Você está na página 1de 257

AVISO

Essa é uma traduçã o feita sem fins lucrativos, sem remuneraçã o de


alguma forma. Feito mesmo pela simples vontade de conseguir dar
acesso ao livro à queles que nã o sabem ler em inglês.
Por conta disso, peço encarecidamente que sigam umas pequenas
regrinhas abaixo para que nada de ruim aconteça:

Nã o comentar, publicar, divulgar abertamente sobre a traduçã o;

Nã o ficar postando nas redes sociais;

Manter o   mais sigiloso possível, só entre nó s mesmo, leitores
anô nimos.
Se em algum momento esse livro for traduzido oficialmente, será
deletado do grupo.
Se o canal cair por conta de denú ncias, todos saem perdendo, porque
nã o será reativado.
Boa leitura.

Representatividade
Protagonistas lésbicas e pansexual;
Personagens secundá rios lésbicos e héteros;

Aviso de conteúdo
Negligência / Abandono parental;
Briga entre irmã os;

Sumário
Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Epílogo

Nota da Autora

Sobre Jae
Agradecimentos
Como sempre, minha gratidã o e apreço vã o para minha maravilhosa equipe de leitores
beta: Trish pelos serviços noturnos de leitura e pelas fotos de gatos; Chris Zett, pelo
brainstorming entusiá stico e por garantir que eu acertasse os detalhes mé dicos; Anne-
France por suas listas bem equilibradas “o que eu gostei / o que notei / o que espero”; AC
por ficar de olho nos detalhes relacionados a Portland e por seu feedback
maravilhosamente encorajador; Erin por todos os comentá rios ú teis, especialmente sobre
os arcos emocionais dos personagens; Laure por ficar de olho nas pequenas (e à s vezes
nem tã o pequenas) coisas; Melanie por ser minha crítica mais dura, minha maior fã e a
pessoa que garante que eu coma.
També m gostaria de agradecer a Jennifer e Ginger por checarem as cenas de Valentina e a
Carol por checar as cenas do hospital (nã o se preocupem, leitores, nenhum personagem foi
morto durante a produçã o deste romance!).
Um grande agradecimento vai para minhas editoras, Claire e Michelle, com quem é incrível
trabalhar; aos meus revisores, Maggie e Julie, e à equipe da Ylva Publishing.
Por ú ltimo, mas nã o menos importante, sou eternamente grata aos meus leitores que me
motivam a escrever. Espero que você també m goste deste livro!

Capítulo 1
— É aqui que a má gica acontece. — Hannah destrancou a porta de seu apartamento e
deu um passo para o lado para deixar Dawn entrar.
— Seu vizinho está olhando — Dawn sussurrou enquanto passava por ela.
Hannah suspirou, mas nem sequer olhou para trá s. Você poderia achar agora que o
fluxo de visitantes nã o levantaria mais as sobrancelhas das pessoas.
— É provavelmente porque a maioria dos meus clientes sã o homens e você é ...
— Uma mulher. — Dawn assentiu. — Mas seus vizinhos sabem o que você faz para
viver, nã o é ?
— É claro. Tive que notificá -los sobre meu negó cio para obter uma licença de
ocupaçã o residencial quando comecei meu serviço de ‘abraçadora profissional’. Hannah
mal resistiu ao impulso de dar uma piscadela atrevida para seu vizinho intrometido.
Comporte-se. A ú ltima coisa que ela precisava era adicionar combustível ao boato do
complexo de apartamentos. Ela fechou a porta com firmeza atrá s delas.
Dawn passou pela cozinha e olhou em volta.
Hannah parou atrá s dela e se perguntou o que seu estú dio poderia revelar sobre ela
para algué m com o passado de Dawn. Provavelmente uma modesta conta bancá ria e uma
feliz ignorâ ncia dos princípios de design de interiores.
Finalmente, Dawn apontou do canto mais distante do quarto, onde a cama de Hannah
espiava por trá s de uma cortina, para o enorme sofá cor de chocolate. Ficou em um â ngulo
estranho porque Hannah calculou mal seu tamanho e nã o percebeu que nã o caberia no
comprimento da parede até que ela o arrastou para o lugar pretendido.
— Cama ou sofá ?
Hannah apertou o peito com as duas mã os e soltou um suspiro escandalizada.
— Quero que saiba que nã o é esse tipo de serviço, Dra. Kinsley.
— O quê ? Nã o, eu... Dawn caiu na gargalhada. Seus olhos verde-acinzentados se
iluminaram de alegria.
— Minha esposa ficará feliz em saber disso. Mas o que eu realmente quis dizer é : onde
você abraça seus clientes? No sofá ? Na cama? Ou você deixa seus clientes escolherem?
— Nã o — disse Hannah. — A cama nã o é uma opçã o. A maioria das pessoas associa
isso ao sexo e estou tentando ensiná -los que o toque pode ser completamente platô nico. À s
vezes, abro uma exceçã o e uso a cama se o cliente for de fora e tiver reservado um quarto de
hotel para nossa sessã o, mas nunca para novos clientes.
Um tremor visível percorreu Dawn. — Eu nã o acho que poderia fazer o que você faz,
se aconchegar com completos estranhos.
Hannah nã o conseguia se imaginar fazendo o que Dawn fazia, aconselhando
sobreviventes de abuso sexual e estupro.
Antes que ela pudesse dizer isso, Dawn acrescentou: — Mas estou feliz que você saiba.
Tenho vá rios pacientes que realmente se beneficiariam com algumas sessõ es com você .
Eles precisam de um espaço seguro que lhes permita experimentar o toque físico como
algo positivo novamente.
— Ou nã o — disse Hannah. — Se eles decidirem que ainda nã o estã o prontos, tudo
bem també m. Podemos passar a sessã o sentados lado a lado, conversando. Quero que meus
clientes saibam que podem dizer nã o e falar sempre que algo os deixar desconfortáveis.
— E é exatamente por isso que acho que seria ú til. Quando participei de seu
workshop, fiquei muito impressionada com o quanto seu trabalho se concentra no
consentimento e na comunicaçã o. É muito mais do que apenas ficar de conchinha por uma
hora.
Hannah sorriu para ela. Finalmente algué m que parecia entender o real significado de
seu trabalho.
Dawn sorriu de volta.
— Entã o, você estaria disposta a aceitar meus pacientes se eles estivessem
interessados? Você abraça mulheres també m, certo?
— Sim claro. Eu abraço qualquer pessoa, independentemente do gê nero ou
orientaçã o sexual. Todo mundo precisa de abraços.
Acariciar uma mulher seria uma boa mudança de ritmo. Hannah se jogou no sofá ,
apoiou o cotovelo na coxa felpuda de Eddy, o urso de pelú cia, e gesticulou para que Dawn
ficasse confortável. — Faça com que seus pacientes verifiquem meu perfil no site do
Abraçadores Experientes e...
A campainha tocou.
Hannah olhou para o reló gio. Ela estava esperando seu primeiro cliente do dia em
meia hora, mas ele era um cliente regular e sabia que nã o deveria chegar cedo.
— Desculpe. Volto logo. — Ela correu para se livrar de quem quer que fosse.
Quando abriu a porta, um carteiro estava parado à sua frente, com uma sacola
pendurada no ombro. Ele estendeu um envelope grosso. — Tenho uma carta certificada
para Hannah Martin.
Carta certificada? Isso nã o poderia ser bom. Ela esperava que nã o fosse de seu
senhorio. Embora ele tivesse concordado relutantemente em deixar Hannah administrar
seu negó cio de abraços em seu apartamento, ele ainda nã o era fã de sua profissã o. Ele
presumiu que era um disfarce para trabalho sexual ou temeu que um abraçador
profissional nã o pudesse ganhar dinheiro suficiente para pagar o aluguel. Infelizmente, em
alguns meses, havia mais verdade na segunda suposiçã o do que ela gostaria de admitir.
— Eu sou Hannah. — Ela estendeu a mã o para pegar o envelope, mas o carteiro o
segurou.
— Você precisa assinar para isso. — Ele rasgou um cartã o verde de recibo de
devoluçã o do verso do envelope e o entregou, junto com uma caneta.
Hannah rabiscou sua assinatura na linha indicada por ele, pegou o envelope e fechou a
porta com um “obrigada”. Ao voltar para o sofá , ela examinou o envelope para identificar o
remetente.
Ufa.
 A carta nã o era de seu senhorio. O logotipo no canto do envelope dizia Woodruff
& Beck, advogados
.
Espere! Advogados? Isso nã o foi nada melhor. Ela nã o tinha nenhum negó cio com um
escritó rio de advocacia. Inferno, ela nunca tinha levado uma multa por excesso de
velocidade. Algué m a estava processando ou algo assim? Seus dedos ficaram frios.
Ela caiu no sofá e forçou um sorriso no rosto enquanto se virava para Dawn. A carta
teria que esperar. Fazer conexõ es com uma psicoterapeuta bem estabelecida era mais
importante por enquanto. Ela tentou se lembrar do que estava dizendo antes de serem
interrompidas, mas nã o conseguiu.
— Está tudo bem? — Dawn a estudou com uma expressã o preocupada. — Se algo
aconteceu, eu posso...
— Oh, nã o. Estou bem. — Hannah deslizou a carta para baixo de uma das almofadas
cor de manga. Fora da vista, longe da mente. Geralmente era assim que funcionava para ela.
Mas nã o desta vez. Seu olhar continuou deslizando de volta para o travesseiro.
— Tem certeza?
— Tenho. Nã o é todo dia que recebo uma carta certificada de um advogado. —
 Hannah riu. Parecia tã o convincente quanto parecia. — Provavelmente nã o é nada.
— Abra e veja o que é — disse Dawn. — Eu nã o me importo.
Ana hesitou. Mesmo que elss tivessem se dado bem instantaneamente, Dawn ainda
era algué m com quem ela esperava trabalhar, nã o uma amiga íntima. Mas em seu trabalho
como abraçadora profissional, ela aprendeu a confiar em seu instinto e agora seus instintos
lhe diziam que Dawn realmente nã o se importava... e que o que quer que este envelope
contivesse era importante.
— Ou podemos remarcar se você preferir abri-lo sozinha — Dawn acrescentou.
— Nã o. Como eu disse, provavelmente nã o é nada. — No entanto, quando Hannah
pegou o envelope e o abriu, suas mã os tremiam. Ela puxou vá rias folhas de papel e as
desdobrou. A pá gina no topo era uma carta impressa em papel de carta caro.
Hannah o examinou, depois o leu novamente mais devagar para entender o jargã o
jurídico.
Prezada Sra. Martin,
Em nome da Woodruff & Beck LLP, desejo expressar minhas mais sinceras condolências
pelo recente falecimento de Julian P. Lambert. Estou escrevendo para informá-la de que ele
estabeleceu um fundo vivo antes de sua morte, que se tornou irrevogável após sua morte. O
documento fiduciário nomeia você como uma das beneficiárias do Julian P. Lambert Trust.
Como administrador sucessor, tenho a tarefa de administrar todos os ativos fiduciários e
distribuí-los aos beneficiários, e farei isso o mais rápido possível.
Em anexo está uma cópia do documento de confiança para que você possa se
familiarizar com os detalhes.
Se você tiver alguma dúvida, não hesite em entrar em contato comigo pelo telefone 503-
595-7025.
Atenciosamente,
Craig Woodruff
Hannah olhou para as palavras até que elas se confundissem diante de seus olhos.
Julian P. Lambert Trust? Ela nã o conhecia ningué m com esse nome... conhecia?
— Má s notícias? — Dawn perguntou.
— Nã o. — Bem, certamente foram má s notícias para Julian P. Lambert, quem quer que
ele fosse. — Pelo menos eu acho que nã o. — Hannah folheou o restante dos papé is, cerca de
dez pá ginas de jargã o jurídico. Ela os examinou até que seu pró prio nome apareceu para
ela, entã o voltou para o início da seçã o.
Após a morte do outorgante, a menos que especificado de outra forma, todos os ativos
fiduciários listados no Anexo A serão divididos em partes iguais entre as filhas do outorgante,
Brooke Geraldine Lambert e Winter Louise Sullivan.
O direito, título e participação no imóvel localizado em 19460 SW East Side Road, Lake
Oswego, Oregon, serão dados a Brooke Geraldine Lambert.
O direito, título e participação no imóvel localizado na 1405 SW Park Avenue em
Portland, Oregon, deve ser dado a Hannah Elizabeth Martin e Winter Louise Sullivan em
partes iguais, desde que morem lá, sem pagar aluguel, por um período de noventa e dois dias
consecutivos.
Hannah pressionou um ombro contra o encosto do sofá para se firmar. Imobiliária. Ela
esfregou os olhos. Isso era real? Quando finalmente ergueu os olhos da carta, encontrou o
olhar questionador de Dawn.
— Acho que algué m que eu nem conheço me deixou uma casa. Bem, meia casa. — Ela
olhou o documento novamente. — A menos que esta seja uma versã o mais elaborada do
esquema do príncipe nigeriano.
Dawn inclinou a cabeça. — Esquema do príncipe nigeriano?
— Sim, você sabe. Um daqueles e-mails que dizem que você é o parente vivo mais
pró ximo de um príncipe nigeriano e herdará trinta milhõ es de dó lares se pagar uma
pequena taxa de transferê ncia.
Dawn riu.
— Talvez tente pesquisar o advogado no Google.
Por que ela nã o tinha pensado nisso? A cabeça de Hannah ainda estava girando. Ela
pegou o telefone e digitou o nome do escritó rio de advocacia no navegador. Surgiu um site
de aparê ncia profissional e a pá gina dizia que eles eram especializados em planejamento
imobiliá rio, fundos fiduciá rios e direito sucessó rio.
— Parece legal.
Entã o isso era um beco sem saída. Mas talvez... Ela digitou Julian P. Lambert
, depois
passou pelos links do LinkedIn e do
 Portland Business Journal até chegar a um obituá rio
.
 
Julian P. Lambert, 76 anos, fundador da ZLT AgriMarketing, faleceu em...
A imagem à esquerda finalmente carregou e Hannah parou de ler.
Oh meu Deus! Esse é o Jules! Mesmo com sua memó ria fraca para rostos, ela o
reconheceu imediatamente. Seu cabelo grosso e prateado era inconfundível. A primeira vez
que ela o conheceu, ela assumiu que era uma peruca e só descobriu o contrá rio quando ela
lhe deu uma massagem na cabeça. Ela parou assustada e foi a primeira vez que o rosto
sé rio dele se abriu em um sorriso.
E agora ele estava morto. Uma sensaçã o de peso se instalou na boca do seu estô mago
e sua mã o com o telefone caiu no sofá . Ela piscou contra a ardê ncia em seus olhos.
Dawn deslizou para mais perto e colocou sua pró pria mã o em cima por um momento.
— Eu sinto muito. Afinal, você o conhecia?
— Sim, hum… — Hannah cravou os dentes em seu lá bio inferior. O có digo de conduta
para abraçadores profissionais incluía uma clá usula de confidencialidade, entã o ela nã o
podia contar a Dawn como ela conhecia o Jules.
— Ah. Ele era um cliente. Nã o diga mais nada. — Dawn deu um aperto suave em seus
dedos, depois soltou e se levantou. — Eu vou agora para que você possa processar tudo
isso. — Com um aceno de cabeça, ela indicou a carta e o documento fiduciá rio que havia
caído no chã o.
Hannah os pegou e apertou os dedos ao redor das pá ginas como se isso fosse torná -lo
tangível.
— Obrigada. Admito que isso me surpreendeu.
Ela sabia que Jules estava doente, é claro, já que eles tinham que agendar suas sessõ es
em horá rios que nã o interferiam com seus compromissos de diá lise. Muitas vezes ele
parecia cansado e, de vez em quando, até adormecia durante uma sessã o. Mas ele sempre
ignorou, agindo como se nã o fosse nada. A centelha de determinaçã o em seus olhos a fez
esquecer que ele nã o era perfeitamente saudável, e ela sabia que era assim que ele preferia.
Embora ele nã o tivesse agendado uma sessã o semanal em alguns meses, como costumava
fazer, ela presumiu que ele estivesse ocupado com um dos muitos projetos em que ainda
estava envolvido, apesar de aposentado.
— Eu nã o tinha ideia de que ele… — Ela mordeu o lá bio novamente. — Ou que ele
planejou me deixar qualquer coisa. Quero dizer, simples assim — ela estalou os dedos — eu
possuo metade de uma casa. Realmente funciona assim? Nã o deveria haver uma leitura do
testamento ou algo assim?
Dawn balançou a cabeça.
— També m nã o tivemos uma leitura do testamento quando meu pai ou meu irmã o
morreram. Isso nã o acontece na vida real, apenas nos filmes. Acho que essas revelaçõ es
dramá ticas e suspiros surpresos em escritó rios de advogados com acabamento em mogno
sã o um bom entretenimento.
— É , també m acho. — Os pé s de Hannah se moviam como se estivessem no piloto
automá tico enquanto ela acompanhava Dawn até a porta e lhe dava uma pilha de cartõ es de
visita para distribuir aos pacientes. — Muito obrigada por ter vindo. Ligue-me assim que
tiver a chance de falar com seus pacientes ou se tiver alguma dú vida.
Assim que a porta se fechou atrá s de Dawn, Hannah encostou-se nela e levantou os
documentos que ainda segurava.
As filhas de Jules receberiam cartas semelhantes? Ele havia dito a elas que planejava
dar a sua abraçadora profissional metade da casa?
Se ele nã o tivesse, suspiros surpresos poderiam nã o ser apenas uma coisa de
Hollywood, afinal.

Capítulo 2
Winter passou furiosamente pelo balcã o da recepçã o, esbarrou em duas funcioná rias
de sua meia-irmã e abriu a porta do escritó rio de Brooke sem se incomodar em bater.
— Você sabia sobre isso?
Brooke olhou para cima, ergueu calmamente os dedos bem cuidados do teclado e fez
um aceno majestoso.
— Feche a porta.
Winter a fechou com força. O chacoalhar das obras de arte caríssimas nas paredes
deu-lhe uma certa satisfaçã o.
Sua irmã , no entanto, parecia totalmente imperturbável, sua maquiagem impecável
como sempre e nenhum fio de cabelo fora do lugar em seu coque bem feito. Aquele cabelo
castanho brilhante nunca deixava de irritar Winter porque nã o havia um ú nico fio grisalho
nele, ao contrá rio de seu pró prio prateado, embora Brooke, aos 41 anos, fosse cinco meses
mais velha que ela.
Brooke a nivelou com um olhar frio. — Saber sobre o quê ?
— Oh, nã o se faça de inocente comigo. Claro que você sabia. — Com vá rios passos
largos, Winter atravessou o espaçoso escritó rio de canto e enfiou o documento na cara de
Brooke. — A velha raposa colocou toda a sua propriedade em uma relaçã o de confiança.
Brooke nem olhou para ela.
— E daí? Isso vai acelerar as coisas para nó s, evitando o inventá rio e todos os
intermináveis ​processos judiciais.
— Vai acelerar as coisas para você
! Você vai ficar com a casa em Lake Oswego e
metade de tudo o mais, nã o importa o que aconteça, enquanto minha herança vem com
condiçõ es. — Claro que vinha. Ela deveria saber. Nada nunca foi incondicional com seu pai.
Tudo tinha um preço, pelo menos para ela. Brooke, sua legítima filha de ouro, sempre
conseguia tudo o que queria sem precisar pedir.
Winter sentiu cã ibras nos dedos enquanto lutava contra a vontade de rasgar esse
maldito documento em pedaços. Quando a carta chegou, ela esteve tã o perto de mandar
tudo para o inferno, amassando as pá ginas em uma bola e jogando-as fora, assim como
Julian havia jogado fora sua mã e. Winter trabalhou duro para tornar sua pró pria empresa
bem-sucedida e nã o precisava de nenhuma das coisas listadas no documento. Nem seu
dinheiro, nem suas açõ es, nem suas apó lices de seguro de vida. Ela nã o dava a mínima para
nada disso.
A propriedade na SW Park Avenue, no entanto... Ela a desejava desde que ouvira pela
primeira vez que havia sido colocada à venda. Sua localizaçã o, no coraçã o do centro de
Portland, a colocava ao alcance de proprietá rios de negó cios interessados ​em seus serviços
de consultoria e ela ficou encantada com as grandes janelas salientes. Elas permitiam a
entrada de mais luz natural, o que seria bom, especialmente durante os invernos sombrios
de Portland. Ela havia planejado manter duas das pequenas unidades para si mesma, uma
como á rea de estar e outra como escritó rio para receber clientes, enquanto alugaria os
outros apartamentos, o que ajudaria a pagar a hipoteca e lhe proporcionaria um fluxo
constante de renda. Renda passiva.
Mas, graças à cobra de sua irmã , Julian descobriu seus planos e arrebatou o pré dio
debaixo de seu nariz.
— Apenas ensinando a você uma liçã o valiosa — ele disse, seu tom todo profissional.
— O setor imobiliá rio é tã o acelerado quanto o marketing. Se você quer ter sucesso como
consultora de marketing, nã o pode perder tempo e é melhor aprender comigo do que com
outra pessoa.
Agora ele estava balançando o pré dio na frente de Winter em uma ú ltima tentativa de
controlá -la, mesmo do tú mulo.
Brooke deu de ombros.
— É o que papai queria e você está recebendo metade de tudo sem levantar um dedo.
Você nã o fez nada para merecer um centavo do dinheiro dele, entã o por que está
reclamando?
— Merecer? — Winter pronunciou a palavra. — Ah, e você acha que só porque sua
mã e tinha uma aliança no dedo quando deu à luz e a minha nã o? També m sou filha dele e o
dinheiro de Julian é meu por direito tanto quanto seu! — Essa era a ú nica razã o pela qual
ela nã o negava sua herança: para provar a todos que ela a merecia e era tã o digna quanto
sua filha legítima. Mesmo que acabasse doando a maior parte para a mã e ou para caridade,
nã o deixaria Brooke ficar com tudo.
Brooke zombou.
— Quã o conveniente! De repente, você se lembra que é filha dele? Você nã o agiu assim
quando ele ficou doente. Você nã o estava lá para assistir enquanto o coraçã o dele parava e…
— Ela se interrompeu com um aceno cortante de sua mã o, entã o pressionou as palmas das
mã os em sua escrivaninha cara, com as costas retas como uma vareta. — Entã o, desculpe-
me se nã o estou com humor para ouvir seu pequeno acesso de raiva. Tenho trabalho a fazer.
Ela puxou o teclado para mais perto e voltou o olhar para a tela, dispensando Winter.
Oh não, você não!
  Se Brooke pensava que poderia seguir a orgulhosa tradiçã o
Lambert de ignorar sua existê ncia, ela tinha outro pensamento vindo! Winter sentou-se na
cadeira de visitante diante da enorme escrivaninha de Brooke e esticou as longas pernas
como se estivesse se acomodando. Ela nã o deixaria este escritó rio até que estivesse bem e
pronta. Um Lambert forçando-a a cumprir suas ordens era o suficiente. Ela estreitou os
olhos e estudou as feiçõ es compostas de Brooke.
— Se você acha que merece tudo porque brincou de enfermeira para Julian, por que
diabos está concordando com a farsa dele? Nã o me diga que você está bem com metade da
propriedade da Park Avenue indo para uma completa desconhecida.
— Desconhecida? — Brooke repetiu. — Entã o você també m nã o sabe quem ela é ?
Winter riu, o som sem qualquer humor.
— Eu? Por que eu saberia? Nã o tenho ideia de quem ela seja.
— Nem eu. — Brooke recostou-se em sua poltrona de couro com ar de pose e
superioridade. — A ú nica coisa que sei é que ela nã o vai conseguir a propriedade.
— Oh, sim, ela vai.
— Quem disse?
— Dois diplomas de escolas chiques e você nem sabe ler? — Winter ergueu o
documento fiduciá rio e sorriu para ela por cima da pá gina antes de ler em voz alta: O
direito, o título e a participaçã o no imó vel localizado na 1405 SW Park Avenue em Portland,
Oregon, serã o dados a Hannah Elizabeth Martin e Winter Louise Sullivan em partes iguais.
— Um diploma de uma escola estadual da qual ningué m nunca ouviu falar,
aparentemente, també m nã o ajudou em suas habilidades de leitura. — Brooke levantou
uma pilha de papé is, abriu uma pasta de couro e tirou sua pró pria có pia do documento
fiduciá rio. — …em partes iguais, desde que ali vivam, sem renda, por um período de
noventa e dois dias consecutivos. Durante esse período, nenhuma das duas pode passar a
noite sob um teto diferente. Caso um dos beneficiá rios nã o concorde ou quebre os termos
desta disposiçã o, elas nã o receberã o nenhuma distribuiçã o e sua parte no patrimô nio
fiduciá rio irá para a filha mais velha do outorgante, Brooke Geraldine Lambert.
Ela abaixou os papé is e deu a Winter um olhar presunçoso.
Winter friamente olhou de volta. — Entã o é por isso que você está tã o calma sobre
isso. Você acha que vou me recusar a aceitar a chantagem de Julian, entã o você fica com a
minha parte, compra essa tal de Hannah... e voilà , você tem tudo.
Brooke girou preguiçosamente uma caneta prateada entre os dedos.
— Parece um plano infalível para mim.
Se já houve um momento em que Winter se sentiu tentada a jogar o documento na
cara de Brooke e dizer a ela para ficar com tudo, esse pensamento desapareceu tã o rá pido
quanto Julian da vida de sua mã e. A engenhoca de couro e aço embaixo de Winter rangeu
quando ela se inclinou bruscamente para a frente.
— Nã o tã o infalível quanto você pensa, maninha — ela pronunciou a palavra
maliciosamente — porque pretendo cumprir totalmente os termos do fundo.
Merda. Ela nã o pretendia dizer isso e concordar com a chantagem de Julian. Mas agora
nã o tinha como voltar.
Se sua declaraçã o surpreendeu Brooke, ela nã o demonstrou. Sua cara de pô quer era
tã o perfeita quanto sua maquiagem.
— Nã o importa. Diga-me, irmã . — Ela deu à palavra o mesmo som zombeteiro. —
Quanto tempo você coabitou com sua ú ltima namorada? Oh, espere, isso mesmo. Você nã o
tem relacionamentos porque mal tolera as pessoas, e vice-versa.
Winter bufou. — O sujo falando do mal lavado. Você é um caçadora de talentos, mas
nã o consegue nem encontrar uma assistente com quem possa trabalhar.
— Consultora de busca executiva — Brooke murmurou. — E eu poderia encontrar
algué m; Eu só nã o quero. Isso só iria me atrasar. A maioria das pessoas sã o idiotas.
Um momento de silê ncio se estabeleceu entre elas quando, apó s quarenta e um anos
de confrontos, finalmente encontraram algo em que podiam concordar.
— Mulher Misteriosa — Brooke bateu na seçã o do documento fiduciá rio que listava
os beneficiá rios — provavelmente nã o será uma exceçã o.
— E daí? — Disse Winter. — Só porque temos que viver sob o mesmo teto por trê s
meses nã o significa que temos que nos tornar melhores amigas. Afinal, é um pré dio grande.
Daremos uma a outra acenos educados sempre que entrarmos no elevador ao mesmo
tempo, e é isso.
Os cantos dos lá bios de Brooke se ergueram em um sorriso malicioso.
— Oh sim. É um grande edifício. Trinta e trê s unidades,   todas alugadas para
inquilinos e, como o aluguel é bastante acessível para Portland, nenhuma delas se mudará
tã o cedo. Você vai ter que dividir o apartamento do papai no ú ltimo andar com a Mulher
Misteriosa.
Dividir um apartamento? Um caroço se formou na garganta de Winter, mas ela se
recusou a engoli-lo, nã o querendo dar a Brooke qualquer indicaçã o de seu desconforto. Ela
nã o morava com ningué m desde que saiu da casa de sua mã e aos dezoito anos. A ideia de
compartilhar seu espaço fez a tensã o subir por suas costas.
Julian sabia e apresentou os termos do fundo na esperança de que eles a fizessem
suar? Provavelmente. Ele sempre teve o talento de farejar os pontos fracos da competiçã o, e
era o mesmo em sua vida privada.
O sorriso de Brooke se alargou. — Nã o está mais tã o confiante, nã o é ? Conhecendo
você , você nã o vai durar noventa e duas horas, muito menos noventa e dois dias morando
com algué m. Tudo o que tenho a fazer é sentar e esperar até que uma de você s fuja da cena
de sua misé ria. Talvez eu até tenha sorte e você s duas vã o embora.
Winter cerrou os dentes. Entã o era por isso que Brooke estava tã o calma quanto um
monge tibetano. Ela assumiu que colocar as mã os em pelo menos metade do pré dio era
uma coisa certa! De jeito nenhum! Ela nã o lhe daria essa satisfaçã o.
— Continue sonhando. Falo com você daqui a noventa dias, quando receber minha
herança. — Ela se levantou e caminhou até a porta.
— Noventa e dois — Brooke gritou atrá s dela. — Mas meu dinheiro está no sete.
— Aproveite suas ilusõ es. — Winter marchou pela porta, de cabeça erguida. Ela
poderia fazer isso. Trê s meses nã o foram nada. Só porque ela tinha que dividir o
apartamento com uma estranha nã o significava que ela tinha que sair com ela. Elas
poderiam negociar um horá rio para quando cada uma delas usasse a cozinha e nã o
precisassem se ver, exceto de passagem. Ela trabalharia o tempo todo de qualquer maneira
e, com alguma sorte, Anna ou Hannah, qualquer que fosse o nome dela, seria uma
workaholic solitá ria com um espaço pessoal de trê s quilô metros també m.
***
O primeiro emprego de Winter depois da faculdade foi como assistente de marketing,
trabalhando para uma agê ncia de marketing especializada em escritó rios de advocacia.
Durante aqueles dois anos, ela aprendera trê s coisas: a maioria das biografias de
advogados é tã o interessante quanto um livro jurídico; ela nã o servia para ser uma
funcioná ria e era uma boa ideia ter um advogado na discagem rá pida para todas as
ocasiõ es.
Ligar para o advogado provavelmente foi a primeira coisa que Brooke fez depois de
receber a carta e era por isso que ela estava tã o irritantemente calma.
Enquanto Winter caminhava pelo elegante e moderno saguã o do pré dio de escritó rios
de Brooke, ela pegou o telefone e deu uma olhada em seus contatos. Ela saiu na Market
Street com o telefone tocando pressionado contra o ouvido.
— Gardner & Jablonski. Aqui é Patrick Murphy falando — disse a recepcionista do
escritó rio de advocacia. — Como posso ajudá -lo?
— Meu nome é Winter Sullivan. A Sra. Gardner está ?
— Sim ela está . Um segundo. Vou passar para você .
Uma animada mú sica de piano reverberava pelo telefone. Winter arqueou as
sobrancelhas. A peça era muito otimista para uma empresa que lida com testamentos. Sem
trabalho de marca. Ainda bem que ela ligou. Ela realmente precisava dar a Abby alguns
conselhos de marketing gratuitos em troca de aconselhamento jurídico gratuito, durante
anos, essa foi a base de sua amizade, se é que se pode chamar assim.
— Olá , Winter — a voz de Abby veio pelo telefone. — Como você tem estado? Já faz um
tempo desde que ouvi falar de você .
Winter nã o era boa em manter contato. Ok, ela era pé ssima nisso. — Estou bem. Como
você está ? E como vai... hum… — Ela parou em uma esquina como se isso fosse dar ao seu
cé rebro uma chance de recuperar o atraso e se lembrar. Droga.
  Brooke deveria saber o
nome da noiva de Abby... provavelmente esposa agora. Dizia-se que Brooke mantinha os
nomes dos cô njuges e filhos de só cios comerciais em seus arquivos.
Bem, ela nã o era Brooke. Ela preferia impressionar seus clientes com uma taxa de
conversã o melhor do que com sutilezas sociais. Alé m disso, nã o era como se ela e Abby
fossem amigas íntimas. Elas mantiveram contato porque ambas eram viciadas em trabalho
e se entendiam, mas ligavam principalmente sempre que precisavam de algum conselho
profissional.
— Claire — Abby finalmente forneceu. — Até onde eu sei, ela está indo bem. Nó s nos
separamos.
— Oh. Lamento ouvir isso. — Realmente deve ter passado um tempo desde que se
falaram.
— Está tudo bem — Abby disse. — O que posso fazer para você ?
— Julian... meu pai morreu e...
— Sinto muito.
Agora foi a vez de Winter dizer: — Está tudo bem. — Essa pode nã o ser a maneira
socialmente aceitável de responder, mas seu pai já estava morto para ela há muito tempo.
— De qualquer forma, ele colocou seus bens em custó dia e amarrou parte da herança a uma
condiçã o ridícula. Se eu me recusar a viver por trê s meses com uma perfeita estranha que
ele escolheu, a propriedade que ele sabia que eu queria seria transferida para minha meia-
irmã . Existe uma maneira de lutar contra isso?
— Hum.
Nã o era um som que Winter gostava de ouvir de um advogado. — O que isso deveria
significar?
— Posso recomendar um advogado de confiança licenciado para atuar no Oregon,
mas nã o vou prender sua respiraçã o. Uma confiança viva é muito mais difícil de contestar
no tribunal do que um testamento. A condiçã o de seu pai pode ser incomum, mas nã o soa
contrá ria à política pú blica. Duvido que algum tribunal anule isso, a menos que você possa
provar que ele nã o tinha capacidade mental para fazer o acordo fiduciá rio.
Winter suspirou. Provar isso era impossível. Mesmo com setenta e poucos anos, a
mente de Julian era afiada como um bisturi. No fundo, ela já sabia que nã o conseguiria sair
dessa tã o facilmente. Julian provavelmente contratou o melhor advogado imobiliá rio da
Costa Oeste para garantir que o documento fosse hermé tico.
Excelente. Ela estava presa com essa tal de Hannah. Pelo que ela sabia, ela poderia ser
uma assassina em sé rie.
Ela bufou para si mesma. Muito dramático?
Ok, talvez nã o um serial killer, mas ela pode muito bem ser uma vigarista que enganou
Julian para torná -la uma beneficiá ria.
—Tudo bem. Parece que vou ter que morder a isca. Obrigada, Abby. Avise-me quando
tiver uma pergunta sobre marketing e quiser que eu retribua o favor. Oh, falando nisso, você
realmente deveria mudar sua mú sica de espera para algo menos alegre.
Elas se despediram e encerraram a ligaçã o.
Winter atravessou a rua para chegar ao carro. Uma vez que ela chegou, ela ficou atrá s
do volante, mas nã o ligou o motor.
Vamos descobrir quem é a Sra. Hannah Martin.
Winter tinha quase certeza de que nunca tinha ouvido aquele nome em sua vida. Ela
bateu na tela do telefone com os polegares.
Hannah Martin Portland
  conseguiu tantos resultados que os noventa e dois dias
estariam acabados quando ela checasse todos eles. A primeira pá gina dos resultados da
busca mostrava uma organizadora de eventos, uma massoterapeuta e uma professora de
pilates e Winter nã o tinha como saber qual era a Hannah Martin certa.
Talvez a planejadora de eventos? Julian nã o parecia o tipo de pessoa que ia a uma
massagista ou a uma aula de pilates.
Mas, novamente, como ela saberia? Sua equipe de limpeza provavelmente o conhecia
melhor do que ela.
Resmungando, ela largou o telefone no banco do passageiro. Ela ligaria para o
administrador logo no dia seguinte e marcaria uma reuniã o com ele e a Sra. Martin. Quanto
mais cedo começassem a cumprir a sentença de noventa e dois dias, mais cedo toda aquela
farsa acabaria.
Capítulo 3
Na manhã de sá bado, Hannah caminhou rapidamente pelo Distrito Cultural, indo o
mais rá pido que pô de sem cair em uma corrida. Ela nã o queria chegar toda suada para a
reuniã o com o advogado e sua co-beneficiá ria.
Puxa, só ela conseguia sair de casa quinze minutos antes e ainda chegar atrasada. Ela
desceu do ô nibus no ponto errado e perdeu um tempo valioso em cada esquina, verificando
as placas para ter certeza de que estava indo na direçã o certa.
Ter Valentina ao telefone o tempo todo nã o ajudou. Normalmente, Hannah adorava
ouvir o fluxo quase musical quando sua amiga falava. De vez em quando, seu leve sotaque
brasileiro surgia, fazendo Hannah sorrir. Mas agora, era mais uma distraçã o.
— E a samambaia ao lado do sofá ? — Valentina perguntou. — Devo regar uma vez por
semana també m ou devo ir mais vezes?
— Uh, eu vou te dar uma lista de instruçõ es mais tarde. Eles provavelmente nã o
esperam que eu me mude imediatamente. Eu tenho que desligar agora. Preciso do meu
telefone para nã o acabar em Goose Hollow.
A risada calorosa de Valentina fez o telefone vibrar. — Nã o me diga que você se perdeu
de novo!
— Nã o! Nã o estou perdida.
— Nã o está perdida? — Valentina deu uma risadinha. — Como aquela vez em que
você acabou na cozinha daquele restaurante vietnamita porque virou à esquerda em vez de
à direita depois de usar o banheiro?
— Eu nã o estava perdida, apenas verificando se eles estavam mantendo a higiene
alimentar — Hannah respondeu, mas sabia que o riso em sua voz a denunciava. Ela havia
aprendido há muito tempo a ter senso de humor sobre as desvantagens que
acompanhavam a maneira incomum como seu cé rebro funcionava e a abraçar os pró s. —
Mas, honestamente, nã o estou perdida agora. Acho que já estive lá antes. Só estou
verificando duas vezes.
A princípio, Hannah presumiu que Jules havia lhe presenteado com uma casa. Mas
quando ela leu o documento de confiança novamente, o endereço parecia familiar, entã o ela
procurou no Google Maps e quase caiu do sofá .
Jules havia deixado para ela metade do pré dio que abrigava o que ele chamava de
“almofada do abraço”!
No começo, ele preferia fazer as sessõ es no apartamento dela, como se quisesse
mantê -los separados do resto de sua vida. Mas nas ú ltimas vezes, ele pediu que ela viesse
até ele. Ele nã o havia dado um motivo, mas agora ela suspeitava que sua saú de já precá ria
havia piorado e ele nã o tinha mais forças para atravessar a cidade. Por que ele nã o disse a
ela?
Eles se abraçaram uma vez por semana por quase dois anos e ainda assim ele nã o
confiava nela o suficiente para admitir o quã o doente ele realmente estava. Ele nem havia
mencionado que nã o apenas alugava o apartamento no ú ltimo andar; ele era dono de todo o
pré dio!
A dor a cortou, mas ela se livrou dela. Como abraçadora profissional, ela ocupava um
lugar estranho na vida de seus clientes, nã o exatamente uma terapeuta, mas nã o també m
uma amiga. Enquanto ela era a confidente de muitos de seus clientes, outros, como Jules,
preferiam ficar abraçados em silê ncio e compartilhar apenas pequenas informaçõ es sobre
suas vidas. Isso nã o significava que Jules nã o valorizava suas sessõ es. Ele obviamente tinha
valorizado, ou nã o teria deixado meio pré dio para ela.
— Você acha
 que já esteve lá antes? — Valentina repetiu, trazendo Hannah de volta à
conversa. — Vixi
, Hannah, você já esteve naquele bairro uma centena de vezes!
— Eu já ? — Hannah olhou ao redor. Ela só se lembrava de duas ou trê s visitas ao bloco
de carinho de Jules. Nenhum dos pré dios baixos indefinidos de ambos os lados parecia
familiar e o Starbucks pelo qual ela acabara de passar poderia estar em qualquer lugar de
Portland.
— Ok, talvez nã o cem vezes, mas você já esteve lá — disse Valentina. — Se você está
indo para Clay, você deve ter passado pelo consultó rio do dentista onde Luna trabalha e
aquela loja de donuts onde compramos aqueles deliciosos donuts de cidra de maçã , é
exatamente onde você está indo. Ei, um dos seus clientes nã o morava naquela rua també m?
Valentina sabia porque ela era uma abraçadora profissional e amiga de segurança de
Hannah, a pessoa para quem ela mandava o endereço sempre que ia a um compromisso na
casa de um cliente.
— Sim, mas eu desci do ô nibus no ponto certo nessas ocasiõ es, entã o fiz uma rota
diferente.
— Apenas continue até chegar aos South Park Blocks, depois vire para o norte e você
estará lá .
Hannah protegeu os olhos com a mã o livre e espiou os altos carvalhos do parque à
frente. — Norte significa que eu viro à direita?
Valentina riu novamente. — Sim! Juro, nunca conheci ningué m que navegasse tã o mal!
Todo mundo com afantasia
 é assim?
— Nenhuma idé ia. Talvez o cé rebro de algumas pessoas afantá sicas
  tenha
encontrado uma maneira de compensar a falta de um mapa mental. O meu com certeza nã o.
— Hannah verificou a placa de rua na pró xima esquina. — Ufa! Encontrei. Obrigada. Vou
trazer alguns donuts de cidra de maçã como agradecimento por ficar de olho no meu
apartamento.
— Se você encontrar a loja — disse Valentina, o sorriso provocador evidente em sua
voz.
— Ha ha. Falo com você depois, ok?
— Tchau
 — respondeu Valentina.
Elas encerraram a ligaçã o e Hannah virou à direita na SW Park Street. Ela olhou em
volta, tentando se lembrar da cafeteria à sua esquerda como um ponto de referê ncia para
saber como voltar ao ponto de ô nibus mais tarde.
No parque à sua direita, um grupo de pessoas estava sentado em cobertores,
tricotando. Eles nã o pareciam se importar com o fato de o dia ensolarado que o boletim
meteoroló gico havia previsto ter dado lugar ao sombrio May Gray.
Ooh legal!
 Talvez assim que o tempo esquentasse, ela pudesse levar um cobertor ao
parque para encontrar um cliente de vez em quando.
Enquanto ela caminhava pela tranquila rua de mã o ú nica ladeada de á rvores, os
pré dios ao seu redor começaram a parecer familiares, embora ela nã o tivesse imagens
mentais com as quais compará -los.
O charmoso pré dio de tijolos vermelhos à sua esquerda era inconfundível. Nos
andares superiores, duas janelas salientes em cada nível se projetavam para fora,
flanqueando uma escada de incê ndio de ferro forjado. Pergaminhos decorativos de pedra
adornavam o arco acima da porta dupla de madeira e uma placa de latã o anunciava que a
propriedade estava no Registro Nacional de Lugares Histó ricos.
Hannah parou no meio da calçada, inclinou a cabeça para trá s e espiou os quatro
andares. Ela ainda nã o conseguia acreditar que era dona de metade disso, ou que Jules nã o
estaria lá para recebê -la com um abraço quase tímido quando ela entrasse no apartamento.
— Senhora Martin?
Uma voz profunda tirou Hannah de seus pensamentos. Quando ela baixou o olhar de
volta ao nível da rua, dois estranhos, um homem e uma mulher, caminharam em sua
direçã o.
— Sim. Sr. Woodruff? — Nã o foi difícil adivinhar que ele era o advogado que Jules
havia encarregado de administrar o fundo. De terno escuro, gravata de seda e sobretudo
preto, parecia um advogado.
Ele assentiu, trocou a pasta de arquivos que carregava para a mã o esquerda e
ofereceu a ela a direita.
— Que bom que você conseguiu. O caminho foi tranquilo?
— Hum, foi sim, obrigada. — Hannah apertou sua mã o, entã o voltou sua atençã o para
a mulher ao lado dele.
A estranha deu a ela um aceno tã o nítido quanto sua roupa. Por um momento, Hannah
pensou que ela fosse a colega do Sr. Woodruff porque ela estava vestida em um estilo
semelhante, todas as cores legais e profissionais, calças sociais cinza-escuras e uma gola
rulê de caxemira branca que abraçava seu corpo longo e magro. Mas a jaqueta de couro
preta que descia até os quadris estreitos nã o combinava com o guarda-roupa de uma
advogada, nem os ó culos de sol que escondiam seus olhos apesar do cé u nublado. Mesmo
atravé s das lentes escuras, Hannah sentiu o olhar da mulher cortando-a.
Depois de vá rios segundos, ela deslizou os ó culos de sol para cima, em seu cabelo
curto e elegantemente despenteado que acentuava
  suas maçã s do rosto salientes e
mandíbula forte. Os penetrantes olhos azul-gelo a observaram sem piscar.
Hannah congelou com a mã o meio estendida. Aqueles olhos nã o deixaram dú vidas
sobre quem era a mulher. Ela tinha os olhos de Jules e, pensando bem, o cabelo dele
també m. Era grosso e cinza prateado, tornando difícil adivinhar sua idade. Exceto por uma
linha diagonal acima da ponta do nariz, como se ela tivesse passado a vida olhando de
soslaio para o mundo, seu rosto era suave. Nem mesmo uma sugestã o de linhas de
expressã o marcava sua boca ou enrugava
  os cantos de seus olhos intensos. Se Hannah
tivesse que adivinhar, diria que a filha de Jules era provavelmente uns dez anos mais velha
que ela, talvez uns quarenta anos.
— Winter Sullivan — disse ela, com a voz baixa e ligeiramente rouca.
Ela nã o tinha o sobrenome de Jules. Bem, ela poderia ser casada.
Hannah se deu um chute mental e ergueu a mã o totalmente, oferecendo-a a Winter.
— Oi. Eu sou Hannah Martin.
— Senhora Martin. — Outro aceno nítido. Depois de um momento de hesitaçã o,
Winter envolveu Hannah com os longos dedos e apertou-lhe a mã o com firmeza. Entã o ela
soltou e deslizou a mã o no bolso da jaqueta como se quisesse tornar impossível para
Hannah segurar por um segundo a mais do que o necessá rio.
— Oh, por favor, me chame de Hannah. Afinal, seremos vizinhas pelos pró ximos
meses. — Hannah reprimiu a risada nervosa que subiu em seu peito. Jesus, esta mulher era
intensa. Ela ficou sé ria. — Sinto muito pelo seu pai.
A expressã o de Winter nã o mudou. Nenhum sinal de pesar cintilou em seu rosto justo
quando ela inclinou a cabeça em reconhecimento silencioso.
Que estranho.
  Se Jules fosse o pai de Hannah, ela provavelmente ainda estaria
escondida em casa, chorando. Mas, é claro, cada um lida com o luto à sua maneira, entã o ela
realmente nã o deveria julgar.
O Sr. Woodruff limpou a garganta, interrompendo o silê ncio constrangedor.
— Mais do que vizinhos, na verdade.
Hannah quase tinha esquecido que ele ainda estava lá . Agora ela se virou para ele e
deu-lhe um olhar questionador.
Ele ergueu a pasta em sua mã o.
— Senhor. Lambert deixou uma carta de desejos informando como ele queria que o
testamento fosse administrado. Ele pretendia que você s duas dividissem o apartamento
dele no ú ltimo andar, se estiver tudo bem. Ele vem com um escritó rio, e acredito que a sala
poderia ser facilmente convertida em um espaço de trabalho para você , Hannah.
Jules tinha dito a ele o que ela fazia para viver? Mais importante, Winter sabia?
— Espere — disse Winter. — Você quer que trabalhemos daqui? Pensei em trabalhar
na minha casa, depois vir à noite e dormir aqui.
— Hum, devemos entrar e conversar lá em cima? — perguntou o Sr. Woodruff.
Winter nã o se mexeu um centímetro.
— Aqui está bom. — Ela o perfurou com um olhar impaciente e acenou para ele se
explicar.
— Seu pai deixou bem claro em sua carta de desejos que pretendia que esta fosse sua
residê ncia principal, nã o apenas um lugar para dormir por algumas horas. —   Ele olhou
para frente e para trá s entre eles. — Isso será um problema?
— Nã o — Hannah disse imediatamente. — Sem problemas, desde que Winter nã o se
importe que eu receba clientes e meus clientes se sintam à vontade em uma casa que estou
dividindo com algué m. — Ela nã o achava que nenhum de seus clientes se importaria e, para
ela, ter uma á rea de aconchego que fosse um quarto pró prio, nã o apenas uma parte
separada de seu quarto, seria um luxo maravilhoso.
O advogado olhou para Winter.
— Só trabalhoso — disse Winter com os lá bios apertados. — Devemos? — Sem
esperar por uma resposta, ela abriu caminho em direçã o à s portas duplas, com passo
confiante e determinado, como se fosse a dona do pré dio.
Bem, ela tinha... ou pelo menos teria metade disso em breve. Hannah ainda nã o havia
se acostumado com a ideia de que seria dona da outra metade.
Era por isso que Winter estava agindo com tanta frieza? Ela esperava herdar o pré dio
inteiro sozinha?
Bem, nã o havia muito que Hannah pudesse fazer a respeito, alé m de desistir de sua
herança e isso era algo que ela definitivamente nã o faria. Ter um apartamento pró prio era
um sonho que se tornava realidade e a renda extra do aluguel que os inquilinos pagavam
significava que ela poderia se concentrar em seu negó cio de abraços sem ter que
complementar sua renda trabalhando como massoterapeuta.
Ela e Winter teriam que encontrar uma maneira de tirar o melhor proveito disso.
Quem sabia? Freqü entemente, os clientes que pareciam distantes no início acabaram
se tornando os maiores buscadores de abraço. Talvez Winter fosse o mesmo.
À sua frente, Winter empurrou as portas duplas como um cirurgiã o de campo de
batalha pronto para amputar o membro de algué m.
Ok, talvez nã o.
***
Sem nenhum problema, Winter imitou mentalmente o tom alegre de Hannah enquanto
subia os largos degraus de má rmore que levavam a um segundo conjunto de portas duplas
dentro do edifício. Hannah Martin era tã o irritantemente animada quanto a mú sica de
espera de Abby. Sem dú vida, ela era do tipo que queria conversar sobre o tempo, os Blazers
ou algum outro assunto fú til antes mesmo de Winter tomar sua segunda xícara de café pela
manhã .
Eca.
Winter atravessou o pequeno hall de entrada revestido de madeira alé m das portas
duplas, sem olhar para trá s para ver se Hannah e o advogado estavam acompanhando.
O elevador que os levaria ao quarto andar era menor do que Winter se lembrava, tã o
pequeno que, por um momento, pensou em subir as escadas.
Mas Hannah já tinha entrado atrá s dela, aparentemente nã o se importando. A maioria
das pessoas instintivamente dava a Winter um amplo espaço, mas quando o Sr. Woodruff se
aproximou deles, Hannah se aproximou arrastando os pé s até que seu braço roçou no de
Winter. Ela nem pareceu notar enquanto conversava com o Sr. Woodruff, algo sobre o
parque do outro lado da rua.
Winter nã o escutou o suficiente para descobrir os detalhes. Ela afastou o braço
usando aquela mã o para apertar o botã o do ú ltimo andar. Seus pulmõ es só pareceram inflar
totalmente novamente quando a porta se abriu e eles saíram.
Embora ela tivesse visto a planta baixa e uma das unidades menores quando estava
negociando para comprar o pré dio, Winter nunca havia pisado no ú ltimo andar ou no
apartamento de Julian.
O Sr. Woodruff assumiu a liderança e destrancou uma porta.
Winter ficou para trá s, entrou atrá s deles e olhou em volta sem pressa.
Enquanto as outras unidades eram pequenas, principalmente estú dios, a de Julian
ocupava a maior parte de um lado do ú ltimo andar.
O corredor em forma de T se abria para uma cozinha em plano aberto e uma pequena
sala de jantar à esquerda. Os reluzentes aparelhos de aço inoxidável pareciam novos em
folha, como se nunca tivessem sido usados.
Do outro lado da cozinha, duas portas levavam ao segundo quarto e ao escritó rio.
Winter mal olhou para o quarto, ela só passava o tempo lá quando estava dormindo, entã o
nã o se importava com a aparê ncia, mas examinou o escritó rio com mais cuidado. Estava
tã o bem conservado e impecável quanto a cozinha e já continha tudo o que Winter
precisaria, uma mesa de madeira, uma cadeira de escritó rio, uma cadeira para visitantes e
uma luminá ria de chã o, mas sem enfeites. Sem personalidade.
Essa foi uma boa descriçã o de todo o apartamento. Tinha ar de casa de shows, nã o de
casa de verdade. Julian já morou aqui, ou comprou o pré dio apenas para irritá -la e nunca o
usou?
Hannah parou ao lado dela. Em vez de olhar ao redor da sala, ela estudou Winter com
um olhar atento que a fez se contorcer e se perguntar o que Hannah leu em sua expressã o.
— O quê ? — Winter tentou nã o soar muito rude, mas sabia que nã o tinha conseguido.
Hannah apontou para a janela, que mostrava a vista da igreja do outro lado da rua.
— Se você preferir usar a sala como seu escritó rio porque tem uma vista mais
agradável, ficarei feliz em fazer deste meu espaço de trabalho. Você só teria que me ajudar a
trazer o sofá porque preciso dele para o meu trabalho.
O que diabos ela fazia para viver? Winter nã o conseguia pensar em nenhuma
profissã o que exigisse um sofá ... a menos que Hannah fosse uma psicoterapeuta.
— Nã o me importo — disse Winter, referindo-se tanto à vista quanto ao trabalho de
Hannah. — Fico olhando para a tela do meu computador a maior parte do dia, nã o pela
janela.
O Sr. Woodruff se interpô s entre elas como um professor separando dois alunos
briguentos. Ele continuou o passeio mostrando a elas o quarto maior em uma extremidade
do corredor e a sala de estar na outra extremidade.
Duas janelas salientes e o pé -direito alto tornavam a sala ainda mais espaçosa. Uma
porta corrediça branca com painé is de vidro leitoso embutidos conduzia ao escritó rio, que
era menor e dominado por um grande sofá . Assim como a sala de estar, oferecia uma bela
vista do parque do outro lado da rua.
Foi definitivamente melhor do que olhar para uma igreja. Por um momento, Winter
pensou em reconsiderar a oferta de Hannah. Ela estendeu a mã o para abrir a janela, entã o
congelou. Como diabos Hannah sabia que vista a sala oferecia ou que haveria um sofá antes
mesmo de ela entrar na sala? Ela se virou e perfurou Hannah com um olhar penetrante. —
Como você sabia sobre a vista e o sofá ?
Hannah olhou de volta com os olhos arregalados. — Como?
— Você já esteve nesse apartamento antes, nã o é ? — Winter moeu atravé s de uma
mandíbula rígida. — Com Julian.
Hannah estudou o piso de madeira.
— Hum, eu realmente nã o posso falar sobre isso.
Nã o era como se Winter quisesse ouvir qualquer detalhe de qualquer maneira.
Mesmo sem uma confissã o de Hannah, ela agora sabia exatamente porque o apartamento
parecia uma peça de exibiçã o. Julian nã o tinha morado aqui. Ele apenas usava este lugar
para rolar ocasionalmente no feno com sua amante!
Que porra? Sua opiniã o sobre Julian nunca foi a melhor, mas isso era baixo, mesmo
para ele. Por que ele a forçaria a viver em seu ninho de amor com sua ú ltima amante? Ele
queria humilhá -la uma ú ltima vez? Ou fazer sua aventura e sua filha ilegítima co-
beneficiá rias era sua ideia doentia de uma piada?
Fosse o que fosse, Winter nã o achou graça nenhuma. Ná usea torceu seu intestino.
Droga, Julian! Ele nã o poderia pelo menos ter escolhido uma amante mais pró xima de sua
idade? Hannah era jovem o suficiente para ser sua filha, inferno, provavelmente até sua
neta!
Winter passou furiosa por Hannah. Entã o outro pensamento a atingiu e ela deslizou
até parar na porta e girou. Merda! Talvez ela fosse
 filha de Julian! Por alguma razã o, esse
pensamento a incomodava ainda mais do que assumir que Hannah era sua amante. Mas
talvez esse tenha sido o raciocínio doentio de Julian: fazer com que suas duas filhas
ilegítimas herdem o pré dio juntas.
Faria sentido. Afinal, ele nã o havia deixado um centavo para nenhuma de suas
amantes. A mã e de Winter esperou por Julian a vida inteira e, no entanto, ela nã o era nem
uma nota de rodapé em seu testamento. Claramente, ele nã o achava que lhe devia nada
alé m de pensã o alimentícia, mas sempre pareceu se sentir responsável por Winter, nã o
importa quantas vezes ela dissesse que nã o queria nada com ele ou seu dinheiro.
Um toque em seu braço fez Winter se encolher.
Hannah ficou na frente dela e olhou para ela com uma expressã o preocupada. —
Winter? Você está bem?
Se ela era de fato a filha da velha raposa, nã o havia herdado sua natureza fria e cruel.
Seus olhos castanhos nã o continham nada alé m de calor e, na maioria das vezes, sua boca
larga apontada para cima nos cantos, como se ela estivesse sempre pronta para sorrir. Ao
contrá rio de Winter, ela nã o tinha a altura dele nem o cabelo prematuramente grisalho. Com
cerca de um metro e oitenta e cinco, ela nã o era exatamente baixa, mas ainda quinze
centímetros mais baixa que Winter. O cabelo castanho-escuro emoldurava seu rosto
redondo de bochechas rosadas e caía frouxamente sobre os ombros.
Claramente, ela nã o cresceu com as expectativas estritas de Julian. Nenhuma filha dele
jamais teve permissã o para ser nada alé m do melhor e parecer nada alé m do seu melhor.
Hannah, entretanto, obviamente se vestira para se sentir confortável, nã o para
impressionar ningué m. A calça jeans, o sué ter lilá s de aparê ncia macia e a capa de chuva
aberta provavelmente custavam menos do que Julian gastava em uma gravata. Uma bolsa
carteiro de lona gasta estava pendurada em seu peito, descansando contra um quadril bem
arredondado. A alça ligeiramente puída percorria os seios generosos. Mesmo agora, com
Hannah tã o desconfortavelmente perto, Winter nã o conseguia distinguir o cheiro de
perfume ou loçõ es caras ou detectar qualquer vestígio de maquiagem em seu rosto.
Por mais que Winter olhasse fixamente, ela nã o conseguia ver nenhuma semelhança
familiar. Mas, pensando bem, ela e Brooke també m nã o eram muito parecidas.
— Winter? — Hannah perguntou novamente, seus dedos ainda demorando no pulso
de Winter.
Winter enfiou as mã os nos bolsos da jaqueta de couro, interrompendo o contato. —
Fique com sala.
— Obrigada. Você poderia pegar o quarto maior para compensar.
— Que seja. Nã o me importo de qualquer maneira. — Winter se afastou sob o
pretexto de verificar o banheiro. Tudo o que ela queria era acabar com isso e se retirar para
poder processar a revelaçã o de que teria que dividir um apartamento com uma mulher que
era amante de seu pai ou meia-irmã .
Hanna a seguiu.
— Uau! Olhe para isso! — Ela passou por Winter, mais uma vez demonstrando a falta
de qualquer noçã o de espaço pessoal e ajoelhou-se para admirar a banheira com pé s de
garra.
Talvez ela nã o fosse filha de Julian, afinal. Ele nunca teria exclamado sobre uma
banheira, nem mesmo se fosse feita de ouro e contivesse trê s beldades nuas tomando
banho em leite de burra.
— Sei que é incomum para um apartamento tã o grande, mas este é o ú nico banheiro
— disse Woodruff. — Receio que você s terã o que compartilhá -lo.
Excelente. Winter voltou-se para o advogado. — Entã o, quando esse — ela se conteve
para nã o dizer uma farsa
 — arranjo começa oficialmente?
— No dia em que você s duas se mudarem — disse o Sr. Woodruff.
— Que tal amanhã ?
Hannah começou a tossir como se tivesse engolido e respirado ao mesmo tempo. —
A-amanhã ? — ela engasgou.
Winter deu de ombros.
— Nada como o tempo presente. Se começarmos amanhã , os noventa e dois dias
terminarã o em 14 de agosto.
— Você acabou de fazer esse cá lculo na sua cabeça?
— Eu poderia, mas, na verdade, verifiquei meu calendá rio esta manhã . Dia 14 é meu
aniversá rio, entã o se pudé ssemos — Winter fez um círculo com o dedo indicador —
encerrar isso até lá , seria ó timo.
Quando ela descobriu isso, se perguntou por um segundo se essa era a razã o pela qual
Julian havia escolhido aquele estranho nú mero de dias. Mas isso era impossível. Ele havia
estabelecido o fundo algumas semanas antes de sua morte e nã o poderia saber quando elas
se mudariam.
Um sorriso astuto apareceu nas bochechas redondas de Hannah. — Ah.
— O que?
— Você é de leã o — Hannah disse em um tom que explicasse tudo.
— Ah, minha nossa senhora — Winter murmurou. — Por favor, me diga que você nã o
é uma daquelas pessoas que acredita em todas essas coisas de woo-woo. — Se Hannah
tentasse ler o horó scopo diá rio para ela, ela cairia fora dali.
— Nã o, na verdade nã o. Minha melhor amiga é , no entanto. Acho que isso me
influenciou.
Winter reprimiu um suspiro. — Entã o, amanhã ?
Finalmente, Hannah assentiu. — Tudo bem. Acho que vejo você amanhã , entã o. Com
um sorriso, ela acrescentou — Parceira de casa.
Winter respirou fundo. Noventa e dois dias. Essas seriam as duas mil duzentas e oito
horas mais longas de sua vida.
Capítulo 4
Na manhã seguinte, um coro de “uau” ecoou pelo apartamento do quarto andar
enquanto Hannah usava a chave que o Sr. Woodruff lhe dera para destrancar a porta da
frente e seus amigos marchavam atrá s dela.
— Caramba! — Tammy agarrou a caixa de mudança que carregava enquanto olhava
ao redor.
Max assobiou alto. — Por que nunca
 tenho clientes que me deixam um lugar como
este?
— Provavelmente porque homens hé teros e ricos nã o querem abraçar outro cara —
brincou Valentina.
Max jogou seu corpo magro em uma pose de modelo. — Nem mesmo um tã o bonito
quanto eu?
— Shh! — Hannah espiou alé m do pufe gigante que carregava para ver se Winter
havia chegado ao apartamento antes deles. Ela nã o tinha vergonha de seu trabalho, mas
ouvir as brincadeiras de seus amigos nã o era como ela queria que Winter descobrisse que
Jules tinha sido seu cliente carinhoso. Já era bastante difícil proteger sua privacidade e ao
mesmo tempo evitar mentir para algué m.
Felizmente, ainda nã o havia sinal de Winter.
Hannah encaminhou suas amigas para a sala, onde iria a maior parte das coisas que
carregavam.
Tammy colocou sua caixa ao lado do sofá e olhou para o quarto.
— Agradável! Agora você tem seu pró prio palá cio de abraços. Eu estou tã o feliz por
você ! — Ela passou um braço ao redor de Hannah e deu-lhe um abraço maternal.
— Dificilmente é um palá cio. — Hannah se inclinou para o abraço, em parte para
esconder seu constrangimento.
Todos os seus amigos viviam em apartamentos modestos e trabalhavam em dois
empregos, nenhum deles capaz de ganhar a vida com seu negó cio de abraços,
especialmente Max, que era um dos poucos carinhas profissionais do sexo masculino que
Hannah conhecia. Por um momento, Hannah se sentiu culpada por herdar metade de um
pré dio. Mas pelo menos permitiria que ela ajudasse mais seus amigos no futuro, pagando
bebidas ou pizza de vez em quando, quando eles saíam.
Valentina largou a caixa de lençó is que carregava. — Tem certeza de que está bem em
usar este quarto? E este sofá ? — Ela acenou com a cabeça para o sofá cinza.
— Hum, sim, claro que estou bem com isso. Por que eu nã o estaria? — A sala era tudo
o que ela poderia esperar e, embora adorasse a cor do sofá marrom-chocolate em casa,
estava começando a ficar um pouco irregular em alguns lugares. Este parecia novinho em
folha, como se ningué m o tivesse usado, exceto nas sessõ es de abraço que ela teve com
Jules.
— Ah, nã o sei. — Valentina deu de ombros. — Eu só pensei... eu sei que você
raramente se abraça na cama, entã o provavelmente é aqui que você se aconchegava com
qualquer que fosse o nome dele. Talvez seja um pouco estranho.
O pensamento nem havia ocorrido a Hannah. Talvez fosse estranho por um segundo
quando ela convidasse seu primeiro cliente para este espaço, mas ela sabia que nã o teria
problemas em se concentrar novamente no aqui e agora. Essa era a ú nica vantagem de ter
afantasia: ela sabia que este era o lugar onde ela se abraçava com Jules, mas era um fato que
nã o vinha com uma repetiçã o mental de como se sentia. Nã o haveria nenhum flashback de
como Jules parecia ou cheirava, e ela nã o ouviria ecos de conversas que eles tiveram.
Falando em ecos... Uma chave chacoalhou na fechadura da porta da frente, entã o o
som de passos decididos veio à tona.
Hannah caminhou até a sala de estar e esticou o pescoço para dar uma olhada na á rea
de entrada.
Winter entrou no apartamento com uma bolsa para laptop pendurada no peito. Ela
empurrou um carrinho com material tecnoló gico suficiente para equipar uma estaçã o
espacial. Hannah viu um computador de ú ltima geraçã o, duas telas quase tã o grandes
quanto sua TV, um teclado e uma câ mera de aparê ncia profissional, cada uma em sua caixa
original. Ou eles eram novos em folha ou Winter era do tipo que guardava a embalagem em
que seus dispositivos haviam chegado. No topo da pilha havia uma má quina de café
expresso prateada igualmente encaixotada, como se fosse a peça de tecnologia mais
importante na configuraçã o de Winter.
Winter olhou para cima e seus olhares se encontraram.
— Ah, bom, você está aqui — disse ela em vez de um olá . — Podemos começar
oficialmente o pequeno arranjo de Julian, entã o. — Ela soltou a alça do carrinho, puxou a
manga da jaqueta de couro para trá s e deu um tapinha na minú scula tela do Apple Watch.
Hannah ficou olhando. Winter tinha acabado de definir um cronô metro que dispararia
no segundo em que seus noventa e dois dias terminassem? Ela nem tinha se mudado e mal
podia esperar para sair daqui!
A porta de correr deslizou totalmente aberta atrá s de Hannah, e vá rios conjuntos de
passos estalaram no chã o de madeira.
Hannah se virou e murmurou, “Comporte-se” para seus amigos, mas, é claro, já era
tarde demais.
***
Uma morena voluptuosa com grandes brincos turquesa apareceu atrá s de Hannah e
instantaneamente foi direto para Winter.
— Oi! Você deve ser a nova colega de quarto! — Sem esperar por uma resposta, ela se
inclinou para cumprimentar Winter com um abraço ou beijos no rosto. Possivelmente
ambos.
Que diabos?
 Winter nã o se moveu para aceitar, mantendo a carroça entre elas.
— Ooh, eu amei seu cabelo! — A estranhA sorriu para o cabelo grisalho de Winter
como se fosse um acessó rio de moda. — Que produtos você usa para ficar assim?
— Xampu —  respondeu Winter.
Quando a mulher estendeu a mã o, prestes a tocar uma mecha do cabelo de Winter,
Hannah correu e se juntou a elas. Ela passou um braço ao redor da mulher em um meio-
abraço e puxou-a para trá s alguns centímetros.
— Você tem que desculpar minha amiga aqui. — Ela bateu nela com um quadril. —
Valentina é cabeleireira.
— Nã o qualquer cabeleireira. — Valentina jogou o cabelo para trá s sobre o ombro. —
Realmente fabulosa.
Mais duas pessoas saíram da sala. Uma era uma mulher atarracada de quase
cinquenta anos. Seu corte à escovinha fez Winter pensar que ela poderia ser uma lé sbica,
mas seu batom vermelho-cereja tirou seu gaydar. Nã o que lé sbicas nã o pudessem usar
batom, é claro.
O ú nico homem do grupo, um cara de trinta e poucos anos, usava uma camiseta que
dizia: Não, não vou consertar seu computador, fazendo Winter se perguntar se ele era de TI.
A barba loira cobria seu queixo com covinhas e seus dentes muito brancos brilharam
quando ele lançou a ela um sorriso amigável. — Ei, eu sou Max.
Nenhum dos dois pareciam entender o conceito de espaço pessoal. Eles se
aglomeraram em torno de Winter e seu carrinho em um semicírculo. Pelo menos aqueles
dois nã o tentaram abraçá -la, mas acenaram amigavelmente.
— E eu sou Tammy — disse a mulher de cabelo curto. — Mas você pode me chamar de
mamã e ursa. Todo mundo chama.
Winter nã o conseguia imaginar uma realidade em que ela faria isso.
— Provavelmente porque sou a mais velha — acrescentou Tammy — e també m
porque é minha posiçã o favorita.
Ew, já ouviu falar de muita informação? Winter nã o precisava saber de nenhum
detalhe sobre a vida sexual desses estranhos. Ela lutou contra o impulso de tapar os
ouvidos com as mã os. — Winter. — Ela gesticulou para o equipamento do computador
como se fossem baldes de sorvete prestes a derreter. — Se você me der licença, eu preciso
arrumar isso.
Eles olharam para Hannah como se perguntassem: O que há com ela? antes de sair do
caminho.
Winter nã o se importava. Ela estava aqui para cumprir os termos do contrato, nã o
para fazer amizade com as melhores amigas de Hannah ou quem quer que fossem.
Antes que Winter pudesse empurrar o carrinho por ela, Hannah perguntou: —
Ningué m mais vem para ajudar?
— Nã o. — Winter nã o sentiu necessidade de acrescentar uma explicaçã o.
— Ah, podemos ajudar. — Hannah gesticulou para seus companheiros. — Somos
quatro. Terminaremos em pouco tempo, certo?
— Sim, sem problemas — o amigo de Hannah – ou talvez namorado – disse. — Apenas
me aponte na direçã o certa. Você tem mais coisas lá embaixo?
— Obrigada, mas já está tudo certo. Eu só preciso trazer minha mala e minha cadeira
de escritó rio e é isso. — Nã o era como se ela quisesse se sentir em casa aqui, pelo menos
nã o antes de Hannah se mudar e ela poder ter o apartamento só para ela. Rapidamente,
Winter empurrou o carrinho pelo corredor em direçã o ao que seria seu escritó rio.
No final das contas, a ideia de Hannah sobre o que ela precisaria para sobreviver nos
pró ximos trê s meses era muito diferente da de Winter. Enquanto Winter empurrava sua
cadeira de escritó rio ergonô mica pelo corredor e instalava a má quina de café expresso na
cozinha, ela vislumbrou todas as coisas que Hannah e seus ajudantes levavam para o
apartamento.
Eles empilharam caixas de mudança vazias e material de embrulho no corredor
enquanto desembrulhavam
  o que parecia ser metade do conteú do de um catá logo de
design de interiores: uma pintura em aquarela de um pô r do sol no oceano, duas lâ mpadas
de lava e mais almofadas coloridas do que qualquer pessoa jamais poderia precisar. .
Max gemeu enquanto arrastava uma caixa para o quarto de Hannah.
— O que tem aqui?
Hannah pulou pelo corredor com um ursinho de pelú cia gigante nos braços e um
sorriso feliz no rosto, claramente tã o animada com a mudança quanto um cachorrinho com
um novo brinquedo para mastigar.
Ela nã o se importava com o fato de Julian ter pensado que poderia mexer os cordõ es
em sua vida e controlá -la como uma marionete?
Hannah verificou a etiqueta na caixa da mudança. — Livros de romance.
Winter olhou para a caixa gigante. Quanto tempo Hannah pretendia ficar se achasse
que precisava trazer toda a sua coleçã o de livros? Ela sabia que essa situaçã o de vida
duraria apenas trê s meses, certo? Depois disso, Winter usaria o dinheiro que Julian havia
deixado para comprar a parte de Hannah.
Ela precisaria falar com ela esta noite para se certificar de que Hannah nã o nutria
nenhuma expectativa irreal. Em 14 de agosto, apenas uma delas poderia ficar neste
apartamento e Winter pretendia que fosse ela.
Capítulo 5
O sol já estava se pondo quando Hannah se despediu de seus amigos com abraços e as
sobras da pizza que pediram.
As á reas comuns do apartamento ainda pareciam tã o nuas quanto um campo no
inverno, mas um pequeno tapete, almofadas coloridas, plantas e luminá rias de lava
transformaram seu quarto e a sala em espaços que convidavam ao relaxamento.
Amanhã , ela teria que colocar um lençol limpo em seu sofá e pegar mais algumas
bugigangas para fazer o corredor parecer mais acolhedor. Por hoje, no entanto, ela
terminaria assim que desempacotasse
 a caixa de pratos.
Hannah nã o tinha certeza do que levar. Ela nã o queria ter certeza de que conseguiria
usar os pratos, panelas e outros utensílios de Jules... se eles ainda estivessem no
apartamento. Talvez um membro da família os tenha herdado ou tenham sido doados à
caridade.
Mas quando ela abriu o armá rio embutido na pequena sala de jantar, parando para
admirar o vidro chumbado com suas vidraças â mbar que formavam rosas, ela descobriu
duas xícaras de chá , duas canecas de café e dois copos.
Como ela descobriu, Jules era um homem rico. Nã o era como se ele nã o pudesse
comprar um conjunto completo de pratos, até mesmo a porcelana mais sofisticada. Talvez
tenha sido sua educaçã o. De vez em quando, quando marcava uma sessã o de duas horas em
vez de uma mais curta, relaxava mais no final do tempo e começava a conversar.
Certa vez, ele contou a ela sobre crescer em uma fazenda, se virando com o que
tinham e aprendendo a consertar coisas em vez de jogá -las fora. Talvez ele tivesse
comprado apenas o que precisava.
Claramente, ele nã o tinha muitos visitantes. Talvez ela tenha sido a ú nica convidada
que ele já teve. O pensamento a deixou triste.
Muitos de seus clientes eram assim: viviam sozinhos, isolados das pessoas, famintos
por toque humano e afeto. Muitos foram recentemente separados, viú vos ou, como Jules,
divorciados. Alguns nunca tiveram um parceiro e nã o foram abraçados por anos, se é que
foram.
Partia o coraçã o de Hannah toda vez que ela ouvia uma histó ria como essa. Ela só
esperava poder dar a seus clientes um pouco do que eles estavam perdendo e talvez até
mesmo ajudá -los a estabelecer conexõ es e construir relacionamentos mais saudáveis ​fora
de suas sessõ es.
Ela deslizou suas pró prias canecas e copos ao lado dos de Jules, entã o fechou o
armá rio.
— Você tem um minuto para falar sobre estraté gia?
A voz baixa de Winter atrá s dela fez Hannah pular.
Com o pulso acelerado, ela largou a caixa agora vazia e se virou.
Winter encostou-se ao balcã o da cozinha. Ela havia tirado a jaqueta de couro, mas
ainda usava um par de jeans pretos novos e uma camisa de botã o da mesma cor prateada
de seu cabelo.
Com um sorriso irô nico, Hannah olhou para sua pró pria roupa, calças de ioga e uma
camiseta desbotada. Nã o era surpreendente, considerando que oitenta por cento de seu
guarda-roupa, incluindo suas roupas de trabalho, consistia em roupas de dormir.
— Estraté gia? — ela repetiu, sem saber o que Winter queria dizer.
— Pelos noventa e dois dias e o que acontece depois.
— Ah com certeza. Vamos conversar. — Hannah apontou na direçã o das canecas que
acabara de guardar. — Você quer chá ?
— Nã o, obrigada — disse Winter em um tom de vamos acabar logo com isso. Ela se
sentou na pequena mesa redonda e deu a Hannah um olhar de expectativa.
Aparentemente, Winter nã o querendo tomar chá significava que Hannah també m nã o
deveria fazer uma xícara para si mesma. Ela suspirou e estava prestes a puxar a segunda
cadeira para se sentar, mas entã o parou. Era realmente assim que ela queria que seus
noventa e dois dias fossem, com Winter dando as ordens e ela concordando com o que ela
quisesse? Quando ela estava com clientes carinhosos, ela tinha que prestar atençã o à s suas
necessidades e torná -los seu foco. Assim que parou de trabalhar, ela tentou garantir que
també m conseguisse o que precisava e, no momento, era uma xícara de chá depois de um
longo dia.
Levaria apenas um minuto e elas poderiam conversar enquanto fazia isso.
— Só um minuto. — Ela colocou um copo de á gua no microondas. — Por que você
acha que Jules escolheu noventa e dois dias? — ela perguntou sobre o zumbido baixo. —
Por que nã o fazer noventa ou cem? — O nú mero noventa e dois tinha algum significado
especial para ele?
— Nenhuma idé ia. Talvez ele só quisesse mexer com nossas cabeças.
Hannah se virou e franziu o cenho para ela. — Por que ele iria querer fazer isso?
— Porque ele podia — disse Winter. — Julian nunca precisou de um motivo para fazer
coisas assim.
Winter realmente via, seu pró prio pai, assim? Hannah nã o conseguia se reconciliar
com o homem que conhecera. — Isso nã o seria nem um pouco típico de Jules. Ele nunca foi
nada alé m de gentil comigo.
Winter bufou. — Gentil? Julian?
— Sim! Quer dizer, ele me deu metade deste pré dio.
Os mú sculos da mandíbula de Winter se contraíram. — Nem me lembre disso. —
 Antes que ela pudesse acrescentar qualquer coisa, o ping do microondas a interrompeu.
Hannah pegou a caneca de á gua fervente. Com um olhar para Winter, que nã o
esperava com muita paciê ncia, ela decidiu por um chá de folhas soltas, só para ver se a
expressã o sombria no rosto de Winter se suavizaria quando ela visse seu infusor. Ela
colocou folhas de canela no rabo de seu infusor em forma de esquilo, fechou-o e colocou-o
em uma segunda caneca antes de derramar a á gua fervente sobre ela.
Quando ela se sentou à mesa e pousou a caneca, o olhar de Winter deslizou para o
esquilo empoleirado na borda da xícara, com o rabo pendurado na á gua quente. A linha
diagonal acima da ponta de seu nariz se aprofundou enquanto ela olhava para ela. — Parece
que está despejando na sua caneca.
Ainda bem que Hannah nã o tinha tomado um gole ainda, ou teria cuspido o chá na
mesa.
— O quê ? Nã o, nã o. — Ela colocou as mã os em concha protetoramente ao redor da
caneca e estudou Winter com um lento aceno de cabeça. Ela sempre foi assim, nunca tendo
nada de bom para dizer sobre algué m ou alguma coisa?
— De qualquer modo — disse Winter —, por que você continua chamando-o de Jules?
— Porque ele me disse para chamá -lo assim.
— Esquisito. Ningué m nunca o chamou assim.
— Sé rio? — Como todos os seus clientes, Jules forneceu a ela uma có pia de sua
identidade antes da primeira sessã o, mas assim que a cumprimentou, ele disse a ela para
chamá -lo de
 Jules e Hannah honrou esse desejo. Quando a carta do advogado chegou, ela
havia esquecido completamente o nome completo dele.
— Sim. Ele nunca foi nada alé m de Julian ou Sr. Lambert.
— Mesmo para você ? — Hannah perguntou. — Percebi que você nunca o chama de
'pai' ou 'meu pai' quando fala dele. Por que isso?
— Porque nã o era assim que ele era para mim.
— Ele nã o era seu pai? Mas pensei...
Os olhos azul-gelo de Winter ficaram ainda mais gelados. — Ele era pouco mais que
um doador de esperma.
— Ele nã o estava envolvido em sua vida? — Hannah mal podia imaginar crescer
assim. Seu pró prio pai esteve lá para cada joelho esfolado, cada coraçã o partido e cada
grande conquista de sua vida.
— Oh, ele estava muito envolvido. Queria controlar tudo, de preferê ncia a uma
distâ ncia segura. — Winter bateu as mã os como se estivesse fechando um livro. — Mas nã o
era sobre isso que eu queria falar. Eu queria ter uma conversa sobre o que vai acontecer
quando os noventa e dois dias terminarem.
— Pelo que o Sr. Woodruff disse, a acordo é dissolvido assim que cumprirmos a
condiçã o, a escritura da propriedade será transferida para nó s e seremos oficialmente
proprietá rias dela.
— Sim, sobre isso… — Winter apoiou os antebraços na mesa e tocou as pontas dos
dedos. — Ouvi dizer que ser coproprietá rio de um imó vel alugado pode ser um pé no saco.
Nenhum de nó s poderá aumentar o aluguel, fazer qualquer tipo de manutençã o ou tomar
qualquer outra decisã o sem a permissã o do outro.
— Oh, eu nã o me importo. Estou segura de que podemos... — Hannah fez uma pausa e
estudou a fria expressã o de Winter. Claramente, ela se importava. — O que você está
dizendo?
— As coisas seriam menos complicadas se eu comprasse sua metade do pré dio. Você
poderia investir o dinheiro em outros imó veis e ter plena opiniã o sobre isso.
Entã o Winter a queria fora. Nã o deveria ter sido uma surpresa, já que ela nã o foi nada
calorosa e acolhedora desde o momento em que se conheceram. Ainda assim, Hannah nã o
estava preparada para uma oferta tã o flagrante, especialmente no primeiro dia de sua
coabitaçã o. Ela se levantou e levou sua caneca até a pia para remover o infusor e dar a si
mesma algum tempo para pensar em sua resposta.
— Ainda nã o vi uma lista de ativos e seu valor do Sr. Woodruff — continuou Winter. —
Mas quando eu estava interessada em comprar esta propriedade no ano passado, ela saiu
por sete dígitos.
Hannah pousou a caneca e agarrou o balcã o com as duas mã os. — S-sete dígitos!
— Sete dígitos — acrescentou Winter calmamente, como se isso nã o fosse nada
extraordiná rio. — O pré dio é antigo, mas muito bem conservado e em uma localizaçã o
privilegiada.
Um zumbido reverberou nos ouvidos de Hannah. Isso significava que, se Winter
pagasse a metade, ela ficaria milioná ria. Bem, pelo menos antes dos impostos. Em todo
caso, era mais dinheiro do que ela jamais sonhara ter e mais do que presumira que Winter
també m tivesse. Alé m de seu equipamento de alta tecnologia e do SUV de aparê ncia nova
estacionado do outro lado da rua, nada em Winter indicava que ela era rica.
— Entã o você teria sido capaz de comprar um pré dio multimilioná rio assim? Uau.
Winter encolheu os ombros friamente. — Sim, com uma hipoteca, claro. Nã o sou nem
de longe tã o rica quanto Julian era, mas tive muito sucesso em meu ramo de trabalho e
investi sabiamente. Portanto, nã o se preocupe, pagarei a você metade do valor, mesmo que
nã o possa pagar tudo de uma vez.
A oferta deveria tê -la deixado feliz, mas o pensamento nã o lhe caía muito bem. Se
Jules quisesse que ela tivesse muito dinheiro, ele teria dado a ela o dinheiro. Em vez disso,
ele havia dado a ela a propriedade de metade do pré dio e Hannah nã o pô de deixar de
pensar que havia algo por trá s disso, um ú ltimo desejo que Jules relutou em expressar de
uma forma mais direta. Isso teria sido tã o típico dele. No começo, ele muitas vezes tentou
organizar os dois membros da maneira que queria, em vez de pedir uma certa posiçã o de
carinho.
Ela deixou cair o infusor na pia e se virou para enfrentar Winter. — Nã o.
— Nã o? — Winter piscou para ela como se ela tivesse respondido em uma língua
estrangeira. Claramente, ela nã o estava acostumada a ouvir essa palavra.
O olhar em seu rosto era tã o confuso que os lá bios de Hannah se contraíram enquanto
ela lutava para nã o rir.
— Você quer mais da metade do que vale? — Winter perguntou.
— Nã o — Hannah disse novamente. — Nã o quero o seu dinheiro.
— Que tal eu incluir...
— Pare! Você nã o pode simplesmente jogar mais dinheiro em mim e esperar que eu
desista. — Hannah sabia que as pessoas tendiam a pensar que ela era uma tarefa fá cil
porque ela era amigável e acessível, mas se ela aprendeu uma coisa em seus cinco anos
como abraçadora profissional, foi estabelecer limites firmes, e depois cumpri-los. — Nã o
vou vender minha metade da propriedade, nem para você nem para ningué m. Jules queria
que dividíssemos o pré dio, entã o é isso que faremos.
As sobrancelhas de Winter se juntaram. Seu olhar penetrante procurou o rosto de
Hannah como se procurasse uma agenda oculta.
— Sinto muito, Winter, mas foi seu ú ltimo desejo e pretendo honrá -lo. — Hannah
manteve a voz calma. Ela nã o queria transformar isso em uma batalha de vontades de
noventa e dois dias. — Talvez uma de nó s possa ficar com os dois primeiros andares e a
outra com os dois superiores ou algo assim. Tenho certeza que vamos descobrir alguma
coisa. Há muito tempo para conversar e encontrar uma boa soluçã o. — Ela esperou um
instante, mas quando Winter apenas fez uma careta para ela, ela pegou sua caneca do
balcã o. — Boa noite, Winter. Vejo você amanhã .
O olhar de Winter perfurou suas costas, fazendo a pele entre suas omoplatas queimar,
até que a porta do quarto de Hannah se fechou atrá s dela.
Capítulo 6
Winter encontrou uma vaga de estacionamento do outro lado da rua de seu pré dio.
Foi a primeira coisa que deu certo o dia todo.
Ela adorava seu trabalho como consultora de marketing digital, adorava analisar os
dados, identificar o que estava e o que nã o estava funcionando e, entã o, encontrar as
estraté gias mais promissoras para melhorar os resultados da empresa. Ela també m
adorava a variedade e o fato de poder usar vá rios truques diferentes por ser uma equipe de
uma mulher só e fazer tudo sozinha.
O que ela nem sempre amava eram seus clientes. A maioria deles eram fundadores de
startups, pensadores criativos que ficavam felizes em se concentrar em seus produtos e
deixar Winter fazer seu trabalho.
Mas o novo cliente que ela havia assinado contrato no outono passado a deixou
maluca desde o início. Ela trabalhou duro para melhorar a otimizaçã o do mecanismo de
busca do site dele e, depois de alguns meses, eles começaram a ver os resultados. Foi
quando ele ordenou que ela parasse com todos os anú ncios pagos, aparentemente
pensando que eles nã o precisavam mais deles agora que tinham trá fego orgâ nico gratuito.
Winter disse a ele que nã o era uma boa ideia, mas ele nã o quis ouvir.
Hoje, ele a chamou em seu escritó rio e a demitiu porque suas vendas haviam caído,
como ela havia previsto, alegando que era porque seu trabalho de SEO nã o havia
apresentado resultados favoráveis.
Bem, boa viagem para ele! Nã o era como se ela precisasse dele. Ela se formou na
faculdade logo antes do WordPress e das grandes plataformas de mídia social serem
lançadas e ela pulou em cima desse mercado, colocando o pé na porta desde o início.
Depois de anos trabalhando doze horas por dia e sete dias por semana, ela agora estava em
um lugar onde podia escolher seus clientes e nã o precisava mais aceitar tudo e qualquer
coisa que surgisse em seu caminho.
Ainda assim, ser demitida por um idiota sem noçã o a irritou, aumentando sua
frustraçã o com a recusa de Hannah em vender sua parte da propriedade.
Por que ela nã o iria pelo menos considerar isso? Nem sequer pareceu tentada quando
Winter se ofereceu para pagar mais. Em sua experiê ncia, qualquer um pode ser comprado.
Julian havia ensinado isso a ela desde o início, nã o apenas falando isso, mas també m por
meio de suas açõ es. Quando Winter era criança, ele subornou seus colegas de classe para
mantê -lo informado sobre cada pequeno detalhe de sua vida. Ela aprendera rapidamente
que a verdadeira amizade era uma ilusã o. Pelo preço certo, qualquer um a trairia, até
mesmo Brooke traiu.
Mas Hannah... Se ela fosse uma garimpeira que manipulou Julian para presenteá -la
com uma propriedade multimilioná ria, ela nã o teria aceitado de bom grado a oferta de
Winter? O que mais poderia ser sua atitude? Certamente, nã o se tratava realmente de
honrar os desejos de Julian, nã o é ?
Winter nã o conseguia entendê -la e, por mais que a recusa de Hannah em vender a
frustrasse, um vislumbre de admiraçã o cresceu em seu peito, recusando-se a ser esmagado.
A maneira como Hannah disse nã o e saiu... Foi irritante... e també m meio quente.
Você está louca? Embora, no fundo, ela nã o pudesse vê -las como parentes, ela ainda
nã o tinha sido capaz de descartar isso. Mesmo que Hannah nã o fosse sua meia-irmã , ela
nã o era seu tipo, nã o que Winter tivesse um desde que ela evitava relacionamentos. Mas se
ela o fizesse, definitivamente nã o seria uma mulher sensível e excessivamente animada,
pelo menos dez anos mais nova que ela.
Winter pegou a bolsa do laptop no banco do carona, saiu do carro e fechou a porta do
lado do motorista. Ela subiu as escadas sem se preocupar em esperar o elevador. Enquanto
se dirigia pelo corredor do quarto andar, ela procurou a chave ainda desconhecida em seu
chaveiro, entã o deslizou para uma parada repentina na frente de seu apartamento.
Obviamente, Hannah achou necessá rio decorar a entrada perfeita para sua casa
temporá ria.
Duas plantas com folhas em forma de coraçã o e flores cor de salmã o agora
flanqueavam a porta da frente. Mas isso nã o era tudo. Eles també m tinham um novo
capacho. Letras cursivas roxas soletravam as palavras Todos são bem-vindos
 em um fundo
pontilhado de coraçõ es. Nã o pequenos coraçõ es discretos, mas grandes vermelhos e rosas.
Até o ponto de exclamaçã o depois de vindo
 tinha um coraçã o em vez de um ponto.
Não. Apenas... não. Ela era uma profissional, lidando com nú meros e resultados.
Pequenos coraçõ es cor-de-rosa nã o faziam parte de sua marca. Alé m disso, ela nã o queria
que todos os seus clientes entrassem e saíssem de sua casa sempre que quisessem.
Nos trê s dias que viveram juntas até entã o, a campainha já havia tocado vá rias vezes
ao dia, anunciando a chegada de um dos clientes ou amigos de Hannah, Winter ainda nã o
sabia quem era quem, pois nã o havia conseguido descobrir ainda o que Hannah fazia para
viver. Quem quer que fossem essas pessoas, geralmente chegavam sempre que Winter
tentava se concentrar em um dos aspectos mais complicados de seu trabalho.
Entã o nã o, ela absolutamente nã o queria que todos fossem bem-vindos em seu
apartamento.
Ela pegou o capacho ofensivo, procurou um lugar para depositá -lo e entã o o jogou
atrá s do grande vaso de plantas mais adiante no corredor. Uma busca rá pida no celular dela,
alguns toques e um novo capacho estava a caminho, para ser entregue no dia seguinte.
***
Hannah envolveu o braço esquerdo em torno da sacola de compras e prendeu o
celular entre a orelha e o ombro para poder destrancar a porta do pré dio com a mã o direita.
Foi um ato de equilíbrio precá rio que quase falhou quando Valentina perguntou: —
Você gostou do novo apartamento? E como estã o as coisas com a colega de quarto gostosa?
Hannah evitou que seu telefone caísse no chã o, abriu a porta com o quadril e entrou
no pré dio.
— Eu amo o apartamento, mas a colega de quarto é mais fria do que quente.
— Ela pode ser os dois, sabe? Essa fachada gelada é o que a torna tã o gostosa. Imagine
ser aquela que conseguirá
 derreter esse gelo. — Valentina fez o som de agradecimento no
fundo da garganta que normalmente reservava para a feijoada
.
— O ú nico gelo que estou interessada em derreter é o sorvete de brownie de caramelo
salgado no meu freezer, de preferê ncia na boca quando estiver devorando. Alé m disso, nã o
tenho imaginaçã o, lembra?
— Oh, pelo que Max disse, você tem muita imaginaçã o, mesmo que nã o seja do tipo
visual.
— Mentirosa — disse Hannah. — Max nã o te contou nada. — Mesmo que seu ex
també m fosse amigo de Valentina, ele nã o era do tipo que beijava e contava.
— Tudo bem. Entã o? Colega de quarto quente? Vamos, me dê a sujeira!
— Nã o tem sujeira. O má ximo que vi dela desde que me mudei foi quando ela tentou
me convencer a vender. Mas eu a ouço muito. Rapaz, ela é barulhenta!
Valentina respirou fundo.
— Quer dizer que você pode ouvi-la fazendo sexo?
— Nã o! Algué m já lhe disse que você tem uma mente fechada? Hum, pensando bem,
nã o responda a isso. — Hannah entrou no elevador. Se ela perdesse a conexã o, talvez isso
desse a Valentina uma chance de se acalmar. — Estou falando do teclado dela. É tã o alto que
posso ouvi-lo atravé s da porta. Rat-a-tat-tat!
— Oh — Valentina disse, parecendo desapontada. — Ela é uma escritora ou algo
assim?
— Nã o, ela trabalha com marketing. — Ela a pesquisou no Google e encontrou seu
site, que oferecia os serviços de Winter como consultora de marketing digital.
Winter tinha feito o mesmo? Bem, se ela tivesse pesquisado Hannah no Google, a
ú nica coisa que ela teria encontrado era sua prá tica de massoterapia. A Abraços Experts, a
empresa para a qual ela trabalhava como freelancer, usou apenas os primeiros nomes dos
abraçadores em seu site.
— Ei, isso é ó timo — disse Valentina. — Você poderia pedir a ela algumas dicas de
marketing. Talvez ela pudesse criar um site para você deixar o Abraços Experts e trabalhar
por conta pró pria, como você vive falando.
— Você viu como ela se veste e todas as coisas caras de tecnologia que ela possui?
Nã o posso pagar as taxas dela e nã o vou pedir que ela trabalhe de graça.
— Você poderia trocar algumas sessõ es de abraços com ela.
Um bufo alto escapou de Hannah.
— Tenho certeza de que essa oferta cairia bem
. —
  A porta do elevador abriu no
quarto andar e Hannah saiu. No meio do corredor, ela avistou seu capacho, ou melhor, o
lugar onde seu capacho estava.
Ontem, o capacho havia desaparecido misteriosamente e Hannah finalmente o
encontrou escondido atrá s de um vaso de plantas. Ela o havia colocado de volta onde
pertencia,
 mas agora havia sumido novamente.
Em seu lugar havia um novo. Em vez das cores quentes que Hannah
 havia escolhido
para seu tapete de boas-vindas, este era um cinza escuro com letras brancas. Nã o era difícil
adivinhar quem o havia comprado.
Quando ela caminhou em direçã o à porta, ela pô de distinguir as palavras escritas nela.
Você leu meu capacho. Isso é interação social suficiente para um dia.
Hannah parou na frente dele, sem saber se ria ou arrancava os cabelos. Embora alguns
de seus clientes provavelmente pudessem simpatizar com as tendê ncias eremitas de
Winter, isso nã o faria com que se sentissem bem-vindos e aceitos.
— Hannah? — Valentina soou como se já tivesse repetido seu nome vá rias vezes.
— Desculpa, eu tenho que ir. Há uma guerra de capachos acontecendo.
— Hum, o quê ?
— Explico mais tarde. Primeiro, tenho uma batalha a vencer.
***
Os tê nis de Winter rangeram no chã o quando ela saiu do elevador. Ela puxou os
AirPods
 das orelhas com uma das mã os enquanto puxava a camisa de corrida encharcada
de suor com a outra.
A vá rios passos da porta da frente, ela parou abruptamente.
Hoje cedo, ela havia substituído o tapete de boas-vindas com coraçõ es rosa, mas
agora estava de volta.
Winter gemeu. “Ah, pelo amor de Deus!” Aparentemente, Hannah nã o estava
entendendo a mensagem. Chega de esconder a maldita coisa. Ela o jogaria fora de vez.
Ela se abaixou para pegá -lo.
A resistê ncia inesperada a fez perder o equilíbrio. Ela tropeçou para trá s.
— Que porra é essa?
Hannah tinha colado no chã o!
Winter soltou uma sé rie de palavrõ es. Ela mataria Julian se ele já nã o estivesse morto.
Talvez Brooke estivesse certa. Era apenas o quarto dia de seu estranho arranjo e Winter já
queria sair correndo do pré dio, gritando. Mas, é claro, ela nã o daria a Brooke a satisfaçã o de
vê -la fracassar.
Ela agarrou o capacho com as duas mã os e deu um forte puxã o. Assim que a fita
dupla-face se soltou com um ruído satisfató rio, a porta se abriu.
Com a evidê ncia de seu roubo de capacho cerrado em seus punhos, Winter olhou para
cima e ficou cara a cara com Hannah. Bem, mais como seios, já que ela ainda estava
curvada.
Winter engoliu em seco, desviou o olhar e rapidamente se endireitou.
Por alguns momentos, elas ficaram a apenas alguns centímetros de distâ ncia e se
encararam do outro lado da porta.
Hannah colocou as mã os nos quadris largos e olhou de Winter para o capacho e de
volta.
— Sabe, se você nã o gostou do meu capacho, você poderia simplesmente ter me dito
isso.
— Nã o gostei do seu capacho. — Winter a olhou com um olhar frio.
Hannah nã o vacilou ou desviou o olhar.
— També m nã o gosto muito do seu, entã o isso nos deixa quites.
— Vamos — disse Winter. — O meu é engraçado. Admite.
Os lá bios de Hannah se contraíram em uma sugestã o de sorriso.
— Pode ser. Mas esse nã o é o ponto. Sé rio, Winter. Eu tenho clientes. Você
  tem
clientes. Você nã o quer que eles se sintam bem-vindos?
Winter deu de ombros.
— A maioria deles nunca virá aqui.
— Bem, os meus sim e eu nã o quero que eles sintam que mal posso esperar para eles
partirem novamente.
Winter cruzou os braços sobre a camisa ú mida.
— E se os meus vierem
 aqui, nã o quero que se sintam como se tivessem entrado em
um enclave hippie de coraçõ es e flores.
O impasse continuou por vá rios segundos.
O suor estava começando a secar na pele de Winter, fazendo-a coçar, mas ela se
recusou a ceder.
— Viu? É exatamente por isso que eu queria comprar sua parte. Como você acha que
vamos chegar a um acordo sobre o que é melhor para todo o pré dio quando nã o
conseguimos nem decidir sobre um capacho?
Um rubor invadiu as bochechas de Hannah e seus olhos castanhos brilharam.
— É por isso que você está conduzindo um roubo de capacho? Se você acha que pode
me intimidar para vender...
— Nã o estou tentando intimidá -la para nada! — Intimidar as pessoas para que
fizessem o que ele queria era o estilo de Julian. Nã o era dela... era? — Eu só nã o quero isso.
— Winter sacudiu o capacho que ainda segurava, fazendo-o cair contra sua perna.
— O quê ? Pessoas pensando que sã o bem-vindas aqui? Minha nossa, nã o podemos
permitir isso!
Agora as duas estavam com os braços cruzados, nenhuma se movendo um centímetro.
Os passos que se aproximavam interromperam seu olhar fixo.
Winter olhou por cima do ombro.
Uma loira magra caminhou em direçã o a elas, com um sorriso no rosto e um prato de
cupcakes nas mã os. Seu passo suave vacilou quando ela percebeu os meros centímetros
entre elas, entã o seu sorriso se alargou.
Carrancuda, Winter deu um passo para trá s. Só agora ela percebeu que ela e Hannah
estavam praticamente nariz com nariz ou, para ser mais preciso, nariz com queixo. Ela
fingiu que nã o havia nada incomum em segurar um capacho e bateu os dedos nele
enquanto esperava que a estranha continuasse passando por elas.
Em vez disso, a mulher foi direto para elas.
— Oi. Sou Heather Burkhart, do apartamento doze. Ainda nã o tive a chance de dizer oi,
entã o pensei em finalmente dar as boas-vindas a você s no pré dio. — Ela estendeu o prato.
— Cupcakes de chocolate com cobertura de massa de biscoito.
— Oh, hum! Já posso dizer que você será minha vizinha favorita! — Hannah riu
calorosamente. — Estes parecem incríveis. Muito obrigada por se dar a todo esse trabalho.
Heather limpou um pouco de farinha de seu moletom.
— Nenhum problema. Afinal, nã o é todo dia que duas amigas lé sbicas se mudam.
Hannah ergueu o dedo no ar como uma aluna querendo acrescentar algo à discussã o.
— Na verdade, eu sou…
— Oh, desculpe — Heather disse antes que Hannah pudesse continuar. — Eu deveria
ter dito sá fica. Só porque duas mulheres sã o um casal nã o significa necessariamente que
ambas sã o lé sbicas.
O capacho escorregou das mã os de Winter e caiu no chã o. Que diabos? Ela pensou que
elas eram um casal?
O sorriso de Hannah mal vacilou. Nã o parecia incomodá -la ser
 confundida com uma
mulher que amava mulheres... ou como parceira de Winter. Se ela realmente era filha de
Julian, ela claramente nã o sabia.
Quanto mais Winter pensava nisso, mais duvidava de que Hannah fosse sua meia-
irmã . Julian nunca negou ter sido o pai dela, entã o por que ele esconderia de Hannah se ela
era sua filha? Mais provavelmente, Hannah tinha sido sua amante.
— Oh, nó s nã o somos um casal — Hannah disse. — A gente só mora
 junto porque... é
complicado explicar.
— Ah. — Heather deu um aceno de cabeça.
Excelente. Agora ela provavelmente pensou que elas estavam tendo um caso ou um
acordo de colegas de quarto com benefícios.
— Bem, foi ó timo conhecê -las de qualquer maneira. Vou deixar você s voltarem ao que
estavam fazendo. — Com uma piscadela e um aceno amigável, Heather se virou e caminhou
pelo corredor.
— Obrigada — Hannah gritou atrá s dela. — Devolvo seu prato amanhã .
— Nã o é necessá rio — Heather respondeu. — Basta trazê -lo para a festa de boas-
vindas que os outros inquilinos e eu estamos planejando para você s.
Festa de boas-vindas? Winter gemeu. Me mate agora. Ela olhou para Hannah. — Viu?
Isso é o que acontece se você tiver um capacho como este! — Ela deu um chute na maldita
coisa, mas por causa da fita dupla face na parte inferior, ele mal se moveu.
Hannah riu dela.
— Cupcakes e uma festa de boas-vindas. Oh, que horror. — Ela pegou um cupcake e
deu uma boa mordida. Pequenos gemidos voltaram para Winter quando Hannah entrou no
apartamento.
Ela tinha que soar tã o... entusiasmada? Winter lançou um olhar furioso atrá s dela.
— O que vamos fazer com o capacho?
Hannah fez uma pausa e se virou. Sua língua estalou para fora e limpou uma mancha
de glacê de um lá bio inferior carnudo.
Winter se repreendeu mentalmente por ter notado. Até que ela tivesse uma prova
definitiva de que elas nã o eram parentes, ela nã o deveria notar a plenitude dos lá bios de
Hannah.
— Tudo bem — disse Hannah. — Se você nã o gosta do meu capacho, compre outra
coisa. Apenas nã o um que faça os visitantes se sentirem como se fossem vistos como um
exé rcito hostil tentando invadir nosso castelo. — Sem esperar por uma resposta, ela deu
outra mordida e desapareceu no corredor.
— Ei! — Winter a chamou. — Metade desses cupcakes sã o meus!
— Eu pensei que você odiasse cupcakes? — A voz de Hannah flutuou ao virar da
esquina.
— Nã o, apenas festas.
— Bem, entã o é melhor você se apressar antes que eles desapareçam.
Winter deu um passo para dentro do apartamento, entã o se lembrou do capacho
descartado. Suspirando, ela recuou, removeu a fita e deixou o tapete cair na frente da porta.
Por enquanto.
***
As sessõ es de Hannah com Benny sempre seguiam a mesma rotina. Eles passaram
vinte minutos em cada uma de suas posiçõ es favoritas de aconchego, começando com
‘Posiçã o das estrelas’, progredindo para a conchinha e terminando com o Koala em uma
á rvore. A estrutura familiar de suas sessõ es o ajudou a relaxar e Hannah nã o se importava
nem um pouco. Na verdade, era bom abraçar um cliente que sabia exatamente o que queria
e ela ficou grata por Benny ter concordado em continuar a vê -la e ter lidado tã o bem com a
mudança de local.
Quando o tempo dele acabou, ela saiu do quarto e esperou no corredor para que ele
trocasse sua confortável roupa de abraço por suas roupas normais.
— Gostaria de mais um abraço antes de ir? — ela perguntou quando ele se juntou a
ela. Ela sempre perguntava, nunca esperando que ele lesse as dicas sutis de sua linguagem
corporal ou, pior, o abraçasse do nada.
Ele assentiu e se moveu imediatamente.
Hannah envolveu seus braços ao redor dele com uma pressã o firme e constante. Ela
cuidadosamente manteve as mã os espalmadas nas costas dele, em vez de adicionar uma
leve carícia.
Ao longo de seus cinco anos como abraçadora profissional, ela teve vá rios clientes no
espectro do autismo. Todos eram tã o diferentes quanto seus clientes neurotípicos, assim
como suas necessidades. Para Benny, um toque muito gentil parecia quase como se ele
estivesse se queimando, enquanto um toque firme parecia aterrado.
Ele murmurou baixinho — Hmm, legal — e deu um aperto final antes de soltar. —
Mesma hora na semana que vem?
— Sim claro. — Ela sempre reservava o horá rio das quatro horas à s quintas-feiras
para Benny, sabendo que ele gostava de rotina.
— Excelente. Obrigado. Vejo você , entã o.
Ela abriu a porta para ele e ele caminhou em direçã o a ela, entã o parou.
— Ei! Como isso...? Era diferente quando cheguei aqui. — Ele apontou para o capacho.
Hannah esticou o pescoço para poder ver.
Mais uma vez, seu capacho alegre e acolhedor havia sumido. Em seu lugar havia um
simples tapete marrom com letras pretas que diziam: Bem-vindo. Depende de quem você é.
Uma risada tentou borbulhar no peito de Hannah. Isso foi tã o típico de Winter! —
Hum, nã o leve para o lado pessoal. Minha colega de quarto é do tipo minha-casa-é -meu-
castelo.
— Eu entendo totalmente. — Benny riu. — Preciso de um assim.
Talvez ela devesse presenteá -lo com o primeiro que Winter comprou, que agora
estava escondido embaixo da pia.
Benny saiu e ela pegou o tapete de boas-vindas antes de fechar a porta atrá s dele.
Ela andou na ponta dos pé s pelo corredor e parou em frente ao escritó rio de Winter,
que ela havia apelidado de EEI, Estaçã o Espacial Internacional, por causa de todo o material
tecnoló gico de ponta que abrigava.
Pela primeira vez, o rat-a-tat-tat do teclado de Winter nã o passou pela porta. Winter
estava em casa ou ela fugira
  do local depois de mais uma vez substituir o capacho de
Hannah?
Hannah se inclinou para frente e pressionou o ouvido contra a porta. Ela nã o
conseguia ouvir nenhuma voz, entã o Winter nã o parecia estar em uma chamada do Zoom
ou ao telefone com um cliente. Ela deveria bater? Ou esperar até Winter sair para tomar um
café
... A porta se abriu.
Apanhada em flagrante, Hannah se lançou para a frente.
Um peito quente e braços fortes amorteceram
 sua queda antes que ela pudesse ter
um encontro doloroso com o chã o, o peito e os braços de Winter. Claro, ela nã o esperava as
partes do corpo de mais ningué m. Ela só nã o esperava que fossem tã o agradáveis ​e
confortáveis ​quando Winter geralmente era tã o legal e inflexível.
A sensaçã o agradável durou apenas um ou dois segundos, entã o Winter pigarreou
 e a
empurrou para trá s, mantendo-a à distâ ncia de um braço com as duas mã os nos ombros de
Hannah. Seus olhos azuis glaciais se estreitaram quando ela olhou para ela.
— O que diabos você está fazendo?
— Hum… — Atordoada, Hannah ergueu o capacho como se isso explicasse tudo. —
Nó s realmente temos que parar de nos encontrar assim.
Winter ignorou o capacho. Em vez disso, seu olhar percorreu o corpo de Hannah.
— Isso sã o... pijamas? Você nã o acabou de ter uma reuniã o com um cliente?
Hannah tinha esquecido que ainda estava usando seu pijama de lã rosa claro. Nã o
podia dizer a Winter que eram suas roupas de trabalho ou que as vestia porque Benny
gostava da sensaçã o do tecido. Irritava-a que ela nã o pudesse simplesmente deixar escapar.
Ela tinha orgulho do que fazia para viver. Mas Winter era esperta. Se Hannah dissesse que
ela era uma abraçadora profissional, ela somaria dois mais dois e descobriria que Jules era
seu cliente.
Hannah nã o estava pronta para isso, nã o apenas porque queria proteger a privacidade
de Jules, mas també m porque tinha a sensaçã o de que o inferno iria explodir.
— Ele já saiu — disse ela, esperando que Winter presumisse que ela havia trocado de
pijama depois. Ela levantou o capacho mais alto e se escondeu atrá s dele como se fosse um
escudo. — Bem-vindo
? Isso é o melhor que você poderia fazer?
— Era isso ou aquele que dizia: A menos que você seja Amazon, pizza ou Ryan Reynolds,
vá embora. E eu prefiro Blake Lively a Reynolds, entã o... Winter apontou para o capacho que
Hannah segurava.
— Oh, eu nã o sei, eu meio que gosto de bo… — Abruptamente, Hannah fechou a boca.
Seu cé rebro precisou de alguns segundos para entender o que Winter acabara de dizer. Ela
nã o tinha pensado em nada a princípio, porque a maioria de seus amigos constantemente
comentava sobre a gostosura de pessoas de todos os gê neros.
Por alguma razã o, provavelmente porque os abraçadores profissionais precisavam
estar abertos para se aconchegar com qualquer pessoa, a profissã o escolhida parecia atrair
muitas pessoas bi e pansexuais, como Max e ela, e pessoas que, como Valentina, se
recusavam a "fazer ró tulos" e adoravam quem eles quisessem. Tammy, que de brincadeira
se referia a si mesma como a “pessoa hé tero simbó lica” em seu grupo de amigos, era a
ú nica exceçã o.
Claro, Winter pode estar falando sobre quem era o melhor ator, mas algo em seu tom
disse a Hannah que ela nã o apenas admirava Blake por suas habilidades de atuaçã o. Winter
tentou dizer que achava Blake mais gostosa que o marido e as mulheres em geral mais
atraentes?
Pensando bem... Quando Heather as chamou de "amigas lé sbicas" ontem, Winter nã o
protestou. Ela só deixou cair o capacho quando Heather presumiu que elas eram um casal.
Muito obrigado por esse impulso de ego, Sra. Sullivan.
— Entã o — Hannah disse lentamente — você é ...?
— Lé sbica? Sim. — Winter se endireitou na porta. Seus ombros se inclinaram para a
frente como se estivesse se preparando para uma reaçã o negativa.
Hannah fez a cara mais sé ria que conseguiu.
— Nã o, eu quis dizer, você é fã de Gossip Girl
?
Por um segundo, a expressã o distante de Winter vacilou quando ela piscou para ela.
Hannah começou a rir, mas nã o conseguiu parar. Ela se curvou e agarrou seus lados.
— Oh meu Deus — ela ofegou — você deveria ter visto sua cara!
Winter olhou para ela com raiva, o que só fez Hannah rir ainda mais.
Finalmente, ela conseguiu se controlar.
— Desculpe. Eu nã o pude evitar. Cresci em uma família onde a provocaçã o era nossa
linguagem de amor. Hum, nã o que eu ame... hum... quero dizer...
De alguma forma, Winter conseguiu transmitir que estava revirando os olhos sem
realmente fazê -lo.
— Oh, por favor! Pare de examinar cada palavra que você diz para mim só porque
agora você sabe que sou gay. Você nã o é . Você é hé tero até o fio de cabelo. Entendo.
— Hum, na verdade… — Ela deveria contar a ela? Sim, ela decidiu. Já era ruim o
suficiente ela nã o poder contar a Winter sobre seu trabalho, entã o por que ela també m
manteria sua orientaçã o sexual em segredo? — Eu nã o sou.
— Foi o que acabei de dizer.
— Nã o, quero dizer, nã o sou hé tero. Eu sou pan.
— Pan? — Winter pronunciou a palavra.
Hannah assentiu.
— Significa que me sinto atraída por pessoas de todos os gê neros. Bondade e um
grande senso de humor fazem isso por mim, nã o as partes do corpo ligadas a elas. Embora,
é claro, um corpo atraente nã o faça mal. — Seu olhar se desviou para o primeiro botã o
aberto da camisa branca de Winter, que oferecia uma espiada na pele lisa.
Não não não. Só porque ela se sentia atraída por pessoas de todos os gê neros nã o
significava que ela se sentia atraída por todas as pessoas, e certamente nã o por esta. Ela é
gelada, não quente, lembra? Tudo o que você conseguiria seriam queimaduras de frio. Hannah
rapidamente olhou para o rosto de Winter.
— Obrigada. — A má scara distante de Winter e seu tom sarcá stico voltaram. — Eu sei
o que significa pansexual. Eu só nã o esperava que você … — Ela acenou com a mã o. —
Esqueça. Estávamos conversando sobre o capacho.
Hannah olhou para o capacho que pendia esquecido em suas mã os. — Certo. Aprecio
o humor, Winter, de verdade, mas prefiro um tapete de boas-vindas, nã o um meio tapete de
boas-vindas.
— Entã o isso ainda nã o é sensível o suficiente para você ? — Winter perguntou.
— Bem, isso nã o vai fazer meus clientes se sentirem quentes e confusos por dentro,
com certeza. Que tal chegarmos a um acordo?
Winter a olhou com ceticismo. — Colocar um pequeno adesivo de coraçã o acima do i
 em
 bem-vindo?
— Hum, eu nã o acho que isso faria muita diferença. — Talvez elas precisassem voltar
ao bá sico. — Posso ter seu telefone por um segundo?
A linha acima da ponta do nariz de Winter se aprofundou como se Hannah tivesse
pedido seu primogê nito. — Por quê ?
— Porque isto aqui — Hannah deu um tapinha em seu pijama — nã o tê m bolsos,
entã o eu nã o tenho o meu aqui e sei que o seu nunca está longe de você .
Winter voltou ao escritó rio e pegou o telefone. Ela hesitou, entã o desbloqueou e
entregou a ela.
— Obrigada. — Hannah o segurou com cuidado, ciente de que nã o tinha dinheiro para
substituir o dispendioso aparelho caso o deixasse cair acidentalmente e o quebrasse. Ela
tocou no ícone do navegador. — Qual é a sua cor favorita?
— Preto.
— Preto nã o é a cor favorita de ningué m.
— A minha é .
Hannah lançou-lhe um olhar duvidoso. — É mesmo uma cor?
Winter deu de ombros.
— Tecnicamente, é uma sombra, mas é considerada uma cor quando se trata de
negociaçõ es de capachos.
Sua expressã o impassível nã o vacilou, sua expressã o era tã o sé ria quanto a de Jules na
maior parte do tempo, mas um brilho brincalhã o pareceu iluminar seus olhos por dentro.
Portanto, sua relutante colega de quarto nem sempre foi tã o rabugenta e indiferente.
Ela poderia realmente ser meio fofa. Quem teria pensado?
— Tudo bem — disse Hannah — entã o qual é a sua segunda cor favorita?
Winter abriu a boca para responder.
— Alé m de cinza — Hannah acrescentou rapidamente.
Winter fechou a boca e pareceu pensar por um momento. — Azul.
Hannah fez uma busca rá pida, percorreu uma dú zia de imagens de capachos, entã o
finalmente tocou em um e o estendeu para Winter.
Era um simples tapete de boas-vindas azul-escuro, sem frases hilá rias, saudaçõ es
sinceras ou elementos decorativos.
— Eu sei que é meio…
— Adequado — Winter terminou assim que Hannah disse, “chato.” Ela pegou o
telefone das mã os de Hannah e seus polegares voaram pela tela em rá pida sucessã o.
Finalmente, ela olhou para cima com um brilho triunfante em seus olhos. — Comprado.
E assim, a Grande Guerra dos Capachos terminou. Embora nã o fosse a rendiçã o
incondicional que Hannah esperava, ela poderia viver com um empate em prol de uma
coabitaçã o pacífica.
Winter guardou o telefone no bolso e passou por ela como se estivesse em uma
missã o urgente.
— Onde você está indo? — Hannah perguntou.
— Pegando meu outro capacho de onde você o escondeu embaixo da pia —
respondeu Winter por cima do ombro. — Vou colocar na frente da porta do meu escritó rio.
Oh não. Se seus clientes olhassem para a esquerda enquanto se dirigiam para seu
aconchegante estú dio no escritó rio, eles ainda veriam o capacho que proclamava que a
leitura era interaçã o social suficiente para o dia.
— Boa ideia. — Hannah forçou um tom alegre.
Winter parou em frente à pia e lançou-lhe um olhar cauteloso.
— Você realmente nã o acha isso, nã o é ?
— Sim, claro que eu acho. Seria uma pena desperdiçar os outros capachos. Na
verdade… — Hannah caminhou lentamente em direçã o à porta da frente. — Eu suponho
que você tenha escondido o meu de bem-vindo com os coraçõ es rosa atrá s do vaso de
plantas de novo? Vou colocá -lo logo antes da porta de correr da sala. Você nã o se importa de
tê -lo na sala, nã o é ?
Um rosnado baixo veio da cozinha.
— O que você disse? Desculpe, nã o entendi. — Hannah voltou pelo corredor e enfiou a
cabeça na esquina da cozinha para lançar um olhar interrogativo a Winter.
— Eu disse para esquecer os malditos capachos. — Winter fechou o armá rio embaixo
da pia. — Quem diabos tem capachos dentro de seu apartamento de qualquer maneira?
— Certo — Hannah disse com um falso aceno sé rio. — Isso seria um exagero total.
Winter caminhou para seu escritó rio. De passagem, ela lançou a Hannah um olhar
gelado que dizia que ela sabia exatamente o que Hannah estava fazendo.
Hannah lutou para nã o mostrar um sorriso. Afinal, ela havia vencido a Grande Guerra
dos Capachos.
— Finalmente estamos de acordo. — Winter parou na porta de seu escritó rio e se
voltou para Hannah. — Tenho certeza de que você també m concorda que, como estamos
substituindo o tapete de boas-vindas, també m devemos substituir a folhagem na frente da
porta do apartamento. Esses exó ticos... sejam eles o que forem — ela acenou com a mã o na
direçã o da entrada e as plantas de flamingo do outro lado da porta — nã o se encaixam em
nosso novo capacho clá ssico e simples.
— Hum, verdade.
— Excelente. Achei que você veria do meu jeito. É por isso que també m encomendei
duas orelhas de coelho quando recebi o capacho azul.
— Orelhas de coelho? — Hannah nã o tinha ideia de que tipo de planta era aquela, mas
nã o parecia o tipo que Winter gostaria... se é que ela gostava de algum tipo de planta.
— Nã o se preocupe — disse Winter. — Eles sã o de baixa manutençã o. Eu só tive
tempo de dar uma olhada rá pida no site, mas dizia que eles sã o ideais para iniciantes em
cactos. Ela deu um passo para trá s e a porta se fechou entre eles.
Cacto? Ela estava brincando... certo?
Droga. Hannah olhou para a porta fechada do escritó rio. Ela deveria saber que Winter
nã o iria simplesmente recuar e admitir a derrota.
Entã o o humor da situaçã o a dominou e ela caiu na gargalhada. Ela foi até a cozinha e
colocou o tapete de boas-vindas ao lado de seu companheiro embaixo da pia. Uma coisa era
certa: os pró ximos oitenta e sete dias nã o seriam chatos.

