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MARQUÊS
O Duque de Strathmore
SASHA COTTMAN
Traduzido por
VIRGINIA GRANGEIRO
Copyright © 2021 por Sasha Cottman
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recuperação de informações, sem permissão escrita do autor, exceto para o uso
de citações breves em uma resenha de livro.
Conteúdos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Sobre o autor
Romances em português
Livros em inglês
Capítulo 1
L ondres, 1817.
Para a sua surpresa, descobriu que seu tio Oscar era um orador
perspicaz e habilidoso. Quando a orquestra fez uma pausa para a
refeição, ele ordenou a multidão e fez um discurso animado e, por
vezes, emotivo, dando boas-vindas ao seu irmão e à sua família de
volta à Inglaterra. Millie, Charles e seus pais estavam parados
juntos, aceitando a saudação calorosa do chefe de sua família.
– Aposto que receberemos uma chuva de convites em nossa
porta amanhã de manhã – James comentou com sua esposa.
Diante da troca de sorrisos entre seus pais, Millicent não pôde
deixar de notar a luz nos olhos de Violet. Nunca a vira tão feliz
antes. Ser mãe de um dos solteiros mais elegíveis da Inglaterra
garantiria que o nome da mais velha aparecesse no topo da lista de
convidados das festas e eventos mais exclusivos pela próxima
temporada.
Quando o olhar da mulher caiu sobre a jovem, o sorriso dela
vacilou. Se alguém faria o papel da proverbial mosca no unguento,
seria sua filha roliça e problemática.
– Bem, não fui eu que causei a cena desta noite. Você pode
culpar Lorde Brooke por isso – Millie murmurou para si mesma.
Pela primeira vez em sua vida, sentia uma distinta distância
crescer entre ela e sua mãe. Se um rapaz tivesse a tratado daquela
mesma forma em uma festa em Calcutá, tinha certeza de que Violet
teria atravessado o cômodo para conversar com ele imediatamente.
Entretanto, aqui, não o fizera; não em Londres. As regras eram
diferentes, as pessoas não diziam o que estavam pensando em
público. Em vez disso, preferiam cochichar sobre você nas suas
costas.
Enquanto continuava a ouvir o discurso de seu tio, o olhar da
dama vagou pelo salão, eventualmente parando sobre um
cavalheiro alto e de rosto severo que estava parado em um dos
cantos. Os pelos de sua nuca se eriçaram. O homem segurava a
mão de uma mulher de cabelos escuros que exibia o mesmo olhar
desaprovador em seu rosto. O sujeito se inclinou na direção dela e
sussurrou algo rapidamente, a desconhecida fitou algo atrás dele,
voltou sua atenção para o cavalheiro e assentiu.
Millie levou alguns segundos para perceber por que o casal tinha
chamado sua atenção. Quando olhou atrás da mulher, viu David e,
ao lado dele, Lucy. Ambos escutavam, inexpressivos, o discurso de
Lorde Ashton. Ela notou a similaridade entre os irmãos Radley e o
casal mais velho. Agora, estudando o modo como o grupo estava
próximo, sentiu que era razoável assumir que o cavalheiro e a
senhora de cabelos escuros eram, de fato, o duque e a duquesa de
Strathmore.
O olhar da jovem então seguiu para uma figura solitária, parada
ligeiramente atrás do duque. Por cima do ombro direito do homem,
um par de olhos a mirava diretamente.
O marquês de Brooke.
Ficou claro que, quando o mais velho reunira a sua família para
ouvir a fala do visconde de Ashton, ele se posicionara na frente de
Alex, de modo que o anfitrião não pudesse vê-lo. Se a decisão
tivesse pousado em suas mãos, preferiria que o homem o tivesse
mandado para casa, entretanto, estava a par do escândalo que
aquilo poderia causar.
Alex se distanciou um pouco de sua família e encontrou um
espaço na multidão. Agora, ele tinha uma linha de visão direta até
ela. Millicent afastou o olhar e encarou suas luvas.
Nesse momento, Charles se inclinou e sussurrou em seu ouvido:
– Levante a cabeça e sorria, Millie, está parecendo
verdadeiramente miserável. Por favor, não estrague a noite. Você
sabe quão importante ela é para todos nós. – Seu irmão tomou sua
mão e deu-lhe um aperto tranquilizador e gentil.
A moça sorriu. Aquele era o velho e bom Charles.
Erguendo o rosto, Millicent fitou a multidão no ponto mais
distante que encontrou de Alex. Contudo, viu-se, mais uma vez,
pousando seu olhar sobre ele. O rapaz, consistente como sempre, a
encarava de volta.
Ele sorriu, o que fez com que outro calafrio descesse por sua
espinha. O marquês de Brooke tinha, de algum modo, conseguido
fazer seu caminho até o lado oposto do salão, longe do ponto onde
sua família estava.
Reunindo toda a sua força de vontade, a jovem se obrigou a
continuar fitando a multidão com um sorriso frágil plantado em seu
rosto. Millie tentou analisar as tapeçarias indianas mais próximas,
ocupando sua mente com o padrão floral intrincado das bordas, mas
seu esforço foi em vão. A faísca que sentira na pista de dança
estava se transformando em uma pequena chama de ressentimento
raivoso.
Completamente desanimada depois da semana que tivera em
Londres e farta após se ver vítima de um jogo vil arquitetado por um
bruto rico, a dama decidiu que já tinha aturado o suficiente. Se o
sujeito achava que simplesmente permitiria que ele continuasse com
sua vingança estúpida sem que ela retaliasse, então estava prestes
a ter um choque.
Por que não consegue me deixar em paz? Existem tantas outras
senhoritas que você poderia escolher para provocar. Se acha que
encontrou um alvo fácil, está completamente enganado. Sou muito
mais forte do que você pensa.
Millicent riu.
Alguém tinha que enfrentar pessoas como Alex Radley, e ela
nunca fugia de uma luta. Embora ele ainda não soubesse, o
marquês de Brooke acabara de encontrar sua oponente.
Capítulo 3
A ssim que ela passou pela saída e parou do lado de fora, Alex
fechou a porta atrás deles. Millie se virou, colocando uma
mão sobre o coração.
– Essa foi por pouco – ele disse, verificando o trajeto para se
certificar de que mais ninguém estava tendo um momento privado
na escuridão.
– Foi divertido – a jovem riu, seus olhos brilhavam. – Nunca mais
pude andar mais rápido do que uma leve caminhada, já que não é
algo considerado digno de uma dama. Na verdade, qualquer tipo de
diversão parece estar fora dos limites para as senhoritas da cidade.
Se minha mãe tivesse me visto, eu seria confinada em meu quarto
apenas por ousar correr. Nem quero imaginar o que ela faria se
soubesse que estou aqui com você.
O marquês apontou para o casaco que a mais nova ainda
segurava em suas mãos.
– Talvez queira vesti-lo. Está uma noite bastante fria. Seria um
pouco difícil de explicar para a sua mãe porque ficou resfriada se,
tecnicamente, tudo o que fez foi participar de uma festa em uma
residência bem aquecida.
Millicent desdobrou o agasalho azul-escuro e permitiu que o
cavalheiro lhe ajudasse a vesti-lo. As mãos dele pousaram
gentilmente nos ombros da jovem enquanto esta rapidamente
abotoava a vestimenta. Ao notar Lorde Brooke se aproximando,
suas mãos se atrapalharam com os botões duplos de cima.
– Deixe-me ajudá-la – ele ofereceu, parando à sua frente. –
Tenho alguns desses em casa, eles são difíceis de se abotoar sem a
ajuda de um valete ou de um espelho.
O rapaz trabalhou rapidamente, entretanto, permitiu-se a
indulgência de ficar mais perto da moça do que deveria. Quando
terminou, Alex segurou a mão dela, verificando novamente seus
arredores antes de guiá-la pelo trajeto escuro atrás da casa. Ao
chegarem na rua mais próxima, o marquês olhou para ambos os
lados. Com sua vigilância cuidadosa, estariam de volta à festa em
pouco tempo e ninguém saberia que tinham saído.
Com exceção de um coche de aluguel que deixava um par de
cavalheiros idosos e bêbados em uma residência próxima, a Bird
Street estava silenciosa e vazia. Lorde Brooke riu. Estava realmente
se divertindo com aquele passeio.
– Estamos quase lá. Aquela é a minha casa – falou, apontando
para uma construção alta e estreita do outro lado.
Eles atravessaram a rua, evitando os locais em que o gelo e a
neve haviam se acumulado. Ao chegar no topo dos degraus da
entrada e encarar a porta, o rapaz rapidamente tirou uma chave de
seu bolso.
Millicent arqueou uma sobrancelha.
– Usamos os criados da Residência Strathmore durante o dia,
então, na maioria das noites, os únicos funcionários que
permanecem aqui são o Sr. e a Sra. Phillips. Não é algo
convencional, mas meu irmão e eu gostamos da privacidade que tal
arranjo nos proporciona – Alex explicou, destrancando a porta e
incentivando-a a entrar.
Quando ela atravessou a entrada de sua elegante casa, o
marquês fez uma reverência. Um sorriso surgiu em seu rosto dele.
– Bem-vinda à minha humilde residência, Srta. Ashton – ele
disse.
A dama manteve a cabeça erguida de um modo magnificente à
medida que examinava o vestíbulo.
– Sim, é bem humilde, não é mesmo? – Millie respondeu.
Antes que pudesse se impedir, o cavalheiro a segurou pela
cintura e a girou pelo cômodo. A garota soltou um gritinho, fazendo
com que ele se lembrasse de repente quem ela era e onde estavam.
– Ah, sinto muito, Millie. – O marquês arfou ao soltá-la. – Estou
tão acostumado a fazer isso com Lucy quando ela me provoca que,
por um momento, me esqueci completamente de quem você é.
O homem balançou a cabeça com descrença. Não só roubara a
melhor amiga de sua irmã da festa, como também colocara suas
mãos sobre ela assim que tinham adentrado a sua casa. Que tipo
de libertino se tornara?
