, com sede... — Ela
apertou as mãos, nervosa. — Mas estou tentando me controlar, não estou
bebendo mais sangue do que devia, não se preocupe.
— Nina. Preciso que seja sincera comigo. Você também bebeu
sangue humano fresco enquanto esteve com Bass?
A garota arregalou os olhos.
— Não! Nunca ingeri sangue fresco! — Ela mordeu o lábio. —
Quero dizer, só...
— Só...?
— Nunca ingeri sague humano fresco, só de vampiro... do Luca... —
Seu rosto corou.
Desta vez foi Mirela quem arregalou os olhos.
— Bebeu do sangue de Luca?
— Sim, eu... nós...
— Durante o sexo, Nina?
Nina abriu a boca, espantada com a pergunta direta. Não podia ficar
mais vermelha. Por fim, assentiu.
Mirela sorriu com um brilho no olhar e a pegou pela mão.
— Vamos!
— Para onde?
— Para o hospital.
— Fazer o quê?
— Você vai saber logo.
Meia hora depois, entraram na sala de Luca, que se espantou com a
presença delas.
— Oi! — ele disse ao se levantar e dar um beijo em Nina. — Estão
passeando por aí e resolveram me visitar?
— Não. Viemos para uma consulta — respondeu Mirela.
O vampiro franziu o cenho.
— O que aconteceu?
— A Nina está com alguns sintomas de abstinência e quero que faça
um exame nela.
Luca olhou para Nina interrogativamente e ela deu de ombros.
Também não estava entendendo.
— Como assim sintomas de abstinência? Ela nunca ingeriu sangue
humano fresco. Que exame quer que eu faça, mãe?
— Um ultrassom.
O médico olhou da mãe para Nina e voltou para a mãe, que tinha um
sorriso no rosto. Então, entendeu.
— Puta merda! — exclamou e pegou Nina pela mão, levando-a para
a sala de ultrassom.
Agitado, ele fez ela se deitar e derramou o gel em sua barriga. Mirela
entrou na sala também e ficou olhando enquanto o filho passava a ponteira do
aparelho no ventre da garota.
Emocionado, o vampiro não conseguiu segurar um grito de alegria ao
olhar para a tela à sua frente.
— O que foi, Luca? — perguntou Nina. — Está me assustando...
— Não precisa se assustar, pequena. — Ele sorriu e segurou a mão
dela, levando-a aos lábios e beijando com ternura. — Nós vamos ter um
filho...
Nina abriu a boca pasma, então olhou para Mirela que derramava
algumas lágrimas silenciosas.
— Luca... — Ela colocou a mão livre sobre a boca. — É verdade
isso?
— Sim, minha linda. Vamos ter um bebê. Veja! — Virou a tela para
que ela visse. — Essa pequena mancha aqui é ele. O obstetra irá confirmar,
mas se as minhas contas estiverem certas, você está de sete semanas.
Nina se lembrou, então, de uma conversa que tivera uma vez com
Bass quando estava menstruada. Ele havia dito algo sobre como as vampiras
engravidavam: ingerindo o sangue do parceiro durante o ato. Seu queixo caiu.
— Foi naquele dia em Nova Iorque, não é?
— Sim...
— Você sabia que isso podia acontecer — afirmou. — Por que não
disse nada?
— Porque era só uma possibilidade vaga. Vampiras não engravidam
tão fácil assim. É meio que um chute no escuro. E depois, aconteceu tanta
coisa nos dias seguintes que me tirou a atenção desse fato. — Sorriu. — Está
com sede?
Ela confirmou.
— É por causa do bebê?
— Sim, vampiras grávidas precisam de mais sangue para sustentar a
si e ao bebê. Vou buscar — disse ele a beijando e saindo da sala enquanto ela
se limpava do gel.
Mirela se aproximou e a abraçou.
— Estou tão feliz por vocês!
— Eu... nem sei o que dizer... Estou em choque... Acho que não me
dei conta ainda. — Esboçou um sorriso.
— Não se preocupe, Nina. Logo vai se acostumar com a ideia de ter
um bebê aqui dentro. — Colocou a mão sobre o ventre dela. — Uma vida,
um filho... ou filha! — Sorriu.
Nina colocou a mão sobre o próprio ventre. Um bebê... Um
sentimento de medo invadiu seu coração.
— E se eu não for uma boa mãe? — Seus olhos se umedeceram.
Mirela segurou o rosto dela entre as mãos e a olhou com carinho.
— Tenho a certeza absoluta de que será uma excelente mãe.
Nina sorriu e deixou que as lágrimas caíssem. Luca voltou com uma
caixinha de sangue, mas, antes que ele pudesse entregá-la, Nina pulou da
maca e se agarrou a ele, enterrando o rosto em seu pescoço.
O vampiro a abraçou e beijou seus cabelos, desceu com a boca pelo
rosto úmido, entre as lágrimas, e tomou-lhe os lábios em um beijo carregado
de amor.
— Eu te amo tanto... — falou, permanecendo com a testa colada na
dela. — Casa comigo, Nina?
Surpresa, ela o fitou nos olhos.
— Mas vampiros não se casam só depois de algumas décadas de
noivado?
— Sempre podemos mudar as tradições...
Ela sorriu, admirando aqueles olhos azuis lindos que a conquistaram
desde o primeiro dia que os vira, o sorriso cativante, a boca macia.
— Caso! — respondeu e o beijou novamente.
Mirela, que observava tudo emocionada, vibrou silenciosamente.
Estava na hora de providenciar outra festa!
N ina olhou para o punhal à sua frente e um frio lhe percorreu a
espinha. Tinha pavor daquele objeto, mas inspirou fundo e o pegou
da almofada.
Voltou seus olhos para Luca que lhe sorria e lhe estendia o braço.
Com as mãos tremendo fez um pequeno corte no pulso do vampiro. O sangue
fluiu e caiu dentro da taça, e a voz dele soou grave e firme:
— Por este ato, entrego a você, Nina, o meu sangue e lhe tomo como
minha esposa para todo o sempre. Pela minha honra, juro que irei te proteger,
te amar e te fazer feliz enquanto eu viver. E, junto com o meu coração, lhe
entrego a promessa de ser não só o seu companheiro e amante, mas um amigo
leal com quem você sempre poderá contar.
Nina sorriu e, com os olhos brilhando de lágrimas não derramadas,
entregou o punhal a Luca. Ele segurou o pulso dela e também fez um
pequeno corte, o sangue pingou na taça.
— Por este ato, Luca, entrego a você meu sangue, meu coração,
minha alma e todo o meu amor. Tomo-lhe, assim, como meu esposo e
prometo ser a companheira fiel que irá te acompanhar e te amar para todo o
sempre.
Ainda sorrindo, ela levou a taça à boca e bebeu um gole do sangue de
ambos misturados. Em seguida, a entregou a Luca que fez o mesmo.
Sob os aplausos dos convidados. O casal se voltou para o salão e
Nina observou aquele lugar onde um ano e meio atrás ocorria uma festa
parecida com aquela. Só que, desta vez, as toalhas das mesas não eram
vermelhas, mas brancas; desta vez, ela não estava ali como uma triste
expectadora, mas como uma protagonista de seu próprio destino; desta vez,
os convidados não eram vampiros importantes da alta sociedade, mas amigos
e transformados do vale, vampiros por quem ela nutria um carinho genuíno;
desta vez, aquela não era uma festa de noivado, mas uma festa de casamento,
do seu casamento.
Nina desceu da pequena plataforma de braços dados com Luca. Uma
de suas mãos repousava sobre o seu ventre que já se destacava sob o vestido
branco e rendado e, enquanto caminhava pelo meio dos convidados, ela
deixou as lágrimas rolarem pelo rosto.
Desta vez...
Desta vez, as lágrimas que derramava não eram de tristeza, mas de
pura alegria. Alegria por estar ao lado do seu deus grego, por estar
carregando um fruto do seu amor no ventre, por se sentir amada, protegida e
segura, por saber que, finalmente, fazia parte de uma verdadeira família.
Desta vez, ela seria feliz...
Olá leitor/a.

