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WARG – Natureza Indomável


Copyright © 2019 Chris Prado
Esta é uma obra de ficção. Qualquer
semelhança com nomes, personagens e
acontecimentos reais é mera
coincidência..
Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial
desta obra sem a citação da fonte.
Plágio é crime.
A violação dos direitos autorais é
crime estabelecido pela lei nº 9.610/98
e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Capa e diagramação: Chris Prado
Revisão e colaboração: Erik Renato
Baccin
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Banco de imagens: Pixabay, Pexels,


Unsplash, Freepick
Classificação indicativa: 18 anos.
Esta obra apresenta conteúdos de
violência e sexo explícito em algumas
cenas.

Dados catalográficos
Prado, Chris
1ª Edição
Warg - Natureza Indomável
São Paulo, 2019
1. Literatura Brasileira. 2. Romance.
3. Fantasia sobrenatural. 4. Literatura
erótica.
https://linktr.ee/ChrisPradoAutora

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Notas da Autora
Prólogo
Parte 1
1 A tempestade
2 -Memórias
3-A cabana
4 Indentidade
5- Lobos
6- Despedida
7- É Natal
8- Berlim
9- Londres
10- Lykans
11- Magia Antiga
12- Sob controle
13- Vício
14- Roma
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15- Fazendo Planos


16- Noite da pizza
17- Conexão Londre-Berlim
18- Dívida de sangue
19- Gosto amargo
20- Cheiro de morte
21- Juiz e executor
22- Pugna, combate mortal
23- Implacável
24- Vampyrs
25- Sobre aquela noite
26- Hora do embarque
27- Transilvânia
28- Reunião familiar
29- Fugitiva
30- Rebelados
31- Perguntas e respostas
32- Encontro mortal
Parte 2
33- Broadway
34- Curvas perigosas
35- Sem controle
36- Toxinas letais
37- Sobre amor e sexo
38- Fantasmas do passado
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39- Decisões
40- Natureza selvagem
41- Sabor de chocolate
42- Laços de família
43- Olhos, espelhos da alma
44- Sequestrada
45- Contra o tempo
46- Confiança
47- Tensão e lágrimas
48- Recomeços
49- Reconciliação
50- Além do véu
Epílogo
Agradecimentos
Em breve
Leia também
Sobre a autora

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Antes de começarmos, segue uma breve


explicação a respeito do que seria um "Warg", a
fim de diferenciarmos o termo usado nesta obra de
outras definições já utilizadas em outros livros
(que, aliás, adoro!).
Na língua norueguesa antiga, Vargr é um
termo para "lobo" (em língua inglesa, wolf ou ulfr).
Já na mitologia nórdica, os Wargs se tratam
particularmente dos lobos demoníacos: Fenris,
Skoll e Hati.
Baseado nisto, J.R.R. Tolkien, usou em suas
obras a forma em inglês arcaico Warg como
referência para uma espécie de lobo especialmente
ameaçadora e violenta que habita a Terra Média.
Em As Crônicas de Gelo e Fogo, de George
R.R. Martin, Warg é um tipo específico de “troca-
pele” que tem vínculo com lobos ou outros animais,
onde o homem consegue entrar na mente do
animal, mas nunca o doma realmente.

Por fim, nas lendas, Wargs são criaturas


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selvagens, mas com um certo resquício de


civilização. Geralmente, criam vilarejos pequenos
em bosques e florestas. Sua política é simples, um
nobre governa até outro nobre matá-lo em um
duelo. Selvagens, têm um estilo de vida divergente
dos demais, moram em covas e florestas, odeiam
pessoas, e são completamente independentes, não
há líder, não há vilarejo, são só ele e familiares.[1]
Neste livro, como vocês irão ver, optei pela
escolha de um Warg bastante distinto de GOT ou
de Senhor dos Anéis, mas que se aproxima das
características descritas nas lendas.
Assim, nesta obra Warg é um ser de origem
nórdica que possui duas formas, a humana e a de
lobo, como os Lykans que já vou apresentar a
seguir. Porém, diferente do Lykans, Wargs não
vivem em bandos. São criaturas solitárias que
quase foram extintas e podem viver muito mais.
Além disso, são maiores, mais fortes e mais velozes
do que seus parentes sobrenaturais.
Lykans vem do grego lykánthropos, que
pela tradução significa lobisomem, e está
relacionada à capacidade ou maldição caída sobre
um homem de se transformar em um lobo, cujas
lendas encontram raízes na cultura da Europa
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ocidental. Nesta história Lykans e Wargs são seres


próximos em sua natureza, porém com suas
diferenças.
Vampyrs são os vampiros. Aqui eles não
são imortais, mas vivem mais do que qualquer
outro ser sobrenatural.
Tanto os Vampyrs como os Lykans possuem
algumas características parecidas com o que já
conhecemos de outros livros, lendas e filmes. No
entanto, nesta obra tomei a liberdade de criá-los de
acordo com o que eu imaginei que seria o melhor
para história, modificando ou suprimindo certas
características que podem fazer parte do senso
comum.
Assim, peço que não julguem ou comparem
os seres sobrenaturais desta história com outras do
mesmo gênero, pois algumas características
poderão ser coincidentes e outras totalmente
diferentes.
Então, é isso! Espero que gostem da
história, que se divirtam e se emocionem com os
personagens.
Desejo a todos uma ótima leitura!

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Uma fina garoa caía naquele início de tarde


triste e cinzento na Romênia, e Axel já estava ali há
horas com o olhar perdido no nada. Quem o visse,
diria que era um olhar frio, mas na realidade era
apenas um olhar vazio, sem cor, sem vida.
Contudo, não era nela em quem ele
pensava, nem em sua própria dor.
Ainda não conseguia entender a avalanche

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de sentimentos que lhe assaltaram ao tomar


consciência de sua perda, nunca havia perdido nada
na vida que significasse algo, mas agora..., aqueles
sentimentos o esmagavam. Um buraco surgira em
seu peito e este lhe corroía por dentro, queimando-
lhe a alma e perfurando suas entranhas como ferro
em brasa.
Ele jamais havia sentido tal dor, uma dor
muito pior do que a dor física, uma dor que vinha
das profundezas do seu âmago e que parecia
quebrá-lo ao meio. Mas não era hora para aquilo,
não era hora de sentir culpa ou pena de si mesmo.
Não deixaria que suas emoções se tornassem sua
fraqueza, não naquele momento.
O Warg, ali parado sob a chuva fina e com
um olhar distante, não pensava mais em seus
sentimentos ou em sua perda. Ele refletia, na
verdade, sobre o que faria depois que saísse
daquele lugar.
Em todos aqueles dias desde que voltara
para casa, Axel havia se mantido distante e calado.
Fechara-se em sua cabana e em si mesmo, não
querendo conversar com ninguém; nem Gerald
conseguira falar com ele. Em sua reclusão,
transformara seu coração em uma rocha dura e
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gelada, e ainda não havia se permitido chorar ou


extravasar suas dores, não se achava no direito. Seu
luto ainda não começara.
Antes ele tinha uma tarefa a cumprir... uma
promessa que fizera a si próprio.

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O céu estava limpo e o sol brilhava alto


naquela manhã de outono. Para muitos, aquele
podia ser um belo dia, para ele, não fazia
diferença... Sentado sobre uma rocha saliente no
topo de uma das montanhas que compunham os
Cárpatos, Axel fitava, sem expressão, o vale verde
à sua frente.
A paisagem que se estendia diante de seus

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olhos era magnífica, mas desta vez ele não estava lá


para apreciar a beleza do lugar, pois já havia
semanas que a sua percepção de mundo o fazia
enxergar a vida apenas em escalas de cinza — sem
cor, sem emoção. O que ele buscava ali era um
acalento para o seu coração quebrado, uma paz que
parecia ser impossível de alcançar.
Uma paz sem ela...

Romênia, janeiro de 1995 (quase 6 anos


antes).

Descansando em sua costumeira rocha no


alto da montanha, Axel admirava tranquilamente o
vale branco coberto de neve que se estendia mais
abaixo. Dali, podia ver a pequena cidade de Putna,
com suas casinhas de telhados brancos vertendo
fumaça pelas chaminés, e também o mosteiro, que
dava ao local um ar turístico. Era uma vista
magnífica daquela região da Romênia,
principalmente no inverno.
Ah, como gostava do inverno... Como
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gostava de voltar para sua cabana no meio da


floresta e passar aqueles meses sozinho,
acompanhado apenas de seus livros. Sim... Ele
reconhecia que era um cara tipicamente antissocial,
mas isso nunca o incomodara, muito pelo contrário.
Detestava a vida moderna, detestava o movimento,
o corre-corre das cidades e o fato de ter que se
relacionar com as pessoas.
Infelizmente era obrigado a conviver com
elas pelo menos durante um período do ano, pois
apesar de confiar em Gerald, seu braço direito e
CEO de sua rede de hotéis, sua presença ainda se
fazia necessária para assinar certos documentos,
aprovar investimentos e comparecer a alguns
eventos e reuniões. Por isso, organizava sua agenda
para cuidar dos negócios somente entre a primavera
e o outono.
Assim, dezembro era o seu mês de
libertação. Refugiava-se em seu canto nas
montanhas até meados de fevereiro e Gerald
somente o contatava se fosse realmente necessário.
Axel levantou a cabeça e inspirou o ar
gelado, uma tempestade de neve se aproximava.
Podia vê-la chegando dali, provavelmente em
menos de meia hora estaria sobre ele. Seria uma
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tempestade violenta, segundo o que ouvira no


rádio, e apesar de sua tolerância ao frio ser maior
do que o normal, isso não significava que não
poderia morrer congelado.
Ergueu-se preguiçosamente da rocha e
virou-se para descer a montanha. Deu, então, um
pulo e começou a correr por entre as árvores. Suas
patas afundavam na neve fresca deixando marcas
profundas e regulares. Por causa disso, não
conseguia ser tão rápido, mas ainda dispunha de
tempo; sua casa ficava a poucos quilômetros de
onde estava e, pelos seus cálculos, naquela
velocidade chegaria lá em cerca de oito ou dez
minutos.
A sensação de liberdade que o invadia em
momentos como aquele era prazerosa; aliás, correr
em sua forma de lobo era uma das poucas coisas
que lhe trazia satisfação naquele mundo caótico.
Miseravelmente, aquele era o único lugar
em que ele se atrevia a se transformar, pois ali não
seria visto ou notado por ninguém. Sua pelagem
branca ajudava a camuflá-lo na neve e, além disso,
ele podia sentir o cheiro de um humano a centenas
de metros de distância, o suficiente para poder
mudar seu caminho e evitar se encontrar com um
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cara-a-cara.
Ele havia aprendido, em mais de duzentos
anos de convivência com humanos, que seria
considerado uma abominação caso sua existência
fosse descoberta; como acontecera há muito tempo,
quando sua espécie praticamente havia sido
exterminada.
Não era só o seu tamanho na forma de
animal, muito superior aos lobos comuns, que
assustava as pessoas. O fato de poder se
transformar e se misturar a elas é que as deixavam
horrorizadas. Os humanos não aceitavam o
sobrenatural, nunca toleraram Wargs como ele,
assim como nunca toleraram os magos, as bruxas,
os vampiros e os Lykans.
Todos esses seres viviam escondidos agora,
ou pelo menos tomavam o cuidado de não se
exporem, camuflando-se e ocultando suas
“anormalidades”. Com o tempo, suas existências
haviam se transformado apenas em mitos, lendas e
contos urbanos; e eles preferiam continuar assim.
Após milhares de anos de coexistência,
tinham aprendido que os humanos eram
naturalmente intolerantes, e haviam cansado de
lutar. Muitas mortes e extermínios ocorreram até
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finalmente entenderem que não adiantava tentar


uma convivência pacífica. Humanos não viviam
pacificamente nem com eles próprios; eram uma
praga na Terra, na verdade. Assim, o melhor era
simplesmente se misturar a eles.
Axel saltou um tronco caído e continuou
sua descida, ziguezagueando por entre as árvores.
Então subitamente parou, espalhando neve com
suas patas. Havia sentido um cheiro diferente.
Sangue! Sangue fresco, sangue humano... Seu
olfato sensível captara aquele odor característico
que ele tanto conhecia. Não estava muito longe,
talvez a um pouco mais de um quilômetro dali.
Olhou para cima, a neve caia mais pesada agora.
Sacudiu sua pelagem e mudou seu rumo, indo em
direção à estrada de onde vinha o cheiro do sangue.
Ele não tinha muita paciência com humanos
e preferia manter distância deles, mas costumava
seguir seus instintos e, naquele momento, eles lhe
diziam para verificar o que tinha acontecido, ou
provavelmente aquilo não sairia de sua cabeça. E
não tinha nada mais irritante do que deixar um
assunto pendente.
Levou menos de três minutos para chegar
ao local, o vento era cortante e a temperatura havia
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caído drasticamente. Cheirou o ar, outros lobos


rondavam por perto; provavelmente também
sentiram o odor do sangue, mas eles não se
aproximariam enquanto estivesse ali, já haviam
aprendido a não desafiá-lo.
Aproximou-se devagar; um carro havia
saído da estrada e batido contra uma árvore.
Observou a cena com cautela e, quando teve
certeza de que não seria visto, foi até o veículo.
A frente do carro tinha se transformado um
monte de metal retorcido, o para-brisa estava
estilhaçado, assim como os vidros laterais. Axel
precisou abaixar a cabeça para olhar seu interior,
dali vinha o cheiro de sangue. Um homem e uma
mulher de meia-idade jaziam mortos nos bancos da
frente, esmagados pela lataria por causa do
impacto. Não havia o que fazer ali, provavelmente
virariam comida de lobos assim que a tempestade
passasse.
Afastou-se e já estava virando as costas para
ir embora quando percebeu o odor do sangue de
mais uma pessoa, além daquele exalado pelo casal.
Seguiu seu faro e contornou o veículo; a alguns
metros de distância, um outro corpo estendia-se de
bruços sobre a neve. Chegou perto e se abaixou
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para observar melhor, era uma garota, adolescente


ainda. Posicionou seu focinho sob ela e virou-a, a
menina tinha um corte profundo na testa, mas
estava respirando, estava viva...
O Warg bufou, e o ar quente e úmido se
condensou ao sair de suas narinas em forma de
vapor. Estava irritado, no fundo não esperava
encontrar alguém vivo, só queria saber o que tinha
acontecido para, no máximo, avisar por rádio a
polícia. Agora olhava para a menina sem saber o
que fazer. Se a deixasse ali, ela morreria em pouco
tempo; pela sua cor já estava com sinais de
hipotermia e não duraria muito.
Transformou-se, voltando para sua forma
humana, e estremeceu com o frio congelante. Axel
felizmente podia incorporar suas vestimentas
durante sua transformação, e foi graças a esse poder
que os Warg puderam sobreviver por tantos séculos
no norte da Europa, um lugar gelado e inóspito,
mas ele não tinha se preparado para enfrentar uma
tempestade e, naquele momento, o casaco de pele
de carneiro que vestia não estava dando conta do
frio intenso, já que o vento fazia a sensação térmica
despencar para vários graus abaixo de zero.
Decidiu agir. Ao contrário do que muitos
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humanos poderiam pensar, não era um monstro,


afinal. Rapidamente analisou a situação; não tinha
muito tempo, logo a tempestade estaria sobre eles.
Não poderia, portanto, carregá-la nas costas como
humano, demoraria muito e não chegaria em casa a
tempo de salvá-la; teria que levá-la na forma de
lobo.
Olhou em volta procurando algo com que
pudesse amarrá-la em seu corpo. Voltou ao carro e
viu, caído entre os bancos, dois cachecóis de lã;
teriam que servir. Pegou-os e levou-os até onde
estava a garota, levantou-a, posicionando-a sobre
suas costas, e, em seguida, amarrou os punhos dela
em volta de seu pescoço com um dos cachecóis,
deixando um pequeno espaço de folga entre as
mãos; passou o outro por trás da menina e amarrou-
a à sua própria cintura, deixando uma folga
também. Então, transformou-se novamente.
A garota ficou sobre seu dorso e seus braços
envolveram completamente seu pescoço,
apertando-o até demais; felizmente a lã esticava um
pouco. O cachecol na cintura também prendia-os
um ao outro firmemente. Assim que verificou que
ela não cairia, partiu para casa. A camada de neve
estava espessa, fazendo suas patas afundarem, mas
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não podia saltar muito, para não derrubá-la, por


isso precisou diminuir ainda mais sua velocidade.
Não estavam tão longe. Porém, após dez
minutos, a neve e o vento aumentaram
exponencialmente, atrapalhando sua visão e sua
caminhada. A menina em suas costas ficava cada
vez mais gelada e podia sentir os batimentos
cardíacos dela diminuindo.
Levou outros cinco minutos até conseguir
avistar a cabana, esperava apenas chegar a tempo.
Não que se importasse tanto com o destino da
garota, mas não lhe agradava a ideia de ter tido
todo aquele trabalho em vão. Os últimos metros
foram vencidos com dificuldade, o vento era tão
forte e a neve tão funda, que ele foi obrigado a
diminuir o passo consideravelmente.
Assim que alcançou a porta de casa, voltou
à forma humana e rapidamente carregou a garota
para dentro. Colocou-a no chão, ao lado da lareira
acesa e tirou seu casaco, botas e roupas molhadas,
deixando-a apenas com as roupas de baixo. Ela
estava sem cor, sua pele clara parecia não ter mais
sangue, os lábios estavam completamente roxos e
seu coração batia fracamente.
Axel buscou um cobertor e a enrolou nele,
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só então tirou suas próprias botas e seu casaco. Não


sabia se ela sobreviveria, mas tinha feito o que
podia, pelo menos sua consciência não o acusaria
disso.
Observou-a por alguns minutos; ela não
parecia ser dali, provavelmente era uma turista.
Não devia ter mais do que 16 anos e tinha os
cabelos castanhos claros estranhamente pintados de
cor-de-rosa nas pontas, seus olhos estavam
exageradamente maquiados de preto para uma
garota daquela idade, mas os jovens daquela época
eram estranhos mesmo; rebeldes demais, imaturos
demais, convencidos demais... Se os humanos
adultos já conseguiam irritá-lo, os jovens, então,
eram intragáveis.
Suspirou, pegou as roupas da garota e as
levou para a lavanderia. Na volta, passou pelo
banheiro e estacou, uma ideia surgira em sua
cabeça. Entrou, abriu a torneira da banheira,
acertou a temperatura da água e começou a enchê-
la. Foi até seu quarto e pegou toalhas limpas,
deixando-as sobre a pia, então foi buscar a garota.
O que é que ele estava fazendo? Por que se
importava? Não, ele não se importava; apenas
queria resolver aquilo de uma vez.
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Pegou-a de cobertor e tudo e a levou para o


banheiro. Desenrolou-a e cuidadosamente a
colocou na água morna, não queria dar um choque
térmico na menina, ela ainda estava gelada. A
garota possuía um corte bem grande próximo à
linha do cabelo, talvez devesse fazer alguma coisa
em relação àquilo.
Voltou-se para a pia e pegou uma toalha de
rosto limpa que havia trazido. Ele não dispunha de
kit de primeiros socorros, não precisava daquelas
coisas. Não tinha nada ali, nem gaze, nem
antisséptico, nem esparadrapo; mas decidiu fazer
algo.
Molhou a toalha na água e começou a
limpar o sangue seco e coagulado que estava sobre
a ferida, aproveitou para passar a toalha no cabelo
comprido e ondulado, limpando-o também. Sentia-
se estranho, não se lembrava de ter feito algo assim
em toda sua vida, era constrangedor. Conforme
cuidava da menina, observou sua cor voltando
gradualmente, então abriu a torneira para deixar
cair mais água quente. Logo os lábios dela
assumiram uma cor menos cianótica.
Assim que achou que a temperatura da
garota havia voltado ao normal, a retirou da água,
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enrolando-a numa toalha, e a levou para o quarto de


hóspedes. Ele nunca tinha hóspedes, aquele era
apenas um cômodo nunca usado, mas pelo menos
tinha uma cama. Quando comprou a cabana, ela já
estava mobiliada e desde aquele tempo pouco havia
mudado. Axel só trocava os móveis quando eles
quebravam ou ficavam muito surrados.
Colocou-a na cama e se afastou, franzindo
as sobrancelhas. Precisava tirar o resto da roupa da
garota, ela ainda estava de calcinha e sutiã, mas
estavam molhados e ela não podia ficar com eles
assim. Coçou a cabeça, definitivamente aquilo era
um aborrecimento. Aproximou-se novamente e
tirou as peças que faltavam, jogando, em seguida,
as cobertas sobre ela. Estavam cheirando um pouco
de mofo, mas era o que tinha à mão.
Foi até a cozinha pegar uma fita adesiva e a
cortou em várias tirinhas, aquilo teria que servir
para fechar o corte na testa da garota. E assim o
fez; voltou para o quarto, sentou-se na cama e
aproximou as bordas da ferida. Foi colocando as
tiras transversalmente ao corte, deixando pequenos
espaços para a pele respirar. Terminou o trabalho e
sentiu-se orgulhoso, até que tinha ficado bom.
Voltou para a sala, agora só faltava avisar a
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polícia sobre o acidente. Tentou o telefone, mas


estava sem linha. Não se surpreendeu, era natural,
com uma tempestade daquelas... Pegou o celular,
sem sinal... Suspirou, ele detestava aquelas novas
tecnologias, só as usava por insistência de Gerald.
Foi até o rádio e conseguiu falar com um oficial, a
polícia sempre mantinha uma frequência aberta em
horas como aquela. Avisou sobre o local do
acidente e sobre a garota e o policial prometeu
mandar uma ambulância vir buscá-la assim que
fosse possível.
Axel respirou aliviado, mal tinha trazido a
garota para casa e não via a hora de se livrar dela.
Apreciava a solidão e só a ideia de ter alguém sob o
mesmo teto já lhe incomodava profundamente,
queria retornar ao sossego de suas férias de
inverno. Levantou-se a fim de preparar um chá
quente de hortelã e aproveitou para pegar uma
barra de chocolate. O dia seguinte prometia ser
atípico, isso se ela acordasse...

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“Axel levantou a cabeça e inspirou o ar


gelado, uma tempestade de neve se aproximava.”

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Liz abriu os olhos lentamente, o ambiente


estava à meia luz e somente um pequeno abajur
iluminava o quarto, piscou algumas vezes e
percebeu que não reconhecia o local. Tentou se
sentar; no entanto, uma dor aguda em sua cabeça a
fez se deitar novamente.
Enquanto aguardava a dor diminuir, olhou
ao redor; estava em um quarto rústico. As paredes e

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o chão eram de madeira e, além da cama e da


mesinha de cabeceira com o abajur, havia apenas
uma cômoda antiga à sua frente e uma poltrona
velha próxima a uma janela. Parecia estar em uma
cabana, concluiu, mas por que estava ali?
Com cuidado, conseguiu se sentar. Não era
só sua cabeça que doía, seu corpo também parecia
ter sido atropelado por um trator. Colocou as pernas
para fora da cama e então percebeu que estava nua.
Rapidamente colocou os braços na frente do corpo
e olhou em volta. Não havia ninguém, mas estava
assustada agora. Por que estava nua? Pegou o
cobertor e se enrolou nele. Onde estava? O que
estava acontecendo? Torceu o nariz ao sentir o
cheiro de mofo das cobertas e se levantou.
Andou até a janela e afastou as cortinas. Era
noite lá fora, a escuridão era total, mas conseguia
ver os flocos de neve caindo próximos à janela e
ouvir o barulho dos galhos das árvores sendo
balançados pelo vento forte. Céus, que lugar era
aquele? Por que ela estava ali? Por que nevava?
Tentou se lembrar de onde havia estado pela
última vez, e nada... Não conseguia... Tentou de
novo... nada... Não vinha absolutamente nada em
sua cabeça. Seu coração começou a acelerar.
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Tentou se lembrar de sua casa, de seus pais, de seus


amigos... nada... Começou a ficar apavorada. De
olhos arregalados e respirando mais rápido do que
o normal, afastou-se da janela e se virou. Um
homem a olhava, encostado no batente da porta.
Ela gritou e deu dois passos para trás,
batendo com as costas na janela. Aquilo lhe tirou o
ar e, com isso, acabou deixando o cobertor cair no
chão. Imediatamente se abaixou para pegá-lo a fim
de cobrir-se novamente e, quando se levantou, o
homem não estava mais ali. Seu coração pulava
tanto dentro de seu peito, que ela achava que ele
poderia saltar pela sua garganta. Tinha mesmo visto
um homem ali? Ou era só sua imaginação?
Olhou em volta novamente para ver se
encontrava algo com que pudesse se defender e
acabou encontrando suas roupas dobradas sobre a
poltrona. Vestiu-se afobadamente, tirou, então, o
abajur da tomada e caminhou lentamente até a
porta com o objeto nas mãos. Colocou a cabeça
para fora do corredor e escutou um barulho de
panelas, provavelmente vindo da cozinha. Então
realmente vira alguém? Na ponta dos pés, seguiu na
direção do barulho.
Entrou na sala com cuidado; era uma sala
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espaçosa, a decoração era simples e uma lareira


acesa em uma das paredes tornava o lugar
aconchegante, mas ela não estava preocupada com
esses detalhes. O homem que viu parado à porta
estava de costas para ela em uma pequena cozinha
integrada ao ambiente e separada da sala apenas
por uma rústica mesa de madeira. Ele estava
mexendo algo em uma panela sobre o fogão.
Desconfiada, com medo e tentando não
fazer barulho, se aproximou da lareira e trocou o
abajur pelo atiçador de fogo — uma peça de ferro
pontuda usada para revirar a madeira dentro da
lareira. Com certeza aquilo faria mais estrago.
Qualquer coisa, ela o usaria contra ele. Escondeu o
atiçador atrás de si e começou a observar o homem.
Era um rapaz, na verdade; mas nunca o tinha visto,
ou pelo menos não se lembrava... Um frio invadiu
seu estômago, por que não se lembrava?
Ele não parecia ter mais do que 22 ou 23
anos, de altura mediana, não aparentava ser muito
forte, e isso era bom! Efetivamente, parecia ser um
rapaz comum, exceto pelos seus cabelos que eram
incrivelmente brancos com reflexos prateados, não
muito curtos e totalmente sem corte, que o deixava
com uma aparência desleixada, mas peculiar.
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Com o coração acelerado, muniu-se de toda


coragem que possuía naquele momento e perguntou
com firmeza:
— Quem é você? E onde estou?
Axel não se deu ao trabalho de virar para
responder. Ele havia percebido a entrada dela na
sala e agora reconhecia o idioma que ela estava
falando, português. A garota tinha um sotaque
diferente do que estava acostumado, mas entendia-a
perfeitamente; sua desconfiança de que ela era uma
turista e de que não era da Europa mostrou-se
correta.
— Meu nome é Axel e você está na minha
casa — respondeu com um sotaque carregado,
porém no mesmo idioma dela.
Liz apertou mais o atiçador atrás das costas.
— O que eu estou fazendo aqui? O que
você fez comigo?
Axel suspirou, não tinha paciência para
aquilo.
— Você se acidentou e eu salvei a sua vida
— disse, ainda sem olhar para a garota.
— Do que está falando? Que acidente? E
por que eu estava nua? Você é um pedófilo, por
acaso?! — exclamou quase histérica.
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O rapaz se virou e a encarou, seus olhos, de


um tom amarelo dourado, eram frios e cortantes.
Então pegou alguns ovos que estavam sobre a mesa
e voltou-se para o fogão.
— Suas roupas estavam molhadas e você
estava com hipotermia. Precisei te imergir na
banheira com água quente ou você morreria —
respondeu de mau humor enquanto quebrava os
ovos na frigideira.
Liz ficou em silêncio por um instante e
lembrou-se da neve que vira cair lá fora pela janela.
Será que ele estava dizendo a verdade? Deveria
acreditar nele? Por via das dúvidas, não largou o
atiçador. Droga! Por que não se lembrava de nada?
— Ainda não entendo... Que lugar é esse?
Axel franziu as sobrancelhas, estava
aborrecido por ter que responder àquelas perguntas.
— Eu já disse, aqui é a minha casa.
— Eu entendi que estou na sua casa! —
falou a menina com voz alterada. — O que eu
quero saber é onde é que ela fica.
Ele a olhou por cima do ombro.
— Romênia — respondeu entredentes.
— Romênia? — repetiu. O que estava
fazendo na Romênia? Embora não se lembrasse de
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onde era, ela tinha certeza de que não era da


Romênia. — Como eu me acidentei?
— O carro em que estava saiu da estrada.
— Eu não dirijo, tinha alguém comigo? —
Ela se esforçava para se lembrar, mas nada vinha
em sua mente.
Axel pegou a frigideira do fogão e a
colocou em cima da mesa, sobre um pano dobrado;
foi até o armário, pegou dois pratos, alguns talheres
e colocou-os sobre a mesa também.
— Não vai me responder? — perguntou Liz
com um mal pressentimento. Então, uma forte
pontada atingiu sua cabeça, fazendo-a gemer de dor
e levar uma das mãos à testa, sobre o curativo
improvisado.
Ela apalpou o corte e fez uma careta ao
sentir a região dolorida. O rapaz a observou e
puxou uma cadeira, desencostando-a da mesa.
— Não tire, precisa cicatrizar. E, sinto
muito, mas não tenho remédio para dor aqui. Agora
sente-se — ordenou, apontando para a cadeira.
Angustiada, com dor e ainda um pouco
receosa, Liz voltou a sentir uma leve tontura e
achou melhor seguir o conselho do rapaz, antes que
acabasse caindo no meio da sala. Caminhou
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lentamente em direção à mesa e se sentou, largando


o atiçador no chão, ao lado da cadeira.
O que estava acontecendo com ela? Por que
ela estava na Romênia? Por que sua cabeça e seu
corpo tinham que doer tanto? Por que ele não tinha
um maldito de um remédio? Uma enxurrada de
perguntas vinha à sua mente e, para seu desespero,
não tinha resposta para nenhuma delas. Com o
coração apertado, colocou a cabeça entre as mãos e
uma lágrima rolou pelo seu rosto.
Axel notou o objeto próximo à garota, mas
não disse nada. Voltou ao armário e retirou de lá
duas canecas.
— Café, leite ou chá? — perguntou.
A menina levantou os olhos ainda úmidos,
sem entender a princípio. Axel a olhava com as
canecas nas mãos, aguardando a resposta.
— Tem chocolate? — disse ela com voz
sumida. Sua cabeça ainda doía.
O rapaz franziu o cenho. Deixou as canecas
na mesa e abriu novamente o armário, pegou uma
barra de chocolate lá de dentro e colocou na frente
da menina.
Ela olhou para a barra e riu, mas não era um
riso de felicidade, era um riso nervoso, que acabou
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por se transformar em choro e mais lágrimas. Axel


assistia a cena imperturbável. Que ótimo! Havia
resgatado uma adolescente problemática.
— Eu estava falando de chocolate para
beber... — murmurou ela, por fim.
O Warg suspirou novamente. Por que ele
tinha trazido aquela garota para casa mesmo? Ah,
sim... sua curiosidade instintiva e seu senso de
decência... Aquilo o irritava, mas não tinha saída,
não podia voltar atrás em seus atos, só precisaria
aguentar mais algumas horas. Assim que a
tempestade passasse, ele mesmo a levaria para a
cidade, caso não viessem buscá-la.
Pegou a barra de chocolate, quebrou-a em
pedaços dentro da caneca e acrescentou um pouco
de leite. Levou-a ao micro-ondas por alguns
segundos, retirou, mexeu com a colher, acrescentou
mais leite e voltou mais alguns segundos para o
eletrodoméstico. Retirou e colocou a caneca em
frente à garota, que o olhava com curiosidade e
ainda com um pouco de receio.
— Agora beba... E coma! — resmungou ele
de mau-humor, sentando-se e se servindo de café e
omelete.
Liz franziu o cenho, incomodada com o tom
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do rapaz. Olhou-o, então, com indignação e


irritação. Ele não precisava ser tão rude, afinal.
— Não estou com fome! — respondeu
rispidamente.
Axel não deu importância e começou a
comer em silêncio. Definitivamente não tinha
paciência para aquilo.
A garota olhou para a comida e o seu
estômago roncou. Envergonhada, olhou para seu
anfitrião, mas ele parecia não ter tomado
conhecimento do fato, então pegou a colher e se
serviu também.
— Havia um casal com você. Não se
lembra? — disse ele depois de um tempo.
Ela parou de comer, olhando-o surpresa.
— Comigo? Onde? Cadê eles?
Axel tomou um gole do café e respondeu
sem olhar para a garota.
— Mortos... Não sobreviveram ao acidente.
Liz levou um choque. Seu coração gelou
subitamente e o mau pressentimento voltou com
força. Não tinha ideia de quem eram, mas se
estavam com ela, provavelmente eram seus
conhecidos.
— Eles eram... os meus pais? — gaguejou.
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Axel a olhou curioso, estranhando o fato de


a garota não saber quem eram as pessoas que
estavam com ela.
— Não sei... não tive tempo de pegar os
documentos. Você não sabe?
A menina abaixou a cabeça e negou.
— Não me lembro...
Ele ainda a olhava fixamente.
— Qual é o seu nome?
— Não me lembro... — respondeu ela
novamente, voltando a chorar.
Axel franziu as sobrancelhas e terminou sua
refeição calado. Teria o trauma na cabeça
provocado amnésia na garota? Liz tinha parado de
comer e tomava apenas seu chocolate quente,
algumas lágrimas ainda rolavam pelo seu rosto;
sentia que suas dores, a física e a emocional, se
embaralhavam dentro dela e não conseguia mais
distinguir uma da outra.
O rapaz se levantou e retirou os pratos de
cima da mesa, colocando-os na pia. Olhou pela
janela, já estava amanhecendo e o tempo lá fora
não havia melhorado. Fazia anos que não via uma
tempestade como aquela. Esperava que não durasse
muito, ou a camada de neve no solo ficaria tão
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espessa que levaria dias para conseguirem liberar as


estradas. Fechou o semblante, aquilo não seria uma
boa opção. Lavou os pratos e foi até o sofá da sala,
pegou um livro de cima de uma mesinha e começou
a lê-lo.
Liz permanecia sentada à mesa. Havia
terminado seu chocolate e sentia-se acabada; aquela
situação era surreal, nem o seu nome sabia. As
pessoas que estavam com ela haviam morrido...
Aquilo a assustava tanto, mesmo não sabendo
quem eram. Além disso, o cara que a havia salvado
era um grosso e a tinha visto sem roupas; corou
com aquele pensamento. Olhou, então, para o
rapaz; ele era bem exótico, com aquele cabelo
platinado e olhos dourados, ou talvez ele fosse
apenas normal e ela que não se lembrava de como
eram as pessoas... Abaixou a cabeça sobre a mesa,
deitando-a sobre os braços cruzados, estava
cansada de pensar...

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“Com o coração apertado, colocou a cabeça


entre as mãos e uma lágrima rolou pelo seu
rosto.”

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Já fazia algumas horas que Liz havia


conhecido seu anfitrião, entretanto ele parecia não
querer interagir com ela. Desde o café da manhã
Axel mantinha a cara enfiada no livro e não lhe
dirigia a palavra. Achou melhor, então, voltar para
o quarto e se deitar, ainda estava com dor de cabeça
e esperava que ela passasse logo.
Acabou adormecendo novamente e quando

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acordou, um cheiro gostoso de comida invadiu suas


narinas. Estava com fome, que horas seriam?
Levantou-se com cuidado para não sentir tontura e
foi até a sala; Axel terminava de colocar dois belos
bifes sobre a mesa e algumas batatas assadas. Liz
salivou com aquela visão e sentou-se, inspirando o
aroma da comida. Foi quando se deu conta de que a
dor de cabeça havia passado; suspirou, sentindo-se
aliviada.
O rapaz sentou-se também e começou a
comer, Liz seguiu-o e terminaram a refeição tão
mudos quanto a iniciaram. Ela queria fazer algumas
perguntas, estava arrasada, perdida e angustiada
com sua situação. Suas memórias eram um grande
vazio, porém sua cabeça fervilhava de
pensamentos. Axel, no entanto, não abria espaço
para diálogos, nem mesmo olhava para ela. A
garota começou a ficar com a impressão de estar
sendo um incômodo ali.
— Obrigada... — disse ela tentando
estabelecer alguma comunicação, enquanto Axel
retirava a mesa.
Ele não respondeu. Liz continuou:
— Por ter me salvado... e por cuidar de
mim... — agradeceu em tom hesitante.
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Como não obteve resposta, levantou-se,


sentindo-se um pouco frustrada em ser ignorada
daquela forma.
— Deixe que eu lavo a louça, posso fazer
isso — falou séria, ao aproximar-se dele na frente
da pia.
Axel a olhou de canto de olho e saiu do
caminho, voltando ao seu lugar no sofá da sala.
Não estava mais irritado, mas também não sabia
como lidar com a garota, então era melhor não falar
nada e deixar ela fazer o que quisesse.
Assim que terminou com a louça, Liz, ainda
insegura em relação ao seu anfitrião, foi se sentar
na poltrona perto da lareira, ficando quase de frente
para o rapaz. Observou-o com certa ansiedade, ela
sentia a necessidade de conversar e queria saber
mais sobre tudo. Sua falta de memória deixava-a
angustiada e com sede de informação. Axel estava
lendo novamente, era um livro estranho e Liz não
reconhecia as letras, pareciam símbolos.
— O que está lendo? — perguntou.
— História antiga do Japão — respondeu
ele sem tirar os olhos do livro.
— Ah! Sim... — Pelo menos se lembrava de
que japonês usava um alfabeto próprio, só não o
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tinha reconhecido. — Você lê japonês?


— Não, só estou olhando as figuras... —
respondeu ele com uma ruga entre as sobrancelhas
e ironia na voz.
Liz, ao perceber que tinha feito uma
pergunta idiota, sentiu um calor subir-lhe pelo rosto
e queimar suas orelhas. Era óbvio que, se ele estava
lendo, era porque sabia japonês. Embora estivesse
envergonhada, também se irritou com a falta de
atenção com que o rapaz a estava tratando, mas não
desistiu.
— Você sabe falar quantas línguas? Você é
daqui mesmo, da Romênia?
A ruga entre as sobrancelhas de Axel se
acentuou. Não devia satisfações àquela garota, por
que ela não ia para o quarto e o deixava em paz?
— Falo várias, nunca contei... Nasci na
Noruega, mas tenho casa aqui e cidadania romena
há algum tempo — respondeu ele logo, esperando
que assim desse o assunto como encerrado.
— O seu sotaque é estranho... Mora aqui
sozinho?
— Sim...
— Quantos anos você tem?
Axel pensou por um instante, não estava
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esperando por aquela pergunta. Havia tirado seu


novo passaporte com uma nova data de nascimento
há alguns meses e, por isso, teve que recalcular sua
idade antes de responder.
— Vinte e dois — falou.
— Hum... E mora sozinho aqui? Cadê a sua
família? — continuou ela.
— Morreu.
Liz interrompeu sua série de perguntas de
sobrancelhas erguidas, surpresa com a frieza com
que ele dissera aquilo. Ficou sem fala por alguns
minutos, um pouco constrangida. Observou melhor
o rapaz à sua frente, até que ele era bonito..., mas
parecia ser um chato. Ainda assim, achava estranho
um cara tão jovem viver desse modo, sozinho em
uma cabana no meio de uma montanha. Curiosa,
perguntou:
— Você trabalha?
— Estou de férias...
— E... não tem namorada? — quis saber,
embora já imaginasse a resposta. Não havia nada
ali que indicasse a presença de uma mulher na vida
dele.
O rapaz olhou-a de esguelha. Aquela garota
não ia parar de especular sobre a sua vida? Logo
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viu que não teria sossego se não arrumasse algo


para ela fazer.
— Não tenho... Escute, por que não vai até
o porão ver se encontra alguma coisa para ler? —
sugeriu enquanto virava a página de seu próprio
livro.
Liz inclinou a cabeça levemente e franziu o
cenho.
— Tem livros em português aqui? —
perguntou.
— Estante à direita, na segunda prateleira
de cima para baixo — respondeu ele. — A entrada
é por aquela porta, a primeira do corredor.
Liz se levantou e foi até a porta indicada. O
rapaz não parecia querer muita conversa, então um
livro talvez lhe ajudasse a distrair a mente. Girou a
maçaneta e se deparou com uma escada estreita de
madeira que levava a um porão escuro com paredes
em pedra. Acendeu a luz da escada e desceu.
Estava receosa, por algum motivo associava porões
com fantasmas, mas também estava curiosa para
ver o que havia lá embaixo.
Axel ficou observando a garota de cabelos
pintados passar pela porta e descer. Esperava que
ela encontrasse algo, ou ficaria insano com a
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tagarelice dela. Fechou a cara ao se lembrar da


última pergunta. Namorada? Não podia haver nada
mais ridículo! Quem ele ia namorar? Não poderia
ser uma Warg como ele, pois nunca mais havia
encontrado outros de sua espécie. Os Lykans eram
grupos radicalmente fechados dentro de seus
próprios clãs, e os vampiros... estes se mantinham
totalmente afastados de seres como ele ou de
Lykans, pois não existia nada mais mortal para eles
do que a mordida de um lobo.
Quem sobrava? Humanas? Totalmente fora
de questão!
Eventualmente tinha saído com algumas,
em uma época muito distante, quando ainda
iniciava seus negócios. No entanto, aquilo não lhe
fora realmente prazeroso, nem para ele, nem para
as mulheres. Quando seus instintos estavam
inflamados, não media adequadamente sua força,
seu raciocínio ficava prejudicado e, por causa disso,
chegara a machucar algumas delas.
Sua mente viajou para aquele tempo que
havia ficado tão distante. A primeira pensão que
adquirira há mais de um século era quase um
prostíbulo, e algumas “madames” insistiam em lhe
pagar o uso do estabelecimento com “favores”. De
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algumas aceitou, de outras recusou. Algum tempo


depois percebeu que aquilo não daria certo e
resolveu estabelecer contratos, onde as elas
poderiam oferecer seus serviços aos hóspedes, mas
deveriam pagar pelo uso dos quartos, como
qualquer cliente.
Parou de sair com as mulheres, o que lhe
trouxe um grande alívio, pois nunca se sentira
verdadeiramente à vontade perto delas; aliás, não se
sentia à vontade perto de ninguém. Só havia
começado o próprio negócio para não ter que
trabalhar para os outros, e assim que pôde,
contratou um gerente, se afastando da linha de
frente e mantendo o controle de forma discreta e
invisível aos clientes.
Felizmente agora ele tinha Gerald para tocar
seus negócios, o homem trabalhava para ele há
mais de 30 anos, conhecia seu segredo e era o único
humano em quem confiava. Encontrou-o por
acidente em uma viela de Londres, quando era
apenas um jovem ladrãozinho sem família que
vivia nas ruas roubando e incomodando os
comerciantes.
Em uma noite fria, Gerald presenciou, sem
querer, uma luta entre ele e um Lykan.
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O embate acabou com o Lykan morto e


Axel jogando seu corpo no rio Tâmisa, que passava
logo ao lado. O rapazinho tentou se esconder,
porém, o Warg já o havia notado atrás de um monte
de lixo e sabia que ele o tinha visto em sua forma
de lobo. Pensou em eliminá-lo, mas refutou a ideia,
não valia à pena.
Naquela época, Gerald tinha apenas 14 anos
e simplesmente passou a segui-lo desde então. No
começo foi um incômodo, mas depois Axel
arrumou um emprego para ele em uma de suas
pensões, e quando ele ficou mais velho, assumiu os
negócios.
Gerald nunca quis se casar, sempre foi um
boêmio mulherengo, mas muito inteligente e
perspicaz. Desde que se tornara o administrador de
sua rede, ele havia alavancado seus negócios de
forma exponencial.
Em 1970, quando Gerald assumiu a
gerência, Axel já tinha sete estabelecimentos
espalhados pela Inglaterra, França e Alemanha,
porém quase todos eram velhos e simples. Por
influência dele, passou a investir o capital,
substituindo as pensões por hotéis maiores e mais
luxuosos. No início dos anos 90 já era dono de uma
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rede de mais de 10 hotéis e resorts importantes na


Europa, e recentemente havia adquirido um resort
no Canadá. Assim, ele não havia do que se queixar,
muito menos Gerald, que vivia uma vida de luxo
por conta de seu alto cargo.
Axel levantou-se do sofá, dispersando seus
pensamentos. Tinha ido de mulheres a negócios de
forma tão rápida e absorta, que até se esquecera da
garota em seu porão. Foi até a cozinha e colocou
uma chaleira no fogo com água, ansiava tomar um
chá e comer algo doce; abriu o armário e pegou
uma barra de chocolate. Desembrulhou-o e
mordeu-o, fechando os olhos satisfeito; para ele,
não havia nada mais prazeroso do que sentir o
chocolate derretendo em sua boca. Podia ser
amargo, ao leite, mentolado, não importava; se ele
tinha algum vício, esse era o chocolate.
Alguns minutos já haviam se passado desde
que Liz descera cuidadosamente as escadas que
levavam ao porão. Embora tivesse acendido as
luzes, para ela, porões eram assustadores. Ao
chegar ao final dos degraus, no entanto, se
surpreendera.
O lugar era bem arrumado, claro e
espaçoso. De um lado da escada, havia uma
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pequena sala com um sofá, uma mesinha e uma


televisão enorme, junto com alguns aparelhos que
não conseguiu identificar o que eram. Do outro
lado, uma sala maior, com estantes em duas
paredes, ocupando-as de cima a baixo. Todas elas
repletas de livros.
Nas outras paredes, notou alguns objetos
aparentemente antigos. Pequenas esculturas, vasos,
alguns mais rústicos, outros mais trabalhados, uma
armadura estranha e espadas de vários tamanhos e
formas diferentes, além de outros objetos que
estavam organizados sobre mesinhas e prateleiras
baixas. Abriu a boca encantada.
De repente todo o seu receio de porões
havia sumido, aquele lugar parecia um minimuseu.
Foi até as estantes e passou a observar as obras,
eram inúmeras, em várias línguas e cujos assuntos
ela não fazia a menor ideia do que se tratavam.
Definitivamente, ele era um leitor voraz! Em
seguida se aproximou dos objetos; curiosa,
começou a tocar e observar as coisas que estavam
ali, chegando até a armadura estranha.
Ela era preta e vermelha, com várias peças
sobrepostas e acompanhava uma máscara preta sob
um capacete ornamentado. Pegou-o e colocou-o
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sobre a própria cabeça, então pegou a máscara e


pôs sobre o rosto, apanhou uma das espadas e se
posicionou em guarda, fazendo um rugido com a
boca, como se estivesse se preparando para uma
luta.
— O que está fazendo? — perguntou Axel
da escada. Ele tinha um bule e duas xícaras de chá
nas mãos.
Liz se virou assustada, retirando
rapidamente a máscara, mas ainda permanecendo
com o capacete. O rapaz a olhava com certa
surpresa; a cena poderia até ser cômica, se ele
tivesse senso de humor para aquilo. Aquela
armadura samurai tinha pelo menos 300 anos, era
mais antiga do que ele e não era algo para se
brincar... Suspirou e foi até a outra sala, a da TV;
colocou o bule e as xícaras na mesinha e se sentou.
Enquanto servia o chá, Liz se aproximou
desconcertada; já não estava mais com o capacete.
— Desculpe, por mexer nas suas coisas...
mas é tão legal aquilo, o que é? — perguntou ela,
sentando-se também.
— Uma armadura japonesa... — respondeu
ele, levando a xícara aos lábios.
— Você gosta de coisas do Japão, né? —
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Liz também começou a tomar o seu chá.


O rapaz mantinha-se em silêncio, mas
impulsiva como era, a garota não conseguia ficar
calada por muito tempo.
— Você não fala muito... — comentou.
— Não vejo necessidade. — Axel depositou
a xícara na mesa, franzindo a testa.
Ela sorriu, achando graça no jeito meio
deslocado e desconfortável dele. Na verdade,
aquele cara era meio estranho, parecia ser
antissocial demais. Será que ele era algum tipo de
eremita moderno? Ou talvez um sociopata? Será
que ele era perigoso? Ficou séria subitamente, seu
sangue gelou e seus músculos se tensionaram. E se
ele resolvesse fazer alguma maldade com ela? Não
havia mais ninguém ali... só os dois.
Axel a olhou, podia sentir o cheiro do medo
nela, algo que era característico de sua espécie,
saber identificar odores exalados por conta de
certos hormônios, naquele caso, a adrenalina. Não
entendeu o motivo daquilo, será que ela havia se
lembrado de algo? Não... ela estava com medo
dele..., mas por quê?
Liz percebeu que ele a estudava com o olhar
e se levantou rapidamente. Pegou as xícaras, o bule
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e se dirigiu para a escada, seu coração batia mais


acelerado, o porão parecia ter ficado pequeno e ela
precisava sair dali.
— Vou lavar isso — disse subindo os
degraus.
O Warg juntou as sobrancelhas. O que
aquela garota tinha? Ele não havia feito nada...
Liz chegou à cozinha ofegante. Sua mente
estava confusa, suas suposições sobre Axel haviam
mexido com seus nervos. Colocou as xícaras na pia
e abriu a torneira, ficou olhando para a água
escorrer enquanto se acalmava; logo a água quente
começou a sair, levantando uma nuvem de vapor.
Respirou profundamente e fechou os olhos, não
estava sendo racional, reconhecia.
Se ele fosse machucá-la já o teria feito. O
rapaz podia ser calado e mal-humorado, mas não
parecia perigoso. De uma certa forma, ele tinha
sido até gentil, se levasse em consideração o
chocolate, o almoço, o chá, o fato de ele ter lavado
e secado suas roupas... Estava sendo injusta...
concluiu.
Axel subiu as escadas com o semblante
fechado, colocou dois livros sobre a mesa, pegou
seu próprio livro na sala e foi para o quarto. Não a
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olhou, nem lhe dirigiu a palavra. Ele estava bravo,


notou Liz. Seria por ela ter mexido em suas coisas?
A tristeza voltou a assolá-la, seu salvador não
gostava da presença dela, isso estava claro.
Finalizou a louça e foi até a mesa, pegou os livros e
levou-os até o sofá, estavam mesmo em português.
Havia um romance e um livro sobre a história de
Portugal. Escolheu o romance e começou a folheá-
lo.
A leitura ocupou sua mente, fazendo-a
perder um pouco a noção do tempo. Quando
levantou os olhos do livro já estava escuro lá fora.
Os dias eram curtos ali no inverno... Olhou pela
janela e viu que a tempestade havia passado, apenas
alguns flocos de neve caiam e o vento não soprava
mais tão forte. Entediada, decidiu tomar um banho,
mas então se lembrou de que não tinha roupas
limpas para se trocar, desanimou-se.
Sem nada para fazer, resolveu ir até a
cozinha. Abriu a geladeira a fim de procurar algo
para comer e pensou que talvez fosse melhor
começar a janta. Pegou um pacote de carne e
colocou-o sobre a pia, mas ficou olhando para o
pacote sem saber se sabia ou não cozinhar, não se
lembrava. Axel surgiu na entrada do corredor e Liz
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se virou, ele ainda a olhava de forma ríspida. O


rapaz se aproximou e ela se afastou da pia.
— Eu pensei em fazer, mas... eu não sei
como... — disse ela, um pouco sem graça.
— Deixe que eu faço, vá tomar um banho
— ordenou ele secamente.
Liz arqueou uma das sobrancelhas, parecia
seu pai falando, se é que seu pai falava assim com
ela, também não se lembrava. Fechou a cara. Como
ele era mandão! Ela só estava querendo ajudar! E
se ela não quisesse tomar banho? Encheu o pulmão
de ar, estufando o peito e pousando as mãos nos
quadris.
— E vou vestir o quê? — questionou
irritada.
Axel suspirou, largou o que estava fazendo
e sumiu pelo corredor. Voltou logo depois com
uma camiseta e uma calça de moletom nas mãos.
— Vista isso, amanhã vou buscar suas
malas — falou retornando à pia.
— Mas isso é enorme! — disse ela,
analisando as peças.
Quando viu que o rapaz não ia se
manifestar, saiu bufando. De todas as pessoas que
existiam no planeta, por que tinha que ser salva
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justamente por um cara tão irritante?


Depois de tomar banho, voltou para a sala.
A janta já estava pronta e eles comeram em
silêncio. Liz não puxou conversa, estava mal-
humorada e abatida. Sentia-se sozinha, tinha medo
de ter perdido pessoas importantes no acidente, de
ter perdido seus pais. Tinha medo, principalmente,
de não se lembrar deles, de nunca mais se lembrar
de nada. Seu coração estava apertado de angústia.
Agora ela é quem não queria conversa.
Foi dormir logo depois da janta, deitou a
cabeça no travesseiro e percebeu que o cobertor
não cheirava mais mofo, Axel o tinha lavado. Uma
lágrima escorreu pelo seu rosto, ela sentia
saudades... De quê? Não sabia. Não compreendia
esse sentimento, já que não se lembrava do que
sentia saudade. Ela só queria voltar para casa,
voltar para alguém que a amasse, queria poder
sentir o aconchego de um abraço forte e carinhoso.
Liz só queria poder acordar e ver que tudo não
passara de um sonho...

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“Olhou pela janela e viu que a tempestade


havia passado, apenas alguns flocos de neve
caiam e o vento não soprava mais tão forte.”

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Axel se levantou antes do sol nascer, ele não


costumava dormir muito e seu sono era leve. Ligou
a cafeteira e olhou para fora, a neve havia parado
de cair, finalmente; mas duvidava que a garota
fosse embora tão cedo.
Sua cabana ficava aos pés das montanhas
mais altas da Romênia, a dez quilômetros da vila
mais próxima, e a estrada onde ocorrera o acidente

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com a garota era secundária, não ligava cidades


importantes. Por isso não acreditava que as
autoridades mandariam máquinas até lá para
desbloqueá-la, provavelmente esperariam que a
neve derretesse sozinha. O que poderia levar dias,
se continuasse frio como estava. Colocou o café
fumegante em uma caneca e inspirou o aroma,
bebendo-o em seguida.
Assim que terminou o café, vestiu seu
casaco, as botas e saiu, indo até a garagem. Afastou
a neve da frente da porta, abriu-a e acendeu a luz.
Havia dois veículos lá dentro, uma caminhonete e
uma moto potente. Foi até o fundo e tirou um trenó
de um gancho na parede, pegou algumas cordas e
deixou a garagem, afastando-se da casa.
Liz acordou com um pouco de dor de
cabeça, não tinha conseguido dormir direito. Seu
sono havia sido agitado e acordara várias vezes
durante a madrugada, sempre com os batimentos
cardíacos acelerados e respiração ofegante. Talvez
estivesse tendo pesadelos, mas nem disso ela se
lembrava. Só sabia que estava cansada, mesmo sem
ter feito nada. Não queria se levantar, não queria se
encontrar com aquele chato de olhos dourados;
estava certa de que não era bem vinda naquela casa,
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que era apenas um incômodo. Queria apenas


dormir de novo, queria dormir para sempre...
Algum tempo depois escutou um barulho na
cozinha. O chato devia estar fazendo café, pensou
irritada. Relutou em sair da cama e não teria saído
se não fosse a necessidade fisiológica de ir ao
banheiro, estava com fome também. Não teria jeito,
teria que encarar o rapaz. No banheiro, olhou-se no
espelho. Já havia passado vários minutos se
olhando no dia anterior, sem se reconhecer; era
uma estranha para ela mesma. E agora, parecia uma
bruxa descabelada.
Havia achado diferente o cabelo platinado
de Axel, mas o dela também não era normal, por
que será que estavam com as pontas pintadas de
rosa? Era moda? Olhou as unhas com esmalte preto
descascado, que tipo de pessoa ela era? Do que
gostava? Qual era o seu nome? Queria respostas
desesperadamente, precisava delas. Tentou ajeitar
os cabelos com os dedos e foi para a cozinha.
A mesa estava posta e desta vez o cheiro
que vinha do forno era maravilhoso.
— Oi... — disse sem muito ânimo. — Está
cheirando bem, o que é?
— Torta — respondeu Axel pegando uma
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bolsa no canto da pia e colocando em frente à


garota.
— O que é isso? — perguntou ela olhando
para o objeto sem entender.
— Sua bolsa... as malas estão ali — apontou
para o canto da sala. — Não sabia qual era a sua,
então trouxe todas.
Liz olhou para onde ele apontava. Havia
duas malas, uma grande preta e uma menor roxa.
Devia ser a roxa, pensou. Voltou-se, então, para a
sua bolsa. Certamente algumas respostas estariam
ali. Sentiu seu coração acelerar.
Abriu a bolsa e começou a procurar por
qualquer coisa que pudesse dizer algo sobre ela.
Encontrou a carteira, pegou-a e, ansiosamente,
retirou dela um documento com sua foto, analisou-
o. Era ela mesmo? Parecia mais nova, parecia feliz.
Virou-o, seu nome estava atrás.
— Lizandra... — falou baixinho. — Meu
nome é Lizandra... — Não reconhecia aquele nome.
— Sou brasileira, minha mãe se chama Lavínia e
meu pai, Jonas.
Seu coração se apertou e ela deu uma nova
olhada na mala preta no canto da sala, seria a mala
deles? Dos seus pais? Engoliu em seco e voltou a
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fitar o documento.
— Que dia é hoje? Em que ano nós
estamos? — perguntou ao olhar para sua data de
nascimento.
— 1995. Hoje é 4 de janeiro — respondeu
Axel, enquanto tirava a torta do forno.
— Vou fazer 16... daqui a quatro dias... —
murmurou Liz, largando o documento e sentindo o
vazio tomar conta de si novamente. Seria o pior
aniversário de sua vida, não tinha dúvidas...
Olhou mais uma vez para o conjunto de
malas, ali poderia ter mais respostas. O vazio foi,
então, sendo preenchido por um medo irracional.
Suas mãos começaram a tremer e lágrimas
brotaram de seus olhos, seu coração parecia estar
sendo esmagado. Eram os seus pais que estavam no
carro? Olhou para Axel. O rapaz estava sério e a
observava.
— Você... você pegou os documentos
deles? Quero dizer, do casal que você disse que
estava comigo? — Sua voz estava trêmula.
Axel suspirou e pegou dois passaportes que
estavam atrás dele, colocando-os na frente da
garota. Liz tremia, tentou abri-los, mas não
conseguiu, suas lágrimas cegavam-na.
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— P...por favor... você pode olhar? —


pediu.
— Já olhei...
Ela levantou os olhos úmidos e
interrogativos para ele. Axel se aproximou e pegou
de volta os passaportes, colocando-os sobre a
geladeira.
— Sinto muito, Lizandra... são seus pais —
disse, por fim.
Liz levou as mãos à boca sentindo a
respiração falhar e a vista escurecer, teria caído da
cadeira se Axel não tivesse se precipitado e a
amparado. O Warg carregou-a até o sofá e a fez se
deitar, permanecendo ao seu lado. Observava-a sem
saber o que fazer, não estava acostumado com
aquele tipo de situação, definitivamente. Ele sabia
que seria um choque para ela contar sobre seus
pais, mas o que poderia fazer? Mentir?
Aguardou até que Liz abrisse os olhos e
quando ela o fez, aconteceu algo inusitado. A
garota abraçou-o pelo pescoço num gesto de
desespero e voltou a chorar copiosamente. Axel
paralisou. Que diabos era isso agora?! Seus
músculos se retesaram e ele não se moveu.
— Me desculpe... — disse ela com o rosto
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enfiado em seu pescoço. As lágrimas escorriam


abundantes. — Não me odeie, eu só... — soluçou
— eu só não sei...
Liz não conseguiu terminar a frase, nem ela
sabia o que estava falando, ela só queria chorar, só
precisava desabafar, precisava de um ombro e não
se importava que fosse o daquele homem mal-
humorado. O que ela ia fazer agora? Seus temores
se transformaram em realidade... Estava sozinha,
em um lugar estranho e com um cara estranho, não
tinha mais seus pais, não tinha ninguém... Por que
ela tinha que ter sobrevivido? Por quê?
Axel não se mexeu, deixando a garota se
acalmar em seu ombro. Não a odiava, mas também
não gostava dela, ou melhor, não gostava de ter sua
vida perturbada por causa dela, mas sabia que era
passageiro, então faria um esforço para aturar.
Assim que Liz se aquietou, o Warg se afastou um
pouco, desvencilhando-se dos braços da garota, e se
levantou.
— Chá, café ou chocolate? — perguntou ele
sério, ainda desconcertado com a situação.
— Café... — respondeu ela apática.
— Vem para a mesa — ordenou o rapaz,
enquanto pegava a xícara e servia o café.
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Liz não tinha forças, naquele momento,


para retrucar a respeito do jeito autoritário com que
ele se dirigia a ela, então apenas obedeceu. Sentou-
se, pegou a xícara e tomou um gole, fazendo uma
careta. Era amargo; mas era disso que ela precisava
agora, necessitava sentir algo diferente daquele
vazio que tomava conta de seu íntimo. Seu olhar se
dirigia para frente, mas não fixava em nada, ainda
não acreditava que aquilo estava acontecendo com
ela...
Axel colocou um pedaço de torta de carne
ainda quente à sua frente, e soltando um aroma
apetitoso. Aquilo fez Liz acordar de sua ausência,
seu estômago estava falando mais alto. Começou a
comer avidamente, como se todas as suas dores
pudessem ser engolidas junto com a torta, que
estava simplesmente deliciosa. Quando terminou,
sentiu-se um pouco mais aliviada.
— Você cozinha bem — disse ela, tentando
puxar assunto e querendo se distrair de seus
próprios pensamentos.
— Eu me viro... — Axel estava sentado à
sua frente, comendo também.
Liz deu uma olhada no rapaz e estudou-o
por um momento. Com aquela aparência e
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habilidades culinárias, seria estranho se a


mulherada não caísse matando em cima dele...
— Por que não tem namorada? — indagou.
— Porque isso não me interessa —
respondeu ele secamente.
A garota fez uma pausa, enquanto tomava
mais um pouco de café.
— Então... nunca namorou? — quis saber
Liz, sentindo o bichinho da curiosidade lhe pinicar.
O rapaz franziu as sobrancelhas. Não
gostava de falar de sua vida pessoal e sentia-se
incomodado com o rumo da conversa.
— Nunca — disse carrancudo.
Liz arqueou uma sobrancelha, surpresa, mas
sorrindo discretamente, logo concluiu:
— Deve ser por causa desse seu humor... —
Ela pensou um pouco. — Ou vai ver que mulheres
não são o seu forte... — sugeriu olhando
interrogativamente para Axel.
Ele não respondeu.
— Você é gay? — indagou ela de súbito,
sem conseguir resistir à tentação de perguntar.
O rapaz se engasgou com a torta e começou
a tossir.
— Por que acha isso? — perguntou ele,
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assim que conseguiu respirar.


— Sei lá... — respondeu ela indiferente. —
Você já é um adulto... Acho estranho nunca ter tido
ninguém. Se não se sente atraído por garotas, talvez
...
— Não sou gay... — interrompeu Axel
franzindo o cenho. — Apenas não me interesso por
relacionamentos.
— É assexuado, então? — perguntou ela
levantando as sobrancelhas.
— Poderia parar de tirar conclusões sobre
meus interesses sexuais, por favor? — Ele se
levantou irritado. — Não sou assexuado! Agora
pare de querer saber sobre a minha vida! — disse
se virando e indo para o porão.
Liz suspirou. Que cara difícil! Por que será
que ele era daquele jeito? Levantou-se também e
tirou a mesa. Pelo menos ela estava menos
pesarosa, comer havia ajudado. Sim, estava
sozinha, mas não podia continuar com aqueles
pensamentos de que deveria ter morrido junto com
seus pais. Não se lembrava de quem era, porém
sentia que era alguém que valorizava a vida e
lutava por ela. Não podia se deixar abater tanto.
Tentou afastar qualquer pensamento sobre
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aqueles que seriam os seus pais e olhou para as


malas, respirando fundo. Precisava ver o que havia
nelas e depois trocar de roupa, ainda estava usando
as de Axel...
Receosa, decidiu não mexer na mala preta;
não queria saber o que havia lá dentro, não queria
se angustiar mais. Abriu, então, a mala menor e
logo viu que era a dela, maquiagem e bijuterias se
misturavam junto com roupas de adolescente e
calçados. Depois de constatar que não havia nada
ali que lhe significasse algo, pegou um short, uma
camiseta, seus chinelos e foi se trocar. Apesar do
frio que fazia fora da cabana, felizmente lá dentro
tinha aquecimento e podia usar roupas leves.
Ao voltar para a sala, escutou um barulho
estranho no porão e, curiosa, foi dar uma olhada.
Axel estava na frente da TV, concentrado e
mexendo freneticamente em um controle. Liz
arqueou uma das sobrancelhas, ele estava
jogando... Aquilo era um videogame, reconhecia o
aparelho agora, mas não conhecia aquele jogo, ou
talvez não se lembrasse dele. Sentou-se ao lado do
rapaz e ficou observando o bonequinho estranho
atirar para cima em outros bonequinhos que
explodiam.
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— Quer jogar? — perguntou ele, já


incomodado pela presença da garota.
— Não sei como faz...
— É fácil, esse aparelho já tem uns dez
anos e os jogos são simples... — explicou ele,
dando o controle para ela. — Aqui você controla a
direção, este botão é para atirar e esses são os
cartuchos dos jogos, se quiser trocar precisa
desligar o aparelho nesta chave aqui antes. —
Mostrou ele, em seguida se levantou e subiu as
escadas.
Naquela manhã, Liz passou horas ali
entretida com os jogos antigos. Axel possuía vários
cartuchos e ela testou todos, morreu várias vezes e
gastou todo o seu vocabulário de impropérios.
Esqueceu-se momentaneamente de seus problemas
e de suas tristezas, e poderia ficar o resto do dia ali,
se não fosse seu dedo começar a ter câimbras.
Levantou-se e esticou as costas,
espreguiçando-se. Foi até a outra sala do porão dar
mais uma olhada na armadura japonesa, tinha
ficado fascinada por ela. Após tocá-la e examiná-la
mais uma vez, seus olhos pousaram em um objeto
que não tinha reparado antes. Na parte de baixo de
uma das prateleiras havia uma pequena caixa de
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madeira trabalhada com um fecho dourado.


Retirou-a da prateleira e a abriu. Seus olhos
se arregalaram, pasma; era uma caixa de joias. Lá
dentro havia colares, pulseiras e anéis; em ouro,
prata, com pedras preciosas ou pérolas. Eram
lindas! Algumas exageradas, outras mais delicadas.
Pegou algumas na mão e as admirou, então
colocou-as de volta. Não queria que Axel a pegasse
mexendo em suas coisas novamente, ou que
pensasse que ela estava querendo roubá-lo. Mas por
que será que ele tinha todas aquelas joias? Seriam
de família? Talvez da mãe dele? De repente ficou
curiosa sobre o rapaz, pena que ele havia deixado
bem claro que não gostava de falar sobre si.
Já estava fechando a tampa quando notou
um fino colar em ouro no cantinho da caixa. Tirou-
o de lá e levantou-o na frente do rosto. Era um
colar delicado, com um pequeno pingente em
forma de coração, colocou-o na palma da mão e
observou seu brilho, passando o indicador
levemente por cima da peça.
— Pode ficar com ele, se quiser — disse
Axel atrás dela.
Liz deu um pulo assustada, esbarrando na
prateleira e quase derrubando o colar e a caixa no
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chão.
— Aff!!! Precisa chegar assim tão
silenciosamente?! Quase me mata de susto! —
exclamou ela.
— O almoço está pronto — anunciou o
Warg, virando-se para subir.
— Posso mesmo? Ficar com ele? —
perguntou Liz. — Não era da sua mãe?
— Não.
— De quem era?
— Não sei — respondeu já no topo das
escadas.
Liz guardou a caixa e foi atrás dele.
Alcançou-o na cozinha.
— Como não sabe? — indagou curiosa.
Axel percebeu que teria que mentir. Ele
havia recebido aquelas joias como pagamento de
hospedagem décadas atrás, havia coisas antigas ali;
portanto, precisava ser razoável na explicação.
— Meu avô tinha negócios e às vezes era
pago com joias — respondeu.
— Então... você vai me dar mesmo ele? —
Liz ainda tinha o semblante surpreso.
Axel apenas assentiu. Não se importava
com aquele colar, nem com nenhuma daquelas
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joias; tinha mais dinheiro do que precisava e nem


assim o usava direito. Gerald vivia no seu pé para
comprar roupas e sapatos novos, trocar de carro,
arrumar uma empregada. Mas ele não ligava para
isso, só precisava ter o suficiente para viver
sossegado e fazer o que tinha que fazer como
proprietário dos hotéis.
— Coloca para mim? — pediu a garota,
entregando-lhe o colar e virando-se de costas.
Liz levantou os cabelos e ele passou o colar
pela frente de seu pescoço, fechando-o na nuca. O
cheiro da garota invadiu seu sentido mais aguçado
e por um instante Axel sentiu-se tentado a abaixar a
cabeça para apreciá-lo mais de perto. Conteve-se
alarmado, afastando-se bruscamente. Por que uma
coisa daquelas havia passado por sua cabeça?
Sentou-se à mesa de cara amarrada e começou a
comer, não dizendo mais nada durante o almoço.
Liz percebeu sua mudança de humor e achou
melhor não incomodá-lo. O rapaz devia ser
bipolar... só podia!
Axel saiu da cabana e demorou a voltar. Liz
podia escutá-lo lá fora, ele estava mexendo com
alguma máquina barulhenta. Olhou pela janela e o
viu carregando pedaços de tora. Preferiu não sair,
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estava frio demais e tinha preguiça só de pensar em


colocar montanhas de roupa para ir até lá. Assim,
passou a tarde lendo o livro que começara no dia
anterior.
A noite chegou rápida e com ela o uivo dos
lobos. Liz não os tinha escutado ainda e aquele som
gelou seus ossos. Axel estava preparando a janta.
Ele não havia falado com ela desde o almoço;
estava mais calado do que antes e ela não entendia
o motivo. Contudo os uivos a estavam assustando e
ela aproveitou para quebrar o silêncio.
— São cães ou lobos? — perguntou
encostando-se na mesa.
— Lobos — respondeu ele, enquanto lavava
algumas vagens e as colocava na tábua de cortar.
— Por que uivam assim?
— Para chamar o bando, estão caçando.
— São perigosos?
Axel parou o que estava fazendo e virou-se,
encarando-a seriamente.
— Sim, são! Escute... enquanto estiver por
aqui, em hipótese alguma se afaste da casa,
entendeu?
Liz levantou as sobrancelhas e meneou a
cabeça, confirmando. Pelo visto o assunto era sério.
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O rapaz voltou-se para os legumes e começou a


cortá-los.
— No inverno a comida fica mais escassa e
os lobos, mais ousados, caçando perto das casas. É
perigoso andar por aí — disse ele.
— Entendi... — Ela se aproximou. — Posso
te ajudar?
— Não! — Foi a resposta firme.
Liz fechou a cara e saiu de perto, indo se
sentar no sofá. Okay! Se ele queria fazer tudo
sozinho, problema dele.
— Chato, irritante... — murmurou baixinho,
para si mesma.
Axel deu uma olhada por cima do ombro.
Ele escutava bem... mas não precisava dizer isso a
ela.

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“Abriu a bolsa e começou a procurar por


qualquer coisa que pudesse dizer algo sobre ela.”

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Seis dias já haviam se passado desde o


acidente, e o relacionamento entre Liz e Axel
permanecia sem novidades. A conversa entre os
dois definitivamente não evoluía.
O Warg se mantinha monossilábico e
continuava não aceitando a ajuda da garota na
cozinha. No dia anterior ela havia teimado em
preparar um omelete para o café da manhã; no

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entanto, quando tentou virá-lo, jogando-o para cima


como ele fazia, não conseguiu e os ovos batidos
acabaram indo parar sobre o fogão.
Desconcertada, Liz limpou a sujeira e
deixou que ele assumisse a tarefa. Foi a primeira
vez que ela viu um brilho diferente no olhar do
rapaz, como se ele tivesse se divertindo com a
inabilidade dela. Sentiu-se frustrada com aquilo.
Indiscutivelmente, ela não era boa cozinheira, então
apenas passou a observar e a admirar a destreza
dele no fogão, sem se preocupar mais com o
assunto.
A fim de se distrair e manter a mente
ocupada, Liz passava os dias lendo e jogando. Já
estava ficando boa em alguns jogos e chegava até a
animar-se um pouco quando conseguia passar de
fase. Axel, por sua vez, quando não estava
cozinhando ou lendo, saía da cabana e permanecia
lá fora horas a fio. Às vezes, a adolescente
conseguia vê-lo pela janela consertando coisas,
outras vezes ele simplesmente sumia.
Naquela tarde, Liz estava entediada, sem
vontade de ler ou jogar. Havia observado Axel falar
com alguém pelo rádio logo cedo e soube depois
por ele que, por causa de outra nevasca que havia
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ocorrido no dia anterior, talvez demorasse mais


dois ou três dias para desbloquearem as estradas.
Isso significava, mais dois ou três dias presa ali.
Sentia-se aborrecida e estressada, queria sair, andar,
respirar ar puro. Dois dias atrás tinha saído um
pouco, contudo não conseguiu ficar mais do que
quinze minutos fora da cabana, o frio penetrou-lhe
quase até os ossos e acabou desistindo. Não
entendia como Axel conseguia aguentar
permanecer por tanto tempo naquele gelo.
Por fim, o tédio se tornou insuportável e ela
decidiu enfrentar o ar gelado novamente. Colocou
duas blusas de lã, duas calças, meias grossas,
cachecol, luvas de couro e um casaco impermeável.
Sentia-se um urso, mas pelo menos não passaria
tanto frio. Encontrou Axel cortando lenha com um
machado próximo à garagem. Ele rachava os tocos
em um só golpe, parecia tão fácil...
O rapaz a olhou de canto de olho. Ele não
gostava de ser observado e ficou aliviado quando
ela saiu de perto. Axel ainda se sentia um pouco
desconfortável na presença dela. O cheiro da garota
o distraía e isso o inquietava, assim, preferia se
manter à distância.
Liz deu a volta na casa, observando o lugar.
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A cabana era cercada por árvores e uma grande


montanha erguia-se atrás dela. O céu estava limpo e
o sol brilhava alto. A jovem já estava do outro lado
quando viu de relance um movimento próximo à
linha das árvores e parou amedrontada. Ficou
olhando para o local por um tempo e logo um
coelho branco saltou de trás de um arbusto e a
encarou com as orelhas levantadas, então saiu
pulando por entre as árvores.
Ela sorriu e começou a andar na direção do
roedor, queria vê-lo mais de perto, seus pés
afundavam na neve macia e precisava levantar a
perna para dar cada passo, agora sentia-se um ogro.
Seguiu animada por entre as árvores.
O coelho continuou dando pequenos pulos e
parando, toda vez que ela conseguia chegar perto
ele fugia. Então subitamente ele parou assustado,
levantou as orelhas como se escutasse algo e correu
em disparada para debaixo de um tronco caído.
— Ah! Volta aqui coelhinho... — disse ela
abaixando-se perto do tronco para tentar vê-lo.
Foi quando escutou o barulho de um galho
se partindo não muito longe dela. Levantou-se e
olhou na direção de onde viera o som, então seu
coração parou por um momento. Com a respiração
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em suspenso, sentiu um formigamento tomar conta


de seu corpo e não conseguiu se mexer.
Um lobo estava a menos de dez metros dela,
encarando-a. Em seguida apareceu outro e mais
outro, e logo ela se viu rodeada pelos animais.
Então o maior deles começou a se aproximar. Liz
arregalou ainda mais os olhos e, por algum milagre,
conseguiu sair de sua paralisia, dando alguns
passos para trás; contudo logo bateu com as costas
em uma árvore.
Os lobos começaram a fazer um cerco. Seu
coração agora batia mais acelerado do que nunca e
Liz começou a respirar com dificuldade, em um
claro sinal de pânico. Ela ia ser atacada, não tinha
dúvidas; ia morrer ali, devorada por lobos. Não
queria morrer, não queria... Suas pernas
fraquejaram e ela escorregou pelo tronco.
— Por favor... vão embora... — pediu num
sussurro, sua voz não saía.
Como se a tivessem entendido, os lobos se
viraram e correram floresta adentro. A garota
surpreendeu-se. Eles estavam mesmo indo embora?
Colocou, então, as mãos sobre o coração e soltou
um suspiro de alívio, seu corpo tremia por inteiro e
lágrimas de nervosismo lhe umedeciam os olhos.
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Estava viva! Ficaria viva! Um vulto, porém, surgiu


repentinamente ao seu lado e Liz, num impulso,
soltou um grito e começou a engatinhar para o lado
contrário, se arrastando pela neve.
Axel a pegou pela parte de trás do casaco e
a levantou do chão, virando-a para ele.
— O que pensa que está fazendo? — disse
furioso. — Não te falei que não era para se afastar
da cabana? O que quer, garota estúpida? Morrer?!
Liz, ainda em estado de choque, demorou
alguns segundos para entender o que estava
acontecendo e o que ele estava lhe dizendo.
— N...Não — gaguejou. — Eu... eu me
distraí... eu...
Axel a largou bruscamente e ela caiu
sentada, então ele se virou e começou a andar. Liz
estava boquiaberta, como assim? Ele estava
deixando ela ali? Levantou-se com um pouco de
dificuldade e pôs-se a andar atrás dele, estava
apavorada, não queria ficar sozinha de novo.
— Ei! Me espere! — gritou.
No desespero, acabou tropeçando e caindo
novamente, então se levantou e tentou correr para
alcançá-lo, mas suas pernas pareciam não querer
obedecê-la.
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— Axel!! — chamou entre lágrimas. — Por


favor...
Ele parou, mas não se virou para olhá-la.
Estava tão irritado que seria capaz de sacudi-la
pelos ombros e prendê-la dentro de casa. Como é
que ela podia ser tão irresponsável? Por muito
pouco não havia sido atacada, muito pouco...
Axel havia notado a ausência dela por acaso
e seus instintos se aguçaram quando percebeu o
cheiro dos lobos. Para sorte da garota, chegou a
tempo. Felizmente, os lobos o respeitavam e graças
a isso debandaram quando perceberam sua
presença. Ela podia ter morrido ali. O Warg crispou
as mãos exasperado ao pensar naquela
possibilidade, menina inconsequente!
Aguardou até que ela se aproximasse e
voltou a andar. Não estavam longe da cabana, os
lobos é que haviam chegado perto demais. Somente
quando estavam a poucos metros da porta, ele a
encarou. Liz engoliu em seco, Axel tinha o olhar
duro e severo.
— Se fizer isso de novo, vai virar comida
de lobo! Entendeu? — rosnou ele com o dedo em
riste.
Liz abriu a boca para responder, mas a
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postura ríspida do rapaz fez, inesperadamente, seu


sangue subir e a revolta estourou dentro dela.
— Por que fala sempre assim comigo?
Estúpido é você que não sabe tratar as pessoas
direito! — gritou. — Estou cansada de você, desse
seu jeito mandão e desse seu mau humor constante!
Axel estreitou levemente os olhos e deu as
costas para ela, indo em direção à garagem.
— Ei! Eu estou falando com você! —
indignou-se Liz.
Quando percebeu que o rapaz não lhe daria
ouvidos, abaixou-se e pegou um punhado de neve.
— Idiota! — berrou, ao atirar a bola na
direção de Axel e acertá-lo na nuca.
Ele apenas a olhou por cima do ombro e
continuou seu caminho. Liz, mais estressada ainda,
entrou em casa batendo a porta e arrancando as
roupas pesadas.
— Idiota, babaca! Imbecil! — gritou mais
uma vez, esperando que ele escutasse.
Sentou-se no sofá e desmoronou. Seus
nervos estavam à flor da pele e voltou a chorar, só
queria ir embora, voltar para casa... Então se
lembrou de que talvez não tivesse ninguém para
quem voltar e chorou mais ainda, seu coração
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estava em pedaços. Foi para o quarto e se trancou lá


dentro.
Algumas horas depois, Axel bateu em sua
porta chamando-a para jantar, mas ela não atendeu,
não queria falar com ele. O rapaz não insistiu e ela
acabou dormindo com fome. Acordou com o
estômago nas costas e um cheiro doce vindo da
cozinha. Levantou-se emburrada e foi ao banheiro,
ainda irritada. Depois voltou para o quarto e se
trancou novamente. Seguraria a fome, não ia comer
mais nada preparado por aquele chato, grosso,
estúpido!
Liz ainda estava revoltada com seu
anfitrião, entretanto a culpa a corroía de uma certa
forma, pois em seu íntimo reconhecia que havia
desobedecido as orientações de Axel. Além disso,
ele a havia salvado, de novo... Mas ele também não
precisava falar daquele jeito com ela! Sentou-se
perto da janela e ficou olhando para fora, a neve
tinha voltado a cair. Droga! Assim não conseguiria
sair dali nunca!
Na cozinha, Axel terminou de colocar a
mesa e, apreensivo, foi até o quarto da garota. Não
estava acostumado a lidar com crises adolescentes e
a garota o havia aborrecido bastante no dia anterior,
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não tinha paciência para aquilo. Bateu na porta,


mas não houve resposta, bateu de novo.
— Vem tomar café! — disse.
— Não quero! — respondeu Liz lá de
dentro.
Axel suspirou e deu meia-volta. Liz ficou
prestando atenção e como não escutou mais
barulho, calculou que ele havia desistido. Melhor
assim! Seu estômago roncava, mas esperaria ele
sair primeiro e depois buscaria algo para comer na
cozinha.
Assustou-se com um barulho de chave
destrancando a porta e no segundo seguinte viu
Axel entrando no quarto e indo em direção a ela.
— Ei, como ousa entrar assim? — disse,
arregalando os olhos ao perceber que ele pretendia
fazer alguma coisa.
— Você está na minha casa — respondeu
ele pegando-a pelo pulso e tentando puxá-la. —
Vem comer alguma coisa!
— Não! — Liz resistiu travando o corpo. —
Não quero! Me deixe em paz, não quero falar com
você! Vai embora! — exclamou irritada, puxando o
braço e o encarando desafiadoramente.
Axel travou o maxilar. Que menina
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teimosa! Aproximou-se dela, abaixou-se e a pegou


pelas pernas, jogando-a sobre seu ombro, então saiu
do quarto.
— Ah! Me larga, seu idiota! — esperneou
Liz, enquanto socava suas costas. — Me põe no
chão, agora!
Ele a sentou na cadeira da cozinha e a
arrastou para perto da mesa. Liz ia se levantar e
continuar a xingá-lo quando então percebeu o que
tinha à sua frente. Um bolo! Um maravilhoso bolo
de chocolate com calda de chocolate e, sobre ele,
uma vela.
— Feliz aniversário... — disse Axel sério,
porém sem demonstrar irritação. Na verdade, ele
sentia-se levemente ansioso.
Liz ficou muda, não esperava por aquilo,
nem em sonho imaginou que poderia ganhar um
bolo de aniversário. Aliás, havia até se esquecido
que era seu aniversário. De repente, um aperto lhe
subiu pelo peito e travou sua garganta, seus olhos
se encheram de lágrimas novamente. Não era
tristeza, era uma emoção estranha, onde se
misturavam alegria, saudade, culpa e gratidão.
Tentou enxugar as lágrimas, mas elas não
paravam de cair. Liz sentiu-se envergonhada, ela
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tinha batido nele e gritado, dando uma de rebelde


escandalosa e mal agradecida. Por que ela era
assim? Por que parecia estar sempre pronta para o
enfrentamento? Por que guardava tanta raiva dentro
de si? Por que demorava tanto para entender as
coisas?
As perguntas martelavam em sua cabeça e
então ela percebeu que estivera tão focada em sua
própria dor, que se esquecera de que deveria se
sentir agradecida por ter um teto, alimento e uma
vida pela frente graças àquele rapaz. Era estranho,
mas agora conseguia enxergar as coisas com mais
clareza, como se um véu tivesse sido tirado de sua
frente. Axel podia ser um turrão, mas no fundo ele
se importava um tiquinho com ela, ou não a teria
salvado, cuidado de seus ferimentos, não a teria
procurado no dia anterior quando sumira, nem feito
o bolo para ela... Até mesmo em suas broncas ele
demonstrava preocupação. Ele tinha atitudes rudes,
é verdade, mas por dentro não era tão mau assim...
Enquanto Axel acendia a vela, Liz esboçou
um pequeno sorriso que se misturava ao choro e
que ela não conseguia fazer parar.
— Faça um pedido — disse ele.
— Acredita mesmo nisso? — perguntou
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entre soluços.
Ele deu de ombros, então Liz fechou os
olhos e pediu. Felicidade! Era o que ela mais
desejava, não importava como ou onde ou com
quem. Ela não se lembrava de ninguém de sua vida
antes do acidente, não sabia se tinha amigos,
irmãos ou parentes próximos, portanto só desejou
ser feliz; queria que aquela tristeza fosse embora,
que sua vida se resolvesse logo e que pudesse viver
como uma garota normal. Então assoprou,
apagando a vela.
Devorou o bolo como se fosse o último que
comeria na vida. Estava divino! Era difícil de
acreditar que aquele rapaz cozinhasse tão bem,
enquanto ela não conseguia fazer nem um ovo frito.
Depois daquela manhã conturbada, seu
humor mudou da água para o vinho. Talvez fosse
seu pedido de aniversário se realizando ou talvez
fosse só sua predisposição em correr atrás de seu
próprio desejo que a animava, mas sentia-se melhor
e passou a ver seu anfitrião sob um olhar diferente.
Acreditava que agora conseguia entendê-lo um
pouco mais e, em sua visão, Axel era apenas um
cara solitário que não estava acostumado a dividir
seu espaço com outras pessoas, nem gostava de
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falar muito, mas não significava que era egoísta,


embora ele se esforçasse em parecer que sim.
Começou a passar mais tempo observando-
o em suas tarefas e percebeu que ele ficava
incomodado com isso, mas não desistiu, estava
decidida em conquistar o apreço do rapaz e, por
isso, mudou de estratégia em relação a ele. Passou
de depressiva, revoltada e impertinente, a
expansiva, irônica e desafiadora, tentando ao
máximo não se deixar levar novamente ao fundo do
poço pela situação triste e problemática que se
encontrava. Seguia-o aonde quer que ele fosse e
enchia-o de perguntas, e mesmo quando não
obtinha a resposta, passou a não se importar.
Começou a gostar de provocá-lo e ria quando ele
fechava a cara.
— Não seja tão mal humorado, Axel! —
dizia.
O Warg, por sua vez, esforçava-se em não
ser tão grosso e impaciente. Percebera a mudança
de atitude da garota e ficou satisfeito com aquilo,
pelo menos ela não ficava mais chorando pelos
cantos ou reclamando dele. Liz estava mais
animada e participativa e ele achou melhor tomar o
cuidado de não fazer nada que pudesse remetê-la ao
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estado depressivo de antes.


Outros três dias se passaram em um clima
mais amigável entre o dono da cabana e sua
hóspede, até que Axel recebeu uma chamada no
rádio. Depois de vários dias sem nenhuma
novidade, finalmente a polícia ligava para avisar
que em algumas horas a estrada estaria
desbloqueada e que eles iriam até o local do
acidente. Pediram também para que ele fosse até lá,
acompanhar a retirada dos corpos.
Liz sentiu seu intestino se revirar quando
Axel lhe disse o motivo pelo qual precisava sair,
eles iam resgatar os pais dela.
— Não saia de casa, certo? — disse ele.
— Não vou... — respondeu a garota
abatida.
Pela janela, observou-o partir com a
caminhonete. Sua estadia na casa do exótico rapaz
de cabelos brancos e olhos dourados estava
chegando ao fim. Deveria estar contente com
aquilo, mas não estava. Sentia-se insegura, com
medo do futuro e tinha receio de sair de lá...
Mesmo com todos os percalços enfrentados
naqueles dias, aquele lugar era o único que
conhecia e sentia-se ambientada ali. Levou uma das
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mãos à correntinha em seu pescoço e segurou o


pingente de coração entre os dedos, era difícil de
acreditar, mas sentia que ficaria com saudades de
Axel...

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“Um lobo estava a menos de dez metros dela,


encarando-a. Em seguida apareceu outro e mais
outro...”

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Quando a polícia chegou até o veículo


acidentado, Axel já os estava esperando. Uma
equipe retirou os corpos do porta-malas, local em
que ele os havia colocado quando foi buscar as
malas de Liz a fim de evitar que os lobos se
alimentassem deles. Apesar de estarem lá há nove
dias, o frio não havia deixado os corpos se
decomporem.

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O oficial perguntou se ele queria que eles


passassem na cabana e pegassem a garota para
levá-la para a cidade; no entanto, Axel respondeu
que a levaria pessoalmente no dia seguinte,
precisava dar um tempo para ela fazer as malas.
A noite começava a chegar quando ele
voltou para casa. Liz estava fritando uns bifes. Ela
havia aprendido alguma coisa de tanto observá-lo, e
queria, pelo menos uma vez, preparar uma refeição
para ele. Axel deixou que ela terminasse e, embora
preferisse sua carne mais mal passada e com menos
sal, não reclamou.
— Vou te levar amanhã de manhã para a
vila — disse ele. — Arrume suas coisas.
— Está bem... — respondeu Liz não muito
feliz.
Como era habitual, Axel foi ler no sofá após
o jantar e Liz foi para o quarto arrumar as malas,
deixando de fora apenas as roupas que usaria no dia
seguinte. Seu coração estava apertado, de repente
não queria mais ir embora, ali sentia-se segura e
acolhida. Não se sentia mais uma intrusa e Axel
havia melhorado o trato com ela, conversava um
pouco mais e procurava não ser tão autoritário.
Tinha até lhe falado sobre seus negócios...
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Surpreendeu-se ao saber que ele era dono de uma


rede de hotéis, nunca imaginaria aquilo, partindo de
um cara tão antissocial.
Voltou para a cozinha, pegou uma barra de
chocolate no armário e foi até Axel, partiu a barra
no meio e entregou metade a ele, em seguida
sentou-se ao seu lado, encostando-se em seu
ombro. O Warg a olhou de esguelha, contudo não a
afastou. Estava se sentindo desconfortável com
aquele contato, mas não ia chateá-la em seu último
dia ali.
— Vai sentir a minha falta? — ela
perguntou, enquanto lambia um dos dedos sujos de
chocolate.
Axel não respondeu. Não tinha resposta
para aquilo, era improvável que sentisse falta dela,
mas não podia negar que havia se acostumado com
a presença da garota ali.
Liz sorriu. Não esperava mesmo que ele
respondesse, na verdade, preferia seu silêncio a
uma resposta negativa.
— Eu vou sentir a sua falta, Sr. Mal-
humorado. — Ela levantou a cabeça para olhá-lo.
— Apesar de ter me feito chorar, reconheço que se
esforçou; sei que não foi fácil para você me
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aguentar como hóspede. Obrigada — disse rindo.


Naquela posição Liz podia sentir um leve
aroma natural e amadeirado que ele exalava, era
gostoso. Axel não usava perfume, aliás odiava-os.
Um dia ela havia resolvido passar um que
encontrara em sua mala e ele ficou muito bravo.
Perfumes o incomodavam ao extremo.
Ela abaixou os olhos, pousando-os sobre
um colar que ele usava no pescoço. Já o havia
notado antes, mas na maioria das vezes ficava
escondido sob a camiseta. Naquele dia, Axel vestia
uma camisa polo, assim conseguiu observar melhor
o objeto. O cordão era de couro e continha um
pingente em forma de lua crescente que parecia ser
feito de marfim, ou osso.
Levou a mão para tocá-lo, mas o rapaz
segurou seu pulso, impedindo-a.
— Não toque nisso! — disse ele, virando o
rosto para ela e encarando-a
Liz olhou-o curiosa.
— Por quê?
— Porque não! — respondeu categórico.
Ele não podia dizer a ela que aquilo era um
artefato mágico e tampouco conseguiu pensar em
uma desculpa convincente, assim, esperou apenas
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que ela não insistisse.


Liz fez um beicinho, os olhos dourados do
rapaz demonstravam que ele não admitiria
discussão. Ela já havia aprendido a ler algumas de
suas expressões através do olhar e sabia que não
ganharia o embate. No entanto, por um breve
instante, o modo como ele a fitava mudou, e isso
provocou-lhe cócegas na barriga, fazendo-a corar
levemente. Axel desviou o olhar.
O clima ficou um pouco estranho. Ela
poderia ter se afastado, mas não quis. O fato de
Axel deixar que ela se encostasse nele já era
surpreendente, sentia-se uma vitoriosa ao quebrar
aquela barreira do rapaz. Além disso, logo iria
embora e nunca mais o veria, então resolveu
aproveitar o momento. Continuou apoiada em seu
ombro, até que adormeceu.
Aliviado pela garota ter finalmente
dormido, Axel a pegou no colo com cuidado e a
carregou para o quarto. Liz resmungou algo
ininteligível quando ele a pôs na cama, mas virou-
se para o lado e dormiu de novo. Então ele a cobriu
e foi para seu próprio quarto. Deitou-se em sua
cama e ficou olhando para o teto.
O que foi aquilo lá na sala? Nunca ninguém
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havia se aproximado tanto dele quanto aquela


garota, não daquela forma; nunca permitira. Nem
nas poucas vezes que fizera sexo com mulheres, ele
havia concedido momentos de intimidade ou
afeição, então... por que isso agora?
Meneou a cabeça. Não importava! Só mais
um dia e ele poderia, enfim, voltar à paz e ao
sossego de suas férias de inverno.
Na manhã seguinte, Axel levou Liz até a
cidade e quando chegaram à delegacia, foram
recebidos por uma assistente social. Como a garota
não falava a língua local, ele precisou traduzir as
perguntas e as respostas que a assistente fazia a ela.
Liz estava nervosa, ninguém ali a entendia,
como ela ia se comunicar quando ele fosse embora?
Segundo o que a mulher havia dito a Axel, ela
ficaria provisoriamente em um hotel até voltar para
o Brasil e precisaria passar em um médico para
avaliar sua condição geral, inclusive sua falta de
memória.
— Sr. Andersen, diga-lhe que conseguimos
falar com uma tia dela no Brasil — explicou a
assistente social. — Pelo que entendemos, Lizandra
é filha única, não tem avós paternos e apenas uma
avó materna, infelizmente com Alzheimer em
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estágio avançado. Seus familiares mais próximos


são essa tia com quem falamos, irmã de seu pai, e
um tio por parte da mãe, que parece ter problemas
com álcool. A tia se comprometeu em ficar com
ela, mas não quer se responsabilizar pelo traslado
dos corpos dos pais. Disse que não tem dinheiro e
pediu para fazermos o enterro deles aqui.
Axel franziu a testa.
— Se a garota quiser levar seus pais para
casa, ela vai levar; eu pago o traslado, o funeral, o
enterro, o que for necessário — respondeu.
— Está bem... Ela vai querer vê-los? —
perguntou a assistente. — Eles estão no
necrotério...
Ele virou-se para Liz.
— Ela quer saber se você quer ver seus pais
— disse.
Liz ficou um tempo sem responder, não
havia pensado naquilo. Por fim assentiu, mesmo
que não se lembrasse deles, sentia que era seu
dever.
— Vem comigo? — pediu insegura.
Axel concordou e a acompanhou até o
necrotério. Logo que entraram na sala, o
responsável pelo lugar pediu para que ela se
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aproximasse. Dois corpos, fechados dentro de sacos


plásticos pretos, estavam sobre as mesas de metal.
Liz caminhou até seus pais com o coração
apertado, tinha medo de qual seria sua reação ao
vê-los.
Assim que o homem abriu os sacos, levou
um choque. Não por tê-los reconhecido, mas pela
aparência acinzentada e macilenta que
apresentavam. Era terrível! Desviou o olhar,
virando-se para Axel que estava logo atrás e
escondendo o rosto em seu peito. Não queria mais
ver aquilo...
O Warg a conduziu para fora da sala,
fazendo-a se sentar em um banco no corredor. Liz
estava enjoada e com falta de ar, mas
estranhamente ela não teve vontade de chorar, não
conseguia ver aqueles corpos como sendo de seus
pais. Talvez fosse porque não os reconhecera ou
talvez já tivesse chorado tudo o que tinha para
chorar. No fim, sentiu-se um pouco culpada por sua
reação ter sido mais de choque do que de tristeza;
afinal, eram seus pais ali, porém ela só conseguiu
enxergar os cadáveres de dois desconhecidos.
Axel esperou ela se recompor e repassou a
informação que havia recebido da assistente sobre
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seus parentes e sobre o traslado dos corpos. Liz,


ainda um pouco abalada, pensou um pouco antes de
responder.
— Podemos enterrá-los aqui? Quero acabar
logo com isso, não vai fazer diferença levá-los para
o Brasil, já que ninguém lá faz questão. E não
quero complicar as coisas...
— Sim, você vai precisar assinar alguns
papéis e talvez demore alguns dias até o consulado
liberar as certidões de óbito.
Ela abaixou a cabeça, torcendo as mãos
sobre o colo. Por que ela tinha que passar por
aquilo? Droga! Ela só tinha 16 anos! Não sabia por
onde começar, o que fazer, o que esperar.
— Não se preocupe, Lizandra; deixe que eu
cuido disso — falou Axel, percebendo a angústia
da menina.
Liz o olhou espantada, era a primeira vez
que ele pronunciava seu nome, em quase dez dias
de convivência.
— Pode me chamar de Liz? Não sei se
gosto do meu nome inteiro... — pediu.
Axel concordou, apesar de achar que não
faria diferença, já que eles pouco se falariam dali
para frente. Ela ficaria aos cuidados da assistente
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social e ele apenas ajudaria com os trâmites


burocráticos do enterro e do consulado. Levantou-
se.
— Preciso ir, vou ver o que eu posso fazer...
— disse.
Liz levantou-se também, seu olhar
demonstrava medo. Não queria ficar sozinha, não
queria ir com a assistente, mas não podia pedir para
voltar com ele. Axel já estava fazendo até demais,
para um desconhecido.
— Ainda vou te ver, não vou? —
perguntou.
— Sim... — respondeu ele dando-lhe as
costas e caminhando em direção à saída.
A garota ficou ali parada, com os braços
cruzados sobre o peito, abraçando-se. Estava
oficialmente sozinha...
Dois dias depois Axel reapareceu, já estava
tudo certo com o consulado e ele já tinha marcado
o funeral; seria no dia seguinte pela manhã. A
assistente social, que aparecera no hotel somente
uma vez para levá-la ao médico, também havia
aproveitado para marcar seu voo de retorno e
conseguiu um que sairia à noite do aeroporto de
Suceava para Londres, de onde ela faria uma
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conexão para o Brasil.


De repente tudo estava indo rápido demais.
Em pouco mais de 24 horas estaria voltando para
casa... Casa... não sabia o que encontraria, não
sabia como era sua tia, nem como seria recebida.
Queria ter suas lembranças de volta, mas o médico
pelo qual passara não garantiu que isso seria
possível. Ela poderia, ou não, voltar a se lembrar;
teria que fazer terapia quando retornasse, mas nada
era certo.
Ficar aqueles dois dias sozinha no hotel
trouxe o abatimento de volta a Liz e isso não
passou despercebido para Axel. Ele não tinha muito
o que fazer por ela, em outras circunstâncias nem
mesmo estaria ali. Não costumava se envolver nos
problemas dos outros e muito menos tomar a
iniciativa de ajudar, mas sentia-se responsável por
aquela menina e reconhecia que se preocupava com
ela. Só não compreendia o motivo e isso o
perturbava... Na verdade, não se reconhecia, nos
últimos dias estivera agindo de forma bem diferente
de seu habitual.
No fim, incomodado com os próprios
pensamentos e vendo que a garota precisava de
distração, resolveu levá-la para jantar em um
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pequeno restaurante próximo dali. Liz não falou


muito durante a refeição e Axel estranhou um
pouco a mudez da garota. Ao deixá-la no hotel, ele
prometeu buscá-la logo cedo na manhã seguinte e
ela apenas concordou com um sorriso fraco.
O dia de sua partida amanheceu claro e
ensolarado, e Liz acordou sentindo um vazio dentro
de si. Parecia que quanto mais perto da hora de ir
embora chegava, mais seu peito se apertava.
Guardou suas coisas dentro da mala e ficou
esperando Axel. Como prometido, ele a pegou no
hotel, levou-a para tomar um café e depois
seguiram para a funerária.
O enterro foi simples e rápido no cemitério
da pequena cidade. Uma lápide em pedra foi
colocada e Liz sentiu, naquele momento, um
buraco enorme crescer em seu peito. Não conhecia
sua tia, mas algo lhe dizia que estava deixando ali
as únicas pessoas que realmente a tinham amado.
Lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, o medo
do futuro incerto a consumia. Buscou, então, a mão
de Axel e entrelaçou seus dedos nos dele. O rapaz
não rejeitou o contato, apenas a olhou e suspirou.
Por que ela gostava tanto de tocá-lo?
— Vamos embora... — pediu Liz, com voz
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abatida.
Ainda era cedo e Axel, pensando em uma
forma de distrair a garota, decidiu levá-la para dar
uma volta pela região. Não estavam longe do
Mosteiro de Putna, e apesar de não ser religioso,
considerou que seria um bom lugar para ela
conhecer. Liz ficou boquiaberta com o que viu, um
lugar cheio de história, belíssimo, silencioso e
calmo; as paredes pintadas com afrescos eram
magníficas e, durante algumas horas, pelo menos,
ela se sentiu em paz.
Sua ansiedade voltou somente após o
almoço, quando Axel anunciou que a levaria ao
aeroporto. Em parte estava feliz por ele
acompanhá-la, em parte estava triste por ter que
deixá-lo. Por mais estranho que poderia parecer,
havia se afeiçoado a ele, mesmo com toda sua
rabugice, e embora não soubesse muito sobre sua
vida, sentia que conhecia-o mais do que ele gostaria
que conhecesse.
O rapaz lhe trazia uma sensação de
segurança, não só por ter salvado sua vida, mas por
tudo o que ele tinha feito. Ela sabia que não tinha
sido fácil para Axel e que talvez ele até ficasse
aliviado por ela ir embora, mas também sabia que,
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de alguma forma, ela tinha tocado seu coração. Se


não fosse assim, ele teria simplesmente a
abandonado com a assistente social e sumido, mas
não, ele estava ali com ela, até o último momento.
Seguiram a viagem de quase 90 Km em
silêncio, cada qual com seus pensamentos. Liz
contemplava a paisagem branca, enquanto Axel,
vez ou outra, a observava de canto de olho.
Esperava, sinceramente, que ela encontrasse o
próprio caminho e que este não fosse tão espinhoso
como tinha sido nos últimos dias.
No aeroporto, já próximo ao portão de
embarque, Liz virou-se para seu ex-anfitrião.
— Obrigada mais uma vez, Axel, por tudo...
Vou sentir saudades — disse ela.
— Seja feliz, Liz... — respondeu ele meio
sem graça; não levava jeito para despedidas.
— Posso te dar um abraço? — perguntou
Liz com um sorriso.
Axel se retesou. Ainda não entendia essa
necessidade de contato físico que ela tinha.
Concordou desajeitadamente com um leve aceno de
cabeça. Então o sorriso da garota se alargou e ela,
num impulso, pendurou-se em seu pescoço,
fazendo com que ele a segurasse pela cintura.
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— Promete que não vai se esquecer de


mim? — disse ela em seu ouvido.
Passado o assombro inicial, causado pelo
gesto impetuoso de Liz, Axel relaxou, abaixou
levemente o rosto e inspirou o perfume natural da
garota, ele nunca se esqueceria dela, ou do cheiro
dela; isso ele reconhecia.
— Prometo... — sussurrou.
Liz se afastou um pouco e olhou-o nos
olhos; então, em outro gesto impulsivo, elevou-se
nas pontas dos pés e deu um leve beijo nos lábios
de Axel. Sorriu ao notar a expressão de espanto que
ele fez e em seguida afastou-se um pouco mais.
— Adeus, Axel! — disse, pegando sua mala
e virando-se para ir embora.
Antes de sumir pelo portão de embarque,
voltou-se e acenou uma última vez. Liz estava com
o coração aos pulos naquele momento, sentia-se
triunfante; aquele tinha sido seu ato máximo de
ousadia. Havia agido sem pensar, mas não se
arrependia. Conforme ia se afastando, sua agitação
foi dando lugar a uma melancolia profunda, seu
coração apertava-se novamente em seu peito.
Tocou no delicado pingente que ganhara do rapaz.
Provavelmente nunca mais o veria, nunca mais
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veria aqueles olhos dourados ou o escutaria


ralhando com ela... Lágrimas voltaram a brotar-lhe
dos olhos, mas desta vez ela não tinha um ombro
para chorar.

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“Não estavam longe do Mosteiro de Putna, e


apesar de não ser religioso, considerou que seria
um bom lugar para ela conhecer.”

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Inglaterra, dezembro de 1999.

— Oque vocês acham sobre esses rumores


referentes ao bug do milênio? — perguntou Ellen
enquanto organizava os papéis que estavam
espalhados sobre a mesa de reuniões.
— Acho uma bobagem! Nossos sistemas
são simples, duvido que sejamos afetados —
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respondeu Gerald sentado em uma cadeira giratória


na ponta da mesa.
— De qualquer forma, seria bom fazer um
backup dos arquivos, não? — insistiu a moça.
— Ah, sim, o pessoal da informática está
vendo o que dá para fazer... — disse o executivo de
quase 50 anos e cabelos grisalhos.
— E você, Axel? Não se preocupa com
isso? — perguntou ela ao rapaz, que parecia imerso
em seus próprios pensamentos, alheio à conversa.
— Com o quê? — Ele perguntou, voltando
à realidade.
Ellen sorriu e o olhou por cima dos óculos.
— Com nada... — respondeu a secretária.
— Não se esqueça que seu voo sai às 18 h hoje —
lembrou-lhe. — Então... agora só o veremos
novamente em março?
— Sim — respondeu o rapaz com um
sorriso.
Gerald o havia treinado para sorrir diante
das pessoas de seu círculo social, mesmo sem ter
vontade. O CEO de sua rede de hotéis estava
sempre lhe lembrando que, por ser o dono da rede e
precisar lidar com investidores e funcionários, ele
não podia passar a imagem de antipático ou
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arrogante. Demorou um pouco para Axel se


acostumar com isso, mas agora já o fazia sem
dificuldades. Felizmente, em poucas horas poderia
voltar a ser ele mesmo. Sua libertação anual estava
prestes a chegar.

Duas semanas depois, Axel olhava pela


janela de sua cozinha enquanto preparava o
almoço. A neve havia chegado mais cedo naquele
ano e caia pesada; não tanto quanto durante aquela
tempestade de anos atrás, mas certamente causaria
problemas. Voltou-se para o fogão e jogou alguns
pedaços de carne dentro de uma panela. Escutou,
então, um barulho de carro se aproximando.
Franziu o cenho e retornou à janela, quem
era o louco que andava de carro com um tempo
daqueles? E o que estaria fazendo ali? Aquela
estradinha era exclusiva de sua propriedade e não
costumava receber visitas. Aborreceu-se,
provavelmente era alguém perdido.
O veículo, um sedan vermelho meio velho,
parou em frente à cabana e uma jovem saiu de lá

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cobrindo a cabeça com a bolsa para se proteger da


neve. Axel arqueou uma das sobrancelhas,
passando de aborrecido a surpreso. Conseguia
sentir o cheiro dela agora e seu coração deu um
salto, reconhecia-o. Depois de tantos anos... Foi até
a porta e a abriu, bem na hora que a moça chegava
à soleira.
— Oi, Axel! Ainda se lembra de mim? —
disse sorrindo, a bela jovem de olhos e cabelos
castanhos ondulados.
Axel se afastou para que ela entrasse e
fechou a porta.
— O que faz aqui? — perguntou ele com
uma ruga entre os olhos e um sentimento estranho
dentro do peito.
A moça riu e deu uma olhada ao redor, nada
parecia ter mudado.
— Isso é jeito de receber uma velha amiga,
Sr. Mal-humorado? Humm... o cheiro está bom! —
Foi até o fogão e abriu a tampa da panela. —
Estava com saudades da sua comida; quero dizer,
não só da comida, mas principalmente dela. —
Piscou, com um sorriso maroto. — Minha tia não
cozinha bem e eu muito menos. — Riu novamente
— Mas isso você já sabe, meu talento para cozinha
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é zero.
O Warg abriu a boca para dizer algo, mas
desistiu, lembrou-se de que precisava mexer a
carne. Ainda meio chocado com a aparição
repentina da moça, pegou uma colher de madeira e
se aproximou da jovem, que abriu espaço para ele
trabalhar.
— Isso aqui não mudou nadinha! —
exclamou ela olhando ao redor. — Nem você, ao
que parece...
— Liz... — disse ele. — Por que está aqui?
— perguntou novamente, ansioso e perturbado com
a presença de sua antiga hóspede.
Liz sentou-se na cadeira, colocando os
cotovelos sobre a mesa, enquanto analisava o rapaz
que a salvara anos atrás de morrer congelada.
Assim como as coisas na cabana, ele também não
havia mudado em nada, exceto pelo cabelo que
estava um pouco mais curto. Os anos pareciam não
ter passado para ele. Continuava belo e exótico, do
jeito que ela se lembrava. Sorriu, um sentimento de
felicidade brotou dentro de si.
— Estou fazendo um intercâmbio na
Alemanha — respondeu ela. — Cheguei há três
meses e agora entramos em recesso de Natal, volto
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às aulas no início de janeiro. Achei que seria uma


boa oportunidade vir até a Romênia para visitar o
túmulo dos meus pais, mas ainda não consegui, está
nevando muito, então vim para cá. Não sabia se
você estaria por aqui, mas arrisquei.
— Arriscou demais, dirigindo com essas
condições de tempo e com esse carro velho —
resmungou ele.
— É o único que consegui comprar... —
retrucou Liz. — Meus pais não me deixaram muito
dinheiro e boa parte minha tia gastou. Como minha
tutora, ela teve acesso ao banco e, no fim, eu fiquei
sem quase nada. Apliquei tudo o que me restou
nessa viagem, nos meus estudos... — disse um
pouco cabisbaixa.
Axel a estudou com o olhar. Já fazia quase
cinco anos desde aquele fatídico acidente e, pelo
visto, sua vida não tinha sido fácil. Ela também
tinha crescido... Não em altura, pois a jovem
continuava a bater-lhe no ombro, mas em
maturidade; pelo menos não usava mais os cabelos
pintados. Na verdade, tinha se tornado uma mulher
bastante atraente para os padrões humanos.
— E a sua memória? — perguntou.
Liz sorriu novamente.
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— Fiz terapia por vários meses. De algumas


coisas eu me lembrei, de outras não... O médico
disse que pode ser bloqueio psicológico, mas não
me preocupo mais com isso, não é algo que me
incomoda... Já me acostumei com a ideia de ter
perdido algumas cenas da minha infância.
Ela fez uma pausa, observando a
movimentação de Axel na cozinha; ele continuava
habilidoso. Sentiu uma leve cócega de felicidade
invadir seu estômago, estava animada em vê-lo.
Tinha ficado muito ansiosa antes de chegar ali, não
sabia se iria encontrá-lo ou como ele a receberia.
Não teve muita surpresa quanto a isso, mas se ele
ainda não a tinha mandado ir embora até agora, era
um bom sinal.
— Ainda mora sozinho, Axel?
— O que lhe parece? — disse ele sem
desviar a atenção do que estava fazendo.
Ela sorriu.
— É difícil de acreditar nisso, sabia? O que
faz um rapaz jovem, bonito, bem-sucedido e culto
se isolar por meses em uma cabana no meio do
nada?
Axel não respondeu, não estava a fim de
inventar desculpas. Era melhor ficar calado do que
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dizer que não apreciava muito o contato com


humanos. Ele sorriu por dentro, certamente ela não
entenderia.
— Posso ficar aqui? Só por hoje? —
perguntou Liz de súbito, sem se importar com a
falta de resposta do rapaz para sua última pergunta.
Ele a olhou de relance.
— Mesmo que eu dissesse que não, você
não tem outra alternativa. Não pode sair com esse
tempo, as estradas estão perigosas. — Ele franziu
um pouco a testa. — Precisa lavar o cobertor...
Liz abriu um largo sorriso.
— Eu cuido disso — disse se levantando e
saindo pelo corredor adentro. Já conhecia o lugar e
sabia o que tinha que fazer.
Logo Liz percebeu que a rotina de Axel não
mudara também. Após o almoço ele foi ler, já que
não podia sair da cabana por causa da nevasca, e
ela aproveitou para descer até o porão para jogar.
Desta vez, havia outro aparelho ali, além do antigo,
parecia um leitor de CD, mas era maior; depois
perguntaria para Axel o que era e para que ele
servia.
Axel estava inquieto, apesar de não
demonstrar. Em todos aqueles anos, depois do
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acidente que o forçou a receber Liz como hóspede,


sempre que ele voltava à cabana sentia que algo
estava faltando ali, era um vazio incômodo que ele
nunca sentira antes. Não entendia o porquê daquilo
e costumava exasperar-se consigo mesmo, ele
sempre foi um cara solitário, como podia sentir
falta de alguém?
No entanto, agora ela estava lá e ele não
sabia como lidar com a situação. Sua cabeça
parecia não pensar com lógica quando ela estava
por perto e ele ainda não estava certo sobre se havia
gostado, ou não, da presença da jovem em seu
refúgio novamente.
Passaram o resto do dia sem novidades, e
Liz sentia-se em casa, como se nunca tivesse saído
de lá. Na manhã seguinte, a neve tinha parado de
cair e a garota cogitou visitar o cemitério. Era
véspera de Natal e ela queria ver se encontrava
ainda alguma floricultura aberta.
— Mesmo que encontre alguma, nessa
época no ano não há muitas flores. Talvez encontre
alguns ramos — disse Axel durante o café da
manhã.
— Tudo bem, qualquer coisa serve, é só um
ato simbólico... — respondeu ela se levantando.
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— Eu te levo — falou ele.


— Hã? Não precisa, eu tenho carro agora!
— Ela riu. — Agradeço muito por ter me deixado
passar a noite aqui, mas sei me cuidar...
— Não sabe, não! Aquele seu carro é
perigoso, os pneus não servem para neve —
retrucou ele com o semblante amarrado. — Além
disso, preciso ir mesmo até a cidade pegar minha
correspondência.
Liz sorriu.
— Hum... Entendi direito? Por acaso quer
que eu deixe meu carro aqui e fique em sua casa
por mais algum tempo? Ora, isso é interessante, Sr.
Andersen... Em outros tempos já estaria soltando
fogos por eu estar indo embora.
— As estradas estão perigosas, eu já disse
— resmungou ele.
— Sei... — Ela continuava sorrindo.
Axel apenas a olhou de forma dura. O que
fez ela rir mais ainda, ele realmente não mudara em
nada, afinal.
Foram juntos à cidade na caminhonete do
rapaz. Ele fez o que precisava e Liz conseguiu
comprar alguns ramos de plantas ornamentais,
depois seguiram para o cemitério.
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Liz não sentiu nenhuma emoção forte diante


do túmulo de seus pais. Havia recuperado algumas
lembranças deles, mas aquilo parecia estar tão
distante no passado que a única coisa que sentia
naquele momento era um desalento, ao pensar que
sua vida poderia ter seguido por um rumo diferente
caso eles não tivessem morrido.
À noite, já em casa, Axel começou a
preparar a ceia de Natal. Ele nunca fazia aquilo,
não dava a mínima para o Natal, mas diante da
insistência da garota, resolveu fazer algo especial.
Liz ajudava-o como podia, quebrando ovos,
medindo os ingredientes, mexendo a panela. No
fim, acabaram preparando carne assada, batatas
sauté, torta de limão e bolo de chocolate.
Liz quis saber se ele não tinha vinho ou
champanhe e se surpreendeu ao ouvir do belo rapaz
que ele não tomava álcool. Realmente, pensando
melhor, ela nunca vira nenhum tipo de bebida por
ali. Precisaria se contentar com suco de uva...
Definitivamente, aquilo não era muito comum,
nunca conhecera alguém da idade dele que não
gostava de beber algo, nem que fosse uma cerveja,
mas Axel com certeza não era um cara normal. Ela
sorriu com o próprio pensamento.
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Ao final do jantar, Liz sentia-se


empanturrada, não cabia mais nada em seu
estômago e tinha achado tudo delicioso!
— Axel, o que é aquele aparelho novo lá
embaixo. É de tocar CD? — perguntou.
— Não, DVD...
— DVD? Ah! Já ouvi falar, mas nunca vi
um. Para que serve, afinal? — indagou ela.
— Para ver filmes, como nos vídeos
cassetes, só que em vez de fitas VHS, eles são
armazenados em DVDs, que são parecidos com os
CDs de música.
Liz o olhava espantada.
— Sério? Vamos ver um filme, então? Por
favor? — falou com os olhos pedintes.
Axel juntou levemente as sobrancelhas,
nunca tinha visto um filme junto com alguém antes,
a não ser no cinema quando era obrigado a se
sentar ao lado de desconhecidos. Ele tinha uma
coleção de DVDs até que grande e diversa, mas já
tinha assistido a todos. Por fim, concordou.
Desceram ao porão e ele mostrou a Liz uma
prateleira com mais de 20 títulos.
— Ah, esse aqui — disse ela pegando um.
— Faz tempo que quero ver esse filme!
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Axel olhou e arqueou a sobrancelha, justo


aquele?
— “Instinto selvagem”? Tem certeza? —
perguntou, já se sentindo constrangido.
— Sim, por que não? Me falaram que é
bom, mas nunca tive a oportunidade de assistir —
respondeu ela entusiasmada.
O rapaz suspirou e colocou o DVD no
aparelho. Cogitou em deixá-la assistindo sozinha,
mas diante da animação da garota em ver o filme
com ele, desistiu...
Como ele já esperava, no meio do filme
começou a aparecer algumas cenas quentes de
sexo. Afundou-se no sofá, querendo
desesperadamente sair dali, mas permaneceu firme,
não podia demonstrar fraqueza agora...
Liz, contudo, não esperava por aquelas
cenas e ficou boquiaberta com o que via. Embora
sexo fosse algo normal para ela, assistir àquela cena
ao lado de Axel, em que o cara fazia sexo oral na
mulher... Céus! Aquilo estava lhe provocando
turbilhões de sensações em seu estômago e mais
embaixo também...
Remexeu-se no sofá e olhou para Axel pelo
canto do olho, ele estava concentrado no filme e
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não movia um músculo. Sua expressão estava séria


e não parecia nem um pouco perturbado com a cena
picante que se desenrolava na frente dos dois. Mal
sabia ela que o Warg estava completamente
desconfortável com aquilo, apenas não
demonstrava.
Liz sentia-se totalmente embaraçada.
Apesar de já ter assistido filmes até piores na
companhia de outros homens, eles eram seus
namorados na época, não apenas conhecidos.
A cena finalmente acabou, mas a tensão
entre eles não parecia diminuir. Ao final do filme,
Axel permaneceu olhando fixamente para a TV
enquanto os créditos subiam; ele parecia absorto
em algum pensamento. Liz observou o semblante
sério do rapaz por alguns instantes e, tentando
descontrair o clima, resolveu puxar conversa.
— Axel? — chamou sorrindo. — No que
está pensando?
Ele a olhou, ainda incomodado e
constrangido. Ele havia assistido ao filme inteiro
tenso e, se pudesse, teria desaparecido dentro do
sofá nas cenas quentes, no entanto o que mais lhe
incomodava foi ter começado a prestar atenção no
odor que a garota exalava durante o filme. A
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excitação dela era evidente, ele podia sentir o


cheiro dos feromônios, e aquilo havia mexido com
ele também.
— Em nada... — respondeu levantando-se.
— Não! Espera! — exclamou Liz chorosa.
— Fique aqui um pouco.
Axel a olhou apreensivo. O que mais ela
queria? Desligou a TV e o aparelho de DVD e
sentou-se novamente. Liz sorriu, já que estavam ali,
ela queria conversar, e já que haviam acabado de
ver um filme sensual, resolveu puxar um assunto
que a deixava curiosa.
— Quando eu fiquei aqui, cinco anos atrás,
você me disse que não tinha ninguém... — Ela fez
uma cara de dúvida. — Continua assim, solitário?
— Sim, continuo — respondeu ele,
inquieto. Lá vinha ela com aquelas perguntas...
— E não saiu com ninguém nesses anos
todos? — Liz olhou-o desconfiada.
— Não.
A garota sorriu, já conhecia aquele jeito
seco dele, mas queria saber mais sobre isso e desta
vez esperava por respostas.
— Você é virgem, Axel? — perguntou,
sentindo-se atrevida.
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O Warg a encarou por um momento. Seu


semblante continuava sério, mas seu olhar
demonstrava inquietação e embaraço; desviou os
olhos.
Liz sorriu intimamente ao perceber que
havia provocado um desconforto nele. Aquilo era
incomum, era difícil arrancar qualquer tipo de
reação de Axel que não fosse de aborrecimento ou
de irritação.
— Não — respondeu ele, preparando-se
para se levantar novamente.
A garota percebeu a intenção do rapaz e
imediatamente deu um salto de seu lugar,
segurando-o no sofá.
— Não fuja! — disse ela sorrindo.
Axel a olhou com certa incredulidade,
fechou um pouco a cara, mas permaneceu onde
estava.
Liz o olhava com surpresa e agora ela
estava curiosa. Como podia aquilo? O cara não era
virgem, mas também nunca tinha namorado. Será
que ele era do tipo pegador, que saía com as
mulheres e depois caía fora? Estranho, porque ele
não parecia levar jeito para aquilo...
— Converse comigo, Axel — continuou. —
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Me conta, com quem saiu em sua última vez...