– Bem, você disse que não me possuiria – a jovem comentou,
endireitando suas roupas. – Embora tenha falhado em mencionar
que tentaria me fazer cair no chão.
Lorde Brooke vasculhou sua mente à procura de palavras que
pudessem expressar seu arrependimento, todavia, só conseguiu
proferir outro “Sinto muito” patético.
Millicent levantou as mãos em rendição.
– Eu desisto. Só me diga o que quer de mim.
– O quê?
– Já conheci piratas e batedores de carteira, Lorde Brooke;
Calcutá está cheia deles, contudo, nunca fui tão abertamente
atacada. Só me diga o que você quer e eu lhe entregarei. Minhas
luvas? Ou talvez sejam minhas sapatilhas, embora elas estejam um
pouco molhadas. Não carrego nada mais comigo que valha a pena
ser roubado.
Alex a encarou, incapaz de responder. Sabia muito bem que, o
que quer que dissesse naquele momento, seria mal interpretado.
Para seu imenso alívio, a moça começou a rir.
– Está tudo bem, Alex, eu estava apenas brincando. Sei que não
teve más intenções; além disso, minhas sapatilhas nunca caberiam
em você.
Um suspiro de alívio escapou de seus lábios e ele fechou seus
olhos. Além de sua irmã, conhecera poucas senhoritas com um
verdadeiro senso de humor. Por mais estranho que o dela fosse,
Millie ao menos conseguia rir diante de uma situação
desconfortável.
– Você realmente conheceu um pirata? – o marquês perguntou,
intrigado.
Ela assentiu.
– Sim, e o pilantra roubou meu bracelete de ouro.
Uma onda de raiva percorreu o corpo do rapaz. Era melhor que o
pirata estivesse morto ou ele mesmo faria o trabalho sujo. Lorde
Brooke sentiu uma vontade súbita e avassaladora de pular no barco
mais próximo e ir à caça do bruto que roubara a dama.
– O que o seu pai fez? Ele o açoitou? – perguntou, tentando
controlar sua raiva.
O rosto dela ficou vermelho-vivo e seus olhos se arregalaram
com horror. A moça segurou o braço dele, puxando-o para perto.
– Você não pode sequer pensar em mencionar isso para o meu
pai; ele me mataria. Por favor, Alex, jure que nunca dirá para
ninguém – a outra pediu.
– Por que não? – o cavalheiro questionou, sentindo que ela não
estava lhe contando toda a história.
Millicent fechou os olhos com força e confessou:
– Você não deve contar a ninguém, porque eu perdi o bracelete
em um jogo de cartas. Se meus pais ou meu irmão descobrissem,
inúmeros funcionários da nossa residência atual estariam em maus
lençóis. A culpa não foi deles; todos tentaram me impedir, mas eu fui
teimosa demais e não lhes dei ouvidos. Acredite quando digo que
aprendi minha lição e que nunca mais visitei a taverna de um cais.
Alex assentiu em concordância e a jovem soltou seu braço.
– Já que esclarecemos isso, será que podemos tomar a xícara
de chá que prometeu antes que alguém perceba que não estamos
na festa? – ela indagou.
O marquês indicou uma porta do outro lado da entrada.
– A cozinha fica no andar de baixo, seguindo por ali.
Millie caminhou atrás dele ao se dirigirem para a pequena
cozinha. Alex verificou o fogão. Felizmente, o Sr. Phillips se
lembrara de acrescentar lenha extra ao fogo, motivo pelo qual a
água na chaleira estava quente.
– Os Phillipses já devem ter se retirado para os seus aposentos,
mas nos deixaram um pouco de água quente. O chá logo estará
pronto – ele informou, virando-se a tempo de ver a dama retirar suas
luvas e se acomodar na cadeira de madeira próxima à mesa do
local. – Normalmente, David e eu fazemos as refeições em nossos
quartos ou comemos com nossa família na Residência Strathmore,
portanto, não utilizamos a sala de jantar com frequência. Quando
queremos entreter nossos amigos, visitamos alguns dos clubes dos
quais fazemos parte.
A moça sorriu.
– Passei metade da minha vida no andar inferior. A cozinheira da
minha família está conosco desde que nasci, então ela sabe
exatamente o que eu gosto de comer. A Sra. Knowles consegue
identificar meu humor apenas pelo meu olhar, assim como que tipo
de comida me deixará feliz.
O rapaz se virou em direção ao fogão e, depois de localizar uma
lata de chá, tirou-a da prateleira e a levou até Millicent. Ele abriu a
tampa e moveu o recipiente sob o nariz da jovem.
– O masala chai que estava procurando, Srta. Ashton – anunciou
com uma certa presunção.
Os olhos dela brilharam com deleite ao agarrar a lata com
ansiedade. A dama ergueu um dedo, sinalizando que ainda julgaria
a qualidade da oferta, então, aproximou o recipiente do seu rosto e
inspirou profundamente. Um minuto depois, deixou seu corpo se
encostar na cadeira, ainda segurando a lata com firmeza enquanto
fechava os olhos.
– Ah, Alex, você não tem ideia do efeito que esse aroma tem em
mim e do quanto ele me lembra da minha casa – ela murmurou. –
Tinha me esquecido da sensação maravilhosa de apreciar o toque
forte do chá quando ele atinge o fundo da minha garganta. Senti
tanta falta disso.
A garota só estava analisando o chá, contudo, tudo o que Lorde
Brooke conseguiu ouvir foram as duas primeiras palavras de sua
fala. Virando-se rapidamente para os armários, inspirou e expirou
várias vezes antes de passar a procurar por um bule. Localizou-o
em um canto distante da bancada da cozinha, encheu-o de água e o
colocou no meio da mesa; depois, sentou-se na cadeira oposta à de
Millie.
– Teremos que nos satisfazer com a temperatura atual da água.
Pode me passar o chá, Srta. Ashton? Ele precisará passar um
tempo em infusão.
Os olhos dela se abriram, pousando primeiramente sobre ele e,
em seguida, sobre o bule de porcelana. A jovem se endireitou.
Cuidadosamente, ela pegou um pouco do chá de coloração escura.
– Você tem exatamente cinco minutos antes de servir a primeira
xícara e nada mais, Lorde Brooke – Millicent informou com
autoridade, colocando o chai dentro do bule. – Isso lhe dará tempo o
suficiente para encontrar alguns biscoitos. Suponho que deva ter um
grande estoque deles reservado para todas as senhoritas que
convida para tomar chá – provocou, colocando a tampa de volta no
bule.
Alex riu.
Ah, Millie, se ao menos soubesse o que os seus olhos e seus
lábios fazem comigo.
– A única “senhorita” que toma chá aqui é a Sra. Phillips e ela
prefere biscoitos de gengibre. Não consigo contar quantas vezes
tive que lutar com ela pelo último deles – o marquês disse, dirigindo-
se para a porta. – Recentemente, comecei a esconder um pacote
extra da Fortnum and Mason em meu quarto.
Ao entrar em seus aposentos, o rapaz aproveitou para recuperar
o fôlego. Sempre seria assim com ela? Lorde Brooke balançou a
cabeça, incapaz de compreender por que a dama lhe causava tal
efeito. Dançara com várias garotas na festa, aproveitando a ocasião
para descobrir se conseguiria se apaixonar por alguma delas.
Contudo, percebera que apenas Millicent conseguia fazer com que
desse um de seus sorrisos secretos.
– Encontrou os biscoitos? – a voz da moça veio do andar de
baixo.
– Ainda estou procurando – mentiu.
– Precisa de ajuda?
Um sorriso sedutor surgiu nos lábios do cavalheiro.
– Não nessa noite, minha querida, mas em breve. – Ele riu.
Pouco tempo depois, encontrou os biscoitos, que ainda estavam
em sua embalagem original, na parte de trás do seu armário. O
marquês riu diante da ironia de ter que esconder comida dos
criados, especialmente por saber que era a Sra. Phillips que fazia as
compras. Ela poderia simplesmente comprar um pacote extra toda
semana, porém, isto acabaria com a diversão da mulher em revirar
a casa de cima a baixo à procura do tesouro escondido.
– Bem, terei que encontrar um novo esconderijo para o próximo
lote – murmurou, notando que diversas unidades estavam faltando
no pacote. – Você é boa, Sra. Phillips, tenho que admitir.
Alex quebrou um biscoito no meio e enfiou o pedaço dourado e
crocante na boca. Voltando para a cozinha e colocando-os sobre a
mesa, disse:
– Aqui estão.
Millie abriu o pacote já remexido, viu a outra metade quebrada e
balançou a cabeça. Lorde Brooke limpou o canto de sua boca, onde
algumas migalhas estavam. A moça pegou dois biscoitos e entregou
o partido para ele. Os dois trocaram um sorriso alegre, fazendo com
que o rapaz desejasse poder parar o tempo para que eles ficassem
ali, apreciando aquele momento simples pela eternidade.
– Chá? – ela perguntou.
O cavalheiro, bobo pela paixão, apenas assentiu. A dama
encheu duas xícaras e eles se sentaram em silêncio, bebericando a
bebida saborosa à medida que o aroma da distante Índia preenchia
o cômodo.
– Alex? – Millicent chamou alguns minutos depois, girando as
últimas folhas que estavam no fundo da sua xícara.
– Millie – o marquês respondeu.
– Posso perguntar algo sobre David?
– Contanto que não seja o motivo por trás do nosso
desentendimento – o rapaz falou.
– Na verdade, eu queria saber sobre a posição dele dentro da
sua família.
Lorde Brooke estivera se perguntando quando aquele assunto
viria à tona.
– Você quer dizer por que eu sou o herdeiro do título quando ele
é o filho mais velho?
– Sim, mas só se não for um assunto muito pessoal ou doloroso.
Se este for o caso, peço desculpas por ter perguntado. Não voltarei
a falar a respeito – a jovem replicou.
Alex tomou um gole do seu chá.
– A bebida está muito boa, nunca pensei em acrescentar
temperos ao meu chá, entretanto, desde que comecei a tomar chai,
notei que não consigo mais suportar as bebidas inglesas normais.
De qualquer forma, estou sendo prolixo, você queria saber sobre
David.
