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Sabrina Jeffries
Alguém a quem amar
Série Escola de Senhoritas 02
Casar-se? Jamais! Isso poria fim ao trabalho de Louisa North com seu grupo de damas
reformistas e a verdade é que ela aprecia muito sua independência, apesar dos constantes
protestos do pai, o rei. Assim, quando Simon Tremaine, o imponente duque de Foxmoor por
quem uma vez esteve apaixonada - e quem ela obrigou a exilar da Inglaterra - retorna da Índia
com a intenção de casar-se com ela, Louisa não pode mostrar-se mais cética. De verdade a quer,
ou simplesmente deseja vingar-se? Resulta difícil resistir aos perigosos encantos de Simon,
porque a chama entre eles ainda continua viva, com tanta paixão como sempre. Mas quando
descobre os motivos ocultos que ele tem para casar-se com ela, junto com os terríveis segredos
que encobrem seu passado, Louisa jura que o fará pagar muito caro a afronta... e o preço será,
nem mais nem menos, o próprio coração do duque.
Comentário da Revisora Dani: Desde que li a trilogia dos Bastardos Reais fiquei curiosa para saber
o destino do Simon e da Louisa e ai está, temos um livrinhos só sobre eles dois. No anterior
consegui ficar com raiva do Simon, mas curiosa e aqui podemos descobrir o que o motivava sua
ambição.
Capítulo 1
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Série Escola de Senhoritas 02
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Mas sim que estava diferente. Os atraentes traços de moça ingênua e provinciana ofereciam
agora um estudado ar de prudência. Inclusive o vestido de seda azul era recatado; um traje
discreto e elegante, que só marcava ligeiramente as gloriosas curvas daquele corpo feminino e
que desaparecia debaixo de alguns cachos gloriosos, substituído por indomáveis mechas negras
cacheadas, que pareciam pedir a gritos que alguém os tocasse e os beijasse...
Maldição. Como essa mulher se atrevia a exercer ainda esse influxo tão poderoso sobre ele?
Se seu avô ainda estivesse vivo, o admoestaria com uma reprimenda descomunal. Depois do
modo tão pérfido que se comportou com ela, o ancião conde de Monteith teria ficado lívido.
Simon jamais poderia esquecer o que o avô lhe disse a última vez que foi visitá-lo, antes de partir
para a Índia:
"Sabia que me defraudaria como seu pai, dando prioridade ao prazer antes do dever. Por
acaso não aprendeu nada de minhas lições? É muito escravo de suas paixões para poder governar
um país como é devido."
Maldito fosse seu avô e malditas fossem suas lições! Simon havia demonstrado ao avô
materno que se equivocava, na Índia, um país que, exceto por seu engano garrafal em Poona,
governara com grande habilidade. E agora, na Inglaterra, também pensava provar ao velho que
estava enganado, com ou sem Louisa. Unicamente desejava que o avô Monteith não tivesse
falecido antes de presenciar seu triunfo merecido.
Raji dançava sem parar sobre seu ombro e Simon lhe fez algumas carícias para acalmá-lo.
— Sim, patife; será melhor irmos nos juntar à multidão antes que alguém, especialmente a
senhorita North, me pegue olhando-a como um hindu faminto contempla uma tigela de arroz. — E
ato seguido, dispôs-se a descer pela escada.
— Senhor!
Simon se virou e viu um dos criados do Castlemaine avançando atropeladamente pela
galeria.
— Minha senhora me pediu que viesse buscá-lo — explicou o homem quando alcançou
Simon. — Sua majestade deseja reunir-se com você no jardim das rosas agora mesmo.
Maldito fosse o rei. Não gostaria absolutamente de vê-lo. A correspondência do Simon com
seu antigo amigo, se limitou a questões governamentais da Índia.
— O que é que Sua majestade quer?
O servo piscou incômodo.
— Não... não sei. Só me pediram que viesse a buscá-lo — observou Raji com receio. — Quer
que ponha seu mascote na jaula primeiro? — Raji assistiu a mais de trinta bailes na Índia. Não se
preocupe, ficará bem - Simon se despediu do criado com um aceno de cabeça.
— Diga a Vossa majestade que descerei dentro de um momento.
— Muito bem, senhor — respondeu o lacaio, com aspecto nervoso enquanto se afastava
rapidamente.
Simon nem se alterou. Que o rei esperasse, assim como fez Simon esperar todos esses anos
para poder retornar a carreira política na Inglaterra.
Começou a descer a escada, mas então se deu conta de que haviam duas pessoas que
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bloqueavam seu caminho: Louisa e a dama com quem esta estava conversando. Por todos os
demônios, mas se era lady Trusbut. Reconheceria a baronesa louca pelos pássaros a vários
quilômetros de distância. Ninguém mais era capaz de luzir um leque e uma bolsa de plumas ao
mesmo tempo, além das usuais plumas que destacavam-se no vestido e no penteado, que
conseguiam que a baronesa se parecesse mais a uma vendedora de frangos que à esposa de um
influente membro da Casa dos Lordes.
Quando os harpistas entoaram uma nova peça e lady Trusbut girou a cabeça para escutar,
Simon se deu conta de que inclusive usava um chamativo pavão colocado em... Maldição. Raji!
Ainda que Simon tenha reagido rápido, tentando apanhar seu mascote, o pequeno vadio já
havia saltado de seu ombro e se dirigia a saltos velozes para a única coisa que podia tentá-lo a
comportar-se mau: os pássaros de brinquedo. Com um grande regozijo, Raji subiu pelas costas de
lady Trusbut e se encarapitou até seu penteado, onde o patife vira o atraente passarinho.
Simon saiu disparado como uma flecha atrás dele, proferindo uma fileira de maldições em
voz alta e estremeceu quando ouviu lady Trusbut soltar um grito... e a baronesa continuou
gritando enquanto Raji se dedicava a dar botes sobre sua cabeça, tentando arrancar o enfeite que
estava firmemente aderido ao cabelo de lady Trusbut.
— Raji, não! — ordenou-lhe Simon, mas sua voz se perdeu sob os gritos de pânico dos
convidados que corriam para auxiliar lady Trusbut.
Enquanto isso, Louisa estava tentando atrair o macaco para que pulasse em seus braços
enquanto lady Trusbut parecia estar a beira de um ataque de nervos, proferindo espasmódicos
berros: "tirem este animal de cima de mim!".
— Raji! Venha aqui! — ladrou Simon quando ficou mais perto da imagem grotesca.
Desta vez, tanto seu mascote como Louisa o ouviram.
Raji o ignorou, mas Louisa não. Virou a cabeça impetuosamente e o olhou com os olhos
descomunalmente abertos. Depois, seus traços suavizaram sob uma máscara perfeitamente
estudada.
— Imagino que este animal lhe pertence.
— Receio que sim — Deu um olhar furioso ao mascote. — Desça agora mesmo, patife!
Simon tentou pegá-lo, mas Raji se encolheu e se entrincheirou no penteado de lady Trusbut,
agarrando o pavão com todas suas forças e a pobre mulher voltou a gritar. Por ser um macaco,
Raji possuía um extraordinário sentido de auto proteção incrivelmente desenvolvido.
— Está piorando as coisas, senhor duque — afirmou Louisa. — Esse animal lhe tem medo.
— Da única coisa que tem medo é de ficar sem esse maldito pássaro de brinquedo —
atravessou Simon, irritado ante o fato de Louisa se dirigir a ele como "senhor duque", como se
fossem um par de desconhecidos.
— Ai! — Lady Trusbut levou as mãos à cabeça e chiou de novo quando Raji puxou seu cabelo
com mais firmeza. — Por favor, que esse inseto não destroce meu pavão favorito!
— Se tranquilize — Louisa tentou acalmá-la. — Estou segura de que conseguiremos entretê-
lo com algum outro objeto.
Louisa deu uma olhada ao redor e pegou uma das taças que um criado que passava por ali
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levava sobre uma bandeja. Afundou o dedo indicador em seu conteúdo e o aproximou do macaco.
— Ohhhh. Cheira isto, Raji. Não parece delicioso? — Bebeu da taça e sorriu amplamente, ao
mesmo tempo que aproximava mais seu dedo de Raji. — Mmm... Que delicia! É muito doce.
Raji se inclinou o suficiente para lamber seu dedo, primeiro com receio e logo com
atrevimento. Louisa elevou mais a taça e Raji tentou pegá-la com sua mãozinha, embora sem
soltar o ditoso pássaro com a outra.
Louisa retirou a taça.
— Ah, não, bonito. Se quiser, terá que vir aqui para prová-lo.
Assim que Raji se inclinou para a taça, Simon se equilibrou sobre o mascote e começou a
lutar para que soltasse de uma vez por todas o malogrado pavão. Raji parecia confuso, mas no
final ganhou a vontade de beber ponche, assim saltou sobre o ombro de Louisa.
Lady Trusbut se encolheu de horror, mas Louisa nem se alterou. Com uma calma admirável,
tomou o macaco entre os braços e lhe ofereceu a taça. Enquanto lady Trusbut tentava arrumar
freneticamente o cabelo, Simon disse a Louisa:
— Eu me encarregarei dele — o vigarista tencionava voltar a atacar o pavão de lady Trusbut
quando tivesse dado conta do ponche.
Louisa quis entregar o macaco ao dono, mas o mascote se aferrou a seu corpete e começou
a guinchar como um possesso.
— Ao que parece, está mais satisfeito comigo — disse ela, arqueando uma sobrancelha
escura enquanto embalava Raji no peito.
— Claro — murmurou Simon. O pequeno diabo acabou com o conteúdo da taça e logo
lançou a Simon um olhar desafiador. Maldito traidor. — A metade dos homens nesta festa dariam
a metade de sua fortuna para apoiar a cabeça no preciso lugar onde a tem esse diabrete agora.
Louisa sentiu um rubor tremendo nas faces, no pescoço e inclusive até nos seios que
protegiam a cabecinha do Raji e, seu visível embaraço conseguiu que o pulso de Simon disparasse
como um estouro de elefantes. No entanto, o olhar distante e sereno que ela lhe lançou, deu a
entender que agora se converteram em dois absolutos desconhecidos.
— Se você não gosta de onde está localizado seu animal de estimação, senhor,
possivelmente não deveria trazê-lo a este tipo de festa.
— Santo Deus! — Lady Trusbut, que continuava enfeitando o penteado, elevou uma mão
salpicada de sangue. — Essa besta me feriu! — E, ato seguido, desmaiou.
Enquanto Simon lançava uma maldição ao ar, Louisa lhe ordenou:
— Vá procurar meus sais.
— Onde estão? — perguntou Simon.
— Em minha bolsa — Louisa tentou desembaraçar-se de Raji e da taça de ponche vazia. —
OH, não importa. Cuide de seu macaco — Lançou Raji aos braços de Simon.
Raji soltou a taça, mas quando divisou à mulher caída no chão com o pavão ainda
encarapitado em sua cabeça, tentou um novo assalto.
— Ah, não, nem pense, pequeno patife — Simon o deteve implacavelmente imobilizando-o
pelos pulsos. Louisa já estava colocando os sais ante as fossas nasais de lady Trusbut enquanto
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outras mulheres formaram um corredor no caminho coberto de cascalho para ajudá-la. Simon se
sentia como um intruso, de novo.
— Desculpem, senhoritas, mas será melhor que tranque Raji em sua jaula.
Ninguém lhe deu atenção, exceto Louisa, que levantou a vista e o olhou alguns instantes.
— Sim, já pode partir, senhor. A situação está controlada.
Como que "pode partir, senhor"? Simon teve que fazer um enorme esforço para não soltar
um comentário impertinente, mas Raji lutava com a intenção de liberar-se, e Simon não podia
ficar discutindo.
— Por favor, expressem minhas desculpas mais sinceras a lady Trusbut. — Ato seguido,
afastou-se com passo rápido da multidão congregada ante o incidente.
Ignorando os murmúrios a seu redor, subiu com firmeza as escadas e entrou na casa; estava
a ponto de perder os nervos.
— Como se essa mulher arrogante e eu fôssemos totalmente desconhecidos! — bramou
enquanto se dirigia para a imponente biblioteca do Draker, onde deixara a jaula do Raji. — Pode
partir, senhor. Como se atreve a me dar permissão para que vá, como se fosse um miserável
criado?
Simon olhou Raji com olhos furiosos.
— E você não fez mais que piorar tudo, não é? Conseguiu que eu ficasse como um
verdadeiro idiota diante dela. Um sem-fim de bailes na Índia sem a menor briga e escolhe minha
primeira festa na Inglaterra para organizar um espetáculo vexatório.
Sustentando Raji firmemente, que protestava diante da implacável garra de seu dono, Simon
entrou na biblioteca.
— A próxima vez que fizer um brinquedo de madeira, pode estar seguro de que será um par
de algemas. — Não era uma ameaça nada usual, já que Simon quase nunca trancava Raji na jaula.
O qual certamente era o motivo pelo que o canalha guinchava enfurecido enquanto Simon o
levava para sua prisão.
— Havia esquecido que você gostava de esculpir figuras de madeira — pronunciou uma voz
dolorosamente familiar atrás de Simon. — Estava acostumado a deixar a sala de estar de minha
casa uma bagunça.
Simon soltou um bufo. Maldição. Primeiro Louisa e agora ele. Virou-se lentamente para
olhar o rei, que acabava de entrar na biblioteca.
— Sua majestade — Enquanto Simon se inclinava, sem soltar Raji, preparava-se
mentalmente para um não desejado confronto.
— Com seu amiguinho descarado, não? — O rei observou Raji com curiosidade; o macaco
continuava protestando desesperadamente porque o tinham afastado da flor e nata da sociedade.
— Costuma comportar-se melhor — Simon lançou Raji dentro da jaula, mas este só se
acalmou quando o dono lhe entregou seu brinquedo favorito: um passarinho pintado com vivas
cores; então ficou a acariciar a figurinha de madeira com um afeto paternal.
George se aproximou para dar uma olhada ao interior da jaula.
— Foi você que fez esse brinquedo?
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uma mudança radical no governo. A única saída que a velha guarda estaria disposta a admitir seria
uma mudança lenta e moderada.
Simon virou e viu que o rei o olhava indeciso.
— Então ainda pretende seguir em frente com a ambição de toda a vida, não? — Sua
majestade esquadrinhou a face dele. — Todo mundo espera que siga o bom exemplo de
Monteith.
Que todo mundo fosse ao inferno. Porque apesar de continuar ambicioso como sempre,
Simon não pensava conseguir o que queria seguindo o "bom exemplo" de seu avô, vivendo uma
vida cheia de hipocrisia e de secreta corrupção moral. Ou ficando do lado do rei e de suas
maquinações. Sua majestade era totalmente imprevisível, e abominavelmente perigoso.
— Ainda não decidi...
— Claro que o fez — lançou a Simon um olhar malicioso. — Se não, não teria aguentado
tanto tempo no posto de governador geral, até esgotar o mandato. Retornou a Inglaterra quando
cansou do calor, das serpentes e dos problemas com os nativos. Mas aguentou até o fim, ali onde
outros homens de mais baixa condição social que você teriam dito: Tenho riqueza e um bom
posto. Quem sonha envolver-se outra vez com política?
Simon o olhou perplexo.
— Suportei todo esse tempo na Índia porque foi o compromisso que adquiri contigo.
— E porque te disse que não teria futuro na política se não o fizesse.
Era óbvio que sua majestade desejava insistir nessa questão.
— Sim, e é verdade que servi todo este tempo com lealdade, por isso agora me deve seu
apoio incondicional em minha candidatura ao posto de primeiro-ministro, tal e como
combinamos.
O rei rodeou Simon ao mesmo tempo que esboçava um sorriso malicioso.
— Ah, mas isso não é exatamente o que combinamos. Eu disse que se fosse à Índia, não me
oporia a que ingressasse a política quando retornasse. Não mencionei nada sobre oferecer meu
apoio.
Um agudo estalo de raiva lutava para escapar da garganta de Simon. Apesar de que não o
surpreendia absolutamente que sua maldita majestade lhe desse desculpas para não cumprir o
pacto, essa reação era um impedimento para seus planos. Por mais que a ideia lhe parecesse
odiosa, uma mudança permanente requereria contar com a cumplicidade do rei. Mas morreria
antes de suplicar.
— Então seguirei sozinho. Obrigado por esclarecer esse ponto — virou-se para a porta. — E
agora, se me der licença...
— Espera, maldito seja. Só queria dizer que se quiser meu apoio incondicional...
— Terei que fazer o que me pedir — Simon se deteve ao chegar à porta. — A última vez que
me ofereceu seu apoio incondicional, acabei banido do país por culpa de um miserável beijo e de
um punhado de promessas falsas.
— Perdoe-me se perdi o afã de conseguir seus favores.
— Não seja impertinente, Foxmoor. Sabe perfeitamente bem que o que aconteceu com
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Louisa foi só sua culpa. Eu te pedi que não alimentasse as esperanças de que se casaria com ela.
Acha que poderia olhar para o lado, enquanto me desafiava?
Pelo que parecia, a discussão era inevitável, apesar dos desejos de Simon. Fechou a porta da
biblioteca e olhou o rei.
— Me deu uma tarefa impossível de cumprir. Cortejá-la, mas não cortejá-la. Seduzi-la para
que se atrevesse a sair a sós comigo, com o objetivo de que você pudesse falar com ela, mas não
lhe contar o motivo — suspirou com tristeza. — Não poderia cumprir a missão, ficando distante.
— Pensei que se comportaria como um cavalheiro honrável.
Com Louisa, cuja boca voluptuosa não deixou de sonhar depois?
— Inclusive eu tenho limites.
George olhou Simon satisfeito.
— Louisa mudou muito. Já não é a jovenzinha que conheceu, não parece?
A mudança abrupta de assunto pôs Simon completamente em guarda. Era consciente de que
estava se metendo em areias movediças.
— Não sei. Quase não tivemos tempo para falar.
— Parece muito mais confortável entre as pessoas, mais segura — o rei olhou Simon com
cara de preocupação. — Muito segura, eu diria.
— Problemas no paraíso, majestade? —espetou Simon secamente.
George o olhou com desdém.
— Sua irmã já lhe contou, suponho.
— Regina e eu não falamos de Louisa.
O rei começou a perambular pela ampla sala.
— Essa pequena cabecinha obcecada me deixara louco. Rechaça todos os pretendentes; diz
que jamais se casará. A princípio não acreditava, mas já tem vinte e seis anos e continua sem
deixar que nenhum homem se aproxime.
George lançou a Simon um olhar implacável.
— Além disso, também ha suas atividades de caridade. Não me opus quando decidiu
participar da escola dessa maldita viúva, a senhora Harris, para dar conselhos às alunas sobre
como deviam comportar-se na corte. Pensei que essa tarefa manteria a mente ocupada, posto que
Louisa ficou muito afetada pela morte de minha filha Charlotte, igual a todos nós. Mas agora se
mesclou com esse grupo de reformistas e vai a Newgate...
— A prisão? — perguntou Simon, cheio de curiosidade, apesar de não desejar colocar o nariz
nessa questão.
— Sim, a prisão. Ela e a Sociedade feminina de Londres vão a Newgate junto as Quacker da
Associação para a Melhora das Condições das Reclusas, para prestar ajuda.
A confidência tomou Simon de surpresa. Louisa jamais lhe pareceu o tipo de mulher disposta
a dedicar-se as obras sociais e muito menos a esses tipos de trabalhos tão desagradáveis, com as
reclusas.
— E o irmão permite?
— Sim, Draker permite. Inclusive deixa que Regina vá de vez em quando com ela. Esse
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maluco acredita que é bom que elas invistam o tempo em uma causa, como eles dizem, "útil" e
"significativa".
Simon deu um encolher de ombros.
— O trabalho de caridade é um passatempo honorável para as damas da alta sociedade.
— Para as que não são casadas? Quem é capaz de preservar a inocência em sua tenra
cabecinha, com a devassidão que devem presenciar nesse antro de perdição?
Simon recordou a vez que visitou Newgate muitos anos atrás e estremeceu. Esse homem
tinha razão. Os presos se comportaram só um pouco melhor que os animais. E ao pensar em
Louisa ali dentro...
Mas não era assunto dele.
— E quando Louisa não está perambulando por Newgate, ela e a Sociedade feminina de
Londres vão por aí arrecadando fundos para a Associação.
— Por isso estava falando com lady Trusbut, imagino.
— OH, de lady Trusbut pretende tirar algo mais que dinheiro. Quer que essa senhora com
tão pouco destaque se junte à Sociedade feminina de Londres para... — George se deteve
abruptamente.
Simon entrecerrou os olhos.
— Para que? O que tem de mau que lady Trusbut se una ao grupo de caridade de Louisa?
O rei desviou o olhar.
— Nada. Exceto que se misturam com as presas.
Obviamente, isso não era o que mais incomodava o rei. Embora Simon voltasse a recordar a
si mesmo que não deveria preocupar-se com questões alheias.
— E por que considera que ira me afetar o novo passatempo de sua filha?
Sua majestade voltou a olhá-lo.
— Você ainda gosta de Louisa? — Quando Simon ficou tenso, George acrescentou
secamente. — O que diria se dissesse que pode ser tua?
Um calafrio percorreu a espinha dorsal de Simon. Não, era uma armadilha.
— Tenho certeza de que Louisa não gostará de seus planos.
— Se soubesse, não; mas minha intenção é que ninguém alem de nós dois saiba deste
acordo.
Simon soltou um sonoro suspiro.
— Se pensa que deixarei me enrolar outra vez...
— Não sugiro nada sujo; desta vez me refiro a casamento. Ela necessita um marido que a
proteja. E você é a escolha mais lógica.
— Eu? — Simon ficou perplexo ante tal sugestão. — Não posso acreditar que esteja falando
sério. O que aconteceu com a declaração que me fez anos atrás de que ela deveria casar por
amor? E que eu era incapaz de lhe dar precisamente isso, amor? O que, infelizmente, é verdade.
— Pensei que Louisa encontraria sua alma gêmea. Mas não o fez e receio que nunca a
encontrará e não se casará.
— A menos que eu mesmo me case com ela.
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— Exatamente. Case-se com ela e deite com ela e tenha filhos. Faça o que for necessário
para mantê-la a salvo em casa.
Simon explodiu em uma sonora gargalhada. Não era precisamente o tipo de conversa que
teria esperado manter com sua majestade.
— Tenho certeza de que não te escapou a ironia. Eu e Louisa? casados?
— Antes a achava atraente o suficiente. — Seu semblante se tornou cinza. — Ou por acaso a
petição que Louisa me fez para que o enviasse para tão longe transformou seus tenros
sentimentos em ódio?
O sorriso divertido se apagou da face de Simon.
— Não sinto nada por ela, nem amor nem ódio.
"Mentiroso", recriminou-se a si mesmo. Tentara odiá-la. A raiva, combinada com uma dose
saudável de luxúria frustrada, o consumiu durante os primeiros dias em Calcutá. Passou as noites
imerso em fantasias picantes, imaginando Louisa a sua inteira disposição, subjugada, suplicando
que a perdoasse e oferecendo todo tipo de favores eróticos. Mas o trabalho duro e o desafio de
converter-se em um bom governador geral conseguiu finalmente consumir toda a raiva.
Simon pensou que também havia sufocado o desejo que sentia por ela, até aquela noite.
Embora tampouco fosse uma questão que lhe importasse. Desta vez, não permitiria que Louisa,
com sua boca sedutora e sua refrescante ousadia, o distraísse de sua ambição. Aprendera a lição.
Além disso, era evidente que George ocultava os verdadeiros motivos para querer que
Simon se casasse com ela, e isso fazia que a possibilidade de cortejá-la fosse verdadeiramente
perigosa.
— Não odeio Louisa — disse Simon — mas dadas as circunstâncias, me casar com ela não
seria a decisão mais acertada. Mesmo que eu quisesse, ela me rechaçaria. É óbvio que perdeu
todo o interesse que uma vez sentiu por mim. — Doloroso, mas verdadeiro, a julgar por sua
reação, quando o viu algumas horas antes no jardim.
— Sim, mas ela continua solteira. E se ruboriza cada vez que alguém pronuncia seu nome.
Simon ignorou os repentinos batimentos disparados de seu coração.
— Ah, sim?
— Por que acha que me dirijo a você com esta proposta? Porque acredito que ela ainda
sente algo por você.
— Pois esconde seus sentimentos muito bem. — A maldita mulher agiu como se ele fosse
um simples cavalheiro que ela acabara de conhecer em uma festa, em vez do primeiro homem
que a beijou. — Não vi nenhum sinal de afeto, faz um instante.
— Ah, mas verá. Empregue todos seus encantos e triunfará. é evidente que agora é um
partido mais interessante que antes, depois de suas ações heróicas na batalha de Kirkee.
Simon fez uma careta quando ouviu o infeliz comentário.
— Sim, não foi um ato totalmente heroico de minha parte, fechar o celeiro depois que os
cavalos fugiram...
O rei o olhou com curiosidade.
— Agiu de um modo inteligente. Ninguém o culpa pelo que ocorreu em Poona.
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Era verdade, ninguém o recriminou, mas ele tinha terríveis remorsos na consciência.
Ninguém mais que ele reconhecia a magnitude de seu grande erro. Deveria ter evitado o massacre
em Poona com apenas... Mesmo assim pensar uma e outra vez no ocorrido não servia de nada.
Algo aprendera desse desastre e agora desejava aplicar convenientemente todas as lições e
consertar seu erro; precisava fazê-lo.
— A questão é — prosseguiu o rei, — que Louisa ainda pensa em você, disso estou certo. E
se conseguiu que ela se apaixonasse por você... Bem, pode voltar a fazê-lo.
A ideia pareceu tão sugestiva a Simon que ele se alarmou. Não necessitava nenhuma mulher
como Louisa North em sua vida nesse momento.
— Sim, mas não quero fazê-lo novamente.
— Mesmo que te garanta que será o próximo primeiro-ministro? Liverpool teve que se
demitir, depois dos graves distúrbios em Saint Peter's Field. Inclusive os outros ministros
reconhecem que conseguiriam aplacar o povo se o primeiro-ministro abandonasse o cargo.
E os outros ministros eram inclusive de pior índole que Liverpool, mas poderia obrigá-los a
demitir se Liverpool se aposentasse. A julgar pelos membros do Parlamento com os quais Simon
havia conversado, o sentimento generalizado era que todo o governo atual devia ser
desmantelado. Possivelmente a mudança se erigia finalmente como uma possibilidade.
Talvez fosse o momento de destruir os galhos mortos antes que o imenso carvalho inglês
viesse abaixo. Mas isso não significava que Simon pudesse confiar que George fosse quem dirigisse
o machado para realizar o corte.
— E o que pensa fazer, se Louisa se negar a casar-se comigo ou alega que parti seu coração
pela segunda vez? — inquiriu Simon. — Não, não arriscarei minha carreira política de novo — se
virou e agarrou a maçaneta da porta. — Pelo menos tome tempo para considerar a possibilidade
— disse o rei. — Se me fizer este favor, juro que não se arrependerá. E se não o fizer... — George
deixou a frase sem acabar, suspensa no ar.
Maldição. O rei ainda ostentava o poder para complicar sua vida. Mas por que insistia ao
ponto de ameaçá-lo para que se casasse com Louisa? Não fazia sentido. O mais conveniente era
que Simon averiguasse algo mais sobre a complicada situação antes de tomar alguma decisão.
— Pensarei. — Pelo menos, até que descobrisse os motivos do rei.
Uma vez que sabia que não obteria a verdade por parte do George, só restava outra fonte de
informação: Louisa. Talvez ela soubesse o motivo que tanto preocupava o rei.
Mas se contaria ou não... Bom, essa era outra questão. Teria que abordá-la com supremo
cuidado, mas pensava obter respostas. Porque não se atrevia a seguir em frente com seus planos
até que não soubesse exatamente o que o rei planejava.
Assim como o papel desempenhado pela tentadora e perigosa Louisa North nessa trama.
Capítulo 2
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Querida Charlotte:
A única coisa que ouvi são rumores a respeito do que aconteceu entre a senhorita North e
Foxmoor. E que cavalheiro ousaria perguntar ao duque sobre essa questão, depois da batalha de
Kirkee? Pessoalmente, não me atreveria a provocar um homem cujas palavras são capazes de
incitar uma reação tão ardente dos cipayos para lutar e vencer a um inimigo tão poderoso.
Tremendo de medo dos pés à cabeça, seu primo,
Michael
Então, o duque altivo e poderoso seguia sendo uma fonte de problemas. Louisa não se
surpreendia absolutamente.
O macaco, entretanto, sim a surpreendeu. Quem se atreveria a apresentar-se a um evento
social com um macaco? Só alguém tão arrogante e com a absoluta segurança de que, fizesse o que
fizesse, seria bem recebido; alguém que desfrutava soltando elogios tão insolentes para fazer que
uma dama ruborizasse...
— É muito grave? — perguntou uma voz queixosa. Louisa deu um pulo. Deveria estar
examinando o couro cabeludo de lady Trusbut, que nesse momento jazia sobre seu regaço.
— Ainda não sei.
Ela e a baronesa estavam na sala de estar da mansão Castlemaine. Surpreendentemente,
depois de recuperar a consciência, a anciã se pôs sem duvidar nem um instante nas mãos de
Louisa, inclusive ao deitar-se no sofá adamascado quando entraram na sala, para que Louisa
pudesse lhe inspecionar a cabeça enquanto uma criada ia a procura de Regina. Dada a magnífica
oportunidade que tinha agora de convencer à mulher para que se unisse a sua causa, Louisa não
deveria perder o tempo com divagações sobre Simon.
Por todos os Santos; tampouco deveria pensar nele como Simon. Para ela, ele era agora o
duque de Foxmoor, nada mais. Se tivesse tido um pouco de juízo sete anos antes, teria se dado
conta então e não teria se deixado seduzir pelas aduladoras palavras desse trapaceiro sobre seus
olhos, cabelo e o que sentia por ela.
O que ele sentia por ela? Ora! Esse homem não possuía sentimentos. Estes estavam
reservados a mortais inferiores ao grande duque. Fora uma tola ao acreditar no contrário.
Mas realmente deveria lhe estar agradecida. Graças a ele, aprendeu a agir de forma mais
inteligente, modelando seu comportamento a imagem e semelhança do de Regina e as damas da
corte. Agora, o duque não era o único capaz de ocultar seus verdadeiros sentimentos atrás de um
sorriso enigmático. Apesar de Louisa ter necessitado muitos anos para aprender como conter suas
emoções voláteis, acabou conseguido, ao fim. E essa noite havia triunfado, falando com o
poderoso duque com todas as reservas de uma dama.
Agora, a única coisa que faltava era que suas mãos deixassem de tremer, que o estômago
relaxasse e que o sangue em suas veias fluísse mais devagar.
Louisa franziu o cenho. Não era justo. Como podia aquele inseto manipulador ainda fazer
seu pulso disparar com apenas um olhar inquietante com aqueles fascinantes olhos azuis? Não era
o que precisava agora. Finalmente conseguiu a oportunidade de falar a sós com a assustadiça
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— A verdade é que aprendi um sem-fim de coisas dessas mulheres tão elogiáveis que estão
filiadas à Sociedade das Damas de Londres.
— Quanto tempo faz que tomou parte do grupo?
— Três anos. Fui eu quem o fundou.
Lady Trusbut emitiu um estalo com a língua para mostrar sua contrariedade.
— Uma jovem dama como você deveria pensar em matrimônio, em vez de em trabalhos
sociais.
Louisa ficou tensa ante a crítica que ouvira tantas vezes sendo repetida.
— Bem, penso em ambos os assuntos. Mas desde que só disponho de tempo para me
dedicar a um dos dois, minha consciência me diz que escolha pelas obras sociais.
Sua consciência... e seu terror incontrolável. Embora fosse verdade que considerava que
podia fazer coisas mais proveitosas como uma solteirona reformista do que como a esposa de um
lorde despótico, realmente era o fato de pensar nas obrigações que suportava o matrimônio o que
a mantinha afastada desse mundo.
Dar a luz. Médicos. Sangue e horror...
Depois do que sua meio-irmã, a princesa Charlotte, a quem adorava com loucura, teve que
suportar... Não, ela jamais conseguiria sobreviver à experiência de um parto. Não importava
quantas vezes dizia a si mesma que varias mulheres davam a luz todo dia sem morrer, o cruel
nascimento que presenciou secretamente continuava lhe provocando pesadelos. Se uma princesa
podia morrer em tal agonia, rodeada pelos melhores médicos, qualquer outra mulher poderia
sofrer o mesmo, inclusive ela. Louisa estremeceu com um calafrio. Nenhum homem era tão
especial para que aceitasse a passar por esse mau, nem sequer...
Louisa franziu o cenho. Ele não era digno de nada, aquele maldito pilantra. Com uma
renovada ferocidade, retomou os esforços com lady Trusbut.
— Se você ouvisse a chamada da consciência, seria uma honra para as Damas de Londres lhe
dar as boas-vindas em nossa sociedade.
— E não está seu grupo vinculado à Associação de Quaker, conforme ouvi?
— Sim, o grupo que é dirigido pela senhorita Elizabeth Fry.
Lady Trusbut sacudiu a cabeça.
— Eu não gosto dos Quaker. Edward diz que desprezam a tudo que tenha plumas.
Edward era lorde Trusbut, que ao que parece, encontrara a forma perfeita de dissuadir a
excêntrica esposa de que ingressasse na Sociedade das Damas de Londres.
— Bom, sei que não são a favor das vestimentas extravagantes, mas duvido que não gostem
das plumas em particular. E a Sociedade das Damas de Londres não só está vinculada com a
Associação de Quacker. A senhora Harris também é membro de nosso grupo, igual a algumas de
suas pupilas e muitas damas de classe — procurou dentro de sua bolsa. — Aqui tenho uma lista
das mulheres que...
— A senhora Charlotte Harris? A diretora da Escola de herdeiras?
Louisa ocultou um sorriso ao escutar o nome com o qual popularmente era conhecida a
escola onde ela deu algumas lições sobre protocolo na corte.
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corpo esbelto e musculoso e seus dias sob o sol tingiram sua pele de um bronzeado dourado que
se complementava perfeitamente pelo cabelo loiro com reflexos dourados.
— Permitam-me que lhes explique a desafortunada atuação do Raji, por favor — continuou
Simon. — Vejam, ele adora os pássaros de brinquedo, são sua perdição; assim não pôde resistir a
tentação de acariciar o belo pássaro que você usava no penteado.
— Acariciá-lo? — balbuciou lady Trusbut. — Não estava tentando destroçá-lo?
— De maneira nenhuma. Raji considera os pássaros, sejam de verdade ou de mentira, seus
melhores companheiros de brincadeira — Simon arqueou uma sobrancelha. — Prefere os
canários, embora não sei por que.
Maldito patife. Certamente ouvira lady Trusbut falar de seus pássaros.
A anciã inclinou a cabeça para um lado, como uma pomba.
— Os canários são pássaros maravilhosos, muito afáveis e sociáveis. Eu tenho vários.
— Seriamente? OH, Raji adoraria vê-los.
— Pois então os convido a vir vê-los quando quiserem, se tiver certeza absoluta de que não
fará mal a eles.
Simon voltou a inclinar-se para a dama educadamente.
— Comportar-se-á como é devido; não resta a menor duvida. — Continuando, lançou a
Louisa um olhar significativo. — De todas as maneiras, espero que me permita ir com a senhorita
North.
Raji parece responder melhor a suas ordens que às minhas.
Louisa piscou. O que esse pilantra se propõe?
Antes que lady Trusbut pudesse responder, ele acrescentou:
— OH, esqueci. Isso provavelmente será impossível, uma vez que seu marido não aprova os
esforços que a senhorita North dedica às obras de caridade.
— Não... não disse isso — protestou a anciã, visivelmente confusa.
— Imagino que se a seu marido não parece bem que se filie a seu grupo, significa que não
aprova as obras de caridade que essas damas executam.
A ênfase contínua na palavra "caridade" por parte de Simon deixou Louisa sem argumentos
para intervir. E conseguiu pôr lady Trusbut ainda mais nervosa.
— Bem... não... quero dizer... meu marido é um bom homem. Defende a caridade da igreja,
mas a associação da senhorita North está vinculada à política, compreende? E ele acredita que as
mulheres não devam interferir em questões políticas.
Louisa ficou boquiaberta, perplexa ao averiguar que lady Trusbut tivesse falado de seu grupo
com o marido. Durante todo este tempo, acreditou que lady Trusbut estava simplesmente
ignorando sua capacidade de fornecer apoio à Sociedade das Damas de Londres.
Simon desviou o olhar para Louisa, e a olhou com curiosidade.
— O que quer dizer com isso de questões políticas?
Louisa respondeu com um marcado orgulho:
— Consideramos que o Parlamento deveria instituir certas reformas nas prisões, senhor. E
não temos medo de expressar nossas opiniões diretamente aos membros do Parlamento.
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reputação e a seu desmedido afã por evitar escândalos. Necessitou muitos anos na corte para
silenciar os rumores, não só a respeito dela e Simon, mas também sobre a possibilidade de ser a
filha ilegítima do próprio Príncipe de Gales, e também por causa dos escândalos que sua mãe e
seu irmão provocaram no passado.
Focou sua vida nas ações comprometidas, comportou-se com um decoro consumado, e
aprendeu a controlar seus piores impulsos para que ninguém pudesse compará-la com sua
indecente mãe. Entretanto, sabia que tudo poderia desmoronar com um leve tremor da corda
bamba pela qual agora dançava.
Seria terrível que todo o falatório começasse de novo, justamente agora que a Sociedade
das Damas de Londres estava a ponto de abalar a esses lordes com ideias tão retrógradas...
— Você esta bem? — perguntou ele.
— Sim — respondeu ela com uma visível tensão.
— Parece que acabou de engolir um sapo.
Ela virou o rosto para ele bruscamente.
— Um... um sapo?
— Na Índia comem rãs — esclareceu ele, com o rosto completamente inexpressivo.
— Está brincando, não?
Os cantos dos lábios de Simon se retorceram para cima.
— Realmente, é verdade. Comem com mostarda e geleia. E acrescentam umas gotas de
vinho Madeira para matar o veneno.
— Veneno?
Ele a guiou para um caminho delimitado por narcisos e margaridas.
— Os sapos são venenosos se não são regados com algumas gotas de vinho Madeira. Todo
mundo sabe.
— Agora sim tenho certeza de que esta zombando de mim — deduziu ela com uma
gargalhada hesitante.
Mas a ideia de Simon conseguiu relaxá-la. As pessoas finalmente haviam retomado suas
conversas privadas do espetáculo escandaloso tão esperado.
— Assim é melhor — declarou ele em voz baixa. — Não suporto que pensem que estou
torturando-a.
— Não, claro, isso seria terrível para sua imagem pública — ela cravou com um tom mordaz.
— E para a sua. — Quando ela o olhou com estupefação, ele adicionou. — Uma pessoa que
se dedica a obras de caridade precisa preocupar-se com sua imagem pública, também, suponho.
Louisa suspirou. Esquecera que o duque possuía o dom de ler pensamentos. Sempre parecia
mostrar uma habilidade inata para saber exatamente o que ela estava pensando. Não, isso era
absurdo. Ele só pretendia dar essa impressão. Era sua grande destreza, seu modo de manipular às
pessoas para triunfar.
E entretanto... Louisa não podia apagar a sensação de que ambos estavam exatamente no
ponto onde haviam parado. Ele caminhava a seu lado como se tivesse surgido diretamente de suas
memórias e se materializado nos jardins de Castlemaine. Inclusive o aroma era o mesmo de
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Capítulo 3
Querido primo:
Sei perfeitamente bem que você jamais tremeria de medo ante ninguém. Além disso,
Foxmoor não me pareceu tão temível na festa de lady Draker. Tinha um macaco no ombro,
embora, agora que penso, mais tarde não voltei a ver o macaco. Talvez Foxmoor decidiu liquidá-
lo?
Sua prima fofoqueira,
Charlotte
Simon soube exatamente quando Louisa adotou de novo uma atitude defensiva com ele.
Parecia que ela estava relaxando, mas a julgar por seu patente sorriso falso e a forma que
inclinava a cabeça para cada pessoa com quem cruzavam nos jardins, esse momento desvaneceu-
se.
Maldição. Converteu-se em uma mulher muito pouco afável. Por culpa dele, talvez?
Ou pelas ações benéficas nas que se colocou? Enquanto se aproximavam de dois reputados
membros do Parlamento,
Simon não pôde deixar de notar os olhares sombrios que lançaram a Louisa, olhares que se
tornavam receosos quando recaíram sobre ele.
Ela comentara que sua organização não temia expressar abertamente suas opiniões aos
membros do Parlamento, mas com que empenho se expressavam? Certamente não com
determinação suficiente para incomodar à velha guarda.
Embora pensando bem... Isso poderia explicar a exagerada preocupação do rei pela extrema
segurança de Louisa. A política tinha algo a ver com todo esse barulho; a única coisa que Simon
precisava fazer era descobrir até que ponto.
Ele sorriu.
— Ainda não lhe agradeci por me ajudar com meu macaco.
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duques picaretas.
Ele soltou uma gargalhada.
— Já vejo que travou uma forte amizade com minha irmã.
— OH, sim, embora ela fale mais dos ilustres antepassados de sua mãe que de seu pai. É
uma pena que os homens não possam herdar títulos por parte materna, porque você teria sido o
herdeiro perfeito para o seu avô Monteith, o famoso primeiro-ministro. E pelo que parece, ele era
da mesma opinião. Regina diz que o velho conde se encarregou de prepará-lo desde muito
pequeno para que seguisse seus passos.
A careta divertida se esfumou do rosto de Simon. Tinha ideia sua irmã no que desviara essa
preparação? Não, esperava que não. Preferia que ela não soubesse nada sobre aquela época tão
humilhante de sua vida.
Felizmente, Regina manteve menos contato com seu avô autocrático que ele.
— Sim, acho que poderia dizer que sou seu sucessor — soltou Simon, com um tom cheio de
amargura. — Quando não estava em Eton, passava a maior parte do tempo com ele, me
preparando para minha carreira política.
— Isso é o que todo mundo espera, que acabe ocupando o cargo de primeiro-ministro.
Simon a olhou fixamente.
— E você? O que espera de mim?
Ele pretendia retomar a conversa sobre o grupo reformista que ela liderava, mas a questão
pareceu confundi-la. Louisa desviou o olhar.
— Nada. Exceto que sejamos capazes de nos comportar como duas pessoas civilizadas.
— Agora estamos nos comportando de uma forma muito civilizada. — Simon escolheu as
palavras meticulosamente. — Se quiser, inclusive poderia ajudar com seu grupo de caridade.
Posto que pretende se misturar na vida política...
— Não pretendemos nos misturar na política — atalhou ela com firmeza. — Somos muito
sérias com nossos objetivos. De um modo ou outro, nossa intenção é convencer o Parlamento a
realizar uma reforma nas penitenciárias.
De um modo ou outro? Até que grau estava o grupo de Louisa comprometido na política?
— É uma boa causa.
— Se soubesse as atrocidades que sofrem essas pobres mulheres — Louisa afundou as
unhas no braço de Simon e sua voz tremia. — Já é hora que alguém faça algo a respeito. E só
porque um punhado de estúpidos membros do Parlamento vão correndo ao rei queixar-se de que
sou uma influência negativa para suas esposas, não é razão suficiente para desistirmos de nossos
esforços.
Ah, então era isso o que realmente tanto preocupava o rei. Entretanto, tentar casá-la
possivelmente fosse uma solução muito radical.
— Talvez, os membros do Parlamento consideram que uma mulher jovem e solteira não
deva interferir em um assunto tão complicado como é uma reforma penitenciária.
— Especialmente pelo fato de ser solteira não permite a eles me desprezarem em público.
Simon a olhou surpreso.
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— Por que me deixou fazer? — contra-atacou ele com a voz rouca. Logo começou a beijá-la
suavemente pelo pescoço, pela mandíbula, pela garganta.
— Porque...
"Porque estou louca", disse a si mesma.
— Porque acho que é melhor que acabemos com esta história de uma vez por todas.
Simon ficou paralisado.
— Acabar com esta história? — repetiu ao mesmo tempo que respirava contra seu pescoço.
Lutando por vencer o ardor que sentia no peito, Louisa se afastou e o olhou nos olhos.
— Sua insistência por um beijo de verdade. Agora que o conseguiu, já chega.
— Ao inferno! — A respiração dele ainda estava acelerada e entrecortada, e seus olhos a
devoravam impudicamente. — Olhe, não tente me convencer de que não sentiu nada com esse
beijo.
Louisa simulou pensar durante alguns instantes.
— Pois a verdade é que têm razão — assentiu lentamente. — Não senti nada. Embora tenha
sido uma experiência interessante...
— Como uma experiência? — atalhou ele, elevando a voz.
— Sim. Para corroborar que o esqueci. Que alívio ter essa certeza, agora! — Orgulhosa por
como tinha conseguido ocultar seus verdadeiros sentimentos, Louisa escapou de seus braços e
acrescentou, com um sorriso forçado.
— Parece que já não exerce nenhum efeito sobre mim, senhor duque.
Simon a olhou boquiaberto, e ela se sentiu mais que satisfeita.
Até que ele desviou o olhar para seus lábios ainda sedentos.
— Está brincando comigo.
Apesar de notar como lhe tremiam os lábios, Louisa estava disposta a ter a última palavra.
— OH, sinto muito. Não quis insultá-lo. Beija muito bem, tão bem como qualquer dos
pretendentes que tive até agora. Não é isso o que queria dizer. Verá, tenho planos e objetivos nos
quais não desejo que se misture, por melhor que beijem. — Elevou o queixo altivamente. — E
tampouco posso esquecer que continuo sem confiar em você.
— Sempre se mostrou mais que disposta a pensar mal de mim — espetou ele.
— Esta zangado porque perdeu o poder de me manipular com um só estalo de seus dedos.
Mas assim é a vida. Talvez a sociedade o adore e suplique que lhe de atenção, mas eu sei
perfeitamente como é.
Simon a olhou com o semblante sombrio.
— Não sabe nada de mim. Jamais soube.
Algo na voz dele fez que Louisa repensasse, que renascesse sua vontade de acreditar nele.
Mas aprendeu que a língua loquaz o permitia mentir com uma habilidade consumada.
— Sei o suficiente.
E sem atrasar-se nem um segundo mais, Louisa retornou a trilha. Conseguira sair graciosa
daquela situação espinhosa, mas não estava segura de poder agir do mesmo modo uma segunda
vez. De agora em diante, teria que ir com muito mais cuidado. Acabaram-se os encontros
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particulares com o duque. Não mais passeios por lugares isolados onde ele pudesse seduzi-la.
E acabaram os beijos. Não, não mais beijos. Simon era muito hábil beijando para alterar a
paz mental de qualquer mulher.
Capítulo 4
Querida Charlotte:
Se a senhorita North e Foxmoor não se suportam, segundo os rumores que correm, então
possivelmente roubou o macaco do duque para zangá-lo. Embora não consigo imaginar para que
ela iria querer um macaco.
Ainda não conheci nenhum macaco que se dedique a obras de caridade.
Seu amigo fofoqueiro,
Michael
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exercer uma influência direta sobre a vida política. É uma garota muito inteligente, isso não posso
negar.
— E seria uma esposa muito inteligente, também. Embora devesse desarmá-la para vencê-
la.
O desafio só conseguiu que Simon a desejasse ainda mais.
— Essa garota tão inteligente levara um baque terrível se seguir em frente com seu novo
plano.
— Que plano? Conseguir que as mulheres ponham ervilhas dentro das cuecas de seus
maridos? Atrasar a hora do jantar?
— Apresentar o próprio candidato para as próximas eleições.
A declaração conseguiu captar a atenção de Simon.
— Não pode estar falando sério.
— Como eu gostaria que fosse uma brincadeira. A senhora Fry já conseguiu introduzir o
cunhado na Câmara dos Comuns para que apoie a causa que essas Quakers defendem, assim,
infelizmente, sim que podem conseguir. Mas, circula o rumor de que Louisa está considerando
apoiar um candidato radical. E sabe perfeitamente bem que se ela animar as companheiras a fazer
alguma loucura, teremos um problema sério.
Certamente, um grande problema. Nenhuma associação de damas gozava da perspicácia
política necessária para dirigir um candidato radical. O único que Louisa conseguiria seria que a
velha guarda ficasse à defensiva e com isso desperdiçaria todas as possibilidades de aplicar
mudanças por uma via mais moderada, que é o que ele desejava. Especialmente quando o
equilíbrio de poder na Câmara dos Comuns era tão incerto nesse momento.
— Perdeu um parafuso — continuou o rei. — Mas o público a ama. Consideram à dama de
companhia da falecida princesa Charlotte, que era tão amada pelo povo, como uma mulher
altruísta, que se preocupa em obter recursos para as pobres reclusas. Não se dão conta de que
essas doações poderiam ir a qualquer momento a qualquer outra causa absurda que a ela
ocorresse apoiar.
— E se falar com ela e...?
— Está louco? Tal e como estão as coisas, Louisa poderia se enfurecer e precipitar sua
empreitada. A última vez que um novato radical se dedicou a falar em público e incitou o povo
comum, onze pessoas morreram e houve centenas de feridos.
Simon ergueu as costas. O massacre de Saint Peter's Field tinha sido tanto por culpa do
governo como dos radicais, mas isso não importava ao Parlamento. Depois daquela matança, o
Parlamento aprovou as Seis Leis, que proibiram reuniões, organizações de operários e toda
agitação que perturbasse a paz social, e a velha guarda reagiu como sempre: fincaram o pé. A
Inglaterra não estava preparada para radicais, será que Louisa não via?
Não, claro que não. Igual a Joana d'Arc, ela só via sua causa. A reforma penitenciária era uma
boa causa, mas não justificava provocar uma reviravolta política.
O rei resmungou.
— Alguns dos deputados estão tão fartos das atividades de Louisa que começam a tramar
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como podem prejudicar sua reputação. Acreditam que se destruírem sua credibilidade, poderão
pôr fim a este despropósito.
Mas isso afundaria Louisa para sempre.
— Estou seguro de que não permitirá tal disparate.
— Não, mas se não fizer algo logo, o assunto escapará das minhas mãos. — Sua voz tremeu.
— Se fazem mal a Louisa, Draker jamais me perdoará.
— Ao inferno com Draker. Se fizerem mal a Louisa, eu mesmo nunca o perdoarei por isso. —
Quando o rei lhe lançou um olhar desconcertado, Simon franziu o cenho.
— De verdade, esse bando de idiotas deveria promover uma reforma penitenciária.
— Teriam que fazer muitas coisas, mas não querem gastar os recursos. Além disso, o
ministro do Interior está absolutamente contra, a princípio, e já há suficiente barulho nas filas do
governo.
— Sua majestade suspirou. — Prometi a Sidmouth e a Castlereagh que convencerei Louisa a
demitir-se da sociedade, mas...
— Ela se nega. Então, o assunto se converteu em um assunto de Estado para você.
— Exatamente! Não posso consentir que os membros do Parlamento achem que concordo
que minha filha ilegítima apoie candidatos radicais. Já tenho problemas suficientes com o
Parlamento para acrescentar mais um.
E o mesmo aconteceria a Simon, caso se metesse nesse assunto complicado. Por que devia
assumir essa responsabilidade política? Porque não restava nenhuma outra alternativa. Não
poderia conseguir seus objetivos se Louisa confabulasse com os membros da Câmara dos Comuns.
Alguém deveria cuidar do assunto. E ele poderia fazê-lo. Se casasse com ela. Que Deus o ajudasse,
mas a ideia de domar Louisa provocava um delicioso comichão.
— Então está disposto a oferecer a mão de Louisa a qualquer homem que resolva os
problemas com seus ministros e com o Parlamento.
— Não a qualquer homem — matizou George. — Mas, você sempre gostou de Louisa e...
— E pensou que eu fisgaria o anzol.
Ante o tom seco de Simon, o rei ficou vermelho.
— Olhe, só ocultei a verdade a princípio porque tinha medo de que não aceitasse minha
proposta se soubesse que as coisas estavam tão mal.
Simon se afastou do carvalho e sacudiu as mãos enluvadas.
— Quando aprenderá que eu adoro desafios? — Especialmente quando implicavam em
deitar com a irresistível filha do rei. Permanentemente. — Mas claro, agora que sei tudo, espero
uma recompensa maior que a que me ofereceu a princípio.
O rei se aproximou com passo cansado. Seu cabelo prateado brilhava sob a luz da lua.
— Se acha que alem disso, ainda vou pagar para que se case com minha filha, fique atento,
maldito rato egoísta.
— Não quero dinheiro.
Sua resposta apaziguou o rei.
— Então, o que exatamente quer?
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— Algo mais concreto que sua vaga promessa de que me apoiará. Me nomeará primeiro-
ministro, mas o fará quando eu mesmo disser, e segundo minhas próprias condições.
Sua majestade o observou com um olhar receoso.
— O que quer dizer?
— Não penso esperar tempo demais para receber sua indulgência. Quando me casar, quero
que tenha convencido Liverpool para que se demita do cargo. No dia do meu casamento me
entregará sua carta de demissão.
O rei ficou lívido.
— E se não demorar muito em se casar? Não sei se...
— Pois será melhor que saiba, se quer manter Louisa afastada das urnas nas próximas
eleições. — Quando o rei continuou olhando-o inquieto, Simon acrescentou. — Não tema;
necessitarei bastante tempo para conquistá-la. Louisa não é tola; sabe que pisa em um terreno
perigoso. Suspeitará de qualquer político que queira casar-se com ela, especialmente de mim.
— Isso é verdade — murmurou o rei.
— Precisamente por esse motivo será melhor que não se aproxime de mim até que ela e eu
estejamos formalmente comprometidos. Não me custará tanto persuadi-la para que se case
comigo se acreditar que você se opõe a nossa união.
— Seu tom se tornou mais incisivo. — Não custará a você fingir que desconfia de mim; já
demonstrou com que facilidade lavava as mãos, a sete anos atrás.
As faces do George adotaram um tom ligeiramente encarnado.
— Admito; não deveria ter me mostrado tão propenso a escutar a sugestão de Louisa de
enviá-lo? de discipliná-lo por seu engano. Mas não voltará a acontecer. Desta vez, garanto que não
o abandonarei.
— Perfeito. Porque a próxima vez que me dê escolha entre o exílio ou esquecer de minha
carreira política, direi a você que vá ao inferno. Assim se não conseguir meu objetivo com Louisa,
não haverá nenhuma repercussão negativa nem para mim nem para minha carreira, está claro?
— Dou minha palavra.
— Nem nenhuma repercussão para ela, tampouco. Se não se casar comigo, não tentará
subornar nenhum outro homem para que se case com ela.
— Se Louisa não se casar contigo, então não se casará com ninguém. É isso o que quer que
prometa?
Simon notou como a raiva subia por sua garganta.
— Se Louisa não se casar comigo, terá a liberdade de escolher o homem que quiser e não
um mequetrefe pago pelo maquiavélico pai.
— Cuidado, Foxmoor— espetou George. — Ainda sou seu rei. Se pensa que pode me ditar...
— Perfeito. Vejo que não precisa de mim. — Simon deu a volta para partir.
— Espera, maldito seja! Espera um momento! — gritou o rei.
Simon se deteve.
— De acordo. Se não se casar com ela, não imporei nenhum outro homem.
— E manterá seus estúpidos ministros a raia, para que não destruam a reputação dela —
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Embora custasse acreditar, sim, isso era o que Simon queria. Desse modo, seria mais fácil
cumprir a promessa que fez à esposa do Colin.
