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Mesmo não aceitando sua decisão, você é meu marido, e eu tenho que cuidar
de você. Tem tudo o que precisa aqui dentro. Boa sorte com os negócios, e Feliz Natal
adiantado.
Beijos, Elisa.
Deixo o bilhete em cima de sua mala aberta, que está em cima da nossa cama.
Pego algumas coisas e vou para a casa dos meus pais, onde era para eu estar
indo junto com meu marido e, depois, com todos reunidos, irmos para o Alasca, casa
dos meus avós maternos, pois o meu avô e tios paternos foram para o Brasil.
Chego a casa deles e vou direto para meu antigo quarto deixar minhas coisas.
Logo em seguida sento-me no sofá da sala e ligo a TV, esperando os meus pais
chegarem do serviço.
Alguns minutos depois a porta se abre e entra apenas meu pai.
— Princesa, já por aqui!
Levanto-me sorrindo e vou até ele para abraçá-lo.
— E a minha mãe? — pergunto, sentando-me no sofá. Ele revira os olhos e
sorri.
— Fazendo compras de Natal, deixei-a na loja, depois vem de táxi. — Rio.
— E o ladrão de filhas, quero dizer, o Lucca?
— Ele não vem. — Sorrio, tentando parecer calma.
— Por quê?! — O tom de sua voz muda
— Uma viagem de negócios.
— Pensei que ele te tinha feito algum mal, e ninguém encontraria o corpo dele
— diz nervoso.
— Meu Deus, pai!
Ele dá uma piscadela.
— Vou tomar um banho.
Concordo, e ele se retira da sala.
Dez minutos depois minha mãe chega de mãos vazias.
— O pai disse que você foi às compras, cadê?
Ela se joga frustrada no sofá.
— Odiei tudo que vi. Oh, lojinhas para ter coisas todas cheias de "frufru".
Para que tanto brilho em roupas? Isso é um absurdo.
Rio.
Meu pai aparece na sala.
— Nem pergunte! — diz ela quando ele olha procurando sacolas. Ele ergue as
mãos em sinal de defesa, fazendo-me rir.
— Não me atreveria — ele diz rindo.
— Mas e você, filha, por que brigou com o Lucca? — Franzo cenho. —
Brigou que eu sei, na verdade seu pai sabe e me ligou, falando.
— Como? — pergunto confusa.
Meu pai cruza os braços e me analisa.
— Elisa, eu te conheço. Você, quando briga com alguém que gosta muito, fica
do mesmo jeito que sua mãe, dando sorrisos forçados e achando que consegue me
esconder. E quando perguntei do Lucca, você ficou pálida e nem percebeu.
Eu às vezes esqueço que meu pai me conhece muito bem. Nós brigamos muito,
porque temos o mesmo gênio, mas ele sempre sabe quando estou mal.
— Não foi nada, briga de casal apenas.
— Diz para a gente, meu amor. Temos experiência, podemos te ajudar, na
verdade eu posso, porque seu pai tentará ajudar matando o Lucca e depois surtando
com você e dizendo "eu avisei"!
— Natasha, estou aqui! — ele diz, e ela sorri.
— É que este Natal seria nosso primeiro como marido e mulher, e ele me
deixa por uma viagem à Alemanha, porque tem uma proposta irrecusável para a
empresa.
Minha mãe acaricia minhas mãos.
— Filha, existirão vários outros Natais. Talvez mais especiais que este.
— Mãe, entenda, isso é muito importante para mim, pois eu... — mudo o que
eu iria falar — você e meu pai nunca passaram o Natal longe um do outro depois de
casados, e vejo no olhar dos dois o quanto isso os deixa felizes.
— Eu nunca passaria o Natal longe da sua mãe, e nem a deixaria passar longe
de mim. E se ela quisesse passar longe de mim, eu a amarraria na cama. Somos
marido e mulher e não um casal de namorados adolescentes!
Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Ryan Evan! Você não está ajudando! — minha mãe diz nervosa.
— Eu sou o pai dela, não tenho que ajudar!
— Como não?! — minha mãe pergunta irritada.
— Quando envolve um pênis e minha filha única, eu realmente não tenho que
ajudar. Por mim a mandava para um convento! — ele grita, percebendo apenas
depois, quando pede desculpas apenas por gritar.
— Pai, muito obrigada por ser sentimental! — Levanto-me aborrecida do sofá
e saio da sala.
Vou para meu quarto, onde deito na cama e ligo a TV.
