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Juan Carlos Cubeiro

Leonor Gallardo

Código Mourinho
Decifrar o êxito do Special One

Tradução
Ana Maria Pinto da Silva
«Mourinho fez ver ao Real Madrid o que significa o poderio e a
autoridade.»
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, CF

«Tenho muito respeito por Mourinho como treinador, com tudo


aquilo que conseguiu, mas nunca será o técnico da minha equipa.»
Johan Cruyff, ex-treinador do FC Barcelona
Índice

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

A. Liderança real: um treinador que obtém resultados . . . . . . . . 21


1. Palmarés. Pelos seus títulos o conhecerão . . . . . . . . . . . . . . . 23
2. Três es são suficientes para o êxito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3. Esboçar o futuro que se deseja: transformar a estratégia
num desafio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4. Equipa, para além dos indivíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
5. Energia. Como ser um «mago» da motivação . . . . . . . . . . . . 51
6. Em conclusão, eficácia e eficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

B. A exibição do coach. Mourinho como treinador-espectáculo. . . 77


7. Como se forja uma lenda: o Special One . . . . . . . . . . . . . . . . 83
8. Apresentações oficiais. Um «programa eleitoral»
(na língua dos adeptos). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
9. As conferências de imprensa: interacções com o grande
público, com os meios de comunicação social como
intermediários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
10. O silêncio da intimidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
11. Elegância estudada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
12. As provocações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
13. Apelar ao inimigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

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14. Como conseguir que a «nossa tribo» nos adore . . . . . . . . . . 141


15. Uma identidade inesquecível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

C. Do valor ao talento (e não o inverso). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155


16. Nem resultados nem valorização. O estranho caso
do sofredor anónimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
17. Valor sem valorização. Capacidade e compromisso,
na pessoa desconhecida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
18. Sem resultados, com auto-elogio. O fumo cega os nossos
olhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
19. Grandes resultados, transmitidos com eficácia:
Mourinho como talento-estrela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171

D. As lições de Mourinho em oito tópicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175


Motivação interna.
Só nós nos «Mou-tivamos» a nós mesmos . . . . . . . . . . . . . . . 177
Orientação com vista a resultados.
«Mou-bilizar» as nossas energias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
Uniformizar critérios.
A nossa «Mou-chila» precisa de estar repleta . . . . . . . . . . . . . 179
Resposta surpreendente.
O mundo não é dos «Mou-derados». . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Iniciativa total.
O «Mou-vimento» é demonstrado em andamento . . . . . . . . 182
Nadar entre tubarões.
«Mou-dificar» as nossas atitudes para nos adaptarmos . . . . 183
Humanidade para com os semelhantes.
Não esquecer que somos «Mou-rtais» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Orquestrar a sinfonia.
Ser um «Mou-delo» para os outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186

Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189

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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa
Odes (1914-1934) de Ricardo Reis
Introdução

«Um cínico é um homem que conhece o preço de todas as coisas


sem lhes conhecer o valor.»
Oscar Wilde

O talento é uma moeda

Está amplamente demonstrado que investir no próprio talento de cada


um é a actividade mais rentável que existe. O economista George Psa-
charopoulos demonstrou que investir em educação gera lucros anuais
entre 10% e 25%. Art Rolnick e Rob Grunewald, do Banco da Reserva
Federal de Minneapolis, avaliaram o retorno do investimento no desen-
volvimento do talento em 16% anuais, o que significa na prática que
por cada euro investido obtêm-se oito. Em relação ao desenvolvimento
do talento, o Prémio Nobel da Economia James Heckman insistiu na
existência de «círculos virtuosos» (aprender cada vez mais) e de «cír-
culos viciosos» (depreciar o talento de forma contínua), assim como
no facto de que uma boa parte da desigualdade (salarial, económica,
social) provém de diferenças de aprendizagem. Raghuram Rajan, que
foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional entre 2003 e
2007 e é autor do livro Linhas de Fractura, assegura que no momento
actual de desenvolvimento tecnológico e globalização é impossível atin-
gir um elevado nível de vida sem possuir grandes capacidades.