— Você e eu sempre estivemos do mesmo lado politicamente, por isso pode ficar seguro de
que nenhum de meus amigos te causará problemas.
— Não sei — replicou o rei inseguro. — Seus anos na Índia podem ter contribuído com um
bom número de amigos indesejáveis.
— Esse é o risco que deverá assumir se quiser que me case com sua filha, — se Simon ia
seguir em frente com seu plano de tentar conquistar o torvelinho que era Louisa North, então
pensava obter do rei tudo o que se propusesse.
Sua majestade ficou meditativo por alguns instantes, e logo disse:
— De acordo, canalha manipulador; secundarei seu amigo, se isso for o que preciso fazer
para que se case com minha filha.
— Quero que me entregue todas as condições que aceitou por escrito, com sua assinatura
— insistiu Simon.
O rei o olhou confuso.
— E por que diabo quer que faça uma coisa dessas?
— Porque se desta vez renega o acordo, quero ter uma prova que possa entregar aos
jornais.
— Não se atreveria — George gabou-se - seria um suicídio político.
— E para você também seria um suicídio. — Contemplou o rei com desapego. — Quero o
contrato por escrito. Não quero me expor a que volte a me infligir no futuro qualquer outro
castigo.
— De acordo, maldito seja, de acordo. Esperava que seu desterro à Índia dobrasse sua
insuportável arrogância, mas vejo que me enganei.
— Se queria acabar com minha arrogância, não deveria ter me nomeado governador geral
de meio continente — afirmou Simon.
— É verdade. Depois de ter governado a Índia, diria que pode presidir a Inglaterra com uma
mão amarrada à costas. Afinal, nasceu para ocupar esse cargo. — Um repentino brilho emergiu
dos olhos do rei. — Mas ainda fica por ver se pode convencer a minha filha. Até que não o consiga,
suas possibilidades de presidir a Inglaterra ficarão longe de seu caminho.
— Não se preocupe. Tal e como me recordou faz um instante, uma vez consegui que se
apaixonasse por mim, assim estou certo de que poderei conseguir de novo. E uma mulher
apaixonada é mais fácil de convencer.
— Sempre e quando não for você que se apaixone perdidamente dela.
Um sorriso coroou os lábios de Simon ante essa impossibilidade.
— Não disse antes que sou incapaz de amar?
— Sim, mas depois de todos estes anos, Louisa ainda te atrai, ou me engano?
Se o rei podia ser tão franco, ele também.
— Existe uma grande diferença entre o amor e o desejo. De toda as pessoas que povoam
este mundo, você deveria ser o primeiro em saber.
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Capítulo 5
Querido primo:
É muito provável que tenham razão quanto a que macacos não são animais dedicados a
obras de caridade. Mas não estou tão segura de que Louisa não simpatize com Foxmoor, já que
eles deram um longo passeio pelos jardins de Castlemaine com uma aparente boa vontade. Talvez
acertaram as diferenças e se conciliaram.
Sua prima, que é uma romântica incorrigível,
Charlotte
— Não há outra sala onde suas pupilas possam ensaiar? — Louisa esfregou as têmporas
enquanto tentava não perder a paciência. — Mal posso me concentrar, com este barulho infernal.
A senhora Charlotte Harris levantou a cabeça rapidamente e os cachos brilhantes que
coroavam sua cabeça sacudiram graciosamente. Regina pôs-se a rir. Quatro dias depois da festa,
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as três estavam sentadas em uma mesa na sala de aula mais espaçosa da escola da senhora Harris.
Normalmente, a senhora Harris usava o cômodo para as "Lições para Senhoritas" que organizava
uma vez por mês, nas quais abordava questões relativas ao casamento e algumas das antigas
pupilas que já haviam se graduado em sua escola participavam. Nesse dia a viúva cedeu
generosamente a sala de aula à Sociedade das Damas de Londres para a reunião semanal, que
ocorria a cada sábado pela manhã.
A manhã havia chegado ao fim fazia horas, assim a maioria dos membros da sociedade já
haviam ido embora. Mas Louisa estava ansiosamente determinada a riscar uma das questões de
sua lista de assuntos pendentes, apesar de a habilidade musical de sua amiga lady Venetia
Campbell não deixá-la se concentrar.
— Não suporto nem um minuto mais. — Louisa se levantou, disposta a solicitar às moças
que concluíssem a sessão musical, mas então notou nos olhares de cumplicidade que Regina e a
senhora Harris trocaram.
— Deve-me um xelim — comentou Regina a amiga. — Disse que Louisa não aguentaria até o
final.
Enquanto Louisa pestanejava, a senhora Harris tirou uma moeda de sua bolsa de contas
douradas.
— Em defesa a atitude de Louisa, direi que estamos muito cansadas. Foi um dia
extraordinariamente longo.
— É verdade — Regina pegou o xelim. — Mas nós duas não nos queixamos do ruído infernal
que fazem as três harpistas, que estão praticando com tanta discrição.
Louisa elevou o queixo presunçosamente.
— Tudo o que disse foi que...
— Está tudo bem, querida. — A senhora Harris levantou-se da cadeira. — Já ensaiaram o
suficiente. Estou certa de que Venetia e as demais também querem descansar — Chamou as
pupilas. — Acabou o ensaio por hoje. Muito obrigada.
Quando o ruído cessou abruptamente e a senhora Harris voltou a ocupar sua cadeira, Louisa
fez o mesmo.
— Obrigado; assim está melhor.
Regina deu um sorriso travesso.
— Não de atenção a Louisa, Charlotte. Desde a festa não parou de queixar-se como uma
velha resmungona.
— Não me diga! — exclamou a senhora Harris. — E a que se deve esse comportamento tão
incomum?
— A julgar pela extrema reação ante as belas flores que meu irmão lhe envia a cada dia,
parece que, de repente, Louisa sente uma terrível aversão as açucenas — comentou Regina, rindo
zombeteiramente.
— O que me parece muito estranho, já que são as flores preferidas dela.
— É uma aversão severa? — Dos olhos azuis da senhora Harris emanou um brilho zombador.
— Tem problemas para dormir? Suspira desconsoladamente toda noite? Cantarola baladas
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Série Escola de Senhoritas 02
românticas?
— Muito divertido — grunhiu Louisa. — Me desfaço das açucenas logo que as recebo, que é
a reação típica de qualquer pessoa que professe uma aversão, não é verdade?
A senhora Harris começou a rir.
— E Foxmoor? Já se desfez dele?
— Não— apontou Regina. — Embora provavelmente o faça. Louisa o evita como se fosse a
peste.
— Bobagem — Louisa repassou a lista de nomes da tabela que tinha em frente. — O que
ocorre é que estou muito ocupada com a Sociedade das Damas de Londres para ficar em casa e
receber possíveis pretendentes.
— Ora, tão ocupada que se esconde em seu quarto ou sai furtivamente cada vez que ele
vem de visita, quer dizer.
— De quem se esconde a senhorita North? — perguntou a senhorita Eliza Crenshawe, uma
das harpistas ofensivas, que foi em direção a mesa junto a Venetia.
— Eu não me escondo de ninguém. Tal e como já disse, não tenho tempo para distrair o
irmão da Regina.
— Você se esconde do duque de Foxmoor? — exclamou Eliza. —Está louca? Eu tremeria de
emoção se esse homem viesse me visitar!
Quando todos os olhos caíram implacavelmente sobre Louisa, a maioria deles refletindo os
sentimentos de Eliza, Louisa ergueu o queixo com arrogância.
— Eu disse que não me escondo de ninguém. — Procurou sustentar o olhar e começou a dar
golpezinhos com os dedos sobre a lista de nomes.
— Estou no limite das minhas forças, com esta questão sobre a escolha do candidato que
mais nos convém. Por isso estamos aqui, não? Ou por acaso esqueceram?
Seu comentário conseguiu que todas reagissem.
— Tem razão — assentiu Regina. — Temos que repassar as questões pendentes e uma delas
é decidir nosso candidato de uma vez por todas. Vejamos se conseguimos hoje, antes de dar por
concluída esta reunião.
Eliza e Venetia se dirigiram à janela que oferecia uma vista panorâmica da esplanada que se
abria frente à entrada principal da escola, e as outras moças se acomodaram nas cadeiras agitando
seus vaporosos trajes de musselina branca.
Louisa revisou às mais jovens com um vivido interesse.
— Suponho que sabem perfeitamente que o que ouvirem aqui não deve sair desta sala.
Elas inclinaram a cabeça ao uníssono, com os olhos bem abertos, mas com evidente vontade
de não perder nem um só detalhe da conversa.
— Se acham que não poderão manter a boca fechada, será melhor que saiam agora mesmo.
E com isso quero dizer que nem sequer poderão contar a suas famílias — avisou a senhora Harris.
— Fica claro, senhorita Creenshawe?
As faces de Eliza adotaram um tom encarnado.
— Sim, senhora.
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— Bom, então continuemos com a questão. — Louisa repassou novamente a lista. — Dos
três homens que finalmente escolhemos, continuo acreditando que Charles Godwin é nossa
melhor escolha.
Regina franziu o cenho.
— E eu opino que é muito perigoso. Uma coisa é pôr o cunhado da senhora Fry na Câmara
dos Deputados, mas se começarmos a dar nosso apoio a políticos radicais, os membros do
Parlamento nos acusarão de fomentar uma revolução. Especialmente se os discursos do senhor
Godwin forem tão ferozes como seus artigos na imprensa.
— Pois espero que sejam. Por mais que tenha tentado, o cunhado da senhora Fry não
conseguiu nada. Já é hora de que alguém faça esses suscetíveis velhos membros do Parlamento
balançar.
— Sim, mas um candidato mais moderado...
— Não lhe darão atenção; isso é precisamente o que aconteceu com o cunhado da senhora
Fry. Os radicais, pelo menos, sabem como obter resultados. — Louisa se virou e olhou à senhora
Harris. — Já comentou sobre o senhor Godwin?
Fazia muitos anos que a senhora Harris conhecia o indivíduo; foi companheiro de regimento
de seu malogrado defunto marido.
— Não, não queria mencioná-lo até que não tomássemos uma decisão. Mas acredito que
estará disposto a pactuar. Já mostrou seu apaixonado interesse em outras reformas anteriores.
— Sim, seu apaixonado interesse excessivo, diria — matizou Regina. Quando as outras duas
mulheres arquearam uma sobrancelha, ela suspirou. — Mas acredito que se você confia nele,
Charlotte...
— Assim é. Foi um bom amigo desde a morte de meu marido.
— Tão bom amigo como o primo Michael? — brincou Regina.
A expressão da senhora Harris se tornou mais sombria.
— Não posso considerar o primo Michael como um amigo, quando insiste em manter sua
identidade em segredo. É um cabeçudo. Nem sequer estou segura de que seja o primo de meu
falecido marido, tal e como alega.
— Uau! Que carruagem enorme! — interrompeu Eliza, apoiada na janela.
— Se afaste da janela, Eliza — admoestou a senhora Harris. — E uma senhorita não utiliza
expressões tão malsoantes como "Uau".
— Uy, perdão, mas é que não pude resistir ao ver esse magnífico faetón com um brasão tão
chamativo que se aproxima da entrada principal. — Venetia voltou a olhar às escondidas pela
janela. — É um brasão ducal?
Enquanto todos os olhos recaíam sobre Louisa, ela sentiu como o coração acelerava até
alcançar um ritmo frenético.
— Deve ser Foxmoor em pessoa! — exclamou Eliza. — OH! Que romântico, Louisa! Está tão
apaixonado que percorreu todo este longo trajeto desde a cidade para estar com você.
As mais jovens colocaram as mãos no peito e suspiraram em um perfeito paroxismo de uma
donzela em pleno delírio.
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— Não sejam ridículas. — As mãos de Louisa começaram a tremer, por isso as escondeu
entre as dobras da saia de musselina com bolinhas cor de rosa. - Provavelmente será o pai de
alguma aluna.
A senhora Harris esboçou uma careta de incredulidade.
— Deixando de lado que duque algum jamais ousaria matricular uma de suas filhas em uma
escola, duvido que ocorra a algum pai de minhas pupilas apresentar-se em um faetón. Essas
carruagens estão reservadas aos homens solteiros.
— O duque jamais se atreveria a ir em qualquer lugar me buscar. — Quando as outras
começaram a sorrir com risadinhas maliciosas, Louisa se mostrou ostensivamente contrariada.
— Deve tratar-se do primo ou do pretendente de alguma aluna. — Não, não podia ser
Simon. Louisa deixou claro que não se sentia atraída por ele, nem agora nem nunca.
Entretanto, ele continuava lhe enviando aqueles impressionantes ramalhetes de açucenas e
com cada um, a mesma nota: "Estou certo de que ainda podemos ser amigos", seguido das
palavras: "Seu, Simon", em vez de "duque", ou "Foxmoor". Simon. Como se ele nunca tivesse
pisado em sua dignidade. Como se ela jamais o tivesse enviado a um exílio forçado. Como se ele
não estivesse, agora, provavelmente, confabulando com seus inimigos.
Era esse o motivo do interesse atual que lhe demonstrava? Os membros do Parlamento
pediram a ele que a distraísse, que a afastasse de suas atividades? Louisa não pensava deixar-se
enrolar, nem sequer por ele.
Nem por um minuto acreditou que Simon queria ser realmente amigo dela.
— O faetón parou! — Eliza apoiou a testa no vidro para ver melhor. — E agora um cavalheiro
está descendo. Está usando um terno azul marinho, calça azul clara e umas botas muito elegantes.
OH, como eu gosto de homens que usam esse tipo de botas — virou-se para sorrir, com um brilho
excessivo em seus olhos castanhos. — Especialmente um homem tão bonito.
— E jovem, além disso — adicionou Venetia. — Não pode ter mais de trinta anos.
— Trinta e três — suspirou Louisa. Quando as demais puseram-se a rir, ela mordeu o lábio
inferior. — Se é que estão se referindo ao irmão de Regina, e provavelmente seja ele.
— Olhem! Trás um macaco! — exclamou Eliza.
Louisa conteve a respiração. Fantástico. Aquele maldito canalha acabava de deixá-la em
ridículo diante de suas companheiras. Talvez pudesse escapar pelas escadas de serviço até chegar
aos estábulos... mas não, não poderia partir sem Regina. Virou e olhou à senhora Harris.
— Onde guardam as cópias do London Monitor? — Quando a tutora piscou, ela adicionou.
— As que contêm os artigos do senhor Godwin? Estão em seu escritório, irei ver se...
— Esconder-se não vai adiantar nada — declarou Regina. — Conheço meu irmão. Cedo ou
tarde a encontrará.
— Que bom que isto não tenha nada a ver com ele — Louisa se dirigiu para a porta. — Já
lhes disse; não posso perder tempo com esse tipo de visitas quando tenho tanto trabalho por
fazer.
— Regina tem razão, querida — asseverou a senhora Harris. — Não pode passar toda a vida
fugindo. Por que não diz que não se sente atraída por ele e acaba com esta história, se tanto te
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incomoda?
— Já tentei na festa. Expus meus sentimentos claramente.
— E, entretanto, ele continua te perseguindo — Regina arqueou uma de suas sobrancelhas
loiras. — Vejo que foi muito convincente.
— Não posso acreditar que a senhorita North não queira sair com um duque — exclamou
uma das moças.
— Não posso acreditar que esteja evitando o homem que foi governador da Índia. — Eliza
apertou os lábios. — A quem importa se é um duque ou não? O primo longínquo de meu pai
também é um duque e é um chato.
— Senhorita Creenshawe! — repreendeu a senhora Harris. — Faça o favor de não voltar a
usar essa palavra!
— Perdão — murmurou Eliza.
Louisa se conteve para não sorrir, ao recordar discussões similares com sua preceptora.
Eliza, com sua desenvoltura e incipiente beleza de moça provinciana, recordava a ela mesma aos
dezessete anos: teimosa, mas ingênua, uma presa fácil para o maquiavélico Simon.
Mas agora amadurecera e era mais criteriosa. Certamente poderia desembaraçar-se de um
duque terrivelmente atraente. E a senhora Harris tinha razão: não poderia passar toda a vida
fugindo, não quando ela vivia com a irmã dele. O mais sensato seria esclarecer as coisas com ele
de uma vez por todas.
— Bom, creio que terei que mostrar meu rechaço com mais firmeza.
— Às vezes, alguns homens não aceitam a derrota de primeira — concluiu a senhora Harris.
— Especialmente quando o homem sabe que está mentindo-argumentou Regina secamente.
Louisa fulminou a cunhada com o olhar.
— Eu não minto.
— Ah, não? Então por que se esconde dele? Porque tem medo de sucumbir a seu propósito.
— Regina entrecerrou os olhos. — Ou pior ainda, tem medo de descobrir que Simon mudou. Não
quer vê-lo tal e como é agora.
Louisa fez cara de tédio.
— Ele pode enganá-la, com essa história de que mudou, mas a mim não engana.
— Sabia que meu irmão e sua majestade não se levam bem desde que retornou da Índia? E
tudo por culpa do interesse renovado que Simon demonstrou por você.
O tremendo nervosismo que se apoderou de todo o corpo de Louisa se tornou quase
incontrolável e extremamente irritante, especialmente quando viu como as jovens a olhavam com
evidentes amostras de admiração e inveja.
— Custa-me acreditar que sua majestade não consinta que seu velho assessor me corteje.
— Ontem à noite, sem ir mais longe, Simon partiu do clube White's logo que o rei chegou —
insistiu Regina. — Marcus também reparou nesse detalhe. Não parece que é uma demonstração
da sinceridade do Simon?
Louisa refletiu por alguns instantes ante a declaração de Regina. Perguntava-se se o rei
pediu a Simon que a seduzisse em troca de algum favor político. Mas se já não eram amigos...
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— Não percebe? —- continuou Regina. — O odiou tanto durante tanto tempo que agora
prefere fugir de seus sentimentos do que aceitar que ele possa ter mudado.
— Engana-se; lhe garanto — contra-atacou Louisa. — E não estou fugindo de ninguém!
— De quem está fugindo? — inquiriu uma voz masculina.
Louisa deu um pulo, virou-se rapidamente e viu Simon na soleira da porta, com os olhos
brilhantes.
— De ninguém — respondeu ela, com a desagradável sensação de que o coração ia sair do
peito de um momento a outro. — Não fujo de... ninguém.
Raji começou a tagarelar e todas as mulheres atrás dela, exceto Regina, se inclinaram para o
duque em sinal de cortesia.
— Pois me alegra ouvir isso. Porque só os covardes fogem. E jamais a considerei uma mulher
covarde - proclamou Simon.
Louisa notava um calor descomunal nas faces. Merecia, por ter se comportado como uma
verdadeira covarde. O desavergonhado beijo abrasador que ele lhe deu no jardim, deixou um
desconforto desagradável, mas sabia que fugir da verdade tampouco a conduziria a alguma parte.
O mordomo fez sua aparição atrás do Simon, com o semblante sobressaltado.
— Rogo que me desculpem, senhoritas. Minha intenção era anunciar a Vossa Senhoria, mas
o senhor duque insistiu em lhes fazer uma surpresa.
— E conseguiu. — Louisa se esforçou por sorrir levemente. —Ninguém supera o duque em
insistência. — Como a irmã, a quem se parecia de um modo surpreendente, ambos eram loiros,
com os olhos azuis e terrivelmente descarados. Exceto que o descaramento de Regina era
revigorante e, em troca, o descaramento de Simon era perigoso.
Como agora, que a olhava com uma audácia selvagem.
— Não me deixou outra alternativa, senhorita North. Parece que se esqueceu de nosso
encontro.
— Que encontro?
— Pensei que ambos tínhamos que ir hoje visitar lady Trusbut, ou será que já não se lembra?
— Distraidamente, acariciou a barriga do mascote.
— Raji tem muita vontade de ir, mas quando passei pela casa de minha irmã para buscá-la,
comunicaram-me que estavam aqui.
A estadia se encheu de um murmúrio excitado. Inclusive as mais jovens sabiam o interesse
particular que Louisa tinha por conseguir o apoio de lady Trusbut.
— Não acreditei que falasse sério — Louisa ergueu o queixo com ar beligerante. — Depois
de tudo, senhor duque, têm o habito de dizer coisas que não são verdadeiras.
Ignorando os ruídos de surpresa por parte das mulheres congregadas atrás de Louisa, Simon
acariciou Raji.
— Então, me dê uma oportunidade para provar que superei meus maus costumes.
Como se quisesse confirmar as palavras do dono, Raji começou a tagarelar como um louco,
espremendo um passarinho de madeira contra o peito peludo. Era um brinquedo de cor amarela,
visivelmente desgastado.
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Um canário. Então Simon não mentira para lady Trusbut quanto às preferências do Raji por
canários. O detalhe parecia insignificante, mas mesmo assim, fez que Louisa refletisse.
Simon lhe ofereceu o braço.
— Vamos? Tenho o faetón estacionado diante da porta principal.
Apesar de a ideia de passar um tempo a sós com Simon em um faetón lhe arrepiar a pele,
não desejava perder a oportunidade de conseguir o apoio de lady Trusbut. Além disso, Simon não
poderia exceder-se com ela em plena luz do dia, com um macaco e um lacaio por acompanhantes.
Mas primeiro ela e as damas precisavam escolher o candidato.
— Tenho uma ideia a propor, senhor: me permita acabar a reunião e depois partiremos.
Pode me esperar no andar inferior.
Ele ficou tenso, mas antes que pudesse protestar, Eliza interveio com uma "magnífica"
sugestão:
— Possivelmente o senhor duque poderia participar, também. Provavelmente conhece
todos seus potenciais candidat...
— Chist! Eliza! — Louisa cravou na moça indiscreta olhos terríveis. — Concordamos que não
se trata de um assunto que se pode debater abertamente.
Eliza fixou a vista no chão.
— Opa, perdão.
Louisa se virou e olhou para Simon.
— Especialmente quando todos sabemos de que lado está o duque nestas questões.
— Não posso me defender, posto que não foi suficientemente franca comigo — contra-
atacou Simon.
— O que quer dizer? — replicou ela.
Ele entrou na estadia.
— Na festa só me disse que sua intenção é pressionar o Parlamento para que escute sua
causa, mas se negou a me contar como pensavam fazer. Tive que me inteirar de suas táticas pouco
ortodoxas pela boca de outras pessoas.
— Do que ficou sabendo?
Todas as presentes estavam ainda olhando-o com a boca aberta quando ele acrescentou:
— E certamente, não me contou que pensavam apresentar seu próprio candidato para a
Câmara dos Comuns.
Capítulo 6
Querida Charlotte:
Seria conveniente à senhorita North arrumar suas diferenças com Foxmoor. Todo mundo
está seguro de que o duque substituirá Liverpool no cargo de primeiro-ministro. Embora para ser
franco, custo a imaginar à senhorita North como duquesa. Essa moça o obrigaria a dançar ao som
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de sua música e pelo que ouvi, Foxmoor não gosta nada de dançar.
Seu obstinado primo,
Michael
O coração de Louisa parecia que ia escapar pela boca. Era impossível que ele soubesse as
aspirações políticas de seu grupo! Ninguém no Parlamento deveria estar informado até que as
Damas de Londres apresentassem seu candidato. Só lhe ocorria uma pessoa que poderia ter
contado.
Mas quando desviou o olhar para a irmã dele, Regina ficou à defensiva.
— Não olhe para mim. Eu não disse nada a ele.
— Não, não disse — Simon sorriu. — Mas por algum motivo fui o assessor do rei uma vez.
Sei como obter informações, especialmente no que concerne a questões políticas.
Enquanto Simon entregava seu chapéu de pele de castor ao mordomo, a senhora Harris
decidiu intervir.
— Então, certamente está consciente de que alguns de seus amigos no Parlamento não
gostarão nada de saber que está nos ajudando.
— Ajudando?
— Sim, ao levar Louisa para ver lady Trusbut.
— Ah, mas eu não considero que essa visita aos Trusbut possa ser interpretada como uma
ajuda. Embora realmente desejam meu apoio, certamente poderia oferecê-lo. Se conseguirem me
convencer de que deveria apoia-las.
"Convencê-lo? Ora que descarado!"
— Nós não queremos sua ajuda - Louisa exclamou.
— Queremos a ajuda de qualquer pessoa - esclareceu a senhora Harris. — Especialmente se
esta provier de um homem tão bem conceituado na política — lançou ao Simon um olhar
reconfortante. — A questão não é, senhor duque, se de verdade queremos sua ajuda, mas sim por
que nos oferece isso.
— Ainda não o fiz. Primeiro quero saber mais detalhes a respeito de sua causa: seus
objetivos, seus métodos...
— O que quer é nos espionar - espetou Louisa.
Simon lhe dirigiu um sorriso desafiador.
— Não me custou nada obter informação sobre seu grupo, assim se quisesse espioná-las,
senhorita North, não perderia o tempo falando com um grupo de mulheres desconfiadas. Estaria
longe daqui, conversando tranquilamente com algum membro menos receoso — desviou a vista
para Regina. — Ou avassalando minha irmã com uma enxurrada de perguntas.
— E posso assegurar a todas que isso é algo que não fez - confirmou Regina.
— Só vim cumprir minha promessa de levá-la a casa de lady Trusbut — prosseguiu Simon. —
E estavam falando sobre política, então me limitei a expressar que talvez pudesse ajudá-las — deu
um sorriso cansado. — Mas antes de apoiar alguma organização, desejo conhecer seus objetivos e
métodos. Estou certo de que serão capazes de compreender minhas exigências, — quando todas
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continuaram olhando-o em silêncio e desconfiadas, ele adicionou. — Mas não importa, se não
querem minha ajuda...
— O que exatamente deseja saber? — perguntou a senhora Harris.
— Um momento! — Louisa apressou-se a intervir. — Não penso contar nada até que
tenhamos certeza de que podemos confiar nele.
— Parece uma observação realmente sensata — Simon a surpreendeu com o comentário. —
Mas por que não me permitem observar os movimentos de seu grupo por alguns dias? Que
problema vê nisso? — arqueou uma sobrancelha. — A menos que... o que ouvi seja verdade e a
Sociedade das Damas de Londres esteja planejando realizar uma revolução.
As outras começaram a rir, incapazes de esconder seu evidente nervosismo, mas Louisa
sentiu o peso da raiva no estômago. De verdade, em tão somente uma semana, o duque
conseguiu muita informação.
E se os outros políticos sabiam o mesmo que ele, então as coisas não estavam nada bem. Se
negassem a ele fazer as vezes de observador, só conseguiriam despertar mais suspeitas quanto às
aspirações políticas de seu grupo. E isso tampouco seria bom. Mas se o duque se passasse a
observá-las, ela teria que suportar sua presença incômoda. Ou talvez não... Uma ideia estava se
formando em sua mente.
— O que acha, senhora Harris? Concorda que o duque observe nosso novo comitê?
— Será uma honra — a senhora Harris sorriu. — Se o senhor duque não se importar em vir
até aqui duas vezes por semana para assistir a nossas reuniões.
— Absolutamente — disse Simon. — Poderia acompanhar minha irmã e à senhorita North.
— Ah, mas eu não faço parte desse comitê — Louisa sorriu com ar triunfal.
O rosto do Simon escureceu.
— Então, me permita observar seu comitê.
Ela sorriu candidamente.
— O comitê da senhora Harris pode lhe dar uma melhor perspectiva de nossa organização.
Que alegria mostrar mais acuidade que Simon pelo menos uma vez. Se ele pretendia
espionar seus objetivos políticos, isso desbarataria seus planos. E se estava sinceramente
interessado em seu grupo, os trabalhos que a senhora Harris realizava dariam uma excelente visão
de suas atividades.
Simon a olhava agora desconfiado.
— E exatamente, o que é que faz este comitê?
Louisa retornou à mesa.
— Se nos dedicar alguns minutos, explicarei, senhor duque.
— De acordo — concordou ele, seguindo-a até a mesa.
Simon afastou a cadeira cavalheirescamente para que Louisa pudesse sentar-se. Ele a
observava com olhos felinos e ela compreendeu exatamente como uma gazela deveria se sentir ao
ser encurralada.
Tentou afastar a desagradável ideia de sua mente. Não, não estava encurralada. Havia
encontrado uma forma de mantê-lo afastado por um tempo, não era assim? E dava graças a Deus
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por isso. Com a extremidade do olho observou o belo patife. Simon conseguiu que as outras
moças ficassem ruborizadas e gaguejassem enquanto a senhora Harris fazia as apresentações
pertinentes. Inclusive Venetia ficou rubra e isso porque não era uma garota que era facilmente
surpreendida por um homem.
O que Simon tinha para conseguir que moças perfeitamente razoáveis se comportassem
como tolas? devia-se a sua capacidade de fazer uma mulher chegar a acreditar que ele a escutava
atentamente, como se prestasse atenção unicamente nela...
Ou simplesmente se devia a seu ar crédulo, de absoluto controle? Simon aproximou outra
cadeira para a senhora Harris com uma graça masculina digna de ser observada; cada movimento
deliberado, não sobrava nada. E quando todas estavam sentadas e ele se acomodou na cadeira
localizada em frente a Louisa, ela não pôde evitar notar na irrepreensível maestria com que
controlava Raji. Simon bateu na mesa com os dedos e de um salto, o macaco se sentou
justamente naquele espaço, apertando carinhosamente seu canário de brinquedo contra o peludo
peito branco.
Eliza, que havia se recostado ao lado de Simon, deu um suspiro próprio de uma adolescente
impressionada.
— Seu mascote é uma gracinha, senhor duque.
— Não o viu envolvido no trabalho de destroçar o penteado de uma dama — apontou
Louisa. — Essa gracinha pode machucá-la, se não for cuidadosa.
— Só quando vê a tentação adequada — o desculpou Simon. — Raji pensou que o pavão de
lady Trusbut era um brinquedo.
— Como esta figura de madeira que segura com tanta esperança — apontou Eliza. — Onde a
conseguiu?
— OH, provavelmente Simon a esculpiu-esclareceu Regina. — Gosta muito de fazer figuras
de madeira.
— Sério? — A senhora Harris contemplou Simon com novos olhos. — Está muito bem feito.
— É um trabalho que mantém minhas mãos ocupadas enquanto minha mente se dedica a
pensar em soluções para determinados problemas — argumentou ele.
Louisa havia se esquecido desse estranho hábito dele. Uma vez esculpiu para ela uma
adorável e requintada açucena em miniatura, só porque disse a ele que gostava dessa flor. Era a
única lembrança dele que não se desfez.
— Aprendeu a trabalhar com a madeira na Índia? — perguntou Eliza.
— Não; meu pai me ensinou.
Louisa piscou. Muito poucas vezes o ouviu falar sobre seus pais. Sabia mais coisas deles por
Regina do que pelo que ele lhe contou alguma vez.
— É verdade que foi o primeiro duque a ser governador geral da Índia? — inquiriu Eliza com
olhos românticos.
— Senhorita Crenshawe, já chega de importunar o senhor duque com tantas perguntas —
interveio a senhora Harris.
— OH, não se preocupe; não me incomoda, absolutamente — Simon olhou Eliza com
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Capítulo 7
Querido primo:
A atração que Foxmoor sente pela dança deve ter aumentado, posto que está perseguindo
Louisa descaradamente. Inclusive aceitou ajudar às Damas de Londres, o que me preocupa. Porque
de todos os homens capazes de malograr nossos objetivos políticos, o duque é o mais perigoso.
Sua amiga preocupada,
Charlotte
Simon estava a ponto de explodir de raiva enquanto ele e Raji aguardavam Louisa diante da
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porta do escritório da senhora Harris. A maldita mulher presunçosa se negou a vê-lo durante toda
a semana e quando finalmente a encurralou, ela o enrolou para que aceitasse servir de observador
do comitê errado.
Louisa queria que ele jogasse a toalha, não? Muito bem, deixaria que ela tomasse a
iniciativa, mas só por um tempo. Primeiro deveria descobrir até onde essas mulheres estavam
dispostas a chegar com seus planos políticos, o que significava ter que ganhar a confiança de
Louisa. Além disso, cortejar uma mulher resultava terrivelmente exaustivo, quando a mulher não
estava acessível. Pelo menos, nessa tarde ficaria com ela e na terça-feira também. Simon franziu o
cenho. Provavelmente, Louisa decidiu testá-lo com aquela história de que precisava suas
carruagens.
— Sério? — exclamou ela quando saía do escritório da senhora Harris, usando um peculiar
chapéu de pele de foca e um casaquinho branco justo.
Simon prendeu a respiração. Como conseguia essa mulher estar sempre tão atraente,
inclusive com esse traje tão recatado? Durante sua estadia na Índia, viu centenas de devadasis1
vestidas com saris esplendorosos, e entretanto, nenhuma delas parecia tão encantadora quanto
Louisa com a jaqueta abotoada até o pescoço. Nenhuma delas conseguiu excitá-lo tanto,
imaginando as sedosas curvas femininas que se ocultavam debaixo do cetim.
— Simon? — disse ela e suas faces ruborizaram ante o olhar lascivo de seu acompanhante.
— Sim, estou pronto. — Droga; precisava fazer algo para controlar seus instintos. Só pedia a
Deus que ela deixasse de resistir logo, porque se não, não demoraria para prostrar-se aos pés
dessa deusa, em atitude suplicante.
Dirigiram-se para o faetón que os esperava diante da porta. Como gostava de conduzir e Raji
gostava de ficar sobre à parte superior do veículo, entregou o mascote ao criado dos estábulos
que o acompanhava e ia na boleia traseira mais alta. Instantes depois, os dois baios emparelhados
trotavam alegremente ao longo da estrada que levava a Londres.
Simon olhou Louisa por cima do ombro e a viu sentada com as costas retas e com aspecto
presunçoso; era a viva imagem de sua irmã, quando esta pretendia mostrar-se altiva.
Exceto o sorriso que coroava a bonita boca de Louisa, era muito malicioso para ser da
Regina. E enervantemente sedutor. Tentou concentrar-se de novo na estrada para não deixar-se
levar pela urgente necessidade que sentia e assaltar aquela boca suntuosa ali mesmo, em plena
luz do dia, diante de todo mundo.
— Por que necessitam de várias carruagens para a terça-feira? — espetou ele, para afastar a
imagem dos lábios carnudos.
— Precisamos transportar algumas reclusas, isso é tudo.
Então, por que estava sorrindo tão maliciosamente?
— A prisão não se encarrega do transporte das reclusas?
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As devadasis originalmente eram garotas entregues ao templo quando crianças e treinadas em danças clássicas, sânscrito, poesia,
pintura e rituais, eram de extrema sofisticação e refinamento e tinham grande status na sociedade, como eram casadas com a
deidade e por este motivo era uma mulher "sempre auspiciosa" pois nunca ficaria viúva, seus serviços eram imprescindíveis para os
ritos do templo. Devadasis as servas da deusa. Numa tradição que vem do século IX, meninas indianas são destinadas por suas
famílias para servir à deusa Yellamma. Sua tarefa: atender aos desejos sexuais dos homens de suas comunidades.
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— Sim, mas normalmente as levam em carretas e isso é algo que queremos evitar porque...
— Louisa apagou o sorriso do rosto. — Bom, porque não é uma boa ideia.
— Permita que tente adivinhar o motivo: levar às reclusas em carretas atrai a atenção dos
que as veem passar. E isso significa que as mulheres precisam suportar todo tipo de assedio.
— Sim, há pessoas desumanas que gostam de maltratar. — Sua voz se tornou mais
apaixonada. — As atacam com tomates e ovos podres e... — Se calou quando se deu conta de que
havia revelado mais da conta.
— Bem, a questão é que estamos certas de que com veículos cobertos poderíamos evitar
essas situações tão tristes e agonizantes.
— Disso não me resta dúvida — arguiu ele com um tom irritado. — Especialmente com
minhas carruagens particulares. E por que não expõem suas próprias carruagens à multidão
alvoroçada? Pareceria um espetáculo mais hilariante do que ver como destroçam meus veículos.
— Não pedimos que faça nada que nós mesmas não façamos — Louisa deu um olhar
desafiador. — Disse que desejava desempenhar o papel de observador do comitê.
— Assim é. — E essa astuciosa pensava tirar vantagem de todas as oportunidades que se
apresentassem para mortificá-lo. — Mas por muito que eu goste de passear no meio de uma
chuva de verduras podres, preferiria contribuir com veículos mais apropriados a seus propósitos.
Ela elevou o queixo com petulância.
— Quer dizer, coches de aluguel? Já tentamos. Mas não querem alugar por nenhum preço.
Não para transportar reclusas.
Entretanto, essa embusteira não se importava de que ele expusesse suas carruagens caras a
ignorância do povo comum.
— Os proprietários dos carros de aluguel assumiriam esse risco se lhes dessem o incentivo
apropriado. Como a promessa de um duque de que lhes ressarcirão todas as perdas. Que bom que
ele dispõe de uma fortuna para gastar. Caso contrario, convencer sua cética futura esposa para
que confiasse nele o conduziria inevitavelmente à ruína.
Quando Louisa não disse nada, ele adicionou:
— Parece suficiente? Ou está decidida a ver como a multidão destroça minhas carruagens?
— Não se trata de nenhuma frivolidade — repôs ela. — Somos um grupo sério. Tudo o que
desejamos é conseguir um tratamento mais humanitário para essas mulheres.
— Pois você não me parece suficientemente séria — recriminou Simon com rancor,
recordando como ela o manipulara antes. — Porque se não, não rechaçariam meu talento e
influência, sabendo que o benefício que poderiam obter seria mais que considerável.
— Quer deixar de uma vez por todas de me provocar para que aceite que se intrometa em
nossos assuntos políticos? — Louisa apoiou as mãos no regaço. — Não consegue me enganar. Sei
perfeitamente bem que seu objetivo não é observar nossos movimentos.
— É verdade, não é meu único objetivo — murmurou ele.
— O que quer dizer?
Simon duvidou alguns instantes, mas era melhor ser honesto enquanto pudesse. A
honestidade sempre significou uma melhor relação com Louisa que a mentira.
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"Todo este cortejo é uma farsa", zombou seu avô, com frieza. "E você me chama hipócrita?"
Simon apertou os dentes. Não era uma farsa; ele tinha o firme propósito de casar com ela.
Simplesmente se limitava a ocultar suas razões porque era o único modo de obter o melhor para
todos, incluindo ela.
— Tenho certeza de que é mais que evidente. Quero estar contigo, Louisa.
Ela o olhou com desconfiança.
— Por quê? O rei lhe pediu algo? Não deixa de insistir para que abandone minhas atividades.
— Não tem nada que ver com o rei — espetou ele, e imediatamente se arrependeu de sua
falácia. Mas ela às vezes não deixava nenhuma outra alternativa. — É a mulher mais desconfiada
que já conheci. Que Deus tenha piedade dos homens como eu, que tentam te cortejar.
— Me cortejar! — Sua risada musical transpassou os ouvidos. — Me cortejar? Grande tolice!
— Não é a resposta mais animadora — resmungou Simon.
— Não, não, desculpe. Sinto-me completamente lisonjeada, de verdade. — Seus ombros se
convulsionavam por causa das gargalhadas e entrelaçou as mãos enluvadas com uma visível
crispação.
— Eu vejo como se sente lisonjeada. Está morrendo de ri.
Ela o olhou maliciosamente.
— Quer realmente me ver morrendo de rir?
— Não, gostaria que me levasse a sério. Porque desta vez não penso parar até conseguir que
seja minha.
Os olhos de Louisa escureceram.
— Fala a sério?
— Não o diria se... — Simon se deteve em seco, mas já era muito tarde.
— Se não fosse... — concluiu ela, com um sorriso irônico nos lábios. — Acho que lembro que
a primeira vez que se declarou, o que, na verdade, fez com uma facilidade incrível, não estava
apaixonado por mim.
Simon perdeu a paciência.
— As coisas mudaram muito desde então. Eu mudei — mais do que ela poderia imaginar,
embora inclusive ainda tivesse um motivo ulterior para cortejá-la.
— Não foi o único — Louisa falava como se tentasse convencer tanto ele como a si mesma.
— Por isso não vale a pena que me faça a corte; já não sou a menina ingênua que se derretia
diante de cada uma de suas palavras.
— Jamais foi uma menina tola — Simon ficou tenso, mas não via sentido em continuar
evitando essa discussão. Era óbvio que não chegariam a nenhum lugar se não enfrentassem o
passado.
Graças ao falatório excitado de Raji e do criado, em sua posição na boleia traseira,
provavelmente não podia ouvi-los. Mas no caso de ser possível, Simon baixou a voz.
— O único tolo fui eu, Louisa. Acreditei que poderia fazer o que o rei me pediu sem que
ninguém saísse prejudicado. — Seu tom se tornou mais ácido. — Infelizmente, mostro uma
tendência desagradável a exercer mais pressão do que a necessária, quando outros homens
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Mas no final aceitou que Simon a ajudasse a descer. Enquanto Louisa aguardava ao lado do
faetón, com as faces rosadas e os olhos baixos, ele mal podia sufocar o desejo incontrolável que
sentia de beijá-la ali mesmo, até que caísse rendida a seus pés e dissesse sim a tudo. Se a
humilhasse diante da porta dos Trusbut, ela jamais o perdoaria.
— Considerarei sua... eee... sua proposta — disse finalmente Louisa — e lhe darei uma
resposta antes de que o dia termine... senhor duque.
Simon fez uma careta diante o repentino formalismo por parte da Louisa. Segurou
gentilmente a mão dela e a colocou sobre seu braço, depois a guiou para as escadas.
— Conseguirei que volte a me chamar de Simon, juro. Assim como fazia antes.
— Isso foi quando acreditava que você era uma pessoa diferente. —Ela recuperou seu tom
pausado e ar desinteressado. — O Simon que conhecia era fruto de minha imaginação. O duque
de Foxmoor real era... é um desconhecido para mim. E até que não tenha a certeza de que o
conheço, o tratarei como a qualquer outro desconhecido.
"Não por muito tempo, meu belo e inteligente amor", pensou ele enquanto subiam a
escada. "Não se puder fazer algo para evitar".
Raji desceu por suas costas e logo deu um pequeno salto. Quando aterrissou no ombro de
Louisa, ela começou a rir.
— Está claro que ele gosta de você. — Simon olhou nos lábios lascivos dela. — Gosta tanto
como o dono.
Apesar da confusão, ela continuou olhando-o com olhos cheios de ceticismo.
— Se fosse pensar mal, pensaria que treinou Raji para que pulasse sobre meu ombro.
— O treinei para fazer certas coisas, mas saltar sobre você não é uma delas. A atração que
sente por você e pelos pássaros é algo inato nele.
A porta foi aberta e o mordomo os convidou a entrar; logo desapareceu pelo corredor, para
levar seus cartões de visita a sua senhora enquanto o casal ficou esperando no amplo vestíbulo.
— Bem — sussurrou Louisa — esperemos que Raji não se sinta atraído outra vez pelo
penteado de lady Trusbut.
— Sempre e quando essa senhora evitar usar pavões reais de brinquedo, Raji não cometerá
nenhuma tolice. Mas isso me lembra que... — Tirou o canário do Raji do bolso do casaco e o
ofereceu ao macaco. — Se comportará melhor se tiver seu próprio brinquedo.
— Perfeito — respondeu ela enquanto Raji pegava seu brinquedo. — Precisamos causar
uma boa impressão a lady Trusbut.
— Necessitamos? Nós dois? — Simon esboçou um sorriso de vitória.
— E a lorde Trusbut também, é obvio — adicionou ela.
— Por isso estou aqui — disse Simon.
A situação seria absolutamente delicada. Ambos necessitavam o apoio de lorde Trusbut, mas
se Simon não se enganava, esse cavalheiro era dos que opinavam que as mulheres deveriam ser
protegidas do mundo cruel e desumano a todo custo. O que significava mantê-las bem afastadas
dos cárceres. E ainda mais do Parlamento.
O mordomo retornou e os convidou a segui-lo, então reatou a marcha com um passo tão
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apressado que Simon não pôde examinar a mansão atentamente, tal e como gostava de fazer
quando sondava seus adversários. Depois de uma acelerada corrida por um vestíbulo sem tapete,
forrado de retratos e com um eleve aroma de óleo de linhaça, entraram em uma sala de estar
cheia de gaiolas para pássaros, algumas delas vazias, embora a maioria não.
Com um sorriso, lady Trusbut realizou uma reverência enquanto seu velho marido se
inclinava de um modo quase imperceptível sobre a imponente bengala de marfim no qual se
apoiava. A julgar pela amarga expressão na cara do barão, o ancião não estava tão encantado com
a visita do casal como sua senhora parecia estar.
A baronesa avançou para eles, e seus olhos castanhos refletiram sua alegria.
— Senhor duque, estamos tão orgulhosos de que tenha vindo nos visitar. — Inclinou a
cabeça para Louisa. — E você também, senhorita North, é obvio. Não lhes acompanha sua
cunhada, nesta ocasião?
— Viemos em meu faetón, assim não havia lugar para ela — explicou Simon.
Lady Trusbut se aproximou um pouco mais do Raji, que estava sobre o ombro de Louisa e o
observou com cautela.
— Não me digam que está brincando com um canário de madeira!
— É seu brinquedo favorito — disse Simon. — Embora como vocês bem sabem, também
tenha certa devoção por pavões reais em miniatura.
Lady Trusbut soltou uma risada buliçosa.
— Sim, me lembro. — Apontou um sofá cheio de plumas amarelas. — Mas sentem-se, por
favor.
Quando ele e Louisa se acomodaram juntos, em frente aos Trusbut, que preferiram sentar-
se em um par de cadeiras, a baronesa ordenou a um dos criados que trouxesse o chá. Raji, tão
malandro como sempre, instalou-se imediatamente na curva do braço da Louisa e afundou a cara
em seu corpete. Louisa começou a rir.
— Não me diga que agora ficou tímido, pequeno malandro. Depois de todos os problemas
que causou na outra noite.
Quando Raji levantou a cara e a olhou com uma visível adoração, ela deu nele um abraço
excessivo. Um calafrio percorreu a espinha dorsal de Simon. Não lhe custava nada imaginar Louisa
acariciando o filho que teria com ela, ao invés do Raji. A imaginou embalando o pequeno rebento
de olhos azulados e cabelo escuro, ou acariciando meigamente a sua filhinha com o cabelo
cacheado.
Simon notou um nó na garganta que não o deixava respirar, e teve que desviar a vista para
outro lado. "Tudo a seu tempo. Isso também chegará, se demonstrar que pode ser paciente".
Que pena que nesses instantes se sentisse tão alterado, com a lembrança ainda fresca do
tato da mão de Louisa sobre sua coxa.
— Vamos, pequeno, não tenha medo de nós — disse lady Trusbut a Raji enquanto o senhor
Trusbut continuava com a mesma expressão azeda. — Está entre amigos. — Balançando a mão no
ar, começou a fazer uma série de estranhos estalos com a língua. — Garnet, Opal, Ruby, Sapphire!
Venham, temos convidados!
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Enquanto os quatro canários posavam nos braços e ombros da anciã, Simon perguntou:
— E onde está Diamond?
— Diamond está doente — Lady Trusbut assinalou para uma gaiola colocada ao final da sala.
— Está descansando, pobrezinho. Como sabia que temos outro canário chamado Diamond?
— OH! foi por acaso — respondeu Simon, trocando um olhar com lorde Trusbut, que estava
sentado com porte taciturno, com as mãos sobre os joelhos. Lady Trusbut convidou um de seus
pássaros a subir em seu dedo.
— Vamos, Emerald, cumprimente Raji.
Emerald fez algo mais que isso: começou a cantar. Raji levantou rapidamente a cabeça, e
antes que alguém pudesse reagir, jogou seu brinquedo ao chão e correu para lady Trusbut.
— Raji, não! — gritou Louisa ao mesmo tempo que se erguia para segurar o malandro.
Mas Simon a deteve.
— Esta tudo bem; fique calma.
O macaco subiu pela saia de lady Trusbut, sentou-se em seu regaço e ficou a escutar a
música melodiosa em um estado de puro transe.
Lady Trusbut sorriu.
— OH, não posso acreditar nisso. Mas é um verdadeiro cavalheiro.
— Raji pode distinguir a diferença entre um pássaro de verdade e um de brinquedo —
explicou Simon. — É muito respeitoso com os pássaros de verdade. Só espreme com paixão os
pássaros de brinquedo.
Lady Trusbut aproximou o passarinho de Raji, que visivelmente suspirou com prazer.
Quando o canário deixou de cantar, Simon disse algo ao Raji em hindi. Raji começou a aplaudir, e
todos puseram-se a rir, inclusive lorde Trusbut, antes de adotar novamente o ar distante.
— O que disse a ele? — perguntou Louisa.
— Pedi que demonstre sua satisfação pela doce canção. Algumas ordens só entende se as
digo em hindu.
— Fala hindu? — inquiriu Louisa, claramente surpreendida.
— Um pouco. — Desconhecer o idioma de quem se governava poderia conduzir a um
desastre inegável, tal e como ele mesmo compreendeu depois das tragédias em Poona. Se tivesse
sido capaz de escutar as intrigas nos mercados, tal e como aprendeu a fazer mais tarde, talvez...
Não, esse tipo de pensamento unicamente implicava em uma ansiedade horrível. E Simon
estava tentando emendar o grave erro. Questionar-se constantemente sobre as falhas que
cometeu só conseguia desgastar enormemente as energias que deveria dedicar em pôr cada coisa
em seu lugar.
Louisa abafou um grito, e Simon desviou a atenção para Raji, que começara a acariciar o
canário.
— Com cuidado, moço — avisou Simon e logo repetiu a ordem em hindu.
Mas Raji era tão cuidadoso como sempre e acariciava o passarinho com devoção.
— Não posso acreditar — suspirou Louisa. — Olhe esse diabinho. Parece estar hipnotizado, e
além de se mostrar tão delicado... — Olhou Simon de soslaio. — E está tão bem educado. Você
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mesmo o treinou?
— Não, pertencia a um artista nômade antes de ir para a esposa do Colin. Parece que estava
acostumado a usar um colete ridículo e um chapéu vermelho — Sorriu enquanto olhava Raji.
— Mas agora não o fazemos usar essa vestimenta tão humilhante, não é, rapaz?
Raji tagarelou animadamente a modo de resposta.
— O que ele disse? — perguntou lady Trusbut com absoluta seriedade.
Simon piscou.
— Pois a verdade é que não sei. Provavelmente algo como: "Né, você, grandalhão! Quando
pensa me dar comida?"
— OH, não, não acredito que tenha dito algo tão insolente. — Lady Trusbut virou a cabeça
para os outros três passarinhos que brigavam por ocupar o melhor posto sobre seu ombro. — O
que é esse alvoroço, senhoritas? Sim, sei. O duque está brincando. Jamais permitiria que seu
mascote morresse de fome, estou segura.
— Os pássaros de lady Trusbut lhe contam coisas — murmurou Louisa.
— Ah — disse Simon. — Pois será melhor que Raji não saiba, porque então também
esperará que eu me faça de intérprete.
Lady Trusbut ergueu as costas.
— Meus canários são extremamente inteligentes, senhor. São as joias de minha coroa. —
Lançou a seu marido um olhar recatado. — Edward me compra um cada Natal, não é verdade,
querido?
As orelhas do ancião cavalheiro adotaram um tom rosado.
— Sim, saem mais baratos que uma jóia de verdade, não é, Foxmoor?
— Creio que sim — Ao ver o olhar indulgente que o barão lançava a esposa, Simon
acrescentou. — Embora ouvi que qualquer gasto está justificado, quando se trata de manter à
própria esposa contente.
Lorde Trusbut tomou o comentário a sério, já que rapidamente afundou a mão no bolso de
seu traje.
— Minha mulher considera que a causa que defende a senhorita North é muito digna —
Franzindo o cenho, tirou um papel dobrado do bolso. — Por isso disse que estou disposto a
oferecer uma pequena doação.
O barão ofereceu o cheque a Simon. Ignorando a cara de surpresa de Louisa, Simon tentou
segurá-lo, mas o barão não o soltou.
— Acredito, Foxmoor, que esta quantia será suficiente para que a senhorita North cesse em
sua tentativa de envolver minha esposa na Sociedade das Damas de Londres.
— Edward, por favor! — exclamou lady Trusbut.
— Falo a sério. — O barão olhou Simon com cara de poucos amigos. — Não permitirei que
minha esposa passeie pelas prisões. E se você se preocupa com a senhorita North, deveria mantê-
la também afastada das prisões. Estou certo de que compartilha minha opinião, senhor, de que as
damas não deveriam aproximar-se de Newgate.
A conversa adotou um rumo incômodo repentinamente, mas felizmente não impossível.
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Capítulo 8
Querida Charlotte:
Têm bons motivos para estar preocupada. Pelo que sei, a ambição de Foxmoor por ser
primeiro-ministro não mudou, assim se a senhorita North finalmente se casar com ele, ocupará um
segundo lugar, depois da ambição dele.
Afetuosamente,
Michael
Louisa esteve a ponto de sofrer uma parada cardíaca. Como Simon se atrevia a mostrar
pleno acordo com esse indivíduo? inclinou-se para frente, preparada para expressar a lorde
Trusbut suas ideias, mas Simon depositou a mão sobre seu braço e o apertou delicadamente.
— Newgate não é um lugar adequado para damas — repetiu. Lorde Trusbut soltou o
cheque. Simon o examinou, logo franziu o cenho, dobrou-o e o colocou sobre seu joelho.
— Estou totalmente de acordo, não é um lugar adequado para mulheres. Entretanto, ali
dentro há centenas delas, e recebem um tratamento pior que alguns animais. Estou seguro de que
isso tampouco lhe parecerá bem, ou me engano?
Louisa conteve a respiração e olhou lorde Trusbut com olhos questionadores.
Lorde Trusbut os contemplou com uma excessiva seriedade.
— Aquelas mulheres são delinquentes. Isso é diferente.
Simon soltou o braço de Louisa, acomodou-se no sofá e deu a ela um olhar de cumplicidade,
como se a convidasse a intervir.
Ela não perdeu a oportunidade que Simon lhe brindava.
— Não todas são delinquentes. Quase um terço delas estão à espera de ser julgadas, o que
significa que ainda não foram declaradas culpadas de nenhum crime. E também há crianças,
obrigadas a sofrer mil e uma penúrias e humilhações simplesmente porque suas mães foram
colocadas naquela prisão. Certamente, não pensa que as crianças deveriam estar trancafiadas em
uma prisão, senhor?
— Claro que não, mas...
— Apesar do que lorde Sidmouth diga, não advogamos para que as mulheres não cumpram
suas condenações; mas descobrimos que se lhes aplicam normas justas e proporcionam alguma
tarefa adequada, quando abandonam a prisão se convertem em cidadãs que respeitam a lei.
Louisa escolheu as palavras meticulosamente.
— Mas até que o Parlamento não aceite proporcionar recursos permanentes que permitam
contratar senhoras e professoras, precisaremos recorrer a todas as mulheres com espírito
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caridoso para poder oferecer esses serviços. Não suportamos ver como as reclusas adotam
novamente maus hábitos só porque não dispõem da ajuda de algumas damas misericordiosas
como sua esposa e eu.
— E se o que verdadeiramente lhe preocupa é a segurança de sua esposa — interveio
Simon, olhando lorde Trusbut fixamente, — a partir de agora, ofereço-me como voluntário para
acompanhar às damas à prisão.
— De verdade? As acompanhará a Newgate? — perguntou lorde Trusbut, surpreso.
Louisa estava tão surpreendida quanto o barão.
— Sempre que puder — Simon lançou ao barão um olhar tranquilizador. — É uma boa
causa. E as mulheres têm que poder lutar por suas próprias causas, assim, por que não agradá-las?