Quanto tempo faz que não transa?
Axel suspirou, tinha mesmo que responder
àquelas perguntas? O que ele devia dizer? Já fazia
algumas décadas desde que se deitara pela última
vez com uma mulher e não havia sido agradável.
Aliás nunca fora, por isso, havia desistido de tentar
se satisfazer com humanas.
— Com ninguém em especial, já faz alguns
anos... — respondeu ele.
— Faz quanto tempo que não beija?
— Alguns anos... — repetiu.
Liz o olhava com atenção e começou a se
sentir tentada. Pensamentos libidinosos invadiram
sua mente. Por que não? Ela era adulta agora e ele
não tinha ninguém... Sentiu, então, um revoar de
asas invadir seu estômago e um delicioso calor se
instalou entre suas pernas. Ela se aproximou mais
do rapaz, ficando de joelhos ao seu lado no sofá.
Axel apenas a observava meio de lado, sentindo seu
corpo ficar tenso com a proximidade da garota.
Aquele cheiro...
Ela levou uma das mãos até o seu rosto e o
fez encará-la. Ele era realmente bonito, de uma
beleza singular; diferente de outros rapazes que ela
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conhecera. Seus olhos dourados eram incrivelmente


belos e guardavam um mistério que ela ainda não
conseguira desvendar. Liz percorreu com os dedos
as linhas do rosto de Axel e parou em sua boca,
passou levemente o indicador sobre ela e o olhou
nos olhos. Seu coração estava acelerado e, se
pudesse sentir o dele, teria percebido que este batia
mais rápido também.
A garota não se conteve mais e desceu sua
boca sobre a dele, beijando-o suavemente nos
lábios. Axel não esboçou nenhuma reação, mas ela
já esperava por isso. Liz se afastou um pouco e o
fitou, percebeu a dúvida nos olhos dele e sorriu.
Então beijou-o novamente e, desta vez, deu uma
leve mordiscada em seu lábio inferior. Ele
finalmente entreabriu os lábios e ela o tomou, num
beijo mais profundo. Axel fechou os olhos, ele
estava surpreso e definitivamente sem ação, sua
razão dizia para afastá-la, mas seus instintos
queriam o oposto.
Por fim, sua natureza falou mais alto e ele
colocou as mãos na cintura de Liz, puxando-a para
si e fazendo-a se sentar em seu colo. Retribuiu,
então, o beijo, introduzindo sua língua na boca da
garota. O corpo de Liz estremeceu com a invasão
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inesperada e ela soltou um pequeno gemido.


Aquele som inflamou ainda mais os
instintos de Axel. Ele podia sentir o desejo crescer
e tomar conta de suas partes baixas, mas ao mesmo
tempo sua irritação crescia também. O que ele
estava fazendo? Por que ele estava agindo assim?
Por que estava deixando aquilo acontecer? Ela era
só uma humana, não era especial.
Desejo, dúvidas e uma raiva inexplicável se
misturaram dentro dele, deixando-o impaciente,
ansioso e perigosamente instável. O cheiro dela
atiçava sua natureza e seu desejo começou a
sobrepor sua razão. Ele estava perdendo o controle.
Agora sentia a necessidade de resolver aquilo, e
não era de uma forma delicada; seus pensamentos
não eram claros, apenas a sua vontade selvagem de
possuí-la.
Axel apertou-a contra si e se levantou do
sofá, segurando-a ainda no colo. Deitou-a no chão,
sobre o grosso tapete felpudo e se aproximou,
ajoelhando-se entre as pernas dela e apoiando as
mãos ao lado de sua cabeça. Ele a encarou com o
rosto bem próximo.
— É isso o que você quer, Liz? Sexo? —
perguntou, com voz áspera e carregada. Em seu
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olhar havia determinação, desejo, fogo e fúria


misturados.
Liz se assustou com a expressão e o tom de
voz do rapaz, não esperava por aquela reação e
ficou confusa. Abriu a boca para falar, mas não
sabia o que dizer. Ela o queria, contudo, em seu
íntimo, começou a sentir receio do que iria
acontecer. A forma como Axel a encarava
provocava-lhe um frio no estômago. Não entendia,
ele parecia estar com raiva. Será que ela tinha
forçado muito a barra? Teria ultrapassado alguma
linha que não devia?
Axel se levantou e sem tirar os olhos dela,
arrancou a camiseta que estava vestindo por cima
da cabeça. Em seguida começou a desabotoar as
calças.
Liz se apoiou nos cotovelos, não era bem
aquilo que ela estava esperando, não daquela
forma.
— Axel.. não, espera...
Ele não lhe deu ouvidos, tirou as calças e a
roupa de baixo, ficando totalmente nu na frente da
moça, que, alarmada, não sabia mais o que pensar.
Ela não queria mais aquilo... Liz baixou a vista para
a excitação do rapaz e engoliu em seco, sua ereção
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era impressionante e ele não estava brincando.


Voltou, então, a fitá-lo nos olhos e viu que eles
tinham um brilho animalesco. Ela não entendia por
que ele agia assim; o medo de ter despertado algo
ruim no rapaz tomou conta dela. Não era para ser
daquele jeito, não era...
Axel avançou sobre a garota, abaixando-se
e aproximando-se, como um predador que acua sua
presa. Num movimento de autodefesa, Liz arrastou-
se para trás, mas parou ao encostar em um móvel,
estava sem saída.
O Warg se aproximou mais e, tomado pelo
desejo irracional de possuí-la, não percebeu que a
estava pressionando e a assustando. Encostou,
então, o nariz em seu pescoço; queria sentir o
cheiro dela, lambê-la, sentir o seu gosto. Foi
quando notou que o odor de Liz havia mudado; ela
tinha o cheiro do medo... Aquilo o paralisou. Ele a
olhou nos olhos e então viu a expressão apavorada
da garota. Subitamente, como se tivesse acordado
de um sonho, deu-se conta do que estava fazendo e
se afastou de forma brusca. Em seguida se
levantou, virando-se de costas para ela.
— Não faça mais isso, Liz... — disse ele
com uma voz rouca e baixa, sem se voltar. — Por
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favor... Não me provoque assim novamente. —


Pegou, então, suas roupas do chão e subiu as
escadas.
Liz permaneceu onde estava, não tinha
coragem de sair do lugar. Não compreendia se tinha
feito algo de errado para ele ter agido daquela
forma, mas ainda assim sentia-se envergonhada e
humilhada. Algumas lágrimas rolaram pelo seu
rosto e ela abraçou as pernas. O que tinha
acontecido ali? Por que Axel a assustara daquele
jeito? As lágrimas se multiplicaram e ela se deitou
encolhida no tapete felpudo, acabou adormecendo
ali mesmo.
Seu sono foi agitado, sonhou que estava
correndo na neve, mas nunca chegava ao seu
destino, então repentinamente afundou em um
buraco e começou a cair e cair... Liz acordou num
susto, devia ser de madrugada e estava com sede.
Subiu, então, as escadas. A cozinha e a sala
estavam escuras e vazias, e Axel provavelmente
dormia naquele horário. Liz pegou um copo d’água
e tomou alguns goles, podia sentir seus olhos
inchados por causa das lágrimas. Precisava se
lembrar de não dormir depois de chorar. Lavou o
rosto na pia da cozinha mesmo e enxugou-o com o
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papel toalha. Em seguida foi se sentar no sofá da


sala. A lareira ainda permanecia acesa, mas o fogo
estava baixo e ela aproveitou para colocar um
pouco mais de lenha.
Deitou-se, já era Natal... Relembrou seus
Natais dos últimos quatro anos. Os dois primeiros
havia passado com sua tia e seus primos. Gostava
deles, mas ainda os via como estranhos, mesmo sua
tia... Sempre teve a impressão de que era um
incômodo para ela. Os dois últimos anos havia
passado com seus namorados, que logo deixaram
de ser namorados. Por algum motivo, ela não
conseguia estabelecer uma ligação duradoura com
ninguém.
E quando finalmente achou que passaria o
Natal com alguém que estimava de verdade,
acontecia aquilo. Suspirou, não adiantava, talvez
fosse seu destino ficar sozinha... ser sozinha...
Talvez fosse melhor ir embora...

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“...não dava a mínima para o Natal, mas


diante da insistência da garota, resolveu fazer
algo especial.”

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Alemanha, abril de 2000.


Era primavera no hemisfério norte e Berlim
estava linda, com suas árvores e jardins cheios de
flores. Quase quatro meses já haviam se passado
desde aqueles acontecimentos na Romênia e Liz
aproveitava a tarde agradável para tomar chá com
as amigas em uma badalada cafeteria no centro da
cidade.
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Rose e Eva riam e falavam sobre os trejeitos


esquisitos do professor de química; no entanto, Liz
permanecia muda e alheia à conversa, olhando
fixamente para fora através da janela do
estabelecimento.
Na frente da cafeteria, um belo edifício se
erguia e a atenção da garota se voltava para ele.
Nas portas de entrada um grande logotipo dourado
era perfeitamente visível daquele lado da rua,
“RW”, estava escrito. Liz sabia o que significava,
“Royal Wolf” era o nome da rede de hotéis de
Axel.
Não era a primeira vez que estava sentada
ali, contemplando aquela vista. Descobrira por
acaso que Axel tinha um hotel na cidade, quando
ela e suas amigas passeavam por ali e pararam
naquele café para descansar. Depois daquele dia,
Liz sempre procurava uma desculpa para ir até lá
tomar chá, café, comer um pedaço de bolo ou torta.
Passava horas observando o prédio, com os
livros abertos sobre a mesa e fingindo para si
própria que estava estudando, quando na verdade
apenas queria ter uma chance de ver Axel
novamente. Aquilo era uma tolice, ela sabia, mas
não conseguia evitar.
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Desde que partira da Romênia, na


madrugada de Natal; não havia falado mais com
ele, nem mesmo tinha se despedido. Devia ter
esperado o dia amanhecer para conversar, mas
estava magoada e sua mente confusa, então
simplesmente pegou suas coisas e foi embora. Na
hora agiu por impulso, mas depois se arrependeu.
Ele devia odiá-la... Aquilo a devastava por dentro, e
a cada dia que passava, mais abatida ela se sentia.
Reconhecia que tinha fugido da situação,
como uma covarde. Se tivesse tido mais maturidade
e ficado, poderiam ter se entendido no outro dia. E
para piorar o quadro, algo dentro dela havia
mudado. Aquilo era ridículo, mas era real. Seus
sentimentos em relação a Axel haviam mudado,
para além da gratidão e da amizade.
Entretanto, agora era tarde, não tinha
coragem de procurá-lo. Os eventos daquela noite
haviam lhe provocado um trauma e ela morria de
medo de ser desprezada por ele, preferia não vê-lo
nunca mais do que se sentir rejeitada novamente.
Levou sua mão à correntinha com pingente de
coração que carregava no pescoço e suspirou.
Em todos aqueles anos nunca havia passado
pela sua cabeça que Axel poderia sentir raiva dela,
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sempre acreditou que ser antissocial e mal


humorado era apenas o jeito dele de ser, mas a fúria
que ela vira em seus olhos naquela noite a assustara
e, desde então, a ideia de que ele podia considerá-la
apenas um estorvo, um incômodo ou algo parecido,
doía-lhe na alma.
— Liz?... Liz?! — chamou a amiga pela
segunda vez.
Ela voltou como quem acorda de um sonho.
— Hã.. oi?
Rose colocou a mão em seu braço.
— O que você tem? Está viajando aí!
Algum problema?
— Não... nada... — respondeu ela com um
sorriso fraco.
Liz resolveu se concentrar na conversa com
as garotas; afinal, teria apenas alguns meses para
aproveitar a companhia delas e não adiantava ficar
desperdiçando-o com divagações.
Ela havia feito boas amizades ali naquela
cidade, melhores até do que em seu próprio país.
Em poucos dias começaria o segundo e último
semestre de seu intercâmbio. Na Alemanha, os
semestres letivos eram bem diferentes comparados
aos do Brasil, e Liz estava animada para as férias
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de julho, quando aproveitaria para passar alguns


dias viajando pela Europa; pois duvidava que teria
outra oportunidade dessas tão cedo.
Do outro lado da rua, quinze andares acima,
Axel olhava fixamente para baixo. Ele havia
chegado à cidade naquela manhã e passaria a
semana em Berlim tratando de negócios. Realmente
não imaginava que poderia encontrá-la naquele
lugar, afinal a capital da Alemanha não era
pequena; mas lá estava ela, a poucos metros de
distância. Não conseguia vê-la de onde estava, mas
reconhecia o cheiro de Liz perfeitamente; mesmo
que ela estivesse no meio de mil pessoas, a
centenas de metros de distância, ele saberia.
Meia hora mais tarde, as meninas saíam da
cafeteria. O Sol já descia no horizonte quando elas
se despediram na porta do estabelecimento e cada
uma tomou seu caminho para casa, menos Liz.
Ela olhou para o luxuoso prédio à sua frente
e seu coração se apertou levemente. Era difícil de
imaginar Axel sendo dono daquilo tudo,
definitivamente não combinava com ele. De
qualquer forma, nunca mais o veria... Levantou o
rosto e começou a reparar nos detalhes do edifício.
Não era muito alto ou moderno, mas era imponente
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e clássico, em tons de creme, com janelas altas e


ricos detalhes arquitetônicos; era um belo hotel.
Aquilo era uma bobagem, só estava se
machucando indo ali a toda hora. Ela esperava o
quê, afinal? Vê-lo entrando ou saindo do hotel?
Estava sendo muito ingênua ou esperançosa
demais... Talvez fosse melhor procurar outro café
para estudar...
Embora estivesse olhando para cima, Liz
não conseguiu ver o dono do par de olhos dourados
que a observava. A jovem suspirou e atravessou a
rua determinada. Sua curiosidade falava mais alto e
ela decidiu ver o hotel mais de perto, já que poderia
ser a última vez que estaria indo ali. Um homem de
uniforme preto e dourado abriu a porta para ela
entrar.
Liz ficou maravilhada com o saguão do
hotel, era lindamente decorado, com piso em
mármore e paredes em bege claro. Algumas obras
de arte e plantas adornavam as paredes e os cantos.
De um lado, havia uma área de espera com sofás
brancos e mesinhas em madeira escura e do outro a
recepção, onde duas garotas e um rapaz, todos
uniformizados, atendiam os clientes.
No entanto, o mais impressionante era a
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cortina de água que caia ao fundo em um pequeno


tanque, separando o saguão da área do bar.
Aproximou-se. No tanque, algumas carpas
coloridas nadavam e o logotipo do hotel aparecia
iluminado ao fundo. Liz sorriu, lembrando-se da
primeira vez que viu o logo no chaveiro do rapaz e
praticamente o obrigara a contar sobre seus
negócios, desde aquele dia o nome do hotel ficara
gravado em sua memória.
Já fazia tanto tempo... Sentiu-se triste, ela
tinha estragado tudo. Por que foi beijá-lo? Burra,
idiota! Já devia saber que Axel não era o tipo de
homem que se envolvia em relacionamentos. Não
conseguia entender qual era a dele, na verdade, mas
isso não importava. Ele já havia dado vários sinais
de que não queria nada com ninguém; contudo, em
vez de respeitar isso, o que ela fez? Provocou-o, e
ele ficou irado. Burra! Xingou-se mais uma vez.
Virou-se, estava na hora de ir embora.
Atravessou o saguão em direção à saída e já estava
próxima da porta quando resolveu voltar, um
pensamento maluco havia passado pela sua cabeça.
Foi até a recepção, não custava tentar...
— Boa tarde! — disse, em alemão, a uma
das moças da recepção. — Por gentileza, eu
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poderia falar com o Axel Andersen?


— Ele está esperando a senhorita? —
perguntou a recepcionista.
Liz arregalou os olhos e seu coração deu um
salto. Como assim? Ele estava mesmo lá?
— Hã... sim — respondeu um pouco
hesitante, na dúvida optou por mentir.
— Qual é o seu nome?
— Liz... Lizandra.
— Só um minuto, por favor! — A moça
discou um número no interfone. — Sr. Andersen?
A srta. Lizandra está aqui... Sim, está bem... Boa
noite, senhor... — desligou.
Liz a olhava com a respiração em suspenso.
— Pode subir — disse a recepcionista. —
Ele a aguarda, 15º andar, quarto 1508, saindo do
elevador, à direita.
— Obrigada... — respondeu Liz ainda sem
acreditar.
Ela percorreu o caminho entre a recepção e
o elevador com a cabeça em um turbilhão, não
imaginava que Axel pudesse estar em Berlim, havia
perguntado por ele na recepção apenas por
perguntar, e agora? O que diria a ele quando o
visse? Como ele a receberia? Será que ainda estaria
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bravo com ela?


Quando o elevador chegou, entrou
automaticamente, sentindo-se meio fora do seu
próprio corpo, anestesiada. Inesperadamente, a
imagem de como ela o vira pela última vez lhe veio
à mente: nu, excitado e furioso. Naquela hora não
foi nada sexy, mas lembrando-se agora dos
detalhes... ele era magnífico! Uau! que corpo... Seu
rosto queimou como se fosse uma tocha.
Balançou a cabeça para afastar aquela
imagem tentadora e apertou o botão do andar. A
sensação de estar prestes a entrar em um carrinho
de montanha-russa tomou conta de seu corpo e,
assim que as portas se fecharam, teve um ataque de
ansiedade. Suas mãos ficaram trêmulas e geladas,
seu coração começou a bater descontroladamente e
faltou-lhe o ar.
Liz encostou-se na parede do elevador e
fechou os olhos, então respirou fundo, tentando
acalmar os nervos. Por que estava tão ansiosa, era
só o Axel... A porta se abriu no 15º andar e seu
coração deu outro pulo.
Saiu do elevador hesitante, a passos curtos,
sentindo vontade de dar meia-volta e fugir de novo,
mas manteve-se firme, não ia bancar a covarde
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agora. Olhou para o corredor à direita, haviam


várias portas fechadas; à sua frente, o número 1512.
Começou a andar e os números começaram a
baixar.
Parou em frente ao 1508, respirou fundo
novamente e bateu na porta. Axel a abriu e Liz
quase teve um ataque cardíaco. Ele estava
esplêndido! Pela primeira vez ela o via tão
arrumado e elegante. Vestindo camisa branca e
calça social, Axel havia deixado a franja crescer um
pouco e os fios levemente desalinhados caiam
lateralmente ao seu rosto, na altura dos belos olhos
dourados. Olhos que a observavam com interesse.
— Oi... — foi o que conseguiu dizer.
Ele lhe deu passagem para entrar.
— Como soube que eu estava aqui? —
perguntou Axel, sem devolver o cumprimento.
Liz sorriu meio de lado, parecia um déjà vu,
mas não poderia esperar por outra reação vinda de
Axel. Andou até o meio do quarto, observando o
local; na verdade ali era uma pequena sala, com um
jogo de sofás cor de creme, TV e uma mesa
redonda em madeira com duas cadeiras, o quarto
ficava à esquerda.
— Não sabia, arrisquei perguntar na
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recepção, mas não esperava realmente... — Mordeu


o lábio, nervosa.
Andou, então, até a janela e olhou por
alguns instantes a rua lá embaixo, depois voltou-se
para o rapaz, que permanecia parado, com as mãos
enfiadas nos bolsos.
— Sinto muito, eu não queria te incomodar
— voltou a falar. — Só subi porque queria te pedir
desculpas... Eu não agi de forma apropriada com
você na última vez que nos vimos, eu... — Olhou
para o chão, esboçando um sorriso sem graça. —
Eu também queria me despedir adequadamente...
Meu intercâmbio já está na metade e daqui a alguns
meses volto para casa, então... creio que não nos
veremos mais...
Como Axel não esboçou qualquer reação,
virou-se para o lado do quarto e caminhou até a
porta que dava para a sala. Não queria encará-lo ou
provavelmente choraria.
O Warg seguiu a moça com os olhos e
franziu discretamente as sobrancelhas, sentindo um
leve desconforto com aquela notícia.
— Quando vai embora? — perguntou.
— Só em setembro! — disse ela mais alto,
já entrando no quarto.
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Axel a seguiu e parou na porta, encostando-


se no batente.
— Mas vou aproveitar as férias de verão
para passar alguns dias “mochilando” pela Europa
— continuou ela, vendo que ele estava ali. —
Depois volto, fico mais dois meses até terminarem
as aulas, e então... retorno para o Brasil.
Axel a observava com atenção, enquanto
sua cabeça trabalhava. Liz permanecia explorando
o local, ela sentou-se na cama de casal e deu uns
pulinhos. Sorriu, demonstrando satisfação.
Finalmente sentia-se um pouco mais aliviada por
ter colocado para fora tudo o que a estava
consumindo nos últimos meses. Em seguida se
levantou e foi até o banheiro.
— Uau! Tem uma hidro aqui! — exclamou
ela.
— É um hotel de luxo — respondeu Axel.
— Hum... Sinceramente, como dono do
hotel, achei que você estaria em uma suíte maior!
— disse ela com um sorriso debochado.
— Não preciso de uma suíte maior... —
falou o rapaz com uma ruga entre as sobrancelhas.
— Esta aqui me serve perfeitamente.
Liz sorriu, se aquela cabana no meio da
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floresta lhe servia por meses, isso aqui era luxo até
demais! Então seu sorriso se desmanchou,
lembrando-se de que precisava dizer “adeus”, e
aquele seria um “adeus” definitivo.
Caminhou até próximo do rapaz e o
encarou.
— Axel... Eu realmente sinto muito se lhe
causei algum problema ou constrangimento... Eu
não sei exatamente o que pensa de mim, mas...
quero que saiba que eu gosto muito de você e que
jamais irei te esquecer... — Ela suspirou, dando
uma pausa. — Obrigada... por ter me salvado e
cuidado de mim quando eu precisei, e por ter me
aturado quando eu lhe forcei minha presença. —
Liz sorriu, era um sorriso triste.
Se ainda tivesse dezesseis anos, penduraria-
se novamente em seu pescoço para abraçá-lo antes
de ir embora, mas agora sentia-se amarrada, não
queria criar outra situação constrangedora em seus
últimos momentos juntos. Então, apenas estendeu a
mão. Axel não moveu um músculo e Liz abaixou o
braço, envergonhada.
— Adeus, Axel — disse com a voz presa na
garganta. Seus olhos ficaram marejados, mas ela
segurou as lágrimas, não iria chorar na frente dele.
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Virou-se em seguida para sair, mas o rapaz


a segurou pelo ombro com uma das mãos. Liz
parou sem se voltar, estava usando todo seu
autocontrole para não chorar.
Axel, sem pensar muito, se aproximou por
trás da garota e enlaçou-a com o outro braço,
puxando-a para perto de si. Abaixou, então, o rosto
e encostou o nariz na curva do pescoço dela,
inspirou seu cheiro profundamente e subiu até
chegar à sua orelha, por fim, sussurrou em seus
ouvidos:
— Não vá ainda...
O coração de Liz disparou, sentiu todos os
pelos de seu corpo se eriçarem com aquele contato
e uma onda de calor tomou conta de seu baixo
ventre, engoliu em seco.
Axel afrouxou o braço e se afastou,
virando-se de costas para a jovem que permanecia
paralisada em seu lugar. Foi até a janela e a abriu,
precisava de ar. Ele estava totalmente confuso, não
sabia o que estava fazendo, só sabia que aquela
garota o perturbava de uma forma que ele nunca
imaginaria que fosse possível.
Tinha que reconhecer, gostava do cheiro
dela e sentia-se diferente quando ela estava por
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perto. Apesar de ter ficado muito aborrecido logo


nos primeiros dias após o acidente, quando foi
obrigado a conviver com ela em sua cabana,
acabara se acostumando com a presença da menina
e, mesmo sem querer admitir, havia se sentido
estranho depois que ela partira.
E então, quando achava que a tinha
finalmente esquecido, ela reaparece, anos depois...
Linda, madura e feliz. Em seguida acontece
aquilo... Ele tinha agido quase como um animal.
Irreconhecível, desprezível, tolo... Assustara-a
naquela noite e odiava-se por ter se descontrolado
daquele jeito...
Escutou quando ela saiu com o carro no
meio da madrugada. Podia tê-la impedido, mas não
o fez, envergonhado de seus atos. Depois se
arrependeu e se sentiu bastante incomodado com a
partida repentina da jovem de sua cabana. Pensou
em procurá-la, para saber se havia chegado bem em
casa, mas desistiu, imaginando que ela não queria
falar com ele. Acreditava que talvez fosse melhor
deixar daquele jeito e que suas vidas não deveriam
mais se cruzar.
No entanto, agora ela estava ali e não a
deixaria ir embora assim. Sentia a necessidade de
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consertar aquilo, de mostrar a ela que ele não era


aquele animal, afinal.
— Quer viajar comigo? — perguntou, ainda
olhando pela janela.
Liz virou-se para olhá-lo.
— Hã? viajar? — Liz olhou-o curiosa e
com o rosto ainda corado pelo que acabara de
acontecer. — Como assim?
— Nas suas férias... Não precisa sair
“mochilando” por aí... Posso te levar para conhecer
a Europa.
— Tem certeza? — perguntou ela de olhos
arregalados.
Axel a olhou por cima do ombro e assentiu.
Não devia estar em seu juízo, mas confirmou
mesmo assim.
— Tem um bloco de notas e caneta ali no
criado-mudo, deixe seu telefone. Quando eu voltar
para Berlim no início de julho, eu te ligo —
respondeu ele, passando por ela e indo para a sala.
Liz ficou parada no meio do quarto, ainda
tentando assimilar o que o rapaz havia acabado de
dizer. Colocou as mãos sobre a boca. Seu coração
dava saltos e seu estômago parecia dançar. Será que
tinha escutado direito? Axel havia mesmo lhe
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chamado para viajar com ele? Deu pequenos pulos


silenciosos no lugar. Estava exultante e seu sorriso
ia de orelha a orelha. Ele não estava com raiva dela,
afinal.
Axel sentou-se no sofá da sala e pegou uma
pasta cheia de papéis que estava sobre a mesa de
centro, sua cabeça dava-lhe um nó. Tinha agido por
impulso e algo lhe dizia que iria se arrepender da
proposta que fizera a Liz, por outro lado,
internamente sentia-se estranhamente satisfeito.
Suspirou e começou a folhear o relatório
financeiro que Gerald havia lhe enviado, duvidava
que conseguiria trabalhar naquele estado, mas
precisava se ocupar com alguma coisa. A jovem
logo surgiu na sala com um semblante alegre e
descontraído, bem diferente de quando chegara.
— Axel, estou indo! — disse ela dirigindo-
se para a porta de saída. — Nos vemos em julho,
então... Até mais! — Acenou com a mão e saiu.
O Warg fechou o relatório e se esticou no
sofá, colocando os pés sobre o apoio de braço.
Permaneceu um bom tempo assim, olhando para o
teto. Por que diabos ele tinha feito aquilo? Não
conseguia achar uma resposta.

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“Liz resolveu se concentrar na conversa com


as garotas... Ela havia feito boas amizades ali
naquela cidade, melhores até do que em seu
próprio país.”

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Nunca o tempo havia demorado tanto para


passar quanto naqueles últimos dois meses. Os dias
se arrastavam e as férias de verão pareciam chegar
no lombo de uma tartaruga. Liz sentia-se
angustiada e ficava cada vez mais ansiosa conforme
o final de junho ia se aproximando.
Axel não dera notícias desde aquele dia e
ela não sabia se ele realmente ligaria ou não.

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Receava que ele tivesse se arrependido de convidá-


la para viajar e tivesse desistido. Sempre que
pensava nisso, sentia um frio tomar conta de seu
estômago.
Era a última semana de aulas para Liz, e ela
passava a maior parte de seu pouco tempo livre
estudando para os testes. Estava concentrada,
mergulhada sobre livros e cadernos quando o
telefone tocou, assustando-a. A princípio acreditou
que fosse Rose, ela sempre ligava para tirar
dúvidas, mas quando atendeu, levou um choque.
— Liz? — disse uma voz masculina do
outro lado da linha. — Aqui é o Axel!
— Ah... oi! — Seu coração batia mais
rápido do que uma bateria de escola de samba.
— Chegarei em Berlim domingo. Quando
terminam suas aulas? — perguntou ele, sem
rodeios.
— Sábado...
— Ótimo! Onde você mora?
Liz passou o endereço.
— Tenho algumas coisas para resolver
antes de irmos, então pego você segunda à noite.
Esteja pronta! — disse ele.
— Okay, estarei... — respondeu.
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Axel desligou e ela ficou estagnada por um


momento. Então sorriu e soltou um grito de alegria.
— Ele ligou... ele ligou!!!! — exclamou
para si mesma, enquanto pulava eufórica pela sala
do pequeno apartamento. Todo seu interior vibrava
de alegria.

Segunda-feira chegou e Liz fechou,


finalmente, a mala. Já havia conferido uma dezena
de vezes se tudo que precisaria na viagem estava
ali. Tomou o cuidado de não colocar nenhum
perfume. Embora só o usasse para sair, sabia que
Axel não suportava cheiros fortes, então não tinha
por que levá-lo.
Seu belo e rabugento salvador chegou em
um sedan preto, discreto, mas luxuoso.
Cumprimentou-a sem chegar muito perto, de um
modo comedido e formal, então deu a volta no
carro e colocou suas coisas no porta-malas.
Entraram no veículo e partiram. Liz começou a
estudá-lo, quase que hipnotizada.
— O que foi? — perguntou ele ao notar o
olhar examinador dela.
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— Nada... — Ela sorriu, ainda não tinha se


acostumado em vê-lo bem arrumado. — Você está
muito bonito com essas roupas elegantes, Sr.
Andersen. Bem diferente de quando usa aquelas
camisetas surradas na cabana. — Ela riu.
Axel olhou-a de canto, mas não respondeu.
Ele não se importava com a aparência e preferia mil
vezes as roupas surradas, mas Gerald o forçava a se
vestir bem enquanto estava na cidade. Acabou se
acostumando.
— Já jantou? — perguntou.
— Não, estava arrumando as minhas coisas.
Não tive tempo...
Ao chegarem no hotel, Axel encaminhou a
mala dela para o quarto e a conduziu ao restaurante,
ali mesmo no térreo. Ele também não tinha jantado
e estava com fome. Pediram costelas e
acompanhamentos, e para beber, Liz pediu um
drink e Axel suco.
— Por que não bebe álcool? — quis saber
ela.
— Não me cai bem — respondeu o rapaz.
Liz olhou-o com suspeita, mas sorriu diante
da simplória explicação de Axel, ali estava um cara
realmente diferente...
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Axel não podia dizer-lhe o real motivo. A


verdade é que o álcool fazia muito mal para Wargs
como ele. Ficavam agressivos, perdiam o faro, a
agilidade e, às vezes, a qualquer noção de si
mesmos.
— Nosso voo sai amanhã de manhã —
anunciou ele, mudando de assunto.
— Para onde vamos? — perguntou Liz
animada.
— Londres primeiro, depois Paris, Veneza e
Roma. Se der tempo, Grécia...
Liz deixou o queixo cair.
— É sério?!
Axel concordou e os olhos da garota
brilharam. Era seu sonho conhecer todos esses
lugares.
— Por que me convidou, Axel? — indagou
ela pensativa. — Sei que não gosta muito de ter
pessoas à sua volta, então... por quê?
Ele a olhou como se tivesse escolhendo as
palavras corretas e Liz sentiu um frio no estômago.
Talvez ele tivesse mesmo se arrependido e agora
estava ali apenas para cumprir com sua promessa.
— Não sei... — disse ele, por fim, de uma
forma indiferente.
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Liz arqueou as sobrancelhas. Como assim


ele não sabia? Involuntariamente, suas dúvidas e
temores se transformaram em revolta.
— Não sabe ou se arrependeu e não quer
me dizer? — perguntou ela em um tom mais duro.
— Escute, Axel. A última coisa que eu quero ser
para você é um estorvo. Já fez muito por mim e sou
imensamente grata por isso, mas... sou crescida
agora! Posso me virar, não preciso de você para
cuidar de mim. Posso conhecer a Europa pelas
minhas próprias pernas... — despejou ela de uma
vez, sem saber de onde haviam surgido todas
aquelas palavras.
Axel apenas a olhou sério e voltou a comer.
Liz sentiu-se mal com aquela situação e ficou em
silêncio, tinha perdido a fome.
— Você não é um estorvo, Liz... — falou
ele de súbito. — Tem razão quando diz que eu não
gosto de estar perto de pessoas, mas... com você é
diferente... Eu quis te convidar e não me arrependo.
Ao menos por enquanto...
Liz olhou-o fixamente, sem palavras. Não
sabia se ria, agradecia ou ficava indignada com o
que ele havia dito — “Ao menos por enquanto”? —
O que ele achava que ela iria fazer? Inspirou
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profundamente, procurando seu equilíbrio interior e


então balançou a cabeça, resignada. Sorriu,
enquanto fatiava e mordia um pedaço de costela.
No fundo estava feliz, por saber que ele a via de
forma diferente das outras pessoas.
— Está bem... Prometo tentar não lhe
causar muitos problemas, Sr. Mal-humorado —
disse com um ar levemente debochado.
Após jantarem, subiram para a suíte. Não
era a mesma que Liz se encontrara com ele quase
três meses atrás. Essa era maior, com dois quartos.
Ela abriu um sorriso genuíno. Não era todo dia que
podia se hospedar num hotel como aquele.
Sobre a mesa de centro da sala havia flores
e chocolates. Axel logo serviu-se de um e sentou-se
no sofá.
— Seu quarto é aquele — disse ele
apontando para a porta à esquerda.
Liz foi até lá e se jogou na cama king size
cheia de almofadas e travesseiros. Como aquilo era
bom! Sentia-se num sonho e estava só começando.
Logo depois, Axel se trancou em seu
próprio quarto e ela resolveu ir dormir também. No
dia seguinte, pegaram cedo o avião para Londres e
antes do almoço já estavam no hotel londrino
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desfazendo as malas. A suíte era ainda maior e


mais luxuosa que a de Berlim. Liz custava a
acreditar que tudo aquilo pertencia àquele rapaz tão
reservado e introvertido. Axel havia lhe dito que
recebera o patrimônio de herança e que tinha um
administrador, ainda assim era admirável.
Axel comentou que ficariam cinco dias na
Inglaterra antes de seguirem para a França, então
precisavam aproveitar bem o tempo. Naquela
mesma tarde, foram conhecer a Abadia de
Westminster e o famoso Big Bang, no Palácio de
Westminster, onde funciona o Parlamento.
Em seguida aproveitaram para visitar a
London Eye, a enorme roda gigante ao lado do rio
Tâmisa que ficava bem próxima dali. A vista de lá
era fantástica! Linda! Liz ficou maravilhada,
enquanto Axel preferia não olhar para baixo, não
gostava de lugares altos.
Nos dois dias que se seguiram, Axel a levou
a vários lugares conhecidos. Cada um mais belo e
interessante do que o outro. Londres era uma
cidade cheia de contrastes, onde o antigo se
misturava com o novo e o clássico se contrapunha
ao moderno. Liz ficou boquiaberta com a opulência
do Palácio de Buckingham e encantada com os
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bonecos de cera do Museu de Madame Tussauds.


Tudo ali respirava História e ela sentia-se
privilegiada em poder conhecer tantas coisas.
Liz também se impressionava com o
comportamento de Axel. Ele estava mais paciente
do que nunca, se esforçando em manter seu humor
sob controle; e apesar de não falar muito, de vez em
quando explicava algo aqui e ali. A grande
bagagem cultural do rapaz era evidente, mas isso
não era surpresa, já que ele era um devorador de
livros. E Liz aproveitava-se disso para tentar
arrancar a maior quantidade possível de
informações.
À noite Axel costumava se trancar em seu
quarto. Isso aborreceu Liz nos primeiros dias e
quando ela questionou-o durante o jantar naquela
quinta-feira, a resposta foi seca e dura:
— Preciso de sossego pelo menos algumas
horas por dia, caso não se importe...
— N... Não... tudo bem... — respondeu ela
meio sem graça.
Liz sentiu-se levemente chateada, mas
tentou compreendê-lo. Aquele era o jeito dele e ela
não podia se iludir, achando que o rapaz
subitamente poderia se tornar um ser sociável. Ele
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já passava horas em sua companhia, o que


certamente já devia ser um grande esforço de sua
parte, considerou.
Naquela mesma noite, após tomar um
relaxante banho, Liz instalou-se confortavelmente
na sala para assistir um pouco de TV. Mal tinha se
sentado e alguém bateu na porta. Estranhou, teria
Axel pedido algum serviço de quarto? Levantou-se
e foi atender.
Uma linda mulher loira se encontrava na
frente da porta. Alta e bem vestida, a loira a mediu
de alto a baixo e depois sorriu-lhe.
— Olá! — disse ela. — Você deve ser a
Lizandra... Posso falar com Axel?
Liz hesitou por um momento. Quem seria
aquela pessoa que sabia seu nome? Então a porta
do quarto de Axel se abriu e ele saiu de lá com os
cabelos molhados, vestindo apenas um roupão.
— Oi, Ellen! — cumprimentou-a com um
sorriso. — Como vai? Entre!
Liz abriu a boca, pasma. Como assim?! Ele
tinha mesmo sorrido para aquela mulher? Ela nunca
o vira sorrir, nem quando era mais jovem, nem nos
últimos dias, quando estiveram por tanto tempo
juntos. Chegara a pensar que ele não tinha tal
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capacidade. E agora, ele estava ali, aparentemente


bem-humorado e sorrindo?! Definitivamente
parecia outro Axel! O que significava aquilo?
Olhou para a moça loira e ela lhe sorriu
novamente. Só então se tocou que estava parada na
porta, impedindo a passagem. Afastou-se, dando
espaço para a mulher entrar.
— Oi, Axel! — respondeu a loira após
entrar. — Estou ótima! Trouxe-lhe as planilhas que
pediu. Gerald falou para você dar uma atenção
maior às páginas que ele marcou. Vai precisar
desses dados para a reunião de amanhã.
— Obrigado, Ellen! Desculpe te fazer vir
aqui a essa hora... — respondeu ele.
— Não tem problema algum... — Ela
sorriu. — Bem... estou indo, não quero te
atrapalhar. Nos vemos amanhã, então!
— Sim, até amanhã.
A loira saiu e Liz permaneceu parada perto
da porta. Ainda estava chocada. Axel virou-se para
retornar ao quarto, mas foi surpreendido pelo
chamado da garota.
— Ei! Pode esperar aí mesmo! — exclamou
ela indo de encontro ao rapaz, que a olhou sem
entender. — O que foi isso? Essa moça? Quem era?
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Como ela sabe meu nome?


— A assistente de Gerald... — respondeu
ele. — Ela sabe seu nome porque foi ela quem
comprou as passagens para nós.
— Assistente? Só isso? — Liz sentia seu
sangue esquentar e subir-lhe pelo pescoço.
— Como assim? — perguntou o Warg com
uma leve ruga entre os olhos.
— Nunca te vi sorrir, Axel! Nunca! Desde
que nos conhecemos! — falou ela indignada. —
Pensei que fosse só o seu jeito mal-humorado de
ser e por isso não me importei. E então chega essa
moça e você se derrete todo?! — disse, sentindo
um misto de tristeza e revolta apertando seu peito.
— Você está com ciúmes? — questionou
ele, arqueando uma das sobrancelhas.
Liz fulminou-o com os olhos.
— Não é ciúmes! — exclamou alto;
duvidando, no fundo, das próprias palavras. — É só
que... eu não entendo... Achei que te conhecia,
mas... Você nunca sorriu para mim, Axel... — disse
abaixando a voz e desviando os olhos para o chão.
Liz sentia seu rosto queimar e seu ânimo se esvair,
então cerrou os punhos e finalizou quase em um
murmúrio: — Se não gosta de mim, por que está
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aqui comigo?
Axel suspirou e se aproximou mais de Liz,
levantando seu queixo e olhando-a nos olhos, em
seguida abaixou seu rosto ao lado do dela. Seus
lábios roçaram a orelha da garota, fazendo-a se
arrepiar inteira, então falou:
— O fato de eu sorrir para alguém não
significa que eu esteja feliz ou que goste da
pessoa... Não leve isso para o lado pessoal. —
Afastou-se e continuou sério: — Amanhã, como
você deve ter escutado, terei uma reunião. Não se
preocupe, contratei um motorista para levar você a
alguns lugares. De manhã, irá visitar a Torre de
Londres, onde estão as joias da coroa, e à tarde ele
te levará ao parque de Greenwich. — Então virou-
se e, sem esperar resposta, voltou ao quarto,
fechando a porta.
Liz permaneceu em pé no mesmo lugar por
alguns segundos, meio que entorpecida, tentando
assimilar as palavras do rapaz. Então aquele sorriso
era só fingimento? Um alívio deu lugar à tensão de
momentos antes, junto com uma ponta de
frustração por ele não poder acompanhá-la no dia
seguinte. Um novo arrepio percorreu seu corpo ao
se recordar da proximidade com que ele havia dito
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aquilo.
Balançou a cabeça e respirou fundo.
Esqueça, Liz! disse para si própria. Ele não é para o
seu bico! Axel já tinha deixado bem claro que não
queria nada com ela naquele dia na cabana. Não
iria se iludir quanto a isso! Precisava enterrar seus
sentimentos, antes que isso lhe causasse algum
constrangimento, como quase acontecera. Ciúme...
foi mesmo isso que sentira?
Axel encostou-se igualmente aliviado na
porta do quarto após fechá-la atrás de si. Aquela
garota na sala lhe dava nos nervos... Ela não
chegava a irritá-lo como antes, porém às vezes
ainda se sentia desconfortável ao lado dela. Era
verdade que não se sentia confortável ao lado de
ninguém, no entanto, a agitação que ela lhe causava
tinha outra natureza. Era como se ele não
conseguisse controlar apropriadamente seus
instintos quando ela estava muito perto.
Não foram poucas as vezes que ele teve
vontade de encostar seu nariz na pele da garota e
inspirar o seu cheiro ou até mesmo sentir o seu
gosto. Agora mesmo, ficara tentado em passar a
língua pelo pescoço dela, e por pouco não o fez...
estava ficando louco! Precisava manter distância da
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jovem... Aquela reunião tinha vindo a calhar.

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“Axel a levou a vários lugares conhecidos.


Cada um mais belo e interessante do que o outro.
Londres era uma cidade cheia de contrastes...”

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No dia seguinte, Liz retornou ao hotel ansiosa


para encontrar Axel, havia sentido sua falta durante
o passeio. Embora tenha ido a lugares lindos,
preferia que tivesse sido na companhia do rapaz.
Na volta, ela resolveu passar em uma loja
especializada em chocolates. Conhecia a predileção
de Axel pelo doce e considerou que aquilo ele iria
apreciar, ou pelo menos não iria desgostar... Ele

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estava pagando tudo naquela viagem e Liz não


conseguia pensar em outra forma de agradecê-lo
por isso.
Quando chegou ao hotel, Axel já estava lá,
parecia inquieto.
— Você demorou... — ele disse.
— Sim... um pouco, passei em uma loja.
Trouxe isso para você! — respondeu ela com um
sorriso, estendendo uma sacolinha para ele.
Axel não precisou olhar o que tinha no
interior para saber o que era. Ele conhecia aquela
loja, era uma das melhores chocolaterias de
Londres. Liz percebeu os olhos dele se iluminarem
e isso já lhe bastava para ficar feliz. Tinha acertado
no presente!
— Quer jantar aqui ou fora? — perguntou
ele, enquanto escolhia um bombom dentro da
sacola.
— Tanto faz... — respondeu ela pensativa.
— Axel? Podemos sair hoje depois do jantar?
Quero conhecer a noite londrina, já que amanhã
iremos embora.
— Onde quer ir? — quis saber ele,
desconfiado.
— Dançar! — Ela sorriu.
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Axel fechou a cara.


— Não! — respondeu ele, mordendo um
pedaço de chocolate e indo para o quarto.
Liz arregalou os olhos surpresa e foi atrás
dele.
— Por que não? — perguntou ela, já
sentindo uma agitação interior.
— Não gosto de lugares assim — respondeu
Axel seco.
— Okay, então vou sozinha! — retrucou ela
com as sobrancelhas franzidas e saiu do quarto.
Desta vez foi Axel que a seguiu.
— Não vai! De jeito nenhum vai sair daqui
sozinha! — vociferou ele.
— Não pode me impedir, Axel! —
Encarou-o, já com o sangue lhe fervendo na orelha.
— Sou maior de idade e não sou sua propriedade!
O Warg ergueu uma das sobrancelhas e
voltou para o quarto pisando duro. Bateu a porta ao
entrar e Liz escutou-o soltando um palavrão. Ela já
o tinha visto aborrecido, irritado e até mesmo
furioso, e em todas as vezes ele endurecia o
semblante e seus olhos demonstravam puro gelo,
mas ainda não o tinha visto falar palavrões. Ela não
sabia se ria ou se ficava preocupada. De qualquer
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forma, ela iria sair naquela noite, sim. E se ele


tentasse impedi-la, ele ia ver só o escândalo que ela
faria!
Axel pediu para servirem o jantar na suíte e
não disse nenhuma palavra enquanto jantavam.
Tampouco Liz. Ela não estava a fim de entrar em
discussão com ele novamente.
Assim que ela terminou, foi para seu quarto
se trocar e se maquiar. Apesar de estar chateada,
não queria perder a oportunidade de conhecer uma
balada londrina. Quando saiu do aposento, Axel a
esperava na sala, trocado e lindo! Não estava com o
melhor dos humores; no entanto, parecia resignado.
Liz sorriu, queria pular em seu pescoço e lhe dar
um abraço, mas preferiu não piorar a situação.
Quando chegaram ao local, a fila do
estacionamento VIP estava enorme e Axel preferiu
deixar o carro a cerca de duas quadras da casa
noturna. A noite estava fresca e, por sorte, Liz
havia escolhido uma sandália confortável, então
não se importou de andar um pouco.
Axel não escondeu a cara de insatisfação ao
adentrarem na boate. Liz riu, sabia que o rapaz,
antissocial como era, não aprovaria. Ela podia ter
vindo sozinha, mas ele que havia insistido em
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acompanhá-la.
— Não seja tão rabugento, Axel! Não é tão
ruim assim! — disse sorrindo.
O lugar estava cheio. À meia luz e ao som
de uma música eletrônica extremamente alta para
os ouvidos sensíveis do rapaz, inúmeras pessoas
mexiam seus corpos na pista de dança iluminada
por canhões coloridos. Ele torceu o nariz.
— Esse lugar fede! — exclamou com o
cenho franzido.
Cigarro, perfume, álcool, drogas, suor e
sexo, os odores se misturavam no ar pesado,
ferindo o olfato apurado do Warg. Ele queria correr
dali. Por um breve momento, arrependeu-se de ter
insistido em acompanhá-la, talvez tivesse sido
melhor tê-la deixado ali e vindo buscá-la depois,
mas agora era tarde. Além disso, definitivamente
não ficaria tranquilo se a deixasse vir sozinha.
Aguentaria um pouco a tortura e depois daria um
jeito de irem embora.
Liz pegou-o pela mão e puxou-o até o bar.
Ela tentou ser atendida pelo atarefado bartender,
porém sua baixa estatura não ajudava e ele não a
percebia entre as pessoas que se aglomerava no
balcão.
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— Pede um Mojito para mim? — pediu ela


a Axel. — O cara ali parece que não me enxerga.
Axel arqueou uma sobrancelha, não
entendia essa fissura que humanos tinham por
álcool. Tinha um gosto horrível e na maioria das
vezes os deixavam alterados, passando mal ou
vomitando. Aborrecido, chamou o atendente e
pediu a bebida para a garota, e também uma garrafa
de água com gás para ele.
Logo que as bebidas chegaram, Liz,
percebendo o desconforto do rapaz no meio
daquela multidão, puxou-o novamente para um
local menos cheio do salão. Ela bem que gostaria
que Axel se divertisse um pouco, mas se isso fosse
algo possível, certamente não seria naquele lugar.
Era uma pena, porque ela adorava dançar e seria o
máximo se ele a acompanhasse. Enfim, não ficaria
presa a ele, assim que terminasse sua bebida,
colocaria o corpo para mexer.
Axel permanecia observando as pessoas ao
seu redor. Ele havia identificado outro odor ali,
distinto dos humanos. Lykans! Não demorou muito
para localizá-los. Estavam em quatro, três homens e
uma mulher, sentados em um sofá próximo à pista.
Eles bebiam e se divertiam com humanas em seus
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colos, exceto pela garota que, naquele momento,


também o olhava fixamente.
O Warg não deu importância, assim como
ele conseguia identificá-los entre os humanos,
provavelmente eles também notariam sua presença.
Sua vantagem é que ele sabia o que eles eram, ao
passo que os Lykans não faziam ideia do que ele
era, uma vez que se tornara um dos últimos
exemplares de sua raça e que muitos achavam que
estava extinto. Sim, ele era uma espécie em
extinção, mas pouco se importava com isso.
Darwin tinha uma teoria sobre a extinção
das espécies. Entretanto, o que ocorrera com os
Wargs não tinha nada a ver com “Seleção
Natural”; extermínio em massa seria o termo mais
correto.
Há centenas de anos, quando os humanos
do norte da Europa os descobriram, acreditaram
que eram demônios e tentaram aniquilá-los a
qualquer custo. Isto, aliado ao fato de seres como
ele não se reproduzirem como coelhos, selaram o
destino de sua raça.
Alguns Wargs conseguiram fugir e se
espalharam pelo mundo. Sua mãe imigrou com ele
e com sua irmã para o Japão, um país onde os
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humanos conviviam um pouco melhor com seres


sobrenaturais, lá chamados de Youkais. Em seu
caso, embora fosse muito diferente dos japoneses
na aparência, por causa dos traços ocidentais e dos
cabelos prateados, sua forma humana não os
assustava tanto e por décadas conseguiu ter
sossego, até a guerra civil japonesa estourar em
1868...
Aquilo havia ocorrido há muito tempo e
ocasionara a separação de sua família. Nunca mais
soube de sua mãe ou de sua irmã e tampouco sabia
se estavam vivas ainda, mas isso não significava
muito para ele. Diferentes dos Lykans, que viviam
em bandos, os Wargs eram solitários por natureza e
não se apegavam a laços familiares.
Axel desviou o olhar da Lykan e voltou a
observar Liz que parecia estar se divertindo,
enquanto bebia seu drink e sorria para as pessoas.
Como podia uma jovem humana tirá-lo do sério e
ainda exercer tanto poder sobre ele?
Assim que terminou o Mojito, Liz começou
se balançar discretamente no embalo da música. Na
verdade ela queria se jogar na pista, mas a presença
de Axel a inibia um pouco, fazendo-a conter seus
movimentos. Ele a olhava com estranheza,
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fazendo-a rir.
— O que foi? — perguntou ela, já um
pouco alta por causa da bebida. — Nunca viu não?
Uma arqueada de sobrancelha foi a resposta
dele, em seguida bebeu o resto da água de sua
garrafa e a colocou sobre um balcão.
Liz riu de novo e resolveu se soltar, queria
dançar, queria se divertir e queria mostrar a Axel
que aquilo não era tão ruim assim. Pegou, então,
nas mãos do rapaz e tentou fazê-lo se movimentar.
Em vão, claro. O Warg não se mexia e a olhava
aborrecido, odiava dançar!
A garota não se importou. Um pouco mais
desinibida por conta da bebida, levantava o braço
dele e girava a si mesma, de um lado para outro.
Sorrindo e se balançando, ela se aproximava e se
afastava de Axel ao ritmo da música, olhando-o
com divertimento.
— Axel! Por favor... tente se divertir, só um
pouquinho... Por mim? — pediu Liz com olhos
suplicantes.
Axel não disse nada, mas ponderou. Será
que se fizesse o que ela estava lhe pedindo, depois
conseguiria tirá-la dali? Bufou, e então,
desajeitadamente, começou a mexer o corpo,
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sentia-se ridículo. Liz deixou o queixo cair, feliz


por ter conseguido fazê-lo ceder em alguma coisa e
tentou não rir, definitivamente ele não levava jeito
para a dança.
Para a sorte do Warg, a música rápida deu
lugar a uma outra mais lenta, com uma batida mais
cadenciada. Ele viu aquilo como uma oportunidade
de escapar e deu dois passos para trás, chegando
próximo à parede. Liz o olhou interrogativamente.
— Aonde está indo? Não te liberei ainda!
— Ela riu.
Liz voltou a se aproximar do rapaz e pegou-
o pelos cotovelos, posicionando as mãos dele em
sua cintura. Enlaçou-o, então, pelo pescoço e
começou a mexer o corpo, devagar e sensualmente,
enquanto olhava-o nos olhos. Ela estava apenas
brincando; entretanto, Axel sentiu o seu sangue
correr mais rápido em suas veias.
Ele a encarava sério, porém desta vez não
estava irritado com a provocação da garota, muito
pelo contrário, seu interesse em continuar aquela
dança aumentava e um formigamento começou a
tomar conta de seu corpo. Estava cansado de refrear
seus instintos em relação à moça, e por mais que
não os compreendesse, não conseguia mais ignorá-
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los.
Naquele momento, ele soube exatamente o
que queria: ela. O desejo começava a se sobrepor à
razão e Axel deixou-se levar. Firmou as mãos na
cintura de Liz e a puxou mais para si. A garota
arqueou as sobrancelhas surpresa, mas sorriu. A
bebida a havia deixado mais espontânea, porém
com o pensamento meio nublado, por isso ela
considerou que o rapaz apenas teria resolvido entrar
na brincadeira.
Seu coração, no entanto, batia mais rápido.
Aquela proximidade com Axel mexia com todas as
suas fibras. A cada dia que passava ao lado dele,
sentia-se mais atraída pelo rapaz e ao mesmo tempo
mais desiludida, não acreditava que Axel pudesse
olhar para ela como mulher, mas desta vez ele
parecia estar no jogo, pelo menos não a estava
afastando e isso a fazia se sentir a garota mais
sortuda do mundo.
Do outro lado do salão, uma jovem de
cabelos ruivos não tirava os olhos do casal, era a
mulher que Axel havia identificado como Lykan.
— Karl — chamou ela, dirigindo-se a um
rapaz ruivo também. — Olhe aqueles dois ali —
disse apontando para Liz e Axel.
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— O que tem eles? — perguntou ele,


desviando os olhos da moça sentada em seu colo e
olhando na direção indicada pela irmã.
— O cara, ele não é humano!
O rapaz riu, mostrando seus dentes brancos
e alinhados.
— Como sabe?
— Se você não tivesse bebido tanto,
também saberia, ou devo lhe lembrar que o álcool
afeta seu olfato, além do seu cérebro, é claro?! —
disse a mulher sarcasticamente.
O ruivo fechou a cara.
— E ele é o quê, se não é humano,
sabichona? — perguntou irritado. — Chupa-sangue
é que não é! Não podemos distinguir os vampiros
dos humanos pelo cheiro, infelizmente...
— Não sei o que ele é, nunca senti um
cheiro assim... Lembra o nosso, mas é diferente...
não sei...
— Você está viajando, Nay! — Karl revirou
os olhos e voltou a dar atenção à moça em seu colo.
A ruiva estreitou os olhos e se voltou para
os outros rapazes ali ao lado. O moreno, mais alto e
mais forte do que o seu irmão, estava esparramado
no sofá e concentrado nas bolhas de seu copo de
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cerveja, bêbado, como sempre. O outro, loiro


oxigenado, se atracava em outro sofá com uma
garota qualquer, sem qualquer noção de pudor. Ela
bufou irritada, se não fossem os melhores amigos
de seu irmão, o alfa do bando, ela já teria
escorraçado os dois inúteis. Voltou a observar o
casal, eles ainda estavam dançando.
Axel mantinha Liz com o corpo colado ao
seu. Ele não distinguia mais os odores ruins do
salão, apenas sentia o cheiro da garota, de seus
feromônios, e aquilo o excitava. Olhava-a
fixamente e, num ato estranho a ele, mas puramente
instintivo, dançava ao som da música, conduzindo
seus corpos em um movimento único.
Liz também não conseguia desviar o olhar
do rapaz e não prestava mais atenção às pessoas à
sua volta, como se naquele local apenas eles
existissem. As mãos dele queimavam em sua
cintura e seu rosto estava tão próximo que ela podia
sentir o calor de sua respiração.
Em um movimento firme, Axel trocou de
lado com a garota, colocando-a contra a parede e a
prensando com seu corpo. Liz prendeu a respiração
e seu coração deu um salto. O que ele pretendia?
Ele a olhava de uma forma que ela nunca vira.
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Diferente do gelo, agora via fogo, mas não havia


raiva ali, como da outra vez. Cócegas invadiram
seu estômago, como se algo saltitasse dentro dele.
Axel desceu uma das mãos pelo seu quadril
até o final do vestido, tocando em sua perna nua, e
então começou a subir por baixo da roupa,
lentamente. Liz abriu a boca, ele estava mesmo
fazendo aquilo? Seus olhos dourados permaneciam
sobre os dela, quentes e cheios de volúpia. A mão
ousada do rapaz alcançou suas nádegas e as
apertou, puxando-as mais contra si. Seus rostos
quase se colaram e suas bocas estavam a poucos
centímetros de distância.
Em um movimento mais ousado, Axel
escorregou, então, seus dedos para dentro da
calcinha de Liz, descendo e encontrando sua
intimidade úmida de excitação. Ela soltou um
gemido e ele cobriu sua boca com a dele, tomando-
a num beijo ardente.
O corpo da garota respondia às carícias
íntimas de Axel e ela retribuía o beijo com fervor.
O dedo dele brincava em sua entrada, ora
acariciando-a, ora penetrando-a, e ela não
raciocinava mais, tampouco ele, a única coisa que
queriam era um ao outro.
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Axel, ofegante, usou o pouco que ainda


tinha de razão para se afastar e tomá-la pela mão.
— Vamos embora — disse com uma voz
rouca.
Já estavam no meio do salão, quando foram
interceptados por Karl. Diante do mau humor da
irmã, o Lykan resolvera averiguar suas suposições a
respeito do rapaz de cabelos brancos. Assumindo,
então, uma postura altiva e arrogante, entrou no
caminho do casal, interrompendo-os em suas
intenções de sair logo dali.

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“Ele havia identificado outro odor ali, distinto


dos humanos. Lykans!”

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Parados no meio da boate, Karl encarava o


casal prestes a sair do local. Ele queria algumas
respostas daquele ser platinado à sua frente e o
rapaz teria que fornecê-las, não pelo fato de estar
curioso a respeito, mas porque ele era o Lykan alfa
ali e precisava deixar claro quem mandava no
lugar.
— Aonde vão com tanta pressa? Não estão

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gostando da boate? — perguntou Karl exibindo um


sorriso falso.
Axel fulminou-o com os olhos, detestava
Lykans e aquele ali estava sendo mais do que
inconveniente.
— Já ficamos o suficiente — respondeu ele
entre dentes e continuou a andar, desviando-se do
ruivo.
Irritado com a atitude de Axel, Karl
segurou-o pelo ombro.
— Espere aí, seu...
Não teve tempo de terminar a frase. O Warg
agarrou-lhe o punho e torceu-lhe o braço atrás das
costas.
— Não me importune, Lykan! — disse-lhe
ameaçadoramente ao ouvido, então soltou-o, na
mesma hora em que os outros integrantes do bando
se aproximaram.
Axel olhou-os com desprezo e virou-se.
Pegou novamente na mão de Liz e se dirigiu à
saída.
— Vai deixar por isso mesmo, Karl? —
perguntou o loiro oxigenado.
— É claro que não! — respondeu o líder do
bando, sentindo-se pressionado.
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Karl não havia gostado do modo como


aquele cara havia falado com ele, mas ao mesmo
tempo, percebera o perigo em suas palavras.
Porém, não podia se mostrar um covarde perante o
bando, ele ainda era o alfa.
— Vamos! — disse saindo.
— Karl, espera! Não acho que seja uma boa
ideia... — disse Nay, arrependida de ter chamado a
atenção de seu irmão para o rapaz desconhecido.
Ela já deveria saber que Karl arrumaria encrenca...
— Ele sabe quem somos, mas não sabemos nada
dele.
— Ele não é ninguém, Nay! — vociferou o
alfa, tentando convencer-se a si próprio de que o
estranho não era perigoso. Realmente não havia
conseguido identificar o cheiro dele, mas o que um
cara sozinho poderia fazer? Estavam em maior
número, levariam vantagem fácil.
— Vamos logo! — disse o Lykan de
cabelos escuros, impaciente — Deixe ele comigo,
Karl! — Estralou os dedos. — Vou dar um susto
tão grande no sujeito que ele nunca mais vai se
meter a besta com a gente.
Do lado de fora da boate, Liz caminhava um
pouco apreensiva ao lado de Axel. Não entendia
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direito o que havia acontecido lá dentro. Não


entendia por que aquele rapaz tinha entrado na
frente deles daquele jeito, e também nunca vira
Axel agir daquela forma. Dobraram a esquina e
continuaram andando, a rua estava vazia e ela teve
um pressentimento ruim. Olhou para trás e notou
que estavam sendo seguidos.
— Axel?
— Eu sei... — ele disse sério. — Não dê
importância.
— Mas...
Um rosnado grave e baixo se fez ouvir atrás
deles. Liz virou-se novamente para olhar e
arregalou os olhos, um enorme lobo cinzento, quase
preto, de pelos grossos e eriçados, babava e rosnava
para eles, mostrando seus dentes pontiagudos. Ela
gritou assustada e Axel a puxou, colocando-se na
frente dela e encarando a fera sem demonstrar um
mínimo de receio.
Liz deu alguns passos para trás,
aproximando-se da parede. Céus! aquilo era um
lobo? Não, não era! Era maior, assustador, quase
monstruoso. Seu medo era paralisante, não sentia
seu corpo e sua respiração, curta e rápida, parecia
não ser o suficiente para lhe mandar ar aos
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pulmões. Sentiu que ia desmaiar... Não! Não podia.


Eles precisavam correr, fugir... E Axel... o que ele
estava fazendo? Devia estar louco para encarar o
monstro daquele jeito! Queria gritar, mas sua voz
não saía.
O animal permanecia rosnando e se
aproximando, então abaixou-se, preparando-se para
atacar. Axel imediatamente levou a mão ao seu
colar e o pingente em forma de lua brilhou ao seu
toque. Retirou-o do pescoço e o brilho subitamente
mudou de forma, transformando-se em uma espada,
uma katana japonesa. Liz observava tudo pasma,
sem entender o que estava acontecendo.
O lobo pulou, dando o bote por cima, mas
Axel foi mais rápido; abaixou-se e trespassou a
espada no ventre do animal, fazendo um corte
profundo. O monstro ganiu e caiu desajeitadamente
para o lado, fazendo um rastro de sangue no chão.
Não demorou muito para ele se levantar. Então
rosnou novamente, desta vez estava furioso.
— Frederic, não! — gritou a Lykan ruiva
percebendo o perigo.
O lobo não deu ouvidos e partiu para cima
de Axel pela segunda vez. O Warg deu um giro
sobre si próprio e com um único golpe de espada
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rasgou a garganta do animal, de fora a fora,


arrancando-a do seu corpo. A cabeça rolou para o
lado de Liz, espirrando sangue sobre ela, enquanto
o corpo ia ao chão em um baque surdo. A garota,
horrorizada, deu um grito abafado e se jogou para
trás, batendo com força as costas e a cabeça na
parede. Sua visão nublou e escureceu, então ela
apagou.
Axel olhou para a ruiva e em seguida para o
resto do bando, que, estarrecidos, permaneciam
paralisados em seus locais. Com um movimento de
braço rápido e seco para o lado, retirou o excesso
de sangue de sua espada e deu dois passos na
direção deles.
— Não...calma! — exclamou Karl recuando
e estendendo o braço à frente. — Nós vamos
embora! Deixe-nos apenas pegá-lo, por favor... —
disse apontando para o corpo inerte do lobo.
Axel estudou Karl por um instante e, então,
voltou-se para Liz, que permanecia inconsciente
próxima à parede. A espada em sua mão brilhou
novamente, desaparecendo e retornando à forma de
colar. O Warg caminhou até a jovem, pegou-a no
colo e deu as costas para o grupo. Antes de seguir
para o carro, parou e olhou por cima do ombro.
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— Se chegarem perto de mim novamente,


acabo com todos vocês! — O aviso foi seco e duro.
Axel levou Liz, ainda desacordada, para o
hotel. Enquanto a limpava do sangue do animal,
lembrou-se de quando precisou fazer o mesmo,
anos atrás, no dia que a resgatara do local do
acidente. Agora, no entanto, seus sentimentos eram
completamente diferentes. Como ele pôde ter
mudado tanto? Como ele pôde permitir que uma
humana entrasse daquele jeito em sua vida?
Algum tempo depois, Liz acordou
sobressaltada em sua cama. Com os olhos
arregalados e o coração palpitando, tinha a
impressão de ter acabado de sair de um pesadelo.
Sentiu uma dor atrás da cabeça e levou as mãos ao
local, tinha um galo ali. Olhou ao redor e
reconheceu seu quarto no hotel. Fechou, então, os
olhos e colocou as mãos nas têmporas, tentando se
lembrar do que tinha acontecido; sentia-se confusa,
não se lembrava de ter ido para a cama, então por
que ela estava ali?
Algumas imagens começaram a passar pela
sua mente: um lobo, Axel, a espada, uma cabeça
rolando, o sangue... Olhou assustada para si
própria, para os seus braços, estavam limpos;
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colocou as mãos nos cabelos, estavam úmidos.


Aquilo tinha sido um sonho? Havia tomado um
banho? Quando? Por um momento receou estar
sofrendo de amnésia novamente, mas balançou a
cabeça. Não, ela se lembrava de quem era e de
onde estava.
Mas suas lembranças após terem saído da
boate estavam nubladas. Eles haviam sido seguidos
e depois atacados... Havia um lobo e Axel o matou
com uma espada... Não, não era possível aquilo!
Era muito surreal para ser verdade.
Não se lembrava de mais nada depois disso,
ela devia ter desmaiado... Axel provavelmente a
havia trazido para o hotel e lhe dado um banho. De
novo... Não era a primeira vez que ele fazia isso,
lembrou-se. Pelo menos não estava nua; desta vez
ele fizera a gentileza de colocar-lhe uma camisola,
porém ainda estava sem calcinha...
Levantou-se e caminhou até a sala
conjugada. A sala estava à meia luz, somente com
os abajures acesos, e Axel estava sentado no sofá
lendo um livro enquanto saboreava um chocolate,
parecia tranquilo.
Ele levantou os olhos, encarando-a, e ela
corou. Um arrepio percorreu seu corpo, como ele
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era belo... Sempre o achara diferente, mas a cada


dia que passava, via-se mais atraída pelo dono
daqueles olhos. Axel, contudo, não disse nada e
voltou a ler.
Liz permaneceu parada na porta que
separava os ambientes, observando-o. Ele também
havia tomado um banho e vestia um roupão. Aquilo
lhe atiçou as lembranças da boate, do beijo, da mão
atrevida dele explorando suas partes íntimas. Um
calor subiu por entre suas pernas e a excitação
voltou a tomar-lhe o corpo.
Axel, porém, parecia não lembrar-se de
coisa alguma. Ele mal a tinha notado ali. Liz
frustrou-se, será que aquilo que havia acontecido na
boate não tinha significado nada para ele? Inspirou
fundo, não ia desistir assim. Aproximou-se a passos
lentos, balançando levemente os quadris e apelando
para seu lado sensual. Okay, ela não era boa
naquilo, mas pelo menos chamou a atenção do
rapaz.
Ele a acompanhou com os olhos; contudo,
assim que ela chegou perto, desviou o olhar e
voltou a se concentrar no livro. Lá estava o velho
Axel de volta... Se Liz tinha alguma esperança de
recuperar o clima romântico e sexy da boate, ela
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murchou ali mesmo. Por que ele tinha que ser tão
bipolar? Suspirou e sentou-se ao lado dele.
— Eu desmaiei? — perguntou, tentando
puxar assunto.
— Sim.
— E você me deu banho?
— Dei. — Axel virou uma página do livro.
— Axel?! — exclamou ela num rompante
de irritação. — Quer olhar para mim enquanto
conversamos, pelo menos!
Ele a fitou e Liz se frustrou um pouco mais.
Apesar da pouca convivência, ela havia aprendido a
decifrar, em parte, o significado dos olhares do
rapaz, mas desta vez seus olhos estavam frios,
insondáveis. Bufou, estava cansada de tentar
prender-lhe a atenção. Acomodou-se mais perto do
rapaz e encostou a cabeça em seu ombro, estava
precisando de um aconchego, pelo menos...
Felizmente ele não a afastava mais, isso já era uma
avanço.
De súbito, imagens do que aconteceu assim
que saíram da boate voltaram-lhe à mente.
— O que aconteceu hoje, Axel? —
perguntou. Sua memória não era clara e ainda não
sabia se tinha sonhado com aquilo, ou não.
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— Nada.
— Como nada? Eu não desmaiei por nada.
— Ela desencostou-se dele e o encarou.
— Do que você se lembra? — devolveu ele
a pergunta.
— Que fomos seguidos e depois atacados
por um... lobo? Ou seria um monstro? — Ela
franziu o cenho. — Axel, aquilo aconteceu mesmo
ou estou imaginando coisas?
— Não precisa se preocupar com isso, está
segura agora. É melhor você ir descansar...
Liz ergueu as sobrancelhas, desconfiada.
— Não, não mesmo! — disse veemente. —
Não me trate como idiota! Eu quero saber a
verdade, eu não imaginei, não é? Fomos mesmo
atacados por um animal?
Axel desviou os olhos. Não queria falar a
verdade, ela não precisava saber dessas coisas.
Seria muito melhor que Liz continuasse achando
que havia sonhado ou algo parecido. O problema
era que ele não era bom com mentiras, certamente
ela desconfiaria e não o deixaria mais em paz.
— Axel?! — chamou ela. — Não me
ignore! O que era aquilo?
— Era um Lykan, uma espécie de lobo... —
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explicou ele. Ao menos não precisava dizer-lhe que


o animal estava mais para lobisomem do que para
lobo.
— Um lobo? Como assim? Estamos no
meio da cidade! De onde ele surgiu? — quis saber
a garota intrigada.
— Isso não importa... está morto —
respondeu Axel, voltando sua atenção para o livro,
sem conseguir, contudo, se concentrar nas palavras.
— E aquela espada? Você tinha uma
espada, não tinha? Onde a conseguiu? — perguntou
Liz, trazendo-o de volta à conversa.
Axel fechou o livro e colocou-o sobre a
mesinha do abajur. Ela era insistente...
— Magia — respondeu.
— Hã? Magia? Que magia? — repetiu a
garota com uma ruga entre as sobrancelhas. — Do
que está falando agora?
O Warg respirou fundo, já arrependido de
ter começado a falar.
— A espada é um artefato mágico — disse
ele, em dúvida até que ponto devia lhe revelar
sobre aquilo.
Liz olhou-o com desconfiança. Magia, para
ela, não passava de truques e ilusões.
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— Sei..., mas onde essa espada estava,


afinal? De onde você a tirou? Da manga é que não
foi! — questionou ela, imaginando que seria
impossível esconder um objeto daquele tamanho
sob as roupas.
Axel passou a mão nos cabelos, aborrecido.
— Eu disse magia e não mágica... Há coisas
que são incompreensíveis aos olhos dos humanos,
Liz; essa é uma delas...
A garota o encarou com ar cismado e
interrogativo.
— Não há nada que não possa ser elucidado
se for explicado com clareza. Então, explique
direito! — zangou-se ela, já ficando impaciente.
O Warg observou-a por um momento e
bufou, era óbvio que uma resposta daquelas não iria
satisfazê-la. Talvez fosse melhor mostrar, em vez
de ficar falando...
Levou, então, a mão um pouco acima do
peito e segurou o colar, que brilhou ao seu toque.
Em seguida, retirou-o do pescoço e exibiu o
pingente feito de osso na palma da mão.
Liz observou o objeto sem entender.
Lembrava-se daquele colar, de tê-lo visto quando
ela havia ficado na cabana de Axel pela primeira
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vez, e de que o rapaz a proibira de tocá-lo, mas ele


não brilhava assim, e nem estava brilhando
momentos atrás. Para sua surpresa, a luz em volta
do pingente em forma de lua começou a brilhar
com mais intensidade.
Axel fechou a mão e afastou o braço. Logo
uma espada surgiu, a mesma que ela tinha visto
horas antes. Liz se retraiu, assustada, e então abriu
a boca, pasma. Estava sem palavras. Olhou para
Axel e depois para a espada novamente.
Apreensiva, aproximou-se do objeto devagar e quis
estender a mão para tocá-lo, mas recuou, não queria
levar outra bronca dele. O rapaz, no entanto, trouxe
a espada para perto dela.
— Cuidado com a lâmina, é afiada — disse,
oferecendo a arma para ela segurar.
Liz ainda permanecia assombrada, mas
aceitou a oferta. Com um certo receio, segurou a
espada nas mãos e a contemplou admirada.
— É linda! Como fez isso? — perguntou,
ainda olhando para o instrumento.
— Magia... — repetiu ele.
Ela fitou-o, ainda em dúvida.
— Não está brincando comigo, Axel? Isso é
real? Existe mesmo?
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Axel apontou para a espada, mas nada disse,


já estava cansado de dar explicações.
Liz voltou a observar o objeto em suas
mãos. Não entendia como aquilo era possível, mas
estava ali, bem na sua frente. Ergueu a lâmina na
vertical e ela refletiu a luz vinda do abajur como se
fosse um espelho, não havia mais vestígios de
sangue nela.
Era difícil de acreditar naquilo tudo. A
espada, o lobo gigante, a lembrança de Axel
cortando-lhe a cabeça; parecia que estava dentro de
um filme, ou de um sonho. No entanto, aquela
espada era bem real. Liz se levantou e fez alguns
movimentos com ela, era pesada, mas não muito. O
Warg apenas a olhava. Estaria agindo certo em
mostrar aquilo para ela? Não sabia...
A garota, então, se aproximou e lhe
devolveu a espada, estendendo-a sobre as duas
mãos. Axel a pegou e a fez voltar à forma de colar,
colocando-o novamente no pescoço.
— Então... Você é alguma espécie de
mago? — perguntou Liz com o semblante curioso;
afinal, se magia existia, magos deviam existir
também. Uma animação cresceu dentro de seu
peito.
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— Não, mas a pessoa que forjou a espada


era.
— Ah... — exclamou ela, um pouco
frustrada. Seria o máximo se Axel fosse um mago.
— Hum... Era? Ele morreu? Você o conheceu? —
disse, sentando-se novamente ao seu lado.
Axel pensou um pouco antes de responder.
Aquela espada havia sido forjada há quase 200
anos, não podia dizer a ela que havia conhecido o
mago em questão.
— Esse instrumento é muito antigo... O
mago que o fez morreu há muito tempo...
— Ah, e ainda existem outros magos por aí?
— Liz estava curiosa agora.
— Se existem, estão escondidos — disse de
forma vaga. Aquilo era verdade, após a Primeira
Guerra Mundial, eles haviam desaparecido como
fumaça.
A garota escutava com atenção, mas ainda
havia dúvida em seu semblante.
— Sabe... Isso é tão incrível que é quase
inacreditável... — disse ela. — É tão estranho
imaginar que existe esse tipo de coisa. Se eu não
tivesse visto com meus próprios olhos, diria que é
um absurdo.
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— Os humanos sempre foram reticentes em


aceitar coisas que não conseguem explicar... —
respondeu o Warg com um suspiro, já estava mais
do que impaciente com aquela conversa.
— Fala como se não fosse um humano... —
Ela riu, deitando-se no sofá e colocando os pés
sobre o colo dele.
Axel estreitou levemente os olhos, não iria
dizer-lhe a verdade sobre isso. Ela não estava
preparada. Ele a observou por um momento, a
garota ainda usava o pingente de coração que ele
havia lhe dado anos atrás. Um calor agradável
tomou conta de seu interior. A proximidade de Liz,
seu cheiro, as lembranças de horas antes, da dança,
do beijo... não conseguia ignorar tudo aquilo. Sua
razão, que ele havia recuperado durante o embate
com o Lykan, parecia querer abandoná-lo
novamente.
Desceu, então, o olhar pelo corpo dela; a
camisola curta e transparente da jovem era
reveladora. Quando lhe deu o banho, não pensou
em outra coisa que não fosse limpá-la do sangue,
mas agora... lá estava ela, bela, sexy, provocante e
sem calcinha...

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“... a luz em volta do pingente em forma de lua


começou a brilhar com mais intensidade. Axel
fechou a mão e afastou o braço. Logo uma espada
surgiu...”

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Axel observava Liz com os pés em seu colo


sentindo seu desejo crescer. Para alguém como ele,
que nunca havia se interessado por ninguém, as
sensações luxuriosas que ela lhe despertava eram
novas e instigantes. A visão dos seios arredondados
da garota e da sombra de seus pelos pubianos por
baixo daquela camisola semitransparente fazia seu
corpo esquentar e seus instintos acordarem; sua

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ereção começou a tomar forma por baixo de seu


roupão e ele salivou só de pensar em prová-la.
Liz notou o olhar demorado de Axel sobre o
seu corpo e seu coração acelerou. Ficou com medo
de dizer algo e estragar o clima, não queria afastá-
lo, não queria que ele se retraísse novamente. Sua
camisola havia subido um pouco quando ela se
deitou no sofá, por pouco não revelando sua
intimidade, e era para aquele ponto que o rapaz
olhava naquele momento.
Uma onda de calor tomou conta da jovem
humana, suas partes baixas pulsavam e queimavam
como se estivessem em combustão. Então ele a
fitou e ela viu o fogo novamente em seu olhar.
Aquilo a incendiou ainda mais e uma sensação
intensa percorreu todo o seu corpo, fazendo-a
umedecer entre as pernas.
Axel podia sentir o cheiro de sua excitação
e dos feromônios que ela exalava, e aquilo o
provocava absurdamente. Seu sexo já estava duro e
pronto para o ato. Ele a desejava, não tinha como
negar. Queria beijá-la novamente, tocá-la e sentir o
seu sabor; não conseguia mais se segurar, seu
sangue fervia.
Segurou, então, o tornozelo da jovem e
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levantou-lhe a perna, colocando-a sobre o seu


ombro. Liz prendeu a respiração, sua camisola
havia subido mais e ela estava com as pernas
abertas e totalmente exposta para ele agora.
O Warg encostou o nariz na perna elevada
da garota e inspirou seu cheiro profundamente. O
odor que ela exalava quando estava excitada era
inebriante, e ele queria mais. Deu um leve beijo na
parte interna do joelho de Liz e passou, então, a
língua pelo local, sentindo a textura da pele e seu
sabor. Em seguida começou a deslizá-la em direção
à coxa, deixando um rastro molhado e quente por
onde passava. Ele ansiava sentir o gosto íntimo
dela.
Liz arrepiou-se inteira com o toque da
língua úmida de Axel sobre sua pele, e seu coração
acelerou mais assim que percebeu a intenção do
rapaz. Ela estremeceu e foi às nuvens quando ele
mergulhou a cabeça entre suas pernas e cobriu seu
sexo com a boca. Agarrando-se ao tecido do sofá,
Liz suspirou e gemeu, deliciando-se com os toques
íntimos da língua macia e quente do rapaz,
enquanto ele a saboreava com vontade.
Ao contrário de suas experiências passadas,
Axel estava gostando daquilo, de sentir o gosto da
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garota, de senti-la entumecer sob sua boca, de


escutar os sons que ela emitia enquanto ele lhe dava
prazer. Rapidamente ele aprendeu como e onde ela
gostava de ser tocada e seguiu estimulando-a com
pequenas lambidas, contornando seu clítoris,
abocanhando-o e chupando-o delicadamente.
A onda de prazer não demorou a chegar
para Liz, intensa e surpreendente. Ela gozou e
gemeu alto, aumentando ainda mais a excitação de
Axel. Ele a queria, ele precisava dela, ele a teria...
O Warg levantou o rosto e esboçou um leve
sorriso para a garota, um sorriso verdadeiro. Puxou-
a pela cintura e a colocou em seu colo, beijando-a
com intensidade. Ergueu-se, então, junto com ela
do sofá e a carregou para o quarto. Deitou-a
suavemente sobre a cama, distribuindo mais beijos
molhados em seu pescoço e tirou-lhe a camisola e,
em seguida, seu próprio roupão.
Liz olhou-o com admiração; a visão do
membro ereto de Axel fez seu estômago dar
cambalhotas. Ele era magnífico, gostoso demais!
Uma fina linha de pelos um pouco mais escuros do
que os cabelos do rapaz lhe descia pelo baixo
ventre e envolvia sua deliciosa ereção. Ela mordeu
o lábio querendo experimentá-lo também, mas Axel
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foi mais rápido.


Olhando-a fixamente, ele se aproximou da
cama e se deitou, posicionando-se sobre ela e
voltando a beijá-la. Tomou seus lábios, seu
pescoço, seus mamilos. Liz apertava-o contra si.
Não se lembrava de ter desejado tanto outro
homem quanto desejava Axel. Nem mesmo seus
ex-namorados, nenhum deles sequer havia chegado
perto de deixá-la tão louca de tesão.
Axel, no entanto, ainda estava um pouco
relutante. Ele sabia que se consumasse o ato,
quanto mais chegasse próximo do clímax, mais
difícil seria controlar sua natureza. Já havia
machucado acidentalmente algumas mulheres
assim, em seu passado distante, e ele temia fazer o
mesmo com ela.
Liz percebeu a hesitação de Axel.
— Axel... Por favor... Eu quero você! —
disse com a voz rouca.
Ele a fitou com desejo, mas também havia
preocupação em seus olhos.
— Eu posso te machucar... — começou a
falar.
— Eu não quero saber, Axel! — retrucou
ela puxando-o para si e dando-lhe um beijo ardente.
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— Eu quero que você me possua, agora! —


sussurrou, movendo seus quadris sob ele e
encaixando o membro rijo do rapaz em sua entrada.
Axel não aguentou mais tanto estímulo e
deslizou para dentro dela, soltando um gemido
abafado. Liz gemeu também. Ele a preenchia
completamente e ela queria mais... Enlaçou-o,
então, com suas pernas, pressionando seu quadril
contra ele. O Warg sussurrou o nome dela e
começou a movimentar-se, em um vai-e-vem
intenso e ritmado.
Ela gemia, remexendo-se e contorcendo-se
embaixo dele, buscando novamente seu próprio
prazer, e Axel já não conseguia pensar direito. Seu
corpo respondia aos movimentos da jovem e a
pressão em seu membro aumentava cada vez mais.
Sua excitação estava chegando ao ápice e sua
mente começou a nublar.
Quando Liz atingiu o clímax, ele estava no
limite de sua razão. Não podia machucá-la, não
podia... Axel soltou um gemido e afundou as unhas
no travesseiro que estava por baixo da cabeça de
Liz, ao mesmo tempo em que ela, sentindo os
espasmos de prazer, agarrava suas costas e se
pressionava contra ele.
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Sem conseguir controlar mais os seus


instintos, Axel aumentou o ritmo, penetrando-a
com força, até que a pressão em seu sexo tornou-se
insustentável. Liz gritava embaixo dele, mas ele
não parou, não raciocinava mais, ia gozar também.
Num resquício de lucidez, cravou os dentes no
travesseiro para não morder a garota e, com um
grito surdo, liberou seu prazer, inundando-a com
seu líquido quente.
Ao final dos espasmos, e ainda com a mente
um pouco turvada e a respiração ofegante, Axel
levantou o rosto e a olhou preocupado.
— Te machuquei? — perguntou.
— Não... — respondeu Liz com o rosto
afogueado.
— Mas... você gritou... — Lá no fundo de
sua mente embaralhada ele se lembrava...
Ela sorriu envergonhada.
— Gritei de prazer, Axel... de prazer... —
respondeu, dando-lhe um beijo.
Axel sorriu também e desabou,
mergulhando o rosto nos cabelos da garota. Tinha
usado todo o seu autocontrole para não deixar que
seus instintos primitivos prevalecessem, mas ainda
assim, sua mente havia obscurecido. Ele realmente
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podia tê-la ferido. Felizmente nada de grave


acontecera e agora ele sentia-se totalmente
relaxado, satisfeito e aliviado por não tê-la
machucado.
Liz abraçou-o com carinho; era a primeira
vez que o via daquela forma, vulnerável, sem
barreiras e sem defesas. Por ela, ficaria ali para
sempre. O rapaz se colocou de lado e ela se
acomodou em seu peito, levantando o rosto para
olhá-lo.
— Não foi tão ruim assim, não é? — disse
ela sorrindo.
— Não... — respondeu ele devolvendo um
meio sorriso.
— E você está sorrindo de verdade, ou é só
fingimento? — Liz estreitou os olhos.
— Não preciso fingir para você... — disse
ele.
Aquela resposta fez o coração de Liz pular
de felicidade. Ela ergueu-se um pouco e deu-lhe
outro beijo nos lábios, então voltou a deitar-se
sobre seu peito, abraçando-o. Logo o cansaço a
venceu e ela dormiu.
Axel não se mexeu, tampouco conseguiu
dormir. Ele passou a observá-la. O que ele faria
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com aquela garota dali para frente? O sexo nunca


havia sido tão bom e prazeroso como fora com ela,
e isso o perturbava. Era a primeira vez na vida que
se sentia tão inseguro, que sentia essa necessidade
de estar com alguém, de proteger alguém. O que
diabos estava acontecendo com ele?

Naquela mesma hora, uma reunião


acontecia na mansão dos Schneider em outra parte
da cidade. Karl e sua irmã aguardavam sentados em
um sofá de couro, enquanto o patriarca da família
andava de um lado para o outro da sala, pensativo e
carrancudo.
— Deixe-me ver se entendi. Vocês
provocaram um cara na boate, o seguiram, então
ele simplesmente sacou uma espada, sabe-se lá de
onde, e cortou a cabeça de Frederic? — perguntou
Frank Schneider com uma voz carregada de
irritação. — E agora o corpo dele está lá embaixo,
no porão? Como esperam que eu resolva isso?! —
vociferou. — O que querem que eu diga à família
dele? Ele era sua responsabilidade, Karl! Como

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deixou que as coisas chegassem a esse ponto?


— Se Nay não tivesse me enchido o saco,
dizendo que a gente devia descobrir quem ele era,
nada disso teria acontecido! — respondeu Karl,
olhando furioso para a irmã.
A ruiva, exasperada, devolveu-lhe o olhar.
— Como assim? — berrou ela se
levantando. — Agora a culpa é minha, de você não
controlar os membros de seu bando? Eu falei para
Frederic não atacar mais, mas ele não me ouviu!
Você que tinha que ter dado a ordem, Karl! Você!
O Lykan ficou vermelho de raiva, ia
responder, mas foi interrompido pelo pai.
— Karl! Escute aqui! Se quiser ser
respeitado como alfa do bando, precisa agir como
tal! Precisa saber proteger seus companheiros,
assim como saber quando não dar ouvidos à sua
irmã.
Nay abriu a boca indignada, queria
responder àquilo, mas Eloy, seu noivo, que estava
atrás de seu pai apenas escutando, fez-lhe um sinal
negativo com a cabeça e ela resolveu engolir as
palavras. Eloy era o braço direito de Frank, ele era
um dos Lykans mais fortes do bando liderado pelos
Schneider e cuidava de tudo que se relacionasse aos
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assuntos ilegais ou não convencionais da família.


Obedecia ao Frank cegamente, mesmo depois do
patriarca ter aberto mão da posição de alfa.
A família Schneider era antiga, tradicional
entre os Lykans e rica, inclusive a boate onde eles
estavam era de sua propriedade, mas essa riqueza
vinha de outros negócios não tão lícitos, e era Eloy
quem “sujava as mãos” quando era preciso.
Apesar de ser frio e implacável em certos
aspectos, o belo rapaz de cabelos e olhos escuros
como a noite era inteligente, sensato e conhecia
Frank mais do que os próprios filhos. Sendo noivo
de Nay há vários anos, ele era o único a quem a
jovem Lykan realmente escutava. Ele a
compreendia e sempre conseguia acalmá-la quando
ela se revoltava com algo.
E, naquele momento, a garota Lykan
necessitava urgentemente dele, pois estava prestes a
explodir de raiva. Mas aquilo ficaria para depois,
quando estivessem a sós. Olhou para seu irmão
ainda ressentida, queria voar no pescoço dele.
Enquanto era repreendido pelo pai, Karl
abaixara a cabeça envergonhado e resmungara um
pedido de desculpas.
— Nay? — disse Frank, virando-se para a
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filha. — Por que cismou com o rapaz na boate?


Não entendi ainda.
— Ele não era humano, nem Lykan, eu
pensei que devíamos tentar descobrir quem ele era.
Nunca disse que deveríamos afrontá-lo! —
respondeu ela, olhando de esguelha para o irmão.
— Ele era o quê, então? — questionou
Frank. — Depois de tudo isso, não descobriram?
Nay desviou os olhos, constrangida.
— Não... sinto muito — ela disse. — Mas o
cheiro dele tinha alguma familiaridade com o nosso
— acrescentou.
— Como assim familiaridade? — O
patriarca sentou-se em uma grande poltrona em
frente aos dois.
— Tinha algo de similar com o nosso, como
os cães, os lobos e os coiotes têm. É parecido, mas
é diferente... não sei como explicar...
Frank coçou o queixo. Ele já tinha mais de
150 anos de idade; era maduro para um Lykan, que
vivia em média cerca de 200 anos, mas desconhecia
a existência de algum outro ser que pudesse se
assemelhar a eles. Olhou para Eloy, que havia se
aproximado e estava ao lado de Nay.
— O que acha, Eloy? — perguntou o Lykan
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mais velho.
— Se ele é como nós — continuou Eloy,
com uma ruga na testa — Cheira como um lobo ou
algo parecido, assume a forma humana, mas não é
um Lykan... Confesso que não sei...
— Descubra! — disse Frank, se levantando.
— Nay, vá com Eloy até a boate, o sujeito deve ter
pagado a conta com cartão. Vejam se conseguem a
identidade dele, depois veremos o que ele é! Karl,
você vai contatar a família de Frederic e chamá-los
aqui. Ao menos um enterro descente devemos dar
ao pobre rapaz... Ah! E diga para aquele outro, o
loiro aguado, que não é para ele abrir o bico sobre
isso! Entendeu?
Karl concordou cabisbaixo e os três jovens
Lykans saíram da sala. Nay seguiu com Eloy para o
carro.
— Meu irmão não devia ser o alfa, Eloy! —
disse a ruiva, abrindo a porta do veículo e entrando
no banco do passageiro. — É um mimado,
irresponsável!
— E quem você acha que deveria ser,
então? Você, Nay? — perguntou o rapaz com um
sorriso torto.
— E por que não? — questionou ela com
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veemência. — Eu não entendo por que uma mulher


não pode ser líder do bando. Isso não é justo!
Tenho muito mais capacidade e discernimento do
que o meu irmão!
— O alfa é, e sempre será o indivíduo mais
forte do grupo. Você acha que venceria seu irmão
em uma luta? — disse Eloy com um tom
debochado na voz.
Nay o olhou com irritação. Por tradição, a
posição de alfa era conquistada através de uma luta
na forma de lobo. Os Schneider preparavam seus
primogênitos desde cedo para este confronto e o
irmão dela precisou derrotar seis Lykans para
conseguir se tornar o líder, mas ele era só força
bruta; cérebro mesmo, parecia que lhe faltava! Por
isso seu pai ainda o dominava. Embora Frank
tivesse deixado liderança por causa da idade, por
trás ainda era o cabeça da família e Karl o obedecia
como um cachorrinho.
— Por que você não desafiou o meu irmão,
Eloy? Eu tenho certeza que você o venceria, você é
muito melhor do que ele! — perguntou ela.
O Lykan fechou o semblante.
— Você sabe o porquê! Foi um pedido do
seu pai e eu nunca poderia contrariá-lo, sabe o
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quanto devo a ele.


— Sim... eu sei... — respondeu a garota
olhando pela janela. — Ele te salvou e te criou
como filho e blá, blá, blá... Ainda assim, não foi
certo o que meu pai fez. Ele não podia ter te pedido
isso! Você tinha o direito...
— Nay! — Eloy interrompeu-a irritado. —
Já falamos sobre esse assunto! Não vamos discutir
isso de novo, certo?
A ruiva emburrou mais do que já estava e
seguiram em silêncio o resto do caminho. Não se
conformava com a influência de seu pai sobre Eloy
e odiava aquelas tradições ridículas para se escolher
o alfa, onde tudo se resumia à força física. Se
pudesse, formaria seu próprio bando. Quem sabe
um bando só de mulheres Lykans... Sorriu
sarcasticamente. Seu pai provavelmente a
deserdaria...
Chegaram à boate em menos de vinte
minutos. Já estava fechada e somente o gerente e os
seguranças estavam ali ainda. Eloy pediu para ver a
gravação dos vídeos da noite e o relatório de
registro dos cartões.
Logo Nay identificou o enigmático cliente
de cabelos platinados no vídeo. Eloy verificou o
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horário que ele pagou a conta e conferiu o registro.


— Axel Andersen — disse Eloy, enquanto
mandava uma mensagem de texto em seu celular.
— O que está fazendo? — perguntou Nay.
— Solicitando informações — ele
respondeu com um sorriso.
Assim que guardou o celular, o Lykan
pegou a ruiva pela cintura e a colocou o sobre a
mesa, surpreendendo-a.
— Enquanto a gente espera, podemos
acalmar os seus ânimos... O que acha? — sussurrou
ele em seu ouvido.
— Isso seria ótimo! — respondeu ela,
trazendo-o para um beijo urgente ao mesmo tempo
que lhe desafivelava o cinto da calça.

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“Liz abraçou-o com carinho; era a primeira


vez que o via daquela forma, vulnerável, sem
barreiras e sem defesas.”

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No pequeno escritório da boate em Londres,


os Lykans se pegavam de forma selvagem e bruta.
Nay derrubou quase tudo o que havia sobre a mesa,
enquanto Eloy lhe arrancava as roupas e a possuía
ali mesmo.
Ela precisava dele, amava-o desde sempre;
desde que eram crianças, quando seu pai o levou
para casa dizendo que a partir daquele dia o garoto

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viveria com eles. Os dois cresceram juntos e eram


mais grudados do que chiclete, apesar de ele ser um
pouco mais velho.
Eloy tinha quase a idade de Karl, mas seu
irmão, ciumento e invejoso, nunca o aceitara, vivia
tratando-o mal e Nay sempre o defendia, até o dia
que o garoto brigou com ela, dizendo que ele podia
se defender sozinho. A partir daí, Eloy começou a
se impor mais, cresceu, amadureceu e se tornou um
homem respeitável.
Aquele Lykan foi seu primeiro namorado,
seu primeiro homem. Haviam se separado apenas
uma vez, quando ela foi morar e estudar em
Chicago, nos EUA, a mando de Frank. Foram
quatro anos de angústia, ciúme e saudade. Ela
soube que ele andava com outras garotas e ela
própria acabou saindo com outros rapazes.
Contudo, assim que voltou para a Inglaterra, foi
como se o tempo não tivesse passado. Amaram-se
loucamente e Eloy a pediu em casamento. Se tudo
desse certo, se casariam em um ano.
Nay agarrou-se à mesa para não cair. O
Lykan estava empolgado e a penetrava com vigor,
mas ela gostava daquilo, daquele furor e selvageria.
Ele a virou, possuindo por trás, e ela gemeu de
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prazer. Não se importava se haviam pessoas por


perto, se estavam escutando ou não. Ela só queria
senti-lo dentro dela, queria gozar. Agarrou, então, a
mão dele e colocou-a sobre o seu sexo.
Eloy sorriu e começou a massageá-la em
seu ponto sensível, enquanto continuava a
movimentar-se em seu interior. Nay gritou quando
o orgasmo chegou e o rapaz aproveitou para agarrá-
la pelo quadril e penetrá-la com mais força e
velocidade, até que gozou também.
Ele saiu de dentro da Lykan e ela se virou,
olhando para ele com um semblante de felicidade.
Eles riram.
— Está mais calma agora? — perguntou
Eloy com um sorriso maroto.
— Hum... talvez — respondeu ela, dando-
lhe um beijo suave.
— Sei... em casa a gente termina o serviço
— disse o rapaz em seu ouvido. — Agora temos
que ir, logo receberemos notícias sobre quem é o
cara misterioso.
A Lykan sorria enquanto colocava suas
roupas e observava o noivo fechar as calças. Ele era
lindo! Alto, másculo, de cabelos e olhos negros; se
ele fosse o alfa do bando seria mais cobiçado ainda
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pelas garotas do que já era. Em parte, era bom para


Nay que ele não fosse o alfa, mas ela ainda achava
injusto. Eloy era mais disciplinado que Karl, se
exercitava e treinava com afinco e, por isso,
também era mais forte. O que levou o seu pai a
pedir para que ele não entrasse na disputa pela
liderança do bando.
Essa proteção a Karl sempre incomodou
Nay. Apesar de ele ser seu irmão, ela o achava
incapacitado para tal responsabilidade, um
verdadeiro babaca. No entanto, seu pai sempre
botou panos quentes nas merdas que o primogênito
fazia, dizendo que ele só precisava de um pouco de
experiência... Aquilo era ridículo!
Quando os dois Lykans saíram da boate, o
dia já estava amanhecendo. Eles voltaram para a
mansão e aguardaram que o contato de Eloy
enviasse as informações sobre o tal Andersen.
Algumas horas depois, o e-mail do
informante chegou. Ele pedia desculpas pela
demora, pois não havia sido fácil encontrar dados
sobre o rapaz. Aliás, ele não tinha achado muita
coisa.
— Axel Andersen... — Frank começou a
ler, sentado na mesma poltrona de horas atrás. —
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Empresário, herdou de seu pai uma rede de hotéis,


“Royal Wolf”... — Ele riu. — Sugestivo, não?
Vamos ver... com sede na Inglaterra, atualmente
tem 12 hotéis espalhados pela Europa e um no
Canadá. Nascido na Noruega, naturalizado romeno,
27 anos, documentos válidos: carteira de motorista,
identidade e passaporte, todos renovados há 6
anos...
O patriarca levantou os olhos do papel.
— Só isso? Nenhum processo, registro
policial, nada?
Eloy deu de ombros.
— Foi o que o informante conseguiu —
respondeu ele.
— Hum... Então temos um jovem que não
gosta muito de holofotes aqui. Se for mesmo um
ser sobrenatural como nós, isso explica sua
discrição. — Frank tamborilou os dedos no braço
da poltrona, pensativo. — Eloy, envie um convite a
esse rapaz para vir aqui. Quero falar com ele!
— Tem certeza, pai? — perguntou Karl
preocupado.
— Sim. Só quero conversar com ele. Não
pretendo agredi-lo... aqui... por hora — respondeu
Frank com uma ruga na testa.
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Nay não gostou daquilo, se seu pai


pretendesse fazer algo com o rapaz, certamente
mandaria Eloy executar o serviço. Definitivamente
não havia gostado daquilo. Karl remexeu-se no
sofá, satisfeito. Apesar do receio inicial, confiava
nos métodos do pai e, no fundo, queria que o cara
que havia matado seu amigo e ferido seu orgulho
fosse punido, queria-o morto também.
Eloy fez o que Frank havia solicitado. No
entanto, logo veio a resposta, dizendo que o rapaz
já havia deixado o hotel e ido para o aeroporto. Ele
estava saindo de Londres e não tinha data de
retorno.
Frank se aborreceu, mas resolveu não
insistir no assunto, por enquanto. Um dos motivos
que o haviam feito abrir mão da posição de alfa era
que não tinha mais paciência para ficar bancando o
chefão só para mostrar quem é que mandava na
cidade, ele queria sossego. Seja lá quem fosse o
cara, uma hora ele retornaria à capital inglesa e aí,
quem sabe, poderiam esclarecer esse assunto.
Nay ficou aliviada, embora não
demonstrasse, mas Karl não gostou. A ideia de
vingança havia grudado em sua cabeça. Ele tinha se
dado conta de que, sendo o alfa daquela região, na
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verdade havia sido humilhado por Axel e aquilo o


incomodava como um espinho no pé.

Liz e Axel chegaram a Paris na hora do


almoço. Comeram no restaurante do próprio hotel e
em seguida o rapaz a levou para dar uma volta
pelas redondezas. A cidade era muito bela e ela
estava louca para conhecer o Louvre e subir na
Torre Eiffel, o que não animava muito Axel, mas
aquilo ficaria para os próximos dias.
Passearam de barco pelo rio Sena e depois
foram comer bolo em um requintado café
parisiense. Liz estava cansada quando retornaram
ao hotel, por isso Axel pediu a refeição no quarto.
Eles já haviam tomado banho e Liz, usando uma
sexy lingerie preta por baixo do roupão, sentia-se
ansiosa enquanto jantava.
A noite anterior em Londres tinha sido
incrível, mas seu companheiro de quarto havia se
levantado cedo naquela manhã e já estava trocado
quando ela acordou. Depois do café, seguiram para
o aeroporto e ele não tocou mais no assunto, e isso

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a estava deixando insegura sobre como ia ser o


relacionamento deles durante o resto da viagem.
Agora estavam em Paris, uma das cidades
mais românticas do mundo, mas o receio de que a
relação entre eles pudesse ter esfriado não a
deixava. Liz tentou puxar assunto com Axel
enquanto jantavam, sobre o passeio do dia, sobre a
cidade, sobre os parisienses, no intuito deixar o
clima mais leve, mas o rapaz se mantinha calado,
só respondendo o necessário, e aumentando ainda
mais a inquietação da garota.
Assim que terminaram a refeição, Axel se
levantou da mesa e Liz o olhou sem saber o que
fazer. Se ele fosse para o quarto e se trancasse lá
dentro, como era de seu costume, ela ficaria
arrasada, sem dúvida. Ele não havia prometido
nada, nem lhe dado maiores esperanças, mas... ela
ainda o queria... E isso fazia seu coração se apertar
de ansiedade.
Axel foi para o quarto, mas não fechou a
porta. Liz se levantou e o seguiu. Parou na porta do
quarto, indecisa, e escutou ele escovar os dentes no
banheiro; então se deu conta que também precisava
fazer o mesmo. Correu para o seu próprio quarto e
assim que terminou sua higiene, ajeitou os cabelos
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e se olhou no espelho; não se achava nem feia, nem


bonita, era apenas uma garota comum apaixonada
por um cara lindo.
Autoconfiança não era o seu forte, mas
precisa tomar a iniciativa se quisesse ter Axel
novamente. Inspirou fundo e voltou para a sala. A
porta de Axel ainda estava aberta.
Ela se aproximou devagar, com o coração
levemente acelerado. E se ele não a quisesse mais?
Estaria ela dando uma de oferecida indo até lá?
Será que ele iria rejeitá-la? Não teve tempo de se
fazer outras questões. O rapaz apareceu de súbito
na porta do quarto e parou na sua frente. Liz abriu a
boca para falar, mas as palavras não vieram e ela
mordeu o lábio inferior.
Axel estreitou os olhos e estendeu a mão
para ela. Liz olhou para a mão e em seguida para
ele. Aqueles olhos dourados a fitavam intensamente
e ela estremeceu. Sentindo calafrios e cócegas na
barriga, aceitou a mão dele e deixou-se conduzir
para dentro do quarto.
Delicadamente, o Warg abriu o roupão de
Liz e o deixou escorregar para o chão. Então
inclinou a cabeça e passou a distribuir beijos e
pequenas mordidas em seu pescoço. Liz fechou os
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olhos e se arrepiou inteira, seu corpo todo pedia por


ele, mas desta vez ela queria experimentá-lo
também. Desatou o laço do roupão do rapaz e tirou-
o. Axel já estava maravilhosamente nu por baixo e
pronto para ela.
Liz passou a mão pela ereção dele,
enquanto mordia-lhe o lóbulo da orelha e sentia as
mãos de Axel abrindo o fecho de seu sutiã. Em
seguida ele desceu as mãos pela lateral de seu
corpo e tirou-lhe a calcinha, abaixando-se e ficando
na altura de seu sexo. A lambida veio quente e
macia. Liz agarrou os cabelos do rapaz e soltou um
gemido baixo.
— Axel... também quero te chupar... —
disse com voz entrecortada, enquanto ele lhe
sugava levemente seu ponto de prazer.
O Warg levantou a cabeça e olhou-a,
erguendo a sobrancelha. Já fazia tanto tempo que
ele não recebia um sexo oral, que nem se lembrava
mais de como era a sensação. A pressão em seu
membro aumentou um pouco mais e ele se ergueu.
Liz sorriu, Axel a fitava com uma expressão
de desejo e ansiedade. Tomou-o, então, pela mão e
o fez se sentar na cama. De joelhos, entre as pernas
dele, olhou para o membro rijo e a vontade de tê-lo
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dentro de sua boca a fez salivar. Com um sorriso,


não se aguentou mais e passou a língua pela glande,
contornando-a e a abocanhando em seguida.
Axel gemeu e entrelaçou os dedos nos
cabelos dela, enquanto ela descia subia com a boca
pelo seu pau. Que sensação deliciosa... o calor, a
umidade, a pressão que ela fazia com os lábios...
Fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás
quando ela começou a sugar-lhe com vigor. A
sensação em seu sexo de que ia explodir a qualquer
momento aumentava cada vez mais, se continuasse
assim ele gozaria na boca dela.
— Liz... — murmurou. — Pare... quero
gozar dentro de você...
Ela o fitou com um sorriso no olhar, então
se ergueu e subiu em seu colo, abrindo a pernas e
se encaixando nele. Axel a abraçou, enquanto ela se
movimentava sobre seu membro duro. A excitação
crescia, instigando sua natureza, e sua mente
começou a querer nublar novamente, travou, então,
a mandíbula para não feri-la com os dentes.
A garota beijou-lhe o pescoço e em seguida
o olhou com malícia. Então, empurrou-lhe o tronco
fazendo-o se deitar e começou a cavalgá-lo,
pressionando-se e esfregando-se contra ele. Axel
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inspirou fundo e agarrou os lençóis, tentando se


controlar e retardar o seu gozo.
Liz movimentava-se em um vai-e-vem
frenético, buscando estimular seu próprio ponto de
prazer. Assim, logo a sensação de que ia explodir
chegou para ela. Inclinou, então, seu corpo e cabeça
para trás e o clímax veio arrebatador. Gemeu alto,
enquanto o rapaz embaixo de si a olhava com
deleite e um desejo quase irracional. Ela sorriu e
continuou a se movimentar sobre Axel, sabendo
que ele também estava prestes a gozar.
Não demorou muito... Agarrando-se ainda
mais aos lençóis, o Warg chegou ao orgasmo com
um gemido abafado. Liz conseguia sentir em sua
entrada, os espasmos do membro de Axel durante o
gozo, e deliciou-se com aquilo. Assim que ele
relaxou, ela inclinou-se sobre ele, deitando-se em
seu peito, feliz...
Axel a tomou mais uma vez naquela noite, e
na outra, e na seguinte. Nesse tempo, ele aprendeu
a controlar melhor seus instintos e a adestrar seu
corpo e mente para não agir de modo tão rude ou
selvagem. Não precisou mais morder o travesseiro,
mas chegou a rasgar alguns lençóis, surpreendendo
a garota, que não tinha a menor noção do quanto
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ele precisava se esforçar para não feri-la.


Entretanto, no quarto dia em Paris, ele
percebeu que Liz estava entrando em seu período
fértil, logo, não poderiam transar nos próximos
dias. Axel conhecia o odor característico dos
hormônios sexuais e sabia que era um período
perigoso. Ele não arriscaria, não era seguro para
uma humana engravidar de um Warg e gerar um
filho híbrido. Felizmente, ela estava tão exausta dos
passeios, que não reclamou quando ele disse que
lhe daria uma folga naquela noite.
Liz sentia-se encantada com tudo que estava
acontecendo; com a viagem, com os lugares lindos
que conhecia e com seu belo acompanhante de
cabelos platinados. Durante o dia, Axel era o
mesmo de sempre, sério, calado e, por vezes, mal-
humorado, mas à noite ele relaxava em seus braços,
e isso a deixava maravilhada. Embora ele tenha
mostrado um pouco de tensão no início, agora ele
parecia mais seguro e vê-lo gozar era delicioso; o
rapaz parecia se entregar totalmente ao momento,
fechando os olhos e gemendo alto, em seguida a
abraçava, e ela se sentia a pessoa mais feliz do
mundo.
Ela amava estar com ele e não se importaria
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se ele a possuísse todas as noites, mas aqueles dias


estavam sendo puxados. E de certa forma, sentiu-se
aliviada quando Axel lhe disse que seria melhor
eles descansarem naquela noite. Durante o dia
tinham visitado o Louvre, mas o museu era muito
grande e ficaram horas em pé. Contudo, o lugar era
fantástico, não havia outro igual e ela queria ver
tudo. Resultado: estava morta!
Liz fez menção de ir para o seu quarto após
o jantar, mas Axel não permitiu. Ele a queria por
perto e a trouxe para dormir em sua cama, a beijou,
a abraçou e precisou se controlar para não possuí-la
novamente. Aquela humana estava se tornando um
vício para ele...

Em Londres, o Lykan alfa não se


conformava com a decisão do pai de deixar o
assunto do cara misterioso para lá. Ele havia
perdido um de seus melhores amigos, um
companheiro fiel que o acompanhava desde
criança. Não! Definitivamente não deixaria as
coisas como estavam.

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Pegou os dados que o informante de Eloy


havia conseguido e resolveu contratar um
investigador particular. Contatou algumas pessoas e
acabou chamando um detetive bastante conhecido
na sua área, por ser discreto e eficiente. Ele era um
humano comum e isso vinha a calhar, pois se o cara
misterioso fosse mesmo um ser sobrenatural como
eles, certamente sentiria o cheiro de Lykan, caso
usasse um dos agentes de seu pai, e desconfiaria.
Precisava de alguém que não despertasse suspeitas.
— Quero saber tudo sobre ele!
Principalmente sobre sua vida pessoal, não me
interessam seus negócios — disse Karl ao
investigador. — Quero saber onde vive, quem são
seus amigos, parentes, do que gosta e do que não
gosta. Quero saber se tem namorada, mulher,
filhos. Qualquer coisa que eu possa usar contra ele!
Entendido?
— Sim, senhor. Não se preocupe —
respondeu o homem de aproximadamente
cinquenta anos, magro como um cadáver e
semblante taciturno. — Sei fazer o meu trabalho.
Terá todas as informações, até do que ele gosta de
comer no café da manhã. E se ele tiver alguém
importante, o senhor também saberá.
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— Precisa ser discreto. Ele é esperto —


alertou o Lykan.
— Posso te garantir que ele não vai notar
minha presença — disse o investigador.
Karl sorriu. Sim! Ele teria sua vingança...

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“Axel a tomou mais uma vez naquela noite, e


na outra, e na seguinte.”

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Nay se encontrava debruçada sobre livros


antigos quando Eloy entrou na biblioteca particular
dos Schneider.
— O que faz aí? — perguntou o Lykan.
— Pesquisa... — respondeu ela com voz
cansada. — Estou vendo o que encontro nestes
livros velhos sobre nossos ancestrais ou outros
seres que possam se assemelhar a nós.

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— Ainda está cismada com aquele cara da


boate? Até seu pai já esqueceu esse assunto. Por
que você insiste tanto nele? — disse Eloy
demonstrando certa impaciência.
— Hum... Não está com ciúmes, não é? —
Ela riu. — Insisto porque sou curiosa e não tenho
nada para fazer — respondeu mais séria. — Além
disso, não gosto de ficar no escuro. Quando cismo
com algo, eu tento saber tudo sobre aquilo.
— E já descobriu alguma coisa, senhorita?
— Eloy sorriu e arrastou uma cadeira para perto.
— Sim... Veja isto! — Nay puxou um
enorme livro amarelado de capa dura, que já estava
aberto em uma página. — Olhe! Aqui diz que no
extremo norte da Europa, onde hoje é a Noruega,
existiam tribos de seres parecidos conosco, os
Wargs, ou Vargs, como os camponeses os
chamavam. Segundo a mitologia nórdica, tratavam-
se de lobos demoníacos, mas na verdade, eram
conhecidos pelos habitantes locais como homens-
lobo. Entre 1750 e 1800, houve uma grande
perseguição movida pela igreja, onde
aparentemente eles foram aniquilados...
— E você acha que esse rapaz pode ser um
deles? — questionou Eloy. — Não faz sentido, ele
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estaria com mais de duzentos anos hoje. Nós


vivemos em torno disso. Na melhor das hipóteses,
ele seria um velho se tivesse essa idade.
— Aí é que está. — Nay pegou outro livro,
que parecia ser mais antigo ainda. — Aqui também
fala um pouco sobre os Wargs... Parece que são
seres que vivem muito mais do que a gente, até 400
anos; permanecem jovens por muito tempo e só
começam a dar sinais de envelhecimento a partir
dos 350. São fortes, mas não se organizam em
bandos como nós. Os machos escolhem sua
parceira e com ela têm seus filhos, um ou dois, no
máximo, mas não criam laços familiares. É normal,
tanto eles quanto as fêmeas, trocarem de parceiros,
e a mãe costuma deixar os filhos por conta própria
antes mesmo de atingirem a idade adulta.
— Não é à toa que foram massacrados... —
disse o Lykan. — Num mundo onde os humanos
dominam e não toleram ninguém que seja diferente,
os grupos que não se unem ou não se escondem
estão ferrados! Mas voltando à questão, se ele é
mesmo um Warg, isto significa que ainda seria
jovem? Mesmo tendo 200 anos? Faz sentido...
— Faz sentido e não faz... — Nay pegou
outro livro. — Nesse aqui, mais recente, diz que
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nenhum outro Warg foi visto desde 1800. Portanto,


deveriam estar extintos...
— Uau! Você se empenhou nessa pesquisa
— disse Eloy rindo. — Ainda bem que seu pai tem
essa biblioteca. De qualquer forma, sendo ele um
Warg ou não, agora que você já satisfez a sua
curiosidade, seria bom que você e também o seu
irmão esquecessem esse rapaz.
— Meu irmão? O que ele anda aprontando?
— Há alguns dias ele recebeu a visita de um
investigador particular. Karl não me disse nada,
mas sabe como ele é descuidado... Não foi difícil
saber quem era o homem que veio aqui. Creio que
ele está tentando descobrir algo sobre o tal Axel.
— E o que ele quer com isso?
— Não faço ideia — disse o rapaz se
levantando. — Espero que não seja nada idiota...
— Meu irmão é um idiota, Eloy! Você
precisa ficar de olho nele.
— Não sou babá de seu irmão, Nay!
Ela suspirou e se levantou também,
abraçando o noivo.
— Sim... eu sei... Merda! Tomara que ele
não esteja procurando encrenca...
Eloy deu de ombros, não tinha nada a ver
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com aquilo. Então sorriu e beijou a bela ruiva.


Naquele momento estava mais interessado em outra
coisa...

A muitos quilômetros dali, Liz descansava


na enorme hidromassagem da suíte master do hotel
de Axel em Roma. Era o maior e o mais fabuloso
quarto que ela já estivera desde que começaram a
viagem há três semanas.
Depois que deixaram Paris, seguiram
viagem de carro pela França e pela Itália, pararam
alguns dias em Veneza e agora haviam acabado de
chegar à capital italiana.
Em todos aqueles dias, ela havia ficado
deslumbrada com as lindas cidades por onde
passavam e com seus monumentos históricos. Além
disso, sentia-se feliz e sortuda por ter um belo,
inteligente e mais do que gostoso companheiro de
viagem, apesar de sua irritante instabilidade.
Axel passou quatro dias evitando-a na
cama, o que a deixou preocupada e insegura. Ele
não foi claro quanto a isso, apenas disse que

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necessitava de um tempo, fazendo-a se sentir um


pouco angustiada. Mas quando chegaram à cidade
dos canais, Axel voltou a procurá-la e eles tiveram
a mais lascivas e quentes noites que se poderia
imaginar. Veneza havia sido incrível.
Liz sorriu de olhos fechados, enquanto se
lembrava dos momentos íntimos que tiveram
juntos, mas os abriu assim que notou uma
movimentação na água. Axel estava entrando na
hidro e se sentando no lado oposto. Aquilo era
novidade, ele nunca tomava banho com ela. Olhou-
o com curiosidade.
— O que faz aqui, meu belo salvador? —
disse sorrindo.
— Eu preciso me lavar e você está no meu
banheiro — respondeu ele sem se perturbar.
— Ah! Sei... Então está dizendo que eu
estou invadindo o seu território? — indagou ela
estreitando os olhos.
— De certa forma...
Liz ergueu uma das sobrancelhas, ele estava
falando sério?
— Posso sair se quiser... — disse ela com
decepção na voz. — Não quero atrapalhar seu ritual
de higiene.
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— Está me vendo reclamar? — perguntou


Axel, sério.
— Não! Mas é que, às vezes, você é um
enigma, nunca sei o que pensa e o que quer...
O Warg saiu de sua posição e se acomodou
ao lado dela.
— Quero você... — disse ele com os olhos
grudados nos dela, passando suavemente os dedos
em seu rosto.
Liz sorriu e saiu de seu lado, sentando-se
sobre ele e beijando-o. Ainda sentia aquele
delicioso friozinho na barriga toda vez que o
tocava, era como se uma energia interna tomasse
conta de seu corpo, subindo de seu baixo ventre até
a boca do estômago, como se existissem milhares
de seres esvoaçantes dentro dela querendo sair por
sua boca. Sentiu a ereção do rapaz crescer embaixo
de si e movimentou seu quadril, encaixando-se
nele; soltou, então, um gemido baixo, enquanto
descia sobre o membro enrijecido.
Axel a puxou mais para si e mordiscou seu
pescoço. Embora gostasse de impor seu ritmo,
deixou que ela mantivesse o controle naquela hora,
além disso, adorava aquela posição. Liz
movimentava-se sobre ele voluptuosamente,
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pressionando-se e contorcendo-se, ao mesmo


tempo em que ele tomava seu mamilo na boca e
sugava-o. Quando ela chegou ao clímax, gritou de
prazer, instigando a natureza selvagem do Warg e
deixando-o mais excitado. Aquilo era delicioso,
mas perigoso. Ele precisava se satisfazer também, e
logo...
Fitou-a com desejo e a segurou pelo quadril,
levantando-a e tirando-a de cima de si. Liz, ainda
amolecida pelo orgasmo recente, olhou-o curiosa,
enquanto ele a virava e se colocava de joelhos às
suas costas, trazendo-a para si novamente e
penetrando-a por trás. Ela gemeu alto, assim como
Axel, ao sentir todo o seu membro dentro da
cavidade quente e apertada da garota. Com as duas
mãos em seu quadril, ele iniciou as investidas, cada
vez mais fortes e profundas.
Liz abaixou seu tronco e precisou se segurar
na borda da banheira para não cair. Seu prazer em
recebê-lo dentro dela era tão grande que ela não se
importava em gritar alto, nem Axel. Ele também
gemia e quando estava prestes a explodir, a puxou,
penetrando-a até o fundo. Seu sêmen a invadiu em
fortes espasmos e ele urrou de prazer.
Ambos deixaram seus corpos quentes e
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suados submergirem na água já quase fria da


banheira e se abraçaram. Axel olhava para Liz
como se estivesse analisando cada traço de seu
rosto.
— O que foi? — perguntou ela com um
sorriso.
— Nada... só observando como você é
linda... — disse ele afastando uma mecha de cabelo
que caia sobre o rosto da garota.
Ela riu abertamente.
— O que foi? — desta vez foi ele quem
perguntou.
— Você imaginaria, há alguns anos, que
poderíamos estar assim hoje?
— Quando? Na época em que nos
conhecemos? — Axel levantou uma das
sobrancelhas
Ela assentiu.
— Claro que não! Você era só uma criança!
Uma criança chata, ainda por cima — disse sério.
Liz riu mais ainda.
— Eu não era criança, era adolescente. E
adolescentes são difíceis, às vezes... Ainda mais
quando se perde os pais, a memória e estão à mercê
de desconhecidos... — Ela sorriu. — Você me
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odiava tanto assim? — perguntou com uma ruga no


meio da testa.
Axel suspirou.
— Não... eu não te odiava... Só não estava
habituado... — Ele franziu o cenho.
— Por que essa cara, Sr. Mal-humorado? —
quis saber Liz ao perceber a mudança de Axel.
— Pensando por esse lado, me sinto um
pervertido...
Liz arqueou as duas sobrancelhas e deitou-
se sobre o peito dele, encarando-o seriamente.
— Pervertido? Por quê? — perguntou.
— Sou bem mais velho que você, Liz... —
Ele suspirou.
— Não acho, você tem 27 e eu 21. São só 6
anos, não é tanto tempo assim...
Ele desviou o olhar. Se ela soubesse... Ele
tinha idade para ser o bisavô do bisavô dela, caso
fosse humano.
— Axel?! — chamou ela, segurando seu
queixo e fazendo ele olhá-la novamente. — Não
sou mais aquela menina! Sou uma mulher agora.
Sei o que eu quero e você não é nenhum pervertido,
muito pelo contrário. Foi bastante trabalhoso
conseguir te seduzir. — Ela riu. — Além disso, não
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sou nenhuma donzela inocente. Você não foi meu


primeiro...
A expressão de Axel foi da dúvida à
carranca.
— Eu sei disso... — disse de mau humor.
Liz sorriu.
— Não seja ciumento, bobo! Você também
não me pareceu um cara inexperiente... — Deu-lhe
um beijo suave nos lábios e então perguntou com a
voz zombeteira: — Não quer me contar? Sobre
suas mulheres? Satisfaça minha curiosidade, já que
desde que te conheço parece que não teve
nenhuma...
— Não... — disse ele, ainda como o
semblante fechado.
— Por favor... — Ela fez um beicinho.
— Não!
— Por que não? — insistiu Liz.
— Porque faz muito tempo e isso não me
interessa mais! Assim como não me interessa com
quem você saiu antes de mim — respondeu ele com
firmeza, a fim de encerrar o assunto.
— Okay, okay... — resmungou ela
conformada, então suspirou e olhou-o nos olhos. —
Vou sentir sua falta quando eu voltar para o
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Brasil... — Seu coração se apertou ao dizer aquilo.


Axel a fitou por alguns instantes.
— Você não vai voltar — ele disse.
— Como assim? — perguntou Liz
espantada, erguendo-se um pouco.
— Não quero que vá embora...
A garota ficou sem fala por alguns
instantes, seu coração agora batia como um louco.
— Não posso ficar, Axel... meu visto é de
estudante... — murmurou.
— Isso é o de menos, podemos dar um jeito
— afirmou ele.
Liz estava boquiaberta, havia sido pega de
surpresa. Claro que ela queria ficar, mas havia
outras coisas a se ponderar. O que ela iria fazer,
onde moraria, que trabalho iria arrumar? Nunca que
ela aceitaria depender dele.
Axel percebeu a dúvida nos olhos dela e
também ficou inseguro ao se dar conta do que
estava propondo. O que ele estava dizendo, afinal?
Devia estar louco... Como ele podia ter sugerido
algo assim? Ele a queria, ele a desejava e não
suportava a ideia de ficar longe dela, mas... e
depois? O que ele faria quando ela começasse a
envelhecer e ele não? Contaria para ela quem de
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fato ele era? Ela o aceitaria? E se ela ficasse com


raiva dele? E se ela o abandonasse...
Uma angústia começou a tomar conta de
seu interior e ele provavelmente externou isso em
seu semblante, pois Liz tomou-lhe o rosto
novamente entre as mãos e o olhou com carinho.
— Eu amo você, Axel... Descobri isso
quando voltei para Berlim, quando achei que nunca
mais nos veríamos. E esse sentimento só se
confirmou nesses últimos dias com você... — disse
ela. — Mas não podemos tomar essa decisão
assim... Eu preciso pensar...
Ele concordou e a abraçou, um pouco
assustado com a declaração da moça. Ele também
precisava pensar...
— A água está gelada! — disse Liz, rindo
de novo.
Resolveram sair da hidro e tomar uma
ducha quente antes de irem para a cama.
— Liz... — disse Axel, já deitado. —
Amanhã tenho uma reunião com a equipe do hotel
logo cedo... Vou pedir ao motorista que te leve a
alguns lugares e nos vemos na hora do almoço...
Tudo bem?
— Tudo, sem problemas! — respondeu ela.
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Não queria atrapalhar os negócios do rapaz, ele já


havia tirado vários dias só para estar com ela e era
justo que ele se ausentasse por algumas horas de
seu lado.
Axel sorriu e a beijou, cobrindo-a em
seguida com seu corpo, ele a queria novamente...

