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Estado novo

Estado Novo foi um regime político autoritário que vigorou em Portugal durante


41 anos, desde a aprovação da Constituição de 1933 até ser derrubado de 25
a 25 Abril de 1974 (Revolução dos Cravos).

A designação oficial de "Estado Novo", criada sobretudo por razões ideológicas


e propagandísticas, serviu para assinalar a entrada num novo período político,
encerrando o período do liberalismo no país. Este período político foi liderado e
fundado por António de Oliveira Salazar, que primeiramente assumiu o cargo
de Ministro das Finanças (1928) e a partir daí se tornou uma figura ditatorial no
país.

O Estado Novo, também conhecido como Salazarismo, teve como três pilares
a Pátria, a Religião (católica) e a Família.

Durante mais de 40 anos, nada seria publicado em Portugal sem que passasse
primeiro pela censura. O conhecido “lápis azul”, tantas vezes usado noutras
cores, abateu-se sobre milhares de livros, sobre a imprensa e sobre qualquer
manifestação cultural.

Mais de duas décadas depois do 25 de Abril, Mário Zambujal fala-nos, em


estúdio, daquilo que foi o fim da censura.

Chefe de redação do Seculo à altura, recorda os primeiros dias de liberdade de


expressão, quando fazer edições contínuas com tudo o que durante tanto
tempo tinha sido silenciado era a única forma de celebrar devidamente essa
possibilidade ansiada, sem cuidar de ir a casa, tomar banho ou dormir.

Aceitando como obvio o fato de haver censura num regime ditatorial, Mário
Zambujal alude ironicamente á sujeição prática do jornalismo de então aos
moldes que lhe foram impostos. “Era tudo à mão e a pé, diz, e terá sido por
isso, defende que a maior e mais relevante parte dos jornais se instalava no
Bairro Alto, de onde era mais fácil chegar às instalações oficias onde o lápis
azul atuava, fazendo posteriormente sair provas, já censuradas, para
publicação.
O "lápis azul” riscou notícias, peças de teatro, livros, mudou anúncios e
pinturas na parede. O direito à liberdade faz hoje 41 anos.

Começa tudo com um livro de Luandino Vieira, a censura não gosta do que
vem escrito nas suas paginas, muito menos da distinção atribuída pela
Sociedade Portuguesa de Escritores. Salazar manda fechar a SPE, tarefa que
a diligente PIDE cumpre de imediato.

O episodio mostra como Salazar silenciava tudo o que pusesse em causa a


manutenção do regime. Vinte e cinco anos depois, Fernanda Botelho, escritora
e membro do júri, dizia á RTP que nunca esperou polemica, muito menos a
reação do estado novo ao premio atribuído a Luandino Vieira e que, no seu
caso, votou de acordo com critérios e não políticos.

O Estado Novo e a Censura


A censura à imprensa periódica foi instituída a 24 de junho de 1926 e durou ate
1974. Aos poucos, foi-se estendendo até ao teatro, ao cinema, à radio e à
televisão. Nenhuma palavra ou imagem podia ser publicada sem a sua devida
permissão, pois, sem permissão era censurada. A censura foi o único regime
eficiente que conseguiu manter o regime sem alterações durante quatro
décadas. A censura visou assuntos, não só píticos, mas também morais e
religiosos. Embora não se aplicasse aos livros, tinha o poder de retirar tudo o
que prejudicasse o Estado. O órgão de policia politica, que liderava a censura
inicialmente, chamava-se a PVDE (Policia de Vigilância e Defesa do Estado) e
mais tarde PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) a partir de 1945.