Capítulo 7
Quando o estô mago de Winter roncou pela terceira vez, ela parou de digitar e olhou
para o reló gio, e entã o olhou novamente.
Ela havia trabalhado durante o almoço e agora eram cinco e meia de uma sexta-feira,
quando a maioria das outras pessoas já havia saído do trabalho.
Mais meia hora e ela terminaria a aná lise da concorrê ncia para uma empresa de
patinetes elé tricos. Em seguida, ela compraria um hambú rguer em um dos carrinhos de
comida na Pioneer Square e exploraria o bairro. Hoje era o sexto dia de seu arranjo de vida
temporá rio e ela ainda nã o tinha encontrado tempo para ver se havia um bom lugar para
levar sua câ mera para algumas fotos noturnas.
Quando ela saiu do escritó rio para pegar outro café , a secadora apitou do outro lado
do corredor, sinalizando que o ciclo estava completo.
Winter gemeu. Claro que estava apitando. Estava sempre
 apitando.
Por alguma razã o, Hannah parecia estar lavando lençó is todos os dias. Depois de
dobrados, ela os levava para seu escritó rio, onde montou seu escritó rio. O que diabos ela
estava fazendo lá ?
Agora que Winter sabia como Hannah era, ela a pesquisou no Google novamente e
encontrou um site com um design desatualizado que a fez gemer. O longo texto na pá gina
inicial revelou que Hannah era uma massoterapeuta licenciada que praticava massagem
sueca, massagem profunda, pedras quentes e ventosas, o que quer que fosse.
Winter poderia facilmente imaginá -la como uma massoterapeuta, as mã os de
Hannah, pequenas e macias, mas fortes, massageando mú sculos tensos e deslizando sobre
a pele nua...
Ugh. Pare com isso! Winter afastou a perturbadora imagem de sua mente com um
firme movimento de cabeça. A essa altura, ela tinha quase certeza de que Hannah nã o era
sua meia-irmã , mas nã o havia encontrado uma maneira de provar isso de uma vez por
todas, entã o nã o tinha nada que sonhar acordada
 com as mã os dela.
Ela nã o achava que massagem era o que Hannah estava fazendo na sala de qualquer
maneira. Caso contrá rio, ela e suas amigas teriam levado uma mesa de massagem ou uma
cadeira especial para o apartamento no dia da mudança. Alé m disso, Hannah mencionou
que precisava do sofá para trabalhar.
A profissã o de Hannah era tã o difícil de descobrir quanto a pró pria mulher, e isso era
frustrantemente perturbador para Winter. Ela gostava de colocar as pessoas em categorias,
inimigas ou aliadas, inú teis ou ú teis, fracasso ou sucesso, mas Hannah nã o se encaixava
perfeitamente em nenhuma caixa.
Desde que se mudaram para o apartamento, ela continuou a surpreender Winter.
Primeiro, ela se recusou a vender sua metade do pré dio, depois nã o cedeu quando se tratou
de suas negociaçõ es de capacho. Ela claramente tinha muito mais determinaçã o do que
Winter acreditava.
Entã o Hannah se assumiu para ela como pansexual. Essa revelaçã o a deixou confusa,
mesmo que isso realmente nã o devesse importar para ela.
E daí? Oitenta e seis dias, entã o ela poderia contratar um gerente de propriedade e
fazê -lo lidar com Hannah e os inquilinos, enquanto ela colocava quantos
 capachos quisesse
na frente de seu apartamento.
Ela apertou o botã o liga/desliga da má quina de café expresso e bateu com o porta-
filtro na coxa enquanto esperava que a má quina esquentasse.
— Podemos fazer duas horas da pró xima vez? — uma voz profunda veio da sala de
estar pelo corredor.
— Claro — Hannah respondeu, seu tom caloroso. — Você tem algo em particular em
mente?
Eles seguiram pelo corredor em direçã o à porta da frente enquanto conversavam, e
Winter ficou onde estava, encostada no balcã o para que nã o a vissem. Ela nã o estava
espionando, apenas sendo uma boa colega de quarto ao nã o interromper enquanto Hannah
estava com um cliente. Se ela acidentalmente ouvisse algo que a ajudasse a finalmente
descobrir o que Hannah fazia da vida, isso seria um bom bô nus de ser educado, certo?
— Ainda nã o tenho certeza — respondeu o homem. — Eu adoraria tomar meu tempo,
talvez tentar algumas novas posiçõ es.
Winter quase deixou cair o porta-filtro. O que…? Novas posições?
— Claro, podemos fazer isso. — Hannah parecia tã o alegre como se estivessem
falando sobre experimentar novos sabores de sorvete.
A cabeça de Winter girou. Entã o... isso significava que Hannah era uma profissional do
sexo? Isso explicaria a necessidade de lençó is limpos vá rias vezes ao dia e confirmaria que
Julian nã o era seu pai, afinal. Talvez ele fosse seu cliente. O pensamento fez o estô mago de
Winter revirar.
Ela deve ter perdido suas despedidas porque a porta se fechou atrá s do cliente, e os
passos de Hannah desceram o corredor.
Merda. Se ela fosse para seu quarto em vez do escritó rio, ela a veria.
— Oh Olá . — Hannah deu a ela um sorriso amigável. Seu cabelo castanho-escuro
estava desgrenhado como se ela realmente tivesse passado a ú ltima hora jogando a cabeça
para trá s em um travesseiro, ou com os dedos ansiosos do cliente emaranhados em seus
cabelos. Ela olhou para onde ela disse adeus a ele, entã o de volta para Winter e um rubor se
espalhou por suas bochechas.
Elas se encararam, sem dizer nada alé m do “oi” de Hannah.
Winter semicerrou os olhos para o rosto ainda corado de Hannah... seu rosto sem
maquiagem. Isso nã o era incomum para uma trabalhadora do sexo? Nã o que Winter fosse
um especialista ou algo assim. Seu olhar percorreu o corpo de Hannah. Seus quadris
generosos estavam escondidos por um par de calças de moletom cinza, que nã o faziam
nada para enfatizar suas curvas agradáveis, e uma camiseta branca com um ursinho de
pelú cia e as palavras abraço de urso
 na frente també m nã o eram exatamente lingerie sexy.
Uma profissional do sexo se vestiria de forma mais sedutora, nã o é ? A menos, é claro,
que todos os seus clientes tivessem o mesmo fetiche estranho por lã de algodã o e ursinhos
de pelú cia, o que era altamente improvável.
Nã o, por mais que o pedido do cliente por “novas posiçõ es” pudesse soar estranho, o
trabalho de Hannah tinha que ser outra coisa. Talvez ela tenha ensinado alguma nova forma
estranha de ioga que usa lençó is em vez de tapetes? Winter decidiu descobrir de uma vez
por todas. Ela apontou o porta-filtro que ainda segurava para Hannah. Talvez suborná -la
com uma boa dose de café expresso a fizesse falar.
— Quer um?
Os cílios escuros de Hannah vibraram.
— Um abraço de urso? Hum, claro, por que nã o? — Ela deu um passo em direçã o a
Winter e abriu os braços.
— O quê ? — Winter recuou, ou tentou, mas o balcã o estava logo atrá s dela, entã o ela
nã o tinha para onde ir. — Nã o! Eu estava falando sobre café .
— Oh. Eu pensei que você estava apontando para… — Hannah deu um tapinha em
seus seios fartos.
Winter levou alguns segundos para perceber que Hannah estava falando sobre o
ursinho de pelú cia em sua camiseta, nã o sobre seus seios. Deus, esse arranjo de vida que
Julian as forçou estava realmente mexendo com ela. Ela nã o conseguia pensar direito.
Literalmente. Winter fez uma careta e limpou a garganta.
— Entã o, isso é um nã o para o café ?
— Sim. Se eu tomar um agora, vai me manter acordada a noite toda. Acho que é um
nã o para o abraço també m, certo? — O sorriso de Hannah era provocador, mas Winter nã o
conseguia descobrir se ela estava zombando dela... ou de si mesma e de sua suposiçã o de
que Winter queria um abraço.
Winter nã o conseguia se lembrar da ú ltima vez que algué m se atreveu a zombar dela.
O mais surpreendente foi que a provocaçã o de Hannah nã o a irritou, provavelmente porque
a atordoava demais toda vez que acontecia. Ela deu um aceno decisivo.
— Nunca fui fã .
Hannah olhou para ela como se ela tivesse acabado de dizer que nã o gostava de
cheesecake. Ela abriu a boca, sem dú vida para fazer uma pergunta pessoal, mas Winter nã o
tinha intençã o de falar de si mesma.
Sua missã o era descobrir o misterioso trabalho de Hannah. Talvez isso a ajudasse a
descobrir qual era a conexã o entre Hannah e Julian. — Entã o você nunca usa um pouco de
cafeína para trabalhar a noite toda?
— Eu nã o poderia, mesmo que quisesse.
— Por que isso?
— A licença de ocupaçã o de casa nã o me permite receber clientes depois das nove
horas.
Portanto, Hannah nã o poderia trabalhar sem a presença de um cliente. Seu trabalho
consistia em tudo o que ela fazia com eles na sala, sem nenhuma necessidade de pesquisa,
papelada ou preparaçã o, apenas um monte de lençó is.
Essa pista nã o a deixou mais perto da resposta. Winter estava cansada desse jogo de
adivinhaçã o que tomava muito tempo e atençã o. Ela simplesmente perguntaria. Isso é o
que as pessoas fizeram, certo? Fazer a pergunta “o que você faz” era parte da conversa
chata que Winter geralmente detestava.
— Entã o — ela disse o mais casualmente possível — o que você faz para viver?
O rubor nas bochechas de Hannah havia diminuído, mas agora estava de volta com
força total, e ela puxou a camiseta como se estivesse começando a suar.
— Hum… — Ela abriu um sorriso tímido. — Você sabe o quê ? Talvez eu tome um café
depois de tudo, se a oferta ainda estiver aberta. Você obviamente leva seu café muito a
sé rio, entã o aposto que é bom.
Winter a perfurou com um olhar de sei-o-que-está -fazendo. Se ela estivesse moendo
grã os e operando a barulhenta má quina de café expresso, nã o poderia fazer perguntas que
Hannah nã o quisesse responder. — Isso pode nã o ser uma boa ideia, afinal. Esta má quina
— ela deu um tapinha nela — faz café de verdade, nã o aquela á gua com sabor de café que eu
vi você beber. Eu nã o gostaria de mantê -la acordada a noite toda. Você pode tomar uma
xícara amanhã . Agora pare de protelar e responda à pergunta.
— Winter, eu...
O toque de um telefone interrompeu sua frase no meio. Estava vindo do quarto de
Hannah.
— Ah, é o meu. Eu realmente deveria atender. Desculpe. — Hannah correu para lá e
fechou a porta atrá s de si com tanta pressa que a madeira vibrou por vá rios segundos.
Winter ficou olhando para ela e pressionou um punho em seu quadril. Se Hannah
Martin pensou que poderia escapar de sua pergunta tã o facilmente, ela claramente nã o
viveu com ela o tempo suficiente. Toda aquela gagueira e rubor só a deixaram mais
determinada a descobrir.
Com força, ela colocou o porta-filtro no lugar para moer um pouco de café . A ú nica
coisa que ela queria mais do que algumas respostas agora era um expresso duplo, mas
amanhã ela descobriria o que Hannah estava escondendo.
***
Hannah se jogou na cama com o celular pressionado contra o ouvido e gemeu, meio
no travesseiro, meio no telefone. Por que, oh, por que ela nã o fez um plano e pensou no que
diria se... ou mais quando... Winter perguntasse sobre seu trabalho? Talvez ela devesse ter
preparado uma resposta crível, inventado uma histó ria de cara. Mas o que ela poderia ter
dito? Alé m de tentar ser vaga ou fugir da pergunta, sua ú nica opçã o era responder com uma
piada como “Eu poderia te contar, mas aí teria que te matar”.
Qualquer outra resposta teria sido uma mentira completa e foi aí que ela traçou a
linha.
Pelo menos o telefonema oportuno de sua mã e lhe deu algum tempo para pensar em
uma maneira de seguir em frente.
— Obrigada, mã e. Você acabou de salvar minha bunda.
— O que há de errado? — A voz cheia de pâ nico de sua mã e veio pelo telefone. — Oh
meu Deus! Aconteceu alguma coisa com um de seus clientes?
— Mamã e! Pare com isso! — Hannah golpeou o colchã o com a lateral do punho. —
Nada aconteceu. A pior coisa que já me aconteceu como abraçadora foi meu braço
adormecer. Você acabou de me tirar de uma conversa que eu nã o queria ter; isso é tudo.
Nã o tem nada a ver com cliente. Nã o sei porque continuamos tendo essa conversa.
Sua mã e suspirou. — Porque eu me preocupo.
— Ainda? Achei que você tivesse superado isso.
— Parar de se preocupar com a minha filha? — Sua mã e fez um som que estava em
algum lugar entre uma risada e um bufo. — Sinto informar, mas isso nunca vai acontecer.
— Tudo bem, mas você pode pelo menos parar de agir como se meus clientes fossem
criminosos sexuais querendo me machucar? — Hannah rolou na cama. — Eles sã o boas
pessoas e vê -los se abrir e ficar mais confiantes depois de algumas sessõ es de abraços
realmente me deixa feliz, muito mais feliz do que ser uma massoterapeuta jamais fez.
Sua mã e inalou e exalou de forma audível. — E isto me faz feliz. Vou tentar ser melhor,
ok? Nã o quero que pense que nã o tenho orgulho do que você faz. Eu tenho. Eu só ...
— Se preocupa — Hannah terminou por ela.
— Sim. Bem, pelo menos você terá uma colega de quarto por um tempo. Você disse
que ela també m trabalha em casa, certo? Entã o, pelo menos ela está aí para ficar de olho em
seus clientes. Nã o que eles precisem — sua mã e acrescentou rapidamente. — Apenas no
caso de…
— Eu posso cuidar de mim mesma, mã e. Alé m disso, Winter nem sabe o que faço para
viver.
— Você nã o disse a ela? — sua mã e perguntou. — Por que? Você acha que ela iria
julgá -la? — Apesar de suas pró prias preocupaçõ es, o tom de sua mã e indicava que ela
estava entrando no modo mamã e ursa protetora.
Um sorriso surgiu nos lá bios de Hannah. Ela nã o precisava de imaginaçã o visual para
rir ao pensar em sua amigável mã e de um metro e setenta e dois enfrentando sua
intimidante e eriçada colega de quarto.
— Nã o é isso. — Bem, isso nã o era bem verdade. Ela tinha a sensaçã o de que Winter a
julgaria
. Ela se afastou dos braços abertos de Hannah como se tivesse recebido uma cesta
de cascavé is e, como havia declarado que nã o gostava de abraços, provavelmente també m
nã o gostava de mimos.
— Entã o o que é ?
— Bem, se eu disser a Winter que sou uma abraçadora profissional, ela pode
imediatamente presumir que foi assim que conheci seu pai. Eu basicamente teria que
admitir que ele era meu cliente e isso vai contra nosso có digo de conduta. Antes de nossa
primeira sessã o, assinei um contrato que dizia que respeitaria a confidencialidade do
cliente em todos os momentos.
— També m diz como lidar com a herança de um pré dio de um cliente e ter que morar
com a filha dele?
Uma risada cansada escapou de Hannah. — Nã o. De alguma forma, eles falharam em
colocar uma clá usula para isso.
— Seu cliente... aquele que deixou metade do pré dio para você ... ele devia saber que
você teria que dizer à s pessoas mais pró ximas quem ele era. Nã o é como se você pudesse
inventar uma tia idosa e rica e dizer que herdou a propriedade dela. — Sua mã e riu. —
Todos na família sabem que a ú nica coisa que sua tia deixaria para você é seu dachshund
reumá tico.
— Eu nã o acho que ele teria se importado se você soubesse, especialmente porque eu
nã o disse o nome dele. — Certa vez, uma vizinha intrometida olhou para eles enquanto
abria a porta para Jules. Ele parecia nã o se incomodar com o que os estranhos poderiam
pensar. — Mas a filha dele sabendo... isso pode ser diferente.
— Se ele quisesse esconder isso dela, ele nã o teria se assegurado de que você s duas
nunca se conhecessem? Com certeza ele esperava que o assunto de como você o conheceu
viesse à tona mais cedo ou mais tarde se você s passassem algum tempo juntas. — Sua mã e
fez uma pausa como se lhe desse uma chance de chegar à mesma conclusã o. — E, no
entanto, ele colocou uma condiçã o na herança que as obriga a viver juntas por trê s meses.
Até agora, Hannah estava tã o ocupada lidando com a herança inesperada e a nova
situaçã o de vida que nã o parou para pensar sobre o que Jules presumiu que aconteceria,
mas sua mã e estava certa. Se Jules quisesse esconder as sessõ es de abraço de sua filha, por
que ele os forçaria a dividir um apartamento? Ele devia saber que Winter perguntaria sobre
seu trabalho ou como ela o conheceu em algum momento.
Na verdade, era estranho que Winter nã o tivesse perguntado até agora. Ainda hoje, ela
perguntou sobre sua profissã o, e nã o sobre seu relacionamento com Jules. Talvez Winter
presumisse que ela já sabia a resposta para a segunda pergunta, e Hannah tinha a sensaçã o
de que nã o gostaria de qualquer conclusã o a que Winter chegara.
— Querida? — sua mã e perguntou. — Você ainda está aí?
— Sim. Desculpe, mã e. Eu estava pensando sobre o que você disse. Você tem razã o.
Vou contar a ela amanhã . Nã o sobre o pai dela ser um cliente — Hannah acrescentou
rapidamente. — Só sobre eu ser uma abraçadora
 profissional. Se ela somar dois mais dois
e descobrir, que assim seja.
Ela disse à Winter que nã o venderia sua metade do pré dio e manteve essa decisã o.
Isso significava que ela e Winter teriam que se dar bem por muito mais tempo do que
noventa e dois dias e Hannah se recusava a abaixar a cabeça nos pró ximos anos, evitando
perguntas sobre um trabalho do qual se orgulhava.
— Ó timo — sua mã e disse. — Você nã o deveria ter que esconder quem você é . A
propó sito, sua colega de quarto ficaria bem se descobrisse que você é pansexual, certo?
— Oh, ela sabe e está bem com isso.
Sua mã e respirou fundo.
— Você nã o disse a ela o que você faz para viver, mas sua orientaçã o sexual de alguma
forma surgiu na conversa? Uau. — Ela riu. — Você s duas devem ter tido algumas conversas
interessantes durante o café da manhã .
— Nã o tomamos café da manhã juntas e nã o conversamos. Na verdade, nã o. Winter
é … — Hannah fez uma pausa, sem encontrar uma palavra ou frase que fizesse justiça a sua
intensa colega de quarto. — Ela nã o é do tipo tagarela.
— Como ela descobriu que você é pansexual, entã o?
— Oh, surgiu quando estávamos falando sobre capachos, Blake Lively e linguagens do
amor, como se faz.
— Como diabos essas trê s coisas estã o conectadas e o que elas tê m a ver com sua
orientaçã o sexual?
Hannah deslizou o braço livre atrá s da cabeça e sorriu para o teto. — Longa histó ria
que terminou com nossa casa possuindo um total de quatro capachos de boas-vindas.
— Quatro? — sua mã e ecoou. — Por que você precisaria de tantos?
— Como eu disse, é uma longa histó ria. Mas digamos que embora Winter e eu nã o
tenhamos o mesmo gosto para capachos, nó s compartilhamos uma apreciaçã o pelas
mulheres.
Sua mã e pareceu processar isso por um momento. — Ah. Você quer dizer que ela é
pansexual també m?
— Na verdade, ela é lé sbica.
— Você nã o me contou muito sobre ela. Ela tem mais ou menos a sua idade? —  Sua
mã e parecia a inocê ncia personificada, mas Hannah via atravé s dela.
— Mamã e!
— O quê ? Só estou perguntando quantos anos tem sua colega de quarto.
— Okay, certo. Como se você estivesse convidando
  a ú nica outra mulher queer da
cidade para jantar na ú ltima vez que fui para casa. — Claro, Hannah sabia que nã o tinha
motivos para reclamar. Sua família a havia aceitado com tranqü ilidade aos dezesseis anos e
nunca fizeram nada alé m de apoiá -la. Nem todos os seus amigos tiveram a mesma sorte. —
Boa tentativa. E só para sua informaçã o, Winter é cerca de dez anos mais velha que eu. —
Pelo menos de acordo com seu cá lculo baseado no perfil de Winter no LinkedIn.
Sua mã e fez um som como um pneu esvaziando. — Seu pai é dez anos mais velho que
eu també m. Nunca incomodou nenhum de nó s.
— Mamã e! Pare de tentar armar pra gente! Winter nã o é meu tipo. — Nã o. Maçã s do
rosto salientes e pernas longas nunca fizeram nada por ela e ela mal notou aqueles intensos
olhos azuis. Alé m disso, ela geralmente preferia pessoas calorosas e acessíveis, nã o algué m
com paredes tã o altas quanto o Empire State Building.
— Se você diz, querida. Eu tenho que ir agora. Seu pai vai pescar com mosca amanhã
de manhã e nã o consegue encontrar suas botas para á gua. Mas, por favor, deixe-me saber
como foi sua conversa com a colega de quarto.
— Contarei — disse Hannah. — E obrigada por seu conselho sobre contar a ela.
— A qualquer momento. Te amo. Tchau.
Sua mã e se foi, provavelmente procurando pelas botas desaparecidas, antes que
Hannah pudesse responder.
Ela largou o telefone na cama e passou algum tempo tentando ter ideias sobre como
poderia contar a Winter sobre sua profissã o.
Por mais que Winter parecesse nã o gostar de Jules, ela claramente se parecia com ele
em algumas coisas, pelo menos em sua tendê ncia de ser uma viciada em trabalho voltada
para resultados. A melhor abordagem pode ser fazer um pequeno discurso e listar todos os
benefícios para a saú de que o abraço traz. Quando apresentado a esse tipo de evidê ncia,
mesmo uma pessoa que evita o toque como Winter entenderia o quã o importante era seu
trabalho, certo?
Capítulo 8
Como todos os sá bados, o dia seguinte era um dia normal de trabalho para Winter. Por
volta do meio-dia, ela se levantou da cadeira do escritó rio com um gemido e massageou o
antebraço direito. Droga, ela estava fora de forma... ou pelo menos sua mã o estava. Talvez
fosse bom ela nã o ter namorada.
Ela foi até a cozinha e ligou a má quina de café expresso, depois vagou pelo
apartamento para dar ao aparelho uma chance de esquentar e ao braço algum tempo para
se recuperar.
Uau. Quando todas essas coisas chegaram aqui? Durante a semana, Hannah deve ter
trazido mais de suas coisas. Um cobertor estava pendurado na ponta do sofá e uma pilha de
livros estava na mesa lateral.
Winter cedeu à sua curiosidade e olhou para o que estava no topo. Parecia um
romance. Nada surpreendente. Aqueles livros de beijos sentimentais eram perfeitos para
uma pessoa sensível como Hannah. Ela olhou para a capa, tentando descobrir se este era
um romance sá fico ou uma histó ria de amor hetero.
Uma mulher loira, obviamente algum tipo de celebridade, estava com a cabeça virada
para a direita, revelando seu belo perfil. Apenas alças finas cruzadas nas costas
sustentavam seu vestido azul, que revelava um vislumbre de pele lisa e ombros esguios.
Lanternas de vá rios paparazzi a cercaram, mas ela nã o estava sorrindo para as câ meras.
Entã o era esse o tipo de mulher que Hannah procurava? Algué m feminina e elegante?
Nã o que ela se importasse. Ela se virou e virou as costas para o livro.
As bugigangas de Hannah també m enchiam o outro lado da sala. Um coelho de
pelú cia, com o pelo exibindo todas as cores do arco-íris, residia na estante, cercado por
fotos emolduradas. Mais fotos encheram as prateleiras acima e abaixo.
Hannah era uma fotó grafa amadora? Winter se aproximou e estudou a foto à direita
do coelho. Nã o, claramente, Hannah nã o tinha pensado na composiçã o. A luz vinha do
â ngulo errado, criando sombras nas faces de seus objetos.
Ainda assim, era fá cil adivinhar que a foto mostrava a família de Hannah. A mulher à
direita provavelmente era sua irmã . Ela parecia uma versã o um pouco mais velha e mais
magra de Hannah. O cara à esquerda, provavelmente o irmã o dela, exibia as mesmas
covinhas de Hannah enquanto abria um sorriso. Um tufo triangular de pelos faciais crescia
 sob seu lá bio inferior. Ele e sua irmã flanqueavam um casal mais velho, provavelmente os
pais de Hannah.
Winter pegou a moldura para estudar seus rostos. Talvez uma leitura atenta a
ajudasse a confirmar de uma vez por todas que Hannah nã o podia ser filha de Julian.
A mã e de Hannah nã o se parecia em nada com a de Winter. Aos sessenta e cinco anos,
a mã e de Winter orgulhava-se de ainda caber nos vestidos que usava aos vinte e estava
sempre atualizada sobre os penteados mais recentes. A mã e de Hannah claramente tinha
prioridades diferentes. Ela sorria para a câ mera vestida em uma calça capris e uma
camiseta, nã o se importando que a brisa estivesse chicoteando seu cabelo grisalho em
todas as direçõ es. Ela tinha a boca larga e o sorriso genuíno de Hannah, os mesmos quadris
generosos e a barriga ligeiramente arredondada.
Nã o, essa mulher realmente nã o parecia o tipo de Julian. Nã o que ele tivesse muito um
tipo, alé m de jovem, mulher e facilmente impressionável por dinheiro.
Em seguida, Winter olhou o pai de Hannah. Ela procurou em suas feiçõ es qualquer
semelhança com Hannah que tornasse tã o ó bvio quanto um teste de DNA que ele, nã o
Julian, era seu pai. Mas ao contrá rio de sua mã e, ele nã o se parecia em nada com Hannah.
Seu rosto era comprido e bronzeado, enquanto o de Hannah era redondo e rosado, e seus
olhos... Ela ergueu o porta-retrato para distinguir a cor.
A porta do escritó rio se abriu.
Merda! Winter pensou que Hannah tinha saído porque tudo estava tã o quieto no
apartamento. Rapidamente, ela colocou a foto de volta na prateleira.
Mas o olhar de Hannah imediatamente se concentrou nela. Ela ficou parada na porta,
cada mã o segurando
 uma metade da porta, como se precisasse de apoio.
Por um momento, nenhuma das duas se moveu. Elas se olharam do outro lado da sala
e ocorreu a Winter que elas pareciam passar muito tempo fazendo isso.
Entã o a leve ruga na testa de Hannah alisou, e um sorriso iluminou seus olhos
castanhos.
— Minha família. — Ela apontou para a foto que Winter acabara de colocar. — Nã o é a
melhor foto deles, mas me ajuda a lembrar como meu irmã o, Wesley, parecia bobo com
aquele remendo de barba que ele tinha alguns anos atrá s, para que eu nunca me esqueça de
provocá -lo sobre isso. — Ela bateu no local sob o lá bio inferior.
Ajudá -la a lembrar? Winter ficou intrigado com a estranha maneira como Hannah
expressou isso. Ela nã o tinha problema de memó ria, tinha? Por que mais ela esqueceria
como seu irmã o era com o remendo da barba?
Antes que ela pudesse entender, Hannah atravessou a sala em direçã o a ela. — Deixa
ver se consigo encontrar uma foto melhor.
Como de costume, ela ficou um pouco perto demais para o conforto de Winter
enquanto pegava o telefone e percorria o que parecia ser centenas de fotos.
Para algué m que era tã o ruim em tirar fotos, ela com certeza tinha muitas!
Antes que Winter soubesse o que estava acontecendo, ela estava no meio de uma
versã o digital do á lbum de fotos da família, Hannah e sua irmã em algum tipo de barco, seu
irmã o sem o remendo da barba, seu pai segurando um peixe enorme, uma selfie de Hannah
e seus pais com as bochechas pressionadas uma contra a outra.
Hannah folheou fotos e mais fotos de aniversá rios com bolos caseiros, celebraçõ es de
Natal cheias de presentes sinceros, grandes reuniõ es familiares e abraços, sempre abraços.
Era como ver cenas de um filme francê s sem legendas. Winter nã o entendeu a maior
parte do que viu. Ela nã o conseguia se relacionar com isso. O lado paterno da família nunca
quis nada com ela porque sua mã e era “a outra mulher”. Ela també m nã o tinha estado perto
do lado materno. Sua avó tinha sido uma mulher muito religiosa que nunca perdoou a filha
por ter um caso com um homem casado ou deixou Winter esquecer que ela era o resultado
desse caso.
Finalmente, Hannah fez uma pausa. — Desculpe. Eu exagerei um pouco. — Ela
colocou o telefone no bolso e lançou um olhar de desculpas a Winter, entã o inclinou a
cabeça. — Você está bem?
— Sim claro. — Por que ela nã o estaria?
— Oh meu Deus! Eu sou uma idiota! Seu pai morreu recentemente e aqui estou eu,
mostrando fotos felizes de família! Oh, Winter, sinto muito. — Ela pô s a mã o, quente e
macia, no antebraço de Winter e acariciou o interior com o polegar.
Um arrepio percorreu o braço de Winter. Ela franziu o cenho para a mã o de Hannah,
afastou o braço e esfregou o local para enxugar o maldito formigamento. Nã o era o tipo
bom de formigamento, ela disse a si mesma. — Nã o precisa se desculpar. Fotos de família
nã o me incomodam.
Hannah enfiou as mã os nos bolsos da calça jeans como se precisasse resistir à
vontade de tocá -la novamente. A maneira como Hannah olhava para ela, tã o cheia de
compaixã o, era a razã o pela qual Winter havia parado de contar a algué m que seu pai havia
morrido. As pessoas esperavam que ela sofresse por algo que nunca teve.
— Tem certeza? — Hannah perguntou. — Se em algum momento precisar de algué m
para conversar, eu...
— Nã o — disse Winter asperamente. A ú nica família sobre a qual ela queria falar era a
de Hannah.
Hannah mordeu o lá bio e baixou o olhar.
Excelente.
 Agora ela se sentia como se tivesse chutado um cachorrinho.
— Hum, obrigada, no entanto. — Ela lutou para tornar sua voz menos á spera. Por que
ela se incomodou? — Entã o... família legal. — Ela acenou com a cabeça em direçã o à s fotos
na estante.
Um sorriso curvou os cantos da boca de Hannah. — Obrigada. Eles sã o ó timos. Talvez
você os conheça algum dia.
Não, obrigada. Nã o ter que conhecer a família de ningué m era um dos muitos
benefícios de ser solteira.
— Você nã o se parece muito com seu pai. Você nã o é adotada, é ? — Diplomacia nã o
era o seu forte, mas ela tentou agir com cuidado e fazer parecer uma piada, caso o cara na
foto fosse de fato o pai bioló gico de Hannah.
Hannah riu.
— Ah, nã o. Eu tenho suas incríveis habilidades fotográ ficas. — Ela apontou para outra
foto na estante, onde acidentalmente cortou metade da cabeça de sua irmã . — Mas todo
mundo me diz que pareço o lado da família da minha mã e. — Ela olhou para Winter com
curiosidade. — Por que o sú bito interesse em meus pais? Nã o que eu me importe. Eu
poderia falar sobre eles o dia todo, mas você nunca pareceu interessada no meu passado
antes.
Winter decidiu ser direta com o assunto. Ela finalmente precisava saber com certeza.
— Acho que só estou pensando em pais e imaginando se Julian poderia ser o seu.
— O quê ? Nã o! — Hannah recuou como se Winter a tivesse atingido. — Porque você
pensaria isso?
— Oh, vamos lá ! Ele deixou para você metade de uma propriedade multimilioná ria e
certamente nã o o fez por bondade de coraçã o, porque nã o tinha uma.
Os cabelos escuros de Hannah voaram ao redor de seu rosto enquanto ela balançava a
cabeça ferozmente. — Isso nã o é verdade, Winter. Ele...
— Deixe de besteira e finalmente me diga qual é a sua conexã o com Julian! Sexo?
Hannah deu outro passo para trá s como se estivesse se distanciando das palavras de
Winter e se chocou contra a estante. — Nã o, nã o, você entendeu tudo errado.
Desta vez, foi Winter quem nã o recuou para lhe dar espaço.
— Eu nã o acho. É um ou outro. Entã o, qual é ?
— Nenhum dos dois!
— Diga-me! — Winter se elevou sobre ela. Ela estava cansada de todas as mentiras e
meias-verdades em sua família. Ela queria saber, agora. — Qual deles? Amante ou...?
— Pare com isso! Pare de falar dele assim! Ele nã o era meu amante.
— O quê , entã o?
— Ele era meu cliente de abraços, ok?
O sangue rugiu nos ouvidos de Winter, tornando-a difícil de ouvir e foi por isso que ela
entendeu mal o que Hannah acabara de dizer. Pelo menos essa foi a ú nica explicaçã o que ela
conseguiu encontrar. — Seu o quê ?
Hannah caiu contra a estante como uma marionete cujas cordas foram cortadas. Ela
cobriu o rosto com as duas mã os e espiou Winter por entre os dedos. — Ah, merda.
***
Merda, merda, merda. Tanto para o pequeno discurso bem preparado que ela queria
fazer a Winter. As bochechas de Hannah queimaram sob suas palmas. Lentamente, ela os
afastou e se endireitou. Embora ela nã o tivesse a intençã o de deixar escapar assim, ela nã o
deixaria Winter intimidá -la ou abaixar a cabeça de vergonha. — Eu sou uma abraçadora
profissional.
A linha diagonal acima da ponta do nariz de Winter se enterrou mais fundo em sua
pele. Ela bateu na orelha como se nã o tivesse certeza se podia confiar em sua audiçã o. —
Você acabou de dizer... abraçadora? ABRAÇADORA?
Hannah sustentou seu olhar enquanto assentiu.
— Entã o você …? — Winter acenou com a mã o como se nã o pudesse sequer imaginar
o que uma abraçadora profissional poderia fazer.
— Eu ofereço aconchego para pessoas cujas necessidades de toque nã o estã o sendo
atendidas em suas vidas pessoais. — Havia muito mais em abraçar profissionalmente, mas
Hannah estava tentando nã o sobrecarregar Winter com muita informaçã o.
A linha entre as sobrancelhas de Winter nã o suavizou. — Você quer dizer... como...
como uma massagem com um final feliz?
Hanna suspirou. Nã o era a primeira vez que ela se deparava com essa suposiçã o e ela
tentou nã o deixar que isso a incomodasse. Nã o havia nada de errado com o trabalho sexual;
simplesmente nã o era o que ela fazia. Winter ao menos percebeu o quanto revelou sobre ela
que ela imediatamente associou carinho com sexo, como se fossem apenas preliminares e
nã o pudessem existir fora desse contexto?
— Nã o. O ú nico final feliz que ofereço é uma injeçã o de oxitocina — ela respondeu o
mais pacientemente que pô de. — É tudo completamente platô nico. As roupas ficam
vestidas o tempo todo e nã o há beijos ou toques nas á reas do biquíni.
— Huh. Eu nunca ouvi falar de algo assim. As pessoas realmente pagam por isso?
Seu tom crítico irritava
 os nervos de Hannah.
— Por que nã o? — Talvez agora fosse a hora de usar a lista cuidadosamente
selecionada que ela havia reunido para convencer Winter de quã o boa era a profissã o que
escolhera. — O abraço tem muitos benefícios para a saú de. Ele reduz seus níveis de
estresse e sua pressã o arterial e ainda estimula seu sistema imunoló gico. Alé m disso, faz
você se sentir seguro e cuidado.
— Tá bom. — Winter acenou com a mã o. — Mas se seus clientes acham que nã o
podem viver sem tudo isso, por que nã o arranjam uma namorada ou um namorado ou
pedem um abraço a um amigo?
— Porque nã o é tã o fá cil para todos. Alguns de meus clientes acabaram de passar por
um divó rcio ou uma separaçã o dolorosa, entã o ainda nã o estã o prontos para um novo
relacionamento. Outros lutam com baixa auto-estima ou estã o lidando com traumas, ou
nã o sabem como pedir à s pessoas em suas vidas o que precisam.
— Sim, mas... pagar um estranho por abraços?
— Por que nã o? As pessoas pagam para que algué m cozinhe uma refeiçã o para elas,
cuide de seus filhos, corte seus cabelos ou faça uma massagem. — Hannah olhou para ela
em um desafio silencioso. — Você os julgaria por isso?
— Oh, vamos lá . Dificilmente é a mesma coisa.
— Como nã o é ? Tudo faz parte de garantir que suas necessidades físicas e emocionais
sejam atendidas.
— Mas pagar para ficar de conchinha ou o que quer que você faça... Isso é só ...
Hannah ergueu a mã o para cortá -la. Ela nã o queria ouvir qualquer palavra que Winter
estava prestes a dizer.
— Sabe, eu percebi que as pessoas que zombam dos abraçadores profissionais
geralmente sã o aquelas que nunca experimentaram realmente o poder do toque.
Um canto da boca de Winter se ergueu em um sorriso lento e sensual.
— Oh, eu tenho muita experiê ncia com toque, acredite em mim.
Sua voz baixa e rouca causou arrepios na pele de Hannah. Ela lançou-lhe um olhar
severo, embora, verdade seja dita, estivesse mais irritada com seu corpo traiçoeiro do que
com a resposta de Winter. Winter transformando isso em uma piada sobre sexo era
previsível; sua pró pria reaçã o a esse tom esfumaçado... nã o foi. Ela manteve contato visual
enquanto dizia: — O toque é muito mais do que apenas dar a algué m um orgasmo, sabe?
O olhar frio de Winter vacilou e, por um momento, Hannah pensou que ela iria desviar
o olhar, mas entã o suas sobrancelhas se uniram e seu olhar passou de sensualidade latente
para gelo penetrante.
— Você realmente quer que eu acredite que Julian pagou a você , uma completa
estranha, para... para... abraçá -lo? — Uma risada incré dula explodiu dela com
  as duas
ú ltimas palavras. — Ningué m que o conhecesse acreditaria nisso nem por um segundo.
— Talvez seja por isso que ele veio até mim. Talvez ele nã o quisesse ser o homem que
você conhecia, pelo menos por um tempo e eu forneci essa fuga porque
 era uma completa
estranha. — Ela nã o estava quebrando a confidencialidade. Jules nunca falou sobre porque
ele veio até ela em vez de abraçar algué m em sua vida, mas ela tirou suas pró prias
conclusõ es e elas foram confirmadas com tudo que ela aprendeu sobre ele com Winter... e
com tudo que ela aprendeu sobre Winter. Ela tinha a sensaçã o de que esses dois eram mais
parecidos do que Winter queria admitir.
Winter bufou. — Besteira. Por que ele iria querer escapar da vida que criou? Sua
empresa, sua família, suas aventuras... Tudo estava exatamente do jeito que ele queria, com
ele controlando cada coisinha. Ele nã o queria mudar isso e certamente nã o queria um
abraço. Ele era tã o fofinho quanto um freezer e tinha a ternura de uma britadeira.
— As pessoas mudam, Winter.
— Na minha experiê ncia, elas nã o mudam. — O tom de Winter era duro e inflexível.
— Mas talvez ele quisesse. Você já pensou que ele poderia...
— Já pensou que talvez ele só estivesse brincando com você , tentando ver o que
poderia conseguir que você fizesse por dinheiro? Ele ainda está ! — Winter passou o braço
pela sala em um gesto que indicava todo o edifício.
Hannah abriu a boca para defender Jules, mas Winter ergueu as duas mã os, com as
palmas para fora, para interrompê -la novamente.
— Nã o se preocupe. Ele nã o era o cara legal que você está fazendo parecer. Se você
quer acreditar só porque ele te pagou para conquistá -lo, fique à vontade, mas você nunca
vai me convencer. — Winter deu meia-volta e saiu furiosa antes que Hannah pudesse dizer
outra palavra. Na porta, ela girou de volta. — Falaremos sobre essa coisa de abraço mais
tarde, porque realmente nã o tenho certeza se quero que isso aconteça no meu
apartamento.
— Essa decisã o nã o é sua! — O calor borbulhou dentro de Hannah até que ela pensou
que deveria estar saindo vapor de suas orelhas. — E nã o é o seu
 apartamento; é nosso
!
Mas Winter já havia desaparecido no corredor. A porta de seu escritó rio se fechou
atrá s dela.
Hannah inflou suas bochechas ardentes, entã o soltou um suspiro com um som
crepitante.
— Até que a conversa correu bem.
Capítulo 9
Na manhã de domingo, Winter foi correr para esticar as pernas e verificar seu
apartamento. Enquanto corria, ela tentou processar o que havia descoberto sobre o
trabalho de Hannah e seu relacionamento com Julian, mas tudo o que conseguiu foi uma
pontada na lateral de sua cintura porque havia acelerado sem perceber.
Mesmo quando ela estava voltando, ela ainda nã o conseguia entender tudo. Ela nem
sabia que abraços profissionais existiam. Claro, ela pesquisou no Google assim que fechou
a porta do escritó rio depois da discussã o do dia anterior. Uma busca rá pida resultou em
vá rios milhares de acessos, entre eles vídeos do YouTube com títulos sensacionalistas
como ``Eu abraço
 estranhos para viver''.
Ela havia lido alguns, mas ainda estava longe de entender o conceito. As pessoas até
iam a festas de abraços e se empilhavam umas sobre as outras como uma ninhada de
cachorrinhos! Para Winter, a ideia de combinar abraços e festas, duas coisas que ela nã o
suportava, era como pagar seus impostos enquanto estava no dentista. Por que algué m iria
querer pagar para se abraçar com um estranho... e nã o qualquer um, mas o desapegado e
controlador Julian! Ela nã o conseguia entender.
Sempre que ela tentava, imagens dele sendo embalado no abraço caloroso de Hannah
passavam por sua mente. Ela balançou a cabeça para se livrar dessa imagem mental e quase
tropeçou. Eca. Isso parecia tã o errado.
Mas pelo menos agora ela sabia que Hannah nã o era filha de Julian. Essa foi a ú nica
boa notícia em toda essa situaçã o confusa. Agora ela nã o precisava mais se sentir como
uma canalha que havia cobiçado sua meia-irmã . Hannah també m nã o poderia processar
por uma
 parte maior da herança. Nã o que Winter pensasse seriamente que ela faria isso,
mas quem diria? As pessoas faziam as coisas mais fora do comum quando havia dinheiro
envolvido.
Se isso nã o era uma opçã o, por que ela ainda estava pensando nisso? Hannah nã o era
filha de Julian. Caso encerrado. Nã o deveria importar se ela era a amante da velha raposa ou
algué m que ele pagou para receber abraços.
Winter aumentou o ritmo novamente, embora seus pulmõ es e mú sculos das pernas
queimassem.
 Enquanto ela subia a Columbia Street, seu pré dio de apartamentos apareceu.
Ela diminuiu a velocidade e notou os arredores pela primeira vez desde que saíra.
Com a aproximaçã o do final de maio, a primavera atingiu seu auge e a Cidade das
Rosas ganhou seu apelido. Rosas floresceram em todos os lugares, e os habitantes de
Portland estavam fora de casa, aproveitando o sol. As pessoas passeavam pelo parque à sua
esquerda ou sentavam-se nos bancos. Um casal até estendeu um cobertor na grama
manchada de sol e descansava sob o galho de um velho carvalho.
Winter virou a cabeça, nã o para assistir casais apaixonados, mas entã o olhou
novamente.
A mulher era Hannah! Ela estava enrolada de lado, com a cabeça apoiada no ombro do
homem, um braço pendurado na barriga dele e o cabelo escuro caindo sobre o peito dele.
O companheiro dela, um rapaz de cinqü enta anos, estava deitado de costas, sem
sapatos e com os pé s apoiados no cobertor. Suas panturrilhas e coxas formavam dois lados
de um triâ ngulo sob o qual Hannah havia deslizado seus joelhos dobrados.
Winter parou na esquina para deixar um carro passar e olhou para trá s por cima do
ombro.
A risada de Hannah ecoou pelo parque. Esse cara era o namorado dela e ela estava
honestamente se divertindo? Mais provavelmente, dada a diferença de idade, ele era um
cliente, talvez até mesmo algué m que ela nunca conheceu antes. Claro, parecia inocente o
suficiente, sem mã os errantes
 ou algo assim, mas o pensamento de abraçar um estranho
fez os cabelos da nuca de Winter se arrepiarem.
E Hannah estava fazendo isso em pú blico, ao ar livre, para todo mundo ver, do outro
lado da rua onde eles moravam! E se um de seus inquilinos a visse com este homem, entã o
a visse novamente com outro cara, ou uma mulher, alguns dias depois? Qualquer que fosse
a conclusã o que tirassem, ela tinha certeza de que nã o seria a impressã o que Winter queria
que eles tivessem sobre o co-proprietá rio do pré dio. Nã o era profissional e provavelmente
obscureceria
 a opiniã o deles sobre ela també m.
Essa coisa de abraços precisava parar.
Como se sentisse sua presença, Hannah
 ergueu a cabeça do ombro do homem e olhou
em sua direçã o.
Seus olhares se encontraram, o de Hannah aberto e vulnerável, provavelmente por
criar uma atmosfera acolhedora para seu cliente; O de Winter era cauteloso e afiado.
Hannah se encolheu, mas nã o desviou os olhos.
Por um momento, Winter també m se sentiu estranhamente vulnerável, como se
tivesse flagrado Hannah fazendo sexo. Oh, bobagem. Se alguém deve se sentir estranho, é ela.
Afinal, aquele era um espaço pú blico. Nã o era o lugar onde Winter queria ter esse
impasse, especialmente nã o com o cliente de Hannah ali. Ela esperaria que Hannah voltasse
para casa antes de confrontá -la. Abruptamente, ela se virou e correu pela rua.
***
Um formigamento estranho percorreu as costas de Hannah e nã o tinha nada a ver
com a leve brisa agitando as folhas da á rvore acima deles, ou com Matthew.
Ela o estava vendo pela primeira vez hoje.
— Apenas curioso para experimentar — disse ele quando ela perguntou o que o fez
procurar um abraço profissional durante o telefonema de triagem. Sua casualidade pareceu
forçada e ela sentiu que havia mais coisas que ele nã o estava dizendo.
Isso a deixou em guarda, entã o ela sugeriu um espaço pú blico para a primeira sessã o
e ele concordou prontamente.
No final das contas, ele era um cara doce, tentando muito ser charmoso e fazê -la rir.
Levou a maior parte da sessã o até que ele relaxasse e percebesse que nã o precisava
impressioná -la ou fingir que estava fazendo isso como uma coisa divertida ú nica, nã o algo
que ele desejasse profundamente. Ela tinha a sensaçã o de que ele estava reunindo coragem
para pedir o que realmente queria. Seu palpite estava em nele querer ficar de conchinha.
Muitos de seus clientes do sexo masculino eventualmente pediam e a maioria adorava
quando superavam a noçã o de que os homens deveriam ser a parte que abraça. Como é
triste que a sociedade ensinasse aos homens que eles deveriam ser os protetores e
raramente podiam desfrutar da sensaçã o de segurança de serem abraçados.
Era sempre um momento maravilhoso quando um cliente confiava nela o suficiente
para se tornar vulnerável ao perguntar. Mas para Matthew, isso nã o seria hoje.
E nã o enquanto algué m os estivesse observando. Observando-a.
Quando esse sentimento nã o foi embora, ela levantou a cabeça e olhou em volta.
Uma mulher com um par de calças de corrida pretas e uma camiseta cinza estava
parada na esquina da rua, seu corpo voltado para o pré dio de Hannah, mas sua cabeça se
virou para encará -la. Era Winter.
Normalmente, Hannah era ruim com rostos. Quando ela via uma pessoa que nã o
conhecia muito bem em um ambiente diferente ou usando um estilo de roupa diferente,
muitas vezes ela nã o a reconhecia ou nunca tinha certeza se era ela ou algué m parecido.
Mais de uma vez, ela passou por um vizinho quando os encontrou do outro lado da cidade.
Mas agora nã o havia dú vida em sua mente. Ela reconheceria Winter em qualquer
lugar, nã o apenas porque seu cabelo prateado ou seus penetrantes olhos azuis a
destacavam. Sua energia era inconfundível.
Assim como a maneira como ela olhou para Hannah. Elas nã o se falavam desde a
discussã o do dia anterior e agora seus olhares se chocavam como as espadas de dois
cavaleiros em luta.
O alarme do telefone de Hannah disparou, o canto dos pá ssaros sinalizando que a
sessã o logo chegaria ao fim. Ela desviou o olhar de Winter, estendeu a mã o e desligou.
— Temos mais quinze minutos antes de nossa sessã o terminar. — Ela manteve sua
voz suave e calma, apesar da tensã o que se insinuou em seu corpo ao ver Winter. — Existe
mais alguma coisa que você gostaria de experimentar?
— Podemos voltar para aquela posiçã o em que você esfregou minha cabeça? —
perguntou Mateus.
Hannah sorriu. — É claro. A propó sito, chama-se Colo da Luxú ria. — Ela se sentou e
deslizou para trá s até descansar contra o tronco da á rvore, entã o o ajudou a se acomodar
de lado, com a cabeça em seu colo. Assim que ele fechou os olhos, ela se permitiu espiar a
esquina.
Winter havia ido embora.
***
Quando Hannah destrancou a porta, o apartamento estava silencioso.
Ufa.
  Ela nã o esperava outro confronto. Depois de se concentrar intensamente nas
necessidades de seu cliente durante a ú ltima hora, tudo o que ela queria era um banho de
espuma, um pouco de sorvete e um bom livro, nã o necessariamente nessa ordem.
Ela foi direto ao freezer para pegar o sorvete de chocolate e amê ndoa que havia
comprado para emergê ncias.
Em vez de seu sorvete, ela encontrou algo totalmente diferente na cozinha.
Winter encostada ao balcã o, seu corpo longo e magro arqueado para trá s e o pescoço
exposto enquanto ela inclinava a cabeça para beber de uma garrafa de á gua. Ela estava
descalça e recé m-banhada, com uma camisa branca de botõ es agarrada à pele ainda ú mida
e os primeiros botõ es deixados casualmente abertos. Seu cabelo, molhado e penteado para
trá s, realçava suas marcantes maçã s do rosto e seus penetrantes olhos azuis.
Hannah
  engoliu em seco. Á gua. Ela realmente precisava de um pouco de á gua
també m porque sua boca estava tã o seca quanto uma tigela de farinha. Oh, vamos lá.
 Ela
tinha abraçado muitas mulheres bonitas e homens bonitos e nunca lutou para manter as
coisas platô nicas, entã o certamente a visã o de sua colega de quarto fazendo algo tã o
mundano quanto beber á gua nã o deveria afetá -la.
Winter baixou a garrafa de á gua. Seu olhar se concentrou em Hannah.
— Hum, oi. — Hannah procurou algo para dizer. — Boa corrida?
— Precisamos conversar — disse Winter em vez de uma resposta.
— Uau. — Hannah riu nervosamente. — Você já ouviu falar de conversa fiada para
facilitar uma conversa difícil?
Winter deu de ombros. — Ouvi falar. Mas por que desperdiçar meu tempo?
Ela nã o negou que elas estavam prestes a ter uma conversa difícil. Suspirando,
Hannah entrou na sala de jantar, puxou uma cadeira debaixo da pequena mesa e sentou-se
nela.
— Ok. Entã o, que tal aquele café que você me prometeu há alguns dias? —  Qualquer
coisa para dar a isso uma chance de se transformar em uma conversa calma em vez do
mesmo tipo de confronto que eles tiveram ontem.
— Tudo bem. — Em vez de apertar alguns botõ es, como Hannah esperava, Winter
iniciou um ritual complexo que incluía pesar os grã os em uma balança digital, socá -los até
que estivessem perfeitamente nivelados e colocar á gua quente na caneca para pré -aquecê -
la.
Pareceu levar uma eternidade até que o café expresso fluísse para a xícara.
A tensã o de Hannah aumentava a cada passo. Talvez houvesse algo a ser dito para
pular direto, afinal. Ela esperava que o ritual obviamente familiar tivesse pelo menos
relaxado Winter.
Por fim, Winter derramou o leite fervido na dose dupla de café expresso, sem se
preocupar com flores ou coraçõ es de espuma extravagantes, e deslizou a caneca sobre a
mesa.
— Obrigada. — Hannah
 agarrou a caneca com as duas mã os.
Winter sentou-se em frente a ela.
— Eu acho que você deveria parar com os abraços enquanto mora aqui — ela disse
antes mesmo de Hannah ter a chance de experimentar o café com leite.
Hannah empurrou a caneca para o meio da mesa.
— É o meu trabalho, Winter. Nã o posso simplesmente fazer uma pausa por trê s
meses, a menos que queira fazer uma pausa para comer e pagar as contas també m.
— Eu pagarei o que você ganhar…
O calor disparou no pescoço de Hannah.
— Nã o, você nã o vai! Nã o se trata apenas de dinheiro. Eu amo meu trabalho e nã o vou
abandonar meus clientes em um piscar de olhos só porque você nã o gosta.
Winter cruzou os braços sobre o peito.
— Isso nã o é só sobre mim. E os nossos inquilinos? Se eles virem você abraçada no
parque com uma pessoa diferente dia sim, dia nã o, eles vã o tirar todo tipo de conclusã o.
— Nã o, eles nã o vã o.
Winter sacudiu a cabeça com incredulidade.
— Você é realmente tã o ingê nua? Eles vã o pensar que você é ...
— Eles sabem que eu sou uma abraçadora profissional.
— Você disse a eles? — A voz geralmente profunda de Winter saiu aguda. — Por favor,
me diga que você nã o distribuiu panfletos! A menos que me deixe comprar sua metade do
pré dio, você será a futura proprietá ria deles, pelo amor de Deus! Você nã o pode abraçar
eles!
— Eu nã o vou — disse Hannah. — Nã o que dependa de você decidir com quem eu
posso e nã o posso abraçar. — Ela nã o precisava que Winter apontasse que misturar esses
dois papé is nã o era uma boa ideia.
— Entã o por que você sentiu a necessidade de contar a eles? — Winter perguntou.
— É uma das condiçõ es para obter uma licença de ocupaçã o de casa. —  Estritamente
falando, ela deveria ter contado a Winter també m, mas ela tinha se acovardado, porque ela
tinha um pressentimento de que Winter reagiria exatamente do jeito que ela estava agindo
agora.
— E? — Winter acenou para que ela continuasse. — Nã o me diga que eles ficaram
bem com isso.
— Teve uma ou duas sobrancelhas erguidas, mas a maioria achou muito legal. A Sra.
Kline até brincou que ela poderia vir a uma das festas de abraços que eu ofereço a cada dois
meses, embora eu nã o tenha certeza se foi realmente uma piada — Hannah respondeu. —
Você é a ú nica que parece ter um grande problema com isso.
— Sim, porque eu sou a ú nica que tem que dividir um apartamento com você ! Tenho
sé rias preocupaçõ es sobre todos esses estranhos entrando em minha casa.
— Nossa
  casa — disse Hannah. — E se eles fossem clientes de massagens, você
també m teria essas preocupaçõ es?
— É um ponto discutível. Mas eles nã o sã o. Só me deixa estranha saber que você está
aí — Winter apontou o dedo na direçã o da toca — fazendo o que quer que esteja fazendo
com eles.
Debaixo da mesa, Hannah enrolou os dedos no tecido da calça de ioga.
— Você viu o que eu estava fazendo no parque. Isso parecia inseguro ou obscuro de
alguma forma?
— Talvez nã o se ele fosse seu namorado. Mas ele é um estranho pagando você , pelo
amor de Deus! — Os cotovelos de Winter bateram com força na mesa, fazendo a caneca
chacoalhar. Ela se inclinou para frente e nivelou Hannah com um olhar desafiador. — E por
falar no seu namorado... O que ele acha de você se aconchegar com todos esses estranhos?
Tudo o que Hannah podia fazer era olhar com a boca aberta.
— Sé rio? Você sabe que estamos no sé culo XXI, nã o é ? As mulheres podem escolher
seu pró prio trabalho, sem precisar da permissã o de seu parceiro, nã o que eu tenha um no
momento.
— Entã o, o cara que ajudou você a se mudar...?
— Max? Ele é meu amigo. Bem, ele é meu ex també m, mas mesmo quando estávamos
juntos, ele nã o opinava. Nã o que ele fosse se opor. Ele é um abraçador profissional. Mas
mesmo que nã o fosse, nã o teria importâ ncia porque a escolha é minha. Minha! — Hannah
bateu no peito com o punho. — Ou você deixaria sua namorada lhe dizer que você nã o pode
trabalhar com marketing?
— Claro que nã o. Mas isso é diferente.
Hannah sabia que ela diria isso. — É ? Como assim?
— Porque configurar campanhas do Google AdWords para meus clientes nã o exige
que eu...
— Se preocupe com as pessoas? — Hannah atirou de volta. — Para formar uma
conexã o com outro ser humano?
A temperatura na sala de jantar parecia disparar enquanto elas se encaravam do outro
lado da mesa.
Se Hannah pensou que suas palavras atingiriam
 Winter e a fariam pensar, ela estava
errada. Winter continuou a olhá -la com uma expressã o de pedra que nã o revelava nenhuma
emoçã o alé m do aborrecimento.
— Deite em cima dos meus clientes. — O tom gelado do Winter baixou a temperatura
para um nível abaixo de zero. — Meu trabalho nã o requer nenhum tipo de contato corporal
ou intimidade física.
— Eu entendo que esse é o tipo de trabalho que você prefere e como você
provavelmente vive sua vida pessoal també m, mas nem todo mundo é assim. A maioria das
pessoas precisa de mais do que bons serviços de marketing. Elas precisam de toque e
conexã o humana, mesmo que seja apenas por uma hora. Se você nã o quer abraçar... tudo
bem. Mas você nã o pode tomar essa decisã o por mim ou por meus clientes.
— Oh, sim. Eu posso — respondeu Winter. — Pelo menos quando você está fazendo
isso no meu
 apartamento.
— É o nosso
 apartamento. Quantas vezes eu tenho que apontar isso? Alé m disso, eu
estava abraçada no parque e você també m nã o gostou disso. — Ok, essa conversa nã o
estava indo a lugar nenhum. Hannah
 respirou fundo, tentando se acalmar, mas nã o estava
ajudando. Winter pressionou todos os seus botõ es, fazendo-a querer arrancar os pró prios
cabelos de frustraçã o... ou estrangular Winter. — Eu entendo que você se ressente de ter
estranhos em seu espaço e que você acha que seu pai planejou essa situaçã o apenas para
torturá -la, mas quer saber? Todas as coisas de que você continua acusando Jules...
basicamente ele é um idiota frio e controlador... Bem, pense no que você está fazendo agora,
tentando me proibir de fazer meu trabalho. Se Jules realmente era assim, talvez a maçã nã o
tenha caído longe da á rvore.
Com uma gentileza que exigia todo o seu autocontrole, ela empurrou a cadeira para
trá s e se levantou. Ignorando o olhar ardente de Winter que parecia queimar suas costas,
ela caminhou para seu quarto e fechou a porta atrá s de si.
Porcaria. Isso estava se tornando um há bito.
***
Algum tempo depois, um toque familiar despertou Hannah de sua ansiedade.
Oh não! Valentina! Ela tinha estragado tudo, grande momento! Com o coraçã o batendo
descompassado, ela escancarou a porta e correu para o toque, que vinha da sala de jantar.
Seu telefone estava onde ela o havia deixado, em sua bolsa carteiro, pendurada na
parte de trá s da cadeira. Ela enfiou a mã o na bolsa, remexeu até encontrar o telefone e
passou o dedo pela tela antes que a ligaçã o caísse na caixa postal. — Deus, Valentina, eu
sinto muito, muito mesmo!
— Você está bem? — Sua amiga parecia frené tica.
— Sim, estou bem. Cheguei em casa sã e salva. Só esqueci de mandar uma mensagem
para você . — Ela deixou-se cair na cadeira e se encostou à s suas costas. Esta situaçã o com
Winter estava realmente a desequilibrando. Em seus cinco anos como abraçadora
profissional, ela nunca se esqueceu de checar com seu companheiro de segurança apó s
uma sessã o.
— Jesus Cristo
, Ana! Quase chamei a polícia quando nã o tive notícias suas! —
 Valentina exalou trê mula.
— Sinto muito — Hannah disse novamente. — Eu nã o queria te preocupar. Nã o
acredito que esqueci de ligar ou mandar uma mensagem.
— Você me deve uma bebida. Ou sorvete. — O velho sofá de Valentina rangeu quando
ela caiu sobre ele.
— Que tal os dois? Eu poderia usar uma noite de garotas.
— Sessã o difícil? — Valentina perguntou.
— Nã o é isso, nã o. O novo cliente foi ó timo. Ele pode até se tornar um regular.
Valentina fez um som de oh-pega-agora-no-flagra. — Tendo problemas com a colega
de quarto gostosa? Você ainda nã o está discutindo sobre o capacho, está ?
— Quem me dera. — Isso tinha sido divertido de uma forma estranha. Bater de cabeça
em algo que era tã o importante para ela quanto seus serviços de abraços, no entanto, nã o
era. Hannah olhou ao redor.
Winter se fora. Nem mesmo o rá pido clique-claque de seu teclado passou pela porta
de seu escritó rio. Apenas a caneca de café intocada que ainda estava no meio da mesa
provava que a conversa havia acontecido.
Hannah baixou a voz de qualquer maneira quando disse: — Ontem, eu deixei escapar
que sou uma abraçadora profissional e agora ela acha que pode me dizer para parar de ver
clientes até que os noventa e dois dias terminem.
Um suspiro alto reverberou pelo telefone. — Eu suponho que você conversou com ela?
— Mais ou menos. Eu entendo que ela está preocupada em ter estranhos no
apartamento e eu compartilhar algo tã o íntimo com eles. A maioria das pessoas nã o
consegue se imaginar fazendo isso. Mas ela nem me deu a chance de explicar meu processo
de triagem ou como o abraço profissional realmente funciona. — Hannah pegou o latte
abandonado e tomou um grande gole.
Ainda estava quente e a espuma de leite aveludada havia se desintegrado apenas um
pouco. Oh, sim. Ela engoliu em seco e tomou um segundo gole. Winter pode ser a colega de
quarto mais frustrante de todos os tempos, mas ela fez o melhor café com leite que Hannah
provou em anos.
— Talvez você devesse convidá -la para uma sessã o para que ela pudesse ver por si
mesma — disse Valentina.
Hannah pousou a caneca. — Nã o. Winter vaza desaprovaçã o por todos os poros.
Nenhum cliente conseguiria relaxar com ela na sala.
— Hum, eu nã o quis dizer convidá -la para assistir. Eu quis dizer
 convidá -la para ser
abraçada.
— Oh. — Ter Winter como cliente de abraço... Hannah nã o podia imaginar e, pela
primeira vez, nã o tinha nada a ver com sua afantasia. — Acho que ela prefere se mudar e
desistir da herança do que se aninhar em mim.
— Aww, você nã o é tã o ruim assim. — Valentina riu. — Mas, é claro, você nã o
consegue acompanhar minhas habilidades superiores de carinho.
— Ha ha. Se você acha que suas habilidades sã o tã o superiores, talvez seja você quem
deve apresentar Winter ao abraço profissional.
Um som de batida reverberou pelo telefone como se Valentina estivesse batendo as
unhas contra ele enquanto pensava na sugestã o de Hannah.
— Hum, nã o sei. Eu realmente gostaria de assinar um contrato que promete manter
as coisas estritamente platô nicas enquanto tenho sua companheira de quarto apertada
contra mim?
A campainha salvou Hannah de ter que responder, o que foi bom porque ela nã o tinha
ideia do que dizer sobre isso.
Ela prendeu a respiraçã o e ouviu, mas tudo estava quieto atrá s da porta do escritó rio
de Winter. Ou ela havia saído ou presumiu que fosse outro cliente de Hannah e estava
escondida em seu escritó rio ou no quarto.
Mas Hannah sabia que nã o poderia ser um cliente. Embora ela tivesse aberto uma
exceçã o para Matthew porque ele estava viajando a trabalho durante a semana, ela nã o
costumava se encontrar com clientes aos domingos.
A campainha tocou novamente, desta vez nã o uma, mas duas vezes, seguidas por uma
batida forte na porta. Claramente, seu visitante era do tipo impaciente. Um de seus vizinhos
deve tê -los deixado entrar.
— Eu tenho que ir — disse Hannah ao telefone. — Algué m está na porta. Desculpe
novamente por assustar
 
você .
 Ligue-me sobre fazer algo no pró ximo fim de semana, ok?
Assim que Valentina disse “
tchau
” e encerrou a ligaçã o, Hannah colocou o telefone na
mesa e foi até a porta. Ela abriu alguns centímetros, mas deixou a corrente de segurança no
lugar.
Uma estranha estava na frente dela, os bicos pontiagudos de seus sapatos de
aparê ncia cara enfeitando o tapete de boas-vindas azul liso. Ela olhou para a vegetaçã o à
esquerda e à direita da porta, entã o olhou para cima e arqueou as sobrancelhas
perfeitamente delineadas. — Boas plantas.
Hannah nã o tinha certeza se ela se referia à s plantas de flamingo ou aos cactos, ela e
Winter acabaram se comprometendo ao usar os dois. — Hum, obrigada.
Algo sobre a mulher era familiar, mas Hannah
  nã o conseguia identificá -la. Elas se
conheceram e ela esqueceu tudo sobre isso? Nã o seria a primeira vez que isso aconteceria,
mas algo sobre a estranha a fez pensar que ela se lembraria dela.
A pele lisa da mulher era tã o perfeita quanto sua saia lá pis, blusa de seda e blazer de
grife, todos provavelmente feitos sob medida para seu corpo esguio. Seu cabelo castanho,
preso atrá s de seu rosto de pele clara, brilhava como se ela tivesse acabado de sair de um
comercial de xampu.
A estranha deixou seu olhar vagar por Hannah em troca e ela sabia como ela deveria
parecer em comparaçã o, com seu cabelo despenteado e calças de ioga que se enrolavam
nos tornozelos e eram um pouco justas demais em torno de suas coxas robustas.
Mas o rosto da mulher nã o revelava nada enquanto ela vagarosamente arrastou seu
olhar de volta para os olhos de Hannah.
— Sou Brooke Lambert. Minha irmã está aqui?
Oh! Ooh! Ela era a irmã de Winter! Alé m de sua estatura, maçã s do rosto incríveis e o
fato de que nenhuma das duas parecia entender o conceito de vestir-se bem no fim de
semana, nã o pareciam ter muito em comum, nem mesmo o sobrenome. Bem, ambas
tinham um ar de autoridade, o que fez Hannah deslizar para trá s a corrente de segurança e
deixá -la entrar.
— Oi. Eu sou a Hannah. Hannah Martins. Tã o bom te conhecer. Nã o tenho certeza se
Winter está em casa. Deixe-me ver.
Hannah caminhou pelo corredor. Quando chegou à porta do escritó rio de Winter,
olhou para trá s.
Brooke a havia seguido. Ela parou atrá s de Hannah e olhou em volta como se fosse um
soldado em uma missã o de coleta de dados em territó rio inimigo. Ao ver a má quina de café
expresso de Winter, ela soltou um gemido de desaprovaçã o. — Entã o, ela falou lentamente,
como está a vida com minha querida irmã ?
O que ela deveria responder? Ela nã o conseguia entender Brooke e nã o tinha ideia de
que tipo de relacionamento ela tinha com a irmã . De jeito nenhum ela queria colocar Winter
em apuros dizendo a coisa errada.
Brooke riu roucamente. — Está indo tã o bem, hein? — Ela se inclinou para perto, tã o
perto que Hannah sentiu o cheiro de seu perfume sem dú vida caro. — Talvez meu pai tenha
feito você morar com a irmã errada.
Hannah notou duas coisas: primeiro, Brooke havia dito “meu pai”, nã o “Julian”,
fazendo-a se perguntar se ela era mais pró xima de Jules do que de Winter. E segundo, ela
estava flertando?
A porta do escritó rio de Winter se abriu, salvando Hannah de ter que responder.
— Meia-irmã .
Oh!
 Isso explicava os sobrenomes diferentes. Brooke tinha o sobrenome de Jules, mas,
por algum motivo, Winter nã o. Hannah se perguntou
  sobre a histó ria por trá s disso,
especialmente porque elas tinham mais ou menos a mesma idade, mas tinham mã es
diferentes.
Winter ignorou Hannah e olhou para Brooke com as sobrancelhas franzidas. — O que
você está fazendo aqui?
E Hannah achava que suas reuniõ es de família eram interessantes! Ela se virou para
poder olhar para frente e para trá s entre elas.
Já que Brooke era tã o alta quanto a irmã , pelo menos com seus saltos semi-altos, elas
ficavam quase nariz com nariz ou ficariam se Hannah nã o estivesse no caminho. Ambos
dirigiram seus olhares intensos para ela.
— Eu vou... hum… — Hannah apontou vagamente para o corredor, entã o saiu de entre
elas e correu para seu quarto. Quando ela o alcançou, ela olhou para trá s.
Winter acenou para que sua meia-irmã entrasse no escritó rio com um movimento
imperioso de sua mã o.
Hannah ficou olhando para elas. O que ela nã o daria para ser uma mosca na parede
para a conversa que estava prestes a acontecer na porta ao lado!
***
Brooke olhou ao redor do escritó rio como um juiz em um show de design de
interiores. Sua leitura foi curta porque Winter nã o gostava de distraçõ es em seu espaço de
trabalho, entã o nã o havia muito para ver, alé m de duas telas e seu MacBook Pro em um
suporte para laptop. Brooke sorriu para as paredes nuas.
— Gostei do que você fez com o lugar.
— Esquece essa besteira, Brooke. Você nã o está aqui para ver meu escritó rio ou para
flertar com minha colega de quarto, está ? — As paredes eram finas e Brooke nã o se
preocupou em baixar a voz, como se soubesse que iria aborrecer Winter se ela tentasse
suas falas chatas em Hannah. Nã o que ela se importasse com quem flertava com sua colega
de quarto temporá ria ou com quem Hannah flertava.
— Nã o posso apenas estar verificando minha irmã zinha?
— Pare de me chamar assim. O que você quer?
Sem ser convidada, Brooke se acomodou na cadeira de visitante, forçando Winter a
contornar a mesa e se sentar també m, a menos que ela quisesse pairar
 desajeitadamente
atrá s dela.
— Eu estava no escritó rio, atualizando algumas coisas, quando percebi que os sete
dias que previ que você duraria acabaram ontem — disse Brooke. — Entã o pensei em ver
se você está pronta para jogar a toalha.
Verdade seja dita, depois de sua briga com Hannah mais cedo, Winter quase ligou
para o advogado e disse que estava se mudando, mesmo que isso significasse abrir mã o de
seus direitos sobre o maldito pré dio. Nã o importa o quanto ela gostasse deste
apartamento, realmente valia a pena ficar infeliz por trê s meses? Mas duas coisas a
impediram: o Sr. Woodruff provavelmente nã o estaria em seu escritó rio em um domingo.
Mais importante, ela nã o queria dar a Brooke a satisfaçã o de estar certa e herdar sua
metade.
— ... ou se você conseguiu fazer a Sra. Martin fugir gritando — Brooke terminou.
— Eu gostaria — Winter murmurou. Hannah nã o desistiria e fugiria; ela já sabia disso
sobre ela. — Ela nã o é do tipo que grita.
Brooke soltou um assovio de lobo. — Uau! Entã o, se você sabe coisas tã o íntimas
sobre sua colega de quarto, isso significa que você s duas ficaram... pró ximas? — Ela
deslizou os dedos juntos em um gesto que provavelmente deveria indicar duas pessoas
fazendo sexo.
Pena que Winter nã o mantinha nenhuma bagunça em sua mesa. Ter um peso de papel
para jogar teria sido bom agora. — Nã o. Mas eu poderia, por cerca de oitenta dó lares a hora.
O ar de superioridade de Brooke vacilou por um momento enquanto ela piscava
rapidamente. — O quê ? De jeito nenhum! Quer dizer, ela é ...?
— Nã o! — Merda. Winter nã o pretendia dizer isso em voz alta. Ela passou os dedos
pelos cabelos. — Ela abraça.
— Que bom para você . Eu nã o pensei que você fosse do tipo aconchegante, no
entanto.
— Nã o comigo. Ela é uma abraçadora profissional.
Algumas linhas minú sculas se formaram na sobrancelha lisa de Brooke.
— Você quer dizer... como uma massagem com um final feliz?
Tinha soado como uma coisa idiota de se dizer quando ela perguntou o mesmo?
Winter rosnou.
— Nada como isso. É tudo completamente platô nico.
— Huh. Ela pode realmente ganhar a vida fazendo isso?
Winter deu de ombros.
— Parece que sim. Especialmente agora que Julian deu a ela metade de um pré dio
multimilioná rio.
— Espere. — Brooke colocou as duas mã os sobre a mesa, fazendo Winter franzir a
testa para os apê ndices ofensivos. — Você quer que eu acredite que nosso pai pagou uma
estranha para abraçá -lo e gostou tanto que basicamente a colocou em seu testamento?
Winter recostou-se na cadeira do escritó rio e nem tentou esconder o sorriso. Foi bom
ver Brooke desequilibrada para variar.
— Sim. De acordo com Hannah, essa é a conexã o. Ela era sua companheira de abraços.
Brooke ficou em silê ncio por um tempo, como se precisasse digerir a notícia. — Ela
poderia estar mentindo?
A tensã o voltou ao corpo de Winter. Ela balançou a cabeça com firmeza.
— Por que ela mentiria? Mesmo que ela tivesse um motivo, Hannah é muito esperta.
Você nã o acha que ela inventaria algo mais verossímil?
— Nã o sei. Mas tenho dificuldade em imaginar nosso pai... O que eles ficam fazendo
durante essas sessõ es? Ela abraça seus clientes por uma hora?
— Nã o faço idé ia. Nã o é como se eu tivesse marcado uma sessã o. Prefiro enfiar
palitos nas unhas do que abraçar algué m que mal conheço.
Um brilho surgiu nos olhos de Brooke.
— Hum. Talvez uma de nó s devesse. Marcar uma sessã o, quero dizer. Para ver se a
histó ria dela confere.
Winter lançou-lhe um olhar penetrante por cima da tela do computador.
— Você nã o vai fazer isso. — Só porque ela poderia ter matado Hannah alegremente
com as pró prias mã os antes, nã o significava que ela queria que Brooke brincasse com ela.
Apesar de sua espinha dorsal inesperada, Hannah era uma alma gentil. Ela nã o estava
acostumada com os jogos de manipulaçã o dos Lambert.
Brooke examinou suas unhas feitas.
— Ah, nã o sei. Tenho estado muito tensa ultimamente. — Ela revirou os ombros,
depois o pescoço. — Deve ser todas as horas extras que eu tenho trabalhado. Uma boa
sessã o de abraços soa como um deleite relaxante.
Winter se inclinou sobre a mesa.
— Eu juro por Deus, se você ao menos...
— Tudo bem. — Brooke ergueu as duas mã os. — Eu nã o vou. Você vai.
— O quê ? Nã o, eu...
— Ah, entendo. Você está assustada.
Winter bufou. — Sobre o quê ? De abraçar?
— Da intimidade — respondeu Brooke.
Winter cerrou os dentes com tanta força que os mú sculos da mandíbula doeram. —
Da ú ltima vez que olhei, você tinha um MBA, nã o uma graduaçã o em psicologia. Nã o tenho
medo de nada.
— Bem, entã o, qual é o problema?
Winter sustentou friamente seu olhar.
— Quem disse que há um problema?
— Se nã o houver problema, agende uma sessã o. Eu te desafio — Brooke prolongou as
ú ltimas trê s palavras.
Isso nunca levou a nada de bom, nã o quando Brooke dizia a ela ou vice-versa. Julian
sempre as colocou uma contra a outra, provavelmente acreditando que um pouco de
competiçã o saudável as estimularia
 a trabalhar mais e realizar mais na vida. Em vez disso,
fez com que ambas fossem incapazes de desistir de um desafio lançado pela outra, mesmo
que fosse a coisa mais razoável a se fazer.
Brooke tinha uma cicatriz no joelho de quando elas tentaram ver quem conseguia
descer uma colina mais rá pido e Winter nã o suportava sushi depois de comer um pedaço
de wasabi do tamanho de uma bola de golfe em um desafio de Brooke quando criança.
Quando adultas, elas quase sozinhas ajudaram uma organizaçã o LGBT a atingir sua meta de
arrecadaçã o de fundos porque tentaram superar o lance uma da outra em um leilã o.
Mas nã o desta vez. Desta vez, ela venceria Brooke em seu pró prio jogo. — Oh eu vou.
Brooke se levantou e caminhou até a porta. — Excelente.
— Vou marcar uma sessã o de abraços com Hannah — Winter acrescentou enquanto
Brooke estendeu a mã o para a maçaneta da porta — se você contratar uma assistente.
Foi uma batalha de uma dé cada entre Brooke e Julian e a ú nica coisa que Brooke
nunca desistiu. Ela sempre insistiu que nã o queria ou precisava de uma.
Brooke se virou como se estivesse em câ mera lenta.
Ha! Winter lançou-lhe um sorriso triunfante. Agora ela a tinha exatamente onde
queria, prestes a desistir.
— Combinado — Brooke disse calmamente.
— Achei que você veria meu p… — Entã o seu cé rebro captou o que Brooke acabara de
dizer. — O quê ?
— Você agendará uma sessã o de abraços. Eu vou contratar uma assistente.
— Você ... vai contratar uma assistente? Vou acreditar nisso quando vir!
Brooke deu a ela um olhar altivo.
— Oh, você verá , assim que você ligar para dizer que cumpriu sua parte do acordo. —
Sem sequer se despedir, Brooke saiu.
Os estalos agudos de seus saltos ecoaram de volta para Winter, misturando-se com o
sú bito rugido em seus ouvidos. Sua cabeça caiu para trá s contra o couro de sua cadeira de
escritó rio. O que diabos acabou de acontecer?