No dia seguinte, o motorista levou Liz até


Fontana di Trevi, uma das mais belas e famosas
fontes da Itália. Deixou-a no local e deu seu
telefone, pedindo para ela ligar assim que quisesse
retornar. Ela concordou e agradeceu, aliviada de
não ter que andar com o motorista em sua cola.
Apesar de sentir falta de Axel, também gostava da
liberdade de poder caminhar e decidir aonde ir por
conta própria.
Após visitar a fonte, resolveu andar até o
Panteão, que não ficava tão longe. Estava com um
mapa, mas não era boa com aquilo e acabou se
enrolando com ele. Olhou para os lados, pensando
em pedir informações, mas não sabia falar italiano.
Sentia-se um pouco frustrada quando um homem

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não muito velho e magro como um palito, se


aproximou.
— Olá! — disse ele em inglês. — Posso te
ajudar? Notei que parece perdida.
— Ah! Muito obrigada! — respondeu Liz
com um sorriso. — Estou um pouco, sim. Quero ir
até o Panteão, mas acho que peguei a rua errada.
— Se me permitir, posso te acompanhar...
Não estamos longe e eu estava indo para lá também
— sugeriu o senhor.
Liz não gostou muito da ideia, o semblante
cadavérico do homem a assustava, mas ficou
constrangida em dizer não. Olhou em volta e as
ruas estavam cheias de gente. Deu-lhe um meio
sorriso. Pelo menos, com tantas pessoas por perto,
ele não poderia tentar nada de estranho com ela,
refletiu.

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“Em todos aqueles dias, ela havia ficado


deslumbrada com as lindas cidades por onde
passavam e com seus monumentos históricos.”

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No centro de Roma, Liz, ainda um pouco


ressabiada com a aproximação repentina do homem
esquisito, acabou aceitando que ele a acompanhasse
até o Panteão.
— De onde você é? Noto, pelo seu sotaque,
que não é daqui — perguntou o senhor, enquanto
andavam.
— Sou do Brasil — respondeu ela com um

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sorriso forçado.
— Ah, sim... Então está a passeio?
— É... Sim... no momento estou de férias.
— E veio sozinha?
— Não... Vim com meu... amigo — hesitou
ela, sem saber se dizia “amigo” ou “namorado”. De
qualquer forma, achou importante frisar que não
estava sozinha. — Ele teve um compromisso, por
isso não está aqui agora.
— Entendo... — continuou o homem. — E
ele é brasileiro também?
— Não, ele é daqui da Europa.
— Da Itália?
— Não, não... Da Noruega, mas..., na
verdade, é cidadão romeno agora.
— Hum... interessante! E então...? Você
está gostando de Roma? Quando volta para o
Brasil?
— Estou gostando sim. Volto em outubro,
talvez. Não sei... preciso terminar meu intercâmbio
primeiro...
— Ah, você faz intercâmbio! Isso é bom.
Onde? Na Romênia?
Liz já estava se sentindo mal com as
perguntas do estranho, mas não sabia como evitá-
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las.
— Não... em Berlim, na Humboldt-
Universität...
— Certo... Veja! — Ele apontou o dedo à
frente. — Ali está o Panteão. Boa sorte em seus
estudos, srta...
— Liz... Lizandra...
— Lizandra... Belo nome! Me chamo Steve,
muito prazer — disse o senhor estendendo-lhe a
mão esquelética e gelada.
Liz cumprimentou-o e ele sorriu
estranhamente, em seguida o homem se virou e
logo sumiu em uma esquina. Ela achou aquele
senhor meio bizarro, mas pelo menos a tinha
guiado corretamente. Inspirou fundo, relaxando os
ombros. Estava tensa e nem havia percebido.
Preferia que Axel estivesse ali... Enfim... pelo
menos agora poderia continuar seu passeio
sossegada.
Durante o resto da manhã, Liz caminhou
por vários lugares. Além do Panteão, foi até o
Fórum de Trajano e visitou outras lindas praças. Na
hora do almoço, voltou para o hotel e encontrou
Axel já a esperando. Entusiasmada, contou sobre
seu passeio da manhã e sobre o desconhecido que a
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havia ajudado.
O Warg não gostou nada. Achou estranho o
homem querer acompanhá-la, em vez de apenas
indicar o caminho, e fazer-lhe tantas perguntas.
Uma garota jovem e bonita como Liz, certamente
chamava a atenção andando sozinha em lugares
turísticos. Felizmente nada aconteceu. Decidiu que
não a deixaria mais sair desacompanhada; se não
pudesse estar com ela, contrataria um guia, de
preferência mulher.
— É sério? Uma mulher? Não esperava que
você fosse ciumento assim — disse Liz rindo,
enquanto iam a pé para um restaurante próximo do
hotel.
Axel nada disse, apenas fechou a cara.
— E quando as férias acabarem? —
continuou ela zombeteira. — Espero que não queira
me impedir de falar com meus amigos do
intercâmbio.
Ele a olhou sério.
— Tem amigos lá? — perguntou. —
Homens?
Liz sorriu.
— Tenho mais amigas, mas converso com
um ou outro rapaz, sim! — respondeu, observando
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as sobrancelhas de Axel se juntarem ainda mais.


Entraram no restaurante e após fazerem os
pedidos, ela retomou a conversa:
— Você vai ficar em Berlim depois que
voltarmos?
— Não poderei ficar o tempo todo... —
respondeu ele. — Tenho assuntos para resolver no
Canadá e vou precisar participar de algumas
reuniões de negócios... Gerald quis me matar
quando eu disse que ia tirar esse mês para te
acompanhar. Ellen precisou reagendar todos os
meus compromissos... — disse com um meio
sorriso, lembrando-se da cara de contrariedade da
assistente de seu administrador diante de sua
decisão.
— Ellen? A loira que esteve no hotel? —
perguntou Liz incomodada, percebendo que a
menção da mulher lhe provocava um sentimento
desagradável.
— Sim.
— Hum... sei... — Liz remexeu-se na
cadeira. — Você já saiu com ela, Axel? —
perguntou de súbito.
O rapaz a olhou surpreso, então sorriu
maliciosamente.
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— Quem está com ciúmes agora? — disse


com um olhar divertido. — Não. Nunca sai com ela
— respondeu. — Não precisa se preocupar com
isso, Liz...
— Você também não precisa se preocupar
com meus amigos, Sr. Ranzinza — retrucou ela
arqueando uma das sobrancelhas.
Após o almoço, visitaram o Coliseu e nos
dias seguintes continuaram o passeio pela cidade.
Foram até o Vaticano conhecer a Basílica de São
Pedro e a Capela Sistina, depois ao Fórum Romano
e vários outros lugares históricos, como museus e o
Castelo Sant’Angelo.
Liz andava tão entretida com os passeios,
que havia até se esquecido do bizarro ataque em
Londres. Apenas se lembrou dele novamente
quando viu, em um dos museus, a escultura de
bronze da loba alimentando Rômulo e Remo.
Aquilo lhe deu um frio na barriga.
— Axel? — perguntou ela enquanto olhava
a obra de arte. — Por que aquele lobo nos atacou?
O Warg a olhou pelo canto do olho. Já
estava achando que ela tinha se esquecido do
assunto...
— Não sei — disse. “Porque ele era um
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idiota!”, pensou consigo mesmo, mas não ia dizer


aquilo à garota.
— Você já tinha visto um antes?
— Já — Axel hesitou para responder, mas
não sabia mentir muito bem.
— Onde?! — Liz arregalou os olhos,
curiosíssima.
Ele suspirou.
— Por aí... não lembro onde, exatamente...
— E você matou ele também?
— Sim... Liz, por favor, esquece esse
assunto — pediu ele, impaciente.
— Não! Quero saber — insistiu ela. —
Nunca ouvi falar da existência de um monstro
como aquele e agora você vem me dizer que já viu
e matou outros? Não entendo por que...
— Não tem o que entender... —
interrompeu-a. — Vai ver que eu sou um imã para
encrencas... — alegou ele, já irritado.
Liz o olhou intrigada e não muito
convencida.
— Onde aprendeu a usar a espada mágica?
Axel fitou-a por alguns segundo e passou os
dedos no cabelo, resignado. Percebeu que não ia
conseguir fugir das perguntas da garota.
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— Morei no Japão durante um tempo. Foi


onde consegui a espada e onde aprendi a usá-la. —
E, modéstia à parte, ele reconhecia que a manejava
muito bem. Na verdade, considerava-se mais
mortal com aquela espada do que com os dentes em
sua forma de lobo.
— E como você a conseguiu?
— Com um velho monge — respondeu ele,
lembrando-se que o mago que forjara a espada era
um monge, afinal.
— Mas por que ele te deu? — insistiu Liz
com as perguntas.
— Porque comigo ela estaria segura...
Havia muita gente atrás dessa espada... — Ele não
estava mentindo, aquela era uma das últimas armas
mágicas que haviam sido forjadas e precisou
enfrentar vários assassinos e mercenários para
mantê-la com ele.
— Hum... — A garota ficou pensativa por
um curto espaço de tempo. — E o que pretende
fazer com ela? Não vai devolvê-la?
— Não... O monge disse que era para eu
guardá-la até o fim dos meus dias, só então eu
poderia passá-la para as mãos de outra pessoa —
respondeu Axel, retomando a caminhada pelo
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museu e deixando claro que estava encerrando o


assunto.
Liz fechou o semblante, já estava
acostumada com o mau humor de seu belo
acompanhante, mas sentia que ele escondia lago
dela. Aquele negócio de magia já era bastante
surreal e ela tinha comprovado com os próprios
olhos que aquilo realmente existia, mas não
conseguia ficar satisfeita com as respostas de Axel
a respeito do pavoroso lobo que os atacou, era
como se ele escondesse algo.
Fitou-o enquanto ele continuava a andar
pelo corredor do museu. Será que aquele lobo era
algum tipo de ser sobrenatural? Afinal, se existiam
espadas mágicas, por que não poderiam existir
lobisomens? Será que Axel era algum tipo de
caçador? Ela sorriu, um friozinho de excitação
passou pelo seu estômago. Ele podia não querer
dizer nada agora, mas ainda arrancaria algo dele.
Ah, com certeza arrancaria!

A viagem de férias continuou por mais dez

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maravilhosos dias. Da Itália seguiram para a


Grécia, Turquia e de lá voltaram para Berlim.
Foram dias incríveis, mas para frustração de Liz,
Axel não lhe deu nenhuma abertura para lhe
perguntar sobre o mistério dos lobos monstruosos,
sempre que ela tentava tocar no assunto, ele fugia,
se irritava e não respondia.
Ao chegarem em Berlim, no final de julho,
Axel não quis levá-la para casa. Ele insistiu para
que ela ficasse no Royal Wolf com ele por mais uns
dias, até sua partida para o Canadá a negócios, e
Liz concordou. Mesmo com aquele jeito fechado e
quieto dele, ela se sentia feliz ao seu lado e gostava
de ficar em sua companhia. Pela primeira vez desde
que sofrera o acidente e perdera os pais, ela se
sentia amada por alguém. Ainda que ele não
expressasse isso em palavras, no fundo ela sabia.
Infelizmente o dia da viagem de Axel
chegou e eles precisaram se despedir. Ele insistira
para que ela continuasse hospedada no hotel, já que
em poucos dias estaria de volta, mas a garota havia
teimado em voltar para o seu próprio apartamento.
Ela dizia que em casa ficaria mais à vontade, que
seus livros e material de estudo estavam lá, que
gostava de escutar música alta, receber as amigas e
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que no hotel se sentiria deslocada sem ele ali.


Por fim, ele desistiu de argumentar e a
deixou em casa, prometendo ligar quando chegasse
ao Canadá. Ao entrar no apartamento, Liz estava
feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ter tido a
oportunidade de fazer tão bela viagem e triste
porque estava tão acostumada com a companhia de
Axel, que sem ele por perto parecia que lhe faltava
algo, felizmente seria só por alguns dias.
Ela o amava, sem sombra de dúvida. Era
incrível como aquele sentimento havia
desabrochado assim, tão rápido e tão intenso, e era
também incrível a forma como ele correspondia e
se entregava a ela sem reservas. Agora precisava
pensar na proposta que ele lhe fizera.
Axel queria que ela permanecesse na
Europa... Não era má ideia se mudar para lá. Nada
a prendia ao Brasil. Em seu país, não tinha muita
afinidade com ninguém, nem mesmo com sua tia.
Mas em que lugar moraria? Em Berlim, Londres,
Romênia? Ficaria acompanhando-o nas viagens?
Não, isso não, com certeza! Ela queria trabalhar,
ganhar seu próprio dinheiro...
E ainda tinha a questão do visto. Não tinha
ideia de como proceder. Axel disse que dava um
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jeito, mas como? Casando? Um frio percorreu sua


espinha ao pensar nesta possibilidade. Será que ele
se casaria com ela? Mordeu o lábio inferior e
sentou-se no sofá, agarrando a almofada. Queria
gritar de felicidade, porém precisava ter calma,
precisava entender melhor o que Axel estava
planejando.
Na semana seguinte, Liz retomou suas aulas
no intercâmbio. Depois de mais de um mês longe
das amigas, elas ficaram loucas querendo saber das
novidades e vibraram quando ela contou tudo o que
havia acontecido durante sua viagem. Axel ainda
permanecia no Canadá, mas ligava todos os dias.
Ela estava ansiosa. Nunca imaginaria que ficar
longe dele lhe deixaria tão tensa.
Após dez dias longe de Berlim, Axel
finalmente colocou os pés em solo alemão e ligou
para Liz ainda do aeroporto. Ela atendeu animada,
estava na universidade, mas suas aulas do dia já
estavam acabando e ele ficou de ir até lá para
buscá-la.
Para o Warg, havia sido igualmente penoso
ficar longe dela, era como se lhe faltasse algo
importante. Ele ainda não compreendia muito bem
essa necessidade, pois nunca havia se sentido
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assim, nunca criara laços emocionais com ninguém.


Aquilo era estranho e diferente. Era bom, mas
também lhe trazia uma insegurança que jamais
tivera antes.
— Axel... Se eu ficar, onde vou morar? —
perguntou Liz, já no hotel, estirada sobre a cama,
enquanto ele saia do banheiro apenas enrolado em
uma toalha.
— Onde prefere? — indagou.
— Londres, acho... O inglês é mais fácil
para mim.
— Ótimo! É onde fica a sede administrativa
dos hotéis. Isso facilita as coisas..., mas... em
dezembro vai ter que vir comigo para a Romênia —
disse o Warg, aproximando-se da cama com o
semblante sério.
— E como vou fazer isso? — Ela riu. —
Quero trabalhar, Axel. Não vou poder largar o
emprego assim!
— Pode trabalhar no hotel ou no escritório.
Isso não será problema.
— Trabalhar para você? — Liz franziu as
sobrancelhas. — Hum... não sei se daria certo...
— Não trabalharia direto comigo, Liz... —
respondeu Axel deitando-se na cama e puxando-a
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para si. — Vai trabalhar sob as ordens do gerente


do hotel ou com Gerald, se preferir o escritório.
Liz encostou o queixo no peito do rapaz,
pensativa.
— Entendi... Aí iria ter que trabalhar com a
tal da Ellen... — falou em um tom murcho. — E
como fica o meu visto? — Seu coração acelerou
diante da possível resposta de Axel.
Ele a olhou e sorriu.
— Isso é fácil de resolver — disse. — Não
se preocupe.
Em parte, Liz ficou aliviada com a resposta
dele. Não estava preparada para ouvir uma proposta
de casamento, não queria apressar as coisas. O
melhor era guardar a ansiedade e aproveitar o
momento. Tudo se encaixaria com o tempo. Ela
sorriu também e se ergueu, dando-lhe um beijo.
Naquela hora, a única coisa que desejava era estar
com ele.
Axel retribuiu o beijo e a abraçou. Em
seguida, virou-a na cama, deixando-a por baixo.
Continuou a beijá-la, enquanto puxava sua
camisola e a tirava por cima da cabeça. Ele a queria
tanto, não conseguia mais imaginar sua vida sem
ela. Aquela simples humana havia entrado em seu
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coração como um tsunami, invadindo e tomando


todos os espaços, destruindo suas barreiras,
fazendo-o engolir seu orgulho e seu preconceito.
Ela o tinha mudado. E ele sentia-se diferente,
sentia-se útil, como se sua vida agora tivesse um
significado.
Ele havia pensado muito naqueles dias em
que estivera longe dela. O receio de não saber
como conduzir aquela relação por um período
longo o consumia. O que faria se continuassem
juntos dali a dez, quinze anos...? Como explicaria a
ela que ele não envelhecia no mesmo ritmo de um
humano? Como ele lhe diria que não era humano?
Que era um monstro, como aquele Lykan que os
havia atacado...
Todas essas dúvidas lhe assaltavam a mente
e o coração, deixando-o confuso. Mas Axel não
conseguia encontrar uma solução para aquela
questão. Não naquele momento. Ele não sabia se o
que sentia era amor, atração ou o quê, mas não
cogitava afastá-la de si. Não... isso não... Isso ele
não permitiria.
A saudade despertada pelos dias que
estiveram separados intensificou ainda mais o
desejo avassalador que os dois sentiam um pelo
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outro e, entre beijos, carícias e breves cochilos, eles


transaram várias vezes madrugada adentro. Axel
estava incansável e fez Liz gozar das mais
deliciosas formas. Já era quase de manhã quando
eles se uniram pela última vez.
Liz sentiu o membro do rapaz pulsar no
momento da ejaculação e sorriu; era uma delícia
vê-lo gozar, amava lhe dar prazer. Axel relaxou
logo em seguida, saindo de dentro dela e se
acomodando ao seu lado. Permaneceram abraçados
por um tempo até pegarem, finalmente, no sono.
Liz estava exausta, mas feliz, plenamente feliz...

O dia amanhecia em Londres quando Karl


recebeu um e-mail do investigador particular
detalhando suas descobertas. O alfa sorriu
maliciosamente e, em seguida, ligou para Luke, o
Lykan loiro que estava com ele na boate naquela
noite.
— Oi, Luke! Prepare suas malas — disse
ele. — Vamos para Berlim...
Em menos de 48 horas, os dois Lykans

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chegaram ao aeroporto alemão. Karl havia


combinado com o detetive de encontrá-lo no hotel à
noite. Optou por reservar um hotel médio, que não
chamasse muito a atenção em sua fatura do cartão
de crédito, ou seu pai desconfiaria, e ele não queria
que mais ninguém soubesse de sua ida a Berlim,
além de Luke.
Aproveitou que o patriarca estava viajando
a negócios e disse para Eloy que ficaria fora por
alguns dias, mas não detalhou para onde iria.
Felizmente, ele também não perguntou. Ao
contrário de Nay, que era uma intrometida, o braço
direito de seu pai se mantinha discreto e não se
envolvia em seus assuntos. Melhor assim! Não o
suportava... Sujeitinho arrogante! Sempre de peito
estufado, só porque tinha a confiança de seu pai!
Como líder do bando, não podia se deixar
enganar, Karl tinha certeza que Eloy invejava sua
posição de alfa, apesar de não o ter desafiado na
época. Por isso achava que precisava ficar esperto
quanto a isso, se manter em alerta, sempre!
À noite, o cadavérico investigador foi ao
hotel e lhe entregou um envelope com inúmeras
fotos e um detalhado relatório. Karl pagou-o e o
dispensou temporariamente dos serviços. Então,
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debruçou-se sobre as informações.


Algumas horas depois o Lykan alfa já sabia
exatamente o que fazer. Sorriu com desprezo. O tal
Axel ia pagar caro por ter se metido com ele, por
ter matado seu amigo. Olho por olho... assim seria!

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“A viagem de férias continuou por mais dez


maravilhosos dias. Da Itália seguiram para a
Grécia, Turquia e de lá voltaram para Berlim.”

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Axel fez o check-in no balcão da companhia


aérea em Berlim bastante aborrecido. Primeiro,
porque mal havia chegado na cidade e já precisava
embarcar novamente. A rede de hotéis estava
passando por uma auditoria para certificação da
ISO 9001 e Gerald recomendou fortemente que ele
estivesse presente na reunião final.
Além disso, ele havia discutido seriamente

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com Liz algumas horas antes, ou melhor, ela havia


discutido com ele. Não entendia essa teimosia dela
em permanecer em seu minúsculo apartamento,
enquanto podia perfeitamente ficar instalada no
hotel com conforto e serviço de quarto.
O Warg sentou-se para esperar o embarque
de seu voo. Não acreditava que ela o havia
chamado de possessivo e controlador. A única
coisa que ele queria era o seu bem. E qual era o
problema, afinal, em continuar no hotel? Não
entendia... Como ela podia achar que naquele
apartamento velho, em um bairro de punks como
aquele, poderia estar melhor?
Balançou a cabeça, tentando espantar os
pensamentos irritantes. Afinal, seria por pouco
tempo. Em dois meses Liz estaria terminando o
curso e então poderia instalá-la em Londres.
Mesmo que ela não quisesse morar no hotel,
poderiam comprar uma casa em um bairro seguro...
Bufou e pegou sua mala de mão, tirou uma
barra de chocolate lá de dentro e passou a degustá-
lo vagarosamente. Definitivamente, o doce o
acalmava.
Respirou fundo, observando um avião taxiar
na pista. Em poucos meses, sua vida tinha virado de
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cabeça para baixo. Como ele havia se colocado


naquela situação? Nem ele entendia, mas não se
arrependia. De repente, parecia que agora tudo
girava em torno da garota humana. Ele não
conseguia nem mesmo ficar muito tempo longe
dela. Sentia-se ansioso e agoniado, e não via a hora
de se livrar dos compromissos para voltar para ela.
Por três dias ele havia permanecido em
Berlim, três deliciosos dias desde que voltara do
Canadá, mas agora lá estava ele embarcando
novamente. Pelo menos, aproveitaria sua estadia
em Londres e veria com Gerald como estava indo o
assunto do visto de Liz. E se desse tudo certo,
voltaria em dois ou três dias.

Na sala de aula da universidade, a alguns


quilômetros dali, Liz também estava irritada e
dispersa. Por que Axel não entendia que ela gostava
de ter sua independência? Depois de tantos anos
morando com parentes, finalmente ela havia se
sentido livre ao ir morar sozinha na Alemanha. Em
um lugar que, apesar de pequeno e alugado, era o

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seu lugar, seu canto, seu refúgio. Não teria essa


liberdade no hotel, não se sentiria em casa... Era tão
difícil assim ele entender isso?
Franziu as sobrancelhas enquanto
desenhava alguns corações no canto da página do
caderno. Como seria quando fossem morar juntos?
Será que ela se sentiria sufocada? Axel era mandão
e não gostava de ser contrariado, mas ela também
não era do tipo submissa, reconhecia que era
teimosa e que gostava das coisas do jeito dela, e ele
sabia disso. Será que dariam certo? Suspirou...
Tinha medo, mas estava igualmente animada. De
uma forma ou de outra, sabia que seria uma ótima
experiência.
Sem pensar, desenhou o logotipo do hotel
de Axel em outro canto da folha e então franziu a
testa. “Royal Wolf”... Aquilo a fez se lembrar de
que ainda não tinha conseguido arrancar nada de
Axel a respeito do lobo gigante. Até que ela
admirava os lobos em geral, achava-os imponentes,
mas não aquele de Londres, aquilo não era um lobo
comum, era assustador.
“Royal Wolf”. Por que será que a rede de
hotéis tinha aquele nome? Nunca perguntara a
Axel... Curiosamente, os olhos dourados de Axel e
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os cabelos platinados dele a faziam se lembrar dos


lobos brancos do Ártico. Havia visto algumas fotos
uma vez em um exemplar da National Geographic
e ficara maravilhada, aqueles, sim, eram lobos
lindos.
Finalmente a aula acabou e Liz foi almoçar
com as amigas na lanchonete dentro do campus.
— Liz, você está bem? — perguntou Rose.
— Parecia distraída na aula hoje...
Liz sorriu meio de lado para a bela moça
negra, alta e com cabelos cacheados.
— É verdade... acho que não entendi nem
uma linha do texto que tivemos que ler e discutir
hoje. — Ela riu. — Não é nada... só estou um
pouco ansiosa...
— Em ir para Londres? — indagou Eva, a
outra amiga.
— Sim... Chega a me dar um frio no
estômago quando penso nisso, sabe? — disse Liz
com um sorriso no olhar.
As garotas riram e ela também. Já estavam
terminando de almoçar quando Eva cutucou as
outras duas.
— Olhem ali! — disse a dinamarquesa de
cabelos loiros e incríveis olhos azuis apontando
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disfarçadamente para uma mesa do outro lado da


lanchonete. — Aquele moço sozinho não para de
olhar para a gente!
Liz olhou. Era um rapaz loiro também, mas
não parecia um loiro natural; com certeza era
descolorido. Não era muito bonito, tampouco era
feio, normal, ela diria. O estranho era que ele as
olhava com insistência e assim que viu que havia
sido notado, desviou olhar e disfarçou.
Rose riu e disse maliciosamente:
— E se a gente o chamasse para nossa
mesa? O pobre rapaz parece ser tímido... coitado.
— Eu vou até lá! — disse Eva se
levantando e piscando.
Liz apenas sorriu, balançando a cabeça.
Aquelas meninas eram impossíveis!
Logo Eva chegou com o rapaz.
— Meninas, esse é o Luke! — disse ela.
— Oi, prazer... — cumprimentou ele de
forma insegura.
Karl o mataria se soubesse que ele havia se
aproximado tanto da garota que estava vigiando e
ainda dado seu nome verdadeiro. Mas o que ele ia
fazer? Não conseguiu pensar em nada quando a
linda moça loira se aproximou e o convidou para se
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sentar com elas, nem mesmo em um nome falso.


Definitivamente, Karl não ia gostar...
— Está sozinho? É novo por aqui? —
perguntou Rose.
— Ah... sim... por enquanto... Eu só estou...
hum... esperando um amigo... — gaguejou o rapaz.
Merda! Ele não era nada bom com desculpas.
— Seu amigo estuda aqui? — questionou
Liz.
— Sim...
— E você? — perguntou Eva sorrindo. Via-
se que ela estava interessada no rapaz.
— Hum... eu..., eu estudo também! — disse
ele com um sorriso amarelo.
Liz arqueou uma das sobrancelhas, o rapaz
não parecia sincero em suas palavras. Ele estava
visivelmente nervoso.
— Sente-se, Luke. De onde você é? —
disse Rose.
— Londres. — O Lykan hesitou, mas
acabou se sentando.
— E você estuda o quê aqui? — Liz quis
saber, um tanto desconfiada dos modos do loiro
oxigenado.
— Eu...
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Nesse momento o celular do rapaz tocou,


salvando-lhe da pergunta. Luke olhou para a tela e
ficou branco. Era Karl.
— Desculpe... Eu tenho que ir! — disse,
levantando-se e saindo apressado.
— Que cara estranho... — falou Rose. —
Será que espantamos ele? — Ela riu.
— Não creio — respondeu Liz. — Ele é
estranho mesmo. O engraçado é que parece que eu
já vi o rosto dele em algum lugar... — disse ela
pensativa.
— Deve ter sido aqui mesmo na
universidade — sugeriu Eva. — Provavelmente não
é a primeira vez que ele vem aqui.
— Sim... deve ser isso... — concordou Liz.
Alguns minutos depois, Luke se encontrava
com Karl atrás do prédio principal do campus.
— O que pensa que está fazendo? —
vociferou o alfa. — Não consegue ficar um minuto
longe de uma mulher?
— Eu... me desculpe, Karl. Eu fiquei sem
graça de recusar o convite da moça — respondeu o
loiro de cabeça baixa.
— Ah! sim... E por que será que ela te
convidou, hem? Não sabe ser discreto? Eu estava
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chegando quando vi como você olhava para mesa


delas. Parecia um abutre rondando a carniça.
Queria o quê? — Karl andava de um lado para o
outro.
— Sinto muito... — murmurou Luke, cada
vez mais encolhido.
— Pois é! — O alfa chutou, então, uma
lixeira próxima, quebrando-a e espalhando lixo em
volta. — E se ela te reconhecesse? Idiota
incompetente! Nem sei por que te trouxe! —
ralhou.
Um silêncio pesado se estabeleceu entre os
dois Lykans. Karl continuava andando de um lado
para o outro. Ele não sabia que Axel havia viajado
naquela manhã e estava preocupado, temia ser
descoberto por ele e ter um destino igual ao seu
amigo Frederic.
— O que vamos fazer? — perguntou
timidamente Luke.
— Você vai vigiá-la enquanto ela estiver na
universidade, já que ela te viu mesmo, não
estranhará sua presença por aqui. Só não quero que
chegue perto dela. Não quero seu cheiro
impregnado nela, entendeu? Não a toque! Veremos
para onde ela vai quando sair daqui. Se ela for para
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casa, significa, segundo o detetive, que o tal Axel


não está na cidade... — explicou o alfa com um
sorriso sinistro.
— Karl... — Luke fez uma expressão
preocupada. — Será que esse cara é um Lykan
também, como nós?
O alfa bufou.
— Minha irmã acha que ele é outra coisa
que eu não me lembro o nome, mas segundo ela,
ele é um lobo também, como nós. O maior
problema não é esse, é aquela espada dele. Um
artefato mágico..., não imaginei que ainda pudesse
existir algum.
— Hum... E se ele estiver com a garota, e se
ele sentir o nosso cheiro?
— Não fique colocando dificuldades, Luke.
Ficaremos observando de longe por enquanto, e
esperaremos, se for o caso....

Na lanchonete, as garotas haviam acabado


de almoçar e estavam se despedindo. Eva tinha um
emprego de meio período e precisava sair logo para

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não se atrasar, Rose ia continuar na universidade


estudando e Liz tinha que fazer algumas compras.
— Certo, meninas, espero vocês à noite —
disse Liz com um sorriso.
— Até mais tarde! — respondeu Rose.
— Até! — falou Eva acenando e indo em
outra direção.
Liz estava animada, pois havia combinado
de fazer uma “noite da pizza” com suas amigas em
seu apartamento. Elas dormiriam lá e iriam juntas
para o curso no dia seguinte. Ela sabia que quando
Axel voltasse para Berlim, não teria mais tanto
tempo para curtir com as garotas; assim, precisava
aproveitar seus “dias livres” enquanto ele estava em
Londres.
Pegou seu carro no estacionamento e foi ao
mercado comprar alguns itens que estavam faltando
em sua despensa, além de petiscos e vinho para
mais tarde. Ao sair do estabelecimento notou um
rapaz de boné e óculos escuros perto do seu carro.
Quando ele a viu, saiu andando e entrou em outro
veículo não muito longe dali, um SUV preto.
Liz achou aquilo estranho, mas deu de
ombros e entrou no carro, colocando as sacolas no
banco do passageiro. No caminho para casa teve a
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impressão de que um carro escuro a seguia, parecia


o mesmo que o rapaz de boné havia entrado.
Começou a dirigir de olho no espelho
retrovisor. Virou uma esquina, outra e mais outra, e
o veículo preto ainda parecia estar atrás dela.
Preocupada decidiu parar em uma rua qualquer.
Escolheu uma avenida movimentada e estacionou,
ficou aguardando e o carro escuro logo passou por
ela. Liz notou o cara de boné no banco do
motorista. Havia outra pessoa no banco do
passageiro, mas ela não conseguiu ver como ele
era.
Esperou alguns minutos e partiu com o
carro novamente. Provavelmente teria sido só
coincidência o SUV a ter seguido até ali. Respirou
fundo e retomou seu caminho para casa.
Como seu apartamento não tinha garagem,
ela precisava deixar o carro na rua, mas felizmente
encontrou uma vaga bem próxima à entrada do
prédio. Ao estacionar deu uma olhada em volta um
pouco apreensiva, procurando por algum sinal do
SUV, mas não viu nada suspeito. Mais aliviada, Liz
pegou as compras e entrou rapidamente no edifício.
A poucos metros de distância, o veículo
com os Lykans se aproximava.
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— Nós vamos entrar lá agora? — perguntou


Luke, ansioso.
— Claro que não, idiota! Não está vendo as
câmeras de segurança? Entraremos à noite, quando
todo gato é pardo! — respondeu o alfa, passando
pelo prédio.

Rose e Eva chegaram no apartamento de


Liz por volta das 19 h. Esfomeadas, pediram duas
pizzas e iniciaram uma animada conversa. Um
pouco mais tarde, Axel ligou.
— Tudo bem por aí? — perguntou ele.
— Sim... Tudo normal. Não precisa se
preocupar tanto, Axel! — respondeu ela com um
suspiro.
Liz lembrou-se, então, do cara de boné e do
carro que supostamente a estava seguindo, mas
achou melhor não dizer nada. Provavelmente havia
sido só impressão sua e não queria alarmá-lo à toa,
ou era bem capaz de ele por um segurança para
andar com ela.
— Certo... — disse ele. Ainda estava

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aborrecido, mas não queria discutir com ela


novamente. — Tem alguém com você? —
perguntou, ao escutar as vozes das meninas
conversando.
— Sim. Rose e Eva estão aqui, estamos
comendo pizza! Elas irão ficar até amanhã.
— Entendi. Consegui adiantar as coisas por
aqui, voltarei amanhã à noite, okay? Passarei aí
para te buscar direto do aeroporto.
— Okay. Até amanhã, então... — disse ela
com um sorriso. — Te espero!
Liz desligou e viu que as amigas estavam
olhando maliciosamente para ela.
— Humm... Olha só a cara de felicidade da
garota! — disse Rose rindo.
— Está mesmo apaixonada, não é, Liz? —
perguntou Eva.
— Parece que sim... — respondeu ela
sorrindo e se sentando no sofá.
— Queremos conhecê-lo! Vai nos
apresentar a ele, não vai? — continuou a loira.
Liz riu.
— Axel não é muito sociável, já lhes disse
isso. Mas posso apresentar... Só não esperem que
ele seja do tipo amigável.
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— Como foi gostar de um cara assim?


Entendo que vocês têm um vínculo, que ele tenha
te salvado a vida..., mas... será que você não está
confundindo as coisas, Liz? — perguntou Rose
com o semblante preocupado.
— Não..., definitivamente não... —
respondeu Liz. — Eu pensei muito sobre isso e... eu
o amo. De verdade! — Ela sorriu.
— Okay! Que seja! — concordou Rose. —
À felicidade do casal — propôs ela, levantando à
taça de vinho em um brinde.
— Ao amor! — disse Eva, levantando a
taça também.
— À amizade! Obrigada por estarem aqui
— falou Liz, tocando sua taça na das garotas.
Do lado de fora do prédio, em uma estreita
viela que separava um edifício do outro, os dois
Lykans observavam o movimento no interior do
apartamento da garota através das janelas abertas.
Karl analisou o entorno. Todos os apartamentos
daquele prédio tinham sacadas e ela morava no 3º
andar, não seria difícil para eles escalarem por ali.

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“Esfomeadas, pediram duas pizzas e iniciaram


uma animada conversa.”

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Os dois Lykans ainda permaneciam fora do


prédio de Liz observando as garotas dentro do
apartamento quando o celular de Karl tocou, era
Nay.
— Karl?! Onde é que você está? —
perguntou ela, claramente irritada.
— Mas que saco, Nay! Por que não me
deixa em paz? Estou viajando, bebendo, pegando

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umas gostosas — mentiu. — Qual é o problema?


— disse ele de forma grosseira.
— O problema, seu imbecil, é que hoje é
aniversário da nossa mãe! Esqueceu? — Diante da
súbita mudez do irmão, ela continuou: — É obvio
que esqueceu... Escute! Agora ela está se
arrumando e daqui a pouco vou levá-la para jantar
em algum lugar legal, já que nem você e o pai estão
por aqui. Vê se liga para ela mais tarde, entendeu?
— Pode deixar... — disse Karl com voz
amuada. Sabia que sua mãe não o perdoaria por ele
ter esquecido de seu aniversário.
— Outra coisa... o pai ligou e perguntou por
você. Quer que eu diga o que quando ele ligar de
novo?
— Diga que estarei voltando em dois ou
três dias... — respondeu o alfa, com um gelo no
estômago. Havia deixado de atender duas ligações
de seu pai naquele dia. Não queria ter que mentir
para o velho, pois mesmo por telefone ele poderia
desconfiar de algo. Seu pai não era nada tolo.
— Não vai me dizer mesmo onde está,
Karl? — Nay estreitou os olhos.
— Não é da sua conta! — respondeu o alfa
desligando o celular.
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Karl virou-se para Luke com o semblante


aborrecido.
— Vamos embora! — disse ele para o
amigo.
— Mas e a garota? — perguntou o loiro.
— Não está vendo que ela está
acompanhada hoje? — Bufou. — Pelo que parece,
as amigas dela vão passar a noite aí. Amanhã a
gente volta! — disse, girando nos calcanhares e
saindo da viela.

Na mansão dos Schneider, em Londres, Nay


estava possessa. Seu irmão vivia como um
almofadinha, filhinho de papai, sem qualquer
responsabilidade. Seu pai havia se precipitado
transmitindo a posição de alfa do bando para Karl
tão cedo, ele não estava preparado. Tanto que era o
seu pai que ainda tomava as decisões importantes.
Seu imaturo irmão não sabia lidar com as pessoas,
era impulsivo, emocional e violento. E depois da
morte de Frederic, ele tinha ficado mais agressivo
ainda.

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Uma ruga se instalou entre as sobrancelhas


da Lykan ao se lembrar de que Eloy havia lhe dito
que Karl contratara um investigador particular há
algumas semanas. Será que a viagem do seu irmão
tinha alguma coisa a ver com aquilo?
Onde Karl poderia estar? Se estivesse na
farra, como havia dito, ela teria escutado vozes do
outro lado da linha, mas parecia tão silencioso,
refletiu Nay enquanto procurava seu noivo pela
casa. No hotel Karl também não estava, pois
conseguiu ouvir o barulho de um carro passando
durante sua breve conversa com ele. O receio de
que seu irmão estava aprontando e de que algo ruim
poderia acontecer começou a se formar em seu
interior.
Encontrou Eloy no escritório. Apesar de já
estar de noite, ele costumava trabalhar até tarde,
principalmente quando seu pai não estava em casa.
— Eloy! Preciso de uma ajuda de seus
contatos — disse ela, entrando afobadamente na
sala decorada de forma austera e ocupada por uma
enorme mesa de mogno e cadeiras de veludo.
— O que houve? — perguntou ele
espantado.
— Quero saber onde está o Karl.
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— Por quê? Deixe-o, Nay! Ele já é bem


grandinho para saber o que faz da vida, sabia?
— Não tenho tanta certeza... Estou
preocupada, Eloy... — disse a ruiva sentando-se na
confortável cadeira em frente à mesa de trabalho do
noivo. — E se ele tiver ido atrás do Warg.
Eloy suspirou.
— Nay, você não sabe se aquele cara é
mesmo um Warg. É só uma suposição.
— Pode ser... mas e se ele for? E mesmo
que não seja! Você não o viu, Eloy. Ele é perigoso!
— disse a garota agitada. — Ele matou Frederic
sem nem ao menos piscar! Não só por causa da
velocidade, mas a frieza com que ele fez aquilo...
Foi como se estivesse matando uma mosca!
O Lykan encostou-se na cadeira e
tamborilou os dedos na mesa, refletindo sobre o
que a noiva havia acabado de dizer. Então pegou o
telefone e discou um número.
— Oi..., sou eu. Preciso de informações.
Descubra para onde foi o Karl Schneider, verifique
onde está hospedado — disse para alguém do outro
lado da linha, em seguida desligou. — Temos que
esperar agora. Você não ia sair com sua mãe?
— Ah, sim, eu vou — falou Nay se
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levantando. — Obrigada, Eloy! Por favor, me avise


assim que souber onde Karl se enfiou.
A Lykan tentou ligar novamente para o
irmão, queria alertá-lo para não se meter com o
cara desconhecido da boate, mas ele havia
desligado o celular. Suspirou e foi se encontrar com
a mãe na sala.
— Vamos mãe? — disse sorrindo. — Está
pronta?
— Sim querida, vamos — respondeu a
matriarca, uma senhora elegante de feições
tranquilas, mas que sabia ser dura quando era
necessário.
— Mãe, se Karl te ligar, diga-lhe que eu
preciso falar com ele — pediu.
— Está bem..., mas não estou certa que ele
vá me ligar... Sabe como é seu irmão...
— É, eu sei... — Nay deu um meio sorriso e
pegou as chaves do carro. — Vamos!
Na manhã seguinte, Eloy recebeu as
informações que pedira e, durante o café, mostrou
para a noiva.
— Berlim? — exclamou Nay, olhando para
o papel que ele tinha lhe estendido.
— Não conseguiu falar com Karl?
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— Não... ele não me atende... Já mandei


várias mensagens, perguntei se ele tinha ido atrás
do tal Axel, mas parece que ele está me ignorando.
O pior é que ele não negou... — A ruiva segurou a
testa com as mãos e soltou um suspiro. — Karl tem
um problema, ele não sabe mentir para mim, nem
para o nosso pai. Então, quando ele não quer que a
gente saiba a verdade, ele omite. E acho que ele
está fazendo isso, Eloy. Acho que ele foi atrás do
Warg... — disse Nay, sentindo-se cada vez mais
nervosa.
Eloy pegou, então, seu próprio celular e
ligou para o rapaz. Nay aguardou ansiosa, mas Karl
também não atendeu seu noivo.
— Eu vou até lá! — disse a garota.
— Como?! Quando? — espantou-se Eloy.
— Vou pegar o primeiro voo disponível
para Berlim, vou lá tirar isso a limpo! — respondeu
Nay se levantando. — É bem capaz do meu irmão
estar tentando fazer alguma besteira. Se for o caso,
preciso impedi-lo.
Eloy a olhou sem acreditar e depois sorriu.
Nay reclamava do irmão o tempo todo, mas agora
se mostrava disposta a pegar um avião para outro
país só para livrá-lo de uma encrenca que ela
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apenas supunha que ele estaria se metendo.


— Okay... vou com você — decidiu ele.
Eloy viu na viagem uma oportunidade para
ficar com a noiva. Seu chefe e futuro sogro, Frank
Schneider, já estava voltando para casa e chegaria
em poucas horas, não havia nenhum problema a
resolver e tudo estava correndo tranquilamente nos
negócios, portanto, poderia pedir um fim de semana
de folga. Assim que Nay falasse com o irmão, eles
poderiam aproveitar para passar um tempo
sozinhos, ter um dia ou mais só para os dois, longe
da família. Poderiam passear um pouco e fazer
muito sexo, sem ter que encarar a carranca do pai
dela no dia seguinte.
O rapaz se levantou da mesa, sob o olhar
surpreso da garota que, agradecida, sorriu diante da
decisão do noivo.
— Vou ligar para o seu pai e depois
comprar as passagens. Arrume as malas — disse
ele piscando para ela e indo em direção ao
escritório.

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Em Berlim, Karl e Luke permaneciam de


olho em Liz. Como haviam combinado, o Lykan
loiro a mantinha sob suas vistas dentro da
universidade e o alfa aguardava mais afastado.
Karl já estava entediado, queria resolver
aquilo logo de uma vez e isso também o deixava
nervoso. Sem falar na insistência de Nay em querer
falar com ele. Havia lido as mensagens da garota e
não tinha entendido nada, mas também não daria
corda para ela, garota irritante! O que era um Warg,
afinal? O que sua irmã estava querendo dizer com
aquilo? De qualquer forma, não pretendia ir atrás
do sujeito, bater de frente com ele; não era louco,
sabia que o cara era perigoso. Ele só queria fazê-lo
sofrer.
O dia passou sem novidades para os dois
Lykans. A garota humana teve aulas pela manhã e
passou boa parte da tarde estudando na biblioteca,
em seguida foi até o centro, entrou em uma
chocolateria e comprou algumas barras de
chocolate.
Conforme o planejado, eles seguiram Liz de
carro pela cidade e Karl ficou receoso quando ela
não foi direto para o apartamento, achando que ela
ia se encontrar com o tal Axel no hotel. Por isso,
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sentiu-se satisfeito ao ver que, após as compras, ela


estava indo direto para casa. O que ele não tinha
percebido é que a garota já havia notado que eles a
estavam seguindo novamente.
Liz entrou em casa com o coração aos
saltos. Desta vez não estava enganada, não podia
ser coincidência o mesmo carro preto com o
mesmo cara de boné tê-la seguido de novo.
Trancou a porta e verificou se as janelas estavam
fechadas. Não queria se arriscar. O que não
entendia era por que alguém a seguiria, que tipo de
interesse podiam ter nela?
Logo pensou naquelas redes de tráfico de
mulheres. Ela era estrangeira, e se a sequestrassem
e pegassem seu passaporte, ficaria refém deles,
seria usada como prostituta ou algo assim. Aquela
ideia a apavorava. Resolveu, então, ligar para Axel.
— Oi — disse, quando ele atendeu. —
Tudo bem? Você volta hoje, né? A que horas você
acha que vai chegar?
— Sim, volto hoje. Meu voo parte às
19h10, mas por causa da diferença de fuso, devo
chegar aí somente lá pelas 22h30. Por quê, Liz? O
que houve? Parece nervosa... — perguntou ele
preocupado.
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— Por nada... quer dizer... acho que tinha


alguém me seguindo hoje, mas já estou em casa.
Tranquei tudo por aqui.
— Seguindo? Como assim? — disse Axel
franzindo as sobrancelhas.
— De carro..., um carro preto. Não sei...
Ontem achei que tinha sido só impressão minha,
mas hoje vi esse carro de novo atrás do meu...
— Escute! Não saia de casa e não abra a
porta para ninguém, okay? Qualquer coisa chame a
polícia, logo estarei aí. — Olhou para o relógio,
eram 16h40; àquele horário, levaria pelo menos
uma hora para chegar ao aeroporto. — Vou ver se
consigo adiantar meu voo — disse.
— Calma, Axel! — Liz sorriu. — Também
não precisa se desesperar. Vou ficar bem. Prometo
não abrir a porta para ninguém.
— Hum... — resmungou ele. — Certo... a
gente se vê em algumas horas, então...
— Até daqui a pouco... — disse ela,
mandando-lhe um beijo e desligando o telefone.
Liz suspirou. Falar com Axel lhe trazia
conforto e segurança, e mais do que nunca o queria
ao seu lado. Desejava sentir seus braços em volta
de seu corpo, protegendo-a, amando-a... Levou a
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mão à sua correntinha, fechando-a sobre o pingente


de coração. Nunca desejou que as horas passassem
tão rápido.
Em Londres, Axel jogou as poucas roupas
que havia levado dentro da mala e seguiu para o
aeroporto. Algo o inquietava, aquilo estava
estranho, muito estranho... Quando pediu para ela
ficar no hotel, não estava imaginando aquele tipo
de situação, apenas achava que lá seria mais
conveniente, pois, apesar de Berlim ser considerada
uma cidade segura, no bairro onde ela morava
haviam muitos imigrantes dependentes do governo
e que poderiam incomodá-la. Mas isso não
explicava por que alguém seguiria Liz, não havia
motivos.
No aeroporto, dirigiu-se ao balcão da
empresa aérea, mas os voos anteriores ao dele
estavam todos lotados. Infelizmente teria que
esperar. Caminhou até a área de embarque e se
sentou.
Foi quando notou um odor conhecido.
Olhou em volta com atenção. Era o cheiro de
Lykans. Um deles, Axel não conhecia, mas o
outro... era o odor daquela Lykan que estava na
boate. Sim, ele se lembrava... Sua memória olfativa
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sempre foi excelente. No entanto, eles não estavam


mais ali. Provavelmente já tinham embarcado, não
mais do que uma hora atrás, caso contrário não
teria conseguido perceber seus cheiros.
Teriam eles ido para Berlim? Olhou
impaciente para o relógio, ainda eram 18 h....
Estava inquieto e apreensivo, uma sensação
estranha e insistente agarrava-se às suas entranhas e
ondas de frio invadiam seu estômago
periodicamente.

Em frente ao prédio de Liz, os Lykans


aguardavam dentro do carro. Karl queria esperar
anoitecer, e naquela época do ano isso só ocorria lá
pelas 21 h. O alfa estava ficando nervoso, havia
feito todos os planos e agora que estava prestes a
executá-lo, a dúvida lhe assaltava. Nay tinha ligado
de novo e ele a ignorou mais uma vez, desligando o
celular. A insistência dela o irritava e talvez fosse
isso que estivesse deixando-o inseguro.
Karl olhou para o amigo loiro ao seu lado.
Conhecia Luke desde criança, como Frederic. O

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rapaz aparentava estar tão nervoso quanto ele, mas


também parecia excitado, como se estivesse prestes
a fazer algo importante.
Não! Não iria desistir. Não bancaria o
covarde na frente dele. Ele era o alfa, o líder,
precisava demonstrar firmeza. Vingariam seu
amigo naquela noite!

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“No aeroporto, dirigiu-se ao balcão da


empresa aérea, mas os voos anteriores ao dele
estavam todos lotados.”

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Osol já se punha em Berlim quando Nay e


Eloy chegaram ao hotel em que Karl e Luke
estavam hospedados. Além do endereço, seu
informante havia hackeado o sistema de
computadores do estabelecimento e conseguido até
o número do quarto. O lugar era bem simples,
próximo ao aeroporto e fedia a cigarro; a Lykan
torceu o nariz. Subiram dois andares até o quarto,

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mas logo perceberam que os rapazes não estavam.


Desceram novamente e Eloy foi até a recepção.
— Boa tarde! Eu perdi meu cartão de
acesso ao quarto, poderia me arrumar outro? —
disse à moça do balcão, esperando que ela não lhe
pedisse a identidade, nem reconhecesse que ele não
era seu hóspede verdadeiro. — Quarto 28, Karl
Schneider...
A recepcionista verificou o nome no
registro e codificou outro cartão, entregando-o a
Eloy e avisando que haveria uma taxa a ser paga
pelo cartão perdido. Ele agradeceu e chamou Nay,
que estava observando o movimento na rua pela
porta.
— O que vamos fazer? — perguntou ela
enquanto se dirigiam ao quarto novamente.
— Não sei... procurar alguma indicação do
que eles vieram fazer aqui — respondeu o rapaz.
Ao entrarem no quarto, logo encontraram a
pasta com as informações e fotos de Axel e Liz,
que o detetive havia deixado com Karl.
— O que acha que ele vai fazer? — indagou
Nay aflita.
— Espero que não faça nenhuma tolice... —
falou seriamente Eloy, que até aquele momento não
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tinha levado as desconfianças de sua noiva a sério,


mas que agora se mostravam verdadeiras e
preocupantes.
O Lykan pegou o telefone e ligou para o
número do hotel de Axel, que constava no relatório
do investigador.
— Por gentileza, gostaria de falar com o Sr.
Andersen — disse, sob o olhar espantado de Nay.
— Sim, Axel Andersen. Hum... certo, muito
obrigado. — Desligou e olhou para a noiva. — Ele
não está na cidade. Se Karl foi atrás de alguém,
pode ter sido dela... — Apontou para uma foto de
Liz.
— Mas que merda! — esbravejou a ruiva,
levando as mãos à testa. — Onde Karl está com a
cabeça? Onde essa garota mora? Pegue o endereço,
vamos até lá! — Enquanto desciam os andares,
tentou, pela centésima vez, ligar para o irmão, mas
caiu na caixa postal. Olhou no relógio, eram 20h50.

O céu já havia escurecido e os dois Lykans


ainda aguardavam no carro.

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— São 21 h, Karl! Não vamos? — indagou


Luke agitado.
— Calma, Luke. Tem gente na rua... —
disse apontando para um grupo de jovens fumando
na esquina. — Não queremos ser vistos, certo?
Escute! Não podemos deixar rastros, entendeu?
Pegou suas luvas?
— Sim, estão aqui — respondeu o loiro,
tirando-as do bolso e colocando-as.
Assim que o grupo foi embora, eles saíram
do carro e foram para a viela lateral ao edifício.
Karl olhou para cima e viu que as janelas do
apartamento de Liz estavam fechadas desta vez.
Resmungou um palavrão e foi até a porta principal
do prédio, estava trancada.
— E agora, Karl? — sussurrou Luke. —
Arrombamos?
— Claro que não! Se nos virem fazendo
isso podem chamar a polícia. Cedo ou tarde,
alguém vai entrar ou sair. Vamos esperar.
Como previra, um morador logo abriu a
porta por dentro do prédio e eles aproveitaram para
entrar enquanto ele saía. Dirigiram-se até o
apartamento da moça e bateram na porta.
Liz espantou-se. Era muito cedo para ser
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Axel, e ele teria ligado quando chegasse no


aeroporto. Observou pelo olho-mágico da porta e
viu os dois rapazes. Estranhou, um era o loiro
oxigenado que havia acabado de conhecer na
universidade e o outro... o outro era o cara de boné
que a estava seguindo. Seu coração estremeceu.
Reconhecia-o agora, aquele era o mesmo cara da
boate em Londres, e pensando melhor, reconhecia o
loiro também. Sabia! Sabia que ele lhe era familiar!
Por que não havia se lembrado antes? Droga! O que
eles queriam? Boa coisa não era, tinha certeza!
Afastou-se da porta lentamente, esperando
não ser ouvida por eles. Quem sabe, se eles
achassem que ela não estava em casa, não iriam
embora... Olhou para o relógio na parede, 21h30. A
que horas Axel havia dito que chegaria, mesmo?
Levou a mão à testa tentando se lembrar. Por volta
da 22h30, ele disse... Droga! Só dali a uma hora ele
estaria em casa... Isso significava que ainda estava
no avião. Não adiantava ligar para ele agora.
— Ei garota! — disse Karl batendo de
novo, assustando-a. — Sabemos que está aí! Abra a
porta ou vamos arrombá-la!
Liz não respondeu. Definitivamente aqueles
dois caras não estavam ali só para conversar, ou
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não teriam ameaçado entrar em sua casa à força.


Mas por que eles estavam atrás dela, afinal? Karl
bateu mais forte na porta. A garota, em desespero,
olhou em volta tentando achar uma saída. O medo
aumentava cada vez mais dentro de si, seu coração
estava disparado e suas mãos suavam frio.
Pensou em chamar a polícia, mas outra
batida violenta a assustou. Mesmo que ela ligasse,
não chegariam a tempo. Aquele cara ia derrubar a
porta, precisava sair dali! Urgente!
Cogitou, então, que poderia tentar descer
pela sacada. Procurou rapidamente pela chave do
carro, mas não a encontrou, devia estar no quarto.
Droga! Dane-se a chave do carro! O importante era
chegar à rua, lá encontraria alguém para ajudá-la.
Correu até a porta de vidro da sacada enquanto
ouvia o cara do outro lado da porta ameaçá-la mais
uma vez.
Liz, ansiosa, abriu-a e saiu. Olhou para
baixo, era alto. Respirou fundo, talvez conseguisse
se segurar na grade e pular no vizinho de baixo. Já
estava passando para o outro lado do gradil quando
viu duas pessoas na viela. Pensou em pedir ajuda,
mas então reparou melhor, uma das pessoas era a
moça ruiva da boate, a mesma que estava com o
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cara que, naquele momento, a ameaçava em sua


porta.
Aquilo a assustou e a fez desequilibrar-se,
quase caindo de lá de cima. Liz se segurou com
força na grade e, com o coração na mão, pulou para
dentro da sacada novamente. Deus! Estou ferrada!
As lágrimas brotaram de seus olhos. Só havia uma
coisa a fazer, ligar para a polícia e torcer para que
chegassem antes que acontecesse algo pior com ela.
Infelizmente não estava com a porcaria do celular,
ele havia ficado no quarto. Precisava entrar
novamente no apartamento e chegar até o telefone
fixo.
Trêmula de nervoso e de medo, passou pela
porta e correu para o aparelho, pegando-o. Nesse
momento, no entanto, a porta da sala se abriu num
estouro, fazendo-a soltar um grito e derrubar o
telefone. Tentou pegá-lo novamente, mas o Lykan
alfa já estava em cima dela, chutando o aparelho
para longe.
Liz, de olhos arregalados, deu alguns passos
para trás, enquanto Karl sorria maliciosamente.
Estava apavorada, o medo a fazia respirar com
dificuldade e suas pernas pareciam não querer
sustentá-la. Ainda assim, conseguiu dar a volta no
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sofá e virou-se para correr para o quarto, mas Luke


bloqueou o seu caminho. Liz olhou de um Lykan
para o outro e encostou-se na parede, seu corpo
inteiro tremia descontroladamente, sua garganta
estava seca e o ar começava a lhe faltar.
— O que foi, neném? Está com medinho?
— disse Karl se aproximando.
Liz fitou-o emudecida, as palavras não
saiam e o pânico não a deixava pensar com clareza.
A única coisa que compreendia, para sua angústia e
desespero, é que não havia mais escapatória. Então,
uma voz feminina soou da sacada.
— Karl! — chamou Nay, entrando pela
porta de vidro. Ela e Eloy haviam escalado até o
apartamento por fora, algo fácil para seres como os
Lykans. — Deixe-a em paz! — avisou.
O alfa olhou para a irmã com uma cara de
decepção e de desdém.
— Mas que merda, Nay! — vociferou ele.
— Por que você não me deixa em paz? O que está
fazendo aqui?
— Te impedindo de fazer uma bobagem,
seja lá o que estava pretendendo fazer! —
respondeu a ruiva irritada.
— Não vai me impedir de nada! — disse
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ele, voltando-se para Liz, que permanecia grudada


à parede.
Avançou, a fim de pegar a garota. O que ele
pretendia era levá-la dali e dar um sumiço nela,
mas subitamente Eloy entrou na sua frente.
— Afaste-se, Karl! — avisou ele.
— Sai da minha frente, idiota! Sou eu quem
manda aqui! Eu sou o alfa! — rosnou o ruivo.
Como o rapaz não se mexeu, Karl sorriu
cinicamente e disse, com a voz carregada de ódio:
— Quer fazer disso uma disputa, Eloy? Eu
sei que quer! Desde a época da escolha do alfa.
Você nunca se conformou, não é? Achava que tinha
que ser você... — provocou o líder dos Lykans. —
Então, por que não me desafiou, hem? Ficou com
medo?
Eloy fitou-o com animosidade e sentiu o
sangue ferver na nuca, mas nada disse.
— Foi nosso pai que mandou ele não te
desafiar, imbecil! — berrou Nay. — Eloy teria te
vencido fácil se tivesse lutado com você.
Aquilo foi a gota d’água para o Lykan alfa,
que descontrolado, urrou:
— Acha mesmo que ele me vence, criatura
inútil? — voltou-se para Eloy. — Vem, então, seu
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desgraçado! Vem me enfrentar! — desafiou Karl,


sentindo seus instintos primitivos aflorarem.
Em questão de instantes, Liz viu os dois
rapazes à sua frente se transformarem em enormes
e assustadores lobos escuros, como aquele de
Londres que Axel havia enfrentado semanas atrás.
Um gelo cortante invadiu seu estômago e sua
respiração ficou em suspenso. Suas pernas
imediatamente fraquejaram, fazendo-a escorregar
para o chão. O que era aquilo? Estava ficando
louca? Aqueles homens haviam mesmo se
transformado em lobos?
Sua mente não queria acreditar, mas a
verdade estava ali, bem diante de seus olhos, como
aconteceu quando Axel lhe mostrou a espada.
Lobisomens... eles realmente existiam? Então era
isso? Era isso que Axel não queria lhe contar? Ele
sabia? Ele sabia disso o tempo todo?
Os animais se rodearam, encarando-se um
ao outro e rosnando, e então se atacaram
ferozmente. Nay começou a gritar implorando para
que parassem e Luke paralisou, de olhos
estatelados e sem ação. Na confusão da luta,
móveis foram sendo virados e quebrados. O embate
era brutal, e entre ataques, mordidas e arranhões,
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sangue de ambos era salpicado pelas paredes e pelo


chão.
De início, Liz se encolheu ainda mais em
seu canto, aturdida e terrificada, temendo ser
atingida ou atacada por algum daqueles monstros.
No entanto, logo se deu conta que seria uma boa
hora para tentar sair dali. Embora seu corpo se
recusasse a obedecê-la, conseguiu, num esforço
descomunal, vencer a paralisia que a entorpecia e
engatinhar em direção à porta do quarto, já que era
impossível passar pelo meio da sala para alcançar a
saída. Se conseguisse chegar à janela, daria um
jeito de pular para a sacada de outro apartamento.
Liz entrou no quarto enquanto a atenção de
todos ainda estava na luta que ocorria na sala e, aos
tropeços, chegou à janela. Abriu-a, subindo no
parapeito. A sacada do vizinho estava a pouco mais
de um metro de distância. Se desse um salto,
poderia agarrar-se à grade. Respirou fundo e
preparou-se para saltar; contudo, antes que
conseguisse dar o impulso, foi agarrada pelos
cabelos e violentamente puxada para dentro do
quarto.
Caiu no chão e olhou para o seu agressor.
Era Luke e ele a encarava com desdém.
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— Não se aproxime de mim, seu monstro!


— gritou.
— Monstro? Onde? Está dizendo isso
porque nos transformamos em lobos? — Ele riu
ironicamente, mostrando os dentes. — Se somos
monstros, o seu namorado também é. — Diante da
expressão de confusão que ela fez, ele estreitou os
olhos e balançou negativamente a cabeça. — Ah...
você não sabe, não é?
— Não sei o quê? — Ela começou a se
arrastar de costas ainda no chão, tentando colocar
uma distância entre eles. — Do que está falando,
miserável?
Luke se aproximou com um olhar cínico e a
segurou pelos joelhos. Liz sentiu seu terror
aumentar, o medo de ser atacada somou-se ao medo
do que estava prestes a escutar daquele cara, ela
não queria ouvir aquilo, não queria...
— Ele também é um lobo, queridinha.
Como nós... — falou o loiro.
— Não... não..., é mentira... ele não é! —
negou ela com desespero na voz. Não podia ser...,
não o seu Axel. — Pare de falar essas coisas! Ele
não é como vocês! — berrou.
O barulho de algo quebrando na sala
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chamou a atenção do Lykan, fazendo-o desviar o


rosto brevemente, e então ele voltou a olhá-la com
raiva.
— Sabe por que Karl e Eloy estão brigando,
humana miserável? — rosnou ele entre dentes. — É
por sua causa e por causa do maldito do seu
namorado que matou Frederic! Só que ninguém
fica impune se mexer com o nosso bando, ouviu?
Vocês vão ter o que merecem por isso!
Os olhos do rapaz brilhavam de ódio e Liz
sentiu seu coração na boca novamente. Ainda no
chão, virou-se e quis correr de volta para a sala. A
mulher ruiva... Ela parecia estar do lado dela, talvez
fosse sua única chance. No entanto, o loiro falso
não deixou que ela saísse. Agarrou-a novamente
pelos cabelos e a virou para si, encarando-a
ameaçadoramente. Liz soltou um grito de dor.
— Por favor... — murmurou ela com um fio
de voz.
Luke olhou, então, para sua pequena
corrente de ouro no pescoço e a arrancou com
brutalidade.
— Isso aqui vai ficar de souvenir... — disse,
em seguida a lançou por cima da cama.
Liz bateu suas costas e sua cabeça contra o
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chão. Uma dor aguda invadiu suas costelas e faltou-


lhe ar nos pulmões. Por um momento, sua visão
também ficou embaralhada. Lágrimas voltaram a
rolar por sua face. Estava sem forças, seu corpo
doía, suas pernas e braços não lhe obedeciam e ela
pressentiu que não conseguiria mais fugir. Seus
pensamentos se voltaram para aquele que seria sua
última esperança, Axel... Não... desta vez seu
salvador não conseguiria chegar a tempo... ainda
era cedo para ele estar em Berlim, cedo demais...
Percebeu um vulto sobre si, tentou fixar a
imagem e viu que não era a de um homem, mas de
um lobo. Sentiu seu hálito quente e tentou afastá-lo
com as mãos. Então, outra dor a atingiu, uma
última lágrima escorreu pelo seu rosto e a escuridão
a engoliu.

A alguns quilômetros dali, Axel esperava


impaciente o avião taxiar e parar no terminal para o
desembarque. Assim que desceu da aeronave, ligou
para Liz no telefone fixo do apartamento, ela não
atendeu; tentou o celular, sem sucesso também.

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Estranhou, mas imaginou que talvez ela estivesse


no banho.
Pegou o carro no estacionamento e ligou
novamente enquanto saía da área do aeroporto,
nada! Olhou para o relógio, eram 22h05. Aquela
sensação fria e incômoda voltou a invadir seu
estômago, um sentimento ruim, de urgência,
começou a inquietá-lo.
Ligou de novo e de novo, Liz não atendia.
Nessas alturas, Axel dirigia ultrapassando todos os
limites de velocidade. Vinte minutos depois,
entrava na rua onde ela morava. Logo viu que havia
algo errado. Sirenes de polícia e ambulância
ressoavam em seus ouvidos sensíveis e quanto mais
se aproximava, mais altas elas ficavam. Seu
coração se apertou quando percebeu que a polícia
cercava justamente o prédio dela. Encostou o
veículo de qualquer jeito em uma vaga próxima,
observando alarmado o movimento.
Saiu rapidamente do carro e foi neste
momento que recebeu o baque maior. Todos seus
músculos se retesaram ao sentir aquele cheiro...
cheiro de sangue! O sangue dela! Seu coração
paralisou e um frio congelante lhe percorreu a
coluna; por um breve momento, seus sentidos
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ficaram entorpecidos. O mundo à sua volta virou


um grande zumbido, uma grande confusão de luzes,
vozes e sons. Nada era claro, a não ser aquele
fatídico cheiro que lhe invadia o nariz e penetrava-
lhe fundo em seu cérebro.
Axel voltou do torpor subitamente e crispou
as mãos, não estava acreditando que aquilo pudesse
ser real. Há poucas horas havia falado com ela...
Não era possível... Seus sentidos haviam voltado ao
normal e estavam aguçados agora; e o que seu
instinto lhe dizia, ele não queria ouvir. Fechou os
olhos, tentando manter a calma e a racionalidade.
Travou o maxilar e voltou a olhar para o edifício
onde Liz morava. Seu estômago doía e seus pés
pareciam grudados ao chão, mas precisava entrar
naquele prédio, precisava saber...
Aproximou-se da entrada e um policial fez
menção de barrá-lo, mas Axel simplesmente passou
por ele, sem lhe dar atenção. O policial, achando
tratar-se de um morador, não deu maior
importância. Na porta do apartamento de Liz
haviam mais dois policiais que, ao perceberem a
intenção de Axel de entrar, tentaram segurá-lo. No
entanto, o Warg empurrou-os e passou por eles
como se fizessem parte da mobília.
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— Senhor! Não pode entrar aí! — alertou


um deles. — É uma cena de crime!
Axel parou, observando a sala. Os dois
policiais se entreolharam e entraram na sua frente
novamente.
— Senhor, por favor! O senhor não pode
ficar aqui! — disse o outro policial, colocando uma
mão na arma presa à cintura e outra no ombro de
Axel.
— Tire suas mãos de cima de mim! —
rosnou o Warg, encarando o rapaz com um olhar
ameaçador e empurrando-o para o lado. Em
seguida, voltou sua atenção para o cômodo
novamente.
Axel rapidamente analisou o local. O lugar
estava uma bagunça, móveis virados e sangue
espalhado em vários lugares, mas não era o sangue
de Liz, era o sangue de Lykans. Por algum motivo,
havia ocorrido uma luta ali, entre o ruivo da boate e
o desconhecido do aeroporto. Reconhecia os
cheiros. A moça e o outro cara loiro que faziam
parte do bando também haviam estado ali.
Sob os protestos dos policiais que ainda
tentavam impedi-lo e o ameaçavam de prisão caso
não saísse, seguiu para o quarto. Estacou ainda na
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porta, completamente horrorizado diante do que


viu. Um choque lhe percorreu o corpo, fazendo seu
estômago embrulhar. A cena era tão estarrecedora
que sua mente levou alguns segundos para
processar e aceitar aquilo que estava vendo.
Engolindo em seco, o Warg se aproximou,
enquanto os policiais que o haviam seguido
pararam na entrada do quarto. Àquela altura eles já
haviam percebido que só o deteriam se usassem a
força bruta, o que poderia causar uma confusão
ainda maior e alterar a cena do crime.
— Senhor! — avisou um deles. — Por
favor! Não toque em nada!
Os Lykans... Eles tinham feito aquilo para
atingi-lo, para vingar a morte de seu companheiro,
Axel sabia! O ódio e a revolta começaram a
emergir do seu âmago mais profundo. O sangue
fervia em suas veias, sua natureza o chamava.
Precisava se controlar ou se transformaria e mataria
a todos que estivessem por perto, pois nem sempre
conservava a lucidez em sua forma de lobo.
Quando estava com raiva, seus instintos
dominavam sua racionalidade e tornava-se
extremamente perigoso.
Precisava se concentrar, não podia perder o
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controle, não agora... Precisava manter-se lúcido e


racional, por ela, por Liz...
Aproximou-se mais do pé da cama e se
agachou, concentrando-se nos odores. Além do
cheiro do sangue de Liz, ele identificou o odor de
outro Lykan; havia pelos de lobo ali, provavelmente
arrancados por ela enquanto tentava, em vão,
afastar o perigo. Agora Axel sabia exatamente
quem havia feito aquilo e ele ia pagar! Todos iam
pagar! Acabaria com o bando inteiro, se fosse
preciso! Aqueles Lykans não faziam ideia com
quem haviam se metido...

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“ O embate era brutal, e entre ataques,


mordidas e arranhões, sangue de ambos era
salpicado pelas paredes e pelo chão.”

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Ao entrar no quarto, seu corpo paralisou com


o que estava vendo. A passos hesitantes
aproximou-se, não queria ver, não... não podia ser
ela..., mas era... O corpo de Liz jazia deitado
próximo à cama coberto de sangue. Sua garganta
estava dilacerada e seus olhos, sem vida,
permaneciam entreabertos. Ela trazia uma feição
fixa de pavor em seu rosto. Dor... uma dor

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dilacerante trespassou o seu peito.


Não... não...
Axel abriu os olhos, assustado. Seu corpo
suava e seu coração batia acelerado. Olhou em
volta, não havia ninguém ali. Era madrugada e
somente ele permanecia sentado no corredor
daquele hospital. Não conseguia sair dali, não
dormia e não comia há dois dias, e acabou
cochilando sentado naquela cadeira. Liz
permanecia na UTI. Não sabia como, mas ela ainda
havia sido resgatada com vida, no entanto...
O prognóstico... Esse não era bom, nada
bom...
Encostou a cabeça na parede atrás de si e
ficou olhando para o teto. Os médicos já haviam
desistido de mandá-lo para casa, mas ele não
deixaria Liz. Mesmo só podendo estar com ela nos
horários de visita, mesmo com ela em coma
induzido por causa da concussão na cabeça, ele não
sairia daquele hospital.
O dia amanheceu e Axel praticamente
continuava na mesma posição quando Gerald
chegou. O velho amigo e administrador da rede de
hotéis se comoveu com o estado do rapaz. Ele
estava acabado, nunca o tinha visto assim. Sentado
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e com o corpo largado em uma cadeira, suas


feições denotavam cansaço, abatimento e profunda
tristeza.
— O que faz aqui, Gerald? — perguntou
Axel sem olhá-lo, quando este se aproximou.
— Conversamos por telefone há dois dias e
então não consegui falar mais com você. Eu estava
preocupado.
— Acabou a bateria do meu celular... —
respondeu o rapaz sem alteração na voz.
Gerald suspirou, não podia mesmo esperar
que Axel se preocupasse com o celular naquele
momento.
— Como ela está? — quis saber.
— Na mesma...
— Ela vai sair dessa, não se preocupe.
— Não... não vai.
— Como pode dizer isso, Axel? — Gerald
enrugou a testa. — Tenha mais fé.
— Mordidas de Lykans não costumam ser
fatais só para vampiros, Gerald. Elas também
matam humanos, por motivos diferentes...
— Que motivos?
Axel mudou a posição na cadeira,
encurvando o tronco para frente e olhando para o
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chão.
— Infecção... — respondeu. — Além de ter
perdido muito sangue e ter sofrido uma concussão
cerebral, Liz está com febre desde que chegou e os
médicos não conseguem controlá-la.
— Mas há uma chance, não há? A medicina
está muito avançada hoje em dia...
O Warg estreitou levemente os olhos.
Apesar de, no fundo, ele carregar um fio de
esperança, preferia não pensar naquilo, não queria
se iludir.
— Escute... Por que não vai descansar? Eu
fico aqui — falou o administrador.
— Não...
— Você tem se alimentado?
— Não...
Gerald deixou os ombros caírem.
— Vou buscar alguma coisa para você
comer... Já venho — disse ele voltando pelo
corredor por onde viera.
Alguns minutos depois uma médica se
aproximou, seu semblante era sério.
— Sr. Andersen?
Ele a olhou.
— Vamos adiantar o horário da sua visita
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— ela disse.
— Algum motivo para isso? — Seu coração
falhou uma batida.
A médica olhou-o consternada.
— O quadro clínico da Srta. Lizandra se
agravou, a sepse está avançada e algumas horas
atrás seus rins começaram a falhar... Nós já fizemos
os procedimentos de diálise, mas...
— Eu entendi... — respondeu Axel
levantando-se. Ele já havia lido bastante a respeito
para saber que a septicemia podia provocar a
falência múltipla dos órgãos.
Arrasado, entrou na pequena ala onde Liz se
encontrava. Ele já esperava por uma notícia
daquelas, mas continuava sendo um choque. E a
visão da garota ali deitada, cheia de fios e sondas,
entubada e com um enorme curativo na área do
pescoço, despertava-lhe emoções até então
desconhecidas para ele.
Medo, tristeza, desespero, impotência...
Se ele não tivesse ido para Londres, se
tivesse chegado uma hora antes, se ele soubesse
que os Lykans estavam atrás dela... Sua mente era
um emaranhado de “se’s” e o gosto amargo da
culpa e do arrependimento não saiam de sua boca.
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Travou a mandíbula e cobriu a mão de Liz com a


sua enquanto tentava assimilar a ideia de que podia
estar prestes a perdê-la.
Permaneceu assim por vários minutos,
acariciando a mão da garota e olhando-a fixamente,
como se o resto do mundo ao seu redor tivesse
desaparecido. Ainda era difícil de acreditar que
apenas há alguns dias ela estivera com ele, rindo,
brigando, beijando-o. O que faria sem ela? Sem seu
sorriso, sem sua teimosia, sem o calor do seu
abraço?
Então o barulho fino, alto e contínuo da
máquina ligada a ela o assustou e o fez voltar para a
realidade. Olhou para o lado e viu a linha reta na
pequena tela do aparelho. O coração de Liz havia
parado...
Em questão de segundos, o local se encheu
de médicos e enfermeiros que pediram para ele se
afastar. Fecharam a cortina e Axel não viu mais o
que acontecia lá dentro, apenas escutava os sons, as
vozes, o desfibrilador...
Estava entorpecido, seu coração parecia ter
parado também.
Não soube por quanto tempo ficou ali
parado em pé, imóvel, mas quando a cortina
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finalmente se abriu e a médica se aproximou, ele


sabia o que ela ia dizer. Ainda assim aguardou.
— Sinto muito, Sr. Andersen, ela se foi...
Axel assentiu, sua garganta estava seca e
um grande buraco havia se aberto em seu peito.
— Posso vê-la uma última vez? — pediu.
A médica concordou e orientou os
enfermeiros para deixarem-no à sós com a garota.
Ele se aproximou novamente de Liz, os
tubos já haviam sido retirados e ele podia ver-lhe
melhor o rosto agora.
Liz..., sua pequena, teimosa e amada Liz...
A única pessoa que ele havia permitido entrar em
sua vida, em seu coração, e a única a quem se
entregara verdadeiramente...
Um nó se formou em sua garganta ao
mesmo tempo que o buraco em seu peito se
transformou em uma dor esmagadora. Nunca...,
jamais em toda sua vida poderia imaginar que um
dia sentiria tal agonia...
Axel reprimiu um grito de dor que queria
irromper de sua garganta. Sentia-se impotente,
sufocado, em pedaços..., mas não havia mais nada a
fazer ali, ele a havia perdido...
Com os olhos marejados, estendeu a mão
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para tirar uma mecha de cabelo do rosto da garota e


depositou-lhe um beijo na testa. Ele havia falhado
com ela. Ela havia morrido e era por culpa dele...
Ele a tinha trazido para seu mundo e a colocado em
perigo.
Axel segurou as lágrimas. Queria derramá-
las, mas ele não se achava no direito de chorar, não
ainda..., não enquanto os responsáveis por aquilo
estivessem impunes. Levou a mão da garota aos
lábios e deixou ali mais um beijo, então virou-se e
saiu.
Gerald estava esperando-o fora da UTI com
um saco de papel nas mãos, provavelmente com a
comida que havia ido buscar. Seus olhos
denotavam compaixão, mas não era de compaixão
que Axel precisava naquele momento. Era de
vingança.
Contudo, ele sabia que antes precisaria
resolver algumas coisas... Precisava providenciar
para que o corpo de Liz fosse devidamente cuidado,
velado e sepultado. Então depois...

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Uma fina garoa caía naquele início de tarde


triste e cinzento na Romênia. Vários dias haviam se
passado desde a morte de Liz e, após muita
burocracia, ligações para a família dela no Brasil e
papelada preenchida, seu corpo havia sido,
finalmente, liberado para o funeral. Axel se
incumbiu de cuidar de tudo, já que a tia dela não se
dispôs a ir para a Europa e delegou essa
responsabilidade a ele.
Pela manhã, Liz havia sido enterrada ao
lado de seus pais, e Axel ainda permanecia em pé
próximo ao túmulo. Já estava ali há horas, com o
olhar perdido no nada. Quem o visse, diria que era
um olhar frio, mas na realidade era apenas um olhar
vazio, sem cor, sem vida.
Contudo, não era na garota humana que ele
pensava, nem em sua dor.
"Dor", ele não sabia o significado daquela
palavra até o momento em que colocou os pés
naquele apartamento, até o momento em que vira o
quarto tomado pelo sangue dela. Dor, medo,
desespero e mais dor.
Ainda não conseguia entender a avalanche
de sentimentos que lhe assaltaram ao tomar
consciência da sua perda, nunca havia perdido nada
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na vida que significasse algo, mas agora..., aqueles


sentimentos o esmagavam. Um buraco surgira em
seu peito, e este lhe corroía por dentro e queimava-
lhe a alma, perfurando suas entranhas como ferro
em brasa.
Ele jamais havia sentido tal dor, uma dor
muito pior que a dor física, uma dor que vinha das
profundezas do seu ser e que parecia quebrá-lo ao
meio. Mas não era hora para aquilo, não era hora de
sentir culpa ou pena de si mesmo. Não deixaria que
suas emoções se tornassem sua fraqueza, não
naquele momento.
O Warg, ali parado sob a chuva fina e com
um olhar distante, não pensava mais em seus
sentimentos ou em sua perda. Ele refletia, na
verdade, sobre o que faria depois que saísse
daquele lugar.
Em todos aqueles dias, desde que voltara
para sua casa nas montanhas de Putna, ao norte da
Romênia, Axel havia se mantido distante e calado,
só saindo de lá para resolver os assuntos do enterro
de Liz. Fechara-se em sua cabana e em si mesmo,
não querendo conversar com ninguém; nem Gerald
conseguira falar com ele.
Cultivando um grande ódio dentro de si,
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preferiu se isolar de tudo e de todos; e em sua


reclusão, transformou o seu sofrimento em uma
couraça e o seu coração em uma rocha dura e
gelada. Assim, ainda não havia se permitido chorar
ou extravasar suas dores, não se achava no direito.
Seu luto ainda não começara.
Antes ele tinha uma tarefa a cumprir... uma
promessa que fizera a si próprio.

Em Londres, Nay não dormia direito desde


que haviam voltado de Berlim e, depois do que
ocorrera por lá, vivia sobressaltada e não conseguia
tirar aquelas imagens da cabeça. Luke, num ato
impensado, havia atacado a garota por conta
própria, e aquilo foi a pior coisa que ele poderia ter
feito. Agora sua vida parecia ter se tornado um
pesadelo constante.
Naquela noite desastrosa, enquanto
acompanhava angustiada a briga entre seu irmão e
seu noivo, Nay havia escutado o grito da humana e
logo correu para o quarto, mas já era tarde.
Horrorizada ao ver o que o amigo de seu irmão

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tinha feito, começou a socá-lo com todas as suas


forças.
— Idiota! Imbecil! Estúpido! — vociferou
Nay. — O que você fez? Como pôde? Seu
desgraçado, ignorante! — Socou novamente a
cabeça do Lykan, que já havia voltado à sua forma
humana e tentava se proteger. — Você tem ideia do
que acabou de fazer? Estamos fodidos, agora!
Todos nós! Idiota!
Os gritos histéricos de Nay chamaram a
atenção dos dois Lykans na sala, que,
sobressaltados, interromperam a luta sangrenta e
seguiram para o quarto a fim de ver o que estava
acontecendo. Ao ver a cena, Eloy imediatamente se
transformou e pegou Nay pelo braço, puxando-a
consigo.
— Precisamos sair daqui! Rápido! — disse
com semblante carregado.
Karl também voltou à sua forma humana e,
aborrecido e receoso de ser pego ali, trocou um
olhar significativo com Luke. Soltou, então, um
palavrão e ambos seguiram Eloy. O bando saiu
rapidamente pela porta da sacada, a tempo de ouvir
as sirenes ao longe. Algum vizinho provavelmente
havia escutado o barulho dentro do apartamento e
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chamado a polícia, logo eles estariam ali.


Eloy e Karl estavam com diversos
machucados por causa do embate, por isso
decidiram ir direto para o hotel, a fim de se
limparem e fecharem a conta. No caminho, outra
discussão se iniciou.
— Isso é culpa sua, Nay! — disse Karl,
mais nervoso do que irritado. — Se você não
tivesse se metido e aparecido aqui, não estaríamos
nessa enrascada!
— Como assim?! Você nunca assume a
responsabilidade de nada, não é? — falou a ruiva
indignada. — E você foi fazer o que lá, então? Ter
uma conversa amigável com a garota? Não parecia!
— Nós íamos sequestrá-la primeiro, tirar ela
do apartamento. Depois a gente daria um sumiço
nela! — respondeu ele. — Serviço limpo, sem
deixar rastros. Mas aí... alguém apareceu, e tudo
virou uma bagunça! — ironizou.
— Você é muito burro, Karl! — retrucou
Nay. — Acha que seria fácil assim, sair dessa sem
deixar rastros? Não viu as mensagens que eu te
enviei?
— Vi! Mas e daí? — questionou o alfa
irritado. — Você diz que o cara pode ser um Warg!
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Mas o que é um Warg? O que isso tem a ver?


— Tem a ver que Wargs são como nós. Só
que maiores, mais rápidos, mais fortes e
potencialmente mais perigosos! — disse Nay,
roendo uma unha. — De qualquer forma, ele ia
saber que vocês estiveram lá. Agora ele saberá que
todos nós estivemos lá. Estamos fodidos, Karl,
fodidos! Ou acha que ele vai deixar por isso
mesmo?
— Ele matou Frederic, Nay! Esqueceu?
Precisávamos vingá-lo! — Justificou-se o Lykan,
com certa preocupação na voz.
— Não, irmãozinho, não me esqueci.
Também não me esqueci de que foi Frederic quem
o atacou primeiro! — Nay balançou negativamente
a cabeça. — Isso foi muito covarde, Karl! Se queria
vingança, por que não foi procurar diretamente o
cara, como um alfa deveria fazer? Por que
aterrorizar e atacar uma humana indefesa?
Karl não respondeu e seguiu o resto do
caminho em silêncio. Eloy e Luke também nada
diziam. O Lykan que havia atacado Liz estava
profundamente abalado e arrependido do que tinha
feito. Na hora, com os ânimos inflamados, se
deixou levar pela emoção e pelo desejo de ser útil
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ao líder do bando, mas agora entendia a gravidade


do que fizera. Enfiou a mão no bolso e puxou a
correntinha que havia arrancado do pescoço da
garota. Guardou-a novamente, constrangido; aquele
“souvenir” tinha se tornado o símbolo de seu
terrível feito.
Depois de cuidarem dos ferimentos e
pagarem a conta no hotel, resolveram seguir de
carro para a França. De lá pegariam o túnel para a
Inglaterra e depois devolveriam o carro alugado em
uma agência local. Seria mais rápido fazer isso do
que esperar até o dia seguinte para tentar encontrar
algum voo disponível.
Eloy comunicou o que havia acontecido a
Frank Schneider logo que chegaram em Londres, e
o patriarca da família ficou possesso. Nem tanto
pelo que haviam feito à garota, pois o velho Lykan
já tinha dezenas de mortes em seu próprio
currículo, mas pelos problemas que aquilo poderia
gerar. Em relação à desconfiança de Nay a respeito
do Warg, ele estava meio cético, uma vez que
achava que a existência atual destes seres era
apenas uma lenda e que eles estavam extintos há
muitos anos.
De qualquer forma, não havia dúvidas de
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que precisavam ficar atentos, pois o rapaz poderia


aparecer e tentar fazer algo contra seus filhos.
Precisava protegê-los, por isso ordenou que Eloy se
mantivesse informado e em alerta sobre os passos
de Axel.
O jovem Lykan tinha uma rede ampla de
contatos e de hackers trabalhando para ele. Assim,
através das viagens de Axel e do uso de seu cartão
internacional, não era difícil descobrir por onde ele
andava. Seu último destino havia sido a Romênia, e
já estava lá há alguns dias. Eloy, apreensivo, não
sabia o que esperar do tal Warg. Até agora ele não
havia tentado procurá-los, mas o que isso
significava? Que a humana não era tão importante
assim? Que ele não estava disposto a entrar em uma
briga? Ou que estava apenas aguardando o
momento certo para agir?
Talvez fosse melhor enviar Nay
temporariamente para os EUA, seria mais seguro.
Quem sabe ela ficaria melhor, mais tranquila...
Eloy havia percebido que sua noiva não estava
bem, andava estressada e com olheiras profundas.
Falaria com Frank sobre isso.
Dois dias depois, um pouco antes do jantar,
o Lykan recebeu uma mensagem de um de seus
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informantes. Axel havia embarcado para Londres.


— Nay, você precisa sair daqui! — disse ele
preocupado, assim que encontrou a garota e os
demais membros da família no jantar. — Ele está
vindo para Londres.
— Não vou embora sem você! —
respondeu a ruiva teimosamente.
Eloy suspirou.
— Pela centésima vez, eu não posso ir com
você... Seu pai precisa de mim aqui, não entende
isso?
— Mas o Warg vai vir atrás de você
também... Seu cheiro ficou impregnado naquele
apartamento por causa da briga com meu irmão! —
choramingou ela.
— Eu sei... Escute, não sabemos se ele vai
mesmo querer se vingar. Pode ser que só tenha
vindo a negócios; afinal, a sede de sua empresa fica
aqui.
Nay refletiu por um momento.
— Vou ficar também — respondeu a Lykan.
— Está decidido. Se tivermos que enfrentá-lo,
faremos isso juntos!
— Nay... — Eloy suspirou, não adiantava
tentar convencê-la. Quando a garota enfiava uma
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coisa na cabeça, não havia quem a demovesse


daquilo.
Ao contrário da irmã, Karl pareceu
interessado na ideia de sair do país. No entanto, seu
pai não permitiu.
— Você é o alfa do bando, Karl! — disse
Frank, irritado, durante o jantar. — Não pode
bancar o covarde e fugir! Não envergonhe a
família! Se os outros Lykans ficam sabendo de uma
coisa dessas... Como você os encararia depois?
Como espera que eles te sigam, se você se mostrar
um fraco?
— Alfa, alfa... Sou o alfa só no título, quem
toma todas as decisões por aqui ainda é o senhor.
Eu não devia ser o alfa! — exclamou o rapaz
exasperado.
Frank arregalou os olhos.
— Como ousa ser tão ingrato? — vociferou.
— Você ainda está aprendendo, moleque! Estou te
passando o bastão aos poucos, ou queria que eu te
jogasse na fogueira logo de cara? Agora, pare de se
comportar como um Lykan medroso e mimado e
aja como se espera de um líder! — disse o patriarca
encerrando o assunto.
Nay e Eloy apenas acompanharam a
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discussão sem falarem nada. A matriarca da família


conservava o semblante preocupado, mas também
permaneceu em silêncio. Não costumava se
intrometer nos assuntos de seus filhos, muito
menos contrariar o marido. Entre os Lykans, as
mulheres não tinham muito voz ativa. Nay era a
única que enfrentava esses costumes e ela se
orgulhava da filha. Esperava que um dia a garota
fosse mais livre e independente do que ela própria
havia sido.
Após o jantar, Nay pediu para Eloy subir
com ela para o seu quarto, precisava dele naquela
noite, precisava de distração e carinho. O rapaz
aceitou sem reclamar. Ultimamente não andavam
transando muito e também estava sentindo falta
dela.
Assim que entraram no quarto, a garota
empurrou-o violentamente para a cama e sentou-se
sobre ele, distribuindo beijos em seus lábios e seu
pescoço. Em seguida, ela desabotoou sua camisa,
abrindo-a e arrancando-a com furor. Desceu, então,
suas mãos pela fina linha de pelos negros que iam
do umbigo ao púbis do noivo e começou a
desafivelar seu cinto; desabotoou suas calças e, em
questão de segundos, ele estava totalmente nu.
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Nay olhou-o com malícia. Adorava admirar


aquele belo corpo masculino, vê-lo em toda sua
glória e excitação. Tirou rapidamente suas próprias
roupas enquanto o rapaz a observava com olhar
cheio de tesão. Subiu novamente na cama e
começou a beijar o corpo dele, descendo até chegar
à sua ereção. Ela sorriu e passou a língua por todo o
membro de seu noivo, abocanhando-o em seguida.
Eloy gemeu de excitação. A boca de Nay
era uma delícia e ela sabia como fazer um sexo oral
maravilhoso. Se fosse mais egoísta, teria pedido
para ela continuar até ele gozar, mas não era assim.
Ele também gostava de dar prazer à sua parceira e
de levá-la à loucura. Segurou, então, a cabeça de
Nay entre as mãos e a puxou suavemente para
cima. Deitou-a na cama e desta vez foi ele quem
passou a beijá-la e a lambê-la.
Brincou um pouco com seus mamilos, antes
de descer à sua vulva úmida. Passou sua língua por
ela, sentindo seu gosto íntimo e concentrou seus
estímulos no pequeno ponto sensível da garota.
Nay arqueou as costas de prazer. Ele sabia como
fazê-la gozar rápido e gostoso. Quando o clímax
chegou, ela gritou, sem pudor algum.
Eloy riu.
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— Nay... seus pais vão ouvir! — disse,


enquanto subia e se colocava sobre ela, roçando o
nariz em seu pescoço e beijando-o.
— Deixe que ouçam! — respondeu Nay
abrindo as pernas e convidando-o a penetrar-lhe.
O Lykan, tomado de excitação, introduziu-
se dentro dela de uma só vez. Ambos gemeram. Ele
passou a movimentar-se com rapidez, entrando e
saindo da cavidade quente e apertada da garota
vigorosamente. Ela era dele, só dele, e ele a
protegeria, seja lá qual fosse o perigo! Eloy
aumentou o ritmo e logo o orgasmo chegou intenso,
fazendo-o gemer alto enquanto inundava a garota
com seu sêmen.
Vários minutos se passaram antes dos
jovens e enamorados Lykans decidirem tomar um
banho e voltar para a cama. Demoraram ainda um
bom tempo para pegarem no sono, cada qual com
seus pensamentos e preocupações. Seria bom se o
sexo pudesse fazê-los esquecer de tudo, mas não
era assim que funcionava. No outro dia, os
problemas ainda estariam lá e precisariam ser
encarados.

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“Nay não dormia direito desde que haviam


voltado de Berlim... Agora sua vida parecia ter se
tornado um pesadelo constante.”

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Axel desembarcou em Londres e foi direto


para o hotel. Não pretendia avisar Gerald que
estava ali. Afinal, não tinha ido até lá para tratar de
negócios e não pretendia ficar por muito tempo.
Sua estadia na cidade se devia a outros interesses, e
seria melhor que seu administrador não soubesse de
suas intenções.
Na manhã seguinte, dirigiu-se a uma loja de

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essências e comprou alguns óleos aromáticos. Se


quisesse passar despercebido, teria que camuflar
seu cheiro. Havia aprendido a fazer isso no Japão,
quando precisava esconder sua natureza. Na época
usava ervas e flores encontradas nas florestas,
agora teria que preparar a essência com óleos, mas
o efeito seria o mesmo. O importante era chegar
perto dos Lykans sem que eles soubessem quem, ou
o quê, ele era.
Axel já havia vivido em Londres por muitos
anos, conhecia-a como a palma de sua mão e sabia
exatamente onde encontrá-los, em Hampstead.
Lykans ainda mantinham o costume de se organizar
em bandos e procuravam morar próximos uns aos
outros. Os mais ricos moravam em uma área mais
nobre do bairro, onde se concentravam as mansões,
e os menos privilegiados, um pouco mais afastados.
Não sabia se os Lykans que ele estava
procurando se encontravam na capital inglesa, mas
mesmo que não estivessem, uma hora certamente
voltariam para lá e, se fosse necessário, ele os
esperaria.
Voltou para o hotel e colocou os vidros com
os óleos sobre a pia do banheiro. Pingou algumas
gotas de cada um deles em um outro frasco,
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acrescentou álcool e chacoalhou-o, a fim de


misturar as substâncias; em seguida, cheirou o
resultado. Torceu o nariz. A essência continha tons
cítricos, florais e amadeirados, que seriam até
agradáveis aos humanos, contudo, não era nada
agradável ao seu olfato sensível. De qualquer
forma, serviria.
Aguardou até a noite chegar, passou a
mistura aromática em seu corpo e seguiu para
Hampstead. Começaria sua busca pela área mais
comercial do bairro, onde haviam pubs,
restaurantes, cafés e outras lojinhas.
Não demorou muito para encontrar um
grupo de jovens Lykans bebendo em um dos pubs.
Estavam em três, dois rapazes e uma garota. Axel
sentou-se no balcão e pediu um suco de laranja.
Aguardaria até que eles saíssem e os seguiria.
Quase uma hora já havia se passado e Axel
já estava entediado quando uma moça se sentou ao
seu lado. Observou-a pelo canto do olho. Ela era o
tipo de mulher que chamava a atenção só pela
presença. Alta, cabelos negros cortados em um
estilo curto e olhos incrivelmente azuis, ela parecia
não se incomodar em deixar suas curvas à mostra
através da reveladora blusa de renda. Contudo, o
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que mais chamou sua atenção foi aquele cheiro...


sutil, mas significativo. Realmente, aquilo era
inusitado.
Como se percebesse que estava sendo
observada, ela se virou e o encarou.
— Está esperando alguém ou está sozinho?
— perguntou a moça com um brilho no olhar.
Axel franziu as sobrancelhas, não
imaginava que ela fosse puxar conversa.
— Só estou dando um tempo aqui —
respondeu seco, esperando que ela se tocasse de
que ele não estava a fim de papo.
A moça fitou-o com curiosidade e chamou,
então, o barman, pedindo uma cerveja. Voltou-se
novamente para o rapaz. Ele tinha uma aparência
um tanto incomum e não parecia muito amigável,
mas não podia negar que chamava a atenção. Em
seguida, olhou para o que ele estava bebendo e
arqueou uma sobrancelha. Quem vinha a um pub e
pedia suco de frutas?
— Não bebe cerveja? — perguntou.
Axel a encarou, analisando-a. Era uma
mulher atraente, sem dúvida, e pelo sotaque parecia
americana, mas ela não deveria estar ali, muito
menos desacompanhada.
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— Não bebo álcool... — respondeu ele.


— É sério isso? — Ela riu. — Meu nome é
Ivana — disse estendo-lhe mão.
O Warg olhou para a mão da moça e por um
instante ficou em dúvida se a cumprimentava ou
não. Resolveu ignorá-la e voltou a fitar seu copo.
Ela recolheu a mão e suspirou, claramente
constrangida.
— Já lhe disseram que você é muito mal-
educado?
— Só quando me aborrecem — resmungou
ele fechando o semblante e fazendo-a erguer uma
sobrancelha.
Será que a garota não percebia que ele não
estava ali para conversar? Talvez, se a alertasse do
perigo que ela estava correndo, quem sabe ela fosse
embora...
— Escute, você não devia estar aqui —
disse Axel em um tom de aviso.
Ivana o olhou com estranhamento. Já estava
com uma raiva profunda daquele ser antipático e
ainda ele vinha com aquele papo de que ela não
devia estar ali? Desde quando um desconhecido
achava que podia lhe dizer onde deveria ou não ir.
— Por que não? — perguntou com desdém.
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— Não gostam de estrangeiros aqui nesse bar? Ou


será que os ingleses têm alguma coisa contra
mulheres saírem sozinhas para beber?
— Porque aqui é um reduto de Lykans e
eles não gostam de pessoas como você — explicou
ele, imperturbável.
A moça olhou-o assustada e depois com
desconfiança. Como ele sabia?
— Não sei do que está falando... —
retrucou ela, tentando fingir ignorância.
— Você é quem sabe... — Axel terminou
seu suco e se levantou; depois de vários copos,
precisava ir ao banheiro.
Quando retornou, a garota ainda estava lá e
parecia que o aguardava. Sentou-se e pediu uma
água ao barman.
— Como você sabe quem eu sou? —
perguntou Ivana séria.
— Pelo seu cheiro... Chupa-sangues têm
cheiro de morte... — respondeu ele, sem dar muita
atenção.
A garota arregalou os olhos.
— Como assim? Eu não tenho cheiro de
morte e não estou morta! — disse ela irritada, mas
em tom baixo. — E não nos chame por esse nome!
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É pejorativo! — Ela o olhou desconfiada. — Quem


é você? Lykans não conseguem diferenciar nosso
cheiro dos humanos.
Axel estreitou os olhos. Ela realmente não
cheirava como a morte, não era uma transformada.
Ele havia exagerado, mas certamente a moça tinha
um odor diferente, próprio dos vampiros puros, e
que ele, ao contrário dos Lykans, conseguia
diferenciar.
— Não sou um Lykan — respondeu
aborrecido. Aquela garota já estava se tornando
irritante.
— Você é o quê, então? — Desconfiada e
receosa, Ivana podia sentir o seu coração mais
acelerado. Não esperava que pudesse existir alguém
capaz de reconhecer sua espécie pelo cheiro, aquilo
não era bom...
— Um Warg — disse ele impaciente,
duvidando de que a moça soubesse realmente o que
era um Warg.
Ela riu, fazendo Axel olhá-la.
— Wargs não existem! — contestou. —
Não passam de lenda. Não pense que me assusta
dizendo algo assim.
Axel ergueu uma sobrancelha e não
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respondeu. Não estava a fim de continuar aquela


conversa e não dava a mínima para o que a vampira
acreditava ou não. Já era surpreendente que ela
soubesse o que era um Warg. Contudo não seria
ruim se ela acreditasse e se afastasse de uma vez,
pois ele podia ser tão perigoso para os Vampyrs
quanto os Lykans. Decididamente, vampiros e
lobos não eram espécies que se davam bem.
Durante séculos, ambas travaram suas
próprias guerras, e enquanto os Vampyrs levavam
vantagem na organização, os Lykans ganhavam na
força. No entanto, após uma guerra sangrenta
ocorrida no início do século XX, decidiram propor
uma trégua. Desde então, os vampiros conseguiram
o seu espaço, mas sempre procuraram se manter
discretos e afastados, uma vez que, sozinhos
sempre estariam em desvantagem. Afinal, a
mordida de um Lykan era mortal para um vampiro,
assim como a dele...
Nesse momento, os jovens Lykans se
levantaram para ir embora e Axel levantou-se
também, deixando algumas libras sobre o balcão
para pagar a conta. Ivana o olhou com surpresa, não
esperava que ele fosse sair tão rápido.
— Ei! — protestou. — Não acabamos nossa
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conversa ainda! Não pode sair assim — disse,


entrando na frente dele.
— Sim, eu posso... — Axel se desviou da
moça e seguiu para a porta.
A vampira foi atrás dele e o segurou pelo
braço, recebendo um olhar duro do rapaz, mas não
o soltou.
— Não brinque comigo. Me diga a verdade,
quem é você? — perguntou ela com um olhar tão
duro quanto o dele.
— Já te disse quem eu sou. Se não acredita
é problema seu! — retrucou ele irritado, puxando o
braço das mãos dela e se dirigindo para a saída.
A vampira estreitou os olhos e inspirou
fundo. Não estava habituada a ser rechaçada
daquele jeito e precisou se segurar para não atirar
uma cadeira na cabeça dele. Observou-o saindo
pela porta. O rapaz podia ser bonito, mas seu
humor era péssimo... Será que ele havia falado
mesmo a verdade? Um Warg? Aquilo era um
mistério e ele não parecia estar ali naquele bar à
toa. Então sorriu, isso ela logo iria descobrir.
Axel saiu do pub sentindo-se impaciente.
Não tinha nada contra vampiros, o que ele não
gostava era de gente chata. Enfim, precisava fazer o
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que tinha vindo fazer... Concentrou-se em localizar


os jovens e seguiu-os discretamente.
Não precisava chegar muito perto, podia
segui-los facilmente pelo cheiro. Ele queria saber
em qual parte do bairro, exatamente, os Lykans
haviam se estabelecido, pois era um bairro grande e
se fosse procurar seus alvos em rua por rua,
perderia muito tempo.
Dez minutos depois, os jovens entraram em
uma rua residencial repleta de sobradinhos de
tijolos grudados uns aos outros, muito comuns em
Londres. Ali, Axel já pôde sentir diferentes odores
de Lykans. Ótimo! Agora só precisava encontrar
quem ele queria.
Andou calmamente pela rua, passando pelos
jovens que havia seguido e que ainda permaneciam
conversando na porta de uma das casas. Virou uma
esquina e se deparou com mais sobradinhos. Podia
sentir o cheiro de Lykans em várias casas, mas
nenhum era o que ele estava procurando.
Caminhou por mais cinco minutos e então
sentiu, finalmente, o odor daquele que havia tirado
a vida de Liz. Ele estava a menos de quinhentos
metros, a algumas quadras dali. Axel foi, então,
tomado por uma sensação de satisfação e excitação.
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Seguiu seu olfato até chegar em frente à


residência do rapaz. Olhou para a casa; era um
sobrado germinado como todos os outros. As
janelas do andar de cima estavam abertas e uma das
luzes acesa, indicando que havia Lykans acordados
na casa.
Aproximou-se, entrou no pequeno jardim da
frente e olhou para cima, era exatamente aquela
janela que ele precisava alcançar. O algoz de Liz
estava lá dentro, sozinho... Não havia outros odores
fortes presentes na casa. Sorriu de lado, quanto
menos confusão naquele momento, melhor.
O Warg impulsionou seu corpo e, com um
único salto, segurou-se no parapeito da janela e se
ergueu, pulando agilmente para dentro do quarto.
Luke, que estava lendo um livro na cama,
sobressaltou-se e quando viu quem estava no
quarto, ficou branco como um fantasma. Saiu aos
tropeços da cama, tentando chegar à porta, mas
Axel o bloqueou entrando na sua frente.
O semblante do Warg era duro e
implacável. Seus olhos dourados cortavam como
lâminas e sua boca se contraía em uma linha fina.
Luke percebeu que estava perdido e se jogou aos
pés dele.
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— P... por favor... — gaguejou. — Perdão,


perdão... Eu não estava pensando... não devia ter
feito aquilo, eu sei..., eu fiz por impulso, eu... eu só
queria ser útil... Perdão... — implorou o Lykan em
desespero.
Axel estreitou os olhos.
— Útil a quem? Ao seu líder? — perguntou
asperamente.
Luke engoliu em seco, não podia entregar
Karl, seria uma traição...
— Não posso... não posso falar... Por
favor... — disse, já sentindo que aquilo seria sua
sentença de morte.
Axel agarrou-o pelo colarinho e o levantou
do chão, encarando-o nos olhos. Sua vontade era de
arrancar a cabeça dele com as próprias mãos.
Sentiu, então, um cheiro familiar. Estava fraco, mas
estava ali. Jogou o rapaz assustado contra a parede
e foi até uma cômoda próxima. Abriu a gaveta e
encontrou, entre as roupas, a correntinha de Liz
com o pingente de coração. Pegou-a e a observou
por alguns instantes, fechando-a, em seguida, na
palma de sua mão.
A visão daquele pequeno objeto provocou
um aperto em seu peito e, subitamente, toda a raiva
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que ele vinha acumulando veio à tona, fazendo seu


sangue esquentar e pulsar em suas veias. Olhou
ferozmente para Luke, que, terrificado, tentou
novamente escapar pela porta. No entanto, não foi
rápido o bastante. Axel o alcançou facilmente e
puxou-o pela parte de trás do colarinho, lançando-o
contra a cômoda e quebrando o espelho que havia
em cima.
O Lykan foi ao chão e tentou se levantar,
mas o Warg já estava em cima dele com a espada
na mão. Axel chutou-lhe o rosto e se aproximou
mais, pisando sobre seu peito; em seguida,
atravessou-lhe o ombro com o objeto cortante,
fazendo Luke gritar de dor.
— Quero saber onde está o seu líder, qual é
o nome dele? — rosnou Axel, ameaçadoramente.
O rapaz, apesar de estar totalmente
apavorado, permaneceu mudo quanto a isso,
murmurando apenas algumas palavras de súplica.
Ele poderia tentar se transformar e enfrentar Axel,
mas tinha a consciência de que não o venceria, o
Warg era mortal com aquela espada. Então preferiu
implorar, enquanto derramava lágrimas de agonia.
Axel retirou a espada de Luke e se afastou,
irritado e impaciente. Aquele idiota não ia falar!
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Deu uma olhada ao redor. Se o rapaz não ia abrir o


bico, algo ali naquele quarto poderia lhe dar pistas
sobre o alfa.
Em Londres existiam várias famílias de
Lykans importantes, cada uma com seu próprio
bando, um nome ajudaria a encontrá-lo. Dirigiu-se
até a cama do rapaz e logo localizou um telefone
celular. Pegou-o e para sua sorte, não estava
bloqueado.
Luke, aproveitando o momento de distração
de Axel, resolveu correr para a janela, a fim de
saltar por ela e chamar por ajuda, mas para o seu
azar, o Warg era muito mais ágil e, em uma fração
de segundo, transformou-se.
Sob a forma de lobo, Axel pulou sobre o
Lykan antes que ele alcançasse a saída, cravando
seus dentes na nuca do rapaz. Sentiu, então, o gosto
do sangue e o estalar do osso da coluna de Luke em
sua boca ao travar sua mandíbula. A morte do rapaz
foi instantânea, e, ao perceber que este já estava
sem vida, jogou o corpo inerte para o lado e voltou
à sua forma humana, limpando o sangue de sua
boca com as costas da mão.
Pegou novamente o celular. Tinha que ser
rápido, pois logo o cheiro do sangue atrairia os
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outros moradores da rua. Deu uma olhada na caixa


de mensagens e encontrou o que desejava. Karl
Schneider! Os dois Lykans haviam trocado várias
mensagens, e algumas delas se referiam justamente
a ele. Eles sabiam de sua chegada à Londres e, ao
que parecia, estavam monitorando seus passos.
Tolos! De nada adiantaria. Axel sorriu com
desprezo.
Limpou, então, rapidamente as digitais que
poderia ter deixado no quarto. Não queria encrenca
com a polícia, caso alguém viesse a chamá-los. Em
seguida, pulou a janela novamente, voltando
tranquilamente pela rua por onde tinha vindo. Era
estranho, mas sentia-se bem.
Apesar de já ter matado dezenas de pessoas
durante a guerra civil japonesa e outras dezenas de
seres sobrenaturais que o haviam ameaçado em
algum momento de sua vida, nenhuma daquelas
mortes era pessoal, e em nenhuma delas havia
sentido prazer em matar. Aquele Lykan havia sido o
primeiro a despertar esse sentimento de satisfação
nele, e, com certeza, não seria o último.
Seguiu a pé para a região das mansões em
Hampstead. Axel reconhecia aquele sobrenome,
Schneider. Eles eram antigos na cidade e
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mantinham, há várias décadas, toda a sorte de


negócios obscuros, usando empresas de fachada
para encobrir o dinheiro sujo. Não foi difícil
encontrar a residência do líder do bando, ele já
tinha uma ideia de onde eles poderiam morar e se
lembrava muito bem do cheiro de Karl.
A casa era uma mansão antiga, com um
grande jardim repleto de árvores circundando a
casa. A moça ruiva da boate e o outro Lykan
desconhecido que estiveram no apartamento de Liz
também estavam lá dentro, notou.
Observou o entorno. Havia um muro alto
que isolava a casa e dois seguranças no portão.
Câmeras de vigilância estavam instaladas ao longo
do muro. Não seria fácil entrar sem ser notado...
Neste momento, o portão se abriu e dois veículos
saíram da mansão em alta velocidade. Axel
encostou-se em uma árvore, mantendo-se à sombra
para não ser visto.
Em um dos carros, além do motorista,
estavam Karl Schneider e o cara desconhecido; no
outro, pareciam ter vários seguranças. Imaginou
que, àquela altura, provavelmente já haviam
descoberto o corpo de seu companheiro.
Uma coruja piou em um galho acima de sua
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cabeça e em seguida voou, sumindo na escuridão.


Axel, aborrecido, decidiu voltar para o hotel. Com
todos os Lykans em alerta, não havia nada que
pudesse fazer naquela noite. Pensaria com calma
em como entrar na mansão. Enfiou as mãos no
bolso e sentiu a correntinha de Liz entre os dedos.
Ele a vingaria, não descansaria até todos eles
estarem mortos.

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“A visão daquele pequeno objeto provocou um


aperto em seu peito e, subitamente, toda a raiva
que ele vinha acumulando veio à tona.”

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Nay estava nervosa com a situação. Suas mãos


suavam e ela andava de um lado para o outro na
sala da biblioteca. Eloy havia recebido uma ligação
de um vizinho de Luke tarde da noite e chamou
imediatamente Karl e seu pai para conversarem.
Não permitiram que ela entrasse na sala e, logo
depois, seu irmão e seu noivo saíram.
Isso tinha ocorrido há mais de uma hora e

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ninguém dava notícias, nem seu pai lhe dizia coisa


alguma. Frank Schneider estava inquieto e mal-
humorado, e ele simplesmente havia mandado ela
voltar para o quarto e dormir.
Até parece que ela ia dormir! Se havia
alguma coisa que a irritava profundamente, era ser
deixada de lado em assuntos importantes. Não era
justo! Esperaria. Não tinha outra alternativa... Eloy,
com certeza, falaria com ela quando chegasse.
Sentia-se agoniada e a única coisa que ela sabia era
que algo de grave tinha acontecido, com Luke...
Nesse instante, Karl e Eloy chegaram. Junto
com os seguranças, descarregaram um saco preto e
o levaram para o porão. Nay, que acompanhava o
movimento pela janela, sobressaltou-se. Será que o
que eles temiam tinha realmente acontecido?
Correu para o porão, precisava saber.
Na porta, Eloy quis convencê-la a não
entrar, mas não teve sucesso. A Lykan empurrou-o
e se aproximou, temerosa, do embrulho. Karl, com
uma expressão de nojo, abriu o saco e dentro dele
estava Luke, com o pescoço destroçado e sua
cabeça pendurada apenas por um fio de pele.
Nay virou o rosto, fechando os olhos.
Aquilo era horrível! Merda! Estavam mesmo
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ferrados! Saiu rapidamente do porão e foi para o


seu quarto.
Devastada, sentou-se na cama e colocou a
cabeça entre as mãos. Precisava pensar, precisava
fazer alguma coisa...

No dia seguinte, antes mesmo do café, uma


reunião acontecia na mansão entre Frank e os dois
rapazes.
— Cadê a Nay? — perguntou o patriarca.
— Isso é de interesse dela também!
— Não a vi hoje, ainda... — disse Eloy,
preocupado. — Pelo que eu soube, saiu cedo com o
carro, mas não falou para ninguém aonde iria.
— Deixe-a... Deve ter ido fazer compras!
— respondeu Frank. — Mulheres são assim,
quando algo as deixam nervosas, correm para
gastar dinheiro. É melhor do que calmante... —
ironizou.
— O que vamos fazer, pai? — perguntou
Karl com o semblante transtornado. Não havia
dormido nada e o seu medo era quase palpável.

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— Temos duas alternativas... — disse


Frank. — Ou tomamos a iniciativa e acabamos com
ele de uma vez, ou propomos uma trégua.
— Podemos escolher a primeira? — sugeriu
o alfa. — Não quero depender da boa vontade dele
de cumprir um acordo. Quero viver em paz!
Eloy franziu as sobrancelhas. Não tinha
tanta certeza que assassinar um Warg — se é que
ele era mesmo um — seria fácil. Ele, com certeza,
perceberia a presença de Lykans, caso chegassem
muito perto. Uma luta corporal estava fora de
cogitação. Teria que ser com arma de fogo.
Suspirou. Detestava aquilo! Se havia algo que o
incomodava em sua função, e muito, era ter de
servir de capataz de Frank. Além disso, seu instinto
lhe dizia que estavam diante de um problema bem
maior do que parecia ser...
A alguns quilômetros dali, Nay entrava no
saguão do luxuoso Royal Wolf London Hotel.
Embora nervosa e com medo, estava decidida a
confrontar o Warg, tinha que tentar resolver aquilo.
Foi até a recepção e pediu para falar com Axel
Andersen.
— Seu nome? — perguntou a moça do
balcão.
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— Nayara Schneider.
A recepcionista fez uma ligação,
anunciando-a. Assim que desligou, pediu para ela
subir. Nay estremeceu, não queria ficar à sós com
ele.
— Será que ele não poderia me atender aqui
embaixo? — solicitou ela.
A moça a olhou com cara de cansaço e fez
uma nova ligação. Desta vez, após um “sim,
senhor”, ela lhe pediu para aguardar no bar do
hotel, pois logo Axel desceria.
Nay se dirigiu para onde a funcionária do
hotel havia indicado, um bar conjugado ao saguão,
e se sentou em uma mesinha. Seu coração batia
descompassado. Teria sido uma boa ideia ir até lá
sem dizer nada a ninguém? Seu pai certamente
desaprovaria... Felizmente, ali era um lugar seguro.
O Warg não se atreveria machucá-la em público. O
rapaz do bar veio atendê-la e ela pediu um café.
Tinha um nó em seu estômago, não conseguiria
comer nada, nem que quisesse.
Dez minutos mais tarde, o temido rapaz de
cabelos brancos apareceu, sentando-se à sua frente.
Ele não disse nada. Apenas a observou com olhos
frios e impassíveis. Nay engoliu em seco, todos os
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pelos de sua nuca estavam arrepiados e não


conseguia articular nenhuma palavra. Axel lhe
incutia medo e respeito apenas pelo olhar.
— O que você quer? — perguntou ele com
voz gelada, após notar que a Lykan estava muda de
pânico.
Nay apertou as mãos sobre o colo e respirou
fundo, tentando se acalmar e encontrar as palavras
certas para dizer.
— Sei que está furioso... — começou ela,
insegura. — Tem razão de estar. O que aconteceu
em Berlim foi... terrível. — Baixou
momentaneamente os olhos, mordendo o lábio
inferior.
Tocar naquele assunto com ele deixava-a
profundamente perturbada. Estava mais receosa do
que nunca, uma vez que não tinha ideia de como
ele reagiria. Nay podia escutar seus próprios
batimentos cardíacos, de tão intensos que estavam.
Por fim, encarou-o e disse num fio de voz:
— Eu... estou aqui porque quero pedir o seu
perdão, em nome da minha família e do meu bando.
Axel semicerrou os olhos. Aquela Lykan era
jovem demais para representar quem quer que
fosse. Seriam eles tão covardes ao ponto de enviar
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uma garota mal saída da adolescência para encará-


lo?
— Quem te enviou? Seu pai? — perguntou.
— Não! Ele não sabe que eu estou aqui!
Vim por conta própria! — respondeu Nay
rapidamente. Não queria envolver mais ninguém da
família naquele imbróglio. — Meu pai não tem
nada a ver com a morte da garota humana, ele não
sabia...
— Está dizendo que o líder do bando não
tem controle sobre os seus subalternos? — indagou
Axel com sarcasmo.
— Não! Meu pai não é mais o alfa! Ele
passou essa posição para o meu irmão — explicou
a ruiva. — Ele estava viajando, não tinha como
saber o que Karl... — Parou subitamente de falar,
não podia comprometer ainda mais o irmão.
O Warg sorriu cinicamente.
— E também não foi seu irmão que te
enviou?
— Não, eu juro! Eu decidi vir até aqui sem
avisar ninguém!
A Lykan tinha os olhos assustados, mas
expressavam a verdade.
— Por quê? — perguntou Axel.
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— Porque eu quero consertar isso, foi tudo


um grande erro! Por favor... chega de mortes...
— Deviam ter pensado nisso antes de... —
A imagem de Liz veio à mente de Axel, fazendo-o
interromper a fala. As lembranças ainda pesavam
em seu coração. — Ela não merecia aquilo! Era só
uma garota comum que nem ao menos sabia da
existência de seres como nós — completou em um
tom agressivo.
— Eu sei... — concordou Nay
envergonhada. — Eu sei... eu sinto muito...
— Não me interessa o que você sente! —
interrompeu ele irritado. — Você perdeu seu tempo
vindo aqui. E pode informar ao seu pai que logo ele
vai ter que escolher um novo alfa — disse ele com
frieza e se levantou, indicando sua intenção de ir
embora.
O coração de Nay quase parou, ao mesmo
tempo que um frio arrepiante lhe percorria a
espinha. Arregalou os olhos atônita. Aquele rapaz à
sua frente estava mesmo disposto a matá-los,
todos? Levantou-se também e, em seu desespero,
antes que ele lhe desse as costas, agarrou-o pela
manga da camisa.
— Não! Por favor... espera! Me escuta! —
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suplicou ela, com os olhos marejados de lágrimas.