Incomodou Louisa que Simon falasse da reforma penitenciária como se fosse um desejo
feminino, mas não podia negar o efeito que essas palavras estavam sortindo em lorde Trusbut. O
ancião se acomodou na cadeira e ficou a esfregar o punho de marfim de sua bengala como se
fosse a bola de cristal de um adivinho e tentasse achar respostas na superfície nacarada.
Simon continuou com sua ofensiva.
— Adotei um interesse pessoal pela organização que a senhorita North lidera. Um interesse
muito pessoal.
O comentário pareceu colocar lorde Trusbut entre a cruz e a espada, já que o ancião desviou
o olhar e olhou a esposa.
— O que acha, Lillian? Você gostaria de intervir nesse trabalho de caridade?
Lady Trusbut cravou os olhos em seu regaço, onde Raji falava animadamente com seu
canário.
— Bem... Edward, a verdade é que muitas de minhas amigas decidiram colaborar. E não
posso evitar pensar nessas pobres crianças que sofrem por culpa dos delitos que suas mães
cometeram. Se pudesse fazer algo útil por eles...
De repente, Louisa recordou que o casal Trusbut não tinha filhos, apesar de serem casados
virtualmente toda a vida. O coração encolheu de dor ao pensar com que carinho a baronesa
cuidava de seus pássaros, e ao ver a extrema delicadeza com que a anciã estava tratando Raji.
— Ficaríamos realmente encantadas se pudesse trazer seus canários a prisão de vez em
quando - declarou Louisa suavemente. - As crianças ficarão entusiasmadas ao ouvi-los cantar.
A expressão de lady Trusbut se iluminou.
— De verdade? Opal é a que canta melhor, embora Emerald também tenha uma voz muito
melodiosa. — Elevou Emerald até colocar à altura de seus olhos.
— O que acha, bonita? Você gostaria de entreter a algumas pobres crianças necessitadas?
O passarinho encolheu a cabeça e lady Trusbut assentiu, e a seguir dirigiu a Louisa um
sorriso de cumplicidade.
— Ficaremos encantadas de colaborar com seu grupo.
Louisa olhou lorde Trusbut e ao ver com que ternura transbordante o ancião contemplava a
esposa, formou um nó em sua garganta. OH, amar desse modo?
Certamente, por esse sentimento valia a pena inclusive assumir o risco de dar a luz.
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Simon também devia ter notado o carinho que emanava dos olhos do barão, porque sua voz
foi mais afável quando voltou a falar.
— Então está decidido. Lady Trusbut formará parte do pequeno e seleto grupo da senhorita
North.
Lorde Trusbut desviou o olhar para Simon e o olhou com olhos severos.
— Mas minha esposa só irá a Newgate se você também for.
— É obvio — concordou Simon. — Dou minha palavra de que velarei pela segurança dela
todo momento.
Durante o resto da visita, Louisa se sentiu envolvida em uma nuvem de satisfação. Enquanto
explicava o projeto que estavam considerando levar a cabo, maravilhou-se com a facilidade com
que Simon expôs os detalhes a lorde Trusbut e da firmeza com que defendeu as enormes
probabilidades de êxito. Como podia ser? Era possível que Simon se mostrasse tão entusiasmado
pela causa?
E era possível que fizesse tudo por ela?
Louisa preferia não acreditar nessa possibilidade. Entretanto, Simon acabava de defendê-la
diante de um lorde com enorme influencia. Inclusive aceitou acompanhá-las à prisão, e diante de
testemunhas. Certamente, sua atitude não duraria muito. Simon tinha coisas mais importantes a
fazer, antes de escoltar a um grupo de mulheres em suas idas e vindas a Newgate. A menos que
fosse sincero em seu interesse por cortejá-la.
Uma agradável sensação de calor se instalou em seu estômago. Esse diabo sabia certamente
como tentá-la. Não deveria esquecer que não era uma pessoa de confiança.
Inclusive era possível que Sidmouth o tivesse convencido para que mediasse a favor do
Parlamento. Mas nesse caso, Simon estava agindo erroneamente, expressando publicamente um
"interesse pessoal" por seu grupo. O ministro do Interior não acharia nem pingo de graça.
Quando se levantaram para partir, Simon a surpreendeu novamente ao devolver o cheque a
lorde Trusbut.
— Certamente agora estará disposto a ser mais generoso.
Visivelmente contrariada pelo descaramento de seu acompanhante, Louisa não pôde conter-
se.
— Senhor duque, não acredito que...
— Não, o duque tem razão — a interrompeu lorde Trusbut. — Se minha esposa está
decidida a colaborar, então ficarei mais que encantado de doar uma soma superior.
O ancião convidou Simon a que o acompanhasse ao escritório, e Louisa ficou a sós com lady
Trusbut. Depois de lançar um olhar furtivo para a porta aberta, lady Trusbut baixou a voz.
— O senhor duque parece muito apaixonado por você.
"Não há nenhum motivo pelo qual não possamos alcançar nossas ambições e paixões."
Louisa soltou uma gargalhada nervosa.
— Só está me ajudando pelos vínculos familiares que nos unem.
— Bobagens, querida. Nenhum homem se mostra tão solícito com a cunhada da irmã se não
for por algum motivo em particular. Sei distinguir um pretendente sério quando o vejo.
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— Foi por isso que seu avô decidiu tomá-lo como protegido? Porque o genro era um jogador
contumaz?
— Sim, creio que sim — Sua voz continuava mostrando um matiz estranho. —
Provavelmente não foi uma coincidência, que vovô Monteith assumisse minha tutela quando o
segundo de seus dois filhos morreu. Com minha mãe casada, já não tinha ninguém de quem
abusar.
— Abusar? — Suas palavras cheias de rancor a surpreenderam. — A que se refere?
— Meu avô era um homem de ideias fixas — respondeu Simon rapidamente, com uma
expressão disfarçada. Em seguida lançou um sorriso malicioso. — Como eu.
— Mas não como seu pai, suponho.
— Não. Meu pai não tinha nenhuma ambição. Só o interessava a caça de perdizes e jogar
whist. Nos primeiros anos de seu matrimônio, essa atitude incomodava muito minha mãe. — A
voz do Simon adotou agora um tom resignado. — Quando ela morreu, já não importava a nenhum
dos dois o que o outro fazia.
— Se lhe servir de consolo, isso também foi o que aconteceu a meu pai.
— A qual deles?
Louisa suspirou.
— Bom, a meus dois possíveis pais. A atenção que o rei demonstrava por minha mãe se
limitava aos prazeres do quarto. E o homem que me deu seu sobrenome, não demonstrou
nenhum interesse por minha mãe; se não, não teria permitido que sua majestade continuasse
com essa vergonhosa aventura amorosa com sua esposa, que se prolongou durante tanto tempo e
da qual todo mundo falava.
A tristeza no rosto de Simon não conseguiu aliviar a dor que ela sentia no coração.
— Sinto muito, Louisa.
— Por quê? — Ela se esforçou para falar com um ar descontraído. — Não é sua culpa, que
minha mãe era uma... — "Puta." Mas Louisa não pôde pronunciar a palavra, embora ouvira seu
irmão chamar assim a sua mãe muito frequentemente.
Com o olhar perdido em um ponto da estrada, ela procurou manter a compostura. Que
estranho; com espantosa facilidade o passado de alguém podia surgir de repente para cravar uma
dentada em uma pessoa no momento mais inoportuno.
— Conheceu minha mãe, não foi? Ela foi viver com sua família depois que Marcus a proibiu
voltar a pisar em Castlemaine.
Ele ficou tenso.
— Eu estava em um internato.
— Mas certamente não todo o tempo. — Quando ele não disse nada, ela adicionou. — Era
tão... descarada, como Marcus diz?
Simon demorou muito tempo para que Louisa não soubesse a resposta.
— Não.
— Mentiroso.
Simon virou rapidamente a cabeça e a olhou.
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— Acaso importa?
— A escandalosa reputação de minha família foi uma das razões pelas quais me considerou
imprópria para me casar com você, como certamente deve recordar.
— O que a faz pensar que te considerei inapropriada para se casar comigo?
— Foi mais que óbvio, quando partiu sem se casar comigo. E depois, não me escreveu nem
demonstrou que sentiu minha falta.
— Pensei que você não gostaria de receber minhas cartas, depois da maneira como me
comportei com você. De verdade, inclusive depois de minha volta, não pensei que permitiria que a
cortejasse de novo. Não até que nos beijamos.
— Quando me mostrei tão descarada como minha mãe?
— Louisa...
— Não, quero saber. Não se trata de você e ou eu; acho que entendo por que se comportou
desse modo comigo. Mas quero saber como era minha mãe. — Aspirou ar e o reteve alguns
instantes nos pulmões. — Sempre me perguntei como era. Quando eu era uma menina, ela quase
nunca estava em casa. — Porque não se importava absolutamente em ignorar os filhos e o marido
em troca dos privilégios que gozava por ser a amante do rei. — Assim, quando papai morreu, eu
tinha dez anos, e Marcus a expulsou de suas terras. Não me permitiu voltar a vê-la.
Louisa engoliu com dificuldade. Marcus só agiu do modo que considerava correto. Mas ainda
doía que durante os quatro anos que sua mãe viveu, depois de abandonar Castlemaine, não
fizesse nenhuma tentativa de ver a filha.
Por isso Louisa se afeiçoou tanto a sua meio-irmã. Porque Charlotte também fora
abandonada; havia sofrido a indiferença do pai, o rei, enquanto sua mãe, a rainha Caroline, estava
constantemente viajando com seus amantes. Não era justo. Nenhuma mulher deveria dar
prioridade a suas paixões ao invés de sua prole. Era melhor não ter filhos que tratá-los com tão
pouca consideração. Ou morrer enquanto dava a luz, deixando-os nas mãos dos inconstantes
cuidados de seus pais.
Continuaram o trajeto em silêncio. Atravessaram intermináveis campos de aveia, com
aquele brilho esverdeado sobressaindo sob o sol mortiço. Quando entraram em uma divisão da
estrada de barro de Richmond Park, ladeada por uns magníficos carvalhos, até mesmo o ruído dos
cascos dos cavalos pareceu ser amortecido.
Louisa suspirou.
— Bem, pensei... que poderia me contar?
— Além da enorme semelhança física entre você e ela, não se parece com sua mãe em nada
mais, se isso é o que a preocupa — respondeu Simon.
Preocupá-la? Era uma ideia que não a deixava dormir. A suspeita de ter herdado a natureza
lasciva de sua mãe a atormentava constantemente. Simon não tinha nem ideia de como se
consumia cada noite, enquanto se desfazia de prazer ao tocar-se nesses lugares proibidos, nessas
partes de seu corpo tão intimas, sabendo que o que fazia não era bom para ela.
Mas claro, talvez sim ele soubesse.
— Não disse esta tarde que sou muito apaixonada para ser solteirona por toda vida? —
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da mestria com a qual o domina; na casa dos Trusbut, Raji obedecia cada uma de suas ordens.
Então admita: não disse a ele que me deixasse em paz, não é verdade?
Um sorriso malicioso se formou nos lábios do Simon.
— É muito inteligente para seu próprio bem.
— Muito inteligente para as maquinações de um patife como você — atravessou ela. — E
agora me diga: O que disse ao Raji?
Os olhos dele cintilaram maliciosamente.
— Disse: "Anda, corre. Vá procurar uma banana".
— Sabe perfeitamente bem que não há bananas aqui!
— Exatamente — Simon se aproximou dela com evidente intenção.
Um calafrio percorreu a espinha dorsal de Louisa.
— Mas poderia perder-se ou...
— Não se preocupe tanto. — Seu sorriso sinistro conseguiu que os pelos dos braços ficassem
arrepiados. — Está treinado para sair e dar uma pequena volta e logo retornar ao lado de seu
amo.
Ela se separou dele, sem decidir o que era melhor: rir ou mostrar-se indignada.
— De verdade enviou o pobre animal a procurar bananas? Isso é muito cruel!
— Confia em mim; não há nada que o Raji goste mais que um bom momento balançando-se
nas árvores. — Simon a abordou com a graça de um felino.— Além disso, um homem precisa
encontrar uma maneira de ficar a sós com a mulher que está cortejando, não é assim?
As palavras ficaram flutuando no ar, embriagando-a com ideias proibidas, alarmando-a com
a realidade. De novo Louisa cometera um erro de cálculo. E a julgar pelo olhar predatório do
Simon, o mais sensato era encontrar a forma mais rápida de fugir desse patife.
Capítulo 9
Querido primo:
Por que não podem a senhorita North e o duque tentar satisfazer as ambições de ambos?
Esse tipo de hipótese motiva muitas mulheres - entre elas, eu mesma - a se negarem a casar,
porque uma vez que alcançamos o sonho de nossa vida, vemo-nos obrigadas a abandoná-lo pelos
duvidosos prazeres do matrimônio.
Sua irada prima,
Charlotte
Simon não se surpreendeu de que Louisa tivesse descoberto seu estratagema tão
rapidamente. Custava-lhe acreditar que tivesse permitido a ele chegar tão longe.
Ela retornou apressadamente a trilha que conduzia a estrada.
— Está ficando tarde, senhor. Devemos retornar à cidade.
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— Não tenho receio em te dar tantos beijos quanto queira, sempre e quando me chamar de
Simon.
Louisa se debatia entre rir ou mostrar-se zangada.
— Sabe perfeitamente bem que não estava pedindo que me...
Ele se inclinou novamente para beijá-la, mas ela interpôs sua mão entre os lábios de ambos.
— Pare de uma vez, senhor!
— Simon — pronunciou ele sobre os dedos enluvados de Louisa. — Diga Simon e pararei.
Outra gargalhada nervosa esteve a ponto de escapar de entre seus lábios e estalar no ar
silencioso.
— Está surdo? Repito: não penso chamá-lo de Simon até que não o conheça melhor.
Capturando a mão contra seus lábios, Simon começou a beijar os dedos enluvados, um a um.
— Então prefere que continue te beijando?
— Sabe que isso não é o que quero — replicou ela em um sussurro rouco.
Entretanto, não o empurrou nem tentou detê-lo enquanto desabotoava os diminutos botões
da luva dela e puxava cuidadosamente o tecido para estampar um beijo no pulso perfumado com
aroma de açucenas. Quando o pulso se acelerou até adotar um ritmo frenético, o pulso de Simon
também acelerou como resposta. Ela não era tão imune a ele como pretendia, graças a Deus.
— Tem mãos tão bonitas. — Começou a tirar a luva muito devagar, beijando cada
centímetro da pele nua. — Dedos tão delicados.
A respiração de Louisa ficou indomável, até alcançar um ritmo disparado contra a testa de
Simon.
— Não seja ridículo. Tenho dedos curtos e gordinhos. Por isso toco tão mal a harpa. Isso é o
que todo mundo diz.
— Pois o mundo inteiro está errado. — guardou a luva no bolso da calça, e em seguida
deslizou os lábios ao longo do dedo indicador para beijar a palma nua. Quando ela estendeu os
dedos sobre sua face em algo similar a uma carícia, ele se sentiu exultante. — Recordo como
tocava harpa. Era maravilhoso.
Ela riu e tremeu ao mesmo tempo.
— Então, tenho que supor que está louco ou completamente surdo, ou talvez recorde de
outra mulher tocando harpa. Talvez Regina.
— Não eram as mãos da minha irmã, com as quais sonhava em Calcutá. Não eram os dedos
com os quais sonhava que me acariciava a face. — A voz dele ficou mais grave. — Da mesma
forma que está fazendo agora.
Louisa ficou rígida e tentou afastar a mão, mas ele não permitiu; continuou acariciando a
palma com a boca aberta até que ela se abrandou.
— Não acredito em você; é impossível que sonhasse com meus dedos — Louisa hesitou,
embora o brilho em seu olhar denotava o desejo de que estivesse falando a verdade.
— Ah, não? — Simon se deteve um momento para pegar a outra mão, logo acariciou o dedo
do meio, oculto sob sua luva.
— Tem uma pequena cicatriz no nódulo deste dedo, justamente aqui, por culpa de um
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terrier que a mordeu. Contou-me isso em um jantar na casa dos Iversley, quando permitiu que eu
segurasse sua mão por alguns instantes debaixo da mesa.
— Lembra desse detalhe? — Seus olhos alargaram até mostrar uma profundidade tão escura
e tão sedutora que Simon não pôde evitar perder-se dentro deles.
Arrancou a outra luva e a guardou no bolso. Em seguida, a segurou pelos pulsos e a obrigou
a colocar as mãos sobre seus ombros, em seguida se aproximou completamente dela, colando-se
a seu corpo, do torso até as coxas.
— Lembro de tudo — proclamou com uma voz rouca.
A seguir se apoderou dos lábios dela, com uma imperiosa necessidade de devorar aquela
boca de mel. Ao inferno com a precaução de ir com cautela para que ela não se assustasse diante
de um ataque rápido e fulminante.
A única forma de fazer em pedacinhos seu escudo de Joana d'Arc, era recordá-la que era
uma mulher desejável, muito apaixonada para definhar sob a aborrecida máscara de solteirona.
Muito apaixonada e muito lasciva para esbanjar tempo com palavras. Sua boca tinha sabor de chá
e bolinhos de limão, um gosto tão embriagadoramente inglês e ao mesmo tempo tão exótico para
ele como qualquer bebida a base de leite de amêndoas e coco. E quando ela abriu os lábios tão
suaves como a seda, convidando-o a penetrá-los, entrelaçando sua língua brincalhona com a dele,
Simon teve que conter-se para não deitá-la ali mesmo, debaixo dos álamos e os olmos, e satisfazer
sua pecaminosa necessidade.
Para ser uma mulher que parecia ter levado uma irrepreensível vida de devota, beijava
maravilhosamente. O mero pensamento dos homens que poderiam tê-la beijado enquanto ele
estava na Índia, fez que a beijasse apaixonadamente, possessivamente...
Ela afastou a boca dele, tentando respirar, com as mãos agora enterradas entre o cabelo
dele.
— O que mais você se lembra... do tempo que estivemos juntos?
Pelo menos não o rechaçou com um empurrão.
— Obviamente, lembro mais que você. — As palavras surgiram com mais dureza do que
Simon queria, e precipitou-se a acariciar o esbelto pescoço de cisne com a ponta do nariz.
— Acho que estava muito ocupada com esses idiotas na corte para pensar em mim.
— Idiotas na corte? — repetiu ela.
— Os que a ensinaram a beijar tão bem.
Quando ela se afastou para olhá-lo com uma expressão ferida, Simon desejou ter sido capaz
de manter sua maldita boca fechada.
— Então acredita que sou uma descarada como minha mãe?
Maldição. Simon sabia que Louisa era extremamente sensível com esse assunto.
— Se pensasse que é uma descarada, não estaria cortejando-a. — Ao ver que ela tentava
escapar de seu abraço, ele não permitiu. — Mas está claro que alguém a ensinou a beijar.
Louisa o olhou com desdém.
— E dai se isso for verdade? Quantas dúzias de mulheres beijou enquanto vivia na Índia?
— Se te dissesse a verdade, não acreditaria.
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— Estou segura de que sim. — Elevou o queixo com altivez. — Provavelmente, havia uma fila
tão longa de amantes indianas capaz de rivalizar com um rajá.
— Não, não tinha amantes - replicou ele tensamente.
Os olhos de Louisa refulgiam luminosamente sob a tênue luz do entardecer.
— Então, recorria a mulheres da vida.
— Não, tampouco isso. Passei estes sete anos absolutamente no celibato, como um monge.
Ela o olhou com ceticismo.
— Já não sou a garota ingênua que conheceu, por isso não há necessidade de tentar
proteger meus delicados sentimentos.
Vi e ouvi o suficiente em Newgate para saber que os homens não resistem a se negar...
certas coisas. Pode ser franco comigo.
— E por que iria mentir?
— Para me fazer acreditar que se reservou para mim, ou alguma sandice parecida.
Simon deu um sorriso malicioso.
— Minhas razões eram mais práticas. Não queria me arriscar a me expor a nenhuma
enfermidade... ou traição. Tive numerosas oportunidades de observar os perigos de adquirir uma
amante na Índia, especialmente para um homem em minha posição.
Diante das alternativas, dar prazer a si mesmo, pareceu a opção mais prudente.
Louisa, entretanto, não se mostrava convencida.
— Então, o melhor seria que fosse agora mesmo a um bordel, senhor.
— Como diz? — Não era possível que ela estivesse propondo que...
— Vi como Marcus se zanga quando Regina o deixa por alguns dias, assim posso fazer à ideia
do que deve ter sido manter o celibato durante sete anos. O que explica por que está cortejando
uma mulher que não deseja casar-se com você. Necessita uma solução menos permanente, uma
amante ou uma prostituta...
— Não quero estar com nenhuma meretriz. — Já conhecera meretrizes suficientes durante o
"adestramento" de seu avô para o resto de sua vida. Esse foi o principal motivo pelo qual se
manteve afastado delas na Índia, embora não pudesse contar a Louisa. — E tampouco procuro
uma amante. — Não depois de seu encontro com Betsy, a desumana amante de seu avô. Acariciou
a face dela. — Quero uma esposa. Quero você.
Deslizou o dedo polegar sobre o lábio inferior de Louisa, e notou como este tremia.
— Mas eu não... não o quero — protestou ela, com uma nota de desespero na voz.
— Então, por que está com ciúmes de minhas supostas companheiras na Índia? — Simon a
havia encurralado, e ela sabia. Baixou o olhar enquanto notava um intenso ardor nas faces. —
Fomos feitos um para o outro, Louisa. — Encurralou-a contra uma árvore, sem lhe dar escapatória.
— E ambos sabemos. Assim de nada servirá resistir.
Presunçoso por seu triunfo, Simon baixou a boca para voltar a beijá-la.
Capítulo 10
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Querida Charlotte:
Sabe que admiro seu sucesso. Mas não negará que às vezes se sente sozinha. Sim, seu
matrimônio foi um desastre, mas se pudesse voltar a viver sua vida, não existe nenhum outro
homem com o quem acha que poderia ter sido mais feliz? E não teria deixado de lado suas
ambições para ficar com ele?
Mil desculpas, de seu primo,
Michael
Louisa gemeu quando Simon começou a beijá-la de novo. Precisamente isso não era o que
ela queria, essa sensação... tão cálida... hummm...
Por todos os Santos, estava seduzindo-a outra vez, ele e seu robusto corpo inflamado, que a
aprisionava contra o olmo sem piedade. Como podia aniquilar sua resistência tão facilmente?
Jamais aconteceu com outros homens, só com Simon. Só ele era capaz de tentá-la até fazê-la
esquecer seu objetivo, seus temores...
Uma gargalhada triunfal escapou dos lábios de Simon.
— Eu lhe disse. Conseguiria que me tratasse informalmente antes que acabasse o dia.
Agora jamais conseguiria convencê-lo de que não o desejava. E ele se aproveitaria
totalmente dessa descoberta... como sempre.
— Conhece de sobra minha natureza indecente - contra-atacou ela com amargura.
— Não é descarada, mas sim apaixonada. — Simon respirou com veemência. — Não há nada
mau nisso.
Sim, claro, sempre e quando ela continuasse beijando-o, não havia nada mau nisso, pensou
Louisa com irritação.
"Se pensasse que é uma descarada, não estaria cortejando-a."
Louisa congelou. Podia ser tão simples assim, achar a forma de dissuadi-lo?
Qualquer homem que não tivesse estado com uma mulher durante sete anos para evitar
complicações ou enfermidades, não desejaria uma esposa promíscua. E ela precisava fazer algo
antes que se encontrasse irremediavelmente casada com um homem que sem dúvida alguma a
separaria de sua causa para que pudesse cuidar dos filhos.
Não, isso não podia acontecer.
— Indecente é exatamente o que quero dizer — murmurou Louisa encostada a sua face. —
Tinha razão quanto aos idiotas da corte. Ensinaram-me a beijar. E a fazer outras coisas.
Ele ficou imóvel, com a boca colada a sua garganta.
— Que outras coisas?
Com o coração pulsando disparadamente, ela expandiu a mentira.
— Sim, tentei lutar contra meus instintos, tentei ocultá-los, mas me descobriu.
Simon retrocedeu um passo para olhá-la com olhos que desprendiam chamas azuladas de
receio.
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— Não desejaria criar nenhum problema para você — aduziu Simon, com um tom estranho.
— Embora me pergunto por que me conta seu pequeno segredo.
Ela deu um encolher de ombros.
— Você quer me cortejar, assim pensei que seria injusto que não soubesse que já não sou
virgem. Antes que nossa história siga adiante, se é que me entende.
— Ah, sim, a entendo. E asseguro que agora me sinto muito mais aliviado, ao saber desse
detalhe de seu passado.
— Mais... aliviado? — Ela não esperava essa reação.
Nem tampouco o modo como a estreitava entre seus braços, enquanto com uma mão a
acariciava pela cintura de um modo tão estimulante que o pulso de Louisa acelerou mais. Simon
roçou sua orelha com a boca.
— OH, sim — sussurrou. — Sempre a desejei. Estou seguro de que sabe.
Que ele fosse capaz de lhe dizer isso, apesar de acabar de asseverar que era uma descarada,
excitou-a excessivamente. Mas então Simon rompeu a magia do momento.
— E agora já não preciso me casar para deitar contigo. Foi por isso que me contou, não é
assim? Para me fazer saber que permitirá que tome certas liberdades com você?
— Não! Maldito canalha, cara...
— Quer ser minha amante, Louisa? — Com seu fôlego quente ainda roçando a orelha dela,
Simon começou a desabotoar a jaqueta, em seguida deslizou uma mão dentro para acariciar o seio
por cima do vestido. — Não tem nada a perder. E eu posso ser tão discreto como qualquer outro
de seus amantes.
Maldito fosse esse canalha. Nada estava saindo de acordo com seus planos. Louisa tentou,
em vão, afastar a mão dele.
— Não estava tentando sugerir que...
— Não, claro. Talvez tenha me enganado e só inventou esta tolice sobre seu sórdido passado
para me dissuadir.
Louisa ficou gelada, logo retrocedeu um passo e o olhou aos olhos. O rosto de Simon refulgia
com uma careta de diversão.
Esse arrogante patife estava rindo dela! OH, deveria ter imaginado que ele não acreditaria.
Sempre se mostrava tão horrivelmente seguro de si mesmo, sempre tão seguro dela. Pois pensava
apagar esse malicioso sorriso da cara dele, mesmo que fosse a última coisa que faria na vida.
Louisa forçou sua mão a pressionar mais firmemente a do Simon contra seu seio.
— Mentir sobre meu passado? Não. Só tento acautelá-lo.
Rodeando-o pelo pescoço com os braços, aproximou a parte baixa de seu corpo até
aproximá-la de Simon e começou a mover-se sinuosamente, tal e como viu algumas das mulheres
mais desavergonhadas em Newgate fazer com os reclusos.
Para sua satisfação, o sorriso se apagou da cara de Simon. Só então se ergueu mais para
beijá-lo, tentando aplicar-se com tanta impudicícia como pôde, brincando com a boca e os lábios e
os dentes. Mas seu triunfo durou pouco. A mão do Simon se moveu sobre seu seio, acariciando-o
com mais urgência, com mais força. Louisa pôde sentir seu tato inclusive através do traje de
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musselina e da regata de linho, inclusive através do fino tecido de algodão de sua roupa interior.
As firmes carícias despertaram uma avalanche de sensações em todo seu corpo, da cabeça até os
pés, e seu mamilo ficou duro como uma pedra.
Sem poder evitar, soltou um gemido do mais profundo de sua garganta.
Então ele tomou o controle do beijo, também, e ela se sentiu perdida, afogando-se no gosto
e no aroma dele. Os assaltos efusivos da língua e da mão direita tão destra conseguiram que a
cabeça começasse a dar voltas como um carrossel, especialmente quando ele começou a exercer
pressão com sua coxa na parte mais delicada entre as pernas dela, conseguindo que ela desejasse
algo até então desconhecido.
Louisa estava caindo nesse paraíso ondulante que unicamente pareciam habitar eles dois.
Meio tonta, notou como retirava finalmente o xale, e em seguida deslizou aquela mão
desavergonhada dentro do vestido, da regata e da roupa interior para acariciar o seio nu. Que
obscenidade! E que delícia. Extenuada, afastou os lábios dele, mas Simon não deixou de acariciá-
la.
Com seu penetrante olhar bombardeando-a como uma refrescante chuva de verão,
começou a acariciar o mamilo, e Louisa deixou escapar um gemido. Queria mais.
— Ainda não entendeu? — A sede ambiciosa no rosto de Simon era um complemento
selvagem da sede que havia se apoderado do peito de Louisa. — Não me importa que tenha
beijado todos os soldados do exército, ou que tenha deitado com um ou com dez homens. Desejo
você. Sempre a desejei. Foi minha obsessão durante muitos anos. Então, estou decidido a possuí-
la. Minta a você mesma e minta para mim se quiser, mas ao final, será minha.
Louisa sentiu um calafrio em todo o corpo, tão poderoso como alarmante.
— Sua amante, quer dizer? — perguntou, acariciando o cabelo com as mãos.
— Minha esposa — Simon desatou os laços do sutiã e da regata. — Embora não sou tão
dissimulado para querer esperar a nossa noite de núpcias, acredite em mim.
Enquanto ela continha a respiração, ele desdobrou uma fila de beijos ao longo da mandíbula
e garganta até alcançar a parte superior do decote, depois puxou a roupa para baixo, o suficiente
para expor um dos seios.
Louisa abriu descomunalmente os olhos.
— Simon?
— Só desejo prová-la. Para recordar seu gosto até que consiga me deitar contigo.
— Nunca...
Ele encaixou sua boca ardente sobre o seio dela.
Que Deus tivesse piedade de Louisa. Que loucura era essa? A sensação resultava mais
embriagadora que as fantasias secretas que com frequência povoavam suas noites, muito mais
eróticas que suas próprias carícias furtivas de noite. A língua de Simon estava fazendo maravilhas
com seu mamilo e Louisa não pôde conter o gemido que escapou de seus lábios.
Continuando, e de um modo escandalosamente insolente, acariciou aquele ponto tão íntimo
situado mais abaixo do umbigo. Às vezes ela também se tocava ali, mas nunca havia sentido o
mesmo que agora... como se seu corpo e sua mente fossem se derreter de uma hora para outra, a
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menos ele demonstra ter bom senso suficiente para saber que não deveríamos fazer... estas
coisas.
Simon lhe lançou um olhar febril. Seus olhos azuis tinham adotado agora um tom tão escuro
como o de uma noite sem lua.
— Tem razão. Sinto muito, deixei-me levar por meus instintos. Mas posso me controlar, lhe
garanto. Só precisa me dar uma chance...
— Para me seduzir? Para me desonrar?
— Não! — alisou o cabelo com os dedos crispados. — Claro que não. Para te cortejar.
— Mas não quero que me corteje!
O ardente olhar de conquistador caiu implacavelmente sobre ela.
— E entretanto, derrete-se em meus braços quando a beijo. Não tente negar que me deseja;
posso sentir como...
— Sim, é verdade — se apressou a interrompê-lo, antes que suas palavras conseguissem
tentá-la de novo. Ainda não se recuperou da surpreendente confissão: "foi uma obsessão durante
muitos anos".
Só porque a desejava não significava que pudesse confiar nele... com o coração ou seus
sonhos. Mas claro, Simon jamais mostrou algum interesse pelas ideias reformistas antes... Será
que sua estadia na Índia modificou tanto esse homem? Duvidava. E não se atrevia a arriscar-se a
averiguar a verdade. A última vez que a traiu, a destroçou completamente.
— Admito que sabe me tentar. E tem razão; ainda sinto... uma atração por você. — Louisa
acariciou Raji e baixou a voz. — Mas isso não muda nada. Sigo com a firme determinação de não
me casar. Por isso... tomei uma decisão.
Simon ficou rígido.
— Sobre o que?
— Se de verdade quer nos ajudar, então o mais apropriado será que se dedique a observar o
comitê da senhora Harris. Nada mais. Porque você e eu jamais trabalharemos juntos.
— Maldita seja, Louisa... — começou a aproximar-se dela, mas Raji começou a grunhir de
novo.
Apertando os punhos, Simon a olhou com uma clara expressão de desgosto.
— Tome um tempo para considerar. Agora está alarmada pelo que estivemos a ponto de
fazer.
— Não necessito mais tempo. Sei o que quero — "Sei o que preciso fazer para me manter a
salvo."
Louisa sentiu que encolhia o estômago quando viu a fúria que refletiam nos olhos do Simon.
— Pelo amor de Deus...
— É minha decisão final, Simon. — Recolheu rapidamente o chapéu e o xale, e saiu
disparada para a estrada, com Raji agarrado ao seu corpete.
Precisava retornar ao faetón, onde estava o criado; diante dele, Simon se veria obrigado a
agir como um cavalheiro e ela poderia defender-se de novo em sua postura distante e reservada,
como uma dama.
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Evitou os olhares curiosos do moço, instalou Raji no assento, logo se amassou em seu xale,
fechou a jaqueta e colocou o chapéu. Quando o rapaz subiu à boleia traseira, ela já havia ocultado
a evidência de seu indecoroso encontro com Simon. Só rezava para que o criado fosse discreto.
Ouviu os cascos de alguns cavalos aproximando-se; era uma carruagem que provinha de Londres,
e no caso de ser alguém que conhecesse, inclinou-se para frente para ocultar o rosto.
Mas foi inútil; a carruagem se deteve em seco a escassos metros, mais a frente. Muito tarde,
Louisa reconheceu o escudo e a crista prateada do veículo de seu irmão.
Marcus saltou a terra, seguido de perto de Regina.
— O que faz aqui sentada na margem da estrada?
— Sinto muito, Louisa — se apressou a dizer Regina - mas já conhece seu irmão. Quando se
inteirou que a deixei ir sozinha com Simon a casa de lady Trusbut, irritou-se.
Graças a Deus que Louisa retornara ao faetón antes que Marcus chegasse. Se não, agora
mesmo seu irmão estaria dando uma boa sova de murros em Simon.
— Droga! — exclamou a voz do Simon do bosque. — Por que não me...?
Louisa ficou tensa. Ninguém superava Simon, quando se tratava de escolher o pior momento
para fazer sua aparição. Com o coração a ponto de sair pela boca, ela o observou silenciosamente
e soltou um suspiro de alívio quando confirmou que estava completamente vestido.
Seu irmão voltou o rosto encolerizado para o duque.
— Pode-se saber que diabos acontece aqui, Foxmoor?
— O mascote do duque escapou — explicou Louisa antes que Simon pudesse responder, —
e o duque saiu atrás dele para buscá-lo.
Sua explicação só conseguiu que seu irmão canalizasse toda a raiva para ela.
— Ah, sim? Então, o que faz o macaco sentado em sua saia?
Ela elevou o queixo com insolência. Estava muito acostumada a discutir com o irmão sem
amedrontar-se.
— Porque Raji encontrou o caminho de volta enquanto o duque continuava buscando-o. —
Fulminou Simon com um olhar ao mesmo tempo que estreitava Raji entre seus braços. — O veja
senhor duque... Raji está a salvo.
"Por favor, não me crie mais problemas", suplicou em silêncio.
Simon inspirou ar e, por um instante, Louisa temeu que ele fosse acusá-la de mentir. Se a
comprometia diante de seu irmão, então Marcus tentaria provavelmente obrigá-la a casar-se com
ele.
Mas Simon teria uma surpresa, já que ela jamais aceitaria a se casar com alguém à força.
Simon soltou o ar ruidosamente, logo se aproximou deles com uma expressão tão serena
como Louisa esperava que fosse a dela.
— Muito típico do Raji, eu receio. Este vadio escapou saltando entre as árvores, e por um
momento temi que se perdesse no bosque. — Sorriu friamente ao cunhado. — Mas parece que se
afeiçoou a senhorita North. Devia ter imaginado que daria um passeio e retornaria ao lado de sua
irmã.
— Sim, e agora está são e salvo— adicionou ela.
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— Não há de que, senhorita North. Já sabe que para mim é um prazer poder estar a sua
disposição.
Simon olhou para baixo até situar o olhar no xale enrugado, e ela deu graças a Deus por
estar bloqueando a visão do Marcus com suas costas, para que seu irmão não visse aquele olhar
tão descarado.
A voz do Simon se transformou em um sussurro rouco.
— A próxima vez que estivermos sozinhos, me assegurarei de deixar meu macaco travesso
em casa.
Louisa compreendeu perfeitamente o que Simon queria dizer, assim como a firmeza do
propósito que escurecia suas belas feições.
— Não haverá uma próxima vez - murmurou ela. - Eu prometo.
Enquanto retornava à carruagem do Marcus, Louisa notou o ardente olhar de Simon cravado
sobre ela. Se esse canalha conseguisse ficar sozinho com ela novamente, o fogo que o abrasava
era capaz de acender o fogo que ela tentava aplacar em seu interior, e irremediavelmente se
fundiriam em uma labareda juntos, uma labareda que arrasaria tudo, até que só restassem as
cinzas; tudo o que ela havia planejado, todos os esforços pelos quais tanto lutou.
Marcus e Regina subiram à carruagem depois dela. Louisa não ousou olhar pela janela para
ver se Simon ainda estava ali de pé, parado, contemplando como partiam. Com Regina e Marcus a
seu lado, não se atrevia a mostrar sua curiosidade.
Quando surpreendeu seu irmão observando-a com cara de recriminação, lhe sustentou o
olhar.
— Tem algo a dizer, Marcus?
— Cuidado, bonita. Foxmoor continua sendo um homem perigoso.
— Marcus! — exclamou Regina. — Meu irmão não é tão ogro como o pinta.
— Não? Por acaso se esqueceu como manipulou inclusive você?
— Mas isso aconteceu faz muitos anos — afirmou Regina. — Não é o mesmo homem; ele
mudou.
— Não estou tão seguro — corrigiu Marcus. — Continua brincando com os sentimentos de
minha irmã.
— Bobagens. — Louisa tentou falar com um tom descontraído. — Meu coração permaneceu
blindado contra o duque durante muitos anos. Não se preocupe comigo.
Marcus arqueou uma sobrancelha.
— Então, por que tinha suas luvas? Não sou tão ingênuo, Louisa. Sei perfeitamente como faz
um homem da índole dele para seduzir uma mulher.
— Provavelmente, de um modo muito parecido ao que você mesmo utilizou em numerosas
ocasiões, quando você e Regina se ataram antes de que se casasse com ela.
A gargalhada sufocada de Regina só conseguiu que Marcus olhasse a irmã mais zangado.
— Aquilo era diferente. Regina e eu estávamos apaixonados.
Louisa suspirou. Não podia alegar o mesmo dela e Simon. Só porque parecia que não podiam
manter as mãos afastadas um do outro quando estavam juntos, não queria dizer que estivessem
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— Falo a sério, Regina. Sei que espera que Simon e eu nos casemos algum dia, mas isso não
acontecerá jamais. É o melhor para todos, lhe garanto.
Agora, a única coisa que faltava era que Louisa fosse capaz de convencer seu próprio
coração.
Capítulo 11
Querido primo:
Não é necessário que se desculpe. No que concerne ao Foxmoor e a Louisa, se o duque
acreditar que casando com ela conseguirá subjugá-la a sua vontade, terá uma boa surpresa.
Jamais conheci uma mulher com tanta determinação para seguir seu próprio caminho como
Louisa.
Sua amiga incondicional,
Charlotte
Na segunda-feira de noite, depois da última vez que beijou Louisa, Simon perambulava com
passo rude por um dos salões do clube Travellers. De todos os clubes dos quais era sócio, o
Travellers era o único com uma suficiente diversidade de jornais para satisfazer seus propósitos.
Mas depois de estudar atentamente todas as notícias da imprensa radical durante duas horas,
perdeu a paciência e abandonou seu empenho.
Em parte, porque o que leu o deixou mais intranquilo do que esperava. Mas sobre tudo,
porque a mesma maldita fêmea que assolava suas noites, agora o perseguia também de dia. Ainda
podia sentir o aroma de açucenas que perfumava sua pele, ainda podia ouvir seus deliciosos
gemidos de prazer, ainda podia notar o tato da suave carne trêmula na palma de sua mão, na
ponta de seus dedos.
Maldita fosse. Continuou caminhando entre as esbeltas colunas, agradecendo de que os
sócios do clube se achassem na sala de jogo ou jantando, deixando a sala só para ele. Se o vissem
tão agitado, o atormentariam impiedosamente com mil e uma perguntas.
Já sofrera suficiente tortura. E que diabo ia fazer agora, depois de ter conseguido afastá-la
dele?
"Isso é o que acontece quando permite que seu pênis nuble sua razão."
— Cale-se, velho alcoviteiro — balbuciou ao escutar a voz de seu avô. As lembranças dos
comentários mordazes de seu avô não o assaltavam de um modo tão sufocante na Índia.
Exceto pelo breve período que seguiu ao fatal erro de cálculo em Poona, as vozes
desapareceram quando Simon se inteirou da morte do avô, logo após sua chegada à Índia. Mas
agora, o velho havia retornado, e Louisa estava sufocando-o.
Lançou um bufo de exasperação. Desta vez merecia as duras críticas de seu avô; era
verdade: permitiu que seu pênis nublasse sua razão. Conseguiu espantar Louisa. E não lhe ocorria
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nenhuma maneira de recuperar o campo perdido. Depois da fria despedida dela, Simon temeu
que Louisa evitasse sua visita nessa manhã. Mas em lugar disso, ela o recebeu como uma boa
dama, com uma cortesia e uma segurança impenetrável.
Só a presença de Regina o freou para não agarrá-la por seus delicados braços e sacudi-la
vigorosamente em uma tentativa de arrancar aquela máscara de insensibilidade. O que precisava
fazer para convencê-la de que podia confiar nele? Os beijos e as carícias não funcionavam, e ela
havia rechaçado sua oferta de ajudá-la com a desculpa de que não queria ficar perto dele.
Maldita mulher teimosa.
— Foxmoor — pronunciou uma voz fanfarrona atrás dele e Simon se virou rapidamente,
preparado para partir a cara do mentecapto que ousava incomodá-lo.
Mas engoliu as palavras de raiva ao ver seu interlocutor: o ministro do Interior em pessoa,
acompanhado de seu bom amigo, Castlereagh, o ministro dos Assuntos Exteriores.
— Sidmouth — o saudou tensamente. Sidmouth se aproximou de Simon com a premeditada
cautela de um cão de caça que fareja um porco espinho.
E fez bem em comportar-se desse modo; nesse momento, Simon teria desfrutado em dar
um bom soco em seu esquálido nariz.
Sidmouth desviou o olhar para o jornal que Simon havia desdobrado em cima da mesa, um
boletim chamado London Monitor, que era publicado por um tipo com ideias exaltadas chamado
Godwin.
O ministro do Interior esboçou uma careta de desgosto, logo voltou o rosto para Simon.
— Ouvi que agora dedica parte de seu tempo a essa manada de ovelhas que pulula ao redor
da senhorita North.
— Minha irmã é uma dessas ovelhas, assim tome cuidado com o que diz.
— O rei me contou confidencialmente seus planos para obstaculizar suas atividades.
Entretanto, inteirei-me que conseguiu tirar de Trusbut duzentas libras para a causa.
— As carnudas faces de Sidmouth esboçaram um sorriso. — Com certeza sabe que usarão
esse dinheiro para apoiar seu candidato.
— Se puderem, farão, embora minha intenção seja evitar.
Os finos lábios de Sidmouth se contorceram em uma careta insidiosa.
— E como pensa fazer? Se casando com a senhorita North? Sabia que essa mulher rechaçou
todos os pretendentes que se aproximaram?
— Não me rechaçará — replicou Simon. — Só necessito um pouco de tempo para...
— Tempo? Não temos tempo. Cada dia que passa, seu grupo recruta mais mulheres para a
causa. Antes que se deem conta, estarão secundando vários candidatos nas eleições; a Câmara
dos Comuns se verá dominada por membros radicais e nos encontraremos de novo com outra
organização tão radical como a Manchester Patriotic Union Society.
— E então, assegurarão de que as prendam ou as fuzilem em Saint Peter's Field, como
fizeram com os membros da Manchester Society — o atacou Simon.
Sidmouth empalideceu e Castlereagh ficou boquiaberto. Mas antes que algum dos dois
indivíduos pudesse falar, Simon acrescentou:
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— Não, desta vez não poderão agir do mesmo modo, não é verdade? Porque uma coisa é
prender um punhado de granjeiros que exigem uma representação no governo, e outra coisa é
prender um grupo de damas cujo único objetivo é conseguir dinheiro para vestir e alimentar as
crianças que vivem na prisão e evitar que algumas pobres mulheres sejam violadas brutalmente
por seus guardiães.
Sidmouth adotou o semblante altivo e condescendente que tanto o caracterizava.
— De que lado está, Foxmoor?
Só com um enorme esforço, Simon conseguiu controlar-se para não perder as estribeiras.
Que loucura se apossou dele para falar desse modo tão impulsivo? Provavelmente tudo o que leu
sobre o massacre de Peterloo, tal e como os radicais chamavam os graves incidentes que
ocorreram em Saint Peter's Field. Na Índia só leu a versão do Times, que, embora simpatizava com
a multidão, não foi tão incisivo em suas críticas como a imprensa radical.
Simon propôs acalmar-se antes de soltar a mentira.
— Do seu lado, é obvio.
— Ah, pois começava a duvidar — espetou Sidmouth. — Pensei que quisesse seguir os
passos de seu avô; mas estou seguro de que ele teria elogiado minha atuação no caso Saint Peter's
Field.
Monteith sabia que as pessoas necessitam uma mão firme.
— Sim, mas eu não sou Monteith — contra-atacou com uma visível tensão. — Entretanto,
você e eu compartilhamos muitos interesses. Estou de acordo que a senhorita North e as amigas
estão excedendo o limite permissível. E se quisermos evitar outro caso como o de Saint Peter's
Field, o mais indicado é que as afastemos do atoleiro antes que todos saiam salpicados de lama. —
Olhou Sidmouth com olhos frios. — Mas deve me conceder um pouco mais de tempo.
Para que quando toda essa história terminasse, pudesse assegurar-se de que os lordes da
índole de Sidmouth não continuassem governando a Inglaterra com um punho de ferro. Simon
estava seguro de que jamais toleraria nenhum comportamento similar em seu possível gabinete
de ministros. Sidmouth assentiu com inapetência.
— De acordo. Mas só alguns dias; se não conseguir, resolveremos a questão a nossa
maneira.
Nunca o fariam! Contendo sua ira, Simon também assentiu com a cabeça.
— E agora, se me desculparem, cavalheiros, preciso partir. Estou atrasado para um
encontro.
Se permanecesse um segundo mais na presença de Sidmouth, diria algo do que certamente
se arrependeria depois. Mas aquele desgraçado o tirava do sério. Por acaso não se dava conta de
que se não pactuasse com aqueles que exigiam representação no governo, seriam obrigados a
continuar expostos à mercê das massas exaltadas?
Não, Sidmouth pertencia a outra época; ainda vivia em uma versão da Inglaterra do Reinado
do Terror. Simon abandonou o clube a grandes passos, detendo-se unicamente para recolher o
chapéu e o casaco que o porteiro entregou e pediu que conduzissem o faetón até a porta
principal.
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Engolira todas as leituras que seu estômago podia suportar por aquela noite.
Descobriu mais do que esperava. Desejava averiguar que amigos da Sociedade das Damas de
Londres poderiam ser os possíveis candidatos para a Câmara dos Comuns. Em vez disso, leu
numerosos artigos elogiando o trabalho dessas mulheres, louvando as boas obras que levaram a
cabo apesar da oposição de personagens desequilibrados como Sidmouth.
Mas isso era o que leu nos periódicos radicais. Em troca, a imprensa mais moderada não se
mostrava tão a favor das reformistas, mas sim se limitava a queixar-se como sempre sobre um
bando de mulheres que metiam o nariz em assuntos que não eram da incumbência delas. O
enfoque lhe pareceu provocador. Simon se sentiu alarmado ao inteirar-se do perto que essas
mulheres estavam do limite, especialmente agora que pretendiam misturar-se a política.
Enquanto se dirigia para casa, tentou afastar esses desagradáveis pensamentos da mente.
Amanhã voltaria a insistir com Louisa, para tentar que mudasse sua decisão imutável de não se
casar. Até então, não havia nada para fazer.
Além disso, ainda restava um trabalho para terminar. Com seus dias no Parlamento ou
trotando atrás de Louisa, e suas noites repletas de eventos sociais que não podia ignorar se
desejasse reincorporar-se às filas políticas, não ficou muito tempo para investigar a situação do
Colin. Mas não podia adiar mais. Afinal, devia cumprir sua promessa.
Tão logo chegou em casa, chamou o mordomo para que este comparecesse em seu
escritório.
— Me traga outra das caixas da correspondência do meu avô. — Simon tirou o casaco. — E
diga a um dos lacaios que traga algo para comer; hoje não jantei no clube.
— Muito bem, senhor.
O mordomo se afastou e Simon olhou ao seu redor em busca do Raji. Imediatamente o viu.
O mascote dormia em seu canto favorito, junto ao fogo. O escritório fazia as funções de jaula
temporária do macaco, quando este não saía de excursão com Simon. Os criados tinham a ordem
de não deixá-lo sair se a porta estivesse fechada.
Simon acendeu mais velas e se preparou para um intenso trabalho, rebuscando entre as
páginas poeirentas das numerosas cartas do avô Monteith, embora tinha poucas esperanças de
encontrar o que procurava. Seu avô era muito esperto para deixar algum documento que pudesse
incriminá-lo. Provavelmente havia queimado as cartas pertinentes logo que as recebia. Entretanto,
o velho podia ter se esquecido de alguma. Ou pelo menos, Simon esperava encontrar uma carta
inócua em que mencionasse alguém que pudesse corroborar a versão do Colin. Simon precisava
tentar.
Quando o mordomo retornou com a caixa, Simon se instalou diante da mesa com todos os
papéis. Mas depois de uma hora de busca infrutífera, seus olhos começaram a fechar-se. Maldito
fosse seu avô por manter cada pedaço de correspondência de cada lacaio. Apesar de Simon ter
desprezado algumas simplesmente pela assinatura, olhou um sem-fim de cartas. Quem sabia se
uma nota de um servente podia conter uma referência importante?
Simon acabava de se acomodar para dar boa conta de seu sanduíche, quando o mordomo
entrou na sala.
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— Depois que eu a comprometi. — O olhar incisivo de Draker o fulminou. — Espero que não
esteja planejando fazer nada similar.
— Planejar? Não. — Simon refletiu alguns instantes, antes de acrescentar com afã de
justificar-se. — Mas não posso prometer que não vá acontecer. Quando se trata de Louisa, sempre
demonstro uma habilidade por complicar tudo.
— Simon decidiu não continuar por essa via quando viu que o semblante de Draker
começava a escurecer. — Tudo o que posso prometer é que tentarei evitar por todos os meios.
Apesar de a expressão do Draker continuar sendo sombria, o visconde não disse nada.
Simplesmente se recostou na cadeira e sorveu outro gole do brandy.
Depois de alguns instantes, Simon se aventurou a comentar:
— Não parece tão preocupado como esperava, ante a possibilidade de que consiga me casar
com Louisa.
Draker removeu o licor que restava dentro da taça.
— Não posso me preocupar com algo que talvez não acontecerá. E a verdade é que... —
Suspirou. — Me preocupa sua obsessão pela Sociedade das Damas de Londres. É uma boa causa,
admito, mas não posso deixar de pensar...
— Que ela merece algo melhor.
Draker elevou a vista e a fixou nos olhos de seu interlocutor.
— Exatamente. Algum tempo atrás eu tinha absoluta certeza de que jamais me casaria. Foi
um período solitário e difícil de minha vida e não o desejo a ninguém, muito menos a minha irmã.
— Nem eu tampouco. — Simon brincou com o pedaço de madeira, em seguida suspirou. —
Draker, eu sei que temos nossas diferenças e não o culpo por me desprezar depois do que fiz a
Louisa há sete anos. Mas mudei; já não sou o mesmo — Olhou o cunhado fixamente. — Acredito
que poderia ser um bom marido para ela. E penso tratá-la com toda a gentileza e o respeito que
merece.
Draker se ergueu da cadeira e depositou a taça vazia sobre a mesa.
— Espero que assim seja. — apoiou-se na mesa, com seus ombros maciços preparados para
a batalha. — Porque se fizer mal a minha irmã, juro que o matarei, mesmo sendo meu cunhado.
Simon sustentou o olhar sem piscar.
— Compreendo. — Custou um enorme esforço conter-se para não cuspir à cara que Draker
só o venceria se brigassem com os punhos, porque Simon poderia vencê-lo sem nenhum problema
em um duelo com espadas ou pistolas, mesmo com uma mão amarrada às costas.
Draker se dirigiu à porta, mas se deteve antes de atravessar a soleira.
— Queria te perguntar outra coisa. Desde que Regina ouviu que seu ajudante de campo se
chamava Colin Hunt, não deixou de sentir curiosidade por saber se trata de uma mera coincidência
que seu sobrenome fosse o mesmo que o de seu defunto tio que serviu na Índia. Regina me
contou que inclusive lhe perguntou isso em uma de suas cartas, mas não lhe respondeu.
Os dedos de Simon se esticaram ao redor do pedaço de madeira que descansava sobre a
mesa.
— É um sobrenome bastante comum.
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— Isso não é o que te perguntei. E me parece que Regina está em seu direito de saber se
tem um primo que não conhece, mesmo que seja ilegítimo.
— Estou de acordo. — Um suspiro escapou dos lábios de Simon. — Mas não estou seguro da
resposta.
Draker arqueou uma sobrancelha.
— Não está seguro? Ou não quer me dizer?
— Não estou seguro. — Apontou as cartas. — Precisamente isso é o que estava tentando
averiguar agora mesmo.
— Por acaso alega esse indivíduo que é o filho ilegítimo de seu tio? — inquiriu Draker.
— Não. — Isso era verdade, embora a verdade absoluta era muito incrível para comentar
com o cunhado sem estar totalmente seguro.
— E entretanto, está examinando o caso.
— Sim. Prometo que você e Regina serão os primeiros em se inteirar quando eu souber algo.
— Não pensava soltar essa surpresa de repente sem estar absolutamente seguro de poder provar
suas declarações.
Depois que Draker partiu, Simon retornou à mesa e pegou outra carta. Apesar de sentir-se
totalmente esgotado e de saber que no dia seguinte teria que levantar-se cedo para ir a Newgate
ajudar Louisa, precisava averiguar a verdade. Só então poderia começar a emendar seu terrível
engano em Poona.
Capítulo 12
Querida Charlotte:
Soube recentemente que Foxmoor teve um encontro particular com lorde Sidmouth na
segunda-feira passada. Pode ser que não seja significativo, mas dado o receio que o ministro do
Interior professa pela Sociedade das Damas de Londres, sugiro que você e suas amigas não baixem
a guarda.
Seu preocupado primo,
Michael
O disco do sol mal havia se levantado sob o horizonte na terça-feira pela manhã, quando
Louisa confrontou Brutus, o capanga da prisão de Newgate.
Louisa levava tempo desconfiando do senhor Treacle, porque o guardião só ocasionara
problemas desde que as Damas de Londres contrataram uma matrona para substituí-lo e, como
consequência, foi destinado a vigiar as celas dos homens. Brutus não gostava do novo trabalho,
OH, não. Os reclusos não se mostravam tão dispostos a satisfazer seus gostos lascivos.