Capítulo 10
Imaginei! Hannah raramente fazia atendimento fora de casa. A maioria das sessõ es
aconteciam em seu apartamento, mas hoje ela havia ido à casa de uma cliente. Claro, aquele
tinha que ser o dia em que uma queda de energia interrompeu sua viagem na linha de
metrô . Ela chegou em casa meia hora depois do esperado.
Com um fugaz “oi”, ela passou correndo por Winter, que estava na cozinha aberta,
preparando uma salada e tirou a jaqueta a caminho do banheiro. Uma olhada em seu
reló gio confirmou que ela deveria ter tempo suficiente para um banho super rá pido. Ela
sempre tomava um antes
 da chegada de um cliente, certificando-se de que cheirava bem
sem ter que passar perfume.
A campainha tocou quando ela estava se enxugando.
Já nã o podia ser Summer, a primeira paciente da Dra. Dawn que ela concordou em
atender, nã o é ? Ela ainda tinha quinze minutos antes da sessã o e o site aconselhava os
novatos a nã o chegarem cedo porque seu abraçador ainda poderia estar com outro cliente.
Passos seguiram pelo corredor. Winter també m esperava um cliente?
Enquanto Hannah se esforçava para vestir o sutiã e a calcinha, ela se esforçou para
ouvir o que estava acontecendo lá fora.
Vozes passaram pela porta do banheiro. O tom baixo e levemente rouco de Winter era
inconfundível. Se a outra pessoa respondeu, ela nã o conseguia distinguir a voz, porque era
muito suave.
Merda, afinal era Summer? Quando elas conversaram no Skype alguns dias atrá s, ela
falou tã o baixinho que Hannah aumentou o volume para ouvi-la.
Hannah praticamente vestiu sua calça comprida e passou a camiseta pela cabeça.
Embora ela tenha saído do chuveiro apenas um momento atrá s, o suor brotou em suas
costas ao pensar em deixar sua cliente sozinha com Winter por um minuto sequer. Winter
usaria a oportunidade para assustar um de seus clientes? Deus, ela a mataria se ela fosse
uma bunda fria e hostil para Summer. Por favor por favor por favor. Não com esta cliente.
Summer reuniu toda a sua coragem para vir aqui e ficar fisicamente perto de outra pessoa
pela primeira vez depois de ser estuprada. Se Winter lhe enviasse um de seus olhares
gelados, ela poderia nunca mais voltar.
Hannah escancarou a porta e correu pelo corredor com os pé s descalços. No ú ltimo
segundo, ela diminuiu a velocidade para nã o assustar Summer.
Ela nã o precisava ter se preocupado. O corredor estava vazio de qualquer maneira.
Hannah juntou as mã os em punhos. O comportamento espinhoso de Winter fez
Summer recuar?
Entã o uma risada suave veio da sala de estar.
Isso era…? Isso nã o poderia ser. Winter nã o ria assim... ria? E Summer provavelmente
estava muito tensa, mesmo que ela ainda estivesse aqui.
Cuidadosamente, Hannah se aproximou e espiou a sala de estar.
A primeira coisa que viu foi Winter, empoleirada em um canto do sofá , com as costas
retas como uma vareta.
Summer estava sentada na outra ponta do sofá , as duas mã os segurando um copo
d'á gua com tanta força que seus dedos estavam ficando brancos.
Assim como Hannah queria correr e resgatá -la de Winter, Summer soltou o copo com
uma mã o, pressionou a palma da mã o na boca e caiu na gargalhada. —Sé rio?
Winter assentiu. Sua expressã o era sé ria, mas seus olhos brilhavam. Pela primeira vez,
suas íris azuis claras nã o pareciam tã o geladas. Entã o ela olhou para cima e viu Hannah e
seu olhar tornou-se cauteloso mais uma vez.
—Lá está ela —disse ela a Summer.
Hannah ficou maravilhada com o quã o gentil sua voz soava, muito mais gentil do que
ela já tinha ouvido antes. Ela nã o pô de deixar de olhar para Winter. Esse lado bom dela era
novo e intrigante. Ei, ela não é a cliente aqui! Foco em Summer! Com algum esforço, ela se
afastou de Winter.
— Olá , Summer. Prazer em conhecê -la pessoalmente. — Normalmente, ela oferecia
um abraço aos clientes, mas tinha a sensaçã o de que seria melhor começar devagar, entã o
estendeu a mã o.
Rapidamente, Summer colocou o copo de á gua ainda cheio na mesinha de centro e se
levantou. Ela limpou a mã o na calça jeans antes de apertar a de Hannah.
— Oi. Sinto muito por ter chegado cedo. Sei que as instruçõ es no e-mail que recebi
diziam para nã o aparecer antes do horá rio agendado, mas estava nervosa demais para
esperar do lado de fora.
— Tudo bem. Estou muito feliz por você ter vindo.
Elas acenaram uma para a outra.
Hannah apontou para a mochila que Summer tinha pendurado no ombro.
— Vejo que você trouxe roupas confortáveis ​para vestir. Nosso paraíso de abraços
está bem aqui. Ela abriu a porta de correr para que Summer pudesse ver o escritó rio. — Por
que você nã o se troca? Nã o tenha pressa e sinta-se à vontade para olhar em volta para se
sentir confortável com o espaço. Só me avise quando estiver pronta para eu entrar.
Depois que Summer entrou e fechou a porta atrá s dela, Hannah se virou para Winter,
que pulou do sofá .
— Eu vou, hum, dar-lhe um pouco de privacidade. — Winter passou pela porta de
correr sem olhar para ela, embora Hannah tivesse uma tela de bambu em um canto, para
que ela nã o fosse capaz de vislumbrar a sombra de Summer atravé s do vidro embaçado
enquanto ela se trocava.
Quem teria pensado que sua colega de quarto tudo-é -do-meu-jeito poderia ser tã o
atenciosa? Certamente nã o Hannah! Ela tocou gentilmente o braço de Winter enquanto ela
passava por ela.
— Obrigada — disse ela, significando muito mais do que apenas Winter dando-lhes
espaço.
Winter olhou para a mã o em seu braço, entã o deu um aceno severo e saiu.
Hannah ficou olhando para ela. Atenção a sua cliente!
 ela finalmente disse a si mesma.
Ela poderia tentar descobrir Winter Sullivan mais tarde, embora tivesse a sensaçã o de que
levaria muito mais tempo do que os oitenta e quatro dias restantes.
***
Embora Winter desejasse outro café na ú ltima meia hora, ela permaneceu em seu
escritó rio até ter certeza de que a cliente de Hannah havia partido.
Enquanto ela pré -aquecia
  o porta-filtro passando á gua quente por ele, Hannah se
arrastou e foi direto para a geladeira.
O que quer que tenha acontecido na sala, deixou Hannah pá lida e exausta, como se a
sessã o tivesse sugado toda a sua energia.
Winter hesitou. Ela olhou para o ú ltimo de seus caros grã os orgâ nicos Black Cat
Espresso. Finalmente, ela se deu
  um chute mental. — Quero um? Um café — ela
acrescentou rapidamente para que Hannah nã o pudesse confundi-la com uma oferta de
abraço novamente.
— Nã o, obrigada. Preciso de algo mais forte.
Mais forte? Winter arqueou as sobrancelhas. Ela nem sabia que Hannah guardava
bebidas destiladas na geladeira.
Em vez disso, Hannah tirou um pote de sorvete de café do freezer e o colocou sobre a
mesa.
Ah.
 Isso era algo mais forte no livro de Hannah? Winter sorriu. O que Hannah fazia
quando bebia, adicionava chantilly e confeitos?
O braço de Hannah roçou o quadril de Winter enquanto ela abria a gaveta ao lado dela
e pegava uma colher.
A pele de Winter aqueceu mesmo atravé s do tecido de suas calças. Ela avançou para o
lado, longe do toque casual e empurrou o porta-filtro.
A má quina começou a moer assim que Hannah disse algo. Em vez de gritar para se
fazer ouvir, Hannah afundou em uma cadeira e esperou. Quando o barulho finalmente
parou, ela repetiu: — Obrigada.
Winter fez uma pausa com o filtro na mã o e a olhou. — Pelo quê ?
— Por nã o assustar Summer. Por convidá -la para entrar e oferecer-lhe um copo d'á gua
e... bem, ser gentil com ela.
Era assim que Hannah a via? Como uma pessoa que precisava ser agradecida por nã o
chutar algué m que obviamente já estava caído?
E daí se era isso que Hannah pensava? Ela nã o se importava. Nã o deveria se importar.
Winter enfiou o filtro no pó de café e jogou o porta-filtro no balcã o. Droga, ela se importava.
Ela se virou para encará -la. — Claro que fui legal! Summer estava tã o nervosa que tremia.
Você realmente esperava que eu fosse uma idiota com ela? Eu nã o sou Julian, ok?
Hannah baixou a colher cheia de sorvete.
— Nã o, eu... isso nã o é ... eu nã o pensei nisso, mas… — Ela respirou audivelmente,
entã o soltou o ar de volta. — Ok, talvez eu tenha pensado. Você nã o me deu exatamente um
motivo para pensar que receberia bem qualquer um dos meus clientes. Você deixou bem
claro que nã o os quer no apartamento.
— E eu nã o quero — disse Winter. Depois de um instante, ela acrescentou — Mas
Summer… — O rosto pá lido da jovem passou por sua mente. Ela parecia tã o frá gil, como se
a palavra ou movimento errado pudesse fazê -la quebrar. O tipo de amor e carinho que
Hannah ofereceu podia ser exatamente o que Summer precisava. — Nã o conheço a histó ria
dela, mas ela parecia precisar de você .
— Todos eles precisam, Winter. Nem todo mundo precisa de mim pelo mesmo
motivo, mas gosto de pensar que estou fazendo a diferença para todos os meus clientes. —
Hannah olhou em seus olhos e uma estranha mistura de suavidade e aço se misturaram em
sua expressã o.
— Seu sorvete está derretendo — disse Winter para que ela nã o desviasse o olhar
primeiro.
Uma sugestã o de sorriso apareceu nas bochechas de Hannah, como se ela soubesse
exatamente o que Winter estava fazendo, mas ela dirigiu sua atençã o para a caixa. Ela girou
a colher no sorvete, entã o enfiou um grande pedaço na boca direto da vasilha. Seus lá bios
se fecharam ao redor da colher com um suspiro suave e seus olhos se fecharam.
Lentamente, com os olhos ainda fechados, ela deslizou a colher. Um pontinho rebelde de
sorvete permaneceu em seu lá bio inferior e ela passou a língua sobre ele, lambendo-o.
O calor subiu sob a gola da camisa de Winter. Jesus. Talvez elas precisassem de uma
lista de coisas que Hannah nã o tinha permissã o para fazer enquanto dividiam um
apartamento. Ela ainda estava lutando para decidir se abraçar estranhos deveria estar
nessa lista; no entanto, comer sorvete de forma tã o sedutora ficava entre os trê s primeiros.
Bem, pelo menos agora ela sabia que nã o estava cobiçando sua meia-irmã . Mas
Hannah ainda estava fora dos limites, nã o importa o quã o sexy ela parecia comendo
sorvete. Com certeza ela era do tipo que preferia para sua vida amorosa incluir todos os Cs:
carinhos, conversas, compromisso, carinho. Os ú nicos Cs que Winter queria de seus
relacionamentos, se é que se podia chamá -los assim, eram coito, clímax, controle,
companhia casual e conveniê ncia.
Hannah ergueu os olhos de sua guloseima. — Quer um pouco? — Ela empurrou o pote
de sorvete para o meio da mesa, mais perto de Winter.
— Nã o, obrigado. — Winter deu meia-volta, trancou o porta-filtro no lugar e apertou o
botã o para um expresso duplo. — O que aconteceu com ela? — ela perguntou enquanto
estava de costas. Droga.
  Ela nã o tinha a intençã o de perguntar isso, embora ela,
reconhecidamente, estivesse curiosa. Mas agora que ela havia deixado escapar, ela poderia
muito bem seguir em frente e descobrir. — Com Summer. Por que ela estava com tanto
medo?
— Sinto muito, Winter, mas nã o posso te dizer isso. Ela é uma cliente e merece ter sua
privacidade protegida.
Essa nã o foi uma resposta satisfató ria, mesmo que Winter a respeitasse por proteger
Summer. — Eu simplesmente nã o entendo. Por que ela agendaria uma sessã o de abraços
quando nã o é algo que ela queira fazer?
Hannah inclinou a cabeça.
— O que faz você pensar que ela nã o queria?
— Vamos! A ideia claramente a assustou demais!
— Eu nã o estou falando sobre Summer especificamente aqui, mas... você nunca quis
algo, mesmo que isso te assustasse até a morte?
Winter virou-se, tirou a caneca da balança e girou o creme enquanto pensava nisso.
Ela queria muitas coisas em sua vida, obter um diploma de marketing, pagar a faculdade
sem aceitar um centavo do dinheiro de Julian, estabelecer-se como a consultora preferida
de startups de tecnologia no Noroeste. Nada disso a tinha assustado. Ela havia estabelecido
seus objetivos e, em seguida, agiu para alcançá -los. Era tã o simples quanto isso. — Nã o.
— Que pena — disse Hannah. — As coisas que mais nos assustam sã o muitas vezes as
coisas de que mais precisamos. Talvez você nã o tenha...
— E você ? — Winter perguntou para impedi-la de se aprofundar em sua vida pessoal.
— Você já quis algo que te deixou morrendo de medo?
Hannah riu.
— O tempo todo. Decidir deixar a maioria dos meus clientes de massagem
terapê utica para que eu pudesse ser uma abraçadora profissional me assustou muito. Mas
era importante para mim, entã o fiz mesmo assim. — Ela deslizou outra colherada de
sorvete em sua boca e sustentou o olhar de Winter enquanto engolia. — Eu nã o vou deixar
você me assustar para desistir també m. Adoraria ter sua aprovaçã o, mas nã o preciso de sua
permissã o para continuar atendendo meus clientes.
Eles estavam em uma encruzilhada. Winter poderia se recusar a dar sua aprovaçã o e
tornar as coisas o mais difíceis possível para Hannah. Mas o que isso alcançaria, alé m de
deixar clientes como Summer desconfortáveis? Ela nã o era um monstro. Talvez realmente
houvesse pessoas que pudessem se beneficiar dos serviços de carinho que Hannah
oferecia.
Ela deu de ombros e bebeu o expresso duplo como se fosse uma dose de tequila.
— Faça o que você quiser. Tenho coisas mais importantes a fazer do que continuar
tendo discussõ es infrutíferas com você .
Um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Hannah.
— Isso significa que tenho sua aprovaçã o?
— Eu nã o disse isso.
— Sua desaprovaçã o, entã o? — O sorriso de Hannah se alargou em um sorriso.
Winter lutou para evitar que seus pró prios lá bios se curvassem
 em um sorriso como
resposta. — Qualquer que seja. — Ela se virou e começou a limpar o porta-filtro para
sinalizar o fim da conversa.
Hannah continuou sentada à mesa, o silê ncio entre elas interrompido apenas por seus
ocasionais murmú rios de apreciaçã o e gemidos enquanto ela devorava seu sorvete.
Finalmente, Winter colocou sua caneca na má quina de lavar louça e voltou para seu
escritó rio.
— Winter, espere. — Hannah colocou a tampa de volta no recipiente. — Há uma
ú ltima coisa que eu gostaria de saber.
Winter enrijeceu, mas acenou para que ela continuasse.
— O que você disse para Summer mais cedo para fazê -la rir?
Summer se apresentou e comentou sobre o fato de que ambas tinham primeiros
nomes inspirados na estaçã o
[1]
, entã o Winter contou a ela a histó ria de como ela
conseguiu seu nome. De jeito nenhum ela contaria a Hannah, no entanto. Isso
desencadearia instantaneamente mais perguntas sobre a histó ria de sua família. —
Desculpe. Nã o posso dizer — disse Winter com uma expressã o sé ria. — A privacidade dos
clientes deve ser protegida e tudo mais.
— Mas... mas... ela nã o é sua
 cliente!
Winter marchou para seu escritó rio e quando Hannah nã o podia mais ver seu rosto,
finalmente se permitiu sorrir.

Capítulo 11
O telefone de Winter tocou pela terceira vez na ú ltima hora. Ela salvou a campanha
eletrô nica em que estava trabalhando e deu uma olhada no identificador de chamadas.
Era Brooke.
Nenhuma surpresa nisso. Ela ligou e mandou e-mails para Winter pelo menos uma
dú zia de vezes desde o maldito desafio quatro dias atrá s.
Winter passou o dedo pela tela com um movimento como se estivesse cortando a
garganta de Brooke.
— Jesus, Brooke. Você poderia parar de me ligar? Estou trabalhando!
— Eu nã o precisaria continuar ligando se você já tivesse me enviado o e-mail de
confirmaçã o.
— Que e-mail de confirmaçã o?
— Aquele que confirma que você reservou uma sessã o de abraços — disse Brooke. —
Ou você está desistindo do desafio e admitindo a derrota?
O desafio foi a coisa mais absurda desde a invençã o do golfe e dos alvos infláveis. Mas
recuar nã o era uma opçã o.
— Nã o estou admitindo nada. E você ? Você també m nã o me enviou o currículo de sua
nova assistente. Admita, você está ligando porque espera que eu esteja enfraquecida para
que você nã o tenha que continuar com isso.
— Ah! Se projetando muito?
— Eu? — Winter forçou uma risada sarcá stica. Verdade seja dita, ela esperava
 secretamente que Brooke desistisse para que ela nã o tivesse que marcar uma sessã o de
abraços, mas ela nunca iria admitir isso. — Nah, apenas tentando ser atenciosa. Afinal de
contas, minha parte no desafio estará concluída em sessenta minutos, enquanto você pode
ficar presa com sua nova assistente por anos.
Brooke ficou em silê ncio por um tempo.
Ela deixou cair o telefone ou congelou de horror com a ideia de ter que trabalhar com
uma assistente por tanto tempo? Winter sorriu ao telefone.
— Nã o necessariamente — disse Brooke finalmente. — A ú nica assistente que eu já
tive pediu demissã o no segundo dia. Se eu sou lu... quero dizer, infelizmente, nã o posso
descartar que algo assim possa acontecer novamente.
— Oh nã o. Se eu tiver que passar por toda a sessã o de abraços, você terá que trabalhar
com aquela pobre alma por pelo menos... digamos... noventa e dois dias.
— Noventa e dois dias? — Brooke parecia ter acabado de receber uma sentença de
prisã o perpé tua. — Como isso se compara a uma mera hora de abraços?
— Tem medo de nã o aguentar tanto tempo? — Winter perguntou.
— Claro que nã o — Brooke respondeu com altivez.
— Entã o qual é o problema? Se eu posso viver com Hannah por noventa e dois dias,
você pode trabalhar com uma assistente pelo mesmo tanto de tempo. Pelo menos você nã o
terá que dividir o banheiro com ela.
A longa exalaçã o de Brooke foi filtrada pelo telefone. — Tudo bem — ela finalmente
disse. — Eu vou fazer isso. Vou contratar algué m assim que você marcar sua sessã o.
— Por que eu tenho que ir primeiro?
— Porque encontrar uma assistente que seja meio competente leva tempo — disse
Brooke em tom paternalista, como se explicasse o ó bvio para uma criança de trê s anos. —
Você já conhece a abraçadora que deseja reservar, entã o vá em frente e faça isso.
— Como eu sei que você vai cumprir sua parte no acordo e nã o apenas
convenientemente esquecer de contratar uma assistente? — Uma vez, em um momento de
fraqueza, ela confiou em Brooke... e foi gravemente ferida.
— Ah, vamos — disse Brooke. — Quando você já me viu voltar atrá s na minha palavra?
Winter bufou.
— Quando você prometeu que nã o contaria a Julian sobre o pré dio que me
interessava.
— Eu nã o contei! — Brooke perdeu a calma e estava gritando agora. — Quantas vezes
eu tenho que te dizer que nã o fui eu?
— Certo — disse Winter com voz arrastada. — Deve ter sido eu, entã o, porque nó s
duas é ramos as ú nicas que sabíamos que eu queria comprar o pré dio, exceto meu corretor
de imó veis, que nem conhecia Julian.
— Tudo bem, entã o nã o acredite em mim. Eu nã o me importo. Agora pare de protelar
e reserve aquela sessã o de abraços ou eu irei. — Brooke encerrou a ligaçã o sem se despedir.
Merda. Conhecendo Brooke, ela marcaria uma sessã o, só para mexer com ela. O
pensamento de sua meia-irmã abraçada a Hannah, passando um braço ao redor dela e
colocando a cabeça nos seios fartos de Hannah fez o interior de Winter revirar.
Nã o era ciú me ou algo assim. Saber que Hannah tinha abraçado Julian já era estranho
o suficiente. Alé m disso, Brooke era um pedaço do velho quarteirã o, e Winter nã o queria
sujeitar Hannah a abraçar uma idiota tã o imprudente, mesmo que isso significasse marcar
uma sessã o ela mesma.
Na segunda-feira, quando Summer apareceu em sua porta, a jovem estendeu o cartã o
de visita de Hannah como um ingresso e Winter deu uma olhada na URL
[2]
.
Agora ela digitou em seu navegador.
O site Abraços Experts apareceu e Winter clicou em encontrar um carinho profissional
 e, em seguida, escolheu sua cidade em um menu suspenso.
Aparentemente, Portland tinha seis abraçadores profissionais. Cada um foi listado
com uma breve introduçã o e uma foto. Winter reconheceu trê s amigas de Hannah que a
ajudaram a se mudar. Entã o todas eram abraçadoras profissionais? Isso explicava por que
elas eram tã o malditamente sensíveis.
No final da pá gina, Hannah sorriu para a foto dela na tela. A pessoa que tirou a foto
devia ser sua parente porque tinham as mesmas habilidades fotográ ficas horríveis. Algué m
realmente deveria dizer aos Martins que a luz fluorescente de cima nã o era lisonjeira. Ainda
assim, o sorriso de Hannah era caloroso e sua postura aberta e acolhedora.
Winter clicou em um link para ver seu perfil. O cabeçalho dizia Hannah, abraçadora
certificada,
  sem mencionar seu sobrenome. Enquanto rolava os blocos de texto, ela nã o
pô de deixar de pegar mentalmente uma caneta vermelha e criticar o que havia de errado
com a pá gina do ponto de vista do marketing. Ele continha muitas informaçõ es, o que
poderia sobrecarregar os clientes em potencial e dificultava a localizaçã o da chamada à
açã o.
Você está protelando. Ela não é sua cliente; você será dela.
Seu peito apertou com o pensamento. Ela estava realmente fazendo isso? Reservar
uma abraçadora e nã o apenas qualquer. Ela estaria se aconchegando em Hannah. Por um
momento, ela pensou em voltar para a pá gina principal e escolher outro profissional de
carinho. Abraçar um completo estranho parecia ser mais fá cil porque era anô nimo. O que
quer que acontecesse durante aquela hora, ela nã o teria que ver a pessoa nunca mais. Sem
expectativas, sem complicaçõ es. Mais ou menos como um caso de uma noite, só que sem
sexo.
Hum. Era por isso que os clientes de Hannah pagavam para abraçá -la em vez de pedir
a algué m que eles conheciam?
Infelizmente, contratar outra pessoa nã o era uma opçã o para ela. Brooke esperava que
ela marcasse uma sessã o com Hannah e provavelmente a faria passar por toda a provaçã o
uma segunda vez se descobrisse que Winter havia se abraçado com outra pessoa.
Suspirando, ela rolou para baixo até encontrar o botã o de solicitação de sessão de
abraços
.
Um formulá rio apareceu. Os primeiros campos foram fá ceis de preencher: nome, e-
mail e a duraçã o da sessã o que ela queria. Winter escolheu rapidamente o mínimo,
sessenta minutos.
A próxima pergunta a fez soltar uma risada sem humor. Onde você gostaria que a sessão
de abraços acontecesse? Você gostaria que seu abraçador viesse para sua casa ou preferia se
aconchegar no local do abraçador?
A pergunta "sua casa ou minha" nã o era necessá ria neste caso. Ela digitou em seu
lugar.
 De jeito nenhum ela convidaria Hannah para seu quarto. A toca teria que servir.
Ela rolou para a próxima pergunta. O que você está procurando com essa experiência?
Winter tamborilou com os dedos na lateral do teclado. O que ela poderia escrever,
alé m de Acabar logo com isso para que eu não pareça uma covarde na frente da minha meia-
irmã
? Ela devia digitar algumas das palavras-chave do perfil de Hannah, como
experimentar um toque nutritivo
? Mas a empresa provavelmente enviaria um e-mail para
Hannah com as informaçõ es do formulá rio, e ela saberia instantaneamente que era uma
besteira completa.
Por fim, ela digitou Experimentando uma sessã o de abraço profissional e deixou por
isso mesmo
.
O ú ltimo campo do formulá rio era uma caixa de seleçã o, onde ela deveria confirmar
que havia lido o có digo de conduta.
Havia um có digo de conduta para abraços? Winter clicou no link e examinou uma
pá gina cheia de regras que basicamente diziam:
Nã o buscar excitaçã o sexual.
Nã o toque nas á reas dos trajes de banho.
Nada de tocar sem antes pedir consentimento.
Sem tirar a roupa ou colocar a mã o sob a roupa.
Sem beijos.
Nada de aparecer sem cuidar da higiene pessoal.
Nada de á lcool ou drogas.
Winter acenou com a cabeça para cada um. Verificado, verificado, verificado,
verificado, verificado e verificado. Apenas o ú ltimo foi uma chatice. Ela poderia ter bebido
um ou dois drinques antes para sobreviver à sessã o.
Ela clicou na caixa de seleçã o para confirmar que leu as regras e escolheu dinheiro
 como opçã o de pagamento. Com o cursor pairando sobre o enviar formulário
 , ela hesitou.
Vamos. Você já segurou uma mulher antes. É verdade, mas nã o por uma hora e nunca algué m
como Hannah, mas quã o difícil poderia ser? Era apenas abraçar e ela era a cliente, entã o ela
teria controle total.
Uma ú ltima respiraçã o profunda e ela deu um toque firme no botã o esquerdo do
mouse.
Uma janela apareceu. Dizia: Obrigado por preencher seu formulário de solicitação de
abraço. Seu abraçador profissional entrará em contato com você para agendar uma breve
conversa gratuita por telefone ou vídeo para garantir que vocês sejam adequados um para o
outro.
Oh.
 Haveria uma ligaçã o pré -abraço? O objetivo era rastrear os clientes para garantir
que nenhum maluco aparecesse na porta do abraçador?
Bem, como ela e Hannah já se conheciam, elas poderiam pular essa parte do processo
e ir direto para a sessã o de carinho.
Winter deu um tapa em sua testa. Me mate agora.
***
Hannah riu para si mesma enquanto deslizava um par de jeans pretos pelas pernas e
pelos quadris. Depois de usar principalmente calças de ioga e pijamas a semana toda,
colocar calças de verdade era como se vestir para uma ocasiã o especial, mesmo que ela só
estivesse indo para o bar com as amigas.
Ela ainda nã o tinha trazido todas as suas roupas, mas pelo menos isso també m
significava que nã o levaria uma eternidade para escolher o que vestiria. Uma camisa branca
estava definitivamente fora de moda, já que ela levaria dez segundos para tirar manchas da
comida do bar nela. Algo verde apareceu em uma pilha de camisetas, perfeito para uma
noite em um pub irlandê s. Ela puxou a blusa de gola canoa com mangas trê s-quartos e a
enfiou pela cabeça.
Depois de vestida, ela ainda tinha quinze minutos para matar até que Valentina,
Tammy e Max a pegassem, entã o ela se sentou na cama e verificou a caixa de entrada do
telefone.
Ela tinha trê s novos e-mails, um deles de sua mã e. A linha de assunto dizia Vídeo do
dia
. Era garantido que continha um link para um vídeo de um galo cantando até desmaiar
ou algo assim. Sua mã e sempre compartilhava suas pequenas descobertas hilá rias com
Hannah e seus irmã os. Ela assistiria mais tarde.
Por enquanto, os outros dois e-mails chamaram sua atençã o. Eram da Abraços
Experts, enviando a ela as informaçõ es de dois novos clientes em potencial que haviam
preenchido o formulá rio no site da empresa.
Finalmente! Esses foram os primeiros novos clientes que ela conseguiu durante toda
a semana. O abraço profissional ainda era uma indú stria relativamente nova, por isso nã o
era fá cil ganhar a vida com isso, especialmente porque a Abraços Experts recebia uma
parte de cada sessã o.
Ela abriu o primeiro e-mail e rolou para baixo para ler a resposta da ú ltima pergunta
do formulá rio, que revelava se seus serviços eram realmente o que o cliente procurava. Eca.
  Isso nã o parecia promissor. Ele respondeu à pergunta sobre suas expectativas
perguntando se ela poderia usar um biquíni para a sessã o.
É, não. Pedidos como esse geralmente eram uma bandeira vermelha indicando que o
cliente esperava algo sexual e nã o ficaria feliz com seu serviço estritamente platô nico.
Ela responderia a ele amanhã , deixando claro o que ela estava e o que nã o estava
oferecendo e isso provavelmente seria o fim.
Suspirando, ela abriu o segundo e-mail e novamente pulou direto para a ú ltima
pergunta.
Experimentar uma sessão de carinho profissional, o cliente respondeu.
Ok, isso nã o disse a ela um monte de nada. Ela rolou até o nome da pessoa. Talvez ela o
reconhecesse de uma das festas de abraços que ela organizou.
Winter Sullivan? Que porra?
Isso nã o poderia ser uma coincidê ncia. Poderia haver mais de uma Winter Sullivan na
á rea de Portland? Certamente que nã o.
Seu corpo ferveu. Com os dedos cerrados ao redor do telefone, ela deu um pulo e
marchou pelo corredor até o escritó rio de Winter. Um rá pido toque com o punho, entã o ela
entrou sem esperar por um “entre”, sem se importar se Winter estava em uma ligaçã o.
Ela nã o estava. O escritó rio estava vazio.
Hannah se virou e foi para o quarto de Winter, o ú nico outro lugar que Winter poderia
estar se ela estivesse em casa. Ela repetiu a batida forte na porta, entã o a abriu.
Ah! Lá estava ela!
E ela estava nua. Ok, seminua.
Um par de calças pretas estava abaixo dos quadris estreitos de Winter. O fino cinto de
couro preto enfiado nas presilhas estava aberto, e ela nã o estava usando camisa ou sutiã .
Sua pele clara brilhava sob as luzes do quarto. O olhar de Hannah percorreu a barriga lisa de
Winter até chegar à toalha pendurada em seus ombros nus, captando as gotas de á gua que
pingavam de seu cabelo molhado. Era uma toalha relativamente pequena; suas pontas mal
cobriam os mamilos de Winter, expondo a curva inferior de seus pequenos seios.
Uma nova onda de calor percorreu o corpo de Hannah e, ​desta vez, nã o tinha nada a
ver com raiva. Por um momento, ela até esqueceu que estava com raiva.
Entã o Winter cruzou os braços sobre os seios nus, mais em uma pose indignada do
que tentando se cobrir, e olhou para ela.
— Viu o suficiente ou gostaria de tirar uma foto?
— O-o quê ? Nã o, eu-eu… — Merda, ela estava olhando! Tardiamente, Hannah se virou
e cobriu os olhos com o antebraço. Suas bochechas queimaram.
O som de pé s descalços no chã o de madeira se espalhou pela sala, indo em direçã o à
cô moda, que ficava bem ao lado da porta, onde Hannah estava congelada. Uma gaveta se
fechou. Com um plop, alguma coisa, provavelmente a toalha, caiu no chã o.
Hannah engoliu em seco. Sua incapacidade de formar imagens mentais era uma
bê nçã o ou uma maldiçã o agora?
— Por que diabos você invadiu meu quarto como se o pré dio estivesse pegando fogo?
— A voz gelada de Winter veio de apenas alguns metros de distâ ncia.
— Hum, eu estava… — O que ela estava fazendo? Oh sim. O e-mail. Hannah arriscou
uma espiada
 por cima do ombro para ver se Winter já estava completamente vestida. Ela
queria discutir isso cara a cara.
Winter vestiu uma camiseta branca e ficou com as mã os nos quadris, que esticaram o
algodã o sobre os seios.
Hannah cerrou os dentes. Ela nã o deixaria, em hipó tese alguma, que o fato de Winter
nã o estar usando sutiã a distraísse dessa conversa! Ela se virou para encará -la totalmente.
— Você reservou uma sessã o de abraços.
— Sim, reservei. — A voz de Winter era fria e impassível. Ela nem estava tentando
negar ou explicar!
— Se isso é para ser uma brincadeira, nã o acho nada engraçado. Meu trabalho nã o é
uma piada! — A cada palavra, sua raiva hipó crita crescia até substituir aquele sentimento
de pavor.
— Parece que estou rindo? — Winter apontou para seu rosto sé rio, os lá bios
comprimidos em uma linha apertada.
— Entã o o que diabos você está fazendo?
Winter mudou seu peso sobre os pé s descalços.
— Nã o posso simplesmente agendar uma sessã o para ver por mim mesmo o que
exatamente você faz?
— Você nã o me vê acessando seu site para agendar uma consultoria de marketing
com você !
— Talvez devesse — murmurou Winter.
Uma bola vermelha brilhante de raiva fervia dentro dela.
— Uau! O que isso deveria significar?
Winter suspirou.
— Olha. Nã o estou tentando pregar uma peça em você ou zombar do seu trabalho.
Estou apenas tentando agendar uma sessã o, assim como todos os seus clientes.
— Sim, mas meus outros clientes nã o dã o a mínima sobre o que eu faço para viver!
Você realmente quer que eu acredite que você gostaria de me abraçar depois de tudo isso?
O algodã o branco se esticou novamente quando Winter encolheu os ombros. — Foi
você quem disse que as pessoas mudam.
— E foi você quem insistiu que nã o mudam.
Elas se encararam em um impasse silencioso e Hannah se perguntou quanto dos
setenta e nove dias restantes elas gastariam fazendo isso. Podia levar algumas horas até
que elas tenham cumprido as condiçõ es de confiança.
A campainha fez Hannah pular. Desviou o olhar dos gelados olhos azuis de Winter.
Provavelmente eram seus amigos, vindo buscá -la.
— Eu tenho que ir. Mas nã o pense que terminamos esta discussã o! — Ela saiu sem
dar a Winter a chance de ter a ú ltima palavra.
***
Como se viu, um litro de Guinness teve um efeito calmante sobre Hannah. Ela tomou
outro gole, depois mergulhou um pedaço de peixe empanado com cerveja no molho tá rtaro
e o enfiou na boca. Enquanto mastigava o pedaço crocante, ela recapitulou a conversa com
Winter pela dé cima quinta vez.
Ela agora acreditava que Winter havia contado a verdade quando ela insistiu que nã o
era uma brincadeira. Sua colega de quarto geralmente ultra-sé ria nã o era do tipo para
piadas bobas como essa. Mas se nã o era uma pegadinha, porque Winter agendou uma
sessã o? Algo mudou para Winter, como ela havia indicado? Depois de dar a Hannah sua
aprovaçã o ou pelo menos sua nã o desaprovaçã o, ela voltou a ser cé tica sobre abraço
profissional e queria verificar ela mesma para ter certeza de que nada obscuro estava
acontecendo na sala?
O estô mago de Hannah revirou e ela nã o tinha certeza se era o peixe com batatas
fritas ou se ela se sentia mal por questionar a motivaçã o de Winter. Talvez ela estivesse
fazendo uma injustiça a Winter e sua colega de quarto temporá ria realmente estava pronta
para experimentar o poder do toque platô nico.
Valentina deslizou para mais perto dela na cabine e bateu nela com o cotovelo. — Ei, o
que há com você ?
— Nada — Hannah disse porque ela nã o queria estragar o ambiente descontraído. —
Estou bem.
— Nã o, você nã o está . Você esteve tã o distraída a noite toda que nem percebeu que a
aspirante a garçonete irlandesa está usando um kilt.
A garçonete estava vestindo um kilt? Hannah olhou em volta, mas nã o conseguiu
localizá -la. — Os kilts nã o sã o uma coisa escocesa?
— Nã o importa o kilt. — Valentina roubou uma batata frita do prato de Hannah e
agitou-a com impaciê ncia. — Diga-me o que está acontecendo com você .
Max e Tammy se inclinaram do outro lado da mesa para nã o perder nada em meio ao
barulho de fundo de mú sica, conversas e um jogo de futebol na TV.
Hannah demorou a limpar as mã os em um guardanapo de papel, um dedo de cada vez.
— Winter quer me abraçar. — Seu coraçã o batia contra suas costelas. De alguma forma, isso
soou diferente... mais íntimo do que ela havia expressado até agora. — Quero dizer, ela
agendou uma sessã o pelo site.
— Winter? — Max cuspiu cerveja no queixo. — Você quer dizer a Rainha de Gelo,
governante soberana de plantas espinhosas e capachos abrasivos?
Hannah nã o riu. O impulso momentâ neo de defender Winter a surpreendeu, mas ela o
sufocou. — A primeira e ú nica.
— Eu pensei que ela nã o era fã de abraços profissionais? — Tammy perguntou. — A
ú ltima coisa que ouvi é que ela praticamente proibiu você de trabalhar enquanto estiverem
dividindo um apartamento.
— Ela mudou de ideia quando conheceu uma das minhas clientes.
— Entã o qual é o problema? — Valentina perguntou. — Se ela tiver uma atitude mais
positiva em relaçã o a isso e estiver disposta a tentar, ó timo, certo? É exatamente sobre isso
que estávamos falando há um tempo atrá s. Por que você está tã o chateada com isso?
O couro sinté tico da cabine rangeu quando Hannah se contorceu.
— Eu nã o estou chateada. Eu só ...
— Ooh! Agora eu entendi. — Valentina deu uma cotovelada provocante nela. — Você
nã o quer assinar o contrato que diz que você terá que manter suas mã os longe daquela sua
colega de quarto gostosa!
— Nã o! Nã o é isso. De jeito nenhum. — E daí se a visã o do corpo seminu de Winter
descarrilou momentaneamente sua linha de pensamento? Isso nã o significava que ela
queria tocar aquela pele macia ou beijar aquela barriga lisa. Absolutamente nã o.
— Entã o o que é ? — Tammy empurrou seu prato de ovos escoceses pela mesa como
se quisesse suborná -la a falar.
Hannah pegou metade de um ovo e mergulhou-o na mostarda, depois deu uma
mordida. As migalhas de pã o fritas crocantes forneceram um contraste interessante com a
carne da linguiça e o ovo cozido que formavam as camadas internas. Ela mastigou
lentamente enquanto pensava em como explicar.
— Winter nunca deixou dú vidas de que ela preferia enfiar a mã o no triturador de lixo
do que abraçar. Nã o posso deixar de me perguntar o que está por trá s dessa mudança
repentina de coraçã o.
Tammy puxou o prato de volta para o seu lado da mesa.
— Você perguntou a ela?
— Sim. Ela disse que quer ver por si mesma o que exatamente estou fazendo no
escritó rio.
Valentina engoliu sua ú ltima garfada de salsicha e purê de batatas.
— E talvez isso seja realmente tudo o que ela quer. Por que nã o acreditar nela até que
se prove o contrá rio? É o que você faz por seus outros clientes.
A inquietaçã o ainda se agarrava a Hannah como uma rebarba da qual ela nã o
conseguia se livrar. Winter e ela finalmente alcançaram uma paz frá gil. Se abraçar com ela
poderia colocar isso em risco. Mas Valentina estava certa. Talvez devesse dar a Winter o
benefício da dú vida. Se tudo corresse bem, a hesitante nã o desaprovaçã o de Winter poderia
se transformar em uma aprovaçã o entusiá stica pelos serviços que ela oferecia.
Ela també m nã o pô de deixar de pensar que Winter devia estar morrendo de vontade
por toques. Pelo que Hannah sabia, Brooke era a ú nica visitante de Winter desde que se
mudaram para o apartamento há duas semanas e, pelo que vira da interaçã o, duvidava que
Winter tivesse recebido o abraço mais curto do mundo de sua meia-irmã .
Talvez ela se parecesse com o pai també m nesse aspecto e aprendesse a gostar de
carinho.
Até parece. E talvez eu ganhe na loteria.
Mas, novamente, ela meio que ganhou na loteria quando herdou metade de um pré dio
multimilioná rio, nã o foi?
Ela acenou com a cabeça para seus amigos, que estavam todos olhando para ela com
expectativa. — Você tem razã o. Vou deixá -la marcar uma sessã o.
Valentina levantou os braços acima da cabeça em um aceno individual, que Max e
Tammy imediatamente captaram. — Maravilha
! Vamos comemorar com uma rodada de
uísque!
— Você só quer ver algué m da equipe do bar subir aquela escada estilo biblioteca
para alcançar o uísque na prateleira de cima, especialmente se estiver usando um kilt. —
Tammy apontou para a prateleira espelhada atrá s do bar, abastecida com garrafas de
bebida do chã o ao teto alto. — Desculpe desapontá -la, mas acho que eles nã o usam uísque
de primeira linha.
Valentina deu um sorriso impenitente. — Bem, uma garota pode sonhar. Sempre quis
saber o que se usa por baixo de um kilt.
Hannah fez o possível para rir junto com as amigas, mas seus pensamentos já estavam
voltados para o apartamento. Santo inferno. Ela iria abraçar Winter!
***
Pela primeira vez, Winter foi para a cama cedo, mas o sono teimosamente se recusou
a vir. Ela virou e virou por uma hora enquanto pedaços de sua conversa anterior com
Hannah passaram por sua mente... se é que você poderia chamar isso de conversa.
Tinha sido mais como uma disputa de gritos, intercalada com muitos olhares e
encaradas.
Sua pele ainda formigava sempre que ela pensava na maneira como o olhar de Hannah
deslizava por sua barriga nua e permanecia em seus seios antes que ela girasse com as
bochechas coradas. Ela nã o tinha apenas imaginado isso, tinha?
Essa linha de pensamento nã o era propícia para dormir. Agora ela estava bem
acordada, embora fosse quase meia-noite. Resmungando, ela jogou as cobertas para longe e
saiu da cama. Talvez um copo de á gua ajudasse. Ela atravessou o corredor até a cozinha. A
essa altura, ela já estava familiarizada com a disposiçã o do apartamento, entã o nã o se
preocupou em acender a luz, sabendo que isso a acordaria ainda mais.
O brilho fraco de um poste de luz do lado de fora foi o suficiente para ela abrir o
armá rio, encontrar um copo e enchê -lo na torneira. Ela demorou enquanto se encostava no
balcã o e tomava um gole de á gua fria.
Assim que ela colocou o copo vazio na má quina de lavar louça e estava prestes a voltar
para a cama, uma chave chacoalhou na fechadura e a porta da frente se abriu. Passos vieram
pelo corredor, mas nenhuma luz se acendeu, depois de sua briga anterior, Hannah
provavelmente queria fugir para seu quarto sem encontrar Winter ou perturbar seu sono. A
forma sombria de Hannah dobrou a esquina e se dirigiu para seu quarto, que dava para a
cozinha aberta.
Ela deveria deixar Hannah entrar furtivamente em seu quarto sem dizer nada? Winter
considerou por um momento, mas se Hannah olhasse para a esquerda e a visse na cozinha
quase escura, ela teria um ataque cardíaco. O interruptor de luz estava a vá rios passos de
distâ ncia, entã o Winter pigarreou
 ruidosamente.
— Ei.
Alguma coisa, talvez a bolsa carteiro de Hannah, caiu no chã o.
— Winter! Você me assustou pra caralho! — Ela soltou um suspiro trê mulo e levou um
momento para pegar sua bolsa e se recompor antes de se aproximar. — O que diabos você
está fazendo escondida no escuro?
— Só estou pegando um copo d'á gua — disse Winter.
Ela esperava que a luz acendesse a qualquer momento, mas Hannah hesitou com a
mã o sobre o interruptor e entã o olhou para Winter como se tentasse distinguir os detalhes
de sua forma sob a luz fraca do poste de luz do lado de fora.
— Você está tentando descobrir se estou totalmente vestida antes de acender a luz?
— Winter nã o pô de esconder a diversã o em seu tom. Hannah podia ser frustrante de
muitas maneiras, mas ela també m era muito fofa.
— Nã o, claro que nã o — Hannah disse um pouco rá pido demais. Entã o ela
acrescentou — Você está ?
Winter se aproximou e estendeu a mã o para acender o interruptor de luz. Sua mã o
roçou a de Hannah. Ela rapidamente se afastou, mas ainda podia sentir aquele toque
acidental muito depois de terminar.
Quando a luz se acendeu, elas ficaram a apenas alguns centímetros de distâ ncia.
Assim que seus olhos se ajustaram ao brilho, o olhar de Winter vagou por Hannah. Ela
nã o tinha prestado muita atençã o ao que estava vestindo durante o confronto anterior, mas
agora nã o podia deixar de notar o quã o diferente Hannah parecia em comparaçã o com seu
estilo usual de roupa de dormir. Pela primeira vez, Winter estava de calça de pijama e
camiseta casual, enquanto Hannah usava um jeans preto que se ajustava à s suas curvas e
uma blusa com botõ es nos ombros que chamaram a atençã o de Winter.
É só jeans. Cristo. Recomponha-se.
— O quê ? — Hannah olhou para sua blusa. — Será que consegui sujar todo meu corpo
de molho tá rtaro?
— Você está bem — disse Winter com voz rouca. — Eu só nã o estou acostumada a ver
você em outra coisa senã o seus pijamas.
— Ah. — Hannah arrastou as mã os pelo jeans que cobria suas coxas. Foi um gesto
autoconsciente, mas de alguma forma, era sexy demais para o gosto de Winter.
O silê ncio se estendeu entre elas por alguns segundos.
— Hum, escute — Hannah finalmente disse. — Eu estava pensando. Você ainda quer
me abraçar?
O copo de á gua de repente pousou como um balde de ó leo de motor no estô mago de
Winter. Sinceramente, se ela a tivesse conhecido em um bar, ela nã o teria se importado em
explorar aquele corpo exuberante por uma hora, mas nã o era isso que Hannah estava
oferecendo. A ú nica parte de seu corpo que Hannah deixaria molhada eram as palmas das
mã os, elas estavam ú midas agora, apenas com o pensamento de deixar Hannah aconchegá -
la.
Absurdo. Ela enrolou os dedos em punhos frouxos. Ela nã o estava com medo de um
pouco de carinho, apenas... inquieta. De jeito nenhum ela deixaria Brooke, ou Hannah, nesse
caso, saber, no entanto. Podia nã o ser a experiê ncia mais relaxante para ela, mas ela
sobreviveria à quela sessã o de sessenta minutos.
— Sim, claro — ela disse o mais casualmente possível.
Hannah a estudou.
— Tem certeza?
— Por que eu nã o teria?
Sem dizer nada, Hannah apontou para as mã os de Winter, que ainda formavam
punhos.
Droga. Winter esticou os dedos e olhou para ela com raiva. — Estou apenas
aquecendo-os. Eles ficaram com frio. Segurando o copo de á gua. E sim, tenho certeza.
— Se você preferir abraçar outra pessoa, posso recomendar...
— Tenho certeza. — Winter lutou para nã o levantar a voz. Quantas vezes ela tinha que
dizer isso? — Eu quero abraçar você , nã o Valentina ou Tammy ou Max.
Hannah inclinou a cabeça.
— Você se lembra dos nomes dos meus amigos?
Winter deu de ombros, novamente tentando parecer casual. Ela nã o queria que
Hannah pensasse que tinha feito um esforço para lembrar seus nomes.
— Eu sou boa com nomes. Isso ajuda quando você está no marketing. Entã o, quando
faremos isso? — Merda. Isso soou muito errado quando se fala em um serviço platô nico,
nã o é ?
Uma risada curta explodiu de Hannah.
Winter semicerrou os olhos para ela. Ela estava apenas imaginando, ou a ideia de
abraçá -la també m deixou Hannah nervosa? Não.
  Isso nã o poderia ser. Afinal, Hannah
ganhava a vida abraçando e estava acostumada a se aconchegar com todos os tipos de
pessoas. Isso nã o era grande coisa para ela.
Hannah envolveu as mã os na alça de sua bolsa carteiro como se precisasse de algo
para se segurar.
— Costumo agendar uma chamada de vídeo ou telefone de quinze minutos com novos
clientes antes da primeira sessã o para repassar as regras e falar sobre o que eles estã o
procurando. Podemos nos sentar juntas amanhã depois do trabalho e...
— Isso nã o será necessá rio — disse Winter. — Li o có digo de conduta no site e nã o
tenho nenhuma solicitaçã o ou expectativa específica, entã o nã o há realmente nada para
falar.
— Oh, na verdade há muito para…
— Apenas me dê uma hora para a sessã o. — Winter impediu-se de acrescentar e
vamos acabar com isso
 no ú ltimo segundo.
Hannah hesitou por um tempo desconfortavelmente longo. Por fim, ela puxou o
telefone da bolsa carteiro e folheou o aplicativo de calendá rio. — Que tal amanhã ? Estou
livre a qualquer hora depois das quatro.
Amanhã.
 Embora Winter tivesse bebido um copo de á gua apenas um minuto atrá s,
sua garganta estava seca. Mas pelo menos isso significava que estaria acabado neste fim de
semana.
— Quatro horas parece bom. — Ela endireitou os ombros, acenou com a cabeça para
Hannah e passou por ela em direçã o ao quarto. No meio do caminho, ela lembrou que
Brooke estava esperando por uma confirmaçã o por escrito e voltou. — Oh, você pode me
enviar um e-mail com uma confirmaçã o? Prefiro ter as coisas por escrito.
— Claro. Sem problemas.
Winter entrou em seu quarto, fechou a porta e se jogou pesadamente na cama. Menos
dezesseis horas até que ela se aconchegasse
 em Hannah. Ah Merda.
Capítulo 12
A internet ensinou tantas coisas a Winter, mas quando ela pesquisou Como se
preparar para uma sessão de abraços
, falhou totalmente com ela. Alé m do ó bvio, como
praticar uma boa higiene pessoal, ela nã o havia encontrado muito que se aplicasse à sua
situaçã o. Aparentemente, nã o havia muitas pessoas que pagassem seus colegas de quarto
por abraços, entã o ningué m havia postado sobre isso em um blog.
Depois de meia hora de busca infrutífera, ela desistiu. A preparaçã o nã o era
necessá ria de qualquer maneira, ela disse a si mesma. A sessã o era apenas ficar deitado por
uma hora, tentando manter o cabelo da sua amiga longe de seu rosto e evitar seus
membros de adormecerem, certo?
O dia pareceu se arrastar para sempre, mas finalmente eram trê s e meia. Winter tirou
um conjunto de roupas limpas de seu armá rio. O site Abraços Experts sugeria calças de
moletom ou pijamas como uma roupa de abraços, mas Winter nã o estava pronta para
baixar a guarda e se vestir tã o casualmente perto de Hannah. Claro, Hannah a tinha visto de
pijama na noite passada, mas isso foi uma conversa na cozinha, com bastante espaço entre
elas. Para a sessã o de abraços, ela preferia manter as coisas profissionais, entã o seu mais
confortável par de calças azul-marinho e uma camisa polo cinza teriam que servir.
Ela pegou a calcinha e as meias també m, depois foi ao banheiro tomar um banho.
Trê s passos no corredor, ela quase colidiu com Hannah, que havia saído de seu quarto
com uma trouxa de roupas.
Hannah tropeçou e Winter agarrou seu cotovelo para mantê -la de pé , entã o a soltou
rapidamente assim que Hannah recuperou o equilíbrio.
— Ah, você també m quer tomar banho? — Hannah apontou para as roupas nas mã os
de Winter.
— Nah, tenho o há bito de levar minha roupa para dar uma volta no apartamento
todos os dias. — Winter mordeu o lá bio, mas era tarde demais para retirar sua resposta
sarcá stica.
Hannah a estudou com um olhar compreensivo.
— Você nã o está nervosa, está ?
— Nã o, claro que nã o. — Winter tentou cruzar os braços sobre o peito, mas percebeu
que nã o tinha as mã os livres. — Porque estaria?
— Só perguntando. Porque eu entenderia se você estivesse. A maioria dos meus
clientes ficam nervosos quando chegam para a primeira sessã o de carinho.
Winter balançou a cabeça com firmeza. — Eu nã o.
— Certo. Super relaxada. Hannah sorriu. O brilho em seus olhos era gentil e divertido,
mas nã o zombeteiro. — Tudo bem. Eu vou tomar um banho. Aproveite sua caminhada.
Winter ficou olhando para ela. Que caminhada? Entã o ela olhou para as roupas em
suas mã os e lembrou-se de seu comentá rio cá ustico. — Muito engraçado — ela gritou atrá s
dela.
Hannah acenou com seu pró prio embrulho.
O olhar de Winter caiu sobre a peça de roupa em cima. Aquilo era... um par de
calcinhas? Ela gemeu e tentou perseguir a imagem de Hannah em sua calcinha, apenas sua
calcinha, de sua mente. Ela estava prestes a pressionar seu corpo contra o de Hannah e essa
imagem mental nã o ajudaria a manter as coisas platô nicas. Esses seriam os sessenta
minutos mais estranhos da histó ria de colegas de quarto involuntá rias.
***
Hannah estava apenas imaginando ou Winter estava tomando o banho mais longo da
histó ria do encanamento interno?
Ela caminhou ao redor da sala enquanto esperava e reorganizou algumas das
almofadas coloridas.
Mais cedo, ela já havia colocado um lençol limpo no sofá e banido Eddy, o Urso, para o
pufe gigante no canto para dar a elas ainda mais espaço. As persianas estavam fechadas
para isolá -las do mundo e dar total privacidade a Winter. Suas duas lâ mpadas de lava
banhavam o quarto com um brilho suave e alaranjado, projetando sombras na paisagem
marinha em aquarela na parede.
Seus livros e flashcards com posiçõ es de abraços estavam na mesinha ao lado do sofá ,
junto com seu telefone e alto-falante Bluetooth, caso Winter quisesse ouvir alguma mú sica
suave enquanto elas se aconchegavam. Ela imprimiu o contrato do cliente para que elas
pudessem examiná -lo e assiná -lo.
Tudo estava pronto. Ela poderia fazer isso em seu sono. Entã o, por que ela se sentiu
tã o nervosa quanto antes de sua primeira sessã o? Se ela nã o se acalmasse, precisaria de
outro banho. Ela puxou a frente de sua camiseta sobre o nariz e deu uma fungada para
verificar seu desodorante.
Claro, foi quando uma batida curta soou na porta de correr entreaberta.
Winter estava na porta.
Apressadamente, Hannah puxou a camisa para baixo e sorriu como se nã o tivesse
acabado de ser pega cheirando a si mesma. Suas bochechas estavam excessivamente
quentes. Ela esperava nã o estar corando até a raiz do cabelo. Como ela estava ocupada com
suas pró prias roupas, levou um momento para registrar o que Winter estava vestindo:
calças e uma camisa polo de mangas compridas.
Ah, não, não, não. Embora ela parecesse ó tima com aquela roupa, nã o era um traje
adequado para abraços. Os botõ es da camisa polo afundariam na bochecha de Hannah se
ela colocasse a cabeça no peito de Winter e as calças seriam muito restritivas. Hannah
apontou para eles.
— Essas roupas precisam ir embora.
Winter parou na porta.
— Como é ?
Se Hannah nã o estava corando antes, ela sabia que agora estava vermelha como uma
romã .
— Hum, eu quis dizer, você realmente deveria vestir algo mais confortável.
Uma ruga se formou na testa de Winter. Ela puxou uma perna da calça.
— Estou perfeitamente confortável assim.
— Nã o, acredite em mim, você nã o vai ficar assim que começarmos. Vá e vista algo
mais confortável, talvez suas calças de corrida. Ah, e você definitivamente quer usar um top
com mangas curtas. Abraçar pode ficar bem quente... uh, calor.
Winter hesitou por vá rios momentos, as sobrancelhas franzidas sobre seus olhos
azuis prateados.
— Tudo bem. Já que você já me viu seminua, nã o importa o que estiver vestindo de
qualquer maneira. — Ela se virou e atravessou a sala com passos largos.
Hannah esfregou as bochechas. Muito obrigada, Winter. As referê ncias a ver Winter
seminua nã o a ajudavam a manter a calma. Sentou-se no sofá , fechou os olhos e tentou
meditar, mas foi tã o frustrante quanto suas primeiras tentativas, anos atrá s, quando ela
ainda achava que precisava conjurar imagens calmantes, como seu mentor tentara ensinar.
Quando passos se aproximaram, ela rapidamente abriu os olhos.
Winter estava de volta, agora vestindo sua calça preta de corrida e uma camiseta
cinza com decote em V. Ambos ficavam tã o bem nela quanto as calças e a polo.
Hannah desviou o olhar.
— Entre. Você gostaria de algo para beber antes de começarmos? — Porcaria. Ela
havia mudado para o piloto automá tico. Ela sempre oferecia a seus clientes um copo de
á gua ou um pouco de chá , mas, é claro, Winter nã o havia atravessado a cidade para chegar
aqui, entã o ela nã o precisava de um refresco.
Um canto da boca de Winter se contorceu em um meio sorriso.
— Uma cerveja.
Hannah sorriu de volta. Era bom saber que ela nã o era a ú nica que estava nervosa.
— Desculpe. Isso vai ter que esperar até mais tarde. O contrato diz sem á lcool. — Ela
apontou para o acordo de abraços na mesa. — Falando em contrato, gostaria de começar
revisando-o novamente e assinando-o juntas para garantir que estamos...
Winter atravessou a sala, pegou uma caneta esferográ fica da mesa, examinou o
documento e o assinou.
Hannah ficou olhando. Esta sessã o de carinho nã o era como qualquer outra que ela já
tinha feito antes. Ela deveria ter esperado isso porque Winter era diferente de qualquer
pessoa que ela já conheceu.
— Eu realmente acho que devemos conversar sobre as regras e esperar...
— Eu tenho memó ria quase fotográ fica. Eu conheço as regras. Vamos começar. —
Winter olhou para o sofá como se fosse uma cadeira de dentista. — O que eu faço?
Tudo bem. Se era assim que Winter precisava fazer para se sentir confortável, ela
concordaria, mesmo que nã o gostasse.
— Por que nã o nos sentamos e você me conta mais sobre como gosta de sentir o
toque? — Ela se sentou no meio do sofá e deu um tapinha convidativo no lugar ao lado dela.
Winter aproximou-se cautelosamente e sentou-se com meio metro de espaço entre
eles. Ela arqueou as sobrancelhas para Hannah.
— Se eu disser que gosto de oral, provavelmente nã o é essa informaçã o que você está
procurando, nã o é ?
Ter afantasia nunca foi uma bê nçã o como agora. Se imagens de Winter nua, com a
cabeça jogada para trá s, tivessem passado por sua mente, ela nã o teria sido capaz de
manter uma atitude calma e profissional. Sua risada saiu um pouco alta demais. Por que ela
estava tã o nervosa? Winter nã o foi a primeira cliente a fazer um comentá rio como esse.
— Nã o, nã o é . Que tipo de toque platônico
 você gosta?
Winter deu de ombros.
— Você é a profissional do abraço. Apenas faça o que achar melhor.
Hannah balançou a cabeça com firmeza.
— Nã o é assim que o abraço profissional funciona. Nã o vou tocar em você de forma
alguma sem antes pedir, ter certeza de que é algo que você deseja. Se você já sabe que nã o
gosta de certo tipo de toque ou nã o quer que certas partes do seu corpo sejam tocadas, vou
respeitar isso sempre. Por exemplo, algumas pessoas preferem uma carícia bem leve,
enquanto outras gostam de um toque forte e firme. E você ?
— Hum. — Winter passou a mã o pelo cabelo curto na parte de trá s da cabeça. Ela
parecia estar tentando resolver um problema matemá tico complicado.
Claramente, ningué m nunca perguntou como ela gostava de ser tocada. Era
interessante que Winter nã o tivesse problemas em falar sobre suas preferê ncias sexuais,
mas nã o sabia do que gostava quando se tratava de receber carinho e ternura. Ela nunca
tinha abraçado ningué m? O peito de Hannah apertou. Ela lutou contra o impulso de puxá -la
para um abraço caloroso.
Por fim, Winter disse — Acho que nã o tenho preferê ncia.
— Tudo bem. Por que nã o folheamos O Abraço Sutra para ver se há algo que você
queira experimentar?
— Abraço Sutra
? — Winter ecoou. — Tá brincando né ?
Hannah sorriu.
— Nã o. — Ela ergueu o livrinho. — Tem ilustraçõ es de algumas poses divertidas de
abraços. Dê uma olhada.
Winter pegou o livro de Hannah e o segurou apenas com as pontas dos dedos, como
se tentasse limitar qualquer contato.
— Uma celebraçã o descarada da intimidade má xima — ela leu na capa. — Eu pensei
que sexo era a intimidade má xima?
— Bem, nã o sã o as Olimpíadas da Intimidade. Acho que ambos sã o muito íntimos de
maneiras diferentes, ou pelo menos podem ser, dependendo de com quem você está .
Winter ergueu os olhos da capa e olhou diretamente para Hannah. Pela primeira vez,
ela parecia mais curiosa do que cautelosa.
— Quando você está com seus clientes, você se sente íntima deles?
Hannah mexeu no travesseiro ao lado dela.
— Até um certo nível.
— Significa nã o — disse Winter.
— Nã o foi isso que eu disse. É apenas um tipo diferente de intimidade do que você
pode estar pensando. O que tenho com meus clientes é um relacionamento mais
estimulante, como uma mã e e seu filho. Nã o como a intimidade mú tua que eu estaria
compartilhando com um parceiro.
— Hum. Mas você …?
— Winter — disse Hannah. — Fico muito feliz em falar sobre meu trabalho o dia todo,
mas você nã o quer experimentá -lo em vez de apenas falar sobre ele? Entã o você pode me
dizer o quã o íntimo você acha que é o abraço profissional.
— Certo. — Winter baixou o olhar para o Abraço Sutra
  novamente e folheou suas
pá ginas. De vez em quando, ela parava e considerava uma ilustraçã o por mais tempo do que
as outras ou balançava a cabeça ao ouvir alguns dos nomes das posiçõ es. Finalmente, ela
bateu em uma das pá ginas. — Como é que isso nã o pode ser sexual?
Hannah se inclinou no espaço entre elas para dar uma olhada mais de perto. Na
ilustraçã o, os dois personagens caricaturais estavam deitados de lado, com os rostos a
apenas alguns centímetros de distâ ncia, as pernas entrelaçadas e os braços firmemente
enrolados um no outro.
— Ah, Splish Splash. Nã o posso dizer que faz parte do meu repertó rio padrã o, mas se
você estiver com a mentalidade certa, nã o é nada sexual. Você gostaria de experimentar
esse?
— Nã o. — Winter virou a pá gina apressadamente. — Isso, hum, nã o parece
exatamente uma pose de iniciante.
— Nã o é .
— Com o que você costuma começar? — Winter perguntou.
Hannah nã o tinha uma posiçã o inicial padrã o. Ela sempre tentou sentir o cliente e
ajustava as poses sugeridas de acordo.
— Varia. Alguns clientes querem ir direto para a posiçã o de conchinha, mesmo que
essa també m nã o seja uma postura de iniciante. Recentemente, comecei muito com a
Mamã e Urso.
— Oh! Entã o essa é uma pose de carinho! Achei que sua amiga Tammy tinha ficado
com um cara peludo quando disse que é sua posiçã o favorita.
Hannah levou a mã o à boca para conter uma risadinha. Pena que ela nã o podia contar
a Tammy sobre a suposiçã o de Winter. Sua amiga teria dado boas risadas disso.
— Nã o. Tammy é quem me ensinou a mamã e ursa. O abraçador se senta no sofá assim
— ela deslizou para trá s até ficar encostada em uma das pontas do sofá e esticou uma
perna ao longo do encosto — e o abraçado se senta no berço das pernas do abraçador e se
recosta contra o peito. — Ela observou o rosto de Winter enquanto descrevia a pose.
Estaria Winter imaginando-as na posiçã o de mamã e ursa? Ela estava interessada em
tentar? Seu rosto nã o revelava muito, mas ela estava sentada como uma vareta reta, ambos
os pé s apontando para a porta, como se estivesse pronta para correr naquela direçã o.
Não,
  decidiu Hannah. Winter nã o era o tipo de mamã e ursa. Ela se sentiria muito
vulnerável ao se deixar segurar. Havia apenas uma posiçã o inicial que funcionaria para ela.
— Por que nã o deixamos a mamã e ursa para depois? Acho que tenho a posiçã o
perfeita para você . Chama-se Companheirismo.
Winter semicerrou os olhos para ela. — Isso nã o estava no livro. Qual é essa?
— Primeiro, você se senta um pouco mais perto de mim. — Hannah levantou um dedo
antes que Winter pudesse se mover. — Mas nã o tã o perto que te deixe desconfortável.
Lembre-se de que o abraço profissional é descobrir o que é bom para você e falar sempre
que algo nã o o é .
Winter deslizou e sentou-se alguns centímetros mais perto.
— Excelente. É uma distâ ncia confortável para você ?
— Sim. Isto é bom. Qual é o segundo passo?
Hannah balançou a cabeça.
— Sem passo dois. É isso.
Winter arqueou as sobrancelhas.
— Isso é Companheirismo? Sentar lado a lado sem se tocar?
O olhar incré dulo em seu rosto fez Hannah rir.
— Sim. Vê ? Você já dominou sua primeira posiçã o de carinho! Agora solte os ombros e
tente relaxar.
Uma risada rouca escapou de Winter.
— É assim que você ganha a vida? Sentado aqui?
Hannah tentou nã o levar para o lado pessoal. A essa altura, ela sabia que os
comentá rios sarcá sticos de Winter eram principalmente um mecanismo de defesa. Ela
apenas sorriu.
— Vamos tentar sincronizar nossa respiraçã o.
Winter olhou para o teto como se revirasse os olhos para essas coisas woo-woo, mas
ela abaixou os ombros e, depois de um tempo, suas inspiraçõ es e expiraçõ es vieram no
mesmo ritmo de Hannah.
Enquanto Hannah tornava suas respiraçõ es mais profundas e longas, Winter a seguia,
conscientemente ou mesmo sem perceber.
— Isso é estranho
 
— Winter murmurou depois de um tempo. — Acho que
deveríamos colocar uma mú sica de baleia.
Apesar do comentá rio zombeteiro, ela estava sussurrando, o que fez Hannah sorrir
porque indicava que ela havia começado a relaxar e nã o queria atrapalhar o clima.
— Podemos tentar outra coisa, se você quiser. Ou levar o Companheirismo para o
pró ximo nível, agora que você o domina.
— Sim, vamos tentar isso. Companheirismo de pró ximo nível. O que eu tenho que
fazer?
— Você nã o tem que
 fazer nada — disse Hannah. — Se você nã o está confortável...
— Estou confortável. — Os ombros de Winter subiram novamente. — Qual é o
pró ximo passo?
— Você se senta mais perto de mim. Tã o perto que nossos joelhos ou ombros se
tocam. O que você achar que seria mais agradável.
Winter diminuiu a distâ ncia, mas ainda manteve alguns centímetros entre elas.
Lentamente, ela abriu as pernas até que seu joelho tocou o de Hannah.
— Assim?
A pergunta nã o surpreendeu Hannah. Winter parecia uma perfeccionista pelo resto de
sua vida, entã o, é claro, ela gostaria de ter certeza de ter executado as instruçõ es para cada
posiçã o corretamente. Ou foi mais do que isso? Winter tinha recebido tã o pouco afeto físico
que se sentia insegura com o mais simples dos toques? O pensamento fez Hannah doer por
ela.
Uma coisa estava clara: Winter nunca havia abraçado o pai. Durante a primeira
sessã o, Jules tinha estado quase tã o nervoso com o toque quanto Winter. Hannah resistiu
ao impulso de colocar uma mã o tranquilizadora no joelho de Winter, sabendo que isso só a
deixaria desconfortável.
— Nã o há jeito certo ou errado, alé m do que é bom para nó s duas.
Ficaram sentadas em silê ncio por um tempo. A perna de Winter contra a sua pró pria
exalava calor, mesmo atravé s das camadas de suas calças. Sua tensã o era tã o palpável.
— Tudo bem? — Hannah perguntou.
Winter assentiu.
— Como é ?
— Ossudo — respondeu Winter.
Hannah nã o pô de deixar de rir. A atitude realista de Winter era revigorante. — Sim, o
joelho nã o é a parte mais fofinha do corpo. Vamos tentar outra coisa que seja mais
agradável. Tudo bem se eu segurar sua mã o?
— Dar as mã os faz parte?
— Pode fazer, se você acha que vai gostar.
Winter olhou para sua pró pria mã o, depois para a de Hannah. Sem responder, ela
estendeu a mã o e pegou a mã o de Hannah.
Uau. Hannah nã o tinha previsto isso. Talvez ela devesse. Dessa forma, Winter tinha
controle total. Sua mã o direita, a dominante, descansava em cima da esquerda de Hannah,
que estava com a palma para cima. Em vez de alinhar as mã os e entrelaçar os dedos, ela
segurou quase de lado, com os dedos enrolados nas costas da mã o de Hannah e o polegar
descansando na curva onde o polegar de Hannah encontrava seu dedo indicador. Se Hannah
tivesse usado a mã o direita em vez da esquerda, teria parecido uma queda de braço... com
Winter saindo como vencedora.
Hannah apoiou as costas da mã o no joelho e o antebraço na coxa esquerda, com a
mã o de Winter ainda por cima. Pela primeira vez, seus corpos estavam em contato em
vá rios lugares: seus antebraços conectados ao longo de seus comprimentos; O braço de
Winter tocou sua perna e seus ombros se tocaram.
Ondas de calor emanavam do corpo de Winter, mas sua mã o estava visivelmente mais
fria, quase ú mida.
— Tudo bem? — Hannah perguntou novamente enquanto apertava a mã o de Winter.
Winter limpou a garganta. — Sim. — Ela ajustou seu aperto e moveu seu ombro, o que
fez seu antebraço deslizar ao longo de Hannah.
Sua pele era muito, muito macia. Sim, e você realmente, realmente não deveria estar
percebendo isso.
 Hannah mordeu o interior da bochecha. Claro, ela tinha permissã o para
aproveitar as sessõ es de abraço com seus clientes, mas seu foco estava no que seria bom
para seu cliente, nã o para ela, e geralmente ela nã o tinha problemas em fazer isso. Depois
de cinco anos como abraçadora profissional, ela estava acostumada a desligar sua
sexualidade e assumir um papel quase terapê utico, entã o se aconchegar com um cliente
nã o a afetava da mesma forma que abraçar um parceiro româ ntico.
Só que desta vez, com Winter, nã o parecia nem um pouco terapê utico.
Talvez uma mudança de posiçã o també m a ajudasse a mudar sua mentalidade, era
uma té cnica que ela geralmente sugeria a seus clientes quando a excitaçã o começava a
surgir. Ela deu a Winter um olhar questionador.
— Você está pronta para tentar outra coisa?
***
Winter controlou cuidadosamente o impulso de engolir. Ela soltou a mã o de Hannah.
— Sim, vamos tentar uma posiçã o de abraço real. Isso – ela apontou para a mã o de
Hannah, que ainda estava com a palma para cima em sua coxa, parecendo muito vazia – mal
se qualifica como abraço.
— Claro que sim. Mas tudo bem, vamos tentar outra coisa. — Hannah esfregou o
queixo e pareceu repassar sua lista mental de poses possíveis. — Hmm, talvez o Coala na
á rvore seja uma boa opçã o para você .
Eca. Outra posiçã o de abraço com tema de bicho. Isso nã o parecia promissor. —
Qualquer posiçã o que seja. Vamos tentar. — Contanto que elas finalmente acabassem com
isso, entã o ela tinha algum abraço real para relatar a Brooke, tudo estava bem para ela.
— Você geralmente prefere abraçar ou ser abraçada? — Hannah perguntou.
Sinceramente, a resposta foi: nenhum. A posiçã o pó s-coito que ela preferia era sentar
ao volante do carro, indo para casa. Nã o que ela tivesse tido muitos casos de uma noite. Na
maioria das vezes, simplesmente nã o valia a pena.
Winter tentou imaginar qualquer uma das posiçõ es: envolvendo os braços em torno
de Hannah e segurando-a, depois deixando-se segurar. Esta ú ltima fazia os cabelos de sua
nuca se arrepiarem de inquietaçã o. — Abraçar, eu acho.
Hannah assentiu como se essa fosse a resposta que ela suspeitava o tempo todo.
Winter franziu o cenho. Ela era tã o fá cil de ler? Normalmente, ela podia confiar em sua
cara de pô quer, mas Hannah parecia ser capaz de ver atravé s dela com muita frequê ncia.
— Ok, entã o eu serei o coala e você será a á rvore.
Uma á rvore? Winter imaginou um carvalho alto, forte e completamente indiferente a
tempestades, calor, neve e até mesmo abraços de á rvores pressionando perto de seu
tronco. Sim, ela poderia fazer isso. Muito melhor do que um daqueles coalas
excessivamente fofos.
— Tudo bem. O que eu faço?
— Você deita de costas. — Hannah se levantou do sofá para abrir espaço para ela.
Winter se deitou de costas e olhou para Hannah enquanto esperava que ela
continuasse. Cristo, isso era estranho. Ela estava deitada aqui como um soldadinho de
chumbo, as mã os espalmadas na parte externa das coxas. — Assim?
— Sim, perfeito. Agora estique esse braço — Hannah apontou para o braço mais perto
da borda do sofá — para o lado, para que nã o fique preso entre nó s.
Winter estendeu o braço para o lado.
— Excelente. Agora o coala... neste caso eu... deita-se de lado ao lado da á rvore, coloca
a cabeça no ombro da á rvore e um braço em volta da cintura. Isso está ok para você ?
— Claro. — Winter tentou soar casual. — Caso contrá rio, você seria um coala caindo
da á rvore.
Hannah nã o lhe deu um sorriso em resposta.
Isso foi estranho para ela també m?
O sofá afundou ligeiramente quando Hannah se deitou de lado ao lado de Winter.
Ela estava tã o perto que Winter podia sentir o calor de seu corpo. Seu coraçã o batia
em um ritmo muito rá pido contra suas costelas e ela rezou para que Hannah nã o notasse.
Jesus, o que estava acontecendo com ela? Ela nunca ficava tã o nervosa com nada, nem
mesmo quando estava conhecendo um novo cliente ou fazendo uma apresentaçã o para
toda a equipe do cliente. Certamente, ela nã o estava com medo de algum coala bobo em
uma á rvore!
Com cuidado, Hannah deslizou ainda mais perto. Ela pousou a cabeça no ombro de
Winter e passou o braço em volta da cintura de Winter.
— Posso passar minha perna por cima da sua?
Winter lutou para manter a respiraçã o em um ritmo constante. Ela assentiu, entã o
percebeu que Hannah nã o podia ver sua resposta.
— Sim. — Ugh, ela soava como se fumasse trê s maços de Marlboro todos os dias,
embora nunca tivesse tocado em um ú nico cigarro em sua vida. — Vá em frente.
Hannah colocou levemente a perna sobre a de Winter. Ela nã o a deslizou entre as
coxas de Winter, apenas deixou suas pernas entrelaçadas, mas ainda parecia tã o íntimo que
Winter nã o sabia o que fazer com ele.
Oh inferno.
 Isto nã o era um coala em uma á rvore. Era mais uma jiboia enrolada em
um galho! Ela já esteve tã o perto de uma mulher com quem nã o dormiu? Inferno, ela já
esteve tã o perto de uma mulher com quem ela dormiu
 ?
— Tudo bem? — Hannah perguntou novamente.
— Sim. — Ela poderia fazer isso. Tudo o que ela precisava fazer era ficar ali. Ou ela
deveria fazer alguma coisa? — O que eu faço agora?
— Nada — disse Hannah. — Apenas relaxe e permita-se aproveitar. A ú nica coisa que
você pode fazer, se quiser, é envolver seu braço, aquele que você estendeu para o lado, em
volta das minhas costas. E deixe-me saber se esse braço ou qualquer outra coisa começar a
adormecer.
Adormecer? Nã o. Nem uma ú nica parte de seu corpo estava nem um pouco dormente.
Muito pelo contrá rio. Ela sentiu como se tivesse tocado um fio elé trico energizado. Uma
sobrecarga de sensaçõ es a invadiu de uma só vez: o calor da cabeça de Hannah aninhada
em seu ombro e sua testa apoiada no rosto de Winter, o cheiro de seu xampu, a pressã o
suave dos seios de Hannah ao longo de seu corpo, o peso de um braço ao redor de seu
corpo. Sua cintura, e o som de sua respiraçã o tã o perto. Emoçõ es estranhas se somavam ao
caos que a percorria. Ao seguir a sugestã o de Hannah, curvando o braço e descansando-o
nas costas de Hannah, ela se sentiu quase protetora, mas ao mesmo tempo, como se ela
pró pria nã o tivesse proteçã o. Muito macio. Muito vulnerável.
Uau. Isso foi intenso.
— Você está bem? — Hannah levantou a cabeça do ombro de Winter. Seu exame
minucioso fez com que Winter se sentisse ainda mais exposta. — Isso te deixa
desconfortável?
— Eu já te disse que estou bem. — A irritaçã o espalhou-se por Winter. — Por que você
fica me perguntando isso? — Por que Hannah nã o podia simplesmente ficar ali deitada em
silê ncio e deixá -la fingir que era a personificaçã o do relaxamento? Por que ela tinha que
tornar isso mais difícil questionando tudo?
— Porque eu posso sentir seu batimento cardíaco e está muito rá pido.
Merda. Entã o Hannah notou. Claro que ela tinha notado. Pressionada tã o perto, ela
podia sentir cada batida rá pida do coraçã o de Winter, cada dificuldade de sua respiraçã o.
Isso fez com que Winter se sentisse como se tivesse sido despojada de sua pele e Hannah
pudesse vislumbrar por baixo.
Nã o. Ela nã o permitiria isso. Nã o poderia permitir isso. Uma nova direçã o estava em
ordem. Winter deu um sorriso torto e esperou como o inferno que nã o parecesse um
animal encurralado mostrando os dentes.
— Sim, bem, isso é o que acontece quando estou pressionada contra uma mulher
bonita.
Hannah balançou a cabeça e desvencilhou sua perna da de Winter.
— Nã o acho que seja isso. Eu sei que abraçar algué m que você nã o conhece bem leva
algum tempo para se acostumar. Se você experimentou e descobriu que nã o é para você ,
tudo bem també m. Nã o tem nada de errado em nã o querer carinho, sabe? Meu trabalho é
sobre consentimento. Você nã o precisa fazer isso se nã o quiser.
Ela olhou nos olhos de Winter e o olhar de compaixã o em seu rosto transformou
aquelas faíscas de irritaçã o em um inferno flamejante.
— Que diabos eu tenho que fazer para provar que quero isso? — Winter empurrou até
que ela estava de lado també m. Agora seus rostos estavam a apenas alguns centímetros de
distâ ncia. Seu batimento cardíaco trovejou em seus ouvidos.
— Parece que você está realmente gostando disso, em vez de apenas tolerar ou
suportar. — A voz de Hannah era gentil como uma carícia.
O rugido nos ouvidos de Winter ficou mais alto. Oh, pelo amor de Deus!
  O que ela
deveria dizer sobre isso? Nem uma ú nica palavra veio, entã o ela fez a ú nica coisa que podia
pensar: ela se inclinou para frente, preenchendo os centímetros restantes entre eles, para
procurar os lá bios de Hannah e beijá -la sem sentido.
Hannah olhou para a boca que se aproximava de Winter. Entã o, apenas um segundo
antes de seus lá bios se encontrarem, ela a interrompeu com uma mã o na parte superior do
peito e uma ú nica palavra — Nã o.
Ela nã o estava gritando ou empurrando ela, mas sua voz era firme e o olhar em seus
olhos era como aço. Winter havia passado dos limites.
Inferno, cerca de vinte linhas. Merda.
  Ela nã o estava pensando. Respirando
pesadamente, ela saiu debaixo de Hannah, para longe dela, até que ela colidiu com o
encosto do sofá .
Hannah sentou-se e puxou um joelho contra o peito, como se agora fosse ela quem se
sentisse muito exposta.
Á cido queimou atrá s do esterno de Winter. Ou talvez fosse vergonha. Ela cerrou os
dentes contra a onda de ná usea que a percorria.
— Nã o— Hannah disse novamente, embora o primeiro já tivesse cortado até o osso.
Sua voz era firme, mas cuidadosamente controlada. Claramente, ela estava escondendo o
quã o zangada ou chateada ela realmente estava. — Nã o é disso que se trata esta sessã o.
Concordamos em manter as coisas estritamente platô nicas e, se você tentar algo assim
novamente, encerrarei a sessã o imediatamente.
Isso significava que... Hannah estava disposta a continuar?
Hannah deixou cair a perna no sofá como se tomasse uma decisã o consciente de se
abrir para Winter novamente. — Você quer?
— Nã o. — Winter nã o queria uma segunda chance. Como Hannah bloqueava o outro
lado do sofá , ela se arrastou até a ponta do sofá , pulou e caminhou para a porta o mais
rá pido possível, sem correr imediatamente. — Isso nã o faz sentido. Eu nunca deveria ter
agendado uma sessã o. Nã o se preocupe. Eu ainda vou pagar pela hora inteira. Entã o ela
saiu correndo sem esperar por uma resposta.
Capítulo 13
Hannah caiu de costas, pressionou uma das almofadas sobre o rosto e gritou.
Isso nã o a ajudou a se sentir melhor, entã o ela jogou para o outro lado da sala.
O que diabos acabou de acontecer?
Em todos os seus anos como abraçadora profissional, ela nunca esteve em uma
situaçã o exatamente como essa. Claro, os clientes já haviam testado seus limites antes. De
vez em quando, um cliente perguntava se eles poderiam quebrar um pouco as regras na
pró xima sessã o se pagassem mais, ou eles faziam piadas sobre sexo para ver como ela
reagiria. Algumas vezes, um cliente deslizou a mã o alguns centímetros mais abaixo em suas
costas do que ela se sentia confortável, desviando para o territó rio de agarrar a bunda.
Mas até agora, ningué m tentou beijá -la. Especialmente nã o tã o do nada. Winter
deixou de estar frustrada, talvez até zangada, para tentar beijá -la do nada. Ou havia sinais
de que ela havia perdido? Normalmente, ela tinha ó timas antenas e podia ver situaçõ es
como essa vindo a uma milha de distâ ncia. Por que ela nã o notou isso com Winter?
Enquanto ela estava lá , ela olhou para o teto e repassou a sessã o.
Sim, em retrospectiva, a observaçã o meio brincalhona de Winter sobre seu coraçã o
disparar porque ela estava pressionada contra uma bela mulher deveria ter sido uma pista.
Ela deveria ter falado sobre isso.
Mas ela estava muito distraída com sua pró pria reaçã o ao comentá rio de Winter. Ser
chamada de linda por algué m tã o deslumbrante como Winter era lisonjeiro.
Oh vamos lá. Desde quando você tem o hábito de mentir para si mesma? Ela sabia que
tinha ficado muito mais do que lisonjeada. O elogio de Winter fez com que ela se sentisse
toda aquecida e, para ser honesta consigo mesma, tinha que admitir que seu coraçã o estava
disparando tã o rá pido quanto o de Winter quando ela se aconchegou contra seu ombro
forte e entrelaçou suas pernas.
Ela se sentia atraída por Winter, pura e simplesmente. Sim, quem não se sentiria? Se
você ignorasse sua personalidade frequentemente abrasiva, sua colega de quarto era
gostosa.
Winter percebeu sua atraçã o e reagiu a ela?
Ela repassou a sessã o uma segunda vez. Nã o, ela nã o achava que tinha dado sinais
errados a Winter.
Claro, isso nã o significava que ela tinha feito tudo certo. A sessã o saiu do rumo desde
o primeiro segundo. Por mais zangada que estivesse com Winter agora, Hannah sabia que
ela també m era culpada por parte disso e assumiu a responsabilidade por sua parte nisso.
Aceitar Winter como uma cliente tinha sido uma má ideia em primeiro lugar. O erro
capital nú mero dois foi nã o insistir em um bate-papo pré -sessã o de quinze minutos. Ela
nunca deveria ter deixado Winter pressioná -la a pular... ou a pular o contrato e as regras
juntas.
Mas, novamente, nã o saber as regras nã o era o problema. Como disse Winter, ela tinha
uma memó ria quase fotográ fica. Ela sabia que beijar nã o era permitido e poderia levar
Hannah a encerrar a sessã o.
Oh meu Deus! É isso!
  Hannah se sentou abruptamente. Essa foi a razã o pela qual
Winter fez isso! Nã o porque tivesse sido tã o dominada pelo desejo por Hannah que nã o
pudesse mais se conter, ela revirou os olhos para si mesma por presumir isso mesmo por
um segundo, mas porque o sexo provavelmente era uma fuga familiar e algo com o qual ela
se sentia mais confortável do que com carinhos. Foi uma tentativa de retomar o controle
depois de sentir que o havia perdido.
Acima de tudo, era uma maneira infalível de terminar a sessã o sem que Winter tivesse
que terminar e admitir que nã o poderia fazê -lo.
Uau.
 O insight a surpreendeu, mas quanto mais ela pensava sobre isso, mais sentido
fazia.
O restante de sua raiva se dissipou. Winter devia ter muito medo de intimidade para
usar uma tentativa de beijo como freio de emergê ncia!
Ela tinha que falar com ela. Hannah pulou do sofá e foi procurá -la.
Winter nã o estava na cozinha. A porta de seu escritó rio estava aberta, mas ela
també m nã o estava lá .
Hannah correu pelo corredor para o quarto de Winter. Esta porta estava fechada. Ela
hesitou, entã o bateu o mais alto que pô de. De jeito nenhum ela queria uma repetiçã o da
ú ltima vez que ela invadiu o quarto de Winter.
Ela aguçou os ouvidos. Houve uma resposta? Ela bateu de novo e desta vez pressionou
a orelha contra a porta.
Tudo permaneceu quieto do outro lado. Winter estava se escondendo ou havia fugido
do apartamento.
Suspirando, Hannah se arrastou pelo corredor e olhou para a porta da frente.
O lugar ao lado estava vazio. Os tê nis de corrida de Winter haviam sumido e Winter
també m.