Durante a ditadura tudo o que se escrevia era pela policia do regime. A censura
à empresa e aos jornalistas era diária, mas os livros e os escritores também
não escavam ao exame e à perseguição da PIDE. Foi assim até à Revolução
de Abril. A palavra escrita podia comprometer o regime e a imagem que dele os
portugueses tinham. Durante 48 anos, a politica de Salazar, seguida por
Marcello Caetano, era feita de silêncios, de calar tudo o que fosse considerado
“propaganda subversiva”. A censura, prática comum a todas as ditaduras,
sujeitou os que tinham a escrita como profissão. Os jornais, as revistas, os
livros e outras manifestações culturais, eram cortados previamente ou
simplesmente proibidos. Fugir ao lápis azul, passou a ser uma arte construída
em subtilezas e truques para iludir a vigilância policial. E uma forma de resistir
sem liberdade de expressão. Em 1933, a censura que já se aplicava ás noticias
e aos jornalistas passou também para a esfera literária. Centenas de obras
foram proibidas. Da lista negra de autores portugueses Herberto Hélder,
Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, entre outros. Nos estrangeiros apreciam
Jorge Amado, Jean-Paul Sartre e todos os que defendessem a ideologia
marxista.

'Evangelho' da "censura" e reconciliação


tardia

Entre 1992 e 2004, Saramago andou de costas voltadas para o País e


para os políticos. Porque um subsecretário de Estado da Cultura não
gostou da sua visão de Cristo.

José Saramago sempre alimentou uma relação difícil com a Igreja e os


políticos católicos fervorosos. A imagem de Jesus Cristo, segundo um
Evangelho reinventado e controverso, causa um verdadeiro vendaval
em 1992. O então subsecretário de Estado da Cultura, António de
Sousa Lara, risca o livro da lista de concorrentes ao Prémio Literário
Europeu. Considera-o contra o património religioso português.
"Censura" e "acto brutal", acusa Saramago. O escritor parte para
Lanzarote, nas ilhas Canárias, Espanha, profundamente zangado com
quem assistiu impávido e sereno ao gesto de Lara.

A irritação maior é com o então primeiro--ministro Aníbal Cavaco


Silva, a quem Saramago não quis "apertar a mão" durante bastante
tempo. O escritor manifesta-se "triste e indignado" pelo boicote à sua
obra. E, se já antes tinha decidido viver alternadamente entre Portugal
e Lanzarote, desta feita compra apenas um bilhete de ida para a ilha,
onde se instala com a sua mulher, Pilar del Río.

Sousa Lara tenta justificar o veto à obra com as convicções religiosas


nacionais. A Igreja condena O Evangelho Segundo Jesus Cristo na
praça pública. D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo de Braga, afirma
que a narrativa de Saramago é "uma delirante vida de Cristo".

Mesmo já depois de ser Nobel da Literatura, as notícias vindas de


Portugal que trazem o nome de Cavaco não são boas. Em 2004,
quando o escritor comunista se reconcilia com o País, após uma acção
diplomática do primeiro-ministro da altura, Durão Barroso, Sousa
Lara desenterra novamente a polémica. Em declarações à TSF, o
antigo governante reafirma que tomaria a mesma decisão de rejeitar o
livro do desentendimento por atentado à moral cristã. Lara evocou o
nome de Cavaco Silva para dizer que, em 1992, teve o apoio do então
primeiro-ministro, que terá chegado a mostrar disponibilidade para o
acompanhar em actos públicos, de forma a manifestar-lhe o seu apoio
pela decisão. "É bom que o actual primeiro-ministro se lembre de que
Cavaco Silva se ofereceu para dar cobertura política durante a crise.
Recusei, porque isso acabaria por se voltar contra Cavaco", assegura
Sousa Lara.

Durão Barroso, que era o ministro dos Negócios Estrangeiros desse


Governo da "censura", quis ser o obreiro da reconciliação de José
Saramago com o País e com o PSD. Em Abril de 2004, condena o
processo que no passado discriminou o autor pelas suas opções
pessoais. Dias depois, convida--o para um almoço em São Bento.
Saramago aceita. O Nobel diz que a "aclaração" feita pelo primeiro-
ministro punha fim a um "conflito". Feitas as "pazes", Durão anuncia
a criação da Cátedra José Saramago na Universidade Autónoma do
México, destinada a divulgar a cultura e a língua portuguesas.