— Por favor... já houve muitas mortes... Se
continuar com isso, vai iniciar uma guerra!
Ele encarou-a com ódio no olhar.
— Não fui eu quem começou essa guerra —
rosnou Axel entre dentes. — Eu lhes deixei bem
claro quando lhes disse que acabaria com todos
vocês caso voltassem a me incomodar, e vocês
fizeram muito mais do que isso! Agora que arquem
com as consequências! — completou,
desvencilhando-se das mãos da Lykan com um
puxão.
Nay já não segurava mais as lágrimas.
Colocou as mãos sobre o rosto, não sabia mais o
que dizer para tentar convencê-lo. Mas ainda havia
uma coisa que ela precisava pedir, nem que fosse
de joelhos. E assim a Lykan o fez. Abaixou-se na
frente de Axel, apoiando um de seus joelhos no
chão, e inclinou a cabeça, em um gesto de
submissão; algo comum entre os seus pares quando
alguém precisava do perdão do líder.
— Então... Pelo menos, poupe Eloy... —
implorou a ruiva. — Ele só estava lá para me
acompanhar. Ele tentou defender a humana e lutou
com meu irmão por causa dela. Por favor..., poupe-
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o de sua vingança.
— Levante-se garota! — ordenou Axel,
irritado. — Não me confunda com um Lykan! Não
sou seu líder, não se rebaixe assim, não preciso
disso! — Diante da imobilidade de Nay, pegou-a
pelo braço e a levantou, fazendo-a encará-lo.
Para seu constrangimento, Axel notou que
estavam chamando a atenção das pessoas que
estavam por ali. Embora não houvesse quase
ninguém no bar àquela hora, uma vez que a maioria
dos hóspedes tomava seu café no restaurante,
alguns dos que estavam, observavam curiosos a
cena.
— Sente-se! — disse ele em voz baixa, após
conduzi-la para uma mesa mais ao canto e se sentar
também.
Chamou o atendente do bar e pediu dois
chás, precisavam acalmar os ânimos. Olhou para a
moça ruiva e refletiu por um momento.
Provavelmente Eloy era o cara desconhecido cujo
odor ele havia notado, tanto no aeroporto, quanto
no apartamento. Fazia sentido o que ela dissera.
Realmente tinha ocorrido uma luta entre dois
Lykans na casa de Liz. Agora estava explicado, mas
ainda haviam algumas coisas a serem esclarecidas.
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Por que esse Eloy estava lá com ela? Além disso, a


moça à sua frente não se encaixava no perfil de
alguém que parecia compactuar com assassinatos...
— E onde você entra nessa história? —
perguntou, finalmente, Axel.
Nay estava tão abalada que não sentia mais
medo, apenas queria acabar com aquilo de uma
vez. Queria dizer ao Warg tudo o que havia
acontecido; entretanto, um sentimento de culpa a
corroía por dentro. Abaixou o rosto e fixou seu
olhar no chão. Não podia...
Mesmo não querendo concordar com as
palavras de seu irmão, acusando-a de ter começado
tudo aquilo e estragado seus planos. Mesmo
dizendo para si mesma que Karl era o responsável
por suas próprias decisões e atos insanos. De
alguma forma, aquelas acusações mexiam com ela.
Se pudesse voltar no tempo..., nunca teria
chamado a atenção do irmão para a presença do
Warg na boate. Foi um erro, um grande erro,
reconhecia e se martirizava todos os dias por isso.
Diante desse sentimento de culpa, não se sentia no
direito de tirar seu corpo fora e jogar Karl no fogo.
Além disso, eles eram uma família e Lykans nunca
abandonavam seus parentes.
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Axel, impaciente, inclinou-se sobre a mesa


e segurou no queixo da garota, levantando-o e
olhando em seus olhos. Havia tristeza ali,
vergonha, culpa.
— Escute aqui, moça... — disse em um tom
de advertência. — Estou cansado de perder meu
tempo com você! Portanto, é melhor começar a
falar agora! Não pode vir aqui e pedir para que eu
perdoe alguém, sem me dizer exatamente o que
vocês fizeram. Se quiser que eu ignore a
participação do tal Eloy nisso tudo, vai ter que me
convencer melhor, ou todos irão morrer! —
ameaçou.
Nay começou a chorar de novo, seu peito
parecia que ia explodir. Sem saber mais o que
fazer, optou por dizer a verdade, ou não conseguiria
poupar Eloy...
O chá chegou e, após alguns goles, a Lykan
começou a falar. Contou tudo o que havia
acontecido, desde o dia da boate até chegar naquela
trágica noite em Berlim. Falou de suas pesquisas,
de suas mensagens para Karl e de sua tentativa
frustrada de impedi-lo.
Conforme ia falando, Nay foi se sentindo
mais leve, como se um peso estivesse sendo tirado
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de seus ombros. Ficou imaginando se era assim que


as pessoas se sentiriam em um confessionário,
quando admitiam seus erros. De qualquer forma,
aparentemente seu coração estava mais calmo e
mantinha a esperança de que o rapaz ao menos
perdoasse seu noivo.
— Sinto muito... Eu não consegui ajudá-la...
— disse ao final do relato. — Eu não percebi que
Luke... — Ela abaixou a cabeça. — Fui uma tola,
eu sei..., desde o começo...
Axel encostou-se na cadeira pensativo.
— Devo concordar que você tem razão em
algumas coisas... — disse ele, observando o
semblante de expectativa da moça. — Eu sou
mesmo um Warg, sou perigoso e seu irmão
cometeu um erro ao vir atrás de mim e de Liz.
Ele fez uma pausa. Apesar de seu coração
clamar por uma vingança sangrenta, sendo ele o
juiz e o executor da sentença, então devia ser,
acima de tudo, justo.
— Não vou perdoar o seu irmão, Srta.
Schneider, Karl vai pagar pelo que fez! Quanto a
você e ao outro rapaz... — continuou, inclinando-se
em direção à Lykan. — Escute bem... Não costumo
deixar pontas soltas, mas farei uma exceção no seu
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caso, desde que vocês compreendam que este é o


meu último aviso. Se vocês se aproximarem de
mim novamente, toda sua alcateia vai morrer,
inclusive sua mãe, caso tenha uma — ameaçou,
cortante.
Nay ficou branca. Sabia que ele não estava
brincando.
— Então... Pretende caçar Karl? —
perguntou ela, com os sentimentos divididos entre a
angústia de perder o irmão e o alívio por ter
salvado Eloy.
— Caçar? Não... a não ser que ele fuja. —
Axel sorriu, seus olhos eram mordazes. — Já que
ele é o alfa, prefiro desafiá-lo em uma Pugna, um
embate à moda antiga, se ele concordar... Embora
eu reconheça que ele estará em desvantagem, ao
menos seu irmão terá a chance de lutar pela sua
própria vida. — Levantou-se. — Fico no aguardo
de uma resposta, ele tem dois dias para decidir. Até
lá, não irei procurá-lo.
Nay também se levantou e assentiu com a
cabeça. O pesadelo ainda estava longe de acabar...
Agora precisava falar com seu irmão e com seu pai.
Eles iam querer matá-la, com certeza..., mas pelo
menos ela tinha conseguido convencer o Warg de
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que Eloy não tinha culpa de nada. Se eles


quisessem um novo acordo, que viessem procurá-
lo, teriam dois dias para isso...
— Eu irei comunicá-lo... — respondeu. —
E... realmente sinto muito pelo que houve com a
humana... Se eu pudesse voltar no tempo, teria
ignorado sua presença naquela maldita boate...
— Não se culpe pelos atos de seu irmão. As
más decisões foram tomadas por ele, não por você.
A Lykan concordou e saiu do bar de cabeça
baixa, sob o olhar analítico do Warg. A garota era
jovem e inexperiente, mas corajosa...
Aborrecido, Axel resolveu subir para o
quarto, já estava farto de ficar ali em público, sendo
observado por hóspedes e funcionários curiosos.
Ao entrar na suíte, foi até a mesinha de centro e
pegou outro bombom. Então deitou-se no sofá e
ficou olhando para o teto.
Aquela suíte era a mesma que um dia ele
dividira com Liz. Em outros tempos teria escolhido
um quarto menor, mas aquele lugar era especial.
Foi onde ele teve sua primeira noite com ela, e estar
lá era, ao mesmo tempo, dolorido e reconfortante.
Fechou os olhos e suspirou, cobrindo o
rosto com o braço. A vida dele estava uma
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bagunça, seu interior estava uma bagunça. Por


vezes não sabia o que queria. Valia à pena começar
uma guerra por vingança? Por uma humana? Não a
teria de volta de qualquer forma...
Aquela conhecida dor no peito retornou
com força. Sempre que ele pensava em Liz, a dor
surgia e parecia querer esmagar o seu peito, sua
garganta se fechava e ele tinha vontade de esmurrar
ou quebrar algo.
A dor o conduziu à raiva e a imagem de
Karl lhe veio à mente, quase pôde sentir seu cheiro.
Queria arrancar a cabeça dele... Ah! como queria...
Se tivesse que começar uma guerra, que assim
fosse! E se tivesse que morrer por isso, que fosse
também! Mas antes, ia mandar aquele maldito
Lykan para o inferno!

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“Já que ele é o alfa, prefiro desafiá-lo em uma


Pugna, um embate à moda antiga, se ele
concordar...”

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— Você fez o quê? — espantou-se Eloy,


quando Nay disse que havia procurado Axel.
Sob os olhares surpresos de todos ali na
sala, a Lykan contou, então, como havia sido sua
conversa com o Warg e sobre a proposta que ele
havia feito.
— Nay! Como pode ser tão... tão
irresponsável?! — berrou Frank Schneider. — E...

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merda! Você não pode sair decidindo as coisas


assim! Não tem autoridade para isso! Quando é que
você vai entender que não tem o direito de falar por
ninguém desta família?
— Não fui até lá falar por vocês! —
defendeu-se Nay. — Fui fazer um pedido a ele,
para que não haja mais mortes.
— Ah, sim! E o que conseguiu? Um embate
entre ele e seu irmão? — Frank estava furioso. —
Então é assim? Você sacrifica seu irmão para poder
livrar o seu rabo? Que tipo de Lykan é você? Que
trai de forma tão vil seus familiares?
A garota arregalou os olhos.
— O senhor está de brincadeira, não é? Eu
não sacrifiquei Karl! Eu só disse a verdade! Se eu
não fizesse isso, ele viria atrás de todos nós,
inclusive de Eloy, que não tem nada a ver com toda
essa merda! — exclamou ela, com os nervos à flor
da pele. — A verdade, meu pai, é que se não fosse
pelas burradas de Karl, não estaríamos nesta
situação! Talvez, a pergunta real deveria ser: por
que nós temos que nos sacrificar por ele?
Em um movimento inesperado, Frank
elevou sua mão e desferiu-lhe um sonoro tapa no
rosto, tão forte que a fez se desequilibrar e cair no
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chão.
— O seu irmão é o alfa! E sim, se for
preciso, nós iremos nos sacrificar por ele. Porque
somos uma família, algo que você parece não
compreender — vociferou o patriarca. — Agora
suma daqui! Não quero ver a sua cara de novo até
resolvermos isso! Está proibida de sair de casa!
Nay levantou-se do chão de cabeça baixa.
Lágrimas rolavam pelo seu rosto, mas ela não
queria que ninguém as visse, principalmente Eloy.
Saiu da sala rapidamente e foi direto para o seu
quarto, trancou-se e se pôs a chorar copiosamente.
Por que era tratada desse jeito? Por que não a
levavam a sério? Estava tão errada assim?
Lembrava-se de ter sentido culpa na frente
do Warg, por também se considerar um pouco
responsável pela morte da humana... No entanto,
ele próprio a tinha perdoado, e ela não havia pedido
por aquilo, apenas pedira por Eloy. Agora, seu pai e
seu irmão, talvez até seu noivo, a consideravam
uma traidora. Mas por quê? Pensando
racionalmente, não era certo! Por que ela tinha que
responder pelos atos de seu irmão? Por que todo o
bando deveria sofrer as consequências dos erros de
apenas um indivíduo? Só porque ele era o alfa? Por
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que os Lykans tinham que ser assim? Tão tribais,


tão atrasados?
No andar térreo da mansão, a reunião
continuava entre os três Lykans restantes.
— Pelo menos ganhamos dois dias para nos
preparar... — ponderou Eloy, ainda profundamente
incomodado pela forma como Nay havia sido
tratada. Por muito pouco não havia confrontado
Frank e sentia-se mal por não ter feito nada.
— Não a defenda — irritou-se Karl. — Não
há justificativa para o que Nay fez! — voltou-se,
então para Frank. — Não vou ter que fazer isso,
não é, pai? Enfrentá-lo em uma Pugna? —
perguntou Karl. — Vamos acabar com ele antes,
certo?
— Não se preocupe, não vai enfrentá-lo
sozinho, Karl — respondeu o patriarca. —
Podemos aproveitar essa oportunidade para
montarmos uma armadilha.
— Pretende quebrar a tradição do desafio?
— perguntou Eloy, surpreso, referindo-se à
proposta de embate à moda antiga do Warg.
Diferente do que ocorria nos desafios atuais,
há centenas de anos, nas Pugnas tradicionais, os
combatentes lutavam em sua forma de lobo até a
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morte, sem interferência externa e sem que nenhum


deles pudesse optar por desistir. Eloy sabia disso, e
ao que parecia, Frank estava disposto a não cumprir
com as antigas regras.
— Pretendo salvar essa família! —
respondeu secamente Frank. — Envie uma
mensagem ao Warg dizendo que Karl aceita o
desafio — continuou. — Marcaremos o embate
para depois de amanhã à noite na fábrica de
tecidos. Quero que você recrute os mais fortes e
fiéis Lykans para estarem lá. Certifique-se de que
manterão a boca fechada depois que tudo acabar.
Não quero que boatos, dizendo que somos
traiçoeiros, comecem a se espalhar por aí. Seria
péssimo para a reputação do bando!
— Entendo, mas o Warg pode desconfiar
quando perceber a presença de outros Lykans —
argumentou Eloy.
— Pouco me importa que ele desconfie. Já
vai estar lá mesmo. Caso tente fugir, acabamos com
ele e ponto final! — respondeu o patriarca,
levantando-se do sofá onde havia se sentado após
Nay sair da sala. — Selecione cinco... não, seis
Lykans que saibam manejar armas de fogo.
Providencie pistolas .40 para eles. Nada pode sair
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errado, entendeu?
— Sim, senhor — concordou o rapaz.
Frank saiu da sala seguido por Karl, que,
exibindo um sorriso sarcástico, completou antes de
passar pela porta:
— Diga à minha irmãzinha que ela está
fodida. Vou cuidar pessoalmente para que ela volte
para os EUA e que não retorne nunca mais à
Inglaterra.
Eloy franziu o cenho. Nay não merecia
aquilo, ela só tinha tentado ajudar... Suspirou.
Queria vê-la, sabia que ela estava precisando dele,
mas não podia ainda. Precisava recrutar os Lykans,
conforme Frank pedira. Se falhasse, estariam todos
fodidos...

Axel recebeu a confirmação do desafio e o


local do embate no dia seguinte. Procurou o lugar
no mapa e viu que ficava a cerca de dez
quilômetros dos limites da cidade. Se conhecia bem
os Lykans, certamente haveria um embuste ali. Eles
eram muito leais entre si, mas sempre foram

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traiçoeiros nos negócios e mentirosos quando lhes


era conveniente.
Não importava... Já havia lutado guerras
muito piores do que enfrentar um punhado de
Lykans. Deixou o papel de lado. Precisava ligar
para Gerald, que já havia deixado uma dezena de
mensagens em sua caixa postal, e isso não era
normal.
Apesar de inicialmente não desejar que seu
administrador soubesse de sua vinda à Londres, sua
estadia estava se prolongando mais do que previra e
sabia que Gerald estava precisando que ele
assinasse alguns documentos. Talvez passasse no
escritório de uma vez. Ainda tinha dois dias até a
Pugna, e já estava entediado de olhar para o teto do
quarto do hotel.
Meia hora depois, o Warg entrava na sala de
Gerald.
— Axel! O que anda fazendo? — perguntou
ele. — Soube que fez uma cena no bar do hotel
ontem e que está em Londres há pelo menos três
dias. Por que não me ligou?
— Tenho outras coisas a resolver, Gerald...
— Axel franziu as sobrancelhas, o CEO tinha
mesmo olhos e ouvidos em todos os lugares... —
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Nem tudo na minha vida gira em torno no hotel,


okay?
O velho executivo suspirou. Sim... Com
tudo o que havia acontecido recentemente com o
rapaz, ele deveria ter imaginado algo assim.
— Posso te ajudar com alguma coisa? —
perguntou Gerald, desconfiado. Ele sabia que Axel
não deixaria a morte daquela garota passar em
branco e temia que ele tivesse se metendo em
encrenca.
— Não... Está tudo sob controle —
respondeu o Warg. — Não pretendo ficar por muito
mais tempo...
— Okay, você é quem sabe... Apenas tome
cuidado! — aconselhou o CEO. — Vamos aos
negócios. Tem uma série de documentos aqui para
você aprovar e assinar.
Axel passou aqueles dois dias examinando
contratos, prestação de contas e discutindo sobre
trabalho com Gerald. Ao final do segundo dia,
preferiu aguardar o horário que ele deveria sair para
o encontro com os Lykans no próprio escritório. Era
tarde e todos já haviam ido embora quando pegou o
carro no estacionamento e seguiu para o local
combinado.
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Aparentemente era uma fábrica em


operação, embora não houvesse expediente naquele
horário. Passou por um Lykan que fazia a segurança
na entrada e seguiu em direção ao prédio principal.
O pátio estava vazio, exceto por dois carros lá
estacionados. Encostado em um deles, havia um
rapaz com as mãos enfiadas nos bolsos.
Axel estacionou e saiu de seu veículo,
reconhecia o cheiro daquele Lykan, era o tal Eloy.
Conforme se aproximava, o rapaz de cabelos pretos
se desencostou do carro. Eles se encararam e o
Warg analisou-o rapidamente. Outro jovem
Lykan... O olhar de Eloy era indecifrável e sua
postura era altiva, porém ele exalava adrenalina e
aquilo só podia significar uma coisa: que estava
certo em relação à emboscada que os Lykans
provavelmente estavam armando. Axel estreitou os
olhos, seria uma pena ter que matá-lo, o garoto não
parecia ter má índole.
— Por favor, me acompanhe — disse Eloy,
dirigindo-se a um anexo do prédio que parecia ser
um depósito.
Dentro do galpão, oito Lykans os
esperavam. Axel logo reconheceu Karl, o maldito
exibia uma expressão de desdém, embora também
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demonstrasse um pouco de nervosismo. Ao seu


lado, havia um Lykan mais velho, provavelmente o
pai. Os outros seis, aparentemente seguranças,
estavam espalhados pelo lugar.
— Teremos plateia? — perguntou Axel
com um sorriso cínico.
Karl olhou-o com arrogância.
— Vamos acabar logo com isso! — disse o
alfa, saindo de perto do pai e se encaminhando para
um espaço vazio no centro do galpão.
Axel o seguiu, impassível. Pararam de
frente um para o outro e se entreolharam. Karl deu
um sorriso meio de lado.
— Você veio aqui achando que poderia
acabar comigo, não é? — desdenhou o Lykan. —
Pois saiba que quem vai morrer aqui hoje é você,
Warg. Em nome de Frederic e Luke, eu juro que
não sairá daqui com vida!
O alfa deu alguns passos para trás, enquanto
os outros Lykans avançavam de suas posições,
rodeando Axel, que sem demonstrar qualquer
perturbação, apenas os observou. Em seguida, Karl
dirigiu-se rapidamente para a saída junto com o pai.
Eloy aguardou que ambos passassem pela porta do
galpão e depois a fechou atrás de si.
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— Sinto muito por isso... — disse ele a


Axel. Então, ordenou aos outros: — Atirem!
Os seis Lykans puxaram suas armas de
dentro dos casacos ao mesmo tempo em que Axel
se transformava assumindo sua forma de lobo. O
Warg abaixou a cabeça enquanto eles atiravam, as
balas resvalavam em sua pele, arranhando e tirando
sangue, mas sem conseguir penetrá-la. O que os
Lykans não sabiam é que haviam poucos pontos
vulneráveis no corpo de um Warg e o dorso não era
um deles. Era preciso mais do que balas comuns
para machucá-lo com seriedade.
Eloy arregalou os olhos, pasmo... Por aquilo
ele não esperava! Observou enquanto o Warg
aguardava, imóvel, as armas descarregarem. Logo
compreendeu que ele não se mexia para não expor
partes do corpo que poderiam ser feridas pelos
projéteis.
Após uma chuva de balas, os Lykans
finalmente pararam de atirar, e Axel, num salto,
avançou para cima do que estava mais próximo. O
Lykan colocou o braço na frente do rosto para se
defender, mas o Warg arrancou-o com uma única
mordida. O segurança caiu de costas no chão
gritando de dor e tentando parar o sangue que
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jorrava do que havia restado do seu braço.


Axel virou-se, então, para outro Lykan e
saltou sobre ele, enquanto este, nervoso, ainda
tentava recarregar a arma. Desta vez, atacou-o
direto no pescoço, matando-o na hora.
Os demais Lykans, assustados, largaram as
armas no chão e se transformaram, acreditando que
teriam mais chances na forma de lobo, pois,
embora fossem quase dois palmos menores que o
Warg, estavam em maior número. Eles avançaram,
um atacou pela frente e outro por cima, enquanto os
outros procuravam um espaço no meio da luta que
se desdobrava.
Entre rosnados e ganidos, Axel mordeu e
foi mordido. Em um movimento seco e rápido,
conseguiu derrubar o Lykan que estava sobre ele e
deu uma patada no outro. Imediatamente um dos
que estavam de fora o atacou no pescoço. Ambos
rolaram no chão e o Warg conseguiu ficar por
cima, fechando a mandíbula sobre sua jugular e
destroçando-a.
Axel saltou, então, para o lado, colocando
uma distância entre ele e os Lykans que restavam.
Contou, ainda haviam três, fora Eloy, que apenas
observava a luta.
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Para surpresa de todos, Axel


inesperadamente se transformou, voltando à sua
forma humana. Os Lykans se entreolharam, sem
entender. Eloy também estava confuso. Por que ele
faria aquilo? Logo veio a resposta. O Warg levou a
mão ao pescoço e puxou um cordão que, em um
piscar de olhos, se transformou em uma espada.
O que aconteceu em seguida foi tão rápido
que Eloy mal conseguiu acompanhar. Axel avançou
velozmente e golpeou os enormes lobos de forma
ágil e precisa. A katana japonesa era extremamente
afiada e bastava um único golpe para desmembrar
ou produzir profundos cortes nos Lykans. Em
pouco tempo, todos estavam no chão. Quatro
mortos e dois feridos gravemente.
Axel voltou-se para Eloy, sacudiu a espada
para tirar o excesso de sangue e caminhou até o
rapaz que, aturdido e boquiaberto, permaneceu
firme no lugar.
— Como quer fazer isso? — perguntou
Axel friamente.
— Se me permitir, gostaria de enfrentá-lo
em um combate na forma de lobo — respondeu
Eloy. — Mas antes... quero lhe pedir que, caso eu
perca, não machuque Nay... Por favor! Ela é uma
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boa garota...
O Warg observou-o por um momento, o
rapaz parecia sincero em sua preocupação com a
moça.
— Sabe... É comovente ver como vocês
dois se protegem — disse ele. — Ela chegou a me
pedir de joelhos para que te poupasse... E eu
concordei. Pena que você não valorizou o gesto
dela...
— Não tive escolha... — retrucou Eloy. —
É obrigação minha obedecer ao meu líder. Não
posso ir contra as decisões dele, mesmo que isso
me coloque em risco.
— Ainda assim, você o enfrentou em
Berlim — lembrou o Warg.
— Não estou me referindo a Karl —
explicou o Lykan com a voz carregada de raiva
reprimida. — Ele é o alfa, mas quem manda mesmo
é o pai, Frank; a quem devo minha vida e minha
fidelidade.
— Certo! Então, em nome dessa sua
fidelidade, transforme-se e me enfrente. Vamos ver
do que é capaz — disse Axel com um meio sorriso,
enquanto recolhia sua espada e a fazia retornar à
forma de colar.
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Ambos se transformaram. Rodearam-se e


encararam-se. Eloy possuía clara desvantagem
corporal, ainda assim, atacou primeiro, saltando
para cima do adversário. Contudo, Axel desviou,
acertando-lhe uma patada que o fez desequilibrar-
se. O Warg aproveitou para investir e cravou seus
dentes nas costas do Lykan, que urrou e se virou
bruscamente, conseguindo tirar Axel de cima dele e
se livrar da mordida.
Sangrando, Eloy avançou novamente. Não
desistiria tão fácil, lutaria até suas últimas forças.
Utilizando-se de toda a sua potência de ataque,
conseguiu derrubar Axel e ambos se engalfinharam
e rolaram pelo chão. A pelagem escura do Lykan se
misturava com a pelagem branca do Warg que já
estava coberta de sangue; sangue dele, de Eloy e
dos Lykans que o haviam atacado anteriormente.
Rosnados, urros e bramidos ecoavam pelo
galpão enquanto os dois lobos investiam, um contra
o outro, em uma luta feroz. Axel, por ser maior,
levava vantagem. O Lykan até conseguia mordê-lo,
mas o Warg se desvencilhava fácil e contra-
atacava, provocando mais danos do que recebendo.
Até que, após alguns minutos de intenso combate, o
grande lobo branco ficou por cima, pronto para dar
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o golpe fatal.
Neste momento, Eloy voltou para sua forma
humana e Axel estacou.
— Por favor... — disse o Lykan com a voz
fraca e coberto de machucados. —Poupe Nay... —
pediu o Lykan, antes que o próprio Axel voltasse à
sua forma humana e lhe desferisse um soco no
rosto, fazendo-o apagar.
Axel se levantou e olhou em volta, o lugar
estava uma bagunça. Sangue, corpos e pedaços de
corpos espalhados por todo o chão... Aquilo havia
sido totalmente desnecessário, mas não teve opção.
Pegou o rapaz desacordado nos ombros e
levou-o para o carro. Também estava machucado e
coberto de sangue, mas agora que havia começado,
iria até o fim. Colocou Eloy no banco de trás,
amarrando suas pernas e braços com uma corda que
tinha no porta-malas. Entrou, então, no veículo e
seguiu para a mansão dos Schneider. Aquilo
acabaria naquela noite.

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“Ambos se transformaram. Rodearam-se e


encararam-se.”

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Nay aguardava, angustiada e extremamente


nervosa, qualquer notícia de seu pai, de Eloy ou de
seu irmão sobre o que estava ocorrendo na Pugna,
que, segundo seu noivo, na verdade seria uma
emboscada. Não estava com uma boa sensação em
relação àquilo. Olhou, ansiosa, pela janela da
biblioteca assim que escutou o ruído de um carro se
aproximando da casa.

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Para aumentar ainda mais seu desespero,


apenas seu pai e seu irmão saíram do veículo. Onde
estava Eloy? O que tinha acontecido? A ruiva
correu para a porta da frente, enquanto Karl e Frank
entravam.
— Cadê o Eloy? — perguntou de olhos
arregalados, seu coração batia descontroladamente.
— Ele ficou para resolver o assunto! —
respondeu Frank com o semblante fechado e
passando por ela sem lhe dar importância.
— Como assim? Vocês o deixaram lá,
sozinho? Por quê? Como puderam fazer isso? —
explodiu a garota.
— Cale a boca, Nay! — berrou Karl. —
Não se meta! Já estou cansado de ouvir sua voz.
Eloy ficou porque era a obrigação dele. Ele trabalha
para nós, é um empregado!
— Eloy não é só um empregado, imbecil! É
o meu noivo! — As lágrimas começaram a escorrer
sem que ela conseguisse controlá-las. — Ele é da
família também...
— Ah! Agora você pensa em família? —
Karl riu. — Você é muito hipócrita! Na hora de
ficar do meu lado, que sou seu irmão e seu alfa,
você quis pular fora!
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Nay crispou as mãos, a vontade que tinha


era de socar a boca do seu irmão, furar seus olhos,
esganá-lo de alguma forma.
— Não se compare a ele! — gritou ela. —
Eloy não tem culpa das suas merdas! Na verdade,
ele é muito melhor do que você, Karl! Ele nunca
fugiu de suas responsabilidades, diferente de você!
Karl olhou-a furioso e avançou, envolvendo
o pescoço da irmã com as duas mãos enquanto a
empurrava contra a parede. Nay começou a se
debater, derrubando alguns objetos de decoração
que estavam em um aparador próximo. O barulho
chamou a atenção de Frank, que estava na
biblioteca se servindo de uma dose de vodca.
Ele não tinha mais paciência para aquelas
discussões entre irmãos, por isso havia entrado na
biblioteca e fechado a porta, mas logo ficou
preocupado com os sons que pareciam ser de vasos
quebrando. Será que os idiotas não sabiam que
aqueles vasos eram antigos e custavam uma
fortuna? Irritou-se e decidiu voltar para verificar o
que estava acontecendo.
Encontrou Nay prensada por Karl na
parede, com os pés fora do chão e quase sem ar. Ela
tinha suas mãos sobre as de seu irmão, tentando
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tirá-las.
— Karl! — berrou Frank, pegando-o por
trás e travando seus braços, obrigando-o a largar a
garota. — O que pensa que está fazendo?
Nay caiu no chão sentindo dificuldade para
respirar. Sua visão havia escurecido e por pouco
não tinha desmaiado, ou morrido... Escutou seu pai
gritando com Karl, mas não conseguia entender as
palavras. Quando finalmente recuperou o
raciocínio, ouviu Frank dizer:
— Vocês deviam ter vergonha! Como
podem se atacar assim? Se a mãe de vocês estivesse
aqui, ela ficaria chocada! Sorte a dela, ter ido viajar
há alguns dias para a França e não ter que passar
por este desgosto. — Sua voz ecoava pela casa, de
tão alta.
O patriarca pegou Nay pelo braço,
levantando-a com estupidez.
— Você não consegue mesmo ficar com
essa boca fechada, não é? — ralhou ele, enquanto a
sacudia. — Tem que provocar, afrontar, desafiar...
Já estou no meu limite com você. Por que não pode
ser como as outras garotas Lykans? Tenho inveja
do Thomas, ele sim tem uma filha que é uma graça.
Não sei onde eu errei com você! Acho que foi ao te
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mandar estudar nos EUA. Os americanos viraram


sua cabeça, só pode ser!
Nay queria protestar, mas não tinha forças,
nem ânimo. Sua garganta ainda doía e parecia
fechada, até a saliva passava com dificuldade. A
única coisa que queria era sair dali e ficar a sós.
Tentaria falar com Eloy, saber se ele estava bem. A
Lykan sentia seu peito apertado, oprimido, tanto
pela preocupação com o noivo, como pelas
insensíveis palavras do seu pai. Frank nunca havia
demonstrado um amor paternal por ela, sempre a
menosprezara e raramente a ouvia, mas desta vez
ele tinha desprezo em seus olhos, como se ela fosse
um fardo, e aquilo a machucava profundamente.
Desvencilhou-se das mãos dele e, sem dizer
nada, subiu para o seu quarto. Agora, vendo como
seu pai, sem o menor remorso, havia abandonado
seu noivo para que resolvesse sozinho a situação
com o Warg, conseguia enxergá-lo melhor. Frank
Schneider era frio, calculista e cruel. Usava as
pessoas e as descartava conforme seus interesses,
não importava o quanto aquela pessoa lhe tinha
sido fiel. O único a quem ele realmente protegia era
Karl. Ela sabia que seu pai era duro e impiedoso,
mas nunca imaginara que ele pudesse ser tão
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mesquinho...
A revolta crescia cada vez mais dentro de
Nay, fazendo-a esmurrar a cama. Estava com ódio
naquele momento, ódio de todos, de seu pai, de seu
irmão, de sua mãe, que nunca ficava do lado dela,
estava com ódio de ser uma Lykan, de ser uma
mulher, de ser filha de Frank. Agarrou, então, o
travesseiro e enfiou a cara nele, dando um grito de
raiva.
Irritada e abalada, respirou fundo tentando
se acalmar, pois ainda tinha que ligar para Eloy,
precisava saber dele. Jogou o travesseiro para o
lado e pegou o celular para fazer a ligação. Quando
tudo aquilo passasse, tentaria convencê-lo a sair da
Inglaterra com ela. Não importava para onde iriam,
só queria se afastar daquela família insuportável. A
ligação completou, mas o rapaz não atendeu. A
Lykan tentou várias vezes e as chamadas só caiam
na caixa postal. Aquilo era desesperador. A
angústia e a preocupação atingiram um pico que ela
nunca sentira antes. As lágrimas voltaram a rolar
quentes por seu rosto. Foi, então, até a janela e
ficou olhando para fora, na esperança de vê-lo
chegar são e salvo.

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Algum tempo depois, Axel parava o carro


próximo à mansão. O portão da frente estava
guardado por dois seguranças, mas ele não queria
fazer alarde ao entrar. Pularia o muro pelo jardim
da casa ao lado, que não possuía tanta vigilância.
Embora estivesse coberto de sangue e seu
cheiro pudesse ser notado a dezenas de metros de
distância, tinha a vantagem de não estarem
esperando por ele. Quando percebessem, já estaria
dentro da mansão. Quanto menos Lykans precisasse
enfrentar antes de encontrar os Schneider, melhor...
Observou Eloy no banco de trás, ele ainda
estava inconsciente. Teria exagerado no soco? O
celular do rapaz havia tocado várias vezes,
provavelmente queriam saber como as coisas
tinham ido. Não entendia por que o havia trazido,
nem por que o havia poupado. Naquele momento,
guiado por seus instintos, sentiu que não deveria
matá-lo. Apenas esperava não se arrepender.
Deixou o Lykan amarrado dentro do carro e
saiu. Saltou o muro da casa vizinha e de lá pulou
para dentro do jardim dos Schneider.
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O Warg rodeou a mansão à distância, não


havia janelas abertas. No entanto, para sua sorte,
viu quando um funcionário, provavelmente da
cozinha, saiu pela porta dos fundos para fumar no
quintal. Axel sorriu, o homem era um humano. Os
Lykans dificilmente se dispunham a fazer serviços
domésticos, como limpeza e serviços gerais, por
isso as famílias ricas eram obrigadas a contratar
humanos para estas posições. Bem, azar o deles.
Aproveitou para se aproximar e, antes que o
funcionário percebesse, o Warg aplicou-lhe um
golpe na nuca, fazendo-o desmaiar.
Axel entrou na casa e seguiu seu faro.
Àquela altura, provavelmente os Lykans também já
estavam cientes de que ele estava ali. Transformou
seu colar na espada. Precisava ter cuidado com as
malditas armas de fogo, seu corpo na forma
humana não era resistente a elas como na forma de
lobo.
Passou pela cozinha sob os olhos assustados
da cozinheira e de uma copeira. Sem lhes dar
atenção, entrou por um corredor, passou pela sala
de jantar e, ao sair no hall, quase foi atingido por
uma bala. Escondeu-se rapidamente atrás da
parede, enquanto outros tiros eram disparados.
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Nay, que estava na janela esperando por


Eloy, escutou os disparos e saiu do quarto
assustada. Olhou para baixo, pelo vão da escada, e
viu seu irmão de arma em punho atirando. Não
conseguiu ver contra quem, mas sentiu o cheiro
dele e logo concluiu quem era. Se o Warg estava
ali, isso significava que Eloy... Levou a mão à boca
e se afastou, voltando para o quarto e trancando a
porta. Sabia que isso não o impediria de entrar ali,
mas também não precisava facilitar.
Sentindo-se destroçada por acreditar que o
noivo estava morto, deitou-se na cama, colocou os
fones de ouvido, ligou seu MP3 player e cobriu a
cabeça com o travesseiro. Não queria ouvir nada
que viesse de lá de fora, não queria ver nada. Que
fosse todo mundo para o inferno! Não dava mais a
mínima! O mundo poderia acabar naquele minuto
que ela não se importaria.
Axel não podia enfrentar os projéteis em
sua forma humana, então guardou a espada e
transformou-se em lobo, saindo no hall, ainda sob
os tiros. Quando Karl percebeu que as balas não
perfuravam o Warg, correu para a biblioteca e
trancou a porta. Seu pai estava lá dentro, com um
semblante assustado e também com uma pistola nas
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mãos.
— Não adianta! Armas não funcionam
contra ele! — exclamou Karl visivelmente
transtornado.
— Não é possível, ele não pode ser imortal!
A espécie dele quase foi extinta por humanos. Tem
que haver um modo! — replicou o pai.
— Se existe um modo, com certeza não dá
para pesquisar isso agora! — bufou Karl, no
momento em que a porta da biblioteca recebia um
forte impacto.
Felizmente, para os Lykans, a porta era de
madeira maciça e não cedeu. Imediatamente, pai e
filho arrastaram a pesada mesa de mogno do centro
da sala para frente da porta, dificultando ainda mais
sua abertura. Outras duas batidas foram ouvidas e,
em seguida, seguiu-se um silêncio perturbador.
— Será que ele foi atrás de Nay? —
perguntou Karl.
— Se foi, não podemos fazer nada... —
respondeu Frank secamente.
Mal havia terminado a frase e a vidraça
atrás de ambos se estilhaçou. Axel entrara em sua
forma de lobo pela janela, surpreendendo-os. Frank
virou a arma em sua direção, mas antes que
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conseguisse atirar, o Warg já estava sobre ele,


derrubando-o e mordendo-o no pescoço. Sangue
começou a esguichar da artéria rompida e o
patriarca caiu no chão com as mãos na garganta
tentando conter o fluxo.
Axel, com a boca ainda pingando sangue,
virou-se para Karl que, de olhos estatelados e
empunhando a arma em sua direção, tremia mais do
que vara verde. O Lykan atirou, mas a bala passou
longe. Largou, então a arma no chão e caiu de
joelhos.
— Por favor... por favor... perdão! Não me
mate! — implorou Karl com voz esganiçada. — Eu
não ia matar sua garota, só queria assustá-la... —
mentiu. — A culpa foi do Luke, que não entendeu
nada. Ele a matou por conta própria! Mas você já
cuidou dele, certo? Por favor... eu não queria que
aquilo acontecesse... — disse com lamentação
fingida.
Axel voltou à sua forma humana e o
encarou com desprezo.
— Pois saiba que não acredito em nenhuma
palavra do que diz — falou friamente. — Você é
um covarde dissimulado! Um péssimo líder, com
um péssimo caráter!
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Um toque na perna fez Axel olhar para


baixo, Frank tentava segurá-lo enquanto se
engasgava no próprio sangue, contudo, no instante
seguinte, sua mão se afrouxou e ele o largou, estava
morto.
Karl continuava apavorado, mas viu
naquele breve momento de distração, uma chance
para atacar o Warg. Com um único impulso,
avançou com um salto, transformando-se ainda no
ar em um grande lobo cinzento. O alfa pretendia,
deste modo, derrubar Axel, cravar os dentes em sua
cabeça e arrancá-la.
Entretanto, o que Karl não havia reparado é
que o Warg, ao voltar para sua forma humana,
manteve seu colar na mão. Assim, no mesmo
instante que o Lykan o atacou por cima e o
derrubou, Axel transformou o artefato na espada e a
transpassou no abdômen do lobo escuro,
aproveitando o impulso para lançá-lo por cima da
cabeça.
O alfa soltou um ganido e caiu sobre o sofá,
virando-o. Axel se levantou e caminhou até o lobo.
Apesar do rasgo na barriga, ele ainda estava vivo e
se contorcia tentando ficar em pé.
O Warg estreitou os olhos e acertou-lhe um
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chute no ferimento, abrindo-o mais e expondo suas


vísceras. O Lykan foi ao chão com outro ganido e
voltou, então, para sua forma humana. De bruços,
Karl começou a se arrastar, deixando um rastro de
sangue pelo chão, sua expressão era de terror.
A ira e o nojo que Axel tinha por aquele
sujeito eram tão grandes que ele teria o maior
prazer em continuar vendo-o ali morrer aos poucos,
mas não podia se dar ao luxo. Não tinha ideia do
motivo pelo qual os seguranças não tinham
aparecido ainda, mas com certeza logo estariam ali,
e a polícia também.
Aproximou-se, então, de Karl e, sem dó,
atravessou a espada em uma das coxas do ruivo,
arrancando-lhe um grito de dor. Em seguida se
agachou e falou-lhe ao ouvido.
— Por mim, eu passaria horas te torturando
— disse com uma voz ameaçadora e gelada. — Eu
queria que você sofresse as piores dores do inferno,
mas felizmente, para você, não tenho tempo para
isso.
Axel se levantou, retirou a espada da perna
do Lykan e desceu-a novamente sobre ele, desta vez
trespassando-lhe um dos rins. Karl soltou um grito
abafado e engasgado, enquanto urinava nas
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próprias calças. O Warg, imperturbável, retirou a


katana das costas do ruivo e virou-o com o pé,
encarando-o; o alfa tremia e respirava com
dificuldade.
Poderia deixá-lo morrer assim, ele não
sobreviveria mesmo por muito tempo, mas Axel
precisava finalizar aquilo, queria ter a satisfação de
ver a vida se esvair daqueles olhos covardes. Então,
com um só movimento da espada, decepou-lhe a
cabeça.
Axel observou o corpo inerte do alfa
aguardando aquela sensação de alívio ou satisfação
que havia sentido quando matara Luke, mas a única
coisa que sentia ali era repulsa. Aquele Lykan na
sua frente não era digno de nenhum tipo de
sentimento que não fosse asco.
Limpou, então, o excesso de sangue da
espada no tecido do sofá e a recolheu em sua forma
de colar. Em seguida, afastou os móveis da frente
da porta da biblioteca e saiu. Decidiu ir atrás de
Nay, ele sabia que a garota estava no andar
superior. Subiu as escadas, ainda estranhando o fato
de os seguranças da portaria não terem aparecido,
pois certamente eles haviam escutado os tiros.
Tentou girar a maçaneta da porta da Lykan e
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viu que também estava trancada. Ele bateu e


aguardou. Bateu novamente. Como a garota não o
atendia, resolveu arrombar o quarto. Impaciente,
meteu o pé na porta, que abriu de uma só vez com
um estrondo. A jovem ruiva estava deitada de
bruços na cama com o travesseiro sobre a cabeça.
Axel arqueou uma das sobrancelhas e se
aproximou, ela não se mexia. Tirou o travesseiro de
cima de sua cabeça e viu, ou melhor, ouviu que a
moça escutava uma música em um volume
extremamente alto em seus fones. Arrancou-os
também e ainda assim, ela não se mexeu. O Warg
suspirou e sentou-se em uma poltrona próxima.
Naquele momento, Nay fez ele se lembrar de Liz,
de quando ela ainda era uma adolescente teimosa e
cabeça dura.
— Garota! — disse ele, tentando afastar os
pensamentos tristes e se manter paciente. — Você
foi até o meu hotel e eu te escutei, agora é sua vez
de me escutar. Levante-se daí!
Finalmente ela se mexeu e lentamente foi se
sentando, mas não o encarou. Axel viu que ela
estava chorando.
— Eu avisei, mas vocês não deram
importância... — continuou ele. —Acreditaram
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mesmo que poderiam me enfrentar? Se o seu pai


tivesse um mínimo de honra e não tivesse
interferido, poderia estar vivo ainda.
— Eles não... não me ouviram... —
murmurou Nay, entre soluços. — Agora estão
todos mortos...
— Eles tiveram o que mereciam.
A Lykan fungou, ainda de cabeça baixa.
Não queria encará-lo.
— Poderia ser rápido, por favor?
— Rápido? — perguntou Axel estreitando
os olhos, sem entender.
— Acabe logo com isso, pode ser com
aquela sua espada. Não quero sentir muita dor...,
por favor...
— Já passou pela sua cabeça que seu
quisesse te matar, já o teria feito? — disse o Warg
sem se alterar.
Nay levantou o rosto, ela podia sentir o
cheiro do sangue de Eloy nele.
— Pois é melhor que me mate! —
respondeu ela entre lágrimas, mas com a voz
carregada de rancor. — Você me tirou aquele que
eu mais amo, não vou conseguir perdoá-lo, assim
como você não perdoou meu irmão por ter lhe
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tirado o seu amor. Se não me matar agora, um dia


eu irei atrás de você.
— Você está falando de Eloy?
— Sim... ele era o único que me respeitava
e que me amava... Eu não quero viver sem ele, eu...
— Nay?! — uma voz alarmada soou da
porta. — Você está bem? Afaste-se dela Warg.
Deixe-a em paz! — gritou Eloy entrando no quarto.
— Eloy?! — exclamou Nay surpresa. —
Não está morto?
— Não... ainda... — Olhou para Axel, que
parecia calmo demais sentado na poltrona. — Fuja,
Nay! Eu seguro ele o quanto eu puder...
Axel se levantou, assustando a garota e
fazendo-a se encolher um pouco.
— Você estava falando algo sobre ir atrás
de mim... — lembrou o Warg, voltando-se para ela.
— Tem razão, talvez seja melhor acabar logo com
isso...
Nay arregalou os olhos e avançou para ele,
tropeçando e agarrando em suas pernas ao cair.
— Não... espera, por favor... — disse ela de
joelhos e olhos suplicantes. — Eu... me desculpe,
eu me precipitei... Eu juro, por tudo o que é
sagrado, pela minha honra..., eu juro que não vou
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mais entrar no seu caminho, nenhum de nós —


corrigiu, olhando para Eloy. — Por favor...
Eloy, ainda sem entender por que não havia
sido morto no galpão, aproximou-se e também se
ajoelhou na frente de Axel, como Nay fizera no
hotel, inclinando a cabeça.
— Você me venceu em combate e tinha o
direito de me matar, mas não o fez. Por isso, tem a
minha total gratidão e o meu respeito — disse o
rapaz em tom formal. — Como Lykan e seguindo
as tradições que regem nossa hierarquia, reconheço
você como meu líder e a partir de agora devo-lhe
minha fidelidade e minha obediência. Juro servir-
lhe e proteger-lhe com minha própria vida, meu
alfa...
Axel arqueou as sobrancelhas.
— Não sou alfa de ninguém! — exclamou
ele. — Quero apenas que jure que não vai se meter
comigo de novo! Guarde sua fidelidade para essa
garota aqui — disse Axel, tirando Nay de suas
pernas e levantando-a pelo braço. — Aliás, posso
saber como se livrou das cordas? — perguntou.
Eloy o olhou meio confuso e então se
levantou.
— Meti o pé na porta até ela abrir. Depois
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disso consegui me arrastar para o chão. Aí os


seguranças da casa vizinha me viram e me
desamarraram — explicou ele.
— Está dizendo que danificou a porta do
meu carro? — questionou Axel com uma ruga entre
as sobrancelhas.
O Lykan ficou mudo. Diante de tudo o que
havia acontecido, não esperava que o Warg fosse se
preocupar justo com aquilo.
Axel suspirou e virou-se, então, para Nay.
— O que te falei no hotel sobre pontas
soltas está valendo. Deixarei que vivam, mas se
cruzarem novamente o meu caminho, não restará
um membro da família vivo. Entenderam?
Nay assentiu timidamente. Estava arrasada
e com o coração abalado pela perda do pai e do
irmão, mas Eloy estava ali e sua mãe estava segura.
Poderiam recomeçar, poderiam viver em paz. Sua
vontade de construir uma vida ao lado de quem
amava era maior do que qualquer sentimento de
tristeza, raiva ou vingança que pudesse ter.
Os Schneider estavam colhendo o que
haviam plantado e ela reconhecia que também
tivera sua cota de responsabilidade naquilo. Agora
ela tinha uma chance, e não a deixaria escapar.
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Com certeza, jamais iria atrás do Warg, ou


permitiria que seu noivo fosse. Aquele pesadelo
acabava ali.
Axel passou por Eloy que, ainda
apreensivo, não se moveu do lugar. Ele realmente
os tinha deixado viver? Assim que o Warg saiu, o
jovem Lykan correu para Nay e a abraçou forte.
Estavam vivos e estavam juntos, e era isso o que
importava. Não sabia como seria dali para frente,
sem os homens da família Schneider no comando,
mas tinha certeza que tudo se acertaria com o
tempo.
Isso fez Eloy pensar que precisava dar um
jeito nos corpos. E haviam muitos. Por sorte, o dia
seguinte seria sábado e a fábrica não abriria. Teria
algum tempo para conseguir pôr ordem nas coisas e
forjar um motivo para a morte de Frank e Karl.
Com o sentimento de dever cumprido, Axel
desceu as escadas pensativo, saiu da mansão e, ao
passar pela portaria, estranhou ao ver os corpos dos
dois seguranças no chão. Cutucou-os com o pé.
Estavam vivos, apenas inconscientes... O que tinha
acontecido ali? Não havia sido ele que fizera
aquilo, teria sido Eloy? Estranho... Por que ele faria
aquilo?
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O Warg franziu as sobrancelhas e se dirigiu


ao carro, deu uma olhada no estrago feito por Eloy
e suspirou. Empurrou, então, a porta amassada com
força, travando-a de qualquer jeito apenas para não
ficar aberta, e partiu para o hotel. Absorto em seus
pensamentos, não reparou na mulher de olhos azuis
parada do outro lado da rua a algumas dezenas de
metros de distância.
Dois dias depois, Axel finalmente entrou no
avião a fim de ir para sua casa na Romênia. Preferia
ter voltado no dia anterior, mas não tinha
conseguido passagem. Pegou um jornal que havia
comprado e começou a folheá-lo. Após passar o
olho displicentemente por algumas páginas, uma
pequena manchete lhe chamou a atenção:
“Empresário Frank Schneider e seu filho sofrem
acidente de carro”. A notícia continuava dizendo
que o veículo que eles estavam havia saído da
estrada e caído de um penhasco no mar. Os corpos
não haviam sido localizados e a filha Nayara, única
herdeira, assumiria os negócios da família.
Axel fechou o jornal. Como de costume,
pegou uma barra de chocolate de sua maleta e deu
uma mordida, saboreando o doce. Não tinha certeza
se havia feito o certo poupando a garota e o rapaz,
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mas não se arrependia. Aqueles Lykans eram


jovens demais e mereciam a chance de tomar as
rédeas de suas próprias vidas. Só esperava que
aquelas pontas soltas não virassem um nó.
Enfiou a mão no bolso e retirou dele a
correntinha com o pingente de Liz. Finalmente,
aquilo havia acabado..., mas seu coração ainda
continuava pesado e vazio. Não via a hora de
chegar em sua cabana. Ele precisava de paz e de
silêncio, precisava de espaço, de solidão, precisava
de um tempo para deixar seu coração sangrar
livremente...

O céu estava limpo e claro naquele dia, e


Axel observava, sem expressão, a paisagem à sua
frente. Aquele lugar que sempre lhe trazia calma,
agora lhe parecia cinza e sem graça. Como sua vida
podia ter mudado tanto em tão pouco tempo?
Levantou-se de sua costumeira rocha no alto da
montanha e inspirou o ar fresco do início do
outono. Estava na hora de descer... Antes de voltar
para Londres, ainda queria visitar o túmulo de Liz.

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Transformou-se em lobo e começou a correr


por entre as árvores.
Já fazia dois meses que ele havia retornado
para a Romênia, dois meses que ele completara seu
plano de vingança... Pensava que aquilo fosse lhe
trazer alívio, mas por dentro ainda se sentia uma
casaca vazia. Apertou o passo, saltando troncos e
quebrando galhos por onde passava.
Durante aquelas semanas de isolamento,
não havia prestado muita atenção aos dias e não se
importara com o que acontecia com o mundo fora
de sua cabana. Entretanto, ao mesmo tempo que
não queria ver ninguém, também havia percebido
que não se sentia mais tão à vontade em ficar
sozinho naquele lugar como antes. O vazio e o
silêncio o perturbavam. Era um sentimento
contraditório que ele não conseguia compreender.
Um bando de aves voou ao atravessar o centro de
uma clareira.
Cansado de brigar com os seus próprios
fantasmas, decidira, então, voltar logo para
Londres; já estava na hora de seguir em frente.
Havia percebido que precisava ocupar a mente e
parar de se lamentar, pois aquele vazio só lhe trazia
angústia e desespero. Precisava fazer algo de sua
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vida ou ficaria louco.


Axel desceu a montanha sem dar nenhuma
pausa. A exaustão, o suor e o vento lhe batendo no
corpo lhe traziam, ao menos de forma momentânea,
uma sensação de alívio e de libertação de suas
dores.
Entrou na cabana cabisbaixo. Seu voo para
Londres estava marcado para a noite, mas antes
precisava se despedir... Apesar de estar ali há tanto
tempo, ainda tão tinha tomado coragem para visitá-
la. Desde o enterro de Liz, não havia mais estado
naquele lugar. Era como se não quisesse aceitar que
ela havia partido, mas não podia continuar assim,
precisava superar aquilo, precisava...
Axel se trocou e seguiu para o cemitério.
Ao chegar próximo ao túmulo, colocou um ramo de
flores no vaso e sentou-se na frente da lápide,
observando o nome da garota gravado na pedra.
Há quase seis anos ele a tinha salvado da
morte, há dez meses ela batera novamente na porta
de sua cabana e ele a rejeitara. Pouco tempo depois
ele descobrira, para seu espanto, que a desejava,
que a amava, que a queria ao seu lado. Então ele a
perdera...
Liz havia despertado nele sentimentos e
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emoções que nunca imaginara ser capaz de sentir, e


que talvez nunca mais sentisse novamente.
Amor...
Então isso é que era amor? Um sentimento
que aparecia sem ser chamado, invadia o peito,
confundia o raciocínio, aquecia o coração, mas que
também podia destruir a alma? Porque era assim
que ele se sentia por dentro, destruído, arruinado.
Fechou os olhos e, pela primeira vez,
deixou que as lembranças de Liz fluíssem
livremente. A voz, o sorriso doce da garota, seu
cheiro, o jeito espontâneo, a teimosia, as birras e
discussões, os beijos quentes, a pele macia, o
abraço carinhoso... Abaixou a cabeça e uma
lágrima quente rolou pelo seu rosto. Quando havia
sido a última vez que ele havia dito a ela que a
amava? Não... ele não havia dito... A dor em seu
peito aumentou ainda mais, como se seu coração
estivesse sendo esmagado.
Ele nunca dissera... Ao contrário dela, que
sempre se declarava com um sorriso. Ele não havia
tido aquela coragem, e se arrependia agora... Ah,
como se arrependia, como queria ter falado... Liz
nunca ouvira de sua boca como ele a queria, como
ele a admirava, como ele a amava... Ele nunca
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havia sido bom com as palavras... Outras lágrimas


vieram, mais quentes, mais amargas. Colocou,
então, as mãos sobre o túmulo.
— Desculpe, Liz... Perdão... — murmurou,
abaixando-se mais e encostando a testa na pedra
fria. Seu coração sangrava, quebrado,
despedaçado...
Axel perdeu a noção de quanto tempo ficou
naquela posição, ou por quanto tempo chorou, mas
quando as lágrimas finalmente secaram, levantou o
rosto e tomou uma decisão: nunca mais se
permitiria amar, nunca mais passaria por tal
desespero novamente, nunca mais voltaria a se
sentir assim. Aquelas seriam suas primeiras e
últimas lágrimas...

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“... tinha a vantagem de não estarem


esperando por ele. Quando percebessem, já
estaria dentro da mansão.”

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Londres, dezembro de 2002 (dois anos depois,


véspera de Natal)

CAnsado de ler relatórios, Axel desligou seu


computador e se recostou na confortável poltrona
de seu escritório. Há dois anos ele voltara quebrado
para Londres e afundara a cabeça nos negócios.
Tinha feito daquele lugar sua âncora, procurando se
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manter ocupado o máximo de tempo que podia.


Quando não estava trabalhando, estava lendo ou
assistindo a algum filme. Não conseguia mais ficar
sozinho com seus pensamentos, não conseguia mais
encontrar paz na solidão.
Ellen bateu, então, na porta e entrou.
— Aqui está, Axel, o dia, o horário e o
número do seu voo — falou a secretária,
entregando-lhe um papel. — Tem certeza de que
não quer passar o Ano Novo aqui? Podemos ver o
fogos na London Eye.
— Não, Ellen... Não gosto de fogos —
respondeu, olhando para as informações do papel e
guardando-o no bolso interno do paletó pendurado
no encosto da cadeira. Realmente não havia nada
mais irritante e ensurdecedor do que aquele barulho
infernal de fogos estourando. Já havia
acompanhado uma vez o Réveillon em Londres e
seus tímpanos pareciam que iam explodir.
— Ah... — Ela fez uma expressão de
frustração. — Mas hoje você vai, não é?
— Sim, eu vou...
A jovem loira sorriu.
— Que ótimo. Estaremos te esperando! —
disse. — Vou indo, então, até mais tarde.
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No momento em que a moça saía, Gerald


entrava.
— O que aconteceu para a Ellen estar tão
feliz? — perguntou ele.
— Deve ser o espírito natalino... — falou
Axel, vestindo o seu terno.
— Aceitou o convite dela? — O
administrador estreitou os olhos esboçando um
sorrisinho meio de lado.
— Aceitei — respondeu o rapaz com uma
ruga entre os olhos.
— Ahhh! — berrou Gerald, fazendo Axel
se assustar. — Não acredito! Espera aí, me belisca.
É sério isso?
— Não precisa fazer um circo por causa
disso. Só aceitei porque é a décima vez que ela me
convida e cansei de dar desculpas, quem sabe assim
ela sossega e me deixa em paz.
Gerald permanecia com um sorriso no rosto.
— Não me olhe assim — continuou Axel
injuriado. — Não é um encontro, Gerald. É véspera
de Natal e terá outras pessoas, a família, creio eu,
amigos...
— Ou amigas...
Axel franziu ainda mais as sobrancelhas.
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— Você só pensa nisso... — disse, passando


pelo amigo.
— Vai vir para o escritório depois do Natal?
— perguntou o CEO seguindo-o.
— Sim, sexta eu ainda venho. Minha
viagem só está marcada para o sábado.
— Entendi... Bom..., então depois você me
conta como foi. — Ele abriu um sorriso largo.
O Warg olhou-o aborrecido. Gerald não
tinha jeito...
Axel voltou para o hotel meio irritado e já
arrependido de ter aceitado aquele convite, tinha
sido uma péssima ideia. Onde estava com a cabeça?
Bufou ao entrar no quarto. Olhou no relógio, Ellen
havia marcado o jantar para as 21 h. Portanto, tinha
tempo para tomar um banho e descansar um pouco.

Sentindo-se totalmente deslocado, chegou


na casa da secretária no horário marcado e ela veio
receber-lhe com entusiasmo. Diferente das roupas
sóbrias que a moça costumava usar no escritório,
desta vez ela usava um vestido curto colado ao
corpo.
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Se Axel já estava arrependido só por aceitar


o convite, ao entrar na casa teve vontade de se
atirar pela janela. Havia pelo menos umas quinze
pessoas ali, sendo mais da metade de jovens
mulheres, que o olharam como se ele fosse uma
presa a ser caçada.
A noite se arrastou como uma tartaruga.
Após o jantar, brindaram a chegada do Natal e em
seguida iniciaram uma extenuante rodada de
conversas e bebidas, das quais Axel não provou
nenhuma.
Exausto de tanto fugir daquelas mulheres
loucas assediadoras, foi até a cozinha pegar um
copo d’água. Precisava se lembrar de nunca mais
entrar em uma roubada daquelas.
Estava degustando sua água
demoradamente quando Ellen surgiu na porta. Ela
sorriu e se aproximou. Se aproximou demais, na
verdade, chegando a quase colar o corpo no dele.
Axel instintivamente se afastou um pouco,
mas não muito, pois a pia estava bem atrás dele.
— Está gostando da festa, Axel? —
perguntou a loira com olhos brilhantes enquanto
ajeitava, ou fingia ajeitar, a gola da camisa dele.
Desconcertado, o Warg não sabia o que
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dizer. Ele estava detestando a festa e detestando


mais ainda a proximidade dela, o problema era
como dizer aquilo sem magoar a anfitriã. Mas que
merda! Eles trabalhavam juntos. Não podia fazer
daquilo um mal-entendido. Não queria perder a
secretária, ela era eficiente, apesar de tudo.
— Hum... Sim, a festa está interessante —
mentiu. — Só não estou acostumado...
— Fiquei muito feliz que tenha vindo —
disse Ellen se aproximando ainda mais, encostando
sua coxa na dele.
Como se tivesse levado um choque, Axel
deu mais um passo para trás e acabou batendo
bruscamente contra pia, movimento que refletiu no
copo que tinha em mãos e fez com que um pouco
da água de seu interior se derramasse sobre os dois.
Ellen soltou um gritinho fino.
Aproveitando o mau jeito e a pequena
confusão, o Warg se desvencilhou do aperto que a
moça o havia colocado, deslocando-se de sua
posição e se dirigindo agilmente à outra
extremidade do balcão, a fim de buscar o papel
toalha. Arrancou várias folhas e entregou algumas
para a secretária, enquanto ele próprio se enxugava.
— Ellen — disse. — Muito obrigado pelo
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convite, o jantar estava ótimo, mas preciso mesmo


ir.
— É Natal, Axel... — falou ela
decepcionada. — Amanhã é feriado...
— Sim, eu sei, mas só porque eu não irei
trabalhar amanhã, não significa que eu não tenha
nada para fazer — respondeu jogando o papel no
lixo. Na verdade, ele não tinha nada para fazer no
dia seguinte, mas isso não era da conta dela. Sorriu,
como Gerald havia lhe ensinado, imaginando que a
fala dele, no fim, tinha saído meio grosseira. —
Obrigado, mais uma vez. — Levantou a mão em
um rápido aceno e dirigiu-se apressadamente para a
porta da sala.
Saiu da casa sentindo-se aliviado. Que
situação constrangedora... Queria esmurrar sua
própria cabeça por ter vindo até ali.
Voltou para o hotel e, ao deixar o carro com
o manobrista, olhou as horas. Já passava da 1 h da
madrugada. Suspirou, teria sido mais produtivo
ficar vendo um filme.
Estava atravessando o saguão quando notou
uma pequena discussão no balcão da recepção. Não
deu muita atenção, não estava com humor para se
inteirar do que era, ele tinha gerentes para resolver
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aquele tipo de coisa.


— Isso é ridículo! Eu fiz minha reserva,
tenho o papel aqui, posso provar — dizia, bastante
irritada, a moça de cabelo chanel curto e escuro.
— Sinto muito, senhora. Não sabemos o
que aconteceu... — respondeu o rapazinho da
recepção.
— Certo, e agora?
— Podemos tentar ajudá-la a achar um
outro hotel e...
— Um outro hotel? — berrou ela. — Hoje é
Natal, acabei de fazer uma viagem de 7 horas de
avião, minha mala extraviou, o taxista me assediou
e ainda vou ter que procurar, a essa hora, um lugar
para ficar? Não acredito! Que merda de hotel é
esse?
Axel, que já estava quase chegando nos
elevadores, parou e deu meia-volta. Ninguém dizia
que o hotel dele era uma merda.
— O que está acontecendo? — perguntou
ele se aproximando do balcão.
A moça olhou-o estática.
— A reserva da senhorita sumiu do sistema
e o quarto já foi ocupado por outro hóspede, Sr.
Andersen. Não sabemos o motivo.
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— E não temos outro quarto?


— Estamos lotados, abriremos uma vaga
amanhã após o check-out de alguns hóspedes, mas
no momento não temos nada...
O Warg suspirou e se virou para a moça que
ainda o encarava fixamente. Só então reparou em
sua postura altiva e elegante, mesmo aparentemente
cansada e com as roupas amarrotadas da viagem.
— Sinto muito pelo transtorno. Se você não
se importar, minha suíte tem um quarto
desocupado. Você pode ficar lá se quiser, até que
consigamos resolver essa situação.
A jovem de cabelos pretos e olhos azuis
arqueou uma sobrancelha. Estava duplamente
espantada. Ela se lembrava perfeitamente dele.
Aquele cara era o Warg que ela conhecera há pouco
mais de dois anos no pub, quando estivera em
Londres para um congresso. E agora ele estava
propondo que ela ficasse na mesma suíte que ele?
Indecisa, tamborilou os dedos sobre o
balcão. O Warg claramente não a havia
reconhecido, mas ainda assim ele ainda continuava
perigoso... Ah! Dane-se. Ela estava cansada e com
fome, e não estava nem um pouco disposta a sair
procurando hotel àquela altura da madrugada.
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— Está bem — respondeu com uma certa


irritação. — Aceito a sua oferta e espero que isso se
resolva o mais rápido possível — disse, olhando
duro para o atendente da recepção.
— Providencie um cartão extra de acesso —
falou Axel ao mesmo rapaz. — Me acompanhe, por
gentileza — pediu voltando-se para a moça.
Ambos subiram em silêncio e ao entrarem
na suíte, a garota arregalou os olhos.
— Uau! — exclamou. — Isso é que é uma
bela suíte. Costuma sempre se hospedar aqui?
— Basicamente, eu moro aqui.
Ela olhou-o surpresa.
— Você deve ser bem rico — comentou.
— Sou o dono... — respondeu Axel
entediado. — Seu quarto é aquele. — Apontou.
A moça abriu a boca espantada. Olhou para
a porta que ele apontava e olhou para ele
novamente. O dono? Por essa ela não esperava.
— Hum, obrigada... — disse, arrastando sua
pequena e única mala de mão naquela direção.
Então parou no meio do caminho e se virou. —
Você se importaria de pedir algo para eu comer
enquanto tomo um banho? Estou morrendo de
fome.
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Axel fitou-a com as duas sobrancelhas


arqueadas.
— O que quer? — perguntou ao perceber
que ela aguardava uma resposta.
— Qualquer coisa, pode ser um lanche... E
também um vinho. — Ela sorriu.
— Vinho, a essa hora?
— Sim, vinho me ajuda a relaxar, e estou
precisando muito disso, depois dos contratempos
que tive essa noite. — Ela suspirou. — Tinto de
preferência... — disse, virando-se e entrando no
quarto.
Axel esfregou a mão na nuca. Aquele
decididamente não estava sendo o seu dia... Pegou
o interfone e fez o pedido. Vampira abusada! Sim,
ele sabia o que ela era, reconhecia o cheiro de um
Vampyr de longe.
A garota foi rápida no banho, pois antes
mesmo que seu pedido chegasse, ela estava de volta
na antessala, vestindo apenas o robe do hotel.
— Minhas coisas estavam quase todas na
minha mala — reclamou ao se sentar no sofá de
frente para Axel, que, acomodado na poltrona,
folheava displicentemente uma revista. — Você
não se lembra mesmo de mim, não é? —
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perguntou.
O Warg ergueu os olhos da revista. Por que
ele se lembraria dela? Dezenas de Vampyrs
passavam no Real Wolf todos os anos. Os vampiros
costumavam ser previsíveis, organizados, tinham
normas rígidas e normalmente frequentavam os
mesmos lugares, e o seu hotel era um destes
lugares. Então era comum vê-los por ali. Estreitou
os olhos e se concentrou mais no odor dela.
A vampira exalava um cheiro de sabonete,
mas além disso...
— Hum... você é a mulher do pub —
respondeu ele, lembrando-se.
Ela sorriu.
— Ah, finalmente! Sim, sou Ivana, caso não
se lembre do meu nome, mas pode me chamar de
Ivy. E você?
— Eu o quê?
A vampira ergueu levemente a sobrancelha.
Lembrava-se de que o cara tinha um péssimo
humor, mas ele era mesmo assim tão antissocial?
Parecia que mal conseguia estabelecer uma
conversa normal...
— Muito bem, vamos começar de novo. —
Ela inclinou-se para frente e estendeu-lhe a mão. —
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Meu nome é Ivana Constantin, muito prazer.


Axel olhou para a mão dela estendida e se
lembrou de que quando a conhecera lá no pub,
tinha se recusado a cumprimentá-la. Voltou a fitar a
moça e percebeu nos olhos dela que se dessa vez
ele não aceitasse seu cumprimento, provavelmente
ela quebraria algo em sua cabeça.
— Axel... — falou, estendendo a sua mão e
apertando a da vampira.
Nesse momento, alguém bateu à porta e ele
foi atender, era o funcionário do hotel com o lanche
e o vinho que havia pedido.
— Demorou! — resmungou Axel deixando-
o passar com a bandeja.
— Desculpe, Sr. Andersen. O sommelier já
tinha ido embora, e... bem... É Natal, então
demoramos um pouco para encontrá-lo...
Axel, franziu o cenho, quem precisava de
sommelier àquela hora? Podiam ter pego qualquer
garrafa que estava ótimo.
O rapazinho colocou o balde de gelo com o
vinho sobre a mesinha e o lanche ao lado. Ao se
virar, não conseguiu evitar de dar uma bela olhada
nas pernas da vampira que estavam à mostra pela
abertura do robe. Voltou-se, então, para a porta e se
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deparou com o patrão olhando-o de forma dura.


Envergonhado, passou por ele de cabeça baixa,
murmurando um pedido de desculpas mais uma
vez.
Axel fechou a porta e seguiu para um
pequeno bar que havia na sala, pegou o abridor,
uma taça e foi até a mesinha de centro. Abriu,
então, a garrafa, despejou um pouco do vinho na
taça e a entregou à vampira dos olhos azuis, que
acompanhava seus movimentos atentamente.
— Obrigada — disse ela, fazendo um
movimento circular com a mão e girando a bebida,
em seguida inspirou seu aroma e a provou. —
Hum... Que delícia! — exclamou. — Não vai me
acompanhar? — perguntou ao ver que ele colocava
a garrafa no balde novamente.
— Eu não bebo — replicou o Warg, indo
até o frigobar e pegando uma garrafa de água.
Ivana olhou-o com curiosidade. Sim, ele
havia lhe dito da outra vez. O Warg era mesmo
estranho...
Axel voltou a se sentar enquanto matava sua
sede e observava a vampira se lambuzar com o
lanche. Ela realmente estava com fome...
Constantin. Ele conhecia aquele sobrenome.
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Era de uma das famílias de vampiros mais antigas


da Romênia, possivelmente uma das mais antigas
do mundo. Não que os conhecesse pessoalmente. O
castelo dos Constantin era na Transilvânia, do outro
lado dos Cárpatos e bem longe de sua cabana, mas
eles eram bem conhecidos, principalmente entre
aqueles que viviam na Europa há mais de cem
anos, como ele.
Pelo que sabia, embora tivessem se
estabelecido na mesma região onde nascera Vlad
Drakul, não tinham qualquer parentesco com o
famoso conde sanguinário que havia virado lenda e
se tornado uma referência de vampiro entre os
humanos, apesar de realmente nunca ter sido um...
Essa fama imerecida e os mitos que vinham com
ela costumavam deixar os verdadeiros vampiros
possessos.
De qualquer forma, ser uma Constantin
podia explicar a postura altiva da moça à sua frente.
Vampyrs eram os seres sobrenaturais que viviam
por mais tempo, talvez 400 ou 500 anos e, por
causa disso, tendiam a se achar mais inteligentes e
mais evoluídos do que todos os outros seres.
Quanto mais antiga e importante fosse a família,
mais arrogantes eram seus membros, contudo, isso
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pouco importava para Axel. Convivia com eles


como fazia com os humanos, de forma reservada e
se mantendo no anonimato. Infelizmente, cometera
um erro ao se revelar para a moça naquele pub,
devia ter ficado calado...
— Você não tem sotaque romeno... —
observou ele.
Ivana se espantou com a fala repentina de
Axel. Então ele resolvera conversar, até que enfim?
— Vejo que conhece a minha família... —
Esboçou um sorriso meio forçado. — Não sou
romena... — disse. Refletiu, então, por um
momento e fitou-o com uma dúvida no olhar. —
Me diz uma coisa... O meu cheiro... é verdade o
que disse daquela vez? Que tenho cheiro de morte?
Axel arqueou uma sobrancelha. A garota o
tinha levado a sério.
— Não — respondeu. — Somente os
transformados cheiram assim, como se não tivesse
mais células vivas correndo no sangue.
— Talvez, seja porque eles tenham que
morrer para virarem transformados. — Ela sorriu.
— Mas como consegue reconhecer meu cheiro,
então?
— Vampiros puros como você cheiram
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quase como humanos, há apenas uma sutil


diferença.
— Que diferença?
O Warg suspirou. Por que ele tinha aberto a
boca para falar? Devia ter ido dormir logo que o
lanche chegou.
— Da mesma forma que um fumante não
passa despercebido pelo seu cheiro, o corpo de
vocês, vampiros puros, fica impregnado com um
odor que não é o seu próprio, talvez pelo fato de
vocês beberem sangue de outros para se alimentar.
— Hum... — murmurou Ivana pensativa. —
Entendi, mas a verdade é que não sou exatamente
uma vampira pura...
Axel a olhou interrogativamente, aquilo era
estranho, porque ela cheirava como uma.
— Não sou filha legítima de Grigore
Constantin — explicou ela com um semblante
vago. — Meu pai teve uma amante na metade do
século passado, uma transformada, e quando ela
engravidou, ele a exilou na América. Afinal, ele era
membro do Conselho de Anciãos e não queria
expor sua esposa à sua própria vergonha... — disse
com desdém.
A vampira suspirou, desviando o olhar para
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as próprias mãos. Dado o silêncio do Warg,


continuou:
— Pelas leis do Conselho, transformar uma
humana e ter filhos com ela era proibido e
considerado uma abominação. Então, ou meu pai
matava minha mãe ou a mandava embora... No fim,
ela acabou morrendo logo depois que eu nasci, de
desgosto... Ela parou de se alimentar de sangue e
definhou. — Uma ruga surgiu entre os olhos da
vampira.
— Mas você manteve o nome da família.
— Sim, é verdade. Até hoje não entendo
direito isso, mas deve ter sido porque permaneci
ligada à família. Fui criada pelo meu tio Stefan,
irmão mais novo do meu pai, e que já morava há
algumas décadas nos EUA. — Respirou fundo. —
Se sou uma Constantin, isso se deve mais ao meu
tio do que ao meu verdadeiro pai, que só se deu ao
trabalho de me ligar há alguns meses.
Uma sombra passou pelo olhar de Ivana.
Sua mágoa em relação ao seu pai, Grigore, havia se
arrastado por anos, e agora ela iria, pela primeira
vez, encontrá-lo por conta do aniversário de 300
anos dele.
Estava ansiosa pela ocasião e angustiada.
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Não porque esperava desenvolver alguma estima


por aquele que a havia abandonado, e à sua mãe,
mas pela situação. Seria, no mínimo, constrangedor
conhecê-lo e à sua esposa.
Apesar da Sra. Constantin saber de sua
existência, imaginava que a mulher deveria odiá-la.
Além disso, também tinha um meio-irmão mais
velho e outro mais novo. Pelo que soube, o mais
novo era uma criança ainda... Talvez pudesse se dar
bem com ele. Queria ter recusado o convite, mas
seu tio insistiu, disse que era importante. Pelo
menos, ele e seu primo estariam lá. Não se sentiria
tão sozinha...
Axel observava Ivana com uma certa
estranheza. A moça tinha um olhar perdido, como
se tivesse se esquecido de que ele estava ali. Não
entendia aquela mulher. De repente ela resolvera
desabafar sobre a vida dela. Será que ele tinha cara
de confidente, por acaso?
Ivana cruzou de forma displicente as pernas
e, desta vez, foi ele quem não conseguiu desviar o
olhar. Realmente eram belas pernas... Sem
conseguir evitar, seu sentido mais apurado logo
notou o cheiro íntimo que o sexo dela exalava e seu
olhar seguiu naquela direção.
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— Perdeu algo aqui? — perguntou ela


descruzando as pernas lentamente e revelando algo
ali, por entre a abertura do robe.
Axel a fitou e viu um brilho malicioso no
olhar da vampira. Imediatamente se levantou.
— Está tarde, boa noite — disse, virando-se
e seguindo para o quarto.
— Feliz Natal! — respondeu a vampira
sorrindo.
Merda! O que tinha sido aquilo?
Repreendeu-se Axel, assim que fechou a porta atrás
de si. Sentia que suas partes baixas estavam
reagindo à visão que tivera e ao odor dela.
— Merda! — exclamou baixo e entredentes.
Fazia anos que ele não tinha uma ereção. Por que
agora? Com uma completa desconhecida?
Irritado, dirigiu-se ao banheiro. Estava
precisando de outro banho, frio de preferência.
Ivana observou o rapaz sair da sala com um
olhar divertido. Gostava de provocar os homens,
era de sua natureza. Não que quisesse algo com o
Warg, ele era mal-humorado demais, apesar de ser
lindo... Sorriu, será que ele era bom de cama?
Balançou a cabeça negativamente. Não
seria naquela noite que ela iria descobrir, nem em
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noite nenhuma. Levantou-se e foi para o seu


próprio quarto. Um Warg não era alguém com
quem pudesse “brincar” daquele jeito, ele era como
um Lykan, e até um simples beijo já seria
extremamente perigoso...

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“Se você não se importar, minha suíte tem um


quarto desocupado.”

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A vampira dormiu como uma pedra naquela


noite e quando acordou, o sol já ia alto. Ainda
sonolenta, olhou no relógio, já passava da 10 h da
manhã. Provavelmente tinha perdido o café no
restaurante. Respirou fundo e se levantou e foi ao
banheiro.
As complicações da noite anterior
atrapalharam um pouco seus planos. Se tivesse

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chegado mais cedo no hotel, se instalado e dormido


logo, poderia ter acordado antes e já ter saído para
visitar alguns lugares da cidade. Apesar de saber
que a grande maioria dos pontos turísticos ficariam
fechados no Natal, sempre havia algo para se fazer
em Londres.
Não chegara a conhecer a cidade direito
quando veio da outra vez. Tinha ficado apenas três
dias para um congresso sobre imunologia e quase
não saíra do hotel. Exceto à noite, quando saía para
beber.
Uma lembrança veio-lhe à mente, fazendo-a
se arrepiar. O Warg... Ela o conhecera em uma
daquelas noites, e a fizera ter pesadelos depois
disso.
E agora ela estava ali, na suíte dele.
Devia estar maluca quando aceitou a
proposta de Axel na noite passada. Não... não
estava louca, estava cansada, irritada e com fome,
não tinha muitas opções. Enfim, esperava que isso
se resolvesse logo. Mesmo estando em quartos
separados, ela preferia ter sua própria privacidade.
Saiu do banheiro e foi para a antessala,
estava vazia. Ele não estava? Melhor assim. Pegou
o interfone e pediu o café da manhã no quarto, em
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seguida ligou para a companhia aérea para saber se


haviam encontrado sua mala. Precisava dela, seu
suprimento de sangue estava ali dentro. Apesar de
ela não precisar ingerir tanto sangue quanto os
vampiros puros, já fazia um tempo que ela não se
alimentava com ele e logo precisaria.
Após alguns minutos no telefone recebeu a
boa notícia que a haviam localizado. A má notícia é
que ela perderia mais tempo tendo que ir
novamente ao aeroporto para buscá-la. Aquilo era
uma merda, havia se programado para ficar quatro
dias em Londres antes de ir para a Romênia
justamente para conhecer a cidade e já estava
perdendo um dia inteiro.
Terminou rapidamente o seu café, colocou
suas proteções contra o sol e saiu.
Apesar de ser uma vampira, Ivana estava
adaptada aos horários diurnos dos humanos e, por
ser filha de uma humana transformada, ela também
não tinha muitos problemas com o sol, bastava-lhe
um bom protetor solar, boné e óculos escuros que
poderia andar durante o dia sem problemas. Se
fosse uma vampira pura, teria que tomar mais
cuidado e usar luvas e mangas compridas,
felizmente não era.
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Ao contrário da vampira, Axel não dormiu


muito bem e se levantou cedo. Resolveu dar uma
caminhada pela cidade quase vazia por conta do
feriado. Como as atrações turísticas costumavam
fechar nesse dia, a quantidade de pessoas nas ruas
era bem reduzida.
Não era bem aquilo que estava se
programando para fazer no dia de Natal. Na
verdade, preferia estar em seu quarto lendo um
livro e acompanhado de um café quente, mas com a
vampira lá, não se sentia à vontade. Então, pegara
seu livro e saíra. Talvez encontrasse algum lugar
sossegado perto do Tâmisa para ler.
Por volta das 11h30, Gerald ligou.
— Oi, Axel. Só estou lingando para te
lembrar que temos uma reserva hoje para o almoço
de Natal no Tâmisa. Esteja lá em meia hora.
Axel apenas concordou, mal sabia o amigo
que ele já estava lá desde as 8 h da manhã. Olhou
para o lado e observou uma embarcação não muito
longe dali, o almoço seria em um daqueles barcos

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de cruzeiro.
Encontrou com Gerald no horário marcado
e, para a sua agonia, o velho não sossegou enquanto
ele não contou tudo o que tinha acontecido na casa
de Ellen na noite passada.
O administrador ria tanto que saíam até
lágrimas de seus olhos.
— Isso não tem graça, Gerald.
— É claro que tem. Estou só aqui
imaginando a sua cara — continuou rindo.
— Espero que isso não seja um problema lá
no escritório.
— É claro que não. Ellen não vai mais
trabalhar nesta semana, dei uma folga a ela; e
depois você vai para a Romênia. Quando voltar já
estará tudo esquecido.
— Assim espero...
Ao voltar para o hotel, Axel passou na
recepção para saber sobre o quarto da vampira.
— Já arrumaram uma suíte para a Srta.
Constantin? — perguntou.
— Ah, sim senhor, mas ainda não
conseguimos avisá-la. Ela saiu e ainda não
retornou.
O Warg subiu para o quarto mais aliviado.
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Pelo menos teria o seu sossego de volta.


Passava das 17 h quando Ivana entrou
furiosa na suíte. Axel, que estava deitado assistindo
à TV no quarto, arqueou uma sobrancelha ao
escutar ela bater a porta da antessala com força.
— O que houve agora? — perguntou
quando ela apareceu na sua porta arrastando uma
mala grande.
— O que houve? Vou te dizer o que houve!
Uma total falta de consideração. Como dono dessa
espelunca você devia prestar mais atenção nesse
tipo de falha. É inadmissível!
Axel inspirou fundo. Espelunca? O Real
Wolf estava entre os melhores hotéis de Londres,
não era uma espelunca!
— Se você me disser qual é o problema,
talvez possamos resolvê-lo — falou calmamente,
sentando-se e desligando a TV com o controle
remoto.
Os olhos de Ivana faiscavam.
— O carinha lá embaixo disse que me
arrumaram um quarto. Sabe qual? Um quarto
standard no primeiro andar, lá no fim do corredor
com vista para o estacionamento. Eu tinha
reservado um quarto luxo, não um standard.
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Ela chutou a própria mala e Axel ergueu


uma sobrancelha.
— Ah, meu dia está uma merda! —
continuou a vampira. — Tive que buscar essa
maldita mala no aeroporto, me deram um chá de
cadeira, não encontrei nenhum restaurante bom
aberto para almoçar e ainda tive que esperar por
quase uma hora um maldito de um táxi aparecer,
porque ao que parece, táxi é coisa rara aqui nessa
cidade em dia de Natal. Ai que ódio! — exclamou,
encostando-se na parede e deixando-se escorregar
para o chão. Sentou-se com os joelhos dobrados e
encostou a testa neles.
— Pode ficar aqui. Eu vou para o standard
— falou Axel, imperturbável.
Ivana levantou a cabeça para olhá-lo e
juntou as sobrancelhas.
— Mas essa é a sua suíte, que é
praticamente a sua casa. E você é o dono do hotel!
— Não me importo — disse ele se
levantando e indo até o closet. — Vou só pegar
algumas coisas, mas deixarei o resto aqui, se não se
importar, afinal vai continuar no outro quarto,
certo?
— Hum... sim.
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— Então estamos resolvidos. Vai ficar em


uma suíte master, bem melhor que a luxo e não
precisa mais chamar meu hotel de espelunca —
falou com um vinco entre os olhos.
Ela riu.
— Ficou bravo com isso? — perguntou. —
Desculpe se me excedi, é que estou um pouco
frustrada.
— Eu entendo. — Axel pegou uma mala
pequena e começou a colocar algumas peças de
roupa dentro.
Ivana saiu do chão e se sentou na cama, ao
lado da mala que ele estava arrumando. De certa
forma estava incomodada por tirar ele do próprio
quarto.
— Escute... se não se importar de me ter no
quarto ao lado, também não me importo que fique
aqui. Não precisa ir para o quarto standard.
Ele a olhou fixamente. Então pegou
algumas roupas de baixo em uma gaveta e colocou
na mala.
— Vou para o standard — disse.
A vampira arqueou uma sobrancelha. Ele
havia mesmo recusado a proposta dela? Okay, se
ele quisesse ficar no quarto com vista para o
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estacionamento, problema dele. Ela é que não tinha


culpa de terem sumido com a sua reserva.
— Antes de você sair, posso te perguntar
uma coisa? — Ela estava mesmo querendo abordá-
lo sobre aquele assunto e se não fosse agora,
provavelmente não teria outra chance.
— Perguntar o quê? — Ele parou o que
estava fazendo e olhou diretamente para ela.
— Sobre aquela noite que nos conhecemos
no pub, dois anos atrás... E sobre a terceira noite
depois daquela.
Axel franziu levemente o cenho. O que ela
queria dizer com aquilo.
— O que quer saber, Ivana?
— Por que matou aqueles Lykans? —
perguntou ela sem rodeios.
O Warg surpreendeu-se com a pergunta e
estreitou os olhos, analisando-a.
— Andou me seguindo? — perguntou
áspero.
— Sim... Não percebeu, não é? — Ivana
sorriu com um brilho nos olhos. — Essa é a
vantagem de ser um vampiro... Posso estar nos
lugares sem ser descoberta! — disse com orgulho.
Realmente ele não havia percebido a
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presença dela por perto.


— E pode me dizer como fez isso? —
indagou Axel, sério.
Ivana, ainda sorrindo, avistou alguns
chocolates sobre o criado-mudo ao lado da cama e
pegou um, então desembrulhou-o e deu uma
mordida, enquanto reparava na inquietação
crescente do Warg.
— Posso entrar na mente de seres
inferiores, como animais ou humanos suscetíveis
— explicou.
— Sei... — disse Axel. Sim, ele já ouvira
falar dessa habilidade dos vampiros, mas havia se
esquecido completamente. — E você entrou na
mente do quê? De um rato? — comentou
sarcástico.
— Claro que não! — respondeu Ivana
arregalando os olhos. — Que nojo! Entrei na mente
de uma coruja logo depois que você saiu do pub.
Axel se aproximou e pegou um chocolate
também, abrindo-o e enfiando-o inteiro na boca.
Estava irritado e incomodado por ter sido tão
descuidado. Lembrava-se mesmo de ter visto uma
coruja naquela noite, mas como ele ia adivinhar que
estava sendo observado?
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— O que você viu? — perguntou.


— Quando eu te segui, vi você entrando na
casa do Lykan, se transformando, quase arrancando
a cabeça dele e depois indo até a mansão. A outra
vez, foi só coincidência mesmo — continuou ela.
— Que outra vez?
— Quando você voltou na mansão... Eu
estava lá quando você matou os outros Lykans.
Ele olhou-a sério.
— Fazendo o quê? — perguntou seco.
— Eu estava só passeando, mas no fim,
acho que acabei te ajudando.
— Como é? — Axel olhou-a incrédulo. —
Do que está falando?
— Não reparou nos seguranças
desacordados na saída? — Ela sorriu e seus olhos
brilharam. — Obra minha!
Axel encarou a mulher à sua frente com
estranheza, não acreditava no que estava ouvindo.
Pegou, então, uma poltrona que havia próximo da
janela e arrastou para perto da vampira, sentando-se
nela
— Como você conseguiu derrubar os
seguranças?
— Sedativo... São sempre úteis no caso de
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encontrar alguém inconveniente, ou Lykans. —


Sorriu de lado.
— Ah! Sim... Está dizendo que sempre
encontra pessoas inconvenientes por aí, e por isso
anda com sedativos na bolsa? — disse Axel,
irônico.
Ela riu.
— Não, eu explico. Tem vários pubs legais
naquele bairro que nos conhecemos, mas como
você me advertiu sobre os Lykans, achei melhor me
prevenir. Então, como eu queria voltar lá para
beber, fui até o hospital e peguei um pouco de
sedativo.
— Fácil assim? — Ele franziu a testa.
— Não sei se sabe, mas existem muitos
hospitais que pertencem a vampiros aqui na
Europa. Por ser uma Constantin, não foi difícil
conseguir o sedativo. Conversei com o responsável
por um deles, que é cunhado do meu tio, e pronto.
— Isso ainda não explica o que você estava
fazendo na mansão.
— Como eu disse, eu queria sair para beber
e visitar outros pubs da região, quem sabe conhecer
alguém interessante também... — Ela suspirou. —
Infelizmente não dei sorte, não encontrei nenhum
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cara que atraísse minha atenção...


— É assim que você caça suas presas?
— Como? — Ela o olhou
interrogativamente, então gargalhou. — Acha que
eu estou atrás de humanos para beber sangue? Você
não entende muito de vampiros, não é? — Ela
sorriu, observando o semblante carrancudo do
rapaz. — Não bebemos sangue de humanos vivos,
não mais... É contra a lei, a nossa lei...
A vampira deu de ombros.
— Eu estava apenas a fim de um pouco de
diversão... Sexo, se é que me entende... — Um
brilho passou pelos olhos dela. — Como eu estava
dizendo, não encontrei ninguém que me
interessasse e resolvi ir embora. Aí me lembrei de
que você tinha ido até aquela mansão e fiquei
curiosa, sei lá... Não tinha nada para fazer e resolvi
caminhar até a casa. Foi quando vi você pulando o
muro.
— Aí você resolveu dar uma de Robin, o
ajudante do Batman, e atacou os seguranças? —
Axel, sorriu meio de lado.
— Não... quer dizer... não de imediato. Eu
não tinha intenção de te ajudar, na verdade, mas às
vezes acho que a minha curiosidade supera a minha
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prudência. Eu queria saber o que você tinha ido


fazer lá e aqueles seguranças estavam no meu
caminho. Quando me dei conta, já estava me
aproximando deles. Devo ter causado boa
impressão, porque os rapazes foram bem solícitos
quando eu disse que precisava de ajuda.
— Entendo... — disse ele imaginando a
cena. Ivana era uma mulher bonita e certamente
chamava a atenção de qualquer homem ou Lykan.
Ela sorriu e continuou.
— Eu escondi uma seringa com o sedativo
atrás das costas e quando um deles chegou perto, eu
o ataquei no pescoço. — Ivana se levantou da cama
e gesticulou, imitando o movimento, enquanto
falava. — Nessa hora, ouvimos tiros. Aí o outro
segurança se assustou e ficou meio sem saber o que
fazer, porque o seu colega também havia acabado
de cair desacordado na frente dele. Então ele sacou
a arma e a apontou para mim.
Axel a olhou intrigado, enquanto ela
gesticulava e se expressava como se estivesse
revivendo a cena.
— Confesso que naquela hora meu coração
gelou... — disse ela pondo as mãos sobre o peito.
— Mas aí ele foi andando para trás e... tropeçou! —
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Ela riu. — Caiu de costas como um saco de batatas


e deixou a arma escapar da mão. Ele se virou para
pegá-la, mas eu fui muito mais rápida, saquei outra
seringa do bolso e enfiei nas costas dele! — falou,
triunfante, enquanto batia com o punho fechado na
mão espalmada. — Então me aproximei da mansão
e vi você entrando pela janela na forma de lobo.
Ela o olhou com uma expressão séria.
— Eu me mantive um pouco longe, mas vi
o que você fez. — Suspirou. — Fiquei com medo,
confesso. Então saí de lá. Achei que seria melhor
esperar na rua. Foi quando outro Lykan passou
correndo por mim. Um pouco depois você saiu da
mansão, aí fui embora.
— Sei... — disse Axel, mais impressionado
com a performance teatral dela do que com o fato
narrado em si.
Ivana o olhou com uma sobrancelha
arqueada.
— Só isso? “Sei...”? Poxa... podia pelo
menos me agradecer pela ajuda... — ela reclamou,
fingindo indignação.
— Não te pedi ajuda e não tenho nada que
te agradecer — retrucou ele. — Se você quis
bancar a idiota e arriscar sua vida por nada, o
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problema foi seu...


Ivana arregalou os olhos. Não acreditava
mesmo que fosse receber elogios ou
reconhecimento pelo que tinha feito, mas também
não esperava por uma resposta tão fria e grossa.
— Mas você é muito ingrato, sabia?
— E você é uma intrometida.
A vampira o encarou de queixo caído.
Então inspirou fundo, irritada e um pouco chateada.
Talvez ele tivesse razão, tinha se arriscado por
nada. Então o encarou.
— Você ainda não respondeu à minha
pergunta.
— Que pergunta?
— Por que matou aqueles Lykans? —
repetiu ela.
— Os motivos são meus e não são da sua
conta. Não se meta em meus assuntos — rosnou
ele, levantando-se.
— O que eles fizeram para você? — insistiu
a vampira, postando-se na frente dele com um olhar
afiado. — Pisaram no seu calinho?
Por um instante ela viu a ira passar nos
olhos do rapaz e temeu por sua segurança, mas a
sua irritação com ele a fez manter-se firme,
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encarando-o.
Axel desviou os olhos e suspirou.
— Eles mataram alguém importante para
mim, está satisfeita? — falou baixo.
Ivana olhou-o espantada e sentiu uma
pontada de culpa no peito ao ver como dizer aquilo
o tinha afetado. Não esperava por algo assim,
achava que tinha sido apenas uma briga entre alfas.
— Sinto muito — falou. — Era alguém da
família?
— Não, uma amiga... — Ele franziu as
sobrancelhas. — Mais do que uma amiga, na
verdade.
— Ela era como você? Uma Warg?
— Não, era uma humana...
Ivana surpreendeu-se. Uma humana? Era
difícil ver seres sobrenaturais como eles se
relacionarem com humanos, mas acontecia de vez
em quando. Continuou observando-o enquanto ele
voltava para o closet e pegava mais algumas coisas.
Axel, visivelmente mal-humorado, terminou
de arrumar a mala e, sem dizer mais nada, saiu da
suíte.
A vampira suspirou e se sentou na cama.
Axel era uma cara complicado, ao mesmo tempo
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que era um grosso, também era generoso, e aquele


jeito frio e agressivo parecia esconder uma dor
profunda.
Olhou em volta. O quarto dele era parecido
com o seu, mas tinha mais coisas pessoais
espalhadas. Computador, livros, chocolates, um
closet cheio de roupas e sapatos... Sobre a mesa
havia um papel dobrado. Ela pegou e viu que se
tratava de uma confirmação de voo. Arregalou os
olhos, ele também iria para a Romênia? Reparou na
data e no horário e não teve como não sorrir. O voo
deles tinha uma diferença de apenas meia hora, mas
enquanto ela iria para Sibiu na Transilvânia, ele iria
para Suceava em Bucovina.
Deixou o papel onde estava e voltou para a
antessala. A suíte parecia grande demais só para ela
agora. Devia ter insistido para que ele ficasse...
Sentia-se mal, como se o tivesse expulsado da
própria casa.

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“Posso entrar na mente de seres inferiores,


como animais ou humanos suscetíveis.”

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Nos dois dias seguintes, Ivana não viu


mais Axel, e também não estava preocupada com
aquilo. Talvez o encontrasse no aeroporto. Pelo
horário do voo dele, a probabilidade era alta.
Ao menos ela havia conseguido cumprir o
seu roteiro e visitado alguns lugares interessantes
durante o dia. Contudo, resolvera deixar para sair à
noite somente na sexta-feira, já que era seu último

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dia em Londres e seu voo partiria no início da tarde


do dia seguinte.
Após o jantar, tomou um banho, colocou
um vestido curto, maquiou-se e saiu. Não pretendia
voltar tão cedo naquela noite.
No fim, Ivana acabou voltando cedo, mas
não cedo da noite. Na verdade, era cedo de manhã
quando ela retornou ao hotel. Saiu do táxi e acenou
para um rapaz que ficara lá dentro, observando o
carro partir em seguida.
Com a luz do dia ofuscando um pouco sua
visão e o frio entrando por debaixo de seu casaco,
apressou-se para dentro do hotel. Estava feliz, havia
tido uma boa noite. O advogado inglês com quem
tinha ficado não era nenhum deus do sexo, mas foi
bom o suficiente para satisfazê-la.
Antes de subir para o quarto, dirigiu-se ao
restaurante que havia acabado de abrir para o café
da manhã. Sentia-se um pouco cansada e não via a
hora de tomar um banho e se jogar na cama, mas
achou melhor comer algo antes. Engoliu alguns
pedaços de pão com queijo, ovos, bacon, bebeu um
suco e só então subiu. Assim que entrou na suíte,
tomou uma ducha rápida, colocou uma roupa leve e
caiu na cama. Ah, que delícia que era se deitar em
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uma cama macia daquelas.


Estava quase pegando no sono quando
escutou uma batida na porta. Franziu as
sobrancelhas e colocou o travesseiro na cabeça,
mas a pessoa continuou batendo.
Levantou-se irritada. Que merda era aquela?
Serviço de quarto por acaso? Abriu a porta já com a
intenção de soltar o verbo quando deu de cara com
Axel.
Ele a olhou de cima a baixo, emudecido. A
garota vestia uma espécie de babydoll rosa chá
completamente transparente com uma calcinha
combinando. Para sua inquietação, não conseguiu
deixar de reparar nas belas curvas dos seios dela e
nos bicos que despontavam rígidos sob o tecido.
— Sempre atende a porta vestida desse
jeito? — perguntou ele, ignorando os pensamentos
impróprios e desviando o olhar.
Ela se olhou e só então se tocou de como
estava quase sem roupas.
— Só quando batem na minha porta às sete
da madrugada — respondeu dando passagem para
ele entrar. — Por que ficou batendo e não entrou
direto? Você não tem o cartão de acesso?
— É o sua suíte agora, eu não ia entrar sem
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bater.
Ivana o olhou com estranheza. A suíte era
dele, não dela...
— E o que quer então na minha suíte? —
perguntou ela com um sorriso zombeteiro.
— Pegar o meu passaporte e mais algumas
roupas — disse ele indo para o quarto e evitando
olhar para ela.
A vampira riu e o seguiu.
— Você é divertido, Axel, é meio sério,
mas é divertido.
Ele deu uma olhada de lado para a moça e
abriu uma gaveta para pegar seus documentos. Ela
não tinha vergonha de ficar vestida assim na frente
de um desconhecido? Pelo visto, não...
Pegou mais algumas roupas para levar na
viagem e, ao se voltar, viu Ivana parada na frente
da janela, olhando para a rua. A claridade que vinha
de fora atravessava suas roupas, delineando ainda
mais a silhueta de seu corpo curvilíneo. E a
calcinha que ela usava... agora que ele havia
reparado, era quase um fio dental.
Ele bem que tentou ignorar aquela visão,
mas o seu corpo desta vez não o obedeceu. Uma
ereção começou a tomar forma dentro de suas
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calças e ele não conseguiu evitá-la.


A vampira se virou, e Axel, embaraçado
com a possibilidade de ela reparar em seu estado
excitado, acabou se atrapalhando com as roupas
que estavam em suas mãos, deixando cair algumas
peças no chão.
Ela se aproximou para ajudá-lo a recolhê-
las e então ele se afastou. Merda! Quanto menos ele
queria olhá-la, mais seus olhos grudavam no corpo
dela, nas curvas, nos movimentos que ela fazia, ao
se abaixar e se levantar, em seus olhos azuis, em
seu sorriso malicioso.
Sim, ela sorria para ele.
Intencionalmente a vampira baixou os olhos
para suas calças, onde o seu volume provavelmente
já aparecia bem marcado por baixo do tecido, e
mordeu os lábios.
Totalmente constrangido, Axel tentou
esconder sua ereção com o que tinha nas mãos e se
dirigiu até a mala que havia trazido. Querendo
escapulir dali o mais rápido possível, enfiou as
coisas lá dentro de qualquer jeito e saiu do quarto
sem olhar para trás.
— Axel? — chamou Ivana quando ele
estava quase na porta de saída da antessala.
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Ele parou e virou-se um pouco, olhando-a


por cima do ombro.
— Não vai precisar disso? — perguntou ela,
entregando-lhe a confirmação de voo.
— Obrigado — respondeu ao pegar o papel.
— Nos vemos no aeroporto. — Ela sorriu.
O Warg a fitou interrogativamente.
— Nossos voos são próximos — ela
explicou. — Até mais tarde. — disse abrindo-lhe a
porta e olhando-o mais uma vez de cima à baixo.
Axel apenas acenou com a cabeça e saiu.
Seu rosto parecia queimar. Caminhou pelo corredor
ainda sentindo suas calças apertadas na frente. Mas
que merda! Bufou.

Ivana voltou para a cama com um sorriso no


rosto, Axel era uma figura. Deitou-se e fechou os
olhos, ainda tinha umas horinhas para descansar.
Quando acordou, se assustou ao ver as horas no
relógio. O alarme do celular não tinha tocado?
Procurou o aparelho e só então lembrou-se de que o
havia deixado na antessala. Por isso não tinha

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escutado o alarme. Merda!


Levantou-se correndo e foi para o banheiro,
já era para ela estar indo paro o aeroporto àquela
hora e ainda nem tinha arrumado suas coisas. Não
gostava de chegar em cima da hora do voo, pois
tinha mala para despachar e podia ter fila no
balcão.
Vestiu apressadamente uma calça escura,
botas, uma camisa branca, maquiou-se só com o
básico e jogou as roupas e seus objetos pessoais na
mala. Aproveitou para pegar uma caixinha de
sangue e ingerir o conteúdo. Felizmente os
vampiros haviam encontrado um jeito de se nutrir
de uma forma prática. As caixinhas de sangue
vinham embaladas como suco de uva e não
precisavam ficar refrigeradas, além disso, não
causavam estranheza se alguém as visse. Pegou,
então, seu casaco de inverno e saiu.
No elevador, lembrou-se de que não havia
pedido o táxi. Ah, como era lerda! Olhou no
relógio, seu embarque era em menos de duas horas.
Inspirou fundo, ia dar tempo, ia dar tempo...
Enquanto estava fazendo o check-out na
recepção do hotel viu, pelo canto do olho, Axel
passando por ela. Não teve dúvidas.
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— Axel! — chamou.
Ele parou e suspirou, virando-se para ela
com uma expressão carrancuda.
— Você tem um táxi te esperando? Posso ir
como você? — perguntou Ivana aflita. — Por
favor, estou um pouco atrasada.
— Por acaso seu voo é antes do meu? —
Axel ergueu uma sobrancelha.
— Sim, é. Meia hora antes.
— Estou te esperando lá fora — disse
entediado e continuou andando.
A vampira terminou de acertar sua conta no
hotel e apressou-se para a saída. Encontrou Axel
dentro do táxi já, aguardando-a.
O motorista ajudou-a com as malas e ela
entrou no carro.
— Obrigada — disse mais aliviada.
Contudo, não obteve nenhuma resposta do rapaz ao
seu lado, que apenas desviou o olhar para o jornal
em suas mãos.
Ao chegarem no aeroporto, a vampira quase
teve um surto, a fila para o check-in estava enorme
e provavelmente em uma hora eles já começariam o
embarque do seu voo.
— Calma, vai dar tempo — disse Axel
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notando aflição dela.


Ivana respirou fundo. Entraram na fila e,
sentindo-se tensa com a espera, resolveu puxar uma
conversa qualquer, a fim de distrair um pouco a
mente.
— Não tem família, Axel?
Ele levantou os olhos do jornal que ainda
tinha em mãos.
— Não. Se tenho, não sei onde estão.
— Tentei procurar algo sobre Wargs em
livros lá nos EUA, mas não encontrei nada de
significativo. O que aconteceu com vocês? Não
deveriam estar extintos?
Axel ergueu uma sobrancelha.
— Aparentemente, não — disse com um
sorriso irônico.
— E onde estão os outros? Por que nunca
mais ouvimos falar de vocês?
— Não faço ideia de quantos da minha
espécie ainda existem por aí. Talvez eu seja o
último, talvez não. A mim não importa, tanto faz —
respondeu ele com indiferença.
— E onde você se escondeu esse tempo
todo? — indagou ela.
O Warg deu um longo suspiro e resolveu
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falar de forma rápida e resumida. Queria finalizar


logo aquela conversa.
— Há duzentos anos, minha espécie foi
perseguida aqui na Europa. Vivíamos no norte, nos
países escandinavos e quase fomos exterminados.
O que restou de minha família fugiu para o Japão
por volta de 1800, morei lá por cerca de cem anos e
depois senti vontade de ver novos ares. Vim para a
Europa, montei um negócio de hotéis e agora vivo
aqui e ali, viajando na maior parte do ano e
passando as férias em minha casa na Romênia.
Mais alguma coisa?
— Ah, então tem uma casa lá? Em
Suceava?
Axel a olhou impaciente. Pelo visto ela
tinha lido aquilo em sua confirmação de voo.
— Não, em Putna — respondeu.
— Hum... Sabe... Quando você me disse
naquele pub que era um Warg, eu realmente não
acreditei... — mudou ela de assunto. — Mas então,
quando te vi transformado... — Um arrepio passou
por sua coluna. A cena do grande lobo branco
estraçalhando o pescoço do Lykan era algo que
povoava seus sonhos de vez em quando. — Não
teve como não acreditar. — Ela sorriu meio de
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lado.
— Depois do que viu... Não tem nem um
pouco de medo de mim? — perguntou Axel.
Ivana encarou-o por alguns segundo e
balançou a cabeça em negativa.
— Confesso que fiquei chocada com o que
eu vi, e naquela época fiquei com medo, sim, mas
agora não vejo razão para ter medo de você. Não te
fiz nada, e você não parece ser nenhum maluco
psicopata que sai por aí matando sem motivos...
Não sei se concordo com o que você fez com os
Lykans, mas também não sei direito pelo que
passou para guardar tanta raiva. E como você
mesmo disse, não é da minha conta.
Axel nada disse e voltou a olhar o jornal.
Após meia hora de fila e mais quinze
minutos no raio X, finalmente chegaram na área de
embarque. Ivana, mais aliviada por ter dado tempo,
largou-se na poltrona de espera. Olhou, então, para
o rapaz sentado ao seu lado e sorriu, ele era mesmo
bonito e diferente com aquele cabelo platinado
desalinhado. Desceu um pouco os olhos e, através
da camisa preta semiaberta, vislumbrou o colar que
ele levava no pescoço, já tinha visto objetos como
aquele.
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— Esse seu colar... — falou ela, puxando


novamente assunto. — É interessante. Por acaso é
um artefato mágico?
— Sim — respondeu ele sem olhá-la.
— O que ele faz?
— É uma espada.
— Ah... uau! Que legal! — exclamou a
vampira impressionada.
Ivana chegou mais perto para olhar, fazendo
com que Axel inclinasse um pouco o tronco para
trás. Ela riu.
— Eu conheço um mago em Nova Iorque
— continuou ela, se afastando e estabelecendo um
distância mais confortável para o rapaz. — Ele
ainda guarda algumas peças assim escondidas, mas
nunca vi uma espada. Fato é, que agora Levi se
recusa a fazer esse tipo de relíquia ou usar seus
poderes. Ele diz que nesse mundo atual não cabe
mais esse tipo de objeto e que não quer que
ninguém saiba que ele é um mago, o coitado tem
medo de ser sequestrado e forçado a fazer algo
ruim... Uma pena... — concluiu a vampira
pensativa.
Axel refletiu por alguns segundos; os magos
realmente andavam sumidos, há décadas que não
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via um. Voltou, mais uma vez, seus olhos para o


jornal.
Ivana arqueou uma sobrancelha e sorriu. Ele
era mesmo um cara antissocial, mas até que era
fofo. Não, era mais do que fofo... Era instigante e
misterioso... Olhou para os lábios dele. Bem que
gostaria de prová-los, mas não podia nem pensar
em algo assim. A saliva dos lobos era
extremamente tóxica para os vampiros. Não podia,
portanto, beijar Lykans e certamente não podia
beijar um Warg. Beijá-lo infelizmente poderia
matá-la em poucas horas.
Subitamente, aquele pensamento lhe deu
uma ideia e seus lábios se curvaram ainda mais,
evidenciando duas pequenas covinhas em seu rosto.
Nesse momento, no entanto, uma voz soou no
autofalante anunciando seu voo para Sibiu.
— Okay — disse ela terminando com um
resto de água de uma garrafinha que havia
comprado assim que chegaram ali. — Preciso ir, já
estão anunciando o embarque. — Ela encarou o
Warg. — Mas antes...
Ela sorriu e estendeu a garrafinha para
Axel.
— Poderia cuspir aqui dentro? Por favor?
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— pediu com gentileza.


— Hã? — O Warg a olhou com estranheza.
Ela era alguma maluca?
— Sou uma cientista e estou trabalhando
em uma pesquisa... — explicou Ivana. — Um
antídoto contra a toxina que existe na saliva dos
Lykans e que pode nos matar... Ainda estamos no
começo, mas já conseguimos algum avanço. —
Mordeu o lábio, ansiosa. — Se você morasse nos
EUA, eu pediria sua colaboração, mas já que não
mora... se puder me fornecer uma amostra, eu
gostaria de fazer algumas pesquisas com ela
também.
Axel a olhava estático. Não sabia se ria ou
se ficava indignado. Uma amostra? De sua saliva?
Não tinha nada contra pesquisas, nem contra
vampiros. Achava natural que eles estivessem
tentando encontrar um meio de se curarem se
fossem atacados por um Lykan, mas... Olhou para a
garrafinha nas mãos da vampira. Aquilo era
inusitado. Refletiu por alguns instantes e por fim
resolveu colaborar. Pegou a garrafa das mãos da
garota e se levantou.
— Já volto... — disse ele indo até o
banheiro. Não ia cuspir ali, na frente dela.
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Quando retornou, entregou o frasco para a


moça, que lhe sorriu.
— Obrigada, Axel. Será bastante útil... —
disse ela guardando a garrafa na bolsa.
Ivana fitou o semblante sério e sisudo do
rapaz. Estava certa de que ali não tinha só
insociabilidade e mau humor, Axel parecia carregar
ainda uma grande tristeza. Viu isso nos olhos dele
quando ele falou sobre a humana que os Lykans
tinham assassinado e lembrou-se de quando viu ele
encontrar uma pequena joia na casa daquele Lykan,
a forma como ele a contemplou...
Angústia, ódio, dor... Mesmo depois de dois
anos do ocorrido, ela se lembrava perfeitamente da
expressão do Warg antes de matar aquele rapaz.
— Certo... vou indo. Adeus, Axel — falou
com um meio sorriso.
A vampira virou-se para ir embora, mas
repentinamente parou e se voltou.
— Ah... Sei que não tenho nada a ver com
isso, mas eu queria te dizer algo... sobre a garota
humana...
O coração de Axel deu um pulo. Por que ela
estava falando disso agora?
— A saudade e as lembranças dela vão
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sempre permanecer dentro de você — continuou


Ivana. — Mas essa dor que ainda sente... uma hora
vai passar — comentou com uma expressão
indefinida. — Experiência própria... — disse com
um meio sorriso. Então virou-se novamente e saiu
caminhando em direção ao portão de embarque.
Sim, ela sabia do que estava falando... já havia
sentido no peito aquela dor.
Axel ficou observando a moça se afastar e
entrar em seu portão de embarque. Respirou fundo.
Vampira estranha... Mesmo que ela estivesse certa
e a dor da perda um dia passasse, a culpa... essa
nunca iria embora...

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“No elevador, lembrou-se de que não havia


pedido o táxi. Ah, como era lerda!”

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Ivana desembarcou em Sibiu e logo viu seu


primo Robert. Ele havia ido buscá-la de carro, já
que o castelo de sua família ficava a 90 km dali,
nos Alpes da Transilvânia, e ela não fazia a menor
ideia de como se chegava lá.
— Ah... finalmente! — disse o rapaz com
um sorriso ao vê-la. — Estava com saudades...
— Não exagere, Rob! Só fiquei duas

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semanas longe de você. — Ela riu.


— Foi muito — respondeu ele, ajudando-a
com a mala. — Sabe que eu te amo, não é?
— Sei sim — disse a vampira, dando-lhe
um beijo no rosto. — Também te amo.
Robert era um vampiro lindo. Diferente da
maioria dos Constantin, morenos e de olhos azuis,
ele tinha os cabelos claros e os olhos verdes, como
sua mãe, e era dono de um sorriso adorável.
Médico pediatra, era supercobiçado no hospital
pelas enfermeiras, médicas e mamães assanhadas;
no entanto, para a tristeza delas, ele já era
comprometido.
Como era de praxe nas famílias de vampiros
puros e tradicionais como a deles, seu belo primo
teve sua noiva escolhida desde criança, uma
vampira de família canadense. Ivana a conhecia e
não havia simpatizado nada com ela.
A mulher, quando soube que ela era filha de
uma transformada, imediatamente assumiu uma
postura arrogante e superior, como faziam todos os
outros vampiros puros quando a conheciam. Por
isso, não queria ir àquela festa de aniversário.
Receberia, com certeza, uma chuva de olhares
curiosos e enfadonhos. Na verdade, não queria ir à
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Romênia e não tinha certeza se queria conhecer o


seu pai... Ivana sentia um bolo revirar em seu
estômago todas as vezes que pensava naquilo.
— Não podia ter escolhido um voo à noite?
— perguntou Robert, mais sério, enquanto se
encaminhavam para o carro.
Ivana riu, observando o primo de óculos,
luvas, casaco e um chapéu de abas largas. Sendo
um vampiro puríssimo, ele podia ter sérias
queimaduras se expondo ao Sol.
— Pelo menos não é verão. Não vai morrer
de calor por causa da roupa — piscou.
Colocaram as malas no carro e seguiram
viagem. Seu primo ia lhe contando sobre as pessoas
da família, de seus outros primos, quem era quem e
quem era casado com quem. Ela sorria. Até parece
que ia se lembrar de tudo...
Ivana se divertia com Robert e amava sua
companhia, mas não... ela não era apaixonada por
ele, nem ele por ela. Apenas se amavam como
irmãos, já que ela foi morar com os tios ainda bebê
e os dois haviam sido criados juntos, apesar de ele
ser alguns anos mais velho. Sentiria falta dele
quando ele se casasse. Felizmente, suas bodas
estavam marcadas somente para dali a alguns anos.
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Era comum os vampiros aguardarem até


pelo menos os cinquenta anos para se casarem, até
lá eles poderiam desfrutar da vida como quisessem,
se divertir e ter outros parceiros, desde que não
quebrassem o compromisso firmado. Ivana sorriu.
Pelo menos, dessa ela tinha se livrado. Seu tio
havia optado por não lhe arranjar um noivo. Ele
achava que isso era obrigação do pai, mas como o
seu pai não tinha o menor interesse nela, acabou
que ninguém a fizera se comprometer, e isso era
perfeito, pois agora, apesar de ter a aparência de
uma humana de cerca de vinte e poucos anos, já era
uma vampira com mais de quatro décadas de vida.
Logo, sentia que tinha autonomia para escolher
com quem se casaria, se é que um dia se casaria...
Após uma hora de viagem, saíram da
estrada principal e pegaram uma secundária que
seguia pelos vales entre os Alpes, passaram por
pequenas cidades e vilas e então seguiram por outra
estrada, desta vez mais estreita e sinuosa, ladeada
de árvores e que subia a montanha. Quanto mais
subiam, mais as árvores pareciam querer engolir a
estrada. Logo uma clareira se abriu e um vale
surgiu à sua frente, com pequenas casas e
plantações cobertas de neve.
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— Isso tudo já faz parte das terras da


família — disse Robert apontando lá para baixo. —
A estrada fez uma curva e acabou em uma
bifurcação. Uma pequena placa de madeira
indicava a direção da vila, mas seu primo seguiu
para o outro lado. Alguns minutos depois as árvores
sumiram, dando lugar às rochas, e um pouco mais
acima erguia-se o castelo, imponente e antigo, feito
de pedras e cercado por uma alta muralha.
Passaram pela entrada, cujos enormes portões em
madeira estavam abertos.
Ivana começou a suar frio. Estava nervosa,
com receio de ser recebida como uma pária. Robert
percebeu agitação da prima e segurou sua mão.
— Relaxa, Ivy. Seu pai não te convidou
para vir até aqui para te destratar.
Ela sorriu meio sem graça, enquanto seu
primo estacionava o veículo no pátio, em frente à
porta principal. Imediatamente dois empregados
uniformizados vieram para ajudá-los a sair do carro
e pegar as coisas.
Seu tio apareceu, então, à porta. Ivana
sorriu e correu para abraçá-lo. Também amava de
coração aquele que a havia recebido em sua casa e
em sua família. Stefan Constantin era um vampiro
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charmoso de meia-idade e cabelos levemente


grisalhos. Tinha seus 270 anos e era o irmão mais
novo de seu pai, mas era um coroa enxuto e seu
carisma o deixava ainda mais jovial.
— Ivy, querida! Que bom que chegou,
estávamos ansiosos pela sua presença — disse o
tio, soltando-a. — Venha, vamos sair dessa
luminosidade!
Ivana entrou com o tio no castelo, seguida
por seu primo. Antes que pudesse admirar o interior
da construção secular, notou, à sua frente, aqueles
que seriam seus anfitriões. Um vampiro um pouco
mais velho que Stefan, e muito parecido com ele,
estava acompanhado de uma bela mulher de pele
alva e cabelos castanhos escuros, presos no alto da
cabeça em um penteado elaborado. Ao lado dos
dois, um garoto aparentando não ter mais do que
dez anos a olhava curioso. Ele tinha os cabelos
negros e olhos azuis brilhantes e vívidos, como ela.
— Olá, Ivana — disse Grigore Constantin
estendendo-lhe a mão. — Espero que tenha feito
um a boa viagem. Esta é minha esposa, Mirela, e
esse é o Luca — apresentou ele, de forma austera e
formal, o resto da família.
Ivana apertou a mão de seu pai e
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cumprimentou os demais com um sorriso discreto.


Havia refletido tanto em como agiria naquele
momento, mas não conseguia pensar em nada para
falar. A verdade é que estava nervosa, constrangida
e, ao mesmo tempo, com um aperto em seu coração
por finalmente conhecer aquele que era seu
progenitor, mas que nunca se dera ao trabalho de se
fazer presente em sua vida.
— Sinta-se à vontade — disse Mirela,
esboçando um sorriso. — Venha, vou lhe
acompanhar até o seu quarto. Depois Luca pode lhe
mostrar o resto do castelo, certo, Luca?
— Ah! Sim, claro! — exclamou o garoto
animado.
— Obrigada — respondeu Ivana. — Esse
lugar é muito lindo!
Seguiu, então, a esposa de seu pai, subindo
várias escadas até chegar a um longo corredor de
quartos. Mirela, em seu longo vestido verde escuro,
era naturalmente elegante, reparou Ivana. Ela abriu
uma das portas e a convidou para entrar.
O quarto era lindo, ricamente mobiliado
com móveis em madeira maciça entalhados
manualmente. Sobre a cama, um dossel vermelho
abria-se como uma cortina. A colcha também era
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de cetim vermelho e sobre ela haviam várias


almofadas bordadas em dourado.
Ivana ficou parada, olhando tudo de boca
aberta. Aquilo era demais!
— O castelo é um pouco velho, então não
temos um banheiro moderno — disse a anfitriã,
levando-a a outra porta. — Mas fizemos várias
melhorias e temos aquecimento e água quente
encanada, não se preocupe. — Ela riu.
O banheiro realmente não era moderno,
nem tão luxuoso quanto o de um hotel, mas era
funcional e tinha uma charmosa banheira branca
com torneiras douradas.
A jovem vampira sorriu.
— Está perfeito, muito obrigada!
— Ótimo, suas malas já devem estar
subindo. O jantar costuma ser servido pontualmente
às 19 h, não se atrase. Grigore... hum... seu pai é
rígido quanto a isso. — Mirela sorriu. — Sei que
está se sentindo estranha, mas irá se acostumar...
Você é bem-vinda aqui, Ivana. Sinto muito se não
te convidamos para vir antes... É que... bem... é
complicado, espero que compreenda e nos perdoe.
Ivana se emocionou com aquelas palavras.
Não esperava por aquilo, não imaginava que a
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esposa de seu pai fosse tratá-la tão bem ou que


pudesse lhe pedir desculpas.
— Agradeço... — respondeu ela com um
sentimento de felicidade brotando em seu coração.
Mirela sorriu novamente e saiu do quarto,
deixando-a com Luca. O garoto a olhava sorrindo
também.
— Então? — quis saber ele. — Quer
conhecer o castelo agora ou mais tarde?
— Pode ser agora. Não estou fazendo nada
mesmo... Mas antes preciso comer algo, estou
faminta! Ainda não almocei.
— Certo! Vamos até a cozinha primeiro —
disse Luca com um brilho nos olhos. — Anna, a
cozinheira, fez uma torta muito boa hoje e também
tem sobremesa. Hum... Está precisando de sangue?
— perguntou ele, mais sério.
— Ah! Não, já tomei minha cota da
semana, obrigada. — Ivana sorriu. Na verdade, ela
não precisava beber tanto sangue como os vampiros
puros. Podia ficar até duas semanas sem, enquanto
seus familiares necessitavam ingeri-lo pelo menos
uma vez por semana.
Ivana seguiu com seu meio-irmão mais
novo pelos corredores cobertos por refinados
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tapetes e paredes em pedra. Ela ia observando com


curiosidade os detalhes, os quadros antigos e outros
objetos de decoração, até que viraram em um
corredor e deram de encontro com um homem alto
e de cabelos escuros oleosos, aparentemente um
pouco mais novo que seu tio.
Vestido formalmente, como a maioria dos
vampiros costumava fazer, seus olhos eram de um
tom acinzentado e suas feições eram duras e
encovadas. Luca ficou sério de repente e o homem
olhou Ivana de cima a baixo.
— Você deve ser Ivana... — disse o
estranho ainda analisando-a. — Meu nome é
Flaviu, muito prazer. — Estendeu a mão.
— Prazer... — disse Ivana, aceitando a mão
fria que ele lhe oferecia.
O vampiro, sem que ela esperasse, puxou
sua mão e a levou aos lábios, beijando-a no dorso.
Ivana foi tomada por uma sensação ruim e
rapidamente a retirou. Flaviu sorriu
maliciosamente.
— Nos vemos mais tarde, Ivana... — disse
ele com um olhar predador. Então seguiu seu
caminho.
A jovem fez uma careta e limpou as costas
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da mão na calça, com nojo.


— Quem é aquele? — perguntou.
— Um primo distante do pai... Ele é sinistro
— disse Luca. — Me dá medo...
— Concordo — respondeu Ivana
arrepiando-se. Esperava não ter que esbarrar
naquele homem tão cedo novamente.
Continuaram em direção à cozinha e logo o
cheiro de pão saído do forno invadiu o nariz de
Ivana, que salivou. Estava com tanta fome que até
se esqueceu do cara estranho. Naquele momento, o
que ela precisava era encher o estômago.

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“... um pouco mais acima erguia-se o castelo,


imponente e antigo, feito de pedras e cercado por
uma alta muralha”

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— Teremos muitas pessoas hospedadas aqui


até o aniversário? — perguntou Ivana à cozinheira
rechonchuda e de cabelos castanhos grisalhos.
— Acho que sim... — respondeu Anna. —
Pelo que disse a Sra. Constantin, devemos receber
cerca de vinte pessoas até domingo e para a festa
serão mais cem convidados, aproximadamente.
— Hum... — murmurou Ivana, esperando

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que os outros hóspedes não fossem tão sinistros


quanto o homem que havia acabado de conhecer.
— E você vai preparar toda a comida sozinha?
— Ah, não... Terei ajuda de algumas aldeãs.
As festas aqui são grandes e requintadas. Irá gostar!
— Anna sorriu.
A cozinheira era uma vampira
transformada, assim como os demais serviçais da
casa e todos os outros aldeões da vila, segundo
disse seu primo. Ivana ainda se impressionava com
aquilo. Como, em plena virada do século, podiam
existir vilarejos inteiros de vampiros sem que a
sociedade humana soubesse disso? Era preciso um
controle firme para que nenhum dos moradores
resolvesse sair pelo mundo contando esse segredo.
Ivana sabia que quem exercia esse controle
ali na Europa era o Conselho de Anciãos, do qual
seu pai fazia parte, e que comandava um exército
de vampiros puros responsáveis por manter a
ordem e o domínio sob os transformados, a famosa
e temida Força de Contenção. Ainda assim, era
impressionante. Nos EUA haviam pouquíssimos
transformados, apenas alguns empregados mais
antigos. Lá, ser um vampiro era complicado; todo
cuidado era pouco, a fim de não se exporem aos
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humanos, caso contrário, seria o fim para eles.


