Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
B RADDO N
O Abraço
Gélido T RA D UÇÃO DE
CAMILA
FERNANDES
1
DAS
BY E D ITO R A WIS H
Tradução:
Camila Fernandes
Preparação:
Karine Ribeiro
Revisão:
João Rodrigues
Capa e projeto gráfico:
Marina Avila
Ilustração de capa:
Cecília Reis
2022 ISBN
Copyright 2022 Editora Wish. Este material possui direitos
de tradução e publicação e, ao não divulgá-lo sem prévia
autorização da editora, você está nos ajudando a continuar
publicando raridades para os leitores. Agradecemos por isso.
2
86
UMA RELÍQUIA DE
4
Sinopse
Um anel com uma serpente de
ouro, um abraço gélido e um
retorno macabro
5
O Abraço Gélido é uma história
que desafia os estereótipos de
gênero da época ao trazer, ao
mesmo tempo, uma mocinha
apaixonada e inocente e uma vilã
implacável.
6
Instagram
Você já segue o Instagram da
Sociedade?
@sociedadewish
instagram.com/sociedadewish
7
O Abraço
Gélido
Mary E. Braddon, 1860
E
le era artista — o que
lhe aconteceu, às vezes,
acontece com artistas.
Era alemão — o que lhe aconte-
ceu, às vezes, acontece com alemães.
Era jovem, bonito, estudioso, en-
tusiasmado, metafísico, imprudente,
incrédulo e desalmado.
8
E, sendo jovem, bonito e elo-
quente, foi amado.
Era órfão, vivendo sob a tutela
do irmão de seu falecido pai, o tio
Wilhelm, em cuja casa fora criado
desde a primeira infância, e aquela
que o amou foi sua prima — a prima
Gertrude, a quem jurou amar tam-
bém.
E amou-a de fato? Quando ju-
rou amá-la, sim. Logo desgastou-se,
porém, esse amor apaixonado; que
sentimento mais puído e infeliz tor-
nou-se, por fim, no coração egoísta
do estudante! Mas, em seu alvorecer
9
dourado, quando ele tinha apenas
dezenove anos e acabara de voltar
de seu período como aprendiz de um
grande pintor em Antuérpia, e os dois
perambulavam juntos nas cercanias
mais românticas da cidade ao pôr
do sol rosado, sob o luar santo ou na
manhã luminosa e alegre, que sonho
lindo era!
Guardam segredo, pois Wilhelm
tem a ambição paterna de encontrar
um pretendente rico para sua única
filha — uma visão fria e lúgubre,
comparada ao sonho do namorado.
Assim, ficam noivos; e lado a lado,
10
quando o sol moribundo e a pálida
lua crescente dividem os céus, ele põe
o anel de noivado no dedo da moça,
o dedo branco e afilado cuja forma
esbelta conhece tão bem. Esse anel
é peculiar: uma enorme serpente de
ouro com a cauda na boca, o símbolo
da eternidade; pertenceu à mãe dele,
e ele o reconheceria entre outros mil.
Se amanhã perdesse a visão, seria
capaz de encontrá-lo entre mil anéis
apenas pelo tato.
Assim, ele o põe no dedo dela, e
os dois juram ser fiéis um ao outro
para todo o sempre — na aflição e no
11
perigo, na tristeza e na mudança, na
riqueza ou na pobreza. Depois, será
preciso convencer o pai dela a apro-
var a união, pois agora estão noivos,
e somente a morte poderá separá-los.
Mas o jovem estudante, que escar-
nece da revelação mas adora o mís-
tico com entusiasmo, pergunta:
— Será que a morte pode nos se-
parar? Eu voltaria dos mortos por
você, Gertrude. Minha alma regres-
saria para ficar junto do meu amor.
E você… Você, se morresse antes de
mim… a terra fria não poderia afas-
tar-nos. Se você me amasse, voltaria,
12
e esses belos braços voltariam a se
fechar em torno do meu pescoço, tal
como agora.