Se a decisão dependesse de Louisa, há muito tempo esse energúmeno teria sido despedido,
mas o primo de Brutus era o senhor Brown, o governador da prisão, assim não havia nada mais a
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dizer.
Nesse dia, o vigilante estava a ponto de acabar com a paciência de Louisa.
— Na semana passada disse que seria suficiente oito carros de aluguel — recriminou ela.
— Para transportar às mulheres, senhorita North — Brutus afundou os dedos polegares nos
bolsos de seu colete imundo. — Mas os guardiães também terão que ir em algum veículo, estou
dizendo.
— Os guardiões sempre vão montados a cavalo.
— Sim, quando as reclusas vão em carretas, mas hoje não irão em carretas, e não podemos
arriscar que escapem.
— Estão acorrentadas! Quantos metros conseguiriam correr antes que os guardiões as
alcançassem?
Brutus cruzou os braços grossos por cima do peito.
— Uma carruagem poderia se separar do resto e desaparecer antes que um guardião
pudesse reagir.
— Pelo amor de Deus! — Louisa sentiu uma vontade terrível de esbofetear o tipo tão
retorcido. Era muito difícil aguentar impassível ante o sorriso sinistro do pervertido.
"Calma, Louisa, calma. De nada servirá perder a paciência."
Em vez disso, transpassou-o com um olhar glacial.
— Então, quantas carruagens precisaremos?
— Não sei. Mas com dois vigilantes em cada veículo, um na boleia e outro no interior, não
caberão todos, junto com as reclusas, em oito veículos.
— Pedi ao Simon que alugasse uma extra — interveio Regina, — mas mesmo assim, não será
suficiente.
— Parece que serão forçadas a recorrer às carretas - Brutus nem sequer se preocupou em
ocultar sua satisfação.
— Não usaremos as carretas - trovejou Louisa com firmeza.
— O que acontece? — perguntou a senhora Fry, atraída pelo barulho que ia se estendendo
pelo recinto.
Ela e o resto das mulheres Quaker estavam ocupadas distribuindo pacotes que continham
agulhas de costura, linha, e pedaços de pano para que as reclusas pudessem confeccionar colchas
de retalhos que logo seriam vendidos na Austrália, e Louisa odiava ter que distraí-las de seu
trabalho. Entretanto, a filha do banqueiro, uma mulher de quarenta anos que sempre ia
impecavelmente vestida e cujos traços refinados ocultavam uma vontade de ferro, era a única que
conseguia fazer frente a Brutus. Depois da explicação de Louisa, a senhora Fry fulminou o senhor
Treacle com olhos tremendamente severos.
— Agora mesmo irei expor os fatos ao governador, senhor.
Brutus deu um encolher de ombros.
— Vá se quiser, mas isso não mudará nada. Ainda faltam veículos para levar às reclusas.
— Poderíamos usar minha carruagem também— propôs a senhora Harris. — Uma vez que
só viemos Venetia e eu, sobra espaço para três reclusas.
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As mulheres seguiam falando sobre quem mais se oferecia para levar algumas reclusas em
suas carruagens quando Simon chegou.
— Por que aquelas carretas estão alienadas na praça em frente a prisão? — perguntou
enquanto se unia a elas.
Louisa lançou um olhar desdenhoso a Brutus.
— Porque o senhor Treacle morre de vontade de oferecer um espetáculo público das
reclusas.
— Não tenho culpa se você não pensou nos guardiões — espetou o homem.
— Você não mencionou! — Louisa ergueu o queixo para frente de um modo tão beligerante
que a gola alta de sua capa lhe arranhou a garganta. — Então, me diga, o que propõe que façamos
agora?
Simon se colocou entre ela e o guardião.
— Mas qual é o problema?
Vestindo um terno e calça simples de algodão marrom, Simon estava decididamente vestido
de um modo muito informal para parecer um lorde, assim Brutus nem sequer o olhou à cara.
— Há muitas mulheres para os veículos de aluguel.
— Então alugaremos mais— apontou Simon. — Ou realizaremos duas viagens.
— Impossível. Não há tempo. O Cormorant zarpará daqui a duas horas, quando subir a maré.
Assim não há mais escolhas do que usar as carretas; não há outra alternativa.
Esse não era o tom nem a mensagem que Simon esperava. Erguendo as costas
ameaçadoramente, dirigiu-se para o guardião e pronunciou em um tom aterradoramente glacial:
— Quero falar com o governador da prisão.
— O governador não tem tempo para ver um punhado de Quackers — replicou Brutus com
insolência.
— Não sou um Quacker. Sou Foxmoor. E quero falar com o governador agora mesmo —
exigiu, com toda a arrogância que se podia permitir um aristocrata.
Brutus necessitou um segundo para reconhecer o sobrenome. Quando o fez, seu pérfido
sorriso se apagou em um instante de sua cara.
— Fox... Foxmoor? O duque?
— O próprio — Sem afastar o severo olhar do tipo, Simon fez um gesto para Regina. — Essa
mulher é minha irmã. A senhorita North é a cunhada dela e uma das minhas mais queridas amigas.
Possivelmente deseje mencionar ao governador, quando encontrá-lo.
— Sim, se... senhor duque — balbuciou o homem, e logo partiu rápido como uma flecha.
Assim que desapareceu, Simon olhou às damas.
— E agora, expliquem o que aconteceu.
Quando Brutus retornou, Louisa havia colocado Simon à par das táticas gerais às quais
recorria o tipo, assim como sua evidente apreensão com relação as reformistas. O senhor Brown
trotava ao lado de Brutus, sem fôlego, como um cachorrinho mulherengo que se dirigia ao amo
tão rápido como lhe permitiam as patinhas, disposto a não desgostá-lo.
— Sua Excelência, parece que houve um lamentável mal-entendido...
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— Sim, isso é o que parece — interrompeu o duque naquela imperiosa maneira que Louisa
sabia que jamais conseguiria superar. Simon desviou o olhar para Brutus e o degradou com um
olhar, como faria com uma miserável barata.
— Esse guardião nos disse que alugássemos oito veículos e agora alega que não são
suficientes.
Brutus lançou a Simon um olhar assassino, mas o senhor Brown inclinou a cabeça
furiosamente.
— Uma falha imperdoável. Garanto que chegarei até o fundo desta questão.
— Isso espero, posto que estas damas e eu agora teremos que usar nossas próprias
carruagens para acomodar todo mundo. A menos que lhe ocorra alguma outra sugestão. —
Quando o senhor Brown abriu a boca, Simon acrescentou. — E refiro a uma sugestão que não
implique recorrer às carretas.
O senhor Brown fechou a boca.
— Compreendo. E você, tem uma carruagem que possa pôr a nossa disposição?
— Sim, o governador tem uma calesa. Está estacionada na parte de trás — repôs um dos
guardiões antes que o aludido pudesse responder.
Louisa o reconheceu imediatamente; era um dos poucos guardiões amáveis, que sempre se
comportava com as reclusas com uma extraordinária gentileza.
— Perfeito. — Simon dirigiu ao governador um sorriso efêmero. — Estou seguro de que
ficará encantado de ceder sua carruagem a nossa comitiva, não é?
Louisa teve que conter-se para não começar a rir.
O senhor Brown ficou pálido como a cera.
— Ejem... sim... sua Excelência, é obvio.
— Porque, se não for assim, seria obrigado a comentar este lamentável mal-entendido a
meu bom amigo, o senhor prefeito, e estou seguro de que ele não acharia um pingo de graça.
— Ficarei... encantado de que usem minha calesa, Sua excelência.
Simon assentiu com a cabeça satisfeito e se dirigiu para as mulheres, que pareciam
surpreendidas da efetividade de seu método.
— Quantos veículos mais necessitamos, senhoras?
— Dois — especificou a senhora Harris, — se sentarmos as crianças nos joelhos.
— Há um par de tipos que alugam carruagens na próxima rua — comentou o guardião gentil.
— Se quiser, senhor duque, posso ir falar com eles e ver quantos posso alugar.
Simon lhe entregou várias coroas.
— Pague com isto e fique com o troco.
Louisa sabia que era mais do que o guardião ganhava em um mês. Com o rosto iluminado, o
homem agradeceu profusamente a Simon antes de sair correndo. Com um porte altivo, Simon se
virou para Brutus.
— Bom, parece que resolvemos o problema. — Seu tom era claramente sarcástico. — Assim
talvez seja melhor começarmos a trabalhar, uma vez que os navios esperam nossa chegada com
tanta impaciência.
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Louisa só teve tempo de dar ao Simon um olhar de agradecimento antes que os guardiões
iniciassem o tedioso processo de carregar às mulheres acorrentadas e seus filhos nas carruagens.
OH, como ia resistir ao Simon, se este se comportava de um modo tão adorável, como por
exemplo, encarando Brutus para defender às reclusas? Ou informando ao Marcus de que tinha a
firme intenção de casar-se com ela?
Ainda não conseguia acreditar no que seu irmão lhe contou na noite anterior: que Simon
mostrou ao Marcus os papéis em que se estabeleciam as premissas do matrimônio. A presunção
do Simon deveria tê-la incomodado. Mas em vez disso, conseguiu que seu sangue fervesse, e tudo
porque estava demonstrando que o que fazia por ela não fazia parte de um maquiavélico plano.
Devia estar louca. Observou-o de soslaio, enquanto Simon acabava de fechar o trato com um dos
tipos que alugavam carruagens. Ele a pegou observando-o, e o arrebatador olhar que lhe deu,
conseguiu que o coração de Louisa acelerasse, especialmente quando ele encerrou a atuação com
um sorriso tão resplandecente que virtualmente a deslumbrou.
Enquanto seu coração pugnava por escapar pela boca, Louisa afastou o olhar. Esse era o
problema com Simon: deslumbrava todo mundo, da mesma forma que Lúcifer deve ter feito
quando desceu do céu como um anjo de luz. Inclusive seu irmão se mostrou encantado com a
disposição de Simon. Depois de seu bate-papo com ele, Marcus desistiu em sua tentativa de
protegê-la. Inclusive admitiu que se enganou ao pensar que
Simon pretendia cortejá-la com o único fim de arruinar sua honra.
Infelizmente, a senhora Harris não podia separar da mente as más notícias que recebera
nessa mesma manhã: alguém viu Foxmoor conversando em privado com lorde Sidmouth, justo
antes que Marcus fosse visitá-lo. A preceptora sentia um nó no estômago cada vez que pensava
nisso. Mas suas suspeitas eram infundadas. Por mais que a incomodasse, Foxmoor era membro do
partido de Sidmouth. Isso não significava que estivesse necessariamente de acordo com o ministro
do Interior; muitos membros do partido de Sidmouth divergiam de suas ideias.
Mas era o duque um deles? Ou sua magistral atuação com as Damas de Londres, inclusive o
interesse que mostrava por casar-se com Louisa, constituía simplesmente um engano elaborado
por ele para acabar com a reputação de Louisa?
Não, não podia ser. Certamente Foxmoor sabia que Marcus jamais permitiria. Embora a
negativa de Marcus não conseguira freá-lo sete anos atrás... Maldito fosse Simon! Após todos
esses anos, ainda conseguia exercer uma indiscutível influencia em sua vida, pensou Louisa. E,
pelo que parecia, desta vez não estava melhor preparada que da vez anterior para indagar os
motivos que podiam movê-lo a cortejá-la. Virgem Santa, alguns homens deveriam apresentar-se
com um manual de instruções.
E entretanto, a defendeu ante Brutus.
— Senhorita North? — disse um guardião, tirando-a de seus pensamentos obsessivos. — A
colocamos em uma carruagem com as reclusas às quais esteve dando aulas, parece-lhe bem?
— Perfeito. Obrigada — Ela seguiu o guardião até um dos carros de aluguel. Antes de subir,
contemplou a esplanada do cárcere. Cada veículo estava cheio, exceto o faetón do Simon.
Felizmente, só ficava uma reclusa em terra, mas carregava um menino que não podia ter mais de
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três anos.
Enquanto Louisa se debatia se por acaso lhe cedia seu assento na carruagem à mulher,
Simon se aproximou da reclusa, sorrindo com afabilidade.
— Parece, senhora, que você e seu filho terão que ir em minha carruagem.
Louisa ficou olhando Simon com a boca aberta. Estava disposto a levar uma reclusa em sua
carruagem favorita? De verdade? Os olhos da mulher se abriram como um par de laranjas quando
notou o faetón, com seus painéis dourados e sua tapeçaria adamascada e puxado por dois
magníficos baios idênticos. A identidade de Simon ainda não se filtrou entre o grupo de reclusas,
mas a mulher não pôde evitar notar que a carruagem - e seu dono - era de uma qualidade
superior.
A reclusa sacudiu a cabeça efusivamente.
— Não, senhor. É... é um carro muito luxuoso para alguém de minha condição.
Simon se inclinou para ela.
— É verdade. Inclusive é muito ostentoso para mim, mas o suporto porque os cavalos
preferem esta carruagem. Os faz sentirem-se importantes, então o faço para que meus cavalos se
sintam felizes, se não, andam muito devagar.
Brutus apareceu em cena.
— Não pode pôr essa mulher aí, senhor duque. Tem que ir acompanhada de um guardião
para que a vigie, e não há espaço para tanta gente.
Simon fez uma careta e olhou Brutus com olhos iracundos. Mas se limitou a dizer, em um
tom seco:
— O guardião terá que conformar-se em ir sentado na boleia, com meu criado. Se de
verdade o preocupa tanto que esta mulher algemada e com um menino nas costas não fuja,
convoco-o a que seja você mesmo que suba à boleia para vigiá-la.
O rosto do Brutus ficou vermelho como um tomate diante de tal provocação. O duque
estava chamando-o de mentiroso à cara.
Mas antes que pudesse replicar, a reclusa disse:
— Por favor, senhor, preferiria não incomodá-lo. Meu filho esteve doente, e poderia...
poderia vomitar o café da manhã sobre sua preciosa carruagem. Montaremos em uma carreta.
Não se incomode — Engoliu e colocou uma mão sobre a cabecinha do menino. — As pessoas não
se atreverão a jogar ovos em uma mãe com um menino, creio eu.
— Claro que não o farão — Os olhos de Simon refulgiam com fúria. — Porque primeiro terão
que se ver comigo, — em seguida, levantou-a e a colocou no faetón, depois ajoelhou-se ante o
menino.
— Se sua barriga doer, me diga e nos deteremos para que possa vomitar, de acordo?
A criatura olhou o duque com os olhos extremamente abertos, sem tirar o polegar da boca,
e assentiu com a cabeça.
Simon pegou o menino com tanto cuidado que se formou um nó de emoção na garganta de
Louisa. E por que o menino precisava ser um adorável querubim, com aqueles cachinhos dourados
dançando graciosamente sobre sua cabecinha, enquanto se encarapitava à saia de sua mãe? Era
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muito fácil imaginar que podia se tratar do próprio filho do Simon, pronto para dar um passeio
com o pai. Ou imaginar-se como a mãe da criatura, embalando a doce cabecinha contra seu peito,
ajeitando a boina e murmurando palavras doces e sem sentido em suas pequenas orelhinhas.
Não podia afastar a vista do Simon, enquanto este subia ao faetón. Um guardião subiu até a
boleia traseira. Jamais pensou no Simon nesses termos, como pai. Miserável por suas ambições,
sim. Como um professor na arte da sedução, também. Mas capaz de dar carinho a um filho ou a
uma filha? Jamais. Até agora.
OH, mas no que estava pensando? Não desejava passar pelo amargo de dar a luz, dobrada
irremediavelmente e gritando de dor, assediada por médicos cruéis, com seus bisturis e
sanguessugas.
Louisa reafirmou em sua decisão. Por mais que Simon a tentasse, o casamento não era para
ela.
Acomodou-se no assento e soltou um suspiro de alívio. Nesse ambiente, rodeada de
reclusas, sentia-se muito mais cômoda. A esse grupo em particular, ensinara a ler durante a longa
espera para serem julgadas. Apesar do abismo que separava sua vida da delas, sentia-se cômoda
com essas mulheres porque não lhes importava nem sua forma de vestir nem sua forma de
pensar. Inclusive a incluíram em seus cochichos quando a carruagem começou a se mover.
Amy, uma mulher que foi encarcerada por roubar algumas peças da loja de roupas intimas
onde trabalhava, inclinou-se para frente.
— O homem que pôs Lizbeth e o menino em sua impressionante carruagem é um duque de
verdade, senhorita North?
Martha, a reclusa sentada ao lado da primeira, soltou um retumbante bufo.
— Não seja tola. Por que viria um duque ao cárcere?
Quando as outras começaram a zombar de Amy, Louisa se apressou a responder:
— Sim, efetivamente; é um duque.
— Viram? — Amy cantou. — Não parece que isto é o início de uma mudança? Aposto o que
quiserem que Lizbeth jamais imaginou que chegaria a sentar-se ao lado de um duque.
— Pois não sei por que te parece tão estranho — gabou Martha. — Certamente se sentou no
colo de mais de um duque, quando trabalhava na taverna. — Deu uma cotovelada em Amy.
— Ou inclusive diria que fez algo mais que simplesmente sentar-se no colo de um duque.
As outras mulheres começaram a rir, e Louisa franziu o cenho.
— Senhoras, o que dissemos sobre o fato de realizar comentários ordinários?
Todas ficaram sérias de repente.
— Perdão, senhorita - replicaram ao uníssono.
Mas Louisa não podia culpá-las por incorrer em velhos hábitos; sentiam-se extremamente
nervosas pelo futuro que as esperava na Austrália. No reduzido espaço do carro de aluguel, e com
as cortinas fechadas, pelas quais apenas se filtrava a tênue luz do amanhecer, o compartimento se
converteu em uma cansativa amostra da viagem que as aguardava no navio, no qual teriam que
amontoar-se sob o convés em celas diminutas.
Amy cravou o olhar no chão, com ar pensativo.
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— Seremos boas, de verdade. Mas ouvimos tantas coisas terríveis sobre o que acontece com
as mulheres que sobem a esses navios...
— Eu sei. — Louisa também ouvira essas histórias. Três anos antes, um navio de reclusas
fora, inclusive, capturado por piratas. — Mas se agirem com orgulho, os homens decentes as
tratarão com respeito.
— E os outros? — espetou Martha. — São os outros os que nos preocupam.
— Pelo menos deve tentar se manter firme a seus princípios. É a única esperança que têm
para poder iniciar um novo tipo de vida. Mas precisam ser fortes.
— De todas as formas, me alegro de que minha amiga tenha conseguido um par de esponjas
- disse Martha tranquilamente.
Louisa a olhou sem compreender.
— Esponjas?
— Não fale disso diante da senhorita North, idiota - Amy a repreendeu.
— Por que não? — replicou Martha. — Talvez também possa ser útil para ela. E todas
sabemos que nenhum desses homens refinados nem essas damas cheias de frescuras contarão. —
Martha contemplou Louisa com descaramento.
— Uma esponja é o que as mulheres usam para não ficar grávidas. A encharcamos em
vinagre e a introduzimos na...
— Martha! — espetou Amy. — Não seja mal educada.
— Não se preocupe — suspirou Louisa, enquanto notava como seu pulso ficava acelerado.
Como era possível que não soubesse nada sobre esse método contra a concepção? No cárcere
ouvira muitos detalhes interessantes sobre o ato de fornicar. Também ouviu os homens
mencionarem a eficácia das capas, mas do que servia uma capa a uma mulher, se esta desejava
manter em segredo seu propósito? Não podia deslizar uma capa sobre o membro viril de seu
marido sem que este se inteirasse. Mas em troca...
— E essas esponjas? são efetivas?
— Sim — respondeu Amy. — Bom, nunca é possível ter a certeza absoluta de que não vai
ficar prenhe. Mas você não precisará usar esponjas, senhorita. Com certeza o homem rico com
quem se case, terá dinheiro de sobra para manter todos seus filhos.
— Talvez a senhorita North não queira casar — comentou Martha maliciosamente. —
Possivelmente só queira um amante?
— Isso nem pensar. — O rubor se apoderou das faces de Louisa. — Só tenho curiosidade,
porque as reclusas mais jovens me perguntam sobre estas questões.
Parecia que as outras mulheres aceitaram a áspera mentira, mas Martha arqueou uma
sobrancelha e se recostou no assento enquanto cruzava os braços.
Louisa pigarreou.
— E... os homens... não notam a esponja?
Amy começou a rir ao ver sua professora tão sobressaltada.
— OH, senhorita, parece que será melhor que deixe que as damas casadas instruam às
jovens sobre esse tema.
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Capítulo 13
Querido primo:
Obrigada pelo conselho, mas jamais baixo a guarda quando há um solteiro perto. Esse tipo
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de homens possui uma deplorável tendência a surpreender qualquer um e a uma mulher mais
velha como eu já não convém surpresas.
Sua prima e amiga,
Charlotte
Simon mantinha o semblante sério enquanto conduzia o faetón através das ruas abarrotadas
de lixeiros, armados com cestas cheias de lixos, vendedores ambulantes, ajudantes de padeiros...
qualquer um com tempo livre suficiente e inclinação a desafogar suas frustrações com o governo
nas pobres reclusas. Tinha a sensação de que se os olhasse diretamente à cara, o estranho
sortilégio que os mantinha imóveis se quebraria e, indevidamente, a revolta eclodiria.
Pouco a pouco, o murmúrio ia aumentando de volume. Quanto tempo poderia essa
multidão enfurecida se conter? Simon não queria descobrir.
Apertou os dentes e sua mandíbula tencionou visivelmente. Não era o lugar mais
conveniente nem para Louisa, nem para Regina e nem para nenhuma outra dama. O mais
conveniente seria deixar nas mãos das mulheres quackers esses desagradáveis assuntos
penitenciários, porque elas sabiam como controlar à plebe. Só recordando Louisa enfrentando
aquele guardião astucioso momentos antes, o medo disparou em seu coração. Não permitiria que
voltasse a acontecer. Jamais. Se ela não aceitasse que ele guiasse seu caminho, então se
asseguraria de que Draker recebesse um relatório conciso sobre os acontecimentos daquele dia
para que ele se envolvesse. De um modo ou outro, Simon pretendia pôr um ponto final às
atividades reformistas de Louisa.
— É esse o navio? — atreveu-se a perguntar o menino sentado ao seu lado, assinalando para
diante, onde vários mastros se sobressaíam por cima da linha do rio.
— Sim, um deles é seu navio — explicou Simon.
— E verei meu papai lá? — perguntou com a esperança de seus tenros anos.
— Quieto, Jimmy— murmurou a mãe antes que Simon pudesse responder. A mulher olhou
Simon com olhos envergonhados e confessou: — Disse a ele que o pai era marinheiro.
Não era necessário ser muito perspicaz para dar-se conta de que isso era mentira, mas a
julgar pela expressão desiludida que emanava dos olhos da reclusa, provavelmente o pai da
criatura os teria abandonado inclusive antes que Jimmy nascesse.
Essas situações eram muito frequentes, mas a crua realidade provocou em Simon uma
enorme tristeza. Nesse momento, compreendeu como devia sentir-se Louisa, ao não poder
erradicar esse tipo de misérias tão comuns entre as pessoas mais negligenciadas. Mas até onde
pensava chegar? Uma coisa era dar aulas na prisão e outra coisa era expor-se à fúria da população
insatisfeita. Ou à mercê do guardião vilão que agora cavalgava diante do faetón.
Treacle o fazia recordar dolorosamente os abomináveis maratha2 que haviam arrasado e
2
O Maratha (Marathi, também Marhatta) são uma casta indiana, predominantemente no Estado de Maharashtra. O termo
Maratha tem três usos relacionados: na região de língua Marathi descreve a casta dominante Maratha; Maharashtra fora dela
pode se referir à população regional dos povos de língua Marathi; historicamente, descreve o império Maratha fundada por Shivaji,
no século XVII e continuada por seus sucessores, que incluiu muitas castas.
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queimado Poona, até que os ingleses chegaram para estabelecer a ordem. Ou para recolher os
fragmentos que restaram dessa sociedade desfeita, dependendo de como se olhasse.
O intenso aroma de fumaça e sangue ainda acompanhava Simon em seus piores pesadelos a
cada noite. Agora, a procissão sombria se aproximava de uma bifurcação abarrotada de gente,
perto do porto e Treacle fez um sinal com a mão para que todas as carruagens se detivessem até
que pudessem passar. Enquanto esperavam, a sensação de insegurança do Simon foi
aumentando, especialmente quando viu Treacle falando com um curioso que se deteve a
contemplar a comitiva.
O desventurado olhou Simon e, em seguida, o curioso se perdeu entre a multidão e
começou a contar algo em viva voz. Em questão de segundos, gritos apagados irromperam entre a
multidão, como as faíscas de calor que se acendiam com o passar do grande deserto indiano.
Simon conteve a respiração quando ouviu trechos do que as pessoas diziam: "O duque e sua
amante" e "bastardo de Foxmoor" e "privilégios da nobreza". Não necessitou muito tempo para
interpretar o resto da história que ia expandindo entre a multidão: que ele estava levando
pessoalmente a amante - presumivelmente, a mulher sentada a seu lado - ao porto. Que lhe foi
permitido burlar os métodos usuais pelo mero fato de ser um duque. Que iria ficar com seu filho
bastardo depois de obrigar a amante a embarcar em um dos navios.
Era um sinal claro da enorme bolha de tensão, prestes a explodir, na qual estava
concentrada toda aquela gente, capaz de acreditar na mentira de Treacle ao invés de considerar
seu absurdo. Se um duque desejasse evitar que a amante pagasse pelas maldades que fizera, teria
usado sua influência muito antes que a julgassem em um tribunal.
Mas as massas não estavam acostumadas a se mostrarem lógicas. Nem tampouco ajudava
que o filho da reclusa tivesse a mesma cor de cabelo que ele. As pessoas se separaram da
bifurcação e Simon pôs os cavalos em marcha antes que Treacle desse a ordem de continuar, mas
o estrago já estava feito. Os murmúrios entre a multidão foram aumentando até converter-se em
um surdo rugido, e a revolta estalou em um abrir e fechar de olhos. Em apenas alguns segundos,
começaram a voar projéteis.
Simon ouviu como o lixo impactava sobre as carruagens atrás deles, chocando-se contra os
painéis, assustando os cavalos. Enquanto os guardiões que iam montados nos veículos tentavam
pôr ordem, Simon atiçou os cavalos para que corressem e os homens que conduziam as
carruagens de aluguel atrás dele fizeram o mesmo. Percorreram o último quilômetro que os
separava do porto em meio a uma chuva de verduras podres e outros detritos.
Uma vez que muito poucos na multidão se atreviam a lançar algo contra Simon, a reclusa e o
filho que ia com ele, saíram do infeliz incidente virtualmente ilesas; não obstante, ele não teve
receio de cobri-los com seu casaco. Felizmente, quando chegaram ao porto, encontraram com
mais guardiões que estavam esperando-os. Entre os novos reforços e os que iam nas carruagens,
conseguiram conter à massa para que as reclusas pudessem descer sem serem alcançadas pelo
lixo. Mas as mulheres não puderam escapar dos insultos, e enquanto esvaziavam as primeiras
carruagens, uma reclusa no grupo de Louisa não pôde conter-se e os encarou, insultando também
às pessoas.
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rosto. Não podia morrer. Não podia. A vida sem ela seria... Não, negava-se a considerar essa
barbaridade. Pegou as mãos geladas entre as suas e começou a rezar. Jamais se mostrou propenso
a atos religiosos, mas rezou com todas suas forças.
Ainda estava rezando quando Louisa deu um gemido e suas pálpebras se abriram de
repente.
Visivelmente confusa, olhou ao redor.
— O que faço em casa? E o que você faz aqui, Simon?
Ele suspirou aliviado. Louisa sabia onde estava! Isso queria dizer que o impacto não foi tão
forte, graças a Deus. Engolindo a enorme emoção que lutava para escapar de sua garganta, Simon
apertou carinhosamente as mãos dela.
— Calma, minha doce menina. Será melhor que não tente falar.
— Por quê? — perguntou ela, franzindo o cenho. — A última coisa que lembro é que estava
descendo de uma carruagem...
— Quando alguém atirou uma pedra e te derrubou.
As sobrancelhas de Louisa arquearam-se com uma evidente confusão.
— Isso explica a dor de cabeça que sinto — Esfregou o alto da cabeça e ficou pensativa. —
Mas por que alguém iria querer me atacar com uma pedra?
— Não ia dirigida a você, mas sim a uma das reclusas.
— As reclusas? OH, não! Preciso retornar ao porto! — tentou levantar-se, mas soltou um
gemido.
Simon proferiu uma maldição e a empurrou para que voltasse a deitar na cama.
— Deve descansar. Pelo menos até termos certeza de que está tudo bem.
— Mas preciso ajudar a distribuir os pacotes — balbuciou ela abatida, e logo entreabriu os
olhos.
— Não vai a nenhum lugar. Regina e as outras damas têm a situação absolutamente
controlada. Além disso, não está em condições de ajudar. Tem um galo enorme e não saberemos
se é grave ou não até que um médico a veja.
— Um médico! — Seus olhos se abriram descomunalmente e o pânico que emanava deles
deixou Simon gelado. — Nem pensar! Estou bem, de verdade — Louisa se sentou e antes que ele
pudesse detê-la, passou as pernas até a beira da cama e levantou-se.
Simon também levantou-se. Agarrou-a pela cintura antes que ela voasse para a porta.
— Maldita seja. — Ele se sentou de repente na cadeira, sem soltá-la. — Quer deixar de se
comportar como uma louca? Se não se acalmar, dará de cara contra o chão, e em vez de um galo,
terá dois.
Graças a Deus que Louisa não resistiu, só se acomodou em seu regaço.
— De... de verdade; estou bem. Só necessito um minuto para superar esta desagradável
sensação de enjoo.
Ele a obrigou a apoiar a cabeça contra seu peito.
— É a mulher mais teimosa que existe sobre a face da Terra. Sabia?
— Não acredito — Abrindo os olhos, dirigiu-lhe um sorriso débil. — Com certeza que há
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permanecer em casa e ficar quietinha como uma boa garota, não é assim?
— Maldita seja, Louisa.
— Não conte, por favor.
Murmurando uma grosseria, Simon passou os dedos crispados pelos cabelo completamente
emaranhados.
— Descobrirá de qualquer maneira amanhã, quando ler na imprensa.
— Os jornais jamais publicaram sobre essas altercações antes — concluiu ela dando um
encolher de ombros. — Não sei por que pensa que farão agora.
— Antes? — Simon deu um passo para ela. — Quer dizer que não é a primeira vez que
tentam te linchar?
— Não! — Enquanto ela reagia rapidamente dando um salto para trás para afastar-se dele,
apressou-se a explicar. — Não é a primeira vez que presenciamos como o povo lança objetos às
reclusas. Antes não nos permitiam acompanhá-las nas carretas, mas esperávamos às reclusas no
porto para entregar os pacotes que tínhamos preparado para elas. E quando víamos o que as
pobres precisavam suportar... — Louisa fez uma careta. — É atroz. E os jornais jamais mencionam,
lhe garanto. Não fazem nenhuma alusão a esse comportamento. Por isso decidimos que não
deveria voltar a acontecer. — Com um olhar suplicante, ela acrescentou: — E se contar ao Marcus,
meu irmão se negará a deixar Regina e eu irmos outra vez a prisão e os outros maridos seguirão
seu exemplo, e a Sociedade das Damas de Londres perderá a metade de seu apoio... e tudo por
culpa de uma simples pedra.
"Genial", pensou ele.
— A próxima vez, alguém poderia jogar um tijolo.
— Da próxima vez me protegerei com um casco de metal.
Simon a olhou com o cenho franzido.
— Mesmo que eu não conte ao Draker, Regina irá contar.
— Bobagens. Ela mostra tanta paixão por estes trabalhos benéficos quanto eu. E sabe
perfeitamente como reagiria Marcus. Quando vir que estou bem, não dirá nenhuma só palavra.
Provavelmente não o faria. Regina era tanto ou mais recalcitrante que Louisa.
— Vamos, não irá querer se indispor com as duas, não é? — O repentino sorriso charmoso
de Louisa conseguiu que Simon ficasse um momento sem fôlego. — Ao menos, estou segura de
que não quer se indispor comigo.
Acaso pretendia seduzi-lo para que esquecesse o que aconteceu? Pois não conseguiria.
— Minha relação contigo não anda de vento em popa, lembra-se? depois de hoje, sua
intenção era que não voltássemos a nos ver mais. Assim não me importa se ficará zangada
comigo; a única coisa que pretendo é que não ocorra nada com você.
— Talvez tenha me precipitado um pouco ontem. — Voltou a elevar o queixo com
petulância. — O que diria se dissesse que aceitarei que fique de observador de meu comitê?
Simon ficou olhando um bom momento, logo respondeu suavemente:
— Não é suficiente.
— Então, o que diria se digo que aceito que me corteje? — Bateu os cílios sedutoramente.
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— Ainda demorará várias horas em voltar. Foi a Tattersall esta manhã e nunca retorna até
bem tarde.
Mas ele mesmo pediu ao mordomo que fosse avisar Draker.
Mas claro, Louisa não ouviu. Quando Simon falou com o mordomo, ela estava inconsciente.
Talvez fosse a oportunidade que estava esperando para conseguir casar-se com ela. Para acabar
com sua tortura.
Sim, casar-se com ela.
Agarrou-a pela cintura enquanto urdia um plano. Embora tivesse prometido a Draker que
não comprometeria Louisa, isso foi antes de vê-la a beira da morte.
— E Regina ainda ficará na prisão durante algumas horas — continuou ela, obviamente
desejosa de dizer algo que convencesse Simon a não contar seu segredo. — Além disso,
ouviríamos quando entrassem em casa, por isso teríamos tempo de sobra para deixar de nos
beijar e dissimular.
Ele duvidava. Assim como também albergava sérias dúvidas de que Draker pusesse ponto
final às atividades reformistas de sua irmã se contasse tudo. Mas enquanto Louisa acreditasse,
Simon poderia conseguir o que tanto desejava: uma oportunidade para comprometê-la.
Teria que convencê-la a chegar longe o suficientemente para que Draker exigisse que
emendasse a afronta casando-se com ela, e pensava fazê-lo. Por Deus, ora se o faria, embora em
seguida tivesse que suportar a tremenda reprimenda e a sova de socos que o bruto do irmão dela
certamente lhe daria.
— Então, estamos de acordo? — perguntou ela alegremente.
— Ainda não. Quero algo mais que meros beijos por meu silêncio — Simon desviou
deliberadamente a vista para a gola desabotoada da capa, que expunha uma tentadora porção de
pele nua. — Muito mais.
O rubor se estendeu pelas faces dela, até tingi-las de um tom escarlate intenso, mas não se
separou dele.
— A que se refere?
Simon elevou a mão e a colocou sobre o seio; em seguida, inclinou-se para sussurrar algo ao
ouvido:
— Carícias proibidas. Carícias muito íntimas. Quero percorrê-la toda. Quero sentir o gosto de
sua pele em minha boca, acariciar sua pele nua...
— Isso é inaceitável. — separou-se dele, embora seus olhos desprendiam agora um calor
embriagador que devia irradiar do fogo que abrasava as vísceras.
— Então, seu irmão e eu teremos um longo bate-papo sobre suas atividades assim que ele
chegue.
Simon detestava pressioná-la desse modo tão pérfido, mas provavelmente jamais voltaria a
apresentar uma oportunidade como essa. Que forma melhor poderia ocorrer, para que ela
desejasse casar-se com ele, que despertar seu desejo carnal?
Se fosse capaz de mostrar as atraentes vantagens de estar casada...
— Não pretendo desonrá-la — disse para reconfortá-la; — só quero que seja bom, que um
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Capítulo 14
Querida Charlotte:
Não acredito que se possa qualificar uma mulher de trinta e dois anos como velha. Nem
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tampouco posso imaginar que todas as surpresas sejam incômodas. Não é tão pouco aventureira
como quer aparentar.
Seu preocupado primo,
Michael
Loucura, pura loucura. Louisa se derretia sob os ousados beijos de Simon. O que a
impulsionou a lançar essa proposta? Claramente, o impacto da pedra em plena cabeça provocou
algum tipo de desequilíbrio mental.
Mas não podia deixar que Simon dissesse ao Marcus o que aconteceu. Se seu irmão
soubesse que sofrera um acidente... Não, era melhor não arriscar-se. Se tanto ela como Regina se
vissem obrigadas a afastar-se das ações sociais, o grupo reformista não sobreviveria.
"Bobagens. O que acontece é que sente curiosidade por saber o que Simon quis dizer com
aquilo de "carícias íntimas"", dizia sua consciência.
Como as que estava fazendo agora, com a mão, acariciando seu seio enquanto que a língua
assaltava sua boca sem piedade, com uma sede que refletia sua própria necessidade. Céu santo, as
partes mais inesperadas de seu corpo estavam esticando, esticando, pedindo a gritos as carícias
desses dedos, dessa boca...
Simon desabotoou a capa e a jogou de lado. Ato seguido, começou a tirar o vestido.
— Simon! — exclamou ela, enquanto seu sóbrio traje de lã caía a seus pés.
— Pele nua, recorda? — Ele se colocou às costas dela para desabotoar o espartilho.
— Mas se alguém entrar?
— Não tema, minha doce menina — com beijos úmidos e acalorados, excitou a pele sensível
da orelha, a face ardente, o pulsar furioso em seu pescoço. — A porta está fechada com chave.
Louisa quis afastar-se, em uma tentativa para recuperar a razão.
— E o que ocorre com os criados? Eles têm chaves.
— Sim, mas não se atreverão usá-las sem permissão. O lacaio saiu em busca de meu médico.
Quando bater na porta para nos informar da chegada do doutor, descerei até o saguão e lá é onde
sua família me encontrará quando retornar.
— E... e o doutor... não dirá nada... a ninguém?
— Pago muito bem a ele por sua discrição. — Tirou o espartilho e o deixou cair ao chão. —
Se for necessário, também pagarei aos criados da casa para que fiquem bem quietos.
Uma alegação por escrito parecia absolutamente sensato... muito sensato, tendo em conta
como ele a fazia se sentir. A mão do Simon se apropriou agora do seio e o acariciava com tanta
devoção, capaz de fazê-la perder o sentido. E a outra mão? OH, céus? o que ele ia fazer?
Simon a acariciou entre as pernas, como fizera no bosque, mas desta vez com carícias mais
íntimas, muito mais... eróticas. Como Louisa nunca usava anáguas, somente a etérea capa de linho
de sua roupa intima separava os dedos maliciosos de sua parte mais íntima.
— Hummm? Está tão úmida e tão quente — pronunciou ele com uma voz gutural. — Sabe
que efeito me produz isso?
Simon sabia o que significava essa umidade, esse calor? É obvio que sim. Apesar de sua
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declaração de não ter mantido nenhuma relação sexual durante sete anos, provavelmente
conheceu muitas mulheres ao longo de sua vida. Se não fosse assim, como poderia estar lhe
fazendo essas... coisas... tão... maravilhosas? Virgem Santa. Em que ponto preciso a estava
tocando agora, para conseguir excitá-la tanto...?
Louisa soltou um gemido. Impulsivamente, arqueou-se para as mãos de Simon, pedindo
mais. Ele a beijou ferozmente ao longo do pescoço, e ela virou a cabeça para procurar os lábios
dele.
Quando se viu refletida no espelho, com as tão capazes mãos do Simon sobre ela e aquela
boca devorando seu pescoço, a imagem a excitou ainda mais... até que se deu conta de como
reagiria qualquer pessoa que os visse.
— Simon, se os criados... abrirem a porta?
— A encontrarão deitada na cama, com um bonito roupão, à espera do médico — Tomando-
a de surpresa, elevou-a entre seus braços. — Porque é precisamente para onde penso te levar.
Louisa conteve a respiração e o rodeou pelo pescoço com os braços. Existia uma lógica
irrefutável em seu plano, embora havia algo no olhar selvagem com que ele devorava seu corpo
que não conseguia decifrar.
Não se podia dizer que estivesse nua; usava a roupa interior, embora jamais se mostrou tão
sem roupas diante de um homem. E Simon parecia ser capaz de ver perfeitamente através do fino
tecido enquanto a depositava sobre a cama, já que, enquanto se inclinava para ela, seus olhos se
escureceram até adquirir o tom azul da cor do céu que sempre conseguia lhe provocar um
delicioso calafrio na espinha dorsal.
Com um movimento certeiro dos dedos, desamarrou os laços da roupa intima, em seguida
puxou o tecido para seu ventre, para que seus seios ficassem expostos. Louisa sentiu um terrível
calor nas faces, mas seus mamilos descarados, flagrantemente rebeldes, mostraram-se duros
como uma pedra sob o penetrante olhar de Simon.
— Sabe quantas vezes a imaginei assim? — confessou ele enquanto se deitava a seu lado. —
Quantas noites quentes em Calcutá suportei, conjurando imagens de você nua, sob meu corpo?
Perguntando-me se seus seios eram tão redondos como pareciam? — Acariciou-os com lascívia. —
Perguntando-me se seus mamilos seriam rosados como as cerejas antes de amadurecer, ou se
teriam a cor das ameixas escuras? Se reagiriam ficando duros quando os tocasse? — inclinou-se
sobre os seios. — Ou quando os chupasse, assim?
Lambeu um mamilo com avidez e Louisa abafou um gemido. Estava seduzindo-a tanto com
palavras como com carícias. Só a visão daquela cabeça dourada sobre seus seios a fez estremecer
de prazer.
O acordo foi um engano. Muito mais que isso e ela havia implorado que ele aceitasse!
Embora só o fez para aplacar as sensações que sentia no peito e no ventre. Sem esquecer aquela
região entre as pernas, que ele agora parecia tão decidido a explorar, tirando lenta, muito
lentamente, a roupa interior. Inclusive se atreveu a acariciá-la precisamente ali, com um dedo,
atormentando o ponto que parecia implorar por...
Por todos os Santos. Não podia permitir que Simon continuasse; se não, acabaria por perder
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a noção da decência. Não pensava permitir que ele a desonrasse, por mais que estivesse
demonstrando a si mesma que estava louca o suficientemente para sucumbir ao desejo, para
afirmar que o desejava.
Mas Louisa aceitou que ele a acariciasse, a provasse e se agora quebrasse sua palavra, ele
jogaria pela amurada todo o trabalho pelo qual ela tanto lutou.
"Enquanto a mulher deitar e deixar que o homem faça o que quiser, ele jamais notará a
diferença."
Sim! Isso era o que devia fazer... deitar e deixar que ele fizesse o que quisesse. Não permitir
que seus sentimentos desavergonhados a tentassem a intervir, a também fazer coisas obscenas ou
eróticas, como acariciar o cabelo ou devorá-lo com a boca tal e como ele estava fazendo nesse
preciso instante.
Deitada na cama, Louisa se obrigou a relaxar.
"Só deixe que ele faça o que quiser, e em seguida tudo terá acabado e sua virtude ficará
intacta", disse a si mesma.
Simon se moveu para lamber o outro mamilo e ela teve que lutar para não deslizar as mãos
pelo mar dourado que se estendia sobre seus seios. Em vez disso, agarrou a colcha da cama e a
apertou com todas suas forças.
"Pensa em alguma outra coisa que não seja a maldita boca. Pensa em Newgate." Louisa fixou
o olhar no baldaquim da cama sobre sua cabeça, coberto por uma musselina branca.
"Branco. Sim, pense no projeto de pintar imagens de madeira com tinta branca; em tudo o
que poderão fazer com o dinheiro."
Simon falou mais sobre esse projeto com a senhora Harris? Teria que perguntar mais tarde.
Talvez...
— O que está fazendo? — espetou Simon.
Ela sentiu um calafrio e afastou os olhos do baldaquim para contemplar o rosto com
expressão irritada que tinha diante de si.
Um rubor irremissível se estendeu por suas faces.
— Não sei... não sei a que se refere.
— É claro que sabe. Faz escassamente alguns segundos estava excitadíssima, e agora... —
Cravou um olhar significativo para as mãos, que continuavam agarrando a colcha com uma
tremenda tensão. — Agora está resistindo.
— Talvez não seja tão apaixonada como você pensava. — Ela se esforçou por sorrir
candidamente. — Ou talvez não ache que estes atos sejam tão sugestivos como parecem para
você.
A raiva cegou os olhos do Simon.
— Ou talvez esteja tentando escapar graciosamente de nosso acordo do único modo que te
ocorre.
Maldito fosse esse homem e a impressionante habilidade que demonstrava para ler seus
pensamentos.
— Essa é uma forma bem arrogante de enfocar a questão. Está supondo que eu...
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— Não estou supondo nada. Conheço você e sei que preferiria morrer antes de deixar que
eu ganhe a partida. Então está tentando fugir do nosso trato.
Com uma insolência deliberada, ele se inclinou para fazer um círculo com a língua ao redor
do mamilo e Louisa sentiu um delicioso calafrio nas costas.
Desesperadamente, tentou lutar contra seus sentimentos.
— Disse que queria me tocar e me provar; não especificou nada a respeito de como eu
deveria reagir. Ou se deveria fazer as mesmas coisas que você.
— Ah, mas é que sou arrogante o suficiente para querer tudo. Então... vá em frente,
continue resistindo. Deite-se, pense na Inglaterra e mantenha as mãos afastadas de meu corpo —
mordiscou o mamilo e este, instantaneamente, ficou duro ante o contato com a língua. Em
seguida o soltou para lhe dirigir um sorriso sombrio e licencioso. — Mas com isso só conseguirá
consolidar minha determinação a conseguir vê-la debaixo de mim, ofegando, me tocando, me
provando com sua boca e me suplicando que te dê prazer.
Oooh! Que presunção! Como se atrevia?
— Guarde seus discursos jactanciosos para o Parlamento, senhor duque. Não pense que
ganhará esta batalha com palavras.
Louisa se arrependeu da ameaça assim que a soltou. Agora, ele não descansaria até
conseguir conquistá-la.
— Pois então, é uma sorte que não pretenda recorrer a meus discursos — contra-atacou ele
com uma voz rouca e gutural.
E a batalha continuou.
Louisa mal teve tempo de respirar quando ele agarrou sua roupa interior e a puxou para
cima, deixando seu corpo completamente exposto, dos seios até as meias que iam justo abaixo
dos joelhos.
Simon contemplou com lascívia seu corpo nu, devorando-o com olhos selvagens. Ato
seguido, como Wellington na batalha de Waterloo, arrasou todo esse novo território com uma
resolução implacável, conquistando os seios nus e os mamilos com uma chuva de beijos,
repassando-os com acaloradas lambidas, enquanto afundava a mão sem piedade entre as pernas
dela.
Desta vez, Simon não se contentou em apenas acariciá-la, OH, não. Deslizou seu incansável
dedo pela úmida passagem com movimentos tão chocantes como libidinosos. Louisa ainda estava
tentando recompor-se ante a audácia da invasão quando ele começou a investir com um ritmo
cadencioso, para dentro e para fora, para cima e para baixo, primeiro com um dedo e depois com
dois dedos exploradores.
Que Deus tivesse piedade dela e a salvasse dessa mão tão inteligente, que parecia saber com
tão espantosa precisão como excitá-la. Louisa engoliu o grito que se formou na garganta e agarrou
a colcha até quase rasgá-la, em seu esforço para não ceder. Entreabriu os olhos, mas com isso só
conseguiu ser mais consciente da boca de Simon, que agora descrevia um caminho de beijos
úmidos por seu ventre. A língua se afundou em seu umbigo e acariciou esse ponto fugazmente
antes de continuar seu trajeto para baixo... para...
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— Onde? Como? — Com uma vontade inesperada de agradá-lo, ela começou a beijar seus
ombros. Os beijos delicados o deixaram louco.
Simon se livrou da camisa, presa na parte inferior pelas calças, em seguida desabotoou a
calça e cueca, agarrou a mão de Louisa e a convidou a afundá-la dentro da roupa interior. Seu
pênis estava duro e pronto para as carícias dela. Ela se sobressaltou ante o primeiro contato.
Depois de alguns segundos, voltou a depositar a mão sobre o membro viril e ele suspirou
sonoramente.
— Assim, muito bem — Simon lhe fechou a mão ao redor do pênis. Graças a Deus que ela
não opôs resistência, porque se tivesse feito, ele teria caído fulminado de desejo ali mesmo. —
Agora mova - ensinou como acariciá-lo. Sacuda lentamente. — Quando Louisa obedeceu, ele
deixou escapar um gemido. — Hummm? Sim, muito bem. Por Deus, não tem nem ideia... de como
é bom...
— Posso imaginar — zombou ela com um sorriso divertido. Em seguida o apertou com mais
força, até lhe arrancar um grito de prazer.
— Sabia que na verdade era... Cleopatra... e não Joanna d'Arc — Simon se impulsionou para
o pequeno punho fechado. — Adora seduzir os homens até que se rendam a seus pés, não é?
— Seduzir? — Ela estampou um beijo na garganta dele. — Me suplicou por isso, não se
lembra?
Nesse momento, Simon mal recordava seu próprio nome, embora sim, lembrava de ter
suplicado, de ter implorado que o tocasse. E que ela também havia suplicado.
— Admita. Você se rendeu primeiro.
— Ora! Isso é sua imaginação — replicou ela com um sorriso malicioso nos lábios, enquanto
aumentava o ritmo das sacudidas.
Por Deus, essa mulher foi feita para a paixão.
— Não é verdade. Admita. Consegui fazê-la suplicar — Simon se inclinou para roçá-la nos
lábios. — E voltarei a fazer, eu prometo.
Então, enquanto ele caía inexoravelmente em um poço de paixões, beijou-a na boca,
manuseou os seios acetinados, até que ela de novo começou a ofegar e a convulsionar contra ele.
Em algum lugar recôndito de sua mente, Simon ouviu golpes, mas apenas registrou o ruído
quando outro som o seguiu, o de uma chave abrindo uma porta.
Nem sequer teve tempo de soltar Louisa antes que a voz de Draker penetrasse em sua
mente febril.
— Maldito seja, Foxmoor! Solte agora mesmo a minha irmã!
Simon lançou um bufo. Não queria que acontecesse desse modo, que Draker visse a irmã
nessa situação tão embaraçosa. Combatendo a necessidade urgente que sentia por explodir em
um orgasmo, ficou de pé rapidamente e se apressou a cobrir o corpo nu de Louisa com a colcha.
Dando as costas a Draker, abotoou as calças. Então cravou os olhos na cara de susto a sua
frente e murmurou:
— Sinto muito, meu amor; me perdoe.
Antes de se virar, Simon ouviu outras vozes atrás dele, entre elas a de sua irmã, que dizia:
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— Marcus, como está Louisa? — Em seguida, uma pausa dolorosa. — Virgem Santa!
Isso foi tudo o que Simon necessitou para que seu membro perdesse a ereção. Proferindo
maldições entre dentes, os encarou, chocando-se contra as expressões horrorizadas não só de
Regina, mas também de, pelo menos, três membros mais da Sociedade das Damas de Londres,
que agora se amontoavam na porta do quarto. Então desviou os olhos para Draker e engoliu em
seco.
Equivocou-se completamente, quanto à reação de seu cunhado. Afinal, não sofreria uma
surra nas mãos do Draker. Draker simplesmente o mataria.
Capítulo 15
Querido primo:
O surpreenderá saber que o duque e minha amiga Louisa se casarão muito em breve? Eu
mesma estava presente quando o casal anunciou o compromisso. Mas não acredite em tudo o que
ouvir a respeito deles. Foxmoor não estava nu no quarto de Louisa. Embora provavelmente
estivesse um pouco antes, posto que ela sim estava virtualmente nua.
Sua amiga, tão fofoqueira e descarada como sempre,
Charlotte
— Não sairá vivo desta, Foxmoor! — bramou Marcus com uma voz devastadora que
conseguiu que Louisa tremesse da cabeça aos pés.
— Não! — gritou ela ao mesmo tempo que Regina. Se enrolou com a colcha e saltou da
cama. - Não haverá duelo, Marcus. Simon não tem culpa do que aconteceu; só eu.
Marcus a fulminou com o olhar.
— Pelo amor de Deus! Aproveitou-se de você porque estava ferida.
Ela conteve a respiração.
— Como sabe sobre...? E por que não está em Tattersall? Nunca retorna tão cedo.
— Um lacaio foi me buscar — replicou Marcus.
— Quem o enviou? Eu não...
— Fui eu - confessou Simon tensamente. — Enquanto estava inconsciente.
Louisa estava ainda tentando digerir a informação quando Marcus soltou um rugido.
— Inconsciente? — Marcus avançou para Simon com passos amedrontadores. — Maldito
verme asqueroso! Arrancarei sua cabeça!
— Não irá! — Louisa se colocou entre seu irmão e Simon. — Não me tocou enquanto estava
inconsciente. E logo que recuperei o sentido, ordenou que fossem buscar um médico.
Depois de ter ordenado a um lacaio que fosse avisar Marcus. Louisa começou a assimilar o
maquiavélico plano. Que Deus tivesse piedade dela; Simon urdira esse horrível...
— Você sabia que Marcus viria. — Louisa mal podia respirar por causa das intensas pontadas
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Simon não trabalhava para Sidmouth. Realmente queria casar-se com ela, tanto para
arriscar-se a comprometê-la diante de seu próprio irmão. Debatendo-se entre um sentimento de
alívio e de raiva, Louisa não resistiu quando Simon deslizou o braço ao redor de sua cintura e a
atraiu para ele.
— Acredito que é o melhor momento para anunciar nossa intenção de casar, não parece,
meu amor? — Fulminou-a com um olhar implacável, como se a desafiasse a dizer o contrário.
Regina soltou um suspiro e o mesmo fizeram as outras damas, mas Marcus continuava
olhando Simon com desgosto.
— Pois eu optei por estrangulá-lo — ameaçou enquanto iniciava a marcha para ele, com um
claro aspecto belicoso.
— Não o fará! — Regina agarrou o marido pelo braço. — Com isso só conseguiria arruinar a
reputação da Louisa. Agora ela precisa casar-se com meu irmão, e você sabe.
Louisa olhou Simon e em seguida a Regina, com o coração em um punho. Regina tinha razão.
Mas... Santo céu! Que decisão! Se não se casasse com Simon, perderia tudo, absolutamente tudo
pelo que tanto lutou.
E se casasse com ele?
— Louisa? — apressou Simon. Quando ela continuou imóvel a seu lado, ele lançou ao resto
dos congregados um olhar inflexível.
— Desejaria poder falar alguns instantes a sós com minha noiva, assim se não se importam
em nos deixar sozinhos?
— Sozinhos? — bramou Marcus. — Já teve a oportunidade de fica sozinho por muito tempo.
— Pelo amor de Deus, Marcus! — admoestou-o Regina severamente.
Com a mandíbula tensa, Marcus olhou Louisa.
— O que você acha, querida? Quer que a deixe com este canalha?
Ela esboçou um sorriso forçado.
— Sim, por favor. — Precisava estar a sós para retorcer o pescoço desse desconsiderado.
— De acordo, mas só dez minutos— espetou Marcus. — Dentro de dez minutos, se os dois
não estiverem na sala de estar, completamente vestidos, subirei para arrancar o coração de
Foxmoor com minhas próprias mãos. — Crivou Simon com o olhar. — Entendido?
— Entendido — murmurou Simon, embora seus dedos crispassem sobre a cintura de Louisa.
Os outros já estavam a ponto de abandonar a cena quando Marcus se deteve de repente.
— Poderá... descer até ao andar inferior? — perguntou a irmã. — O lacaio não comentou
nada sobre suas feridas, nem tampouco me contou como aconteceu...