— Como vocês se alimentam? — perguntou
ela. — Quero dizer... o sangue? Como conseguem,
já que são tantos vampiros aqui na vila? O hospital
tem capacidade para fornecer tanto assim?
— Não! Claro que não! — Anna riu. — Os
hospitais de seu tio só fornecem sangue para os
vampiros puros e para os transformados que vivem
fora daqui.
— Então como fazem? — Ivana arqueou
uma sobrancelha.
— Nós, transformados, não precisamos de
sangue humano. Criamos cavalos e porcos para
isso; assim, retiramos o que precisamos dos
animais. Mas também não necessitamos de muito,
somos resistentes, podemos ficar até um mês sem
ingerir sangue. Depois disso, começamos a
enlouquecer... — Ela riu novamente.
Ivana surpreendeu-se com a informação.
Sorriu, mas no fundo, sentiu-se triste por conta de
algo que tinha ouvido há muito tempo. Diziam que
sua mãe havia enlouquecido antes de morrer...
Virou-se, então, para Luca, que estava se
deliciando com um pedaço de bolo.
— E aí? Vamos? Quero ver o resto do
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castelo — disse ela, tentando espantar as


lembranças.
— Vamos! — respondeu ele de boca cheia,
levantando-se.
— Obrigada, Anna. Sua torta e o pão
quentinho estavam uma delícia — agradeceu Ivana.
— De nada, querida. Precisando, é só
aparecer — disse a cozinheira recolhendo os pratos.
Luca mostrou tudo para a deslumbrada
Ivana. Desde as masmorras até os estábulos.
Levou-a também à torre, onde dizia ser seu refúgio
secreto e para onde fugia quando não queria ser
incomodado. Na verdade, não era tão secreto assim,
já que, quando ele sumia, todos sabiam onde
estava, mas dificilmente alguém subia lá para
chamá-lo. A torre era alta e era preciso muito
ânimo para subir todos aqueles degraus. A vista, no
entanto, era maravilhosa.
De lá, podia-se ver todo o vale e o vilarejo
na parte mais baixa. Por entre as casas, corria um
pequeno riacho e era possível distinguir algumas
estreitas pontes de madeira ligando as duas
margens. Do outro lado do vale, uma enorme fileira
de montanhas se estendia, cercando aquele lugar
como uma parede natural. Naquela época do ano,
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estavam branquinhas por causa da neve. Segundo


Luca, elas ficavam ainda mais bonitas quando a
neve começava a derreter e o verde aparecia.
Ivana olhou em volta, observando o refúgio
do pequeno irmão. Havia um cavalete de pintura ali
e vários papéis com desenhos à lápis pendurados
nas paredes. Os traços eram simples, mas muito
bem feitos e proporcionais para um garoto da idade
dele. Luca, pelo visto, gostava de desenhar animais
e paisagens, embora tivesse alguns esboços de
rostos de pessoas ali. Reconheceu seu pai,
desenhado com uma expressão severa.
— Você desenha bem — disse ela ao irmão.
— Estou aprendendo... Em breve irei
começar as aulas de pintura à óleo — disse Luca
entusiasmado.
— Isso é bom, você tem talento. Parabéns!
— Obrigado. — Ele sorriu.
Ivana havia gostado de Luca logo de cara.
Ele era um amor de garoto. Estava feliz por terem
se dado bem e por ter sido aceita tão naturalmente
por ele. Com seu pai seria diferente, ela pressentia
isso...
De fato, pouco viu Grigore nos dias que se
seguiram. Apenas durante os jantares, nos quais seu
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pai conversava mais com seu tio e com seu primo


do que com ela. Conheceu também Victor, seu
irmão mais velho e não tão simpático quanto Luca.
E a esposa dele, sua cunhada; outra vampira de
nariz empinado, como a noiva do seu primo Robert.
Outros parentes foram aparecendo conforme a
semana ia chegando ao fim e Ivana apenas
cumprimentava-os, limitando-se a responder
educadamente uma ou outra pergunta que lhe
faziam.
Notou que alguns a olhavam desconfiados
ou com altivez, mas não se importava nem um
pouco com o que eles pensavam ou achavam dela.
Logo iria embora e não precisaria mais vê-los de
qualquer forma. Flaviu, o homem estranho, tentou
puxar conversa com ela algumas vezes; felizmente,
nunca estavam sozinhos e Ivana sempre dava um
jeito de se desculpar e sair da roda. Durante o dia,
permanecia atenta e evitava-o ao máximo. Não
sabia o motivo, mas aquele homem lhe causava
repulsa.
O Ano Novo chegou, e uma bela queima de
fogos foi providenciada pelos Constantin. Na vila,
os transformados fizeram uma grande festa na rua,
com danças, comidas e bebidas. Curiosa, Ivana
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desceu a colina com Rob e Luca para participar da


comemoração, arrancando olhares tortos e
comentários maldosos de alguns convidados que
haviam ficado no castelo. Mas nenhum dos três
estavam se importando muito com aquilo.
— Uma vampira como você não devia se
misturar assim com os transformados — disse
Flaviu, ao encontrar Ivana no corredor do castelo
no dia seguinte.
— Um vampiro como você não devia se
preocupar com o que eu faço, ou não, da minha
vida — respondeu ela com um sorriso falso.
Ivana passou por ele com uma expressão de
tédio e seguiu para a biblioteca. Era ali que ela
passava grande parte do seu tempo desde que
chegara e, para sua alegria, descobriu um
verdadeiro tesouro naquelas prateleiras. Lá,
encontrou dezenas de livros antigos e valiosos.
Livros que falavam sobre a etimologia dos
vampiros e diversos outros seres sobrenaturais.
Havia um extenso material sobre Lykans que
poderiam ajudar em suas pesquisas. Assim, passou
o dia pesquisando e fazendo diversas anotações.
Procurou sobre os Wargs também, uma vez
que agora ela poderia trabalhar em cima da saliva
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colhida de Axel, mas foi difícil encontrar livros que


falassem sobre o assunto. Os poucos que haviam
eram vagos e não tinham muitos detalhes.
Realmente, o Wargs eram quase uma lenda, não se
sabia praticamente nada sobre eles. Aliás, antes de
conhecer Axel, era o que ela pensava que eles
eram, apenas lendas contadas para assustar
crianças.
— O que está lendo? — perguntou Luca,
entrando na biblioteca.
— Estou fazendo pesquisas para o meu
trabalho — respondeu ela.
— Não é médica? — espantou-se Luca.
Entre os vampiros puros, ser médico e trabalhar nos
hospitais da família era algo mais do que comum,
era quase uma regra.
— Sou, mas não atendo pacientes. Trabalho
em um laboratório. — Ivana sorriu. — Sou uma
cientista.
— Uau! Sério? E você está pesquisando
sobre o quê?
— Lykans e Wargs.
— Por quê? — ele quis saber, curioso.
— Trabalho em um antídoto contra a
mordida deles e mais para frente, quero
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desenvolver uma vacina.


— Que legal! — exclamou o garoto. —
Mas por que Wargs também? Eles nem existem...
Ivana sorriu.
— Vou te contar um segredo... — disse ela
baixinho, enquanto Luca se aproximava para ouvir
melhor. — Eu conheci um Warg em Londres há
algum tempo. Até vi ele se transformar!
Luca arregalou os olhos.
— Está mentindo! Nunca ninguém viu um
Warg! — retrucou ele.
— Não estou, juro! Também não acreditei
no começo, mas ele era mesmo um. — Pegou um
dos livros e apontou para um desenho de lobo. —
Diferente dos Lykans, ele consegue distinguir nosso
cheiro. Soube que eu era uma vampira só de eu
chegar perto. Então eu o segui... — Ivana fez uma
pausa e ponderou que era melhor não falar sobre a
morte do Lykan ou sobre o que havia acontecido
depois na mansão. — Eu o vi transformado, Luca.
Ele é branco e enorme, maior do que qualquer
Lykan!
— E ele não quis te machucar? —
perguntou o garoto interessado.
— Não. Naquele dia eu me liguei em uma
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coruja e ele nem percebeu que eu o estava


seguindo. — Ivana riu e piscou. — Por
coincidência, eu o acabei reencontrando alguns dias
atrás. É um cara normal, apesar de um pouco mal-
humorado... Penso que Axel só é perigoso se
mexerem com ele.
— E de onde ele é? Por que nunca ouvimos
falar em Wargs de verdade?
— Porque parece que não existem muitos
deles... Ele disse que é do norte, de algum país
escandinavo. E tem uma casa aqui na Romênia,
em... Putna... — falou, tentando se lembrar do
nome.
— Ah! Putna... fica do outro lado dos
Cárpatos, quase na Ucrânia — comentou Luca,
orgulhoso de conhecer a geografia da Romênia. —
Tem um mosteiro famoso lá!
O jovem vampiro parou de falar e ficou
pensativo por um tempo.
— Com quantos anos conseguiu fazer sua
primeira ligação? — perguntou ele mudando
completamente de assunto.
— Ligação mental? Hum... acho que tinha
uns treze anos... foi com um gato. Por quê?
— Tenho medo de não ser capaz... — disse
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ele cabisbaixo. — Meu irmão, quero dizer, nosso


irmão conseguiu com dez anos. Eu vou fazer onze
em alguns meses e...
— Calma, Luca. Cada um tem seu tempo.
Irá conseguir, não se preocupe! — Ivana sorriu e
passou a mão na cabeça dele. — Vamos nos
preparar para o jantar? Já são quase 19 h. Não
podemos nos atrasar.
— Não, não podemos — respondeu Luca.
— O pai fica muito bravo! — Ele riu.
O jantar correu como de costume; contudo,
assim que terminaram, Grigore pediu para que
Ivana, seu primo Rob e seu tio o acompanhassem
até o escritório, pois tinha uma assunto importante
a tratar.
Ivana estranhou. Que assunto ele poderia ter
com ela, se mal haviam conversado desde que ela
tinha chegado? Entraram na enorme sala e Grigore
pediu para Robert fechar a porta, em seguida
sentou-se em uma antiga e imponente cadeira de
veludo, atrás de uma grande mesa escura de
madeira, e convidou-a a se sentar à sua frente. Seu
tio e seu primo permaneceram em pé, próximos. A
vampira teve um pressentimento ruim, todos
estavam muito sérios...
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— Muito bem, Ivana... — Grigore começou


a falar. — Sei que é um pouco tardio, mas
finalmente conseguimos lhe arrumar um noivo.
— Como é? — A garota sobressaltou-se. —
Do que você está falando?
— Você é uma Constantin e já estava na
hora de se comprometer em uma união
matrimonial, aliás, estava passando da hora...
Ivana, boquiaberta e com o coração gelado,
olhou para seu tio Stefan que, constrangido,
desviou o rosto. Rob estava tão espantado quanto
ela, seu primo provavelmente também não sabia
que era aquele o motivo da reunião. A vampira
olhou para seu pai, que continuou:
— Demoramos um pouco para encontrar
um pretendente. Na sua situação não é fácil
encontrar alguém que a aceite e...
— Eu não quero ser aceita por ninguém! —
exclamou Ivana indignada. — Não vou me casar
assim! Não por casamento arranjado!
— Mas é claro que vai! — Grigore subiu o
tom. — Pode ser filha de uma transformada, mas é
minha filha também! Você é uma Constantin, e
como tal, vai seguir a tradição!
— Ah! Tá! Agora sou sua filha? Vai-te à
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merda! — berrou a vampira se levantando,


surpreendendo a todos na sala. — Você não tem o
direito! Você não é digno de se achar o meu pai!
Nunca se importou comigo ou com minha mãe,
preferiu se livrar de nós. Nunca me deu um
telefonema sequer, em todos esses anos. Foram 43
anos, Sr. Grigore, 43 anos sem um único contato! E
agora vem querer dar uma de pai? Isso é ridículo!
Grigore, naquela altura, estava vermelho de
raiva.
— Sua maldita ingrata! — gritou ele,
levantando-se também. — Pensa mesmo que lhe
abandonei? Eu podia ter eliminado você e sua mãe
antes mesmo de você nascer ou podia tê-las
mandado embora para algum fim de mundo, de
onde nunca mais eu tivesse notícias. Mas não fiz
isso! Quis lhes dar uma vida honrosa! Por que acha
que as enviei ao meu irmão? Por que acha que eu
ainda lhe dei o meu nome, Ivana? Você é uma
Constantin, sangue do meu sangue!
— Minha mãe morreu de desgosto por sua
causa! — acusou ela, crispando as mãos.
— Sua mãe morreu porque era uma fraca!
— Grigore bateu forte na mesa. Sua expressão era
pura fúria e rancor. Então sentou-se novamente,
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com o semblante abalado. — Não era para ela ter


morrido... Eu não queria isso... eu... — O vampiro
desviou os olhos e respirou fundo. — Isso não
importa mais! Você vai se casar com Flaviu, está
decidido!
Ivana arregalou os olhos, pasma. Seu
sangue parecia ferver em suas veias.
— Flaviu?! — exclamou, colérica. — Está
brincando? Aquele asqueroso? Não mesmo!
Nunca! Nunca! Nem amarrada! Não vai me obrigar
a isso! — disse, com um olhar duro e obstinado.
— Aquele “asqueroso”, como você diz, é
um ótimo partido, é um parente distante por parte
de uma prima minha e vem de uma ótima linhagem
familiar, tão tradicional quanto a nossa. Ele perdeu
sua primeira esposa em um acidente e se interessou
por você assim que lhe mostramos a sua foto.
Deveria estar orgulhosa de ser aceita por ele! —
rugiu Grigore.
— Estou é enojada! — retrucou Ivana
veementemente. — Pouco me importa de que
linhagem ele é! Vocês já tinham isso tudo
planejado, não é? — Olhou para o seu tio também.
— Foi por isso que me trouxeram aqui? —
perguntou com os olhos marejados de lágrimas. —
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Tio? Você sabia, não é? Por isso insistiu para que


eu viesse? Pois podem esquecer! Não vou me casar
e ponto final! Aliás, o que vou fazer é ir-me embora
desse lugar! — Virou-se para sair, mas Stefan se
pôs à sua frente.
— Sinto muito, Ivana. Mas não tem como
fugir assim de seus compromissos. — disse-lhe o
tio. — Ser uma Constantin requer
responsabilidades e seu pai já empenhou sua
palavra.
— Pouco me importa! Me deixe passar! —
retrucou ela, empurrando o tio.
— Ivana! — chamou Grigore.
Ela se virou para olhá-lo.
— Não vai a lugar algum — disse ele
mostrando-lhe seu passaporte. — Estou
confiscando seus documentos até depois de
amanhã, quando executaremos o ritual de sangue. E
é melhor se acostumar com a ideia, pois o faremos
nem que você tiver de ser amarrada!
Ivana, furiosa, voltou-se e foi para cima de
seu pai, tentando tirar o passaporte de suas mãos.
— Está louco? — berrou, colérica. — Me
devolve isso! Não tem o direito! — disse, enquanto
tentava alcançar o documento.
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Stefan se aproximou, então, da sobrinha e a


segurou pelos braços.
— Acalme-se, Ivana! Não seja infantil! —
esbravejou ele. — Está me envergonhando e
envergonhando seu pai!
Ivana fitou-o indignada e decepcionada.
Não esperava que seu amado tio pudesse traí-la
assim. Buscou Rob com o olhar e o rapaz parecia
nervoso e irritado, mas não se moveu. Logo viu que
não poderia contar com ele. Encarou, então, seu
pai, que calmamente abriu um cofre atrás de si e
depositou seu passaporte lá dentro, fechando-o em
seguida.
Stefan a largou e ela esfregou os braços
doloridos. Lágrimas quentes rolavam por sua face.
— Vocês são uns monstros... — murmurou
ela, sem forças. — Odeio vocês, todos vocês! —
exclamou, virando-se para sair da sala.
Passou pelo primo sem olhá-lo. Culpava-o
também por não ficar do lado dela, por não
defendê-la. Abriu a porta e encontrou Luca do
outro lado, de olhos arregalados. Não lhe deu
atenção e seguiu em frente. Naquele momento, ela
só queria ficar bem longe de qualquer membro
daquela família.
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Subiu quase correndo para o quarto, as


lágrimas lhe embaçavam a visão e seu coração
parecia estar partido ao meio. Trancou a porta ao
entrar e foi até a janela. Era noite lá fora, mas a Lua
cheia iluminava o vale, evidenciando os contornos
das montanhas e dando um brilho prateado às águas
do riacho que corria lá embaixo. As luzes de
algumas casinhas ainda permaneciam acesas. Ivana
soluçou. As lágrimas não paravam de brotar de seus
olhos, sentia-se sufocada. Como queria ter asas,
como queria poder se transformar em uma ave, ao
invés de apenas entrar na mente de uma... Se
pudesse voar, sumiria dali, desapareceria para
sempre...

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“Encarou, então, seu pai, que calmamente


abriu um cofre atrás de si e depositou seu
passaporte lá dentro, fechando-o em seguida.”

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Ivana não conseguiu dormir naquela noite. O


dia amanheceu e ela permanecia deitada na cama,
com a cabeça coberta. Não queria sair dali, não
queria ver ou falar com ninguém.
Mirela bateu na porta do quarto logo cedo,
tentando convencê-la a sair e tomar café. Contudo,
a jovem vampira não se deu ao trabalho de atender.
Ainda estava com tanta raiva que parecia que ia

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explodir. Mas o que mais lhe doía era o fato do seu


tio estar envolvido naquilo. Sentia-se traída,
machucada por aqueles a quem ela mais amava.
Mesmo seu primo, praticamente um irmão para ela,
nada tinha feito, nada havia dito...
A vampira passara a noite inteira remoendo
sua ira e pensando no que fazer. Seu pai não a
conhecia, ela não era pessoa de se entregar fácil
assim, não aceitaria aquilo! Nunca! Estremecia só
de se lembrar do rosto de Flaviu, e então entendeu
por que ele a olhara daquele jeito predador quando
se conheceram. Nojento! Asqueroso! Nem morta
casaria com ele! Daria um jeito de sair dali!
O sol já estava alto quando Ivana resolveu
se levantar. Ela sabia que seu pai iria até o hospital
em Sibiu antes do amanhecer e nos últimos dias seu
tio andava acompanhando-o, portanto, nenhum dos
dois estaria mais no castelo naquele horário.
Encontrar Vampyrs durante o dia não era
nada incomum. Apesar de serem criaturas noturnas,
muitos acabaram tendo que se adaptar aos hábitos
humanos, enfrentando a luz do sol. Só precisavam
estar munidos de chapéus, protetores solares e
insulfilmes nos carros que não haveria problemas.
A vampira agradeceu mentalmente por seu pai estar
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ausente. Aquilo lhe daria uma chance!


Grigore era dono e administrador do
hospital da região, assim como seu tio Stefan era do
hospital de Nova Iorque e vários outros vampiros
eram donos de inúmeros hospitais espalhados pelo
mundo. Era assim que seres como eles conseguiam
o sangue necessário à sua sobrevivência. Não do
banco de sangue, mas dos humanos que morriam
no próprio hospital.
Não importava qual fosse a causa da morte,
havia todo um procedimento, no qual o sangue era
drenado do corpo em até duas horas após o
falecimento. Esse sangue era, então, purificado e
enviado para ser embalado em uma ala restrita do
próprio hospital. Depois era distribuído em
caixinhas longa vida, como suco de uva. Era
estranho, mas funcionava. Nenhum humano havia
desconfiado até agora, e os processos eram
rigorosamente controlados. Apenas vampiros
tinham acesso à essas áreas e à distribuição.
Pelo que Ivana conhecia, nos EUA e no
resto do mundo, cada vampiro, puro ou
transformado, tinha direito a uma cota mensal, que
podia ser retirada em um departamento específico
do hospital. Por isso, havia se surpreendido quando
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Anna, a cozinheira, disse que os habitantes do vale


ingeriam sangue de animais, em vez de sangue
humano.
Após se trocar, Ivana olhou dentro de sua
mala, havia duas caixinhas de sangue ali. Daria
para um mês, pelo menos. O que faria depois, não
tinha ideia... Ela sabia que se fugisse seria banida
da família, perderia seu emprego e teria que se virar
sozinha. Ela tinha algum dinheiro guardado e
esperava apenas que não cortassem sua cota de
sangue. Não! Isso eles não fariam...
Era obrigação dos hospitais sob o controle
dos vampiros fornecerem sangue a qualquer
membro de sua espécie, mesmo aos banidos ou
exilados. Eles não podiam se arriscar em deixar que
algum vampiro enlouquecesse por falta de sangue e
saísse atacando humanos.
Existiam regras que protegiam os Vampyrs
de serem descobertos e que eram seguidas à risca.
Fornecer sangue era uma delas, outra regra dizia
que aqueles vampiros que, porventura, matassem
ou atacassem um humano para lhe sugar o líquido
vital, seriam executados ou encarcerados em
prisões. Prisões secretas que nem Ivana sabia onde
ficavam.
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A vampira balançou a cabeça. Por que


estava pensando naquilo? Ela não tinha a menor
intenção de atacar ninguém. Só queria fugir, para
bem longe dali, depois resolveria o que fazer.
Enfiou as caixinhas de sangue e mais algumas
mudas de roupa em uma mochila menor. Conferiu
sua carteira e respirou aliviada, seus cartões e seu
dinheiro estavam lá. Para sua felicidade, seu pai
havia se esquecido de confiscá-los também. Agora
só precisava arrumar um carro e sair sem despertar
suspeitas.
Abriu a janela e olhou para fora, era alto
dali até o chão. Um jardim se estendia logo abaixo,
com várias árvores, plantas e uma fonte de água no
centro. Observou por um tempo e não viu
movimento algum. Jogou, então, sua mochila
próxima de alguns arbustos, deixando-a escondida
entre eles. Satisfeita, saiu do quarto e se dirigiu até
os aposentos de seu primo.
Ivana bateu na porta e, como previra,
ninguém respondeu. Ela conhecia os hábitos de
Rob. Ele acordava cedo e àquela hora
provavelmente estaria se exercitando. Então girou a
maçaneta e entrou. Felizmente, seu primo também
não costumava trancar o quarto. Começou a
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procurar pela chave do carro e logo a encontrou


sobre a cômoda. Sorriu com a sua sorte e guardou a
chave no bolso da calça, saindo em seguida.
Cuidadosamente, evitando ser vista por
alguém, a vampira desceu as escadas e foi até a
cozinha. Como havia perdido o café, passaria por lá
e pegaria alguma coisa para comer. Apesar de
aparentar calma e segurança, por dentro Ivana
estava uma pilha de nervos.
Ao entrar no local, o cheiro delicioso de
comida sendo preparada fez seu estômago roncar,
mas não tinha tempo a perder. Cumprimentou Anna
com um sorriso e pegou um pão fresquinho e
alguns biscoitos. Então saiu do castelo pela porta
dos empregados. Assim, era menos provável
esbarrar com algum hóspede ou com alguém da
casa.
A vampira contornou o castelo e se dirigiu
ao jardim que ficava embaixo de sua janela, seu
coração palpitava. Se fosse descoberta, estaria
perdida. Não duvidava que seu pai mandaria
trancá-la no calabouço. Pegou rapidamente sua
mochila e correu para a área onde ficavam os
veículos. Um senhor veio atendê-la.
— Pois não, senhorita, posso ajudá-la? —
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disse ele.
— Eu vou dar uma saída, quero ir até a vila
— explicou ela. Olhou em volta e logo viu o carro
que seu primo havia alugado. — Ah! É aquele ali!
Não se preocupe, eu mesma pego — disse se
encaminhando para o veículo.
Entrou no carro e suspirou. Até agora, tudo
certo! Então, uma batida no vidro a assustou, olhou
para o lado e viu Luca. Merda! De onde aquele
moleque havia surgido? Engoliu em seco e abriu o
vidro.
— Está indo embora? — perguntou o garoto
com olhos tristes.
— Luca, eu...
— Tudo bem, não vou falar nada para
ninguém... Pode ir! Se alguém perguntar, eu digo
que você foi passear na vila — disse ele com um
meio sorriso.
— Obrigada... — Ivana sorriu. — Gostei
muito de te conhecer, Luca!
— Eu também gostei de te conhecer, espero
que dê tudo certo para você. Já sabe para onde vai?
— Sinceramente, não... Não posso sair da
Romênia sem meu passaporte... Não sei o que vou
fazer... Vou me esconder, pensar, dar um tempo,
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depois eu vejo... Quem sabe nosso pai desiste da


ideia e me devolve o documento...
— Hum... duvido, mas boa sorte — disse
ele. — Escute... Vá para bem longe! Os tentáculos
da família Constantin são longos. O pai conhece
gente em tudo quanto é lugar, inclusive na polícia
— alertou.
— Está bem... Obrigada pelo aviso. — O
coração de Ivana se apertou um pouco mais. —
Tenho que ir, Luca.
O garoto assentiu e Ivana ligou carro,
acenou para ele e partiu, pegando a estrada sinuosa
para sair do vale. Não olhou para trás. Arrependia-
se amargamente de ter ido até aquele lugar. Um
peso tomava conta de seu peito. Droga! Para onde
iria? Não teria muitas horas até descobrirem sua
fuga e começarem a procurá-la. Não duvidava que
Grigore tivesse contato com gente da polícia. Os
Constantin eram conhecidos, importantes e
exerciam grande influência na região. Por isso,
tinha que agir rápido, precisava encontrar algum
lugar onde não fosse descoberta.
Assim que saiu do vale, encostou o carro no
acostamento. Abriu o porta-luvas e encontrou o que
precisava. Um mapa! Era comum ter mapas em
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carros alugados, para sua sorte. Deu uma olhada e


sentiu-se meio perdida, mal sabia onde estava.
Procurou com atenção e encontrou Sibiu, a cidade
onde ela havia pousado. Segundo a placa da
estrada, ela estava na “7A”. Vasculhou, então, o
mapa mais uma vez e logo conseguiu se localizar.
Ótimo! Mas e agora, para onde deveria ir? Para o
norte ou para o sul?
Para o sul ficava a capital, Bucareste.
Poderia tentar chegar ao consulado lá, pedir um
novo passaporte; mas também seria o local mais
óbvio para seu pai procurá-la. Além disso, poderia
levar dias para se confeccionar um novo
documento. Até lá Grigore já a teria encontrado,
com certeza.
Ivana começou a entrar em desespero.
Sentia-se insegura, nervosa e irritada, não
conseguia se decidir. Olhou para o mapa de novo.
Uma formação montanhosa em “C” invertido lhe
chamou a atenção. “Cárpatos”, dizia.
Lembrou-se de que Luca havia mencionado
aquela palavra quando estavam conversando sobre
o Warg. Subitamente, a jovem vampira se retesou.
E se...? Procurou no mapa e encontrou, bem ao
norte, a pequena cidadezinha chamada Putna. Seu
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coração deu um salto de esperança. Será que...?


Bem, não custava tentar. Se aquilo desse errado,
pelo menos estaria bem longe de Grigore.
Partiu novamente com o carro. Teria uma
longa viagem pela frente.

Três horas depois, Mirela percorria o


castelo preocupada. Não tinha visto Ivana ainda.
Segundo Anna, ela havia passado na cozinha pela
manhã, mas não tinha aparecido para o almoço. Ela
sabia que a garota estava chateada, entendia-a. No
entanto, era assim que as coisas funcionavam entre
os Vampyrs, Ivana não tinha escolha...
— Luca, não viu Ivana? — perguntou
Mirela subindo até o último andar da torre, onde o
garoto se encontrava desde cedo.
— Vi, de manhã... — respondeu ele,
fingindo pouca importância.
— Não sabe onde ela está? — insistiu a
mãe.
— Ela disse que ia dar uma volta na vila...
— Na vila? Como? De carro?

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— Sim... ela pegou o carro do Rob.


Mirela franziu o cenho e desceu as escadas.
Encontrou Robert lendo uma revista médica na
biblioteca.
— Emprestou seu carro para Ivana? —
perguntou ela.
— Não, por quê? — respondeu ele
levantando os olhos da revista.
— Porque ela saiu com o seu carro —
informou Mirela. — E já faz tempo... Estou
preocupada, Rob. Precisamos descer até a vila, ver
se ela foi para lá mesmo.
— Okay... — disse o rapaz se levantando.
Estava com um mau pressentimento. Se conhecia
bem sua prima, ela não estaria lá...
Após percorrerem a vila de alto a baixo e
fazerem algumas perguntas aos moradores, os dois
perceberam que estavam perdendo tempo. A garota
tinha ido mesmo embora. Voltaram para o castelo e
Mirela, apesar de se sentir em parte feliz, por Ivana
ter tomado uma atitude tão corajosa, também estava
receosa de que Grigore fosse culpá-la por não ter
percebido a fuga da garota. Por isso, resolveu ligar
logo para o marido. Em pouco mais de uma hora
ele e Stefan já estavam em casa.
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Grigore, furioso, andava de um lado para o


outro em seu escritório. Aonde ela pensa que pode
ir sem o passaporte? O que diria para Flaviu? Como
explicaria que sua futura noiva tinha fugido porque
não queria se casar com ele? Como aquela garota se
atrevia a fazê-lo passar por aquela vergonha? Pegou
o telefone e fez uma ligação.
— César? Preciso de sua ajuda, é urgente!
Pode vir aqui agora? — disse ele, aguardando a
resposta. — Certo, estou te esperando. — Desligou.
— César? — espantou-se Stefan. — Por
acaso é o César, capitão da Força de Contenção?
— Sim — respondeu Grigore.
— Não é um exagero? Não seria melhor
falar com seus contatos na polícia? César não é
conhecido por ser um vampiro amigável — falou
Stefan, preocupado.
— Não quero envolver a polícia nisso. E
César não precisa ser amigável, precisa ser eficaz!
— retrucou o vampiro mais velho.
— Mas e se ele a machucar? — perguntou
Robert, alarmado.
— Não será nada que ela não possa se curar
— disse Grigore impaciente.
Cerca de uma hora depois, César, um
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vampiro alto, forte e imponente, chegou. Seus


escuros cabelos curtos e sua barba espessa e bem
aparada, dava-lhe um ar severo e perigoso. Tendo
já seus 230 anos, era experiente e maduro, mas
ainda possuía o vigor da juventude. Como capitão
da Força de Contenção, estava acostumado a caçar
e prender vampiros assassinos, loucos e fugitivos;
por isso espantou-se ao saber que precisaria ir atrás
da filha de Constantin.
— O que a garota fez? — quis saber ele um
tanto mal-humorado.
— Fugiu de um noivado... — respondeu
Robert, com uma leve ironia.
— Grigore! — exclamou ele. — Está de
brincadeira comigo?
— Não, meu caro, não estou. Preciso que a
traga de volta! Infelizmente minha filha não
entende o peso das tradições. E eu não posso deixar
que nosso nome seja desonrado assim. Sei que
entende...
César franziu o cenho. Sim, ele entendia.
Seu pai havia desonrado a própria família ao
abandonar sua mãe por outra mulher. Seu
sobrenome havia sido jogado na lama e, apesar de
pertencer a uma linhagem antiga, ele, sendo filho
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de quem era, nunca conseguira efetivamente


participar do círculo das famílias tradicionais.
Tinha um posto importante, mas era só isso.
Os nobres membros do Conselho evitavam
sua presença e só o chamavam para resolver
problemas, como Constantin havia acabado de
fazer. Queria mandá-lo à merda, mas infelizmente,
sendo apenas um subordinado na hierarquia dos
Vampyrs, tinha que atendê-lo.
— O que quer que eu faça? — perguntou o
capitão.
— Que a traga de volta — respondeu
Grigore. — À força, se for preciso!
— Eu gostaria de ir junto — disse Rob,
preocupado com o bem-estar da prima. — Posso
tentar convencê-la a voltar, sem ter que usar a
violência.
— Eu prefiro trabalhar sozinho, ou com
gente da minha equipe — retrucou César.
— Não quero outras pessoas envolvidas,
César. Leve Robert, ele pode ajudar! — disse
Grigore.
O capitão não gostou muito da ideia, mas
concordou.
— Quando foi que ela sumiu? —
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perguntou.
— A cerca de 7 ou 8 horas — disse Rob. —
Ela está de carro.
— Muito bem, preciso do nome dela
completo, da bandeira do cartão de crédito e da
placa do carro — solicitou César. — Vou verificar
se ela passou o cartão em algum estabelecimento
comercial ou posto de gasolina e emitir um alerta
para o carro. Fora isso, não temos mais o que fazer,
a não ser esperar. Não dá para sair por aí
procurando-a aleatoriamente.
Robert passou os dados que o capitão havia
solicitado e foi para seu quarto tentar ligar para
Ivana pela centésima vez, mas não conseguiu
completar a ligação. Ela havia desligado o celular.
Não tinha dúvidas que sua prima estava
profundamente chateada com ele.
Sentiu isso no olhar que ela havia lhe
dirigido no dia anterior, um olhar decepcionado,
frustrado e acusatório. Ela culpava-o também por
aquilo, e ele sentia-se culpado. Mas o que ele
poderia fazer? Ir contra seu tio, sua família, seus
costumes? Sentia-se um covarde em não apoiá-la,
contudo, ao mesmo tempo, entendia a tradição. Ele
próprio se casaria em alguns anos, um casamento
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arranjado, como deveria ser. E não era o fim do


mundo, afinal...

O sol já estava se pondo quando Ivana


chegou à pequena Putna. Na verdade, aquilo não
era uma cidade, era um vilarejo, ou uma comuna,
como diziam os romenos. Tanto melhor, assim não
seria difícil encontrar o Warg. Parou em um
pequeno café e sentou-se em uma mesinha. Estava
exausta de tanto dirigir, havia percorrido centenas
de quilômetros em mais de 8 horas de viagem.
Pediu um café à atendente. Felizmente, a
língua não era um problema. Havia aprendido
romeno desde criança e treinado bastante nos
últimos dias no castelo. Quando ela voltou com a
bebida, aproveitou para perguntar:
— Escute... estou procurando uma pessoa.
Axel é o nome dele. Ele é jovem, tem o cabelo
branco... será que você sabe de quem estou
falando?
A moça sorriu.
— Sei sim. Está procurando o Sr. Andersen,

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mas não sei se ele está em Putna agora —


respondeu ela. — Ultimamente ele não tem
permanecido muito tempo na vila. Desde que ele
enterrou uma conhecida aqui, há uns dois anos, ele
não fica muito. A garota não era romena, sabe?
Mas o Sr. Andersen cuidou de tudo. Ouvi dizer que
ela talvez fosse a namorada dele... pobre moça.
Pelo que eu soube ela era jovem ainda, acho que foi
um acidente. Não sabemos. Ele não fala muito...
— Falo somente o necessário, Nádia —
disse uma voz vinda da porta do estabelecimento.
As garotas se viraram para olhar e deram de
cara com os belos olhos dourados de Axel. Para
variar, seu humor não parecia dos melhores. Nádia
se desculpou e saiu, enquanto o rapaz permanecia
encarando fixamente a vampira.

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“Vasculhou, então, o mapa mais uma vez e


logo conseguiu se localizar. Ótimo! Mas e agora,
para onde deveria ir?”

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Algumas horas antes, Axel se preparava para


tomar calmamente um chá em sua cabana quando
constatou, frustrado, que seus chocolates haviam
acabado. Não que fossem imprescindíveis ou
insubstituíveis, mas ele os apreciava, e já que não
tinha nada para fazer, decidiu ir até a vila. Assim,
aproveitaria para abastecer a despensa com outras
coisas também.

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Dirigiu-se a um mercadinho da região e


comprou rapidamente o que necessitava. Contudo,
na volta, notou um odor conhecido entrando pela
janela aberta da caminhonete. Desconfiado,
procurou no entorno e logo reconheceu a
fisionomia da vampira entrando no pequeno café da
cidade.
Parou imediatamente o veículo. O que ela
estava fazendo ali? A Transilvânia ficava a pelo
menos 500 quilômetros de distância. Não podia ser
coincidência a presença dela naquela vila escondida
no meio das montanhas.
Estacionou a caminhonete um pouco mais à
frente, em dúvida se iria ou não até lá. Por fim,
decidiu verificar o que ela queria ali e, irritado,
caminhou até o café. Chegou lá no momento em
que Nádia tagarelava sobre a vida dele. Após a
atendente sair, claramente envergonhada, ele
encarou Ivana com o semblante sério.
— Não vai me dizer que isso é uma
coincidência, não é? — disse ele.
A vampira, ainda surpresa, mordeu os
lábios e desviou os olhos para a xícara de café à sua
frente.
— Não, não é... — respondeu, um pouco
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embaraçada.
Axel aproximou-se da mesa.
— Por que está aqui? — Sua voz era seca.
No fundo, ele temia a resposta dela. Aquela mulher
o perturbava, e ele se sentia incomodado com
aquilo.
Ivana suspirou e o encarou.
— Preciso de ajuda...
— Ajuda? Minha ajuda, por acaso? — O
Warg arqueou uma das sobrancelhas, desconfiado.
A vampira tomou um gole de café.
— Sim. Eu... não tenho mais a quem
recorrer.
Axel estreitou levemente os olhos. O rumo
daquela conversa não estava lhe agradando. Ela
continuou:
— Você é o único quem eu conheço por
aqui e...
— Não, Ivana. Na verdade, você não me
conhece, não se engane — interrompeu ele,
sentando-se à frente da garota. — Trocamos apenas
algumas palavras há alguns dias.
— Não foram só “algumas” palavras!
Dividimos a mesma suíte, o mesmo táxi... —
retrucou ela de cenho franzido. — Eu não tenho
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culpa que você não gosta de conversar muito... —


Suspirou.
— O que quer, afinal? — perguntou Axel,
aborrecido.
Diferente de quando a havia encontrado em
Londres, a moça não estava tão sorridente e nem
parecia tão confiante; pelo contrário, parecia estar
preocupada e triste. Ivana encarou por um tempo
sua xícara de café, antes de responder.
— Um lugar para ficar... Só por um tempo...
— disse ela em um tom mais baixo, quase como
um pedido.
Naquele momento, a vampira sentia-se
completamente perdida. Queria manter a
compostura, mas estava desmoronando por dentro.
Parecia claro que Axel não estava disposto a ajudá-
la. Um sentimento de angústia e de arrependimento,
por ter viajado horas para chegar até ali, começou a
crescer em seu peito. Tinha perdido um tempo
precioso. Deveria ter pensado melhor, ter ido para
Bucareste. Ela respirou fundo e fitou o Warg nos
olhos.
— Desculpe... eu não queria te incomodar.
Foi um erro eu vir até aqui — disse levantando-se.
Ivana foi até a moça que a atendeu e pagou
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a conta. Aproveitou para perguntar se havia algum


hotel ou pousada por perto. Ela precisava muito
descansar, sentia-se péssima, arrasada e com dores
no corpo de tanto dirigir. Nádia indicou um lugar a
alguns quilômetros dali, desenhando, em um
guardanapo, o caminho para chegar até lá. A
vampira agradeceu e saiu do café sem falar com
Axel, que ainda permanecia observando-a.
O Warg levantou-se e a seguiu até o carro.
Embora ele quisesse muito ir para casa e esquecer
que aquela conversa havia existido, não conseguia
ignorar o fato de que a moça estava com problemas
e tinha ido até lá, quase na fronteira da Romênia, só
para pedir a sua ajuda.
— O que foi, agora? — perguntou ela,
virando-se irritada para o rapaz, assim que chegou
perto do veículo. — Está me seguindo por quê?
— O que aconteceu? Por que quer a minha
ajuda? — indagou Axel.
— Nada! Não importa! — respondeu Ivana,
voltando-se para o carro a fim de abrir a porta.
Axel, sem muita paciência, colocou uma
das mãos na porta do veículo, para que ela não o
abrisse, e com a outra segurou-a pelo ombro,
virando-a e fazendo-a olhar para ele.
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— Veio até aqui para falar comigo. Pois


bem, estou ouvindo! — disse seco.
A vampira franziu as sobrancelhas.
— Vim e me arrependi! — afirmou,
tentando se desvencilhar da mão do rapaz. — Me
larga, idiota! — gritou.
Axel encarou-a severamente e a soltou.
Ivana corou, percebendo que estava agindo como
uma adolescente revoltada. Não era aquilo que ela
havia planejado. Estava dando tudo errado...
— Você é quem sabe — disse ele, virando-
se para ir embora.
— Não! Espera! — exclamou Ivana,
engolindo o orgulho e deixando seus sentimentos
aflorarem. — Desculpe, eu não sei o que eu estou
fazendo... Não consigo pensar direito. Estou
exausta, sinto muito... — Uma lágrima escapou de
seus olhos e ela rapidamente a enxugou.
— Consegue dirigir mais um pouco? —
perguntou Axel.
Ivana assentiu.
— Vou pegar meu carro — disse ele. —
Está logo ali na frente, é só me seguir.
Ivana seguiu-o pela estrada principal por
alguns quilômetros, depois pegaram uma
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secundária e, por fim, uma outra estradinha de


terra, que os levou direto a uma cabana no meio da
montanha. Já estava escuro e ela saiu do carro um
pouco receosa.
Não havia mais ninguém por ali, além deles
dois. Na verdade, não havia ninguém por
quilômetros. “Você não me conhece...”, as palavras
de Axel ecoavam em sua mente. O que ela
conhecia dele? Que era um Warg, um empresário e
um assassino... Respirou fundo. Não, não teria
medo agora!
Entraram na cabana e Axel acendeu as
luzes. Até que o lugar era organizado e confortável,
reparou ela.
— Está com fome? — perguntou ele,
enquanto guardava as coisas que havia comprado
no armário.
— Um pouco...
— Vou esquentar a janta. Se quiser, pode
acomodar suas coisas no quarto e tomar um banho.
Entrando no corredor, primeira porta à esquerda. O
banheiro fica ao lado — explicou.
— Obrigada... — respondeu a vampira,
intrigada com a prestatividade do rapaz.
Ela não conseguia entender direito quem era
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Axel. Desde que haviam se conhecido, ele nunca


pareceu ser um cara muito amigável, chegava a ser
rude de tanto mau humor. Em suas poucas
conversas com ele, o rapaz sempre se mostrou frio
e distante. E no café da vila, ele parecia bastante
aborrecido com a presença dela ali.
Ainda assim, a ajudara em Londres, a
trouxera para sua casa e a estava tratando com
atenção e respeito. Definitivamente ele era
estranho..., difícil de compreender. Isso sem falar
que o cara, apesar de ser rico, morava em uma
cabana no meio do nada.
Tomou um banho e quando voltou para a
sala o cheiro estava maravilhoso. Seu estômago
roncou. Ela não havia parado para almoçar durante
a viagem e só havia comido um pedaço de pão e os
biscoitos que trouxera do castelo.
A garota olhou assombrada para os pratos à
sua frente. Guisado de porco, batatas assadas e
milho cozido. Ele cozinhava?! Nem ela sabia
cozinhar!
— Você fez tudo isso? — perguntou,
sentando-se à mesa.
— Sim, por quê?
— Por nada... — ela sorriu. — Parece
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gostoso!
— Hum... — murmurou ele, servindo-se. —
Coma primeiro, antes de elogiar — disse ele sério.
— Por que nunca sorri, Axel? — indagou
Ivana; realmente, aquilo era algo que ela queria
saber.
Uma discreta ruga surgiu entre as
sobrancelhas do rapaz. Ele sorria, sim, quando
estava feliz. Liz fazia ele sorrir, mas ela não estava
mais ali, e ele não tinha mais motivos para isso.
Felicidade era, provavelmente, uma palavra riscada
de seu dicionário.
— O que aconteceu com você? —
perguntou ele, mudando de assunto.
— Eu fugi — disse ela abocanhando uma
batata.
Axel arqueou as sobrancelhas. Aquela era
uma resposta que ele não esperava.
— E fugiu por quê? De quem? — indagou.
— Do meu pai! Ele queria me obrigar a
ficar noiva de um sujeito asqueroso...
Axel olhou-a intrigado.
— E você não podia simplesmente recusar?
Voltar para sua casa?
Ivana suspirou.
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— Não é tão fácil assim quando se faz parte


de uma família como a minha... Existem...
tradições, sabe? Eu achei que estava livre delas,
que tinha o controle sobre minha vida, mas... —
Franziu as sobrancelhas ao se lembrar. — Meu
querido e autoritário pai resolveu que agora, depois
de me renegar a vida toda, devia me arranjar um
casamento segundo as tradições retrógradas dos
Vampyrs. E eu, sendo uma Constantin, deveria
aceitar de bom grado quem ele escolhesse. Não é
revoltante, isso? — Olhou para ele, indignada.
Axel não respondeu, estava começando a
entender onde havia se metido: em um complicado
desentendimento familiar, de vampiros, ainda por
cima!
— Não pude voltar para casa, em Nova
Iorque, porque meu pai confiscou meu passaporte...
— continuou ela. — E eu fugi porque não sabia o
que fazer. Se eu ficasse lá, eles me obrigariam a
fazer o ritual de sangue. Não quero! Não posso!
— O que é isso? Ritual de sangue? —
perguntou Axel.
Ivana suspirou.
— Quando se estabelece uma promessa de
casamento, os noivos fazem esse ritual, que é beber
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o sangue um do outro. Isso, teoricamente, une os


dois vampiros em um compromisso que não pode
ser quebrado. Mesmo que o casamento demore a
acontecer, esse ritual me faria pertencer a ele, como
uma posse, entende? E depois, se eu recusasse a me
casar, ele teria o direito de me matar... — Ela
balançou a cabeça negativamente. — Isso é
ridículo, inaceitável!
Axel observou a jovem vampira à sua
frente. Ela realmente estava com problemas. E
agora, aparentemente, ele fazia parte desse
problema.
— Entendo..., mas já que fugiu, o que
pretende fazer?
— Não sei... Dar um tempo até eles
desistirem de me procurar. Depois vou para
Bucareste e solicito outro passaporte. Quando
estiver de volta aos EUA, estarei segura. Grigore
não tem tanta influência do outro lado do Atlântico.
— E quanto ao seu tio? — lembrou-se ele.
— Você disse que foi criada pelo irmão de seu pai.
— Sim... Ele apoia o meu pai, as
tradições..., mas sendo apenas um tio, não pode me
obrigar a nada. E imagino que, fazendo o que eu
fiz, serei banida do contato familiar... — Seu
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semblante se entristeceu, aquilo lhe doía. Seu tio,


seu primo e sua tia, que havia ficado nos EUA,
eram as únicas pessoas com quem realmente se
importava. — Vou ter que me afastar deles,
arrumar outro emprego e aprender a me virar
sozinha.
Ivana deixou os ombros caírem,
desanimada.
— E você acha que eles estão te
procurando?
— Provavelmente..., mas não creio que
possam me encontrar aqui. — Ela olhou-o
alarmada. — Ah! Por favor..., não pense que quero
me instalar aqui na sua casa. Eu quis dizer aqui, em
Putna. É um lugar bem afastado... — Ivana deu um
meio sorriso. — Só preciso de um ou dois dias para
arrumar um lugar seguro para ficar.
— Aqui é seguro, pode ficar, se quiser... —
disse Axel, duvidando das próprias palavras,
escapulidas sem pensar. Diabos! O que estava
dizendo? O que menos precisava era arrumar uma
confusão com vampiros. Sem dizer que ele ainda se
lembrava de como ela podia lhe causar reações
inesperadas no corpo.
A garota fitou-o com atenção. Estaria ele
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falando sério, mesmo?


— Obrigada! — disse. — Prometo te
mandar um cartão postal assim que eu conseguir
voltar para Nova Iorque. — Ela riu.
Axel a olhou sem entender. Para que ele iria
querer um cartão postal? O que é que isso tinha a
ver com tudo aquilo?
Ivana suspirou ao reparar no olhar confuso
do rapaz. Então sorriu e levantou-se, a fim de
colocar os pratos na pia.
— Estou brincando, Axel. Eu só quero lhe
dizer que estou muito grata por isso e que um dia
gostaria de lhe retribuir... — Ela bocejou. — Você
se importa se eu for me deitar? Não durmo há dois
dias. Deixe a louça aí, que amanhã eu lavo.
Prometo!
— Vá dormir, não se incomode —
respondeu ele, levantando-se também. —
Considere que estamos quites, por sua ajuda na
mansão há dois anos... — completou. Dois anos e
quatro meses... Já fazia todo aquele tempo? Suas
memórias ainda eram tão vívidas... E a dor e a
culpa ainda lhe corroíam como no primeiro dia...
Ivana agradeceu, interrompendo seus
pensamentos, e se encaminhou para o quarto.
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A vampira sentia-se esgotada física e


emocionalmente, seu corpo pesava e seus olhos
ardiam. Seu coração ainda estava partido, mas
estava aliviada por ter encontrado um lugar para
ficar e alguém para conversar. Espreguiçou-se ao
entrar no aposento, agora ela só precisava dormir
um pouco.
Largou-se pesadamente na cama e seu
pensamento se dirigiu para Axel... E pensar que
naquela noite em Londres, quando puxou conversa
com ele no pub, ela só queria conhecer um cara
interessante e, quem sabe, ter uma noite de sexo
quente. Nunca havia se enganado tanto em relação
a alguém... De um cara a ser conquistado, passou a
um Warg assassino, depois a um mal-humorado
companheiro de quarto e, agora, a um educado
anfitrião. Bom... ele ainda continuava gostoso. Ela
riu. Fechou, então, os olhos e apagou quase que
imediatamente.

No castelo, o dia amanheceu sem novidades


a respeito da vampira fugitiva. Ela não havia usado

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o cartão e parecia ter desaparecido. Flaviu, ficando


a par do que tinha ocorrido, sentiu-se insultado e
humilhado. Pediu uma reunião com Grigore e, após
quase uma hora de discussão, ficou decidido que
não haveria mais noivado ou casamento e que
aquele assunto jamais sairia do castelo.
Era um trato razoável para os dois lados,
pois evitaria que ambos tivessem seus nomes
cochichados entre as bocas maldosas dos círculos
de fofocas. Para todos os fins, a proposta de
noivado nunca havia acontecido.
Assim que Flaviu saiu do escritório, Grigore
mandou chamar seu irmão Stefan, Robert e César.
— Muito bem, aquela infeliz conseguiu o
que queria! Não vai mais haver noivado —
anunciou Grigore enraivecido. — Nunca me senti
tão envergonhado na vida! Mas isso não vai ficar
assim! Ah, não vai mesmo! Agora é uma questão
de honra trazer ela de volta. Ivana vai pagar pela
humilhação que me fez passar aqui hoje!
— O que pretende fazer quando encontrá-
la? — perguntou Rob, sobressaltado com a
animosidade do tio.
— Ela vai ser punida. Como tem que ser!
— esbravejou ele. Voltou-se para o capitão. —
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César, preciso que faça o seu serviço e a traga de


volta. Essa inconsequente vai ter que aprender, de
uma vez por todas, a respeitar o seu pai e as
tradições.
César não gostou muito do tom de Grigore,
mas nada disse. Pela foto que haviam lhe dado,
Ivana era uma bela mulher. Talvez ele a
requisitasse para ele, já que Flaviu havia desistido
do casamento. Ele sorriu com a ideia.
Robert e Stefan saíram da sala apreensivos e
encontraram, sem querer, Luca escutando atrás da
porta. O garoto disfarçou, cumprimentou-os e saiu
caminhando, como se estivesse apenas de
passagem.
— Pai? O que ele quis dizer com punição?
O que acha que Grigore vai fazer? — perguntou
Rob, assim que o menino se afastou.
— Tenho medo só de pensar — respondeu
Stefan com o semblante preocupado. Ele amava
aquela garota, não queria vê-la maltratada. — O
costume, nesses casos, é prender o vampiro no
calabouço e deixá-lo sem sangue por vários dias. A
punição é a abstinência. E... bem, você sabe o que
isso significa...
— E ele teria coragem de fazer isso com a
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própria filha? — espantou-se Robert. — Não


acredito!
— Não duvido, Rob. Grigore não tem
afeição à Ivana como nós. Ele não conviveu com
ela, não a viu crescer... E o orgulho dele é muito
maior do que qualquer sentimento de compaixão
que possa ter para com ela.
— Mas o senhor a viu crescer. É mais pai
de Ivana do que ele! Vai deixar que ele faça isso?
— disse o filho, indignado.
Stefan franziu as sobrancelhas. Seu coração
doía naquele momento.
— Aqui não posso fazer nada, não tenho
como interferir... — Ele olhou para Robert,
colocando a mão em seu braço. — Mas você pode
ajudá-la, Rob. Não deixe que César chegue perto
dela, atrapalhe-o. Se ganharmos tempo... Ivana é
inteligente, ela vai dar um jeito de conseguir voltar
para casa.
O rapaz estreitou os olhos para o pai,
desconfiado.
— Vai ficar do lado dela agora? Não está
zangado por ela ter quebrado as tradições? —
perguntou.
— Sabe que considero as tradições
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importantes, mas Ivana é mais importante para mim


do que um punhado de regras... Cometi um erro,
reconheço. Deveria ter contado a ela sobre as
intenções de Grigore, ter lhe dado a chance de
escolher... — Stefan abaixou o olhar. — Ivy
confiava em mim e fui indigno com ela...
Rob concordou, sentia-se assim também.
Um gelo, então, lhe invadiu o estômago, tinha uma
grande responsabilidade agora, pois a segurança e o
bem estar de sua prima dependiam dele. Suspirou,
ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance.
Poderia dar um jeito de atrapalhar as buscas, não
deixaria que César a trouxesse de volta.
Stefan, triste e desanimado, subiu em
direção aos quartos e Rob seguiu para a sala de
ginástica. Correria um pouco na esteira para se
distrair. A qualquer momento poderiam ter notícias
da prima e ele precisava pensar no que fazer.
Mal havia chegado na sala e Luca entrou
atrás dele. O garoto puxou-o pela manga da blusa
até um canto e sussurrou:
— Vai mesmo ajudar minha irmã? —
perguntou ele.
— Você anda ouvindo demais, Luca! —
disse Robert, preocupado em ser descoberto.
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— Eu posso ajudar! Não quero que Ivana


volte para cá também! — insistiu o pequeno
vampiro de olhos azuis. — Ela vai sofrer se voltar,
Rob. Eu sei... já vi meu pai punir um empregado
uma vez. Foi horrível!
Robert olhou-o surpreso, mas desconfiado.
— Acho que sei para onde ela pode ter ido
— continuou Luca. — Posso te dizer, se prometer
me levar junto.
— Como pode saber para onde Ivana foi e
por que quer ir junto? — indagou o vampiro loiro
com estranheza. — Ela te disse alguma coisa?
O garoto sorriu.
— Sei que ela tem um conhecido aqui na
Romênia e sei em qual cidade ele mora —
respondeu ele triunfante. — Quero ir porque,
hum..., quero conhecer essa pessoa. Ah, você sabe
onde meu pai guardou o passaporte da Ivy? —
perguntou.
— No cofre, por quê?
Os olhos de Luca se iluminaram.
— Porque acho que consigo pegá-lo.
— Sabe a combinação? — perguntou Rob,
espantado.
— Talvez... Já vi meu pai abrindo aquele
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cofre algumas vezes, acho que é a data de


aniversário da minha mãe... — Ele riu. — E então,
temos um trato?
Robert estreitou os olhos e pensou um
pouco. Aquilo era melhor do que nada... Estendeu,
então, a mão para o jovem primo.
— Sim... temos um trato! — disse,
apertando a mão do garoto.

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“Ah! Por favor..., não pense que quero me


instalar aqui na sua casa. Eu quis dizer aqui, em
Putna. É um lugar bem afastado...”

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Naquela noite, Ivana dormiu como uma pedra.


Acordou, no entanto, de sobressalto e sentou-se
rapidamente na cama olhando em volta, seu
coração batia acelerado. De início, sentiu-se um
pouco desorientada, sem saber onde estava, mas
aos poucos as lembranças do dia anterior lhe
vieram à mente e então suspirou aliviada, estava
segura.

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Que horas seriam? O sol entrava pela janela


e brilhava forte, indicando que já não era tão cedo.
Levantou-se preguiçosamente, não estava
acostumada a dormir tantas horas seguidas.
Sentindo o corpo meio pesado, arrastou-se até o
banheiro, lavou o rosto e se olhou no espelho.
Precisava ser forte, suspirou, nunca imaginaria que
um dia estaria naquela situação, fugindo da própria
família. Em seguida trocou de roupa e seguiu para a
sala. Axel não estava, mas havia pão, queijo,
presunto e café prontos sobre a mesa.
A vampira se espreguiçou e olhou pela
janela. Não viu o rapaz lá fora também. Aonde ele
teria ido? Sentou-se à mesa e tomou seu café.
Sentia-se bem melhor agora, conseguia pensar com
mais clareza e analisar melhor sua situação.
Não se arrependia de ter fugido, mas
repentinamente se deu conta de que havia feito uma
loucura em ir para um lugar tão distante, procurar
por alguém que mal conhecia e que, historicamente,
não podia ser considerado o melhor amigo de um
Vampyr.
Um Warg...
O que tinha dado na cabeça dela para pensar
em pedir ajuda para um cara mortalmente perigoso
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e que não havia mostrado muita simpatia para com


ela? Com certeza não foi pelos seus belos olhos
dourados ou cabelos platinados... A vampira
suspirou. Ele era bonito, sim, mas a verdade é que
ela estava ali por desespero, porque não sabia para
onde ir...
Enfim... já que estava naquela situação,
aproveitaria para planejar o que fazer. De qualquer
forma, aquele local parecia seguro, não acreditava
que alguém pudesse encontrá-la ali.
Ivana levantou-se, arrumou a mesa e foi
explorar o lugar. Até que era uma cabana simpática
e moderna, observou. Descobriu, então, as escadas
que levavam ao porão e desceu animada, adorava
lugares como sótãos e porões, sempre se podia
achar algo interessante neles.
Logo viu que o andar inferior dividia-se em
dois, de um lado, uma salinha com uma televisão
grande e outros aparelhos eletrônicos, e do outro...,
arqueou as sobrancelhas, parecia ser uma
minibiblioteca. Não esperava encontrar algo assim
em uma cabana no meio do nada, mas ela já não
sabia mais o que esperar de Axel, ele era um cara
um tanto enigmático.
A vampira começou a olhar com atenção e
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se surpreendeu com a quantidade de livros e coisas


antigas que havia ali. Notou a armadura samurai e a
máscara negra que a acompanhava. Aquilo era
sinistro... Continuou observando e reparou em uma
caixa de papelão ao lado de uma das prateleiras.
Comparada aos outros objetos, todos bem
organizados, aquela caixa parecia fora de contexto.
Sua curiosidade falou mais alto e ela
resolveu dar uma olhada no que havia lá dentro.
Abriu-a e encontrou alguns objetos femininos.
Maquiagem, bijuterias, óculos de sol, uma echarpe,
uma máquina fotográfica e dois envelopes de papel.
Ivana sentiu-se envergonhada por estar
invadindo a privacidade de seu anfitrião, mas não
se conteve, abriu o primeiro envelope e viu que
havia alguns documentos ali, uma carteira
feminina, passaporte e outros papéis. Pegou o
passaporte e checou-o, pertencia a “Lizandra
Alves”. Então..., era aquela a garota humana? Ela
era tão nova...
Passou os olhos rapidamente pelos outros
papéis e encontrou a certidão de óbito da moça
datada de 17 de agosto de 2000. Fazia quase dois
anos e meio. Então foi um pouco antes de ela ter
conhecido Axel naquele pub. Fazia sentido, agora,
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a forma ríspida com que ele a tratara naquela noite


e o ódio que vira nele em seguida. Seu coração
ainda estava sangrando.
— Ah... que triste... — murmurou, sentindo
seu coração pesar. Pessoas queridas não deviam
partir tão jovens.
Deixou o papel de lado e então reparou que
no fundo do envelope havia mais um objeto. Enfiou
a mão e pegou-o, era um cordão de ouro com um
pingente. Reconhecia-o, era a joia que Axel
encontrara na casa do Lykan...
Guardou-o novamente junto com os
documentos e pegou o outro envelope. Retirou o
conteúdo e se surpreendeu, eram fotos. E em várias
delas Axel aparecia em momentos aleatórios, lendo
o jornal, observando uma obra de arte em um
museu, tomando café vestindo apenas um robe.
Aparentemente ele não havia percebido que estava
sendo fotografado.
Ivana sorriu e repentinamente sentiu seu
coração acelerar, receosa de ser pega bisbilhotando
algo tão íntimo. Tentou prestar atenção se escutava
algum som vindo de lá de cima, mas estava tudo
silencioso. Voltou, então, seus olhos para as fotos.
Axel tinha uma postura relaxada e seus
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olhos aparentavam serenidade, definitivamente não


parecia o mesmo cara que ela conhecia. Continuou
passando as fotos e logo encontrou uma em que os
dois apareciam juntos no Coliseu. Alguém havia
tirado aquela foto para eles e ela não podia negar,
formavam um belo casal.
A vampira sentiu uma pontada no peito,
mas ignorou-a e observou a garota com mais
atenção. Ela sorria e tinha uma beleza diferente das
europeias ou americanas; de olhos e cabelos
castanhos ondulados, parecia bastante à vontade
com Axel. O Warg a abraçava pela cintura e,
embora ele não sorrisse, era nítido um brilho em
seu olhar.
Outra pontada passou pelo seu coração.
Assustada, Ivana rapidamente negou essa sensação.
Que sentimento era aquele, afinal? Ciúme, inveja?
Não... Impossível, ela mal o conhecia e, agora que
sabia que ele era um Warg, estava certa de que
jamais poderia chegar perto dele.
Ivana ainda permaneceu um tempo
observando aquela foto e ficou imaginando a dor
do rapaz em tê-la perdido. Ela também já sofrera
por amor, mas não devia chegar nem perto do que o
Warg havia sentido. Afinal, no seu caso, ela própria
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havia escolhido se afastar, além disso, o cara ainda


estava vivo... e casado. Escutou, então, um barulho
no andar superior e rapidamente guardou as coisas
de volta na caixa, fechando-a e colocando-a no
lugar, bem a tempo de ver Axel descendo as
escadas.
Ele a encarou e deu uma olhada analítica
em volta, mas não viu nada fora de ordem.
— Você tem coisas interessantes aqui... —
disfarçou Ivana, fingindo observar os livros.
— Não toque na armadura, nem naquela
caixa — disse ele apontando para a caixa que ela
havia acabado de xeretar, em seguida, subiu
novamente.
Ivana suspirou. Aquela foi por pouco... Não
seria nada legal se ele a pegasse mexendo nas
coisas dele, ou melhor, nas coisas da garota
humana... Mas pelo menos, ela sentia que agora o
conhecia um pouco mais, e também compreendia
melhor a sede de vingança que ele havia
demonstrado em Londres quando matara aqueles
Lykans.
Ainda assim, não pôde evitar que um
sentimento de culpa surgisse em seu peito. Ela era
uma bisbilhoteira, de fato...
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No castelo, a muitos quilômetros dali, Rob


havia acabado seus exercícios matinais quando
encontrou César vindo ao encontro dele.
— Robert, vá se trocar e pegue suas coisas,
estamos indo — disse o capitão.
— Para onde? — estranhou o médico
pediatra.
— Para a capital, Bucareste. É o lugar mais
provável que sua prima pode ter ido.
— Descobriu algo?
— Nada concreto. Coloquei um dos meus
homens vigiando o portão do Consulado
americano, se ela aparecer, serei informado; mas
quero ir até lá para verificar as câmeras de
segurança das estradas que chegam à cidade. Tenho
um contato no departamento de trânsito. Assim, se
ela estiver em Bucareste, saberemos.
— Entendo..., mas pensei melhor e decidi
que eu não vou com você.
— Não?! Como assim? Por que mudou de
ideia? — perguntou César, estranhando a postura

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do rapaz.
— Depois que escutei o meu tio falar sobre
punição daquela forma, prefiro ficar aqui para o
caso de Ivana voltar. Farei o que for possível para
que ele não a machuque — explicou-se Robert.
César estreitou os olhos.
— E, por acaso, você acha que ela não
merece punição? — perguntou ele com sarcasmo
na voz.
— Não, ela não merece! Não estamos mais
no século XIX, César. Isso precisa acabar...
O capitão bufou.
— Americanos... — disse com desdém. —
Vocês não respeitam as tradições... Se fôssemos
depender de vocês para sobreviver, estaríamos
acabados em menos de um século! — exclamou,
virando-se e saindo.
Vinte minutos depois, Rob observava o
carro de César partir do castelo.
— Está pronto? — perguntou ele a Luca. —
Pegou o que precisava?
— Sim — respondeu, animado, o garoto de
boné e óculos escuros. Então mostrou o passaporte
de Ivana e sorriu. — Podemos ir, minha mãe nos
emprestou o carro — disse ele, balançando a chave
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na outra mão.
— Você disse o que para sua mãe? —
espantou-se Robert.
— Que você gostaria de conhecer algumas
cidades e lugares turísticos da Romênia antes de ir
embora, e que iríamos aproveitar para perguntar
por Ivana nestes locais. — Luca sorriu de forma
astuta.
— Certo..., mas temos que voltar antes da
festa de aniversário do seu pai no final de semana,
ou seremos motivo de outra crise familiar —
explicou Rob sem muito entusiasmo. Olhou no
relógio. — Se sairmos agora, chegaremos em Putna
lá pelas 18 h, ainda vai estar claro. Isso é bom,
teremos uma chance de conseguir alguma
informação.
Como previsto, os dois vampiros chegaram
à pequena cidade às 18h15 e procuraram
imediatamente algum comércio aberto.
Perguntaram por Ivana no mercadinho, na farmácia
e para algumas senhoras que passeavam na rua com
seus cães. Ninguém a tinha visto. Será que ela teria
ido para outro lugar? Quem sabe um hotel ou uma
pousada...
Passaram em frente ao café e quase não o
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notaram, foi Luca quem chamou a atenção para o


local. Resolveram parar ali e se dirigiram à
atendente que estava no balcão.
— Olá! Você viu essa moça por aqui? —
disse Rob mostrando uma foto da prima.
A garota olhou desconfiada para ele e para
o menino. Era comum aparecer turistas por ali por
causa do mosteiro, mas não procurando por outras
pessoas.
— Ela é minha irmã — disse Luca. — Acho
que o celular dela quebrou, não estamos
conseguindo contato... Por favor, estamos
preocupados...
— Hum... entendi — respondeu Nádia mais
solícita. — Na verdade, vi sim. Ela esteve aqui
ontem.
— E sabe onde ela está agora, ou para onde
foi? — perguntou Robert esperançoso.
— Eu passei o endereço de uma pousada
para ela, mas o Sr. Andersen estava junto e vi
quando eles saíram com os carros. Acho que ela o
seguiu, então pode ter ido para a casa dele também.
— E você poderia me dizer onde é que
ficam essa pousada e a casa dele? — insistiu o
vampiro.
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Nádia desenhou dois mapas no guardanapo


e entregou a ele.
— Aqui. — Apontou ela. — Deste lado
desenhei como faz para chegar na pousada, deste
outro é o caminho que leva à cabana do Sr.
Andersen. Quase ninguém vai lá, mas não deve ser
difícil de encontrar.
— Obrigado — respondeu Luca com um
sorriso e saíram.
Foram primeiro até a pousada, que era mais
próxima; contudo, Ivana não tinha aparecido por lá.
Pegaram, então, a estrada para a cabana. Àquela
altura já havia escurecido e a estrada era um breu.
— Minha nossa! — exclamou Robert, ao
pegar a estradinha de terra. — Esse cara não mora,
se esconde.
Luca sentiu um frio na barriga. Ele não
tinha falado nada ao primo em relação ao tal cara
ser um Warg.
— Eu só espero que ele seja mesmo
civilizado... — comentou o garoto receoso.
Rob riu.
— Que preconceito é esse? Só porque ele
mora no meio do mato, não significa que seja um
animal.
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— Hum... — murmurou Luca, respirando


fundo.
Um pouco depois viram as luzes acesas da
cabana. Robert suspirou aliviado por notar que o
carro que tinha alugado estava encostado ali
também. Ivana estava lá... Estacionou e já ia
descendo quando Luca segurou o seu braço.
— Rob, por favor, cuidado! — disse ele
com os olhos arregalados.
O primo olhou-o com estranheza e já ia
perguntar o motivo de tanta cautela quando a porta
da cabana se abriu e Axel apareceu.
— Fique aqui, Luca. Vou falar com ele —
disse Rob para o garoto.
Axel se aproximou do veículo.
— O que quer? — perguntou friamente.
— Falar com Ivana. Sou o primo dela e o
garoto ali dentro é o irmão — respondeu o
vampiro, sentindo que o rapaz à sua frente não era
muito amigável.
— Talvez ela não queira falar com vocês.
— Escute, eu sei que ela deve estar furiosa
comigo, eu não a apoiei quando ela precisou..., mas
agora eu estou aqui para ajudar, nós estamos... —
Robert foi até o carro e voltou com o passaporte. —
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Veja, trouxemos isto para ela. Não queremos que


ela volte para o castelo, queremos que ela vá para
casa. Por favor...
Axel estendeu a mão e Rob entregou-lhe o
documento. O Warg abriu-o, verificando se era
mesmo de Ivana.
— Espere aí — disse ele, enquanto se
encaminhava novamente para a cabana.
Logo em seguida, Ivana saiu. Ela não estava
sorridente, mas também não parecia estar brava. Na
verdade, a vampira estava aliviada por ter seu
passaporte de volta e também confusa e
desconfiada. Como eles tinham chegado até ali?
Luca desceu do carro e correu para ela.
— Você está bem? — perguntou ele com o
semblante preocupado.
— Sim, estou... — respondeu ela com um
leve sorriso, então virou-se para o primo. — Como
descobriram onde eu estava?
— Luca tinha uma ideia de que podia ter
vindo para cá. Depois que chegamos na cidade,
saímos perguntando. Uma moça reconheceu você
pela foto e nos indicou o caminho para cá —
explicou Rob.
— Por que resolveu me ajudar? — quis
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saber ela.
— Porque sou seu primo-irmão e eu já te
disse, Ivana... Eu te amo, nunca vou querer seu mal,
me desculpe por não ter te defendido antes. Eu não
sabia o que fazer...
Ivana suspirou e se aproximou do primo,
abraçando-o.
— Eu tive medo, Rob... Medo de ter
perdido você... — disse, enquanto uma lágrima
escorria pelo seu rosto. — O tio Stefan... ele?
— Ele também quer que vá para casa... —
falou Rob abraçando-a. — Aliás, seu ex-futuro
noivo desistiu do casamento. Seu pai ficou furioso
e está atrás de você. Não deve voltar, Ivana, senão
ele disse que irá puni-la por humilhá-lo.
— Se depender de mim, nunca mais ponho
os pés naquele castelo novamente... — Ela olhou
para a cabana, pensativa. — Muito bem... venham.
Axel é um pouco mal-humorado, mas não creio que
fará objeções de vocês entrarem um pouco.
Os dois a acompanharam até o interior da
cabana.
— Hummm... nossa, o cheiro está
maravilhoso! — exclamou Luca ao sentir o aroma
do jantar sendo preparado. Estava com fome, já que
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só havia comido alguns salgadinhos durante a


viagem.
Ivana sorriu.
— Rob, Luca... esse é Axel — apresentou
ela.
O Warg apenas olhou-os de relance e
continuou mexendo nas panelas. Rob esboçou um
sorriso meio forçado e Luca se sentou à mesa,
observando Axel com atenção. Ele era mesmo
diferente, notou o garoto. Nunca tinha visto alguém
que parecia ser tão jovem possuir os cabelos
brancos e com reflexos prateados daquele jeito, e
com certeza era natural.
— Quantos anos tem? — perguntou o
jovem vampiro.
Axel o olhou por cima do ombro. Só lhe
faltava essa agora... Primeiro a vampira enxerida,
agora o resto da família também ia querer saber
sobre sua vida?
— Sabe que não é educado perguntar a
idade dos outros? — disse seco. — Tenho 210...
Luca arregalou os olhos.
— Uau, não parece! Quer dizer... — Ele riu.
— Na verdade, eu não sei como você deveria
aparentar...
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Axel olhou para o vampirinho com


estranheza. O que aquele garoto achava que sabia?
Ivana teria falado alguma coisa sobre ele para o
irmão?
— Você sempre teve o cabelo dessa cor? —
perguntou Luca.
— Sim — confirmou Axel, pegando vários
pratos no armário e colocando-os sobre a mesa.
Rob, cada vez mais cismado com o estranho
amigo da prima, se aproximou e entrou na
conversa.
— Eu escutei direito? Sobre sua idade? —
perguntou ele com uma leve ruga entre as
sobrancelhas. — Então é um vampiro também?
— Não — respondeu Axel.
— Não?! — exclamou o pediatra, confuso.
— Como assim? O que você é? — quis saber,
receoso da resposta. Eram poucos os seres
sobrenaturais que viviam por tanto tempo...
— Um Warg! — falou Luca, orgulhoso de
saber a resposta.
— Um o quê? — exclamou Robert de
cenho franzido. Ele tinha escutado direito?
— Um Warg, Rob! Nunca ouviu falar? —
O jovem vampiro sorria, animado por estar perto de
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alguém tão raro.


— Só ouvi falar em histórias para crianças!
Wargs não...
— Existem sim! — antecipou-se Luca. —
Não é? — virou-se para Axel, que parecia alheio à
conversa e continuava a pôr a mesa.
O Warg olhou para Luca e em seguida para
Robert.
— Ele está certo — disse Axel, por fim.
O vampiro olhou para Ivana, que confirmou
com a cabeça. Um gelo tomou conta do estômago
do rapaz, que pegou a prima pelo braço e a levou
para um canto da sala.
— Está maluca, Ivy? Como assim, você
debanda para a casa de um Warg de verdade? Eles
são como Lykans, não são?
— Não exatamente... Wargs são brancos e...
maiores. — Ela sorriu marotamente.
— Louca! — cochichou ele. — É melhor
irmos embora! Vamos, podemos ficar na pousada.
Ivana arregalou os olhos.
— Não vou sair assim! Ele foi gentil em me
deixar ficar aqui. Não seja bobo, Rob. Ele não é
perigoso... — sussurrou.
— Você só pode estar brincando, não é?
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— Não! Não estou! Vão vocês dois para a


pousada. Vou ficar aqui por hoje e amanhã irei
embora. Agora que tenho meu passaporte, posso
voltar para casa.
— Não vou deixar você aqui sozinha com
ele! Se você ficar, eu fico! — anunciou Rob, ainda
em voz baixa.
— Não tenho cama para todos vocês —
retrucou Axel, que escutava a conversa
perfeitamente. — Se forem ficar, terão que dormir
no sofá.
Ivana e Robert coraram envergonhados. O
Warg tinha um ouvido bom.
— O jantar está pronto — anunciou Axel
com o semblante fechado.
Ele não esperava tantos convidados, pelo
menos havia feito bastante comida. Estava irritado
e aborrecido, agora sua casa também parecia ter
virado um hotel... Já não bastava ser dono de
vários? Sua vontade era de pô-los todos para fora.
A sorte dos vampiros é que ainda lhe restava um
pouco de paciência. Enfim, a única coisa boa
naquilo tudo é que eles partiriam no dia seguinte.
Luca comia com gosto, estava com fome o
pobre garoto. Rob surpreendeu-se com a boa mão
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que o Warg tinha para cozinhar e Ivana sentiu-se,


finalmente, feliz e aliviada pelas coisas estarem
dando certo.
A vampira olhou para Axel, que comia em
silêncio. Ele não tinha lhe dado muita atenção
durante o dia, pois passara a tarde toda arrumando
o telhado da garagem e só entrara em casa após o
pôr do sol, mas não podia negar que o Warg tinha
um coração generoso. Mesmo sem falar muito e
aparentemente aborrecido com a presença dela, ele
a tratara com respeito e, agora, recebia seu primo e
seu irmão sem reclamar.
Ela sorriu. Tinha certeza de que, por dentro,
Axel não estava gostando nada daquilo, mas era
educado o bastante para não expulsá-los dali.

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“Notou a armadura samurai e a máscara


negra que a acompanhava. Aquilo era sinistro...”

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Luca, que havia dormido no sofá da sala,


acordou com o barulho de Axel abrindo o armário
da cozinha. O Warg bufou e em seguida pegou a
chave do carro.
— Vai sair? — perguntou o jovem vampiro,
sentando-se.
— Vou comprar pão na vila, volto logo —
respondeu ele, já passando pela porta.

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O garoto olhou no relógio da cozinha, ainda


estava cedo. Bocejou e deitou-se de novo. Estava
quase pegando no sono quando escutou um barulho
de carro estacionando. Estranhou, não poderia ser
Axel, ele havia saído não havia muito tempo, a não
ser que estivesse se esquecido de algo. Levantou-se
e foi até a janela espiar, então seu coração deu um
salto. César, munido de chapéu e óculos escuros,
estava descendo do carro.
Luca correu para a porta e a trancou, em
seguida disparou para o porão e, aos berros,
acordou Rob que estava dormindo lá embaixo.
— O que houve garoto? — perguntou ele,
sonolento.
— É o César, ele está aqui! — disse Luca,
alarmado.
Rob levantou-se num pulo e ambos subiram
rapidamente até a sala. O pediatra olhou pela
janela. César permanecia parado lá fora,
observando o local com uma expressão séria.
— Merda! — exclamou o vampiro mais
velho. — Acorde a Ivy, vou lá falar com ele —
disse.
Luca concordou e seguiu para o quarto da
irmã, enquanto o primo colocava um boné e saía da
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cabana. A luz do sol ardeu-lhe as vistas.


— Ora, ora... — disse César com um sorriso
torto. — Eu devia ter imaginado que você sabia
onde estava a garota. Seu tio não ficará nada feliz
em descobrir que você e o próprio filho o traíram.
— Isso não me preocupa. E eu não sabia,
Luca tinha um palpite e seguimos nossa intuição —
respondeu Robert, seco.
— Muito bem, trouxe-nos a ela e é isso o
que importa — disse o capitão dando alguns passos
à frente.
Rob sentiu a raiva crescer dentro de si.
Cerrou, então, os punhos e foi de encontro a César,
ficando frente a frente com ele.
— Como chegou até aqui? — quis saber o
rapaz que, sem suas luvas, podia sentir os raios UV
queimando a pele de suas mãos.
— O carro de Mirela tem rastreador. — Os
olhos do capitão brilharam de astúcia. — Liguei
para Grigore ontem à noite para informá-lo de que
não havia encontrado nada em Bucareste e fiquei
sabendo, por acaso, que vocês haviam partido do
castelo. Estranhei, já que você havia me dito que
pretendia esperar por Ivana lá. Assim, foi só somar
dois mais dois e rastrear vocês até aqui. — Ele
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sorriu. — Onde ela está?


— Ivana não vai voltar para o castelo,
César. Nem com você, nem com ninguém, não
permitirei.
O capitão riu.
— E você vai fazer o quê? Pensa que pode
me impedir?
— Não vai levá-la! — afirmou o médico,
postando-se firmemente no caminho.
César se aproximou mais, sorrindo
sarcasticamente.
— Você não sabe com quem está se
metendo doutorzinho. Sou um soldado treinado,
não tem como me enfrentar. Agora sai da frente! —
ordenou, empurrando-o.
Robert o segurou pelo braço e, antes que
pudesse executar qualquer outro movimento,
recebeu um forte soco de César no queixo e
desabou no chão coberto de neve, fazendo com que
o boné caísse de sua cabeça. O capitão riu
novamente.
— Eu lhe disse rapaz, nem tente... — falou
ele em tom zombeteiro.
Ainda meio atordoado, o jovem vampiro se
levantou e partiu para cima do soldado, tentando
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lhe acertar um soco. No entanto, César era


habilidoso e acostumado com lutas corporais,
assim, desviou-se facilmente e devolveu-lhe um
forte contragolpe no estômago. Rob se curvou e o
capitão aproveitou para acertá-lo com uma
cotovelada no rosto, derrubando-o novamente no
chão. Não satisfeito, chutou-o várias vezes nas
costelas e na barriga, arrancando-lhe gemidos de
dor.
César, esboçando um sorriso de satisfação,
largou-o lá estirado e foi até o carro, pegou
algumas braçadeiras de nylon e voltou até o rapaz,
que tentava penosamente se levantar. Pisou, então,
em suas costas, fazendo-o voltar ao chão. Puxou as
mãos do médico para trás e as prendeu com uma
das braçadeiras.
Rob estava sem forças para resistir. A dor
em suas costelas era terrível e ele não conseguia
respirar direito. Sentiu-se um inútil.
— Por favor... — murmurou. — Deixe-a
em paz...
Neste momento, Ivana apareceu na porta
assustada.
— O que está fazendo, idiota? Solte-o
agora! — gritou, correndo em direção a eles.
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César não deixou que ela se aproximasse do


primo. Assim que Ivana passou por ele, pegou-a
pelos braços e a jogou de bruços contra o chão,
descendo com ela e apoiando o joelho em sua
coluna. A vampira tentou se desvencilhar, mas o
capitão era forte e rapidamente ele conseguiu
imobilizá-la, prendendo seus punhos com uma
braçadeira também.
Luca, revoltado com o que estava vendo,
correu para cima do agressor de sua irmã e pulou
em suas costas, tentando tirá-lo de cima dela.
— Larga minha irmã! — gritou, puxando os
cabelos do capitão.
César soltou um rugido. Irritado, levantou-
se e arrancou o garoto de trás de si, jogando-o no
chão também. Então, agarrou-o pela gola.
— Se não fosse filho de Grigore, eu
acabaria com você, moleque! — ameaçou. Em
seguida, jogou-o contra a parede da cabana com
tanta força que o pequeno vampiro, ao bater as
costas e a cabeça contra ela, perdeu o fôlego e
desmaiou.
— O que você fez? — berrou Ivana
alarmada, sem conseguir ver direito o que estava
acontecendo. — Quem é você, seu monstro?
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— Sou seu futuro marido, minha querida...


— respondeu ele levantando-a do chão.
— Do que está falando? — Ivana
perguntou, indignada.
— Já que seu pretendente anterior desistiu,
seu pai me deu permissão para fazê-la minha. —
Ele riu. — Não sou tão fino ou rico quanto Flaviu,
mas dada as circunstâncias em que você própria se
meteu, virei a melhor opção para Grigore se livrar
dessa confusão.
— Você está louco, meu pai está louco!
Não vou aceitar isso! — gritou Ivana, enquanto ele
a forçava entrar na cabana.
— Não tem o que querer. — César sentou-a
na cadeira da cozinha e a prendeu no encosto com
outra braçadeira, depois segurou e prendeu-lhe os
pés. — Fique quietinha aí, enquanto eu preparo o
ritual.
— Não pode fazer isso! — desesperou-se
Ivana, tentando sair das amarras e derrubando a
própria cadeira, indo ao chão junto com ela.
César sorriu. Dirigiu-se, então, até os
armários da cozinha e pegou uma xícara de chá e
uma faca na gaveta. Em seguida fez um corte na
palma da própria mão, deixando que o sangue
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pingasse dentro da xícara.


Quando achou que já tinha o suficiente, foi
até Ivana, que se debatia no chão amarrada à
cadeira, e colocou-a sentada novamente. Pegou a
faca e fez um corte na mão da vampira, fazendo-a
gritar de dor.
— Calma, princesa... Já vamos acabar com
isso — falou cinicamente, recolhendo o sangue
dela na mesma xícara.
Ao ver que tinha o suficiente, postou-se na
frente da garota e sorriu maliciosamente.
— Agora você será minha noiva, queira ou
não... — Aproximou-se mais, encostando seus
lábios na orelha de Ivana. — Você é muito mais
bonita do que na foto. Não vejo a hora de tê-la na
cama...
— Nojento! — exclamou Ivana. — Nunca
me terá de boa vontade!
— Então a terei à força — respondeu César
afastando-se um pouco e com um brilho no olhar.
— Assim será mais... emocionante. Mas se quer
uma sugestão, é melhor aceitar logo, doerá menos.
Agora vamos ao que interessa...
O capitão agarrou os cabelos de Ivana e
puxou-os para trás, encostando a xícara cheia de
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sangue nos lábios dela.


— Beba logo! — ordenou ele.
Nesse momento, Axel surgiu na porta da
cabana.
— Afaste-se dela — disse com uma voz
gelada.
— Quem é você? — perguntou César,
encarando-o irritado por ter sido interrompido.
— Sou o dono desta casa e você não é bem-
vindo aqui. Agora, cai fora! — ordenou o Warg.
— Isso aqui é assunto de família, não se
meta! — vociferou o vampiro.
— Não vou falar de novo. — Os olhos de
Axel cortavam como uma navalha.
— E acha que pode fazer o quê? — disse o
capitão largando a xícara sobre a mesa e se
aproximando dele.
César era mais corpulento e mais alto que
Axel e, ao chegar perto, fitou-o por cima, tentando
intimidá-lo.
— Cai fora você... — rugiu o vampiro. —
Ou serei obrigado a lhe quebrar alguns oss...
Sem esperar que o vampiro completasse a
frase, Axel aplicou-lhe uma joelhada certeira nas
bolas, seguida de um forte soco de direita, fazendo
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o brutamontes urrar de dor e cair sobre a mesa,


derrubando a xícara cheia de sangue no chão.
O Warg pegou a faca e cortou as
braçadeiras que prendiam Ivana.
— Vai soltar seu primo — disse,
entregando a faca a ela.
Entretanto, antes que a garota pudesse sair,
César se levantou e avançou para cima de Axel.
— Vai morrer, imbecil! — gritou o capitão
com olhos violáceos e exibindo as presas
desenvolvidas.
César atacou Axel no pescoço, contudo o
Warg não se moveu. Apesar da dor da dentada, ele
deixou que o vampiro o mordesse e ingerisse seu
sangue. Ivana arregalou os olhos, pasma. Aquilo
seria a morte! Não para Axel, mas para César. Se a
saliva de um Warg era mortalmente tóxica para um
vampiro, seu sangue era mil vezes pior.
— Satisfeito? — perguntou Axel
secamente, após o vampiro sugar um pouco de seu
sangue.
César, estranhando o comportamento
imperturbável do rapaz, afastou-se. Não era normal
um humano agir de forma tão fria e aguentar em pé
o ataque de um vampiro. Fitou Ivana, que
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permanecia de olhos arregalados.


Axel aproveitou a breve confusão de César
e pegou-o pelo colarinho, arrastando-o para fora de
casa.
O vampiro tentou se desvencilhar das mãos
que o agarravam, mas surpreendeu-se mais uma
vez com a força do rapaz de cabelos brancos.
Aquilo não estava certo! Era ele o vampiro ali. Ele
é quem deveria ser o mais forte. Nesse momento, a
dúvida lhe assaltou a mente. Aquele cara não era
humano? O sangue dele... realmente não tinha o
gosto esperado...
— O que você é? — gritou, enquanto Axel
o soltava na neve, em frente à cabana.
— Alguém com quem você não devia ter se
metido — respondeu ele, passando a mão no
pescoço a fim de limpar o sangue.
César estreitou os olhos e começou a se
afastar devagar, sem dar as costas. Ao se aproximar
do carro em que havia chegado, abriu-o
rapidamente, inclinou-se para dentro e retirou uma
pistola do porta-luvas.
— Seja lá quem for, não vai sobreviver para
contar história... — disse, apontando a arma para
Axel.
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No mesmo instante, no entanto, o vampiro


foi abruptamente acometido por uma forte dor no
estômago, fazendo-o dobrar sobre si mesmo. Era
como se estivesse sendo atravessado por centenas
de facas. Caiu no chão, largando a arma e olhando
terrificado para Axel.
— Creio que quem não irá sobreviver aqui
será você — disse calmamente o Warg.
Ivana se aproximou. O vampiro a fitou com
os olhos esbugalhados, já começando a sentir falta
de ar, sua garganta estava se fechando. Ele
estendeu a mão.
— Me ajude... — implorou.
— Não posso... — respondeu ela séria. —
Você já está morto.
O capitão se contorceu e se estrebuchou,
sua garganta fechou de vez e ele começou a
sufocar. Ivana virou o rosto. Não queria ver aquilo!
Afastou-se enojada e foi até o seu primo, que se
encontrava deitado no pátio com as mãos presas às
costas. Soltou-o com a faca e depois seguiu para
onde estava Luca, que ainda permanecia
desacordado.
— Rob, me ajuda! — chamou ela.
O médico levantou-se com dificuldade, suas
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costelas ainda doíam. Apalpou-as, talvez tivesse


trincado uma ou outra, mas felizmente não parecia
ter nenhuma lesão interna. Caminhou até o garoto e
se ajoelhou ao seu lado. Sentiu seus sinais vitais,
pareciam normais.
— Temos que levá-lo para dentro... — disse
ele.
— Deixe que eu faço isso — falou Axel, se
aproximando e pegando Luca no colo.
— E o César? — quis saber Rob, sem
entender direito o que havia ocorrido ali.
— Está morto — respondeu Axel, levando
o garoto para dentro.
— O que aconteceu? — perguntou o
pediatra para Ivana.
— Depois eu conto... — respondeu ela. —
Vamos! Temos que cuidar de Luca e de você.
O garoto acordou alguns minutos depois,
reclamando do galo em sua cabeça. Por sorte, ele
havia desmaiado sob a sombra da cabana e não
sofreu queimaduras do sol.
Ivana examinou, então, os ferimentos de
Robert. Ele certamente ficaria com hematomas e
arderia por alguns dias devido às queimaduras na
pele, também não poderia fazer esforços físicos por
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uma ou duas semanas por causa das costelas, mas


estava bem. A vampira entregou-lhe uma das
caixinhas de sangue que havia trazido. Vampiros
também se machucavam, mas curavam-se mais
rápido e o sangue ajudava na recuperação.
— Acha que consegue dirigir? — perguntou
ela.
— Sim, consigo. Talvez tenha que fazer
algumas paradas, mas chegarei lá. — falou Rob,
ingerindo o conteúdo da caixinha.
— O que vai falar para o meu pai?
— A verdade, em parte. — Ele sorriu. —
Direi que lhe devolvi o seu passaporte e que você já
foi para casa. Grigore pode ficar com raiva, mas
não me fará nada, não se preocupe — respondeu
ele confiante. — Em relação à Luca, direi que o
trouxe comigo sem que ele soubesse de nada.
— E quanto à César? — Ivana olhou para o
primo apreensiva. — O que dirá?
— Diga que não sabe de nada —
intrometeu-se Axel. — Que não o viu.
— Mas e o corpo? O que vamos fazer com
ele? — perguntou o médico.
— Ele vai virar comida de lobos... —
respondeu o Warg, sob os olhares assustados dos
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vampiros. — Não me entendam mal! Não me referi


à minha comida — apressou-se em esclarecer. —
Estou falando dos lobos da montanha... — explicou
mal-humorado. — Quanto ao carro dele, posso
rebocá-lo para longe. Ninguém saberá que esteve
aqui.
Enquanto Ivana e o primo continuavam as
discussões a respeito de qual aeroporto ela deveria
embarcar, Axel saiu da cabana, a fim de dar um
jeito no corpo do vampiro morto lá fora.
Luca, que estava tomando café na mesa,
levantou-se rápido, correu para pegar seus itens de
proteção contra o sol, vestiu-os e seguiu o rapaz.
— Aonde pensa que vai? — perguntou
Axel.
— Te ajudar! — respondeu o garoto, se
aproximando.
O Warg arqueou uma sobrancelha.
— Já viu alguém morto? — quis saber.
— Não..., mas...
— Não é uma visão agradável — respondeu
Axel, apontando para o vampiro caído próximo ao
carro.
César tinha os olhos extremamente abertos
e uma baba espumosa escorrendo por sua boca.
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Luca fez uma careta e virou o rosto, seu estômago


havia se embrulhado.
— Volte para dentro, garoto! Não vai
querer ver o que eu vou fazer, além disso, a floresta
não é lugar para crianças — ordenou o Warg.
— Hum... está bem..., mas... será que eu
posso te pedir uma coisa antes? — perguntou Luca
com excitação na voz, esquecendo-se
completamente do vampiro morto ao seu lado.
— O quê? — perguntou Axel com
estranhamento.
— Pode se transformar para mim? — O
pequeno vampiro sorriu.
Axel arqueou as sobrancelhas e, em
seguida, fechou o semblante.
— Não — respondeu, pegando o corpo de
César e jogando-o sobre o ombro.
— Por que não? — insistiu Luca,
desapontado.
— Porque você vai ficar com medo. —
Olhou-o sério.
O garoto arregalou os olhos.
— Não vou! Juro! Por favor, por favor, por
favor... — implorou ele.
Axel suspirou e derrubou o corpo do
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vampiro no chão novamente, encarando Luca.


— Depois não reclame se não conseguir
dormir à noite — disse.
O vampirinho sorriu genuinamente. Axel
fitou-o desconfiado por alguns segundos e então se
transformou, assumindo sua forma de lobo.
Luca abriu a boca, espantado. O grande
lobo branco era maior do que ele. Curioso, tirou
uma das luvas e colocou a mão sobre o pescoço do
Warg, sentindo a textura de seu pelo. Era espesso e
macio. Os olhos, penetrantes, ainda permaneciam
dourados.
— Uau! Demais! Você é lindo, magnífico!
— exclamou o garoto, rodeando-o e observando-o
admirado.
Axel voltou, então, à sua forma humana.
— Não se engane, garoto, sou perigoso.
— Mas não é mau!
— Hum... você é que não viu ainda meu
lado mau — disse em tom de brincadeira,
estreitando os olhos e fazendo Luca rir. — Agora
vá para dentro!
Assim que voltou das montanhas, quase no
fim da manhã, Ivana chamou-o para conversar,
deixando-o meio apreensivo. Ele conhecia o poder
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de sensualidade da moça e, por isso, já havia fugido


da vampira no dia anterior, mantendo-se fora de
casa na maior parte do tempo. O que ela queria
agora? Seguiu-a, então, até o exterior da cabana.
— Axel... — disse ela, olhando para as
montanhas e em seguida para ele. — Obrigada, não
sei como te agradecer por tudo o que fez. — Ivana
colocou uma mão em seu braço. — E desculpe por
ter invadido sua privacidade e causado tantos
problemas...
Axel franziu levemente o cenho, mas não
respondeu. Ele não era bom em receber
agradecimentos ou elogios. Era verdade que não
gostava de companhia quando estava na cabana,
contudo, aquele movimento todo fez-lhe bem. Ele
precisava de um pouco de adrenalina de vez em
quando, e socar aquele vampiro idiota tinha sido
prazeroso.
Observou a mão de Ivana ainda em seu
braço e em seguida a fitou. Ela o olhava
gentilmente. Algo passou pela sua cabeça e refletiu
em seu peito, um pensamento, um sentimento, uma
emoção... ele não soube identificar. Colocou, então,
sua própria mão por cima da dela.
— Tome cuidado, está bem? — disse,
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reparando que a mão dela era quente, diferente do


que pensava.
Ivana sorriu.
— Se um dia for a Nova Iorque, me
procure. Posso lhe mostrar a cidade — disse ela,
então se afastou.
Algumas horas depois, os vampiros
partiram, enfim, da cabana. Ivana havia conseguido
reservar uma passagem para Madri por telefone e
de lá faria conexão para Nova Iorque.
Aliviada por poder sair finalmente da
Romênia, a vampira levava consigo mais amostras
da saliva e do sangue de Axel, que ela conseguira
após insistir com o rapaz por mais de uma hora,
vencendo-o, no fim, pelo cansaço. E agora seguia
satisfeita para casa, entusiasmada em poder retomar
suas pesquisas.
Assim, enquanto ela seguia para o aeroporto
de Suceava, Rob voltava com Luca para o castelo,
pois precisavam chegar antes da festa ou seriam
massacrados.
Axel observou da porta seus inconvenientes
hóspedes irem embora e, em seguida, dirigiu-se
para a garagem. Pegou sua caminhonete, engatou o
carro do vampiro no seu e rebocou-o para próximo
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da fronteira da Ucrânia, deixando-o em um local


ermo a pouco mais de duas horas dali, em uma área
de floresta. Levaria um bom tempo até que o
encontrassem, se é que alguém procuraria pelo
veículo. Pelo que conhecia dos Vampyrs, eles
também eram discretos e não envolviam a polícia
em assuntos particulares.
Alguns dias depois, Axel passou no
cemitério a fim de visitar o túmulo de Liz. Naquele
dia ela faria aniversário e, se estivesse viva, estaria
completando 24 anos. Como sempre fazia, levou
flores e um pedaço de bolo de chocolate. Arrumou,
então, as flores no pequeno vaso e sentou-se.
— Feliz aniversário, Liz — disse,
depositando o bolo sobre a lápide.
Inclinou a cabeça e respirou fundo. Seu
coração ainda doía, mesmo tendo passado mais de
dois anos, havia ainda um buraco ali, um vazio que
às vezes parecia querer engoli-lo.
Ergueu novamente o rosto e colocou a mão
sobre o túmulo, como se pudesse tocá-la através da
pedra fria. Talvez, um dia, aquela dor passasse...
Talvez, um dia, só lhe restassem as boas
lembranças. No entanto, ele sabia que Liz jamais
sairia de seu coração. Ela o havia marcado para
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sempre e seria a única a ter um lugar em sua vida,


nunca mais voltaria a amar, nunca mais se deixaria
levar por aquele sentimento, nunca mais queria se
sentir daquele jeito. Seu coração estava trancado
novamente.
Pelo menos era nisso que Axel acreditava...

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“Calma, princesa... Já vamos acabar com isso


— falou cinicamente, recolhendo o sangue dela
na mesma xícara.”

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Nova Iorque, julho de 2010.

Ocalor naquela manhã de verão estava infernal


em Nova Iorque. Dentro do aeroporto J. F.
Kennedy, o ar condicionado estava trincando, mas
fora do prédio, a onda quente e abafada atingiu em
cheio Axel e Gerald assim que saíram da área de
desembarque, causando uma sensação bastante
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desconfortável nos viajantes, principalmente no


Warg, que preferia mil vezes o frio.
— Essa cidade é um caos, Gerald!
Sinceramente, não me agrada em nada essa ideia de
abrir um hotel da rede aqui — disse Axel em seu
costumeiro mau humor.
— Um caos lucrativo, Axel. Nova Iorque
não para e seus hotéis estão sempre cheios —
respondeu o CEO rindo e entregando as malas para
o motorista do táxi.
— Não preciso de mais dinheiro! —
retrucou o rapaz, enquanto entrava no veículo.
— Plaza Hotel, por favor — disse Gerald ao
motorista. — Não é essa a questão... — respondeu
ele, sentando-se ao lado de Axel. — Nossa intenção
é reformar um prédio antigo e transformá-lo em um
hotel de luxo clássico, certo? Então encare isso
como um passatempo, um desafio.
O Warg bufou. Para ele, desafio era outra
coisa, envolvia testar suas capacidades e
habilidades físicas, não cuidar de negócios. Axel
havia se acostumado com a vida pacífica e
sossegada, mas no fundo, era um guerreiro e sentia
falta de ação, de lutar, combater... A vida para ele
era, na verdade, um grande tédio.
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Nos últimos dez anos, ele havia mergulhado


de cabeça nos negócios a fim de se distrair, mal
indo em sua cabana na Romênia. Duas semanas era
o máximo que ele conseguia ficar por lá. Se antes
ele amava o isolamento, agora era-lhe difícil
enfrentar a solidão, como se esta sempre lhe
cobrasse seus débitos.
Gerald não reclamava de seu interesse no
trabalho, pois assim tinha mais tempo de se dedicar
a coisas novas. Oportunidades, ele dizia. E era
exatamente isso o que ele estava procurando ali,
novos negócios.
No entanto, Gerald já estava ficando velho
para tanta atividade, cansava-se mais rápido e, às
vezes, mencionava o fato de que precisavam
encontrar alguém para lhe substituir. Algo
complicado, já que Axel dificilmente confiava nas
pessoas, e ainda havia a questão de ele não
envelhecer no mesmo ritmo dos humanos.
Segundo seu administrador isso não seria
problema, pois nos dias atuais, os grandes
executivos dificilmente ficavam no cargo por mais
de dez anos, logo, essa pessoa não teria que
conhecer os segredos de sua natureza. Contudo,
para Axel, isso ainda estava longe de acontecer.
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Pelo que conhecia de Gerald, o homem não


conseguia ficar parado. Não sossegava nem quando
tirava férias, dizia que alguém que não produzia era
alguém morto.
Axel, apesar de trabalhar muito, sentia-se
morto há muito tempo. Nada o entusiasmava, nada
lhe dava prazer, apenas vivia um dia após o outro,
sem expectativas ou planos, a não ser aqueles que
Gerald lhe impunha como forma de lhe ocupar a
mente. O CEO era o seu único amigo, o único em
quem confiava e o único que ouvia, apesar de se
irritar algumas vezes com a insistência dele em lhe
arrumar alguém.
Ellen continuava trabalhando para eles e,
felizmente, havia arrumado um noivo e se casado.
Depois daquela desastrada noite de Natal há sete
anos, a mulher sossegou os hormônios e não o
convidou mais para festas, para o seu alívio. No
entanto, para seu desespero, Gerald acabou
ganhando uma aliada.
Só naquele ano, o executivo, com a ajuda da
secretária, já tinha lhe arranjado dois encontros à
sua revelia. Axel sabia que Gerald só queria animá-
lo, mas para ele aquilo era um aborrecimento, a
última coisa que queria era se envolver com alguém
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novamente, por isso esses encontros nunca deram


em nada, frustrando as expectativas do amigo.
O táxi levou-os até o hotel onde ficariam
hospedados e, após descansarem um pouco e
almoçarem, receberam, em uma das salas do hotel,
o representante do escritório contratado para
encontrar edifícios disponíveis para venda.
O corretor mostrou uma lista de prédios em
seu notebook e eles marcaram para visitar alguns
no dia seguinte.
— O que acha? — perguntou Gerald, após o
representante ir embora.
— Não sei... Não me agradaram, mas só
vendo pessoalmente para saber. — Axel olhou no
relógio e se levantou. — Não se esqueça do nosso
compromisso de hoje, esteja pronto às 18 horas.
Gerald suspirou.
— Não sei por que deixo você me arrastar
para essas coisas... Ainda me causa estranheza esse
seu gosto por cultura, mas okay... Desta vez tenho
que concordar que vir para cá e não assistir um
espetáculo na Broadway é um delito grave. — Ele
riu, levantando-se também.
— Não é você que vive dizendo que eu
preciso me distrair? — retrucou o Warg de forma
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irônica.
— Hum... pode ser, apesar de achar que
outro tipo de distração seria mais interessante... —
falou Gerald com malícia na voz. — Enfim, te vejo
mais tarde, vou dar uma volta no Central Park.
Algumas horas depois, ambos se
acomodavam em suas poltronas no teatro. Axel já
havia comprado os ingressos com antecedência, por
isso ficaram em um ótimo lugar, bem de frente para
o palco.
Axel sempre cultivou o hábito de assistir
peças de teatro e musicais pela Europa; depois dos
livros, esse era seu passatempo preferido. Achava
interessante o modo como os atores conseguiam
encarnar personagens tão diferentes e gostava de
assistir às suas performances. Por isso, estava
curioso para ver como era um dos espetáculos da
famosa Broadway.
Após algum tempo de apresentação, um
leve odor conhecido lhe chamou a atenção. Com
tantas pessoas à sua volta, demorou algum tempo
para descobrir de onde vinha aquele cheiro, logo
viu que era do palco e passou a tentar identificá-lo
entre os atores; uma tarefa difícil, pois eles não
paravam de se movimentar em cena. Por fim,
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localizou a fonte e começou a observá-la.


Ela era apenas uma figurante, uma garota
loira que dançava e cantava junto com o corpo de
dança. Axel seguia com atenção os movimentos
leves e precisos da moça pelo palco. Sim, ele a
conhecia...
No encerramento do espetáculo, quando as
cortinas se abriram para os agradecimentos finais
com todos os atores, o Warg buscou-a com o olhar;
e a garota sorridente, ao passar a vista pelo público,
também o viu. Ela abriu a boca, surpresa, e
continuou a olhá-lo até que as cortinas se
fechassem novamente. Axel deu um sorriso
discreto, não esperava encontrá-la em um lugar
como aquele.
Alguns minutos depois, Ivana retirava sua
peruca loira e se sentava em uma das cadeiras do
camarim. Seus olhos permaneciam estáticos, como
se enxergasse além do espelho.
— O que foi, Ivy? — perguntou-lhe uma
das colegas de palco. — Parece que viu um
fantasma.
Ivana riu.
— Não... — respondeu, ainda meio fora do
ar. — Vi um conhecido na plateia...
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Com um sorriso bobo na face, a vampira


procurou um leque para se abanar, de repente o ar
condicionado não estava dando conta do calor e seu
rosto parecia queimar em chamas.
Era normal ela se sentir feliz e entusiasmada
após o show acabar, mas desta vez seu coração
parecia bater um pouco mais rápido. Aquilo era
totalmente inesperado, não estava acreditando que
Axel pudesse estar ali, em Nova Iorque... E ele a
reconhecera, tinha certeza disso!
Ivana pegou uma escova e começou a
pentear os cabelos escuros, leves e naturalmente
lisos, que agora estavam mais compridos, repicados
um pouco abaixo dos ombros. Sete anos e meio já
tinham se passado desde aquele terrível encontro
com seu pai na Romênia e nunca mais tivera
contato ou notícias do Warg. Às vezes sonhava
com ele, em sua forma de lobo ou apenas fitando-a
com seus olhos dourados, e quando acordava ficava
imaginando como ele estaria, o que andava
fazendo...
Agora, vê-lo ali, depois de tanto tempo,
aquilo a havia surpreendido. Não conseguia
identificar como se sentia exatamente, se estava
saudosa, curiosa ou apenas feliz por ele estar ali na
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plateia, prestigiando seu trabalho. Talvez fosse um


pouco de tudo...
Algumas coisas haviam mudado em sua
vida desde que voltara daquela viagem. Como
previra, seu pai tentou isolá-la da família, proibindo
que os demais Constantin tivessem contato com
ela. Porém, seu tio foi contra e não cumpriu com as
determinações de Grigore. Assim, ela continuou
participando da vida da família nova-iorquina,
deixando seu pai um tanto aborrecido. Para ela isso
pouco importava, não dava a mínima para o que ele
pensava, apenas queria-o bem longe dela.
Como pesquisadora, conseguiu, enfim,
desenvolver o antídoto contra a toxina dos Lykans
e, graças às amostras de Axel, ela era eficaz contra
Wargs também. Além disso, as vacinas estavam
igualmente prontas e em fase de testes.
Infelizmente, não era algo que podia ser testado em
ratos de laboratório ou outros animais, por isso
vinha aplicando as doses em si mesma há algum
tempo e só faltava se expor à toxina para ter certeza
de que funcionaria.
Enquanto retirava a maquiagem de palco,
uma ideia veio-lhe à mente. Ela planejava fazer os
testes com a saliva de um Lykan que costumava
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ajudá-la com as pesquisas, mas com Axel ali, seria


uma boa oportunidade de conseguir mais um pouco
de amostras dele. Sorriu para si mesma.
Seu querido primo-irmão Rob ficaria louco
com aquilo, ele achava arriscado demais ela fazer
os experimentos em si própria e já haviam tido
várias discussões por causa do assunto. Mas ela não
cederia, precisava terminar com as pesquisas. Se o
resultado dos testes fosse bom, finalmente os
Vampyrs teriam alguma chance de sobrevivência à
toxina mortal presente no sangue e na saliva
daqueles temíveis seres aparentados com lobos.
A vampira foi para casa se sentindo leve e
animada. Em todos aqueles anos, chegara a pensar
algumas vezes em contatar Axel, principalmente
quando sonhava com ele, mas sempre desistia. Ele
já tinha feito o bastante em ajudá-la, e ela não
queria perturbá-lo mais.
Aqueles dois dias que passara com o Warg
na cabana foram o suficiente para ela perceber que
o rapaz não era muito de fazer amizades,
infelizmente... Ainda assim, nunca o esquecera.
Aqueles olhos dourados, frios e mordazes ainda a
faziam se arrepiar inteira só de se lembrar deles.
Ivana chegou em seu apartamento e logo se
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livrou das roupas suadas, tomou um banho e em


seguida se jogou na cama, apenas de lingerie.
Sorriu, enquanto olhava para o teto. Desde que vira
Axel pela primeira vez em Londres, teve vontade
de conhecê-lo melhor. Não foi à toa que puxou
conversa com ele naquele pub. O Warg realmente
tinha, em seu jeito e em sua aparência, aquele algo
a mais que prende a atenção de uma mulher. Pena
ele ser tão antissocial e mal-humorado...
Ora..., mas no que ela estava pensando?
Vampiros e Wargs não eram compatíveis de forma
alguma. Pelo menos, não ainda... Um friozinho
percorreu seu estômago, provocando-lhe cócegas.
Sem perceber, mordeu o lábio inferior. Bem
que tentava, mas não podia negar que aquele rapaz
lhe provocava pensamentos libidinosos. Colocou a
mão sobre o ventre e escorregou-a para dentro da
calcinha, fechando os olhos. Não seria a primeira
vez que ela se tocava e se dava prazer pensando
nele. E também não se sentia culpada por isso,
afinal, imaginar não arrancava pedaço; assim,
continuou com as carícias íntimas até que o
orgasmo veio, delicioso.
Após alguns minutos de moleza e
relaxamento, resolveu fazer algo. Deu um pulo da
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cama, se levantando e ligando o computador. Então


abriu a internet, fez algumas anotações em um
papel e sorriu marotamente, no dia seguinte
resolveria aquilo.

Axel e Gerald voltaram para o hotel e


jantaram por lá mesmo, uma vez que o velho
administrador parecia cansado e não estava a fim
de conhecer a noite nova-iorquina. Pela manhã, eles
iriam começar a ver os prédios disponíveis para
venda e Gerald disse que queria dormir cedo. O
Warg não se importou, pois não era do tipo que
curtia bares agitados e casas noturnas. Na verdade,
ele tinha asco desses lugares, principalmente pelas
lembranças que estes lhe traziam.
Logo pela manhã, acompanhados pelo
falante representante do escritório imobiliário, eles
visitaram dois edifícios da lista e não gostaram. Um
deles não era bem o estilo que estavam procurando,
e o outro estava tão deteriorado que era melhor
derrubar e erguer um novo. Resolveram, então,
almoçar primeiro e depois checariam outros

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prédios.
A alguns quilômetros dali, no laboratório do
hospital, Ivana se encontrava sentada atrás de sua
mesa olhando pensativamente para o papel que
havia trazido de casa quando escutou uma leve
batida na porta.
— Ei prima! Como está? Foi tudo bem
ontem no show? — perguntou Robert em tom
descontraído.
— Ah, sim... claro! — respondeu ela com
um sorriso. — E Beka, como está? Já estou com
saudades daquela loirinha rechonchuda.
— Ela também está com saudades de você.
Por que não vem nos visitar? Já cansei de te chamar
para jantar... — Ele suspirou.
— Você sabe o porquê. — Ivana encarou-o,
erguendo uma sobrancelha.
— Ah, Ivy... Dê um desconto para Lívia...
Ela já mudou bastante com você.
— Ela só finge que me atura quando está na
sua frente, Rob. É só você sair de perto que ela
começa a fazer caras e bocas tortas.
O vampiro riu.
— Ainda assim, Beka não tem culpa. Venha
almoçar no sábado em casa, e isso não é um
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pedido.
— Ahhh, okay! — disse Ivana revirando os
olhos e jogando a cabeça para trás.
— O que é isso aí na sua mesa? —
perguntou Rob, notando o papel com vários nomes
e telefones.
— É uma lista de hotéis... — explicou
Ivana. — Os melhores daqui de Manhattan.
— Para quê? — indagou ele curioso.
— Hum... — Ivana não tinha certeza se
deveria dizer a verdade ao seu primo ou não. Ele a
chamaria de louca, provavelmente. — Quero ver se
encontro uma pessoa... — disse.
— Oooh! Quem? — Robert sorriu
maliciosamente.
A vampira coçou a cabeça e devolveu um
sorriso meio torto.
— Axel... — falou ela meio baixo.
— Quem?! — repetiu ele, sem ter certeza
de que tinha escutado direito.
— Axel...
O rapaz abriu a boca por um instante, sem
emitir qualquer palavra.
— O Axel que eu estou pensando? —
perguntou ele, recobrando-se do espanto. — O cara
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da Romênia? O Warg? — Rob arregalou os olhos.


— Aqui em Nova Iorque?
— Sim... Eu o vi ontem no show, ele estava
na plateia — respondeu Ivana com um sorriso nos
olhos.
— E por que você quer ir procurá-lo, Ivy?
Está maluca? — repreendeu o rapaz.
— Não seja chato, Rob! Quero apenas saber
como ele está..., e ainda não o agradeci direito por
ele ter nos ajudado. Quero fazer isso
apropriadamente, só isso! — ela resmungou,
omitindo do primo a ideia de pegar mais algumas
amostras de fluidos corporais do Warg.
Robert encarou a prima por alguns
segundos.
— Sei... Você já é bem crescida para saber
o que faz. Só tome cuidado, okay? — disse ele
antes de se virar e ir em direção à porta. — Ah! E
não se esqueça! Almoço no sábado! — falou ao
sair.
A vampira sorriu. O seu primo havia
enfrentado a ira de Grigore Constantin por ela. Seu
pai, furioso com a traição e sem poder puni-lo
fisicamente, proibiu-o de voltar ao seu castelo na
Romênia por vinte anos. O que desagradou bastante
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a família de sua noiva Lívia, que tinha a esperança


de estreitar os laços com o poderoso Grigore,
membro do Conselho de Anciãos. Assim, mesmo
depois de casados, a mulher de Rob ainda guardava
ressentimentos contra ela, pois a considerava
culpada pelos “desvios” de seu marido.
Quanto ao seu pequeno meio-irmão, Luca,
soube que ele havia ficado de castigo por um
tempo, mas nada de mais grave aconteceu. De vez
em quando eles se conversavam por telefone, sem
que Grigore soubesse. Agora Luca já era um
vampiro adulto e continuava adorável, inteligente,
educado e decidido. Ele era bem diferente do pai
deles, sem dúvida. E, como 99% dos vampiros
puros, cursava a faculdade de medicina, mas
felizmente não era algo forçado, ele dizia gostar
muito da área.
Ivana deu um giro completo na própria
cadeira e voltou a se concentrar no papel à sua
frente. Pegou o telefone e começou a discar os
números da lista. Quando estava na quinta ligação,
recebeu uma confirmação. Seu coração deu um
pulo, mas logo se decepcionou quando recebeu a
notícia de que Axel não se encontrava naquele
momento. Ainda assim, ela sorriu ao desligar o
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telefone. Tentaria mais tarde, uma hora ele


retornaria para o hotel...

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“... tenho que concordar que vir para cá e não


assistir um espetáculo na Broadway é um delito
grave.”

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Ao final daquela tarde pós-espetáculo, Ivana


tornou a ligar para o hotel e, para sua surpresa,
desta vez a recepcionista transferiu a ligação para o
quarto. O coração da moça deu um pequeno salto.
— Alô — atendeu Gerald do outro lado da
linha.
— Oi... — disse Ivana, confusa por não ter
reconhecido a voz. — Por acaso é do quarto de

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Axel?
Gerald olhou para o rapaz sentado à sua
frente e sorriu.
— É sim, quem está falando? — perguntou
com voz suave.
— Ivana...
— Ah! Ivana... — Gerald fitou Axel com
um olhar divertido, enquanto este gesticulava
indicando que não queria que ele dissesse que
estava ali. — Só um segundo, vou passar a ligação
— disse sorrindo maliciosamente para o rapaz.
Axel pegou o telefone das mãos do CEO
fuzilando-o com o olhar.
— Oi, sou eu... — falou com voz neutra.
— Ah... oi! — respondeu Ivana, um pouco
nervosa. O tom do rapaz não indicava que seria
uma conversa animada, mas em se tratando de
Axel, era de se esperar... — Tudo bem?
— Sim, tudo — continuou ele no mesmo
tom.
— Hum... Te vi ontem no show... — Ivana
estava começando a se sentir embaraçada.
— Sim, eu percebi...
A vampira respirou fundo, aquilo não estava
dando certo... Que cara mais irritante! Custava ser
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um pouquinho mais simpático?


— Gostou do espetáculo? — perguntou ela,
tensa.
— Gostei.
— Ah! Que bom! — disse Ivana tentando
parecer animada, contudo já estava quase
desistindo da conversa.
Um silêncio desconfortável se seguiu por
alguns segundos.
— Janta comigo amanhã? — perguntou a
vampira de súbito. Já que ela estava aparentemente
sendo inconveniente, dadas as repostas
monossilábicas de Axel, chutaria logo o balde.
Axel franziu as sobrancelhas. Não esperava
por um convite tão direto.
— Jantar? Amanhã? — repetiu, pensando
em uma forma de recusar sem ser rude. Olhou para
Gerald que sinalizava para ele aceitar. — Eu...
— Por favor, Axel! — implorou Ivana
fechando os olhos e vermelha como um camarão.
— Deixe-me te agradecer por ter me ajudado
quando estive em dificuldades na Romênia. Sei que
já faz tempo, mas sinto que ainda estou em débito
com você.
Que vergonha!!!! gritava ela em
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pensamento enquanto esperava a resposta do rapaz.


Ainda bem que estava no telefone, assim, se fosse
rejeitada não precisaria encará-lo, só iria querer
voltar para casa e se enfiar debaixo das cobertas até
o dia seguinte. Céus!!! Nunca mais faria aquilo de
novo.
— Okay... — respondeu ele, indiferente, do
outro lado da linha.
Ivana deu um salto de sua cadeira,
derrubando-a e fazendo um enorme barulho.
Algumas pessoas do laboratório olharam em sua
direção e ela fez um gesto mostrando que estava
tudo bem, sem saber se levantava a cadeira
primeiro ou se respondia a Axel. Deixou a cadeira
como estava.
— Ah, certo... que bom, então — falou ela,
ainda meio atrapalhada e com o coração aos pulos.
— Passo no seu hotel amanhã para te pegar —
disse rapidamente, antes que ele arrumasse uma
desculpa e desistisse.
— Você vem me pegar? — estranhou Axel.
— Não deveria ser o contrário?
— Não, eu te convidei, eu te pego —
insistiu Ivana. — Além disso, sou eu quem tem
carro aqui. Às 19 h está bom para você?
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— Você é quem sabe... — respondeu o


Warg. Na verdade, para ele tanto fazia, só havia
aceitado o convite para acalmar os ânimos de
Gerald, que agora lhe fazia um sinal de positivo.
— Okay! Até amanhã, então... — despediu-
se ela.
Quando a vampira desligou o telefone,
notou que suas mãos suavam. Respirou fundo, o
coração ainda estava acelerado. Levantou a cadeira
do chão e se largou nela, aliviada e feliz. Não se
reconhecia. Por que tinha ficado tão tensa? Não era
nada tão importante, afinal... Axel era só um
conhecido, não eram amigos, nem nada. Estava
exagerando na reação, precisava parar de ser tão
insegura e diminuir as expectativas...
Expectativas?!! Agora ela tinha expectativas?
Colocou as mãos na nuca e jogou a cabeça para
trás, o que estava acontecendo com ela? Suspirou e
voltou à posição normal. Precisava se acalmar e se
concentrar, agora tinha que encontrar algum
restaurante bom e fazer a reserva.