Uma moeda que flutua

Existe um enorme paradoxo em relação ao talento. A professora da


Universidade de Stanford Carol Dweck, que anda há mais de quatro

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décadas a analisar em que consiste o talento, explica-nos que a maior


parte das pessoas tem uma mentalidade fixa nesta questão: «Ou se tem
ou não se tem.» Segundo Carol Dweck, «as pessoas com mentalidade
fixa acreditam que as suas qualidades básicas, tais como a inteligência
ou o talento, são características fixas. Que possuem uma certa quanti-
dade delas, e pronto. Esforçam-se o tempo todo para demonstrar que
são inteligentes ou talentosas, que são vencedoras e não perdedoras.
Tentam que ninguém lhes chame a atenção para as suas deficiências,
e amarguram-se se as suas aptidões não são reconhecidas da maneira
que elas pensam que seriam merecedoras». Pelo contrário, as pessoas
com mentalidade de crescimento «são as que acreditam que as suas
qualidades básicas podem ser cultivadas mediante o esforço e a apren-
dizagem. Procuram experiências que impliquem desafios, com o objec-
tivo de que as suas aptidões evoluam até um nível superior». A chave
é, por conseguinte, considerar o talento a partir de uma mentalidade
de superação, de melhoria, de desenvolvimento, de aprendizagem. Nas
palavras de Dweck: «As pessoas com uma mentalidade de crescimento
são melhores pais, professores, chefes, companheiros e amigos. Acham
que as pessoas podem crescer e, portanto, são melhores para estimular
o crescimento e a aprendizagem nos outros.» Por que razão se valoriza
tão pouco o esforço? Porque menos de 20% da população possui uma
autêntica mentalidade de superação; mais de 80% assume totalmente
ou em grande parte a mentalidade fixa (também se aplica o Princípio
de Pareto de 80-20 em relação ao talento). De novo nas palavras de
Carol Dweck: «Quando os pais ou os docentes elogiam a inteligência
de uma criança em lugar do seu esforço ou das suas estratégias, estão
a ensinar-lhe uma mentalidade fixa.»
No Evangelho segundo São Mateus (13:12) podemos ler, como con-
clusão da parábola dos talentos: «Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado
e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe
será tirado.»
O talento aprecia-se ou deprecia-se, mas nunca se mantém cons-
tante. O sociólogo da ciência Robert K. Merton chamou «efeito de
Mateus» (devido ao versículo da Bíblia) a este círculo virtuoso ou

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Código Mourinho

vicioso. O professor Jorge Jiménez Rodríguez, da Faculdade de Psico-


logia da Universidade de Granada, explica o «efeito de Mateus» como
«a contribuição de uma maior quantidade de benefícios, tanto mate-
riais (económicos e outros recursos, prémios) como imateriais (pri-
vilégios, considerações, confiança, poder, fama), pelo facto de ter o
máximo valor num determinado parâmetro que se considera relevante.
Situa-se na primeira posição de uma certa classificação ou categoria de
âmbito local, regional, nacional ou global. Como consequência de ser
classificado como o melhor, resulta o mais beneficiado, supervalori-
zado e, frequentemente, eclipsa o resto». Por outro lado, «reduzem-se
ou anulam-se os benefícios de qualquer tipo às pessoas ou entidades
que menos valor possuem de um determinado parâmetro que é con-
siderado como sendo relevante. Em muitos casos criam-se processos
de marginalização, porque a consideração destas pessoas ou entida-
des muda quando se apercebem como estando situadas nos últimos
degraus da classificação. Com frequência, observa-se que ficam muito
aquém do esperado, considerando os recursos com que contavam no
princípio. Num caso extremo, o que menos tem é despojado dos seus
pertences, que paradoxalmente são entregues ao que mais tem». Em
1993, a historiadora da ciência Margaret Rossiter inventou a expressão
«efeito Matilda» (em honra da activista Matilda J. Gage), como corolá-
rio do «efeito de Mateus», para denunciar a situação social das mulhe-
res cientistas que recebem menos crédito e reconhecimento pelo seu
trabalho do que os seus congéneres masculinos.
Crescer ou decrescer? Você decide. José Mourinho não tem dúvi-
das de espécie nenhuma.