Capítulo 14
Se olhares de fogo pudessem ter começado um incê ndio, o telefone de Winter teria
pegado fogo.
Amaldiçoando, ela enfiou a mã o debaixo do cobertor, pegou o dispositivo da mesa de
cabeceira e olhou primeiro para a hora.
Que idiota suicida se atrevia a ligar para ela à s sete e meia da manhã de domingo?
Um olhar mais atento ao visor respondeu instantaneamente à sua pergunta.
Ah, aquele babaca. Claro que era Brooke. Ela provavelmente estava ligando para saber
como foi a sessã o de abraços de Winter.
O estô mago de Winter revirou. Por um momento, ela pensou em nã o responder, mas
se a evitasse, Brooke presumiria que ela havia cancelado ou nã o comparecido à sessã o. Ela
deslizou o dedo pela tela e pressionou o telefone contra o ouvido.
— Você já ouviu falar em etiqueta social? Inclui nã o ligar para as pessoas à s sete e
meia nos fins de semana!
— Ah! Uma palestra sobre etiqueta social de Winter Sullivan? — Brooke bufou. — É
como ter aulas de atuaçã o com os Kardashians! Alé m disso, desde quando você acorda
tarde?
Winter geralmente nã o acordava. Mas ela tinha se virado na cama na noite passada e
só tinha adormecido por volta das trê s e meia.
— Eu nã o disse que ainda estava na cama. — Claro, ela també m nã o disse que nã o
estava.
— Entã o pare de reclamar e me diga porque você nã o continuou com a sessã o de
abraços — disse Brooke.
Winter apertou os lá bios. Como Brooke descobrira? Hannah tinha contado a ela? Ela
descartou o pensamento imediatamente. Mesmo que Hannah tivesse encontrado Brooke
em algum lugar, ela nã o teria dito uma palavra sobre a sessã o.
— O que faz você pensar que eu nã o continuei?
— Ló gica — disse Brooke. — Se você tivesse cumprido sua parte no acordo, você teria
me ligado imediatamente para esfregar e garantir que eu continuasse com a coisa de
assistente.
Winter teve que admitir que ela teria feito exatamente isso e ela teria ligado cedo na
manhã de domingo també m, esperando acordar Brooke.
— Entã o, estou certa? — Brooke perguntou. — Você se acovardou e cancelou, nã o foi?
— Claro que nã o cancelei. Cheguei na hora certa e passei por todo o Abraço Sutra
. —
Winter odiava mentir, mas deixaria Brooke presumir que isso significava que ela havia
experimentado todas as posiçõ es de abraço, nã o apenas folheado o livro e olhado as
ilustraçõ es.
Brooke começou a rir.
— Abraço Sutra
? Agora eu sei que você está me enganando. Nã o existe tal coisa.
— Sim existe. Vou pegar uma có pia para você . Tina provavelmente ficará grata se você
conseguir alguma inspiraçã o muito necessá ria nesse departamento. — Winter deu um
sorriso zombeteiro, mesmo sabendo que Brooke nã o podia ver.
— O nome dela é Rina. Você saberia disso se prestasse atençã o. E você també m deve
saber que terminamos há seis meses, entã o nã o preciso do seu livro imaginá rio.
Nenhuma surpresa nisso. Relacionamentos eram a ú nica á rea em que nem ela nem
Brooke haviam se destacado, provavelmente porque tinham os mesmos modelos ruins.
— Nã o é imaginá rio. Pesquise no Google se nã o acredita em mim.
Toques rá pidos reverberaram pelo telefone.
— Só pode estar brincando comigo! Algué m realmente publicou um livro sobre
posiçõ es de abraço? — Brooke ria ainda mais a cada nome das posiçõ es que lia em voz alta.
— Quem quer que tenha inventado esses nomes devia estar drogado com endorfinas ou
algo assim!
— Só porque você nã o tem um osso criativo em seu corpo, nã o significa que os nomes
sejam bobos. — Winter fechou a boca antes que pudesse falar mais. De onde veio a
necessidade de defender o Abraço Sutra
? Ontem, ela pensou que alguns desses nomes eram
bobos també m.
— Entã o, você tentou algum desses? — Brooke perguntou.
— Nã o. Eu tentei o coala em uma á rvore. — Ela nã o mencionou Companheirismo. Se
Brooke pesquisasse no Google e descobrisse que passou a maior parte do tempo com
Hannah sentada ao lado dela, ela declararia a sessã o invá lida e exigiria que Winter
reservasse outra, e isso nã o era uma opçã o, mesmo que Winter estivesse disposta a passar
por toda a provaçã o uma segunda vez. Depois de tentar beijá -la, ela tinha certeza de que
Hannah nunca mais a abraçaria.
— Uma posiçã o? — Brooke perguntou. — Isso é tudo que você fez por uma hora
inteira?
Winter jogou as cobertas para longe quando começou a suar.
— Por que mudar quando você encontrou a perfeiçã o?
Brooke ficou em silê ncio por um tempo, tanto tempo que Winter percebeu que ela nã o
havia acreditado em sua resposta. — O que você nã o está me dizendo?
Jesus, por que sua meia-irmã tinha que ser tã o irritantemente perspicaz?
— Nada a dizer.
— Sim, nã o há mais nada a dizer... porque você terminou a sessã o mais cedo, nã o foi?
Winter mordeu o lá bio inferior.
— E daí? Fiquei o tempo suficiente para descobrir o que é abraço profissional. Nã o há
necessidade de perder mais tempo com isso.
— Aposto que essa atitude caiu bem com a Sra. Martin! — Brooke parecia alegre,
como um vilã o em um filme esfregando as mã os mentalmente. — Ela ficou com raiva?
Winter esperava que Brooke a acusasse de tentar trapacear, exigisse que ela
completasse uma sessã o completa de sessenta minutos e se declarasse a vencedora do
desafio. Por que Brooke nã o estava dominando sua vitó ria sobre ela e rindo do fracasso de
Winter? Esse sempre foi seu passatempo favorito. Por que ela agora estava se concentrando
na reaçã o de Hannah?
Quando a ficha finalmente caiu, Winter quase deu um tapa na testa. Porque era isso
que o desafio realmente pretendia, deixar ela e Hannah com raiva uma da outra! O objetivo
de Brooke nã o era descobrir se os serviços de abraço de Hannah eram legítimos e sua
histó ria sobre Julian ser seu cliente confirmada. Nã o se tratava nem de lançar um desafio
que ela tinha certeza de que Winter iria falhar. Na verdade, Brooke nã o se importava se ela
havia passado pela sessã o ou nã o. De qualquer maneira, Brooke sabia que sairia vencedora,
mesmo que perdesse o desafio. Seu dinheiro provavelmente estava em Winter saindo ou
sendo expulsa por fazer comentá rios sarcá sticos sobre abraço profissional. Mas mesmo
que tivesse ficado durante os sessenta minutos inteiros, Brooke sabia que ficaria
desconfortável perto de Hannah depois.
Deus, ela deveria ter percebido. No momento em que Brooke concordou em contratar
uma assistente, ela deveria saber que sua meia-irmã estava apostando em algo muito
maior do que um desafio. Isso tinha sido sobre a herança desde o início. Claramente,
Brooke esperava que, se tornasse as coisas entre elas ainda mais estranhas, isso levaria
Winter ao limite e a faria se mudar.
E ela nã o estava muito longe com essa suposiçã o. Ontem, Winter havia ido para seu
apartamento para evitar Hannah, e ela quase passara
 a noite lá , mesmo sabendo que isso
significaria perder seu direito a metade do pré dio.
Merda.
 Winter esmagou o punho no travesseiro.
— Ooh, você está sem palavras? — Brooke riu. — Essa é a primeira vez! Ela deve ter
ficado muito brava. O que você fez para deixá -la tã o furiosa?
— Furiosa? Por que ela ficaria furiosa? — Winter respondeu o mais calmamente que
pô de. — Ela me ensinou que abraçar tem tudo a ver com consentimento e fazer as escolhas
que parecem certas para você . E como terminar a sessã o alguns minutos antes parecia
muito certo para mim, ela era totalmente a favor de terminar. Na verdade, foi ela quem
tocou no assunto primeiro.
Brooke nã o precisava saber o verdadeiro motivo disso. Deixe-a pensar que tudo
estava ó timo entre eles.
— Droga, você deve ser pé ssimo em abraços para ela sugerir isso! — Brooke riu de
novo, mas o tom de triunfo havia sumido de seu tom.
Bom. Ela havia engolido a histó ria, pelo menos por enquanto. Melhor mudar de
assunto para que Brooke nã o começasse a questionar como a sessã o realmente havia
terminado.
— Sou muito melhor em abraço do que você em lidar com assistentes. A propó sito,
como está indo a busca pelo seu novo braço direito?
— Bem, como algué m acabou de me dizer, a etiqueta social proíbe ligar para
candidatos promissores no fim de semana. Alé m disso, por que eu contrataria algué m se
você nã o cumpriu sua parte no acordo?
— Oh nã o. Você nã o está desistindo, Brooke Lambert! Eu fiz isso... mas nã o até o fim.
— Winter acrescentou a segunda parte da frase em um murmú rio. — Já que passei noventa
por cento do meu tempo, você tem que fazer o mesmo. Noventa por cento de noventa e dois
dias é igual a...
— Oitenta e trê s dias. — Brooke gemeu.
— Oitenta e trê s dias — repetiu Winter, só para frisar. — Depois disso, pode demitir a
pobre alma por mim, mas precisa contratar algué m. Se nã o encontrar ningué m, me avise.
Eu ficaria feliz em...
— Por favor. — Brooke bufou. — Eu dirijo uma agê ncia de recrutamento de sucesso e
você acha que preciso de sua ajuda para contratar uma assistente?
— Aparentemente, você nã o é muito boa no seu trabalho, considerando que ainda nã o
encontrou algué m.
— Já ouviu falar em qualidade acima de velocidade? — Brooke atirou de volta. —
Risca isso. Como você saiu cedo da sessã o de carinho, sabemos a resposta para essa
pergunta. Tudo bem, irmã . Vou deixar você voltar a dormir agora.
Antes que Winter pudesse responder, Brooke encerrou a ligaçã o, certificando-se de
dizer a ú ltima palavra.
Winter se forçou a desligar o telefone suavemente em vez de jogá -lo para o outro lado
da sala.
Mais uma vez, a filha de ouro de Julian a havia derrotado.
Não. Winter chutou as cobertas da cama. Ela ainda nã o havia perdido. E daí se o
relacionamento instável que ela e Hannah haviam formado nas ú ltimas duas semanas e
meia havia desaparecido? A condiçã o do contrato dizia apenas que elas deveriam viver sob
o mesmo teto por noventa e dois dias, nã o que tivessem que aproveitá -lo. Ela
simplesmente ficaria sozinha pelas pró ximas onze semanas e esperaria que Hannah fizesse
o mesmo.
***
Se houvesse um mestrado em evasã o, Winter sabia que o teria conquistado esta
semana.
Desde a sessã o de abraços na tarde de sá bado, ela se enterrou em seu trabalho e
conseguiu evitar ver Hannah, saindo de seu escritó rio apenas quando sabia que Hannah
havia saído ou estava no escritó rio com um cliente.
Ela sabia que nã o enfrentar um problema de frente era incomum para ela.
Normalmente, ela era do tipo que tira o Band-Aid rá pido. Mas desta vez, ela nã o tinha
certeza se queria saber o que se escondia sob o Band-Aid. Ela nã o estava pronta para
enfrentar Hannah e as perguntas que ela certamente faria.
No domingo, ela colocou uma nota de cem dó lares na caneca favorita de Hannah como
pagamento pela curta sessã o. Ela debateu por horas se deveria també m colocar um bilhete
com um pedido de desculpas, mas finalmente decidiu contra isso.
Isso apenas encorajaria Hannah a procurá -la para conversar. Alé m disso, Hannah era
tã o culpada por todo aquele conceito fodido de abraçar quase estranhos!
Na manhã seguinte, ela encontrou o dinheiro enfiado em um canto da má quina de
café expresso, junto com um bilhete que dizia: Obrigada, mas não quero ser paga por essa
sessão. Vamos conversar, ok?
Winter tinha lido a nota meia dú zia de vezes, cada vez imaginando Hannah dizendo
isso com um tom diferente. Hannah estava com raiva dela?
O que você acha? Claro que ela está com raiva!
E ela tinha todo o direito de estar. Quanto mais o tempo passava, pior Winter se sentia
sobre o que havia feito.
Na terça-feira, ela colocou o dinheiro de volta na caneca de Hannah e, ​desta vez,
acrescentou uma nota. Levou menos tempo para escrever o relató rio trimestral para seu
maior cliente do que para redigir aquela mensagem curta. Finalmente, ela decidiu: Por
favor, pegue o dinheiro. Você merece isso. Não foi sua culpa termos encerrado a sessão mais
cedo.
Foi o mais pró ximo de um pedido de desculpas que ela conseguiu sem dizer isso
abertamente.
De alguma forma, ela nã o ficou surpresa ao encontrar a conta em sua caneca de café
na quarta-feira. Desta vez, o bilhete de Hannah dizia
: Nenhum pagamento é necessário. Eu
disse ao Abraços Experts que você teve que cancelar porque estava doente, então eles não
esperam uma parte do dinheiro. Podemos conversar por favor? Estou ficando sem notas
adesivas.
Essa ú ltima observaçã o quase fez Winter sorrir, mas ela nã o estava pronta para rir
dessa maldita confusã o... ou para falar sobre isso.
Uma parte dela sabia que estava entrando no jogo de Brooke. Quanto mais ela evitava
Hannah, mais estranha a situaçã o se tornava. Mas o que ela poderia dizer que nã o piorasse
ainda mais as coisas? Ela certamente nã o poderia dizer a ela que havia agendado a sessã o
apenas por um desafio. Hannah já era sensível sobre as pessoas nã o levarem a sé rio seu
trabalho como abraçadora profissional, entã o isso a deixaria ainda mais irritada.
Até que ela descobrisse o que dizer, conversas com post-its teriam que servir.
Antes que ela pudesse decidir se colocaria o dinheiro de volta na caneca de Hannah,
uma batida soou na porta.
Como Hannah estava na sala com um cliente, Winter sabia que deveria ser ela a
atender a porta. Enquanto caminhava pelo corredor, ela rezou para que nã o fosse Brooke
vindo questionar Hannah sobre o verdadeiro motivo de terem interrompido a sessã o de
abraço.
Quando ela espiou pela abertura de uma polegada de largura, nã o era sua meia-irmã .
Era a mulher do apartamento doze. Winter tinha esquecido seu nome. Algo que soava
parecido com o nome de Hannah. Helena? Haley? Harpista?
— Como posso ajudá -la, senhorita...?
— Burkhart — disse a inquilina. — Mas, por favor, me chame de Heather.
Winter assentiu com a cabeça.
— Você está aqui para finalmente pegar seu prato de volta, certo?
— Oh, nã o, Hannah já devolveu. Estou aqui porque conversei com os outros inquilinos
e finalmente concordamos no dia perfeito para sua festa de boas-vindas. Hannah disse que
funciona para ela, mas ela nã o tinha certeza se você tinha outros planos. Eu sei que é muito
tarde. Se nã o for um bom momento para você , podemos adiar em uma semana, mas pensei
em verificar.
— Que dia você escolheu? — Winter perguntou. Nã o que ela se importasse. Ela nã o
estava planejando ir à festa, especialmente porque estava tentando evitar Hannah.
— Hum, nesta sexta-feira.
Isso seria depois de amanhã .
— Ah, que pena. Tenho uma reuniã o com um cliente, entã o nã o poderei comparecer.
Heather sorriu.
— Uma reuniã o que vai durar o dia inteiro?
— O quê ?
— Você nem perguntou a que horas a festa vai começar antes de me dizer que nã o
pode ir.
Droga.
  Esse jogo de esconde-esconde com Hannah realmente a deixou
desequilibrada.
— Achei que o horá rio mais provável para a festa seria no início da noite, quando
todos os inquilinos estiverem de folga, mas nã o tã o tarde que as pessoas que trabalham aos
sá bados tenham que sair mais cedo.
Heather continuou a sorrir como se estivesse vendo atravé s dela.
O que diabos aconteceu com sua cara de pô quer estelar?
— Olha — disse Heather. — Se você nã o gosta de festas, eu entendo totalmente. Mas
estávamos todos ansiosos para conhecer nossas futuras senhorias.
Winter a encarou. Todos no pré dio sabiam que elas nã o eram apenas outros
inquilinos? Como diabos eles descobriram? Alé m de Winter, Hannah e o advogado, ningué m
deveria saber que Julian havia deixado o pré dio para elas.
O sorriso de Heather se alargou.
— Sra. Kline, do primeiro andar, ouviu você falar com o advogado um dia antes de se
mudar.
Merda. Agora a festa havia passado de um encontro informal para dois novos
inquilinos para um encontro mais oficial para eles como suas futuras senhorias.
Conhecendo Hannah e suas fantá sticas habilidades com as pessoas, todos iriam gostar dela
rapidamente e, se Winter nã o aparecesse, seus inquilinos presumiriam que Hannah era a
pessoa com quem conversar sobre quaisquer decisõ es relativas ao pré dio no futuro.
Winter reprimiu um suspiro.
— Que horas?
— Seis está bem para você ?
— Vou ver se consigo mudar minha reuniã o.
Heather deu-lhe um duplo sinal de positivo.
— Perfeito!
Mais como horrível. Ela nã o apenas teria que sair em uma festa, mas també m teria
que falar com Hannah e fingir que tudo estava ó timo entre elas.
À s vezes, Winter se perguntava se herdar metade do pré dio realmente valia a pena.
***
Hannah deu uma batida muito distinta, duas batidas longas, seguidas por duas curtas.
Winter estava muito familiarizado com o ritmo agora porque Hannah tinha batido em sua
porta vá rias vezes todos os dias desde a fatídica sessã o de abraços.
Winter se escondeu em seu escritó rio, colocou fones de ouvido e fingiu nã o ouvi-la.
Ela até trabalhou em seu apartamento por algumas horas ontem, quando foi pegar sua
correspondê ncia. Ela sabia que era infantil. Mas como ela deveria enfrentar Hannah depois
de assinar um contrato, concordando em manter as coisas platô nicas e depois tentar beijá -
la? O que ela poderia dizer para explicar isso, alé m de admitir que era uma idiota?
Na sexta-feira, uma hora antes do início da festa de boas-vindas, Hannah tentou
novamente.
— Winter? — ela chamou pela porta e repetiu a batida. — Podemos conversar antes
de descermos para a festa?
Sua voz soava tã o pró xima que Winter soube que ela estava encostada na porta. Ela
mordeu o lá bio e nã o respondeu. Jesus. Desde quando ela era tã o covarde? Ela nunca em sua
vida se esquivou de confrontos. Por que ela de repente se importaria com o que Hannah
pensava dela?
Mas no fundo, ela sabia que se importava. Ela nã o queria abrir a porta e ver o
julgamento nos olhos de Hannah pelo que ela tinha feito.
— Eu sei que você está aí. — Hannah suspirou audivelmente. — Vamos, Winter.
Temos que conversar e limpar o ar em algum momento. Ainda temos cerca de setenta dias
pela frente.
Setenta e dois dias, sete horas e quatro minutos. Desde o sá bado anterior, Winter
sentia como se estivesse contando cada segundo. Sentou-se em silê ncio e sem se mover
para evitar que a cadeira do escritó rio rangesse e denunciasse sua presença.
— Winter? Olá ? Você está ciente de que estou a poucos passos de sua amada má quina
de café expresso? Somos só ela e eu aqui, sozinhas. — Hannah prolongou as duas ú ltimas
palavras, como uma narraçã o assustadora de um filme de terror ruim. — Você nã o tem
medo que eu a sequestre se você nã o vier resgatá -la das minhas garras malignas? Eu
poderia alimentá -la com café Folgers, aqueles que nã o sã o orgâ nicos!
Winter levou a mã o à boca. Ficar quieta seria muito mais fá cil se Hannah nã o fosse
tã o engraçada. Ela nã o estava mais com raiva de Winter? Ou ela estava apenas escondendo
bem?
Depois de mais um minuto, Hannah suspirou novamente.
— Deus, você é a pessoa mais teimosa que já conheci, e isso quer dizer alguma coisa,
porque nunca pensei que algué m pudesse vencer minha mã e nesse departamento! Tudo
bem. Acho que te vejo na festa. — Seus passos se arrastaram pelo corredor, entã o a porta de
seu quarto se fechou.
Winter soltou a respiraçã o que estava segurando. Bom. Contanto que ela chegasse à
festa sem encontrar Hannah, ela estaria segura pelo resto da noite. Hannah era grande em
confidencialidade, entã o ela nã o tentaria falar sobre isso na festa, com tantas pessoas ao
redor.
Sempre que Winter precisava aparecer em uma festa, ela sempre era a ú ltima a chegar
e a primeira a sair. Hannah provavelmente presumiria que ela faria exatamente isso, entã o,
em vez disso, Winter desceria cedo.
À s quinze para as seis,
 ela saiu furtivamente pela porta. A festa de boas-vindas seria
realizada na sala comunitá ria no porã o, entã o Winter decidiu pegar o elevador, menos
chance de encontrar Hannah na escada.
Quando ela entrou no elevador, apertou o botã o para o porã o e observou as portas
começarem a se fechar, a tensã o foi drenada de seus mú sculos. Ufa! Ela tinha conseguido...
Passos urgentes correram em direçã o a ela, entã o Hannah se espremeu pela abertura
estreita pouco antes de a porta se fechar e o elevador começar a descer.
Ah Merda. Agora ela estava presa no menor e mais lento elevador de todo o Oregon
com a mulher que ela tentou beijar. Ela engoliu contra o arranhã o seco em sua garganta.
Hannah se colocou na frente do painel de controle, bloqueando o acesso de Winter a
ele. Aparentemente, ela havia se arrumado para a festa de boas-vindas. Foram-se as sempre
presentes calças de ioga. Ela usava um vestido rosa profundo que combinava com a cor de
suas bochechas coradas. Ele valorizava suas curvas sem ser sugestivo.
Nã o que Winter notasse o que ela usava.
Ok, talvez ela tenha. Mas só porque nã o era tã o ruim para uma mulher que ganhava a
vida de pijama e porque ela preferia se concentrar em sua roupa do que olhar em seus
olhos.
Quando Winter nã o disse nada, Hannah acenou com a mã o como se quisesse chamar
sua atençã o.
— Você vai finalmente falar comigo agora ou preciso apertar o botã o de parada de
emergê ncia?
Por vá rios segundos, as cordas vocais de Winter nã o funcionaram. Nem seu cé rebro. A
primeira coisa que ela pensou em dizer foi — Estar presa em um elevador comigo é uma
fantasia sua?
— Essa é realmente a sua estraté gia sempre que se sente desconfortável — disse
Hannah.
— O quê ? O que você está falando?
— Fazendo uma piada sexual ou avanços sexuais — Hannah respondeu. — É por isso
que você tentou me beijar. Você usou isso como um botã o de parada de emergê ncia para
sair da sessã o sem admitir que isso a deixava muito nervosa.
— Besteira. — A palavra explodiu de Winter. — Eu te beijei porque...
Com um ruído metá lico, o elevador chegou ao nível do porã o, e a porta se abriu.
Winter resistiu ao impulso de enxugar o suor frio da testa. Ufa. Salva pelo elevador.
Mas, em vez de sair, Hannah apertou o fechar a porta , depois o botã o do ú ltimo andar.
Antes que Winter pudesse tentar passar por ela, a porta se fechou e o elevador
começou a subir, movendo-se no ritmo de uma tartaruga com artrite.
Droga.
 Winter fez uma careta.
— Porque? — perguntou Hannah.
— Porque… — Até agora, ela evitou pensar nisso muito de perto, em vez disso se
concentrou nas maquinaçõ es nefastas de Brooke que a colocaram nessa confusã o. Alé m
disso, era bastante ó bvio, nã o era? — Porque nossos rostos estavam a apenas alguns
centímetros de distâ ncia e, bem, seus lá bios pareciam muito macios, entã o eu apenas… —
O calor nas bochechas de Winter aumentava com cada palavra. O ar no minú sculo elevador
estava esquentando ou ela estava corando? Ela nã o corava desde a puberdade.
— Para citar você , besteira. Eu estava lá , Winter. Como você acabou de dizer, nossos
rostos estavam a apenas alguns centímetros de distâ ncia. Olhei em seus olhos, e o que vi
nã o foi desejo. Era raiva e medo. Principalmente medo. Nã o reconheci quando estávamos
na situaçã o, porque estava um pouco, hum, distraída, mas agora tenho quase certeza de que
era isso.
— Besteira!
O elevador chegou ao ú ltimo andar e a porta se abriu.
Hannah nã o saiu do caminho ou recuou, mas també m nã o transformou isso em um
confronto hostil. Seu olhar até continha uma pitada de diversã o enquanto ela olhava para
Winter.
— Vamos fazer isso a noite toda? Se revezando para apertar o botã o do elevador e
dizer 'besteira'?
Apesar da tensã o que fazia todo o corpo de Winter doer, ela nã o pô de evitar o esboço
de um sorriso que surgiu em seus lá bios. Ela apertou o botã o para o porã o.
— Possivelmente.
Hannah sorriu de volta. Depois de alguns momentos, sua expressã o ficou sé ria. Ela
estendeu a mã o, mas entã o se deteve antes que sua mã o pudesse fazer contato com o braço
de Winter. — Eu sinto muito.
Winter ficou olhando. Ela tinha ouvido errado?
— Você
 está se desculpando comigo
?
— Sim. Porque aparentemente nã o consegui criar uma atmosfera em que você se
sentisse confortável o suficiente para falar e encerrar a sessã o. Você pensou que tinha que
recorrer a me beijar para que pudesse escapar do abraço.
— Eu nã o pensei nisso! — Ela nã o tinha pensado, certo? Ela tentou beijar Hannah
apenas porque ela queria. Mas quanto mais ela pensava nisso, mais as palavras de Hannah
começavam a soar verdadeiras.
— Por favor, seja honesto comigo, e consigo mesma, e responda a apenas uma
pergunta.
Winter cruzou os braços sobre o peito e a olhou com cautela.
— Uma pergunta e entã o você vai deixar isso passar?
Hannah assentiu. — Eu prometo.
— Tudo bem. Faça sua pergunta.
O elevador deslizou até parar no nível do porã o.
Assim que a porta se abriu, Hannah apertou o botã o do ú ltimo andar sem desviar os
olhos de Winter.
— Por que você agendou uma sessã o de abraços comigo?
Apenas o zumbido do elevador que as levava de volta ao quarto andar interrompeu o
silê ncio. A cabeça de Winter girou e ela tinha quase certeza de que nã o era do vaivé m do
elevador. Ela nã o esperava essa pergunta. Ela deveria mentir e inventar outro motivo que
soaria meio plausível? Parecia muito mais seguro do que dizer a verdade.
Hannah a olhou fixamente. O olhar em seus olhos era caloroso e sem julgamento ou
desconfiança, mesmo depois que Winter praticamente a emboscou durante a sessã o de
carinho e se recusou a falar sobre isso.
Incrível. Winter nã o entendia como Hannah podia encarar o mundo com tanta
franqueza, mas, no fundo, nã o conseguia deixar de admirá -la. Ela realmente queria
recompensar aquela simpatia e compaixã o com uma mentira?
Não, decidiu Winter. Ela já se sentia mal o suficiente sobre aquele quase beijo; ela nã o
queria adicionar mentira a ele. Hannah merecia coisa melhor.
Merda. Desde quando ela se preocupa com os sentimentos dos outros?
— Eu fiz isso porque Brooke me desafiou — disse ela antes que pudesse se convencer
do contrá rio.
Hannah olhou para ela como se fosse a ú ltima coisa que ela esperava.
— Ela te desafiou?
Winter esfregou seu pescoço. Quando se fala isso em voz alta, soa muito imaturo, nã o
é?
— Temos uma relaçã o muito complicada.
Mais uma vez, a porta do elevador se abriu no ú ltimo andar e, desta vez, Hannah
evitou que ela fechasse bloqueando-a com o corpo em vez de apertar o botã o do porã o
novamente.
— Eu entendi isso — ela murmurou. — Por que ela desafiaria você marcar uma
sessã o comigo?
— Ela disse que queria ver se a sua histó ria confirmava... sobre você ser quem diz ser,
em relaçã o a Julian.
Hannah pressionou o punho cerrado contra o peito, como se as palavras de Winter a
tivessem machucado fisicamente.
— Espere! Você ... você pensou que eu estava mentindo sobre ser uma abraçadora
profissional e ele ser meu cliente? Ou que de alguma forma enganei Jules para me
presentear com metade do pré dio?
— Nã o! — Winter correu para dizer. — Quero dizer, talvez seja o que eu pensei no
começo. Eu nã o conseguia imaginar Julian abraçado a ningué m. Ainda nã o consigo, para ser
sincera.
— Bem, ele ficava!
Winter ergueu as mã os.
— Eu sei. Nã o estou dizendo que você está mentindo. Eu só … Esse nã o é o homem
que eu conhecia. Em quarenta anos, ele nunca me abraçou. Nem uma vez. — Merda.
 Ela nã o
pretendia contar a ela aquela histó ria triste e deixar Hannah se sentir mal por ela. — De
qualquer forma, nã o foi por isso que marquei a sessã o. Nã o é nem a verdadeira razã o pela
qual Brooke me desafiou. Isso nã o teve nada a ver com você e tudo a ver com ela e comigo.
Hannah franziu o cenho.
— Eu nã o entendo o que você quer dizer.
— Brooke sabe que nã o sou do tipo fofinha. Ela nã o achava que eu iria participar de
uma sessã o de abraços. Mesmo se eu fizesse, ela presumiu que isso tornaria as coisas entre
você e eu tã o estranhas que uma de nó s se mudaria mais cedo ou mais tarde... e ela herdaria
metade do pré dio.
Hannah caiu contra o lado da porta aberta do elevador.
— Jesus! Isso é tã o fodido.
Winter deu de ombros.
— Eu acho que é , mas eu deveria ter esperado isso. Sempre foi assim.
— Por que há tanto sangue ruim entre você s duas? Quer dizer, você s sã o irmã s! Nã o
consigo me imaginar fazendo algo assim com um dos meus irmã os. É porque Jules e sua
mã e... hum...?
Winter sabia o que ela estava pedindo. Ela tentou jogar com calma.
— Entã o você descobriu que ele traiu a mã e de Brooke com a minha, hein?
— Nã o é difícil de adivinhar, com você s sendo meias-irmã s e mais ou menos da
mesma idade. Eu só nã o queria colocar meu dedo em velhas feridas, entã o nã o disse nada.
Winter soltou um bufo.
— Nã o é uma ferida. Eu nã o me importo se ela me odeia. Eu nã o poderia me importar
menos com ela també m.
— Besteira. — O tom gentil de Hannah contradizia sua resposta direta.
— Estamos começando o jogo da ‘besteira’ de novo?
— Apenas chamando como eu vejo. Se você nã o se importa nem um pouco com sua
irmã , por que se incomodaria em deixá -la pensar que você nã o consegue passar por uma
sessã o de abraço? E nã o me diga que nã o se importa. Por que outro motivo você teria
aceitado o desafio?
— Porque estou farta dela sempre sair como a vencedora, a criança de ouro que nã o
erra, enquanto eu sou o resultado indesejado de um caso com a secretá ria dele. — Winter
mordeu o interior de sua bochecha com tanta força que o gosto acobreado de sangue
cobriu sua língua. Por que diabos ela continuava contando a Hannah coisas que nunca havia
contado a ningué m?
Hannah se afastou de onde ela havia segurado a porta aberta com seu corpo, agora
totalmente de volta para dentro do elevador. Ela parou na frente de Winter sem tocá -la,
embora Winter pudesse dizer que ela estava ansiosa para dar um tapinha ou aperto
reconfortante.
— Sinto muito por ele ter feito você se sentir assim.
Sua genuína compaixã o ameaçou perfurar a armadura de indiferença que Winter
cultivou ao longo dos anos. Ela limpou com um golpe de sua mã o. Nã o adiantava chorar
sobre o leite derramado. Seu Apple Watch apitou com um lembrete que ela havia definido
anteriormente, oferecendo uma fuga muito necessá ria.
— Se nã o nos apressarmos, vamos nos atrasar para nossa pró pria festa de boas-
vindas.
Agora que Hannah nã o estava mais bloqueando a porta com seu corpo, ela se fechou e
Winter rapidamente passou por ela e apertou o botã o do porã o, ansiosa para escapar dessa
situaçã o.
O elevador começou a se mover com um zumbido alto que cobria o silê ncio entre elas.
Winter sabia que ela poderia ter encerrado a conversa aqui e Hannah provavelmente
estaria disposta a deixá -la ir. Mas as palavras nã o ditas eram como um punhado de pedras
no fundo de seu estô mago.
— Falando em lamentar... eu nã o deveria ter feito o que fiz. — Ela olhou para seus
brilhantes sapatos italianos, entã o se forçou a olhar nos olhos de Hannah. — Tentar beijar
você , quero dizer. Isso nã o foi bom e prometo que nã o vai acontecer de novo.
— Obrigada. Eu aprecio isso — disse Hannah. — Mas da pró xima vez, por favor, nã o se
recuse a falar comigo por dias ou me obrigue a te caçar em um elevador.
— Como eu disse, nã o haverá uma pró xima vez.
Hannah a olhou com uma expressã o que Winter nã o pô de interpretar. Finalmente, ela
assentiu. — Tudo bem.
A porta do elevador se abriu no porã o.
— Entã o — disse Winter quando Hannah se virou e saiu — Estamos bem? — O fato de
haver um nós
 a fez parar por um momento antes de seguir Hannah para fora do elevador.
Hannah parou e se virou para ela.
— Você está perguntando porque nã o quer que Brooke ganhe?
— Sim — disse Winter. — Ela nã o deveria se safar com uma merda manipuladora
como essa.
— Concordo. — Hannah assentiu, mas seus lá bios carnudos, lá bios que Winter
deveria parar de olhar, se comprimiram um pouquinho antes de ela se virar e caminhar em
direçã o à sala comunitá ria.
Essa resposta franca feriu seus sentimentos?
Droga. Brooke estava certa. A etiqueta social nã o era o seu forte.
— E — Winter gritou atrá s dela — porque eu realmente quero que fiquemos bem. —
Hum, isso soou muito aconchegante. — Quero dizer, eu odiaria acordar uma manhã e
encontrar grã os Folgers na minha má quina de café expresso.
Hannah riu.
— Entã o você me ouviu.
— Eu estava trabalhando — disse Winter.
— Claro que você estava trabalhando em uma desculpa para tentar me beijar.
Algué m pigarreou atrá s delas.
Excelente. Quem quer que fosse, eles provavelmente ouviram o que Hannah disse.
Winter beliscou a ponta do nariz, depois fez sua melhor expressã o impassível e se virou.
Claro que tinha que ser Heather. Ela segurava uma tigela gigante coberta em suas
mã os e tinha um sorriso ainda maior no rosto.
— O quê ? — Winter a nivelou com um olhar de advertê ncia.
— Oh nada. Fico feliz em saber que minhas futuras senhorias estã o se dando tã o bem.
— Heather riu. — Vamos. Vou apresentá -las a todos que você s ainda nã o conheceram.
Suspirando, Winter a deixou conduzir até a sala comunitá ria.
***
Quando a porta do elevador se fechou atrá s delas, Hannah e Winter caíram contra as
paredes de metal e soltaram duas respiraçõ es audivelmente.
Winter olhou para ela.
— Por que você parece tã o aliviada? Você é ó tima — ela girou o dedo indicador —
nessa coisa de se misturar. Todos os inquilinos claramente te amaram.
— Eles amaram? — Foi ó timo ouvir Winter reconhecer isso. Hannah conversou com
cada um dos inquilinos em algum momento durante a noite, e todos pareciam boas
pessoas. — Eu me diverti muito. Adoro passar tempo com as pessoas, mas depois també m
adoro voltar para casa, principalmente depois de grandes festas como esta. Meu cé rebro
nã o consegue acompanhar todos os novos rostos.
Winter murmurou em acordo.
— Sim, é melhor eles nã o esperarem uma festa anual ou algo assim.
Hannah moveu o braço para cutucá -la com o cotovelo, entã o parou. Ela sempre foi
uma pessoa naturalmente tá til e tendia a incorporar pequenos toques casuais em uma
conversa sem pensar muito nisso. Seus amigos e a maioria de seus clientes adoravam, mas
com Winter, ela realmente precisava parar. Se a sessã o de abraços abortada havia mostrado
a ela uma coisa, era o quã o desconfortável Winter ficava com qualquer contato físico.
Ela baixou o braço.
— Oh vamos lá . Nã o finja que nã o tem nenhuma habilidade social.
— Eu nunca disse isso. Minha habilidade social é intimidar as pessoas para ficarem
bem longe de mim.
Hannah sorriu.
— Sim, claramente, a Sra. Kline ficou tã o intimidada por você , ela estava tremendo em
seus Crocs. É por isso que ela se agarrou ao seu braço a maior parte da noite e continuou
amontoando comida em seu prato. Eu juro, ela tem uma queda por você ! — Enquanto ela
conversava com outros inquilinos, ela continuou olhando para Winter e seu inquilino mais
antigo. Winter usava sua má scara profissional com todos os outros, mas havia uma
gentileza em seus olhos quando ela se inclinava para que a Sra. Kline pudesse ouvi-la
melhor em meio ao barulho da conversa.
— Besteira! — Disse Winter. — A mulher tem oitenta e cinco anos! Ela nã o tem uma
queda por mim.
— Essa palavra e os elevadores… Se nã o tomarmos cuidado, isso vai virar coisa nossa.
E só para constar, nã o há limite de idade para paqueras. Pretendo continuar apaixonada por
meu marido ou minha esposa quando tiver oitenta e cinco anos.
Winter gemeu.
— Claro que você seria uma româ ntica sonhadora.
O elevador chegou ao ú ltimo andar e elas saíram.
— O que isso deveria significar? — Claro, Hannah já sabia o que ela queria dizer, mas
era divertido brigar verbalmente com Winter. Apó s cinco dias de silê ncio gelado, qualquer
conversa entre elas era um alívio.
Winter destrancou a porta da frente e a manteve aberta para que Hannah entrasse
primeiro.
  — Nada — ela disse enquanto a seguia. — Isso só se encaixa nessa coisa zen de
abraços que vã o te curar.
— Falando na minha coisa zen-que-vã o-curar-você ... eu tenho uma sessã o amanhã de
manhã , entã o é melhor eu ir para a cama — Hannah disse.
— Tudo bem. Boa noite.
— Boa noite. — Enquanto Hannah parava em frente à porta de seu quarto, Winter
continuou caminhando em direçã o a seu pró prio quarto. — Ah, Winter?
Winter parou e olhou para trá s em sua direçã o, as sobrancelhas levantadas em uma
expressã o meio curiosa, meio cautelosa.
— Sim?
— É melhor eu nã o encontrar aquela nota de cem dó lares na minha caneca novamente
amanhã de manhã .
Winter se virou para encará -la completamente.
— Vamos. Você ganhou esse dinheiro de forma justa.
— Nã o, nã o ganhei. Essa sessã o nã o estava de acordo com meus padrõ es habituais.
Comecei tudo errado e piorei a partir daí. Eu me sentiria culpada se aceitasse algum
dinheiro por isso.
— Cristo, e você diz que eu sou a teimosa! — Um rosnado baixo flutuou pelo corredor.
— Tudo bem. Nã o vou colocar o dinheiro na sua caneca.
— Ou em qualquer outro lugar — acrescentou Hannah.
— Tudo bem, ou em qualquer outro lugar — repetiu Winter. — Nenhum dinheiro
mudará de mã os. Feliz agora?
Hannah assentiu.
— Sim. Obrigada.
Foi só quando a porta se fechou atrá s de Winter que Hannah percebeu o quã o
cuidadosamente ela havia formulado a resposta. Nenhum dinheiro mudaria de mã os... o
que nã o descartava Winter tentando pagá -la pela sessã o de outras maneiras nã o
monetá rias.
Oh Deus ... Conhecendo Winter, ela aparecia com cactos no valor de cem dó lares para
decorar a casa.

Capítulo 15
Alguns dias depois, Hannah estava deitada no sofá da sala e tentou virar a pá gina de
seu romance com uma mã o enquanto pegava um pedaço de chocolate com a outra. Seu
olhar permanecia
 fixo no livro enquanto ela colocava um quadrado de chocolate amargo
com framboesa em sua boca.
O romance era Write for Her
, de Kim Hartfield. Nessa cena, os personagens principais,
uma escritora de sucesso e dona de uma cafeteria que odiava ler, investigavam o misté rio
de porque esta ú ltima bocejava a cada livro que tentava ler.
Hannah també m nã o entendia. Ela sempre adorou se perder nas pá ginas de um bom
livro, especialmente um romance. Como algué m poderia nã o gostar disso?
Finalmente, as duas personagens encontraram a explicaçã o.
O livro caiu em sua barriga e Hannah quase engasgou com o pedaço de chocolate
derretendo em sua boca. Caralho! A dona da cafeteria tinha afantasia!
Os eventos descritos em um livro nã o se desenrolavam como um filme em sua mente
e era por isso que a leitura nã o despertava seu interesse.
Hannah també m nã o entendia esse tipo filme que passava na mente e era por isso que
ela evitava livros cheios de longas descriçõ es de cená rios, mas para ela isso nã o significava
que ela nã o pudesse se perder em mundos fictícios. Ela lia para as emoçõ es em primeiro
lugar.
Mas uau! Era tã o legal encontrar algué m com afantasia em um livro, mesmo que nã o
gostasse de ler tanto quanto ela. Ela nunca havia encontrado um personagem afantá sico em
nenhum livro, filme ou programa de TV, o que provavelmente foi o motivo pelo qual ela
levou quase trê s dé cadas para descobrir que seu cé rebro funcionava de maneira diferente e
que outras pessoas nã o estavam apenas usando metá foras quando falavam sobre imagens
mentais ou imaginar coisas.
Hannah sentou-se e releu o pará grafo, apenas pelo prazer de ver sua pró pria
experiê ncia refletida em um livro. Ela agarrou o romance com as duas mã os e saltou para
cima e para baixo no sofá .
— Isso, isso, isso!
— Hum, você tem um minuto ou devo voltar mais tarde? — veio a voz de Winter da
porta.
Hannah largou o livro como se tivesse sido pega lendo pornografia.
Winter estava encostada na porta, com o laptop debaixo do braço e um brilho
divertido nos olhos.
— Nã o, entre. — Hannah pegou o livro e o colocou na mesinha de centro.
Fazia cinco dias desde a conversa no elevador e, embora Winter tivesse parado de
evitá -la, ela també m nã o se esforçara
 para falar com Hannah, como se ainda nã o soubesse
o que dizer a ela depois da maneira como a sessã o de abraços delas havia terminado. Esta
foi a primeira vez que ela procurou Hannah.
Winter se sentou na outra ponta do sofá e olhou para o romance.
— Deve ser uma leitura mais emocionante do que o livro sobre marketing que está
esperando no meu aplicativo de leitura agora.
— Definitivamente. Você pode pegar emprestado assim que eu terminar, se quiser.
— Nã o, obrigada. — Winter quase torceu o nariz. — Romance nã o é minha praia.
Ela estava falando apenas sobre romances ou sobre relacionamentos româ nticos
també m? Nã o que isso importasse porque Winter nã o era o tipo dela, embora ela fosse
inegavelmente gostosa. Hannah limpou a garganta. — Existe algo que eu possa fazer por
você ?
— Mais como o contrá rio. Primeiro... — Winter entregou a Hannah um objeto amarelo
neon.
Era uma pilha de notas adesivas. Ela olhou para elas. Por que Winter estava dando
notas adesivas para ela?
— Você disse que as suas estavam acabando — disse Winter.
Hannah lembrou-se dos bilhetes que haviam deixado uma para a outra na cozinha na
semana anterior, quando nã o conversavam. Ela começou a rir. — Obrigada, mas espero que
isso nã o signifique que você queira voltar à s conversas de post-it.
— Nã o. Apenas pagando uma dívida. E eu queria te mostrar isso. — Winter deslizou
para mais perto no sofá , abriu seu laptop e o entregou.
Hannah o colocou sobre as coxas.
O navegador estava aberto, exibindo um site. Um banner mostrava a foto de um casal
totalmente vestido abraçado. O menu era em tom de manga suave, uma das cores favoritas
de Hannah, e os itens do menu incluíam regras de abraço, sobre abraços
  e agendar uma
sessão
. Era um site bonito, moderno, mais convidativo e Hannah nunca o tinha visto antes,
embora conhecesse ou pelo menos tivesse ouvido falar da maioria dos abraçadores
profissionais, nã o apenas em Portland, mas també m em outras cidades.
— Você está verificando a concorrê ncia? — Hannah riu. — Nã o achei que você estaria
interessada em agendar outra sessã o com um abraçador profissional.
Se Winter fosse cató lica, provavelmente teria feito o sinal da cruz.
— Eu nã o estou. Este é o seu site.
Hannah balançou a cabeça.
— Eu nã o tenho um site.
— Exatamente. Foi por isso que construí um para você .
Hannah olhou para o laptop, depois para Winter.
— Você construiu um site para mim? Bem desse jeito?
— Ainda te devo cem dó lares e prometi que nenhum dinheiro mudaria de mã os,
entã o…
Um site era muito melhor que um monte de cactos, mas aquilo tinha que ser o
resultado de horas, senã o dias de trabalho e hora de Winter era, sem dú vida, muito maior
do que a dela.
— Em primeiro lugar, eu cobro oitenta dó lares por uma sessã o de abraço, nã o cem.
Em segundo lugar, você nã o me deve nada. E mesmo que devesse, este nã o é um site de
oitenta dó lares ou mesmo de cem dó lares.
— Claro que é — disse Winter. — É muito bá sico, sem necessidade de muitas coisas.
Hannah clicou ao redor. O site podia ser bá sico aos olhos de Winter, mas Winter
claramente fez sua liçã o de casa e olhou outros
  sites profissionais antes de criar o de
Hannah. Ela incluiu uma pá gina de perguntas frequentes, um formulá rio de contato e
espaço para depoimentos. Hannah clicou em um item de menu que dizia
 Sobre o seu abraço
.
— Nã o se preocupe — disse Winter. — Está no host local, entã o ainda nã o está no ar.
Você terá que comprar um nome de domínio, escolher um serviço de hospedagem na web e
substituir o texto Lorem ipsum
.
— Lorem ipsum?
— O texto fictício que coloquei. E a foto. Eu nã o tinha uma foto sua, entã o usei isso
como demonstraçã o. — Winter apontou para a foto no topo da pá gina, que mostrava dois
lindos gatinhos aconchegados em uma cesta.
Aww.
  — Nã o sei o que dizer, Winter. Nã o parece justo aceitá -lo quando nã o posso
pagar o que vale o seu tempo. — Com um pequeno sorriso, Hannah acrescentou — Eu me
oferecia para pagar em espé cie, mas você disse que nã o queria outra sessã o de abraço,
entã o nã o sei o que oferecer em troca.
Winter a estudou com atençã o intensa, aprofundando a linha diagonal acima do nariz.
— Você realmente me abraçaria novamente depois de... hum, do jeito que nossa
sessã o terminou?
— Por que nã o? Acredito em segundas chances e você prometeu nunca mais tentar
algo assim, entã o acho que estou segura com você .
Winter balançou a cabeça para ela.
— Nã o consigo decidir se você é excepcionalmente generosa ou excepcionalmente
ingê nua. Ou ambos.
— Para algué m que trabalha com marketing, você é surpreendentemente ruim em
elogiar.
— Quem disse que era um elogio? — Winter respondeu.
Hannah riu.
— Touché . —
Ela voltou a explorar o site. Mesmo que ainda nã o estivesse terminado, já parecia
melhor do que qualquer um dos de seus colegas.
— Entã o — Winter finalmente disse — você gostou?
— Eu amei isso. — Hannah mordiscou o lá bio inferior quando finalmente percebeu o
que significaria ter um site pró prio.
— Mas…? — Winter acrescentou. — Se há alguma coisa que você queira que mude, eu
poderia facilmente...
— Nã o, nã o é isso. É um belo site. Há muita coisa em jogo se eu aceitar.
A linha diagonal acima do nariz de Winter esculpiu-se profundamente em sua pele. —
Nã o vem com nenhuma agenda oculta. Nã o espero nada em troca. Nã o estou fazendo
joguinhos mentais bobos, como Brooke ou Julian.
— Eu sei. — Hannah segurou o laptop para nã o estender a mã o para um toque
reconfortante no braço de Winter. Incrível como era difícil manter as mã os para si mesma.
— Mas meu contrato com a Abraços Experts nã o permite que eu tenha um site pró prio. Eles
provavelmente estã o com medo de que eu esteja roubando seus clientes. Entã o, continuo
trabalhando para eles ou aceito seu site e saio por conta pró pria.
Winter lançou-lhe um olhar perplexo.
— Nã o é uma escolha ó bvia? Ser seu pró prio chefe é ó timo!
— Aposto que é para você . Você trabalha com marketing, entã o sabe como conseguir
novos clientes. Mas eu sou muito ruim nisso. É por isso que fiquei feliz em deixar a
aquisiçã o do cliente para os especialistas da Abraços. Nunca tive que promover meus
serviços, escrever uma fatura, criar um grupo de apoio para abraçadores profissionais ou
pesquisar maneiras de continuar me educando sobre novas té cnicas ou insights. Eles
fizeram tudo isso por mim.
— Sim, mas você ainda precisa disso? Você tem Valentina e Tammy e o resto de seus
amigos fofinhos. Eles nã o sã o seu grupo de apoio?
Hannah pensou sobre isso. Winter estava certa. Já fazia um tempo que ela nã o entrava
no grupo do Facebook para abraçadores profissionais. Depois de cinco anos, ela nã o
precisava de tanto apoio e havia construído sua pró pria rede de companheiros de abraços
que ela poderia alcançar. Ela també m nã o tirou muitas coisas novas dos webinars
contínuos que a Abraços Experts ofereciam.
— Verdade. No entanto, a ú nica coisa para a qual ainda preciso deles é conseguir
novos clientes.
— Mas você nã o tem uma base de clientes regulares agora? Estou começando a
reconhecer alguns deles.
— Sim, mas eu nã o poderia ganhar a vida apenas com meus clientes regulares. Ainda
nã o há pessoas suficientes interessadas em sessõ es semanais ou mensais. Cerca de um
terço da minha renda vem de clientes que querem experimentar uma vez e nunca mais
aparecem. Todos eles vê m do site Abraços Experts, nã o das festas de abraços que faço ou
dos terapeutas com quem trabalho. A ideia de desistir disso é assustadora. — Hannah
limpou as mã os ú midas nas calças de ioga para nã o deixar impressõ es digitais suadas no
laptop de Winter.
— Bem, nã o foi você quem me disse que as coisas que mais nos assustam sã o muitas
vezes as coisas de que mais precisamos?
Hannah abriu um sorriso.
— Sim, isso soa familiar. Mas como eu faria para substituir os clientes que nã o
receberia mais da Abraços Experts?
— Fá cil — disse Winter. — Para começar, você segmenta pessoas que procuram
coisas semelhantes, massagens, visitas a spa, coisas de bem-estar com anú ncios no Google,
Facebook e Instagram. Poderíamos adicionar um blog ao site para ajudá -los a ter uma
classificaçã o mais alta nos mecanismos de pesquisa e você poderia distribuir panfletos
com desconto para clientes iniciantes em eventos.
— Tudo isso parece ó timo em teoria, mas nã o tenho ideia de como fazer nada disso
— disse Hannah.
Winter se recostou e entrelaçou os dedos sobre a barriga. Um sorriso confiante
brincou em seus lá bios.
— Para sua sorte, você mora com a melhor especialista em marketing da Costa Oeste.
— E a mais modesta — Hannah acrescentou com um sorriso pró prio. — Mas, falando
sé rio, nã o posso esperar que você faça tudo isso de graça.
— Quem disse que eu trabalharia de graça? Quanto você está pagando à Abraços
Experts para ter seu perfil no site deles?
— Eles cobram uma taxa de comissã o de quinze por cento de todas as minhas
sessõ es.
— Entã o, que tal você me pagar dez por cento do dinheiro que ganha com meus
esforços de marketing? — Disse Winter. — Só até o nosso arranjo de vida terminar, e entã o
vamos reavaliar a situaçã o.
Se Winter fosse tã o boa em seu trabalho quanto Hannah pensava, seria um ó timo
negó cio... pelo menos para Hannah.
— Por que apenas dez por cento, quando a Abraços Experts recebe uma reduçã o de
quinze por cento?
— Porque você vai ter que ajudar com o conteú do. Só porque folheei aquele seu
romance fofo nã o significa que sei o suficiente sobre abraço profissional para promovê -lo.
— Romance fofo? — Hannah olhou para o romance sá fico na mesa de centro. Nã o era
disso que Winter estava falando, era?
— O Abraço Sutra.
Hannah começou a rir. Entã o ela ficou sé ria e estudou Winter, cujos olhos azul-gelo
nã o revelavam nada.
— Nã o muito tempo atrá s, você adoraria cercar a porta da frente com arame farpado
para manter meus clientes fora, mas agora você está se oferecendo para me ajudar a
comercializar meus serviços? Por que a mudança repentina de opiniã o?
— Quem disse que eu mudei de ideia? — Winter balançou a cabeça com firmeza. —
Minha motivaçã o é completamente egoísta e ló gica. Se você nã o tem que pagar uma taxa de
comissã o para a Abraços Experts, você pode ganhar a mesma quantia de dinheiro com
menos clientes e isso significa menos estranhos perambulando pelo nosso apartamento.
Essa nã o era realmente a motivaçã o de Winter para ajudar, era? Se ela fosse a melhor
especialista em marketing da Costa Oeste, em breve haveria mais, e nã o menos estranhos
perambulando pelo apartamento. Hannah suspeitava que Winter ainda se sentia culpada
pela forma como a sessã o de abraço terminara e por nã o poder pagar por isso. Ela nã o
suportava dever a ela, entã o esta era sua maneira de saldar sua dívida.
Entã o Hannah percebeu o que Winter acabara de dizer. Um largo sorriso esticou seus
lá bios.
— O quê ? — Winter perguntou. — Por que você está sorrindo assim?
— Você disse 'nosso' apartamento. — Hannah agarrou seu coraçã o de brincadeira.
— Só por enquanto. Em sessenta e sete dias, espero tê -lo para mim, enquanto você
leva seu negó cio de abraço para o porã o ou para qualquer unidade disponível.
O porã o? Aparentemente, Winter ainda preferiria esconder os serviços que sua co-
proprietá ria oferecia o mais longe possível de si mesma. Isso doeu. Hannah estava
determinada a nã o deixar isso acontecer. Seus clientes mereciam a bela luz natural no
ú ltimo andar com suas janelas salientes tanto quanto Winter.
— Entã o, temos um acordo? — Winter perguntou.
Foi um salto de fé assustador, nã o apenas em si mesma, mas també m em Winter. Se
elas tivessem outra discussã o ou Winter mudasse de ideia sobre ajudá -la, ela estaria
sozinha. Sem Abraços Experts ou alguma ajuda de marketing, ela nã o seria capaz de se
sustentar. A receita do aluguel de sua metade do pré dio ainda nã o era certa, entã o ela nã o
queria depender disso. Ela respirou vá rias vezes para acalmar seu coraçã o acelerado, entã o
assentiu e estendeu a mã o.
— Combinado.
Assim que Winter estendeu a mã o para apertar sua mã o, Hannah percebeu como
Winter poderia ter interpretado os termos do acordo e rapidamente puxou sua mã o fora de
alcance.
— Este negó cio é apenas sobre você me ajudar com o marketing em troca de dez por
cento, certo?
Winter inclinou a cabeça e olhou para ela com um olhar levemente divertido.
— Você acha que estou tentando enganá -la para concordar em se mudar para o porã o
para que eu possa ter o apartamento do ú ltimo andar para mim?
Hannah baixou o olhar para as unhas, depois olhou para cima.
— Eu sinto muito. Nã o quis insinuar que você jogaria sujo. Geralmente nã o sou o tipo
de pessoa que suspeita que os outros tenham uma agenda oculta e nã o quero fazer isso
com você . É só ... nã o começamos exatamente com o pé direito, entã o acho que estou um
pouco em guarda.
Winter nã o parecia enfurecida. Nem mesmo surpresa, como se manipulaçõ es e
acusaçõ es de truques sujos fossem partes normais de seu mundo. Considerando tudo o que
Hannah tinha ouvido e visto sobre sua vida familiar, talvez fossem.
— Nã o estou fingindo que nunca joguei sujo na minha vida — disse Winter. — Mas
nã o é meu modus operandi.
 Se eu quiser expulsá -la e ficar com este apartamento só para
mim, direi na sua cara. E nosso acordo à parte, reservo o direito de potencialmente fazer
exatamente isso em um momento posterior.
— Bem, você pode tentar. — Em vez de se sentir ameaçada, Hannah apreciou a
franqueza de Winter. Ela tentaria tratá -la com a mesma honestidade e nã o usaria a sessã o
de abraço fracassada contra ela. Talvez isso pudesse ser um novo começo para as duas. Ela
estendeu a mã o novamente.
Os longos dedos de Winter envolveram os dela com a quantidade perfeita de pressã o.
Seu aperto parecia firme e seguro, e sua pele era tã o macia que Hannah segurou por
mais do que os habituais dois segundos. Caramba, você pensaria que recebo abraços
suficientes em outro lugar. Pare com isso! Ela se forçou a deixar ir.
Assim que a mã o de Winter ficou livre, ela se levantou.
— Excelente. Podemos começar amanhã .
— Obrigada.
Winter continuou olhando para ela como se esperasse algo.
Hannah olhou ao redor. Ela estava perdendo alguma coisa? Ela tinha acabado de
agradecer, nã o é ?
— Hum... — Preciso do meu laptop de volta — disse Winter.
— Oh. Desculpe. É claro. — As bochechas de Hannah ficaram quentes. Ela nã o tinha
percebido que ainda estava segurando o dispositivo em um esforço para nã o ceder à s suas
tendê ncias tá teis e tocar em Winter. Rapidamente, ela o entregou.
Quando Winter se afastou, Hannah ficou olhando para ela. Fale sobre chicotada
emocional. Uma semana atrá s, elas nã o podiam nem ter uma conversa civilizada sem
Hannah prendê -la em um elevador e agora elas estavam prestes a trabalhar juntas! As
coisas estavam prestes a ficar interessantes.
***
— Nã o. Nã o. Claro que nã o. Nã o. Nã o. — Winter clicou nas fotos no pen drive que
Hannah lhe dera em busca de uma imagem que pudessem usar para o site.
— Sabe, estou começando a desenvolver um complexo de inferioridade — disse
Hannah do outro lado da mesa de Winter. — Eu realmente fico tã o mal assim em todas elas?
Winter fez uma pausa na imagem que preenchia sua tela. Mal? Nã o, Hannah nã o ficava
mal em nenhuma delas. Seu sorriso era sempre grande e autê ntico e seus olhos brilhavam
de felicidade, como se cada dia fosse uma divertida aventura. — Nã o. Você parece bem. Elas
simplesmente nã o sã o o que eu quero para o site.
— Pareço bem? — Hannah riu. — Nã o é de admirar que você seja solteira se é assim
que fala com as mulheres.
— Estou solteira porque prefiro ficar sozinha — disse Winter enquanto continuava a
clicar nas fotos de Hannah.
— Sé rio?
— Sim. Você nã o gosta da vida de solteira?
Hannah puxou o pé descalço para cima da cadeira, abraçou o joelho e apoiou o rosto
contra ele enquanto olhava para o nada com uma expressã o pensativa.
— Eu amo minha vida e nã o sou infeliz sozinha. Mas ter algué m para abraçar depois
de um dia cansativo... algué m que me faça rir... Isso seria a cereja do bolo da minha
felicidade.
— Entã o você ainda se abraça na sua vida privada, mesmo depois de fazer isso o dia
todo? — Winter nã o pô de esconder a perplexidade de seu tom.
— É claro. É completamente diferente de abraçar um cliente. Muito mais um dar e
receber em vez de eu fornecer o que o cliente precisa.
Winter assentiu lentamente.
— Acho que é por isso que Julian agendou sessõ es com você . Porque nã o havia dar e
receber. Era tudo sobre ele e o que ele precisava e nã o se esperava que ele desse nada em
troca, a nã o ser dinheiro. — Era assim que Julian parecia preferir todos os seus
relacionamentos.
Hannah deslizou o pé de volta ao chã o.
— Nã o posso falar sobre nenhum detalhe de nossas sessõ es; Você sabe disso. Mas
acho que você o está subestimando. Ele nã o apenas entregou algum dinheiro sem nenhum
investimento emocional. Claro que ele era um cliente, mas acho que ele també m estava
tentando ser um amigo. Uma vez, quando meu senhorio bateu à minha porta durante uma
sessã o porque eu estava atrasada no pagamento do aluguel, Jules...
— Ofereceu dinheiro a você ? — Winter interveio. — Sim, ele era bom nisso. O
pagamento da pensã o alimentícia dele estava sempre em dia e ele até se ofereceu para
pagar uma educaçã o das melhores faculdades para mim, como se isso compensasse… —
Ela apertou o mouse com força e se interrompeu. O que havia em Hannah que tornava tã o
fá cil revelar detalhes particulares que ela nunca havia compartilhado com mais ningué m?
— Compensasse pelo quê ? — Hannah perguntou suavemente quando Winter nã o
continuou.
Winter hesitou, mas queria que Hannah entendesse quem Julian tinha sido para ela
com uma intensidade que a surpreendeu.
— Por nã o ter um pai para me ensinar a andar de bicicleta ou dirigir um carro ou o
que quer que os pais façam. Por todas as noites que passei acordada, ouvindo minha mã e
chorar porque ele se recusou a deixar sua esposa rica e sua filha querida por nó s. — Assim
que ela começou a falar, as palavras explodiram dela.
— Eu sinto muito. — Os olhos de Hannah brilharam com lá grimas nã o derramadas,
mesmo enquanto os de Winter permaneciam secos.
Winter nã o suportou aquela expressã o simpá tica. Ela nã o queria que Hannah tivesse
pena dela. Ela nã o era mais a garotinha que precisava de um pai. Julian a havia ensinado a
nã o precisar de ningué m.
— Eu pensei... Ele nã o era divorciado? — Hannah perguntou.
Um gosto amargo pareceu cobrir a língua de Winter.
— Sim. Nã o sei exatamente o que aconteceu ou se eles apenas esperaram até que
Brooke fosse para a faculdade, mas assim que ela completou dezoito anos e saiu de casa, ele
e a mã e de Brooke se divorciaram.
— Mesmo assim ele ainda nã o...?
— Foi morar com a minha mã e? — Winter balançou a cabeça. — Você pensaria assim,
certo? Minha mã e com certeza. Aquela semana foi a ú nica vez em minha vida em que a ouvi
assobiar e cantar. Ela pensou que ele ligaria a qualquer momento para propor algo ou
convidá -la para um encontro adequado ou algo assim. Mas, é claro, uma ex-secretá ria nã o
era boa o suficiente para Julian P. Lambert. Nã o por mais do que um caso.
Hannah colocou uma mã o sobre a mesa entre elas, como se oferecesse a Winter a
chance de alcançá -la.
Claro que Winter nã o. Ela nunca encontrou conforto em segurar a mã o. Entã o, por que
sua mente voltou para a sensaçã o de segurar a mã o de Hannah durante a sessã o de abraço?
Ela afastou a imagem voltando sua atençã o para a tela.
— Nã o consigo imaginar o quanto isso deve ter doído, nã o apenas sua mã e, mas para
você també m.
A gentileza e a compaixã o no tom de Hannah fizeram Winter cerrar os dentes.
Hannah limpou a garganta. — É por isso que você nã o…?
— Podemos nos concentrar apenas no site? — Winter deteve Hannah antes que ela
pudesse terminar sua pergunta. — Gostaria de terminar hoje.
— Desculpe. Espero nã o estar atrapalhando seu trabalho remunerado. Trabalho mais
bem pago, quero dizer.
Esta semana, Winter passou muito tempo no site e configurando contas de mídia
social para a Toca do Abraço, que era o nome que elas haviam pensado para o negó cio de
abraços de Hannah. Ela nã o tinha exatamente negligenciado seu outro trabalho, mas
també m nã o havia colocado sua quantidade usual de pesquisa e atençã o perfeccionista a
cada mínimo detalhe. Os negó cios de Hannah tinham precedê ncia por enquanto.
As coisas que ela fazia para Hannah eram tã o bá sicas que deveriam tê -la entediado
até a morte, mas por algum motivo, era divertido. Parte disso era que ela veria os
resultados de seu trabalho em primeira mã o, mas principalmente, era a empolgaçã o que
Hannah irradiava com cada pequeno progresso. Parecia passar um dia ao sol depois de um
longo e sombrio inverno no Oregon.
— Está bem. Mas acho que deveríamos ter um profissional tirando uma foto sua para
o site. A maioria delas — Winter apontou para o pen drive — ou nã o tem a sensaçã o certa
ou parece que foi tirada por algué m que compartilha suas horríveis habilidades
fotográ ficas.
Hannah riu.
— Isso é porque eles provavelmente compartilham. A maioria das fotos em que estou
foi tirada por minha irmã ou meu pai. — Entã o sua expressã o ficou sé ria e um tom de
carmesim penetrou em suas bochechas. — Aposto que um fotó grafo poderia tirar uma foto
muito melhor, mas, hum, contratar um profissional nã o está no meu orçamento agora.
Fazia mais de uma dé cada desde que Winter teve que pensar duas vezes antes de
gastar dinheiro com o que queria, mas ela ainda se lembrava vividamente de ter passado
pela faculdade com uma dieta de macarrã o Ramen porque estava sempre sem dinheiro e se
recusava a aceitar o dinheiro de Julian.
— Nã o se preocupe com isso. Conheço um fotó grafo que me deve um favor.
— Eu realmente nã o sei, Winter. Nã o parece certo continuar aceitando ajuda sem
pagar por isso.
— Você se sentiria melhor se lavasse a louça por uma semana em troca? — Winter
perguntou.
Hannah sorriu.
— Temos uma má quina de lavar louça.
— Nossa, você é muito teimosa. — Verdade seja dita, Winter poderia entender nã o
querer aceitar caridade. — Ok, entã o que tal você cuidar dos cactos pelo resto do tempo que
vivermos juntas?
— Eu já estou dando á gua para Spike e Barb de qualquer maneira.
A mã o de Winter estremeceu. Seu mouse vertical tombou.
— Você nomeou meus cactos?
— É claro. Plantas espinhosas també m precisam de nomes.
Oh caramba. — Ok. Oferta final. Você nunca mencionará esses nomes para ningué m e
estamos quites.
Hannah começou a rir.
— Isso é seriamente tudo que você quer? Você poderia ter me pedido para fazer o
jantar por uma semana ou algo assim.
Winter balançou a cabeça. Ter uma mulher cozinhando para ela era muito parecido
com um encontro.
— Nã o tenho provas de que você sabe cozinhar, entã o nã o, obrigada. Nã o chamar as
minhas plantas por seus nomes na frente dos convidados.
— Tudo bem. Combinado. — Hannah estendeu a mã o sobre a mesa para sacudi-la.
Winter segurou seus dedos em um aperto firme, tentando nã o notar quã o
inesperadamente forte era a pequena mã o de Hannah e quã o suave era sua pele.
— Vou ligar para minha conhecida para ver se ela pode nos encaixar esta semana.
Vamos tentar terminar o layout do site. — Ela puxou a mã o do aperto de Hannah para
apontar para a tela do computador. — Você quer manter o fundo branco em todos os
lugares ou acha que ficaria melhor se usá ssemos caixas coloridas para parte do texto?
— Eu honestamente nã o tenho idé ia.
— Imagine um tom pastel de manga em torno deste pará grafo, por exemplo. — Winter
virou a tela o má ximo que pô de, entã o percebeu que Hannah ainda nã o conseguia ver
muito, entã o ela deu a ela um aceno que a convidou a vir para o seu lado da mesa.
Hannah se levantou e circulou a mesa. Ela parou atrá s de Winter e se inclinou para
frente para estudar a tela.
As costas de Winter instantaneamente ficaram mais quentes do que antes. Ela sentiu
o cheiro do perfume de Hannah, sem perfume, apenas uma mistura sutil de loçã o e xampu.
Por que Hannah tinha que ficar tã o perto? Estava dificultando o foco no site. Winter se
inclinou para a frente, afastando-se de Hannah, sob o pretexto de traçar linhas na tela. —
Aqui e aqui.
— Nã o tenho certeza do que seria melhor — disse Hannah. — Nã o tenho visã o
mental, entã o nã o consigo imaginar como seria. Eu teria que realmente ver isso.
Winter girou sua cadeira de escritó rio. Seu joelho roçou na perna de Hannah, mas ela
ignorou enquanto olhava para ela.
— O que você quer dizer com sem imaginaçã o? Que você nã o é muito boa em
visualizar?
— Eu nã o consigo visualizar isso. E nã o sã o apenas imagens. Nã o consigo evocar
sons, cheiros, sabores ou toques. — Hannah sorriu como se estivesse falando sobre uma
coisa cotidiana como a chuva em Portland.
Winter sabia que ela estava olhando, mas nã o podia evitar. Sem imagens mentais?
Nenhum som? — Uau. Eu nã o sabia que algo assim existia. Nã o consigo imaginar como
deve ser.
Hannah riu.
— Eu posso relacionar.
— Huh?
— Desculpe. piada de afantasia. Você disse que nã o pode imaginar. Essa é literalmente
a definiçã o de afantasia: sem imagens visuais.
Afantasia?
 Entã o era uma coisa tã o comum que havia um nome para isso? A mente de
Winter explodiu. Ela nunca tinha ouvido falar de algo assim!
— Entã o, quando você fecha os olhos e tenta imaginar algo... digamos, meu rosto... nã o
há imagem? Nem mesmo um embaçado? Você nã o tem ideia de como eu sou?
Hannah fechou os olhos como se concordasse com a experiê ncia de Winter.
— Nenhuma imagem. Mas eu sei exatamente como você é , cabelo curto e prateado;
olhos azuis; maçã s do rosto marcantes.
Foi interessante ouvir Hannah descrevê -la. Entã o ela pensou que suas maçã s do rosto
eram marcantes? Nã o que isso importasse, claro.
Hannah abriu os olhos e seus olhares se encontraram. — É como uma lista de fatos,
sem imagem associada. O mesmo para sua voz. Sei que é mais profunda que a minha e um
pouco rouca, mas nã o consigo ouvi-la em minha mente. Se você desaparecer, é melhor
torcer para que nã o seja eu quem vai descrever você para a polícia ou você pode nunca ser
encontrada, porque minha lista mental de fatos geralmente nã o é muito detalhada. — Ela
riu como se isso nã o importasse para ela.
Como nã o poderia? Winter nã o entendeu. Como Hannah funcionava?
Sua expressã o deve ter revelado sua descrença porque Hannah deu a ela um sorriso
compreensivo.
— Acho que seu pró prio pensamento é muito visual?
— Oh sim. Se eu trabalhar em um grá fico para um cliente, sei exatamente como ficará
antes mesmo de começar. Eu tenho uma imagem mental clara e posso até mesmo
manipulá -la, testando como diferentes ajustes ficariam sem ter que experimentá -los
primeiro no Photoshop.
Agora foi a vez de Hannah olhar.
— Isso soa como má gica para mim.
— Eu pensei que todo mundo poderia fazer isso.
— Nã o. Eu definitivamente nã o posso.
Winter ainda nã o conseguia entender como isso deveria ser.
—E nã o há cura para isso? Como uma té cnica que você poderia usar para ajudar a
treinar suas habilidades de visualizaçã o?
Qualquer traço de sorriso desapareceu do rosto de Hannah.
— Nã o é algo que precise ser curado, Winter. Meu cé rebro funciona um pouco
diferente da maioria das pessoas, e sempre funcionou, entã o nã o ter nada alé m de palavras
silenciosas em minha mente é completamente normal para mim. Claro, vem com algumas
desvantagens que à s vezes me colocam em situaçõ es interessantes, mas també m tem seus
benefícios.
— Tal como? — Winter nã o conseguia pensar em nenhum.
— Quando me mudei para Portland, tinha uma colega de quarto que trabalhava como
governanta em um hospital — disse Hannah. — Ela podia me contar os detalhes mais
grosseiros de seu dia de trabalho durante o jantar, e isso nã o me perturbava nem um pouco.
Para mim, eram apenas palavras, sem quaisquer imagens ou cheiros que as
acompanhassem.
Winter lançou-lhe um olhar duvidoso.
— Ser capaz de falar sobre cocô durante o jantar nã o parece uma grande vantagem
para mim.
Agora o sorriso de Hannah voltou, emprestando um brilho malicioso a seus olhos.
— Ok, talvez nã o seja. Mas, falando sé rio, acho que o que me diferencia de muitas
outras pessoas é que vivo plenamente no presente. Nã o me perco em devaneios sobre o
futuro nem me detenho em imagens de coisas desagradáveis ​que aconteceram no passado.
Sei que essas coisas aconteceram, mas nã o as revivo. Permanecer no momento faz parte do
que me torna uma boa abraçadora profissional.
— E você acha que é porque você é ...?
— Afantasica. — Hannah assentiu. — Sim, na maior parte. Sei que nem toda pessoa
que tem afantasia é assim, mas ouço isso com frequê ncia no meu grupo de afantasia no
Facebook que acho que há uma conexã o.
Hum. Winter teve que admitir que parecia uma habilidade muito mais ú til do que ser
capaz de falar sobre excrementos a qualquer momento. Talvez ser uma pessoa muito visual
nem sempre fosse uma coisa boa, porque ela podia reviver cada momento humilhante de
sua infâ ncia em full HD, com todas as emoçõ es voltando.
— Entã o, se houvesse uma pílula que pudesse ativar o olho da sua mente, você nã o a
tomaria?
— Só se fosse temporá rio — Hannah disse sem hesitar. — Eu adoraria experimentar
coisas como ler da maneira que a maioria das pessoas faz, só para ver como é . Mas, no
geral, gosto do meu cé rebro do jeito que está , com pequenas peculiaridades e tudo. Ter
afantasia é parte do que me torna eu
, como ser boa com toques ou pansexual.
Winter podia entender isso. Se houvesse uma pílula que a deixasse hé tero, ela
també m nã o iria querer tomá -la.
— Tudo bem. Entã o, vamos dar uma ajudinha ao seu cé rebro peculiar. — Ela colocou o
pará grafo em um bloco de texto pró prio e abriu o painel de ediçã o do construtor de
pá ginas. Foram necessá rios apenas alguns cliques para alterar a cor de fundo da caixa para
um tom pastel de manga. — O que você acha?
Hannah se inclinou sobre seu ombro.
— Ah, eu gosto! Parece mais caloroso do que ter a pá gina inteira em branco.
— Certo. E guia o olhar do visitante para as partes mais importantes. — Enquanto
Winter falava, ela estava muito consciente do fato de que apenas o encosto de sua cadeira
separava seus corpos. — Se colocarmos esta caixa de texto no centro desta seçã o e
preenchê -la com um punhado de benefícios para o cliente, teremos um botã o de chamada
para açã o da mesma cor, que deve selar o negó cio.
— Benefícios para o cliente? — Hannah perguntou.
— Algo assim. — Os dedos de Winter voaram pelo teclado enquanto ela preenchia a
caixa de texto cor de manga com uma lista de benefícios do abraço que ela lembrava de
vá rios sites que visitou para pesquisa. Quando terminou, deslizou a cadeira para o lado
para que Hannah pudesse ler.
— Abraçar reduz seus níveis de cortisol? Reduz o risco de doenças cardíacas? —
Hannah riu.
— O quê ? É verdade, nã o é ?
— Sim, mas isso parece um livro de medicina! As pessoas reservam uma sessã o de
abraço para se sentirem bem e porque desejam uma conexã o humana. Os benefícios para a
saú de sã o apenas um bom efeito colateral. — Hannah apoiou um quadril contra a mesa e
olhou para Winter. — Você realmente nã o consegue pensar em uma ú nica coisa positiva
associada ao abraço, nã o é ?
Seu tom e expressã o nã o eram de julgamento, apenas de espanto. Ainda assim, Winter
nã o queria que Hannah a visse assim.
— Claro que eu consigo.
— Eu quis dizer algo alé m daquela lista de fatos mé dicos — disse Hannah. — Você
nunca gostou de um abraço? Nem mesmo da sua mã e quando você era pequena?
— Minha mã e nã o era do tipo que abraçava, nem eu. — Normalmente, Winter nã o
dava a mínima para o que as pessoas pensavam. Mas as perguntas investigativas de Hannah
penetraram em sua pele como picadas de agulha. Ela nem sabia dizer por que isso
acontecia, e isso a irritou ainda mais. Abruptamente, ela se levantou e estendeu o braço em
direçã o à cadeira do escritó rio.
— Por que você nã o preenche a lista de benefícios enquanto eu vou ligar para a
fotó grafa? — Ela pegou o telefone e passou por Hannah sem esperar por uma resposta.
***
Hannah se afundou na cadeira do escritó rio que Winter havia deixado. Ainda estava
quente do corpo de Winter. Ela se recostou pesadamente contra ela e ficou olhando para
Winter.
Seu estô mago se contraiu em uma bola apertada. Maravilhoso, Hannah Martins. Agora
você conseguiu. Winter passou a maior parte do dia ajudando-a, e foi assim que ela a
retribuiu. Por que ela nã o conseguia manter a boca fechada e parar de fazer suas perguntas
pessoais?
Para algué m que geralmente era ó tima em respeitar os limites das pessoas, ela era
pé ssima quando se tratava de Winter. À s vezes, ela nã o conseguia se conter. Winter era
simplesmente fascinante demais. Ela queria ver mais da pessoa por baixo do exterior frio e
distante e entender o que a tornava assim.
Mas ela sabia que nã o era uma razã o boa o suficiente para continuar deixando Winter
desconfortável. Ela reuniu coragem e atravessou a sala em busca de Winter.
Ela a encontrou andando pela cozinha enquanto falava ao telefone.
— Excelente. Até amanhã , entã o. — Winter guardou o telefone no bolso e se voltou
para Hannah com uma expressã o profissional. — Boas notícias. Se formos até o estú dio
dela amanhã de manhã , ela vai nos encaixar para uma pequena sessã o de fotos.
— Isso é maravilhoso. Espero que você nã o tenha que oferecer a ela seu primogê nito.
— Ela sabe que nã o tenho filhos e nã o vejo isso mudando, já que nã o sou do tipo que
tem relacionamentos ou do tipo mã e solteira.
Hannah inclinou a cabeça. Com que facilidade Winter revelara aquela informaçã o
pessoal. Entã o, eram apenas alguns tó picos que a deixavam desconfortável, enquanto ela
ficava bem discutindo outros? Ou talvez nã o fosse o fato de Hannah ter feito uma pergunta
pessoal.
Pensando bem, Winter també m fez vá rias perguntas pessoais. Ela queria saber se
Hannah gostava de ser solteira, se ela se abraçava em sua vida privada mesmo depois de
fazer isso com clientes o dia todo e se tomaria uma pílula para curar sua afantasia.
Uau. Elas realmente conversaram sobre coisas mais pessoais hoje do que ela
percebeu. Uma ou duas vezes, Winter voltou a conversa para o trabalho, mas ela nunca saiu
do tó pico até que Hannah perguntou sobre sua falta de experiê ncias passadas de abraços.
A ú ltima vez que isso aconteceu foi quando ela saiu furiosa de sua sessã o de abraços.
Oh. Hannah quase deu um tapa na testa. Nã o foi a pergunta pessoal que fez Winter
fugir, ou pelo menos nã o apenas a pergunta. Talvez tenha sido o lembrete de seu fracasso
em abraçar.
Winter se sentiu julgada, assim como Hannah se sentiu antes, quando Winter
perguntou se ela consideraria tomar uma pílula para curar sua afantasia? Isso implicava
que a maneira como seu cé rebro funcionava era inferior, algo que precisava ser consertado.
E agora ela fizera Winter sentir o mesmo.
— Sinto muito, Winter.
A linha acima do nariz de Winter se aprofundou. — Você nã o quer mais fazer a sessã o
de fotos?
— Nã o nã o. Nã o é sobre isso. Sinto muito se pareço estar julgando você de alguma
forma por nã o gostar de abraços. — Mais uma vez, Hannah lutou contra o impulso de tocar
o braço de Winter. Ela enfiou as mã os nos bolsos. — Eu nã o queria. É que abraçar... tocar... é
uma parte tã o importante da minha vida que tenho dificuldade em entender como algué m
nã o pode sentir falta disso.
Winter cruzou os braços na frente do peito. Por um momento, Hannah pensou que iria
ignorar o pedido de desculpas, mas entã o Winter deu um breve aceno de cabeça.
— Assim como a imaginaçã o visual é uma parte tã o importante da minha vida que
tenho dificuldade em entender como algué m nã o pode perdê -la.
Hannah baixou o olhar para o chã o da cozinha. O insight de Winter a fez se sentir
ainda pior.
— Sim, exatamente. Você aceitou minha pequena peculiaridade como diferente, mas
igual, e eu deveria ter feito o mesmo por você . Vou me esforçar mais a partir de agora, e se
eu falhar, me chute, ok?
Winter olhou como se nã o soubesse o que fazer com seu pedido de desculpas. — Tem
certeza de que é isso que quer que eu faça?
— Hum, sim.
— Entã o talvez eu deva dizer a você que pratiquei Taekwondo por cinco anos quando
era mais jovem. Eu ainda chuto muito forte. — A expressã o sé ria de Winter nã o mudou.
Mas ela estava claramente brincando... pelo menos Hannah esperava que sim. Ela fez
um show de engolir alto. — Nesse caso, talvez você possa me cutucar.
— Nã o. Isso é muito parecido com carinho. Vou me vingar de outras maneiras.
— Hum, que outras maneiras?
Winter sorriu e voltou para o escritó rio.
Hannah correu atrá s dela.
— Winter? Que outras maneiras?
— Você nã o é madrugadora, é ? — Winter perguntou por cima do ombro.
— Na verdade, nã o. Por que?
— Porque eu disse à Shanice, a fotó grafa, que queria fazer a sessã o durante a hora
dourada.
Hora dourada? Parecia familiar, mas Hannah nã o conseguia lembrar o que significava.
— O que é isso mesmo?
— No nosso caso, a primeira hora apó s o nascer do sol. A luz é mais suave e mais
quente.
— Nascer do sol — Hannah repetiu com um sentimento de naufrá gio. — Isso
significa...
— Teremos que estar em North Portland à s cinco horas da manhã .
Hannah gemeu.
— Talvez você devesse me chutar em vez disso.
Winter deixou-se cair na cadeira do escritó rio com uma risada rouca.
Apesar da perspectiva de ter que levantar no meio da noite, Hannah se viu sorrindo
enquanto arrastava a cadeira ao redor da mesa para poder ver a tela do computador
també m.
Capítulo 16
Na manhã seguinte, quando a primeira luz fraca do amanhecer brilhou no horizonte,
Hannah inclinou a cabeça para trá s contra o banco do passageiro do Audi SUV de Winter e
bocejou alto.
Mesmo uma grande caneca de viagem cheia de café de Winter, que poderia funcionar
como combustível de foguete, nã o ajudou muito.
— Você realmente nã o precisava acordar tã o cedo — ela disse em meio a outro
bocejo. — Eu poderia ter feito isso sozinha.
Winter entrou suavemente na Interestadual 5, que se dirigia para o norte, e entã o
olhou por um segundo. Pelo menos nã o havia muito trâ nsito à quela hora.
— Parece que você mal consegue tomar café , muito menos dirigir. Se você sofresse
um acidente e os advogados tivessem que lidar com seus herdeiros, isso só complicaria o
pagamento da herança de Julian.
Hannah sorriu. Certo. A motivaçã o de Winter era completamente egoísta e nã o tinha
nada a ver com sua necessidade de controle... ou sua bondade. Talvez ela acreditasse nisso
algumas semanas atrá s, mas depois de viver com Winter por um mê s, ela estava
começando a ver por trá s de sua fachada fria.
Ela fechou os olhos, contente em deixar Winter guiá -los pela ponte Marquam e passar
pelo Moda Center.
Nã o demorou muito para que Winter pegasse a saída para Swan Island e, logo depois,
encontrou uma vaga para estacionar na rua.
Ao saírem, Winter apontou para um pré dio de quatro andares com janelas
panorâ micas e belos caixilhos de madeira.
— É aqui.
Hannah a seguiu e olhou ao redor com curiosidade enquanto Winter abria a porta e a
deixava entrar antes dela. Ela mal podia esperar para conhecer Shanice. Para a fotó grafa
acordar tã o cedo para elas, ou o favor que ela devia a Winter era enorme, ou ela e Winter
eram amigas.
O estú dio espaçoso parecia ser um pré dio industrial reformado. Postes de madeira
alcançavam o teto alto, onde grandes canos de metal percorriam toda a extensã o da sala.
À esquerda, ao longo de uma parede de tijolos aparentes, havia uma á rea de estar com
duas poltronas azuis e um enorme sofá laranja disposto em torno de uma mesa oval.
Apenas quando elas passaram pelo lounge o espaço começou a parecer mais um
estú dio fotográ fico comercial e menos uma aconchegante sala de estar.
O estú dio foi dividido em vá rias á reas de configuraçã o de fotos diferentes. Em cada
um, um pano de fundo curvo pendia de um suporte alto e cobria partes do chã o, lembrando
Hannah de uma rampa de skate. Suportes de luz, tripé s e equipamentos semelhantes a
guarda-chuvas foram colocados na frente de cada um.
Em um canto havia um cubículo para cabelo e maquiagem com um enorme espelho e
um guarda-roupa. Banheiras transparentes cheias de adereços estavam empilhadas no lado
oposto da sala. Trê s das paredes eram compostas por janelas do chã o ao teto, enquanto
grandes fotos em preto e branco adornavam a parede dos fundos.
— Shan? — A voz de Winter ecoou pelo espaço.
Uma mulher baixa de jeans, blusa branca e blazer amarelo saiu de uma sala nos
fundos e caminhou na direçã o delas.
Ela usava seu longo cabelo castanho em tranças, puxado para trá s de seu rosto com
um elá stico de cabelo para nã o atrapalhar enquanto ela trabalhava. Hannah nã o era muito
boa em adivinhar a idade das pessoas, mas achava que Shanice devia ter mais ou menos a
idade de Winter, no final dos trinta ou início dos quarenta. Sua pele morena escura era tã o
lisa quanto a tez clara de Winter. Ela foi direto para Winter com um sorriso caloroso no
rosto.
— Eu deveria saber que você chegaria cedo, mesmo a esta hora do dia.
— Você sabe o que eles dizem — respondeu Winter. — Quem madruga tira as
melhores fotos.
Em vez de estender a mã o para um aperto, Shanice abraçou Winter, que ficou parada e
se deixou abraçar.
Quando Shanice nã o a soltou imediatamente, Winter deu um tapinha em suas costas
até que a fotó grafa a soltou.
Hannah ficou em segundo plano e observou com interesse. Claramente, essas duas
eram mais do que conhecidas de trabalho. Elas já foram um casal?
Winter se endireitou.
— Shan, esta é Hannah Martin. Hannah, Shanice Burford.
— Prazer em conhecê -la. Muito obrigada por concordar em fazer isso, especialmente
nesta hora ímpia. — Hannah pegou a mã o de Shanice em um abraço caloroso.
O aperto de mã o de Shanice era firme e seu olhar confiante enquanto ela estudava
Hannah.
— Sem problemas. Devemos começar para nã o perder a melhor luz?
— Sim, claro.
— Winter disse que você precisa de uma foto de retrato para um site com um menu
cor de manga. Eu tenho um pano de fundo amarelo profundo que pode ser uma boa opçã o.
— Shanice as levou para uma das á reas de preparaçã o. — Você já tirou fotos profissionais?
— Nã o. Bem, a menos que você conte as fotos do anuá rio.
Shanice deu um tapinha no antebraço de Hannah em um gesto tranqü ilizador.
Claramente, ela era uma pessoa de toque e Hannah nã o pô de deixar de se perguntar como
isso funcionava entre ela e Winter, se elas eram realmente amigas ou até mesmo se
envolveram romanticamente.
— Nã o se preocupe — disse Shanice. — Vou me certificar de trazer à tona sua bela
essê ncia.
Seu tom e expressã o eram completamente profissionais, mas algo sobre sua escolha
de palavras fez Hannah se perguntar... Ela estava flertando só um pouquinho?
Winter limpou a garganta e girou o dedo em um gesto de vamos embora.
— A hora de ouro nã o vai durar para sempre.
— Certo. — Shanice fez Hannah pisar no pano de fundo amarelado e pegou uma
câ mera de aparê ncia cara.
Lá fora, o sol havia subido no horizonte. A luz dourada entrava pelas janelas, banhando
o estú dio com um brilho suave.
Shanice assumiu a posiçã o e tirou a tampa da lente, mas ainda nã o ergueu a câ mera
ao nível dos olhos.
— Deixe-me contar um segredinho sobre essa coisa. — Ela levantou a câ mera com um
aperto desleal. — Quanto mais pró ximo algo estiver dela, maior parecerá . Portanto, se você
quiser tirar a ê nfase de uma determinada parte do corpo, digamos seus quadris, um truque
legal é afastá -los da câ mera. Em vez de ficar de frente para mim, afaste um pouco o corpo e
coloque um pé atrá s do outro, depois mude o peso para a perna de trá s.
Enquanto Hannah seguia rapidamente as instruçõ es, Shanice levou a câ mera ao olho.
Eca.
  Quã o grandes seus quadris apareceriam naquela câ mera? E nã o era apenas
Shanice cuja atençã o estava toda voltada para ela. Pelo menos ela estava olhando pelo visor,
criando uma distâ ncia profissional, enquanto o olhar de Winter repousava diretamente
sobre ela. Hannah nã o tinha certeza se eram os refletores no estú dio ou o foco de todos
nela, mas seu rosto corou.
— Sim, exatamente assim — disse Shanice. — Agora gire a parte superior do corpo
em minha direçã o.
Assim que Hannah se posicionou, Shanice começou a tirar fotos.
— Sim, assim. Abaixe os ombros e me dê um sorriso. Sim! Ali. Linda! — Cliques
reverberaram
  pelo estú dio enquanto ela continuava a apertar o botã o do obturador,
intercalados com instruçõ es curtas e elogios generosos.
— Você está usando uma abertura maior? — Winter perguntou de onde ela pairava
atrá s de Shanice.
Shanice lançou-lhe um olhar.
— Sim. Eu já fiz isso antes, sabe?
— Apenas me certificando. — Winter olhou por cima do ombro para as configuraçõ es
da câ mera.
Shanice estendeu a câ mera para ela.
— Você está planejando assumir?
Hannah observou a interaçã o delas com interesse. Winter sabia como tirar fotos com
aparê ncia profissional? Entã o por que nã o fizeram isso em casa?
— Hum… — Winter congelou. — Nã o, tudo bem. Eu poderia tirar as fotos, mas você é
melhor em fazer as pessoas se sentirem à vontade na frente da câ mera.
— Entã o cale a boca e deixe-me fazer isso. — O tom de Shanice era amigável, mas
firme. — Por favor.
Portanto, havia pessoas que ousava enfrentar Winter! Hannah nã o pô de deixar de
sorrir.
Shanice tirou uma foto de seu sorriso antes que pudesse desaparecer. Finalmente, ela
abaixou a câ mera.
— Você foi ó tima — disse ela a Hannah. — Quer ver o que temos?
Hannah saiu do pano de fundo de papel amarelo e se juntou a elas na mesa de Shanice,
que estava escondida em um cubículo.
A fotó grafa inseriu o cartã o SD em seu computador e iniciou uma apresentaçã o de
slides com as fotos que havia tirado.
Isso era realmente ela? Hannah esperava que sua boca nã o estivesse aberta. Os
truques de pose de Shanice faziam com que ela parecesse ter perdido sete quilos da noite
para o dia.
No entanto, Winter nã o parecia feliz com os resultados. Ela olhou para a tela grande
com uma carranca no rosto.
— O quê ? — Shanice perguntou. — Minha composiçã o nã o é do seu agrado? Ou é a
iluminaçã o?
— Nã o. As fotos ficam lindas.
O calor invadiu as bochechas de Hannah. Ei, ela disse as fotos. Você não.
 Winter estava
admirando as habilidades fotográ ficas de Shanice, nã o seu corpo.
— Mas? — Shanice perguntou.
— Você tem posado Hannah como se fosse uma modelo. Mas ela nã o é modelo. Ela é
uma abraçadora profissional. Por que queremos desenfatizar seus quadris ou sua barriga?
As curvas sã o ó timas. Hum, quero dizer, elas sã o uma coisa boa para uma abraçadora ter,
certo? Adiciona suavidade e tudo.
O calor nas bochechas de Hannah aumentou até o nível de uma fornalha.
Era apenas o tom dourado do nascer do sol ou Winter estava corando um pouco
també m?
— Você é um abraçadora profissional? — Shanice deu a ela um sorriso encantado. —
Isto é tã o legal! Recentemente, li sobre isso em uma lista dos dez empregos menos
convencionais
.
Hannah sorriu de volta. — Sim, é muito legal.
— Entã o é para isso que servem as fotos? — Shanice cutucou Winter com o cotovelo.
— Você deveria ter dito isso. Nã o seria melhor ter fotos de Hannah abraçando algué m?
Vamos para a á rea de estar e tomar um pouco de ar.  — Sem esperar por uma resposta, ela
deslizou o cartã o SD de volta para a câ mera e se dirigiu para a sala.
Winter e Hannah trocaram um olhar, entã o encolheram os ombros e seguiram.
— Isso vai funcionar? — Shanice apontou para o sofá na á rea de estar. — Ou você
precisa de uma cama para fazer com que pareça uma sessã o de abraços autê ntica?
— Nã o — Winter respondeu antes que Hannah pudesse. — O sofá laranja é perfeito.
Vai se encaixar perfeitamente no esquema de cores do site.
— Alé m disso, raramente me abraço na cama. Quero dizer, com clientes —
acrescentou Hannah rapidamente. — Está muito associado ao sexo para a maioria das
pessoas.
— Ah, certo — disse Shanice. — Percebo isso també m nas minhas sessõ es de fotos.
Assim que há uma cama na tomada, ela muda a energia.
Winter apontou para a janela do chã o ao teto.  
— Senhoras, se nã o nos apressarmos, vamos perder a luz.
— Está bem, está bem. Hannah, você pensa em uma pose... ou como quer que você s
chamem... e eu pego um refletor.
Quando Shanice se afastou, Hannah repassou seu repertó rio de posiçõ es de abraço. O
coala na á rvore estava fora porque o sofá nã o era tã o grande quanto seu sofá de casa. O
Cleó patra podia funcionar bem e, é claro, sempre havia conchinha se elas quisessem usar
algo com o qual os visitantes do site estivessem familiarizados.
Shanice voltou com um equipamento, que colocou perto de uma ponta do sofá . —
Entã o, como você quer fazer isso?
— Talvez ficar de conchinha seja uma boa pose. Eu poderia deitar de lado olhando
para a câ mera e... — Hannah fechou a boca no resto da frase. Oh nã o! Ela precisaria de um
voluntá rio para assumir o papel de seu cliente. Por que ela nã o pensou nisso antes? — Hum,
eu preciso de uma segunda pessoa. — Ela olhou para Winter, depois desviou rapidamente.
Ontem, ela havia prometido a Winter que respeitaria suas diferenças quando se tratasse de
tocar em necessidades. Ela nã o iria voltar atrá s nessa promessa, pedindo-lhe para abraçar
agora.
— Você sabe o quê ? As fotos que você tirou estã o ó timas. Podemos trabalhar com o
que temos.
— Tem certeza? — Shanice perguntou. — Eu realmente nã o me importo de tirar mais
algumas fotos, se é por isso que você está hesitando. Tenho certeza de que Winter també m
nã o se importa em ajudar.
Portanto, ela nã o estava familiarizada com a falta de entusiasmo de Winter para
abraçar e Hannah nã o trairia a confiança de Winter contando a ela.
— Obrigada, mas acho que estamos bem.
Shanice olhou para frente e para trá s entre ela e Winter como se finalmente
entendesse.
— Ou eu poderia brincar de ser a outra colher, enquanto Winter tira as fotos. Eu
adoraria abraçar uma mulher que sabe o que está fazendo.
— Nã o. — A voz de Winter ecoou pela sala espaçosa. — Quero dizer, como eu disse
antes, você é melhor em posar as pessoas e fazê -las se sentirem à vontade na frente da
câ mera. Eu posso fazer a colher. Nada demais.
Uau. Isso era grande
. Enorme. Hannah engoliu em seco. — Tem certeza? — ela
perguntou baixinho.
Winter assentiu. Seus lá bios formaram uma linha plana e ela os separou com visível
esforço para responder.
— Só precisamos fazer isso de uma maneira que mantenha meu rosto fora de cena.
Nã o quero que meus clientes ou algué m que conheço me reconheçam em um site de
abraços.
Hannah pensou rá pido. Que posiçã o nã o apenas protegeria a privacidade de Winter,
mas també m a deixaria menos desconfortável?
— Alguma posiçã o em mente?
Winter ergueu um canto da boca em um sorriso torto.
— Eu nã o suponho que o Companheirismo seja uma opçã o, nã o é ?
Uma risada escapou de Hannah.
— Nã o, desculpe, isso nã o vai resolver. Duas pessoas sentadas uma ao lado da outra
nã o parecerã o muito abraçadas para os nã o iniciados. Hmm, que tal o colo da luxú ria? Uma
pessoa, neste caso eu, está sentada...
— De pernas cruzadas — disse Winter. — Sim, eu me lembro. Estava no Abraço
 
Sutra
.
Hannah tentou nã o olhar.
— Você nã o estava brincando quando disse que tem memó ria quase fotográ fica.
Shanice nã o disse nada. Ela nem riu do título do livro de poses de abraços, como se
sentisse a tensã o repentina na sala.
OK. Não vamos prolongar isso.
 