O cavalheiro colocou a xícara sobre a mesa e juntou as mãos à
medida que explicava as circunstâncias do nascimento de seu
irmão: a mãe de David fora noiva de seu pai, todavia, após
consumar o relacionamento, ela inexplicavelmente cancelara o
noivado e fugira. O duque de Strathmore e a irmã de sua ex-noiva a
procuraram por meses, sem saber que a dama estava grávida.
Quando finalmente encontraram o seu paradeiro, correram até
Manchester, apenas para descobrir que ela falecera tragicamente
durante o parto.
– Meu pai e a tia de David o acolheram e o criaram; em algum
momento no meio do caminho, eles acabaram se apaixonando e
decidiram se casar. Foi então que eu, Lucy, Stephen e Emma
viemos. Então, como pode ver, David é meu meio-irmão e, se quiser
entrar em detalhes, meu primo.
Alex pegou o bule e despejou mais chá nas xícaras deles,
silenciosamente refletindo sobre o fato de Millie ter lhe perguntado
sobre seu irmão quando, ao longo das últimas semanas, tivera
várias oportunidades de esclarecer o assunto com Lucy. Por algum
motivo, a jovem se sentira mais confortável em indagar ao rapaz
sobre aquela questão delicada. Lorde Brooke gostava de saber que
a garota confiava nele.
– Independente disso, ele possui o nome do nosso pai e herdará
sua própria propriedade quando o momento chegar, embora eu
acredite que papai planeja transferir alguns bens para David antes
disso. Com sorte, a posse de uma sólida fortuna o ajudará superar
as dificuldades causadas pelas circunstâncias de seu nascimento.
Isso é tudo. Ele é meu irmão e sempre será.
– Porém, no momento, não está no topo da sua lista de
familiares favoritos? – Millicent retrucou.
– Não.
Não estava interessado em discutir as particularidades daquela
questão com ninguém, principalmente com a jovem. O cavalheiro
suspirou e esvaziou sua xícara.
– É melhor voltarmos. Deve estar na hora da nossa segunda
dança. Se não retornarmos, Lucy e Charles certamente notarão
nossa ausência.
Alex saiu da cozinha e a dama o seguiu. Quando chegaram na
entrada, ela parou e correu para o andar de baixo. O rapaz a seguiu
e acabou colidindo com Millie, que já fazia o caminho de volta.
– Ai! – a garota exclamou ao bater sua cabeça no peito dele. Ela
deu um passo para trás e ergueu suas luvas. – Não podia me
esquecer delas, do contrário, teríamos muito o que explicar.
Assim que a jovem começou a vesti-las, o marquês segurou
suas mãos, parando-a no ato. Ele retirou a luva que a moça havia
colocado na mão esquerda e, após pegar a outra, guardou-as no
bolso do seu casaco. Lorde Brooke manteve as mãos dela sobre as
suas. O anel com o brasão da família Strathmore parecia formar
uma coroa no topo das palmas dos dois; o cavalo dourado e as
estrelas em ônix representavam a riqueza e o poder que sua família
possuía.
Parados em silêncio, ambos fitaram a joia; até que ele levantou
as mãos da dama e beijou as pontas dos seus dedos. Millicent
estremeceu e o marquês sentiu sua palma tremer. Quando a jovem
ergueu o rosto, o cavalheiro esperou pelo momento em que seus
olhos se encontrariam. Instantes depois, estava encarando duas
magníficas gemas de um tom de azul profundo. Emoldurados por
cílios escuros, longos e grossos, os olhos da garota o atraiam
inexoravelmente.
Alex segurou o rosto dela, abaixou a cabeça e deu um beijo
tímido em seus lábios. Ele pôde apreciar o calor sutil da boca dela
durante os fugazes segundos em que o toque durou, fazendo com
que seu coração palpitasse em seu peito. Já beijara sua quota de
mulheres, porém, seu coração nunca quisera se envolver. Esta era
uma experiência nova e inebriante; uma pela qual esperara por toda
a sua vida.
O rapaz se afastou ligeiramente. Notando que ela estava com os
olhos fechados, decidiu arriscar um segundo beijo. Desta vez,
quando tomou os seus lábios, concentrou-se em relembrar as
regras de se beijar uma senhorita.
Primeiro, encontre uma dama disposta. Feito, marcou a caixa em
sua lista imaginária. Depois, encontre um local em que não serão
interrompidos – gestos desta natureza exigem calma e atenção
absoluta. Além disso, se for pego com a jovem errada, pode acabar
diante de um pai furioso, seguido por uma passagem direta para o
altar. A discrição era de suma importância, era por isso que estava
feliz por não ter ninguém por perto durante o primeiro beijo deles.
Cortejar Millie corretamente levaria algum tempo. Tinha que se
certificar de que conquistara seu coração antes de fazer a oferta
para a jovem.
O fantasma do desejo da dama de retornar para a Índia ainda o
assombrava. Ela tinha que querer permanecer com ele na Inglaterra
e não ser forçada por alguma circunstância ou pressão advinda de
outras pessoas. Se fossem descobertos e forçados a se casar, sabia
que a moça nunca o perdoaria. Sua vida se tornaria impossível se
Millicent se tornasse sua esposa e passasse o resto de seus anos
se arrependendo. Precisava conquistar tanto o seu coração quanto
a sua alma. Ao beijá-la, estava deixando suas intenções claras.
Deste momento em diante, começaria a cortejá-la abertamente.
Amanhã, faria uma visita ao pai da jovem.
Alex aprofundou o beijo, aumentando a pressão em seus lábios.
Quando a boca dela se abriu ligeiramente, o cavalheiro pegou o
lábio superior da dama entre os seus e o sugou. Millie gemeu e todo
o corpo dele endureceu. Encorajado pela resposta da moça, passou
uma mão pelos seus cabelos, puxando-a para mais perto. A garota
soltou um ofego de surpresa ao notar a ferocidade com que o
marquês tomava sua boca. O corpo dele travou uma luta contra sua
mente. O beijo que trocavam estava muito além de qualquer outra
coisa que experimentara anteriormente.
Sua língua deslizou pela abertura da boca da moça. Lorde
Brooke sentiu as mãos dela em seu peito e se preparou para o
momento em que ela o empurraria, contudo, para seu imenso
prazer, Millicent segurou as lapelas de seu paletó e diminuiu ainda
mais a distância entre eles. Dessa vez, foi Alex que soltou um
gemido.
Graças a Deus, ela quer isso tanto quanto eu.
A resposta da dama era tudo o que sempre sonhara; Millie não
estava se contendo, em vez disso, colocara sua boca à disposição
do marquês. Segurando seu casaco com força, com seus lábios
macios e cheios contra os dele, a jovem demandava tudo o que ele
podia lhe dar.
No calor do momento, a mão do rapaz serpenteou para o quadril
dela, pousando sobre a curva que consumira seus sonhos por
tantas noites. À medida que a batalha entre sua mente e seu corpo
continuava, Alex lutava para não dar um passo à frente e
pressionar-se com força contra ela. Se o fizesse, não haveria como
confundir a ereção que latejava sob suas vestimentas. Além disso, a
dama era inocente. Sabia que, se Millicent suspeitasse de que
estava correndo perigo ao permanecer ao seu lado, a noite não
acabaria bem e suas intenções de conquistá-la sofreriam um grande
retrocesso.
Eventualmente, o momento em que a jovem compreenderia o
que acontece entre uma mulher e um homem chegaria, mas não
seria naquela noite; teria que ser planejado detalhadamente.
Quando a ocasião de levá-la pela primeira vez para a cama
chegasse, a moça já teria aceitado sua proposta de casamento e
um anel de noivado estaria brilhando em sua mão.
O relógio da entrada da frente badalou e eles se afastaram
lentamente. Millie colocou um dedo sobre seus lábios vermelhos e
inchados. A marca da paixão do cavalheiro estava à vista de todos.
Alex enfiou uma mão no bolso e entregou as luvas para a dama. Ela
sorriu, esforçando-se para vesti-las.
– Eu amo você – Lorde Brooke proferiu.
A garota balançou a cabeça.
– Não, não ama – sussurrou, dando um passo para trás.
Com essas palavras, o momento mágico que haviam
compartilhado se despedaçou.
O coração do marquês afundou. A jovem não estava levando
suas intenções a sério. Podia ver o que permeava a sua mente: ela
acreditava que não passava de mais uma das amigas de sua irmã,
com quem o cavalheiro gostava de brincar. Todos os jogos
estúpidos e imprudentes com os quais se ocupara na temporada
anterior agora cobravam seu preço.
Millicent se afastou, indo em direção à escada da frente. O
marquês a seguiu. Ao chegarem na entrada, ele a segurou pelo
braço.
– Millie, estou sendo sincero sobre meus sentimentos por você,
eu... – Alex parou, ouvia vozes agitadas vindo da porta da frente.
Quando a madeira foi aberta com força, soltou a jovem e deu um
passo para trás. Seu olhar caiu sobre o dela. – Nada aconteceu –
sussurrou.
Ao se virarem, os dois se depararam com Charles, David e Lucy
parados no saguão. O irmão da dama entrou na casa com passadas
largas e segurou o braço de Millie.
– O que diabos pensa que está fazendo? – ele rugiu para a mais
nova.
David se colocou entre Lorde Brooke e a moça, empurrando o
peito do seu irmão com força. O rapaz cambaleou para trás.
Vendo a cena, Millicent começou a chorar.
– Nada aconteceu – ela disse.
Alex tentou dar um passo à frente, contudo, David o segurou
pelos ombros.
– Viemos apenas tomar uma xícara de chá. Estávamos prestes a
voltar para o baile – o marquês explicou.
Charles fitou sua irmã.
– Nada aconteceu. Lorde Brooke tinha um pouco de chai e me
ofereceu uma xícara. Se quiser, pode verificar o bule que está na
cozinha – ela apontou para o andar inferior. – Não estou mentindo.
– Fique aqui – o futuro visconde ordenou. Pouco tempo depois, o
cavalheiro retornou com o bule em suas mãos e o mostrou aos
outros. – Ainda está quente; ela está dizendo a verdade ou, ao
menos, parte dela.