— Tropecei — repôs ela antes que Simon pudesse abrir a boca. — Ao sair da carruagem, no
porto. Tropecei e caí de cabeça. Fiquei inconsciente, mas agora me sinto muito melhor, de
verdade.
Louisa olhou Regina, implorando com os olhos que não a delatasse. Regina assentiu
secamente com a cabeça. Felizmente, as outras damas já estavam no corredor e não ouviram a
desculpa de Louisa. Agora teria que confiar que Regina conseguisse silenciá-las.
Especialmente quando Marcus a esquadrinhava com um visível ceticismo. Seu irmão desviou
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dolorosamente tenra, conseguiu que Louisa claudicasse por alguns instantes. De verdade se
atreveria a acreditar no que ouvia?
— Você me ama, Simon?
Ele ergueu as costas e em seguida contra-atacou com:
— E você, me ama?
Ela piscou.
— Certamente que não. — Era verdade. Precisava ser verdade. Porque se ela se atrevesse a
amá-lo, ele usaria esse conhecimento para afundá-la sem piedade.
— Então, não vejo onde está o problema - respondeu Simon friamente.
— Então, se trata de um casamento de conveniência, não é verdade? —Louisa parecia
francamente incomoda.
— Claro que não. — Simon lançou um prolongado bufo. — Quero um casamento real,
Louisa. Com certeza existe afeto suficiente entre nós para conseguir que funcione. Eu gosto de
você. E se você pudesse engolir seu maldito orgulho, também admitiria que gosta de mim.
— Te desejo — murmurou ela. — O que não é o mesmo.
— Para mim é mais que suficiente. — Acariciou-lhe a face com o nariz. — Se não te seduzir a
ideia de um casamento satisfatório, com um homem que a deseja e que pensa tratá-la como uma
rainha, então talvez queira considerar outro ponto decisivo: nós dois podemos fazer muitas coisas
boas no mundo.
— Quererá dizer que você poderá fazer muitas coisas boas. — Lutou para escapar de suas
garras, em seguida o olhou aos olhos. — E eu não terei mais escolha que me converter na esposa
perfeita de um político, uma mulher que jamais criará nenhum tipo de problemas, nem nunca
participará de nenhuma causa que possa suscitar controvérsia; desse modo, você conseguirá
chegar a ser primeiro-ministro.
Simon a olhou com olhos escuros e penetrantes.
— Jamais menti quanto as minhas ambições. Mas estas não têm por que mantê-la afastada
das obras caridosas. Quando não estiver ocupada com nossos filhos, é obvio.
— Fi... filhos? — Maldito fosse. Louisa esqueceu dessa questão. Claro, Simon iria querer ter
filhos com ela, seus filhos. E Louisa se veria rodeada de médicos e de sangue...
— Sim, filhos— atravessou ele. — Necessito de um herdeiro; tenho certeza de que sabe.
Ao dar-se conta do perto que esteve de revelar seus medos, ela adicionou rapidamente:
— Sim, claro. — Ato seguido, franziu o cenho. — E você esperará que eu abandone meus
objetivos pessoais para cuidar deles, suponho?
— Nem todos. — Ele a olhava decididamente com cautela. — Regina tem filhos e colabora
com obras de caridade. Não caiba a menor duvida de que as pessoas esperarão que a mulher do
primeiro-ministro se dedique precisamente a esse tipo de atividade.
— Sempre e quando escolher causas que não gerem controvérsia, correto? Seria a
Sociedade das Damas de Londres uma dessas organizações caridosas que me permitiria apoiar, tal
e como faz sua irmã? — Quando ele balbuciou uma rabugice e desviou os olhos, ela assentiu.
— Não, obviamente não.
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Por um segundo, Louisa considerou se a ideia de matrimônio poderia formar parte dos
planos de seu inimigo. Era Simon capaz de tê-la comprometido precisamente para poder casar-se
com ela e controlar seus movimentos?
Não, isso carecia de sentido; certamente, Sidmouth não teria pedido a Simon que fizesse
algo tão extremo. E se tivesse feito, certamente Simon não teria aceito. Não quando ele poderia
casar-se com uma mulher menos problemática, que pudesse ser mais útil para suas ambições
políticas. Infelizmente, esse pensamento não conseguiu que se sentisse melhor. De um modo ou
outro, havia caído na armadilha do Simon.
Ou talvez não? Louisa colocou ambas as mãos nos quadris.
— Perfeito, então será melhor que estipule meus termos para casar contigo. Poderei
continuar colaborando com a Sociedade das Damas de Londres e em todas as atividades de
caridade e políticas que se derivem dessa participação?
Simon a fulminou com o olhar.
— Maldita seja! Não está em posição de negociar.
— E é bom me ter nessa posição, não é verdade? Entre a espada e a parede. Só que desta
vez, decidi que não aceito essas dimensões. Porque se, faça o que fizer, igualmente me vejo
obrigada a abandonar a Sociedade das Damas de Londres, então prefiro viver em desonra antes de
me casar. — Quando o olhar de Simon escureceu até o ponto de lançar pequenos brilhos de raiva,
ela hesitou, mas não via outra forma de contornar a situação. — Se não me permite continuar com
meu grupo, então agradeço muito a oferta, mas não posso me casar contigo.
— Como que não pode? — A fúria riscou linhas profundas em sua testa. — Se conto ao
Draker o que aconteceu hoje, negará a você o direito a participar das atividades do grupo.
— E eu saberei que é um mentiroso e um trapaceiro. Porque jurou por sua honra que se
permitisse a você tomar certas liberdades com meu corpo, não diria nada.
Simon lançou uma maldição em voz alta, logo passou os dedos pelo cabelo, com o
semblante abatido. Louisa começou a sentir um comichão de alegria no ventre. Agora era ela que
dominava a situação, que o tinha capturado.
Simon podia ser um manipulador, mas uma vez dada sua palavra, não se atrevia a retirá-la.
— Seu irmão irá obrigá-la a casar comigo. E se ele não conseguir, minha irmã conseguirá.
— Ninguém mais pode me obrigar a fazer algo contra minha vontade. Nem você, nem sua
irmã e nem meu irmão. Estou certa de que já havia se dado conta disso.
— Então, supõe-se que devo deixá-la fazer o que tenha vontade; por exemplo, pulular por
Newgate arriscando sua vida e arriscando a vida de nosso filho, quando estiver grávida?
— Jamais faria isso — asseverou ela. — Não permitimos que mulheres grávidas da
associação vão à prisão e pode estar seguro de que não evitarei essa norma.
Sua declaração pareceu sortir certo efeito em Simon.
— Se afastaria de suas atividades se ficasse grávida?
— É obvio. — Felizmente, ela não pensava ter filhos por um longo tempo. Agora que sabia
como evitar engravidar, asseguraria de dar a Simon um herdeiro quando lhe conviesse, e não ao
contrário.
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Capítulo 16
Querida Charlotte:
Não dei crédito ao rumor de que Foxmoor estava totalmente nu, já que não parece ser desse
tipo de homem tão depravado. A senhorita North é outra questão. Após tantos anos dedicando-se
de corpo e alma às obras de caridade, que mulher resistiria à promessa de paixão por parte de um
homem tão elegante como o duque?
Seu primo,
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Série Escola de Senhoritas 02
Michael
Quatro dias mais tarde, Simon contemplava a nova esposa, enquanto esta conversava com
os convidados durante o jantar nupcial. Quase não podia acreditar: Louisa era dele, finalmente.
Viajou até o inferno e retornou para conquistá-la e conseguiu, sim, conseguiu.
Provavelmente, tudo seria mais fácil a partir de agora. Como se ela sentisse seu olhar, Louisa
desviou os olhos para ele e sorriu, e aquele sorriso ressonou dentro de Simon como uma corda de
harpa acabada de ser tocada. Louisa estava muito linda, com o traje de seda prata, os diamantes
Foxmoor adornando a garganta e as flores de laranjeira espalhadas pelo cabelo escuro. Morria de
vontade de deitar com ela na cama, embelezada só com os diamantes e seu sorriso de Cleopatra.
Seus sentimentos deviam estar refletidos em seu olhar, já que o sorriso de Louisa se tornou
mais divertido enquanto ela arqueava uma sobrancelha. Quando ele elevou a taça cheia de
champanhe em um brinde silencioso, ela se virou para a senhora Harris com uma gargalhada
musical. Simon sentiu como excitava cada centímetro de sua pele.
No final, tudo valeu a pena: as condições draconianas que Draker lhe impôs para aceitar o
casamento e a pressa para obter uma licença especial para casar. Inclusive os termos que Louisa
estipulou no dia que a comprometeu diante de todos.
Sorriu para si mesmo, recordando aquele dia. Qualquer outra mulher teria se sentido
imensamente feliz de casar-se com um duque rico, depois de ter sido desonrada publicamente.
Qualquer mulher menos Louisa.
Ela impôs suas normas com toda a indignação de uma mulher ultrajada.
Simon aceitou os termos porque estava seguro de que ela não poderia saborear seu triunfo
durante muito tempo. Ao concordar que quando engravidasse abandonaria as atividades com as
Damas de Londres, Louisa selou seu destino. Ele semearia sua semente dentro de sua esposa em
um tempo recorde. E, além disso, pensava se divertir muito fazendo isso.
Sua irmã se aproximou tranquilamente pelas costas.
— Parece muito contente.
— Igual a você. — Simon saboreou um bom gole de champanhe. — Todos sabem que há
muitos anos você desejava me ver casado com ela.
— A tratará bem, não é?
— Seu marido já se assegurou disso. Louisa dispõe agora de suficiente dinheiro para fundar
seu próprio império. E esse dote...
— Sabe que não me refiro ao dinheiro.
Simon desviou o olhar para Louisa, que nesse momento estava enchendo o prato de carne e
verduras marinadas.
— Não tema, Regina. Cortaria um braço antes de fazer mal a ela voluntariamente.
Simon se surpreendeu pelas palavras que acabava de pronunciar. Era verdade, mas a última
coisa que precisava era que sua irmã ou sua nova esposa soubessem. Ambas já se aproveitaram
muito de sua obsessão.
Esboçou um sorriso forçado.
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— Devo felicitá-la pela espetacular destreza. Meus jardins jamais tiveram um aspecto tão
formidável.
Sua irmã planejou uma cerimônia religiosa muito simples e um modesto jantar de
impressionantes proporções gustativas. Os poucos convidados estavam degustando um suculento
festim, a partir de sopa de tartaruga e ensopado de lagosta, sob um toldo listrado colocado as
pressas. Um dueto de harpa e violino amenizava a noite com melodias muito apropriadas para a
solenidade do evento.
Chamou a atenção de Simon um complemento extravagante, que sobressaía entre o resto
dos preparativos.
— Tenho curiosidade por essas imagens indianas que há sobre a mesa. Foi ideia sua?
— Não, de Louisa; pensou que você provavelmente gostaria.
— Ah — Se perguntou se sua esposa sabia que essas esculturas esculpidas em madeira eram
das devadasis, as dançarinas dos templos indianos com caráter decididamente sensual.
Teria que explicar mais tarde, embora só fosse para ver como ruborizava. Adorava fazer que
ela ruborizasse.
— Louisa foi até Petticoat Lane para encontrá-las — acrescentou Regina.
Simon franziu o cenho.
— Suponho que não tenha ido sozinha; aquela parte da cidade é perigosa.
— Foi com um lacaio. — Regina o olhou com severidade. — Mas espero que se dê conta de
que Louisa está acostumada a andar por Londres com absoluta liberdade.
— Embora me cause pesar, eu sei - apontou ele com visível tensão.
— Deve compreender que para ela foi muito ruim estes sete anos. Já teve bastante
suportando os rumores mal intencionados sobre a mãe e sobre Marcus, quando foi apresentada
em sociedade, mas então, você e ela... bom, as intrigas não a deixavam em paz quando você foi
para Índia. A princípio pensei que a amizade com a princesa Charlotte a ajudaria a sair da
depressão, mas quando esta morreu enquanto dava a luz ao filho, Louisa acabou de afundar.
— Louisa estava presente no parto?
— Não, claro que não. Não permitiram que as damas solteiras assistissem à princesa —
Regina suspirou. — Mas de todos os modos, o drama afetou Louisa profundamente.
Acredito que foi por isso que se dedicou inteiramente as Damas de Londres, para encontrar
um sentido a vida.
Os dedos do Simon se crisparam ao redor do copo.
— Bom, mas agora já não terá mais que fazê-lo. Tem a mim . A nossa vida em comum. E em
breve, espero, nossos filhos.
— Sim, mas não a pressione nesse aspecto. É uma mudança enorme para ela, assim, por
favor, a compreenda. Tudo isto aconteceu tão rapidamente...
— Sim, claro. — Era o mínimo que devia, depois de como a manipulou para que se casasse
com ele. Embora não se arrependesse nem um pouco.
— Teria preferido que tivessem esperado um pouco mais antes de se casarem.
— Sabe que não podíamos arriscar a nos expor aos falatórios. E Louisa não queria perder
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tempo para planejar um casamento mais elaborado. — Para falar a verdade, ele tampouco
desejava dar tempo a ela para refletir e mudar de ideia.
Quanto antes se casasse com ela, melhor.
— Mas por que não uma lua de mel? Viria muito bem aos dois.
— A teremos, depois que acabem as sessões do Parlamento. — Ele sorriu levemente. —
Bom, isso se puder afastar Louisa da Sociedade das Damas de Londres. Jamais deveria ter
proposto esse projeto para o Natal. Terei sorte se consigo ficar com minha esposa um par de dias,
assim não tenho ilusões de poder passar duas semanas a sós com ela.
— Deveria levá-la a Brighton. Louisa adora o mar.
— Seriamente? — Não sabia. Realmente, havia muitas coisas que desconhecia de sua
esposa.
— Adorava ir com o rei e com a princesa Charlotte. — Regina franziu o cenho. — E falando
de sua majestade, estou realmente desgostada com ele. Não posso acreditar que não tenha vindo
ao casamento nem ao jantar. Louisa está muito magoada por essa falta de tato, e não a culpo.
Simon a compreendia perfeitamente. Mas tinha uma leve suspeita do por que o rei não se
apresentou; uma suspeita que não o agradava nem um pouco.
Regina suspirou.
— Creio que será por suas desavenças com ele, embora, francamente, não o compreendo.
Se Louisa, Draker e eu demos nosso consentimento ao casamento, não sei por que ele tem
que continuar teimando em demonstrar seu desacordo de que se case com Louisa.
— Sua majestade é um menino mimado, já sabe — se desculpou ele, incapaz de mentir a
irmã. Louisa não foi a única pessoa a quem ele enganou sete anos antes. Sua irmã o perdoou, mas
isso ainda era quase pior, posto que enfatizava quão idiota foi ao agir furtivamente as costas de
Regina.
— Bobagens... — Ela interrogou Simon com o olhar. — Não terá nada que ver com sua
ausência esta noite, não?
— Claro que não.
Se tudo tivesse saído bem, o rei estaria agora esperando-o em seu escritório para lhe
entregar a carta de demissão do Liverpool. Simon tentou ver George desde o dia que Louisa
aceitou casar-se com ele, mas os lacaios do rei sempre davam desculpas para lhe negar o direito
de ver o rei.
Era a única mancha negra em todo esse assunto. Simon fez uma careta. Não o surpreenderia
que o rei estivesse tentando desentender-se do acordo. E se o fizesse?
Então, Simon teria que tentar alcançar suas ambições por outra via.
Apesar de sua ameaça sobre recorrer à imprensa, jamais se atreveria a humilhar Louisa
desse modo. Mas certamente havia outras medidas para conseguir que o rei mantivesse a
promessa, e Simon estava disposto empregá-las se fosse necessário. Mais tarde.
— Diga-me uma coisa, irmã. Quanto tempo mais terei que suportar ficar aqui, com todos,
antes de poder expulsar meus convidados sem parecer mal educado?
Ela soltou uma gargalhada.
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Sorrindo, dirigiu-se ao escritório e viu a porta entre aberta. Deu uma olhada ao interior da
estadia, mas seu mascote não estava, como não! Apertando os dentes, chamou um lacaio.
— Encontre Raji e tranque-o em meu escritório, de acordo?
Enquanto o lacaio desaparecia apressadamente de vista para cumprir as ordens, Simon
afastou o mascote de seus pensamentos e se dirigiu para a asa leste da casa. Alguns segundos
mais tarde, entrava no quarto de sua esposa depois que Louisa respondeu à chamada na porta
com um tom gutural:
— Entra.
A visão que se abriu ante seus olhos o deixou sem fôlego. Louisa se achava de pé, com os
cabelos soltos, negro e aveludado, caindo livre sobre os ombros, ao lado da enorme cama, com
uma camisola de linho muito fina. Como se tratasse de um sutil reflexo sobre a pele de porcelana,
o tecido revelava tanto como ocultava, ressaltando as pérolas opalescente dos mamilos, e
brilhando em cima da mancha escura do atraente púbis.
Seu membro ficou duro imediatamente, e deu um chute na porta para fechá-la atrás dele.
Um sorriso tremeu nos lábios carnudos de Louisa.
— Você gosta?
— Mais que isso, amor. — desprendeu-se do fraque e avançou para ela. — Penso rasgar essa
maravilhosa camisola com os dentes.
O sorriso nos lábios de Louisa aumentou.
— Comprei três camisolas iguais.
— Perfeito. — Enquanto seguia avançando para ela, desabotoou o colete e puxou a gravata
para desfazer o nó, em seguida lançou ambos os objetos ao chão. — Então também rasgarei as
outras.
— Custaram muito dinheiro — brincou ela. — Lhe enviarei a conta.
Simon a capturou pela cintura e a atraiu para ele.
— Então com mais razão posso fazer com elas o que quiser.
Ela soltou uma gargalhada, e ele segurou um dos laços com os dentes com a intenção de
puxar e desatá-la. Mas antes que pudesse continuar, uma massa peluda aterrissou em suas costas.
Simon lançou um grito quando Raji puxou seu cabelo como um demônio possuído.
— Maldito seja! Não, outra vez não! — bramou enquanto tentava apanhar o mascote.
Raji protestou, mas Simon o manteve agarrado à distância do braço.
— Sinto muito, malandro, mas não pode ganhar esta batalha. Ela se casou comigo, não
contigo; assim, simplesmente aceita. — As risadas de Louisa interromperam a conversa e Simon a
olhou com o cenho franzido. — Não é divertido.
— Sim, é. — Agora ela estava morrendo de rir. — O pobrezinho está tentando defender
minha virtude.
Como se estivesse de acordo, Raji tagarelou e tentou escapar da garra de seu amo.
— Pois pode defender sua virtude tanto como quiser... em qualquer outra parte da casa. —
deu a volta e se dirigiu para a porta.
— Aonde vai? — gritou ela as suas costas.
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Capítulo 17
Querido primo:
Não nego que a paixão seja um aspecto positivo em um casamento, mas é melhor que um
homem dê amor a uma mulher. Eu gozei de uma intensa paixão, mas este tipo de desenfreio não
dura para sempre. Pelo bem de Louisa, espero que o ardor do duque derive de algo mais profundo
que em satisfazer as necessidades de seu corpo.
Sua prima,
Charlotte
Louisa ainda estava rindo em seu novo quarto quando avistou o canário de madeira do Raji
debaixo da penteadeira. Pelo visto, ali era onde se escondeu para espiá-los.
Pobre Raji. Teria que procurar uma companheira para ele, uma macaquinha divertida,
porque o afeto inegável que Simon professava pelo malandrinho não parecia ser suficiente para
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satisfazê-lo.
Com um suspiro, recolheu o brinquedo e se perguntou o que fazer com ele. Não queria que
Raji ficasse sem seu único companheiro de jogos; já era suficientemente cruel que o trancassem
no escritório durante toda a noite. Levantou de um salto da cama e se dirigiu rapidamente para a
porta do quarto. Simon devia ter descido as escadas correndo, já que não havia nem rastro dele.
Mas esteve várias vezes na casa Foxmoor com Regina enquanto Simon estava na Índia, assim sabia
exatamente onde ficava o escritório.
Louisa desceu as escadas cantarolando animadamente. Que boba que era. Apesar de sua
negativa inicial a casar com Simon, não pôde deixar de sorrir como uma tola durante os últimos
quatro dias. A reação de seu marido ao vê-la com a camisola tão provocadora a ajudou a armar-se
de coragem. Talvez não fosse um engano tão grave. Simon aceitou suas condições, assim já não
precisava preocupar-se com as Damas de Londres. E comprou várias esponjas - nesse preciso
momento, usava uma. - A balconista em Spitalfields lhe disse que nem sempre eram efetivas, mas
que era melhor que não usar nada.
E para ser franca consigo mesma, Louisa desejava deitar-se com Simon. Como não iria
querer, quando ele não podia fazer nada para esconder o ardor que a desejava? O modo em que a
contemplou escassos minutos antes... por todos os Santos, isso era suficiente para fazer que
inclusive uma puritana se comportasse como uma viciosa, e ela não era uma puritana, não com
ele.
Acelerou o passo, com uma vontade terrível de retornar ao quarto com seu marido. Mas
quando se aproximou do escritório do Simon, ouviu vozes. Simon e um criado? Certamente Simon
não podia ter visita nessa noite tão especial.
Então reconheceu a outra voz. O rei. Seu pai.
— Prometo. Falarei com ele quando for o momento oportuno — dizia o rei. — Prometo que
não faltarei com a minha parte do acordo.
"Acordo? Que acordo?"
— E por isso estava bisbilhotando em meu escritório em minha noite de núpcias? — espetou
Simon. — Não, claro que não. Sabia que estaria ocupado em outros trabalhos, assim entrou em
meu escritório para roubar o contrato. Desse modo, eu não poderia usá-lo contra você, quando
amanhã mesmo em pessoa viesse aqui para anunciar que renegava o acordo.
O pulso começou a ressonar nos ouvidos de Louisa. De que acordo o rei renegaria? E de que
contrato falavam?
— Não reneguei — protestou o rei. — Só que o casamento aconteceu tão rapidamente que
não tive tempo de me preparar...
— Sim, isso já me disse — remarcou Simon. — Olhe, não quero falar disto agora. Minha
esposa está me esperando. Mas só para que cesse com seu comportamento tão ridículo, talvez
seja melhor que saiba que não sou tão estúpido para guardar esse maldito contrato aqui, em meu
escritório. Dei ao meu advogado para guardar, assim de nada servirá seguir bisbilhotando.
— Não o usará, não é? — O rei parecia realmente assustado.
— Deveria fazê-lo.
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— Mas precisa me dar um pouco mais de tempo para obter a demissão de Liverpool —
suplicou o rei, alarmado. — Se for com a história aos jornais...
— Não o farei — atalhou Simon com um tom depreciativo. — Ainda não estou preparado
para cometer um suicídio político. E a última coisa que quero é que minha esposa se inteire de que
o pai dela me ofereceu certos incentivos se me casasse com ela.
Nesse momento, Louisa sentiu que o mundo afundava sob seus pés.
"Certos incentivos." OH, claro.
Sujeitando o estômago com raiva, Louisa rezou por ser capaz de voltar para o quarto sem
vomitar. Como podia ter considerado todos os possíveis cenários para explicar o interesse que
Simon professava por ela, exceto o mais óbvio: seu pai e suas maquinações? Tinha sido tão néscia
para acreditar nos rumores do distanciamento entre Simon e seu pai, mas agora lhe parecia tão
óbvio que se tratava de outro de seus planos maquiavélicos.
A ira se apropriou de sua garganta e com a intenção de acalmar-se, deteve-se alguns
instantes e apoiou a mão sobre um console. OH, não! O que faria agora? Caíra na armadilha;
casou-se com ele.
Estava unida a ele... para sempre.
Que estúpida que fora! Como pôde acreditar que Simon havia mudado, que realmente a
queria? Este e não o outro era o Simon real. Assim era como agia. Cambaleou alguns passos mais
antes que Raji saísse disparado como uma flecha do escritório e estendesse os braços para
agarrar-se a sua perna. Certamente tinha cheirado o aroma de sua proprietária. Louisa tentou
freneticamente desfazer-se dele. Não queria que Simon soubesse que estava ali, mas Raji se
negava a soltá-la.
— Para! Volta para o escritório! — sussurrou aturdida.
— Raji! — Simon saiu ao corredor atrás do mascote, então se deteve em seco. — OH, não!
Lentamente, Louisa o olhou à cara, sem ser consciente das lágrimas que rodavam por suas
faces. Sentindo-se como uma atriz em uma farsa horrível, mostrou o canário de brinquedo do Raji.
— Pensei que ele iria querer... — Não pôde continuar. O brinquedo escorregou de seus
dedos e rodou pelo chão.
Enquanto Raji se lançava atrás dele, Simon se aproximou dela.
— Não é o que pensa. — Parecia terrivelmente abatido, inclusive seus olhos eram um lago
de remorso. Mas isso unicamente conseguiu piorar as coisas. — Seu pai e eu...
— Cale-se! — sussurrou ela. — Não invente nenhuma tolice. Sabe que não acreditarei em
nada que saia de sua boca.
— O que aconteceu, Foxmoor? — O rei colocou a cabeça pela porta, então ficou lívido
quando viu sua filha. — Bo... boa noite, preciosa.
Louisa continuava com o olhar cravado nos olhos de Simon.
— Sentimos sua falta no casamento, sua majestade. — A dor alagava sua voz. — Não quis
ratificar a recompensa obtida pelo preço que pagou? — Ondeou o dedo com o anel de casamento,
a aliança de ouro puro que agora parecia pesar como uma algema. — Pois ai está, conseguiu.
Casei-me com seu amigo; agora já não lhe causarei mais problemas. Está contente?
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As rechonchudas faces do rei adotaram um repentino tom vermelho quando se deu conta de
que sua filha ouviu toda a conversa.
— Louisa, só fiz o que acreditava que era melhor para você...
— O melhor para mim? — As lágrimas quentes abrasavam as faces. — Me comprou um
marido; precisamente o homem que sabia que sempre... me... desprezou.
As lágrimas adquiriram plena força agora e ela as separou da face com um tapa, tentando
freneticamente manter um mínimo de dignidade.
— Jamais a desprezei — replicou Simon em um sussurro dilacerador.
— Vê, pequena? Isso não é verdade. — Seu pai se aproximou dela. — Sabia que Foxmoor
desejava casar-se contigo. Só necessitava de um pequeno incentivo para...
— Faz o favor de ficar quieto — Simon ameaçou George. — Já fez mal o suficiente por esta
noite.
— Mas quero explicar, droga - contra-atacou sua majestade.
— Esta noite não — rugiu Simon.
— Não — interveio Louisa encolerizada, com a palavra "incentivo" ainda ressonando em sua
mente. — Quero escutar a explicação de sua majestade. Quero ouvir que coisa tão terrível fiz para
que ele desejasse negociar meu casamento com o único homem que me traiu em toda minha vida.
Os olhos de seu pai se estreitaram.
— Olhe, pequena descarada, disse que não se unisse a essas Quackers. Supliquei que
repensasse bem sobre o que estava fazendo. Mas é teimosa como uma mula; inclusive nesse
aspecto, supera seu irmão com acréscimo. E então os membros do Parlamento começaram a vir
me ver, queixando sobre suas ideias políticas...
— E pensou que Simon, de todos os solteiros disponíveis, saberia como fazer que eu
mordesse o anzol? — A dor da traição ameaçava destruir qualquer vislumbre de orgulho que
restasse.
— Maldita seja, moça! — O rei elevou a voz. — Estava falando em introduzir políticos no
Parlamento, nem mais nem menos que políticos radicais!
Ela piscou; por um momento seu pai a pegou despreparada.
— Sabia sobre Godwin?
— Godwin? — interveio Simon. — Charles Godwin? O proprietário do London Monitor? É ele
seu candidato?
Louisa cravou nele olhos terríveis.
— E o que acontece se for?
— Vê? — O rei lançou um olhar triunfal para Simon. — Te disse que tinha perdido um
parafuso. Descarada e insensata, isso é o que é; permitindo deixar-se manipular por um rebanho
de radicais...
— Já chega! — bramou Simon enquanto Louisa permanecia muda de horror ante as palavras
de seu pai. — Maldito seja! Vá embora!
O rei erigiu as costas com indignação majestática.
— Não consinto que me trate assim, Foxmoor, embora tenha se casado com minha filha.
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Capítulo 18
Querida Charlotte:
Certamente Foxmoor não teria casado com ela se não sentisse algo mais profundo que pura
atração carnal, não quando tinha inumeráveis mulheres mais apropriadas ao alcance de sua mão.
Entretanto, deve admitir que a paixão é importante em um casal. Talvez não dê sentido a tudo,
mas certamente exerce um grande peso.
Seu primo,
Michael
Duas noites depois de sua horrorosa noite de núpcias, Simon entrou em grandes pernadas
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na sala de jantar e imediatamente lançou uma maldição ao ar quando viu a cadeira vazia no outro
extremo da mesa.
Louisa continuava zangada, hein?
— Onde está minha esposa? - perguntou ao lacaio.
— Pediu que subissem uma bandeja com o jantar a seu quarto. Já a levei.
Assim nem sequer poderia utilizar a bandeja como uma desculpa para vê-la.
Por todos os Santos; outra vez estava pensando como um verdadeiro idiota. A isso sua
esposa o reduziu, maldito fosse. E maldito fosse o rei também, e toda essa aborrecível família.
Devia estar louco para se atar de novo com essa gente. Louisa era volátil, o pai estava pirado e o
irmão era um verdadeiro incomodo. Deveria ter lavado as mãos e não se meter com eles.
Mas já não podia voltar atrás. Agora estava casado com ela. A única coisa que restava era
rezar para que Deus tivesse piedade dele.
Deu um suspiro de desgosto e se sentou na cadeira que sempre ocupava. Sua última
estratégia não estava dando os resultados esperados. Depois de ter se acalmado, pensou que, se
concedesse tempo a Louisa para que ela também se acalmasse, talvez pudessem manter uma
conversa razoável, como duas pessoas civilizadas.
Maldita mulher teimosa. Louisa não conhecia o significado da palavra "razoável".
Embora claro, seu ultimato tampouco ajudou a conseguir. Mas estaria perdido se rescindisse
a ordem dela. Ela não ia dobrá-lo tão facilmente com o dedo mindinho. Ele era o dono e senhor da
casa e ela devia aprender a aceitar essa realidade, embora para isso fosse preciso uma vida inteira.
Um suspiro escapou de seus lábios. Genial. Como se ele pudesse passar todo o tempo
suspenso nesse limbo. Não conseguia comer, não conseguia conciliar o sono. Durante o dia, só
prestava atenção a metade do que era exposto no Parlamento, e de noite, durante sua busca
incansável na correspondência de seu avô, precisava ler quase todas as cartas duas vezes para
entender o conteúdo. E que diabo fazia ela durante o dia? Não saía para passear - encarregou a
um dos lacaios que a acompanhasse, se ela mostrasse intenção de sair. - Sempre que ele estava
em casa, a ouvia andar pelo quarto e via as bandejas vazias ao pé da porta. Parecia que, Louisa
descia para almoçar na sala de jantar quando ele estava nas sessões do Parlamento.
O lacaio depositou uma terrina com algo branco diante dele e Simon se esticou ante essa
prova mais que irrefutável da presença de Louisa.
— Pode-se saber o que é isto? - bramou.
— Ensopado de pescado defumado, senhor.
Preparada com leite, não havia dúvida. As sopas à base de leite e molhos deixavam-no mal
do estômago, sempre foi assim. O cozinheiro não sabia porque foi contratado depois que Simon
retornou da Índia, junto com o resto dos serventes. Assim todos eles aceitariam o que Louisa lhes
contasse a respeito do que gostava e o que desgostava o marido.
Mas como ela podia saber seus gostos? Tinha uma vaga ideia.
— Minha irmã veio aqui hoje, não é?
— Sim, senhor duque. Como sabe?
— Ah, por pura casualidade.
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Duvidava que Louisa tivesse contado a Regina da guerra que eclodiu entre eles, ou Draker
estaria esmurrando a porta para estrangulá-lo por ter ferido os sentimentos da irmã. Sua astuta
esposa provavelmente encheu Regina de um sem-fim de perguntas para obter informações sobre
as preferências dele, com a desculpa de que queria ser uma boa esposa.
Deveria ter percebido quando o brandy começou a ter um gosto menos potente e o fogo na
lareira que esquentava seu quarto deixou de estar sempre aceso. Mas a noite anterior, quando o
criado lhe disse que fora ideia de sua esposa jogar fora todos os charutos que ele guardava em seu
escritório, porque assim ela poderia comprar outros de melhor qualidade, Simon finalmente se
deu conta do que acontecia.
Louisa estava utilizando à tática de retirar "as comodidades domesticas" com ele. E a
estratégia estava demonstrando ser verdadeiramente efetiva. Jamais se sentiu tão incômodo em
sua própria casa em toda sua vida.
Maldita mulher rancorosa.
"As mulheres são como cavalos - A voz de seu avô ressonou em sua cabeça-.Dê rédea solta e
o pisotearão. Terá que domá-las se quiser desfrutar de um agradável trote."
— Sim, vejo como você seguiu seus próprios conselhos, não? — espetou Simon. — Por isso a
avó se encolhia cada vez que entrava na sala.
— Dizia algo, senhor duque? — perguntou o lacaio.
— Ehem? não, nada. Só estava ensaiando um de meus discursos.
Já só lhe faltava falar sozinho. Isso era o que Louisa estava conseguindo: deixá-lo louco.
Simon afastou a terrina com a sopa.
— Leve isto, por favor.
O lacaio obedeceu sem pigarrear, mas quando trouxe o seguinte prato - vitela coberta por
uma grossa capa de molho cremoso - Simon perdeu a paciência. Já não suportava mais tolices.
Não ia permitir Louisa seguir por este caminho. Teve tempo suficiente para superar a raiva que
sentiu ao descobrir que seu marido urdira um plano com seu pai.
Agora mesmo ia se acabar essa bobagem.
Simon se levantou da cadeira com uma fúria incontrolável, abandonou a sala de jantar e foi
em direção as escadas. Estava a meio caminho quando avistou à criada de Louisa sair do quarto de
sua senhora com a roupa suja. Perfeito. Então Louisa já havia colocado a camisola para ir deitar. A
surpreenderia sozinha e sem que tivesse fechado a porta com chave. Esse era outro dos hábitos de
sua esposa que queria erradicar, que fechasse a porta com a chave.
Invadiu a porta entreaberta, ainda sentindo-se detento de raiva e de uma terrível vontade
de subjugá-la, mas os sentimentos perniciosos se desvaneceram quando a viu.
Louisa estava sentada diante da lareira; não o vira, já que estava com a cabeça inclinada para
frente, penteando o cabelo com movimentos prolongados e tranquilos. Simon conteve o fôlego
ante a imagem, o longo cabelo negro como a noite fluía em uma maravilhosa cascata e a luz do
fogo brilhava através da leve camisola para perfilar cada curva suave e sedutora. Como se tivesse
entrado em um estado de transe, Simon deu alguns passos para ela, sem desejar nada mais que
estreitá-la entre seus braços e beijá-la até conseguir acabar com sua teimosia.
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Então um som o paralisou. Era um soluço. Ela chorava enquanto se penteava, os gemidos
convulsionavam sua graciosa figura. Escutar esse pranto lhe provocou a mesma sensação como se
tivessem atravessado seu peito com uma adaga bem afiada.
Simon continuou imóvel, sentindo raiva de si mesmo por permitir que essas lágrimas o
afetassem sobremaneira e ao mesmo tempo sentindo um enorme desejo de consolá-la, de
abraçá-la e garantir que tudo ficaria bem. Isso era exatamente o que ela queria, não? Conseguir
que ele se prostrasse a seus pés. Castigá-lo até que ele aceitasse deixá-la fazer o que lhe desse
vontade, como confabular com radicais e arruinar qualquer possibilidade dele chegar a ser
primeiro-ministro.
Pois não permitiria isso!
Ficou quieto outro momento, sem saber o que fazer. Mas ao final, seu orgulho venceu,
abandonou o quarto e se dirigiu a seu escritório, desesperado para apagar de sua cabeça os sons
daqueles soluços cheios de tristeza. Mas no escritório começou a recordar como parecia Louisa,
seus olhos demonstravam como sentia-se enganada, traída, quando soube que ele conspirou com
seu pai. A feriu de um modo horrível. E não só uma, mas duas vezes. Podia culpá-la por querer se
vingar dele?
Após uma hora imerso nesses pensamentos atormentadores, foi à cama, mas ali continuou
atormentado por eles. E dormir foi ainda pior, já que a viu em seus sonhos, com a fina camisola
que usava na noite de núpcias, com um sorriso de esperança tremendo nos lábios. Até que seu pai
entrou e o sorriso se transformou em uma careta de consternação. Quando despertou à alvorada,
excitadíssimo e fatigado ao mesmo tempo, ela ainda dormia. E como nas outras duas manhãs
anteriores, apesar de tentar matar o tempo vestindo-se muito lentamente, ao final acabou por ir a
Westminster Palace sem sequer ouvir o mínimo movimento no quarto contiguo.
"Alguns dias mais, - disse-se. - Dê tempo."
Mas quantos dias mais poderia ele suportar? Uma hora após outra, uma longa e monótona
tortura... Inclusive o fato de limpar a mente em Westminster não o ajudava em nada. Sem
nenhum assunto importante na agenda no momento, os lordes mostravam escasso interesse nos
assuntos que se debatiam e os discursos eram aborrecidos a não poder mais. No meio da manhã,
Simon estava pensando em retornar para casa quando uma voz sussurrou:
— Que diabo está fazendo aqui?
Simon se virou e viu lorde Trusbut, que o olhava com cara de estupefação.
— E por que não deveria estar aqui?
— Disse que iria com as damas a Newgate. Confiava nisso, quando dei permissão a minha
esposa para sair com sua mulher.
Simon ficou contemplando o homem, com a boca aberta. Certamente Trusbut estava
enganado. Louisa não teria se atrevido a desafiá-lo de um modo tão direto. Não depois dele tê-la
ameaçado.
— Diz... foram esta manhã?
— Sim, tal e como planejaram — sussurrou Trusbut. — Sua esposa disse um dia antes de
suas bodas que a visita de hoje a Newgate não seria afetada por sua nova situação, então, faz uma
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a multidão. Ao aproximarem-se de suas esposas, Simon ouviu um passarinho cantar por cima das
conversas que se estendiam animadamente entre os grupos de reclusas. Então avistou um dos
canários de lady Trusbut em cima de uma cadeira, e a seu lado, Raji, dançando e fazendo suas
típicas palhaçadas.
Simon ficou imóvel. Deveria estar zangado porque Louisa se atreveu a levar seu mascote
aquele lugar sem seu consentimento, mas como ficaria, quando aquelas crianças contemplavam o
espetáculo com tanta atenção, com suas carinhas animadas com expectativas?
Lady Trusbut foi a primeira em vê-los. Quando viu seu marido, esboçou um sorriso tão
amplo que conseguiu apagar pelo menos dez anos de sua cara envelhecida. Simon não teve que
olhar lorde Trusbut para saber que o ancião retornava o sorriso a mulher, do modo que um
marido considerado e atento deveria fazer. Ele mesmo se sobressaltou ante tal pensamento.
Louisa ainda não o vira, mas ela estava sorrindo, também, enquanto observava como os
meninos desfrutavam ante as palhaçadas do Raji e o harmonioso canto do canário de lady
Trusbut. Se formou um nó na garganta de Simon, ao ver o brilho de puro prazer que irradiava no
rosto de sua esposa. E de repente, o fato de que ela o tivesse desafiado não lhe pareceu tão
execrável. A única coisa que importava era descobrir o que poderia fazer para manter esse olhar
iludido em seu rosto.
Então, quando Louisa desviou os olhos para eles e o sorriso se apagou de seus lábios, ele se
amaldiçoou por ter se atrevido a conspirar com o pai dela. Se simplesmente a tivesse cortejado
como um verdadeiro cavalheiro antes de casar-se, estariam agora nessa situação tão incômoda,
sem se falar? Era muito tarde para tentar consertar o erro?
Esperava que não. Porque nesse momento, seria capaz de caminhar sobre vidros quebrados
para vê-la sorrir de novo.
Capítulo 19
Querido primo:
Depois de presenciar como Foxmoor olhava Louisa hoje na prisão, tenho a esperança de que
seu matrimônio se encha de amor um dia, se evitarem entrar em debates políticos. Louisa
comentou que seu marido não aprova a escolha de Charles Godwin como candidato a nossa causa.
Sua prima dogmática,
Charlotte
Louisa afastou a vista de seu marido rapidamente, assustada. Virgem Santa, Simon estava
ali! Como descobriu?
Por lorde Trusbut, é obvio. Deveria ter imaginado que a pegaria com as mãos na massa. No
que devia estar pensando? Seu marido jamais perdoaria tal afronta. A trancaria em algum lugar da
Itália e isso poria fim a todas as esperanças que depositara no trabalho das Damas de Londres.
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Mas que outra coisa poderia fazer, quando lady Trusbut apareceu em sua casa com o canário,
mostrando a extraordinária disposição de ir a Newgate? dizer que Simon a proibiu de sair? Não
podia destruir o crescente interesse que aquela mulher professava pelas Damas de Londres,
inclusive antes de conceder a oportunidade de crescer.
Louisa suspirou. O que ele faria agora? Colocá-la em evidência ali mesmo? Repreendê-la
diante de suas amigas? ordenar ao Raji que dançasse sobre sua cabeça?
— Raji — disse Simon, e a seguir acrescentou uma ordem em hindu. O macaco fez uma
graciosa reverência as crianças, e em seguida começou a desfilar como um soldado, com a mão na
frente a modo de saudação.
Enquanto as crianças riam, Louisa voltou a olhar Simon. Ele estava observando-a, mas não
parecia zangado. Parecia mais um menino em frente a vitrine de uma loja de brinquedos,
contemplando algo que sabia que jamais conseguiria obter.
Esse olhar a incomodou sobremaneira. A hipnotizou e conseguiu dissipar todo o ódio que
sentiu por ele durante os últimos dias, cada vez que o ouvia perambular por seu quarto ou o via
debruçado sobre uma pilha de papéis no escritório, com a gravata torcida e o semblante
preocupado.
Mas tampouco podia esquecer o que lhe fez, claro; entretanto...
Deveria admitir que a recente traição do Simon era diferente da que havia perpetrado sete
anos antes. Ao menos em uma coisa: desta vez se casou com ela. Tendo em conta que conseguiu
comprometê-la diante de várias pessoas e destroçou sua reputação, não havia nenhuma
necessidade de casar-se com ela só para afastá-la da política.
Em troca, declarou que se casou com ela porque a queria. Devia ser verdade, ou Simon não
teria perdido a paciência quando ela se negou a deitar com ele. Poderia ter optado por buscar
uma amante. Louisa engoliu em seco. E como sabia que não fez isso, precisamente?
OH, nunca deveria ter pronunciado aquelas palavras tão duras. Apesar do grave engano que
seu marido cometeu, o simples pensamento de imaginá-lo na cama com outra mulher começou a
atormentá-la. E isso era o mínimo que ele poderia ter feito. Se quisesse. Outro marido a teria
trancado em um quarto e a teria açoitado; sim, essas coisas aconteciam, inclusive nas casas das
pessoas mais refinadas. E também poderia ter exigido seus direitos maritais à força.
A ridícula ameaça de matá-lo não podia amedrontar um verdadeiro tirano.
Mas Simon não era um verdadeiro tirano. Em algum recôndito lugar dessa alma calculadora
e perversa, ocultava-se um homem razoável; sabia, estava segura disso. Um homem por quem ela
poderia apaixonar-se. O problema, entretanto, era como chegar até esse homem. Simplesmente
cedendo, dando o braço a torcer? perdoando seu comportamento imperdoável?
Precisava fazer algo. Simon era seu marido, gostando ou não. De verdade desejava manter
esse tipo de casamento distante, igual ao de seus pais?
Voltou a observá-lo de soslaio, e seu pulso disparou quando viu como ele a estava olhando.
Quando seus olhos se encontraram, Simon disse com uma voz rouca: "Para, Raji". O macaco
obedeceu; ele adicionou algo em hindu e Raji se dirigiu para ela.
Louisa olhou para baixo e encontrou a adorável criatura elevando os bracinhos. Sem estar
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muito certa do que devia fazer, inclinou-se e o pegou entre seus braços, então ficou sem fôlego
quando o macaco a beijou. Enquanto as crianças aplaudiam entusiasmadas, ela voltou a olhar
Simon. Os olhos de seu marido refulgiam com um desejo tão manifesto que ela temeu que seu
coração fosse explodir.
Um guardião com um emplastro em um olho se aproximou e Simon esboçou um franco
sorriso.
— Capitão Quinn!
Simon lhe ofereceu a mão e o capitão Quinn a estreitou efusivamente.
— Ouvi que estava aqui, senhor, por isso vim lhe agradecer. O senhor Brown me disse que
foi você quem me recomendou para este posto, apesar de meu problema com a visão.
Simon sorriu.
— E por que não faria? Embora só veja com um olho, demonstrou ter mais visão que muita
gente com dois olhos.
— Creio que não será difícil superar o indivíduo a quem substituí — comentou o capitão
Quinn. — Pelo que parece, o briguento fazia a vista grossa enquanto os prisioneiros abusavam das
reclusas com regularidade. Recebia dinheiro dos sentenciados, claro. Suponho que por isso o
despediram.
— Esse não foi o único motivo pelo qual despediram o senhor Treacle, lhe garanto —
matizou Simon tensamente.
Louisa conteve a respiração. Haviam despedido Brutus, o Valentão? Simon devia ter insistido
para que o despedissem por causa do incidente no cais. Por que senão teria sugerido que o
substituíssem?
E o que ainda parecia mais evidente, era que o capitão Quinn era uma boa pessoa. Assim
enquanto esteve absorta nos preparativos do casamento, Simon se dedicou a melhorar a situação
na prisão. Uma cálida onda de alegria se apoderou de seu corpo. Provavelmente fez por ela. Por
que outra possível razão teria agido desse modo?
— De onde conhece o duque, capitão Quinn? — inquiriu lorde Trusbut.
— O senhor duque e eu estivemos na batalha de Kirkee juntos, senhor. Jamais vi um homem
lutar com tanta bravura ou resistir daquela maneira sem ter recebido formação de soldado.
O senhor duque pode brandir uma espada com uma extraordinária precisão. Mas não
vencemos a batalha graças a sua espada, mas sim graças a seu discurso ardoroso, que incentivou
todos os soldados.
Louisa jamais vira Simon tão incômodo.
— Bobagens— repôs ele tensamente. — Foram seus moços que deram um giro à batalha, ao
lutar tão bravamente.
— Os cipayos teriam fugido apavorados se você não os tivesse convencido para que
lutassem a seu lado. O único governador geral que fez o mesmo, refiro-me a lutar junto com seus
homens, foi Wellington, e ele recebeu formação de soldado. — O capitão Quinn revistou toda a
estadia com seu olhar, para incluir todos os presentes. — O duque combateu como um herói,
brigando e defendendo-se como um verdadeiro...
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Série Escola de Senhoritas 02
— Perdão, mas me parece que ainda não o apresentei a meus amigos — o interrompeu
Simon, com um tom decididamente seco. Enquanto apresentava os Trusbut, Louisa o observou
especulativamente.
Por que o Simon não gostava de falar da Índia? A imprensa elogiou sua valentia em Kirkee.
Era simplesmente muito modesto para reconhecê-lo?
Simon se virou para Louisa.
— E esta, capitão Quinn, é minha esposa.
— Senhora duquesa — murmurou o capitão enquanto se inclinava com uma reverência de
cortesia.
Ela teve que resistir a vontade de começar a rir. Foi a senhorita North durante tanto tempo
que ainda não se acostumou a que a tratassem como a duquesa de Foxmoor.
— É uma honra conhecer um amigo de meu marido, senhor — disse enquanto lhe oferecia a
mão.
O rosto do capitão se iluminou ante essa demonstração de amizade.
— A honra é minha, senhora. — Tomou a mão de Louisa e a estreitou efusivamente como
fez com Simon. — Sempre me disse que o senhor duque deveria ter uma mulher extraordinária
esperando-o na Inglaterra, pela forma exemplar como se comportou na Índia.
Enquanto Louisa notava como se estendia o rubor por suas faces, Simon disse com um tom
grave:
— Assim é, capitão. Como poderia um homem olhar qualquer outra mulher, com uma dama
como minha esposa enchendo meus pensamentos?
Um dia antes, ela teria rechaçado o elogio. Mas hoje...
Esse dia desejava desesperadamente que essas palavras fossem sinceras.
Quando o capitão Quinn voltou para suas obrigações, Louisa supôs que seu marido lançaria
qualquer desculpa para levá-la dali. Em vez disso, entretanto, Simon perguntou o que ele e lorde
Trusbut poderiam fazer para ajudar.
Sentindo que o coração lutava para escapar do peito, Louisa disse que podia entreter as
crianças, já que lady Trusbut tinha vontade de mostrar o local ao marido e explicar o que as damas
estavam tentando conseguir.
Louisa reuniu os maiores para iniciar uma sessão de leitura, enquanto Simon entretinha os
menores com Raji sobre seu ombro. De vez em quando, desviava os olhos para ele, escutando
com emoção como "dialogava" com os pequeninos que mal levantavam um palmo do chão.
Parecia tão estranho vê-lo ali, na prisão, belo com um casaco verde garrafa e calça marrom,
com a gravata atada de forma imaculada e as pontas engomadas da gola da camisa torcendo por
culpa da umidade. Seu marido, o duque, estava em Newgate, ajudando-a. Quase não podia
acreditar.
A comitiva abandonou a prisão duas horas mais tarde. Regina se ofereceu em levar os
Trusbut até Westminster, onde estava estacionada a carruagem deles. Assim Louisa e Simon
ficaram sozinhos na cabine de sua carruagem, posto que Raji decidiu instalar-se na boleia, ao lado
do chofer.
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suave. — Isso é o que queria dizer. Quero o bolo. Para nós dois.
Capítulo 20
Querida Charlotte:
Um homem pode mostrar-se afetivo com sua esposa, mas isso não significa que quando tiver
que enfrentar decisões importantes, deixe-se influenciar por ela. Eu não depositaria muitas
esperanças em um tenro olhar, querida.
Seu primo,
Michael
Por um segundo, Louisa não tinha certeza absoluta se Simon compreendera sua mensagem.
Então, os olhos de seu marido se tingiram de um olhar selvagem e faminto, e ela conteve a
respiração.
Antes que pudesse sequer pensar, ele se levantou e se instalou no assento ao seu lado;
imediatamente, agarrou-a pela cintura e a obrigou a sentar-se em seu regaço.
— O que está fazendo? — exclamou ela, olhando com inquietação pela janela.
— Comendo o bolo — murmurou ele. Depois, sua boca procurou a dela.
Louisa se esqueceu das ruas abarrotadas de gente do outro lado das janelas da carruagem e
também se esqueceu do aborrecimento por causa das maquinações entre seu marido e seu pai.
Nesse instante, só existia Simon, quem investia sua boca como um intrépido conquistador,
manuseava seu corpo com um ardor possessivo e a embriagava com o potente e quente fôlego
sobre seu rosto.
Simon se deteve alguns instantes para fechar as cortinas, mas quando voltou a inclinar a
boca para a esposa, ela colocou um dedo sobre os lábios dele. Quando ele franziu o cenho
desconcertado, Louisa se apressou a dizer:
— Quero me assegurar de que estamos de acordo no trato. Ambos comeremos o bolo e isso
significa que irá permitir que eu continue com meu trabalho com as Damas de Londres?
Os olhos do Simon cintilaram com um penetrante brilho azulado.
— Deitará comigo? E deixará de pedir aos criados que me sirvam coisas que detesto? E
devolverá meus charutos?
Louisa soltou uma gargalhada nervosa.
— Pensei que não tivesse se dado conta.
— Claro que sim. Do mesmo modo que me dei conta das bandejas na porta de seu quarto,
de sua ausência na hora do jantar e do espaço vazio e frio em minha cama...
— Suas palavras precipitadas conseguiram seduzi-la com o mesmo efeito que os beijos que
agora ele estava espalhando por suas faces, nariz, testa.
— As Damas de Londres — murmurou ela, quase sem força para continuar falando. —
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Permitirá que...?
— Pensa me desafiar de novo? — contra-atacou Simon.
— Provavelmente — O olhou com porte beligerante. — Se me ameaçar com chantagens
injustas.
— Não é a resposta que esperava — grunhiu ele.
Louisa já havia aberto a boca para replicar quando notou as mãos do Simon em suas costas,
desabotoando o vestido.
— Pare! Não podemos fazer um espetáculo em plena rua!
— Pode-se saber por que não? — ele continuou desabotoando o traje impassivelmente. —
Desta vez não penso correr nenhum risco contigo, preciosa. A farei minha antes que mude de
opinião. Não suporto a ideia de dormir outra noite sozinho, imaginando você sozinha, em sua
cama.
Apesar das palavras a estimularem, não era o que ela esperava ouvir.
— Mas ainda não declarou que está de acordo com...
— Se quer negociar os termos, me dê algum incentivo. — Depois de tirar as luvas, Simon
agarrou o vestido e a blusa e puxou para baixo, para liberar os seios pelo decote, em seguida a
contemplou com um olhar tão sedento que disparou o pulso de Louisa.
Enquanto ela se excitava ante a patente admiração que mostrava seu marido, ele inclinou a
cabeça para monopolizar um seio com a boca e logo começou a chupá-lo de um modo tão sensual
que ela se encolheu no regaço dele.
Primeiro Simon devorou um seio, em seguida o outro, enquanto ela afundava as mãos nos
cabelos grossos para agarrar-se mais ao corpo dele.
— A isto, preciosa, é o que eu chamo bolo — murmurou ele com uma voz rouca, detendo
alguns instantes para lamber seu mamilo.
Bolo, sim. Esse maldito sedutor a fez esquecer a questão do bolo para todos.
— As Damas de Londres, Simon — sussurrou Louisa, apesar de que cada vez custava mais
falar. Sobre tudo agora, que ele deslizara as mãos sob sua saia. — Me deixará continuar com a
Sociedade?
— Promete que não voltará a me desafiar? — resistiu ele.
— Depende...
— Pela segunda vez, não é a resposta que esperava. — Encontrou o ponto mais úmido entre
suas coxas e o esfregou com o dedo polegar até que Louisa começou a ofegar. — É minha esposa.
Não permitirei que me contrarie. Está claro?
— Sim, mas...
— Nunca mais aceitarei que um lorde me acuse de não manter minha palavra porque minha
esposa mentiu.
Ela estremeceu. Provavelmente não deveria ter dito a lorde Trusbut que seu marido se
reuniria com elas na prisão. Mas como ia saber que o ancião sairia correndo em busca do Simon?
— Está claro, Louisa? — Acariciou a orelha com a boca enquanto afundava o dedo indicador
dentro dela sem mostrar compaixão.
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Louisa lutou para escapar dele, mas com isso só conseguiu agravar a situação, já que o dedo
indicador do Simon a acariciou ao longo do púbis com um tato tão sedoso e erótico que a deixou
sem fôlego. Sem poder evitar, ela se aproximou mais daquela mão brincalhona, em uma tentativa
de sentir mais prazer.
A respiração do Simon se tornou mais rápida quando a deitou sobre seu regaço para poder
ter um melhor acesso aos seios.
— Está claro, Louisa? — repetiu, mordiscando o mamilo. — Não voltará a fazer nada as
minhas costas.
Quando ele matizou sua petição com uma enlouquecedora carícia em seu púbis, ela
sussurrou:
— Sim. Hummm... céus, sim...