«Mourinho é um treinador próximo e atento. Sempre tenta melho-


rar e está em cima de nós, corrigindo os erros e incentivando-nos
quando fazemos tudo bem.»
Esteban Granero
médio do Real Madrid, 17-7-2010

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O valor de Mourinho

Quanto vale José Mourinho como treinador de futebol de elite? Na rea-


lidade, não podemos sabê-lo (com certeza, no mercado alguns donos
de clubes da Premier League, da liga russa ou de equipas dos Emira-
tos Árabes Unidos estariam dispostos a pagar-lhe o que fosse necessá-
rio). O que sabemos realmente, de certo modo, é o quanto aufere no
Real Madrid.
Em Fevereiro de 2011, Pep Guardiola renovou o seu contrato com
o FC Barcelona e passou de sete milhões e meio de euros a ganhar dez
milhões, igualando o que oficialmente auferia Mourinho como trei-
nador do Real Madrid.
No dia 19 de Outubro de 2010, na entrega dos prémios da Associação
de Jornalistas de Economia, «escapou» ao presidente do Real Madrid,
Florentino Pérez, que Mourinho recebia quinze milhões de euros por
temporada («Quinze milhões, porém brutos», esclareceu), ao que Emi-
lio Botín, presidente do Grupo Santander, que estava ao seu lado, res-
pondeu: «Bolas, recebe mais do que eu!»
Mourinho pratica a «doutrina Capello», segundo a qual o treinador
deve receber mais do que qualquer jogador do plantel. Deste modo, a
demissão terá de ser uma decisão ponderada (por mais difícil que seja)
e não fruto do «arroubo momentâneo» do presidente. Fabio Capello
recebia como treinador do Real Madrid mais um euro do que o jogador
mais valioso, e como seleccionador inglês a bagatela de nove milhões
de euros (Vicente del Bosque, que fez de La Roja campeã do mundo,
aufere pouco mais de dois milhões). Capello demitiu-se do cargo de
treinador da selecção de Inglaterra no dia 8 de Fevereiro de 2012.
Com efeito, José Mourinho é o mais bem pago dos treinadores e o
executivo com o salário mais elevado de toda a Espanha. E pensar que,
quando chegou a Espanha pela primeira vez, recebia sessenta euros
(dez mil pesetas) por mês! Joan Gaspart, vice-presidente principal do
FC Barcelona naquela época, recorda que ele «ficou hospedado de graça
num quarto de um hotel meu, o Arenas, porque mal tinha dinheiro
para viver. Tínhamos-lhe oferecido dez mil pesetas por mês; mais tarde,

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Código Mourinho

quando se demonstrou que era algo mais do que um mero tradutor,


aumentámos-lhe ligeiramente o salário». Em apenas quinze anos, da
miséria ao estrelato.
De acordo com a Lainformación.com, o ano em que o treinador
português foi contratado pelo Real Madrid, os executivos mais bem
pagos eram:

1. Alfredo Sáenz (Santander): 10,23 milhões de euros.


2. Ignacio Sánchez Galán (Iberdrola): 8,2 milhões de euros.
3. César Alierta (Telefónica): 6,96 milhões de euros.
4. Julio Linares (Telefónica): 6,96 milhões de euros.
5. José María Álvarez-Pallete (Telefónica): 6,96 milhões de euros.
6. Francisco Luzón (Santander): 5,81 milhões de euros.
7. Francisco González (BBVA): 5,3 milhões de euros.
8. Emilio Botín (Santander): 3,99 milhões de euros.
9. José Ignacio Goirigolzarri (ex-BBVA): 3,99 milhões de euros.
10. Ana Patrícia Botín (Banesto): 3,64 milhões de euros.