Mas ela, com uma luz nos olhos
azul-escuros mais santa do que ja-
mais havia brilhado nos olhos dele,
disse que os mortos que morrem em
paz com Deus são felizes no céu e não
podem voltar à terra conturbada, e
que é somente dos suicidas — os po-
bres perdidos a quem os anjos dolen-
tes fecham as portas do Paraíso — o
espírito profano que assombra o ca-
minhar dos vivos.
Passou-se o primeiro ano do
13
noivado, e ela está sozinha, pois ele
foi para a Itália, contratado por um
homem rico para copiar pinturas de
Rafael, Ticiano e Guido numa galeria
em Florença. Talvez tenha partido à
procura da fama, mas o fato ainda é
amargo: ele partiu!
É claro que o pai dela tem saudades
do jovem sobrinho, que é como um
filho para ele; assim, acha que a
tristeza da filha é apenas a que a
prima deve sentir pela ausência do
primo.
Nesse ínterim, as semanas e os
meses se passam. O namorado manda
14
cartas — muitas no começo, depois
raras e, por fim, nenhuma.
TH E E N D
47
Deixe sua
avaliação
no Skoob ♥
Busque por
O Abraço Gélido
Participe do Grupo
O grupo no Telegram é cheio de
novidades e artes dos contos!
Papeie sobre este conto no:
t.me/sociedadewish
48
E X TR A: BIOGR AFIA
Mary E. Braddon
Autora de um dos maiores best-sel-
lers do século XIX, Mary Elizabeth
Braddon v iveu a era v itor ia na
49
praticamente inteira e se tornou
um retrato da literatura da época.
Décadas depois de sua morte, ela con-
tinua uma referência, não apenas pe-
las histórias que escreveu, mas pelo
legado que deixou para os romancis-
tas que vieram em seguida.
Braddon nasceu na Londres de
1835, terceira filha de Henry Braddon,
um advogado de reputação questio-
nável, e de Fanny White, que seria
uma de suas maiores inf luências
femininas. Mãe e filha nutriram
uma relação muito próxima e Mary
Elizabeth Braddon credita grande
50
parte de sua formação à mãe. Foi
muito influenciada pelo trabalho de
grandes autores da literatura inglesa
como Shakespeare e Charles Dickens.
Nutrida por muitas influências lite-
rárias, Braddon começou a escrever
ficção com apenas 8 anos de idade,
mas foi no teatro, e não na literatura,
que sua carreira começou de fato.
Quando começou sua carreira
artística, encontrou espaço primeiro
nos palcos. Entretanto, a era vito-
riana, em meio às suas diversas con-
tradições, estigmatizava as mulheres
ligadas ao teatro e seu passado nos
51
palcos seria motivo de escrutínio ao
longo de sua vida.
Em 1857 começou a publicar seus
poemas e, em 1860 começou a publi-
car histórias seriadas na revista The
Welcome Guest, que pertencia a John
Maxwell, com quem viria a se casar
em 1874. Foi na publicação em série,
muito comum à época, que Braddon
publicou os primeiros capítulos de
Lady Audley's Secret, que faria de
Mary Elizabeth Braddon um fenô-
meno editorial e se transformaria
em uma das histórias mais vendidas
da era vitoriana. Foi Lady Audley's
52
Secret que marcou Braddon para
sempre como uma das rainhas do
romance de sensação.
Segundo Lyn Pykett, pesquisa-
dora e autora de livros sobre roman-
ces de sensação, "de muitas maneiras,
o romance de sensação era tanto um
fenômeno editorial quanto um gê-
nero ficcional. Estava associado a um
estilo de editor ousado e empreende-
dor que buscava novas maneiras de
maximizar a publicidade, os lucros
e o que hoje chamaríamos de 'pe-
netração no mercado'." O romance
de sensação foi um gênero também
53
bastante estigmatizado durante seu
auge editorial, sendo visto como por-
tador de histórias "menores" e "me-
nos sofisticadas".
O sucesso de Lady Audley's Secret
criou uma demanda que Braddon pre-
cisava suprir para se sustentar como
escritora. Além de escrever para o
público de classe baixa com as penny
bloods que escrevia de forma anônima,
também atendeu à demanda de um
público diferente, escrevendo contos.