David assentiu. Ele pegou o braço de Alex e começou a arrastá-
lo até a escada principal. Em vez de se deixar levar, o mais novo se
soltou e caminhou até Charles, segurando-o pelo paletó.
– Por favor, você tem que entender, nada aconteceu. Eu nunca
faria algo que pudesse colocar a reputação de sua irmã em risco.
Sei que nossa decisão foi um pouco precipitada, mas foi só uma
xícara de chá.
O outro afastou as mãos do rapaz com um movimento brusco de
seu braço.
– David, é melhor tirá-lo de perto de mim imediatamente ou
então não me responsabilizarei pelos meus atos – ele bradou.
Virando-se, segurou a mão de Millicent. – Estamos indo. Lidarei com
você quando chegarmos em casa. Enquanto isso, talvez queira
pensar em por que eu não deveria contar ao papai e à mamãe sobre
o que aprontou nesta noite.
– Mas você prometeu – Lucy gaguejou.
Charles inspirou profundamente e lançou um olhar feio para a
sua irmã antes de responder:
– Sim, Lady Lucy, peço que me perdoe. Millie, sabe o que
prometi?
– Não – a dama falou sem parar de soluçar.
– Prometi que não daria uma surra em Lorde Brooke se você
viesse comigo e não fizesse uma confusão. Também concordei em
não contar a ninguém sobre sua tola expedição à casa de um
homem solteiro, embora agora esteja tão furioso que ficaria mais do
que feliz em jogar meus punhos sobre Brooke e, então, seguir para
casa para acordar o papai e lhe explicar por que fiz isso.
A jovem enxugou suas lágrimas com uma luva e assentiu. Ela
iria com seu irmão.
– Millie – o marquês disse, contudo, a garota não olhou para ele.
Sabia que a dama o veria como um covarde que usava as
amigas de sua irmã como bem queria e, ao menor sinal de perigo,
decidia fugir. Se ela já não o visse como um cafajeste, os eventos
dessa noite certamente não deixariam dúvidas quanto à falta de
caráter do rapaz. O beijo e o que se sucedera tinham sido ruins o
bastante, todavia, agora, a tarefa de conquistar a confiança e o
coração de Millicent parecia quase intransponível.
À medida que os irmãos Ashton seguiam para a porta, Alex os
observou com um peso em seu peito. Antes que eles saíssem, Lucy
se aproximou e encarou a amiga.
– Pensei que você fosse diferente – ela disse com lágrimas nos
olhos. – Pensei que gostasse de mim apenas por quem eu sou, mas
você é igual a todas as outras. Eu deveria ter percebido quando os
vi rindo e sussurrando durante as aulas de dança. Tudo o que
queria era me usar para chegar ao meu irmão. – A loira lançou um
olhar de desespero para o marquês, voltando, em seguida, a se
dirigir à jovem. – Pedirei que o Sr. Roberts envie um cartão para sua
mãe; ela providenciará para que faça suas aulas de dança em outro
lugar. Por favor, não se incomode em me visitar, pois não lhe
atenderei. Desejo-lhe sucesso na temporada que está por vir.
– Lucy – Lorde Brooke suplicou. – Não é culpa dela, Millie não
fez nada de errado.
Sua irmã balançou a cabeça e ergueu uma mão, recusando-se a
ouvi-lo.
– Você sabe o efeito que tem em damas vulneráveis e, ainda
assim, continua a fazer joguinhos com elas. – A mais nova se virou
para David. – Quando estiver pronto, será que pode me levar para
casa?
Charles agradeceu o mais velho por ter lhe ajudado a localizar
Millicent, trocando um aperto de mãos com ele. Depois, pegou a
moça pelo braço e a conduziu para fora.
E nvergonhada.
Não havia outra palavra para descrever como Millie se
sentia na manhã seguinte ao se sentar à mesa de jantar com uma
expressão pesarosa no rosto, encarando seu prato.
A presença do seu irmão e do seu pai só acrescentava outra
camada de desconforto à refeição matinal que, recentemente,
passara a ser algo regular. Após o baile de boas-vindas na
Residência Ashton, sua mãe decidira que era vital que eles
passassem mais tempo juntos para que pudessem manter o vínculo
familiar, portanto, decretara que, até o início da temporada, todos se
sentariam à mesa para compartilhar ao menos uma das refeições do
dia. Agora, em vez de poder ficar em sua cama por parte da manhã,
Millicent era obrigada a acordar cedo e se sentar para o café da
manhã muito antes de sentir qualquer inclinação pela comida.
Na maioria dos dias, Charles fazia um sanduíche rápido,
enrolava-o em um lenço limpo e saía para cavalgar no Hyde Park.
Todavia, naquela manhã, ele estava sentado à mesa com uma
grande pilha de torradas, morcela e ovos diante de si. Estava claro
que o rapaz não iria para nenhum lugar naquele horário e a jovem
não era tola o bastante para perguntar o porquê. Afinal, outra
consequência da noite passada tinha sido o fim das competições
diárias de seu irmão com Alex.
Quando Charles lhe pediu para passar a travessa com peixes, a
moça o fez sem encontrar o seu olhar. Estava com medo de fitá-lo,
preocupada com a possibilidade de o rapaz ainda estar com o
mesmo olhar de desaprovação que permanecera em seu rosto
durante todo o percurso de coche até a casa deles. Sua fúria fora
verdadeiramente amedrontadora. No momento em que o veículo
finalmente parara em frente à residência, ele chegara a um estado
de agitação tão grande que escancarara a porta, saltara para a
calçada e entrara em casa antes que Millie sequer tivesse tempo de
se levantar de seu assento.
Ao menos Charles cumprira sua promessa de não revelar os
eventos da noite anterior aos seus pais. Após a situação
embaraçosa em que colocara seu irmão, a dama passara a ser
grata pelas pequenas misericórdias da vida. Não conseguia
imaginar a cena que se seguira após deixarem a casa na Bird
Street. Com Lucy presente, os irmãos não ousariam trocar socos,
mas as possibilidades sobre o que poderia ter ocorrido após David
retornar da Residência Strathmore agora atormentavam a mente da
jovem.
Quanto à pobre Lucy, bem, Millicent provara que sua ex-amiga
possuía toda razão para se preocupar com a aproximação entre a
moça e seu irmão.
Que confusão.
O baile do dia anterior acabara em um completo desastre e era
tudo sua culpa. Por mais que o marquês viesse a implorar, deveria
ter dito não. Contudo, cedera à tentação. Como resultado, seu irmão
estava furioso com ela, David Radley provavelmente pensava que
Millie era uma sirigaita e Lucy acabara tendo que lidar com a perda
de mais uma amizade.
A garota pegou uma torrada da travessa e lentamente espalhou
manteiga sobre ela, colocando-a em seu prato. Um segundo depois,
afastou-o; a mera visão da comida a deixou nauseada.
– Você não comeu nada, querida. Está se sentindo mal? Eu lhe
avisei que deveria ter cuidado com o que come nas festas dos
outros – sua mãe disse.
– Estou bem, mamãe. Só está um pouco cedo demais para o
meu apetite – a jovem murmurou. Ela piscou com força e soltou um
suspiro.
– Você não parece nada bem. Qual é o problema? – Violet
insistiu.
– Deixe-a em paz, querida – seu pai interveio.
Do outro lado da mesa, o olhar do homem se encontrou com o
de sua esposa e ele balançou a cabeça. James não suportaria ver
lágrimas serem derramadas na mesa de jantar. A mulher teria que
esperar até o cavalheiro sair para a East India House para ter um
momento a sós com sua filha.
– Então, quais são seus planos para hoje, Charles? – James
perguntou, mudando de assunto.
Millicent agradeceu aos céus pela sensitividade de seu pai. Ele
conseguia ver que a mais nova estava tentando controlar suas
emoções. Uma palavra em falso e ela se dissolveria em lágrimas.
– Pensei em visitar os Tattersalls hoje e dar uma olhada em um
par de cavalos que me foi recomendado pelo tio. Eles irão a leilão
no final dessa semana, então levarei o cavalariço-chefe da
Residência Ashton comigo para que ele possa examiná-los. Oscar
disse que os compraria e manteria em seu estábulo para mim até
que eu consiga manobrar pelas estradas inglesas com perfeição – o
rapaz respondeu.
James terminou o seu chá e limpou a boca com um guardanapo.
Colocando-o sobre a mesa, levantou-se e se preparou para partir.
– É um presente muito generoso, mas sabe que ele não precisa
adquiri-los para você. Ficarei feliz em lhe dar o dinheiro para que
possa comprá-los.
Ele seguiu até sua esposa e lhe deu um beijo de despedida.
Violet sorriu calorosamente e seus olhos brilharam quando o homem
sussurrou algo em seu ouvido.
Charles assentiu.
– Tenho que admitir que, por mais que seja emocionante receber
uma oferta de um presente tão luxuoso, me sinto um pouco
incomodado com o negócio.
Seu pai deu um beijo rápido na cabeça de Millie, deixando-a
sozinha para lidar com as perguntas que sairiam da boca de sua
mãe assim que ele atravessasse a porta da frente.
– Conversarei com ele. Você pode herdar o título algum dia,
porém, ainda é meu filho e meu herdeiro, então, se alguém deveria
lhe comprar um par de cavalos, este deveria ser eu. Não passei
todos aqueles anos na Índia recuperando a fortuna da família para
ser relegado a um papel secundário após o meu retorno. Visitarei
seu tio mais tarde.
Após o cavalheiro seguir para o escritório, Charles ajudou sua
mãe a cambalear até a sala de estar principal, onde a mulher
planejava passar o resto do dia se recuperando do inchaço em seu
tornozelo enquanto respondia as correspondências que haviam
chegado. Millicent sabia que, eventualmente, Violet a chamaria para
conversar.
Minutos depois, seu irmão retornou e, após dispensar o criado
que estava no cômodo, fechou a porta do corredor. A moça pegou
sua xícara de chá e tomou um pequeno gole, prendendo a
respiração ao notar que ele circundara a mesa e se sentara ao seu
lado. Charles segurou a mão trêmula da mais nova e, inclinando-se,
beijou sua bochecha.
