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1.

Qual é a importância de estudar a incidência dos transtornos de ansiedade


em universitários?
Há algum tempo os estudos vêm apontando para uma incidência maior de impactos na
saúde mental em universitários. Acredito que a importância seja não só em relação aos
transtornos de ansiedade, mas sobre saúde mental como um todo. Assim, é possível
que as instituições de ensino percebam a importância de se movimentarem para
criarem estratégias e acolherem o seu público, em uma tentativa de tornar a
experiência acadêmica menos aversiva. E que os estudantes também tenham esse
alerta, para se perceberem e se cuidarem, de preferência de forma preventiva.

2. Quais são os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento de


transtornos de ansiedade em estudantes universitários?

A entrada na graduação, além de já ser um momento de mudança por si só,


normalmente vem acompanhada por diversas outras mudanças. A transição do ensino
médio para o ensino superior, muitas vezes o distanciamento da família, maior
responsabilidade financeira, novos vínculos, tomadas de decisões, novas rotinas,
pressão interna e externa etc. É um conjunto de fatores que somados ao histórico de
saúde mental, falta de cuidado e rede de apoio, vão contribuindo para o
desenvolvimento de transtornos de ansiedade e outros impactos/condições.

3. Como a pressão acadêmica afeta a saúde mental dos universitários em


relação à ansiedade?
É comum que os estudantes demorem um pouco para se adaptar à vida acadêmica, é
exigido que eles desenvolvam uma independência e autonomia para essa nova fase.
Habilidades que estão para além dos conteúdos estudados durante as aulas. A pressão
acadêmica, muitas vezes, faz os alunos se sentirem incapazes, criarem um ambiente de
competição e não conseguirem desenvolver bons relacionamentos com os colegas e
docentes, aumentando os sintomas de ansiedade.

4. Quais são os sintomas mais comuns de ansiedade observados entre os


universitários que você atende?
Os sintomas podem aparecer de várias formas e cada um pode vivenciar de um jeito.
Mas nos relatos é possível identificar algumas semelhanças. O sono costuma ser muito
afetando, prejudicando a qualidade de vida. Crises de choro e irritabilidade também
aparecem com frequência, além disso, o medo exacerbado de realizar atividades
avaliativas e o sentimento de incapacidade.
5. Existem diferenças na incidência de transtornos de ansiedade entre diferentes
nichos de estudantes?
Como assim? Não sei se entendi a pergunta, caso não tenha entendido, posso elaborar
outra resposta. Mas é apontado em vários estudos e possível observar na prática, que
nos cursos da área da saúde, é maior o número de estudantes que apresentam
sofrimento mental em geral.

6. Que tipo de estratégias ou intervenções você recomenda para ajudar


universitários a lidar com a ansiedade de forma saudável?
Existem várias estratégias práticas para manejar momentos e crises de ansiedade, que
podem aprendidas com o tempo. Mas acredito que, a melhor estratégia, é a criação de
uma rede de apoio sólida. Rede de apoio são pessoas e/ou instituições que trabalham
em conjunto considerando um objetivo em comum. Claro que isso pode variar de
pessoa para pessoa, algumas tem um apoio familiar maior, outras nem tanto, algumas
possuem vínculos de amizades mais fortalecidos, outras nem tanto, e assim por diante.
Mas pensar nessa rede de apoio de forma ampla, para que os estudantes tenham com
quem contar. Além das relações pessoais, entender que existem profissionais para
auxiliar e a própria instituição de ensino devia ser considerada como rede de apoio.

7. Como a pandemia de COVID-19 afetou a incidência dos transtornos de


ansiedade entre os universitários?
A pandemia afetou a população, de forma que talvez não tenhamos nem dimensão
ainda. Mas pensando no contexto acadêmico, é perceptível o impacto nas relações
sociais. O isolamento fez com que muitos estudantes não aprendessem ou
desacostumassem com as interações no cotidiano acadêmico, acarretando a
dificuldade de atividades em grupo e criação de vínculos afetivos, aumentando e
prolongando o isolamento.

8. Quais são os sinais de alerta que amigos, familiares e professores devem


observar em um estudante universitário que pode estar sofrendo de
ansiedade?
Acredito que os sinais são diversos e individuais, também é necessário tomar cuidado
para não culpabilizar terceiros, é uma linha muito tênue, até onde um pode “cuidar” do
outro. Mas apontaria o isolamento em geral, a fuga de momentos coletivos e de
interações sociais. Momentos de irritabilidade, procrastinação e queda no
desempenho acadêmico.
9. Você acredita que as políticas das universidades precisam ser adaptadas para
melhor abordar a questão da saúde mental dos estudantes?
Sim, apesar de a pandemia ter escancarado e acelerado um pouco para que a
população pudesse perceber a importância dos cuidados com a saúde mental, ainda é
necessário avançar muito nessa discussão. Ainda há um estigma muito grande quando
a pessoa apresenta algum tipo de sofrimento mental, fazendo com que os estudantes
tenham receio de procurar o apoio que precisam. E as instituições de ensino precisam
se perceber mais como uma rede de apoio para auxiliar os estudantes.

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