Segundo o diário El Economista (22 de Março de 2012), os exe-


cutivos mais bem pagos de Espanha eram Pablo Isla (20,3 milhões de
euros), Alfredo Sáenz (11,6), José Ignacio Sánchez Galán (9,5), Juan Luis
Cebrián (8,2), César Alierta (8,2) e Antonio Brufau (7,08). Longe de
Leo Messi (que aufere cerca de 33 por ano) e como é evidente do que
aufere em dividendos Amancio Ortega, a quinta fortuna do mundo
(atrás de Carlos Slim, Bill Gates, Warren Buffett e Bernard Arnault):
665,2 milhões de euros.

«Para mim o jogador de que mais gosto é Leo Messi. Sou fã de Messi.»
Emilio Botín, presidente do Banco Santander

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A moeda mais cara, o Double Eagle

O talento é uma moeda; no entanto, existem moedas e moedas. A moeda


por que mais se pagou num leilão público é o Double Eagle de 1933,
comprada por 7,59 milhões de dólares.
O Double Eagle de ouro, moeda desenhada por Augustus Saint-
-Gaudens, esteve em circulação desde 1907 até 1932. Devido à crise
financeira, em 1933 o presidente Franklin D. Roosevelt ordenou a
retirada do padrão-ouro. Todos os proprietários de moedas de ouro
deviam entregá-las antes do dia 28 de Abril ao Banco da Reserva Federal
(a sua posse passou a ser ilegal). Das 445 500 moedas cunhadas em
1933, todas deveriam ter sido destruídas para fazer lingotes, menos duas
que ficaram na Colecção Numismática Nacional do Museu Smithso-
nian. No entanto, por alturas de 1952, os serviços secretos já haviam
confiscado oito desses Double Eagles. Um joalheiro de Filadélfia cha-
mado Israel Sweet chegou a ter na sua posse dezanove dessas moedas e
vendeu pelo menos nove a coleccionadores particulares. O rei Farouk
do Egipto comprou uma; foi deposto num golpe de Estado em 1954 e
o governo dos Estados Unidos reclamou a moeda. Não obstante, o novo
governo egípcio declarou que esta se havia perdido. A moeda reapare-
ceu quarenta anos mais tarde, numa operação da CIA contra um trafi-
cante britânico no hotel Waldorf Astoria de Nova Iorque. Foi enviada
então para ser custodiada nas Torres Gémeas, mas em Julho de 2001,
dois meses antes do atentado terrorista do 11 de Setembro, foi transla-
dada, sem razão aparente, para Fort Knox.
No dia 30 de Julho de 2002, na sala de leilões Sotheby’s, o Double
Eagle de 1933 foi vendido a um comprador anónimo por 7 590 020 dóla-
res, o dobro do anterior recorde alcançado por uma moeda. Em 2004
apareceram mais outras dez moedas, que se encontram actualmente
sob custódia em Fort Knox, ao mesmo tempo que perdura a batalha
legal entre o governo dos Estados Unidos e o herdeiro de Israel Sweet.
No golfe, um double eagle (também chamado albatroz) consiste em
completar o buraco com 3 pancadas abaixo do par (por exemplo, em
2 pancadas se o par for 5, ou em 1 se o par for 4). É mais difícil do que

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Código Mourinho

concluir o «buraco em uma pancada» (ás): a probabilidade é de um


entre seis milhões. Num ano, não se fazem nem seis albatrozes em
todo o circuito PGA.
Mourinho é não só um talento: é um double eagle. Segundo a Escola
de Marketing IPAM (da localidade portuguesa de Aveiro), a reputação
de José Mourinho é de 74 pontos sobre 100, ao passo que a de Pep Guar-
diola é de 56, o que se traduz em cerca de mais cinco milhões de euros
anuais em valor de mercado. «Esta vantagem de José Mourinho explica-
-se pelo estilo, pelas mensagens e pelos discursos que utiliza normal-
mente nas suas conferências de imprensa», explica Daniel Sá, autor do
estudo. Mourinho recebe, para além dos treze milhões de euros líqui-
dos, cerca de cinco milhões por ano em direitos de imagem. Aos seus
dez milhões, Guardiola acrescenta mais três em direitos de imagem.
Verifica-se um empate técnico no que respeita a triunfos desportivos
(65-62 a favor do português), uma percentagem um pouco mais ele-
vada de Guardiola em vitórias (72%-68%), mas José Mourinho apre-
senta cerca de quinhentas partidas oficiais disputadas na qualidade de
treinador de elite, face a duzentas de Pep Guardiola.