– Vai ficar tudo bem, Millie; conseguimos evitar um escândalo
público. Os irmãos Radley estão tão empenhados quanto nós em
manter segredo sobre o assunto. Só se certifique de não contar
nada sobre a noite anterior à mamãe – ele afirmou.
– Eu estava pensando o que deveria dizer a ela e acredito que
uma versão da verdade seja a melhor opção – a dama respondeu
com tristeza.
O rapaz apertou sua mão.
– Não. Se contar que estava sozinha com Alex, ela fará com que
se case com ele.
A garota se virou e o fitou com cansaço.
– Não sou tão estúpida.
Seu irmão arqueou uma sobrancelha.
– Sim, fiz algumas coisas tolas na noite passada, mas não
contarei à mamãe que estava sozinha com o marquês e que você e
David nos flagraram. Apenas direi que eu e Lucy brigamos, o que,
infelizmente, é verdade.
Charles inclinou o corpo sobre a cadeira e passou as mãos pelo
cabelo. Ela esperava que a expressão que agora aparecia em seu
rosto fosse de alívio, entretanto, ainda sentia uma parcela de
frustração vinda dele. Após a noite anterior, algo mudara entre eles.
Millicent suspeitava de que seu irmão não confiasse mais nela.
Saber que o tinha desapontado com seus atos descuidados lhe feria
profundamente.
– Sinto muito pelo que aconteceu, Charles. Eu não deveria ter
feito o que fiz; tem toda razão de estar com raiva de mim. Você
estava certo, agi de forma estúpida e egoísta, deixando que meu
afeto por Lorde Brooke atrapalhasse meu bom julgamento. Isto não
se repetirá, eu prometo.
O cavalheiro arqueou uma sobrancelha mais uma vez e a moça
soltou uma risadinha, dando-lhe um soco suave no braço.
– Pare, isso é sério – ela afirmou.
Seu irmão revirou os olhos.
– Eu sei que é. Por que acha que fiquei tão agitado na noite
passada? Fico feliz que tenha percebido quão perto você chegou de
sua ruína. Agora, o maior problema é descobrir como conseguirá se
desculpar com Lady Lucy. Ela estava terrivelmente abalada quando
partimos. Você precisa conversar com a dama ainda nesta manhã e
tentar consertar as coisas.
Millie assentiu lentamente. Por mais que a maior catástrofe
tivesse sido evitada, ainda havia pessoas feridas.
– Não sei se ela aceitará me ver, principalmente depois de deixar
claro que nossa amizade tinha acabado. Pode me acompanhar até
a Residência Strathmore? Posso conseguir ter algum progresso se
você estiver comigo.
O rapaz frisou os lábios, soltando um suspiro longo e cansado.
– Sim. Quanto mais adiar o encontro, pior a situação ficará.
Tenho algumas tarefas para fazer nesta manhã; você pode vir
comigo. Quando eu terminar, veremos se conseguimos reparar o
dano.
– Obrigada – Millicent respondeu.
A dama pegou a torrada que anteriormente rejeitara, deu uma
mordida nela e se recostou sobre a cadeira, mastigando enquanto
seu irmão comia o resto de carne fria que ficara no prato de Violet.
– Por que a carne fria do café da manhã tem um gosto tão bom?
– ele perguntou em voz alta, enfiando um pedaço na boca.
– Não sei, embora ainda não consiga suportar a ideia de comer
carne a essa hora – a mais nova retrucou, torcendo o nariz. – Tudo
em que consigo pensar é em como nossos vizinhos da Índia teriam
ficado ofendidos se descobrissem que você está comendo uma
vaca.
Charles riu. Ele limpou as mãos no guardanapo deixado por sua
mãe e saiu da mesa.
– Não demore. Quanto mais cedo formos à Residência
Strathmore para ver Lucy, melhor será.
O rapaz assanhou o cabelo da irmã antes de seguir para a porta,
deixando-a sentada sozinha na sala de jantar, ainda mastigando sua
torrada.
No dia seguinte, Millie escreveu uma nova carta para Lucy, pondo
um fim na amizade delas. Com o tempo, seu coração se
recuperaria, todavia, não podia arriscar se encontrar com Alex e
com sua noiva se viesse a visitar a Residência Strathmore. O preço
da preservação de seu orgulho era, infelizmente, sua amizade com
a irmã do marquês.
– Não vi nenhum anúncio de noivado na Gazeta – Violet
observou enquanto ela e a jovem faziam seu planejamento social
diário no final da semana seguinte. – Toda essa história me parece
estranha. Tudo o que ouvi foi um rumor de que a filha de Lorde
Langham havia recebido uma carta de amor de Lorde Brooke, mas
ninguém parece saber de mais nada sobre a situação –
acrescentou.
A mais nova continuou a folhear a última cópia de La Belle
Assemblée, observando atentamente os últimos penteados da
moda. Considerara cortar seu cabelo, entretanto, quando
mencionara a mudança para sua mãe, os olhos da mulher se
arregalaram com horror.
– De onde tirou essa ideia, minha querida? Ter um cabelo curto
não é algo adequado para uma dama tão jovem e inocente como
você – Violet explicara. – A não ser que tenha se envolvido em um
caso público com alguém fascinante e precise fazer uma declaração
dramática, a mudança não causaria o efeito esperado dentro da
sociedade. Você só pareceria tola.
Voltando ao presente, Millie tentou afastar os sentimentos de
pavor e culpa que pareciam ser seus atuais e fiéis companheiros e
comentou:
– Talvez ele esteja esperando para tornar as coisas públicas
quando voltar a Londres.
– É isso que eu não entendo.
– O que disse? – a garota questionou.
Sua mãe se inclinou sobre o ombro da moça e apontou para um
vestido com um decote alto e babados brancos.
– Esse é bonito – Violet falou.
Millicent fechou o livro e encarou a mais velha.
– O que você não entende?
– Não compreendo por que a família Radley ainda está na
Escócia. Se Lorde Brooke planeja se casar, por que escreveu para
aquela pobre garota e, depois, continuou em outro país? Não faz o
menor sentido. Falando nisso, você escreveu para Lucy
novamente? Agora que vocês fizeram as pazes, imagino que, se
alguém realmente sabe o que está acontecendo com o marquês,
essa pessoa é a sua amiga. Estou surpresa por ela não ter
mencionado nada na carta que lhe enviou. Se bem que, a garota
pode não ser a pessoa com quem o cavalheiro conversa a respeito
de tais assuntos. Os homens tendem a ser criaturas bastante
reservadas quando se trata de suas questões pessoais.
Millie encheu as bochechas de ar, pensando que estava na hora
de contar uma parcela da verdade para a mulher. Já era difícil o
bastante esconder a dor do seu coração partido, ao menos, assim,
poderia compartilhar a tristeza que sentia pela perda de Lucy.
– Sim, enviei outra correspondência para ela, mas não espero
receber uma resposta. Diante das núpcias iminentes de Lorde
Brooke, decidi que seria prudente encerrar qualquer associação
com a família Radley – a moça replicou.
Violet suspirou, passando um braço ao redor da cintura de sua
filha e puxando-a para perto. A mulher deu um beijo suave na
bochecha da jovem.
– Sente-se melhor agora que finalmente me contou? Eu pensei
que estivesse lidando com uma enxaqueca, querida. Você me
pareceu bem abalada no dia em que Lucy e sua família deixaram a
cidade. Primeiro, pensei que estivesse decepcionada com a partida
de sua amiga, porém, logo depois, passei a suspeitar de que fosse
algo mais.
A garota sorriu e deu um beijo em sua mãe.
– Obrigada – Millie disse.
A mais velha sorriu de volta.
– Não se preocupe, meu amor, sei que a pessoa para quem está
predestinada está lá fora. Eu não ficaria surpresa se você acabasse
o conhecendo muito em breve. Nos próximos meses, a cidade ficará
cheia de rapazes charmosos.
As duas ouviram uma batida na porta da sala de estar. Quando
elas ergueram os olhos, viram James Ashton adentrar o cômodo
com uma expressão confusa no rosto.
– Vocês nunca vão adivinhar de quem foi a visita que acabei de
receber.
Capítulo 16
Após retirar a chave, Alex bateu a porta da frente com força atrás de
si.
A inesperada caminhada de uma hora até sua casa não ajudara
a apaziguar seu mau humor. Quando descobrira que David o
abandonara, ficara irado demais para chamar um coche de aluguel.
Em vez disso, abotoara seu casaco e marchara por todo o caminho
de volta à Bird Street. Qualquer ladrão tolo o bastante para tentar
roubá-lo certamente teria se arrependido.
– David! – gritou da entrada. – É melhor que ela seja a cortesã
mais divina desta maldita cidade para justificar sua decisão de me
deixar para trás.
O marquês ouviu o som de uma porta se fechando no andar de
cima. Pouco tempo depois, seu irmão apareceu no topo da escada.
Ele vestia um sobretudo pesado e sua mala de viagem estava
pendurada sobre um de seus ombros.
– Para onde diabos está indo a essa hora da noite? – Alex
berrou.
Chegando ao final da escada, David jogou a mala no chão de
ladrilhos, abriu um armário próximo e retirou dois pares de botas
limpas. O mais velho abriu a bolsa de viagem, enfiou-as dentro,
segurou a alça e seguiu para a porta da frente. Vendo a cena, Lorde
Brooke marchou pela entrada e parou em frente ao seu irmão,
bloqueando a saída. Com seus punhos fechados, Alex permaneceu
no lugar, pronto para exigir respostas.
David tentou circundá-lo, mas o mais novo rebateu seu
movimento. Os irmãos Radley ficaram cara a cara, entreolhando-se
com raiva.
– Saia da frente, Alex. Senão, vou acabar com você – David
afirmou, seu tom de voz era uma mistura inquietante de calma e
fúria.
– Não até que me diga para onde está indo e por que me deixou
na recepção – o marquês retrucou. – Acho que mereço ao menos
isso.