***
Eu e meu pai nunca nos demos 100% bem, mas nunca deixei de amá-lo, porém
alguns comentários dele machucam, pois vêm quando eu mais preciso dele, que faz
"gracinhas" desnecessárias. Da mesma forma que ele odeia quando precisa de mim e
fico distante ou sou grossa, eu também odeio isso nele. Temos o mesmo gênio, e isso
às vezes dificulta nossa convivência.
Pego no sono e acordo com os gritos da minha mãe me chamando para jantar.
Se tem uma pessoa louca e escandalosa, essa é minha mãe!
Não desço para jantar, estou sem fome. Não recebi uma ligação do Lucca, e
isso está me deixando cada minuto pior. Uma coisa muito forte eu herdei da minha
mãe: o orgulho. Não irei ligar para ele, não mesmo!
***
Chegamos a casa dos meus avós, e a primeira coisa que vovó me pergunta é:
Cadê o Lucca e os netinhos? Eu estou com vontade de chorar, mas me contenho, e
minha mãe muda de assunto.
Subo para o meu quarto na casa deles e deixo minha mala; estou exausta.
Ultimamente ando muito cansada, com sono, mas tem um motivo para isso, e essa é a
razão para eu querer o Lucca aqui, mas infelizmente não será possível.
— Entra logo, Ryan! Você precisa se desculpar, porque não quero passar o
Natal com esse clima entre os dois — diz minha mãe do outro lado da porta.
— Eu não fui grosso, Natasha, ela que anda muito sentimental ultimamente,
está parecendo você quando grávida!
Arregalo os olhos. Abro a porta, e eles se assustam. Minha mãe sorri e
empurra meu pai para entrar no quarto. Ele entra, e o acompanho.
— Pai, não precisa se desculpar, já sabemos que sempre seremos como cão e
gato, mas nunca deixaremos de nos amar.
— Preciso, sim. Eu tenho sido ausente, mas é que não sei lidar com você e
sua mãe ao mesmo tempo, vocês me enlouquecem, e a qualquer momento vou ter um
ataque cardíaco. — Rio. — Desculpa, meu amor, mas sou ciumento, não tenho como
mudar isso! E saber que tem um cara que dorme toda noite com minha filha e pode
colocar certa coisa dentro dela me deixa louco!
— Pai! — digo constrangida.
— Vem cá, minha pequena.
Abraço-o.
— Não sou pequena, você que é alto demais.
— Sua mãe falava a mesma coisa. — Ele ri.
— Pai, obrigada, mesmo sendo difícil de lidar com você, nunca vou deixar de
te amar.
Ele me abraça.
— Te amo, meu amor!
***
Já faz seis meses que vivo eternamente apaixonado, Julia transformou minha
vida. Quando imaginava somente curtir a minha vida rodeado de mulheres, descubro
que, por ela, posso até beijar o chão aonde ela passa.
Agora estou aqui em meu escritório, olhando fixamente as águas azuis do mar.
Estamos navegando nas aguas da Grécia, e a minha família e a dela estão reunidas
para comemorar o Natal, por isso estou nervoso.
Minha mãe é só sorrisos e trata a Julia como se ela fosse um cristal delicado
que ninguém pode danificar. Minha Vó, então... chega até a ser engraçada a forma
como ambas – ela e Julia – trocam receitas, principalmente com Vovó ensinando a ela
receitas para as mulheres se tornarem mais férteis. Abro um sorriso ao lembrar as
caras que a Julia faz.
Sinto braços que conheço muito bem circularem minha cintura e uma cabeça
deitar em minhas costas.
— Você está distante, meu amor, nem me percebeu entrando.
Antes de me virar, respiro fundo, sentindo aquele aroma delicioso que vem
dela.
— Apenas estou pensando na gente, no que vivemos nesses últimos três
meses.
Abraço-a com mais força e a beijo com todo carinho e paixão. Não aguento
muito e a levanto. Ela enrola suas pernas em volta de minha cintura, e caminho até
minha mesa, depositando-a com todo carinho sem desgrudar nossas bocas.
— Amor, não podemos fazer nada aqui no seu escritório, nossas famílias
estão lá em cima.
— Minha chef mais gostosa, terá que fazer silêncio e não gemer meu nome
alto, pois pode ter certeza que irei te foder aqui e agora.
Não a deixo responder, e já tiramos nossas roupas. Logo eu estou fundo
dentro dela, e para não gritar, ela morde forte meu ombro, e com isso me deixa com
mais tesão.
Quando chegamos juntos ao clímax, abafo seu grito com minha boca.
— Eu te amo muito, Derek.
— Não mais que eu, Julia.