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No quarto do hotel, Gerald ainda sorria para


o amigo, que não parecia nada alegre com a
situação.
— Por que tanta cara feia, Axel? — O CEO
riu. — Você precisa sair e se divertir um pouco.
— Quem disse que não me divirto? Não
fomos ao teatro ontem? — retrucou o Warg,
procurando um chocolate em sua mala.
— Estou falando de mulheres! Não sei
como consegue viver assim, nesse celibato todo...
— Sexo não me interessa, e você sabe disso
muito bem, Gerald — falou o rapaz, enfiando um
bombom na boca e jogando outro para o CEO.
Gerald pegou o doce e suspirou.
— O que eu sei, Axel, é que não é bom ficar
sozinho e que sexo pode lhe interessar sim, desde
que seja com a pessoa certa.
O Warg olhou-o de viés, não gostando nada
do rumo da conversa.
— Não existe mais pessoa certa para mim
— respondeu, sentando-se no sofá com o semblante
fechado.
— Já faz dez anos que a garota se foi, meu
amigo... Precisa superar o que aconteceu, dar outra
chance para você — insistiu Gerald.
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Axel bufou, impaciente. Como ele podia lhe


dizer aquilo? Gerald sabia perfeitamente como Liz
havia afetado sua vida, como ela havia sido
importante para ele. Não queria outra chance! Não
precisava de outra chance! Naquela época, havia
feito uma promessa de não abrir seu coração para
mais ninguém e pretendia cumpri-la.
— Por que é tão insistente? — resmungou.
— Não quero me envolver com outra pessoa e
ponto final!
O CEO fez uma careta de
descontentamento.
— Não estou dizendo para você se envolver
seriamente com alguém, apenas relaxe e curta um
pouco a vida... — Gerald o encarou. — Olhe para
mim, Axel! Sabe quantas mulheres eu tive até
encontrar Marjorie há dois anos e me casar com
ela? Pois é... nem eu sei... Não é errado sair e se
divertir um pouco, não estamos mais no século
XIX. Hoje em dia as coisas são mais liberais, sexo
sem compromisso é perfeitamente aceitável.
Axel suspirou, Gerald não entendia que para
ele o sexo era completamente dispensável... Aliás,
antes de Liz, transar nunca lhe tinha sido realmente
prazeroso. Apenas com ela havia sentido algo
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diferente, apenas com ela o sexo fazia algum


sentido.
Lembrou-se de quando a garota era ainda
uma adolescente e ele, sem querer, sentiu-se atraído
pelo cheiro dela. Espantara-se com aquilo, nunca
ninguém havia mexido tanto com seus sentidos. E
anos depois, quando estavam juntos e Liz ficava
excitada, o odor que ela exalava era quase um elixir
para ele. Sentia-se enfeitiçado e embriagado e mal
conseguia se controlar. Talvez fosse isso... talvez
seu interesse ou seu prazer estivesse ligado ao seu
sentido do olfato. Não tinha certeza...
Gerald subitamente se levantou de onde
estava sentado, despertando-o de seus pensamentos.
— Não precisa se forçar a nada, Axel... —
disse o senhor de cabelos grisalhos com um sorriso
compreensivo. — Mas também não precisa
permanecer em constante negação. Deixe
acontecer, deixe fluir... — aconselhou,
encaminhando-se para porta.
— Ela é uma vampira, Gerald... —
comentou Axel, com voz entediada.
O administrador parou e se virou, olhando-o
com as sobrancelhas arqueadas.
— A moça que ligou? É sério? — admirou-
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se. — Hum... Isso não é bom, não é? Tem aquele


problema da saliva... — disse ele pensativo. Então
franziu o cenho. — Caramba... não rola nem um
beijinho? — Ele bufou e abriu a porta para sair. —
Que brochante! Bem, fazer o quê? Nos vemos
amanhã, ainda temos pelo menos meia dúzia de
prédios para visitar...
O dia seguinte começou cedo e passou
rápido para os dois executivos. Embora tivessem
olhado vários edifícios, Axel ainda não estava
convencido com nenhum deles, até Gerald estava
se desanimando. O rapaz do escritório imobiliário
queria propor mais alguns lugares para visitarem no
outro dia, mas o Warg se recusou. Ele queria a
sexta-feira livre para conhecer alguns museus e
também já estava cansado de vistoriar prédios,
precisava de um tempo para pensar. Talvez fosse
melhor tentar encontrar algo em outra cidade.
Washington, quem sabe...
Ao retornar para o hotel, Axel tomou um
banho, assistiu um pouco de TV e depois foi se
trocar; a vampira não demoraria a chegar. Aquele
pensamento lhe trouxe um certo incômodo. Preferia
mil vezes ficar sossegado no hotel, detestava
restaurantes cheios. E pelo que se lembrava, ele não
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costumava se sentir muito confortável na presença


daquela moça, era como se estivesse
constantemente sendo analisado por ela.
Além disso, o cheiro dela... A cena em que
ela descruzou as pernas naquele dia no hotel veio-
lhe à mente. A mulher gostava de provocá-lo, sem
dúvidas, mas era uma maluca se achava que
poderiam ter algo. Então a imagem de Ivana
atendendo a porta quase nua surgiu-lhe na
lembrança. Irritado, balançou a cabeça tentando
dissipar aqueles pensamentos. Merda! Por que foi
aceitar aquele convite?
Respirou fundo e se olhou no espelho.
Sentia falta de suas roupas confortáveis e surradas
que costumava usar na cabana. Ultimamente ele só
vestia social e aquilo era muito chato. Será que
precisaria de gravata? Odiava aquele negócio
apertando seu pescoço. Escolheu uma qualquer e
enfiou a peça no bolso, deixando aberto o botão
superior da camisa preta que usava. Se fossem em
algum restaurante muito refinado, a colocaria mais
tarde. Vestiu um blazer cinza escuro e desceu até o
saguão do hotel.
Dez minutos depois, Axel sentiu o odor
característico de Ivana, e para aumentar sua
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inquietação, percebeu que gostava dele. Queria


continuar dizendo para si próprio que aquilo não
lhe interessava, que sexo não lhe fazia falta.
Contudo, agora que Gerald havia lhe enchido a
mente com um monte de bobagens, não conseguia
ignorar o que o seu olfato lhe dizia, e isso o
perturbava. Levantou-se do sofá e a viu entrando
pela porta do hotel.
Ivana estava espantosamente elegante em
um vestido azul royal ajustado ao corpo, a cor
destacava seus olhos igualmente azuis e seus belos
e sedosos cabelos negros. Axel não pôde deixar de
admirá-la. Apesar de ser comportado no tamanho,
chegando quase ao joelho, o vestido possuía um
decote em “V” revelador que chamava bastante a
atenção para as belas curvas dos seios da vampira.
Conforme ela ia passando, não havia um homem
naquele saguão que não virasse o rosto para olhá-la.
Axel caminhou ao seu encontro, e ela sorriu
ao vê-lo.
— Como vai, Axel? — cumprimentou.
Apesar de parecer uma mulher segura e confiante,
por dentro, seu estômago dava um nó, o rapaz
estava lindo...
— Bem... — respondeu ele. A vontade do
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Warg, naquele momento, era de parar de respirar,


não queria prestar atenção no cheiro dela, ou nela.
— Hum... devo colocar a gravata? — perguntou,
tentando não olhar para o decote da garota.
— Não precisa, o restaurante não é tão
chique assim. Vamos? — Ela sorriu. — Deixei o
carro na porta e o manobrista está cuidando dele
para mim.
— Com muito gosto, aposto... —
resmungou Axel falando baixo.
— Como? — perguntou Ivana, que não
escutara direito o que ele havia dito.
— Nada. — Axel esboçou um sorriso, não
um verdadeiro, mas um daqueles treinados.
Ela achou aquilo estranho, mas não falou
nada. O carro de Ivana era um Mustang vermelho e
o manobrista do hotel era só sorrisos quando abriu
a porta para ela entrar. A vampira agradeceu e deu
uma gorjeta para o rapaz, enquanto Axel se
acomodava no banco do passageiro.
— O restaurante não é longe — disse ela
partindo com o carro. — Não é tão badalado, mas é
bom. — Ivana sorriu, tentando não transparecer sua
ansiedade.
— Tudo bem — concordou ele. Sua voz
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soou indiferente, porém sentia-se levemente


agitado por dentro.
Após alguns segundos de silêncio
perturbador, Ivana resolveu puxar conversa.
— E então? O que faz aqui em Nova
Iorque?
— Negócios... — respondeu Axel. Só de se
lembrar das desanimadoras visitas aos edifícios já
se sentia entediado.
— Vai abrir um hotel da sua rede aqui?
— Talvez...
Ivana o olhou de canto. O Warg continuava
o mesmo, quieto e introspectivo. O semáforo
fechou e ela aproveitou para observá-lo melhor, o
rapaz continuava belo e misterioso. Sentiu um
friozinho gostoso subir-lhe pelas costas e cócegas
agitarem seu estômago. Espantou-se, há muito
tempo ela não experimentava aquela sensação.
Desde que rompera bruscamente com seu
último namorado, um humano com quem mantivera
um relacionamento fixo por dois anos, ela havia
saído com muitos outros caras, mas tudo não
passava de sexo e nunca mais sentira real
entusiasmo em estar com alguém... Não tinha
dúvidas de que aquele rapaz ali ao seu lado lhe
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despertava um certo fascínio. Talvez fosse pelos


seus olhos dourados, ou pelos belos cabelos
prateados, talvez fosse pelo seu jeito de ser, frio e
indiferente, ou talvez fosse pelo seu lado selvagem,
que ela já havia presenciado em toda sua fúria. Não
sabia dizer... A vampira apertou as mãos no
volante, sua ansiedade estava começando a
aumentar.
O semáforo abriu e ela voltou a prestar
atenção ao trânsito, mais algumas quadras e já
chegariam.
— Você não estava com o cabelo loiro? —
Desta vez foi Axel quem quebrou o silêncio.
Ivana riu.
— Era só uma peruca, Axel!
— Hum... pensei que você fosse uma
cientista, não uma atriz... — Ele olhava para fora
enquanto falava, não queria demonstrar interesse,
embora estivesse curioso com aquilo.
— Sou os dois — explicou ela com
divertimento no olhar. — Pesquisadora durante o
dia e dançarina à noite... — Ela piscou para ele e
sorriu de novo. — Na verdade, atuar para mim é só
um passatempo, sou apenas uma substituta do
elenco secundário. Quando alguém do corpo de
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dança falta, eu entro. Já faço esse papel há anos,


então não preciso ir em todos os ensaios e posso
dedicar o resto do meu tempo à ciência.
Assim que terminou de explicar, Ivana
encostou o carro na porta de um restaurante.
— Chegamos! — exclamou animada.
Deixaram o veículo com o manobrista e
entraram. Um rapaz logo veio atendê-los, levando-
os à mesa reservada. Era um restaurante pequeno,
mas confortável, com ambiente à meia luz, e já
estava bem cheio.
— Espero que esteja do seu agrado — disse
Ivana estudando-o com o olhar. Agora que havia
conseguido estabelecer alguma comunicação com
Axel, sentia-se mais confiante e esperava que ele
tivesse gostado do lugar.
— Está ótimo — respondeu ele, enquanto
ambos se sentavam.
O garçom se aproximou, entregando o
cardápio, e eles começaram a olhar as opções.
Ivana pediu uma garrafa de vinho e Axel apenas
água. Assim que o rapaz voltou com as bebidas,
eles pediram os pratos.
— Você vai tomar a garrafa inteira? —
perguntou Axel espantado.
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— Talvez... — respondeu ela com ar


brincalhão e deixando-o na dúvida. Na verdade, ela
ainda estava um pouco tensa e queria relaxar. Se
pedisse apenas uma taça, aquilo não faria nem
cócegas. — E então... como é que estão indo os
negócios? — perguntou, dando continuidade ao
assunto.
— No geral, tudo bem...
— Mas o que veio fazer aqui exatamente?
— Ela sorriu, sabendo que se não o pressionasse,
não haveria conversa.
Ele tamborilou os dedos na mesa antes de
responder.
— Estou procurando uma oportunidade de
investimento, mas ainda não encontrei o que eu
queria.
— E o que você quer? — Ivana insistiu,
finalmente ele estava falando alguma coisa.
— Reformar um prédio antigo e que tenha
um estilo clássico para abrir um dos hotéis da rede
aqui — respondeu, enquanto o garçom colocava o
prato com a entrada na sua frente.
A vampira arqueou uma das sobrancelhas.
— Reformar? Interessante... E você ainda
não encontrou nada? Nenhum que te agradasse? —
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indagou ela pensativa.


— Não — respondeu o Warg dando uma
mordida em seu quiche de queijo brie com tomate
seco.
— Então seus problemas acabaram! —
exclamou a vampira com um sorriso e um brilho
nos olhos, começando a comer também.
Axel a olhou interrogativamente, enrugando
a testa de leve.
— Sei exatamente o que você quer! —
Ivana falou animada. — Conheço uma pessoa que
acho que tem o que você procura. Ela agora mora
em Boston, mas o pai dela, que era um velho amigo
do meu tio, já teve um hotel aqui em Nova Iorque.
Ele era diferentão e não quis abrir um hospital,
como é comum entre os vampiros...
Ela sorriu e depois ficou séria, tomando um
pouco do vinho.
— Então... — continuou. — Esse amigo do
meu tio acabou morrendo cedo num acidente de
helicóptero e deixou o hotel para filha, mas como
ela já não morava mais aqui e como os negócios
também não iam bem das pernas, já que o pai era
um péssimo administrador, ela resolveu encerrar as
atividades do hotel. Já faz quinze anos que o local
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está fechado.
— Hum... — Axel a ouvia com atenção,
mas não estava muito crente. — E por que acha que
eu vou gostar desse lugar? Posso até já tê-lo visto
esses dias e não gostado...
— Não creio que tenha visto ... Pelo que eu
sei, o prédio não está em nenhum escritório
imobiliário. Meu tio fez uma oferta por ele um ano
atrás, queria abrir uma maternidade lá, mas Lola
não aceitou. Disse que queria preservar o sonho do
pai e que só venderia para quem quisesse manter o
lugar como um hotel.
— Fica aqui em Manhattan? — perguntou o
Warg, demonstrando um leve interesse.
— Sim, a poucas quadras do teatro onde
você foi ver o espetáculo. — A vampira serviu-se
de um pouco mais de vinho.
— Certo... E como posso entrar em contato
com essa moça?
Ivana sorriu, animada com a possibilidade
de ajudar Axel e feliz em estar ali, jantando e
conversando com ele. Já não se sentia tão ansiosa, o
vinho estava ajudando, com certeza. E se
conseguisse falar com a amiga, quem sabe poderia
vê-lo de novo antes de ele ir embora...
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— Hum, só um minuto — disse Ivana,


limpando a boca com um guardanapo.
Pegou, então, o celular e fez uma ligação.
— Lola, querida, como está? — disse ela
com a voz afetada, fazendo o Warg juntar
levemente as sobrancelhas. — Tenho um
comprador para o seu prédio...
A conversa pelo telefone continuou por
mais de cinco minutos. Enquanto isso, Axel se
aproveitou da distração da moça à sua frente para
observá-la. O decote do vestido lhe saltava aos
olhos e era difícil manter a vista longe daquelas
curvas. Aquilo o perturbava e ele começou a sentir
uma inexplicável vontade de aproximar seu nariz
daquele colo e inspirar o odor dela.
O Warg desviou o rosto, aborrecido. Ele
não queria prestar atenção no cheiro da vampira,
mas quanto mais tentava não pensar no assunto,
mais crescia o desejo de senti-lo de perto. Ela não
usava perfume e isso só contribuía para aumentar a
sua agonia.
— Resolvido — disse ela, desligando e
guardando o celular. — Lola vai ligar para o
segurança pedindo que ele nos deixe entrar.
Podemos ir quando estiver livre...
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— Sábado de manhã — respondeu Axel,


ainda desconcertado com seus próprios
pensamentos.
— Ótimo, combinado! — Ela sorriu.
O garçom trouxe os pratos principais e
Ivana resolveu falar sobre como as pesquisas
relativas ao antídoto e às vacinas estavam indo,
enquanto saboreavam a refeição.
Axel a ouvia atentamente, aliviado em
poder distrair sua mente daquela visão tentadora;
além disso, ele tinha interesse em saber como os
fluidos corporais que havia fornecido a ela estavam
sendo utilizados. Ficou espantado quando Ivana
contou que estava aplicando a vacina nela mesma e
teve dúvidas sobre como ela iria testar aquilo.
No fim, para o Warg, até que aquele jantar
não estava se saindo tão ruim assim. A vampira não
o pressionava mais com tantas perguntas e estava
mantendo o clima descontraído e agradável. Ela ria
e falava bastante, o que era bom, pois assim
acabava conversando pelos dois. Na verdade, Ivana
estava falante até demais e Axel começou a ficar
desconfiado de que aquilo era efeito da bebida
alcoólica. Observou a garrafa de vinho e notou que
estava pela metade.
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— Escute... — disse ele, quando a viu


enchendo a taça novamente. — Não seria bom você
parar um pouco? Já bebeu bastante...
— Não seja chato... estou bem — afirmou a
vampira, porém, sem convencer o rapaz.
Assim que terminaram a refeição, Ivana não
deixou que ele pagasse a conta.
— Negativo — disse ela sorrindo e
visivelmente alterada. — Eu convidei, eu pago!
Considere isso um agradecimento por ter ajudado a
me livrar de um casamento forçado.
— Tudo bem, com uma condição... Você
vai me deixar dirigir agora — respondeu ele firme.
Ela riu alto.
— Okay. Você dirige..., mas com outra
condição... — Seu olhar adquiriu um brilho
malicioso. — Se for me levar em casa, vai ter que
entrar para tomar um café.
Axel a olhou com desconfiança e
inquietação, mas no fim concordou, não havia o
que temer, ela era uma Vampyr e ele um Warg;
nada poderia acontecer entre os dois. E mesmo que
ela, por alguma loucura, tentasse algo, ele saberia
como lidar com aquilo. Após as inúmeras tentativas
de Gerald em lhe arrumar uma namorada, ele já
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havia adquirido experiência suficiente em dispensar


garotas. Além disso, um café até que cairia bem...

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“O decote do vestido lhe saltava aos olhos e


era difícil manter a vista longe daquelas curvas.”

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Axel e a vampira entraram no potente carro


esporte e ela colocou o endereço de seu
apartamento no GPS. O rapaz dirigia em silêncio,
enquanto Ivana ria e falava pelos cotovelos.
Quando chegaram, ele a ajudou a sair do carro.
— Você concordou, prometeu entrar... —
cobrou ela.
— Eu vou... — respondeu ele sério. — Por

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que trouxe isso? — perguntou, referindo-se ao


vinho que Ivana carregava.
Ela olhou para a garrafa em suas mãos e
sorriu.
— Ainda tem vinho aqui! Eu paguei, é meu!
— justificou, enquanto digitava a senha para
entrarem no prédio.
Axel a seguiu, subindo as escadas. Não
tinha dúvidas de que a vampira estava meio bêbada,
mas ela já estava em casa, e isso era o que
importava. Até que ela aguentava bem a bebida, se
fosse Liz já estaria trançando as pernas depois da
terceira taça. O Warg balançou negativamente a
cabeça. Por que estava pensando em Liz? Enfim,
ficaria só uns minutinhos até o café ficar pronto e
então iria embora. Pegaria um táxi para voltar para
o hotel.
Entraram no apartamento e Ivana foi direto
para a cozinha preparar o café. Colocou a água e o
pó na cafeteira e a ligou, enquanto Axel largava o
blazer sobre o sofá. Como a maioria das casas
americanas, sua cozinha era em conceito aberto
com a sala, assim ela podia acompanhar os
movimentos do rapaz, que observava com atenção
alguns de seus quadros espalhados pelas paredes.
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Como se não pudesse ficar mais corada do


que já estava, sentiu um calor subir pela sua face.
Assim como o seu irmão Luca, ela também gostava
de produzir sua própria arte, mas sentia-se
envergonhada em mostrá-la para outras pessoas.
Por que Axel tinha que se interessar justo por
aquilo?
Ansiosa, dirigiu-se até o armário e pegou
uma taça. De repente, a presença do Warg ali em
sua casa a havia deixado com calafrios no
estômago; precisava de mais bebida para relaxar,
ainda bem que trouxera o vinho. Virou-se e
estendeu, então, a mão para pegar a garrafa que
estava sobre o balcão que separava a cozinha da
sala, mas Axel foi mais rápido e a pegou primeiro.
— Chega de bebida alcoólica — disse ele.
— Vim aqui para te acompanhar em um café.
Ela arregalou os olhos e riu.
— O café ainda está passando. Me devolve
aqui, quero acabar com esse vinho. — falou
esticando o braço para pegar a garrafa.
— Não — respondeu ele, afastando a
bebida dela.
Ivana o encarou incrédula e então avançou
um passo, aproximando-se do rapaz. De salto, ela
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ficava na altura de Axel e achou que conseguiria


pegá-la, mas ele levantou o objeto acima da cabeça.
— Axel! — exclamou apoiando-se nele
tentando alcançar a bebida.
Ivana elevou-se ainda mais nas pontas dos
pés e acabou perdendo o pouco equilíbrio que
tinha. Teria caído se Axel não a tivesse segurado
com o braço livre, trazendo-a para si. A vampira
olhou-o nos olhos, estavam tão perto... Baixou a
vista para a boca dele, estava a menos de dois
centímetros. Num impulso quis vencer aquela
distância mínima, mas Axel subitamente a largou e
segurou seu rosto.
— Não faça isso! — alertou ele, afastando-
se e colocando a garrafa de volta no balcão.
— Por que não? — perguntou ela frustrada.
— Não é óbvio? — Ele franziu o cenho. —
Não quero te ver estrebuchando e espumando pela
boca aqui na minha frente.
Ela arregalou os olhos.
— Isso não vai acontecer! Estou tomando a
vacina, não te disse?
— Disse também que ainda não a havia
testado. — Ele estreitou os olhos, desconfiado. —
Foi por isso que me convidou para subir? Por acaso
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está tentando me usar para testar sua vacina?


Ivana abriu a boca pasma, então fechou o
semblante.
— Não me ofenda, não chego a esse nível
— disse irritada. — Se quisesse só fazer um teste,
pediria um pouco mais de sua saliva como amostra.
Aliás, me faça esse favor, então! — Mostrou a taça
que havia retirado do armário e estendeu para ele
com um olhar firme.
— Deixe-me adivinhar... Por acaso quer que
eu cuspa aí? — perguntou ele, arqueando a
sobrancelha.
— E por que não? — A voz de Ivana era
afiada.
— E você vai fazer o quê, experimentar
minha saliva? — Olhou-a incrédulo.
Ela deu de ombros.
— Talvez... é uma ideia...
Axel pegou a taça das mãos dela.
— E o que vai fazer se a vacina não fizer
efeito? — perguntou ele.
— Tenho o antídoto, que eu já testei e
funciona — explicou ela aborrecida.
— E onde ele está?
— O quê? O antídoto? — indagou ela,
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estranhando a pergunta. — Tenho no laboratório,


mas também trouxe algumas amostras para casa. A
vantagem é que ele não precisa ficar refrigerado —
disse ela, orgulhosa de seu trabalho.
Axel respirou fundo e colocou a taça no
balcão, então se aproximou da vampira e a fitou
nos olhos.
— Tudo bem... Pode me beijar, se quiser...
— falou sabendo que se arrependeria, mas ainda
preferia aquilo a imaginar a garota bebendo a saliva
dele em um copo.
Ivana sentiu seu coração dar um salto dentro
do peito. Ele tinha mesmo autorizado ela a beijá-lo?
Juntou as sobrancelhas. Só agora, depois de ele ter
cortado todo o clima? Balançou a cabeça sorrindo e
suspirou. E por que não? Um beijo ainda era
melhor do que um teste de saliva em um
laboratório.
Ela deu, então, um pequeno passo à frente,
quase colando o corpo no dele e passou os braços
em volta de seu pescoço. Sorriu novamente diante
da tensão de Axel e de seu olhar desconcertado, ele
não levava muito jeito com as mulheres.
Axel estava, sim, tenso. Tinha seus motivos
para temer uma aproximação com aquela vampira.
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O decote, as curvas, o cheiro... Ela era de uma


beleza extraordinária e ele tinha aquela incômoda
sensação de que estava se sentindo atraído.
— Relaxe, Axel... Não vou morder você —
Ivana brincou. — É só um beijo... — disse e se
aproximou lentamente, encostando os lábios nos do
rapaz.
De início, o contato foi suave e tímido, mas
o desejo acendeu rápido e Ivana aprofundou mais o
beijo. Axel sentiu a língua quente e macia da garota
procurar a sua, uma sensação gostosa e eletrizante
percorreu seu corpo e ele não conseguiu mais
resistir, quando se deu conta, já a estava puxando
para si e retribuindo o beijo. Seu sangue começava
a esquentar e despertar sua libido, conhecia aquela
sensação...
A mente de Axel o alertava. Precisava pará-
la, precisava se afastar, não podia deixar que aquilo
continuasse, era perigoso..., mas seus pensamentos
estavam confusos e se perdiam entre as sensações
prazerosas e luxuriosas daquele beijo ousado. Uma
necessidade urgente de sexo, carinho e atenção
aflorou em seu âmago e, uma a uma, suas defesas
foram sendo derrubadas, seu desejo se tornara mais
forte do que suas desculpas.
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Para Ivana, aquilo não era mais um


experimento, ela não queria mais saber se a vacina
funcionava ou não. Na verdade, isso era o que
menos lhe importava naquele momento. Ela só
queria se deliciar com aquele homem lindo. Agora
ela o desejava por inteiro, não queria apenas beijá-
lo. Desceu, então, suas mãos pela camisa de Axel,
desabotoando-a habilmente. Ele a afastou um
pouco, descolando suas bocas, e ela o olhou nos
olhos, havia fogo ali e ela sorriu satisfeita.
Enquanto o encarava, continuou a descer suas mãos
e soltou o cinto dele, desabotoando em seguida suas
calças.
Axel observava os movimentos da moça
com tensão e ansiedade crescente. Ele queria
aquilo, mas sua mente não relaxava. Ficou imóvel
quando ela desceu suas calças e passou levemente
os dedos pelo seu membro rijo ainda dentro da
cueca. Então ela sorriu e se abaixou. O coração do
Warg disparou quando ela liberou sua ereção do
tecido que a cobria.
Ivana olhou com fascínio os atributos do
rapaz e sem se conter mais, deslizou a língua
lentamente por ele. Axel prendeu a respiração ao
sentir aquele toque úmido e quente. Fechou os
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olhos e qualquer resquício de racionalidade que


ainda lhe restava foi-se embora de vez, aquilo era
delicioso...
A vampira também estava se deliciando, ela
queria experimentá-lo, tocá-lo com sua boca, com
sua língua. A ereção de Axel era magnífica e ela o
queria todo. Desceu sua boca sobre o membro do
rapaz, lambendo-o por inteiro, parou na glande e
começou a sugá-la e em seguida o abocanhou,
engolindo-o até onde conseguia. O Warg soltou um
gemido e ela passou a masturbá-lo avidamente com
a boca.
Axel olhou para baixo e a visão de Ivana
sugando seu pau duro enlouqueceu-o. Ela chupava-
o com vontade, provocando-lhe as mais
maravilhosas sensações. Ele queria gozar e já
estava quase lá, mas não queria fazer isso dentro da
boca da garota, ele queria mais, queria ela, desejava
estar dentro dela e fazê-la gritar de prazer.
Antes de possuí-la, no entanto, ele provaria
seu gosto. Enfiou, então, os dedos nos cabelos da
vampira e segurou sua cabeça. Ela o olhou e ele a
trouxe de volta para cima, para um beijo quente e
possessivo, enquanto descia as alças de seu vestido,
expondo, finalmente, aqueles belos seios redondos
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que tanto lhe instigaram durante o jantar.


O Warg tomou-os nas mãos e acariciou-os,
sentindo a maciez da pele e a rigidez dos mamilos.
Desceu, então, a boca sobre um deles e sugou-o.
Ivana mordeu os lábios ao sentir aquele toque. Suas
partes baixas pegavam fogo e ela apertou uma
perna contra a outra, sentindo uma necessidade
urgente de ser preenchida.
Axel foi para o outro mamilo enquanto
descia seus dedos para a parte mais íntima da
vampira. Sentiu ela se contrair e suspender a
respiração quando ele a tocou e a acariciou. Ela
estava completamente molhada, pronta para ele.
O Warg já havia aprendido a domar seus
impulsos mais selvagens durante o sexo e, por isso,
conseguia controlar seus atos, mas já fazia tanto
tempo que ele não sentia aquela necessidade de
possuir, de enfiar seu membro em uma cavidade
quente e apertada de uma mulher, que ele temeu
não conseguir se controlar. Além disso, toda a
excitação da moça à sua frente, o cheiro que ela
exalava, deixava-o ainda mais arrebatado de desejo.
Ele precisava sentir o gosto daquela vampira...
Pegou-a, então, pela cintura e a suspendeu,
colocando-a em cima da mesa de jantar. Fez ela se
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deitar e, num movimento rápido e preciso, tirou-lhe


a fina calcinha de renda. Ivana suspirou, sentindo
sua vulva pulsar por ele, e quando Axel elevou seus
joelhos e abriu suas pernas, ela se derreteu, já
sabendo o que viria. Os olhos do rapaz se fixaram
em sua intimidade e então ele se abaixou, tomando-
a com a boca.
A vampira gemeu alto. Fechou os olhos e
inclinou mais a cabeça para trás, segurando-se nas
bordas da mesa, enquanto Axel a lambia e a
penetrava com a língua. Aquela sensação era
maravilhosa, mas ela queria mais e ele logo a
atendeu, cobrindo toda sua vulva com a boca
quente. Então ele passou a chupá-la, usando a
língua para massagear seu ponto sensível.
Ivana soltava pequenos gemidos enquanto
sentia as sensações de prazer aumentarem cada vez
mais. A língua do rapaz era deliciosa e ele sabia
exatamente como usá-la, pressionando,
contornando e sugando o ponto certo, até que o
orgasmo chegou intenso, fazendo-a se contorcer e
gritar.
Axel, desejoso de sentir o sabor do gozo da
garota, penetrou-a novamente com a língua,
apreciando as contrações de prazer e o sabor de sua
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excitação.
Assim que a vampira relaxou, ele a pegou
no colo e a levou para o quarto. Não sabia
exatamente onde era, mas seus instintos o guiaram.
Colocou-a na cama e deitou-se também, deslizando
seu corpo por cima do dela e beijando-a com ardor.
Ivana se abriu para Axel e ele a penetrou com
suavidade, sentindo a carne macia e úmida lhe
envolver o membro. Céus, como aquilo era bom...
Sua vontade era de estocá-la fundo e forte, mas
estava se segurando para não ser rude, não queria
machucá-la.
A vampira percebeu que o Warg estava
sendo cuidadoso e falou-lhe ao ouvido:
— Pode vir que eu aguento... — Ela deu-lhe
uma leve mordiscada na orelha. — Vamos, Axel,
sei que tem um lado selvagem aí dentro.
Aquelas palavras foram como jogar
gasolina no fogo. Axel a prendeu entre seus braços
e começou a se movimentar com vigor. Ivana
fechou os olhos extasiada. Sentia-o todo dentro
dela e as estocadas firmes e profundas provocavam-
lhe ondas de prazer que a faziam gritar e gemer. A
cama balançava tanto que parecia que iria
desmontar. E se por acaso aquilo acontecesse,
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nenhum dos dois provavelmente se importaria, de


tão absortos e inebriados que estavam.
Ivana pressionava seu quadril contra ele e
movimentava-o, enquanto Axel continuava a
penetrá-la avidamente. A onda de prazer começou a
chegar para ambos, mas à medida que o clímax se
aproximava para a vampira, seus olhos foram se
tornando violeta e suas presas começaram a
crescer, sua excitação era tanta que ela não
percebeu seu próprio descontrole.
Axel também estava no seu limite e, com os
sentidos embaralhados pelo tesão, não notou a
mudança na vampira. Assim, com uma estocada
mais forte, ele chegou ao ápice ao mesmo tempo
que ela.
Sem conseguir se controlar e com a mente
nublada pelo intenso prazer, Ivana cravou os dentes
no pescoço do rapaz. Ele gritou, em uma mistura de
dor e prazer, enquanto gozava dentro dela.
Passadas as contrações e espasmos do
orgasmo, Ivana soltou-o, e Axel se afastou um
pouco, olhando-a nos olhos. Ela ainda os tinha
violáceos e mostravam-se arrebatados e relaxados.
Um filete de sangue escorria pelo canto de sua
boca, mas as presas já tinham diminuído. Ele saiu
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de dentro dela e se postou ao seu lado. Estava


ofegante e suado, mas estava, principalmente,
preocupado agora.
Beijar e trocar saliva era uma coisa, mas ela
havia bebido o sangue dele, sem falar em seu
sêmen que também estava dentro dela. A garota,
sem demonstrar perturbação com aquilo, sorriu e se
aconchegou em seus braços, fechando os olhos.
Axel limpou o sangue da boca de Ivana e
passou os dedos entre os seus cabelos, em seguida
deixou-se relaxar no travesseiro; sua mente, no
entanto, já estava começando a trabalhar com
clareza. Aquilo era uma loucura..., o que eles
estavam fazendo era... completamente antinatural, e
com consequências que poderiam ser terríveis para
ela. Fitou-a com atenção, o semblante da vampira
era calmo e tranquilo, ela parecia exausta, mas
aparentemente estava bem. Pelo visto a tal vacina
funcionava mesmo.
Fechou, então, os olhos e inspirou o cheiro
dela. Se antes havia alguma dúvida que sua atração
por mulheres passava pelo sentido do olfato, agora
ela não mais existia. Nunca imaginaria que pudesse
ser atraído pelo cheiro de uma vampira. Já havia se
surpreendido quando, anos atrás, se viu atraído por
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uma humana.
Aquela lembrança foi como um soco no
estômago. Não podia compará-las, não era certo.
Liz havia sido sua luz, seu conforto e sua maior
perda. Ela jamais sairia de seu coração e jamais
outra pessoa poderia preenchê-lo como ela.
Axel abriu os olhos tentando espantar as
lembranças. Também não era justo para com Ivana
que ele ficasse pensando em outra mulher enquanto
estava com ela. Era estranho aquilo, mas
independentemente do que ainda sentia a respeito
de Liz, ele percebeu que sentia falta daquele tipo de
contato; de sexo, de calor e de carinho...
Talvez devesse seguir mais os conselhos de
Gerald. O danado tinha um pouco mais do que ¼
de sua idade, mas parecia ter mais maturidade e
experiência do que ele, e estava com a razão
quando disse que ele ainda se interessava por sexo.
“Desde que seja com a pessoa certa...”, foram as
palavras do CEO.
O Warg inclinou a cabeça e observou a
vampira novamente. Ela dormia, aquilo devia ser
efeito do vinho. Então ele suspirou e a abraçou,
aproveitaria aquele momento de aconchego, sentia
que precisava daquilo...
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Já estava quase pegando no sono quando


escutou um gemido baixo da garota. Abriu os olhos
e a fitou. Ela havia acordado e tinha uma expressão
de dor em seu rosto. Um frio subiu por sua coluna.
— Ivana, o que houve? — perguntou
preocupado.
— Meu estômago, está doendo —
murmurou ela com respiração ofegante.
Axel se sentou alarmado. A vampira
começava a suar frio e a dor parecia estar
aumentando, fazendo-a se contorcer.
— Ivana! Onde está o antídoto? — indagou
ele.
— Na... na gaveta... na gaveta... da
cozinha... — respondeu ela com dificuldade.
O Warg deu um pulo da cama e correu para
lá, abrindo todas as gavetas dos armários, uma a
uma, e revirando tudo. Seu coração estava gelado.
Ela não podia morrer por causa dele, não podia...
Desesperou-se ao não encontrar os frascos. Aonde
estava a merda do antídoto?

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“... à medida que o clímax se aproximava para


a vampira, seus olhos foram se tornando violeta e
suas presas começaram a crescer...”

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Quando Axel viu que naquelas gavetas não


encontraria nada, voltou rapidamente para o quarto.
Aproximou-se da cama, onde a vampira gemia
agarrada ao estômago, e segurou o seu rosto.
— Ivana... me escuta — disse ele, fazendo a
garota olhá-lo. — O antídoto não está em nenhuma
gaveta da cozinha!
— Banheiro... — murmurou ela com uma

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voz quase inaudível, sua respiração estava pesada e


o ar entrava em seus pulmões com dificuldade.
O Warg seguiu de imediato para lá. Com a
tensão crescendo cada vez mais dentro de si, olhou
nos arredores da pia. A bancada era uma bagunça
de maquiagem, presilhas para cabelo e produtos de
higiene, mas o que ele estava procurando não
estava ali. Abriu a primeira gaveta e só tinha mais
cremes e coisas para o cabelo; procurou, então, na
segunda, e nela havia algodão, esparadrapos,
antissépticos e uma caixinha de madeira. Agitado,
pegou a caixinha e abriu, lá estavam eles, três
frascos de vidro transparentes com um líquido de
cor amarelada.
Voltou para o quarto e levantou Ivana,
apoiando-a em seus braços.
— É isso? — perguntou ele, mostrando os
frascos.
Ela meneou a cabeça afirmativamente e
então Axel abriu um deles, encostando-o nos lábios
da vampira e a ajudando a beber o conteúdo.
— Precisa de outro? — quis saber o Warg,
assim que ela bebeu tudo.
— Não... um só basta... — respondeu Ivana
enfiando a cabeça no peito do rapaz, ainda sentindo
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dores.
Axel a abraçou mais aliviado e começou a
passar os dedos levemente em suas costas. Seu
coração ainda batia acelerado. Ele não tinha nada
de especial com aquela garota, mas não suportava a
ideia de que ele pudesse ser a razão de outra morte
inocente. Mulheres! Não tinha mais dúvidas de que
ele era uma presença perigosa para elas...
Gerald que o desculpasse, mas não podia
mais se deixar levar por aquele tipo de relação.
Mesmo sendo sem compromisso, estava claro que
as espécies de seres vivos não foram feitas para se
misturarem. Ele era um Warg, não era um humano,
não era um vampiro, nem um Lykan. Não podia se
relacionar com nenhum deles... aquilo nunca daria
certo.
Ivana começou a relaxar em seus braços.
Aos poucos, as dores foram diminuindo e ela
passou a respirar melhor. A vampira, apesar de
acordada, estava quieta, o medo de morrer a tinha
abalado.
Ela havia feito uma besteira, sabia disso.
Não tinha desenvolvido a vacina para a quantidade
de toxinas contida no sangue do Warg, mas apenas
para a saliva que, no caso de uma mordida ou de
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um beijo, era muito menos tóxica. Ela não podia ter


ingerido sangue daquela forma. Como pôde não se
controlar?
Era normal os vampiros puros se morderem
durante a relação sexual, era algo natural para eles,
fazia parte do ritual, dos desejos mais profundos, e
inclusive era necessário para a geração de filhos,
pois já havia comprovação de que as vampiras só
ovulavam quando ingeriam o sangue de seus
parceiros. Mas quando se tratava de se relacionar
com humanos, os vampiros eram obrigados a se
controlar. Morder um humano era terminantemente
proibido pelas regras do Conselho.
E ela jamais tinha perdido o controle
daquela forma, nem com seu último companheiro,
um humano com quem se relacionara por mais de
dois anos. Em relação aos Lykans e aos Wargs,
certamente não havia nenhuma regra sobre isso;
não era necessário, pois aquilo não tinha
precedentes. Afinal, até aquele dia, morder um lobo
teria sido a morte certa para qualquer vampiro.
Felizmente o antídoto havia funcionado e
ela não estava morta... E agora, lá estava ela, sem
forças e acabada, nos braços daquele ser magnífico.
Sentiu-se uma tola novamente. Inspirou fundo e
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começou a prestar atenção no carinho que o rapaz


lhe fazia nas costas. Aquele toque era tão gostoso...,
sentia-se aconchegada, protegida, queria ficar
naqueles braços para sempre...
Então sua mente despertou. Para sempre?!
Estava ficando maluca?! Aquilo tinha sido só uma
transa gostosa, e provavelmente a última. Do jeito
que agira, com certeza Axel nunca mais chegaria
perto dela... Ela levantou um pouco a cabeça para
olhá-lo e encontrou um par de olhos dourados a
fitando interrogativamente.
Ivana sorriu meio sem graça.
— Desculpe pelo trabalho... — disse. — E
obrigada por me ajudar...
Axel estreitou um pouco os olhos.
— Me assustou — respondeu ele, sério.
— Eu sei... — Ela mordeu o lábio. — Eu fiz
tudo errado, não devia ter te mordido. Não
desenvolvi a vacina para isso...
— Mas o antídoto funcionou — lembrou o
Warg.
— Ainda bem! — Ela riu fracamente e
depois baixou os olhos, encostando-se no peito dele
novamente. Precisava daquele contato, sentia tanto
a falta de ter alguém assim para ficar junto e poder
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conversar sobre qualquer coisa...


— O que pretende fazer agora? Já que não
sabe se a vacina é mesmo eficaz ou não contra a
saliva? — quis saber Axel.
Ivana suspirou, pensativa, então passou os
dedos sobre o colar em forma de lua do rapaz.
— Preciso repetir o teste da forma correta...
Pelo visto ainda vai ter que me fornecer aquela
amostra — disse, olhando para ele com
divertimento.
— Quer que eu te beije de novo? —
perguntou ele desconfiado.
Ela riu.
— Para fins de experimento isso não
adiantaria agora, pois estou com o antídoto
correndo em meu sangue ainda, mas não me
importaria se quisesse me beijar de novo... — falou
com malícia.
Axel fechou um pouco o semblante. Como
ela podia brincar com aquilo? Nem parecia que
tinha quase morrido há alguns minutos...
— E o sêmen? — perguntou ele.
— Hã?! — exclamou ela, sem entender.
— O sêmen... Ele também é tóxico? —
Axel tinha uma certa preocupação no olhar.
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— Hum... bom isso eu não sei. Você teria


que me fornecer uma amostra disso também para
eu poder testar... — Ela riu, mas de repente ficou
séria, lembrando-se de que tinha sêmen dentro de
si.
Na verdade, não era uma má ideia aquilo,
seria interessante saber quanto de toxina havia no
esperma dele.
— Me faz um favor, Axel? — perguntou
ela.
— O que quer? — quis saber o Warg, já
com a pulga atrás da orelha. Parecia que tudo que
vinha dela era uma surpresa.
— Primeiro preciso de uma caixinha de
sangue para me recuperar. Me sinto fraca... Tenho
algumas no armário. — Então ela o olhou com um
sorriso de quem estava aprontando algo. — Poderia
me trazer também uma colher e um copo limpo?
— Para quê? — indagou ele com uma ruga
entre os olhos.
— Hum... Quero coletar um pouco do seu
esperma... — respondeu ela sorrindo e mordendo o
lábio inferior, sentindo-se levemente corada.
Axel arregalou os olhos.
— Coletar? Como? De dentro de você? —
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questionou ele, ficando espantado quando ela


confirmou com a cabeça. — Não mesmo! —
exclamou o Warg. — Não assim! Se quiser, eu
providencio uma amostra adequada. — Ele pensou
um pouco. — Posso levar no sábado, quando
formos ver o prédio.
Ivana abriu a boca, surpresa, rindo em
seguida.
— Está dizendo que vai bater uma punheta
para mim, Sr. Axel? — disse com malícia.
Desta vez foi Axel quem corou, fechando a
cara.
— Não precisa levar no sábado, podemos
providenciar a amostra aqui mesmo... — sugeriu a
vampira com um brilho travesso nos olhos. —
Posso te ajudar com isso... — Ela passou a língua
nos lábios divertidamente, enquanto escorregava o
dedo pelo peito nu dele.
Axel levantou-se da cama num pulo. Todas
as suas fibras lhe tocaram um sinal de alerta e ele
preferiu ouvi-las, desta vez. A vampira era maluca,
ousada e perigosamente sedutora.
— Vou buscar o seu sangue — disse ele,
saindo do quarto.
Quando voltou, o Warg também tinha uma
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xícara de café na mão e já estava de cueca,


provocando um suspiro de decepção em Ivana que,
apesar de estar cansada e com o corpo meio
dolorido, sentiu-se instigada novamente ao olhar
para a forma e o volume das partes de Axel por
baixo daquele fino tecido. Ele lhe entregou o
sangue.
— Obrigada — disse ela. — O café não está
frio?
— Não, a cafeteira ainda estava ligada —
respondeu ele se sentando no pé da cama.
Ivana ingeriu o sangue da caixinha,
enquanto Axel bebia e olhava distraidamente para o
café. A vampira o observava com interesse.
Definitivamente, ele era um cara delicioso.
— Toma um banho comigo? — ela
perguntou.
Axel a olhou meio de lado.
— Melhor não... — respondeu de cenho
franzido.
— Por favor... — pediu ela. — Ainda me
sinto indisposta e preciso me lavar... Você não quer
que eu caia na banheira e me machuque, não é? —
perguntou com voz chorosa.
O Warg a encarou sério e não respondeu,
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ele sabia que ela estava apelando. Ivana sorriu


diante da reação dele e se ergueu de onde estava,
aproximando-se. Ela não era do tipo que desistia
fácil.
— Vem comigo — sussurrou no ouvido
dele. — Prometo não te forçar a nada.
Axel juntou as sobrancelhas. Esse era o
problema, ela não precisava forçá-lo.
— Se quiser, eu te acompanho, mas não vou
entrar na água com você — avisou, então se
levantou e foi para o banheiro.
Ivana escutou quando ele abriu a torneira
para encher a banheira e se deitou, esperando-o
voltar. Na verdade, ainda não se sentia muito bem.
Mesmo tendo ingerido sangue, sua cabeça
continuava pesada e seu corpo parecia ter sido
atropelado por um trator, além disso, seu estômago
estava meio revirado.
Axel retornou depois de algum tempo e,
para sua surpresa, pegou-a no colo, levando-a para
o banheiro e a colocando dentro da água. Em
seguida, puxou um banquinho e se sentou ao seu
lado.
A vampira sorriu um pouco desapontada,
percebendo que ele não ia ceder desta vez. Pegou,
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então, uma bucha com um pouco de sabonete


líquido e começou a passar em si mesma. O Warg a
observava com atenção, na verdade, ele não
conseguia tirar os olhos dela.
— Como funciona? A vacina e o antídoto?
— perguntou ele, procurando assunto para se
distrair daquela visão tentadora.
Ivana ergueu levemente as sobrancelhas,
surpresa com a pergunta técnica, mas ela gostava
de responder perguntas técnicas, então sorriu.
— Resumidamente, a toxina que existe no
seu sangue e na saliva é um tipo de proteína que
causa nos vampiros uma super reação alérgica,
como em um choque anafilático. A vacina é
produzida com partes não reagentes dessa proteína
e serve para estimular nosso próprio sistema
imunológico a produzir anticorpos, que irão
identificar e destruir as toxinas, caso elas entrem
novamente em nossa corrente sanguínea.
— E o que deu errado? Por que ela não
protegeu você?
— Porque bebi o seu sangue. — Ivana deu
um sorriso constrangido. — Infelizmente nosso
corpo não produz anticorpos na velocidade
suficiente para destruir o volume de toxinas
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contidas nele, por isso a vacina só funciona com a


saliva, que possui essas toxinas em baixa
quantidade.
Ela estendeu a bucha para Axel e inclinou o
corpo para frente, indicando-lhe que desejava ter
suas costas esfregadas.
— Hum... Ou seja, a vacina só funciona em
caso de beijos ou se vocês forem mordidos por um
Lykan, ou por mim... — concluiu ele pensativo. —
Lá no jantar você contou que tem tomado doses
regularmente. Por que precisa de tanto reforço? —
perguntou, pegando a bucha das mãos da vampira.
— Ah, isso tem a ver com a nossa memória
imunológica, que não funciona bem com essa
toxina. Por causa disso a vacina tem um tempo
curto de ação. Se a dose não for repetida todo mês,
nosso corpo se “esquece” de como se defender e
volta a ficar vulnerável.
Axel franziu um pouco o cenho.
— Não me parece ser muito eficiente...
— Tem razão, ainda não sei se vale a pena
produzi-la. — Ela suspirou.
— E o antídoto? — quis saber ele, enquanto
passava suavemente a bucha pelas costas e ombros
dela.
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Ivana olhou-o intrigada, não esperava que


Axel pudesse estar interessado naquilo. Seus olhos
brilharam ao responder.
— O antídoto contém enzimas que quebram
as moléculas de proteína da toxina, por isso age
rapidamente quando é ingerido.
O Warg pensou por um momento.
— E ele fica quanto tempo ativo em seu
sistema?
— Acredito que entre 24 h e 48 h... —
respondeu ela, reflexiva. Então sorriu e dirigiu a ele
um olhar maroto. Não perderia aquela
oportunidade.
Sedutoramente, Ivana deitou-se na banheira,
expondo seus seios nus e entumecidos. Axel os
olhou, como se estivesse atraído por um ímã, e sem
se conter, começou a passar a bucha por eles, em
movimentos lentos e circulares. Inquieto, sentiu seu
membro ganhar vida novamente, pedindo para ser
usado.
— Vem para cá — ela pediu.
Ivana baixou um pouco os olhos e observou
a ereção do rapaz tomando forma, ela também
sentia o calor abrasar suas partes íntimas,
irradiando-se pelo seu ventre. Então subiu o olhar,
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encontrando os olhos dele, intensos.


Axel havia notado a mudança no odor da
vampira, ela estava excitada de novo e, o pior, ele
também estava, muito. Perturbado, desviou o olhar
para o outro lado, não podia embarcar naquela
loucura mais uma vez.
Percebendo a dúvida nele, Ivana sentou-se e
pôs a mão em seu rosto, virando-o para ela.
Encararam-se por alguns segundos.
Tomado por uma vontade irracional, Axel
inclinou-se e beijou-a com vontade. Em seguida,
levantou-se e retirou novamente sua peça de baixo,
entrando na água e cobrindo a vampira com o seu
corpo.
De início foram só beijos e mãos
percorrendo e explorando os corpos um do outro,
mas logo Ivana enlaçou-o com as pernas,
convidando-o a possuí-la. Axel a montou,
penetrando-lhe novamente. Entre gemidos e
sussurros, ambos começaram uma dança ritmada.
Seus corpos conectados ansiavam um pelo outro,
pedindo pelo prazer e assim, ora devagar e
suavemente, ora com força e brutalidade, foram
chegando ao limite da volúpia.
— Não me morda... — sussurrou Axel,
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segurando delicadamente, mas firmemente os


cabelos da vampira, mantendo a cabeça dela
apoiada na banheira.
— Não vou... — respondeu Ivana em
êxtase, já quase gozando.
Ele a pressionou mais um pouco em seu
ponto de prazer e então ela gemeu alto, alcançando
o delicioso clímax. Os músculos da parte íntima da
garota se contraiam em volta do membro de Axel e
pareciam sugá-lo. Aquilo o incendiou de vez e
então ele a virou, colocando-a de quatro. Voltou a
meter mais forte e mais rápido, fazendo-a gritar.
Sua pressão sexual chegou ao ápice e finalmente
ele a liberou num gozo intenso, inundando a
vampira com mais de seu líquido quente e leitoso.
Axel ainda a segurou um tempo contra si,
observando as curvas da cintura e das nádegas de
Ivana. Aquela vampira o estava deixando louco.
Por que ele não conseguia resistir a ela? Qualquer
convicção que ele tinha de que não deveria fazer
mais aquilo simplesmente virava fumaça quando
ela lhe dirigia aquele olhar maroto e cheio de tesão.
Não conseguia se controlar. Poderia fodê-la a noite
inteira e não se cansaria, mas , infelizmente, ele
sabia que ela não estava em condições físicas para
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isso.
Retirou-se de dentro da vampira e a fez se
deitar ao seu lado. A água ainda estava morna e ele
começou a lavá-la, pegando a bucha e passando-a
de forma suave pelo belo corpo da moça. A pele
dela era macia, alva e cheirosa, uma delícia. Deixou
a bucha de lado para lavá-la em sua intimidade,
fazendo-a sorrir e soltar um gemido baixo. Axel a
beijou e, com um olhar satisfeito, levantou-se,
pegando as toalhas. Ajudou-a a sair da banheira e a
enxugou, beijando seu corpo no processo.
Ivana sorriu. Então era esse o outro lado de
Axel? Realmente, aquilo era surpreendente e
encantador, nunca imaginaria haver alguém tão
atencioso e fogoso por baixo daquela capa de frieza
e mau humor. Pena que logo ele voltaria para a
Europa...

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“Não tinha desenvolvido a vacina para a


quantidade de toxinas contida no sangue do
Warg... Ela não podia ter ingerido sangue
daquela forma. Como pôde não se controlar?”

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Axel ainda permaneceu com a vampira até a


manhã seguinte. Embora ela parecesse estar bem,
preferiu não deixá-la sozinha. Acordou mais cedo,
vestiu-se e foi preparar o café.
Ivana escutou o barulho na cozinha e se
levantou, sentindo-se bem melhor e disposta, seu
corpo felizmente não doía mais. Ela sorriu
enquanto caminhava para o banheiro e se lembrava

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dos momentos íntimos da noite anterior, algo


dançou em seu estômago, provocando-lhe cócegas.
Já fazia muito tempo que não gozava daquele jeito,
o Warg era bom. Retornou vestindo um roupão de
algodão branco e foi para a cozinha.
— Hum... Tenho um invasor mexendo na
minhas panelas — disse ela de bom humor. —
Bom dia!
— Bom dia — respondeu ele, olhando-a
com atenção. — Sente-se bem?
— Sim. Estou ótima! — Ela sorriu e sentou-
se à mesa, que Axel já havia arrumado.
O Warg trouxe o café e um prato com
torradas, sentando-se à sua frente. Sobre a mesa
também tinha queijo, ovos mexidos e suco de
laranja. Ivana prontamente se serviu, estava
morrendo de fome.
— Já vai embora? — perguntou ela,
observando que o rapaz já estava trocado.
— Sim — respondeu ele se servindo
também.
— Vai ver mais prédios hoje?
— Não. Tenho o dia livre, quero conhecer
alguns museus.
— Ah, certo! Pena que preciso trabalhar,
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senão iria com você... — Ela fez um beiço. —


Quando volta para a Europa?
— Não tenho dia certo. Vou para o Canadá
primeiro.
— Fazer o que no Canadá? — Ivana quis
saber, curiosa.
— Tenho um Resort lá. Estamos
terminando algumas reformas, preciso ver como
estão as coisas... — Axel respondia com
tranquilidade, não se sentia pressionado pelas
perguntas desta vez.
— Uau! — Ela ergueu as sobrancelhas. —
Um Resort! Você fala isso tão fácil! “Só vou ali,
visitar o meu Resort”... — ela imitou e riu.
— Não é tão fácil, dá trabalho manter tudo
isso...
— Imagino... E ainda está querendo
aumentar seu império?
— É ideia de Gerald — disse ele com um
suspiro.
— Gerald é o cara que atendeu o telefone
quando te liguei?
Axel assentiu.
— Ele é quem administra tudo, na verdade.
Eu só assino papéis — falou em tom de
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brincadeira.
Ivana sorriu. O rapaz estava bem à vontade
naquela manhã, conversando quase como um cara
normal.
— Você tem ido à sua cabana? — quis
saber.
— Vou, todo final de ano..., mas não tenho
ficado muito por lá. Não como antes...
— Por quê? — perguntou a vampira,
bebendo um pouco de suco.
Uma sombra passou pelo olhar do Warg.
— Não tenho mais vontade. — Ele fez uma
pausa. — Antes eu gostava de me isolar, agora o
isolamento me incomoda...
— Antes...? — Ela o olhou como quem
espera que a frase seja terminada.
Axel a estudou com uma expressão séria e
pensativa. Ivana sabia que estava entrando em
terreno arriscado, mas queria conhecer um pouco
mais sobre ele.
— Antes de Liz... — disse ele, baixando o
olhar para sua caneca de café.
— A garota humana? — ela perguntou com
cuidado, sem querer parecer intrometida.
Ele concordou.
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— Sente falta dela?


Axel suspirou e tomou um grande gole de
café antes de responder.
— Ela me mudou... Mudou meus
sentimentos, minha rotina, meu modo de enxergar e
lidar com algumas coisas, principalmente em
relação às pessoas. Sim, eu sinto falta dela, como se
tivesse um vazio aqui dentro... — Ele colocou a
mão sobre o coração.
Ivana sentiu o peito apertar, ela conhecia
aquele sentimento.
— Entendo... Embora não se compare,
também já perdi alguém que amava. — Ela
começou a brincar com uma colher. — Apesar
dessa pessoa não ter morrido, como sua garota, a
verdade é que... É como se ele estivesse morto para
mim...
— Por quê? — perguntou o Warg.
A vampira largou a colher e se recostou na
cadeira, abraçando-se.
— Ele era um humano também... Faz tempo
isso, foi na década de 80, nós éramos bem jovens e
meio loucos. — Ela sorriu. — Eu estava passando
por uma fase difícil e Mike apareceu, acabei me
apegando demais, como se ele fosse um porto
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seguro. Meu tio foi contra o namoro e pediu para


que eu me afastasse dele, mas eu não aceitei. Eu me
entreguei totalmente àquela relação, fui morar com
ele e ficamos juntos por dois anos..., até o dia que
ele falou em casamento, filhos... Foi quando eu caí
em mim. Eu não podia manter uma relação
conjugal escondendo o fato de ser uma vampira, e
eu não poderia ter filhos com ele se não o
transformasse primeiro...
Ivana fechou o semblante em uma
expressão dolorida, então continuou:
— Eu não podia fazer aquilo com Mike, por
isso escolhi me afastar... sumir... Disse que não o
amava mais e fui embora. Foi terrível, eu o magoei
muito e me magoei também. Por muito tempo eu
me culpei, me questionei e nunca encontrei a
resposta se o que eu fiz foi o certo ou não. Eu
nunca lhe disse onde eu morava e acho que ele
nunca me procurou. — Ela fez uma pausa. — Mas
eu o vi uma vez, anos depois... Eu estava curiosa e
com saudades, queria saber como ele estava, o que
andava fazendo...
A vampira olhou pela janela sem prestar
atenção realmente no que acontecia lá fora. Sua
mente divagava, não era fácil se lembrar daquele
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dia e das emoções que vieram com ele.


— Descobri onde Mike trabalhava — disse.
— Entrei na mente de um pássaro e o segui.
Quando ele chegou em casa eu a vi. Uma mulher
estava cuidando do jardim..., era a sua esposa. Ela
tinha um garotinho ao lado e estava grávida de
outro filho. Aquilo me destruiu. Eu vi ali, naquela
cena, tudo aquilo o que eu tinha desejado para mim
mesma e renegado.
Outra lembrança dolorosa surgiu, então, na
mente de Ivana, trazendo um gosto amargo à sua
boca; mas sobre aquilo ela não iria falar, pois era
algo que ela desejava desesperadamente apagar de
suas memórias. Ela suspirou e continuou:
— Depois disso, nunca mais quis me
envolver seriamente com ninguém. Até ontem, eu
só tinha saído com caras por sexo e diversão...
— Até ontem? — questionou Axel,
juntando levemente as sobrancelhas.
Ivana percebeu o que tinha falado e
ruborizou.
— Okay... — Ela sorriu, encarando os
próprios dedos. — Quando te convidei para sair, eu
estava mesmo a fim só de sexo e diversão, mas a
verdade é que ontem foi... diferente,
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impressionante, não sei explicar e não vou mentir


para você... — confessou Ivana. — Não estou
dizendo que o que aconteceu entre nós foi sério,
mas não dá para negar que tivemos uma... sintonia.
Ela riu, diante da expressão apreensiva do
Warg.
— Não se preocupe — falou de forma
divertida. — Não estou te pressionando, só estou
sendo sincera. Relaxe, não vou dar uma de louca e
ficar atrás de você. — Ela suspirou e deu de
ombros. — Foi bom e eu gostei, mas sou
consciente de nossa incompatibilidade e não espero
nada mais além disso. Talvez um sexo casual... —
Ela riu.
Axel respirou aliviado. Não queria que a
vampira pensasse que pudessem ter algo a mais.
Não era só por incompatibilidade, ele não estava
preparado para ter outra pessoa em sua vida, talvez
nunca estivesse... Contudo, ela tinha razão sobre o
sexo ter sido diferente e impressionante. O que ele
havia sentido... Era uma sensação que ele gostaria
muito de ignorar e esquecer, mas não conseguia.
Ele não entendia... Ivana era quase uma
desconhecida, mas ela o atraía de uma forma
perigosa e única, e, para aumentar sua inquietação,
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o desejo que ele sentira por ela durante o sexo foi


intenso, possessivo, quente; algo do qual ele se
lembrava muito bem. E aquilo o preocupava.
Ao final do café, Axel pegou seu blazer e
eles combinaram de se encontrar no dia seguinte
para visitarem o edifício. Assim que ele saiu, Ivana
se levantou para se trocar, teria um longo dia pela
frente. Passaria o dia no laboratório e à noite teria
que ir para o teatro cobrir a folga de uma das
artistas. Colocou a louça suja na pia e foi para o
quarto sentindo seu coração leve e feliz. Apesar de
quase ter morrido, fazia tempo que não ficava tão
alegre e bem disposta depois de uma noite de sexo.
Axel passou no hotel para colocar uma
roupa mais leve e tentou falar com Gerald, mas o
CEO já tinha saído quando chegou, então mandou
apenas uma mensagem sobre a visita do sábado,
pois ele precisaria ir também. Depois seguiu para o
Metropolitan Museum.
Aquilo que era para ser um dia agradável e
tranquilo, transformou-se em um amontoado de
pensamentos e sensações a respeito daquela noite, e
ele mal conseguiu curtir o passeio.
Por um lado, estava bem; sentia seu corpo
relaxado e satisfeito, e reconhecia que havia
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apreciado os momentos íntimos ao lado da


vampira. Ela era esplêndida e aqueles olhos azuis
penetrantes e maliciosos mexiam com todas as suas
fibras. Por outro, sentia-se um pouco culpado;
culpado por não ter resistido à tentação, não ter
conseguido controlar suas vontades, por ela quase
ter morrido e por achar que estava, mesmo sem
querer, substituindo Liz.
Aquele pensamento provocava-lhe uma
certa angústia. Liz havia entrado em sua vida como
um furacão e feito uma bagunça em seus
sentimentos. Ele aprendera a conviver com ela e
aprendera a amá-la de uma forma que não sabia ser
possível para alguém como ele. Não entendia como
alguém como a vampira podia lhe ocupar tanto os
pensamentos, ela era tão diferente de Liz...
Ivana tinha uma maior bagagem de vida, era
uma mulher segura de si, ousada, perspicaz e
independente. Com certeza ele havia se
surpreendido com a coragem e a maluquice dela, e
também com o prazer que ela havia lhe
proporcionado, mas ainda continuava confuso.
Desejo, sexo, prazer... Não costumava dar
importância a isso, mas por mais estranho que
fosse, não conseguia tirar aquela noite da cabeça. A
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mordida que a vampira lhe deu quando chegaram


ao clímax intensificou-lhe o gozo de tal forma que
ele, por muito pouco, não perdeu a noção de quem
era e não a mordeu também.
Certamente havia uma forte atração entre
eles, o que deixava o sexo ardente e delicioso, mas
ele não tinha sentimentos por ela, não como tinha
por Liz; recusava-se em aceitar algo assim, era
impossível.
É verdade que havia se preocupado quando
ela passou mal, mas era só isso, preocupação. Ou
pelo menos era o que desejava que fosse...
No dia seguinte, Ivana veio buscá-los, ele e
Gerald, no hotel.
— Olá! Muito prazer, sou Gerald — disse o
CEO estendendo a mão para a vampira, enquanto
Axel mantinha as suas próprias enfiadas no bolso.
— Oi, o prazer é meu! Meu nome é Ivana
— respondeu ela com um sorriso. Olhou para o
Warg, ele a fitava sério, pensativo e de forma
intensa, e apenas a cumprimentou com a cabeça. —
Creio que irão gostar do lugar, vamos? — disse,
indicando para entrarem no carro.
Ivana agia de forma descontraída, mas
estava agitada por dentro. Ver Axel novamente
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havia lhe dado palpitações no peito e aquela forma


que ele tinha de olhá-la, como se a estivesse
desnudando em sua alma, a arrepiava inteira.
Chegaram no edifício fechado cerca de
quinze minutos depois. Ficava em um lugar
interessante, em uma área movimentada e próxima
à Broadway. O prédio se localizava em um esquina,
tinha realmente arquitetura clássica, com colunas e
sacadas em ferro trabalhadas, janelas estreitas e
altas e uma porta de entrada imponente, parecia
mesmo ser um bom local.
O segurança permitiu a entrada dos
visitantes e eles começaram pelo térreo. O saguão
era amplo, bem como a área do bar e do
restaurante. Precisava de reformas, mas estava até
que bem conservado para um prédio fechado há
tantos anos. Subiram, passando pelos quartos mais
simples, até chegarem ao último andar, onde se
localizavam as suítes mais amplas. Os quartos
estavam mobiliados ainda, mas os móveis estavam
bem deteriorados.
— E então? — quis saber Ivana. — O que
estão achando?
— É um ótimo prédio! — respondeu Gerald
com entusiasmo. — Parece que finalmente
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encontramos, não é, Axel?


— Sim, é um lugar muito bom —
respondeu ele, olhando pela janela.
— Vou dar uma verificada nas suítes do
outro lado — falou o administrador, deixando-os
propositalmente sozinhos.
Gerald afastou-se com um sorrisinho.
Apesar de Axel não ter lhe falado absolutamente
nada sobre o encontro da outra noite, só pelo olhar
que ele dirigiu à garota quando ela chegou e pelo
embaraço que ele havia demonstrado quando lhe
perguntara sobre o encontro, o CEO já sabia que o
rapaz havia se dado bem. Como? Ele não fazia
ideia, afinal a mulher era uma vampira e beijo não
seria algo provável, contudo haviam outras
possibilidades... Será que Axel havia usado
camisinha? Estava mega curioso, mas depois
perguntaria para ele.
Ivana e Axel continuaram a percorrer os
quartos daquele lado do hotel. Eram suítes do tipo
master, com banheiros grandes e luxuosos. No
entanto, todos eles precisariam ser reformados.
— Os móveis também precisam ser
trocados — observou a vampira.
— Alguns sim, mas a maioria só precisa de
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uma restauração. — Axel passou a mão sobre a


cabeceira de madeira da cama de casal. — Quero
manter o estilo — disse ele olhando-a, então
subitamente se lembrou. — Ah... aqui! Trouxe para
você. — Enfiou a mão no bolso e retirou um
pequeno pote de plástico com tampa e um líquido
leitoso dentro.
Ivana arregalou os olhos.
— É o que eu estou pensando? — Ela riu e
pegou o pote das mãos dele.
— Eu prometi, não foi? — falou Axel um
pouco constrangido.
Ela guardou o pote na bolsa e se aproximou
mais do rapaz, colocando as mãos em seu peitoral.
— Podia ter me chamado para eu te ajudar
com isso... — insinuou com uma voz aveludada e
um sorriso atrevido.
Axel sentiu seu sangue esquentar com a
voz, o olhar e o toque da vampira. Passou os dedos
suavemente na face de Ivana e olhou para sua boca
sedutora, aqueles lábios convidativos pareciam
chamá-lo. Então, puxou-a para si segurando-a pela
cintura e pela nuca, e cobriu-lhe a boca com um
beijo urgente.
Irresistível, era o que aquela vampira era.
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Ivana enlaçou-o pelo pescoço enquanto suas


línguas se exploravam mutuamente, escorregando
uma sobre a outra. Mãos atrevidas percorriam
lascivamente ambos os corpos. A vampira deslizou
a sua por cima da calça de Axel, sentindo sua
ereção tomar forma ao mesmo tempo que o ele lhe
apalpava a bunda redonda e macia.
— Axel, eu... — Gerald estacou na porta de
olhos arregalados. — Ah... desculpe, vou descer,
nos vemos no saguão — disse ele, virando-se nos
calcanhares rapidamente e saindo do quarto,
vermelho como um pimentão.
O Warg soltou a vampira e ela lhe deu um
sorriso tímido e ao mesmo tempo safado. Não tinha
sido muito agradável serem interrompidos e pegos,
assim, no flagra. Os instintos de Axel estavam
totalmente despertos, o volume em suas calças
demostrava claramente o que ele queria, e Ivana
podia sentir seu sexo umedecido pulsando de
desejo. Certamente, teriam preferido continuar com
os amassos; no entanto, estavam ali a negócios, não
era hora, nem lugar para aquilo, e ainda haviam
constrangido o pobre Gerald; mas para ambos
aquele beijo tinha valido a pena. Ah... se tinha!
— Quer vir para casa hoje à noite? —
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perguntou a vampira.
— Não vai dar... Meu voo para o Toronto
no Canadá sai às 18 h — respondeu ele sentindo-se
levemente frustrado. Estava quase cancelando o
voo, mas não podia fazer isso, já havia marcado um
café da manhã com investidores no dia seguinte.
— Ah... Okay... — disse Ivana,
decepcionada. — Tudo bem... Pode me prometer
apenas que irá me ligar quando voltar para cá, para
Nova Iorque? — Ela sorriu.
Axel assentiu. Sim, ele ligaria.
— Outra coisa... — continuou ela,
estreitando os olhos. — Se você fechar negócio
com minha amiga, a respeito desse prédio aqui, vou
querer uma comissão.
— Comissão? — Axel indagou. — Hum...
quer uma porcentagem?
— Não quero dinheiro... — Ela riu. —
Quero uns dias de férias em seu Resort no Canadá,
estou precisando. Há anos que não passeio em lugar
nenhum.
— Combinado — respondeu ele. — Se
fecharmos negócio, eu mesmo venho te buscar.
Ivana sentiu um friozinho gostoso invadir
seu estômago. Aquilo seria maravilhoso! Sorriu,
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faria sua amiga fechar aquele negócio nem que


tivesse que ameaçá-la com uma faca.
Desceram os andares e encontraram Gerald
inspecionando a área de lazer.
— Tudo em ordem? — perguntou Axel.
— Melhor do que eu imaginava. Será
perfeito se conseguirmos esse prédio — respondeu
o CEO. Ele virou-se para Ivana. — Como fazemos
para contatar a dona do edifício?
— Qual é o seu telefone? — respondeu a
vampira pegando o celular. — Te passarei o
número dela por mensagem — disse.
— Aqui está — falou Gerald entregando
à Ivana um cartão de visitas. — Qualquer coisa
pode nos ligar, o celular de Axel também está
anotado atrás — completou ele com um sorriso.
O Warg ergueu uma sobrancelha, olhando
seriamente para Gerald, enquanto Ivana pegava o
cartão e agradecia.
— Não precisa nos levar para o hotel —
falou Axel ao se encaminharem apara a saída. —
Pegaremos um táxi.
— Tem certeza? — perguntou Ivana,
querendo prolongar um pouco mais o tempo com
ele. — Não tem problema nenhum eu levar vocês.
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— Não precisa, obrigado — confirmou


Axel.
— Okay. — Ela suspirou e, esboçando um
meio sorriso, virou-se para ele já do lado de fora do
edifício. — Nos vemos por aí, então!
— Sim... — respondeu o Warg, olhando-a
demoradamente, enquanto Gerald corria para o
meio fio fazendo um sinal para um táxi parar.
Eles entraram no veículo e a vampira
acenou quando partiram, sem saber se estava feliz
ou triste. Suas emoções estavam um pouco
confusas e ela não estava acostumada com aquilo.
Balançou a cabeça, precisava colocá-la no lugar.
Afinal, não era mais uma jovenzinha inexperiente
com assuntos do coração. Dirigiu-se para o carro,
tinha um almoço com seu primo agora. Se não
aparecesse, ele a mataria, com certeza!
No táxi, Axel recebeu uma mensagem no
celular, era de Ivana.
“Agora você tem meu telefone também! Me
ligue quando voltar, você prometeu! Aliás, quando
nos reencontrarmos, me chame de Ivy apenas, eu
prefiro. Até mais...”
Ele guardou o aparelho e Gerald o olhou
com divertimento.
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— Agora você vai me contar tudinho! —


disse o administrador.
Axel desviou o olhar para fora da janela e
sorriu...

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“... ele havia se surpreendido com a coragem e


a maluquice dela, e também com o prazer que ela
havia lhe proporcionado...”

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Ivana chegou na casa de seu primo e foi


recebida por ele com entusiasmo. Diferente de sua
esposa, Lívia, que apenas lhe deu um sorriso
amarelo e murmurou algumas falsas palavras de
boas-vindas.
— Onde está Beka? — perguntou Ivana,
com um pacotinho de presente nas mãos.
— Com a babá, no jardim de inverno —

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respondeu Lívia.
— Vou até lá — disse a visitante se
encaminhando para os fundos da imensa e luxuosa
casa. Era impressionante como a esposa de Rob
gostava de esbanjar dinheiro, uma típica socialite.
Encontrou a pequena prima brincando com
alguns peixinhos coloridos no laguinho artificial do
jardim que, além de belo e repleto de flores dos
mais variados tipos, ficava protegido do Sol. A
babá estava ao lado, apenas observando-a. A
garotinha tinha um pouco mais de um ano de idade
e era linda. Loirinha de olhos verdes, como o pai,
Rebeka era um doce de criança.
Assim que a menina a viu, abriu um largo
sorriso e se levantou, estendendo-lhe os braços para
ser pega no colo.
— Minha boneca linda! Que saudades! —
exclamou Ivana pegando-a e girando com ela em
seus braços.
Beka gargalhou e a vampira entregou-lhe o
presentinho. A menina rasgou o embrulho animada
e seu sorriso se abriu ainda mais quando viu o
pequeno unicórnio de pelúcia de olhos grandes e
expressivos.
Rob contemplava-as da porta que dava para
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o jardim com satisfação. Ali estavam duas pessoas


que ele realmente amava, sua pequena filha e sua
bela prima que, para ele, era muito mais do que
apenas uma irmã de criação. Sorriu tristemente, era
uma pena que seu destino já havia sido traçado
anos antes de ele descobrir seus sentimentos...
— O almoço será servido em cinco minutos
— avisou Lívia, interrompendo os pensamentos de
Robert. — Chame sua prima, por favor — pediu,
antes de se virar e ir para a sala de jantar.
O rapaz suspirou e caminhou até o jardim.
— Vamos almoçar, Ivy — chamou. — Está
pronto!
Ivana deixou Beka no chão novamente e
prometeu voltar depois do almoço. Suspirando por
saber que agora teria que aturar a falsidade de
Lívia, saiu do jardim acompanhando o primo. Após
passarem no lavabo para higienizar as mãos,
dirigiram-se para a sala de jantar. A mulher já os
esperava com um sorriso estático.
Rob, ao contrário de Ivana, sentia-se
animado. Abriu um vinho assim que se sentaram e
logo as entradas foram servidas. Estava feliz pela
prima finalmente ter aceitado seu convite para
almoçar, e curioso para saber o que houve depois
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daquela conversa que tiveram no laboratório.


— E então, Ivy... Você o encontrou? —
perguntou.
— Está falando de Axel? — Ivana sorriu.
— Sim.
— E...?
— Jantamos juntos — disse ela, ainda com
um sorriso.
Robert estreitou os olhos, ele conhecia a
prima muito bem, conhecia aquele sorriso e não
gostou nada daquilo.
— Conversaram sobre o quê? — quis saber
o médico.
— Negócios, trabalho... — respondeu
Ivana, tentando, sem sucesso, disfarçar o sorriso
que as lembranças traziam.
— E depois? Fizeram o quê? — perguntou
ele com expressão séria.
— Rob! — repreendeu Lívia, olhando-o de
forma significativa. — Por que quer saber tanto
assim dos assuntos particulares de Ivana? Deixe-a
aproveitar a vida em paz.
Ivana sorriu, ela sabia que seu primo não ia
gostar daquilo, mas não ia mentir.
— Depois fomos para casa e passamos a
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noite juntos — respondeu, aparentando


naturalidade.
— Você enlouqueceu?!! — exclamou
Robert, quase se levantando.
A vampira apenas o olhou e sorriu, levando
um pouco de vinho aos lábios.
— Ivana! Isso é sério?! — continuou ele,
indignado. — Como assim passaram a noite juntos?
Como pôde fazer isso?
Lívia olhava para o marido espantada.
— Rob, por que se mete tanto assim na vida
dela? — disse, irritada, a dona da casa. — Qual é o
seu interesse nisso?
Robert a olhou secamente.
— Meu interesse é que essa maluca da
minha prima não se mate! — Voltou-se, então, para
Ivana. — O que fizeram?
Ivana riu.
— Tudo — disse com um olhar malicioso.
— Não está falando sério... — falou Rob
com incredulidade. — Ele é um Warg, você não
poderia... — Ele fez uma pausa. — Ivy, por favor,
não me diga que fez isso só para testar a vacina...
Ela sorriu meio de lado.
— Não sei se a vacina funcionou, mas o
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antídoto, sim — respondeu.


— Teve que tomar o antídoto? — O
pediatra se alterava cada vez mais. — Está louca,
Ivy. Definitivamente!
Lívia agora os olhava sem entender.
— Do que estão falando? Qual é o
problema aqui? O que é um Warg? — quis saber
ela.
— Depois a gente conversa, Lívia —
respondeu Robert. Não estava a fim de dar
explicações à esposa naquele momento. — Você
está bem, Ivana? — perguntou, olhando para a
prima.
— Estou ótima! — Ela sorriu. — Não se
preocupe, Rob. Está tudo bem!
Robert franziu o cenho e não disse mais
nada. Falaria com a prima no hospital depois, com
calma, sem a presença de Lívia.
Ivana ainda ficou um tempo na casa do
primo, brincou mais um pouco com Beka e depois
voltou para o seu apartamento, aliviada pela esposa
do primo tê-la deixado em paz após o almoço e por
Rob ter parado com as perguntas.
Assim que a vampira foi embora, Lívia quis
conversar a sós com o marido, chamando-o para o
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escritório e fechando a porta.


— O que foi aquilo no almoço? — indagou
ela.
— Aquilo o quê?
— Quase deu um escândalo só porque sua
prima saiu com um cara! Não tem vergonha?
— Lívia, pare com isso! Você não sabe de
nada! — retrucou Rob com irritação.
— Ah! Não sei? Você acha que eu não sei!
Na verdade, sei de muito, Sr. Constantin — disse
ela aumentando o tom da voz. — Você está com
ciúmes!
— Como é? — perguntou ele, sem
entender.
— Temos amigos em comum, Robert. Eles
já me contaram, não adianta negar... Conheço as
histórias da sua juventude, sei que já teve um
romance com Ivana, sei que se deitou com ela! Sei
que preferia ter casado com ela e não comigo! —
gritou Lívia, completamente alterada.
Rob fechou o semblante.
— O que eu fiz quando era mais novo não
vem ao caso agora! Éramos jovens e..., sim, tive
um romance com ela, mas isso ficou para trás,
Lívia. Aconteceu há mais de trinta anos!
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— Então vai me dizer que não a ama mais?


— insistiu a vampira.
Ele a olhou de forma ríspida e pensou um
pouco antes de responder.
— Eu não queria entrar nesse assunto com
você, Lívia, porque sei que vou te machucar, mas
não vou mentir para você — disse o médico,
sabendo que suas palavras iriam pesar. — Eu ainda
a amo, sim... E sinto muito por isso. Eu preferia que
fosse diferente, mas eu amo Ivana desde que me
descobri como homem e talvez irei amá-la pelo
resto da minha vida. Contudo, não posso fazer nada
quanto a isso. Nossos caminhos são diferentes e eu
já aceitei o fato...
Ele fez uma pausa, dando um longo suspiro,
e continuou:
— Escute, Lívia, nós estamos casados agora
e eu tenho muito apreço por você, sabe disso!
Aprendi a te amar também, e você me deu Beka,
que é o que tenho de mais precioso. Quanto à
minha prima, não estou com ciúmes dela, é só
preocupação...
A vampira tinha ódio no olhar. Por mais que
ele dissesse que também a amava, ela agora
entendia que nunca seria como Ivana.
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Apesar de saber há muito tempo sobre o


antigo caso deles, Lívia preferiu ignorar que seu
marido ainda pudesse ter esse tipo de sentimento
pela prima. No fim, ela tinha razão em desprezá-la.
Nunca gostara de Ivana, pois sempre teve a
impressão de que ela seria uma sombra em sua
vida, e estava certa...
Depois do casamento, Lívia tentou de tudo
para que Rob só tivesse olhos para ela, mas
aparentemente não tinha dado certo. Ouvir aquela
confissão foi como ter uma faca enfiada no peito e
aquilo a havia deixado possessa. Ah, mas eles
teriam o troco, se teriam... Respirou fundo e voltou
a se concentrar na conversa, agora precisava de
informações.
— E por que tanta preocupação, Rob? Qual
é o problema com esse cara? — perguntou.
— Ele não serve para ela... — respondeu o
médico de mau humor. — Não são compatíveis...
— Como assim? — insistiu Lívia,
suavizando a voz. — Tem a ver com ele ser... como
é o nome mesmo? Um Warg? O que é isso?
Rob a olhou aborrecido. Sua esposa não era
o tipo de pessoa que se interessava por história e
cultura, já devia esperar que ela não saberia o que
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era um Warg. E apesar da preguiça em explicar,


acabou contando sobre Axel e sobre sua natureza
parecida com a dos Lykans.
Lívia espantou-se em um primeiro
momento, não esperava que uma relação assim
pudesse ser possível, e então sorriu, estranhamente
satisfeita.

Quase dois meses após aquele almoço,


Ivana se encontrava compenetrada no laboratório,
examinando uma amostra de sangue, quando
Robert apareceu, surpreendendo-a.
— Ei moça! — disse ele animado. — Ainda
por aqui? Não acha que já está meio tarde?
— Oi Rob! — respondeu ela com um
sorriso fraco. — É... eu estou trabalhando em uma
amostra.
— O que é? — quis saber ele.
— Nada — Ivana se afastou do
microscópio. — Venha, vamos conversar aqui
dentro — disse ela, indo para sua sala. — Minhas
pernas estão doendo de tanto ficar em pé —

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justificou.
O pediatra a olhou com desconfiança,
estava achando Ivana um pouco abatida.
— Ivy, tem se alimentado direito? Tem
tomado o seu sangue? — perguntou.
— Sim, tenho... — respondeu ela, sentando-
se em um pequeno sofá, onde costumava relaxar
quando estava estressada.
— Não me parece bem...
— Só estou cansada, acho que tenho
trabalhado demais... — Ela desviou o olhar para
baixo.
Rob franziu as sobrancelhas.
— Ivy... eu te conheço, o que está
acontecendo? Algum problema aqui no laboratório?
— Não... Não é nada, não se preocupe... —
respondeu a vampira, subitamente sentindo-se
nauseada. — Por que usa esse perfume, Rob? É
enjoativo...
O médico ergueu uma sobrancelha.
— É o meu perfume de sempre... —
afirmou. — Você nunca reclamou dele.
Ivana fez uma careta e se levantou
abruptamente, correndo para o banheiro. Rob a
seguiu preocupado e se espantou ao ver a prima
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vomitando no vaso.
— Ivy... — disse, aproximando-se e
afastando os cabelos da prima do rosto.
A vampira deixou o vaso com uma
expressão exausta e sentou-se no chão, apoiada nos
braços de Robert, estava suando frio. O médico
pegou alguns papéis para ajudá-la a se limpar e
então notou que a prima estava mais quente que o
normal.
— Você está com febre... — comentou ele
mais espantado ainda, vampiros não tinham febre.
Ajudou-a, então, a se levantar e levou-a de
volta para a sala, fazendo-a se sentar novamente no
sofá.
— Não minta para mim, Ivy, por favor... —
pediu ele, sentando-se ao lado dela. — O que está
acontecendo?
A vampira ficou em silêncio por alguns
segundos. Não queria dizer a ele, pois ela mesma
ainda não tinha as respostas, mas sabia que Rob
não desistiria enquanto não soubesse o que a estava
deixando doente.
— Ainda tenho toxinas no meu sangue... —
ela disse.
— Que toxinas? — Ele franziu o cenho.
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— De Axel... Eu... o mordi, ingeri o sangue


dele — confessou ela. — Tomei o antídoto e achei
que estava bem, mas as toxinas teimam em
aparecer no meu corpo... A quantidade delas é
baixa e, por causa disso, tenho tomado doses
fracionadas do antídoto. Elas somem por alguns
dias, mas depois voltam a aparecer...
Robert a olhava pasmo. Um temor invadiu
seu coração e ele passou as mãos no cabelo,
assustado.
— Ah... Ivy... O que você fez? — Ele a
abraçou. — Por que bebeu o sangue dele? O que
estava tentando provar?
— Nada... aconteceu... Eu não consegui me
controlar... — respondeu ela, um pouco
envergonhada.
O vampiro encostou a testa nos cabelos
dela, estreitando ainda mais o abraço. Para Ivana
ter se descontrolado e mordido o Warg, o sexo
devia ter sido muito intenso... Uma dor invadiu o
seu peito e ele não conseguiu identificar se era
ciúme, inveja, medo ou preocupação.
— Sobre as toxinas... Como é possível elas
reaparecerem? — perguntou ele. — São só
proteínas, não são como vírus que se multiplicam...
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— Não sei... Ainda não consegui descobrir


— murmurou ela.
— E os enjoos, apareceram quando?
— Há duas semanas, mais ou menos...
Talvez o antídoto esteja ferrando com meu fígado...
— disse Ivana apreensiva.
— E você ainda não fez os testes para saber
se é o caso? — Robert perguntou sério. — Ivana,
você faz isso o dia inteiro no laboratório...
— Os de sangue eu fiz... — retrucou ela. —
Mas não apareceu nenhuma alteração que indique
problemas hepáticos.
— Algum outro sintoma?
— Cansaço, dores generalizadas e essa
febre..., mas isso é por causa da inflamação
provocada pelas toxinas.
Rob suspirou, preocupado.
— Vamos descer. O Dr. Thompson já foi
embora e a sala dele está desocupada — disse o
pediatra se levantando. — Ele tem um ultrassom lá.
Quero ver como está esse seu fígado por imagem.
Se não der para identificar alterações, vai fazer uma
ressonância, entendido?
Ivana assentiu e se levantou desanimada.
Seria muito ruim se as toxinas ou o antídoto
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estivessem prejudicando seus órgãos, precisava dar


um jeito naquilo, achar uma solução.
Na sala do Dr. Thompson, Ivana deitou-se
na maca e subiu a blusa, enquanto Rob ligava o
ultrassom. Ele jogou um pouco de gel em sua
barriga e começou a passar o aparelho na altura de
seu fígado.
Ivana o observava em silêncio. A face
compenetrada do primo a deixava preocupada.
— Parece normal — disse ele. — Vamos
ver o pâncreas. — O médico jogou mais gel sobre
ela. — Hum... Normal — concluiu, após analisar a
imagem.
Então ele a olhou fixamente por alguns
segundos e jogou gel na parte mais baixa do ventre.
— O que está fazendo? — perguntou Ivana,
estranhando.
Robert não respondeu, apenas continuou
passando o aparelho.
— Não aperte! Faz tempo que não vou ao
banheiro! — disse ela, desconfiada do que o primo
estava procurando.
— Melhor assim... — Ele parou em um
ponto com o cenho franzido. — Em que
especialidade médica você se formou mesmo? —
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perguntou o rapaz sério.


— Você sabe muito bem, Rob... —
respondeu ela aborrecida.
— Sim, eu sei... Então me diga. — Ele
virou o monitor para ela. — De quanto tempo?
Ivana olhou para a tela e seu coração quase
parou. Uma sensação cortante e gelada subiu por
seu estômago, invadindo seu peito e deixando-a
paralisada, com os olhos fixos no que estava vendo.
Já fazia anos que ela não clinicava, mas ela
identificou de imediato o que era aquela área escura
com uma pequena massa branca no canto. Era o seu
útero e aquilo era... um embrião, um embrião de
sete semanas...
Ainda pasma e sentindo-se fora de órbita,
voltou seus olhos para o primo que a encarava de
forma dura. Decepção, reprovação e preocupação
era o que ele transparecia em seu olhar.
A vampira levantou-se sem dizer nada.
Agindo mecanicamente, pegou várias folhas de
papel para se limpar do gel. Não conseguia pensar
em nada, seu olhar permanecia perdido em um
ponto qualquer. Tinha um bebê dentro dela, um
bebê de Axel...
— Ivy... — chamou-lhe Rob. — É dele, não
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é? — Como não obteve resposta, continuou,


indignado: — Como conseguiu fazer isso? Não tem
lógica. Não podemos engravidar nem humanos, se
eles não forem transformados; como pôde
engravidar de um Warg?
Ivana abaixou sua blusa e sentou-se em uma
cadeira, não sabia o que pensar sobre isso.
— Não tenho ideia... — respondeu, ainda
aérea. — Certamente não é algo que tenha
precedentes...
— Pelo menos agora sabemos de onde vêm
as toxinas e o seu enjoo... — Rob fechou o
semblante. — Precisamos fazer algo, Ivy, o quanto
antes, melhor...
A vampira olhou-o interrogativamente.
— Fazer algo? O que está sugerindo, Rob?
— perguntou secamente.
O médico a fitou com dúvida, mas foi firme
ao dizer:
— Não pode manter essa gravidez, você
sabe disso...
Ivana sentiu uma bola subir em sua
garganta, raiva e indignação tomaram conta dela.
— Está dizendo que devo abortar? É sério,
doutor? — Seus olhos crispavam de ira.
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Robert suspirou e desviou o olhar.


— Ivy... pense bem. Se essa coisa, desse
tamanho, já está fazendo você passar mal e ter
febre, o que vai acontecer quando ela crescer dentro
de você? — Ele passou a mão nos cabelos. — Só
estou pensando no seu bem... eu...
— Cale a boca, Rob! — gritou Ivana,
interrompendo-o. — Isso não é uma coisa! É uma
vida, um bebê, o meu bebê. Não me importo com o
que você pensa, não vou fazer isso de novo! Não
vou, entendeu? Não podem me obrigar!
A vampira tinha lágrimas nos olhos.
— Daquela vez não tive escolha, não sabia
o que fazer... — continuou. — Eu era só uma
adolescente, você e o tio eram minha única família
e acabei aceitando a decisão que me impuseram,
por medo, medo de perder vocês! Mas não sou
mais aquela menina! Não vão fazer isso comigo de
novo, não vou permitir! — exclamou colérica.
O vampiro a olhou com uma expressão de
dor.
— Não seja injusta, Ivy. O filho também era
meu e eu também não tive escolha — disse ele,
sentindo uma antiga ferida reabrir.
— Mas você concordou, ficou do lado do
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seu pai — rebateu ela, com lágrimas escorrendo


pelo seu rosto.
Rob suspirou.
— Eu não podia ir contra... Lívia e eu já
estávamos comprometidos desde que éramos
crianças... Eu não podia quebrar a tradição, você
sabe disso!
— Tradição, tradição! É só nisso que vocês
pensam! — enfureceu-se Ivana.
— Tanto as tradições como as regras são
importantes, Ivy! São elas que asseguram a
sobrevivência de nossa espécie. Se você não se
importa com isso, sinto muito..., mas eu me
importo! — disse o vampiro com expressão
endurecida.
— Sim... — Ivana deu um sorriso forçado
— É verdade..., nosso filho colocaria nossa espécie
em risco... — falou sarcástica.
O médico a olhou com tristeza.
— Pensei que já tínhamos superado isso,
você nunca vai me perdoar? — perguntou
angustiado.
Ivana desviou o olhar para as mãos e
inspirou profundamente antes de responder.
— Eu já perdoei, Rob. — Levantou, então,
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os olhos e o fitou demoradamente. — Eu te amava


tanto naquela época, mas depois do que aconteceu
eu entendi o meu lugar... Por muito tempo me senti
traída, humilhada, até que um dia as feridas
finalmente cicatrizaram. Então encontrei outra
pessoa, quebrei meu coração mais uma vez e... —
deu de ombros — segui minha vida, como tinha
que ser.
Ela sorriu tristemente.
— No fim, meu amor por vocês foi maior
do que a mágoa — continuou. — Perdoei você,
perdoei o tio Stefan, mas a verdade é que nunca
consegui me perdoar... Eu não lutei por ele, pelo
bebê, eu não fiz nada... — Ela passou a mão no
rosto para limpar algumas lágrimas. — Não vou
fazer isso de novo... — Levantou-se. — Vou lutar
por essa criança e não há nada que você ou o tio
possam fazer para me convencer do contrário.
— Mas, Ivy... — rebateu o vampiro com o
semblante preocupado. — Você pode morrer, não
percebe isso?
— Não vou morrer... — disse ela, sentindo
o peso das palavras do primo. — Vou dar um
jeito... — afirmou, virando-se e saindo da sala a
passos rápidos sem olhar para trás.
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Ivana não queria mais falar com Rob, não


queria falar com ninguém. Precisava ficar sozinha,
pensar... digerir, assimilar o que estava
acontecendo com ela. O que Axel diria quando
soubesse? Um frio passou pelo seu estômago. E se
ele também não quisesse o bebê?
Inspirou fundo, tentando se acalmar
enquanto retornava à sua sala para pegar suas
coisas. Mesmo que ele também fosse contra, não
desistiria.... Enfrentaria o mundo inteiro se
precisasse, mas aquele bebê iria nascer...

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“Não conseguia pensar em nada, seu olhar


permanecia perdido em um ponto qualquer.
Tinha um bebê dentro dela, um bebê de Axel...”

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Transtornada e com os pensamentos a mil,


Ivana subiu rapidamente para sua sala, pegou sua
bolsa e saiu, dirigindo-se para o estacionamento.
Não saberia dizer como se sentia naquele momento,
apenas queria sair dali; o lugar a estava sufocando.
Entrou em seu carro, mas não o ligou de
imediato. Abaixou a cabeça e de repente tudo o que
estava embolado em sua garganta veio à tona, o

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choro irrompeu abundante e convulsivo.


Sua mente estava confusa e suas emoções
embaralhadas. A mágoa das antigas lembranças se
misturando com a felicidade de estar gerando uma
vida novamente, o medo de morrer ou de não
conseguir levar a gravidez até o fim, a decepção
por saber que seu primo e provavelmente seu tio
não a apoiariam, e a insegurança por não ter ideia
do que Axel pensaria sobre o assunto... Tudo aquilo
a assombrava, a confundia, a entristecia.
Todas aquelas emoções haviam se
convertido em um bolo dentro de si e ela não
conseguiu segurá-las mais. O choro, entrecortado
por soluços, continuou por vários minutos até que
finalmente as lágrimas diminuíram e ela se
acalmou. Respirando fundo, colocou o carro em
movimento.
Seguiu, então, para casa. Precisava pôr a
cabeça em ordem e pensar sobre sua nova
condição, sobre o que poderia ser feito para que
nem ela, nem o bebê ficassem em risco. Afinal, ela
era uma cientista e uma médica. Teria que
encontrar uma solução.

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Robert chegou em casa e foi direto para o


jardim de inverno, onde sua filha gostava de
brincar. Queria ficar sozinho, sentia-se em
frangalhos. Desde que Ivana havia saído daquela
sala de ultrassom, sua mente era um nó e o seu
coração parecia ter sido retalhado em vários
pedaços.
Sentou-se em um banco de ferro e colocou a
cabeça entre as mãos. Toda aquela discussão que
tivera com a prima o fez reviver algo que ele havia
decidido enterrar há muito tempo, por vergonha,
por culpa, por medo de sentir o que estava sentindo
agora... Seu peito parecia estar sendo esmagado,
como se estivesse sendo prensado por um
caminhão. As lembranças do passado pesavam
sobre si mais do que nunca e mais uma vez ele
havia magoado aquela a quem mais amava.
Décadas atrás, quando concordara com o
aborto, ele ainda era muito jovem, tinha apenas
alguns anos a mais do que Ivy e ainda nem havia
começado a cursar medicina. Naquela época, as
tradições e o compromisso firmado com Lívia lhe
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pareceram mais importantes do que sua própria


felicidade. Sim, ele já conhecia seus sentimentos
pela prima, ele a amava.
Era um amor puro, quente, sincero e que
agasalhava a alma, mas que na visão da
comunidade dos Vampyrs, se tratava de um amor
proibido, impróprio, escandaloso. Muitas vezes
foram alertados por seus pais, mas não deram
ouvidos. A proximidade, o convívio, a intimidade e
os anseios da juventude fizeram a relação entre os
primos evoluir naturalmente para o sexo,
infelizmente algo que eles não souberam dosar e
que não podiam ter alimentado, algo que levou seus
corações à ruína.
Os vampiros puros cresciam a vida toda
ouvindo e aprendendo sobre a importância das
obrigações e tradições dos Vampyrs, desde
pequenos eram moldados a segui-las e com ele não
foi diferente. Quando Ivy engravidou e ele se viu
pressionado, deixou-se levar por aquilo que achava
ser o mais correto e o melhor para ambos, para a
família, para todos; puro engano, pura estupidez.
Um sentimento de raiva tomou forma
dentro de si. Raiva de si mesmo, de sua burrice do
passado e do presente, de ter falado aquelas coisas
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para Ivy mais cedo. Ergueu a cabeça e fitou o teto


abobadado. Não podia negar que ainda reconhecia
o peso das tradições e sua importância em manter
sua espécie unida, mas agora compreendia que não
era justo isso interferir tanto em suas vidas, ao
ponto de ter que matar o próprio filho. Uma dor
aguda se cravou em seu coração. Ele tinha feito
mesmo aquilo..., matado seu filho... Ah, merda!
Durante todos aqueles anos, ele havia se
fechado para aquele assunto, fingindo para si
próprio que o que tinha feito era o certo, era o
melhor... Recusou-se a enxergar, a desejar, a sonhar
com algo que nunca teria. Mas a culpa sempre
cobra seus débitos, não é?
Agora, com tudo aquilo voltando à tona,
finalmente estava conseguindo enxergar a barbárie
que tinha feito e as portas da vergonha e da culpa
pareciam ter se escancarado, esmagando-o com o
peso de uma tonelada. Agora ele entendia o
sofrimento de Ivy... E como aquilo doía...
Ah, se ele tivesse tido essa consciência
naquela época... Tudo teria sido diferente. Jamais
teria concordado com o aborto, jamais teria aberto
mão de Ivy e de seu filho. Uma lágrima escorreu
pelo seu rosto. Reconhecia seu erro, sua ignorância,
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sua culpa, mas agora era tarde e, diante de sua


imbecilidade, Ivy parecia odiá-lo novamente.
Em sua ignorância, ele não tinha percebido
como o passado a havia machucado tanto, como ele
a havia machucado tanto. Ah, o passado... maldito
passado... A tensão, a angústia, o fim precoce de
uma vida... Depois daquilo, ele e Ivy se afastaram,
a cumplicidade entre ambos morreu e cada um
seguiu seu caminho. Ele foi para a faculdade e Ivy
arrumou outro namorado. Levou anos para que
voltassem a ter uma amizade sincera, anos em que
ele sentira muita falta dela. E quando finalmente as
feridas cicatrizaram, nenhum dos dois quis
conversar sobre aquilo. Ivy nunca mais tocou no
assunto, como se o houvesse enterrado, exatamente
como ele havia feito.
Contudo, lá estavam eles novamente com
esse fantasma sobre suas cabeças. Ivy estava
grávida, e ele, mais uma vez, tinha feito tudo
errado! Ao invés de apoiá-la, sugeriu o aborto, de
novo... Merda!
Sua cabeça fervilhava de indignação
consigo mesmo. Em seu medo da gravidez estar
colocando a vida da prima em risco, não havia
pensado nos sentimentos dela, ele só queria
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protegê-la. Estava claro que a gestação daquele


bebê era perigosa e que estava fazendo mal a Ivy.
Ele não queria perdê-la, não suportaria. Só de
pensar nisso, seu coração parecia congelar. Mas a
verdade é que não tinha o direito de sugerir o
aborto como solução, não depois de tudo o que já
haviam passado.
Com um suspiro, endireitou-se no banco e
se levantou, havia tomado uma decisão. Por mais
pânico que aquilo lhe causasse, desta vez não a
pressionaria. E se ela escolhesse ter mesmo essa
criança, ele estaria ao lado dela, ele a ajudaria no
que ela precisasse e daria um jeito de convencer o
seu pai a apoiá-la também. Desta vez não pisaria na
bola.

A vampira recebeu uma ligação de seu tio


no dia seguinte. Ela já esperava por aquilo e não se
surpreendeu quando ele pediu para que ela fosse
jantar em sua casa. Concordou, não porque havia
desistido de ter a criança, mas porque queria
esclarecer sua posição de uma vez por todas. Ela

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não iria permitir interferência em suas decisões,


não mais...
Quando Ivana chegou na casa de Stefan,
logo viu, pelo outro carro estacionado, que o seu
primo e a esposa dele também estavam ali. Revirou
os olhos, se eles estavam mesmo decididos a
convencê-la, quebrariam a cara.
Bateu na porta e quem veio atender foi
Stela, sua tia. A mulher que a criou como uma filha
abriu um sorriso franco.
— Boa noite, tia — cumprimentou ela,
entrando na bela mansão.
— Boa noite, minha querida... — respondeu
a esposa de seu tio. — Stefan pediu para você ir até
o escritório. O jantar será servido em meia hora.
— Okay, obrigada. — Ivana sorriu e seguiu
para lá, preparando-se mentalmente para enfrentar
uma batalha.
Entrou na sala espaçosa, que também
funcionava como uma biblioteca, e encontrou todos
já esperando por ela. Sentiu-se entrando em um
tribunal, onde seria julgada por um crime grave.
Segura de si, estufou o peito e ergueu o queixo, não
se curvaria a eles. Em silêncio, dirigiu-se a uma
poltrona vazia e se sentou, observando-os um a um.
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Seu primo mantinha o semblante fechado


com uma expressão preocupada; seu tio Stefan
permanecia sério, com os olhos azuis e duros
pousados sobre ela; Lívia, como sempre, exibia
uma cara de cansaço e desdém; e sua tia, que a
havia acompanhado até a sala, parecia triste e
ansiosa.
— Bom, Ivy... — começou seu tio. — Rob
já nos colocou a par do que está acontecendo e do
que você disse a ele, de suas intenções... Confesso
que estou preocupado, muito... Espero,
sinceramente, que tenha mudado de ideia.
— Tio querido, deixe-me lhes poupar tempo
e saliva. — A voz de Ivana era firme. — Não
mudei de ideia e vocês não irão me convencer do
contrário. Já estou decidida em ter esse bebê e não
permitirei que ninguém interfira, ficou claro?
— Você entende que está arriscando sua
vida? — perguntou Stefan.
— Conheço os riscos e tenho trabalhado
para minimizá-los — justificou ela. — Não é isso
que irá me fazer desistir.
— Não tem vergonha? — indagou
subitamente Lívia. — Você é uma Constantin! O
que acha que as outras famílias irão falar sobre
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isso? Está mesmo disposta a causar esse


constrangimento ao seu tio, ao seu pai, ao Robert?
Por que não pensa em nada além do seu próprio
umbigo? Já não basta ter provocado aquela
confusão na Romênia anos atrás, não pensa na
humilhação que está trazendo para sua família, para
nós? Ter o filho de um... — fez uma careta —
lobo?
Ivana olhou-a assombrada, não acreditava
no que estava ouvindo; sua vontade era de voar
naquele pescocinho fino e estrangulá-la. Rob
enviou à esposa um olhar áspero.
— Lívia! Isso não tem nada a ver com o que
irão pensar de nós. Isso tem a ver com a saúde de
Ivana! — repreendeu ele.
— Por que a protege tanto? Estou cansada
disso, Rob! — alterou-se Lívia. — Não vê que
Ivana é uma mulher egoísta e não dá a mínima para
você, nem para ninguém aqui?
— Lívia, já chega! — interrompeu Stefan,
olhando em seguida para Ivana que se segurava na
poltrona para não dar na cara daquela mulherzinha
nojenta. — Muito bem, se quiser mesmo levar isso
adiante, por favor, nos prometa que vai nos manter
informados sobre sua condição física. Sobre como
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está se sentindo, sobre suas febres, sobre como


pretende resolver isso e sobre as condições deste
bebê. E gostaria que fizesse o pré-natal com o Dr.
Thompson. Você precisará de um acompanhamento
minucioso e ele é o nosso melhor obstetra.
Ivana estudou o tio por alguns segundos,
desconfiada. Ele estava mesmo concordando em
aceitar sua gravidez? Olhou para Rob, e o primo a
encarava com o semblante preocupado, havia
inquietação em seu olhar. Virou-se para Stela e,
sem que esperasse, a tia se aproximou e lhe deu um
abraço.
— Por favor, Ivy... Cuide-se direitinho... —
disse ela com voz preocupada. — Nós te amamos e
só queremos o seu bem. Não se arrisque demais,
me prometa!
A jovem vampira concordou emocionada,
uma sensação de alívio invadiu seu coração e ela
devolveu o abraço carinhoso. Stela era como uma
mãe para ela e sempre a havia apoiado nos
momentos difíceis, mesmo naqueles em que ela
parecia ser a errada, a torta, a rebelde. A tia era a
única que parecia compreendê-la e a única que
sempre lhe abria um sorriso amoroso, independente
do que ela havia feito. Ivana, ali em seus braços,
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finalmente se sentia em casa, querida, amada,


compreendida...
Lívia bufou e saiu da sala, enquanto Robert
se aproximava e colocava a mão em sua testa,
verificando se ainda estava com febre. Ivana riu.
— Estou bem, Rob! Irei continuar tomando
o antídoto fracionado. Se ele não prejudicou o
embrião até agora, significa que não está passando
pela placenta — explicou ela.
— Mas as toxinas do bebê estão passando
para o seu sangue... E se elas aumentarem muito de
quantidade quando ele ficar maior? — perguntou o
pediatra.
— Aumentarei a quantidade ou a frequência
do antídoto... Não sei ainda, é algo que eu preciso
estudar — respondeu a vampira.
— Muito bem, crianças! Vamos para a
outra sala? — falou a tia Stela, tentando animar o
clima. — Vou pedir para servirem o jantar!
Os tios saíram, mas Rob segurou Ivy pela
mão.
— Posso falar com você? — pediu, havia
emoção em sua voz.
Ivana olhou-o um pouco surpresa, ainda
estava chateada com ele, mas concordou.
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— O que quer, Rob?


— Te pedir desculpas, por ontem, pelo que
aconteceu anos atrás, por tudo... Nunca
conversamos sobre esse assunto e eu preciso falar,
Ivy... — Ele pegou a outra mão da prima e a
encarou, seus olhos estavam umedecidos. — Por
favor, me escute.
Ivana engoliu em seco, um aperto surgira
em seu coração. Não sabia ao certo se queria ouvir
o primo, não queria discutir com ele novamente,
mas diante dos olhos suplicantes dele, resolveu
atendê-lo.
— Está bem, estou ouvindo...
Rob puxou-a para o sofá, e com lágrimas
nos olhos, disse tudo que estava em seu coração,
expressou sua dor, seu arrependimento, seu amor...
Ivana ouviu cada palavra sem dizer nada, enquanto
também deixava as lágrimas caírem. Lágrimas que
pareciam lavar toda a sujeira acumulada em anos
de silêncio, lágrimas de dor e de alívio, lágrimas de
felicidade, por ver que finalmente o primo a
compreendia.
Ao final, ela o abraçou e, por algum tempo,
continuou chorando livremente com o rosto
escondido em seu pescoço. Rob a envolvia
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fortemente em seus braços e mantinha o nariz


enterrado em seus cabelos. Tantas coisas não ditas,
tanto tempo perdido. Eles sempre haviam se
orgulhado de serem sinceros um com o outro, só
não haviam sido sinceros sobre suas emoções e isso
custou caro a ambos. Mas o tempo não voltava
atrás e agora havia outras coisas em jogo.
Rob abrira mão de sua felicidade e tinha a
consciência de que não teriam mais chances juntos,
mas lutaria pela felicidade de Ivy sem se importar
com o que aquilo fosse lhe custar.
O resto da noite correu tranquila para os
Constantin. Ivana estava mais alegre e confiante,
com a sensação de que daria tudo certo; agora só
faltava falar com Axel. Cada vez que pensava nesse
assunto, sua ansiedade e nervosismo aumentavam.
Como ele receberia aquela notícia? Ficaria
chocado, indiferente, irritado ou alegre? Alegre,
provavelmente não... Ele definitivamente não
levava jeito de alguém que fica alegre com alguma
coisa.

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Duas semanas após aquele jantar, Ivana


ainda estava hesitante em revelar a Axel sua
gravidez. Nos últimos dias, estivera bastante
ocupada monitorando a taxa de toxinas em seu
sangue e a evolução de sua febre. Fizera alguns
testes e chegara à conclusão de que se tomasse uma
pequena fração do antídoto a cada dois dias ficaria
bem.
Ainda permanecia preocupada com as
possíveis reações da droga no desenvolvimento do
bebê, mas isso não era algo que podia prever; só
podia torcer para que nada de ruim acontecesse
com ele. Segundo o Dr. Thompson, o feto parecia
estar se desenvolvendo normalmente, sem
anomalias, e isso a tranquilizava um pouco.
Naquele início de tarde, a vampira, sentada
em sua sala no laboratório, olhava fixamente para o
seu celular. Havia vários dias que ela fazia a
mesma coisa, sentava-se e ficava olhando para o
telefone, tentando tomar coragem de ligar para
Axel, só que esta nunca vinha, e ela sempre
desistia, dizendo para si mesma que outra hora
ligaria.
O problema é que quanto mais demorava
para resolver esse assunto, mais angustiada ficava.
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Não queria tratar disso por telefone, mas não fazia


ideia de quando ele retornaria para Nova Iorque.
Sabia apenas que os negócios dele com sua amiga
Lola estavam progredindo, no entanto,
aparentemente não havia previsão de quando
fechariam o contrato.
Ivana suspirou e pegou o celular de cima da
mesa para fazer a ligação, tentaria apenas não
aparentar muita expectativa. Abriu seus contatos e
repentinamente teve uma ideia. Sorriu, procurando
o nome de Gerald em sua lista. Falaria com ele e
tentaria descobrir quando Axel estaria de volta à
cidade.
— Alô — atendeu Gerald do outro lado da
linha.
— Oi, Sr. Gerald, aqui é a Ivana, de Nova
Iorque, lembra-se de mim? — disse aparentando
animação para esconder o nervosismo.
— Mas é claro, minha querida... —
respondeu ele com um sorriso. — Não me chame
de senhor, me sinto um velho. Como está?
— Ah, tudo bem. — Ela fez uma pequena
pausa. — Desculpe te incomodar, mas... estou
curiosa. Sei que estão prestes a fechar o contrato do
edifício, então... vocês têm alguma ideia de quando
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virão novamente para cá? — perguntou Ivana


sentindo seu rosto corar.
— Hum... creio que ainda vai levar mais um
mês, pelo menos. Temos um escritório aí cuidando
da papelada para nós; entretanto, parece que faltam
algumas licenças ainda..., mas assim que tiver tudo
resolvido, nós voltaremos para assinar o contrato.
— Ele sorriu, olhando para o rapaz recostado à
cadeira à sua frente. Axel mantinha-se sério e
reflexivo.
— Ah...sim, que ótimo! Espero que
possamos nos ver quando vierem — disse a
vampira sorrindo, porém ansiosa por dentro. Um
mês? Ainda ia demorar um mês...
— Certamente que sim! — falou Gerald,
imaginando que não era bem ele que a garota
queria ver.
Despediram-se e Gerald desligou o telefone
com um sorriso malicioso.
— Alguém está com saudades... —
comentou.

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Em Nova Iorque, Ivana deu um longo


suspiro após encerrar a ligação. Massageou a parte
de trás do pescoço e depois alongou-o, sentia-se
tensa; acabara de adiar um pouco mais o seu
martírio, mas era melhor assim.
Preferia falar com Axel pessoalmente, olho
no olho. E mesmo que a reação dele fosse negativa,
estava determinada a não importância àquilo,
enfrentaria aquela gravidez sozinha se fosse
preciso. O pensamento de ter um bebê fez seu
coração saltitar. Por mais difícil que fosse a
situação, estava feliz. A vampira colocou a mão
sobre seu ventre.
— Vamos passar por isso juntos, e vamos
vencer... — disse baixinho para o minúsculo feto
que crescia em seu útero.

Naquele mesmo dia, algumas horas mais


tarde, Grigore Constantin também recebia uma
ligação em seu castelo na Romênia.
— Você tem certeza do que está falando?
— dizia ele, sob os olhares atentos de Mirela, sua

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esposa. — Como assim? Grávida de quem? Mas


isso não é possível! — Grigore fez uma pausa,
escutando. — E não pretendem fazer nada quanto a
isso? — Escutou mais um pouco. — Entendo...
Agradeço por me manter informado.
O vampiro desligou o telefone possesso.
— Miserável! — exclamou. — Por que ela
não para de tentar jogar nosso nome na lama?!
— O que houve, Grigore? — perguntou
Mirela assustada.
— É Ivana, de novo... Está grávida agora,
sei lá eu de quem, disseram que é um Lykan, ou
algo parecido. Um absurdo total! — Ele andava de
um lado para o outro da sala. — Se ela acha que
pode se safar dessa, está muito enganada!
— O que vai fazer? — perguntou a vampira
com os olhos arregalados.
— Tomarei minhas providências, já que
Stefan e aquele filho dele são uns frouxos! —
vociferou. — Mirela, por favor, me dê licença,
preciso fazer uma ligação.
Mirela saiu da biblioteca apreensiva. Não
entendia a cisma do marido com a filha, mas
compreendia sua preocupação com a reputação da
família, embora não concordasse com ele. Desde
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que Grigore cometera o erro de ter uma amante, um


século atrás, sua imagem havia sofrido enormes
danos.
Ela sabia que ele se arrependia de ter
mandado a mulher com a filha ainda no ventre para
a América, ao invés de ter dado fim àquela
gravidez indesejada ou de tê-la assumido de uma
vez. Ele renegou Ivana por décadas, mas as fofocas
corriam e as cobranças do Conselho o pressionaram
a fazer algo em relação à filha. E ele fez... Tentou
casá-la com um vampiro de uma família
tradicional, mas depois que a garota se recusou a
aceitar o noivado que ele havia arranjado com
Flaviu e fugiu... Tudo havia desandado.
Embora o círculo social dos vampiros não
tivesse conhecimento desse noivado fracassado, as
especulações sobre o sumiço de César e sobre o
envolvimento de Grigore com aquilo chegaram ao
Conselho de Anciãos. No fim, ele se sentiu na
obrigação de contar a eles a verdade, o que o
envergonhou ainda mais.
O marido era orgulhoso e a repreensão que
recebera dos demais integrantes do Conselho, por
não conseguir cuidar de um assunto para eles tão
simples, havia sido um golpe em sua vaidade. E
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Grigore tinha raiva disso, uma raiva que ele


guardava há mais de sete anos e que agora parecia
querer explodir.
Sobre César, ninguém mais soube de coisa
alguma; foi como se ele simplesmente tivesse
virado fumaça. Apesar de algumas desconfianças,
nada também foi descoberto e não haviam provas
para acusar Ivana ou Rob de assassinato. Acabou
que esse assunto caiu no esquecimento, menos para
o senhor do castelo, que ainda não havia engolido a
ofensa.
Mirela, aborrecida, seguiu para seu ateliê de
costura. Já era quase madrugada, mas ela ainda era
uma criatura da noite, não precisava seguir os
horários humanos. “Quem planta vento, colhe
tempestade...”, pensou. Seu marido estava colhendo
suas tempestades agora..., mas não achava justo
para com a garota, Grigore se intrometer assim na
vida dela depois de a ter renegado por tanto tempo.
A vampira pegou uma peça de tecido
cortada e a ajeitou na máquina de costura. Naquele
final de semana, Luca retornaria da universidade
para passar alguns dias no castelo. Conversaria com
ele sobre isso, sua intuição lhe dizia que Grigore
faria algo contra Ivana, e quem sabe o rapaz não
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poderia ajudar a irmã de alguma forma.

Três dias depois, nos bastidores do teatro


em Nova Iorque, uma pequena festa de despedida
acontecia no camarim onde Ivana se arrumava. A
vampira havia informado, alguns dias atrás, que
não poderia mais fazer parte do corpo do
espetáculo, pois precisava cuidar de assuntos
pessoais. Ela não quis entrar em detalhes sobre isso
e seus colegas de palco ficaram chateados, mas
naquele momento estavam todos alegres, era hora
de festejar.
A apresentação tinha sido ótima e Ivana
estava feliz e agradecida pelo pessoal ter comprado
um bolo e trazido vinho, sua bebida preferida. No
entanto, achou melhor não beber e deu a desculpa
de que não andava muito bem do estômago. Mal
tinha cortado o bolo e o assistente de palco chegou
com um lindo buquê de rosas vermelhas.
— Ivy! São para você! — disse alegre.
A vampira arregalou os olhos, nunca havia
recebido flores, normalmente aquilo era privilégio

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da atriz principal. Ela abriu um largo sorriso e


todos em volta exclamaram um “Ohh!” de surpresa.
Ivana riu.
— Ah, gente... obrigada! — disse ela
pegando o cartãozinho que estava junto com as
flores. — Não precisava...
A vampira abriu o cartão e seu coração
quase infartou.
“Parabéns pela apresentação. Estou te
esperando fora do teatro, Axel” — estava escrito.

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“Naquele início de tarde, a vampira, sentada


em sua sala no laboratório, olhava fixamente para
o seu celular.”

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Do lado de fora do teatro, Axel aguardava


inquieto a vampira. Decidira ir para Nova Iorque
assim que Gerald recebeu aquela ligação de Ivana.
Desde que voltara para a Inglaterra sua mente
lhe cutucava com as lembranças da garota. Achava
que, com o tempo, o que acontecera entre eles se
tornaria irrelevante; no entanto, a cada semana
pensava mais e mais nela.

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Às vezes se irritava com aqueles


pensamentos. Não queria admitir que Ivana o atraía
tanto assim, não queria admitir que desejava o
contato físico com ela e que ansiava vê-la
novamente. Contudo, dia após dia, ele passou a
considerar cada vez mais aquela possibilidade. A
necessidade de tocar e de ser tocado, de ser
desejado e satisfazer seus próprios desejos, de ter
um contato mais íntimo, pessoal e carinhoso, de se
entregar sem reservas ao prazer... Essas sensações o
consumiam, e Axel sentia-se dividido entre suas
vontades e sua razão.
Ele não achava que podia amar outra pessoa
como um dia amara Liz, ainda assim, o temor de ter
seu coração preenchido novamente o assustava e o
confundia. A verdade é que ele não sabia o que
queria, não entendia seus sentimentos. Ao mesmo
tempo que queria estar com Ivana novamente, ele
não queria, pois tinha receio de descobrir que o que
sentia não era apenas desejo sexual.
Aqueles pensamentos conflituosos o
perturbavam. Achava que se tivesse que voltar a
Nova Iorque precisaria de um motivo, e chegara a
ficar impaciente com a demora em fechar o
contrato do edifício que estavam adquirindo. Por
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várias vezes, sentira sua cabeça ferver com a


própria indecisão, até Gerald receber aquela
ligação. Saber que a vampira também tinha
interesse em vê-lo havia sido o estopim.
Além disso, lembrara-se de que havia um
outro pretexto para voltar ainda naquela semana.
Há alguns meses, ele havia recebido um convite
para o casamento de um investidor no Canadá. Não
cogitara em momento algum em ir, detestava festas,
mas de repente, aquilo lhe pareceu uma boa
oportunidade de cumprir com sua promessa de
levar Ivana ao Resort. Mesmo que o contrato não
estivesse ainda assinado, o negócio estava
praticamente fechado. Ivana merecia sua comissão
e o casamento seria naquele final de semana.
Encostado em uma pilastra na entrada do
teatro, Axel inspirou o ar fresco do início da
primavera. Estava agitado e ansioso. Ele ainda não
conseguia reconhecer se o que ele sentia pela
vampira era somente atração física ou se havia algo
mais. Balançou a cabeça em negação. Não passava
por sua mente aceitar que outra mulher pudesse
entrar em seu coração. Ele não queria que isso
acontecesse novamente, não queria... já não bastava
a dor que ele havia sentido quando Liz se fora?
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Dez anos! Dez anos já tinham se passado


desde que aquilo havia acontecido e ele ainda se
lembrava da dor, ainda sentia o peito lhe esmagar a
alma, ainda se culpava por tudo... Naquela época,
prometera a si mesmo nunca mais se envolver com
ninguém, contudo, a vampira não lhe saía da
cabeça, e lá estava ele agora, esperando por ela...
— É só atração física, é só sexo... —
murmurava o Warg, como um mantra.
Ivana apareceu na porta do teatro segurando
o buquê de rosas. Ela sorria e, apesar de estar
vestida com um jeans comum e uma blusa simples
de uma manga só, aparentava elegância, como
sempre. Axel se endireitou ao vê-la.
A vampira, sem conseguir tirar o sorriso do
rosto, se aproximou do rapaz. Era surpreendente
vê-lo ali. Ela havia levado um belo susto quando
lera o cartãozinho e, totalmente desorientada, não
sabia se ria, se retirava a maquiagem, se trocava de
roupa, pois ainda estava com o figurino da peça, ou
se comia o bolo que haviam comprado para ela. Por
alguns segundos, se comportou igual a uma barata
tonta, enquanto todos no camarim a olhavam com
curiosidade.
Quando finalmente colocou a cabeça no
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lugar, correu como uma louca para se trocar, se


arrumar e refazer a maquiagem para uma mais leve.
Pediu mil desculpas por não ficar para comemorar
sua despedida, mas não queria deixar Axel
esperando. Tinha receio de que se demorasse
muito, ele poderia pensar que ela não desejava vê-
lo e ir embora. Agradeceu aos colegas, pediu
novamente desculpas e seguiu rapidamente para a
entrada do teatro.
E lá estava ele... lindo, sério e perfeito, o pai
de seu bebê... Seu coração pulou naquele momento.
Em sua cabeça, achava que só o veria em um mês
ou mais... O que ela faria agora? Não tinha se
preparado para revelar-lhe a notícia assim, tão
rápido. Respirou fundo, precisaria encontrar o
momento adequado para falar sobre aquilo. Não
queria despejar a novidade de qualquer jeito, sem
ter qualquer ideia de como seria a reação dele,
talvez precisasse amaciá-lo primeiro.
— Obrigada pelas flores! — agradeceu ao
ficar frente a frente com Axel.
— De nada... — respondeu ele meio sem
jeito, sem saber ao certo o que dizer.
— Achei que só te veria daqui a um mês...
— A vampira ergueu uma sobrancelha.
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— Ah, sim... Acontece que eu tenho um


compromisso no Canadá e... eu queria saber se quer
ir comigo. — Ele fez uma pausa, enquanto a garota
o olhava espantada. — Eu prometi, lembra-se?
— Sim, eu me lembro, claro... — Ela sorriu,
seu coração palpitava. — Eu só não estava
esperando... quer dizer, não assim, tão de repente!
Quando quer ir?
— Reservei duas passagens para amanhã de
manhã. O compromisso que tenho é à noite.
— Amanhã?! — Ivana perguntou, pasma,
com os pensamentos a mil. — Nossa! E que
compromisso é esse?
— Um casamento. E então? Pode ir? —
quis saber o Warg, um pouco ansioso.
Ela refletiu por alguns segundos, havia sido
pega de surpresa e ainda estava um pouco chocada.
— Sim, eu não trabalho neste final de
semana, e depois, se eu precisar de mais alguns
dias, tenho quem me substitua — respondeu,
sentindo cócegas invadirem seu estômago. —
Mas... não entendo... Vocês ainda não fecharam o
contrato. Estou recebendo minha comissão por
antecipação? — Ela riu.
Axel sorriu de lado.
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— Se quiser pensar assim... — disse. —


Está com fome? Quer comer algo? — perguntou,
mudando de assunto.
— Sim, estou morrendo de fome — falou
Ivana, pensando no bolo que havia deixado para
trás e agradecendo mentalmente por seus enjoos já
não serem tão frequentes quando estava de
estômago vazio. Tratou logo de tirar o doce da
cabeça, pois jantar com Axel era mil vezes melhor.
— Tem um restaurante bom aqui perto. Dá para ir a
pé, se quiser...
O Warg concordou e em menos de dez
minutos chegaram ao local. Era um restaurante
pequeno, mas charmoso. Pediram uma carne com
acompanhamentos e Ivana pediu suco.
— Não vai beber vinho? — estranhou Axel.
— Ah... não... estou tentando mudar meus
hábitos. — Ela sorriu. Desde que descobrira a
gravidez, não bebera mais álcool, mas não revelaria
isso a ele, por enquanto.
Axel ergueu uma sobrancelha. Era difícil de
acreditar naquilo, a não ser que ela estivesse
frequentando os Alcóolicos Anônimos... Não... ela
não parecia ser uma viciada em álcool, não
cheirava como uma; viciados exalavam
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constantemente um odor forte e não era o caso dela,


embora já a tivesse visto beber bastante.
Entretanto, curiosamente ele havia notado
uma leve mudança no cheiro da vampira, não era
álcool, era algo que ele não conseguia identificar.
Será que ela continuava fazendo os testes da vacina
nela mesma? Os remédios podiam facilmente
alterar o odor das pessoas, principalmente aqueles
usados com regularidade.
— Como vão suas pesquisas? — perguntou
enquanto o garçom servia as bebidas.
— Estão concluídas — falou a vampira com
um sorriso. — Desisti da vacina, não era eficaz...
Agora estamos vendo a possibilidade de produzir o
antídoto em escala, para distribuir nos hospitais
administrados por Vampyrs.
— É tão comum assim? Ocorrerem mortes
por causa de Lykans?
— Não é comum, mas às vezes acidentes
acontecem...
Axel olhou-a com curiosidade.
— Como vocês, vampiros, sabem se estão
diante de um Lykan em uma festa ou balada, por
exemplo? Como sabem que não podem chegar
perto? — quis saber.
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Ivana riu.
— Isso é um segredo nosso... — Ela
estudou-o com um olhar divertido. — É uma
daquelas regras que pretendem assegurar nossa
sobrevivência, mas se prometer não espalhar isso
por aí, eu conto.
Ele assentiu.
— Não é muito fácil, mas podemos
diferenciar os Lykans pelo cheiro do sangue fresco.
Se houver um corte na pele fica mais fácil. O
sangue dos humanos tem algo que nos atrai como
formigas no açúcar, o que não acontece com os
Lykans.
— E como podem ser médicos? —
perguntou espantado. — Vocês vivem cercados de
sangue.
— Ah... muito treino e autocontrole. — Ela
gargalhou.
O garçom chegou com os pratos e os serviu.
Ficaram por algum tempo em silêncio, apenas se
entreolhando, e somente quando ele foi embora,
Axel comentou:
— Aquele vampiro que foi atrás de você na
minha cabana. Ele ficou meio confuso depois que
me mordeu, mas aparentemente não reconheceu o
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meu sangue, pois ele deu umas boas sugadas. —


Axel passou a mão no pescoço, incomodado com a
lembrança.
— É... percebi, acho que ele estava furioso
demais para perceber a diferença entre o seu sangue
e o de um humano, porque na verdade o gosto não
muda muito. — Ela sorriu, lembrando-se do gosto
do sangue dele, até que era bom... — Vai ver ele se
empolgou achando que ia te derrubar, depois ficou
confuso porque não te derrubou.
A vampira riu e deu de ombros.
— Vai saber... — disse ela, bebendo um
pouco do suco. — Enfim, se não podemos fazer um
corte na pessoa à nossa frente, ainda podemos
reconhecer os Lykans por duas características
físicas, que se estiverem sozinhas não significam
nada, mas em conjunto já é motivo para nos
afastarmos.
Axel arqueou as sobrancelhas, curioso.
— Primeiro — continuou Ivana. — Lykans
possuem alguns pelos um pouco maiores do que o
normal dentro da orelha, na entrada do canal
auditivo; três pelos, para ser mais exata. Segundo:
os caninos inferiores são pontiagudos, sempre.
— Mas vocês não precisariam chegar muito
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perto para reparar nessas características? —


perguntou o Warg.
— Sim, mas isso não é problema... Nada
que algumas palavras sussurradas ao pé do ouvido
não resolvam. — Ela piscou com um sorriso
maroto. — E os dentes são fáceis de observar. Os
acidentes normalmente acontecem quando os
vampiros bebem demais e saem beijando qualquer
um sem se precaver, ou quando os Lykans, por
vaidade, resolvem arrancar os pelos das orelhas...
— Ela riu.
Axel franziu o cenho e ficou em silêncio.
Ivana olhou-o curiosa, o rapaz parecia perturbado.
— No que está pensando? — ela quis saber.
— Hum... eu tenho pelos na orelha?
A vampira gargalhou.
— Não, Axel... Nem pelos, nem dentes
pontiagudos. Você é um perigo para as vampiras...
— Os olhos dela brilharam sedutoramente,
fazendo-o desviar o olhar, desconcertado.
Continuaram jantando e a conversa passou a
girar em torno dos negócios de Axel, sobre o prédio
que estava adquirindo e outros empreendimentos.
Após algum tempo, ele franziu as sobrancelhas e
tornou a mudar de assunto.
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— Tenho uma outra pergunta... — falou


Axel, voltando a encará-la. Ainda estava cismado
com a mudança no odor da vampira e outra teoria
havia se formado em sua mente. Ele conhecia o
cheiro das humanas quando elas estavam no
período fértil, mas não conhecia o das vampiras. —
As vampiras engravidam como as humanas?
Ivana sentiu seu estômago dar uma
cambalhota e a cor lhe deixar o rosto. Por que ele
tinha feito aquela pergunta? Ele estaria
desconfiado? Ele saberia? Ela não conhecia as
habilidades dos Wargs. Será que ele pressentira de
alguma forma a sua gravidez?
Sem perceber, ela externou sua preocupação
no semblante, mas só se deu conta disso quando viu
Axel estreitar levemente os olhos, como se
desconfiasse de algo.
— Não somos como as humanas —
apressou-se em responder. — Não ovulamos todo
mês, não temos um período fértil regular, não
menstruamos...
— E como fazem para ter filhos?
A vampira pegou um pouco do suco para
tomar, sua garganta estava seca e o coração parecia
querer lhe saltar pela boca.
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— Como todo mundo... transando.