O mais velho voltou a jogar a mala no chão; desta vez, ela
atingiu uma das pernas de Lorde Brooke.
– Eu não lhe devo nada, seu tolo estúpido. Você não pôde se
contentar em bagunçar apenas a sua vida, então, decidiu arruinar a
minha também.
– Do que está falando? – Alex indagou.
Seu irmão respirou profunda e lentamente.
– Deixe-me perguntar algo: você enviou para Millie a carta que
eu lhe dei? – ele perguntou em um tom que normalmente era
reservado para uma criança teimosa.
Lorde Brooke torceu o nariz.
– Bem, sim e... não.
– O que diabos isso significa?
– Eu não enviei a carta que você me entregou, porque eu já tinha
mandado outra.
– Isso ficou bem claro para mim, o que eu não consigo
compreender é por que você não se deu ao trabalho de me contar –
David explodiu.
O mais novo suspirou.
– Encontrei a carta original no chão, próxima de onde você
estava dormindo, e logo a entreguei para um criado enviá-la pelos
correios. No dia seguinte, quando me entregou a outra, já era tarde
demais. Naquele momento, raciocinei que mandar uma carta
apaixonada para Millie seria melhor do que uma gentil, por isso,
resolvi não informá-lo sobre o ocorrido.
– Infelizmente, essa omissão agora se tornou um grande
problema – o mais velho vociferou.
O marquês sentiu seu coração afundar.
– O que quer dizer?
– Quero dizer que a primeira carta não foi escrita para a Srta.
Ashton. Sentei-me para redigir um texto para você, contudo, após
falhar miseravelmente, percebi que não conseguiria. Foi então que
tomei alguns copos de uísque e acabei escrevendo uma carta para
a mulher que eu amo; uma em que derramei meu coração. – Seu
irmão colocou uma mão sobre a boca e lágrimas se formaram em
seus olhos. David balançou a cabeça e lutou para se recompor. – Eu
confessei o quanto a amava e disse que torcia para que
pudéssemos ter um futuro no qual ela seria minha esposa. A carta
que redigi estava repleta de sonhos impossíveis. – Ele pousou o
polegar e o indicador no canto interno de seus olhos. – Foi por isso
que a enderecei, mas nunca a assinei. Eu estava certo de que a
carta tinha sido consumida pelo fogo junto com todas as outras
tentativas falhas.
– Ah, David. Ah, não – Alex sussurrou. – Eu a apanhei do chão e
pensei que era...
– NÃO! Você não pensou, Alex. Apenas pegou minha carta,
selou-a e a enviou sem parar para considerar o que estava fazendo.
E como se não bastasse, teve a audácia de mentir para mim – o
mais velho gritou, tirando as mãos de cima de seus olhos. Assim
que as afastou, novas lágrimas substituíram as que ele havia
enxugado.
– Mas o criado para quem mostrei a correspondência disse que
ela tinha sido endereçada à Millie. Foi por isso que pedi que ele a
postasse – Lorde Brooke implorou.
– Foi mesmo, Alex? Foi isso que ele disse? Diga-me quais foram
exatamente as palavras dele?
O mais novo vasculhou sua mente, tentando se lembrar da
conversa de quase três semanas atrás. Após deixar David na sala,
encontrara o criado-chefe e lhe entregara a carta. O rapaz a tinha
analisado e confirmado o endereço.
– O funcionário lhe disse que ela estava endereçada a uma
dama da Mill Street? – David questionou, inspirando profundamente.
– Sim – o marquês respondeu, sentindo o chão tremer embaixo
de seus pés.
Seu irmão se abaixou e pegou sua mala.
– Talvez se lembre de que o conde de Langham e sua filha
também moram na Mill Street, a cinco portas de distância da casa
da família Ashton. Clarice era a dama a quem o criado estava se
referindo quando leu o nome no envelope, o que significa que você
assinou minha carta de amor e a enviou para a única mulher que eu
já amei. Agora, a Srta. Langham acredita que você tem a intenção
de se casar com ela, assim como grande parte da sociedade
londrina.
Abalado demais para responder, o marquês não pôde fazer nada
a não ser observar, impotente, David passar por ele. Ao abrir a
porta, o mais velho se virou e disse:
– Nada que você diga irá fazer diferença. Aos meus olhos, a
situação é simples: você fez essa bagunça, então pode muito bem
lidar com ela sozinho. Se alguém vier a minha procura, estarei na
Residência Strathmore.
– Mas a casa está fechada. Os funcionários não estão
esperando que a família volte por ao menos mais algumas semanas
– o mais novo gaguejou em uma tentativa vã de fazer seu irmão
ficar.
– Sim, eu sei, contudo, prefiro dormir em casa, sob as sombras
das árvores, a permanecer mais um segundo debaixo do mesmo
teto que você. Para ser honesto, minha partida é a opção mais
segura. Se eu permanecesse aqui, a tentação de matá-lo enquanto
ainda está dormindo seria grande demais para resistir. Está sozinho
de agora em diante, Alex. Boa sorte em tentar resolver esse maldito
desastre que você criou, pois sei que vai precisar.
Seu irmão começou a atravessar a porta e, logo em seguida,
parou. Ele marchou rapidamente até Lorde Brooke, dando um soco
no rosto do rapaz.
– E antes que sinta pena de si mesmo, tente pensar em como
estou me sentindo nesse momento. Será que consegue
compreender o que tudo isso significa para mim? Quão devastador
foi ficar parado ouvindo nossos amigos me dizerem como quão
maravilhoso é o fato de meu irmão estar prestes a se casar com o
amor da minha vida?
David girou sobre seus calcanhares, atravessou a porta e a
bateu com força atrás de si. Enquanto isso, o marquês permaneceu
sozinho na entrada, encarando o local em que o outro acabara de
desaparecer.
Colocando uma mão em sua cabeça, sussurrou:
– Ah, Alex, seu tolo!
O cavalheiro caiu sobre os joelhos, passou as mãos ao seu redor
e se abraçou. Com os olhos firmemente fechados, ele se moveu
para frente e para trás à medida que a terrível realidade do que
fizera ameaçava consumi-lo. Por mais horrível que fosse, tudo
começava a fazer sentido. Millicent o odiava por ser um mentiroso
de duas caras. Como podia afirmar que a amava após ter se
declarado para Clarice? Sequer ousava pensar em como a moça
deveria ter se sentido quando descobrira sobre a carta apaixonada
que Alex enviara para outra dama.
– Não é à toa que ela não quer saber de mim – gemeu.
Para piorar a situação, ainda havia a pobre Lady Clarice, que
pensava estar prestes a se tornar marquesa de Brooke. Isto ao
menos explicava o estranho encontro que tivera mais cedo com ela.
O rapaz tinha, supostamente, escrito uma maravilhosa carta de
amor e declarado seus sentimentos pela garota, todavia, em vez de
visitá-la na primeira oportunidade que tivera após retornar a
Londres, ele simplesmente a ignorara.
Um vazio gelado se formou em seu estômago ao recordar como
provocara a Srta. Langham que, confusa e à beira de lágrimas, se
afastara do cavalheiro. Se a jovem fosse apenas uma das falsas
amigas de Lucy, podia ao menos encontrar uma desculpa dúbia
para seu comportamento, entretanto, aquilo não podia ser aplicado
à Lady Clarice. Lorde Brooke era uma das poucas pessoas a quem
David confidenciara seu amor secreto e, agora, tinha arruinado tudo
para o seu irmão. Se não conseguisse resolver a situação, o mais
velho nunca o perdoaria.
Subitamente, uma risada cínica escapou dos lábios do marquês.
Finalmente conseguia entender o comentário enigmático do Sr.
Ashton.
– Como diabos conseguirei sair dessa? – murmurou para si.
Ele se levantou lentamente e desabotoou seu casaco. Não havia
sentido em correr noite adentro à procura de seu irmão. David
deixara claro que a última coisa da qual precisava naquele momento
era um pedido de desculpas sincero vindo do mais novo.
Com seu casaco em mãos, Alex subiu a escada e entrou na sala
de estar. A lenha na lareira tinha sido bem abastecida antes dos
irmãos Radley saírem; o cômodo estava quente e preparado para o
retorno deles que, ao final de eventos sociais, costumavam tomar
um copo da bebida à noite.
Após jogar a vestimenta em cima de uma poltrona preta
acolchoada, serviu-se de um grande copo de uísque do decantador
que estava na mesa próxima ao assento. O marquês tomou um
grande gole e caiu sobre a poltrona. Encarando o fogo, a gravidade
de suas ações o inundou. A angústia que sentia parecia
insuportável. Com o decantador ao seu lado, Lorde Brooke passou a
ingerir um copo de uísque atrás do outro sem sequer perceber.
Capítulo 18
im.
–S Embora fosse uma palavra simples, ela carregava um
grande significado para Millie. Todos os mal-entendidos e as
esperanças falsas tinham desaparecido; uma vida ao lado do
homem que amava a aguardava de braços abertos.
A dama expirou lentamente, tentando, sem sucesso, conter as
lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos enquanto observava
Alex colocar o anel de diamante em seu dedo.
– Pensei em comprar uma safira, mas logo percebi que a pedra
nunca chegaria aos pés da cor dos seus olhos. – Ele se levantou. –
Tenho outra coisa que gostaria que você usasse. Combina com o
anel.
O marquês tirou um pequeno piercing de diamante da caixa que
segurava. Sorrindo, a moça o colocou em seu nariz e uma sensação
de completude a tomou.
– Nunca mude, Millie; para mim, você sempre foi perfeita – o
cavalheiro afirmou, tocando o rosto dela com as mãos. – Agora,
tenho-a só para mim. Para sempre – sussurrou, abaixando a cabeça
para se encontrar com os lábios dela.
O beijo começou de modo lento, gentil e incerto, porém, à
medida que continuava, mudou. Lorde Brooke deslizou sua língua
pelo lábio inferior da garota, que os abriu em resposta. No instante
seguinte, o rapaz adentrou sua boca, ternamente entrelaçando suas
línguas.