Horas mais tarde, estamos todos em volta da mesa, rindo. Já é perto da meia-
noite, e eu havia preparado uma queima de fogos para a chegada do Natal. Estou
muito nervoso para entregar a Julia o seu presente, pois é muito grande a minha
insegurança sobre se ela vai gostar do mesmo ou até negá-lo.
Nesses três meses juntos, aprendi muito com ela, e não tenho nenhuma dúvida
de que ela é a mulher que passará o resto da vida ao meu lado. Ela me ensinou muito,
e ainda ensina a cada dia que passa.
— Amor... Derek — uma voz doce me chama.
— Oi, amor.
— Nossa, Derek, hoje você está tão calado, distraído. Aconteceu algo?
Pego suas mãos e as beijo.
— Não aconteceu nada. É que fazia anos que eu não passava o Natal com
minha família, sempre estava com meus amigos, e hoje percebo o que perdi.
Seus olhos lacrimejam.
— Espero que, deste ano em diante, possamos passar assim, juntinhos e com a
nossa família ao nosso redor.
— E nossos filhos, futuramente, Julia.
Ela sorri e me dá um selinho.
Combinamos de trocar nossos presentes somente nós dois. Acho que isso está
me matando, pois ela não me dá dicas sobre o meu presente, e quando fala algo sobre
o mesmo, deixa claro que eu poderei amar ou odiar a ideia.
À meia-noite, acontecem muitos abraços, beijos e muitas trocas de presentes.
Quando todos estão distraídos, arrasto-a para a proa do barco, e ficamos ali
abraçados. Como a primeira vez que nos beijamos foi ali, onde se iniciou nossa
história, esse cantinho é especial para a gente.
— Julia, está vendo esta imensidão que não tem fim? É a mesma coisa o meu
amor por você. Se hoje você terminar nosso namoro, sinceramente não saberei como
continuar a minha vida, não terei forças para ter uma vida após isso. Sou grato a cada
dia por uma chefe de cozinha ter entrado neste barco, mudando quem eu era aqui, no
meu coração. Eu não acreditava no amor, mas hoje não sei dizer como vivi anos sem
ele. Então te pergunto, Julia Zandra, quer ser chef do meu coração pelo resto de
nossas vidas? Aceita formar uma família comigo?
Tiro o anel de meu bolso e o seguro bem próximo ao seu rosto. Suas lágrimas
escorrem pelo seu rosto.
— Derek Kosta, não quero nem imaginar mais minha vida sem estar ao seu
lado, então sem nenhuma dúvida quero ser, sim, a chef do seu coração pelo resto de
nossas vidas.
Aperto-a mais ainda em meus braços e a beijo com todo amor que há em meu
coração. Só paramos de nos beijar quando ambos já estamos sem ar.
— Eu te amo, Julia.
— Também te amo, Derek.
Deslizo o anel em seu dedo e o beijo demoradamente.
— Por isso estava pensativo? ― ela pergunta.
— Tinha medo de levar um não.
Ela dá risada.
— Jamais falaria “não” para um cara lindo, gostoso e, ainda por cima, rico.
— Então está comigo por interesse? — Faço uma voz de espanto, pois sempre
que ela pode, fala isso para mim.
— Estou com você porque te amei assim que coloquei meus olhos quando
entrou todo arrogante na minha cozinha.
Dou uma gargalhada, pois ela nunca havia confessado isso.
— Eu já sabia.
Ficamos namorando por horas, até que eu me lembro do presente que ela ia
me dar.
— Não querendo cobrar, mas a senhorita me prometeu um presente.
Ela dá um leve sorriso, pegando minha mão e a beijando na palma. Em
seguida leva ambas as nossas mãos a sua barriga.
— Aqui está seu presente.
— Sério?
— Sim.
— Julia, é isto mesmo que estou pensando?
— O que você está pensando, Derek?
— Vamos ter um filho?
— Um, não, mas três, sim. Estou grávida de trigêmeos.
Acho que devo ter perdido a cor do meu rosto. Não sei se grito, pulo no mar
ou agarro e não solto mais a mães de meus filhos.
— Três? Três?!
— Amor, você foi tão bom de mira que estão vindo logo três.
Não aguentando mais, caio de joelhos e começo a beijar sua barriga.
— Papai já ama vocês, meus amores.
— Nós também te amamos, Derek.
Levanto-me e a beijo novamente. Agora sinto uma mistura de felicidade e de
todos os sentimentos juntos.
Volto a me abaixar.
— Feliz Natal, meus filhos.
Após a guerra
(Autora Cláudia Pereira)