Então, ao dar-se conta do que a obrigou a responder, ficou rígida. Simon estava tentando
seduzi-la para que aceitasse seus desejos. E sua tática estava dando resultados extraordinários.
De acordo, a sedução era um jogo para casais, não? Enquanto ele continuava recreando-se
com seu mamilo com a língua lasciva, Louisa desatou a gravata e a jogou de lado, em seguida
desabotoou o colete e a camisa. Simon inclinou para trás, mas só para livrar-se da roupa.
Ela piscou. Isso era um torso, sim senhor; bem perfilado e musculoso, tal e como deveria ser
um torso masculino. Contemplou-o com avidez, já que era a primeira vez que via o corpo nu de
seu marido. O pelo loiro escuro nascia em sua garganta e se estendia por todo o peito, criando
divertidos redemoinhos ao redor dos mamilos, e logo se estreitava em uma fina linha por cima do
estômago liso e duro antes de desaparecer dentro das calças, que continham um vulto mais que
notório.
E o vulto aumentou de volume ante o curioso olhar de Louisa.
— Não fique aí olhando, preciosa — animou ele com um tom rouco e profundo. — Toque-
me.
Louisa notou que o rubor se espalhava por suas faces. Levantou a vista e o olhou aos olhos.
— O que?
— Que me toque com suas delicadas mãos — Simon quase arrancou os botões da calça e da
cueca. — Toque-me, aqui.
Agarrou-lhe as mãos e tentou forçá-la a colocá-la dentro da cueca, mas Louisa se lembrou de
suas intenções e resistiu.
— E posso saber onde está meu incentivo, esposo meu? Eu também quero bolo, recorda?
Quando os olhos do Simon se converteram em estreitas frestas, ela deslizou a mão até
dentro de sua cueca e acariciou a coxa. A coxa nua e rígida. Ele respirou com dificuldade.
Animada ao ver os resultados obtidos, aproximou a mão do membro, esquivando, em
seguida roçando-o... burlando-se descaradamente de sua urgente necessidade.
— Foi o que prometeu, quando aceitei me casar contigo, lembra?
Simon lançou um bufo e depois entreabriu os olhos.
— Sim, mas... isso foi antes de descobrir que estava conspirando com... radicais.
— Segundo meu pai — alegou ela enquanto continuava acariciando as coxas sem tocar seu
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membro viril, — você sabia. Disse que por isso se casou comigo, para me imobilizar.
Ele convulsionou debaixo de sua mão. Louisa deslizou um dedo por cima do pênis
tremendamente excitado, mas quando ele tentou aproximar-se à palma de sua mão, ela a retirou.
Simon abriu os olhos subitamente e a olhou com estupor.
— O que está procurando?
— Que cumpra nosso pacto original; que não restrinja minhas atividades com as Damas de
Londres. — Acariciou o pênis e ele ofegou.
— De acordo, maldita seja — Simon a obrigou a levantar-se de seu regaço, em seguida a
acomodou no assento e se ajoelhou no chão, entre suas pernas. — Aceito os termos do acordo
original.
O rosto de Louisa refulgiu com alegria.
— Obrigada; é tudo o que queria.
— Mas com uma condição — Com um brilho estranho nos olhos, levantou a saia até a
cintura. Ela o agarrou pelos ombros.
— Que condição?
— Posto que permitir que confabule com radicais poderia prejudicar meu futuro na política,
permitirá que eu assessore seu grupo quanto à escolha do candidato. Você me deve isso; é o
mínimo que pode fazer.
— Assessorar, mas não intimidar.
— Assessorar — repetiu ele, em seguida inclinou a cabeça para chupar o seio. — Vamos,
preciosa, estou sendo muito flexível e sabe disso.
— De acordo, embora esteja segura de que em breve me arrependerei.
— Já me assegurarei de que não seja assim. — Então, um sorriso malicioso cruzou seu rosto
e abaixou a calça e cueca.
— Virgem Santa! — exclamou ela enquanto um instrumento de proporções
indiscutivelmente avantajadas emergia com absoluto descaramento. Então que é isso? Era isso o
que ela esteve acariciando?
Não parecia tão grande. Como era possível que uma mulher em seu são julgamento ficasse
deitada e deixasse que um homem fizesse o que lhe desse vontade, quando a assaltava com isso?
com essa tremenda barra? Ehem... uma coisa mais...
— Acabaram as negociações — concluiu ele enquanto começava a esfregar o membro viril
entre suas pernas. — As únicas palavras que desejo escutar de sua boca durante a próxima hora
são:
"Sim, Simon... mais, Simon... por favor, Simon...".
— Por favor, Simon — sussurrou ela enquanto notava o roce da ponta desse enorme
membro viril. — Tenta não me rasgar de cima a baixo com essa barra.
— Barra? — Simon se deteve para olhá-la aos olhos, então soltou uma estrondosa
gargalhada. — Por Deus, você é virgem.
— Pois claro que sou virgem! — Louisa tentou erguer-se e recuperar a compostura. —
Imagino que não tenha acreditado nas tolices que disse no bosque sobre ter estado com outros
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homens?
— Não, claro que não — se apressou ele em responder. — É só que quando estou contigo
esqueço que... bom, quero dizer, comporta-se de um modo tão...
— Descarado?
— Maravilhoso — Esfregou a face com o nariz. — Por isso me deixo levar e me esqueço.
Simon apertou de novo o pênis contra as coxas dela; um aviso poderoso e quente do que
estavam a ponto de fazer. Quando a acariciou entre as pernas com seu pênis, esfregando-o e
movendo-o para cima e para baixo contra os cachos úmidos, ela conteve a respiração; Louisa se
desfazia entre o prazer que essa parte de pele lhe oferecia e a dor que prometia.
— Nos últimos sete anos — prosseguiu ele, — fiz amor contigo tantas vezes em meus
sonhos, que preciso me lembrar que ainda não fizemos nada.
— De verdade sonhava comigo? — Agora ele a convidava a abrir-se com seus dedos suaves,
lubrificando-a com seu próprio fluxo. — Não disse só para que baixasse a guarda?
— Por Deus, não tem nem ideia — repôs ele com uma voz profunda enquanto começava a
penetrá-la lentamente.
Para não pensar nessa estranha e incômoda intrusão, Louisa perguntou:
— E o que era... o que fazia exatamente... em seus sonhos?
— Tentava-me com seu cabelo, seus seios e seu ventre. Esfregava seus mamilos contra meu
peito...
— Assim? — sussurrou ela enquanto fazia o que ele acabava de dizer.
Simon soltou uma forte gargalhada.
— Sim, Cleopatra, exatamente assim. — Seus olhos brilhavam. — E colocava as mãos em
minhas... minhas nádegas. Tente isso.
Apesar dela ruborizar, fez o que ele ordenava, mas quando deu um passo mais e espremeu a
carne firme, Simon se afundou dentro dela. Instintivamente, Louisa se esticou ao notar todo seu
volume.
— Tranquila, está fazendo muito bem — a confortou ele com a voz rouca. Em seguida,
deslizou a mão entre seus corpos até encontrar o ponto que sempre parecia tão desejoso de que
ele o tocasse.
Acariciou-o e Louisa relaxou, permitindo-o afundar-se um pouco mais dentro dela.
Simon ofegou.
— Muito bem, preciosa, me deixe entrar. É inclusive muito melhor que em meus sonhos.
— Pois não é tal como eu sonhei — afirmou ela secamente.
— O que foi que sonhou? — Continuou acariciando aquele ponto, o que a ajudou a suportar
a estranha sensação de tê-lo dentro.
— Não... não sei. — Recordou como Regina havia descrito uma vez. — Anjos... harpas...
como quando você... me fez aquelas coisas com a boca em meu quarto. Só que melhor.
— Me dê uma oportunidade e garanto que não se arrependerá. Mas primeiro... — Se
afastou para olhá-la enquanto esboçava uma careta embaraçosa. — Pelo que entendi, as virgens,
antes de alcançar o paraíso celestial, precisam passar pelo purgatório.
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depositava sua semente dentro dela. O coração de Louisa pulsava a um ritmo irrefreável,
enlouquecido.
Depois, o coração de Louisa começou a acalmar-se e a respiração do Simon a aquietar-se. Os
rangidos da carruagem penetraram nos pensamentos dela, junto com a impactante realidade de
que uma fina parede os separava de uma cidade buliçosa, que as pessoas não tinha nem ideia do
que o casal estava fazendo dentro desse pequeno compartimento.
Ligeiramente sobressaltada, deixou de estreitar seu marido com tanta força.
Mas ele não havia acabado.
— Agora é minha mulher — sussurrou ferozmente, ainda abraçando-a com paixão. — É
minha, Louisa. Minha esposa. Diga.
— Sua esposa — repetiu ela. As palavras pareciam um voto mais sério que tudo que havia
pronunciado diante do altar no dia de seu casamento. — Sou tua.
As feições do Simon relaxaram levemente e afundou o rosto no pescoço de sua mulher,
rodeando-a com os braços com tanta força que Louisa quase não podia respirar.
— Não me negue nunca mais o direito a me deitar contigo. Não acho que poderia suportar
uma segunda vez.
Ela o acariciou no cabelo com ternura, enquanto que sentia uma potente pontada de dor no
coração ante a evidente dor que se desprendia de seu tom. Claramente, essa união significava
para Simon algo mais que o simples fato de fazer amor com ela, e Louisa se arrependeu de ter sido
tão dura.
— Não voltará a acontecer — sussurrou ela.
Além disso, hoje Louisa se deu conta do risco que assumira com sua drástica decisão. Negar
a um homem a possibilidade de saciar suas necessidades carnais, podia levá-lo a procurar alívio
em alguma outra parte; especialmente um homem como o duque de Foxmoor, que podia ter
qualquer mulher que quisesse. O mero pensamento de seu marido fazendo algo como o que
acabavam de fazer com outra mulher, lhe provocou náuseas terríveis.
— A partir de agora, será minha esposa de verdade — proclamou ele.
— Sim. — Ela duvidou, mas precisava estar segura. — Sempre e quando você for um marido
de verdade para mim.
Simon se inclinou para trás para observá-la.
— O que quer dizer?
— Não tolerarei que tenha uma amante, Simon. Nem tenho certeza se poderia suportar que
fosse a um bordel.
Simon esboçou uma careta, primeiro de alívio e logo sorriu.
— Mas não sugeriu faz somente alguns dias que isso era precisamente o que deveria fazer?
Ela o escrutinou com ar ameaçador.
— Olhe, nem te ocorra...
— Só estava brincando — respondeu ele enquanto lhe dava um beijo fugaz no nariz. — Lhe
garanto, o último lugar onde me encontrará, será em um bordel.
Disse com tanta convicção que ela acreditou.
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realmente seria muito egoísta de sua parte pedir a Louisa que fizessem amor de novo. Duas vezes
era mais do que uma virgem deveria suportar em sua primeira noite. Apoiou a cabeça outra vez no
travesseiro e passou o braço por cima dos olhos. Precisava dormir. Certamente, dormira muito
pouco nos últimos dias.
Mas como poderia dormir com Louisa a seu lado, depois de esperar tantos anos? Lançou um
bufo. Essa obsessão por sua esposa devia acabar. Já era suficientemente nocivo que quisesse estar
com ela todas as horas do dia, mas Louisa usou seu corpo sensual para arrancar concessões que
ele jamais deveria ter consentido. Não, não permitiria que voltasse acontecer.
Supunha-se que ele deveria afastá-la da vida política, não assessorá-la sobre candidatos. Se
não fosse com cuidado, ela acabaria convencendo-o para que secundasse algum pobre radical
idiota, que arruinaria seu futuro como primeiro-ministro. Mas o que iria fazer um homem quando
sua esposa libidinosa punha as mãos onde ele desejou durante muitos anos? Especialmente
quando desejava que ela continuasse tocando-o sempre, sem parar?
"Por isso existem as amantes - a voz resmungona de seu avô ressonou em sua mente. - Para
dar prazer na cama e desse modo, não perder a cabeça com sua esposa. Uma amante não tem
poder.
Mas uma esposa tem o poder de te arruinar se permitir."
Seu avô podia estar certo, mas ele jamais trairia Louisa desse modo. Se manteria firme em
não dar o braço a torcer nas coisas realmente importantes, e lhe daria liberdade nas coisas que
careciam de importância. Porque viver como seu avô não era uma opção. A devastação que esse
velho desgraçado semeou a seu redor era uma irrefutável evidencia.
O que o recordou que... Levantou a vista, mas sua esposa seguia dormindo profundamente.
Poderia ficar ali, desejando-a, ou fazer algo proveitoso. Era óbvio que não conseguiria dormir.
Abandonou o leito, vestiu-se e desceu as escadas em direção a seu escritório. Quando
entrou, Raji correu a seu lado.
— Olá, pequeno patife — Simon baixou o braço para que Raji pudesse subir por ele. — Sinto
muito tê-lo trancado aqui, mas terá que ir se acostumando. Acabou isso de dormir em minha
cama, receio.
— Esboçou uma careta maliciosa. — Me nego a brigar contigo cada noite para poder deitar
com minha esposa.
Raji tagarelou alegremente enquanto Simon acendia algumas velas no escritório
completamente às escuras e agarrava a última caixa de cartas. Se não encontrasse nenhuma
evidência entre esse maço de papéis, então não sabia onde mais poderia procurar. Desejava
ajudar Colin, é obvio, mas talvez não conseguiria lhe dar o que realmente queria e merecia.
Inclusive se encontrasse a prova que procurava, ainda teria que convencer o rei para
secundar a petição do Colin. Até esse momento, George não havia nem sequer mantido a palavra
no pacto com Simon. Sua majestade não havia obtido a renúncia de Liverpool e a única coisa que
fazia era repetir que o melhor era esperar que acabassem as sessões do Parlamento.
Sem prestar atenção em Raji, que estava cheirando seu cabelo - provavelmente cheirava o
aroma de açucenas de Louisa, - Simon pegou a pilha superior de cartas e começou a ler.
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Já havia repassado uma dezena quando um som proveniente da porta fez que levantasse a
cabeça. Louisa estava ali de pé, com nada mais que um fino robe e um sorriso fascinante.
Seu pulso acelerou imediatamente.
"Tranquilo, moço. Tranquilo. Talvez ela não esteja pronta para você outra vez, tão cedo."
— Não queria despertá-la — se desculpou ele quando ela continuou de pé, na soleira da
porta, com uma sobrancelha arqueada.
— Creio que terei que me acostumar a um marido que sai correndo para o escritório à
primeira oportunidade que lhe apresenta.
— Era isso ou voltar a fazer amor, e pensei que um marido considerado não deveria forçar
de novo a esposa recém desflorada.
Louisa entrou no escritório enquanto seu sorriso se tornava mais coquete.
— É tão duro resistir a meus encantos?
Simon a comeu com o olhar.
— Duro? Certamente.
Ela necessitou um momento para compreender o duplo sentido de suas palavras.
Continuando, fechou a porta atrás dela e levou a mão à cinta que amarrava o robe.
— Bom, então creio que precisa desafogar suas necessidades, querido...
"Querido", sua esposa o chamou "querido". Jamais o fez antes e o simples som dessa palavra
em seus lábios o cativou. Especialmente quando ela se dirigiu para ele com essa chama escura de
sedução nos olhos. Entretanto, não conseguiu avançar mais de dois passos, antes que Raji saltasse
em cima da mesa com a intenção de alcançá-la primeiro.
Simon soltou uma gargalhada zombadora enquanto o macaco se acomodava entre os braços
de sua mulher com ar triunfal.
— Parece que Raji não permitirá intimidades. — Simon se sentou de novo na poltrona. — De
todos os modos, acredito que deveria te dar tempo para se recuperar; pelo menos, isso foi o que
entendi.
Louisa assentiu dando um leve encolher de ombros. Depois rodeou a mesa, colocou-se atrás
de seu marido e olhou as cartas com curiosidade.
— No que trabalha tão diligentemente cada noite?
Ele duvidou, mas não havia nenhuma razão para ocultar. A única coisa que poderia ocorrer
seria que ela se sentisse também comovida pela história.
— Estou revisando a correspondência de meu avô, Monteith, para ver se encontro alguma
em que mencione Colin Hunt.
— Colin Hunt. Não era esse homem seu...?
— Ajudante de câmara, sim. E talvez, também meu primo.
Louisa o olhou fixamente.
— Seu primo?
— Por parte de meu tio Tobías, que morreu na Índia.
— Pensei que ele havia morrido sozinho.
— Pois parece que não — Simon lançou um suspiro. — Quase não há nenhuma dúvida de
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que Colin seja seu filho. O tio Tobías estampou sua assinatura na certidão de nascimento do Colin,
reconhecendo-o como seu filho.
Tenho a assinatura autentica, assim sei que essa parte da história é verdade.
— E a mãe? Quem é?
— Uma mulher da Índia. Morreu quando Colin era ainda um menino. A irmã da mãe dele foi
quem se encarregou de criá-lo, e é precisamente essa mulher quem diz que a mãe do Colin era a
esposa legítima de meu tio.
— Esposa! Mas isso significaria...
— Que Colin é o herdeiro do título de meu avô materno. Sim, se posso provar a declaração.
Louisa refletiu alguns instantes antes de voltar a falar.
— E não há nenhuma prova do matrimônio?
— Infelizmente, não. Embora, pelo visto, sua mãe casou em uma igreja, o lugar ficou
destruído por uma enchente pouco depois que o tio Tobías falecesse.
— Muito conveniente — remarcou Louisa.
— Sim, mas a igreja ficou realmente destruída. Essa parte também confirmei.
— E a certidão de casamento?
— Aí é onde se complicam as coisas. A tia do Colin sustenta que quando o tio Tobías soube
que estava morrendo, escreveu uma carta a meu avô para comunicar sobre seu matrimônio.
Incluiu a certidão como prova. A partir de então, ninguém mais voltou a ver esse pedaço de papel.
Pouco depois, meu tio morreu, deixando a esposa e o filho em uma situação financeira muito
precária.
Simon assinalou uma das cartas que tinha diante dele.
— Talvez não saiba, mas nessa época, foram retirados das viúvas indianas dos oficiais o
pagamento por viuvez. Assim, segundo a tia do Colin, quando o avô Monteith ofereceu à viúva
uma substanciosa soma de dinheiro se desistisse de sua intenção de conseguir que seu filho fosse
reconhecido como o herdeiro legítimo do tio Tobías, ela aceitou.
Simon se sentiu enojado ao pensar que seu avô se aproveitou de uma pobre mulher desse
modo tão vil, embora não se surpreendesse. Ao avô Monteith não teria feito nem pingo de graça
ter um neto mestiço.
Dedicou-se em corpo e alma a polir sua imagem pública para permitir uma "mancha" na
linha da família.
— Nessa época— continuou Simon, — Colin não era o filho de um primogênito, então, sua
herança tampouco era de uma importância relevante.
Louisa colocou a mão sobre o ombro do Simon.
— Mas quando seu outro tio morreu sem descendência?
— Colin se converteu no herdeiro. Não só do título Monteith, mas também das terras dos
Monteith. Que aumentaram consideravelmente desde que eu me encarreguei diretamente de
administrá-la.
A mão de Louisa se esticou.
— Isso poderia ser motivo mais que suficiente para que alguém mentisse sobre essa
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herança.
Ele pôs-se a rir.
— Colin? Impossível. Custou-me muito convencê-lo para que fosse meu valet depois de que
a tia dele veio me contar a história. Ele desejava continuar ao serviço do exército de peshwa, mas
eu vi que herdara a destacável inteligência de meu avô. Estava esbanjando seu talento como um
soldado raso. Entretanto, ele jamais mostrou nenhum interesse em converter-se em conde.
Quando tentei convencê-lo para que retornasse comigo, negou-se, alegando que o melhor era que
ambos esquecêssemos do assunto.
— Então, por que não desiste?
— Colin é um homem deslocado. Os outros indianos não o aceitam e os ingleses tampouco.
Não é justo. Ele e sua mãe mereciam um tratamento melhor por parte de meu avô, assim penso
eu; Colin tem que ser capaz de resolver este assunto de uma vez por todas. E não só por ele, mas
também... — Se calou um momento, perguntando-se se deveria revelar isto, mas quando ela
apertou seu ombro carinhosamente, como animando-o a prosseguir, Simon se justificou. —
Também por sua esposa.
— OH, esqueci que foi casado. Era a antiga proprietária do Raji, não é certo?
— Sim, ela também era mestiça. Antes de morrer, jurei que me asseguraria de que Colin
obtinha o que era legitimamente dele. Bom, isso se conseguisse provar sua alegação por escrito.
— Mas por que fez esse juramento? Só porque seu valete talvez fosse seu primo?
— Não parecem duas razões suficientes? — contra-atacou ele. Como podia contar a
verdade? Ela já o considerava um homem matreiro e mentiroso, mas pelo menos parecia valorizá-
lo como político. Se soubesse que...
— Parece que está me ocultando algo. — Louisa afastou a mão. — Sei que algumas mulheres
indianas são incrivelmente belas...
Maldição. Simon não parou para pensar nas conotações de suas palavras.
— Já lhe disse, preciosa. Não mantive nenhuma relação com nenhuma mulher na Índia.
Jamais tive uma aventura amorosa com a esposa do Colin, se isso for o que está pensando.
— Então, por que lhe fez essa promessa? — sussurrou ela. — Pode me contar isso carinho,
de verdade; se realmente estava apaixonado por ela ou...
— Não foi por isso.
Agora não restava mais alternativa do que contar, embora só fosse para que ela não
pensasse mau. Além disso, manteve o doloroso segredo oculto em sua alma durante muito tempo,
e isto ardia como uma chaga. Se alguém poderia ajudá-lo a confrontar isso, essa era sua esposa
pragmática e direta. Sempre e quando ela não o olhasse com repugnância, quando soubesse a
verdade.
— Mas tem razão. Não foi só por Colin que fiz essa promessa — um suspiro dilacerador
escapou dos lábios. — Foi pelo que fiz. Eu fui o culpado pela morte dela.
Capítulo 21
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Querido primo:
Certamente não irá negar que um tenro olhar é às vezes tudo o que alguém necessita ou
deseja. De vez em quando, esse tipo de olhar pode ser mais importante do que a própria opinião de
seu par.
Sua prima que é uma romântica empedernida,
Charlotte
Louisa não sabia o que pensar ou o que dizer ante a surpreendente confissão que acabava
de ouvir.
— Tem isto a ver com a batalha em que combateu junto ao capitão Quinn?
Simon cruzou com ela um significativo olhar.
— Como sabe?
— Hoje era evidente que não queria falar sobre o assunto. — Louisa se sentou na beira da
mesa e Raji se acomodou em seu regaço. — A esposa do Colin morreu nessa batalha, não?
— De fato, morreu justamente antes que começasse, assassinada pelos marathas, que são
guerreiros que trabalham para os peshwas como soldados mercenários.
— O que é um peshwa?
— Uma espécie de primeiro-ministro de uma região da Índia. Baji Raspo era o peshwa e
ordenou a seus marathas que arrasassem Poona. Queimaram as casas dos britânicos mais
destacados, e logo se enfureceram com a cidade, assassinando e saqueando em qualquer parte. A
esposa do Colin foi um de seus objetivos porque era meio inglesa e estava casada com meu
ajudante de câmara.
— Por isso se culpa de sua morte? — inquiriu Louisa, depositando a mão sobre o braço dele.
Simon afastou a mão, levantou-se abruptamente da poltrona e começou a perambular com
passo inquieto pelo escritório.
— Se só fosse isso. Mas não, minha intervenção resultou mais... vergonhosa.
A negativa por parte de seu marido a aceitar o consolo que oferecia, doeu em Louisa, mas
tentou não demonstrar enquanto ficava sentada, acariciando a pelagem sedosa do Raji,
esperando.
Quando Simon voltou a falar, sua voz era fria, remota.
— Algumas semanas antes do assalto dos marathas, Colin me disse que sua esposa fora a
Poona visitar a mãe e que ouviu rumores no mercado a respeito de uma revolta. O peshwa estava
zangado pelo tratado que os britânicos haviam obrigado-o a assinar.
Simon se dirigiu a uma mesinha do canto e se serviu de uma taça de brandy.
— Interroguei dois oficiais oriundos dessa região. Asseguraram-me que não havia nenhum
problema em Poona. "O peshwa seria um louco de se rebelar, é consciente da imbatível potencia
do exército britânico", disseram.
Uma gargalhada arrepiante escapou de seus lábios.
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— Por alguns instantes considerei a possibilidade de que os dois oficiais formassem parte de
um possível complô, mas eram dois homens aos quais todos tínhamos em alta consideração.
Em troca, Colin tinha todos os motivos do mundo para estar ressentido com os britânicos.
Pensei que era ele quem estava exagerando a situação.
Simon tomou um gole de brandy.
— Eu mesmo negociei o tratado com o peshwa. Os outros dois peshwas pareciam
perfeitamente satisfeitos com os tratados, assim, por que Baji Raspo reclamaria o dele? - Seu tom
se tornou auto censurável. Depois de tudo, eu era o muito poderoso governador geral. Sabia
exatamente o que acontecia em meus domínios.
— OH, Simon — sussurrou ela, mas ele não deu atenção.
— Além disso, Colin obteve a informação por parte da esposa, que tinha ainda mais motivos
para desconfiar dos britânicos do que ele. Seu pai era um desgraçado inglês que se negou a casar-
se com sua mãe. Assim via rebeliões onde não havia — Simon ficou olhando fixamente a taça de
brandy. — Pensei que ela queria que eu penetrasse em Poona com um exército e ficasse em
evidência.
Como se notasse a tensão de seu amo, Raji deslizou do regaço de Louisa para ir com ele, mas
Simon não lhe deu atenção, tampouco.
— Não a conhecia muito bem e o que sabia dela eu não gostava. Ela pensava que eu era
outro inglês arrogante e eu pensava que ela era uma embrulhadora.
As mãos do Simon começaram a tremer, por isso a taça que sustentava também vibrou. Com
o coração em um punho, Louisa se separou da mesa, agarrou a taça de seu marido e a depositou
na mesa.
— Então, me neguei a agir segundo seus conselhos — concluiu Simon com um fio de voz. —
Colin e eu brigamos por essa questão quando os oficiais partiram. Disse que não deveria fazer caso
de sua esposa, que as mulheres eram criaturas manipuladoras que se deixavam levar pelas
emoções e que portanto não eram de confiança.
Louisa engoliu em seco.
— Creio que estava pensando em como eu te desterrei à Índia.
Simon cravou o olhar nela.
— Não, certamente que não. Eu mereci o que fez; inclusive então me dava conta disso. —
Deslizou uma mão crispada pelo cabelo. — Quando admoestei Colin, não estava pensando em
nenhuma mulher em particular. Só estava repetindo as sandices que meu avô me inculcou desde
de menino.
Seu avô? Ninguém jamais falou mal do conde de Monteith, cuja atuação como primeiro-
ministro fora considerada impecável tanto pelos membros do partido conservador como pelos do
partido liberal. Mas isso não queria dizer que esse homem não tivesse sido um déspota em sua
vida particular.
Simon se afundou em uma cadeira próxima.
— Ao final, Colin seguiu meu conselho. Não ficou outra alternativa, já que não podia
enfrentar sozinho ao peshwa. — Ocultou o rosto entre as mãos. — Assim quando os maratha
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— Por Deus, isso espero. — A tormenta de seu remorso parecia ter apaziguado um pouco, já
que deixou de abraçá-la com tanta força.
Durante um longo tempo, os dois ficaram sentados, abraçados, enquanto o relógio de
parede continuava marcando com seu tictac o passar do tempo.
— Me alegro de que tenha me contado isso.
— E eu também — adicionou ele em um murmúrio. — Carreguei este fardo sozinho durante
tanto tempo, me odiando cada vez que a alguém ocorria falar de minhas ações heroicas na
batalha...
— Mas foram heroicas — protestou Louisa. — Não pode pensar o contrário. Poderia ter
ocultado a cabeça na areia ou ter negado sua culpabilidade. Entretanto, dirigiu os soldados até a
vitória. Não permita que seu sentimento de culpa eclipse algo do que deveria se sentir orgulhoso.
— Assinalou as cartas. — Além disso, segue tentando emendar esse erro.
— Sim, tento, mas não consigo o resultado esperado — repôs com um suspiro.
— Posso te ajudar, se quiser. Se nós dois procurarmos, talvez encontraremos mais rápido o
que está procurando.
— Mas isso é só uma possibilidade remota. Jamais estive seguro de chegar a encontrar algo.
Meu avô era muito calculista e muito consciente de sua imagem pública, para guardar uma carta
que pudesse causar um escândalo.
Ela se afastou para olhá-lo aos olhos.
— Não parece ter tanta estima por seu avô como o resto do mundo o professa.
— O resto do mundo não o conhecia — respondeu Simon tensamente. — O resto do mundo
não teve que suportar seu adestramento especial.
Louisa estreitou os olhos.
— O que fez exatamente seu avô para te preparar para substituí-lo como primeiro-ministro?
A expressão do Simon se tornou inescrutável.
— Foi um professor muito severo.
— Mas deve haver algo mais?
— Olhe, agora não quero falar disso. — Deslizou a mão dentro do robe para acariciar o
ventre nu. — Não mencionou algo antes a respeito de aliviar minhas necessidades?
Quando ela começou a falar de novo, ele a beijou efusivamente, com um ardor que provinha
de um sentimento mais intenso que o de puro desejo. Era evidente que não queria falar sobre o
avô.
Louisa considerou por alguns segundos a possibilidade de insistir no assunto, mas ele havia
revelado mais coisas sobre sua vida na última hora que em todos os anos que o conhecia. Não
desejava desalentá-lo para que não voltasse a confiar nela no futuro. Assim o beijou e deixou que
ele pensasse que estava seduzindo-a, afastando-a dos pensamentos que agora a assaltavam.
Sempre pensou que Simon era uma pessoa matreira, mas talvez o adjetivo adequado era
"reservado". Mantinha segredos porque não podia suportar enfrentar alguns fatos em plena luz
do dia. E apesar de suspeitar que ele ainda lhe ocultava seus piores segredos, disse a si mesma que
aguardaria pacientemente até que decidisse revelá-los.
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Seu jornal lhe proporciona uma propaganda gratuita que outros candidatos radicais não se podem
permitir.
— Isso era precisamente o que estava pensando - admitiu Louisa, um pouco mais sossegada.
— Mas isso não significa que esse homem esteja disposto a ajudá-las em sua causa — Simon
se recostou em sua cadeira. — Me pergunto se estão cientes do que aconteceu no caso Saint
Peter's Field.
Louisa franziu o cenho.
— Sim. A atuação dos membros do Parlamento foi deplorável, demonstrando que seguem
ancorados no passado. Nem mesmo são capazes de secundar uma reforma do processo eleitoral...
— Não, nunca o farão, se continuarem lançando radicais — explicou Simon.
— E suponho que você defende a reforma parlamentar?
— Absolutamente. Se a Inglaterra quer continuar sendo um país poderoso,
obrigatoriamente deve permitir o voto a mais de um punhado de latifundiários. O povo precisa
poder escolher.
O ardor em seu tom a surpreendeu. Sidmauth e seu grupo não advogavam pela reforma
parlamentar. E eles, como o rei, quiseram que Simon a silenciasse casando-se com ela.
Louisa não deveria esquecer essa nuance. Afinal, esse era o motivo pelo qual Simon assistia
a essa reunião. Entretanto, parecia sincero.
— Pois você mesmo começa a ter um discurso que poderia se definir como radical.
— Não acredito. A diferença de Godwin, minha intenção é navegar dentro do sistema
político atual. Em troca, ele só deseja explodi-lo.
Essa declaração encaixava mais na linha discursiva de Sidmouth.
— Em vez de suplantá-lo com outro método melhor? — cravou ela.
— Talvez tenha razão, embora duvide de que pôr Godwin ao leme do país, incitando a
insurgência, suporte uma mudança de verdade. Só provocará outro massacre como a de Peterloo
e sei que não é isso o que procuram.
— Simon tem razão — interveio Regina.
Sim, era verdade e isso incomodou Louisa. Simon não podia erigir-se como a voz da razão
nessa reunião.
— Não obstante, Simon forma parte do grupo de Sidmouth, cuja tática favorita é colocar o
medo à revolução nos corações dos eleitores.
Simon a observou com um olhar severo.
— Estou seguro de que confia em que contribuo com minha própria opinião nesta questão,
meu amor.
— Confio em você em qualquer outro aspecto, mas não estou tão segura quando se trata de
questões políticas. É por natureza um elemento político, por isso não resulta tão fácil confiar em
você nessas areias tão movediças.
Os olhos do Simon cintilaram com visível irritação.
— Por acaso não têm outros candidatos?
— Sim, mais dois — indicou Regina. — William Duncombe e Thomas Fielden.
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sob sua saia para acariciar a panturrilha. — Desejo permanecer aqui todo o tempo que for
necessário.
— Não haverá necessidade de prolongar esta reunião — interveio a senhora Harris. —
Embora siga pensando que o senhor Godwin é o melhor candidato, não perderemos nada se os
compararmos exaustivamente. O senhor duque tem razão. Por que não entrevistamos os três
homens? Poderíamos...
Louisa mal ouviu as seguintes palavras, já que o pé de Simon seguia deslizando-se para cima,
por cima de seu joelho, e se sentia horrorizada de que alguma das outras mulheres se desse conta
do que acontecia.
Ao mesmo tempo, a outra Louisa - não a recatada, mas sim a desavergonhada - se
perguntava até onde seria capaz de chegar seu marido.
— Louisa? Está de acordo? — perguntou a senhora Harris.
Ela estremeceu.
— Eu... ehem... bem... — Agora o dedo do Simon estava riscando círculos vagos entre suas
pernas. — Podem repetir a pergunta?
Quando as damas puseram-se a rir, Simon deu um de seus sorrisos enganadores.
— Só diga que sim, coração, para que possamos nos retirar.
A senhora Harris teve piedade dela e voltou a repetir a pergunta sobre a possibilidade de
convocar os candidatos dentro de quatro dias na casa dos Foxmoor. Louisa assentiu,
amaldiçoando Simon e suas táticas de distração. Era evidente que o grupo agiria com cautela tanto
se ela gostasse ou não, e tudo graças a ele.
Louisa se sentiu terrivelmente indignada durante o breve intervalo que dedicou a despedir-
se das mulheres. Tão logo partiram, olhou Simon com raiva.
— Fez de propósito, não foi?
Ele lhe deu um olhar de absoluta inocência.
— O que?
Ela se dirigiu para as escadas.
— Desviar o assunto da política mencionando Raji. E em seguida... tentar me seduzir com o
pé.
— Teria me encantado tentar te seduzir com outra coisa, mas me parece que as damas
teriam protestado, se tivesse te obrigado a sentar em meu regaço.
— Maldito seja, Simon...
Reteve-a com um beijo e a estreitou entre seus braços antes que ela pudesse reagir. Por um
instante, Louisa sucumbiu à deliciosa doçura de sua boca.
Logo se deteve e o separou de um empurrão.
— Só está me beijando para que não siga discutindo sobre política. — Acabou de subir os
últimos degraus precipitadamente. — Como fez com a brincadeira sobre Raji para desviar a
atenção de minha reunião.
Simon acelerou o passo para seguir a seu lado.
— Considera-me mais matreiro do que realmente sou. A verdade é que passei todo o dia
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pensando no momento em que poderia voltar para casa para fazer amor com minha esposa.
O comentário impudico conseguiu excitá-la. Maldito fosse seu marido, sempre brincalhão.
Louisa alcançou a seguinte porta e se dirigiu ao escritório de Simon, mas ele bloqueou o caminho.
— Entretanto, participei de sua reunião. Escutei atentamente e considerei as opiniões de
suas companheiras. Dadas as diferenças em nossos pontos de vista e o fato de que minha mente
vagava por outros roteiros, diria que me comportei de um modo mais do que exemplar.
Ela cruzou os braços sobre o peito.
— Até que a conversa se desviou da direção que o interessava. Então, recorreu a um de seus
truques para distrair às damas, e desse modo, influenciar para que aceitassem seu ponto de vista.
Simon murmurou uma maldição entre dentes.
— Sinto dizer isso, mas, você é a única que defende a postura radical de um modo tão
obcecado. Inclusive a senhora Harris mostra uma atitude mais aberta. E a única razão pela qual
não me conformo é porque não estou de acordo. Admita, incomoda você quando estamos de
acordo.
— Isso não é verdade! — protestou ela, apesar de que, no fundo, sabia que ele tinha razão.
— E além disso...
Simon voltou a beijá-la, desta vez capturando sua cabeça com tanto ímpeto que ela não
pôde afastar a boca. Quando ele se retirou, Louisa o observou com olhos sonolentos.
— Não joga limpo. Jamais recorreria a esta tática com nenhum de seus adversários políticos.
Ele soltou um bufo.
— Imagina a reação de Sidmouth se o fizesse?
Ela conteve a respiração.
— Sidmouth não é seu adversário.
Simon ficou gelado ao dar-se conta das palavras que acabava de pronunciar.
— Não... não era isso o que queria dizer.
Mas ele sabia perfeitamente o que lhe ditava a mente.
— Me diga, está a favor da política de Sidmouth? Quer que esse indivíduo continue
ocupando seu posto ou não?
— Sidmouth é um mal necessário. Preciso seguir seu jogo e o do rei, se quero chegar a ser
primeiro-ministro.
— E o que fará, quando o conseguir? — Louisa recordou que ele se decantou pelo lado
oposto na questão da reforma parlamentar. Talvez não fosse o único tema que seu marido não
estava de acordo com o ministro do Interior.
— Formaria Sidmouth parte de seu gabinete se chegasse a ser primeiro-ministro?
Ele duvidou durante um longo momento.
— Não. — Quando o rosto de Louisa se iluminou, ele acrescentou: — Mas isso não é algo
que quero que as pessoas saibam, nem sequer suas amigas, compreende?
— Perfeitamente — exclamou ela, muito excitada para conter sua alegria.
— Falo a sério, Louisa; nenhuma só palavra.
— Meus lábios estão selados — trilou animada.
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— Não posso desbancar Sidmouth em um abrir e fechar de olhos. Requererá tempo e...
— E paciência e um planejamento meticuloso — acrescentou ela, sentindo-se de repente
com vontade de brincar. — Sim, eu sei, meu cauteloso marido. Mas como pensa fazê-lo? Pretende
lhe usurpar o posto? De verdade está considerando seriamente a possibilidade de se desfazer
dele?
Simon a beijou com lascívia, em seguida se afastou; seus olhos refulgiam com um apetite
voraz.
— Podemos discutir essa questão amanhã? — Apertou seu corpo contra o de sua esposa,
para que ela pudesse notar sua ereção. — Neste instante, não gostaria de falar de política.
E esse homem tão bom merecia uma recompensa depois de sua fascinante revelação.
— Claro que sim, esposo meu — lhe deu um sorriso charmoso. — Me dê dez minutos para
me preparar antes de entrar em meu quarto. —- deu a volta e se dirigiu para seu quarto.
— Eu adoraria despi-la desta vez — apontou ele enquanto saía disparado atrás dela.
— Rasgaria meu precioso vestido — se desculpou Louisa sem fôlego. — E além disso,
perturbaria minha criada.
Graças a Deus que contava com sua criada, cuja presença sempre conseguia manter Simon
afastado enquanto colocava a esponja. Simon balbuciou uma grosseria a suas costas, enquanto ela
acelerava o passo. Essa não era a noite mais indicada para provar a paciência de seu marido.
Além disso, sua incrível revelação conseguiu que Louisa se sentisse absolutamente eufórica.
Simon pretendia desbancar Sidmouth! Depois que ele admitiu previamente que advogava pela
reforma parlamentar, ela começou a questionar-se se seu marido era realmente o político
inamovível conservador que ela imaginou. Embora Simon compartilhasse a típica aversão dos
conservadores pelos radicais, Louisa albergava a esperança de que conseguiria convencê-lo
quando escutasse o que Godwin tinha a dizer.
Amanhã. Porque essa noite, sua intenção era entreter-se entre os braços de seu marido.
Capítulo 22
Querida Charlotte:
Espero que tenha razão. Se Foxmoor não pode influenciar a esposa com olhares tenros, sem
dúvida nenhuma recorrerá a medidas mais drásticas, como trancá-la em algum lugar afastado.
Isso seria o que eu faria se minha esposa me causasse problemas.
Seu primo,
Michael
Inclusive sem a colaboração de seu valet, a quem Simon pediu que o deixasse sozinho assim
que entrou em seu quarto, Simon se despiu e colocou o roupão em menos de dois minutos. Não
mentiu a
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Louisa; ficou o dia todo esperando esse momento. Só rezava para que esse indomável desejo
que sentia pela esposa se acalmasse com o tempo, porque a verdade era que resultava um
verdadeiro incomodo. Por que senão teria contado seus planos sobre Sidmouth? Que Deus tivesse
piedade dele, se ocorresse a Louisa comentar a novidade com suas amigas radicais. Se a notícia
saísse na imprensa, seria o fim de suas aspirações políticas. Ainda não dispunha de apoio
suficiente na Câmara dos Comuns para desbancar Sidmouth, e até que não estivesse seguro de
contar com esse suporte, não poderia demonstrar abertamente sua oposição ao tipo.
Agora só restava esperar que sua mulher fosse discreta.
Pelo menos, tão discreta como era em outros assuntos. Por exemplo, em sua relação
conjugal, onde talvez pecasse de ser muito discreta. Passeou frente à porta que comunicava com o
quarto dela.
Deixou claro que preferia estar sozinha quando se preparava para deitar-se com ele. Até
agora, ele não pôs nenhuma objeção ao pedido, pensando que até muito pouco tempo atrás
Louisa ainda era virgem e que, por conseguinte, necessitava tempo para acomodar-se às
intimidades maritais.
Mas... queria ver como ela se despia. Queria ser ele quem a despisse. Queria fazer amor com
ela em algum outro lugar que não fosse na cama. Queria dormir com ela toda a noite e despertar
com Louisa entre seus braços. Assim, por mais que repetisse que deveria ser paciente, morria de
vontade de poder fazer tudo isso e mais, até um ponto doentio. Como poderia controlar sua
obsessão se ela ainda lhe negava gozar dessas intimidades?
Apoiou a mão na maçaneta da porta. Certamente teve tempo suficiente para acostumar-se a
comportar-se como uma esposa. Que misteriosos preparativos eram esses que ele, o próprio
marido, não podia ver? Abriu a porta e ficou surpreso ao ver a criada de pé, sozinha. Sua esposa
não estava à vista. Atrás da criada, a porta do vestidor permanecia fechada. Parecia como se a
criada estivesse montando guarda, o que avivou ainda mais sua curiosidade.
A criada o viu e se dispôs a falar, mas ele levou um dedo aos lábios para silenciá-la. Apesar
do alarme refletido na cara da mulher, ele sabia que ela não ousaria desobedecê-lo.
Mas o fato de que ela o olhasse como se estivesse tentada a fazer isso o surpreendeu.
Dirigiu-se para a porta principal do quarto com passo silencioso, a abriu tentando não fazer
ruído e fez um gesto à mulher para que partisse. Depois de fechar a porta silenciosamente,
atravessou o quarto e abriu a porta do vestidor com a intenção de ver sua esposa.
A vela colocada sobre uma das mesinhas revelou Louisa de pé, com a camisola desabotoada,
de costas para ele. Apesar de estar diante de um espelho que refletia seu marido olhando-a com
atenção, ela estava tão absorta no que fazia que não o viu. A princípio Simon pensou que estava
asseando as partes intimas, já que a camisola de linho estava levantada e uma perna apoiada e
dobrada sobre o tamborete, enquanto levava uma esponja empapada até a deliciosa púbis. Simon
notou como seu pênis, que já estava meio excitado, ficava completamente duro e exercia uma
terrível pressão contra o roupão de seda. Então viu que ela introduzia a esponja. Com o coração
em um punho, conteve a respiração para ver se a tirava, mas a mão emergiu vazia.
Visitara suficientes bordéis para saber o que Louisa estava fazendo. E não custou nada
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discernir o porquê. Maldita fosse! Esse era o motivo porque lhe negava o direito a desfrutar de
mais intimidades!
— Como se atreve? — murmurou ele.
Louisa deu um pulo e o rubor de culpa que se estendeu por suas faces quando o olhou nos
olhos através do espelho, foi suficiente para confirmar suas suspeitas.
Simon se sentiu traído.
— Não é o que pensa, Simon — sussurrou ela.
— Ah, não? — Ele entrou no vestidor e bateu a porta para fechá-la. — Então não está
tentando evitar engravidar do meu herdeiro?
Ela baixou a perna até apoiá-la no chão.
— Não... quero dizer... não tem nada a ver com...
— Passei a metade de minha juventude em um bordel, Louisa. E sei para que servem essas
esponjas; para evitar que uma mulher fique grávida. — Avançando para ela com passo firme,
afundou o dedo na terrina cheia de líquido que havia sobre a penteadeira, em seguida o levou ao
nariz e cheirou. O penetrante aroma de vinagre era inconfundível.
Colérico, dirigiu o dedo para ela, com tom acusador.
— Por isso se mete em minha cama com a púbis tão perfumada. Por isso... por isso não me
deixa ajudá-la a se despir, nem que façamos amor em nenhum outro lugar que não seja seu leito?
— Me deixe explicar — suplicou ela.
— O que? Que continua me odiando em segredo? Que apesar de todos os luxos que te dei,
continua com a firme determinação de conspirar contra mim? — A dor que fervia em sua garganta
ameaçava sufocá-lo. — Não é de estranhar que tenha aceitado tão rapidamente se afastar de suas
Damas de Londres quando ficasse grávida. Planejou tudo para que isso não acontecesse jamais.
— Não é verdade. Só era por um tempo, até...
— Até que conseguisse que seu candidato radical fosse eleito? — espetou ele, ainda incapaz
de assimilar que ela fosse tão cruel para privá-lo de descendência sem que ele soubesse. — E
destruir desse modo qualquer esperança que albergava para chegar a ser primeiro-ministro? Era
assim como esperava desafiar minha autoridade? — Simon esvaziou o vinagre na bacia, e em
seguida estampou a terrina contra a porta. — Pois não tolerarei isso!
Enquanto ela o olhava com a boca aberta, assustada diante dessa repentina explosão de
violência, Simon levantou a camisola, preparado para tirar a esponja sem qualquer hesitação.
Então Louisa começou a soluçar.
— Por favor, Simon — choramingou. — Eu não pretendia... não queria...
Quase não podia falar por causa das convulsões que os soluços provocavam e isso fez que
ele se sentisse mal, mas então, se amaldiçoou por sentir pena dela. Por todos os demônios; sua
mulher o tinha pateticamente abobalhado. Rasgou a camisola.
— Tire isso agora mesmo! — ordenou com um tom imperativo.
Ela assentiu, logo voltou a apoiar o pé no tamborete.
— Ten... tenta me compreender. Não esta... estava preparada para t... ter filhos. Neces... sito
tempo... para me prepa... rar... para a dor... e os m... médicos.
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O modo em que Louisa pronunciou a palavra "médicos", como se estivesse falando de umas
repulsivas serpentes, fez que Simon ficasse imóvel. Ela usara esse mesmo tom em seu quarto na
casa do Draker, quando desvairou falando sobre como os médicos sangravam às mulheres diante
da mínima desculpa.
— Não ten... tentava desafiá... — Ela continuava soluçando enquanto tirava a esponja. — De
verdade, não tem nada a ver com...
Não pôde acabar a frase, já que teve um ataque de pranto. De repente, Simon começou a
ligar os pontos. Recordou como o dia do incidente no porto, quando finalmente chegou o médico,
e ele e Draker estavam negociando os termos do matrimônio, ela se negou rotundamente a deixar
que ele a examinasse, por mais que todos insistissem. E também se lembrou de alguns
comentários que ela fez na escola, a respeito das reclusas dando a luz... rodeadas de sangue. Mas
por que estava tão...?
A conversa com sua irmã sobre a princesa Charlotte o assaltou de repente e Simon soltou
um bufo. Meu Deus...
Segurou a mão tremula quando ela soltou a esponja sobre a penteadeira.
— Estava lá, não é? — disse com um fio de voz. — Estava presente quando a princesa
morreu enquanto dava a luz.
Incapaz de falar por causa das lágrimas, ela assentiu com a cabeça.
Então tudo era por culpa do medo, que ele deveria ter reconhecido se não tivesse sido tão
idiota. Amaldiçoando-se por seu mau caráter, estreitou-a fortemente entre seus braços.
— Chist... amor, se acalme — sussurrou ao ouvido dela.
Com um soluço abafado, ela o rodeou com os braços, procurando desesperadamente o
apoio de seu algoz, e ele tentou consolá-la o melhor que pôde, murmurando palavras de conforto
e esfregando-lhe as costas.
— Eu não de... deveria presenciar o parto — confessou Louisa. As lágrimas continuavam
rolando por suas faces. — Proibiram todas de... de se aproximar do quarto.
Simon a estreitou delicadamente. Sentia-se como um monstro, como um verdadeiro tirano.
Ela tentou se acalmar e controlar os estrepitosos soluços.
— Mas era minha irm... minha irmã. E eu gostava dela. Então me... escondi em seu ves...
vestidor.
— OH, não, linda.
— Foi horrível — sussurrou ela contra o peito dele. — Gritou durante horas...
Simon podia imaginar a cena. Ouviu que a princesa Charlotte passou dois dias e meio
horríveis, tentando dar a luz.
— Mas então chegou o momento definitivo, o parto... o bebê era enorme, muito grande
para... e eles não queriam usar os fórceps e... — A voz dela se tornou glacial. — Havia muito
sangue... muito e não só então, mas antes também.
Louisa levantou o rosto e o olhou com horror.
— Quando finalmente o bebê nasceu, ela estava praticamente morta de tanto sangrar e de
fome. O que esperavam? Como pode uma mulher sobreviver depois de ter passado por...
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tempo, esquecer que sua esposa acabava de convencê-lo a fazer uma coisa que não teria feito
nenhum outro marido em seu são julgamento.
"Jamais permita que as lágrimas de uma mulher o atormentem até o ponto de que aceite
fazer algo que não deveria", a voz de seu avô ressonou em sua cabeça. Simon amaldiçoou o
Monteith, e logo amaldiçoou a si mesmo quando seu pênis reagiu com a mesma rapidez com a
qual Raji avistava um pássaro. Por Deus; tornou-se completamente louco. Não obstante, não
podia fazer nada para se controlar quando estava com ela.
Louisa devia ter notado sua excitação, porque afastou a boca e o olhou com olhos
tentadores.
— Vamos para cama? — perguntou em um murmúrio gutural.
Simon desviou a vista e viu a imagem dos dois refletida no espelho, com os braços
entrelaçados, ele absolutamente excitado e ela com a perna ainda levantada e apoiada no
tamborete. Tinha a camisola erguida até a cintura e a púbis sedosa estava desavergonhadamente
à vista...
Notou como seu pênis ficava mais duro e sentiu uma urgente necessidade de fazer amor ali
mesmo.
— Vire-se — ele ordenou.
Quando ela começou a descer a perna do tamborete, ele disse:
— Não, não a desça. Quero ver todo seu corpo. Quero ver a mim mesmo enquanto te
acaricio.
Apesar das faces de Louisa ficarem ruborizadas, fez o que ele pedia. Girou o corpo até que
ficou olhando para o espelho, com um pé apoiado sobre o tamborete e o outro no chão, expondo
a púbis em seu maior esplendor.
A boca do Simon ficou seca. A despiu, tirando a camisola por cima da cabeça, e em seguida
tirou o roupão. Colocou-se atrás dela e começou a manusear os seios com uma mão enquanto que
com a outra acariciava a pele delicada entre as pernas. O rosto de Louisa ficou vermelho, como as
partes íntimas; não obstante, ela soltou um gemido de prazer que conseguiu que o pênis de Simon
alcançasse a dureza de uma barra de ferro.
— Às vezes te desejo com uma intensidade doentia — se justificou ele. Esfregou o pênis para
cima e para baixo pela deliciosa ranhura que se abria entre as nádegas dela para demonstrar quão
excitado estava por sua culpa.
Louisa entreabriu os olhos, com as pálpebras pesadas e deslizou a mão para trás para
acariciar o membro.
— Não. — Ele afastou a mão. — Apoia as mãos na penteadeira. Quero fazer amor assim, por
trás, enquanto você olha — com a boca colada a orelha dela, continuou em um áspero sussurro.
— Quero que veja o que eu vejo quando te penetro — Lambeu o lóbulo da orelha. — Quero que
veja sua imagem mais erótica, a que me consome de dia e de noite.
Os olhos de Louisa tinham adotado um tom escuro e sedutor. Fez o que ele ordenava:
inclinou-se para frente e apoiou as mãos na penteadeira. O cabelo caiu em uma livre cascata,
ocultando os seios e ele se apressou a recolhê-lo e a jogá-lo por cima de um dos ombros para
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Capítulo 23
Querido primo:
Não tinha nem ideia de que pudesse chegar a ser tão tirano com sua pobre esposa. De
verdade têm esposa, ou é esta a opinião de um solteiro que desfruta maltratando uma mulher com
o fim de conseguir que ela faça o que quer?
Sua surpreendida parente,
Charlotte
Dois dias mais tarde, as Damas de Londres concluíram a ronda de entrevistas de seus
candidatos potenciais. Sentada no escritório de sua casa ao lado de Simon, da senhora Harris e de
Regina, Louisa sentia um tremendo alívio de ter acabado com o tedioso trabalho.
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Raji estava se divertindo muito, saltando de prateleira em prateleira, mas ninguém lhe dava
atenção. Em troca, não aconteceu o mesmo com os candidatos.
Simon permitiu, de propósito, que Raji ficasse em seu escritório durante as entrevistas,
como uma de suas táticas sutis para entreter os interlocutores e obter algumas respostas francas.
Infelizmente, a honestidade que surrupiou do senhor Duncombe resultou do mais inesperado. As
palhaçadas do Raji incitaram o homem a fazer comentários mordazes sobre os indianos
governados por Simon. Obviamente, o senhor Duncombe pensou que essas brincadeiras de mau
gosto fariam graça ao Simon, mas se equivocou.
— Então? O que opina deles? — perguntou Simon.
Louisa suspirou.
— Sem dúvida nenhuma, o senhor Duncombe está descartado. Acredito que todas estamos
de acordo em que sua atuação foi... bem... como diria... foi a de um...
— Tolo de nascimento? — sugeriu Simon, com afã de ajudar.
As outras damas se contiveram para ocultar seus sorrisos, mas Louisa lançou a seu marido
um olhar eloquente.
— Eu teria dito "cretino", usando a terminologia da senhorita Crenshawe, mas creio que
também podemos aceitar o adjetivo "tolo".
Simon se virou para as demais e tentou manter o porte de seriedade.
— Creio que todas estão de acordo, não? — Quando as damas assentiram, ele acrescentou.
— Assim Duncombe está descartado — se recostou na cadeira, mas não se atreveu a olhar a
esposa. — E... hum... o que acham do Godwin?
Louisa fez uma careta.
— Sabe perfeitamente bem o que pensamos. Não somos tão ingênuas. É mais que evidente
que, em pessoa, Godwin é muito feroz, inclusive para o meu gosto. Fielden é mais equilibrado e
sereno com suas opiniões, sem sombra de dúvidas.
— Fico feliz que o admita - repôs Simon, com uma nota de alívio em sua voz.
— Como não o faria, quando Godwin sugeriu, inclusive, atacar a prisão para ilustrar nossa
determinação a não ceder até obter melhoras penitenciárias?
— Pois me pareceu uma ideia interessante — interveio a senhora Harris, tentando defender
bravamente o amigo.