— Tudo bem se eu tirar os sapatos? — Quando Shanice assentiu, Hannah tirou os
tê nis de lona e sentou-se de pernas cruzadas em uma ponta do sofá , de frente para a outra.
— Se você se enrolar de lado e colocar a cabeça no meu colo, pode ficar de costas para a
câ mera.
Winter se sentou no sofá e abriu espaço entre elas lentamente, como se estivesse se
aproximando de um animal perigoso.
Hannah estava usando um top com mangas curtas, mas agora ela ainda começou a se
sentir muito quente. O corpo de Winter que se aproximava parecia exalar calor.
— Espere! — ela disse quando a cabeça de Winter estava a centímetros de suas
pernas. Ela estremeceu com a forma como sua voz ecoou pela sala.
Franzindo o cenho, Winter a olhou fixamente.
— O quê ?
— Este sofá nã o é tã o grande quanto o meu em casa. Acho que nã o vai funcionar
assim. Sua cabeça estará nas minhas pernas cruzadas ou no berço das minhas pernas,
entã o a câ mera provavelmente nem conseguirá capturar a parte de trá s da sua cabeça.
— Sim — disse Shanice. — Acho que vai parecer que Hannah está abraçada a uma
pessoa sem cabeça.
Imediatamente, Winter abaixou as pernas do sofá e sentou-se. — Portanto, nada de
fotos de abraços, afinal.
— Nã o tã o rá pido — disse Hannah. — Abraçadores tê m que ser flexíveis.
Winter arqueou as sobrancelhas e o calor voltou à s bochechas de Hannah.
O que havia com ela e corando
 hoje? Hannah tentou ignorá -lo.
— Hum, eu quis dizer mentalmente. Como abraçadora profissional, tenho que ser
capaz de ajustar quando algo nã o está funcionando e modificar as posiçõ es.
 Entã o, que tal
eu sentar assim em vez disso… — Ela deslizou para ficar de frente para Shanice, em vez da
ponta do sofá , e deixou cair os pé s no chã o. — Entã o você pode colocar sua cabeça na
minha coxa. Isso fará um travesseiro muito melhor e sua cabeça nã o ficará tã o baixa que
nã o seja visível. Você ainda pode ficar de costas para o sofá para nã o ser reconhecida na
foto.
Mais uma vez, Winter se aproximou, esticou-se de costas para a câ mera e abaixou a
cabeça na coxa de Hannah.
O calor do rosto de Winter filtrava-se pelo tecido da calça de Hannah e esquentava sua
pele. Ela pensou que podia sentir a respiraçã o de Winter em sua barriga, mesmo atravé s da
camisa.
Winter estava rígida. Enquanto os clientes de Hannah sempre fechavam os olhos em
segundos sempre que faziam a Volta do Luxo, Winter mantinha os dela bem abertos.
Hannah lutou contra o desejo de deslizar os dedos no cabelo de Winter para uma
massagem relaxante na cabeça. — Se você acha que ficaria mais confortável, fique à
vontade para colocar a mã o sob a bochecha. — Isso colocaria a mã o na coxa de Hannah,
mas tudo bem, certo? Ela tinha feito isso uma centena de vezes.
Nunca com Winter, no entanto. Ela engoliu contra uma garganta seca.
— Estou bem — murmurou Winter. Ela manteve as mã os onde estavam, longe do
corpo de Hannah.
— Hum, senhoras — disse Shanice. — Você s duas parecem tã o fofinhas quanto meu
pai e o advogado de divó rcio de minha mã e sempre que se encontram. Hannah, você pode
colocar uma mã o no ombro de Winter e passar os dedos da outra mã o pelo cabelo dela?
Estavam tã o perto agora que Winter nã o conseguia esconder o enrijecimento de todo
o seu corpo.
Hannah levantou a mã o e a deixou pairar sobre o ombro de Winter sem tocá -la. Seu
foco total estava em Winter, nã o em Shanice ou na câ mera.
— Tudo bem se eu...?
— Sim, claro — disse Winter. — Queremos ter uma imagem que promova seus
serviços, nã o uma que afaste clientes em potencial. Basta fazer o que for necessá rio para
conseguir isso.
Gentilmente, Hannah baixou a mã o sobre o ombro de Winter e o segurou na curva de
sua palma.
O clique-clique-clique do botã o do obturador reverberou pelo estú dio.
— Sim, muito melhor — disse Shanice. — Você pode tentar a massagem na cabeça?
Hannah deu-lhe um aperto suave.
— Eu posso?
Winter grunhiu com impaciê ncia.
— Apenas faça.
Uma pontada de antecipaçã o passou por Hannah. O cabelo prateado de Winter
brilhava ao sol do início da manhã . Foi a primeira coisa que ela notou sobre ela quando se
conheceram. Uma ou duas vezes, ela pensou em como seria passar os dedos pelos fios
curtos e transformá -los de elegantemente desgrenhados em caoticamente bagunçados.
Agora ela descobriria.
***
Winter ficou muito quieta e tentou se concentrar em manter sua respiraçã o regular. A
coxa de Hannah era macia e quente sob sua bochecha e Winter era muito consciente de que
seu rosto estava a apenas um ou dois centímetros da barriga de Hannah. Sempre que ela
olhava para cima, mesmo que ligeiramente, ela tinha uma visã o de perto de seus seios
fartos.
A mã o esquerda de Hannah embalou seu ombro protetoramente. Que sensaçã o
estranha! Winter nã o precisava de proteçã o há muito, muito tempo. Surpreendentemente,
o toque nã o a fez se sentir presa.
Entã o Hannah deslizou lentamente os dedos de sua mã o direita no cabelo de Winter.
Ela nã o tocou o couro cabeludo a princípio, como se estivesse apenas testando para ver
como os fios curtos se sentiam... ou como Winter reagiria.
Winter nã o reagiu. Por que ela reagiria? Era o mesmo jeito que seu cabeleireiro fazia
massagem no seu couro cabeludo. Nada demais. Pena que seu maldito coraçã o nã o estava
recebendo a mensagem. Seu pulso vibrava muito rá pido.
Depois de passar os dedos pelo cabelo de Winter algumas vezes, Hannah olhou para o
rosto dela e murmurou algo em voz baixa, como se certificando-se de que apenas Winter
pudesse ouvir.
Winter nã o percebeu isso com as batidas de seu coraçã o. Conhecendo Hannah,
provavelmente foi “Está tudo bem?” ou algo semelhante, entã o Winter deu o menor dos
acenos.
Hannah arrastou os dedos mais profundamente em seu cabelo até tocar o couro
cabeludo apenas com as pontas dos dedos. Ela manteve a pressã o leve enquanto fazia
pequenos movimentos circulares.
Arrepios se espalharam do couro cabeludo de Winter pelo pescoço e pelas costas. Ela
nã o conseguia decidir se eram do tipo agradável ou desagradável.
Como se soubesse, Hannah seguiu seu caminho na parte de trá s de sua cabeça. Na
base de seu crâ nio, ela fez uma pausa e seu polegar encontrou um nó com uma precisã o
incrível. Entã o ela começou a subir a cabeça de Winter novamente, alternando suavemente
entre uma leve massagem e carícias suaves.
Os arrepios diminuíram, mas uma sensaçã o de formigamento permaneceu.
Hannah passou os dedos pelo cabelo na tê mpora de Winter em movimentos lentos,
depois desenhou pequenos círculos, massageando uma dor de cabeça que Winter nã o tinha
percebido até agora.
O lento deslizar das pontas dos dedos de Hannah ao longo de seu couro cabeludo e o
modo como ela balançava o cabelo para um lado e para o outro, como uma brisa de verã o
em um milharal, era estranhamente hipnó tico.
Winter nã o teria pensado que isso fosse possível, mas quando Hannah levou os dedos
à orelha com uma pressã o constante, ela começou a relaxar. Parecia uma experiê ncia
surreal fora do corpo, mas, ao mesmo tempo, a ancorou no momento, tirando-a da cabeça
por um tempo.
Hannah deslizou os dedos indicador e mé dio para acariciar cada lado da orelha de
Winter. Ela traçou sua curva até o topo, entã o arrastou seus dedos de volta para baixo
enquanto aumentava lentamente a pressã o.
Winter precisou de toda a força de vontade para conter um gemido profundo. Quem
podia imaginar que ela tinha tanta tensã o naquele ponto atrá s da orelha?
Quando Hannah alcançou o ló bulo da orelha de Winter, ela o rolou suavemente entre o
polegar e o indicador.
Outra onda de arrepios arrepiou a pele de Winter até os dedos dos pé s. Jesus! Isso nã o
era como a massagem que seu cabeleireiro lhe dava! Sem querer, Winter pressionou a
cabeça contra a coxa de Hannah, sem saber se ela estava se afastando do toque ou se
arqueando para ele.
Algué m limpou a garganta ruidosamente.
Hannah fez uma pausa, com seus dedos quentes ainda embalando a orelha de Winter.
— Longe de mim interromper — disse Shan — mas acho que tenho tudo de que
preciso.
Shan. A sessã o de fotos. A realidade desceu sobre Winter com a força de uma
avalanche. Ela levantou do colo de Hannah para uma posiçã o sentada e apoiou-se com um
ombro contra o encosto do sofá .
Shan baixou a câ mera e agora as observava com um sorriso malicioso.
Winter lançou-lhe um olhar tã o gelado que Shan deveria ter ficado congelada.
— Vamos ver o que temos. — Ela se levantou do sofá sem olhar para Hannah. Seu
corpo inteiro parecia estranho, desorientado, quase como se ela estivesse cambaleando em
direçã o a Shan. Cada terminaçã o nervosa parecia ainda estar focada nas sensaçõ es em sua
cabeça e ouvido, de modo que nenhuma atençã o foi deixada para suas pernas. O que diabos
Hannah tinha feito com ela?
Ela passou os dedos pelo cabelo, tentando afugentar o efeito persistente do toque de
Hannah. Por um momento, ela quase desejou ter afantasia també m, para nã o poder sentir
as carícias muito tempo depois que a sessã o de fotos tivesse terminado.
Shan olhou para ela.
— O quê ? —  Winter rosnou.
— Seus ló bulos das orelhas estã o brilhando como o nariz de Rudolph. — Shan riu.
Winter resistiu ao impulso de cobrir a orelha com a mã o.
— É da massagem no ouvido.
Shan balançou a cabeça.
— Os dois
 estã o vermelhos quanto uma lagosta cozida, nã o apenas o que Hannah, uh,
massageou.
— Acariciar aumenta o fluxo sanguíneo, só isso — respondeu Winter, citando um dos
fatos que ela sabia ao fazer pesquisas para o site de Hannah. — Agora deixe-me ver essas
fotos.
Hannah juntou-se a elas na mesa enquanto Shan inseria o cartã o SD no computador.
Ela manteve sua atençã o na tela, nenhuma vez olhando na direçã o de Winter.
Ela nã o foi afetada? Tinha sido apenas uma das muitas sessõ es de carinho para ela,
apenas com uma câ mera presente desta vez?
Era apenas uma sessão de carinho, Winter disse a si mesma com firmeza. Apenas
negócios. Ela se forçou a se concentrar na apresentaçã o de slides de fotos.
Havia mais fotos do que Winter esperava. Depois que Hannah começou a deslizar os
dedos pelos seus cabelos, Winter perdeu a conta de quantas fotos Shan tirou. Na verdade,
ela havia se esquecido da câ mera. Todo o seu foco estava nas mã os de Hannah e nas ondas
de sensaçã o que elas enviavam por seu corpo.
Ainda bem que ela estava de costas para a câ mera. Ela nã o queria saber que expressã o
estava em seu rosto. Tinha sido desconfortável, extasiado, atordoado, excitado ou confuso?
Ou talvez uma mistura de todos eles?
Fosse o que fosse, ningué m jamais saberia. Nas fotos, seu cabelo prateado destacava-
se contra a camisa azul-safira de Hannah, mas fora isso, nã o havia nada que desse aos
visitantes do site uma pista de quem ela era. Por trá s, muitos podem nem adivinhar seu
sexo. Ela era completamente anô nima.
Pelo menos isso era alguma coisa.
Quando a pró xima foto apareceu na tela, ela se concentrou em Hannah.
De alguma forma, ela esperava que a câ mera capturasse uma expressã o relaxada ou
um leve sorriso no rosto de Hannah. Em vez disso, Hannah olhava para ela com foco
intenso, como se todo o seu mundo tivesse sido reduzido a esses cinco pontos onde seus
dedos se conectavam com o couro cabeludo de Winter.
É assim que ela provavelmente olha para cada cliente.
Mas nã o importava quantas vezes ela dissesse isso a si mesma, ver a mesma
expressã o em foto apó s foto provocava um formigamento em seu couro cabeludo e pelo
resto de seu corpo, como se Hannah ainda a estivesse tocando.
Quando viram a ú ltima foto, Hannah olhou para trá s e para frente entre Shan e Winter.
— O que você acha?
— Elas sã o boas. — A voz de Winter saiu grossa e á spera. Ela tossiu para se livrar do
sapo que se instalou em sua garganta. — Do ponto de vista de marketing, quero dizer.
— Boas? Você está brincando comigo? Sã o fantá sticas! Inferno, elas me fazem querer
marcar uma sessã o, especialmente esta. — Shan apontou para a ú ltima foto que havia
tirado.
Winter abaixou a cabeça para vê -la mais de perto.
Nesta foto, o olhar de foco intenso ainda estava no rosto de Hannah, como se sua
pró pria vida dependesse de fazer com que Winter se sentisse bem. No entanto, ao mesmo
tempo, sua expressã o se suavizou. Suas pestanas descansavam no topo de suas bochechas
enquanto ela olhava para Winter, fazendo-a parecer vulnerável.
— Sim — disse Winter, com a voz baixa. — Acho que devemos usar essa para o site.
Hannah olhou para a foto com uma expressã o que Winter nã o conseguiu decifrar.
Quando ela olhou para cima, um enorme sorriso afugentou qualquer traço de qualquer
emoçã o que tivesse sido.
— Muito, muito melhor do que qualquer coisa que meu pai ou minha irmã pudessem
ter tirado, isso é certeza.
— Sem ofensa, mas um morcego poderia tirar uma foto melhor do que a maioria do
clã Martin — disse Winter.
O sorriso de Hannah só aumentou.
— Provavelmente verdade. — Ela se virou para Shan. — Você se importaria se eu
usasse seu banheiro antes de sairmos? Bebi muito café para me acordar para a sessã o de
fotos.
— Ah, com certeza. É logo ali. — Shan apontou para uma porta ao lado do cubículo do
guarda-roupa.
Quando Hannah caminhou em direçã o a ela, Shan e Winter a observaram recuar.
— Isso foi interessante — disse Shan.
Winter desviou o olhar de Hannah para se concentrar em Shan.
— Sim, a maioria das pessoas parece pensar assim. Por alguma razã o, todo mundo
parece estar fascinado com abraço profissional.
— Eu nã o estava falando sobre o aspecto profissional disso.
Winter semicerrou os olhos para ela. O que isso deveria significar?
— Como você s duas se conhecem mesmo? — Shan perguntou.
Claro, ambos sabiam que Winter nã o havia mencionado isso. Ela nã o estava ansiosa
para ser lembrada da chantagem de Julian, embora ser forçada a dividir um apartamento
com Hannah acabou sendo... suportável.
— Ela é minha, hum, colega de quarto.
Ainda bem que Shan pendurou a alça de sua câ mera em volta do pescoço porque
parecia que ela poderia deixá -la cair de outra forma.
— Você s vivem juntas? — Sua voz saiu em um guincho.
— Nossa, nã o diga isso assim!
— Ah, nã o, ningué m pode pensar que Winter Sullivan pode realmente estar em um
relacionamento româ ntico! — Shan riu. Um brilho provocante cintilou em seus olhos, mas
algo fez Winter hesitar em rir com ela. Talvez fosse o toque de rouquidã o em sua voz ou seu
aperto firme na câ mera.
— Shan...
Shan acenou com a mã o como se estivesse limpando o passado.
— Está bem. Você me disse desde o início o que eu poderia e nã o poderia esperar. —
Ela carregou o refletor de volta para uma das á reas de instalaçã o.
Winter nã o sabia o que dizer. Ela ficou para trá s, assim como um nó na garganta.
Porra, essa coisa de aconchego a deixou toda macia.
No passado, ela teria dito a si mesma que nã o era responsável pelos sentimentos de
outra pessoa. Shan era uma adulta que tomava decisõ es adultas e agora tinha de arcar com
as consequê ncias.
Mas, por algum motivo, ela nã o podia deixá -la ir.
Ela olhou para a porta do banheiro para se certificar de que Hannah nã o estava
voltando. Entã o, com alguns passos largos, ela cruzou o espaço entre elas.
— Shan, escute. É ...
— Se você disser 'Sou eu, nã o você', vou bater em você com um suporte de luz.
— Hum… — Winter puxou a gola de sua camisa. — Nã o era isso que eu ia dizer. — Ela
nã o sabia como pretendia terminar aquela frase. Situaçõ es como essa eram o motivo de ela
nã o ter relacionamentos. Algué m sempre acabava se machucando.
— Que bom. Eu odiaria danificar meu equipamento. — O sorriso de Shan alcançou
seus olhos desta vez, mas apenas por pouco. — Entã o, o que você quis dizer?
— É ... — Winter voltou a vestir a camisa e enfiou as duas mã os nos bolsos. — Nã o é o
que você pensa entre Hannah e eu.
— Oh, entã o há um 'Hannah e você'?
Winter balançou a cabeça energicamente.
— Nã o do jeito que você está pensando. Você sabe que nã o sou do tipo domé stica.
Isso nã o mudou.
— Poderia ter me enganado — Shan murmurou com um olhar para o sofá laranja.
— Nã o — disse Winter. — Ela realmente é apenas minha colega de quarto.
Shan a olhou em dú vida.
— Por que você precisaria de uma colega de quarto? A ú ltima vez que ouvi, você
estava ganhando uma tonelada de dinheiro como comerciante. Sua empresa nã o está com
problemas, está ? Porque se for, eu poderia...
— Nã o. Obrigada, mas estou indo muito bem.
— Entã o, por que arrumar um colega de quarto... e uma abraçadora profissional de
todas as pessoas? — Shan perguntou.
Winter soltou um suspiro pesaroso.
— Isso nã o foi planejado. Julian... meu pai morreu e vou herdar um pré dio na Park
Avenue, mas tem um problema. Para conseguir a metade, tenho que dividir o apartamento
do ú ltimo andar com Hannah por trê s meses.
Os olhos escuros de Shan se arregalaram.
— Eu sinto muito.
— Nã o é tã o ruim. Exceto pelas hordas de pessoas que ela tem perambulando pelo
apartamento, seu gosto por capachos e todos aqueles cabelos compridos no ralo.
— Hum, eu quis dizer sobre seu pai.
— Oh. Obrigada — disse Winter. — Mas nã o é ramos pró ximos.
— També m nã o sou exatamente pró xima do meu, mas se ele morresse e vinculasse
minha herança a uma clá usula que ele sabia que seria difícil para mim cumprir, apenas
como um ú ltimo foda-se, eu teria sentimentos sobre isso.
A porta do banheiro se abriu com um rangido e os passos de Hannah ecoaram pelo
espaço.
Winter controlou suas feiçõ es para nã o mostrar seu alívio. Ela nã o queria falar sobre
Julian, especialmente nã o agora, quando parecia que a massagem na cabeça de Hannah
havia perfurado sua armadura protetora.
— É melhor irmos andando — ela disse para Shan. — Nã o quero tomar mais do seu
tempo do que já tomamos.
— Sem problemas — disse Shan. — Isso nã o foi nada comparado a você construindo
meu site.
Winter dispensou-a com um gesto.
— Muito obrigada — disse Hannah. — As fotos estã o maravilhosas e você tornou tudo
muito fá cil.
Fá cil? Winter poderia pensar em uma dú zia de palavras diferentes para descrever sua
sessã o de fotos. Fácil
 nã o era um deles.
— Sempre feliz em ajudar uma amiga de uma amiga. — Shan e Hannah trocaram um
longo olhar como se estivessem conversando em silê ncio. Por mais diferentes que fossem,
os sorrisos espalhados em seus rostos eram quase idê nticos.
Winter franziu as sobrancelhas. O que estava acontecendo? E como as duas foram
promovidas ao status de amigas sem que ela fosse consultada?
Shan e Hannah estenderam as mã os, entã o riram e se abraçaram.
Vê -las se dar tã o bem era ó timo, mas, ao mesmo tempo, deixava Winter inquieta, mas
ela nã o sabia dizer porquê . Ainda era muito cedo para quebra-cabeças emocionais como
esse.
Winter pescou as chaves no bolso e as sacudiu.
Hannah se afastou, mas continuou encarando Shan.
— Se você quiser que eu retribua o favor e deixar você experimentar uma sessã o de
abraços, me avise.
— Ooh, eu poderia. E se precisar de mais alguma coisa, me ligue. — Shan lançou a
Hannah um sorriso um pouco caloroso demais para o gosto de Winter e entregou-lhe um
cartã o de visita.
Mais alguma coisa
 ? Winter olhou para ela. Essa oferta incluía outras coisas alé m de
fotografia?
Entã o Shan virou-se para Winter.
— Vou te enviar as fotos ainda hoje.
— Obrigada. Cuide-se. — Winter deu-lhe um aceno com a cabeça e um tapinha rá pido
no ombro, entã o conduziu o caminho para a porta.
***
Winter mudou cuidadosamente para a faixa da esquerda para evitar que o trá fego
entrasse pela rampa de acesso. Elas já estavam na interestadual há vá rios minutos, mas
Winter nã o fez nenhuma tentativa de quebrar o silê ncio.
Ela provavelmente ficaria feliz em passar toda a viagem de volta para casa em
silê ncio, mas Hannah estava louca para descobrir mais sobre Shanice e seu relacionamento
com Winter.
— Shanice parece realmente ó tima.
— Sim, ela é muito talentosa. É por isso que ela é minha fotó grafa sempre que preciso
de fotos de retratos para um projeto.
Isso nã o era o que Hannah queria dizer, mas ela nã o estava surpresa que sua colega de
quarto viciada em trabalho tivesse interpretado dessa forma.
— Ela é super legal e muito bonita també m.
Winter olhou para cima e depois para a estrada à frente. Suas sobrancelhas pairavam
sobre seus olhos azul-gelo.
— Eu acho.
— Você acha? — Hannah ecoou. Se Winter nã o estivesse dirigindo, ela teria lhe dado
uma cotovelada. — Oh vamos lá ! Ela é bonita, e você sabe disso!
— Ok, tudo bem. Ela é uma mulher atraente. — Winter acelerou em um trecho reto da
Interestadual 5. — Se você gostaria de convidá -la para sair, vá em frente e faça isso.
Hannah se virou no assento do passageiro para estudar o perfil de Winter. De onde
isso veio?
— Nã o é por isso que eu... eu só estava curiosa. Como você s suas se conheceram?
Um sorriso brincou na boca de Winter.
— Cerca de cinco anos atrá s, participei de uma oficina de fotografia durante todo o
dia. Eles forneceram o almoço e havia um cara desagradável que estava explicando a regra
dos terços para a mulher sentada à minha frente. Ficamos olhando uma para a outra,
revirando os olhos, enquanto ele divagava por cinco minutos. Finalmente, ela pegou um
livro sobre fotografia digital para iniciantes e disse a ele que ele poderia querer lê -lo
 porque havia errado algumas coisas. — Seu sorriso se alargou. — Acontece que ela nã o era
apenas a autora do livro, mas també m a instrutora da nossa pró xima aula.
Hannah riu.
— Eu adoraria ter visto a cara dele quando ela se apresentou como instrutora.
As risadas de Winter encheram o carro.
— Só isso valeu o preço do workshop.
— Alé m disso, você fez uma amiga, certo?
Winter hesitou. Ela mudou de volta para a pista da direita antes de responder.
— Nã o tenho certeza se eu nos chamaria assim. Nã o saímos ou ligamos uma para a
outra para desabafar sobre mulheres ou nossos empregos. Nó s só nos vemos quando um
dos meus clientes precisa de um fotó grafo ou quando algué m que ela conhece precisa de
ajuda de marketing. E, de vez em quando, fazemos viagens a lugares como Crater Lake,
Cannon Beach e Gorge para tirar fotos.
Portanto, nã o eram apenas relacionamentos que Winter evitava. Ela até hesitava em
chamar algué m de amigo. Jules tinha sido ó timo como cliente, mas quanto mais Hannah
conhecia sua filha, mais ela percebia o fracasso que ele havia sido como pai.
— Entã o você s duas nunca estiveram juntas?
— Nã o — disse Winter.
— Mas?
Winter olhou para ela por um momento.
— O que te faz pensar que existe um mas?
— O fato de ela estar disposta a acordar tã o cedo só porque você pediu. E... eu nã o
sei... Havia algo no jeito que ela olhou para você .
— Quer dizer, quando ela nã o estava ocupada flertando com você — murmurou
Winter.
Oh, entã o sua impressã o sutil estava certa. Shanice estava flertando.
— Eu nã o tinha certeza se ela estava.
Winter bufou.
— Por favor. Ligue se precisar de alguma coisa? Se isso nã o é flertar, nã o sei o que é .
Ok, sim, isso nã o foi tã o sutil afinal. As bochechas de Hannah esquentaram.
— Ei, nó s estávamos falando sobre você e Shanice e nã o pense que eu nã o percebi que
você respondeu minha pergunta com uma pergunta.
Por um momento, apenas o zumbido dos pneus na estrada interrompeu o silê ncio,
como se Winter tivesse que pensar muito se queria responder.
— Nó s dormimos juntos algumas vezes, mas nunca nos envolvemos romanticamente.
— Ela parecia completamente prá tica.
— E você nunca foi tentada a tentar mais? — Hannah perguntou. — Quero dizer, você s
claramente gostam uma da outra e compartilham alguns dos mesmos interesses, entã o...
— Nem todo mundo quer um relacionamento de longo prazo com a cerca branca e o
tapete de boas-vindas pontilhado de coraçõ es. — A voz de Winter ficou mais aguda. — Você
abraça pessoas com as quais nã o está envolvida. Fazer sexo com algué m sem querer um
relacionamento nã o é tã o diferente.
Parecia muito diferente para Hannah, mas, claro, era apenas ela. A visã o de Winter era
tã o vá lida quanto a dela.
— Ei, eu nã o estou julgando. Se funcionar para você , ó timo.
Elas dirigiram em silê ncio por um tempo.
— Entã o, você vai ligar para ela? — Winter perguntou enquanto dirigia pela ponte
Marquam.
Hannah se mexeu no banco do passageiro. O cartã o de visita de Shanice parecia abrir
um buraco em seu bolso. Talvez ela devesse. Se nada mais, sair com Shanice iria distraí-la
de como parecia completamente nã o profissional enterrar os dedos no cabelo liso e
prateado de Winter, acariciar seu couro cabeludo com as pontas dos dedos e sentir seu
rosto quente pressionado contra sua perna.
— Olá ? Hannah? — Winter estendeu uma mã o e acenou para frente e para trá s na
frente do rosto de Hannah.
O calor subiu pelo pescoço de Hannah e se espalhou por suas bochechas.
— Desculpe. Eu, hum, me distraí por um segundo.
— Sim, você totalmente se distraiu. Acho que isso responde à minha pergunta sobre
se você vai ligar para Shan. Se você está fantasiando com ela, a resposta é obviamente sim.
Hannah balançou a cabeça veementemente, entã o parou. Excelente.
 Por que ela nã o
deixou Winter pensar isso? Pelo menos ela nã o suspeitaria do que realmente estava
pensando.
— Eu nã o tenho imagens mentais, lembra? Eu nã o fantasio sobre as pessoas.
Entã o, por que ela se perdeu em pensamentos, catalogando mentalmente os detalhes
de como foi dar uma massagem na cabeça de Winter? Embora ela nã o fosse capaz de
imaginar como Winter parecia deitada em seu colo ou reviver a sensaçã o de seu cabelo, ela
ainda se lembrava de vá rios detalhes que eram incomuns para ela.
— Você nã o fantasia? — Winter parecia atordoado. — Entã o como você ...? — Ela
fechou a boca e olhou para o carro à frente deles com uma intensidade como se os nú meros
vencedores da loteria estivessem exibidos em sua placa.
— Como eu... o quê ?
Winter passou a mã o pelo cabelo, que ainda estava despenteado da massagem na
cabeça.
— Deixa para lá . Muito pessoal.
O que ela?
— Oh.
Winter estava falando sobre masturbaçã o. As pontas das orelhas de Hannah ardiam e
agora ela també m estava olhando para o carro à frente. Nã o era a primeira vez que ela se
deparava com essa pergunta. Na verdade, foi a primeira coisa que saiu da boca de Valentina
quando Hannah lhe disse que tinha afantasia, o que deu a Hannah uma visã o inesperada de
como as fantasias sexuais funcionavam para pessoas que podiam visualizar.
Aparentemente, despir algué m com os olhos nã o era apenas uma metá fora, como ela
sempre imaginou.
Ela nã o teve nenhum problema em explicar para seus amigos, mas ela realmente
queria falar sobre masturbaçã o com Winter?
Uma buzina de carro soou do outro lado da interestadual, soando estranhamente alta.
Em seguida, desapareceu na distâ ncia. O silê ncio repentino era como um vá cuo, esperando
para ser preenchido.
— Histó rias — Hannah deixou escapar.
Winter desviou o olhar para o rosto de Hannah e voltou para a estrada adiante. —
Histó rias? — ela repetiu, sua voz rouca.
Hannah se endireitou no banco do passageiro. Elas já conversaram sobre coisas
adultas, como lidar com a excitaçã o em sessõ es de abraços com estranhos o tempo todo.
Explicar como suas fantasias funcionavam para Winter nã o era nada em comparaçã o...
certo?
— Eu nã o tenho uma lista de reproduçã o mental de imagens sensuais ou qualquer
coisa assim. É mais como contar a mim mesmo uma histó ria fumegante na minha cabeça.
Winter pareceu considerá -la por vá rios momentos. — Hum.
— O quê ? — Hannah perguntou.
— Nada. Apenas... difícil para mim imaginar.
Imaginar? A escolha de palavras de Winter provocou uma nova onda de calor no peito
de Hannah. Estaria Winter imaginando-a envolvida em... uma narrativa sexy?
— Espere — disse Winter. — Isso significa que você pode fantasiar!
Hannah esfregou o rosto.
— Sim. Mais ou menos. Mas isso nã o significa que eu estava fantasiando sobre
Shanice. Ou que eu vou ligar para ela. Acho que nã o.
Winter olhou para ela, uma sobrancelha arqueada.
— Entã o ela nã o é seu tipo?
— Eu nã o tenho um tipo, exceto algué m que é gentil e tem um grande senso de humor.
— Nã o quero convencê -la disso, mas isso é um sim e outro sim para Shan.
— Tenho certeza que ela é ó tima, mas caso você nã o tenha notado, minha vida está
um pouco caó tica no momento. — Hannah fez um gesto tã o amplo que sua mã o quase
bateu na porta do carro. — Eu me mudei, entã o dei um grande salto de fé no meu trabalho,
saindo por conta pró pria e, se tudo correr bem, vou herdar metade de um pré dio. Minha
cabeça ainda está girando com tudo isso, entã o nã o sei se quero adicionar um novo
relacionamento à mistura agora.
Winter murmurou algo que Hannah nã o entendeu.
— O que é que foi isso?
— Eu disse: vamos parar para o café da manhã . Aquela coisa do Colo da Luxú ria me
deixou com fome.
Hannah procurou o perfil de Winter. Esse foi o ú nico efeito que a massagem na cabeça
teve em Winter? Sua cara de pô quer nã o revelava nada. Provavelmente nã o havia nada para
revelar. Winter odiava abraços, entã o a ú nica coisa que desencadearia era um reflexo de
fuga.
— Soa bem.
— Sim. Porque você está pagando.

Capítulo 17
Winter nã o tinha certeza de como exatamente isso aconteceu, mas no fim de semana
seguinte ela se viu no sofá , mexendo nas palavras-chave de SEO para o site de Hannah em
seu laptop, em vez de trabalhar em seu escritó rio.
Ela sabia que otimizaçã o de mecanismo de busca era um jogo longo, mas estava
ficando estranhamente impaciente. Fazia
  seis dias desde que o site foi ao ar, e ainda
nenhum novo cliente de abraço resultou dele, apenas um e-mail de um cara que perguntou
se Hannah fazia abraços nua.
Idiota. Winter cerrou os dentes.
— Você está bem? — Hannah olhou para cima de onde estava assistindo a um
programa da Netflix enquanto repassava o que chamava de diá rios de abraços, anotaçõ es
que fazia apó s cada sessã o, para procurar ex-clientes com quem pudesse entrar em contato
com uma oferta de vinte por cento de desconto.
Winter deu um breve aceno de cabeça.
— Sim.
O mesmo provavelmente nã o poderia ser dito sobre a conta bancá ria de Hannah,
agora que ela nã o estava mais trabalhando para a Abraços Experts. Ela deveria perguntar
como ela estava fazendo por dinheiro?
Mas e se Hannah confirmasse que estava ficando sem dinheiro? Ela nã o estava
pensando em emprestar seu dinheiro, estava? As finanças de Hannah nã o eram
responsabilidade dela. “A amizade termina no dinheiro”, Julian certa vez citou seu avô suíço
e foi uma das poucas palavras de sabedoria com as quais ela concordou. Alé m disso, ela
ainda nã o havia decidido se considerava Hannah uma amiga.
O papel farfalhou enquanto Hannah continuava a folhear as pá ginas de seu diá rio de
abraços. Mais trê s cadernos grossos estavam sobre a mesa de centro.
Eram muitas notas. O que havia para dizer alé m de 15 de maio: dei uma abraço em
John Smith por uma hora
?
Entã o outro pensamento ocorreu a Winter. Havia entradas para as sessõ es de abraços
de Julian també m... e para ela? Se sim, o que Hannah havia escrito?
Winter disse a si mesma que nã o se importava com o que Hannah havia escrito sobre
ela. Nã o deveria me importar. Mas no fundo, ela sabia que sim. Aquela sessã o de abraços
fracassada ainda a atormentava. Ela nã o estava acostumada a falhar. Em todas as outras
á reas de sua vida, ela se recusou a desistir e tentou quantas vezes foram necessá rias para
finalmente conseguir.
De certa forma, ela havia
 
tentado
  novamente com abraços també m.
  Mas se
voluntariar para o Colo da Luxú ria durante a sessã o de fotos nã o a deixou com uma
sensaçã o de triunfo. A experiê ncia só conseguiu uma coisa: deixá -la mais inquieta do que
nunca. Ela nã o podia mais descartar o aconchego como algo que nã o tinha interesse em
dominar porque a deixava fria. Sempre que pensava nisso, ainda podia sentir as pontas dos
dedos de Hannah deslizando por suas tê mporas e acariciando sua orelha. A nitidez daquela
memó ria tirou-lhe o fô lego, à s vezes com prazer, outras vezes com pâ nico, na maioria das
vezes com uma mistura de ambos.
O cheiro de menta se espalhou quando Hannah puxou seu infusor de esquilo de sua
caneca e o colocou em um pequeno prato.
Foi uma distraçã o bem-vinda de toda essa maldita introspecçã o. Winter fixou um
sorriso no rosto e abriu a boca.
— Nã o fale nada. — Hannah nem sequer olhou em sua direçã o.
— Falar o quê ? — Winter perguntou em seu melhor tom inocente.
— O que quer que você estivesse prestes a dizer sobre meu infusor.
— Apenas querendo saber como está indo o treinamento do esquilo.
— Ha ha. — Hannah a golpeou com o diá rio.
Quando a atingiu no ombro, Winter se encolheu.
Hannah imediatamente largou o diá rio no sofá entre elas e pressionou as duas mã os
na boca.
— Oh nã o! Me desculpa. Isso doeu? Eu nã o queria...
— Nã o. — Nã o doeu nada. — Só nã o esperava. — Ela nã o conseguia se lembrar da
ú ltima vez que algué m lhe dera uma palmada de brincadeira. A maioria das pessoas
sabiamente mantinha distâ ncia.
Falando em distâ ncia... O que aconteceu com o espaço entre elas? Quando elas se
acomodaram no sofá uma hora atrá s, cada uma ocupou uma ponta, com vá rias almofadas
entre elas. Agora os travesseiros haviam desaparecido magicamente e Hannah havia
deslizado para o meio. Ela també m nã o foi a ú nica que se mudou. Winter olhou para o
espaço entre sua coxa direita e o apoio de braço. Como diabos isso aconteceu?
Hannah procurou o rosto de Winter com uma expressã o preocupada e deslizou ainda
mais perto, tã o perto que seus ombros se tocaram.
— Você tem certeza que está bem? Você parece um pouco... confusa.
Isso nã o estava longe da verdade. O foco total de Winter estava no calor do ombro de
Hannah que descansava contra o dela como se nã o fosse grande coisa, embora
definitivamente fosse. Especialmente a percepçã o de que nã o parecia nada desagradável.
Ela se afastou do toque casual sob o pretexto de salvar as alteraçõ es no site, entã o
desconectou e colocou o laptop na mesa de centro.
— Sim estou confusa — ela apontou para a TV, onde um bicho de pelú cia azul estava
sendo adorado como um deus por um clã de vikings. — Este é o segundo episó dio que
assisto desta sé rie e ainda nã o entendi o que está acontecendo. Os roteiristas estavam
tomando LSD quando tiveram as ideias para o programa ou o enredo deveria ser ridículo?
Hannah riu.
— Apenas espere até nó s chegarmos ao episó dio com o unicó rnio comedor de
mamilos.
Nós?
 Winter repetiu mentalmente. Por que Hannah presumiria que elas assistiriam a
mais desse show absurdo juntas? Entã o o resto do que ela disse foi registrado. — Comer
mamilos... o quê ?
A risada de Hannah sacudiu o sofá inteiro.
— O show é hilá rio, mas admito que é um gosto adquirido. Esta é a terceira vez que
assisto.
— Terceira vez? — Winter achava que nã o tinha assistido nada trê s vezes.
Hannah assentiu.
— A primeira vez para aprender a diferenciar os personagens. Costumo lutar com isso
quando os personagens sã o muito parecidos.
Winter voltou sua atençã o para a TV, onde o capitã o do navio do tempo estava
conversando com uma loira de terninho.
— Esses dois nã o se parecem em nada.
— Sim, eles parecem. Ambas sã o mulheres, loiras e estã o na casa dos trinta.
— Elas sã o mulheres loiras na casa dos trinta que nã o se parecem em nada —  disse
Winter.
— Talvez nã o para você , mas nã o sou muito boa com rostos e nã o ajuda que seja uma
sé rie de viagem no tempo e que eles mudem constantemente de figurino, entã o eles
parecem diferentes em cada cena. Levei um tempo para diferenciá -los. —  Hannah riu. — Se
você me perguntar, escalar duas atrizes com a mesma cor de cabelo deveria ser proibido.
Winter fingiu que ainda estava assistindo ao programa, quando na verdade estava
estudando Hannah e suas covinhas com o canto do olho. Incrível que ela pudesse rir de si
mesma e de suas pequenas peculiaridades. Winter nunca foi capaz de fazer isso. Suas
deficiê ncias e coisas que a tornavam diferente sempre foram criticadas, nunca toleradas
afetuosamente, entã o ela tendia a fazer o mesmo, consigo mesma e com os outros.
Agora, ela nã o estava tentada a comentar sobre a luta de Hannah para manter as duas
atrizes principais separadas. Embora fosse estranho, també m era meio fofo.
Winter pegou seu laptop novamente e começou a trabalhar em um anú ncio no
Facebook para Hannah, mantendo um olho na TV, observando a capitã do navio do tempo
elogiar a dama do terninho por como ela ficava bonita em uma fantasia de viking.  — As
duas loiras sã o um casal?
— Ainda nã o, mas elas vã o ficar juntas ainda nesta temporada.
Winter soltou um suspiro brincalhã o.
— Apesar de terem a mesma cor de cabelo?
— Ha ha! Muito engraçado. — Hannah estendeu a mã o no espaço entre elas e cutucou
o braço com um dedo.
Winter olhou para o amassado que o toque casual de Hannah havia deixado em sua
camisa.
Aparentemente inconsciente da preocupaçã o de Winter, Hannah voltou a assistir ao
episó dio enquanto folheava seu diá rio de abraços.
Ah, supere isso. Ela é uma tocadora. Ela não pode evitar. Não significa nada.
  Winter
passou a mã o sobre a manga para endireitá -la e afastar a sensaçã o de formigamento.
— Entã o? — ela finalmente perguntou. — Você encontrou algum ex-cliente que
pudesse contatar?
— Nã o. Nenhum que eu pudesse reativar. Alguns se mudaram, um se casou e —
Hannah puxou um joelho contra o peito e o abraçou — um era seu pai. Quero dizer, Jules. —
Ela folheou mais pá ginas do diá rio. — Ele agendou mais sessõ es do que eu lembrava.
Uma imagem vívida de Hannah esfregando a cabeça de Julian passou pela mente de
Winter. Ela apertou os dedos ao redor do apoio de braço. Embora finalmente tivesse
aceitado que nã o havia nada obscuro ou imoral no trabalho de Hannah, a ideia de Julian se
aninhando em seu colo ainda parecia tã o errada que ela queria vomitar.
Hannah virou outra pá gina e passou os dedos por uma linha de suas anotaçõ es.
Parecia tanto uma carícia que uma onda de mal-estar percorreu o estô mago de Winter e
subiu até sua garganta.
— Esqueça os antigos clientes, entã o — ela forçou e estendeu a mã o para fechar o
diá rio. — Vamos encontrar outra maneira de conseguir mais clientes para você .
— Espere! — Hannah pegou o caderno e olhou para ele. Seu dedo indicador, que
pairava sobre uma linha de texto, tremia.
Winter nã o conseguia ler as palavras desde que Hannah havia atirado o diá rio do
abraço, mas ela percebeu que a linha de texto para a qual Hannah estava apontando havia
sido riscada. — O quê ? O que há de errado?
— Alguns meses antes de morrer, Jules havia marcado uma sessã o, mas acabou
cancelando. Eu nunca mais o vi. Acho que foi quando ele começou a piorar e nã o queria que
eu soubesse.
— Sim, isso soa como ele — murmurou Winter. — Ele preferia cortar a língua a
mostrar qualquer fraqueza.
— Parece muito com a filha dele — Hannah disse, seu tom gentil.
— Ah sim, definitivamente. Brooke també m nã o é de mostrar fraqueza.
Um sorriso curvou os lá bios de Hannah para cima.
— Eu nã o estava falando sobre Brooke.
Winter olhou para ela até que aquele sorriso irritante desapareceu.
— Entã o, e aquela sessã o que ele cancelou?
— Teria sido sua nonagé sima terceira. — Hannah estendeu o diá rio para Winter ver e
digitou a frase riscada. Dizia, Jules L., sessão nº 93. Nenhuma nota foi seguida, porque a
sessã o havia sido cancelada.
— Inferno! Isso é muito... — Entã o seu cé rebro processou o nú mero e o motivo pelo
qual Hannah ficou olhando para o diá rio. — Isso significa que ele teve noventa e duas
sessõ es de abraços com você . Noventa e duas. Como o nú mero de dias que ele está nos
forçando a viver juntas antes de herdarmos o pré dio.
— Você acha que é uma coincidê ncia? — Hannah perguntou.
Winter nã o precisava pensar nisso.
— Nã o. Julian nunca deixou nada ao acaso.
— Mas como ele poderia saber que teríamos noventa e duas sessõ es?
— Aposto que ele atualizou o testamento assim que percebeu que nã o veria você de
novo, simplesmente para mexer com a gente. — Seria típico de Julian.
Hannah fechou o diá rio e virou-se no sofá para encará -la.
— Você realmente nã o consegue pensar em outro motivo para ele ter usado o mesmo
nú mero no testamento?
— Tal como?
— Nã o sei — disse Hannah. — Talvez ele estivesse tentando nos dizer algo.
— Que ele estava contando suas sessõ es? — Winter lançou um olhar zombeteiro para
o teto. — Parabé ns, Julian. Você dominou nú meros até cem. Considere-nos postumamente
impressionados.
Hannah suspirou.
— Por que você sempre tem que ser tã o idiota quando falamos sobre Jules?
Winter já tinha aberto a boca para acrescentar outro comentá rio, mas a resposta
franca de Hannah tirou as palavras de seus lá bios. Na maioria das vezes, Hannah era toda
suavidade fofinha, entã o quando aquela espinha de aço aparecia, sempre pegava Winter de
surpresa.
— Entendo que ele deve ter feito coisas que machucaram você , mas isso nã o é motivo
para me machucar — Hannah acrescentou calmamente.
Se algué m mais tivesse dito algo assim, Winter provavelmente teria bufado e
descartado como sendo muito sensível. Mas o pensamento de machucar Hannah arranhou
seu estô mago como um animal selvagem. — Machucar você ? — Saiu como um sussurro
á spero.
— Sim. — Hannah sustentou seu olhar. — Havia duas pessoas envolvidas em nossas
sessõ es de abraço, sabia? Talvez colocar o nú mero de sessõ es que tivemos no testamento
fosse sua forma de me agradecer por elas. Porque, por mais educado que ele fosse, isso era
uma coisa que eu nunca ouvi dele. Tenho a sensaçã o de que dizer coisas como 'obrigado' ou
'sinto muito' era tã o difícil para ele quanto admitir uma fraqueza.
Winter assentiu severamente. Havia muitas coisas que Julian nunca havia dito a ela
també m. Obrigado
 e desculpe estavam entre elas, també m te amo
 e tenho orgulho de você.
  — Você honestamente acha que forçar você a morar comigo por trê s meses pode ser
considerado uma demonstraçã o de gratidã o?
As covinhas de Hannah apareceram novamente enquanto ela sorria.
— Bem, tenho certeza de que ele sabia que você se mudaria com sua má quina de café
expresso de luxo e um suprimento inesgotável de café gourmet, que eu desfruto todas as
manhã s. — Entã o o sorriso provocador foi substituído por uma expressã o sincera. — E
talvez ele esperasse que nos torná ssemos amigas se passá ssemos algum tempo juntas.
Essa foi a segunda vez que Hannah as chamou de amigas
.
— Nó s somos? — Winter tentou um olhar cé tico, mas teve a sensaçã o de que ela
provavelmente parecia mais confusa ou ansiosa, embora nã o pudesse dizer qual resposta
esperava ouvir, um sim ou um nã o.
— Bem, você passou dezenas de horas no meu site e nas palavras-chave do SIO.
— SEO — disse Winter.
— Sim, isso. Alé m disso, você pediu um favor e me levou para a minha sessã o de fotos
em uma hora inacreditável, tudo por um total de zero dó lares até agora. Se isso nã o é
amizade...
Winter sacudiu a cabeça severamente.
— Eu disse que estou ajudando você por razõ es completamente egoístas. Haverá
menos pessoas circulando pelo apartamento se você ganhar mais dinheiro por cliente.
Hannah suspirou.
— Bem, a parte de menos pessoas desse plano está funcionando bem. A parte de mais
dinheiro... nem tanto.
Winter apertou a borda de metal do laptop com tanta força que afundou em sua pele.
— Ei — Hannah disse gentilmente. — Isso nã o é sua culpa. Você me disse que levaria
algum tempo.
Ela nã o parecia pensar, nem por um segundo, que Winter havia lhe dado um mau
conselho de propó sito, tudo como parte de um plano maligno para manter os clientes longe
de sua casa. Se Winter estivesse no lugar de Hannah, o pensamento poderia ter passado por
sua cabeça.
Nã o Hannah. Seus olhos nã o tinham um pingo de desconfiança em Winter. Ela
confiava nela com algo tã o importante para ela quanto seu negó cio.
Winter engoliu em seco contra sua garganta seca.
Hannah estendeu a mã o pelo espaço restante entre elas como se fosse colocar a mã o
sobre a de Winter, mas entã o se deteve e enfiou a palma da mã o sob a pró pria coxa.
Por um mero segundo, Winter pensou que nã o se importaria muito se Hannah a
tivesse tocado. Entã o ela soltou o laptop e afugentou o pensamento com um aceno de mã o.
— Vamos fazer algo sobre a parte de mais dinheiro, entã o.
Hannah deslizou ainda mais perto, tã o perto que Winter sentiu o calor emanando de
sua coxa e ombro, e olhou para a tela do laptop.
Winter o fechou. — Nã o. Vou configurar alguns anú ncios, mas nã o é isso que quero
dizer. Esperar que clientes em potencial venham até você está demorando muito. Você
precisa ir aos clientes.
— Como?
— Dando amostras grá tis.
Hannah deu a ela um olhar duvidoso.
— Você tem certeza que é isso que você quer que eu faça? Isso significaria muito mais
pessoas perambulando pelo nosso apartamento.
— Só se você distribuí-los em casa. Mas nã o é isso que você vai fazer. Alguns anos
atrá s, vi pessoas com placas de abraços grátis
. Se você fosse a um espaço pú blico como a
Pioneer Square e segurasse uma placa como essa, oferecendo abraços grá tis, atrairia
pessoas que nã o se opõ em ao contato físico com estranhos. Dê a eles um panfleto com uma
oferta de vinte por cento de desconto junto com o abraço grá tis e aposto que você atrairá
bastante interesse.
— Ooh! — Hannah saltou para cima e para baixo no sofá . Seu ombro esbarrou no de
Winter, provocando o já familiar formigamento. — Isso soa como uma campanha de
marketing que pode ser divertida! Vamos tentar.
Winter abriu o laptop.
— Excelente. Vou começar com os panfletos imediatamente para que você possa fazer
sua campanha de abraços grá tis o mais rá pido possível.
Hannah parou no meio do salto.
— O que você quer dizer com 'eu'? Você vem comigo, certo?
— Nã o estava planejando isso — disse Winter, já abrindo o Adobe InDesign para
trabalhar no panfleto. — Abraços sã o sua especialidade, nã o minha.
— Você nã o terá que abraçar ningué m. Eu prometo. Você pode vir me fazer
companhia e supervisionar. Vamos. Diga sim. Você precisa sair mais de qualquer maneira.
Aquele olhar suplicante nos olhos de Hannah nã o iria funcionar. Absolutamente nã o.
Winter tirou os dedos do teclado e cruzou os braços sobre o peito.
— Eu saio bastante, muito obrigado.
— Sim, para trabalho ou para correr, com seus fones de ouvido para que você nã o
precise interagir com ningué m.
— O que há de errado com isso?
— Nada. Apenas... venha comigo. Por favor?
Não não não. Ela nã o deixaria aqueles grandes olhos castanhos convencê -la a
comparecer a este festival de abraços. Nã o. Ela era completamente imune a eles.
— Ajudaria muito se eu tivesse algué m que pudesse distribuir os panfletos — disse
Hannah. — Vou estar com meus braços cheios, por assim dizer.
Winter hesitou. Sim, distribuir os panfletos
  e ao mesmo tempo dar à s pessoas um
gostinho do que as esperaria durante as sessõ es de abraços podia ser um desafio. Isso
poderia resultar em abraços distraídos que nã o convenceriam
 ningué m a pagar por mais
aconchegos.
— Hum. Talvez eu devesse ir. Apenas para garantir que a campanha esteja sendo
executada com eficiê ncia.
Os lá bios de Hannah se contraíram. Ela parecia estar lutando para reprimir um
sorriso triunfante.
— É claro. Eu cuido dos abraços, você lida com o controle de eficiê ncia.
Antes que Winter soubesse como tinha acontecido, ela assentiu com relutâ ncia. —
Tudo bem. Vou junto.
Merda. Aparentemente, ela iria supervisionar um festival de abraços.
***
O que diabos havia de errado com os habitantes de Portland?
Eles estavam parados no meio da Pioneer Courthouse Square por dez minutos com
Hannah segurando uma placa de papelã o anunciando abraços grátis
  em letras grandes e
coloridas e Winter de pé com uma pilha de panfletos.
Ela ainda segurava cada um.
Nã o é que elas tivessem escolhido o local errado para a campanha. Como era hora do
almoço de uma quarta-feira, muita gente atravessava a praça para pegar um cheesesteak ou
um sanduíche de ovo em um dos carrinhos de comida ou um café no Starbucks pró ximo.
Outros se sentavam nas duas dú zias de degraus que formavam um semicírculo no centro da
praça, aproveitando o lindo clima de fim
 de junho.
Vá rias pessoas olharam, mas nenhuma delas aceitou Hannah em sua oferta de abraço
grá tis.
Um jovem ergueu os olhos de seu copo de papel, leu a placa e diminuiu o passo. Mas
entã o ele bateu no reló gio de pulso como se dissesse que nã o tinha tempo e passou.
Winter o nivelou com um olhar que deveria ter transformado seu café em um só lido
bloco de gelo.
— Isso nã o ajuda, sabe? — Hannah disse baixinho por trá s de sua placa.
— O quê ?
— Você está olhando para todos.
— Ele mereceu — murmurou Winter. — Que tipo de idiota sem noçã o tem tempo para
tomar um café , mas depois decide que está com pressa demais para parar para um abraço
grá tis?
— Você pararia para um abraço se nã o nos conhecê ssemos? — Hannah perguntou.
Winter estremeceu dramaticamente.
— De jeito nenhum!
— Viu? Seja paciente. Algué m vai parar e entã o outros vã o vê -los fazer isso e criar
coragem para vir para um abraço també m. — Hannah levantou a placa de papelã o sobre a
cabeça para que os transeuntes pudessem ver seu sorriso de boas-vindas. Nunca vacilou,
nã o importa quantas pessoas passassem.
Winter nã o podia deixar de admirá -la. Nunca em um milhã o de anos ela se abriria
para ser julgada e rejeitada do jeito que Hannah fez agora. Em seu mundo, vulnerabilidade
  era igual a fraqueza, mas conhecer Hannah a fez questionar o quã o verdadeiro isso
realmente era.
Ela tentou seguir o exemplo de Hannah e ser paciente, mas nem paciê ncia nem deixar
que os outros assumissem a liderança eram de sua natureza. Agir era.
Quando um grupo de universitá rios se aproximou, Winter decidiu que era hora de
fazer alguma coisa.
— Finja que nã o me conhece — ela sussurrou com o canto da boca, cruzou os dois
metros de espaço entre elas e estendeu os braços para um abraço.
Os olhos de Hannah se arregalaram. Por um segundo, ela nã o se mexeu, a placa ainda
sobre sua cabeça. Entã o ela abaixou e passou os dois braços em volta dela.
Winter ficou muito quieta. Sua mente foi para um lugar estranho, onde ela estava
ciente de que estava em pú blico, com dezenas de pessoas assistindo, enquanto ao mesmo
tempo estava totalmente focada em como era abraçar Hannah... ou, mais precisamente, ter
Hannah lhe abraçando.
Nã o foi um abraço de ar educado ou um abraço de lado desajeitado. Foi uma
experiê ncia frontal de
  corpo inteiro. Hannah moldou-se intimamente contra ela dos
joelhos aos ombros e Winter estava muito consciente da pressã o de suas coxas, sua barriga
macia e seus seios fartos.
Jesus. Winter respirou cuidadosamente para que Hannah nã o pensasse que ela estava
hiperventilando.
Hannah tinha um cheiro incrível, de pele aquecida pelo sol e loçã o. Um de seus braços
descansava firmemente sobre as omoplatas de Winter. A outra estava pendurada mais
abaixo, com os dedos espalmados
  contra a parte inferior das costas, como se tentasse
comunicar algo atravé s do tecido da camiseta de Winter.
Lentamente, Winter exalou e retribuiu o abraço por um momento, apenas para que
parecesse real para os transeuntes. Ela manteve a mã o que segurava os panfletos longe de
Hannah enquanto descansava a outra nas costas, nã o permitindo que ela se movesse nem
um centímetro. O calor da pele de Hannah queimou atravé s do algodã o de sua camiseta. Ela
se concentrou na sensaçã o, tentando nã o pensar em como seria deslizar a mã o por baixo e
tocar sua pele nua.
Pé ssima ideia. Ideia horrível. O olhar no rosto de Hannah quando ela tentou beijá -la
durante a sessã o de abraços ainda estava gravado em sua mente. Ela nunca mais queria ver
aquela expressã o, especialmente agora que, por mais impossível que parecesse, elas
poderiam estar começando a se tornar amigas.
Hannah nã o parecia estar com pressa de se soltar. Talvez ela precisasse do abraço e
estivesse mais desencorajada por sua campanha até agora infrutífera do que ela deixou
transparecer.
— Obrigada — ela sussurrou contra o ombro de Winter.
Winter deu um breve aceno de cabeça, nã o confiando em sua voz. Finalmente, ela se
desembaraçou e deu um passo para trá s. Seus braços pendiam desajeitadamente ao lado do
corpo. Por um momento, eles se sentiram estranhos, como se nã o soubessem o que fazer
agora que ela nã o estava mais segurando Hannah.
Ridículo. Seus braços sabiam exatamente o que fazer, distribuir panfletos. Ela olhou
em volta procurando o grupo de estudantes universitá rios, mas eles nã o estavam em lugar
nenhum.
Deus, quanto tempo durou aquele abraço? Tanto para seu plano brilhante.
Mas antes que qualquer uma delas pudesse dizer qualquer coisa, um jovem casal
caminhou em direçã o a elas.
Hannah deu-lhes um sorriso convidativo. — Que tal um abraço grá tis? — Ela ainda
nã o levantou os braços ou se inclinou para eles. Pacientemente, ela esperou por uma
resposta.
— Nunca vou dizer nã o a isso — respondeu a mulher, rindo.
Quando se abraçaram, a companheira do estranho deu um passo para Winter e
lançou-lhe um olhar interrogativo. — Você está dando abraços de graça també m?
Winter recuou.
— Oh, nã o, nã o, nã o, ela é a abraçadora profissional. Só vim distribuir panfletos. — Ela
deu a ele um.
— Oh, entã o isso é realmente uma coisa? — Ele apontou para o panfleto.
A mulher terminou o abraço e deu uma cotovelada nele.
— Eu te disse que era. Você faz cartã o-presente? Uma sessã o de abraços seria perfeita
para o aniversá rio da minha irmã .
Mais trê s pessoas se aproximaram para um abraço antes que Hannah pudesse
responder e as duas horas seguintes voaram enquanto trabalhavam juntas, distribuindo
abraços e panfletos e respondendo a perguntas sobre os serviços de Hannah.
No final das contas, Hannah estava certa. As pessoas frequentemente se aproximavam
em grupos. Assim que viram algué m vir para um abraço grá tis, elas criaram coragem para
fazer isso també m.
Winter tentou adivinhar quem aceitaria um abraço e quem passaria correndo com um
olhar cé tico, mas logo descobriu que era completamente aleató rio. Ela també m nã o poderia
prever quem abraçaria desajeitadamente e quem abraçaria Hannah como se nunca
quisesse soltá -la. Nã o havia fó rmula para abraços. Winter só podia ter certeza de uma
coisa: ela já havia observado o suficiente deles por hoje.
***
— Acho que chega — disse Winter.
Hannah a ouviu como se fosse atravé s de um tú nel de vento.
— Mais um — ela implorou, como uma criança em um parquinho que nã o estava
pronta para ir para casa. Uma endorfina alta de todos os abraços e risadas correu por seu
corpo.
Winter lançou-lhe um olhar incré dulo.
— Estou exausta só de te observar e você nã o conseguiu o suficiente?
— É uma sensaçã o tã o boa tornar o dia das pessoas um pouco melhor e colocar um
sorriso em seus rostos.
Uma mecha de cabelo curto que caíra na testa de Winter tremulou quando ela soltou
um suspiro para o cé u.
— Tudo bem. Mas apenas mais um. Resta apenas um panfleto de qualquer maneira.
— Uau. Você distribuiu todos eles?
Winter assentiu. Um brilho de orgulho brilhou em seus olhos.
Hannah conteve um sorriso. Winter podia fingir odiar toda essa experiê ncia, mas
agora Hannah podia lê -la melhor, entã o ela sabia que Winter estava tã o feliz quanto ela.
— Vamos — disse Winter. — Escolha sua ú ltima vítima para que possamos ir para
casa.
Hannah olhou em volta procurando algué m que parecesse realmente precisar de um
abraço.
Dois homens com uma garotinha se aproximaram.
A garota apontou para a placa colorida de Hannah.
— O que isso diz, papai?
— Elas estã o dando abraços de graça — disse um dos homens.
— Posso ter um, papai? — A garota olhou para o outro homem.
Os dois homens olharam um para o outro, depois para Hannah, que lhes deu um aceno
encorajador.
— Tudo bem, você ...
A garotinha disparou em direçã o a Hannah antes que seu pai pudesse terminar a
frase.
Sorrindo, Hannah ajoelhou-se e deu-lhe um abraço carinhoso.
Depois de um segundo, a garota se soltou e voltou sua atençã o para Winter. — Você
també m. — Parecia uma afirmaçã o determinada, nã o uma pergunta.
Winter estendeu as duas mã os, com as palmas para fora, para afastá -la. — Nã o, eu nã o
sou...
A garotinha jogou os braços ao redor dos quadris de Winter em um abraço
exuberante.
— Oof. — Winter ficou paralisada e lançou a Hannah um olhar impotente.
Hannah levou a mã o à boca para nã o cair na gargalhada. Como ela desejava poder
capturar esse momento na câ mera, para que pudesse se lembrar da expressã o no rosto de
Winter mais tarde. Um leve rubor cobriu suas maçã s do rosto salientes e suas sobrancelhas
baixaram em concentraçã o, como se ela estivesse se concentrando em um problema
complexo. No entanto, seus movimentos foram cuidadosos e gentis quando ela se abaixou e
deu um tapinha nas costas da garota duas vezes.
— Pronto — A garota soltou e sorriu para Winter. — Tudo melhor agora. — Entã o ela
se virou e correu de volta para seus pais.
Winter ficou olhando para ela com um olhar atordoado em seu rosto. Ela até se
esqueceu de entregar a eles o ú ltimo panfleto.
— Oh meu Deus. — Hannah quase se transformou em uma poça nos tijolos vermelhos
da praça. — Quã o fofo foi isso? — Claro, ela se referia a Winter també m, nã o apenas à
garotinha, mas ela nunca diria isso a ela. — Acho que foi meu abraço favorito do dia.
Ok, provavelmente o segundo favorito dela. Seu favorito era aquele que Winter lhe
dera para convencer os transeuntes a seguir seu exemplo. Winter pode nã o ter muita
experiê ncia quando se trata de abraços, mas algo na maneira como ela a segurou foi
completamente diferente de todos os outros abraços que Hannah recebeu hoje.
Ou talvez nã o fosse algo que Winter tivesse feito diferente. Certamente nã o era algum
tipo de té cnica de abraço superior, e como seus corpos eram diferentes, ela nã o esperava
que fosse tã o bom... e ainda assim foi. A barriga plana de Winter contra a sua barriga
suavemente curvada, seus seios menores aninhados sobre os seus... Era a perfeiçã o.
Ela mal se conteve para nã o esfregar o rosto no tecido da camiseta de Winter e inalar
as refrescantes notas de tangerina e bergamota de seu perfume. Hannah teria jogado de
bom grado a pilha de panfletos na fonte pró xima se isso significasse que ela tivesse que
segurar Winter por mais alguns minutos.
Essa forte reaçã o a assustou. De onde diabos isso estava vindo? Ok, entã o Winter era
atraente. Mas um corpo quente e um par de olhos azuis surpreendentes normalmente nã o a
impressionavam tanto. Se ela tivesse um tipo, nã o seria Winter. Ela gostava de pessoas
gentis e acessíveis.
Mas, novamente, Winter era gentil, nã o importava o quanto ela tentasse escondê -lo
atrá s de paredes de gelo semelhantes a fortalezas.
— Olha só — uma voz a alguns metros de distâ ncia trouxe Hannah de volta à
realidade. — Se nã o é minha irmã zinha e sua colega de quarto temporá ria.
Winter se virou e se posicionou como se quisesse proteger Hannah da sú bita
intrusã o.
Brooke parou na frente delas. Impecavelmente vestida com uma blusa de seda roxa e
uma saia lá pis preta, com uma bolsa para laptop pendurada no ombro, ela parecia ter
acabado de sair de uma reuniã o de negó cios.
A euforia que Hannah sentiu por dar abraços grá tis... ou talvez por receber um de
Winter... diminuiu. A tensã o que irradiava de Winter ao enfrentar sua meia-irmã era tã o
palpável que Hannah també m nã o pô de deixar de ficar tensa.
— Oi, Sra. Lambert. — Ela deu um aceno amigável em uma tentativa de acalmar a
situaçã o.
— Ah, por favor, me chame de Brooke. — Os lá bios imaculadamente pintados de
Brooke formaram um sorriso encantador. Ela estudou a placa que Hannah ainda segurava.
— Ah, abraços grá tis. Essa é a estraté gia de marketing que minha irmã mais nova inventou?
— Pare de me chamar assim — Winter retrucou. — Eu tenho um nome. Use-o. Alé m
disso, o que te faz pensar que estou fazendo marketing para Hannah?
Brooke bufou.
— Por favor. Eu vi o novo site. Sua assinatura está por toda parte.
— Você quer dizer que nã o há nenhum carrossel de imagens desatualizado ou fotos
sem graça... ao contrá rio do site da sua empresa. Se você está me perseguindo online, pelo
menos aprenda alguma coisa com isso.
— Oh, estou aprendendo muito — disse Brooke no mesmo tom frio que Winter
costumava usar quando todas as suas paredes subiam. — Estou descobrindo as coisas
mais interessantes sobre você , como o quanto você gosta de ter a cabeça acariciada. Quem
teria pensado?
Oh não. Aparentemente, Brooke reconheceu sua meia-irmã na foto que elas colocaram
no site, mesmo de costas. Um forte impulso de proteger Winter e sua privacidade fez com
que cada mú sculo do corpo de Hannah se contraísse. Mas o que ela poderia dizer? Negar
que Winter fosse a pessoa da foto també m nã o parecia certo.
— Talvez você tenha mais em comum com nosso pai do que gostaria de admitir —
acrescentou Brooke.
Hannah estremeceu. Eca. Brooke definitivamente sabia como apertar os botõ es de
Winter.
— Nem metade do que você . — Winter lançou um olhar gelado para ela. — E nã o, isso
nã o foi um elogio, a menos que você considere ser chamado de mentirosa manipuladora
um elogio.
A expressã o nos olhos de Brooke passou de friamente superior a abrasadora. — Você
pode finalmente parar com isso? Eu nã o menti para você ! Ele nã o descobriu por mim.
— Certo. Você é a inocê ncia personificada.
Elas se encararam em um olhar fixo silencioso. Em seus saltos altos, Brooke era tã o
alta quanto Winter e ela també m combinava com ela em intensidade. O ar entre elas
parecia crepitar.
Hannah nã o tinha ideia do que eles estavam falando. Qual era a mentira de que Winter
estava acusando Brooke? Ela deu um passo à frente para chamar a atençã o de Brooke para
si mesma antes que a discussã o aumentasse ainda mais.
— Sabe, há uma coisa que você s duas parecem ter em comum com Jules... Julian.
Winter pressionou uma mã o sobre a barriga como se Hannah a tivesse esfaqueado.
Talvez apontar que ambas eram tã o teimosas quanto o pai, nunca cedendo primeiro,
nã o fosse a melhor estraté gia, mesmo que isso pudesse impedi-las por um segundo.
Hannah rapidamente pensou em outra coisa porque nã o queria machucar Winter. — Você s
duas sã o muito bem-sucedidas na profissã o que escolheram.
Um brilho de compreensã o apareceu nos olhos de Brooke.
Um brilho de compreensã o apareceu nos olhos de Brooke.
— Ah, entã o você me pesquisou online també m.
— Nã o. — Hannah sustentou seu olhar. — Mas sua blusa de seda parece ter custado
mais do que todo o meu guarda-roupa.
— O que nã o é tã o difícil porque o seu consiste principalmente em calças de moletom
— Winter disse calmamente, como se suas palavras fossem dirigidas apenas a Hannah. Nã o
havia limite em sua voz. Ela soou como se estivesse provocando um amigo.
A ideia de que Winter pudesse realmente começar a considerá -la uma amiga aqueceu
o corpo de Hannah quase tanto quanto o abraço entre elas.
Os mú sculos finos do rosto de Brooke pareciam estar em constante movimento
enquanto ela examinava a interaçã o delas com um olhar analítico, fazendo Hannah se
perguntar o que ela estava pensando.
— E a profissã o que você escolheu? — Brooke finalmente perguntou. — Isso foi — ela
apontou para o de abraços grátis
 que Hannah agarrou  — um sucesso?
— Ah sim, bastante. Winter apresentou a melhor estraté gia de marketing de todos os
tempos. Duas pessoas reservaram uma sessã o de abraços imediatamente e vá rias levaram
um segundo panfleto para casa para um amigo ou membro da família. Aposto que vou
conseguir meia dú zia de novos clientes com a campanha de hoje. — Hannah olhou para
Winter, tentando transmitir sua gratidã o com um sorriso genuíno em vez de apertar sua
mã o. Elas formavam uma grande equipe.
Brooke inclinou a cabeça para o lado, expondo o arco de seu pescoço gracioso. — Seus
abraços grá tis devem ser espetaculares, entã o. Sobrou um para mim?
Um rosnado baixo veio de Winter.
— Desculpe, estamos sem abraços. — Ela enfiou o ú ltimo panfleto no bolso de trá s da
calça jeans.
Oh não. Ela nã o permitiria que Winter falasse por ela. Hannah era uma abraçadora
profissional, o que significava abraçar qualquer um que solicitasse seus serviços, gostasse
ou nã o. Alé m disso, tinha que admitir que estava curiosa para saber mais sobre a meia-
irmã de Winter. Ela reagiria a um abraço da mesma forma que Winter?
Hannah pressionou a placa nas mã os de Winter e abriu os braços em um convite
silencioso.
— O que…? — Winter parecia querer quebrar a placa de papelã o na cabeça de Brooke,
mas Hannah se forçou a ignorá -la e se concentrar em Brooke.
Apesar de toda a sua bravata ao pedir um abraço, Brooke agora demorava a dar um
passo à frente. A expressã o em seu rosto lembrou Hannah de uma pessoa que havia subido
corajosamente a escada até o trampolim mais alto, entã o percebeu que na verdade era
esperado que ela pulasse.
Claramente, ela presumiu que Hannah nã o concordaria com um abraço, ou apenas
pediu um para provocar Winter.
Esse lampejo de hesitaçã o durou apenas um segundo, entã o a má scara de controle
voltou ao seu lugar.
Brooke era como Winter nesse aspecto, Hannah percebeu, havia muita coisa
acontecendo sob a superfície, escondida do mundo.
Com dois cliques decisivos de seus saltos, Brooke cruzou o espaço entre elas e puxou
Hannah para seus braços.
Ok, isso parecia muito diferente de abraçar Winter. Brooke abraçou com confiança,
como se abraçasse mulheres diariamente. No entanto, de alguma forma, Hannah achou o
abraço relutante de Winter, a maneira cuidadosa e quase atordoada com que a segurou,
muito mais doce.
Depois de um momento, quando percebeu que Brooke nã o estava tentando se
aproximar demais para se exibir na frente de Winter, Hannah relaxou contra ela.
Ela ainda nã o conseguia acreditar como isso parecia diferente. Por um lado, Brooke se
sentia menor que Winter, embora pudesse jurar que elas eram quase da mesma altura, pelo
menos com Brooke usando salto alto. A autoridade irradiava dela, fazendo-a parecer mais
alta, mas ela nã o tinha a força de Winter. Sua presença poderosa nã o era baseada em sua
estatura física.
Que mulher fascinante.
— Se isso continuar, Hannah vai cobrar de você o valor por hora — resmungou Winter
ao lado delas.
Brooke a soltou para lançar-lhe um olhar frio e Hannah se maravilhou ao ver como ela
parecia muito mais imponente do que se sentia.
— Ah, entã o você é a gerente de negó cios dela, assim como o profissional de
marketing dela agora. Que tal você dar o fora e me entregar aquele ú ltimo panfleto?
— Desculpe, essa é a có pia de exibiçã o — disse Winter, nã o parecendo nem um pouco
arrependida. — Alé m disso, agendar uma sessã o de abraços foi minha parte do desafio. O
seu é contratar um assistente.
Os olhos de Brooke se arregalaram. Ela olhou para Hannah, que calmamente
encontrou seu olhar, entã o para Winter.
— Você contou a ela sobre o desafio?
Mais como se Hannah a tivesse encurralado no elevador e tirado isso dela.
O rosto de Winter nã o revelou nada disso enquanto ela assentiu calmamente.
Uma pequena ruga surgiu na testa lisa de Brooke. Ela estava surpresa por Winter ter
confiado em Hannah o suficiente para confessar? Ou consternada que a sessã o de abraços
as tenha realmente aproximado em vez de tornar as coisas estranhas entre elas, como
Brooke havia planejado?
— Como está indo sua parte no desafio, a propó sito? — Winter perguntou. — Deixe-
me adivinhar. Você ainda nã o encontrou ningué m que esteja à altura de seus altos padrõ es.
A ruga na testa de Brooke alisou, e ela deu um sorriso superior.
— Acredite ou nã o, mas eu realmente achei.
— Acreditarei nisso quando a conhecer — murmurou Winter.
— Oh, você vai, nã o se preocupe — Brooke respondeu friamente. — Ainda nã o. Nã o
quero que você a assuste tã o cedo no jogo.
Jogo.
 Hannah balançou a cabeça. Era tudo, o desafio delas, a sessã o de abraços, sua
nova assistente, apenas um jogo para Brooke?
Antes que Winter pudesse responder, um jovem com uma casquinha de sorvete
passou, parou e voltou.
— Ah, abraços grá tis. — Ele apontou para a placa que Winter segurava. — Legal.
— Espere, ela… — Hannah se moveu para detê -lo, mas já era tarde demais.
Ele envolveu Winter em um abraço de um braço só .
Winter recuou, libertando-se, e jogou a placa para Hannah como se carregasse germes
perigosos.
— Vamos para casa.
Hannah deu ao jovem um aceno de desculpas. Com um olhar para Brooke, que estava
rindo, ela correu atrá s de Winter.
***
O caminho de volta para seu apartamento era apenas uma caminhada de dez minutos,
mas com Winter marchando em silê ncio, parecia trê s vezes mais longe.
Quando elas viraram à direita no Arlene Schnitzer Concert Hall com sua grande placa
de Portland, Hannah alongou o passo para poder andar ao lado de Winter, em vez de meio
passo atrá s.
— Jules realmente tem muito pelo que responder, nã o é ?
Winter nã o desacelerou.
— O quê ?
— Se ele é a razã o pela qual as coisas estã o tã o ruins entre você e Brooke...
— Nã o foi só ele. Ele nã o ajudou em nada, mas Brooke bagunça tudo sozinha. Você
acha que ela acabou de atravessar a praça por pura coincidê ncia? — Winter balançou a
cabeça. — Aposto que ela leu sobre a campanha de abraços grá tis em seu site e decidiu
aparecer para falar mal de mim ou encontrar outra maneira de causar problemas entre nó s.
— Mas é mais do que isso, nã o é ? — Hannah perguntou. — Algo mais aconteceu entre
você s.
Winter olhou para a frente.
— É uma longa histó ria.
— Eu amo histó rias longas... se você quiser me contar sobre isso.
Uma inspiraçã o e expiraçã o audíveis surgiram.
— Eu provavelmente deveria te dar o bá sico. Conhecendo Brooke, ela tentará colocar
você do lado dela mais cedo ou mais tarde. O que significa que é melhor eu chegar antes
dela.
Entã o Winter queria tê -la ao seu lado. Apesar de fingir que nã o se importava com o
que os outros pensavam, ela claramente se importava com a opiniã o de Hannah. Hannah
acenou com a cabeça para ela continuar.
— Para encurtar a histó ria: Brooke praticamente me odiou desde o momento em que
pô s os olhos em mim quando tínhamos trê s anos. — Winter deu de ombros. — O
sentimento era mú tuo.
Hannah quase tropeçou no meio-fio.
— Trê s? Que crianças de trê s anos se odeiam?
— O tipo que é forçada a passar um tempo juntas. As pessoas sempre deram muito
cré dito a Julian por reconhecer abertamente sua filha ilegítima e nã o me esconder. — Sua
boca se contorceu em uma linha amarga. — Eu teria preferido que ele negasse que eu era
filha dele.
— Mas por quê ?
— Porque entã o ele nã o teria me feito passar um fim de semana por mê s com ele e
sua família.
O quê? Hannah nã o podia acreditar. — E a esposa dele estava bem com isso?
Winter riu. O som era desprovido de qualquer humor. — Nã o. Foi uma disputa sobre
quem odiava mais minhas visitas, Regina, Brooke ou eu. Risca isso. Com certeza fui eu.
— Oh nã o. — O coraçã o de Hannah se compadeceu de Winter, de trê s anos de idade... e
da adulta que marchava ao lado dela com os punhos cerrados ao lado do corpo. — Ela foi
má com você ?
— Bem, ela me criticava sempre que podia, deixando claro que Brooke e eu nunca
poderíamos ser iguais. Mas, principalmente, era a maneira como ela olhava para mim... —
Winter passou os nó s dos dedos pelo rosto como se ainda pudesse sentir o olhar de Regina
sobre ela. — Como se eu fosse a cria do diabo. Acho que para ela, eu era.
Que situaçã o disfuncional! Nã o é de admirar que Brooke e Winter se odiassem, ou que
Winter fosse tã o fechada, nã o confiando em ningué m o suficiente para se abrir. Os olhos de
Hannah ardiam e a necessidade de estender a mã o e segurar a mã o de Winter na dela era
quase uma dor física.
Winter atravessou a rua abruptamente e caminhou ao longo de South Park Blocks.
Hannah correu atrá s dela.
— Espere! Sinto muito por terem feito isso com você . — No momento em que ela
alcançou as pernas mais longas de Winter, ela estava ofegante. Mas talvez nã o fosse tanto o
esforço, mas o punho de ferro que parecia torcer seu estô mago e espremer o ar de seus
pulmõ es. — Por que Julian nã o parou com isso?
— Ele estava trabalhando o tempo todo, mal prestava atençã o. Ou talvez ele tenha
pensado que nã o poderia pedir a sua esposa para ser legal comigo, pois ele já havia
ultrapassado os limites de sua generosidade ao pedir que ela me deixasse entrar em casa.
Hannah balançou a cabeça.
— Ainda nã o entendo por que Julian forçou todos você s a passar um tempo juntas.
Quero dizer, entendo que ele queria que você e sua irmã se conhecessem també m, mas a
maneira como ele fez isso obviamente nã o estava funcionando.
— Bem, estava funcionando para ele, permitindo que ele matasse dois coelhos com
uma cajadada só . Talvez ele até tenha gostado secretamente de nó s disputando sua atençã o.
— Winter diminuiu e sua expressã o de pedra suavizou um pouquinho enquanto ela
estudava Hannah. — Julian.
— O quê ?
— Você acabou de chamá -lo de Julian duas vezes. Nã o de Jules.
Ela tinha? Hannah inclinou a cabeça.
— É difícil conciliar o Jules que conheci com o homem que tratou uma garotinha, sua
pró pria filha, assim.
— Eu continuo dizendo que ele nã o era o ursinho de pelú cia legal que você pensa que
ele era.
Talvez ele tivesse sido ambos, mas Hannah preferiu nã o apontar isso. Ela nã o queria
invalidar o quã o horrível tinha sido para Winter crescer assim.
— O que aconteceu entã o?
— Quando eu tinha dez anos, fugi pouco antes de ele vir me buscar. Depois da terceira
vez, até minha mã e entendeu o recado e parou de me obrigar a ir. A partir de entã o, eu o via
apenas no meu aniversá rio, no Natal e em grandes eventos escolares.
O punho ao redor dos pulmõ es de Hannah se afrouxou.
— Entã o você e Brooke nunca tiveram a chance de crescer como irmã s? Você nã o
tentou mudar seu relacionamento quando adulto? Quero dizer, ela era tã o inocente quanto
você em tudo isso.
Winter bufou.
— Eu disse a você que ela nã o é inocente. A maçã nã o caiu longe da á rvore. Ela é tã o
manipuladora e fria quanto Julian. Por um tempo, ela me enganou fazendo-me pensar que
ela era diferente, mas rapidamente aprendi melhor.
— O que ela fez? — Hannah perguntou.
— No ano passado, Brooke e eu começamos a conversar mais. Nada excessivamente
fraterno ou algo assim, apenas negó cios na maior parte, mas eu estava começando a pensar
que talvez pudé ssemos pelo menos ser civilizadas sempre que nos encontrá ssemos. Ou
talvez até vá tomar uma cerveja de vez em quando.
A ideia de Brooke bebendo algumas cervejas em uma cervejaria em uma de suas
elegantes saias lá pis e blusas de seda fez Hannah rir. — Brooke bebe cerveja?
— Ok, ela provavelmente teria bebido uma taça de vinho de quarenta dó lares. — A
rigidez da mandíbula de Winter aliviou quando uma sugestã o de sorriso apareceu em seu
rosto, entã o desapareceu quando ela continuou — Naquela é poca, comecei a procurar um
pré dio no centro da cidade para finalmente ter um escritó rio separado, mas perto de mim,
de meu apartamento. Quando descobri que este — Winter apontou mais à frente, onde o
pré dio que elas herdariam espreitava entre as á rvores — tinha sido colocado à venda,
fiquei exultante. Era um pouco maior do que eu estava procurando inicialmente, mas de
outra forma exatamente o que eu queria. O vendedor e eu estávamos nos preparando para
entrar em acordo quando Julian o arrancou debaixo do meu nariz.
Ai. Nã o é de admirar que Winter estivesse tã o determinada a garantir o pré dio para si
mesma, até mesmo oferecendo-se para comprá -la.
— E você acha que ele descobriu isso por meio de Brooke?
Winter assentiu severamente.
— Estou certa disso. Ela diz que nã o foi ela, mas foi a ú nica a quem contei sobre meus
planos. Ela aproveitou a chance de cair nas boas graças do papai, puxando uma para mim.
— Alguma vez você perguntou a Julian se foi ela quem contou a ele?
— E deixá -lo me humilhar ainda mais? Nã o. Eu era totalmente capaz de somar dois e
dois sem que ele tivesse que soletrar para mim.
— Mas e se?
Winter ergueu as duas mã os como se quisesse cobrir as orelhas ou a boca de Hannah.
— Deixa para lá . Eu já deixei isso para trá s.
Oh, sim? Winter e Brooke estavam se encarando, quase cara a cara, entã o Hannah nã o
acreditou nem por um segundo. Mas ela sabia que nã o adiantaria nada dizer isso. — Ok.
As duas sobrancelhas de Winter se ergueram em um duplo arco de ceticismo. — Ok?
Hannah deu de ombros.
— Sinceramente, eu adoraria que você tivesse pelo menos um aliado em sua família, e
Brooke... nã o sei, mas acho que há algo por trá s de sua aparê ncia antagô nica. Mas eu passei
dois minutos com ela, enquanto você teve uma vida inteira de má s experiê ncias, entã o vou
deixar passar.
— Bom. — Winter deu os dois passos que levavam à porta da frente de seu pré dio em
um longo passo e a destrancou. Ela abriu um lado da porta dupla e a segurou para que
Hannah entrasse primeiro.
Ela tinha feito isso antes, Hannah percebeu. À primeira vista, parecia colidir com sua
personalidade de eu nã o me importo com os outros, mas uma vez que você olhasse mais
fundo, se encaixava em sua personalidade complexa.
— Obrigada. — Hannah passou por ela, entã o parou na porta e se virou para ela.
Winter obviamente nã o esperava que ela parasse e quase colidiu com ela quando ela
se moveu para segui-la.
Ambas agarraram os braços uma da outra para manter o equilíbrio.
As bochechas de Hannah fizeram aquela coisa irritante de esquentar novamente.
A linha diagonal acima do nariz de Winter se aprofundou quando ela olhou para
Hannah a apenas alguns centímetros de distâ ncia. Seu aperto era firme, segurando-a com
segurança, mas, ao mesmo tempo, havia algo cuidadoso... quase terno na maneira como
seus dedos envolveram os braços de Hannah.
Deus, ouça-me! Macio? Pouco provável! Todas aquelas endorfinas do abraço
provavelmente haviam subido à cabeça dela; isso foi tudo.
— Você está bem? — Winter esquadrinhou seu rosto.
— Hum, sim, desculpe. Eu só queria dizer... Se você precisar de algué m para tomar
uma cerveja ou um aliado fora da família, você tem um.
Ficaram tã o pró ximas que Hannah podia ouvir a longa respiraçã o de Winter. Seu olhar
se desviou dos olhos de Hannah como se a intimidade do momento fosse demais para ela.
Entã o voltou e um sorriso torto suavizou a linha acima do nariz.
— Entã o você acha que a Sra. Kline gosta de cerveja?
— Sra. Kline? Nã o, eu quis dizer...
Winter apertou seus braços e depois os soltou.
— Eu sei o que você quis dizer.
— Oh. OK. Eu quis dizer, que bom. — Isso era tudo que Winter ia dizer? Hannah se
virou para que seu desapontamento nã o aparecesse.
Seus passos ecoaram pelo hall de entrada, soando tã o alto que Hannah quase nã o
ouviu a suave palavra arrastada atrá s dela.
— Obrigada.
Hannah olhou para trá s.
O sorriso havia desaparecido do rosto de Winter e quando seus olhares se
encontraram, o azul de seus olhos parecia mais com a cor á gua do mar do Caribe do que
com o brilho frio do gelo glacial.
Desta vez, foi Hannah quem teve que desviar o olhar sob o pretexto de apertar o botã o
do elevador.
— Obrigada — Sua voz soou á spera. Ela fingiu tossir antes de continuar — Por tudo
que você fez hoje. Principalmente por sofrer com um abraço meu para atrair clientes em
potencial.
— De nada.
— Ei, você deveria dizer que eu abraço muito bem, entã o você nã o sofreu muito.
A porta do elevador se abriu e Winter entrou. Enquanto estava de costas para Hannah,
ela disse — Eu nã o.
A porta quase deslizou para dentro de Hannah quando ela parou no meio do caminho.
Com um guincho, ela pulou para dentro. — Você nã o sofreu muito?
Winter apertou o botã o do ú ltimo andar, depois manteve o polegar e o indicador a
alguns centímetros de distâ ncia. — Só um pouco.
Hannah riu e disse “besteira”, porque era a tradiçã o do elevador e porque ela
suspeitava ou talvez esperava que Winter nã o tivesse sofrido nada. — Você gostou!
— Foi... adequado — disse Winter com uma cara sé ria.
— Adequado? — Hannah precisou de todo o autocontrole para nã o cravar os dedos no
flanco de Winter e arrancar a verdade dela.
— Demonstrou adequadamente suas habilidades de abraços. — Com um aceno de
cabeça majestoso, Winter atravessou as portas do elevador, destrancou a porta da frente e
desapareceu em seu apartamento, desta vez sem deixar Hannah entrar primeiro.
Hannah olhou para suas costas recuando. Adequado
. Nã o foi o depoimento mais
entusiá stico que ela já teve, mas trouxe um sorriso largo em seu rosto. Ela aceitaria. Por
enquanto.
Capítulo 18
O som de passos se aproximou rapidamente, entã o o telefone de Hannah pousou na
mesa ao lado de Winter com um baque.
— Nã o, Winter! Absolutamente nã o.
A frequê ncia cardíaca de Winter disparou. Sua colher caiu na sopa, espalhando
lentilhas vermelhas por toda a mesa. Ela engoliu seu bocado de comida e olhou para
Hannah.
— Nã o para quê ?
— Você agendando outra sessã o de abraço! — Os olhos de Hannah brilharam como
uma chuva de cristais â mbar. Ela se deixou cair no assento à sua frente e tirou uma mecha
de cabelo da testa. — Olha, eu entendo. Agora que Brooke lhe disse que contratou uma
assistente, você nã o quer parecer fraca na frente dela. Mas a ú ltima vez que você agendou
uma sessã o comigo em um desafio dela, nã o acabou bem.
O calor subiu pelo peito de Winter e nã o tinha nada a ver com as especiarias da sopa.
Ela nã o precisava ser lembrada de como aquela sessã o havia terminado, muito obrigado.
Passava por sua mente de vez em quando, geralmente nos momentos mais inoportunos,
como agora.
— Que diabos você está falando? — Ela nã o tinha reservado um… Oh. Espere. Ela
realmente tinha. — Ah. Você quer dizer o novo sistema de reservas. — Ela apontou para o
telefone de Hannah. — Entã o você recebeu a notificaçã o?
— Sim. Eu nã o sabia que você já tinha configurado isso. Parece ó timo, mas ainda nã o é
uma boa ideia. — Hannah abaixou a cabeça e um tom de rosa apareceu em suas bochechas
enquanto ela acrescentava baixinho. — Gosto muito de sermos amigas e nã o quero
estragar tudo por causa de Brooke.
Ela encontrou o olhar de Winter, e a honestidade em seus olhos tirou o fô lego de
Winter.
— Você entendeu mal. Eu nã o marquei uma sessã o. Quero dizer, eu marquei, mas
apenas para fazer um teste para o sistema de reserva.
— Oh. — As bochechas de Hannah passaram de rosa para carmesim. Ela deslizou o
telefone para fora da mesa e o estudou atentamente, como se para evitar olhar para Winter.
— Desculpe. Achei que você , hum, queria...
Winter esfregou a mã o na nuca. Parecia excessivamente quente. Droga.
  Ela deveria
ter dito a Hannah que estava fazendo um teste no sistema de reservas. Agora Hannah se
tornou vulnerável sem motivo algum.
— Você sabe o quê ? Na verdade, sim.
A cabeça de Hannah se ergueu.
Eles se encararam.
Oh merda, eu não acabei de dizer isso, disse? As palavras escaparam antes que ela
pudesse pensar sobre elas e isso raramente acontecia com ela.
— Quer marcar outra sessã o? — A voz de Hannah soou pelo menos uma oitava acima
do normal.
Nã o havia saída a nã o ser seguir em frente. Se ela desistisse agora, só pioraria as
coisas.
— Sim.
— Sei que disse que gostaria de abraçar você de novo, mas nã o quero que faça isso só
porque Brooke...
— Nã o tem nada a ver com Brooke. — Isso era verdade, pelo menos na maior parte. —
Como eu disse na semana passada, nã o sofri muito quando nos abraçamos, e aquela
massagem na cabeça durante a sessã o de fotos foi meio suportável també m. — Suportável
.
Certo. Foi por isso que seu corpo inteiro ficou arrepiado desde o momento em que Hannah
tocou a ponta dos dedos em seu couro cabeludo e o mero pensamento daqueles dedos
gentis girando em seu cabelo a fez formigar por toda parte.
Hannah suspirou.
— O abraçador profissional deve ser uma experiê ncia positiva, nã o algo que você
apenas suporta.
— E é exatamente por isso que quero tentar de novo, de verdade desta vez. Se todos
os seus outros clientes gostam, por que eu nã o posso gostar? — Até Brooke praticamente
se derreteu nos braços de Hannah quando elas se abraçaram. Por que ela nã o foi capaz de
fazer isso?
— Nã o é uma competiçã o — disse Hannah. — Todos sã o diferentes.
Winter tinha sido diferente de todos os outros durante toda a sua vida, e ela nunca se
importou. Mas sua incapacidade de passar por uma sessã o de abraços a incomodava, como
uma etiqueta de roupa irritante que ela poderia esquecer por um tempo, mas que
continuava a incomodando. Nã o importava quantas vezes ela dissesse a si mesma que nã o
queria ou precisava ser abraçada, ela nã o conseguia deixar passar.
Ela girou a colher no prato de sopa. — Talvez, só desta vez, eu nã o queira ser diferente.
Mesmo sem olhar para cima, ela sentiu Hannah olhando para ela.
— Se eu també m nã o gostar desta vez, tudo bem. Mas eu gostaria de saber.
Hannah hesitou.
Por que ela estava hesitando? Ela era uma abraçadora profissional, pelo amor de Deus.
Por que ela parou para pensar que...? Ah Merda.
 Por que ela nã o tinha pensado nisso? Talvez
agora Hannah fosse a ú nica que nã o suportava a ideia de abraçá -la. Ela havia dito antes que
daria uma segunda chance a Winter, mesmo depois de terminar a primeira sessã o. Mas isso
ainda era verdade ou ela mudou de ideia? — A menos que você nã o se sinta confortável com
isso. Se nã o for, vamos esquecer...
— Nã o! Hannah disse apressadamente. — Nã o é isso. Eu só … Quer saber? Se você tem
certeza de que quer tentar novamente, vamos fazer isso.
— Agora? — Ugh, ela parecia uma adolescente que foi assustada por um rato.
— Hum, nã o, eu tenho outros clientes agora. — Hannah mexeu em seu telefone, quase
o deixou cair, entã o verificou o calendá rio. — Que tal apenas fazermos isso... quero dizer,
abraçar na hora que você reservou?
— Quando é isso? Peguei uma vaga aleató ria que estava aberta na sua agenda, sem
prestar atençã o.
— 1º de julho à s cinco. Esta sexta.
Isso lhe daria quatro dias para colocar a cabeça no modo ser abraçada. Winter
assentiu.
— Ok. Sexta à s cinco.
Hannah apertou o botã o de confirmaçã o no e-mail de notificaçã o e, um ou dois
segundos depois, o telefone de Winter tocou.
O sistema de reservas funcionou perfeitamente. Agora, se ao menos a sessã o de
abraços delas també m funcionasse.
***
Na quarta-feira, Winter amarrou os tê nis de corrida duas vezes, pegou os AirPods da
mesinha de cabeceira e saiu do quarto para correr e verificar o seu apartamento.
Ao atravessar o corredor, ela quase colidiu com um cara que saiu furioso da sala de
estar. Ele passou por ela sem dizer uma palavra. A porta da frente se fechou atrá s dele.
Que diabos? Ele estava zangado com a quase colisã o ou envergonhado por ter sido
pego saindo do aconchegante estú dio de Hannah? E onde estava Hannah? Ela geralmente
nã o deixava seus clientes andarem pelo apartamento desacompanhados.
Como se fosse uma deixa, Hannah espiou pelo canto da sala de estar.
— Ele se foi?
— Sim.
Hannah exalou trê mula. — Que bom. Desculpe por você ter encontrado ele.
Winter se aproximou para estudar Hannah mais de perto. Ela parecia pá lida. Abalada.
— O que aconteceu? — O coraçã o de Winter batia tã o rá pido que parecia bater contra
suas costelas enquanto possíveis cená rios passavam por sua mente.
— Você sabe que nã o posso falar sobre o que acontece durante uma sessã o de
abraços.
Winter mal evitou lançar seus AirPods pelo corredor. Ela cerrou o punho em torno
deles. — Para o inferno com isso! Se ele te machucou...
— Nã o — Hannah disse rapidamente. — Ele nã o me machucou. Ele apenas continuou
forçando os limites, tentando se safar com mais do que eu estava confortável. Eu o avisei
uma vez e o lembrei das regras, mas isso nã o o impediu de tentar de novo. Entã o encerrei a
sessã o.
A segunda mã o de Winter també m se fechou em punho enquanto ela lutava contra a
vontade de correr atrá s do bastardo e ... E o quê? Bater nele? Como isso ajudaria Hannah? Ela
se forçou a se concentrar em Hannah. Gentilmente, ela agarrou seu cotovelo e a conduziu
até o sofá da sala.
— Estou bem, Winter — disse Hannah, mas nã o resistiu ao aperto de Winter. — É tã o
decepcionante. Ele poderia ter ido a qualquer lugar para fazer sexo, mas nã o, ele procurou
uma das poucas pessoas especializadas em toque platô nico.
— Decepcionante? — Winter ecoou. Ela caiu no sofá ao lado de Hannah. Essa era a
ú ltima palavra que ela esperava que ela usasse. — Tente enfurecedor.
— Isso també m. — Mas Hannah nã o parecia zangada nem assustada. O suspiro que
escapou dela soou principalmente frustrado.
Coisas assim aconteciam com tanta frequê ncia que ela nã o ficava mais com raiva? Um
torno apertou o peito de Winter.
— Isso acontece muito?
Quando Hannah nã o respondeu instantaneamente, o batimento cardíaco já muito
rá pido de Winter acelerou ainda mais.
A atençã o de Hannah nã o estava em Winter. Será que ela ouviu a pergunta dela? Ela
estava olhando para a almofada do sofá entre elas.
Franzindo a testa, Winter olhou para baixo també m.
A mã o de Hannah descansava sobre a almofada e a palma de Winter estava em cima,
seus dedos protetoramente enrolados em volta dos de Hannah.
Winter olhou para as costas de sua pró pria mã o. Quando isso aconteceu?
Normalmente, Hannah era a sensível que estendia a mã o sem pensar, mas desta vez, era a
mã o de Winter por cima, entã o foi ela quem iniciou o contato.
Rapidamente, Winter começou a recuar, mas Hannah fechou os dedos sobre os dela e
segurou.
Bem, se Hannah achava reconfortante, quem era ela para negá -la em um momento
como este? Winter deixou a mã o onde estava.
Hannah limpou a garganta.
— Hum, você estava dizendo?
O que ela estava dizendo? Winter tirou seu foco da pele macia de Hannah e voltou
para a conversa. — Coisas assim acontecem muito?
— Nã o. — O olhar de Hannah ainda se demorava na almofada onde suas mã os
descansavam. — Esta é a primeira vez.
— Hum, eu quis dizer de você ter que terminar uma sessã o. — Verdade seja dita, ela
segurando a mã o de algué m també m foi a primeira vez, pelo menos se você nã o contar o
Companheirismo avançado durante a sessã o de abraços.
Hannah olhou para cima de suas mã os.
— É disso que eu estava falando.
— Oh. — Sua mã o em cima da de Hannah parecia desajeitada. Toda essa situaçã o
estava tã o fora de sua zona de conforto que ela precisaria de um par de binó culos para
encontrá -la novamente. Ou talvez um telescó pio espacial.
— Eu nunca tive que terminar uma sessã o antes — disse Hannah,
misericordiosamente seguindo em frente como se sentisse o desconforto de Winter. —
Certa vez, tive que pausar uma sessã o porque um cliente confessou sentimentos
româ nticos por mim, mas continuamos assim que limpamos o ar.
Winter nã o sabia o que dizer, exceto — Uau.
— Nã o é surpreendente. Se abraçar com algué m constró i muita confiança e
intimidade. Alé m disso, libera ocitocina, que nã o é chamada de hormô nio do amor à toa.
Todos os tipos de emoçõ es podem surgir. É fá cil confundir isso com sentimentos
româ nticos.
— O que você faz quando isso acontece?
— Nada — Hannah disse calmamente. — Quero dizer, eu explico do jeito que acabei
de explicar para você , mas alé m disso, meus clientes sã o responsáveis ​por seus pró prios
sentimentos. Nã o há problema em tê -los e trabalhá -los em seu pró prio ritmo, desde que
eles nã o ajam sobre eles.
Uma dor de cabeça surgiu dos mú sculos tensos do pescoço de Winter.
— Mas como você pode se manter segura com todos esses hormô nios e emoçõ es
borbulhantes?
— Eu escolho meus clientes muito bem e discuto meus limites durante a ligaçã o pré -
abraço e novamente no início da primeira sessã o. Isso geralmente é o suficiente. Claro, os
clientes à s vezes tentam forçar um pouco os limites para ver se estou falando sé rio sobre as
regras, mas assim que os questiono, eles recuam e isso nã o acontece novamente. Os que
estã o interessados ​em algo sexual nã o aparecem para uma segunda sessã o.
Suas palavras mal suavizaram as bordas irregulares da raiva e preocupaçã o de Winter.
Aqueles idiotas assinaram o có digo de conduta que explicava as regras. Os limites eram
claros. Hannah nã o deveria ter que continuar defendendo-os.
Mas, novamente, as regras també m declaravam nã o beijar, e ainda assim Winter
tentou beijá -la durante a sessã o. A vergonha a cortou como uma lâ mina em brasa recé m-
saída de uma forja. Ela nã o era melhor do que o saco de lixo que Hannah acabara de
expulsar. Hannah tinha ficado desapontada com ela també m? Esse pensamento foi muito
mais difícil de aceitar do que pensar que Hannah estava com raiva. Abruptamente, ela
retirou a mã o da de Hannah.
— Sinto muito — ela deixou escapar sem olhar para ela.
— Está tudo bem — respondeu Hannah. — Ele é realmente a exceçã o. A maioria dos
meus clientes é super respeitosa.
A lâ mina quente se contorceu no estô mago de Winter.
— Eu nã o fui e sinto muito por isso.
— O que você fez…? Oh. — Desta vez, foi Hannah quem estendeu a mã o e deslizou a
mã o sobre a de Winter, que estava presa em seu pró prio joelho. — Ei, está tudo bem. Nó s
conversamos sobre isso. Você estava em pâ nico e essa foi a sua saída.
Winter ansiava por retirar a mã o. Era muito melhor quando era ela quem dava
conforto, nã o quem o recebia, especialmente quando nã o tinha certeza se merecia.
— Eu nã o entrei em pâ nico.
As bochechas de Hannah formaram covinhas com um sorriso.
— Claro que nã o. — Ela passou o polegar pelas costas da mã o de Winter. — Realmente
está tudo bem. Eu nã o teria concordado com uma segunda sessã o se nã o me sentisse
segura com você .
— Bem, você disse nã o no começo.
— Nã o porque eu nã o confiasse em você . Eu confio.
Era como receber um prê mio precioso e Winter fez um juramento silencioso para
provar que era digna dele. Ela seria a cliente mais bem-comportada da histó ria do abraço
profissional. Sem beijos. Sem carícias em qualquer lugar perto de uma á rea fora dos limites.
Nem mesmo inalando profundamente o cheiro maravilhoso de Hannah.
— Eu prometo que você está . Segura comigo, quero dizer.
— Eu sei. — Hannah se encostou no encosto do sofá . Um ombro roçou o de Winter e
sua mã o ainda descansava sobre a dela.
Winter espiou para estudá -la.
A expressã o de Hannah estava relaxada, contente até , como se ela nã o tivesse acabado
de expulsar um cliente que a apalpou ou o que quer que ele tenha feito para forçar a barra.
— Eu nã o entendo. — As palavras de Winter saíram antes que ela tivesse plena
consciê ncia de tê -las formulado.
— Hum? Nã o entende o quê ?
Tantas coisas. A maioria delas ela nã o conseguia colocar em palavras, entã o Winter
perguntou — Por que você escolheu um trabalho onde coisas assim podem acontecer?
— Porque eu amo isso. — Os olhos de Hannah brilharam. — Lembro-me de quando
me mudei para Portland da pequena Sunriver. Eu nã o conhecia ningué m na cidade e estava
ocupada com a escola, treinando para me tornar uma massoterapeuta licenciada, entã o
ainda nã o tinha feito novos amigos. Quando vi um panfleto para uma festa de abraços,
compareci. A primeira pessoa que segurei começou a chorar em meus braços. Estava presa.
— Você gosta de fazer as pessoas chorarem?
Hannah deu uma leve cotovelada nela sem soltar sua mã o.
— Gosto de ajudar as pessoas a se sentirem menos solitá rias e mais conectadas com
as outras e com seus pró prios corpos e ensiná -las a pedir o que precisam. Isso é tã o
poderoso.
Winter deu um “hmm” evasivo. Ela ainda nã o entendia o que Hannah achava tã o
poderoso em abraçar estranhos. Na verdade, a primeira sessã o a fez se sentir impotente e
vulnerável. Ela esperava poder recuperar um pouco desse poder durante a sessã o de sexta-
feira.
Elas se sentaram em silê ncio sociável por um tempo. Finalmente, Hannah olhou para
o reló gio na parede.
— É melhor eu ir trocar o lençol do sofá de abraço. Meu pró ximo cliente estará aqui
em breve.
Winter ficou olhando.
— Você irá receber outro cliente depois do que aconteceu?
Hannah deu de ombros.
— Sim. Voltar a montar o cavalo rapidamente é uma coisa boa. — Com um suspiro
silencioso, soltou a mã o de Winter e se levantou. — Obrigada por estar aqui para mim.
— A qualquer momento. — Era a coisa educada a se dizer, mas també m era verdade.
Cara, essa coisa de amizade estava transformando-a em uma idiota. — Precisa de ajuda
com o lençol?
— Nã o, obrigada. Vá e aproveite sua corrida.
— Corrida?
Hannah gesticulou para as roupas de corrida de Winter.
— Você estava prestes a sair, nã o é ?
— Oh. Certo. — Mas agora ela nã o queria mais correr. Ela queria ficar e ficar de olho,
ou ouvido, na toca para ter certeza de que Hannah estava bem e seu pró ximo cliente nã o
tentaria nada. — Talvez eu espere até amanhã . Parece que perdi meus fones de ouvido de
qualquer maneira e, sem eles, é metade da diversã o.
Na porta corrediça que levava ao escritó rio, Hannah fez uma pausa e olhou para ela.
Ela parecia querer dizer alguma coisa, mas apenas deu um sorriso e um aceno de cabeça
antes de entrar em seu aconchegante estú dio.
***
Nos dois dias seguintes, Hannah notou um estranho padrã o emergindo nos há bitos
de trabalho de Winter.
Sempre que Hannah recebia um cliente, parecia que Winter de repente decidia que
estava com fome ou com sede e precisava passar uma hora na cozinha para conseguir um
lanche ou um galã o de á gua.
Sempre que Hannah se encontrava com um cliente pela primeira vez, Winter
aparentemente sentia a necessidade urgente de passar algum tempo longe de seu
escritó rio. Por duas vezes, Hannah saiu da sala para acompanhar seu cliente até a porta,
apenas para ver Winter esparramada no sofá da sala, trabalhando em seu laptop.
Na sexta-feira, quando ela tinha acabado de colocar seu ú ltimo cliente na posiçã o Colo
da Luxú ria, o estalo constante do teclado de Winter flutuou atravé s da porta de correr
fechada.
Dominic levantou a cabeça de seu colo, escutou por um momento, entã o recostou-se.
Porcaria. Ele també m tinha ouvido. Precisaria falar com Winter. — Sinto muito — ela
sussurrou para nã o atrapalhar ainda mais a atmosfera pacífica. — Vou dizer a ela para
parar.
— Está tudo bem. — Dominic sorriu para ela. Ele era pelo menos uma dé cada mais
jovem do que a maioria de seus outros clientes e ela gostou instantaneamente de seu
sorriso genuíno. — É meio reconfortante. Como chuva no telhado.
Secretamente, ela també m gostava do ritmo do teclado de Winter e a proteçã o de
Winter era tã o comovente quanto irritante, mas ela ainda teria uma palavra com ela.
— Sinta-se à vontade para dizer à sua esposa que sou assexual — acrescentou
Dominic. — Nã o há necessidade de ela ficar de guarda.
Hannah congelou com os dedos contra seu couro cabeludo. — Uh, ela nã o está …
— Sim, ela está totalmente de guarda. É meio fofo. Se eu tivesse uma esposa ou um
marido abraçador profissional, provavelmente faria o mesmo.
— Nã o, quero dizer, ela nã o é minha esposa. Ou namorada. — Felizmente, ele fechou
os olhos enquanto desfrutava da massagem na cabeça. Ela tinha a sensaçã o de que suas
bochechas estavam vermelhas como fogo.
— Oh. Desculpe. — Agora seu rosto estava corando també m. — Isso vai me ensinar a
nã o fazer suposiçõ es.
— Está bem. Você nã o está longe.
Dominic abriu um olho e lançou-lhe um olhar conhecedor.
— Nã o sobre nó s, ela sendo minha esposa. Eu quis dizer, seja qual for a suposiçã o que
você fez sobre mim, você provavelmente nã o está muito longe. Eu sou pan. —
Normalmente, ela evitava compartilhar informaçõ es pessoais com seus clientes, mas
Dominic se assumiu assexual para ela durante o bate-papo por vídeo na semana passada e
falou abertamente sobre seu desejo de toque sem ser pressionado a fazer sexo. Era justo
retribuir essa confiança, mesmo que ela nã o planejasse revelar mais do que isso.
— Oh, iluminada. — Ele ofereceu seu punho para uma batida.
Rindo, Hannah bateu nele antes de voltar para a massagem na cabeça.
Meia hora depois, ela acompanhou Dominic até a porta.
Ao passar pelo sofá , onde Winter ainda estava sentada com seu laptop, ele lançou um
sorriso conspirató rio.
Excelente. Obviamente, ele ainda achava que havia algo acontecendo entre elas e era
por isso que Winter estava acampando na sala para brincar de guarda-costas.
Assim que se despediu com um ú ltimo abraço, Hannah voltou para a sala, colocou as
mã os nos quadris e encarou Winter.
— Eu aprecio sua preocupaçã o. De verdade. Mas isso — ela acenou com o dedo para
Winter, o sofá e o laptop — nã o pode continuar.
— Nã o tenho ideia do que você quer dizer — disse Winter, sua expressã o impassível
firmemente intacta. — Apenas pensei que uma mudança de cená rio me ajudaria a ter novas
ideias.
— Sua mudança de cená rio també m está dando muitas ideias aos meus clientes,
principalmente sobre nó s duas. Ele pensou que você fosse minha esposa!
— Oh. — Depois de um momento, um sorriso confiante curvou os lá bios de Winter. —
Você seria tã o sortuda.
— Ah! Você que seria a sortuda. — Entã o Hannah lembrou que elas nã o estavam
realmente discutindo sobre quem seria a melhor esposa. Ela estreitou os olhos do jeito que
tinha visto Winter fazer e olhou.
— Deixe que assumam o que quiserem. Talvez entã o eles pensem duas vezes antes de
se mexerem. — Winter voltou sua atençã o para o laptop como se o assunto estivesse
encerrado.
Hannah puxou-o do colo dela, fechou-o com força e colocou-o na outra ponta da
mesinha de centro.
— Eu nã o preciso de um guarda-costas, Winter. Só porque tive uma experiê ncia ruim
nã o significa que meus clientes sã o todos predadores dos quais você precisa me proteger e
nã o quero que você os faça sentir como se fossem.
Winter a encarou aparentemente indiferente.
— Como você se sentiria se eu chamasse Valentina para ficar do outro lado da porta
de correr para que ela pudesse ter certeza de que você nã o está tentando nada enquanto
você me abraça? — Ela nã o mencionou que Valentina estava fazendo as malas para sua
viagem ao Brasil e nã o teria tempo para ficar no sofá , porque nã o era esse o ponto.
A expressã o impassível de Winter desmoronou quando ela empalideceu. Entã o uma
camada de gelo aguçou seu olhar e ela fez uma careta para Hannah.
Isso lembrou Hannah de um porco-espinho, a ú nica reaçã o que Winter teve quando as
coisas nã o aconteceram do jeito dela era mostrar seus espinhos.
Hannah se acomodou no sofá ao lado dela. No ú ltimo momento, ela se conteve para
nã o pegar a mã o de Winter.
— Eu aprecio seu cuidado com meu bem-estar e seria uma mentira se eu dissesse que
nã o é reconfortante saber que você está por perto quando estou atendendo clientes nos
ú ltimos dias. Mas você ficar no sofá e dar aos clientes aquele olhar malé fico de eu-estou-
observando-você quando eles entram no apartamento... Isso precisa parar. Agora.
— Mas se por acaso eu ficar com sede enquanto você estiver com um cliente...
— Preciso arrastá -la para o elevador e falar merda? — Hannah perguntou, apenas
meio brincando. — Nó s duas sabemos que você nã o vai à cozinha cinco vezes por hora por
causa da á gua. Você tem boas intençõ es, mas nã o preciso de você para me proteger,
especialmente se isso fizer meus clientes se sentirem como criminosos. Prometa-me que
vai parar.
Os ombros de Winter se ergueram em um grande suspiro.
— Tudo bem. Eu deveria reduzir minha ingestã o de á gua de qualquer maneira. — Ela
se esticou na mesa de centro e pegou o laptop, mas Hannah colocou a mã o em cima. Winter
olhou para cima com um brilho. — O que?
— Meu pró ximo cliente cancelou. Você quer…? — Hannah apontou para a toca.
— Agora? — Winter engoliu audivelmente, como se sua boca estivesse seca, apesar de
toda a á gua que havia bebido.
Hannah poderia simpatizar. Sua pró pria garganta parecia uma folha de lixa, e era por
isso que ela achava que elas deveriam acabar logo com isso, em vez de esperar pelo horá rio
agendado ainda hoje. Muito provavelmente, elas estavam construindo isso em suas mentes,
tornando um grande negó cio quando na verdade nã o era. — Por que nã o? A menos que você
tenha que fazer um trabalho que nã o pode esperar.
Winter lançou um olhar ansioso para o laptop e balançou a cabeça.
— Nã o, está bem.
— Excelente. — Hannah abriu seu sorriso profissional de abraços. — Dê -me cinco
minutos para trocar o lençol e me refrescar, entã o sou todo sua. — Hum... Ela fechou a boca
e correu para a toca antes que pudesse tagarelar e piorar as coisas.
***
Desta vez, ela faria do jeito certo. Sem pular nada. Hannah colocou o acordo de
abraços impresso na mesinha ao lado do sofá . Analisar as regras nã o apenas garantiria que
elas estivessem na mesma pá gina, mas també m faria com que parecesse mais uma sessã o
normal.
Era uma
 sessã o regular, ela disse a si mesma. Nã o há razã o para ficar nervosa. Winter
iria relaxar e começar a gostar de abraços ou ela decidiria que ainda  odiava e evitaria para
sempre.
Sim, sem pressão alguma.
Uma batida curta soou na porta de correr, entã o ela abriu alguns centímetros e Winter
espiou pela fresta.
— Entre — Hannah disse em sua voz profissional amigável, mas nã o muito amigável.
Winter abriu mais a porta e entrou no escritó rio. Desta vez, ela já havia trocado de
roupa sem precisar ser avisada. Embora fosse um dia quente de julho, Winter escolheu
calças de moletom pretas e compridas e uma camiseta cinza com mangas que quase
chegavam aos cotovelos.
Bem, se ela sentia que precisava de um pouco de armadura protetora, Hannah estava
bem. — Você quer que as persianas sejam fechadas?
— Hum, nã o. Obrigada.
Hannah se sentou no sofá e observou Winter se aproximar como um gato se
aproximando cuidadosamente de um estranho.
Por fim, Winter sentou-se ao lado dela. Ela deixou bastante espaço entre elas, mas nã o
escolheu sentar na outra ponta do sofá , como fizera na primeira sessã o.
Progresso, certo?
  Hannah colocou o contrato de abraços no sofá entre elas. —
Devemos revisar o contrato?
Winter dispensou-a com um gesto.
— Podemos pular isso. Fui eu que coloquei as regras no seu site, lembra? Eu poderia
recitá -los de cor.
— Sé rio? — Hannah inclinou a cabeça. Qualquer um poderia colar algum texto em
uma caixa em um site sem prestar atençã o ao que dizia. Winter se interessou por seu
trabalho e memorizou as regras?
— Memó ria fotográ fica. — Winter bateu na tê mpora.
— Você disse quase fotográ fica.
Winter suspirou.
— Sem á lcool ou drogas, confere. Nada de aparecer sem tomar banho, confere, se esta
manhã conta. Nã o toque em á reas que seriam cobertas por um biquíni, confere. Nã o toque
sem pedir consentimento, confere. Nada de se despir ou colocar a mã o sob as roupas,
confere. Nada de beijos de qualquer tipo... confere. — Ela verificou cada regra em seus
dedos, entã o fez uma pausa. — Estou esquecendo alguma coisa?
— Na verdade, sim. Você esqueceu a regra nú mero um: nó s duas concordamos em
manter as coisas estritamente platô nicas e nã o buscar excitaçã o sexual.
O toque mais fofo de rosa entrou nas bochechas de Winter. — Oh, certo. Sem
excitaçã o, confere.
— Nã o é bem o que diz a regra. Sem busca
  de excitaçã o. Uma vez que o abraço
costuma ser associado à s preliminares ou ao resultado do sexo, a excitaçã o é uma reaçã o
normal a...
Winter balançou a cabeça com firmeza.
— Nã o vai ser um problema.
Oh? Ela parecia muito certa disso. O que deve ser uma coisa boa, certo? Nã o era como
se Hannah quisesse que ela ficasse excitada quando se aninhasse
 nela. Se Winter nã o se
sentia nem um pouco atraída por ela, isso era ó timo. Fantá stico. Incrível.
— Tudo bem. Mas só estou dizendo, se isso acontecesse, nã o seria grande coisa.
Apenas lembre-se de que nã o é para onde está indo a sessã o de abraço, pense em outra
coisa ou mude de posiçã o e isso se dissipará .
— Como eu disse, nã o será um problema.
— Certo. — Winter tentando beijá -la tinha sido apenas um botã o de emergê ncia.
Hannah pegou a caneta esferográ fica da mesa e clicou nela, entã o percebeu que ela já
estava, entã o ela clicou novamente. Excelente.
 Agora Winter poderia pensar que ela estava
nervosa. Ela assinou o contrato, depois passou para Winter, que assinou també m.
— Algum pedido para a sessã o de hoje? — Hannah perguntou. — Como você gostaria
de começar?
Winter parecia uma pessoa a quem foi pedido que escolhesse entre um escorpiã o,
uma cascavel e uma aranha viú va-negra.
— Que tal começarmos com Companheirismo? — Hannah disse. Talvez isso tornasse
mais fá cil.
— Nã o — disse Winter com firmeza. — Se eu vou dar mais uma chance a essa coisa de
abraço, vou fazer direito. Qual é a posiçã o mais desafiadora para a maioria de seus clientes?
— Winter, essa nã o é uma boa i…
— Posiçã o mais desafiadora? — Winter repetiu e acenou com a mã o em um gesto de
desabafo.
Ela deveria saber que Winter faria algo assim para provar que ela nã o só poderia fazê -
lo, mas fazê -lo melhor do que todos os outros. Superestimadora crô nico. — Hum,
provavelmente a conchinha. Muitos dos meus clientes adoram, mas demoram um pouco
para chegarem até isso.
Winter assentiu vá rias vezes, como se para se preparar psicologicamente.
— Tudo bem. Conchinha entã o.
Hannah nã o conseguia imaginar um cená rio em que isso fosse bom. — Winter ...
— Vamos fazer a Conchinha. — A voz de Winter ecoou pela sala como a de um
sargento.
De todas as coisas que Hannah pensou que Winter nunca diria a ela, “vamos fazer a
conchinha” ficou entre as trê s primeiras. — Tudo bem. Mas da pró xima vez, talvez tente
pedir o que você quer em vez de me dar ordens.
Winter passou a mã o pelo cabelo.
— Hum, eu... poderíamos fazer a posiçã o Conchinha... por favor?
— Eu adoraria. Mas se você perceber que nã o gosta, por favor me avise. Nã o apenas
tolere isso.
— Avisarei.
Hannah puxou uma respiraçã o profunda e segurou por vá rios segundos. Nã o fez nada
para acalmar seu coraçã o acelerado. Nã o que ela realmente esperasse. Ela estava prestes a
deitar com Winter Sullivan, entã o, com toda a probabilidade, nem mesmo uma injeçã o de
tranquilizante para cavalos seria capaz de acalmá -la. Esfregou as mã os para aquecê -las, o
que nã o fazia sentido porque nã o planejava tocar a pele nua de Winter. — Tudo bem. Entã o
vamos começar.
***
— Por que você nã o se deita primeiro e eu me abraço em você ? Hannah se levantou
para abrir espaço para ela no sofá .
Deitar-se. Sim. Isso pode ser um pré -requisito se elas forem fazer a posiçã o de colher.
Winter se deitou de lado e tentou ter pensamentos tranquilizadores enquanto esperava que
Hannah se juntasse a ela. Ela passou por muitas situaçõ es desconfortáveis ​em sua vida,
entã o o que era mais uma? Alé m disso, a massagem na cabeça nã o tinha sido tã o ruim.
Talvez a conchinha també m fosse suportável.
O sofá afundou atrá s dela e Winter pensou que podia sentir o calor de Hannah se
aproximando.
— Tudo bem se eu colocar meu corpo contra o seu? — A respiraçã o de Hannah fez
có cegas no pescoço de Winter, fazendo-a estremecer.
Winter abriu a boca, mas logo a fechou. Droga. Ela estava prestes a responder com
uma piada sobre nunca dizer nã o a essa pergunta quando vinha de uma mulher bonita.
Talvez Hannah estivesse certa e piadas sexuais realmente eram sua reaçã o quando ela
ficava desconfortável perto de outra mulher.
— Uh, claro.
Hannah deslizou para mais perto e se encaixou em Winter. Ela encaixou os joelhos na
parte de trá s dos dela e aninhou sua pé lvis contra a bunda de Winter. Seus seios macios
pressionados contra as costas de Winter. Talvez fosse apenas a imaginaçã o hiperativa de
Winter, mas ela pensou que podia sentir os mamilos endurecidos de Hannah atravé s de
suas camisetas.
Oh cara. Todo o corpo de Winter parecia zumbir. Ela tinha tanta certeza de que a
excitaçã o nã o seria um problema porque ela estaria muito tensa o tempo todo. Mas o que
ela estava sentindo definitivamente nã o era desconforto. Aparentemente, ela de alguma
forma ficou mais confortável em ter Hannah por perto desde a primeira sessã o de abraço.
Muito confortável.
— Posso colocar meu braço em volta de você ? — Mais uma vez, lufadas quentes de ar
banharam o pescoço de Winter com cada palavra, causando arrepios na base de sua
espinha.
— Hum, sim. — Excelente. Antes de conhecer Hannah, a ú ltima vez que ela disse ‘hum’
foi na quinta sé rie. Agora tinha se tornado uma parte regular de seu vocabulá rio.
Os seios de Hannah apertaram contra ela com mais força enquanto ela envolvia um
braço ao redor de Winter, que prendeu a respiraçã o em antecipaçã o de onde sua mã o iria
parar. Mas em vez de apoiá -la no estô mago de Winter, como ela esperava, Hannah a colocou
no sofá ao lado dela, bem perto, mas sem tocá -la.
Pequenas misericórdias.
  A temperatura do corpo de Winter estava subindo
vertiginosamente. Cada terminaçã o nervosa formigante gritava para ela se virar e tentar
uma posiçã o que seria mais provável de ser encontrada no Kama Sutra
 do que no Abraço
Sutra
.
Talvez o impulso de beijar Hannah nã o tivesse sido apenas um botã o de parada de
emergê ncia, afinal. Mas desta vez, ela nã o faria nada disso. Ela queria que Hannah se
sentisse segura com ela mais ainda
 do que queria se virar e beijá -la.
A excitaçã o nã o era grande coisa. Isso foi o que Hannah disse, certo? Apenas uma
reaçã o física que nã o significava nada. Se ela o ignorasse, ele se dissiparia.
Winter limpou a garganta.
— O que fazemos agora? Nó s conversamos? Ou apenas deitamos aqui em silê ncio?
— O que você preferir — Hannah respondeu.
— Julian falava com você durante suas sessõ es?
— À s vezes. Mas vamos manter isso sobre você . Qual é a sensaçã o de ser a conchinha?
Winter classificou as palavras que vieram à mente e descartou todas. Hannah nã o
precisava saber o que fazia com seu corpo estar tã o perto dela. Isso nã o era o que ela estava
falando de qualquer maneira. Ela queria saber que tipo de emoçõ es essa posiçã o evocava.
— Está ... tudo bem, eu acho.
— Você se sentiria mais confortável sendo a colher grande?
— Eu nã o faço ideia. Eu nunca fui a colher grande també m.
A subida e descida constante do peito de Hannah contra suas costas parou por um
momento.
Argh, por que ela admitiu isso? Agora Hannah pensava que era uma perdedora total.
Hannah apertou o braço ao redor da cintura de Winter. Ela deslizou alguns
centímetros e pressionou a bochecha contra o ponto vulnerável entre as omoplatas de
Winter.
— Oh, Winter — ela sussurrou.
O clima na sala mudou. Cada pedaço de excitaçã o se foi, deixando um sentimento de
vazio em seu rastro que parecia estranhamente como tristeza ou solidã o ou uma mistura
complicada de ambos.
Absurdo. Winter nunca se sentira solitá ria em sua vida, nem se lamentara por nada ou
por ningué m.
E ainda assim um caroço se alojou em sua garganta. Ela lutou entre necessidades
conflitantes, uma parte dela queria colocar o braço em cima de Hannah, encorajando-a a
abraçá -la com mais força, enquanto a outra parte queria jogar fora seu braço, pular e
declarar a sessã o encerrada. Ela nã o precisava da pena de Hannah.
— A escolha foi minha. Confie em mim, nã o faltava oportunidade para abraçar as
mulheres. — Ela baixou a voz para um timbre rouco para fazê -la soar sensual em vez de
defensiva.
— Você está fazendo isso de novo — disse Hannah. — Usando insinuaçõ es sexuais
para esconder que você está desconfortável.
— Besteira! Nã o estou...
— Espero que saiba que nã o estou julgando ou sentindo pena de você .
Winter bufou. — Certo. Você tem pena escorrendo por todos os poros.
— Desejar que houvesse pelo menos uma pessoa para te abraçar nã o é pena. Significa
apenas que eu me importo. — Hannah deu-lhe um aperto suave, entã o congelou. — Hum,
como amiga, é claro.
Winter nã o disse nada. As palavras ecoaram em sua mente. Eu me importo.
 Estranho
como duas palavrinhas podiam cair sobre ela tã o pesadamente, como se pesassem uma
tonelada, mas ao mesmo tempo fazia a se sentir leve e quente por dentro. Ningué m havia
dito isso a ela antes, nem mesmo como amigo. Shan provavelmente queria, mas Winter nã o
estava pronta para ouvir, entã o ela manteve alguma distâ ncia entre elas e Shan respeitou
isso.
Hannah, no entanto, havia atravessado suas defesas como se as pontas protetoras nas
paredes de Winter nã o a impressionassem.
Uma sensaçã o de formigamento se espalhou por ela, mas desta vez, estava localizada
em seu peito, nã o na parte inferior da barriga. Ela esfregou o polegar contra o esterno para
afastá -lo, mas demorou.
— Você está bem? — Hannah perguntou.
Winter fingiu que acabara de coçar um ponto que coçava.
— Sim, estou bem.
O silê ncio caiu novamente, interrompido apenas pela respiraçã o suave de Hannah e as
batidas de seu pró prio coraçã o.
Winter quase desejou que aquele fogo baixo de excitaçã o voltasse. Tinha sido muito
mais fá cil de lidar do que ser segurado e ouvir, eu me importo.
— Entã o — ela finalmente disse quando nã o aguentou mais o silê ncio — vamos
conversar. — Antes que Hannah pudesse tomar isso como um convite para falar sobre
qualquer assunto emocional delicado, ela rapidamente acrescentou — Diga-me o que sua
família pensa sobre isso. Você abraça estranhos para ganhar a vida.
— Huh — disse Hannah e Winter pensou que ela podia sentir seu sorriso contra suas
costas — e aqui eu pensei que você seria uma ninja carinhosa.
Hannah tinha pensado em como ela seria quando elas se abraçassem?
  — Ninja
carinhosa?
— É assim que chamo secretamente meus clientes que se abraçam em completo
silê ncio — disse Hannah. — Para alguns abraçar e falar sobre coisas pessoais parece ser
muito íntimo e eu pensei que você poderia ser...
Winter bateu em seu braço para detê -la. — Ah! Você faz isso també m!
— Faço o quê ?
— Este é o seu botã o de parada de emergê ncia, você muda suavemente de assunto e
fala sobre a outra pessoa quando se sente desconfortável com uma pergunta.
O braço de Hannah ao redor dela afrouxou. — Você pode estar certa.
Talvez elas nã o fossem tã o diferentes quanto Winter presumira todo esse tempo. Mas,
novamente, admitir que ela estava desconfortável parecia ser fá cil para Hannah, enquanto
era tudo menos para Winter.
— Provavelmente porque estou acostumada a raramente falar sobre mim com os
clientes — acrescentou Hannah.
— Nã o sou cliente. — Winter nã o queria ser como todo mundo para Hannah. — Quero
dizer, estou sendo agora. Mas...
Hannah a apertou suavemente. — Eu sei. Nó s somos amigas.
— Mas isso nã o significa que você tenha que falar sobre isso se for um assunto
delicado. Podemos ser ninjas carinhosos. — Winter se surpreendeu querendo acariciar o
braço que rodeava sua cintura. Abraçar fazia coisas estranhas com ela.
— Nã o, tudo bem. — Hannah mudou a perna de cima. Os dedos dos pé s cobertos com
meias roçaram um pedaço de pele nua ao longo do tornozelo de Winter, onde sua calça de
moletom havia deslizado para cima, mas agora parecia íntimo sem ser excitante. — Minha
família tem sentimentos confusos sobre eu ser uma abraçadora profissional. Por um lado,
eles sã o super favoráveis. Meus pais sempre ensinaram a mim e a meus irmã os que
podemos ser o que quisermos, fazer o que quisermos.
— Aposto que eles nã o contavam com você querendo abraçar estranhos — disse
Winter.
Hannah riu. — Eles nunca tinham ouvido falar disso. Você deveria ter visto a cara do
meu pai quando eu disse a ele que queria desistir da massoterapia para me tornar uma
abraçadora profissional. Parecia que eu tinha dito que queria me tornar uma gladiadora e
lutar contra um bando de leõ es.
— Deixe-me adivinhar. Você entendeu o discurso de 'sobre meu cadáver'?
— Nã o. Meus pais sabem que sou adulta e tomo minhas pró prias decisõ es.
Isso fazia uma delas
.
 Julian sempre se sentiu no direito de dizer a ela o que achava
que ela deveria fazer e sua mã e tentou empurrá -la na direçã o de Julian.
— Alé m disso, eles sabem que a fala nunca funcionou comigo de qualquer maneira —
acrescentou Hannah. — Nem quando eu tinha cinco anos e insistia
  em colocar um ovo
debaixo do travesseiro, pensando que seria um pintinho quando acordasse.
O sofá balançou sob suas risadas conjuntas.
— E aconteceu? — Winter perguntou.
— Nã o. Virou uma omelete de bebê e meus pais me obrigaram a limpá -la.
Imaginar a expressã o de decepçã o no rosto da pequena Hannah fez Winter rir de
novo. Finalmente, ela ficou sé ria. — É isso que eles estã o fazendo agora? Deixar você fazer o
que quiser e esperar que nã o vire uma bagunça?
— Tipo isso. Meus pais estã o felizes por eu ter encontrado um emprego que amo, mas
també m estã o preocupados. Minha mã e em particular — Hannah
 respondeu. — Bem, nã o
tanto agora. Ela fez uma pequena dança feliz quando eu contei a ela sobre os termos do
testamento. Ela adora a ideia de eu morar com uma colega de quarto que conhece
Taekwondo. Se dependesse dela, você e eu teríamos que viver juntas pelos pró ximos
quarenta e quatro anos, nã o apenas mais quarenta e quatro dias.
Hannah sabia de cor quantos dias restavam até que seus noventa e dois dias
terminassem? Winter checou o cronô metro vá rias vezes ao dia no começo, mas agora ela
percebeu que havia parado de acompanhar há um tempo. Entã o uma segunda compreensã o
a atingiu. Hannah disse a sua mã e que Winter sabia Taekwondo? O que mais ela disse a sua
mã e sobre ela?
— Posso fazer uma pergunta em troca? — Hannah perguntou. — Há uma coisa que eu
queria saber há um tempo.
Winter nã o pô de deixar de endurecer.
Hannah deu-lhe um leve aperto, depois soltou o braço, dando-lhe espaço para se
retirar, se quisesse.
Tornou mais fá cil acenar com a cabeça e dizer — Pergunte.
— O que você disse para fazer Summer rir? Nunca consegui fazer isso em nenhuma de
nossas sessõ es.
Isso é o que Hannah queria saber? A tensã o fugiu do corpo de Winter. — Nó s
conversamos sobre nossos nomes serem inspirados em estaçõ es.
— Foi isso que a fez rir? — Hannah parecia cé tica.
— Eu disse a ela como ganhei meu nome.
— Uau! Como você ganhou seu nome? Eu sempre me perguntei isso també m. —
Hannah ergueu a mã o como se fosse tocar uma mecha do cabelo de Winter, mas logo a
retirou e pousou a mã o no sofá a um centímetro da barriga de Winter. — Parece que cai tã o
bem em você .
Ela nã o foi a primeira pessoa a comentar sobre isso, mas foi a primeira cujo
comentá rio fez Winter franzir a testa. Ela nã o tinha certeza se queria que Hannah a visse
como uma pessoa fria e indiferente.
— Por causa da cor do seu cabelo — acrescentou Hannah, como se pudesse ler a
mente de Winter.
Assustador. O fato de Hannah poder lê -la com tanta facilidade a fazia se sentir tã o
vulnerável quanto ser aninhada na posiçã o da conchinha. — Entã o você acha que eu pareço
velha? — Ela olhou por cima do ombro e arqueou as sobrancelhas em um desafio
silencioso.
— Nã o! Você parece… — Hannah engoliu em seco de forma audível. — Agradável.
— Agradável?
— Desculpe, eu quis dizer atraente como o inferno, sua gostosura real.
As sobrancelhas de Winter se arquearam ainda mais, desta vez sem escolha
consciente. Hannah estava brincando, ou ela quis dizer isso?
— Você pintou alguma vez? — Hannah perguntou.
— Uma ou duas vezes, quando tinha vinte e poucos anos, quando comecei a ficar
grisalha. Mas era muita manutençã o e nã o dou a mínima para o que as pessoas pensam.
— Certo — Hannah disse com um sorriso gentil em seu tom. — Para que você saiba,
eu gosto.
Winter nã o reconheceu o elogio. Afinal, ela nã o se importava com o que os outros
pensavam, certo?
Hannah cutucou o pé com o seu. — Entã o? Você vai me contar como conseguiu seu
nome?
— Minha mã e planejou me chamar de Juliana, em homenagem a Julian. Acho que ela
pensou que isso o tornaria mais propenso a bancar o papai. Mas quando minha avó
descobriu...
— Ela deu a ela o discurso de 'sobre meu cadáver'? — Hannah terminou por ela.
— Algo parecido. Minha avó disse a ela que a deixaria fazer isso quando o inferno
congelasse. Minha mã e retrucou 'Tudo bem, entã o vou chamá -la de frio congelante
[3]
.'
Hannah ergueu a cabeça das costas de Winter. — Ela nã o fez isso!
— Nã o. Felizmente, ela deixou de fora a frio congelante . E deixou o Winter.
— Ufa. — A expiraçã o de Hannah lançou uma corrente de ar quente sobre o pescoço
de Winter.
Seu corpo inteiro esquentou mesmo enquanto ela tremia. A chama da excitaçã o de
antes se acendeu novamente. Ela tentou se distrair conjugando todos os verbos espanhó is
de que se lembrava.
— Entã o — disse Hannah — foi isso que fez Summer rir? Quero dizer, é meio
engraçado, mas, para ser sincera, fico muito triste ao ouvir como sua mã e e sua avó
transformaram sua nomeaçã o em uma batalha rancorosa.
Winter deveria saber que Hannah veria a parte engraçada disso. — Eu fiz para o
benefício dela. Eu meio que senti que ela precisava de uma risada.
Hannah abaixou a cabeça e esfregou a bochecha nas omoplatas de Winter. —
Obrigada — ela sussurrou, e seus lá bios estavam tã o pró ximos que Winter podia senti-los
se mover contra o tecido de sua camiseta.
Ela engoliu em seco e nã o disse nada.
Por um tempo, elas se abraçaram como ninjas.
Finalmente, o canto dos pá ssaros do telefone de Hannah interrompeu o silê ncio.
Winter estremeceu.
— Desculpe. Eu esqueci de te contar. — Hannah se esticou para alcançar o telefone e
desligar o alarme, fazendo com que seus seios se arrastassem pelas costas de Winter.
Jesus.
 Winter cravou os dentes no lá bio inferior.
— Sempre deixo meu telefone para dar um aviso de quinze minutos para ajudar os
clientes a aproveitarem ao má ximo cada sessã o — disse Hannah.
Obrigada. Missão cumprida. Winter ainda podia sentir os seios de Hannah deslizando
por suas costas.
— Temos mais quinze minutos antes de nossa sessã o terminar. Há algo que eu possa
fazer para que isso — Hannah apertou a cintura de Winter — seja ainda melhor?
Ah, não, não, não, não.
 