Primeiramente gostaria de dizer que estou muito agradecida por você


ter acompanhado e concluído a leitura desta obra. Espero que tenha gostado
da história e que possamos nos encontrar outras vezes.
Também quero agradecer ao meu marido por todo apoio que me
oferece, por ler minhas histórias, por me ajudar na correção de
inconsistências e por sempre estar ao meu lado me incentivando.
Agradeço à Yasmim M. Kader que fez a revisão desta obra de forma
brilhante e me fez perceber onde estou errando durante a escrita. Obrigada
por me ajudar a melhorar. Espero continuar aprendendo sempre.
Também quero agradecer às autoras amigas e parceiras, em especial
às Vingadoras, que sempre dão dicas maravilhosas e ajudam na divulgação
da obra.
Agradeço às minhas queridas leitoras do Wattpad que acompanharam
esta história desde o primeiro capítulo e que me ajudaram muito com seus
comentários e observações naquela plataforma, pois através destes pude
revisar cenas e melhorá-las.
Uma agradecimento especial à Jaque Paes que sempre me alegra com
suas mensagens incentivadoras e carinhosas.
Às minhas Florzinhas do Whatsapp, muito obrigada por me fazerem
rir com suas teorias, suas broncas com os personagens, sua torcida para que
tudo dê certo e por todo o apoio que vocês me dão.
Agradeço também à minha mãe Elizabeth e aos meus filhos Gian e
Bianca por fazerem parte do meu mundo, deixando-o mais feliz e brilhante.
E agradeço a Deus e à vida por permitirem que eu realize o meu
sonho de criar tantos personagens e escrever estas histórias que tanto amo.

Muito obrigada a todos!


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há tempos ele aprendeu a conviver e se misturar às pessoas comuns. Contudo,
o caos da cidade grande não é algo que aprecie; por isso, prefere passar boa
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Chris Prado é mãe, esposa, professora e escritora de romances. Sua paixão
por criar histórias vem desde quando era criança, porém somente resolveu
colocá-las no papel em 2018. Com o apoio do marido e da família conseguiu,
então, realizar esse sonho.
Sua primeira história foi Spectrum – Entre sombras e segredos, um romance
sobrenatural que vai muito além de anjos, demônios e caçadas, pois fala
sobre a força do amor verdadeiro, sobre destinos, escolhas e caminhos
cruzados.
Misturando paixão, ação e fantasia, a autora se aventura nas cenas sexy e
quentes do romance erótico sem, no entanto, torná-lo o foco do livro; mas
dando às suas histórias aquela deliciosa pitada de quentura de que tanto
gostamos.
Warg foi sua segunda obra. Com um pegada mais romântica e dramática, a
história, escrita entre 2018 e início de 2019, vem carregada de muitas
surpresas e emoções.
Com Vizinhos, a autora se lançou na leitura erótica contemporânea, mas não
abandonou suas histórias com fantasia e escreveu Luca Constantin.
Para 2020, a autora pretende se dedicar ao romance contemporâneo com uma
pegada picante e enredo caprichado.

Acesse as obras da autora:


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