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A

LIDERANÇA REAL: UM TREINADOR


QUE OBTÉM RESULTADOS

«A liderança e a aprendizagem são mutuamente indispensáveis.»


John Fitzgerald Kennedy (1917-1963),
ex-presidente dos Estados Unidos
1
Palmarés. Pelos seus títulos o conhecerão

«Parece-me que o Real Madrid não pode ter um treinador sem pal-
marés. Agora há um treinador com duas vitórias na Champions,
com seis campeonatos conquistados em países diferentes, com taças,
com 17 títulos, e gera tantas dúvidas que, se chegar aqui um pobre
treinador sem títulos, por melhor que seja, por mais fenomenal que
seja, matam-no.»
José Mourinho

De acordo com a Federação Internacional de História e Estatística de


Futebol (IFFHS, pelas suas siglas em inglês), José Mourinho destacou-
-se como sendo o maior treinador de clubes da última década. Ganhou
o prémio de melhor treinador em 2004 (como coach do Futebol Clube
do Porto, com Arsène Wenger, treinador do Arsenal, como finalista)
e em 2005 (dirigindo o Chelsea, à frente de Rafa Benítez, na altura téc-
nico do Liverpool). Foi finalista em 2006, atrás de Frank Rijkaard, que
treinava o Barcelona. Já no Real Madrid, venceu em 2010 o título de
melhor treinador (devido aos seus êxitos no Inter de Milão), com Guar-
diola como finalista. Em 2011 foi Pep Guardiola quem obteve o título,
e Mourinho ficou em segundo lugar.
Nos últimos dez anos, desde que se encarregou e tomou as rédeas
de uma equipa da elite internacional, José Mário dos Santos Mouri-
nho Félix venceu seis títulos com o FC Porto (uma Champions League,
uma Taça da UEFA, duas Ligas de Portugal, uma Taça de Portugal, uma
Supertaça de Portugal), seis títulos com o Chelsea (duas Ligas de Ingla-
terra, uma Taça de Inglaterra, uma Supertaça de Inglaterra, duas Taças
da Liga), cinco títulos com o Inter de Milão (uma Champions League,
duas Ligas de Itália, uma Taça de Itália, uma Supertaça de Itália) e até

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Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo

ao momento dois títulos com o Real Madrid (uma Taça do Rei, uma
Liga). Um total de dezanove troféus em quatro países.
Quem supera esse palmarés? Sir Alex Ferguson, considerado o melhor
treinador de futebol da história segundo a IFFHS, que nos últimos
trinta anos conseguiu um campeonato nacional da Escócia com o
St. Mirren, oito títulos nacionais e dois internacionais com o Aberdeen,
e 31 títulos nacionais (doze Premier League, cinco FA Cup, dez Com-
munity Shield, quatro Football League Cup) e 6 internacionais (duas
Champions, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças, uma Super-
taça, uma Intercontinental e uma Mundial de Clubes). Um total de
48 títulos. Alex Ferguson é, não por acaso, o melhor amigo de José
Mourinho entre os treinadores.
Também possuem melhor ou igual palmarés que Mourinho:

• Sven-Göran Eriksson: vinte e dois títulos (duas Ligas e duas Taças


suecas, com o Göteborg; três Ligas portuguesas, uma Taça e uma
Supertaça de Portugal, com o Benfica; uma Série A, uma Super-
taça e quatro Taças de Itália com a Roma, a Sampdoria e a Lazio;
uma Taça da UEFA, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças e
uma Supertaça da Europa).
• Ottmar Hitzfeld: vinte títulos (duas Ligas e três Taças suíças; sete
Bundesliga, três Taças e uma Supertaça da Alemanha, duas Cham-
pions e duas Intercontinentais, com o Borussia de Dortmund e o
Bayern de Munique).
• Giuseppe Trapattoni: sete Série A (seis com a Juventus, uma com
o Inter), duas Taças de Itália, uma Supertaça de Itália, uma Bun-
desliga (com o Bayern), uma Liga portuguesa (com o Benfica),
uma Bundesliga da Áustria (com o Salzburgo), uma Champions,
uma Intercontinental, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças,
uma Supertaça, três Taças da UEFA. No total, vinte títulos nacio-
nais e internacionais.

Acontece que Trapattoni nasceu em 1939, Ferguson em 1941, Eriks-


son em 1948 e Hitzfeld em 1949, sendo portanto entre quinze e vinte

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Código Mourinho

e cinco anos mais velhos do que José Mourinho. O treinador português


é da geração de Pep Guardiola, André Villas-Boas, Unai Emery, Rafa
Benítez… Guardiola possui treze títulos e Benítez nove.

Uma questão de orgulho

Num anúncio publicitário de 2011 da entidade financeira portuguesa


Millenium BCP (www.youtube.com/watch?v=rKvh_ILnbs4), Mouri-
nho passeia-se por um mapa da Europa, desde Portugal até ao Leste,
e comenta: «Ganhei duas Champions League, dois campeonatos nacio-
nais de Portugal, a Taça do Rei em Espanha, duas Premier League e duas
Ligas de Itália. Sou o centro de todas as críticas, de todos os comentá-
rios. De toda a atenção. Sou o melhor treinador do mundo… e sou por-
tuguês. Acredito no meu país, apesar das dificuldades actuais. Acredito
nos nossos profissionais, porque somos gente preparada, com talento
e determinação. No Millenium acreditamos que o futuro pertence a
todos aqueles com paixão. Sinto-me orgulhoso de ser português. Mos-
tra o teu orgulho também.»

«A economia de Portugal é como Mourinho, mas ao contrário: falta-


-lhe carácter.»
Federico Jiménez Losantos, jornalista radiofónico

«Onde há uma empresa de êxito, há sempre alguém que tomou uma


decisão corajosa.»
Peter Drucker, pai da gestão empresarial

«Os resultados abonam em favor de Mourinho.»


Xavi Hernández, médio
do FC Barcelona, 9-9-2011

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Onde se detém a ambição?

José Mourinho tem energia para dar e vender. No dia 11 de Abril de 2011
declarou aos meios de comunicação social acerca da Champions, antes
do desafio dos quartos-de-final contra o Tottenham (depois esperá-lo-
-ia o Barcelona): «Uma coisa é ganhar três vezes com o mesmo clube,
e outra muito distinta é ganhar em três ocasiões com equipas de diferen-
tes países e em períodos isolados. É evidente que gostaria de consegui-
-lo, mas não quero ficar obcecado com isso.» Ganhar a décima Taça da
Europa do Real Madrid? Ganhar uma quarta Champions com uma das
grandes equipas britânicas? Ganhar o Campeonato do Mundo como
seleccionador do seu país, Portugal? A sua ambição não se detém.
Por isso, insiste: «Adoro fazer as coisas bem feitas e fazer as pes-
soas felizes. Ganhar a Champions League é algo que causa um grande
impacte nos adeptos. Antes do final da minha carreira vou tentar vencê-
-la, pelo menos, mais uma vez, mas sem deixar que isso se transforme
numa obsessão.»
Força, vigor, mentalidade e ambição são precisamente as armas de
que José Mourinho dispõe para conseguir obter aquilo que se propõe.

«Age como um pensador. Pensa como um homem de acção.»


Thomas Mann (1875-1955), escritor alemão

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