Não vou lá. Winter evocou a memó ria de ter que dissecar um
sapo no ensino mé dio para afastar as imagens que tentavam invadir sua mente. Mas o
maldito sapo nã o teve chance contra os pensamentos de Hannah beijando sua nuca ou
deslizando a mã o por baixo da camisa de Winter e subindo por sua barriga para...
— Sapo! — Winter disse com firmeza, solidificando a imagem desbotada.
— Hum, essa é uma posiçã o de abraço que eu nã o conheço? — Hannah perguntou.
— O quê ? — Merda, ela disse isso em voz alta? Os pensamentos de Winter correram
enquanto ela tentava encontrar uma explicaçã o meio plausível. — Nã o, eu quis dizer grande
. Colher grande. Podemos trocar de posiçã o?
— Ah. — A risada baixa de Hannah vibrou atravé s dela. — É claro. Muitas vezes, leva
mais algumas sessõ es antes que os clientes se sintam completamente confortáveis ​em ser
a colherzinha. A colher grande é mais fá cil para quem gosta de estar no controle.
Winter cerrou os dentes. Incomodava-a que Hannah pensasse que nã o conseguiria ser
a colherinha, mas deixá -la acreditar nisso era melhor do que Hannah descobrir o que
realmente estava acontecendo. Nã o queria que ela pensasse, nem por um segundo, que era
como o cliente que expulsara na quarta-feira. Resmungando, ela rolou para que pudesse
abraçar Hannah.
Mas Hannah nã o se virou com ela.
Por alguns instantes, suas pernas se entrelaçaram e seus seios se apertaram um
contra o outro.
Um suspiro ecoou pela sala, mas Winter nã o tinha ideia se o som tinha vindo dela ou
de Hannah. Ela nã o conseguia mais entender nada.
Entã o Hannah se virou e desembaraçou suas pernas e Winter pô de respirar
novamente.
Oh Deus. Mais quinze minutos de conchinha e ela nã o tinha certeza se deveria rezar
para que eles passassem em um piscar de olhos... ou durassem para sempre.
***
O calor de Winter pousou nas costas de Hannah e enquanto Winter dobrava suas
longas pernas atrá s das suas, uma sensaçã o de estar segura e protegida tomou conta de
Hannah.
Profundamente, ela inalou o cheiro de Winter. Mmm, ela cheirava incrível, como seu
gel de banho com cheiro de oceano. Ela també m se sentiu incrível. Hannah recuou
cuidadosamente até que seus quadris encontraram os de Winter, fechando o ú ltimo
centímetro de espaço entre elas. Seus corpos se encaixam como se tivessem sido
projetados para se encaixar.
Winter passou um longo braço sobre ela, mas sua mã o pairou sem encontrar um lugar
para se acomodar. — Hum, onde eu coloco minha mã o?
A pergunta confundiu Hannah por um momento, porque com certeza nã o parecia que
Winter nã o soubesse o que ela estava fazendo. — Você pode colocá -la no meu estô mago ou
na minha perna. Ou você pode estender a mã o e colocar sua mã o na minha. — Hannah
ergueu a mã o para mostrar onde estava, com a palma para baixo, ao lado da cabeça. Ela se
parabenizou por soar normal e totalmente profissional, mesmo que isso nã o fosse como
uma de suas sessõ es regulares de carinho. Embora ela tivesse sido acariciada mais vezes
do que ela poderia contar, nunca se sentira
 assim. Ela estava ciente de cada parte do corpo
de Winter que estava pressionada contra o dela, suas coxas fortes, sua barriga magra, seus
seios firmes.
Winter vacilou, entã o baixou a mã o para o estô mago de Hannah.
A respiraçã o de Hannah prendeu. Quando Winter mudou de rumo e afastou a mã o,
quase gemeu de decepçã o. Recomponha-se!
Lentamente, Winter estendeu a mã o e colocou a mã o sobre a de Hannah.
Algo dentro de Hannah se apertou. Ela entrelaçou seus dedos e lutou contra o desejo
de levar suas mã os ao peito e embalar os dedos de Winter em seu coraçã o acelerado. Ela
tentou diminuir a respiraçã o e relaxar no aperto suave de Winter.
Tudo bem ser afetada por uma sessã o de abraço, física e emocionalmente; ela havia
dito isso a seus clientes uma centena de vezes antes. Nã o precisava significar nada.
Mas, ao contrá rio das garantias que dava aos clientes, o que dizia a si mesma agora
nã o soava convincente. No fundo, ela se perguntava se era verdade. Isso realmente nã o
significava nada?
Seus clientes associavam abraço com sexo, mas ela estava acostumada com os dois
separados. Fazia anos que ela nã o sentia nem um pingo de excitaçã o enquanto estava com
um cliente. Ajudou que ela geralmente nã o se sentia atraída por estranhos.
Mas Winter não era um estranho. Sim, está certo. Ela é sua colega de quarto. Sua futura
co-proprietária. Sua especialista em marketing. Sua amiga. Mais uma razão para não estragar
tudo!
Ela se forçou a se concentrar em Winter em vez das sensaçõ es que a percorriam. —
Como está ? Melhor do que ser a colherzinha?
— Eu acho. — A voz de Winter saiu rouca. Ela se mexeu atrá s dela, recuando um
pouquinho, de modo que seus seios apenas tocassem as costas de Hannah, em vez de
pressioná -las intimamente.
Deus, ela percebeu como a proximidade delas afetava Hannah? Se sim, isso a deixou
desconfortável... ou ela sentiu o mesmo?
Não importa.
Abraços profissionais nã o eram apenas seu trabalho. Era a vocaçã o dela. Ela havia
construído uma reputaçã o baseada em limites firmes e nã o violaria esses princípios
importantes, especialmente nã o por uma diversã o passageira sem futuro, que era tudo que
Winter sempre quis quando se tratava de mulheres.
Entã o ela iria ignorar o formigamento que a percorria toda vez que os seios de Winter
pressionavam suas costas enquanto ela inalava. Ela faria o que aconselhava seus clientes a
fazer, pensar em outra coisa. Quando a sessã o terminasse, ela teria esquecido que Winter
tinha seios.
Esse pensamento a fez rir. Okay, certo.
— O quê ? — A voz á spera de Winter retumbou atravé s dela.
— Nada, nada. — Ela fechou os dedos com mais força sobre os de Winter em um
pedido de desculpas silencioso. Pelo menos seu pequeno ataque de riso ajudou a dissipar o
calor que a percorria.
Uma sensaçã o de paz caiu sobre ela enquanto suas respiraçõ es sincronizavam até que
elas estavam inalando e exalando no mesmo ritmo.
Quando o cronô metro tocou, sinalizando o fim da sessã o, Hannah deveria ter sentido
alívio. Em vez disso, ela sentiu falta do calor de Winter em suas costas quando Winter
imediatamente se desvencilhou e saiu do sofá .
Hannah també m se levantou. — Como você está se sentindo?
Winter curvou-se para alisar as pernas de sua calça de moletom.
—  Bem. Eu disse que poderia fazer isso.
— Sim, você disse. Nunca mais vou duvidar de sua capacidade de abraçar.
Enquanto Winter se endireitava, Hannah vislumbrou seu rosto. Ela parecia atordoada.
Nã o exatamente feliz e em coma induzido por endorfina, como seus clientes costumavam
estar, mas ela exibia uma expressã o que Hannah nunca tinha visto no rosto de Winter
antes.
— Tem certeza que você es…?
— Sim. — Uma nota aguda entrou no tom de Winter. — Estou bem. Foi...
— Adequado? — Hannah terminou com um sorriso.
Um lado da boca de Winter se ergueu em um sorriso torto. — Algo parecido.
Elas ficaram de frente um para a outra no meio da toca.
Normalmente, Hannah oferecia a seus clientes um copo d'á gua ou o uso do banheiro
antes de saírem, mas Winter morava aqui, entã o nada disso era necessá rio. A falta de um
roteiro a confundiu.
— Obrigada pela sessã o. Acho que vou... — Winter apontou na direçã o de seu
escritó rio.
— Sim. — Hannah a acompanhou até a porta de correr, onde pararam. Finalmente, ela
se lembrou de uma parte de sua rotina que ela poderia fazer. — Gostaria de terminar a
sessã o com um abraço? — Quando Winter deu a ela um olhar de um cachorrinho assustado,
ela acrescentou — E lembre-se de que nã o há problema em dizer nã o.
— Nã o.
Oh. Hannah teve que se lembrar de que um nã o nã o era uma rejeiçã o, apenas um sim
aos limites pessoais de Winter.
— Uh, eu quis dizer… — Winter limpou a garganta. — Nã o, um abraço seria bom.
— Só se você realmente...
— Você sempre discute seus abraços de despedida por mais tempo do que leva para
realmente abraçar a pessoa?
— Hum, nã o. — Só com você. Ela engoliu a ú ltima frase antes que pudesse escapar.
Deus, aparentemente, era ela que estava em coma, sem pensar direito. Literalmente.
— Bem, entã o. — Winter lançou-lhe um olhar de expectativa que dizia claramente:
Vamos acabar logo com isso.
OK.
 Hannah exalou um longo jato de ar e avançou para o espaço pessoal de Winter.
Seus abraços eram sempre sinceros, nunca apenas um adeus rá pido e impessoal, mas este
era diferente. Ela sabia disso antes mesmo de seu corpo afundar contra o de Winter.
Winter envolveu seus braços ao redor dela com tanto cuidado, como se Hannah, ou
ela, pudessem quebrar de outra forma.
Hannah se permitiu descansar o rosto no ombro de Winter e pressionou as palmas
das mã os contra as costas de Winter. O tecido de sua camiseta estava ú mido, como se a
sessã o de carinho tivesse feito Winter começar a suar, mas nem isso fez Hannah querer se
afastar.
Finalmente, foi Winter quem soltou primeiro, depois de um ú ltimo aperto.
Hannah rapidamente recuou.
Elas acenaram uma para a outra, entã o Winter saiu pela porta de correr aberta e
atravessou a sala com passos largos.
— Ah, Winter? — Hannah chamou antes de chegar ao corredor.
Winter virou-se lentamente e olhou para trá s com cautela. — Sim?
— Obrigada por sua confiança — disse Hannah.
Por um momento, Winter pareceu querer afastá -la e insistir que o abraço nã o era
grande coisa e nã o exigia nenhuma confiança. Mas, finalmente, ela assentiu. Entã o se virou
e desapareceu.
Hannah ficou segurando a porta de correr por um tempo antes de se arrastar para o
sofá , cair sobre ele e pegar o telefone.
Acabei de terminar a última sessão de hoje — ela digitou uma mensagem para
Valentina. — Estou bem.
Entã o ela olhou para o telefone e se perguntou o quã o verdade isso realmente era.

Capítulo 19
Na noite seguinte, Winter pausou Gentleman Jack,
 um show que tinha total aprovaçã o
de Hannah porque as duas personagens principais nã o eram nada parecidas. Aquilo era a
campainha?
— O que você está fazendo? — Hannah se esticou na almofada do sofá entre elas e
 tentou tirar o controle remoto dela. — Eu acho que elas estã o prestes a se beijar!
A campainha tocou de novo antes que Winter pudesse explicar.
— Eu vou, disse Winter. — Continue assistindo.
— Nã o, vou esperar. Você está perdendo a melhor parte.
Winter levantou-se e dirigiu-se à porta. — Eu nã o estou esperando pelo romance.
— Até parece — Hannah disse atrá s dela. — Você só está observando para descobrir
se ela afunda seu pró prio poço de carvã o.
Rindo, Winter abriu a porta.
Na frente dela estava a Sra. Kline, sua inquilina mais antiga.
— Olá , querida. Graças a Deus você está em casa. A pia da minha cozinha está vazando
e nã o consigo chamar um encanador para consertá -la hoje porque é o fim de semana de 4
de julho. Sei que ainda nã o é nossa síndica, mas se importaria de dar uma olhada?
Verdade seja dita, Winter nã o tinha ideia de como consertar uma pia com vazamento,
mas ela nã o estava disposta a admitir isso para a Sra. Kline, e especialmente nã o na frente
de Hannah, que agora estava ao lado dela.
— Claro, Sra. Kline — respondeu Hannah antes que Winter pudesse dizer uma palavra.
— Vamos descer com você e dar uma olhada.
Winter assentiu. — Vamos sim. Apenas deixe-me ver quais ferramentas eu tenho aqui.
Nas ú ltimas semanas, ela trouxe lentamente mais de suas coisas, incluindo uma
pequena caixa de ferramentas, que ela agora pegou em seu quarto.
Quando entraram no elevador com a Sra. Kline, Hannah a cutucou com um sorriso. —
Ooh, uma lé sbica com uma caixa de ferramentas — ela sussurrou baixinho para que a sra.
Kline, de 85 anos, nã o ouvisse. — Acalme-se, meu coraçã o.
— O estereó tipo é cinto de ferramentas, nã o caixa de ferramentas — murmurou
Winter. Ela se recusou a pensar se Hannah estava apenas brincando ou se realmente achava
atraentes as mulheres que manejavam ferramentas.
Felizmente, a Sra. Kline manteve um fluxo constante de conversa enquanto se
dirigiam para seu apartamento no primeiro andar, proporcionando uma distraçã o. — Tive
tanto azar com aquela pia recentemente que o Sr. Allen, o encanador, vai pensar que estou
gostando dele. Tive que ligar para ele há alguns dias porque a pia nã o escoava.
A Sra. Kline destrancou a porta de seu apartamento e as conduziu até a cozinha, onde
as portas sob a pia estavam abertas. Ela colocou uma toalha embaixo dos canos para pegar
a á gua que pingava.
De onde Winter estava, ela nã o sabia de onde vinha. A luminá ria pendurada na
cozinha lançava um círculo de luz sobre a mesa, mas mal alcançava a á rea embaixo da pia.
Ela largou a caixa de ferramentas, abriu-a e procurou por sua lanterna.
— Você tem um balde ou uma tigela grande?
Quando a Sra. Kline lhe entregou uma tigela, Winter a colocou sob o cachimbo em
forma de U e se agachou para olhar mais de perto.
Hannah caminhou atrá s dela.
— Quer que eu segure a lanterna para que você fique com as mã os livres?
— Sim, isso seria ó timo.
Quando Winter entregou a lanterna, seus dedos se tocaram.
O calor subiu pelo braço de Winter e pelo resto de seu corpo. Rapidamente, ela voltou
sua atençã o para os canos.
— Espere — disse Hannah. — Nã o consigo ver para onde estou apontando a luz se
estou atrá s de você . — Antes que Winter percebesse, Hannah havia se curvado e enfiado a
cabeça embaixo da pia també m, exceto do lado onde ficava o triturador de lixo. Quando ela
se agachou ao lado dela para um â ngulo melhor, sua coxa roçou a de Winter.
Ambas se inclinaram tanto para a frente que até seus ombros ficaram embaixo da pia
para examinar os canos e Hannah esticou o pescoço até ficarem quase de rosto colado.
Cada movimento fazia seus ombros se apertarem ou o antebraço nu de Hannah deslizar ao
longo do dela.
O coraçã o de Winter batia tã o rá pido que parecia ecoar pelo pequeno espaço. O cheiro
incrível de Hannah, provavelmente a loçã o que ela usava, enchia o ar e fazia a cabeça de
Winter girar. O calor do corpo de Hannah a atraiu e ela lutou contra o impulso de virar a
cabeça e
... Não! Nunca mais ela tentaria beijar Hannah. Ela havia prometido isso a Hannah
e manteria sua palavra, mesmo que isso a matasse.
— Você encontrou o vazamento? — A Sra. Kline perguntou de algum lugar atrá s delas.
Winter deu um salto e bateu com a cabeça.
— Ai. Ainda nã o.
— Me chame se precisar de mim — disse a sra. Kline. — Vou colocar a mesa na sala
para que possamos comer uma torta de amoras quando você s terminarem.
Quando seus passos desapareceram, elas voltaram ao trabalho.
O facho da lanterna tremeu um pouco quando Hannah o direcionou ao longo dos
canos.
Ela sentiu a atraçã o entre elas també m? Ela tinha que ter sentido, certo?
Pare de pensar nisso e conserte o maldito vazamento! Winter deslizou a mã o ao longo
do cano de PVC em forma de U, por onde a á gua escorria, e depois pousou-a na porca de
plá stico superior.
— Aqui. Acho que vem daqui.
Hannah limpou a garganta.
— Sim, parece que sim.
— Talvez um pouco de fita adesiva conserte isso por enquanto — disse Winter.
Hannah balançou a cabeça. Seu desgrenhado cabelo castanho-escuro fazia có cegas na
bochecha de Winter e criava arrepios em seus braços e costas.
— Uma vez tive uma pia com vazamento e a fita adesiva nã o ajudou. Vamos remover o
cachimbo e ver se algo parece estranho.
— Cachimbo? — Winter perguntou.
— Esta parte aqui. — Hannah bateu no cachimbo. — Segure isso. — Ela pressionou a
lanterna na mã o de Winter e deslizou a tigela para uma posiçã o melhor logo abaixo do
cano.
— Por que é chamado de cachimbo?
Se Hannah forneceu uma explicaçã o, Winter perdeu completamente porque ficou
paralisada ao ver Hannah desparafusando as duas porcas de plá stico com as pró prias mã os.
A á gua escorria, escorrendo por seus dedos á geis e descendo por seu antebraço.
Winter respirou fundo. Isso estava começando a se parecer muito com aquela cena
em Bound
, onde a namorada do mafioso deixou cair um brinco na pia de propó sito para
chamar a encanadora para recuperá -lo... e seduzi-la.
Pela primeira vez em sua vida, ela entendeu o que as lé sbicas achavam tã o atraente
em uma mulher com um cinto de ferramentas. Nã o era o cinto de ferramentas, era a
confiança da mulher que o usava, sabendo que poderia consertar as coisas.
Hannah removeu o cano e esvaziou cuidadosamente a á gua que estava nele na tigela.
Winter olhou para dentro do cano, esperando que a visã o de uma bola de pelo ou
outra gosma acumulada lá dentro fosse o problema.
Sem essa sorte. O cano estava limpo. Pensando bem, isso nã o era surpreendente, já
que o encanador havia consertado os canos entupidos apenas alguns dias atrá s.
Winter agarrou a lanterna com mais força e seguiu os dedos de Hannah com o feixe
enquanto ela os deslizava ao longo do cano, procurando por uma rachadura. Ufa, estava
realmente ficando quente no espaço minú sculo.
— Mais alto — Hannah disse em voz baixa e rouca.
Cristo, ela nã o podia dizer coisas assim, nã o em um tom tã o sexy! O calor se espalhou
pelo corpo de Winter.
— Hum, quero dizer, você pode apontar para a arruela onde o tubo de escape vai para
o cachimbo? — Hannah acenou com a cabeça para o ponto que ela quis dizer.
— Assim?. — Winter tentou soar fria como um pepino, mas sua voz saiu tã o rouca
quanto a de Hannah.
As pilhas da lanterna estavam ficando mais fracas, entã o as duas tiveram que se
inclinar mais perto dos canos.
Hannah deslizou a arruela de plá stico para cima, revelando um anel de borracha na
ponta do cano que levava à pia.
— Ahá ! Acho que encontrei o problema. Algué m colocou a arruela de cabeça para
baixo. A extremidade mais larga precisa ficar voltada para cima e a extremidade cô nica
entra na junta, selando-a. Viu? — Ela tirou o anel para mostrar a Winter as duas pontas
diferentes.
Mas Winter só teve um olhar fugaz para a porca. Em vez disso, ela olhou nos olhos de
Hannah, que pareciam brilhar sob o facho da lanterna. Uma mecha de cabelo havia caído
em seu rosto enquanto ela trabalhava, e ela agora a enxugou com as costas da mã o, sem
interromper o contato visual nem uma vez.
Winter també m nã o conseguia desviar o olhar. Hannah tinha alguma ideia de como
ela era especial? Uma mulher que nã o apenas dava os abraços mais ternos que Winter
poderia imaginar, mas també m sabia como colocar uma arruela em um cano... Deus,
competê ncia era sexy!
Hannah olhou de volta. Suas pupilas se arregalaram e Winter estava tã o perto que ela
viu um pequeno reflexo de si mesma nelas.
Apenas alguns centímetros separavam seus rostos, e o ar entre elas parecia tã o denso
que Winter mal conseguia respirar. Ou talvez ela estivesse hiperventilando. Ela nã o tinha
mais certeza.
Hannah parecia ter o mesmo problema. Sua respiraçã o saía em baforadas rá pidas que
percorriam o rosto de Winter, provocando arrepios em seu corpo.
A arruela escorregou das mã os de Hannah e caiu na tigela. Ainda assim, nenhuma
delas desviou o olhar. O tempo pareceu diminuir enquanto elas pairavam a centímetros de
distâ ncia, presas no olhar uma da outra.
Hannah lambeu os lá bios. Deus, aqueles belos lá bios.
Por reflexo, Winter imitou o gesto. Levou toda a força que ela tinha para nã o se
inclinar mais perto.
— Winter? — Hannah sussurrou.
Winter nã o tinha ideia do que ela estava perguntando e suas cordas vocais pararam
de funcionar de qualquer maneira, mas Hannah parecia ler a resposta em seus olhos.
Com um gemido baixo, Hannah preencheu o espaço restante entre elas e tocou seus
lá bios nos de Winter.
Os olhos de Winter se fecharam. Uau. Tão sedoso e quente.
Hannah deslizou seus lá bios sobre os de Winter de forma hesitante, quase cautelosa,
como se temesse que Winter pudesse detê -la.
E ela realmente deveria. Ela iria. Em um segundo.
Mas quando Hannah se aproximou, buscando mais, ela esqueceu que isso era uma má
ideia, esqueceu que elas estavam presas debaixo de uma pia com vazamento, esqueceu
tudo, mas como era maravilhoso sentir a boca de Hannah na dela. Ela a beijou de volta com
crescente urgê ncia, entã o traçou o lá bio inferior de Hannah com a ponta da língua.
Hannah soltou um gemido baixo que fez Winter estremecer. De bom grado, ela abriu a
boca sob a de Winter, permitindo-lhe mergulhar dentro.
Ao primeiro roçar lento de suas línguas, o calor queimou atravé s de Winter. Ela
precisava de mais, mais
 daqueles ruídos sensuais, mais de Hannah.
Em vez disso, outro som, a voz da senhora Kline, cortou a névoa do prazer. —... bem aí
embaixo?
Elas se separaram, arrancando suas bocas uma da outra. Hannah bateu com a cabeça
no triturador de lixo, enquanto Winter bateu com a dela no escapamento.
— Sim — respondeu Winter, embora fosse uma mentira. Ela nã o estava nada bem “lá
embaixo”... ou “aqui em cima” també m. Ela estendeu a mã o para esfregar a tê mpora como
se isso a ajudasse a processar o que havia acontecido, mas em vez disso bateu com a mã o
em um cano.
— Encontramos o problema — acrescentou Hannah. — Levará apenas um minuto
para consertá -lo.
Se ao menos a bagunça que elas criaram fosse tã o fá cil de consertar.
Os dedos de Hannah tremiam visivelmente enquanto ela deslizava a arruela de
borracha no cano da maneira correta, encaixava os canos e apertava as arruelas  com as
mã os.
Winter desviou o olhar. Olhando para aquelas mã os delgadas, admirando as
habilidades de Hannah, foi o que começou tudo isso. Ela saiu de debaixo da pia e ficou em
pé sobre as pernas que pareciam tã o pegajosas quanto macarrã o cozido demais.
Oh vamos lá. Pode ter passado um tempo, mas ela já havia compartilhado beijos
apaixonados com mulheres antes. No espaço apertado embaixo da pia, elas nem
conseguiram se tocar livremente. A simples carícia de seus lá bios e línguas nã o deveria tê -
la afetado assim.
E ainda assim, tinha.
Quando Hannah se levantou tropeçando, Winter a segurou pelo cotovelo para
estabilizá -la. Seu corpo zumbia com a consciê ncia de ter Hannah tã o perto.
Isso foi bobagem. O que aconteceu com nã o ser capaz de suportar ter algué m em seu
espaço pessoal? Abruptamente, Winter a soltou e voltou sua atençã o para a pia.
— Vamos ver se isso resolveu o vazamento. — Ela abriu a á gua fria e enfiou o ponto
de pulsaçã o embaixo dela por um momento antes de se enfiar embaixo da pia.
A á gua corria pelos canos. Winter tocou a arruela com os dedos e deu um aceno
quando eles saíram secos.
Os canos embaixo da pia estavam em pleno funcionamento.
Pena que o mesmo nã o podia ser dito de seu cé rebro sobrecarregado.
***
Comer torta com a Sra. Kline parecia levar uma eternidade. Depois disso, Hannah nã o
conseguiu nem dizer que tipo de torta elas comeram. A ú nica coisa em que ela conseguia
pensar era no beijo.
Quando entraram no elevador, Winter evitou olhar para ela. Sua expressã o impassível
estava firme no lugar, mas ela agarrou a alça da caixa de ferramentas com tanta força que os
nó s dos dedos ficaram brancos.
As portas do elevador abriram no ú ltimo andar. Winter ainda nã o havia dito uma
palavra.
Ela iria ignorar o beijo delas? Fingir que nunca aconteceu... e esperar que Hannah
fizesse o mesmo?
Isso nã o era uma opçã o para Hannah. Ela já sabia que jamais esqueceria aquele beijo.
Desta vez, nã o foi um botã o de parada de emergê ncia. Mas o que exatamente isso
significava, entã o?
Só há uma maneira de descobrir. Ela abriu a boca para perguntar.
— Quem te ensinou a consertar uma pia com vazamento? — Winter quebrou o
silê ncio ao sair do elevador.
As portas quase se fecharam sobre Hannah enquanto ela permanecia enraizada no
lugar e olhava para ela. Rapidamente, ela pulou para fora, mas continuou a olhar. Elas
acabaram de compartilhar o melhor beijo da vida de Hannah e Winter queria saber sobre
suas habilidades de encanadora?
 Ela nã o poderia realmente ser tã o indiferente, poderia? A
maneira como ela beijou Hannah nã o havia sido nada.
Hannah a alcançou na porta. — Jules — ela disse calmamente.
Certa vez, no início de suas sessõ es, quando Jules ainda vinha ao apartamento dela,
Hannah estava embaixo da pia quando ele chegou, tentando sem sucesso consertar um
cano com vazamento. Em vez de ficar irritado, ele arregaçou as mangas de sua camisa cara,
agachou-se ao lado dela, apesar de seus joelhos doloridos, e mostrou a ela como consertar.
Winter lançou-lhe um olhar incré dulo.
— Ele adorava consertar as coisas — acrescentou Hannah.
Winter enfiou a chave na fechadura como se esfaqueasse
  algué m. — Nã o apenas
coisas. Quando ele descobriu que eu era gay, ele sugeriu me mandar para a terapia para me
curar també m.
— Oh meu Deus. Sé rio? Nã o fazia ideia que ele era homofó bico. Um ano, pendurei uma
bandeira de arco-íris em meu apartamento para o Mê s do Orgulho, e ele nem piscou.
— Estranhos sendo gays nã o o incomodavam. Mas nenhuma filha do grande Julian
Lambert era autorizada a ser. É a ironia da vida que ele acabou com duas. — Winter
empurrou a porta e entrou furiosamente em vez de deixar Hannah entrar primeiro, como
costumava fazer. — Vamos terminar Gentleman Jack
 outro dia. Estou cansada e falar sobre
Julian acabou com o clima para assistir a uma cena de primeiro beijo. — Ela caminhou para
seu quarto sem esperar por uma resposta.
Não não não. Hannah nã o a deixaria escapar e se esconder em seu quarto assim. Ela
correu atrá s dela.
— Eu nã o queria falar sobre ele em primeiro lugar. Eu queria falar sobre...
Winter parou na porta de seu quarto, virou-se e fixou nela um olhar intenso.
— ...o beijo — Hannah terminou.
Winter piscou como se nã o esperasse que Hannah tivesse coragem de dizê -lo. Entã o
ela baixou o olhar para a caixa de ferramentas, que ela segurava à sua frente como um
escudo.
— Sinto muito, ok? Nã o vai acontecer de novo. Eu sei que prometi antes, mas...
A garganta de Hannah queimou quando ela respirou fundo.
— Eu sinto muito? Isso é tudo que você tem a dizer? Nã o quero um pedido de
desculpas. — Ela també m nã o queria que isso nunca acontecesse novamente, mas ela
mordeu o lá bio antes que pudesse dizer isso a ela. — Você nã o quebrou sua promessa. Fui
eu quem te beijou... e nã o estou me desculpando por isso. — Ela ergueu o queixo e se
recusou a desviar o olhar primeiro, mesmo enquanto se perguntava o que Winter veria em
seus olhos.
Finalmente, depois de alguns segundos, o gelo nas íris azuis de Winter pareceu
derreter e sua boca se abriu em um sorriso.
— Bom. També m nã o quero desculpas. Aquele beijo foi — ela arrastou o polegar ao
longo do lá bio inferior como se ainda pudesse senti-lo — realmente incrível.
A voz rouca de Winter enviou um arrepio de prazer pelo corpo de Hannah. Ela nã o
pô de deixar de sorrir de volta. — E eu aqui pensando que você ia dizer 'adequado'.
Winter soltou uma gargalhada á spera.
— Isso també m. — Ela ficou sé ria. — Olha, acho que você já deve saber que nã o faço
amigos facilmente.
Amigos.
  O estô mago de Hannah revirou em uma espiral descendente. Ela assentiu
fracamente.
— Sou ainda pior em relacionamentos. — Winter trocou a caixa de ferramentas de
uma mã o para a outra. — Tal pai, tal filha, eu acho.
Por que tudo sempre tinha que voltar para Julian? Isso nã o era sobre ele. Era sobre
elas. Nã o que houvesse um elas
. Hannah estendeu a mã o, com a palma para fora. — Eu nã o
estava falando sobre um relacionamento. Estávamos falando sobre o beijo, nã o é ?
Winter olhou para ela com o que parecia ser uma mistura de afeto, diversã o e tristeza.
— Eu sei que você pode abraçar sem que isso se torne sexual ou româ ntico, mas você
realmente acha que é do tipo que me beijaria ou dormiria comigo sem eventualmente
querer ser mais do que isso?
Ela estava certa. Claro que ela estava. Hannah nã o ficaria feliz com o tipo de acordo
que Winter tinha com Shanice. Ela nunca se interessou por sexo casual, e Winter nunca se
interessou por nada mais. — Realmente — Hannah se forçou a superar o nó em sua
garganta. — Eu nã o sou esse tipo. O que eu estava pensando?
— Provavelmente o mesmo que eu estava — disse Winter. — Algo na linha de Oh
minha nossa e tão suave e mais
.
Ambas riram um pouco alto demais com isso.
Quando suas risadas diminuíram, Winter a estudou. — Entã o, estamos bem?
Hannah assentiu.
Winter continuou olhando para ela com aquele olhar intenso. — Você está
 bem?
Hannah assentiu novamente. Tinha sido apenas um momento bobo e estranho. Ela
superaria isso. Certo?
Mas quando Winter devolveu o aceno, recuou para seu quarto e fechou a porta entre
elas, sentiu como se ela tivesse fechado a porta em seu coraçã o, terminando qualquer coisa
entre elas antes mesmo de começar.
Pare de ser tão melodramática. Não é como se você estivesse apaixonada por ela.
Nã o, claro que ela nã o estava. Inferno, sete semanas atrá s, elas mal se toleravam.
  E
embora Winter tivesse começado a deixá -la vislumbrar por trá s de seu exterior indiferente,
Hannah sempre soube que Winter nã o gostava de relacionamentos. Entã o, por que ela se
sentia tã o devastada agora?
Capítulo 20
Winter quase nã o dormiu a noite inteira. Ela cochilou por duas vezes, mas mesmo em
seus sonhos, ela reviveu aqueles momentos debaixo da pia, a coxa de Hannah pressionada
contra a dela, seus braços se roçando, seus lá bios se encontrando com uma ternura que ela
nã o estava acostumada.
Uma vez, um som a trouxe de volta à vigília. Ela escutou na escuridã o, mas agora tudo
estava quieto.
Ela rolou na cama e puxou as cobertas sobre a cabeça enquanto a apresentaçã o de
slides mental começava novamente. Nã o era só no beijo que ela pensava. Estranhamente, a
imagem que nã o parava de piscar em sua mente era o olhar vulnerável nos olhos de Hannah
quando Winter observou que ela nã o era do tipo para uma aventura casual.
E daí? Era verdade, nã o era? Ela só tentou proteger Hannah.
Apenas Hannah? uma voz sarcá stica na parte de trá s de sua cabeça perguntou. Parecia
irritantemente como Brooke.
— Foda-se — disse Winter para o quarto silencioso demais.
Ela ficou se virando acordada por mais algumas horas. Finalmente, quando a primeira
luz do amanhecer penetrou em seu quarto, ela jogou as cobertas para longe e se arrastou
para o banheiro. Talvez um banho frio a trouxesse de volta à normalidade.
O apartamento estava quieto. Hannah estava dormindo profundamente ou ela estava
acordada també m?
Pare de pensar nela! O que Hannah disse uma vez sobre seus clientes també m era
verdade para ela: Hannah era responsável por seus pró prios sentimentos, quaisquer que
fossem. Estava tudo bem tê -los e trabalhar com eles, desde que ela nã o agisse sobre eles.
E isso era exatamente o que elas fariam. Sem mais momentos do filme Bound
.
Winter fechou com firmeza a porta do banheiro atrá s de si e tomou o banho mais frio
que pô de suportar. Isso a distraiu, mas apenas por alguns minutos.
Enquanto ela se dirigia para a má quina de café , seu olhar mais uma vez foi para a
porta do quarto de Hannah. Ainda nenhum som e nenhum vislumbre de luz passava pela
pequena fenda abaixo dela. Provavelmente era melhor. Winter nã o sabia o que dizer a ela de
qualquer maneira.
Winter se obrigou a dar as costas à porta de Hannah. Café. Agora. Entã o ela se
perderia no trabalho, que se dane o fim de semana de 4 de julho. Talvez ela pudesse
começar a testar a có pia do anú ncio da empresa de cé lulas solares que acabara de lhe
contratar.
Um post-it amarelo estava preso à má quina de café expresso, como há um mê s atrá s,
quando ela evitou Hannah por dias depois de tentar beijá -la.
Como diabos elas estavam na mesma situaçã o novamente? Só que desta vez, foi
Hannah quem a beijou... e Hannah quem a estava evitando ou assim parecia.
Enquanto Winter nã o sabia o que dizer a ela agora, o pensamento de nã o falar nada
tornava seu humor mais sombrio do que o café expresso mais escuro. Nas ú ltimas
semanas, ela se acostumou a conversar durante o café , discutir sua ú ltima ideia de
marketing para a Toca do Abraço e brincar uma com a outra enquanto assistiam à TV. Será
que tudo acabaria agora?
Seus dedos pareciam instáveis ​quando ela puxou o post-it da má quina de café
expresso. Era apenas a falta de sono.
A caligrafia era de Hannah, mas parecia mais rabiscada do que o normal, como se ela
tivesse escrito o bilhete à s pressas ou seus dedos estivessem tremendo.
A garganta de Winter se apertou e ela se preparou para ler as palavras.
Winter,
Tive que ir. Tenho uma emergência familiar. Minha mãe está no hospital. Não sei os
detalhes ou quando voltarei.
Hannah
Oh merda.
  A mente de Winter disparou junto com seu coraçã o. Por que diabos
Hannah fugiu do apartamento em vez de acordá -la? A essa hora do dia, Hannah mal estaria
acordada o suficiente para dirigir com segurança. Ela nem tinha carro, tinha? Se ela tivesse
emprestado ou alugado um carro desconhecido e o dirigisse enquanto estivesse chateada,
com lá grimas embaçando sua visã o...
Imagens de horríveis acidentes de carro passaram por sua mente. Ela tentou afastá -
los lendo a nota novamente, mas, é claro, nã o lhe disse mais nada na segunda vez.
Não sei quando voltarei, escreveu Hannah.
Será que ela voltaria à noite?
Winter já a conhecia bem o suficiente para perceber que ela nã o voltaria antes que sua
mã e estivesse melhor. Mesmo que ela ficasse apenas uma noite e voltasse amanhã , ela
realmente nã o teria uma casa para onde voltar.
A percepçã o atingiu Winter como um soco. Agarrando a nota, ela afundou na cadeira
mais pró xima.
Hannah perderia sua metade do pré dio. As condiçõ es do testamento declaravam que
elas deveriam viver juntas por noventa e dois dias consecutivos e nã o poderiam passar
nem uma noite em outro lugar sem perder o direito ao pré dio. Julian nã o havia escrito
nenhuma exceçã o para emergê ncias familiares. Se Hannah nã o voltasse à meia-noite e
algué m descobrisse, ela nã o herdaria nada.
Droga, Julian! Se Winter já nã o odiava seu pai antes, ela odiava agora. Hannah
precisava da herança. Sem isso, ela nã o conseguiria ter um estú dio. Julian tinha balançado
seu sonho na frente dela como uma cenoura, apenas para arrebatá -lo no ú ltimo segundo.
Em um piscar de olhos, Hannah teria saído do pré dio. Da vida de Winter. Talvez para
sempre, porque que motivo havia para ficar por aqui se elas morariam
  em diferentes
partes da cidade e nã o precisariam
 lidar com inquilinos juntas?
Não! Winter deu um pulo. Ela nã o estava pronta para aceitar isso, e també m nã o
estava disposta a deixar isso ao acaso e esperar que nem o Sr. Woodruff nem Brooke
descobrissem que Hannah se fora. Como ela havia dito a Hannah, ela nã o fazia amigos
facilmente. Mesmo que elas nunca fossem mais do que isso, ela nã o estava disposta a
perder a amizade delas ou deixar Hannah perder seu covil aconchegante.
Ela desbloqueou o telefone e vasculhou sua pasta de arquivos importantes até
encontrar a digitalizaçã o do testamento. Com o maxilar cerrado, ela vasculhou o arquivo
até encontrar a seçã o que descrevia as condiçõ es.
O direito, título e participação no imóvel localizado na 1405 SW Park Avenue em
Portland, Oregon, deve ser dado a Hannah Elizabeth Martin e Winter Louise Sullivan em
partes iguais, desde que morem lá, sem pagar aluguel, por um período de noventa e dois dias
consecutivos. Durante esse período, nenhuma das duas podem passar a noite sob um teto
diferente.
Winter fez uma pausa com o dedo na ú ltima linha. Sob um teto diferente... A condiçã o
parecia clara na primeira vez que ela leu o documento. Mas, se você quisesse, poderia
interpretá -lo de uma maneira alternativa... e Winter queria muito.
Se ela passasse a noite onde quer que Hannah estivesse agora, elas nã o estariam sob
um teto diferente, certo? Bem, talvez diferentes do telhado da 1405 SW Park Avenue, mas
nã o diferentes uma da outra.
Ok, ela tinha que admitir que era um argumento um pouco frá gil. Se Brooke soubesse
que elas haviam saído, ela poderia alegar que as duas falharam em cumprir a condiçã o de
Julian. Winter podia acabar perdendo sua metade do pré dio també m. Brooke herdaria tudo,
ganhando muito e mais uma vez deixando Winter como a filha ilegítima que seria para
sempre a segunda melhor.
Era um risco enorme, um que ela nem por um segundo teria considerado correr por
algué m ou alguma coisa dois meses atrá s.
Mas agora era um risco que ela nã o podia deixar de correr. Nã o quando Hannah
precisava dela, nã o apenas para cumprir a condiçã o do testamento, mas també m como
apoio emocional.
Ela correu para o quarto, jogou apressadamente uma muda de roupa e uma nova
escova de dentes na bolsa do laptop e pegou o telefone, a carteira e as chaves. Em poucos
minutos, ela estava porta afora.
Foi um ato absurdo. Completamente irracional. Ela nem sabia para qual hospital a
mã e de Hannah havia sido levada ou onde elas moravam, talvez em Sunriver, a pequena
cidade que Hannah mencionara uma vez.
Ainda assim, ela desceu os degraus de dois em dois, sem se preocupar em esperar
pelo lento elevador. Ela ligaria para Hannah da estrada e descobriria onde ela estava.
***
As planícies secas e cobertas de artemísia em ambos os lados da estrada voaram
quando Winter pisou no acelerador para ultrapassar uma caminhonete suja de terra.
À frente, a rodovia de quatro pistas se estreitava para duas e ela nã o queria ficar presa
atrá s dela por quilô metros. Caso contrá rio, ela conseguiria ser boa e respeitar o limite de
velocidade. Mais ou menos.
À distâ ncia, à sua direita, as Montanhas Cascade, cobertas de neve, espreitavam por
cima das á rvores de zimbro. Faltavam apenas alguns quilô metros para Bend agora.
Ela apertou o botã o do telefone no volante. “Ligar para Hannah.”
A chamada foi direto para o correio de voz, como aconteceu nas meia dú zia de vezes
que ela tentou antes. Hannah nã o tinha sinal ou desligou o telefone assim que chegou ao
hospital. Ou talvez uma mistura de ambos. Algumas vezes, quando Winter tentou ligar, ela
també m nã o tinha um sinal de celular confiável.
No entanto, ela continuou dirigindo, embora seu destino fosse uma suposiçã o
completa e absoluta neste momento. Hannah mencionou a mudança de Sunriver para
Portland para se tornar uma massoterapeuta licenciada. Felizmente, essa era sua cidade
natal e seus pais ainda moravam lá .
Winter pesquisou no Google a pequena cidade turística quando parou para tomar um
café e descobriu que o hospital mais pró ximo ficava em Bend, entã o era para lá que ela
estava indo.
Ela nunca tinha feito algo tã o impulsivo em sua vida. Em seu trabalho, ela nunca
confiou em suposiçõ es. Cada decisã o foi baseada em testes cuidadosos e aná lise de dados.
E, no entanto, ela estava tirando mais fotos no escuro do que podia contar. Talvez Sunriver
nã o fosse onde os pais de Hannah moravam. Talvez Hannah nã o se referisse a Sunriver no
centro de Oregon, mas a Sun River em Montana. Talvez sua mã e tenha sido levada para um
hospital em outra cidade. Mesmo que ela encontrasse o hospital certo, a equipe
provavelmente nã o confirmaria que a Sra. Martin era uma paciente.
Nã o era tarde demais para dar a volta. Em cerca de trê s horas e meia, ela poderia estar
de volta a Portland. Ningué m precisava saber que ela tinha ido embora.
Mas a ideia de Hannah possivelmente perder sua mã e e seu estú dio de abraços no
mesmo dia a fez continuar. Ela poderia ser impotente para impedir o primeiro, mas se
houvesse alguma chance, nã o importa quã o pequena, de impedir o ú ltimo, ela o faria.
Se partisse para St. Charles, continuaria ligando para Hannah até encontrá -la. Ela
fingiria apenas estar checando com ela, sem dizer onde ela estava. Se descobrisse que ela
estava no lugar totalmente errado ou Hannah nã o a quisesse lá , ela agiria como se estivesse
em casa. Sua pequena viagem permaneceria em segredo.
Decisã o tomada, ela pressionou o pé com mais força no pedal do acelerador.
Meia hora depois, ela estacionava no hospital no centro de Bend. Argh. Seu corpo
inteiro estava enrijecido por estar segurando o volante com tanta força. Ela tentou soltar os
ombros enquanto marchava em direçã o à entrada e olhava ao redor.
Sinais à sua direita apontavam para diferentes edifícios dentro do complexo e, ao seu
redor, as pessoas entravam e saíam dos carros. Suas chances de encontrar a Sra. Martin e
Hannah neste hospital movimentado eram mínimas.
Ela correu pela entrada de desembarque e se dirigiu para as portas de vidro
deslizantes.
Um jovem estava sentado em um banco, fumando, embora Winter nã o tivesse certeza
de que fosse permitido tã o perto da entrada principal. Cinzas caíram sobre sua cabeça
enquanto ele tentava passar a mã o que segurava o cigarro pelo cabelo.
Claramente, ele estava tendo um dia de merda també m. Ele parecia familiar. Winter o
estudou mais de perto enquanto passava por ele. Olhos castanhos a encaravam, mas ela
tinha a sensaçã o de que ele nem a notou. Seus lá bios estavam apertados em uma linha
apertada ao redor do cigarro, mas Winter podia facilmente imaginar as covinhas que se
formariam em suas bochechas quando ele sorrisse.
A foto na sala delas! É de onde ela o conhecia!
Winter virou-se para encará -lo. Quais eram as chances?
— Desculpe incomodar, mas você é irmã o de Hannah Martin?
***
Hannah sempre achou que seu pai parecia jovem para seus quase setenta anos, mas
quando ele caiu contra o encosto do sofá de vinil gasto na sala de espera cirú rgica, a
preocupaçã o esculpiu sulcos profundos em seu rosto bronzeado. Ele se sentou
  imó vel,
como se um movimento errado pudesse quebrar sua compostura, apenas olhando para
cima toda vez que algué m de uniforme entrava.
Ela se sentou ao lado dele e tentou nã o se mexer ou olhar o reló gio a cada dois
minutos. Eram apenas nove horas da manhã , embora parecesse que dias se passaram
desde que ela rabiscou um bilhete para Winter... e uma vida inteira desde que ela a beijou
embaixo da pia da cozinha da Sra. Kline.
A alguns passos de distâ ncia, Sabbie caminhou ao longo de uma fileira de cadeiras de
plá stico. Hannah nunca tinha visto sua irmã mais velha tã o pá lida.
— Isso nã o pode estar acontecendo —Sabbie sussurrou. — Nã o podemos perdê -la.
— Nó s nã o vamos — Hannah disse firmemente. Ela se levantou e abraçou a irmã , que
imediatamente se aninhou contra ela como se procurasse abrigo. — Ela vai ficar bem,
Sabbie. Algué m vai aparecer a qualquer momento para nos dar as boas notícias.
Era isso que as enfermeiras diziam sempre que perguntavam. Exceto, é claro, elas nã o
disseram boas notícias, mas
 atualização.
— Foi o que eles disseram quando tentaram a endoscopia, mas nã o ajudou —  Sabbie
murmurou com o rosto enterrado no ombro de Hannah.
Quando Hannah e seu irmã o chegaram ao hospital, as coisas nã o pareciam tã o ruins.
Aparentemente, a mã e deles tinha uma ú lcera gá strica que, com o tempo, destruiu o
revestimento interno do estô mago e, na noite passada, danificou um vaso sanguíneo. Ela
passou por um procedimento no qual os mé dicos fecharam o vaso afetado.
Quando todos deram um suspiro de alívio e se prepararam para vê -la, ela teve que ser
levada à s pressas para a sala de cirurgia porque o sangramento havia começado
novamente.
A espera foi ainda mais difícil na segunda vez. Já se passavam quase trê s horas. Por
que nã o havia nenhuma notícia?
Hannah esfregou as costas da irmã . — Tenha um pouco de confiança. Eles vã o
conseguir. — Se ao menos sua crença fosse tã o firme quanto sua voz. A cada segundo que
passava, suas preocupaçõ es aumentavam, mas ela tentava se manter unida por sua família.
Ela sempre foi a otimista entre eles e, se ela desmoronasse, eles a seguiriam; ela sabia disso
por experiê ncia.
Suspirando, Sabbie libertou-se de seu abraço e voltou a andar, enquanto Hannah se
acomodava ao lado de seu pai.
— Acho que vou verificar o Wes — ela disse depois de um tempo. — Ele está lá fora
desde sempre. Aposto que ele voltou a fumar.
Mas antes que ela pudesse se levantar, algué m entrou na sala de espera.
Todos olharam para cima.
Em vez de uma enfermeira ou um mé dico, como Hannah esperava, era seu irmã o.
— Ei, Hannie. Encontrei algo para você — ele disse com um sorriso fraco. — Bem, na
verdade, algué m. — Ele deu um passo para o lado e... Hannah olhou fixamente. Entã o
encarou um pouco mais. Seu cé rebro exausto finalmente aprendeu a formar imagens
mentais. Essa era a ú nica explicaçã o para o que ela estava vendo.
Winter deu dois passos na sala de espera. Em uma camiseta branca que ela
normalmente usava apenas em casa e com sombras escuras sob os olhos, ela era a visã o
mais bonita que Hannah já tinha visto.
— Oi.
— O-o que você está fazendo aqui?
— Pensei em passar por aqui para ver como está sua mã e, disse Winter, como se
tivesse acabado de passar pela vizinhança, em vez de cento e setenta milhas de casa.
Desde que acordou assustada com a ligaçã o de seu pai, Hannah manteve a calma
concentrando-se em estar ao lado de sua família, assumindo a direçã o depois que seu
irmã o a pegou em Portland, segurando a mã o de seu pai enquanto ele lhes contava sobre
sua mã e vomitando sangue até que o banheiro parecesse algo saído de um filme de terror, e
fazendo com que todos comessem pelo menos algumas mordidas dos sanduíches que
pegaram no refeitó rio do hospital.
Mas no momento em que ela viu Winter e percebeu que ela realmente estava lá , toda a
força fugiu de seu corpo. Ela ficou com as pernas trê mulas, cambaleou pela sala de espera e
se lançou nos braços de Winter.
***
O impacto do corpo de Hannah contra o seu deveria ter feito Winter tropeçar para
trá s, mas nã o o fez, como se seu subconsciente tivesse esperado que Hannah acabasse em
seus braços o tempo todo. Ela a segurou gentilmente, com um braço envolvendo suas
costas enquanto segurava a cabeça de Hannah contra seu ombro com a outra mã o.
As lá grimas de Hannah molharam sua camiseta e ela sentiu como se todas as pessoas
na sala de espera estivessem olhando para elas, mas ela nã o se importava.
Quando um careca do outro lado da sala nã o desviou o olhar, ela lançou-lhe um olhar
tã o gé lido que de repente ele sentiu a necessidade urgente de devorar um exemplar de Car
and Driver
 que provavelmente tinha cinco anos.
Hannah parecia alheia a tudo enquanto se agarrava a Winter. Ela agarrou as costas da
camisa de Winter com as duas mã os e enterrou o rosto em seu ombro.
— Ei — Winter sussurrou quando ela nã o aguentou mais os soluços silenciosos. —
Lembra o que você me disse quando eu estava escondida no meu quarto, me recusando a
falar com você ?
Hannah balançou a cabeça sem tirar do ombro de Winter.
— Você disse que eu era a pessoa mais teimosa que você conhecia, com sua mã e em
segundo lugar. Você sabe que nó s, pessoas teimosas, aguentamos firme, nã o importa o que
aconteça.
O aperto de Hannah em sua camiseta aumentou, como se ela estivesse agarrada nã o
apenas a ela, mas també m a suas palavras. Por fim, soltou um suspiro trê mulo que aqueceu
o pescoço de Winter, endireitou-se e passou as costas da mã o nos olhos.
— Desculpe. — Ela puxou a mancha molhada que havia deixado na camiseta de
Winter. — Eu...
— Nã o precisa se desculpar — disse Winter gentilmente.
Hannah apalpou os bolsos de sua calça jeans, aparentemente procurando um lenço de
papel, mas nã o achou.
Ela nã o tinha chorado até agora? Ah, Hanna. Winter queria puxá -la de volta para seus
braços e abraçá -la até que ela se livrasse de toda a dor e medo. Em vez disso, enfiou a mã o
no pró prio bolso, encontrou um lenço que parecia limpo e o entregou a ela.
— Obrigada. — O olhar nos olhos ainda ú midos de Hannah revelou que ela estava
agradecendo por muito mais do que o lenço. Ela assoou o nariz, pegou a mã o de Winter
como se fosse a coisa mais natural do mundo e a puxou para o sofá de vinil. — Pai, esta é
minha amiga Winter.
Amiga.
 A palavra arranhou sua pele como uma lixa, o que era estranho porque era o
que elas haviam combinado ontem. Mas o que aconteceu entre elas nã o importava agora,
entã o ela ignorou aquela sensaçã o á spera e nã o muito certa.
— Winter, este é meu pai, Phillip, e minha irmã , Sabrina, e aparentemente você já
conheceu meu irmã o, Wesley.
Winter soltou a mã o de Hannah para apertar a de seus familiares.
O pai de Hannah parecia ter quase sessenta anos, mas seu cabelo ralo ainda era mais
castanho claro do que grisalho. Ele usava uma blusa esticada sob o peito com a frase
"prefiro estar pescando”.
— Me chame de PJ — disse ele. Seu aperto de mã o foi firme, embora parecesse
bastante abalado e ele aguentou um pouco mais do que o normal enquanto estudava
Winter.
— Como está a sua esposa? — Winter perguntou para desviar sua atençã o.
— Ainda em cirurgia — ele respondeu, sua mandíbula apertada.
Winter olhou dele para Hannah, depois de volta. — O que aconteceu?
— Connie acordou com azia por volta das duas. Ela murmurou algo sobre pegar um
copo d'á gua. A pró xima coisa que sei é que ouvi um estrondo vindo do banheiro. Acho que
as pernas dela cederam. A princípio, pensei que ela tivesse batido a cabeça porque havia
sangue por toda parte, mas descobri que ela havia vomitado sangue. — PJ estremeceu e
empalideceu sob o bronzeado.
Hannah pegou a mã o de Winter novamente e apertou o braço de seu pai com a mã o
livre.
Uma mé dica de jaleco verde entrou na sala de espera. Seu rosto estava
cuidadosamente neutro enquanto examinava as pessoas na sala, entã o olhou para o grupo.
— Você s sã o a família de Cornelia Martin?
— Sim. —O Sr. Martin e seus filhos correram para ela e Winter a seguiu porque
Hannah nã o parecia ansiosa em soltar sua mã o.
— Eu sou a Dra. Sharma, a cirurgiã da Sra. Martin.
— Como ela está ? — Sr. Martin perguntou enquanto eles se amontoavam ao redor dela
.
— Como você sabe, a Sra. Martin desenvolveu uma ú lcera gá strica que corroeu um
vaso sanguíneo. Conseguimos estancar o sangramento hoje cedo colocando clipes no vaso
sanguíneo afetado. Mas entã o o sangramento começou novamente. Desta vez, a ú lcera
perfurou, o que basicamente significa que abriu um buraco na parede externa do estô mago,
entã o o conteú do do estô mago vazou para a cavidade abdominal. É por isso que tivemos
que operar imediatamente.
Ah Merda. Isso nã o soou nada bem. Winter lutou contra o sú bito impulso de segurar a
mã o de Hannah entre as suas e pressioná -la protetoramente contra o peito.
— A boa notícia é que conseguimos fechar o buraco e estancar o sangramento —
continuou a mé dica. — Exceto quaisquer complicaçõ es, ela deve se recuperar totalmente.
— Oh, graças a Deus — Hannah disse em uma expiraçã o.
Os Martins caíram uns sobre os outros como uma ninhada de gatinhos, abraçando-se
e segurando-se.
Winter se viu no meio de tudo. Seus olhos pareciam estar saltando quando o Sr.
Martin bateu em suas costas. Pior, os irmã os Martin a abraçaram em grupo, assumindo
claramente que ela e Hannah eram um pacote. Ela ficou quieta e deixou acontecer. Era
muito melhor do que a alternativa.
Dra. Sharma encontrou seu olhar sobre o caos e sorriu.
Finalmente, o pai de Hannah recuou.
— Podemos vê -la?
— Sim — disse a mé dica. — Assim que ela sair da recuperaçã o e se instalar na UTI. Ela
está acordando da anestesia agora e ainda estará cansada e fraca, entã o, por favor, sejam
breve e só pode entrar dois de cada vez.
Todos eles assentiram repetidamente.
— Muito obrigado, Dra. Sharma. — O Sr. Martin envolveu a mã o da cirurgiã entre as
suas e apertou-a.
— De nada. Uma enfermeira virá buscá -lo quando você puder vê -la. Pode ser daqui
uma hora. — Com um aceno de cabeça e um sorriso cansado, a mé dica se afastou.
O Sr. Martin se jogou no sofá de vinil, enquanto os irmã os de Hannah se espremiam ao
lado dele, um de cada lado. Claramente, esta família nã o tinha medo de contato físico.
Hannah se apoiou no ombro de Winter da mesma forma. Ela estendeu a mã o e
esfregou o braço de sua irmã mais velha, soltando a mã o de Winter no processo. — Sabbie,
por que você nã o vai com o papai ver a mamã e? Wes e eu iremos até em casa para ver se
está tudo bem.
— Tem certeza? — Sabrina perguntou.
Os irmã os trocaram olhares significativos.
Ah. Hannah estava planejando limpar o banheiro de seus pais para que nã o parecesse
mais como um filme de terror quando seu pai voltasse para casa.
Hannah e seu irmã o assentiram.
Era assim que deveria ser ter um irmã o? Winter duvidava que Brooke estivesse
disposta a limpar um banheiro manchado de sangue por ela. Mas, verdade seja dita, ela
també m nã o teria se oferecido para esfregar o sangue dos ladrilhos para Brooke.
Todos se abraçaram novamente e Winter recebeu alguns tapinhas e apertos també m.
Cristo, essa família nunca conheceu um estranho?
Finalmente, Winter, Hannah e Wesley seguiram pelo corredor e pelo saguã o principal
do hospital.
— Dê -me um minuto — disse Hannah a seu irmã o quando chegaram a um SUV
danificado. — Vou acompanhar Winter até o carro dela.
Elas atravessaram o estacionamento em silê ncio, tã o pró ximas que suas mã os
balançavam a apenas alguns centímetros uma da outra. Depois de segurar a mã o de Hannah
na sala de espera, parecia estranho nã o estender a mã o e entrelaçar seus dedos. Apenas
para confortar sua amiga sensível ao toque, é claro.
Elas pararam na frente do Audi de Winter e ficaram olhando nos olhos uma da outra.
Os de Hannah estavam vermelhos e exaustos, mas brilhando com otimismo renovado,
agora que ela sabia que sua mã e ficaria bem.
— Obrigada — Hannah sussurrou. — Apenas... obrigada. Você nã o pode imaginar o
que significa para mim aparecer naquela sala de espera... embora eu ainda nã o tenha
certeza de como você me encontrou. Você vai ter que me contar tudo quando eu chegar em
casa.
O cé rebro de Winter estava um pouco lento, mas finalmente ela entendeu por que
Hannah insistira em acompanhá -la até o carro.
— Você acha que estou voltando para Portland?
Hannah piscou. — Você nã o está ?
— Nã o estava planejando isso. Sempre quis conhecer a bela cidade de Sunriver.
Um bufo alto escapou de Hannah. — Aposto que você nunca ouviu falar disso antes de
hoje! Sé rio, Winter, eu adoraria ter você , mas você deveria voltar. Já é ruim o suficiente
perder minha parte da herança. Nã o quero que você perca sua metade do pré dio també m.
Winter lançou-lhe um sorriso de tubarã o.
— Você nã o vai.
— Nã o vou... o quê ?
— Perder sua parte da herança. Eu li as letras miú das do testamento  novamente. A
condiçã o diz que temos que passar noventa e dois dias sob o mesmo teto. Nã o diz qual teto.
Hannah colocou a palma da mã o contra a porta do lado do passageiro como se
precisasse de apoio para ficar de pé . — Essa é uma interpretaçã o muito, hum, aventureira.
Winter deu de ombros. — O que é a vida sem um pouco de aventura?
— Winter, nã o posso deixar você fazer isso. Eu quero, mas... É muito arriscado.
— Vale a pena — respondeu Winter suavemente.
Hannah a ficou olhando.
Winter olhou para trá s, igualmente surpresa. De onde isso veio?
— Quero dizer, você pode imaginar eu e Brooke como coproprietá rias? — ela
acrescentou apressadamente. — O pré dio desabaria ao nosso redor porque nunca
concordaríamos
 em nada. Nã o posso correr esse risco.
— Certo. — O fantasma de um sorriso surgiu no rosto de Hannah. — Ok. Deixe-me ir
dizer ao meu irmã o que vou com você .
— Tenho a sensaçã o de que ele já sabe disso. — Winter apontou para um SUV surrado
passando por elas com um Wesley sorridente atrá s do volante. — Ele provavelmente viu
você segurando minha mã o na sala de espera e pensou que é ramos 'colegas de quarto'.
Um rubor cobriu o rosto pá lido de Hannah. — Hum, desculpe.
Winter apertou o botã o para destrancar o carro e abriu a porta do passageiro para
Hannah.
— Está tudo bem — disse ela e percebeu que ela quis dizer isso. Ser confundida como
a namorada de Hannah nã o era tã o ruim.
Capítulo 21
Winter varreu seu olhar sobre Sunriver e os picos das montanhas circundantes.
O sol brilhava em um cé u azul nítido, filtrando-se pela floresta de pinheiros. Cavalos
pastavam atrá s de uma cerca branca e um veado cruzava o caminho pavimentado sem
pressa, como se nenhum humano jamais lhe tivesse feito mal. O cheiro de grama recé m-
cortada vinha de um campo de golfe pró ximo.
A charmosa cidade natal de Hannah parecia tã o irreal quanto sua família. Winter
sempre pensou que pessoas assim e lugares como este só existiam nos filmes da Hallmark.
— O que foi? — Hannah perguntou entre goles do latte de caramelo salgado que ela
comprou em uma das cafeterias da pitoresca vila, onde as pessoas estavam se preparando
para o festival de 4 de julho no dia seguinte.
Winter tomou um gole de seu café preto.
— Nada. Apenas... É interessante imaginar você crescendo aqui, um lugar onde a
maioria das pessoas só vem para passar as fé rias. — Ela estendeu o braço em direçã o a
vá rias cabanas de aluguel e casas de veraneio aninhadas sob pinheiros gigantes.
— Nã o cresci aqui — disse Hannah. — Na verdade, mais ou menos. Nó s só nos
mudamos para cá quando mamã e conseguiu um emprego como gerente no spa quando eu
tinha quatorze anos.
Winter olhou em volta novamente.
— E você odiou? Nã o parece ter muito o que fazer para uma adolescente.
— Você está brincando? Há toneladas de coisas para fazer: caiaque, escalada, esqui,
passeios a cavalo. E com todos os turistas e residentes de meio período, sempre havia
novas pessoas por perto para fazer amizade, especialmente no verã o.
Winter deu um estremecimento exagerado, o que lhe rendeu uma cutucada de
Hannah.
— Eu nã o pensei que você fosse do tipo que gostava de atividades ao ar livre.
— Eu nã o sou, mas você pode fazer todos os tipos de coisas ao ar livre — Hannah
disse com um encolher de ombros.
— Ooh, sé rio? — Winter brincou.
Outra cutucada atingiu seu lado e um tom rosado pousou nas bochechas de Hannah.
Depois de como ela estava pá lida antes, quando elas limparam o banheiro com cheiro
desagradável, foi bom ver um pouco de cor em seu rosto.
— Ha ha. Nã o esse tipo de coisa. Eu quis dizer que passei muito tempo com um livro,
lendo enquanto estava deitada na grama perto dos cavalos... ou enquanto flutuava rio
abaixo em um daqueles tubos que vimos antes. A corrente é suave aqui, entã o nã o é como
se você estivesse praticando rafting ou algo assim, mas uma vez, quando eu estava lendo
um livro particularmente bom, esqueci de prestar atençã o e, quando olhei para cima, já
estava vá rios quilô metros rio abaixo.
Um cavalo branco com grandes manchas marrons esticava o pescoço por cima da
cerca. Hannah fez uma pausa para coçar seu pescoço.
— Ei, Mordedora.
— Você realmente sabe o nome dela?
— Claro que eu sei. Você pode acariciá -la.
Com cuidado, Winter estendeu a mã o para que o cavalo a cheirasse. Ou é isso que você
faz com os cachorros?
Mordedora deu um bufo ú mido, o que fez Winter recuar.
Hannah riu.
— Nã o se preocupe, garota da cidade. Ela nã o vai morder seus dedos.
— Bem, com um cavalo chamado Mordedora, nunca se sabe. — Foi ó timo ver Hannah
rir, mesmo que fosse à s custas dela. Nã o querendo deixar Hannah pensar que ela estava
com medo de um cavalo, ela deslizou a mã o pela bochecha de Mordedora, depois pelo
pescoço.
O cavalo se inclinou com o toque, forçando Winter a colocar algum peso na carícia.
Quando ela deslizou os dedos em sua crina e coçou embaixo dela, Mordedora fez um ruído
baixo que soou como um suspiro satisfeito.
Winter sorriu em triunfo.
— Ei, ela claramente gostou disso. Nada mal para uma garota da cidade, hein?
— Nã o — murmurou Hannah, em um tom que Winter nã o conseguiu interpretar —,
nada mal. Ela observou Winter acariciá -la por mais um tempo, entã o disse — Vamos,
vamos para casa. Quero checar meu pai e ter certeza de que ele está bem.
***
Quando seu pai abriu a porta de vidro deslizante e pisou no deque, Hannah olhou para
cima de onde estava sentada no sofá de vime.
— Ah, entã o foi aqui que minha jaqueta foi parar — ele disse.
Hannah se aconchegou mais profundamente em seu tecido. Quase se esquecera de
como as noites podiam ser frias em Sunriver, mesmo em julho.
— Saí de casa com tanta pressa que nã o trouxe o meu, entã o peguei o seu
emprestado.
Seu pai sentou-se ao lado dela. Na luz fraca da sala de estar, ele parecia abatido e
pensativo.
— Como você está , meu bem?
Hannah apoiou a cabeça em seu ombro.
— Estou bem, mas ficarei ainda melhor quando vir a mamã e amanhã .
— Ela vai ficar bem — seu pai disse, entã o acenou com a cabeça algumas vezes como
se repetisse para si mesmo até acreditar plenamente. — Ela ainda estava bastante
inconsciente por causa da anestesia, mas a ú nica coisa que a preocupava era a bagunça no
banheiro. A propó sito, obrigado por cuidar disso.
— Winter fez a maior parte, para ser honesta.
— Hum. Ela parece um soldado.
— Ela é — disse Hannah. — Ainda nã o consigo acreditar que ela juntou dois mais dois
e nos encontrou, bem quando eu mais precisava dela.
O vime rangeu sob seu pai quando ele se moveu para encará -la mais completamente.
— Eu nã o sabia que você estava saindo com algué m.
Calor correu por ela, afastando o frio.
— Humm! Eu nã o estou. Winter e eu... nó s... — Nós o quê? Havia tanto que poderia ser
dito sobre elas. — Nó s somos amigas.
Seu pai a estudou.
— Entã o você está me dizendo que eu nã o deveria mandá -la buscar bolinhos de maçã
na padaria da rotató ria 8 amanhã de manhã ?
— Pai! Nã o, absolutamente nã o! — Era uma brincadeira que ele pregava em todos os
namorados e namoradas que ela trazia para casa... nã o que houvesse muitos. Sunriver era
famosa, ou talvez infame, por suas rotató rias, numeradas de um a onze. A de nú mero 8
estava faltando, no entanto. Fazia parte do plano original da comunidade, mas nunca havia
sido construída.
Ele levantou as mã os e Hannah ficou feliz em ver um sorriso em seu rosto.
— Tudo bem, nada de bolinhos de maçã . — Ele suspirou. — Eu provavelmente deveria
deixar de comer frituras por um tempo de qualquer maneira. Sem dú vida, o mé dico dirá à
sua mã e para evitá -lo e se ela nã o puder ficar com isso...
Ele també m nã o teria. Aww. Hannah beijou a bochecha envelhecida de seu pai. Ela só
podia esperar que um dia tivesse um relacionamento como o que seus pais
compartilhavam.
Eles ficaram sentados em silê ncio por um tempo, ouvindo os sons noturnos da
floresta de pinheiros ao seu redor e olhando para as estrelas.
— Adoro morar em Portland, mas sinto muita falta das estrelas — disse Hannah.
— Ah, as estrelas? — Ele a cutucou, fazendo Hannah rir como se ela tivesse cinco anos
novamente. — Nã o dos seus pais maravilhosos?
— Sim, sim, eles també m.
— Bem, você poderia visitar com mais frequê ncia. Você e Winter.
— Pai!
— Só estou dizendo que nã o me importaria se você a trouxesse. Nunca vi os filhos de
Sabbie tã o quietos e bem-comportados quanto agora, brincando com Winter.
— O quê ? — A cabeça de Hannah virou e ela olhou pela porta de vidro. Da ú ltima vez
que vira Winter, meia hora antes, ela se retirara
 para um canto sossegado da sala com seu
laptop. Ela disse que precisava verificar alguns anú ncios do Facebook que estava
veiculando, mas Hannah sabia que o que ela realmente precisava era de uma pausa do
adorável, mas caó tico clã Martin.
Agora o laptop estava sobre a mesa, fechado e abandonado.
Winter estava estendida no chã o da sala, ladeada pela sobrinha e pelo sobrinho de
Hannah, uma enorme pilha de peças de Lego na frente deles.
— Uau. — Seu pai apontou para o pré dio que Winter estava montando. — Parece o
pré dio que você herdará . Ela é arquiteta ou algo assim?
Sim, uau. A atençã o de Hannah nã o estava na construçã o de LEGO. Winter ser capaz de
construir uma ré plica exata de seu pré dio nã o a surpreendeu. Mas brincar com os filhos de
Sabbie, especialmente depois de um dia como o que eles tiveram... Foi inesperado... e fofo
como o inferno.
O rosto de Winter era a imagem da concentraçã o. A pequena linha diagonal acima de
seu nariz se aprofundou quando ela acrescentou uma janela saliente ao edifício.
Liv, a sobrinha de cinco anos de Hannah, estendeu a mã o e adicionou um tijolo da cor
errada.
Winter franziu a testa para a peça ofensiva, claramente tentada a substituí-la por uma
marrom avermelhada.
Entã o Benji, de oito anos, adicionou um tijolo amarelo.
Winter passou os dedos por seu cabelo sexy e desgrenhado e olhou para a fileira de
mechas
  marrom-avermelhadas, azuis e amarelas. Finalmente, ela deu de ombros e
acrescentou um tijolo cinza.
Liv a observou por um momento, entã o o removeu e o substituiu por um verde.
A expressã o no rosto de Winter nã o tinha preço.
Hannah começou a rir. Deus, ela precisava disso. Ela se inclinou e beijou a bochecha
de seu pai.
— É melhor eu ir resgatá -la.
Quando ela entrou na casa, Winter ergueu os olhos com uma expressã o que dizia
claramente: Socorro!
Liv correu para Hannah.
— Tia Nini, mostramos a Winter como construir uma casa! Ela nunca brincou com
LEGO antes. — Ela colocou as mã os nos quadris e deu a Hannah um olhar escandalizado.
— Tia Nini? — Winter murmurou para Hannah, sorrindo. Ela aproveitou a
oportunidade para se levantar do chã o e ajeitou as calças como se tivesse rastejado por um
campo.
Winter envergonhada era realmente fofo.
— Na verdade, eu já brinquei, mas já faz muito tempo. — Mais calmamente, Winter
acrescentou — Nã o desde que Julian me disse que eu era muito velha para LEGO quando
tinha doze anos.
— Mas aqui diz de quatro a noventa e nove anos. — Benji mostrou a ela a caixa.
— Você nunca é velho demais para — um bocejo interrompeu Hannah — LEGO. Ou
por ir para a cama antes de todo mundo. Que é o que estou fazendo agora. Estou exausta.
— Sim, já passou da hora de dormir para esses dois també m. — O marido de Sabbie,
Kevin, pousou a taça de vinho e se levantou para levar as crianças para a cama.
Mas Liv se arrastou.
— Tia Nini, posso dormir com você e Winter?
As bochechas de Hannah esquentaram. Por que todos continuavam pensando que ela
e Winter eram um casal e/ou dormiam juntas? Entã o ela percebeu que elas dormiriam
 juntas no mesmo quarto. Tinha sido um dia tã o caó tico que Hannah nã o tinha pensado nos
arranjos para dormir até agora. Todas as outras camas da casa estavam ocupadas, entã o ela
e Winter teriam que dividir a dela. O calor em suas bochechas desceu até envolver todo o
seu corpo.
— Nã o, Liv — disse Sabbie à filha. — Mas você pode dormir no quarto do tio Wes.
— Onde vou dormir? — Winter perguntou quando finalmente ficaram sozinhas.
— Comigo, eu acho. Hum, quero dizer, no meu quarto. — Hannah evitou olhar para ela.
— Desculpe, nã o temos quarto de hó spedes e Wes está dormindo no sofá .
A casa deles nã o era uma daquelas grandes, chiques e modernas que eram alugadas
para turistas. Foi uma das primeiras casas construídas em Sunriver, e Hannah adorou o
quã o aconchegante era, mas agora ela se perguntava o que Winter pensaria de seu quarto
de infâ ncia.
— Nã o me importo — disse Winter enquanto subiam as escadas. — Apenas me
aponte para um canto com um cobertor e eu durmo como pedra.
Em vez de parar no primeiro andar, Hannah a conduziu pela escada estreita até seu
quarto reformado no só tã o.
Algué m, provavelmente o pai dela, já havia puxado o futon, que se transformava em
um sofá e ocupava todo o espaço ao longo de uma parede inclinada. Era amplo o suficiente
para dois, se essas pessoas nã o se importassem de estarem juntinhas.
Hannah realmente nã o se importava. Depois do dia que ela teve, o pensamento de
abraçar Winter e esquecer tudo era o paraíso.
Seu pai també m colocou camisetas para elas dormirem, uma de sua mã e para ela e
outra que tinha uma grande truta na frente, junto com as palavras ``Eu sou
  um ótimo
partido'', para Winter.
Muito sutil, pai.
Winter olhou em volta com sua habitual cara de pô quer.
— Nã o tem muito espaço na parede e teremos que descer para usar o banheiro que
Sabbie e eu dividíamos, mas adorava ter o lugar mais alto da casa só para mim quando
criança.
O olhar de Winter percorreu a estante que havia sido construída em torno de uma
viga de suporte, com pequenas luzes de LED penduradas até o teto inclinado.
— Eu gostei disso. É muito... você . Seus pais deixaram todos os seus quartos do jeito
que estavam quando você s se mudaram?
Hannah assentiu.
— Sim. Eles queriam que ainda tivé ssemos uma casa aqui.
— Huh. — A expressã o no rosto de Winter era a mesma que ela usara em diferentes
momentos do dia enquanto observava Hannah interagir com sua família, como se estivesse
observando as tradiçõ es de uma cultura diferente, algo que ela nunca havia experimentado.
Algué m bateu na porta aberta e Sabbie entrou com um colchã o de ar já inflado
debaixo de um braço e um saco de dormir e um travesseiro embaixo do outro.
— Papai disse que você pode precisar disso, afinal.
— Oh. Hum, obrigada, Sabbie. — Hannah tentou nã o deixar transparecer sua
decepçã o. Ela era adulta e dormia sozinha desde que ela e Max terminaram, dois anos atrá s.
E daí se ela nã o conseguiria dividir o futon com Winter? Pelo menos ela teria uma boa noite
de sono, certo?
***
Winter tinha certeza de que ela adormeceria
  em segundos. Em vez disso, ela se
deitou com os braços cruzados atrá s da cabeça e olhou para as estrelas brilhando sobre
elas atravé s da janela do só tã o. Nã o era o colchã o de ar que a mantinha acordada, já que era
surpreendentemente confortável.
Toda vez que ela começava a cochilar, Hannah se virava no futon ao lado dela.
— Você está bem? — Winter perguntou depois da terceira ou quarta vez.
Hannah congelou. — Sim. Eu simplesmente nã o consigo dormir. Desculpe por mantê -
la acordada. Vou tentar ficar quieta.
Winter rolou de lado e se apoiou em um cotovelo, tentando distinguir o rosto de
Hannah. Mas a lua era apenas um fino crescente, o que nã o permitia que ela visse a
expressã o de Hannah.
— O que há de errado?
— Estou bem. Meu cé rebro simplesmente nã o para com todos os ‘e se’.
OK. Ela tinha que encontrar uma soluçã o para fazer o cé rebro de Hannah se
comportar, caso contrá rio, ambas ficariam acordadas pela segunda noite consecutiva.
Sugerir que ela contasse ovelhas ou imaginasse um passeio relaxante na praia nã o
funcionaria para Hannah e Winter nã o era muito boa em falar sobre o que estava
incomodando Hannah.
O que mais podia ajudá -la a dormir?
Qualquer tentativa de cantar uma cançã o de ninar para ela causaria pesadelos, já que
a voz de Winter soava como o de um corvo com um caso grave de laringite. També m havia
um copo de leite quente com mel, porque para chegar à cozinha teriam que passar pelo
quarto onde provavelmente já dormiam a irmã e o cunhado de Hannah.
A ú nica soluçã o que seu cé rebro indisciplinado poderia encontrar envolvia muita pele
nua.
Ah, cale a boca.
 Hannah com certeza nã o estava disposta a nada disso. Nem Winter,
para ser honesta. Mas talvez sua mente mal comportada nã o estivesse completamente
errada. Algum conforto físico podia ser exatamente o que Hannah precisava agora.
Sem se permitir questionar sua decisã o, Winter abriu o zíper de seu saco de dormir,
levantou-se e colocou seu travesseiro ao lado do de Hannah.
Hannah virou a cabeça. O branco de seus olhos brilhava sob a fraca luz da lua
enquanto ela olhava para Winter.
— O que você está fazendo?
Winter levantou uma ponta das cobertas de Hannah e se deitou com ela, observando-
a o tempo todo em busca de qualquer sinal de que ela nã o seria bem-vinda.
— Abraçando você para que você possa dormir.
Hannah engoliu audivelmente.
— Você nã o precisa — ela sussurrou, mas ela já estava se virando para Winter e se
aproximando.
— Nó s duas precisamos dormir e nã o tenho ideia do que mais posso fazer para ajudar
você a se acalmar. — Winter caiu de costas, surpresa com a facilidade com que ela disse
isso. Normalmente, ela odiava revelar suas inseguranças a qualquer um. Entã o ela deu de
ombros. Esse era o menor de seus problemas agora.
As cobertas farfalharam quando Hannah deslizou para mais perto até ficar encostada
ao lado de Winter. Ela passou um braço ao redor da cintura de Winter sob as cobertas e
apoiou a cabeça em seu ombro.
Era a posiçã o do coala na á rvore, que elas haviam tentado durante a primeira sessã o
de abraços, mas agora parecia muito diferente. Nem se comparava com a sensaçã o de
abraçar Hannah durante a segunda sessã o. Difícil de acreditar que tinha sido apenas dois
dias atrá s. Tanta coisa aconteceu desde entã o. Algo havia mudado entre elas e nã o era
apenas o beijo que haviam compartilhado embaixo da pia.
Ver Hannah com sua família, testemunhá -la sendo forte por eles, entã o desmoronar
nos braços de Winter... Isso criou uma intimidade que foi ainda mais profunda do que
carinho.
Hannah enganchou a perna sobre a de Winter logo acima do joelho. A pele quente e
nua de sua panturrilha roçou a canela dela.
Winter ficou tensa, com medo de como seu corpo reagiria ao ter Hannah tã o perto.
Mas nã o aconteceu, pelo menos nã o da maneira que Winter esperava. Enquanto ela estava
muito consciente de cada centímetro onde seus corpos estavam se tocando, o desejo de
rolar Hannah e beijá -la apaixonadamente estava estranhamente ausente. Tudo o que ela
queria era abraçá -la até que todas as preocupaçõ es desaparecessem e Hannah
adormecesse pacificamente.
Entã o ela deslizou o braço por baixo do travesseiro de Hannah e colocou o outro em
cima do de Hannah ao redor de sua cintura. Ela encostou o rosto na cabeça de Hannah e
inalou profundamente o cheiro de seu cabelo.
Hannah soltou um suspiro que soou como se estivesse prendendo a respiraçã o desde
que recebeu a ligaçã o sobre sua mã e. Sua inquietaçã o parecia se esvair. Ela murmurou algo,
o nome de Winter e algo mais, mas como o rosto de Hannah estava enterrado em seu
ombro, Winter nã o conseguiu entender o que era.
— O que você disse? — ela sussurrou.
Hannah nã o respondeu. Ela já havia adormecido.
Um calor que nã o tinha nada a ver com o calor corporal compartilhado encheu o peito
de Winter. Ela nã o esperava segui-la imediatamente, mas depois de alguns momentos
segurando Hannah, seus olhos se fecharam e ela caiu no sono, embalada pela respiraçã o
tranquila de Hannah.
Apenas uma vez durante a noite, ela acordou sobressaltada e descobriu que elas
haviam mudado de posiçã o e agora ela estava abraçada a Hannah, que segurava sua mã o
esquerda e a pressionava contra a parte superior do peito com as duas.
— Winter? — ela murmurou.
— Estou aqui — sussurrou Winter.
Hannah apertou o braço de Winter com mais força ao redor de si. Sua respiraçã o se
estabilizou em segundos quando ela voltou a dormir.

