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RESUMO
Esse ensaio pretende discutir sobre aspectos causadores de estresse,
Evely Najjar
Capdeville ansiedade e sofrimento mental em estudantes da área da saúde,
UFMG das universidades brasileiras. Ressalta-se que esses transtornos de
origem psicológica, estão presentes durante a formação em saúde
e podem se estender para a vida profissional. Estudos indicam que
tal fenômeno tem sido associado a afastamentos, doenças, fadiga,
cansaço, dificuldades para adaptação ao meio acadêmico, falta de
tempo para dedicar ao lazer e a vida pessoal, obsessão pelo trabalho
técnico, excesso de cobrança pessoal, frustrações relacionadas ao
curso e dificuldades inerentes à relação professor-aluno profissional-
paciente. Alguns fatores psicossociais relevantes são a transição
do ensino médio para o ensino superior, a maior mobilidade entre
cidades acompanhada do afastamento da rede de proteção da
família, Nesse trabalho, propomos estratégias de enfrentamento
do fenômeno, a partir de três eixos de ação, a saber: 1- reflexão
sobre o currículo integrado; 2- sensibilização e capacitação para a
humanização das relações professor-aluno e profissional de saúde-
população; 3- ações de promoção e prevenção em saúde mental
destinadas ao desenvolvimento de autoconhecimento e resiliência
em estudantes. Como resultado espera-se a indissociação entre
formação e praxis em saúde, a abordagem crítica na formação
acadêmica, o fomento às relações que promovam dialogicidade,
humanização e escuta qualificada, no âmbito coletivo-institucional e
a necessidade de aprimorar o olhar para questões que ultrapassam
os limites das singularidades dos sujeitos e se instalam no âmbito
ampliado da formação em saúde.
2.DESENVOLVIMENTO
da a esse contexto.
Em vista desses elementos, esse trabalho vem
ressaltar o papel das Instituições de Ensino, que
2.1 REFLEXÃO SOBRE O CURRÍ- possuem cursos de graduação na área da saúde,
como formadoras de sujeitos que podem contribuir
CULO INTEGRADO
para a transformação do cenário atual de uma so-
O número de profissionais de saúde formados, no ciedade “doente” para uma sociedade “saudável”.
Brasil, vem crescendo a cada ano. Segundo dados Os egressos da formação em saúde devem ser
publicados pela pesquisa Demografia Médica 2018 capazes de construir o próprio conhecimento, no
(13), o crescimento da população médica, nas últi- sentido de não reproduzir e sim transformar a re-
mas cinco décadas, aumentou 7,7 vezes. Enquan- alidade, orientados pelas dimensões biopsicosso-
to isso, a população brasileira aumentou 2,2 vezes. ciais do processo saúde-doença.
Entretanto, esse salto não trouxe os benefícios Para romper tais desafios fazem-se necessárias
que a sociedade espera em termos de melhoria do mudanças curriculares e propostas político-peda-
acesso e da assistência em saúde, pois não se tra- gógicas que possam dar conta de tais conteúdos,
ta apenas de aumentar o número de profissionais, com incorporação de docentes que trabalham em
mas sim de formar profissionais capacitados para uma perspectiva ativa e com estratégias educacio-
atuar priorizando a saúde e não a doença. nais significativas. Está posto, portanto, o desafio
Vale ressaltar que as revisões curriculares dos de incorporar as orientações propostas nas diretri-
Cursos, realizadas recentemente, por entender a zes curriculares à formação na área da saúde. As
graduação como um dos estágios do processo for- Instituições formadoras precisam organizar sabe-
mativo, reafirmam a necessidade na mudança do res e práticas da formação no sentido do trabalho
paradigma biomédico, curativista e a-histórico da interprofissional, que além de enunciado deve ser
formação, historicamente predominante. Nessa di- materializado nas práticas formativas (14).
reção, preconizam a urgência em superar práticas
educacionais fragmentadas, tecnicistas e descon- 2.2 SENSIBILIZAÇÃO E CAPACITA-
textualizadas e promover a qualificação do futuro ÇÃO PARA A HUMANIZAÇÃO DAS
profissional de saúde no paradigma coletivista, his-
RELAÇÕES PROFESSOR-ALUNO E
tórico e social focado em ações de promoção, pre-
venção, recuperação e reabilitação da saúde, na
O PROFISSIONAL DE SAÚDE-POPU-
perspectiva da integralidade da assistência (14).
LAÇÃO
As diretrizes curriculares preconizadas pelo Minis- Como a formação pode preparar para uma praxis
tério da Saúde, para a formação na área de saú- humanizada e humanizadora? A humanização e a
de, propõem o perfil de um profissional generalista, busca da dialogicidade nas relações são premis-
com visão de mundo humanista, crítica e reflexiva, sas orientadoras para a formação de profissionais
ativo, comprometido com a prática do diálogo com na área da saúde e para uma praxis crítica. O pro-
a população e que correlaciona o conceito amplia- cesso de formação precisa, também, ser humani-
do de saúde a uma mudança de perspectiva do zado. Nessa medida, os currículos de graduação
sistema (15). Formar profissionais de saúde para em saúde devem incorporar não apenas habilida-
a melhoria da qualidade de vida das pessoas é o des de domínio cognitivo e técnico, mas também,
grande desafio da realidade brasileira, pois ainda habilidades sociais, relacionais e atitudinais que
faz-se necessária essa mudança em uma perspec- serão essenciais para os saberes e práticas do fu-
tiva coletivista. turo profissional de saúde.