— Teriam sido fuziladas sem contemplações — Simon olhou para a esposa. — Por mais que
apoie sua causa, não desejo ficar viúvo tão cedo.
Louisa o fulminou com o olhar.
— Não é necessário que desfrute com seu triunfo.
— Não estou desfrutando — respondeu, embora seus lábios não puderam ocultar um
sorriso de satisfação. — Simplesmente me limito a me felicitar pelo bom senso que demonstrei ao
casar com uma mulher tão esperta e tão ardilosa. E que tem o suficiente decoro para aceitar
quando comete um erro, mesmo que doa.
— Se acha que com essa enxurrada de elogios conseguirá me enrolar... — Louisa sorriu
efemeramente. — Então, provavelmente tenha razão; me convenceu.
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dolorosamente, que faria ou diria qualquer coisa para se livrar desse desejo doentio.
Seu único consolo era que ela conseguia exercer a mesma influencia sobre ele. E
frequentemente o fazia, inclusive quando ele a amaldiçoava por tratá-lo desse modo. Era como se
desatasse uma silenciosa guerra de paixões entre eles. Assim funcionava um matrimônio, com
essa conflagração constante e tempestuosa? Esperava que não, porque apesar de agora essa
situação conseguir excitá-la, temia que degenerasse em algo negativo. Especialmente quando
tivessem filhos. Mordeu o lábio. Ultimamente se sentia mais tentada pela ideia de ter um filho.
Ainda recorria às esponjas, mas começava a duvidar em usá-las.
Apenas a latente imagem da tortura de sua meio-irmã evitava que jogasse todas as esponjas
no lixo.
— Céus! É muito tarde! — exclamou a senhora Harris, tirando Louisa de seu devaneio. —
Temos que ir! Combinamos com o dono da loja de brinquedos na prisão para mostrar o primeiro
lote de figuras.
— OH, havia esquecido — Louisa se levantou rapidamente e deu uma olhada ao relógio. —
Não sei se conseguiremos chegar em meia hora.
— Se tomarem minha calesa, sim — Simon também se levantou. — Está estacionada em
frente a porta. Ia usá-la para ir assistir às sessões. As acompanharei à prisão.
O chofer da senhora Harris pode ir mais devagar e quando chegar, eu irei ao Parlamento.
— Não queremos causar nenhum inconveniente... — começou a dizer a senhora Harris.
— Não é nenhum inconveniente. Não tem importância chegar tarde. Além disso, eu também
participei do projeto. Gostaria de conhecer esse vendedor de brinquedos, para ver como termina
esta iniciativa.
— Certamente, sua intervenção será de grande ajuda — disse Louisa, enquanto dava de
presente um sorriso de agradecimento.
A magnífica carruagem do Simon lhes permitiu chegar à a prisão em um tempo recorde. Mas
o mais importante foi que o vendedor de brinquedos se mostrou muito animado com os
soldadinhos pintados à mão que as damas mostraram, e muito impressionado com a intervenção
direta de Simon tanto que se ofereceu para comprar todos os lotes que pudessem entregar. Louisa
quase não podia conter sua alegria.
Enquanto a senhora Harris se dedicou a mostrar ao vendedor a sala onde trabalhavam as
reclusas, Louisa acompanhou Simon até a porta da instituição. Apoiou a mão em seu braço
carinhosamente e disse:
— Não tenho palavras para expressar o muito que meu grupo aprecia sua ajuda.
— Só seu grupo? — inquiriu ele com um sorriso zombador.
— Não, claro que não. Sei que o fato de nos ajudar entorpeceu seus planos, mas...
— Esperem! — gritou uma voz as suas costas.
Louisa deu a volta e viu uma enfermeira da prisão que corria para eles.
— Graças a Deus que ainda está aqui, senhorita North... quero dizer, senhora duquesa.
— O que aconteceu?
— Lembra-se da senhora Mickle?
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— Sim — Louisa conheceu Betsy Mickle no módulo destinado aos devedores, onde ela
estava trancada junto com o marido. Betsy era uma moça encantadora e educada, mas quando
jovem, se desviou do bom caminho e acabou trabalhando em um bordel. Depois teve uma vida
tumultuada, apesar de Louisa pensar que sua situação começava a melhorar desde que o senhor
Mickle conseguiu acabar de saldar todas as dívidas no ano anterior.
— Não me diga que voltou para cá, presa — lamentou Louisa. — Será que seu marido não
sabe o que é viver sem contrair dívidas?
— Receio que não. Chegaram esta semana, ela com uma barriga enorme, a ponto de dar a
luz. Esta manhã entrou em trabalho de parto, mas houve complicações e está passando muito
mal.
— OH, não — suspirou Louisa, com o coração compungido.
A enfermeira sacudiu a cabeça várias vezes.
— O bebê vem de nádegas. O médico está com ela e acredita que pode conseguir dar a volta
ao pequeno, mas Betsy está muito alterada e não fica quieta. Talvez você possa falar com ela e
acalmá-la?
— Eu? E por que não faz o marido dela?
— Ele não suporta vê-la sofrer. Tiveram que tirá-lo lá de dentro. Mas ela sempre se mostrou
parcial com você. Se pudesse vir comigo à enfermaria, talvez conseguiria acalmá-la para que o
doutor possa fazer seu trabalho.
— De acordo — concordou Louisa, embora o mero pensamento de assistir um parto a
enchia de horror.
— Minha esposa não pode ir — interveio Simon, depositando uma mão sobre o braço de
Louisa para detê-la. — Deve haver alguém mais que possa fazê-lo. A senhora Harris, talvez?
— Não, eu irei — se ofereceu Louisa. — De verdade, Simon, quero fazer isso — deu a ele um
sorriso afetuoso. — Preciso fazer.
Era o momento de sacudir seus medos. Durante anos conseguiu estar suficientemente
ocupada com outras questões que requeriam sua ajuda no cárcere, mas sempre afastada da
enfermaria. Durante anos evitou os médicos, inclusive se negou a ajudar Regina no hospital
Chelsea. Mas se conseguisse deixar para trás seus...
— Além disso, aprecio essa mulher. Não posso suportar a ideia de que esteja passando por
este mau, sem ninguém ao lado dela que a conheça e a queira.
Simon esquadrinhou seu rosto, com olhos inquietos.
— Então irei contigo.
— Nem pensar. A última coisa que essa mulher precisa agora é ver como um homem
desconhecido a vê nua da cintura para baixo.
— Maldita seja, Louisa?
— Tudo vai ficar bem, eu garanto — E apertou o braço dele para animá-lo. — Não se
preocupe. Vá à sessão de Westminster.
— Não irei — asseverou ele com firmeza. — A esperarei aqui.
Louisa notou um nó na garganta.
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de Louisa como se sua vida dependesse disso. — E se... se for um menino... James Andrew. Como
o pai.
Apesar do terror que a invadia, Louisa sorriu.
— São nomes adoráveis.
Betsy soltou um grito de dor, e Louisa estreitou a mão dela contra o peito com força,
rezando para não perder o controle de si mesma.
— Muito bem, calma. — Tentou reconfortá-la o doutor. — O bebê é pequeno. Isso é bom.
Será mais fácil vira-lo.
— Não pode dar nada a ela para acalmar a dor? — suplicou Louisa quando Betsy soltou
outro grito dilacerador. — Brandy? Láudano?
O médico sacudiu a cabeça.
— Necessito que esteja alerta para que possa empurrar quando o bebê estiver no lugar.
Mas, e se não conseguisse vira-lo? Não, melhor não pensar nessa fatalidade. Precisava ser
forte e ajudar a amiga.
— Vamos, Betsy, aguenta um pouco mais — murmurou o doutor, incrivelmente sereno,
enquanto pressionava o abdômen com movimentos bruscos e bem direcionados.
Louisa levantou a vista e viu o médico com o cenho franzido, absorto em uma absoluta
concentração. Betsy apertava novamente a mão, mas pelo menos não gritava.
De repente, o médico esboçou um amplo sorriso.
— Parece que este pequenino é muito brincalhão; está se mexendo. Aguenta... aguenta...
Muito bem! virou!
As lágrimas começaram a rolar pelas faces de Louisa enquanto Betsy desabava na maca.
— Ainda não terminamos, senhoras — as acautelou o doutor. — Agora temos que ajudá-lo a
sair. Precisa empurrar forte, Betsy. Empurra!
A parte seguinte foi tão rápida que Louisa mal teve tempo de perceber o que acontecia.
Betsy ergueu a cabeça, com o rosto crispado de dor e concentração, e após um momento, o
doutor sustentava entre as mãos uma pequena ratinha que não parava de guinchar.
Em um abrir e fechar de olhos, a enfermeira cortou o cordão umbilical e limpou o bebê antes
de retornar à maca e entregá-lo a Betsy.
— Aqui está. Olhe, o pequeno brincalhão resultou ser uma preciosa menina.
Enquanto Betsy tomava a filha nos braços, Louisa começou a soluçar.
— Senhorita North! — exclamou Betsy. — Está você bem?
Esforçando-se para recuperar a compostura e não desmoronar ante o amontoado de
emoções que a invadiam, Louisa assentiu entre lágrimas.
— É... é adorável. — inclinou-se sobre Betsy para contemplar à criatura. — Um anjinho.
E era, apesar da carinha arroxeada e o escasso cabelo preto e úmido que sobressaía na
diminuta cabecinha.
— Quer segurar minha pequena Mary Grace? —sussurrou Betsy.
Louisa assentiu, muito aturdida por tantas emoções para poder pronunciar uma única
palavra. Betsy passou o bebê, e Louisa conteve a respiração.
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Mary Grace era frágil como uma bonequinha, com uma bonita boquinha de pinhão e com
punhos diminutos que agitava sem parar.
— Já vem com vontade de brigar, não é? — Louisa arrulhou ao bebê. — Sabia que é a
coisinha mais doce e mais forte do mundo?
Louisa havia segurado os filhos de numerosas reclusas, e frequentemente brincava com a
sobrinha e o sobrinho, sentando-os em seus joelhos, mas desta vez a sensação era absolutamente
diferente. Sentia que ajudara a trazer esse bebê ao mundo e a ideia a enchia de uma emoção
avassaladora. Uma coisa era ouvir que as mulheres davam a luz frequentemente sem problemas, e
outra bem diferente era presenciar um parto tão fácil.
Entregou o bebê a Betsy, e então sentiu uma espetada de inveja quando a boquinha daquele
anjinho entrou em funcionamento, procurando instintivamente o seio de Betsy.
Com um nó na garganta, pensou que desejava ter uma coisinha tão tenra como Mary Grace.
Queria um filho do Simon.
— Seu marido ficará encantado — murmurou Louisa.
— OH! James! — exclamou Betsy. — Tinha esquecido dele!
A enfermeira soltou uma gargalhada.
— Quando encontrá-lo, prometo que não direi a ele o que acaba de dizer. — E ato seguido,
saiu da sala para ir procurar o novo papai.
O médico deu por concluído seu trabalho e pôs toda sua atenção em outra paciente,
deixando Louisa e Betsy sozinhas, com a pequena Mary.
Betsy embalou a filhinha e estampou um amoroso beijo em sua diminuta testa.
— É meu primeiro filho.
— Sim, a enfermeira me contou.
— Temia não poder ter filhos. Nunca fiquei grávida, enquanto trabalhei no bordel em Drury
Lane, assim estava preocupada. — As lágrimas alagaram seus olhos. — Mas aqui está, meu
pequeno anjinho.
Louisa apertou o braço da nova mamãe.
— Sim, é adorável.
Betsy olhou Louisa.
— E não poderia ter feito isso sem você, senhorita North.
— Bobagens — repôs Louisa. Estava a ponto de explicar que já não era a senhorita North,
quando Betsy desviou os olhos e ficou visivelmente rígida.
— Olhe! Não posso acreditar que ele esteja aqui. Fazia tantos anos que não o via.
Louisa se virou e viu Simon, que abria caminho entre o recinto da enfermaria abarrotado de
gente, esquivando às enfermeiras e as pilhas de lençóis manchados de sangue. Olhou Betsy
espantada.
— Você o conhece?
Betsy assentiu.
— É lorde Goring. Costumava a ir ao bordel todo sábado de noite, sem faltar nenhuma vez.
O coração de Louisa começou a pulsar disparadamente enquanto notava uma desagradável
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secura na boca.
"Passei a metade de minha juventude em um bordel", recordou que Simon comentara. E
antes que seu pai falecesse, Simon ostentava o título inferior de marquês de Goring.
— Está certa de que é ele?
— Bom, mudou um pouco; está mais velho, mas o reconheceria em qualquer lugar. É o único
marquês que conheci. Pobre moço, seu avô se comportava com ele como um verdadeiro tirano,
cada vez que o levava ao bordel à força; abusava dele sem piedade.
— Seu avô? — Louisa sentiu uma repentina espetada de dor no peito. — O avô o levava ao
bordel?
— Começou a levá-lo quando o moço só tinha quatorze anos. Seu avô era o homem do qual
uma vez lhe falei, não se lembra? O conde foi meu protetor durante alguns meses.
Louisa quase não podia respirar. Um milhão de pensamentos a assaltaram perversamente.
— Jamais mencionou o nome.
Betsy franziu o cenho.
— Não, e creio que tampouco deveria ter confessado agora que conheço lorde Goring. Mas
é que fiquei tão surpresa ao vê-lo aqui... — Se calou. — Chist, se aproxima.
Virgem Santa, Louisa tampouco disse a Betsy que Simon era seu marido.
— Isto... Betsy...
— Como está a nova mamãe? — A voz de Simon ressonou a suas costas. Quando deu a
volta, viu que ele tinha os olhos fixos nela e não em Betsy.
— OH, muito bem, e o bebê também — respondeu Louisa, logo se apressou a acrescentar.
— Senhora Mickle, apresento meu marido, o duque de Foxmoor.
Louisa notou como Betsy continha a respiração, mas não a olhou, já que estava pendente da
reação do Simon.
— A enfermeira me pediu que lhe informasse que o senhor Mickle está dormindo. —
Levantou a vista até situar no rosto de Betsy. — E que não queria despertá-lo... Betsy? — Simon
ficou paralisado e o sorriso relaxado apagou do rosto dele em um instante.
Agora sim, não restava mais dúvida. Conheciam-se. E provavelmente no sentido bíblico.
Mas apesar da pontada de ciúmes que Louisa notou no peito, o sentimento não podia ser
comparado com a tristeza que subitamente a invadiu ao descobrir que Simon fora maltratado pelo
avô, que inclusive se atreveu a levá-lo a um bordel, com tão somente quatorze anos! Notou na
cara de susto dele; era como se acabasse de ver um amigo da infância que o ameaçasse relatando
histórias sobre as embaraçosas tolices que cometeu quando não era mais que um menino.
Mas Simon se recuperou rapidamente e saudou Betsy com uma inclinação de cabeça.
— Esse é seu nome, verdade? Betsy? Estou se... seguro de que minha... minha esposa
mencionou antes. — Tinha começado a gaguejar, e Simon jamais gaguejava. — Perdão por estas
excessivas demonstrações de intimidade quando acabamos de nos conhecer, mas depois que ela
me descreveu, me senti como se já... como se já nos conhecêssemos.
— Obr... obrigada, senhor... senhor duque — balbuciou Betty.
Invadida por um sentimento de culpabilidade por não ter contado antes a Betsy, Louisa
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tomou a mão da reclusa e a apertou carinhosamente. Não queria que Simon soubesse o que Betsy
acabava de relatar, pelo menos não até que tivesse averiguado mais detalhes. Não fazia nenhum
sentido envergonhar ele e a amiguinha.
— O parto foi como uma seda — adicionou Louisa rapidamente, para cobrir o incômodo
silêncio. — O doutor conseguiu virar o bebê com uma incrível rapidez, e aqui está... é um pequeno
anjinho.
— Bem, bem — repôs Simon, visivelmente constrangido. Apoiou a mão no ombro de Louisa.
— Vamos?
— Ainda não — respondeu Louisa. Quando notou como os dedos de seu marido se cravavam
em seu ombro convulsivamente, tentou se fazer de distraída, como se não se desse conta da
tensão que reinava, e se esforçou para sorrir inocentemente. — Eu gostaria de ficar um pouco
mais com Betsy, para ajudá-la com o bebê. Além disso, não precisava ir à sessão do Parlamento?
— Mas como retornará a casa? — inquiriu ele, com um brilho de pânico nos olhos.
— A senhora Harris ainda está aqui, não? E estou segura de que ela já sabe que precisa me
acompanhar de volta a casa.
— Sim, mas...
— Vamos, Simon, ficarei bem.
Os olhos do Simon foram de Louisa a Betsy com uma visível agitação.
A Louisa pareceu estranho; já havia revelado que quando jovem foi a um bordel. Assim... por
que parecia tão preocupado por ela ter conhecido uma das mulheres que trabalhava naquele
antro de perdição? A menos que tivesse ocorrido algo mais sério entre eles...
Não, não poderia suportar pensar nessa ideia. Mas precisava averiguar se era verdade. OH,
sim, precisava descobrir.
— Sua esposa tem razão, senhor duque — repôs Betsy, com uma voz surpreendentemente
calma. Logo embalou o bebê. — Estará bem, aqui, comigo. É minha amiga. Jamais permitiria que
nada, nem ninguém lhe fizesse mal.
— Obrigado — repôs ele com um fio de voz. Procurou o olhar de Louisa e ela viu a angústia
que refletiam seus olhos. — Mas não demore, carinho. A sessão não durará muito.
Ela assentiu antes de despedir-se dele. Assim que Simon abandonou a enfermaria, virou para
Betsy, com a firme determinação de conseguir respostas.
Betsy continuava embalando seu bebê adormecido. Envergonhada, baixou a cabeça.
— Sinto muito, me enganei — balbuciou. — Confundi seu marido com outro homem. Não
era ele. Peço perdão, senhora.
— Não seja ridícula — sussurrou Louisa. — Sei que era ele. E não só pelo que disse.
Betsy começou a negar com a cabeça.
— Não sei no que devia estar pensando para soltar essa mentira. Seu marido não é o
homem que...
— Me escute! Droga! Não foi nada. Já sabia sobre o bordel.
Betsy levantou a cabeça de repente.
— O que?
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— Quero dizer, sabia que Simon frequentou um bordel quando era jovem — Louisa lançou
um olhar furtivo para o resto dos pacientes e baixou a voz. — Foi ele mesmo quem me disse.
A nova mamãe abriu os olhos descomunalmente.
— E também sei que... a experiência o afetou muito. Odeia o avô, mas não sei o motivo, e
agora você me revelou que foi esse homem quem o levou ao bordel — segurou Betsy pelo braço
com força. — Deve me contar tudo; quero saber o que o conde fez a meu marido.
— Preferiria que perguntasse diretamente a seu marido — se desculpou Betsy.
— Já perguntei, e não me quis contar. — Engoliu. — E se você não me contar, pensarei que o
avô dele fez algo tão atroz e perverso como aquelas histórias sobre tipos asquerosos que ouvi
mais de uma reclusa contar, sobre homens que abusam sexualmente de meninos...
— Não, garanto que não se tratava disso! — Betsy parecia abatida. Continuando, admitiu. —
Bom, me parecia horrível, embora o que fazia não era tão perverso.
— Então o velho não abusou dele?
O rosto da reclusa escureceu.
— Sei que de vez em quando lhe dava surras horrorosas, mas basicamente sempre o
golpeava aqui. — Assinalou para o peito. — Dentro. Onde ninguém podia ver as cicatrizes das
feridas.
— Exceto você — sussurrou Louisa.
Betsy empalideceu.
— Minha relação com seu marido não foi o que você pensa, senhora, juro.
— Quer dizer que não deitou com ele?— perguntou, com o semblante irritado.
— Quero dizer... ele não sentia nada por mim... bom, sim que sentia algo, mas — Lançou um
profundo suspiro. — Para aquele moço, eu era mais uma... uma pessoa com quem conversar.
Entende? — Engoliu com dificuldade e cravou os olhos na sua filhinha recém-nascida. — Pobre
menino, a mãe não se preocupava com ele, o pai passava a vida metido em salas de jogo e o avô...
— Tentou o neto com um mundo cheio de vícios?
— Tentou? — Betsy soltou uma dura gargalhada. — Eu não diria isso — Inclinando-se para a
Louisa, sussurrou: — Lorde Monteith denominava "adestramento". Dizia que o menino devia
aprender que "se deitava com putas e se casava com damas".
— Estou segura de que essa é uma lição que a maioria dos cavalheiros aprendem sozinhos —
espetou Louisa. — Não compreendo por que ele tinha a necessidade de...
— Perguntei a lorde Monteith quando me converti em sua protegida. Disse que um de seus
filhos se afastou do caminho, porque se deixou "governar pelo pênis" e queria assegurar-se de que
a seu neto não acontecesse o mesmo.
Louisa não sabia se sentia-se eufórica ante essa clara evidência de que o tio de Simon
realmente se casou com uma mulher da Índia, ou triste de que o matrimônio tivesse reportado a
Simon tantas misérias.
Betsy acariciou as etéreas mechas de cabelo do bebê com um toque maternal.
— Então, decidiu ensinar ao menino que um homem deve saber conter suas necessidades,
que não deve sentir nada pela mulher com quem se deita. Que as mulheres são substituíveis, por
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Capítulo 24
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Querida Charlotte:
Sabe perfeitamente que não posso lhe contar minhas circunstâncias, nem me arriscar a
perder meu anonimato. Mas garanto que estou suficientemente familiarizado com as mulheres
para sustentar opiniões firmes sobre como deveriam ser governadas.
Seu amigo,
Michael
Simon não conseguia concentrar-se no Parlamento. Não podia separar de sua mente a
imagem de Betsy e sua esposa juntas, nem deixar de pensar no que aquela mulher poderia revelar
a Louisa.
E ele que pensou que só precisava se preocupar com a reação de Louisa ante o nascimento
da criança? Obviamente, não deveria ter se inquietado por essa questão; Louisa parecia um mar
de tranquilidade, quando a viu depois do parto. Mas quem sabia se continuaria inalterada se Betsy
lhe contasse os sórdidos detalhes das lições do avô Monteith? Seu estômago revolvia só em
pensar.
Por Deus, se soubesse que a amante de seu avô era a mulher que estava a ponto de dar a
luz, jamais teria permitido a Louisa entrar naquela maldita enfermaria. Embora, pensando bem,
agora Betsy tinha um marido e um bebê. Talvez tivesse tão poucos desejos quanto ele de revolver
o passado. Inclusive quando era a amante de seu avô, Betsy sempre foi muito discreta. E não tinha
nada a ganhar se contasse a indecorosa história a Louisa; certamente deveria saber que ele não
toleraria que incomodasse a sua esposa.
De repente, lorde Trusbut apareceu e tomou o assento que estava a seu lado, tirando-o de
seus pensamentos turbulentos.
— Ouviu a notícia de que os membros do Parlamento estão considerando criar um comitê
para elaborar uma lei que regulamente as prisões? — murmurou o barão.
Simon ficou rígido.
— Sério?
— Sua esposa deveria estar satisfeita — prosseguiu Trusbut. — E inclusive se a Câmara dos
Comuns decidir votar contra, com as eleições tão próximas, as coisas poderiam mudar
radicalmente. Um novo membro do Parlamento poderia romper o equilíbrio da balança a favor
das reformistas.
E isso era precisamente o que Louisa esperava que acontecesse. Simon olhou Trusbut com
atenção.
— E você, o que opina sobre a reforma penitenciária?
— Provavelmente o mesmo que você: que chegou o momento de levá-la a cabo. Viu com
seus próprios olhos o que nossas esposas e essas Quackers conseguiram em Newgate. É
surpreendente — acomodou-se no banco.
— E se um simples grupo de voluntárias pode conseguir tantas melhoras, pense o que
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poderia fazer um sistema instituído pela própria prisão e financiado pelo governo.
Simon contemplou Trusbut. Esse homem sempre foi um pensador independente, preparado
e competente, mas imparcial na política. O barão votava segundo seus princípios, e Simon o
admirava por isso. Talvez fosse o momento de Simon se meter novamente na vida política com o
apoio de homens como Trusbut e Fielden, e inclusive Draker; desse modo, quando fosse capaz de
separar-se de Sidmouth e de seus sequazes, encontraria alguns aliados incondicionais entre os
membros do Parlamento; homens com caráter, homens com resolução.
Homens sensatos, que não veriam os horrores da Revolução Francesa a cada passo.
— Trusbut, gostaria de me encontrar amanhã de noite no clube White's? é sócio, não é
verdade?
— Ficaria encantado, e se o agrada, esta noite poderíamos ir ao Brook's — disse Trusbut,
com aspecto de estar surpreso ante a oferta.
— Esta noite tenho um encontro. — Simon não pensava ir a lugar nenhum até que não
tivesse averiguado o que Betsy contou a sua esposa. — Mas será um prazer encontrar com você
amanhã de noite, depois que acabem as sessões do Parlamento.
— Será uma honra — respondeu Trusbut, assentindo com um gesto de cortesia.
Esse breve intercâmbio animou Simon, e a partir desse momento, foi capaz de participar da
sessão do dia e separar de sua cabeça, embora só temporariamente, suas preocupações com
Louisa e Betsy. Que agradável sensação, o fato de pressentir que finalmente iam começar seus
projetos políticos. Todo esse tempo se sentiu algemado, esperando que o rei cumprisse sua parte
do acordo. Mas ao ver que essa possibilidade se tornava mais incerta cada dia que passava, Simon
começou a se impacientar. Tinha vontade de agir, embora isso supusesse começar por algo
pequeno. E nesse instante se sentia contente de ter dado um passo para o futuro.
Infelizmente, sua alegria não durou muito. Assim que acabou a sessão, Sidmouth e
Castlereagh o encurralaram em um dos salões de Westminster Palace.
Sidmouth foi diretamente ao ponto.
— Diz-se que o grupo de sua esposa planeja apoiar Charles Godwin nas eleições.
— Isso é totalmente falso — espetou Simon.
— A informação foi dado por Godwin em pessoa.
— Então esse indivíduo mente. — Simon não se surpreendeu com a notícia; Godwin
provavelmente pensava forçar o apoio das Damas de Londres estendendo o rumor. Devia ter se
dado conta de que a entrevista não saiu como ele esperava.
— Então sua esposa não o entrevistou como um candidato potencial?
Simon apertou os dentes. Maldito fosse o idiota do Godwin; retorceria o pescoço dele na
próxima vez que o visse.
— Isso é verdade. E apesar de as damas ainda não terem comunicado, decidiram não
secundá-lo por unanimidade.
— Mas têm outro candidato em mente.
Simon duvidou alguns instantes. Não estava seguro de ser correto desvelar essa parte da
história. Mas por outro lado, as Damas de Londres logo fariam público o apoio de seu candidato;
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Tories é um partido político inglês criado no final do século XVIII, grande apoiante da coroa britânica. No entanto, ao longo do
tempo os Tories têm vindo a mudar o rumo da sua filosofia política. Dos Tories descende o atual Partido Conservador, maior partido
da oposição no Reino Unido. O Partido Conservador é, ainda, o segundo partido político do país em termos de membros do
parlamento, o maior em termos de afiliados, e o maior em termos de representantes em governos locais.
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homem tivesse se dado conta. Simon o teria substituído por Robert Peel, mas sem a ajuda do rei,
provavelmente não restava nenhuma outra escolha. Sidmouth e Castlereagh podiam estar
agonizando politicamente, mas ainda não estavam despejados.
— Compreendo — respondeu, procurando não comprometer-se.
— Também esperamos que você e sua esposa se distanciem das Damas de Londres.
Maldito fosse. Simon aspirou ar lentamente.
— Não posso imaginar por que isso é necessário.
— Não podemos apoiar um primeiro-ministro que permite que a esposa se intrometa na
política. Se não conseguir afastá-la dessa via, não só secundaremos outro candidato como
primeiro-ministro, mas também nos asseguraremos de que jamais tenha a oportunidade de
ocupar esse cargo. Castlereagh e eu temos poder suficiente para conseguir isso, especialmente
agora, que os membros do Parlamento se sentem tão inquietos ante as iminentes eleições e a
possibilidade de que Godwin ganhe graças a sua aprovação.
— Já disse que nem eu nem o grupo de minha esposa pensamos em apoiar Godwin.
— Já, mas isso as pessoas não sabem. E posso fazer que esta informação se difunda como
verdadeira e afundar sua credibilidade na Câmara dos Comuns para que ninguém ouse te oferecer
uma posição de poder.
A ameaça era tão clara como provocadora. Se ele continuasse permitindo que Louisa
apoiasse às Damas de Londres, sua carreira política iria afundar. E ainda não contava com aliados
necessários para combater essa possibilidade.
— Isso não é justo — disse em voz baixa. — Essas mulheres têm todo o direito do mundo de
exigir uma reforma penitenciária e estão em seu direito de apoiar um candidato razoável...
— Sim, e nós temos todo o direito de escolher quem substituirá Liverpool, não é verdade?
— O rei jamais permitirá - murmurou, apertando os dentes.
— O rei sabe que estamos mantendo esta conversa. Diz que não fez o que ele esperava com
sua filha, assim agora é nossa vez de tentar persuadi-lo.
Simon empalideceu.
Jamais deveria ter confiado em sua maldita majestade. Esse homem venderia a própria mãe
para aplacar seus ministros. Não importava se a pessoa sofria por culpa desse rebanho de
incompetentes; o rei só desejava paz e tranquilidade, a qualquer preço. E a possibilidade de
desfrutar de seus prazeres. Mas era Simon diferente do monarca? Posto que não queria que
Louisa o odiasse nem se negasse a deitar com ele, estava disposto a capitular com o grupo de sua
esposa, inclusive a assumir o risco que sua decisão suportava para a própria carreira política.
Inclusive sabendo que o país iria melhor, se ele chegasse a ocupar o cargo de primeiro-ministro,
não estava disposto a defraudar Louisa.
Maldição. O avô Monteith tinha razão. Simon era um escravo de suas paixões. Não, não
podia continuar assim.
— De acordo — consentiu, apesar de odiar o fato de ter que ceder ante uma chantagem tão
repugnante. — Me assegurarei de que minha esposa se demita de seu cargo na Sociedade das
Damas de Londres. Mas, deve compreender que não posso fazer o mesmo com minha irmã nem
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Era mais de duas da madrugada quando Louisa acordou no quarto principal de Foxmoor
House, com o livro apoiado sobre o peito e a vela quase consumida. E sem Simon. Seu marido
ainda não retornara do Parlamento.
Que estranho. Às vezes as sessões se prolongavam bastante, mas até tão tarde? Inclusive o
pobre Raji, que ela levou ao quarto para lhe fazer companhia, adormeceu sobre o travesseiro do
Simon. Procurando não acordar o macaco - nem preocupar-se pensando onde poderia estar seu
marido - pôs o robe sobre os ombros e se dirigiu para as escadas que conduziam ao andar inferior.
Sabia que agora seria impossível voltar a conciliar o sono, assim, enquanto estivesse
acordada, não seria uma má ideia dar uma olhada em outro punhado de cartas. Ela e Simon
tinham quase terminado de repassar a correspondência do avô Monteith. O advogado de Simon
lhes enviou uma nota comunicando que descobriu uma caixa com cartas de lorde Monteith no
jazido da família, mas Simon duvidava que pudessem conter algum dado relevante. Simon dizia
que seu avô jamais teria permitido a esposa conservar uma informação tão comprometedora.
Segundo Simon, lorde Monteith sempre foi muito severo com a esposa, o que não
surpreendeu Louisa absolutamente, depois do que Betsy lhe contou a respeito desse homem e
suas táticas.
De novo voltou a sentir a rigidez desagradável no ventre; a raiva e o horror que a
consumiram quando Betsy revelou os métodos tão desprezíveis que o avô do Simon utilizou para
ensinar o neto que "um homem sempre deve manter suas necessidades corporais bem
controladas" e que "nenhuma mulher é única, todas são substituíveis".
Que pessoa mais horrível. Não estranhava que Simon o odiasse. Mas devia contar ao Simon
que sabia a verdade sobre o conde? Não. Simon era muito orgulhoso e era óbvio que se
envergonhava dos cruéis métodos de seu avô. Se não fosse assim, teria lhe contado tudo o que
teve que suportar.
Louisa não queria humilhá-lo. Ansiava ajudá-lo a superar esse trauma, provar que o amor
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não era uma debilidade que deveria ser evitada. Pelo que Betsy revelou e pelas coisas que seu
próprio marido lhe disse, parecia que Simon acreditava ser incapaz de apaixonar-se por alguém.
Entretanto, Louisa não estava de acordo. Foi testemunha da gentileza do Simon, de sua
indulgência. Seu marido podia ser uma pessoa com um grande coração, se entregasse sem
oferecer resistência.
Mas, para apagar o dano que seu desumano avô lhe infligiu, precisava paciência e
compreensão. Uma das coisas que seu trabalho em Newgate lhe ensinou era que os corações
feridos respondiam melhor aos sinais claros de carinho e confiança. As mulheres em Newgate se
reabilitaram porque ela e a senhora Fry diziam a elas: "confiamos em você; pode fazer, inclusive
melhor que nós. Queremos ver como faz".
Louisa devia demonstrar a seu marido que confiava nele, também. Já havia dado o primeiro
passo abandonando as esponjas. Chegou a hora de vencer seus medos e agora era a vez do Simon
esquecer o passado. Entrou no escritório e se deteve em seco. Seu marido jazia reclinado na
cadeira do escritório; parecia estar dormindo.
Viu o casaco pendurado no respaldo de uma cadeira, o colete perfeitamente dobrado sobre
a escrivaninha e a gravata em cima do globo terrestre. Louisa sorriu. Pobre Simon. Devia ter
retornado tarde a casa e, ao vê-la adormecida, decidiu olhar às cartas. Aproximou-se da mesa e
tentou tirar da mão dele a carta que seu marido mantinha firmemente segura.
O suave movimento foi suficiente para despertá-lo.
— Maldita seja, que diabo...? — Simon se levantou de um salto, mas ao vê-la diante ele, com
a regata e o robe, ficou calado.
Um estranho receio se perfilou em suas feições antes de desviar os olhos para a mesa e
pegar outra carta.
— Eu... ehh... decidi trabalhar um pouco antes de subir ao dormitório.
Sem apagar o sorriso dos lábios, Louisa pegou a carta.
— São duas da madrugada, amor. Creio que será melhor que vá dormir.
— Por que ainda está levantada? — inquiriu ele.
Louisa deixou de sorrir. Então, ele não a encontrou adormecida, mas sim ao retornar para
casa foi diretamente ao escritório. Engoliu em seco. Provavelmente isso não era um
comportamento incomum em um homem como ele, não?
Entretanto, era a primeira vez que fazia isso. Inclusive nas noites que Simon decidia ficar
trabalhando até tarde, primeiro subia para avisá-la.
— Raji e eu adormecemos te esperando — explicou ela. — Quando acordei e não te vi no
quarto, vim ao escritório.
— Não queria incomodá-la — disse ele, embora imediatamente quis retificar e acrescentou
em um tom mais frio: — Fui ao clube. É o que costumam fazer os homens, já sabe, passar um bom
tempo no clube, bebendo e jogando.
Entretanto, Simon não cheirava a álcool.
Não estava sendo honesto. E ela suspeitava da razão: Simon estava com medo do que sua
esposa poderia ter averiguado sobre ele nessa tarde e da reação ante tal revelação.
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Então, Louisa devia demonstrar que nada poderia alterar o que sentia por ele.
— Passou uma noite entretida, não é verdade? — proferiu ela com um tom alegre, e se
inclinou para pegar a mão dele. — Então, tem mais motivo para ir para cama e descansar um
pouco.
Simon inalou ar com brutalidade, e em seguida segurou a mão da esposa com firmeza,
obrigando-a a deter-se. Quando ela se virou para ele, viu que Simon a olhava com os olhos entre
abertos, depois guiou a mão para seu membro viril.
Com o simples contato dos dedos de Louisa, seu pênis ficou duro imediatamente.
— Não preciso dormir, mas sim de algo muito diferente — anunciou com a voz rouca.
Simon a contemplava com uma intensidade quase febril. Ela conhecia perfeitamente esse
olhar faminto. Emergia sempre que ele se sentia tenso ou incômodo, como um inevitável prelúdio
ao ato de fazer amor de uma forma desmedidamente brusca, que deixava a ambos extenuados e
que depois o permitia dormir.
Louisa jamais teria pensado antes, mas isso era porque desconhecia as táticas do Monteith
mais velho. Agora que sabia tudo, perguntava-se se o que seu marido realmente queria era algo
que não se atrevia a pedir: carinho, afeto.
E que provavelmente pensava que só conseguiria fazendo amor com ela.
"O conde nos ditava um sem-fim de normas que todos devíamos acatar - lhe contou Betsy. -
Nunca falar com o rapaz, e se ele nos dirigisse a palavra, devíamos contar depois a seu avô,
palavra por palavra. Tudo o que não fosse "faça isto, ou faça aquilo" custava ao pobre um bom
turno de açoites. O menino aprendeu a não dizer nada insensato nem sentimental. Aprendeu a
não questionar nada, só a exigir prazer."
Lentamente, ele deslocou a mão de Louisa por cima de sua enorme ereção.
— O que preciso é que aplaque isto. — Com a outra mão, desatou o laço do robe, o tirou,
deixando-a só com a camisola de linho muito fina.
Louisa notou como os mamilos endureciam diante do olhar felino com o qual ele a devorava.
Simon afastou algumas cartas e ordenou:
— Suba à mesa.
Apesar de ele costumar dar esse tipo de ordem, Louisa sentiu um desagradável calafrio nas
costas. Porque agora entendia o motivo. E desta vez, pensava dar o que ele não se atrevia a pedir.
— Suba à mesa, Louisa — repetiu Simon.
— Não.
Ele piscou.
— O que disse?
"Só permitia fazer amor em determinadas posições."
Louisa pediu a Betsy que fosse mais explícita. Então foi quando se deu conta de que com
Simon, só faziam amor em posições onde ele tinha o controle. E que existiam outras posições que
ele poderia ter usado, e entretanto não o fez.
Louisa era simplesmente muito inexperiente para saber sobre essas questões.
— Quero tentar de um modo diferente — alegou ela, com a firme determinação de exorcizar
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— Pois me ocorrem outras formas de provocar calafrios — Simon esfregou o pênis ereto
contra ela. — Não brincou o suficiente, meu amor?
Louisa se conteve para não protestar.
— Sim, creio que sim— repôs, recordando a si mesmo que necessitaria tempo para mudar
os hábitos de seu marido. Além disso, provavelmente, Simon jamais aceitaria perder o controle
sobre ela na hora de fazer amor. Mas ao menos, isso era um primeiro passo.
Louisa ficou de joelhos e voltou a sentar-se sobre ele. Desta vez, o membro ereto afundou
dentro dela e Louisa sentiu uma embriagadora satisfação ao ver a expressão de prazer que refletia
no rosto de seu marido.
Mas quando ele investiu com tanta força que quase a levantou de seu regaço, disse:
— Espere, pelo menos uma vez, quero ser eu a controlar os movimentos.
Simon a fulminou com um olhar recriminatório.
— Sempre quer assumir o controle da situação. Você e suas Damas de Londres e suas
esponjas?
— Já não estou usando as esponjas — Deu a ele um sorriso cheio de ternura e se acomodou
sobre ele. — Joguei todas quando cheguei em casa esta tarde.
Simon piscou.
— De verdade?
— Quero ter um filho teu... nosso filho. — Os olhos de Simon brilharam com a magnífica
noticia. Continuando, ela se levantou, e em seguida voltou a sentar-se sobre ele com uma lentidão
dolorosa. — Hoje compreendi que o ato de dar a luz tem suas recompensas, assim como seus
riscos. E ter um filho teu é uma recompensa que não posso resistir por mais tempo.
Louisa o beijou, e o beijo se tornou implacável e selvagem; as duas línguas se entrelaçaram,
e os dentes se chocaram em uma incontrolável paixão. Tão incontrolável que Louisa necessitou
alguns minutos para dar-se conta de que ele retomara o controle dos movimentos, o controle que
ela tanto ansiava. Estava-a penetrando com investidas curtas e rápidas.
Louisa afastou a boca.
— Pelo amor de Deus, quer fazer o favor de ficar quieto? Por uma vez, quero ser eu a fazer
amor com você e não o contrário. — Seus olhos de gata resplandeciam quando se levantou o
suficiente para impedir que ele a penetrasse até o fundo. — Talvez você goste da experiência.
— Vai muito devagar — grunhiu ele.
Ela caiu sobre ele com brutalidade, em seguida repetiu o movimento rapidamente.
— Melhor?
— Sim. — Tremendo pelo esforço que se supunha era ficar quieto sem investir nela, Simon
afundou o rosto nos seios através da camisola. — Mas seria melhor se... se você tirasse a camisola.
Louisa aceitou encantada, contente de que não tivesse ordenado que fizesse isso. Mas talvez
as ordens não fossem uma má ideia, pelo que Betsy lhe contou. Colocou os seios diante do rosto
dele.
— Chupe-os, Simon — exigiu, embora não pôde evitar acrescentar. — Por favor.
A reação de seu marido resultou absolutamente inesperada. Não só procurou o belo mamilo
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com a boca com um ardor sem precedentes, mas também seu pênis pareceu aumentar dentro
dela. O fato de que Louisa assumisse o controle parecia excitá-lo. Talvez nem tudo estivesse
perdido.
— Hummm? sim, continue assim. Eu adoro — sussurrou ela, desejando recompensá-lo.
O comentário conseguiu que Simon se esforçasse com carícias e beijos avivados, cada um
mais delicioso que o outro. Ela aumentou o ritmo até que ele começou a ofegar e a cravar os
dedos nos quadris. A boca continuava explorando freneticamente os deliciosos seios de Louisa.
— Me toque... aqui embaixo... — suplicou ela. — Dessa forma que só você sabe fazer.
— Assim? — Simon apertou o dedo justo no lugar onde ela queria.
Louisa estremeceu.
— Sim, assim... hummm... Por Deus... que prazer.
— Você gosta, não é? — disse ele, adaptando o ritmo de seu corpo aos movimentos dela,
obrigando-a a levantar-se com investidas violentas, para logo voltar a penetrá-la com ferocidade,
uma e outra vez.
O prazer ameaçava fazê-la perder a cabeça, como se estivesse montada sobre uma manada
de cavalos selvagens que se dirigissem indevidamente para um precipício. Mais perto, cada vez
mais perto, e ela continuava cavalgando sobre ele como uma indecente, chocando-se contra ele,
exultante pelo poder que exercia sobre ele, e gozando do poder que ele exercia sobre ela.
Simon a agarrou pelos braços com uma força descomunal.
— Você me quer? — bramou contra seu pescoço.
Nesses instantes, a ladainha lhe resultou familiar e não pôde resistir a pronunciar as palavras
que ele tanto parecia necessitar.
— Sim — sussurrou.
— Então diga — ordenou ele. — Diga: "quero você, Simon. Sou tua, Simon".
— Quero você, Simon... Sou tua..., Simon. — E ato seguido, voltou a repetir
deliberadamente. — Te amo... Simon.
Sua declaração conseguiu arrancar de Simon um grito gutural. Logo acelerou o ritmo até
conseguir levá-la ao limite do abismo com ele. Enquanto corria dentro dela, sujeitando-a com a
ferocidade de um conquistador, Louisa o beijou na testa, no cabelo e em qualquer outro ponto
que conseguiu alcançar com a boca, decidida a transmitir os sentimentos tão profundos que a
invadiam.
Só depois que a tensão se dissipou e ela esteve segura de que a podia ouvir e ser consciente
de suas palavras, voltou a sussurrar:
— Amo você, Simon.
Por um momento, ele não disse nada, só suspirou e a estreitou com força entre seus braços,
enquanto lhe dava uma enxurrada de beijos na face, na mandíbula e na garganta. Depois se
afastou e a olhou fixamente, com uma angústia tão latente que encolheu o coração de Louisa. E
nesse instante, Louisa se deu conta de que se traiu.
— Sabe, não é? — inquiriu Simon com a voz rouca. — Ela lhe contou.
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Capítulo 25
Querido primo:
Agora sim conseguiu despertar minha curiosidade a respeito de seus verdadeiros motivos
para manter o anonimato, senhor. É genuinamente porque deseja não causar nenhum dano a
minha reputação, tal e como me assegurou a princípio? Ou talvez porque esteja com medo de lidar
comigo pessoalmente? Porque garanto, querido primo, que se alguma vez tentar me controlar,
não pararei até conseguir que odeie o dia em que me conheceu.
Sua irada correspondente,
Charlotte
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pagamento suficientemente respeitável para poder me permitir isso. Mas em vez disso, passei um
ano assim, suportando as duras lições do meu avô.
— Era jovem. E estava apavorado com seu avô. Aceitou porque ele te disse que assim era a
vida. Ainda me surpreende que a proprietária do bordel aceitasse agir contra Monteith.
— Cansou-se dele, suponho. Todo mundo podia ver que eu não estava bem e ela
provavelmente pensou que era mais conveniente aproximar-se do jovem herdeiro de um duque
com uma vida pela frente, um moço que podia frequentar bordéis durante muitos anos, em lugar
de seguir um velho conde que pagava bem, mas que fazia infeliz suas garotas.
— Assim foi como nasceu a... amizade entre Betsy e você.
Simon deve ter se dado conta da tensão que emanava do tom de voz de Louisa, porque a
olhou surpreso.
— Não é o que imagina.
— Bom, isso foi o que ela me disse. — A Louisa custava falar agora. Era duro não sentir
ciúmes da única mulher que deu um pouco de carinho a seu marido no bordel.
— OH, meu amor. — Ele se aproximou e a estreitou entre seus braços. — Não tem nenhum
motivo para ficar com ciúmes de Betsy. Isso aconteceu faz quase vinte anos. E nós passávamos a
maior parte do tempo que estávamos juntos conversando.
— Eu sei. Betsy me contou — Louisa inclusive perguntou a Betsy de que assuntos falavam.
"Da escola, de seus amigos, de como gostava muito de pudim. De qualquer trivialidade."
— Compreenda, carinho — disse Simon, sem deixar de abraçar Louisa. — Betsy era a única
mulher com quem podia conversar. Literalmente. Quando vovô vinha me buscar em Eton, levava-
me diretamente ao bordel. Jamais ia para casa. Só via Regina durante as férias, e a minha irmã
nunca gostou de escrever cartas.
Louisa sabia o motivo, mas suspeitava que Simon não. Provavelmente, Regina devia sentir-se
ainda muito incômoda com a ideia de admitir que só aprendeu a ler e a escrever depois de casar-
se, quando seu marido a ajudou a superar o estranho problema que sofria e que a impedia de
distinguir as letras.
Simon lhe esfregou as costas carinhosamente.
— O vovô pagava a meus companheiros de classe para que o informassem sobre mim, se me
atrevesse a falar a respeito de alguma "mulher inapropriada", e se o fizesse...
— Recebia mais açoites.
Ele assentiu com a testa junto à cabeça dela.
— Mas Betsy me escutava, embora falasse de futilidades. E ela me contava coisas. Sobre as
mulheres, o que gostavam. Pensei que odiava o meu avô tanto como eu.
— Até que se converteu em sua amante?
Simon ficou tenso e se separou de Louisa.
— Também te contou essa parte da história?
— Eu já sabia que uma vez foi protegida de um conde. Mas que isso não durou muito.
Simon se mostrou surpreso ante tal confissão.
— Sério?
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Agora Simon estava tremendo, com os braços tensos por causa do esforço em tentar ocultar
seu estado alterado.
— Tampouco se comportou sempre tão mal comigo — protestou ele. — Em nossas viagens
de ida e volta a Londres, ensinou-me tudo o que sabia a respeito de política. Era um homem
extremamente inteligente e com conhecimentos muito vastos.
— Sim, muito inteligente, mas terrivelmente depravado. — Louisa o acariciou no cabelo,
perguntando-se como lorde Monteith foi capaz de tratar seu querido marido de um modo tão vil.
— Fez tudo o que pôde para te converter em um ser depravado como ele. Não tem nem ideia do
muito que Betsy se arrepende de seu papel nessa desagradável história.
A nova gargalhada amarga de seu marido a consumiu em uma tremenda tristeza.
— Ela não deveria ter seguido o jogo. Eu teria preferido alguns açoites. Naquela época, os
açoites já não me causavam nenhum dano.
— Eu sei — respondeu ela, com um nó na garganta, enquanto tentava frear as lágrimas que
ameaçam escapar de seus olhos. — Mas se arrepende de tudo o que fez.
— Betsy sempre foi uma mulher muito compassiva — admitiu Simon.
— Se te servir de consolo, ela detestava estar com seu avô. Diz que era um tipo abominável.
E sempre se arrependeu de ter feito o que ele pedia.
Simon respirava agora com dificuldade. Com um movimento rápido, voltou a escapar dos
braços de sua esposa.
— O certo é que me fez um favor — se justificou Simon com o semblante sério. — depois
dessa experiência, neguei-me a seguir os jogos de meu avô. Disse que não me importavam os
açoites, que pensava fazer o que me desse a vontade; deitaria com a mulher que desejasse e
quando gostasse. E que não me importava se elas desapareciam do bordel. Entre minha atitude de
não me importar com nada que acontecesse e a postura da proprietária do bordel, visivelmente
irritada com ele, meu avô perdeu o controle da situação. E as visitas aquele odioso lugar não
voltaram a se repetir.
— Mas o dano já estava feito — apontou Louisa.
— Se quer descrever assim. — Com alguns movimentos bruscos, Simon recolheu a camisa e
a pôs. — Por mais infernais que fossem seus métodos, devo admitir que funcionaram. Aprendi
uma lição muito valiosa.
— Que as mulheres são descartáveis? — perguntou ela com um tom provocador.
— Não, jamais acreditei nessa tolice— Simon lhe acariciou o queixo enquanto dava um
sorriso zombador. — O que aprendi nesse bordel foi justamente o contrário. Uma de minhas
formas de me rebelar antes que Betsy aparecesse foi tentar excitar minhas companheiras inclusive
quando demonstravam o pânico que sentiam por mim. Tentei de tudo, fiz tudo o que podia
pensar. E assim foi como descobri que cada mulher tem suas preferências. — Seu sorriso se
desvaneceu. — E que o fato de pagar a uma mulher elimina qualquer possibilidade de obter
satisfação com a experiência.
— Por isso optou pelo celibato na Índia.
— Sim. Por isso e porque aprendi perfeitamente outra lição de meu avô. — Olhou-a
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fixamente aos olhos. — Conseguiu seu objetivo de pôr minha ambição acima de todas as coisas.
Ao me ensinar a não deixar que a paixão nublasse meus sentidos.
A paixão. Simon recorria a essa palavra com muita regularidade. Louisa começou a
perguntar-se se para ele não significava algo mais.
— E o amor? — sussurrou ela. — Que lugar ocupa em sua pequena hierarquia?
Simon se afastou, visivelmente incômodo.
— Não ocupa nenhum lugar — respondeu secamente. — É uma das coisas que meu
depravado avô conseguiu arrancar do mais profundo de meu ser: a capacidade de amar. Se ainda
não se deu conta, cedo ou tarde será forçada a reconhecer. Sou incapaz de amar qualquer pessoa.
— Não pode acreditar nisso — contra-atacou ela, magoada ao ver com que tranquilidade
seu marido pronunciou semelhante tolice. — Nem eu tampouco.
— Não? — Cada músculo do corpo de Simon ficou rígido. — Sabe com quem estava no clube
esta noite?
Uma repentina premonição provocou em Louisa um rude calafrio nas costas.
— Com quem?
— Com Sidmouth e Castlereagh. Estávamos falando a respeito de meu futuro como
primeiro-ministro.
— Já havia comentado que provavelmente necessitaria o apoio deles para ocupar esse posto
— argumentou ela, embora o olhou com desconfiança.
— Infelizmente, necessito deles mais do que pensei a princípio — continuou ele, com um
tom tão distante como ela jamais o ouviu falar. — Por isso, vou levá-la a minha casa em Shropshire
amanhã, assim que amanhecer.
Simon não teria conseguido surpreendê-la mais nem que tivesse a esbofeteado.
— Não o compreendo.
Ele apertou os dedos até cravá-los na palma da mão. Não se atrevia a olhá-la aos olhos.
— Deixaram-me claro que, se não me desvincular imediatamente das Damas de Londres,
entorpecerão meus objetivos políticos. E não só pediram que eu me afaste dessa sociedade, mas
que também afaste você.
— O que? Como se atrevem! — Louisa ficou tensa, tremendo de raiva da cabeça aos pés. —
Não têm nenhum direito de interferir em sua escolha! Foi você que decidiu apoiar meu grupo!
— Isso mesmo disse a eles. Mas não estão de acordo. Não me deixaram nenhuma outra
alternativa.
Ela o olhou compungida. A angústia que sentia lhe provocava dolorosas cãibras no
estômago.
— Então vai me afastar do meu grupo. Mesmo eu tendo cumprido com os termos de nosso
acordo. Inclusive quando aceitei mudar de candidato...
— Eles não poderiam se importar menos com nosso maldito acordo! Não entende? — Simon
virou-se rapidamente para ela, com os olhos acesos. — E tampouco importa quem é seu
candidato. Simplesmente querem que você e suas damas deixem de interferir na vida política do
país.
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Até sabendo o motivo pelo qual seu marido estava agindo desse modo, Louisa não
conseguiu amenizar sua dor.
— E já que desde o começo você disse a meu pai e a eles que controlaria a situação, não
custou nada aceitar se desfazer de mim me enviando a Shropshire, não?
— A ideia não ocorreu a eles — admitiu ele. — E indevidamente, esperam que eu exija que
se demita. — Sua voz se tingiu com um tom de acidez. — Mas claro, eles não sabem que minha
esposa nunca acata minhas exigências, então se a afasto da cidade, a situação resultará mais fácil.
Em uma tentativa de conter a raiva que sentia, Louisa apertou a mandíbula.
— Ah! Então faz para meu próprio bem. Está certo? Ou será que só pensa em você?
— Faço por nós dois.
O pânico começou a apropriar-se dela.
— Mas... você virá comigo, não?
— Sim, mas não ficarei. Só a apresentarei aos criados e...
— Vai me encerrar naquela casa— A angústia ameaçava asfixiá-la. — Por isso queria fazer
amor comigo, porque sabia que seria a última vez.
O rosto de Simon refletia agora um enorme sentimento de culpa.
— Só por um tempo, até que as sessões no Parlamento terminem. Então me reunirei contigo
— Simon lançou um forte bufo. — De todos os modos, não demoraria muito em abandonar suas
atividades com as Damas de Londres, quando estivesse grávida.
— Do que está falando?
— Esse era nosso acordo.
— Não é verdade! Aceitei deixar de ir à prisão, nada mais. Não disse nada sobre parar com
minhas outras atividades, como continuar batalhando pela reforma e promover nosso candidato.
Além disso, quando você disse que apoiaria Fielden, pensei que finalmente tinha aceito minha
participação no grupo, que inclusive dava seu consentimento.
— Sei o que pensou. E é certo que... — Simon ficou calado alguns instantes, logo pigarreou.
Quando voltou a falar, seus olhos mostravam uma escura profundidade absolutamente
implacável. — Não importa quais eram minhas intenções. Não havia me dado conta da firme
determinação desses dois homens por derrubar sua organização. Agora que sei, devo adotar
medidas diferentes.
Louisa não dava crédito ao que ouvia. Todos os objetivos pelos quais lutou, tudo o que
acreditou saber a respeito de seu marido se desvanecia agora diante dela.