Ela riu, mas foi um riso nervoso que logo
morreu, diante da expressão séria do rapaz. Então
suspirou e escolheu as palavras para continuar.
— Para uma vampira engravidar, é preciso
que uma série de fatores ocorram juntos:
compatibilidade — algo que ela nunca imaginaria
que pudesse haver entre os dois —, transformação,
ingestão de sangue e sorte, ou melhor... tesão. A
ovulação só ocorre durante o orgasmo, e ele precisa
ser intenso o suficiente para estimular a liberação
do óvulo... — explicou, lembrando-se da própria
experiência.
Ivana fitou o Warg, procurando algum sinal
de desconfiança em relação ao seu estado, mas ele
estava apenas reflexivo. Ficou na dúvida se aquele
era um bom momento para revelar-lhe sobre a
gravidez. Mordeu, então, o lábio inferior, respirou
fundo e preparou-se para falar, mas subitamente o
celular de Axel tocou.
— Oi, Ellen... Sim, pode confirmar o voo.
Obrigado — disse ele ao telefone; em seguida
voltou-se para a vampira. — Vamos? Daqui a
pouco vão nos expulsar daqui, somos os últimos
clientes.
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Ivana olhou ao redor. Era verdade, estivera


tão focada na conversa que nem havia reparado...
Ela sorriu, concordando.
— Quem é Ellen? — quis saber ao saírem
do restaurante.
— A secretária da empresa — respondeu
Axel chamando um táxi que passava.
Assim que entraram no carro, o motorista
ficou aguardando o endereço. Axel olhou para
Ivana, indeciso.
— Para onde quer ir? — perguntou ele.
— Para minha casa, eu preciso
urgentemente tomar um banho... Tudo bem?
O Warg concordou e ela se virou, então,
para o motorista e deu-lhe o endereço. Ao
chegarem na porta do prédio, Ivana desceu do táxi
e Axel saiu atrás, mas ao invés de segui-la, ele
permaneceu ao lado do carro.
— O que foi? — indagou ela, sem entender
por que ele havia parado.
— Você quer que eu suba? — ele
perguntou, hesitante.
A vampira arqueou as sobrancelhas.
— Claro que eu quero, você ainda tem
dúvidas? — Ela sorriu meio de lado.
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Axel não respondeu. Virou-se para pagar o


motorista e dispensou-o. Sim... ele tinha dúvidas,
ele estava cheio de dúvidas. Que tipo de relação era
aquela que estava se desenhando entre eles? O que
ela esperava dele? E o que ele queria com ela,
afinal? “Sexo, é só sexo...”, pensou consigo mesmo.
Entraram no apartamento e Ivana foi direto
para o quarto, pedindo para que ele não a seguisse.
Axel achou aquilo curioso, mas não se importou.
Ficou na sala repetindo seu mantra, enquanto
pensava nas coisas que Ivana havia dito durante o
jantar. Vampiras não tinham um período fértil,
então não era essa a causa da mudança do odor
dela... Certamente, aquilo não devia ser nada
demais, mas não lhe parecia normal e não
conseguia deixar de pensar nas possibilidades.
Talvez ela estivesse saindo com outro cara e
ainda apresentasse os resquícios do cheiro dele... O
Warg fechou o semblante, não havia gostado muito
daquela ideia. Balançou a cabeça negativamente e
resolveu fazer um café, não adiantava ficar
especulando, depois tentaria sondá-la sobre isso.
Ivana seguiu para o banheiro a fim de tomar
uma ducha rápida. Quase havia conseguido falar
com ele sobre a gravidez, mas a chance acabou
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minguando e, pensando melhor, se eles iriam passar


o final de semana juntos, certamente haveria uma
oportunidade mais adequada para fazer isso. Sorriu,
mal conseguia acreditar que Axel estava ali
novamente, seu coração saltitava de felicidade.
O Warg preparou o café, se serviu e foi até
a janela, permanecendo em pé com uma xícara nas
mãos e olhando calmamente para o movimento da
rua. Por dentro, contudo, permanecia inquieto. Ele
ainda se perguntava por que estava ali, por que
queria tanto voltar para vê-la, por que ela mexia
tanto com ele...? Sexo? Ele nunca havia ligado
muito para sexo, por que ela o instigava tanto?
Algo pareceu rodopiar em seu estômago.
Ansiedade... Não estava acostumado com aquele
tipo de emoção.
Depositou a xícara vazia sobre a mesinha de
centro e voltou a olhar pela janela, não demorou
muito para ele sentir o cheiro dela entrando na sala.
Virou-se e abriu a boca, pasmo. A vampira vestia
um corpete de renda branca e uma minúscula
calcinha também de renda. Os bicos rosados dos
seios e seus escuros pelos pubianos ficavam
evidentes por baixo do tecido, deixando-o
maravilhado com aquela visão.
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Seus olhos passaram por cada curva do


corpo de Ivana e de imediato ele sentiu seu próprio
corpo reagir, o sangue em suas veias pulsou mais
quente e mais rápido, concentrando-se em seu sexo
e fazendo-o desejá-la com uma intensidade
absurda. Ela era linda e deliciosa, e a necessidade
de beijá-la, tocá-la, senti-la, cresceu dentro de si
com uma velocidade arrebatadora. Seus
pensamentos caminharam apenas para uma única
direção: precisava tê-la com urgência, e as dúvidas
que ele tinha sobre o que estava fazendo ali
desfizeram-se como fumaça.
A vampira se aproximou com um meio
sorriso. O rapaz à sua frente parecia paralisado ao
vê-la, sentiu os olhos dele percorrerem seu corpo e,
naquele instante, soube que ele a desejava tanto
quanto ela o desejava. Por dois meses, ansiou por
aquele momento. Por dois meses ficou insegura em
não saber se ele voltaria a procurá-la. E lá estava
ele agora, fantástico, olhando-a como um predador.
Mas ela não se sentia como uma presa, ela era uma
predadora tanto quanto ele, e gostava daquilo. Ah,
aqueles olhos dourados... Faziam-na derreter como
geleia, ao mesmo tempo que despertavam um
vulcão dentro de si.
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Enlaçou-o pelo pescoço sentindo seu sexo


arder em brasa. Seus olhos se encontraram,
fogosos. Colou, então, seu corpo no dele,
pressionando-se contra o seu membro. Excitada,
pôde senti-lo duro através da calça e aquilo a fez
umedecer ainda mais.
Axel a segurou pela cintura e sorriu, então
inclinou a cabeça e a beijou avidamente,
procurando a língua de Ivana com a sua,
acariciando-a, sugando-a, mordendo levemente
seus lábios e voltando a introduzi-la dentro da boca
da garota. Deslizou suas mãos pelas nádegas da
vampira, apertando-a mais contra si, contra o seu
membro que pulsava com aquele contato, e o
desejo de se enterrar dentro dela veio intenso.
Com os instintos inflamados, desceu a mão
mais um pouco e a tocou por dentro da calcinha,
arrancando-lhe um gemido suave. Seus dedos
escorregaram pela vulva e para dentro dela,
fazendo-a soltar outro gemido. Aquilo o
enlouquecia...
Ivana derretia-se nas mãos dele, sentindo-o
deslizar por sua intimidade em movimentos suaves,
precisos e deliciosos. Ela não sabia se era pelo
desejo pelo proibido, pelo perigo que o Warg
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representava ou pelo mistério que o envolvia, mas


ela ansiava por ele de uma forma que nunca acharia
que fosse possível.
O que considerava, meses atrás, ser só uma
brincadeira sexual e ardente, estava se
transformando em uma necessidade real e em uma
fome de sexo inimaginável. E ela não fazia a menor
ideia de como iria lidar com aquilo depois, ou
como ficaria a relação entre eles quando contasse
sobre sua gravidez.
Naquele momento, ela não pensava em
nada. Apenas queria tê-lo para si, desfrutar de sua
companhia e do prazer que ele lhe proporcionava.
Ah... e que prazer... Ele afundou o dedo em seu
interior e começou a movimentá-lo agilmente,
estimulando-a por dentro em um ponto que
arrancou vários gemidos seus. Deuses, o que era
aquilo? Agarrou-se ao pescoço dele quase gritando,
enquanto recebia pequenas mordidas em seu
próprio pescoço. Ela queria gozar e precisava dele,
do pau dele dentro dela, e era agora.
Com a respiração ofegante e um olhar
inflamado, fez um esforço para afastar-se um pouco
do rapaz e se sentou no braço do sofá, cruzando as
pernas. Seu ponto de prazer pulsava, e até aquele
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movimento simples parecia estimulá-la.


— Tire suas roupas — disse olhando-o
maliciosamente.
Axel a encarou com fogo e luxúria nos
olhos, e então começou a se despir, enquanto a
vampira o observava atentamente. Assim que ele
tirou sua última peça, Ivana demorou o olhar em
sua ereção e sorriu, em seguida se levantou,
caminhou sensualmente até ficar atrás do sofá e
parou. Como se o devorasse com os olhos, ela
analisou-o de alto a baixo, fazendo-o ficar ainda
mais excitado.
Sem se conter, ele passou levemente a mão
sobre o seu membro duro, acariciando-o, como se
lhe dissesse que logo seria saciado, e então se
aproximou da vampira. Em um movimento rápido e
brusco, puxou-a para si e beijou-a novamente, desta
vez com mais urgência e ferocidade. Ansioso por
possuí-la, tentou livrá-la da lingerie, mas ela
segurou as suas mãos e, com um sorriso maroto,
virou-se de costas para ele, debruçando-se sobre o
encosto do sofá.
— Agora pode tirar minha calcinha... Quero
que me foda com vontade, Axel! — falou,
arrebitando a bunda em sua direção. Sim... ela
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queria que ele a possuísse com mesma intensidade


que ela o desejava, com furor, com arrebatamento,
com loucura.
O sangue do Warg se inflamou diante
daquelas palavras e daquela visão exuberante.
Inclinou-se, então, sobre o corpo dela e mordiscou
sua orelha.
— Não serei delicado... — sussurrou.
— Não quero que seja. — Ivana fechou os
olhos com a expectativa, um frio gostoso subiu por
seu estômago e ela mordeu os lábios.
Axel se ergueu e passou as mãos pelas
costas de Ivana, por suas curvas e por suas nádegas,
deliciando-se com aquilo, e num movimento
preciso, puxou e arrancou-lhe a calcinha. Segurou-
a, então pelo quadril e a penetrou de forma rápida e
profunda. A vampira gemeu alto; ela estava
molhada e escorregadia, e ele começou a estocá-la,
segurando-a firmemente. Ah... seu pau agradecia.
Como aquilo era maravilhoso, o calor, a
compressão que ela fazia, a umidade, o cheiro que
ela exalava. Ele queria se afundar cada vez mais
naquela cavidade apertada.
Ivana recebia-o dentro dela em êxtase, cada
estocada era uma sensação maravilhosa,
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enlouquecedora, sua mente desejava por mais, seu


corpo pedia por mais. Sabia que a qualquer
momento poderia perder o controle novamente,
mas não se importava, nada importava ali.
— Mais forte... — pediu ela entre gemidos.
Axel aumentou o ritmo e a profundidade
das estocadas. Aquela mulher o levava à loucura,
sua mente, já nublada, só queria atingir o prazer;
entrava e saía dela com selvageria e ela parecia
querer mais.
A vampira olhou-o por cima do ombro, seus
olhos já estavam violáceos.
— Mais... quero mais, quero tudo... —
Sorriu. — Quero você por inteiro. Mete com força,
Axel! Me mostre seu lado animal, agora!
O Warg foi à insanidade com aquele
pedido. Rapidamente ele perdeu a noção de si e a
fina linha que separava sua racionalidade de seu
lado lobo se partiu.
Ivana, tomada de excitação naquele
turbulento frenesi sexual, voltou seu rosto para
frente e logo sentiu algo mudar em suas costas.
Pelos roçaram em sua pele e um peso maior recaiu
sobre seu corpo. Ela sentiu a respiração quente e
pesada do lobo em sua nuca e o poderoso membro
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dele a invadir, mais grosso, maior e mais


escorregadio. Segurou-se no sofá e fechou os olhos,
extasiada, ela havia pedido por aquilo...
Quando se transformava por vontade
própria, Axel ainda mantinha o domínio de sua
mente, mas aquilo era algo totalmente diferente, era
como se seus instintos mais primitivos assumissem
o controle, tirando sua capacidade de raciocinar.
Agora somente o desejo o dominava. Com as patas
encaixadas ao lado da cintura da vampira, ele a
mantinha presa e a estocava freneticamente.
Ivana gemia sem parar, enlouquecida. Ele
era grande, mas escorregava dentro dela com
facilidade, preenchendo-a totalmente e lhe
proporcionando sensações únicas. A vampira se
segurava onde podia. O movimento de seu corpo,
balançando e se esfregando contra o sofá,
estimulava-a em seu ponto mais sensível e ela logo
sentiu a onda de prazer chegar. Era tudo tão intenso
que sua transformação se completou, ela ia gozar.
Pegou, então, uma almofada e a mordeu, soltando
um grito abafado, enquanto o Warg, com um urro
gutural, inundava-a com seu esperma quente e
abundante.
Ainda sobre ela, Axel não demorou a voltar
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à sua forma humana. Ofegante, encostou a testa em


suas costas, depositou-lhe um beijo na pele e então
saiu de dentro dela, erguendo-se lentamente. Ainda
atordoado com a experiência inédita, afastou-se e
apoiou-se no balcão que separava a sala da cozinha.
Sua mente voltava aos poucos e ele olhou para a
vampira, meio confuso, meio preocupado, sem
saber como ela estava.
Ivana se ergueu do encosto do sofá com
dificuldade, virou-se, então, para ele e encarou-o.
Ela tinha um sorriso no rosto. Estava suada,
exausta, com as pernas bambas e com o gozo de
Axel lhe escorrendo pelas coxas, mas sentia-se
deliciada e satisfeita. Como podia fazer tantas
loucuras assim com ele?
— Acho que preciso de outro banho... —
disse ela com um ar divertido.
— Você é maluca... — respondeu Axel,
desencostando-se do balcão e se aproximando dela.
Então a abraçou e enterrou o nariz em seus cabelos.
— Eu podia ter te machucado...
— Mas não machucou — Ela levantou um
pouco o rosto e fitou-o com carinho. — Você é
sensacional... e isso foi absolutamente
inesquecível! — Então sorriu e se afastou. — Vou
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tomar um banho..., me espere na cama — disse


piscando e indo para o quarto.
Axel sorriu, pelo visto, aquela noite seria
longa...

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“Rapidamente ele perdeu a noção de si e a


fina linha que separava sua racionalidade de seu
lado lobo se partiu.”

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Era manhã de sábado na Romênia e o castelo


dos Constantin estava agitado. Luca, desde que
começara seu curso de medicina, voltava a cada
dois meses para casa a fim de passar o fim de
semana. E sempre que retornava, os funcionários
do castelo faziam festa, principalmente Anna, a
cozinheira, que adorava preparar tortas e
guloseimas para o caçula da família.

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O jovem vampiro era adorado por todos ali


e na vila. Sempre fora um garoto animado,
inteligente e agradável. Com uma personalidade
muito diferente de seu pai, respeitava e tratava a
todos bem, não importava quem fossem e, por isso,
havia uma fila de adolescentes, filhos de vampiros
transformados, aguardando ansiosamente o dia que
ele finalmente poderia assumir uma cerimônia de
batismo, o que aconteceria apenas quando
completasse 25 anos.
Filhos de transformados nasciam humanos e
estéreis, no entanto, os jovens aldeões, entre os 15 e
os 18 anos, podiam escolher entre se converterem
em vampiros ou saírem da vila. Assim, uma vez ao
ano, aqueles que optavam por desistir de sua
condição humana eram convertidos nesta cerimônia
e se tornavam transformados também. E caso
decidissem ir embora como humanos, poderiam
viver suas vidas normalmente, porém nunca teriam
filhos e, como condição inquestionável e absoluta,
jamais poderiam revelar qualquer informação sobre
os Vampyrs. O que raramente acontecia, pois se
alguém infringisse tal regra e fosse descoberto, a
Força de Contenção era acionada, e isso seria o fim
para ele.
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Os jovens que escolhiam passar pelo


batismo deixavam de ser estéreis e poderiam
constituir família com outro transformado. Além
disso, para estes, o seu lugar e meio de sustento
estavam garantidos. Eles poderiam permanecer na
vila e trabalhar nos campos ou no castelo, ou serem
enviados para fora, a fim de fazerem faculdade e
trabalharem para os vampiros nos mais diversos
campos de atuação.
Normalmente, os filhos de transformados
optavam pelo batismo por considerarem mais
vantajoso. Na verdade, eles se orgulhavam disso,
de constituírem uma espécie com identidade
própria, mesmo que ainda dependessem dos
vampiros puros para perpetuarem sua existência.
O batismo acontecia, por tradição, durante o
solstício de inverno e era muito esperado pelos
habitantes da vila. Durante a cerimônia, um
vampiro puro oferecia seu sangue para o jovem
beber, então os mordia e tirava-lhes a vida humana,
fazendo-os reviverem para uma nova existência
como transformados. Normalmente era Grigore ou
Victor, seu filho mais velho, que comandavam os
ritos e apadrinhavam os filhos dos transformados,
mas a verdade é que muitos aldeões desejavam que
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Luca assumisse esse papel.


O rapaz havia chegado no castelo naquela
madrugada e Mirela também estava animada com
isso, sentia falta da companhia do filho, com quem
conseguia manter longas conversas, ao contrário de
seu marido, que quase não lhe dava atenção. De
braços dados, ambos caminhavam juntos pelo
castelo. Mirela sorria e contava as fofocas da vila,
enquanto Luca falava sobre a faculdade.
Ao passarem pela biblioteca, esbarraram
com um homem saindo de lá. Era um vampiro de
meia idade, provavelmente com uns 200 ou 250
anos. De cabelos pretos e olhos cortantes, sua
carranca demonstrava hostilidade; e mal os
cumprimentou ao passar por eles.
A vampira sentiu um arrepio lhe percorrer a
espinha, conhecia-o e não gostou de tê-lo visto ali.
Aquele vampiro era nada menos que Ovídiu, um
mercenário conhecido por seus métodos cruéis e
nada ortodoxos. Ele era o irmão mais velho de
César, o ex-capitão da Força de Contenção que
havia sumido dez anos atrás enquanto procurava
por Ivana. O vampiro também já havia feito parte
da Força de Contenção, mas devido aos seus atos
tirânicos, tinha sido expulso da guarda e passado a
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viver de serviços sujos e bárbaros.


Mirela pressentiu o motivo de o ter
encontrado ali e imediatamente puxou Luca,
conduzindo-o para seu ateliê. Ainda não havia
contado a ele a respeito de Ivana, aquela era a hora.
— Venha comigo! — disse ela.
A vampira rapidamente falou sobre o
telefonema que Grigore havia recebido e sobre a
reação dele, externando sua preocupação com a
presença do mercenário a pouco no castelo.
— Você acha que o pai vai mandar esse
cara atrás de Ivana, mãe? — perguntou Luca
apreensivo.
— É uma possibilidade... Grigore está
furioso com sua irmã...
— Por que ele não a deixa em paz de uma
vez? — irritou-se o rapaz.
— Você conhece seu pai, Luca. Ele não
quer ver o nome da família em outro escândalo.
— Se o nome da nossa família um dia foi
alvo de escândalo, a culpa é toda dele! E se ele
tivesse assumido as consequências na época, talvez
isso não estivesse acontecendo, talvez Ivy pudesse
estar aqui, morando conosco e, quem sabe, vivendo
de acordo com as tão preciosas regras e tradições!
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— exclamou com ironia.


Mirela abaixou a cabeça, um pouco
constrangida.
— Ah, desculpe, mãe... — disse Luca,
percebendo o mal estar da matriarca.
— Não, tudo bem... Você está certo... —
respondeu ela. — Se Grigore tivesse mantido Ivana
aqui, tudo poderia ter sido diferente. Reconheço
que também tenho culpa nisso. Quando eu descobri
a traição de seu pai há meio século, fiquei furiosa e
exigi que ele desse um jeito na situação. Durante
muito tempo, coloquei um véu nessa história e quis
me esquecer disso tudo, mas hoje percebo que agi
mal. Ivana devia ter crescido aqui, junto da
família...
Luca suspirou.
— Meu pai não tem o direito de se meter na
vida dela agora... — Virou-se, então, para Mirela
com uma ruga entre os olhos. — Você disse que o
pai do bebê é um Lykan?
— Sim... ou algo parecido. Não entendi isso
muito bem...
O rapaz ergueu uma sobrancelha. Aquilo
era bizarro, não era normal... Seria verdade? Enfim,
o único ser que poderia ser parecido com um
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Lykan, seria um Warg, e ele só conhecia um.


Aquilo o deixou com uma pulga atrás da orelha.
Olhou, então, no relógio de pulso, passava
um pouco das 9 h. A diferença de fuso com Nova
Iorque era de 7 horas, portanto ainda era
madrugada lá. Não incomodaria a irmã naquele
horário, ligaria para ela mais tarde. No momento,
precisava comer alguma coisa e dormir, pois desde
que chegara ainda não havia descansado e já estava
acordado há mais de 24 horas.

Em Nova Iorque, o dia estava clareando


quando Ivana acordou. Apesar do sexo intenso da
noite anterior, a ansiedade não deixou que a
vampira tivesse um sono tranquilo. Deu uma
olhada no relógio de cabeceira e depois se voltou
para o rapaz ao seu lado, Axel dormia com um
semblante relaxado e calmo. Sorriu e permaneceu
observando-o por um tempo.
Lembrou-se, então, do que acontecera horas
antes na sala e um friozinho gostoso tomou conta
de seu estômago. Ele a havia possuído como um

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lobo, um lobo... Jamais em sua vida teria imaginado


que um dia participaria de tal ato de luxúria e, no
fim, não só o fizera, como ela mesma havia pedido
por aquilo. E tudo havia sido absurdamente
excitante.
Ivana mordeu o lábio sorrindo. Em algumas
horas pegariam um voo para o Canadá, conheceria
o Resort de Axel e passariam um fim de semana
inteiro juntos. Outro friozinho invadiu seu
estômago, mas esse era de ansiedade. Ela teria que
contar a ele sobre a gravidez, mas estava
preocupada com a reação do Warg. A verdade é
que ela pouco sabia sobre ele, e o que sabia era
superficial, apenas alguns fragmentos de sua vida
ou de quem ele era. Precisava aproveitar aquele
tempo para conhecê-lo melhor e depois se sentaria
com ele para conversar...
Axel acordou alguns minutos depois. Ele
tinha o sono leve e percebera a vampira se
mexendo na cama. Tomaram o café juntos e Ivana
foi arrumar suas coisas para a viagem. Levaria uma
mala pequena com poucas mudas de roupa,
maquiagem, o vestido para o casamento e
acessórios, pegou também um frasco de antídoto.
Apesar de já ter tomado um pouco na noite
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passada, sua gravidez exigia cuidados e precisaria


tomar outra fração em dois dias.
Depois de passarem no hotel para pegar a
mala de Axel, foram para o aeroporto. O voo durou
4h30, dos quais metade o rapaz passou lendo e
outra metade cochilando. Ivana, ao perceber que
seu acompanhante não estava animado para uma
conversa, preferiu ver alguns filmes.
Do aeroporto canadense, ainda pegaram um
carro, percorrendo mais 1h30 de estrada. Desta vez
Axel estava mais acessível e ela conseguiu engatar
uma conversa sobre como ele havia construído sua
fortuna e conhecido Gerald, mas ao tentar puxar o
assunto para a questão da família, ele fechou o
semblante e disse apenas que não dava a mínima
para o que poderia ter acontecido com a sua, e que
nunca criara aquele tipo de vínculo com ninguém.
A vampira suspirou, não seria fácil sondá-lo
sobre isso. A atitude reservada que ele assumiu só
por ter tocado no assunto “família” a deixou ainda
mais insegura. Cada vez mais, achava que ele não
reagiria bem à notícia de ser pai. Angustiada,
encostou a cabeça no vidro do carro e fechou os
olhos. Por que aquilo estava sendo tão difícil?
Sempre se orgulhara de ser uma pessoa decidida e
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corajosa, mas diante daquelas circunstâncias sentia-


se como uma fracote. Talvez fosse porque ela
temesse a rejeição, pois, no fundo, ela desejava
intensamente que ele aceitasse aquele bebê. A
incerteza a travava...
O tempo de viagem foi longo, mas valeu a
pena. O Resort ficava encravado nas Montanhas
Rochosas do Canadá e parecia um daqueles lugares
saídos de cartões postais. Lindo e charmoso, o hotel
era rodeado de uma paisagem deslumbrante à beira
de um lago de águas azuis-esverdeadas.
Ivana ficou encantada com o que estava
vendo, mas não teve muito tempo para conhecer o
lugar. O casamento seria em poucas horas e ela
precisava se arrumar.
Axel havia pedido para reservar uma das
suítes másters e ela era realmente máster. A
vampira nunca havia entrado em um quarto tão
luxuoso e esplêndido. Era quase um apartamento,
decorado magnificamente em tons dourados e
branco, e o banheiro era praticamente do tamanho
do seu quarto em Nova Iorque.
— Não acha isso um exagero? — ela
perguntou rindo, enquanto examinava o lugar.
Axel deu de ombros. A suíte estava
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disponível e ele, como dono do hotel, tinha o total


direito de usá-la. Para ele não fazia tanta diferença,
mas queria proporcionar à Ivana uma experiência
agradável.
— Vai precisar de ajuda para se arrumar?
— perguntou ele. — Cabelereiro, ou algo assim?
— Não — Ivana sorriu. — Eu dou conta,
são 50 anos de experiência. — Ela piscou.
O Warg inclinou levemente a cabeça para o
lado, estudando-a dos pés à cabeça.
— Havia me esquecido de como você é
velha. Até que está conservada... — disse sério.
Ivana arregalou os olhos e pegou uma das
almofadas da cama, arremessando-a nele.
— Olha só quem fala! Seu matusalém de
200 anos! — Pegou outra almofada e jogou
também.
Ele se defendeu do ataque e sorriu,
aproximando-se dela e a abraçando. A vampira se
surpreendeu com aquele gesto. Já havia percebido
que Axel não gostava muito de contato físico fora
do sexo e aquilo era inusitado. Abraçou-o de volta
e levantou o rosto para olhá-lo. Recebeu, então, um
delicioso beijo do rapaz, fazendo seu corpo
estremecer de desejo.
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Mãos começaram a escorregar


libidinosamente pelo corpo um do outro e por suas
partes íntimas e, se não estivessem com pouco
tempo para se arrumar para o casamento,
certamente fariam sexo, muito sexo, avidamente e
ardorosamente, como dois amantes em lua de mel.
Sim... era estranho, mas Ivana sentia-se como se
fosse uma recém-casada, curtindo uma linda
viagem ao lado de um lindo e apaixonante homem.
— Mais tarde te pegarei de jeito, lobo
gostoso — disse ela, afastando-se de Axel com um
sorriso e um olhar afogueado.

O casamento aconteceu no próprio salão do


hotel e foi lindo. Apesar de não conhecer ninguém
ali, Ivana se distraia na festa observando as
pessoas, enquanto Axel, magnífico e elegante em
seu traje social completo, conversava com um ou
outro convidado, todos parceiros ou investidores,
segundo ele. Observando-o assim no meio das
pessoas, ele até que parecia ser um cara normal.
Ivana só descobriu o quanto aquilo o incomodava

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quando voltaram para a suíte, após a recepção.


O Warg jogou o paletó sobre uma cadeira e
se largou na cama esticado, de roupa e tudo,
cobrindo o rosto com um travesseiro e ficando
imóvel por um bom tempo. Ivana retirou as joias
que estava usando, as sandálias e se aproximou do
rapaz, sentando-se na cama.
— Tudo bem, Axel? — indagou tocando-o
na mão.
— Hmm... — Foi a resposta dele.
Ela sorriu e se levantou, foi até os pés de
Axel e tirou-lhe os sapatos e as meias. Depois
desafivelou-lhe o cinto da calça e as desabotoou. O
Warg tirou o travesseiro do rosto e a olhou curioso.
Ivana continuou a despi-lo, desatando a
gravata e abrindo sua camisa. Ela passou os dedos
pelo peito do rapaz e puxou-lhe as calças, em
seguida retirou a cueca box. Axel já estava excitado
e a vampira sorriu. Então ela se afastou.
— Não saia daí — disse dirigindo-se para a
porta do quarto.
O Warg arqueou uma sobrancelha e se
sentou apenas para tirar a camisa, então deitou-se
novamente. Sua paciência havia ficado no limite
durante a festa, não aguentava mais sorrir e
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conversar com todas aquelas pessoas. Quando se


viu finalmente livre, a única coisa que queria era se
enfiar no quarto e não precisar falar com mais
ninguém. Agora, porém, ele desejava outra coisa...
Desde a noite anterior, decidira não pensar
mais se estava agindo certo ou não, ou se devia ou
não ficar com a vampira; decidira não pensar mais
em seus sentimentos ou nas consequências daquele
relacionamento. Ele só queria aproveitar o
momento, liberar sua mente de preocupações e
curtir a companhia daquela bela e sedutora mulher.
O que aconteceu entre eles na noite passada
havia sido uma loucura e teria sido algo
inconcebível se ele estivesse de plena posse de seu
raciocínio. Nunca teria feito ou concordado com
aquilo se sua natureza não tivesse sobrepujado sua
razão. Ele se deixou levar pelos desejos mais
insanos e primitivos, e perdeu totalmente o
controle. Foi realmente uma loucura, uma loucura
que lhe proporcionou uma experiência sexual tão
intensa quanto ter sido mordido por ela quando
fizeram sexo pela primeira vez. O gozo foi pleno e
avassalador. Felizmente não a havia machucado...
Axel escutou um bipe vindo da mini
cozinha da suíte e logo em seguida Ivana apareceu
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segurando uma xícara. Ela entrou com um daqueles


olhares maliciosos e deixou o objeto sobre a
cômoda, levou, então, a mão às costas e desceu o
zíper de seu vestido azul claro longo e brilhante.
Deixou-o cair no chão, revelando uma linda
calcinha da cor do vestido e seus belos seios
arredondados. O Warg levantou o tronco,
apoiando-se nos antebraços, enquanto a vampira
pegava novamente a xícara e voltava a se
aproximar da cama.
— Deite-se — ela ordenou.
Ele fez o que Ivana pediu e acompanhou
interessado os movimentos dela com o olhar. Ela
subiu na cama e sentou-se com as pernas abertas
sobre o seu membro já duro, então começou a
rebolar sobre ele. Axel sorriu, aquilo era gostoso,
embora preferisse que ela tivesse tirado a calcinha.
A vampira o olhava sedutoramente e ele
adorava aquele olhar. Ela colocou, então, o dedo
indicador dentro da xícara e pegou um pouco do
conteúdo, era chocolate derretido. Ivana sorriu
maliciosamente e lambeu o próprio dedo, sob o
olhar desejoso do Warg. Em seguida, pegou mais
um pouco do chocolate e aproximou o dedo da
boca de Axel, que lambeu-o com prazer.
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A garota moveu-se e posicionou-se, então,


mais para baixo, sentando sobre suas pernas, retirou
mais chocolate da xícara e passou sobre a cabeça de
seu membro ereto. Axel suspendeu a respiração
quando ela desceu com a boca para lambê-lo. A
vampira sugava-o avidamente e ele fechou os
olhos, apreciando aquele contato delicioso da
língua quente de Ivana com o seu pau. A vontade
de chupá-la também veio intensa, queria saborear o
gosto dela...
— Ivana... — chamou.
— Ivy, Axel... me chame de Ivy — pediu
ela liberando sua ereção da boca por um momento e
lambendo o cantos dos lábios, ainda um pouco
sujos de chocolate.
Axel sorriu.
— Vire-se para cá, Ivy... — disse o Warg,
se erguendo e puxando-a para cima. Em seguida a
fez se virar e ficar de bunda para ele.
A vampira sorriu enquanto ele descia
suavemente sua calcinha e a retirava.
— Me dê o chocolate — ele pediu.
Ela entregou-lhe a xícara e sentiu Axel
lambuzando suas partes íntimas com o doce, então
ele a puxou mais para cima e logo a vampira sentiu
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a língua do Warg lambê-la com gosto. Mordeu os


lábios, aquele rapaz fazia maravilhas com a boca.
Enquanto se aproveitava daquelas sensações
deliciosas, voltou a fixar sua atenção no membro
dele, explorando-o também. Ambos permaneceram
assim, dando e recebendo prazer um ao outro, até
que Axel resolveu mudar de posição.
Ele a virou de barriga para cima e beijou
seus seios, chupando-os delicadamente, um a um.
Desceu, então, para o ventre, passando a língua ao
redor e dentro do umbigo da vampira, e em seguida
continuou para o meio de suas pernas. Mergulhou
novamente em seu sexo quente e úmido, fazendo-a
gemer e murmurar o nome dele.
O Warg se deleitava com o cheiro e o sabor
daquela garota, e escutá-la gemer de prazer era
música para seus ouvidos. Logo ela chegou ao
orgasmo, contorcendo-se e agarrando-se aos
lençóis.
Axel sorriu e se posicionou de joelhos na
cama, em seguida ergueu as pernas da vampira,
apoiando-as em seus próprios ombros.
— Vamos ver como está seu alongamento...
— disse ele, descendo seu tronco em direção a ela.
Ivana sentiu seus joelhos encostarem em
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seus seios, enquanto ele se aproximava e tomava


seus lábios. Soltou um gemido abafado quando
Axel penetrou-a completa e profundamente. Aquela
posição era maravilhosa!
Ele começou a se mover dentro dela com
vigor, beijando-a e mordiscando seus lábios e seu
pescoço. Não demorou muito para ele gozar
também e, quando o fez, apertou-se mais contra ela,
gemendo alto.
Ofegante, Axel beijou-a mais uma vez e
saiu de cima dela, deitando-se ao lado. Relaxado e
satisfeito, permaneceu olhando para o teto por um
tempo, pensativo.
— O que foi, Axel? — perguntou a vampira
encostando o queixo em seu ombro.
— Tomar esse antídoto... não te faz mal? —
quis saber ele.
— Não. — Ela sorriu. — Não se preocupe
com isso, estou bem...
— Seu cheiro anda diferente, e você
também está um pouco quente... — Ele a fitou. —
Acho que está febril, Ivy...
Ivana pôs a mão na própria testa.
— Ah, isso não é nada... relaxa. Vou tomar
a minha dose, já passou da hora... — esclareceu,
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levantando-se.
Na verdade, não fazia nem 24 horas que ela
havia tomado a dose anterior, não era para estar
febril ainda, mas considerando o intenso contato
dela com Axel durante aquele meio tempo, seria
normal a quantidade de toxinas aumentar em seu
sangue. Ivana pegou o antídoto na mala e tomou
um pouco. Não havia por que se preocupar... Então,
subitamente, lembrou-se de outra coisa.
— Nossa! Não avisei o Rob que viajaria e
esqueci completamente de ativar o celular para usar
no exterior! — exclamou. — Seu celular funciona,
Axel? Pode me emprestar?
O Warg arqueou uma sobrancelha,
enquanto pegava o aparelho no criado-mudo e
entregava para ela.
— Você sempre dá satisfações para o seu
primo? De onde está ou do que vai fazer? —
indagou ele com o semblante um pouco fechado.
Ivana sorriu.
— Não, mas tenho certeza de que ele tentou
falar comigo. Ele sempre me liga de fim de semana
quando não vou trabalhar e pode ter ficado
preocupado.
Axel colocou as mãos atrás da cabeça,
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estudando-a sério com o olhar.


— O que foi agora? — disse a vampira
sorrindo e franzindo a testa.
— Vocês são unidos assim porque
cresceram juntos ou porque são, ou já foram
amantes?
Ivana, boquiaberta, sentiu o rosto corar
violentamente.
— De onde tirou isso? — perguntou ela
com os olhos arregalados.
— Há sete anos, quando estiveram na
minha cabana..., vi como ele olhava para você...
Não era o olhar de um irmão ou de um primo —
explicou Axel.
— Você está delirando! — irritou-se a
vampira.
— Então nunca tiveram nada? — O Warg
estreitou os olhos.
Ivana desviou o olhar, constrangida. Aquilo
era passado, um passado que ela tinha decidido
deixar para trás no dia em que foi obrigada a fazer
aquele aborto. Não sentia mais aquele tipo de amor
pelo primo, seus sentimentos haviam mudado, e
não era sua culpa que Rob ainda pudesse sentir algo
assim por ela... Suspirou e voltou a encarar Axel.
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— Sim... já fomos amantes..., mas isso foi


há muito, muito tempo... E posso te garantir que
minha relação com ele hoje não passa de uma
relação fraternal — afirmou convicta. — Posso
fazer a ligação agora?
— Fique à vontade... — disse o Warg mal-
humorado, levantando-se e indo para o banheiro.
Logo Ivana escutou o chuveiro ser aberto,
então bufou e ligou para o primo.
— Alô, Rob? Aqui é a Ivy... — disse
quando o primo atendeu.
— Ah! Finalmente apareceu! Merda, Ivana,
onde você se meteu? Por que desligou seu celular?
— esbravejou Rob do outro lado da linha.
— Não desliguei... Eu estou no Canadá,
Rob, e esqueci de contratar um plano internacional
com a operadora.
— E está fazendo o que no Canadá? — quis
saber ele aparentando surpresa.
— Passeando...
— Passeando? Assim do nada? Foi
sozinha?
— Não...
— E está com quem, então?
— Com Axel... — Ivana sorriu,
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imaginando, pelo silêncio momentâneo, a cara que


seu primo estava fazendo.
— É sério? — perguntou o rapaz.
— Sim... estou nas montanhas canadenses...
Um lugar incrível, Rob! Você precisa...
— Já contou para ele? — interrompeu o
primo.
— Hum... Ainda não...
— E está esperando o quê? — irritou-se ele.
A vampira revirou os olhos.
— O momento certo, Rob. Não tive chance
ainda... Enfim, é tarde e o humor dele não está
muito bom agora. — Ela franziu o cenho. —
Amanhã..., amanhã eu conto para ele.
— Okay... Ah, Luca está atrás de você
também. Ele já me ligou umas três vezes.
— Nossa — estranhou Ivana. — E o que ele
quer?
— Não sei, tive um dia cheio de consultas
hoje e não pude conversar com ele direito, mas
parecia importante. Ligue para ele.
— Hum... certo... amanhã... Estou cansada
agora.
Ivana escutou o primo suspirar do outro
lado da linha.
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— Esse telefone que você está usando é do


Axel? — perguntou ele.
— Sim, é.
— Entendo... divirta-se aí, então — disse
Rob, demonstrando certa apreensão na voz.
Assim que se despediram, a vampira deixou
o celular sobre a cômoda e se dirigiu ao banheiro.
Sentia-se grudenta por causa do chocolate e do
esperma e precisava de um banho também. Axel
ainda estava sob a ducha, envolto numa nuvem de
vapor. Ele mantinha a cabeça baixa.
Ivana entrou no box e ele a olhou...
— O que quer me contar, Ivy? — perguntou
o Warg.

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“Ela colocou, então, o dedo indicador dentro


da xícara e pegou um pouco do conteúdo, era
chocolate derretido.”

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Sob a ducha quente, Axel fitava Ivana com um


ar sério e interrogativo. Diante da pergunta direta
dele, a vampira ficou muda por alguns segundos,
sentindo-se encurralada. Como ele sabia que ela
precisava contar-lhe algo? Ele havia escutado a
conversa dela com o primo?
Seu coração, ao saltos, lhe gritava para falar
tudo logo de uma vez, mas sua mente racional

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ainda achava que precisava sondá-lo antes, e dado o


recente mau humor demonstrado por ele, talvez não
fosse uma boa hora.
— Conseguiu escutar minha conversa
daqui? — perguntou Ivana, pegando uma bucha e
derramando sabonete líquido sobre ela.
— Perfeitamente — respondeu Axel.
— Então também escutou que vou te contar,
seja lá o que for, apenas amanhã... — Ela deu a
volta nele e começou a lhe ensaboar as costas,
descendo para as nádegas firmes.
Ele se virou e pegou a bucha das mãos dela.
— Por que não agora? — questionou
enquanto deslizava a esponja macia entre os seios
da vampira e circundava-os.
— Porque não quero. — Ela sorriu e tomou-
lhe a bucha novamente, colocou mais sabonete
líquido e começou a passar no meio das próprias
pernas, sedutoramente.
Axel acompanhou o movimento das mãos
de Ivana com o olhar e em seguida a encarou.
Puxou-a, então, pela cintura e beijou-a de forma
ardente, enquanto tirava a bucha de suas mãos e a
jogava em um canto qualquer. Aquela vampira
conseguia lhe tirar toda a racionalidade. Seja lá o
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que ela tinha para lhe dizer, podia esperar até o dia
seguinte. No momento ele só queria tê-la entre seus
braços, só queria estar dentro dela.
Sua recente irritação, ante a confirmação do
antigo caso dela com o primo, parecia impeli-lo
ainda mais ao sexo. Encostou-a, então, bruscamente
na parede do box e levantou suas pernas, fazendo a
vampira enlaçá-lo pelo quadril e recebê-lo dentro
dela de uma só vez, bruto, feroz, arrancando-lhe
suspiros, gritos e gemidos de prazer. Transaram no
chuveiro e depois na cama. Insaciáveis e
incansáveis. A atração que os unia era intensa e
carregada de desejo, volúpia, erotismo; o sexo era
vigoroso, febril, vivo; e os sentimentos... esses,
nenhum dos dois saberia definir.
A madrugada já ia alta quando finalmente
dormiram, abraçados um ao outro, cansados e
esquecidos de qualquer problema fora daquele
quarto.
Na manhã seguinte, Axel levou Ivana para
conhecer o Resort. A vampira ficou impressionada.
Tinha de tudo ali, desde quadras de tênis até lojas e
um ringue de patinação no gelo. Ela quis patinar,
mas Axel preferiu ficar apenas observando. A única
lâmina com a qual ele tinha familiaridade e
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habilidade era a lâmina da sua espada. Ficar se


equilibrando sobre aqueles dois finos pedaços de
metal, não era o seu forte.
Ivana saiu do ringue animada, fazia anos
que ela não patinava. Encostaram-se na mureta e
ficaram observando os hóspedes ali se divertirem.
Apesar do frio, em torno dos 5ºC, vários casais e
famílias com crianças patinavam juntos. Entre risos
e tombos, alguns pais tentavam ensinar seus
pequenos a se equilibrar e pegar impulso no gelo.
— Já pensou em ter filhos, Axel? —
perguntou Ivana de súbito, sentindo seus
batimentos cardíacos acelerarem. Havia chegado a
hora de sondá-lo.
Axel a olhou com estranheza.
— Não — respondeu. — Nunca pensaria
em tal coisa!
— Por que não? — Ela o encarou.
— Porque Wargs não servem para ser pais.
A vampira arqueou as sobrancelhas.
— Por que diz isso?
Axel não respondeu, e, por alguns instantes,
refletiu sobre sua própria família. Ele não havia
conhecido seu pai. Há duzentos anos, era normal os
homens de sua espécie fazerem os filhos nas
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mulheres e depois sumirem, Wargs não criavam


laços, não tinham família, raros eram os casais que
se mantinham juntos. A prole era vista como um
fardo. Inclusive sua mãe..., ela nunca demonstrara
um pingo de carinho ou desvelo para com os filhos,
e bastou ele completar 13 anos para ela abandoná-
lo.
Precisou se virar sozinho, teve que aprender
a sobreviver, a trabalhar, a lutar... Poucas vezes a
viu depois disso, e ele pouco se importou também.
Quando ainda era jovem, ficava observando os
humanos e, às vezes, sentia inveja das relações
familiares que eles mantinham, mas com o tempo
seu coração endureceu e ele passou a considerar
aquilo apenas como uma fraqueza humana.
— Axel? — chamou Ivana. — Por que está
dizendo isso? Que Wargs não servem para ser pais?
— insistiu.
— Não importa — respondeu ele sério.
— Não fale assim... qualquer um pode ser
pai...
— Eu não! — afirmou taxativo.
— Mas e se por acaso acontecesse? —
indagou a vampira, um pouco nervosa por conta
das respostas dele. — E se você engravidasse
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alguém?
Axel sorriu meio de lado.
— Isso seria impossível... Não posso ter
filhos com humanas, elas morreriam antes de dar à
luz. Não conheço outras Wargs, nem sei se existem,
e as Lykans... essas não costumam procriar com
quem não é do bando delas. — Ele a olhou. — E
não creio que eu possa engravidar uma vampira...
— Nada é impossível — respondeu Ivana
corando, mas sentindo-se confiante. — E, então? O
que faria se soubesse que teria um filho.
Axel encarou-a por alguns segundos e
lembrou-se de Liz. A jovem humana havia sido a
única pessoa com quem já cogitara, um dia, levar
uma vida a dois e, ainda assim, não permitiria
nunca que ela tivesse um filho, não arriscaria a vida
de alguém só para perpetuar sua espécie.
— Pediria para ela tirar — disse por fim.
Aquelas palavras fizeram o coração de
Ivana congelar. “Tirar”, aquilo a feriu como uma
lâmina em seu peito. Ficou estática, sem reação.
— Axel... — murmurou.
— Não quero filhos, Ivana... Esse mundo
não serve mais para seres como eu.
A vampira abriu a boca para contestar, mas
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o celular de Axel tocou, interrompendo-a. Ele


atendeu.
— Alô — disse seco.
— Axel? — Uma voz masculina soou do
outro lado da linha. — Ah... oi, aqui é o Luca,
irmão da Ivana, lembra-se de mim? Estive na sua
cabana há alguns anos.
— Sim, eu me lembro — respondeu o
Warg, estranhando a ligação.
— O Rob me deu o seu número... Desculpe
te incomodar, mas eu poderia falar com a minha
irmã? O celular dela não está funcionando.
Axel estendeu o telefone para Ivana.
— É o seu irmão — disse ele. — Fique com
o celular. Eu tenho uma reunião marcada com o
gerente do hotel e alguns funcionários agora. Não
sei se vai demorar, então se ficar com fome pode
almoçar, não me espere. Aproveite o Resort, tem
uma piscina aquecida atrás do prédio principal. —
Ergueu, então, o queixo da vampira e deu-lhe um
beijo. — Nos vemos depois — disse aborrecido,
com um ar de quem não estava muito a fim de
perder tempo em reuniões. Em seguida, virou-se e
seguiu em direção ao hotel.
Ivana ficou ali parada, olhando-o se afastar,
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com o peito angustiado por conta das palavras de


Axel e o celular na mão. Se antes ela não sabia qual
seria a reação dele em relação à sua gravidez, agora
não queria descobrir. Ele havia sido bem claro, não
queria filhos, não aceitaria. Provavelmente faria
exatamente como seu primo Rob e seu tio Stefan
fizeram anos atrás, exigiria que ela tirasse o bebê.
Não, ela não faria aquilo, e não se
submeteria mais àquele tipo de pressão, não
precisava, não queria. Preferia criar a criança
sozinha, preferia dizer a ela depois que o pai havia
morrido, ou qualquer outra coisa, mas não a
impediria de vir ao mundo, e não arriscaria suas
chances... Lágrimas lhe brotaram dos olhos.
— Ivana! Alô? — uma voz baixinha soou
pelo aparelho que a vampira segurava.
— Ah... oi... — respondeu ela, atendendo a
ligação e enxugando algumas lágrimas que caíam.
— Oi, Ivy — disse Luca, estranhando o
desânimo na voz da irmã. — Você está bem?
Ivana sentiu o coração apertar com as
palavras do irmão. Não... ela não estava bem... e a
pergunta de Luca agiu como um gatilho,
disparando uma intensa tristeza dentro de si. O
choro veio sem controle, preocupando o jovem
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vampiro do outro lado da linha.


— Ivy... o que está acontecendo? Por que
está chorando? Fala comigo, por favor... — pediu
ele.
— Não posso... não consigo agora, Luca...
— disse ela com a voz embargada.
— É o Axel? Ele te tratou mal?
— Não... não é isso... — falou, enquanto
fungava e se encaminhava até um banco para se
sentar.
Luca fez uma pausa.
— É verdade, Ivy? Você está grávida? O
bebê é dele? — quis saber.
A vampira espantou-se com a pergunta do
irmão.
— Como você sabe? Foi o Rob quem te
contou? — perguntou ela.
— Não, nem o Rob, nem o tio Stefan. É por
isso que eu estou te ligando... Mas..., então é
verdade?
— Sim, Luca, é verdade — confirmou
Ivana, respirando fundo para tentar acalmar as
lágrimas.
— Como conseguiu fazer isso? Engravidar
de um Warg? É... bizarro!
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— Eu também não sei..., aconteceu.


— E ele já sabe, o Axel?
— Não... não consegui dizer... nem vou...
— falou desanimada. — Ele não quer ser pai, Luca.
Eu o sondei sobre isso e ele acabou de me dizer. —
Suspirou. — Não faz mal, vou assumir isso
sozinha, não me importo!
— Mas, Ivy! Ele precisa saber... mesmo que
ele não queira ser pai, ele tem o direito...
— Ele ia querer que eu abortasse, Luca! —
interrompeu Ivana. — Não quero entrar em outro
conflito sobre isso, não quero mais esse desgaste,
essa pressão... Não vou permitir que interfiram
mais em minha vida. Nem ele, nem ninguém!
— Ivy..., mesmo que ele te peça isso, você
não precisa abortar só porque ele não quer ter
filhos. A decisão é sua.
A vampira deixou mais lágrimas caírem.
— Eu sei..., mas... eu não quero odiá-lo por
isso..., não quero, Luca. E eu sei que vou odiá-lo se
ele me pedir..., e ele vai pedir, então é melhor que
ele não saiba. — Enxugou o rosto com os dedos. —
Talvez, um dia, quem sabe, depois que a criança
nascer, eu conte...
Luca suspirou do outro lado da linha. Não
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concordava com aquilo, principalmente diante das


atuais circunstâncias, mas aquela era uma decisão
da irmã.
— Hum... Sinto muito, de verdade... —
disse, por fim.
— Não... Tudo bem, eu dou conta —
respondeu Ivana, tentando encontrar algum ânimo.
O rapaz ficou em silêncio por um tempo.
— Mas sinceramente, eu gostaria que você
pensasse melhor e reconsiderasse isso — falou. —
Ele pode te proteger.
— Proteger? De quê?
— Ivy... me escute, preste atenção — falou
Luca, em um tom mais preocupado. — Eu estou te
ligando para dizer que o pai já está sabendo de sua
gravidez e não gostou nadinha, acho que ele está
mandando alguém para aí. Tenho quase certeza de
que está planejando algo ruim. Precisa tomar
cuidado, entendeu? O cara que esteve aqui
conversando com ele é um mercenário e é perigoso.
— Como ele soube? — indagou ela
alarmada.
— Não sei... Minha mãe escutou ele falando
com alguém no telefone, mas ela não soube dizer
quem era.
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— Merda! — Ela se levantou do banco que


havia sentado. — Merda! Merda! Quando é que
Grigore vai parar de se meter na minha vida? —
irritou-se.
— Por isso eu acho que você deveria...
— O quê? Contar para o Axel sobre a
gravidez? Para ele se unir ao meu pai nisso? Porque
tenho certeza de que desta vez eles ficariam do
mesmo lado. — Foi até a grade do ringue de
patinação novamente. — Não posso, Luca, eu não
suportaria isso...
O rapaz suspirou.
— Onde você está? — quis saber,
apreensivo.
— No Canadá..., mas amanhã volto para
Nova Iorque.
— É melhor não voltar, Ivy... Talvez seja
bom você sumir por uns tempos...
— Não tem como eu não voltar... tenho que
pegar minhas coisas, suprimentos de sangue, de
antídoto.
— De antídoto?
— Sim... preciso tomar... por causa do
bebê...
— Ele te faz mal? — espantou-se Luca.
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— Sim... as toxinas dele passam para o meu


sangue.
— Ah, não, Ivy! Isso é perigoso..., você tem
mesmo certeza que quer ter esse bebê? —
preocupou-se o irmão.
— Sim, tenho. Absoluta!
Um silêncio pesado se fez entre eles. Luca
estava preocupado, muito preocupado. A situação
da irmã era ruim e o único que poderia ajudá-la
seria Axel, mas se realmente ele não quisesse a
criança, talvez isso se tornasse um problema a mais
e não uma solução.
— Okay... Entendo... — disse, enfim, o
rapaz. — A decisão é sua, mas tome cuidado,
minha irmã, não se arrisque, não faça besteiras... Se
eu souber de alguma coisa por aqui, te ligo.
— Está bem. Obrigada, Luca, por ter ligado,
por se preocupar comigo... — Ela sorriu.
— Você é minha irmã. É claro que me
preocupo! — disse o vampiro com um sorriso
triste. Ele queria poder estar ao lado dela naquele
momento.
Despediram-se e Ivana decidiu voltar para o
prédio principal do hotel. Apesar de ainda ser
primavera, o vento era cortante e gelado, mas ela
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quase não o sentia. Sua cabeça era um mar de


pensamentos e ela tinha a sensação de que o mundo
estava desabando sobre ela.
O que faria agora? Para onde iria? Quem
havia contado ao pai dela sobre sua gravidez? Teria
sido Rob ou seu tio? Um sentimento de revolta
cresceu dentro de seu peito. Por que eles não
conseguiam ficar de boca fechada? Sentiu-se traída
por aqueles que amava, de novo...
E Axel... Seu peito doía, arrasado e
decepcionado. Axel havia jogado um balde de água
gelada sobre os seus sonhos. Sim, ela tinha
sonhos... Por algum tempo ela chegara a pensar que
ele aceitaria o bebê e que poderiam, quem sabe...,
criá-lo juntos. Foi um pensamento idiota! Agora ela
sabia... E seu coração parecia ter se rasgado com
isso.
Ivana sentia que havia abaixado a guarda.
Por um breve período, ela acreditou que Axel
poderia ser o cara que a tiraria daquele círculo de
sexo, indiferença e desprezo pelos homens que ela
entrara há anos. Acreditou que poderia abrir
novamente seu coração e ser feliz com alguém,
dividir momentos, ter uma família. Doce ilusão...
De onde havia tirado expectativas tão
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ridículas? Como ela pôde pensar que poderia nascer


algo diferente entre ela e o Warg? Mesmo que
houvesse uma sintonia e afinidade entre eles, a
verdade era que ele nunca lhe dera qualquer indício
de que gostava dela, a não ser pelo sexo... E
pensando friamente, ela não podia achar que um
filho mudaria isso. Uma gravidez não podia fazer
alguém gostar de outro e tampouco era garantia de
uma família feliz...
Entrou na suíte e se jogou na cama,
afundando a cabeça no travesseiro; algumas
lágrimas voltaram a surgir, mas rapidamente
procurou suprimi-las. Axel não podia pegá-la
chorando. Sentou-se, inspirando profundamente.
Agora precisaria aplicar tudo o que ela havia
aprendido em anos de teatro, precisaria atuar,
fingir... e fingir muito bem.
Foi até a mala e pegou seu biquíni. Faria o
que ele havia sugerido, iria para a piscina aquecida.
Quem sabe lá conseguiria relaxar e pensar melhor
em alguma solução, alguma saída em relação ao
que Luca havia dito. Não arriscaria ficar em Nova
Iorque. Se seu pai havia mesmo mandado um
mercenário atrás dela, era para ela se preocupar.
Precisava parar de choramingar e colocar a cabeça
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no lugar. Afinal, era assim que ela era, era assim


que a vida a tinha moldado, prática, fria e racional.
Ivana desceu novamente os andares e entrou
na piscina ainda exasperada, com seu pai, com seus
primos e consigo mesma, com a sua própria
ingenuidade. Sua cabeça fervilhava de planos e de
pensamentos. A água estava morna e agradável e
ela mergulhou. Fechou os olhos e deixou-se
envolver, flutuar... Desejava não pensar mais nos
problemas que viriam, gostaria de poder relaxar,
não se preocupar com nada, curtir o passeio, curtir
Axel...
Ah! Como era idiota... Ela não conseguia
parar de pensar nele, mas o que poderia fazer...
O certo é que ainda teriam o resto do dia e
da noite para ficarem juntos e não podia
simplesmente rejeitá-lo, ou ele desconfiaria. E, na
verdade, apesar da decepção, ela ainda o desejava e
desejava também que ele pudesse mudar de ideia...
Não, não levaria sua mente por aquele caminho de
novo. Seus sentimentos já haviam se mostrado
tolos e inúteis e só tinham servido para magoá-la.
Subiu à superfície para respirar. Já que
estava tudo arruinado mesmo, voltaria ser a velha
Ivana insensível de sempre, curtiria os últimos
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momentos com Axel, aproveitaria o que havia de


melhor entre eles e depois se afastaria, esqueceria...

Axel saiu da reunião entediado. O gerente


resolvera fazer uma extensa e chata apresentação
em power point sobre a situação do Resort e sobre
as obras de reforma. Em seguida discutiram sobre
contratação de pessoal e reajuste salarial, o que lhe
tomou todo o resto da manhã. Sinceramente,
considerava aquilo um saco! Preferia mil vezes só
assinar papéis. Não entendia como Gerald
aguentava... Olhou no relógio, havia perdido quase
três horas naquela maldita reunião, onde Ivana
estaria?
Pegou o elevador para a suíte refletindo
sobre a conversa que haviam tido pela manhã,
aquilo tinha sido bem estranho. Por que Ivana
estava tão interessada se ele queria ou não ter
filhos, de onde ela tinha tirado aquilo? De qualquer
forma, teve a impressão de tê-la chocado com suas
palavras, mas era assim que ele se sentia, não
queria filhos, o mundo era uma merda para seres

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como ele, além disso, não saberia como agir, como


ser um pai, provavelmente seria um péssimo pai.
Entrou no quarto e logo viu que ela não
estava ali, então desceu e foi para a área social. No
saguão, inspirou o ar com atenção e logo
identificou o cheiro da vampira, seguiu-o até a área
das piscinas cobertas e a viu deitada em uma das
hidromassagens. Ela tinha os olhos cobertos por
uma pequena toalha. Era impressionante como
aquela garota lhe ocupava os pensamentos e como
se sentia confortável ao lado dela. Com Ivana ele
não precisava esconder quem ele era, não precisava
mentir, fingir sentimentos ou refrear seus instintos.
De início a companhia dela era perturbadora, mas
agora sentia-se totalmente à vontade.
— Você está ficando murcha... — disse se
aproximando e observando os dedos dela.
Ivana sorriu e tirou a toalhinha do rosto.
— Mas está tão bom aqui... — respondeu.
— Devia experimentar...
— Talvez... depois... — ele comentou,
notando o minúsculo biquíni que a garota usava. —
Hum... não acha esse biquíni um pouco...
chamativo?
Ivana olhou-o com divertimento.
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— E qual é o problema em chamar a


atenção? Olhar não arranca pedaço... — Ela riu.
A vampira já estava mais calma e decidida
sobre o que fazer. Apesar de se sentir um pouco
morta por dentro, não seria difícil fingir que estava
bem e que nada mudara entre eles.
Preguiçosamente levantou-se da água, expondo as
belas curvas, e Axel tratou logo de pegar uma
toalha para ela se enxugar e se cobrir.
Seguiram para o quarto e após Ivana tomar
um banho e se trocar, foram almoçar no requintado
restaurante do hotel. À tarde passearam pelo lago e
à noite foram até a sala de jogos. Um mini cassino
funcionava ali. Axel não mexia com jogos, mas
alugava o espaço para um parceiro de negócios. A
vampira fez algumas apostas na roleta e depois quis
jogar poker. O resultado, ao final da noite, foi um
saldo positivo de 10 mil dólares canadenses.
— Impressionante, Srta. Constantin — disse
Axel ao voltarem para a suíte. — Não imaginava
que era tão boa no blefe.
— Sou boa em muitas coisas... — Ela sorriu
convencida, enquanto se despia das roupas e ficava
totalmente nua.
Axel a olhou de cima a baixo, não se
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cansava daquela visão. Então, aproximou-se e a


tomou nos braços, levando-a para cama. Fizeram
sexo até esgotarem suas forças e depois caíram
exaustos em um sono profundo. Ivana, no fim, não
precisou fingir, apenas optou por viver o momento,
aproveitar aquelas poucas horas que restavam ao
lado de Axel e não pensar no dia seguinte.
Acordaram tarde e o Warg pediu o café no
quarto, não teriam muito tempo, pois logo
precisariam ir para o aeroporto.
— Obrigada pelo passeio — disse Ivana
enquanto comia. — Foi maravilhoso! Está de
parabéns Sr. Axel, tem um hotel esplêndido.
Ele a observou por alguns instantes. O que
faria assim que a levasse de volta para Nova
Iorque? Precisava retornar a Londres, mas e
depois? A veria de novo? Seu interior dizia que
sim. Ele não queria admitir, mas certamente sentiria
falta dela.
— Você não tinha algo para me contar,
ontem? — perguntou, lembrando-se do assunto.
— Ah... não é nada... — ela disse, sentindo
uma pontada no peito.
— O que é? — insistiu Axel. — Agora
quero saber...
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— Hum... É só que... estou pensando em


sair de Nova Iorque, por uns tempos... —
respondeu Ivana. Não era bem o que ela pretendia
contar, mas também não era mentira, afinal.
— E quer ir para onde? — Axel franziu o
cenho, não havia gostado daquela ideia.
— Não sei. Estou vendo ainda... — Ela
sorriu de lado.
— E por que quer fazer isso? E suas
pesquisas?
— Elas já estão concluídas, meu tio pode
produzir o antídoto sem minha presença. Só quero
dar um tempo, Axel... Preciso de um tempo para
mim, para pensar...
Axel fechou um pouco mais o semblante.
Isso significava que ele não mais a veria? Um frio
passou por seu estômago...
— Não vai sumir, não é? — perguntou ele.
— Ainda iremos nos ver?
— Ainda não decidi para onde vou. É cedo
para dizer isso... — Ivana sentia-se caindo em um
poço sem fundo ao dizer aquilo.
— Não importa para onde você vai. Você
tem meu telefone, eu tenho o seu, posso te
encontrar aonde estiver. Só me diz que não vai
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sumir.
A vampira engoliu em seco. Era exatamente
aquilo que ela pretendia fazer, sumir...
— Não se preocupe, darei notícias... —
mentiu.
Horas mais tarde, finalmente chegaram em
Nova Iorque. Axel a levou para jantar e depois a
acompanhou até o apartamento. Diferente dos
outros dias, Ivana não arrancou as roupas
sedutoramente, ou atacou-o como uma predadora
sexual. Após o banho, ela vestiu uma fina camisola
e deitou-se na cama, encaixada na curva de seu
braço, alisando seu peito e acariciando-o com os
dedos. Estava pensativa e não olhava diretamente
para ele.
Axel alisou carinhosamente os cabelos da
moça em seus braços e em seguida deslizou os
dedos pelo contorno de seu rosto, parando em seu
queixo e erguendo-o, fazendo-a olhar para ele.
— O que foi, Ivy? Algum problema? —
perguntou.
Ela sorriu.
— Não... — mentiu.
Ivana sentia-se triste e arrasada por dentro,
mas precisava tomar cuidado para não demonstrar.
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Além disso, aquela seria a última noite deles, não


queria estragá-la com melancolia. Ergueu-se, então,
sobre ele e depositou um beijo em seus lábios.
— É nossa despedida hoje. Não sei quando
você volta, não sei se estarei aqui quando voltar e
não sei quando nos veremos novamente... —
continuou ela. — Eu queria que esta noite fosse
diferente.
— Diferente como? — perguntou ele sem
entender.
Ela deu de ombros.
— Não sei dizer... eu queria ter você
assim..., sem arroubos sexuais, apenas...
Axel sorriu e, sem deixá-la terminar de
falar, puxou-a para um abraço e um beijo profundo.
Então virou-a na cama, deixando-a por baixo, e
olhou-a nos olhos.
— Eu sei o que quer... — disse dando-lhe
outro beijo, desta vez mais suave, na boca, no
pescoço, voltando para a boca.
Por vários minutos, apenas se tocaram
gentilmente, carinhosamente. Ele brincava com os
lábios dela e com o lóbulo de sua orelha,
mordiscando-os alternadamente, cheirando seus
cabelos e dando leves chupões em seu pescoço,
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enquanto ela deslizava as unhas suavemente em


suas costas, causando-lhe arrepios de prazer.
Ivana queria-o desesperadamente, não pelo
sexo, mas pela certeza de que a partir daquela noite
estaria sozinha novamente. Não... não sozinha,
porque agora ela tinha o bebê, mas não era o
mesmo do que ter alguém ao seu lado, alguém com
quem pudesse dividir suas alegrias e seus
problemas. Axel nunca seria essa pessoa, ela sabia,
mas havia desejado que fosse, e agora era seu
último momento com ele.
Sentiu seus olhos umedecerem, mas não
deixou que as lágrimas viessem. Deslizou, então,
suas mãos para as nádegas nuas do rapaz e apertou-
se contra ele, indicando que estava na hora de
intensificar as carícias.
Axel sorriu e entendeu a dica. Saiu de cima
dela apenas para tirar-lhe a camisola e a calcinha e
em seguida lhe admirou o corpo bem torneado.
Ajoelhado entre as pernas de Ivana, pegou-lhe o pé
e depositou ali um beijo; continuou beijando-a,
subindo pela coxa e deixando um rastro de beijos
molhados, até chegar ao seu sexo quente e úmido.
Experimentou-o, lambeu-o e enfiou sua
língua na pequena entrada, enquanto ela se
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contorcia sob sua boca. O cheiro que ela exalava


excitada era delicioso, e ele já havia se acostumado
com o odor levemente diferente dela. No fim, se
esquecera de perguntar-lhe sobre aquilo, mas não
importava, porque aquele cheiro continuava
embriagando-o da mesma forma.
A vampira logo chegou ao ápice, agarrando-
lhe os cabelos e gemendo. Axel lhe lambeu o gozo
e, com um sorriso malicioso, subiu, deixando beijos
quentes em seu ventre, em seus seios e novamente
em seu pescoço. Tomou-lhe a boca enquanto se
encaixava entre suas pernas.
Ivana recebeu-o dentro dela com um
sentimento de ânsia, de necessidade e de plenitude.
Era a última vez... a última...
Naquela noite, eles pouco dormiram. Entre
beijos, carícias e sexo, ficaram juntos abraçados até
o amanhecer, quando finalmente o Warg precisou
se levantar e se trocar, pois seu voo para Londres
saía bem cedo.
Despediram-se na porta do prédio de Ivana.
— Boa viagem — disse ela, fingindo
ânimo.
— Obrigado, se cuida — respondeu Axel se
aproximando e a enlaçando pela cintura.
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A vampira retribuiu o abraço e escondeu o


rosto no pescoço do rapaz, mas não conseguiu
evitar que uma lágrima descesse pelo seu rosto.
— Está chorando? — perguntou ele.
Ivana se afastou, enxugando a lágrima e
sorrindo.
— Não ligue, às vezes me emociono em
despedidas... — justificou.
— Eu vou voltar... — ele disse, e ela apenas
assentiu.
Axel sentiu que havia algo ali que ela não
estava querendo lhe contar, contudo não tinha o que
fazer, precisava ir. Por um momento pensou em
cancelar seu voo e ficar com ela, mas lembrou-se
de que Gerald o esperava. Os advogados da
empresa estavam analisando o contrato de compra
do prédio em Londres e precisavam dele lá para
discutir alguns termos. Foi embora com uma
sensação estranha, alguma coisa no olhar de Ivana
o estava preocupando.
Assim que Axel partiu com o táxi, Ivana
correu para arrumar suas coisas. Seu coração estava
apertado, mas seu sentido de sobrevivência
sobrepujava sua angústia, e ela tinha várias coisas
para fazer antes de cair no mundo e desaparecer.
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Infelizmente, a vampira não percebeu que já estava


sendo observada...

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“— Já pensou em ter filhos, Axel? —


perguntou Ivana de súbito, sentindo seus
batimentos cardíacos acelerarem.”

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Ivana, sentindo ainda seu coração pesado, fez


rapidamente uma mala grande com roupas.
Infelizmente, não podia perder tempo com
lamentações, precisava se focar no que ainda tinha
para fazer, e eram muitas coisas.
Colocou, então, sua mala no carro e seguiu
para o hospital, pois primeiro precisava pegar seus
pertences pessoais no laboratório, além de

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suprimentos de sangue e antídoto. Já havia


planejado tudo, não contaria para ninguém o que ia
fazer, não conseguia confiar mais em Rob ou em
seu tio. Aliás, antes de ir embora tiraria satisfações
com eles. Traíras! Disseram que aceitavam sua
decisão, mas foram correndo contar para o seu pai,
pior, falaram sobre Axel.
Estacionou o carro em uma das vagas
reservadas aos médicos e foi direto para a sua sala.
Ainda era cedo e haviam poucas pessoas no
laboratório. Abriu a bolsa grande que havia levado
e começou a vasculhar as gavetas, não tinha quase
nada de importante ali. Pegou seu caderno de
anotações e após refletir um pouco, largou-o lá, não
o usaria para nada mesmo.
Encontrou, então, um canivete que ganhara
do ex-namorado humano e que usava para abrir
envelopes, ficou na dúvida se o levava ou não,
acabou optando por guardá-lo no bolso da jaqueta,
depois resolveria o que fazer com aquilo, talvez o
jogasse no lixo. Das várias fotografias sobre sua
mesa, guardou apenas a de Beka. Sua irritação com
o primo e com o tio apenas fazia com que ela
tivesse desprezo pelas outras fotos, onde todos
apareciam juntos e sorrindo.
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Em seguida abriu o computador e fez uma


cópia de suas pesquisas, não sabia o que ia fazer
com aquilo, mas era algo em que havia se dedicado
muito e sentia-se apegada ao material. Dirigiu-se,
então, a um armário que mantinha trancado em sua
sala. Lá dentro estavam as amostras de antídoto que
tinha produzido. Contou os frascos, vinte, e sentiu-
se aliviada, a quantidade era mais do que o
suficiente.
Pelos testes que havia feito, precisaria tomar
dois frascos por mês; isso significava que teria
antídoto para pelo menos dez meses, até lá o bebê
já teria nascido. Guardou-os na bolsa e seguiu para
o almoxarifado do laboratório no intuito de pegar
um microscópio. Recentemente o hospital havia
adquirido novos aparelhos e os mais velhos foram
encostados nas prateleiras, ninguém daria falta se
ela pegasse um. Deu uma olhada nas opções e
escolheu um não muito grande e em bom estado.
A caixa em que ele estava acondicionado
não cabia na bolsa, mas ela era chefe do
laboratório, então não seria estranho se a vissem
carregando um microscópio pelos corredores. O
maior problema seria pegar o sangue. Até mesmo
ela tinha uma cota mensal a ser retirada, uma vez
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que o Conselho de Anciãos havia decidido que


nenhum vampiro, puro ou transformado, podia ter
acesso ilimitado ao sangue humano.
Para os Vampyrs, sangue era uma
necessidade, mas poderia virar um vício. Quanto
mais tomavam, mais ficavam dependentes e mais
fortes eram os efeitos da abstinência. Isso era
perigoso, pois vampiros viciados podiam perder o
controle e atacar humanos. A cota havia sido
estabelecida há muito tempo e agora, com o sistema
todo informatizado, seria muito difícil burlar o
processo. Precisava buscá-lo direto na fonte.
Deixou o microscópio em sua sala e desceu
até o subsolo do hospital empurrando um carrinho
com alguns tubos de ensaio vazios em cima e uma
caixa térmica na parte de baixo. Lá funcionavam a
sala de autópsia e o necrotério, e somente vampiros
trabalhavam naquele setor, os familiares dos mortos
só tinham acesso a uma das salas, caso
necessitassem fazer o reconhecimento dos corpos.
O sangue retirado dos mortos era levado
para outra ala naquele mesmo andar, e para entrar
no local onde este era purificado era necessário ter
um cartão de identificação e uma senha, o que ela
felizmente tinha. Aquela era uma das vantagens de
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ser uma Constantin, seu acesso era irrestrito a


qualquer ala do hospital.
Ivana sentia-se nervosa, estava prestes a
infringir as regras de conduta dos Vampyrs e se
fosse pega, seria duramente punida. Então inspirou
fundo e digitou a senha para entrar.
Apenas dois vampiros trabalhavam ali
naquele momento. Um deles controlava o
equipamento de purificação e o outro estava
separando lotes de sangue já embalado e fazendo
anotações para enviá-los aos centros de
distribuição. Ambos estranharam a presença dela
ali, mas não falaram nada e continuaram com suas
tarefas. Eles sabiam quem a vampira era e se ela
tinha acesso ao local, não era da conta deles.
— Vou pegar algumas amostras para fazer
alguns testes — justificou-se ela ao entrar.
Ivana passou rapidamente pelos dois,
fingindo observar o funcionamento das máquinas,
então seguiu para o equipamento que embalava o
sangue. Este se conectava com à máquina de
purificação, onde o líquido vermelho, após passar
pelo processo, era armazenado em cilindros e
depois enviado aos injetores das caixinhas longa-
vida.
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A vampira só tinha acesso ao sangue após


ele já estar embalado, mas isso era perfeito, pois
assim não precisaria se preocupar posteriormente
com armazenamento. No entanto, precisaria pegar
as caixinhas às escondidas, pois precisava de
muitas, mais do que simples amostras. Fingiu,
então, estar trabalhando na coleta destas, abrindo
algumas embalagens para colocar o conteúdo nos
tubos de ensaio enquanto observava os vampiros.
Quando percebeu que eles não estavam
mais prestando atenção nela, colocou rapidamente
várias caixinhas de sangue dentro da caixa térmica
na parte de baixo do carrinho. Com o coração
batendo acelerado, conseguiu pegar cerca de trinta
unidades. Sentia-se uma ladra, mas era necessário.
Na saída, um dos vampiros exigiu que ela
entregasse as embalagens das caixinhas vazias que
ela havia aberto e assinasse um papel onde
constava quantas ela havia usado para pegar as
amostras, cinco, ela anotou. Forçando um sorriso,
Ivana saiu ligeiro dali, antes que algum deles
quisesse verificar melhor o carrinho.

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No aeroporto, Axel observava o movimento


dos aviões na pista através da vidraça do terminal
enquanto degustava uma barra de chocolate, como
era de hábito. Ainda se sentia inquieto em relação à
Ivana. O modo como ela o olhara quando se
despediram o preocupava. Ele pressentia que havia
algo errado ali.
Desde a tarde de domingo ele notara que a
vampira, apesar de na maior parte do tempo se
mostrar animada e confiante, às vezes se perdia em
pensamentos; seu olhar ficava distante e pesaroso,
como se uma sombra passasse por eles. O Warg
não sabia se aquilo tinha algo a ver com o
telefonema que ela recebera do irmão assim que
saiu do ringue de patinação, mas certamente algo
passou a incomodá-la depois daquilo.
O modo como Ivana o olhava também
parecia ter mudado. Ele havia percebido que
algumas vezes ela evitava encará-lo, em
contrapartida, em outras ocasiões ele a pegara
olhando-o intensamente. E embora ela sorrisse
constantemente, Axel tinha a impressão de ver uma
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certa tristeza em seu olhar.


A vampira era o tipo de mulher que, na
aparência, parecia estar sempre em cima do salto:
confiante, altiva, elegante, sedutora, além de linda;
alguém que certamente fazia muitos homens
tremerem na base só com um olhar. E desde que a
conhecera em Londres, ele se surpreendera com a
segurança e ousadia dela. Contudo, naqueles dias
que passaram juntos, ele havia percebido que, por
trás daquilo tudo, havia uma mulher sensível que
demonstrava, mesmo sem querer, necessitar de
atenção e afeto, e isso tinha ficado evidente em sua
última noite juntos.
Realmente, não havia sido uma noite de
sexo louco e avassalador como das outras vezes.
Ivana estava mais contida, mais carinhosa, talvez
um pouco melancólica. O sexo foi suave, delicado
e amoroso, lembrou-se. Diferente...
Era o que ela queria, foi o que eles tiveram,
uma noite onde as carícias, o carinho e os
sentimentos ganharam espaço. E o que ela disse ao
final, quando já estavam apenas abraçados e
relaxados, ficou gravado em sua mente como ferro
em brasa: “Eu jamais irei me esquecer disso, ou de
você...”.
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Aquilo o marcara, não tanto pelas palavras


em si, mas pelo modo como ela havia dito aquilo e
pelo que ele viu expresso em seus intensos olhos
azuis... Era como se nunca mais fossem se ver.
Axel foi despertado de seus pensamentos
por uma voz no autofalante anunciando o embarque
do seu voo. Ele jogou a embalagem vazia do
chocolate em uma lixeira e pegou sua mala de mão,
mas ao invés de ir até o portão de embarque
dirigiu-se para a saída. No caminho ligou para
Gerald.
— Não irei voltar hoje... — disse. —
Confio em você para analisar o contrato e peça para
Ellen não remarcar nada por enquanto, não sei
quando retorno.
Seus instintos lhe diziam que Ivana lhe
escondia algo e que precisava voltar. Não ficaria
tranquilo se não esclarecesse aquilo.

Ivana, ansiosa e com o coração a mil pelo


que tinha feito, pegou o elevador no subsolo e
voltou para sua sala no laboratório, descartou o

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sangue dos tubos de ensaio na pia do banheiro,


pegou o microscópio, colocou-o no carrinho onde
ainda estavam escondidas as caixinhas de sangue
que ela havia roubado, pegou sua bolsa com os
antídotos e, sob os olhares curiosos dos
funcionários que trabalhavam com ela, saiu do
laboratório e desceu para o estacionamento, um
prédio anexo ao hospital que se conectava a este
através de um corredor no primeiro andar.
A vampira guardou as coisas no carro,
inclusive sua bolsa com o celular, mas não entrou
no veículo. Trancou-o novamente e, ao se virar, um
gato passou subitamente na sua frente, assustando-
a.
O bichinho correu para debaixo de um carro
e Ivana olhou em volta, para ver se encontrava o
dono do animal, mas não viu ninguém. Era
estranho ter um gato sozinho ali, em um
estacionamento fechado; no entanto, não tinha
tempo para pensar naquilo. Voltou para o prédio do
hospital, agora ela iria tirar as devidas satisfações
com seus amados familiares.
Ivana subiu até a diretoria, mas descobriu
que seu tio só iria chegar após o almoço, então foi
até a pediatria. Aguardou seu primo terminar um
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atendimento e entrou na sala dele, fechando a porta


com força.
Robert a olhou com uma sobrancelha
arqueada.
— Oi, Ivy! Bom dia! Não sabia que já havia
retornado... — disse um pouco receoso, dado o
olhar ríspido da prima. — Como foi o passeio?
— Foi ótimo! — ela falou áspera. — Mas
poderia ter sido melhor se eu não tivesse
descoberto que vocês são uns fofoqueiros, dedos-
duros!
— Hã? Dedo-duro? Do que está falando? —
estranhou Rob.
— Luca me disse que vocês contaram ao
meu pai sobre a minha gravidez, e sobre Axel! —
disse furiosa. — Não têm noção não? Sabe o que
Grigore vai fazer agora? Pois é... nem eu. Só sei
que ele está mandando alguém para cá,
provavelmente para “resolver” isso. Achei que
vocês estavam do meu lado. Me enganei... de
novo... — despejou ela.
— Ivy, calma... — falou Rob, assustado. —
Eu não estou sabendo de nada disso, eu não disse
nada a Grigore e não acredito que o meu pai tenha
falado também.
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— Ah, não?! E quem foi, então? Um


passarinho? O Dr. Thompson não sabe sobre Axel,
não sabe que vou ter o filho de um Warg. Quem
sobra?
Rob abriu a boca para falar, mas não sabia o
que dizer. Então um pensamento passou pela mente
de Ivana e ela arregalou os olhos.
— Merda! — exclamou a vampira. — Eu
sabia! Eu sabia que aquela vaca ainda ia aprontar.
Aposto que foi a lambisgoia da sua mulher! —
disse, apontando o dedo para o primo. — Ah! Puta,
enxerida, invejosa!
— Ivana! — repreendeu ele. — Calma, não
precisa falar assim...
Os olhos da vampira crispavam.
— Pode defendê-la se quiser, mas quer
saber? Pouco me importa quem foi que abriu a
merda da boca para o meu pai! Estou de saco cheio
dessa maldita família! Cansei! — berrou Ivana,
saindo e batendo a porta novamente.
Robert ficou olhando, pasmo, na direção em
que a prima havia saído. Desde que Ivana soubera
de sua gravidez, ela andava arisca, irritadiça e mais
reservada. Pelo visto agora estava histérica
também. Não tinha ideia de quem havia contado
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sobre estado dela para o pai, mas tinha certeza de


que poderiam resolver aquilo na conversa. Além
disso, Grigore não tinha muita influência ali na
América, não era como na Romênia.
A alguns quilômetros dali, Axel chegava de
táxi no prédio onde Ivana morava. Ele havia ligado,
mas ela não atendera. Tocou o interfone e como
não houve resposta, digitou a senha de acesso ao
edifício. Depois de estar três vezes ali, ele já a
havia memorizado, mesmo sem ter essa intenção.
Subiu, então, as escadas, bateu na porta do
apartamento, chamou e nada... Também não sentia
o cheiro dela por perto, o que significava que ela já
havia saído.
Encostado no batente da porta, tentou ligar
novamente, sem sucesso. Suspirou impaciente, por
que ela não atendia o maldito celular? Resolveu,
então, ir até o hospital onde ela trabalhava. Não
ficava longe e ele sabia qual era, pois ela o havia
mencionado algumas vezes. Deixou sua mala na
porta da vampira e desceu para pegar um táxi.

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Ivana saiu da sala de Robert bufando.


Estava mais irada do que quando entrara e seu peito
parecia querer explodir de raiva e de frustração.
Seus olhos marejaram, mas ela se recusou a deixar
que as lágrimas caíssem. Ela era uma mulher forte,
não se deixaria abater assim.
Entrou no estacionamento fazendo planos,
ainda precisava sacar algum dinheiro no banco e
depois seguiria para a fronteira. Iria de carro para o
Canadá, assim seria mais difícil alguém encontrá-
la. A cidade canadense mais próxima dali era
Montreal, de lá pegaria a estrada para algum lugar.
O país era enorme e a densidade demográfica
baixa, não seria difícil encontrar uma casinha que
pudesse alugar em algum lugar isolado.
Ela também tinha aqueles dólares
canadenses que havia ganhado no cassino. Então,
por algum tempo, talvez nem precisasse trocar o
dinheiro. Destrancou o carro com o controle remoto
e abriu a porta para entrar. Entretanto, foi
subitamente agarrada por trás, ao mesmo tempo
que sentiu um pano ser colocado sobre seu nariz.
Aquele cheiro... Não!
Em desespero, Ivana tentou se soltar,
debatendo-se, chutando e acotovelando o homem
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que a segurava. Ela sabia o que aquilo significava,


seu pai..., o mercenário, ele estava ali... Precisava
lutar e tentou com todas as suas forças livrar-se
daqueles braços, mas ele era forte e logo sua visão
ficou turva, seus pensamentos tornaram-se
confusos e então apagou.

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“Aquilo o marcara, não tanto pelas palavras


em si, mas pelo modo como ela havia dito aquilo e
pelo que ele viu expresso em seus intensos olhos
azuis...”

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Axel chegou ao hospital cerca de 20 minutos


depois de ter saído do apartamento de Ivana. Na
recepção, perguntou por ela se identificando como
um amigo e a atendente lhe informou o andar do
laboratório onde ela trabalhava. Ele subiu e
encontrou outra recepção e a funcionária disse que
a vampira estivera naquela manhã em sua sala, mas
havia saído e não tinha dito se voltaria.

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Pela centésima vez, Axel tentou ligar para a


Ivana, no entanto, o telefone só chamava. Onde ela
estaria? Se não estava trabalhando, por que não
atendia as ligações?
Os cheiros do hospital o confundiam. Era
muita gente, muito produto químico, remédios e
sabe-se lá mais o quê. Fato é que ele não conseguia
localizar Ivana usando seu olfato e isso o irritava.
Resolveu, então, percorrer o andares um a
um, quem sabe a encontrava. Logo se deparou com
um odor conhecido, mas não era o dela, era de
Robert, seu primo. Desde que tivera a confirmação
de que os dois já haviam tido um caso, ficara
cismado com aquilo e não gostava da ideia de eles
continuarem tão próximos.
Uma mulher segurando uma criança saiu de
uma sala e Axel logo sentiu o cheiro do vampiro
vindo dali de dentro. Não teve dúvidas, entrou no
consultório e fechou a porta. Rob, que estava
anotando algo no computador, espantou-se ao vê-lo
ali.
— Axel... — disse. — O que faz aqui?
— Estou procurando a Ivana, sabe onde ela
está? — respondeu o Warg sério.
— Deve estar por aí... falei com ela há cerca
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de meia hora, mais ou menos... Já tentou o


laboratório?
— Já, ela não está, e nem atende o celular.
— Axel tinha uma ruga entre as sobrancelhas.
Robert suspirou, lembrando-se da cena que
a prima havia feito em seu consultório.
— Ela está irritada... Sabe como é, mulheres
na situação dela ficam mais sensíveis... — falou o
pediatra.
— Que situação? — perguntou Axel,
acentuando a ruga entre os olhos.
— A gravidez..., o que mais seria? — Rob
sorriu, mas ficou sério assim que notou a expressão
do rapaz à sua frente.
Axel estava atônito, paralisado. Ao ouvir
aquelas palavras, uma sensação gelada lhe invadiu
o estômago, se irradiando pelo peito e chegando à
sua garganta. Engoliu em seco. Havia escutado
direito? Aquilo era uma brincadeira? Não... Robert
não parecia estar brincando. Um arrepio lhe
percorreu a nuca e ele sentiu, então, o chão lhe
faltar aos pés. Atordoado, deu alguns passos para
trás e se apoiou em um móvel atrás de si.
Ivana, grávida? Como era possível? Era
dele? Por que ela não havia lhe dito? Um bolo se
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formou em sua garganta, ele sabia o motivo... Foi


por isso que ela tinha lhe feito tantas perguntas
sobre filhos no Resort, e sua resposta tinha sido...
“Não quero filhos”, “Pediria para ela abortar”...
Merda! Merda! Merda! Era por isso, então? O
cheiro diferente, aquele olhar..., ele sabia que havia
algo de errado ali...
— Ela não te contou, não é? — perguntou
Rob, com um olhar condoído.
Axel negou.
— É meu? — indagou. Ele pressentia que
era, mas precisava confirmar.
— Sim... é...
O Warg se virou e, com um urro abafado,
esmurrou com os dois punhos o móvel baixo onde
estava apoiado anteriormente, fazendo o tampo de
madeira rachar em um estalo. Axel permaneceu
assim, de costas e de cabeça baixa por alguns
instantes, e então se virou.
— Tenho que encontrá-la, Robert — disse,
com uma expressão agoniada.
Rob assentiu e se levantou.
— Vem comigo, vamos dar uma olhada no
estacionamento, ver se ela não foi embora.

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Ivana abriu os olhos lentamente, sentindo-se


desorientada no tempo e no espaço, sem saber onde
estava ou o que havia acontecido. Piscou algumas
vezes e percebeu estar deitada no porta-malas de
um carro. Sua mente, então, acordou e ela se
lembrou de que havia sido atacada no
estacionamento do hospital.
Seu coração disparou enquanto tomava
ciência de que estava amordaçada e com as mãos
amarradas às costas. O medo inicial fez sua
respiração ficar mais rápida e pesada, contudo ela
não gritou ou se debateu. Fechou os olhos e
inspirou fundo tentando acalmar suas emoções, não
adiantaria nada entrar em pânico naquele momento.
Pense, Ivana, pense...
Olhou em volta à procura de algo que
pudesse ajudá-la a sair daquela situação, mas o
porta-malas estava vazio. Então lembrou-se do
canivete em sua jaqueta e seu coração acelerou
novamente de ansiedade. Precisava pegá-lo. Por
sorte, não havia fechado a blusa e assim, mesmo
com as mãos para trás, puxou-a pela barra e
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conseguiu torcê-la até alcançar o bolso.


Abrir o zíper foi mais difícil, seus dedos
escorregavam e a posição era péssima. O esforço
que tinha que fazer era gigantesco e precisou parar
e respirar duas vezes, antes de conseguir,
finalmente, descer o fecho de metal e pegar o
canivete.
Suas mãos estavam amarradas com uma fita
adesiva larga e resistente, mas ficou aliviada por
não ser uma corda, ou seria mais demorado se
livrar delas. Ajeitou o canivete nas mãos e iniciou o
lento processo de cortar a fita. Derrubou-o quando
uma câimbra forte acometeu sua mão. O suor
escorria pelo seu rosto e ela precisou respirar fundo
mais uma vez, tateou e alcançou o objeto
novamente, voltando a cortar a fita.
Após alguns exaustivos minutos, conseguiu
cortá-la totalmente, livrando suas mãos e sua boca
da mordaça. Seus pés também estavam presos com
fita, mas foi fácil soltá-los. Agora precisava sair
dali. O porta-malas era baixo e isso significava que
estava em um carro do tipo sedan. Analisou o
encosto do banco de trás do carro e sorriu.
Felizmente, alguns modelos mais atuais dispunham
de mecanismos antissequestro que abaixavam o
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banco traseiro e que eram acessíveis do porta-


malas, e ela o havia encontrado.
“Merda de trânsito!”, Ivana escutou seu
sequestrador reclamar em romeno. Agora ela não
tinha mais dúvidas de que ele era o tal mercenário.
Não sabia se ele estava sozinho, então achou
melhor verificar primeiro. Fechou os olhos e
deixou sua mente transcender o corpo, buscou um
pássaro para fazer a ligação mental e logo
encontrou uma pomba.
De posse da pequena mente da ave, a
vampira não sabia exatamente em qual carro estava
e havia dezenas deles lá embaixo, parados no
infernal trânsito de Nova Iorque. Fez uma revoada
baixa e, entre táxis e SUVs, logo avistou um sedan
com um homem dentro. Pousou, então, em uma
caixa de correio próxima ao carro e observou-o; a
janela estava aberta e ele tinha o braço para fora,
segurando um cigarro entre os dedos.
Sim... era ele, alguns vampiros tinham o
costume de usar o anel da família no dedo mínimo
e o homem continuava a blasfemar em romeno.
Muito bem... agora precisava distraí-lo.
Levantou voo e foi mais à frente pousando
no semáforo. Quando este abriu e os veículos
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começaram a andar, saiu de onde estava e voou de


encontro ao carro. Sinto muito, pombinha...,
desculpou-se Ivana, fazendo-a mergulhar através
do vidro aberto do carro.
A entrada da ave esvoaçante dentro do
veículo assustou o mercenário, que começou a se
debater e perdeu momentaneamente o controle da
direção, acelerando e batendo no carro que estava à
frente.
Ivana aproveitou a confusão para soltar a
trava do banco de trás e sair do porta-malas,
passando para frente. Quando Ovídiu se deu conta,
a vampira já estava em cima dele rasgando sua
garganta com o canivete. Sangue jorrou no volante
e no painel do carro, enquanto Ivana descia
apressadamente pela porta de trás e circundava os
veículos parados. Algumas pessoas se
aglomeravam na calçada e saíam de seus carros
para ver o que estava acontecendo, e ela aproveitou
para se misturar à multidão.
A vampira conhecia a cidade como a palma
de sua mão, sabia onde estava e rapidamente
encontrou uma estação de metrô. Desceu as escadas
e pulou a catraca, seguindo para a plataforma. Eram
três estações até aquela que ficava mais próxima do
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hospital. Era arriscado, mas precisava voltar lá e


pegar suas coisas. Não tinha como fugir sem elas.
Dentro do trem, procurou um banco
afastado para se sentar, sentia-se amortecida. Olhou
para sua mão e viu sangue espirrado nela;
escondeu-a no bolso e sentiu o canivete lá dentro.
Tinha mesmo acabado de matar alguém? Ivana
começou a tremer de nervoso e algumas lágrimas
surgiram. Por que isso estava acontecendo com ela?
Por que não a deixavam em paz? Por quê?

No estacionamento do hospital, Axel e


Robert encontraram o carro de Ivana. O vampiro
viu a bolsa da prima lá dentro e tentou abrir o
veículo, mas estava trancado.
— Ela está aqui no hospital — disse Rob.
— As coisas dela estão aqui.
Axel estava achando aquilo estranho.
Apesar do cheiro de diesel e óleo queimado
presentes no local, ali ele já conseguia sentir o leve
odor da vampira, mas também sentia um odor mais
forte que o deixou preocupado, clorofórmio.

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Observou o entorno com mais cuidado e viu um


objeto caído próximo à porta, era a chave do carro.
Pegou-a e destrancou o veículo, olhando para o
vampiro com uma expressão preocupada.
Além da bolsa, eles também acabaram
encontrando dentro do carro, o microscópio, os
frascos de antídoto e as caixinhas de sangue.
— Ela está fugindo... — concluiu Rob,
estático.
O Warg olhou-o com estranheza.
— Fugindo? Por que ela fugiria? — quis
saber, cada vez mais inquieto. — De mim? Eu
estava indo para Londres, ela não precisava fugir de
mim...
Robert juntou as sobrancelhas e desviou os
olhos.
— Não é de você... — disse ele, ainda sem
encará-lo.
Axel sentiu seu sangue gelar, estreitou os
olhos e se aproximou do vampiro, pegando-o pelo
colarinho.
— De quem ela está fugindo? — rosnou. —
É melhor você me dizer o que está acontecendo, e
agora!
O pediatra engoliu em seco.
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— Do pai dela... — respondeu. — Parece


que ele enviou alguém para cá.
— Por quê? — Axel soltou-o. — Por que
ele está atrás dela de novo?
— Por causa da gravidez... Ele
provavelmente considera o que Ivy fez uma afronta
e não é do tipo que aceita ter o nome da família
envolvido nisso.
— Nisso o quê? Em uma gravidez? —
exclamou o Warg sem entender. — Qual é o
problema, agora? Ele já não tinha desistido de casar
ela com aquele cara lá?
— Sim, mas creio que ele considera uma
humilhação Ivy ter um filho com alguém que não
seja um vampiro...
— Caralho! Em que século vocês vivem?
— enfureceu-se Axel.
Rob não respondeu, não tinha o que dizer.
Até mesmo ele estava cansado de todo aquele papo
de costumes e tradições. E as atitudes de Grigore...,
com certeza eram um exagero.
— Vocês têm câmeras aqui — notou Axel,
apontando para uma que parecia estar direcionada
para aquele lado. — Temos que dar uma olhada,
acho que aconteceu alguma coisa com ela.
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Rob concordou e eles seguiram para o setor


de segurança, onde os vídeos eram monitorados.
Começaram a passar as gravações de uma hora
atrás e, sobressaltados, encontraram o momento em
que Ivana foi abordada e carregada para outro
veículo.
— Não viu isso? — perguntou Robert ao
segurança que ficava na sala.
O homem se engasgou para responder.
— Eu... sinto muito, Sr. Constantin... —
disse, constrangido. — São muitas câmeras e as
imagens aqui trocam a cada três segundos, não é
possível pegar todas ao mesmo tempo. Quando a
ação aconteceu, provavelmente estava rodando
outra imagem, foi tudo muito rápido.
Robert bufou, passando as mãos no cabelo.
Estava preocupado, muito preocupado. Achava que
Grigore ia mandar alguém para convencê-la a tirar
o bebê, não sequestrá-la.
— Conhece ele? — perguntou Axel, ainda
observando as imagens e apontando para o homem
desconhecido.
— Não — respondeu Rob. — Não conheço
o pessoal que trabalha para Grigore na Romênia.
— Mas o irmão de Ivana conhece, não
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conhece? Eles andaram conversando no domingo,


veja se ele sabe de alguma coisa.
O vampiro assentiu e ligou para Luca que,
aturdido, contou o que sabia sobre o mercenário.
Disse também que enquanto ele esteve no castelo,
no fim de semana, havia tentado demover o pai da
ideia de pressionar Ivana, mas Grigore estava
irredutível.
— Pelo que meu pai disse, ele quer forçar o
aborto em Ivy — disse Luca do outro lado da linha.
— Mas... esse cara que ele contratou... não é boa
coisa, Rob. E eu acho que meu pai não disse tudo...
eu senti que... — O jovem vampiro fez uma pausa.
— Ele não quer mais ter problemas com ela, eu
temo que... Ah, eu não sei... tentem encontrar
minha irmã, por favor... — pediu.
Rob desligou o telefone mais preocupado
do que antes, o desespero começou a tomar conta
de seu coração e ele olhou aflito para o Warg.
Axel havia conseguido escutar algumas
palavras e não gostou nada da expressão do
vampiro, novas ondas geladas passaram pelo seu
corpo. Ivy estava em perigo e eles estavam
perdendo tempo! Merda!
— Não tem nenhuma câmera que focalize a
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entrada e a saída de veículos? — quis saber,


impaciente.
— Sim, temos uma na cancela — respondeu
o segurança, acessando a gravação no mesmo
horário que Ivana havia sido raptada. Conseguiram
visualizar o carro do mercenário saindo e pegaram
o número da placa.
— É de uma locadora — disse Axel,
reparando no detalhe em volta da placa com o
nome da empresa.
Rob imediatamente procurou o telefone da
empresa na internet do celular e ligou.
— Alô, boa tarde — disse. — Meu nome é
Robert Constantin, sou um dos diretores do Mercy
Hospital, preciso de uma informação. Um de seus
carros alugados fez um estrago aqui no meu
estacionamento e gostaria de saber quem é o
responsável. Vou te passar a placa, poderia me
dizer o nome do locatário, por favor, e o endereço
que ele registrou?
O vampiro fez uma pausa, escutando o que
o atendente falava do outro lado da linha.
— Escute — continuou. — Gostaria de
resolver isso amigavelmente, direto com a pessoa,
mas se quiser, posso chamar a polícia e acionar
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vocês para consertar os danos. — Ele aguardou a


resposta do atendente e em seguida informou o
número da placa, aguardando mais um pouco. —
Hum... sério? — disse, então. — Está bem, pode
falar, estou anotando.
Robert pegou uma caneta e papel que havia
sobre a mesa e anotou os dados, em seguida
desligou.
— Parece que esse carro se envolveu em
um acidente agora a pouco. Eles não souberam
informar se havia feridos, mas passaram o nome e o
hotel onde o mercenário está hospedado —
explicou.
— Senhores! — chamou o segurança.
Ambos olharam e ele apontou para uma
imagem na tela. Era de uma câmera que estava em
tempo real e ela mostrava o carro de Ivana saindo
da garagem naquele momento. Foi bem rápido e
eles não conseguiram ver quem estava dirigindo.
Axel correu para uma das janelas que dava
para a rua a tempo de ver o Mustang vermelho da
vampira dobrar a esquina. Enquanto isso Rob
ligava para o celular da prima. Se fosse ela dentro
do carro, atenderia o celular que estava na bolsa.
Ivana mal tinha saído do hospital quando
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escutou o telefone tocar. Pegou-o e viu que era


Rob. Teve o ímpeto de não atender, mas ainda
estava furiosa, nervosa, abalada e precisava
descontar em alguém, por isso aceitou a chamada,
mas não deu tempo para que o primo dissesse
alguma coisa.
— Me esqueça, Rob! — exclamou ela em
um tom agressivo. — Você, o tio, a tia e sua
maldita mulher! Finjam que eu não existo, que eu
desapareci, que eu morri! Eu não quero mais nada
com essa família de merda, diga isso para o meu
pai! — Ivana encerrou a ligação sem dar chance de
o primo responder, então desligou o aparelho,
depois se encarregaria de tirar o chip.
Robert, espantado com as palavras da
prima, mas profundamente aliviado por ela estar
bem, ficou olhando para o celular, estático. Axel,
que desta vez havia escutado perfeitamente o que
Ivana dissera, pegou seu próprio celular e tentou
ligar para ela, mas a ligação caiu na caixa postal.
— Por que ela está tão irritada com vocês?
— quis saber o Warg com um brilho raivoso no
olhar.
O vampiro abaixou a cabeça e suspirou.
— Ela acha que foi alguém de nós que
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contou para o pai dela sobre a gravidez —


respondeu.
— E não foi? — perguntou Axel, mordaz.
Rob não respondeu, gostaria de pensar que
não havia sido Lívia, mas a verdade é que sua
mulher provavelmente fizera mesmo aquilo.
Axel saiu de lá irritado, sem dizer mais
nenhuma palavra.
Embora estivesse menos preocupado,
sabendo que a vampira havia se livrado do
sequestrador, ainda queria ter a certeza de que ela
não corria mais perigo. Resolveu, então, ir até o
local do tal acidente, ver se encontrava algo sobre o
tal mercenário. Depois disso, tentaria falar com Ivy
novamente. Precisava encontrá-la, conversar com
ela, esclarecer tudo. Ele precisava vê-la,
precisava... Crispou as mãos, angustiado.

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“Axel correu para uma das janelas que dava


para a rua a tempo de ver o Mustang vermelho da
vampira dobrar a esquina.”

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Nova Iorque, abril de 2011

Seis meses... Seis meses já tinham se passado


desde que Ivana desaparecera e nunca mais tivera
notícias. Axel havia tentado de tudo para encontrá-
la, tinha ido a várias cidades pessoalmente,
contratara detetives, hackers, mas todas as pistas
levavam a lugar nenhum.
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O que tinham de mais concreto é que Ivana


vendera seu carro e descontara o cheque no banco
em uma pequena cidade já próxima do Canadá.
Eles sabiam que ela havia atravessado a fronteira,
mas depois disso não encontraram mais nada.
A angústia de não saber se ela estava bem o
torturava dia e noite. Dormia pouco, comia pouco,
alguns dias trabalhava demais, outros não saía de
casa. Havia alugado um apartamento em Nova
Iorque a fim de acompanhar as investigações mais
de perto e, apesar de ter uma cisma com Rob,
reconhecia que ele estava preocupado com a prima
e queria ajudar, por isso trocavam informações,
mas nem assim conseguiram encontrá-la. A única
coisa que descobrira com o vampiro era que a
gravidez era de risco e isso só aumentava o seu
sofrimento.
Também não souberam mais nada do
mercenário. Axel, no dia que Ivana fugira, chegara
a ir até o local do tal acidente com o carro alugado,
no entanto, não havia sinal do vampiro por ali. O
veículo estava coberto com o sangue dele, mas de
acordo com o que as pessoas disseram, o motorista
havia saído e deixado o carro lá. Resolvera, então,
ir até o hotel onde supostamente o mercenário
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estava hospedado, mas o sujeito não apareceu, nem


naquele dia, nem nos seguintes.
Isso também deixava Axel apreensivo. Ele
teria sobrevivido? Teria ido atrás de Ivana? Ela
continuava no Canadá? Estaria bem com a
gravidez? O mercenário a teria encontrado antes
dele? Estaria viva? As perguntas martelavam em
sua cabeça e as incertezas deixavam-no irritado,
nervoso, ansioso, angustiado. Gerald o conhecia o
suficiente para saber como acalmá-lo, mas nada
tirava o peso de seu coração. Até receber aquela
ligação de Robert...
Axel estava sentado no chão de seu
apartamento, com o olhar vago e encostado no que
havia restado de um sofá. Ele achava que Ivana
ligaria, ele esperava por aquilo, todos os dias, todas
as horas. A cada toque do celular ele se agarrava a
um fio de esperança que logo se mostrava frustrada.
Sua vida estava uma merda, sentia-se tão
inútil e tinha tanta raiva de si próprio que um dia,
passando por uma loja de bebidas, resolveu entrar e
comprar uma garrafa de uísque. Ele sabia que não
podia beber álcool e que aquilo traria
consequências, mas não se importava...
Na primeira vez que bebera, passou mal,
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vomitou e destruiu a sala. Os vizinhos escutaram o


barulho e foram até lá, mas ele colocou todos para
correr. Na segunda, terceira e outras vezes que se
seguiram, Axel terminou de destruir o resto de seu
apartamento, já os vizinhos nem se deram mais ao
trabalho de saber se estava tudo bem.
Olhando para a garrafa de bebida à sua
frente, o Warg calculava se devia ou não tomar
aquele veneno. Observou o seu entorno, não havia
mais nenhum móvel inteiro, seu apartamento
destruído era o reflexo de seu coração, de sua alma.
Sentia-se moído de culpa. Se não tivesse
dito aquelas coisas sobre não ter filhos, Ivy teria
confiado nele para lhe contar sobre a gravidez e
poderia estar ali com ele agora. Ele a protegeria do
pai e não, não pediria para ela abortar... Mesmo
temendo pela vida dela, aquela era uma decisão que
não lhe cabia.
Culpa... mais uma para carregar em seus
ombros, e desta vez estava se punindo por aquilo.
Todas as vezes que bebia, passava tão mal que
parecia que viraria do avesso. Móveis quebrados
não eram nada perto da dor que sentia, dor física,
dor emocional, uma dor esmagadora que nunca lhe
deixava, uma dor parecida e ao mesmo tempo
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diferente de quando Liz morrera.


Era parecida porque era uma dor causada
pela perda e pela culpa, mas era diferente porque
desta vez ele não sabia o que havia acontecido com
a vampira. Com Liz, o choque foi grande, mas ele
logo compreendeu que aquilo havia sido o fim, já
com Ivana não tinha certeza de nada.
A maldita culpa, a dúvida, a angústia, o
medo constante de ela ter desaparecido para
sempre, de ter morrido por causa da gravidez, de
ela odiá-lo..., todos aqueles sentimentos se
somavam dentro de si e o deixavam em um estado
catatônico que se transformava em fúria quando
ingeria álcool.
Pegou a garrafa de bebida nas mãos e ficou
olhando para ela como se ali dentro estivessem as
respostas que procurava. “Por que não dá um sinal,
Ivy?”, encostou a testa na garrafa e fechou os olhos.
O celular tocou, fazendo-o virar um pouco a cabeça
para observá-lo. Talvez aquele aparelho e a garrafa
fosse as únicas coisas inteiras ali naquele lugar.
Suspirou, estava cansado de ligações vazias.
Estendeu a mão para o telefone e viu que a
chamada era de Rob. Estranhou, já fazia um tempo
que eles não se falavam, então atendeu.
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— Axel? Você precisa ajudar a Ivy. Se não


encontrá-la, ela vai morrer... — disse o vampiro
desesperado do outro lado da linha.

Canadá, seis meses antes...

Ivana atravessara a fronteira do Canadá


pagando para uma moça levá-la até Montreal, Suzi
era o nome dela. Conhecera-a na loja onde havia
vendido seu carro, ainda nos Estados Unidos. Ela
estava lá querendo vender o dela também, mas o
dono da loja não queria lhe pagar o quanto o
veículo valia. Suzi dizia precisar do dinheiro para
pagar algumas contas e não podia vender o carro
por um valor tão baixo.
A moça já estava saindo cabisbaixa do
estabelecimento quando a vampira resolveu abordá-
la. Era a oportunidade perfeita! Ivana lhe ofereceu,
então, um acordo vantajoso. Suzi só precisaria levá-
la até o país vizinho, depois ela compraria seu carro
pelo preço justo e lhe daria até um bônus, desde

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que ela não informasse a ninguém sobre a


negociação, o carro ainda ficaria no nome da moça
e ela não poderia dizer que a tinha visto.
Claro que Suzi ficou meio desconfiada, mas
Ivana conseguiu convencê-la de que estava fugindo
de um pai autoritário que queria que ela tirasse o
bebê. A garota acabou se comovendo com sua
história e concordou em ajudá-la.
Antes de dispensar a nova amiga, a vampira
pediu para que ela lhe comprasse uma peruca
qualquer em uma loja. Desta forma, não seria
reconhecida em vídeos de vigilância. Suzi comprou
uma peruca loira e ambas acabaram rindo da
situação, pois Ivana havia ficado completamente
diferente do que era.
Assim, após pagar pelo veículo e se
despedir de Suzi em Montreal, a vampira seguiu
sozinha pelas estradas do Canadá.
Queria ir para o mais longe possível, por
isso pegou uma rodovia que levava para o oeste,
para as montanhas canadenses. Ela sabia que
aquele lugar lhe traria lembranças, boas e tristes
lembranças, mas havia gostado de lá. As montanhas
eram lindas, o local era calmo e ela achava que ali
seria um bom lugar para criar seu bebê.
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Tomaria apenas o cuidado de não ir para a


região onde ficava o Resort de Axel, assim, ao
chegar próximo do hotel, pegou uma estrada que
levava ainda mais para dentro das montanhas.
A viagem foi longa e cansativa, 3.600 km
de estrada e horas e mais horas dentro do carro.
Nesse meio tempo, Ivana parou algumas vezes para
descansar e comer. Dormiu duas noites dentro do
próprio carro e pagou sua alimentação e o
combustível em dinheiro, pois não queria deixar
rastros.
Passara por algumas cidades pequenas à
procura de um lugar para alugar, porém reconhecia
que precisava tomar cuidado, pois não queria o seu
nome em nenhum banco de dados. Então procurou
por placas de aluguel que não pareciam ser de
imobiliária, mas para sua decepção, a busca não
estava dando resultado, até que, ao pegar um
estrada secundária, viu uma placa pendurada em
uma árvore. Entrou na propriedade e verificou
tratar-se de um pequeno sítio.
Os donos eram um casal de velhinhos em
busca de uma renda extra. Eles tinham uma
pequena casa de hóspedes nos fundos da
propriedade. Segundo eles, aquela era a casa antiga
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do local, já estava lá quando compraram o sítio, e


depois que construíram a casa nova, resolveram
reformá-la para visitas, agora pretendiam alugá-la.
A vampira ficou feliz com o achado, pois a
negociação seria entre eles e isso não ficaria
registrado em nenhum lugar. A casa era mesmo
antiga, mas estava em bom estado e serviria.
Arrumou as poucas coisas que havia trazido,
guardou o dinheiro em um local seguro, tirou a
peruca e, finalmente, conseguiu relaxar.
Estava exausta. Em todos aqueles dias que
se seguiram ao sequestro, Ivana havia tentado
manter o foco e a calma. Evitou pensar em sua
família, no mercenário que provavelmente tinha
matado e até mesmo em Axel. Por inúmeras vezes,
quando se sentia sozinha e cogitava se havia feito o
certo em não lhe contar sobre a gravidez, a dúvida
surgia intensa; contudo, em todas as vezes, as
palavras do Warg a cortavam como uma lâmina:
“Não quero filhos”, “Pediria para ela tirar”, e
então Ivana tinha a certeza de que fizera o melhor.
No entanto, mesmo querendo evitar pensar
em Axel, não conseguia. Muitas vezes se pegava se
lembrando de seus braços, de seu corpo, de seus
beijos, de sua voz, de seus olhos..., e chorava...
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Chorava muito, até que as lágrimas secassem, então


abraçava seu próprio ventre e conversava com o
bebê, tentando se convencer a não procurá-lo. Ela
não podia aparecer agora, não sabia se seu pai
ainda estava atrás dela; mesmo que fosse só uma
ligação, poderiam encontrá-la, não arriscaria...
Até o fim do quarto mês de gestação, estava
correndo tudo bem. A vampira, mais confiante,
havia feito planos, criaria ali o seu filho. Havia
conseguido permissão dos donos do sítio para ter
um cavalo, assim poderia se manter com o sangue
dele quando as caixinhas que ela havia trazido
acabassem.
Não era o tipo de sangue ideal para os
vampiros puros, mas serviria. Quando a criança
crescesse, ela voltaria, contaria para Axel a verdade
e então se apresentaria ao Conselho de Anciãos. Se
tivesse que receber alguma punição, caso a
considerassem culpada de alguma coisa, tudo bem.
Afinal, ainda tinha séculos de vida pela frente e não
podia viver eternamente como uma fugitiva.
Mesmo que ficasse presa por um tempo, seu
filho ou filha já teria crescido e sua vida estaria
garantida, seu pai não poderia fazer mais nada.
Quanto à Axel... se ele aceitaria ou não, isso seria
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problema dele...
Entretanto, a vida não era tão simples assim
para quem estava gerindo uma criança híbrida em
seu ventre. Quando entrou no quinto mês, percebeu
que as doses de antídoto que estava tomando não
estavam surtindo o efeito esperado. Apresentou
febre e voltou a ter enjoos. Analisou, então, o seu
sangue no microscópio e viu que as hemácias não
estavam normais, sua cor, mais escurecida,
indicava a presença de toxinas em excesso em seu
sangue.
Preocupou-se, pois precisaria aumentar a
dose do antídoto. Ela sabia que isso era algo que
poderia acontecer, era um risco esperado, porém
seu estoque de antídoto não era alto. Ivana tinha
trazido o suficiente para dez meses, mas só se
ficasse dentro daquela dose que tomava antes. Se a
aumentasse, precisaria recalcular o quanto duraria.
Conforme as semanas foram passando, a
vampira precisou aumentar mais e mais as doses de
antídoto e também a ingestão de sangue, pois
aquilo lhe fortalecia, e uma caixinha por semana já
não lhe bastava mais. Para a sua angústia, ao chegar
na 36ª semana de gestação, chegou à conclusão de
que o antídoto duraria mais 10 dias apenas e o
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sangue que havia trazido, uma semana no máximo.


Chorou em desespero. Se não fizesse nada,
não conseguiria chegar até o fim da gravidez. Então
tomou uma decisão, reduziria novamente a dose de
antídoto para que ele durasse até o nascimento do
bebê. Faltava pouco, apenas algumas semanas; ela
aguentaria os efeitos colaterais e aumentaria a
ingestão de sangue, e quando este acabasse, poderia
extraí-lo do cavalo. Já havia tentado fazê-lo
utilizando uma seringa de veterinário específica
para isso e tinha dado certo, não precisava de
muito, não prejudicaria o animal.
E Ivana assim o fez, diminuiu a dose do
antídoto e logo a febre tornou-se uma constante, os
enjoos ficaram cada vez mais violentos e, como
previra, começou a se sentir cada vez mais
debilitada, mesmo ingerindo doses maiores de
sangue. Acabou com o estoque que havia trazido
em sete dias e passou, então, a tirá-lo do cavalo.
Contudo, logo a vampira descobriu que este
sangue não lhe dava a mesma força do que o
sangue humano.
Faltando cerca de duas semanas para
completar a gestação, Ivana acordou com uma forte
dor no estômago. Tentou se levantar, mas a visão
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ficou nublada e foi tomada por uma tontura que a


fez se apoiar novamente na cama, então vomitou.
Suando frio, sem enxergar direito e com as
mãos tremendo, a vampira se deu conta de que não
aguentaria levar a gravidez adiante se não
procurasse ajuda. Com o medo tomando conta do
seu coração, ela se arrastou e procurou em uma
gaveta da cômoda o antigo celular.
Precisava de socorro ou não conseguiria
sobreviver, mataria ela e o filho. Mas não podia
chamar os velhinhos, não adiantaria, ela precisava
de sangue e de antídoto; decidiu ligar para Robert,
pediria para ele trazê-los para ela. Não tinha mais a
quem recorrer; apesar de tudo, ela sabia que o
primo gostava dela e não a deixaria morrer.
Encontrou o celular e o chip, mas não achou
o carregador. Merda! Ela tinha se esquecido de
trazer o maldito! Procurou, então, o carregador de
um celular descartável e de modelo ultrapassado
que havia comprado em uma lojinha da região para
uma eventual necessidade. Fuçou as gavetas, mal
conseguindo ficar em pé, e finalmente o encontrou,
mas o modelo era diferente e o encaixe não servia.
Desesperou-se, deixando o celular cair no chão.
Um outro acesso de vômito a acometeu.
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Tinha que tomar o antídoto, urgente. Conseguiu,


com dificuldade, andar até a cozinha e chegar ao
armário onde guardava seus suprimentos. Abatida,
viu que só tinha um quinto do frasco. Precisava
ingeri-lo todo, não poderia fracioná-lo, assim
aguentaria dois ou três dias pelo menos, até chegar
ajuda.
Depois de tomá-lo, foi até a geladeira, onde
guardava o sangue do cavalo e bebeu um pouco,
notou que este estava acabando também e que teria
que extrair mais no dia seguinte. Merda! Merda!
Tudo parecia conspirar contra ela. Sentindo-se um
pouco melhor, voltou ao quarto e pegou o celular
descartável, pelo menos agora conseguia enxergar
as letras e os números.
Retirou o chip do celular velho e tentou
encaixá-lo no novo, mas percebeu que os tamanhos
eram diferentes. O chip que tinha seu número
antigo era minúsculo comparado ao do celular que
havia adquirido. Com as mãos escorregadias pelo
suor e sem ter como acessar seus contatos, Ivana
voltou os chips aos seus devidos aparelhos e,
usando o celular novo, procurou na internet o
telefone do hospital de seu tio em Nova Iorque e
ligou.
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— Por favor... eu gostaria de falar com


Robert, Robert Constantin... Aqui é a prima dele,
Ivana — disse com uma voz carregada.
— Um momento, por favor — respondeu a
pessoa do outro lado, fazendo-a aguardar. — Ele
não está — disse, finalmente, a voz. — O Dr.
Constantin está viajando e vai ficar alguns dias
fora.
— Meu tio, então..., Stefan... — Ivana
sentia-se cansada apenas por falar.
Após uma pausa, a secretária do tio atendeu
a ligação.
— Srta. Ivana? É você? Onde está? Estão
todos aflitos aqui... — disse a moça.
— Eu preciso falar com meu tio, Pamela...
— Uma nova tontura acometeu a vampira.
— Ah, ele não está. O Dr. Stefan e o Dr.
Robert estão em um congresso na Itália, só voltarão
em cinco dias. Você está bem? Sua voz está
estranha...
— Me passa o número do celular do Rob,
eu não tenho mais aqui comigo... — Ivana respirou
fundo, não podia vomitar, não podia... ou
desperdiçaria parte do antídoto e do sangue que
havia tomado.
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A secretária passou o número e Ivana,


sentindo as tonturas voltarem, ligou para o primo.
Contudo, ele não atendeu e retornou uma
mensagem de texto automática: “Estou em reunião,
por favor, ligue mais tarde”.
“Aqui é a Ivana. Por favor, me ligue”,
respondeu ela por texto também, mal conseguindo
digitar as letras. Deitou-se, então, na cama.
No minuto seguinte, o celular da vampira
tocou.
— Ivy? É mesmo você? — perguntou Rob
quando ela atendeu.
— Sou eu... Escute Rob... — disse ela com
um pouco de dificuldade, o ar lhe faltava. — Não
estou bem..., eu preciso do antídoto... de sangue...
— Onde você está? — quis saber o
vampiro, preocupado.
— No Canadá... — Sentou-se, buscando o
ar.
— Me dê o seu endereço.
— Rob... se não vier logo, não vou
aguentar... — murmurou a vampira.
— O endereço, Ivy!
Ivana passou o endereço para o primo e em
seguida vomitou. Com os espasmos involuntários
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do corpo, o celular escorregou novamente de suas


mãos e, ao cair, quicou no chão duro,
desmontando-se.
Assim que os vômitos cessaram, a vampira
inspirou fundo tentando se recompor, então se
abaixou a fim de procurar as partes do aparelho.
Era um celular descartável ruim, e quando ela
conseguiu pegar as peças que haviam se espalhado
para montá-lo, viu que a tela estava quebrada.
Tentou ligá-lo, mas o aparelho não deu sinal de
vida. Merda! Pelo menos tinha conseguido falar
com Rob. Só tinha que torcer para ele chegar a
tempo.
Voltou para a cama e se deitou. Colocou,
então, as mãos sobre o ventre e sentiu o bebê
mexer. Ele parecia estar bem, felizmente.
— Aguente mais um pouquinho, carinho...
— disse, antes de pegar em um sono profundo de
esgotamento.