Capítulo 22
Wes já tinha ido ver a mã e deles mais cedo naquela manhã e garantiu a Hannah que
ela estava indo muito bem, mas quando o cheiro de desinfetante e outros produtos de
limpeza a engolfou,
 ela nã o pô de deixar de engolir nervosamente.
Winter olhou. Por um segundo, Hannah pensou que ela iria pegar sua mã o, mas entã o
ela apenas limpou a garganta.
— Você sabia que nã o existe rotató ria 8 em Sunriver?
Hannah gemeu.
— Ele nã o fez isso!
—Sim, ele fez. Levei meia hora para encontrar a padaria quando me ofereci para pegar
o café para todos mais cedo.
Quando Hannah acordou, Winter tinha ido embora, nã o apenas da cama, mas també m
da casa. Entã o foi por isso que ela demorou tanto para voltar. Hannah presumiu que Winter
precisava de algum espaço depois de abraçá -la a noite toda, e foi ó timo descobrir que nã o
era isso. As sombras escuras sob os olhos de Winter haviam desaparecido, entã o talvez ela
tivesse dormido tã o profundamente quanto Hannah.
— Ele prega essa peça em todo mundo? — Winter levantou a voz para ser ouvida
acima do rangido de seus sapatos no chã o do hospital.
— Nã o, apenas em… — Hannah se deteve antes que as palavras de meus parceiros
 pudessem escapar. — Hum, pessoas que ele gosta. — Ela espiou Winter, que parecia estar
corando um pouquinho.
Quando chegaram ao quarto 121, Hannah parou para deslizar as mã os ú midas pela
bainha da calça jeans.
Winter se aproximou e apertou seu ombro.
Hannah olhou para trá s e encontrou seus olhos. Incrível como os olhos de Winter
podiam ser calorosos, embora ela os considerasse gelados no começo.
— Tem certeza de que quer que eu vá com você ? — Winter perguntou. —Eu ficaria
bem esperando no refeitó rio.
— Nã o. Entre comigo. Quero que conheça minha mã e. — Eca. Ela esperava que isso
nã o soasse muito como se ela quisesse apresentar sua nova namorada para seus pais.
Depois de uma batida rá pida, ela entrou no quarto de hospital de sua mã e, com
Winter seguindo dois passos atrá s dela, oferecendo apoio silencioso.
Sua mã e estava sentada na cama do hospital, apoiada em travesseiros. Ela ainda
estava pá lida, mas seus olhos estavam alertas, e ela imediatamente estendeu o braço que
nã o estava ligado a uma intravenosa para Hannah. Pedaços de fita seguravam compressas
de gaze em seu braço, indicando onde as agulhas estavam antes.
Lá grimas de alívio arderam nos olhos de Hannah enquanto ela corria para ela. —
Mamã e! Como você está se sentindo?
— Me sinto como pareço, imagino — Sua mã e riu.
Hannah a abraçou gentilmente, com cuidado para nã o empurrá -la. — Você parece
bem!
— Bom saber que o motivo de você ser solteira é que você nã o tem ideia de como
elogiar uma mulher. — A mã e retribuiu o abraço com o braço direito, agarrando-se a ela de
uma forma que revelava o medo que sentira ontem, embora tentasse esconder com uma
piada.
Era tã o bom poder segurá -la depois de temer que ela nunca mais pudesse fazer isso.
Finalmente, sua mã e a soltou e olhou para Winter.
— Ah, olá . — Ela olhou para Hannah. — Talvez você nã o seja tã o solteira, afinal. Quem
é ela?
Winter deu um passo à frente e estendeu os lírios amarelos que haviam comprado a
caminho do hospital.
— Winter Sullivan. Prazer em conhecê -la, senhora.
— Connie, por favor. Muito obrigada pelas flores — Sua mã e fez sinal para ela colocá -
las sobre a mesa de cabeceira. — Espere, você é a
 Winter? Colega de quarto de Hannah?
Oh não. Hannah tentou se lembrar do que havia dito sobre Winter a sua mã e. A ú ltima
vez que ela falou sobre Winter regularmente foi durante as semanas em que elas discutiam
constantemente. Ela nã o a havia mencionado ultimamente porque o que ela deveria dizer?
Ela tentou me beijar durante uma sessão de abraços e então eu a beijei debaixo de uma pia
pingando?
Winter assentiu.
— A primeira e ú nica.
— Entã o você veio dirigindo com Hannah desde Portland? Isso foi muito generoso da
sua parte!
— Hum, nã o. Eu vim com Wes, mã e. Winter me localizou mais tarde para que eu nã o
perdesse minha metade do pré dio. — Quando sua mã e semicerrou os olhos para ela,
Hannah acrescentou — Lembra-se da condiçã o da herança? Nada de dormir sob tetos
diferentes e tudo mais?
— Oh meu Deus! — Sua mã e agarrou a mã o de Hannah. —Por favor, nã o me diga que
você ...
— Nã o, mã e. Está tudo bem. Por favor, nã o fique chateada. Pense no seu estô mago, ok?
Sua mã e tocou no tudo que estava ligado ao seu braço. — Eles estã o me enchendo
tanto de drogas bloqueadoras de á cido que meu pobre estô mago nã o conseguiria produzir
uma gota de á cido, mesmo que quisesse — Ela olhou entre Hannah e Winter. — Entã o
você s duas...
— Hum, Winter, você acha que poderia pegar mais á gua para minha mã e? — Hannah
apontou para o recipiente de á gua quase vazio. Ela nã o poderia contar tudo à mã e com
Winter na sala.
— Claro. — Winter caminhou para a porta como se estivesse feliz por escapar dali.
Assim que ela saiu, a mã e de Hannah deu um tapinha na cama ao lado dela.
Ela se empoleirou no colchã o do hospital e gentilmente segurou a mã o que havia
aliviado sua dor tantas vezes.
Sua mã e a estudou da cabeça aos pé s.
— Como você está ?
— Eu? Você é a ú nica em uma cama de hospital!
— E é você que parece... nã o sei, mas tem alguma coisa diferente. É ela, nã o é ? — Sua
mã e acenou com a cabeça em direçã o à porta. — Winter. Eu deveria saber. Normalmente, as
pessoas nã o te irritam tanto como ela fez desde o começo.
Hannah nunca foi capaz de esconder nada dela por muito tempo e ela nã o queria. Na
verdade, ela se doía com a necessidade de lhe contar tudo. Ela procurou as palavras certas
para explicar como elas se aproximaram
 lentamente e Winter começou a se abrir para ela.
— Eu a beijei — ela finalmente deixou escapar.
Sua mã e sorriu como se tivesse suspeitado o tempo todo.
— Nã o posso culpá -la. Você viu aqueles olhos?
Hannah riu trê mula.
— Sim, mã e, confie em mim. Eu os notei.
— Mas? Nã o me diga que ela nã o retribuiu o beijo!
— Nã o, ela retribuiu. — Deus, ela nunca! Hannah pressionou a ponta dos dedos nos
lá bios. — Foi um dos melhores beijos que já dei. Se nã o estivé ssemos meio debaixo de uma
pia, com nossa vizinha idosa por perto, teria sido o melhor beijo da minha vida.
— Debaixo de uma pia? — Sua mã e riu. — E aqui eu pensando que o romance estava
morto.
Hannah olhou para a mã o de sua mã e na sua.
— Winter nã o quer romance — ela disse calmamente.
Sua mã e a estudou com o tipo de olhar que sempre parecia ver os recessos mais
profundos de sua mente.
— E você quer? Com ela?
O coraçã o de Hannah pareceu tropeçar, entã o deu uma guinada em uma frené tica
batida staccato. Por algum tempo, ela tentou se convencer de que Winter nã o era seu tipo,
que ela só tinha tesã o por ela. Mas se a emergê ncia mé dica de sua mã e havia provado uma
coisa, era que a vida era muito curta para mentir para si mesmo. Ela nã o se sentia atraída
apenas pelos deslumbrantes olhos azuis de Winter ou por seu corpo longo e magro, ela era
atraída por quem ela era como pessoa, nã o apenas por sua inteligê ncia seca ou pelo
exterior confiante e ferozmente independente que ela mostrava a todos, mas també m a
bondade e a vulnerabilidade que ela tentava tanto esconder. Aqueles raros momentos em
que Winter se abriu tocaram Hannah profundamente.
— Sim — ela disse calmamente. — Acho que se eu me permitisse, poderia realmente
me apaixonar por ela.
O silê ncio encheu o quarto do hospital.
— Uau — sua mã e finalmente disse.
Sim, uau. Como diabos isso aconteceu?
— Oh, querida, isso é maravilhoso... nã o é ?
— Nã o, mã e, realmente nã o é . Winter nã o está em posiçã o de retribuir meus
sentimentos. Ela foi magoada por pessoas que deveriam amá -la incondicionalmente, e isso
a convenceu de que ela nã o é o tipo de pessoa para relacionamentos. Dois meses atrá s, ela
nem era do tipo amiga!
— Sim, claramente. Todo aquele incô modo de estar lá uma para a outra... Isso
obviamente nã o é coisa dela. Deve ser por isso que ela largou tudo e dirigiu até Sunriver.
— Nã o é tã o fá cil, mã e — Ou era? Winter só precisava perceber que ela já era ó tima
naquela coisa de estar lá por ela?
— Aqui está a sua á gua — disse Winter da porta.
Hannah enfiou os dedos nas cobertas do hospital. Winter tinha ouvido o que elas
estavam falando?
Mas o rosto de Winter nã o revelava nada enquanto caminhava em direçã o a elas,
carregando uma garrafa de á gua. — A enfermeira mencionou que você també m poderia
comer um pouco de gelatina.
— Obrigada. Talvez mais tarde — sua mã e disse. — Você s vã o voltar para Portland ou
vã o ficar por alguns dias?
— Vamos pegar a estrada — disse Hannah. — Nã o queremos arriscar nossa sorte
ficando longe muito tempo e deixar a irmã de Winter descobrir. A menos que você precise
que eu fique um pouco mais?
— Nã o. Sinto que poderia dormir pelos pró ximos dois dias e depois usarei minha
semana neste resort de luxo para colocar minhas leituras em dia — Sua mã e recostou-se
nos travesseiros. — Seus noventa e dois dias terminarã o em pouco mais de um mê s. Até lá ,
estarei em casa e me sentindo melhor e você pode voltar para uma visita mais longa.
Pouco mais de um mês...
  Isso teria sido motivo de comemoraçã o algumas semanas
atrá s, mas agora Hannah nã o queria pensar no que aconteceria quando elas nã o
precisassem mais morar juntas.
Elas fizeram companhia a sua mã e por mais um tempo até que ela bocejou pela
terceira vez, claramente exausta, mas nã o querendo admitir.
Winter parecia tranquila. Nã o que ela fosse tagarela, mesmo em circunstâ ncias
normais. Talvez ela tenha falado demais e precisasse de uma semana sem interaçã o social
para se recuperar. Ou ela estava pensando no fim de seu tempo como colegas de quarto
també m?
Finalmente, Hannah se levantou e deu um beijo carinhoso na bochecha de sua mã e. —
Eu te amo. Por favor, vá com calma, tá ?
Sua mã e assentiu.
— Eu també m te amo. Você s duas dirijam com cuidado.
Quando Winter estendeu a mã o para um aperto, a mã e de Hannah a puxou para mais
perto e deu-lhe um abraço rá pido. — Obrigada por estar lá para ela.
Winter inclinou a cabeça em reconhecimento, mesmo quando ela colocou uma
expressã o de eu quase não fiz nada
.
Mas a lembrança de Winter subindo na cama com ela para abraçá -la ainda estava
fresca na mente de Hannah, aquecendo nã o apenas seu corpo, mas també m seu coraçã o.
Ambas ficaram em silê ncio enquanto caminhavam para o carro.
***
Eram cerca de oito horas quando finalmente entraram na rua. Winter pisou no freio.
— Merda! Claro que ela tinha que aparecer logo agora, de todas as horas!
Hannah seguiu o olhar ardente de Winter.
Brooke estava atravessando a rua, voltando do pré dio para o carro. Ou talvez andar
 nã o fosse a palavra certa. Ela usava salto alto e um vestido preto de gola alta que abraçava
seu corpo esguio, chamando a atençã o de todos no parque pró ximo.
— Oh nã o. — O estô mago de Hannah revirou como se ela també m tivesse uma ú lcera.
— O que ela está fazendo aqui, especialmente em um vestido como esse?
— Esqueça o vestido. Ela veio checar a gente. Aposto que ela fará isso com mais
frequê ncia agora que estamos chegando perto de cumprir a condiçã o de Julian e ela sabe
que seu desafio bobo nã o funcionou do jeito que ela planejou. — Winter tocou a buzina com
o punho, quando Brooke estava prestes a entrar no carro.
Hannah deu um pulo.
— Winter! Dê -me um aviso na pró xima vez que fizer isso. Uma visita ao hospital é
suficiente para esta semana.
— Desculpe, mas nã o podemos deixá -la sair sem nos ver ou ela pode começar a
suspeitar que fomos embora. Melhor nã o arriscar.
Brooke olhou com uma expressã o quase entediada.
Quando seus olhares se encontraram pelo para-brisa, Hannah deu um aceno alegre.
Winter estacionou o carro trê s vagas abaixo do carro de Brooke e elas saíram.
As pernas de Hannah pareciam instáveis ​enquanto ela caminhava em direçã o a
Brooke e nã o era apenas por estar presa no trâ nsito nas ú ltimas quatro horas.
Brooke as observou como uma rainha observando seus sú ditos se aproximarem para
uma audiê ncia.
— Bem, bem, veja o que o gato arrastou — ela falou lentamente.
— O que você está fazendo aqui? — Winter perguntou. — Vestida assim, você nã o
deveria estar em alguma festa chique, bebendo vinho caro com todos os outros figurõ es?
— É para lá que estou indo — disse Brooke, como se nã o tivesse notado o insulto de
Winter. — Mas pensei em parar para checar minha irmã zinha. — Ela estudou suas
camisetas amarrotadas. — O que você tem feito?
— Nada de importante. — O rosto de Winter era um escudo de frieza casual. —
Apenas uma pequena viagem de um dia para Sunriver para visitar a família de Hannah.
Mesmo a maquiagem de Brooke aplicada com bom gosto nã o conseguia esconder o
traço de má goa que passou por seu rosto. — Desde quando você gosta de reuniõ es
familiares? Por que você comemoraria o Dia da Independê ncia com a família de Hannah
quando nunca quis passá -lo conosco?
Quando Winter contou a Hannah sobre crescer como uma criança ilegítima
indesejada e ser arrastada para passar o fim de semana na casa de Jules, Hannah se
concentrou apenas no que isso fez com Winter. Agora ela se perguntava pela primeira vez
como tinha sido para Brooke.
— Só porque o mesmo homem nos gerou nã o nos torna família — Winter disse em
um tom que poderia ter congelado lava.
A boca coberta de batom de Brooke se comprimiu em uma linha vermelho-escura.
— Ah, e os pais de Hannah sã o?
— Sim, mais ou menos. É por isso que fomos lá para o almoço familiar de 4 de julho.
Os pais de Hannah queriam conhecer a mulher com quem sua filha está namorando.
O que? Hannah girou para olhá -la.
Felizmente, Brooke estava fazendo o mesmo, entã o ela nã o pareceu notar a reaçã o de
Hannah.
— Namorando? — Ela pronunciou a palavra como se nã o pudesse se aplicar a sua
irmã . — Você ? E ela?
Um grunhido protetor que soou bastante convincente saiu do peito de Winter. — Nã o
fale sobre Hannah nesse tom, ou eu vou…
— Que tal você s duas nã o falarem sobre mim como se eu nã o estivesse aqui? — Entã o
Hannah percebeu que ela deveria ser a namorada amorosa de Winter. Ela rapidamente
pegou a mã o de Winter, levou-a à boca e deu um beijo carinhoso nos nó s dos dedos. A pele
quente a fez querer esfregar o rosto nela. — Quero dizer, obrigada por defender minha
honra, querida, mas nã o é necessá rio.
— Desculpe. — Winter passou o polegar pelas costas da mã o de Hannah.
Hannah lutou para ignorar a onda de excitaçã o que o toque de Winter trouxe. Era um
jogo perigoso que elas estavam jogando, pelo menos para ela. Mesmo que fosse apenas por
causa de Brooke, nã o parecia falso.
Brooke estudou sua meia-irmã com olhos semicerrados.
— Isso é uma tentativa de colocar as mã os no pré dio inteiro?
Winter enrijeceu e seus dedos apertaram os de Hannah.
— Claro que você pensaria isso. Você nã o consegue imaginar outra motivaçã o alé m do
dinheiro, nã o é ? Você é tã o incapaz de sentir emoçõ es reais quanto seu pai.
— Nosso
  pai — Brooke disparou. — E olha quem fala. Nã o é como se sua mã e o
amasse de verdade. Tudo o que ela amava era ter a atençã o de um homem poderoso... e o
pagamento da pensã o alimentícia dele, é claro.
Winter lançou um olhar assassino para ela.
— Sua pequena…! — Quando Hannah acariciou os nó s dos dedos novamente, ela
fechou a boca. Seus ombros levantaram sob vá rias respiraçõ es. — Você sabe o quê ? Nã o
importa se ela o amou ou nã o ou se Julian foi capaz de amar algué m. Eu decidi que é hora de
sair de suas sombras e apenas viver minha vida.
Uau. Hannah queria continuar observando Brooke para ver se ela acreditava nisso,
mas nã o conseguia desviar os olhos de Winter. Havia mesmo algo para acreditar? Tirando a
cara de pô quer, Winter nã o era uma atriz tã o boa. Isso era real, nã o era? Nã o o
relacionamento de mentira, é claro, mas Winter querendo deixar o passado para trá s.
Hannah desejou que fosse real. Winter merecia ser feliz, mesmo que nã o fosse com ela.
— Agora terá que nos desculpar — acrescentou Winter com frieza — Vamos criar
nossos pró prios fogos de artifício de 4 de julho — Ela se afastou, e apenas o puxã o em seu
braço fez Hannah acordar de seu estupor e correr atrá s dela.
— Você está realmente tentando me causar um ataque cardíaco! — Hannah disse uma
vez que a porta da frente se fechou entre elas e Brooke.
— Desculpe. Eu precisava improvisar — Winter segurou o segundo par de portas
duplas na outra extremidade do pequeno hall de entrada aberto para Hannah, entã o
pareceu notar que ela ainda estava segurando sua mã o e rapidamente a soltou.
Hannah sentiu falta do toque quente imediatamente. Ela se distraiu apertando o
botã o do elevador. Uma vez que as portas se fecharam atrá s delas, ela se apoiou
pesadamente contra a parede do elevador e estudou Winter.
— Isso foi real, nã o foi?
Os mú sculos da garganta de Winter trabalharam enquanto ela engolia. — Nã o, claro
que nã o. Eu só estava tentando con...
— Você realmente quer sair da sombra de seus pais — acrescentou Hannah.
Winter piscou, entã o seu olhar endureceu.
— Quem disse que eu já estive nas sombras deles?
— Besteira. — Hannah fez uma pausa e percebeu que elas estavam representando a
tradiçã o do elevador novamente.
Elas sorriram uma para a outra e a tensã o pareceu se dissipar.
As portas de metal se abriram no ú ltimo andar, mas nenhuma delas se mexeu para
sair.
— Sabe — disse Winter em voz baixa — percebi que nunca vou entender Julian. Eu
nem sei se poderei perdoá -lo. Mas quase perdi uma amizade que é bastante... adequada —
elas compartilharam outro sorriso — porque eu estava tã o focada em odiá -lo. Nã o quero
continuar fazendo isso.
O coraçã o de Hannah pareceu crescer até encher todo o peito.
— Estou tã o feliz por você .
— Sim, bem, chega dessa coisa sensível. — Winter apertou o botã o para abrir as
portas do elevador novamente e entrou antes que Hannah pudesse dizer mais alguma
coisa. — E nã o se preocupe em ter que fingir na frente de Brooke nos pró ximos anos —
disse ela por cima do ombro enquanto destrancava a porta do apartamento. —Ela sabe que
eu nunca quis um relacionamento, entã o ela nã o vai suspeitar se nã o formos mais um casal
feliz na pró xima vez que ela vier.
O coraçã o de Hannah disparou.
— Oh, que bom — ela saiu. E talvez fosse
  bom ouvir um lembrete como esse. Em
Sunriver, parecia que havia algo entre elas... algo sobre o qual poderiam construir um
relacionamento. Mas só porque Winter estava pronta para deixar de lado seu ó dio e
amargura nã o significava que ela estava aberta para começar um relacionamento com ela.
— Você sabe o quê ? Acho que vou tomar um longo banho e depois ir para a cama. Estou
exausta. Boa noite e obrigada novamente. Por tudo. — Ela passou por Winter e atravessou o
corredor sem esperar por uma resposta.
***
Winter ficou olhando para ela. Ela nã o estava preparada para um boa noite tã o
apressado.
  Normalmente, ela ansiava por um tempo sozinha depois de ter passado dias
com outras pessoas, mas agora ela se sentia desapontada por elas nã o jantarem ou
assistirem a um programa de TV juntas.
— Hannah, espere!
Hannah se virou. A expressã o em seu rosto era mais cautelosa do que Winter jamais
vira.
O que tinha acontecido? Brooke era a culpada de alguma forma? Ou era sua ideia
ridícula de fingir que eram um casal? Ela deveria ter inventado outra desculpa, mas foi a
primeira coisa que lhe veio à cabeça.
— Sim? — Hannah disse quando Winter permaneceu em silê ncio.
Os pensamentos passaram pela mente de Winter. Falar com Hannah sempre foi
surpreendentemente fá cil, mas agora ela nã o sabia o que dizer.
—Você vai conseguir dormir?— ela finalmente perguntou. Esta tarde, quando ela
voltou com á gua para Connie, ela ouviu Hannah murmurar algo como ‘nã o é tã o fá cil’.
Aparentemente, algo ainda a incomodava e isso incomodava Winter mais do que ela
gostaria de admitir.
— Eu acho que sim. Ver minha mã e indo tã o bem realmente ajudou — Hannah
hesitou, entã o acrescentou baixinho — E você . Ter você lá ajudou mais do que você jamais
saberá .
— Oh. Que bom. — Winter nã o sabia o que mais dizer. Ou fazer. Ela deveria se oferecer
para abraçar Hannah esta noite, caso os ‘e se’ começassem a correr por seu cé rebro
novamente? Mas Hannah havia dito que provavelmente nã o teria problema em adormecer,
entã o se aconchegar nela era desnecessá rio.
Por que isso a fazia se sentir como uma rainha que perdeu a chave de seu reino? Por
que isso tinha que fazê -la sentir alguma coisa? Talvez ela devesse ir para a cama cedo
també m. Ela claramente precisava dormir.

Capítulo 23
A semana apó s a viagem a Sunriver foi estranha, embora Winter nã o conseguisse
identificar o que havia feito ficar assim.
Elas voltaram à mesma rotina de antes da cirurgia da mã e de Hannah. Entre as
sessõ es de abraços de Hannah, havia a hora do café na cozinha. Elas atualizaram o site de
Hannah juntas e Winter até a arrastou para uma corrida uma vez. Na maioria das noites,
Hannah a mantinha acordada até tarde implorando para assistir só mais um episódio
  do
ú ltimo programa de TV queer que ela havia apresentado a Winter.
Ainda assim, algo estava diferente desde o retorno de Sunriver.
No final da noite de domingo, no meio do final da temporada de Motherland: Fort
Salem
, ela olhou para Hannah e percebeu qual era a diferença: havia pelo menos meio
metro de espaço entre elas!
Dois meses atrá s, ela respiraria melhor se nã o tivesse Hannah em seu espaço pessoal.
Mas agora parecia estranho nã o ter seus joelhos ou ombros encostados quando uma delas
mudava de posiçã o.
Hannah estava recuando porque estava envergonhada por ter confiado tanto no
conforto de Winter durante seu tempo em Sunriver? Ou isso foi sobre o beijo?
Mas por que isso mudaria alguma coisa? Por que elas nã o poderiam ser amigas que se
tocavam casualmente apenas por causa de alguns hormô nios? Ambas eram adultas. A
atraçã o física nã o era grande coisa. A pró pria Hannah dissera
 isso.
Hmm, mas ela disse isso durante uma sessã o de abraços. Claramente, esse era o
contexto em que Hannah poderia aceitar e dar toques com mais facilidade. Embora Winter
nã o fosse fã no início, ela agora podia ver as vantagens do abraço profissional:
proporcionava
 o contato humano com todos os seus benefícios para a saú de, mas sem a
bagagem emocional que o acompanhava. Talvez ela e Hannah estivessem tornando as
coisas mais complicadas do que precisavam e uma sessã o de abraços com suas regras
preexistentes as ajudaria.
Assim que o episó dio terminou e elas se despediram, Winter foi para o quarto e
acessou o site de Hannah em seu telefone.
Alguns toques e uma rá pida olhada em seu calendá rio e ela tinha uma sessã o de
abraço marcada na Toca do Abraço.
***
— Você realmente nã o deveria trabalhar até tã o tarde — Hannah disse quando ela
entrou na cozinha na manhã seguinte.
Winter ergueu os olhos de seu café .
— Trabalhar até tarde? — Ela nã o fazia isso já tinha um tempo, na verdade. Hoje em
dia, quando ela ficava acordada até tarde, era porque passava um tempo com Hannah, nã o
porque estava tentando descobrir a segmentaçã o de anú ncios para um de seus clientes.
Hannah estendeu a mã o ao redor de Winter para pegar a colher e a tigela que Winter
havia preparado para ela.
— Sim. Ajustando o sistema de reservas. Nã o sabia que você ainda estava mexendo
nisso. Tudo o que você mudou, parece estar funcionando. Recebi a notificaçã o.
— Oh — Hannah presumiu que ela estava testando o software de agendamento, como
da ú ltima vez que agendou uma sessã o. — Hum, na verdade, eu nã o estava. Trabalhando até
tarde, quero dizer.
— Boa tentativa. A hora na notificaçã o dizia uma da manhã .
— Sim, mas... Nã o foi trabalho. Nã o foi um teste — Winter passou o dedo pelos restos
de pó de café que haviam caído no balcã o, ainda sem se virar para olhar para Hannah. —
Gostaria de agendar outra sessã o de abraços. A terceira vez é o charme, certo?
Hannah nã o respondeu. O silê ncio na cozinha era tã o profundo que Winter nem tinha
certeza de que ela ainda estava lá .
Os cabelinhos da nuca de Winter se arrepiaram. Ela largou o porta-filtro e se virou.
Hannah ainda estava lá . Ela ficou no meio da cozinha, segurando sua tigela de cereal
vazia.
— Nã o.
A palavra pareceu ecoar pela cozinha.
— Nã o? — Winter repetiu. Abraçadores profissionais acreditavam que todos
mereciam experiê ncias positivas de toque. Eles deveriam abraçar qualquer um que
solicitasse uma sessã o. Por que Hannah a rejeitaria, de todas as pessoas?
— Estou muito feliz que você esteja começando a gostar de abraços e ficaria feliz em
recomendar outro profissional, mas...
— Eu nã o quero outro profissional. — As palavras explodiram de Winter e ela mal se
conteve para nã o acrescentar, eu quero você.
Hannah colocou a tigela na mesa e a deslizou para o meio da mesa como se tivesse
perdido o apetite.
— Sinto muito, Winter, mas nã o posso mais aceitá -la como cliente.
Nã o deveria doer, mas doeu.
—Por que nã o? — Winter perguntou, sua voz á spera.
Hannah estudou a colher atentamente, como se tentasse ver seu reflexo.
—Porque, como abraçadora profissional, tento manter limites saudáveis ​e...
— Você acha que eu ultrapassaria
 seus limites? — A pontada em seu peito tornou-se
uma sensaçã o de punhalada. Antes, Hannah parecia confiar nela para nã o apertar o botã o
de parada de emergê ncia novamente. O que aconteceu para fazê -la perder essa confiança?
— O quê ? Nã o! — Hannah deu um passo em direçã o a ela, entã o parou. — Eu nã o
estou preocupada com você . É só ... Quando eu abraço você , me faz sentir coisas que, hum,
nã o sã o exatamente platô nicas. — Ela espiou o rosto de Winter e depois o chã o.
— Oh — Um sorriso tentou surgir nos cantos da boca de Winter, mas ela o refreou
com todo o autocontrole que pô de reunir. Ela nã o queria que Hannah confundisse alívio
com zombaria dela. — Isso nã o é um problema.
Hannah olhou para cima, os cílios tremulando. Ela parecia quase ferida e Winter nã o
entendia por quê .
— É para mim.
— Entã o, só porque você é a profissional do abraço, você se manté m em padrõ es mais
elevados? Tudo bem se eu ficar excitada quando nos abraçamos, mas nã o está tudo bem
para você ?
Um rubor subiu pelo pescoço de Hannah, entã o se espalhou por suas bochechas.
— Nã o, e-eu... isso nã o é ... quero dizer, sim, mas...
— Relaxe, ok? Saber que você nã o é completamente afetada faz com que eu me sinta
menos esquisita. — É claro que saber que Hannah també m se sentiu atraída por ela
durante o abraço, nã o apenas naquele momento surreal sob a pia, també m tornaria mais
difícil se conter e se comportar na pró xima sessã o, mas ela era adulta. Ela conseguiria. De
alguma forma.
— Eu nã o estava falando sobre isso. — Hannah esfregou o rosto com as duas mã os
como se tentasse tirar a cor escarlate, mas isso só fez com que ficasse um vermelho mais
profundo.
— Você nã o estava?— Winter sentiu como se estivesse respirando atravé s de um
pano grosso e nã o conseguisse inspirar ar suficiente em seus pulmõ es. Excelente. Ela
colocou todas as cartas na mesa, apenas para descobrir que Hannah nã o estava jogando o
mesmo jogo. Agora Hannah definitivamente nunca mais a abraçaria.
— Nã o — disse Hannah. — O que sinto quando nos abraçamos... Nã o é apenas
excitaçã o.
Uma sacudida percorreu Winter, deixando-a atordoada e estranhamente eufó rica. Ela
tentou se livrar disso.
— Sã o endorfinas — ela disse a si mesma e a Hannah. — Apenas a oxitocina que é
liberada quando você está abraçando. É fá cil confundir isso com sentimentos româ nticos.
Foi isso que você disse, certo?
— Sim, eu disse isso, mas...
— Deve acontecer com você o tempo todo... ou talvez nã o o tempo todo, mas aposto
que acontece, com você ficando tã o íntima das pessoas, seu corpo pensa que você deve
estar desenvolvendo um interesse româ ntico. — Jesus, ela estava balbuciando? Ela nã o
balbuciava!
Hannah sorriu melancolicamente.
— Nã o, nunca. Eu me conheço. Eu sei que isso — ela bateu no peito — nã o é apenas
oxitocina. Eu poderia lidar com isso. Mas eu me importo com você , Winter.
Hannah havia dito isso a ela da ú ltima vez que se abraçaram. Mas agora o jeito que ela
disse tinha uma nota diferente. Uma urgê ncia avassaladora tomou conta de Winter, mas ela
nã o conseguia dizer o que desejava com tanta urgê ncia: que Hannah parasse de falar ou que
ela continuasse e dissesse o que Winter achava que ela poderia estar tentando dizer.
— Eu me importo muito, e se eu nã o for cuidadosa... se eu continuar abraçando você ,
isso pode me derrubar e me fazer apaixonar por você .
Tudo dentro de Winter parecia parado, como naquele momento em que a á gua baixa
logo antes de um tsunami, entã o uma onda de choque a atingiu, ameaçando puxar suas
pernas debaixo dela. Ela afundou contra o balcã o atrá s dela e nã o conseguia parar de olhar.
Hannah podia se apaixonar por ela! Ela tentou organizar suas emoçõ es e encontrar as
palavras certas, mas o barulho alto em seus ouvidos tornava difícil pensar.
Era o batimento cardíaco dela, ela percebeu. O maldito ó rgã o martelava contra suas
costelas como se estivesse tentando sair do outro lado. Por um minuto, ela nã o sabia se
estava pulando de alegria ou se ela estava tendo um ataque de pâ nico.
Entã o ela decidiu que era uma mistura de ambos.
Se ela parasse de tentar se enganar, saberia que nã o havia agendado a terceira sessã o
por seus benefícios à saú de. Ela queria estar perto de Hannah e marcar um encontro
amoroso era mais fá cil do que assumir e admitir isso, como Hannah tinha feito. A coragem
de Hannah a surpreendeu. Tornar-se tã o vulnerável era assustador.
As coisas que mais nos assustam são muitas vezes as coisas de que mais precisamos. As
palavras de Hannah ecoaram no cé rebro sobrecarregado de Winter
.
Mas era isso: precisar de algué m... precisar de Hannah era o que mais a assustava. Sua
mã e precisava desesperadamente do amor de Julian, perseguira-o durante toda a vida e
isso nã o lhe valera
 nada alé m de dor e humilhaçã o.
Quando o silê ncio entre elas se estendeu, Hannah acrescentou
— Entã o é por isso que acho que seria melhor se nã o nos aconchegá ssemos mais.
— Nã o — A palavra saiu dos lá bios de Winter como uma pedra caindo em um lago,
espalhando ondulaçõ es pela á gua.
— Nã o? — Hannah repetiu, com os olhos arregalados e o olhar fixo em Winter, como
se tentasse desesperadamente entender sua expressã o facial.
Winter nem sabia que ela havia aberto a boca, mas agora nã o havia como voltar atrá s
e ela percebeu que nã o queria voltar atrá s. Na semana passada, ela disse a Brooke que
estava tentando sair da sombra dos pais. Ela precisava parar de se apegar à má goa do
passado para evitar possíveis má goas futuras. Ela nã o era sua mã e e tinha que confiar em
Hannah para nã o ser como Julian.
Uma mã o pressionou a britadeira em seu peito, Winter se endireitou de onde ela
estava contra o balcã o.
— Nã o — ela disse com mais firmeza. — Eu nã o quero parar de abraçar você .
— Eu també m nã o quero isso, mas tenho que me proteger. — Hannah cruzou os
braços na frente do peito e agarrou os braços com as duas mã os.
— Nã o contra isso. Nã o contra mim
.
Um suspiro de dor escapou de Hannah.
— Winter...
Winter deu um passo para ela, agradecida quando suas pernas nã o cederam.
—Está tudo bem — ela murmurou, meio para Hannah e meio para si mesma. — Sé rio.
Se isso virar paixã o, que assim seja. Esse é um risco que estou disposta a correr.
Hannah a encarou. Seus olhos brilharam, nã o de alegria como Winter esperava, mas
de lá grimas.
Oh não. Por favor. Não lágrimas. Ela já estava bagunçando as coisas. Isso soou muito
unilateral. Como se ela nã o se importasse se Hannah se apaixonasse e tivesse seu coraçã o
partido, contanto que ela pudesse ter seu tempo de carinho.
—Isso nã o saiu certo. Hannah, eu…— Ela se concentrou e deu um salto, tudo para
parar as lá grimas que brilhavam naqueles olhos castanhos-mel. — Eu quero abraçar você .
Nã o como cliente. — Ela passou a língua pelos lá bios secos como o deserto e acrescentou
em um sussurro —Como sua namorada.
Hannah soltou o aperto que tinha em seus braços. Suas mã os caíram e balançaram ao
lado do corpo como se ela nã o tivesse a capacidade de controlá -las. Ela estava muito
ocupada olhando para Winter.
Winter se contorceu. Ela se sentiu nua sob a intensa leitura de Hannah. Nã o o tipo
sexy, infelizmente.
— Você quer ter um relacionamento?— Hannah sussurrou. — Comigo?
Winter lutou contra o impulso de liberar sua tensã o quase insuportável dizendo,
brincando Não, com a Sra. Kline. Nã o queria mais botõ es de parada de emergê ncia.
— Sim. Mas nã o tenho ideia de como fazer isso. Entã o, estou avisando: posso ser uma
merda completa nisso.
Hannah fez um som entre uma risada e um soluço.
— Bem, se você está falando sé rio, eu poderia lhe dar algumas dicas.
— Tã o sé rio como um ataque cardíaco. — Seu coraçã o ainda martelava em seu peito,
entã o um ataque cardíaco podia nã o ser um exagero total.
Elas se olharam e Winter viu seu pró prio choque refletido nos olhos de Hannah. Nós
realmente vamos fazer isso?
Pela primeira vez em sua vida, Winter estava determinada a tentar.
— Entã o, qual é o passo nú mero um?
Hannah jogou a cabeça para trá s e riu, um som tã o alegre que o peito de Winter se
expandiu.
— Você poderia vir aqui e me beijar.
Winter normalmente nã o gostava de receber ordens, mas nesse momento nã o estava
disposta a discutir. Ela estava muito ocupada atravessando a cozinha em duas passadas
longas.
***
A expectativa cresceu no peito de Hannah, tornando difícil respirar.
Isso estava realmente acontecendo? Winter realmente iria...?
Entã o seus pensamentos se desvaneceram quando Winter parou diante dela, tã o
perto que Hannah sentiu o calor que emanava de seu corpo. O cheiro familiar de Winter a
envolveu.
Em vez de reivindicá -la em um beijo apaixonado, Winter estendeu a mã o,
dolorosamente devagar e acariciou com o polegar para cima e para baixo o queixo de
Hannah enquanto olhava profundamente em seus olhos. Foi um gesto tã o terno e íntimo
que Hannah quase se derreteu na hora.
As íris de Winter pareciam queimar intensamente e Hannah se lembrava vagamente
de ter lido em algum lugar que as chamas azuis eram as mais quentes de todas.
Sua respiraçã o engatou quando Winter arrastou o polegar para cima, até o canto de
sua boca. Desde quando esse ponto era tã o sensível ao toque? Mas talvez nã o fosse o local.
Talvez fosse Winter. Todo lugar que ela tocava parecia se transformar em uma zona
eró gena. Quando Winter acariciou o lá bio inferior de Hannah, um arrepio agradável
percorreu seu corpo.
— Winter — Hannah sussurrou. — Por favor.
Com um gemido de resposta, Winter deslizou a mã o, segurou a nuca de Hannah e a
puxou para perto. O tempo pareceu diminuir enquanto ela roçava seus lá bios quentes
contra os de Hannah em um sussurro de um beijo.
Ambas recuaram uma fraçã o e respiraram ao mesmo tempo.
Por um momento, Hannah temeu que Winter pudesse recuar, mas entã o sua boca
estava de volta na dela.
Hannah passou os braços pelas costas de Winter e se perdeu na sensaçã o de seus
lá bios deslizando um contra o outro.
Winter beijou o lá bio superior de Hannah, depois tomou o lá bio inferior entre os dela
e mordiscou-o suavemente antes de acariciá -lo com a ponta da língua.
O calor queimou pelo corpo de Hannah. Ela gemeu contra a boca de Winter e procurou
sua língua com a sua.
Um estrondo baixo escapou de Winter. Ela arrastou as pontas dos dedos pela espinha
de Hannah, provocando faíscas ao longo de seu caminho, entã o colocou as mã os nos
quadris de Hannah para puxá -la para mais perto.
Ainda nã o era perto o suficiente. Hannah passou os dedos pelo cabelo de Winter,
apreciando sua textura macia, e apertou seus corpos um contra o outro. Deus, ela poderia
se afogar em Winter e nos incríveis sentimentos que evocava com seus lá bios e sua língua.
Winter mapeou a curva dos quadris de Hannah com as mã os, depois passou as pontas
dos dedos para frente e para trá s ao longo da bainha da camiseta, como se tentasse deslizar
por baixo para explorar sua pele nua.
Hannah se arqueou contra ela em um encorajamento silencioso.
Em vez disso, Winter se afastou com um suspiro, quebrando o beijo.
Elas se encararam, ambas respirando com dificuldade.
Winter era linda. Suas íris formavam
  ané is finos de azul intenso ao redor de suas
pupilas dilatadas e seu cabelo estava despenteado naquele estilo sexy e bagunçado que
Hannah amava.
Amor? Vamos devagar.
 Hannah sabia que sufocaria Winter se apressasse isso. Embora
Winter claramente dominasse a arte de beijar, ela era nova em relacionamentos. Tornar-se
vulnerável ao admitir que nã o tinha ideia de como fazer isso já havia sido um grande salto
para ela.
— Entã o? — Winter perguntou, sua voz rouca. — Isso é um cheque para a primeira
etapa? — Seus lá bios avermelhados pelo beijo se curvaram em um sorriso ligeiramente
arrogante e Hannah nã o resistiu a inclinar-se para beijá -lo em sua boca.
Antes que seus lá bios pudessem fazer contato novamente, o reló gio de Winter apitou.
Winter desligou o dispositivo como se quisesse matá -lo.
— Merda. Tenho uma chamada de zoom com um cliente em dez minutos e preciso
reler minhas anotaçõ es. Nã o vai dar tempo nem para o café . — Seu olhar foi da boca de
Hannah para a má quina de café expresso, depois para seu escritó rio e finalmente de volta
para os lá bios de Hannah. Com um murmurado Foda-se
, ela se inclinou para beijá -la
novamente.
Os joelhos de Hannah vacilaram, mas ela conseguiu deter o movimento de Winter
para frente com uma mã o na parte superior do peito. Ela deixou a palma da mã o descansar
ali, mas lutou contra o impulso de acariciar a clavícula com o polegar.
— Vá olhar suas anotaçõ es. Levo  café para você em um minuto.
Winter hesitou e Hannah teve a sensaçã o de que nã o era apenas uma relutâ ncia em
parar de beijar e se concentrar no trabalho. Conhecendo Winter, ela nunca havia dado a
ningué m o controle de sua amada má quina de café expresso.
— Eu vi você fazer café uma centena de vezes. Eu sei como fazê r. Confie em mim.
As duas ú ltimas palavras pareciam pairar no ar entre elas.
Por fim, Winter assentiu, roçou os lá bios nos de Hannah em um breve beijo e
caminhou para seu escritó rio com seu típico passo confiante.
Hannah a observou por um momento, entã o desviou o olhar. Sua cabeça ainda estava
girando, nã o apenas pelos lá bios e mã os de Winter sobre ela, mas també m pelas palavras
que ela havia sussurrado antes. Como sua namorada,
 disse Winter.
Risos vertiginosos borbulharam de
  dentro dela. Winter Sullivan era sua namorada!
De alguma forma, elas pularam algumas etapas, como em um encontro. Mas, novamente,
elas já estavam morando juntas, pelo menos por mais trinta e trê s dias. Ela tentou nã o
pensar no que viria depois.
Concentrar-se em preparar o café preto perfeito, a bebida preferida de Winter pela
manhã , era uma boa distraçã o. Ela torceu o porta-filtro com o pó de café na má quina de
expresso, encheu uma xícara exatamente até trê s quartos com á gua quente e entã o apertou
o botã o para adicionar uma dose dupla de café expresso.
A fina camada de creme no topo parecia perfeita.
Ela levou a xícara ao escritó rio de Winter e a presenteou com um sorriso.
Winter ergueu os olhos do arquivo que estava revisando em seu laptop. — Obrigada.
— Ela se levantou para pegar a xícara de Hannah, mas em vez disso segurou as mã os por
alguns momentos.
Cada toque entre elas agora parecia elé trico.
Finalmente, Winter pigarreou.
 
— Sem café com leite para você ?
Hannah balançou a cabeça. Ela nã o precisava de cafeína para ficar ainda mais nervosa.
Os beijos de Winter já tinham conseguido fazer isso.
Winter pegou o copo dela, levou-o aos lá bios, que pareciam mais sexy do que deveria,
e tomou um gole cuidadoso antes de colocar o copo na mesa. Entã o ela deslizou uma mã o
na nuca de Hannah sob seu cabelo e capturou seus lá bios em um beijo suave, mas intenso
ao mesmo tempo.
Quando terminou, Hannah agarrou os quadris de Winter com as duas mã os.
Winter zumbia.
— Delicioso.
— Eu ou o café ?
— As duas coisas — Winter a beijou de novo, apenas um toque de lá bios desta vez,
entã o se afastou e afundou em sua cadeira de escritó rio.
Todo o corpo de Hannah formigava enquanto ela caminhava para a porta. Quando ela
chegou, ela se virou.
O olhar de Winter ainda estava sobre ela. Ela parecia tã o atordoada quanto Hannah se
sentia.
Depois de um momento, Hannah se forçou a quebrar o contato visual. Ela fechou a
porta atrá s de si e afundou contra ela. Uau.
 E agora ela tinha que ir e se preparar para a
sessã o de abraço platô nico que começaria em uma hora.
Ser uma abraçadora profissional era mais fá cil quando ela era solteira.
Uma risada feliz surgiu em seu peito.

Capítulo 24
Winter estava dividida entre terminar o trabalho mais cedo para passar um tempo
com Hannah ou ficar em segurança atrá s de sua mesa por mais algumas horas.
Este era o terceiro dia do relacionamento oficial delas, mas ela ainda sentia como se
estivesse fingindo. Nã o seus sentimentos. Nossa, isso nã o. Toda vez que elas se beijavam, o
que era
 praticamente qualquer chance que elas tinham, seu corpo inteiro formigava
.
Mesmo quando nã o estavam se beijando, tudo parecia mais intenso. Suas coxas se
tocando ao longo de seus comprimentos enquanto assistiam a um programa de TV, um
roçar de suas mã os quando cozinhavam juntas, um leve empurrã o no supermercado
quando Hannah queria que ela pegasse seu cereal favorito na prateleira de cima... Tudo
parecia maior que a vida.
Talvez fosse por isso que Winter se sentia uma farsa. Isso era grande. Intenso.
Importante. E Winter nã o tinha ideia se ela poderia lidar com isso ou, de alguma forma,
encontraria uma maneira de bagunçar as coisas, como seus pais fizeram.
Ela decidiu trabalhar um pouco mais. Se ela estivesse atrá s de sua mesa, pelo menos
nã o poderia fazer nada de errado no departamento de namoradas.
Certo, aquela voz interior irritante que soava como Brooke disse. Ignorar sua namorada
é a maneira de fazê-la feliz.
Por mais irritante que a voz interior de Brooke fosse, ela provavelmente estava certa.
Winter desligou o computador e se levantou.
Só quando ela caminhou até a porta, ela percebeu que todo o seu corpo tinha
enrijecido enquanto ela trabalhava. Ela massageou o ombro direito dolorido enquanto saía
do escritó rio e se dirigia para a sala de estar.
Hannah olhou por cima do celular, onde estava jogando Wordle. O esquilo comedor de
lixo se equilibrava na caneca ao lado dela, mas desta vez, Winter nã o tirou sarro dele. O
sorriso acolhedor que Hannah deu a ela fez Winter se sentir uma idiota por ficar no
escritó rio por tanto tempo.
— Ei. Dia estressante?
Winter se jogou no sofá ao lado dela.
— Nã o. Foi bom. — O trabalho era realmente bom, mas ela nã o podia dizer a Hannah
que o novo relacionamento delas a deixava tensa.
Hannah desligou o telefone e deslizou até ficar sentada de pernas cruzadas, de frente
para Winter. Ela circulou o dedo.
— Inversã o de marcha.
— O quê ?
— Vire-se — Hannah repetiu. — Vou fazer uma massagem em você .
Velhos instintos surgiram, incitando Winter a balançar a cabeça e recusar, mas ela os
reprimiu. Hannah nã o era um caso de uma noite; ela queria tocá -la fora do quarto també m.
Nã o que elas já tivessem se tocado dentro do quarto. Sempre que Winter se sentia
muito fora de controle, ela os desacelerava. Ela sabia que dormir com Hannah nã o seria
apenas sexo. Hannah queria o pacote completo, fazer amor, desnudar as almas e isso era
tã o assustador quanto atraente.
Finalmente, Winter se virou.
Hannah deslizou as mã os quentes por baixo da gola da camiseta de Winter.
— Uau — ela sussurrou enquanto começava a trabalhar habilmente os mú sculos de
Winter. — Seu elevador está muito apertado.
A cabeça de Winter pendeu para a frente enquanto seus mú sculos se transformavam
em massa de vidraceiro.
 