Millicent soltou um gemido baixo, completamente envolvida pelo
toque. Amolecendo sobre o controle dele, permitiu que Alex
possuísse sua boca por inteiro. Mesmo diante de sua submissão, a
jovem sabia que tinha vencido.
Quando o marquês passou uma mão pela sua cintura e
pressionou seus corpos firmemente, ela sentiu a evidência do
desejo dele contra a sua barriga. A dama ofegou, ficando
petrificada; ali, nos braços do cavalheiro, soube que se não
tivessem sido interrompidos na noite do baile do conde de Shale,
teriam acabado com seus corpos juntos daquela maneira.
Todas as ilustrações coloridas que estudara no Kama Sutra não
tinham lhe preparado para a intimidade do presente momento. As
imagens falharam em transmitir o calor e o desejo que a garota
sabia que ambos estavam sentindo. O homem que amava a estava
beijando apaixonadamente e não havia dúvida de que ele a queria.
Millie arriscara muito ao atravessar sozinha as ruas perigosas de
Londres; acreditara que seu objetivo era descobrir a verdade,
todavia, se fosse honesta consigo mesma, admitiria que não
planejara o que aconteceria depois disso.
Lorde Brooke parou o beijo e se afastou. Ao fitá-lo, a jovem viu
que seus olhos estavam nublados pela paixão.
– Desculpe, acabei me excedendo. Eu não quis assustá-la – o
rapaz disse, pigarreando. – Acho melhor levá-la para casa. Se
estiver certa de sua decisão, falarei com seu pai pela manhã.
Longe do calor das carícias dele, os lábios de Millicent
começavam a esfriar. Ela olhou para o anel de diamante em seu
dedo.
– Não – respondeu, decidida.
Alex estremeceu, assentindo.
– Eu entendo. É claro que era esperar demais acreditar que
passaria o resto da sua vida com um imbecil – o cavalheiro replicou.
– Não se preocupe, ninguém descobrirá que esteve aqui.
Uma risadinha escapou dos lábios dela.
– Ah, você deveria ver sua expressão, Alex. É absolutamente
impagável – a dama disse.
Ele piscou até que seu rosto se iluminou com compreensão.
– Você não estava se referindo à minha proposta de falar com o
seu pai, não é?
A moça balançou a cabeça.
– Então, referia-se à minha sugestão de levá-la para casa.
Millicent assentiu.
– Será que seria melhor se passassem a me chamar de
Alexander, o Patético? – Lorde Brooke riu e ambos assentiram em
concordância.
Ela passou as mãos pelo peito do rapaz até pousá-las sobre o
seu coração.
– Acho que devo ficar aqui esta noite. Conheço meu próprio
coração, mas não estou convencida de que você conhece o seu ou
de que eu o amo da maneira que deveria. Sinto que estas dúvidas
só desaparecerão quando me tornar completamente sua.
Os dedos da jovem se moveram para a gola de sua camisa.
Após desabotoar o primeiro botão, eles caminharam para baixo,
trabalhando até que faltassem apenas quatro casas. Sem conseguir
esperar, Alex puxou a camisa pela sua cabeça e tomou os lábios
que Millie oferecia, deliciando-se com a boca dela; com um
verdadeiro beijo de amantes.
A moça ergueu os braços, tocando a pele nua de um homem
pela primeira vez em sua vida adulta e sentindo a maciez dos
poucos pelos que o cavalheiro tinha em seu peito. O rapaz soltou
um gemido quando os dedos da dama encontraram um mamilo e o
apertaram gentilmente.
– Atrevida – o marquês sussurrou entre beijos.
Agora era a sua vez de desabotoar as roupas dela. Um tremor
de antecipação percorreu as costas da garota quando ele retirou o
sobretudo que cobria seu corpo. Alex jogou a peça e seu par de
luvas na cadeira, o mesmo local em que a camisa dele agora
residia. Em questão de minutos, o resto das roupas do casal tiveram
o mesmo destino.
– Suponho que seja um pouco tarde demais para perguntar se
você tem certeza de que deseja continuar? – Lorde Brooke indagou,
retirando a última vestimenta do corpo da jovem.
Millie assentiu rapidamente, torcendo para que o cavalheiro
soubesse o que estava fazendo. O marquês a levou para perto da
lareira, enquanto a dama mantinha seus olhos na parte superior do
torso dele por temer que, se não o fizesse, sua coragem
desapareceria. Não precisava abaixar o olhar para compreender o
estado de excitação em que o homem se encontrava.
Alex se abaixou, rapidamente colocando mais toras de madeira
nas brasas moribundas. Depois, pegou a coberta que jogara
descuidadamente sobre a cama, puxou Millicent para perto e
enrolou ambos com o tecido grosso.
Afastando uma mecha de cabelo que caíra sobre o rosto da
jovem, ele deu um beijo terno em seu nariz.
– Antes de continuarmos, há outra coisa que você precisa saber
– o rapaz disse.
A moça lançou um olhar rápido para a lareira; não havia
qualquer sinal de sua passagem forjada para a Índia.
– Não, o que vou dizer não resultará em sua fuga da Inglaterra.
Trata-se do que você faz comigo – Lorde Brooke afirmou.
A dama arqueou uma sobrancelha.
– O que eu faço com você?
– Na primeira vez que nos vimos, você achou que eu era um
completo bruto. E, pela forma como agi, tenho que concordar que
realmente fui.
Millie assentiu.
– Continue – respondeu.
O marquês mordeu o lábio.
– Você sabe o que acontece entre um homem e uma mulher? No
sentido sexual?
Ela riu.
– Sim, entendo que parte vai em qual lugar; não vivi uma vida
tão reclusa assim. Além disso, nós também temos animais na Índia.
No futuro, pretendia compartilhar seu livro especial de ilustrações
com ele. Mal podia esperar para ver a reação de Alex quando isso
acontecesse.
– Isso é bom. Então, suponho que compreenda o efeito que está
causando em mim nesse momento? – o outro perguntou.
Millicent sorriu ao pressionar seu corpo contra a virilha dele. O
cavalheiro fechou os olhos, soltando um gemido rouco. Era uma
sensação incrivelmente inebriante perceber quanto poder possuía
sobre ele.
Alex beijou seus lábios antes de explicar:
– A verdade é que, quando coloquei meus olhos sobre você na
noite do baile do seu tio, meu corpo reagiu da mesma forma. Pensei
que iria desmaiar por conta da falta de sangue em meu cérebro.
Quando meu pai descobriu o que aconteceu, ficou furioso e com
razão. Um homem experiente deveria ser capaz de controlar seus
desejos básicos.
– Ah – a jovem exclamou, lembrando-se do olhar de raiva que
vira no rosto do duque de Strathmore durante o discurso de Lorde
Ashton.
– Meu desentendimento com David também teve a mesma
origem; na noite seguinte, ele se embebedou e revelou minha
situação para alguns de nossos amigos. Como imagino que possa
entender, me senti completamente humilhado, motivo pelo qual nós
quase acabamos trocando socos. É claro que, agora, conseguimos
fazer as pazes.
A dama abriu um sorriso sensual e murmurou:
– Espero testar os limites do seu controle diariamente, Lorde
Brooke. – Fitando a porta de soslaio, completou – Tenho a sensação
de que precisaremos de mais fechaduras nas portas dos cômodos
de nossa casa.
O marquês soltou um rugido e rapidamente tomou a boca dela
na sua, impossibilitando que a moça continuasse com a fala. Suas
mãos circundaram a cintura de Millie, levantando-a do chão.
– Passe suas pernas ao meu redor – ele ordenou antes de voltar
a devorar os seus lábios.
Naquela posição, os seios da moça estavam pressionados
contra o peito dele. Apreciando a sensação deliciosa, ela moveu seu
torso de um lado para o outro. Em pouco tempo, sentiu uma poça de
calor se acumular entre suas pernas e seu fôlego lhe deixar.
Afastando os lábios, Alex sussurrou:
– Venha para a cama, meu amor.
Em uma declaração de suas intenções, a dama tirou o cobertor
que os cobria, jogando-o na cama. O marquês a colocou sobre o
colchão e cobriu o corpo nu da jovem com o seu.
Mirando o rosto do cavalheiro, Millicent viu que seus olhos
brilhavam com alegria e admiração.
– Eu amo você – ela disse.
Era a primeira vez que admitia abertamente seu amor por ele. Se
não o amasse não teria arriscado seu futuro e vindo visitá-lo
naquela noite, agora sabia disso.
– É melhor me amar mesmo, porque estou prestes a arruiná-la
completamente – Lorde Brooke riu.
Quando o rapaz tomou gentilmente um de seus seios em sua
mão, a moça fechou os olhos, deixando que seu peso caísse sobre
a cama. Ele pousou a boca sobre um mamilo e começou a sugá-lo,
obrigando-a a abafar um grito com sua palma. O colchão tremeu
com o poder da risada de Alex enquanto continuava a provocar o
cume sensível. Com seu corpo ficando cada vez mais quente e
corado, tudo o que Millie pôde fazer foi permanecer deitada,
permitindo seus avanços. O marquês passou sua boca para o
segundo seio e um gemido escapou dos lábios da garota.
– Acho que eu deveria ter dito que a seduziria, arrebataria e
arruinaria – ele murmurou, rolando o mamilo por sua língua e seus
dentes.
Os dedos do homem deslizaram pela parte externa de sua coxa,
acariciando seu joelho antes de fazerem o percurso pela parte
interna. Um dedo tocou suavemente os cachos que cobriam sua
fenda, incendiando os nervos do lugar. Assim que Lorde Brooke o
deslizou para dentro, ela ofegou. Contudo, quando um segundo
dedo se juntou ao primeiro e o cavalheiro começou a movê-los,
Millicent soluçou:
– Alex.
O marquês mudou de posição, encontrando a boca da jovem
mais uma vez em um beijo ardente. Ele não parou de mover suas
mãos, despertando o desejo entre as pernas dela. As chamas de
calor pareciam se acumular cada vez mais no corpo da dama,
ameaçando explodir a qualquer momento. Millie estava certa de que
enlouqueceria. Quanto mais daquela provocação conseguiria
aguentar?