— Abandonará Fielden.
— Ambos o abandonaremos — remarcou ele tensamente.
Louisa sentiu uma aguda pontada de dor no peito.
— Mas se já lhe enviei uma carta comunicando que a Sociedade das Damas de Londres
decidiu lhe dar todo seu apoio.
— Então me encarregarei de informar de que não é assim.
— Pelo amor de Deus! Esse homem é um membro de seu próprio partido! — gritou ela. —
Não há nenhuma razão, além da mesquinharia desses dois tipos, pela qual deveria lhe dar as
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costas.
Simon estremeceu.
— As coisas mudam.
— Não. Você é quem mudou. — As lágrimas afloraram por seus olhos e Louisa cruzou os
braços sobre o ventre até abraçar a cintura. — Está disposto a vender sua alma a essas más
pessoas só para chegar a alcançar a posição de primeiro-ministro.
O rosto de Simon se acendeu de raiva.
— Quando se dará conta de que o mundo da política requer aceitar compromissos? Não
posso fazer nada a favor da reforma se não ostentar uma posição de poder.
Ela sacudiu a cabeça.
— De verdade pensa que eles o deixarão apoiar a reforma quando galgar o posto? Disse que
se desfaria de Sidmouth, mas não se atreverá a fazer isso com o homem que te levou até a posição
de primeiro-ministro. Pelo menos, com meu pai como aliado, tinha a possibilidade de escolher seu
próprio gabinete. Mas se te lança à arena com os mesmos ministros...
— Maldita seja! No momento não posso fazer nada mais.
— No momento? — Ela se aproximou para lhe estreitar as mãos, desesperada por não
perder o contato com ele. — Se vender sua alma, será para sempre. Não se deterão aí, Sidmouth
não é o tipo de homem que aceita compromissos. O arrastarão até o inferno com eles, pouco a
pouco, até que se esqueça de todos os ideais pelos quais estava disposto a lutar.
Simon escapou bruscamente das garras da esposa.
— Posso organizar meu próprio grupo de seguidores. Com um pouco de tempo...
— Sidmouth e Castlereagh não lhe darão esse precioso tempo, não vê? Não lhe darão o
tempo que necessita para tomar essa decisão. Só lhe deixarão uma possibilidade: seguir o jogo
agora e sempre.
Simon a estava crivando com um olhar fulminante.
— Maldita seja! Não levo tanto tempo na Inglaterra para liderar a Câmara dos Comuns sem
eles.
— Talvez ainda não, mas ainda ostenta sua posição na Câmara dos Lordes e Sidmouth não
pode fazer nada contra isso. Quanto aos membros da Câmara dos Comuns, tem do seu lado os
maridos de algumas de minhas companheiras, e não se esqueça do cunhado da senhora Fry. E terá
o Fielden, se ele vencer. Pode organizar um pequeno grupo de seguidores sem Sidmouth.
— E quantos anos necessitarei para conseguir? — espetou ele. — Quem sabe o que
acontecerá neste país então, quando conseguir por essa via tão lenta?
Louisa observou a cara angustiada de seu marido e tentou conter a raiva. Engoliu as palavras
furiosas que queimavam a garganta. Havia algo mais, além da feroz ambição de Simon.
Nas últimas semanas, chegou a conhecê-lo melhor. Não era desse tipo de homens que
permitia que o obrigassem a fazer as coisas a força. Entretanto, quando se tratava dessa questão,
Simon parecia perder todo seu amor próprio e inclusive sua integridade. Se ela deveria mudar essa
disposição, primeiro teria que saber o motivo.
Deveria conter sua ira, ser razoável.
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— De todos os modos, por que decidiu que queria chegar a ser primeiro-ministro, Simon?
A pergunta o fez repensar alguns instantes.
— A que se refere?
— Como membro da Câmara dos Lordes, poderia promover mudanças sociais, e talvez
acumular quase tantos sucessos como se fosse o primeiro-ministro. Por que o cega a ambição de
conquistar esse cargo? Não é uma atitude muito usual, em um homem de sua posição e sua
riqueza.
— Alguém precisa fazê-lo — replicou ele frivolamente.
Louisa apertou os dentes para não soltar um comentário mordaz.
— Essa não é uma resposta convincente. Por que deve ser você?
Simon ergueu as costas e franziu o cenho.
— Para que as coisas sejam feitas como é devido. Para que a Inglaterra deixe para trás seus
temores por este longo Reino do Terror e se converta em um país próspero.
— E por que deve ser você?
— Porque me educaram para isso. Embora as táticas de meu avô fossem odiosas, ele me
ensinou um sem-fim de habilidades políticas. Seria uma pena e uma irresponsabilidade esbanjar
esses conhecimentos em uma tentativa de obter unicamente meu próprio prazer.
— Como seu tio Tobias e seu pai, o duque, não?
Ele a olhou com receio.
— Sim.
— Então faz para provar que é melhor pessoa que eles? — perguntou, confusa. — Porque
não quer defraudar seu avô, como fizeram seu filho e seu genro?
— Não, claro que não! — Simon a fulminou com um olhar desdenhoso. — Por que deveria
me preocupar em defraudar um homem que já está morto? Já lhe falhei faz muito tempo. Meu
avô jamais acreditou que eu chegaria a ser primeiro-ministro. Depois de meu... de meu crasso
engano contigo há sete anos, disse que era muito escravo de minhas paixões para poder reger o
destino de um país com êxito.
Louisa começou a compreender tudo. E o que descobriu partiu seu coração.
— Então se propôs demonstrar que ele estava enganado. Primeiro, governando na Índia sem
ceder a suas próprias paixões. Mas isso era só uma preparação para a prova real: governar a
Inglaterra. — Louisa conteve a respiração. —Exceto que eu seguia pululando por aqui quando
retornou, ainda incitando suas paixões ocultas. E não poderá provar a você mesmo que ele se
enganava, enquanto eu siga despertando esses sentimentos em você, te influenciando, me
imiscuindo em...
— Não — bramou ele. — Não tem nada a ver com meu avô.
— É claro que sim; tudo está relacionado com ele — repôs ela sem amedrontar-se ante ao
aumento de tom dele. — Precisa demonstrar a você mesmo que ele se equivocava a respeito de
você e para conseguir, precisa resistir a suas paixões. Esse é o verdadeiro motivo pelo qual irá se
desfazer de mim, me encerrando em Shropshire, porque sabe que não poderá lutar contra suas
malditas paixões enquanto eu estiver perto de você.
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Exigia, ordenava, coagia. E ela ficou tentada, realmente tentada, a dar o braço a torcer.
Mas apesar dele ser capaz de viver entabulando sempre compromissos com uma facilidade
surpreendente, ela não podia.
— Não, agora não posso. Sinto muito. Preciso tratar de outros assuntos dos quais não posso
me ocupar quando estou contigo.
Simon soltou um bufo.
— Quem foge da verdade agora? A única razão pela qual está decidida a se refugiar na casa
da Regina, é porque eu admiti que sou incapaz de te amar. E isso a desagrada.
— Que me desagrada? Não. Porque realmente você não é incapaz de amar, Simon.
Simplesmente tem medo. E isso não me desagrada; entristece-me.
Simon não saiu do escritório enquanto ela preparava uma pequena mala sob o atento olhar
de Raji. Continuando, Louisa deixou que o macaco saísse atrás dela do dormitório. Tampouco saiu
ao saguão quando ela ordenou que preparassem uma carruagem, e não saiu para despedir-se
quando ela atravessou a soleira, com Raji brigando com um dos lacaios em uma vã tentativa de ir
com ela.
Mas justo quando a carruagem se pôs em marcha, sob a mortiça luz da alvorada, ela olhou
para trás e o viu de pé na janela do escritório, observando-a de um modo estoico, distante.
E de tudo o que acontecera nas últimas horas, isso foi o que mais lhe partiu o coração.
Capítulo 26
Querida Charlotte:
Controlá-la? Jamais me ocorreria semelhante ideia. Se por acaso não sabe, aprecio muito o
fato de continuar vivo. Mudando de assunto, é verdade que sua amiga, a duquesa de Foxmoor,
decidiu retirar-se da Sociedade das Damas de Londres?
Seu curioso primo,
Michael
Após a partida de sua esposa, Simon perambulou pelo escritório sem encontrar a paz. Raji
seguia cada um de seus movimentos com um olhar ressentido, comportando-se como se acabasse
de perder a companheira da alma.
Do mesmo modo que se sentia seu dono. Simon contemplou o mascote com ar desanimado.
— Não me olhe assim, droga. Foi ela que nos abandonou , meu velho amigo. Não é culpa
minha que ela tenha decidido mudar-se para casa da Regina. Está zangada porque perdeu todo o
controle que exercia sobre mim.
Exatamente. Ele ganhou a interminável batalha que mantinha com a esposa. Inclusive
conseguiu persuadir Louisa para que se demitisse da Sociedade das Damas de Londres. Então, por
que não se sentia vitorioso? por que não estava saboreando seu êxito? Finalmente, colocou seus
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objetivos políticos na perspectiva apropriada. Por que não estava saltando de alegria por ter
finalmente - sim, finalmente - conseguido controlar suas paixões? Por culpa do absurdo discurso
de sua esposa, pelo que ela mencionou a respeito das paixões e dos sentimentos?
Proferiu uma maldição entre dentes. Ela não o compreendia. Louisa era uma mulher, e claro,
as mulheres acreditavam que tudo, absolutamente tudo, estava vinculado ao amor e sentimentos.
Mas algumas coisas eram mais transcendentais que isso. A política, por exemplo.
— Nada se limita unicamente à política — murmurou. — Grande absurdo!
O que ela sabia? Jamais se viu obrigada a adotar um compromisso, jamais teve essa
necessidade... Exceto quando ele a forçou. Exceto quando ele exigiu.
Simon apertou os dentes. Realmente duvidava que nenhum outro político tivesse que lutar
com uma esposa tão insolente. Provavelmente, era o único que precisava tolerar tais ímpetos.
Provavelmente, era o único que se via obrigado a escutar as opiniões da esposa.
Ela o empurrou a essa incômoda situação. Não era culpa dele, se ela se negava a reconhecer
as necessidades políticas. Por isso precisamente não haviam mulheres que se dedicassem à
política, porque não compreendiam a desagradável natureza da política. Tal e como o avô
Monteith dizia: "As mulheres?" Simon lançou um retumbante bufo. Não, não era verdade que
estava se convertendo em uma áspera reprodução de seu avô.
Sim, aprendeu um sem-fim de coisas graças a esse homem, e às vezes era bom recordar seus
conselhos, mas isso não significava que Simon estivesse se convertendo em uma cópia do ancião.
Não. Jamais seria como seu avô, jamais. Ela estava deixando-o louco. Precisava escapar daquele
lugar e escapar de suas ridículas acusações. Mas aonde iria? A sessão não começaria até mais
tarde; de todos os modos, Simon não estava seguro se nesse dia seria capaz de suportar a
presença de Sidmouth e Castlereagh. Precisava realizar algum exercício físico para afastar a
insidiosa voz de Louisa de sua mente, cavalgar um momento, por exemplo. Sim, para clarear as
ideias antes que o resto da sociedade londrina despertasse.
Subiu correndo as escadas para trocar-se e colocar a calça de montar, mas assim que entrou
no dormitório, lançou uma maldição em voz alta. A cama o fez pensar instantaneamente nela, e
seu aroma de açucenas perfumava o quarto.
Raji saltou sobre a penteadeira de Louisa, e logo começou a tagarelar zangado, como se
estivesse brigando.
— Saia daí, maldito macaco!
Simon pegou Raji e o jogou sobre a cama, onde o mascote começou rapidamente a balançar
nas barras sem deixar de chiar.
— Acha que eu gosto que ela tenha ido?
Sua mente estava infestada de imagens de sua esposa, enquanto faziam amor no escritório,
como uma brava Valquíria decidida a apagar todo o passado com uma pluma. Jamais alcançou o
clímax com tanta paixão. Nem tampouco se odiou tanto.
Porque depois de acreditar irreflexivamente que estar com Louisa uma vez mais seria
suficiente para saciar a sede que sentia por ela, descobriu que com isso a única coisa que
conseguiu foi sentir-se mais culpado. Que o diabo levasse essa maldita mulher. Não tinha nada do
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que se sentir culpado! Fazia o que devia fazer. Era melhor dessa forma. Era necessário que ela se
desse conta de como deveria se comportar a mulher de um político, por mais doloroso que fosse o
método para admitir a verdade. Por mais que ela o amasse.
Simon voltou a dar outro bufo e se deixou cair sobre a cadeira situada diante da penteadeira
de Louisa, logo cobriu a cara com as mãos. "Amo você." Essas palavras foram as mais cruéis.
Jamais teria imaginado que pudessem soar tão doces nos carnudos lábios até que ela as
pronunciou. Até que esfregou em frente ao seu nariz a única coisa que ele desejava com todas as
forças, a única coisa que desejou ter durante toda sua vida. A única coisa que lhe era proibida,
posto que ela não voltaria a dizer essas palavras nunca mais. Mas embora ela fosse uma romântica
empedernida, não o considerava incapaz de amar. Louisa acreditava que ele tinha medo, que era
um covarde; e isso a enchia de tristeza.
Tristeza! Maldita fosse! Ela sentia pena dele! Como se atrevia a sentir pena dele?
Sem poder conter a raiva, varreu a mesa com a mão violentamente e os frascos de perfume,
as caixinhas de maquiagem e os pentes saíram voando pelo ar. Raji deixou de balançar
abruptamente e se agarrou com força à armação da cama.
Simon sentia que a cabeça ia explodir de um momento a outro, então, - como não! - a voz de
seu avô soou para atormentá-lo e persegui-lo mais. "Isso, demonstre a sua esposa quem manda
aqui. Seja homem. Ela é simplesmente uma mulher como qualquer outra."
Exceto que isso não era verdade.
— Preciso sair daqui — disse Simon enquanto o intenso aroma do perfume de Louisa
ameaçava asfixiá-lo e a voz de seu avô continuava afligindo-o.
Levantou de um salto, trocou rapidamente de roupa, e em seguida se dirigiu ao Raji, que
seguia agarrado à cama.
— Venha, pequeno malandro, vamos dar um passeio.
Simon tencionava ir a algum lugar onde nada o recordasse o avô Monteith. Nem a ela.
Passou o resto do dia tentando conseguir seu objetivo. Cavalgou até Brompton Vale, que
felizmente estava completamente vazio a essa hora do dia. Esse lugar não deveria fazê-lo pensar
em Louisa, posto que jamais esteve ali com ela. Entretanto, os impressionantes carvalhos o
recordaram o bosque onde a beijou pela primeira vez depois de retornar da Índia.
E quando Raji subiu, subitamente, em um dos galhos, não pôde evitar lembrar como ele a
incitou para que o beijasse a segunda vez... e deixasse que ele a acariciasse e provasse sua pele,
doce e perfumada... Brompton Vale não era o lugar idôneo; continuava pensando nela.
Infelizmente, Simon necessitou duas horas para conseguir que Raji descesse das árvores. Em
seguida se dirigiu a seu segundo lugar eleito: ver seu advogado, que encontrara as cartas da vovó
Monteith. Simon dispôs tudo para que as enviassem a sua casa, mas nesse momento lhe pareceu
uma boa ideia ir buscar em pessoa. Certamente, nada no escritório de seu advogado conseguiria
fazê-lo recordar de Louisa. Infelizmente, a preciosa caligrafia de sua avó estampada na parte
posterior da caixa o fez rememorar outro tipo de lembranças dolorosas.
Lembrou-se de quão mau seu avô tratou sua mulher, chamando-a inútil e lhe dando ordens
sem parar. O mesmo que Simon tentou fazer com Louisa. Apertou os dentes com raiva. Isso não
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era verdade; ele não tratou Louisa mal. Todas suas exigências foram mais que justificadas e
razoáveis.
Foi ela que se comportou de uma forma irracional; era ela que não podia ver os motivos
pelos quais ele se via obrigado a agir do modo que agia. O escritório de seu advogado foi
claramente outra desafortunada escolha para esquecer-se dela.
Sua terceira escolha resultou um pouco melhor. Após deixar Raji e as cartas em sua casa da
cidade, dirigiu-se ao clube White's. O local não só estava limpo de qualquer lembrança sobre
Louisa, mas também além disso demonstrou ser a perfeita solução para paliar sua dor: beberia e
beberia até ficar bêbado e perder a consciência. Mas Simon não gostava de ficar bêbado. Não
gostava de perder o controle de seus sentidos. Embora tivesse que admitir que, em determinadas
ocasiões, afogou suas magoas em uma garrafa, e precisamente isso parecia ser o que a ocasião
pedia.
Infelizmente, só deu alguns goles quando uma voz familiar o tirou de seu devaneio.
— Foxmoor?
Simon levantou a vista.
— Ah, Trusbut, boa noite — Elevou a garrafa. — Gostaria de um pouco de vinho do porto?
O barão assentiu com a cabeça, acomodou-se em uma cadeira diante de Simon e depositou
a bengala entre as frágeis pernas.
— Não o vi na sessão de hoje, assim não estava seguro se você se lembraria de nossa
entrevista.
Que entrevista? Santo céu! Simon se esqueceu por completo.
— Perdi algo interessante em Westminster? — perguntou enquanto enchia uma taça para
Trusbut.
— Não durante a sessão — Trusbut se inclinou para frente para pegar a taça. — Mas me
inteirei de uma intriga interessante. Um de meus amigos na Câmara dos Comuns disse que
Thomas Fielden recebeu uma nota de sua esposa ontem, onde comunicava sua intenção e a da
Sociedade das Damas de Londres de secundá-lo nas próximas eleições.
Os dedos de Simon se crisparam ao redor da taça. Maldição, esquecera que Louisa já
transmitira a Fielden sua decisão. Por desgraça, agora teria que retratar-se. Entretanto, ele não
podia contar ao Trusbut. Devia a sua esposa essa possibilidade, a de não revelar nada até que ela
tivesse falado com Fielden e com as Damas de Londres.
Trusbut tomou um gole de vinho.
— Devo admitir que me senti profundamente aliviado ante tal notícia. Corriam rumores a
respeito de que as Damas de Londres pensavam em apoiar Godwin, e isso poderia derivar em um
verdadeiro desastre.
Simon assentiu com um golpe de cabeça e tomou um gole de sua taça. Não desejava
continuar com essa conversa, mas tampouco queria insultar Trusbut lhe dando as costas.
— Fielden é um bom homem, muito sensato — continuou Trusbut. — E muito interessado
nas ideias reformistas.
— Isso foi o que entendi — replicou Simon, procurando mostrar-se impassível.
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— Não pessoalmente, não. — Seu tom hermético demonstrava que ocultava algo.
— Mas sabia o suficiente dele para afirmar que não gostava dele — adivinhou Simon.
Quando Trusbut afastou a vista, adicionou: — O compreendo perfeitamente; de verdade. E eu
adoraria escutar sua sincera opinião a respeito dele.
— Era um estadista dos pés à cabeça, um agudo negociador e um orador brilhante, mas...
— Mas?
Trusbut franziu o cenho.
— Uma vez o ouvi falar em privado com lady Monteith em uma festa. Seu comportamento
era do mais pouco cavalheiresco que jamais vi. Certamente, eu me sentiria absolutamente
envergonhado de dizer tais... tais barbaridades a minha Lillian.
— Pouco cavalheiresco. Uma forma absolutamente brilhante de descrever o caráter de meu
avô em sua esfera privada.
— Mas sei que você não é como ele, senhor — continuou Trusbut. — Asseguro que fiquei
agradavelmente impressionado de como trata sua esposa. É fácil averiguar muitas coisas de um
homem pelo modo que trata às mulheres mais próximas a ele, não acha o mesmo?
— Estou totalmente de acordo — respondeu Simon, enquanto sentia nos ouvidos o eco dos
disparados pulsar de seu próprio coração.
Trusbut consultou seu relógio.
— E falando de esposas, prometi à minha que hoje estaria em casa na hora de jantar —
Lançou a Simon um olhar interrogante. — Quanto à questão da qual falamos?
— Permite que a considere durante um dia, senhor?
— É obvio — Trusbut se levantou da cadeira. — Espero que saiba guardar uma absoluta
discrição.
Simon esboçou um sorriso forçado.
— Não se preocupe; não comentarei com ninguém.
— Então, o verei amanhã, na reunião.
— Que reunião? — perguntou Simon.
— Hoje vi lorde Draker. Pediu que dissesse a Lillian que sua esposa organizou uma reunião
para amanhã, para a Sociedade das Damas de Londres. Posto que Fielden também assistirá,
suponho que a reunião tem por objetivo anunciar seu apoio.
Não. O objetivo da reunião era anunciar a demissão de Louisa.
— Ah, a reunião — conseguiu dizer Simon. — Pode me lembrar a que horas?
Trusbut o observou com curiosidade.
— Draker disse que seria às quatro da tarde.
— Muito bem — Simon se esforçou para sorrir. — Ainda não estou seguro se poderei
assistir; estou pendente de outro encontro, mas tentarei.
— Então, espero vê-lo amanhã. — O ancião pegou sua bengala e se dirigiu lentamente para
a saída.
Bastante tempo depois que Trusbut foi embora, Simon continuava sentado, com o olhar fixo
em sua taça de porto. Todo esse tempo só viu uma possível solução aos problemas que
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ameaçavam o governo atual: Que Liverpool se demitisse. Mas isso era porque Simon pretendia
ocupar o cargo de primeiro-ministro.
A proposta de Trusbut abria a porta a outras possibilidades. Peel era um conservador, mas
não ao uso da velha guarda. Era certamente mais moderado que Sidmouth ou Castlereagh. E se
alguns políticos como Trusbut tinham intenção de secundá-lo, provavelmente se mostraria a favor
de iniciar o processo de reforma, não só do processo eleitoral, mas também de outras áreas que
necessitavam urgentemente. Como as prisões.
Isso significava que poderiam conseguir o que Simon quis desde sua volta da Índia. E tudo o
que precisava fazer para obtê-lo era esquecer de seu sonho de se converter em primeiro-ministro
no momento. Ou talvez para sempre.
"Por que deve ser você?"
As palavras de sua esposa ressonavam em seus ouvidos, enquanto acariciava a taça. Sim, por
que devia ser ele, o primeiro-ministro da Inglaterra? Simon respondera que era por que só ele
poderia assegurar-se de que o país progredisse como era devido. Mas era essa realmente a razão?
Ou acaso Louisa meteu o dedo na ferida, ao afirmar que unicamente o preocupava provar ao seu
avô que podia fazê-lo, em vez de pensar no que era o mais adequado para seu país?
Um pensamento incômodo, e possivelmente certo. Inclusive agora, ao considerar a proposta
de Trusbut, seu primeiro instinto foi rechaçá-la. E por quê? Porque aceitá-la significaria que teria
que conter sua ambição. Porque não seria capaz de provar a seu avô que se equivocava. Fechou os
dedos crispados ao redor da taça. Louisa tinha razão. Importava um nada o futuro da Inglaterra; só
estava tentando silenciar a insidiosa voz de um homem morto.
De repente, sentiu-se incapaz de embebedar-se até perder o sentido. Levantou-se e
depositou a taça sobre a mesa, e imediatamente abandonou o clube e se dirigiu a sua casa com
uma terrível sensação de vertigem. Se aceitasse a proposta de Trusbut, tudo, absolutamente tudo,
mudaria radicalmente. Não haveria nenhuma razão para que Louisa tivesse que se demitir da
Sociedade das Damas de Londres, nenhuma razão para que sua mulher sentisse tanta decepção e
pena por ele ao ponto de lhe gelar o sangue.
Quase podia ouvir a voz de seu avô retumbando de novo em seus ouvidos: "Já está outra vez
com o mesmo conto, permitindo que suas paixões arruínem sua ambição".
Arruiná-la? Ou enriquecê-la?
E se Louisa também tivesse razão sobre isso? E se não fossem suas paixões o que ele
pretendia controlar, mas sim seus sentimentos? A parte dele que se preocupava com o que
acontecia com os granjeiros que queriam uma representação no governo, e as pobres reclusas,
que unicamente procuravam ser tratadas como pessoas e uma oportunidade para começar de
novo? A parte dele que desejava que sua esposa o olhasse com orgulho e respeito. E o amasse,
sim, o amasse.
Quando chegou em casa, dirigiu-se diretamente ao dormitório. Não desejava tomar
nenhuma decisão precipitada quando seu corpo estava tão sem descanso.
Mas não conseguia conciliar o sono nessa cama, porque os lençóis cheiravam a sua esposa.
Então, levantou-se e desceu ao escritório. Se algo podia certamente ajudá-lo a dormir,
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seriam essas malditas cartas. Abriu a caixa que trouxe do escritório do advogado e olhou a
primeira, com a segurança de que o exercício resultaria inútil. Então pegou um grosso pacote, e
seu coração começou a pulsar rapidamente. Não só os extremos estavam chamuscados, como se
alguém tivesse tentado resgatá-la do fogo, como também estava timbrado na Índia. Não pôde
evitar dar um salto de alegria. Especialmente quando separou meticulosamente as frágeis páginas
presas até encontrar um documento oficial esmagado no meio.
Era a certidão de casamento do tio Tobías.
Sem perder nem um segundo, Simon pegou as páginas da carta anexa e começou a decifrar
a má caligrafia de seu tio, com a qual não estava familiarizado. Quando terminou, acomodou-se na
cadeira e cravou os olhos duros no outro extremo do escritório.
Custava acreditar que esse documento estivesse entre os papéis de sua avó durante todo
esse tempo. Recordava-a como uma mulher tímida, absolutamente diminuída por culpa do
tratamento que recebia por parte de seu avô.
Salvar o pacote do fogo foi sua pequena rebelião. Provavelmente se deu conta de que seu
marido jamais esperaria que ela o desafiasse, por isso nunca revistaria seus papéis quando ela
morresse. Posto que seu filho mais velho ainda estava vivo quando ela morreu, a anciã não
poderia saber se esses documentos se converteriam em um material necessário algum dia.
Mas os conservou no caso de precisar. Como qualquer mãe que se preocupasse com seu
filho.
E se ela, sua penalizada e compassiva avó, podia ignorar as ordens do tirano de seu marido,
um homem que teimava em seguir admoestando-o da tumba, Simon também poderia fazê-lo.
Porque a verdade era que ele não queria escutar mais o Monteith. Queria escutar as exigências de
seu próprio coração. Parecia que, depois de tudo, sim tinha um pequeno coração. Se não, por que
notava essas dores no estômago ante o mero pensamento de perder o respeito de sua esposa?
Por que sentia uma dor persistente no peito que piorava cada vez que considerava a
possibilidade de viver separado dela, da mesma forma que fizeram seus pais?
Não, não poderia suportar. Não agora que provou o doce sabor do amor.
Nesse instante, soube exatamente o que devia fazer.
Esperou que emergisse a cansativa voz de seu avô, para criticá-lo, para chamá-lo inútil... mas
não ouviu nada. Só um bendito silêncio, uma paz pura e deliciosa. Como se os fantasmas de seu
tio e de sua avó houvessem finalmente obrigado Monteith a retirar-se ao inferno.
E a única coisa que ouviu foi a melodiosa voz de sua esposa: "Sei que, sem dúvida nenhuma,
meu marido se converteria no melhor estadista que a Inglaterra jamais conheceu, mesmo que não
chegasse a ser primeiro-ministro".
E com essa poderosa declaração ainda ressonando em seus ouvidos, finalmente pôde
dormir.
Capítulo 27
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Querido primo:
Não posso imaginar que Louisa seja capaz de renunciar a seu posto, a menos que seja por
uma força maior. Poderia fazê-lo por amor. Começo a acreditar que ama muito o marido.
Sua prima,
Charlotte
No dia seguinte, quando faltavam cinco minutos para as quatro da tarde, Regina e Louisa se
achavam de pé em meio da sala de baile da casa que Regina tinha na cidade, contemplando os
membros da Sociedade das Damas de Londres, enquanto estes tomavam assento nas filas de
cadeiras dispostas na sala, junto a uma numerosa representação das Quackers do grupo da
senhora Fry.
Também havia alguns homens, poucos, que apoiavam os objetivos da Sociedade. Inclusive
lorde Trusbut estava ali com a esposa, apesar de não parar de consultar seu relógio de bolso com
o semblante preocupado.
— Simon não tem nenhum direito de exigir que se demita — sussurrou Regina enquanto
dava uma olhada aos presentes. — A próxima vez que o ver, o recordarei.
— Não servirá de nada. — Louisa desviou a vista para o lugar onde Marcus se achava de pé,
com cara de poucos amigos. — Não contou nada a meu irmão, não é? Ele realmente acredita que
sou eu que desejo renunciar.
— Não, não contei nada, mas Marcus não é tolo. Em só te olhar, sabe que há algo que não
vai bem. Embora esteja tentando conter-se para não colocar o nariz em seus assuntos. Não gosta
nada da ideia de intrometer-se entre um homem e sua esposa. — Regina ergueu as costas. — Mas
eu não compartilho da opinião dele. Se permitisse que falasse com Simon...
— Repito, não serviria de nada. Seu irmão é, inclusive, mais cabeçudo que o meu. Quando
toma uma decisão, não há nada que possa fazê-lo mudar de parecer, por mais que se tente
raciocinar com ele.
Amá-lo tampouco parecia dar resultado. Entretanto, esse era o sentimento que sentia por
seu marido. Passou a noite anterior acordada, sentindo falta dele, rememorando cada palavra que
dissera, desejando o impossível.
Uma parte de Louisa desejou que Simon aparecesse nessa manhã na casa de Regina para
suplicar que voltasse para casa com ele. Se tivesse feito isso, certamente lhe resultaria mais
suportável o sacrifício que ela ia fazer. Porque a única coisa que não podia esperar era que ele
aceitasse a derrota. A ambição do Simon sempre estava na frente de qualquer outra coisa, e de
qualquer pessoa, ao longo de sua vida.
Seria uma iludida se pensasse que ainda havia um pouco de esperança, se acreditasse que
seu marido ainda podia aceitar que ela continuasse liderando seu grupo. Mas sabia que não
importava se os motivos de Simon eram absolutamente irracionais. Não importava se ele não
respeitava seu grupo nem seus objetivos, porque dar o braço a torcer significaria o fim dos
próprios objetivos reformistas dele. Simon estava decidido a provar ao avô morto que era capaz
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de obter seus fins políticos. Portanto, não havia nada que pudesse fazer sobre isso.
As lágrimas alagaram seus olhos, e Louisa lutou com todas as forças para contê-las e não
perder a compostura diante dos congregados. Claro que chorou o suficiente no dia anterior para
encher um lago, ou talvez mesmo um oceano, mas como poderia viver com as escolhas terríveis
que lhe proporcionava o futuro?
Não podia abandonar Simon. Ainda que pudesse solucionar pela via legal, jamais poderia
divorciar-se dele, já que isso arruinaria as aspirações políticas de seu marido. Mas podiam viver
separados. Ela poderia ocupar todo seu tempo governando a casa que tinham no campo,
enquanto ele passava os dias em Londres. E quando as sessões no Parlamento se encerrassem e
ele retornasse ao campo, ainda poderiam continuar mantendo vidas separadas. A mansão em
Shropshire era grande o suficientemente para que não tivessem que se encontrar todo o tempo.
O problema era que ela não desejava abandoná-lo, nem viver separada dele. Queria ser sua
esposa, ter filhos, viver com ele em harmonia. Mas não podia, quando isso significava deixar que
ele a engolisse sem paixão, em corpo e alma. Quanto tempo ela demoraria em se converter na
viva imagem da mãe do Simon, arisca e distante, fria e sem compaixão? Quanto tempo demoraria
para se converter na viva imagem dele?
Um lacaio abriu caminho entre a multidão para se aproximar das duas anfitriãs.
— Senhoras — começou a dizer o criado quando chegou até elas, — há um homem do Times
que solicita que o deixem entrar na reunião.
Louisa conteve a respiração.
— Como? Como a imprensa ficou sabendo?
— Talvez o senhor Fielden tenha convocado-os, antes, quando falou com ele? —sussurrou
Regina.
— Virgem Santa, espero que não.
Louisa olhou para o senhor Fielden, que permanecia sentado com aspecto taciturno e
calado. Aceitou ficar até depois da reunião, mas sua decepção era inquestionável.
— O senhor Fielden não parece esse tipo de homem capaz de ir à imprensa para tornar
pública uma notícia. — Louisa virou para o lacaio. — Diga a esse jornalista que vá embora, por
favor.
O criado assentiu com a cabeça e se afastou, mas retornou após alguns minutos.
— O cavalheiro se nega a ir, senhora. Diz que espera que o senhor duque, seu marido,
chegue.
Ela o olhou com estupefação.
— O duque não virá a esta reunião, embora esse jornalista ache o contrário. Assim diga a ele
que vá embora, ou...
— Já me encarregarei do assunto — disse Marcus, que se aproximou delas para ouvir a
discussão.
Quando seu irmão desapareceu com o lacaio, Louisa continuou de pé, com a mandíbula
tensa.
— Pergunto-me como o Times soube. Se uma de nossas afiliadas deu com a língua nos
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Louisa sentiu um leve enjoo quando ouviu as mágicas palavras, e se virou rapidamente para
seu marido. Simon decidira apoiar Fielden, finalmente... Mas ainda ficou mais desorientada
quando viu que Simon piscava o olho. Não podia acreditar! Seu marido estava piscando o olho!
Simon apertou a mão dela de novo e continuou:
— Senhor Fielden, importaria de subir aqui, por favor?
O senhor Fielden ficou de pé, com o semblante tão desconcertado como o de Louisa, e abriu
caminho até a primeira fila em meio de fervorosos aplausos e murmúrios de aprovação. Louisa
aproveitou o momento para observar de soslaio os jornalistas, que se dedicavam a redigir
fielmente em suas cadernetas tudo o que estava acontecendo.
Quando o senhor Fielden chegou ao púlpito, Simon lhe ofereceu a mão e a estreitou
vigorosamente, em seguida retornou a seu posto para continuar com seu discurso.
— Temos a absoluta confiança que Fielden será um bom representante na Câmara dos
Comuns, especialmente por seu contínuo interesse na reforma penitenciária. — Ato seguido,
retrocedeu um passo. — Quer acrescentar algo, senhor?
— Obrigado, senhor duque. — Fielden se aproximou mais a ele, surpreendendo a si mesmo
de poder se manter firme sobre os pés e se esmerou em dar um breve, mas suculento discurso,
onde ressaltou seus objetivos reformistas.
Durante todo o tempo, Louisa ficou rígida, paralisada, apertando a mão do marido. Isso
queria dizer que Simon voltou a pensar direito?
O senhor Fielden acabou o discurso, logo retornou a cadeira em meio a aplausos
entusiasmados. Simon voltou a ocupar o centro do púlpito com a esposa.
— Nas últimas semanas, tive a enorme honra de ver como minha esposa dirigia o leme desta
fantástica organização. Nestas semanas, sua causa se converteu na minha. Por isso, tenho o prazer
de anunciar que, no dia de hoje, meu bom amigo Robert Peel aceitou encabeçar um comitê
parlamentar para elaborar uma lei que regule as prisões.
A sala ficou em silêncio. Em seguida, algumas das damas se levantaram de seus assentos e
explodiram em um estrepitoso aplauso. Enquanto Louisa estava plenamente consciente de que
seus joelhos tremiam como um pudim diante do enorme peso de tantas emoções, Simon a rodeou
pela cintura com braços firmes para evitar que desabasse no chão.
— Sinto muito que tenha tido que inteirar-se assim, meu amor — murmurou ele. — Minha
intenção era lhe dizer antes que começasse a reunião, mas hoje tive um dia cheio de reuniões, e
só consegui chegar a tempo porque conduzi o faetón como um louco através do Hyde Park.
— Não precisa se desculpar por nada! Por nada! — exclamou ela hilariante. — Uma lei que
regule as prisões! Sabe quanto tempo lutamos para conseguir isso? Não sei o que fez para
conseguir, mas...
— Contarei mais tarde — a interrompeu ele. — Mas antes, precisamos concluir a reunião.
Simon virou novamente para os presentes quando os aplausos começaram a se aplacar, e
Louisa se apressou a ficar na pontinhas dos pés para murmurar ao ouvido dele:
— Isso significa que não terei que renunciar a Sociedade das Damas de Londres, não é
verdade?
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Ele deu um sorriso zombador, embora seus olhos denotavam seu enorme remorso.
— E deixá-las com este terrível embrulho, agora que estão a ponto de conseguir o principal
objetivo? Mas se pode saber no que está pensando, carinho?
Louisa sentiu uma vontade enorme de gritar: "Estou pensando que te amo; Muitíssimo!".
Simon olhou à multidão.
— E agora, cedo a palavra a minha esposa para que ela possa finalizar a reunião, posto que
eu ainda não sou oficialmente um membro da Sociedade das Damas de Londres.
Seu comentário despertou algumas risadas entre o público, enquanto Louisa dava um passo
para frente.
— Receio não ter nada melhor para contar que possa superar estas magníficas notícias. Mas
antes de dar por concluída esta reunião, desejo agradecer ao duque de todo coração. — Olhou-o
com um sorriso transbordante de amor. — Porque hoje conseguiu me fazer absolutamente
orgulhosa de ser sua esposa.
E entre uma chuva de aplausos avivados, Louisa deu por concluída a reunião.
Ainda teve que passar uma hora antes que pudesse ficar a sós com o marido. Os jornalistas o
acossavam com mil perguntas, às quais ele respondeu com o usual aprumo. Enquanto isso, ela se
viu rodeada de Quackers e membros da Sociedade, que conseguiram sobressaltá-la ante as
enormes demonstrações de agradecimento. Simon convenceu Robert Peel para formar o comitê,
Louisa estava segura. Então, lady Trusbut abriu caminho até ela.
— Que êxito, querida! Que êxito! — exclamou a anciã. — Morro de vontade de contar às
garotas! Opal se sentirá indubitavelmente cheia de alegria — inclinou-se para Louisa. — Foi a que
mais me animou a participar de seu grupo, sabia? Por causa da aversão que sente pelas jaulas.
Louisa começou a rir.
— Então, agradeça a Opal por mim. — Apertou a mão de lady Trusbut. — Porque estamos
encantadas de contar com seu apoio. Do seu e de seu marido.
Louisa elevou a vista e procurou lorde Trusbut. O barão estava falando com Simon em um
dos cantos mais afastados da sala; ambos pareciam estar imersos em uma conversa cheia de
confidências. Quando os dois homens acabaram, retornaram ao lado de suas esposas.
Lorde Trusbut sorria amplamente.
— Vamos, querida, precisamos ir — disse lorde Trusbut a esposa quando chegou a seu lado.
— Prometi ao Fielden que passaremos pela casa dele para começar a organizar nossa estratégia.
— Quando lady Trusbut o olhou como se fosse protestar por ter que ir tão cedo, ele
acrescentou, com os olhos brilhantes: — E a senhora Fielden tem periquitos, três periquitos.
Isso foi tudo o que a baronesa necessitou para se despedir apressadamente dos anfitriões da
reunião e se agarrar ao braço do marido. Antes que lorde Trusbut abandonasse a sala, dirigiu a
Simon um gesto de aprovação com a cabeça.
— O verei no palácio de Westminster amanhã, na reunião com Liverpool, Peel e Canning.
Liverpool, Peel e Canning? Louisa olhou o marido com inquietação. Parecia um grupo do
mais díspar. Felizmente, Regina havia começado a convidar às pessoas a segui-la até a saída.
Deteve-se para jogar um beijo a Louisa com a mão, em seguida abandonou o salão de baile e
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Envio esta carta com a esperança de que consiga convencer papai para que aja corretamente
com minha querida esposa e meu filho. São meus herdeiros legítimos, por conseguinte, deveriam
receber qualquer herança que lhes corresponda quando eu morrer.
Sei que papai não compartilha minha escolha quanto a minha esposa, mas isso se deve a que
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teme o amor até o ponto de não atrever-se a amar a ninguém. Em vez disso, pensa ser feliz com
seus sucessos. Mas diga a ele que morro satisfeito, sendo plenamente consciente de que, durante
um pequeno intervalo de minha vida, tive o melhor que um homem pode desejar neste mundo
cheio de falsidades: alguém a quem amar.
Seu devoto filho,
Tobias Hunt
As lágrimas ardiam nos olhos quando Louisa devolveu a carta a Simon. Ele a pegou e
comentou com a voz entrecortada:
— Parece que vovó tentou abordar o assunto com o meu avô, e ele jogou os documentos ao
fogo. Ela deve ter resgatado-os e os guardou durante todos estes anos. Acho que deve imaginar o
que senti quando li a carta. Em meus ouvidos ressonava suas sábias palavras. E sem dúvida
nenhuma soube que, se não fosse por você, teria acabado me convertendo na pura essência de
meu avô.
Uma lágrima rebelde conseguiu escapar dos olhos de Louisa e rolou por sua face.
— Não acredito. Sempre pensei que poderia ser melhor pessoa caso se propusesse.
— E suas palavras atormentaram minha consciência desde que as disse. — Ergueu a mão de
sua esposa e a levou aos lábios, depois a beijou. — Por isso mudei de opinião. Por isso, e pelo
temor de perdê-la.
— Não teria me perdido.
— Não? Tem muita integridade para viver com um homem sem um pingo dela. E não teria
suportado ver como a mulher que amo perde todo o respeito por mim, por culpa de viver sempre
adquirindo um compromisso atrás de outro, sem parar, sem trégua.
O eco de suas próprias palavras conseguiu que Louisa se emocionasse. Então notou as outras
palavras que ele pronunciou.
— A mulher que ama? — Densas lágrimas de felicidade se amontoaram em sua garganta.
Simon a rodeou com os braços, e a olhou com tanta ternura que o coração de Louisa doeu.
— Amo você. Acredito que sempre amei. Mas sentia medo desse sentimento, tal e como
você disse; sentia medo de que te amar significasse que meu avô tinha razão quanto ao fato de ser
um escravo de minhas paixões. Provavelmente ele tinha razão, mas não me importa. Porque você
é o melhor que um homem poderia desejar.
Então a beijou, o tipo de beijo suave e doce, cheio de amor, capaz de encher a alma faminta
de uma mulher. Quando finalmente se separou dela, Louisa compreendeu por que os poetas
falavam de corações que explodiam de alegria. Porque certamente o dela explodiria em mil
pedaços de um momento a outro.
— Vamos, meu amor; é hora de retornar a casa — disse Simon.
E Louisa não pôde resistir a tentação de zombar dele:
— É isso um pedido? Ou uma ordem?
Os olhos de Simon brilharam com uma luz embriagadora enquanto a conduziu até a porta.
— A você o que parece?
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— Acho que... — começou a dizer, rindo com alegria. — Acho que tenho muita sorte de que
não tenha se casado comigo sete anos atrás. Não estou certa se saberia te dominar naquela
época.
O olhar felino que Simon lhe lançou a deixou sem fôlego.
— E acha que agora pode me dominar?
— Não. — Quando ele começou a rir, Louisa acrescentou. — Mas garanto que me divertirei
muito enquanto tento.
Epílogo
Querido primo:
Minha amiga decidiu ficar na casa que Foxmoor tem na cidade ao invés de instalar-se no
imóvel que possuem no campo. Não queria ficar ausente durante as sessões do Parlamento, e
suponho que o duque tampouco desejava ficar afastado dela. Não parece uma atitude
absolutamente romântica?
Ela diz que o duque está planejando uma festa para batizado que supere em grandeza à
celebração da coroação do rei. Espero que Louisa não fale a sério.
Sua prima,
Charlotte
Simon perambulava nervoso pelo vestidor contiguo ao quarto de sua esposa. Raji não se
separava de seu lado. Nenhum dos dois parecia contente.
— Pelo menos, os gritos pararam — murmurou Simon ao Raji. Os gritos de sua esposa e os
do mascote. Deveria ter trancado Raji no escritório, do mesmo modo que Louisa o obrigou a
permanecer no vestidor. Mas Simon necessitava de companhia.
— Malditos médicos — disse a Raji. — Só a ela poderia ocorrer que o médico da prisão a
cuidasse do parto. Rechaçou os serviços de meu médico, que conta com uma reputação
irrepreensível, e só aceitou o médico que ajudou a nascer o bebê de Betsy.
Raji tagarelou nervoso a modo de resposta, e logo se agarrou à perna do Simon.
— Pelo menos, meu médico não teria permitido que me expulsasse do quarto sem
concessões. Quando a única coisa que fazia era suplicar a esse doutor que fizesse qualquer coisa
para paliar a dor de Louisa. O que tem de mau nisso? — Simon levantou o pequeno malandro
entre seus braços; precisava ter as mãos ocupadas para não esmurrar a parede. — Disse que
estava deixando-a nervosa. A ela... Mas se é ela quem está me matando! Já transcorreram
intermináveis quatorze horas. Quanto tempo mais pode demorar para nascer um bebê?
A porta foi aberta e apareceu o doutor, com um sorriso de orelha a orelha.
— Parabéns, senhor duque. Acaba de ser papai de um menino forte e são.
Simon conteve a respiração e estreitou Raji com tanta força que o pobre animal começou a
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protestar.
— E Louisa? Está...?
— Está bem. Cansada, mas isso já era de se esperar.
As lágrimas afloraram nos olhos do Simon.
— Graças a Deus.
Fez gesto de dirigir-se à porta, mas se deteve um instante para depositar Raji nos braços do
médico.
— Espere! — gritou o médico. — O que quer que faça com ele?
— O que quiser, menos deixá-lo entrar aqui! — respondeu Simon, excitado.
Enquanto entrava no quarto e fechava a porta com firmeza atrás dele, ouviu como o doutor
murmurava:
— Acredite em mim, por nada do mundo teria me ocorrido fazer essa tolice.
Regina estava ajudando à enfermeira a limpar o recém-nascido, mas Simon só tinha olhos
para a esposa, que permanecia reclinada na cama. Jamais a viu tão pálida, tão exausta. Tão
inquestionavelmente bela.
Se dirigiu para o lado dela e segurou sua mão.
— Não teremos mais filhos, prometo. Usaremos esponjas e capas e utilizaremos as fases da
lua...
— Não seja ridículo — atalhou ela com uma frágil gargalhada. — Não faremos nada disso —
Louisa passou a mão por cima do peito. — Tampouco foi tão terrível.
— Mas... mas... se estava gritando! Raji quase enlouqueceu quando te ouviu.
— E você? — zombou ela.
— Eu? Eu estive a ponto de morrer de angústia! — O timbre de sua voz se tornou mais
agudo. — Jamais a ouvi gritar daquele modo!
— Você também gritaria, se alguém tentasse abrir caminho através de seu ventre. — Olhou-
o com uma enorme ternura. — Mas a julgar pelo que vi, sobre tudo pelo modo em que perdeu o
controle nesta situação, a próxima vez que entrar em trabalho de parto, ordenarei que o
tranquem no quarto mais afastado da casa, ou talvez em Shropshire.
— Não me parece engraçado — grunhiu ele. — Sentia medo de te perder.
Louisa o acariciou na face enquanto dava um tenro sorriso.
— Eu sei, mas não permitiria que uma trivialidade como o fato de dar a luz o afastasse de
mim. — Quando Regina se aproximou e depositou o bebê nos braços de Louisa, a nova mamãe
acrescentou: — E de nosso filho.
Formou-se um nó na garganta de Simon. "Seu filho". De repente, deu-se conta do milagre
que acabava de acontecer. Tinha um filho!
Inclinou-se para sua família para observar o pequenino, com os olhinhos fechados e a
boquinha de pinhão. Então o assaltaram mais lágrimas.
— É absolutamente perfeito.
— Mas é claro. É teu, não?
Simon soltou uma gargalhada nervosa; sentia-se tonto. Tocou o diminuto punho, e os
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dedinhos fechados ao redor de seu dedo indicador apertavam com uma surpreendente força.
— E agora me conte, o que aconteceu? — perguntou Louisa com uma patente curiosidade.
— O que aconteceu onde? — perguntou ele, enquanto continuava olhando maravilhado o
filho.
— Com a lei da reforma penitenciária! Ganhou a votação?
Por todos os Santos! Simon perdeu o mundo de vista quando ela entrou em trabalho de
parto.
— Sim, minha Joana d'Arc, ganhou. Estavam anunciando justamente quando o criado foi me
buscar para que viesse para casa.
— Isso significa que, certamente, passará pelo Parlamento. — Olhou-o com um brilho
renovado nos olhos. — Não posso acreditar! E como foi, o discurso do senhor Fielden... O que eu
escrevi para ele?
— Foi um êxito determinante. Era tão apaixonado como a pessoa que o escreveu. — Simon a
acariciou no queixo. — Realmente, é a mulher mais surpreendente que jamais conheci; acaba de
dar a luz, e ainda pensa nessa questão?
— Não, não só nisso — sorriu ela. — Também quero saber das novas a respeito de seu
primo. Regina disse que hoje tomariam uma decisão quanto ao título. Não esperava que
acontecesse tão rápido. O que aconteceu?
— Embora custe acreditar, o rei finalmente manteve uma das promessas que me fez.
Protestou e resistiu um pouco, mas depois da forma em que Trusbut e eu o obrigamos a mudar
seu gabinete no ano passado, provavelmente sabia que o melhor que podia fazer era fechar esse
assunto do título do Colin, para que eu o deixasse em paz de uma vez por todas.
Disse que queria que o aprovasse com a maior celeridade possível, e isso foi o que fez.
— E agora?
— Agora Colin é oficialmente o conde de Monteith — Simon lançou um olhar malicioso. — E
meu avô agora está oficialmente se revolvendo na tumba.
— Perfeito — Louisa contemplou o filho e sorriu. — Espero que quando nosso filho cresça,
dê motivos para que se revolva dez vezes mais. Porque o pequeno John David Henry Augustus,
com certeza, dará mais trabalho e será um primeiro-ministro mais progressista do que seu
indesejável avô nunca pôde imaginar.
— Nenhum de meus filhos nunca será primeiro-ministro da Inglaterra — anunciou Simon
solenemente. Louisa o olhou com estupefação.
— Por que não?
— Porque desejo algo melhor para ele.
— O que?
Com o coração cheio de alegria, Simon estampou um beijo na testa cheia de suor da esposa.
— Isto, meu amor: um amor verdadeiro e profundo.
Ela levantou a cabeça e o olhou com os olhos brilhantes.
— E por que não pode ter ambas as coisas? Você conseguiu.
— Sim, mas eu tive muita sorte. Duvido que uma coincidência tão extraordinária aconteça
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duas vezes. A política geralmente não suporta a felicidade de um matrimônio. Note em meu avô.
— Mas ele fracassou porque era um verdadeiro monstro.
— Talvez — Simon contemplou o filho. — Ou talvez a política crie monstros como ele,
pequenos Napoleões amargurados e tristes que não podem suportar a ideia de não ostentar o
controle sobre todas as coisas, inclusive em suas vidas privadas. E isso significa que têm a
necessidade de derrubar qualquer um que não possam controlar.
Acariciando o cabelo de sua esposa, Simon se maravilhou de novo com sua incrível sorte.
— Seja como for, se tivesse que escolher entre um casamento feliz ou um futuro na esfera
política para meu filho, o casamento feliz ganharia com acréscimo.
Simon pegou o bebê nos braços e o sustentou pela primeira vez. As lágrimas se amontoavam
em sua garganta. O milagre da vida era maravilhoso. Sua vida era maravilhosa.
— Porque tal e como o tio Tobías disse uma vez, o melhor que um homem pode desejar
neste mundo cheio de falsidades é alguém a quem amar.
Fim
NOTA DA AUTORA
Admito, neste romance alterei um pouco alguns fatos históricos, embora não tanto como o
leitor possa pensar. É obvio, não houve nenhum Simon que ocupasse o posto de ministro da
Defesa, e lorde Monteith foi um primeiro-ministro que tirei da cartola (graças a Deus). Mas muitos
dos outros personagens e eventos políticos são reais, embora tenha que admitir que exagerei os
fatos para que pareçam mais dramáticos. Lorde Sidmouth renunciou ao cargo de ministro do
Interior em 1822, depois que nunca mais conseguiu se recuperar da má fama depois do massacre
de Peterloo. E embora seja verdade que lorde Castlereagh jamais se demitiu - suicidou-se em
1822, - Liverpool substituiu tanto ele como Sidmouth por dois ministros com tendências mais
progressistas que seus predecessores.
Sir Robert Peel (durante a época em que acontecem os fatos de minha novela, ele ainda não
tinha sido renomado cavalheiro) converteu-se em ministro do Interior, e decretou a reforma
penitenciária em 1823. George Canning se converteu em ministro dos Assuntos Exteriores.
E o novo e melhorado gabinete foi capaz, depois que finalmente Liverpool se retirou em
1827, de conseguir o que Simon queria implementar em meu livro: a reforma parlamentar, que
afetou diretamente sobre o modo em que se escolhiam os membros da Câmara dos Comuns, e
por conseguinte, na desmedida influência que a aristocracia possuía sobre a legislação.
A lei da reforma de 1832 foi considerada extraordinariamente inovadora para a época.
Provavelmente o leitor não se surpreenderá saber que lorde Sidmouth, que ainda continuava
atuando em 1832, votou contra.
Outras pinceladas históricas reais nesta novela, incluem a informação a respeito de Newgate
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RESENHA BIBLIOGRÁFICA
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Como ela mesma diz "Se ao ter uma vida cheia de aventuras a converte em novelista, então
estava claro que esse devia ser meu destino. Quando meus pais decidiram ser missionários na
Tailândia (eu tinha sete anos), toda minha vida mudou. Antes dos dezoito, havia provado
estranhos manjares como cabeças de frango e de medusa, fui perseguida por um "filhotinho" de
elefante, vi incontáveis cobras e pítons, vacinada com todo tipo de injeções contra a raiva (sim,
essas antigas no estômago com aquelas agulhas longas), e visitado chuvosos bosques tropicais e
plantações de seringueira.
Mas se o que se pergunta é como a filha de missionários acabou se convertendo em
escritora de novela romântica, então deixe que explique. Quando está no quinto pinheiro, em um
país estrangeiro e com apenas seus chatos irmãos como companhia, dedica-se a ler muito. E
quando digo "muito" quero dizer exatamente isso. Li quase tudo - clássicos, livros para crianças,
contos, ficção científica, inclusive comics... mas, sobre tudo, li novela romântica.
Aprendi com as novelas de Cherry Ame, progredi com Grace Livingston Hill e Emilie Loring,
graduei-me com Barbara Cartland, em seguida enganchei às difíceis matérias no instituto com
minha primeira novela de Rosmary Rogers. Tentei deixar as novelas românticas durantes meus
seis anos de licenciatura, mas foi impossível.
Woodiwiss e Lindsey chamavam a gritos.
Finalmente, deixei de lutar. Deixei meu doutorado em filologia inglesa e me rendi ao impulso
de escrever uma novela. E... aí está... acabava de nascer uma escritora de novelas românticas!
Agora vivo na Carolina do Norte com meu marido e meu filho.
Escrevo livros o tempo todo.
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Sabrina Jeffries
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Graças a minha vida aventureira, tenho muito material para minhas novelas, de modo que
tenho em mente seguir fazendo isto por muito, muito tempo.
"Adoro que os heróis românticos sejam do tipo menino mau mais que cavalheiros de
brilhante armadura: "Não quero que minhas heroínas sejam resgatadas; quero que enfrentem o
grande lobo mau e ganhem". Estou orgulhosa de ser capaz de escrever história de "libertinos
reformados" mas confesso que meus protagonistas não são autênticos libertinos, são muito
masculinos mas não mulherengos.
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