— Hum?
— Oh, desculpe. Esse é o jargã o do massoterapeuta para o elevador da escá pula. Esse
é o mú sculo que vai daqui, Hannah tocou o topo da omoplata de Winter,  até aqui. — Ela
traçou o dedo até o pescoço de Winter.
Esse toque parecia diferente, mais como uma carícia, especialmente quando ela
arrastou uma ú nica ponta do dedo de volta para baixo.
Um arrepio percorreu Winter.
— Desculpe. Eu me distraí por um momento. — Hannah voltou a massagear seus
mú sculos com uma pressã o constante. Seus dedos finos eram incrivelmente fortes.
Winter soltou um silvo quando os nó s de seus ombros se afrouxaram.
— Você é muito boa nisso.
A respiraçã o de Hannah fez có cegas em seu pescoço enquanto ela ria.
— Eu espero que sim. Eu fazia isso para viver, lembra?
— Mmm. Você deveria ter ganhado milhõ es.
— Quem me dera. — Hannah massageou a á rea pró xima à s omoplatas em pequenos
círculos. — Da pró xima vez, farei do jeito certo, com loçã o de massagem e sem a camisa,
mas preciso me arrumar em um minuto.
As visõ es de Hannah tirando a camisa dançaram na mente de Winter, distraindo-a
tanto que levou um minuto para entender o que havia dito.
— Se arrumar para quê ?
— Eu tenho um cliente esta noite.
— Tã o tarde?
— As coisas estã o melhorando graças à sua ajuda com o marketing. Eu nã o queria
dizer nã o a um novo cliente, entã o o chamei esta noite.
— Entendi. — A tensã o que havia diminuído sob o toque experiente de Hannah
inundou de volta os mú sculos de Winter. Ela nã o estava com ciú mes. Na verdade, nã o. Ela
sabia que Hannah nunca cruzaria a linha do platô nico para o eró tico com um cliente. Mas o
pensamento de Hannah tocá -la com tanto amor, entã o se levantar para abraçar outra
pessoa...
Uma raiva feroz borbulhou da boca do seu estô mago. Rangendo os dentes, ela forçou-
o de volta para baixo.
O que você esperava?
 Hannah nã o podia simplesmente desistir de seu emprego agora
que estavam juntas. Ela precisava da renda dessas sessõ es de carinho. A menos que ela
pudesse repor essa renda de alguma forma...
Hannah tentou olhar ao seu redor para ver seu rosto.
— Você está bem?
— Hmm, sim. — A mente de Winter galopava enquanto ela tentava pensar em uma
soluçã o.
Hannah continuou sua massagem suave.
— Vou dar uma festa neste fim de semana, mas no fim de semana seguinte, adoraria
fazer algo divertido com você . Quem sabe? Podemos até nos aventurar e sair de casa.
Winter riu. Era verdade. Ambas haviam se tornado tã o caseiras, completamente
satisfeitas com a companhia uma da outra.
— Encontro marcado.
— Com certeza — Hannah disse, com um sorriso em sua voz. Ela gentilmente
massageou seu pescoço, entã o descansou as palmas das mã os nas costas de Winter
enquanto ela se inclinava para frente e roçava os lá bios no topo de seu ombro.
—  Pronto. Tudo feito. Agora, onde está meu milhã o?
Winter se mexeu no sofá até ficar de frente para ela.
— Desculpe. Nã o tenho dinheiro comigo. Você aceita beijos em vez disso?
Hannah cantarolava, inclinando-se para a frente para que sua respiraçã o provocasse
os lá bios de Winter.
— É minha moeda favorita… pelo menos quando você é a cliente.
Enquanto Winter se aproximava dos centímetros restantes para entregar um
pagamento generoso, todos os pensamentos sobre Hannah ter que ver um cliente logo se
desvaneceram. No momento, era ela quem segurava Hannah, e o resto do mundo deixava de
existir.
***
— Mantenha seus olhos fechados — Winter sussurrou, sua respiraçã o fazendo
có cegas na orelha de Hannah e fazendo-a estremecer. Ela cobriu os olhos de Hannah com
uma mã o. — Sem espiar ou você vai estragar minha surpresa.
O calor de Winter contra suas costas teria feito os olhos de Hannah se fecharem,
mesmo que Winter tivesse tirado sua mã o.
— Por que estou ganhando uma surpresa? Nã o é meu aniversá rio.
— Porque sim — disse Winter. — É o que namoradas fazem, certo?
Sua voz indicava que ela estava sorrindo, mas també m havia algo mais em seu tom,
algo tã o raro para Winter que Hannah precisou de um momento para reconhecê -lo. Ou
talvez ela tenha se distraído com a onda de excitaçã o que a invadiu ao ouvir a palavra
namoradas
.
Fazia cinco dias, cinco dias incríveis, desde que Winter o usara pela primeira vez, mas
ainda assim a emocionava cada vez que se referiam uma a outra dessa maneira.
Elas estavam no meio do corredor quando atingiu Hannah. Essa estranha inflexã o na
voz de Winter era insegurança. A pergunta de Winter nã o tinha sido meramente retó rica;
ela realmente nã o sabia o que namoradas faziam.
Ela parou no meio do passo, fazendo seus corpos colidirem. Sem abrir os olhos, ela se
virou e deslizou os braços ao redor de Winter.
— Eu já te disse…?
Winter envolveu seus braços ao redor dela, uma mã o espalmada contra as costas de
Hannah.
A pressã o de seus corpos fez Hannah esquecer o que estava prestes a dizer.
— Me disse o quê ? — O sotaque divertido de Winter vibrou em Hannah. Ela
definitivamente nã o estava insegura sobre sua capacidade de deixar Hannah sem fô lego.
— Que você é muito boa nisso?
— Nisso?
— No que as namoradas fazem — disse Hannah.
O aperto de Winter em torno dela aumentou.
— Boa? Apenas boa? — Sua confiança habitual estava de volta em seu tom. — Hmm,
parece que vou ter que melhorar meu jogo. Vamos ver se isso ajuda. — Ela a guiou pelo
corredor com uma mã o no quadril de Hannah e a outra ainda cobrindo seus olhos. A mã o
em seu quadril recuou, entã o uma porta se abriu e o toque de Winter voltou.
— Quarto? — Hannah perguntou quando elas entraram.
Winter riu.
— Eu pensei que você nunca iria perguntar.
— Ha ha. — Hannah esbarrou nela com o quadril, depois continuou encostada nela. —
Quero dizer, a surpresa está no seu quarto?
— Veja por si mesmo. — Winter afastou a mã o do rosto de Hannah.
Lentamente, Hannah abriu os olhos.
Elas estavam de fato no quarto de Winter. Parecia exatamente como da outra vez que
Hannah o vira, pelo menos até onde ela sabia. Os detalhes eram um pouco confusos, já que
ela estava focada no corpo seminu de Winter, nã o na mobília.
Uma coisa definitivamente nã o estava lá há dois meses.
No meio da sala havia uma mesa de massagem e nã o uma mesa qualquer. Esta era
sofisticada, com rodas de um lado, um elevador elé trico e um preço que ela nunca poderia
pagar. Ela deslizou os dedos sobre o couro artificial macio como manteiga.
Hannah olhou para ela, depois para Winter.
— O que é isso?
— Uma mesa de massagem — disse Winter com o orgulho de um gato que trouxe um
rato para seu dono. — É elé trica, entã o você pode levantá -la e abaixá -la pressionando um
pedal.
Hannah ainda nã o tinha ideia do que fazer com isso.
— Hum, acho que você realmente gostou daquela massagem no ombro que eu dei em
você .
— Eu gostei, mas a mesa nã o é para mim. É para você . Para seus clientes.
— Meus clientes? — Uma sensaçã o espiral começou no fundo do estô mago de Hannah
quando ela começou a suspeitar onde isso estava indo. — Winter, eu sou uma abraçadora
profissional. Nã o vejo um cliente de massagem há meses.
— Mas agora você poderia. — Winter passou a mã o na mesa de massagem. — Você
ainda é ó tima nisso e agora que nã o está mais solteira, ser massoterapeuta seria muito
menos complicado.
O estô mago de Hannah despencou como se ela tivesse batido em um buraco.
— Menos complicado? Para quem?
Winter franziu as sobrancelhas como se nã o esperasse a reaçã o de Hannah.
Ela realmente pensou que Hannah iria agradecê -la com entusiasmo e deixar seus
clientes imediatamente? Doía pensar o quã o pouco Winter parecia conhecê -la ou respeitá -
la.
— Para você , é claro — disse Winter.
— Nã o, Winter. Você fez isso — Hannah deu um tapinha no rosto acolchoado com o
punho — para você mesma e eu nã o gosto de ser enganada.
Winter cruzou os braços sobre o peito.
— Eu nã o estou enganando você . Eu...
— Comprou uma mesa de massagem que facilmente custa mil dó lares, sem nem
mesmo me perguntar — disse Hannah. — Claramente, você espera que eu use.
Winter franziu a testa para o chã o e chutou uma pedra imaginá ria.
— Eu só quero que você esteja segura. O que há de errado com isso?
Hannah tentou suavizar sua voz.
— Nada. Mas como eu disse antes, nã o preciso que você seja minha guarda-costas.
Alé m disso, já me agarraram e pediram 'um pouco mais' como massoterapeuta també m.
As mã os de Winter se fecharam em punhos ao lado do corpo.
— Nossa. Talvez você precise de uma mesa de massagem que acerte as pessoas
quando você pressiona o pedal.
— Nã o. Eu nã o preciso de uma mesa de massagem. Eu amo ser uma abraçadora
profissional.
— Eu entendo, mas... e quanto a nó s?
— Eu també m amo o que temos. — Hannah rebateu sua resposta no calor do debate,
sem considerar o quã o perto de uma declaraçã o de amor soaria. Rapidamente, ela
acrescentou — Estar em um relacionamento com você é maravilhoso, mas nã o muda nada.
A expressã o de Winter se fechou, mas nã o antes de Hannah vislumbrar um lampejo de
má goa.
Seu coraçã o apertou. Porcaria. Ela deslizou a mã o sobre a de Winter e
cuidadosamente afrouxou os dedos cerrados até que pudesse entrelaçá -los com os seus.
— Eu nã o quis dizer isso. Estar com você muda muitas coisas, mas nã o minha
capacidade de fazer meu trabalho. Você nã o me pediria para desistir se fosse qualquer
outro trabalho.
— Mas nã o é . E por que eu ainda tenho que perguntar? Você nã o deveria querer parar
de abraçar outras pessoas agora que está comigo?
Elas estavam se aproximando do que era realmente o cerne da preocupaçã o de
Winter. Hannah sentiu isso, mas ainda nã o conseguia entender.
Um telefone começou a tocar no corredor.
— É o meu. — Winter deslizou a mã o do aperto de Hannah. — É melhor eu atender.
Pode ser trabalho.
Antes que Hannah pudesse responder, ela estava porta afora, deixando Hannah com a
mesa de massagem e um nó no estô mago.
***
Winter estava respirando com dificuldade quando pegou o telefone, nã o por correr
pelo escritó rio, mas pelas emoçõ es que agitavam dentro dela.
O nome Shanice Burford
 apareceu na tela.
Shan nã o ligava com frequê ncia e nunca se nã o tivesse um bom motivo, entã o, apó s
um momento de hesitaçã o, Winter apertou o aceitar
 e levou o telefone ao ouvido.
— Ei, Shan. O que posso fazer por você ?
— Uau, direto ao ponto, nem me dando a chance de reunir minha coragem. — Shan
riu.
Winter deixou-se cair na cadeira do escritó rio. Por que Shan teria que reunir coragem
para falar com ela?
— E aí?
— Bem, para encurtar a histó ria, nã o tive notícias de Hannah.
O simples fato de ouvir seu nome fazia o pulso de Winter acelerar como uma reaçã o
pavloviana. Estar em um relacionamento fazia coisas estranhas com ela.
— Ela deveria ligar para você ?
— Nã o exatamente, mas eu esperava por isso. Você sabe se ela está saindo com
algué m?
— Uh… — Winter pegou um abridor de cartas para ter algo com que mexer. — Sim ela
está . — Elas tinham acabado de ter sua primeira briga e nada parecia resolvido, mas isso
nã o significava que elas haviam terminado, nã o é ?
Shan suspirou.
— Deve ser algo novo ou ela nã o teria flertado comigo na sessã o de fotos.
— Por favor! Ela nã o flertou com você , você flertou com ela!
— Que ciumenta. Daria para pensar que é você quem ela está namorando.
O abridor de cartas caiu sobre a mesa.
— Winter? Você ainda está aí?
Winter endireitou os ombros. Até agora, ela nã o havia contado a ningué m sobre o
relacionamento delas. Ela realmente nã o tinha
  ningué m para contar. Mas Shan merecia
saber.
— Na verdade, estou.
— Está ? — Shan perguntou.
— Nã o. Sim. Mas eu quis dizer... eu sou a pessoa que Hannah está namorando.
Uma pancada forte fez Winter recuar.
— Você está me sacaneando!
A incredulidade na voz de Shan fez com que Winter tivesse vontade de brigar com ela.
— Ei, eu sou um ó timo partido. Pelo menos é o que dizia a camiseta do pai dela.
— O quê ?
Winter acenou com a mã o.
— Nada, esquece.
— Eu sei que você é um bom partido — Shan disse calmamente. — Eu tentei com
você , mas você nã o estava interessada em desistir do mar aberto e selvagem. O que
aconteceu?
— Julian me forçou a passar um tempo com Hannah. — Winter olhou para o brilhante
abridor de cartas, que lhe mostrou um reflexo distorcido de sua pró pria expressã o de
espanto. Nã o era isso que Julian pretendia que acontecesse o tempo todo, era?
Nã o, nã o poderia ser. A velha raposa nã o poderia prever que elas estariam
interessadas ​uma na outra. Mesmo que tivessem, ele era muito homofó bico e nunca deu a
mínima para a felicidade dela.
— E foi só isso? — Shan perguntou.
— Isso, uma pia com vazamento e algumas sessõ es de abraços — disse Winter com
um sorriso afetuoso. Entã o ela ficou sé ria. — Você está bem com isso? Conosco?
Shan riu.
— O quê ? Você acha que estou com o coraçã o partido porque você está fora do
mercado? Nã o, estou apenas atordoada.
— Isso faz duas de nó s — murmurou Winter. — Mas eu estava falando sobre você
estar bem conosco porque queria convidar Hannah para sair. Quero dizer, eu entendo. Ela é
ó tima.
— Sim, ela tem uma ó tima...
— Ei! — Winter disse bruscamente.
— Personalidade! Menina, acalme-se. O que está te incomodando tanto?
Winter suspirou. Ela deveria contar a Shan? Tudo bem falar sobre problemas de
relacionamento com outra pessoa? Ela ainda se sentia como se estivesse no meio de um
jogo importante sem entender nem mesmo as regras bá sicas.
— O que há de errado? — Shan perguntou. — Você sabe que pode falar comigo, certo?
— Eu só estou... lutando com algumas coisas.
— Tal como?
Winter pegou novamente o abridor de cartas e apertou a ponta contra o polegar. —
Hannah ainda está se abraça com outras pessoas e isso me deixa um pouco desconfortável.
— Ok, muito
 inquieta.
— Conhecendo você , você nã o disse isso a ela.
— Eu disse! Bem, tipo isso. Comprei uma mesa de massagem para ela voltar ao antigo
emprego.
Uma risada incré dula escapou de Shan.
— Talvez seja bom que você e eu nã o tenhamos terminado juntas. Eu poderia ter
desviado de uma bala.
— Ah, vamos lá . Você está me dizendo seriamente que nã o teria nenhuma objeçã o se
sua namorada vivesse abraçada com outras pessoas?
Shan ficou em silê ncio por um tempo.
— Nã o. Eu entendo porque você está lutando com isso, mas você tem que superar
isso.
— Eu? Por que eu tenho que ser aquela que...?
Shan a interrompeu com um tsk
.
— Pare de ser tã o idiota! Você está agindo como se ela estivesse te traindo! É o
trabalho dela!
Winter deixou a cabeça afundar no espaldar da cadeira. Mas era mais do que um
trabalho para Hannah, algo que ela fazia por dinheiro. Ela fazia isso porque a fazia feliz e
Winter se irritava por nã o ser ela a fazer isso. Se ela fosse honesta, isso a assustava.
— Droga — ela murmurou. — Os relacionamentos sempre exigem tanto olhar para o
umbigo?
Shan riu.
— Nem sempre, mas à s vezes sim.
E foi por isso que Winter nunca quis um, até agora. Ela queria que eles funcionassem
mais do que queria evitar toda aquela maldita introspecçã o.
— Desculpe ter que desligar, mas eu tenho que ir.
— Sim. Vá e peça desculpas.
Winter fez uma careta.
— Tchau, Shan. — Ela moveu o polegar para o desligar , entã o reconsiderou. — Shan?
— Sim?
— Obrigada. Você é uma boa... hum, amiga. — Agora ela tinha uma amiga e uma
namorada. Como diabos isso aconteceu?
— A qualquer hora — disse Shan, com um grande sorriso em sua voz.
***
Hannah ficou exatamente onde estava, embora parte dela coçasse para sair e se
esconder em seu pró prio quarto. Mas se ela queria que o relacionamento delas funcionasse,
e ela queria isso desesperadamente, elas precisariam
 limpar o ar e conversar sobre o que
estava acontecendo.
Ela esperava que Winter percebesse isso també m e nã o tentasse se esconder atrá s de
seu trabalho.
Felizmente, nã o demorou muito para que Winter voltasse, pá lida e com o cabelo
bagunçado.
Hannah nã o aguentou. Ela correu para ela, entã o se deteve no ú ltimo momento. —
Você quer ah-?
Antes que ela pudesse terminar a frase, Winter a envolveu em um abraço feroz.
Todo o ar saiu dos pulmõ es de Hannah, mas ela se agarrou a Winter com o mesmo
desespero.
— Eu disse que seria uma merda completa nessa coisa de relacionamento — Winter
murmurou no cabelo de Hannah. — Parece que eu estava certa.
Hannah recuou alguns centímetros para poder olhá -la nos olhos.
— Você nã o é . Você só precisa de um pouco de prá tica. Confesso que estou bem
enferrujada també m. — Ela deslizou as mã os até os quadris estreitos de Winter e apertou.
— Fale comigo. O que te incomoda tanto sobre eu ser uma abraçadora profissional? Espero
que saiba que nunca cruzaria a linha e beijaria ou...
Winter levantou uma mã o para deter as palavras, entã o tocou com os dedos a
bochecha de Hannah.
— Eu sei. — Uma pitada de sua confiança típica brilhou quando ela lançou a Hannah
um sorriso provocador. — Se você conseguiu resistir a mim durante nossa primeira sessã o,
você pode resistir a qualquer um.
— Nossa primeira sessã o... as duas sessõ es... nã o foi como nenhuma das sessõ es com
meus clientes. Espero que você saiba disso també m.
— Nã o? — Algo urgente vibrou na pergunta de Winter e ela examinou o rosto de
Hannah com uma intensidade que Hannah raramente tinha visto, mesmo em Winter.
— Nã o. Abraçar você foi diferente desde o início.
Winter prestava atençã o em cada palavra dela. — Quã o diferente?
Ela precisava disso, Hannah percebeu. Precisava ouvir isso. Hannah tinha perdido isso
antes porque ela estava muito ocupada defendendo seus limites.
— Quero dizer, existem tantas posiçõ es de abraço, né ? — Winter claramente tentou
um tom mais casual e prá tico. — Quando você abraça seus clientes, você usa as mesmas
posiçõ es que usa comigo.
Hannah inclinou a cabeça.
— Sim, mas aposto que você usou a mesma codificaçã o e design bá sicos para o meu
site que usa para todos os seus clientes, certo?
Winter assentiu.
— Entã o meu site nã o é nada especial para você ?
— Nã o, claro que é . É seu — disse Winter como se isso explicasse tudo.
Hannah deu a ela um olhar significativo.
— Entã o… — Winter engoliu em seco. — O que você está tentando me dizer é que só
porque você faz o mesmo com os outros nã o torna nosso relacionamento menos especial?
— Nã o. O que estou tentando dizer é que o que estou fazendo com meus clientes nã o é
nada igual. Pode parecer igual, mas nã o é . Sou amigável com meus clientes, mas nã o sou
amiga deles. Trato-os com amor, mas nã o os amo romanticamente. — Ela olhou nos olhos
de Winter, esperando que ela entendesse porque ela nã o podia dizer muito mais sem
assustar Winter muito cedo.
— Mas nã o é uma atuaçã o — disse Winter, aparentemente alheia ao que Hannah
acabava de insinuar. — Você se importa com eles. — Nã o era uma pergunta.
Hannah sorriu. Afinal, Winter a conhecia muito bem.
— Sim, da mesma forma que um mé dico ou terapeuta se importa com seus pacientes.
Mas é uma via de mã o ú nica.
— Sem dar e receber — Winter repetiu o que Hannah lhe disse semanas atrá s.
Hannah assentiu.
— É sobre as necessidades deles, nã o as minhas.
— Necessidade. — Winter prolongou a palavra como se a examinasse ao microscó pio.
Ela se afastou um pouco mais e enfiou as mã os nos bolsos da calça jeans. Sua boca se abriu,
mas entã o ela hesitou.
Hannah pegou sua mã o, puxou-a para a mesa de massagem e puxou-a para baixo até
que elas se sentassem lado a lado.
Winter deu um tapinha no estofamento extragrosso.
— Pelo menos serve para alguma coisa — ela disse com um sorriso torto. Entã o
desapareceu e ela estudou seus dedos entrelaçados. — Entã o, se houvesse algo que você
precisasse... algo que você nã o está recebendo de mim... você me diria, certo? Você nã o iria
apenas…
Trair? Hannah quase deixou escapar, mas ela se conteve. Nã o, nã o era sobre isso. Isso
era mais fundo. Ela procurou o olhar ardente de Winter.
— Nã o faria o quê ? Por favor, Winter. Diga-me o que realmente a preocupa tanto.
Winter puxou suas mã os unidas para sua coxa e examinou cada um dos dedos de
Hannah com grande interesse.
— Acho que parte de mim se pergunta se você nã o quer desistir do abraço
profissional porque preenche uma necessidade emocional que nã o consigo atender.
Um som rouco escapou de Hannah. Era disso que Winter tinha medo? Nã o era nada
sobre Hannah. Era sobre suas pró prias inseguranças... e mais uma vez, provavelmente tinha
a ver com Jules, que nã o encontrou satisfaçã o em seu casamento, entã o ele procurou em
outro lugar.
Hannah colocou as mã os delas em seu pró prio colo e apertou mais.
— Nã o, claro que n… — Ela parou e reconsiderou. — Você sabe o quê ? Isso nã o é
verdade, na verdade.
A mã o de Winter endureceu em seu aperto e Hannah embalou-a suavemente em
ambas as dela.
— Eu procuro meus clientes para atender a uma necessidade que você nã o pode.
Chama-se realizaçã o profissional. A sensaçã o de estar bem no serviço que presto. De poder
ajudar um cliente. Provavelmente a mesma coisa que você procura em seu trabalho.
Winter ergueu suas mã os e as pressionou contra o peito, diretamente acima de seu
coraçã o palpitante. Entã o ela começou a rir. Era um som de puro alívio.
— Jesus, Ana! Você nã o poderia ter começado com isso? Você quase me matou de
susto!
— Eu sinto muito. Acho que preciso de mais prá tica també m.
— Bem — disse Winter com voz crua — estou disposta a ser sua parceira de treino se
você estiver disposta a ser a minha.
Os olhos de Hannah ardiam. Seu peito queimava també m, mas ela nã o podia deixar de
sorrir.
— Combinado.
Sentaram-se na mesa de massagem lado a lado, seus corpos se tocando do tornozelo
ao ombro, os dedos segurando firmemente um ao outro.
— Hannah? — Winter murmurou depois de um tempo.
Hannah nã o levantou os olhos de onde sua cabeça estava apoiada na de Winter. —
Hum?
— Você tem algum amigo massoterapeuta?
— Mantive contato com alguns — respondeu Hannah. — Por quê ?
Ela sentiu o sorriso de Winter contra sua bochecha. — Porque tenho uma mesa de
massagem para vender a um preço muito bom.
Capítulo 25
Na noite da sexta-feira seguinte, Winter estacionou seu carro na frente do pré dio e
saltou. Ela correu para abrir a porta do passageiro e estendeu a mã o.
Hannah pegou e sorriu. Ela sabia que Winter agiria assim em um encontro. Apesar de
sua pose durona, havia algo incrivelmente doce nela e isso fez Hannah se sentir especial por
ser a ú nica que conseguiu ver esse lado de Winter.
— O quê ? — Winter perguntou.
— Nada — disse Hannah, ainda sorrindo. — Tive momentos maravilhosos.
— Teve?
Hannah saiu do carro. Em vez de soltar a mã o de Winter, ela a puxou para mais perto e
deu um beijo em seus lá bios.
— Sim. Você nã o?
Elas foram assistir a uma comé dia de ficçã o científica que as fez rir, intercalados com
algumas cenas tensas de batalhas espaciais, que deram a ela uma desculpa para agarrar a
mã o de Winter. Nã o que nenhuma delas precisasse de uma desculpa. Mesmo durante o
jantar em um restaurante Sri Lanka, elas se deram as mã os vá rias vezes.
Winter assentiu.
— Foi..
— Adequado — elas falaram juntas.
Elas riram enquanto atravessavam a rua, ainda de mã os dadas.
Claro, Hannah sabia que tinha sido muito melhor do que adequado. Ela conseguiu
relaxar sem a necessidade usual de impressionar uma nova pessoa com quem estava
namorando, enquanto també m desfrutava da emoçã o que enchia o ar entre elas.
Na porta da frente de seu pré dio, ambas pegaram suas chaves, entã o pararam e
sorriram uma para a outra enquanto suas mã os roçavam na fechadura.
Com um movimento do braço, Winter indicou a Hannah que avançasse.
— Você sabe de uma coisa? — Hannah disse enquanto destrancava
  a porta e elas
atravessaram o pequeno saguã o juntas. — Gosto muito de morar com a pessoa com quem
estou saindo, mas tem uma grande desvantagem.
Winter apertou o botã o do elevador, depois se voltou
  para Hannah e arqueou as
sobrancelhas.
— Qual é ?
— Nã o tem beijo de boa noite na porta.
— Quem disse que nã o tem? — Antes que Hannah pudesse responder, Winter a puxou
para dentro do elevador e a tomou em seus braços. Ela a beijou, gentilmente a princípio,
entã o com uma paixã o crescente enquanto Hannah deslizou seus braços ao redor do
pescoço de Winter.
Hannah mal notou as portas do elevador se fechando. Seus corpos pressionados
juntos, elas afundaram contra a parede de metal e Winter bateu no botã o do ú ltimo andar
sem tirar os lá bios de Hannah por um segundo sequer.
A contradiçã o do metal frio contra suas costas e o corpo muito quente de Winter
contra sua frente fez Hannah perder os sentidos. Seus quadris subiram contra Winter,
criando espaço suficiente para Winter deslizar uma mã o ao redor da curva de seu quadril e
sob a bainha de sua camisa.
A mã o de Winter em sua pele nua fez Hannah gemer em sua boca. Ansiosa para sentir
mais dela, arrastou uma mã o para baixo e puxou a camisa de Winter até que ela pudesse
tocar sua pele també m. Hum, tão macia.
Com um ping, as portas do elevador se abriram no ú ltimo andar.
Hannah ficou tentada... muito tentada... a arrastar Winter para fora do elevador, para o
apartamento delas e direto para a cama. Mas ela sabia, apesar do que seu corpo poderia
dizer, nã o era o momento certo. Ela iria parar. Em um segundo.
Antes que ela pudesse, Winter foi quem quebrou o beijo.
— Espere — ela murmurou contra os lá bios de Hannah, sua respiraçã o tã o irregular
quanto a dela. — Nã o acredito que estou dizendo isso, mas acho que devemos conversar.
— Sim, acho que deveríamos. — Ainda com os joelhos fracos, Hannah seguiu Winter
até o apartamento.
A tensã o de um tipo diferente permaneceu entre elas enquanto elas se acomodavam
em lados opostos do sofá .
Hannah instantaneamente sentiu falta da proximidade de Winter, mas era menos
tentador assim.
Elas se entreolharam, ambas claramente esperando que a outra começasse.
— Sobre o que você queria conversar? — Hannah finalmente perguntou.
— Sexo — disse Winter. — Você ?
Sua franqueza assustou Hannah, mas de certa forma, també m foi um alívio.
— També m. Ou melhor, eu queria falar sobre nã o fazermos…. — Ugh, isso soou errado.
— Nã o quero dizer que nã o devamos fazer sexo. Nossa, nã o. Só ... ainda
 nã o. Quero você .
Você provavelmente poderia dizer um segundo atrá s o quanto. Mas o que eu desejo ainda
mais é a intimidade emocional e eu realmente gostaria de levar as coisas devagar para ter
certeza de que estamos construindo uma base só lida primeiro. Conheço seus
relacionamentos anteriores...
Winter balançou a cabeça com firmeza.
— Nã o houve relacionamentos anteriores.
— É o que eu quero dizer. Tudo o que você tinha eram encontros de uma noite,
focados em algumas horas de prazer físico. Eu quero mais do que isso.
— Acho que nã o vou terminar com você em algumas horas. — A voz de Winter baixou
para um tom sedutor e seu olhar se tornou ardente. Ela piscou como se para limpar sua
mente de sua névoa luxuriosa. — Eu nã o quis dizer isso. Tudo bem, eu quis. Mas eu també m
quis dizer que... nó s... nã o é uma coisa casual para mim també m. É por isso que eu queria
sugerir esperar um pouco també m.
Hannah nã o podia acreditar. Elas estavam na mesma pá gina o tempo todo?
— Sé rio?
— Mm-hmm. Embora meu corpo esteja em feroz oposiçã o a esse plano.
Hannah riu.
— Sim, o meu també m nã o está sendo muito fã disso. Mas acho que precisamos de
um plano. Caso contrá rio... quero dizer, nó s moramos juntas. Nã o damos boa noite na porta.
O que está nos impedindo de transformar um ou dois beijos durante a noite da Netflix em...
bem, uma noite em que zero Netflix está sendo assistido?
Uma carranca feroz se formou no rosto de Winter.
— Entã o beijar no sofá nã o é permitido?
— Nã o! Isso é . Definitivamente é — Hannah se apressou em dizer.
Um sorriso brincalhã o substituiu a carranca de Winter.
— Que tal beijos no elevador?
— Permitido e incentivado — disse Hannah.
— Que bom. Porque gosto mais da nossa nova tradiçã o de elevador do que da antiga.
Hannah riu.
— Eu també m. Vamos devagar com todo o resto.
— Concordo — Winter deu um tapa na pró pria coxa como se obrigasse sua libido a
submeter-se. — Venha, entã o. — Ela pegou a mã o de Hannah e a puxou do sofá .
— Hum, o que você está fazendo? — Hannah perguntou enquanto Winter a conduzia
pelo corredor. — Nã o concordamos em nã o levar isso para o quarto?
— Eu estou levando você para casa.
Hannah se derreteu com tanta fofura.
— Todo o caminho de casa? — ela perguntou com um sorriso provocador.
Winter assentiu.
— É claro. Eu sei como tratar minha namorada.
— Você sabe. Você realmente sabe. — Ela parou em frente à porta do quarto e passou
os dedos pelo cabelo de Winter.
Winter abaixou a cabeça e entã o Hannah teve o melhor beijo de boa noite na porta de
casa de sua vida.
***
Na tarde seguinte, Valentina mergulhou na caixa de rosquinhas que Hannah havia
colocado entre elas no sofá .
— O quê ? — ela murmurou com a boca cheia de rosquinha. — Por que você está
sorrindo para mim assim?
— Porque estou feliz que você voltou e porque seu sotaque sempre fica mais forte por
um tempo depois que você volta do Brasil. — Ela també m estava sorrindo muito
ultimamente, mas Hannah nã o podia dizer isso porque ainda nã o teve a chance de contar a
Valentina sobre seu novo relacionamento.
Valentina assentiu com orgulho.
— É por isso que tenho que ir todos os anos. A sensualidade precisa ser mantida.
— Ah sim, sensualidade. — Rindo, Hannah apontou para o rosto manchado de glacê
de sua amiga.
Sem se incomodar, Valentina deu outra grande mordida em seu donut de manjericã o e
bourbon de mirtilo.
— Entã o — ela disse assim que engoliu em seco — o que você tem feito enquanto eu
estive fora? Como vã o as coisas com aquela sua colega de quarto gostosa?
Era a pergunta padrã o de Valentina, mas agora a resposta padrã o de Hannah,
insistindo que ela nã o achava Winter nem um pouco quente, nã o se aplicava mais. Verdade
seja dita, Hannah esperava ansiosamente pelo retorno de Valentina de sua viagem de trê s
semanas ao Brasil. Ela estava louca para contar a algué m sobre elas e queria que sua
melhor amiga fosse a primeira a saber.
Valentina sentou-se ereta no sofá ao lado de Hannah.
— Você está toda vermelha de vergonha! Isso significa…? De jeito nenhum!
Hannah se abanou.
— Ah, claro.
Com um gritinho encantado, Valentina pegou Hannah pelos ombros e saltou para
cima e para baixo, sacudindo as duas.
— Detalhes! Todos eles! Pronto
!
— Se acalma. Nã o há detalhes como esse... ainda. — Exceto por beijos cada vez mais
quentes. Seu plano de levar as coisas devagar definitivamente nã o seria fá cil de seguir.
Valentina gritou novamente.
— Ainda! Eu sabia! Vamos, conte-me tudo.
Foi o que Hannah fez, menos alguns detalhes para proteger a privacidade de Winter.
Assim que Hannah terminou, Valentina caiu de costas e jogou os pé s no colo de
Hannah.
— Nossa
! Entã o, é tipo, um relacionamento totalmente comprometido? Ou mais uma
situ-relaçã o?
— Situ-relaçã o? — Hannah massageou os pé s cobertos de meias de Valentina. — O
que raios seria isso?
— Meio como um relacionamento, só que mais tranquilo. Sem ró tulos. Sem
compromisso... ou pelo menos você nã o falou sobre isso ainda.
Isso nã o era o que elas eram, certo? Winter disse que queria mais do que um caso de
uma noite. Mas o que exatamente mais
  para ela? Elas nã o conversaram sobre o que
aconteceria quando os noventa e dois dias terminassem. Os termos da relaçã o de confiança
criaram um espaço seguro para elas, como um período de experiê ncia em que poderiam
explorar sua conexã o sem nenhuma pressã o, porque morar junto nã o era uma escolha. Mas
em apenas mais trê s semanas, a condiçã o de Jules estaria cumprida e entã o elas teriam
decisõ es a tomar. Hannah sabia o que queria, mas Winter aceitaria um compromisso de
longo prazo, especialmente tã o rá pido e mesmo que ela o tivesse evitado a vida toda?
Valentina cutucou a barriga de Hannah com os dedos dos pé s.
— Terra para Hannah!
Hannah continuou apressadamente a massagem nos pé s.
— Desculpe. Eu me afastei por um momento. Nã o acho que seja uma situ-relaçã o.
Quero dizer, Winter me chamou de namorada vá rias vezes.
O sofá balançou sob as risadas de Valentina.
— Ai meu Deus,
 você é tã o fofa! Você brilha toda vez que diz o nome dela e você sorriu
como uma criança no Natal quando mencionou que ela te chamou de namorada
.
— Nã o — disse Hannah.
— Sim! Admita, você está de ponta-cabeça!
Hannah agarrou os pé s de Valentina. Nã o havia como negar. Nã o era apenas uma
pequena paixã o por ela. Seus sentimentos por Winter se aprofundavam a cada dia que
passavam juntas.
— Shh! Winter está em casa e eu ainda nã o disse a ela que estou — ela olhou para o
corredor e baixou a voz — apaixonada por ela.
— Você vai dizer? — Valentina perguntou.
— Sim. Quero dizer, eventualmente. Nã o tã o cedo, no entanto. — Winter
provavelmente nã o estava pronta para ouvir. Levar lentamente, nã o apenas a parte física,
mas també m a parte emocional de seu relacionamento provavelmente foi uma boa ideia.
Valentina soltou um assobio de admiraçã o.
— Você tem ová rios, garota! Eu ficaria com muito medo de que ela me encarasse com
aquele olhar frio dela e dissesse 'Que bom para você .'
— Nã o, ela nunca faria isso, mesmo se ela — Hannah mordeu o lá bio, nã o querendo
para dizer as palavras,
  não me amasse de volta. Como Valentina poderia pensar isso de
Winter? Esperançosamente, ela a conheceria melhor no futuro e aprenderia a olhar alé m de
suas intimidantes paredes de gelo.
— Vou ter que acreditar na sua palavra— Valentina a cutucou novamente. — Por que
você nã o a traz para a noite de jogos esta noite para que ela possa conhecer a gangue?
Ana hesitou. Winter estava pronta para isso?
Antes que ela pudesse decidir, passos se aproximaram e Winter apareceu na sala.
Quando viu Valentina, ela parou na porta. Ela pegou as mã os de Hannah nos pé s de
Valentina, mas sua expressã o era ilegível. Ela nã o estava com ciú mes, estava? Hannah
sempre foi afetuosa com seus amigos e nã o planejava mudar isso.
Valentina ergueu as sobrancelhas para Winter como se algo escandaloso estivesse
acontecendo na sala.
— Comporte-se!— Hannah beliscou os dedos dos pé s.
— Está bem, está bem — Valentina abaixou as pernas e sentou-se. — Ei
, Winter.
Entã o, você come pizza?
— Só quando estou sem gatinhos recé m-nascidos — Winter respondeu com uma cara
sé ria.
Hannah começou a rir, principalmente com a expressã o horrorizada no rosto de
Valentina.
— Ela está brincando.
— Estou — disse Winter. — Demora muito para tirar todo aquele pelo dos meus
dentes.
Agora os lá bios de Valentina se contraíram.
— Bem, se suas limitaçõ es dieté ticas felinas permitirem, você quer se juntar a nó s
para pizza e jogos de tabuleiro hoje à noite? Adoraríamos conhecê -la melhor.
Winter arqueou as duas sobrancelhas.
— Hum, eu contei a Valentina sobre a gente. Espero que esteja tudo bem.
A cara de pô quer de Winter, aquela que ela usava com quase todo mundo, permaneceu
firme no lugar, mas os mú sculos finos ao redor de sua boca suavizaram um pouquinho.
Uau.
 Winter realmente havia gostado dela ter contado à sua amiga!
— Brilhando de novo — sussurrou Valentina.
Hannah a ignorou.
— Está tudo bem — disse Winter. Para Valentina, ela acrescentou — Eu
  estarei lá .
Devo... devemos levar alguma coisa?
A vertigem tomou conta de Hannah e ela nã o se importava se estava brilhante ou
radiante ou ambos. Winter iria para a noite de jogos com a turma e ela havia dito nós
,
reconhecendo o relacionamento delas na frente de Valentina! Podia ser uma coisa pequena,
mas Hannah sabia que, para Winter, era enorme.
— Talvez um pouco de vinho, se você nã o gostar de cerveja — disse Valentina. — E
certifique-se de usar muitas camadas de roupas.
Hannah lançou-lhe um olhar interrogativo. Por que Winter teria que usar camadas de
roupas? Ela a preferia em uma camisa de botã o que revelava um V de pele nu e o recorte
sexy na base de sua garganta.
— Assim você nã o perderá tã o rá pido no strip poker — Valentina disse com um
sorriso.
Hannah a empurrou de brincadeira.
— Nã o dê ouvidos a ela. Estamos jogando Catan
, nã o strip poker.
Winter passou o olhar pelo corpo de Hannah.
— Que pena — disse ela e saiu.
Hannah se abanou. A noite do jogo prometia ser interessante.
***
Winter deu uma olhada no longo espelho pendurado no corredor e puxou a gola de
sua camisa branca e engomada. Ela sentiu mais do que ouviu Hannah atrá s dela.
— Eu nã o estou muito vestida, estou?
— Vista o que for mais confortável para você — Hannah disse, como ela tinha feito
nas outras duas vezes que Winter tinha perguntado. Ela deslizou os braços em torno de
Winter por trá s, beijou seu ombro por cima da camisa e procurou seus olhos no espelho. —
Você está nervosa?
— Nã o, claro... — Winter se conteve. Deixar Hannah ver suas inseguranças, mesmo as
mais pequenas, ainda era aterrorizante, mas cada vez que ela fazia isso, as aproximava
mais.
Mmm, muito mais perto. Hannah estava pressionada contra ela com tanta força que
Winter sentiu seus seios macios em suas costas.
— Nã o estou nervosa em si, mas sei que seus amigos sã o importantes para você ,
entã o estou tentando causar uma boa impressã o.
Hannah beijou seu pescoço, enviando arrepios em sua pele.
— Seja você mesmo.
Esse era o problema. Winter sabia que ela nã o se encaixava muito com os amigos
afetuosos de Hannah. Ela havia aprendido cedo em sua vida a nã o se importar, mas agora se
importava.
— Nã o se preocupe. Eles vã o gostar de você .
— Hum. Mas nã o tanto quanto gosto do seu vestido. — Winter voltou-se sem se
libertar dos braços de Hannah.
Hannah olhou para si mesma.
— Sé rio? Nã o tem nada especial.
Se mais algué m o estivesse usando, Winter poderia ter concordado. Era um vestido
jeans casual com mangas curtas. À primeira vista, parecia uma camisa muito longa para
ela... como se ela a tivesse emprestado do pró prio armá rio de Winter, e talvez fosse por isso
que Winter a achava tã o sexy. Ou podiam ser os botõ es na frente ou o cinto de brim que ela
podia abrir com um ú nico puxã o. Ou talvez fosse a mulher que o usava. Winter desistiu de
sua aná lise.
— Você está gostosa — Sem dar chance a Hannah de protestar, ela abaixou a cabeça e
a beijou.
Hannah respondeu imediatamente, avançando contra ela. Com as duas mã os no
cabelo de Winter, ela aprofundou o beijo.
Os beijos de Hannah deixavam seu corpo tremendo e sua cabeça girando. Finalmente,
Winter afastou os lá bios. Ela realmente deveria pisar no freio. Elas tinham que sair em um
minuto ou estariam atrasadas ​para a noite de jogos. Mas Hannah estava tã o linda, toda
corada, com os lá bios avermelhados, que Winter nã o resistiu em afastar o cabelo do lado do
pescoço para que ela pudesse beijá -la ali també m.
O pequeno gemido sexy que escapou da garganta de Hannah fez Winter se perguntar
o que mais ela poderia fazer para provocar ruídos como este e como Hannah soaria quando
ela gozasse.
O barulho do telefone de Hannah era como um balde de á gua gelada que algué m havia
derramado sobre suas cabeças.
Hannah gemeu, agora parecendo mais frustrada e menos sexy. Ela puxou o telefone da
bolsa de lona desbotada pendurada em seu peito.
— É Valentina. Lembrando-me de trazer vinho, se quiser. Costumamos beber cerveja
na noite de jogos.
Deus, os amigos de Hannah pareciam pensar que ela era uma bebedora de vinho
mimada e rica de quarenta dó lares a taça, como Brooke.
— Quem precisa de vinho? — ela resmungou — Ou amigos?
Mas depois da briga na semana passada, ela sabia que Hannah sim. Nem mesmo o
melhor parceiro poderia satisfazer todas as suas necessidades e ela estava aprendendo a
aceitar isso.
Hannah rapidamente a beijou mais uma vez, entã o pegou sua mã o e a puxou em
direçã o à porta.
***
Um cara careca e corpulento na casa dos cinquenta abriu a porta.
Winter olhou para ele, depois para Hannah. Elas estavam na casa errada?
A gargalhada estrondosa do cara ecoou pela vizinhança.
— Deixe-me adivinhar... Ningué m te contou que Tammy é a hé tero do grupo e casada
com esse velho aqui? Entrem, você s duas.
Hannah entrou na casa.
— Oi, Frank.
Ele deu um abraço gentil em Hannah, embalando-a contra seu ombro enorme, entã o
estendeu a mã o na direçã o de Winter.
— Você deve ser Winter. Eu sou Frank. Bem-vinda.
Eca. Abraços. A noite nã o começou bem.
Mas ele nunca fez contato. Em vez disso, deixou cair um braço e ofereceu a mã o a
Winter para um aperto.
Foi o mesmo com os outros amigos de Hannah quando elas entraram na sala de estar.
Apertos de mã o e sorrisos calorosos por toda parte, até mesmo de Max, ex de Hannah, mas
ningué m tentou abraçá -la.
Ah. Hannah deve ter instruído seus amigos. Winter agradeceu. Majoritariamente. Uma
pequena parte dela també m estava irritada, sem ao menos saber se era com Hannah ou
com ela mesma. Ela poderia ter levado um abraço ou dois, certo?
Os amigos de Hannah nã o tinham essas inibiçõ es com Hannah. Até Valentina a
abraçou como se nã o se vissem há meses, em vez de apenas esta tarde. Pelo menos Max foi
inteligente o suficiente para manter seu abraço curto.
— Onde está a mamã e ursa? — Hannah olhou ao redor.
— Ainda na banheira — disse Frank. — Mas ela já vai sair.
Todos trocaram olhares como se soubessem do que ele estava falando. O que estava
acontecendo? Winter sentiu como se nã o falasse a mesma língua que todos os outros.
— A banheira é o lugar feliz de Tammy — disse Hannah. — É onde ela relaxa e volta a
si mesma depois de uma sessã o difícil.
Hannah tinha um lugar assim? Havia tanto que ela ainda nã o sabia sobre ela.
Tammy correu para o quarto. Seu cabelo ainda estava molhado e suas bochechas
rosadas do banho.
Todos se aglomeraram ao redor dela, como um time reunido em torno de um jogador
lesionado. Hannah a abraçou e seu marido colocou uma garrafa de cerveja em sua mã o.
— Divó rcio? — Valentina perguntou.
Tammy assentiu.
Definitivamente outro idioma. Como Xhosa
[4]
.
Frank sorriu e ofereceu-lhe uma cerveja també m, que Winter aceitou com gratidã o.
— Um de seus clientes está passando por um terrível divó rcio — disse ele.
Winter ainda nã o entendia como aquilo levava a um banho de espuma.
— Para clientes assim, muitas emoçõ es surgem durante a sessã o de abraços — disse
Hannah. — É muito desgastante para o profissional do abraço.
— Nã o ganhamos nosso dinheiro apenas deitados por uma hora, sabe? — Valentina
acrescentou. — Pode ser muito desgastante emocionalmente.
A irritaçã o de Winter aumentou, mas ela controlou seu temperamento. Ela nã o iria
foder tudo de novo. Isso era muito importante. Hannah era muito importante.
— Eu sei disso — disse ela, tentando nã o soar na defensiva, mas provavelmente nã o
conseguindo.
Hannah deslizou sua mã o na de Winter.
— Venham todos. Vamos preparar o jogo antes que a pizza chegue.
Completamente desequilibrada, Winter olhou para a mã o de Hannah segurando a
dela. Elas nã o falaram sobre demonstraçõ es pú blicas de afeto. Embora elas tivessem
marcado o encontro ontem à noite de mã os dadas, fazer isso na frente dos amigos de
Hannah parecia diferente.
Hannah parecia ter segurado sua mã o sem perceber. Agora ela també m olhou para
baixo e começou a se retirar.
Mas Winter nã o deixou. O gesto de apoio de Hannah realmente foi bom, assim como a
carícia lenta de seu polegar contra as costas da mã o de Winter, um toque que Hannah
provavelmente nem estava ciente.
Com um aperto caloroso, Winter a seguiu até a mesa.
Assim que terminaram de montar o tabuleiro hexagonal do jogo, a campainha tocou.
— Pizza! — Tammy comemorou como uma criança de seis anos. — Algué m me dê
uma mã o, por favor.
Todos correram atrá s dela como se estivessem morrendo de fome.
Winter ficou para trá s e se viu sozinha com Valentina. Ela tomou um grande gole de
sua cerveja, o tempo todo sentindo o olhar de Valentina sobre ela, entã o olhou para ela.
Valentina encontrou seus olhos em um desafio silencioso.
Ha! Winter passou muitos fins de semana em uma casa onde todos a odiavam. Ela
poderia facilmente encará -la. Quando Hannah e o resto do grupo voltassem, Valentina seria
uma pilha de gelo.
Ela suspirou. Nã o. Hannah provavelmente nã o iria gostar disso. Alé m disso, ela tinha a
sensaçã o de que o olhar inabalável de Valentina nã o seria quebrado por todo o gelo do
mundo. Ela parecia ser uma amiga leal e Winter apreciava isso.
— Entã o… — Ela prolongou a palavra porque nã o tinha ideia de como terminar a
frase. — Se Hannah tiver um cliente assim... o que eu faço para apoiá -la depois?
Valentina ficou olhando.
Winter olhou de volta. De onde diabos saiu essa pergunta? Ela nã o pretendia admitir
que talvez nã o soubesse cuidar da pró pria namorada! Mas ela nã o aceitaria de volta. O bem-
estar de Hannah era mais importante que seu orgulho.
Um sorriso apareceu no rosto de Valentina, nã o um sorriso zombeteiro, mas um
grande e feliz sorriso. Ela jogou os braços em volta de Winter e a apertou com força.
Uh.
  Winter segurou a garrafa de cerveja com uma das mã os e deu um tapinha
desajeitado em suas costas com a outra.
— Valentina! — A voz alarmada de Hannah veio da porta. — Eu disse sem abraços.
— Está tudo bem. — Winter deu um tapinha mais uma vez. — Valentina estava apenas
me dando algumas dicas.
Hannah carregou uma grande caixa de pizza para a sala.
— Dicas sobre o quê ?
Valentina e Winter trocaram um longo olhar.
— Sobre como vencer em Catan — disse Valentina.
Winter deu-lhe um aceno de cabeça apreciativo. Talvez os amigos de Hannah nã o
fossem tã o ruins afinal.
— Ah! — Hannah bateu no quadril de Winter com o dela quando ela passou por ela
com a pizza. — Você nã o vai ganhar. Eu vou.
— Sorvete — Valentina sussurrou enquanto todos se dirigiam para a mesa.
Winter levou um momento para entender. Ah, claro! Ela tinha visto Hannah cavar um
pote de sorvete depois de uma sessã o difícil mais de uma vez.
— Com chantilly e confeitos?
Valentina apontou para ela.
— Agora você está entendendo.
Uma nuvem de vapor subiu e o cheiro celestial de queijo derretido flutuou quando
Hannah abriu a caixa de pizza. Ela olhou para cima e encontrou o olhar de Winter atravé s da
tampa. Seus olhos brilhavam de felicidade e Winter sabia que nã o tinha nada a ver com a
comida gostosa.
Ela havia colocado aquela felicidade nos olhos de Hannah, apenas por se esforçar com
seus amigos. Sua garganta se apertou e ela teve a sensaçã o de que seus olhos tinham a
mesma expressã o de Hannah.
Talvez ela nã o fosse uma merda completa em relacionamentos, afinal.
***
Na quarta-feira seguinte, Hannah fechou a porta atrá s de seu ú ltimo cliente do dia e
entã o se encostou nela. Oof. Isso iria ensiná -la a nã o agendar sessõ es consecutivas com
clientes que foram indicados por Dawn. Cada pedacinho de energia parecia ter sido sugada
de seu corpo. Ela esperava que eles se sentissem melhor do que ela.
Quando ela se arrastou para a cozinha, Winter ergueu os olhos dos tomates que
estava cortando para uma salada.
— O cliente já foi?
Hannah assentiu.
Winter largou a faca. A linha diagonal acima de seu nariz se aprofundou.
—Uh-oh. Divó rcio?
Hannah estava exausta demais para entender o que ela queria dizer. Ela caiu contra o
balcã o e deu-lhe um sorriso cansado.
— Hum, Winter, ainda nem nos casamos e você quer o divó rcio? — Entã o seu cé rebro
lento alcançou sua boca. Porcaria.
 Ela disse ainda
, nã o disse?
Por sorte, Winter nã o pareceu ter notado.
— Nã o. Eu vou ficar com você por enquanto. Quero dizer, seu ú ltimo cliente era
algué m que está se divorciando?
— Oh — Hannah finalmente ligou os pontos. Depois da noite de jogo da semana
passada, Winter provavelmente assumiu que sempre que Hannah parecia ter passado por
um espremedor depois de uma sessã o, isso deveria significar que ela estava abraçada com
um cliente que estava se divorciando. Deus, ela era fofa.
— Nã o. Os dois ú ltimos foram indicaçõ es de um terapeuta amiga minha.
Winter olhou para os tomates.
— Salada nã o vai servir, nã o é ? — Sem esperar por uma resposta, ela agarrou Hannah
pelos ombros e a conduziu para a sala de estar. — Fique confortável no sofá . Estarei aí em
um segundo.
Hannah estava cansada demais para discutir. Ela se esticou no sofá .
A porcelana fez barulho na cozinha, entã o a porta da geladeira se fechou. Nã o
demorou muito para Winter aparecer, carregando uma tigela.
— Sente-se um pouco e deslize para a frente.
Quando Hannah o fez, Winter deslizou atrá s dela com as costas contra o apoio de
braço, uma perna ao longo do lado de fora de Hannah, enquanto a outra descansava no
chã o. Ela deu um tapinha no peito, convidando Hannah a usá -la como encosto. Uma vez que
Hannah se recostou, ela colocou os dois braços ao redor dela e colocou a tigela no colo de
Hannah.
Era sorvete, com uma pilha de chantilly, decorado com granulado de arco-íris e uma
leve calda de chocolate.
— Ah, que delícia — Hannah ficou com á gua na boca. — Eu nã o sabia que tínhamos
granulado.
— Nã o tínhamos.
A umidade se acumulou nos olhos de Hannah. Ela agarrou a colher que Winter lhe
entregou.
— Você comprou granulado de emergê ncia?
— Mm-hmm. Agora coma antes que derreta.
Mas havia algo que Hannah desejava mais do que sorvete. Ela esticou o pescoço,
puxou a cabeça de Winter para baixo e a beijou.
Quando finalmente separaram suas bocas, o sorvete havia derretido um pouco, mas
Hannah nã o se importou.
Ela comia sorvete de brownie de caramelo salgado enquanto Winter deslizava os
dedos pelo cabelo de Hannah em movimentos suaves. Arrepios agradáveis ​percorreram seu
corpo. Se o cé u existisse, tinha que ser assim. Depois de passar o dia todo atendendo seus
clientes, era tã o bom ter outra pessoa ao seu lado. Nã o, nã o apenas outra pessoa. Ter
Winter.
— Você sabe que nã o precisa fazer isso, né ? — Hannah se forçou a dizer. — Só porque
eu amo carinhos nã o significa que você precisa…
Winter interrompeu a massagem na cabeça para beijar a borda de sua orelha.
— Eu sei que nã o preciso. Mas tenho que admitir, tem seus momentos.
Hannah sorriu.
— Ooh, entã o eu transformei você em um bichinho carinhoso?
— Só quando se trata de você . Agora coma seu sorvete.
Finalmente, a sobremesa decadente acabou. Winter pegou a tigela dela e a colocou na
mesa de café , entã o continuou a passar os dedos pelo cabelo de Hannah.
Se ao menos seus amigos pudessem vê -las agora! Ningué m jamais acreditaria em
como Winter poderia ser amorosa. Um longo suspiro escapou de Hannah enquanto sua
tensã o diminuía e ela se aninhou ainda mais contra o peito de Winter.
Winter inclinou a cabeça sobre o ombro de Hannah para ver seu rosto.
— Isso é bom?
Hannah aproveitou a oportunidade para virar a cabeça e roçar os lá bios nos de
Winter.
— Muito. Nã o pare.
Winter fez pequenos círculos ao longo de seu couro cabeludo com a ponta dos dedos.
A cabeça de Hannah caiu para trá s no ombro de Winter e seus olhos se fecharam. Seus
pensamentos vagavam sem rumo, para seus clientes, para sua mã e... ela ligaria para ela
mais tarde para se certificar de que nã o estava exagerando agora que estava em casa e se
sentindo melhor... entã o voltou para Winter.
— Posso te perguntar uma coisa?
Winter endureceu atrá s dela, mesmo quando ela disse —Claro.
Hannah acariciou o braço que a rodeava.
— Você nã o precisa falar sobre isso se nã o quiser, mas eu estava pensando... Você
raramente fala sobre sua mã e. Ela está …?
— Morta?
Hannah tentou nã o se encolher com sua franqueza.
— Um sim.
Winter parou de esfregar sua cabeça e passou o braço direito ao redor de Hannah
també m.
— Nã o. Ela se mudou para o Arizona no início do ano, dizendo que o clima em
Portland a estava deixando deprimida. Nã o falei com ela desde entã o.
O começo do ano... Provavelmente na é poca em que Jules morreu. Hannah colocou os
braços em cima dos de Winter, mantendo-os bem apertados ao redor de si mesma.
— Eu sinto muito. Nã o consigo imaginar ficar uma semana sem falar com minha mã e.
Sem falar com ela por sete meses...
— Está tudo bem. Nunca conversamos muito — disse Winter, dando a impressã o de
que estava falando de seu carteiro. — À s vezes, acho que ela só precisava de mim para
manter Julian em sua vida e agora que ele se foi, realmente nã o temos mais motivos para
conversar uma com a outra.
Hannah abraçou os braços de Winter com mais força. Winter podia parecer sem
emoçã o e completamente distante da situaçã o, mas ela a conhecia melhor do que acreditar
que a falta de interesse de sua mã e nã o a estava machucando.
— Sinto muito — ela repetiu. — É ela, nã o você . Eu espero que você saiba disso. Se ela
nã o te ama com cada cé lula de seu corpo, é porque ela nã o tem isso nela, nã o porque você
nã o é digna de amor.
Winter se acalmou contra ela.
Seu discurso apaixonado soou muito como uma declaraçã o de amor? Estava ficando
mais difícil a cada dia manter seus sentimentos dentro de si. Hannah engoliu em seco, mas
se recusou a retirá -lo. Rapidamente, ela acrescentou —Jules també m. O dé ficit é dele, nã o
seu.
Por fim, Winter deu-lhe um leve aperto.
— Obrigada. Mas já superei.
Hannah nã o acreditava nisso, mas respeitava o fato de Winter nã o querer se
aprofundar no assunto.
Elas se abraçaram em um silê ncio pacífico por um tempo, com Winter passando os
dedos pelo cabelo de Hannah repetidamente. O padrã o era tã o hipnó tico que Hannah quase
cochilou duas vezes, embora fossem apenas nove e meia.
Na terceira vez que isso aconteceu, ela afrouxou o aperto nos braços de Winter e se
sentou.
— Você nã o quer vir para a cama comigo?
Os olhos de Winter se arregalaram.
— Eu pensei que o plano era esperar?
Hannah abaixou a cabeça.
— Para me abraçar — ela deixou escapar. — Eu nã o estou disposta a mudar o plano
esta noite. Tenho que desligar minha sexualidade para trabalhar e depois de dois clientes
assim, nã o tenho energia para encontrar o interruptor, nã o importa o quã o gostosa
 eu ache
você . Alé m disso, estou prestes a começar a menstruar, entã o me sinto como...
— Adoraria — disse Winter.
Hannah piscou.
— Abraçar você — acrescentou Winter com um sorriso, que depois se tornou
envergonhado. — Mas você acha...?
— Sim? — Hannah percebeu que estava prendendo a respiraçã o.
— … que posso terminar de fazer uma salada? Ainda nã o jantei e estou morrendo de
fome.
— Oh meu Deus! — Hannah enterrou o rosto nas mã os. — Sou a pior namorada do
mundo!
Winter afastou as mã os dela, rindo e a puxou para cima do sofá .
— Nã o, você nã o é . Vamos. Tem uma salada chamando meu nome.
Capítulo 26
Viajar para uma reuniã o para encontrar um cliente sempre foi uma mudança divertida
de ritmo para Winter no passado. Mas isso foi antes das ridículas condiçõ es impostas por
Julian, que tornou viajar para qualquer lugar fora da á rea metropolitana de Portland um
pesadelo logístico.
O cliente, uma empresa de tecnologia educacional em rá pido crescimento com sede
em San Francisco, a queria no local por dois dias, mas Winter nã o estava disposta a arriscar
passar a noite fora, caso Brooke estivesse farejando. Entã o ela havia saído de casa ontem à s
cinco da manhã para pegar um vô o para Sã o Francisco só voltando depois da meia-noite, e
hoje nã o seria diferente.
Isso a deixou mais mal-humorada do que um crocodilo com um dente estragado.
Complicar desnecessariamente as coisas sempre a irritara.
  Absolutamente nã o era
porque ela tinha apenas nove dias restantes até que seus noventa e dois dias terminassem
e ela queria passar cada minuto com Hannah. Ou porque ela sentia falta dela. Nã o.
Absolutamente nã o. Ela nunca sentiu falta de ningué m em sua vida. Isso significaria
precisar deles e ela nã o estava pronta para admitir isso.
Assim que fizeram uma pequena pausa à uma hora, Winter deu uma volta no
estacionamento do cliente e ligou para ela.
— Ei, você — a voz calorosa de Hannah flutuou atravé s do telefone. — Como vã o as
coisas?
Winter pressionou o telefone com mais firmeza contra o ouvido. — Tã o mal quanto
ontem. Perda total de tempo.
— Eles pelo menos leram o e-mail que você enviou ontem à noite?
— Sim, mas esse é o ú nico progresso que fizemos. Acabei de sair de uma reuniã o de
duas horas com doze pessoas de quatro departamentos diferentes e nã o passamos do
primeiro slide. Eles discutiram a cor e o posicionamento de um botã o em seu site por uma
hora e meia! Dois dos caras pareciam prestes a entrar em uma briga, e eu nã o estava tã o
longe de bater algumas cabeças. — Winter rosnou. — É um show de merda completo e
absoluto.
— Entã o todo mundo é um merda?
Winter soltou uma gargalhada com a piada inesperada. Ningué m jamais foi capaz de
fazê -la rir quando ela estava chateada. Talvez ela sentisse falta de Hannah, afinal.
— Bastante.
Os sons da geladeira abrindo e fechando reverberaram
 pelo telefone.
— Você está comendo sorvete? — Winter perguntou. Agora ela desejava ainda mais
estar em casa, segurando Hannah no sofá .
— Nã o, guardando. Acabei de chegar do mercado e comprei o seu favorito, caso você
precise hoje à noite.
Winter suspirou.
— Eu provavelmente chegarei em casa tarde. Se continuarmos assim, posso nem
pegar meu vô o.
— Ei, nã o se estresse. Vou esperar acordada, aconteça o que acontecer, para nã o
dormirmos sob um teto diferente.
Winter olhou para o reló gio. O intervalo acabara.
— Eu preciso voltar. Vou vê -la hoje a noite. A menos que eu seja presa por assassinato.
— Você consegue fazer isso. Te vejo à noite. Eu te amo.
Parecia tã o natural, como se ela tivesse dito isso mil vezes antes. Por um momento,
Winter pensou ter ouvido mal. De jeito nenhum Hannah diria essas trê s palavras como se
nã o fossem nada demais... diria?
Hannah tinha ficado muito quieta. Ela já havia encerrado a ligaçã o? Antes que Winter
pudesse verificar a tela, Hannah limpou a garganta.
— Eu nã o deveria ter dito isso — ela sussurrou.
— Oh — Winter enterrou a ponta dos sapatos no cascalho do estacionamento.
— Quero dizer, ao telefone e enquanto você está com um cliente. Mas — a voz de
Hannah ficou ainda mais baixa — é verdade.
— Oh — Por que ela nã o podia dizer mais nada? Como uma frase real? Algo com um
sujeito, um verbo e um objeto, para começar. Eu também te amo
  pode funcionar. E ela a
amava. Deus, ela realmente amava. No fundo, ela já sabia disso há algum tempo. Mas dizer
isso... O pensamento de deixar escapar essas trê s palavras fez sua garganta apertar.
O CEO da empresa saiu e acenou com urgê ncia, como se eles estivessem prestes a
lançar um ô nibus espacial e ela fosse a ú nica controladora de vô o disponível.
— Estamos prontos para você .
Winter apertou o punho ao redor do telefone com força.
— Eu tenho que ir. Eu... Falaremos sobre isso hoje à noite, ok?
— Sim claro. Mantenha-se firme. — Hannah desligou.
Ela parecia normal. Nã o com raiva ou chateada.
Mas Winter sabia que ela a havia machucado. Por que ela nã o disse isso de volta?
Porque você é uma covarde, é por isso.
Oh, ó timo, lá estava ela de novo, aquela voz chata de Brooke. Ainda mais irritante era
que a Brooke interior estava certa. Ao contrá rio de Hannah, ela nã o teve coragem de dizer
isso.
O CEO segurou a porta aberta, esperando que ela voltasse para o pré dio.
Ela entrou com ele, mas o telefone em seu bolso pesava mais a cada passo.
— Sabe de uma coisa, Steve? — ela disse quando chegaram à sala de reuniõ es. —
Acabei de falar ao telefone com minha parceira.
— Eu nã o sabia que você tinha uma. Achei que fosse só você .
Ele estava falando sobre o negó cio de consultoria de marketing dela, é claro,
assumindo que era isso que ela queria dizer.
— Fui só eu até agora, mas... bem, recentemente, fui convencida de que trazer um
parceiro faz sentido. Conjuntos de habilidades complementares, carga de trabalho
compartilhada, tudo isso, sabe?
Ele assentiu.
— De qualquer forma, minha parceira e eu achamos antié tico cobrar de você por mais
oito horas de trabalho, mais despesas de viagem quando sua equipe claramente nã o está
pronta. — Winter apontou para alguns de seus funcioná rios que estavam imersos em um
debate acalorado, provavelmente sobre algo ridículo como a fonte daquele botã o. — Seria
muito mais eficiente se eu criasse algumas maquetes visuais, enviasse para todos,
recebesse algum feedback e depois nos encontrá ssemos novamente quando houvesse um
consenso sobre o bá sico.
— Uh, entã o... você está indo embora?
Winter já estava caminhando para seu assento para pegar seu laptop e sua bolsa.
— Sim. Você terá os modelos em sua caixa de entrada até o meio-dia de segunda-feira.
— Ela nunca tinha feito nada parecido, simplesmente sair de uma reuniã o, mas mesmo que
isso significasse perder o cliente, ela nã o poderia ficar.
— Tudo bem. Eu, uh, acho que isso funcionaria bem.
Winter apertou sua mã o e saiu. Ela nem esperou até chegar ao carro alugado antes de
pegar o telefone. Por um momento, ela ficou tentada a tocar no nome de Hannah no topo de
sua lista de favoritos.
Nã o. Se ela consegui
a dizer isso, ela queria fazê -lo pessoalmente e ver o olhar nos
olhos de Hannah.
Com os polegares voando, ela digitou uma busca por um vô o mais cedo.
***
Fazia cinco horas e quatorze minutos desde que ela acidentalmente deixou escapar
“eu te amo” no telefone e ela nã o foi capaz de pensar em mais nada desde entã o.
O silê ncio constrangedor que se seguiu à sua confissã o abrupta foi profundo,
deixando um buraco que nenhuma das duas parecia saber como preencher.
Ela sabia, na verdade, mais do que esperava de todo o coraçã o, que Winter nã o tinha
ficado em silê ncio porque ela nã o retribuía o sentimento. Os sentimentos de Winter por ela
apareciam em cada pequena e nã o tã o pequena coisa que ela fazia por Hannah, desde
comprar granulado de emergê ncia até segui-la até Sunriver quando sua mã e estava doente.
Winter simplesmente nã o estava pronta para dizer isso... talvez até para ouvir, e
Hannah poderia ter se repreendido por apressá -la daquele jeito. Ela nunca deveria ter dito
isso, especialmente no pior momento possível, quando Winter estava no modo de mulher
de negó cios durona. Mas ela sentiu a frustraçã o de Winter com o cliente e tentou enviar
algo de apoio pelo telefone e “eu te amo” foi o que escapou.
Deus, ela esperava nã o ter tornado as coisas estranhas entre elas.
Ela se agarrou ao pensamento de que pelo menos Winter nã o estava fugindo ou
evitando ela.
—Falaremos sobre isso hoje à noite — dissera
 ela.
Desde entã o, Hannah pensou em possíveis cená rios para aquela conversa, mas só
conseguiu ficar muito nervosa, como se tivesse bebido um galã o do café expresso mais
forte de Winter.
Finalmente, ela pegou as chaves e a carteira e se dirigiu ao Sesame Donuts para
comprar alguns dos favoritos de Winter.
Quando ela voltou, ela se sentiu mais calma. O ar fresco e um donut com cobertura de
chocolate com confeitos melhoraram seu humor. Ela colocou a caixa de donuts no balcã o da
cozinha e lavou pedaços de cobertura de suas mã os na pia. Ela fechou a torneira e secou as
mã os, mas estranhamente, o som de á gua corrente continuou. Estava vindo do banheiro.
Hannah franziu o cenho. Oh não. Seria um vazamento? Ou ela estava tã o fora de si
mais cedo que deixou o chuveiro aberto quando se refrescou depois que seu ú ltimo cliente
saiu?
Ela jogou o pano de prato no balcã o e correu para o banheiro.
Mas antes que ela pudesse chegar lá , o tamborilar da á gua parou.
Ela estava imaginando coisas agora?
Nã o podia ser Winter. Ela nã o estaria em casa por pelo menos mais cinco ou seis
horas.
Ela hesitou em frente à porta do banheiro. O quê? Você acha que é um fantasma
especialmente preocupado com a higiene?
 Revirando mentalmente os olhos para si mesma,
ela abriu a porta e congelou.
Winter estava em casa.
E ela estava nua.
Ela estava no tapete do banheiro com apenas uma toalha sobre os ombros. Uma
nuvem de vapor flutuava ao seu redor como um efeito de filme perfeitamente planejado.
O olhar de Hannah se arrastou para as longas pernas, deteve-se em um triâ ngulo de
cachos cinza-prateados bem aparados e continuou subindo pela barriga plana de Winter. As
pontas da toalha cobriam metade dos seios pequenos de Winter, mas o que revelavam era
suficiente para deixá -la sem fô lego.
Ela ficou enraizada no local quando uma sensaçã o de dé jà vu a dominou. Mas desta
vez, Winter nã o era a colega de quarto que ela mal conseguia tolerar. Ela era a mulher por
quem ela estava apaixonada.
Tardiamente, ela percebeu que ainda estava olhando e se virou.
— Desculpe. Eu... O-o que você está fazendo aqui?
— Tomando um banho — A diversã o coloriu o tom de Winter, mas també m havia algo
mais ali, insegurança e Hannah sabia que nã o era porque ela estava basicamente nua.
— Eu pude ver isso — Inadvertidamente, sua voz mergulhou no registro rouco de
estrela pornô . Ela balançou a cabeça para limpar a névoa luxuriosa de seu cé rebro. — Nã o,
quero dizer, por que você está em casa tã o cedo?
— Você pode se virar — disse Winter. — Eu estou decente.
Lentamente, Hannah se virou.
Winter havia se enrolado em uma toalha maior, que chegava até o meio da coxa, mas
ainda havia boa parte de suas longas pernas à mostra. Algumas gotas de á gua escorreram
por seus ombros nus.
Hannah olhou fixamente, paralisada. Ela estava vagamente ciente de que Winter
estava falando, mas as palavras nã o foram registradas. Por fim, ela voltou sua atençã o para
o rosto de Winter para poder ouvir o resto da explicaçã o de Winter.
— …disse ao cliente que estava vindo para casa e voltaria assim que eles se
recompusessem.
Uau. Hannah nã o pô de deixar de admirá -la. Confiante e sob controle, Winter era sexy.
— Mas, para ser honesta, aquele show de merda nã o foi o motivo de eu ter voltado
para casa mais cedo.
— Nã o?
Winter balançou a cabeça.
— Quando você disse que, hum, me amava… — Um rubor se espalhou por sua pele
clara e Hannah pô de rastrear seu caminho desde o topo da toalha até a linha do cabelo. —
Me pegou de surpresa.
— Eu sei que nã o deveria. Eu...
— Uma surpresa boa — acrescentou Winter. — É só que ningué m nunca disse isso
para mim antes e eu certamente nunca disse isso para ningué m... ou imaginei que algum
dia diria. Achei que o amor me faria fraca. E eu estava certa, porque quando você disse isso,
você poderia ter me derrubado com uma pena. — Ela passou a mã o pelo cabelo molhado.
— Cristo, estou divagando.
Hannah sorriu e pegou sua mã o, cuidando de focar no rosto de Winter para nã o se
distrair. A vulnerável e divagada
 Winter era ainda mais sexy do que a confiante Winter.
Winter engoliu. Ela capturou o olhar de Hannah, seus olhos azuis brilhando com
intensidade.
— O que estou tentando dizer é ... eu també m te amo.
As palavras surpreenderam Hannah, fazendo-a voar mais alto do que todos os
hormô nios do abraço do mundo. Ela balançou para frente e se lançou nos braços de Winter.
Seus lá bios se encontraram em uma explosã o de emoçã o, acariciaram
 uma a outra e
entã o se separaram.
Um gemido escapou de Hannah, misturando-se com o de Winter, enquanto suas
línguas se exploravam.
Winter a manteve pressionada contra seu corpo coberto com uma toalha com um
braço, enquanto ela arrastava a outra mã o pelo braço de Hannah, ao longo de seu ombro e
pescoço até que as pontas de seus dedos tocaram sua bochecha. Ela os manteve lá
enquanto aprofundava o beijo.
O contato terno deixou Hannah com os joelhos fracos. Ela deslizou os dedos no cabelo
curto e molhado de Winter e apertou contra ela com tanta força que podia sentir o coraçã o
de ambas pulsando com urgê ncia.
O calor da pele quase nua de Winter a fez ofegar. Ela queria tocar cada centímetro
dela. Mas nã o aqui. Relutantemente, ela se afastou alguns centímetros.
— Winter...
Winter se inclinou e beijou o pescoço de Hannah, enviando ondas de prazer por seu
corpo.
—Hum?
Hannah arqueou a cabeça para trá s para dar a Winter espaço para explorar.
— Você acha que…?
O há lito quente de Winter roçou o ló bulo de sua orelha, entã o ela o mordeu.
Oh Deus. Hannah agarrou suas costas com uma mã o, a outra ainda no cabelo de
Winter.
—Você quer fazer amor comigo? No quarto?
Com um gemido baixo, Winter se afastou. A fome brilhou em seus olhos, o olhar
selvagem e intenso suavizado pelo amor que Hannah agora podia ver brilhando
intensamente.
—Bem — ela disse com um sorriso libertino, puxou a toalha e a deixou cair sobre
seus pé s — já que eu já estou convenientemente nua...
Hannah olhou para a pele recé m-desnudada, entã o nã o pô de deixar de rir. Seu peito
parecia que iria explodir com toda a emoçã o se ela nã o mostrasse a Winter exatamente
como ela se sentia. Ela apertou a mã o e abriu caminho para o quarto de Winter.
***
Winter nunca tinha estado nervosa ao levar uma mulher para a cama antes. Mas agora
era Hannah quem a levava para o quarto e seu corpo vibrava com uma mistura de
nervosismo e desejo.
Nossa, você pensaria que eu nunca fiz sexo.
Mas, no fundo, ela sabia que isso era diferente. Ela queria
  que fosse diferente. Pela
primeira vez em sua vida, ela queria baixar a guarda e fazer amor, nã o apenas fazer sexo. Ela
só esperava poder mostrar a Hannah, uma especialista em comunicaçã o por meio do toque,
o quanto ela significava para ela.
Quando elas pararam na frente de sua cama, o olhar de Hannah passou por ela,
aquecendo cada centímetro de pele que tocava.
Incapaz de esperar mais, Winter puxou-a contra seu corpo e capturou sua boca em um
beijo lento e profundo que rapidamente se tornou mais apaixonado.
Hannah passou as mã os pelos quadris de Winter, pelas costas, pelos ombros, pela
nuca e pelos cabelos ainda ú midos, como se estivesse desesperada para senti-la inteira.
Winter també m ansiava por sentir sua pele. Ela se afastou por um momento, alcançou
a bainha da camisa de Hannah e a levantou. Abaixo de seus seios, ela fez uma pausa e olhou
nos olhos de Hannah. Consentimento, ela lembrou a si mesma. Hannah vivia de acordo com
essa regra como abraçadora profissional, entã o provavelmente era importante para ela
agora també m.
— Eu posso…?
Hannah sorriu como se soubesse exatamente porque Winter havia parado, um sorriso
grande e feliz, cheio de amor. Isso trouxe suas covinhas, entã o Winter se inclinou e beijou
cada uma delas.
— Sim — Hannah sussurrou antes que seus lá bios se encontrassem novamente.
Elas se separaram apenas o tempo suficiente para Winter puxar a camiseta para cima
e sobre a cabeça de Hannah.
Quando a camisa caiu no chã o, Hannah ficou na frente dela, descalça, vestindo apenas
um short jeans desbotado e um sutiã creme que era um pouco pequeno demais, como se
ela tivesse esgotado os mais adequados, conforme o dia da lavanderia se aproximava.
O ajuste confortável tornou o conjunto ainda mais sexy aos olhos de Winter. Ela
ansiava por beijar os seios exuberantes de Hannah que apareciam acima da borda do sutiã .
Mas primeiro, ela iria beber em sua beleza.
As bochechas de Hannah coraram enquanto ela seguia o olhar de Winter, pegando seu
sutiã .
—Acho que nã o combina com minha calcinha — Ela puxou o có s de seu short longe de
seus quadris e espiou por baixo. — Nã o, nã o importa.
Winter quase derreteu. Como uma mulher podia ser tã o fofa e gostosa ao mesmo
tempo?
— Bem — disse ela, com a voz rouca — entã o é melhor tirá -los para evitar a
incompatibilidade.
Hannah riu.
— Mmm, eu amo uma mulher criativa — Ela se abaixou para desabotoar o short.
— Oh nã o — Winter gentilmente afastou as mã os do botã o. — Nunca fui de deixar
ningué m abrir meus presentes e nã o vou começar agora.
— Presente, hein?
— Sim — Isso era o que Hannah era para ela e ela estava prestes a mostrar a ela, a
noite toda.
A respiraçã o de Hannah estava quente no pescoço de Winter, deixando suas mã os um
pouco instáveis ​enquanto ela desabotoava o botã o, entã o lentamente deslizou o zíper para
baixo. A junta de seu dedo indicador roçou uma calcinha preta.
Hannah respirou fundo, mas ficou parada e deixou Winter despi-la.
Ela enganchou os dedos sob o có s do short de Hannah e puxou-o para baixo junto com
a calcinha que nã o combinava, permitindo que suas mã os se arrastassem pelos quadris
generosos de Hannah enquanto avançava. Quando ela alcançou as coxas macias de Hannah,
ela se ajoelhou para puxar o short e a calcinha para baixo o resto do caminho, o que deixou
seus lá bios nivelados com a curva da barriga de Hannah. Ela a beijou uma vez, gentilmente,
depois uma segunda vez, apenas um centímetro acima da mecha de cabelo encaracolado.
Suas narinas dilataram quando ela sentiu o cheiro levemente almiscarado de Hannah
e se permitiu um segundo para fantasiar sobre deslizar sua boca para baixo e...
Ela se deteve e olhou ao longo do corpo de Hannah. Hannah permitiria isso? Ela iria
gostar?
Hannah olhou de volta com as pupilas dilatadas. Ela riu trê mula.
— É melhor você vir aqui ou nã o poderá aproveitar seu presente por muito tempo. —
Seu peito arfava, lembrando a Winter que o sutiã realmente precisava ser retirado.
— Nã o podemos permitir isso — Ela queria explorar cada centímetro do belo corpo
de Hannah antes de deixá -la cair no precipício. — Talvez mais tarde, entã o — Ela roçou um
ú ltimo beijo na parte inferior da barriga de Hannah, entã o se levantou. Seus mamilos já
duros deslizaram sobre a pele de Hannah, fazendo ambas tremerem. Se continuassem
assim, as duas nã o durariam muito.
Ela colocou uma mã o no quadril de Hannah, firmando-se, enquanto a envolvia com a
outra. Talvez ela nã o tivesse perdido todo o seu conjunto de habilidades porque os
colchetes do sutiã de Hannah cederam na primeira tentativa. Sorrindo triunfante, ela puxou
primeiro uma alça, depois a outra pelos ombros de Hannah e beijou as linhas vermelhas
que haviam deixado em sua pele pá lida.
O sutiã caiu no chã o e Hannah ficou na frente dela completamente nua.
Ignorando o protesto de seu corpo, Winter deu meio passo para trá s para admirá -la.
Seus corpos nã o eram nada parecidos, Hannah era toda cheia de curvas suaves,
enquanto Winter tinha as linhas longas e os mú sculos esbeltos e rijos de uma corredora,
mas Winter já podia imaginar o quã o perfeita Hannah se sentiria contra ela.
Hannah estendeu a mã o para puxar o elá stico de seu cabelo. O movimento levantou
mais um seio cheio, levantando o mamilo rosado para o olhar apreciativo de Winter. Seu
cabelo castanho chocolate caiu sobre seus ombros nus.
Santa mãe da gostosura! Ela era linda.
Winter precisava tê -la, amá -la, agora. Ela nã o podia esperar mais um momento para
sentir cada centímetro da pele de Hannah contra a dela.
— Eu preciso de você na cama. Agora.
A nota de comando em sua voz fez um arrepio visível percorrer Hannah.
Ooh. Hannah gostava dela assumindo o comando. Sua antiga confiança caiu sobre
Winter como uma jaqueta familiar. Ela guiou Hannah para trá s, para a cama, e
imediatamente a seguiu.
Hannah abriu as pernas, abrindo espaço para que Winter se acomodasse entre elas.
O primeiro roçar de pele contra pele, peito contra peito fez as duas gemerem.
Por mais que ela quisesse devorar Hannah, fazê -la gritar, ela se forçou a desacelerar e
absorver cada pequeno detalhe. No passado, ela se permitiu ser apaixonada, mas nã o terna.
Ser carinhosa sempre a fez se sentir fraca, mas era diferente com Hannah.
Ela se mexeu de modo que estava reclinada metade ao lado de Hannah, metade em
cima dela. Apoiada em um cotovelo, ela começou com leves carícias no rosto, traçando o
nariz, as bochechas, o contorno das orelhas, primeiro com a ponta dos dedos, depois com
os lá bios.
O pulso de Hannah vibrava contra sua boca enquanto ela beijava o lado de seu
pescoço. Ela explorou a pele lisa de um ombro, a dobra do cotovelo, o ponto sensível na
parte interna do pulso.
Cada toque causava uma reaçã o: um arrepio, um suspiro silencioso, um arrepio
espalhado que Winter saboreava com a língua.
— Mmm, você é incrível.
— Eu? — Hannah riu com voz rouca. — Você é incrível. Você me faz sentir como se
estivesse sendo adorada.
— Bom. — Mas havia muito mais de Hannah para adorar. Ela estendeu a mã o e
colocou uma mecha rebelde de cabelo atrá s da orelha de Hannah. — Diga-me se eu fizer
algo que você nã o goste, ok? Ou se eu perder um lugar favorito.
Hannah pegou a mã o de Winter e mordiscou seu dedo, provocando faíscas
inesperadas muito mais abaixo no corpo de Winter. Calor ferveu nos olhos de Hannah.
— Estou encontrando novos lugares favoritos à medida que avança, mas você perdeu
meus trê s primeiros até agora.
— Nã o se preocupe — disse Winter com voz rouca. — Tenho certeza de que vou
encontrá -los.
Ela pressionou beijos de boca aberta na parte superior do peito de Hannah,
aproximando-se cada vez mais da curva de seus seios, entã o nã o pô de resistir a provar a
pele salgada com leves movimentos de sua língua. Quando ela deslizou um pouco mais na
cama, ela olhou para cima para se certificar de que Hannah ainda estava bem com o que
estava fazendo.
— Estou chegando mais perto?
Hannah encontrou seu olhar com as bochechas coradas de paixã o e os lá bios
entreabertos.
— Sim — ela sussurrou. — Deus, sim.
Winter baixou a cabeça e, com a ponta da língua, traçou círculos cada vez menores em
um dos seios até que Hannah se contorceu contra ela.
— Winter, por favor.
O desejo na voz de Hannah enviou uma onda de desejo pelo corpo de Winter. Ela
segurou um seio com a mã o e baixou a boca sobre o mamilo.
Com um gemido, Hannah enfiou os dedos no cabelo de Winter, mantendo-a no lugar.
Winter acariciou seu seio com os lá bios e a língua enquanto acariciava o outro seio,
provocando o mamilo com a ponta do polegar.
Hannah se arqueou contra ela. Seus dedos se apertaram no cabelo de Winter, e seus
quadris se ergueram para pressionar contra a coxa de Winter, cobrindo sua pele com
umidade.
— Winter — ela engasgou novamente.
Winter nunca gostou tanto de seu nome. Ela deu um ú ltimo beijo no mamilo de
Hannah, entã o ergueu a cabeça para olhá -la.
O desejo cru nos olhos de Hannah fez uma espiral de necessidade responder pela
parte inferior da barriga de Winter.
— Por favor — Hannah sussurrou. — Toque-me — Ela pegou a mã o de Winter que
estava em seu seio e a dirigiu para baixo de seu corpo.
Uma onda aguda de excitaçã o percorreu Winter. Uma mulher que nã o tinha medo de
mostrar o que ela queria era gostosa.
Ela passou a mã o pela barriga sedosa de Hannah e por seus cachos ú midos.
A mã o guiadora de Hannah deixou a sua para agarrar as costas de Winter. Um som
necessitado escapou de sua garganta, fazendo a cabeça de Winter girar.
Deus, esse som. Ela pressionou seus lá bios nos de Hannah enquanto deslizava em sua
umidade.
Hannah engasgou contra sua boca. Ela passou as mã os inquietamente pelas costas de
Winter. O leve roçar de suas unhas enviou pulsos de desejo pelo corpo de Winter.
Ela continuou olhando para o rosto de Hannah enquanto começava a acariciá -la,
pequenos círculos leves, depois longos golpes, precisando saber o que faria Hannah tremer
ou ofegar novamente.
— Assim? Ou isto? — Ela voltou a traçar círculos.
— Sim — Hannah murmurou. — Ambos. Tudo. Por favor. Você pode…? — Ela se
abaixou, deslizou os dedos pelo antebraço de Winter e pressionou a mã o para baixo.
O estô mago de Winter se contraiu quando ela colocou um dedo dentro.
Hannah soltou um grito sem palavras e avançou contra ela.
Suas bocas se conectaram novamente com uma urgê ncia lancinante.
Winter se retirou, depois pressionou de volta com dois dedos.
Hannah se separou do beijo para tomar uma respiraçã o irregular. Ela jogou a cabeça
para trá s com total abandono e balançou os quadris contra os dedos de Winter, levando-os
mais fundo.
Os pequenos sons que ela fez viraram Winter do avesso. Observá -la se perder no
prazer era a coisa mais eró tica que ela já tinha visto. A resposta descuidada de Hannah a ela
era sexy e assustadora ao mesmo tempo.
Winter acariciou-a, longa e profundamente, sem tirar os olhos do rosto por um
segundo, porque ela viu tudo ali, cada sensaçã o, cada emoçã o que Hannah sentia. Tã o
quente. Quente de derreter os ossos.
Os olhos de Hannah se fecharam.
— Nã o — Winter sussurrou, a voz crua. — Por favor. Eu amo seus olhos. Eu os quero
em mim quando eu fizer você gozar.
Hannah emitiu um som baixo e urgente do fundo de sua garganta que enviou uma
chama de desejo pelo ventre de Winter. Seus olhos se abriram e seus olhares se conectaram.
A respiraçã o de Winter ficou presa no peito com a intimidade do momento. Sem parar
seus golpes, ela esfregou a base de sua mã o sobre o clitó ris de Hannah.
Um longo gemido saiu do peito de Hannah. Ela agarrou as costas de Winter com as
duas mã os. Suas unhas se cravaram na pele de Winter enquanto ela avançava contra ela
uma ú ltima vez.
Winter sentiu como se fosse explodir em um milhã o de pedaços junto com ela. Ela
seguiu Hannah para baixo quando ela caiu de volta na cama e beijou seu pescoço ú mido, o
canto de sua boca, seus lá bios avermelhados.
Quando as vibraçõ es em torno de seus dedos diminuíram, ela gentilmente se retirou e
tomou Hannah em seus braços.
Hannah ainda estava tremendo. Entã o Winter percebeu que ambos estavam.
Com força, Hannah envolveu Winter com os braços. Sua coxa macia deslizou entre as
de Winter, tornando-a extremamente consciente de sua pró pria excitaçã o.
Ela pressionou com os quadris, procurando algum atrito, mas Hannah nã o aceitou.
Ela rolou para fora de Winter e a colocou de costas, entã o se acomodou entre suas
pernas. Seu olhar apaixonado percorreu o corpo de Winter como se tentasse decidir por
onde começar. Finalmente, ela capturou a boca de Winter em um beijo ardente que deixou
Winter tonta de desejo. Ela mordiscou o ló bulo da orelha de Winter, o que a fez estremecer,
entã o ela fez isso de novo.
Winter tentou controlar sua respiraçã o descontrolada enquanto Hannah chupava o
ponto sensível sob sua orelha, entã o deslizou seus lá bios para baixo, para baixo de seu
pescoço, onde cobriu cada centímetro com mordidas provocantes e beijos quentes. Quando
alcançou o peito de Winter, fez uma pausa e acariciou a pele ú mida entre seus seios.
Winter soltou um grunhido agonizante.
— Você está perdendo todos os primeiros lugares també m.
— Você quer dizer este?
 — Hannah sorriu contra sua pele, entã o se afastou um pouco
e tocou o mamilo de Winter com um dedo.
O toque quase imperceptível enviou uma onda de desejo direto ao â mago de Winter.
— Ou este? — Hannah esfregou o polegar no outro mamilo.
Winter gemeu. Ela deveria saber que Hannah seria assim, terna, apaixonada,
brincalhona e completamente enlouquecedora.
— Mmm, este é um bom lugar — Hannah cantarolou contra seu mamilo, entã o o levou
em sua boca.
Winter se arqueou ao toque e agarrou o lençol com as duas mã os.
— Ou você quis dizer este
 aqui? — Hannah deslizou os lá bios pela barriga de Winter,
deixando um rastro de beijos em seu caminho.
O sangue rugiu nos ouvidos de Winter. Desamparada, ela agarrou o ombro de Hannah.
— Espere! Espere. Você nã o… — Ela mal conseguia colocar ar suficiente em seus
pulmõ es para falar.
Hannah parou imediatamente e voltou a subir na cama para que ficassem ao nível dos
olhos uma da outra. Ela olhou para Winter com uma expressã o preocupada.
— Existe alguma coisa que eu... devamos nos preocupar?
Winter piscou para ela.
— O quê ?
— Porcaria. Devíamos ter conversado sobre isso antes. Eu fui testada e eu sou
negativa. Você ?
Oh.
 Ela estava falando sobre DSTs.
— Eu també m, mas nã o é por isso... Só porque eu fiz uma piada sobre gostar de oral
durante nossa primeira sessã o de abraços nã o significa que você tem que...
— Tem que? — O cabelo de Hannah fez có cegas no ombro de Winter enquanto ela
balançava a cabeça com firmeza. — Eu quero
. A menos que... Espere. Você disse piada?
Entã o você realmente nã o gosta?
— Nã o, nã o, eu amo isso, mas… — Winter engoliu contra uma garganta seca. — Eu
estava falando principalmente sobre dar, nã o receber.
— Oh. Entã o você nã o gosta disso?
As bochechas de Winter queimaram como se ela fosse uma adolescente falando sobre
sexo pela primeira vez.
— Eu nã o costumo deixar ningué m me tocar assim. É muito intimista demais. — Ela
nã o admitiria isso para ningué m, mas esta era Hannah.
— Tudo bem. Eu nã o preciso fazer isso. Nã o quando há tantas outras coisas que eu
poderia fazer. — Hannah arrastou um dedo ao longo do flanco de Winter, acalmando, mas
també m excitando.
Mas Winter percebeu que queria esse tipo de intimidade com Hannah. Seu estô mago
estremeceu com o mero pensamento disso.
— Nã o. Eu quero que você faça amor comigo. Com a boca.
As pupilas de Hannah dilataram.
— Tem certeza?
— Sim. Entusiasticamente sim.
Hannah se inclinou e a beijou. Começou como um toque suave de seus lá bios nos de
Winter, mas quando Winter passou as pontas dos dedos pelas costas nuas de Hannah até
que ela alcançou a curva exuberante de sua bunda, rapidamente esquentou.
Hannah capturou as duas mã os de Winter, abriu os braços para cada lado e os
pressionou contra o colchã o.
— Sem distraçõ es. É a minha vez de devorá -la.
E entã o ela fez exatamente isso.
Ela segurou um seio na palma da mã o, que era um encaixe perfeito, colocou o mamilo
duro na boca e chupou suavemente.
A pressã o aumentou na barriga de Winter. Ela levantou uma mã o do colchã o e
enterrou os dedos no cabelo de Hannah para segurá -la contra o peito. Oh meu Deus.
  Se
Hannah nã o tomasse cuidado...
Como se lesse seus pensamentos, Hannah mudou para o outro mamilo e passou a
língua ao redor dele.
Winter gemeu longa e profundamente. Ela flexionou os dedos contra a nuca de
Hannah.
Hannah beijou seu mamilo uma ú ltima vez, entã o seguiu em frente. Seus lá bios
estavam quentes contra a barriga de Winter, ameaçando pegar fogo em todo o seu corpo.
Seu cabelo se arrastava sobre a pele superaquecida de Winter, fazendo có cegas e
aumentando sua ansiedade.
Desde quando seu corpo era tã o sensível?
Ela estava tã o excitada que provavelmente gozaria no momento em que Hannah
respirasse nela.
— Oh nã o, ainda nã o — Hannah sussurrou como se mais uma vez estivesse lendo seus
pensamentos. — Eu quero aproveitar você primeiro — Deixou um rastro de mordiscadas e
beijos sobre a parte inferior da barriga de Winter, seus quadris, a curva sensível de suas
pernas, acendendo pequenos fogos ao longo de sua pele.
— Hannah — Winter levantou um joelho, abrindo-se para ela, mas Hannah nã o
parecia ter pressa em aceitar o convite.
Ela deslizou mais para baixo na cama, levantou-se e deu um beijo no joelho de Winter.
Centímetro por centímetro torturantemente, ela deixou seus lá bios passearem pela perna
de Winter e beijou o interior de sua coxa.
Um suspiro impotente escapou de Winter.
Sem levantar a cabeça, Hannah estendeu a mã o e arrastou as pontas dos dedos pela
barriga trê mula de Winter, desde a curva de seus seios até os pelos pubianos, e entã o de
volta para cima novamente.
Arrepios de desejo percorreram Winter. Ela respirou bruscamente entre os dentes
enquanto as carícias tentadoras de Hannah a levavam a um frenesi febril. Finalmente, ela
nã o aguentou mais um segundo dessa doce tortura.
— Eu preciso de você . — Ela nunca disse isso a ningué m. Era ainda mais assustador
do que eu te amo
, mas agora ela nã o podia deixar de dizer isso.
— Você me tem — sussurrou Hannah, seu há lito quente na pele sensível de Winter. Ela
abaixou a cabeça e a provou.
Ao primeiro toque de sua língua, Winter nã o pô de deter o som impotente que se
elevou em sua garganta; nã o queria parar. Com Hannah, ela nã o queria esconder nada.
Nã o que ela pudesse. Enquanto a língua de Hannah deslizava por sua umidade, tudo o
que ela podia fazer era emaranhar os dedos no cabelo de Hannah e levá -la para mais perto.
A boca de Hannah nela era incrível. Ela sugou o ar em seus pulmõ es em baforadas
desesperadas.
Hannah soltou um gemido de prazer ao saboreá -la.
Winter sentiu as vibraçõ es do som profundamente profundamente dentro dela. Os
mú sculos de suas coxas se retesaram quando ela enterrou os pé s no colchã o e se
pressionou contra a boca de Hannah repetidas vezes. Ela tentou levantar a cabeça para
observar Hannah entre suas pernas, mas seus mú sculos nã o cooperavam. Ela nã o
conseguia respirar. Nã o conseguia pensar. Tudo o que ela podia fazer era se render ao toque
de Hannah enquanto tudo ficava fora de controle. Ela agarrou os dedos de sua mã o livre no
lençol novamente, torcendo-o.
Hannah puxou sua mã o até que Winter a desenredou do tecido amassado e entrelaçou
seus dedos. Ela deslizou a língua para baixo e mergulhou dentro dela.
Os mú sculos do estô mago de Winter se contraíram.
Hannah usou sua mã o livre para segurar seu quadril, segurando Winter contra sua
boca enquanto ela a enviava cada vez mais alto.
Winter cravou os calcanhares no colchã o novamente. Uma pulsaçã o lenta começou
profundamente dentro dela. Tã o perto. Ruídos incoerentes subiram por seu peito.
Quando Hannah envolveu seus lá bios ao redor do clitó ris de Winter e chupou
suavemente, ela deu um grito rouco. Seus quadris se contraíram contra a boca de Hannah,
entã o enrijeceram. Seu orgasmo a atingiu rá pido e forte, fazendo pontos brilhantes
brilharem atrá s de suas pá lpebras.
Lentamente, ela voltou à realidade. Sentimentos secundá rios de prazer ainda
percorriam seu corpo, e ela levou um momento para se dar conta dos beijos carinhosos que
Hannah depositava na parte interna de suas coxas.
Hannah deslizou por seu corpo, deixando um rastro de beijos na pele ú mida de
Winter. Ela se aconchegou ao seu lado, passou um braço ao redor de sua cintura e deslizou
o joelho pelas coxas de Winter, envolvendo-a com seu calor e perfume incrível. Suas
bochechas estavam coradas e ela olhou para Winter com uma expressã o de admiraçã o.
Winter tentou engolir, mas sua garganta estava muito seca. Ela jogou para trá s uma
mecha ú mida de cabelo que se enrolava no pescoço de Hannah.
— Sem piadas que contenham a palavra adequada,
 por favor — ela finalmente soltou.
— Posso dizer, honestamente, que nem passou pela minha cabeça — respondeu
Hannah. — Nossa, você estava tã o deslumbrante. Eu nã o conseguia tirar os olhos de você .
Ou minha boca.
Suas palavras e o olhar apaixonado nos olhos de Hannah enviaram outra onda de
prazer pelo corpo de Winter.
— Obrigada. Por me deixar fazer isso.
Winter riu com voz rouca.
— Você está me agradecendo? Eu deveria estar agradecendo. Inferno, construir um
santuá rio para você e...
Hannah a beijou e Winter gemeu em sua boca enquanto saboreava vestígios de si
mesma.
— Eu nã o quero um santuá rio — Hannah sussurrou contra seus lá bios. — Eu só quero
que você me ame.
— Eu amo. Eu te amo. — Dizer que era mais fá cil agora, ainda nã o era, mas ela
chegaria lá com um pouco de prá tica. Ela as rolou para ficar por cima, aninhada entre as
coxas de Hannah. Muita prá tica. Começando agora. Ela deslizou pelo corpo de Hannah,
sussurrando beijos e “eu te amo” em sua pele.
***
Abraçar nunca esteve na lista de coisas favoritas de Winter para fazer depois do sexo...
ou em qualquer outro momento. Mas ela tinha que admitir, estava amando a conchinha,
especialmente a conchinha nua.
Elas se mantiveram acordadas a maior parte da noite, apenas saindo da cama para
pegar um pouco de á gua, muito necessá ria. Mas elas tinham percorrido apenas metade do
quarto antes que Winter nã o pudesse mais resistir aos quadris cheios e à bunda redonda
em exibiçã o diante dela. Ela pressionou Hannah contra a mesa de massagem que ela ainda
nã o havia vendido e a tomou novamente.
Agora, quando o sol estava nascendo, prometendo um lindo dia de verã o, elas estavam
aconchegadas na cama, alimentando uma a outra com donuts. Winter lambeu um pedaço
de chocolate do dedo de Hannah.
— Acho que devemos manter.
Hannah se virou em seus braços. Sua pele quente e curvas suaves eram tã o boas
contra Winter. Tã o certas.
— Meu dedo? Sim, eu preferiria isso. Eu sou meio apegada a ele.
Winter riu. O texto promocional no site de Hannah estava certo. A oxitocina era um
incrível impulsionador do humor. Ela se sentia mais despreocupada e feliz do que em...
bem, nunca.
— Nã o, nã o é o seu dedo. Embora eu prefira que o mantenhamos també m, junto com
seus nove amigos muito talentosos. — Ela beijou cada um dos dez. — Eu estava falando
sobre a mesa de massagem.
Um adorável rubor subiu pelo peito de Hannah, fazendo Winter sorrir.
— Pare de sorrir. — Hannah deu um tapinha na boca de Winter, mas ela també m
estava sorrindo.
Winter mordiscou o dedo que começou a traçar seus lá bios.
— Difícil de lidar com todas aquelas imagens mentais da noite passada passando pela
minha cabeça.
— Você me deixou em desvantagem, aí. — Em vez de retirar a mã o de Winter, Hannah
usou a outra para indicar a cabeça. — Sem replays mentais, lembra?
— Hum. Você sabe, isso realmente nã o é um problema. Sempre que você quiser um
replay, teremos que recriá -lo para você .
— Nã o, você nã o vai. Nã o agora — disse Hannah, mas suas pupilas se dilataram e sua
voz baixou para um tom sexy. — Você tem glacê nas mã os.
Winter lançou-lhe um sorriso libertino, entrelaçou os dedos e abriu os braços para os
lados, como Hannah tinha feito na noite anterior.
— Quem disse que vou usar minhas mã os?
Com um gemido baixo, Hannah desistiu de seus protestos.

Capítulo 27
No nonagé simo segundo dia, aniversá rio de Winter, elas se sentaram no sofá , seus
corpos se tocando ao longo de seu comprimento, enquanto Winter abria o presente de
Hannah.
Quando Winter demorou demais com o papel de embrulho, Hannah cutucou-a com o
joelho.
— Rasga logo!
Winter deu-lhe uma piscadela brincalhona.
— Isso é o que você disse ontem à noite.
Hannah ficou vermelha e Winter se inclinou com um sorriso e beijou sua bochecha.
Verdade seja dita, ambas tinham sido insaciáveis ​na noite passada, ainda mais do que
em qualquer uma das nove noites anteriores desde que fizeram amor pela primeira vez. E
isso provavelmente queria dizer alguma coisa. Logicamente, Winter sabia que elas teriam
muitas mais noites juntas. Nã o era como se elas fossem terminar só porque os termos da
herança haviam sido cumpridos. Ainda assim, ela nã o podia deixar de sentir como se tudo
fosse mudar agora que ela teria que navegar sem a rede de segurança que as tais condiçõ es
haviam fornecido.
Finalmente, ela se deu
 um chute mental e seguiu as ordens, arrancando o papel de
embrulho.
Uma caixa de LEGO estava em seu colo. Era um conjunto arquitetô nico do horizonte
de Sã o Francisco, uma cidade que sempre lembraria a Winter do telefonema quando
Hannah disse que a amava.
Winter ergueu as sobrancelhas para ela.
— Tem certeza que isso é para mim? Nã o para sua sobrinha e sobrinho?
— Oh, nã o finja que nã o se divertiu montando aquela construçã o de LEGO com eles.
Eu vi você entrar furtivamente na sala para terminar na manhã seguinte, quando pensou
que ningué m estava olhando.
— Só porque a maneira como as crianças o construíram era estruturalmente
insalubre. —
 Winter tentou jogar com calma, mas ela nã o podia negar que estava ansiosa
para construir o horizonte juntas.
— Leia o cartã o. — Hannah lhe entregou um pequeno envelope.
Winter abriu-o com cuidado e tirou o cartã o.
Feliz Aniversário!
Você nunca será velha demais para LEGO... ou para abraços.
Eu te amo,
Hannah
 
Elas se entreolharam.
Como sempre, Hannah nã o tentou esconder as emoçõ es que brilhavam em seus olhos
castanhos.
O cartã o era muito mais do que LEGO ou abraços. Ambos foram coisas que Julian, e
sua mã e, negaram a ela quando ela era mais jovem.
Agora Hannah disse que ela poderia tê -los, alé m de amor també m.
Sua garganta apertou. Ela mentalmente revirou os olhos para si mesma.
Aparentemente, o amor tornava as pessoas sentimentais e ela nã o era exceçã o.
Ela passou os braços ao redor de Hannah e a puxou para mais perto até que ela
estivesse praticamente no colo de Winter.
— Obrigada — ela sussurrou contra seus lá bios.
Quando os olhos de Hannah se fecharam, ela a beijou.
Hannah deslizou os dedos pelo cabelo de Winter, do jeito que Winter amava, e
retribuiu o beijo.
O cronô metro de seu reló gio tocou, assustando-as.
Winter esmagou o dedo na maldita coisa para calá -la.
O tempo era um fenô meno estranho. Quando ela definiu o cronô metro, elas eram
estranhas na melhor das hipó teses e rivais na pior. Naquela é poca, os noventa e dois dias se
apresentavam diante de Winter como uma extensã o interminável de tempo.
Agora que ela se apaixonara por Hannah, o resto do tempo que passaram juntas,
passou rá pido demais.
Elas ainda nã o haviam conversado sobre o que aconteceria depois, como se nenhuma
delas quisesse azarar.
Ou, mais provavelmente, porque você é uma completa covarde quando se trata de
emoções e Hannah não quer pressioná-la.
Winter sabia que nã o estava pronta para deixar Hannah ir... mas ela estava pronta
para dar o salto e ter um compromisso para sempre?
A campainha tocou.
Winter olhou na direçã o. Ainda faltavam quinze minutos para o Sr. Woodruff, o
advogado, chegar
 entã o, quem diabos estava na porta?
Com um suspiro, Hannah desceu do colo de Winter e foi atender.
Momentos depois, Brooke entrou na sala como se fosse a dona do lugar, com Hannah
atrá s dela.
Winter podia sentir sua pressã o sanguínea subir a cada passo que Brooke dava em
sua direçã o.
— É claro. Eu deveria saber que seria você , tentando enfiar o nariz onde nã o deveria.
Você nã o tem nada que estar aqui. Esta reuniã o é entre nó s e o advogado de confiança de
Julian.
Brooke pegou a caixa de Lego do sofá , ergueu uma sobrancelha perfeitamente
delineada como se estivesse inspecionando um chiclete grudado em sua blusa de seda
favorita, depois jogou a caixa na mesinha de centro para poder se sentar do outro lado do
sofá .
— També m sou beneficiá ria, entã o tenho todo o direito de estar aqui. Mais direito do
que você , na verdade.
Que jogo ela estava jogando agora? Winter a olhou com as sobrancelhas franzidas.
— O que você quer?
— As chaves do pré dio — disse Brooke com um sorriso que teria deixado uma
barracuda orgulhosa. — Junto com a escritura, é claro.
— Ah! Eu sempre soube que você estava delirando. Só nã o sabia que tinha ficado tã o
ruim.
— Delirando, hum? Bem, nesse caso, é uma ilusã o que o detetive particular que
contratei compartilha comigo. E a câ mera dele també m. — Brooke tirou um grande
envelope de sua luxuosa bolsa de couro e o jogou para Winter.
Com um olhar furioso, Winter o pegou antes que pudesse atingi-la no peito.
Hannah se empoleirou no braço do sofá ao lado dela e pegou a mã o de Winter. Seu
olhar calmo dizia: Seja o que for, vamos lidar com isso juntas.
Winter apertou a mã o de Hannah e respirou fundo.
— Deixe-me adivinhar. Este nã o é um presente de aniversá rio.
— Ah, é um presente, sim. — Brooke sorriu. — Mas temo que seja mais um presente
para mim.
Winter rasgou o envelope. Uma pilha de fotos deslizou para fora. Um sentimento de
pavor arranhou seu estô mago enquanto ela os segurava para que Hannah pudesse vê -los
també m e folheava as fotos.
Havia meia dú zia de instantâ neos. A maioria parecia retratar divertidas fé rias em
família, mas algumas foram claramente tiradas com uma teleobjetiva.
Hannah e ela saindo do hospital juntas.
Hannah no convé s com o pai.
Winter com a sobrinha de Hannah, ambas parecendo estar discutindo algo da maior
importâ ncia.
Ela acariciando Mastigadora, o cavalo, enquanto Hannah observava com um sorriso
no rosto.
A raiva percorreu Winter tã o rá pido que ela pensou que o topo de sua cabeça
explodiria. Ela pulou e apenas o aperto de Hannah em sua camisa a impediu de tirar o
sorriso presunçoso do rosto de Brooke.
— Você nos seguiu?
— Oh, vamos lá . Nã o finja que nã o teria feito o mesmo. Você realmente pensou que eu
iria apenas sentar e esperar que os noventa e dois dias acabassem?
Winter fechou a boca para nã o gritar. Quando Brooke as encontrou durante a
campanha de abraços grá tis, ela deve ter percebido que desafiar Winter a agendar uma
sessã o de abraços nã o havia criado uma barreira entre elas, como ela havia planejado. Ela
deveria saber que Brooke nã o desistiria depois que seu plano saísse pela culatra. Mas,
sinceramente, ela mal havia pensado em Brooke nas ú ltimas semanas. Nã o desde que ela e
Hannah se tornaram amigas e depois amantes. Ela baixou a guarda e se concentrou em ser
feliz pela primeira vez, e agora ela podia ter que pagar o preço. Ela e
  Hannah, e isso era
ainda pior.
— Eu estava sentada aqui, esperando pacientemente que seus oitenta e trê s dias
terminassem no final deste mê s — ela resmungou. — Mas, claro, sou só eu. Eu deveria
saber que você
 jogaria sujo.
— Jogar sujo? — Brooke parecia honestamente ofendida. —Isso nã o é jogar sujo. Nã o
interferi em nada e, acredite, fiquei tentada. Tenho conexõ es com vá rias das empresas para
as quais você trabalha. Eu poderia facilmente convencê -los de que sua presença era
necessá ria com urgê ncia em um evento de uma semana em Londres. Mas nã o o fiz. A ú nica
coisa que fiz foi garantir que você s duas seguissem as regras. Nã o é minha culpa se você
nã o o fez.
Winter enfiou as fotos no envelope e jogou para ela.
— Isso nã o prova nada. Eu disse a você que fizemos uma viagem de um dia para ver a
família de Hannah.
Brooke pegou o envelope e tirou uma das fotos. Mostrava o Audi de Winter
estacionado em frente à casa dos Martins em Sunriver. O carimbo de hora provou que tinha
sido no meio da noite.
— Sim, mas nã o foi apenas uma viagem de um dia, foi?
— Nã o importa — retrucou Winter. — Se você tivesse lido as letras miú das do
documento, saberia que a condiçã o estabelece que temos que dormir sob o mesmo teto por
noventa e dois dias. E foi exatamente isso que fizemos.
Brooke jogou a cabeça para trá s e riu.
— Ah, você se acha tã o inteligente! Você honestamente acha que uma interpretaçã o
muito vaga da condiçã o de papai vai funcionar com um juiz?
Winter cerrou as mã os com tanta força que os nó s dos dedos doeram. Ela sabia que a
brecha que havia encontrado era frá gil. Talvez um juiz ficasse do lado delas, talvez nã o. Foi
um risco que ela decidiu correr para que Hannah tivesse uma chance de lutar para manter
seu estú dio de abraços e ela nã o permitiria que ela o perdesse agora. Ela pairava sobre
Brooke com os punhos nos quadris, fazendo-se parecer ainda maior.
— Juro por Deus, Brooke, se você nos impedir de herdar este pré dio, farei com que a
missã o de minha vida seja arruiná -la!
Hannah se espremeu para passar por ela, acariciando suavemente o quadril de Winter
com a mã o e se colocou entre elas. Suas bochechas estavam pá lidas, mas ela manteve a
cabeça erguida enquanto encarava Brooke.
— Hum, talvez devê ssemos todas dar um passo para trá s e nos acalmar antes de
continuarmos esta conversa.
— Estou perfeitamente calma. — Brooke sorriu serenamente e esticou o braço nas
costas do sofá como se já o possuísse.
Winter queria se lançar sobre ela e arrancar aquele braço na altura do ombro, depois
bater nela com ele.
Sem olhar, Hannah pô s a mã o na parte superior do peito de Winter, logo acima do
batimento acelerado de seu coraçã o. Seu olhar, no entanto, permaneceu fixo em Brooke.
— Deixe-me esquecer por um momento que você tirou fotos da minha família. Da
minha sobrinha menor de idade. — Uma nota perigosa vibrou em sua voz quando o nú cleo
de aço que se escondia sob o exterior aveludado de Hannah apareceu.
Até Winter engoliu em seco, feliz por aquele tom de aço nã o ser dirigido a ela.
— Porque nã o se trata minha
  família — continuou Hannah, sua voz agora menos
afiada, mas ainda tã o determinada que nem Winter nem Brooke conseguiram desviar o
olhar ou interrompê -la. — É sobre a sua. Pelo amor de Deus, você s duas sã o irmã s e, no
entanto, sã o tã o teimosas que nã o podem deixar a outra vencer, nã o importa o que isso
possa custar a você s.
Winter endureceu.
— Nã o estou fazendo isso para ganhar. Estou fazendo isso por você . Para evitar que
você perca seu estú dio de abraços.
— E eu continuo dizendo a você que nã o preciso de você para ser minha guarda-
costas. Nã o sou uma donzela em perigo que precisa ser salva.
Droga, aquele aço doía quando era direcionado a ela, mesmo por um segundo.
Hannah fez uma pausa e se virou para ela. Sua expressã o suavizou.
— Eu amo que você saiba o quã o importante é ter um estú dio de abraços para mim.
Mas há coisas que sã o ainda mais importantes na vida. Família, por exemplo. — Ela
gesticulou de Winter para Brooke.
— Ela nã o é minha família — Winter cuspiu. — Você é .
— Oh, Jesus Cristo, estou ficando com cá ries só de ficar sentada aqui, ouvindo você s,
pombinhas — murmurou Brooke.
Winter a olhou por cima do ombro de Hannah.
— Cale-se.
— Sim, Brooke, cale a boca e ouça — disse Hannah. — Talvez você tenha sucesso se
tentar desafiar a herança. Talvez você acabasse herdando este pré dio. Mas isso nã o é
realmente sobre o pré dio, é ? Você s duas tê m dinheiro suficiente para comprar qualquer
outro lugar no centro da cidade.
— É sobre este pré dio para mim — disse Winter. — Julian roubou de mim, com a
ajuda de Brooke, e eu quero de volta.
— Eu nã o contei a ele sobre o maldito pré dio! — Brooke disse, mas Winter e Hannah a
ignoraram.
— Será que realmente vale a pena? — Hannah olhou de Winter para Brooke. — Se
você s colocarem uma a outra em longas batalhas judiciais, lavando toda a roupa suja da
família, você s destruirã o seu relacionamento para sempre.
— Essa é a questã o — disse Brooke, a expressã o sé ria, todos os vestígios de um
sorriso malicioso agora desaparecidos. — Nó s nã o temos um relacionamento de qualquer
maneira.
— Porque relacionamentos dã o trabalho e nenhuma de você s se esforçou o suficiente.
Agora as duas olharam para ela, mas Hannah se manteve firme.
— Você s nã o fizeram. Você s duas continuam jogando o jogo que Julian impô s a você s.
Você — ela apontou para Winter — continua fazendo de tudo para provar que nã o é a
segunda melhor tentando derrotar Brooke. E você — ela se virou e acenou com a mã o para
Brooke — continua provocando ela, fazendo o seu melhor para fazê -la odiá -la para que você
tenha um motivo para odiá -la també m, porque isso é mais fá cil do que odiar seu pai por
tudo que ele fez você e sua mã e passarem.
Um silê ncio repentino se instalou na sala de estar.
Hannah respirou fundo, entã o fechou a boca, como se o que ela disse a tivesse
surpreendido també m.
A campainha tocou, provavelmente anunciando a chegada do Sr. Woodruff, e isso tirou
todas de seu transe.
— Besteira — Winter e Brooke disseram ao mesmo tempo.
Mas Winter sabia, pelo menos para ela, que faltava o fogo da convicçã o. Talvez
houvesse um pingo de verdade no que Hannah dissera. Muito do que deu errado entre elas
tinha a ver com Julian e o caminho que ele as colocou quando crianças e elas nã o se
desviaram desse caminho.
Claro, isso nã o descartava que Brooke fosse uma completa idiota, assim como o pai
delas.
Ela caminhou até a porta. De uma forma ou de outra, ela queria acabar logo com isso.
***
O Sr. Woodruff ajustou a gravata e inclinou-se para a frente na poltrona que haviam
arrastado para perto do sofá , onde todos estavam sentados.
— Antes de chegarmos à parte oficial, o Sr. Lambert me pediu para entregar uma carta
a cada uma de você s e garantir que a lessem.
Winter fez uma careta. Claro, a velha raposa tinha que ter a ú ltima palavra, mesmo
postumamente.
Brooke suspirou e baixou o envelope com as fotos, mas manteve-o perto como se
quisesse tê -lo à mã o para quando terminassem
 de ler as cartas.
O Sr. Woodruff deslizou trê s envelopes pela mesa. Cada um estava etiquetado com um
nome: Winter, Brooke, Hannah
.
Winter pegou o dela. Lembrou-se dos envelopes que recebia em todos os aniversá rios
e em todos os Natais, contendo uma quantia generosa de dinheiro e nada mais, porque
Julian nunca a conhecera bem o suficiente para ter ideia do que dar a ela.
Sob o olhar cheio de expectativa do Sr. Woodruff, ela o abriu, tirou a ú nica folha de
papel e a desdobrou. Ela reconheceu a caligrafia ousada, mas precisa, de Julian, entã o pelo
menos ele nã o pediu a um assistente para escrever a carta.
Tudo bem. Ela leria e terminaria com Julian P. Lambert para sempre. Ela se recostou
no sofá ao lado de Hannah, que estava sentada entre ela e Brooke, permitindo que seus
ombros descansassem um contra o outro, e começou a ler.
Querida Winter,
A melhor coisa que um homem velho e doente como eu pode dizer sobre sua vida é que
ele não se arrepende. Infelizmente, tenho muitos deles.
Winter agarrou a carta com as duas mã os. Como o quê ? Tendo um caso? Ela já nasceu?
Ela se forçou a
 continuar.
Coisas sobre as quais nunca falei porque não fui criado assim. Já te contei que meu pai
teve o mindinho arrancado por uma colheitadeira quando eu era pequeno?
Nã o, claro que nã o. Ele raramente contava a ela algo sobre sua família, fazendo-a se
sentir como se nã o fizesse parte dela.
Ele dirigiu até o hospital e voltou para colher o resto do milho quatro horas depois. Ele
foi criado para nunca mostrar qualquer fraqueza ou sentir pena de si mesmo... ou dos outros.
Foi assim que vivi minha vida também e como queria que você e Brooke vivessem as suas.
Achei que te deixaria forte, mas agora não sei. Talvez só tenha te deixado sozinha, como eu.
Talvez eu devesse ter falado mais com você, explicado as coisas, por exemplo, por que
comprei o prédio bem debaixo do seu nariz assim que Luigi me contou.
Winter congelou. Luigi? Isso significava que o Sr. Vettorello, o proprietá rio anterior,
havia contado a ele sobre o pré dio estar à venda? Merda.
 Isso significava que Brooke estava
dizendo a verdade o tempo todo. Ela nã o havia traído sua confiança. Winter olhou para ela.
Brooke estava absorta em sua pró pria carta, seu rosto completamente calmo, como se
examinasse o cardá pio de um restaurante. Ou as ú ltimas palavras de Julian para sua filha de
ouro nã o foram muito pessoais, ou ela tinha a expressã o mais impenetrável de todos os
tempos.
Winter tentou fazer uma cara de pô quer igualmente convincente enquanto voltava
sua atençã o para a carta em seu colo.
Não fiz isso só porque sou um velho malvado. Tudo bem, eu queria te ensinar uma lição
sobre não deixar um negócio fora de sua vista até que você o feche, mas principalmente, eu
comprei porque minha saúde estava indo para o inferno, e o prédio era perto de onde eu fazia
diálise e do consultório de Brooke, e não queria admitir que não conseguiria mais voltar para
casa.
 
Winter virou a carta ao chegar ao final da pá gina e continuou do outro lado.
 
Estou velho e morrendo. É tarde demais para eu mudar meus modos. Mas talvez não seja
tarde demais para você. No momento em que estiver lendo esta carta, espero que tenha
superado seus noventa e dois dias com Hannah. Bem, espero que mais do que isso. Ela é uma
jovem incrível, muito diferente de todas as pessoas do meu mundo. Por uma hora toda semana,
eu quase podia ser uma pessoa diferente com ela também e pensei que talvez ela pudesse fazer
o mesmo por você se vocês passassem algum tempo juntas. Talvez você tenha isso em você
para deixá-la ser um começo.
Com meus melhores votos para sua vida,
Seu pai
Sem desculpas, embora talvez ele tenha dado a entender isso ao falar sobre seus
arrependimentos. Nenhum “eu te amo” també m, mas, novamente, ela nã o esperava por
isso. Ela també m nã o esperava as palavras que ele havia
 escrito.
Julian a forçou a viver com Hannah para lhe dar uma chance de mudar, e inferno se seu
plano ridículo nã o funcionou! Ela com certeza se sentiu diferente quando se sentou no sofá ,
seu ombro pressionado no de Hannah, buscando seu calor, suas mã os apertadas em torno
da carta.
Sem a influê ncia de Hannah, ela estaria aberta para ouvir as palavras, mesmo aquelas
que Julian nã o havia dito, ou ela colocaria a carta de volta no envelope, olharia para Brooke
e sairia furiosa?
Hannah apoiou a cabeça no ombro de Winter. Ela já havia terminado a carta e
colocado de volta no envelope.
— Você está bem? — ela sussurrou em seu ouvido.
Winter assentiu com a cabeça, depois fez uma pausa e sussurrou de volta — Nã o. Mas
ficarei.
Ela tinha um monte de coisas para resolver, mas ela iria fazer isso. Ela nã o acabaria
como Julian.
Hannah deslizou sua mã o sobre a de Winter em cima da carta.
Winter deixou cair em seu colo para que ela pudesse entrelaçar seus dedos.
O Sr. Woodruff pigarreou. Ele olhou para suas mã os, entã o desviou o olhar.
— Tudo bem. Se você já terminou suas cartas, vamos para a distribuiçã o dos ativos
fiduciá rios, começando com este edifício. Entendo que todos os beneficiá rios estã o
satisfeitos com o cumprimento dos termos do fundo? — Ele olhou de Winter e Hannah, que
assentiram, para Brooke.
Brooke levou o que pareceu uma eternidade para colocar sua pró pria carta de volta no
envelope. Ela puxou o maior, que continha as fotos de Hannah e Winter em Sunriver, e
arrastou um dedo ao longo de sua aba como se fosse derramar as fotos sobre a mesa de
centro.
— Na verdade…
Winter ficou tensa e agarrou a mã o de Hannah com mais força.
— Estou. — Brooke se levantou, deu um breve aceno de cabeça ao Sr. Woodruff e jogou
o envelope com as fotos para Winter. — Feliz Aniversá rio. Eu terminei com essa merda. —
Ela lançou um olhar fugaz para Hannah, entã o passou por elas. O clique-claque de seus
saltos desapareceu quando a porta da frente se fechou.
Winter ficou olhando para ela.
Hannah desvencilhou seus dedos e gesticulou em direçã o ao corredor.
— Vai.
Winter saltou e correu atrá s de sua irmã , quase colidindo com o cabideiro em sua
pressa. Ela abriu a porta da frente.
— Brooke, espere!
Brooke ficou parada no elevador, apertando o botã o vá rias vezes como se isso o
fizesse parecer mais rá pido.
Oh nã o, nã o o elevador. Se ela seguisse Brooke até lá , elas ficariam presas para
sempre, jogando o jogo de merda até que as vacas voltassem para casa. Rapidamente, ela
passou por Brooke, bloqueando sua fuga.
— O quê ? — Brooke rosnou. — Você tem o que quer. Nã o estou afim de bater um papo.
— Você está com disposiçã o para um — Winter respirou fundo, entã o soltou o ar
antes de terminar — pedido de desculpas?
— Eu nã o estou me desculpando. Contratar um investigador particular estava dentro
de...
— Nã o, você nã o entendeu. Estou me
 desculpando com você
. Eu estava convencida de
que foi você quem contou a Julian sobre meus planos de comprar o pré dio. Acontece que
você nã o contou, entã o… — Porra, isso era difícil. Winter endireitou os ombros. — Me
desculpa.
Brooke ficou olhando. Sua má scara inexpressiva vacilou, entã o voltou ao lugar.
— Desculpas aceitas.
Winter olhou de volta. Ela nã o esperava isso. A carta de Brooke continha uma ode
semelhante à mudança?
— O quê ? — Brooke rosnou. — Você está esperando por um abraço ou algo assim?
Uh... A ideia de abraçar Brooke... Nã o, apenas nã o. Hannah foi a ú nica que conseguiu
abraçá -la.
— Nã o, obrigada.
— Entã o saia do meu caminho.
Quando Winter se afastou, Brooke entrou pelas portas abertas do elevador. Ela se
virou e seus olhares se encontraram.
Por um momento, Winter achou que a expressã o de Brooke estava se suavizando.
As portas começaram a se fechar entre elas.
Ela deveria dizer algo legal? Nada lhe veio à mente.
Brooke acenou com a cabeça.
— Vou te enviar a conta do investigador particular.
— O quê ? Nã o, você nã o vai.
— Oh, sim, eu vou. Agora que nã o estou herdando o pré dio, nã o posso compensá -lo
com meus impostos.
Com um baque, as portas se fecharam, deixando Brooke com a ú ltima palavra.
Assim como o pai delas.
***
O Sr. Woodruff se despediu com a promessa de resolver os ú ltimos detalhes legais e
transferir a escritura do pré dio em breve.
Mas agora, Hannah nã o se importava muito com o pré dio. Tudo o que ela queria era
abraçar Winter e descobrir como ela estava.
Winter havia interagido com o advogado usando sua cara de pô quer, aquela que ela
usava quando lutava contra emoçõ es que nã o queria admitir.
Sem dizer nada, Hannah pegou sua mã o e a puxou para o quarto de Winter.
— Hum, eu nunca pensei que diria isso, mas eu realmente nã o estou afim de…
— Silê ncio — Hannah afastou seu protesto com um beijo carinhoso. — Eu nã o estou
te seduzindo. Eu só quero te abraçar... se você estiver disposta a isso.
Em vez de uma resposta verbal, Winter se deixou cair na cama e se enrolou de lado,
como se estivesse profundamente exausta e só tivesse esperado que Hannah dissesse a
palavra. Ela deslizou para a direita, deixando o lugar atrá s dela vazio.
Por um momento, Hannah olhou para as costas de Winter. Winter queria ser a
colherzinha! Nã o porque ela estava tentando provar que era capaz, mas porque queria que
Hannah a confortasse.
Hannah subiu na cama como se o chã o estivesse pegando fogo. Ela se escondeu atrá s
de Winter até que nã o restasse um ú nico centímetro entre elas. Deslizou os dedos pelos
cabelos delas, traçando leves linhas e círculos ao longo de seu couro cabeludo, desde a
tê mpora até a nuca em suaves carícias.
Winter estava completamente imó vel.
Finalmente, Hannah sentiu os mú sculos tensos pressionados ao longo de sua frente
relaxarem.
— Você quer falar sobre isso?— Hannah sussurrou.
Winter se virou em seus braços, suas pernas ainda emaranhadas. Ela ficou lá por um
tempo, apenas olhando nos olhos de Hannah. Em seguida, estendeu a mã o para trá s e
entregou-lhe a carta, que Hannah nem havia percebido que ainda estava segurando.
— Leia.
Oh.
  Hannah nã o esperava isso. Um caroço se formou em sua garganta. Ela estava
muito ciente do grande sinal de confiança que isso representava para Winter. Suas mã os
tremiam quando ela pegou a carta.
O caroço crescia a cada palavra que ela lia. Ah, Julian. Passar a vida inteira sem poder
demonstrar fraqueza... ou amor... Ela sofria por ele e até mesmo por Brooke, mas
principalmente, por Winter.
Hannah largou a carta, passou o braço em volta de Winter e apertou-a o mais forte
que pô de.
— Como você está se sentindo?
— Honestamente? Como um balã o furado.
Hannah a segurou e esperou.
— Eu estava com raiva dele quando ele me chantageou para morar com você por
noventa e dois dias. Eu estava tã o louca que quase disse para o inferno com isso e recusei a
herança.
— Estou feliz que você nã o fez isso — disse Hannah.
Winter se afastou um pouquinho para poder olhar para Hannah.
— Eu també m. Mas nã o estou com raiva há apenas noventa e dois dias. Passei minha
vida inteira com raiva dele.
— E agora?
— Ainda estou com raiva. Eu preciso que você entenda que ele nã o era o bom velho
cavalheiro que você pensa que ele era. Nã o para mim.
— Eu sei. Eu tive que chegar a um acordo com isso. També m estou com muita raiva
dele desde que te conheci melhor e vi o que ele, sendo tã o fechado e duro, fez com você .
Agora sei que ele nã o era quem eu pensava, mas també m nã o era quem você pensava. Pelo
menos nã o inteiramente. Acho que ele te amava, do seu jeito estranho. Ou pelo menos ele
queria. Ele simplesmente nã o tinha ideia de como.
Winter suspirou.
— Você tem razã o. É por isso que estou me sentindo como um balã o furado. Parte da
raiva está se esgotando e nã o sei o que fazer com um balã o meio cheio.
A maneira como Winter a olhava, tã o aberta, tã o impotente, deixou Hannah sem
fô lego.
— Preencha com outra coisa.
Um sorriso se abriu no rosto de Winter. Por mais hesitante que fosse, era real e fez o
coraçã o de Hannah pular.
— Alguma sugestã o? — Winter perguntou.
— Amor — disse Hannah. — Família. Amigos. Capachos de boas-vindas com
pequenos coraçõ es.
Winter riu.
— Nã o vamos nos empolgar demais. Nosso capacho azul liso terá que servir.
Mas continuaria sendo seu
  capacho agora que haviam cumprido sua obrigaçã o de
noventa e dois dias? Ela estava tentada a perguntar. Tã o tentada. Mas, no fundo, ela sabia
que esse era um salto que só Winter poderia dar.
— O que ele disse para você ? — Winter finalmente perguntou.
— Você pode ler por conta pró pria mais tarde, se quiser. Basicamente, foi um
agradecimento. Ele me agradeceu por ajudá -lo a perceber o que estava perdendo, embora
sentisse que era tarde demais para ter mais toque e afeto em sua vida ou em seu
relacionamento com você e Brooke.
— Fico feliz que ele nã o tenha tentado. Nã o consigo nem imaginar ele me abraçando.
Eu nã o acho que eu teria permitido isso.
— Eu sei. — Hannah acariciou a bochecha de Winter com as costas dos dedos. — E ele
sabia disso també m. Ele també m sabia que se obrigasse você e Brooke a viverem juntas,
você s se matariam em uma semana.
— Uma semana? — Winter bufou. — Tente um dia. Pedi desculpas a ela antes e ela
aceitou, mas nã o acho que Brooke e eu estaremos prontas para trançar o cabelo uma da
outra tã o cedo. O meu é muito curto de qualquer maneira.
Hannah alisou um dedo sobre um dos fios curtos de prata.
Winter a puxou ainda mais para perto e deslizou o outro braço sob o pescoço de
Hannah para que sua cabeça ficasse no ombro de Winter.
Um silê ncio pacífico caiu sobre elas.
— Hannah?
— Hum?
— Por mais zangada que eu estivesse com aqueles noventa e dois dias, nã o acho que
foram suficientes.
Hannah prendeu a respiraçã o. Winter estava dizendo o que ela esperava que ela
estivesse dizendo?
— Eu quero mais tempo com você . Muito mais tempo. Talvez noventa e dois anos
sirvam.
Seria possível flutuar até o teto de pura felicidade? Ela se agarrou a Winter, nã o
querendo arriscar.
— Isso é muito tempo — Hannah disse com a boca seca.
— É sim. É por isso que acho que devemos passá -lo em um lugar onde ambas nos
sintamos confortáveis. Como aqui. — Winter indicou o apartamento com um semicírculo
do queixo. — Seria muito para você se nó s duas deixá ssemos nossos antigos apartamentos
e continuá ssemos morando aqui juntas?
Uma risada vertiginosa explodiu de Hannah.
— Winter, nó s passamos a morar juntas dia depois de nos conhecermos.
— Certo. Entã o isso é um sim?
— Sim! Ou, para citar você , com entusiasmo sim!
Um sorriso iluminou todo o rosto de Winter.
— Excelente. Mas, sabe, acho que mudei de ideia.
Hannah teria ficado tensa se nã o fosse pelo brilho provocador nos olhos de Winter.
— Sobre?
— Nã o estar com disposiçã o para a seduçã o. — Winter rolou de costas e puxou
Hannah para cima dela.
Quando seus lá bios se encontraram em um beijo apaixonado, Winter tirou a carta da
cama.
Segundos depois, suas camisas caíram por cima. Entã o suas calças. Entã o Hannah
parou de acompanhar onde suas roupas caíam e se concentrou apenas nos beijos
vertiginosos e na pele quente de Winter.

Epílogo
Dez meses depois.
Winter ainda nã o gostava muito de abraços, mas eles eram inevitáveis ​ao
cumprimentar um bando de abraçadores profissionais, especialmente quando Hannah nã o
estava ao seu lado para ajudar a afastá -los.
Pelo menos ela conseguiu apenas um meio-abraço de um braço de Tammy, em vez de
um aperto de corpo inteiro, porque a Mamã e Urso trouxera Cartas Contra a Humanidade
 para a noite de jogos, entã o ela só tinha uma mã o livre.
— Onde está Ana? — Max perguntou enquanto entregava um pacote de seis cervejas.
— Atrasada, mas ela deve chegar a qualquer minuto. — Esperançosamente, o
engarrafamento em seu corredor enquanto as pessoas se abraçavam e se cumprimentavam
estaria resolvido até entã o.
— Atrasada? — Tammy, Valentina e Max trocaram um olhar significativo.
— Divó rcio? — Valentina perguntou.
Winter nã o olhou mais para a taquigrafia do carinho.
— Nã o. Ela está dando os toques finais em seu novo estú dio de abraços. — Uma
unidade do estú dio finalmente abriu no andar de baixo, entã o elas estavam montando
como um local de trabalho separado para Hannah.
— O que você s vã o fazer com o antigo estú dio? — Tammy perguntou. — Transformá -
lo de volta em um covil?
— Estamos pensando em transformá -lo em um quarto de hó spedes para quando a
sobrinha e o sobrinho de Hannah vierem, mas, por enquanto, colocamos a mesa de
massagem.
— Eu pensei que você queria vendê -la? — disse Valentina.
Ainda bem que Hannah nã o estava lá para pegá -la corando.
— Decidimos ficar com ela. Eu fico com os ombros muito tensos. De todo o trabalho
de computador, sabe?
Winter sentiu Hannah entrar e se colocar atrá s dela antes de ouvir seu bufo divertido.
— Oh, sim, muito tensos. — Ela passou os braços em volta de Winter por trá s e deu
um beijo em seu ombro. — Exigindo muitas massagens.
Winter murmurou em acordo, mas quando ela estava prestes a se virar e beijá -la,
Hannah pareceu se lembrar que elas tinham uma audiê ncia.
— Ei, pessoal! — Ela soltou Winter e começou a abraçar suas amigas. — Olha quem eu
encontrei subindo as escadas!
Quando a comoçã o na porta da frente finalmente se dissipou e o marido corpulento
de Tammy deu um passo para o lado, Brooke apareceu atrá s dele. Como sempre, ela entrou
como se fosse uma celebridade passeando por um tapete vermelho.
Para a decepçã o de Winter, nem mesmo a multidã o mais carinhosa se atreveu a
abraçá -la, provavelmente porque era a primeira vez que convidavam
  Brooke para uma
noite de jogos.
Izzy, a ex-assistente de Brooke e atual namorada, entrou atrá s dela e interrompeu o
passeio no tapete vermelho de Brooke, pegando sua mã o e puxando-a para parar antes que
ela pudesse passar por Winter.
— Nã o se esqueça de dizer oi para sua irmã .
— Oi, mana — disse Brooke como se estivesse apenas agradando a namorada, que lhe
deu um olhar de oh-por favor. — Você se lembrou do vinho?
— Opa, desculpe, esqueci totalmente. Você vai ter que beber cerveja como o resto de
nó s, meros mortais.
Hannah esbarrou em Winter de brincadeira com um quadril.
— Nã o dê ouvidos a ela. Claro que tem vinho.
Vinho que elas nunca conseguiriam, porque ainda estavam todos parados no corredor,
conversando.
Brooke parou em frente a uma foto emoldurada ao lado do cabideiro.
— Você pendurou uma das fotos? Eu realmente deveria ter enviado a conta para você ,
entã o!
— Bem, você sabe — disse Winter casualmente — passamos tantos fins de semana
em Sunriver ultimamente que Mastigável e eu nos tornamos amigos.
— Mastigável? — Hannah esbarrou nela novamente. — O cavalo é a razã o pela qual
você pendurou esta foto? Nã o porque é a primeira foto tirada de você com o amor da sua
vida?
Winter deu de ombros, mas nã o pô de deixar de lhe dar um sorriso que, com sorte, nã o
parecia muito apaixonado.
— Tem isso també m. — Verdade seja dita, ela havia colocado a foto em um porta-
retrato em parte para irritar Brooke, velhos há bitos e tudo, mas principalmente porque
adorava o modo como Hannah olhava para ela na foto.
— Pelo menos o investigador particular que contratei sabia como tirar uma foto sem
cortar a cabeça de ningué m — disse Brooke e, olhando para Hannah, acrescentou: — Ao
contrá rio de algumas outras pessoas.
Winter conteve com força o rosnado que queria subir em seu peito. Você não é o
guarda-costas dela, lembra? Era uma frase que ela tinha que dizer muito a si mesma,
especialmente no começo, e provavelmente a usaria novamente quando Hannah começasse
a receber clientes no andar de baixo, onde Winter nã o estava mais a apenas um grito de
distâ ncia.
Mas ela confiava em Hannah para cuidar de si mesma e Hannah confiava nela para
aceitar isso. Alé m disso, ela mencionou casualmente sua preocupaçã o à Sra. Kline, que
entã o prometeu ficar de olho no estú dio de abraços ao lado de seu apartamento.
— Entã o essa é sua irmã ? — Valentina sussurrou quando o resto de seus visitantes
começaram a se mover em direçã o à sala de estar. — Nossa
, ela é gostosa! Mas o que ela
está fazendo aqui? Achei que você s se odiassem.
Winter deu de ombros. Ela nã o odiava Brooke. Houve momentos em que ela a achou
absolutamente simpá tica, embora sua meia-irmã ainda pudesse ser uma merdinha
arrogante em outros momentos.
— É uma longa histó ria. Uma para outro dia.
— Winter — disse Hannah no momento em que Valentina abriu a boca,
provavelmente para outra pergunta — você me ajudaria com o vinho?
Winter ergueu as sobrancelhas. Hannah insistia que poderia se defender se
necessá rio, mas precisava de ajuda para abrir uma garrafa de vinho? Bem, ela nã o ia
protestar, especialmente se pudesse escapar das perguntas de Valentina e roubar um ou
dois beijos na cozinha.
Hannah pegou sua mã o e a levou até a garrafa de tinto que ela havia comprado.
— Brooke e Izzy sã o meio fofas juntas, você nã o acha?
— Fofas? Minha irmã nã o é fofa — ligar para Brooke ainda era novidade, assim como
ver Brooke apaixonada. — A menos que você ache barracudas fofas.
Hannah sorriu.
— Acho você
 uma gracinha.
Winter se irritou, mas admitia que seu olhar era mais eficaz quando nã o era dirigido a
uma pessoa que sabia que ela a amava demais.
— Tenho certeza que você quis dizer linda. Esplê ndida. Positivamente arrebatadora.
Os outros adjetivos sumiram de sua mente quando Hannah agarrou um punhado de
sua camisa, puxou-a para perto e a beijou.
— Sim — Hannah sussurrou contra seus lá bios quando elas finalmente quebraram o
beijo — isso é exatamente o que eu quis dizer.
— Talvez possamos voltar a esse ú ltimo, arrebatador, mais tarde.
Hannah fez um pequeno som que provocou arrepios por todo o corpo de Winter.
— Eu nã o diria nã o a isso.
Winter encontrou o saca-rolhas em tempo recorde, pegou a garrafa de vinho do
balcã o e abriu-a com um estalo
. Quanto mais rá pido esta garrafa estivesse vazia e todos os
convidados fossem embora, mais cedo poderia
 começar.
— Hum, eu realmente nã o precisava de ajuda com o vinho — disse Hannah. — Eu
queria te dar um minuto. Eu sei que essa multidã o pode ser muito para você .
Ah. Hannah a conhecia tã o bem. No passado, ela nã o gostaria que ningué m a visse tã o
profundamente, mas com Hannah isso nã o a fazia mais se sentir fraca.
— Alé m disso — Hannah acrescentou e se aproximou — Eu realmente queria um
momento a só s com você . Para beijar você . — Ela beijou. Duas vezes. — E dizer que te amo.
Winter cantarolava contra seus lá bios.
— Eu també m te amo. — As palavras agora vinham sem esforço, mas ela ainda as
sentia com a mesma intensidade de dez meses atrá s. Mais profundamente ainda porque ela
descobriu coisas novas sobre Hannah, assim como ela permitiu que Hannah visse
diferentes lados de si mesma.
Hannah sorriu e acariciou a linha acima do nariz de Winter com a ponta de um ú nico
dedo.
— Em que coisas profundas você está pensando?
— Apenas, você sabe… — Admitir isso trouxe uma onda de calor em suas bochechas,
mas ela seguiu em frente. — Como estou feliz.
— Deve ser a oxitocina de todos os abraços que temos dado— disse Hannah. —
Porque eu també m estou muito feliz.
— Ei, você s duas, por que estã o demorando tanto? — Brooke gritou da sala de estar.
— Você está pisando nas uvas para o vinho?
Winter franziu o cenho, entã o roçou um ú ltimo beijo nos lá bios macios de Hannah.
— Vamos. Vamos matá -la juntas.
Sorrindo, Hannah pegou a mã o dela e o vinho e a seguiu até a sala de estar.
###
Se você gostou deste livro, confira o romance de Jae, Conflict of Interest
, o livro em que
Dawn, a terapeuta com quem Hannah trabalha, se apaixona pelo detetive que trabalha em
seu caso.

Nota da autora
Como Hannah, eu pertenço a 2-3% da populaçã o que tem afantasia – a incapacidade
de formar imagens mentais.
Para algumas pessoas afantá sicas, apenas a imagem visual é afetada, enquanto para
outras (incluindo Hannah e eu), ela se estende a todas as modalidades sensoriais.
Enquanto escrevia A um toque de distância
, nã o conseguia “ver” Hannah e Winter ou os
cená rios que descrevia; Eu nã o conseguia “ouvir” suas vozes ou o bufo de Chewy, o cavalo;
Eu nã o conseguia “provar” o sorvete com granulado de emergê ncia ou “cheirar” a pizza que
elas estavam comendo.
Para mim, os romances, quer os esteja escrevendo ou lendo, sã o sobre as emoçõ es e o
relacionamento crescente entre os personagens. Esse é o ú nico aspecto de que posso
desfrutar plenamente e, enquanto você estava lendo, espero que você també m tenha
gostado.
Se você gostaria de saber mais sobre afantasia, incluindo entrevistas com alguns de
seus autores favoritos de romances que amam mulheres, visite meu site em https://jae-
fiction.com/aphantasia

Sobre Jae
Jae cresceu entre os vinhedos do sul da Alemanha. Ela passou a infâ ncia com o nariz
enfiado em um livro, o que lhe valeu o apelido de “professora”. O bichinho da escrita a
mordeu aos onze anos. Desde 2006, ela tem escrito principalmente em inglê s.
Ela costumava trabalhar como psicó loga, mas desistiu de seu emprego diurno em
dezembro de 2013 para se tornar escritora em tempo integral e editora em meio período.
Para ela, é o melhor trabalho do mundo.
Quando ela nã o está escrevendo, ela gosta de passar o tempo lendo, entregando-se a
seus vícios em sorvete e materiais de escritó rio e assistindo a muitos programas policiais.

[1]
 
NT.: Winter significa Inverno e Summer, Verão.
[2]
 NT.: O mesmo que endereço de site.
[3]
 
Essa explicação só funciona bem em inglês, pois o nome da personagem é Winter, que significa
invero.
[4]
 
xhosa ou cosa
 é uma língua banta angune, um dos idiomas oficiais da África do Sul. Também é um
dos idiomas oficiais do Zimbábue

Você também pode gostar