Mas não foi só com a direita que Saramago teve relações tensas. Até
com o seu partido, o PCP, teve algumas fricções dignas de registo. Em
Abril de 2004, numa entrevista ao DN, a propósito do lançamento do
seu livro Ensaio sobre a Lucidez, e a pouco tempo das eleições
europeias, o escritor faz um apelo: "Não se abstenham, votem em
branco!" O apelo não teria nada de especial, não fosse Saramago
candidato ao Parlamento Europeu em lugar não elegível nas listas da
CDU. O partido então liderado por Carlos Carvalhas fica numa
posição, no mínimo, incómoda.

Também em 2008, noutra entrevista ao DN, critica um texto do


comunista Urbano Tavares Rodrigues, publicado no jornal oficial do
PCP, o Avante!, a enaltecer as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (FARC). "É uma coisa que me deixa assombrado, que
aquilo possa ser escrito", diz Saramago.
https://www.dn.pt/portugal/interior/evangelho-da-censura-e-reconciliacao-tardia-
1597498.html

Escritor censurado depois de 18 anos de


liberdade
"Público - Como se sente na pele de um escritor censurado, dezoito anos
depois da Revolução de Abril? Porque antes do 25 de Abril, era normal para si
ser censurado...

José Saramago - Sim era normal. Não tanto como escritor - porque os livros
que publiquei antes do 25 de Abril nunca foram objecto de censura - mas
como jornalista. Em 1972 e 1973 trabalhei no "Diário de Lisboa " com
funções de editorialista e todos os dias se guerreava com a censura.

Não esperava que, depois do 25 de Abril, se repetissem comportamentos


desses, nessa altura institucionalizados. Embora a exclusão do meu
romance Evangelho segundo Jesus Cristo tenha também um carácter
institucional, porque não foi uma medida extemporânea. É uma decisão
tomada por uma instância do Governo e foi no exercício de uma autoridade
governamental que a decisão foi tomada. Quanto ao espírito: estou triste e
indignado. Sinto-me também estupefacto: nos primeiros dias após a decisão
governamental, perguntava-me se isto estava de facto a acontecer.

Mas o Governo, Secretário de Estado da Cultura e Subsecretário tiveram a


resposta que mereciam: repúdio. O que não diminui a indignação,
contaminada por um sentimento de profunda tristeza."

http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/saramago/cen_ev9.html
Muita gente veio aqui ao estaminé insurgir-se contra a falta de
patriotismo de Saramago, esse malandro que dizia mal de Portugal.
Ora bem, não sei se as pessoas se lembram da origem de tudo isso...
É que, em 1992, José Saramago foi impedido de candidatar o seu
Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu, numa
decisão de bradar aos céus do então sub-secretário de Estado da
Cultura, Sousa Lara. Segundo este iluminado, o Evangelho atacava
princípios que tinham a ver “com o património religioso dos
portugueses”. Foi então, depois desta censura levada a cabo
praticamente 20 anos depois do 25 de Abril, que o escritor entra num
processo de ruptura com o governo de então, chefiado por Cavaco
Silva. E é então que fixa residência em Lanzarote, virando costas a
um país que já lhe tinha virado as costas a ele.
Meus amigos, se alguém me fizesse uma merda destas, eu também
bazava daqui. Não ia para Lanzarote, de certeza absoluta, que aquilo
é um lugar inóspito, só pedras e pouco mais, mas ia para um sítio
bonito, cheio de vegetação e calorzinho, onde me tratassem bem. Se
alguém vos fizesse isto a vocês, iam seguramente rogar muita praga
ao país (se é que não rogam já, não é, porque dizer mal do país é
desporto nacional!)
Posto isto, vou deixar Saramago descansar em paz, que bem precisa.
Via Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal)
"Em 1992, o subsecretário da Cultura, António Sousa Lara, vetou a candidatura do romance
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, ao Prémio Literário Europeu,
justificando tal decisão dizendo que a obra não representava Portugal mas, antes, desunia o
povo português. Em consequência do que considerou ser um acto de censura por parte do
governo português, Saramago mudou-se em 1993 para Espanha, passando a viver em
Lanzarote, nas ilhas Canárias."