Braddon se tornou conhecida também
por suas histórias com personagens
femininas complexas e por trazer
54
elementos de outros gêneros para o
romance de sensação, como aspectos
provincianos e elementos góticos. Em
suas histórias ela também desafiava
estereótipos de gênero e questionava
costumes vitorianos. Segundo Pykett
"a carreira de Braddon é, em muitos
aspectos, tanto um modelo do padrão
de carreira da escritora profissional
de sucesso em meados do século XIX
quanto um guia para as mudanças
nos gostos literários e as práticas de
publicação no período".
Ela também tornou-se editora de
uma revista literária, a Belgravia,
55
voltada para um público leitor de
classe média. Foi ali que ela continuou
publicando alguns de seus trabalhos
autorais, alguns até mesmo com
pseudônimos ou de forma anônima.
Mesmo trabalhando atendendo à de-
manda de seus editores, do mercado
e dos próprios leitores, Braddon foi
alvo de duras críticas por conta não
apenas pelo fato de ser mulher e pelo
principal gênero literário dentro do
qual escrevia, mas pela velocidade
e volume de sua produção em série.
Sua vida pessoal também foi alvo
de escrutínio por conta de possíveis
amantes e seu passado no teatro,
56
como mencionado anteriormente, e
sua relação com uma literatura con-
sumida pelas classes mais baixas.
Anos mais tarde, Braddon se tor-
naria uma referência entre críticas
feministas como um exemplo de es-
critora esquecida e/ou desvalorizada.
Recentemente ela vem sendo redes-
coberta por novas gerações de leitores
que encontram em suas histórias pa-
ralelos interessantes com o presente.
E, ainda segundo Lyn Pykett, "talvez
ainda mais importante, as releituras
da ficção de Braddon também figura-
ram com destaque nas tentativas de
57
repensar as relações entre a cultura po-
pular e a alta cultura e de redesenhar
o mapa do romance do século XIX".
Mary Elizabeth Braddon assistiu
ao fim da era vitoriana e morreu em
1915. Era uma artista extremamente
atenta ao mercado, com um olhar ím-
par para as demandas da época e foi
um exemplo de autora que sabia exa-
tamente o que estava fazendo e para
quem estava fazendo. O Abraço Frio
é uma pílula da grande autora que
Braddon foi e chega com exclusivi-
dade para os assinantes da Sociedade
das Relíquias Literárias.
58
Profissionais
que trabalharam
neste conto
Camila Fernandes
TR A DUÇÃO
59
Karine Ribeiro
PRE PA R AÇÃO
Escritora premiada,
tradutora e revisora,
graduanda em Tradução
pela UFMG. @karineescreve
João Rodrigues
RE V ISÃO
Bacharel em Tradução
e especialista em
Produção e Revisão
Textual.
@jojsrodrigues
60
Cecília Reis
ILUSTR AÇÃO
Marina Avila
PROJE TO G R Á FICO
Produtora editorial e
fundadora da Wish. Mãe
de gatos e de livros.
@casatipografica
e @marinalivros
Valquíria Vlad
COMUNICAÇÃO E
COMUNIDA DE
Escritora, pesquisadora
e publicitária formada
pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
@valquiriavlad
Laura Brand
ME DIAÇÃO E
PA R ATE X TOS
Editora, coordenadora
editorial, jornalista e
criadora de conteúdo.
Formada pela PUC-MG
e Columbia Journalism
School. @nostalgiacinza
62
Muito obrigada
por apoiar este
financiamento
coletivo!
Neste mês foi possível viabilizar a cura-
doria, tradução, revisão e ilustração do
conto The Cold Embrace! A cada mês de
assinatura, a Wish continuará resgatando
os tesouros do passado em novas edições
para os caçadores das Relíquias Literárias.
63
N O P R ÓX I M O M Ê S
Tá sentindo um
clima de Natal?
Dois contos de L.M.
Montgomery com temática
natalina e ilustração lindinha!
64