O cavalheiro removeu seus dedos à medida que se erguia sobre
ela e afastou seus joelhos para que pudesse se acomodar entre as
pernas dela.
– Agora, está pronta para mim. Você está tão quente e molhada.
Millie, desejei por isso desde nosso primeiro encontro. Eu a amo e
sempre amarei.
A ereção dura dele partiu os lábios de sua feminilidade. Alex a
pressionou lentamente dentro da jovem, entrando aos poucos.
Millicent sentiu a tensão se acumular em seu corpo, contudo, forçou-
se a relaxar. Lera o suficiente nos livros de seu irmão para saber
que a primeira vez de uma mulher era algo doloroso, porém, se seu
parceiro fosse um verdadeiro amante, sentiria apenas algumas
fisgadas. A garota depositou sua confiança no rapaz, sabendo que
ele dominaria a arte de amar o seu corpo. A partir daquela noite, se
tornaria jurada da habilidade sexual do cavalheiro.
Lorde Brooke parou quando atingiu a obstrução que
representava a virgindade dela. A dama abriu os olhos, percebendo
que o corpo de Alex estava coberto por suor. Ele respirava com
dificuldade, como se tivesse participado de uma corrida de mil
milhas.
– Me tome, me torne sua – a moça demandou, segurando o
traseiro do homem.
O marquês se inclinou, beijando-a mais uma vez. No mesmo
instante, seus quadris se flexionaram, estocando profundamente. A
sensação de tê-lo dentro dela enquanto o cavalheiro tomava sua
inocência e se enterrava em seu corpo disposto era avassaladora.
– Meu Deus, Millie – Alex grunhiu.
A pequena fisgada que sentira quando a ereção do marquês
adentrara rapidamente sua fenda logo desapareceu, sendo
substituída pelo prazer crescente gerado pelo movimento lento dos
quadris dele. As mãos da dama não deixaram o traseiro dele à
medida que os dois encontravam o ritmo daquela dança. Toda vez
que Lorde Brooke estocava profundamente, seu corpo roçava contra
a abertura da fenda dela, fazendo com que a jovem enfiasse suas
unhas na pele do cavalheiro e estimulasse seus movimentos cada
vez mais.
A cama rangeu embaixo dos corpos entrelaçados dos dois ao
passo que cada estocada era seguida por uma nova e os gemidos
de prazer deles aumentavam.
A respiração de Millie se tornou superficial quando a pressão
dentro de si chegou ao seu limite. Embora não soubesse para onde
ele a estava levando, sabia que estava prestes a chegar lá.
Afastando seus lábios, a garota fitou o rosto dele à procura de
respostas.
– Alex? – ela ofegou.
– Deixe seu controle para trás e goze para mim – o marquês
comandou conforme suas estocadas ficavam mais profundas e
poderosas.
Millicent dissolveu na cama, sentindo seu mundo quebrar em
vários pedaços e um grito soluçante escapar por sua boca. Como se
estivesse a milhas de distância, ouviu Alex gemer “Ai meu Deus, ai
meu Deus”, antes de dar uma última estocada profunda dentro dela.
Banhado em suor, o marquês caiu por cima do seu corpo. Ele beijou
o rosto da jovem enquanto sussurrava seu nome repetidamente.
– Nós vamos melhorar com a prática – Lorde Brooke disse
algum tempo depois, saindo de cima da dama e passando as
cobertas pelos seus corpos, que rapidamente começavam a esfriar.
Millie riu. Se continuassem assim, acabaria morta dentro de uma
semana. Virando-se de lado, pousou sua cabeça no peito dele,
apreciando o som das batidas fortes do coração do homem.
– Eu sempre soube que você seria magnífico – ela sussurrou. –
Mas é melhor que saiba que não o compartilharei com ninguém.
Agora, você é todo meu, Alex Radley.
Braços fortes a abraçaram, puxando-a para perto.
– Eu não ousaria fazer nada que pudesse me levar a perdê-la.
Depois de ouvir o grito da mulher que amo chegando ao clímax, eu
teria que ser louco para cogitar procurar a cama de outra. – Ele deu
uma risada rouca e sensual. – Embora tenha certeza de que
receberemos reclamações dos vizinhos pela manhã.
A dama deslizou uma mão até os testículos dele, apertando-os
levemente.
– Bem, eles terão que se acostumar.
– Hum – o marquês replicou. – Ainda bem que David tem um
sono pesado.
– David! – a garota exclamou, sentando-se na cama. – Eu me
esqueci do seu irmão. Não me diga que ele está aqui. Pensei que
tivesse voltado para a Residência Strathmore.
Alex riu suavemente e a puxou para os seus braços.
– Ele voltou a morar aqui depois do ataque. Além disso, minha
família chegou ontem da Escócia e David não queria que papai o
pegasse de surpresa enquanto fingia ser lorde – respondeu.
Como Millicent conseguiria encarar David Radley novamente
depois de ter praticamente acordado a casa inteira com os seus
gritos? Podia sentir suas bochechas corando.
– Não se preocupe. Certa vez disparei uma pistola a alguns
metros de distância de onde ele estava dormindo e meu irmão
sequer abriu os olhos. Contudo, acredito que seja mais prudente
pedir que David volte para a residência principal quando nos
casarmos. Ele ficará lá por pouco tempo, estou certo de que logo
procurará uma casa para começar sua própria vida de casado – o
cavalheiro afirmou.
Millie se virou, aproximando seu rosto do rapaz.
– David está apaixonado por Clarice, não é? Ouvi boatos de que
a carta de amor era bela e sincera.
Lorde Brooke assentiu.
– Acho que ele se apaixonou pela Srta. Langham no instante em
que a viu. Eu só queria que meu irmão fizesse algo a respeito.
– Mesmo depois do pai dela ter agredido você? Será que David
iria querer ter um homem como ele como sogro? – ela perguntou.
O marquês esfregou a ponta do seu nariz contra o da jovem,
roubando um beijo de tempos em tempos.
– Se o conde de Langham quisesse me ferir de verdade, minha
vida teria acabado naquele labirinto e nós não estaríamos deitados
aqui hoje. – O cavalheiro passou uma mão pelos pontos acima de
seu olho. – Esse corte deixará uma cicatriz. Todos os dias, quando
eu olhar no espelho, me lembrarei do motivo por que não devo agir
antes de pensar nas consequências de meus atos. Por mais
dolorosa que tenha sido, o conde me ensinou uma oportuna lição de
humildade. E já que foi isto que finalmente fez com que você viesse
até mim e oportunizou nosso futuro casamento, suponho que eu não
tenha muito do que reclamar.
Uma vida juntos. Muito em breve, Millicent seria a esposa de
Alex.
Uma lágrima escorreu pelo canto de seu olho e aterrissou no
peito nu dele. Instantes depois, outra se juntou à primeira. Lorde
Brooke a ergueu, colocando-a sentada em seu colo, com as pernas
da moça ao redor de sua cintura. Mesmo com a luz fraca da lareira,
a dama conseguia ver a expressão de preocupação estampada no
rosto do marquês, que limpava suas lágrimas com os polegares.
– Eu a machuquei? Tentei não ser muito rude, mas sei que, no
final, acabei perdendo o controle – ele falou, plantando beijos doces
no topo dos seios dela.
– Não, é só que eu não tinha processado o fato de que iremos
nos casar até que você mencionou o assunto. É incrível saber que
logo serei sua esposa.
– Marquesa – o rapaz a corrigiu gentilmente. – Você será a
marquesa de Brooke, meu amor, e, algum dia, será minha duquesa;
embora espero que isto só aconteça em um futuro bem distante.
O coração de Millie se encheu de alegria. Mal podia esperar pelo
dia em que finalmente o chamaria de marido.
– Estou tão feliz que tenhamos nos acertado, pois não terei que
passar o resto da minha vida imaginando como ela seria se eu
estivesse ao seu lado. Minha mãe estava certa.
– O que quer dizer?
– Após meus pais me confrontarem sobre meu estúpido plano de
voltar para a Índia, minha mãe disse que eu deveria lhe dar uma
última chance. Todavia, acho que, quando me aconselhou, ela não
tinha esse tipo de reconciliação em mente.
A garota o beijou de forma rápida e apaixonada antes de sair da
cama. Ela recolheu suas roupas e começou a se vestir.
Uma carranca apareceu no rosto do cavalheiro.
A moça pegou seu sobretudo.
– Acho melhor eu voltar para casa, senão Charles pode acabar
sentindo a necessidade de lhe presentear com novas contusões.
Alex se sentou, jogando suas pernas para o canto da cama. Ele
vasculhou o cômodo na penumbra, encontrando suas próprias
roupas. Depois, tirou um paletó e um par de botas do armário e os
vestiu. Enquanto isso, Millie terminou de abotoar seu sobretudo e
pegou o chapéu que deixara na cadeira.
– O que está fazendo? – ela indagou ao enfiar seu cabelo
embaixo do chapéu. – Posso pegar um coche de aluguel na frente
da sua casa; você não precisa se vestir. Estou certa de que
conseguirei chegar até o meu quarto sem problemas. Nosso criado
do turno da noite tem um sono pesado. Você pode conversar com
meu pai amanhã à tarde, quando ele retornar do trabalho.
Lorde Brooke pegou a mão da dama e a beijou.
– Eu a acompanharei até sua casa; não permitirei que ande
sozinha pelas ruas de Londres, principalmente a essa hora. Se
quiser, pode se esgueirar até o seu quarto, mas será sobre minha
vigília. É meu dever proteger o que é meu.
A moça sorriu, entregando-lhe o casaco dele.
– Prometa que nunca deixaremos de nos esgueirar juntos por aí.
O marquês pegou a vestimenta e deu mais um beijo nos lábios
de Millicent.
– Não se preocupe, meu amor; tenho uma grande lista de locais
em que pretendo fazer amor com você – ele murmurou, vestindo o
casaco.
– Homem perverso – ela respondeu ao destrancar a porta do
quarto.
Epílogo
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O Duque de Strathmore
Senhores de Londres
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The Duke of Strathmore
The Noble Lords
Rogues of the Road
London Lords
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