Este episódio poderá ser marcante, na e da cultura portuguesa, um entre muitos exemplos.
A censura em democracia, circula sem lápis azul... por certo e de certo que quem sente a
censura, ela lhe aparece sob a forma mais subtil - o lápis transparente.

O pensamento primeiro, ou dos primeiros que me surge, transporta o peso de uma ideia -
Portugal país milenar, de invasões e descobertas, nação una à volta da mesma língua,
percorreu meio mundo divido através de uma negociada (tratado de Tordesilhas), onde a
cultura há muito que não merece um ministério. Um edifício estatal que proteja e promova as
diferente artes e língua.

Nas entrevistas que José Saramago concedeu, muitas vezes aflorou o tema da censura e suas
formas de se manifestar, como um sensor das mentalidades e públicas virtudes.
O homem, o democrata, deu por diversas vezes o corpo às balas... demasiadas vezes sozinho.

Um dia, este homem, que amava o seu país - deverá ter pensado... estou farto do lápis azul...
 Censura Existe Em Todo o Lado
Eu acho que a censura existiu sempre e provavelmente vai existir sempre. Porque a

censura para o ser não necessita de ter claramente uma porta aberta com um letreiro,

onde se diga que ali há pessoas que lêem livros ou vão ver espectáculos. Não! A censura

existe de todas as maneiras, porque todas as pessoas, nos diferentes níveis de

intervenção em que se encontram, por boas ou más razões, seleccionam, escolhem,

apagam, fazem sobressair. E isso são actos de ocultação ou de evidenciação que, no

fundo, em alguns casos, são actos formais de censura. 

(Quanto à censura oficial dos tempos de ditadura) Aquilo que a censura demonstrou e

demonstra, em qualquer caso, é que felizmente os escritores, dependendo das situações

em que se encontram, são muito mais ricos de meios, de processos de fazer chegar

aquilo que querem dizer aos outros, do que se imagina. Evidentemente, numa situação

de censura, o escritor é obrigado a usar a escrita para comunicar isto ou aquilo ou

aqueloutro, de uma maneira disfraçada, subterrânea, oculta; mas o que é importante

não é que a censura o esteja a obrigar a fazer isso. O que é importante é que ele seja

capaz de o fazer. E isso não vai em abono da censura como agente capaz de estimular a

criatividade de um escritor, vai, sim, no sentido de reconhecer no escritor capacidades

de expressão que ele usará ou não consoante a situação concreta em que se encontre.

Agora, se me pergunta: a escrita sai melhor de uma maneira ou sai de outra, eu diria

que provavelmente alguns dos livros que escrevi numa situação de liberdade de

expressão, provavelmente num regime de censura eu não pensaria em escrevê-los. 

José Saramago, in "Diálogos com José Saramago"

Escritor censurado depois de 18 anos de


liberdade
"Público - Como se sente na pele de um escritor censurado, dezoito anos
depois da Revolução de Abril? Porque antes do 25 de Abril, era normal para si
ser censurado...
José Saramago - Sim era normal. Não tanto como escritor - porque os livros
que publiquei antes do 25 de Abril nunca foram objecto de censura - mas
como jornalista. Em 1972 e 1973 trabalhei no "Diário de Lisboa " com
funções de editorialista e todos os dias se guerreava com a censura.

Não esperava que, depois do 25 de Abril, se repetissem comportamentos


desses, nessa altura institucionalizados. Embora a exclusão do meu
romance Evangelho segundo Jesus Cristo tenha também um carácter
institucional, porque não foi uma medida extemporânea. É uma decisão
tomada por uma instância do Governo e foi no exercício de uma autoridade
governamental que a decisão foi tomada. Quanto ao espírito: estou triste e
indignado. Sinto-me também estupefacto: nos primeiros dias após a decisão
governamental, perguntava-me se isto estava de facto a acontecer.

Mas o Governo, Secretário de Estado da Cultura e Subsecretário tiveram a


resposta que mereciam: repúdio. O que não diminui a indignação,
contaminada por um sentimento de profunda tristeza."
SEPÚLVEDA, Torcato, "José Saramago critica os responsáveis da Cultura" in O Público, 10 de Maio de
1992, pág. 40.

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