Em Nova Iorque, Axel desligou o telefone


aflito e nervoso com a ligação de Robert. O

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vampiro havia lhe passado as informações sobre


Ivana e estava muito preocupado, pois a ligação
entre os dois havia caído bruscamente e ele não
havia mais conseguido falar com ela depois disso.
Segundo Rob, Ivy se encontrava no Canadá
e parecia não estar nada bem. Aquilo acendeu no
Warg um alerta de que ela corria perigo. Ciente de
que era ele quem estava mais próximo, sabia que
precisava encontrá-la logo, não podia falhar desta
vez...
Consultou os voos mais próximos
disponíveis para Calgary, no Canadá, e conseguiu
comprar uma passagem em um voo que saía às 18 h
e faria uma escala em Toronto. Chegaria na cidade
de destino próximo da meia-noite no horário local,
e pelo endereço que Robert passara, de lá seriam
mais três horas de carro.
Calgary era a cidade mais próxima de seu
Resort... Então havia sido para lá que ela tinha
fugido? Ele havia estado lá a negócios há cerca de
dois meses, estivera tão perto dela assim? Mal
conseguia acreditar...
Arrumou rapidamente a mala e passou no
hospital. Segundo o pediatra, Ivana precisaria do
antídoto e de sangue.
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O Warg pegou tudo o que precisava com a


secretária dos Constantin e foi para o aeroporto.
Apreensivo, teve que despachar a bagagem, já que
não podia viajar com líquidos em uma mala de
mão, um problema a mais. Só torcia para que não
extraviassem a bendita. Sentia-se ansioso, agitado,
com medo... Robert havia dito que Ivana estava
mal, mas e o bebê? Ele não havia falado nada do
bebê... Pensara tanto naquele assunto nos últimos
meses...
Não conseguia se imaginar como pai ainda,
mas também não rejeitaria o filho, ou filha. Um nó
se formou em sua garganta. Não abandonaria a
criança, como seu pai havia feito com ele, não
abandonaria Ivy...
Sim, ele sentia a falta dela..., aquilo era uma
constatação. Compreendeu que gostava da vampira,
que queria estar com ela. E agora ela estava em
perigo, não podia perdê-la também, não podia...
O tempo que levou entre Nova Iorque e
Calgary foi torturante para Axel. Felizmente sua
bagagem não extraviou, trazendo-lhe um certo
alívio. Pegou a mala, alugou um carro e seguiu em
direção à cidadezinha onde Ivana estava. Rob havia
dito que se precisasse levá-la a um hospital ele teria
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que ir para Vancouver, somente lá havia um


hospital administrado por vampiros.
Conforme chegava próximo do endereço,
seu coração batia mais rápido. Havia tentado ligar
para ela mais cedo, no número que Rob lhe passara,
mas o celular continuava desligado, e isso não era
um bom sinal.
Entrou no sítio e abriu as janelas do carro.
Logo identificou o cheiro de Ivana vindo dos
fundos da propriedade, havia cheiro de sangue
também, mas não era o dela, felizmente. Seguiu
direto para lá e parou o veículo na frente da porta
da casinha. Estava tudo escuro.
Bateu na porta, mas não esperou pela
resposta. Abriu-a, acendeu a luz e então a viu.
Ivana estava no chão, inconsciente. Suja de sangue,
vômito e urina, provavelmente ela havia tentado
chegar ao banheiro, mas não havia conseguido. Já
fazia mais de 15 horas que Robert havia falado com
ela, o que tinha acontecido naquele meio tempo,
não fazia ideia, mas o estado em que encontrou a
vampira fez seu coração disparar.
Axel correu para ela e a tomou nos braços.
Ela estava fria, sua pele estava quase sem cor e os
lábios secos e rachados.
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— Ivana! Sou eu... — chamou, verificando


se ela respirava. Sim, a respiração da vampira
estava fraca, mas ela estava viva. — Ivy! Acorda,
abre os olhos!
Com cuidado, pegou-a nos braços e a levou
para a cama. Correu, então, para o carro e abriu a
mala, pegando, desesperadamente, a sacola de
coisas que a secretária havia lhe dado no hospital.
Voltou para dentro e se sentou na cama, ajeitando
Ivana nos travesseiros e levantando um pouco a
cabeça dela. Em seguida destampou o vidro de
antídoto e encostou-o nos lábios da vampira.
— Ivy... beba, por favor... — pediu,
enquanto entornava o frasco em sua boca.
Observou que ela o engolia e suspirou.
Abraçou-a, esperando que o antídoto fizesse
efeito logo, e só então reparou em seu ventre,
grande e esticado. Hesitante, levou sua mão à
barriga de Ivana, tocando-a de leve. Sentiu um
chute e imediatamente retirou a mão, assustado
com o movimento. Já escutara em algum lugar que
bebês se mexiam dentro da barriga da mãe, mas
nunca havia presenciado aquilo.
Axel acomodou-a nos travesseiros
novamente e tirou-lhe as roupas sujas. Em seguida
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pegou uma toalha, molhou-a em água morna e


começou a limpá-la. Esperava que o antídoto agisse
rápido, mas ainda estava preocupado com a falta de
reação da vampira.
Passou, então, a toalha sobre o ventre dela e
sentiu novamente o bebê chutar. Curioso, encostou
o ouvido na barriga de Ivana e escutou o coração da
criança bater lá dentro. Ele batia acelerado, mais do
que o de um adulto. Uma sensação estranha tomou
conta de seu peito, medo, alegria, orgulho... não
conseguia identificar o que era.
Ainda estava nesta posição quando sentiu a
mão de Ivana em seus cabelos. Olhou
imediatamente para cima e a viu contemplando-o,
ela tinha um sorriso tímido no rosto.
— Ivy... — disse ele se erguendo, então se
aproximou mais e puxou-a para um abraço.
— Que bom que está aqui... — disse ela
com a voz fraca ainda. — Obrigada por vir...
— Como se sente?
— Feliz... — Ela sorriu e passou os dedos
no rosto do Warg. — E com sede... Preciso de
sangue, Axel.
Ele assentiu e foi buscar a sacola com as
caixinhas, abriu uma embalagem e a entregou para
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Ivana, que bebeu sofregamente o conteúdo.


— Mais uma... — pediu ela.
Ivana bebeu três caixinhas de uma vez, sob
o olhar preocupado do Warg.
— Vou te levar para Vancouver — disse
ele.
Uma sombra passou pelos olhos da
vampira.
— Não... por favor... Eles vão tirar o bebê
de mim... — implorou ela.
— Ninguém vai tirar o bebê de você, Ivy.
Não vou deixar, eu vou proteger vocês, eu
prometo...
Ivana começou a chorar, ainda sem
distinguir se era de medo ou de felicidade.
— Me desculpe... — falou. — Por não ter te
contado... eu...
— Eu entendo — antecipou-se Axel. —
Sou eu que tenho que me desculpar... Escute, eu sei
que falei aquelas coisas, mas... eu quero, Ivy, eu
quero essa criança que está aí dentro... — Tocou-
lhe o ventre. — Eu quero tentar ser um pai, eu..., eu
quero ficar com você, eu...
A vampira não deixou que ele falasse mais
e puxou-o para si, colando sua boca na dele. Axel a
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abraçou, retribuindo o beijo. Desta vez, não foi um


beijo cheio de luxúria ou desejos ardentes, mas um
beijo repleto de calor, carinho e cumplicidade. Um
beijo que trouxe à tona emoções e sentimentos que
durante muito tempo permaneceram ocultos, um
beijo que lhes deu a esperança de um futuro de
muitas possibilidades.
Afastaram-se um pouco e Axel beijou-lhe
os cabelos.
— Eu também quero ficar com você, Axel
— confessou Ivana, com lágrimas nos olhos.
Ele sorriu, dando-lhe outro beijo, e então a
soltou.
— Descanse um pouco, em algumas horas
vai amanhecer e você precisa ingerir algo, além do
sangue. Vou preparar alguma coisa para comer e
amanhã de manhã iremos para Vancouver — disse
ele, levantando-se.
— Axel! — chamou Ivana.
Ele a olhou.
— Preciso de roupas — ela sorriu.
O Warg pegou uma camisola limpa na
cômoda e a ajudou a se vestir, depois se dirigiu
para a cozinha.
Ivana se deitou novamente sobre os
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travesseiros. Sentia-se feliz, contudo ainda estava


preocupada. Não quis falar nada para Axel, mas
apesar de ter ingerido o antídoto em grandes doses,
ainda se sentia tonta, fraca e um pouco enjoada.
Talvez precisasse mesmo colocar algo no estômago
além de sangue. Vancouver... um frio percorreu sua
coluna. Aquele hospital pertencia à família de
Lívia.

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“Ciente de que era ele quem estava mais


próximo, sabia que precisava encontrá-la logo,
não podia falhar desta vez...”

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Em algum momento, entre Axel ir para a


cozinha e Ivana refletir sobre as consequências de
irem para Vancouver, a vampira cochilou. Acordou
com o rapaz lhe chamando para comer, ele trazia
uma bandeja com ovos mexidos, leite, torradas e
manteiga.
Apesar de ainda estar enjoada, forçou-se a
comer. Vampiros precisavam de sangue para se

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manterem vivos, mas não podiam viver só de


sangue, também precisavam de outros nutrientes,
sem os quais ficavam fracos e doentes como os
humanos, e ela já não comia há quase dois dias.
Com muito custo, conseguiu não vomitar.
Ivana sentia os sintomas de esgotamento de seu
corpo. Permanecer acordada estava ficando difícil,
seus movimentos estavam lentos e demandavam
muito esforço. Axel precisou ajudá-la, inclusive, a
ir ao banheiro, pois não conseguia se levantar. Ele
também fez a mala dela com algumas mudas de
roupa e a ajudou a se trocar.
Axel pensou em alugar um helicóptero, mas
não conseguiu falar com nenhuma companhia
particular durante a madrugada, e não podia pedir
um resgate médico aéreo, pois eles a levariam para
o hospital regional mais próximo e não para
Vancouver. Assim, arrumou tudo rapidamente e
partiram antes mesmo do sol começar a despontar.
Seriam quase mil quilômetros de estrada e pelo
menos dez horas de viagem, dez longas horas...
Antes de sair, no entanto, Axel fez uma
ligação para Robert que, ainda na Itália, aguardava
no aeroporto o horário de seu embarque para
Toronto.
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O pediatra passara as últimas horas nervoso


com a falta de notícias, e também ansioso, pois não
havia voo direto para Calgary e a forma mais rápida
que ele havia conseguido de chegar até lá, tinha
sido aquela com conexão em Toronto. Entretanto,
ao receber a ligação de Axel informando que
levaria Ivy para o hospital, correu para o balcão a
fim de remarcar o voo de conexão para Vancouver,
pois não adiantaria mais ir para Calgary. Em
seguida, ligou para o hospital canadense a fim de
avisar sobre a chegada de Ivana e sobre seu estado
crítico.
Por ser uma vampira, ela não poderia ir para
a emergência comum, assim, seria melhor que a
equipe já estivesse preparada para recebê-la.
Conversou, então, com o diretor do hospital que
passou a ligação para a médica responsável pela
obstetrícia. Após colocá-la a par da situação da
prima e encerrar a chamada, enviou uma mensagem
a Axel, informando que ele deveria procurar a Dra.
Sophia quando chegasse lá.
Axel leu a mensagem com certa apreensão.
Não confiava em vampiros. Eles não se
misturavam, mantinham uma rede de informações
eficiente, eram muito rígidos em relação às suas
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tradições e seguiam firmemente seu código de


conduta. Além disso, Ivana estava fugindo do
próprio pai quando desapareceu e isso não era boa
coisa. Grigore Constantin era um vampiro influente
e poderoso, fazia parte do Conselho de Anciãos e
Axel não tinha certeza de que ele havia desistido de
procurá-la.
Ele sabia que um hospital de Vampyrs não
era um local confiável, mas não havia outra
alternativa. Ficaria com ela dia e noite se fosse
preciso, não a deixaria sozinha, a protegeria. Não
permitiria que fizessem mal a ela ou ao bebê. Desta
vez ele não iria falhar, não como havia falhado com
Liz.
Ivana passou boa parte do caminho em um
estado de semiconsciência, ora parecia escutar os
sons à sua volta, ora apagava. Axel a todo momento
observava a vampira e ela parecia dormir; o
problema é que ela estava dormindo demais. Ele
sentia que ela estava muito mal e seu coração
começou a temer pelo pior.
Faltando menos de 100 km para chegarem,
o Warg colocou a mão em Ivana e se assustou, ela
estava gelada. Parou imediatamente o carro no
acostamento.
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— Ivy! — chamou ele chacoalhando a


vampira, mas ela não acordou.
Axel encostou seu ouvido no peito dela e
escutou seu coração bater fracamente. Merda! Ele a
estava perdendo! Tentou dar-lhe sangue, no
entanto, ela não o engolia.
O medo atingiu-lhe o peito como uma
pedra. Em desespero, voltou a dirigir e pisou fundo
no acelerador. Não via nada à sua volta, apenas a
estrada, e o percurso que levaria pelo menos uma
hora, fez em 40 minutos.
Chegando no hospital, estacionou o carro na
entrada e logo alguns enfermeiros apareceram para
ajudar a colocar Ivana em uma maca. Axel disse
que a Dra. Sophia os aguardava e imediatamente
um dos enfermeiros assumiu a condução do
socorro, levando a vampira para uma ala separada
da emergência.
Por sorte, o hospital tinha um serviço de
manobrista. Axel entregou as chaves para o rapaz e
seguiu com eles, não deixaria Ivy sozinha de jeito
nenhum.
A Dra. Sophia apareceu em poucos
minutos. Era uma vampira alta e loira, com os
cabelos presos em um coque baixo. Rapidamente
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ela examinou Ivana e fechou o semblante,


preocupada.
— Robert me falou sobre o caso dela por
telefone — disse, voltando-se para Axel, enquanto
preparava uma seringa para coletar um pouco de
sangue da vampira inconsciente. — Você é mesmo
um Warg?
Axel assentiu. Embora parecesse
impassível, estava aflito por dentro e observava
tudo atentamente.
— Eu confesso que não acreditei muito
nessa história quando soube — continuou a médica
com uma ruga na testa. — Na verdade, todos nós já
estávamos cientes de que Ivana havia sumido por
estar grávida, mas diziam que era de um Lykan, o
que, para mim, já seria impossível. Como isso
aconteceu?
— Não faço ideia — respondeu. Para ele,
aquilo também não era algo que fazia sentido.
— Trouxe o antídoto? — perguntou ela. —
Vamos aplicá-lo diretamente na veia, enquanto isso
vou levar o sangue dela para examinar. — Voltou-
se para o enfermeiro. — Providencie a aplicação
imediata de 1 mg e acrescente mais 5 mg no soro,
calcule o fluxo para durar 1 hora — orientou,
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saindo em seguida com a amostra de sangue.


O rapaz pegou o antídoto que estava com
Axel e injetou a quantidade indicada pela médica
em Ivana, em seguida colocou uma máscara de
oxigênio sobre o seu rosto. Contudo não houve
qualquer reação, os aparelhos que haviam sido
ligados na vampira para monitorar o coração e a
taxa de oxigênio no sangue indicavam um
batimento cardíaco variando próximo dos 30 bpm
— batimentos por minuto — e a saturação do
oxigênio não passava dos 60%.
Foram dez minutos agonizantes até a
médica voltar.
— Ela precisa de transfusão — disse ao
enfermeiro. — Sangue tipo K.
O enfermeiro assentiu e saiu da sala,
enquanto a médica checava a temperatura de Ivana.
Axel a olhava interrogativamente.
— As hemácias dela foram muito
danificadas pela toxina — explicou. — Não
conseguem mais carregar o oxigênio
adequadamente, por isso ela precisa de transfusão
urgente.
— O antídoto não funciona mais? — quis
saber ele.
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— Sim, funciona; ele continua eliminando


as toxinas, mas o problema é que as hemácias de
Ivana estão deterioradas. Por algum motivo ela
permaneceu com toxinas demais no sangue por um
longo período e isso quase acabou com suas células
sanguíneas. Talvez não tenha tomado o antídoto
adequadamente, não sei... só saberemos quando ela
acordar.
— E o bebê?
— Cuidaremos primeiro de Ivana, depois
veremos o bebê. A princípio ele está bem, a
frequência cardíaca dele está normal.
O enfermeiro voltou com a bolsa de sangue
e inseriu um segundo cateter na veia de Ivana, desta
vez no outro braço; pendurou, então, a bolsa no
suporte, conectou-a ao cateter e ajustou a vazão do
sangue.
— Ela vai melhorar agora? — perguntou
Axel.
— Esperemos que sim — respondeu a
médica. — Se quiser, pode sair, comer alguma
coisa, isso pode demorar um pouco.
— Não vou sair — disse seco.
A médica arqueou uma sobrancelha, mas
não falou nada. Orientou o enfermeiro para que a
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chamasse assim que Ivana acordasse e saiu da sala.


Axel encostou-se em um canto e permaneceu de
olho no enfermeiro, que, por sua vez, se sentou na
frente do computador e começou a navegar na
internet. Quando a bolsa de sangue ficou vazia, ele
saiu e voltou com outra.
No espaço de quatro horas que durou a
transfusão das duas bolsas, a médica retornou
algumas vezes para checar como estava a paciente
e ficou satisfeita ao ver que os batimentos de Ivana
já estavam em 60 bpm e a taxa de oxigenação em
88%.
— Ivana está fora de perigo, por enquanto
— disse a doutora. — Agora, aplicando
corretamente o antídoto, ela ficará bem. No
entanto, recomendo que se faça uma cesárea
antecipada, assim que ela se recuperar.
Axel franziu o cenho.
— Cesárea? Por quê?
— Porque quanto antes a criança nascer,
menos riscos trará à Ivana. Não se preocupe, não
será um bebê prematuro — continuou a Dra.
Sophia. — Pelo que Robert me disse, ele deve estar
com quase 40 semanas, então já é possível fazer o
parto sem problemas para a criança.
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Neste momento, Ivana se mexeu, virando


um pouco a cabeça e abrindo lentamente os olhos.
Piscou algumas vezes, incomodada com a luz forte,
e então olhou em volta, ainda sem entender onde
estava. Sua mente demorou alguns segundos para
se lembrar do que havia acontecido e associar que
estava em um hospital.
Imediatamente colocou a mão sobre o
ventre, temendo terem tirado o seu bebê, mas para
o seu alívio, ele ainda estava ali. Somente então,
percebeu a presença de Axel e da médica
desconhecida.
— Oi, Ivana, sou a Dra. Sophia. Sou
obstetra aqui no Lloyds Hospital e vou cuidar de
você e do bebê. Providenciarei para que te levem
para o quarto, você vai se alimentar e mais tarde
passo lá para conversarmos — disse a médica com
um sorriso, depois saiu.
Axel se aproximou da vampira e colocou
sua mão sobre a dela.
— Vou ficar com você, não se preocupe —
disse ele.
Algum tempo depois, já no quarto, a
doutora voltou e explicou para a futura mãe sobre a
importância de antecipar o parto. Aquilo assustou
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um pouco Ivana, que desejava levar a gravidez até


o fim, mas ela compreendeu as razões da médica e
concordou que o risco da cesárea era menor do que
o risco de ter novamente complicações com as
toxinas, que a cada dia passavam em maior
quantidade do bebê para ela.
Antes de se dedicar à pesquisa, Ivana havia
clinicado como obstetra por alguns anos, então
aquele era um assunto que ela conhecia bem.
Quando cursou a universidade, ela decidiu se
especializar naquela área, pois ainda estava
influenciada pelo sentimento de culpa que o aborto
feito quando ainda era jovem ainda lhe causava. Ela
achava que ajudando a trazer outras vidas ao
mundo, poderia se redimir um pouco de sua culpa.
No entanto, a cada nascimento e a cada
choro de bebê, as lembranças do passado se faziam
mais presentes, deixando-a em um estado
depressivo cada vez maior, até que chegou em um
ponto que não conseguia mais trabalhar. Assim,
após algum tempo de terapia e refletir muito sobre
o assunto, decidiu abandonar a obstetrícia e partir
para outra área.
Agora ela estava do outro lado da situação.
Ela era a paciente, ela era a grávida, ela seria a
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mãe, e esse pensamento lhe enchia de orgulho e


alegria. Mesmo que o bebê nascesse duas semanas
antes, aquilo não o prejudicaria. Estava feliz e ao
mesmo tempo ansiosa.
— Daqui a pouco venho te buscar para
fazer um ultrassom — disse a médica antes de sair.
Ivana assentiu.
— Axel! — exclamou de súbito, quando já
estavam sozinhos. — O enxoval... não trouxemos o
enxoval, ficou tudo lá em casa, nas montanhas... —
Ivana fez uma expressão de sofrimento.
Axel arqueou uma sobrancelha. Do que ela
estava falando?
A vampira suspirou ao ver que o rapaz não
havia entendido.
— As roupas do bebê... — explicou. — Ele
não vai ter o que vestir quando nascer...
— Ah... Hum... Depois vejo com a Dra.
Sophia se ela pode arrumar alguém para comprar
outras — respondeu o Warg, de repente se dando
conta de que em breve ele seria mesmo pai. Aquilo
lhe provocou um frio na barriga.
Meia hora depois, Ivana foi fazer o
ultrassom animada, seria a primeira vez que ela
veria seu bebê em imagem. Apesar de já existir o
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ultrassom 3D, a médica optou por fazer o


convencional, pois após a 30ª semana, o bebê
ficava mais apertado dentro do útero e isso tornava
difícil ver os detalhes no 3D.
— Não quero saber o sexo! Por favor, não
me mostre — disse Ivana para Sophia. — Já
esperei até agora, posso esperar mais um pouco. —
Sorriu.
Axel observou tudo fascinado, embora
tivesse um pouco de dificuldade em reconhecer as
partes do bebê naquelas imagens chuviscadas.
Após o exame, Ivana surpreendeu-se ao
voltarem para o quarto, Robert a esperava ali, em
pé, com um semblante preocupado e ansioso.
Assim que a viu, o vampiro se aproximou, dando-
lhe um abraço forte que foi carinhosamente
retribuído por ela, deixando Axel meio
desconfortável.
As revelações da vampira, de que os dois
haviam tido um caso tempos atrás, deixavam-no
desconfiado e enciumado com as atitudes do rapaz.
Passou, então, por eles e caminhou até o pequeno
sofá, sentando-se e franzindo levemente o cenho.
— Senti sua falta... — disse Rob, ainda sem
soltá-la.
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— E eu me senti tão sozinha... — respondeu


ela com um sorriso triste.
— Não precisava ter fugido. Podíamos ter
enfrentado seu pai juntos.
— Eu não conseguia confiar em ninguém
naquele momento, Rob, nem em você... Me
desculpe — falou Ivana, desviando os olhos e se
sentando na cama.
— E não confia ainda? — perguntou o
rapaz, inquieto.
A vampira suspirou.
— Eu não sei o que pensar... — Ela o
encarou. — Eu não sei o que aconteceu para o meu
pai ter enviado um assassino atrás de mim, porque
isso é o que aquele mercenário era, um assassino. E
eu não sei o que aconteceu depois que eu vim para
o Canadá. — Ivana suspirou. — Eu passei o
canivete na garganta dele, do mercenário, acho que
o matei..., e vou ter que responder por isso
também...
— Não matou ninguém, Ivy — disse Axel,
que até aquele momento apenas acompanhava a
conversa. — Eu mesmo estive no local do acidente.
Ele não estava mais lá e não houve nenhum registro
de morte, nem de um humano, nem de um vampiro,
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segundo seu primo.


— Sim, é verdade — completou Robert. —
Ele sumiu, não tivemos qualquer ocorrência nesse
sentido, nem no hospital ele apareceu.
Ivana arqueou as sobrancelhas, não sabia se
aquela notícia lhe trazia alívio ou preocupação. Se
não o havia matado, não seria presa por isso. No
entanto, ainda estava apreensiva quanto às decisões
de seu pai, e se ele ainda estivesse atrás dela?
— E meu pai? Que posição ele tomou com
tudo isso? — quis saber.
— Segundo Luca, Grigore não tocou mais
no assunto, mas seu humor piorou
consideravelmente nos meses seguintes ao seu
desaparecimento — disse Rob. — Meu pai tentou
arrancar alguma coisa dele, mas não conseguiu
nada. Então, realmente não sabemos o que seu pai
pensa sobre isso tudo.
— Isso significa que ele ainda pode vir atrás
dela? — perguntou Axel.
Rob balançou a cabeça em negativa.
— Eu não sei..., mas agora Ivy já vai ter o
bebê e ele não pode impedir. Vai ter que aceitar —
disse. — Aliás, como ele está, o bebê?
Ivana sorriu.
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— Ele está ótimo! — respondeu, colocando


a mão sobre o próprio ventre. — Forte e saudável!
Amanhã a Dra. Sophia vai fazer a cesárea...
— Cesárea? — O vampiro espantou-se.
— Sim, vamos adiantar o parto... — Ivana
respondeu, então fitou o primo com os olhos
arregalados. — Ahhh! Preciso de você! Você
precisa sair e comprar algumas roupas para o bebê,
eu não trouxe nenhuma!
Robert riu.
— Está bem, amanhã logo cedo eu compro
— disse sorrindo.
O vampiro estava feliz por ter encontrado
novamente a prima, por saber que ela estava bem e
o bebê também. Aquilo era um alívio para o seu
coração.
Ele havia confrontado a esposa sobre o caso
de Ivana, e Lívia havia confirmado que fora ela
quem tinha ligado para Grigore e revelado sobre a
gravidez. Desde então, sua relação com ela não
estava sendo das melhores, mas não havia muito o
que fazer. Se pudesse, a deixaria, mas vampiros de
sua classe social não se divorciavam... Aquelas
malditas tradições..., já estava de saco cheio
daquilo!
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Dois andares acima, a médica chegava um


pouco cansada à sua sala. O dia tinha sido tenso,
mas felizmente estava tudo bem. Havia deixado
Ivana com os rapazes e, apesar de passar das 21 h e
do horário de seu plantão já ter acabado, ficaria
mais um pouco, ainda precisava analisar alguns
prontuários de pacientes. Fechou a porta e estava
consultando a sua agenda quando o seu irmão,
diretor do hospital, entrou sem bater, fazendo com
que ela o olhasse com um ar interrogativo.
— Precisamos conversar, Sophia — disse
ele, sério. — Sobre a sua paciente, a Srta.
Constantin...

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“Ela era a paciente, ela era a grávida, ela


seria a mãe, e esse pensamento lhe enchia de
orgulho e alegria.”

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Em sua sala, Sophia olhou com estranhamento


para o seu irmão mais velho. Mesmo Thomas sendo
o diretor do hospital, ele nunca havia se interessado
diretamente por nenhum paciente. O que ele queria
com Ivana?
— O que quer saber sobre ela? —
perguntou, enquanto o irmão se sentava à sua
frente.

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— Quando eu recebi a ligação de Robert,


resolvi passar esse caso para você porque é da
família e sei que posso contar contigo.
A médica franziu o cenho, não estava
gostando do tom daquela conversa. Ela conhecia o
caso de Ivana, sua prima Lívia era casada com
Robert e a fofoca corria de boca em boca. Logo,
todos da família souberam, de uma forma ou de
outra, sobre os motivos da garota ter sumido. Os
rumores diziam que Ivana estava grávida de um
Lykan ou algo do tipo e que geraria um híbrido.
Agora aquilo se confirmava, e o filho era
justamente do cara que estava lá com ela, um Warg,
mas isso não era da sua conta. O seu trabalho,
como médica, era fazer o parto com segurança e
conforto para a mãe e para o bebê.
— Contar comigo para o quê, Thomas? —
disse, séria.
— Certamente você sabe sobre o caso dela
— Sim, sei, e daí? O bebê está bem e ela
também. Faremos uma cesárea amanhã e tenho
certeza de que tudo dará certo.
Thomas a fitou com um olhar constrangido
e culpado.
— O que foi, Thomas? O que está
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acontecendo? — questionou Sophia, começando a


ficar preocupada.
— Eu tenho uma ordem... — respondeu ele
visivelmente nervoso. — Temos que dar um fim ao
bebê...
Por um instante, Sophia olhou-o como se
não o entendesse, então levantou-se bruscamente.
— Como é?! — exclamou, espantada. —
Dar um fim? Você quer dizer matá-lo? Quer matar
um bebê? Você está louco? — indignou-se.
— Não! Não sou eu que quero... Eu disse,
eu tenho uma ordem. Uma ordem do Conselho de
Anciãos... Não podemos desobedecê-los, Sophia —
falou ele desanimado.
A médica fuzilou-o com o olhar.
— Que o Conselho vá para o inferno! Não
participarei de uma atrocidade dessas — afirmou
veemente. — Esqueça!
O diretor do hospital cerrou os punhos e a
encarou sério.
— Também não acho isso certo, mas
devemos obediência aos nossos superiores. Se o
Conselho acredita que essa criança pode ser uma
ameaça a nós e que ela precisa ser eliminada, temos
que fazer isso. Ou corremos o risco de sermos
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punidos, banidos ou pior, podemos ser presos por


desobedecer a uma ordem direta, não entende isso?
— Não! Não entendo como um bebê pode
trazer riscos a nós. Não entendo como um bando de
velhos pôde ter decidido isso sem ao menos ter
visto como é essa criança, sem ao menos ter dado a
chance de ela se mostrar ao mundo — respondeu
Sophia, enfática. — Não sou uma assassina e não
compactuarei com isso!
Thomas levantou-se também e bateu com as
duas mãos espalmadas sobre a mesa.
— Não é hora para teimosia, Sophia! Não
estou pedindo para matar a criança com suas
próprias mãos. O Conselho está mandando alguém
para cá, amanhã ele já estará aqui. Quero apenas
que você entregue o bebê para o enfermeiro, que o
tire das vistas do pai.
— Posso perguntar uma coisa? — disse a
médica estreitando os olhos. — Como eles
souberam? O Conselho? Como souberam que Ivana
estava aqui?
— Eu os avisei. Você não sabia, mas assim
que ela desapareceu e a história se tornou pública, o
Conselho imediatamente emitiu um comunicado a
todos os hospitais para que os avisassem caso ela
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desse entrada. Não fiz nada mais do que minha


obrigação.
— Ah, sim, claro... — Sophia crispou as
mãos. — Parabéns! Você foi muito correto — disse
sarcástica.
— Não estou aqui para aturar seu deboche!
— exclamou Thomas, irritado. — Apenas faça o
que eu te falei — disse virando-se e saindo da sala.
Sophia soltou um palavrão. Sua vontade era
de esganar o irmão, mas se ele pensava que ela ia
fazer aquilo, estava muito enganado. Ela não tinha
medo do Conselho, uma ordem deplorável daquelas
com certeza era do tipo que vinha por debaixo dos
panos, dar o fim em um bebê indefeso não era algo
que podia ser levado ao conhecimento público. E se
ela não obedecesse, eles fariam o quê? Levariam
ela a julgamento? Duvidava.
A comunidade de Vampyrs não ia aceitar
tão facilmente que o Conselho tinha mandado
matar uma criança só por ser híbrida. Seria um
escândalo! Além disso, se os Lykans soubessem de
uma coisa dessas, poderiam se revoltar. Mesmo o
Warg não sendo da mesma espécie que eles, no
fundo eram aparentados, e ninguém sabia o quanto
esses grupos eram unidos.
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A paz entre os vampiros e os Lykans havia


sido conquistada a duras penas, não seria sábio
mexer nesse vespeiro novamente, e os vampiros
sabiam disso.
Sophia suspirou e pegou suas coisas para ir
para casa, não estava mais com disposição
nenhuma para trabalhar. Na descida, parou no
andar onde Ivana se encontrava e entrou no quarto,
fechando a porta.
Sob os olhares atentos do grupo, contou
sobre a ordem do Conselho e afirmou que estava
disposta a enfrentá-los se fosse preciso. Ivana não
conseguiu segurar as lágrimas.
— Foi o meu pai, não foi? Foi ele quem
pediu para o Conselho emitir essa ordem? Eu odeio
ele, odeio o meu pai! — exclamou ela.
Robert a abraçou.
— Não se preocupe, meu anjo... Vamos
enfrentar isso juntos agora! Ninguém vai fazer nada
contra o seu bebê. — Ele olhou pra Axel, que os
observava com uma ruga entre os olhos.
Incomodado com a cena e se segurando
para não entrar no meio dos dois, Axel desviou os
olhos e voltou-se para a médica.
— Se alguém chegar perto de Ivana ou do
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bebê, garanto que não vai ser nada bonito —


avisou. — Pouco me importa se aqui é um hospital
ou não.
— Entendo... Eu realmente espero que um
confronto não seja necessário — respondeu ela,
sentindo que o dia seguinte seria tenso. — Okay,
preciso ir para casa. Amanhã a gente se vê, tomem
cuidado! — falou, antes de abrir a porta e sair.

Sophia demorou para pegar no sono naquela


noite. A perspectiva do que poderia acontecer no
dia seguinte era estressante e ela não conseguia
parar de pensar no assunto. Apesar de ter dormido
tarde, acordou logo cedo, sobressaltada com o
barulho do alarme do celular. Tomou um banho e
depois de colocar alguma coisa no estômago,
voltou para o hospital. Estava agitada e ansiosa.
Dirigiu-se ao quarto de Ivana e a encontrou
vendo TV, enquanto Axel lia uma revista no sofá.
— Bom dia, como passou a noite? —
perguntou ela.
— Mais ou menos... Não dormi muito

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bem... e estou com fome — respondeu a vampira.


— Já tomou sua cota de sangue?
— Já sim, mas a minha fome é de comida.
— Ivana riu.
— Ah, isso só depois do parto... — Sophia
sorriu. — Vou mandar a enfermeira te preparar
para a cirurgia, nos vemos logo. Onde está Robert?
— perguntou, notando a ausência do vampiro.
— Foi comprar roupas para o bebê —
respondeu a futura mãe, mostrando animação.
— Está bem, até daqui a pouco —
despediu-se a médica.
Algum tempo depois, Rob chegou com as
compras e com um sanduíche para Axel, que não
aguentava mais comer a insossa comida do hospital
que era oferecida aos acompanhantes.
Ivana ainda observava as peças encantada
quando a enfermeira chegou para prepará-la. Uma
roupa específica também foi entregue para Axel se
trocar e poder entrar no centro cirúrgico. O Warg
olhou para a touca e para aquela vestimenta azul e
fez uma careta de protesto, mas concordou.
Sentindo que estava sobrando, Rob saiu do
quarto para dar mais privacidade aos dois e esperou
no corredor. Estava preocupado, mas em dúvida
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sobre aquela ordem do Conselho.


Durante a madrugada havia ligado para
Luca, que ficara transtornado quando soube sobre
aquela ordem e prometera cobrar explicações do
pai. Cerca de uma hora depois, recebeu uma
ligação de volta do primo, dizendo que,
aparentemente, Grigore desconhecia que haviam
enviado alguém para matar a criança e que ele
tentaria resolver a questão, mas Rob não tinha
certeza de mais nada... Havia ou não o dedo de seu
tio naquilo tudo?
Logo Ivana foi levada em uma maca para o
centro de cirurgia. A vampira se sentia apreensiva e
ao mesmo tempo ansiosa. Enquanto observava as
luzes do teto do corredor do hospital passarem
sobre sua cabeça, pensava em tudo que havia
acontecido e em tudo que havia passado para
chegar até ali, até aquele momento. O medo, a
solidão, a raiva, o desespero...
Não havia sido fácil, mas isso em breve
ficaria para trás. Ela tinha Axel ao seu lado agora e
confiava nele. Ninguém tiraria o bebê dela,
ninguém! Sorriu diante da expectativa de ver pela
primeira vez o rostinho dele ou dela... A hora
estava finalmente chegando!
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Sophia já os esperava na sala de cirurgia, e


assim que Ivana foi colocada na mesa, a médica
chamou Robert, que aguardava lá fora, para se
preparar. Afinal, ele era pediatra e poderia cuidar
do bebê assim que ele nascesse. Não entregaria a
criança ao enfermeiro de jeito nenhum. Ela sabia
que o rapaz tinha ordens para levá-lo à sala ao lado
e entregá-lo para um homem que estaria ali.
A médica sorriu nervosamente. O que o
vampiro enviado pelo Conselho faria quando
percebesse que o plano não tinha saído como o
combinado? Não fazia ideia e também ainda não o
tinha visto, mas esperava que Axel pudesse cuidar
do assunto, caso ele realmente aparecesse.
Alguns minutos depois, Rob voltou à sala já
com as roupas adequadas, de avental, touca, luvas e
máscara. O anestesista aplicou uma injeção na base
da coluna de Ivana e assim que o anestésico fez
efeito, a médica começou a cirurgia. Axel manteve-
se por perto, enquanto a futura mãe, com uma
cortina na altura do peito e sem poder enxergar o
que estava acontecendo, aguardava ansiosa o
primeiro choro do bebê.
Apesar de todos aqueles odores
característicos de um hospital e do cheiro do
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sangue de Ivy, Axel distinguiu perfeitamente o


cheiro do outro vampiro quando este colocou os
pés naquele andar, era um odor que ele conhecia.
Todos os seus músculos ficaram tensos e todos os
seus sentidos em alerta. Passou, então, a observar o
menor movimento de cada um dos presentes ali
naquela sala e decidiu chamar Rob, que aguardava
o momento de ser útil.
— Ele está aqui, em algum lugar deste
andar — falou baixo quando o pediatra se
aproximou. — Não saia desta sala com o bebê,
entendeu?
Robert concordou no mesmo instante que a
médica soltou uma exclamação de alegria.
— Oooh, olhem só quem está chegando!
Vamos lá anjinho, diga um “oi” para nós — falou
ela, enquanto levantava o bebê coberto de muco e
Rob se antecipava para segurá-lo.
Logo um choro estridente foi ouvido na
sala. Ivana sorriu e, com o coração transbordando
de alegria, derramou uma lágrima emocionada.
Axel sentiu um arrepio na coluna. Estático, apenas
observou de forma atenta a médica cortar o cordão
umbilical e Rob limpar o muco do rosto do bebê.
O vampiro, com um sorriso emocionado,
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enrolou-o parcialmente em um tecido e se


aproximou da prima, mostrando-o a ela e em
seguida ajeitando a criança sobre o seu peito, bem
próxima ao rosto.
— É uma menina — disse ele.
Ivana não sabia se sorria, se chorava ou se
beijava a filha. Queria tanto pegá-la, abraçá-la,
aninhá-la em seus braços..., pena que estava com
eles atados, mas entendia que era por segurança,
cesárea era assim mesmo. Mas não importava, logo
ela estaria em seu colo, e então a amamentaria, a
amaria e faria de tudo para que ela crescesse forte e
saudável.
Axel, curioso, se aproximou também. Rob,
percebendo-o por perto, pediu licença à prima e,
dando-lhe uma piscada, pegou a criança com
cuidado. Então virou-se e a estendeu para o Warg,
que, olhando-o interrogativamente, não entendeu o
que era para fazer.
— Segure-a — disse o pediatra.
— Eu? — exclamou Axel, arregalando os
olhos.
— Sim, você — falou Rob entregando-a,
sem dar margem para que ele recusasse.
Axel pegou-a desajeitadamente. A bebê
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fazia pequenos sons e murmúrios e, apesar do


receio de machucá-la, ele imediatamente se
encantou por ela. Era sua filha aquela garotinha, tão
pequena, tão frágil... Ele a protegeria com sua vida
se fosse preciso. Esboçou, então, um pequeno
sorriso e deu-lhe um beijo na testa, entregando-a de
volta a Robert.
Pelo canto do olho, o pediatra viu um dos
enfermeiros se remexer inquieto. O rapaz, que já
estava assim há algum tempo, aproximou-se com
uma expressão nervosa no rosto, mostrando a
fitinha que deveria ser colocada no bebê. Ao chegar
perto de Rob, no entanto, o vampiro olhou-o de
cima a baixo.
— Não vai tocar nessa criança — avisou.
O enfermeiro se afastou branco e saiu da
sala. Axel trocou um olhar significativo com
Robert e foi atrás do rapaz. Embora ainda não
confiasse totalmente no primo de Ivy, tinha certeza
de que ele nunca se atreveria a fazer mal à criança.
Axel seguiu o enfermeiro pelo corredor até
outra sala de cirurgia, onde encontrou-o discutindo
em voz baixa com o vampiro cujo odor identificara
logo de cara. Era o mercenário que havia
sequestrado Ivy meses atrás.
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O vampiro, usando um dos aventais de


médico, provavelmente para se passar
desapercebido naqueles corredores, exibia uma
enorme cicatriz na garganta e encarou-o com frieza.
O Warg reconhecia aquele tipo de olhar, era o olhar
de um assassino.
Axel o encarou de volta e ambos
permaneceram assim, em silêncio, por alguns
segundos. O enfermeiro, assustado, achou melhor
sair de perto e escapuliu rapidamente pela porta.
— Volte para a Romênia, Vampyr — falou
Axel, em tom de aviso. — E mande um recado para
o pai de Ivana. Diga-lhe para se manter de uma vez
por todas fora do caminho dela, porque esse agora é
o meu caminho também e a minha paciência tem
limite. Não vou mais tolerar ameaças!
O vampiro riu com escárnio.
— Você está achando que eu sou algum
garoto de recados? — rebateu o mercenário,
mostrando os dentes. — Tolo! Em primeiro lugar
não foi o velho Constantin que me enviou aqui.
Aquele lá já desistiu de importunar a filha faz
tempo. Ele me mandou, inclusive, esquecer o
serviço para o qual havia me contratado, o que me
deixou bastante irritado, já que eu não sou do tipo
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que deixa um trabalho inacabado... — Ovídiu


passou os dedos em sua cicatriz na garganta. —
Então fiquei feliz em saber que o Conselho
resolveu deixar Grigore de fora desta decisão e me
dar essa missão. Uma missão que pretendo cumprir,
pela minha honra e pela honra do meu irmão,
César, que eu tenho certeza que foi assassinado por
aqueles dois malditos.
— Esse César, por acaso, foi o cara que o
Constantin enviou atrás de Ivana dez anos atrás,
quando ela fugiu do castelo na Romênia para não se
comprometer? — perguntou Axel, estreitando
levemente os olhos.
— Ah, você conhece essa história? Sim,
meu irmão desapareceu enquanto procurava por
Ivana. E apesar de nunca nada ter sido provado
contra ela ou contra Robert, tenho certeza de que os
dois estão metidos até o pescoço no sumiço dele.
— Então deixa eu te esclarecer uma coisa...
— disse Axel com um sorriso cínico. — Nenhum
deles matou o seu irmão. Ele morreu porque foi
idiota o bastante para se meter comigo.
O vampiro congelou o semblante.
— Como é? — disse o mercenário
entredentes. — Está dizendo que foi você? Você
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estava lá? Você matou o meu irmão?


Axel apenas sorriu. Tecnicamente o irmão
dele havia se matado sozinho, ninguém mandou ele
mordê-lo, mas não estava a fim de dar explicações.
— Maldito! — exclamou o vampiro
arrancando o avental de médico e exibindo uma
roupa preta incrementada com um cinto de armas.
— Primeiro vou acabar com você, depois com o
bebê. Quero que aquela miserável sinta na pele o
que é perder alguém da família — ameaçou, tirando
uma faca de caça do cinturão.
O Warg o olhou impassível.
— Já matei dezenas de Lykans — continuou
Ovídiu com o olhar crispando de ódio. — Você não
será o primeiro! — vociferou, enquanto rodeava o
adversário. — Vamos! Mostre-se! Eu não tenho
medo de você!
— Pois devia ter, eu não sou um Lykan —
respondeu Axel sem se perturbar, apenas
observando a movimentação do vampiro.
— Ah, sim, ouvi dizer. Pouco me importa o
que você é; vai morrer, imundo!
Ovídiu avançou a fim de apunhalar Axel.
Vampiros eram rápidos e quase que ele não
conseguiu se desviar; a faca afiada passou raspando
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em seu peito, fazendo um rasgo na roupa azul do


hospital que ainda usava.
O mercenário se virou e tentou acertá-lo de
novo, mas Axel deu um pulo para trás, enquanto
terminava de arrancar a blusa rasgada com uma
mão e pegava o seu colar com a outra.
Para a surpresa de Ovídio, o colar se
transformou em uma espada e, em um piscar de
olhos, o Warg já estava sobre ele enfiando-a em seu
abdômen. De olhos arregalados, o vampiro ainda
ergueu o braço e tentou golpeá-lo, mas Axel
facilmente segurou em seu punho com a outra mão
e o esmagou, fazendo o mercenário soltar a faca
com um gemido.
Com uma expressão de fúria e terror
misturados, o vampiro deus alguns passos para trás
e conseguiu se afastar, desvencilhando-se da lâmina
da espada. Cobriu, então, o ferimento com o braço
machucado e, sorrindo de forma animalesca, levou
a mão que ainda estava boa ao lado da perna e
sacou uma arma, apontando-a para Axel e atirando.

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Na sala ao lado, todos se assustaram com o


barulho do disparo. Robert e Sophia se
entreolharam e Ivana, apavorada, chamou pelo
primo.
— Rob! Rob! O que foi isso? — O medo
estava estampado em seu olhar. — Foi um tiro, não
foi? Ah, céus! Cadê o Axel, Rob?
Ainda com a bebê no colo, Rob chegou
próximo à prima e colocou a mão em seu ombro.
— Calma, Ivy. Não tire conclusões
apressadas — disse tentando parecer seguro, mas
estando por dentro tão aflito quanto a prima.
— Ivana, escute... — alertou a médica. —
Já estou quase terminando de dar os pontos,
aguente firme e mantenha a calma, por favor.
Rob se afastou um pouco da prima e pegou
um bisturi em uma bandeja próxima. Se alguém
tentasse tirar dele a bebê, ele enfiaria aquele bisturi
bem no meio do olho do infeliz!
Longos minutos, que pareceram uma
eternidade, se passaram, até que Axel entrou pela
porta da sala. Ele sangrava com um ferimento no
ombro esquerdo, mas parecia bem.
— O que aconteceu? — perguntou Robert.
— Tem um vampiro morto na sala ao lado...
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— respondeu ele.
— E você? — O pediatra apontou com o
bisturi para o ferimento.
— Levei um tiro, mas isso não é nada —
falou, olhando para o próprio ombro.
— Um tiro? — berrou Ivana da mesa
cirúrgica — Axel? Você está bem? — perguntou
ela quase histérica.
— Estou, Ivy — disse o Warg se
aproximando da vampira. — Não se preocupe, isso
vai sarar logo.
— Assim que eu terminar aqui, eu vejo isso
— disse Sophia. — E o vampiro? Está morto
mesmo?
— Ele está sem a cabeça, então penso que
sim — respondeu Axel, sem se alterar.
Sophia parou por um momento o que estava
fazendo para olhá-lo. Dirigiu-se, então, à outra
enfermeira que permanecia ali e pediu para que ela
fosse até o local onde o vampiro morto estava e não
deixasse que ninguém entrasse na sala.
— Você arrancou a cabeça dele com as
mãos? — perguntou ela, espantada.
— Não, tenho uma espada — disse ele
levantando um pouco o colar do pescoço.
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— Um artefato mágico? — indagou Rob,


surpreso.
— Sim... — respondeu Axel enquanto
voltava-se para Ivana.
Ela ainda parecia nervosa, mas lhe sorria
com os olhos umedecidos, e ele achou, naquele
momento, que aquele era o sorriso mais lindo do
mundo. Aproximou-se um pouco mais da vampira
e depositou-lhe um beijo nos lábios.
— Estão seguras... Você e a nossa filha —
disse Axel, arrumando uma mecha do cabelo de
Ivana que estava sobre o rosto. — Não precisa mais
se preocupar.

Algumas horas depois, estavam todos no


quarto. Axel já com o ferimento tratado e Ivana
com a bebê no colo.
— Que nome vamos dar? — ela quis saber.
— Escolhe você, não sou bom com isso...
— Axel disse.
— Você se importaria se eu desse a ela o
mesmo nome da minha mãe?

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— Não, qual era? — perguntou ele


passando os dedos nos finos e macios cabelos
platinados da criança.
— Isabelle — respondeu a vampira.
— Será Isabelle, então... — Axel sorriu.
Rob olhava para o trio com inúmeros
sentimentos. Ao mesmo tempo que estava feliz pela
prima e encantado com a pequena bebê, o vampiro
sentia um aperto no peito; talvez fosse inveja,
talvez ciúme, não compreendia... Ele apenas sentia
que poderia ter sido ele ali, que poderia ter sido
feliz com Ivy se tivesse tido mais coragem, que
poderia ter tido um filho com ela, ou vários...
Ao invés disso, o que ele tinha agora? Um
bom cargo no hospital? Um casamento fracassado?
Uma culpa que ele carregaria pelo resto da vida? A
verdade é que cada um colhe o que planta, e ele
estava colhendo o fruto de suas escolhas.
Suspirou. A única coisa boa naquilo tudo
era sua filha Beka, sua pequena Beka... Sim, ela era
sua riqueza, seu mar de felicidade, e nunca, jamais
faria com ela o que haviam feito com ele e com
Ivy. Já estava na hora de algumas tradições
mudarem na casa dos Constantin.

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“Ela sabia que o rapaz tinha ordens para levá-


lo à sala ao lado e entregá-lo para um homem que
estaria ali.”

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Romênia, janeiro de 2015

Aneve caia suavemente sobre o rosto de Ivana


enquanto ela observava, embevecida, sua pequena
Isabelle brincar de guerra de bolas de neve com
Axel. A linda garota de cabelos platinados como os
do pai já estava com quase quatro anos de idade e
era o seu maior orgulho.
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O Warg caiu, fingindo ter sido acertado


gravemente, e a filha correu para socorrê-lo. Ivana
sorriu, seu marido era um homem maravilhoso.
Apesar de ele ainda ter seus momentos de
introspecção e mau humor, Axel havia revelado
uma faceta de sua personalidade que talvez ele
próprio desconhecia. Sua paciência, normalmente
tão limítrofe em relação às pessoas, se mostrava
quase infinita quando se tratava da filha. E embora
fosse rígido em relação à educação da garota,
quando se dispunha a brincar com ela, passavam
horas juntos.
Aqueles últimos anos haviam sido
surpreendentes para Ivana. Muitas dúvidas
passaram por sua cabeça após saírem daquele
hospital. Mesmo com Axel ao seu lado, ela não
sabia o que esperar do futuro, nem mesmo para
onde iria, e realmente não imaginava que poderia
ser tão feliz.
Apesar de gostar muito do Canadá, a
vampira sabia que morar lá não seria conveniente
para Axel, que precisava acompanhar de perto a
reforma do hotel que havia comprado. Então,
depois de muito pensar e ponderar, eles optaram
por voltar para Nova Iorque. Assim, Ivana também
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poderia retomar as suas pesquisas no laboratório


logo que Isabelle ficasse um pouco maior.
Além disso, Axel já tinha um apartamento
lá, embora ela nunca tenha entendido por que eles
tiveram que esperar alguns dias para se instalarem.
Ele nem ao menos deixou que ela conhecesse o
lugar antes de se mudarem, ele dizia que estava
redecorando-o e que não queria que ela visse como
estava antes...
Aquele primeiro ano foi realmente um ano
de adaptação. Axel nunca tinha morado com
ninguém e, às vezes, Ivana o percebia meio
estressado. Ela também nunca tinha cuidado de um
bebê e, outras vezes, era ela quem ficava
estressada. Mas juntos, com calma e paciência, eles
foram superando as dificuldades e passaram a se
conhecer melhor, construindo um relacionamento
sólido enquanto o sentimento entre os dois se
aprofundava a cada dia.
Para o seu espanto e surpresa, Axel a pediu
em casamento quando Isabelle fez um ano. Foi um
dos momentos mais lindos de sua vida, comparável
somente àquele em que ela recebeu a filha pela
primeira vez em seus braços.
Pequenos flocos de neve começaram a cair
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e Ivana estendeu a mão para pegá-los. Suspirou ao


se lembrar daquela noite, não tinha como não
suspirar com uma lembrança daquelas.

Nova Iorque, quase três anos antes...

Já estava tarde e Ivana estava exausta. Os


convidados da festa de aniversário de um ano de
Belle haviam acabado de ir embora e a pequena
tinha sido, finalmente, colocada na cama. A
garotinha era bem ativa para a idade dela e foi
difícil fazê-la se acalmar e dormir.
Como em toda festa, o apartamento estava
uma bagunça e ela não sabia por onde começar.
Resolveu ir para a cozinha e estava ajeitando
algumas coisas quando Axel surgiu e a pegou
repentinamente pela mão, conduzindo-a até ficarem
próximos à grande janela de vidro da sala, de onde
podiam ter uma linda vista noturna da cidade.
Ela achou aquilo um pouco estranho e o
semblante de Axel demonstrava ansiedade, o que
deixou-a apreensiva.
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— Sei que talvez não seja o lugar ideal para


isso — ele disse, segurando em suas duas mãos. —
Que a maioria das pessoas escolhe ir a um
restaurante ou chamar a família em uma hora
dessas, mas... eu não conseguiria fazer isso de outro
modo, eu... — suspirou. — Me perdoe se eu não
fizer direito...
Axel se ajoelhou e ela não conseguiu evitar
que seu coração desse um salto, prendeu a
respiração quando ele enfiou a mão no bolso da
calça e tirou uma caixinha de veludo.
— Casa comigo, Ivy? — pediu ele, abrindo
a pequena caixa e revelando um lindo anel com um
delicado diamante incrustado.
Provavelmente seu estado chocado e sua
repentina mudez fez a ansiedade de Axel aumentar,
porque ele continuou ajoelhado e sem tirar os olhos
dourados dela, continuou.
— Pode parecer meio tardio, mas eu
precisei resolver muitas coisas dentro de mim para
ter certeza do que iria te propor... Eu não queria te
iludir ou te fazer esperar por algo que eu não
poderia te dar, eu precisava ter certeza... eu...
Ivana, com os olhos marejados, se ajoelhou
também e colocou o dedo indicador sobre os lábios
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dele.
— Eu sei, Axel — disse ela com suavidade.
— Não precisa se explicar, eu entendo... —
Grossas lágrimas rolavam pelo seu rosto. — Eu
aceito... — respondeu sorrindo e selando o
compromisso com um beijo.
Trocaram ali, ainda ajoelhados, um abraço
único, intenso, emocionado, e então Axel colocou o
anel em seu dedo. Aquela noite foi uma das mais
intensas noites de amor que fizeram, não só
fisicamente, mas emocionalmente.
Axel a levou para o quarto nos braços e
retirou sua roupa delicadamente, peça por peça,
olhos nos olhos. Colocou-a na cama e cobriu-a de
beijos quentes e molhados.
Ivana fechou os olhos. Ela amava aquele
lobo, amava estar com ele, se entregar a ele, amava
a forma como ele lhe beijava e lhe dava carinho e
prazer. Amava-o de todo o coração.
Axel, embriagado pelo cheiro e pelo gosto
da pele da vampira, desceu pelo seu ventre,
trilhando o caminho de beijos até chegar à sua
intimidade. Sentiu ela se contorcer ao tocá-la com a
língua e seu membro pulsou de tesão. Era uma
delícia excitá-la, prová-la, acariciá-la com a boca.
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A vampira sentia seu corpo e seu sexo em


chamas. A sensação de que iria se desmanchar de
prazer aumentava a cada lambida, a cada chupada.
O rapaz subia e descia com língua pelas dobras de
sua vulva com maestria, e em seguida contornava o
seu clitóris, enlouquecendo-a no processo. Ele
introduziu, então, um dedo em sua entrada e, como
um vulcão em erupção, ela gemeu e explodiu em
um gozo delicioso.
O Warg ergueu a cabeça e sorriu, olhando-a
com ternura. Em seguida, levantou-se e retirou,
finalmente, suas próprias roupas.
Ah, como ele era lindo... Que corpo, que
olhos, que ereção magnífica. Ela sentia seu corpo
ferver só de olhar para aquela perfeição.
Axel a penetrou com carinho de início,
levando seu corpo em uma dança rítmica onde
ambos pareciam fundidos um ao outro. Entre
pequenas mordiscadas, beijos quentes e olhares
intensos, suas almas pareciam tão unidas quanto
seus corpos, e assim ele a levou ao ápice mais uma
vez.
Aumentando mais o seu ritmo, Axel a
invadiu com mais força, abraçando-a e segurando
seus braços junto ao corpo, impedindo seus
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movimentos. Afundou-se, então, dentro dela com a


impetuosidade e voracidade própria de sua
natureza.
Ela gemeu alto e se agarrou aos lençóis.
Céus, como amava esse lado mais intenso dele e
como amava vê-lo se entregar ao prazer.
Com um gemido abafado e uma expressão
de êxtase, Axel despejou seu líquido quente em seu
interior e em seguida relaxou, afundando o rosto
em seus cabelos.
— Eu quero ficar assim com você para
sempre — murmurou ele em seu ouvido.
— Eu também quero ficar com você, Axel...
— respondeu a vampira, com os olhos marejados
novamente.

Uma bola de neve quase acertou Ivana,


assustando-a e trazendo-a de volta à realidade. Ela
sorriu e abaixou, colhendo também um pouco de
neve e jogando-a em Axel, que riu
descontraidamente. Ela mordeu os lábios, aquele
homem era uma perdição e sexo com ele nunca era

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monótono. Sim... aqueles quase quatro anos juntos


estavam recheados de boas lembranças.
O casamento foi outro momento
inesquecível para ela. Simples e íntimo, onde só
sua família e seus amigos compareceram, além de
Gerald. Axel estava belíssimo em um smoking
preto com gravata e camisa branca e ela escolhera
um vestido longo ajustado ao corpo com uma cauda
sereia.
Luca fez questão de vir da Romênia e ficou
encantado com a sobrinha, seu irmão foi o único
familiar de fora dos EUA a ser convidado e ela
ficou muito feliz por ele ter comparecido.
A relação com seu primo e seu tio Stefan
tinha voltado a ser como antes, no entanto, evitava
Lívia ao máximo. Não aguentava olhar para a cara
nojenta dela e não sabia como Rob a suportava. Por
causa dessa animosidade, ela não ia mais na casa
do primo; então, para que suas filhas mantivessem
o contato, ele costumava levar Beka à sua casa
quase todo sábado, e mesmo com a diferença de
dois anos de idade entre as garotas, elas se davam
muito bem.
Já o seu pai... Mesmo sabendo que ele não
fora responsável pela ida do mercenário até o
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hospital no dia do nascimento de Isabelle, mesmo


sabendo que o Conselho de Anciãos agira sem
consultá-lo sobre aquilo, Ivana ainda não tinha
conseguido perdoá-lo pelo que ele havia feito antes.
No entanto, ela soube por Luca que o pai
ficara perplexo com a ordem do Conselho. Mesmo
para ele, que achava que um aborto era a melhor
solução, matar um bebê que havia acabado de
nascer era uma atrocidade. Assim, Grigore acabou
entrando em uma discussão séria com os membros
do Conselho, que logo reverteu a ordem que havia
dado em relação ao assassinato do bebê por
entenderem que não valia à pena a confusão.
Entretanto, em represália, estes decidiram afastá-lo
de sua posição e o poderoso vampiro foi, então,
obrigado a ceder sua cadeira ao seu filho mais
velho, Victor.
Com o orgulho ferido e percebendo que
havia criado uma ruptura na própria família, uma
vez que seus tios, seu primo e o próprio Luca o
evitavam, o patriarca resolvera, há alguns meses,
propor uma reconciliação, convidando-os a ir em
seu castelo.
Mas Ivana estava relutante, não sabia se
queria ver seu pai novamente, não queria voltar ao
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castelo, sua raiva e sua mágoa ainda a queimavam


por dentro.
Realmente não desejava ir, mas Axel
insistira para ela aceitar o convite, pois ele mesmo
queria encarar seu pai frente a frente e ter certeza
de que ele nunca mais os incomodaria.
Assim, lá estavam eles na Romênia... Em
breve ela teria que encarar Grigore Constantin mais
uma vez.
Antes, porém, de seguirem para a
Transilvânia, Axel pediu-lhe que fizessem aquela
parada de alguns dias em Putna.
Na verdade, todos os anos, ele retornava
para a cabana no início de janeiro. Axel dizia que
era algo pessoal, mas nunca se aprofundava no
assunto. Ivana, no entanto, sabia que era algo
relacionado à garota humana que havia morrido há
quase quinze anos.
Ela conhecia a intensidade dos sentimentos
que Axel um dia já tivera pela menina e, por causa
disso, chegou a se sentir um pouco enciumada com
aquelas viagens, mas ao mesmo tempo,
envergonhava-se de seus sentimentos, pois achava
que era mesquinho e egoísta ter ciúmes de alguém
que não estava mais ali. Assim, preferia não
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questioná-lo sobre esse assunto.


Esse era o primeiro ano que ela o
acompanhava nessa viagem, surpreendentemente a
pedido dele próprio.
Ivana estranhou quando Axel lhe propôs
aproveitarem aquela viagem a fim de resolver dois
assuntos importantes, o do pai dela e outro que ele
ainda não havia lhe dito qual era. Ela não insistiu
em saber e resolveu esperar, mas não podia negar
que estava um pouco apreensiva quanto àquilo.
Agora estavam todos ali, juntos, aos pés da
montanha. Sua filha e seu marido brincavam
alegremente sob a neve que caía e ela sorria ao vê-
los tão felizes. Entretanto, logo os flocos
começaram a ficar mais pesados e eles resolveram
entrar.
— Vai me ajudar com o bolo? — perguntou
Axel à pequena Belle, que assentiu com a cabeça
esboçando um largo sorriso.
Durante a hora seguinte, a garota o
“ajudou” lambendo as vasilhas de massa e de
chocolate. O cheiro delicioso do bolo assado logo
tomou conta da cabana e quando ficou pronto, Axel
derramou a cobertura por cima sob os olhares
atentos da filha.
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— Vamos esperar esfriar um pouco, okay?


— disse ele. — Enquanto isso, vá se trocar, daqui a
pouco vamos sair.
— Okay... — respondeu Isabelle fazendo
um beiço.
— Aonde vamos? — quis saber Ivana.
Axel baixou a vista para o bolo, adquirindo
uma expressão mais séria.
— Até o cemitério... — respondeu.
A vampira, sentindo-se inquieta, foi com a
filha até o quarto para ajudá-la a se trocar. O tempo
estava esfriando e elas iam precisar de roupas mais
quentes por baixo dos casacos.
Então iriam ao cemitério? Era difícil para
Ivana entender seus próprios sentimentos naquele
momento. No fundo, sentia medo de Axel não a
amar tanto quanto um dia amou aquela garota, não
queria descobrir isso e estava receosa de ir até lá.
Quando voltaram para a cozinha, Axel
permanecia parado, encostado à pia, olhando para o
bolo. Isabelle logo correu para a mesa e sentou-se
na frente do doce, demonstrando clara expectativa.
Ivana permaneceu atrás da cadeira, levemente
ansiosa.
Axel olhou para as duas garotas à sua frente
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e sorriu meio de lado. Ele havia postergado muito


aquele dia, mas agora estava na hora de dividir com
elas os seus próprios sentimentos.
— Eu venho para cá todos os anos nesta
época porque hoje seria aniversário dela... —
começou a dizer ele. Levantou os olhos e fitou
Ivana. — Nunca te falei muito sobre Liz e creio que
está na hora de você saber de algumas coisas.
Ivana sentiu o peito apertar, mas não disse
nada e aguardou que ele continuasse.
— Eu a conheci aqui, vinte anos atrás. Ela
havia sofrido um acidente de carro na estrada e eu a
resgatei. Os pais dela haviam morrido, ela estava
com amnésia e, por causa do mau tempo, ficou
durante alguns dias aqui comigo... — Axel
suspirou. — Liz era só uma adolescente na época e
confesso que me infernizou um pouco, mas ela
acabou indo embora e eu quase a esqueci... Até que
um dia ela voltou a bater aqui. — Ele indicou a
porta da sala. — Só que ela não era mais uma
menina, era uma mulher...
A vampira mordeu o lábio inferior, ela não
queria mais ouvir aquilo, mas manteve-se firme.
Seus olhos, no entanto, se umedeceram.
— A Liz... ela... foi a primeira pessoa que
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realmente me fez sentir algo aqui dentro —


continuou ele, pondo a mão sobre o peito. — Ela
abriu meu coração para o amor, me fez rir e me fez
enxergar a vida de outro modo... Pela primeira vez,
eu me vi fazendo planos para o futuro, eu me vi
dividindo meu espaço e minha vida com alguém.
Ivana já não conseguia mais conter as
lágrimas, que rolavam silenciosas pela sua face.
— Mas ela se foi... por minha culpa, porque
eu não consegui protegê-la, porque eu a inseri em
um mundo que não era o dela... E é por isso que eu
volto aqui todo ano. — Um pequeno vinco se
formou entre as sobrancelhas do Warg. — Eu
carrego essa culpa guardada dentro de mim desde
então, e eu sinto que devo isso a ela.
— Você ainda a ama, não é? — perguntou
Ivana enxugando as lágrimas que teimavam em
cair.
Axel se desencostou da pia e rodeou a mesa,
chegando próximo da vampira, que mantinha a
cabeça levemente voltada para o chão e continuava
chorando. Então ele a virou para si e lhe ergueu
suavemente o queixo, fazendo-a encará-lo.
— Eu a amei... muito. — Ele enxugou com
o polegar mais uma lágrima que descia pelo rosto
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da esposa. — Mas agora eu amo você, Ivy... Você e


Isabelle são as pessoas mais importantes para mim.
Acho que o que eu sentia por Liz se transformou
em carinho, em saudade e gratidão. Gratidão por
ela ter me mostrado o caminho até você. Embora
Gerald também tenha sua parte nisso... — Ele
sorriu. — Mas o que eu quero dizer é que se ela não
tivesse aberto meu coração, eu provavelmente
nunca me apaixonaria por você ou por ninguém...
Eu vivi duzentos anos sozinho e achava que estava
bem assim, até ela aparecer e virar meu mundo de
cabeça para baixo.
Ivana entendia o que ele queria dizer, mas
ainda assim não conseguia parar de chorar, ainda
sim seu peito se apertava.
Axel a trouxe para mais perto e a abraçou,
beijando seus cabelos e acariciando suas costas.
— Não tenha ciúmes, Ivy... — disse ele
ternamente. — Não precisa... Olhe para mim —
pediu, aguardando que ela levantasse o rosto. — Eu
te amo! — falou, selando as palavras com um beijo
quente e profundo.
Isabelle olhava para os dois com os olhos
arregalados. Em sua cabecinha ela não entendia por
que a mãe estava chorando, afinal seu pai não tinha
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brigado com ela, ou tinha? E agora eles estavam


fazendo as pazes? A pequena saiu, então, da
cadeira e abraçou os dois pelas pernas.
Axel e Ivana olharam para baixo e sorriram.
Aquela menina era o fruto de uma paixão louca e
também do mais terno e profundo amor, era o que
havia de mais lindo entre eles, era o símbolo da
união de dois seres que mesmo sendo tão
diferentes, se completavam de uma forma única. O
Warg pegou a garota no colo e deu um beijo em sua
bochecha.
— Quem quer comer bolo? — perguntou.
— Eu! — respondeu ela levantando o braço
e sorrindo.
Axel colocou-a de volta na cadeira e pegou
a faca. Feliz aniversário, Liz..., pensou ele,
enquanto cortava algumas fatias do bolo e as servia
às garotas. Em seguida colocou uma fatia dentro de
uma pequena caixa de papel.
Após se deliciarem com o doce de
chocolate, dirigiram-se para o cemitério.
Felizmente a neve já havia parado de cair e, ao
chegarem lá, Ivana preferiu não se aproximar da
lápide, achou melhor deixar Axel ter privacidade
naquele momento. De longe e de mãos dadas com
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Isabelle, observou-o deixar a caixinha sobre o


túmulo e colocar algumas flores no vaso ao lado.
Seu coração estava mais tranquilo e, no fim,
sentia-se grata por ele ter compartilhado aquilo com
ela. O aperto no peito finalmente havia
desaparecido e ela compreendera, finalmente, os
sentimentos de Axel. Percebeu, então, que não
sentia mais ciúmes de Liz, o que era um alívio para
o seu coração. No entanto, vendo-o ali, agachado
diante do túmulo da garota e com o semblante tão
sério, sentiu uma certa tristeza, por ver como Axel
ainda sofria e se culpava pelo o que havia
acontecido. Talvez... talvez houvesse um jeito de
libertá-lo disso...

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“A linda garota de cabelos platinados como os


do pai já estava com quase quatro anos de idade e
era o seu maior orgulho.”

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Alguns dias depois daquela visita ao


cemitério, o casal e a filha desembarcaram em
Sibiu, na Transilvânia. Luca os pegou no aeroporto
e, com o coração apertado, Ivana contemplou as
mesmas montanhas e o vale que ela havia deixado
anos atrás de forma tão triste.
Ao sair do carro, a vampira procurou a mão
de Axel e a apertou com força, sentia-se em um

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déjá vu. Seu tio Stefan a aguardava na porta, como


da outra vez. Ele viera também para dar um apoio e
garantir que a reunião ocorresse de forma tranquila
e civilizada. A diferença é que agora seu pai e
Mirela não a aguardavam dentro do castelo, eles
estavam ali bem à sua frente, esperando-a ao lado
do tio.
Por um momento quis dar meia volta, entrar
no carro e ir embora. Era difícil olhar para aquele
homem que havia lhe feito tanto mal, que a havia
machucado tanto por dentro e que havia mandado
sequestrá-la para fazer um aborto forçado. Não
podia responsabilizá-lo pela tentativa de assassinato
de sua filha no dia de seu nascimento, mas ainda
assim era difícil engoli-lo.
Apesar da revolta ainda viva em seu
coração, Ivana respirou fundo e decidiu encará-lo,
ergueu o queixo e olhou em seus olhos. Para sua
surpresa, Grigore não tinha a mesma altivez
daquele vampiro que conhecera anos antes. Seu
semblante demonstrava cansaço, receio,
insegurança... Parecia que havia envelhecido uns 50
anos.
A vampira se aproximou e, após beijar o tio,
cumprimentou o pai secamente, mantendo uma
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certa distância. Em seguida virou-se para Mirela e


cumprimentou-a com um meio sorriso. A mulher
não tinha culpa de nada, e soube que foi a
insistência dela com o marido que o levara a
chamá-los para aquele encontro, mas ainda tinha
receio de confiar demais.
Apresentou-os, então, a Axel e Isabelle,
que, boquiaberta, observava tudo com olhos
arregalados, encantada com o tamanho do castelo.
O Warg, por sua vez, encarou o sogro
friamente, estudando-o com atenção.
Cumprimentou-o e à esposa com um discreto aceno
de cabeça e manteve-se em silêncio, enquanto
Mirela se abaixava para falar com Isabelle.
— Olá, mocinha! Eu sou sua avó, Mirela.
Você é linda sabia?
A garota sorriu e aceitou a mão da vampira
para entrarem. Ivana sentiu-se incomodada com
aquilo, mas sabia que sua filha estaria segura sob a
proteção do pai.
O clima estava pesado, o silêncio era
constrangedor e a tensão era quase palpável.
Sentindo que precisava quebrar o mal estar, Stefan
sugeriu, então, que fossem para o escritório, quanto
mais cedo resolvessem aquilo, melhor seria para
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todos.
Ao chegarem na espaçosa sala, palco de sua
última discussão com a filha, Grigore desta vez não
se sentou atrás de sua grande mesa, permaneceu em
pé com Mirela ao seu lado, enquanto os demais se
acomodavam nos sofás e cadeiras, ali previamente
dispostos. Ao perceber que a atenção de todos
estava voltada para si, o vampiro iniciou sua fala.
— Para começar, eu gostaria de agradecer a
você, Ivana, e ao Sr. Andersen, por terem aceitado
o meu convite. Imagino que não tenha sido fácil
para vocês tomarem essa decisão. — Olhou
diretamente para a filha. — Sei o quanto me odeia e
odeia este lugar, e por isso estou muito grato que
tenha me dado a chance de me desculpar por tudo o
que fiz.
O vampiro respirou fundo, fazendo uma
pausa.
— Estou aqui hoje, perante todos vocês,
para reconhecer os meus erros. Tardiamente, eu sei,
mas peço que me ouça, Ivana, e espero que possa
me perdoar...
Ele ergueu a cabeça, olhando para o teto,
tentando buscar as palavras dentro de si e voltou a
fitar a filha.
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— Eu reconheço que agi mal com você a


minha vida toda, reconheço que fui um péssimo
pai, aliás, que nunca fui um pai para você.
Reconheço que quis lhe impor minhas vontades
sem levar em consideração o que você pensava e
reconheço que fui cruel em querer que você... —
Olhou para Isabelle consternado. — Que você não
tivesse essa criança...
Abaixou a cabeça, encarando o chão por
alguns segundos e então ergueu novamente o olhar
para Ivana.
— Você tem todo o direito de ter raiva de
mim, mas ainda assim... venho lhe pedir o seu
perdão. Sei que meu orgulho quase destruiu essa
família e que demorei muito para enxergar as
minhas falhas. Quando fui destituído do Conselho
de Anciãos, achei que não podia haver humilhação
maior. Acabei me recolhendo nesse castelo e me
afastei de todos, por anos...
Olhou para Mirela e para Luca.
— Fui um tolo, eu sei... Demorou para eu
entender que a família era mais importante do que
meu orgulho ferido. Eu realmente gostava do poder
e sempre quis mantê-lo a qualquer custo; e quando
o perdi, foi como se me arrancassem as duas
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pernas. Mas agora sei que foi por causa da


importância que eu dava àquela posição que me
tornei um homem frio, prepotente, egoísta e
orgulhoso. E hoje agradeço por não estar mais
naquela cadeira, pois só assim consegui enxergar o
péssimo homem, pai e marido que eu havia me
tornado.
Grigore fez outra pausa, esperando que a
filha dissesse algo, mas Ivana estava com a
garganta embolada. Era como se toda a mágoa
guardada por anos estivesse transbordando de
dentro dela, e ela não conseguia falar, apenas
olhava para as próprias mãos, apertando-as uma
contra a outra, tentando não chorar.
Axel, que escutava tudo desconfiado e com
os olhos semicerrados, decidiu, então, se fazer
ouvir e colocar os seus termos.
— Não sei o que Ivana vai decidir a esse
respeito e só cabe a ela lhe perdoar ou não. Da
minha parte, aceitei o seu convite por um único
motivo, deixar bem claro que não hesitarei em
matá-lo se fizer qualquer outro tipo de ameaça à
minha família novamente.
Mirela arregalou os olhos, mas Grigore
nada disse.
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— Já lutei muitas guerras e já matei muita


gente por muito menos do que isso — continuou
Axel. — Mas você ainda é o pai de Ivana e de
Luca, e foi apenas em respeito aos dois que não
vim até aqui antes para cuidar desse assunto do
meu jeito. Então, quero que me prometa que nunca
mais irá se intrometer na vida dela e espero que
esse seu pedido de desculpas seja mesmo sincero,
caso contrário não terei o menor remorso em acabar
com você.
O silêncio na sala era tão grande que se uma
mosca voasse por ali seria facilmente notada.
— Entendo perfeitamente... — disse
Grigore, por fim. — Posso lhe garantir que meu
arrependimento é sincero e que nada farei contra
minha filha ou minha neta novamente. — Fitou
Ivana, que permanecia calada e olhava para o chão.
“Neta”, dizer aquela palavra havia mexido
com o velho Constantin. Virou-se, então, para a
garotinha de olhos azuis que estava sentada no colo
do pai.
— Isabelle, sei que ainda é muito nova para
entender o que está acontecendo aqui, mas sabe...
alguns anos atrás, eu fiz algo ruim à sua mãe e a
você, e eu gostaria muito que você também me
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perdoasse por isso. — Ele tentou sorrir, mas a


ansiedade não permitiu que o fizesse. — Me
desculpe, pequena — disse, por fim.
A menina de cabelos prateados o olhou por
um momento e então desceu do colo de Axel,
aproximando-se. O vampiro se abaixou a fim de
ficar na altura dela.
— Tudo bem... — disse Isabelle colocando
a mão sobre o rosto do avô. — Não precisa ficar
triste, eu desculpo.
Grigore fechou os olhos e segurou a
mãozinha da neta, levando-a aos lábios e dando-lhe
um beijo.
— Obrigado, minha querida... — falou
emocionado.
Ivana cobriu o rosto com as duas mãos e
não aguentou mais segurar as lágrimas. Não estava
preparada para aquilo, não sabia o que dizer e ainda
não sabia se conseguiria perdoar o pai.
Axel, que estava ao seu lado, colocou a mão
em suas costas e lhe fez um carinho reconfortante.
Ele entendia o quanto estava sendo difícil para a
vampira estar ali ouvindo tudo aquilo, e o quanto
seria difícil para ela deixar os ressentimentos para
trás.
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Por alguns minutos, nada foi dito naquela


sala. Stefan e os demais membros da família
trocaram olhares e resolveram sair da biblioteca
silenciosamente, deixando Grigore a sós com os
três.
O vampiro sentou-se no sofá em silêncio,
aguardando que a filha se acalmasse, e olhou para
Axel. Então aquele era o Warg que matara dois dos
melhores soldados Vampyrs? Se não fosse pelos
cabelos brancos, diria que era um cara comum, mas
agora sabia perfeitamente que o rapaz não era
alguém que devia ser provocado. Ainda não
entendia como ele e Ivana haviam conseguido ter
uma filha, não era natural, mas aquilo não vinha
mais ao caso. Não os havia chamado ali porque o
temia, mas porque realmente queria se reconciliar
com a filha e voltar a unir a família.
Quando Ivana finalmente parou de chorar,
enxugou as lágrimas e respirou fundo, levantando
os olhos para o pai.
— Não posso lhe dar essa resposta agora...
preciso pensar, preciso digerir isso tudo — disse.
Grigore assentiu.
— Não tenha pressa, vá descansar...
Conversaremos outra hora, quando estiver mais
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calma. Ainda há algo que preciso lhe dizer, a


respeito de sua mãe... — falou ele com um
semblante triste e se levantou. — Tenham uma boa
noite, nos vemos amanhã. — Então saiu.
Ivana estava arrasada, confusa e ao mesmo
tempo aliviada, como se o fantasma que a tinha
assombrado por tantos anos tivesse desaparecido.
Não desgarrou de Axel naquela noite, precisava do
conforto e dos braços aconchegantes dele,
tampouco deixou que a filha dormisse em outro
quarto. Apenas no dia seguinte permitiu que a
menina passeasse pelo castelo com Luca.
A garota, aliás, com seu jeito doce e
tagarela, conquistou a todos no castelo. Seu belo
irmão não cansava de paparicar a sobrinha e
mesmo ela sendo muito pequena, levou-a para
conhecer o castelo, como fizera com Ivana anos
atrás.
Anna, a cozinheira, ficou maravilhada com
os cabelos prateados e os incríveis olhos azuis que
Belle herdara dos Constantin. Mirela, então, parecia
aquelas avós babonas que querem fazer tudo para
os netos, mesmo ela não sendo sua neta de sangue.
Ivana, apesar de ainda ter suas apreensões,
acabou reconhecendo que não havia motivos para
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recear a aproximação da mãe de Luca. Ela nunca


lhe tratara mal ou demonstrara antipatia, além
disso, acreditava no irmão e ele lhe garantira que
podia confiar em Mirela.
Na tarde daquele dia, após refletir muito,
resolveu ter outra conversa com o pai, desta vez à
sós.
— Não posso dizer que irei perdoá-lo agora,
para mim não é assim tão fácil — disse, sentada de
frente para Grigore, na biblioteca. — Ainda tenho
muita coisa guardada aqui dentro e para mim é
difícil esquecer, deixar isso para trás como se nada
tivesse acontecido... — Ela suspirou. — Não
adianta eu dizer que te perdoo da boca para fora, o
perdão tem que sair daqui de dentro do coração, e
preciso de um tempo para isso, espero que
entenda...
— Sim, Ivana... É claro que entendo —
respondeu ele um pouco frustrado.
A vampira torceu as mãos nervosamente.
— Ontem você me disse que tinha algo para
me dizer... sobre a minha mãe... O que é?
Grigore remexeu-se no sofá, incomodado.
Há muito tempo ele havia varrido aquele assunto
para debaixo do tapete e se forçado a esquecê-lo,
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agora estava na hora de recolher a sujeira...

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“Apresentou-os, então, a Axel e Isabelle, que,


boquiaberta, observava tudo com olhos
arregalados, encantada com o tamanho do
castelo.”

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Grigore, visivelmente apreensivo, dirigiu-se a


um pequeno bar e abriu uma garrafa de vinho,
servindo-se e oferecendo uma taça à Ivana, que
recusou. Então sentou-se novamente de frente para
ela e respirou fundo, antes de começar a falar.
— Quando eu me casei com Mirela, as
coisas eram diferentes entre os Vampyrs, não havia
organização, não havia Conselho, não havia regras

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e não havia hospitais para nos fornecer sangue.


Apenas uma noção de que precisávamos nos
manter unidos a fim de sobreviver. — Ele franziu a
testa. — Não tínhamos qualquer sentimento de
empatia ou compaixão para com os humanos.
Saíamos à noite para caçá-los e transformávamos
alguns para nos servirem de criados, ou refeição...
O vampiro deu um gole em seu vinho.
— Usávamos o dinheiro e o poder a nosso
favor — continuou. — Não éramos cuidadosos e
havia muitos boatos a nosso respeito, por isso
éramos temidos e odiados pela população. Até que,
por volta de 1850, houve uma grande perseguição
aos vampiros e muita gente morreu, dos dois lados,
inclusive o meu primogênito, Andrei. — Ele se
levantou e deu alguns passos pela sala, reflexivo.
— A partir daí, os sobreviventes da famílias mais
antigas resolveram se organizar. Criamos o
Conselho e as regras, que aos mais jovens podem
parecer retrógradas, mas que nos manteve
invisíveis e garantiram nosso lugar nesse mundo até
hoje.
Ivana ouvia-o com atenção, tentando
imaginar onde seu pai queria chegar com aquele
relato.
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— Eu e Mirela tínhamos muitas diferenças


que se aprofundaram após a morte de nosso
primeiro filho, e mesmo após Victor nascer, anos
depois, não conseguíamos nos relacionar muito
bem. Apesar disso, nos respeitávamos e nos
mantínhamos fiéis um ao outro, até o dia em que
conheci sua mãe, uma humana linda que me virou a
cabeça.
Grigore passou as mãos no cabelo e
continuou.
— Isabelle... — Ele sorriu. — Fico feliz que
você tenha dado o nome dela para sua filha, foi
uma linda homenagem. — O vampiro suspirou. —
Enfim... No começo eu apenas queria o sangue
dela, e por isso mantive-a presa durante alguns
meses nos calabouços, aqui mesmo nesse castelo.
Visitava-a quase diariamente e sugava seu sangue
só um pouco por vez, mantendo-a viva. Com o
tempo, ela parou de me temer, eu me viciei nela e
me apaixonei.
— Se apaixonou? — perguntou a vampira
com uma ruga entre as sobrancelhas.
— Sim — respondeu o pai. — Nunca havia
sentido nada igual, queria-a para mim, mas não
apenas o seu sangue, queria tê-la como mulher. Em
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um ato impensado, eu a transformei e a subjuguei, e


ela me aceitou. Só que eu não podia deixá-la aqui,
sob o mesmo teto que Mirela. Então arrumei uma
casa para ela ficar e continuamos nos encontrando,
nesse tempo tivemos inúmeras relações. Por muitos
anos traí minha esposa sem pensar nas
consequências dos meus atos. Até que um dia
descobri que Isabelle estava grávida. Tentei
esconder o fato, mas Mirela descobriu e ameaçou ir
embora desse castelo.
Grigore fitou o chão, visivelmente abatido.
— Tive medo da desonra que isso seria para
o meu nome — continuou. — Naquela época, não
era permitido a nenhum Vampyr ter qualquer tipo
de relação com humanos e a traição dentro do
casamento era vista como algo infame. Tive receio
de perder minha cadeira no Conselho e, por isso,
decidi mandar sua mãe para longe, para a América.
Aquilo me custou o coração, mas orgulhoso como
eu era, resolvi que nunca mais teria qualquer
contato com ela.
Ivana engoliu em seco, seu coração estava
partido pelo que a mãe também devia ter sofrido.
Aquilo era triste de se escutar, mas também
percebia que era doloroso para Grigore falar sobre
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o assunto. Ela nunca imaginara que seu pai havia se


apaixonado por sua mãe e lhe custava entender por
que ele a havia abandonado.
O velho vampiro continuou.
— Quando eu soube que ela havia morrido,
senti, sim, um certo remorso e um grande vazio.
Contudo, não quis admitir meus erros e minha
responsabilidade. Mais uma vez o meu orgulho
falou mais alto e então resolvi pôr um tapete sobre
tudo aquilo e continuar com minha vida. Coloquei,
à minha maneira, um ponto final nesse assunto e
optei por me esquecer de vocês.
Grigore virou num só gole o resto do vinho
e olhou para a taça vazia. Constrangido, não queria
encarar a filha, que se mantinha em silêncio.
— A verdade, Ivana, é que a sua existência
me incutia culpa — confessou. — Além disso, eu
desejava manter minha desonra em segredo, por
mim, pelo nome da família, por Mirela. Entretanto,
isso acabou não saindo como eu planejava e, para a
minha humilhação, as notícias sobre você logo
chegaram à Europa e todos souberam da minha
infidelidade. Ainda assim, do alto da minha
arrogância, não quis descer de meu pedestal e
preferi te ignorar, te mantendo bem longe daqui,
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longe dos curiosos e das bocas fofoqueiras. A


distância facilitava isso e, no fundo, eu sabia que
você estava em boas mãos com Stefan — concluiu,
colocando a taça sobre a mesa.
Ivana, com um suspiro, levantou-se também
e se aproximou do pai, parando à frente dele. Já
tinha ouvido tudo o que precisava, agora era a vez
dela falar.
— Realmente, fez muita coisa errada,
senhor Constantin... Trocou os pés pelas mãos e
magoou muito a mim e à minha mãe. O seu
abandono a levou à depressão e à perda da vontade
de viver. Cresci sem mãe e sem pai, mas sou grata
por ter me dado tios maravilhosos. Enfim..., fico
feliz em saber que reconhece as suas
responsabilidades e se arrepende do que fez, e
agradeço por ter me contado tudo. Como eu disse,
não espere que eu vá perdoá-lo tão fácil ou tão
cedo. Terá que ter paciência comigo, assim como
terei que me esforçar para assimilar e aceitar tudo o
que me disse.
Grigore concordou, e Ivana, sentindo-se um
pouco abalada, mas finalmente liberta da influência
do pai, saiu da biblioteca a fim de procurar seu
marido e sua filha. Sua sensibilidade emocional
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ultimamente andava no limite e precisava urgente


de um abraço gostoso.

Nova Iorque, fevereiro de 2015

Duas semanas depois de terem retornado do


castelo, Ivana, animada, arrastava Axel pela mão
para dentro de uma pequena livraria no subúrbio de
Nova Iorque. Ele tinha Isabelle no colo e não
entendia a insistência da vampira para que fossem
até aquela loja naquele bairro estranho, sendo que
havia uma enorme livraria próxima de onde
moravam.
Ivana sorriu para ele ao entrarem. A loja era
pequena e parecia mais com um antiquário, onde se
vendiam livros usados e algumas quinquilharias. O
cheiro era de coisa velha. Aliás, tudo ali parecia
velho.
— O que estamos fazendo aqui, Ivy? —
perguntou ele com uma ruga na testa.
A vampira suspirou.
— Você se lembra de quando nos
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reencontramos em Londres e fomos juntos para o


aeroporto? — Os olhos dela brilhavam.
— Sim... eu me lembro... — falou ele
desconfiado. — Você pediu para eu cuspir em uma
garrafinha.
Ela riu.
— Então... — Ivana continuou. — Você se
lembra que eu disse que conhecia um mago?
— Sim... — Axel franziu levemente o
cenho, onde é que ela queria chegar?
— O nome dele é Levi e você tem um
encontro com ele. — Ela sorriu, enquanto pegava
Belle do colo do pai.
Axel não teve tempo de fazer outras
perguntas.
— Olá, você deve ser Axel... — disse uma
voz às suas costas.
O Warg se virou assustado, como não havia
percebido a presença dele? O homem já era um
senhor de cabelos e barba grisalhos.
— Sim, sou... — respondeu com uma ruga
entre os olhos. Magos eram estranhos...
— Por favor, venha comigo... — pediu o
senhor, virando-se e entrando por uma porta
coberta por um tecido escuro.
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Axel fitou Ivana com um olhar


interrogativo.
— Vai com ele! — ela disse.
— Por quê?
— Porque sim! Ah, espere, vai precisar
disso aqui! — Ela fuçou em sua bolsa e retirou de
lá uma pequena correntinha de ouro com um
pingente de coração, depositando-a na palma da
mão do marido.
Ele olhou para o objeto em sua mão e
depois fitou Ivana, estático.
— Como conseguiu isso? — perguntou,
sentindo um aperto no peito.
— Depois conversamos, Axel — respondeu
ela com um sorriso. — Confie em mim... Agora vá,
o Sr. Levi está te esperando.
Axel a encarou sério por alguns instantes.
Então fechou a joia na mão e seguiu atrás do velho
mago, passando pela mesma porta coberta por
tecido. Não fazia ideia do que Ivy estava
aprontando para ele, mas logo iria descobrir.
Entrou em um aposento com paredes
escuras, iluminado apenas por algumas velas.
Demorou alguns instantes para se habituar à
escuridão do lugar e então viu o mago, ele estava
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no centro da sala aguardando-o.


— Trouxe algum objeto pertencente à
humana? — perguntou o velho.
O Warg estreitou levemente os olhos e
mostrou a correntinha que um dia havia sido de
Liz. O que diabos estava acontecendo ali? Para que
ele queria aquilo?
— O que vai fazer? — questionou ele,
entregando a joia ao mago.
— Ivy não lhe disse? — Levi sorriu. —
Hum... pelo visto, não. Afaste-se um pouco, por
favor — pediu ele, indicando para Axel não ficar
no meio da sala.
Foi quando ele reparou que havia algo
desenhado ali no chão, parecia uma rosa dos
ventos, mas era, na verdade, uma estrela de oito
pontas pintada dentro de um círculo. Não era muito
grande, tinha, talvez, uns dois metros de diâmetro.
— Eu não costumo usar meus poderes para
atender ninguém — começou a dizer Levi,
enquanto pegava alguns cristais de tonalidades
diversas e os depositava nas pontas da estrela. —
No entanto, Ivy é como uma filha para mim... Nos
conhecemos há muito tempo, desde quando ela era
adolescente e vinha aqui fuçar em meus livros.
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Tenho muito apreço por essa moça e fico feliz que


ela tenha encontrado alguém que a ame como ela
merece.
O mago olhou-o seriamente e em seguida
colocou um conjunto maior de cristais
transparentes bem no centro da estrela. Então
depositou a correntinha sobre eles.
— Estou fazendo isso apenas por ter sido
um pedido dela — continuou ele. — Fique aqui. —
Ele indicou um local dentro do círculo, em uma das
pontas da estrela.
Axel não estava entendendo nada, mas
assentiu, se posicionando no lugar indicado por ele.
— O que vou fazer aqui, Sr. Axel, é abrir
um portal para outra dimensão e invocar a presença
da alma da garota a quem aquela joia pertenceu.
Você poderá falar com ela por alguns minutos...
Apenas por alguns minutos, compreendeu? Não
consigo manter esse portal aberto por muito tempo.
Então, seja objetivo.
Axel, boquiaberto, olhava para o mago sem
acreditar nas palavras que havia escutado. A joia
pertencia a Liz..., então... ele iria falar com ela?
Aquele senhor podia mesmo fazer aquilo? Abrir um
portal para falar com os mortos? Jamais ele
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imaginaria que um dia falaria com Liz novamente.


Seu coração batia forte e um frio invadiu seu
estômago enquanto observava Levi se posicionar
agachado na outra ponta da estrela e estender as
mãos, tocando o desenho.
O círculo brilhou, e luzes e centelhas
brancas começaram a sair do corpo do mago,
conectando-se com o cristal no centro da estrela.
Após alguns segundos, o círculo inteiro começou a
emitir uma luz suave e azulada, como se esta
estivesse saindo do chão.
O mago retirou as mãos esse afastou, indo
para a escuridão do fundo da sala. Axel observava
fascinado e ao mesmo tempo receoso o círculo
brilhante à sua volta. Então uma silhueta começou a
se formar em seu centro e, para o seu assombro, Liz
surgiu bem à sua frente, a menos de um metro de
distância.
A luz azulada diminuiu e ele se viu diante
da garota exatamente como ela era anos atrás. Ela
usava um vestido florido, tinha os cabelos
castanhos soltos e um olhar suave.
O Warg engoliu em seco, era mesmo Liz
quem estava ali? Ou aquilo era apenas uma ilusão?
— Oi, Axel... — disse a garota com um
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sorriso.
Diante do silêncio do rapaz e de seu olhar
descrente e espantado, Liz continuou:
— Escute, eu até sinto falta da sua rabugice,
senhor mal-humorado, mas agora eu preciso que
converse comigo... — Então seu semblante ficou
mais sério. — Não temos muito tempo.
Sem acreditar em seus olhos, Axel se
aproximou um pouco mais e levou sua mão até o
rosto da garota; e para o seu assombro, conseguiu
tocá-lo. Era alguma brincadeira aquilo?
A dúvida e a esperança assaltaram seu
coração ao mesmo tempo, e ele sentiu-o disparar
dentro do peito.
— Liz..., é você mesma?
— Sei que parece impossível, mas sou eu
mesma. — Ela o olhou com divertimento. — Senti
a sua falta, Axel...
O Warg sentiu uma dor aguda lhe cortar o
peito quando percebeu que aquilo não era uma
ilusão e que Liz estava mesmo à sua frente. Em um
rompante, todas as suas emoções reprimidas vieram
à tona. Arrependimento, culpa e dor voltaram a
pesar sobre o seu coração com a intensidade de
quando ela havia partido, e então ele não se
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conteve. Puxou-a para um abraço apertado e


escondeu o rosto em seus cabelos enquanto deixava
algumas lágrimas escaparem.
— Me perdoe, Liz. Por favor, me perdoe —
pediu com voz entrecortada. Um bolo parecia ter se
formado em sua garganta. Ele tinha tanto o que lhe
falar, mas não sabia como se expressar. As palavras
não vinham, somente as lágrimas e os sentimentos,
confusos e embolados.
Ela retribuiu-lhe o abraço e fez um carinho
em suas costas.
— Hum... Não sei se devo... — disse
zombeteira.
Liz sentiu o rapaz ficar tenso e então sorriu
e se afastou um pouco, olhando-o nos olhos, mas
mantendo-se em seus braços.
— Estou brincando, Axel. Com certeza
você foi um rapaz muito malvado em não me
contar sobre quem realmente era, mas... eu entendo,
então está perdoado. — Ela olhou-o
carinhosamente. Queria pegá-lo no colo e fazê-lo
compreender que estava tudo bem, que não
precisava mais sofrer.
— Eu tinha receio de te perder, de você não
entender, não me aceitar... — O peito de Axel
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queimava.
— Eu sei... eu compreendo perfeitamente.
Não acho que você tenha agido errado. Para falar a
verdade, eu também não saberia dizer se naquela
época eu aceitaria o que você é. Talvez sim, talvez
não, não sei... Aqui, desse lado do véu, é diferente,
é mais fácil compreender e admitir o mundo
sobrenatural..., mas aí..., eu posso entender por que
você escondeu isso de mim.
Axel desviou os olhos com uma expressão
de dor.
— Mas a sua morte...
— Axel, preste atenção — disse ela em um
tom suave, porém firme. — Foi apenas o meu
corpo material que morreu. Minha alma continua
viva em outra dimensão; um lugar lindo, cheio de
paz e tranquilidade. Não quero que se preocupe
comigo, estou bem e também quero que você fique
bem. Portanto, senhor ranzinza, eu quero que pare
de se culpar pela minha morte. Você não tinha
como saber que os Lykans iriam me atacar... — Liz
colocou a mão no rosto de Axel, fazendo-lhe um
carinho delicado. — Por favor, não quero mais que
sofra por causa disso, entendeu? Me doeu ver você
carregar por tantos anos esse peso, essa dor...
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— Você consegue me ver de onde está? —


perguntou ele, confuso.
— Sim, às vezes nos é permitido dar uma
espiada no mundo que deixamos para trás...
— Então sabe que... eu tenho outra pessoa,
e uma filha. — Ele abaixou a cabeça.
— Sim, eu sei e elas são lindas! — Ela
sorriu.
O Warg voltou a fitá-la, surpreso com as
palavras da garota.
— Não está com raiva, ou com ciúmes? —
perguntou.
— Não... não estou — disse Liz. — Eu
estou feliz! Feliz por você ter aberto novamente o
seu coração e saído daquele estado catatônico que
ficou depois da minha morte. Durante muito tempo,
eu fiquei com coração apertado por você, Axel. Eu
te via sofrer por minha causa e não queria isso. A
sua dor me angustiava...
Ela voltou a se aproximar de Axel e
encostou a cabeça em seu peito, sentindo seu calor,
ouvindo seu coração. Ele a abraçou mais forte.
— É óbvio que eu preferia não ter morrido e
que eu preferia estar aqui com você — continuou
ela. — Mas isso não era mais possível.
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Infelizmente, não existe magia no mundo capaz de


ressuscitar alguém e eu não aguentava mais te ver
tão sozinho, tão triste. Então eu comecei a torcer
para que alguém aparecesse na sua vida. — Ela
levantou a cabeça para olhá-lo. — E quando Ivana
surgiu, aquilo me deixou esperançosa de que você
poderia, finalmente, sair daquele abatimento e
voltar a viver, a ser feliz.
Ele ainda a fitava sem entender. Ela
realmente torcia para que ele ficasse com outra
pessoa? Isso significava que ela havia deixado de
amá-lo? Axel não sabia o que pensar ou o que
dizer. Seu estado emocional naquele momento era
uma bagunça, e os seus sentimentos, uma confusão
total.
Com Liz ali novamente em seus braços, ele
compreendia claramente que o amor que sentia por
ela sempre esteve lá, adormecido, mas ao mesmo
tempo ele também tinha certeza de que seu amor
por Ivy era verdadeiro, e sentia-se culpado por não
saber o que fazer com todos aqueles sentimentos
embolados.
A dúvida e a angústia tomavam conta do
Warg. Ele não sabia o que fazer, não compreendia
as suas emoções. Lágrimas voltaram a umedecer os
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seus olhos.
— Não sei como te dizer isso, Liz. Eu não
sei se você ainda me ama, mas eu sei que ainda te
amo e... eu também amo Ivana. É complicado, eu
não entendo... e não sei como lidar com isso
agora... — confessou de olhos baixos.
— Olhe para mim, Axel — pediu ela. — Eu
amo você e sempre irei amar; assim como sei que
você sempre irá me amar e amará Ivana. Pode
parecer confuso, mas entenda... O amor não tem
limites..., ele é infinito e existe de muitas formas.
— Ela sorriu. — Não é porque você ama uma
pessoa que irá deixar de amar outra. Podemos amar
inúmeras pessoas, de diferentes formas, em
diferentes tempos, e todas elas sempre caberão em
nosso coração. Amar é querer bem, é desejar o
bem. O amor não é egoísta, não é invejoso e não
desaparece com o tempo.
Axel não segurava mais as lágrimas e Liz
enxugou suavemente algumas delas com os dedos.
— Por favor, não se angustie com isso... —
continuou ela. — Aproveite esse amor que está
vivenciando agora e que é tão lindo e tão intenso.
Não pense que isso vai fazer você se esquecer de
mim ou eu de você. O amor verdadeiro não pode
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ser esquecido, Axel, nunca... Ele sempre vai estar


aqui dentro. — Liz colocou a mão sobre o seu
coração.
Ele a olhou com ternura e então desceu a
boca sobre a dela em apenas um roçar de lábios, um
beijo suave e carinhoso, um beijo que ele sabia que
seria o último.
Emocionados, aconchegaram-se nos braços
um do outro mais uma vez em um abraço quente e
apertado. E após depositar-lhe mais um beijo na
bochecha, Liz se afastou, suspirando.
— Nosso tempo está acabando...
Um frio invadiu o peito de Axel, não...
ainda era cedo, ainda precisava lhe falar...
— Liz... Por favor, me perdoe por nunca ter
lhe dito que te amava — disse Axel, com voz
emocionada. — Fui tão tolo...
— Suas ações sempre me falaram mais do
que suas palavras, Axel. — Ela sorriu e se afastou
mais um pouco, somente suas mãos se tocavam,
mas a sensação do contato entre seus dedos estava
começando a esmaecer.
Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas de
Axel, ele não queria que ela fosse embora, não
queria...
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— Não podemos mais ficar juntos no seu


mundo, Axel... — Liz voltou a falar. — Mas nossas
almas estarão sempre entrelaçadas. Viva a vida,
seja feliz. Ame com todo o seu coração e permita-
se ser amado, esse é o meu desejo...
À medida que Liz ia falando, a luz que os
cercava começou a diminuir de intensidade.
— Me promete, Axel! — pediu ela.
— Eu prometo... — falou ele com o coração
apertado. Não conseguia senti-la mais, ela estava
desaparecendo.
A garota sorriu mais uma vez e uniu as
mãos em formato de coração na frente do peito. Em
questão de segundos, sua silhueta se desvaneceu
junto com a luz.
— Liz?! — chamou ele, mas ela não mais
respondeu. Não havia mais luz no círculo e
somente o que restava naquela sala era a
iluminação das fracas velas.
O mago reapareceu da escuridão e pegou a
correntinha do centro da estrela, entregando-a para
Axel. Ele não disse nenhuma palavra, e Axel
também preferiu ficar em silêncio. Não havia nada
a dizer ali.
Seu coração, naquele momento, era uma
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mistura de tristeza e felicidade. Tristeza pela


saudade que sentiria de Liz e que ele sabia que o
acompanharia até o fim de sua vida, e felicidade
por saber que ela estava bem e que entendia o seu
amor por Ivy. Felicidade por sua esposa também ter
compreendido os seus sentimentos, por trazê-lo até
ali e por estar esperando por ele atrás das cortinas.
Mas além dessa tristeza e alegria, sentia-se
principalmente aliviado. Aliviado por ter
conseguido pedir perdão a Liz por tudo o que havia
acontecido, aliviado por ter lhe dito, finalmente, o
que sentia por ela, aliviado por ela ter lhe perdoado.
Era como se tivesse se desprendido de um grande
peso que já carregava há quinze anos em seu
coração.
Axel respirou fundo e saiu da sala escura,
piscando um pouco os olhos por causa da claridade.
Logo viu as garotas sentadas sobre algumas
almofadas em uma mesinha baixa.
Ivana mostrava um livro de gravuras para a
filha e sorria, enquanto Belle apontava com o
dedinho para as figuras e tentava contar a história
com as próprias palavras.
Ele observou-as por um tempo. Aquela cena
fazia o coração de Axel se encher de orgulho,
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alegria e esperança. Sim, ele era um afortunado por


ter pessoas tão especiais em sua vida, por amar e
ser amado, por ter uma família tão linda, e, sim, ele
seria feliz ao lado delas, como prometera a Liz.
Desta vez sem dúvidas, sem medo, sem culpa...
— Tudo bem? — perguntou Ivana com um
olhar apreensivo quando ele se aproximou.
— Sim... tudo — respondeu Axel,
inclinando-se e depositando um beijo nos cabelos
da esposa. — Obrigado por me trazer aqui,
significou muito para mim. — Olhou então para a
correntinha com o pingente ainda em sua mão. —
Ivy... você se importaria se eu desse isso para a
Belle?
Ivana sorriu.
— Não... não me importo — respondeu ela.
Axel abriu o fecho e colocou a correntinha
em volta do pescoço da filha, em seguida apertou-
lhe levemente o nariz, fazendo-a rir.
Assim que se voltou para Ivana, percebeu
que ela ainda o observava meio aflita, com uma
interrogação no olhar. Então sorriu e se sentou em
uma almofada ao seu lado, abraçando-a.
— Eu te amo, Ivy — disse em seu ouvido.
— De todo o coração, com toda a minha alma e
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para todo o sempre... — declarou, selando as


palavras com um beijo cheio de amor, paixão e
ternura.
Sim... Agora Axel conseguia dizer aquelas
palavras sem receios e sem culpa. Agora ele tinha a
certeza de que estava no caminho certo e de que
teria um futuro maravilhoso junto de sua família.
Um futuro cheio de amor e de esperança ao lado da
sua bela esposa, de sua linda e amorosa Belle e
daquele que seria em breve o mais novo membro da
família, um pequeno ser que já crescia há 12
semanas dentro do ventre de Ivy...

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“Então uma silhueta começou a se formar em


seu centro e, para o seu assombro, Liz surgiu bem
à sua frente, a menos de um metro de distância.”

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Romênia, janeiro de 2018.

Ivana saiu do carro e abriu a porta de trás a fim


de retirar o pequeno Ian da cadeirinha, o garoto de
apenas dois anos e meio era a cara do pai. Com
cabelos platinados e olhos dourados, aquele não
havia puxado nada dos Constantin.
Isabelle também já tinha saído do veículo e
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corria para a porta do enorme castelo, onde Mirela


a esperava de braços abertos. Sua linda filha estava
entusiasmada em voltar para aquele lugar. A garota
mantinha um contato regular por celular e por
Skype com os avós e com seu tio Luca, e não via a
hora voltar para lá, pois dizia que ali poderia
brincar de ser uma verdadeira princesa.
Já Ivana não compartilhava o mesmo
entusiasmo; na verdade, ainda não se sentia
confortável em estar ali, mas Luca havia insistido
para que eles viessem e ela não conseguia dizer não
a ele. Seu irmão estava prestes a se comprometer
oficialmente em um casamento arranjado, para
variar; e naquele final de semana aconteceria a
festa de noivado e o ritual de sangue.
Munida de um sorriso conformado, a
vampira caminhou com o filho no colo até a porta,
seguida por Axel que carregava as bolsas menores,
enquanto as maiores eram levadas pelos
empregados do castelo.
Mirela, após beijar e abraçar Isabelle,
cumprimentou-os e logo dirigiu sua atenção para o
pequeno Ian que, diferente de Isabelle, era um
pouco cismado com rostos estranhos, por isso
franziu o cenho e se recusou a ir para o colo dela.
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— Não se preocupe, Mirela... — disse


Ivana, colocando o garoto no chão um pouco
constrangida. — Ele é meio parecido com o pai
nesse sentido, demora um pouquinho para pegar
confiança, mas logo ele se acostuma. — Ela sorriu
e olhou para Axel, que estreitou levemente os
olhos.
— Ah, tudo bem... Teremos tempo para nos
conhecer melhor, não é Ian? — falou a vampira
para o pequeno neto, que permanecia sério,
olhando-a com estranhamento. — Vamos entrar,
está congelando aqui fora.
Realmente, naquela época do ano, as
temperaturas na Romênia chegavam fácil a 0º C e o
vento lá fora estava cortante. Apenas Axel parecia
não se incomodar com aquilo.
— Grigore está resolvendo um assunto na
vila e Luca ainda não chegou do hospital, mas logo
estarão por aqui — continuou Mirela. — Fiquem à
vontade, mandei reservar o mesmo quarto para
vocês, conjugado com o das crianças. — Voltou-se
para a neta. — Belle, que tal irmos até o ateliê dar
uma olhada no vestido que estou fazendo para
você?
O sorriso da garota se estendeu de orelha a
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orelha.
— Que cor é? É de princesa? — quis saber
ela.
— Ah, sim... É um lindo vestido, você vai
ser a princesa mais bonita da festa! — respondeu a
avó, enquanto pegava na mão da garota e seguia
com ela para o ateliê.
Ivana sorriu, confiava em Mirela e, apesar
de não ser íntima do pai, também não acreditava
mais que ele pudesse fazer algum mal a eles.
Grigore havia mudado muito nos últimos anos,
tentando ser mais participativo, mesmo que por
Skype, e mais agradável; e agora Ivana ficava feliz
que a filha pudesse ter um contato maior com a
família e com aquele lugar, um contato que ela
havia sido privada de ter.
Grigore chegou cerca de uma hora depois e
cumprimentou-os com educação e, até mesmo, uma
certa animação. Ivana ainda achava estranho ficar
cara a cara com o seu pai, mesmo tendo falado com
ele pelo telefone várias vezes nos últimos anos. Ela
reconhecia que ele fazia um esforço para se
aproximar, mas por mais que tentasse deixar o
passado no passado, ela continuava um pouco
arredia em relação a ele. No fundo, ainda era difícil
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perdoá-lo totalmente. E isso era algo que a


desgastava, pois estava cansada de carregar aquele
peso.
Luca só apareceu próximo da hora do jantar
e foi a alegria de Isabelle. A garota pulou no colo
do tio e o abraçou com entusiasmo, em seguida
apoderou-se de sua mão, em um claro sinal de que
não iria largá-lo tão cedo.
— Como vai meu belo irmão? — disse
Ivana dando-lhe um beijo na face. — Uau! Você
está cada vez mais lindo!
— Estou bem — respondeu ele com um
sorriso meio de lado.
O vampiro recém-chegado cumprimentou
Axel e em seguida se dirigiu para Ian. O garoto, um
pouco mais habituado ao lugar, não tentou se
esquivar da aproximação do vampiro, que se
abaixou até ficar na altura dele e fitou-o nos olhos.
— Olá mocinho, sou seu tio Luca — disse
ele estendendo-lhe a mão.
— Sou Ian... — respondeu o pequeno,
aceitando o cumprimento do tio.
— Prazer, Ian. Já te mostraram o castelo?
Ian balançou a cabeça negativamente.
— Ah, que ótimo, porque o guia turístico
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oficial daqui sou eu. Que tal amanhã de manhã? —


sugeriu o vampiro.
O garoto concordou e Luca sorriu,
levantando-se.
— Posso ir também? — perguntou Belle
puxando-o pela manga da camisa.
— Claro que sim, você era muito pequena
quando esteve aqui e não deve mais se lembrar de
tudo. Vamos todos, então.
Virou-se para o cunhado.
— Axel, ele é a sua cara — disse sorrindo,
mas logo seu semblante ficou sério. — Hum, tenho
que subir, depois a gente se fala... — O jovem
rapaz fez um carinho na cabeça de Isabelle e
desapareceu pelas escadas.
A vampira achou aquilo meio estranho,
esperava encontrar o seu irmão mais animado com
a chegada deles; no entanto, ele apresentava um
aspecto meio abatido, um olhar cansado. Luca
parecia preocupado, triste, não saberia dizer... Seria
por causa do noivado? Não sabia, mas depois
conversaria com ele.

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O dia seguinte amanheceu nublado. O que


foi bom para Luca que, após munir-se de um
chapéu e óculos de sol, ficou mais à vontade para
mostrar a parte externa do castelo ao sobrinho e à
Belle.
Ao final do passeio, levou-os ao jardim
onde uma fonte de água jorrava bem no centro.
Apesar do frio e da neve que cobria parcialmente as
plantas, o lugar ainda era bonito..
Enquanto os sobrinhos corriam em volta da
fonte, o jovem vampiro encostou-se em uma
mureta de pedra e passou a contemplar o vale que
se estendia à sua frente. Era um olhar vago,
melancólico...
— Luca!
O rapaz, perdido em seus pensamentos,
virou-se, assustado com o chamado.
— Ah... Oi, Ivy... — respondeu.
A vampira o olhava com curiosidade.
— O que está acontecendo, Luca? Você não
me parece bem...
— Não é nada, está tudo bem, sim... — Ele
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sorriu meio de lado.


— Não, não está... — falou Ivana com uma
ruga entre as sobrancelhas. — Você não me
engana, irmãozinho. Me diga, é por causa do
noivado?
O vampiro suspirou e desviou o olhar para o
vale novamente, mas não disse nada.
— Luca... — insistiu ela. — Você não é
obrigado a ficar noivo assim, por casamento
arranjado. Os tempos mudaram, até o pai entendeu
isso...
Luca virou-se para irmã, seu semblante
estava sério, mas calmo.
— Ivy, eu entendo que você pense assim...
Você não foi criada aqui, não consegue ver os fatos
como um todo.
— Como assim? — perguntou ela, juntando
ainda mais as sobrancelhas.
— Olhe para baixo — disse ele apontando
para o vale. — O que vê?
— A vila — respondeu Ivana.
— Exato, a vila. Uma comunidade com
cerca de 80 famílias de transformados que
dependem de nós, vampiros puros, para
continuarem existindo. — Luca apoiou os
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cotovelos na mureta. — Não é só para manter nossa


espécie viva que existem as tradições, Ivy, não
mais. É toda uma cadeia... Se deixarmos de sermos
puros, eles desaparecerão — disse, referindo-se aos
transformados.
— E não seria melhor assim? — questionou
a vampira. — Não me parece correta essa relação
de dependência. Não estamos mais no tempo dos
escravos.
— Eles não são escravos — retrucou Luca.
— Eles têm a opção de escolher entre a vida
humana e a de transformado, esqueceu? E nós,
vampiros puros, que os criamos a séculos atrás,
temos a obrigação de manter as condições
necessárias para que eles continuem existindo.
Ivana suspirou, era difícil pensar daquela
forma. Ela havia nascido livre e lutado para
permanecer assim. Não conseguia entender por que
os transformados escolhiam viver daquele jeito, sob
o controle dos vampiros.
— E você pretende perpetuar isso? —
indagou ela. — Vai sacrificar suas escolhas em
nome da tradição?
— Vou fazer o que eu acho que é certo... —
disse ele, com o pensamento meio distante.
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— Então por que está com essa cara de que


o mundo está prestes a acabar? — perguntou Ivana.
— Por que essa decisão te abala tanto?
Luca fitou a irmã e ela viu uma sombra
passar em seu olhar.
— Por nada... — disse ele, desencostando-
se do muro. — Vou indo, preciso trabalhar agora.
Nos vemos mais tarde, Ivy.
O vampiro virou-se e foi até as crianças,
deu um beijo em cada uma e em seguida se
encaminhou para a entrada do castelo.
Ivana manteve-se ali, olhando para o vale.
Fazia sentido o que seu irmão dissera? Logo Axel
apareceu para fazer-lhe companhia e ela comentou
sobre o que havia conversado com Luca.
— Não deve interferir nas decisões do seu
irmão, Ivy... Ele já tem idade suficiente para saber
o que faz. E creio que talvez o que realmente o
esteja deixando triste não seja o noivado arranjado.
Acho que o verdadeiro motivo está ali em cima, na
torre.
Ambos olharam para cima.
— O que tem na torre? — quis saber Ivana.
— Ali é o estúdio dele, de pintura.
— Não só isso...
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— O que tem lá? Está me deixando curiosa,


Axel!
— Uma humana...
— Hãaa? — exclamou Ivana. — Tem
certeza? Por que teria uma humana aqui no castelo?
Axel sorriu.
— Meu olfato não me engana, tenho
certeza. Não se o porquê... terá que perguntar a ele
depois.
A vampira continuou olhando para cima,
aquilo era estranho, muito estranho. Pelo que sabia,
humanos eram proibidos de ficar no castelo. O que
o seu irmão estava aprontando? Seria a tal humana
o motivo de ele estar assim, tão melancólico?
Estava curiosa agora. Queria respostas...
Axel sorriu e trouxe Ivana mais para perto,
tirando-a de seus pensamentos.
— Eu já disse que te amo? — sussurrou em
seu ouvido.
— Você me diz isso todos os dias. — Ela
riu. — Eu também te amo — falou, puxando-o para
um beijo quente.

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Do alto da torre, uma jovem garota afastou-


se rapidamente da janela. Será que aqueles
vampiros lá embaixo a teriam visto? Sentou-se na
cama preocupada e fitou tristemente as paredes de
pedra que a envolviam. Luca lhe dizia que ela não
precisava se sentir uma prisioneira, mas de que
outra forma ela podia se sentir?
Não estava autorizada a deixar o castelo... E
agora, com a chegada dos convidados para o
noivado, não podia nem ao menos sair de seu
quarto. Se aquilo não era uma prisão, era o quê?
A garota dobrou os joelhos e encostou sua
testa neles, esparramando seus cabelos dourados
sobre as pernas. Havia fugido de um monstro para
cair na rede de outros... Perguntas martelavam em
sua cabeça. O que ia acontecer com ela depois que
a festa acabasse? Seria liberada pelos vampiros? Ou
ficaria ali presa para sempre? Será que algum dia
conseguiria sair dali?
Somente Luca podia lhe dar aquelas
respostas...
Mas isso já é uma outra história...
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“E creio que talvez o que realmente o esteja


deixando triste não seja o noivado arranjado.
Acho que o verdadeiro motivo está ali em cima, na
torre.”

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Olá leitor/a.
Primeiramente gostaria de agradecer a você por
ter acompanhado e concluído a leitura desta obra.
Espero muito que tenha gostado e que possamos
nos encontrar novamente em outras aventuras.
Quero agradecer também a todas as pessoas
que me apoiaram nessa jornada, em especial ao
meu marido Erik Baccin, que amo tanto e que é o
meu leitor beta, meu suporte, meu companheiro e
meu maior incentivador. Sem ele, eu não
conseguiria ter chegado até aqui.
Agradeço à querida Gisa R. Costa, uma autora
fantástica que tanto me ajudou com sua energia
positiva, suas palavras incentivadoras e suas dicas
maravilhosas. Uma pessoa incrível, com um
coração de ouro e a quem eu desejo todo o sucesso
do mundo.
Agradeço a todos os meus queridos leitores do
Wattpad que acompanharam esta história desde o
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princípio, quando ela foi postada naquela


plataforma, e que me ajudaram muito com seus
comentários e observações, pois através destes
pude revisar cenas, melhorá-las e corrigir furos.
Agradeço à minha mãe Elizabeth e aos meus
filhos Gian e Bianca por fazerem parte do meu
mundo, deixando-o mais feliz e brilhante.
E agradeço a Deus e à vida por permitirem que
eu realize o meu sonho de criar tantos personagens
e escrever estas história que tanto amo.

Muito obrigada a todos!

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LUCA CONSTANTIN –
Sangue, prazer e luxúria
Desejos proibidos, sedução, intrigas, amores
complicados... Até que ponto podemos chegar
para satisfazermos nossos desejos?

Membro de uma das famílias de Vampyrs mais


antigas e importantes da Europa, Luca Constantin
está prestes a ficar noivo de uma bela vampira
através de um acordo arranjado há muitos anos pelo
seu pai.
Ciente de suas responsabilidades, ele pretende
honrar a cada uma delas, pois sempre prezou pelos
costumes e tradições de sua espécie, mas até que
ponto estará disposto a cumprir com este contrato?
Já o seu amigo e ex-colega de faculdade,
Sebastian, não é do tipo que segue regras. Rebelde,
carismático e pervertido, gosta de se divertir e
preza a liberdade que tem. E, diferente de Luca,
Bass não tem limites e não se prende a amarras ou
tradições.
Entre os dois vampiros, está Cătălina, uma
humana tímida e reprimida que não faz ideia de

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onde está se metendo. Arrastada por circunstâncias


que fogem ao seu controle e confinada em um
antigo castelo, ela se envolve, sem querer, em um
perigoso jogo de luxúria, paixão e sedução. Uma
armadilha da qual não conseguirá se livrar tão fácil.
Resta à garota saber qual é a pior prisão, a do corpo
ou a do coração.

Segredos, disputas, vícios e perigos. O


quanto estes três jovens estarão dispostos a
arriscar?
E o que fazer quando os sentimentos colocam
em risco não apenas reputações, mas vidas?

EM BREVE NA AMAZON,
AGUARDEM!

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SPECTRUM – Entre Sombras e


Segredos
Quanto tempo um amor pode durar? Dias,
meses, anos, vidas?
Amor além da vida, lutas, segredos, escolhas,
sentimentos esquecidos e muita quentura te
esperam nesse lindo romance.

Ricky é um caçador experiente e naqueles 150


anos como demônio, tornou-se temido e prestigiado
por suas habilidades. Seu trabalho é capturar
espectros, almas sombrias que vagam pela Terra, e
ele gosta disso.
No entanto, o caçador sabe que sua dívida com
o inferno logo será quitada e finalmente será livre
para escolher seu caminho. Ele só não imagina que
terá seus sentimentos revirados e suas convicções
perturbadas antes que esse momento chegue.
Mesmo podendo andar entre os humanos, agir
e se divertir como um deles, Ricky nunca quis se
envolver com ninguém, pois renegara, há muito
tempo, os sentimentos humanos; até receber sua
última missão...

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Um encontro casual e uma inexplicável atração


colocam por terra todos seus planos. Sentimentos
esquecidos, paixão, desejo, incertezas...
Ele havia se esquecido de como o amor podia
ser tão poderoso e tão insuportavelmente doloroso.
Assim, entre os desafios e lutas de sua missão,
o caçador se vê diante de um conflito entre sua
razão e seu coração. Agora Ricky precisava fazer
uma escolha, uma escolha que selaria seu destino.

JÁ DISPONÍVEL NA AMAZON:
https://www.amazon.com.br/dp/B07KYWT

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Chris Prado é mãe, esposa, professora e


escritora de romances. Sua paixão por criar
histórias vem desde quando era criança, porém
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somente resolveu colocá-las no papel em 2018.


Com o apoio do marido e da família conseguiu,
então, realizar esse sonho.
Sua primeira história foi Spectrum – Entre
sombras e segredos, um romance sobrenatural que
vai muito além de anjos, demônios e caçadas, pois
fala sobre a força do amor verdadeiro, sobre
destinos, escolhas e caminhos cruzados.
Misturando paixão, ação e fantasia, a autora se
aventura nas cenas sexy e quentes do romance
erótico, sem , no entanto, torná-lo o foco do livro.
Dando às suas histórias aquela deliciosa pitada de
quentura de que tanto gostamos.
Warg é sua segunda obra. Com um pegada mais
romântica e dramática, a história foi escrita entre
2018 e início de 2019 e vem carregada de muitas
surpresas e emoções.
Ainda em 2019, a autora pretende lançar um
spin-off de Warg, contando a história de Luca
Constantin, um belo vampiro que vai conquistar
corações. Um romance que promete muita paixão,
luxúria e desejos proibidos.

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[1] Fonte: Wikipédia

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